1
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I SEMINÁRIO - LABORATÓRIO DE ESTUDOS
FOUCAULTIANOS DE GOIÁS
CARTOGRAFIAS DO CONTEMPORÂNEO: VONTADES DE VERDADE E PROCESSOS DE
SUBJETIVAÇÃO A PARTIR DE MICHEL FOUCAULT.
CADERNO DE RESUMOS
Organizadores:
Antônio Fernandes Junior
Bruno Franceschini
Sarah Carime Braga Santana
2
3
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS - REGIONAL CATALÃO
REITORIA Professor Orlando Afonso Valle do Amaral
VICE-REITORIA
Manoel Rodrigues Chaves
DIREÇÃO DA REGIONAL CATALÃO
Thiago Jabur Bittar
VICE-DIREÇÃO DA REGIONAL CATALÃO Denis Rezende de Jesus
COORDENAÇÃO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
COORDENADORA
Maria Helena de Paula
UNIDADE ACADÊMICA ESPECIAL DE LETRAS E LINGUÍSTICA
CHEFIA
Alexander Meireles da Silva
SUBCHEFIA Sheila de Carvalho Pereira Gonçalves
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM
COORDENADORA Luciana Borges
SUBCOORDENADOR Antônio Fernandes Júnior
4
COORDENAÇÃO GERAL
Antônio Fernandes Júnior
Bruno Franceschini
COMISSÃO ORGANIZADORA
Antônio Fernandes Júnior
Bruno Franceschini
Gabriella Cristina Vaz Camargo
Giovanna Diniz dos Santos
Jheny Iordany Felipe de Lima
Júlio César Albuquerque da Rocha
Léa Evangelista Persicano
Maurício Divino Nascimento Lima
Sarah Carime Braga Santana
Tainá Camila
COMISSÃO CIENTÍFICA
Léa Evangelista Persicano
Maurício Divino Nascimento Lima
Sarah Carime Braga Santana
Bruno Franceschini
COMISSÃO EDITORIAL
Léa Evangelista Persicano
Maurício Divino Nascimento Lima
Sarah Carime Braga Santana
Bruno Franceschini
COMISSÃO DE APOIO
Alana Caroline Monteiro da Silva
Amanda Soares Mantovani
Ana Vitória Gomes Moreira
Bruna Carolina Ribeiro da Silva
Carolina Bernardes Alves Costa
Carolina Rodrigues Guimarães
Francisco Alderivan Santos Ferreira
Giovana Ribeiro Viveiros
Jéssica Soares Lacerda
5
Jorcelino Júnior de Araújo
Léa Evangelista Persicano
Maurício Divino Nascimento Lima
Martha Tereza Santos Silva
Milena Beatriz Vicente Valentim
Milene Alves de Amorim
Rafaela Rodrigues Fernandes
Raquel Costa Guimarães Nascimento
Rayssa Dayanne de Souza da Costa
Sarah Carime Braga Santana
Vitória Pacheco Fernandes
REALIZAÇÃO
APOIO
6
Sumário
Programação ............................................................................................................................. 14
SESSÕES DE COMUNICAÇÃO ............................................................................................ 16
Resumos ................................................................................................................................... 20
O DISCURSO DE ÓDIO SOB O VIÉS PECHEUTIANO: INTERDISCURSIVIDADE E EFEITOS
DE SENTIDO
Maximiano Antônio Pereira 20
ADULTIZAÇÃO E EROTIZAÇÃO DA CRIANÇA: UMA ANÁLISE DISCURSIVA DE
COMENTÁRIOS NAS MÍDIAS SOCIAIS
Amanda Soares Mantovani e Delcides Silvério Neto 20
A IMAGEM ADULTIZADA E SEXUALIZADA DA CANTORA MELODY NA REDE SOCIAL
FACEBOOK: DOS EFEITOS DE SENTIDO EM COMENTÁRIOS DE LEITORES
Ana Vitória Nascimento 21
DISCURSO DE LIBERDADE DE EXPRESSÃO COMO VONTADE DE VERDADE: ANÁLISE
DE MATERIALIDADES DO FACEBOOK
Hulda Gomides Oliveira 22
O ETHOS DISCURSIVO NOS MEMES DO SUJEITO PROFESSOR
Wânia Gomes Mariano Vieira 22
OS DISCURSOS POSSÍVEIS EM ENUNCIADOS DAS REVISTAS ÉPOCA (2011) E ISTO É
(2010) SOBRE DILMA ROUSSEFF
Gabriella Cristina Vaz Camargo 23
DISPOSITIVOS DE CONTROLE POLÍTICO: UM ENSAIO SOBRE A DEPOSIÇÃO DE DILMA
Karol Natasha Lourenço Castanheira e Vinícius Fernandes Ormelesi 23
DITOS E NÃO DITOS SOBRE A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR
Daniel José Rocha Fonseca 24
DISCURSO E ENSINO: UMA ANÁLISE ACERCA DO DISCURSO GOVERNAMENTAL EM
RELAÇÃO ÀS REFORMAS DO ENSINO MÉDIO
Rafaela Rodrigues Fernandes 25
CONCEITOS “TABUS” NA ESCOLA E SEUS LIMITES
Sirlene Cíntia Alferes Lopes 25
O DISCURSO POLÍTICO ELEITORAL NA CAMPANHA DE 2014: A DISPUTA DOS
SENTIDOS DE FRANQUEZA, AGRESSIVIDADE E VERDADE NO FACEBOOK
Geovana Chiari 26
A CULTURA DO ESTUPRO COMO CAMPO DE PROBLEMATIZAÇÃO DA MANEIRA DE
SER E CONDUZIR-SE NA SEXUALIDADE
Juliane de Araújo Gonzaga 27
7
DA FORMAÇÃO DO ENUNCIADO CRIMINOLÓGICO À PRODUÇÃO DOS CORPOS
INFAMES NA VIA DO JORNALISMO POLICIAL: RESSONÂNCIAS NA ESFERA SÓCIO-
JURÍDICA
Renata Celeste 27
DISCURSO E ARGUMENTAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A REPRESENTATIVIDADE DO
SUJEITO “JULIANO VP” EM ABUSADO DE CACO BARCELLOS
Martha Tereza Santos Silva 28
TELEJORNALISMO POLICIAL E JULGAMENTO VIRTUAL: A PRODUÇÃO TELEVISIVA
DA DELINQUÊNCIA
Marco Antônio Arantes 29
MÍDIA RACISTA? EFEITOS DE SENTIDO EM TÍTULOS DE MATÉRIAS JORNALÍSTICAS
SOBRE O TRÁFICO DE DROGAS
Amanda Pereira de Sousa Franco 29
O DISCURSO POLÍTICO BRASILEIRO EM DEBATE: UMA ANÁLISE DOS DEBATES
ELEITORAIS PRESIDENCIAIS NO BRASIL
Livia Maria Falconi Pires 30
ENTRE O MARGINAL E O SOCIAL: A EXCLUSÃO QUE RONDA PIVETE
Maria Irenilce Rodrigues Barros 31
CORPOS HETEROTÓPICOS OU O LUGAR DAS PERSONAGENS EM VAN HELSING: O
CAÇADOR DE MONSTROS
Alisson Cardoso da Silva 31
JOGOS DE PODERES NO MUNDO DA TERRA-MÉDIA A PARTIR DO “UM ANEL” E SEUS
PORTADORES
Francisco de Assis Ferreira Melo 32
“DANÇARINO DO DESERTO” E A RESISTÊNCIA ATRAVÉS DO CORPO
Giovanna Diniz dos Santos 33
O CORPO EM ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA DE JOSÉ SARAMAGO: ENTRE A VIGILÂNCIA
E A SEGREGAÇÃO
Karina Luiza de Freitas Assunção 33
O CORPO DO ASSASSINO EM SÉRIE EM EVIDÊNCIA: DISCURSO DO FASCÍNIO E
PRÁTICAS NA MÍDIA BRASILEIRA
Glaucia Mirian Silva Vaz 34
O CORPO COMO UM ASPECTO DO DISPOSITIVO DE SEGURANÇA
Jaquelinne Alves Fernandes 35
O PAPEL DA RELAÇÃO PROFESSOR/OBJETO E SABER/MÉTODO NO PROCESSO DE
TOMADA DA PALAVRA EM LÍNGUA INGLESA
Mariá Prado Walmiro 35
8
REPRESENTAÇÕES DISCURSIVAS DOS PROFESSORES FORMADORES EM UM CURSO
DE LETRAS INGLÊS
Marcela Henrique de Freitas 36
EXISTE PELEUMONIA: UMA ANÁLISE DE DISCURSOS RELATIVOS À LÍNGUA
PORTUGUESA NAS MÍDIAS SOCIAIS
Raquel Costa Guimarães Nascimento 37
MOVIMENTOS DO PROFESSOR SUPERVISOR DO PIBID NA ESCOLA: UMA
CARTOGRAFIA
Jaila Penaforte 37
O CORPO FEMININO NO LIVRO DIDÁTICO DE 9º ANO DE LÍNGUA PORTUGUESA
Vânia Gomes Cardoso 38
PENSAR A EDUCAÇÃO A PARTIR DE MICHEL FOUCAULT: A INSTITUIÇÃO
DISCIPLINAR E O CUIDADO DE SI
André de Barros Borges 38
CARTOGRAFIAS DE DISCURSOS CONTRA A CORRUPÇÃO NO BRASIL: IMAGENS,
CONFLITOS E CONTROVÉRSIAS
Maiara Raquel Campos Leal 39
UM DIÁLOGO COM FREIRE E FOUCAULT SOBRE PODER E SABER
Rosângela Labre de Oliveira 40
CONTORNOS CONTEMPORÂNEOS DA BIOÉTICA: UMA ANÁLISE DA ADI 3510 SOB O
PRISMA TEÓRICO DO DISCURSO DE PODER DE MICHAEL FOUCAULT
Filipe Melo Carneiro Leão Loreto 40
O DISCURSO DE MERITOCRACIA E AS RELAÇÕES DE PODER EM 3%
Tainá Camila dos Santos 41
REFLEXÃO CRÍTICA SOBRE OS DISCURSOS ATUAIS DE VIOLÊNCIA COMO
MANTENEDORES DA ORDEM
Cecília Rodrigues Ribeiro e Camila Dias 42
O NOVO ENSINO MÉDIO: ANÁLISE DO DISCURSO DA LEI Nº 13.415/17 A PARTIR DE
MICHEL FOUCAULT
Amarildo Inácio dos Santos 42
IGUALDADE DE GÊNEROS E OS DISPOSITIVOS DE EMPODERAMENTO FEMININO NO
INÍCIO DO SÉCULO XXI
Cássia Núbia de Carvalho 43
SUBJETIVAÇÃO E O CUIDADO DE SI: UMA ANÁLISE DA REPRESENTAÇÃO DA
MULHER NA SOCIEDADE
Sarah Carime Braga Santana 44
A VONTADE DE VERDADE DO SEXO NOS DISCURSOS DE IDENTIDADE DE GÊNERO
DA ATUALIDADE
9
Guilherme de Freitas Leal 44
DIA INTERNACIONAL DA MULHER EM CAMPANHA PUBLICITÁRIA DA SKOL (2017):
SOB UM OLHAR DIALÓGICO
Gabriella Cristina Vaz Camargo 45
O DISPOSITIVO DE SEXUALIDADE NA LITERATURA: UMA ANÁLISE DE DISCURSO
SOBRE O FEMININO NAS OBRAS DE JOSÉ DE ALENCAR E SUA PERPETUAÇÃO NO
CONTEMPORÂNEO
Beatriz Izabelli Zumba Elihimas e Amanda Salgado Rocha 46
O FEMININO QUE GRITA NO ANTIFEMINISMO
Pâmela Tavares de Carvalho e Luciana Carmona Garcia Manzano 47
REPRESENTAÇÕES DO VALE DE JAVÉ (NORDESTE) E DO NORDESTINO PELA NOÇÃO
DE ENUNCIADO REITOR
Léa Evangelista Persicano 48
RELAÇÕES DISCURSIVAS: O PAPEL ENUNCIATIVO DA PALAVRA FERRAMENTA NOS
POEMAS DE BRAZ JOSÉ COELHO
Júlio César Albuquerque da Rocha e Antônio Fernandes Junior 48
PERCEPÇÕES DISCURSIVAS SOBRE A LEITURA DE CLÁSSICOS EM QUADRINHOS
Camila Santin Calçada Silva 49
CONSTITUIÇÃO DE SUBJETIVIDADE EM “O PAPEL DE PAREDE AMARELO”, DE
CHARLOTTE PERKINS GILMAN
Nilce Meire Alves Rodovalho 50
AUTORIA E ESCRITA NAS MEMÓRIAS DE ROSA AMBRÓSIO: UMA ANÁLISE DO
EFEITO-SUJEITO EM “AS HORAS NUAS” DE LYGIA FAGUNDES TELLES
Ismael Ferreira Rosa 50
A ENUNCIAÇÃO NA HISTÓRIA PARA A CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO DISCURSIVO
ORLANDO SABINO
Fernanda Gomes da S. Nakamura 51
OS DISCURSOS DE DISCRIMINAÇÃO NA OBRA DOIS GAROTOS SE BEIJANDO:
CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO, EFEITOS DE SENTIDO E FORMAÇÃO DISCURSIVA
Yuri Pereira de Amorim 52
VIDA ARTISTA E VIDA ARTÍSTICA: ENCONTROS E DESENCONTROS NA ARTE DE
VIVER
Marco Antônio Arantes 52
UM OLHAR SOBRE O RAP DE CRIOLO ENQUANTO PRODUTOR DE EFEITOS DE
SENTIDOS E SUBJETIVIDADES
Jheny Iordany Felipe de Lima 53
“VOCÊ ME DEIXA DOIDÃO!!!”: UMA ANÁLISE SOBRE OS REGIMES DE PRODUÇÃO DE
VERDADE EM TRÊS COMPOSIÇÕES DA BANDA MAMONAS ASSASSINAS
10
Maurício Divino Nascimento Lima 54
PRÁTICAS DE SUBJETIVAÇÃO EM O CENTAURO NO JARDIM DE SCLIAR: DISCURSOS E
SUJEITO
Neuza de Fátima Vaz de Melo 54
ONCE UPON A TIME... RELAÇÕES DIALÓGICAS NA ENUNCIAÇÃO
VERBOVOCOVISUAL SERIADA
Thainá Pereira Gonçalves 55
PERSPECTIVA ENTRE “O BALCÃO” DE MANET E MAGRITTE
Paulo Ferreira de Carvalho Neto 56
‘EU SOU LADRÃO E VACILÃO’: CAPTURA DE SI E DO OUTRO EM TEMPOS DE REDES
SOCIAIS DIGITAIS
Aldenor da Silva Pimentel 56
O DESEJO DE VERDADE E A SUBJETIVAÇÃO SOBRE O SUICÍDIO A PARTIR DA
CAMPANHA SETEMBRO AMARELO
Anísio Batista Pereira 57
O DISCURSO SUBJACENTE À NORMA DE DECISÃO JURÍDICA
Juliana Andrade e Renata Celeste 57
UM ESTUDO HERMENÊUTICO DA TEMPORALIZAÇÃO NA ÉTICA DO CUIDADO DE SI
Cristina Batista de Araújo 58
OS SIGNOS DA LOUCURA – CULTURA E FOUCAULT
Cleiton da Silva Rodrigues 59
11
Apresentação
As contribuições de Michel Foucault para o campo de estudos da Análise do Discurso
(doravante AD) vêm conquistando cada vez mais pesquisadores, o que demonstra a
proficuidade do pensamento foucaultiano aos estudos discursivos, oriundos dos postulados da
AD francesa. Ao acionar os conceitos propostos pelo filósofo, os pesquisadores criam um
campo específico de análise de diferentes objetos, textuais e/ou imagéticos, nos quais se
percebe a emergência de dados discursos, sua inscrição na história, sua articulação com os
jogos poder/saber e o modo como atuam na produção de subjetividades. Nessas
pesquisas, busca-se entender o funcionamento do discurso, que não é inteiramente linguístico
e nem simplesmente gramatical, e tomam o conceito de enunciado no exercício de sua função
enunciativa como matriz metodológica de análise das discursividades, seja em uma dimensão
arqueológica, genealógica ou de uma ética/estética da existência. Essa divisão não se faz de
forma estanque; pois, em um mesmo estudo, conceitos dessas chamadas “fases do
pensamento foucaultiano” podem atuar simultaneamente, dependendo do enfoque adotado ou
da natureza do objeto de análise que solicita, do pesquisador, “uma conversão do olhar” frente
às materialidades em estudo. Há um conjunto de conceitos e/ou noções operatórias que, em
tese, se preocupam com a análise das discursividades (sua emergência, campo associativo,
relações de poder, dispositivos e produção de subjetividade) nos domínios da linguagem e
articulados ao estudo daquilo que foi efetivamente produzido, correlacionado ao que se dizia e
se fazia em determinada singularidade histórica.
O Laboratório de Estudos Discursivos Foucaultianos de Catalão (LEF-GO) realizará o
I Seminário “Cartografias do contemporâneo: vontades de verdade e processos de
subjetivação a partir de Michel Foucault”, no período de 27 a 29 de novembro, com o objetivo
de problematizar discursos e/ou temas contemporâneos a partir do pensamento de Michel
Foucault. Os estudos desse filósofo oferecem aos leitores e pesquisadores perspectivas
promissoras para se refletir sobre questões contemporâneas, uma vez que suas pesquisas não
ficaram datadas no tempo e nem fixadas apenas nos objetos sobre os quais Foucault se
debruçou. Outro aspecto a ser destacado são os cursos ministrados pelo filósofo no Collège de
France, cujas publicações e traduções ainda estão em curso. Nesses trabalhos, sobretudo nas
partes introdutórias e em outros textos de sua vasta obra, o referido autor esclarece que seu
principal interesse de pesquisa ou caminho de investigação recaiu sobre a análise do que ele
designou como “focos de experiência”, expressão indicativa de três
linhas de observação dos discursos, a saber: a) “as formas de um saber possível”, b) “as
12
matrizes normativas de comportamento para os indivíduos” e, por fim, c) “os modos de
existências virtuais para sujeitos possíveis” (FOUCAULT, 2010, p. 04-05).
Para a proposição deste colóquio, contaremos com pesquisadores de diferentes de
grupos de estudos de Análise do Discurso (AD) do Brasil, cujos diálogos com a obra de
Michel Foucault têm sido intensos. Nosso objetivo gira em torno do eixo temático no qual se
inscreve os objetivos desse evento, a saber: quais contribuições dos postulados foucaultianos
para análise e problematização de temas e/ou discursividades contemporâneas?
Aproveitando a via aberta pelo italiano Giorgio Agamben (2009), entendemos que ser
contemporâneo de seu próprio tempo é adotar um ponto de vista que não se fixa ou se prende
na sua própria época, mas dela toma distância. Teríamos um processo de adesão e
distanciamento: ter a dimensão do seu tempo e dele se distanciar para que possa apreendê-lo.
Em outros termos, contemporâneo é todo aquele que “consegue ver não somente as luzes do
seu tempo, mas o escuro, o obscuro sob o excesso de luz”. Nessa linha de observação
proposta por Agamben, podemos inferir que para a análise do contemporâneo, no qual
distintas temporalidades históricas se cruzam, ser contemporâneo é não se deixar cegar pelas
evidências (luzes) de seu tempo, mas ser capaz de “olhar de fora” para apreender as
temporalidades que atravessam essa mesma historicidade. Trata-se de um modo de pesquisa
desenvolvido por Foucault, o qual é citado pelo italiano, quando se refere à forma como o
teórico analisou e pesquisou arquivos de diferentes registros históricos do passado (loucura,
medicina, prisão, sexualidade etc.) com o objetivo de entender o presente ou aquilo que nos
faz ser o que somos.
Acreditamos que esse modo de observação das discursividades contemporâneas deve-
se vincular ao duplo processo indicado por Agamben, quando menciona a necessidade de
manter o olhar fixo no seu tempo e dele se distanciar, não para enxergar as luzes, mas o
obscuro que se mistura ao excesso de luz. Nesse movimento requerido, esse olhar de fora,
distanciado, possibilita que se apreenda as diferentes temporalidades que se inscrevem nos
discursos da atualidade. Tal procedimento dialoga com o que Foucault designou como
“conversão do olhar”, quando, em “Arqueologia do Saber”, explicitou os caminhos de análise
do enunciado e da função enunciativa. Essa problematização analítica requer do pesquisador
“uma conversão do olhar”, pois os discursos se enredam em enunciados que não estão ocultos
e nem totalmente visíveis, ou, às vezes, já estão tão entranhados no social que não o
identificamos. Essa conversão do olhar recai justamente sobre a necessidade de apreender os
discursos e analisá-los em sua singularidade. Essa postura interpretativa implica que a
emergência de um dado objeto, independente da materialidade que o constitui, não se separa
13
das molduras formais (discursos, enunciados, práticas discursivas, leis, domínios de memória
etc.) que chegam até nós cingindo-nos. Tal gesto analítico implica que, para apreender as
discursividades contemporâneas, necessitamos de um olhar atento aos discursos efetivamente
produzidos no seu tempo e deles tomar distância, observando as camadas de passado que os
constituem e as evidências que os fazem passar por verdadeiros. Esse modo de analisar os
discursos, sob o prisma foucaultiano, nos mostra que as verdades são historicamente
produzidas e são gestadas por vontades de verdades coletivas e sociais, localizadas no tempo
e no espaço, que se materializam em discursos e constituem os sujeitos, fazendo com que
esses tenham a ilusão de falarem a partir de suas próprias convicções.
14
Programação
27/11/2017 – SEGUNDA-FEIRA
18h00 – 19h30 – Credenciamento e Inscrições para Ouvintes
19h00 – Solenidade de Abertura – Auditório Paulo de Bastos
19h30 – Conferência de Abertura
Identidade, normalização e diferença.
Prof. Dr. Kleber Prado Filho (UNIARP)
Auditório Paulo de Bastos
21h00 – Coquetel
Restaurante “O Pratão”
28/11/2017 – TERÇA-FEIRA
9h30 – Mesa-Redonda 1
Cartografias do discurso político contemporâneo:
intolerância e discursos de ódio.
Prof.ª Dr.ª Vanice Sargentini (UFSCAR);
Prof.ª Dr.ª Kátia Menezes de Sousa (UFG/RG);
Auditório Paulo de Bastos
Mediador
Prof. Dr. Cleudemar Alves Fernandes (UFU)
14h00 – Sessões de Comunicação – Bloco Didático 1
Sessões de 1 a 6
16h30 – Mesa-Redonda 2
Cartografias do Contemporâneo: produção discursiva de verdades.
Prof.ª Dr.ª Karina Luiza de Freitas Assunção (UEMG/Prata-MG) - (PPGEL)
Prof. Dr. Israel de Sá (UFU)
15
Auditório Paulo de Bastos
18h00 – Lançamento de livros
Coffee Break
Saguão do Auditório Paulo de Bastos
19h30 – Mesa-Redonda 3
Cartografia, identidade e marginalização.
Prof. Dr. João Paulo Ayub (PNPD-CAPES/PPGEL/UFG/RC)
Prof. Dr. Vinícius Dorne (FACED/UFU)
Prof. Dr. Antônio Fernandes Júnior (UAELL/UFG/RC)
Auditório Paulo de Bastos
29/11 – Quarta-feira
9h30 – Encerramento – Mesa-Redonda 4
Cartografias da violência: gênero, sexualidade e subjetividade.
Prof. Dr. Bruno Franceschini (PPGEL/UAELL/UFG/RC)
Prof.ª Dr.ª Grenissa Bonvino Stafuzza (PPGEL/UAELL/UFG/RC)
Prof. Dr. Pedro Navarro (UEM)
Auditório Paulo de Bastos
14h00 – Sessões de Comunicação – Bloco Didático 1
Sessões de 7 a 10
16
SESSÕES DE COMUNICAÇÃO
Sessão 1
28/11 – Sala 301
Título da Comunicação Autores
O DISCURSO DE ÓDIO SOB O VIÉS PECHEUTIANO:
INTERDISCURSIVIDADE E EFEITOS DE SENTIDO Maximiano Antônio Pereira
ADULTIZAÇÃO E EROTIZAÇÃO DA CRIANÇA: UMA
ANÁLISE DISCURSIVA DE COMENTÁRIOS NAS MÍDIAS
SOCIAIS
Amanda Soares Mantovani e
Delcides Silvério Neto
A IMAGEM ADULTIZADA E SEXUALIZADA DA CANTORA
MELODY NA REDE SOCIAL FACEBOOK: DOS EFEITOS DE
SENTIDO EM COMENTÁRIOS DE LEITORES
Ana Vitória Nascimento
DISCURSO DE LIBERDADE DE EXPRESSÃO COMO
VONTADE DE VERDADE: ANÁLISE DE MATERIALIDADES
DO FACEBOOK
Hulda Gomides Oliveira
O ETHOS DISCURSIVO NOS MEMES DO SUJEITO
PROFESSOR Wânia Gomes Mariano Vieira
OS DISCURSOS POSSÍVEIS EM ENUNCIADOS DAS
REVISTAS ÉPOCA (2011) E ISTOÉ (2010) SOBRE DILMA
ROUSSEFF
Gabriella Cristina Vaz
Camargo
Sessão 2
28/11 – Sala 304
Título da Comunicação Autores
DISPOSITIVOS DE CONTROLE POLÍTICO: UM ENSAIO
SOBRE A DEPOSIÇÃO DE DILMA
Karol Natasha Lourenço
Castanheira e Vinícius
Fernandes Ormelesi
DITOS E NÃO DITOS SOBRE A BASE NACIONAL COMUM
CURRICULAR Daniel José Rocha Fonseca
DISCURSO E ENSINO: UMA ANÁLISE ACERCA DO
DISCURSO GOVERNAMENTAL EM RELAÇÃO ÀS
REFORMAS DO ENSINO MÉDIO
Rafaela Rodrigues Fernandes
CONCEITOS “TABUS” NA ESCOLA E SEUS LIMITES Sirlene Cíntia Alferes Lopes
O DISCURSO POLÍTICO ELEITORAL NA CAMPANHA DE
2014: A DISPUTA DOS SENTIDOS DE FRANQUEZA,
AGRESSIVIDADE E VERDADE NO FACEBOOK
Geovana Chiari
A CULTURA DO ESTUPRO COMO CAMPO DE
PROBLEMATIZAÇÃO DA MANEIRA DE SER E CONDUZIR-
SE NA SEXUALIDADE
Juliane de Araujo Gonzaga
Sessão 3
28/11 – Sala 308
Título da Comunicação Autores
DA FORMAÇÃO DO ENUNCIADO CRIMINOLÓGICO À
PRODUÇÃO DOS CORPOS INFAMES NA VIA DO
JORNALISMO POLICIAL: RESSONÂNCIAS NA ESFERA
SÓCIO-JURÍDICA
Renata Celeste
17
DISCURSO E ARGUMENTAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A
REPRESENTATIVIDADE DO SUJEITO “JULIANO VP” EM
ABUSADO DE CACO BARCELLOS
Martha Tereza Santos Silva
TELEJORNALISMO POLICIAL E JULGAMENTO VIRTUAL:
A PRODUÇÃO TELEVISIVA DA DELINQUÊNCIA Marco Antônio Arantes
MÍDIA RACISTA? EFEITOS DE SENTIDO EM TÍTULOS DE
MATÉRIAS JORNALÍSTICAS SOBRE O TRÁFICO DE
DROGAS
Amanda Pereira de Sousa
Franco e Yure Viana da Silva
O DISCURSO POLÍTICO BRASILEIRO EM DEBATE: UMA
ANÁLISE DOS DEBATES ELEITORAIS PRESIDENCIAIS NO
BRASIL
Livia Maria Falconi Pires
ENTRE O MARGINAL E O SOCIAL: A EXCLUSÃO QUE
RONDA PIVETE
Maria Irenilce Rodrigues
Barros
Sessão 4
28/11 – Sala 310
Título da Comunicação Autores
CORPOS HETEROTÓPICOS OU O LUGAR DAS
PERSONAGENS EM VAN HELSING: O CAÇADOR DE
MONSTROS
Alisson Cardoso da Silva
JOGOS DE PODERES NO MUNDO DA TERRA-MÉDIA A
PARTIR DO “UM ANEL” E SEUS PORTADORES
Francisco de Assis Ferreira
Melo
“DANÇARINO DO DESERTO” E A RESISTÊNCIA ATRAVÉS
DO CORPO Giovanna Diniz dos Santos
O CORPO EM ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA DE JOSÉ
SARAMAGO: ENTRE A VIGILÂNCIA E A SEGREGAÇÃO
Karina Luiza de Freitas
Assunção
O CORPO DO ASSASSINO EM SÉRIE EM EVIDÊNCIA:
DISCURSO DO FASCÍNIO E PRÁTICAS NA MÍDIA
BRASILEIRA
Glaucia Mirian Silva Vaz
O CORPO COMO UM ASPECTO DO DISPOSITIVO DE
SEGURANÇA Jaquelinne Alves Fernandes
Sessão 5
28/11 – Sala 311
Título da Comunicação Autores
O PAPEL DA RELAÇÃO PROFESSOR/OBJETO DE
SABER/MÉTODO NO PROCESSO DE TOMADA DA PALAVRA
EM LÍNGUA INGLESA
Mariá Prado Walmiro
REPRESENTAÇÕES DISCURSIVAS DOS PROFESSORES
FORMADORES EM UM CURSO DE LETRAS INGLÊS Marcela Henrique de Freitas
EXISTE PELEUMONIA: UMA ANÁLISE DE DISCURSOS
RELATIVOS À LÍNGUA PORTUGUESA NAS MÍDIAS SOCIAIS
Raquel Costa Guimarães
Nascimento
MOVIMENTOS DO PROFESSOR SUPERVISOR DO PIBID NA
ESCOLA: UMA CARTOGRAFIA Jaila Penaforte
O CORPO FEMININO NO LIVRO DIDÁTICO DE 9º ANO DE
LÍNGUA PORTUGUESA Vânia Gomes Cardoso
18
PENSAR A EDUCAÇÃO A PARTIR DE MICHEL FOUCAULT:
A INSTITUIÇÃO DISCIPLINAR E O CUIDADO DE SI André de Barros Borges
Sessão 6
29/11 – Sala 301
Título da Comunicação Autores
CARTOGRAFIAS DE DISCURSOS CONTRA A CORRUPÇÃO
NO BRASIL: IMAGENS, CONFLITOS E CONTROVÉRSIAS Maiara Raquel Campos Leal
UM DIÁLOGO COM FREIRE E FOUCAULT SOBRE PODER E
SABER Rosângela Labre de Oliveira
CONTORNOS CONTEMPORÂNEOS DA BIOÉTICA: UMA
ANÁLISE DA ADI 3510 SOB O PRISMA TEÓRICO DO
DISCURSO DE PODER DE MICHEL FOUCAULT.
Filipe Melo Carneiro Leão
Loreto
O DISCURSO DE MERITOCRACIA E AS RELAÇÕES DE
PODER EM 3% Tainá Camila dos Santos
REFLEXÃO CRÍTICA SOBRE OS DISCURSOS ATUAIS DE
VIOLÊNCIA COMO MANTENEDORES DA ORDEM
Cecília Rodrigues Ribeiro e
Camila Dias
O NOVO ENSINO MÉDIO: ANÁLISE DO DISCURSO DA LEI
Nº 13.415/17 A PARTIR DE MICHEL FOUCAULT Amarildo Inácio dos Santos
Sessão 7
29/11 – Sala 302
Título da Comunicação Autores
IGUALDADE DE GÊNEROS E OS DISPOSITIVOS DE
EMPODERAMENTO FEMININO NO INÍCIO DO SÉCULO XXI Cássia Núbia de Carvalho
SUBJETIVAÇÃO E O CUIDADO DE SI: UMA ANÁLISE DA
REPRESENTAÇÃO DA MULHER NA SOCIEDADE Sarah Carime Braga Santana
A VONTADE DE VERDADE DO SEXO NOS DISCURSOS DE
IDENTIDADE DE GÊNERO DA ATUALIDADE Guilherme de Freitas Leal
DIA INTERNACIONAL DA MULHER EM CAMPANHA
PUBLICITÁRIA DA SKOL (2017): SOB UM OLHAR
DIALÓGICO
Gabriella Cristina Vaz
Camargo
SUBJETIVIDADE SOCIAL FEMININA, EDUCAÇÃO NÃO
FORMAL E CUIDADO DE SI Sidcléia da Silva Santos
O DISPOSITIVO DE SEXUALIDADE NA LITERATURA: UMA
ANÁLISE DE DISCURSO SOBRE O FEMININO NAS OBRAS
DE JOSÉ DE ALENCAR E SUA PERPETUAÇÃO NO
CONTEMPORÂNEO
Beatriz Izabelli Zumba
Elihimas e Amanda Salgado
Rocha
O FEMININO QUE GRITA NO ANTIFEMINISMO Pâmela Tavares de Carvalho
Sessão 8
29/11 – Sala 303
Título da Comunicação Autores
REPRESENTAÇÕES DO VALE DE JAVÉ (NORDESTE) E DO
NORDESTINO PELA NOÇÃO DE ENUNCIADO REITOR Léa Evangelista Persicano
19
RELAÇÕES DISCURSIVAS: O PAPEL ENUNCIATIVO DA
PALAVRA FERRAMENTA NOS POEMAS DE BRAZ JOSÉ
COELHO
Júlio César Albuquerque da
Rocha
PERCEPÇÕES DISCURSIVAS SOBRE A LEITURA DE
CLÁSSICOS EM QUADRINHOS Camila Santin Calçada e Silva
CONSTITUIÇÃO DE SUBJETIVIDADES EM “O PAPEL DE
PAREDE AMARELO”, DE CHARLOTTE PERKINS GILMAN Nilce Meire Alves Rodovalho
AUTORIA E ESCRITA NAS MEMÓRIAS DE ROSA
AMBRÓSIO: UMA ANÁLISE DO EFEITO-SUJEITO EM “AS
HORAS NUAS” DE LYGIA FAGUNDES TELLES
Ismael Ferreira Rosa
A ENUNCIAÇÃO NA HISTÓRIA PARA A CONSTITUIÇÃO DO
SUJEITO DISCURSIVO ORLANDO SABINO
Fernanda Gomes da S.
Nakamura
Sessão 9
29/11 – Sala 304
Título da Comunicação Autores
OS DISCURSOS DE DISCRIMINAÇÃO NA OBRA DOIS
GAROTOS SE BEIJANDO: CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO,
EFEITOS DE SENTIDO E FORMAÇÃO DISCURSIVA
Yuri Pereira de Amorim
VIDA ARTISTA E VIDA ARTÍSTICA: ENCONTROS E
DESENCONTROS NA ARTE DE VIVER Marco Antônio Arantes
UM OLHAR SOBRE O RAP DE CRIOLO ENQUANTO
PRODUTOR DE EFEITOS DE SENTIDOS E SUBJETIVIDADES Jheny Iordany Felipe de Lima
“VOCÊ ME DEIXA DOIDÃO!!!”: UMA ANÁLISE SOBRE OS
REGIMES DE PRODUÇÃO DE VERDADE EM TRÊS
COMPOSIÇÕES DA BANDA MAMONAS ASSASSINAS
Maurício Divino Nascimento
Lima
PRÁTICAS DE SUBJETIVAÇÃO EM O CENTAURO NO
JARDIM DE SCLIAR: DISCURSOS E SUJEITO Neuza de Fátima Vaz de Melo
ONCE UPON A TIME... RELAÇÕES DIALÓGICAS NA
ENUNCIAÇÃO VERBOVOCOVISUAL SERIADA Thainá Pereira Gonçalves
Sessão 10
29/11 – Sala 310
Título da Comunicação Autores
PERSPECTIVA; ENTRE “O BALCÃO” DE MANET E
MAGRITTE
Paulo Ferreira de Carvalho
Neto
‘EU SOU LADRÃO E VACILÃO’: CAPTURA DE SI E DO
OUTRO EM TEMPOS DE REDES SOCIAIS DIGITAIS Aldenor da Silva Pimentel
O DESEJO DE VERDADE E A SUBJETIVAÇÃO SOBRE O
SUICÍDIO A PARTIR DA CAMPANHA SETEMBRO AMARELO Anísio Batista Pereira
O DISCURSO SUBJACENTE À NORMA DE DECISÃO
JURÍDICA
Juliana Andrade e Renata
Celeste
UM ESTUDO HERMENÊUTICO DA TEMPORALIZAÇÃO NA
ÉTICA DO CUIDADO DE SI Cristina Batista de Araújo
OS SIGNOS DA LOUCURA – CULTURA E FOUCAULT Cleiton da Silva Rodrigues
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Resumos
Sessão 1
O DISCURSO DE ÓDIO SOB O VIÉS PECHEUTIANO: INTERDISCURSIVIDADE E
EFEITOS DE SENTIDO
Maximiano Antônio Pereira
PROLICEN/PIBIC – UAELL/RC/UFG
Prof.ª Dr.ª Erislane Rodrigues Ribeiro (Orientadora – UAELL/RC/UFG)
Na obra Raízes do Brasil, o historiador Sérgio Buarque apresentou o texto intitulado O
homem cordial, cujo tema tratava da recorrência do discurso que preconiza a hospitalidade
dos brasileiros. Muitas vezes, são transferidos tratamentos da esfera familiar para a privada,
ocasionando a impressão de civilidade incomum a outros povos. Como resposta do autor às
muitas críticas sobre seu posicionamento, ele reafirmou que não houve defesa ao referido
discurso, e sim ênfase ao prevalecimento da pessoalidade nas relações privadas. Em censo
levantado pela Agência Nova/SB entre os meses de abril e junho de 2016, percebeu-se que
84% das referências nas redes sociais sobre temas como racismo, política e homofobia são
preconceituosas e, geralmente, o ódio nas redes sociais é promovido por jovens em idade
escolar. Por isso, é importante que sejam realizadas pesquisas sobre o tema. Assim, objetiva-
se, a partir de corpus levantado com as pesquisas Mulher, negra e famosa: uma análise do
discurso racista em posts publicados no Facebook (PIVIC) e Sexo, sexualidade e gênero na
nova escola/Nova Escola: dos discursos e efeitos de sentido produzidos em comentários de
leitores (PROLICEN – PIBIC), analisar o discurso de ódio nas redes sociais, identificando os
interdiscursos que o constituem e os efeitos de sentido produzidos sob a perspectiva da
Análise do Discurso de linha francesa (AD), com o fim de promover, sobre a temática,
oficinas voltadas a alunos de escolas públicas catalanas. As sequências discursivas a serem
analisadas serão selecionadas pelo critério da recorrência. Quanto à fundamentação teórica, é
obtida pela leitura dos autores franceses: Pêcheux (1997), (2009), (2011a), (2011b) e
Maingueneau (2015) bem como dos pesquisadores brasileiros: Possenti (2004), Orlandi
(2006) e Mussalim (2003). As conclusões preliminares da pesquisa indicam que há relação
dos discursos racistas, machistas e conservadores com o discurso de ódio.
Palavras-chave: Discurso de ódio. Mídias sociais. Preconceito.
ADULTIZAÇÃO E EROTIZAÇÃO DA CRIANÇA: UMA ANÁLISE DISCURSIVA
DE COMENTÁRIOS NAS MÍDIAS SOCIAIS
Amanda Soares Mantovani
Delcides Silvério Neto
UAELL/RC/UFG
Prof.ª Dr.ª Erislane Rodrigues Ribeiro (Orientadora – UAELL/RC/UFG)
Por meio da Análise do Discurso de linha francesa, esta pesquisa objetiva analisar os
comentários publicados no Facebook, no ano de 2017, a respeito da atriz e apresentadora teen
Maísa Silva, além de refletir acerca dos fatores cotidianos e midiáticos que proporcionam o
aparecimento de comentários com viés erótico e de caráter sensual sobre crianças nas mídias
sociais. Os comentários que constituem o corpus deste estudo foram selecionados a partir de
21
uma resposta da atriz aos ataques sofridos por um colega de trabalho no dia 18 de junho no
programa Sílvio Santos da rede SBT e que, através dos critérios de regularidade e efeitos de
sentido presentes nos comentários, foi feita a seleção do macro e, posteriormente, do micro
corpus. As análises incidem tanto sobre comentários contrários à posição de Maísa, quanto de
repúdio à atitude do rapaz em questão e são fundamentados, principalmente, em textos de
Pechêux (1990), Orlandi (2012), Mussalim (2004) e Possenti (2004) e é de cunho analítico-
interpretativista, com foco nos conceitos de sujeito, efeitos de sentido e condições de
produção, próprios da Análise do Discurso pecheuteana e relacionados à repercussão do caso
nas mídias sociais. Um dos resultados que pode ser identificado foi que o discurso machista
está constantemente relacionado ao discurso sexual e de teor erótico ao tratar-se da figura
feminina e de seu amadurecimento biológico, uma vez que suas características físicas são
vistas como insinuação por parte da mulher, além de a maioria dos comentários contrários à
posição da atriz serem proferidos, também, pelas próprias mulheres.
Palavras-chave: Discursos. Adultização. Mídias sociais.
A IMAGEM ADULTIZADA E SEXUALIZADA DA CANTORA MELODY NA REDE
SOCIAL FACEBOOK: DOS EFEITOS DE SENTIDO EM
COMENTÁRIOS DE LEITORES
Ana Vitória Nascimento
UAELL/RC/UFG
Prof.ª Dr.ª Erislane Rodrigues Ribeiro (Orientadora – UAELL/RC/UFG)
Vivem-se tempos em que intérpretes do Funk têm conquistado muito sucesso e nesse cenário
todo é crescente o número de representantes mirins deste estilo no mundo artístico da música.
Entre estas crianças, Gabriella Abreu Severino, popularmente conhecida como Melody, vem
causando muitas polêmicas. Em virtude de cantar e dançar músicas consideradas por parte da
sociedade inadequadas para a sua idade, enfrenta inúmeros preconceitos. A rede social
Facebook da cantora é transbordada de comentários tanto favoráveis, quanto desfavoráveis a
respeito de sua imagem prematuramente adultizada e sexualizada, e há inúmeros ataques
depreciativos nos comentários de leitores em suas fotos e vídeos. Tendo como corpus seis
(06) comentários de leitores selecionados do perfil oficial da cantora Melody, pretende-se
trabalhar os efeitos de sentidos nestes discursos proferidos virtualmente. Atentando-se ao
interdiscurso relacionado a possíveis posições sociais, ideológicas e morais, foi analisado
como estes sujeitos leem negativamente ou positivamente a imagem de Gabriella relacionada
ao Funk. O presente trabalho não tem por finalidade desprestigiá-la ou como também de
prestigiá-la, pelo contrário, busca-se levantar questões analíticas que se possam levar a
possíveis conclusões a respeito de problemáticas presentes nos enunciados em questão. Para
maior consistência das discussões, parte-se da Análise do Discurso de linha francesa (AD),
com embasamento nos conceitos teóricos desenvolvidos por: Possenti (2001) e Orlandi
(2006). Levando em consideração os sujeitos participantes do discurso, suas memórias
discursivas e a exterioridade, chegou-se ao caráter problemático de que a imagem da cantora,
de apenas dez anos de idade, tem sido lida pelos mesmos de uma maneira muito negativa. E
que, nos comentários, são revelados sentidos predominantes de uma sociedade ainda ligada a
um forte discurso moral relacionado à religiosidade.
Palavras-chave: Efeitos de sentido. Facebook. Funk.
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DISCURSO DE LIBERDADE DE EXPRESSÃO COMO VONTADE DE VERDADE:
ANÁLISE DE MATERIALIDADES DO FACEBOOK
Hulda Gomides Oliveira
Universidade Federal de São Carlos – CAPES
Vanice Maria de Oliveira Sargentini
Uma série de enunciados sobre o livre expressar-se em democracias tem constituído
historicamente, se vistos como um conjunto, um discurso de liberdade de expressão. Como
discursividade contemporânea, ressaltamos a especificidade de que contamos com a
existência de redes sociais. Por outro lado, como regularidade, vemos que, mesmo em
sistemas governamentais bastante abertos politicamente, desde a ágora até agora, existem
determinações das mais diversas formas e em diferentes espaços que condicionam a “livre
expressão”. Assim, partindo das reflexões de Michel Foucault, consideramos como esse
discurso de liberdade de expressão corresponde a uma vontade de verdade que faz com que os
sujeitos se vejam como livres para falar, ao apresentar-se sob a forma de um saber fortemente
inscrito na ordem das leis, oferecendo matrizes de comportamento para os indivíduos,
possibilitando, por fim, modos de existências para os sujeitos na atualidade. Analisamos,
então, como esse processo de subjetivação atravessa e acaba por objetivar e subjetivar os
sujeitos que se expressam nas redes sociais. Nosso recorte são as mídias virtuais brasileiras e
levamos em conta que para compreender esse sujeito brasileiro que se expressa em uma
democracia ocidental, sustentada por direitos e deveres, é preciso recuperar diferentes
temporalidades que nos ajudam a entender nossa historicidade. Propomos na tese o seguinte
trajeto: na Grécia antiga, com o acontecimento da pólis, as tragédias e os filósofos produziam
dizeres em torno de um “cidadão que podia falar”; na França, com o acontecimento da
Revolução Francesa, a declaração dos direitos dos homens e dos cidadãos, com pretensão
manifestamente universal, legislava que “povo podia falar”; a contemporaneidade, por sua
vez, experimenta o acontecimento da criação das redes socais e, em alguma medida, propaga-
se a ideia de que agora “qualquer um pode falar”. Para este texto, recuperamos alguns desses
pressupostos e trazemos como recorte a análise de materialidades do Facebook.
Palavras-chave: Liberdade de expressão. Discurso. Sujeito.
O ETHOS DISCURSIVO NOS MEMES DO SUJEITO PROFESSOR
Wânia Gomes Mariano Vieira
PMEL – RC
Pretendemos neste trabalho analisar o discurso referente à construção da imagem de si
representada nos memes que têm como tema a profissão docente. O presente estudo é um
recorte de um capítulo da dissertação de mestrado que se encontra em construção. Nesse
trabalho pretendemos desenvolver a noção de ethos efetivo, bem como sua relação com o
ethos pré-discursivo e ethos discursivo para compreendermos o processo de enunciação do
sujeito professor. Por meio do aparato teórico-metodológico da Análise do Discurso de linha
francesa, com ênfase nas reflexões que Maingueneau (2008) desenvolve sobre a noção de
ethos. Para tanto, selecionamos, descrevemos e analisamos um meme do sujeito professor que
norteia a questão do ethos efetivo. É pertinente pensar a questão do ethos como a imagem que
o enunciador projeta de si para convencer seu público-alvo no processo de enunciação, no
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qual se apoia em estereótipos cristalizados no meio social, para efetivar seu discurso e ter uma
eficácia discursiva que capta os co-enunciadores no processo de interação. Os memes
propagados nas redes sociais oportunizam relações dialógicas entre os sujeitos que estão
imersos no contexto tecnológico permitindo uma interação que afeta o sujeito social. Este
trabalho destaca como o ethos nos ajuda a compreender o embate dialógico produzido pelos
memes sobre a identidade do sujeito professor. Traçamos como objetivos analisar o enunciado
verbo-visual de memes sobre o sujeito professor, que se mostra a partir de uma cenografia na
qual as nuances discursivas que o fiador apresenta, quando enuncia, legitima sua maneira de
dizer na compreensão de sua identidade.
Palavras-chave: Identidade. Sujeito professor. Ethos.
OS DISCURSOS POSSÍVEIS EM ENUNCIADOS DAS REVISTAS ÉPOCA (2011) E
ISTO É (2010) SOBRE DILMA ROUSSEFF
Gabriella Cristina Vaz Camargo
PPGEL – Universidade Federal de Goiás/Regional Catalão
A revista Isto é, em maio de 2010, publicou a capa “Dilma por Dilma”, em que abordou
questões relacionadas à vida pessoal da, então, candidata à presidência da república Dilma
Rousseff. E, em maio de 2011, a revista Época publicou a capa “A saúde de Dilma”, se
referindo a problemas de saúde enfrentados por Dilma, que naquele momento exercia o cargo
de Presidenta. Diante disso e a partir da perspectiva teórica proposta do Michel Foucault,
buscamos identificar alguns discursos que emergem a essas capas, como o machista e o
patriarcal, em que Dilma, na primeira capa, é romantizada e possui aparência delicada e
sensível; bem como teorizar acerca da noção de enunciado, de modo a compreender essas
duas capas enquanto enunciados, pois possuem função enunciativa e são enunciados por um
sujeito de um lugar ordenado por regras sócio-históricas. Assim, este trabalho justifica-se por
discutir os discursos possíveis apresentados através dos enunciados em questão e, para o
desenvolvimento das análises, contamos com as contribuições teóricas de Fernandes (2005),
Brandão (2012), Orlandi (2015) e, claro, Foucault (2012). Procuramos por meio deste estudo
trazer contribuições, à luz da teoria foucaultiana, sobre enunciado e também sobre discurso, e
com isso analisar e desconstruir uma imagem atribuída à Dilma desde o início de sua
campanha, que implica em discursos odiosos, machistas e também misóginos. Além de nos
preocuparmos em discutir acerca da falta de neutralidade em ambas as capas das revistas, da
não credibilidade de suas informações e o descompromisso jornalístico que evidencia os
discursos e os posicionamentos políticos ao qual pertencem.
Palavras-chave: Discurso. Enunciado. Capas de revista.
Sessão 2
DISPOSITIVOS DE CONTROLE POLÍTICO: UM ENSAIO SOBRE
A DEPOSIÇÃO DE DILMA
Karol Natasha Lourenço Castanheira
Vinícius Fernandes Ormelesi
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Historicamente, a condição de sujeito político foi sendo alterada a partir de dispositivos de
controle capazes de definir quem poderia ser ou atuar como político. A partir desta
prerrogativa, busca-se refletir acerca dos dispositivos de controle que contribuíram para a
deposição da ex-presidente Dilma Rousseff. Nesse sentido, o trabalho se apropria da obra
Genealogia do Poder, de Foucault, como um respaldo teórico-metodológico de análise capaz
de contribuir para a interpretação da operacionalização das condições em que se dá o sujeito
político no seu contexto histórico. O judiciário, a mídia, os partidos políticos e o sistema
empresarial se constituem, nessa análise, como mecanismos disciplinadores e até mesmo
punitivos que visam à manutenção do poder, porém a título desse artigo serão analisados
apenas o judiciário e a mídia. O corpus da análise discursiva se baseia no ativismo judicial
midiático com o vazamento das conversas entre Lula e Dilma e nas midiatizações misóginas
no espaço público. No que compete ao protagonismo do judiciário, conclui-se que a ideia da
inércia da jurisdição é fruto de uma ideologia liberal que se instala no século XIX na
concepção do Judiciário enquanto órgão estatal. Hoje, tal perspectiva tem sido mitigada com
as crescentes demandas de acesso à Justiça pela sociedade que leva à judicialização das
políticas públicas. Por outro lado, o Judiciário se despe de sua antiga neutralidade política e
assume definitivamente seu posto nas dinâmicas das relações de poder. O discurso da mídia,
por sua vez, enquanto dispositivo de poder contribui para a ressignificação da realidade
imputando a Dilma após a eleição de 2014 a desqualificação do sujeito político, que perpassa
pela condição do sujeito mulher. Portanto, os dispositivos de controle buscam em um
primeiro momento disciplinar a ex-presidente deposta e, a partir da inviabilidade de
mudanças, castra de forma punitiva a sua condição de sujeito político.
Palavras-chave: Dispositivos de controle. Impeachment. Dilma Rousseff.
DITOS E NÃO DITOS SOBRE A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR
Daniel José Rocha Fonseca
Universidade Federal de Goiás – Regional Jataí
Orientadora: Maria de Lourdes Faria dos Santos Paniago
Este trabalho tem como objetivo específico cotejar diversos ditos e não ditos acerca da Base
Nacional Comum Curricular (BNCC). A metodologia foi baseada no levantamento e na coleta
de dados bibliográficos e documentais, com pesquisa em livros, artigos de periódicos, teses e
dissertações, e usando como abordagem teórico-metodológica particularmente construtos
teóricos propostos por Michel Foucault. Interessada em analisar diversas práticas discursivas
e não discursivas que culminaram no surgimento, na defesa e na elaboração da BNCC, a
pesquisa faz uma contextualização sobre a história da educação brasileira envolvendo os
percalços da formação e transformação do objeto infância enquanto discurso produzido no
Brasil. Entendendo que o lugar da infância no Brasil nem sempre foi o mesmo, o estudo se
atenta aos trajetos de significações incutidos no campo da escolarização nacional. O Estado
brasileiro, em especial no início do Brasil República, impulsionado para garantir e promover
direitos, deveres e status para a criança na sociedade, apostou seu poder numa governança
infantil fundamentada por dispositivos científicos. Esse procedimento político não somente
legitimou uma nova forma de se fazer pedagogia no país, mas, também, condensou práticas
constituintes de saberes que até então não tinham espaço para transitar no ambiente escolar
brasileiro. A educação, receptiva a essa possibilidade, em fronteira e contato com outros
conhecimentos, como a medicina, a psicologia, a biologia e o direito, passou a
instrumentalizar ações disciplinadoras e normativas nas escolas. E o Estado brasileiro, na
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tentativa de produzir uma pedagogia moderna no início do século XX, efetivou uma
intervenção higienista no corpo populacional infantil. Isto posto, em consonância com os
desdobramentos dessa formação discursiva que ainda se reivindica no saber e poder da
atualidade, a pesquisa questiona até que ponto a BNCC não encerra em seus ditos e não ditos
práticas higienizadoras de escolarização.
Palavras-chave: Discurso. Infância. Governamento.
DISCURSO E ENSINO: UMA ANÁLISE ACERCA DO DISCURSO
GOVERNAMENTAL EM RELAÇÃO ÀS REFORMAS DO ENSINO MÉDIO
Rafaela Rodrigues Fernandes
UFG / Regional Catalão
Prof.a Dr.a Erislane Rodrigues Ribeiro (Orientadora)
Este presente trabalho tem como objetivo fazer a análise de uma propaganda desenvolvida
pelo Ministério da Educação do Governo Federal com base nos pressupostos teóricos da
Análise do Discurso de linha francesa apresentados pelo autor Michel Pêcheux. Segundo o
MEC, a propaganda tem o intuito de informar a população acerca do novo ensino médio
aprovado em fevereiro de 2017 e suas principais implicações. A propaganda vem sendo
exibida em todos os veículos midiáticos, sobretudo nas emissoras de televisão. Após a escolha
do corpus, realizou-se uma análise baseando-se nos conceitos de sujeito, condições de
produção, interdiscurso e memórias discursivas, formulados pelo autor para realizar a análise
do discurso presente no vídeo. Deste modo, este estudo se concretizou através de uma
pesquisa bibliográfica, abarcando discussões relativas aos conceitos abordados pela AD, bem
como da realização de análise do corpus selecionado. Para a pesquisa bibliográfica, lançou-se
mão de referenciais teóricos, tais como Pêcheux (1995), Magalhães (2004), Orlandi (2006),
entre outros, para dar notada atenção aos conceitos supracitados e também para compreender
como se constrói um discurso publicitário. A partir da análise realizada foi possível observar
certos efeitos de sentido produzidos que possibilitam compreender a forma como o governo
vê a educação atualmente. Por meio desta pesquisa pudemos também chegar à conclusão de
que a Análise do Discurso de linha francesa tem uma enorme contribuição nas análises de
corpus que diariamente circulam nas mídias. É a partir dela que podemos considerar de forma
efetiva a historicidade dos fatos que circulam diariamente, observando os discursos presentes
em cada um.
Palavras-chave: Discurso. Ensino. Análise do Discurso.
CONCEITOS “TABUS” NA ESCOLA E SEUS LIMITES
Sirlene Cíntia Alferes Lopes
IFG – Câmpus Jataí/LEDIF – UFU
A relevância de problematizações tangenciáveis a conceitos “tabus” na sociedade (sempre)
surge em contexto(s) de sala de aula, ora por demanda própria, por meio de solicitação direta
do(s) discente(s), ora por uma necessidade analisada pelo docente, principalmente quando se
leciona língua portuguesa para adolescentes e se pretende fazer um trabalho reflexivo sobre o
corpo social. Na oportunidade, levando-se em consideração a noção de enunciado postulada
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por Foucault em A arqueologia do saber, compreendido como “a unidade elementar do
discurso” (FOUCAULT, [1969] 2004, p. 90), visa-se analisar recortes de produções textuais
de alunos do primeiro ano do ensino médio técnico. Salienta-se que foram propostos debates
sobre “A sexualidade na escola” no início do primeiro semestre letivo, com duração de cerca
de um mês, e posterior produção textual sobre “a necessidade ou a não necessidade de se
implementar a orientação sexual como tema na escola”, ponto de discussão levantado no
artigo “Sexualidade e escola: um espaço de intervenção” (BERALDO, 2003). Por
coincidência, devido à conjuntura recente sobre a performance do artista Wagner Schwartz no
Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), abriu-se espaço para a problematização “O nu
na arte e os limites sociais” neste semestre. Foram destinadas aulas para exposição do
problema, apresentação de artigos publicados em jornais e revistas eletrônicos, organização
das ideias para a produção e primeira versão do texto. Após, os alunos reescreverão a redação.
Além de analisar discursos e limites sociais que emergem a partir dos enunciados recortados,
pretende-se problematizar o(s) sujeito(s) que das produções emergem, uma vez que o sujeito
não fala pelo discurso, posto que não tem controle sobre o que diz, mas é falado pelo discurso,
pois é a partir do discurso que é possível tecer considerações sobre aspectos sociais, históricos
e culturais, os quais determinam o sujeito e estão em constante transformação.
Palavras-chave: Sexualidade. Arte. Escola.
O DISCURSO POLÍTICO ELEITORAL NA CAMPANHA DE 2014: A
DISPUTA DOS SENTIDOS DE FRANQUEZA, AGRESSIVIDADE E
VERDADE NO FACEBOOK
Geovana Chiari
UFSCar
Prof.a Dr.a Vanice Maria Oliveira Sargentini
Neste trabalho, trataremos da produção dos efeitos de agressividade na campanha eleitoral de
2014, buscando compreender suas condições de emergência nas redes sociais, de modo a
evidenciar os elementos que propiciariam determinados níveis e formas do dizer agressivo,
analisando, assim, as condições de produção que nos permitem observar uma mudança do que
se compreendeu como insulto, agressão na referida campanha. Para tanto, apresentaremos
algumas considerações da dissertação de mestrado intitulada “Entre insultos e falsas
harmonias: a construção dos efeitos de agressividade no discurso político eleitoral na
campanha de 2014”, trabalho que desenvolvemos no período de 2015 a 2016. Tal estudo
constatou que a distribuição do discurso político agressivo relaciona-se de forma direta com
as formas e a intensidade da agressividade. Procuraremos pensar o dito agressivo sob uma
perspectiva discursiva, amparando-nos na teoria da Análise do Discurso, particularmente nos
estudos de Michel Foucault, o qual nos oferecerá ferramentas que nos auxiliarão na
compreensão da constituição dos discursos, bem como das suas emergências, tendo em vista
os rituais e coerções envolvidos na produção de seus efeitos. No trabalho de dissertação
supracitado, constatamos que a agressividade produzida nesses meios é extremamente maior e
mais intensa se comparada aos discursos construídos em outros médiuns, como os debates e
os sites oficiais de campanha. Por que então uma “agressividade descontrolada” parece ocupar
com maior expressividade as redes sociais? Quais são os mecanismos que permitem a
produção dos efeitos de agressividade sem limites e intolerante? Na tentativa de responder a
tais indagações, apresentaremos algumas análises acerca do funcionamento da rede social
“Facebook” em relação às campanhas eleitorais, apoiando-nos nos estudos foucaultianos,
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sobretudo aqueles que se vinculam às noções de verdade, da confissão, da parresia, das
práticas de objetivação e subjetivação.
Palavras-chave: Agressividade. Redes sociais. Campanha eleitoral.
A CULTURA DO ESTUPRO COMO CAMPO DE PROBLEMATIZAÇÃO DA
MANEIRA DE SER E CONDUZIR-SE NA SEXUALIDADE
Juliane de Araújo Gonzaga
UNESP/FCLAr – Araraquara – SP
Orientadora: Prof.a Dr.a Maria do Rosário Gregolin
No presente, o acontecimento da volta do feminismo nas mídias digitais apresenta
singularidades em relação aos feminismos anteriores. Uma delas refere-se ao modo como a
sexualidade é tomada como campo de problematizações da maneira de ser e conduzir-se das
mulheres. Nesse sentido, voltamo-nos para o conceito de cultura do estupro, que retorna nas
redes sociais e é definido pelas feministas como um conjunto de valores que condicionam a
sociedade a interpretar a violência sexual como norma. Em História do Estupro, Vigarello
(1998) aponta que o que se diz sobre estupro está relacionado à existência histórica de
avaliações morais e classificações dos sujeitos segundo suas ações e condutas no domínio da
sexualidade. Exemplos são: [a mulher é culpada pelo estupro] vs. [a mulher é vítima do
estupro]. A partir disso, esta comunicação objetiva problematizar a emergência do conceito de
cultura do estupro nas mídias digitais para: i) compreender como é atualizado pelos discursos
sobre feminismo e ii) verificar se exerce função estratégica na produção de subjetividades.
Para tanto, selecionamos como objeto de análise enunciados produzidos por páginas
feministas – Feminismo Sem Demagogia, Feminismo na Rede, Blogueiras Feministas – que
falam de cultura do estupro e se posicionam em relação ao conceito. A postura de análise
adotada refere-se aos pressupostos da Genealogia da Ética de Michel Foucault (2005; 2006),
desenvolvidos nos volumes II e III da História da Sexualidade. Assim, mobilizamos os
conceitos de ética, moral e cuidado de si para diagnosticarmos como os sujeitos estabelecem
relações consigo diante dos códigos morais e das condições históricas do presente. Nossa
hipótese é a de que o fato de feministas enunciarem o conceito de cultura do estupro, hoje,
exerce função estratégica porque é uma maneira de problematizar valores e códigos de
conduta na sexualidade, produzindo resistências e novas regras para elaboração e governo de
si.
Palavras-chave: Cultura do estupro. Ética. Moral.
Sessão 3
DA FORMAÇÃO DO ENUNCIADO CRIMINOLÓGICO À PRODUÇÃO DOS
CORPOS INFAMES NA VIA DO JORNALISMO POLICIAL:
RESSONÂNCIAS NA ESFERA SÓCIO-JURÍDICA
Renata Celeste
Doutora – UFPE / Professora da Faculdade Damas
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A pesquisa teve como ponto de partida uma análise do circuito criminal à luz da filosofia
foucaultiana. A trajetória do texto buscou identificar a produção de “corpos infames” nas
estruturas de saber-poder criminológicos. Nessa ordem, o problema enfrentado no trabalho
consiste na observação do processo de formação do “enunciado de poder criminológico” a
partir das narrativas do jornalismo policial. O par “enunciado-enunciações” reflete um aspecto
relevante na circularidade dos poderes, sendo um campo vasto de observação do
contemporâneo, pois a ampliação da inserção da mídia e o aparato das redes sociais
favorecem o dinamismo de formação e deformação dos enunciados. Por sua vez, o dispositivo
jurídico que funciona a partir da transmissão de enunciados legais é igualmente atingido pelos
enunciados midiáticos, essa equação posta no ambiente criminal pode ser responsável pela
produção do padrão de estigma dos “corpos infames” e modelos de verdades, este último com
aptidão de fazer circular uma máquina de condenações. Assim, pretendeu-se responder ao
seguinte: a. O modo e o como da veiculação das notícias nos jornais policiais formam um
enunciado de saber-poder criminológico? b. As enunciações de saber-poder criminológico do
jornalismo policial produzem “corpos infames” e refletem no dispositivo jurídico? Em termos
metodológicos, o trabalho pertence ao gênero teórico com objetivo descritivo. Os resultados
foram obtidos através de pesquisa bibliográfica e observação de jornais policiais privilegiando
o cruzamento de saberes sócio-jurídicos. A abordagem escolhida foi qualitativa com
utilização multi-método, pois os conceitos teóricos foram trabalhados a partir de observação,
descrição e a análise foucaultiana do discurso contido nos programas policiais, como “Bronca
Pesada”, “Brasil Urgente”, “Cidade Alerta”. Preliminarmente, é possível verificar a formação
do enunciado e proliferação das enunciações criminológicas no jornalismo policial, assim
como identificar um conjunto de elementos direcionados à produção das subjetividades
infames e na sequência problematizar os reflexos no discurso jurídico.
Palavras-chave: Enunciado. Jornalismo policial. Corpos infames.
DISCURSO E ARGUMENTAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A
REPRESENTATIVIDADE DO SUJEITO “JULIANO VP”
EM ABUSADO DE CACO BARCELLOS
Martha Tereza Santos Silva
UFG / Regional Catalão
As relações sociais constituem a sociedade e nela as relações de poder integram os sujeitos.
Estas relações podem ser da ordem da luta, pelo poder e pelo próprio discurso, uma vez que as
estratégias presentes no discurso político, regido por estratégias discursivas e argumentativas,
por exemplo, podem controlar os sujeitos em suas ações e dizeres. Essa pesquisa terá
fundamentação teórica na Análise do Discurso de linha francesa, à luz da teoria de Michel
Foucault, que traz considerações importantes para a essa discussão. Buscando algumas
reflexões sobre as estratégias de argumentação no discurso de Juliano e a produção de
subjetividade, essa pesquisa partirá do livro-reportagem Abusado: O dono do Morro Dona
Marta (2004), do jornalista Caco Barcellos. Abusado (2004) narra a trajetória do traficante de
drogas Juliano VP, codinome de Marcinho VP. Além de todos os confrontos, mortes e
prisões, o autor explicita, também, o cotidiano e as necessidades dos moradores da favela
Santa Marta. Objetivamos analisar o discurso, de certa forma político, do personagem Juliano
sobre o seu grupo e observar as relações de poder que constituem esses sujeitos. O corpus
desse trabalho é constituído por enunciados de uma entrevista dada por Juliano a alguns
jornalistas e do seu discurso no processo de gravação de um videoclipe do cantor Michael
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Jackson no morro. Durante a análise, pudemos observar que esses acontecimentos revelam
um posicionamento diferenciado do chefe do morro, desconstruindo o estereótipo do bandido
perigoso e indiferente. A princípio, Juliano desvela uma consciência social e política que rege
o seu comando sobre a organização e o faz pensar na sua prática social, evidenciando a sua
representatividade.
Palavras-chave: Discurso. Sujeito. Subjetividade.
TELEJORNALISMO POLICIAL E JULGAMENTO VIRTUAL: A PRODUÇÃO
TELEVISIVA DA DELINQUÊNCIA
Marco Antônio Arantes
Universidade Estadual do Oeste do Paraná/UNIOESTE/Campus de Toledo
Este artigo analisa o telejornalismo policial, a partir dos programas Balanço Geral (Rede
Record), Brasil Urgente (TV Bandeirantes) e Cidade Alerta (Rede Record), ancorado na
perspectiva foucaultiana sobre a construção da delinquência e o discurso normativo de
abordagem punitiva propagado por esses programas. Esses programas de TV exemplificam o
esforço da imprensa no Brasil em se constituir como Quarto Poder, fiscalizando e se
colocando como mediadora de conflitos entre poderes, e até se arrogando da capacidade de
definir pendências sociais, provocando conflitos entre a imprensa e o judiciário. Entretanto, os
programas incidem numa lógica de vigilantismo e numa regulação normativa dos atos e
condutas, hierarquizando-os em termos de valor e capacidade dos indivíduos. Eles aceleram e
intensificam a segregação punitiva e o uso político da delinquência, tendo como contrapartida
a exposição e a exploração dos sentimentos da vítima em circuitos políticos e midiáticos. O
Telejornalismo Policial estimula estereótipos criminais, a seletividade social e a disseminação
de discursos sobre a criminalidade, produzidos sem análises técnicas, sem concessão do
direito de defesa e sem, ao menos, admitir a hipótese de dúvida razoável nos julgamentos
virtuais que pressionam o Judiciário. Afinal, é possível verificar o uso político do delinquente,
ao promover forte adjetivação e julgamento prévio dos suspeitos, ao concentrar a cobertura
em determinadas regiões das cidades, estigmatizando grupos como classes perigosas e
propondo saídas simplistas para combater a violência. Na maioria dos casos, a punição dos
criminosos é vista como uma emergência do Estado, com um enfoque explícito nas
consequências do crime e não nas causas que conduzem à criminalidade.
Palavras-chave: Delinquência. Violência. Telejornalismo policial.
MÍDIA RACISTA? EFEITOS DE SENTIDO EM TÍTULOS DE MATÉRIAS
JORNALÍSTICAS SOBRE O TRÁFICO DE DROGAS
Amanda Pereira de Sousa Franco
Yure Viana da Silva
UAELL/RC/UFG
Prof.ª Dr.ª Erislane Rodrigues Ribeiro (Orientadora)
Nos últimos anos, especialmente no ano de 2015, foi bastante recorrente o discurso segundo o
qual a mídia seria racista, no que se refere a como ela noticia os crimes cometidos por pessoas
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negras em contraste a crimes cometidos por pessoas brancas no Brasil. Para legitimar este
discurso, certos sujeitos colocaram em pauta a negligência que teria sido cometido pela
mesma, como instrumento de denúncia social, no caso de Rafael Braga, um jovem negro que
foi condenado a 11 anos de prisão por portar 0,6 gramas de maconha. Em comparação ao
caso, foi considerada estapafúrdia a omissão da mídia por ter noticiado poucas vezes o caso
de Breno Fernando Solo Borges, filho de uma desembargadora, branco, que foi detido por
portar 130 quilos de maconha e centenas de munições de fuzil, além de uma pistola nove
milímetros, e que permaneceu por pouco mais de três meses em detenção em uma
penitenciária em Três Lagoas (MG). Deste modo, o objetivo deste trabalho é analisar os
efeitos de sentido produzidos por títulos de matérias jornalísticas publicadas no Brasil no que
se refere a crimes de tráfico de drogas cometidos por pessoas negras, em contraste com
aqueles cometidos por pessoas brancas. A pesquisa fundamenta-se na Análise de Discurso de
Linha Francesa (AD), uma disciplina que visa à interpretação do texto, e opera com conceitos
como: discurso, sujeito, efeito de sentido, ideologia, condições de produção, dentre outros.
Com as análises dos títulos, fica evidente que há uma diferença no modo como a mídia refere-
se aos negros e aos brancos envolvidos em crimes relacionados ao tráfico de drogas, ao dirigir
um olhar quase sempre implacável sobre os primeiros e, em geral, bastante condescendente
sobre os segundos.
Palavras-chave: Sentidos. Mídia. Racismo.
O DISCURSO POLÍTICO BRASILEIRO EM DEBATE: UMA ANÁLISE DOS
DEBATES ELEITORAIS PRESIDENCIAIS NO BRASIL
Livia Maria Falconi Pires
Centro Universitário Central Paulista – UNICEP
Na esteira dos estudos atuais sobre as mutações sofridas no modo de produção e circulação do
discurso político e considerando que os locais de pronunciamento, como a ágora clássica e a
tribuna medieval, interferiram na constituição da fala pública e a modificaram, voltamos
nosso olhar para as disposições dos debates político-eleitorais de segundo turno para a
Presidência da República do Brasil, os quais podem nos demonstrar a constituição do discurso
político presidencial eleitoral. Apesar de sua cuidadosa construção, fortemente evidenciada na
arquitetura dessa mise-en-scène eleitoral, é no debate televisivo que os candidatos se expõem
e falam de maneira mais direta aos eleitores. Devido ao aparato audiovisual, não podemos
mais dissociar o verbo do corpo que, na atualidade, é essencial para a política, principalmente
no momento de campanha eleitoral; assim sendo, o debate eleitoral presidencial é aparato
fortalecedor do entrelaçamento de verbo e imagem. Nesse caminho, debruçamo-nos nas
análises da constituição do sujeito político eleitoral, juntamente com as mutações do gênero
debate televisivo, voltando-nos aos debates de segundo turno de pleitos presidenciais a partir
da redemocratização (1989) até a atualidade (2014), focalizando categorias como “a
arquitetura do debate”, “o rosto”, “a silhueta” e “o verbo”. Para tanto, pautamo-nos em
reflexões sobre os estudos da Análise do Discurso de matriz francesa, os quais levam em
conta o enunciado sincrético em sua densidade histórica, bem como os estudos da fala
pública. Amparando-nos nas contribuições de Jean-Jacques Courtine e no pensamento de
Michel Foucault, buscando compreender a importância de se estudar os discursos em sua
articulação com a história, a partir de suas descontinuidades.
Palavras-chave: Discurso político. Debate televisivo. Dispositivo.
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ENTRE O MARGINAL E O SOCIAL: A EXCLUSÃO QUE RONDA PIVETE
Maria Irenilce Rodrigues Barros
Universidade Federal do Tocantins
Inscrevendo-se no lugar da Análise do Discurso francesa, para tanto, adotando o viés teórico-
metodológico orientado por essa disciplina e à lente de Michel Foucault, este estudo propõe
fazer análise da canção Pivete, composta por Chico Buarque e Francis Hime. Essa
materialidade mostra a saga de um menino de/da rua que não só vendia chicletes para
sobreviver, como também limpava os para-brisas dos carros nos semáforos, deflagrando os
infortúnios vividos por ele na batalha de seu cotidiano. Os espaços por onde ele transita
tornam-se determinantes para a constituição de sua identidade, visto que, além deles
demarcarem a sua condição social, ainda o associam à marginalidade. Isso mostra a categoria
de miséria em que o menino é colocado e esta subjuga-o a uma fixidez socioeconômica
imposta, determinada e definida pela sociedade juntamente com o Estado, ambos
encurralando-o em uma relação de poder a qual o suprime. Sob essa perspectiva, pode-se
avaliar que “[...] o poder disciplinar não destrói o indivíduo; ao contrário, o fabrica. O
indivíduo não é o outro do poder, realidade exterior, por ele anulado; é um de seus mais
importantes efeitos” (FOUCAULT, 2014, p. 23). Como o sujeito se encontra preso às relações
de produção e de significação, certamente está intrincado nas relações de poder (FONSECA,
2011). Assim, observa-se que Pivete está preso ao espaço onde circula, a rua, tornando-se
ambos intrínsecos, além de apontarem para a exterioridade. Já que a sociedade só lhe deu uma
opção, que foi o excluir do acesso aos seus direitos, o garoto transa chiclete, descola uma
bereta, pois, na verdade, ele se chama Pivete e zanza na sarjeta. É nesse campo de batalha
que a constituição desse sujeito, transvestido de tantos outros, se integra à luta contra o poder
que o oprime, para, assim, resistir ao sistema que o exclui e renega.
Palavras-chave: Exclusão social. Sujeito discursivo. Heterotopia.
Sessão 4
CORPOS HETEROTÓPICOS OU O LUGAR DAS PERSONAGENS EM
VAN HELSING: O CAÇADOR DE MONSTROS
Alisson Cardoso da Silva
O presente trabalho tem por objetivo analisar o comportamento dos corpos-espaços das
personagens no filme Van Helsing: o caçador de monstros, bem como os efeitos por eles
produzidos. O filme pode ser classificado como pertencente ao gênero fantástico puro,
segundo a conceituação feita por Todorov e, através das transformações dos corpos das
personagens (lobisomens e vampiros), podemos vislumbrar o posicionamento ocupado por
cada uma na narrativa. Personagens humanas ou mais ou menos humanas inserem-se no
mundo do sobrenatural de maneira agonizante, dolorosa, nada tranquila em todo o caso; sua
transição do mundo natural ao metafísico é perpassada por uma desconfiguração corporal
marcada pela dor, fato que não se observa em personagens não pertencentes ao mundo
empírico, como os vampiros que deixaram o plano real no momento de sua morte. Além das
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noções de fantástico, nosso estudo pauta-se no conceito de heterotopia e utopia apontadas por
Michel Foucault. Segundo o autor, há diferentes espaços de que se formam a sociedade;
regiões distintas, variadas e, dentre todos estes espaços, há outros absolutamente distintos,
espaços que se opõem aos demais, espécie de contraespaços, destinados a inverter, apagar,
neutralizar ou purificar os demais. São estes espaços de dois grandes modos: as utopias e as
heterotopias. As utopias, segundo o filósofo, são os espaços irreais que apresentam a
sociedade de uma forma aperfeiçoada e por apresentarem-se lineares, confortáveis, nos
acomodam. As utopias são, por exemplo, os espaços das fábulas. Já as heterotopias, de acordo
com Foucault (2009), são os espaços que incomodam, inquietam por serem pluriformes; por
se justaporem e ocuparem vários posicionamentos, em si, incompatíveis. São sítios, estes, que
estão fora de todos os lugares ainda que, efetivamente, sejam localizados. Espaços
absolutamente, definitivamente, outros. Assim sendo, os corpos-espaços na narrativa
apresentam-se heterotópicos em razão de suas movências, sua descentralização.
Palavras-chave: Van Helsin. Fantástico. Corpo-espaço.
JOGOS DE PODERES NO MUNDO DA TERRA-MÉDIA
A PARTIR DO “UM ANEL” E SEUS PORTADORES
Me. Francisco de Assis Ferreira Melo UFG – RC
Prof. Dr. Alexander Meireles da Silva
Na obra O Senhor dos Anéis (2001), de J. R. R. Tolkien, pensaremos a literatura fantástica
que traz em si contornos do Gótico, observando jogos de poder que circulam entre os
personagens, buscando pelo texto, sua época de produção, suas falas, memórias, discursos
ditos e interditos emergindo de sua operacionalidade. Por meio de uma metodologia
comparativa, analisaremos alguns aspectos das relações de poderes que ocorrem entre os
personagens Gollum, Bilbo e Frodo em relação ao “Um Anel” de maneira simbiótica,
cindindo esses sujeitos em mais de uma representação. Identificaremos os processos de
imbricamentos de relações de poder numa rede em que um tenta manter o controle
determinando as ações do outro, além de provocar o apagamento desse outro, enquanto
sujeito. A posse do “Um Anel” por parte de Frodo veio de um ato de desligamento iniciado
por Bilbo, seu tio, ao deixar o Condado, para seguir outro caminho. Anteriormente detinha o
poder em si e agora é o sujeito subjugado pela vontade e poder emergido do “Um Anel”, a
exemplo da subjetivação apontada por Foucault (2013). Esse poder coloca as relações entre
indivíduos e grupos sociais em jogo, gerando conflitos movidos pelo medo quanto às leis, às
instituições e aos discursos que formam os sujeitos envolvidos. É a partir desses jogos de
poderes que os discursos exprimem uma memória coletiva na qual os sujeitos estão inscritos,
refletindo o desconforto das memórias individuais e sociais que os perpassam e os seguem.
Como embasamento teórico justificando o Fantástico, o Gótico, o medo e as relações de
poder, respectivamente, usaremos Todorov (2008), Vax (1972), Roas (2014) e Foucault
(2013).
Palavras-chave: Poder. Fantástico. Subjetivação.
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“DANÇARINO DO DESERTO” E A RESISTÊNCIA ATRAVÉS DO CORPO
Giovanna Diniz dos Santos
PPGEL/UFG
Prof.ª Dr.ª Grenissa Bonvino Stafuzza
Este artigo busca analisar o filme “Dançarino do Deserto”, de 2014, à luz do pensamento de
Michel Foucault, em especial, as categorias de dizer-verdadeiro, ou parresía, e discurso
estudadas por ele. O filme, que conta a história real do dançarino iraniano Afshin Ghaffarian,
mostra a censura imposta pelo governo de Mahmoud Ahmadinejad, que proíbe os iranianos
de dançarem em público e regula outras liberdades individuais no país. A trajetória de Afshin
durante o filme mostra sua resistência ao governo e às práticas impostas por ele, através da
criação de um grupo de dança clandestino. A análise do filme buscou compreender como a
coreografia do protagonista – bem como as outras práticas mostradas durante o filme, que
completam sua posição em relação ao regime iraniano – podem ser entendidas como atos de
discurso, práticas do dizer-verdadeiro. Foucault analisa os diferentes discursos de verdade que
se instauram pela história e seus efeitos éticos e políticos, estudando o conceito de parresía
como uma possibilidade de crítica às instituições e modos de ser vigentes na Modernidade.
Neste artigo a dança foi analisada como prática discursiva que desafia o regime de censura,
como uma forma de mostrar a liberdade e coragem do sujeito em face de outros discursos e
práticas que determinam o contrário, como é o caso do governo de Ahmadinejad. O sujeito
dessa prática se impõe, assume riscos, na estrutura rígida de controle de corpos e discursos
desse governo, ele desafia o imposto para formar novas formas de resistência que irão gerar
impacto na vida do seu grupo e além, que irão trazer esperança para os que ficam.
Palavras-chave: Resistência. Parresía. Discurso.
O CORPO EM ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA DE JOSÉ SARAMAGO: ENTRE A
VIGILÂNCIA E A SEGREGAÇÃO
Karina Luiza de Freitas Assunção
UEMG/Frutal – PPGEL/UFG
Em nossa análise, tomamos emprestados alguns fragmentos da obra Ensaio sobre a cegueira
(2008), que trazem à tona algumas situações de vigilância e controle dos corpos que são
relevantes para refletirmos sobre o momento histórico que vivenciamos. Atualmente
observamos que o corpo é constantemente vigiado, isso ocorre tanto em espaços públicos
como também em privados. Essa vigilância é constituída por intermédio de relações de poder
que sempre estiveram presentes, entretanto, nem sempre damos a devida atenção para essa
problemática. A partir das análises efetuadas, podemos concluir que o poder disciplinar do
panóptico descrito por Foucault (2007) faz parte de nossas vidas, pois percebemos que
passamos por situações que têm como objetivo adestrar e aumentar a utilidade dos sujeitos
através de técnicas sutis instituídas constituídas por intermédio da vigilância constante de seus
corpos. Os fragmentos analisados apresentam algumas situações ainda não vivenciadas que
perpassam a vigilância constante e a segregação dos corpos, entretanto, elas ajudam a
vislumbrar e problematizar outras que, em muitos momentos, não são consideradas relações
de poder, mas que, ao atentarmos para alguns detalhes, perceberemos que são permeadas por
elas. Muitos dos dispositivos de poder adotados na proteção, ou mesmo em momentos de
descontração, já foram e ainda são usados em outras situações com sentidos díspares aos
34
encontrados nas primeiras. Dessa forma, notamos que na contemporaneidade não há uma
mudança na constituição das relações de poder, o que temos é a transposição de algumas
técnicas, como observamos na análise, que antes e ainda são utilizadas com o objetivo de
vigiar quem tivesse cometido um crime, para a vigilância do sujeito comum nas diversas
situações vivenciadas no seu cotidiano e, concomitante a essa observação, temos também a
inserção de novos mecanismos, no caso as novas tecnologias, que também são utilizadas na
constituição de sujeitos dóceis, ou seja, corpos dóceis.
Palavras-chave: Poder. Sujeito. Corpo.
O CORPO DO ASSASSINO EM SÉRIE EM EVIDÊNCIA: DISCURSO DO FASCÍNIO
E PRÁTICAS NA MÍDIA BRASILEIRA
Prof.ª Dnda. Glaucia Mirian Silva Vaz
Seduce-GO/Unesp/CNPq
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria do Rosário Gregolin
Assassinos em série, objeto especialmente das ciências forenses, são populares no
entretenimento de massa e na imprensa. De romances, capas de revistas, filmes,
documentários a séries televisivas, esse sujeito é acompanhado, de forma recorrente, de uma
esfera de fascínio. A comunicação de pesquisa a que se refere este resumo trata de uma das
análises que compõem a tese de doutoramento intitulada Microdiagrama do fascínio por
assassinos em série, cujo objetivo geral é interpretar, em termos de discurso, tal fascínio por
assassinos em série na contemporaneidade, isto é, traçar um mapa das relações de força que
definem práticas e formam sistematicamente um regime de enunciados que constituem
historicamente o fascínio como discurso. As análises partem do delineamento de um arquivo
(na concepção arqueológica foucaultiana) para compreender o funcionamento discursivo do
fascínio. Considerando a heterogeneidade e a sistematicidade do arquivo, o procedimento
basilar que sustenta as análises está na busca da regularidade em que se apoiam os enunciados
que formam o discurso do fascínio e que emergem de campos discursivos distintos, como a
ciência forense, a mídia jornalística e as franquias culturais. O discurso, nesse sentido, é
compreendido como prática que integra determinados dispositivos e aciona a subjetivação dos
sujeitos. Esta abordagem se pauta na Análise de Discurso francesa com a perspectiva
arqueogenealógica de Michel Foucault. Pontualmente, na comunicação proposta, abordarei o
modo como o sujeito-leitor se posiciona em sujeito-admirador do assassino em série
espetacularizado em determinados meios de comunicação a partir da exposição do corpo do
criminoso no caso Serial Killer de Goiânia, de 2014. Dentre elementos semiológicos como
enquadramentos e materialidades verbais, evidenciarei como o fascínio por assassinos em
série se constitui em práticas como a cobertura fotográfica jornalística, elaborando o
criminoso que não apenas deveria ser capturado, mas também observado e estudado
detalhadamente, enfim, colocado como objeto de interesse.
Palavras-chave: Assassinos em série. Discurso. Mídia.
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O CORPO COMO UM ASPECTO DO DISPOSITIVO DE SEGURANÇA
Jaquelinne Alves Fernandes
Professora UEG – Campus de Pires do Rio; doutoranda no Programa de Pós-Graduação em
Letras e Linguística – Faculdade de Letras – Universidade Federal de Goiás (UFG)
Orientadora: Maria de Lourdes Faria dos Santos Paniago
Nesse estudo, ocupar-nos-emos da observação do corpo – emergindo de imagens em
movimento recortadas dos corpora – como suporte discursivo, que atua para o exercício de
poder, resistência e liberdade; portanto, como acontecimento e memória, inseridos em uma
rede discursiva que faz emergir a história. Nesse sentido, pensar o corpo pressupõe uma
arqueologia dos discursos e uma genealogia dos poderes e saberes que deles emergem, o que
propicia o estudo do funcionamento do dispositivo de segurança, utilizando-o como
instrumento de análise. O corpo é, nessa perspectiva, materialidade discursiva produzida,
modificada e reconfigurada por práticas subjetivas, portanto está no centro das relações entre
sujeito, discurso e instituições, constituindo a história, a partir das posições que ocupa. O
corpo é, indiscutivelmente, social e histórico. Pensando nisso, trataremos dos embates e
duelos de um corpo com outros corpos, para compreender e explicitar os mecanismos
históricos de continuidades e rupturas vivenciados por esse corpo em sua constituição
enquanto suporte discursivo, dentro da materialidade cinematográfica. Tomaremos o corpo
como uma superfície para o exercício de relações de poder, “caminho” para a subjetivação,
uma vez que as relações sociais e culturais são impressas no corpo. Ao tratar o corpo como
caminho para a subjetivação, levamos em conta que as práticas de subjetivação, conforme
Foucault (1995, p. 236), “transformaram os seres humanos em sujeito”, pois é a partir desses
processos que “o sujeito estabelece relações sobre as coisas, sobre a ação dos outros e sobre
si” (GREGOLIN, 2007, p. 9). Para tal, ocupar-nos-emos em observar o corpo como suporte
discursivo, constituído por uma rede de poderes e saberes e atuando como um aspecto
fundamental para o funcionamento do dispositivo de segurança.
Palavras-chave: Corpo. Dispositivo. Poderes/Saberes.
Sessão 5
O PAPEL DA RELAÇÃO PROFESSOR/OBJETO E SABER/MÉTODO NO
PROCESSO DE TOMADA DA PALAVRA EM LÍNGUA INGLESA
Mariá Prado Walmiro
PPGEL – UFU/CAPES
Prof.ª Dr.ª Carla Nunes Vieira Tavares
Esta pesquisa de mestrado, que se encontra em fase inicial, pretende analisar em que medida a
relação do professor com o objeto de saber e o método podem redundar no ensejo da tomada
da palavra em língua inglesa, a partir dos manejos do professor empreendidos em sala de aula
durante atividades ditas comunicativas de uma escola de idiomas da cidade de Uberlândia.
Pretendo problematizar em que medida a relação do professor com o objeto de saber e seu
investimento subjetivo interferem nos efeitos das atividades propostas pelo método de uma
escola de idiomas na qual a pesquisa será realizada, e qual a incidência do método nessa
relação. Acredito que aprender uma língua estrangeira está para além de ter domínio em
quatro habilidades específicas, mas demanda inscrever-se nas discursividades do Outro,
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conhecer a cultura do Outro, falar de si mesmo através da língua do Outro. Minha grande
indagação para essa pesquisa é: até que ponto a relação entre o professor e o objeto de saber,
nesse caso a língua inglesa, se deixa atravessar pela imposição de um método de ensino de
língua estrangeira e quais os efeitos dessa relação para tomada da palavra subjetiva do aluno?
Acredito que será necessário um aprofundamento nos princípios teóricos no campo dos
estudos discursivos atravessados pela psicanálise sobre as contribuições da relação professor e
aluno a partir da imagem que o sujeito coloca de si por meio da materialização de seu dizer
em língua estrangeira, e também a constituição da subjetividade desse aluno no processo de
desenvolvimento da produção oral em língua inglesa. Também pretendo deslocar essa
discussão para a relação do sujeito-língua, com base na Linguística Aplicada atravessada pela
perspectiva discursiva sobre o ensino-aprendizagem de línguas.
Palavras-chave: Subjetividade. Tomada da palavra. Ensino de língua estrangeira.
REPRESENTAÇÕES DISCURSIVAS DOS PROFESSORES FORMADORES EM UM
CURSO DE LETRAS INGLÊS
Marcela Henrique de Freitas
Universidade Federal de Uberlândia – UFU – FAPEMIG
Profa. Dra. Cristiane Carvalho de Paula Brito
Este trabalho objetiva analisar representações discursivas dos professores formadores de
inglês quando enunciam sobre o processo de formar professores e, especificamente: 1)
Delinear representações discursivas dos sujeitos sobre o que é formar um professor de Língua
Inglesa, 2) Analisar e interpretar a interdiscursividade – eixo de sustentação dessas
representações, 3) Confrontar as inscrições discursivas dos sujeitos participantes da pesquisa,
buscando suas regularidades e divergências enunciativas e, finalmente: 4) Problematizar como
essa discursividade pode incidir na prática do professor formador e no processo de formar um
professor de inglês. Parte-se da hipótese de que o(s) professor(es) formador(es), ao
enunciar(em) sobre os processos de formação de professores de Língua Inglesa, tece(m) seus
dizeres a partir da tensão entre a necessidade de ensinar, ao professor em formação, a
materialidade linguística em si e a de ensiná-lo a se constituir um ‘sujeito professor de
língua’. Ancoramo-nos em estudos da área da Linguística Aplicada (LA) em interface com a
Análise do Discurso de Linha Francesa (ADF) e com a Análise Dialógica do Discurso
(ADD). O corpus é composto pelos depoimentos de 06 formadores do curso de Letras de uma
Universidade Federal com base em um roteiro que continha 23 proposições relacionadas à
temática da formação de professores de Língua Inglesa. A coleta e a constituição do corpus
seguiam a proposta AREDA (Análise de Ressonâncias Discursivas em Depoimentos
Abertos). As análises iniciais apontam para dois eixos listados a seguir: Eixo 1 – o formador e
a relação com a Língua Inglesa e Eixo 2 – O formador e a relação com o processo de
formação. Almeja-se, com este trabalho, que a questão da formação de professores de Língua
Inglesa seja (re)problematizada e (re)pensada.
Palavras-chave: Análise do Discurso. Linguística Aplicada. Formação de professores.
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EXISTE PELEUMONIA: UMA ANÁLISE DE DISCURSOS RELATIVOS À LÍNGUA
PORTUGUESA NAS MÍDIAS SOCIAIS
Raquel Costa Guimarães Nascimento
PIBIC – UAELL/RC/UFG
Prof.ª Dr.ª Erislane Rodrigues Ribeiro (Orientadora – UAELL/RC/UFG)
Esta pesquisa, vinculada ao projeto “Da margem ao centro: discurso sobre as minorias nas
mídias sociais”, está em fase inicial, e pretende observar postagens e comentários nas redes
sociais acerca da língua portuguesa falada no Brasil. Parte-se, inicialmente, como corpus a ser
analisado neste estudo, da polêmica ocorrida em 2016, quando um médico do estado de São
Paulo fez uma postagem criticando o uso da variante peleumonia por um paciente e dizendo
que esta palavra não existe; posteriormente, outra médica, em resposta, publicou um texto em
que afirmava que peleumonia existia sim. O objetivo da pesquisa é observar quais discursos
sobre a língua circulam nas mídias sociais, quais as concepções de língua que estão presentes
nestes discursos e quais efeitos de sentido são produzidos a partir desses comentários e
postagens. Essa reflexão se apoiará nos princípios teóricos da Análise do Discurso de linha
francesa (AD), a qual contribui com conceitos referentes ao discurso, sujeito, interdiscurso,
ideologia, entre outros, e possibilita ao pesquisador ir além da análise puramente linguística.
Para isso serão utilizados os estudos realizados por Pêcheux (2011), Maingueneau (2015),
Mussalim (2003), Orlandi (2006) e Possenti (2004), além dos estudos referentes às
concepções de língua na sociedade, bem como os processos sociais e históricos que permeiam
a aquisição do conhecimento linguístico, apontados por Faraco (2002), Britto (1997) e Soares
(2002). A metodologia adotada consistirá na leitura e seleção de postagens que possuam
conteúdo que revele o posicionamento dos sujeitos sobre a língua portuguesa, possibilitando a
análise desses discursos à luz da AD, buscando, com isso, compreender o que os brasileiros
que utilizam as redes sociais pensam sobre a língua portuguesa e, assim, trazer contribuições
para os pesquisadores dos discursos midiáticos sobre a língua.
Palavras-chave: Discursos. Concepção de língua. Redes sociais
MOVIMENTOS DO PROFESSOR SUPERVISOR DO PIBID NA ESCOLA:
UMA CARTOGRAFIA
Jaila Penaforte
Universidade Regional de Blumenau
Esta produção está relacionada à pesquisa intitulada “Movimentos do professor supervisor do
Pibid na escola: uma cartografia” em desenvolvimento no Programa de Pós-graduação em
Educação da Universidade Regional de Blumenau (PPGE-FURB), pertencente à Linha de
Pesquisa: Educação, Cultura e Dinâmicas Sociais, integrada ao grupo de pesquisa Políticas de
Educação na Contemporaneidade, que busca problematizar a produção de subjetividades
docentes no cotidiano escolar. O método para a produção de dados é a cartografia, cujo
instrumento é o diário de campo, composto por registros manuscritos e fotografias. Discutir a
escola é importante para refletir sobre este lugar e quais subjetividades docentes ele produz
atualmente. Considera-se a concepção de escola de Varela e Alvarez-Úria (1992) como uma
maquinaria, um local que tem como função estabelecer a nova ordem social e mental,
instrumentalizando dispositivos que se configuraram a partir da modernidade. Diante disso,
ao olhar o docente na sua relação com esta instituição, emergem questionamentos sobre a
38
constituição destes sujeitos no cotidiano escolar: Que professores têm na escola? Ao
problematizar a subjetividade, em Michel Foucault, quando uma verdade é prescrita e
seguida, o indivíduo é sujeitado. O sujeito moderno ocidental é visto como um produto que
resulta das técnicas de dominação e práticas discursivas. A partir dos escritos de Foucault
(2013) podemos problematizar a instituição escolar como um lócus de produção de
subjetividades e de produção de professores. Diferentes professores se movimentam nas
escolas, práticas distintas dentre elas: de conformismo, mas, também de resistências ativas e
reativas. É sobre essas práticas encontradas que esse trabalho lida.
Palavras-chave: Escola. Processos de subjetivação. Professor.
O CORPO FEMININO NO LIVRO DIDÁTICO DE 9º ANO DE LÍNGUA
PORTUGUESA
Vânia Gomes Cardoso
Universidade Federal de Goiás – UFG - Regional Jataí
Maria de Lourdes Faria dos Santos Paniago
Com embasamento teórico da Análise do Discurso que pode ser depreendida da obra de
Michel Foucault, o presente trabalho, recorte da pesquisa que está sendo desenvolvida no
Mestrado em Educação da UFG/Jataí, ainda em andamento, busca analisar discursos sobre o
corpo feminino presentes no livro didático de Língua Portuguesa do 9º ano do ensino
fundamental “Português e Linguagens”, de Cereja e Magalhães (2012). Busca-se
principalmente compreender os mecanismos de controle do discurso e de fabricação de
verdades relacionadas à produção de identidades e, para isso, serão analisados tanto textos
verbais como imagéticos. Sobre o livro didático de português compreendemos que olhar para
o contexto do processo ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa supõe abrir espaço para a
análise de uma materialidade que resiste à significação. Para Foucault, não se pode dizer
qualquer coisa em qualquer lugar, porque há mecanismos internos e externos ao discurso, os
quais o controlam. E a verdade, para esse filósofo francês, é produzida na complexa relação
que se estabelece entre poder e saber; por isso há, para ele, espaços considerados privilegiados
para a produção de verdades. A ciência e a mídia são bons exemplos desses lugares em que os
discursos são considerados verdadeiros e, por isso, são pouco questionados. Sobre o livro
didático também paira a imagem de que tudo o que ali se encontra é verdadeiro. Daí a
importância de, com o embasamento teórico proposto por Foucault e também com as
reflexões teóricas propostas por Coracini e Gregoletto, analisar os discursos sobre o corpo
feminino presentes no livro didático tomado como corpus deste trabalho, para compreender
de que forma tentam fabricar um determinado tipo de mulher.
Palavras-chave: Discurso. Foucault. Livro didático.
PENSAR A EDUCAÇÃO A PARTIR DE MICHEL FOUCAULT: A INSTITUIÇÃO
DISCIPLINAR E O CUIDADO DE SI
André de Barros Borges
Universidade Federal do Rio de Janeiro
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O presente trabalho pretende mostrar dois modos possíveis de conectar o pensamento de
Michel Foucault com as questões educacionais a partir das obras Vigiar e Punir e História da
Sexualidade. O primeiro modo consiste em compreender a “genealogia do poder”
desenvolvida por Michel Foucault em Vigiar e Punir. Neste livro, Foucault mostra a escola
como uma das tecnologias de poder utilizadas pelo Estado disciplinar e questiona sua
neutralidade. É mostrado de que forma o Estado, a partir do final do século XVII,
proporcionou a modificação da instituição escolar, conferindo a esta um ambiente bem mais
rigoroso do que em épocas anteriores. A escola se torna um instrumento importante para a
produção do “corpo dócil”. Neste sentido vimos uma visão institucional sobre a escola, onde
esta não é mais um campo neutro, como imaginou a modernidade. O segundo modo se refere
à abordagem desenvolvida sobre o cuidado de si, no terceiro volume do livro História da
Sexualidade. Foucault retoma dos gregos antigos o “conhecimento de si mesmo”, que, no
ambiente institucional da educação moderna, foi deixado de lado para priorizar a formatação
do corpo dócil. Foucault resgata o sentido educacional grego, contido na ideia de paideia,
demonstrando assim uma outra perspectiva educacional: a perspectiva do cuidado de si.
Como exemplo, nos mostra que enquanto na era pré-cristã se desenvolveram técnicas de
conhecimento de si baseados na temperança e no autocontrole, no cristianismo há um
afastamento desta problemática. Ao romper com as tradicionais definições de sujeito, a crítica
foucaultiana prepara um novo tipo de relação possível entre a filosofia e a educação, onde a
escola não é um campo neutro e a educação não se afasta da vida.
Palavras-chave: Educação. Poder. Cuidado de si.
Sessão 6
CARTOGRAFIAS DE DISCURSOS CONTRA A CORRUPÇÃO NO BRASIL:
IMAGENS, CONFLITOS E CONTROVÉRSIAS
Maiara Raquel Campos Leal
Mestranda em Sociologia – UFG
Dr.ª Heloisa Dias Bezerra
O objetivo dessa comunicação é apresentar cartografias de discursos contra a corrupção no
Brasil, proliferados por alguns coletivos e indivíduos que se autodeterminam com a bandeira
anticorrupção no país. Exploraremos algumas imagens e enunciados que foram utilizados
durante as mobilizações nas ruas entre 2015 e 2016 ou expressas nas redes sociotécnicas
(online), no intuito de criar e reforçar discursos de verdade, colocando em prática relações de
poder entre os grupos e indivíduos, tendo como pano de fundo o tema do combate à corrupção
no país. O discurso é uma construção social que só pode ser analisado se levarmos em
consideração o seu contexto histórico e social. De acordo com Alfredo Veiga-Neto (2016, p.
89-90), para Michel Foucault, “o discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou
sistemas de dominação, mas aquilo por que, pelo que se luta, o poder do qual queremos
apoderar”. Demonstraremos como esse ativismo é permeado de controvérsias e situações
conflituosas, criando uma tensão permanente entre os grupos, como os que foram contra ou a
favor do impeachment de Dilma Rousseff (PT). A ideia de cartografia que exploraremos vem
dos estudos de Gilles Deleuze e Félix Guattari (1995), sempre em debate com Foucault,
considerado um cartógrafo pelos autores. A metodologia que sugerimos parte das análises
desses autores sobre o rizoma e a ideia de cartografia, que é reformulado por Bruno Latour
(2012), que propõe a cartografia de controvérsias como um método que ajuda compreender
40
fenômenos que envolvem a coletividade, tendo efeito de propagação rizomático, pautado em
incertezas e conflitos, como foi o caso das manifestações contra a corrupção no Brasil e os
efeitos que ela gerou na política brasileira no período analisado.
Palavras-chave: Cartografia. Discursos. Controvérsias.
UM DIÁLOGO COM FREIRE E FOUCAULT SOBRE PODER E SABER
Rosângela Labre de Oliveira
Pontifícia Universidade Católica de Goiás – PUC/GO
Dr. Eduardo Sugizaki
Dr.ª Tatiana Carilly O. Andrade
Este trabalho tem como objeto de sua pesquisa o saber e o poder sob os enfoques de: Michel
Foucault e Paulo Freire. Neste processo reflexivo, a proposta é relacionar as perspectivas
teóricas dos autores, com o objetivo de pensá-las de forma individualizada dentro de um
contexto estrutural de educação. Sob a perspectiva teórica de Foucault, são abordadas
questões como a constituição da sociedade e do sujeito nas relações de poder disciplinar. Sob
a perspectiva de Freire, questões como a analítica de educação libertária. Problematizam-se as
relações sociais e as práticas educacionais da instituição escola, seguindo o pensamento dos
dois autores. Dentro desta perspectiva, são apresentados os processos de sujeição e de
resistência presentes nas relações de poder. Este trabalho buscou pensar filosoficamente a
educação, exprimindo algumas questões sobre as práticas educacionais formativas da
sociedade e do sujeito. O diálogo entre Freire e Foucault sobre poder e saber propõe a
denúncia e luta para a desocultação das verdades. É necessário desvelar, desmistificar, romper
com o pensamento pedagógico oficial de educação e propor um pensamento novo, ousado,
crítico e radical. Pensar com Freire e Foucault o saber/poder é compreender historicamente a
estrutura social, as teorias da educação e refletir, questionar e rever a própria prática
pedagógica para não cair no ciclo vicioso de reprodução e sujeição. Sendo assim, percebe-se a
necessidade de problematizar a contradição discursiva, o conflito e o não conflito, o conservar
e o revolucionar das práticas reprodutoras do sistema educacional. A metodologia utilizada é
um estudo bibliográfico, feito a partir de pesquisas em livros clássicos dos dois autores.
Palavras-chave: Saber. Poder. Resistência.
CONTORNOS CONTEMPORÂNEOS DA BIOÉTICA: UMA ANÁLISE DA ADI 3510
SOB O PRISMA TEÓRICO DO DISCURSO DE PODER DE MICHAEL FOUCAULT
Filipe Melo Carneiro Leão Loreto
Faculdade Damas da Instrução Cristã (FADIC).
Prof.ª Dr.ª Renata Celeste
O presente trabalho avalia se a decisão sede da ADI 3510, a qual permitiu estudos com célula
tronco de embriões inviáveis, seja capaz de ampliar os limites da vida. Na trilha da evolução
médica ocidental, por mais uma vez, os limites da objetificação do corpo humano foram
alargados na busca da melhoria da espécie. Contudo, os argumentos encontrados nos votos
vencedores parecem apontar para estratégias biopolíticas de valorização do corpo do homo
economicus, sendo esse o único grupo da sociedade capaz de usufruir de tal avanço
41
tecnológico. Tem-se, portanto, como objetivo geral deste trabalho a busca da existência de
padrões argumentativos utilizados que apontem o uso de estratégia biopolítica que seja capaz
de ampliar os limites da vida através de uma pesquisa descritiva e bibliográfica. Este trabalho
faz uso de método hipotético-dedutivo; análise dos votos vencedores da ADI 3510; análise da
lei N° 11.105, de 24 de março de 2005; e o suporte teórico do filósofo Michel Foucault, mais
especificamente o uso da análise arqueológica e genealógica, na busca de apontar faceta
pouco explorada no que concerne a decisões jurídicas: controle de corpos. Em um primeiro
momento, aponta-se o que é a vida sob uma perspectiva médico-filosófica. Em seguida, por
meio da análise arqueológica e genealógica, averiguar o uso de discursos como forma de
propagação de poder, que supostamente beneficiará grupo específico de pessoas. Por
derradeiro, analisar se há existência de padrão argumentativo que traga ao mundo jurídico o
fazer viver e deixar morrer resultante da força do biopoder aplicado a toda sociedade:
biopolítica. Por fim, entende-se ser possível que a finalidade do julgamento no STF tenha sido
beneficiar apenas aqueles que terão condições econômicas de fazer uso do avanço tecnológico
oriundo dos novos contornos dados ao corpo embrionário e suas potencialidades.
Palavras-chave: ADIN 3510. Biopolítica. Bioética.
O DISCURSO DE MERITOCRACIA E AS RELAÇÕES DE PODER EM 3%
Tainá Camila dos Santos
Universidade Federal de Goiás – Regional Catalão
Prof. Dr. Bruno Franceschini
3%, de autoria de Pedro Aguilera e produzida pela Netflix Brasil, é uma série nacional que
retrata uma sociedade dividida em dois lados, isto é, o “lado de lá” (dito igualitário e
abundante) e o “lado de cá” (o lado miserável, dito dos que não possuem nada). A primeira
temporada, objeto desta pesquisa, apresenta, na trama, a disputa entre jovens para fazerem
parte dos 3% selecionados pelo Processo, a fim de viverem abundantemente no “lado de lá”.
Pensando na trama e nos elementos sociais apresentados na série, o objetivo deste trabalho,
ainda em andamento, é analisar e identificar os discursos de meritocracia presentes nas falas
das personagens, bem como as práticas de confissão dos sujeitos configurados nos episódios
da primeira temporada. Para tanto, este estudo fundamenta-se na teoria foucaultiana sobre
relações de poder (que segundo o teórico apresentam níveis moleculares de macro e micro
exercício), além dos próprios conceitos do autor acerca das práticas de confissão, discurso e
resistência. Segundo Foucault (1998), a análise do exercício de poder não pode se restringir
“ao centro para a periferia” (análise descendente), pois se deve considerar as relações de
poder exercidas em micro esferas (como entre pessoas do mesmo grupo social). Tal fato pode
ser visto na série, respectivamente nas relações entre as personagens (em muitos casos, de
mesmo grupo social). A metodologia consiste no levantamento bibliográfico necessário para
uma análise contundente e na elaboração de séries enunciativas através das relações de poder
existentes no corpus. Pretende-se, ao desenvolver esta pesquisa, alcançar resultados que
contribuam aos estudos discursivos e aos estudos dos dispositivos de confissão e da
resistência em sujeitos socialmente excluídos. Além disso, procura-se, com este estudo, dar
visibilidade às produções cinematográficas brasileiras, especialmente no que diz sobre
pesquisas que tenham como objeto séries nacionais.
Palavras-chave: Análise do Discurso. Relações de poder. Meritocracia.
42
REFLEXÃO CRÍTICA SOBRE OS DISCURSOS ATUAIS DE VIOLÊNCIA COMO
MANTENEDORES DA ORDEM
Cecília Rodrigues Ribeiro
École de Hautes Études en Sciences Sociales
& Universités Sorbonne Paris Cité, Université Paris – Diderot
Camila Dias
SDF Arquitetura e Engenharia/PUC
O que se discute atualmente no mundo e, em especial, no Brasil, é uma dualidade entre um
conservadorismo extremo de um lado e uma repúdia ao neoliberalismo econômico de outro.
Ambos extremistas e vulgarizados pela banalização mediática e das redes sociais. Mas como
entender esses movimentos para além das preferências a partidos políticos? Como aprofundar
as discussões sobre, por exemplo, a recente demanda da volta da patologia da
homossexualidade? O que ocorre hoje nos meios de comunicação é uma generalização de
termos e de conceitos que abrem as portas para que movimentos extremistas ligados ao
fascismo tenham a possibilidade de emergir. De fato, estes movimentos atuais poderiam ser
perspectivados diferentemente se buscarmos na história das ciências humanas e sociais os
conceitos de poder e os instrumentos de manutenção do mesmo na obra de Michel Foucault.
Evidenciar os limites da filosofia política, das teorias do direito, do marxismo e da psicanálise
tão citados nos primeiros cursos do Collège de France (aliás, onde o debate sobre a guerra e a
repressão são fortemente presentes). Durante essa história alguns instrumentos de exclusão
são inventados: as prisões, as regras de convivência/tolerância/disciplina social e os sujeitos
mantenedores deste sistema. Pode-se destacar a marginalização, o papel do criminoso e do
louco na sociedade e, principalmente, a função da prisão e do hospital psiquiátrico e seus
benefícios morais de mantenedores da ordem. Nesse mesmo contexto, o discurso poderá se
transformar em instrumento de sujeição e de manutenção do poder (o discurso do médico, por
exemplo, que perpetua o poder do conhecimento sobre o indivíduo). Assim, refletiremos
sobre os discursos atuais de ordenamento da sociedade para além do paradigma político, mas
no sentido de entender a governamentalidade e a manutenção do poder e de uma determinada
ordem.
Palavras-chave: Discurso. Governo. Poder.
O NOVO ENSINO MÉDIO: ANÁLISE DO DISCURSO DA LEI Nº 13.415/17 A
PARTIR DE MICHEL FOUCAULT
Amarildo Inácio dos Santos
PPGE – Universidade Regional de Blumenau – FURB
Gicele Maria Cervi
Este artigo apresenta uma análise da Lei nº 13.415/2017 que altera o Ensino Médio. A análise
é feita a partir do método de análise do discurso do filósofo francês Michel Foucault. A
aludida lei tem sua gênese na Medida Provisória 746 de 2016, que implementa o Novo Ensino
Médio. A opção pela análise da lei se deu devido ao fato de que ela visa empreender uma
ampla reforma no Ensino Médio alterando consideravelmente a carga horária, o currículo e os
investimentos em formação de professores. O objetivo do trabalho é problematizar as
condições históricas que possibilitaram o surgimento dos discursos que subjazem os artigos
do texto legal relacionando-as à produção de subjetividades na escola. Espera-se, com isso,
43
refletir sobre as mudanças implementadas no Ensino Médio. Para o presente trabalho, adota-
se a compreensão de escola pensada por autores como Julia Varela, Fernando Alvarez-Uria e
Gicele Maria Cervi, que compreendem a instituição escolar como uma maquinaria de
produção de subjetividades alinhadas ao seu tempo. A metodologia utilizada é a análise do
discurso, conforme pensada por Foucault. Tal metodologia permite compreender os processos
de subjetivação, atualmente em curso na escola, à medida que permite esquadrinhar as
condições do contexto histórico atual que tornaram possível a irrupção dos discursos
expressos na referida lei e os significantes que eles transportam. A partir da análise percebe-se
que o alinhamento dos interesses nacionais aos interesses internacionais de mercado
neoliberal configura a principal condição histórica que favorece a irrupção de discursos que
privilegiam uma educação profissional e tecnicista que deve ser priorizada na escola deste
tempo.
Palavras-chave: Análise do discurso. Currículo. Novo Ensino Médio.
Sessão 7
IGUALDADE DE GÊNEROS E OS DISPOSITIVOS DE EMPODERAMENTO
FEMININO NO INÍCIO DO SÉCULO XXI
Cássia Núbia de Carvalho
A luta pela igualdade de gêneros não é recente e recebeu status de relevância com o intuito de
promover justiça social desde o final da Segunda Guerra Mundial com a criação da ONU, em
especial a ONU MULHERES. Desde então, constituiu-se de diferentes enunciados amparados
pelos contextos sócio-histórico-ideológicos que construíram e definiram os conceitos que
envolveram as produções do discurso neste longo percurso. Através da Análise do Discurso
foucaultiana é possível verificar a formação discursiva, a subjetividade do sujeito e a
construção do objeto, abordando o ardiloso jogo de poder e saber que atravessou as várias
etapas da prática discursiva sobre o mesmo tema. Neste percurso, as transformações históricas
e sociais acrescentaram nuances diferentes ao enunciado, claramente reconhecidas no sujeito
discursivo e na enunciação. A evolução desta formação discursiva permite identificar a
materialidade de suas construções representadas pelas oposições de classes e seus conflitos.
Neste ponto, a presente pesquisa se concentrará em avaliar as condições de produção do
discurso envolvendo o enunciado e o enunciador; compreender as circunstâncias específicas
das relações de produção de sentidos e da formação discursiva que surgiram no Brasil neste
início do século XXI. Identificar os processos de produção dos discursos ou práticas
discursivas desses enunciados: os desejos e aflições da comunidade para edificar os
fundamentos necessários ao diálogo, à inclusão e ao comprometimento difundidos no discurso
de empoderamento da mulher. As transformações do discurso e sua dispersão, o “dito” e o
“não-dito” manifestados no tempo e local historicamente constituídos, o descentramento do
sujeito, onde o “eu” implica em outros “eus” e no outro, a não fixação desta identidade que se
encontra em constante processo de mutação, manifestados pela apropriação da linguagem.
Palavras-chave: Empoderamento feminino. Dispositivos. Materialidade discursiva.
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SUBJETIVAÇÃO E O CUIDADO DE SI: UMA ANÁLISE DA REPRESENTAÇÃO
DA MULHER NA SOCIEDADE
Sarah Carime Braga Santana
PPGEL – UFG/RC – CAPES
Prof.ª Dr.ª Karina Luiza de Freitas Assunção
Desde os primórdios, o homem e a mulher têm um papel demarcado na sociedade, o primeiro,
como o provedor da casa e da família, e a mulher é colocada como “sexo frágil”; para
Beauvoir (1970), esse status da mulher é amplamente justificado pela biologia, dado que esta
mulher já nasceria com as aptidões necessárias para cuidar da casa e dos filhos. Dessa forma,
este trabalho tem como premissa analisar dois enunciados: o primeiro trata-se de um artigo da
revista Housekeeping Monthly, intitulado The Good Wife’s Guide – O guia da boa esposa –
publicado em maio de 1955, o texto enumera dezoito atitudes da mulher para que essa seja
uma boa mãe e esposa. Em contrapartida, o segundo enunciado, que constitui uma das
matérias do blog Papo de homem, é intitulado Este guia de 2016 dá 18 dicas para mulheres
serem “boas esposas” e traz uma resposta ao primeiro enunciado que aqui será analisado. O
guia de 2016 revela uma nova roupagem quanto ao estereótipo de “boa esposa” a ser seguido,
revelando também uma nova configuração social em que as mulheres são mais livres e donas
de si. Para apoiarmos as discussões propostas serão utilizados textos de Foucault, Arqueologia
do saber (2016) e Ditos e Escritos V (2004) para tratar da subjetivação do sujeito mulher e do
cuidado de si, que estão representados nos enunciados a serem analisados, além de Beauvoir
(1970) e Saffioti (2015) para adentrarmos nas questões sociais que tratam dos gêneros e como
os discursos que perpassam esses enunciados se inserem na história e na cultura de uma
sociedade. Esperamos com este trabalho observar as relações entre os dois enunciados e
como, apesar da repetição dos mesmos, seus sentidos podem ser diferentes a partir das
condições de produção que permitiram a emergência de cada um deles.
Palavras-chave: História. Sujeito. Subjetividade.
A VONTADE DE VERDADE DO SEXO NOS DISCURSOS DE IDENTIDADE DE
GÊNERO DA ATUALIDADE
Guilherme de Freitas Leal
Doutorando Faculdade de Filosofia – UFG
Prof.ª Dr.ª Adriana Delbó
O objetivo desta comunicação é expor a atualidade da vontade de discursos de verdade
responsáveis pela incessante busca por compreender nós mesmos e os outros a partir das
práticas e desejos sexuais que temos e exercemos. Abordando, para tanto, a análise
foucaultiana acerca da era vitoriana, presente em História da Sexualidade I, especificamente
no que tange aos mecanismos, dispositivos, técnicas e práticas confessionais acerca do sexo.
Discursos analíticos e não proibitivos em que se constrói a verdade sobre o sexo, onde as
práticas e desejos sexuais são objetos de vontade de saber. Em contraposição a essa ciência
sexual, Foucault apresenta a arte erótica em que o prazer sexual não é associado à construção
de saber sobre si e, por conseguinte, não é referida à identidade da pessoa, mas apreendida
como experiência não transformável em discurso. Foucault destaca o desdobramento na
atualidade em vários domínios como na psicologia, psiquiatria, pedagogia, medicina, relações
interpessoais, na família, etc., de procedimento de extorsão da verdade sexual. A partir desse
45
contexto teórico, busca-se aglomerar discussões nevrálgicas que se desdobram na discussão
de gênero. Destaca-se estudiosos da atualidade sobre a temática bem como a etimologia do
termo ‘gênero’, apontando para o quanto a vontade de saber sobre o sexo pode funcionar
como uma ardilosa captura para a normalização e a regulação próprias da biopolítica. As
principais conclusões apontam o quanto o gênero pode vir a funcionar como um
enquadramento da conduta do indivíduo a partir da verdade definida de seu sexo, impedindo-
o, por conseguinte, de realizar experiências sexuais outras. A definição de quem somos, a
partir das práticas sexuais, essa vontade de saber sobre nós a partir do que fazemos com o
nosso sexo, tal como observado por Foucault, acaba por se aprofundar no complexo campo da
definição de gêneros em nossa atualidade.
Palavras-chave: Foucault. Sexualidade. Gênero
DIA INTERNACIONAL DA MULHER EM CAMPANHA PUBLICITÁRIA
DA SKOL (2017): SOB UM OLHAR DIALÓGICO
Gabriella Cristina Vaz Camargo
PPGEL – Universidade Federal de Goiás/Regional Catalão
Em março de 2017, a Skol publicou em sua página no Facebook e em seu canal no Youtube, o
vídeo da campanha “Reposter Skol”, em que homenageava as mulheres pelo Dia
Internacional da Mulher. Para isso, a empresa convidou oito artistas, todas mulheres, para
recriarem pôsteres antigos em que apareciam mulheres loiras, magras e de biquíni ou roupas
que deixavam o corpo à mostra, servindo a cerveja Skol, em ambientes como a praia, por
exemplo. A proposta foi de, justamente, redimensionar esse lugar feminino, de trazer a
mulher para o centro da propaganda de modo a não objetificar o seu corpo. Diante disso, este
trabalho pretende mostrar, através da filosofia da linguagem proposta pelo Círculo de
Bakhtin, discursos que emergem à propaganda, bem como compreendê-la como um
enunciado verbovocovisual, em que os extratos verbais (palavras), vocais (voz/som) e visuais
(imagem) compõem a arquitetônica do enunciado em estudo. Com o andamento da pesquisa,
pudemos identificar alguns discursos que surgem através dos pôsteres (re)criados pelas
artistas, como o machista, o erótico e o capitalista. O método de pesquisa adotado trata-se do
dialógico, proposto pelo Círculo, em que descrevemos, analisamos e interpretamos o corpus,
de modo a compreender a vida através da linguagem. Desta feita, através deste trabalho,
procuramos tecer algumas reflexões acerca da noção bakhtiniana de enunciado; além de
discutir sobre os discursos que permeiam o enunciado “Reposter Skol”, de modo a mostrar as
relações dialógicas que são estabelecidas entre os pôsteres antigos e os novos e, sobretudo, de
compreender a linguagem em seu funcionamento dialógico.
Palavras-chave: Enunciado verbovocovisual. Discursos. Reposter Skol.
SUBJETIVIDADE SOCIAL FEMININA, EDUCAÇÃO NÃO FORMAL
E CUIDADO DE SI
Sidcléia da Silva Santos
Universidade Federal de Pernambuco – UFPE
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A pesquisa versa sobre uma educação não formal voltada para o cuidado de si e
ressignificação da subjetividade social feminina, como forma de resistência aos paradigmas
hegemônicos e biopolíticos. Inserido dentro desta nova estratégia de poder, o sujeito feminino
se torna um dos alvos das novas técnicas de normalização no final do século XVIII e início do
XIX, em que se aumenta a preocupação com seu corpo e saúde, ao mesmo tempo em que se
constrói socialmente a figura da mulher, tomada não a partir de suas características biológicas,
mas de um discurso que ressalta sua condição de gênero culturalmente construída. Porém, este
estudo parece apontar para a criação de novas estratégias formativas voltadas à subjetivação
de sujeitos autênticos. Logo, a criação de novas imagens e modelos educacionais,
representando um espaço de cuidado, resistência política e desterritorialização. Deste modo,
sendo capaz de gerar e dar nascimento a formas livres de vida e comunidade, por meio de
relações intersubjetivas cheias de afeto e intensidade. Nesse sentido, o objetivo principal da
pesquisa consiste em investigar as implicações da (in)visibilidade e a (des)construção da
subjetividade social feminina, no âmbito da educação não formal. Com isso, gerando clareza e
reconfiguração dos modelos educacionais, históricos e culturais por experiências, encontros e
desencontros que reverberam nas representações subjetivas femininas e materialização de
novos sentidos. Como objetivo específico temos a pretensão de analisar o envolvimento de
duas mulheres que atuam nas atividades formativas do Núcleo Educacional Irmãos Menores
de Francisco de Assis – NEIMFA, identificando os aspectos positivos e as limitações dos
modelos educacionais vigentes quanto à questão do gênero. Para tanto, adotamos o paradigma
epistemológico Arqueogenealogia como fundamento teórico-metodológico proveniente das
perspectivas contemporâneas: arqueologia e genealogia. A modalidade de pesquisa é
qualitativa e privilegia a obtenção dos dados por meio da pesquisa narrativa.
Palavras-chave: Subjetividade social feminina. Educação não formal. Cuidado de si.
O DISPOSITIVO DE SEXUALIDADE NA LITERATURA: UMA ANÁLISE DE
DISCURSO SOBRE O FEMININO NAS OBRAS DE JOSÉ DE ALENCAR E SUA
PERPETUAÇÃO NO CONTEMPORÂNEO
Beatriz Izabelli Zumba Elihimas
Amanda Salgado Rocha
Faculdade Damas da Instrução Cristã
Orientadora: Prof.ª Dr.a Renata Celeste
As categorizações de gênero e os padrões pré-estabelecidos às identidades do homem e da
mulher são construídos a partir das interações socioculturais entre os sujeitos e as relações de
poder. Assim, as expectativas de gênero são representações formadas também por uma
construção histórica e que, por serem fruto do pensamento social, acabam se expressando em
espaços como o literário. A partir disso, utilizando as obras “Lucíola” e “Cinco Minutos” de
José de Alencar, pretende-se analisar como os perfis de mulheres forjados pelo autor,
condizentes com um modelo de gênero do passado, ainda refletem na construção de modelos
de subjetivação do feminino no contemporâneo. Os romances revelam-se como instrumento
capaz de apresentar a construção histórica da expectativa de gênero, tendo em vista as
descrições do autor sobre o feminino e os destinos de vida e morte das personagens. Tal
demarcação reflete no contemporâneo, retroalimentando modelos de gênero, como observado
na marca “bela, recatada e do lar” ou na culpabilização de gênero em casos de violência.
Ademais, é fundamental analisar como essa naturalização de expectativas corrobora para a
produção de corpos sujeitados, em um processo de subjetivação do feminino, tendo em vista
47
que perfis de mulheres que fogem a um padrão submisso são colocados de forma menos
valorativa. Em meio a esses discursos permeados por uma expectativa, há a formação e
atuação do dispositivo de sexualidade que normaliza os sujeitos e mantém as relações de
poder. Para tanto, será utilizada a literatura como ferramenta, através da análise dos discursos
contidos nas obras supracitadas, em cotejo com observação crítica à luz da “História da
Sexualidade” de Michel Foucault. Desse modo, com a observação paralela do campo literário
e social, é possível vislumbrar o modus operandi do dispositivo de sexualidade, fazendo
imperar com força similar as concepções do período pretérito em relação ao gênero.
Palavras-chave: Expectativas de gênero. Mulheres de José de Alencar. Dispositivo de
sexualidade.
O FEMININO QUE GRITA NO ANTIFEMINISMO
Pâmela Tavares de Carvalho
Universidade de Franca – UNIFRAN
Luciana Carmona Garcia Manzano
Universidade de Franca – UNIFRAN
A discussão política, social e cultural sobre as mulheres – o feminismo – e a discussão sobre o
próprio caráter de mulher, a feminilidade, têm recebido determinada atenção nos espaços
digitais. Nesse próspero território, o antifeminismo, nas suas diferentes vertentes, insere-se
em um jogo de verdades que, filiado aos estereótipos e às tradições enraizadas sobre a
imperfeita e a inferioridade da natureza feminina, desqualifica o movimento feminista por
constituir uma ameaça ao sistema patriarcal, nos seus mais variados graus e pertencimentos
culturais. Sob a perspectiva da Análise do Discurso de orientação francesa e de conceitos
engendrados no interior dos estudos discursivos foucaultianos, como Biopolítica e
Dispositivo, vislumbra-se, com tal discussão, compreender o discurso que se constrói por
sujeitos que se autointitulam antifeministas, assim como levantar o véu que encobre os
paradigmas e as representações sociais e moralmente convencionadas às mulheres ao longo da
história. Por meio do recorte dos enunciados do vídeo alcunhado “A verdade sobre o
feminismo”, veiculado pela Youtuber Cris Bernart na plataforma youtube.com e
compartilhado na página do Facebook @crisbernart1, examina-se o espaço de tensão no qual
se constroem enunciados que dão forma de existência aos discursos que, ao deslegitimar o
feminismo, evidenciam um modo de feminino. Diante da discussão, o feminino que clama, foi
delineado dentro de um dispositivo de controle, dentro do qual se difundem e validam dizeres,
cristalizam-se saberes e preconceitos. O discurso, então, resultante de uma dialética entre
repetição e regularização, contribui para a manutenção de sentidos que fazem parte do modelo
de sociedade patriarcal e que se sedimentaram a partir do que se concebeu como tradição, por
meio de práticas discursivas e sociais, obedecendo a uma ordem do discurso que traz à tona
um feminino que afirma um lugar histórico, construído para a mulher em busca da
manutenção de uma ordem social.
Palavras-chave: Análise do Discurso. Feminismo. Poder.
48
Sessão 8
REPRESENTAÇÕES DO VALE DE JAVÉ (NORDESTE) E DO NORDESTINO PELA
NOÇÃO DE ENUNCIADO REITOR
Me. Léa Evangelista Persicano
UFG – RC/FAPEG
Prof. Dr. Antônio Fernandes Júnior
No filme brasileiro Narradores de Javé (2003), materialidade linguístico-histórica estudada
no curso de Mestrado em Estudos de Linguagem, analisamos alguns enunciados e discursos
proferidos pelas personagens-narradoras da trama fílmica, os quais se articulam em torno de
um núcleo comum, as histórias de valor dos guerreiros fundadores do povoado, durante a
produção do livro-dossiê para salvar a região e seus moradores das águas. Segundo os
narradores, a fundação do Vale de Javé se deu por meio de Indalécio (e Mariadina) e sua(s)
comitiva(s), que tiveram que sair de suas terras pela exploração do ouro por parte de Portugal
e se instalar onde hoje é Javé. Esse núcleo comum funciona como uma referência para outros
enunciados, estando vinculado basicamente à formação discursiva de que o Nordeste é uma
região atrasada, mas tem narrativas orais (práticas culturais populares) de valor. Há em jogo
um campo associativo, que nos leva à compreensão também de que os nordestinos são tidos
como indivíduos de pouca grandeza, se comparados, por exemplo, aos sulistas. Percebemos,
baseados tanto em Foucault (2005) quanto em Voss e Navarro (2013), que esses enunciados –
denominados de enunciados reitores – possibilitam e determinam a produção de saberes e
objetos, em dado feixe de relações, servindo como ponto de referência para outros
enunciados, regendo o funcionamento de uma árvore de derivação enunciativa e
desempenhando as regras de dada formação discursiva. Por meio de uma metodologia
descritivo-interpretativa, voltamos nossa atenção para o enunciado reitor “Se Javé tem algo de
bom, são as histórias do começo”, esquematizando uma árvore desse tipo para o caso em
análise do Vale de Javé, o que nos leva a concluir que as riquezas do Nordeste são
subestimadas e que, dificilmente, essa região assim como seu povo (javelinos) serão
considerados possuidores de vários bens culturais, sociais, simbólicos.
Palavras-chave: Enunciados. Discursos. Representações.
RELAÇÕES DISCURSIVAS: O PAPEL ENUNCIATIVO DA PALAVRA
FERRAMENTA NOS POEMAS DE BRAZ JOSÉ COELHO
Júlio César Albuquerque da Rocha Universidade Federal de Goiás – Regional Catalão
Prof. Dr. Antônio Fernandes Júnior
Partindo-se do pressuposto foucaultiano, o qual diz que todo enunciado possui suas margens
povoadas por outros enunciados, surgiu o interesse em analisar as funções enunciativas da
palavra ferramenta, na obra literária de Braz José Coelho A obrigação da inquietude. O
literata goiano apresenta em seu livro 11 poemas consecutivos que exibem esse enunciado,
trazendo o conceito de materialidade repetida. Entretanto, tal concepção não garante a mesma
identidade a eles, justamente por diversificarem, em suas condições de utilização, produzindo
efeitos de sentidos diferentes entre si. Para tal investigação, houve a necessidade de
reconhecer demais enunciados, individuais em cada poema, possibilitando restringir o
49
contexto de ferramenta a um campo associado. Posteriormente, com o decorrer da análise,
identificou-se ligações e distinções enunciativas. O escopo deste estudo é, através das análises
dos poemas de Braz José Coelho, apresentar correlações entre a temática, a construção e a
estruturação deste acerca dos enunciados presentes na produção do discurso e sentidos.
Acerca do método, utilizou-se neste trabalho a pesquisa básica estratégica, de caráter
explicativo e cunho qualitativo quanto à análise de dados secundários, obtidos através de
literatura relacionada ao tema. O referencial teórico é embasado na análise do discurso
propriamente dita, sob a teoria enunciativa em Foucault (1969), aprofundando-se,
primordialmente, na análise discursiva da materialidade repetida dos enunciados.
Posteriormente, agregando conjuntos enunciativos de cada poema, nota-se, no último, um
desencadeamento em relação aos enunciados anteriores, quando o sentido do enunciado
ferramenta perpassa completude, podendo produzir redes de cruzamentos na produção
discursiva do poeta. Espera-se, através deste trabalho, levantar discussões sobre o profícuo
pensamento foucaultiano, utilizando da obra de Braz José Coelho, gerando compreensão
sobre o tema exposto e interesse nestes dois autores.
Palavras-chave: Foucault. A arqueologia do saber. Enunciados.
PERCEPÇÕES DISCURSIVAS SOBRE A LEITURA DE CLÁSSICOS EM
QUADRINHOS
Camila Santin Calçada Silva
Programa de Mestrado em Estudos da Linguagem/UFG – RC
O presente trabalho tem como objetivo apresentar um recorte da pesquisa em
desenvolvimento no Programa de Mestrado em Estudos da Linguagem, na área da Literatura e
visa discutir a produção de obras literárias ditas clássicas transpostas para o formato dos
quadrinhos. O gênero em questão tem seu início ainda no século XIX, com o advento do
jornal. Já no século XX os quadrinhos passaram a sofrer perseguição por parte de pais,
educadores e até mesmo congressistas, em especial nos Estados Unidos. Assim, mediante aos
discursos de repúdio ao gênero quadrinístico, surge na década de 40 a Classics Illustrated,
revista que trazia a adaptação de clássicos da literatura para os quadrinhos, como forma de
atrelar relevância ao gênero. No Brasil a revista americana foi editada por Adolfo Aizen com
o nome de Edição Maravilhosa. Interessa-nos compreender de que formas o texto é
compreendido pelo leitor, buscando analisar como a adaptação reorienta os regimes de
expectativa sobre a nova obra frente à predecessora e do como os mesmos são
redimensionados com a mudança do gênero narrativo para os quadrinhos. Do mesmo modo,
analisaremos discursos acerca dessas adaptações e como essas obras em quadrinhos impactam
na subjetividade do sujeito-leitor, enquanto sua formação literária. Embasaremos nossa
discussão em Cursino (2012), Possenti (2001), Chartier (2001), Eisner (2005), Ramos (2014),
Vergueiro (2017). Compreendemos que, longe de ser uma facilitação de leitura, as
quadrinizações de clássicos são um reflexo da cultura moderna cada vez mais ligada aos
códigos icônico-verbais que percebem neste gênero uma leitura de fruição.
Palavras-chave: Quadrinhos. Análise do Discurso. Leitura.
50
CONSTITUIÇÃO DE SUBJETIVIDADE EM “O PAPEL DE PAREDE AMARELO”,
DE CHARLOTTE PERKINS GILMAN
Nilce Meire Alves Rodovalho
Mestranda PMEL
Prof. Dr. Antônio Fernandes Júnior
O presente trabalho objetiva analisar o corpus “O Papel de Parede Amarelo”, de Charlotte
Gilman, sob o viés da Análise do Discurso de linha francesa e dos postulados foucaultianos a
respeito dos dispositivos de poder e da forma que estes incidem sobre as práticas discursivas
do objeto a ser analisado. Com este intuito busca-se compreender a construção do discurso e a
constituição da subjetividade da narradora/protagonista. O conto em questão retrata uma
história vivida no século XIX por uma mulher (narradora-personagem) reclusa em uma
mansão colonial por Jonh, seu marido e médico. Observa-se a ocorrência de práticas de
controle imperadas nas relações saber/poder. Em nome da medicina psiquiátrica, John decide
afastar a narradora/protagonista da sociedade, em função de realizar um tratamento para a
doença dos “nervos” de sua esposa, que sofre de uma suposta histeria. Foucault denominou
subjetivação como o “processo pelo qual se obtém a constituição de um sujeito, ou, mais
exatamente, de uma subjetividade” (REVEL, 2005, p. 82). A análise dos processos de
subjetivação pode ser realizada de duas formas: em que os seres humanos são transformados
em sujeito a partir de práticas de objetivação e outra por meio da relação consigo mesmo e/ou
de técnicas de cuidado de si, que atuam na constituição da própria existência do sujeito. Prado
Filho (2005) indica que a subjetividade em Foucault se subsidia na metodologia do eixo saber
x poder x subjetividade. Assim é necessário analisar a relação entre tais componentes, “onde
saber e poder são sempre da ordem da produção, são maquinarias sociais, são políticos, são
relações, e a subjetividade é sempre da ordem dos efeitos, é o ponto de chegada e não de
partida” (PRADO FILHO, 2005, p. 42).
Palavras-chave: Subjetividade. Relações saber/poder. Discurso.
AUTORIA E ESCRITA NAS MEMÓRIAS DE ROSA AMBRÓSIO: UMA ANÁLISE
DO EFEITO-SUJEITO EM “AS HORAS NUAS” DE LYGIA FAGUNDES TELLES
Ismael Ferreira Rosa
UFG – RC / CESUC
Foucault (2001), remontando Blanchot, assevera que o ato de escrever é uma forma de
eternização, pois é uma prática discursiva em estado de movência, avançando nas instâncias
temporais e espaciais, eternizando-se e deslocando sempre. Rompendo o limite da morte, pela
palavra estabelece-se um espaço infinito, encontrado fora de si mesma, construindo um
movimento incessante de produção de sentidos e produção de sujeitos. Assim, a escrita,
enquanto exterioridade, constrói sujeitos, fazendo emergir de si efeitos-sujeito, pois a
linguagem revela palavras que matam, ou fazem morrer, para se viver fora e muito além do
texto, na exterioridade e espaço infinito do ato de escrever. E implicando a escrita uma obra
de linguagem, é-lhe imprescindível um sujeito-autor, alguém que se diz responsável pela
escritura, uma vez que todo sujeito é constitutivamente colocado como autor e responsável
por seus atos em cada prática em que se inscreve. Contudo, não se trata do sujeito empírico
que pronunciou ou escreveu um texto, mas um princípio de agrupamento do discurso,
instaurado enquanto unidade e origem de suas significações, como foco de sua coerência.
51
Com efeito, trata-se de uma função-sujeito que realiza o trabalho de escrita, organizando, em
uma dada disposição, vozes sócio-históricas e ideológicas. Pretendemos, no crivo dos
conceitos foucaultianos de escrita, autoria e espaço exterior, analisar como se instaura o
processo do ato de escrever e a construção do autor, enquanto efeito-sujeito, no
funcionamento discursivo de “As horas nuas”. Alvitramos construir uma percepção
interpretativa em torno do efeito-sujeito instituído em Rosa Ambrósio, um dos sujeitos
discursivos que se diz autora de suas próprias memórias. Sendo assim, intentamos analisar
não o nome de autor Lygia Fagundes Telles, assinado na obra, mas a autoria instaurada
discursivamente no interior do texto, delineando o processo de construção da função-autor no
nível dos sujeitos e sentidos produzidos em um espaço literário.
Palavras-chave: Autoria. Escrita. Efeito-sujeito.
A ENUNCIAÇÃO NA HISTÓRIA PARA A CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO
DISCURSIVO ORLANDO SABINO
Fernanda Gomes da S. Nakamura
Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem/Regional Catalão
Prof. Dr. Antônio Fernandes Júnior
O presente trabalho faz parte da pesquisa para a dissertação do mestrado que ainda está em
desenvolvimento, o qual abordará uma série de assassinatos ocorridos no início do ano de
1972 no Pontal do Triângulo Mineiro. Orlando Sabino foi preso, acusado de ser o responsável
por vários crimes. O presente artigo pretende retomar a história com o objetivo de explicitar o
cenário histórico do período em que se deu a trajetória de crimes atribuídos ao indivíduo,
entre os anos de 1970 a 1973. O caso Orlando Sabino surge, na conjuntura, como um
analisador da mídia e da história dos anos 1970, apontando os não-ditos, os exageros e as
mitificações que até hoje persistem na organização e na estruturação social da região de
Minas Gerais. Em nosso trabalho, utilizaremos o conceito de História Geral e de História
Nova para discutir o modo como o contexto histórico e político da época construiu e
colaborou para a formação do Sujeito Discursivo e também debater como as emergências dos
enunciados apontados nas reportagens possibilitaram tal acontecimento. Para tanto,
analisaremos estes fatores a partir do pressuposto teórico da Análise do Discurso de Michel
Foucault, preconizada por Michel Pêcheux, a fim de evidenciar como os elementos midiáticos
da história constroem enunciação, em que o referencial do enunciado forma lugar, a condição,
o campo de emergência, a instância de diferenciação dos indivíduos ou dos objetos, dos
estados das coisas e das relações que são postas em jogo pelo próprio enunciado, com isso
permite a possibilidade de aparecimento e de delimitação do que é dito.
Palavras-chave: História. Enunciado. Orlando Sabino.
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Sessão 9
OS DISCURSOS DE DISCRIMINAÇÃO NA OBRA DOIS GAROTOS SE BEIJANDO:
CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO, EFEITOS DE SENTIDO
E FORMAÇÃO DISCURSIVA
Yuri Pereira de Amorim
Universidade Federal de Goiás – Regional Catalão
Prof.a Dr.a Erislane Rodrigues Ribeiro
Nos dias atuais muito tem-se discutido sobre sexualidade, seja através da mídia, de jornais,
meio acadêmico e/ou por meio de obras literárias. Contudo, ainda que a luta contra a
discriminação LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais) venha sendo travada
constantemente, o preconceito continua sendo recorrente. Assim, o presente artigo tem como
objetivo analisar os discursos de intolerância na obra Dois garotos se beijando (cujo título
original é Two boys kissing) do autor norte-americano David Levithan. Publicado em 2015
pela editora Galera Record, o romance aborda a vida de quatro personagens homossexuais.
Será analisada apenas a história de dois personagens (Craig e Harry) e os discursos presentes
para melhor aprofundamento dos enunciados com juízos de valor, apontando assim os
posicionamentos contrários e/ou favoráveis. Para essa investigação, estão sendo utilizados
como aporte teórico os autores Orlandi (2006), que discorre acerca das condições de produção
e efeitos de sentido e Michel Foucault (2012), que disserta a respeito da formação discursiva.
A metodologia utilizada refere-se a pesquisas bibliográficas, na qual foram selecionados e
revisados materiais teóricos e análise da obra Dois garotos se beijando. A justificativa por
esse tema se dá por dois fatores: o primeiro pelo fato de que, ainda nos dias atuais, a opressão
contra a comunidade LGBT é recorrente, não podendo ser desconsiderada, e o segundo para
apresentar como o meio literário retrata a questão da opressão. Assim, os resultados obtidos
com essa pesquisa foram: visibilidade à temática de discursos intolerantes, ainda presente em
nossos cotidianos; e contribuição e fortalecimento aos estudos relacionados à obra Dois
garotos se beijando.
Palavras-chave: Análise do discurso. Discurso de intolerância. Dois garotos se beijando.
VIDA ARTISTA E VIDA ARTÍSTICA: ENCONTROS E DESENCONTROS NA
ARTE DE VIVER
Marco Antônio Arantes
Universidade Estadual do Oeste do Paraná/UNIOESTE
A proposta se detém sobre a noção de estética da existência, que diz respeito à arte de si, ao
indivíduo livre vinculado a um conjunto de regras e valores, e que remete ao tema anticristão
de voltar a si mesmo e retornar a si. No caso específico deste artigo, o interesse é explorar os
processos de subjetivação e a elaboração ética de si, ou seja, a estética como uma forma de
vida, uma ética como um estilo de si e não como um dever moral, tendo como referência um
conto e um longa-metragem. Duas obras são entabuladas para clarear o conceito: uma obra
literária e uma cinematográfica. A primeira refere-se ao conto Roads of Destiny (1909) –
“Caminhos do Destino” –, do escritor norte-americano O. Henry (1862-1910); a segunda
resgata um longa-metragem intitulado Akiresu to kame (2008) – “Aquiles e a Tartaruga” –, do
diretor e comediante japonês Takeshi Kitano. A análise parte da tese de que a produção
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artística do personagem criado por Henry é auferida por um senso estético e por estilos
artísticos padronizados e massificados, enquanto que o protagonista do longa de Kitano parte
de uma dimensão artesanal, ética/estética da existência, orientada para uma vida artista bela;
artífice da própria vida e vinculada a si mesmo por uma imanência que se estabelece de si
para consigo. Uma das chaves explicativas das obras são as considerações de Foucault sobre o
texto de Epicuro em que discute a oposição clássica da paidéia, ou saber da cultura, cuja
finalidade é o reconhecimento da massa e a necessidade de reputação, glória e ostentação. Em
oposição ao saber da jactância da paidéia está a physiología, cujo saber conduz a uma
afirmação de si.
Palavras-chave: Estética da existência. Subjetividade. Invenção de si.
UM OLHAR SOBRE O RAP DE CRIOLO ENQUANTO PRODUTOR DE EFEITOS
DE SENTIDOS E SUBJETIVIDADES
Jheny Iordany Felipe de Lima Universidade Federal de Goiás/Regional Catalão – UFG/RC
Antônio Fernandes Júnior
Em seus estudos arqueológicos, Michel Foucault toma textos literários como objeto para
análises de produção e efeitos de sentidos, construção de subjetividades, pensando os
discursos enquanto acontecimentos inscritos no tempo e espaço de uma história, e que se
repetem e se digladiam através das memórias discursivas que temos sobre determinados
objetos. Pensando nisso, e fazendo um primeiro recorte, para efeito de análise, escolhemos a
letra de música do rapper Criolo, Casa de papelão, para demostrar quais efeitos de sentido
são produzidos e quais subjetividades surgem deste discurso. Criolo é conhecido no cenário
da música contemporânea brasileira como artista de contracultura e suas letras de resistência
englobam questões como hipocrisia citadina, relacionadas à falta de moradia e aos indivíduos
em situação de rua, consumo desenfreado de drogas e álcool, legalização da maconha,
monetarização da vida quotidiana, mercantilização da cultura, ativismo político e social, e
diversas outras propostas. Pensando a letra e os efeitos de sentido que surgem dos enunciados
que a compõem, traçamos um percurso histórico do seu momento de produção e veiculação,
para entender os acontecimentos discursivos como textos que surgem como acontecimentos a
serem lidos. Já pela perspectiva genealógica também proposta por Michel Foucault,
analisamos os aspectos relacionados à biopolítica e à disciplinação dos corpos na sociedade
como primeiro tipo de biopoder que visa docilizá-los e torná-los economicamente úteis para
os centros urbanos através do controle e vigilância, que também são abordadoa na letra de
música em questão. Os resultados esperados ligam-se ao papel do rap enquanto produtor de
efeitos de sentidos na contemporaneidade e enquanto forma de resistência e contracultura,
bem como para demonstrar quais modos de subjetivação surgem destes enunciados, com base
nos estudos arqueológicos e genealógicos de Michel Foucault e seus estudiosos.
Palavras-chave: Sujeito. Sentido. Subjetividade.
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“VOCÊ ME DEIXA DOIDÃO!!!”: UMA ANÁLISE SOBRE OS REGIMES DE
PRODUÇÃO DE VERDADE EM TRÊS COMPOSIÇÕES
DA BANDA MAMONAS ASSASSINAS
Maurício Divino Nascimento Lima
LEF – GO/PPGEL – UFG/RC/FAPEG
Prof. Dr. Antônio Fernandes Júnior
Os Mamonas Assassinas não eram um conjunto musical com estilo bem definido. Bem avesso
a isso, sua performance transitava pelo forró, neo-sertanejo, pagode e pop rock, no entanto, o
que era regular em todas as suas composições era o humor, fazendo deboche a todos esses
gêneros, materializando novos enunciados. A composição mais popular do grupo é “Pelados
em Santos”, que narra as tentativas mal sucedidas de um homem em cortejar uma mulher,
todas as suas investidas frustradas baseiam-se em um ideário de que as relações afetivas
devem ser pautadas em trocas materiais. Nesta mesma perspectiva, a letra de “Lá vem o
alemão” também descreve as desventuras de um homem que perde sua companheira para um
rival com um carro mais novo, e não somente isso, são atribuídas a esse antagonista
características físicas que lhe inscrevem em um padrão incapaz de ser alcançado pelo
primeiro. Por sua vez, “Uma Arlinda mulher” traz uma composição quase desprovida de
sentido, em que o que se pode depreender com maior clareza é que o homem deve conduzir a
relação como dominante. Os Mamonas Assassinas não inventaram essas concepções de
relacionamento, eles apenas debocham desses dispositivos, haja vista que essas visões são
produtos de um regime de produção de verdades, que ilustram uma ideia moderna a respeito
das relações afetivas. Nesse sentido, a partir da proposição arqueológica de Michel Foucault,
este trabalho visa analisar e descrever discursos que abordam essas novas verdades sobre as
relações afetivas nas três composições supracitadas em moldes da Análise do Discurso
francesa. Espera-se problematizar quais saberes colaboraram para a produção de subjetividade
dos sujeitos inscritos nesses discursos, uma vez que as práticas satirizadas pelas músicas da
banda em um dado momento são aceitas como verdade.
Palavras-chave: Discurso. Humor. Relacionamento.
PRÁTICAS DE SUBJETIVAÇÃO EM O CENTAURO NO JARDIM DE SCLIAR:
DISCURSOS E SUJEITO
Neuza de Fátima Vaz de Melo
UAELL/Regional Catalão/UFG
Nossa proposta nesta comunicação é mobilizar conceitos da Análise do Discurso (AD)
francesa, a partir das contribuições dadas por Michel Foucault, para refletir sobre a produção
da subjetividade, que consiste no processo constitutivo dos sujeitos possibilitando a
objetivação dos mesmos, além de mostrar os procedimentos mobilizados tanto para a prática
da subjetividade como para os sujeitos. A partir de então, temos por objetivo abordar os
discursos construídos, que se dão pela situação do personagem narrador, Guedali – de sua
infância à maturidade, no romance O Centauro no Jardim, do escritor e médico Moacyr
Scliar, publicado em 1990, havendo um denominador comum entre o mito e a realidade, com
o entrecruzamento de subjetividade, que atravessam o pensamento da tradição judaica. O
romance é narrado pelo próprio Guedali a partir da comemoração de seu aniversário de 38
anos em São Paulo. Assim, com o transcorrer da leitura surge a necessidade de investigar as
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relações e estabilidades por esse sujeito excluído da sociedade, uma vez que as relações de
poder perpassam esse contexto. Para tanto, pretendemos mostrar, conforme a trajetória dos
apontamentos de Foucault (1997), a existência das múltiplas maneiras de se subjetivar, as
quais são diferentes no decorrer da história, onde o sujeito que é historicamente constituído
sobre determinações que lhe são exteriores, pode fixar, manter ou transformar sua identidade.
Nesse sentido, as discussões logradas, neste artigo, evidenciaram que é interessante observar
que não se trata de uma relação do sujeito consigo mesmo da ótica da interioridade, pois ele
se constitui sob determinadas condições de produções (contexto histórico-social que envolve
a produção do discurso, situação, interlocutores). Assim, esperamos poder, com o auxilio do
referido aporte teórico, delinear mais de perto os discursos e o sujeito perante aos mecanismos
de subjetivação presentes na atualidade.
Palavras-chave: Discurso. Subjetividade. O Centauro no Jardim.
ONCE UPON A TIME... RELAÇÕES DIALÓGICAS NA ENUNCIAÇÃO
VERBOVOCOVISUAL SERIADA
Thainá Pereira Gonçalves
UFG – Campus Catalão
Grenissa Bonvino Stafuzza
Trata-se de uma pesquisa descritiva, interpretativa e analítica das relações dialógicas que se
instauram por meio da interação entre os sujeitos personagens na enunciação Once Upon a
Time. Ao fundamentar o presente estudo na perspectiva dialógica da linguagem do Círculo de
Bakhtin, investigaremos de que modo às relações dialógicas são construídas na série e como
refletem e refratam a construção do sujeito personagem na enunciação, observando o modo
como acontece a relação bem e mal, uma vez que, na enunciação em estudo, não basta
analisar os sujeitos com base nos estereótipos dos contos de fada aos quais a série possui
referência (mocinhos, princesas, heróis, vilões). Ao entendermos que um outro discurso é
produzido a partir da referencialidade dos contos maravilhosos na série em estudo, pontuamos
a demanda da contemporaneidade nos atentando sobre a complexidade das personagens. Sob
essa perspectiva, examinaremos três instâncias de diálogo: i) o herói/vilão que dialoga com
seu outro vilão/herói, em uma relação dialógica do eu-para-mim; ii) o herói/vilão que dialoga
com outros sujeitos heróis/vilões, em uma relação dialógica do eu-para-o-outro; iii) o
herói/vilão que dialoga com outros sujeitos heróis/vilões, em uma relação dialógica do outro-
para-mim. Utilizaremos o cotejamento de enunciados (microcorpus) a partir de cenas das
temporadas da série em estudo, devidamente transcritas, para investigar a produção dialógica
na enunciação considerando a relação de diálogo entre os sujeitos em estudo, para o estudo
dos elementos que constituem a enunciação da série. Acreditamos poder contribuir teórico-
analiticamente para os estudos de discursos de corrente bakhtiniana, especialmente no que diz
respeito à abordagem discursiva da verbovocovisualidade, que é um tema que tem se
mostrado emergente na área de análise de discursos.
Palavras-chave: Verbovocovisualidade. Relações dialógicas. Círculo de Bakhtin.
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Sessão 10
PERSPECTIVA ENTRE “O BALCÃO” DE MANET E MAGRITTE
Paulo Ferreira de Carvalho Neto
Universidade Federal de Uberlândia
O presente texto coloca, em uma forma ensaística, em análise duas obras que se intercalam e
juntas tendem a fornecer uma nova perspectiva quanto aos vários significados que uma obra
de arte possa ter. Essas obras são "O balcão" de Manet, no entremeio de mais de oito décadas,
e "Perspectiva II – O balcão de Manet" de Magritte. Faz-se, aqui, uma possibilidade de
discurso pela arte, entre um ícone intuitivo do Impressinismo fundido à moda devaneate do
Surrealismo. O texto fora produzido como um ensaio, até mesmo de um teor poético, em uma
breve descrição da cena retratada. Apesar de incomum, a representação de um retrato de
grupo – como no óleo de Manet – onde o observador da cena se encontra deslocado do
ambiente retratado, a cena torna-se perturbadora quando nos deparamos com a representação
que Magritte dela expressou. A roupagem, que na cena impressionista encanta pela beleza e
fluidez dos tecidos e da postura dos corpos, se reformula na medida em que aproximamos do
quadro surrealista. Como se a vestimenta dos sujeitos retratados confirmasse a inevitável
perspectiva de suas perpétuas vestimentas (a morte e os ataúdes). O trabalho de Flávio de
Carvalho, em “Dialética da moda”, colabora ao dissertar sobre o uso dos trajes e suas
representações. E, em se tratando de moda, Giorgio Agamben brevemente compreende sua
singularidade e seu fim. Embora a matriz do trabalho seja uma breve descrição entre obras
que se assemelham, Michel Foucault remata a descrição da perspectiva à analogia do Corpo
Utópico. Afinal, no observar das obras, o corpo das personagens são expostos e revestidos do
que vestem, e do que possa vir a representar.
Palavras-chave: Arte. Impressionismo. Surrealismo.
‘EU SOU LADRÃO E VACILÃO’: CAPTURA DE SI E DO OUTRO EM TEMPOS DE
REDES SOCIAIS DIGITAIS
Aldenor da Silva Pimentel
Doutorando em Comunicação da Unisinos
Orientador: Ronaldo Henn
Este trabalho tem por objetivo analisar o caso em que um adolescente, acusado de furtar uma
bicicleta, em São Bernardo do Campo (SP), em junho de 2017, teve, como forma de punição
extralegal, a própria testa tatuada com o enunciado ‘Eu sou ladrão e vacilão’ e a respectiva
sessão de tortura gravada em vídeo e compartilhada nas redes sociais digitais. A
fundamentação teórico-metodológica da pesquisa é a Análise de Discurso, de linha francesa. São analisados os dois vídeos caseiros, produzidos pelos acusados da tortura, que registram o
processo de tatuamento. Para a referida análise, recorre-se aos conceitos de sujeito,
identidade, vontade de verdade e panóptico, a partir de autores como Michel Foucault e
Kathryn Woodward. Como resultado preliminar, este trabalho evidencia como a identidade se
constrói a partir da relação com o outro (WOODWARD, 2003). Na amostra, vê-se o tatuador,
aquele que trabalha com produção de tatuagens, se construir como sujeito trabalhador, não
criminoso, a partir de um outro, aquele que rouba e não trabalha. As práticas divisoras
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bandido – mocinho, criminoso – cidadão de bem, em convergência com a vontade de verdade,
são modos de objetivação que transformam os seres humanos em sujeitos (FOUCAULT,
1999). Para empreender com sucesso o processo de inquérito/pena aqui analisado, o sujeito da
punição demonstrou domínio de diferentes linguagens, como a audiovisual, a escrita e a
tatuagem. Ao acionar o panóptico (FOUCAULT, 2004) para capturar o criminoso, o sujeito
da punição acabou igualmente capturado pelo dispositivo (FOUCAULT, 1979), apontado
como transgressor da lei, da mesma forma como aquele de quem procurava se mostrar
diferente.
Palavras-chave: Discurso. Sujeito. Identidade.
O DESEJO DE VERDADE E A SUBJETIVAÇÃO SOBRE O SUICÍDIO A PARTIR
DA CAMPANHA SETEMBRO AMARELO
Anísio Batista Pereira
Universidade Federal de Uberlândia – UFU
A vontade de verdade se constitui em um aspecto relevante no que tange à linguagem, pelas
práticas discursivas dos sujeitos, uma vez que os processos de subjetivação se vinculam aos
regimes de verdade de uma determinada época. Nessa direção, este trabalho se propõe a
analisar alguns discursos materializados na campanha sobre a prevenção ao suicídio, a
denominada Setembro Amarelo, com o objetivo de investigar como a vontade de verdade se
manifesta nos discursos utilizados pelos sujeitos propagadores dessa ideia. Esse movimento
teve início no ano 2015, sempre no mês de setembro, cuja cor amarela é tomada como
símbolo da prevenção ao suicídio e amplamente divulgado, sobretudo nas redes sociais. Trata-
se, portanto, de uma campanha recorrente, em que um mês do ano é dedicado à causa, com o
objetivo de se evitar que pessoas tirem suas próprias vidas. Como recorte do corpus, serão
selecionadas imagens panfletárias disponíveis na internet, em diferentes endereços
eletrônicos, aquelas que atendam aos objetivos aqui propostos de forma mais precisa. Para
tanto, será adotado o suporte teórico-metodológico baseado na Análise do Discurso de
vertente francesa, mais precisamente acerca das formulações foucaultianas sobre discurso,
sujeito, verdade e subjetivação. Assim, esse arcabouço metodológico possibilita a leitura do
objeto a partir da relação entre verdade e subjetividade, que se ligam ao sujeito no âmbito da
história. Pelas análises, os discursos dessa referida campanha apresentam estratégias de
prevenção ao suicídio como verdades, com o objetivo de provocar um efeito de
convencimento no público em geral, principalmente naqueles sujeitos mais vulneráveis à
prática do suicídio. E essas verdades instauradas nos discursos panfletários, uma vez
convencendo esse público amplo, provoca um efeito de subjetivação desses sujeitos sobre a
prevenção ao suicídio.
Palavras-chave: Discurso. Verdade. Subjetivação.
O DISCURSO SUBJACENTE À NORMA DE DECISÃO JURÍDICA
Juliana Andrade
Renata Celeste
Universidade Federal de Pernambuco/FADIC
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O Mapa da Violência de 2015 colocou o Brasil como o 5º país mais violento do mundo
quanto ao homicídio feminino e mostrou a mulher brasileira como vítima da “cultura do
estupro”, uma expressão nova para uma antiga prática do machismo, cuja ultima ratio é o
feminicídio. Essa cultura é disseminada por meio de discursos materializados em textos, cuja
recorrência cria uma ordem discursiva portadora de valores absolutos e não questionados.
Desse modo, as leis que visam proteger as mulheres, como a “Lei Maria da Penha” e a “Lei
do Feminicídio”, frequentemente não conseguem enquadrar os casos concretos, uma vez que
os operadores jurídicos estão mergulhados nessa ordem discursiva que naturaliza a violência
contra a mulher. A partir desse contexto, esta investigação pretende identificar essa ordem
discursiva que estabelece o machismo como valor a partir da análise de uma sentença
prolatada em setembro de 2017, em que a conduta do pai de uma menina de 13 anos,
espancada por ele por ter perdido a virgindade, foi avaliada como “corretiva”. A metodologia
orienta-se na análise crítica dos metaprincípios da CF/88 e dos postulados da “Lei Maria da
Penha”, e incide, por meio de um estudo de caso, na materialidade textual como reveladora
das práticas discursivas machistas, aplicando o conceito tridimensional do discurso
desenvolvido por Fairclough e os discursos de interdição de matriz foucaultiana. Da análise
crítica empreendida foi verificado que o ethos de dominação masculina do juiz “atropelou” os
comandos normativos, de reconhecida validade jurídica e não passíveis de múltiplas
interpretações, fazendo valer o discurso machista que suaviza a conduta do agressor,
encarando-a como uma forma de proteção à mulher e à adolescente vítima. Essa reflexão
levou, também, à percepção de que a violência de gênero não alcança uma resposta
sociojurídica eficaz apenas com a racionalização da lei.
Palavras-chave: Discurso machista. Michel Foucault. Decisão Jurídica.
UM ESTUDO HERMENÊUTICO DA TEMPORALIZAÇÃO NA ÉTICA DO
CUIDADO DE SI
Cristina Batista de Araújo
UFMT/CUA/LIMIAR-CNPq – UFU/ PNPD-CAPES
Uma relação ética do sujeito consigo mesmo e com outros é aquela que cria um
distanciamento capaz de produzir a percepção não coincidente entre si próprio em relação ao
“outro lugar” (FOUCAULT, 1998, 2006). Essa localização do sujeito é única e tal exercício
de distanciamento se inscreve em uma singularidade. Por considerar que não se pode partir de
uma universalidade homogênea e sistêmica, a noção de tempo, tomada como categoria
histórica, parece uma baliza inquestionável, pois, apesar de todas as semelhanças entre um
antes e um agora, a temporalização que inscreve o sujeito é irremediavelmente diferente e
irreversível, e cada distanciamento colocará em questão uma nova relação entre o tempo e o
sujeito (quer por sua variação, duração ou singularidade). Portanto, como estabilizar a ideia de
temporalização nos escritos de Foucault sobre o distanciamento necessário ao exercício
estético de existência? Sabe-se que a temporalização histórica associa-se, em certa medida, ao
que se discute sobre os aspectos relativos àquilo que possibilitou a prática discursiva, quer em
termos de enunciação quanto de condições de produção e de ordem do discurso. Supõe-se que
as ações humanas associadas à esfera sócio-histórica governam e organizam aquilo que se
pode chamar, em sentido amplo, de formas de existência (relativas, por exemplo, ao dever e à
moral), e que se manifestam tanto em espaços públicos formalizados quanto em espaços
privados experienciais. Desse modo, ao realizar, na estética da existência de Michel Foucault,
um estudo hermenêutico sobre a temporalização como uma operação historiográfica
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(KOSELLECK, 2006), pretende-se contribuir para indagar como esse exercício ético pode
ocorrer diante das mais contemporâneas experiências que se apresentam como demandas de
nossa época.
Palavras-chave: Cuidado de si. Ética. Temporalização.
OS SIGNOS DA LOUCURA – CULTURA E FOUCAULT
Cleiton da Silva Rodrigues
Universidade Federal de Goiás – Regional Catalão
Prof.ª Dr.ª Luciana Borges
O presente artigo visa identificar e indagar os significantes que estiveram, durante toda a
historicidade humana, ligadas ao que em cada tempo específico e de modo atrelado à
perspectiva cultural que se tinha em dada época era interpretado como sendo loucura. Michel
Foucault trata a questão discorrendo sobre as diversas visões pelo qual a figura do louco
esteve ligada e relacionando-a ao modo como cada meio cultural a atribuía como algo
destoante ou inconcebível em sua cultura. Para tanto, a relação que se é estabelecida sobre o
entendimento que se há sobre loucura nos remete à assertiva frase de Raul Seixas: “A arte de
ser louco, é jamais cometer a loucura de ser um sujeito normal.” Sendo assim, é perceptível o
que afinal foi e ainda é interpretado como loucura, algo que apenas foge da normatividade
estabelecida em cada cultura em específico. A fala de razão, como tentativa de se estabelecer
uma possível explicação para o que seria uma identificação do louco, foi posteriormente
mostrada falha, pois como mesmo disse Foucault: “A loucura da loucura está em ser
secretamente razão.” (FOUCAULT, 1961). Entre tantas outras hipóteses que também
falharam em seu modo de buscar explicações para se compreender a loucura, aquela que se
refere à relação cultural ente a forma de o sujeito vivenciar e experimentar sua existência e as
virtudes culturais que estereotipam o indivíduo, se mostra como sendo a mais adequada, pelo
que se é observado e para aquilo que será mostrado no decorrer deste artigo. Foi utilizado
como suporte teórico o livro História da Loucura (1961) de Michael Foucault e Holocausto
Brasileiro (2013) de Daniela Arbex.
Palavras-chave: Loucura. Cultura. Foucault.
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