AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: A perspectiva da construção do conhecimento.
Autor: Antonio Carlos de Quadros Gonçalves Júnior1 Orientadora: Neiva Leite2
RESUMO
O presente estudo teve como objetivo principal promover reflexões e discussões sobre a avaliação escolar na área da Educação Física dentro da escola pública do estado do Paraná. Estas reflexões e discussões foram realizadas em conjunto com os professores de Educação Física do Colégio Estadual Pedro Macedo, situados em Curitiba (Paraná) e por outros professores participantes do Grupo de Trabalho em Rede do ano de 2011. Os resultados foram a construção de proposta inovadora com enfoque diferenciado na disciplina de Educação Física em relação à avaliação escolar. A elaboração coletiva de estudos e reflexões serviu como ponto de partida para novas discussões e questionamentos sobre a avaliação em Educação Física Escolar, possibilitando subsídios aos professores da rede estadual pública do Paraná para melhorarem seu trabalho pedagógico. Essa construção sobre a avaliação foi pautada por estudos teóricos e aplicações práticas sobre a práxis da avaliação no cotidiano das aulas de Educação Física.
Palavras-chave: Reflexão; Educação Física; Construção coletiva; Experiências pedagógicas.
1 INTRODUÇÃO
A concepção de escola pública de qualidade, com acesso e direito à
permanência para todos, tornou necessária a reflexão crítica sobre a avaliação e,
em particular, sobre a avaliação na disciplina de Educação Física Escolar para
verificar erros e propor soluções para os problemas verificados na Educação Física
Escolar. O papel da avaliação na escola tem sido questionado nesses últimos anos 1 Professor PDE, área de Educação Física. Atua no Colégio Estadual Pedro Macedo e Colégio Estadual Prof. José Guimarães, ambos em Curitiba, PR. E-mail: [email protected]. 2 Professora adjunta do Departamento de Educação Física, UFPR..
pelo seu caráter classificatório e excludente. Diversos autores* escreveram sobre a
avaliação e seus problemas na educação brasileira, relatando em seus livros e
artigos os diversos diagnósticos de como a avaliação estava sendo conduzida nas
escolas brasileiras. Entretanto, a avaliação é ferramenta de diagnóstico, de
percepção do estado de conhecimento do aluno, e não deve ser deixada de lado,
nem mal interpretada ou mal realizada. A avaliação serve ao propósito maior que é o
ato de educar; não serve, pois, somente ao aluno, para que lhe informe resultados
ou notas e, nem somente ao professor para classificar e aferir notas aos seus
alunos.
A avaliação escolar precisa ser discutida sob o olhar das modificações da
sociedade contemporânea, em que atividades sedentárias fazem parte do cotidiano
de muitas crianças e adolescentes, por razões de segurança, praticidade ou mesmo
pelo modismo da sociedade atual. Desta forma, muitos problemas de saúde têm
sido verificados precocemente em escolares, muitos deles relacionados ao estilo de
vida não saudável, como o sedentarismo e a alimentação inadequada (MENDES;
LEITE, 2012). Dentro desta perspectiva, avaliar significa diagnosticar para propor
ações que constroem dentro e fora da escola, não só o educando no contexto
escolar, mas dentro do ambiente familiar e social.
A tendência atual da avaliação, e em especial na Educação Física, é de que
a avaliação seja amplamente discutida dentro do construtivismo e do senso crítico.
Ou seja, repensar a avaliação, sua utilização, seu conceito, seu fim. A construção de
nova proposta em avaliação física escolar surge a partir da realidade da sociedade
contemporâneal e do comportamento dos escolares frente ao modelo atual da
educação física. Desinteresse nas aulas, aplicação de uma avaliação classificatória
por rendimento ou por habilidades técnicas, a recusa em participar de determinadas
atividades práticas que envolvam o uso de habilidades e capacidades motoras mais
elaboradas, são alguns dos fatores e causas que devem ser analisadas. Modificar a
avaliação da forma que por muitos anos foi realizada e propor novo modelo de
acordo com perspectivas críticas, possibilitará a valorização do educando,
transformando-o como protagonista da história e que seja avaliado segundo
aspectos formativos e não “esportivos”.
* SOARES et. al., 1992; PALLAFOX ; TERRA, 1998; FARIA JÚNIOR, 1985; GHIRALDELLI JUNIOR, 1991; LUCKESI, 1995; BARBOSA, 2010.
Todas estas causas e fatores de desinteresse e repulsa do educando em
relação às aulas práticas de educação física, são explicitados diretamente quando
do momento da avaliação. Questiona-se a avaliação quando se faz a seguinte
reflexão: Quando avaliar, como avaliar e porque avaliar? Então, se o educando já
demonstra sua insatisfação e desinteresse nas atividades diárias da Educação
Física, quando chega o momento da avaliação, que por muito tempo foi baseada
numa perspectiva reproducionista, em que se valorizava e se contemplava apenas
ou com maior ênfase o educando mais habilidoso ou técnico, o educando acaba por
sentir-se excluído das aulas e será prejudicado em seu aprendizado. Desta forma,
os educandos poderão ser discriminados nas aulas, pois serão avaliados segundo
critérios de rendimento e técnica e sua auto-estima será influenciada para repelir e
ou rejeitar qualquer forma de atividade prática relacionada à educação física
envolvendo demonstrações de habilidades motoras.
Destaca-se que a avaliação é necessária como ferramenta diagnóstica para
propor a intervenção. É urgente modificar a forma de avaliação da educação física
escolar, para que os educandos não sejam classificados por desempenho e
segundo critérios atléticos e desportivos que não estão de acordo com a perspectiva
crítica. Por este motivo, há necessidade de pesquisar, investigar, dialogar com
professores da área de Educação Física, dentro de grupos de estudo, Grupos de
Trabalho em Rede (GTR), formação continuada e hora atividade concentrada e,
elaborar proposta de avaliação baseado numa perspectiva construtivista, em que o
educando sinta-se valorizado nas aulas de Educação Física.
No âmbito do planejamento, do currículo e do plano de aula, a maior parte
dos professores da rede pública estadual, de acordo com os encontros que já foram
realizados em anos anteriores, sejam grupos de estudo, formação continuada, GTR
e outros, estão preparando e trabalhando suas atividades diárias de acordo com as
Diretrizes Curriculares da Educação Básica e do Ensino Médio da Secretaria
Estadual da Educação do Estado do Paraná. O problema verifica-se no momento da
avaliação. Em repensar a prática e rever os erros para elaborar um novo modelo de
avaliação que pretendo discutir e implantar na escola em conjunto com professores
da área.Repensar práticas pedagógicas, rediscutir planos de ação e estratégias,
rever metodologias e, ao final deste processo, reelaborar a avaliação. Por isto,
destaca-se a necessidade desta pesquisa e de acordo com a proposta da nova
escola pública.
Segundo Barbosa (2010), deve-se questionar o seguinte em se tratando de
avaliação: Qual a finalidade de qualquer processo ensino-aprendizagem? Podemos
realmente ensinar algo ou apenas facilitar o aprendizado de alguém? É quase certo
que não tenhamos respostas definitivas para essas indagações, e afinal, o que é
avaliação educacional e para que serve, se não para se configurar num momento de
reflexão sobre as práticas pedagógicas?
2 AVALIAÇÃO – MOMENTOS HISTÓRICOS EM QUESTÃO
O quadro da avaliação em Educação Física por muitos anos foi baseado em
uma perspectiva reproducionista em que havia valorização do desempenho
esportivo em que eram consideradas técnicas e habilidades acima de outros critérios
e os educandos eram classificados pelo seu desempenho (SOARES et al., 1992).
Na área da Educação Física escolar, a avaliação estava sendo pautada em
um paradigma de aptidão física que tem contribuído para a formação de um modelo
de homem forte, pronto para o mercado de trabalho (SOARES et al., 1992).
Esta dimensão, que reduz as possibilidades pedagógicas da Educação
Física, tem como consequência limitações em como a avaliação estava sendo
conduzida na sua finalidade, sua forma e seu conteúdo. Tal perspectiva reducionista
da avaliação na Educação Física escolar estava sendo utilizada como referencial por
muitos professores para avaliar seus alunos.
Esta avaliação da aprendizagem em Educação Física, demonstrava os
aspectos quantitativos de mensuração do rendimento e da performance do
educando, através de gestos técnicos, destrezas motoras e qualidades físicas, com
o objetivo de selecionar e classificar os alunos para a aprovação ou a reprovação.
Uma questão pertinente que foi levantada por professores da área: O aprendizado
do gesto técnico, das destrezas motoras e das qualidades físicas está inserido nas
DCEs da disciplina de Educação Física e portanto entende-se que, seu aprendizado
é importante, porém o modo para que todos os educandos sejam contemplados
neste aprendizado deve ser o de respeitar diferenças biológicas, e outros fatores
que podem limitar ou retardar o processo de aprendizado dos alunos menos “aptos”
para estes conteúdos.
E hoje, que tipo de avaliação está sendo feita na disciplina de Educação
Física? Será que nós, professores da rede estadual de ensino público estamos
aplicando a avaliação como instrumento de diagnóstico ou ainda a utilizamos como
instrumento de classificação, ou não sabemos exatamente para que serve a
avaliação e como utilizá-la no processo ensino-aprendizagem?
Não só a escola mudou nesses últimos anos, não só as tendências
pedagógicas passaram por processos de transformação e evolução, o educando
também não é mais o mesmo. As novas tecnologias tornam a vida do homem mais
confortável. Por outro lado, trazem consequências indesejáveis para a saúde desse
homem. Sedentarismo, hábitos alimentares inadequados, falta de tempo para o lazer
e para as atividades físicas, acabaram por causar problemas sérios á saúde pública.
Índices de obesidade que estão aumentando a níveis alarmantes nas crianças,
adolescentes e adultos e doenças relacionadas à obesidade, que são efeitos da falta
de atividade física em geral, inclusive nas escolas, demonstram o grave problema
que temos de enfrentar hoje em dia.
Então devemos também passar a questionar o por que das aulas de
Educação Física nas escolas terem carga horária inadequada para auxiliar a
resolver esses problemas sociais. Isto também é um processo avaliativo de
diagnosticar causas e encontrar soluções. Será que a disciplina de Educação Física
não pode desempenhar seu papel nessa questão? Devemos resgatar a Educação
Física e a avaliação como forma de diagnóstico e intervenção educacional junto aos
educandos. Para que os educandos percebam e conheçam a importância do
movimento tanto na Educação Física e seu aprendizado motor, quanto no aspecto
da sociabilização e da saúde em geral.
Para melhor compreensão da avaliação da aprendizagem em Educação
Física no contexto escolar, faz-se necessário o entendimento sobre as tendências
pedagógicas no Brasil nas últimas décadas. Dois educadores brasileiros tem se
destacado no estudo das pedagogias que vêm norteando a educação brasileira
nestes últimos anos, Demerval Saviani e José Carlos Libâneo, que classificaram as
tendências em não críticas e em crítico-reprodutivistas (Saviani, 1985) e em liberais
(tradicional, renovada progressista, renovada não diretiva e tecnicista) e
progressistas (libertária e crítico-social dos conteúdos) (Libâneo, 1986).
O método da pedagogia liberal tradicional utiliza a aula expositiva para o
aluno ouvir e aprender e esse é o seu papel. O professor é o protagonista que detém
o saber, usa e abusa de seu autoritarismo na avaliação. Segundo Luckesi (1985), a
prática da avaliação dentro de modelo liberal conservador tem de ser
obrigatoriamente autoritária, pois exige controle e classificação dos indivíduos em
parâmetros previamente estabelecidos de equilíbrio social. Ainda encontramos
muitos professores utilizando a avaliação como elemento disciplinador. A avaliação
neste método indica uma simples verificação quantitativa daquilo que o aluno
aprendeu sobre os conteúdos repassados. Avalia-se o resultado final e não o
processo de aprendizagem. Esta forma de avaliação reduz as possibilidades de
aprendizagem do educando levando-o ao desinteresse sobre as aulas de Educação
Física.
Outra tendência foi o da Escola Nova, cuja tendência é denominada por
Ghiraldelli Júnior (1989) de pedagogicista. Segundo o autor, a Educação Física é
uma disciplina educativa, porém esta tendência ainda está comprometida
didaticamente sobre parâmetros militaristas da pedagogia liberal. A Escola Nova
trouxe diferentes perspectivas para a Educação Física. As pedagogias renovadas
não se preocupavam com a quantidade dos conteúdos adquiridos, mas com o
processo e a qualidade da assimilação destes conteúdos.
A partir das tendências progressistas, houve mudança de atitude em relação
às práticas avaliativas em Educação Física Escolar. A avaliação da aprendizagem
passa a ser tratada como a totalidade do fazer pedagógico, sendo que o processo
avaliativo envolve questionamentos acerca dos objetivos, conteúdos, metodologias,
da relação professor/aluno, aluno/aluno, sociedade/escola, etc. Todo o processo
educativo passa a ser questionada quanto às práticas avaliativas que utilizamos no
contexto escolar.
Pallafox (1992), afirma que a avaliação é:
Um processo de obtenção de informações integradas a um sistema de trabalho que apresenta finalidades e objetivos pré-determinados. Visa a definição e execução de procedimentos de mensuração qualitativa e ou quantitativa, ao estabelecimento de critérios de julgamento, assim com a coleta de dados e sua interpretação a luz de referenciais teóricos, tendo em vista a tomada de decisões.
Este processo se materializa e se concretiza na prática social de acordo com
os interesses contidos e explicitados no sistema de trabalho político-pedagógico,
motivo pelo qual reflete as concepções de homem, mundo, sociedade e práticas
científicas daqueles que o criam e o sustentam diariamente. A análise sobre a
avaliação no processo ensino-aprendizagem na educação física escolar no Brasil
tem revelado alguns dados interessantes que corroboram as limitações encontradas
no processo.
Os estudos sobre a avaliação em educação física estão fundamentados
numa única direção, onde as preocupações principais têm sido os métodos usados,
testes, materiais e sistemas, que estabelecem critérios com fins classificatórios e
seletivos (FARIA JÚNIOR, 1989). A avaliação assume aqui caráter seletivo,
disciplinador e meritocrático, legitimando assim o fracasso escolar, a discriminação e
a evasão do aluno da escola.
A avaliação é muito mais do que aplicar testes, levantar medidas, selecionar
e classificar os educandos. Para melhor compreensão a avaliação deveria esta
relacionada diretamente com o projeto político pedagógico da escola, pelo trabalho
pedagógico e pelo que a escola assume, vivencia, modifica e transforma para uma
sociedade mais justa e igualitária que queremos construir e que na escola isto se
concretiza.
Considera-se que a avaliação tem sido utilizada e entendida como mera
verificação da aprendizagem. Nesta avaliação, perde-se o sentido de examinar os
possíveis erros do professor (pois eles existem e devem ser verificados;
metodologias, etc.), do processo de ensino-aprendizagem (conteúdos inadequados,
mal estruturados, repassados com pressa, para atender processos burocráticos,
para verificar deficiências de aprendizagem dos alunos, enfim, a avaliação tem sido
apenas instrumento classificatório para atender exigências burocráticas.
A Educação Física deve ser compreendida com uma disciplina do currículo
em que o objeto de estudo é a expressão corporal como linguagem. Para entender a
questão da avaliação sobre este estudo, fica claro que, este processo seja limitado
em suas significações, implicações e consequências pedagógicas, políticas e
sociais. A avaliação deve ser entendida com um dos aspectos essenciais do projeto
pedagógico onde se materializam mecanismos estruturantes e limitantes do
processo ensino-aprendizagem.
Deve-se considerar que o processo ensino-aprendizagem da Educação
Física envolve aspectos do conhecimento, habilidades e atitudes, levando-se em
conta as condutas sociais dos alunos na suas manifestações, tendo a expressão
corporal como linguagem. A proposta de avaliação do processo ensino-
aprendizagem deve, portanto, levar em conta a observação, análise e conceituação
de elementos que compõem a totalidade da conduta humana e que expressam seu
envolvimento com as atividades.
Por outro lado, a avaliação poderia assumir um aspecto mais condizente
com a realidade de nossa sociedade de consumo, não se retornando as práticas
avaliativas anteriores que claramente como já visto anteriormente, reduzem as
possibilidades de aprendizagem dos educandos.
Pensar em uma avaliação que, contemple todos os aspectos do domínio do
conhecimento tanto cognitivo, como afetivo e psicomotor, e que, traduza esse
conhecimento dentro da Educação Física em algo que seja exequível e realizável,
pois segundo relatos de professores da área, a gama de conteúdos a serem
ministrados em relação as horas aula hoje existentes de acordo com grade curricular
advinda da Secretaria de Estado da Educação (SEED), para a disciplina de
Educação Física, torna a tarefa do professor como algo muito difícil se,
relacionarmos com outras disciplinas.
Com isso em perspectiva, o trabalho do professor de Educação Física deve
ser de além de simplesmente repensar a avaliação, repensar também o seu
planejamento, voltando as questões de o que ensinar, antes de pensar no como
ensinar e avaliar o que dentro desse processo. E também o de rediscutir o currículo
da Educação Física frente a esses desafios e, além disso, observar o crescente
aumento de crianças, adolescentes e jovens sedentários em nossa sociedade, no
que se traduz em problemas nas escolas em relação á disciplina de Educação Física
e as questões de saúde pública e desenvolvimento futuro de patologias relacionadas
a essas questões.
2.1 Uma Reflexão sobre a Avaliação na Educação Física Escolar
Partindo do pressuposto de que o professor de Educação Física da rede
pública estadual do Paraná tem real compreensão e domínio da proposta
pedagógica contida nas Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná, em todos os
seus aspectos e em sua totalidade, podemos considerar então que a discussão
sobre a Avaliação na Educação Física Escolar seria apenas uma retórica sem
sentido.
Porém, analisando situações encontradas na realidade da escola pública
estadual do Paraná, em relação a essa premissa inicial, pode ser percebido e
destacado que, em primeiro lugar, nem todos os professores da rede pública
estadual do Paraná conhecem a proposta pedagógica da construção do
conhecimento com clareza e entendimento suficientes para, no momento da
avaliação, poderem contemplar exatamente a avaliação com ferramenta de
diagnóstico.
Essa ferramenta é necessária para seu trabalho pedagógico e para
reelaborar seu planejamento, seus objetivos, sua metodologia e suas estratégias de
ação, caso sejam percebidas falhas no processo ensino-aprendizagem.
Em segundo lugar, observa-se que, se por um lado, parte dos professores
ainda desconhece ou interpreta com equívocos a leitura das Diretrizes Curriculares
do Estado do Paraná e sua utilização no processo ensino-aprendizagem. Outra
parte dos professores de Educação Física estabelece com eficiência a abordagem
metodológica da construção do conhecimento por parte de seus educandos em seu
trabalho pedagógico, porém, encontrando dificuldades na compreensão e
interpretação das DCEs quando da discussão e proposição do processo avaliativo.
Uma reflexão sobre a prática pedagógica da avaliação, que vise melhorar a
qualidade do processo educacional é pressuposto básico para que possa ser dado
salto de qualidade na escola pública estadual do Paraná.
Ainda na literatura sobre o tema da avaliação, Pedro Demo, que se refere na
introdução de seu livro Metodologias da Avaliação, diz que:
A avaliação só faz sentido se favorecer a aprendizagem. Todavia, não se realiza aprendizagem qualitativa, sem avaliar. Quando se combate o tom classificatório, [...] pretende-se, no fundo, superar abusos da avaliação, no que estamos todos de acordo, mas não se poderia retirar dai que avaliação , de si, não é fenômeno classificatório. Será mister distinguir acuradamente entre abusos de classificação , de teor repressivo, humilhante e punitivo, e efeitos classificatórios implicados em qualquer processo avaliativo, também dito qualitativo (DEMO, 2002, p. 2-3).
Esse é o primeiro ponto de discussão: Sobre a linha que divide a avaliação
como o ato de avaliar realmente o conhecimento do educando e como fazê-lo, da
avaliação classificatória ou meritória apenas para registro de livro de classe ou
referencial nos boletins escolares. Para incrementar tal discussão, observemos este
parágrafo:
[...] podemos afirmar que a avaliação, ao contrário do que se aventa, é feita para classificar, busca comparar, contrasta as pessoas sobre cenários onde sempre há quem esteja mais em cima e quem esteja mais em baixo. Assim, em vez de negar seu contexto classificatório, é bem melhor e mais realista, argumentar sobre razões pedagógicas de classificação e seus riscos óbvios. Avaliamos, entre outras coisas, para saber da distância entre o lugar que ocupa no momento o aluno e o lugar onde deveria estar. Para tanto, é mister, primeiro, classificar sua posição desfavorável, claramente, com o melhor arranjo do conhecimento, porque só podemos mudar o que bem conhecemos. Segundo, com tal diagnóstico na mão, é possível estabelecer a estratégia mais adequada para deixar a posição desfavorável e caminhar para outra mais favorável, que também precisa ser classificada. Por isso, dizemos que a sociedade não pode prometer a igualdade, mas pode estabelecer estratégias de equalização das oportunidades, o que supõe ambiente onde as oportunidades não estão alegremente disponíveis, mas desigualmente ocupadas. É nesse sentido que dizemos ser necessário classificar, para garantir que o aluno que não aprende possa ter preservado seu direito de aprender.[...] Escamoteando-a [a classificação], não a desfazemos. Apenas a tornamos ingênua ou malevolamente classificatória, pois negar o contexto classificatório dentro da sociedade que a tudo e a todos classifica é empanar as chances do desigual com a fantasia de que não precisa lutar (DEMO, 2002, p. 18-19).
Ora, nesta citação de Pedro Demo, percebe-se claramente que avaliar é
necessário e importante. Porém, o professor deve antes de iniciar seu planejamento
anual, realizar avaliação diagnóstica para verificar o exato ponto de partida do
conhecimento de seus educandos, para, a partir daí, construir seu planejamento, os
conteúdos a serem trabalhados, os objetivos a serem alcançados, as metodologias a
serem utilizadas e a própria avaliação em si, que pretende implementar para verificar
os resultados alcançados por seus educandos.
Sabe-se que haverá diferenças entre os educandos, alguns estarão numa
etapa abaixo no conhecimento a ser alcançado e outros estarão numa etapa acima
ou na etapa ideal do conhecimento a ser trabalhado, afinal, não se pretende aqui,
igualar o conhecimento para todos, pois os educandos são em essência diferentes
entre si, com histórias diferentes, culturas diferentes, de famílias diferentes, ou seja,
não se pode cometer o erro de considerar que todos os educandos alcançarão
resultados iguais ao final do processo ensino-aprendizagem. O que deve ser feito é,
segundo Demo, oportunizar as possibilidades de conhecimento e saber para todos
de maneira igualitária.
Demo cita diversas vezes o tom classificatório da avaliação, o condena,
como todos nós professores o fazemos, mas não o recrimina, ele procura
estabelecer ao leitor, uma reflexão sobre esta classificação, sobre a diagnose do
aluno, do ponto de partida ao ponto que queremos que o educando alcance, do seu
direito ao conhecimento e das oportunidades; da objetividade e do realismo ao
observar e compreender a avaliação como uma ferramenta de apoio importante no
processo ensino-aprendizagem.
Maria Tereza Esteban (2001, p.16), também cita sobre a avaliação:
A avaliação que impede determinadas vozes, é uma prática de exclusão na medida em que vai relacionando o que pode e deve ser aceito na escola. A análise da prática pedagógica mostra claramente que a avaliação, como prática construída a partir da classificação das respostas do aluno e alunas em erros e acertos, impede que o processo ensino-aprendizagem incorpore a riqueza presente nas propostas escolares, o que seria valorizar a diversidade de conhecimentos e do processo de sua construção e socialização. A avaliação funciona como instrumento de controle e de limitação das atuações(alunos/professores) no contexto escolar.
Em parte, se pode concordar com a afirmação da autora sobra a avaliação
ser entendida, colocada, aplicada e utilizada somente com este critério meramente
classificatório, que limita e empobrece o trabalho pedagógico do professor e nega a
diversidade da construção do conhecimento e sua socialização.
Por outro lado, se observa em muitas escolas que muitos professores
conhecem e aplicam a proposta pedagógica da construção do conhecimento, sabem
integrá-la ao seu planejamento, aos seus objetivos que se tornam claros aos
educandos, aos conteúdos que são trabalhados nessa perspectiva, nas
metodologias que são utilizadas e principalmente na avaliação. Estes professores
conseguem realizar trabalho pedagógico eficiente e justo, pois oportunizam através
de uma avaliação diagnóstica, formativa e contínua, a oportunidade de seus
educandos terem acesso ao conhecimento a ao ato de aprender.
A avaliação deve ser vista dentro do contexto do processo ensino-
aprendizagem e, dentro da organização curricular. A avaliação desse modo, torna-se
uma ação constituinte desse trabalho e dessa organização. Não há sentido nem
lógica que um processo avaliativo não seja contínuo e formativo.
Em entrevista concedida à Revista Nova Escola, o especialista em
Educação, Celso dos Santos Vasconcelos, nos diz que:
A primeira questão a ser feita é avaliar para que? Para localizar a necessidade do aluno e para atender à superação. Quando então temos um aluno, ou vários, que não estão acompanhando, é preciso parar para atendê-los. È elementar. Quando a dificuldade é localizada, o professor precisa se comprometer com a busca de uma estratégia e com a superação da barreira (NOVA ESCOLA, s/d).
Refletir sobre estas questões deve levar o professor de Educação Física à
conclusão que não se deve conceber a avaliação se não pela perspectiva de
ensinar, de garantir o acesso ao conhecimento, de promover, de incluir o aluno ao
meio escolar. Se o processo de avaliação for excludente e resulta no afastamento do
educando da escola, então a avaliação perdeu seu rumo e sua razão de ser no
processo ensino-aprendizagem e dentro da escola.
Segundo o fascículo Raízes e Asas, publicado pelo CENPEC - Centro de
Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária,
A escola visa proporcionar ao aluno a educação básica a que todo cidadão tem direito e, portanto, a exclusão é uma violência a esse direito. A avaliação deve servir para subsidiar a tomada de decisões em relação à continuidade do trabalho pedagógico, não para decidir quem será excluído do processo (CENPEC, 1994, p.23).
Neste momento de reflexão sobre a avaliação, verifica-se essa citação e a
inserimos no contexto das aulas de Educação Física. Se o professor no seu ato de
avaliar, tem como referência uma avaliação excludente, classificatória e que serve
apenas para imprimir caráter de notação e registro, ele, consciente ou não desse ato
avaliativo, termina por embasar sua prática pedagógica seja ela tecnicista ou
construtivista, num mesmo patamar final de separação pura e simples do bom e do
mau aluno, do apto e do inapto, do habilidoso e do não habilidoso, do capaz e do
incapaz.
Ora, todo professor de Educação Física consciente de seu trabalho
pedagógico e de sua função social e da sua disciplina dentro do contexto escolar,
sabe que não existe ou não deve existir tal classificação e nem deve ser pensada
como avaliação e, sim como pura exclusão das aulas de Educação Física, daqueles
alunos que, por diversos motivos já conhecidos e estudados pelos professores da
área, tiveram suas oportunidades de aprendizagem tolhidas ou diminuídas em
relação aos mais “aptos”.
O professor de Educação Física consciente, tem em seu referencial a práxis
pedagógica do construtivismo e sabe que, os educandos tem diferenças entre si, em
relação a fatores como peso, altura, raça, sexo, maturação, aos domínios cognitivo,
afetivo e motor. Sabendo disso, o professor de Educação Física deve iniciar seu
trabalho com uma avaliação de seus alunos no início do período letivo, seja ele
anual ou semestral (blocos).
Nesta avaliação preliminar, o professor pode e deve verificar as deficiências
de aprendizagem de cada um de seus educandos para depois disso, construir seu
planejamento, escolher os conteúdos que serão mais trabalhados em relação à
outros que já estejam melhor assimilados, determinar os objetivos gerais e
específicos em relação ao que pretende ensinar e durante o processo ensino-
aprendizagem que ocorrerá, o professor pode realizar uma avaliação contínua,
diagnóstica e somativa de seus educandos para colher os melhores resultados em
relação ao que o educando necessita em relação à sua formação enquanto cidadão
e em relação aos objetivos propostos.
Quando no momento da avaliação diagnóstica, o professor deve objetivar
uma análise dos conhecimentos que o aluno possui naquele momento, para poder
daí iniciar nova aprendizagem. Esta avaliação permite que se faça um prognóstico,
ou seja, que o professor possa prever os resultados a serem atingidos. Tal
prognóstico se for realizado incorretamente pode levar o professor a fixar metas
demasiado altas ou baixas para os educandos.
Na avaliação formativa, o professor ao entender, no decurso do processo de
aprendizagem, que identificou-se aprendizagens bem sucedidas ou que
apresentaram dificuldades, possa ele reorientar seu trabalho no sentido de
possibilitar a todos os educandos a igualdade de oportunidades e a proficiência
desejada. Não se deve confundir avaliação formativa com avaliação contínua. A
avaliação deve ser contínua sim, porém, ela pode ser insuficiente para diagnosticar
falhas no processo e, portanto, ela deve ser também formativa, ou seja, que a
informação produzida seja reinvestida na melhoria do processo pedagógico. A
avaliação formativa serve para que o professor. Através das informações colhidas,
reoriente sua prática e, para o aluno compreender a aprendizagem não como um
produto de consumo apenas mas, que ele próprio deve ter um papel fundamental
nessa construção de seu conhecimento.
Na avaliação somativa, que ocorre ao final de um período seja ele anual,
semestral ou um ciclo, seu objetivo deve ser de verificar os resultados que foram
recolhidos por avaliações formativas e obter indicadores e referências que permitam
aperfeiçoar o processo ensino-aprendizagem. A avaliação formativa diz mais sobre o
processo analítico da aprendizagem do educando, enquanto a avaliação somativa
privilegia os resultados desse processo. Sua função deve ser de comprovar o tipo de
eficácia do trabalho educativo dando continuidade, alterando ou suspendendo-o. A
avaliação somativa deve ser criteriosa, clara, transparente e deve servir para que o
sistema de ensino (escola e professor) se confrontem constantemente com as
medidas de sua eficácia.
A avaliação não deve ser entendida ou vista fora de um contexto do trabalho
de ensino e aprendizagem e nem fora da organização curricular. Ela, a avaliação, é
ação constituinte desse processo de trabalho e organização. Por isso, deve-se
entender a avaliação como um processo contínuo e formativo.
Refletir sobre a avaliação deve nos levar à conclusão de que não se pode
conceber a avaliação escolar se não for numa perspectiva de ensinar, de garantir
acesso ao conhecimento, de promover, de incluir o aluno no processo de ensino-
aprendizagem. Se a avaliação resultar numa exclusão social, que afasta e expulsa
os educandos da escola, então a avaliação desvirtuou seu caminho e perdeu sua
razão de ser dentro da escola.
Tendo clareza sobre o tipo de homem que a escola pretende formar e o tipo
de sociedade que queremos construir, isso se refletirá na maneira como avaliamos
nossos educandos e nosso trabalho pedagógico, e no modo como apresentamos à
comunidade os resultados que alcançamos dentro de nosso trabalho pedagógico.
Todo professor sabe que, qualquer instrumento de coleta de dados sobre a
aprendizagem é bom, desde que seja adequado como recurso de investigação
sobre a aprendizagem dos educandos (pesquisa), de tal forma que estes
instrumentos possibilitem uma intervenção adequada na orientação e reorientação
de seu trabalho pedagógico.
O ato de avaliar serve para investigar e para intervir. Para tanto, o professor
pode construir os mais diversos e variados instrumentos, desde que esses
instrumentos sejam bem elaborados e adequados às suas finalidades. Portanto, se
estes instrumentos forem planejados e elaborados com requisitos metodológicos,
coletarão dados que revelarão verdadeiramente o grau de aprendizagem dos
educandos, o que garante ao professor um juízo de valor qualitativo e correto sobre
esse grau de aprendizagem e sua reorientação, sempre que seja necessário.
Outra questão a ser discutida reflete sobre os conteúdos. Os conteúdos
sendo importantes para estarem na proposta pedagógica curricular e nos planos de
trabalho docente, devem ser objeto de avaliação por parte dos professores. Essa
seleção de conteúdos com os quais o professor irá trabalhar é indissociável dos
critérios de avaliação e de expectativa de aprendizagem. Os professores devem ao
trabalhar determinado conteúdo, determinar quais instrumentos são mais
apropriados para avaliar seus educandos. Tais critérios devem ser a síntese do
conteúdo e devem estar vinculados às expectativas de aprendizagem e definição de
forma clara, os propósitos e a dimensão do que se pretende avaliar.
Os professores devem, em primeiro lugar, ter claro o que desejam com suas
atividades, ou seja, um plano de ação docente que organize o seu trabalho
pedagógico. É preciso ter intenções para se chegar a algum lugar. Nesse caso, essa
intenção é de que nossos educandos aprendam o que necessitam, da melhor forma
possível. Em segundo lugar, investir para que os resultados sejam obtidos, de
acordo com o que se deseja alcançar. Não existe resultado bem sucedido sem
investimento adequado e persistente.
O professor precisa praticar a avaliação a serviço de seu plano de trabalho
docente, a serviço da obtenção de resultados esperados, utilizando a avaliação
como recurso de diagnóstico da aprendizagem de seus educandos, de maneira a
orientar suas intervenções para a melhoria dos resultados desejados.
Os instrumentos de avaliação devem ser construídos de forma
metodológica, cientificamente adequados, planejados para cobrir os conteúdos
ensinados e que devem ser aprendidos por parte dos educandos. A diversidade
desses instrumentos e técnicas avaliativas é fundamental. Deve se considerar que o
valor de um instrumento ou técnica avaliativa reside na sua capacidade de fornecer
ao professor, subsídios que o auxiliem e ao aluno a desenvolverem uma melhora no
processo de aprendizagem.
Essa diversificação dos instrumentos de avaliação está indissoluvelmente
ligada à concepção de avaliação contínua e formativa que a perspectiva da
construção do conhecimento se embasa. Se essa avaliação contínua e formativa
visa a aprendizagem, a formação integral do educando, então essa continuidade
precisa se concretizar nas diferentes atividades de ensino/aprendizagem que
acontecem nas aulas.
Na área da Educação Física, o ensino voltado para a aptidão física estava
contribuindo para a formação de um homem empreendedor, forte, pronto parta ser
lançado ao mercado de trabalho. Segundo Soares et al. (1992, p.100-101),
Esse reducionismo das possibilidades pedagógicas da Educação Física traz, como consequência, limitações nas finalidades, forma e conteúdo da avaliação (...). O significado é a meritocracia, a ênfase no esforço individual. A finalidade é a seleção. O conteúdo é aquele advindo do esporte, e a forma são os testes esportivos motores.
Essa ênfase neste paradigma, de classificar e selecionar os mais aptos, os
talentos esportivos e selecionar os mais aptos, levou aos professores a ocultar
importantes reflexões sobre o ensino e a avaliação no contexto da Educação Física.
A avaliação da aprendizagem em Educação Física, denota claramente os aspectos
quantitativos de mensuração do rendimento do aluno, através de gestos técnicos,
destrezas motoras e qualidades físicas, visando a seleção e a classificação , mesmo
que tal atitude por parte dos professores fosse involuntária e não intencional.
Essa forma de avaliação demonstra desconhecimento da categoria e do
significado da avaliação no contexto escolar, o que também contribuiu para a
desvalorização e para a redução das possibilidades pedagógicas da disciplina de
Educação Física perante a comunidade escolar. A avaliação da aprendizagem na
Educação Física deve ser mais do que simplesmente aplicar testes motores com
objetivos de selecionar e classificar os educandos. Observa-se assim, a reprodução
do paradigma citado acima, que estava enfatizando tanto nas aulas, quanto nas
práticas avaliativas um caráter classificatório e excludente.
O professor de Educação Física deve ter claro nas suas práticas avaliativas,
a ênfase do qualitativo sobre o quantitativo. O educando passa a ser o protagonista
na história e deve ser avaliado segundo aspectos formativos e não mais por
rendimento ou performance.
3 ENCAMINHAMENTOS METODOLÓGICOS
O projeto foi implementado no Colégio Estadual Pedro Macedo, Ensino
Fundamental Médio e Profissionalizante, no município de Curitiba, através de uma
sistematização das experiências desenvolvidas durante o processo de
implementação deste projeto, no período determinado entre os anos de 2010 e
2012.
No início do trabalho do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE),
em 2010, foi elaborado um questionário com cinco questões, que serviu de
parâmetro e orientação para a realização das tarefas propostas no decorrer do
projeto e rediscutidas durante a sua implementação na escola:
� Questão nº 1: Você considera que a avaliação que você utiliza está em
consonância com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica e do
Ensino Médio?
� Questão n 2: O que você considera de avanço e de retrocesso na
avaliação escolar , quando você compara a avaliação na escola tecnicista
com a avaliação na concepção da construção do conhecimento?
� Questão nº 3: Como você considera que o educando percebe a avaliação
na concepção da construção do conhecimento em relação a escola
tecnicista?
� Questão nº 4: Quando você inicia a construção de seu planejamento
anual, você considera a avaliação como um instrumento pedagógico
importante ou apenas considera a avaliação como parte desse
planejamento, apenas para verificação da aprendizagem de seus
educandos (instrumento classificatório)?
� Questão nº 5: Você considera que a atual proposta pedagógica da
construção do conhecimento, na questão da avaliação da aprendizagem
na Educação Física Escolar, contempla todos os aspectos formativos de
seus educandos?
Este questionário foi repassado aos professores de Educação Física do
colégio, e alguns colegas professores de outras escolas que colaboraram com a
realização do projeto, com o objetivo de verificar e analisar o grau de conhecimento
dos professores da rede pública estadual do Paraná, em relação a avaliação e, em
especial sobre a proposta do construtivismo e do tecnicismo, contida nas Diretrizes
Curriculares da Educação Básica e do Ensino Médio e, sobre tecnicismo, se os
professores ainda utilizam o tecnicismo para avaliar seus educandos.
Assim, um caderno temático foi confeccionado junto aos professores do
Colégio Estadual Pedro Macedo, com textos de apoio sobre a avaliação, propostas
de uma nova avaliação, o que avaliar, como avaliar e quando avaliar, para orientar
os professores em sua intervenção pedagógica junto aos seus alunos no aspecto da
avaliação.
Também foi verificado e analisado os aspectos da percepção do educando
em relação a avaliação, da construção do planejamento e da proposta pedagógica
da escola em relação a avaliação, .através de discussões realizadas nas aulas de
Educação Física, uma vez por mês durante o 2º semestre de 2011.
4 RESULTADOS
A implementação do projeto iniciou-se com a primeira reunião no dia 19 de
agosto de 2011, onde repassei aos colegas professores as informações necessárias
para o início de suas atividades, incluindo uma pesquisa em forma de questionário,
onde deveriam ser respondidas cinco questões relativas ao processo avaliativo, ao
construtivismo e ao uso da avaliação em nossa disciplina.
Os professores responderam estas questões e a cada novo encontro
subsequente, pudemos discutir estas questões e outros problemas que foram sendo
verificados nas aulas pelos colegas professores em relação à avaliação.
No início dos encontros para as discussões desta implementação, alguns
comentários foram feitos por meus colegas professores de Educação Física, sobre a
avaliação em nossa disciplina. Consideram eles, que o ato avaliativo em Educação
Física é, se não o mais intrínseco, complicado e desafiador, é um dos mais difíceis,
pelas peculiaridades e características das disciplinas que compõem o currículo
escolar do ensino médio e fundamental.
A abrangência do conceito de avaliação na disciplina de Educação Física é
amplo, está estruturado em diversos e diferentes componentes do processo de
ensino-aprendizagem e, que fazem com que o ato avaliativo em nossa disciplina
tenha de ser, obrigatoriamente, um ato responsável, consciente e com uma
significação ao nosso aluno.
Não nos referimos ao fato de que outras disciplinas não avaliem ou não
tenham componentes importantes nesse processo, apenas colocamos que, a
avaliação em Educação Física se reveste de uma complexidade tal, que nós
professores, precisamos ao avaliarmos nossos educandos, estarmos muito bem
preparados e embasados para atendermos às necessidades e abrangências desta
etapa do processo de ensino-aprendizagem.
Com relação à primeira questão discutida, os professores consideraram que,
sua prática avaliativa está de acordo com a proposta das Diretrizes Curriculares e
com a proposta de meu projeto e do caderno temático. Tal afirmativa esclarece
então que, todos os professores consultados estão desenvolvendo suas atividades
de acordo com a perspectiva da construção do conhecimento e avaliando seus
alunos nesta concepção.
Com relação à segunda questão, meus colegas consideram que, houveram
mudanças e avanços significativos em relação ao ato avaliativo quando
comparamos a avaliação na concepção construtivista e a avaliação na concepção
tecnicista, principalmente quando se observa que , não avaliamos mais nossos
educandos pela performance ou pelo desempenho atlético e sim, o resultado do
processo de aprendizagem a que eles, os educandos, se submetem e
compreendem a sua significação e sua relevância no processo ensino-
aprendizagem e o porque da avaliação em nossa disciplina.
Com relação à terceira questão, os professores consideram que, seus
educandos demonstram perceber as diferenças do ato avaliativo na concepção do
construtivismo em relação à concepção tecnicista. Pedi aos colegas professores que
experimentalmente fizessem uma pequena avaliação demonstrativa as suas turmas
e utilizassem instrumentos de avaliação tecnicista e fizessem anotações das
atividades e na aula seguinte, fizessem a mesma proposta de atividade com
avaliação, sendo agora utilizada a proposta construtivista. Após isso, reunissem os
alunos para comentar os resultados e observar as opiniões does educandos.
Muitas foram as reações sobre esse processo, principalmente daqueles
alunos que tem dificuldades motoras, estes alunos opinaram que, a avaliação na
concepção do construtivismo, foi mais justa, proporcionou a eles a observação de
suas deficiências e surpreendeu pois muitos alunos considerados mais “aptos”,
acabaram tendo conceitos de avaliação inferiores aos menos “aptos”. Esse conceito
está bem comentado em meu projeto e, principalmente no meu Caderno temático,
além de amplamente discutido no meu GTR.
Ressalto aqui também que, meus colegas foram unânimes em afirmar que,
suas avaliações estão em concordância com a concepção construtivista e que, há
muito tempo já deixaram as práticas tecnicistas da avaliação, por também
considerarem tais práticas como injustas e classificatórias; além do comentário de
que a participação nas aulas de educação física aumentou quando comparada ao
período do tecnicismo em relação ao construtivismo.
Os alunos puderam observar que, a avaliação assumiu um caráter mais
justo, humano, equilibrado, racional e formativo, e que nós, professores pudemos
reelaborar nossas atividades e nosso planejamento e por consequência direta,
melhorar a qualidade do nosso trabalho pedagógico, através do ato avaliativo.
Com relação à quarta questão, os professores consideram que a avaliação é
um instrumento pedagógico muito importante, e que a avaliação é uma ferramenta
que o professor deve utilizar para reavaliar sua prática pedagógica e sua proposta
de trabalho (plano de trabalho docente) e atividades, conforme os resultados
encontrados em suas avaliações de seus educandos.
Com relação à quinta questão, os professores entendem que, a proposta da
construção do conhecimento contempla todos os aspectos pedagógicos em relação
ao conhecimento que os educandos devem adquirir ao final do processo ensino-
aprendizagem. Porém, ressaltam que, a proposta contida nas DCEs está um pouco
confusa e incompleta na abrangência da avaliação em Educação Física Escolar.
Os encontros serviram ao propósito de que os professores de Educação
Física deste estabelecimento de ensino, pudessem efetuar leituras da proposta
contida no Projeto de Intervenção Pedagógica e no Caderno Temático, além de
outros textos relacionados à avaliação em nossa disciplina. Essa leitura e esses
encontros, serviram de subsídio para embasar as discussões sobre avaliação que
ocorreram em todos os encontros de nosso grupo.
Durante esse processo de implementação, os professores puderam
desenvolver as experiências pedagógicas relacionadas à avaliação com seus
educandos. Nos encontros subsequentes, os professores puderam relatar e discutir
sobre suas atividades e o que foi realizado na semana anterior, em relação ao
desenvolvimento de suas atividades e sobre o início de uma nova concepção de
avaliação em relação ao que estivemos desenvolvendo até então.
Os resultados obtidos com estes encontros foram considerados muito
positivos no aspecto pedagógico tanto pelos professores de Educação Física da
escola, quanto pela equipe pedagógica e direção do estabelecimento de ensino. Os
educandos puderam perceber que, eles estavam sendo, e seriam daquele momento
em diante, avaliados pelas suas reais possibilidades e seu desenvolvimento
individual seria considerado e, não apenas mais teríamos critérios de performance
ou habilidades para avaliar esses educandos.
Dessa forma, elaboramos critérios de avaliação mais justos que foram sendo
utilizados desde então, trazendo benefícios para o processo de ensino-
aprendizagem de uma maneira que nós professores não havíamos conseguido
alcançar com outros instrumentos de avaliação que não fossem os da pedagogia
construtivista.
Tivemos em setembro de 2011 uma experiência pedagógica muito
interessante e que está sendo desenvolvida em nossa escola há alguns anos com
muito sucesso, que é a Semana Cultural. A Semana Cultural envolveu professores,
funcionários, alunos, equipe pedagógica, direção, pais e comunidade e foi
considerada como muito criativa, organizada e atingindo os objetivos a que se
propôs.
Em relação à disciplina de Educação Física, tivemos experiências de turmas
apresentando temas relacionados à área, com apresentações de dança e expressão
corporal, além de exposições sobre temas do esporte e do corpo, onde os alunos
puderam desenvolver suas atividades e, nós professores, acompanhar, observar e
avaliar as atividades dos alunos de acordo com a proposta contida no projeto de
intervenção pedagógica na escola e no projeto de implementação.
Tivemos temas desenvolvidos que já foram relacionados à nova concepção
de Educação Física e, consequentemente, de uma nova relação ensino-
aprendizagem e uma nova forma de se pensar avaliação em nossa disciplina.
Uma das preocupações apontadas pelos professores de Educação Física no
desenvolvimento da implementação e nas atividades diárias nas aulas de Educação
Física, é ainda o desinteresse de alguns poucos alunos em relação as atividades
práticas. Sabemos as causas deste problema: aulas desestimulantes, conteúdos
inadequados, avaliação incorreta, pouco estímulo nos anos anteriores em relação às
aulas, entre outros. Como contornar e tentar resolver ou minimizar tal problema? Os
professores apontam: melhor preparo do professor tanto na sua qualificação, com
estudo constante e formação; planejamento adequado e criativo; recursos materiais
adequados; estímulo constante aos alunos, valorizando seu conhecimento e suas
habilidades, e principalmente seu esforço em superar suas dificuldades, não
centrando mais a avaliação no desempenho ou performance destes alunos que
possuem uma defasagem de conhecimentos e habilidades por conta desse
desestímulo, desinteresse e não participação.
Foi sugerida também a criação para o ano de 2012, de uma ficha de
acompanhamento de habilidades, comportamentos e atitudes e conhecimentos, para
auxiliar os professores de Educação Física como um dos instrumentos de avaliação
no processo ensino-aprendizagem.
Outra proposta sugerida pelos professores de Educação Física foi a de
utilizar os espaços da Semana Pedagógica do início do ano letivo e do retorno do
segundo semestre para, desenvolver grupos de estudo da nossa disciplina para
desenvolvermos e discutirmos temas propostos por nós, professores da área temas
levantados durante a implementação do projeto. Estes temas nos auxiliariam na
construção de nosso plano de trabalho docente e por consequência, nos ajudariam
na resolução de problemas já levantados nos encontros da implementação e outros
que por ventura venham a aparecer no decorrer das atividades do ano letivo de
2012.
Ressaltamos também, todos nós professores que participaram desta
implementação que, tal atividade de implementação não se encerra nesse ano. Ela
deve ter continuidade sempre e, nós professores de Educação Física estarmos
sempre nos reunindo e conversando para nos ajudarmos na melhoria da qualidade
de nossas aulas e do processo de ensino-aprendizagem em nossa disciplina.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O momento por que passa o Construtivismo na escola e, em especial na
rede pública estadual do Paraná, requer incondicionalmente, a participação de todos
os setores da escola na criação e desenvolvimento de estratégias e formas de
melhorar a qualidade da educação da escola.
Por meio dessa participação, o nível de consciência sobre o que fazer em
relação ao processo ensino-aprendizagem, faz com que todos estes setores
desenvolvam estratégias e consciência em relação ao planejamento, conteúdos e
objetivos e, especialmente em relação ao processo avaliativo.
Percebe-se claramente aqui, que se professor, ao preparar seu
planejamento , o fizer sem uma pré avaliação, ele estará provavelmente coletando
dados que, sejam inconsonantes sobre o desenvolver das atividades que, poderam
ser irrelevantes no processo ensino-aprendizagem, por desconsiderar
conhecimentos dos educandos, sendo assim, a avaliação inicial deve ser obrigatória
para que, a partir dessa coleta, possa o professor ter uma nocão de onde começar
seu planejamento, o que ensinar e como avaliar cada turma, de acordo com a coleta
de dados.
Uma das questões referentes ao processo avaliativo, diz respeito ao
antagonismo tecnicismo e construtivismo. Não se trata de condenar ou enaltecer
essa ou outra técnica mas de
(…) superar uma prática pedagógica que coloca a avaliação da Educacão Física unicamente na perspectiva da identificação de talentos por meio de medidas corporais, de fixação de padrões de conduta e comportamento, bem como de conhecimentos questionáveis a partir da ótica de uma educação cuja finalidade seja a apreensão crítica da realidade (SOARES et. al., 2000, p. 222).
Ao tomarmos a apreensão crítica da realidade como uma das possíveis
finalidades da Educação Física escolar, para superarmos uma prática pedagógica
indesejável, pressupomos o compromisso com um processo contínuo de formação
de professores que pretendemos. Essa formação não pode perder de vista que “a
técnica pela técnica nada vale; ao mesmo tempo, a ausência de técnica leva a um
trabalho às cegas que também não tem valor” (CASTANHO, 1993, p.51).
A prática educacional diária do professor, deve estar pautada na
comprrensão filosófica do mundo e do educando. Em contrapartida, a negligência
em relação à necessidade de reflexão sobre o papel que a avaliação ssume
enquanto elemento constitutivo de um projeto pedagógico pode ser citada nas
consequências pedagógicas quando, a referência para a avaliação é a aptidão
física, e os parâmetros decorrem unicamente de um sistema esportivo de alto
rendimento. Como já apontamos neste trabalho, avaliar é muito mais do que
simplesmente aplicar testes, levantar medidas ou submeter os alunos a questões
objetivas e discursivas.
Não podemos deixar de esquecer por outro lado, que a avaliação na
Educação Física escolar necessita estar fundamentada no planejamento e nos
conteúdos e objetivos que o professor pretende desenvolver e alcançar com seus
educandos. Partindo dessa afirmação, coloca-se aqui a necessidade de uma prática
pedagógica que efetivamente avalie os educandos e suas habilidades e deficiências.
Também defende-se aqui, neste trabalho, a importância da prática da atividade
física e do movimento nas aulas, ou poderemos estar perdendo a necessidade da
criança, do adolescente, do jovem e, do adulto(ao deixar a escola), de desenvolver o
hábito necessário e saudável para si, de exercitar-se, baseado naquilo que vivenciou
nas aulas de Educação Física.
Queremos uma Educação Física renovada e de qualidade, queremos
também um educando consciente, crítico, participativo e atuante, queremos também
uma sociedade consciente, que entenda o significado da atividade física, da
manutenção da saúde, com consciência de seu corpo e suas possibilidades e, por
último, queremos um País em crescimento, que ofereça aos seus cidadãos locais e
recursos humanos para o desenvolvimento da saúde através da prática consciente,
diária e prazerosa, para o pleno desenvolvimento da cidadania de seus habitantes.
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