CAPÍTULO I
DAS ORIGENS
3. Vista aérea da cidade de
Pirassununga, escala
aproximada: 1 :25.000
tuída de muitas dimensões que se entre cruzaram aolongo do tempo - final do século XIX e todo o século XX -, e
em múltiplos espaços, desde as ocupações dos tupis-guaranis nascorredeiras onde os peixes fazem barulho, até as rotas do açúcar para Goiás,nas idas e vindas dos garimpeiros, passando a leste por Mogi-Mirim eMogi-Guaçu, encontrando a bacia do Rio Piracicaba, grande entrepostode trocas desde o século XVIII e base do desenvolvimento da cafeicultu-ra e da imigração européia no século XIX. Nessas rotas, a leveza dos pésdescalços dos nativ~ as picadas abertas pelos golpes rudes dos facõesdos bandeirantes metamorfosearam diversas culturas: a nativa, a dos co-lonizadores portugueses e a dos demais imigrantes, que se espalharampor todo o interior de São Paulo em levas originárias de diferentes paí-ses, fazendo com que a cidade de Pirassununga tenha hoje, em razão dadiversidade das origens, muitos desses elementos em seu cotidiano.
24
Muitas lendas permitem a recuperação de frag-
ment5}s desse passado, num contar e recontar his-
tórias que se mantêm na tradição oral, como pode
ser observado abaixo:
Em "Origem do Mogi" relata-se que um chefe-guerrei-
ro enamorou-se de duas formosas índias. O regime mono-
gâmico da tribo o impedia de casar com ambas e ele não sa-bia como decidir. Até que numa noite teve um sonho:
deveria propor um torneio de flechas entre as duas amadas
e aquela que melhor acertasse o alvo seria a sua esposa. Toda
a aldeia se reuniu para assistir à disputa e perdeu a índia
Obirici, dentre as duas, aquela que mais amava o índio-
guerreiro. Tendo perdido o seu amor, Obirici se refugiou emuma mata e pediu a Monã, o deus supremo, que lhe desse
a maior dor e esta veio em forma de lágrimas, pela primeira
vez entre os índios. Obirici chorou dias e noites seguidos e
suas lágrimas banharam o seu corpo, correram pelos seus pés
e formaram um pequeno regato, que deu origem ao Mogi-
Guaçu. Mas Obirici continuou a chorar e naquele êxtase dedor Monã veio buscá-Ia. Ela, porém, quis ficar nesta terra,
perto dos seus, e seu corpo, por inteiro, se transformounuma montanha - a Maan tiquira (coisa que verte), a Man-
tiqueira de hoje - que continua a chorar, formando as ver-
tentes que correm para Minas Gerais e São Paulo 4.
O . d "O ' das I "li aln a, a ngem estre as :
Conta-se que há muito tempo um velho pajé sentiu quea morte o queria levar para a Terra de Trovão, onde havia
muita caça, frutos e formosas índias. No firmamento exis-
tiam apenas o sol e a lua. .. e nenhuma estrela. Durante a lua
4. Capitanias de São Paulo e Minas Geraes no século XVIII. Reconstituição feita por
Manoel Pereira de Godoy em 1968
4. Manoel Pereira de Godoy, Contribuição à História Natural e
Geral de Pirassununga, vol. 1, p. 204.
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1!ItR~DAS ORIGr~NS 25
nova, quando as noites eram escuras como carvão, os índi-os ficavam amedrontados e tristes, pois a luz não aparecia enão havia nenhum sinal no céu - havia somente o lamento
dos índios e dos animais. Foi na época da lua nova que o
velho pajé deixou esta terra para ir morar na Terra de Trovão.
Porém, como era bondoso para com todos e desejando ca-
minhar por uma estrada cheia de luzes após a morte e dissi-
par o medo de todos por ocasião da lua nova, o velho pajé,
nos seus últimos instantes, numa noite escura, levantou-se
de sua rede e se dirigiu a um pântano próximo, onde havia
muitos vaga-lumes. Apanhou-os eos atirou um a um para
o céu, onde ficaram pregados para sempre, iluminando, com
seu cintilar, todas as noites do mundo, sobretudo por oca-
sião da lua nova. Desde então os homens volvem os seus
olhos para o céu, em todas as noites, para contemplar os
vaga-lumes do velho pajé de Pirassununga5.
na Corte. M~ avaliava que o ensino era deficiente
em educação técnica? Essas novas necessidades de
diferentes perfis profissionais indicam profunda al-
teração na estrutura social constituída por senho-
res e escravos. Um novo conjunto de seguimentos
se interpunha no seio da classe dominante, que se
ampliava para além dos senhores de engenho e dos
barões do café. Com~rciantes, homens de negóci-
os, banqueiros, engenheiros e demais técnicos exi-
giam ensino especializado. No pólo antagônico, um
número elevado de atividades urbanas, industriais
e rurais abria caminho para um proletariado mais
preparado para enfrentar as noy:as necessidades da
produção. Entre eles, desenvolvia-se uma classe mé-
dia composta por profissionais liberais, funcioná-
rios públicos, pequenos comerciantes e artesãos,
que ocuparam diferentes funções, tanto na capital
como nas demais cidades que cresciam, deixando
5. Idem, p. 206.6. Em 1812 foi criado por Carta Régia o primeiro curso agrí-
cola da Bahia, modificado pelo Decreto n2 5.957 de 1875;
em 1814 foi a vez do Rio de Janeiro; em 1859, foi criado
um estabelecimento para aprendizes agrícolas no Maranhão;e em 1860, no Pará, preferencialmente para meninos órfãos
e pobres.
7. Um instituto agrícola em Pernambuco, um asilo agrícola em
Minas Gerais, além dos já criados pelo Marquês de Pombal
e D. João VI. Rui Barbosa propôs em seu substitutivo de
Reforma Educacional que o Colégio D. Pedro 11 deveria ter,além do bacharelado, seis cursos entre os quais o de agrimen-
sura e o de direção de trabalhos agrícolas. In: Rum Kunzli,
Emino Agricola e Vida Rural no Sudoeste Paulista: A Escola
Prdtica de Agricultura de Presidente Prudente (Um Ertudo de
Caso), p. 21.
Múltiplas formas de viver e pensar. Pirassunun-
ga é, portanto, parte singular da transformação de
São Paulo. &te processo foi, ao longo do século XX,
entremeado de indecisões da classe dominante sobre
a estrutura produtiva, predominantemente agrária
ou industrial. Em meados do século XIX, o governo
imperial decidiu criar cursos técnicos de agricultura
para absorver no mercado de trabalho os negros es-
cravos ou libertos, os órfãos e os operários agrícolas
que apareciam nas representações do poder, ou mes-
mo dos fazendeiros, sem preparo para o trabalho nas
lavouras de café, ocupadas por imigrantes, conside-
rados superiores6.
Em 1878, Rui Barbosa informou ao governo
imperial que o ensino primário possuía cinco mil
alunos e esc~las para atender a demanda, enquan-
to o ensino profissional se reduzia a dezessete esta-
belecimentos, sendo treze nas províncias e quatro
,.~~.~f(ll-.lE26 ,t.jl
trabalho9. Mesmo aqueles que haviam recebido co-
lonos imigrantes para trabalhar nas terras compor-
tavam-se do mesmo modo, já que a mentalidade
escravista estava consolidada.
Em 11 de maio de 1892, em São Paulo, foi
aprovada a lei n2 26, que criou a Escola Superior
de Agricultura em Piracicaba e Luiz Vicente de
Souza Queiroz resolveu doar ao Estado a própria
fazenda, chamada São João da Montanha para que
se instalasse a Escola Agrícola Prática de Piracicaba.
A conjuntura exigia atualização do ensino pro-
fissional e, paradoxalmente, esta ocorreu no ensi-
no superior: em 1875 foi criado o Instituto Impe-
rial Baiano de Agricultura; em 1878, a Escola de
Agronomia de Pelotas; em 1906, criado e sancio-
nado o Ministério da Agricultura, com base no
modelo francês, e o ensino agronômico no país1o;
em 1901 foi fundada a Escola Superior de Agro-
nomia de Piracicaba, hoje Escola Superior de Agri-
cultura Luiz de Queiroz (Esalq), em homenagem
a seu benemérito. A Escola estava ligada à Secreta-
ria de Agricultura e a implementação de cursos foi
mínima. Quando o processo republicano se con-
solidou com a vitória do agrarismo, estimularam-
se cursos superiores de agronomia e engenharia,
para formar a elite proprietária de terras, dando um
para trás as cidades sagradas, coloniais, e dando
lugar às cidades profanas, vinculadas aos ditames
do capitals.
Por volta de 1890, residia em Piracicaba o
paulista Luiz Vicente de Souza Queiroz, fazendei-
ro, plantador de algodão, que, tendo viajado pela
Europa, aprendeu técnicas de cultivo, de adubação
e de conservação do solo que tornavam as culturas
mais produtivas. Decidiu que Piracicaba deveria ter
uma escola para ensinar segredos do solo, das plan-
tas, do meio ambiente. Como este interferia na
agricultura, as várias técnicas de cultivo de diver-
sas plantas e as relações entre o solo, a planta e o
animal deveriam ser estudadas. Percebeu Queiroz
que todo este acervo de conhecimentos faria parte
de disciplinas que comporiam uma Escola e deci-
diu fundar uma casa de ensino. Mas não foi bem-
sucedido na tarefa, dada as numerosas dificuldades
que encontrou.
Em primeiro lugar, para que a escola funcionas-
se, Souza Queiroz precisaria contar com a aprova-
ção dos governos Imperial e da Província. Depois,
receber a adesão dos fazendeiros que deveriam li-
berar os jovens trabalhadores e as crianças para se-
rem capacitados ao trabalho agrícola moderno.
Como se sabe, os interesses dos senhores rurais
voltavam-se para um vivido de opulência, de lucro
rápido, uma mentalidade imediatista, fruto da exis-
tência da escravidão. Como o preço do escravo
havia subido muito depois do fim do tráfico (1850),
vários deles preferiam explorar seus trabalhadores
ao máximo, de um lado temendo a rebeldia e, de
outro, na certeza do fim próximo desse regime de
8. Murilo Marx, Nosso Chão: do Sagrado ao Profano.
9. Ver: Sidney Chalhoub, Visões da Liberdade; e Agostinho Mar-
ques Perdigão Malheiros, A Escravidão no Brasil.10. Ver: Oriowaldo Queda & Tomás Szmrecsányi (orgs.), Vida
Rural e Mudança Social.
r;~R1:ttrn27
interrompida" já que a indústria dos países belige-rantes acabou adaptada à produção bélica. De ou-tro lado, autores como Wilson Cano, Caio PradoJr. e Celso Furtado negam a tese de Dean, com osargumentos centrados na diminuição da concor-rência. Já Suely Queiroz aponta que os resultadosdo período dos dois conflitos mundiais são clara-mente demonstrativos da relação entre o cresci-mento industrial e a guerra:
FÁBRICASANO OPERÁRIOS
1940
1950
14.225
24.519
272.865484.844
Fonte: Queiroz, Suely Robles Reis de. São Paulo. Madrid,Editiorial MAPFRE, 1992, p. 205 (Colección Ciudades delberoarnerica)
Com a crise de 1929 a situação da lavoura
cafeeira agravou-se, em razão da queda dos preços
do produto no mercado mundial e da impossibili-
dade "de se obter créditos externos para financiar
a política de retenção dos estoques que vinha sen-
do seguidà'll. No momento em que a moderniza-
ção ocorria no período entre guerras, o desenvol-
vimento passou a exigir novas formas de
organização dos espaços e das cidades, bases de
apoio dos complexos industriais. As cidades ganha-
ram maior projeção, permitindo a articulação de
brilho acadêmico aos donos do poder. Entretanto,
em 1898 deu-se a reforma econômica de Joaquim
Murtinho, ministro do governo Campos Salles,
com a reafirmação da vocação agrdria do Brasil. Nos
momentos decisivos das crises do capitalismo e seus
desdobramentos nos países periféricos, as velhas
estruturas impedem transformações que abalem a
hierarquia social dominante.
Quando eclodiu a Primeira Guerra Mundial,
em 1914, alterou-se, de certo modo, a hegemonia
do agrarismo, especialmente porque a pouca elas-
ticidade do mercado do café, um produto para de-
pois da sobremesa, permitiu- a expansão do peque-
no parque industrial que operava de modo ocioso.
Indústrias de alimentos, tecidos e calçados passa-
ram a ganhar o mercado exportador devido à guer-
ra e contingentes de trabalhadores em êxodo rural
foram deslocados como exército de reserva, incre-
mentando o processo de urbanização, incipiente até
então. Alterava-se o cotidiano das cidades centra-
das no flaneurismo, nos passeios tradicionais, na
boemia coletiva, dos clubes literários, da retórica
periodista, para a vida regrada, centrada no traba-
lho, no apito da fábrica e nos negócios. Evidente-
mente as necessidades técnicas passaram a ser mais
prementes.Entretanto, a influência da guerra na industri-
alização do Brasil é uma questão polêmica. De um
lado, autores como o brasilianista Warren Dean
afirmam que pelo menos na Primeira Guerra Mun-
dial a indústria sobreviveu de investimentos ante-
riores, especialmente porque diminuíram as inver-
sões no setor e a importação de máquinas foi11. José Carlos Pereira, Expansão e Est1Utura da Indústria em São
Paulo, D. 13.
.~~~.~nlEUNUNGA 111\ USP : MI28
interesses entre os setores rurais e urbanos que se
movimentaram contra o grupo "café com leite"12.
Esse processo de crise do capitalismo liberal atin-
giu, nos países periféricos, as estruturas produtivas
centradas na preponderância da exportação de pro-
dutos primários e na hegemonia oligárquica.
Assim, quando Getúlio Vargas, ao assumir o go-
verno provisório do Brasil em 1930, apoiado pela
burguesia nacional, encampou a política de comple-
mentaridade entre o modelo primário exportador e
o modelo de substituição das importações, teve a
difícil tarefa de equilibrar os interesses dos setores
agrário e industrial, de um lado, e, de outro, conter
e controlar os trabalhadores rurais e urbanos em suas
demandas por autonomia, poder e direitos. Os libe-
rais de São Paulo opuseram-se ao projeto varguista e
iniciaram as lutas na Revolução de 1932. Ao perde-
rem a guerra, os paulistas passaram a disputar o co-
nhecimento. Procurou-se equilibrar a contenda am-
pliando o espaço cultural para as elites e, em 1934,
o projeto de Armando de Salles Oliveira tornou-se
realidade: efetivou-se a criação da Universidade de
São Paulo pelo Decreto n2 6.283 de 25.01.193413.
A agricultura passava a exigir medidas de prote-
ção mais amplas e novos padrões técnicos decorren-
tes do desenvolvimento de insumos para proteger a
produção das intempéries e das pestes. Foram cria-
dos institutos nacionais de planejamento, controle
e proteção que contavam com políticas específicas
por áreas de interesses, articulação regional e poten-
cialidade produtiva e exportadora 14. As indústrias
receberam isenção de impostos para importação de
máquinas e equipamentos e, com a ampliação da
política: trabalhista do governo, além do controle
que se pretendia impor sobre o operariado, o cres-
cimento do mercado interno tomou-se realidadel5.
A vida cotidiana sofrera nos últimos anos pro-
funda alteração, tanto para as classes médias como
para a classe operária. Estas passaram, na capital de
12. Articulação do grupo dos cafeicultores paulistas com os mi-
neiros, além de produtores pecuaristas, para controlar a po-
lítica nacional. Dominavam o PRP e o PRM e detinham o
controle sobre o Partido Republicano Federal.13. Quando, em 1934, foi criada a Universidade de São Paulo,
as escolas já existentes incorporaram-se ao projeto que cria-
va a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Foram elas a
Faculdade de Direito, a Faculdade de Medicina, a Faculdade
de Farmácia e Odontologia, a Escola Politécnica, o Instituto
de Educação Caetano de Campos, o Instituto de Ciências
Econômicas e Comerciais, a Escola de Medicina Veteriná-
ria, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq)
e a Escola de Belas-Artes. Além dessas, incorporaram-se ain-
da o Instituto Biológico, o Instituto de Higiene, o Instituto
Butantã, o Instituto AgronÔmico de Campinas, o Instituto
Astronômico e Geográfico, o Museu Paulista e o Serviço Flo-
restal.
14. Uma das preocupações de Getúlio foi controlar o sistema
produtivo. Para isso criou um conjunto de Institutos Nacio-
nais para a economia agrícola e o extrativismo, tais como o
Instituto Nacional do Café, do Açúcar e do Alcool, da Juta,
do Anil, da Erva Mate, entre outros. Era preciso esrabelecer
controle de preços e proteção, uma vez que desses setores ex-portadores obtinham-se divisas para importar máquinas eequipamentos, fundamentais para modernizar o parque in-
dustrial.
15. Sobre o tema ver Thomas E. Skidmore, De Getúlio Va~as a
Castelo Branco (1930-1964); Caio Prado Jr., História Econ6-
mica do Brasil; Octavio Ianni, Estado e Planejamento Econ6-
mico no Brasil (1930-1970).
20
Lobato, na Bahia; a 111 de setembro Adolf Hider, estadista
alemão, ao invadir a Polônia com forças militares, desenca-
deia a 11 Guerra Mundial, que terminou somente em 1945,
quando a estimativa de mortes alcançou de quarenta a cin-
qüenta milhões de vítimas; nossa cantora Carmen Miranda,
"a pequena notável", foi para os Estados Unidos, com os
componentes do conjunto Banda da Lua, e lá na terra "doTio Sam" fez enorme sucesso nos teatros e clubes noturnos.
Antes de viajar ela prometeu colocar tempero brasileiro no
paladar dos americanos com dendê, pimenta, vatapá, caruru
e mungunzá.
Mas, esse cosmopolitismo não eliminava a ne-
cessidade de se manter a ordem social. Era preciso
alterar o grau de autonomia e de liberdade do mo-
vimento sindical, mudando o perfil da força de tra-
balho. Assim, o governo reprimiu os libertários, so-
cialistas e comunistas, com o apoio da polícia
política criada em 1924, e aliou-se à Igreja, que
passou a organizar os Círculos Operários nos bair-
ros, para impedir os trabalhadores de freqüentarem
os sindicatos. Além disso, Getúlio tratou de esti-
mular um grande deslocamento de migrantes nor-
destinos, através da Hospedaria dos Imigrantes,
para ocuparem postos de trabalho na agricultura,nas fábricas e olarias que se criavam em diferentes
regiões do Estadol6. Mas a medida mais eficaz foi
a imposição aos empregadores nacionais do cum-
primento das leis trabalhistas conseguidas ao lon-
São Paulo, a ser periferizadas em bairros como Brás,
Lapa, Ipiranga, ou Moóca, ficando o centro da ci-
dade de São Paulo para os negócios, e as elites ins-
talavam-se nos Campos Elíseos ou em Higienópolis.
As cidades do interior disputavam melhor inserção
nos negócios do país e um certo cosmopolitismo
tornou-se real, com a diversidade de imigrantes. Va-
riavam-se as vestimentas, os hábitos alimentares, as
notícias e os meios de comunicação, tais como o
rádio e os jornais, estes distribuídos pelas extensas
malhas ferroviárias construídas no período anterior,
e as projeções de filmes com a chegada dos cine-
matógrafos.Dr. Noé Masotti destacou o cosmopolitismo do
período, em manuscritos deixados para a história
do campus de Pirassununga:
Em setembro de 1937, foi inaugurada a estação da Rá-
dio Tupi de São Paulo; em maio morreu Noel Rosa (Noel
de Medeiros Rosa, Rio de Janeiro 1910-1937) nascido e
criado no bairro de Vila Isabel, cognominado o "poeta da
vilã', tendo composto sambas, marchas e canções: "Com
que Roupa", "Conversa de Botequim", "Fita Amarelà',
"Palpite Infeliz", "Feitiço da Vila" e outras. Instalou-se em1937, no Brasil, um novo sistema de governo, o Estado
Novo, modelo de ditadura do Presidente Getúlio Dornelles
Vargas. Na Copa do Mundo de Futebol, realizada na Eu-
ropa, o Brasil conquistou o ~ lugar. Armando de Salles
Oliveira, governador do Estado de São Paulo, decretou a
fundação da Universidade de São Paulo (USP) no dia 25
de janeiro de 1934 através do Decreto n" 6.283; posterior-
mente foi preso e confinado em Ouro Velho, para depois
ser exilado na Europa.
Em 1939, no dia 22 de janeiro, surgiu a estrondosa
notícia de que jorrou petróleo no poço número 163, emVer Odair da Cruz Paiva, Caminhos CruMdos: Migração e
Comtrução do Brasil Moderno (1930-1950J.
~R1Tü:JCAM.I'US DE P1RASSUNUNGA DA USP: MI10
veira devido à nomeação de interventores para os
estados. Abriu-se um processo de negociação entre
as elites paulistas e VargaS. Cabia ao presidente da
República a função de nomear os governantes para
os estados, já que o país vivia um regime ditatori-
al. Foi em junho de 1941 que o dr. Fernando de
Souza Costa!7, assumiu a Interventoria do Estado
de São Paulo, depois de Pedro de Toledo e Adhe-
mar de Barros.
Seus profícuos trabalhos à frente do Instituto
Brasileiro do Café e do Ministério da Agricultura
o recomendaram para tal posto. O presidente Ge-
túlio, ao indicá-Io disse: "eu perco um ótimo mi-
nistro mas São Paulo ganha um ótimo governante".
Ao longo desse período difundira-se a ideologia
do Brasil grande e Vargas tentava aproveitar as cam-
go da República Velha, resultado das lutas dos tra-
balhadores, que organizaram amplo movimento
paredista entre 1905 e 1919, no processo de for-
mação da classe operária brasileira. A legislação tra-
balhista foi consolidada e imposta aos patrões, mas
foi também eliminada a autonomia operária. Es-
tavam proibidas as greves e foi criado o imposto
sindical obrigatório, equivalente a um dia de salá-
rio recolhido anualmente de cada trabalhador e re-
metido ao Estado. Para que os sindicatos pudes-
sem dispor desses recursos, o governo deveria
aprovar a carta sindical e a diretoria eleita. O go-
verno criava a Justiça do Trabalho, mediação en-
tre empregado e patrão como função estatal. Este
foi o centro das ambigüidades nas relações entre o
Estado e a sociedade, dando ao governo a figura
de um ditador típico do paternalismo, base do
populismo do período.
Por isso, em 1940, com a criação do saláriomínimo em I!! de maio - em São Paulo estabele-cido em 220 mil réis por mês -, a disciplina dotrabalhador era, ao mesmo tempo, vitória da classe
dominante e do Estado e, ganho das lutas operá-
rias pretéritas. O certo é que a partir desta data a
classe operária passou a ser considerada fundamen-
tal ao destino político dos governantes, como se
pôde observar pelo interesse de Getúlio Vargas em
formar o Partido Trabalhista Brasileiro. Depois, no
pós-1964, este papel foi assumido pelas classes
médias, pólo de sustentação do regime militar.
Este processo de modernização autoritária foi a
base do Estado Novo instaurado em 1937, frus-tr:lndn n~ ~nnhn~ liherai~ de Armando de Salles Oli-
17. Fernando de Souza Costa nasceu na cidade de São Paulo aos
10 de junho de 1886, filho do Coronel Cherubim Febelianoda Costa (nascido em Sorocaba a 19 de dezembro de 1857,
filho de Serafim Febeliano da Costa, natural de Ribeiradio,
em Portugal, e de Carolina Maria das Dores, nascida em
Sorocaba) e de Augusta de Lima Costa (filha do Capitão JoséMarçal de Souza, nascido em Porto Feliz, e de Augusta Alves
de Almeida Lima). Foi na paulicéia que realiwu os cursos
primário e secundário, no Liceu Coração de Jesus, institui-
ção da Ordem dos Salesianos. Transferindo a residência para
a cidade de Piracicaba e prosseguindo seus estudos, decidiu-
se pela carreira de professor, matriculando-se, para isso, na
Escola Complementar de Piracicaba, onde pretendia fazer o
curso inicial para o magistério. Mas, posteriormente, sentin-do forte vocação pela agricultura, matriculou-se na Escola
Agrícola Prática, sem, no entanto, deixar de ministrar aulas
na Escola Primária Noturna mantida pela Sociedade Iguali-rária de Pit:lcicaha.
~R~31
já no início de 1942 o Brasil havia firmado acordo
comercial com os americanos, cedendo-lhes bases
militares no Nordestel9. No ano' de 1942, quando
ocorreu o afundamento de navios brasileiros, o go-
verno limitou as atividades de cidadãos estrangeiros
e confiscou seus bens. Navios ancorados em portos
do País foram incorporados ao patrimônio da União
e seus integrantes foram presos. O caso do navio ale-
mão Windhuk é exemplar e será analisado no pró-
ximo capítulo. A posição do governo era insustentá-
vel e os movimentos exigindo o fim da neutralidade
se intensificaram. Com a declaração de estado de
guerra em 31 de agosto de 1942 e com o rompimen-
to de relações diplomáticas com Itália, Alemanha e
Japão (Países do Eixo) abria-se espaço para o ques-
tionamento do regime.
Em dezembro deste mesmo ano os japoneses
bombardearam a base americana de Pearl Harbor,
no Havaí, e os Estados Unidos da América do Norte
ingressaram na guerra.
Com dificuldades para a importação de petró-
leo, os meios de transportes chegaram ao colapso,
levando o país a procurar combustíveis alternati-
vos. Foram desenvolvidos estudos e criados os pri-
meiros veículos providos de um aparelho produ-
tor de gás combustível a partir da queima de carvão
panhas de mídia para aproximar-se dos alemães.
Pretendia obter financiamentos para a criação de
uma base industrial de bens de capital, aproveitan-
do as jazidas de ferro para suprir as necessidades da
siderurgia e liberar o país dos vultosos custos das
importações de máquinas e equipamentos. Quan-
do em 1939, eclodiu a Segunda Guerra, o governo
tentou repetir a posição brasileira de 1914, man-
tendo a neutralidade e aproveitando-se das possibi-
lidades oferecidas pelo mercado exportador de ali-
mentos, calçados e fardamentos para os países
beligerantes. Mas fatores internos e externos força-ram o governo a alterar sua posição.
Muitos funcionários do governo expressavam
publicamente sua admiração pelo III Reich e a che-
fia de polícia perseguia os comunistas judeus com
o objetivo de deportá-los para o serviço secreto de
Hitler. a caso mais conhecido foi o de alga
Benário, presa em 1936 acusada de ter participa-
do, juntamente com Luiz Carlos Prestes e outros,
do Levante Revolucionário de 193518. Entretanto,
inúmeros intelectuais, jornalistas, líderes sindicais
manifestaram-se em defesa dos aliados, que naquele
momento representavam a bandeira da democra-
cia contra o nazi-fascismo. Deste modo, a Guerra
auxiliava as oposições ao Estado Novo a ganharem
espaço público para o protesto.A situação se complicou entre 1 SI de setembro de
1940 e o dia 8 do mesmo mês de 1943. Submarinos
alemães e italianos combatiam no Atlântico Norte e
provocaram o afundamento de navios mercantes
brasileiros que transportavam produtos estratégicos
e mercadorias para os Estados Unidos, uma vez que
18. Zilda Márcia Grícoli Iokoi, Into/erdncia e Resisdncia: A Saga
dos Judeus entre a Po/ônia, a Palestina e o Brasil.
19. Ver Ricardo Antônio Silva Seitenfus, O Brasil de GetúlioVargas e a Formação dos Blocos - 1930-1942: O Processo de
Envolvimento Brasileiro na 11 Guerra, D. 409.
32d~~~J
CAMPUS DE PIRASSUNUNGA DA USP: MF.MÓRIA E HI",()RIA
do o Ministério da Aeronáutica e organizada a For-
ça Area Brasileira. Também fundou-se a Escola de
Aeronáutica, uma vez que as medidas anteriores
exigiam novo processo de preparação de quadros
administrativos e técnicos, voltando ao debate a
necessidade de reformas educacionais. A situação
do país se agravava devido ao racionamento de tri-
go e de combustíveis. O custo de vida se elevou, as
importações e o comércio exterior foram suspensos.
Foi justamente neste período que Fernando
Costa assinou o decreto-lei n2 12.742 de 3.6.1942,
criando dez Escolas Práticas de Agricultura nas se-
guintes cidades do Estado de São Paulo: Amparo,
Araçatuba, Bauru, Guaratinguetá, Itapetininga,Marília, Presidente Prudente, Pirassununga, Ribei-
rão Preto e São José do Rio Preto.
denominado gasogênio. Cada nova dificuldade in-tensificava a necessidade de desenvolvimento téc-nico e de ingresso na produção industrial. Era ine-vitável que nesse período personagens comoFernando Costa ganhassem prestígio e também ad-versários.
No início de 1941 foi fundada a CompanhiaSiderúrgica Nacional, em Volta Redonda; foi cria-
5. Fernando Costa
o PAPEL DE FERNANDO COSTA
NO DESENVOLVIMENTO
DO ENSINO TÉCNICO
Ao historiador cabe, em seu trabalho de pesqui-
sa, empreender esforço para dar voz aos sujeitos da
história. Cabe, também, criticar a história que se
assenta sobre o papel dos pioneiros, dos fundado-
res, em geral uma historiografia heróica ou apolo-
gética contada a partir do ponto de vista do ven-
cedor. No presente caso, entretanto, é impossível
percorrer o caminho de reconstrução da história
desta região sem considerar a vida e a obra de dois
de seus personagens: Luiz de Queiroz e Fernando
Costa. Neste texto trataremos do papel deste últi-
mo, dada a sua centralidade no processo de cria-
~
constituídas de lentes da escola. Verificou-se que
no processo seletivo daquele período eram realiza-
dos exames em matérias preparatórias, tais como
Geografia, História do Brasil e Inglês, nas quais o
aluno deveria ser aprovado. Mesmo o candidato ao
curso técnico deveria ter formação histórica e co-
nhecer a língua e a cultura do país e da humanida-
de, 'para que pudesse posicionar-se no mundo.
Fernando Costa concluiu o curso de Agrono-
mia em novembro de 1907 e sua colação de grau
realizou-se em 14 de novembro do mesmo ano. A
turma precursora, da qual fazia parte Luiz de
Queiroz, recebeu O" diploma em 1903 e era consti-
tuída por sete formandos. A turma de 1907, além
de Fernando Costa, era formada por mais quatro
alunos: Antônio Lomardo, João da Silveira Prado,
José do Amaral Campos e Marcílio Penteado.
Após a formatura, Costa interessou-se pelo jor-
nalismo e exerceu a diretoria da tradicional Gazeta
de Piracicaba. Em 1908 casou-se com a pirassunun-
guense Annita da Silveira Mello, filha do engenhei-
ro Joaquim da Silveira Mello e de Amélia Corrêa
Pacheco da Silveira, passando a residir na cidade
de sua esposa20, onde assumiu a gerência da Fecu-
:0. Do casamento nascetam Lygia, que se casou com Henrique
da Rocha Lima; Layt, que se casou com Nelson Luiz do Rego;
Gilda, que se casou com Henrique Villaboim; e Femando
Costa Filho que contraiu núpcias com Lilia Betgallo (Lilita),
tendo as filhas Lilia e Annita. Posteriotmente, com o faleci-mento de Lilia Bergallo Costa, Femando da Costa Filho ca-
sou-se, em segundas núpcias, com Zélia de Araújo, com
quem teve dois filhos: Femanda de Cássia Araújo Costa epp..n~n..ln rno'~ Np'n
ção das Escolas Práticas de Agricultura, origem do
campus de Pirassununga.
Na terra curimbatá Fernando Costa ganhou
admiradores e amigos, de tal maneira que foi elei-
to vereador, cargo em que permaneceu por apenas
trinta dias, pois logo após, em 15.1.1913, foi elei-
to prefeito municipal, função que exerceu até 1927.
Em 1918 candidatou-se e foi eleito para o cargo
de deputado estadual, cumulativamente com o de
prefeito. Dedicou-se com grande entusiasmo e per-
severança aos interesses do Estado de São Paulo.
Em 1927, atendendo a convite do governador
do Estado Júlio Prestes de Albuquerque, aceitou o
cargo de secretário da agricultura, indústria e co-
mércio, no qual demonstrou sua capacidade de tra-
balho e acumulou dezenas de realizações.
Entre 1930 e 1937 Fernando Costa afastou-se
dos meios políticos e administrativos, dedicando-
se à família, à sua fazenda, às margens do rio Jaguari,
e à fábrica de tecidos (hoje Fiação e Tecelagem de
Pirassununga S/A). Retomou à política em 1937
como ministro da agricultura e depois como inter-ventor em São Paulo. Essa trajetória - cheia de en-
tusiasmo, conflitos e determinação - confunde-se
com a história de duas cidades paulistas, Piracicaba
e Pirassununga, nas quais teve influência decisiva
no desenvolvimento da agricultura e da pesquisa.
Esta saga faz parte do processo de entendimento da
política nacional, estadual e local.
Costa havia freqüentado a Escola de Agricultu-
ra, matriculando-se em fevereiro de 1901, tendo
se submetido e sido aprovado nos exames de ad-mj~~5n nrp~t"~rln~ npr~nt"p h~nr~~ pv"mjn~rlnr"~
I!:if!Rk;::r34:
laria Pirassununga e dedicou-se, simultaneamente,
ao exercício da agronomia e da agrimensura.
Dada a sua personalidade, simpatia pessoal e
demonstração pública de grande interesse pelos pro-
blemas da cidade, projetou-se na comunidade ga-
nhando numerosos amigos e simpatizantes. Por es-
sas qualidades, em 1912 venceu as eleições para
substituir o intendente municipal e vereador Tenen-
te Coronel Manoel Franco da Silveira, que faleceu
no exercício do cargo. Aproximadamente mil elei-
tores votaram, dos quais ele obteve mais de quinhen-
tos votos, assumindo assim o seu primeiro cargo po-
lítico, o de vereador da Câmara Municipal de
Pirassununga21. Entusiasmado com a possibilidade
de trabalhar em benefício da comunidade que o re-
cebeu e do Estado onde nasceu, e com a aproxima-
ção da época das eleições para a renovação do Con-
gresso Legislativo (Assembléia Legislativa Estadual),inscreveu-se como candidato avulso a um dos car-
gos. Foi eleito deputado por numerosos chefes do
SQ Distrito Eleitoral, que tinha como sede a cidade
de Limeira e contava com o apoio de outros impor-
tantes municípios, como Piracicaba e Rio Claro.
Seu trabalho na Câmara Legislativa teve início
em 14 de agosto de 1919 e durante duas legislatu-
ras abordou numerosos assuntos e sugeriu medidas
a serem adotadas. Alguns dos problemas econômi-
cos, rurais e sociais que interessavam aos paulistas,
independentemente de partido político, segundo
Fernando Costa, eram o reflorestamento contra as
queimadas, assunto esquecido. Estudou suas cau-
sas e sugeriu meios corretivos; sugeriu o crédito agrí-
cola para amparar o pequeno produtor; a prática
da irrigação, para que o homem do campo, na agri-
cultura e na pecuária não dependesse das chuvas; e
a revitalização das terras do Vale do Paraíba, esgo-
tadas pela lavoura cafeeira, mas que poderiam ser
revigoradas com o trabalho adequado do solo, fa-
vorecendo seu enriquecimento e sua proteção.
Em Congresso de Estradas de Rodagem realiza-
do em São Paulo em 1917, mostrou, através do seu
trabalho, o que deveria ser feito para que o Estado
fosse cortado por redes de estradas de rodagem e
de ferrovias, as quais proporcionariam progressos rá-
pidos para a agricultura, a pecuária e a indústria.
Sua preocupação com a formação dos jovens ia além
da questão técnica e profissional. Foi por isso que
propôs assistência dentária gratuita às crianças nas
escolas, anexando gabinetes dentários aos grupos
escolares; ainda na área da saúde lançou campanha
de proteção e tratamento ao homem portador da
lepra ou mal de hansen; mais tarde, como recom-
pensa por sua preocupação, viu Sales Gomes Júnior
organizar o Serviço de Proteção ao Leproso.
Ainda como parte de suas atividades parlamen-
tares, Fernando Costa propôs a criação da Direto-
ria de Indústria Animal, constituída de seções téc-
nicas de Defesa Sanitária Animal, Zootecnia,
Veterinária, Caça e Pesca, tendo como complemen-
tos os estabelecimentos pastoris e agrícolas: a fazen-
da modelo de Nova Odessa; o Haras de Pindamo-
nhangaba; o Posto Zootécnico de São Paulo; outras
fazendas para o estudo da criação de ovinos, capri-
21. Manoel Pereira de Godoy, op. cit., voto 2, p. 215.
~J!1R1!m:;:r35
Lei n!! 2.223 de 31.12.1927, também anexo à Di-retoria de Indústria Animal, com as atribuições de
conservação e preservação das matas, de defesa con-
tra incêndios e pragas, de exploração racional dos
recursos madeireiros e de ensino e divulgação de
práticas da silvicultura. Fundou hortos florestais nas
cidades de Bauru, Mairinque, Mogi-Mirim e, ao re-
formar o horto de São Paulo, instalou o Museu de
Silvicultura. A Comissão Geográfica e Geológica
teve seus serviços ampliados pela Lei n!! 2.219 de
9.12.1927 no sentido de estudar minas e jazidas.
O Serviço de Sericicultura foi criado pelo Decreto-
Lei n!! 12.359 de 1.12.1929 a partir da Seção de
Sericicultura do Departamento de Indústria Ani-
mal, pois, por volta de 1929, a propaganda a favor
da criação do bicho da seda passou a ser uma preo-
cupação do governo, uma vez que essa atividade
poderia ser uma alternativa, tendo-se verificado em
São Paulo a possibilidade de se obter mais de uma
colheita de fios por ciclo produtor. Em Campinas,
Limeira e Pindamonhangaba foram criados insti-
tutos experimentais para o estudo desta criação.
O ensino da medicina veterinária teve origem
no Instituto de Medicina Veterinária, repartição
criada pela Lei n!! 1.597 de 31 de dezembro de
1917, subordinado à Secretaria da Agricultura. Em
1919 iniciou-se o curso de Veterinária, que funcio-
nava no Instituto Butantã e teve pouca procura. Em
31 de dezembro de 1928 a Lei n!! 2.354, sanciona-
da pelo Presidente do Estado de São Paulo, dr. Jú-
lio Prestes de Albuquerque, quando Fernando Costa
era secretário da agricultura, criou a Escola de Me-
dicina Veterinária. Em 1931 a Escola ficou subor-
nos, suínos, bovinos e eqüinos e para o estabeleci-
mento de planos de cruzamentos de bovinos; par-
ques de estudos da ovicultura; campus experimen-
tais de forrageiras; e postos de monta, onde machos
de raça (cavalos, touros) eram utilizados para cobri-
rem fêmeas comuns e proporcionarem filhos me-
lhores em comparação com as mães. Foram tam-
bém importados bovinos das raças jersey, guernsey
flamenga, schwz ou suíça, red polI, hereford, sussex
e poll-angus para serem estudados em relação à sua
adaptação ao clima brasileiro.
Em 1928 foi criada a Escola de Pesca, cujo cur-
so técnico incluía aulas de marinheiros e barcos de
pesca. Estudava-se a costa brasileira e sua navega-
ção, os processos de pesca, a conservação do pesca-
do etc.
As propostas de Fernando Costa contemplavam
vários campos de interesse do conhecimento. Preo-
cupado com a necessidade de desenvolvimento da
ciência e da tecnologia para apoiar os projetos go-
vernamentais, conseguiu a aprovação de diversas
divisões de serviços. A Diretoria do Serviço Meteo-
rológico e Astronômico do Estado de São Paulo,
que, pela Lei n.2 2.261 de 31.12.1927, recebeu no-
vas atribuições, transferindo-se para o Observató-
rio Astronômico e Meteorológico da Capital, sub-
dividiu o Estado em oito zonas correspondentes às
principais bacias hidrográficas dos rios Tietê e
Piracicaba, do Tietê até a foz do rio Paraná, dos rios
do Peixe e Aguapei, dos rios Paranapanema e
Itararé, vertente Atlântica do rio Parnaíba, dos rios
Pardo e Mogi-Guaçu e dos rios Turvo, Preto e São
José dos Dourados. O Serviço Florestal, criado pela
~1t:R1rI!JJNUNGA DA USP: MI36
dinada à Diretoria da Indústria Animal, instalan-
do-se no Parque da Água Branca, hoje Parque dr.
Fernando Costa.
Até 1929, o Estado de São Paulo viveu a mono-
cultura do café, que trouxe prosperidade e abun-
dância às oligarquias e renda para o Estado. Mas a
derrocada financeira de 1929 mostrou que, enquan-
to nosso café era cotado em 34 d61ares cada 10
quilos, o café da Venezuela, da Guatemala e da
Colômbia obtinha entre 39 e 63 d61ares para me-
dida idêntica. Técnicos da Secretaria de Agricultu-
ra passaram a visitar fazendas de café, dando ins-
truções para habilitar proprietários e empregados a
produzirem café para exportação. Lançou-se, então,
uma campanha de auxílio às terras já cansadas pela
monocultura, principalmente na área de plantio do
café, cujo pé é capaz de durar até cinqüenta anos
em produção, se incentivados cuidados com o "solo
cansado e lavado", que causa erosão.
Fernando Costa passou a enfatizar a necessidade
da policulrura e mostrou, junto com os técnicos, a
vantagem de se obterem cafés superiores, que alcan-
çavam melhor cotação no mercado internacional.
Com a campanha dos cafés finos, o Secretário apro-
veitou a oportunidade para lembrar que São Paulo
tinha sido um grande produtor de algodão, mas en-
contrava-se em baixa produtividade. Para recomen-
dar ao agricultor que cultivasse o algodão de forma
mais adequada, entregou ao Instituto Agronômico
de Campinas a incumbência de melhorar a planta
em todos os seus aspectos. Os resultados foram pro-
missores, uma vez que a produção deu um salto de
vinte para trezentos milhões de quilos. Incentivan-
do a produção agrícola e preconizando a policultu-
Ta, Fernando Costa instalou "Casas de Laranjà' em
algumas cidades do Estado, as quais prestaram ex-
celentes serviços aos citricultores e incentivaram o
aumento do número de pomares. Para oferecer uma
alternativa a outros produtores, projetou uma cam-
panha estimulando a cultura do fumo.
O Secretário tratou então de vencer a mentali-
dade dos lavradores e implantar o enriquecimento
do solo com nutrientes e assim evitar a erosão com
o terraceamento. Lembrou-se então da antiga Real
Fábrica de Ferro Ipanema, em São João do Ipane-
ma, município de Iperó, na região de Sorocaba,
onde, no século XIX, havia uma pequena explora-
ção de ferro. A fundição parara suas atividades no
tempo do Império, e nela o Secretário foi buscar a
apatita, mineral de fosfato de cálcio contendo flúor
e cloro encontrado nas rochas da região, retirando
desse antigo território o adubo para "revigorar as
terras cansadas".O líder de Pirassununga - vereador, prefeito e
deputado estadual, secretário da agricultura, minis-tro, interventor e diretor de empresa - tornou-se
um nome conhecido em todo o território nacional.
Seus projetos repercutiram de maneira muito satis-
fatória e, por isso, Júlio Prestes de Albuquerque, ao
assumir a presidência do Estado de São Paul022,
22. Até 1930 o cargo majoritário no governo dos estados era o
de presidente do Estado e no poder legislativo existia o
bicoronelismo estadual, ou seja, Senado e Câmara dos De-putados. Ver: Zilda Márcia Grícoli Iokoi, O Legis/ativo na
Comtituição da República.
~R~37
decidiu convidá-lo para exercer o cargo de secretá-
rio da agricultura.
Em declaração à imprensa, manifestou sua opi-
nião sobre o desenvolvimento e o progresso do
Estado. Impunha-se, segundo ele, o desdobramen-
to da Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras
Públicas em duas pastas: a primeira seria a Secreta-
ria de Estado dos Negócios de Agricultura, Indús-
tria e Comércio e a segunda, a Secretaria dos Ne-
gócios da Viação e Obras Públicas.
Fernando Costa, à frente da Secretaria da Agri-
cultura, criou e reformulou diversos órgãos respon-
sáveis pela produção e geração de riquezas, centros
de pesquisas nas áreas vegetal, animal e mineral e
outros serviços de interesse. Talvez uma de suas
primeiras providências tenha sido a de atender, em
1927, uma solicitação do dr. Rodolfo von Ihering
de que se designasse uma comissão de estudos da
piracema, por ele chefiada, para investigações no rio
Mogi-Guaçu. A comissão foi constituída pelos pro-
fessores Lauro Travassos, Clemente Pereira e Zefe-
rino Vaz, entre outros acadêmicos e técnicos.
Em 1930 o Brasil atravessou mais um período
conturbado da sua história, fruto de uma série de
conflitos que envolvia os novos interesses da classe
dominante ligada à industrialização do país; as de-
mandas das classes médias, representadas pela agen-
da de moralização dos costumes encampada pelo
movimento tenentista; e o acirramento da crise que
teve início com o desastre financeiro na Bolsa de
Nova York, no final de outubro de 192923.
Primeiramente, o preço do café caiu nas cota-
ções internacionais, passando de 200 mil réis para
20 mil réis a saca. Sem possibilidades de sobrevi-
vência nesse cenário, as empresas fecharam suas
portas e ocorreram demissões em "massa. Um enor-
me êxodo rural ameaçava a vida urbana.
Em seguida iniciou-se uma crise política inter-
na. O presidente da República, o paulista Washing-
ton Luiz Pereira de Souza, que governou de no-
vembro de 1926 a outubro de 1930, lançou o
nome de Júlio Prestes para sucedê-Io na presidên-
cia, provocando reação contrária do grupo políti-co que o sustentava, a chamada aliança do café com
leite. O processo legal se desenvolvia, mas nos bas-
tidores preparava-se a reação da Aliança Liberal, da
qual faziam parte o ex-ministro da fazenda, Getú-
lio Vargas, o presidente do Estado de Minas Ge-
rais, Antônio Carlos, e as demais dissidências do
Partido Republicano Paulista, além do Partido De-
mocrático Nacional, liderado por Júlio de Mesqui-
ta Filho. Formara-se um grupo estratégico contra
o situacionismo. Júlio Prestes foi eleito, mas não
assumiu o governo, porque ocorreu a autonomeada
Revolução de 1930, com a instituição do governo
provisório de Getúlio Dornelles Vargas, em 3 de
novembro de 1930.
Com a marcha militar que levou Vargas ao po-
der, São Paulo passou a ser dirigido por um interven-
tor federal. Fernando Costa afastou-se do governo
até 1937, passando a residir em Pirassununga e a
23. Ver: Celso FUrtado, Formação Econômica do Brasil; Caio Pra-
do Jr., História Econômica do Brasil; Wilson Cano, Algumas
Medidas de Pol/rica Econômica Relacionadas à Industrializa-
cão Brasileira (1874-1970): entre outros.
,.~ ~.-;~nJEJ38
do para nada. Mas quando ele foi chamado pelo Getúliopara assumir o governo, fizeram uma fila em paracumprimentá-Io, para levar presenterS
cuidar da sua Fazenda Rancho Palmeiras, como re-ferido anteriormente24.
No início de 1937, o dr. Fernando foi convida-do a encontrar-se com Getúlio Vargas na cidade dePoços de Caldas, estância hidromineral de MinasGerais, onde o presidente se encontrava em tem-porada de repouso. Foi então proposto a ele assu-mir a presidência do Departamento Nacional doCafé. Neste órgão desenvolveu atividades por seismeses e, lembrando-se do trabalho na Secretaria daAgricultura de São Paulo, promoveu campanha deprodução de cafés finos, reativou o seu entusiasmoe estendeu a nova campanha a todo o território na-cional a fim de readquirir credibilidade para o cafébrasileiro no mercado internacional. Novamentedeixava seus interesses pessoais para dedicar-se àvida pública, agora em nível nacional.
Em depoimento, Fernando Costa Neto reme-mora as histórias contadas por seu pai sobre essemomento da vida do avô:
A nação havia sido agitada com a notícia da
instalação do novo regime implantado por Getúlio
Vargas, o Estado Novo. Foram fechados o Congres-
so e os partidos políticos e nomeados interventores.
As oposições demoraram para perceber que se tra-
tava de uma ditadura. Em São Paulo, entretanto,
seus antigos aliados voltavam-se contra ele.
Mas Getúlio Vargas não se deixou impressionar.
Convidou Fernando Costa para o Ministério da
Agricultura, e ele se transformou em pessoa de con-
fiança do presidente, junto a quem tinha grande
prestígio. Dr. José Masotti, em anotações para a
história do campus, afirmou que José Aparecido
Caruso Neto assim se referiu ao Ministro, no Ve-
lho Almanaque 98:
Para começar, viajou pelo Brasil todo para conhecer, de
perto, os variados espaços em que a atividade agrícola e
pecuária se realiza. De norte a sul, estribado no seu extraor-
dinário vigor físico de homem que desconhecia o cansaço,
esteve em toda a parte [...] Indagava dos problemas locais,das necessidades do ambiente, dos elementos empíricos de
Antes de assumir o Ministério da Agricultura, meu avô
ficou um tempo afastado da política. Ele veio para Piras-
sununga cuidar dos negócios, porque tinha uma indústria
de farinha de mandioca, uma indústria grande, e também
uma fábrica de tecidos junto com uns sócios de São Paulo,
fábrica que existe até hoje, a Tecelagem de Pirassununga.
Então ele voltou para a cidade, ficou um tempo e foi cha-
mado para assumir o Ministério. É curioso, porque, como
ele foi prefeito por dezessete anos em Pirassununga e se-
cretário da agricultura, ele tinha muitos amigos, mas na
época em que ele ficou afastado da política sumiu tudoquanto era amigo - o papai sempre falava isso - ninguém
mais o visitava, ninguém ia à fazenda, ele não era convida-
24. Em 1931 foi erguido, em homenagem ao "insigne Secretá-
rio da Agricultura", um pedestal com o busto de Fernando
Costa, por iniciativa da Comissão de Agrônomos, na praçaFemando Costa que ficava em frente à sua residência, hoje
rua Siqueira Campos, em frente ao Clube Pirassununga.
25. Depoimento de Femando Costa Neto para Teresa CristinaTeles em 24 de abril de 2002.
~~~:;j39
que se valia a população local, das técnicas aplicadas aos pro-
blemas da terra [...] Tudo isso, somado aos seus conheci-
mentos sempre atualizados, à sua cultura e experiência, o
levava a conclusões firmes, sínteses claras e lógicas que lhes
permitiram criar alguns setores de serviço [...].
as suas atividades complementam e ampliam atividades
antes iniciadas, sem embatgo de novas iniciativas e de
novas realizações na proporção em que o desenvolvimen-
to do país e o seu progresso o exigissem.
o Ministro da Agricultura foi desenvolvendo
trabalhos para aumentar e melhorar a produtivida-
de em diversas áreas da agricultura e da pecuária:
campanha nacional do trigo; estações experimentais
e de fomento à produção no sul do Estado de São
Paulo, no Paraná, em Santa Catarina e no Rio Gran-
de do Sul; incentivo à sericicultura, que repercutiu
favoravelmente com o aumento da produção; reor-
ganização do setor da pesca, tanto marítima como
fluvial; além de combate à erosão e incentivo à irri-
gação, pontos do seu programa de conservação e me-
lhoramento do solo para se obter boas colheitas.
Uma grande realização foi a construção da Es-
cola Nacional de Agronomia, localizada no quilô-
metro 47 da Rodovia Rio-São Paulo, hoje Via
Dutra, destinada também a abrigar o Centro Naci-
onal de Estudos Agrônomos. Data da mesma épo-
ca a criação do Instituto Agrônomo do Norte, lo-
calizado em Belém do Pará, para pesquisa, estudo e
fomento da agricultura na Amazônia.
Caruso Neto, no Velho Almanaque 101, escre-
Nomeado interventor de São Paulo, pois Vargas
pretendia acomodar as tensões locais, Fernando
Costa prosseguiu seu programa. Neste cargo, a par-
tir de 1941, distribuiu milhões de cruzeiros em se-
mentes selecionadas; muitos quilogramas de ovos
do bicho da seda, acompanhados de estacas sele-
cionadas e mudas de amoreiras para alimentação do
Bombix mori; e repartiu mais de dez milhões de
sacos de sementes selecionadas de algodão, arroz,
milho, amendoim, mamona e outros vegetais. E
este esforço foi acompanhado de projetos de crédi-
to agrícola, sem o que não haveria possibilidade de
um grande avanço na produção de cana, açúcar,
algodão e cafés finos.
Na produção animal, tendo a seu lado Paulo de
Lima Corrêa, secretário da agricultura, iniciou suas
atividades dividindo o Estado em onze distritos,
com sedes nas cidades de Araçatuba, Bauru,
Botucatu, Campinas, Colina, ltapetininga, Pinda-
monhangaba, Presidente Prudente, Ribeirão Preto,
Rio Preto e São João da Boa Vista. Nestes postos
difundiram-se ensinamentos wotécnicos e agronô-
micos; promoveram-se vendas de reprodutores e em
postos de monta instalados; utilizaram-se reprodu-
tores de ótima origem para melhoramento dos re-
banhos; realizaram-se exposições de animais e cur-
sos rápidos para fazendeiros, técnicos e capatazes; e
formaram-se .guias de transporte de animais.
veu:
A política de Fernando Costa no Ministério da Agri-
cultura foi, assim, um prolongamento do espaço conquis-
tado em suas atividades anteriores a de Deputado Esta-
dual e de secretário da Agricultura do Governo de São
Paulo, somado ao esquema administrativo traçado para o
Departamento Nacional do Café, depois de 1930. Todas
40~Rl!üJ
CAMPUS DI, PIRASSUNlfNGA DA USP: M]'~MÓRIA E HISTÓRIA
Diversos decretos criaram ou reformularam ser-
viços: o serviço de sericicultura de Campinas, cria-
do em 1924, teve um grande incentivo através de
créditos, maior produção de casulos e aumento da
plantação de amoreiras para proporcionar maior
produção de seda para consumo interno e para ex-
portação; o mesmo pode ser escrito sobre os me-
lhoramentos do Serviço Florestal, do Instituto Bio-
lógico e sobre a instalação do Instituto de Botânica
e do Departamento de Produção Animal, entre
outros.
Outro assunto não esquecido foi o desenvolvi-
mento da rede de estradas de ferro eletrificadas,
principalmente a Estrada de Ferro Sorocabana. O
desejo era de estender a linha de São Paulo a Soro-
caba e daí até Itararé para, em seguida, chegar às
margens do rio Paraná.
Na Secretaria da Educação, pelo Decreto-Lei n!!
12.427 de 23 de dezembro de 1941, foram dados
novos rumos à carreira de professor, com reclassifi-
cação das unidades, remodelação do concurso de
ingresso, remoção e promoção dos professores pri-
mários, mudanças no ingresso na classe dos direto-
res, organização de museus escolares, além de ou-
tras inúmeras atividades ligadas ao ensino técnico
de agricultura, como veremos a seguir.
DE VILA A CIDADE
A região onde hoje se encontra Pirassununga era
ocupada pelos índios tupis-guaranis, especialmente
o local denominado cachoeira das Emas, uma gran-
de corredeira, ou a topava chamada Pirassununga,
6. Planta da Freguesia de Pirassununga em 22.4.1865, quando da sua elevação à
categoria de Vila, com base em diversos documentos. Reconstituição feita por
Manoel Pereira de Godoy em 12.11.1974
(:;~.t7W:7.do' c/1âÃCLlm.eln,W-dL~~~~ k-m.iJ.,...;.
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11- Ca.46~ ~ Q, poAiU, dr. 182~
~:
~
.~--.~l~CAMPUS DE PIRASSUNUNGA DA USP : Mr,MÓRIA F.42
8. Chegada da Comitiva Oficial, em trem especial, em 16.11.1911, para inauguração
oficial da Escola Normal
nome que significa lugar onde o peixe faz barulho.
Localizada a 220 de latitude sul e 47,250 de longi-
tude oeste, a nove quilômetros da margem esquer-
da do rio Iguaçu, a cachoeira pertence à fisiografia
do rio Piracicaba.
A fundação de Pirassununga data de 6 de agos-
to de 1823, quando Inácio Pereira Bueno e Manoel
Leme terminaram a construção da Capela do Se-
nhor Bom Jesus dos Aflitos, mas este é apenas um
marco, pois naquele período já moravam ali algu-
mas centenas de pessoas, e existiam algumas deze-
nas de casas26. Em 4 de março de 1842, foi elevada
à condição de freguesia.
A freguesia de Pirassununga, por sua vez, foi ele-
vada à categoria de vila pela Lei Provincial nl! 76,
de 22 de abril de 1865, passando a pertencer à
Comarca de Araraquara.
Na condição de vila o núcleo passou a ter estru-
turas governamentais, como, por exemplo, Câmara
de Vereadores, juízes municipais e Corpo de Jurados,
e ganhou maior prestígio na Província de São Pau-
lo. Entre 1874 e 1877, em razão da importância da
Fazenda Cresciumal, do Comendador Francisco An-
tônio de Souza Queiroz, a Companhia Paulista de
Vias Férreas e Fluviais estendeu o caminho de ferro
entre Pirassununga e Leme, construindo a Estação
Souza Queiroz e garantindo maior movimento eco-
nômico e cultural para o desenvolvimento local.
Foi construído, nesse período, um cemitério para
o enterro de escravos e colonos. A região havia sido
desbravada com milhões de cafezais que vicejavam
graças ao trabalho de escravos, cujos registros da-
tam de 1809 a 1888, 79 anos do trabalho dos es-
cravos27 e dos seus descendentes, além de colonosbrasileiros, portugueses, espanhóis e italianos quechegaram também no século XIX
Nos bairros ~o Capão da Onça e do Rio das Pe-dras, além dos trabalhadores rurais, vivia um nú-mero significativo de pescadores. A cachoeira das
26. Jurandyr Pires Ferreira, Enciclopédia dos Municipios Brasilei-
ros, pp. 317-321.27. Manoel Pereira de Godoy, em op. cit., vol. 2, pp. 77-80, re-
lata inúmeros processos-crime contra escravos acusados de
assassinar seus senhores, mas as confissões eram sempre ob-
tidas sob castigo de açoite e tronco. A pena de dois réus
condenados num caso de assassinato da patroa foi também
açoite: duzentas chibaradas recebidas na sala da cadeia, asSis-
tidas pelo Juiz Municipal em exercício e pelo escrivão interi-
no do Júri.
44~R~
CAMPlIS DE PIRASSUNUN(;A nA USP ,\1r'MÓRrA F. HISTÓRIA
Emas ainda representa um belo local a ser destaca-do na cidade. A ponte de madeira ali construídacom verba do poder público, com porteira emambos os lados da estrada, permitia o controle dosveículos e impedia a passagem dos animais soltos.Ficou ativa até fins de janeiro de 1929, quando foidestruída com uma enchente do rio Mogi-Guaçu.
Em 1868 foi criado o serviço de correio, quefuncionava numa casa particular situada na antigarua Nova do Comércio, como conseqüência doacesso garantido pelo movimento ferroviário, quefez crescer o fluxo de negócios, de notícias e depessoas na vila.
Este foi também o ano em que a vila conheceu
o seu primeiro médico, o francês Jacques Depuis.
Os historiadores locais sempre se questionaram so-
bre as razões dessa presença, sem respostas. Há re-
gistros da participação do dr. Depuis nos proces-
sos-crime ocorridos na vila envolvendo escravos,
como autoridade médica a indicar a possibilidade
dos açoites, pena geralmente atribuída aos conde-
nados.
Antes da chegada da ferrovia, a vila recebeu a
visita de D. Pedro 11, que se hospedou na casa do
Major Francisco Soares de Araujo e na casa do pre-
sidente do Partido Conservador Local, o Capitão
Ponte de madeira sobre o
Rio Mogi-Guassu, em
Cachoeira, construída por
volta de 1865 e
reconstruída em 1903
~ItR~DAS OR1Gf;NS 45
Antiga tulha de café da Fazenda Bela Aliança.
construída por volta de 1880 pela Família Petry-
Guiguer. fundadora da fazenda
Fazenda S. Benedito, construída pelo proprietá-
rio-fundador, Antonio de Mello, no ano de 1900
~:R&iDCAMPUS DE PIRASStTNlfNGA DA USP: Ml:MÓRIA E46
mais de duas décadas para fazer crescer a produ-ção local e o desenvolvimento das funções urba-nas. Também naquele ano', imigrantes americanosfugidos da Guerra de Secessão passaram a traba-lhar nas fazendas de café, introduzindo o uso domoderno arado de aiveca, que revolucionou aspráticas de manuseio do solo, melhorando o culti-vo e a produção agrícola. Outros trouxeram a prá-tica do armazém no comércio a varejo e ainda háregistro da criação de um bar-dançante de tiposaloon por esses imigrantes.
Joaquim Manuel de Azevedo Antunes, alternativaencontrada para conciliar as disputas entre os dois.Essa presença estava vinculada às homenagens quea Loja Maçônica Cruzeiro do Sul pretendia prestarao Imperador, em razão do processo de moderni-zação, de desenvolvimento científico e técnico quetanto o interessava, tendo estimulado a criação dacadeira feminina de primeiras letras.
Em 31 de março de 1879, a vila foi elevada àcategoria de cidade pela Lei Provincial n!! 20, ten-do sido contemplados os esforços realizados em
13. Encerramento do ano
letivo em 2.12.1897 na
Escola do Povo, classe do
prot. Antonio Zeterino do
Prado, visto em meio a
seus alunos
'.~~~ ~,n~!)AS OR1"T'NS 47
Os conflitos entre liberais e conservadores foram
muito intensos entre 1884 e 1886, havendo regis-
tros de tiros e tentativas de morte, o que indica que
desde 1870, quando parte dos liberais aderiram ao
movimento dos convencionais de Itú, já havia, en-
tre eles, grupos republicanos.
Em 1885, graças aos esforços de Manoel Jacin-
tho Vieira de Moraes, Joaquim da Silveira Mello,
José Peixoto da Motta J únior e João de Lacerda
Franco, foi construído o edifício da Escola do Povo,
primeiro estabelecimento de ensino primário e gra-
tuito da cidade. Os professores eram pagos pelos
fundadores e o material escolar doado por Manoel
Jacintho. Foi nesse período que nasceu Paulo do
Valle Júnior, que mais tarde seria o grande artista
plástico da cidade.
Por volta de 1892, a cidade era iluminada por 110 lam-
piões a querosene e, em 1896, foi assinado um contrato
para a construção de uma usina aproveitando uma queda
d'água no córrego do Bebedouro, localizado em proprie-
dade do major Joaquim Bezerra de Campos28.
14. O pintor Paulo do Valle Júnior em sua sala de cintura em São PauloNa descrição de historiadores do período repu-
blicano, Pirassununga era um aglomerado de casas
e muros de taipa, ruas sem calçamento, sem guias e
sem sarjetas, por onde transitavam carroças e car-
ros de boi. A água usada nas casas era despejada nas
ruas. O comércio era limitado, a indústria pratica-
mente não existia, a zona rural constituía-se de pro-
priedades com terras maltratadas e animais comuns.
A arrecadação do município era irrisória. Para
muitos, esta visão parte de um movimento cujo
objetivo era destacar a figura de Fernando Costa,
prefeito entre 1913 e 1927. De fato, o prefeito deu
vigoroso impulso ao desenvolvimento regional que,
pouco a pouco, foi transformando o "aglomerado
de casas" numa encantadora e limpa cidade.
28. Anotações de Noé Masotti,
48~:R1!IiJ
CAMI'US DE PIRASSVNVNGA DA USP: Mr:MÓRIA E HISTÓRIA
15. Usina - casa de máquinas e tubulações
J(duplas) da carga d'água da .Companhia
de Luz Electrica de Pirassununga. em
1897
16. Detalhes das duas turbinas geradoras de
eletricidade no interior da casa de
máquinas
.~~~f(~_JEDAS OI{IG]'~NS 49
17 e 18. Casas construídas entre 1823 e 1855 na então Rua do Commercio, foto de 15.8.1964
Em 1909 foi criado o 222 Grupo da Linha de
Tiro, tendo como patrono o seu fundador, Tenen-
te Coronel Manoel Franco da Silveira, entusiasta e
incentivador de suas atividades. A Linha objetivava
dar preparo militar aos jovens da cidade e consti-
tuir contingente de reservistas para o exército bra-
sileiro. Em 1910, o 222 foi convidado a participar
do desfile de 7 de setembro, no Rio de Janeiro. Lá
recebeu cumprimentos especiais pela perfeição da
apresentação e elegância de seus membros. No re-
gresso, o 222 socorreu os feridos de um acidente de
trem na Central do Brasil, tendo seus feitos desta-
cados pelo Correio Paulistano nos seguintes termos:
[...] foi notada a humanidade dos atiradores, auxilian-
do a remoção dos mortos, o curativo dos feridos e o auxilio
ao pessoal da Estrada de Ferro, na desobstrução da linha.
O médico do Tiro de Pirassununga, Lauro Montenegro
Villela, que momentos depois [do desastre] passava com obatalhão a que pertence, prestou-se gentilmente a cuidar dos
feridos, recebendo por isto muitos cumprimentos de todos
que no local se achavam29.
A Linha de Tiro desfrutou de crescente prestí-gio, o que posteriormente incentivou o prefeitoFernando Costa a insistir, com um trabalho inten-
29. O Correio Paulistano, 12.9.1910, apud Manoel Pereira deGodoy, op. cit., p. 237.
5° Ii:mrRk;:rCAMPUS Dk: PIRASSUNUNGA DA USP Mk:MÓRlA E HISTÓRIA
Linha de Tiro 22A, 1910
ciado nas salas de aula da Escola da Sociedade Igua-
litária de Piracicaba, levou-o a cuidar do ensino
rural. Reconstruiu estradas rurais para proporcio-
nar mais conforto ao homem do campo e facilitar
o transporte de seus produtos e mercadorias, que
eram vendidos no comércio local, e o transporte de
crianças. Tratou de instalar uma usina elétrica, ne-
cessária ao conforto do povo e ao progresso do
município.
30. O 2' Regimento de Cavalaria Divisionária (2' RCD), atUal17' Regimento de Cavalaria Mecanizado - "RegimentoS61on Ribeiro", originou-se do 9' Regimento de Cavalaria
Ligeira (9' RCL), com sede em Ouro Preto-MG, cr~ado em18 de agosto de 1888. Em 1908, extinguiu-se o 9' RCL e
criou-se o 13' Regimento de Cavalaria (13' RC), que em
1919 passou a denominar-se 2' Regimento de Cavalaria
Divisionária (2' RCD), com sede em Pirassununga. Em 1946o 2' RCD foi extinto e criou-se o 17' Regimento de Cavala-
ria (17' RC), sendo transferido, em 1970, para a cidade de
Amambai-MS.
sivo, para a instalação, na terra curimbatá, do 211 Re-
gimento de Cavalaria Divisionária (RCD)3O, pois o
Ministério da Guerra pretendia instalá-lo em outro
município. Mas, pela tradição dos bons serviços
prestados pelos cidadãos de Pirassununga e pela atu-
ação diplomática e persuasiva de Fernando Costa,
oferecendo vantagens e facilidades, a cidade conse-
guiu o regimento. As terras onde hoje está construí-
do o quartel custaram ao Governo Federal 100
contos de réis e em março de 1921 iniciou-se a
construção, já que nos meses finais do ano de 1920,
a li Turma do 211 Regimento, que havia sido trans-
ferida para Pirassununga, ficara alojada no Posto
Zootécnico Municipal, conhecido como Posto de
Monta.
Logo ao assumir o cargo de prefeito, Fernando
Costa cuidou de reformar ruas, projetar praças e
ampliar as redes de água e esgoto já instaladas des-
de 1896-1898. Seu prazer pelo conhecimento, ini-
1902 e1912 21. Praça Principal
1920. As professoras são cedidas pela Prefeitura, as
monitoras por órgãos públicos e há ainda empre-
gados contratados pelo próprio 1ar32.
O prefeito iniciou também a construção dos pré-
dios do Fórum, da Cadeia Pública e da Escola Nor-
mal de Pirassununga que, instalada oficialmente em
junho de 1911, passou a chamar-se Instituto de
Educação de Pirassununga, hoje Escola de Primei-
ro e Segundo Graus de Pirassununga. A cidade re-
cebia alunos de todo o vale do rio Mogi-Guaçu. Em
1913, mandou erigir um busto em bronze do Te-
nente-Coronel Manoel Franco da Silveira, mostran-
do a gratidão do povo ao político e ex-prefeito por
seu esforço para dotar a cidade de uma Escola Com-
plementar.
Fundou e construiu o Asilo de Velhice e Men-
dicidade. Em 1934, por iniciativa do Padre Fran-
cisco Cruz, criou a Associação de São Vicente de
Pauta, a qual recebeu, posteriormente, um terreno
que viria a ser a Vila São Vicente31.
O Lar das Crianças teve sua origem no ano de
1918, quando era vigário da Paróquia Bom Jesus
dos Aflitos o cônego Luiz Gonzaga de Almeida, que
tomou a si a tarefa de fundar o Pensionato, Orfa-
nato e Colégio Menino Deus. Para conseguir seu
propósito, entendeu-se com o prefeito Fernando
Costa, proprietário de um terreno adequado ao em-
preendimento, e iniciou a construção. Ficou resol-
vido que uma parte seria adquirida pelo interessa-
do e a outra seria doada para completar a obra.
Atualmente, o lar abriga crianças de quatro a
doze anos de idade que são atendidas pelas religio-
sas da Congregação Irmãs Franciscanas da Imacu-
lada Conceição, instaladas em Pirassununga desde
31. Jornal da Cidade, 19.8.95, s.p, acervo documental de NoéMasotti.
32. Jornal da Cidade, 25.3.95, S.P.
22. Igreja Matriz e Instituto de Educação, década de 1950
Entre as preocupações do governo com a agri-cultura estavam as pragas que haviam atingidogrande quantidade de cafezais e abalavam a eco-nomia do País desde 192433. Como resultado dostrabalhos da Comissão de Estudos e Debelação daPraga Cafeeira, foi criado, pela Lei n2 2.243 de26.12.1927, o Instituto Biológico de Defesa Agrí-cola e Animal, em São Paulo. A repartição conta-
23. Praça principal
33. A crise de 1924 provocou a política de defesa e valorização
do café, com a criação do Icesp (Instituto do Café do Estado
de São Paulo), que controlaria, a partir daquela data, as co-
tas de exportação por produtor e o pagamento dos impostos
de circulação de mercadoria dos estados produtores.
~:RbDAS ORl(;ENS 53
Instituto de Educação de
Pirassununga. década de 1950
Inauguração do busto do Ten.
Ceio Manoel Franco da Silveira.
Da esquerda para direita: ?;
Capo Filippo Dei Nero, vereador;
Francisco José Vieira, vereador e
presidente da Câmara
Municipal; Ten. Ceio Guilherme
Theodoro MacCann, vereador;
Mário Tavares, deputado
estadual; ?;Fernando de Souza
Costa, prefeito; Senador
Antonio de Lacerda Franco, do
Congresso Estadual
~:RlTm:iJ.rNUNGA DA USP : MI54
Em 1935, pelo Decreto nl! 7.311, o Instituto
passou a chamar-se Instituto Biológico e associou-
se ao Instituto Agronômico de Campinas (IAC)34.
Em parceria os institutos agregavam infra-estrutu-
ra para o desenvolvimento agrícola e animal do
Estado de São Paulo, com reflexos positivos para
cidades como Piracicaba e Pirassununga. O IAC foi
reorganizado em 1935-1936, através do Decreto nl!
7.955, quando novas seções foram introduzidas:
café, cereais, leguminosas, raizes, fumo e outras deestudos básicos.
A cidade de Pirassununga tornara-se um labo-
ratório para Costa. Estimulado pelos estudos hí-
dricos realizados na cachoeira das Emas, acompa-
nhou um dos interessantes trabalhos que se
iniciavam: o estudo das águas residuais das fazen-
das e seu aproveitamento agrícola, mostrando a
preocupação de evitar a poluição ambiental que os
diversos resíduos poderiam provocar. Já naquele
período havia manifestado grande preocupação
com a defesa dos recursos hídricos de São Paulo e,
para ele, tornara-se urgente formular uma legisla-
ção protetora do meio-ambiente. Assim, junto com
va com as seções de botânica, agronomia, quími-
ca, entomologia e parasitologia animal, anatomia
patológica e museu. Sua atribuição era a de efetu-
ar estudos técnicos e práticos das questões relacio-
nadas à defesa agrícola e animal, investigando de-
fensivos, fiscalizando os produtos usados na
agricultura e na pecuária, bem como o comércio
de sementes e mudas, e promovendo o ensino.
Também deveria contribuir ajudando os cursos
práticos oferecidos aos agricultores e criadores. O
Biológico, como passou a ser chamado, organizou
pesquisas e o currículo de cursos e formou técni-
cos que passaram a atuar junto com os agentes go-
vernamentais em defesa da qualidade da produção
agrícola. A cidade de Pirassununga foi se benefici-
ando desse corpo de profissionais e fortalecendo a
idéia da importância de investimentos educacio-
nais para a formação de jovens. Estavam criadas as
condições para o desenvolvimento de pesquisas, as
quais passaram a alimentar os cursos práticos das
escolas rurais.
Após a criação do Instituto, iniciaram-se estudos
para a escolha da localização e a construção do seu
prédio. Posteriormente o Biológico recebeu novasseções - Fisiologia, Entomologia, Zoologia, Patolo-
gia etc. - e Pass9u a ministrar cursos para veteriná-
rios e agrônomos, crescendo e projetando o seu
nome, tendo prestado à lavoura e à pecuária nacio-
nal extraordinários serviços, que ajudaram a debe-
lar as pragas. Note-se que a preponderância da agri-
cultura se fazia com apoio dos altos investimentos
em pesquisa básica e em tecnologia, diferentemente
do que ocorria na tímida expansão da indústria.
34. O IAC doi fundado por D. Pedro II em junho de 1887 para
o "esrudo dos fatores de produção agrícola e da vida e, me-
lhoramento das plantas cultivadas" (Lei 2.227-A de
19.12.1927), e sua estrutura era constituída das seções de
fiscalização, química, horticultura, genética, botinica, ento-mologia, bacteriologia e indústrias de fermentação. Tendosido criada a seção de química e tecnologia agrícolas, os téc-nicos passaram a efetuar análises de terra, água, leite, man-
teiga, vinho, plantas e seus produtos.
~R~~55
Pirassununga é integrada pelo traçado da Com-
panhia Paulista de Estradas de Ferro e está distante
189 km, em linha reta, da capital paulista. Assen-
ta-se sobre suave planície, o que lhe dá um aspecto
de tabuleiro, às vezes disfarçado pela presença de
pequenos morros. Inicialmente calçada com para-
lelepípedos, a partir da década de 1950 passou a
receber asfalto, fruto das transformações urbanas
oriundas dos processos industriais que se alteraram
no pós-Guerra, com a produção de petróleo e o
apoio ao sistema rodoviário.
As atividades econômicas da cidade centram-se
modernamente na produção de cana de açúcar e de
seus derivados: aguardente, açúcar cristal e álcool.
Entretanto, na trajetória de vila a cidade, a econo-
mia de Pirassununga foi muito diversificada e ex-
tremamente favorecida, tanto pela figura de Fernan-
do Costa como pelo desenvolvimento da Escola
Prática de Agricultura, pela presença do Instituto
de Zootecnia e Indústrias Pecuárias e pelo campus
da USPA cidade é um pólo na região leste de São Paulo
e conta com os seguintes indicadores de desenvolvi-
mento: área de 727 km2; população de 64.864 ha-
bitantes entre os quais 31.971 homens e 32.893 mu-
lheres; 13.515 postos de trabalho, sendo 11.066 com
carteira de trabalho assinada35. A população escolar
é de 2.224 crianças freqüentando a pré-escola; 9.629
no Ensino Fundamental; e 3.709 no Ensino Médio.
O campus de Pirassununga atende 784 alunos.
os pesquisadores do IAC e do Instituto Biológico,
esforçou-se neste sentido, organizando seminários,
debatendo na Câmara dos Vereadores e na Assem-
bléia Legislativa.
O desenvolvimento da medicina também foi
uma preocupação da cidade. Novas necessidades de
equipamentos, novas condições de higiene e novas
especialidades terapêuticas e propedêuticas exigiram
a remodelação da Santa Casa de Misericórdia, da
qual Costa foi provedor durante quinze anos, já que
para esse homem interessado na ciência tudo depen-
dia da saúde do povo para que a cidade pudesse
apresentar saldos positivos, econômicos e cultUrais.
Como iniciativa particular, que muito contribuiu
para a renda do município, foi instalada a Fábrica
de Fiação e Tecelagem Pirassununga, hoje Fiação e
Tecelagem de Pirassununga S/A. Noé Masotti en-
tusiasta do trabalho do prefeito assim registrou seus
feitos: "E após o trabalho cheio de fé e coragem do
povo daqueles tempos, estamos vivendo nesta for-mosa cidade - Terra Curimbatá, cognominada a
Cidade Simpatià'.
Em conseqüência desses trabalhos, em 1938 foi
estabelecida pelo Governo Federal a compra de 110
alqueires de terras pertence~tes à Fazenda Graciosa,
no valor de 160 contos de réis, para a instalação da
Estação de Piscicultura, distante 800 metros da
Cachoeira das Emas. Em 1939 ela foi inaugurada
com um granito comemorativo em seus jardins,
onde se lê: "Primeira estação experimental de pisci-
cultura inaugurada no país, sendo Presidente da Re-
pública Dr. Getúlio Vargas e Ministro da Agricultu-
ra, Dr. Fernando Costà'. 35. Dados do IBGE (2000).
~:R:trüJAMPUS Df, P1RAss\rN\INGA DA USP: MJ,:MÓR1A E Hl~'TÓRlA56
26. Cachoeira de Emas, década de 1950
27. Cachoeira de Emas
~Rl:tI!TDAS ORJ(;)'~N5 57
28 e 29. Estação Experimental de Biologia e Piscicultura de Pirassununga (Cachoeira de Emas), 1940
30. Centro Nacional de Pesquisa de Peixes Tropicais - Cepta/lbama
~~~58
Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos - USP
CURSos ALUNOS..
i 178
11.7
PROFESSORES*
Zootecnia
Engenhariade Alimentos
400Medicina Veterinária49
da Veterinária
Pós-graduaçãoem Zootecnia,nível de Mestrado
Totais 784
Fonte: www.usp.br/fzea (2003). (*) Dos professores, 97% possui titUlação de doutor.
89
~()
A partir desses dados conclui-se que há espaçona cidade e no campus para a abertura de novasunidades da USp, com o que seria possível atendera demanda de ensino superior público tanto de Pi-rassununga como das cidades em seu entorno. Ob-
servando-se os dados do ensino superior na cidadepercebe-se que ainda há necessidades em outrasáreas de conhecimento, que estão sendo providaspor outras instituições de ensino, algumas contan-do com a cooperação do campus.
Outras instituições de ensino superior de Pirassununga
CURSos"
Engenharia de AgrimensuraGraduação e pós-graduação emEngenharia de Segurança do Trabalho
ALUNOS PROFESSORES.;
Faculdade de Engenhariade Agrimensura de Pirassununga
17921*'
41
Academia da Forca Aérea 53814765
66AviadorIntendênciaInfantaria
Letras 2562947530
36**'PedagogiaEngenharia de Produção MeclnicaPós-graduação em Psicopedagogia--
Faculdades de Educação eEngenharia de Pirassununga
(Faculdades IntegradasAnhangüera - FIAN)
Totais 1 625 123
Fontes: Instituições mencionadas no quadro; abril de 2001. (**) Professores com titulação em pós-graduação, mestrado e doutorado,
mínima de doutor. (***) Titulações de mestrado e doutorado.
~1tR~DAS 01{IG~:NS 59
As histórias do campus e da cidade reproduzem
tendências estruturais que se apresentam em outros
espaços regionais. Não é por acaso que os interes-
ses manifestados por muitos dos entrevistados des-
te trabalho indicam que a área de humanidades está
sendo atendida pela rede privada e local, sem a par-
ticipação da USp, e, por isso, consideram a abertu-
ra de cursos da USP nessas áreas do conhecimento
importante para o desenvolvimento cultural dos
alunos do campus e da cidade como um todo. Li-
teratura, música, cinema, artes plásticas, turismo,história e geografia são considerados cursos que po-
deriam dinamizar a vida na cidade, oferecendo pers-
pectivas educacionais, de conhecimento e lazer.