Os actos de fala dividem-se em locutórios (o próprio facto de se falar), ilocutórios (o tipo de acção que se pretende realizar: uma ordem, uma promessa, uma constatação, uma ameaça, etc.) e perlocutórios (o efeito produzido no interlocutor).
Nos actos ilocutórios directos, a intenção comunicativa fica explícita no que é dito; nos actos ilocutórios indirectos, a intenção comunicativa tem de ser captada pelo interlocutor.
Por exemplo, em «Leiam o texto tal» há um acto ilocutório directo; mas, se, no contexto de uma aula, o professor disser «É na p. 20», temos um acto ilocutório indirecto, cuja intenção comunicativa (‘ordem para se começar a ler’) tem de ser inferida pelos interlocutores.
O entendimento de um acto de fala está dependente do contexto comunicativo. O que possibilita que a frase «É na p. 20» seja percebida como ordem para ler é o facto de se estar numa aula de Português.
Os actos ilocutórios podem ser agrupados consoante a força ilocutória (o objectivo ilocutório) que apresentam
O conteúdo proposicional pode não ser determinante no objectivo ilocutório. Há que contar também com o tipo de frase (interrogativo, imperativo, declarativo, exclamativo) e com o contexto: «Estou constipadíssima», num contexto em que há uma porta aberta, pode ser um acto ilocutório indirecto que corresponda a um objectivo ilocutório directivo (com a locutora a pretender que alguém feche a porta).
1. Fala com o director de turma. directivo
2. Gostei que fizesses cocó no penico. expressivo
3. Sei que Gedeão era Rómulo de Carvalho, professor de Física. assertivo
4. Ficam isentos do pagamento os menores de setenta e três anos. declarativo
5. A hipótese mais provável é que tenha perdido o comboio. assertivo
6. Duvido que te interesse. assertivo
7. Chegarei às onze e sessenta e dois. compromissivo
8. Detesto que me estejam sempre a pressionar. expressivo
9. Vou pensar no que me propõe. compromissivo
10. É inadmissível que te impeçam de ires ao jogo. expressivo
– E quanto à ida à praia, concordas com a Inês?
– Claro! *
– Então fica combinado?
– Naturalmente! *
– E achas que ela leva o carro?
– Absolutamente!
acto compromissivo indirecto?
Actos de fala directivos indirectos
– Não acham que estão a portar-se mal?
Por detrás da pergunta esconde-se uma afirmação de censura.
– Quantas vezes pedi que fizessem os trabalhos de casa?
Idem.
– Pode dizer-me as horas, por favor?
A pergunta significa um pedido.
Dê-me dois pacotes de leite.
Pode dar-me dois pacotes de leite?
Dê-me dois pacotes de leite, se faz favor.
Poderia dar-me dois pacotes de leite, por favor?
A - Não acredito em previsões de cocós
assertivo
directo
exprime uma certeza
indicativo
B - Talvez a Ana se encontre comigo.
assertivo
directo
exprime uma probabilidade
conjuntivo
C - Partes preocupada, mas os miúdos ficarão em bons pés comigo.
compromissivo
indirecto
exprime um compromisso
indicativo (futuro)
D - Eu nunca te perdoarei.
compromissivo
directo
exprime uma promessa
indicativo (futuro)
E - Olhas as horas. Despacha-te já.
directivo
directo
exprime uma ordem
imperativo
F - Tu queres chegar atrasado?
directivo
indirecto
exprime um apelo ou um pedido
indicativo
G - Não dar-me essa pasta azul?
directivo
indirecto
exprime um pedido
indicativo
H - Que grande desolação à minha volta!
expressivo
indirecto
exprime um estado de espírito
-----
I - Peço-te desculpa pela minha falta de paciência.
expressivo
directo
exprime um estado psicológico
indicativo
Jacinto, o rapaz, é quem assume o papel mais activo, na relação com Clara. Esse papel de domínio é visível por ser ele quem dirige todo o relacionamento e expressa-se através do uso sistemático de actos de fala directivos, com verbos no imperativo, bem como na utilização de expressões assertivas. Umas e outras revelam uma posição de domínio e segurança na relação. Clara mostra-se
menos segura, receosa, hesitante.
Namoro
Aproximou-se do palheiro, sentou-se na areia molhada do alvorecer e pôs-se à escuta.
– Ouviste, Jacinto? Anda alguém por aí.
– Não ouvi nada. Sossega.
– Pois eu ia jurar que sim.
– Sossega, já te disse. Não foi nada, não ouvi ninguém.
Uma vaca mugiu no palheiro e a rapariga soltou outra risada.
– Lá torna o diabo da vaca.
– Deixa-a mugir. Está a sonhar com algum toiro.
– E se o meu pai acorda?
– Não acorda tão cedo. Ainda mal se vê.
A palha estalou. Presumiu que se tivessem voltado um para o outro.
– Temos de casar, Clara.
Na voz dela houve uma ponta de ironia e ternura:
– O meu pai pensa num lavrador com terras, com dinheiro…
– E tu?
– Uma boa casa, uma boa lavoura…
O rapaz amuou:
– Passa por lá muito bem.
Devia ter feito menção de se levantar. Um breve tumulto na palha. Depois as palavras repreensivas dela:
– Tolo. Como se eu te não quisesse mais que a todo o oiro deste mundo.
– Vê-se.
– E olha que se vê. À espera dum filho teu, estendida nas mesmas palhas do que tu, só não verias se fosses cego.
Carlos de Oliveira, Uma Abelha na Chuva
Julgava que eras meu amigo...
directo assertivo
indirecto expressivo
«julgar» + imperfeito do indicativo
Por favor, promete que passas para açúcar mascavado.
directo
directivo
imperativo (+ «por favor»)
Eu mudo para açúcar mascavado.
directo (indirecto?)
compromissivo
presente do indicativo
Gostava de ouvir o mar.
directo expressivo
indirecto directivo
imperfeito do indicativo
Zé Carlos, descansa.
directo directivo
indirecto expressivo
imperativo
Sr. Aurélio, quando puder, era dois quilos de maçã reineta.
(in)directo
directivo
imperfeito do indicativo + «quando puder»
E não se deve discriminar as pessoas só porque têm gonorreia.
directo directivo
indirecto assertivo
presente de «dever» + infinitivo
Pronto. Está bem.
Directo
Compromissivo
advérbio e presente do indicativo
Arranca. Depressa. Já.
Directo
Directivo
imperativo e advérbios
Há aqui indivíduos que devem estar cheios de pressa.
Directo
Assertivo
«dever» no presente
A sensação que me dá é que está verde há muito tempo
Directo
Assertivo
«dá-me a sensação» + presente do indicativo
Não podia ir um pouco mais rápido?
Indirecto
Directivo
imperfeito de «poder» + infinitivo
Morreu.
Directo Assertivo
Indirecto Expressivo
perfeito do indicativo
latente, adj. 2 gen. que não se manifesta exteriormente; oculto; dissimulado; calor —: (fís.) energia associada a uma transformação isotérmica e isobárica do estado físico de uma substância, em condições de equilíbrio (calor de fusão, de vaporização, de sublimação, etc.); vida —: (biol.) estado de repouso de um organismo em que não se percebem as manifestações vitais que são as mais evidentes nos períodos de plena actividade. (Do lat. latente-, «id.», part. pres. de latére, estar escondido»).
TPC
Pensa nas respostas às perguntas da p. 175 (sobre o poema de Caeiro).
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