claudia houdelier - poesias
eu mesma
amor total
pareceque qualquer coisa em mimencontrou repouso-nele-meu pouso mais tranqüiloque me abre asas
alucinatórias
esquisitasnervosasconfusas latênciascruzam linhas tortase encontrammistérios turvos,curvas chaves.
avesso
eu te dissepara ire fiqueite esperando voltarcomo tudoo que fize revi.
biografia
converge do ventree passacomo um nadado buraco à vidaAcaba
candura
EscapeiA veracidadedo contatoque dilacera,em mimcândida,parece
eu tenho o corpoa te desejare não te quero
cego sentimento
Não posso impedirque ele vasculhe o mundocomo a uma gavetaEle vai tatear a noitee eu não vou verSó vou pensarna noite em que me tocae imaginarque sou só eu.
cio
Perdôominha fotossíntesee a insistência ternade me querer mornaQueria devorarpermitir-meem vício
coisas
muita coisa em mimdeixou de serfui esquecendocaminhos que não fui andei.faço coisas,tantaspor onde passo me perdendo das coisasque não sei.
compactos
Precipitoe atiro fragmentosfrágeis princípiosamarelos e turvos,que coalham
conflito
às vezes sonhocortar cordõesacordo umbilicaldo sono
couraça
Corpo de açoOlhos plásticosAtentos O sentimento come dentroe se instaladoendo doentee emboloraa carcaça.
dele
e eu soua mentiraque ele elabora,a dor disformeque ele come,a cor infameque ele dorme.Apavora.
desculpa
o tempo me cansacansei do tempoque não me mudao tempo é essa minha mudadesculpa
devaneio
me arremessa a ondas que desconheçome assusta e afogame afagae eu navegonesse bote solitárioatravesso as fronteiras de seu corpoe pairoaqui tudo inexiste: só pelecarnenão há caminhossó talhosLouco delírio, turvas delíciasNada
diálogo mudo
Caem cacosde vidro tinto,palavras mornasolhares friosE o olhar que olhacerra a vista,amassa.
dos outros
Palavras bonitasenfeitam a folhaMelhor seriase as coisas não tivessem um nomee se a minha vidafosse só minha.Pobre do homemque crê no poetana lua que chorae lhe toma emprestadas tantas asase pobre daqueleque não pode crer em side agora em diantee à toda hora.Que os meus sentidos caminhem nas estradase possam verem tantos olhos.Tristes as palavras bonitasque só encantam as páginas
égide
Cores que ecoamnos infinitosdo nadaSons que rompempálpebras cegasnulos negrosEspectrovazio de hiatosVeias mudasGritos táteis: nós mesmose nosso espelhopor trás de tudo,atrás de nós.
ego
Nada mais no espelhoou no temponada maisSó isso em mimque se afoga:meu lado são,narcisoEu não sou eunem mesmo no espelhoLá sou invertidacomo o tempoque me verteu a esse ego em órbitaesquiva.
espectro
não vejo nadano mundo do outroa não ser alágrimaque ele expelee não digereno meu estômagoque espelha.
espira
Não me sigaEstou perdidanas asas de um pássaro sem asasna cauda de um cavalo negro noiteEstou de saltono não sei ondeOntem: ainda não seiAgora,é só viagem.
fabricada
e se meu mundo ruísseo cordão ligasse a gemae eu pudessevirar com a sombrasombrear o baterminhas unhas de seda,fabricar.
faces
Na boca dele tem o céuserenolá, navego a língua do tempoaté que a tempestade delevenhalá:as cavernasonde nos vemos.
íntimo
Seduzo secretamentea maquiagem do monstroque me afetaa textura.Da epidermeà relação,eu temo.
isso
me aguardodo meu ventreme inferirmeu centro
maquiagem
nem mesmo uma linhae anos se passaramé que qualquer coisa em mimnão exalava-nada morreu-só ficou ali,como água parada.
membro
Míope,minha visãofálico-lírica.Anjo etéreoé o corpoque habita.
minotauro
não posso fugirnem me atacarcom qualquer coisaque me fira o gestoNão é o rosto que me assustaé essa carcaça-labirintoque não faz achar-me
mundinho
mundo neutrolindo e ninhorecolhi-me inteiracomo não bastasse
nada mais
Algumas coisas que o tempo rouba,só eu seiNa boca que deixei o longo beijo de adeusembarca o solque desce a colinasó para me ver.
relógio
não quero nada,nem o vazio desse meu encontro assim sereno.nenhuma coisa em mimagora se agita ou tempesta.minhas palavras adormecem no silênciodas descobertas exaustas,dos longos caminhose dos grandes discursosque nunca bastam.não tenho ouvidosnem folhas de papel.tenho lembranças não me serveme um despertar que espero.
ostreira
Olhei os ladosFechei feito ostrana paisagemDaqui minha concha aguardaa horade abrir o lado de dentroao lado de fora.
ousada
Borboleta pálidadespetaleicolorido lábio rubro.Da íris negrafaço olhar que detestoQueria voardas minhas asas
passatempo
tudo passaaté o colorido dos teus olhosaté o desbotado gosto da tua bocapassa.A voz engasga o cabelo embaraça
qualquer
Acabouo barulhoda porta caindoda mesabatendo a rotina o teto dormee eu vou sair
quereres
Temo tua peleque me devoratua vozque me ensurdeceteu carinhoque esfolaQuero tua peleme devora
refinar
ternamente,um dia, o turbilhão retirada doce fúriaque vem de dentro,o acabamento
retrato e espelho
O tempo nunca mais vai trazer meu rostonem os lábios ingênuosnem os ouvidos desconhecedoresNão há mais aquele perfil sorrindo ao mundonem os dentes brancosnem a pupila enormenem a face tão arredondada de sorrisosnem as mãos tão levesnem os pés tão frágeisSó há qualquer coisa de meu rosto em meu rostoe eu me temo porque me conheçoO tempo foi vil ao roubar-me de mim mesma.
sentidos
amores, tantosdentro de mim seus segredos.-eu não- nenhum segredo.transparentes manhãs em que se entrelaçavam lembranças,gestose cheiros.Tudo esteve sempre no are eu respireisem medo.
silêncios
Só o silêncio me atormentaNão há nada nas palavrasa que eu temaelas dizemdolorosas tolices.
teia
ultrapassei meu verboinfinito e conjugadodaquime olhoe vejo passado.
transcender
ser poetaou loucapouco importaPosso viajarno corpo deleouvir música douradanas asas de um pássaro mudoser mosca
vaidosa relação
O tempo não muda,edifica pontescomo edificou em mimcicatrizes mutantesSe eu pudesse mudar o tempomudava só as cicatrizes
ventania
tem vezesque chego gritandoDepois,me beija a bocaolha baixo,me arrepiaE despedaço,quente e fria.
referências
http://houdelier.com