CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA
Programa de Pós-Graduação em Educação e Linguagem
Mestrado Acadêmico
WALTER ZAVATÁRIO
A LINGUAGEM DOS JOVENS NA MÍDIA CONTEMPORÂNEA E SUA INFLUÊNCIA
NA AQUISIÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA.
CARATINGA
2010
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO E LINGUAGEM
MESTRADO ACADÊMICO
WALTER ZAVATÁRIO
A LINGUAGEM DOS JOVENS NA MÍDIA CONTEMPORÂNEA E SUA INFLUÊNCIA
NA AQUISIÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA.
Dissertação apresentada ao Centro Universitário
de Caratinga, como parte das exigências do
Programa de Pós-Graduação em Educação e
Linguagem, para obtenção do título de Mestre.
CARATINGA
2010
Sistema de Bibliotecas - UNEC
Ficha Catalográfica
004.678
Z394l
2010
ZAVATÁRIO, Walter.
A linguagem dos jovens na mídia contemporânea e sua
influência na aquisição da língua portuguesa. Walter
Zavatário. Centro Universitário de Caratinga – UNEC: Mestrado
Acadêmico em Educação e Linguagem. 2010.
.....p; 29,7 cm.
Dissertação (Mestrado – UNEC – Área: Mestrado Acadêmico em
Educação e Linguagem).
Orientador: Prof. DSc. Amédis Germano dos Santos.
1. Ciberespaço.
2. Inclusão digital.
3. Interatividade – Internet.
4. Linguagem .
I. Título II. Prof. DSc. Amédis Germano dos Santos..
“Muitas palavras que já morreram terão um segundo nascimento, e cairão muitas das que
agora gozam das honras, se assim o quiser o uso, em cujas mãos está o arbítrio, o direito e a
lei da fala”.
QUINTUS HORATIUS FLACCUS
(Filósofo e Poeta lírico e satírico romano - 65 a.C. a 8 a.C.)
AGRADECIMENTOS
A Deus, por me fortalecer, por me sustentar nas horas incertas e me suprir em todas as
minhas necessidades;
À minha esposa Mônica e aos meus filhos Ítalo Augusto e Isa Letícia pelo apoio, pelo
incentivo e pela paciência, pois, sem eles, não seria possível realizar essa pesquisa;
Ao meu Orientador, Professor Dr. Amédis Germano dos Santos, por apontar o
caminho da ciência, com paciência e dedicação, como contribuição fundamental para a
concretização desse trabalho;
Aos Professores Dr. Antônio de Pádua Magalhães e Dr. Hélio Soares do Amaral, pelas
valiosas orientações e sugestões que muito contribuíram para o desenvolvimento da
pesquisa;
Aos Professores Dra. Francis Paulina Lopes da Silva, Dra. Maria Lúcia Jannuzzi
Machado e Dr. Eduardo Vitor Miranda Carrão, pelos preciosos ensinamentos e
atenção durante o curso;
À colega e amiga Professora Gilsane da Silva Teixeira Alves, pela sua atenção e
paciência na realização da pesquisa de campo com seus alunos.
RESUMO
Este trabalho pretende abordar a influência da mídia contemporânea na aquisição da Língua
Portuguesa pelos jovens. Parte da origem da linguagem oral e escrita, apontando a leitura
como um dos mais importantes meios de aquisição do conhecimento, como um aprendizado
da arte de pensar e a procura do significado. Aborda as diferenças básicas entre interação e
interatividade, indicando o papel da interatividade na educação, bem como perspectivas para a
educação no mundo globalizado. Mostra que, com o surgimento do ciberespaço e o
desenvolvimento das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) estabeleceram-se
formas de comunicação mediadas por computador, que têm sido amplamente exploradas
como recursos educacionais. Indica que a ciência e a tecnologia não são simples instrumentos
de leitura, mas, responsáveis pela redefinição do mundo contemporâneo, abordando a
inclusão digital como um dos mais importantes meios de aquisição do conhecimento, sendo
indispensável para melhorar as condições de vida de uma comunidade, com a ajuda da
tecnologia. Discute a linguagem do jovem na mídia contemporânea, apontando que se torna
necessário que os jovens saibam distinguir, exatamente, os momentos em que precisam usar a
norma culta, daqueles em que podem usar uma linguagem mais informal, na mídia ou em seu
relacionamento social, fazendo uso das gírias, dos dialetos, dos “internetês”, ou de qualquer
outra forma de comunicação, tornando o seu discurso inteligível, interpretável e
compreensível. Por fim, os dados da pesquisa apontam a necessidade de orientação aos alunos
sobre o uso adequado e racional da Internet, bem como da linguagem.
Palavras-chave: Ciberespaço. Inclusão digital. Internet. Interatividade. Linguagem.
“Internetês”.
ABSTRACT
This work intends to approach the influence of the contemporary media in the acquisition of
Portuguese Language by the youths. It starts from the origin of the oral language and writing,
pointing the reading as one of the most important means of acquisition of the knowledge, as a
learning of the art of thinking and the search of the meaning. It approaches the basic
differences between interaction and interactivity, indicating the paper of the interactivity in
the education, as well as perspectives for the education in the world globalized. It shows that,
with the appearance of the cyberspace and the development of the Information and
Communication Technologies (TIC) they settled down communication forms mediated by
computer, that have been thoroughly explored as education resources. It indicates that science
and technology are not simple reading instruments, but responsible for the redefinition of the
contemporary world, approaching the digital inclusion as one of the most important means of
acquisition of the knowledge, being indispensable to improve the conditions of a community's
life, with the help of the technology. It discusses the youth's language in the contemporary
media, appearing that if it turns necessary that the youths know how to distinguish, exactly,
the moments in that they need to use the educated norm, of those in that they can use a more
informal language, in the media or in their social relationship, making use of the slangs, of the
dialects, of the "internetês", or in any other communication way, turning their speech
intelligible, interpretável and comprehensible. Finally, the data of the research point out the
orientation need to the students on the appropriate and rational use of the internet, as well as
of the language.
Keywords: Cyberspace. Digital Inclusion. Internet. Interactivity. Language. “Internetês”.
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS ............................................................................................................. 6
RESUMO ................................................................................................................................... 7
ABSTRACT .............................................................................................................................. 8
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 10
1 A LINGUAGEM, A IMPORTÂNCIA DA LEITURA E A COMUNICAÇÃO DO
TEXTO POÉTICO: ............................................................................................................... 13
2 A HORA E A VEZ DA INTERATIVIDADE ................................................................... 23
3 POLÍTICAS PÚBLICAS: INCLUSÃO DIGITAL .......................................................... 34
4 A LINGUAGEM DO JOVEM NA MÍDIA CONTEMPORÂNEA ................................ 46
5 A INFLUÊNCIA DA LINGUAGEM DA MÍDIA NA AQUISIÇÃO DA LÍNGUA
PORTUGUESA ...................................................................................................................... 57
6 ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA ............................................................ 72
6.1 Análise das redações realizadas pelos alunos pesquisados...................................... 82
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................ 87
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 92
ANEXO................................................................................................................................... 98
10
INTRODUÇÃO
O objetivo proposto nesta dissertação é abordar, de forma sucinta, como é usada a
linguagem dos jovens de hoje, no dia-a-dia, sendo ela composta por abreviaturas e gírias de
uma forma geral, o que facilita a comunicação, mas, não o entendimento do leitor. O fato dos
jovens usarem esse tipo de linguagem é devido ao uso da Internet, que facilita a comunicação
através dos sites de relacionamento, tais como os bate-papos no MSN, Orkut, Facebook
e e-mails.
A Dissertação tem como foco pesquisar se os jovens sabem distinguir, exatamente, os
momentos em que precisam usar a norma culta, daqueles em que podem usar a linguagem da
Internet e de que forma a linguagem utilizada por eles tem influenciado na escrita e na fala da
Língua Portuguesa na 8ª série do Ensino Fundamental de uma escola da rede particular de
ensino de Caratinga, obtendo-se, então, uma amostra da intensidade do tipo de língua
utilizada pelos jovens, podendo a escola desenvolver uma prática para aprimorar a linguagem
formal, mostrando aos alunos as consequências no futuro, se não souberem adequar a
linguagem nas mais diversas situações e ambientes onde a sua comunicação é realizada.
O objetivo principal da metodologia é fazer uma análise criteriosa para identificar os
motivos que levam os jovens a se comunicarem através de gírias e abreviações e compreender
a relação existente entre o vocabulário dos jovens que frequentam a escola e a linguagem
expressa de maneira correta.
De acordo com Sylvia Constant Vergara (2000), há várias taxionomias de tipos de
pesquisa. Vergara propõe dois critérios básicos: quanto aos fins e quanto aos meios. Quanto
aos fins, a pesquisa será descritiva e explicativa. Como esta pesquisa pretende descrever o
perfil dos alunos que cursam a 8ª série do ensino fundamental, classificaremos como
descritiva. A pesquisa é explicativa porque “visa esclarecer algo, justificar-lhe os motivos.”
11
Portanto, esta pesquisa é também explicativa, porque visa esclarecer quais os motivos que
levam os jovens a se comunicarem através de gírias e abreviações.
Quanto aos meios, segundo Vergara (2000), a pesquisa é bibliográfica e de campo.
Bibliográfica, porque para fundamentação teórico-metodológica, com a busca de conceitos,
origem, tipos e definições de linguagem, em artigos científicos, livros, dissertações de
mestrado, de doutorado e em Internet. A investigação é também de campo porque coletou
dados primários entre alunos de uma escola da rede particular de ensino de Caratinga.
Vergara (2000) define como um estudo de caso “aquele que é circunscrito a uma ou
poucas unidades, entendidas essas como uma pessoa, uma empresa...”. Como este trabalho foi
especificamente com alunos de uma escola da rede particular de ensino, pode-se afirmar,
então, que se trata de um estudo de caso. E, sendo assim, podemos chegar a uma conclusão
adequada, conforme o objetivo apresentado.
Inicialmente, abordaremos a origem da linguagem oral e escrita, destacando a leitura
como um dos mais importantes meios de aquisição do conhecimento. Em seguida, trataremos
das diferenças básicas entre interação e interatividade, indicando o papel da interatividade na
educação, bem como perspectivas para a educação no mundo globalizado, considerando-se
que a inclusão digital é um dos mais importantes meios de aquisição do conhecimento, pois,
conforme André Lemos (2000), interatividade é um caso específico de interação, a
interatividade digital, compreendida como um diálogo entre homem e máquina, através de
interfaces gráficas, em tempo real, embora Pierre Lévy (1999) considere que a interatividade
apresenta a necessidade de um novo trabalho de observação, de concepção e de avaliação dos
modos de comunicação do que uma característica simples e unívoca, atribuível a um sistema
específico, não se limitando, portanto, às tecnologias digitais. Discutiremos a linguagem do
jovem na mídia contemporânea com o uso das gírias, dos dialetos, dos “internetês” e outras
12
formas de comunicação, bem como a influência da linguagem da mídia na aquisição da
Língua Portuguesa.
Finalmente, apresentaremos os resultados da análise dos dados da pesquisa de campo
realizada com o questionário, além das redações feitas pelos alunos sobre a influência do
“Internetês” nos trabalhos escolares.
Com esta pesquisa pretendemos contribuir para o aprofundamento da questão proposta,
visando a uma melhor compreensão dos pressupostos destacados.
13
1 A LINGUAGEM, A IMPORTÂNCIA DA LEITURA E A COMUNICAÇÃO DO
TEXTO POÉTICO:
Dentre as grandes questões que têm atravessado os séculos e desafiado a inteligência
humana encontramos a busca da compreensão da origem da linguagem. Como justificar a
coexistência dos indivíduos das mais diferentes etnias, culturas, línguas e religiões, habitando
nas mais diferentes regiões desse mundo, numa diversidade climática, social e alimentar, cada
vez mais acentuada e sem precedentes na História da Humanidade?
Segundo Victória Fromkin; Robert Rodman, (1993), a posse da linguagem é o atributo
que mais distingue os seres humanos dos animais, sendo que, para compreendermos a nossa
humanidade, teremos que compreender a linguagem que nos torna humanos.
De acordo com a filosofia expressa nos mitos e religiões de muitos povos, é a
linguagem que constitui a fonte da vida humana e do poder. Por exemplo, para
alguns africanos, um recém-nascido é um kuntu, uma„coisa‟, não sendo ainda um
muntu, uma “pessoa”. É apenas ao aprender a linguagem que a criança se transforma
em um ser humano (FROMKIN; RODMAN, 1993).
Para se entender os limites da linguagem e a sua interação na sociedade moderna, outras
questões têm sido levantadas, tais como: Qual a importância da leitura para o homem
moderno? Como se realiza o processo da leitura? O que significa ler? Qual é o leitor ideal?
Como entender o fenômeno poético? Desta forma, este trabalho visa conhecer alguns aspectos
referentes à leitura, apontando caminhos para a compreensão do texto poético.
Em seus estudos sobre o homem diante da linguagem, José G. Herculano de Carvalho
(1974), com suas manifestações lingüísticas extremamente variadas, considera ser
praticamente impossível de se enumerar as línguas faladas no mundo, devido às grandes
diferenças existentes entre os idiomas, não existindo um critério definido para se estabelecer
as diferenças entre língua e dialeto. Ismael de Lima Coutinho (2002) entende que a linguagem
exerce um papel muito importante em todas as manifestações da vida humana e que o instinto
14
de sociabilidade na espécie humana não encontraria expressão adequada, ou mesmo, se
anularia se não existisse a linguagem, não sendo sem razão que se tem atribuído uma origem
divina à palavra.
José Roberto Whitaker Penteado (1969) esclarece que desde a antiguidade, segundo os
relatos bíblicos, acreditou-se em uma linguagem natural, por intermédio de Adão, que
nomeou os seres viventes, segundo a determinação do Criador. Para Santo Agostinho, acredita
o autor, essa língua comum, possivelmente era o hebraico, o qual se diversificou por ocasião
do episódio da Torre de Babel.
Os estudos sobre as origens da Linguagem nos tempos modernos começaram com a
procura de uma localização cerebral para a Linguagem. Admite-se, atualmente, a Linguagem
como função de todo o organismo, pois, falamos com a voz, com as mãos, com os olhos, e
com os movimentos de todo o corpo. Assim, a Linguagem é considerada como uma atividade
cerebral ligada ao desenvolvimento psíquico e condicionada pelo meio social (PENTEADO,
1969). Portanto, a língua escrita, de modo similar à língua oral, é uma invenção social.
Paulo Freire (1993)1 salienta que a compreensão crítica do ato de ler não se esgota na
decodificação pura da palavra ou da linguagem escrita, mas se completa na inteligência do
mundo. “A leitura do mundo vem antes da leitura da palavra, e a nova leitura da palavra
necessita da leitura do mundo”, diz ele. Essa leitura do seu mundo sempre foi um elemento
decisivo para a compreensão da sua importância e recriada através de uma prática consciente
no seu dia-a-dia.
Assim, ler não é, simplesmente, um ato mecânico, mas, institui territórios privilegiados
para os indivíduos de uma mesma comunidade. Ler é ter percepção crítica, interpretação e
recriação da escrita. Ler é um ato de libertação. Em um de seus pronunciamentos, Rui
Barbosa (1923), adverte que “vós os que vos tendes entregado às artes, às letras, às ciências,
1 Trabalho apresentado por Paulo Freire na abertura do Congresso Brasileiro de Leitura, realizado em Campinas, em
novembro de 1981.
15
não esqueçais que de todas elas a mãe é a liberdade, e que sem esta o desenvolvimento
daquelas é uma quimera fatal”.
Os movimentos libertários mundiais têm demonstrado que, à medida que aumenta o
desejo de liberdade, maior se torna o interesse pela leitura, proporcionando-se o
aprimoramento da linguagem. Como consequência, os leitores passam a ter acesso aos bens
culturais produzidos e registrados pela escrita, a despeito da variedade de outras formas de
linguagem e veículos para a divulgação da cultura.
Segundo Umberto Eco (2004), um texto distingue-se de outros tipos de expressão
devido à sua maior complexidade, devendo-se atentar para o “Não-dito”, ou seja, o que não
foi manifestado e expresso, devendo merecer a atenção especial do leitor, no sentido de
reconstruir o texto.
A própria noção de leitor, conforme afirma Dominique Maingueneau (1996) está longe
de ser estável. “O leitor ora é o público efetivo de um texto, ora o suporte de estratégias de
decifração. Os dois aspectos interpenetram-se, mas não tentam captar a mesma coisa. São
pontos de vista diferentes sobre a posição da leitura” (MAINGUENEAU, 1996). E aponta
quatro tipos de leitores: o “leitor invocado”, o leitor privilegiado feliz, chamado de “happy
few”; o “leitor instituído”, o leitor detetive, disposto a perscrutar o enredo e descobrir o
desenlace; o “leitor genérico”, disposto e sempre pronto para as mais diversas surpresas e
frustrações da obra; o “leitor atestado”, o qual concentra a sua atenção no estilo dependendo
de um aparato crítico para saber quem está com a razão. Para ser decifrado, o texto exige que
o leitor instituído se mostre cooperativo, seja capaz de construir o universo de ficção a partir
das indicações que lhe são fornecidas. Umberto Eco chama esse leitor cooperativo de “Leitor-
Modelo”.
A diferença entre um leitor capaz e um que não o é, ou um principiante, não reside no
processo pelo qual é obtido significado a partir do texto, não existindo, assim, um modo
16
diferente, através do qual os maus leitores, em comparação com os bons leitores, obtêm
significado a partir de um texto. A diferença reside na maneira como cada leitor utiliza este
processo único.
Ainda que seja necessário existir flexibilidade na leitura, o processo tem características
essenciais que não podem variar: deve começar com um texto, com alguma forma gráfica; o
texto deve ser produzido como linguagem, e o processo deve terminar com a construção de
significado. Sem significado não há leitura e os leitores não podem obter significado sem
utilizar o processo.
Para compreendermos como a leitura se processa, precisamos compreender,
primeiramente, de que maneira o leitor, o escritor e o texto contribuem para esse processo.
Uma vez que a leitura implica em uma interação entre o leitor e o texto, as características do
leitor são tão importantes para a leitura, como as características do texto. Para Eni Puccinelli
Orlandi (2001), “o mesmo leitor não lê o texto da mesma maneira, em diferentes momentos e
em condições distintas de produção de leitura, e o mesmo texto é lido de maneiras diferentes
em diferentes épocas, por diferentes leitores”. Diferentes pessoas lendo o mesmo texto
apresentarão variações no que se refere à compreensão do mesmo, segundo a natureza de suas
atribuições pessoais ao significado, podendo interpretar, somente, de acordo com a base do
que conhecem.
Deve-se destacar a sensibilidade do escritor em relação ao público ao compor o seu
texto, considerando-se ausência do leitor nesse processo da comunicação, enquanto o leitor
deve construir o significado a partir do texto, na ausência do escritor. Portanto, não podemos
nos voltar para o escritor como o fazemos com um orador e perguntar-lhe: “o que quis dizer?”
Trata-se de uma interação a longa distância entre o leitor e o escritor. O leitor deve depender
unicamente do texto para construir o significado.
A leitura, segundo Eurípedes Garcia Batista (2001) é um processo cíclico, que aconte-
17
ce em quatro ciclos distintos: o ciclo ótico, perceptual, sintático e o de semântico. O leitor está
sempre voltado para obter sentido do texto e sua atenção está sempre voltada para o
significado e não para certas letras, palavras ou mesmo para os aspectos gramaticais
envolvidos no processo. Dentre os tipos de textos encontram-se os seguintes: notícia,
prospecto, folhetim, carta pessoal, carta comercial, cartaz, cartões, texto opinativo, revista em
quadrinhos, outdoors, propaganda, folders, classificados, bula, conta telefônica, contas de
água e luz, texto literário em prosa e poesia, e outros.
Quanto à estratégia da leitura podemos citar algumas das principais razões para se ler:
localizar informações, recompor um texto, identificar componente textual, fazer inferência,
emitir opiniões, levantar pistas, avaliar personagens, fazer julgamentos, interpretar metáforas
e analogias, fazer opções, orientar-se, identificar intenções, estabelecer comparações, deleitar-
se levantar questões, analisar idéias, resumir, identificar, fazer predições, tirar conclusões,
fazer consulta, verificar material utilizado, além de outras finalidades específicas.
Como explicar esse sentimento que surge dentro de nós ao lermos um poema de Carlos
Drummond de Andrade, de Cecília Meireles ou de Clarice Lispector? Como a poesia age
dentro de nós, despertando encanto e aquecendo a frieza do dia-a-dia, conseguindo nos revelar
uma vida ideal, cheia de detalhes, através de uma lente especial, chamada “sensibilidade”? A
poesia nos conduz por caminhos não trilhados e por momentos inimagináveis, revelando-nos
situações e lugares apenas sonhados, fazendo-nos sentir a “aventura da imaginação”.
A sensação provocada por um acontecimento, pela presença de alguém, ou pela própria
natureza, adquire uma experiência diferente para cada um de nós. Com certeza, jamais dois
indivíduos usariam as mesmas palavras em seus poemas para expressarem a mesma realidade
que estivessem vivenciando.
Trata-se da marca individual, personalizada, que caracteriza a poesia. Decifrar um tex-
18
to, segundo Maingueneau (1996) é mobilizar um conjunto diversificado de competências para
percorrer, de modo coerente, uma superfície discursiva, orientada temporalmente. De igual
modo, no texto poético, segundo Alba Olmi e Norberto Perkoski, (2005), o conceito de
conhecimento abre-se em um leque de significações, vinculado ao do pensamento,
entrelaçado aos conceitos de percepção, definição, análise e sensação, associados à ação do
pensamento humano, estabelecendo as articulações entre fruição e cognição. O ato de ler o
poema deflagra uma inter-relação intensa entre o sujeito e o objeto e os ultrapassa, dando
lugar à fruição e cognição do texto
Segundo Gaston Bachelard (1989), a imagem poética alcança uma transubjetividade que
ultrapassa a racionalidade e a reflexão, surgindo na consciência do poeta e do leitor “como um
produto direto do coração, da alma, do ser do homem tomado em sua atualidade”, avalia
Bachelard. Para que se perceba a ação psicológica de um poema, acentua, devem-se seguir
dois eixos de análise fenomenológica: “um que leva às exuberâncias do espírito, outro que
conduz às profundezas da alma” (BACHELARD, 1989). Assim, na leitura de um texto
poético, segundo Bachelard, o leitor pode recriar o percurso criativo do poeta, acrescentando
ao poema e às imagens desenvolvidas pelo escritor a sua tradução inventiva.
A linguagem poética não comunica uma informação didática ou doutrinária, mas revela
uma percepção subjetiva. Porém, o poeta não assume uma atitude passiva diante do mundo,
mas, usando a palavra como arma, ele procura passar uma visão diferente sobre aquilo que o
cerca. A expressão “eu te amo”, por exemplo, que tantas vezes se apresenta de uma forma
desgastada, ao ser utilizado nas mais diversas culturas, é feita de maneira única e particular.
Compulsando os textos bíblicos, encontramos na literatura hebraica, no livro do Profeta
Jeremias, por volta do ano 622 a.C., o registro de uma declaração atribuída ao próprio Deus:
“De longe Iahweh me apareceu e disse: Eu te amei com um amor eterno, por isso conservei
para ti o amor” (JEREMIAS 31, v. 3). Dois verbos distintos são usados pelo Profeta Jeremias:
19
o verbo hebraico “Ahab”, para expressar o amor na forma mais pura, o amor eterno. O outro
verbo utilizado no mesmo versículo é “Hésed”, expressando o amor leal, que estabelece um
pacto com o seu povo. Fazendo-se uma releitura do texto, poderia ser traduzido como: de
longe se me deixou ver o Senhor, dizendo: com amor eterno eu te amei; por isso, com
benignidade e com amor leal te atraí.
Na literatura sapiencial hebraica, encontramos a forma que o poeta utilizou para
expressar “eu te amo”, em 250 a.C., quando diz:
Põe-me como um selo em teu coração, como um selo no teu braço. Porque o amor é
forte como a morte, o amor único mais forte que a eternidade dos mortos. E as
muitas águas não puderam extinguir o amor. (SALOMÃO, em Cântico dos
Cânticos, cap.8, v.6).
Conforme Federico Carlos Eiselen et al (1949), em nenhuma outra composição literária
foi descrito este amor divino de maneira tão encantadora como as palavras da noiva quando
entra no lagar, completando, assim, os laços matrimoniais. Os poemas que fazem parte dessa
coletânea dos Cânticos foram considerados e lidos pelos judeus desde a sua origem, como um
cântico de amor de Deus para como o seu povo. E, o amor humano constituía-se um
verdadeiro símbolo da Aliança de Deus com o seu povo. Na literatura bíblica “joanina grega”2
encontramos o seguinte diálogo entre Cristo e Pedro:
...Simão, filho de João, amas-me (agapâs me) mais do que estes outros? ...Sim
Senhor, tu sabes que te amo (filô te); ...Simão, filho de João, tu me amas (agapâs
me)?; ...Sim, Senhor, tu sabes que te amo (filô te); ...Simão, filho de João, tu me
amas (filô me)?; ...Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que te amo (filô te)
(JOÃO 21:15-17).
Na passagem em questão dois vocábulos diferentes, no original grego, são usados para
traduzir a palavra “amar”. Cristo usou o termo grego “agapao”, nas duas primeiras
indagações, e o vocábulo grego “fileo”, na terceira inquirição. Pedro usou sempre o termo
2 Evangelho de João, segundo a Septuaginta - versão grega do Novo Testamento.
20
grego “fileo” em suas três respostas. No grego, “agapâs” é traduzido como um amor
profundo, utilizado com respeito ao amor divino, bem como sobre o amor exigido pela lei. E o
verbo “fileo”, no grego, é utilizado com o sentido de “ter simpatia”, como um grau inferior de
amor, em relação ao “agapâs”.
Por outro lado, segundo Russell Norman Champlin (1983), muitos intérpretes e
comentaristas modernos consideram que ambos os termos são sinônimos e que podem
expressar todas as formas de emoções, desde o “ter simpatia” até ao amor mais intenso.
Assim, o autor do Quarto Evangelho tendia a usar livremente palavras sinônimas, até mesmo
numa única passagem, sem que, com isso, quisesse dar a entender qualquer diferença de
sentido. E completa Champlin:
O uso das duas palavras, como sinônimos, passou de modo completo para as páginas
do Novo Testamento, apesar de que, no grego helenístico, ou, pelo menos, no grego
“koiné”, utilizado no Novo Testamento, “agapao” fosse a palavra mais
freqüentemente usada, figurando 142 vezes em sua forma verbal e 116 vezes em
sua forma substantivada (CHAMPLIN, 1983).
Em seus estudos sobre a análise do discurso, Orlandi (2001) avalia que, considerando a
linguagem como mediação necessária entre o homem e a sua realidade natural e social, a
análise do discurso articula o lingüístico ao sócio-histórico e ao ideológico, colocando a
linguagem na relação com os modos de produção social.
Não há discurso sem sujeito e não há sujeito sem ideologia. Há, entre os diferentes
modos de produção social, um modo específico que é o simbólico. E, existem
práticas simbólicas produzindo o social. O discurso é a materialização do simbólico
(ORLANDI, 2002).
No poema de Walter Zavatário (2003)3, pode-se constatar o simbolismo produzindo o
social, materializando-se no discurso que expressa uma maneira típica, idealizada, de dizer
“eu te amo”. Fazendo-se mensageiro da música ímpar de seu ritmo, passando pela sutileza das
idéias sugeridas, revela os momentos inesquecíveis pelos quais todos nós passamos, quando o
3 Poema “Foi Assim”, de Walter Zavatário, in: Amanhecer, Caratinga: Caratinga, 2003.
21
sentimento amoroso se nos bate às portas. O poeta canta a doçura de um amor que se entrega
por inteiro, numa procura constante, expressando um amor que inflama, que se apaixona,
embora tendo passado uma vida inteira sem conhecimento desse amor predestinado.
Foi assim
Nasci pra te amar.
Vivi sem saber.
Cresci sem te ter.
Parti sem falar.
Sofri sem te ver.
Morri ao chegar.
(ZAVATÁRIO, 2003)
Utilizando uma forma de degraus, o poeta diz “eu te amo” expressando-se com verbos
que descrevem um ciclo que se completa nas duas direções: descendente, com verbos da
segunda e terceira conjugações e, ascendente, com verbos da primeira e segunda conjugações.
Afirma que, simbolicamente, descendo e subindo os degraus de sua sofrida existência, nasceu,
viveu, cresceu, partiu, sofreu e morreu, quando mais esperava encontrar a sua amada.
Entretanto, embora tenha “morrido ao chegar”, expressando uma ambigüidade, talvez um
amor não correspondido, ou mesmo impossível, podemos ler nessa simbologia que o poeta
viu, falou, teve, soube e amou como nunca. Portanto, os extremos se tocam. E a vida continua
com seus degraus e seus altos e baixos.
A leitura é um dos mais importantes meios de aquisição do conhecimento, como um
aprendizado da arte de pensar. A linguagem exerce um papel muito importante em todas as
manifestações da vida humana, sendo que o instinto de sociabilidade na espécie humana não
encontraria expressão adequada, ou mesmo, se anularia se não existisse a linguagem. A
Linguagem é considerada como uma atividade cerebral ligada ao desenvolvimento psíquico e
22
condicionada pelo meio social. Ler é ter percepção crítica, interpretação e recriação da escrita.
Ler é um ato de libertação. A diferença entre um leitor capaz e um que não o é, ou um
principiante, não reside no processo pelo qual é obtido significado a partir do texto, mas, na
maneira como cada leitor utiliza este processo único.
A leitura é um processo que acontece em quatro ciclos distintos: ótico, perceptual,
gramatical e o de significado. O ato de ler o poema deflagra uma inter-relação intensa entre o
sujeito e o objeto e os ultrapassa, dando lugar à fruição e cognição do texto, pois, a poesia nos
conduz por caminhos não trilhados e por momentos inimagináveis, revelando-nos situações e
lugares apenas sonhados, fazendo-nos sentir a “aventura da imaginação”. A imagem poética é
transubjetiva, ultrapassando os limites da razão e da reflexão, surgindo na consciência do
poeta e do leitor produzido pelo coração e pela alma humana, proporcionando ao leitor a
recriação do texto, elaborando sua própria tradução criativa.
Finalmente, ressaltamos que a linguagem poética não comunica uma informação
didática ou doutrinária, mas revela uma percepção subjetiva, conforme destacada nas diversas
maneiras de se dizer “eu te amo”, ao longo dos séculos, em diferentes línguas e culturas. O
poeta traz consigo essa marca pessoal e intransferível da subjetividade que caracteriza a
poesia, envolta na sensibilidade e na imaginação.
23
2 A HORA E A VEZ DA INTERATIVIDADE
Interatividade é um termo novo, pouco encontrado em dicionários. Entretanto, é
definido, como “possibilidade ou capacidade de ação mútua e possibilidade de comunicação
de duas vias entre o computador e seu usuário” 4
. Conceitua-se, também, como a relação entre
duas ou mais pessoas que, em determinada situação, adaptam seus comportamentos e ações
uns aos outros.
Atualmente, o computador está deixando de ser apenas um instrumento de trabalho,
para se transformar em meio de relacionamento social, nas mais diversas situações e nas
diferentes classes sociais, em ambientes diversificados, onde os limites de tempo e espaço não
são mais considerados. As novas tecnologias dominaram o espaço doméstico, profissional e
de lazer do indivíduo, influindo e modificando relacionamentos, transformando sua rotina
diária.
É o chamado Ciberespaço5, onde a comunicação se processa através dos computadores,
estabelecendo contatos e ações interativas entre seus usuários, onde a distância já não mais
significa absolutamente nada. Assim, a interatividade se processa por intermédio das mais
diversas tecnologias. E, na educação, já podemos observar a grande preocupação com o
ensino e os eventos de interfaces de disciplinas diversas.
O que significa interatividade e ser interativo nos dias atuais? Qual a importância e a
influência da interatividade no processo educacional contemporâneo?
Interatividade resume-se em diversas formas criativas de se trabalhar, usando-se várias
maneiras de se interagir em uma comunicação, onde o emissor consegue transmitir a
mensagem para o receptor. Para se desenvolver qualquer tipo de interatividade é necessário
4 Definição dada pelo Chambers English Dictionary (1989).
5 Termo criado por William Gibson, em seu romance “Neuromancer”, usado para descrever o mundo coletivo de
computadores em rede. Atualmente, utilizado para se referir ao universo formado pelas redes de computadores,
acessadas pelas tecnologias de comunicação.
24
utilizar-se de tecnologias avançadas, existindo a possibilidade de um maior controle do
receptor pelo emissor, proporcionando um conhecimento maior do tema abordado, fazendo
com que a interatividade seja benéfica.
Segundo Marco Silva (2000), o termo interatividade teve início na década de 70, antes
interpretado como sinônimo de interação, e, com o tempo, passou a ser visto como uma
“troca”, o que julgamos ser, ainda, insuficiente para defini-lo, haja vista a abrangência de
significados que o termo envolve.
O termo interação é utilizado nas mais variadas ciências, como “as relações e
influências mútuas entre dois ou mais fatores. Isto é, cada fator altera o outro, a si próprio e,
também, a relação existente entre eles” (PRIMO; CASSOL, 2000).
Essas influências podem ser notadas de diversas maneiras, como a difusão unilateral ou
na forma de diálogo ou reciprocidade, no caso em que as mensagens não podem ser alteradas
no mesmo instante. Essas relações e influências acontecem em todos os momentos em sala de
aula, nas relações professor-aluno. Assim, a interação que acontece é bastante significativa,
pois todos têm oportunidade para expressar suas opiniões, sentimentos e argumentos de forma
organizada.
Há duas maneiras de se separar “interação” de “interatividade”, mostrando-se o seu
funcionamento, como a Interação Reativa: padrões preestabelecidos de interatividade,
seguindo determinadas regras existentes no programa. Exemplo disso é o vídeo game. A
comunicação através da interação reativa torna-se simbólica e há pouca liberdade criativa. A
Interação mútua funciona exatamente ao contrário da interação reativa. Proporciona uma
comunicação com trocas reais e criatividade aberta. Nela a influência e as interferências
influentes agem como um todo, como exemplo, os “chats” (salas de bate-papo) e
“formulários”.
As redes de comunicação disponibilizam informações de forma não sequencial, sendo
25
que essa tecnologia permite ampla liberdade para se “navegar”, fazer permutas ou conexões
em tempo real, podendo o usuário transitar de um ponto a outro, instantaneamente, sem
necessidade de passar por pontos intermediários, de seguir trajetórias predefinidas. O caminho
a ser trilhado e as conexões a serem estabelecidas são definidos pelo usuário.
O processo interativo deve ser mútuo e simultâneo, cada participante deve ter a
possibilidade de atuar quando bem entender, utilizando as tecnologias hipertextuais6,
que permitem ao usuário apenas fazer uma leitura linear do que está ali disponível, e, com
isso, o processo é interrompido, a dimensão criativa e libertária é bloqueada e a interatividade
não se instaura.
Para André Lemos (2000), interatividade é um caso específico de interação, a
interatividade digital, compreendida como um tipo de relação tecnosocial, ou seja, como um
diálogo entre o homem e a máquina, através de interfaces gráficas, em tempo real.
Entretanto, para Pierre Lévy (1999), a interatividade assinala muito mais um
problema, não se limitando às tecnologias digitais, pois, “se trata da necessidade de um novo
trabalho de observação, de concepção e de avaliação dos modos de comunicação, do que uma
característica simples e unívoca, atribuível a um sistema específico”.
A interatividade vai além de interação digital e está na “disposição ou na predisposição
para mais interação, para uma hiperinteração, não sendo apenas um ato, uma ação, e sim, um
processo, inclusive instável, uma abertura para mais e mais comunicação, mais e mais trocas,
e mais participação. Enquanto interação nos leva a uma atualização, a um acontecimento. O
professor facilita o acesso do aluno às tecnologias para que, então, na relação com elas,
individualmente, o aluno construa o seu conhecimento.
Na escola interativa, o Professor disponibiliza múltiplas experimentações, múltiplas
6 O termo refere-se ao espaço de interação na Internet, onde a mensagem pode ser alterada, transformada,
personalizada, de acordo com a intencionalidade do usuário, interagindo como participante da mensagem. Trata-
se de “um conjunto de nós ligados por conexões. Os nós podem ser palavras, páginas, imagens, gráficos ou
partes de gráficos, sequências sonoras, documentos complexos que podem eles mesmos ser hipertextos” (LEVY,
1993).
26
expressões, além de uma montagem de conexões em rede que permite múltiplas ocorrências.
Ele é formulador de problemas, provocador de situações, arquiteto de percursos e mobilizador
da experiência do conhecimento. No processo interativo de aprendizagem utiliza-se a
hipermídia7, ao invés do aprendizado seriado, linear e sequencial.
Ao invés de absorver a matéria o aluno aprende a aprender. No aprendizado transmitido
a escola tem a mesma dimensão para todos, enquanto a escola interativa é feita sob medida,
sendo centralizada no aluno, e não no professor. E, a escola deixa de ser considerada como
uma tortura, passando a ser vista como uma diversão.
Segundo Alessandra de Assis Picanço et al (2008), o avanço das novas tecnologias
representa para a educação uma inversão dos papéis desempenhados por professores e alunos
em sala de aula. E, contextualizada em Marco Silva (1999), avalia que o professor
contemporâneo precisa mudar sua atitude pedagógica tradicional de discursar, ditar e escrever
no quadro de giz, não mais se identificando com o tradicional “contador de histórias”. “Ele
necessita construir um conjunto de territórios a serem explorados pelos alunos e disponibilizar
co-autoria e múltiplas conexões, permitindo que o aluno também faça por si mesmo”, diz
Picanço (2008).
Para tanto, é necessário pensarmos em “território” para além da noção espacial. É
necessário pensarmos, também, em “territórios existenciais” (Guattari, 1995) como
relacionados às maneiras de ser, ao corpo, ao meio ambiente, às etnias, às nações.
Esses territórios, que o professor oportuniza a seus alunos explorarem têm uma
organização, um significado dado a eles pelo professor. Entretanto, à medida que os
alunos passam a explorá-los, eles se desterritorializam fogem da organização dada
pelo professor, abrem-se a outros significados. No entanto, no trabalho conjunto de
professor/aluno deve voltar a ocorrer uma reterritorialização, que, por sua vez,
levará a novas desterritorializações e assim sucessivamente. Com isso, o ato
pedagógico passa a ser o de construção de um mapa (PICANÇO, 2008).
De acordo com Giles Deleuze e Félix Guattari (1995), o mapa é aberto, é conectável
7 Refere-se ao termo criado na década de 60, pelo filósofo e sociólogo americano, Theodor Nelson, para definir a
reunião de várias mídias em um suporte computacional, sustentado por sistemas eletrônicos de comunicação.
Hipermídia, diferentemente de multimídia, não é a mera reunião dos meios existentes, e sim, a fusão desses
meios a partir de elementos não-lineares.
27
em todas as suas dimensões, desmontável, reversível, suscetível de receber modificações
constantemente. O mapa pode ser rasgado, revertido, adaptar-se a montagens de qualquer
natureza, ser preparado por um indivíduo, um grupo, uma formação social (DELEUZE;
GUATARI,1995).
Portanto, o papel do professor, segundo os estudos de Picanço (2008), deve ir muito
além do que simplesmente ser “um conselheiro, uma ponte entre a informação e o
entendimento, (...) um estimulador de curiosidade e fonte de dicas para que o aluno viaje
sozinho no conhecimento obtido nos livros e nas redes de computador” (SILVA, 2000). E, o
professor não é mais o “transmissor”, nem o “facilitador”, como geralmente é denominado na
maioria dos projetos de uso de Novas Tecnologias em Educação.
Segundo Marco Silva (2000), o termo interatividade é utilizado das formas mais
diversas e desencontradas, “abrangendo um campo semântico dos mais vastos, que
compreende desde salas de cinema em que as cadeiras se movem, até novelas de televisão em
que os espectadores escolhem, por telefone, o final da história” (SILVA, 2000).
É preciso atentar para o sentido depurado do termo e, aí, verificar a perspectiva de
libertação da comunicação da lógica da transmissão.
Interatividade é um conceito de comunicação e não de informática. Pode ser
empregado para significar a comunicação entre interlocutores humanos, entre
humanos e máquinas e entre usuário e serviço. No entanto, para que haja
interatividade é preciso garantir duas disposições basicamente: 1. A dialógica que
associa emissão e recepção como pólos antagônicos e complementares na co-criação
da comunicação; 2. A intervenção do usuário ou receptor no conteúdo da mensagem
ou do programa, abertos a manipulações e modificações (SILVA, 2000).
Segundo Silva (2000) essas disposições implicam numa mudança fundamental no
esquema clássico da comunicação, resultando numa mudança paradigmática na teoria e
pragmática comunicacionais:
28
o emissor não emite mais no sentido que se entende habitualmente. Ele não propõe
uma mensagem fechada, ao contrário, oferece um leque de possibilidades. O
receptor não está mais em situação de recepção clássica. A mensagem só toma todo
o seu significado sob a sua intervenção. Ele se torna, de certa maneira, criador.
Enfim, a mensagem que agora pode ser recomposta, reorganizada, modificada em
permanência sob o impacto das intervenções do receptor dos ditames do sistema,
perde seu estatuto de mensagem „emitida‟. Assim, parece claramente que o esquema
clássico da informação, que se baseava numa ligação unilateral emissor-mensagem-
receptor, se acha mal colocado em situação de interatividade (SILVA, 2000).
Silva (2000) aponta em seus estudos que, para promover a sala de aula interativa, o
professor precisa desenvolver pelo menos cinco habilidades, entre outras:
pressupor a participação-intervenção dos alunos, sabendo que participar é muito
mais que responder "sim" ou "não", é muito mais que escolher uma opção dada.
Participar é atuar na construção do conhecimento e da comunicação; garantir a
bidirecionalidade da emissão e recepção, sabendo que a comunicação e a
aprendizagem são produzidas pela ação conjunta do professor e dos alunos;
disponibilizar múltiplas redes articulatórias, sabendo que não se propõe uma
mensagem fechada, ao contrário, se oferece informações em redes de conexões,
permitindo ao receptor ampla liberdade de associações, de significações; engendrar a
cooperação, sabendo que a comunicação e o conhecimento se constroem entre
alunos e professor como co-criação e não no trabalho solitário; suscitar a expressão
e a confrontação das subjetividades, sabendo que a fala livre e plural supõe lidar
com as diferenças na construção da tolerância e da democracia. (SILVA, 2000).
Afirma Silva (2000) que “o essencial não é a tecnologia, mas um novo estilo de
pedagogia, sustentado por uma modalidade “comunicacional” que supõe interatividade, isto é,
participação, cooperação, “bidirecionalidade” e multiplicidade de conexões entre informações
e atores envolvidos” (SILVA, 2000).
Agora, mais do que nunca, o professor é desafiado a modificar a sua comunicação em
sala de aula e inventar um novo modelo de educação. Como diz Edgard Morin, "hoje, é
preciso inventar um novo modelo de educação, já que estamos numa época que favorece a
oportunidade de disseminar outro modo de pensamento" (MORIN, 1998).
O futuro já se fez presente. Estamos em plena era digital, da sociedade em rede, da
sociedade de informação, da interatividade, da cibercultura. A educação reconhece que a
interatividade facilita a aprendizagem e os diversos recursos tecnológicos como as interfaces,
a multimídia, e a web têm facilitado, cada vez mais, as práticas interativas.
29
Entretanto, é necessário observar, conforme avalia Rosana de Fátima Dias (2008) em
seus estudos, que “os processos interativos só apresentarão resultados positivos se estiverem
integrados em um contexto estrutural de mudanças diante da vida, do mundo, dos indivíduos
de forma aberta e participativa” (DIAS, 2008).
Lévy (2000) afirma que a melhor tecnologia é a nossa mente, muito mais complexa que
o melhor computador, considerando-se que ela pensa, relaciona, sente, intui e pode nos
surpreender. As tecnologias mais avançadas terão, com certeza, o mesmo tratamento que
damos à nossa vida.
Se somos pessoas abertas, as utilizaremos para comunicar-nos mais, para interagir
melhor. Se somos pessoas fechadas, desconfiadas, utilizaremos as tecnologias de
forma defensiva, superficial. Se somos pessoas autoritárias, utilizaremos as
tecnologias para controlar, para aumentar o nosso poder. O “poder de interação não
está fundamentalmente nas tecnologias, mas nas nossas mentes (LÉVY, 2000).
Segundo as conclusões de Ludmila Sacramento et al (2008), contextualizadas em Silva
(2000), a sala de aula interativa seria o ambiente ideal para a eliminação dos obstáculos com o
tradicional falar e ditar do professor tradicional, onde ele disponibilizaria novas oportunidades
para os alunos, permitindo a escolha, a busca e construção do próprio conhecimento pelo
aluno.
Dessa forma o aluno deixaria de ser um mero receptor de informações, e passaria a ser
um co-autor, contando com a oportunidade de produzir seu próprio conhecimento, ao invés de
simplesmente reproduzi-lo.
Torna-se necessário, cada vez mais, acompanharmos de perto as novas tecnologias que
surgem a cada momento, se quisermos continuar inseridos no nosso ambiente de trabalho e
continuar estabelecendo o diálogo com nossos alunos, comunicando-nos cada vez mais e
interagindo de forma aberta e participativa.
Afirma Sacramento (2008) que “toda essa busca de transformação do ensino escolar é
30
muito importante nos dias de hoje, já que as novas tecnologias de comunicação e informação
estão se tornando peças-chaves no nosso dia-a-dia” (SACRAMENTO, 2008).
para estarmos inseridos no mundo daqui algum tempo, possivelmente, precisaremos
estar andando lado a lado com essas invenções tecnológicas. É interessante res-
saltarmos que a interatividade nada mais é que um meio de todos se comunicarem
com o todo. E, dentro do ambiente escolar, ela se torna cada vez mais fundamental
por causa do futuro (acredito que não tão longe). Precisamos, desde já, tentar inserir
na cabeça das pessoas que elas também têm o direito de se comunicar, e acima de
tudo, de produzir o seu próprio conhecimento. Afinal, é como diz Marco Silva: “A
interatividade é o pão cada vez mais cotidiano de uma sociedade inteira.”
(SACRAMENTO, 2008).
Conforme os estudos de Simone de Lucena Ferreira et al (2004), contextualizados em
Nelson de Lucca Pretto (1996), as tecnologias na educação podem ser utilizadas como
“instrumentalidade” e como “fundamento”. Como instrumentalidade é utilizá-las como
recursos didáticos, servindo para animar a aula, motivar o aluno ou, simplesmente, prender a
atenção dos estudantes. “A educação continua como está, só que com novos e avançados
recursos tecnológicos. Ou seja, o futuro está no equipamento e não na escola”, avalia Pretto
(1996).
Ao utilizar a tecnologia, seja um video ou um software educativo, de forma instrumental
para substituir a aula, que poderia ser uma comunicação interativa, entre alunos e professores
no debate de diferentes aspectos e iniciando investigações, o próprio professor estará
iniciando seu processo de desintermediação.
A outra possibilidade apontada por Pretto (1996), nas pesquisas de Ferreira (2004),
consiste em utilizar as TIC como fundamento, ou seja, como elemento estruturante, carregado
de conteúdo e possibilitador de uma nova forma de ser, pensar e agir. Na perspectiva do
fundamento, é possível, também, incorporar o uso instrumental, que poderá ajudar a realizar
atividades construtivas. Mas o inverso, que seria usar as TIC como instrumentalidade e, a
partir, daí como fundamento, não é possível de acontecer.
31
Pretto (1996) considera que:
a utilização como instrumentalidade esvazia esses recursos de suas características
fundamentais, transformando-os apenas num animador da velha educação, que se
desfaz velozmente, uma vez que o encanto da novidade também deixa de existir
(PRETTO, 1996).
O progresso das ciências e das tecnologias, no mundo atual, tem se desenvolvido em
uma velocidade tal, que tem causado espanto e, ao mesmo tempo, admiração a todos,
apresentando a clara impressão de que a vida está mesmo, cada vez mais, à mercê do efêmero
e do imprevisível.
Estamos convivendo com a transição de formas diferentes de compreensão da própria
vida, do mundo, da sociedade e do homem. Assim, os eventos se processam,
simultaneamente, dando nova perspectiva de vida aos indivíduos. As novas tecnologias na
comunicação informatizada projetam o indivíduo, através da Internet, em um espaço virtual
ilimitado, democrático e globalizado.
Ser interativo nos dias atuais significa buscar o conhecimento através do computador,
utilizando as novas tecnologias da comunicação, sendo capaz de receber e enviar mensagens,
acessar páginas e navegar pelo mundo fascinante da Internet. Significa expandir o espaço
ilimitado e flexível, realizando as interfaces e estabelecendo os pontos de parada, segundo os
próprios interesses do usuário. Significa navegar pelo Ciberespaço, sem se preocupar com os
limites e as fronteiras territoriais, econômicas e culturais desse mundo.
A importância e a influência da interatividade no processo educacional contemporâneo
podem ser avaliadas pelo avanço das novas tecnologias, exigindo uma inversão dos papéis
desempenhados por professores e alunos em sala de aula. O professor contemporâneo precisa
mudar sua atitude pedagógica tradicional de discursar, ditar e escrever no quadro de giz, não
mais se identificando com o tradicional “contador de histórias”, necessitando construir um
conjunto de territórios a serem explorados pelos alunos e disponibilizando co-autoria e múlti-
32
e múltiplas conexões, permitindo que o aluno, também, produza o seu próprio conhecimento.
Portanto, na escola interativa, o professor deve disponibilizar as múltiplas
experimentações, porque ele é o formulador de problemas, provocador de situações, arquiteto
de percursos e mobilizador da experiência do conhecimento. O professor contemporâneo é
desafiado a modificar a sua metodologia em sala de aula e inventar um novo modelo de
educação. A educação reconhece que a interatividade facilita a aprendizagem e os diversos
recursos tecnológicos como as interfaces, a multimídia, e a web, têm facilitado, cada vez mais,
as práticas interativas.
Entretanto, reconhecemos que a força da interação não está basicamente nas
tecnologias, mas nas nossas mentes. Ela é muito mais complexa que o melhor computador,
considerando-se que ela pensa, relaciona, sente, intui e pode nos surpreender. Assim, devemos
dar o mesmo tratamento às novas tecnologias que damos à nossa vida. Devemos estar de
mentes abertas para que possamos utilizar as novas tecnologias, a fim de se estabelecer uma
comunicação à altura do desenvolvimento tecnológico, para maior interação na busca do
conhecimento.
Eis que desponta um novo tempo para a interatividade. Os avanços da ciência e da
tecnologia estão cada vez mais em ritmo acelerado, indicando que é muito mais tarde do que
pensamos. É hora de se acabar com a rivalidade entre o homem e as máquinas, achando que
existe uma aparente inocência das novas tecnologias, e que elas estão prestes a dominar o
homem e, então, devorá-lo.
Precisamos acordar para a realidade digital, que se estende por todas as atividades
humanas, em todo o mundo, possibilitando-nos, mais do que nunca, a realização de interfaces
autênticas, com a prática constante de trocas rápidas e seguras, de informações e de
conhecimentos, constituindo-se na verdadeira alavanca do progresso.
Com o advento do Ciberespaço e o desenvolvimento das Tecnologias da Informação e
33
Comunicação-TIC, estabeleceram-se novas formas de comunicação mediadas por
computador, as quais têm sido amplamente exploradas, como recursos educacionais, e como
solução para os anseios de conhecimento do homem contemporâneo.
Estamos em plena era digital, da sociedade em rede, da sociedade de informação, da
interatividade, da cibercultura. É como diz Silva (2000): “A interatividade é o pão cada vez
mais cotidiano de uma sociedade inteira.” Compete a cada um de nós apropriarmos desse pão
e fazermos uso dele, diariamente, segundo as nossas necessidades, alimentando-nos do
conhecimento e produzindo o nosso próprio alimento, pois, é chegada a hora e a vez da
interatividade.
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3 POLÍTICAS PÚBLICAS: INCLUSÃO DIGITAL
Segundo Luiz Fernando Ballin Ortolani (2003), o termo Política Pública deriva do
inglês "public policy", sendo que a palavra "policy" relaciona-se com as iniciativas
governamentais, diretrizes, ações, planos e interesses sociais, enquanto a palavra "politics"
refere-se à política partidária, políticos, interesses partidários e interesses particulares. Uma
das conotações da expressão “Política Pública” refere-se a uma atividade, como política
industrial, política econômica, ou refere-se a uma política progressista, ou a uma política de
um sindicato, como decisão do governo de invadir um determinado território ou país, como
gastos em setores específicos, como programas de concessão de créditos, além de várias
outras conotações.
Ortolani (2002) considera que o processo de formulação e gestão de políticas públicas -
"public policymaking" - consiste, segundo as conclusões de Yehezkel Dror (1968)8, num
processo dinâmico, muito complexo.
Esse processo envolve vários componentes que aportam contribuições distintas,
decidindo sobre a adoção de diretrizes gerais, visando à ação e direcionadas para o
futuro, cuja responsabilidade é predominantemente de órgãos governamentais, os
quais agem almejando formalmente o alcance do interesse público pelos melhores
meios possíveis (DROR,1968).
Comentando essa afirmativa, Ortolani (2003), afirma que o processo é “dinâmico”,
porque ocorre dentro de uma estrutura que exige fontes contínuas de recursos e motivação. A
“complexidade” existe porque a gestão de políticas públicas envolve muitos componentes que
se comunicam e interagem de maneiras diferentes, de forma explícita ou por canais ocultos.
Os canais de representação dos diferentes grupos de interesses originam as “contribuições
distintas”.
8 Public policymaking re-examined. Yehezkel Dror. - San Francisco, California, Chandler, 1968.
35
As “diretrizes” são de caráter geral, ao invés de instruções detalhadas, como linhas de
ação a serem seguidas, significando, segundo Ortolani, a necessidade de mudança do próprio
administrador público, da sociedade e seus grupos afetados pela política, representando uma
das mais importantes características do processo tendo em vista introduzir o elemento
incerteza com relação à política.
No que diz respeito aos órgãos governamentais, diz Ortolani, “indica que a mudança de
comportamento desejada se inicia em maior escala nos órgãos públicos, mas não com
exclusividade nestes, podendo partir de pessoas ou estruturas não governamentais” (Ortolani,
2003).
Almejando formalmente o interesse público, embora, em alguns casos, possa
representar interesses de oligarquias ou ditaduras, os formuladores de políticas
públicas buscam o apoio dos cidadãos para dar legitimidade à política, reforçando
que a forma idealizada é a melhor possível (ORTOLANI, 2003).
Inclusão Digital, segundo Paulo Rebêlo (2005), consiste em melhorar as condições de
vida de uma determinada região ou comunidade, com ajuda da tecnologia. Assim, incluir
digitalmente não é apenas “alfabetizar” a pessoa em informática, mas, também, melhorar os
quadros sociais, a partir do manuseio dos computadores.
Muitos consideram que “incluir digitalmente é, simplesmente, colocar computadores na
frente das pessoas e ensiná–las a usar Windows e pacotes de escritório”, diz Rebêlo.
Além disso, temos presenciado muitas comunidades ou escolas que recebem
computadores novos, mas nunca são utilizados, ou mesmo retirados da caixa, porque não
existe linha telefônica para se conectar à Internet ou mesmo a inexistência de sinal de Internet
na região.
Em muitos casos faltam professores qualificados para repassarem o conhecimento
necessário de informática, bem como o total despreparo de muitos educadores para orientarem
e incentivarem o uso da Internet nas pesquisas escolares, nos seus respectivos conteúdos.
36
O termo “inclusão digital”, de tão usado, já se tornou um jargão. É comum ver
empresas e governos falando em democratização do acesso e inclusão digital sem
critérios e sem prestar atenção se a tal inclusão promove os efeitos desejados. O
problema é que virou moda falar do assunto, ainda mais no Brasil, com tantas
dificuldades - impostos, burocracia, educação - para facilitar o acesso aos
computadores. É que inclusão digital significa, antes de tudo, melhorar as condições
de vida de uma determinada região ou comunidade com ajuda da tecnologia. A
expressão nasceu do termo “digital divide”, que em inglês significa algo como
“divisória digital”. Hoje, a depender do contexto, é comum ler expressões similares
como democratização da informação, universalização da tecnologia e outras
variantes parecidas e politicamente corretas (REBÊLO, 2005).
Eduardo Oscar de Campos Chaves, (2008) considera como Inclusão Digital o processo,
mediante o qual, as pessoas obtêm acesso à tecnologia digital e se capacitam para utilizá-la,
de modo a promover seus interesses e desenvolver competências que resultem na melhoria da
qualidade de vida. Em suas conclusões, segundo Lisa J. Servon (2002)9, Chaves (2008)
observa que a Inclusão Digital envolve, basicamente, três componentes: acesso à tecnologia
digital, capacidade de manejar essa tecnologia do ponto de vista técnico e capacidade de
integrar essa tecnologia nos afazeres diários. Isso significa, segundo Chaves (2008) “que a
velha visão da Inclusão Digital, segundo a qual, para promovê-la, bastava dar aos
digitalmente excluídos acesso à tecnologia, fornecendo-lhes computadores, software e
conexão com a Internet, não é mais adequada”.
Também não basta complementar o acesso com treinamento técnico em Windows,
Office e Internet ou softwares equivalentes, para que as pessoas aprendam a manejar
tecnicamente a tecnologia, embora esse domínio técnico da tecnologia também seja
uma condição necessária para a Inclusão Digital. Esses dois componentes, acesso e
manejo técnico da tecnologia, são condições necessárias para a Inclusão Digital –
mas, nem mesmo conjuntamente se tornam condições suficientes. Para que as
pessoas não sejam excluídas dos benefícios da tecnologia digital, é preciso, além
desses dois componentes, que elas adquiram a capacidade de, efetivamente, integrar
a tecnologia em sua vida e em seus afazeres diários, de modo a desenvolver
competências, que resultem na melhoria da qualidade de sua vida (SERVON, 2002).
Segundo os estudos de Chaves (2008), do ano 1000 a.C. até o ano 1500 d.C., num
período de dois mil e quinhentos anos, a maioria absoluta das pessoas era excluída da
tecnologia da escrita. A despeito da importância que a escrita rapidamente adquiriu como
9 Bridging the digital divide: technology, community and public policy-series the information age. Lisa J.
Servon. Oxford: Blackwell, 2002.
37
veículo para a produção literária, filosófica e científica, como ferramenta educacional, mesmo
a partir de 1500 d.C. essa tecnologia tem encontrado sérias dificuldades para alcançar a
inclusão universal.
No Brasil, avalia Chaves, com a chegada dos europeus em 1500, quase ao mesmo
tempo em que a imprensa era inventada, e com a Reforma Protestante do século XVI, quando
os reformadores proporcionaram uma significativa contribuição à causa do aprendizado da
leitura e da escrita, ao criar escolas e defender a tese de que todos deveriam aprender a ler e a
escrever para que pudessem ler e interpretar as Sagradas Escrituras, inspirados pelo Espírito
Santo, ainda temos, cerca de 70% de "analfabetos funcionais"10
, excluídos dos enormes
benefícios de uma tecnologia inventada há 3.000 anos.
Paulo Augusto de Podestá Botelho (2009) considera o analfabetismo funcional como
“um problema silencioso e perverso que afeta as empresas”.
Não se trata de pessoas que nunca foram à escola. Elas sabem ler, escrever e contar;
chegam a ocupar cargos administrativos, mas não conseguem compreender a palavra
escrita. Bons livros, artigos e crônicas, nem pensar! Computadores provocam
calafrios e manuais de procedimentos são ignorados; mesmo aqueles que ensinam
uma nova tarefa ou a operar uma máquina. Elas preferem ouvir explicações da boca
de colegas. Entretanto, diante do chefe - isso quando ele é mesmo um chefe - fingem
entender tudo, para depois sair perguntando aos outros o que e como deve ser
realizado tal serviço. E quase sempre agem por tentativa e erro (BOTELHO, 2009).
Conclui Botelho (2009) que a única saída para se erradicar o analfabetismo funcional é
“educar e treinar para a qualidade. E qualidade não tem custo; é investimento. O custo da
qualidade é a despesa do trabalho errado, mal feito, incompleto, sem profissionalismo. É o
custo do analfabetismo funcional!”
Na pesquisa de Maria Viviane Monteiro Delgado e Maria Nezildai Culti (2004), a
importância da Inclusão Digital, passou a ser percebida pelos órgãos governamentais, graças à
10
Segundo Paulo Augusto de Podestá Botelho, Professor e Consultor de Empresas para Programas de
Engenharia da Qualidade, Antropologia e Empresarial e Gestão Ambiental, Membro da SBPC – Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência.
38
iniciativa privada, com a criação de uma ONG, em 1995, do Comitê para Democratização da
Informática-CDI, promovendo a Inclusão Digital em comunidades carentes, utilizando-se das
TIC, como instrumento para a construção e o exercício da cidadania, graças à ajuda de várias
empresas privadas nacionais, multinacionais e órgãos multilaterais, tais como o Banco
Interamericano de Desenvolvimento-BID e o Banco Mundial-BM.
A característica principal da política pública é a sua resposta aos problemas da
sociedade, envolvida por uma atuação consistente e continuada, substituindo um paradigma
disciplinar por outro, o reflexo dos traços da estrutura governamental e a coalizão social,
como, por exemplo, a política do menor.
Assim, dentre as principais Políticas Públicas no Brasil, citamos a década de 30, com a
questão de Polícia, como uma abordagem repressora. Nas décadas de 60 e 70, com o aspecto
da carência, uma abordagem assistencial. Nas décadas de 80 e 90, com o aspecto da
cidadania, abordando o problema do menor como um imbuído de direitos.
De acordo com Maria Paula Dallari Bucci (2008)11
, as Políticas Públicas têm a
finalidade de assegurar a plenitude da liberdade a todos, indistintamente, sendo que podem ser
consideradas, ao mesmo tempo, política social, tais como a política industrial, a política
energética e outras.
E, também, existe uma estreita relação entre os temas das políticas públicas e dos
direitos humanos. Pois, uma das características do movimento de ampliação do conteúdo
jurídico da dignidade humana é a multiplicação das demandas por direitos, demandas
diversificadas e pulverizadas na titularidade de indivíduos.
As políticas públicas, de acordo com Bucci (2008) “funcionam como instrumentos de
aglutinação de interesses em torno de objetivos comuns, que passam a estruturar uma coletivi-
11
Doutora em Direito do Estado pela USP. Professora do Curso de Mestrado em Direito da Universidade
Católica de Santos, Procuradora da Universidade de São Paulo.
39
dade de interesses”.
Segundo uma definição estipulativa, toda política pública é um instrumento de
planejamento, racionalização e participação popular. Os elementos das políticas
públicas são o fim da ação governamental, as metas nas quais se desdobra esse fim,
os meios alocados para a realização das metas e, finalmente, os processos de sua
realização (BUCCI, 2008).
Segundo Renato Cruz (2004), o CDI, em fevereiro de 2004, contava com uma rede de
837 Escolas de Informática e Cidadania-EIC, sendo 751 no País e 86 no exterior, atuando no
combate às desigualdades sociais no Brasil. A exclusão digital no Brasil alcança índices
elevados, pois, de acordo com Delgado e Culti (2004) a Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílio-PNAD (2001), aponta que 12,46% da população brasileira possuem acesso ao
computador, sendo que desse percentual, 8,31% têm acesso à Internet, 97% dos Incluídos
Digitais vivem nos centros urbanos.
Os descendentes de orientais são o grupo de maior acesso proporcional: 41,66%;
seguidos pelos brancos: 15,14%; pardos: 4,06%. Considerando-se não apenas os hardwares e
os softwares, mas, também, o capital humano, com a capacitação e a educação, visando,
assim, o desenvolvimento social.
Gustavo Gindre Monteiro Soares (2007) aponta índices alarmantes da exclusão digital
no Brasil, segundo a Pesquisa sobre o uso das tecnologias da informação e da comunicação
realizada em 2006 pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil-CGI.br.
55% da população brasileira jamais usaram um computador e 66% nunca acessaram
a Internet. Apenas 19% das residências possuem computadores de mesa e 1%
dispõem de notebooks. A concentração também se aplica ao plano regional. O
percentual de casas com desktops é de 24,2% no sudeste, 24,6% no sul, 18,9% no
centro-oeste, 8,5% no nordeste e 10,4% no norte. Apenas 14,5% dos domicílios
possuem acesso à Internet. E conforme aumenta a escolaridade e a renda do
respondente aumenta a proporção de domicílios com acesso à Internet. O mesmo
ocorre em relação à classe social, quanto mais alta a classe social do respondente,
maior o acesso à rede. Das residências conectadas, 49,1% utilizam acesso dial-up
via telefone, 40,35% algum tipo de conexão em banda larga e, 9,2% não souberam
responder. Fazendo uma simples regra de três podemos concluir que, do total de
domicílios brasileiros, somente 6% possuem algum tipo de acesso dedicado à
Internet (SOARES, 2007).
40
Isso significa, considera Soares (2007), que “a comunicação é um direito humano
inalienável e que privar o homem da sua capacidade de se comunicar é privá-lo da sua própria
humanidade”. Portanto, precisamos ser capazes de reverter este cenário de exclusão, para que
possamos utilizar a Internet como uma ferramenta para garantir e ampliar o direito de todos à
comunicação.
A reversão se dará pela associação de uma série de políticas, como a diminuição da
taxa de juros (e do spread bancário), aumento da capacidade de investimentos por
parte do Estado e uma vigorosa política industrial que vise diminuir nossa
dependência tecnológica (SOARES, 2007).
Segundo o Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) os resultados
da 5ª Pesquisa Sobre Uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação no Brasil-TIC
Domicílios 200912
, conduzido pelo Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e
da Comunicação (CETIC.br), mostram um crescimento recorde de posse e uso do
computador, registrando, também, um maior acesso à Internet nas residências brasileiras.
As pesquisas apontam que a posse de computador teve o seu maior crescimento nos
últimos 5 anos: 36% dos domicílios possuem computador, enquanto apenas 28% tinham o
equipamento em 2008. O mesmo ocorreu com o uso da Internet, passando de 20% dos
domicílios com acesso à Internet em 2008, para 27% em 2009, representando um crescimento
de 35% no período.
O estudo apontou crescimento significativo no percentual de acessos à Internet nos
domicílios em comparação aos centros públicos pagos, conhecidos popularmente como
Lanhouses. Pela primeira vez, desde 2007, o acesso residencial, com 48%, ficou à frente das
12Conforme “Análise dos Resultados da TIC Domicílios 2009”. Disponível em:
<http://www.cetic.br/usuarios/tic/2009/analise-tic-domicilios2009.pdf>. Acesso em 14 Abr. 2010.
41
Lanhouses, citadas por 45% dos respondentes. As pesquisas apontam que a televisão continua
sendo o equipamento mais presente nos lares urbanos, mantendo o índice de 98%, seguido
pelo rádio, com 86%. O telefone celular caminha para a universalização nos domicílios
brasileiros, presente em 82% das residências nas áreas urbanas e em 78% no total do país.
Entre 2007 e 2008 a posse do computador portátil cresceu 70%, passando de 3% para 5%.
As pesquisas salientam que houve um aumento na proporção de domicílios com
computador, mas sem acesso à Internet, demonstrando que o custo do acesso à rede ainda é
elevado.
O tipo de conexão à Internet mais utilizada nos domicílios é a conexão dedicada em
banda larga, presente em 66% dos lares que possuem acesso à Internet. Apesar de se
concentrar nos domicílios economicamente mais favorecidos, a taxa de crescimento anual
mostra que a população com menor renda possui cada vez mais esse tipo de conexão.
As iniciativas governamentais para as Políticas Públicas visando à Inclusão Digital
devem ser direcionadas para a redução da distância entre os ricos e os pobres, como foi muito
bem colocado no artigo “Os Três Pilares da Inclusão Digital” o qual, considera que, para se
alcançar a Inclusão Digital são necessárias Tecnologias de Informação e Comunicação-TIC,
Renda e Educação.
É preciso que os formuladores de política pública do governo percebam que a
exclusão sócio-econômica desencadeia a exclusão digital ao mesmo tempo em que a
exclusão digital aprofunda a exclusão socioeconômica (SILVA, 2004).
O Programa Nacional de Banda Larga, lançado no dia 8 de abril de 2008 pelo Governo
Federal13
visa assegurar o acesso à Internet de alta velocidade, a 56.685 escolas em áreas
urbanas dos 5.664 municípios brasileiros até 2010, beneficiando 37,1 milhões de alunos.
De acordo com o Senador Casagrande, 40% das localidades deveriam ser alcançadas
13
Segundo o Senador Renato Casagrande, em seu pronunciamento em 11 de abril de 2008, sobre Programa
Nacional de Banda Larga.
42
ainda no ano de 2008, chegando a 80% em 2009 e a 100% no ano seguinte. A velocidade de
acesso seria de um megabyte (MB).
Confiado no sucesso do programa de Inclusão Digital o Senador Casagrande considera
que se trata de um enorme salto na universalização do acesso à Internet no Brasil, sendo que a
“viabilização dessa ferramenta, absolutamente necessária no ensino atual, nas escolas
públicas, inverte a lógica de exclusão de várias regiões urbanas” (CASAGRANDE, 2008).
Segundo a Agência Senado, o programa é resultado de uma permuta do governo com as
concessionárias de telefonia, que vão possibilitar o acesso à banda larga em troca da
obrigatoriedade de criação de 8.461 postos de serviços telefônicos no país.
O Senador Renato Casagrande avaliou que o problema da permuta, no entanto, é que as
concessionárias de telefonia estão propensas a operar nos pequenos municípios com uma
política de preços, para acabar com provedores locais, aos quais cobrariam preços muito
elevados para utilização dos cabos que transmitem a banda larga.
Segundo Marcela Rebelo (2007), uma Portaria do Ministério da Ciência e Tecnologia
(MCT), publicada em 14 de maio de 2007, no Diário Oficial da União, inclui os notebooks no
programa do Governo, “Computador Para Todos”, lançado em setembro de 2005, fazendo
com que a população possa adquirir seus computadores portáteis, haja vista que antes, o
programa de inclusão digital do governo federal só permitia a compra de computador de
mesa, o desktop.
A portaria traz, ainda, outras mudanças, como a diminuição do crédito oferecido à
população para a compra do computador de mesa de R$ 1.400,00 para até R$ 1.200,00, sendo
o financiamento oferecido pelo Banco do Brasil e pela Caixa Econômica Federal, com juros
de 2% ao mês e pagamento em 24 meses. O financiamento dos notebooks poderá ser de até
R$ 1.800,00 permitindo, assim, a inclusão digital de famílias de baixa renda.
O programa “Computador para Todos” estabelecido pela Presidência da República,
43
Ministério do Desenvolvimento, Ministério da Ciência e Tecnologia e Serpro voltado
para a classe C, permite à indústria e ao varejo a oferta de computador e acesso à Internet a
preços subsidiados, e com linha de financiamento específica, além da isenção de impostos
PIS/COFINS. PCs de até R$ 1.200 que obedeçam à configuração mínima podem ser
parcelados em prestações de R$ 50. O equipamento deve utilizar obrigatoriamente software
livre e contar com um processador de 1,4 GHz, disco rígido de 40 GB, memória RAM de 256
MB, monitor de 15 polegadas, unidade de disco flexível, unidade de CD-ROM (RW)/DVD-
ROM, modem de 56 K, placas de vídeo, áudio e rede on-board, mouse, teclado e porta USB e
26 programas. Os Notebooks de até R$ 1.800, que atendam a configurações mínimas descritas
no portal do programa, também possuem isenção de impostos e têm financiamento facilitado.
Luiz Queiroz (2009), afirma que o programa "Computador Portátil para Professores",
lançado no dia 7 de julho de 2008 pelo Governo Federal, tinha como meta facilitar a compra
de notebooks para 3,4 milhões de profissionais do Ensino Básico, a um custo mais em conta.
No entanto, 10 meses de execução do programa não havia informações oficiais quanto
ao número de professores beneficiados pela iniciativa do Governo Federal. Posteriormente, o
valor fixado em R$ 1.000,00, para garantir a compra pelos professores foi corrigido em 40%
pelo governo.
A elevação do preço é justificada, de acordo com a portaria, pela crise financeira
mundial que fez o câmbio oscilar fortemente, aumentando, assim, os custos dos equipamentos
de informática, desestimulando a muitos professores a adquirirem seus computadores, não
somente devido ao preço, mas, também, pelas configurações daquelas máquinas.
[...] Os números, na época, acabaram mostrando-se discrepantes quanto à meta de
vendas estabelecidas pelo Poder Executivo. Isso porque se estimava vender um
milhão de máquinas com preços abaixo de R$ 1,4 mil num período de um ano, e a
marca ficou bem aquém da previsão inicial. Em resumo, o próprio mercado, apoiado
pelo governo, quando este funciona como indutor e não como gestor, chegou à
universalização dos equipamentos de informática de uma forma bem mais agradável
ao consumidor, do que o notebook que foi estudado pelos coordenadores do
programa, cujas configurações deixam a desejar (QUEIROZ, 2009).
44
Para se alcançar, realmente, um índice desejável, nesse processo de inclusão digital,
torna-se necessário elevar as condições de vida do nosso povo, melhorando a sua renda,
realizando políticas públicas que garantam uma educação de qualidade, com o uso adequado e
consciente da informática, e tendo conhecimento dos benefícios e o quanto podem melhorar
suas atividades diárias.
Segundo Eduardo Vitor Miranda Carrão et al (2005), atualmente, o mundo vem
passando por profundas transformações, o que impõe a necessidade de se estabelecer novos
significados para muitos dos valores e dos costumes formulados e desenvolvidos.
O encurtamento das distâncias e a velocidade cada vez maior da ocorrência dos fatos
implicam numa maior agilidade na tomada de decisão e na ação das pessoas. Neste
cenário, as chamadas “novas tecnologias” assumem um papel estratégico na
reconfiguração das relações homens-homens e homens-mundo (CARRÃO, 2005).
Esse novo modo de ser e de se conceber a vida colocam a ciência e a tecnologia em uma
posição de destaque, sendo mesmo fatores essenciais à sobrevivência humana, haja vista a
complexidade das atividades exercidas pelo homem na sociedade.
Para Freire (1998), segundo os estudos de Carrão et al (2005), as condições de exclusão
a que são submetidas as classes populares, os oprimidos, são denominadas de “situações-
limites”, ou seja, obstáculos ou barreiras que precisam ser vencidos, mas se encontram
vinculados à vida pessoal e social do indivíduo.
O enfrentamento dessas situações é percebido de formas diferentes pelos envolvidos
nesse processo: ou eles as percebem como um obstáculo que não podem ou não
querem transpor, ou ainda como algo que sabem que existe e que precisa ser
rompido e então se empenham na sua superação (CARRÃO et al, 2005).
Neidson Rodrigues (1993) referindo-se à educação e sua relação com as novas
tecnologias salienta o papel da educação e a relevância da informática no contexto da
sociedade moderna.
45
A educação escolar é o conjunto das atividades levadas a efeito pela instituição
escolar, com o objetivo de preparar a população jovem para a vida plena da
cidadania. Deve-se entender que ela possibilite a todos [...] a posse da cultura letrada
e dos instrumentos mínimos para o acesso às formas modernas do trabalho na
sociedade industrial. A informática, sendo imprescindível para a vida moderna,
como, então, poderemos mantê-la fora da escola e da formação de nossos jovens?
(RODRIGUES, 1993, p. 81).
Nesse contexto, Marques (2001) afirma que
a Ciência hoje é mais do que um instrumento de leitura e descoberta do mundo; ela
é, juntamente com a Tecnologia, uma responsável direta pela redefinição do mundo
no qual vivemos; ou seja, ela é um elemento fundador e, por isso, estratégico em
todo contexto sócio-político, econômico e cultural dos nossos dias (MARQUES,
2001).
Salientando o papel da ciência e da tecnologia na modernidade, avalia Carrão (2005)
quanto à utilização consciente dos recursos disponíveis aos seres humanos no mundo
contemporâneo:
O lugar ocupado pela ciência e pela tecnologia neste mundo de mudanças tão
profundas não poderá ser outro se não o de ampliar os horizontes de realização do
ser humano, proporcionando-lhe uma melhor qualidade de vida, através da
equiparação de oportunidades e da facilitação do seu acesso à informação, assim
como a todos os bens sociais. Reconhecer e respeitar a diversidade é dar força ao
conjunto da vida. [...] Cabe a cada um de nós utilizarmos os recursos disponíveis de
forma a garantir a sobrevivência do planeta com dignidade e com valorização da
vida (CARRÃO et al 2005).
Portanto, as políticas públicas de inclusão digital só serão bem sucedidas em nosso país,
na medida em que os órgãos governamentais se disponham a proporcionar à sociedade uma
educação de qualidade, salários justos e acesso aos conhecimentos das novas tecnologias de
comunicação e informação.
Desta forma, o esforço não terá sido em vão, pois, estaremos constatando um
crescimento significativo da economia brasileira, e uma real melhoria da qualidade de vida,
construindo-se uma sociedade mais justa, onde todos possam usufruir das mesmas
oportunidades e direitos.
46
4 A LINGUAGEM DO JOVEM NA MÍDIA CONTEMPORÂNEA
Segundo Roger Fowler (1985), a maior descoberta da dialetologia e da sociolinguística
é que as línguas não são unitárias: grupos diferentes e situações diferentes de fala empregam
diferentes variedades da língua. “A língua de grupos diferentes e de indivíduos em diferentes
papéis articula, caracteristicamente, diferentes significados sociais” (FOWLER, 1985).
Certamente, esse é o caso em que grupos diferentes precisam afirmar conceitos diferentes e
prática linguística da maneira mais forte de articular experiência, crenças e valores.
Assim, também, acontece com a linguagem usada pela juventude, surgindo a gíria, que,
segundo Joaquim Mattoso Câmara Jr. (1969) é uma linguagem fundamentada em um
“vocabulário parasita, que empregam os membros de um grupo ou categoria social, com a
preocupação de se distinguirem da massa dos sujeitos falantes” (CÂMARA,1969).
A gíria apresenta uma tendência de um maior desenvolvimento nos centros urbanos,
contrastando-se com a língua comum. “Caracteriza-se por uma atitude estilística de
desrespeito intencional à norma estabelecida. É uma revolta e, como se trata de expressão
pessoal, é efêmera e inconstante” (CÂMARA, 1969).
Desde sua infância, o homem adquire um tesouro inestimável, que é a linguagem.
Através da expressão oral da palavra, manifesta todas as suas idéias, seus desejos e suas
inquietações.
A linguagem é, antes de tudo, expressão, apelação e representação. As palavras nascem
por acaso e se desenvolvem, nos mais variados sentidos. Do mesmo modo desaparecem.
A verdade é que nascem na rua, nos afazeres cotidianos, nesse vai-e-vem, que se
transforma num nervosismo criador e, como surgem por acaso, nem todas chegam à
maturidade. Muitas morrem antes de adquirir força que lhes permita sobreviver por sua
própria conta.
47
As línguas estão sofrendo mudanças a todo o momento. A ortografia, como
manifestação estática e conservadora, não acompanha a evolução da fala. Baseia-se na língua
oficial e literária e sua transformação é tão lenta que sempre está atrasada com relação às
inovações.
O dicionário, que foi organizado num determinado momento, já não corresponde mais à
realidade. Exatamente o mesmo acontece no caso da gíria. Um estudo feito agora poderá não
refletir a realidade dentro de dez ou vinte anos e uma série de comportamentos linguísticos,
que nos parecem normais e habituais agora, poderão ser diferentes num futuro próximo.
A gíria caracteriza-se por possuir um léxico próprio, alteração fonética das palavras. As
modificações morfológicas são mais raras e as sintáticas, quase inexistentes. A gíria existe,
conforme Câmara (1969), como parasita da língua, da qual usa os elementos que lhe
interessam, adotando-os para suas necessidades, por meio de modificações intencionais que,
por sua vez, exigem um esforço criador, ao passo que no dialeto, as modificações são
espontâneas e surgem, geralmente, em consequência de uma fragmentação histórica.
Sabemos que até Carlos Drummond de Andrade (1972) utilizou a gíria em uma de
suas crônicas, enfatizando a importância e a necessidade da leitura:
Leia um pouco, rapaz. Abra de vez em quando um livro de contos do velho
Machado, garota. Não dá pé? A praia não deixa? E você cochila na primeira página?
Tente outra vez. Insista. Se por acaso sua cuca estiver fundindo, se você estiver na
fossa, devido a um grilo fortuito, acabará encontrando lenitivo ao descobrir nos
escritos do velho, a magia de certas palavras exprimindo coisas sutis, inclusive a
razão do seu grilo (ANDRADE, 1972).
Da pesquisa geo-sociolinguística sobre a linguagem dos jovens, realizada a partir de
dados de 1969, dos jornais do Rio de Janeiro e de São Paulo, elaborada por Mônica Rector
(1975), concluímos que a gíria é uma atitude linguística de desrespeito intencional à norma
estabelecida, mas não foge ao sistema; está marcada pela vivacidade, pela ironia, por certo ar
48
de petulância, quase de desafio ao sistema; a vivacidade provém da espontaneidade e
irreverência. O espontâneo não é conservável, logo, a gíria é rápida e passageira.
Segundo Mônica Rector (1975), os termos morrem, em geral, na flor da idade e alguns
há que duram apenas uma temporada. Mas, algumas palavras acabam incorporadas à língua
comum e dicionarizadas, caracterizando-se pela tonalidade afetiva, com a predominância dos
sentimentos. Por isso, imperam os "palavrões", que constituem uma "válvula de descarga"
emotiva.
Trata-se de uma linguagem de iniciados, com uma linguagem quase secreta, de
decodificação inacessível aos membros de outros grupos. Essa linguagem fornece
compensadores para os sentimentos de inferioridade ou de insegurança. Por isso, é usada
frequentemente, para exprimir maturidade ou masculinidade. Serve para chamar a atenção,
chocar ou surpreender. É usada, ainda, para confundir e ridicularizar os outros, com o intuito
de exercer uma função social protetora da coesão grupal.
Notamos, também, que características gerais da gíria dos jovens, apresentada nos artigos
de jornais estão bastante generalizadas e os fenômenos linguísticos estudados são
praticamente nulos, uma vez que os artigos são de divulgação e não de pesquisa.
Rector (1975) considera que "são observações sem finalidade específica ou científica,
mas que servem para abrir urna brecha num caminho ainda inexplorado” (RECTOR, 1975).
Segundo Amadeu Amaral (1955), a gíria é “a linguagem popular no seu caminho
mais expressivo e é também a linguagem nova, na sua fase mais rudimentar. A gíria é uma
onda que vai e volta renovada (AMARAL, 1955).
A gíria surge em uma determinada comunidade ou grupo social, especificando um
acontecimento que marcou a vida daquele grupo e, com a comunicação e os contatos
estabelecidos com outros grupos, em outras regiões, a gíria vai se difundindo como uma
onda, onde muitas vezes é modificada, retornando ao seu lugar de origem, muitas vezes
49
modificada. Como exemplo, citamos a expressão “pão duro”, como pessoa avarenta,
sovina. Inicialmente foi o apelido de um indivíduo que morava na Rua Visconde de Rio
Branco 311, e que se alimentava somente de pão velho, pão duro obtido na padaria ao lado.
Quando morreu deixou uma fortuna invejável. Hoje essa expressão é amplamente
conhecida e empregada nos diversos grupos sociais em nosso país.
Outro exemplo é a expressão “baderna”, que vem do teatro, por meio de uma bailarina
de nome Maria Baderna, a qual, por volta de 1850 agitou a cidade do Rio de Janeiro,
causando um verdadeiro furor. Seus fãs agitadíssimos tornaram-se violentos, sendo chamados
de “os badernas”, sendo modernamente denominados “baderneiros” os que praticam atos de
violência nas ruas.
Segundo as pesquisas de Rector (1994) a criação linguística das gírias se processa
através de desvios da norma, pois, considerando que a gíria é periférica com relação à língua,
ela faz questão de ocupar um lugar por meio da diferença, valendo-se da criatividade no
vocabulário, sofrendo menores variações fonéticas, morfológicas e sintáticas.
Uma grande característica da gíria é que ela “utiliza formas preexistentes não só da
língua como da cultura como um todo. Televisão, música popular, empréstimos de línguas
estrangeiras são fontes que alimentam a criação” (RECTOR, 1994).
Os seguintes procedimentos predominam na elaboração dos novos vocábulos:
invenção direta de lexias usando como pano de fundo a língua portuguesa, invenção
de significados por analogia, invenção de acepções por derivação, invenção de
grafias e invenção de alterações por contração ou adição (RECTOR,1994).
Para Rector (1994), a gíria jovem brasileira é considerada a gíria propriamente dita, ou
seja, a variante expressiva da língua falada, composta de jargões, palavras e expressões de
áreas específicas de cada grupo social, tendo sofrido influência de diversas culturas ao longo
dos séculos.
Sobre as influências que a gíria brasileira tem recebido Rector (1994) cita as seguintes:
50
A gíria brasileira sofreu e vem sofrendo as mais diversas influências desde o século
XVI. Citamos, entre outras, as seguintes: 1) africano: bamba, xingar, tutu, mixe,
mixado, mixuruca, buginganga; 2) francês: bem (bien), chique (chic); 3) norte-
americano: quente (hot), por dentro (in), por fora (out), quadrado (square), som
(sound), ligado (turned on); 4) italiano: estrilar (strillare), bacana (genovês bacan);
5) japonês: banzé (banzai); 6) espanhol: sacar (sacar), embromar (bromear)
(RECTOR, 1994).
A linguagem dos jovens, no dia-a-dia, é composta por abreviaturas e gírias de uma
forma geral, o que facilita a comunicação, mas, não o entendimento do leitor. O fato dos
jovens usarem esse tipo de linguagem é o uso da Internet, que facilita a comunicação através
dos mais diversos meios de comunicação e sites de relacionamento.
Dentre os serviços e sites oferecidos gratuitamente em todo o mundo citamos os
seguintes: Chat`s (salas de conversa ou bate-papos); MSN (Microsoft Service Network é uma
coleção de serviços oferecidos pela empresa Microsoft em suas estratégias, envolvendo
tecnologias de Internet para comunicação instantânea escrita ou com áudio e vídeo, contando
atualmente com 45 milhões de pessoas cadastradas no Brasil14
); ICQ (da pronúncia individual
das letras em inglês, significando “I seek you”, “eu procuro você”; Facebook (“livro de
fotografias e perfis”, uma das redes sociais mais populares dos Estados Unidos, lançado em
2004, com o objetivo de ajudar alunos de escolas e faculdades dos EUA a trocarem
informações e manterem contato com amigos. Conta atualmente com um milhão de usuários
no Brasil15
); Orkut (site de relacionamento preferido no Brasil, contando com mais de 27
milhões de usuários no Brasil16
); Myspace (“meu espaço”, site de relacionamento rival do
Facebook, embora com 127 milhões de usuários no mundo, acaba de encerrar suas atividades
no Brasil17
); Blog (forma abreviada de Web Log, criado em 1989, contando hoje com mais de
14
Fonte: IT News. Disponível em: <http://blogs.msdn.com/itnews/archive/2009/09/03/live-messenger-completa-
10-anos-com-330-milh-es-de-usu-rios-em-76-pa-ses.aspx>. Acesso em: 30 Dez. 2009. 15
Fonte: Bobnews. Disponível em: <http://brasil.bobnews.com.br/noticias/facebook-dobra-a-quantidade-de-
usuarios-e-ja-passa-de-1-milhao-5502.html>. Acesso em: 30 Dez. 2009. 16
Fonte: idem. 17
Fonte: Popup. Disponível em: <http://www.popup.mus.br/2009/06/25/myspace-encerra-atividades-no-
brasil/comment-page-1/>. Acesso em: 30 Dez. 2009.
51
112,8 milhões de Blogs na Internet18
); Twitter (diário virtual, ponto de encontro de
amigos.Trata-se de uma rede social e servidor, que permite o envio e acompanhamento de
mensagens de texto de até 140 caracteres, chamados “tweets”, significando “balbucio de uma
criança” ou “trinado de um pequeno pássaro”, formando microblogs). Conta com 7 milhões
de usuários no Brasil.19
e E-mails (correios eletrônicos), embora com um número de pessoas
com acesso à Internet em casa ou no trabalho da ordem de 44,5 milhões, somos cerca de 36,4
milhões de usuários ativos da Internet no Brasil20
.
Principalmente os jovens utilizam as seguintes expressões em seus “bate-papos” na
Internet: “Pq vc naum xego na hr q eu t flei?” Cuja tradução seria: “Por que você não chegou
na hora em que eu te falei?". E também palavras como: “fds, tbm, tc, xau, abçs, bjs, naum” e
outras, significando: fim-de-semana, também, conversar, abraços, beijos, não.
Muitas outras expressões surgem nos “bate-papos” pela Internet e se estendem até as
salas de aula, nos encontros dos jovens, onde quer que estejam. São expressões como: “Td blz
com vc? espero q sim.... pq naum rspd minha msg? ta td blz? tb naum tc + cmg : ( !!!!!!! bom,
nd de 9dades... e c vc? rspd qdo puder, flw? t+... bjs : )”.
A tradução seria: “Tudo bem com você? Espero que sim! Por que não respondeu minha
mensagem? Está tudo bem? Também você não conversou mais comigo? Bem, nada de
novidades. E com você? Responda quando puder, falou? Até Mais. Beijos.
Surgem, também, mensagens como estas:
Hey gnt..td bom?!?!? UAHAuAUahuUHauaHUA! to postando pra bestaa...Ela ta
ocupada aki e pediu preu posta, inTaum to aki!! hihihih...Pois eh, nem sempre si tem
dias iguais ao dia q foi hj... mas nós passamos por cima di td isso...pq a união faz a
força!kkkkkk.. =) Aiaiaiai...num vo escrever mto naum... to xeia d sono!... vo
mimir... aki na ksa da malaaaaa... hauahauauauha... Eh isso... Bjo pra
tds!...(UNIVERSIA, 2007).
18
Segundo Clayton Melo, São Paulo: Gazeta Mercantil, 30 Mar. 2009. 19
Fonte: SismoWeb/blog. <http://blog.sismoweb.com.br/2009/03/>. Acesso em: 29 Dez. 2009. 20
O Globo: tecnologia. < http://oglobo.globo.com/tecnologia/mat/2009/08/20/numero-de-usuarios-ativos-da-
internet-no-brasil-cresceu-10-em-julho-757490363.asp>. Acesso em: 30 Dez. 2009.
52
Traduzindo a mensagem acima temos: ei pessoal, tudo bem? (risos!) Estou escrevendo
para minha colega. Ela está ocupada aqui e pediu para eu escrever. Por isso estou aqui. Pois é,
nem sempre se tem dias iguais aos de hoje. Mas nós passamos por cima de tudo isso... Porque
a união faz a força (risos!). Ai, ai, não vou escrever muito não. Estou com muito sono! Vou
dormir aqui na casa de minha colega (risos!). É só por enquanto. Beijos para todos.
A mídia21
tem procurado traduzir algumas expressões e gírias usadas pelos internautas,
considerando-as como um código utilizado para fazer segredo, humor ou para distinguir um
grupo dos demais.
Além das conversas do dia-a-dia, as gírias - e principalmente abreviaturas - também
invadem as mensagens virtuais.
Algumas abreviaturas da web também são usadas no ambiente “real”. Por exemplo:
- Oi, tudo bem? – Tô rox (muito bem/legal). Na Net encontramos: abs-abraços;
add/adc/ad2-adicionar; amg-amiga; amr/amrzn-amor/amorzinho;
apoaskapoask/auhsauhsuahus-risada; bjo/smack-beijo; blz-beleza; ctg-contigo; dcp-
desculpa; dfçl-difícil; dlç-delícia; dms-demais; fçl-fácil; fds-fim de semana; flw-
falou; kd-cadê; mlq/Milk-moleque; msg-mensagem; mto-muito; naum/Ñ-não;
OMG-oh my god (ô meu Deus); pdc-pode crê; prfv-por favor; putz-pô; qd-quando;
rlx-relaxar; snt-santo(a); sux-muito ruim; Tb/tbm-também; tc-teclar;td-tudo; vc/VS-
você; vlw-valeu; Vo6-vocês; xau-tchau (A Gazeta, 2009).
Essa seria a linguagem típica, usada para se comunicar na Internet, para os jovens
acostumados com esse linguajar, e o mais interessante para eles é que estão se comunicando e
se e se entendendo de maneira mais rápida. Mas, essa linguagem não é utilizada somente no
mundo virtual, é uma comunicação feita em relações sociais também. Então, acostumam-se
com esse linguajar e quando são cobrados por um português correto nas escolas e
universidades têm suas dificuldades.
Outra questão que toma conta do português contemporâneo é o uso do gerúndio, o
chamado "gerundismo". É importante lembrar que o termo não está registrado nos nossos
dicionários da língua portuguesa. Assim, imaginamos que “gerundismo” seria o uso
21
Jornal A Gazeta, Vitória, 11 out. 2009, p. 11.
53
exagerado do gerúndio ou, especificamente, o uso do gerúndio, em praticamente todos o
setores de atividade humana, em frases como: “Vou estar enviando um e-mail esta tarde”;
“Agora vamos estar cantando o Hino nº 137 e, em seguida, vamos estar orando”; “Sinto
muito, mas, nesse horário não posso, porque vou estar fazendo unhas”.
Luiz Fernando Veríssimo questiona sobre o emprego do gerúndio e do gerundismo
no Brasil. “Um dos grandes mistérios da nossa história e da história da nossa língua em
comum é: porque é que o gerúndio (forma nominal do verbo caracterizada pelo sufixo
"ndo"), que quase não é usado em Portugal, é tão usado no Brasil? (VERÍSSIMO, 2008).
Falando sobre a proliferação do gerúndio no português brasileiro Veríssimo (2008)
acrescenta que a diferença entre o português brasileiro e o português português é uma
questão de tempo e de espaço:
Os portugueses falariam como falam, correndo (ou a correr), comendo (ou a comer)
sílabas, trocando o gordo "o" pelo menos expansivo "u", porque lhes falta o espaço e o
tempo, que encontraram nas colônias, para palavras inteiras e dicção pausada. Seria
uma língua apertada. Mas isto não esclarece o mistério do gerúndio. "Estar a fazer" dá
mais a ideia de uma ação contínua e ponderada do que o rápido "fazendo". O gerúndio
é que denunciaria uma língua oprimida pelo pouco tempo e pela falta de espaço. Mais
uma tese demolida. Atribui-se a proliferação do gerúndio no português brasileiro à
influência do inglês, que teria provocado o gerundismo, ou o hábito de empregar o
gerúndio, mesmo quando não cabe ou não se deve. Existe até um nome para o uso
excessivo do gerúndio: endorreia. Uma palavra suficientemente horrível para fazer os
portugueses se sentirem vingados por tudo o que fizemos com a língua do Cabral.
Digam o que disserem, de endorreia eles nunca sofreram (VERÍSSIMO, 2008).
No Brasil, os grandes disseminadores do “gerundismo” são os atendentes de
telemarketing. Cada vez se torna mais comum o uso de frases como: "Vamos estar passando a
sua ligação para o outro setor" ou "vamos estar enviando o seu produto amanhã pela tarde".
Sua utilização tem se proliferado, pois, a perífrase com o gerúndio tem um valor progressivo,
dá a idéia de uma ação que continua. Mas, será necessária a construção de frases dessa
maneira? O uso exagerado de qualquer construção é problemático. A repetição constante de
gírias, palavrões, e até mesmo o "né", doem nos ouvidos, sem dúvida. É importante observar
que o gerúndio é parte integrante do sistema verbal do português.
54
Muitos gramáticos e linguistas acreditam que o “gerundismo” surgiu da tradução literal
do inglês. Na língua inglesa existe o tempo que diz “eu vou estar fazendo”, que é o “I will be
doing”. Esse tempo foi traduzido, literalmente, para a Língua Portuguesa e, de repente,
tornou-se uma forma popular. Quem trabalha com a Língua Portuguesa e Inglesa percebe que
é uma tradução indevida, porque em Português há construções semelhantes e melhores do que
essa com o gerúndio. Não se trata aqui de uso indevido do gerúndio, mas é uma extensão do
uso comum, que é inadequada e, além disso, mais difícil do que a forma adequada.
No período da década de 80 houve uma interpretação equivocada por parte de quem
estava aplicando as políticas públicas de Educação, pois, achava que os alunos deveriam ficar
à vontade na escrita e que não deveriam ser corrigidos, pois, se fossem chamados a atenção,
correriam o risco de serem reprimidos. Em consequência, os estudantes vieram a ter
dificuldades em se adequar à norma padrão, ortograficamente correta. Dessa forma, torna-se
necessário que os jovens saibam distinguir exatamente os momentos em que precisam usar a
norma culta, daqueles em que podem usar uma linguagem mais informal.
A função principal da linguagem, tanto escrita quanto falada, é a comunicação entre
duas ou mais pessoas, mas pode chegar a uma forma tão condensada e complexa, que
acaba sendo obscura e secreta e aí ela perde a função comunicativa, gerando a
incompletude no sujeito, no sentido e no discurso.
Pode-se pensar que os que usam “internetês” jamais terão capacidade para construir
um discurso complexo. Existe, atualmente, um uso indiscriminado do idioma português,
principalmente, dentro da sala de aula, nas redações e nos trabalhos escolares, pois, no
momento em que se inicia esse método de linguagem, é aceito de forma natural, onde cada
um usa a linguagem do jeito que quer, na condição de que se faça entender. Além de
usarem gírias e “internetês” na informalidade e com amigos, muitos acabam levando esses
vícios para toda a comunicação.
55
Por outro lado, muitos jovens, ainda, desempenham bem a escrita, com originalidade
e criatividade. São várias as formas de comunicação pela escrita, e cada uma delas usa um
tipo diferente de linguagem, cada um com sua finalidade. Um requerimento e um trabalho
em revista científica devem obedecer às regras da norma culta, enquanto que em outro
documento é possível usar a linguagem formal ou cultural.
A língua é algo dinâmico e, então, não podemos impedir o seu desenvolvimento,
estabelecendo normas para evitar o seu crescimento. Os linguistas e gramáticos como
Carlos Alberto Faraco, Domício Proença Filho, Celso Cunha, Domingos Paschoal Cegalla,
Celso Pedro Luft, Antônio Houaiss, e tantos outros são unânimes em afirmar que a língua
está em constante evolução e mudança. Por exemplo, a forma comum de tratamento,
"você", surgiu de uma expressão bem maior, que era "Vossa Mercê", um tratamento mais
respeitoso. Posteriormente, transformou-se em “Vosmecê”, “você” e, finalmente, “cê”.
Um dos maiores poetas e filósofo da Roma Antiga, Quinto Horácio Flaco22
(65 a 8
a.C.) assim se expressou: “Muitas palavras que já morreram terão um segundo nascimento,
e cairão muitas das que agora gozam das honras, se assim o quiser o uso, em cujas mãos
está o arbítrio, o direito e a lei da fala”.
A linguagem é uma capacidade nata ao ser humano, usada para a comunicação. Essa
habilidade se manifesta por meio de sistemas linguísticos ou língua. A língua é o sistema
que cada comunidade usa. Esse sistema vigente nas comunidades precisa ter um
determinado equilíbrio ou as pessoas acabam não se entendendo. Mas, esse equilíbrio é
naturalmente instável, pois a língua está sempre em movimento, visto que as pessoas estão
sempre falando. E a língua vai sempre mudar e se movimentar, não só no aspecto fonético,
mas, também, no seu significado, no tempo e no espaço.
22
HORÁCIO, Ars poética, VV. 70 et. seqq. apud: HOUAISS, 2004, p. 8.
56
Segundo os estudos de Rector (1994), “o jovem, principalmente o da cidade grande,
caracteriza-se por uma necessidade de auto-afirmação e por seu espírito contestador. Isto
ocorre intencionalmente ou não, motivado por diversos estímulos (RECTOR, 1994). Fato
semelhante acontece com a linguagem, pois, a fala dos jovens oscila entre a chamada
norma culta e inculta, assumindo feição própria.
Trata-se de uma norma jovem, compatível com a moda jovem. Em face de outras
normas, funciona como instrumento de agressão e de auto-afirmação, sendo a gíria o
seu aspecto mais marcante. De gírico tem a transitoriedade, uma mutação constante
proveniente da perda de novidade; o que era original passa a ser „déjà vu’
(RECTOR, 1994).
Portanto, consideramos que se torna necessário que os jovens saibam distinguir,
exatamente, os momentos em que precisam usar a norma culta, daqueles em que podem usar
uma linguagem mais informal, na mídia ou em seu relacionamento social, fazendo uso das
gírias, dos dialetos, dos “internetês”, ou de qualquer outra forma de comunicação, tornando o
seu discurso inteligível, interpretável e compreensível.
57
5 A INFLUÊNCIA DA LINGUAGEM DA MÍDIA NA AQUISIÇÃO DA LÍNGUA
PORTUGUESA
Cada vez mais a tecnologia está presente na vida das crianças, dos adolescentes, dos
jovens e dos adultos, quer seja para a comunicação, diversão ou como fonte de pesquisa. As
diversões muito comuns no passado, tais como jogar bola, soltar pipa, brincadeiras com
bolinhas de gude, jogar peteca, brincadeira de “esconde-esconde”, pular corda e tantas outras
já estão ficando no esquecimento, sendo substituídas pelo computador. Essas brincadeiras e
jogos dependiam de contato físico, o que proporcionava o estabelecimento rápido e seguro de
relacionamentos e novas amizades, as quais davam a oportunidade de saírem à noite para um
passeio ou visitas às casas dos amigos.
Com o lançamento dos videogames essas brincadeiras foram sendo substituídas pela
diversão em ambiente fechado das residências dos pais ou em locais apropriados para esses
jogos, com participação individual ou restrita a duas pessoas.
Com os brinquedos eletrônicos e, principalmente, com a utilização cada vez maior do
telefone celular, o contato físico entre os participantes foi rapidamente sendo substituído.
Segundo Ana Paula Previtale (2006) “as crianças já não sabem mais falar de seus
sentimentos, suas aflições, seus desejos e nem fazem mais amizades, se escondem dentro de
casa, parece até que a tecnologia as satisfaz”.
Hoje, as crianças começaram a viver na era da modernização, onde não
brincam mais nas ruas, com os vizinhos, nos campos de grama ou parques,
porque vivem presas em quatro paredes, devido à violência. Elas ficam na
frente da televisão, no computador ou jogando vídeo-game a maior parte do
dia e com isto, não sabem brincar, não conversam com os pais, irmãos ou
com os próprios vizinhos do prédio, apenas sabem imitar gestos, falas de
super-heróis brigando com os monstros, demonstrando assim um
comportamento agressivo e as meninas querem ser adultas logo, pois se
vestem como as modelos que aparecem na televisão, desde cedo sendo
vaidosas e obrigando os pais a comprarem sempre as roupas e sapatos da
moda, desenvolvendo assim nelas o desejo de sempre consumir e gastar em
excesso (PREVITALE, 2006).
58
Nos dias atuais a maior parte das crianças, dos adolescentes e dos jovens prefere ficar
em suas casas ou em uma Lan House23
, divertindo-se com os jogos eletrônicos, com os sites
de relacionamentos virtuais, como Orkut, Face Book e MSN, substituindo as ligações
telefônicas demoradas, com as contas mensais cada vez maiores, acompanhadas das
reclamações dos pais.
Além disso, os contatos e as trocas de mensagens escritas pelo telefone celular ou pelo
MSN custam pouco, são realizadas rapidamente e em silêncio, não correndo o risco de serem
surpreendidos por alguém escutando a conversa numa extensão ou mesmo nas proximidades.
Walter Rossignoli (2007), como observador do emprego dos sinais de pontuação por
parte da mídia, analisa matérias de diversas revistas e jornais, verificando o que parece
destoar do que recomendam as gramáticas da língua portuguesa.
Depois de um exame acurado Rossignoli leva alguns textos para a sala de aula, onde
discute com os alunos, procurando salientar o dinamismo da língua, enfatizando que os
desvios de hoje poderão fazer parte de futuras recomendações gramaticais.
Como exemplo de desvirtuamento da língua portuguesa pela mídia, Rossignoli (2007)
aponta que “as gramáticas afirmam que se separa o adjunto adverbial quando tem certa
extensão e está deslocado do final do período. Quando são antepostos ou intercalados, os
adjuntos adverbais devem ser obrigatoriamente separados por vírgulas".
Entretanto, segundo os exemplos de Rossignoli (2007) a tendência da língua da mídia é
bem diferente, como nos exemplos seguintes, extraídos da Folha de São Paulo e da Revista
Veja: “Cinco meses antes ela dera à luz seu primeiro filho”. (Veja); “Em Pirapora as romarias
não são novidade”. (Folha de S. Paulo); “A cada semana a lista mudava um pouco”. (Veja);
“Em pouco mais de dez meses ele leu alguns livros...” (Veja). Assim, Rossignoli (2007)
apresenta sua conclusão sobre o assunto:
23
Significa Local Area Network, ou seja, rede local de computadores. Trata-se de um estabelecimento comercial
onde as pessoas pagam para utilizar um computador com acesso à Internet e a uma rede local, com acesso à
informação rápida pela rede e entretenimento por meio dos jogos em rede ou online.
59
Observe o leitor que os adjuntos destacados têm certa extensão, estão
deslocados para o início do período e não foram virgulados. O que fazer?
Corrigir Veja e Folha ? Penso que não. Trata-se de uma tendência da língua
midiática escrita que encontrará ressonância nas descrições gramaticais do
futuro. É esperar para ver! (ROSSIGNOLI, 2007).
Segundo Luiz Carlos Schwindt24
(1996) a Linguística, que estuda a linguagem
cientificamente, reconhece que não existe isomorfismo perfeito entre fala e escrita. A razão
disso é que, do ponto de vista científico, a fala tem prioridade sobre a escrita. Observa,
também, que John Lyons (1981) apresenta quatro prioridades da língua falada sobre a língua
escrita: histórica, estrutural, funcional e biológica.
Quanto à prioridade histórica Lyons (1981) observa que não se conhece nenhuma
sociedade humana que tenha existido sem a capacidade da fala, predominando o
analfabetismo em grande parte da sociedade humana até recentemente. Segundo os dados da
UNESCO25
no mundo 875 milhões de pessoas são analfabetas sendo que 580 milhões são
mulheres e em 2010, os analfabetos deveriam diminuir para 830 milhões.
Na prioridade estrutural a combinação entre as letras é determinada pela fala e as letras
servem para codificar os sons da fala. Entretanto, possuem algumas restrições, como, por
exemplo, não temos palavras na língua portuguesa com a sequência das letras “pv”, o que
pode acontecer em outras línguas.
Na prioridade funcional verifica-se que a escrita é utilizada nas sociedades modernas
somente quando as comunicações vocais e auditivas não são possíveis, dando prioridade à
fala. Com a invenção do telefone e do gravador, por exemplo, a tecnologia criou meios de se
empregar a língua falada no lugar da escrita, como a humanidade fazia no passado, passando a
ocupar a maior parte da comunicação humana.
24
Em “A teoria da variação e o suposto caos da língua falada”. La Salle. Revista Educação, Ciência e Cultura,
v.1 n.2, p.77 a 87. Primavera, 1996. 25
Revista "MUNDO e MISSÃO". Disponível em <http://www.pime.org.br/mundoemissao/dadosanalfab.htm>.
Acesso em: 19 Jan. 2010.
60
A prioridade biológica envolve o fato de que o homem é pré-programado para falar e o
ser humano normal pode falar e nunca aprender a escrever, devido a localização das diferentes
áreas da linguagem no cérebro.
Schwindt (1996) conclui que “a partir dessas prioridades podemos afirmar com
segurança que a fala não é instrumento da escrita, mas, ao contrário, a escrita foi criada com o
objetivo de codificação da fala”. E acrescenta:
Em vista da necessidade de uniformizar a escrita, criou-se a gramática
normativa. [...] a gramática normativa traz informações de como a língua
deve ser, enquanto a gramática descritiva está preocupada em entender como
a língua é de fato. [...] é evidente que do ponto de vista da fala, não há o
correto ou o errado, o que existem são formas diferentes de se dizer a mesma
coisa, ou variações lingüísticas. A língua deve comunicar e ser eficaz na
comunicação, isso significa adequação do falante à situação de fala
(SCHWINDT, 1996).
Quanto à mídia escrita nota-se que ela tem exercido grande influência nas escolas
atualmente, devido à inserção de fragmentos do discurso jornalístico nos livros didáticos em
detrimento de outros gêneros.
Graça Caldas26
(2006) discute a qualidade da narrativa jornalística e os riscos que ela
encerra se não houver uma leitura crítica da mídia, assim como defende a necessidade de um
trabalho integrado entre educadores e jornalistas para a real compreensão do processo de
produção da imprensa, construção da linguagem e da linha editorial dos veículos de
comunicação.
Não são poucas as falhas presentes nas estruturas narrativas da imprensa.
Além dos problemas de conteúdo, da falta de contextualização da
informação, pecam, em grande parte, pela pobreza vocabular, pela imprecisão
lingüística, pela falta de lógica e de clareza na exposição das idéias. Como a
velocidade é parte integrante do processo de captação da informação e de sua
produção, principalmente nos jornais diários, sejam eles impressos ou on-
line, as estruturas narrativas da imprensa carregam consigo todos os
problemas decorrentes da impossibilidade prática de revisão estilística e de
conteúdo (CALDAS, 2006).
26
Em seu artigo “Mídia, escola e leitura crítica do mundo”. Educ. Soc., Campinas, vol. 27, n. 94, p. 117-130,
jan./abr. 2006.
61
Portanto, conforme exposto, Caldas (2006) conclui que a utilização da mídia na escola é o
primeiro passo para a leitura do mundo, não se limitando à leitura de jornais, revistas ou dos veículos
eletrônicos, mas por meio da construção de suas próprias narrativas, pela aquisição do pensamento
crítico.
Questiona-se, também, o fato de que os adolescentes e os jovens estão adquirindo mais
conhecimento por meio da televisão e da Internet do que de seus pais e professores, além da
falta de leitura, revelando um baixíssimo nível de compreensão, interpretação e reflexão por parte da
maioria dos alunos do Ensino Fundamental e Médio em todo o país.
O baixo índice de leitura no país, associado à inexistência de bibliotecas
públicas em 21,3% dos 5.559 municípios brasileiros (Bertoletti, 2004, p. 86),
atesta a falta de investimento das autoridades para tornar disponível o acesso
ao livro no país. A recente pesquisa Retrato da Leitura do Brasil, realizada
por Câmara Brasileira do Livro (CBL), Sindicato Nacional dos Editores de
Livros (SNEL), Associação Brasileira de Editores de Livros
(ABRELIVROS) e Associação Brasileira de Celulose e Papel (BRACELPA),
traz um perfil preocupante do leitor brasileiro. Com um universo de 5.503
entrevistas de 40 cidades brasileiras, representando uma população estimada
em 86 milhões de pessoas (correspondente a cerca de 40% da população do
Brasil), os resultados revelam que 61% dos brasileiros adultos alfabetizados
têm pouco ou nenhum contato com os livros. Além disso, de acordo com os
dados divulgados pela revista Carta Capital (9/11/2005, p. 22), na Região
Sudeste apenas 7% dos estudantes alcançaram níveis adequados de leitura
(CALDAS, 2006).
Segundo Pedro Demo27
(2008) os maiores desafios que professores e alunos enfrentam,
envolvendo a linguagem da mídia moderna, a chamada linguagem do século XXI é que a
escola está distante desses desafios e os alunos não gostam muito da escola e se desenvolvem
hoje de uma maneira diferente, achando que aprendem melhor na Internet, onde os alunos
trocam informações entre si, o que é bem diferente do que acontece na escola.
27 Professor do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB). PhD em Sociologia pela
Universidade de Saarbrücken, Alemanha, e Pós-Doutor pela University of California at Los Angeles (UCLA),
possui 76 livros publicados, envolvendo Sociologia e Educação.
62
“O Brasil não está dando muita importância a isso – estamos encalhados no processo do
ler, escrever e contar. Na escola, a criança escreve porque tem que copiar do quadro. Na
Internet, escreve porque quer interagir com o mundo” (DEMO, 2008).
Demo (2008) considera que a escola precisa mudar para acompanhar o ritmo dos
alunos, não que a escola esteja em risco de extinção, mas nós temos que restaurar a escola
para ela se situar nas habilidades do século XXI que aparecem em casa, no computador, na
Internet, na Lan House, mas não aparecem na escola, porque ela continua usando a linguagem
de Gutenberg, de 600 anos atrás. “Essa grande mudança começa com o professor, pois é a
figura fundamental. Não há como substituir o professor. Ele é a tecnologia das tecnologias, e
deve se portar como tal” (DEMO, 2008).
No que diz respeito à influência do “Internetês” Demo (2008) esclarece que existem as
línguas concorrentes, sendo mesmo impossível imaginar a existência de uma única língua
mundial. E a unificação das sociedades se realiza pela interatividade, pelos interesses comuns
e não pela língua que falam. E a Internet procede dessa maneira, utilizando a língua inglesa,
porém admite a tradução em todas as línguas do mundo, de todas as culturas.
Eu não acho errado que a criança que usa a internet invente sua maneira de
falar. No fundo, a gramática rígida também é apenas uma maneira de falar. A
questão é que pensamos que o português gramaticalmente correto é o único
aceitável, e isso é bobagem. Não existe uma única maneira de falar, existem
várias. Mas com a liberdade da internet as pessoas cometem abusos. As
crianças, às vezes, sequer aprendem bem o português porque só ficam
falando o internetês. Acho que eles devem usar cada linguagem, isso no
ambiente certo – e isso implica também aprender bem o português correto
(DEMO, 2008).
Olavo de Carvalho28
(2001) explica que não existe uma língua comum a todo o mundo,
porém, existem as línguas de determinadas sociedades, famílias, grupos diversos e de regiões
28
Em seu artigo “Aprendendo a escrever”. O Globo, 03 Fev. 2001. Disponível em:
<http://intervox.nce.ufrj.br/~edpaes/ap-esc.htm>. Acesso em: 14 Jan. 2010.
63
diferentes, onde são realizadas as codificações, as abreviaturas e a síntese das palavras e
expressões empregadas pelos diferentes grupos. “Uma dessas codificações é a linguagem da
mídia. Ela procede mediante redução estatística e estabelecimento de giros padronizados que,
pela repetição, adquirem funcionalidade automática” (Carvalho, 2001).
A linguagem da mídia ou da praça pública repete da maneira mais rápida e
funcional, o que todo mundo já sabe. A língua dos escritores torna dizível
algo que, sem eles, mal poderia ser percebido. Aquela delimita um horizonte
coletivo de percepção dentro do qual todos, por perceberem simultaneamente
as mesmas coisas do mesmo modo e sem o menor esforço de atenção,
acreditam que percebem tudo. Esta abre, para os indivíduos atentos, o
conhecimento de coisas que foram percebidas, antes deles, só por quem
prestou muita atenção (CARVALHO, 2001).
Com a popularização da Internet na década de 1990 os hábitos de escrita e da
comunicação mundial sofreram profundas transformações, especialmente com o surgimento
do e-mail, das salas virtuais, dos instrumentos de comunicação instantânea como o ICQ e o
MSN, dotadas de recursos áudio, vídeo, além da forma escrita. Ultimamente, surgiram os
Blogs e as redes de relacionamento social como o Orkut, Facebook, as quais também
aderiram à comunicação instantânea de forma escrita, além do Skype que se tornou um dos
maiores e melhores instrumentos de comunicação escrita, com áudio e vídeo, realizando
contatos telefônicos fixos ou móveis nacionais e internacionais, com custo reduzido e com
elevado índice de qualidade e rapidez.
Como resultado dessa tecnologia surge uma nova forma de escrita abreviada – o
“Internetês”, criada pelos usuários dos recursos e das ferramentas de comunicação,
consolidando-se por todo o mundo. Popularmente conhecido como MSN, é no Brasil que o
programa denominado Windows Live Messenger tem sua maior base de usuários mundial.
Segundo dados da Microsoft29
, são mais de 40 milhões de usuários no Brasil, o que
29
Fonte: Portalms. Disponível em: http://www.portalms.com.br/noticias/Microsoft-libera-atualizacoes-do-MSN-
/Mundo/Tecnologia/28338.html. Acesso em: 20 Jan.2010.
64
corresponde à fatia de 12,5% de contas, em um total de 320 milhões de usuários no planeta,
que trocam em torno de 8,22 bilhões de mensagens diárias no MSN, resgatando a importância
do texto escrito, o que nenhuma outra forma de comunicação realizou na história da
humanidade.
A mais nova versão desse software de comunicação tem como objetivo, segundo a
empresa Microsoft, funcionar como uma plataforma ampla de rede social e integração de
usuários. É possível criar um sistema de armazenamento remoto de arquivos, e compartilhá-lo
com um grupo específico. Agora, é possível criar grupos de até 20 pessoas, e cada usuário
pode participar de um total de 20 comunidades. Cada grupo possui um site para comunicação
e compartilhamento de imagens, vídeos e arquivos.
Segundo a Microsoft é muito mais do que um simples programa de conversa. É um
espaço para compartilhar arquivos, falar mais, ver o que está acontecendo em outros grupos
sociais. Não é apenas um e-mail, mas uma rede social, com vários blogs e informações,
suscetíveis à organização e atualização.
Muitos pais, educadores e estudiosos da língua consideram o “Internetês” como um
inimigo que está prestes a corromper e a dominar completamente a língua portuguesa e a
transformar-se em linguagem padrão.
No entanto, outros compreendem que os jovens e mesmo os adultos que receberam ou
que estão recebendo uma formação educacional de qualidade, voltada para o progresso e o
desenvolvimento das novas tecnologias da informação, aliada a uma boa formação da língua
portuguesa, não estarão sujeitos a cometer erros na elaboração de seus textos. “A Web não
tem culpa de nada. Pessoas com boa formação educacional sempre conseguirão separar a
linguagem coloquial da formal. Elas sabem dispensar os acentos e quando pingar os “is”
afirma Arlete Salvador30
(2009).
30
Jornalista, autora de “A arte de escrever bem”. Fonte: MURANO, Edgard. “A maturidade do internetês”.
Revista Língua Portuguesa. Ano 3, n. 40, Fev. 2009.
65
Segundo João Luís de Almeida Machado31
(2009) no caso de adultos já terminaram os
seus cursos, portanto, com capacidade de produzirem seus textos e com maturidade suficiente
para empregar a linguagem coloquial e a linguagem formal adequadamente.
Entretanto, no que diz respeito aos adolescentes e jovens em formação escolar, o mesmo
não acontece.
No que se refere às novas gerações, ainda em formação, é grande a confusão
que se estabelece entre a norma culta da língua portuguesa e a linguagem
coloquial da Web. Isso se explica ao levarmos em conta a exposição demasiada
dessa garotada à Internet e os baixos índices de leitura auferidos no país
(MACHADO, 2009).
Para Adalton Ozaki32
(2009) como bom conhecedor dessa nova geração de jovens
chamada de “Geração Alt + Tab” (referência ao comando do teclado que permite ao usuário
de computador gerenciar várias tarefas simultaneamente) os jovens hoje são considerados
impacientes, pois escrevem um e-mail, baixam vídeo, ouvem música MP3, conversam no
MSN com dois ou mais contatos, visitam o Orkut e ainda escrevem no Word (programa de
textos).
Raquel Nogueira33
(2009) não considera o fenômeno lingüístico como uma mudança
para pior, mas chama a atenção para o contexto em que é empregada, salientando que essa
linguagem dos jovens deve ser restrita à comunicação e às mensagens realizadas pelos jovens
na Internet.
“Assim como uma tribo, com suas próprias gírias e seu próprio modo de falar que a
identifica, o mesmo se dá com o “Internetês”, que é usado apenas no espaço que lhe cabe, isto
é, na internet e nos torpedos SMS” (NOGUEIRA, 2009).
31
Doutor em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e Editor do portal Planeta
Educação. Fonte: MURANO, Edgard. “A maturidade do internetês”. Revista Língua Portuguesa. Ano 3, n. 40,
Fev. 2009. 32
Professor, Coordenador dos Cursos de Graduação da Faculdade de Informática e Administração Paulista
(Fiap). Fonte: MURANO, Edgard. “A maturidade do internetês”. Revista Língua Portuguesa. Ano 3, n. 40, Fev.
2009. 33
Professora de Língua Portuguesa do Colégio Módulo, em São Paulo. Fonte: MURANO, Edgard. “A
maturidade do internetês”. Revista Língua Portuguesa. Ano 3, n. 40, p. 26, Fev. 2009.
66
Nogueira (2009) reconhece que a grande responsabilidade de orientação sobre os
diversos níveis e contextos para a utilização da linguagem cabe aos professores:
Mas onde e quando se deve usar o internetês, cabe ao professor orientar seus
alunos e mostrar que existem vários níveis de linguagem, vários contextos de
uso e vários níveis de formalidade na comunicação. O aluno pode expressar-se
utilizando abreviações, neologismos, caricaturas e até não usando acentos, mas
fora desse ambiente virtual, em outras situações escritas, isso não é bem aceito
ainda (NOGUEIRA, 2009).
Segundo Nogueira (2009) a língua é viva e dinâmica, sendo que toda mudança que
acontece é produzida pela fala, pelos usuários da língua, o que pode demorar a acontecer mas,
com certeza, acontecerá. “Assim como aconteceu com “vossa mercê”, que virou “você” e que
se transformou em “cê”, quem sabe o “Internetês” não seja um precursor de outras mudanças
na grafia das palavras, já que ninguém falaria “vc” em vez de “você” ou “cê” (Nogueira,
2009).
Ozaki (2009) aponta outra modalidade utilizada nas comunicações pela Internet que são
os emoticons (fusão das palavras inglesas emotion, emoção, com icon, ícone), utilizados pelos
internautas para expressar sentimentos e humor nas mensagens enviadas. São produzidos por
meio de uma sequência de caracteres tipográficos, simulando expressões faciais, podendo ser
acrescentado vários movimentos, transmitindo o estado de espírito de quem está enviando a
mensagem.
Atualmente os emoticons constituem presença obrigatória no “Internetês”, assumindo
as mais diversas formas, com figuras coloridas em movimento e com som característico da
figura representada.
Segundo Edgard Murano (2009) o “Internetês” acelerou e ampliou a comunicação
mundial, criando vários neologismos e expressões que já fazem parte da linguagem popular,
tais como “postar” uma mensagem ou, até mesmo, uma carta nos serviços de correios da
67
cidade. A expressão “deletar” (em inglês “delete”) significando cancelar, anular, já pode ser
encontrada até na música popular brasileira.
Como exemplo dessa influência da Internet que se faz presente no Brasil, selecionamos
uma música sertaneja dos cantores Edson e Hudson, de autoria de Ewerton Assunção34
(2006):
“Vou te deletar do meu Orkut”
Sei que as horas vão passando e eu amando mais você
Dedicando sempre um amor sem fim
Nos momentos de paixão e de felicidade
Eu sempre acreditei que o seu amor era verdade
Você sempre jurou a mim eterno amor
Que um dia casaria comigo e seria feliz
Mas você mentiu e vi que estava errado
Um dia vi você sair com o Ex-namorado
Eu vou te deletar te excluir do meu Orkut
Eu vou te bloquear no MSN
Não me mande mais scraps nem E-mails, power point's...
Me exclua também e adicione ele
Eu vou te deletar te excluir do meu Orkut
Eu vou te bloquear no MSN
Não me mande mais scraps nem E-mails, power point's...
Me exclua também e adicione ele
Eu vou te deletar te excluir do meu Orkut
Eu vou te bloquear no MSN
Não me mande mais scraps nem E-mails, power point's...
Me exclua também e adicione ele
Eu vou te deletar te excluir do meu Orkut
Eu vou te bloquear no MSN
Não me mande mais scraps nem E-mails, power point's...
Me exclua também e adicione ele
Como resposta surgiu outra música sertaneja, de autoria de Willian Santos e Maercio
Navarro35
(2007), intitulada: “Não vou te excluir do meu Orkut”, cantada pela dupla sertaneja
Willian e Renan:
34
Fonte: Letras.com. br. Disponível em: <http://www.letras.com.br/edson-e-hudson/vou-te-deletar-do-meu-
orkut>. Acesso em 20 Jan. 2010.
68
Não Vou te excluir do Meu Orkut
Não vou te excluir do meu orkut
Não vou , não vou
Não vou te deletar da minha rede
Não vou te bloquear no msn
Seus scraps seus e-mails
Fazem parte dessa historia
Se eu te deletar
Se eu te bloquear
Se eu te excluir não vou conseguir sorrir
Desconectado desse amor
Pela webcan quero ver seu rosto
Ler suas mensagens
Desfrutar o gosto
Desconectar a minha dor
Vou adicionar ponto com você
@ amor no coração
Deletando a solidão
É amor na rede pro mundo vê
Pois no meu orkut só da você
Www ponto amor e paixão
Se eu te deletar
Se eu te bloquear
Se eu te excluir não vou conseguir sorrir
Desconectado desse amor
Pela webcan quero ver seu rosto
Ler suas mensagens
Desfrutar o gosto
Desconectar a minha dor
Vou adicionar ponto com você
Arroba amor no coração
Deletando a solidão
É amor na rede pro mundo vê
Pois no meu orkut só da você
Www ponto amor e paixão
É amor na rede pro mundo vê
Pois no meu orkut só da você
Www ponto amor e paixão
Não vou te excluir do meu orkut
Não vou , não vou , não vou...
Outra expressão muito empregada ultimamente, por influência da Internet é “printar”,
significando imprimir. Surgiram, também, trocadilhos utilizados pelos usuários da Internet,
cujas expressões, ao mesmo tempo em que são estrangeirismos, caíram rapidamente no gosto
35
Fonte: Letras.com. br. Disponível em: <http://www.letras.com.br/willian-e-renan/nao-vou-te-excluir-do-meu-
orkut>. Acesso em 20 Jan. 2010.
69
popular e são amplamente empregadas, como “googlar”, querendo dizer que vai fazer uma
pesquisa no site de busca Google e “orkuticídio”, significando a realização de sua própria
exclusão de seu perfil da rede do Orkut.
Murano (2009) adverte quanto ao uso do “Internetês” e a atenção e a importância que
os pais, professores e educadores devem dar à continuidade da produção de textos pelos
jovens internautas em qualquer situação que se encontrem:
Já que o avanço tecnológico é um processo irreversível, assim como as marcas
que o progresso vai deixando na linguagem, é necessário admitir essas
aquisições como expressões legítimas, sem nunca perder a chance de usar a
forma culta da língua portuguesa quando for necessário. Também cabe a pais,
professores e educadores orientar seus alunos para que tal interesse reverta-se
em produção escrita, não importando se os textos produzidos forem à tinta ou
digitados no computador (MURANO, 2009).
Grande tem sido a influência da linguagem da mídia na aquisição da Língua Portuguesa.
O princípio básico do “Internetês”36
(2005) é retirar o essencial das palavras, descartar o
supérfluo e escolher os melhores efeitos fonéticos, como, por exemplo, dispensar as vogais,
como nas palavras “ctza” (certeza), “tbm” (também), “dpnd” (depende).
Outra forma de abreviar é com a substituição de qu, ch, e ss por k, x e c, como nas
palavras “eskecer” (esquecer), “xegar” (chegar) e “ece” (esse). É muito usada a palavra “vx”
(você), nas expressões de carinho. A indicação de acento agudo é a letra “h”, como nas
palavras “ahi”, “jah”, “eh”. O til transforma-se em “aum” como nas palavras “naum” (não),
“entaum” (então). Observa-se, também, que essas expressões e tantas outras do “Internetês”
variam em cada região do país.
Segundo os entrevistados em nossa pesquisa, uma das mais fortes razões apresentadas
pelos jovens internautas para se escrever de maneira abreviada é exatamente devido ao fato de
se estabelecer um contato com um amigo e outros vão chamando no MSN e, de repente, o
36
Fonte: “Naum tow ntndndu nd” (Não estou entendendo nada). Revista Veja, p. 128, 25 Mai. 2005.
70
bate-papo se estende, falando-se com 20 pessoas ao mesmo tempo. Daí a necessidade de se
abreviar para dar tempo de responder a todos simultaneamente.
Bruno Dallari37
(2005) afirma que “quem teme pelo futuro do idioma pode se acalmar:
“segundo especialistas, “Internetês”, como acne, é fase. Há quem aponte, inclusive, benesses.
A Internet reabilitou a escrita, a qual estava em desuso pelos jovens “(DALLARI, 2005).
Por meio da Internet houve um desenvolvimento acelerado do conhecimento em todo o
mundo, fazendo com que todos pudessem compartilhar suas experiências de uma maneira
cada vez mais rápida, ligando as pessoas localizadas nos locais mais longínquos da terra.
Como consequência dessa interação entre as diversas culturas, o homem passou a ter a
oportunidade de refletir sobre sua existência, seus usos e costumes e, até mesmo, mudar o seu
comportamento.
Fabiano Rampazzo38 (2009) analisando a influência do “Internetês” na escola conclui
que, apesar da preocupação dos pais e professores e a crítica constante dos profissionais da
educação contra a forma dessa nova escrita dos jovens, a ocorrência dessa linguagem em
provas e concursos é quase nula. “Ainda que a maioria dos professores e educadores se
preocupe com essa linguagem, alertando os alunos em sala, a ocorrência do “Internetês” nas
provas escolares, vestibulares e em concurso público é insignificante” (RAMPAZZO, 2009).
Mônica Domingos39
(2009) segundo sua experiência em sala de aula esclarece sobre a
influência do “Internetês” nos trabalhos escolares:
nos simulados de redação que passo e corrijo não identifico a presença do
Internetês. É bem verdade que tenho o cuidado de orientar os alunos a não
trazer esse dialeto para as provas. Em cada ambiente você usa uma roupa,
não dá pra ir a uma recepção com a mesma roupa utilizada na praia
(DOMINGOS, 2009).
37
Professor de Linguística da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. Fonte: “Naum tow ntndndu
nd” (Não estou entendendo nada). Revista Veja, p. 128, 25 Mai 2005. 38
Fonte: “O internetês na escola”. Revista Língua Portuguesa. Ano 3, n. 40, p. 28, Fev. 2009. 39
Professora de Português da Escola Progresso. Ministra cursos preparatórios para as provas de concurso
público das polícias militar e civil, e para a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Revista Língua Portuguesa.
Ano 3, n. 40, p. 28, Fev. 2009.
71
Segundo Luiza Ricotta40
(2009) também acontece o mesmo nas redações de seus
alunos, não apresentando influências do “Internetês”:
Nos simulados que fazemos aqui não aparece Internetês. Os alunsos sabem
que as provas exigem o português em sua forma culta. As abreviações de
palavras aparecem, sim, nas anotações deles em sala de aula, mas na hora da
prova eles sabem diferenciar. Aliás, aí está a questão: saber a hora em que
podemos escrever de “qqjto”, da hora em que não podemos escrever de
“qualquer jeito” (RICOTTA, 2009).
Portanto, segundo todos os educadores apresentados em nossa pesquisa, esse mito do
“Internetês” como “um monstro devorador de gramáticas e dicionários” já não existe mais.
É dever das escolas realizarem um trabalho crítico com os alunos, no que diz respeito às
novas tecnologias da comunicação, proporcionando a todos uma educação de qualidade.
As escolas precisam orientar os alunos quanto ao uso adequado da linguagem formal e
da linguagem coloquial, especificando quando e onde empregar tais linguagens, incentivando
a pesquisa orientada nos laboratórios de informática das próprias escolas, interagindo no
contexto social, preparando, assim, os jovens para os desafios de uma nova sociedade em
construção.
40
Psicóloga e Professora no curso FMB, em São Paulo, preparando alunos para provas de concursos públicos da
área jurídica. Revista Língua Portuguesa. Ano 3, n. 40, p. 28, Fev. 2009.
72
6 ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA
A pesquisa de campo sobre “A Linguagem do Jovem na Mídia Contemporânea e sua
Influência na Aquisição da Língua Portuguesa” foi realizada com 71 alunos da oitava série do
Curso Fundamental de uma escola da rede particular de ensino da cidade de Caratinga, Minas
Gerais.
Após o consentimento livre e esclarecido dos alunos e de seus pais para a realização da
pesquisa foi aplicado um questionário, o qual foi devidamente respondido pelos alunos na sala
de aula, com o nosso acompanhamento como pesquisador e da professora de Português da
referida turma de alunos.
Em uma segunda etapa os alunos fizeram uma redação sobre a influência do
“Internetês” nos trabalhos escolares, tendo sido avaliada pela professora da turma e entregue
ao pesquisador para análise sobre a influência, na Língua Portuguesa, da linguagem utilizada
pelos jovens na Internet.
Os gráficos dos resultados apurados da pesquisa encontram-se em anexo, cuja análise
passamos a demonstrar:
Gráfico 1 – Dados pessoais: sexo.
O grupo pesquisado de alunos está constituído de uma maneira equilibrada, constituído
por participantes do sexo feminino (51%) e os participantes do sexo masculino representam
49%.
Gráfico 2 – Dados pessoais: idade.
A maioria absoluta dos alunos pesquisados tem 14 anos de idade, representando 72%.
Quanto aos demais participantes apresentam 21% com 13 anos de idade, 5% com 15 anos de
73
idade e 2% com 18 anos de idade.
Gráfico 3 – Escolaridade do pai.
Verifica-se que a maioria dos pais dos alunos pesquisados apresenta bom nível de
escolaridade, com 38% tendo cursado o Ensino Médio e 37% o Curso Superior.
Apenas 10% se apresentam com o Ensino Fundamental, 8% não declarado e 7% com
Pós-Graduação.
Gráfico 4 – Escolaridade da mãe.
A escolaridade das mães dos alunos pesquisados é bem maior que a dos pais,
apresentando, em sua maioria absoluta, o nível Superior, com 56%.
Em seguida, destacam-se as mães no Ensino Médio (18%) e na Pós-Graduação
apresentam um percentual maior que o dos pais (11%).
Embora a escolaridade não declarada represente 7% verifica-se que apenas 6% das mães
estão no Ensino Fundamental.
Entretanto, com 2% das mães no Mestrado confirma-se a afirmativa inicial de um nível
de escolaridade maior que o dos pais.
Gráfico 5 – Profissão do pai.
Verifica-se que a maioria dos pais dos alunos pesquisados é constituída de comerciantes
(24%) e empresários (10%), engenheiros (7%) e professores (6%). Os demais estão
distribuídos nas diversas profissões com percentuais que variam de 1% a 4%, incluindo as
seguintes: bancário, aposentado, desenhista projetista, pintor, mecânico, agricultor,
funcionário público, delegado de polícia, balconista, representante comercial, policial, taxista,
médico, cafeicultor, advogado, tabelião, corretor de seguros, contador, vendedor, construtor e
74
não declarado, totalizando 25 profissões.
Gráfico 6 – Profissão da mãe.
A maioria das mães é constituída por professoras (25%), donas de casa (13%),
comerciantes (13%), empresárias (6%) e pedagogas (6%).
As demais profissões apresentam índices que variam de 1% a 4%, incluindo as
seguintes: funcionária pública, Oficial do Ministério Público, secretária, contadora, estudante,
enfermeira, psicóloga, balconista, personal trainer, pedagoga, gerente comercial, advogada,
procuradora municipal, cabeleireira, bancária, supervisora escolar, escrivã, diretora de escola,
totalizando 22 profissões.
Gráfico 7 - Meios tecnológicos de comunicação encontrados nas residências dos
71 entrevistados.
O meio tecnológico de comunicação mais encontrado nas residências dos alunos
entrevistados continua sendo o televisor, com 66%, seguidos pelo telefone celular, com 62%,
computador, com 60%, Internet com 62% e computador portátil com 33%.
Observa-se que o número de videogames é relativamente expressivo, com 42% como
meio de entretenimento.
Destaca-se o fato de que apesar do elevado nível social dos pais, nem todos os alunos
possuem computador ou Internet em suas residências, o que torna difícil a realização das
pesquisas escolares por grande parte dos alunos, com o acompanhamento e a atualização dos
fatos e das informações diariamente.
Gráfico 8 – Indique o grau de importância do meio tecnológico de comunicação
existente em casa – Televisor.
75
Dos alunos entrevistados apenas 40% consideram que o Televisor contribui para a
aprendizagem, enquanto 32% o consideram imprescindível. Os demais consideram o
Televisor desejável (21%) e dispensável (7%).
Assim, o Televisor continua sendo considerado de pouca utilidade para o
desenvolvimento da aprendizagem.
Gráfico 9 – Indique o grau de importância do meio tecnológico de comunicação
existente em casa – Computador.
Verifica-se nessa questão um fator importante. Conforme o Gráfico 7 demonstrou,
embora um número elevado de alunos possua videogames em suas residências, 61% dos
entrevistados consideram o videogame dispensável.
Entretanto, 27% consideram o videogame desejável, 10% o consideram imprescindível,
enquanto 2% consideram que o mesmo contribui para a aprendizagem.
Gráfico 10 – Indique o grau de importância do meio tecnológico de comunicação
existente em casa – Computador.
Quanto à contribuição do computador para a aprendizagem 44% dos entrevistados
opinaram favoravelmente. Em seguida, 37% consideram o computador imprescindível, 17% o
consideram desejável, enquanto 2% dos alunos ainda não descobriram a importância do
mesmo.
Gráfico 11 – Indique o grau de importância do meio tecnológico de comunicação
existente em casa – computador portátil.
Observa-se um percentual maior atribuído à importância do computador portátil, com
41%. Observamos que, enquanto 29% o consideram desejável, 27% o consideram dispensável
76
e apenas 3% o consideram que contribui para a aprendizagem.
Gráfico 12 – Indique o grau de importância do meio tecnológico de comunicação
existente em casa – Internet.
As opiniões dos alunos recaíram principalmente em 47% declarando que a Internet
contribui para a aprendizagem, 38% afirmam que a Internet é imprescindível, 14% que ela é
desejável e 1% considera dispensável. Isto é, nem todos consideram a Internet como essencial
para as pesquisas.
Gráfico 13 – Indique o grau de importância do modo tecnológico de comunicação
existente em casa – Celular.
Observa-se neste gráfico maior importância dado ao celular, sendo considerado
imprescindível por 59% dos entrevistados.
O celular é considerado dispensável por 23% dos alunos, desejável por 14% e 4%
consideram que o celular contribui para a aprendizagem.
Gráfico 14 – Quando navega na Internet, em casa, costuma acessar:
O acesso individual da Internet é comprovado aqui por 90% dos alunos. O acesso
realizado com amigos ou com os pais ainda se realiza por 4% dos alunos e 2% com outras
pessoas.
Gráfico 15 – Em média, quanto tempo utiliza o computador diariamente?
Nota-se que 37% dos entrevistados utilizam o computador entre 1 a 3 horas diariamente
e 28% o utilizam entre 3 a 5 horas.
Cerca de 10% dos alunos o utilizam menos de 1 hora e 25% dos alunos não utilizam o
77
computador diariamente.
Gráfico 16 – Desse tempo, quanto é utilizado para navegar na Internet? (Mesmo
para quem não tem acesso em casa).
Durante o tempo que estão com o computador ligado em casa ou em outro lugar, 41%
dos alunos estão sempre conectados na Internet, 10% estão conectados menos de 1 hora, 34%
estão conectados entre 1 a 3 horas.
Cerca de 12% ficam conectados mais de 3 horas, enquanto 3% raramente se conectam à
Internet, significando que a maioria dispõe de tempo e de condições de realizarem pesquisas
escolares se o desejarem, embora alguns alunos ainda não descobriram a sua utilidade.
Gráfico 17 – Como aprendeu a utilizar a Internet?
É bastante expressiva a constatação de que 72% dos alunos pesquisados aprenderam a
utilizar a Internet sozinhos, 20% com a família e e7% com amigos que sabiam.
Os cursos de informática exerceram pouca influência no aprendizado, contribuindo
apenas com 1% e absolutamente nenhuma contribuição da escola, com 0% nas aulas.
Gráfico 18 – De que forma acha que ter Internet em casa melhora a
aprendizagem escolar?
Os resultados mostram que os alunos demonstram falta de confiança ou
desconhecimento das possibilidades da Internet, pois, 58% declararam que a Internet melhora
medianamente a aprendizagem escolar.
Apenas 24% declararam que melhora muito, 16% disseram que melhora pouco e 2%
afirmam que não melhora nada.
78
Gráfico 19 – Indique as principais atividades da Internet fora da escola.
Verifica-se neste gráfico que a maior parte do tempo dos alunos não é dedicado às
pesquisas escolares e acompanhamento dos fatos e atualização cultural, mas é gasto nos sites
de relacionamento social, com 26% no MSN/ Messenger (ferramenta de comunicação
instantânea escrita ou com áudio e vídeo, amplamente utilizado pelos jovens e adultos no
Brasil) e 24% no Orkut (site de relacionamento preferido no Brasil, com álbum de fotos e
vídeos, também com comunicação instantânea escrita).
Os trabalhos escolares com 13%, praticamente ocupam um tempo semelhante ao
utilizado com os jogos, com 12%, seguido de downloads diversos, que podem ser de músicas,
jogos ou aplicativos.
As pesquisas aparecem apenas com 8%, pouca utilização dos e-mails (mensagens pelo
correio eletrônico), com 5% e os bate-papos com 1% nos sites especializados perderam lugar
para o MSN e o Orkut.
Gráfico 20 – Dos seguintes meios indique os que você considera mais úteis para as
aprendizagens escolares.
É interessante notar que 31% dos entrevistados ainda confiam mais nos livros para a
realização das pesquisas escolares, talvez pela facilidade de manuseio, ficando 29% para a
Internet.
A televisão ocupa o terceiro lugar, com 19%, provavelmente devido aos noticiários e
aos programas especiais da TV a cabo, para aqueles alunos que residem em Caratinga.
Em seguida estão os vídeos, com 12% e os programas de multimídia, com 9%. Caso os
alunos tivessem maior domínio da informática esses números, certamente seriam maiores com
downloads de vídeos especializados na Internet, diminuindo o tempo de busca e o custo com
aluguel ou compra de vídeos para pesquisa.
79
Gráfico 21 – A linguagem que você utiliza nos bate-papos e e-mails interfere nos
trabalhos escolares, tais como redação, comunicação e outros?
Apesar de 48% dos alunos afirmarem que a linguagem utilizada nos bate-papos e e-
mails não interfere nos trabalhos escolares, na redação e em outros, 46% reconhecem que às
vezes essa linguagem da Internet interfere nos trabalhos e 6% afirmam positivamente essa
interferência.
Gráfico 22 – Em suas conversas em bate-papos e e-mails você usa gírias e abreviaturas?
A grande maioria de 80% reconhece que usa gírias e abreviaturas em suas conversas em
bate-papos. Apenas 3% declaram que não usam e 17% às vezes usam.
Gráfico 23 – Em que locais utiliza habitualmente a Internet?
Exatamente 50% declaram utilizar a Internet em casa. A outra metade está distribuída
em vários locais como: 18% na casa de amigos, 16% na casa de familiares, 10% em Lan
Houses, 4% na escola e 2% no emprego dos pais.
Conclui-se, então, que 50% dos alunos encontram dificuldades para acessar a Internet
em suas próprias casas, por estar sendo utilizada por outros da família ou por não disporem de
Internet conectada, inviabilizando a realização das pesquisas escolares.
Entretanto, o Gráfico 16 demonstrou que os alunos ficam conectados na Internet numa
média de 3 horas diariamente, sendo que a metade dos alunos entrevistados está fora de casa,
longe dos pais, utilizando a Internet e, como vemos no Gráfico 19, apenas 22% dos alunos
estão realizando trabalhos escolares e pesquisas na Internet durante esse tempo.
Gráfico 24 – Fora da sala de aula costuma utilizar a Internet por indicação dos
professores?
80
A maioria absoluta (83%) dos alunos declaram nunca utilizarem a Internet fora da sala
de aula por indicação dos professores. Apenas 8% reconhecem que a utilizam, 5% afirma que
raramente utiliza e 4% declara que utiliza muitas vezes.
Parece-nos que a orientação dos professores está direcionada apenas para alguns alunos,
pois se trata de duas turmas de 8ª série da mesma escola pesquisada.
Isso significa que a maioria dos alunos não está recebendo nenhum tipo de orientação
pelos professores no que diz respeito ao uso da Internet para a realização de trabalhos
escolares e pesquisas diversas.
Gráfico 25 – Indique o seu grau de concordância: os benefícios da Internet são maiores
que os riscos.
As respostas dadas pelos alunos pesquisados revelam uma grande desconfiança em
relação aos benefícios da Internet visto que 37% declaram que não concordam nem
discordam, 31% discordam apenas 24% concordam e 8% concordam totalmente.
Gráfico 26 – Indique o seu grau de concordância: utilizo a Internet de forma segura.
Os alunos pesquisados declaram que se sentem seguros na utilização da Internet, com
48% declarando que concordam, 39% concordam totalmente, 10% permanecem indiferentes
com a situação afirmando que não concordam nem discordam e 3% discordam. É importante
lembrar que a metade dos alunos está sempre conectada fora de suas residências.
Gráfico 27 – Indique o seu grau de concordância: fui ensinado na Escola.
Praticamente o mesmo número de alunos que declarou no gráfico anterior que utiliza a
Internet de forma segura, agora 49% dos alunos declaram que não foram ensinados na Escola
a utilizar a Internet de forma segura.
O percentual dos alunos que não concordam nem discordam agora aumenta para 18%,
81
enquanto 20% concordam que foram ensinados na Escola, juntamente com 13% que
concordam plenamente.
Portanto, o percentual dos que receberam indicação dos professores para o uso da
Internet que totalizava 17%, no Gráfico 24, agora aumenta para 33%, significando a
existência de uma orientação feita nessa Escola pelos professores, apenas para uma parte dos
alunos, deixando a metade dos alunos sem orientação.
Gráfico 28 – Indique o seu grau de concordância: é mais perigoso andar na rua sozinho
do que frequentar a Internet sozinho.
Os alunos pesquisados agora se apresentam divididos com declaração feita nessa
questão, sendo que 37% concordam que é mais perigoso andar na rua sozinho do que
frequentar a Internet sozinho. Entretanto, 32% discordam dessa afirmativa, enquanto 19% não
se importam com o assunto, dizendo que nem concordam nem discordam e 12% concordam
plenamente.
Portanto, 49% afirmam que a Internet não oferece tanto perigo quanto andar sozinho na
rua.
Gráfico 29 – Indique o seu grau de concordância: os jovens que não têm Internet em
casa sentem-se excluídos.
Os alunos que discordam da afirmativa de exclusão por não terem Internet em casa
apresentam-se com 30%. Os alunos que concordam com essa afirmativa estão representados
por 26%, juntamente com 16% que concordam totalmente.
Entretanto, 28% não se preocupam com a situação, dizendo que não concordam nem
discordam. Portanto, 42% declaram positivamente que os jovens que não têm Internet em
casa sentem-se excluídos. Esse percentual representa, aproximadamente, a metade dos alunos
82
entrevistados.
Gráfico 30 – Indique o seu grau de concordância: a Internet facilita a aprendizagem
escolar.
A maioria absoluta dos entrevistados, perfazendo 59% concordam que a Internet facilita
a aprendizagem escolar, acrescido dos 30% que concordam totalmente com essa afirmativa,
totalizando 89%.
No entanto, cerca de 10% nem concordam nem discordam e 1% discordam dessa
afirmativa.
Gráfico 31 – Indique o seu grau de concordância: a Internet facilita as relações sociais e
a comunicação entre jovens.
Quase a totalidade dos alunos concorda totalmente que a Internet facilita as relações
sociais e a comunicação entre os jovens, perfazendo 54%, acrescido dos 37% que concordam
com a afirmação, totalizando 91%.
Existem, ainda, 8% que nem concordam nem discordam e 1% que discorda da
afirmação.
6.1 Análise das redações realizadas pelos alunos pesquisados
Após a realização da pesquisa de campo sobre “A Linguagem do Jovem na Mídia
Contemporânea e sua Influência na Aquisição da Língua Portuguesa”, com 71 alunos da
oitava série do Curso Fundamental de uma escola da rede particular de ensino da cidade de
Caratinga, Minas Gerais, solicitamos, por intermédio da Professora Gilsane da Silva Teixeira
Alves, que os alunos realizassem uma redação versando sobre a influência do “Internetês”
83
nos trabalhos escolares. As redações foram feitas, as quais muito contribuíram para a
verificação e constatação da pesquisa realizada, sendo as redações utilizadas, também, como
atividade normal do bimestre escolar.
Examinando as redações verificamos a mesma preocupação por parte dos alunos quanto
ao uso indiscriminado da linguagem da Internet e das gírias, em todos os lugares e situações,
sem se verificar com que pessoas, em qual lugar e em qual situação os alunos estão usando
essa linguagem.
Os alunos são unânimes em afirmar que a maioria dos jovens está se comunicando por
meio de uma linguagem diferente, com muita gíria e abreviações. Segundo os alunos
pesquisados isso se deve ao fato de desejarem uma comunicação mais rápida e direta, sendo,
muitas vezes, influenciados pela mídia, especialmente o rádio e a televisão, o que vem
causando influências na escrita e na pronúncia da Língua Portuguesa. Além disso, essa
linguagem não depende de regras, como acontece na gramática da Língua Portuguesa,
bastando entender e aceitar as gírias e utilizá-las no dia-a-dia.
Muitos jovens pesquisados consideram que essa atitude dos jovens se deve ao desejo de
estarem na moda, falando e agindo de um modo diferente dos demais e ganhando uma
liberdade que não possuíam, tendo em vista que, segundo alguns jovens, o computador nas
mãos de um jovem é literalmente a liberdade com a qual ele sonhava.
Outros jovens pesquisados consideram que o uso de abreviações e gírias na Internet é
simplesmente pelo desejo e a necessidade de se comunicar com maior velocidade,
considerando-se o rápido avanço da tecnologia e a agitação dos tempos atuais.
Consideram alguns alunos pesquisados que nem sempre é tarefa fácil interagir com
adolescentes ou, menos ainda, decifrar o que eles conversam. Isso acontece pelo fato de terem
um vocabulário repleto de gírias e expressões inusitadas. Assim, concordam que na
84
adolescência sintam uma necessidade de chamar atenção para que todos se voltem para eles.
Daí vem a rebeldia apresentada por alguns adolescentes que encontram nessa forma de agir
um jeito de atrair a atenção das pessoas. Como nessa fase da vida os adolescentes estão
formando sua personalidade para sentirem-se mais confiantes e seguros, criam seus códigos
como se quisessem ser entendidos apenas pelo grupo do qual faz parte.
Consideram outros pesquisados que a gíria é uma nova linguagem, uma forma usual,
uma regeneração da língua. Os jovens, em sua maioria não gostam de estudar e se desanimam
ainda mais quando a matéria é cheia de regras, detalhes e exceções, como a Língua
Portuguesa e isso contribui para que eles façam, cada vez mais, a utilização de gírias.
Vários alunos pesquisados afirmam que os sites de relacionamento, principalmente o
Orkut e MSN transformaram-se na “febre do momento”, não deixando os adolescentes
estudar, pesquisar e realizar suas tarefas diárias e quem não tem Orkut nem MSN atualmente
é, na verdade, uma minoria. Os alunos reconhecem que a maior parte fica no “bate-papo” com
colegas no computador dia e noite, conhecendo pessoas, fazendo novas amizades,
comentando os fatos, enviando mensagens, ouvindo ou realizando o download, isto é,
baixando uma música nova, além de outras atividades.
Segundo os pesquisados a mídia contribui muito para esse crescente aumento das gírias
e abreviações o que tem dificultado o aprendizado de vários alunos que preferem escre-
ver usando a linguagem própria dos jovens.
Alguns alunos afirmam que eles têm consciência de que quando estão na escola seu
vocabulário não pode ser o mesmo usado na Internet e que raramente poderá afetar nas
atividades escolares dos jovens. Explicam que as abreviações de palavras só existem para
agilizar a conversa no computador e que o modo dos adolescentes e jovens falarem
atualmente é muito diferente daqueles que seus pais falavam quando eram adolescentes e,
85
com certeza, será diferente do linguajar de seus filhos futuramente, pois a linguagem dos
jovens está sempre sofrendo modificações.
Outros alunos garantem que, na realidade o “Internetês”, essa linguagem utilizada na
Internet pode interferir na escrita em geral e na fala. Esses alunos são favoráveis à realização
de um trabalho de orientação aos jovens internautas, futuros profissionais, criando algum
método para incentivá-los a escrever corretamente, sem abreviações e com acentos nos seus
devidos lugares.
Alguns alunos estão preocupados com o futuro dos jovens que não fazem mais
pesquisas em livros, não lêem mais nada, têm preguiça de escrever e têm sido mal sucedidos
nos estudos. Assim, eles têm sido prejudicados cada vez mais, podem resultar em sérias
conseqüências na formação dos futuros profissionais.
Como solução apontam a necessidade de um trabalho escolar com orientações aos
jovens sobre a necessidade de separar as atividade no computador das atividades na vida real,
formando uma nova geração onde a preguiça e a dependência pelas máquinas não os alcance.
Segundo os alunos os professores devem incentivar e cobrar dos alunos que escrevam
textos dos mais diversos tipos e que leiam, cada vez mais, para aprenderem palavras novas e
diversificar seu vocabulário.
Outro aspecto que nos chama a atenção nas redações realizadas é quanto à televisão e ao
seu uso. A maioria pesquisada considera que a televisão é um meio de comunicação que
apresenta várias vantagens e desvantagens. Dentre as vantagens apontadas pelos alunos
pesquisados estão as informações, diversão e cultura geral. Por meio dos programas
jornalísticos tomamos conhecimento rapidamente do que está acontecendo no Brasil e no
mundo, bem como da linguagem das diversas regiões do país.
86
Como desvantagens apontam várias situações, dentre as quais está a falta de
relacionamento da família e a violência. Apontam a televisão, também, como prejudicial ao
relacionamento social, pelo fato de prender as pessoas em casa, concentrando a atenção
contínua no aparelho de televisão, além de falta de leitura de livros e revistas, incluindo-se a
criação e a rápida propagação das gírias e termos empregados indiscriminadamente nas
novelas e programas humorísticos.
Entretanto, a televisão faz parte da nossa vida, enfatizam os alunos pesquisados. A
televisão mudou completamente o nosso modo de comunicação, maneira de pensar, de agir,
tornando completamente impossível viver sem a televisão nos dias atuais, constituindo-se na
nossa maior fonte de informação, conhecimento e de diversão.
Após a análise cuidadosa das redações realizadas pelos alunos pesquisados, onde
encontramos opiniões diversas sobre a influência da linguagem dos jovens na aquisição da
Língua Portuguesa constatamos que em nenhuma das 71 redações foram encontradas
expressões, gírias, abreviações, a não ser quando citadas como exemplos, nem qualquer outra
forma que indicasse influência do “Internetês”.
Assim, apesar da preocupação de muitos alunos sobre essa influência do “Internetês”
nas redações, nos trabalhos escolares e no futuro como profissionais, dos jovens que não
fazem mais pesquisas em livros, e que têm preguiça de escrever, concluímos que os alunos da
escola pesquisada, embora não recebendo orientações adequadas dos professores sobre o
assunto em questão, embora predominando dificuldades com a ortografia, apresentam um
bom conhecimento das regras gramaticais básicas da Língua Portuguesa, sabendo utilizá-las
nos devidos contextos.
87
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O foco dessa pesquisa concentrou-se na investigação para verificar se os jovens sabem
distinguir, exatamente, os momentos em que precisam usar a norma culta, daqueles em que
podem usar a linguagem da Internet e de que forma a linguagem utilizada por eles tem
influenciado na escrita e na fala da Língua Portuguesa na 8ª série do Ensino Fundamental de
uma escola da rede particular de ensino de Caratinga.
Segundo as pesquisas bibliográficas realizadas constatamos a unanimidade nos pontos
de vista apresentados quanto à influência do “Internetês” nos trabalhos escolares e,
principalmente, nas avaliações e nas redações. Afirmam os educadores pesquisados que os
alunos que têm recebido orientação dos professores quanto ao uso racional da Internet,
mostrando aos alunos os diversos níveis de linguagem, não apresentam problema algum na
elaboração de suas redações. Esses alunos são orientados a usarem o “Internetês” apenas no
espaço apropriado para esse fim, ou seja, nos sites de relacionamento na Internet, tais como
MSN, Orkut e torpedos SMS, enviados pelo telefone celular. Além disso, enfatizam que a
escrita já estava em desuso pelos jovens da década de 1990 e a Internet reabilitou essa prática.
O objetivo principal da metodologia utilizada nessa Dissertação foi fazer uma análise
criteriosa, para identificar os motivos que levam os jovens a se comunicarem através de gírias
e abreviações e compreender a relação existente entre o vocabulário dos jovens que
frequentam a escola e a linguagem expressa de maneira correta.
Constatamos que os jovens se comunicam através de gírias e, principalmente, de
maneira abreviada, além de servir para identificar um determinado grupo, deve-se, também, à
necessidade de conseguirem tempo suficiente para atenderem a muitos contatos simultâneos,
nos sites de relacionamento, considerando-se o fato de se encontrarem exercendo outras
tarefas simultaneamente, como ouvir música, baixar algum arquivo, visitar o Orkut, falar no
Skype e, ainda, digitar algum texto no Word.
88
Comprovamos, também, que os alunos que possuem uma boa formação educacional,
especialmente na Língua Portuguesa, sabem distinguir muito bem a linguagem coloquial e a
linguagem formal, empregando-as no local apropriado e no momento oportuno. Entretanto, os
jovens em formação escolar e adultos que não receberam ou não estão recebendo uma
educação de qualidade, que não são orientados pelos professores quanto à utilização do
computador, nem realizam pesquisas orientadas na Internet em suas escolas, com certeza,
estão encontrando muitas dificuldades em seus trabalhos escritos, por não conseguirem
distinguir a norma culta da linguagem coloquial.
Foi obtida uma amostra da intensidade do tipo de língua utilizado pelos jovens
entrevistados, por meio da qual verificamos, especialmente pela análise das redações
realizadas, que não foi encontrada nenhuma expressão de “Internetês” em todas as redações
por nós corrigidas. E, como professor e revisor de textos e redações nos vestibulares no
Centro Universitário de Caratinga - UNEC afirmamos, também, que não temos encontrado
influência alguma da linguagem coloquial nas redações e trabalhos escolares dos alunos no
curso de Letras nem dos vestibulandos durante o período dessa pesquisa.
Por meio das pesquisas realizadas na escola observamos uma preocupação dos próprios
alunos quanto ao uso indiscriminado da linguagem da Internet e das gírias, em todos os
lugares e situações, sem se verificar com que pessoas, em qual lugar e em qual situação os
alunos estão usando essa linguagem. Os alunos demonstram falta de confiança ou
desconhecimento das possibilidades da Internet, pois, 58% declararam que a Internet melhora
medianamente a aprendizagem escolar. Verificamos que a maior parte do tempo dos alunos
não é dedicada às pesquisas escolares e acompanhamento dos fatos e atualização cultural, mas
é gasto nos sites de relacionamento social, com 26% no MSN/ Messenger e 24% no Orkut. Os
trabalhos escolares com 13%, praticamente ocupam um tempo semelhante ao utilizado com os
jogos, com 12%, seguido de downloads diversos, que podem ser de músicas, jogos ou
89
aplicativos. É interessante notar que 31% dos entrevistados ainda confiam mais nos livros
para a realização das pesquisas escolares, talvez pela facilidade de manuseio, ficando 29%
para a Internet.
Apesar de 48% dos alunos afirmarem que a linguagem utilizada nos bate-papos e e-
mails não interfere nos trabalhos escolares, na redação e em outros, 46% reconhecem que às
vezes essa linguagem da Internet interfere nos trabalhos e 6% afirmam positivamente essa
interferência. A grande maioria (80%) reconhece que usa gírias e abreviaturas em suas
conversas e em bate-papos. Apenas 3% declaram que não a usam e 17% às vezes a usam. A
maioria absoluta (83%) dos alunos declara nunca utilizarem a Internet fora da sala de aula por
indicação dos professores. Apenas 8% reconhecem que a utilizam, 5% afirmam que raramente
a utilizam e 4% declaram que utilizam muitas vezes, indicando que a orientação dos
professores está direcionada apenas para alguns alunos, pois se trata de duas turmas de 8ª
série da mesma escola pesquisada. Isso significa que a maioria dos alunos não está recebendo
nenhum tipo de orientação pelos professores, no que diz respeito ao uso da Internet para a
realização de trabalhos escolares e pesquisas diversas.
Os alunos são unânimes em afirmar que a maioria dos jovens está se comunicando por
meio de uma linguagem diferente, com muita gíria e abreviações. Segundo os alunos
pesquisados isso se deve ao fato de desejarem uma comunicação mais rápida e direta, sendo,
muitas vezes, influenciados pela mídia, especialmente o rádio e a televisão, o que vem
causando influências na escrita e na pronúncia da Língua Portuguesa. Além disso, essa
linguagem não depende de regras, como acontece na gramática da Língua Portuguesa,
bastando entender e aceitar as gírias e utilizá-las no dia-a-dia.
A maioria dos jovens pesquisados considera que essa atitude se deve ao desejo de
estarem na moda, falando e agindo de um modo diferente dos demais e ganhando uma
liberdade que não possuíam, tendo em vista que, segundo alguns entrevistados, o computador
90
nas mãos de um jovem é literalmente a liberdade com a qual ele sonhava. Segundo os alunos
pesquisados a mídia contribui muito para esse crescente aumento das gírias e abreviações e
isso tem dificultado o aprendizado de vários alunos que preferem escrever usando a
linguagem própria dos jovens.
A pesquisa apontou que 48% dos alunos afirmam que eles têm consciência de que
quando estão na escola seu vocabulário não pode ser o mesmo usado na Internet e que
raramente poderá afetar nas atividades escolares dos jovens. Entretanto, 52% dos alunos
garantem que, na realidade o “Internetês”, essa linguagem utilizada na Internet pode interferir
na escrita em geral e na fala, caso continuem sem receber uma educação de qualidade
envolvendo a criação de textos utilizando o computador. Esses alunos são favoráveis à
realização de um trabalho de orientação aos jovens internautas, futuros profissionais, criando
algum método para incentivá-los a escrever corretamente, sem abreviações e com acentos nos
seus devidos lugares.
Apesar da preocupação de muitos alunos sobre essa influência do “Internetês” nas
redações, nos trabalhos escolares e no futuro como profissionais, dos jovens que não fazem
mais pesquisas em livros, e que têm preguiça de escrever, concluímos que os alunos da escola
pesquisada, embora não recebendo orientações adequadas dos professores sobre o assunto em
questão, embora predominando dificuldades com a ortografia, apresentam um bom
conhecimento das regras gramaticais básicas da Língua Portuguesa, sabendo utilizá-las nos
devidos contextos, considerando-se que, em nenhuma das 71 redações foram encontradas
expressões, gírias, abreviações, a não ser quando citadas como exemplos, nem qualquer outra
forma que indicasse influência do “Internetês”.
Desta forma, comprovamos que os jovens que receberam ou que estão recebendo uma
formação educacional de qualidade, voltada para o progresso e o desenvolvimento das novas
tecnologias da informação, aliada a uma boa formação da Língua Portuguesa estarão menos
91
sujeitos a cometer erros na elaboração de seus textos.
Portanto, concluímos que é papel primordial da escola proporcionar uma educação de
qualidade, devendo desenvolver projetos de incentivo à leitura, pois é lendo que se aprende a
escrever. A escola precisa desenvolver uma prática de aprimoramento da linguagem formal,
mostrando aos alunos as consequências no futuro, se não souberem adequar a linguagem nas
mais diversas situações e ambientes onde a sua comunicação é realizada, especificando
quando e onde empregar tais linguagens, incentivando a pesquisa orientada nos laboratórios
de informática das próprias escolas, interagindo no contexto social, preparando, assim, os
jovens para os desafios de uma nova sociedade em construção.
92
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98
ANEXO
Análise da Pesquisa “A Linguagem do Jovem na Mídia Contemporânea e sua influência na
aquisição da Língua Portuguesa, na 8ª série do Ensino Fundamental, de uma escola da rede
particular de ensino de Caratinga.
Masculino
49%Feminino
51%
Dados Pessoais: sexo
Gráfico 1
13 anos
21%
14 anos
72%
15 anos
6%
18 anos
1%
Dados Pessoais: idade
Gráfico 2
99
Gráfico 3
Gráfico 4
100
Gráfico 5
101
1%
13%
13%
6%
25%
1%1%
3%3%
1%
3%
3%
3%
6%
3%4%
1%3% 1% 3% 1% 1%
Profissão da Mãe
Funcionária Pública
Dona de casa
Comerciante
Empresária
Professora
Oficial Min. Público
Secretária
Contadora
Estudante
Enfermeira
Psicóloga
Balconista
Personal Trainer
Pedagoga
Gerente comercial
Advogada
Procuradora Municipal
Cabelereira
Bancária
Supervisora escolar
Escrivã
Diretora de escola
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