BLOCOS DE CONCRETO PRODUZIDOS COM AGREGADOS
DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO – RCD:
PROCESSO DE PRODUÇÃO.
Edson Antonio França
Aluno do IFMT, Campus Cuiabá, bolsista PROEX
Everton Gomes Queiroz
Aluno do IFMT, Campus Cuiabá, bolsista PROEX
Fernanda Batista Rabuske
Aluna do IFMT, Campus Cuiabá, bolsista PROEX
Luiz Vicente Ledur de Souza
Aluno do IFMT, Campus Cuiabá, bolsista PROEX
Juzelia Santos Costa
Prof.ª Doutor.ª do IFMT, Campus Cuiabá, orientadora
Resumo
Recentemente o Brasil está crescendo muito em termos populacionais, o que aquece o
mercado imobiliário com várias construções de habitação e comércio. Esse fato acarreta
muitos danos ao meio ambiente, tais como o descarte de resíduos de construção e
demolição (RCD) em lugar não apropriado. Uma pesquisa desenvolvida pelo IFMT visa
avaliar a viabilidade do máximo aproveitamento do RCD para construção de habitações,
por meio da construção de uma casa (protótipo) utilizando blocos fabricados com
agregados reciclados. Este trabalho relata a experiência do processo produtivo de
agregado para produção de blocos. Detalhando cada etapa da produção, desde a coleta e
seleção do RCD, passando pelas fases de britagem, moagem, classificação, mistura e
avaliação da matéria prima. As observações realizadas podem servir de forte
embasamento para a execução de pesquisas futuras no âmbito da reciclagem de RCD
para fabricação de blocos. Dessa forma contribuindo com a sustentabilidade na proteção
do meio ambiente.
Palavra chave: reciclagem, agregado, resíduo da construção civil.
1 Introdução
O setor da construção civil é responsável por diversos impactos
ambientais, que atingem diretamente e indiretamente a população; com o uso
intenso de recursos naturais não renováveis e da grande geração de resíduos
sólidos, o popular entulho, tecnicamente denominado RCD (Resíduo de
construção e demolição). Praticamente todas as atividades desenvolvidas no
setor da construção civil são geradoras de RCD. (LEVY, HELENE,1997);
(MIRANDA, 1999).
O RCD (Rejeito de Construção e Demolição) representa em torno de 2/3
em massa dos resíduos sólidos urbanos e em sua grande parte são jogados de
maneira inadequada no meio ambiente, podendo gerar enchentes, prejuízos à
paisagem, obstrução de logradouros públicos, proliferação de doenças,
transformação de áreas agrícola em estéreis, além de impactar significativamente
no custo de coleta e das áreas de descarte. Aliada a esse problema, a demanda
por matéria-prima na indústria da construção civil é crescente. Com a
necessidade de diminuir os impactos ambientais e a busca de substituir os
agregados naturais, a brita e a areia, houve a necessidade de reciclar esses
rejeitos. (HANSEN, 1992); (COSTA, 2006).
No intuito de amenizar os prejuízos causados pela falta de gerenciamento
do RCD (Rejeito da Construção e Demolição) a pesquisa que gerou o presente
trabalho visa implantar um programa de gestão de meio ambiente na
Comunidade de São Vicente (MT), para proporcionar as coletas seletivas dos
resíduos e destina-los ao reaproveitamento; fomentar as boas pratica de
reciclagem para a comunidade escolar e circunvizinha; promover a
conscientização na preservação do meio ambiente com responsabilidade; realizar
os cursos de pedreiro, armador e eletricista; juntamente com a construção de 3
casas protótipos e difundir as técnicas construtivas e sustentáveis, promovendo o
desenvolvimento social.
2 - Seleção dos materiais
Os resíduos foram selecionados de acordo com a composição inicial do próprio e
se no local de permanência do resíduo nenhum tipo de matéria orgânica
contaminou esse material. Assim que coletados os materiais, eles são
transportados até o Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT-Campus Cuiabá)
onde ficam armazenados em baías no laboratório do IFMT.
Figura 1 – baía com os materiais selecionados
3 - Produção dos materiais
Depois de selecionados e armazenados os materiais passam por alguns processos
de produção.
Processo de britagem: nesse processo os materiais são depositados dentro de
um britador de mandíbula para que seja triturado, no caso ele vem com um
sistema de peneiramento onde separa agregado miúdo do agregado graúdo
(Figura 2).
FIGURA 2 – Resíduo de Construção e Demolição sendo jogado na boca do britador (a),
as mandíbulas triturando o RCD(b) e a forma como o material ficou após a britagem e o
processo de separação do britador (c).
Processo de moagem: necessária somente para reaproveitar mais ainda os
materiais, pois devido ao traço escolhido algumas granulometrias do agregado
graúdo não são utilizadas então o aproveitamos a partir da sua moagem em um
equipamento de Abrasão Los Angeles onde é moído para se transformar em
agregado miúdo (Figura 3).
FIGURA 3 – Resíduo de Construção e Demolição após britagem (a) e após moagem(b).
Processo de classificação: Após trituração e moagem, os agregados reciclados
são separados por peneiramento e classificados de acordo com a granulometria
obtida. A seguir frações devidamente classificadas e identificadas são
armazenadas em tambores (Figura 4).
FIGURA 4 – o peneirador (a), o RCD após a classificação (b), tambores (c) a
identificação dos tambores (d).
4 – Produção dos blocos
Após a classificação, os materiais são submetidos a um estudo de
dosagem de concreto, a fim de determinar o traço adequado à moldagem dos
blocos. Após a definição do traço procede-se a produção dos blocos.
(a) (b)
Mistura dos materiais (Figura 5): Pesa-se o cimento e o RCD, que no traço
substitui a areia e/ou a brita de acordo com a classificação granulométrica
obtida. Após a pesagem faz-se a mistura manualmente com auxílio de pá e
enxada. A mistura em betoneira é inviável devido ao “espeloteamento” do
material. Todos os materiais são depositados no chão e misturam-se primeiro os
materiais secos, por ultimo a água, que é adicionado aos poucos. A quantidade
de água é determinada por meio de teste táctil-visual que indica a coesão
necessária para à moldagem dos blocos. O resultado é um concreto de
consistência seca (figura 5 d).
FIGURA 5 – O material misturado com o cimento em cima(a) mistura do material com
o cimento(b) após todo o material seco estar misturado abra-se um vão no meio e
deposito uma quantidade de água (c), mistura dos materiais com água (c) o teste táctil-
visual (d) o teste táctil-visual (e)
Prensagem dos Blocos (Figura 6): A mistura de concreto produzida é
depositada na prensa hidráulica e são aplicadas duas prensagens consecutivas
por bloco. Em seguida o bloco é retirado com cuidado devido ao bloco estar
muito fragilizado podendo quebrar ou rachar facilmente, colocado em um
azulejo e transportado para a área de cura.
FIGURA 6 – o material que acabou de ser prensado (a) o cuidado na hora de retirar o bloco (b)
a colocação no azulejo (c) o bloco pronto para ser levado até a área de cura (d)
Cura dos blocos
Após a moldagem os blocos são levados para uma área reservada do IFMT. Durante um
período de 24 horas são mantidos cobertos com lona para preservar a umidade. A cura
tem-se inicio no segundo dia, ela é feita pelo processo de molhagem até o sétimo dia.
Encerrada a cura são retirados seis corpo de prova por lote, capeados e rompidos aos
sete dias para analise de resistência a compressão. (Figura 7)
FIGURA 7 – os blocos que acabaram de ser transportados para a área de cura(a) a lona cobrindo
os blocos(b) tirando a lona para a molhagem(c) molhagem dos blocos(d) depois do tempo de
cura os blocos são empilhados(e).
Conclusão
Este trabalho foi gerado em função do desenvolvimento de um amplo projeto de
educação ambiental e reaproveitamento de resíduos de construção e demolição para
aplicação na comunidade da Serra de São Vicente (MT).
No desenvolvimento do projeto diversas dificuldades foram encontradas nos processos
de classificação, mistura e moldagem dos blocos de RCD.
Ao final do projeto os autores pensaram em fazer uma publicação detalhada do processo
produtivo dos blocos de RCD que pudesse auxiliar outros pesquisadores no
desenvolvimento de suas pesquisas.
Assim sendo, conclui-se que foi possível construir o artigo de forma clara e objetiva de
modo a esclarecer quaisquer dúvidas na produção dos blocos de RCD.
Referencias bibliográficas
- ABNT NBR NM 45 – Determinação da massa unitária e do volume de vazios.
- ABNT NBR 9780 – Peças de concreto para pavimentação – Determinação da
resistência a compressão – Método de ensaio.
- ABNT NBR NM 30 – Agregado miúdo – Determinação da absorção de água.
- ABNT NBR NM 46 – Agregados – Determinação do material fino que passa através
da peneira 75µm, por lavagem.
- ABNT NBR NM 43 – Cimento Portland – Determinação da pasta de consistência
normal.
- ABNT NBR 7215 –Cimento Portland – Determinação da resistência a compressão.
- ABNT NBR 12118 – Blocos vazados de concreto simples para alvenaria – Método de
ensaio.
- ABNT NBR 9776 – Agregados – Determinação da massa especifica do agregado
miúdo por meio do frasco Chapman.
-HELENE, P.; TERZIAN, P. R. Manual de Dosagem e Controle do Concreto. São Paulo: PINI,
1992. 350 p.
-HANSEN, T.C. RILEM Report 6 - Recycling of Demolished Concrete and Mansory. London,
E& FN SPON na imprint of Chapman & Hall. 1992. 305p.
-MIRANDA, L.F.R. Estudo de fatores que influem na fissuração de revestimentos de argamassa
com entulho reciclado. São Paulo, 2000. 172 p. Dissertação (Mestrado) – Escola Politécnica,
Universidade de São Paulo.
-COSTA, J.S. Agregados alternativos para argamassa e concreto produzidos a partir da
reciclagem de rejeitos virgens da indústria de cerâmica tradicional. Tese de doutorado
em Ciência e Engenharia de Materiais. São Carlos, 2006.