Anais do 1º Congresso Internacional de Inovação e SustentabilidadeCiência e Tecnologia como Vetores da Sustentabilidade
OrganizaçãoVivian Aparecida Blaso S.S. Cesar
Sasquia Hizuru Obata
São PauloVespa Comunicações
2013
C4902 Anais Anais do 1° Congresso Internancional de Inovação e Sustentabilidade Ciência e Tecnologia como Vertores da Sustentabilidade / Originou-se no Congresso Internacional de Inovação e Sustentabilidade, 1; Iniciativa da Agência de Comunicação Conversa Sustentável; Revista Sustentabilidade; apoio da FATEC Tatuapé Victor Civita. – São Paulo: Vespa Comunicação, 2013. – 344 p.: il, grafs e tabs.
978-85-67085-02-9 Referências bibliográficas.
1. Ciência. 2. Tecnologia. 3. Sustentabilidade. 4. Congresso Internacional de Sustentabilidade, 1. I.Título. II. Agência de Comunicação Conversa Sustentável. II. Revista Sustentabilidade. III. FATEC Tatuapé Victor Civita. CDD 600 CDU 6
SUMÁRIO VOLUME III
Capítulo 8: Práticas e processos organizacionais
A importância da participação nas autarquias locais - José Fidalgo Gonçalves e José Elias Ferreira Ramalho
Benefícios percebidos pela adoção dos sistemas de colaboração - Marcos Alexandre dos Reis Cardillo, Márcia A. Vieira Silva e Luiz Daniel Matsumato
Gestao Socioambiental - avaliaçao das praticas para a sustentabilidade na industria - ̃ ̃ ́ ́ Henrique Martins Galvão
Subjetivação e Novos Indicadores de Performance: Contribuições para uma nova Ferramenta de Monitoramento em Sistema Integrado de Gestão (2Q’s) - Karla Rocha Carvalho Gresik e Milton Ferreira da Silva Júnior
Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt
Capítulo 9: RSE e sustentabilidade: desafio Local, desafio Global
Assimetrias, Oportunidades E Cooperação No Contexto Da Responsabilidade Social Globalizada - José Quintal e José Ramalho
Inclusão Social Corporativa - Henry Julio Kupty e Marta Hiromi Mendes
O Tráfico Internacional de Animais Silvestres Brasileiros uma análise dos prejuízos ambientais e sociais desta atividade - Lucivânia Pereira Teixeira de Oliveira, Priscila Mara Ribeiro, Renata Rodrigues Teixeira e Renata Giovanoni Di Mauro
Responsabilidade Social Corporativa e Responsabilidade Socioambiental: um estudo de caso da COEPAD - Adriana Regina Espíndola, Rosane Cristina Jacques e Susany Perardt
Responsabilidade Social E Sustentabilidade Empresarial Para O Desenvolvimento Regional – O Caso Da EDIA, S.A. - Maria Luísa Silva e Doutora Fátima Jorge
Capítulo 10: Saúde, meio ambiente e desenvolvimento urbano
A integracao dos setores para transformar o lixo numa solucão socioambiental - Letícia Vilela de ̧ ̃ ̧Aquino
Avaliação da qualidade da água residuária tratada por membrana cerâmica de microfiltração - Julyanna Damasceno Pessoa, Cristiane Macedo Rodrigues, Kepler Borges França eTaline Sonaly Sales dos Santos
Avaliacao_da vulnerabilidade familiar dos moradores do bairro de Mangabeira na cidade de João ̧ ̃Pessoa (PB) - Mônica Maria Souto Maior e Gesinaldo Ataíde Cândido
Impact of the new national solid waste strategy on waste management in Palmas, Brazil - Olívia Marques e Gareth Swift
Responsabilidade Social Empresarial - estudo de caso do processo de reciclagem do Pão de Acúcar -̧ Camila Leite e Julia Affonso
Capítulo 8: Práticas e Processos Organizacionais
A importância da participação nas autarquias locais.1
José Fidalgo Gonç[email protected] – Centro de Estudos e Investigação AplicadaISEC (Instituto Superior de Educação e Ciências – Lisboa, Portugal)
José Elias Ferreira RamalhoSite: http://www.joseramalho.eu/ Email: [email protected] [email protected]: @joseRamalho.PTInstituto de Desenvolvimento e Inovação Social (I.D.I.S MAIS) – Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias em Portugal.
“A evolução recente tem mostrado que, mais do que uma discussão em torno da ideia de desenvolvimento sustentável, neste momento, é a questão prática de fazer acontecer a transição para a sustentabilidade que está na ordem do dia” (Costa 2012a:5).
A questão da participação e envolvimento das pessoas na definição e implementação de processos de transição para a sustentabilidade tem vindo a tornar-se um tema de grande relevância, tanto para a investigação académica como para as instituições nacionais e internacionais (e.g. Nações Unidas, União Europeia). Devido à sua relação de proximidade com as pessoas e ao facto de, pela sua legitimidade, se constituir como um agente fundamental na adoção de novos paradigmas de desenvolvimento, o papel da administração local ganha renovada relevância, particularmente e na mobilização das comunidades para as mudanças a efetuar. A própria Constituição da República Portuguesa, nos seus Princípios fundamentais, concretamente no Artigo 2.º - Estado de direito democrático -, visa “…a realização da democracia económica, social e cultural e o aprofundamento da democracia participativa...” nomeadamente através do poder local, Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia, que são os órgãos do Estado que estão mais próximos das populações.
Mas o que mostram os dados empíricos é que as práticas participativas na administração local são muito ineficientes, conforme atestam os resultados do questionário que exploraremos neste trabalho e que foi aplicado às Freguesias do Distrito de Lisboa. Na realidade, os mecanismos de participação que existem na administração local são, por várias razões, ineficazes e obsoletos e não atingem os alvos que deveriam atingir, afastando as pessoas dos processos participativos.
Neste trabalho, pretende-se dar um contributo para a identificação de aspetos positivos e negativos sobre a implementação de “boas práticas” de sustentabilidade numa autarquia local, numa perspetiva assente em cinco dimensões – Governança, Economia, Cidadania, Social e Ambiente – inspiradas na ENDS (Estratégia Nacional para o Desenvolvimento Sustentável), com enfoque nas vantagens da interligação e participação dos atores institucionais e individuais das esferas social, económica, cultural e política.
Palavras-chave: Gestão, Autarquia, Desenvolvimento Sustentável, Participação.
1 Este trabalho é parte integrante da tese de mestrado em Gestão Autárquica defendida pelo primeiro autor, em Janeiro deste ano, no ISEC (Instituto Superior de Educação e Ciências).
Introdução:
A promoção e a implementação de processos participativos têm colocado vários
desafios às instituições da administração pública, nomeadamente no que respeita à
necessidade de construir novas formas de interatividade que promovam e facilitem a
participação das pessoas e que resultem na institucionalização de procedimentos
sistematizados de apoio à decisão e à formulação de políticas públicas.
A responsabilidade de conseguir uma forma de vida sustentável é universal, envolve
cada cidadão e requer que toda a sociedade aceite e intervenha nesse esforço de
mudança (Castells 2004). A defesa dos interesses comuns, presentes na riqueza natural e
social de uma comunidade, deve ser o mote para a partilha das responsabilidades e a
razão para a implementação de medidas operacionais de transição para a
sustentabilidade (Costa 2012), ou seja, para uma melhor qualidade de vida dos atuais e
futuros cidadãos.
Na perspetiva do aperfeiçoamento económico local, ao valorizar o papel das cidades
como motores fundamentais de desenvolvimento e internacionalização, tornando-as
mais atrativas e sustentáveis, de modo a reforçar o papel do sistema urbano nacional
como dinamizador do conjunto do território (Lopes 2011). Países, concelhos e cidades
passam por períodos prolongados de debilidade económica: desequilíbrio comercial,
dívidas cada vez maiores, inflação elevada e desemprego. As fraquezas económicas
geralmente medidas pela perda de população, pelo alto índice de desemprego, pela
queda de receitas e dos investimentos, estão ligados à sorte das indústrias, dos recursos
e produtos do local.
Por razões diversas, de que se destacam crises sucessivas, económicas e de poder, o
direito de participação e o dever de cidadania têm sido arredados do consciente de cada
um, embora exista um sentimento comum para a procura de um novo modo de
governação, uma pretensão muito discutida e ensaiada em vários pontos do mundo. Este
desejo está exemplarmente expresso na Declaração do Milénio das Nações Unidas e do
Consenso de Monterrey, onde se destaca a importância da governança para o
desenvolvimento sustentável. Neste contexto entendemos que qualquer medida de
sustentabilidade, para ser implementada, terá de acontecer sempre num qualquer local e,
por isso, as intervenções que envolvam um conjunto significativo de parceiros públicos
e privados, numa lógica de mobilização de atores diversos em torno de um projeto de
cidade, são propostas em que a questão do Governo Local ganha uma importância
acrescida.
Vários desafios se têm vindo a colocar às instituições públicas, nomeadamente quanto à
necessidade de definir novos modelos de interatividade com o cidadão que permitam
aprofundar e compreender uma relação, por vezes complexa (Mozzicafreddo 2007). A
implementação da sistematização regulada de procedimentos numa organização
assume-se como um projeto de validação dos atos administrativos praticados pelos
órgãos autárquicos, o que se verifica ser insuficiente. As organizações não podem ficar
apenas remetidas para uma comunicação unívoca, ou seja, num só sentido, da autarquia
para o cidadão, sob pena de se perder o fio condutor da compreensão de um
relacionamento complexo.
Perceciona-se a necessidade de encontrar respostas para as necessidades dos cidadãos e
das organizações da sociedade civil e das instituições públicas do aparelho do Estado.
Torna-se imperativo pensar em cultura de qualidade como vetor chave da modernização
administrativa e como forma de maximizar a probabilidade de sucesso dos
compromissos assumidos, para que a organização se habilite a aprender e a adaptar-se
ao meio ambiente com ética e transparência. (Azevedo 2007).
Nesta nova era em que a administração local ganha renovada relevância, ouvir e
interpretar as pretensões dos cidadãos e criar mecanismos de cidadania participativa,
formais e informais, numa administração pública mais transparente, facilitadora do
acesso dos cidadãos e do tecido económico aos serviços públicos é uma via
indispensável ao cumprimento de estratégias, planos e políticas de desenvolvimento
sustentável definidos, de-cima-para-baixo, nomeadamente pela União Europeia e pelos
seus estados membros. (Abreu 2002, Costa 2012).
Assim, poderemos concluir que, de facto, são necessários novos modelos de
sustentabilidade territorial. É, igualmente, relevante, quando se pensa em novos
modelos de desenvolvimento local sustentável, lembrar que a Democracia é, no seu
fundamento, a relação entre cidadãos e a efetiva relação de comunicação com o seu
representante eleito.
O trabalho empírico:
Com o objetivo de analisar as políticas e modelos de gestão das autarquias no Distrito
de Lisboa, deu-se especial atenção à forma de interação com a população. Foram
enviados 226 questionários para as caixas de correio eletrónico oficiais das Freguesias
constantes na listagem da Delegação Distrital de Lisboa da ANAFRE.
Metodologia:
A EDS (Estratégia para o Desenvolvimentos Sustentável) institui, por um lado, o
funcionamento em rede e, por outro, sugere uma linguagem de comunicação adequada à
promoção e envolvimento de cidadãos e de agentes de desenvolvimento local, numa
lógica de economia solidária e de democracia global, considerados comummente como
essenciais para a satisfação das necessidades públicas e de promoção da liberdade de
escolha dos cidadãos.
De forma a tornar percetível uma leitura do global para o local e, ao mesmo tempo,
permitir uma leitura sobre o estado de ‘Sustentabilidade’ do território político-
administrativo, no conspecto de uma autarquia local, sugere-se a interpretação a seguir
descrita (quadro 1), como forma de relacionar as medidas propostas na ENDS com a sua
aplicação na instituição que rege a sua ação, com base na satisfação dos interesses da
comunidade que representa.
Quadro 1 – as cinco dimensões inspiradas na ENDS
Governança Monitorizar a consistência entre políticas e o desempenho da autarquia.
Economia Monitorizar a Execução Orçamental.
Social Monitorizar as dinâmicas de concretização para a coesão social.
Ambiente Monitorizar a pegada ecológica da comunidade
Cidadania Monitorizar a dinâmica organizada dos cidadãos
(Gonçalves 2013)
Para desenhar uma ferramenta que ajudasse a avaliar a sustentabilidade das
organizações autárquicas, foi feita uma pesquisa ao existente e, em Portugal, não
conseguimos detetar nenhuma ferramenta adequada aos objetivos propostos para este
trabalho.
Assim, de acordo com as premissas acima, elaborou-se um inquérito com o objetivo de
auscultar a opinião dos autarcas de freguesia do distrito de Lisboa. Optou-se pela
construção de uma ferramenta com o formato de inquérito, procurando compreender,
qual a importância da participação no desenvolvimento sustentável das comunidades,
partindo dos seguintes objetivos:
Objetivo 1 - Caracterizar os objetivos de gestão, com enfoque principal nos mecanismos
de interatividade com a população; qual o número de presenças de cidadãos nas sessões
públicas organizadas pela freguesia; que mecanismos de controlo, sobre a gestão e sobre
medidas orientadas para a sustentabilidade, estão implementados nas freguesias do
Distrito de Lisboa.
Objetivo 2 – Caracterizar necessidades, sentidas pelos autarcas, de mecanismos
geradores de envolvimento do cidadão. Para tal, deixou-se uma questão, de espaço
aberto, para sugestão de propostas de criação de estruturas (formais e informais) de
interatividade com a população.
Partiu-se, também, do pressuposto de que sustentabilidade corresponde a medir e
revelar a responsabilidade perante as partes interessadas, internas e externas (cidadãos e
organizações da sociedade civil, fornecedores e colaboradores), “bem como da análise
intra e intergerações das diversas componentes que integram o projecto de
desenvolvimento participado” (Bilhim 2004). Esta definição está refletida no “Relatório
Brundtland” que apresenta duas componentes essenciais: (1) satisfação das
necessidades sociais, económicas e ambientais da geração atual; (2) garantir que a
qualidade de vida da atual geração não pode comprometer o bem-estar das gerações
futuras.
Resultados:
De seguida apresentam-se os resultados relativos a cada uma das componentes
referenciadas na metodologia.
Objetivo 1 – Para análise dos objetivos de gestão, considerou-se necessário perceber
quais os sistemas informatizados existentes, para controlo do desempenho da
organização. Desenhou-se uma bateria de possíveis: POCAL - Contas de gerência;
Tratamento de reclamações; Gestão Documental; e Gestão de obras. Por outro lado,
deixou-se espaço em aberto, para outros eventuais em uso nas freguesias. Colocou-se,
ainda, a questão da existência de mecanismos de participação para os funcionários
apresentarem sugestões de trabalho. No gráfico 1, a seguir, são explanados os resultados
obtidos.
Gráfico 1: Recursos informáticos existentes para controlo do desempenho da autarquia
(Gonçalves 2013)
O controlo é informatizado (Gráfico 1), basicamente realizado de acordo com as
diretrizes determinadas pelo POCAL (Plano Oficial de Contabilidade para as Autarquias
Locais), embora um número significativo de autarquias já tenha implementado outros
sistemas, nomeadamente de gestão documental e tratamento de reclamações. Apenas
7% dos inquiridos disseram ter ferramentas de gestão de obras. Quanto à pergunta sobre
se existem mecanismos de participação para os funcionários poderem apresentar
sugestões de trabalho, apenas quatro dos inquiridos respondeu afirmativamente.
(1) Na questão seguinte pretendia-se saber qual o número de presenças de pessoas em
sessões públicas de Junta e de Assembleia de Freguesia, sabendo que anualmente
são obrigatórias doze sessões públicas de Junta de Freguesia (conforme nº 1 do art.º
30º do Decreto-Lei nº 169/99, de 18 de setembro, Alterado) e quatro sessões
ordinárias para as de Assembleia de Freguesia (conforme o nº 1, do art.º 13º da
mesma Lei nº 169/99).
A partir dos dados constantes nos inquéritos recebidos, recolhemos informação
referente aos três últimos anos (2009 a 2011), para perceber qual a média de presenças
de cidadãos (Gráfico 2) em sessões públicas de Reuniões de Junta e de Assembleia de
Freguesia.
Gráfico 2- Média anual, de presenças de pessoas, em sessões formais da autarquia (2009-2011)
(Gonçalves 2013)
Do seu resumo concluiu-se que participam em média anual 17 pessoas. De onde se pode
extrair que, tendo em conta as dezasseis Sessões públicas anuais obrigatórias, apenas
está presente, em média, uma pessoa por sessão.
Não foi validado o ano de 2008, embora constasse no questionário, porque o número de
respostas referentes a este ano foi de apenas cinco, do total de 29 inquiridos.
(2) Pretendia-se, na questão seguinte, saber se as autarquias realizavam outro tipo de
sessões não formais (e.g. fóruns) que envolvessem a participação de cidadãos e,
caso afirmativo, quais e qual o número de presenças por sessão/ano. Neste
propósito, as freguesias inquiridas indicaram as ações de comunicação diretas,
através de reuniões presenciais com cidadãos, balizadas em quatro tipologias de
encontros: (a) Projetos de execução no espaço público; (b) Movimento associativo;
(c) Fóruns de esclarecimento; (d) Plenários da Rede Social Local.
A maioria das freguesias não sabe ou não responde, apenas 28% das inquiridas
respondeu e, ao mesmo tempo, registou o número de presenças de cidadãos em cada dos
três últimos anos (2009-2011). No Gráfico a seguir regista-se a média anual, de
presenças correspondentes às freguesias respondentes (28%).
Gráfico 3 - Média anual, de presenças de pessoas, em sessões públicas informais
(Gonçalves 2013)
Conforme Gráfico 3, acima, a média anual, de presença de pessoas em sessões
informais é de 108 pessoas por ano. Apesar do número reduzido de respondentes face
ao universo, entendeu-se explanar os dados recolhidos, pelo significativo número de
presenças de cidadãos registados nestas iniciativas. Embora não permita chegar a
conclusões seguras, mostram a linha de tendência favorável para a presença de pessoas
em sessões informais. Trabalho que, no futuro, poderá merecer um estudo mais
aprofundado.
(3) Pretendia-se saber se informa regularmente o público sobre
ações/decisões/intervenções na freguesia e se sim, quais os meios utilizados e os
seus custos associados.
As autarquias informam a população das suas atividades e decisões, sobretudo, através
de Editais e comunicados, expostos em lugar do costume (painéis informativos). Para
além deste procedimento comum, têm outros meios para comunicar com a população
que, de acordo com o mencionado nas respostas, se dividem em três grupos principais,
conforme gráfico a seguir: Boletins informativos ou jornais institucionais; Página
internet oficial; e Página facebook.
Gráfico 4 – Meios de comunicação, mais regulares, com o público
(Gonçalves 2013)
A maioria das freguesias (83%) tem página internet própria, 62% edita boletins ou
jornais informativos e 21% das freguesias inquiridas utilizam a rede social facebook
para comunicar com a população.
Sobre os custos associados, responderam 34% dos inquiridos, registando um valor
médio anual de despesas é de €10.997,20/ano, para informar o público das
ações/atividades/intervenções nas freguesias.
(1) Outra questão fundamental, para o desenvolvimento deste trabalho, era perceber se
existia alguma bateria de indicadores para avaliação/monitorização de políticas de
desenvolvimento sustentável. Em caso afirmativo solicitava-se que indicassem se
correspondiam às cinco dimensões apresentadas; Ambiente; Social; economia;
Cidadania; e Governança.
Nenhum dos inquiridos respondeu a esta questão. Nenhuma das autarquias definiu
indicadores e não realiza qualquer controlo sobre medidas de transição para a
sustentabilidade de implementação no terreno.
(2) Perante esta possibilidade achou-se pertinente perguntar, se não existindo
mecanismos de controlo, tinham implementado no terreno, medidas orientadas para
a sustentabilidade e quais. Esta questão foi respondida e está registada conforme o
gráfico 4, a seguir, demonstra.
Gráfico 4: Medidas, implementadas no terreno, orientadas para a sustentabilidade
(Gonçalves 2013)
A recolha seletiva (69%) e consumos de água (52%) são indicados, como merecendo a
maior atenção por parte das autarquias. Na generalidade, as freguesias, têm
implementado medidas de transição para a sustentabilidade, sobretudo em ações
direcionadas para a poupança de água, eficiência energética e recolha seletiva de
resíduos. Do resultado, salienta-se, ainda, os 10% das freguesias inquiridas que já
implementaram o ‘Orçamento Participativo’ (Gráfico 4).
Objetivo 2 - Com esta questão pretendia-se desafiar o autarca a opinar sobre a
necessidade ou não de estruturas de interatividade com a população, e, em caso
afirmativo, que modelo de mecanismos, formais ou informais, sugeriam para gerar
maior envolvimento dos cidadãos na vida das freguesias. Esta questão deixada em
campo aberto, permitiu recolher uma diversidade de contributos, que se resume a seguir:
Para além dos encontros formais, a manter ou incrementar regras diferentes que
proporcionassem uma maior participação nas reuniões de Junta e Assembleias dos
cidadãos, de acordo com as opiniões inscritas nos questionários respondidos pelas
freguesias do distrito de Lisboa, deveria, também, existir outro tipo de encontros não
formais, envolvendo a sociedade civil local.
Consideram estes encontros informais, como positivos e essenciais para a gestão
autárquica “Promover sessões/discussões e outro tipo de ações fora das instalações da
Junta, ou seja, tentar o contacto direto com a população na rua ou nas instituições e
coletividades” (Gonçalves, 2013) e, por isso, procuram responder de forma positiva,
tendo sempre em linha de conta as reclamações ou sugestões que lhes são dirigidas. Um
maior envolvimento da população nos assuntos da autarquia produzirá o
“melhoramento da imagem das autarquias e respetivos órgãos” (Gonçalves, 2013).
Sentem a mesma necessidade da promoção de encontros entre freguesias contíguas, para
debater, partilhar experiências e encontrar soluções e sinergias, entre autarquias de
características similares e vizinhas.
Discussão, conclusões e futuras linhas de investigação
É comumente aceite que os contributos dos cidadãos são importantes para a definição
das necessidades verdadeiramente importantes para as comunidades da eficiente
implementação das suas próprias decisões. Neste sentido, o aproveitamento desses
contributos permite às autarquias trabalhar de forma mais eficiente e objetiva, poupando
recursos ao estado. Constata-se, porém, que a pouca participação das pessoas na gestão
da ‘coisa pública’ se transforma numa limitação com custos elevados para todos pois, ao
não participarem, as pessoas permitem que a ‘máquina do estado’ seja adulterada em
favor de certos grupos de interesse. Com efeito, o que se verifica é que a participação
mais comum por parte dos cidadãos é centrada no indivíduo e nos seus próprios
problemas e não nos problemas comuns a toda a comunidade, o que se traduz na
transformação da participação orientada para o bem comum numa prática de
reclamação, o vulgo ‘queixa’. Este tipo de comportamentos é resultante não só das
pessoas, mas também da forma como as instituições funcionam ou suportam esses
mesmos comportamentos no dia-a-dia.
Os grandes desafios do século XXI pedem novas estruturas de participação que sejam
mais ‘user friendly’, mais diversas e cosmopolitas que facilitem o envolvimento de
todos os segmentos da sociedade (Gonçalves e Costa, 2013). A criação de condições de
facilitação dos processos participativos é da maior importância pois só com a
participação dos próprios destinatários das políticas públicas é possível ter um estado
mais capaz de responder aos desafios da transição para a sustentabilidade.
A preocupação com a sustentabilidade e qualidade de vida dos cidadãos tem vindo a
assumir importância, tanto no contexto mundial como no europeu. Esta ideia está
sustentada no primeiro princípio da “Declaração do Rio”, aprovada na Conferência
realizada no Rio de Janeiro (Brasil) em 1992: “os seres humanos estão no centro das
preocupações do desenvolvimento sustentável. Eles têm direito a uma vida saudável e
produtiva em harmonia com a natureza”, (http://www.un.org/). O relatório da “Visão
20502” (em português), datado de Fevereiro de 2010, publicado pelo World Business
Council for Sustainable Development (WBCSD), “É um apelo à continuação do
diálogo e um apelo à acção. Vai ser precisa colaboração, convicção e coragem, para
visualizar e implementar as mudanças radicais necessárias”. Este apelo é dirigido aos
governos e sociedade civil de todo o mundo, para que se envolvam com uma, ainda,
maior proximidade, em direção à sustentabilidade.
Em Portugal, inspirado nos princípios subjacentes à Agenda 21 Local, o Projeto
ECOXXI, procura reconhecer as boas práticas de sustentabilidade desenvolvidas ao
nível de autarquia, valorizando um conjunto de aspetos considerados fundamentais à
construção do Desenvolvimento Sustentável, alicerçados em dois pilares: A educação
no sentido da sustentabilidade e a qualidade ambiental. Desta forma, a ECOXXI,
procura motivar as autarquias, para a importância do seu papel enquanto parceiros e
agentes do processo para promoção do desenvolvimento sustentável.
Na última edição do ECOXXI 20123, participaram 29 dos 308 municípios existentes em
Portugal. Relativamente aos municípios envolvidos e tendo por base de aferição os
indicadores constantes do Projeto que compõem um índice global de sustentabilidade,
2 http://www.wbcsd.org/pages/adm/download.aspx?id=5895&objecttypeid=7 (acedido em 23.07.2012)3 http://www.abae.pt/ECOXXI/index.php?p=municipios&s=participantes&u=2012. Acedido em 05.maio.2013.
decidiu a Comissão Nacional atribuir 28 bandeiras verdes (a todos os municípios com
pontuação superior a 50%). Destacaram-se como os municípios mais pontuados em
2012: Loulé, Vila Nova de Gaia e Águeda.
É neste contexto que a administração local ganha renovada relevância, particularmente
devido à sua relação de proximidade com as pessoas. Por outro lado, a necessidade de
mudança e de cumprimento de estratégias, planos e políticas de desenvolvimento
sustentável desenhadas a nível nacional e regional, nomeadamente pela União Europeia
e pelos seus estados membros, torna indispensável ouvir e interpretar as pretensões dos
cidadãos e criar mecanismos de participação, formais e informais, mais transparentes e
facilitadores do acesso das pessoas e do tecido económico e social aos serviços públicos
e vice-versa, destes às pessoas e ao tecido económico e social nacional e internacional
(Abreu 2002, Costa 2012). Francisco Costa objetiva que “mais do que uma discussão
em torno da ideia de desenvolvimento sustentável, neste momento, é a questão prática
de fazer acontecer a transição para a sustentabilidade que está na ordem do dia”
(Costa 2012:5).
Ao caracterizar as autarquias do distrito de Lisboa, percebe-se que o trabalho de uma
autarquia é, sobretudo, gerir processos e mediar conflitos entre cidadãos e entre
organizações locais; percebe-se que na sua maioria, as autarquias estão estruturadas para
a “solução” imediata do problema e não para a análise de causas que lhe estão
associadas. A gestão é realizada numa ótica da prestação de serviços e o sistema de
controlo informatizado é, basicamente, realizado de acordo com as diretrizes
determinadas pelo POCAL. O mecanismo mais usual é o portal internet, onde são
disponibilizados serviços online. O recurso de interatividade mais comum é o correio
eletrónico, normalmente direcionado para o responsável de área, onde o cidadão pode
apresentar reclamações, sugestões e solicitar serviços da autarquia. Presumindo-se
daqui, mais uma vez, que as autarquias estão estruturadas para a solução imediata do
problema e não para a análise de causas que lhe estão associados.
As autarquias registam uma fraca afluência de população, quer em sessões públicas de
executivo, quer de Assembleias deliberativas (média de 17 pessoas por ano). Na sua
maioria, não existe qualquer outro tipo, mesmo informal, de encontros/reuniões
coletivas com os cidadãos, com exceção de sessões de esclarecimento sobre projetos de
intervenção no espaço público, na rua ou bairro onde pretendam realizar obras de
beneficiação/interesse para a população ali residente. Perceciona-se que mesmo quando
há recetividade e investimento ao nível institucional, torna-se difícil promover a
participação das pessoas. Razão para sugerir um estudo aprofundado sobre as
motivações das pessoas, modelos de gestão em funcionamento nas autarquias, quer para
os equipamentos coletivos, quer para as praças públicas, de forma a perceber a relação
entre os esforços e alocação de recursos das autarquias e a utilização dos mesmos.
Na ótica das autarquias, a falta de informação e o facto de não contribuírem para a
elaboração dos planos de ação nacionais e internacionais, é apontada como a causa para
a não existência de medidas de sustentabilidade implementadas no terreno. Depreende-
se uma necessidade do planeamento concertado à escala local, importante para os
cidadãos e atores das comunidades, por razões de reforço da apropriação e aumento da
resiliência, num planeamento direcionado para a empregabilidade, economia
social/solidária, espaço público, eficiência energética, poupança de água e preservação
dos recursos naturais, ou seja, na promoção do desenvolvimento local sustentável.
Esta análise conduz à convicção de que as estratégias de desenvolvimento nas
autarquias, terão de evoluir no sentido de aproveitar e explorar os aspetos favoráveis
que os processos de globalização, económica, cultural e política, vão introduzindo,
procurando criar condições para que essa globalização considere as prerrogativas do
desenvolvimento local sustentável e possa ser uma resposta inovadora e capaz de
contribuir, por um lado, para criação de novos modelos de desenvolvimento local
sustentável e, por outro lado e concomitantemente, para dar resposta aos desafios da
globalização contribuindo para o aumento da sustentabilidade e qualidade de vida local.
Na mesma linha de raciocínio, pode-se concluir que as organizações não podem ficar
apenas remetidas para uma comunicação unívoca, ou seja, num só sentido, da autarquia
para o cidadão. A avaliação dos compromissos assumidos será a forma de aferir a
estabilidade e desempenho da autarquia, não apenas com recurso a mecanismos de
participação virtuais, mas incluindo outras dinâmicas formais e informais de
comunicação (e.g. fóruns de deliberação para a construção de consensos), num exercício
prático de democracia participativa.
Da própria experiência autárquica retém-se que nas freguesias prevalece a necessidade
de inovar, de encontrar novos princípios orientadores para a gestão pública. Estes
poderiam classificar-se em dois desafios distintos: a relação do custo/benefício da
decisão política, que teria de passar por um controle ativo entre o investimento e o
retorno; deveria ser seguido um modelo de gestão de cariz mais holístico, em que
houvesse corresponsabilização entre todos os intervenientes e em que a ética e a criação
de valor estivessem presentes. Desafio que se deixa para consolidar no futuro.
Há questões que decorrem da produção legislativa e da falta de coordenação operacional
sobre o território e que obrigam a uma ponderada reflexão. As razões assentam,
sobretudo, na desconfiança do Estado sobre as pessoas e destas sobre o Estado. Nesta
problemática está uma das ‘chaves’ para resolver, ou pelo menos minimizar, a
controversa estrutura administrativa portuguesa; a outra, é a forma como cada um ‘olha’
(Governo, Autarcas e cidadãos), para as questões do ‘interesse comum’ e dos ‘bens
comuns’. É sobre este conjunto de reflexões, que merecerá desenvolver um estudo
aprofundado, se se quiser maximizar o relacionamento entre eleito e eleitor.
É comumente aceite que os contributos dos cidadãos são importantes para a definição
das necessidades sentidas e das prioridades a implementar. O aproveitamento desses
contributos permitiria à autarquia trabalhar de forma mais objetiva e em consonância
com o espírito e missão de uma autarquia local.
O desenvolvimento sustentável revela-se como um modelo de desenvolvimento com
possibilidades de garantir não só a qualidade de vida presente, como igualmente,
permitir às gerações futuras a possibilidade de também elas, poderem organizar o seu
próprio futuro. Contudo, este tipo de desenvolvimento implica mudanças profundas de
carácter político, económico, social e cultural, sendo previsível que estas mudanças só
sejam viáveis quando se conjugarem as ações individuais e coletivas incorporando as
escalas local, regional, nacional e mundial.
Assim, é importante desenvolver um sistema estruturado de comunicação que permita
um diálogo continuado e interativo com o cidadão e agentes de desenvolvimento local.
Não apenas com recurso a mecanismos de participação virtuais mas incluindo, também,
outras dinâmicas formais e informais de comunicação. Um dos mais elevados valores
destas estruturas da administração local é a proximidade ao cidadão! Então, por que
razão é desprezado este potencial? Por que não instituir e promover novos mecanismos
de participação na administração local que verdadeiramente envolvam as pessoas?
A categorização de uma tipologia de mecanismos de participação que sirva de
orientação para a formulação de políticas públicas adequadas, sobretudo pela
dificuldade de identificar, com rigor, fontes fidedignas que permitam aferir que práticas
de participação estão a ser desenvolvidas nas diversas autarquias, seria de todo o
interesse desenvolver em novos estudos que mostrassem (1) quais são atualmente as
práticas participativas desenvolvidas pelas autarquias; (2) os seus custos associados (de
participação e não-participação); (3) os seus resultados em termos de participação
efetiva na gestão da ‘coisa pública’ e; (4) definir formas de instituir novos mecanismos
de participação que sejam verdadeiramente inclusivos e que respondam eficazmente aos
desafios da sustentabilidade.
Bibliografia de referência:
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Curriculum Vitae:
− José Fidalgo Gonçalves, Mestre em Gestão Autárquica pelo ISEC – Instituto Superior de
Educação e Ciências, Lisboa, presidiu à Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira de 2000 até 2011, foi Coordenador da Delegação Distrital da ANAFRE de 2005 até 2011 e presidiu à Associação das Vilas Francas da Europa de 2004 até 2011. Atualmente é docente no ISEC, onde leciona a cadeira de Sistemas de Informação Municipal.
− José Elias Ferreira Ramalho, mestrando em Gestão ISG (Instituto Superior de Gestão), pós-
graduado em Gestão Pública pelo ISG e é licenciado em Gestão pela Universidade Internacional. Quadro superior do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP). Representante do Instituto de Emprego e Formação Profissional na Comissão técnica 164: Responsabilidade Social e na Comissão Técnica 165: Ética. Membro da Comissão Nacional do Projeto ECOXXI. Certificado em Neuro Marketing com Neuro Map pela Sales Brain. Consultor nas temáticas da Sustentabilidade, Responsabilidade Social, Comunicação, Redes Sociais, Administração Publica e Qualidade. Enquanto eleito, com o pelouro da Responsabilidade Social, integra o Executivo da Junta de Freguesia de Bobadela. Presidente da Associação Agentes Activos da Mudança.
Benefícios Percebidos Pela Adoção Dos Sistemas De Colaboração
Marcos Alexandre dos Reis Cardillo, Márcia A. Vieira Silva , Luiz Daniel Matsumato
RESUMO
Este estudo procurou identificar os resultados decorrentes da adoção de sistemas colaborativos, tais como: o VMI, ECR e CPFR na cadeia de suprimentos e entender o quanto estas ferramentas têm utilidade estratégica para a obtenção de vantagens competitivas. O artigo faz um resgate dos conceitos sobre colaboração, tecnologia de informação, sistemas de colaboração, estratégia e vantagem competitiva. A pesquisa realizada teve cunho qualitativo exploratório, envolvendo entrevistas em profundidade com gestores de empresas de grande porte e segmentos distintos no setor de tecnologia, varejo e, por fim, indústria que adotaram o modelo colaborativo eletrônico. Para a análise dos dados coletados nessas entrevistas, foi aplicada a análise de conteúdo, seguindo os procedimentos recomendados por Bardin (2007). Dentre outros, a investigação da pesquisa indicou que estes sistemas de colaboração promovem melhorias em processos, no gerenciamento de estoque, diminuição de custos e melhor acesso e compartilhamento de informações.
Palavras-chave: Colaboração, estratégia, tecnologia de informação e vantagem competitiva.
ABSTRACT
This study sought to identify the results from the adoption of collaborative systems such as VMI, ECR and CPFR in the supply chain and understand how these tools are useful to obtain strategic advantages. The article makes a rescue of the concepts of collaboration, information technology, collaboration systems, strategy and competitive advantage. The research was exploratory qualitative, involving interviews with managers of companies large and distinct segments in the technology sector, retail, and finally industry that have adopted electronic collaborative model. For the analysis of data collected in these interviews, we applied the content analysis, following the procedures recommended by Bardin (2007). Among others, research has indicated that the collaboration systems provide process improvements, inventory management improvement, it reduces costs and provides better access and sharing information.
Keywords: Collaboration, strategy, information technology and competitive advantage
1 INTRODUÇÃO
A ininterrupta busca pela competitividade faz com que toda organização trace estratégias para sobreviver e se desenvolver no mercado em que atua. Para ser pioneiro no mercado, segundo Porter (1997), faz-se necessária a adoção de estratégias das quais a empresa consiga diferenciar-se da concorrência e possa ser identificada como única, de modo que possibilite a conquista de vantagens competitivas em relação aos concorrentes.
O valor que uma empresa consegue gerar para seus clientes pode ser obtido por atividades exercidas pela própria empresa, desde o desenvolvimento de um novo produto ou serviço, como um novo processo tecnológico em produção, ou até a entrega do mesmo ao consumidor. Porter (2004) propõe ainda mais duas estratégias que podem gerar vantagem competitiva: (a) diferenciação de produto e (b) liderança em custo, ressaltando que o enfoque e a decisão de quais estratégias a serem adotadas cabem a cada empresa.
Por outro lado, a abordagem RBV (resource-based-view), defendida por Barney (1991), considera que a vantagem competitiva é assegurada pelos recursos da organização, ou o conjunto deles, e que tais recursos precisam ser valiosos, raros, insubstituíveis e difíceis de imitar. De acordo com Barney (1991), Squire et al (2009) complementam esta definição com a extensão da RBV e argumentam que recursos internos e externos são importantes para o desempenho organizacional. A colaboração é ressaltada pelos autores como um importante recurso externo para o aumento do desempenho no departamento de compras da empresa, onde a troca de dados por meio de um sistema colaborativo facilitam o gerenciamento do estoque, previsão de compras e redução de custos.
As iniciativas de colaboração têm seu foco no planejamento tático/operacional na cadeia de suprimentos, tendo como objetivo os benefícios sobre um trabalho em conjunto entre os elos da cadeia, que não seriam possíveis individualmente. Observa-se no Brasil que todos os atores envolvidos diretamente em informações que possam propiciar valor para os consumidores finais, tratam a sua logística de forma individualizada.
Outro aspecto a ser considerado é observado por Gonçalves (2009), que defende uma nova conceituação de logística, com base em inovações estratégicas mais colaborativas, que pode ser pressuposta com base na avaliação do arquétipo de quatro níveis hierarquizados, os quais ajudam a entender a complexidade e interdependência estrutural na construção de diferenciais competitivos. Estes níveis compreendem (1) recursos de infraestrutura, (2) fluxos de informação e decisão, (3) organizações e mecanismos de regulação, contratos, acordos e regras operacionais de arbitragem de conflitos de interesse, além de (4) princípios e modelos de negócios universalmente aceitos (GONÇALVES, 2009).
Com base no segundo nível proposto no arquétipo apresentado por Gonçalves (2011), os sistemas colaborativos como o EDI, ECR e o CPFR podem orientar a decisão ao organizar prioridades no fluxo de informação correspondente aos sistemas de indústrias, comércio e serviços. Segundo Gonçalves (2009), as informações norteiam decisões que dão a lógica as ações operacionais, por meio de informações viáveis que
são elementos logísticos fundamentais nos processos que envolvem uma maior complexidade de forma integrada às operações internacionais.
Sendo assim, saber como implementar ferramentas de colaboração eletrônica para que gerem resultados positivos é de suma importância, porém pode não ser suficiente. Cada empresa tem a sua forma de agir e quando os parceiros não investem em tecnologia a dificuldade pode ser ainda pior. O mercado estimula as empresas investirem em TI e otimizar os processos de troca, mesmo que os ganhos a princípio, não sejam almejáveis.
Nesse contexto, a questão de pesquisa explorada neste trabalho é: Quais são os resultados obtidos pela adoção dos sistemas de colaboração?
Este estudo tem por objetivo analisar os resultados decorrentes do processo de colaboração entre empresas do setor industrial, varejista e de tecnologia. Com base no referencial teórico, foram investigados dois principais aspectos: relatar como o sistema adotado afeta seus vários usuários na cadeia de suprimentos e Identificar possíveis mudanças de processos após a adoção do sistema.
De forma complementar, propõe-se descobrir novos parâmetros e inovações tecnológicas por softwares mais utilizados no Brasil, que são recursos importantes como elos de integração rápida de informações, na relação entre produtores e fornecedores.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Aspectos da colaboração na cadeia de suprimentos
Quando o termo colaboração entre empresas é utilizado, uma vasta opção de significados pode ser atribuída dependendo de autores e contextos diferentes. Para se diferenciar estes termos, nesta etapa da pesquisa, foi feita a revisão de vários textos sobre o assunto, com foco nos principais termos referentes à colaboração, como alianças estratégicas e cooperação de acordo com Moran, Souza, Boaventura, Marinho e Fischman (2010).
Segundo Das e Teng (1998), Alianças Estratégicas são acordos de cooperação com o intuito de atingir objetivos estratégicos dos parceiros. Estas alianças, essencialmente, envolvem 2 ou mais parceiros para buscar objetivos compartilhados, sendo a cooperação vital para o sucesso da aliança. Das e Teng (1998) consideram a incerteza e a cooperação como os principais fatores que distinguem a aliança estratégica de outro tipo de estratégia individual.
Nesta visão, a cooperação aparece como uma parte do que é chamado de aliança estratégica. Assim, Das e Teng (1998) definem, especificamente, a cooperação de parceria como a vontade de uma empresa parceira em buscar interesses mutuamente compatíveis em uma aliança, ao invés de agir de forma oportunista. Sendo o oportunismo exemplificado como trapacear, distorcer informações, esquivar-se de atividades, enganar parceiros, suprir com produtos/serviços abaixo do padrão, e apropriar-se de recursos críticos do parceiro. Já a cooperação de parceria é caracterizada por negociações honestas, comprometimento, fair play, e agir de acordo com os contratos.
Os autores citados também destacam a característica paradoxal da cooperação, pois através desta espera-se que as empresas busquem seus próprios interesses, mas simultaneamente elas precisam restringir esta busca natural, de modo que a aliança funcione. Assim, é proposto que sucesso da aliança seja encontrado através de equilíbrio entre competição e cooperação.
Diferente da cooperação, a colaboração é definida pelos autores Coughlan, Coughlan, Lombard, Brennan, McNichols e Nolan (2003) como o processo de tomada de decisão entre organizações independentes envolvendo posse conjunta das decisões e responsabilidades pelos resultados. Este processo é baseado na criação relações de longo-prazo, desenvolvimento de capacidades complementares, engajamento em planejamento conjunto e compartilhamento de informações. Desta colaboração são destacados os benefícios de acessar novos mercados, novas tecnologias e habilidades, para a redução de tempo e custos operacionais para o mercado, e otimizar a performance geral da cadeia de suprimentos.
Coughlan, Coughlan, Lombard, Brennan, McNichols e Nolan (2003) reforçam que o sucesso da colaboração depende da habilidade e desejo dos gestores para construir relacionamentos reais, criar confiança, e desistir de seu individualismo em favor de uma parceria mais colaborativa. Em resumo, a colaboração é potencialmente benéfica, mas é um relacionamento interorganizacional complexo.
Powell, Koput e Smith-Doerr (1996) seguem a mesma linha de Coughlan, Coughlan, Lombard, Brennan, McNichols e Nolan (2003) e apontam o grande crescimento da colaboração, pois companhias, em uma ampla variedade de indústrias, estão executando quase todas as etapas do processo de produção, da descoberta à distribuição, através de alguma forma de colaboração. Estes autores também se referem à colaboração como um tipo de aliança e que pode aparecer de diversas formas, variando de parcerias em P & D a Joint Ventures, a manufatura colaborativa, a complexos planos de comarketing. Este mesmo ponto de vista é compartilhado por Austin 2001.
Powell, Koput e Smith-Doerr (1996) ainda ressaltam que as razões para o crescimento na colaboração envolvem um pouco da combinação de compartilhamento de riscos, obtenção de acesso a novos mercados e tecnologias, velocidade de produtos para o mercado, e agrupamento de habilidades complementares. Como barreiras à efetiva colaboração são citados a falta de confiança entre as partes, dificuldade de compartilhar o controle, a complexidade de um projeto conjunto e diferentes habilidades para aprender novas técnicas.
Reforçando o ponto de vista de Coughlan, Coughlan, Lombard, Brennan, McNichols e Nolan (2003), Powell, Koput e Smith-Doerr (1996) afirmam que motivos como adquirir recursos e habilidades, que individualmente não são atingíveis, são motivos para recorrer a colaboração.
Como Coughlan, Coughlan, Lombard, Brennan, McNichols e Nolan (2003), e Powell, Koput e Smith-Doerr (1996) destacaram a complexidade e as barreiras à colaboração, respectivamente, assim como outros autores também o fazem. Corsten e Kumar (2005) afirmam que, apesar de relações colaborativas através de esforço conjunto dos parceiros criar valor único que nenhum deles sozinhos pode criar, existe
uma tensão entre maximizar tal valor e distribuí-lo entre os parceiros. Isso torna os relacionamentos colaborativos desafiadores para serem implementados na prática, principalmente se envolverem participantes poderosos.
Hamel (1991) também demonstra as dificuldades da colaboração. Através de entrevistas, faz uma comparação entre a colaboração e uma corrida pelo aprendizado, pois ambas as empresas que trabalham em colaboração querem pegar o máximo de conhecimento que seu parceiro tem a oferecer, e quem consegue pegar o máximo mais rápido torna o outro parceiro desnecessário, pois este não é mais atrativo para trocar conhecimento.
Uma sugestão de entendimento, proposto por Hamel (1991), de que parceiros em uma aliança competitiva podem, às vezes, tenderem a enxergar a colaboração como uma corrida/competição para inovarem primeiro, ao invés de um verdadeiro esforço de cooperação para realizarem juntos. Novamente, isso mostra evidencias de uma mistura não óbvia entre objetivos competitivos e colaboração.
Corbett, Blackburn e Van Wassenhove (1999) destacam como dificuldade o histórico do relacionamento, pois eles citam o caso das empresas que, depois de anos explorando os fornecedores, através da criação de competição entre eles, encontram muita dificuldade para estabelecer parcerias.
Deste modo, este artigo utiliza a definição de colaboração segundo Coughlan, Coughlan, Lombard, Brennan, McNichols e Nolan (2003) onde a colaboração é um processo de decisão conjunta e de compartilhamento de resultados entre os parceiros e leva em consideração possíveis dificuldades de implementação destacadas pelos outros autores.
2.2 A busca pela vantagem competitiva
Existem algumas correntes explicativas sobre vantagem competitiva na literatura, como Barney (1997), que defende a teoria dos recursos, onde a fonte de vantagem competitiva se encontra, primariamente, nos recursos e nas competências desenvolvidas e controladas pelas empresas e, secundariamente, na estrutura das indústrias nas quais elas se posicionam. Para Barney (1997), as explorações desses recursos e capacidades precisam ser valiosos, raros, de difícil substituição e custosos de imitar. Esta teoria possui a estratégia orientada para o desenvolvimento e exploração dos recursos existentes. Em 1984, Wernerfelt publicou um artigo seminal sobre a teoria baseada em recursos. E o autor propôs que as empresas são feixes de recursos, que podem ser empregados para influenciar o desempenho.
Enquanto Hamel e Prahalad (2002) defendem que a vantagem competitiva é obtida por meio de capacidades dinâmicas, onde rotinas e processos organizacionais são capazes de regenerar a base de recursos da empresa. Ainda segundo os autores, a concepção é extraída sobre o conjunto evolutivo dos recursos, competências e capacidades. A estratégia está direcionada para o processo e a interação entre competências e oportunidades de mercado.
E de acordo com Lynch et al (2000), os autores concluíram que muitos estudos de recursos têm-se centrado na área de fabricação, mas a logística pode ser um novo
frontier. Os autores citam o Wal-Mart como um excelente exemplo de uma empresa com várias capacidades distintas que não podem ser facilmente copiadas e, para eles, tais capacidades reduzem significativamente os custos, por meio de altos níveis de eficiência. Para Lynch et al (2000), a redução de custos beneficia uma empresa financeiramente. Além disso, por que o sistema do Wal-Mart é difícil, se não impossível, de imitar? Os autores ressaltam que a empresa mantém, assim, uma vantagem competitiva no mercado. Não obstante, o Wal-Mart se esforça para ser um líder de custo como parte de sua estratégia de negócios, e sua vantagem competitiva é reforçada por meio da sua capacidade de logística distintiva.
A vantagem competitiva em Porter (1997) é ressaltada pela busca do posicionamento ideal da organização na estrutura industrial, tendo como resultado a capacidade da empresa em atuar de forma eficiente em diversas atividades. O conjunto dessas atividades propicia uma base para a diferenciação, que pode surgir por meio de aquisição de matérias-primas a um custo mais baixo que o dos concorrentes, ou de relacionar essas atividades de uma forma singular, capaz de gerar um valor diferenciado aos compradores.
Seguindo com Porter (2004), a vantagem competitiva surge fundamentalmente do valor que uma empresa consegue criar para seus compradores em comparação com seus concorrentes. O valor se dá por meio de estratégias de baixo custo ou diferenciação do produto, e é aquilo que os compradores estão dispostos a pagar. O valor superior provém da oferta de preços mais baixos que os da concorrência, por benefícios equivalentes, ou do fornecimento de benefícios singulares que mais do que compensam um preço mais alto.
Porter (2004), tendo como objetivo o desempenho acima da média, destaca três tipos básicos de estratégias genéricas:
(a) liderança em custo: vantagem por liderança no custo, ocorre quando uma empresa parte para ser o produtor de baixo custo de sua indústria, atuando em um escopo amplo, onde as fontes de vantagem de custo variam e dependem da indústria, a qual trabalha com preços equivalentes ou mais baixos do que seus rivais e mantém a posição de baixo custo, traduzindo-se em retornos mais altos.
(b) diferenciação: no caso da diferenciação, uma empresa procura ser única em seu mercado, ao longo de algumas dimensões amplamente valorizadas pelos compradores. Ela seleciona um ou mais atributos que muitos compradores na indústria que consideram importantes, posicionando-se singularmente para satisfazer essas necessidades.
(c) enfoque: já no enfoque, esta estratégia é bem diferente das outras, porque está baseada na escolha de um ambiente competitivo estreito dentro de uma indústria. O elemento em foco seleciona um segmento, ou um grupo de segmentos, na indústria e adapta sua estratégia para atendê-los, excluindo os outros. Assim, procura obter vantagem competitiva em seus segmentos-alvo, embora não possua uma vantagem competitiva geral.
Entretanto, além de obter vantagem competitiva, também se faz necessário sustentá-la. Isso, sem dúvida, acrescenta novas complicações aos cenários dos negócios.
Por isso, verifica-se a força da relação entre estratégia e vantagem competitiva sustentável, pois, segundo Varadarajan e Jayachandran (1999), estratégia abrange as decisões que permitem a um negócio atingir e sustentar uma vantagem competitiva e manter ou melhorar sua performance.
2.3 A adoção da estratégia
Com a finalidade de entender os pensamentos estratégicos, Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), dividem os pensamentos sobre a formulação de estratégias em dez escolas, onde cada qual apresenta modelos básicos de planejamento estratégico, com base no pensamento estratégico de cada.
O intuito desta avaliação é revelar, sobre o ponto de vista estratégico, a complexidade organizacional para implementar o conceito de colaboração, onde geralmente os modelos mais eficazes em gestão competitiva são aqueles onde as estratégias devem emergir, à medida que a organização se adapte ou aprenda com a situação atual.
Conforme Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), o estudo do pensamento estratégico deu origem às principais escolas do planejamento estratégico, as quais se apresentam divididas em três grupos, como seguem nas tabelas abaixo:
ESCOLAS PRESCRITIVASEscola Descrição
Escola do design Formulação de estratégia como um processo de concepção
Escola do planejamento Formulação de estratégia como um processo formal
Escola do posicionamento Formulação de estratégia como um processo analítico
Tabela 1: Escolas PrescritivasFonte: Elaborado pelos autores
ESCOLAS INTEGRATIVASEscola Descrição
Escola de configuração Formulação de estratégia como um processo de transformação
Tabela 2: Escolas IntegrativasFonte: Elaborado pelos autores
ESCOLAS DESCRITIVASEscola Descrição
Escola empreendedora Formulação de estratégia como um processo de visionário
Escola cognitiva Formulação de estratégia como um processo mental
Escola de aprendizado Formulação de estratégia como um processo emergente
Escola do poder Formulação de estratégia como um processo de negociação
Escola cultural Formulação de estratégia como um processo coletivo
Escola ambiental Formulação de estratégia como um processo reativo
Tabela 3: Escolas DescritivasFonte: Elaborado pelos autores
Com estas ressalvas, Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) inferiram que o planejamento estratégico pode ser subdividido em três escolas de planejamento estratégico. As escolas prescritivas são mais preocupadas com a descrição do processo de formulação das estratégias, portanto, consideram os aspectos específicos do processo. As escolas descritivas entendem a formulação das estratégias pela ótica de um processo emergente de aprendizado.
Portanto é notório que a formulação da estratégia poderá variar com base na interface conceitual dos objetivos estratégicos por tipo de repartição, corporação ou setor. À medida que se processam de forma contínua informações em cadeias, os diversos atores demonstram objetivos ou pensamentos estratégicos integrados por ferramentas de Tecnologia de Informação.
Os estudos de Balakrishnan et al., (2008)sobre The Continuum Engagement Strategies inferem que há diversos tipos de engajamento que merecem mais atenção perante os stakeholders.
Figura 01: As Estratégias de Engajamentos Contínuos. Bowen et al., (2008) Fonte: Adaptado pelos autores
Para análise da estratégia, é necessário esclarecer os tipos de engajamentos com stakeholders ao negócio:
TransformacionalTransicionalTransacional
Figura 02: Análise EstratégicaFonte: Adaptado pelos autores
A estratégia de envolvimento das partes interessadas pode ser definida como atividades interativas iniciadas por uma organização e seus stakeholders.
A organização, tipicamente, tem muitas partes interessadas, e é a própria organização em si "um ator dentro da comunidade" (ISO 26000). Portanto, existem numerosas oportunidades para realizar envolvimento das partes interessadas, e muitas formas de iniciar um diálogo.
Para elaborar uma estratégia de envolvimento com seus colaboradores, uma organização deve ponderar cuidadosamente sobre as relações que precisa construir e identificar todas as partes interessadas que possam ser afetadas por novos projetos ou negócios, os quais serão expostos de forma mais integrada ao conceito de sistemas de colaboração.
Por exemplo, uma organização alinhando os objetivos estratégicos por meio do envolvimento das partes interessadas, pode agregar valor ao serviço, com base em recursos compartilhados além de criar suporte para suas ações estratégicas na cadeia.
Ou seja, interagir por informações significa dizer que uma organização pode identificar e solucionar suas preocupações de forma proativa entre as partes interessadas. Neste entendimento, desde que ocorra colaboração, haverá maior acurácia dos riscos envolvidos com ou sem recursos tecnológicos, bem como os riscos resultantes de puro mal-entendidos, que são oriundos de ações não tecnológicas.
2.4 A Adoção da colaboração em tecnologia da informação
Segundo Gonçalves (2009), a utilização de softwares para dar suporte às atividades logísticas teve grande aceitação nas mais diferenciadas áreas e atividades. Algumas destas áreas destacaram-se por ter de 90% a 100% das atividades controladas por estas ferramentas de TI, sendo as de maior destaque: (1) processamento de pedido, (2) sistema de administração fornecedor, (3) programação de compras, e (4) previsão de vendas. A grande colaboração de Tecnologia de Informação, doravante denominada como TI, inicia-se a partir da necessidade de atender o mercado varejista por meio de integração de informações diretas obtidas do mercado-alvo.
A informação estratégica é o insumo da qualidade do conceito do processo colaborativo para incrementar melhorias por meio de aferição operacional dos resultados comparativos decorrente da comunicação direta com o campo, permitindo, a exemplo do mercado varejista, ações mais rápidas a partir do check-out da loja.
Novas ferramentas de TI, quando integradas, corroboram com este conceito, o controle por meio do RFID – Radio Frequency Indicator Digital possibilitou, por meio do código de barras, o controle concorrente por meio do registro automático de transações em diversos setores, tornando a produção mais sustentável à medida que é possível produzir sabendo o que o consumidor está levando no momento da compra.
Entretanto, existem forças e resiliências às inovações em TI, o que impede maior colaboração. Para evitar tais barreiras, é necessário identificar a estratégia de participação dos stakeholders, antes de iniciar um processo de engajamento no CPFR.
Isto pode significar maior transparência das metas por meio dos gestores, que devem considerar o tipo de relacionamento das partes interessadas, bem como o nível de envolvimento dos stakeholders nos resultados do negócio.
O valor Baseado em Recursos de TI na análise de forças atuantes em processos de gestão colaborativa
RESILIÊNCIAS INOVAÇÕESEvitar transparência de KPIs na cadeia de suprimentos
Maximizar a rentabilidade
Minimizar o compromisso com planejamento conjunto
Aumentar o giro e reduzir os excessos de estoque
Os relacionamentos sao frequentemente contraditorios
Propor algoritmos de reposição inteligentes
Evitar baixos niveis de serviço/Redução de Estoques
Aumentar a visibilidade dos seus produtos no ponto de venda
Tabela 5: O valor baseado em recursos de TI na análise de forças atuantes em processos de gestão colaborativaFonte: Elaborado pelos autores
O entendimento de processos de inovações é extremamente importante ao negócio conforme o tipo de estratégia e mercado-alvo. Em práticas de atendimento varejista, possibilita controlar o inventário por meio dos sistemas de colaboração ao conciliar a informação da gôndola para o armazém, o que agrega valor com a redução de rupturas, ou evita-se de perdas de estoques nas lojas.
2.5 O histórico dos sistemas de colaboração
Segundo Chen e Paulraj (2004) o termo Supply Chain Management (SCM) tem sido utilizado para explicar o planejamento e controle de materiais e o fluxo de informações, bem como as atividades logísticas, não somente internas a empresa, mas também externas. O SCM descreve assuntos estratégicos, interorganizacionais e também é utilizado para discutir alternativas para integração vertical, identificar e descrever relacionamentos desenvolvidos por uma empresa com seus fornecedores e lidar com a perspectiva de suprimentos e compras.
Relacionadas ao SCM, existem diversas estratégias sobre o relacionamento entre uma empresa e seus fornecedores, que estão relacionadas à colaboração. A seguir, serão revisadas algumas das principais como QR - Quick Response, ECR – Eficient Consumer Response, VMI – Vendor Management Invetory e CPFR- Collaborative Planing Forecasting and Replenishment.
Segundo Harris, Swatman e Kurnia (1999), em meados de 1980 o conceito de manufatura JIT – Just in Time foi aplicado para a indústria têxtil e de equipamentos nos Estados Unidos, como uma forma de proteção a indústrias estrangeiras. O conceito Just in time (JIT) simplesmente envolvia entregar a matéria-prima na quantidade exata e no momento exato em que este fosse demandado. O JIT na indústria têxtil recebeu o nome de QR, e este conceito também inclui o compartilhamento de informações dos pontos de venda para as manufaturas, com o objetivo de melhorarem o fluxo de produção.
O varejo percebeu o sucesso da abordagem do QR para gerenciar as informações da cadeia de suprimentos e propôs um sistema de reabastecimento de estoque semelhante, chamado ECR. Este tem origem em 1992, quando os supermercados começaram a estudar formas para conseguir sobreviver a novas concorrências. Como resultado, em 1993 foi criado o ECR, sendo introduzido no "US Food Marketing Institute Conference” em Janeiro de 1993. Esta estratégia considera transformar a cadeia de suprimentos do varejo de empurrada para puxada. Nela os parceiros formam novas alianças de relacionamento e o reabastecimento das lojas é baseado nas informações dos pontos de venda ou POS - Point of Sale (Harris; Swatman; Kurnia, 1999).
O ECR requer um fluxo de informações em tempo adequado, acurado e sem papel, baseando-se fortemente na troca eletrônica de informações Eletronic Data Interchange - EDI e alianças entre os membros da cadeia. O objetivo do ECR é retirar da cadeia os custos que não adicionam valor ao consumidor, para isso busca a eficiência nas 4 principais área de negócios: (1) Loja Eficiente, (2) Reabastecimento Eficiente, (3) Promoções Eficientes, e (4) Eficiente Introdução de Produtos. Dentre destas, a principal é o (2) Reabastecimento Eficiente, que representa mais da metade das economias projetadas para uma implementação de ECR. Para estas implementações é considerado necessário uma abordagem com CRP – Continuos Replenish Program (Harris; Swatman; Kurnia, 1999).
Diferente do proposto por Harris, Swatman e Kurnia (1999), Corsten e Kumar (2005) classificam as atividades do ECR em 3 grandes áreas da colaboração manufatura-varejo: (1) Gerenciamento da demanda, (2) Gerenciamento do Suprimento e (3) Integradores e ferramentas que permitam atividades de relacionamento conjunto. Estes autores definem ECR como uma estratégia colaborativa de criação de valor, onde varejista e manufatura implementam práticas de negócio colaborativas com o último propósito de atender em conjunto, melhor, mais rápido e com menos custos, os desejos dos clientes.
Corsten e Kumar (2005) ainda ressaltam dificuldades, pois apesar do entusiasmo inicial, uma década depois da origem do ECR um sinal de ceticismo começou a aparecer. Os fornecedores acreditam que os varejistas têm sido os principais beneficiados com o ECR. Assim, foi espalhado um sentimento de que o ECR é conveniente para os grandes e poderosos varejistas acharem formas de transferirem os custos de volta para os fornecedores.
Outra estratégia sobre relacionamento comprador-fornecedor é o VMI este é definido por Disney e Towill (2003) como uma estratégia de cadeia de suprimentos onde o vendedor/fornecedor recebe a responsabilidade de gerenciar o estoque do cliente. Diferente de outros autores, estes consideram que todas as outras estratégias são
variantes do VMI, por exemplo, QR, SCR – Synchronized Consumer Response, CR – Continuos Replenishment, ECR, RR – Rapid Replenishment, CPFR e CIM – Centralised Inventory Management.
Com relação aos objetivos do VMI, Marques, Thierry, Lamothe e Gourc (2010) acrescentam que, para o cliente, o objetivo é de assegurar alto nível de serviço ao consumidor com baixos custos de inventário. Já para o fornecedor, o objetivo é a redução nos custos de produção, estoques e transportes. É possível observar objetivos compartilhados, o que permite a criação de uma melhor colaboração entre parceiros e desta forma, conquistar os principais objetivos, fortalecendo os principais fluxos, agilizando a cadeia de suprimentos e reduzindo o efeito chicote. Estes autores afirmam que existe um consenso entre todos os autores sobre a essência do VMI, a qual é a transferência da responsabilidade do gerenciamento do estoque do cliente para o fornecedor.
QR, ECR, JIT e CPFR são referenciados por Fiorito, Gable e Conseur (2010) como estratégias de gerenciamento do reabastecimento do inventário. Estes autores destacam o aspecto semelhante entre estas estratégias, em que eles afirmam que todas elas requerem integração adequada e colaboração entre compradores e vendedores com o objetivo de assegurar o sucesso da estratégia.
O CPFR como outra importante estratégia é definida por Fiorito, Gable e Conseur (2010) com o objetivo de melhorar a precisão na previsão e atendimento das necessidades dos clientes, bem como uma tentativa, baseada na web, de coordenar varias atividades incluindo produção, planejamento de compras, previsão da demanda e reabastecimento do inventário entre parceiros comerciais na cadeia de suprimentos.
3 O ÂMBITO DE ESTUDO - EMPRESAS DO SETOR INDUSTRIAL, VAREJISTA E DE TECNOLOGIA.
A indústria brasileira, segundo o Portal Brasil 2012, desde o início de suas atividades foi muito importante para a economia brasileira. Com relação às fases deste setor no Brasil, houve um processo de forte industrialização iniciado na década de 1950. Outro período de crescimento do setor foi entre, 1967 e 1973, chamado de “milagre econômico”, quando a produção industrial cresceu 13% e o PIB 12%. Posteriormente, a indústria passou por crise na década de 1980 devido à instabilidade da moeda nacional, entre outros fatores, como outros setores da economia. Na década de 1990, existe uma recuperação do setor industrial e o País dá continuidade ao processo de abertura comercial com redução de tarifas de importação e reformulação dos incentivos às exportações. A partir de 2000, o comércio exterior aumentou em um ritmo mais forte. O crescimento econômico mundial, o aumento dos preços internacionais de produtos básicos, a diversificação dos mercados importadores e a maior produtividade de produtos básicos são os fatores que favoreceram a indústria nesta década. Por exemplo, em 2007, segundo indica dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção industrial subiu 6%, o melhor resultado desde 2004, quando a produção atingiu 8,3%.
De forma semelhante, o setor de varejo também passou por diversas fases nas últimas décadas. Conforme Freitas (2011), o setor do mercado de varejo, sobretudo na última década, vem assumindo uma importância crescente no panorama empresarial do
Brasil e do mundo. Os varejistas têm ampliado sua participação no mercado brasileiro através de novas técnicas de gestão, assim, a competição tem se acirrado e estão sendo selecionados aqueles que conseguirão se permanecer no mercado.
O setor passou por diversas fases da sociedade brasileira, como inflação, mudança de impostos, desenvolvimento da indústria de alimentos, urbanização e planos de estabilização. Assim, este é um setor que vem se modernizando e atualmente vem passando por um acelerado ritmo de consolidações. (FREITAS, 2011)
O setor de softwares é mais jovem e, segundo Saccol e Antonini (2011), no Brasil este setor é considerado estratégico para o desenvolvimento nacional, pois em uma economia baseada no conhecimento, a importância da indústria de software é significativa, pois ela viabiliza a incorporação do conhecimento em produtos, serviços e sistemas, sendo importante também para a difusão de tecnologias de informação e telecomunicação entre organizações, instituições e a população. Assim, os setores de software e serviços cresceram quase 24% no Brasil em 2010 e o Brasil alcançou a 11ª posição no ranking mundial, tendo movimentado 19,04 bilhões de dólares, equivalente a 1,0% do PIB brasileiro.
A amostra para realização deste trabalho constituiu-se de três empresas segmentadas no setor varejista, industrial e de tecnologia, nas quais duas são multinacionais e uma é nacional. O quadro a seguir apresenta as empresas pesquisadas e aspectos da pesquisa. Em todas as organizações, objetivou-se coletar dados referentes aos resultados no compartilhamento de informações por meio de utilização de sistemas, à luz do processo de colaboração.
Empresa País / Estado
deOrigem
Nome dos Entrevistados
(Iniciais)
Função na instituição
Ramo de atividade
Data da entrevista
Empresa 1 Brasil-SP RD Diretor de compras
Varejo 07/06/2012
Empresa 2 Brasil-SP AV Diretor Comercial
Indústria 13/06/2012
Empresa 3 Brasil-SP BC Head delivery TI 09/06/2012
Quadro 1: Composição da Amostra QualitativaFonte: Elaborado pelos autores
A primeira empresa é uma companhia global com faturamento anual superior a R$ 23,4 bilhões de reais. Atua no mercado brasileiro há 17 (dezessete) anos, tendo como clientes empresas de grande porte no setor industrial. Conta com aproximadamente 81,5 mil colaboradores. Cabe destacar que a empresa enfatiza suas operações em práticas do mercado varejista.
A segunda é uma subsidiária brasileira de uma empresa global com foco de atuação na América Latina. A empresa possui faturamento superior a R$ 4,6 bilhões de reais ao ano, atuando no Brasil por 19 (dezenove) anos. Atende desde clientes de pequeno porte até grandes corporações varejistas. O seu quadro de funcionários conta com cerca de 9.000 pessoas, e a sua principal atividade é a fabricação de produtos alimentícios.
A última empresa pesquisada é uma companhia global com faturamento anual superior a R$ 1 bilhão de reais. Atua no mercado brasileiro há 22 (vinte e dois) anos, tendo como clientes empresas de grande porte no setor industrial. Conta com aproximadamente 7.300 colaboradores. Cabe destacar que a empresa enfatiza suas operações em consultoria, gestão de serviços de tecnologia e outsorcing.
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
4.1 Método Qualitativo
O método de pesquisa qualitativo pode ser definido como uma técnica que não utiliza meios estatísticos como base do processo de análise do problema estudado. Na pesquisa qualitativa, a preocupação não está em numerar ou medir variáveis, mas sim, em identificar tais variáveis (RICHARDSON, 1999).
A pesquisa qualitativa procura avaliar a representatividade de um conjunto de atores que participará da pesquisa e geralmente não se preocupa com a quantificação e aleatoriedade da amostra estudada, sendo de real importância a obtenção de contatos com os potenciais participantes (TRIVIÑOS, 1987). Richardson (1999) considera que a opção pela pesquisa qualitativa se justifica quando se pretende entender um fenômeno social, descrever a complexidade de determinado problema, compreender e classificar o processo.
4.2 Qualificação da Pesquisa
Em Gil (2002), os estudos exploratórios têm como finalidade a formulação de um problema para realização de uma pesquisa mais precisa ou para a elaboração de hipóteses, que além destes aspectos, também possam possibilitar ao pesquisador a realização de um levantamento provisório do fenômeno que deseja estudar de forma mais detalhada e estruturada posteriormente (OLIVEIRA, 1999). Para Kochë (1997), a pesquisa descritiva estuda as relações entre duas ou mais variáveis de um fenômeno sem manipulá-las. Pelo exposto anteriormente, verifica-se que os estudos descritivos procuram medir relações entre variáveis com precisão, enquanto os estudos exploratórios fundamentalmente são aplicados para a identiticação e descoberta de variáveis.
4.3 Processo Analítico
Para o desenvolvimento deste estudo, efetuaram-se entrevistas em profundidade, utilizando-se um roteiro previamente definido. Para o tratamento e análise dos dados qualitativos obtidos durante as entrevistas e a realização dos objetivos da pesquisa, empregou-se a técnica de Análise de Conteúdo de Bardin (2007).
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O desenvolvimento da análise de conteúdo foi dividido em cinco etapas, que estão descritas a seguir.
5.1 Etapa da Análise de Conteúdo – Identificação de Pontos-chave
A identificação dos pontos-chave foi realizada após a leitura criteriosa do material resultante das transcrições das entrevistas. As transcrições foram os únicos documentos analisados, como parte da pré-análise. Nesta primeira etapa, efetuou-se a contagem das palavras e expressões mais utilizadas nas entrevistas, conforme quadro 2:
Palavra/Expressão Empr1 Empr2 Empr3 Total
Diminuição de Custos 4 6 4 19Otimização de tempo e resultados 6 5 6 20
Aumento de produtividade 3 5 7 17Minimização de riscos 5 6 8 23Mudança de cultura organizacional 3 4 6 18
Acesso a novas tecnologias 2 3 1 07Fluidez e agilidade na comunicação
5 6 8 23
Maior interação com fornecedores 3 4 6 18
Fácil manuseio do sistema 2 3 1 07
Quadro 2: Palavras e expressões mais citadas nas entrevistasFonte: Elaborado pelos autores (2012)
Os dados apontados no quadro 2 indicam as principais mensagens e pontos abordados pelos entrevistados, uma vez, que lhes foram direcionadas perguntas abertas, de modo que pudessem responder a elas abertamente. Observa-se que os respondentes enfatizaram a questão da redução no tempo de execução no processo, alto desempenho, redução de custos, acesso a novas tecnologias, gerenciamento do estoque, entre outros.
Na sequência, elaborou-se uma matriz de pontos-chave versus perguntas. Essa matriz pode ser entendida como uma matriz de elementos básicos de análise. Para a sua elaboração, procurou-se observar as regras de exaustividade ou não seletividade do material lido (transcrições das entrevistas), conforme recomendado por Bardin (2007).
5.2 Etapa da Análise de Conteúdo – Formação das Unidades de Significado
Identificaram-se, nesta etapa, os elementos intermediários de análise, denominados unidades de significado, a partir da matriz de pontos-chave. Para a criação dessa matriz foram agrupadas nela as principais ideias transmitidas pelos entrevistados. Efetuou-se o agrupamento, primeiramente por ordem de pergunta, depois por similaridade das respostas dadas em vários pontos da entrevista. Nomearam-se, então, as unidades de significado em função da similaridade das abordagens efetuadas pelos entrevistados.
A codificação dessa matriz também teve como base a presença ou ausência de certos elementos e a frequência com que eles foram identificados (RICHARDSON,
1999). No total, foram obtidas 10 (dez) unidades de significados localizadas na matriz de unidades de significado, conforme indicado no quadro 3.
Unidade de Significado Nome
US1 Aumento de desempenhoUS2 Diminuição de custos com transporteUS3 Aumento no controle do estoqueUS4 Acesso rápido às informações US5 Controle efetivo dos processos de abastecimentoUS6 Maior produtividadeUS7 Reposição automática do estoqueUS8 Satisfação nos resultadosUS9 Redução de tempoUS10 Demonstração de resultados
Quadro 3: Unidades de Significado Identificadas nas entrevistasFonte: Elaborado pelos autores (2012)
5.3. Etapa da Análise de Conteúdo – Formação das Categorias
Nesta etapa, agruparam-se as unidades de significados, com o objetivo de se criar uma matriz de Categorias. Essa etapa é conhecida, na literatura, como categorização. As categorias são rubricas, ou classes, que reúnem um grupo de elementos (unidades de registro) sob um título genérico, em função das características comuns desses elementos (BARDIN, 2007). Para a definição das categorias, procurou-se fazer o agrupamento utilizando-se critérios semânticos, sintáticos, léxicos e expressivos recomendados por (RICHARDSON, 1999). Obteve-se, então, um total de 4 (quatro) categorias, conforme o quadro 4:
Categoria Unidade de Significado
C1 – Melhorias em Processos(Melhorias decorrentes da adoção de sistemas de colaboração)
US1 – Aumento de desempenhoUS5 – Controle efetivo dos processosUS6 – Maior produtividade
C2- Gerenciamento do estoque(Maior visibilidade do estoque)
US3- aumento no controle do estoqueUS7- Reposição automática do estoqueUS11- Maior controle sobre excesso/falta de produtos
C3 – Diminuição em custos(Redução de tempo e de custos)
US8 – Satisfação nos resultadosUS10 – Demonstrações de resultadosUS9 – Redução de tempoUS2 – Diminuição de custos com transporte
C4 – Acesso e compartilhamento de Informações(Acesso à informação)
US4 – Acesso rápido às informações
Quadro4: Categorias Identificadas nas entrevistas Fonte: Elaborado pelos autores (2012)
5.4 Etapa da Análise de Conteúdo - Análise dos resultados
Nesta etapa, a análise deu-se pelo confronto entre os elementos formados pelas categorias apresentadas no quadro 4(quatro) e a presença ou ausência dos elementos identificados no referencial teórico estudado. Segue-se, então, a apresentação e análise das 4 (quatro) categorias formadas na 3ª etapa da análise de conteúdo.
A categoria C1 – Melhorias em Processos foi formada a partir do agrupamento das seguintes unidades de significado:
• US1 – Aumento de desempenho
• US5 – Controle efetivo dos processos
• US6 – Maior produtividade
Essa categoria sintetiza a melhoria em processos, como os principais resultados obtidos por uma organização, em função da adoção de um sistema de colaboração, o que está em linha com o fato relatado por Coughlan et al (2003). Os entrevistados apontaram os resultados obtidos pelo processo de colaboração em suas instituições, nas seguintes observações:
Empresa 1: Com os sistemas de colaboração é possível integrar os estoques dos centros de distribuição com os nossos fornecedores, mesclando competências distintas por meio de parcerias, evitando falta de produtos nas lojas.
Empresa 2: A gestão colaborativa promove fusão tecnológica com os nossos clientes e fornecedores, trazendo flexibilidade, agilidade e benefícios para o consumidor final.
Empresa 3: Com a implementação do sistema ECR, conseguimos reduzir tempo e custos.
A categoria C2 – Gerenciamento do estoque foi definida a partir do agrupamento das seguintes unidades de significado:
• US3- aumento no controle do estoque
• US7- Reposição automática do estoque
• US11- Maior controle sobre excesso/falta de produtos
Essa categoria identifica as características ou atributos percebidos de uso de um sistema de colaboração que mais contribuem para a sua adoção. Os autores Corsten e Kumar (2005) classificam as atividades do ECR em 3 grandes áreas da colaboração manufatura-varejo: (1) Gerenciamento da demanda, (2) Gerenciamento do Suprimento, e (3) Integradores e ferramentas que permitam atividades de relacionamento conjunto. A percepção do uso ficou evidenciada em:
Empresa 1: Os detalhes de negociação são planejados em reuniões pontuais e por meio do software interligado com os fornecedores e as lojas, a reposição dos estoques dos centros de distribuição é feita automaticamente.
Empresa 2: O processo antes do sistema era todo físico, como por exemplo, o vendedor tinha visitas semanais nos clientes e tirava pedidos, o que consumia muito tempo com deslocamento e reuniões... Com a implantação, o vendedor passou a ser um consultor de negócios, gerenciando a conta para que não falte produtos no estoque de nossos clientes... Atualmente, a satisfação dos clientes aumentou consideravelmente.
Empresa 3: Com a utilização do software é possível integrar o departamento comercial com o de produção numa empresa, e ainda interligar com o de compras dos clientes que ela possui, com isso as empresas conseguem manter uma projeção de vendas de forma mais efetiva, através do gerenciamento dos estoques de seus clientes. Os resultados são muito positivos, pois conseguem compartilhar benefícios.
A categoria C3 – Diminuição em Custos está relacionada à estratégia da empresa em obter vantagem competitiva por liderança em custo, conforme enfatizado por Porter (2004).
• US8 – Satisfação nos resultados
• US10 – Demonstrações de resultados
• US9 – Redução de tempo
• US2 – Diminuição de custos com transporte
Empresa 1: A estratégia de negócios da empresa é manter preço baixo dos produtos todos os dias.
Empresa 2: Com a utilização de um software criado para auxiliar na demanda dos produtos, conseguimos agir de uma forma rápida, flexível e com menos custos de transporte nas entregas.
Empresa 3: A demonstração dos resultados é percebida na diminuição de custos e despesas na produção, transporte e deslocamento de vendedores, possibilitando melhores margens nas negociações entre os parceiros.
A categoria C4 – US4 – Acesso rápido e compartilhamento de informações estão relacionados à necessidade de suporte às atividades de logística estratégica, que precisam fornecer informação certa para um planejamento estratégico, conforme enfatizado por Gonçalves (2011).
Empresa 1: O controle do processo é todo automatizado, aumentando a credibilidade das informações na hora de tomar decisões.
Empresa 2: Acompanhar de perto a necessidade dos nossos clientes, além do acréscimo na produtividade faz com que aumente também o relacionamento com os nossos fornecedores, com demandas programadas.
Empresa 3: O maior benefício dos softwares de colaboração é o acesso rápido e o compartilhamento das Informações via sistema.
5.5. Etapa da Análise de Conteúdo - Interpretação dos resultados
Na etapa final da análise de conteúdo, com base na interpretação dos resultados, optou-se pela proposição de uma sistematização de categorias que fosse capaz de sintetizar os principais resultados obtidos.
A sistematização apresenta as categorias identificadas, que impactam a demonstração dos benefícios percebidos pelo processo de colaboração e que podem ser utilizados em pesquisas posteriores, como visualizadas na Figura 3. Observa-se que, além das características percebidas no uso dos sistemas colaborativos, estas categorias também dão suporte para obtenção de vantagem competitiva por meio da estratégia de liderança em custos.
Figura 03: Sistematização de categorias decorrente da pesquisaFonte: Elaborado pelos autores (2012)
6 Conclusão
Esta pesquisa teve como propósito responder ao seguinte problema: Quais os benefícios percebidos pela a adoção de sistemas de colaboração?
Após a realização das entrevistas e a posterior análise feita a partir das transcrições destas, constatou-se o ênfase dado às percepções de uso dos sistemas de colaboração, bem como a melhoria em processos, gerenciamento de estoques e diminuição de custos. Tais constatações evidenciam que os respondentes identificam que alguns aspectos relacionados à própria colaboração devem ser considerados em sua adoção, conforme sugerido por Powell, Koput e Smith-Doerr (1996) e Coughlan et al. (2003).
Com resultado da pesquisa ressaltam-se melhorias obtidas no processo. Deste modo, é fato que as novas tecnologias e processos propiciem as empresas estruturarem-se de modo a compartilhar informações para além de seus ambientes organizacionais, obtendo vantagens em custos, flexibilidade, acesso a novas tecnologias e redução de tempo para realizarem inovações.
Observou-se também, na pesquisa aliada à redução de tempo e custos, que é importante para as empresas adotantes do processo de colaboração também sentirem
confiança no acompanhamento e gerenciamento do processo. A questão da confiança é muito relevante em ambientes que integram tecnologias e estratégias advindas de alianças e/ou parcerias.
O conceito é aplicado estrategicamente em gestão de negócios para obter vantagem competitiva por meio da colaboração de stakeholders para um determinado processo em rede em desenvolvimento de uma logística empresarial.
A implementação estratégica das ferramentas colaborativas depende de como as organizações podem pensar, aprender e agir nos processos por meio de stakeholders em rede de colaboração, considera-se assim o que muitos pesquisadores acreditam, ou seja, que cada empresa integrada ao negócio tem vontade própria.
Desta forma, entende-se que a distinção do pensamento estratégico setorial é importante na análise da implantação de um sistema colaborativo. Se por um lado, no mercado varejista busca-se o foco no aumento do giro e redução das rupturas nas gôndolas dos mercados. Em indústrias as atividades em sistemas de colaboração são essenciais para descobrir até que ponto estes sistemas tem utilidade estratégica para analisar desempenhos em processos de produção, com ou sem utilização otimizada de recursos. O risco deste processo analítico envolve dar legitimidade de poder ao fornecedor de forma estratégica por pró-atividade, na qual pode ser controlada com base em novas ações e responsabilidade que vão desde o compartilhamento de recursos tecnológicos para transações comerciais on-line até o problema físico, como, por exemplo, o abastecimento direto para balanceamento dos estoques a cada ponto de venda em cadeia no mercado varejista.
Esta pesquisa foi realizada com apenas três instituições de segmentos diferentes; por conseguinte, a mesma representa a realidade destas instituições, não permitindo generalizações. Fica, então, a recomendação para futuras pesquisas, com um número maior de instituições; com instituições localizadas em outras regiões do país, bem como pesquisas de natureza quantitativa, que permitam maiores possibilidades de generalizações, ou validação da sistematização de categorias apresentado na Figura 3.
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1
Gestão Socioambiental: avaliação das práticas para a sustentabilidade na indústria
Henrique Martins Galvão1 ResumoA regulação pode ser um caminho para as empresas adequarem suas práticas de gestão. No entanto, empresas com processos mais maduros tendem a adotar uma postura proativa e preferir antecipar as regulamentações. Tais medidas podem ocorrer por meio das práticas de gestão socioambientais que contribuam para obtenção de desempenho superior em seus processos, produtos e na melhoria dos relacionamentos com seus stakeholders direcionados para a sustentabilidade nos negócios. Sob este enfoque, o presente estudo buscou no referencial teórico as bases conceituais para a elaboração de modelo aplicado em três indústrias. Os resultados indicaram que as empresas estão compromissadas com as práticas de responsabilidade social, mas ainda demandam esforços para avançar em direção a sustentabilidade empresarial.Palavras-chaves: Responsabilidade Social Empresarial; Gestão Socioambiental; Estratégia; Triple Bottom Line; Aprendizagem.
AbstractThe setting can be a way for companies adapt their management practices. However, companies with more mature processes tend to adopt a proactive stance and prefer to anticipate the regulations. Such measures may occur through environmental management practices that contribute to superior performance in its products, processes and improving relationships with its stakeholders targeted to business sustainability. Under this approach, the present study aimed at the theoretical bases for the elaboration of conceptual model applied in three industries. The results indicated that companies are committed to the practice of social responsibility but still require efforts to move toward sustainability.Keywords: Corporate Social Responsibility, Environmental Management, Strategy, Triple Bottom Line; Learning.
1. INTRODUÇÃO
Para enfrentar as ameaças e restrições ambientais, as empresas procuram adequar suas
práticas de gestão com objetivos socioambientais em sintonia com os interesses dos
stakeholders. Muitas empresas vão além do cumprimento das regulamentações ambientais,
atuando na prevenção dos impactos ambientias, incorporam projetos sociais e aderem
voluntáriamente aos programas, normas e principios socioambientais. Logo, as questões
socioambientais (TACHIZAWA e ANDRADE, 2008) demandarão medidas e ignorar o
comportamento dos clientes e consumidores, as pressões das relações comerciais, as políticas
[email protected] / [email protected]
Bacharel em Administração e Mestre em Administração (PUC-SP), doutorando em Administração pela FEA-USP, professor e coordenador de Administração da FATEA – Salesianas.
2
ambientais e a fiscalização dos órgãos governamentais podem ocasionar pesado ônus sobre as
organizações.
Nota-se que a pressão ocorre nos dois lados, de um lado tem a pressão social e de
outro o processo de regulamentação ambiental do governo. Apesar disso, as empresas não são
responsáveis por todos os problemas (PORTER e KRAMER, 2006) e nem têm todos os
recursos necessários para resolvê-los. Porém, qualquer empresa pode identificar algum
problema social e ambiental para melhor se preparar e propor solução, para o qual pode ser
uma oportunidade para obter vantagem competitiva. Moura (2008) sugere que a empresa
deve, antes de tudo, analisar como atender seus clientes e assegurar que a melhoria do seu
desempenho, principalmente, ambiental manterá seu negócio no longo prazo. A questão é
saber como uma organização pode criar diferenciais socioambientais competitivos por meio
das práticas de gestão para a sustentabilidade?
Diante disso, este estudo aborda as bases de diferenciação competitiva, considerando
relevantes as práticas de gestão para a sustentabilidade que contribuam para as empresas
alcançarem resultados econômicos, sociais e ambientais. Como limitação de estudo, destaca-
se que não existem soluções fáceis, o ambiente organizacional é complexo, dinâmico e as
mudanças são rápidas, os quais implicam em práticas de gestão não menos complexa com
inúmeras interfaces internas e externas.
2.REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. Responsabilidade Socioambiental como Estratégica Competitiva
O desenvolvimento sustentável manifesta-se como alternativa consistente e que atende
as necessidades presentes sem comprometer que as gerações futuras possam satisfazer as suas
e evoluir normalmente (BARBIERI, 1997). Deste modo, a sustentabilidade empresarial
remete ao equilíbrio das dimensões econômica, ambiental e social. De acordo com Instituto
Brasileiro de Governança Corporativa – IBGC (apud LOUETTE, 2007), o conceito de
sustentabilidade representa uma nova concepção de se fazer negócios, visando sustentar a
viabilidade econômico-financeira dos empreendimentos, além de retornar para a empresa
reconhecimento dos stakeholders e melhoria da imagem.
Na definição do Instituto Ethos (2007), a sustentabilidade empresarial consiste em
garantir o sucesso do negócio no longo prazo, e ao mesmo tempo contribuir para o
desenvolvimento econômico e social da comunidade, sem se esquecer do aspecto ambiental.
O conceito do Triple Bottom Line é útil para a empresa criar uma agenda que considere não
3
somente o valor econômico, bem como esteja centrada no valor ambiental e social. Conforme
Elkington (2004), as empresas necessitam de uma agenda que conduza a sustentabilidade
como, por exemplo, análises das condições do mercado e os fatores de instabilidade e o
gerenciamento do ciclo de vida dos produtos e tecnologias, interligando sua cadeia de
suprimentos e distribuição.
O fato é que as estratégias de responsabilidade social não devem ser vista separadas da
organização e da sua cadeia de valor. Os resultados afetam toda a cadeia e os objetivos
econômicos, sociais e ambientais devem ser partilhados conjuntamente, visando maximizar os
resultados para as organizações e a sociedade (ETHOS, 2007). A ligação da responsabilidade
social com a cadeia de valor permite que as organizações obtenham vantagem competitiva e o
engajamento dos parceiros para práticas socioambientais possibilitam melhoria do
desempenho financeiro. Entretanto, isso não ocorre somente por boas práticas, conduta ética
ou porque reduz os custos de transação.
Husted e Allen (2001) adotam abordagem integrada partindo de uma estratégia de
negócio para uma estratégia social, considerando os relacionamentos com estrutura da
indústria, com os recursos internos da organização, com os seus valores e ideologias e com os
stakeholders. Nesta direção, a relação entre a Responsabilidade Social Empresarial com a
estratégia e vantagem competitiva é apresentada por Porter e Kramer (2006). A partir do
modelo tradicional da cadeia de valor e do diamante, os autores desenvolveram o
“mapeamento do impacto social da cadeia de valor” e a “influencia social sobre a
competitividade”.
A abordagem de Porter e Kramer (2006) consiste, principalmente, em contribuir com o
avanço da responsabilidade social empresarial visando entender amplamente a inter-relação
entre a organização e a sociedade e simultaneamente atrair estratégias e atividades das
empresas, ou seja, as influências que ocorrem de “dentro para fora” e de “fora para dentro”.
Além disso, os autores destacam a importância do engajamento dos gerentes, elo entre o nível
estratégico e o operacional. A liderança exercida pelos gerentes é crucial para criar sinergia
entre as atividades da cadeia de valor, bem como conectando com as das outras organizações.
Mirvis e Googins (2006), afirmam que a liderança (CEO) da organização é um fator
crucial para o desenvolvimento de uma empresa cidadã, os líderes estão cada vez mais
envolvidos. Os executivos do topo se tornam visionário e de transformação do processo de
tornar as organizações modelos de práticas sustentáveis. Além disso, os executivos dos
departamentos de assuntos ligados à comunidade, de gestão ambiental e de comunicação
4
empresarial se uniram para conectar a gerência sênior e os comitês funcionais cruzados, além
das chefias que estabeleceram conexões com a comunidade.
Conforme Barbieri et al (2010), a sustentabilidade econômica pode ser alcançada pela
inovação em produtos, processos e modificações no modelo de negócio, que proporcionem
maior produtividade. O alcance da sustentabilidade social pode resultar dos programas que
proporcionem melhorias da qualidade de vida dos funcionários, da comunidade do entorno da
empresa. Em relação a sustentabilidade ambiental, as inovações estão relacionadas, por
exemplo, com a redução ou eliminação dos gases de efeitos estufa e uso dos combustíveis
fósseis.
Embora, a promoção da sustentabilidade nos negócios seja desafiante, a intersecção
entre negócios e ambiente é cada vez mais crítica. Aspectos da estratégia empresarial, os
planos de ação e políticas que valorizem os princípios da sustentabilidade são necessários para
nortear as ações em todos os níveis organizacionais. Entretanto, a organização deve ser dotada
de competências e capacidades que propiciem práticas de gestão socioambientais eficientes.
2.2 – Desempenhos das Práticas Socioambientais
A sustentabilidade empresarial pode ser viabilizada mediante as certificações de
padrões de qualidade ou socioambientais. As certificações ou normas são ferramentas muito
utilizadas para avaliação do desempenho das práticas ambientais inovadoras. De modo geral,
as empresas estão mais suscetíveis às normas certificadoras da Série ISO 9000 e ISO 14000.
As certificações sociais, por exemplo, a OHSAS 18001 e a SA 8000, podem estimular as
empresas a adotarem práticas socialmente responsáveis, bem como a ISO 26000, que foca
temas centrais da responsabilidade social empresarial (ALIGLERI, ALIGLERI e
KRUGLIANSKAS, 2009). Existem várias metodologias para uso de indicadores com o
objetivo de medir e relatar as práticas de sustentabilidade empresarial social, ambiental e
econômica, tais como, os Indicadores Ethos de Responsabilidade Empresarial e o Global
Reporting Initiative – GRI (LOUETTE, 2007).
Os Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial foram desenvolvidos
pelo Instituto Ethos, organização não governamental, e servem como ferramenta de uso
essencialmente interno e permite auto-avaliação da gestão quanto às práticas de
responsabilidade social. Os indicadores de desempenho abrangem sete temas ou dimensões: 1)
Valores, Transparência e Governança; 2) Público Interno; 3) Meio Ambiente; 4)
Fornecedores; 5) Consumidores e Clientes; 6) Comunidade; e 7) Governo e Sociedade. O
5
relatório permite que a empresa assinale um dos quatros estágios: (1) básico, (2) intermediário,
(3) avançado e (4) proativa.
A Global Reporting Initiative – GRI é uma organização internacional com sede em
Amsterdã, na Holanda, criada em 1997, como iniciativa do Programa das Nações Unidas para
o Meio Ambiente – PNUMA e da Coalizão por Economias Ambientalmente Responsáveis -
CERES. O GRI tem como objetivo estabelecer um padrão mundial de relatório econômico,
social e ambiental. O relatório da GRI compõe os seguintes princípios: materialidade, inclusão
dos stakeholders, contexto da sustentabilidade, abrangência, equilíbrio, comparabilidade,
exatidão, periodicidade, clareza e confiabilidade (DIAS, 2012).
As várias metodologias e critérios adotados são decorrentes da finalidade da
mensuração da sustentabilidade, do campo de estudo e da organização ou instituição, cada
qual utiliza a mais conveniente ou faz adaptação de algo existente para os moldes necessários
a cada situação. É provável que as variedades de metodologias encontradas sejam decorrentes
do conceito de sustentabilidade não ser único e ter abordagens diversas em diferentes setores
produtivos e em diferentes países. Encontramos na literatura várias tipologias empregadas
para avaliação das práticas para a sustentabilidade. Os modelos visam avaliar o grau de
maturidade em que as empresas se encontram em diferentes estágios da prática da
responsabilidade socioambiental. Alguns modelos são instrumentos de medição do
desempenho econômico social e ambiental. Sendo assim, os modelos são iniciativas que
possibilitam quantificar, medir e comparar resultados para a tomada de decisões.
O modelo do nível de maturidade da sustentabilidade proposto por Nidumolu, Prahalad
e Rangaswami (2009) associam as práticas empresariais com inovações para a
sustentabilidade. A competitividade das empresas está, portanto, relacionada com as
competências organizacionais capazes de promover inovações sustentáveis. O modelo propõe
cinco estágios de maturidade.
• estágio 1: observa-se o compromisso da empresa com as questões socioambientais, adesão
dos códigos de conduta voluntários e normas de conformidade socioambientais;
• estágio 2: a empresa adota práticas que incluem as atividades da cadeia de valor,
envolvendo os colaboradores internos e parceiros da cadeia de suprimentos, para assegurar
compromisso para tornar operações sustentáveis;
• estágio 3: as práticas são orientadas para o redesenho de produtos e serviços
ambientalmente amigáveis, explorando e priorizando o uso de competências e ferramentas
para inovações nos produtos em conjunto com os parceiros da cadeia;
6
• estágio 4: a empresa tende a explorar novas alternativas no modo como os negócios são
realizados através do desenvolvimento de um novo modelo de negócio que proporcionem a
entrega de valor superior com critérios de sustentabilidade;
• estágio 5: neste estágio, as práticas para a sustentabilidade expandem de um novo produto
ou processos, seja na forma de novos métodos de fabricação ou de distribuição para
capturar as oportunidades do mercado por meio da integração de soluções inovadoras.
Figura 1: Visão dos Níveis de Maturidade da Sustentabilidade (adaptado pelo autor)
Fonte: NIDUMOLU, Ram; PRAHALAD, C. K.; RANGASWAMI, M. R. (2009)
Conforme Mirvis e Googins (2006) não há um modelo de avaliação da
responsabilidade social que melhor se encaixe a todas as empresas, cada empresa deve
identificar os valores e práticas que asseguram a estratégia e o gerenciamento apropriado de
acordo seu histórico e especificidades dinâmicas do setor e dos stakeholders. No modelo
proposto pelos autores o engajamento da empresa nas práticas de responsailidade social pode
variar para cada uma das sete dimensões entre cinco estágios, os quais irão determinar o grau
de engajamento em termos de: elementar, engajada, inovativa, integrada e transformadora. As
dimensões das práticas de responsabilidade social são classificadas em: conceito de cidadania,
intenção estratégica, liderança, estrutura, gerenciamento de resultados, relacionamento com
stakeholders e transparência. O modelo contribuir para medir o desempenho ambiental e
social das empresas, bem como ajudá-las a melhorar e comunicar seus esforços de atuação
responsável.
Figura 2: Modelo de Avaliação da Responsabilidade Social Empresarial (adaptado pelo autor)
Fonte: MIRVIS, Philip e GOOGINS, Bradley K. (2006)
Os modelos e instrumentos ilustram o elevado interesse que envolve a questão da
sustentabilidade, abrangendo não somente o nível organizacional como também todos os
stakeholders que se relacionam com a empresa. O uso dos instrumentos de avaliação de
maturidade e dos indicadores proporciona benchmarking poderoso e permite que as empresas
7
avaliem seu desempenho econômico, social e ambiental, além de contribuir para identificar as
novas maneiras e práticas gerenciais que estimulem as empresas na melhoria e inovação dos
seus processos, operações e produtos, bem como estabelecer estratégias para o
posicionamento futuro.
3. METODOLOGIA DA PESQUISA
Para atender os objetivos deste estudo de natureza descritiva e qualitativa, utilizou-se o
método de estudo de caso. Conforme Yin (2001: 20) o estudo de caso como sendo um modo
inigualável que possibilita a compreensão dos fenômenos individuais, organizacionais e
gerenciais, sociais e políticos. O estudo de caso é uma estratégia utilizada quando se focaliza
acontecimentos contemporâneos, os quais podem ser normalmente encontrados na psicologia,
na sociologia, na ciência política, na administração, no trabalho social, no planejamento e na
economia. Em relação à economia, o estudo de caso pode abranger determinada indústria,
cidade ou região. Nesse contexto, esse estudo busca encontrar resposta às questões do tipo
“como”, por exemplo, como as organizações adotam práticas de gestão para a
sustentabilidade? Face à relevância do tema de estudo, os dados primários foram coletados
mediante a identificação de três empresas do setor industrial. Para a coleta dos dados
primários, foi utilizado um questionário estruturado com perguntas fechadas embasadas no
modelo conceitual proposto, visando a obtenção dos resultados para atender os objetivos do
estudo. O questionário foi encaminhado por e-mail para os diretores e gerentes das áreas
administrativas e de operações, todos com mais de cinco anos de atuação nas empresas.
3.1 Modelo Conceitual da Pesquisa
O modelo conceitual utilizado neste estudo tem como base o referencial teórico para
avaliar como as práticas de gestão para a sustentabilidade contribuem para o desempenho
superior nas dimensões econômicas, sociais e ambientais. O processo parte da formulação da
estratégia, cuja implementação também depende dos recursos e capacidades organizacionais
para promover mudanças e construção de relacionamentos internos e externos. Nesta
perspectiva, o modelo considera a capacidade de aprendizagem organizacional e sua
influência para realizar inovações e melhorias socioambientais em seus processos e produtos
de acordo com as expectativas dos stakeholders e em atendimento às leis e regulamentações
governamentais. Segue abaixo a representação gráfica do modelo:
8
Figura 3: Concepção do Modelo de Avaliação das Práticas de Gestão para a Sustentabilidade
Fonte: elaborado pelo autor
O modelo permite analisar as práticas realizadas na organização e inferir sobre as
práticas de gestão para a sustentabilidade. O modelo está subdividido em oito dimensões:
estratégia, ambiental, social, fornecedores, processos e produtos, mercado, organização e
aprendizagem, conforme descrito a seguir:
Tabela 1: Dimensões das Práticas de Gestão
Fonte: Elaborado pelo autor
9
Para cada dimensão foram selecionadas seis afirmações relacionadas às práticas
realizadas na organização, para quais permitam atribuir respostas do tipo: “Concordo
Plenamente”; “Concordo Parcialmente”; “Não Concordo Nem Discordo”; “Discordo
Parcialmente” e “Discordo Plenamente” e correspondendo, respectivamente, a escala de
pontos entre 1 (um) e 5 (cinco).
4. Análise dos Resultados
As empresas foram classificação em “A”, “B” e “C”, sendo duas (“A” e “B”) de médio
porte, das quais uma tem estrutura de capital 100% nacional. A empresa “C” é de grande
porte e de capital estrangeiro. Todas as empresas declararam possuir em sua estrutura
organizacional um departamento de Meio Ambiente, Saúde e Segurança no Trabalho -
MASST. Além disso, os resultados permitiram verificar que as empresas “A” e “B” têm em
sua estrutura organizacional um departamento de P&D ou Laboratório de Pesquisa. Em
relação à adoção das normas de certificação, as empresas “A” e “B” declararam ter
implantado as Normas ISO 9001 e ISO 14001 e somente a empresa “B” possui a norma SA
8000 e nenhuma possui certificação OHSAS 18001. Segue abaixo quadro demonstrativo:
Tabela 2: Características das Empresas
Empresa Porte Setor Capital MASST P&D/L.P. Certificações
“A” Médio Químico Nacional Sim Sim ISO 9001 e ISO 14001
“B” Médio Metalúrgico Multi Sim Sim
ISO 9001, ISO 14001 e SA 8000
“C” Grande Metalúrgico Multi Sim Não ISO 9001
Fonte: Dados da Pesquisa
A seguir é apresentado os resultados das pontuações recebidas pelas empresas em cada
dimensão. A síntese das pontuações foi obtida, por meio dos pontos atribuídos em cada uma
das oito dimensões, conforme representadas Tabela 1. Os resultados permitiram inferir sobre
as práticas empresariais de gestão para a inovação da sustentabilidade. Além disso, foi
possível analisar a relação da aprendizagem organizacional e sua influencia para a adoção de
melhorias e inovação em processos e produtos.
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Tabela 3: Resultados das Práticas de Gestão para Inovação
Dimensões A B C
Estratégia 4,8 4,7 4,7
Fornecedores 2,2 2,5 3,3
Ambiental 4,7 4 4,5
Social 3 4,5 4
Mercado 4,3 3 4
Processos 4,3 4 3,3
Organização 4,2 4,2 4,2
Aprendizagem 4,5 4,7 3,7
Fonte: Dados da Pesquisa
O gráfico a seguir demonstra de modo ilustrativo o desempenho das práticas
organizacionais em cada uma das oito dimensões analisadas. Quanto mais próximo de 5
(cinco), mais as práticas empresarias estarão alinhadas com a sustentabilidade:
Gráfico 1: Desempenho Inovador das Empresas
Fonte: Dados da Pesquisa
Empresa A: Setor Químico
Verificou-se que na dimensão “estratégia”, a empresa prioriza normas e planos
relacionando-os à estratégia e práticas para a sustentabilidade. A visão, missão, princípios e
11
códigos de conduta são declarados e considerados relevantes para o desempenho econômico,
social e ambiental. Entretanto, existe espaço para avançar na comunicação da estratégia com
stakeholders, bem como em estimular ações socioambientais externas nos diferentes níveis
organizacionais. A empresa estabelece metas de desempenho e avalia constantemente os
riscos e os impactos das suas atividades.
Na dimensão “ambiental”, a empresa adota políticas e programas de redução do uso de
recursos naturais e dos danos ambientais pela geração de resíduos. Por se tratar de empresa do
setor químico, as suas práticas ambientais estão alinhadas com as regulamentações e
legislações ambientais. Observou-se, contudo, que a substituição ou redução dos recursos não
renováveis dependem de avanços nas inovações tecnológicas assim como, nas práticas de
monitoramento da geração dos gases de efeito estufa.
Na dimensão “social”, verificou a existência de espaços significativos para a empresa
avançar nas práticas de comunicação e relacionamentos socialmente responsáveis
compartilhadas com públicos internos e parceiros da cadeia de suprimentos. De forma
semelhante, a dimensão “fornecedores” exige empenho para o desenvolvimento de práticas
socioambientais integradas com parceiros. No entanto, a empresa adota política de compra
que privilegia fornecedores com certificação socioambiental.
No tocante a dimensão “processos e produtos”, a empresa declara que seus processos
são apropriados e existe flexibilidade organizacional para o desenvolvimento de projetos de
melhoria e inovação do desempenho ambiental. Também faz uso dos indicadores ambientais.
A empresa apresenta fragilidade em estabelecer relações de cooperação com universidades e
centros de pesquisa. Apesar disso, a empresa investe em P&D e através do laboratório de
pesquisa interno.
Na dimensão “mercado”, constatou-se que a empresa compreende bem seu papel,
buscando soluções para os problemas dos clientes e adota práticas que asseguram o uso e
manuseio dos produtos, além de investigar as ocorrências que causam danos ambientais. Mas,
merecem ações de melhoria no que se refere ao uso dos indicadores socioambientais dos
parceiros, que podem ser úteis como forma de benchmarking para adoção de práticas
inovadoras.
Quanto a dimensão “organização”, a empresa adota práticas de treinamento e de
desenvolvimento dos seus colaboradores e, em sua estrutura a comunicação flui e atende
razoavelmente os objetivos e metas ambientais estabelecidas. As competências e capacidades
da organização são estimuladas parcialmente para a busca de soluções socioambientais nos
diferentes níveis, bem como clima de apoio para novas ideias, visando a melhoria e inovações
12
em processos e produtos. Esses aspectos corroboram om os resultados da dimensão
“aprendizagem”, constatando que existe razoável comprometimento da organização para
promover a aprendizagem organizacional.
Empresa B: Metalúrgico
Na dimensão “estratégia”, a empresa prioriza estratégias em termos de programas,
normas e planos de curto e médio prazo visando práticas para a sustentabilidade. Nos seus
objetivos e metas, a empresa declara incluir todos os stakeholders. Além disso, tem como
prática avaliar implicações econômicas e financeiras devido aos impactos ambientais das suas
atividades. Contudo, a visão, a missão, códigos de conduta e princípios internos para o
desempenho sustentável foram declaramos como parcialmente relevantes e as estratégias para
inovação não são expressas de maneira clara.
Em relação à dimensão “ambiental”, a empresa adota postura proativa, declarando a
existência de programas estruturados para redução do consumo de recursos naturais não
renováveis em todas as suas atividades, bem como tem por prática monitorar a geração de
resíduos sólidos e líquidos. A empresa não possui certificação ISO 14001 e não afirmou a
prática do monitoramento da geração dos gases de efeito estufa. No entanto, foi declarado que
atendem plenamente a legislação e regulamentação ambiental, buscando prevenção e redução
dos impactos ambientais.
Os dados permitiram analisar que na dimensão “social”, as práticas são declaradas
como parcialmente realizadas tais como, projeto sociais com a comunidade, ações em
conjunto com governos e terceiro setor, limitando a formação de parcerias e outros tipos de
apoio. Apesar disso, adota práticas de prevenção da segurança e saúde dos colaboradores.
Na dimensão “fornecedores”, o aspecto mais relevante está relacionado com o trabalho
em conjunto com fornecedores, visando o desenvolvimento de materiais que causem menor
impacto ambiental. A empresa apresenta limitações quanto às práticas de acompanhamento
dos indicadores socioambientais e ações conjuntas de mitigação. Mas, tem por prática
políticas de compras que priorizam certificações socioambientais dos seus parceiros.
Em relação a dimensão “processos e produtos”, foi declarado que o envolvimento das
áreas internas para o desenvolvimento de novos produtos e processos são parcialmente
assegurados, bem como o uso dos indicadores para avaliação do desempenho econômico,
social e ambiental. Tais aspectos estão relacionados a não confirmação da existência de
processos apropriados para o gerenciamento de um novo produto quanto aos quesitos
13
ambientais assim como, pesquisa e desenvolvimento, denotando fraca flexibilidade inovadora
para a sustentabilidade.
Na dimensão “mercado” foi verificado boas práticas para a solução das demandas dos
clientes. Também foi declarada que a empresa tem como meta a análise do ciclo de vida dos
seus produtos visando reduzir os impactos ambientais. Entretanto, a empresa tem limitações
quanto às práticas de engajamento dos stakeholders para a promoção de comunicação e
avaliação orientadas para a redução dos impactos ambientais.
No tocante a dimensão “organização”, foi constatada que a comunicação
organizacional é parcialmente eficaz. Este aspecto corrobora para a não confirmação do clima
de apoio para novas ideias. No entanto, a empresa busca manter uma política transparente e
atuar em ações que procuram estimular as pessoas para práticas socioambientais entre os
diferentes níveis. Desta forma, o processo de aprendizagem é influenciado parcialmente pelas
oportunidades de melhoria e pelos programas de treinamento e desenvolvimento, exigindo
ações mais concretas para elevar a flexibilidade organizacional para a inovação.
Empresa C: Metalúrgico
Em relação à dimensão “estratégia”, foi constatado que a empresa adota estratégias
que expressam a visão, missão, valores e princípios, bem como prioriza objetivos e metas para
a sustentabilidade. Na dimensão “ambiental”, a empresa tem por prática a adoção de
programas que visam reduzir o consumo de recursos naturais não renováveis em todas as
atividades, incluindo o monitoramento da geração de resíduos sólidos e líquidos, visando sua
redução. A empresa também atua em sintonia com a legislação e regulamentação ambientais,
mas não vai além das determinações legais.
Para a dimensão “social”, foi verificado desempenho significativo da empresa no
tocante à conduta ética. Quanto às formas de comunicação, relacionamentos e práticas
socioambiental responsáveis com os stakeholders a empresa demonstra desempenho parcial.
Na dimensão “fornecedor”, foi verificado que a empresa não tem como prática
acompanhar indicadores socioambientais dos seus parceiros, bem como baixo incentivo em
compartilhar riscos dos impactos socioambientais compartilhados. Também foi constatando
baixa integração com fornecedores das práticas de cooperação objetivando melhorias e/ou
inovações que atendam os quesitos para a sustentabilidade.
Em relação a dimensão “processos e produtos”, constatou que a empresa tem
processos apropriados para gerenciar o desenvolvimento de um novo produto que atendam
quesitos ambientais. No entanto, foi declarado práticas parciais nos investimentos continuados
14
para pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e processos de visam a melhoria dos
aspectos socioambientais.
Na dimensão “mercado”, a análise dos dados evidenciou baixo desempenho em
relação às práticas de comunicação, relacionamento e engajamento dos clientes. Na dimensão
“organização”, os dados demonstraram que a empresa adota práticas de apoio para novas
ideias. Também foi verificado práticas parciais relacionadas às formas de comunicação
através da organização e práticas de estimulo dos colaboradores internos para as ações
compartilhadas entre os diferentes níveis da organização. Constatou-se exigência parcial que
privilegia parceiros da cadeia de suprimentos certificados pelas normas socioambientais.
Em relação a aprendizagem, constatou-se forte atuação no que se refere às políticas e
às práticas de estímulo à aprendizagem organizacional orientada para a busca de soluções
sustentáveis. Verificou-se que a empresa tem flexibilidade para atuar em conjunto
universidade e centros de pesquisa para ajudar a desenvolver e inovar produtos ecoeficientes e
socialmente corretos. Outro aspecto relevante está relacionado às práticas de promoção de
treinamentos e desenvolvimentos dos colaboradores
4.1. Estágios da Gestão das Práticas para a Sustentabilidade
Gráfico 2: Estágios das Empresas na Gestão das Práticas para a Sustentabilidade
Fonte: Dados da Pesquisa
15
Estratégia:
Com base nos resultados, verifica-se que as três empresas alcançaram excelente desempenho,
fixam estratégias direcionadas para a sustentabilidade, estabelecendo direcionamento para
princípios e objetivos socioambientais.
Fornecedores: As práticas inovadoras a partir da relação com os stakeholders se mostrou
limitada nas três empresas analisadas.
Ambiental: A pressão das políticas regulatórias contribui para que as empresas inovem nas
tecnologias de tratamento dos resíduos industriais, bem como pelos fatores de pressão da
demanda. Exceto para as empresas “A” e “B”, constatou que a empresa “C” tem limitações na
gestão ambiental restringe práticas ambientais.
Sociais: As práticas empresariais relacionadas com os aspectos sociais foram mais percebidas
na empresa “B” e menos da empresa “C”. A empresa “A” declarou possuir a certificação SA
8000, evidenciando o relacionamento que a empresa mantém com a comunidade no seu
entorno.
Mercado: Na relação com o mercado, ficou evidenciado práticas empresariais direcionadas
para o atendimento das reclamações dos clientes e menos com o engajamento para as questões
socioambientais.
Processos: O uso das tecnologias ambientais de “fim-de-tubo” são evidenciadas,
corroborando para o cumprimento da legislação. Na empresa “A” existe maior preocupação
para a adoção das tecnologias ambientais de prevenção, denotando que a empresa reduz uso
das emissões diretamente na fonte, bem como adota prática de melhorias ou inovações
significativas nos processos e produtos.
Organização: Constatou-se que o bom desempenho das empresas na dimensão
“organizacional” reflete a flexibilidade da comunicação entre os departamentos, com
potencial para estimular e engajar os colaboradores a compartilhar ações de melhorias e
inovação para a sustentabilidade.
Aprendizagem Organizacional: Na análise da aprendizagem organizacional, constatou-se,
exceto a empresa “C”, que as empresas “A” e “B” desenvolvem práticas que podem assegurar
mudanças e adequar a empresa efetivamente às inovações para a sustentabilidade.
Considerações Finais
Este estudo procurou analisar as práticas de gestão no contexto da sustentabilidade
empresarial. O modelo proposto de análise evidenciou a abordagem integradora das práticas
organizacionais para a análise das práticas de gestão.
16
A partir dos resultados, é possível considerar que as empresas enfrentam grande
desafio para promover práticas de gestão de forma integradora. As ações de cumprimento das
legislações ambientais são mais percebidas por meio da adoção das tecnologias controle e
menos pela adoção das inovações tecnológicas ambientais de prevenção. Constatou-se que a
visão integradora das práticas de gestão para a sustentabilidade ainda são fragmentadas, que
também dificultam explorar o potencial de aprendizado com os stakeholders, principalmente
com os parceiros da cadeia de suprimentos e centros de pesquisa. Cabe destacar, conforme
visto no referencial bibliográfico, que as empresas precisam compor a agenda das práticas
organizacionais. Nesse sentido, as estratégias e os objetivos almejados fortalecem a aquisição
de conhecimento e tornar o aprendizado organizacional constante para promover práticas de
gestão que proporcionem desempenho socioambiental superior.
Assim, considerando as limitações do estudo, face à dificuldade de acesso às
informações e restrita ao número de empresas, o modelo permite considerar que sua utilização
ou de outras ferramentas de análise auxiliam na identificação do desempenho das empresas
para a participação efetiva na questão da sustentabilidade, com vistas a identificar o perfil das
empresas. O estudo também permitiu identificar as oportunidades de melhoria necessária,
bem como possibilita priorizar implementação das atividades com foco nas práticas
socioambientais. Diante do exposto, espera-se o presente estudo possa contribuir para reflexão
e visando a melhoria do desempenho socioambiental das empresas, bem como contribuir para
outros e aplicações práticas de estudo.
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17
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[Coordenação: Ana Lucia de Melo Custódio e Renato Moya]. São Paulo: Instituto Ethos,
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http://egade.sistema.itesm.mx/investigacion/documentos/documentos/18egade_husted.pdf
LOUETTE, A. (org.). Gestão do Conhecimento: compêndio para a sustentabilidade:
ferramenta de gestão de responsabilidade socioambiental. 2ª. ed. São Paulo: Antakarana
Cultura Arte e Ciência, 2007.
MIRVIS, P.; GOOGINS, B. K. Stages of Corporate Citizenship: a development framework.
The Center for Corporate Citizenship at Boston College. 2006.
Acesso em: 31 de maio de 2011. Disponível em: http://www.bc.edu/corporatecitizenship.
MOURA, Luiz A. A.de. Qualidade e Gestão Ambiental: sustentabilidade e implantação da
ISO 14001. 5ª. ed. São Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 2008.
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da sustentabilidade. Rio de Janeiro, Elsevier, 2008.
YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2ª. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.
Subjetivação e Novos Indicadores de Perfonmance: Contibuições para uma nova Ferramenta de Monitoramento em Sistema Integrado de
Gestão (2Q’s)
Karla Rocha Carvalho Gresik1
Milton Ferreira da Silva Júnior2
RESUMO
Para minimizar ou eliminar os riscos aceitáveis ao meio ambiente e ao trabalhador, muitas organizações desenvolvem e implementam sistemas de gestão voltados para a segurança, saúde ocupacional e ambiental. A tecnologia da informação tem sido vista como uma importante ferramenta no controle e monitoramento destes riscos. No entanto, a grande maioria dessas ferramentas além de não considerar o monitoramento das ações de forma integrada, não considera as subjetividades dos funcionários como agentes de transformação e controle. Este estudo se propõe a discutir dentre as diversas ferramentas da tecnologia da informação, a que mais se destaca para a incorporação de novos indicadores de performance qualitativos. Para isso, traz uma discussão teórica e metodológica como instrumentos facilitadores para a formatação desses novos indicadores qualitativos a partir dos processos de subjetivação.
Palavras-Chaves: Sistemas Integrados de Gestão, Tecnologia da Informação, Subjetivação.
1. Introdução
A contribuição tecnológica e o neoliberalismo configurado pela globalização
econômica vêm sendo fatores de preocupação aos trabalhadores, que pelo medo do
desemprego acabam aceitando condições insalubres e desrespeitosas de trabalho,
desconsiderando os seus direitos à vida e à saúde.
Além disso, Araujo (2006) nos adverte que perdas, injúrias, danos à propriedade
eventualmente causados pelas atividades, produtos e serviços de uma organização,
1 Universidade Estadual de Santa Cruz. CARVALHO, K. R., Fiamengue, Elis Cristina. Representações Sociais de Marisqueiras acerca da Problemática Ambiental: Uma Questão de Política Pública. Cadernos CERU (USP). Vol. 22.1, 2011.CARVALHO, K. R., LAGO, E. S., MEIRA, E. C. A influência da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia no viver e envelhecer dos estudantes/integrantes. Textos sobre Envelhecimento (UERJ). Vol. 06, 2003.E-mail: [email protected]
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constituem problemas muitas vezes não previstos e que podem acarretar prejuízos
através de várias formas, tais como processos de responsabilidade civil pelo fato do
produto ou serviço oferecer riscos ao meio ambiente e aos trabalhadores, com altos
índices de absenteísmo e afastamento de trabalho devido a acidentes.
Mediante esses fatores, as empresas devem ser capazes de prever o máximo
possível os riscos aceitáveis de danos ao meio ambiente e aos seus funcionários, bem
como garantir o bem estar físico, mental, e social dos trabalhadores e partes
interessadas. Para minimizar ou eliminar tais prejuízos, muitas organizações
desenvolvem e implementam sistemas de gestão voltados para a segurança, saúde
ocupacional e ambiental – EHS (Environmental, Health and Safety) a partir de sistemas
de informação que possam realizar um monitoramento contínuo de suas ações no intuito
de direcionar as tomadas de decisão.
No entanto admite-se a idéia de que não adianta as organizações implantarem
práticas de gestão em EHS sem, contudo, levar em consideração as subjetividades dos
funcionários para com a colaboração no gerenciamento de riscos. Baseado nestas
discussões supracitadas o estudo apresenta como principal questão norteadora a ser
discutida: De que forma novos indicadores de performance no monitoramento das
práticas gestionárias em meio ambiente, saúde e segurança no trabalho podem ser
subsidiados e integrados numa nova ferramenta de monitoramento do SIG?
Este estudo pretende discutir dentre as diversas ferramentas da tecnologia da
informação, a que mais se destaca para a incorporação de novos indicadores de
performance qualitativos. Além disso, se propõe a trazer uma discussão teórico e
metodológica como instrumentos facilitadores para a formatação desses novos
indicadores qualitativos a partir dos processos de subjetivação.
2. Organização do trabalho e a empresa que aprende
É sabido que o desenvolvimento da atividade produtiva trouxe e traz grandes
benefícios para o homem, como aumento da oferta de produtos e oportunidades
empregatícias. Por outro lado, a exigência por melhores desempenhos produtivos gera
no meio ambientes e nos próprios trabalhadores da empresa problemas ambientais,
sociais e humanos que impactam significativamente a qualidade de todos que estão
diretamente e indiretamente envolvidos com o processo produtivo.
Desde os primórdios e, sobretudo, após a Revolução industrial as condições de
trabalho comprometeram o meio ambiente, a vida e a saúde de inúmeros trabalhadores.
O desenvolvimento econômico ao mesmo tempo em que oportunizou novas
oportunidades empregatícias e uma nova forma de viver em sociedade foi responsável
por inúmeras epidemias nas cidades, devido ao consumo exacerbado e a falta de manejo
adequado do lixo.
Nesse momento, o progresso econômico que ora preconizava o acúmulo de
riquezas desconsiderava totalmente o trabalhador e o meio ambiente por acreditarem
que os recursos naturais e fontes de energia/matéria-prima eram inesgotáveis.
Atualmente, esses dois fatores passaram a ser a maior preocupação das organizações ao
entenderem que não pode haver produção sem o trabalhador e o meio ambiente
saudável.
Assim, a preocupação com o ser humano e com o meio ambiente passou a
influenciar diretamente a imagem da empresa como uma organização socialmente
responsável, o que de certa forma, acaba agregando valor também aos seus produtos.
Além disso, consumidores valorizam empresas responsáveis com seus funcionários e
que respeitam a natureza. Dessa forma, os valores, objetivos e metas organizacionais,
bem como seus modos de produção, devem estar alinhados nesse sentido.
Como as teorias administrativas vêm evoluindo com o tempo à medida que
novas preocupações vão surgindo, novos enfrentamentos também vêm reorientando as
tomadas de decisões. Ou seja, quando o problema da produção estava voltado à
eficiência econômica, a ênfase estava sobre as tarefas. Em seguida o problema voltou-se
para a questão das lideranças, logo a ênfase caiu sobre a estrutura das organizações e
sua hierarquia. À medida que problemas de ordem social começaram a existir devido à
falta de condições de trabalho aos funcionários, surge a democratização das
organizações com a ênfase sobre o ser humano. Em seguida, aparece a problemática
ambiental, e as organizações para se manterem no mercado não podem deixar de levar
em consideração o ambiente externo. Atualmente, a inovação tecnológica e de
conhecimento, além de serem ferramentas cruciais na área científica, atuam como fonte
de vantagem competitiva nas organizações e a administração das empresas deve
acompanhar tal tendência (CHIAVENATO, 1987).
Assim como a Gestão da Qualidade Total – TQM (Total Quality Management),
que na década de 80, trouxe uma filosofia de administração motivada pela constante
satisfação do cliente mediante o aprimoramento contínuo de todos os seus processos
organizacionais, a reengenharia trouxe na década de 90 novos modos de pensar ao
reconsiderar como o trabalho seria desenvolvido e como a organização teria se
estruturado caso estivessem recomeçando. Atualmente, mais especificamente no século
XX, a Organização que Aprende (Learning Organization) faz com que os gerentes
procurem novas maneiras para responder com sucesso a um mundo de interdependência
e mudanças (ROBBINS, 2000).
Assim, o conhecimento inovador como ferramenta necessária ao processo de
aprendizagem necessita de um conjunto de condições capacitadoras, de intenção e
integração com a organização para que o processo de aprendizagem de natureza
construtivista seja capaz de gerar aprendizado e soluções novas (MIGUEL e
TEIXEIRA, 2009).
Para Miguel e Teixeira (2009: 20), ao estimular a gestão participativa, a empresa
garante o compromisso do empregado com as metas produtivas e aos processos de
conversão do conhecimento, refletindo também na co-gestão dos riscos que, porventura,
possam estar expostos dentro do processo de trabalho.
as empresas percebidas pelos empregados respondentes como aquelas que oferecem estímulos para enfrentarem desafios e participarem de processos decisórios são também as que oferecem possibilidade de agir com independência, valorizando competência, qualidade de vida no trabalho e relacionamento com a comunidade.
Essas são características essenciais que revelam uma mudança na cultura
organizacional.
3. Indicadores de performance em EHS e ferramentas de monitoramento
A complexidade que envolve os novos modos de produção exige das
organizações novas técnicas, novos sistemas, novas tecnologias de produção e novas
responsabilidades frente às interações entre indivíduos, máquinas, ambientes e produtos.
A implementação do sistema de gestão integrado tem auxiliado as organizações
a melhorarem seus desempenhos em EHS e qualidade de seus produtos/processos
através da identificação e avaliação preliminar de riscos, e implantação de controles
mais eficazes nas suas operações. Segundo Araújo (2002) o princípio básico de um
sistema de gestão integrado baseado em aspectos normativos, envolve a necessidade de
determinar parâmetros de avaliação que incorporem não só os aspectos operacionais,
mas também a política, o gerenciamento e o comprometimento da alta direção com o
processo de mudança e melhoria contínua das condições de segurança, saúde dos
trabalhadores e das condições do meio ambiente.
Como todo sistema de gestão integrado funciona baseado em aspectos
normativos, desde 1946 vinte e cinco países uniram forças em Londres para criar uma
nova organização com o objetivo de fornecer uma estrutura de referência entre
fornecedores e consumidores, facilitando o comércio e a transferência de tecnologia.
Dessa forma, a Organização Internacional para Normalização (International
Organization for Standardization - ISO) facilitou o processo de globalização,
fornecendo para os governos uma base técnica para a elaboração da legislação de
segurança, saúde e meio ambiente.
Alguns indicadores são passíveis de serem monitorados a fim de garantir a
qualidade e a segurança dos processos de produção, evitando assim, situações de risco
ao trabalhador e ao meio ambiente, além de desperdícios de produtos, os quais
configuram custos à organização, caso não sejam previstos em seus planejamentos.
Neste sentido, em 1996, a British Standard, publicou a norma BS 8800
(Occupational health and safety management systems Guide) sobre Sistema de Gestão
de Segurança e Saúde no Trabalho (SGSST), sendo adotada nos mais diversos setores
industriais em razão da possibilidade de minimizar os riscos para os trabalhadores e
para outras partes afetadas. Porém, a BS 8800 é composta por um conjunto de
orientações e recomendações, não estabelecendo requisitos objetivamente auditáveis, ou
seja, não permite que as empresas obtenham a certificação de seus Sistemas de Gestão
de SST. Por essa razão, em 1999, foi formado um grupo coordenado pela British
Standards Institution (BSI) que desenvolveu e aprovou a norma BSI - OHSAS 18001 -
Occupational Health and Safety Assessment Serie (Série de Avaliação da Segurança e
Saúde Ocupacional), substituindo as demais normas e guias desenvolvidos previamente
pelas entidades participantes e passando a ser utilizada em nível mundial.
“A organização deve estabelecer e manter procedimentos para a identificação
contínua dos perigos, a avaliação de riscos e a implementação das medidas de controle
necessárias” OSHAS 18001 (1999:13). Para isso é necessário que a organização defina
dentro do escopo de sua política de saúde e segurança no trabalho: classificação de
riscos e a identificação daqueles que devem ser controlados ou eliminados;
estabelecimento dos responsáveis técnicos e o momento certo para agir assegurando
atitudes proativas; fornecimento de subsídios para a determinação de requisitos de
instalação, necessidades de treinamento e controles operacionais, além de assegurar o
monitoramento das ações requeridas. Para tanto, alguns indicadores podem ser
utilizados para tal tarefa:
• Medições qualitativas e quantitativas quanto às necessidades dos funcionários da
organização: índice de satisfação, motivação, stress; treinamentos; auditorias;
alimentação/ Lazer.
• Medidas proativas de desempenho quanto à conformidade com os requisitos da
gestão em SST, critérios operacionais e legislação e regulamentos aplicáveis:
assistência médica; exames periódicos; comissão Interna de Prevenção de
Acidentes – CIPA, equipamentos de Proteção Individual - EPI’s.
• Medidas reativas de desempenho para monitorar: acidentes, doenças
ocupacionais, incidentes (quase acidentes): freqüência; gravidade, custo,
afastamentos.
• Ações corretivas e preventivas: ergonomia; ginástica laboral, estímulo a
atividade física.
Já em relação à segurança do meio ambiente, de modo a garantir um Sistema de
Gestão Ambiental eficaz a ISO 14001 (2004), tem por objetivo prover as organizações
de elementos que possam integrá-los a outros requisitos de gestão e auxiliá-los a
alcançar seus objetivos ambientais e econômicos. A norma dispõe de requisitos
específicos para que um SGA capacite uma organização a desenvolver e implementar
políticas e objetivos que levem em consideração os aspectos ambientais, sobretudo, o
equilíbrio entre a proteção ambiental e a prevenção de poluição com as necessidades
socioeconômicas.
Os aspectos ambientais quando interagem com o meio ambiente podem gerar
impactos ambientais a partir das atividades, produtos ou serviços. Estes também podem
ser monitorados a partir de indicadores referentes ao controle operacional:
• Controle das Emissões atmosféricas (Identificação de fontes -
caracterização das emissões; Dimensionamento das quantidades - concentração
de poluentes; Equipamentos - manutenção, calibragens;
• Efluentes líquidos: Caracterização dos elementos constituintes -
parâmentros da entrada e saída da Estação de Tratamento de Efluentes – ETE;
Dimensionamento - Concentrações, vazões e periodicidade; Sistemas de
drenagem - adequação de redes; Impactos associados
• Resíduos: Classificação/ tratamento; Coleta/manuseio; Estocagem
provisória/ transporte; Destinação final; Reutilização/ reciclagem
• Consumo de água e energia: Estabelecimento de metas; Campanhas de
conscientização; Oportunidades e otimização do consumo
• Gerenciamento de aspectos significativos: Ruído/ vibração; Temperatura;
Odor/ radiação
A responsabilidade social deve ser um compromisso voluntário das empresas. E
como subsídio ao monitoramento de indicadores qualitativos, o compromisso da
empresa em contribuir para o desenvolvimento intelectual de seus funcionários, a partir
do estímulo à produção de subjetividades, contribui para o fortalecimento da identidade
da classe trabalhadora, e, portanto, mediadora da qualidade de vida, do desenvolvimento
da sociedade e da preservação do meio ambiente. Assim, o desenvolvimento do capital
intelectual da empresa é observado desde sua composição social, hierárquica, porém
integrada, a um comportamento responsável para com o meio ambiente e os grupos
sociais aos quais se integram.
Neste contexto, Borba (2007) sugere que avaliar o nível de satisfação dos
funcionários a partir de indicadores sociais: nº de empregados, razão de pagamento, taxa
de pagamento, tempo de afastamento, nº de projetos comunitários, nº de
projetos/parcerias com universidades, investimentos em desenvolvimento sustentável,
investimentos em proteção ambiental, reclamações específicas de consumidores e
comunidade no entorno, nº de contratos perdidos, investimento em capacitação de
funcionários, melhorias sugeridas pelos funcionários, fatores desmotivantes à co-gestão,
etc., pode representar indicadores mais complexos, reflexos dos efeitos sociais e
impactos no ciclo da vida produtiva.
O Scorecard trata-se de uma ferramenta de gestão estratégica e avaliação de
desempenho. Seu conceito foi ampliado metodologicamente, sendo útil em diferentes
contextos. A partir de vários estudos, foi adaptado numa matriz de resultados de
desempenho nos domínios da saúde e segurança do trabalho nas organizações. Porém,
chegaram à conclusão que devido à complexidade subjacente à SST as medidas
associadas à sinistralidade por si não eram suficientes para atender às especificidades do
SGSST (GALLAGHER, 2001; MEARNS et al, 2003; MARSDEN et al, 2004 apud
VELOSO NETO, 2007).
Neste sentido, a combinação de diversos domínios de desempenho, os quais
envolvem indicadores ativos, reativos e proativos, quantitativos e qualitativos, de
sinistralidade e custos/investimentos, reflete no interesse das diferentes partes e na
operacionalização das ações em EHS. Assim, a abordagem proposta por Kaplan e
Norton (VELOSO NETO, 2007) parte da lacuna e dos pilares críticos de sucesso
apontados:
1. Perspectiva de negócio organizacional e financeiro: Redução de queixas,
incidentes, gravidade e custos;
2. Perspectiva das partes interessadas: necessidades dos trabalhadores,
motivação, cumprimento dos requisitos legais, auditorias, vigilância e promoção
da saúde;
3. Perspectiva interna do processo de negócio: avaliação e controle dos
riscos ocupacionais, integração do sistema integrado no sistema geral da gestão,
avaliação do envolvimento dos trabalhadores no gerenciamento de riscos,
4. Perspectiva de aprendizagem e crescimento: treinamento e comunicação
interna, atendimento às especificações do SIG e à melhoria contínua.
Outro modelo de medição e monitoramento de desempenho é o Health and
Safety Performance Index criado em 2004 seguindo recomendações da Health & Safety
Executive (HSE). Este modelo segue a estruturação tradicional do Balanced Scorcard,
contudo, sem perder o enfoque da performance (MARSDEN et al, 2004, apud
VELOSO NETO, 2007). Também voltado exclusivamente para o monitoramento das
ações em SST, opera segundo indicadores quantitativos. Porém, a novidade deste
modelo incide sobre a introdução de variáveis qualitativas e do foco numa análise mais
crítica e ampla dos domínios operacionais da SST.
Assim, os indicadores qualitativos surgem sob o formato (SIM/NÃO) a partir
das declarações acerca do compromisso da organização sobre o controle dos riscos
operacionais; declarações referentes ao cumprimento dos requisitos legais ao SGSST e
declarações relativas à investigação em curso ou atualizações de organismos
reguladores. Já os indicadores quantitativos recebem uma nota de zero a dez relativa ao
elemento chave, onde a soma ponderada determinará um coeficiente de importância e
permitirá a atribuição de um índice global de desempenho (op cit, 2007). Dentre os
elementos chaves passíveis de avaliação quantitativa são:
1. Gestão da Saúde e Segurança;
2. Taxa de Lesões;
3. Gestão de riscos para saúde ocupacional;
4. Ausências por doenças;
5. Riscos de grandes incidentes.
Embora este não seja o modelo ideal a ser seguido pelas organizações, devido a
falta de clareza aos aspectos metodológicos e opções técnicas, o mesmo representa uma
alternativa de perspectivar a construção e utilização de matrizes de desempenho a partir
do Balanced Scorecard.
Por fim, a última metodologia conhecida até então: o Benchmarking. Esta
procura vantagem competitiva a partir de boas práticas ou pontos de referência passíveis
de serem adotados ou adaptados, acrescentando-lhes valor – prática à estratégica
organizacional. Segundo Camp (1995) apud Coloauto, Beuren & Sant’ana (2005:23) o
Benchmarking é
Uma metodologia de pesquisa contínua e sistemática para realizar comparações de processos e práticas de uma empresa com outras portadoras das melhores práticas administrativas e para avaliar bens, serviços e métodos de trabalho no sentido do aprimoramento organizacional e da superioridade competitiva.
A metodologia gera um conjunto de informações que permitem às organizações
identificar problemas semelhantes e aperfeiçoar os seus processos de trabalho com o
objetivo de melhoria contínua. Essa visão estratégica foi desenvolvida em 1979 pela
Xerox Corporation, e foi evoluindo com o tempo e aperfeiçoada até ser estruturada.
Segundo Veloso Neto (2007) após várias gerações, a última versão parte da avaliação
contínua das alternativas e de estratégias recolhidas com parceiros de aliança
empresarial com foco na satisfação das partes interessadas, na necessidade de se gerar
conhecimento e inovação, e delimitar moldes de desempenho que se enquadram na era
da globalização, da sociedade e do conhecimento.
E como tal, ao fixar novos padrões de desempenho de acordo com as melhores
práticas de gestão em EHS, alcança vantagens competitivas. Porém, em uma análise
mais metodológica, configura: uma abordagem, na medida em que se visa melhoria
contínua organizacional a partir do nível de produtos e processos; um processo de
pesquisa contínua e sistemática, fortemente alicerçada em mecanismos de apropriação,
adaptação, otimização e desenvolvimento e uma técnica de coleta de dados e geração de
informações e conhecimento (op cit, 2007).
Esse modelo é o que mais se adapta à ferramenta digital proposta pelo estudo
por permitir enquanto abordagem a identificação das práticas gestionárias em EHS (o
que se pretende melhorar), enquanto processo a investigação das oportunidades de
melhoria e enquanto técnica de coleta de dados o monitoramento dos processos de
aprendizagem, mediante a adaptação das melhores práticas e inovação dos produtos ou
automação laboral, através da criação e implementação de novos ideais (cultura
organizacional) e mecanismos de atuação (aprendizagem organizacional).
No entanto, cabe ao presente estudo utilizar-se desse importante conceito teórico
e estratégias metodológicas de captação dessas subjetividades para consubstanciar essa
nova ferramenta, que aqui a nomeamos preliminarmente por 2Q’s, por contar com
indicadores quantitativos (a partir dos sistemas normativos) e indicadores qualitativos
(a partir dos processos subjetivos) que possam dimensionar os resultados das práticas de
gestão em EHS, além de dimensionar o grau de participação do funcionário para com a
co-gestão no gerenciamento de risco. Essas informações juntas oportunizarão maior
visibilidade à gestão quanto ao funcionamento do SIG, delineando os processos
decisórios, a partir do monitoramento de suas práticas usuais em EHS.
E para se formatar os indicadores qualitativos, o estudo propõe utilizar-se do
método cartográfico, partindo da compreensão de que o campo psicossocial não pode
ser explicado apenas por suas influências, contradições, interesses ou pressões, mas
emerge como um efeito heterogêneo de agenciamentos entre o homem e o meio
ambiente em que interage.
No entanto, para fazermos uso dessa metodologia é necessário apropriar-se da
tradução, ou seja, singularizar o que cada ator faz da rede e na rede (ROSA, s/d). Dessa
forma, a multiplicidade das traduções pode demonstrar controvérsias que possam
traduzir em falhas no gerenciamento de risco. Assim, essas traduções podem contribuir
tanto na caracterização das situações de perigo ao trabalhador e ao meio ambiente, como
nas próprias sugestões de controle de modo a facilitar o processo de aprendizagem
organizacional, através da resolução de problemas.
A modificação do meio social é outro fator que possibilita novas produções
subjetivas, pois à medida que mudanças se processam no meio ambiente, também são
processadas nos próprios sujeitos que compõem a rede - novas produções de si. Por
isso, a cartografia produz ao mesmo tempo análise e intervenção (PASSOS et al, 2010).
O método cartográfico MERHY (2011), não tem a intenção de produzir um
passo a passo definido, ao contrário, vai fotografando os acontecimento, acompanhando
os movimentos, as retrações, os processos de invenção e de captura que se expandem e
se desdobram desterritorializando-se e reterritorializando-se à medida que o mapa é
projetado. Esse mapa representa as linhas de força que vão se delineando a partir dos
processos relacionais da rede e a partir das relações de poder que ali se estabelecem,
dentro de um sistema hierárquico, porém integrado e socializado.
Para Ferreira (2008) ao produzir esse mapa, estaríamos no plano da invenção e
não mais da representação, ou seja, é sempre algo novo. Assim, cartografar é estar
atento às maneiras que o desejo/opinião/ação encontram afetuar-se no campo social à
medida que surgem novos agenciamentos. Ou seja, diante desses novos agenciamentos,
ou novas situações, os colaboradores promovem ações proativas, reativas ou corretivas?
E o quanto seus corpos conseguem suportar cada situação.
Portanto, o método da cartografia permite delinear entre as controvérsias novas
formas de cognição, de interação, de ação social, de ativismo político, de geração e
difusão de conhecimento que se pretende perscrutar para a formatação de novos
indicadores de performance. Sendo que essas novas formas de subjetivação são
importantes para o desenvolvimento de uma organização que se encontra em constante
aprendizado e devem compor o sistema de monitoramento das ações em EHS.
Nesse sentido, para compreender as subjetividades de cada ator, em relação aos
seus desejos e indagações e em relação ao comportamento seguro no gerenciamento de
riscos, é necessário mapear os processos de construção do conhecimento à medida que
suas motivações/ desmotivações se mesclam com os movimentos constituintes da
própria rede, sendo algo dinâmico e não estático. Por esse motivo, os indicadores
qualitativos são possíveis de serem formatados, a partir da metodologia da cartografia, e
necessários o seu monitoramento.
Portanto, a formatação de indicadores quanti-qualitativos socioambientais para o
monitoramento das ações do SIG seria de grande valor para a vigilância ambiental e à
saúde. A construção destes indicadores a partir dos sistemas normativos e dos processos
de subjetivação dos funcionários, irá aperfeiçoar o Sistema de Informação da empresa
que aprende a partir da utilização dessa nova ferramenta digital de monitoramento 2Q’s.
Além disso,a mesma subsidiará a identificação em tempo hábil e, consequentemente,
um maior controle das fontes poluentes e dos fatores de riscos ao meio ambiente e ao
trabalhador sob a ótica de quem vivencia na prática tais exposições. Esta nova
ferramenta deverá estar norteada por algumas características tais como: corresponder à
realidade local, ter sustentabilidade científica, ser de fácil aplicação e, principalmente,
compor uma matriz global no sistema de informação.
5. Considerações finais:
A contribuição científica do estudo parte do reconhecimento de que a produção, a
socialização e o uso de conhecimentos e informações, assim como a transformação
destes em inovações tecnológicas constituem processos socioculturais passíveis de
serem aprendidos e que tais práticas e relações contribuem para o comportamento
seguro e o gerenciamento de risco nas organizações.
Para tanto, a ferramenta 2Q’s aqui proposta se constitui um pilar para que esses
processos venham ser desenvolvidos, monitorados e rentabilizados na forma de
vantagem competitiva. Ou seja, a confluência do conhecimento técnico e normativo
junto ao conhecimento tácito dos colaboradores sublinha fonte de inovação e
competitividade e interações na produção e na difusão desses conhecimentos.
Destarte, o conhecimento tácito dos funcionários (capital intelectual de uma
organização) implica em um instrumento importante no processo produtivo desde que
suas subjetivações não passem desapercebidas. Trata-se de acompanhá-lo em seu
dinamismo, nas suas múltiplas faces, em sua atuação como instrumentos de
subjetivação e ferramentas de poder.
Assim, as empresas que ainda buscam se auto-sustentar no mercado estão cada
dia percebendo que ao investir em seus funcionários, ou seja, em seu capital intelectual,
oferecendo-lhes benefícios, treinamento e acima de tudo a oportunidade de serem
ouvidas, colherá resultados positivos frutos dessa gestão participativa, principalmente
ao estimular nos seus funcionários o que a psicanálise de Foucault descreve como
estética da existência.
A ética do cuidado de si concerne à maneira pela qual cada indivíduo constitui a si mesmo como sujeito de sua própria conduta, estando
intimamente relacionada com os seus atos e suas ações para consigo e para com os outros (VENTURA, 2008: 2).
Dessa forma, quando o funcionário se auto-referencia como colaborador das
práticas gestionárias em EHS, demonstra uma ética do cuidado de si, que se afetua em
atos e ações para consigo, para com os outros e para o meio ambiente, visualizadas
diretamente pelas novas formas de subjetivação. Assim, ao dialogar com Foucault sobre
a ética da existência e técnicas de si nos faz pensar nas atuais condições de trabalho
impostas ao operário industrial como possibilidade para auto-afirmação de se fazer
sujeito responsável pelos modos/estilo de vida saudáveis. Portanto, ao admitir as
subjetividades como processos em movimento e em constante transformação, fortalece
a identidade social da classe trabalhadora não só como colaboradores no processo
produtivo, mas também, como co-responsáveis no gerenciamento de riscos e,
consequentemente, na efetivação do SIG.
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Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas
Andrea Goldschmidt*1
Resumo
Muitas empresas vêm desenvolvendo programas de voluntariado empresarial, como forma de estimular seus funcionários a participar da solução de problemas socioambientais existentes nas comunidades onde vivem e trabalham. O que a maioria delas ainda não está conseguindo fazer é avaliar adequadamente a contribuição de tais programas para o desenvolvimento de importantes competências humanas para as pessoas que participam destas ações. Desta forma, as empresas perdem uma grande oportunidade de casar duas necessidades internas: de desenvolvimento humano e de participação social.
O objetivo deste artigo é mostrar que o programa de voluntariado pode ser uma interessante ferramenta de desenvolvimento de competências, além, é claro, de ser uma excelente ferramenta de engajamento e criação de senso de cidadania.
Para que o programa de fato traga estes benefícios, no entanto, ele precisa ser estruturado de maneira estratégica, com a criação de oportunidades de atuação em consonância com as áreas de conhecimento da empresa e das pessoas envolvidas, ao mesmo tempo que enderece uma necessidade real da comunidade. Neste sentido, faz-se necessária a avaliação completa da estratégia do programa, com um olhar sobre questões como seu foco, sua relação com outras atividades de investimento social da empresa, a estrutura oferecida pela empresa para sua gestão, as formas de mobilização e motivação de pessoas para participação, bem como as estratégias para envolvimento das lideranças internas da empresa.
O olhar para o voluntariado empresarial como uma ferramenta de capacitação pessoal e profissional ainda é muito novo no Brasil, mas já está mais evoluído em outros países.
Acreditando que as empresas brasileiras podem aumentar o retorno deste tipo de ação tanto para os negócios quanto para as pessoas envolvidas (sejam elas os próprios funcionários/voluntários ou os beneficiários nas comunidades escolhidas para desenvolvimento das ações), o presente artigo visa mostrar que este mesmo objetivo pode ser alcançado de diferentes maneira e, por meio de dois exemplos atuais, ilustra opções de estrutura de programas de voluntariado que se adaptam a 2 realidades diferentes, mas levam ao mesmo tipo de resultado esperado, que é o desenvolvimento de competências humanas desejadas pela empresa nos funcionários participantes do programa de voluntariado empresarial.
O artigo visa ressaltar a importância da etapa de planejamento do programa, quando serão definidas a forma de atuação dos voluntários e as maneiras como a empresa poderá evidenciar o desenvolvimento das competências humanas entre os participantes e os ganhos socioambientais para a sociedade.
1 Andrea Goldschmidt – Administradora de empresas, com especialização em Marketing, ambos pela Fundação Getúlio Vargas
de São Paulo. Professora de Responsabilidade Socioambiental nos cursos de graduação e pós graduação da ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing e de Branding e Marketing na Economia Sustentável no MBA da FGV – Fundação Getúlio Vargas. Organizadora e co-autora do livro “Gestão dos Stakeholders – como gerenciar o relacionamento e a comunicação entre a empresa e seus públicos de interesse” publicado pela Editora Saraiva. Tem 20 anos de experiência em gestão de Marketing, Responsabilidade Social e Sustentabilidade, atuando desde 2003 como Consultora da APOENA Sustentável na implantação de programas para empresas de diversas áreas e portes – [email protected]
Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt – maio 2013
Corporate volunteering as a tool for developing human skills
Abstract
Many companies have been developing volunteering programs as a means to encourage their employees to participate in the solution of socio-environmental problems in the communities where they live and work. What most of them have been unable to do yet is evaluate adequately the contribution of these volunteering programs to the development of human skills for the participants. So companies are missing on the opportunity to match two internal needs: corporate citizenship and human development.
The objective of this article is to show that a company’s volunteering program can be an interesting tool for developing employee skills in addition to being an excellent tool for creating engagement and a sense of citizenship.
In order for the program to effectively produce these benefits, however, it needs to be structured in a strategic manner that creates opportunities for actions that are aligned to the areas of knowledge of the company and the people involved while, at the same time, addressing a real need of the community. Accordingly, it is necessary to make a thorough evaluation of the program strategy, with an eye to issues such as its focus, its relation to other social investment activities of the company, the structure provided by the company for the program management, ways to mobilize and motivate employee participation, as well as strategies for involvement of company leaders.
Viewing corporate volunteerism as a tool for human skills development is still very new in Brasil, but it is more evolved in other countries.
Believing that brazilian companies can increase the return on this type of action for both the business and the people involved (whether their own employees / volunteers or beneficiaries in the communities chosen for the development of the actions), this article aims to show that this same goal can be achieved in different ways and through two recent examples, illustrates options for the volunteer programs structure that adapt to two different realities, but lead to the same kind of expected result, which is the development of human skills desired by the company from its employees participating in the corporate volunteer program.
The article aims to highlight the importance of the planning of the program, when the actions of the volunteers will be defined and when the company will determine how she will demonstrate the development of human skills among participants and the environmental gains to society.
Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt – maio 2013
1. Voluntariado
Segundo o Conselho da Comunidade Solidária, o voluntário é o cidadão que, motivado
pelos valores de participação e solidariedade, doa seu tempo, trabalho e talento, de maneira
espontânea e não remunerada, para causas de interesse social e comunitário.
A pesquisa Projeto Voluntariado Brasil 2011, realizada pela Rede Brasil Voluntário e
pelo Ibope Inteligência, concluiu que 25% da população brasileira fazem ou já fizeram algum
tipo de serviço voluntário. Há, neste grupo, uma leve predominância de mulheres (53% do
total dos voluntários versus 47% de homens), de pessoas que trabalham (67% dos voluntários
trabalham fora de casa, sendo 51% em período integral e 16% em período parcial) e que têm
filhos (62%, sendo a média de 2,5 filhos). Em média, estas pessoas dedicam pouco mais de 4
horas mensais a trabalhos voluntários, realizados principalmente em instituições religiosas
(49%) e organizações de assistência social (25%).
“Ser solidário e ajudar” é a motivação mais comumente mencionada pelas pessoas que
atuam como voluntárias (67% dos respondentes), seguida de “fazer a diferença e melhorar o
mundo” (resposta dada por 32% dos voluntários). Apesar de que os voluntários possuem
habilidades e competências que agregam valor ao serviço voluntário (38% têm ensino médio
completo / superior incompleto e 20% têm nível superior completo), as motivações de
“Adquirir experiência / praticar o que aprendeu” e “desenvolver novas habilidades”
aparecem com índice pequeno de respostas (6% e 3% respectivamente).
Seguindo a linha de raciocínio de que os brasileiros veem o voluntariado como ações
de filantropia e assistência social e não como uma oportunidade de colocar seu talento e
conhecimento em prol de uma causa, talvez as empresas também não estejam ainda
enxergando o voluntariado como uma oportunidade de desenvolver competências em seus
colaboradores.
Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt – maio 2013
2. Voluntariado empresarial
Algumas empresas, movidas pelo desejo de aumentar o engajamento e ampliar o senso
de cidadania2 entre seus funcionários, começaram a organizar ações que ficaram conhecidas
como voluntariado empresarial. Pode-se conceituar voluntariado empresarial como “um
conjunto de ações realizadas por empresas para incentivar e apoiar o envolvimento dos seus
funcionários em atividades voluntárias na comunidade” (GOLDBERG, 2001, p.22). Ao
fomentar a participação de seus funcionários em atividades voluntárias, as empresas
estimulam os indivíduos a conhecer e, sempre que possível, intervir nos negócios públicos,
seja por meio de sua participação ativa em ações geridas diretamente por órgãos do Estado,
seja por meio de sua participação em ONGs que contribuem com o Estado para a realização
de suas funções sociais. Além disso, as ações de voluntariado ajudam a trazer foco para “o
outro lado do Direito” dos cidadãos, que são os seus “Deveres”, mostrando que é possível
contribuir para a garantia dos direitos de uma coletividade a partir do cumprimento dos seus
deveres individuais como cidadão.
As ações voluntárias podem ser realizadas com voluntários ligados direta ou
indiretamente a uma empresa (funcionários efetivos, terceirizados, familiares, ex-
funcionários e aposentados). Como as empresas são locais com grande concentração de
pessoas e já dedicam parte de sua receita a ações de investimento social privado (ISP), foi
natural que passassem a buscar maneiras de envolver os funcionários em atividades similares,
de forma que eles também pudessem contribuir para o desenvolvimento social local, de
forma isolada ou complementar às atividades de ISP da empresa.
Segundo a pesquisa “Perfil do Voluntariado Empresarial no Brasil III”. (CBVE (2012)
- Rio de Janeiro: CBVE), “as empresas privadas são as maiores promotoras de voluntariado
no Brasil”. As empresas de grande porte (acima de 500 funcionários) representam pouco
mais de 50% dos programas existentes, seguidas das empresas de pequeno porte (cerca de
2 Cidadania (do latim, civitas, "cidade") - segundo a Wikipedia é o conjunto de direitos e deveres ao qual um indivíduo está sujeito em relação à sociedade em que vive. O conceito de cidadania sempre esteve fortemente "ligado" à noção de direitos, especialmente os direitos políticos, que permitem ao indivíduo intervir na direção dos negócios públicos do Estado, participando de modo direto ou indireto na formação do governo e na sua administração, seja ao votar (indireto), seja ao concorrer a um cargo público (direto). No entanto, dentro de uma democracia, a própria definição de Direito, pressupõe a contrapartida de deveres, uma vez que em uma coletividade os direitos de um indivíduo são garantidos a partir do cumprimento dos deveres dos demais componentes da sociedade
Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt – maio 2013
40% dos programas). A maior concentração de programas (82,7%) estão na região sudeste e
na região sul (17,3%) e 69,6% deles existem há mais de 5 anos.
A pesquisa concluiu que “as ações voluntárias empresariais ainda têm um longo
caminho a percorrer até que se tornem de fato relevantes para as empresas que as praticam”.
No entanto, os investimentos (de dinheiro e tempo) realizados pelas empresas são bastante
significativos - 21,8% das empresas pesquisadas têm orçamento superior a R$ 200.000
anuais para o programa, sendo 17,4% superior a R$ 500.000 e com uma tendência de
ascensão. Além disso, “71% dos entrevistados disseram que têm permissão para encaixar as
ações de voluntariado dentro do horário de trabalho” (apesar de que a maioria dos
funcionários não utilizem essas horas!).
O significativo investimento de dinheiro e tempo realizado certamente começa (ou
começará) a gerar uma pressão nas empresas para demonstrar o resultado concreto destes
programas para os negócios.
Neste sentido, é interessante destacar o crescimento do objetivo de “ampliar
competências e habilidades dos colaboradores” quando as empresas são perguntadas sobre as
razões pela quais estruturam programas de voluntariado e incentivam os colaboradores a
realizar ações voluntárias. Comparando os dados coletados pela pesquisa em edições
anteriores, nota-se que “de 2007 para 2012, o aumento (neste item) foi de quase 21 pontos
percentuais, atingindo 28,99% das respostas” o que, apesar de bastante significativo, ainda
demonstra um grande potencial de crescimento.
A ideia de que a relação entre voluntariado e desenvolvimento de competências pode
ter uma correlação positiva não é nova: em 1995, a empresa de Correios do Reino
Unido,acreditando que as competências de seus quase 200.000 empregados poderiam ser
mais bem aproveitadas, resolveu conduzir um estudo com 2 objetivos principais: 1) coletar
informações sobre a relação entre o envolvimento comunitário e a contribuição das pessoas
para os resultados do negócio e 2) recomendar ferramentas práticas que pudessem ser usadas
para monitorar e avaliar o desenvolvimento profissional e a motivação dos funcionários por
meio do envolvimento comunitário, a fim de otimizar sua contribuição para os objetivos
estratégicos da área de recursos humanos da empresa.
Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt – maio 2013
Em 2009, uma pesquisa realizada pelo Carroll School of Management do Boston
College, com a participação de 203 das 500 maiores empresas dos Estados Unidos, listadas
pela Revista Fortune, mostrou que 19% das empresas incentivavam diretamente a
participação dos funcionários em atividades voluntárias em função de planos e metas de RH.
Infelizmente a pesquisa brasileira citada acima, “Perfil do Voluntariado Empresarial
no Brasil III”. (CBVE (2012) - Rio de Janeiro: CBVE), não pergunta às empresas se existe
algum tipo de articulação entre os programas de voluntariado empresarial e as políticas de
desenvolvimento de competências humanas e, como apenas 10,9% dos programas são
conduzidos pela área de recursos humanos, é de se imaginar que esta articulação ainda não
seja feita formalmente na maioria dos casos.
Outro dado que chama a atenção na pesquisa do CBVE é que apenas 32% das
empresas valorizam a experiência voluntária dos candidatos em processos de seleção e, em
2010, 59% disseram não levar em consideração esta experiência para promoções e aumentos
salariais. Conclui-se, com isso, que a área de Recursos Humanos das companhias, em geral,
pode não estar percebendo os benefícios potenciais das ações de voluntariado para as pessoas
e para os negócios e, pode até ser que os programa atuais, com ações mais assistencialistas do
que transformadoras, de fato não gerem grande contribuição para o desenvolvimento de
competências. Mesmo neste caso, a área de Recursos Humanos poderia ter participação
importante na reformulação dos programas, de forma que se tornem capazes de gerar este
benefício para os negócios e para as pessoas envolvidas.
3. Desenvolvimento de competências humanas
A economia do conhecimento desenvolve-se num contexto em que a base de
conhecimento das organizações é intensamente mobilizada e ampliada para a formação de
novas capacitações e competências (ZANGISKI, 2009 APUD SANCHEZ, 1997; SAVAGE,
1996).
Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt – maio 2013
Para ZANGISKI (2009) APUD FERNANDES (1998), “há um conjunto de premissas
que precisam ser consideradas para a compreensão da aprendizagem organizacional, que
inclui:
• A aprendizagem geralmente tem consequências positivas (mesmo quando os
resultados das ações são negativos, pois o produto deste processo está na
compreensão das relações de causa-efeito
• Mesmo que o aprendizado centre-se no indivíduo, as empresas também podem
aprender, pois pode-se estabelecer uma apresentação social ao processo de
aprendizagem organizacional
• A aprendizagem ocorre através de todas as atividades da empresa, em
diferentes processos e em diferentes níveis”
Pela definição do senso comum, competência é a qualificação para realizar algo, mas
no mundo dos negócios este conceito é bem mais abrangente e profundo e aborda
características pessoais, como conhecimento, habilidades e atitudes (CHA) e também a
capacidade de ter um bom desempenho associado às atividades realizadas.
Entre os profissionais de RH, a definição mais comumente utilizada é o conjunto de
conhecimentos, habilidades e atitudes que afetam a maior parte do trabalho e que se
relacionam com o desempenho no trabalho; a competência pode ser mensurada, quando
comparada com padrões estabelecidos e desenvolvida por meio de treinamentos (FLEURY;
FLEURY, 2001).
Segundo Fleury e Fleury (2004), no contexto organizacional, a competência é vista da
perspectiva individual como uma característica pessoal que possibilita desempenho superior
na realização das tarefas, ou frente a situações adversas. Mas, ao mesmo tempo, a somatória
das competências individuais, formam as competências organizacionais que são percebidas
pelos seus públicos de interesse.
Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt – maio 2013
Figura 1: Comportamentos ligados a competências
Fonte: FLEURY, FLEURY, 2004 p. 30
Segundo HERRERA (2007), em seu artigo Desenvolvimento de Competências,
“Por desenvolvimento de competências entende-se a estruturação do conjunto de saberes necessários a qualquer indivíduo ou grupamento humano que promovam-no a um degrau superior no desempenho de suas funções. Este conjunto de saberes é estruturado no conhecimento, nas habilidades e atitudes exigidas na execução das atividades que se espere um desempenho maior em qualquer campo do conhecimento humano. Por agrupamento humano entende-se indivíduos com vínculos culturais peculiares (idioma, religião, condição social, geográfica ou política, etc.), cuja dimensão vai desde um continente até uma simples comunidade”
Se as competências humanas são o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes,
sendo o conhecimento o “saber”, a habilidade o “saber fazer” e a atitude o “querer fazer”,
logo, elas podem ser desenvolvidas nas pessoas, por meio de vivências e treinamentos.
O desenvolvimento de competências pode acontecer por meio de diferentes trilhas de
aprendizagem, sendo que as pessoas podem chegar à mesma competência desejada por meio
de diferentes atividades, conforme mostra a figura 2 abaixo:
Figura 2: Trilhas de aprendizagem
Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt – maio 2013
Fonte: QUEIROZ (2008)
O que o presente artigo visa mostrar, é que o voluntariado empresarial pode ser uma
destas possíveis trilhas a serem seguidas e que tem potencial para gerar resultados bastante
significativos em diversas situações.
Segundo QUEIROZ (2008), as principais competências humanas são: comunicação
escrita, comunicação falada, criatividade/inovação, empreendedorismo, gestão da
informação, gestão da mudança, liderança, negociação, orientação ao cliente, orientação ao
resultado, relacionamento interpessoal, relacionamento intrapessoal, tomada de decisão,
trabalho em equipe, visão estratégica e visão sistêmica.
Muitas destas competências demonstram forte relação com atividades de voluntariado,
como por exemplo, liderança, negociação, trabalho em equipe, comunicação, etc. E,
conforme o tipo de ação que se propuser aos voluntários, estas competências poderão ser
desenvolvidas em maior ou menor grau.
Segundo pesquisa realizada pelo CANADIAN CENTER OF PHILANTROPY (2004),
as competências mais desenvolvidas pelos voluntários são habilidades interpessoais,
habilidades intrapessoais (a compreensão melhor das pessoas), liderança (motivar os outros),
e gestão da mudança (lidar com situações difíceis), sendo que 79% dos voluntários disseram
que suas atividades como voluntários ajudaram-nos com estas competências. 68% dos
voluntários disseram que o voluntariado ajudou a desenvolver melhores habilidades de
comunicação.
A porcentagem de voluntários que relataram ganhos de habilidades específicas como
resultado das ações de voluntariado aumentou de forma constante com o número de horas
que eles contribuíram. Por exemplo, mais de três quartos (78%) dos voluntários que
contribuíram com 188 ou mais horas (no ano 2000) relataram ganhos nas habilidades de
comunicação, em comparação com pouco mais de metade (52%) daqueles que contribuíram
19 horas ou menos. Semelhante, mas menos pronunciado, este padrão é visto em outras
competências avaliadas.
Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt – maio 2013
Da mesma maneira, a pequisa demonstra ganhos diferentes de competências em
grupos de diferentes faixas etárias. Por exemplo, os voluntários com idades entre 15 e 24
anos eram mais propensos do que os voluntários mais velhos a relatar ganhos nas
competências de comunicação (82%) e relacionamento interpessoais (77%) decorrentes das
suas atividades de voluntariado.
Se estas são importantes competências a serem desenvolvidas em um grupo de
funcionários, é natural que a empresa procure criar oportunidades que de fato ajudem a trazer
intencionalidade para esta prática, ou seja, que criem oportunidades de trabalho voluntário
que sejam de fato uma opção de desenvolvimento de competências específicas para seus
funcionários.
Segundo Kenn Allen, “há alguns anos, a lógica clássica de que o voluntariado
corporativo ‘é bom para a comunidade, é bom para os funcionários e bom para a empresa’
mostrava-se como uma vantagem não intencional, mas hoje, estes benefícios não são mais
colaterais, mas sim buscados ativamente pelas empresas”.
Mas, conforme alerta Kenn Allen, “As empresas devem tomar um cuidado especial
com os possíveis conflitos entre os benfícios de desenvolver competências e habilidades que
a própria empresa e seus funcionários procuram e a realidade das ONGs parceiras. Por
exemplo, as empresas não podem esperar que as ONGs desviem outros recursos para realizar
suas expectativas”, ao contrário, devem ter em mente que é um trabalho dos gestores do
programa construir parcerias que sejam realmente vantajosas para as ONGs parceiras e, neste
sentido, o desafio está em conseguir propor a realização de ações que ajudem a desenvolver
competências, a partir da premissa de que o objetivo principal deve ser ajudar a resolver
problemas reais que as organizações parceiras e as comunidades beneficiadas têm.
Segundo o artigo The Promise Employee Skill-Based Volunteering Holds for Employee
Skills and Nonprofit Partner Effectiveness: A Review of Current Knowledge produzido pela
POINTS OF LIGHT FOUNDATION, em 2007, as empresas americanas estão abraçando o
chamado voluntariado baseado em competências de forma acelerada. Elas acreditam que este
tipo de voluntariado é uma forma mais efetiva do que outras existentes, justamente porque
contribui com causas sociais ao mesmo tempo que ajuda a desenvolver pessoas para o
mercado de trabalho. Esta situação ganha-ganha torna este tipo de ação de voluntariado
Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt – maio 2013
especialmente interessante para as empresas e, ainda mais, para aquelas que têm ações de
investimento social privado e sofrem pressões para torná-los mais efetivos interna e
externamente. Desta forma, o voluntariado poderia ser uma ferramenta de desenvolvimento
pessoal e, ao mesmo tempo, contribuir para a solução de problemas reais.
Ao tornar o programa de voluntariado algo mais estratégico dentro da empresa, ele
poderá deixar de ser uma ação dirigida apenas às pessoas que têm mais tempo livre ou que
têm maior desejo de participar de atividades comunitárias, para ser uma oportunidade para
que as pessoas que compõem a força de trabalho desenvolvam competências.
4. Casos reais
A metodologia sugerida pelos Correios do Reino Unido (1995) recomenda que a área
de Recursos Humanos da empresa identifique quais são as principais competências que se
deseja desenvolver nos funcionários e, a partir delas, identifique opções de atividades que
tenham o poder de desenvolvê-las ou, ao contrário, que se listem as atividades disponíveis e
as competências desejáveis para verificar as sinergias entre elas, conforme demonstra a figura
3 abaixo:
OportunidadesMentoria Tutoria
Participação em Conselho
Atividades individuais
direcionadas
Desafio Voluntário
Voluntariado genérico
Competências
Empreendedorismo x x
Habilidade de inovar x x
Resolução de problemas x x x x x x
Habilidade de negociação x x x
Trabalho em equipe x x x
Relacionamento interpessoal x x x x x x
Tomada de decisões x x
Orientação para a ação x x x x
Habilidade de análise x x x
Figura 3: Matriz de desenvolvimento
Fonte: Adaptado pela autora a partir de quadro apresentados em Employees and the
community (1995)
Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt – maio 2013
A partir desta premissa, dois casos brasileiros vêm sendo conduzidos pela Apoena
Sustentável (consultoria especializada em voluntariado). Como os projetos ainda não foram
finalizados, optou-se por manter em sigilo os nomes das empresas que os estão conduzindo.
Ambas são empresas de grande porte, com atuação em todo o território nacional e com
programas de voluntariado já estruturados há alguns anos.
Em ambos os casos, o processo iniciou-se com uma reavaliação completa da estratégia
do programa, com um olhar sobre questões como seu foco e sua relação com outras
atividades de investimento social da empresa. O objetivo era garantir que o programa não
seria descaracterizado ao buscar fazer a relação das ações com o desenvolvimento de
competências humanas desejado.
No primeiro caso, a empresa tem uma série de opções de ações estruturadas. Os
funcionários que desejam ser voluntários são treinados para a reprodução das metodologias
propostas e, em seguida, encaminhados para organizações sociais para a aplicação prática dos
conteúdos aprendidos.
No final de 2012, alguns voluntários foram solicitados a preencher um formulário de
avaliação do programa, por meio do qual se perguntou quais das competências estratégicas
para a empresa cada um deles acreditava ter desenvolvido mais durante a realização das
atividades voluntárias - a auto avaliação é, segundo a metodologia dos Correios do Reino
Unido, o formato de mais fácil implantação. O resultado foi bastante interessante, porque
ficou claro que os funcionários são capazes de estabelecer esta relação (o que é bastante
importante, considerando-se que estas competências desejadas são a base para as avaliações
anuais de desempenho de todos os funcionários desta empresa). Ainda assim, ficou evidente
que os resultados poderiam ser ainda melhores se eles tivessem sido estimulados desde o
princípio a intencionalmente buscar atuar de maneira a ampliar a relação entre as ações
voluntárias e as competências a serem desenvolvidas.
Sendo assim, no início do ano seguinte, as características de cada uma das opções de
ações voluntárias disponibilizadas foram avaliadas e estas informações foram cruzadas com
as competências desejadas pela área de Recursos Humanos para verificar sua
compatibilidade com o formato atual do programa.
Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt – maio 2013
Ao realizar este cruzamento, ficou claro que as competências desejadas estavam mais
relacionadas à forma de conduzir as atividades do que às atividades realizadas (foram
identificadas fortes sinergias com 5 das 10 competências desejáveis) e, por este motivo,
sugeriu-se manter as opções de atividades voluntárias disponíveis para os funcionários, mas
modificar a maneira como estas ações são avaliadas ao final de um ano de programa. O
objetivo, portanto, será modificar os critérios para reconhecimento das ações, de forma que
se possa dar mais destaque (nas ações de reconhecimento, por exemplo) às pessoas que
tiverem, notadamente, desenvolvido as ações voluntárias utilizando as competências que o
RH deseja desenvolver.
Foram criados então novos formulários de avaliação das ações, em que os voluntários
são solicitados a dar informações sobre a maneira como as atividades foram desenvolvidas e,
por meio da análise destas respostas, será possível verificar quais das competências listadas
foram mais trabalhadas pelo conjunto dos voluntários.
Com isso, será possível mapear mais detalhadamente que contribuições o programa de
fato traz para os objetivos da área de Recursos Humanos e Educação Corporativa.
O próximo desafio será ampliar esta avaliação para gestores e colegas de trabalho
(dentro do conceito de avaliação 360º), de maneira que se possa começar a evidenciar de
forma mais abrangente os benefícios existentes. Atualmente, por meio da auto avaliação, já é
possível fazer com que o funcionário-voluntário compreenda seus aprendizados, mas o
desafio mais interessante será, no futuro, conseguir mostrar para os gestores a existência
desta correlação, já que isso provavelmente os motivará a incentivar a participação de outros
funcionários no programa.
Da mesma maneira, este tipo de avaliação poderá ajudar os gestores a, no futuro,
orientar os funcionários da sua equipe na identificação de ações de voluntariado de que
possam participar com o objetivo de vivenciar situações em que determinadas competências
possam ser desenvolvidas. Assim, a empresa contribui para o desenvolvimento profissional
do voluntário, ao mesmo tempo em que se estimula a participação cidadã e o engajamento
dos funcionários com questões importantes para o desenvolvimento da comunidade onde a
empresa atua.
Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt – maio 2013
O que ficou evidente neste caso, é que é possível estimular o desenvolvimento das
competências desejadas, mantendo as ações de voluntariado atuais e dando breves
orientações sobre maneiras ligeiramente diferentes de conduzi-las (em relação ao que foi
feito anteriormente pelos funcionários). Consegue-se, com isso, manter a identidade e o
alinhamento do programa com o investimento social e adicionar um componente de
avaliação que pode trazer uma relevância estratégica bastante importante para o programa
internamente.
No segundo caso estudado, a estrutura do programa é bastante aberta, com algumas
diretrizes gerais de atuação, que ajudam os voluntários a definir o que fazer e onde atuar, mas
dando a eles liberdade de analisar a situação de cada organização social escolhida para ser
parceira na ação voluntária a ser desenvolvida. Quando o programa foi criado, o objetivo
principal era incentivar a participação cidadã e, como a equipe gestora do programa é enxuta
e os funcionários estão espalhados por muitos municípios brasileiros, optou-se por ter um
formato estruturado, mas que, ao mesmo tempo, desse ao voluntário autonomia para atuar
individualmente ou em grupos da forma que eles julgassem mais conveniente.
Os voluntários mostraram-se sempre muito envolvidos e grandes parceiros das
organizações escolhidas, realizando, anualmente, uma grande quantidade de ações
voluntárias. Entretanto, a maioria das ações realizadas tinha cunho assistencialista e pouco
transformador e, com o passar do tempo, surgiu o desafio de qualificar as ações dos
voluntários e aproximá-las das estratégias de atuação social da empresa.
A opção aqui foi por estimular os voluntários a realizar um número menor de
atividades, mas, ao mesmo tempo, concentrar-se em atividades que gerem retornos de mais
longo prazo para os beneficiados.
Ao mesmo tempo, começou-se a olhar para os aprendizados do próprio voluntário, já
que realizar ações assistencialistas requer muito poder de mobilização, mas ajuda pouco no
desenvolvimento de outras competências relevantes.
Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt – maio 2013
Neste segundo caso, a partir da lista de 12 competências de treinamento identificadas
pela empresa, foram selecionadas as 6 que foram consideradas mais pertinentes para a
criação de oportunidades de ações para os voluntários.
Historicamente, ao iniciar o programa, os funcionários da empresa recebem um
manual orientador, por meio do qual são sugeridas algumas atividades a serem realizadas por
eles. A partir da ideia de enfatizar o desenvolvimento de competências, optou-se por
concentrara as atividades dos voluntários em ações mais transformadoras e consideradas
mais relevantes para o desenvolvimento das competências desejadas e para a sociedade.
O manual, então, passa a ser complementado por algumas sugestões de ações
transformadoras, detalhadas com uma sugestão de passo a passo para implantação,
destacando a sua relação com o desenvolvimento da competência a que se refere.
Cada grupo de voluntários deverá escolher uma única ação para implantação ao longo
do ano. As ações implantadas serão avaliadas comparando-as com aquelas que pretendem
desenvolver a mesma competência, formando, portanto, 6 categorias diferentes para as
atividades de reconhecimento. No final do ano, desta maneira, serão selecionadas para
divulgação e reconhecimento as ações mais interessantes e que tiverem demonstrado maior
desenvolvimento comunitário e de competências dos integrantes do grupo de voluntários.
Neste caso, portanto, cada grupo de voluntários será estimulado a desenvolver, de
forma mais profunda, uma única competência, escolhida por ele ou por identificação com o
tema, ou por reconhecer a sua importância.
Os dois casos apresentados acima ilustram claramente que há diferentes maneiras de
conduzir um processo de inserção do objetivo de desenvolvimento de competências em um
programa de voluntariado empresarial, de forma que se mantenham características
anteriormente existentes e a identidade do programa. A figura 4, abaixo, é um quadro resumo
da comparação destas duas situações.
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Quesitos comparados caso 1 caso 2
Formato do programa
Ações estruturadas Ações não estruturadasVoluntários atuam em grupos ou individualmente
Voluntários atuam em grupos ou individualmente
Escolha de uma ação entre 9 alternativas possíveis
Escolha de uma ação dentro de uma lista de sugestões dadas ou a partir de suas próprias ideias e motivações
Tipos de ações possíveis
As mesmas que já existiam anteriormente, propostas aos voluntários dentro de uma lista de possibilidades
Novas ações, propostas aos voluntários dentro de uma lista de possibilidades alinhadas às competências estratégicas para a empresa
Competências desenvolvidas
Até 5 competências em cada ação realizada
Uma única competência para cada ação realizada
Definição da competência a ser desenvolvida
Conforme a maneira como a ação for implantada pelos voluntários
Conforme a ação escolhida pelos voluntários
Desenvolvimento da competência
No processo de implantação da ação (relacionado à forma de realização de qualquer atividade escolhida)
No processo de planejamento e implantação da ação (relacionada aos resultados obtidos por meio da ação escolhida)
Formas de avaliação (por meio de relatórios)
Auto avaliação do voluntário
Avaliação (pela área gestora do programa) dos resultados alcançados para cada ação / competência
Avaliação (pela área gestora do programa) do processo de implantação das ações, com base nas evidências de desenvolvimento das 5 competências desejadas
Contribuições do programa para os objetivos de RH
Mapeamento de evidências de desenvolvimento das competências pelo conjunto das ações realizadas pelos voluntários
Mapeamento de evidências de desenvolvimento da competência associada a cada uma das ações propostas
Figura 4: Quadro comparativo de atributos dos dois casos apresentados
Fonte: Desenvolvido pela autora
Em ambos os casos, ao definir que o desenvolvimento destas competências passa a ser
um objetivo da empresa, a estrutura para gestão do programa, as formas de mobilização e
motivação de pessoas para participar, bem como as estratégias para envolvimento das
lideranças internas da empresa precisam ser revisadas. Ao assumir as competências como
premissa do programa, a fase de planejamento deve levar isso em consideração. Isto é
especialmente relevante nos casos de programas já existentes e que, muitas vezes, precisam
sofrer modificações significativas na estrutura de gestão para garantir uma organização de
informações que permita a adequada avaliação dos resultados alcançados.
Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt – maio 2013
5. Conclusões
A demonstração de que o voluntariado é bom para o desenvolvimento pessoal e
profissional do voluntário pode ser um forte impulso para o aumento de adesão aos
programas já existentes. Isto pode acontecer tanto por meio de um desejo de maior
participação dos voluntários atuais (aumento da frequencia das ações), como pelo aumento
do número de pessoas participando (seja por iniciativa própria ou por um maior estímulo de
seus gestores diretos).
Além disso, a maior vinculação das ações de voluntariado empresarial propostas aos
funcionários de uma empresa à sua estratégia de negócios, ou à sua estratégia de
desenvolvimento de recursos humanos, ou ainda, à sua estratégia de investimento social (ou
às 3, se possível), ajuda a garantir uma motivação de longo prazo para a empresa e,
consequentemente, xxxx
Realmente, há temores justificáveis de que agregar recompensas a ações altruistas
poderá minar a motivação e distorcer os valores que movem os voluntários. Falar de
"consequências" nos encoraja a pensar no voluntariado como a causa de algum resultado
posterior esperado. Indubitavelmente, estas recompensas poderiam ter sido obtidas a partir de
um vasto leque de atividades que não impliquem ajudar os outros, mas, justamente aí reside o
grande diferencial proposto: conseguir dois objetivos com uma única ação também pode ser
um fator motivador da participação dos funcionários.
Como as empresas têm investido valores consideráveis no desenvolvimento de
programas de voluntariado corporativo e como, muitas vezes, contribuem ainda com a cessão
de horas de trabalho de seus funcionários, é natural (e desejável) que busquem, com isso,
benefícios que extrapolam a boa cidadania corporativa.
Ao mesmo tempo, ainda há muito trabalho a ser feito na pesquisa da relação entre o
trabalho voluntário e o desenvolvimento de habilidades e competências humanas e, em
especial, como estas experiências podem trazer benefícios para a empresa e para o
voluntário. As experiências citadas acima ainda são muito recentes e, certamente, passarão
Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt – maio 2013
por modificações e melhorias à medida que as empresas que as aplicam forem evoluindo
nesta prática. Sua contribuição, neste momento, reside na reflexão da importancia de planejar
adequadamente como esta vinculação será proposta aos voluntários e como os resultados
alcançados serão mensurados antes que o programa de fato se inicie.
Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt – maio 2013
Referências Bibliográficas
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Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt – maio 2013
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⋅ http://pt.wikipedia.org/wiki/Cidadania - acessado em 08 de julho de 2013
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Capítulo 9: RSE e Sustentabilidade: Desafio Local, Desafio Global
Assimetrias, Oportunidades E Cooperação No Contexto Da Responsabilidade Social Globalizada
José Quintal e José Ramalho1
1. Introdução
No mundo actual assistimos à emergência de uma sociedade global cujas fronteiras
se esbatem cada vez mais, devido à facilidade com que os seres humanos comunicam
entre si, sobretudo por via das tecnologias de informação e comunicação.
Por outro lado, também a assistimos a uma crise generalizada e sem precedentes no
domínio da economia internacional e de inúmeras economias locais – esta crise conduz
a assimetrias cada vez maiores que se multiplicam numa espiral recessiva e que
impedem um desenvolvimento verdadeiramente sustentável em termos económicos,
sociais e ambientais.
No nosso entendimento, as teorias e paradigmas dominantes em torno da
Responsabilidade Social e da Sustentabilidade colocam, normalmente, o enfoque nas
organizações, relegando o indivíduo para a periferia de uma abordagem que se pretende
eminentemente sociológica.
Neste trabalho, propomo-nos reflectir sobre as dinâmicas de causalidade que
relacionam o actor social enquanto entidade individual e diferenciada com os
1José António Pontes Quintal Mestre em Sociologia Económica e das OrganizaçõesInstituto Superior de Economia e Gestão - Publicações – Dissertação em Sociologia Económica e das Organizações Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social no Sector dos Transportes PúblicosProposta de Intervenção: Grupo TranstejoMembro da primeira comissão para elaboração do Relatório de Sustentabilidade do Grupo Transtejo.Quadro Superior do Grupo Transtejo – Responsável pelo Núcleod e Apoio Social do Grupo Transtejo. [email protected]
José Elias Ferreira Ramalho Mestrando em Gestão – Instituto Superior de GestãoPós-graduado em Gestão Pública pelo ISG - Licenciado em Gestão pela Universidade Internacional. Representante do Instituto de Emprego e Formação Profissional na ComissãoTtécnica 164: Responsabilidade SocialRepresentante do Instituto de Emprego e Formação Profissional na Comissão Técnica 165: Ética; Instituto de Desenvolvimento e Inovação Social (I.D.I.S MAIS) – Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias; Assessor de Vereação da Câmara Municipal de Loures. Integra o Órgão Executivo da Junta de Freguesia de Bobadela com o pelouro da Responsabilidade Social. Quadro Superior do Instituto de Emprego e Formação Profissional. Certificado em Neuro Marketing pela Sails BraindMembro da Comissão Nacional do Projecto ECOXXI. Presidente da Associação Agentes Activos da Mudança. Associado Individual da Associação Portuguesa de Ética Empresarial. [email protected]
mecanismos socialmente agregadores que conformam as comunidades e integram os
indivíduos enquanto elementos interactivos e produtores de coesão.
Sugerimos que essas dinâmicas potenciam e enriquecem o exercício de actividades
de utilidade colectiva realizadas em rede.
Propomos como hipótese de trabalho que as organizações empresariais de pequena
dimensão2 (muito mais do que os gigantes organizacionais que se têm apoderado da
economia global e até da soberania dos Estados cuja estrutura económica e politica se
afigura mais frágil), são o rosto das economias locais e garantem a liberdade de
expressão, a liberdade de escolha e a plena realização individual e colectiva.
Acrescentamos, no âmbito desta hipótese de trabalho, que as organizações de
pequena dimensão3, uma vez ligadas entre si através de uma rede consistente que aqui
nos propomos designar como Malha de Coesão Cooperativa (MCC), obtêm a robustez
necessária para prosperar nos circuitos onde se movimentam e se digladiam entre si os
gigantes empresariais e organizacionais.
De modo a ancorar a MCC em termos conceptuais, propomos, desde logo, um
conjunto de dimensões elencadas de acordo com uma primeira sensibilidade,
relacionando os conceitos de Responsabilidade Social e de Cooperação:
• Realização individual em torno de um projecto colectivo
• Percepção de liberdade
• Percepção satisfação pessoal
• Motivação para colaborar em prol do bem comum.
• Interiorização/incorporação do conceito de responsabilidade individual.
• Interiorização/ incorporação do conceito de parte interessada (Stakeholder).
• Consciencialização individual e utilização colectiva dos mecanismos
democráticos numa dinâmica participativa.
A ultima destas dimensões foi inspirada na própria Constituição da República
Portuguesa, designadamente no que respeita ao artigo nº 2 - A República Portuguesa é
2 De acordo com recomendação 2003/361/CE da Comissão, de 6 de Maio de 2003, relativa à definição de micro, pequenas e médias empresas [Jornal Oficial L 124 de 20.05.2003].3 A Estratégia Europeia de Responsabilidade Social prevê para as pequenas e médias empresas a adopção políticas de contenção fiscal considerando, precisamente, a fragilidade inerente às grandes assimetrias que se verificam entre estas organizações empresariais e a grandes empresas. - A Estratégia Europeia de Responsabilidade Social E United Nations Global - http://docs.apee.pt/docs/ce-estrategia-rs/ce-rs-estrategia.pdf
um Estado de direito democrático, baseado na soberania popular, no pluralismo de
expressão e organização política democráticas, no respeito e na garantia de
efectivação dos direitos e liberdades fundamentais e na separação e interdependência
de poderes, visando a realização da democracia económica, social e cultural e o
aprofundamento da democracia participativa4.
2. O indivíduo no centro da MCC e no âmbito da análise estratégica
Para uma melhor compreensão do conceito de Malha de Coesão Cooperativa
consideramos indispensável incorporar o conceito de responsabilidade individual no
âmbito conceptual da Responsabilidade Social e no contexto alargado, complexo e
contingente das organizações. Não se trata de uma abordagem interpretativa de índole
ética ou moral mas, antes, de um mecanismo de compreensão indutivo, que nos
permitiria interpretar os fenómenos organizacionais a partir da sua composição atómica,
sendo que a partícula supostamente indivisível dessa composição seria, deste modo, o
próprio indivíduo.
Numa primeira análise, sustentamos que a análise estratégica proposta por Michel
Crozier fornece um modelo que permite, em certa medida, compreender as motivações e
estratégias do indivíduo face à inevitável inclusão num projecto com as vicissitudes das
dinâmicas grupais.
O conceito geral de estratégia está associado aos conceitos de incerteza, exercício do
poder e racionalidade dos actores sociais no seio de organizações em processos de
mudança estrutural, (Crozier e Friedberg, 1977).
Segundo este conceito, o actor social não incorpora, de uma forma geral, no seu
quotidiano, objectivos claros e projectos verdadeiramente coerentes tendendo a
organizar a respectiva agenda com múltiplos objectivos, por vezes ambíguos e
contraditórios, independentemente dos capitais social, cultural e económico que detém.
Por outro lado, o comportamento do actor social é invariavelmente activo apesar de
se encontrar mais ou menos constrangido, sendo que esse constrangimento, mesmo que
conduza à passividade representa, em última análise, uma opção.
Com efeito, o comportamento do actor social é sempre racional e, ainda que possa
4 http://www.parlamento.pt/Legislacao/Paginas/ConstituicaoRepublicaPortuguesa.aspx
não o ser em relação aos objectivos, é seguramente racional em relação às
oportunidades e, através das oportunidades, racionaliza o contexto em que se insere.
No âmbito desta racionalidade há a considerar os comportamento ofensivos e
defensivos adoptados pelo actor social através dos quais este tende a manter,
respectivamente, a margem de liberdade e a iludir o constrangimento que lhe é imposto.
Nesta óptica, propõe-se três princípios fundamentais, o princípio da simplicidade, o
princípio da autonomia e o princípio do governo pela cultura, (Crozier, 1994:38).
O princípio da simplicidade, propõe que a simplicidade da estrutura organizacional
deve ser inversamente proporcional à complexidade do meio. Trata-se de uma
abordagem complexa, racional, inteligente e integradora no seio de uma organização
simplificada em que os procedimentos complexos e rígidos, bem como a falta de
autonomia, dão lugar à “liberdade e responsabilidade de agir (Crozier, 1994: 38).
Ora a responsabilidade e liberdade de acção exige que a organização assuma o
princípio da autonomia de modo a assegurar uma maior eficácia em contextos mais
complexos promotores de um ambiente económico, social e ambiental potencialmente
instável.
Finalmente as organizações simples que integram actores autónomos incorporam
cada vez menos procedimentos padronizados, com estruturas hierárquicas pouco
expressivas, e valorizam a cultura dos actores sociais na disciplina gestionária e
comportamental, adoptando, desta forma, uma atitude socialmente responsável.
3. Cooperação e descentralização
Para a constituição formal e funcional de uma malha robusta e coesa de cooperação
ou, se preferirmos, Malha de Coesão Cooperativa entre indivíduos e pequenas
organizações, será preciso incorporar ainda, a par da responsabilidade individual e
social, conceitos tangíveis de descentralização, de paz e de prosperidade.
Um dos significados contidos na perspectiva kyusai consiste na ideia de cooperação
e de descentralização da organização empresarial expressa no terceiro estádio proposto
por Ryuzaburo Kaku, onde se preconiza a cooperação com entidades exteriores à
empresa, tendo em vista o progresso da paz e da prosperidade, incorporando a lógica do
cluster e esbatendo-se a lógica do lucro como objectivo primordial e quase exclusivo.
Com efeito, o conceito de responsabilidade social empresarial pré-lucro
(Kang,1995), vai mais longe, remetendo para a ideia de que as empresas devem sentir-
se obrigadas a cumprir suas responsabilidades sociais antes mesmo de tentarem
maximizar seus lucros, constituindo esta obrigação um meio eficiente e efectivo de
controle social e uma base para a confiança nas relações humanas e organizacionais.
O estudo de Kang (1995) sugere o conceito de desempenho social do stakeholder,
(stakeholder social performance – SSP), cruzando este conceito com o de desempenho
social da empresa (corporate social performance – CSP), como duas de entre várias
categorias de desempenho que contribuem para operacionalizar a visão sistémica de
redes de stakeholders, (Kang, 1995).
O autor propõe que os benefícios e responsabilidades devem ser distribuídos com justiça
entre os stakeholders. Assim, a discussão em torno da empresa perde sentido a favor de
uma visão mais centrada na ideia de redes de relacionamento entre stakeholders, (Kang,
1995).
É nesta perspectiva que se impõe a adopção dos conceitos de consumo ético e de
comércio ético, cuja responsabilidade está a cargo, respectivamente, de consumidores e
demais stakeholders (Zadek, 1998).
4. Modelos de integração
Estes modelos baseiam-se na ideia de que as empresas só existem porque estão
inseridas numa sociedade que as reconhece como necessárias e legítimas. Assim, as
empresas devem integrar nas respectivas orientações estratégicas e considerar, nos
fluxos de decisão ao nível do topo organizacional, os diferentes apelos e solicitações no
âmbito social que chegam, com mais ou menos frequência, das comunidades em que se
inserem.
É de referir que a norma ISO 26000 oferece orientação sobre o comportamento
socialmente responsável e acções possíveis de integrar no âmbito da actividade
correspondente, no entanto não contém requisitos e, portanto, em contraste com os
padrões de sistema de gestão ISO, não é certificável. Integra, no entanto, várias
recomendações em matéria de Responsabilidade Social destinado às pequenas
empresas, precisamente nos aspectos inerentes ao domínio da integração e dos impactes
produzidos.
Por outro lado, Portugal dando seguimento às recomendações da ISO 26000 editou a
NP 4469-1 relativa a “Sistemas de gestão da responsabilidade social. Parte 1: Requisitos
e linhas de orientação para a sua utilização”, elaborada pela Comissão Técnica 164
“Responsabilidade Social” e coordenada pelo ONS (organismo de Normalização
Sectorial) APEE – Associação Portuguesa de Ética Empresarial. Na sequência desta
publicação veio a editar a parte dois5 que se constitui como um guia para aplicação da
Norma.
Tal como nas teorias políticas e instrumentais, existem diferentes abordagens no que
respeita às teorias integrativas que envolvem, neste caso, quatro ideias centrais; a gestão
dos assuntos sociais e a responsabilidade pública e, ainda, a gestão dos stakeholders e o
desempenho social das empresas.
Podemos considerar, em primeiro lugar, a gestão dos assuntos sociais que consiste,
resumidamente, na ideia de que a empresa deve considerar as expectativas das
comunidades envolventes, analisar essas expectativas e procurar responder em
conformidade.
O ponto de partida desta abordagem consiste, portanto, em reconhecer a diferença
entre o desempenho efectivo da empresa e o desempenho expectável (do ponto de vista
da sociedade), sendo que a aplicação da Norma Portuguesa nº 4469 procura minimizar o
desfasamento dado que orienta e recomenda um conjunto de princípios a aplicar no
âmbito da Responsabilidade Social.
Depois de conhecidos os aspectos relevantes que caracterizam essa diferença, a
empresa deve procurar isolar e resolver as questões problemáticas que interfiram directa
ou indirectamente com as políticas da empresa, adoptando “uma atenção gestionária”
em relação a essas questões, (Mahaon e Waddock : 1992).
Ainda no âmbito das teorias integrativas, há a considerar a abordagem que se
designa por Desempenho Social da Empresa e que se caracteriza por reconhecer que
uma empresa é socialmente responsável quando cumpre responsabilidades económicas,
legais, éticas e filantrópicas (Carroll, 1991).
Com efeito, na base da pirâmide proposta por Carroll, estão as responsabilidades
económicas, sem a assunção das quais a organização não tem condições para realizar a
respectiva actividade empresarial. Depois, seguem-se as responsabilidades legais que
podem condicionar o desenvolvimento da actividade económica da empresa mas que
5 NP4469-2: 2010: Sistema de gestão de responsabilidade social Parte 2: guia de orientação para a implementação.Disponíveis no site do Instituto Português da Qualidade
são indispensáveis ao desenvolvimento pacífico e fluente da dinâmica empresarial,
constituindo, por isso, um requisito incontornável para que uma empresa se enquadre no
universo da cidadania empresarial.
No entanto, para merecer o rótulo de empresa socialmente responsável, espera-se
que o topo estratégico da organização empresarial sustente preocupações de carácter
ético que vão além das responsabilidades requeridas no domínio estritamente legal,
considerando que essas preocupações influenciam as condutas de todos os
intervenientes, tanto os que estão vinculados à organização como os que apenas
interagem sem vínculo formal, (stakeholders internos e externos).
Finalmente, segundo este autor, seria desejável que as organizações, na senda da
cidadania empresarial, assumissem, voluntariamente, responsabilidades filantrópicas de
carácter discricionário.
Segundo Porter e Kramer (2002), a maioria das acções que encerram,
supostamente, a ideia de filantropia estratégica6, na maioria dos casos não são
efectivamente estratégicas. Na realidade, a filantropia é cada vez mais utilizada ao
serviço das relações públicas ou do marketing, sendo que a maioria das acções
filantrópicas tem muito mais o objectivo de aumentar a visibilidade da empresa do que
produzir impacto social.
Por outro lado, as doações só são realmente estratégicas se forem concretizadas na
senda de objectivos simultaneamente sociais e económicos. Para isso é necessário que a
empresa opte por fazer doações em contexto competitivo, considerando que detém
activos e competências únicos que podem servir ambos os interesses. De facto, não se
espera que todas as despesas da empresa produzam benefícios sociais nem se espera,
tampouco, que o incremento de todos os benefícios sociais seja susceptível de aumentar
a competitividade.
Apostar na filantropia só tem interesse quando as despesas correspondentes
produzem ganhos sociais e económicos, considerando sempre os interesses dos
respectivos stakeholders.
6 É interessante observar, a este propósito da filantropia estratégica, a informação que a Delta Cafés, em Portugal, destina aos visitantes do respectivo site: A Delta Cafés ambiciona fomentar a capacitação dos trabalhadores locais, incentivar práticas ambientalmente responsáveis, nomeadamente, a conservação dos solos, a gestão sustentada da plantação, a poupança de água e o recurso às energias renováveis, de modo a não condicionar o futuro das gerações vindouras. Para tal, tem desenvolvido várias acções junto das comunidades produtoras - http://www.delta-cafes.pt/#/pt/sustentabilidade/cadeia-de-valor/origens
É no contexto competitivo que a estratégia empresarial se realiza, considerando-
se, nesta lógica, um conjunto variáveis contextuais que influenciam a capacidade
competitiva das empresas:
Trabalhadores dotados e motivados
Infra-estruturas locais eficientes, incluindo estradas e telecomunicações;
Dimensão e sofisticação do mercado local;
Regulamentos governamentais adequados ao contexto empresarial,
Segundo Porter e Kramer (2002), a capacidade competitiva da empresa é
condicionada por quatro factores que potenciam ou inibem a respectiva produtividade:
Condições dos factores, ou recursos disponíveis para a produção;
Condições da procura;
O contexto estratégico e de rivalidade empresariais;
Indústrias relacionadas e de suporte.
Quaisquer fragilidades que se observem nestes quatro domínios podem
comprometer a competitividade de uma nação, de uma região, de uma empresa ou,
simplesmente, de um negócio. Porter e Kramer (2002) consideram que os investimentos
filantrópicos realizados pelos membros de um cluster, podem potenciar fortemente a
competitividade e o desempenho de todas as empresas que o constituem.
Nesta perspectiva, a filantropia pode ser a forma mais eficiente de alavancar a
capacidade produtiva e a eficiência empresarial, sendo necessário analisar, para este
efeito, as diferentes variáveis que integram o contexto competitivo.
Dessa forma, é possível identificar as áreas de investimento que proporcionam,
por um lado, mais valor social e económico e que melhoram, por outro lado, a
competitividade da empresa na área de negócio em que está inserida.
Seja como for concluímos que os modelos ou teorias integrativas dominantes,
remetem para as organizações a responsabilidade de conduzir os processos de
desenvolvimento, subvalorizando o indivíduo enquanto elemento fundamental e
estratégico no processo de coesão e de cooperação organizacional.
5. Abordagem Ética
Sem prejuízo de uma perspective organizacional e sociológica que devolva o
indivíduo ao centro da análise, é indispensável que nos coloquemos as seguintes
questões: (1) Que princípios éticos as empresas devem seguir? (2) O que é correcto que
façam para o bem da sociedade?
Tal como as restantes teorias, também as teorias éticas encerram abordagens
diferentes que passaremos a discutir pela seguinte ordem: teoria normativa dos
stakeholders, direitos universais, desenvolvimento sustentável e, finalmente, o bem
comum.
No âmbito da teoria normativa dos stakeholders, parte-se do princípio que todas as
partes interessadas na dinâmica empresarial sustentam interesses legítimos aos quais a
empresa deve dar resposta na medida do possível, mesmo que essa resposta não
implique ou não concorra para melhorar a dimensão económica da organização e não
favoreça, por conseguinte, os respectivos proprietários ou accionistas (Evan &
Freeman, 1993).
Para esse efeito, é necessário que se observem alguns princípios a estabelecer na
forma como o topo estratégico se relaciona com os stakeholders, designadamente nos
domínios da justiça, cooperação, benefício mútuo e sacrifício (Philips, 1997).
Considerando a segunda abordagem das teorias éticas designada por Direitos
Universais, a Declaração Universal dos Direitos do Homem adoptada pelas Nações
Unidas em 1948, bem como outras declarações internacionais nos domínios dos
recursos humanos, direitos laborais e protecção ambiental, devem constituir-se como
guias a seguir pela empresa que pretende ser socialmente responsável. A norma SA
8000 (Responsabilidade Social) é o resultado mais visível e exemplar desta abordagem
e surgiu em 1997 por intermédio da Social Accountability International (SAI), em
colaboração com outras organizações internacionais.
Esta norma baseia-se em 12 convenções da Organização Internacional do Trabalho
(OIT), na Declaração Universal dos Direitos do Homem e na Convenção das Nações
Unidas dos Direitos das Crianças. A correspondente certificação remete para o
cumprimento da legislação laboral em vigor, através do cumprimento de requisitos a
observar em vários domínios.
O princípio do desenvolvimento sustentável neste domínio das teorias éticas,
reflecte a preocupação com a escassez de recursos que remete para a ideia de que as
gerações actuais devem procurar satisfazer as respectivas necessidades sem
comprometer os recursos das gerações futuras (World Commission on Environment and
Development, 1987).
Embora se observe alguma ambiguidade na definição deste conceito (Fergus &
Rowney, 2005), parece evidente que a satisfação das gerações actuais é,
fundamentalmente, da responsabilidade dos diferentes agentes económicos que operam,
actualmente, nas múltiplas áreas de negócio em desenvolvimento.
O relatório “Nosso Futuro Comum”, também conhecido como "Relatório
Brundtland", já referido neste trabalho, veio sublinhar a necessidade de um novo tipo de
desenvolvimento capaz de manter o progresso a nível mundial e a longo prazo. Este
novo conceito de desenvolvimento destina-se aos países em desenvolvimento e aos
desenvolvidos.
Foi nos termos do World Business Council Sustainable Development, (WHCSD,
2000:2) que o conceito de desenvolvimento sustentável passou a integrar considerações
sociais, ambientais e culturais (Rego, 2007: 169,170).
Nesta perspectiva, a pobreza está, por um lado, na origem dos problemas
ambientais mas também potencia, por outro lado, esses mesmos problemas. Assim,
critica-se o modelo de desenvolvimento adoptado pelos países desenvolvidos, não só
por ser insustentável, dado que tende a esgotar rapidamente os recursos naturais, mas,
também, por não estar ao alcance dos países em desenvolvimento.
A perspectiva de que as gerações actuais devem procurar satisfazer as respectivas
necessidades sem comprometer os recursos das gerações futuras passa a introduzir,
desta forma, duas noções: (1) a noção de necessidade que encerra os conceitos de
equidade e de carências fundamentais no universo da pobreza e a (2) noção de limitação
associada aos condicionalismos que o desenvolvimento tecnológico e a dinâmica social
impõem ao meio ambiente.
Considerando esta segunda noção, as necessidades humanas são determinadas
social e culturalmente (Fergus & Rowney, 2005), pelo que é necessária a promoção de
novos valores para que o consumo humano não ultrapasse os limites de regeneração que
a natureza suporta em termos ecológicos.
Resumindo, o desenvolvimento sustentável exige equilíbrio entre o crescimento
económico, as estruturas sociais e a qualidade ambiental. No entanto, permanece a
polémica em torno da responsabilidade que cabe aos diferentes intervenientes neste
processo. Com efeito existe alguma controvérsia que opõe o sector público ao sector
privado, quanto à assunção da responsabilidade social indispensável ao
desenvolvimento sustentável. (Rego, 2007: 170)..
Não obstante a ideia de Responsabilidade Social Empresarial, associada ao
conceito de Desenvolvimento Sustentável, há quem defenda a perspectiva de que a
responsabilidade pelos desequilíbrios gerados pelo mercado é dos governos, a quem
compete a correcção dos desvios que comprometem o equilíbrio ambiental, social e
económico (The Economist, 2005:15).
6. O Bem Comum
Neste modelo de análise em que nos propomos valorizar a dinâmica individual,
devemos sublinhar que o Bem Comum persiste como conceito indissociável. De facto, a
empresa empenhada em assumir-se como socialmente responsável deve reconhecer-se,
de modo inequívoco como membro da sociedade em que está inserida, investindo, não
só nos objectivos que conduzem ao lucro mas também no bem comum e na melhoria da
componente social, (Kok et al. 2001: 287).
Com efeito, a ideia consiste na criação de riqueza de modo justo e eficiente, no
respeito pelos direitos e dignidade dos cidadãos em prol de quem as empresas devem
promover o bem-estar e garantir, em última análise, a harmonia social, (Argandoña,
1997). Podemos observar alguma analogia entre esta perspectiva e a as abordagens
propostas no âmbito da teoria normativa dos stakeholders e do Desenvolvimento
Sustentável.
Mas, segundo Arménio Rego, esta abordagem do Bem Comum tem a vantagem de
não enveredar pelo relativismo moral/cultural característico da abordagem dos
stakeholders e do desenvolvimento sustentável, não obstante algumas similitudes que
ligam estas diferentes linhas de pensamento.(Rego, 2007: 174).
Por outro lado, integra também a perspectiva japonesa Kyosei (Goodpaster, 1999)
que consiste, justamente, em actuar estrategicamente, vivendo e trabalhando em
conjunto com vista ao bem comum. Trata-se de uma perspectiva que esteve na origem
de The Caux Roundtable Principles for Business e que foi adoptada por um grupo de
líderes, constituído por executivos dos EUA, do Japão e da Europa, preocupados com as
ameaças que já se faziam sentir no anos 80 à paz e à estabilidade do mundo em geral .
(Rego, 2007: 174).
Este grupo reuniu-se pela primeira vez em 1986 na Suíça, em Caux, e desenvolveu
um conjunto de iniciativas cujos esforços culminaram em 1994 com a promulgação dos
princípios de Caux (“Comportamento empresarial para um mundo melhor”) .(Rego,
2007: 175).7
Os princípios de Caux, (Caux Round Table, 2009) integram sete conceitos centrais
que consistem, muito resumidamente, na (1) responsabilidade e no (2) impacto
económico e social das empresas, na (3) transparência, no (4) respeito pelas regras, no
(5) apoio ao Comércio Multilateral, no (6) respeito pelo meio ambiente e na (7)
condenação de operações Ilícitas.
Tal como se referiu na introdução a esta abordagem do bem comum, uma das
perspectivas em que se baseiam os sete princípios de Caux, consiste na lógica Kyosei
que em japonês significa “espírito de cooperação” e que, resumidamente, sugere a
necessidade das empresas se assumirem em prol do bem comum.
A outra perspectiva basilar remete para o conceito de dignidade humana. De
acordo com este conceito, o ser humano não é simplesmente um meio para que alguns
atinjam determinados fins nem sequer, considerando os direitos humanos básicos, por
preceito maioritário. A pessoa humana deve ser respeitada e dignificada, quaisquer que
sejam os objectivos empresariais e a dimensão das organizações em causa.
Quanto ao conceito Kyosei, é de referir que foi introduzido pela primeira vez no
mundo empresarial em 1987, pelo então presidente da Canon, Ryuzaburo Kaku, que
identificou três grandes questões que impunham a necessidade de adoptar uma nova
atitude empresarial.(Rego, 2007: 176).
Em primeiro lugar, o grande desequilíbrio nas relações comerciais entre países –
oposição de enormes deficits comerciais dos países mais pobres ao superavit dos mais
ricos. Em segundo lugar o grande desnível de rendimentos entre os países mais ricos e
os mais pobres o que explica as migrações ilegais, as guerras civis e étnicas, os fluxos
de refugiados políticos e económicos; sendo que todos estes cenários têm como pano de
fundo a pobreza extrema.
Finalmente, o consumo excessivo e alarmante de recursos naturais que
comprometerá os recursos disponíveis de forma dramática, num futuro muito próximo,
7 Há cinco ideias centrais em que se baseiam os sete princípios que constituem este documento; (1) o facto dos negócios serem progressivamente mais globais devido à mobilidade do emprego, do capital, dos produtos e da tecnologia, (2) a falta de regulação que discipline a lei e as forças de mercado, (3) a necessidade de responsabilizar as políticas e acções das empresas, (4) a necessidade de partilhar valores e prosperidade e, finalmente, (5) o facto das empresas encerrarem em si mesmas um potencial de mudança social positiva.
sendo altamente provável que, a este ritmo, as próximas gerações herdem o planeta em
estado de “ruína ambiental”. (Kaku, 1997).
Partindo deste princípio, Ryuzaburo Kaku defende cinco ideias centrais; (1) As
grandes multinacionais e transnacionais têm poder para resolver parte substantiva dos
problemas relacionados com a pobreza e com o ambiente; (2) Se não o fizerem não têm
futuro; (3) O conceito-chave para o desenvolvimento destas acções de melhoria consiste
na prática Kyosei; (4) O Kyosei significa “espírito de cooperação” com vista ao bem
comum e implica a promoção de harmonia entre a empresa, as partes interessadas, os
governos e o ambiente. (5) Se a prática Kyosei for adoptada por um conjunto alargado
de empresas, o potencial de resolução dos problemas identificados nos domínios social,
político e económico é enorme.
Face a estes pressupostos, e embora este conceito possa ser considerado
impraticável em termos ideais, a verdade é que, a Canon procurou percorrer os cinco
estádios propostos por Ryazaburo Kaku para incorporar a dinâmica Kyosei, (Rego,
2007: 178)
7. Nota conclusiva
Tal como referimos na introdução, assistimos a um paradoxo, em termos globais.
Com efeito, (no mesmo espaço e no mesmo tempo) coexistem dois mundos muito
diferentes – Um deles cada vez mais ligado e mais pequeno, fundamentalmente por
intermédio das tecnologias de informação e comunicação, e o outro cada vez mais
fragmentado e assimétrico.
A preocupação em torno dos recursos ambientais é, deste ponto de vista e no nosso
entendimento, precisamente a grande oportunidade do ser humano na senda de uma
sociedade com menos assimetrias e ancorada nos parâmetros que definem, de forma
consensual, o conceito de desenvolvimento sustentável.
O indispensável desenvolvimento das economias locais exige que nos centremos nas
pequenas unidades de produção com elevados níveis de exigência em termos de
autonomia e de compromisso ambiental.
No entanto não é possível ignorar as grandes organizações empresariais,
designadamente as mais poderosas com estrutura transnacional, sendo esse o motivo
pelo qual é indispensável o estabelecimento de uma rede apertada e coesa de
cooperação que envolva os indivíduos responsáveis pelos pequenos empreendimentos
(MCC).
Essa ligação deverá desenvolver-se a partir de uma estratégia local e inter-regional,
que pode ser estabelecida com maior facilidade porque existe, nas várias áreas de
produção, um conhecimento profundo e multidisciplinar que pode ser partilhado e
divulgado através das novas tecnologias de informação e de comunicação.
No centro dessa estratégia estaria a sobrevivência e autonomia dos indivíduos e das
populações em detrimento do lucro enquanto objectivo central.
Este trabalho constitui, portanto, uma ponte de reflexão que pretende situar o
exercício da Responsabilidade Social e do Desenvolvimento Sustentável ao nível do ser
humano, individualmente considerado. Sugere-se que o actor social pode recuperar a
sua individualidade e aspirar à sua realização pessoal sem comprometer a coesão das
organizações. Propomos, aliás, que é a partir da realização individual que o actor social
reúne condições necessárias e suficientes para que os projectos colectivos,
organizacionais e institucionais que integra se realizem de forma consequente. O
enfoque no indivíduo e na economia local exige, no nosso entendimento, uma análise
prévia estratégica que permita compreender as motivações e as dinâmicas que animam
os diferentes intervenientes não só em termos colectivos mas sobretudo numa óptica
individual.
O Conceito Geral de Estratégia, sublinha, precisamente, a importância da incerteza,
do exercício do poder e da racionalidade dos actores sociais no seio de organizações em
processos de mudança estrutural. O princípio da simplicidade, o princípio da autonomia
e o princípio do governo pela cultura, (Ibid, 1994:38), são três princípios que integram o
conceito de gestão socialmente responsável, sem dispensar as múltiplas
responsabilidades individuais, condição que considerámos necessária ao
desenvolvimento de um projecto empresarial apostado no Desenvolvimento
Sustentável.
Retomando o conceito de Responsabilidade Social interessa reflectir numa
perspectiva integrativa e ética, sendo que há a considerar a Gestão dos Assuntos Sociais
que encerra, como vimos, duas vertentes; por um lado o objectivo do lucro que embora
permaneça, passa a coexistir com a consciência de que existe um contrato social
indissociável da missão da organização reconhecendo, portanto, a importância
intrínseca da sociedade envolvente. Por outro lado, a inclusão de uma componente de
princípios éticos que vai além dos normativos legais
Há a considerar, a este propósito, a ideia de cooperação e de descentralização da
organização empresarial que remete para a cooperação com os stakolders (Kaku, 1997),
almejando a paz e a prosperidade em detrimento da lógica do lucro como objectivo
central da organização.
De facto, o conceito de responsabilidade social empresarial pré-lucro
(Kang,1995), incorpora a ideia de que o cumprimento da Responsabilidade Social é
indispensável à formação de lucro valorizando-se, sobretudo, a confiança nas relações
humanas e organizacionais, de tal forma que o enfoque na empresa se esbate
valorizando-se o conceito de redes de relacionamento entre stakeholders, (Kang, 1995).
Propomos, assim, como hipótese de trabalho a desenvolver oportunamente, que
as organizações empresariais de pequena dimensão são o verdadeiro rosto das
economias locais e o garante efectivo da liberdade de expressão, da liberdade de escolha
e da plena realização individual e colectiva. Uma vez ligadas entre si através da Malha
de Coesão Cooperativa (MCC), as organizações de pequena e média dimensão obtêm a
robustez necessária para prosperar localmente, embora com uma visão global.
A MCC relaciona causalmente os conceitos de Responsabilidade Social e de
Cooperação através de um conjunto de percepções que sugerimos no âmbito do conceito
de sustentabilidade em matéria de economia local, designadamente a realização
individual em torno de projectos comuns, a percepção de liberdade e de satisfação
pessoal, interiorização dos conceitos de Responsabilidade Social e de Parte Interessada
e, não menos importante, a Consciencialização individual e utilização colectiva dos
mecanismos democráticos numa dinâmica participativa incluindo.
Com esta última percepção, no contexto da Responsabilidade Social destinada à
Economia Local em rede, além das dimensões económica, social e ambiental, também
há a considerar a dimensão política através do aprofundamento da democracia
participativa, conceito este consagrado na Constituição da República Portuguesa, tal
como referimos na introdução deste trabalho.
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INCLUSÃO SOCIAL CORPORATIVA
Henry Julio Kupty, Marta Hiromi Mendes1
RESUMO
O presente artigo tem por finalidade desenvolver uma análise sobre as condições de
trabalho dos portadores de necessidades especiais e a consequente adaptação e adequação dos
processos organizacionais, devido à implantação da Lei de Cotas. São abordados temas
relacionados à deficiência e ao mercado de trabalho no contexto da Responsabilidade Social.
A partir da análise do conjunto desses fatores, pode-se inferir que não somente as empresas
devem promover vagas para os portadores de necessidades especiais por causa da Lei, mas
também gerar a inclusão social dentro do ambiente organizacional, melhorando o ambiente de
trabalho, minimizando o preconceito e incentivando o senso de responsabilidade social para
esse público.
Também, o presente trabalho levanta a reflexão se as empresas adotam as medidas
legais, ou seja, o cumprimento da Lei de Cotas, apenas como forma de evitar a punição legal
através de aplicação de multas, ou se os gestores podem ser sensíveis às causas sociais e
aceitam colaborar para um mundo mais igualitário, e se a inclusão social é praticada apenas
em empresas onde os gestores e os tomadores de decisão das empresas vivenciam situações
similares em seu âmbito familiar ou se de fato sensibilizam-se às causas sociais.
Palavras-chave: Inclusão Social, Portadores de Necessidades Especiais, Processos
Organizacionais.
ABSTRACT
This article aims to develop an analysis of the working conditions of people with
special needs and the consequent adaptation and adjustment of organizational processes, due
to the implementation of the Lei de Cotas. For the theoretical background will be discussed
topics related to disability and the labor market, as well as social inclusion in the context of
the Social Responsibility. It can be inferred that companies should not only promote spaces
1 Henry Julio Kupty – Mestre – Faculdade de Informática e Administração Paulista – Av. Lins de Vasconcelos, 1222
São Paulo – SP – [email protected]
2) Marta Hiromi Mendes – Especialista – Faculdade de Informática e Administração Paulista – Av. Lins de
Vasconcelos, 1222 São Paulo – SP – [email protected]
2
for the people with special needs only because of the law, but also generate social inclusion
within the organizational environment, improving the working environment, minimizing
prejudice and fostering a sense of social responsibility to this public.
In addition, this study causes the reflection if companies adopt legal measures, in other
words, the Law enforcement, just as a way to avoid legal punishment through fines, or if
managers can be sensitive to social causes to accept and cooperate for a more equitable world,
and social inclusion is practiced only in companies where managers and decision makers of
companies experiencing similar situations in their family context or if indeed sensitize
themselves to social causes.
Keywords: Social Inclusion, People with special needs, organizational processes
LISTA DE SIGLAS
AACD – Associação de Assistência à Criança DeficienteABNT – Associação Brasileira de Normas TécnicasAIPPD – Ano Internacional das Pessoas Portadoras de DeficiênciaASSIDEF – Associação de Integração de DeficientesAVAPE – Associação para Valorização de Pessoas com DeficiênciaCID – Classificação Internacional de DoençaCIF – Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e SaúdeCLT – Consolidação das Leis do TrabalhoCPA – Comissão Permanente de AcessibilidadeIBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e EstatísticaICEP – Instituto Cultural, Educacional e Profissionalizante de Pessoas com Deficiência do BrasilMPT – Ministério Público do TrabalhoMTE – Ministério do Trabalho e EmpregoOIT – Organização Internacional de TrabalhoOMS – Organização Mundial da SaúdeONGS – Organizações não governamentaisONU – Organização das Nações UnidasPGE – Procuradoria Geral do Estado de São PauloPNE – Portador de Necessidades EspeciaisPPDs – Pessoas Portadoras de DeficiênciasSACI – Solidariedade, Apoio, Comunicação e InformaçãoSERTE-SP – Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão no Estado de São PauloSINE – Sistema Nacional de EmpregoSIT – Secretaria de Inspeção do Trabalho SRT – Superintendência Regional do Trabalho
UNESCO – United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization
4
Importância, Contexto e Finalidade do Estudo
O ambiente empresarial está passando por mudanças significativas no
comportamento social. É pelo contato com as pessoas, pelas situações, exigências e
experiências que percebemos do que somos capazes e como podemos evoluir. Este
ambiente reflete a maneira como nos comportamos perante a sociedade e como lidamos
com as dificuldades superando limites. Um exemplo de situação que está mudando o
cenário empresarial é a implantação da Lei de Cotas nº 8.213/91 para pessoas com
deficiência, criada em 1991 com o objetivo de fazer com que as empresas tivessem em
seu quadro de funcionários um número mínimo de PNE (Portador de Necessidades
Especiais – termo utilizado atualmente). Tendo em vista a contratação dessas pessoas, é
necessário preparar e adequar o ambiente e, ao mesmo tempo, qualificá-las para os
postos de trabalho, assim como qualquer outra pessoa.
Além de assegurar o direito ao emprego a essas pessoas, a lei também defende a
Inclusão Social Corporativa, tema atual e recorrente como responsabilidade social e
objeto de pesquisa deste estudo. O processo de contratação de PNE dentro das empresas
não proporciona as mesmas facilidades apresentadas normalmente. Para contratar
pessoas com necessidades especiais, as empresas precisam recorrer a outras que prestam
esse serviço, juntamente com ONGs e associações, pois o contato com essas pessoas é
diferenciado no mercado de trabalho.
Objetivos
Este estudo procura identificar soluções para que as empresas consigam adequar
seus processos organizacionais de forma ética, tranquila e satisfatória a fim de receber
os portadores de necessidades especiais. Analisar o ambiente empresarial como um todo
e propor modelos de adaptação às empresas que necessitam adequar seu ambiente para
receber os portadores de necessidades especiais; verificar o processo de contratação dos
PNE, a fim de buscar melhorias; e a consequência do alcance dos objetivos citados
acima é a promoção da Inclusão Social e a percepção natural de Responsabilidade
Empresarial.
5
Justificativa e Contribuições
“Não se trata apenas de integrar essas pessoas à sociedade, requer-se da sociedade uma adaptação para incluir minorias, entre elas, as pessoas com deficiência.”
Romeu Kazumi Sassaki, 2003.
Algumas leis e artigos na Constituição Brasileira tratam do tema da inclusão de
pessoas com deficiência. Os principais são: Lei nº. 7.853 de 1989; Artigo 93 da Lei nº.
8.213 de 1991; Decreto nº. 3.298 de 1999 e Decreto nº. 5.296 de 2004.
A Lei 8.213/91 prevê que as empresas contratem pessoas portadoras de
deficiências físicas, mentais, auditivas e visuais, como também profissionais
reabilitados. A Lei implantada em 1991 estabelece cotas de profissionais deficientes
para a empresa conforme o número de funcionários em seu quadro. As empresas que
não cumprirem a Lei deverão pagar a multa correspondente.
O Artigo 93 define que as empresas com cem ou mais empregados estão
obrigadas a preencher de 2% (dois por cento) a 5% (cinco por cento) dos seus cargos
com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência, habilitadas, na
seguinte proporção:
I – de 100 a 200 empregados – 2%
II – de 201 a 500 – 3%
III – de 501 a 1.000 – 4%
IV – de 1.001 em diante – 5%
O quadro abaixo define qual o regime de contratação do PNE, quais órgãos
fiscalizam o cumprimento da citada lei e caso as empresas não possuam a cota mínima
de PNE definida, o valor estimado das multas.
Regime de Contratação CLT
Quem Fiscaliza
Ministério Público do Trabalho – MPT (prazos negociados)
Superintendência Regional do Trabalho – SRT concede um
prazo para orientar a empresa para o inicio da fiscalização. O
prazo é de 2 meses podendo ser prorrogado para mais 2 meses.
Valor das MultasMínimo: R$ 1.195,72
Máximo: R$ 119.573,00Quadro 1 – Fiscalização
Fonte: Adaptado de Plura Consultoria, [200..]; Administradores, 2008
6
Para integrar a lei é preciso de um Laudo Médico. Esse laudo pode ser emitido
pelo médico da empresa a qual o PNE pertencer, ou por outro médico que possua os
exames comprobatórios em mãos. Outro meio de conseguir a comprovação é por meio
do laudo emitido pelo INSS, que certifica a reabilitação profissional. O médico
responsável pelo laudo deve atestar que a pessoa se enquadre em algumas das condições
supracitadas para integrar a cota, como definida pela Convenção nº. 159 da OIT, Parte I,
art.1; Decreto nº. 5.296/04. O Laudo deve especificar a espécie, o grau ou nível da
deficiência e para ter validade deve ser autorizada a sua utilização na empresa por parte
do empregado, o que torna sua condição pública.
O MTE tem fiscalizado as empresas para verificar se o cumprimento da lei está
sendo aplicado corretamente. As empresas que não cumprirem as determinações legais
estão sujeitas a multas que variam de R$ 1.254,89 a R$ 125.487,95. A penalidade está
prevista no artigo 133 da citada Lei 8.213/91. O Decreto 3.258/99 também definiu em
5% a reserva legal de cargos e empregos públicos. De acordo com dados da Secretaria
de Inspeção do Trabalho em 2004, quatro estados obtiveram resultado zero em relação à
inserção de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Em 2006 apenas um
estado não obteve resultado positivo. Em 2007 todos os estados alcançaram resultados
positivos. E finalmente, de 2005 até hoje 61,9 mil pessoas com deficiência foram
incluídas no mercado de trabalho sob a ação fiscal do MTE.
Portadores de Necessidades Especiais
O entendimento do que é pessoa com deficiência vem evoluindo e sendo
acompanhado principalmente desde a década de 60, quando se formulou pela primeira
vez o conceito de deficiência, que reflete:
“a estreita relação existente entre as limitações que experimentam as pessoas portadoras de deficiências, a concepção e a estrutura do meio ambiente e a atitude da população em geral com relação à questão” (Portal da Saúde - Governo de São Paulo apud Coordenadoria para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência – Corde – do Ministério da Justiça, 1996, p.12).
Após anos de luta por igualdade, esse conceito tem sido discutido e incorporado
em diversos segmentos e sua utilização correta ainda é passível de discussões. No
decorrer deste artigo será utilizada a sigla PNE, mais atualizada, para indicar os
Portadores de Necessidades Especiais. Poderão aparecer siglas como PPD (pessoa
7
portadora de deficiência) ou PCD (pessoa com deficiência), que estavam presentes em
textos mais antigos utilizados nas pesquisas.
Gugel (2006) define deficiência como:
“Toda perda ou anormalidade de estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica de incapacidade ou capacidade parcial (aqui entendida como a impossibilidade ou possibilidade parcial) para desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano, levando-se em conta que a incapacidade é restrita a determinada atividade (andar, ver, ouvir, falar, desempenho intelectual), que não significa incapacidade genérica.”
A OMS, por meio da Classificação Internacional de Funcionalidade,
Incapacidade e Saúde (CIF), define deficiência como “problema nas funções ou nas
estruturas do corpo, como um desvio significativo ou uma perda” (p. 21, 2003).
A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU, 2006),
incorporada à Constituição Brasileira (2008), é composta por cinquenta artigos. Nela
encontram-se normas sobre os direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais
das pessoas com deficiência, definidas em seu artigo 1º como:
“aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas”.
Ainda segundo a ONU (Organizações das Nações Unidas) e de acordo com a Lei
n° 2.542/75:
“termo pessoa portadora de deficiências, identifica aquele indivíduo que, devido a seus “déficits” físicos ou mentais, não está em pleno gozo da capacidade de satisfazer, por si mesmo, de forma total ou parcial, suas necessidades vitais sociais, como faria um ser humano normal”.
O Censo do IBGE (2010) mostra que 45,6 milhões de brasileiros apresentam
algum tipo de deficiência, ou seja, essa parcela representa quase 24% da população
brasileira2. O Censo apontava que a proporção de pessoas portadoras de deficiência
aumenta com a idade, passando de 4,3% nas crianças de até 14 anos para 54% das
pessoas com mais de 65 anos. Os homens predominavam nas deficiências mental, física
e auditiva, enquanto as mulheres tinham predominância nas deficiências motoras (como
subir escadas) e visuais (mulheres acima de 60 anos). Das 45,6 milhões de pessoas que
2 O último Censo realizado com os dados referentes aos portadores de necessidades especiais foi no ano de 2000, que mostrava um total de 24,6 milhões de brasileiros com alguma deficiência – 14,5% da população. O Censo 2010 obteve esses dados por amostragem.
8
se declararam deficientes no Censo de 2010, 38,4 milhões estavam nas zonas urbanas,
enquanto 7,1 milhões estavam nas zonas rurais (IBGE, 20103).
No Brasil a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de
Deficiência define por meio do Decreto Federal nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999,
regulamentando a Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989.
“toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano; sendo permanente aquela que ocorreu ou se estabilizou durante um período de tempo suficiente para não permitir recuperação ou ter probabilidade de que se altere, apesar de novos tratamentos; e é considerada incapacidade - uma redução efetiva e acentuada da capacidade de integração social, com necessidade de equipamentos, adaptações, meios ou recursos especiais para que a pessoa portadora de deficiência possa receber ou transmitir informações necessárias ao seu bem-estar pessoal e ao desempenho de função ou atividade a ser exercida”.
São considerados PPDs (Pessoa Portadora de Deficiência) não somente aqueles
que nascem com deficiência, mas também aqueles que a adquirem ao longo da vida. No
Brasil cerca de 500 pessoas tornam-se deficientes todos os dias, devido a inúmeras
causas como a violência urbana, acidentes ou outros riscos que estamos expostos (ONU,
2006). O termo pessoas portadoras de deficiência foi usado de 1988 até 1993. Líderes
organizacionais passaram a contestar seu uso, pois achavam que indicava que a pessoa
inteira era deficiente, o que não era verdade. Para solucionar o impasse, nos anos 90
criou-se o termo portador de necessidades especiais, que substitui o termo deficiência.
(SACI, 2003).
A inclusão de PNE se efetivou a partir da Declaração de Salamanca (1994)4, que
está respaldada pela Convenção dos Direitos das Crianças (1988)5 e da Declaração
sobre Educação a todos (1990)6. No dia 11 de outubro é comemorado o Dia do
Deficiente Físico. Esta data é de suma importância para milhões de cidadãos brasileiros
e seus familiares. Muitas organizações, como a AACD promovem eventos para
conscientização e prevenção de acidentes, enfatizando a importância da inclusão social.
3 Censo 2010: Resultados Gerais da Amostra, divulgados no site do IBGE.
4 Declaração de Salamanca: elaborada em 1994 defende os princípios, políticas e práticas na área das necessidades educativas especiais. Em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf
5 Convenção dos Direitos das Crianças: elaborada em 1988 com a finalidade de consagrar o princípio do reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos inalienáveis, de igualdade e liberdade, proclamados na Carta das Nações Unidas (1945). Em: http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/direitos/tratado11.htm
6 Declaração sobre Educação a todos: elaborada em 1990. Em: http://unesdoc.unesco.org/images/0008/000862/086291por.pdf
9
Tipos de deficiência
Existem diversos tipos de deficiências definidas por diferentes autores e também
terminologias utilizadas convencionalmente. Serão utilizadas algumas delas:
Deficiência Física, Deficiência Auditiva, Deficiência Visual, Deficiência Mental e
Deficiência Múltipla, sendo que cada uma dessas deficiências possui uma série de
características e níveis (Oliveira, 2006; DEFICIENTE ONLINE, 2004).
De acordo com pesquisas realizadas, é possível perceber que o número de
pessoas portadoras de necessidades especiais residentes nos principais polos e em idade
de trabalhar é uma parcela significativa da população. Depois de anos o mercado de
trabalho está dando valor a esse profissional, que vem buscando seu espaço.
Alguns dos problemas enfrentados pelas empresas no momento de preencher
essas vagas são a falta de qualificação dos profissionais ou o desconhecimento do que é
ser deficiente. Para amenizar essa situação, Ministério do Trabalho propõe ações nas
quais a empresa tem uma ajuda de custo que varia de R$1.101,75 a R$110.174,67.
(PFDC, 2006).
Segundo o Mauro Ribeiro, do INSTITUTO MVC [199..], existem quatro razões
para que as empresas brasileiras optem por recrutar pessoas PNE:
1. Legal : respaldada pela Lei 8.213 /91 que determina que as empresas
reservem cota de vagas para pessoas portadoras de deficiência conforme o
Art. 93. É nítido que poucas empresas estão cumprindo a legislação e muitas
explicam que não aderiram à lei por falta de profissionais qualificados e
também por perceberem que não houve muita adesão por parte de outras
empresas.
2. Funcional : precisará apenas adaptar-se fisicamente às necessidades de
locomoção dos PNE como rampas de acesso, banheiros, estacionamento, e
outras.
3. Responsabilidade Social : as empresas estão cada vez mais assentindo a esse
termo do momento, pois perceberam que consequentemente há uma melhora
em sua imagem, além de ser uma ferramenta de marketing. Também há o
sentimento de exercer a cidadania junto à sociedade.
10
4. Emocional : empresas analisaram que quando se tem como colega de trabalho
um PNE ocorre uma melhora no clima interno, pois as pessoas começam a
valorizar mais o ser humano, ocasionando o aumento da solidariedade entre
os colegas, além dos profissionais se sentirem satisfeitos em trabalhar na
empresa.
O SINE7 disponibiliza em sua página na Internet uma cartilha e dados sobre a
Inclusão de Pessoas com Deficiência no Mercado de Trabalho. As informações são
também para as empresas, além de tirar dúvidas sobre a Lei de Cotas e Deficiência,
aborda tema como a Contratação de Pessoa com Deficiência. Além da cartilha, o site
também coloca a disposição estudos e indicadores sobre pessoas com deficiência no
mercado de trabalho. Nos resultados de 2011, foi possível observar que em todos os
meses há a elevação no número de pessoas com deficiência contratadas. A região
Sudeste apresentou o maior número de contratações, sendo o estado de São Paulo o
local com maior movimentação entre pessoas admitidas e desligadas. Entre as pessoas
contratadas, mais da metade são homens, entretanto comparando-se o saldo de
contratações, o de mulheres foi bem superior no ano de 2011.
Conforme dados do SINE, em 2007 foram disponibilizadas no Brasil 36.837
vagas, sendo que somente 7.206 (20%) foram preenchidas. No estado de São Paulo
apenas 2.122 (11%) das 19.104 vagas foram preenchidas.
Dados divulgados pelo SERTE – SP mostram que em 2009 100 mil PNE
trabalharam em São Paulo, representando 2 % dos deficientes empregados.
Um dos desafios para o ICEP em 2010 foi o de aumentar as contratações de
cadeirantes, segundo o seu presidente, Sueide Miranda:
“O cadeirante ainda sofre certa dificuldade para entrar no mercado de trabalho por conta da falta de cadeiras de rodas com qualidade, acessibilidade e de uma maior conscientização do potencial desses trabalhadores por parte dos empresários”.
A reserva de cotas para deficiente está presente na maioria dos países. Na França
as empresas com mais de 20 empregados reservam 6% de suas vagas e nos EUA e
Reino Unido o judiciário pode fixar cotas quando a empresa não tem mão de obra
disponível (DEFICIENTE EFICIENTE, [200..]).
7 Os dados são disponibilizados pelo Observatório do Mercado de Trabalho Nacional, que é um órgão de assessoramento do MTE (Ministério do trabalho e Emprego).
11
Inclusão Social
"Ratificar a inclusão das pessoas com deficiência numa sociedade com menos pobreza e com mais igualdade na diversidade, onde os instrumentos de coesão sejam também ferramentas para a conquista
da cidadania, da autonomia e da inserção social”. Naziberto Lopes e Lilian Treff, 2008.
Nossa cultura ainda nos mostra uma história muito recente com relação à
Inclusão Social. Pessoas ainda criticam a igualdade de direitos e não é sempre que se
encontram pessoas e empresas dispostas a cooperar com aqueles considerados fora dos
padrões de normalidade estabelecidos por um grupo considerado como maioria.
Entretanto, quando essas pessoas são aceitas, essas diferenças raramente se destacam ou
as impedem de realizar alguma tarefa (dentro de cada possibilidade), e podem
acrescentar muito nos valores morais, éticos e de respeito ao próximo, como todos
recebendo os mesmos direitos e oportunidades. (Adaptado de: BARROS, Jussara.
BRASILESCOLA, 2012.).
Em 1981 a ONU decretou “O Ano Internacional das Pessoas Portadoras de
Deficiência (AIPPD)”. Nessa época percebeu-se que os PNE mereciam os mesmos
direitos que qualquer pessoa. Começam a ser vistas as necessidades de adaptação,
criando-se rampas para promover a “liberdade” de locomoção. O mundo foi se
adaptando para dar as pessoas PNE oportunidades (BRASILESCOLA, 2002).
Conforme pesquisas realizadas em diversas empresas do ramo como o Portal da
Empresa, Instituto do Emprego e Formação Profissional, ONGs e Associações e
principalmente no MTE, que disponibiliza uma cartilha para sanar as dúvidas com
relação à contratação de profissionais PNE.
A ASSIDEF (1998), em contrapartida do que muitas pessoas pensam em relação
a um profissional portador de necessidades especiais, defende que este pode ser alocado
em diversos setores de uma empresa.
Experiências comprovam que em alguns casos, o profissional PNE é capaz de
produzir mais do que um profissional sem deficiência. Isso ocorre pela necessidade que
eles têm de superação, tornando-os assíduos, pontuais e fazendo-os vestir a camisa.
Anualmente ocorre em São Paulo uma feira de tecnologia voltada ao público
portador de necessidades especiais. Nessa feira, chamada REATECH, vários expositores
demonstram as novidades no mercado em relação a produtos e serviços que atendem
12
especificamente esse público alvo. É possível encontrar serviços como o de empresas
que armazenam em seu banco de dados os currículos das pessoas interessadas em entrar
no mercado de trabalho.
Mapeamento do Ambiente de Trabalho
Pessoas com mobilidades reduzidas geralmente se locomovem com ajuda de
alguns equipamentos, como bengalas, muletas, andadores, cadeiras de rodas, ajuda de
cães treinados, no caso de pessoas com deficiência visual. Para incluir essas pessoas no
ambiente de trabalho, é necessário levar em consideração o espaço de circulação,
juntamente com os equipamentos que os acompanham, conforme orientações elaboradas
pela CPA, órgão ligado à Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade
Reduzida da Prefeitura de São Paulo e normas da ABNT NBR (2004) referentes à
acessibilidade.
Para que um ambiente seja adaptado corretamente, não basta apenas colocar à
disposição os equipamentos necessários ou no caso dos cadeirantes, de deixar apenas o
espaço necessário de passagem. Existem padrões e normas a serem seguidas,
estabelecidas por órgãos competentes e que devem ser consultados pela empresa para a
adaptação do ambiente.
Mercado
Aproximadamente 24% da população brasileira possui algum tipo de
deficiência. Segundo uma pesquisa da AACD, dessa população, 81,9% dos lesados
medulares (paraplégicos e tetraplégicos) foram vítimas de algum tipo de acidente
(trauma) enquanto que os demais correspondem a lesões não traumáticas, provocadas
por algum tipo de doença.
Dentre o universo pesquisado, 62,7% vivem na cidade de São Paulo e Região
Metropolitana, 31,6% no interior paulista e os demais em outros estados. Com a Lei de
Cotas cada vez mais fiscalizada e implementada nas empresas gradualmente, o aumento
da demanda de mão de obra qualificada para atender esse mercado é cada vez mais
13
evidente, assim como a necessidade das empresas de se adaptarem para receber
adequadamente essas pessoas.
Histórico e dimensionamento do mercado
Somente na década de 80 houve uma grande movimentação para a inclusão
social. Os anos 80 foram conhecidos mundialmente com a Década Internacional das
Pessoas Deficientes e durante os quais muitos direitos foram conquistados, como o
direito de ingresso ao mercado de trabalho conforme as definições da Convenção 159 da
OIT em 19838 (CHIACCHIO et al., 2007).
O Brasil foi um dos países que ratificaram a Convenção 159 e se
comprometeram a promover ações para admissão e manutenção dos empregos para
pessoas com necessidades especiais.
Em comparação com outros tipos de mercado, este é um segmento do qual não
se têm muitos dados e as estatísticas são recentes. Apenas em 2000 o Ministério de
Trabalho e Emprego passou a fiscalizar a Lei 8.231/91 e efetivar sua aplicação (Virada
Paulista, 2009).
No mês de janeiro de 2010 houve um aumento considerável nas contratações.
Das 153 vagas disponibilizadas no ICEP (Instituto de Capacitação Ensino
Profissionalizante), 83 pessoas foram contratadas. As empresas que se enquadraram
receberam redução da carga tributária incidente sobre os encargos trabalhistas referentes
aos portadores de deficiência física.
Em estudos realizados no Estado de São Paulo em 2010, foi constatado que mais
de 40% das empresas não cumprem a lei de cota para deficientes. 6.682 empresas foram
fiscalizadas em todo o estado de São Paulo nos últimos cinco anos. O número total de
empresas que deveriam cumprir a cota determinada em lei no Estado é de 11.951.
Nessas empresas a previsão de vagas que deveriam ser destinadas a deficientes é de
221.068 e somente 107.324 estão empregados (DEFICIENTEONLINE, 2004 apud
Folha Online, 2010).
Em agosto de 2012, percebe-se ainda que muitas empresas, sem conseguir
cumprir a Lei, estão encontrando alternativas para poupar-se da multa. Em Minas
8 Convenção 159 da OIT em 1983: contém artigos referentes à necessidade de assegurar a igualdade de oportunidade e tratamento a todas as categorias de pessoas deficientes no que se refere a emprego e integração na comunidade. Em: www.vereadoramaragabrilli.com.br/files/leis/convencao_oit.pdf
14
Gerais, uma empresa de manutenção de equipamentos, após negociar com o MPT,
encontrou uma maneira inusitada para cumprir a lei. A companhia atua com manutenção
e montagens de máquinas de mineradoras, e por conta dos perigos da sua atividade, não
tinha como contratar os 25 deficientes estipulados pela norma. A solução encontrada foi
deixar de terceirizar a produção de uniformes e criar uma confecção própria, que desde
janeiro emprega 16 deficientes. (Valor Econômico, 2012).
Podemos observar que existem muitas oportunidades no mercado de
Recrutamento & Seleção para pessoas com deficiência e poucas empresas
especializadas em trabalhar as vagas existentes. O grande desafio que enfrentamos
atualmente é mudar a percepção dos empresários para que a contratação de pessoas
deficientes não seja por obrigação da lei, consolo moral ou filantropia.
Conclusão
O desenvolvimento deste artigo envolveu um trabalho de pesquisa e
conhecimento acerca das condições dos portadores de necessidades especiais e das
condições atuais do mercado de trabalho, já que o tema de Inclusão Social nunca esteve
tão em voga como nos dias de hoje. A motivação para este texto está vinculada à
percepção da necessidade de adaptação das empresas à Lei de Cotas, tendo assim,
conformidade com as leis e a sociedade, sua integridade, e também oportunidades de
crescimento, ganho de imagem, o desenvolvimento da responsabilidade social, além de
dar aos PNE condições de competitividade e acesso ao mercado de trabalho, não
apresentando idéias assistencialistas.
Foi possível observar, depois de realizar pesquisas em diferentes fontes, que o
processo de inclusão social dos PNE se inicia na maioria das vezes com a obrigação do
cumprimento da lei, devido ao pagamento de multas por parte das empresas. Assim
como muitas medidas adotadas em nosso país, os resultados só aparecem quando há o
envolvimento da parte financeira. Nesse processo, foram detectadas diversas
dificuldades enfrentadas pelos PNE, como a má qualificação devido à falta de cursos e
recursos; falta de acessibilidade das empresas (são necessários investimentos em
infraestrutura para proporcionar ganho de mobilidade e autonomia), além da falta de
preparo dos funcionários já empregados, os quais precisam receber treinamento para
que a inserção dos PNE não seja traumática para nenhuma das partes. A competitividade
15
existente no mundo corporativo atual e as dificuldades citadas acima fazem com que a
maioria das vagas disponíveis seja para os cargos mais baixos e com menores salários.
Outro fator importante a ser ressaltado é que as empresas precisam observar se as
pessoas contratadas estão exercendo atividades compatíveis com sua qualificação e que
a deficiência não as impeça de realizar suas funções.
Como foi constatado, hoje já existem no mercado soluções de adaptação na
infraestrutura e tecnologia suficiente para que a empresa possa modernizar suas
instalações, tendo assim maior custo benefício. Foram identificados como oportunidade
no mercado para empresas que desejam atuar na área de consultoria nesse segmento,
alguns fatores como: a falta de preparo das empresas no recebimento e adequação às
novas situações, e também a falta de preparo dos candidatos, a falta de qualificação e a
inexistência de cursos de aperfeiçoamento, a escassez de vagas para PNE e os custos
que as empresas têm para realizar tais adaptações.
O desafio está em adequar a Responsabilidade Social aos princípios que regem a
organização, sem deixar de cumprir a Lei e realizando a Inclusão Social daqueles que
também estão à procura de oportunidades. Também, para superar as dificuldades e
desenvolver o sentido de inclusão é necessário o envolvimento da sociedade, pois
existem barreiras a serem quebradas, tanto nas empresas como entre os próprios
portadores de necessidades especiais e seus familiares. É necessário que haja uma
sociedade justa e uma educação de qualidade na qual as pessoas, independente de suas
limitações ou diferenças, possam ter as mesmas oportunidades de estudo, educação e
trabalho.
Referências
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O Tráfico Internacional de Animais Silvestres Brasileiros: uma análise dos prejuízos ambientais e sociais desta atividade
Lucivânia Pereira Teixeira de Oliveira, Priscila Mara Ribeiro, Renata Rodrigues Teixeira, Renata Giovanoni Di Mauro1
Resumo. O presente artigo trata do tráfico internacional de animais silvestres e suas respectivas rotas e prejuízos. Analisa a legislação vigente ao direito da fauna e o proceder dos órgãos responsáveis pela fiscalização, controle das fronteiras e proteção da fauna brasileira. Por meio deste estudo pretende-se revelar esta atividade, uma vez que existem pouco estudos publicados pertinentes ao assunto, afim de criar uma consciência social das questões éticas, morais, sustentáveis e ambientais envolvidas.
Palavras-chaves: tráfico internacional de animais, rotas e prejuízos ambientais.
Abstract. This article deals with international traffic of wild animals and their respective routes and losses. It analyzes the current legislation related to fauna rights and the procedures of the organizations responsible for surveillance, control of the border and protection of the Brazilian fauna. This article aims at showing such an activity, whereas there are just a few published studies related to this subject, to create social awareness of ethical, moral, sustainable and environmental issues involved.
Keys-words: international traffic, routes and environmental damage.
1 Introdução
Este artigo tem como objetivo evidenciar o tráfico internacional de animais silvestres
brasileiros bem como seus respectivos prejuízos ambientais a fim de fornecer essas
informações para conhecimento e conscientização da sociedade. Esta pesquisa foi
elaborada com base em levantamento bibliográfico, pesquisa exploratória de abordagem
qualitativa, com o uso de questionário com perguntas fechadas ao órgão competente
pela proteção da fauna brasileira e entrevistas com perguntas abertas, roteiro baseado no
questionário anterior, com IBAMA.
O tráfico internacional de animais silvestres é a terceira maior atividade ilícita no
mundo, ficando atrás apenas do tráfico de drogas e armas, respectivamente. No Brasil, ele é
responsável por abastecer de 10 % à 15% deste mercado (PAE, 2012), em que 60% dos animais
1 Lucivânia Pereira Teixeira de Oliveira- Discente de Tecnologia em Comércio Exterior/ FATEC [email protected]; Priscila Mara Ribeiro - Discente de Tecnologia em Comércio Exterior/ FATEC [email protected]; Renata Rodrigues Teixeira - Discente de Tecnologia em Comércio Exterior/ [email protected]; Renata Giovanoni Di Mauro - Prof. Dra. / Orientadora- FATEC [email protected].
1
comercializados são destinado ao mercado doméstico e 40% ao mercado internacional
( DUARTE, 2010) , tendo como principais destinos a Europa, Ásia e a América do Norte. Em
sua maioria, é utilizado o transporte terrestre, mas também podendo acontecer por meio de
transporte aéreo para cruzar as fronteiras brasileiras. Sendo que, de cada dez animais traficados
apenas um sobrevive.
Existem leis que dispõem sobre a proteção à fauna e prevê as punições para esta
atividade. No entanto, as penas aplicadas não são rigorosas, atingindo, no máximo, dois anos de
prisão ao traficante.
Esta atividade resulta em prejuízos ambientais que abrangem desde a crueldade aos
animais (na captura e manejo), biodiversidade, perda com patentes (biopirataria), bem como os
prejuízos financeiros.
2 O Brasil e o Tráfico de animais
Mundialmente o Brasil assume uma posição de destaque quando o assunto é o
tráfico internacional de animais silvestres, que consiste na retirada destes animais, de
seu habitat natural para serem comercializados para diferentes fins. Esta atividade
representa a terceira maior atividade ilícita no mundo, perde somente para o tráfico de
drogas e de armas respectivamente. Isso ocorre, pois, o Brasil é o país com a maior
biodiversidade biológica do mundo (LAVACA, 2000). Todavia, devido a este fato, o
país também é um dos primeiros em relação ao número de espécies em extinção. De
acordo com dados da ONG Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais
(RENCTAS), pelo menos 38 milhões de animais são retirados de seu habitat natural
anualmente (RENCTAS, 2001). Esta situação causa um desfalque à fauna brasileira e
consequentemente, prejuízos ao país, que por muitas vezes são irreversíveis.
O tráfico internacional de animais silvestres brasileiros é uma atividade ilícita
que vem crescendo em grande proporção e sem nenhum tipo de controle, não é possível
obter um valor exato dos lucros provindos desta prática, porém com base em
informações da ONU, estima-se que são movimentados cerca de 15 bilhões de dólares
por ano, com participação do Brasil de 5 a 15% deste valor aproximadamente, mesmo
que 60% do tráfico seja voltados para abastecimento do mercado interno do próprio
país. Devido à grande biodiversidade de animais que o país oferece e lucros tão altos
com esta atividade ilegal, traficantes de outras áreas têm migrado para o tráfico de
animais por ser a terceira atividade ilegal mais lucrativa de todo o mundo. Segundo
informações da ONG Renctas, existem no Brasil aproximadamente 500 quadrilhas
2
voltadas para o tráfico de animais silvestres e as chamadas “mulas” que fazem o
transporte de drogas, agora estão migrando para esta área, pois o lucro obtido é o
mesmo e os riscos apresentados são menores ( FOLHA DE SÃO PAULO, 2005).
Além do lucro obtido pelo tráfico, outro fator que contribui com o crescimento
desta atividade, é a facilidade com que estas operações ilegais ocorrem, muitas vezes
por falha na fiscalização, falta de punição rigorosa ou até mesmo por traficantes que
estão infiltrados nos próprios órgãos públicos com a intenção de aliciar as autoridades
responsáveis. Os traficantes utilizam de subornos, fraudes, falsificam documentos e a
prática de sonegação fiscal, todos estes fatores contribuem com a dificuldade que as
autoridades tem em administrar e punir tais redes criminosas (IBAMA, 2012)
Outros fatores que contribuem com o tráfico, são os avanços nos meios de
transporte que permitem com que áreas antes inacessíveis, agora sejam alcançadas
rapidamente e também a facilidade de comunicação promovida pela tecnologia, através
de celulares e via internet, os traficantes podem realizar cotação, compras, vendas e
obter informações referentes as rotas mais seguras, bem como saber quais são os
animais mais procurados (RENCTAS, 2001).
De acordo com Calheiros (2011) um plano estratégico poderia reforçar o
trabalho do reduzido quadro de fiscais e policiais que são especializados nesta área de
combate ao tráfico que se intensifica cada vez mais e esta afirmação é ratificada pelo
próprio presidente da ONG SOS Fauna, Marcelo Pavlenco Rocha ( ECO
REPORTAGENS, 2011), quando diz que “falta inteligência policial na repressão ao
tráfico de animais”, pois ele alega que a fiscalização e a polícia, poderiam levar em
conta as épocas e locais onde a captura dos animais ocorre com maior intensidade e
frequência, para que desta maneira realizem plantões nestas aéreas evitando assim, a
chegada dos traficantes até as conhecidas “feiras do rolo” onde os animais são
comercializados. Segundo o 1º Relatório da RENCTAS (2001), a existência das feiras
livres ou “feira do rolo”, é outro fator que encoraja os traficantes a continuarem a
praticar o comércio ilegal, pois elas permanecem mesmo que as autoridades tenham
conhecimento de sua existência, desta maneira, sem intervenção, os traficantes gozam
de impunidade.
3 Legislação Aplicável
A primeira lei que dispõe sobre a proteção de animais silvestres no Brasil é a
3
LEI Nº 5.197/67 que em seu Art. 1º estabelece que os animais que vivem na natureza ,
quaisquer que seja a sua espécie , pertence ao Estado, e proibe a caça, distribuição e
apanha destas espécies, devido aos maus tratos e prejuízos ambientais causados
(ROCHA, 1995). Posteriormente alguns artigos desta Lei sofreram alteração pela LEI
Nº 7.653, DE 12 DE FEVEREIRO DE 1988.
A LEI 9.605/98 prevê sanções penais e administrativas derivadas de condutas e
atividades lesivas ao meio ambiente nos artigos 25 ao 69 e os crimes deixaram de ser
inafiançáveis, onde as penas podem até serem substituídas por prestações de serviço a
comunidade (GARCIA, 2008).
4 Finalidade do Tráfico de Animais Silvestres
Há quatro finalidades que alimentam o tráfico de animais silvestres:
colecionadores e zoológicos, fins cientificos (biopirataria), pet shops e animais
comercializados para produtos e subprodutos (DESTRO, 2012).
Os colecionadores dão preferência para animais que estão ameaçados à extinção,
já que são mais valiosos, como as araras azuis, mico-leão-dourado, flamingo,
jaguatirica. Eles são destinados aos países da America do Norte, Europa e Ásia
(RENCTAS, 2001).
As espécies que produzem substâncias químicas, que podem ser utilizadas para o
desenvolvimento de remédios, fazem parte desta atividade ilícita, pois há grande
interesse por parte de pesquisadores em buscar novos animais para remover substâncias
valiozas, que podem valer até US$ 5 mil, como é o caso da surucucu-pico-de-jaca viva,
sendo que o valor de uma grama da substância deste animal extraída, vale por volta de
US$ 3,200 mil ( MAGALHÃES, 2002; RENCTAS, 2001).
Os animais destinados aos pets shops são os mais procurados no território
nacional, mas também são enviados para os pets shops no exterior, como os sagui-da-
cara-branca, meiro, araçari, arara-vermelha, tartaruga, jibóia. O preço destes animais
pode variar entre US$ 500 à US$ 5 mil no mercado internacional (RENCTAS, 2001).
Os produtos retirados dos animais: como peles, dentes, couros, penas, entre
outros, são utilizados na produção de sapatos, bolsas, joias, artesanatos para turistas
4
(RENCTAS, 2001).
5 Prejuízos Ambientais
A prática ilegal de comercializar animais silvestres existe desde a época da
colonização do Brasil. No entanto, os animais que eram pegos na natureza pertenciam
a quem os pegou. No ano de 1934 com a publicação do DECRETO Nº 24.645 ,
entraram em vigor algumas medidas de proteção aos animais, onde não era mais
permitida a negociação e transporte dos mesmos (ROCHA, 1995).
Dentre os prejuízos ambientais, encontra-se o ecológico, no qual esta atividade
faz com que diversas espécies sejam tiradas da natureza todos os anos, o que pode
ocasionar a extinção, e quando acontece o fato, há uma perda relevante de toda a sua
história e a sua genética, e também, pode ocasionar o desequilíbrio do ecossistema , pois
a fauna e a flora são dependents. Podemos exemplificar, utilizando o caso dos pássaros
que muitos dispersam sementes , que por sua vez são importantes para a germinação de
muitas espécies de plantas; e também, os animais que são interdependentes para manter
o equilíbrio da fauna e não ocorrer a superpopulação de uma única espécie.
(FIORILLO, 2010; Renctas, 2001).
Outro prejuízo que é causado por esta atividade é o econômico, pois ele
movimenta uma quantia ilícita em dinheiro muito alta, o que não gera tributos para os
governos arrecadarem, ocasinando prejuízos para os cofres públicos. A fauna também é
importante para o turismo ecológico do país, devido a sua biodiversidade que é
responsável por atrair turistas do mundo inteiro, o que gera receita para o Estado
(RENCTAS, 2001).
Há também o prejuízo patrimonial no qual subprodutos desses animais são
comercializados, principalmete no exterior, para laboratórios (NASCIMENTO, 2010).
Uma vez que um produto é utilizado numa pesquisa e sofre uma pequena
alteração genética, é considerado uma inovação. Assim, faz com que a biodiversidade
brasileira aumente a cobiça, principalmente, de pesquisadores de países desenvolvidos,
alimentando o tráfico de animais, por meio da biopirataria onde retiram do país
substâncias ricas e as patenteiam. (NASCIMENTO, 2010).
5
Outro prejuízo que a atividade pode causar são as doenças. Em muitos casos, as
pessoas que compram ilegalmente estes animais, não sabem sobre a sua saúde ou até
mesmo sobre as doenças que a espécie pode transmitir. Isto pode ocasionar problemas
sanitários graves ao país. Como por exemplo, os primatas que podem transmitir raiva,
febre amarela, hepatite A, toxoplasmose; os quelônios: salmonelose e doença
enterobacteriana e os psitácideos : toxoplasmose e psitacose. São conhecidas mais de
180 doenças que são transmitidas dos animais aos seres humanos , muitas delas podem
causar o óbito se não forem tradadas da maneira devida (RENCTAS, 2001).
6 A Rota do Tráfico Internacional de Animais Silvestres
Traçar com exatidão a rota do tráfico internacional de animais silvestres
brasileiros, assim como os números gerados nesta atividade é uma tarefa praticamente
impossível por conta da ilegalidade e a escassez de documentos e registros sobre o
assunto. Sendo que, quase que a totalidade dos trabalhos publicados referentes ao
assunto tratam das situações nacionais, pois esta representa maior parte desta atividade.
Estima-se que 60% dos animais silvestres brasileiros traficados sejam comercializados
no mercado doméstico e 40% tenha como destino o comércio internacional (PEA,
2013).
O Brasil não é o único país responsável por abastecer este mercado, esta é uma
realidade comum à países subdesenvolvidos. Segundo RENCTAS ( 2001 apud Henley e
Fuller, 1994) são responsáveis por abastecer este mercado países como: Peru,
Argentina, Guiana, Venezuela, Paraguai, Bolívia, Colômbia, África do Sul, Zaire,
Tanzânia, Kenya, Senegal, Camarões, Madagascar, Índia, Vietnã, Malásia, Indonésia,
China e Rússia os quais são responsáveis por abastecer países desenvolvidos, tais
como: EUA, Alemanha, Holanda, Bélgica, França, Inglaterra, Suíça, Grécia, Bulgária,
Arábia Saudita e Japão (RENCTAS, 2001).
No que corresponde ao cenário nacional, o início da rota do tráfico de animais
silvestres brasileiros acontece em sua maioria nas regiões norte, nordeste e centro-oeste,
com a captura dos animais em seus habitats naturais e que ali serão comercializados ou
então, em sua maioria transportados para a comercialização na região sudeste (São
Paulo e Rio de Janeiro) que é considerado o grande mercado consumidor do país pois, é
6
nesta região que os animais serão vendidos em feiras livres ou exportados para os países
consumidores, podendo esses países serem ou não signatários da Convenção sobre o
Comércio Internacional da Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção
– CITES.
Os métodos de transporte clandestino destes animais visam despistar os agentes
de fiscalização aduaneira, negligenciando assim as condições as quais os animais são
movimentados e transportados durante o trajeto e que sempre serão situações precárias e
cruéis sem qualquer cuidado com a segurança, bem como a questões sanitárias
envolvidas, resultando na morte de mais de 80% destes animais (DIALOGO, 2010).
Perdas absurdas pois, mais da metade dos animais traficado morem antes de chegar ao
destino, e ainda, durante o percurso os animais são expostos a altíssimo grau de estresse.
Para driblarem a angústia e agitação dos animais são praticados todo tipo de tortura e
crueldade, como mutilação, cegueira e administração de calmantes e bebidas alcoólicas
(PEA, 2010).
Embora os números de morte dos animais sejam absurdamente alto tal prática é
compensada pelo lucro obtido e falta de aplicabilidade da lei e penalizações resultantes
da mesma, desta forma, evidencia-se o desrespeito claro a vida e dignidade dos animais
assegurados pela Declaração Universal do Direitos dos Animais de 1978 (da qual o
Brasil é país signatário) e que dispõe sobre os princípios a serem estabelecidos em
relação ao direitos dos animais, a vida e o proceder dos homens e, visa criar parâmetros
jurídicos para os países membros da Organização das Nações Unidas. O escoamento
dos animais acontece quase que em totalidade através do modal rodoviário (carros e
caminhões), correspondendo a cerca de 90% , 5% aéreo e 5% embarcações
( RENCTAS, 2001) .
Esta prática está estruturada em uma cadeia social que corresponde a três etapas:
fornecimento primário, intermediário e consumidores. O fornecimento primário consiste
na captura do animal na natureza nas regiões de maior incidência por parte de
populações carente e de baixa renda, como por exemplo, populações ribeirinhas e índios
(que são impulsionados pela falta de opções econômicas, desconhecimento da
esgotabilidade destes recursos faunísticos bem como o desejo de lucro rápido). Já o
fornecimento intermediário consiste na venda dos animais por parte de traficante
intermediário para a população local que tenha interesse em adquirir um destes animais,
além do transporte e movimentação em território nacional para a venda dos animais
7
nos grandes centros comerciais da região Sudeste, bem como negociação e
fornecimento para os grandes traficantes que serão responsáveis por abastecer o
mercado internacional (RENCTAS, 2001). Por fim, os consumidores, que poderão ser
classificados como domésticos ou internacionais, estes por sua vez localizados nos mais
diferentes países.
7 A sociedade e o Tráfico de Animais
Antigamente a sociedade se esforçava para ter um relacionamento harmônico
com o meio ambiente, porém devido ao crescimento da sociedade, do avanço
tecnológico e desenvolvimento industrial, esta relação harmônica aos poucos começou a
desaparecer e perder espaço para a poluição, desmatamento, morte dos rios e animais
(DIBLASI FILHO, 2007). Estes grandes avanços alcançados pela sociedade poderiam
ser utilizados a favor do meio ambiente e na realidade hoje em dia estes meios são
utilizados, pois levam informações com o intuito de conscientizar a população sobre a
importância da proteção ao meio ambiente, porém ocorre que a própria sociedade em
sua maioria, não dá a devida atenção a um assunto que por muitas vezes ouvimos falar,
a sustentabilidade; e utilizam destes meios como facilitadores para as operações do
tráfico.
O tráfico de animais silvestres pode ser considerado como uma questão social,
pois está diretamente ligado a questões de pobreza e miséria, desinformação e
ignorância da população de onde estes animais são retirados, e também, o desejo de
satisfação pessoal dos consumidores ao se adquirir um animal silvestre como animal de
estimação, pois estas características alimentam este mercado (RENCTAS, 2001).
Apesar das dificuldades em levar informações com intuito de conscientizar tanto
a população de regiões fornecedoras como consumidoras, ainda existem muitas
informações vinculadas à internet e demais meios de comunicação, bem como o esforço
de alguns grupos que lutam pela proteção ao meio ambiente e em alguns casos mais
específicos, pela proteção dos animais, a sociedade ainda persiste em querer ter um
domínio sobre a natureza, agindo com cobiça, ganância ou até por necessidade, e desta
forma tornam-se “predadores” de animais através da caça com a intenção de lucrar à
custa da natureza, como se ela a eles pertencesse (DIBLASI FILHO, 2007).
8
8 Conclusão
Diante do exposto é possível notar que os animais silvestres capturados são
provindos das Regiões Norte e Nordeste do país devido à grande diversidade de
espécies existentes. Estas características são responsáveis por atrair o interesse de
pessoas residentes em vários países para diversos fins, eles são transportados para a
Região Sudeste, onde há a maior concentração de feiras clandestinas para a venda local
e internacional (RENCTAS, 2001).
Conclui-se que as rotas utilizadas possuem ou não fiscalização rigorosa, ou em
alguns casos há o aliciamento de agentes responsáveis por este controle, facilitando e
impulsionando a prática desta atividade que acarreta uma série de prejuízos ambientais
(IBAMA, 2012). Desta forma, uma fiscalização mais rigorosa nas rotas e até mesmo
fiscalização rigorosa dos agentes responsáveis, teria como consequência a inibição do
tráfico.
Outra forma de inibir o tráfico é a aplicação de políticas públicas e o
investimento para mudar o pensamento e a cultura da sociedade, pois se não houvesse a
caça de animais e o desejo de se apropriar destes para criação própria ou para outros
fins, não haveria o tráfico de animais e o risco de extinção de muitas espécies
(DIBLASI FILHO, 2007). Nota-se que enquanto os cidadãos comuns, não se
conscientizarem e voltarem à atenção na busca de um mundo sustentável, o tráfico de
animais persistirá. Não basta somente a intervenção das autoridades e fiscalização, é
necessário um esforço coletivo para acabar com a prática destas atividades ilegais e este
estudo se encontra entre um dos poucos existentes e pertinentes ao assunto a fim de
criar uma consciência social das questões éticas, morais e ambientais envolvidas.
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9
BRASIL. Lei n° 7.653, de 12 de fevereiro de 1988. “ Altera a redação dos arts. 18, 27, 33 e 34 da Lei nº 5.197, de 3 de janeiro de 1967, que dispõe sobre a proteção à fauna, e dá outras providências”. Presidência da Republica Casa Civil http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7653.htm (consultado em 07/07/2013).
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(consultado em 15/03/2013).
11
Responsabilidade Social Corporativa e Responsabilidade Socioambiental: um estudo de caso da COEPAD.
Adriana Regina Espíndola1 Rosane Cristina Jacques2 Susany Perardt3
RESUMONeste trabalho relata-se o processo de criação e funcionamento da Cooperativa Social de Pais, Amigos e Portadores de Deficiência (COEPAD), com sede na cidade de Florianópolis em Santa Catarina. Trata-se de uma organização originada pela iniciativa de um grupo de pais, ao se deparar com a necessidade de dar continuidade à educação e formação de seus filhos com deficiência intelectual. Ao processo de criação e funcionamento da entidade, atribuem-se características inerentes às práticas de responsabilidade social corporativa, responsabilidade socioambiental e inclusão social. À luz da literatura, a fundamentação teórica destes conceitos foi elucidada. A análise desses conceitos versus a caracterização do processo de criação e funcionamento da Cooperativa remete a conclusões a cerca, especialmente, da responsabilidade social como prática diária nas ações de sustentabilidade ambiental, por meio do trabalho da reciclagem de papel para a confecção de seus produtos, e na inclusão de pessoas com deficiência intelectual no mercado de trabalho. As ações práticas desenvolvidas pela COEPAD demonstram o quão importante é a iniciativa e a atitude de cidadãos frente aos desafios que se apresentam, sem aguardar ou reclamar por ações do governo, contribuindo para o desenvolvimento sustentável da sociedade brasileira. Os dados de referência para a realização deste estudo foram coletados por meio da entrevista semi-estruturada e da pesquisa documental. O método utilizado foi o estudo de caso, de caráter qualitativo e orientação descritiva. Como resultado deste trabalho verificou-se que as atividades desenvolvidas pela Cooperativa contribuem de forma direta para a consolidação da responsabilidade socioambiental, através do seu papel estratégico e construtivo para a sociedade brasileira.Palavras-chave: Responsabilidade Social Corporativa. Responsabilidade Socioambiental. Inclusão Social.
ABSTRACTIn this work reports the process of the creation and operation of Cooperativa Social de Pais, Amigos e Portadores de Deficiências (COEPAD) established in Florianópolis/ SC. It treats about an organization, originated by a group of parents, It started when they realized about the need of giving a
1 Mestranda do Programa de Pós Graduação em Administração Universitária (PPGAU)/ Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Especialista em Gestão de Pessoas nas Organizações/UFSC. Graduada em Engenharia Sanitária Ambiental/UFSC. E-mail: [email protected].
2 Mestranda em Mestrado Profissional Administração Universitária – PPGAU/Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, Especialista em Gestão de Projetos Financeiros – MBA – CESUSC. Publicação no XXII ENBRA/ VIII Congresso Mundial de Administração. E-mail: [email protected]
3 Mestranda do Programa de Pós Graduação em Administração Universitária (PPGAU) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Especialista em Controle da Gestão Pública Municipal (UFSC). Graduada em Administração pela Faculdade Estácio de Sá de Santa Catarina. Publicação no XXII ENBRA/ VIII Congresso Mundial de Administração. E-mail: [email protected]
1
continue education and formation of their children with intellectual disabilities. The process of establishing and operating the entity, attribute to the inherent characteristics of the practices of corporate social responsibility, environmental responsibility and social inclusion. In light of the literature, the theoretical foundation of these concepts has been elucidated. The analysis of these concepts versus the characterization of the process of creation and functioning of the Cooperative refers to conclusions about, especially the social responsibility as daily practice in environmental sustainability actions, through the work of recycling paper for making their products, and inclusion of people with intellectual disabilities in the labor market. Practical actions undertaken by COEPAD demonstrate how important is the attitude of citizens initiative and the challenges that present themselves, without waiting or claim by government actions, contributing to the sustainable development of Brazilian society. The reference data for this study were collected through semi-structured interviews and documentary research. The method used was the case study, qualitative and descriptive orientation. As a result of this work it was found that the activities of the Cooperative directly contribute to the consolidation of environmental responsibility through its strategic role and constructive for Brazilian society.Keywords: Corporate Social Responsibility. Environmental Responsibility. Social Inclusion.
1 INTRODUÇÃO
A vida em sociedade tem exigido mudanças de valores que interfiram positivamente
no pensamento e nas relações humanas na direção de um comportamento mais equilibrado e
igualitário diante das discrepâncias que envolvem o ser humano e norteiam organizações. A
valorização do indivíduo e a sua identificação como parceiro das organizações fundamentam
temas como a responsabilidade social, que têm sido alvo de discussões e debates que apontam
na direção de inovar nas formas de se organizar.
Nessa temática encontra-se o movimento de grupos organizados dentre outros
formatos, em associações, em cooperativas, que demonstram claramente a prática de projetos
que vem apresentando resultados efetivos nessas áreas nos últimos anos. É o caso da
Cooperativa Social de Pais, Amigos e Portadores de Deficiência (COEPAD), com sede na
cidade de Florianópolis em Santa Catarina.
A COEPAD ao ser criada para propiciar um caminho, e quiçá solução, para as
dificuldades enfrentadas na vida cotidiana de famílias com deficientes intelectuais, se coloca
num patamar de inovação, oferecendo uma nova visão nas formas de organização e utilização
da técnica, a que se refere Santos (2006), e sobretudo aventando a possibilidade de pessoas
desenvolverem suas potencialidades ou capacidades substantivas (SEN,1999), qualquer seja
sua condição intelectual.
Sua atuação na área de reciclagem de papel contribui diretamente para a tônica da
sustentabilidade de recursos naturais, que, ao longo das últimas décadas tem sido alvo de
discussões em nível mundial.
2
Dessa forma, o objetivo do presente estudo consiste na análise da atuação da
COEPAD sob a perspectiva da responsabilidade social e da sustentabilidade ambiental, no
âmbito do cooperativismo.
A análise desses conceitos versus a caracterização do processo de criação e
funcionamento da Cooperativa remete a conclusões a cerca, especialmente, da
responsabilidade social como prática diária nas ações de sustentabilidade ambiental, por meio
do trabalho da reciclagem de papel para a confecção de seus produtos, e na inclusão de
pessoas com deficiência intelectual no mercado de trabalho.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 A RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA
A prática da responsabilidade social corporativa está ainda em desenvolvimento no
Brasil e com grande quantidade de significados em conceitos como de responsabilidade
social, sustentabilidade, voluntariado, ética nos negócios e questões ambientais (MORETTI;
CAMPANÁRIO, 2009). Aliado ao fato de existir diferentes termos que remetem a ideia de
responsabilidade social, ela ainda não possui uma definição unanimemente aceita, porém, de
acordo com Spers e Siqueira (2010, p. 17), baseados no Business Social Responsability
Resource Center, de forma ampla, “[...] a expressão se refere a decisões de negócios tomadas
com base em valores éticos que incorporam as dimensões legais, o respeito pelas pessoas,
comunidades e meio ambiente”.
A responsabilidade social corporativa é a obrigação que uma organização assume
perante a sociedade na qual está inserida, maximizando os seus efeitos positivos e
minimizando os seus efeitos negativos. (BATEMAN; SNELL, 2010).
Para Estender e Siqueira (2007, p.17) as organizações que incorporam os princípios
da responsabilidade social e pratica-os “de forma ética e responsável, perceberão resultados
positivos, como a valorização da sua imagem institucional e de sua marca, fidelização do
cliente, maior capacidade de recrutar e manter talentos e sustentabilidade e longevidade”.
Os principais vetores da responsabilidade social na visão de Ponchirolli (2010) são: o
apoio ao desenvolvimento sustentável da comunidade e região local; a preservação do meio
ambiente; o investimento no bem-estar dos funcionários; as comunicações transparentes; o
3
retorno aos acionistas; a sinergia com os parceiros e a satisfação dos clientes e/ou
consumidores.
A responsabilidade social tem sido disseminada nos últimos anos também devido a
sua ligação com a questão ambiental. Segundo Maximiano (2009, p. 305), “desde os últimos
25 anos do século XX, tem havido um crescente interesse no meio ambiente. Em todo o
mundo existe a consciência de que o ambiente é uma questão sistêmica, que envolve todas as
nações e o comportamento de cada pessoa”. Nesse contexto, organizações das mais diversas
naturezas devem considerar em seu âmbito administrativo a questão ambiental, o que nos
remete à responsabilidade socioambiental.
2.2 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL
Sobre a problemática ambiental, econômica e social, Dowbor (1999) alerta para a
dimensão da capacidade destruidora do sistema capitalista, que atua como péssimo
distribuidor e precário empregador. De acordo com o autor, poderosas tecnologias de
exploração dos recursos naturais têm levado a um impasse planetário.
No contexto da sustentabilidade dos recursos naturais, os resíduos sólidos gerados
diariamente pelas mais diversas atuações do homem em sociedade, têm provocado grandes
estragos, desde a sua geração, devido ao estímulo a um consumo exacerbado de bens e
serviços, passando por seu precário manuseio e destino final em vazadouros a céu aberto ou
lixões. De acordo com a Pesquisa Nacional em Saneamento Básico realizada pelo IBGE em
2008, 50,8% dos municípios brasileiros ainda encaminham resíduos sólidos para lixões a céu
aberto. Trata-se de uma situação que configura um cenário de destinação reconhecidamente
inadequado (IBGE, 2013).
Há de se destacar, porém, que ações concretas vêm sendo implementadas nos últimos
anos. No Brasil, em 1989, foram registrados 58 programas de reciclagem, e em 2008, este
número subiu para 994 (IBGE, 2013). Em Florianópolis são coletados, enfardados e
comercializados uma média de 50 toneladas/mês de resíduos recicláveis (SMHSA, 2013). A
implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS, 2010) demonstra e
reconhece a importância da gestão de resíduos nesse contexto de degradação ambiental, ao
coresponsabilizar a sociedade civil pelo tratamento adequado desde a sua geração, manuseio
até destinação final.
4
Nesse contexto de mudanças de comportamento, com o objetivo de se implementar
uma nova visão de mundo para um desenvolvimento sustentável, o meio ambiente e outros
temas que o cercam em sido alvo de discussão (GIESTA, 2012). Para a autora,
com essa preocupação, também no contexto organizacional, há trabalhos implementando ações inovadoras, como: reestruturação de processos, práticas de responsabilidade social, direcionamento de esforços na educação de funcionários e consumidores, quando se dedicam a trabalhar com a perspectiva do Desenvolvimento Sustentável. (GIESTA, 2012, p. 768).
A ação como processo, dotado de propósito, no qual um agente mudando alguma
coisa, muda a si mesmo (MORGENSTERN, 1960, p. 34, apud SANTOS, 2006), fica
evidenciada no processo de criação e implementação de ações de organizações voltadas para
questões socioambientais. Preocupando-se com o meio ambiente em seus processos
produtivos, aplicando conceitos e pressupostos de desenvolvimento sustentável, as
organizações podem inovar (GIESTA, 2012). A responsabilidade socioambiental vem se
consolidando, oportunizando mudanças para a sociedade contemporânea.
Há de considerar, contudo, as dificuldades inerentes às mudanças de hábitos e
comportamentos individuais e sociais. Para Joerges (2006 apud SANTOS, 2006), as
anomalias organizacionais, reverse salients, resultam da elaboração ou evolução desigual de
um conjunto de tal maneira que quando uma parcela progride outra se atrasa. E nesse sentido,
Santos (2006) refere-se ao termo rugosidade para assinalar a “inércia dinâmica”, o que nos
parece ser uma aceitação passiva de heranças de formas históricas de organização.
Novas alternativas, portando, para diferenciar o processo histórico da humanidade,
como sujeito e não como objeto (Santos, 1998), onde o todo possa evoluir e participar, de
acordo com suas potencialidades, devem ser evidenciadas. Para Santos (1998, p. 78) “é
fundamental, [...], ultrapassar a reconstrução solitária do individuo e transformá-la em ação
social solidária”.
É nesse sentido que a responsabilidade socioambiental dever ser considerada,
implementando-se ações que tragam sentido e significado a indivíduos e grupos. Sen (2000),
ao abordar o desenvolvimento como liberdade, aborda com clareza a cerca da liberdade
substantiva, o que significa assegurar ao indivíduo seu direito de desenvolver suas
capacidades. Para Santos (1998) numa “sociedade verdadeiramente humana [...] as
individualidades florescem plenamente” (SANTOS, 1998, p.78). Para este autor não há
5
liberdade solitária, ou seja, o estar em grupo é fundamental para o desenvolvimento de
qualidades e potencialidades.
Dessa forma, ao se construir um novo olhar para o desenvolvimento sustentável deve-
se considerar propriamente o desenvolvimento do ser humano. Neste sentido é mister o pensar
e a prática de formas de inclusão de indivíduos à margem da sociedade.
2.3 A INCLUSÃO SOCIAL POR MEIO DO COOPERATIVISMO
A inclusão social de acordo com Amaral Jr. e Burity (2006) é uma questão de abertura
e de gestão. A abertura entende-se como a sensibilidade para identificar e coletar
manifestações de insatisfação e dissenso sociais para distinguir a diversidade social e cultural.
Pela gestão percebe-se como crença no caráter quantificável, operacionalizável, de tais
demandas e indagações administráveis através de técnicas gerenciais e da alocação de
recursos em projetos e programas (políticas públicas).
A construção da inclusão social implica diversas formas, de um lado tornou-se parte
do que se propôs alcançar por meio de reformas políticas e econômicas ou com oposição a
tais reformas. De outro lado, os aspectos culturais e identitários tornam-se emblemáticos da
multi-dimensionalidade da dinâmica social, que deriva da importância e da crise dos padrões
tradicionais da ação estatal, ação coletiva anti-status quo, de classificação das relações
sociais, de regulação da economia e de análise sócio-política desses diversos processos
(AMARAL JR.; BURITY, 2006).
Segundo Amaral Jr. e Burity (2006) no caso do Brasil a preleção da inclusão social
quer ser uma expressão de mudança de paradigma – na direção do reconhecimento da
pluralidade das diferenças como elemento das circunstâncias de eliminação vigentes e das
soluções para elas – mas aspira a inscrever tal alteração na conjuntura da generosidade da
cultura brasileira com o outro indivíduo, fazendo acreditar que o problema é essencialmente
econômico e seu enfrentamento será apenas facilitado pelo recrutamento político da cultura.
No contexto da inclusão social cabe salientar as disposições sociais oriundas do
terceiro setor que vem crescendo no Brasil. Esses organismos em sua concepção organizam e
representam a sociedade e substituem o Estado em diversas funções, ao desempenhar
inúmeras atividades, oferecem amplitude à participação social e capacitam os indivíduos para
estarem inclusos como agentes ativos desse processo (DELLA GIUSTINA, 2008).
6
Na medida em que as organizações do terceiro setor não estiverem permeadas pela
lógica instrumental e baseadas em modelos gerenciais, parece possível trabalhar a partir de
outro olhar e com um novo modo de pensar, no qual estas organizações são concebidas e
orientadas na perspectiva social. Outro modelo de organização que também pode atuar nesse
sentido são as cooperativas, que nos remete a apologia da inclusão social em casos como o da
COEPAD.
Segundo Benato (1994, p. 21) “o cooperativismo é uma economia que se baseia na
cooperação e que opera como um sistema reformista da sociedade que quer obter o justo
preço através do trabalho a da ajuda mútua”. É definido pela Lei 5.764/1971, Política
Nacional do Cooperativismo. É uma sociedade de pessoas, com formato e natureza jurídica
própria, e de direito privado. Como tal, devem obedecer a procedimentos legais, normas e
legislação específica (BENATO, 1994).
Cabe ressaltar que entre os ramos que compõem o cooperativismo, destaca-se o ramo
especial fundamentado por meio da Lei 9.867/99. Tal ramo é constituído de cooperativas
formadas por indivíduos menos favorecidos na sociedade, contribuindo para sua inserção no
mercado de trabalho, geração de renda e a conquista da sua cidadania (OCB, 2013).
Dessa forma, o cooperativismo funciona como um instrumento de inclusão social e de
busca de melhorias na vida das pessoas, além de ter a capacidade impar de integrá-las ao
mercado de trabalho e à própria sociedade, operado através de processo de deliberação
coletiva.
3 METODOLOGIA
Para consecução do objetivo deste artigo, o qual consiste na análise da atuação da
COEPAD sob a perspectiva da responsabilidade social e da sustentabilidade ambiental, no
âmbito do cooperativismo, foi necessário percorrer um caminho metodológico que
viabilizasse este estudo.
Neste caso, utilizou-se a taxionomia apresentada por Vergara (2007) que classifica os
tipos de pesquisa quanto aos fins e quanto aos meios.
Quanto aos fins, esta pesquisa caracterizou-se como descritiva, porque expõe as
características de determinado fenômeno, neste caso as ações desempenhadas pela COEPAD
que contribuem para o crescimento eficiente e socialmente responsável e de modo sustentável
perante a sociedade na qual está inserida.
7
Quanto aos meios, a pesquisa foi bibliográfica, documental e estudo de caso.
Bibliográfica, uma vez que a fundamentação teórica e metodológica foram delineadas e
exemplificadas com base na literatura existente, e documental porque foram consultados
documentos institucionais e internos à Cooperativa estudada, como por exemplo o Estatuto
Social, site, documentos, entre outros. Caracterizou-se também como um estudo de caso, pois
se concentrou no exame profundo de uma unidade de pesquisa, no caso específico, a
COEPAD.
Os dados obtidos para atingir o objetivo desta pesquisa foram classificados em
primários e secundários. Os dados secundários são aqueles que já foram coletados, ordenados
e tabulados e, neste caso foram obtidos em documentos institucionais e internos da própria
Cooperativa. Os dados primários são aqueles coletados com o propósito de atender as
necessidades desta pesquisa, e segundo Mattar (1999, p. 188), o método da comunicação
“consiste no questionamento verbal ou escrito, dos respondentes, para obtenção dos dados
desejados”. Assim, o instrumento utilizado para viabilizar a coleta dos dados primários foi à
entrevista semi-estruturada, de caráter não disfarçado e com questões abertas, aplicada junto
aos responsáveis pela gestão e produção de materiais em março de 2013, além da observação
em campo das pesquisadoras na visita à organização durante o expediente de trabalho da
cooperativa.
A análise dos dados primários e secundários levantados na pesquisa serviu de base
para a compreensão deste estudo e para o alcance do objetivo geral proposto pelo artigo. Para
Richardson (1999, p. 79), a abordagem qualitativa é uma “[...] forma adequada para entender
a natureza de um fenômeno social”. Assim quanto à abordagem, esta pesquisa é qualitativa,
na medida em que os dados coletados foram interpretados e compreendidos pelas
pesquisadoras.
4 RESULTADOS DA PESQUISA
4.1 CARACTERIZAÇÃO DA COEPAD
A Cooperativa Social de Pais, Amigos e Portadores de Deficiência (COEPAD) é uma
entidade social que foi fundada oficialmente no ano de 1999, e conforme seu Estatuto Social
enquadra-se na categoria de cooperativa Especial, sendo pioneira no Brasil no modelo
“Cooperativa Social”, criada pela Lei n° 9.867/99. Além de ser regida particularmente por
8
esta lei, a COEPAD também rege-se pela lei n° 5.764/71 que dispõe sobre a criação e
funcionamento das cooperativas sociais (COEPAD, 2012b).
A ideia de criação da Cooperativa surgiu no final do ano de 1998 com o término de
um projeto do Colégio Coração de Jesus (CCJ) que abrigava um grupo de jovens com
deficiência nas salas de educação especial. Ao se deparar com esta situação, um grupo de pais
e amigos de portadores de deficiência intelectual reuniu-se com o intuito de buscar soluções
para proporcionar ocupação aos jovens que frequentavam aquelas salas. Após algumas
reuniões na qual foram discutidas algumas alternativas, decidiu-se então pela cooperativa
devido à facilidade de se iniciar um trabalho com poucos recursos e mantido pelos pais
(COEPAD, 2012c).
As atividades se iniciaram com a instalação de duas oficinas: a de papel artesanal que
reciclava papel recebido em doação da comunidade, e a de fralda descartável, sendo esta
última desativada devido ao seu alto custo (COEPAD, 2012c). Na sequência, devido ao
crescimento, passou a utilizar o papel artesanal para confecção de outros produtos como
blocos, caixas, cartões, envelopes, entre outros produtos (COEPAD, 2012a). Além da oficina
de papel artesanal foram criadas outras oficinas: a da cartonagem, de acabamento gráfico, de
serigrafia e a de corte e costura (COEPAD, 2012c).
Atualmente, a COEPAD possui 43 cooperados (não incluindo pais, amigos e
voluntários), está sediada em um novo espaço, localizado no bairro Estreito em
Florianópolis/SC e possui uma nova identidade visual. O trabalho da Cooperativa continua no
“atendimento a novos cooperados e familiares, no aumento de sua produção e na conquista de
sua sustentabilidade como organização”. (COEPAD, 2012a).
O alvo principal da COEPAD são as pessoas com deficiência intelectual, sendo que
os seus cooperados são classificados em três grupos de associados (COEPAD, 2012c).Para ser
um cooperado da categoria de deficientes, é necessário que a pessoa tenha uma deficiência
intelectual, tenha mais de 18 anos, ou seja, a idade mínima para pertencer à entidade, quanto à
idade máxima não se trata de um critério exigido. O candidato a ser um cooperado
primeiramente é entrevistado junto com seus pais pelos profissionais da COEPAD, mediante
o aceite do mesmo, este deve passar por um período de adaptação, em torno de três meses,
onde é avaliado as reais condições de executar as tarefas solicitadas. Também e por parte da
família desse deficiente, a indicação de uma pessoa para trabalhar como voluntária. O tempo
de permanência no quadro de cooperados não é limitado, isto é designado pela adequação e
motivação dos mesmos.
9
O objetivo maior da COEPAD consiste no direito de ser e estar feliz, aprender,
trabalhar e fazer parte da sociedade. É um espaço para proporcionar capacitação e trabalho às
pessoas com deficiência intelectual, resgatando a sua autoestima, o exercício da cidadania e a
conscientização da sustentabilidade. (COEPAD, 2012c).
4.2 ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES COLETADAS
A COEPAD é uma entidade social que não visa o lucro. Os recursos provenientes da
venda dos seus produtos são revertidos para a manutenção da Cooperativa, aquisição de
matérias-primas e para o pagamento de um salário simbólico aos cooperados pertencentes à
primeira categoria, ou seja, os deficientes intelectuais. Cabe destacar que esta entidade recebe
anualmente encomendas de aproximadamente trinta empresas em sua maioria catarinense,
entre elas: Attitude Promo Eventos, Badesc, Bela Calha, Colégio Catarinense, Escola do
Legislativo, Fecomércio, Floripamanha, Guga Kuerten Participações, Hippo Supermercados,
ICOM – Instituto Comunitário da Grande Florianópolis, IGK – Instituto Guga Kuerten,
Natubrás, OCESC – Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina,
Grupo ORCALI, PROSUL – Projetos, Supervisão e Planejamento Ltda., entre outras.
De acordo com os entrevistados, a COEPAD utiliza resíduos sólidos em duas frentes
de trabalho. A primeira é definida como a linha de produção do papel artesanal (Oficina do
Papel Artesanal), recebe papel A4, listas telefônicas, revistas, rolinhos de papel higiênico e de
papel-toalha da comunidade em geral e de empresas como, por exemplo, Prosul, Previsc,
Instituto Guga Kuerten. A reciclagem de papel é realizada na Cooperativa é um processo
contínuo na medida em que a Oficina de Papel Artesanal produz o papel diariamente, são
produzidos em média 100 folhas de papel reciclado por dia.
Os resíduos são selecionados na Oficina de Papel Artesanal (são retirados clips,
grampos, plásticos, entre outros) e levados para o depósito. O processo de reciclagem nesta
Oficina inclui a trituração do material, a obtenção da massa, a tintura, até chegar à tela e à
secagem do papel reciclado artesanalmente. Após esse processo o material é enviado a
Oficina de Cartonagem que produz produtos como blocos, cadernos, agendas, porta-
rascunhos, cardápios, pastas de eventos, embalagens, etc.
Quanto segunda a linha é a de produção de sacolas ecológicas (Oficina de Corte e
Costura), recebe retalhos e lonas de propaganda, doados pela Dudalina, Imobiliária Brognolli
e Busch & Cia., dentre outros, e também os tecidos e demais assessórios são comprados pela
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COEPAD com os recursos oriundos das vendas de seus produtos. Nessa oficina são
produzidas sacolas, bolsas e embalagens ecológicas por meio de materiais: tecido não tecido
(TNT) ou em lona de algodão, desenvolvem produtos personalizados e sob encomenda. A
personalização desses produtos é finalizada na Oficina de Serigrafia.
Convém enfatizar que os resíduos sólidos são doados à Cooperativa pelas famílias e
amigos dos cooperados, por algumas empresas, por pessoas que tomam conhecimento da
COEPAD e procuram contribuir e pela comunidade em geral. O recebimento deste material é
praticamente de modo diário. A instituição ainda não possui condições físicas e humanas para
a coleta dos resíduos sólidos, então, eles são levados diretamente pelas pessoas.
Mediante a explanação do modo de produção da COEPAD, relata-se que tal
Cooperativa possui um portfólio diverso de produtos, além dos já citados, também
confecciona canudos de formatura para a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),
instituição que apóia e divulga o trabalho da COEPAD, haja vista, o principal ponto de venda
é uma loja no Centro de Cultura e Eventos da UFSC. Além disso, os produtos da COEPAD
podem ser adquiridos na sua própria sede, em feiras e exposições, o qual a Cooperativa
participa, como por exemplo, a Feira da Esperança, evento anual em Florianópolis.
De acordo com a entrevista, as práticas de sustentabilidade são inerentes no processo
de reciclagem de papel, principal ação da COEPAD, pois tem influenciado, de acordo com os
entrevistados, outras efetivas ações para a preservação de recursos naturais. As ações de
conscientização e educação realizadas pela diretoria aos cooperados no uso racional de água e
energia elétrica são diárias e, além disso, conforme relatou os entrevistados, estas ações
influenciam na adoção de novos hábitos no ambiente familiar dos cooperados e
consequentemente é disseminado para outras pessoas. Cabe destacar que a conscientização
sobre práticas de reciclagem levam a minimização da poluição do meio ambiente e a
diminuição da quantidade de lixo que é encaminhada aos aterros sanitários, ocasionando a
prática da sustentabilidade. Inserido nesse compromisso de conscientização do meio
ambiente, têm-se o resultado de ações que visam à conservação ambiental, como é o caso da
confecção do papel-semente. Durante a fabricação do papel são colocadas sementes, como
por exemplo, de rúcula, salsa, cravo e da flor boca-de-leão. O papel-semente é inserido em
artigos de papelaria e o adquirente do produto pode destacar esta folha e plantar as sementes.
A reciclagem do papel tem chamado atenção, não apenas pela racionalização desse
recurso, mas pela criatividade e otimização dos produtos que são ofertados a uma crescente
clientela que preza pela qualidade, e reconhece o trabalho social realizado.
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Em sua forma de operacionalizar o fluxo de atividades produtivas e comercialização
de seus produtos, a COEPAD demonstra a real possibilidade de manter o foco em indicadores
qualitativos e quantitativos, sustentando, portanto, não somente o aspecto estratégico, mas
acima de tudo o aspecto social e ambiental de modo sustentável.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pessoas que possuem deficiência intelectual são em geral discriminadas,
permanecendo às margens da sociedade. Para suas famílias, são comuns as dificuldades, tanto
no âmbito emocional, como no trato da vida cotidiana. Neste contexto, considera-se como
originalidade neste artigo a fundação no Brasil da COEPAD como primeira cooperativa social
do ramo especial voltada para a inclusão de deficientes intelectuais. Tal o caráter social da
COEPAD reside justamente no fato de acolher pessoas com este tipo de deficiência num
ambiente de trabalho, fazendo-as sentirem-se parte constitutiva do processo produtivo,
inerente à vida em sociedade, e propiciando aos familiares, amparo e sentido de vida em
comunidade, onde um aporte é encontrado.
Aliado a essa temática, a COEPAD ao alicerçar o seu processo produtivo na
reciclagem de papel, contribui para a racionalização de recursos naturais e, tão importante,
quanto, para a conscientização na direção de ações que visam à sustentabilidade. Esta
contribuição é constatada na mudança de hábitos de seus cooperados, da comunidade e de
organizações ao tomarem conhecimento da sua prática social e ambiental.
O trabalho desenvolvido pelos cooperados deficientes lhes resgata a autoestima, e
contribui para um nível de autonomia e independência. À pessoa com deficiência é oferecido
um espaço para o autodesenvolvimento e ampliação de suas potencialidades, permitindo-lhes
o contato com outras pessoas, inclusive sem deficiência, o que gera nos cooperados um
sentimento de equidade com as demais pessoas.
Deste modo é inerente a conclusão de que o processo de implementação e
funcionamento da COEPAD contribui diretamente para a sustentabilidade ambiental. Seu
trabalho na área de gestão de resíduos sólidos consolida uma atuação co-responsável. Além
do acolhimento de deficientes intelectuais ao colocar a reciclagem de papel como processo
produtivo, sua contribuição vai mais além de mudanças individuais, abrangendo de modo
substantivo e instrumental a sociedade civil onde está inserida. A contribuição substantiva
12
leva a mudanças de comportamento e valores, e a instrumental, corrobora para
sustentabilidade de recursos naturais.
De forma mais ampla, é disseminada a conscientização e a transformação de hábitos,
como a separação de resíduos, a racionalização da água e de energia elétrica nas residências
de familiares dos integrantes da cooperativa, e no próprio ambiente interno de trabalho. A
partir de comportamentos diferenciados a sensibilização pode ocorrer em rede, beneficiando
amplamente a sociedade.
A COEPAD é um exemplo vivo da união de pessoas “diferentes” para o alcance de
um objetivo em comum, que sozinhas certamente não alcançariam. Práticas como esta
evidenciam a importância da participação efetiva dos diversos atores sociais e apresentam
como resultado a emancipação do deficiente intelectual, integrando-o à sociedade.
Como conclusão final, constata-se que a iniciativa do grupo de pais, ao implementar a
COEPAD se apresenta como uma prática da consolidação dos conceitos de responsabilidade
social, sustentabilidade e inclusão social. Demonstra o desenrolar de um processo criativo de
busca de soluções inerente ao potencial humano.
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15
Responsabilidade Social E Sustentabilidade Empresarial Para O Desenvolvimento Regional – O Caso Da Edia, S.A.
Mestre Maria Luísa Silva e Prof.ª Doutora Fátima Jorge 1
RESUMO
A partir da análise teórica dos conceitos de desenvolvimento sustentável, responsabilidade social e sustentabilidade empresarial, é destacada a relação entre desenvolvimento regional e estratégias de sustentabilidade empresarial que integrem práticas de responsabilidade social.
Abordadas à luz da estratégia de desenvolvimento regional Alentejo 2015 reflectimos sobre as práticas de responsabilidade social adoptadas pela EDIA, S.A., uma sociedade anónima de capitais exclusivamente públicos. Procurámos identificar o tipo de estratégia de Responsabilidade Social desta organização e concluímos que, alinhada com a estratégia, a Responsabilidade Social pode constituir um forte motor de crescimento que conduz à sustentabilidade empresarial e desenvolvimento sustentável.
PALAVRAS-CHAVE: Desenvolvimento Sustentável, Responsabilidade Social, Sustentabilidade Empresarial.
CORPORATE SOCIAL RESPONSIBILITY AND SUSTAINABILITY FOR
REGIONAL DEVELOPMENT - THE CASE OF EDIA, SA
ABSTRACTFrom the theoretical analysis of the concepts of sustainable development, social responsibility and corporate sustainability is highlighted the relationship between regional development and sustainability strategies that integrate corporate social responsibility practices.Addressed in the light of regional development strategy in 2015 Alentejo reflect on the practices of social responsibility adopted by edia, SA, a limited company wholly publicly owned. We sought to identify the type of Social Responsibility strategy and conclude that this organization, aligned with the strategy, social responsibility can be a strong driver of growth that leads to corporate sustainability and sustainable development.
KEYWORDS: Sustainable Development, Social Responsibility, Corporate Sustainability.
1. Introdução
O processo de globalização que tem vindo a exigir por parte das organizações
elevados níveis de competitividade, em muito tem potenciado a implementação de
actividades que nem sempre são compatíveis com as necessidades das comunidades
locais e regionais e com o próprio ambiente, assistindo-se por vezes à secundarização de
1 Mestre Maria Luísa Silva ([email protected]) e Prof.ª Doutora Fátima Jorge ([email protected]) – Universidade de Évora; Artigo escrito tendo como base a Dissertação intitulada “Do Desenvolvimento Sustentável à Sustentabilidade Empresarial: Um estudo regional multi-casos” para obtenção do grau de Mestre em Gestão – Recursos Humanos, da autoria de Maria Luísa F. de C. e Silva, em Fevereiro de 2012.
interesses sociais e ambientais em prol de interesses exclusivamente económicos.
Quando isto acontece é porque algo não está contemplado, isto é, há pelo menos um
princípio que não é verdadeiramente considerado.
Numa altura em que a pobreza e a exclusão social teimam em persistir, embora
as empresas se sintam incapazes de resolver por si só tais problemas, têm, no entanto,
mais consciência de que o seu empenho pode revelar-se muito positivo no quadro de
influências que também podem exercer, se falarmos na criação de emprego, e da
elevação do nível de bem-estar, satisfação social e conhecimento, pela educação e
formação. Parece, pois, óbvio, que uma empresa assuma o compromisso do
desenvolvimento sustentável, numa abordagem que considere todas as partes
interessadas, desviando-se, assim, do objectivo único da obtenção do lucro.
Com o intuito de analisar práticas de responsabilidade social em organizações
do Alentejo, ao verificar de que forma é que estas podem constituir ferramentas de
desenvolvimento sustentável, impõe-se também a sua abordagem, ainda que muito
breve, à luz da estratégia Alentejo 2015, já que se acredita ser essencial uma atitude de
cooperação interinstitucional entre Estado, empresas e organizações da sociedade civil,
para uma efectiva promoção da responsabilidade social empresarial.
2. Do Desenvolvimento Sustentável à Sustentabilidade Empresarial
No final deste ponto iremos compreender como é que as empresas poderão
incorporar novos conceitos e valores, que passam pelo respeito pelo ser humano,
ambiente e interligação com a comunidade envolvente em que se integram, potenciando
assim não só a sua sustentabilidade mas concorrendo também para um desenvolvimento
local e regionais sustentáveis.
2.1 O CONTEXTO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
A sustentabilidade, tema tão actual em pleno século XXI, já há muito que é
uma preocupação, mas é no século XX que os temas associados ao ambiente começam a
integrar a teoria económica. Se em 1980 a World Conservation Strategy refere que
“para o desenvolvimento ser sustentável tem que ter em consideração os factores sociais
e ecológicos, bem como os económicos, os recursos vivos e não vivos bem como as
vantagens de longo e curto prazo de uma acção alternativa”, o Relatório Brundtland
(1987), refere-se ao desenvolvimento sustentável como aquele que “garante a satisfação
das necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das gerações futuras em
satisfazer as suas próprias necessidades”. É também em Brundtland que se faz
referência à importância que a tecnologia e o comportamento humano exercem na
alteração do padrão de crescimento, através da mudança dos hábitos de consumo,
defendendo que os agentes económicos “que são mais influentes deveriam adoptar
estilos de vida adequados aos limites ecológicos do planeta”.
Só em 2002, na Cimeira Mundial para o desenvolvimento sustentável, em
Joanesburgo (Nações Unidas, 2002), que pretendia promover a contenção da
degradação ambiental e o combate à pobreza, foi declarada a necessidade de reforçar os
pilares do desenvolvimento sustentável – desenvolvimento económico,
desenvolvimento social e protecção ambiental, aos diferentes níveis: local, nacional,
regional e global.
Em 2001, a Comissão Europeia elabora o documento “Uma Europa sustentável
para um mundo melhor: uma estratégia da União Europeia para o desenvolvimento
sustentável”, que veio a ser aprovado no Conselho Europeu de Gotemburgo, traduzindo
a estratégia europeia para o desenvolvimento sustentável. Nessa estratégia podem ler-se
propostas, os principais objectivos, medidas específicas e de monitorização (Comissão
das Comunidades Europeias, 2001).
2.2 O Contexto da Responsabilidade Social das Empresas
O conceito de responsabilidade social das empresas refere-se à
responsabilidade que estas deverão assumir na gestão das suas organizações, olhando
muito para além do lucro imediato e dos tradicionais rácios económicos.
Ao longo do século XX e já neste século, a responsabilidade social das
organizações tem sido objecto de inúmeras investigações académicas e com elas têm
surgido várias definições. Mesmo na década de 50, a responsabilidade social, associada
ao tema da ética, já integrava a gestão no contexto empresarial das empresas
americanas, como Carroll veio sintetizar através da sua pirâmide com quatro níveis, em
que destaca a Responsabilidade Económica como base que sustenta as outras e que
surgem sequencialmente. Pressupõe assim que, para se tornar socialmente responsável,
a empresa tem que passar por várias etapas, tendo-se, de baixo para cima, o seguinte
(1979, 1999 apud Almeida, 2010, p. 63): Responsabilidades económicas;
Responsabilidades legais; Responsabilidades éticas; Responsabilidades filantrópicas.
É a Freeman (1984) que se atribui a origem da teoria dos stakeholders, quando
este autor publica o primeiro livro sobre a função que o envolvimento com os
stakeholders deverá ter na estratégia empresarial. O âmago da questão reside no facto
de a direcção das empresas não se dever cingir apenas aos interesses dos accionistas/
proprietários – mas também aos interesses de outros stakeholders (partes interessadas),
nomeadamente os empregados, os gestores, a comunidade local, os clientes e os
fornecedores.
Elaborado pela Comissão Europeia, com o objectivo de debater o conceito de
responsabilidade social da empresa, incentivar o desenvolvimento de práticas
inovadoras e promover parcerias para a sua concretização, o “Livro Verde: Promover
um Quadro Europeu para a Responsabilidade Social das Empresas”, veio, em 2001,
reforçar a estratégia europeia para a responsabilidade empresarial. Nele se descreve a
responsabilidade social das empresas como “um conceito segundo o qual as empresas
decidem, numa base voluntária, contribuir para uma sociedade mais justa e para um
ambiente mais limpo.” Em Julho de 2002, a Comissão Europeia apresenta um outro
documento de referência – a comunicação “Responsabilidade social das Empresas: um
contributo das empresas para o desenvolvimento sustentável”, definindo aí que “cabe às
organizações a adopção de uma atitude de responsabilidade social, no quadro de uma
dinâmica de integração entre todos os agentes envolvidos nas suas actividades”
(Comissão Europeia, 2002, p. 347).
Seguindo Santos et al. (2005, p. 31), a dimensão social integra as acções
orientadas para a gestão do elemento humano que compõe a sua matriz social
(componente interna) e as acções orientadas para a comunidade envolvente
(componente externa). A dimensão social interna inclui acções relativas ao local de
trabalho e é essencial para os bons resultados da empresa, dado que a produtividade, a
inovação e a qualidade dependem dos níveis de motivação e satisfação dos
trabalhadores da empresa. Nesta dimensão podem incluir-se práticas de
responsabilidade social ligadas a: Gestão de Recursos Humanos; Informação e
Comunicação; Serviços Sociais; Gestão da Mudança Organizacional; Empregabilidade;
e Saúde, Segurança e Higiene do Trabalho. Na dimensão social externa integram-se
práticas destinadas aos agentes externos da empresa, incluindo a comunidade local. Na
dimensão económica as empresas relacionam-se com três tipos de parceiros: clientes,
fornecedores e investidores ou accionistas. “A responsabilidade ambiental das empresas
passa pela integração das questões ambientais na gestão estratégica, atribuindo-lhes a
devida importância, a par das questões de carácter económico e social” (Santos et al.,
2005, p. 51). “A componente interna da responsabilidade ambiental das empresas
refere-se, de uma forma geral, à adopção das políticas e procedimentos internos que
conduzem a uma melhoria contínua do desempenho ambiental e à sua introdução no
quotidiano da actividade das empresas” (Santos et al., 2005, p. 52). Por sua vez, a
componente externa está ligada “à interacção das empresas com os seus parceiros
externos, nomeadamente fornecedores, clientes, comunidade em geral, organizações não
governamentais de ambiente, entre outros” (Santos et al., 2005, p. 53).
2.3 A Sustentabilidade Empresarial
Organizações governamentais e não governamentais, empresas públicas e
privadas e, de um modo geral, toda a sociedade, têm vindo a assumir o conceito de
desenvolvimento sustentável. As empresas têm vindo, continuamente, e de um modo
crescente, a movimentarem-se no sentido da sustentabilidade empresarial, muito devido
aos novos requisitos legais que implicam custos financeiros, mas também à consciência
de que a integração de variáveis ambientais e sociais pode potenciar a criação de
oportunidades de negócio, com consequências positivas na criação de valor económico.
Sustentabilidade empresarial significa a capacidade de gestão de uma actividade
empresarial e a criação de valor de longo prazo, simultaneamente à criação de
benefícios sociais e ambientais para os seus stakeholders. Parafraseando, Porter e
Kramer (2002, p. 68), “não há nenhuma contradição entre melhorar o contexto
competitivo e denotar um sério empenho no melhoramento da sociedade.”
Ao integrarem a gestão de riscos e oportunidades dos domínios ambiente e
social, as empresas terão capacidade de antecipar estes factores, com resultados no seu
desempenho económico. Através da gestão integrada da responsabilidade social será
possível a criação de valor. Por outro lado, é possível transformar riscos em
oportunidades, quando a existência de falhas de mercado associados ao surgimento de
problemas ambientais e sociais tem impacto no sector privado. A sustentabilidade
empresarial traduzir-se-á na transformação desses problemas em novas oportunidades
de negócio, a que se associam benefícios económicos, capacidade produtiva, criação de
emprego qualificado e boas condições de trabalho.
É agora evidente a importância de as empresas conseguirem antecipar riscos,
mas também as necessidades de todos quantos com ela se relacionam. Para isso será
necessário o diálogo com todos os stakeholders, inquirindo-os sobre as suas
expectativas e necessidades, para que, em conjunto, consigam analisar forças, fraquezas,
oportunidades e ameaças.
De um modo mais sustentável, as empresas terão maior possibilidade de
acrescentar valor aos negócios se, para além do diálogo com os stakeholders,
conseguirem envolver todos os departamentos que a compõem, integrando a
sustentabilidade num modelo de gestão em que seja permitido inovar para ir ao encontro
das necessidades dos seus clientes e, em simultâneo, apresentar produtos e serviços
ambiental e socialmente responsáveis.
A orientação para a sustentabilidade de uma unidade empresarial, bem como a
implementação e manutenção de determinados princípios, dão hoje indicações claras
relativamente à sua capacidade de gestão, onde se incluem valores intangíveis, tais
como, a liderança, a execução estratégica, as marcas, o capital humano e o desempenho
operacional. “Os intangíveis tais como a investigação e desenvolvimento, propriedade
intelectual, competências dos recursos humanos, redes de fornecedores e valor de marca
são actualmente catalisadores da eficácia organizacional, enquanto os activos físicos e
financeiros são cada vez mais considerados como simples mercadorias” (Eustace, 2000,
p.6).
Fonte: GEMI (2004), “Clear advantahge: building shareholder value”, em Global Management Initiative, Washington, p. 5. apud Santos et al., 2005, p. 63.
O desenvolvimento sustentável e a responsabilidade empresarial são hoje uma
oportunidade importante, sendo do interesse de todos os stakeholders, para que as
Inovação de produto e processo
Redução do desperdício e de emissões
Utilização eficiente dos recursos
Segurança e saúde ocupacional
Envolvimento dos vários interessados (stakeholders)
Aumento da rendibilidadeMelhor utilização do capital
Satisfação dos clientesCapital intelectualLicenças de actividade Reputação e imagem de marcaRedução do risco
Satisfação dos colaboradores Protecção no meio ambienteQualidade de vida para a comunidade envolvente
Qualidade
Valor para o accionista
Figura 1 – Exemplos da combinação de efeitos de políticas de sustentabilidade sobre o valor para o accionista
empresas aumentem as suas capacidades, através da identificação e melhoria de
determinantes da criação de valor no que concerne a estes aspectos. Observe-se a figura
1 com exemplos da combinação de efeitos de políticas de sustentabilidade sobre o valor
para o accionista.
Na evolução da sustentabilidade desde os anos 70 até à actualidade, verifica-se
uma clara passagem do papel exclusivo do Estado na resolução de determinadas
questões, para progressivamente se considerar o papel crucial do sector privado. A nível
Europeu, a própria Comunidade tem tido uma posição firme para uma acção conjunta e
a várias dimensões para impulsionar a implementação de critérios de sustentabilidade
nas economias dos vários países membros.
3. Estratégia de desenvolvimento regional – Alentejo 2015
A definição da estratégia de desenvolvimento económico e social para a região
Alentejo – Alentejo 2015, integra orientações comunitárias e nacionais relativas a 2007-
2013, pois coincidiu genericamente com o ciclo de programação dos fundos
comunitários para este período. Assim, o Programa Operacional 2007-2013 poderá
funcionar como uma alavanca para a concretização dos objectivos estratégicos do
Alentejo 2015.
As ideias estruturantes desta estratégia podem retirar-se da própria visão
definida: “Alcançar um Alentejo que possa ser reconhecido, interna e externamente,
como uma região capaz de gerar pela sua dinâmica empresarial, riqueza e emprego; uma
região aberta ao exterior, com qualidade de vida global e exemplar no plano ambiental”
(CCDRA, 2007, p. 57). São três os eixos estratégicos que orientam o caminho que
poderá levar à concretização dos objectivos inerentes a tal estratégia, conforme podem
ler-se no Quadro 1:
Quadro 1 – Eixos estratégicos de intervenção – Alentejo 2015
1. Desenvolvimento empresarial, criação de riqueza e emprego• Renovar as actividades económicas tradicionais, através da dinamização e
ampliação das cadeias de valor associadas aos recursos naturais e endógenos (utilização da ciência e tecnologia, organização e conhecimento, capital humano, marketing,...);
• Diversificar o perfil de especialização produtiva da região, potenciando actividades económicas emergentes de maior valor acrescentado e/ou maior intensidade tecnológica (ambiente, aeronáutica, TIC, indústrias criativas, ...) e contribuindo para a criação de empregos qualificados;
• Consolidar os investimentos associados ao triângulo Sines/Beja/Alqueva (porto e plataforma industrial/logística de Sines, aeroporto de Beja, Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva), pelo seu papel dinamizador de um portfolio de actividades económicas (agro-indústrias, logística, energias renováveis, turismo, ...);
• Dinamizar o sistema regional de inovação, onde se envolvam os “centros de conhecimento” (ensino superior, centros tecnológicos, ...) e o tecido empresarial, com o propósito de estimular a inovação na região, facilitar a transferência de competências e cooperação entre diferentes actores;
• Melhorar a eficiência da governação, mediante uma maior eficácia da Administração Pública com vista à redução dos “custos públicos de contexto” e a uma melhor relação com o cidadão;
• Implementar um modelo de desenvolvimento sustentável da actividade turística fortemente ancorado nos recursos naturais, paisagísticos e culturais (património tangível e intangível), os quais deverão ser valorizados criativamente, em favor da criação de riqueza e de uma fruição pública dos elementos identitários e característicos da região.
2. Abertura da economia, sociedade e território ao exterior• Captar actividades económicas associadas às vantagens logísticas da região,
resultantes quer da posição geográfica no eixo Lisboa/Madrid, da proximidade à A.M. Lisboa, do porto de Sines, da futura ligação ferroviária Sines/Elvas, do TGV, do aeroporto de Beja, das plataformas logísticas;
• Reforçar as redes de acessibilidades físicas e digitais que garantam à região maior mobilidade no contexto das redes nacionais e transeuropeias;
• Promover a integração da região em espaços e redes mais alargadas, através do aprofundamento da cooperação territorial, da internacionalização da economia, e das novas tecnologias ligadas à “sociedade do conhecimento”;
• Reforçar as redes de acessibilidades físicas e digitais que garantam à região maior mobilidade no contexto das redes nacionais e transeuropeias;
3. Melhoria global da qualidade urbana, rural e ambiental• Reforçar a competitividade e atractividade das cidades como “motores”
económicos do território, associando-as de forma inovadora e eficaz à região envolvente (complementaridade “urbano” + “rural”), como garante da coesão social e territorial;
• Promover a obtenção de padrões de excelência ambiental, através de uma gestão mais eficiente dos recursos naturais, assegurando a sua sustentabilidade, bem como uma abordagem pró-activa na minimização dos efeitos das alterações climáticas (seca, desertificação...) antecipando e minimizando os seus efeitos.
Fonte: CCDRA (2010)
4. Metodologia
A metodologia utilizada para a elaboração da dissertação que deu lugar a este
artigo assentou na pesquisa bibliográfica como ponto de partida, pretendendo-se
identificar os principais autores sobre o tema em análise. Depois veio a pesquisa
descritiva, assumindo-se uma abordagem exploratória, a que se seguiu o estudo de casos
múltiplos, privilegiando-se a natureza qualitativa dos dados referentes às quatro
organizações empresariais seleccionadas.
Para obtenção de dados referentes àquelas entidades procurou-se aplicar um
questionário e complementar os dados assim conseguidos com a realização de uma
entrevista semi-estruturada. Refira-se ainda que foi utilizado o modelo conceptual
desenhado para o estudo Responsabilidade Social nas PME – Casos em Portugal
(Santos et al., 2006).
Como fonte de dados privilegiada teve-se o próprio campo de análise, o mesmo
é dizer, a própria empresa. Inicialmente procurou-se aplicar um questionário com um
conjunto de questões maioritariamente fechadas, dicotómicas, de opção múltipla ou com
resposta através de uma escala. As respostas de cada indivíduo foram analisadas com
vista a análises posteriores mais aprofundadas. Para complementar os dados obtidos
através do questionário, previu-se a realização de uma entrevista semi-estruturada com
questões abertas ao dirigente indicado pela empresa.
Para além do questionário e da entrevista semi-estruturada, a documentação
sobre a empresa, recolhida antes da entrevista, bem como aquela que foi fornecida
aquando da visita para a realização da mesma, possibilitou uma análise mais rigorosa
das informações das empresas, viabilizando, com maior rigor, trabalhar para os
objectivos do trabalho.
Utilizou-se o modelo conceptual desenhado pelos autores do estudo
Responsabilidade Social nas PME – Casos em Portugal (Santos et al., 2006). “A
necessidade de se compreender os factores que influenciam as práticas de
responsabilidade social em PME esteve na origem deste modelo (Quadro 2)” (Santos et
al., 2006, p. 57), que entendemos poder alargar o seu âmbito de aplicação a outro tipo
de organizações, como a que aqui é estudada.
Quadro 2 – Modelo de análise dos tipos de estratégias de Responsabilidade Social
VOLUNTÁRIA PREVENÇÃOEstratégia: Inovação
Stakeholders: Associações, Universidades
e Empresas
Atitude perante a RS
a) Motivações: Criação de Valor
b) Benefícios: Organizacionais
Estratégia: Diferenciação
Stakeholders: Sindicatos e Comunidade
Atitude perante a RS
a) Motivações: Ético-sociais
b) Benefícios: Comunicação
c) Obstáculos: Informativos e de
c) Obstáculos: Cooperação (capital
social)
d) Tipos de Apoio: Conhecimento
e) Periodicidade das práticas:
Regular, integrada na estratégia.
Conhecimentos
d) Tipos de Apoio: Técnicos
e) Periodicidade das práticas:
Ocasional, integrada na estratégia
Estratégia: Custo
Stakeholders: Sócios e Entidades
Públicas
Atitude perante a RS
a) Motivações: Lucro
b) Benefícios: Económico -
financeiros
c) Obstáculos: Financeiros
d) Tipos de Apoio: Financeiros
e) Periodicidade das práticas:
Ocasional, não integrada na
estratégia
Estratégia: Focalização
Stakeholders: Trabalhadores, clientes e
fornecedores
Atitude perante a RS
a) Motivações: Pressões de grupos
b) Benefícios: Comerciais
c) Obstáculos: Temporais
d) Tipos de Apoio: Informação
e) Periodicidade das práticas:
Regular, não integrada na
estratégia
OBRIGAÇÃO REACÇÃOFonte: Santos et al., 2006, p. 61.
As estratégias de negócios (Quadro 3), a relação com os stakeholders (Quadro
4) e a atitude perante a responsabilidade social (Quadro 5) são considerados os
principais factores que influenciam este tipo de práticas nas empresas. “Os tipos de
estratégias de responsabilidade social das PME resultam da análise dos três vectores
considerados anteriormente” (Santos et al., 2006, p.63), que se materializam num
quadro de referência para classificar as estratégias desenvolvidas pelas empresas
(Quadro 6).
Quadro 3 – Estratégia de negócios
Conceito Dimensões Sub-DimensõesEstratégia de Negócio
CustoActividades de Baixo
Custo
FocalizaçãoActividades centradas em
produtos/ serviçosDiferenciação Desenvolvimento de
produtos/ serviços de valor
acrescentado
InovaçãoIntrodução de novos
produtos/ serviçosFonte: Santos et al., 2006, p. 59.
Quadro 4 – Relação com stakeholders
Conceito Dimensões Sub-Dimensões
Stakeholders InfluênciaIntensidade da relaçãoTipologia das actividades
Fonte: Santos et al., 2006, p. 59.
Quadro 5 – Atitude perante a responsabilidade social
Conceito Dimensões Sub-Dimensões
Atitude perante a
responsabilidade socialFactores críticos
MotivaçõesBenefíciosObstáculosTipos de ApoiosPeriodicidade das práticas
Fonte: Santos et al., 2006, p. 60.
Quadro 6 – Tipos de Estratégias de Responsabilidade Social
EstratégiasObrigação Reacção Prevenção Voluntária
VariáveisEstratégia de Negócio Custo Focalização Diferenciação Inovação
Relação com
Stakeholders
Sócios
Entidades
Públicas
Trabalhadores
Clientes
Fornecedores
Sindicatos
Comunidade
Universidades
Associações
EmpresasAtitude
perant
e a RS
Motivações LucroPressões de
gruposÉtico-sociais
Criação de
Valor
BenefíciosEconómico
-financeirosComerciais Comunicação Organizacional
Obstáculos Financeiros Temporais
Informativos
e de
Conhecimento
Cooperação
(Capital
Social)Tipos de
ApoioFinanceiros Informação Técnicos Conhecimento
Periodicidade
das Práticas
Ocasionais,
não
Regulares,
não
Ocasionais,
integradas na
Regulares,
integradas na
de RS
integrados
na
estratégia
integradas na
estratégiaestratégia estratégia
Fonte: Santos et a.l, 2006, p. 64.
A partir da sistematização de variáveis e práticas de responsabilidade social
(Santos et al., 2006, p. 66), foi construído o inquérito às práticas de responsabilidade
social (Santos et al., 2006, p. 250), que serviu de instrumento de tratamento da
informação, facilitando o seu tratamento e análise. O inquérito permitiu identificar:
práticas de responsabilidade social das empresas no âmbito das três dimensões em
análise (económica, social e ambiental); Estratégias adoptadas; Factores, motivações,
benefícios e obstáculos que condicionam a adopção de práticas de responsabilidade
social.
5. Apresentação da Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva,
S.A.
5.1.1 Breve caracterização2
Data de 1995 a criação da Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do
Alqueva, S.A. (EDIA) para conceber, executar, construir e explorar o Empreendimento
de Fins Múltiplos de Alqueva (EFMA), contribuindo para a promoção do
desenvolvimento económico e social da sua área de intervenção, a que correspondem
total ou parcialmente 19 concelhos do Alto e Baixo Alentejo. Esta sociedade anónima
de capitais públicos, sediada em Beja, viu o seu campo de acção aumentado em 2001
para operar nos sectores hídrico público e industrial.
6. Discussão de resultados
As actividades de responsabilidade social da EDIA são descritas pela
própria empresa como regulares, mas não ligadas à sua estratégia de negócios.
Esta empresa apresenta preocupações ao nível das três dimensões:
económica, social e ambiental, reconhecendo-as muito importantes em matéria de
sustentabilidade empresarial ou de desenvolvimento sustentável. Para a EDIA a
“articulação da comunidade onde a empresa se insere” é a área da
responsabilidade social considerada mais importante. Como pode observar-se, as
2 Fonte: Adaptado de http://www.edia.pt/portal/page?_pageid=53,1&_dad=portal&_schema=PORTAL.
práticas de responsabilidade social desta organização vai muito além do seu
carácter interno. Numa boa parte das vezes vai ao encontro da comunidade, com quem
se articula, mas também de clientes, fornecedores, parceiros comerciais e produtos e
serviços e da enorme valorização do ambiente, excedendo o cumprimento da legislação.
A EDIA desenvolve ações em todas as áreas da Responsabilidade Social, sendo em
grande número as práticas relacionadas com a dimensão social externa e com a
ambiental.
Atendendo à tipologia de estratégia de responsabilidade social apresentada
na metodologia, constata-se a não aplicação do modelo no seu estado puro. Na
EDIA prevalece uma estratégia de reacção em termos de responsabilidade social,
excepto ao nível da estratégia de negócio (inovação), motivações (criação de valor)
e benefícios (organizacionais) em que se verifica uma estratégia voluntária. A
estratégia de reacção da EDIA caracteriza-se pelos obstáculos temporais, a informação
nos tipos de apoio, a periodicidade das práticas (regulares, não integradas na estratégia)
e pela preponderância da relação com os stakeholders trabalhadores e fornecedores.
Pretendendo contribuir para a promoção do desenvolvimento económico e
social da sua área de intervenção, a Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas
do Alqueva, S.A. vem alavancar não só os sectores tradicionais mas também os
sectores emergentes na região Alentejo, a partir do Alqueva: permitindo aumentar a
área de regadio, sendo a partir daí esperadas alterações nas explorações agrícolas que
trarão com elas novas tecnologias e produtos; potenciando um acréscimo de produtos
turísticos na região (p. e. Turismo de Lagos); aumentando a produção de energia a partir
de fontes renováveis.
Em síntese, e a partir da experiência desta organização, podemos
relacionar a sua estratégia de sustentabilidade empresarial com o desenvolvimento
regional sustentável. Também ao nível da dimensão social interna, ao nível da gestão
de recursos humanos, informação e comunicação, serviços sociais, gestão da mudança
organizacional, empregabilidade, bem como saúde, segurança e higiene no trabalho
podem identificar-se práticas que promovem melhorias ao nível da organização,
elevando o conhecimento e potenciando o desenvolvimento do capital humano.
Para “Diversificar o perfil de especialização produtiva da região,
potenciando actividades económicas emergentes de maior valor acrescentado e/ou
maior intensidade tecnológica” (conforme Estratégia Alentejo 2015), muito
contribuem as acções da Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva,
S.A., se pensarmos nas possibilidades de explorar a partir da área de regadio do EFMA
a produção de bio-combustíveis, ou na transformação de um produto como o café,
perseguindo sempre as necessidades dos clientes. Na EDIA observam-se práticas de
sustentabilidade empresarial enquadradas nas variáveis sistema ambiental, poluição e
resíduos da dimensão ambiente, que promovem a obtenção de padrões de excelência
ambiental, através de uma gestão mais eficiente dos recursos naturais, assegurando a sua
sustentabilidade.
O próprio território, bastante descongestionado, com baixa densidade
populacional, associado à história e aos seus recursos endógenos, de que se salientam as
áreas classificadas, o património histórico e natural, os recursos agro-florestais e agro-
alimentares, os modelos de povoamento, o sistema de montado, a água, os mármores e a
faixa litoral, comprometem a região Alentejo, que acaba por ser o resultado da
conjugação de todos esses factores. Conhecemos hoje uma região caracterizada pelos
sectores tradicionais (agricultura e recursos agro-alimentares, rochas ornamentais,
turismo, vitivinicultura, cortiça e economia do mar) e pelos sectores emergentes (TIC/
indústrias criativas, cluster automóvel, cluster aeronáutico, energias renováveis e
logística), conforme podemos sintetizar na visão estratégica, por regiões (Alto
Alentejo, Alentejo Central, Baixo Alentejo e Alentejo Litoral), na qual assentam os
três eixos de intervenção da Estratégia Alentejo 2015: Desenvolvimento
empresarial, criação de riqueza e emprego (Eixo 1); Abertura da economia,
sociedade e território ao exterior (Eixo 2); e Melhoria global da qualidade urbana,
rural e ambiental (Eixo 3).
No caso da EDIA, SA refira-se o aproveitamento das potencialidades da água como
recurso estratégico e elemento turístico, havendo aqui lugar à integração das actividades
da empresa não só nos sectores tradicionais mas também nos sectores emergentes. A
estratégia de sustentabilidade empresarial que enquadram acções de responsabilidade
social, cruzam-se grandemente com a estratégia definida para a região, integrando
principalmente os sectores tradicionais, explorando recursos endógenos disponíveis,
(naturais, ambientais, patrimoniais, e culturais). Também por isto poderemos concluir
que a empresa tem um papel essencial quando falamos de desenvolvimento
regional sustentável. Assim, não será de admirar que as empresas sejam consideradas
actores do desenvolvimento. São elas que geram emprego, criam riqueza, promovem a
inovação tecnológica e cumprem obrigações fiscais. Mas, quando nos referimos a
actividades e estratégias das empresas que as posicionem como actores de
desenvolvimento, referimo-nos àquelas que são coerentes com acções de
responsabilidade social e que trazem benefícios a terceiros, indo muito além dos
ligados somente às operações das empresas. Convém também lembrar que uma das
razões que levou à agenda da Responsabilidade Social foi o considerável protagonismo
das empresas, no que concerne não só à sua actividade económica, mas também às
repercussões ambientais e sociais, fundamentalmente através do emprego e da geração
de riqueza nos territórios em que actuam.
Do exposto conclui-se que a promoção do desenvolvimento regional deve
resultar da mobilização efectiva dos diferentes actores relevantes, através de
processos que deverão ser orientados pelos ou para os referidos actores,
chamando-os a intervir, no diagnóstico de problemas, em processos de decisão, no
lançamento, na participação, na integração e coordenação de iniciativas e na sua
implicação, também ao nível da avaliação de resultados e mensuração de impactos
sobre o ambiente e o bem-estar social.
7. Considerações finais
Poder-se-á afirmar que, de acordo com o modelo utilizado, predomina a
estratégia de responsabilidade social de reação na EDIA. Pela dinâmica da sua
actividade, a organização empresarial analisada é criadora de riqueza e emprego.
Abordar as suas práticas de responsabilidade social, à luz da estratégia de
desenvolvimento regional – Alentejo 2015, consistiu em compreender o seu
enquadramento nos eixos estratégicos de intervenção desenhados para este período
temporal. Identificamos práticas de responsabilidade social que vão ao encontro das
ideias estruturantes enquadradas no Eixo 1 - Desenvolvimento empresarial, criação de
riqueza e emprego e Eixo 3 - Melhoria global da qualidade urbana, rural e ambiental.
Será então compreensível como as práticas de sustentabilidade empresarial desta
organização, vai ao encontro da visão estratégica desenhada para o Alentejo,
concorrendo para o desenvolvimento sustentável de uma região.
Conclui-se que a sustentabilidade empresarial é um desafio para esta unidade
empresarial, uma vez que esta depende da sua competitividade, da relação com o meio
ambiente, bem como de acções, ao nível interno e externo, enquadráveis socialmente. A
sustentabilidade empresarial é também entendida e operada como um compromisso para
o desenvolvimento sustentável.
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Capítulo 10: Saúde Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano
A Integração Dos Setores Para Transformar O Lixo Numa Solução Socioambiental
Letícia Vilela de Aquino1
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo apresentar algumas organizações sociais focadas
na redução do desperdício de alimentos e na transformação dos resíduos orgânicos e secos.
Gerando economia para os cofres públicos, aumento da renda familiar para as pessoas que
trabalham com este reaproveitamento, combate à fome e geração de empregos em vários
setores da economia, o que desperta a sociedade para uma transformação socioambiental em
rede onde a iniciativa privada ligada as ONG’s e órgãos governamentais podem usar uma
estratégia brilhante de união de forças e integração dos três setores para juntos alcançarem os
melhores resultados para o país. Porém para uma integração perfeita entre os setores existem
vários obstáculos, como a falta de informação da população, falta interesse público em vários
municípios, poucas empresas tem tecnologia para utilização de matéria prima retornável e
ainda o desafio da erradicação da incineração dos resíduos que além de poluir a atmosfera
destroem milhares de toneladas de resíduos que poderiam ser reaproveitados. Assim o desafio
é mobilizar o maior número de pessoas possível para fortalecer os movimentos já existentes e
criar novos movimentos socioambientais publico-privados reduzindo assim a pobreza e
melhorando a qualidade de vida das pessoas no planeta.
Palavras-chave: Reaproveitamento de Resíduos. Integração dos Setores. Sustentabilidade
Socioambiental. Redução da Fome. Redução da Pobreza. Geração de Renda. Qualidade de
Vida. Tecnologias. Transformação de Resíduos. Governo. Iniciativa Privada. Reciclagem.
11Letícia Vilela de Aquino, Administradora com Habilitação em Marketing, Mediadora do PEI – Programa de Enriquecimento Instrumental, Palestrante e Consultora de Empresas. [email protected]
1 Introdução
Este texto aborda a integração dos setores para transformar o lixo numa solução socioambiental, onde o recolhimento e reaproveitamento de resíduos feitos de uma forma mais inteligente podem gerar maiores resultados para toda economia, além de resolver muitos problemas ambientais que preocupam toda população.
2 Desenvolvimento
Quando falamos de sustentabilidade envolvemos uma infinidade de temas que podem ser
vistos como uma forma de solidariedade com as pessoas ou apenas como uma ferramenta de
Marketing, para conquistar mais e mais clientes.
Segundo SACHS, Ser sustentável pressupõe o uso contínuo da palavra solidariedade,
com as pessoas este tempo-espaço e com aquelas que ainda não vieram, mas que
dentro em breve aqui estarão exigindo seus direitos. (SACHS, 2000, p. 50-51).
Mas ainda existem várias organizações que pensam apenas nos seus próprios interesses,
ignorando o fato de que com um mínimo de esforço poderiam trazer melhor qualidade de vida
para a população de hoje e para a que ainda está por vir.
Campanhas no mundo todo têm despertado a atenção da população para os problemas que o
lixo acarreta para toda cadeia socioambiental e cada vez mais os municípios vêm encontrando
dificuldades para conseguir locais onde possam instalar aterros sanitários, que por sua vez
também não é a solução ideal para os resíduos, pois, como é sabido, o lixo que vai para os
aterros sanitários é depositado na terra em camadas (uma camada de lixo, uma de terra) até
completar o aterramento e no fundo deste aterro é feita uma selação com manta de PVC e
argila impermeabilizando o solo e impedindo que o chorume entre em contato com o lençol
freático, evitando, assim, que polua milhões de litros de água. Apesar de reduzir de forma
significativa os impactos ambientais, não resolve o problema de forma sistêmica, visto que os
resíduos ficam depositados no solo, sem serventia alguma para a sociedade, com alto custo de
manutenção, enquanto a indústria continua utilizando matéria prima virgem para produzir os
mesmos produtos que poderiam ser fabricados com a reutilização de materiais oriundos o
lixo.
Observe na figura 1 o funcionamento de um aterro sanitário.
Figura 1
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, a maior parte do lixo produzido no país tem
destinos inadequados, conforme se verifica na figura 2. Ou seja, além dos resíduos não serem
reciclados ainda atraem insetos como o mosquito transmissor da dengue, possibilita a
formação de criadouros de animais peçonhentos, o chorume polui o lençol freático e mais
uma série de consequências nocivas à comunidade local e ao meio ambiente.
Figura 2
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um ser humano no Brasil é
capaz de produzir em média cinco quilos de lixo semanalmente e em cidades acima de 200mil
habitantes os números são ainda mais assustadores chegando a 1,5 quilos diariamente e em
todo território produzir-se em média de 240 mil toneladas de lixo por dia das quais 76% são
descartadas sem nenhum controle e 60% destes resíduos é representado por lixo orgânico, a
quantidade de lixo orgânico produzida é muito elevada devido ao grande desperdício de
alimentos que acontece no Brasil.
Muitos alimentos são desperdiçados em restaurantes, onde as porções são servidas com
quantidade superior a necessária para alimentação. Residências de pessoas com maior poder
aquisitivo dificilmente reaproveitam alimentos ou cozinham apenas o necessário para
alimentação da família. Mercados municipais descartam uma quantidade significativa de
alimentos diariamente. Transporte inadequado de alimentos causa avarias nas cargas.
Supermercados que não promovem ações para venda rápida de produtos perecíveis. Com
essas e outras formas de desperdícios soma-se um terço dos alimentos do país que é jogado no
lixo, e, em contra partida, 870 milhões de pessoas passam fome no mundo.
Na figura 3 podemos observar o desperdício de alimentos e a mistura de resíduos orgânicos
com resíduo seco.
Figura 3
Figura 3 disponível em: http://catracalivre.com.br/wp-
content/uploads/2013/04/47.jpg, acesso em 05/05/13.
Iniciativas como a do projeto Satisfeito, ajuda e muito na redução de resíduos orgânicos e o
problema da fome, onde o projeto mobiliza vários restaurantes e pessoas para redução do
desperdício de alimentos, onde nos restaurantes participantes você tem o direito de pedir o
prato dentro do projeto satisfeito e a porção vêm dois terços do tamanho normal e o que o
restaurante economizar nessa redução de alimentos o dinheiro é repassado para o projeto, que
posteriormente será repassado para organizações que trabalham pela segurança alimentar de
crianças, combatendo assim a fome e a desnutrição infantil, a meta deste projeto é estar em
todos continentes até 2015, ajudando o maior número de pessoas possível.
Este exemplo mostra claramente que a mobilização de pessoas e o desenvolvimento de
projetos no formato “rede” podem trazer milhares de benefícios socioambientais, gerando
sustentabilidade e uma cadeia “viral” de força tarefa para o combate a pobreza, fome,
desmatamento e poluição, onde a própria população passa assumir maiores responsabilidades
a favor de causas nobres. A partir do momento que um grupo de pessoas se mobiliza, outras
pessoas vão aderindo à ideia, o que leva o crescimento natural e espontâneo de projetos neste
formato.
Mas diante de um cenário onde já existem pessoas se mobilizando para resolver as questões
socioambientais, por que não unir um número ainda maior de pessoas para outras iniciativas
onde a própria população tenha oportunidade de assumir uma maior responsabilidade pelo
planeta através de causas justas?
E da mesma forma que visualizamos a iniciativa do projeto “Satisfeito” podemos voltar os
olhos para reciclagem, sendo esta uma das melhores soluções para destinar os resíduos
orgânicos e secos, dos quais além de alimentar toda uma cadeia produtiva empregando
milhares de pessoas, possui um papel socioeconômico muito relevante.
2.1 Reaproveitamento de resíduos
Porém, a maioria da população ainda não foi treinada para separar e tratar corretamente o lixo,
como, por exemplo, fazer a tríplice lavagem antes do descarte, e as pessoas que têm este
conhecimento não o praticam porque sabem que será um trabalho inútil, visto que não há a
coleta seletiva em todos os lugares.
Esbarramos ainda na falta de conhecimento de boa parte da população adulta sobre a
reutilização dos materiais, em prefeituras com pouco interesse de trazer soluções sustentáveis
para o lixo, ONG’s com lideranças pouco capacitadas para desenvolver pessoas e projetos,
catadores isolados e sem acesso às noticias sobre o setor, o receio de lideranças públicas em
aumentar o custo com o recolhimento dos resíduos, poucas empresas especializadas no
reaproveitamento de materiais.
Nas escolas, muito se fala sobre coleta seletiva e os alunos são orientados a separarem o lixo
em suas residências e são passados conceitos como os de reduzir, reutilizar e reciclar,
desenvolvendo assim a consciência nas crianças e jovens. Algumas regiões brasileiras já
praticam conscientemente a reciclagem.
Estima-se que de cada 1000 brasileiros um é catador de lixo 30% desses gostariam de
continuar a cadeia produtiva da reciclagem, mesmo se tivessem alternativa de trabalho.
O trabalho dos catadores reduz em parte o impacto socioambiental, haja vista este meio
paliativo permite que milhares de pessoas tirem seu sustento dos recicláveis, as companhias
de limpeza urbana deixam de pagar pela coleta e ainda reduz a utilização de matéria prima
virgem.
Se olhar todo movimento de catadores no Brasil, depara-se com várias categorias, sendo:
Trecheiros: aqueles que andam de uma cidade à outra, catando lata para comprar comida e
suprir outras necessidades básicas.
Catadores do lixão: catam, diurnamente, fazendo horários “fixos” de trabalho e muitos
alimentam toda sua família com o que arrecadam dessa prática.
Catadores individuais: preferem trabalhar de forma independente, puxam carrinhos pelas
ruas coletando a vários resíduos encontrados durante sua trajetória.
Catadores organizados: São grupos onde todos são donos do empreendimento, legalizados
ou em fase de legalização como cooperativas e associações, ONGs, ou OSCPs.
Dentre os catadores organizados existem vários subgrupo dentre os quais podem descartar:
Grupos em organização: eles têm pouca ou nenhuma infraestrutura e necessitam de apoio,
muitas das vezes financeiro e de voluntários que lhes ensinem como trabalhar em grupo.
Catadores organizados auto - gerenciáveis: estes funcionam como cooperativas. As vendas
e os resultados são de todos, não havendo uma liderança única, todos os cooperados
representam o negócio como dono.
Redes de cooperativas auto - gestionários: a ideia é voltada para o desenvolvimento em
rede, onde os grupos se fortalecem buscando excelência na negociação e frequência no
fornecimento. Os grupos em rede podem vender os materiais pelo melhor preço e conseguem
maior infraestrutura para prensar e transportar os materiais coletados.
“Coopergatos”: são grupos não auto gestionários, que funciona como uma empresa privada,
onde todos coletam para um empresário, porém os trabalhadores não têm carteira assinada.
Cooperativas de Sucateiros: funciona como empresa privada, mas utiliza a fachada de
cooperativismo, onde os “proprietários” recebem vantagens junto ao governo, porém a relação
entre eles com os catadores é a de empregado e patrão.
E mesmo com este serviço prestado à sociedade, muitos catadores são tratados como se
fossem consequência do lixo, não como uma solução, o que atrapalha e muito a otimização e
o desenvolvimento tecnológico do setor.
No Brasil existem muitas pessoas que estão interessadas em promover uma destinação
adequada, mas esses encontram muitas dificuldades para a realização do trabalho, tais como a
exposição do corpo à doenças transmitidas por animais peçonhentos que são atraídos pela
decomposição do lixo, mau cheiro, descarte irregulares do lixo hospitalar, resíduos perfuro -
cortantes, resíduos químicos com alta periculosidade dentre outros riscos a integridade física
dos catadores.
Analisando-se com cuidado a maioria dos problemas, observa-se que são consequências da
não separação do lixo orgânico com o lixo seco que além de trazer riscos à saúde dos
trabalhadores, aumentam o custo para o processamento e limpeza do lixo, tornando, na
maioria das vezes, mais viável a utilização de matéria- prima virgem.
Como exemplo de lixo orgânico pode-se citar: restos de alimentos, vegetais, frutas, carnes, ossos, sementes, que durante o processo de decomposição, é uma fonte poderosa de gás metano e também atrai animais peçonhentos, favorece o aparecimento de fungos e bactérias, o chorume (liquido escuro produzido principalmente por carnes em processo de putrefação) contamina as águas, produz mau cheiro e, quando misturado ao lixo seco, atrapalha o aproveitamento dos materiais e o trabalho dos catadores.
Uma alternativa para a utilização dos resíduos orgânicos que se faz presente no mundo todo, porem em baixa escala, é a compostagem. Essa técnica além de tecnologicamente viável, ainda pode ajudar outros projetos sociais com a utilização do adubo orgânico. Entre 2007 e 2010 mais de meio milhão de toneladas de resíduos orgânicos industriais foram enviados para usinas de compostagem, onde os processos biológicos aeróbicos naturais em condições controladas são utilizados para transforma-lo em fertilizante, conforme ilustrado na figura 4.
Figura 4.
Fonte da figura: http://marcosbadra.com/2012/04/03/um-modelo-de-compostagem-para-uma-industria-sustentavel/ Acesso 10/04/2013
Após o final do processo o adubo orgânico normalmente é destinado para utilização em ecossistemas produtivos florestais, recuperação de áreas degradadas, adubação de áreas de reflorestamento e para produção de alimentos.
A tecnologia da compostagem possibilita a redução do volume de resíduos, economia dos recursos naturais, redução da dependência de adubos químicos, qualidade da nutrição, além de possibilitar uma produção mais limpa de alimentos. Observe a figura 4 que mostra claramente o ciclo correto dos resíduos para um processo de compostagem, onde a própria natureza é encarregada do resultado final.
Figura 5:
Atualmente muitas residências já fazem a compostagem caseira e utilizam o adubo orgânico
para nutrição de plantas e jardins, o que evita que a matéria orgânica seja misturada ao lixo
seco, gerando ainda economia domestica por não haver a necessidade da compra de
fertilizantes químicos e dos próprios alimentos. Na figura 5 podemos observar um tomateiro
plantado no quintal de uma residência do qual utilizou o processo de compostagem para a
posterior adubação orgânica da planta, o que resultou em uma planta saudável e bem nutrida,
sem uma gota de defensivos e fertilizantes químicos.
Figura 6
Figura 6 Tomateiro orgânico, foto tirada 04/2013 por Aquino, Letícia Vilela de
O uso do adubo orgânico facilita o desenvolvimento de uma agricultura orgânica, na qual só é
possível quando cultivada sem a utilização de produtos químicos sintéticos, tais como
fertilizantes e pesticidas. Os alimentos orgânicos além de serem mais saudáveis, devido o
nível de pureza, não agridem o meio ambiente e podem ser cultivados tanto no quintal das
residências quanto em grande escala, o que gera uma ótima alternativa para a agricultura
familiar que já é habituada a utilizar esterco de gado ou de aves para fertilização do solo.
Pode-se ser estendida até mesmo para as lavouras não orgânicas, nas quais a adubação
orgânica também é de grande importância, por ter maior capacidade de retenção de água
chegando a reter de 4 a 6 vezes mais água do que seu próprio peso, reduzindo o risco de
erosão, além de minimizar a plasticidade e coesão, reduzindo os efeitos da pegajosidade dos
solos argilosos molhados.
O adubo orgânico favorece ainda o aparecimento de minhocas, fungos e bactérias benéficas à
agricultura, melhorando a vida macro biológica do solo e favorecendo a absorção de
nutrientes provenientes de outras fontes.
Como já vimos, o lixo orgânico só tem serventia para a sociedade se for separado
corretamente, tendo destinos distintos, o lixo seco vai para o tratamento em recicladores e o
lixo orgânico para usinas de compostagem. Observe na Figura 6 a simplicidade do processo
de separação domiciliar ou industrial dos resíduos.
Figura 7
Fonte da imagem: http://www.garibaldi.rs.gov.br/informacoes/coleta-de-lixo/
3 Considerações finais
São bilhões de reais perdidos diariamente em forma de lixo seco e orgânico, bilhões gastos
com a coleta do lixo e milhões de catadores passando dificuldades para sobreviver com o que
a sociedade descarta, muita falta de organização, muitos projetos sem visão sistêmica são
aprovados, gerando investimentos altíssimos, para resolver um problema que poderia ser visto
como parte da solução ambiental que se busca mundialmente.
Sendo assim é hora da sociedade olhar de forma mais sistêmica para o lixo, integrando um
pouco mais o 1º, 2º e 3º setores e trazendo soluções em rede para o lixo. Com esse olhar
poderíamos evitar se que o governo investisse anualmente na pseudo-gestão do lixo, ajudaria
as cooperativas que têm muita mão de obra disposta a trabalhar com o lixo, empresas privadas
que já utilizam estes resíduos como matéria prima em seus produtos, tratar os solos que se
desertificaram e a ampliação de uma agricultura orgânica que utiliza o adubo oriundo da
compostagem como nutriente para as plantas.
Essas soluções podem ser vistas facilmente quando se fala de divisão de responsabilidades,
através de uma proposta de terceirização com quem sabe o que fazer para destinar
corretamente o lixo.
Um exemplo disso seria as prefeituras apoiarem as cooperativas e ONGS a se organizarem
para que elas mesmas façam a coleta e separação do lixo, retirando atravessadores ou
processos desnecessários muitas vezes existentes no ciclo da reciclagem. Um exemplo de
processo desnecessário é o lixo ir para os lixões e lá serem recolhidos pelos trabalhadores,
onde muitos resíduos estão em contato direto com materiais em estado de putrefação o que
dificulta o trabalho, sendo que estes resíduos poderiam ser separados pelas residências,
coletados pelos cooperados e ONG,s e terem posteriormente o seu destino correto, o que
aumenta o percentual de reciclagem, agrega valor aos materiais, pois já sairão lavados das
residências e podem ser triturados antes de serem vendidos para as empresas compradoras de
materiais recicláveis.
Dessa forma os três setores teriam responsabilidade no processo.
O segundo setor (governo) apoiando as cooperativas, associações e ONG’s com processos de
aprendizagem, organização e infraestrutura de armazenagem e logística reversa, além de
montarem as estruturas de compostagem e aproveitamento do biogás.
O terceiro setor (ONG’s) responsabilizando pela preparação da população para efetuarem a
separação dos resíduos e coleta do lixo, de forma que todos os trabalhadores tenham um
trabalho bem organizado, com todos os equipamentos de segurança necessários, treinamentos,
orientações sobre o trabalho, segurança social e previdenciária, gerando renda para milhares
de pessoas e sendo os gestores do destino final dos resíduos.
O primeiro setor, comprando os materiais e executando todos os processos de beneficiamento,
tonando o lixo em produtos novamente, que por sua vez voltaram em médio prazo para o
consumidor que o transformará novamente em lixo.
Talvez a solução esteja realmente na integração dos setores exemplificada acima, onde o
governo reduziria seus gastos em milhões e parte do dinheiro gasto seria devolvido aos cofres
públicos com a utilização do biogás, as redes sociais formadas pelas pessoas através das
cooperativas, associações e ONG’s aumentariam suas rendas e melhorariam a qualidade de
vida e sua respeitabilidade social e surgiria uma infinidade de empresas privadas interessadas
no aproveitamento dos resíduos recicláveis, gerando riquezas e mais empregos a polução
crescente começaria entrar em declínio e o aproveitamento do adubo orgânico ampliaria a
agricultura orgânica e redução da pobreza.
INTEGRATION OF SECTORS TO TURN TRASH IN ENVIRONMENTAL
SOLUTION
Abstract:
This paper aims to present some social organizations focused on reducing food waste and
processing of organic waste and dry.
Generating savings to the public purse, increased family income for people who work with
this reuse, combating hunger and creating jobs in various sectors of the economy, which
awakens the society to social and environmental transformation in the private network where
the connected NGOs and government agencies can use a brilliant strategy of joining forces
and integration of the three sectors together to achieve the best results for the country.
But for a seamless integration between the sectors there are several obstacles, such as lack
of information of the population, lack public interest in various munícios, few companies have
the technology to raw material use returnable and still the challenge of eradicating waste
incineration that besides pollute the atmosphere destroy thousands of tons of waste that could
be reused. So the challenge is to mobilize as many people as possible to strengthen existing
movements and environmental movements create new public-private reducing poverty and
improving the quality of life on the planet.
Key words: Reuse of Waste. Integration of Sectors. Social and Environmental Sustainability.
Cut Hunger. Poverty Reduction. Income Generation. Quality of Life. Technology.
Transforming Waste. Government. Private Initiative. Recycling.
REFERENCIAS
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Departamento de População e Indicadores Sociais, Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2000.
Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/pnsb/lixo_coletado/lixo_coletado110.shtm , acesso em 18/03/2013.
Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/27032002pnsb.shtm, acesso em 18/03/2013.
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Disponível em: http://marcosbadra.com/2012/04/03/um-modelo-de-compostagem-para-uma-industria-sustentavel/, acesso em 10/04/2013.
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Disponível em: (2011, 11). A Importância Da Adubação Orgânica Para o Solo. TrabalhosFeitos.com, acesso em 05/05/2013.
SACHS, Ignacy: Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável. In: STROH, Paula Yone (Org.). Rio de Janeiro: Garamond, 2000. 96 p.
* Estudo da dissolução in vitro de fenóis totais a partir de grânulos do extrato de quebra-pedra (Phyllanthus niruri L.) recobertos em
leito de jorro; Estudo do efeito do recobrimento de grânulos do extrato de quebra-pedra em leito de jorro sobre a eficiência da
dissolução in vitro de flavonóides; Estudo da dissolução in vitro de extratos fitoterápicos; Estudos de recobrimento em leito de jorro e dissolução in vitro de extratos fitoterápicos; Análise estatística dos efeitos das condições de granulação do extrato fitoterápico de
quebra-pedra (Phyllanthus niruni) sobre sua resistência mecânica em leito de jorro; Estudo da granulação por via úmida do extrato
fitoterápico de quebra-pedra (phyllanthus niruni); Evaluating the quality of treated wastewater for reuse by ceramic membrane microfiltration with tangential flow.
Avaliação da qualidade da água residuária tratada por membrana cerâmica de
microfiltração
*Julyanna Damasceno Pessoa1, Cristiane Macedo Rodrigues
1, Kepler Borges França
1,
Taline Sonaly Sales dos Santos1
1Universidade Federal de Campina Grande - Unidade Acadêmica de Engenharia Química - Campus
Campina Grande - Av. Aprígio Veloso, 882; Bodocongó, Campina Grande – PB.
RESUMO – A água é uma forma de energia essencial à vida e à manutenção dos ecossistemas.
Em decorrência da crescente preocupação com microrganismos específicos, a utilização do
processo de separação por membrana passa a ser a opção de tratamento para a produção de água
potável. A unidade de filtração compreende de um reator piloto com capacidade de 10 litros e
uma membrana de material cerâmico, monotubular com 1 canal e diâmetro de poro de 0,20μm.
Este trabalho teve por objetivo estender a tecnologia de filtração com membranas para águas de
qualidade inferior, avaliando os principais parâmetros de potabilidade da água antes e após um
tratamento de filtração com membranas cerâmicas de microfiltração recheadas por resinas
trocadoras iônicas. Foram testadas quatro pressões, de 1 a 3 bar. O sistema será avaliado em
função do fluxo de permeado, turbidez, extração de bactérias, cor (real e aparente), coliformes
totais, sólidos suspensos totais e sólidos dissolvidos totais sendo que. Os resultados alcançados
mostraram que a microfiltração tangencial, apresenta-se como uma alternativa eficaz para o
tratamento final de esgotos sanitários. A qualidade do efluente final torna possível a reutilização
desse tipo de efluente, seja no meio agrícola, seja no meio industrial.
Palavras-Chave: membrana cerâmica, tratamento de água, resina trocadora iônica
ABSTRACT - Water is a form of energy essential to life and the maintenance of ecosystems.
Due to the growing concern with specific microorganisms, the use of membrane separation
process becomes the treatment of choice for the production of drinking water. The filtration unit
comprises a pilot reactor with a capacity of 10 liters and a ceramic membrane, and monotubular
1 channel pore diameter of 0.20 micrometers. This study aimed to extend the technology
filtration membranes for water of inferior quality, evaluating the main parameters of drinking
water before and after treatment filtration with ceramic membrane microfiltration stuffed by ion
exchange resins. We tested four pressures from 1 to 3 bar. The system will be evaluated as a
function of permeate flow, turbidity, bacteria extract, color (actual and apparent), total coliform,
total suspended solids and total dissolved solids of which. The results obtained showed that the
crossflow microfiltration, presents itself as an effective alternative for the final treatment of
sewage. The quality of the final effluent makes it possible to reuse this type of wastewater, be it
in the agricultural, industrial or in the middle.
Keywords: ceramic membrane, water treatment, ion exchange resin
1 Introdução
Microfiltração com membranas é um processo de relevância que vem atualmente
se destacando no vasto mercado da engenharia de processos. O processo requer o uso de
módulos filtrantes compostos por material cerâmico ou polimérico. Classifica-se como
Microfiltração a separação de partículas entre 0,01 – 0,2μm, que incluem contaminantes
microbiológicos como bactérias (VIDAL, 2001). Na indústria química o principal
processo de microfiltração é a purificação da água. Zemam & Zydney (1996) também
ressaltam o uso da Microfiltração com membranas para retenção microbiana nas áreas
de ciências biológicas, da saúde e alimentícias, pois há uma relação direta entre o
processo de Microfiltração com o objeto de estudos destas áreas, conhecidos por filtros
de líquidos esterilizados. Um filtro esterilizado é definido como um não libertador de
fibra que produzirá um efluente estéril quando contaminado com um microrganismo
específico em concentração mínima de 107 org/cm
2 de área superficial da membrana. A
partir da filtração por membranas os regulamentos para a qualidade de água a partir de
aspectos químicos, físicos e biológico são mais bem alcançados. Possui elevada
estabilidade química, térmica e estrutural, maior resistência a produtos químicos
corrosivos e deterioração microbiana.
O presente trabalho teve por objetivo avaliar a eficiência da tecnologia de
filtração com membranas cerâmicas de Microfiltração para águas de qualidade inferior,
avaliando os principais parâmetros de potabilidade da água de um efluente bem como os
parâmetros físico-químicos, antes e após o tratamento com membrana, para fins de
reúso.
2 Fundamentação Teórica
2.1 Água
A água é uma forma de energia essencial à vida e à manutenção dos
ecossistemas. Em decorrência da crescente preocupação com microrganismos
específicos, a utilização do processo de separação por membrana passa a ser a opção de
tratamento para a produção de água potável.
A água torna-se um risco em potencial para a saúde da população quando nela
estiverem presentes agentes nocivos. Isto é, mesmo que visualmente ela não apresente
indicações de contaminação, não se pode assegurar sua qualidade física, química e
microbiológica.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde e Organização Panamericana
da Saúde (OMS/OPAS, 2001), cerca de um quarto dos 4,8 bilhões de pessoas dos países
em desenvolvimento continua sem acesso a fontes de água adequadas, enquanto metade
deste total não esta servida por serviços apropriados de saneamento.
A produção de água que atenda ao Padrão de Potabilidade requer, na maioria dos
casos, a filtração, pois somente nesta etapa e que são removidos, quase que em sua
totalidade, as partículas coloidais, suspensas e microrganismos em geral, de forma que a
desinfecção final seja efetiva (SPINELLI, 2001). O processo de filtração por membrana
cerâmica de microfiltração é uma técnica que vem ganhando importância no campo do
tratamento de esgotos, pois com o aumentando dos riscos de doenças de transmissão
hídrica com o transporte de microrganismos patogênicos pelas águas o processo se
mostra eficiente na remoção destes microrganismos. Os sistemas de tratamento de
esgoto sanitários, em geral, resultam em bom nível de redução de carga orgânica. No
entanto, somente tratamentos avançados levam a uma significativa redução
bacteriológica, e a remoção de contaminantes que permitem reúso para fins mais nobres
(STEPHEENSON, 2000; FANE et al., 2000).
2.2 Membrana Cerâmica de Microfiltração
O processo de microfiltração é uma técnica que vem ganhando uma maior
importância no campo do tratamento de esgotos. As membranas cerâmicas encontram
larga aplicação, principalmente em processos cujas temperaturas de trabalho são
superiores a 250 ºC, como também na separação de soluções em que o pH é
extremamente ácido, ou mesmo quando há solventes orgânicos no sistema. Em
contrapartida, as membranas cerâmicas apresentam a desvantagem de apresentar um
alto custo de fabricação, principalmente em relação às matérias-primas que são
geralmente sintéticas (zirconia, alumina, titânia e sílica). Atualmente, o principal foco
de preocupação no desenvolvimento destas membranas é otimizar os custos de
produção, encontrando matérias-primas naturais a preços mais competitivos, além de
processos de produção mais eficientes, como a extrusão. A produção de membranas por
extrusão permite sua utilização em processos de fluxo tangencial, possibilitando a sua
aplicação em microfiltração.
O reúso planejado de águas residuárias não é um conceito novo e já é praticado
há muitos anos (SCHNEIDER et al., 2001). Este comportamento deve ser cada vez mais
considerado, pois a recuperação da água reduz a demanda sobre os mananciais de água
bruta. Entre as alternativas existentes para viabilizar o reúso, o desenvolvimento das
técnicas de separação dos materiais por membranas ganha grande destaque. As técnicas
de separação por membranas apresentam as vantagens de serem operadas sem aditivos e
possibilitar separação seletiva de materiais (LAPOLLI, 1998; STEPHEENSON, 2000).
Um dos objetivos principais de utilizar a técnica de membranas é a separação de
substâncias de diferentes propriedades (tamanho, forma, difusibilidade, dentre outros).
Processo com membranas utiliza-se águas superficiais de boa qualidade, atualmente o
objetivo é estender para águas de qualidade inferior para a remoção de cor, sabor,
matéria orgânica dissolvida e produtos de desinfecção (GUIGUI et al., 2002). Segundo
Lemanski (2004), na filtração tangencial a solução de alimentação flui paralelamente à
membrana e ao fluxo de permeado, o que permite o escoamento de grandes volumes de
fluidos, pois esse tipo de escoamento, a altas velocidades, tem o efeito de arrastar os
sólidos que tendem a e acumular sobre a superfície da membrana.
Um mercado muito importante para membranas filtrantes em indústrias é a
produção de água de reúso a partir de esgoto bruto ou tratado. O esgotamento
progressivo das reservas de água potável e/ou os altos custos de mobilização de novos
mananciais, localizados a grandes distâncias dos centros consumidores, estão levando
muitas empresas de saneamento básico a considerar tecnologias de membranas filtrantes
para reciclar águas residuárias.
2.3 Esgotos Sanitários
Os esgotos domésticos e industriais contêm grande número de substâncias
contaminantes e que podem ser separadas em três categorias principais (ROQUES,
1980):
As matérias dissolvidas, orgânicas ou minerais, biodegradáveis, ou não;
As matérias coloidais e/ou emulsões (graxas, óleos solúveis, etc);
As matérias em suspensão, orgânicas ou minerais.
Os teores desses diferentes tipos de contaminantes são extremamente variáveis
no tempo e dependem da origem dos esgotos. A determinação da natureza e da
quantidade de cada uma das substâncias presentes pode ser realizada, mas, na maioria
dos casos, aliada à longas e custosas análises. Desta forma, procura-se caracterizar os
esgotos através de testes tais como: DQO, DBO5, pH, temperatura, sólidos em
suspensão, entre outros.
As águas residuais contêm basicamente matéria orgânica e mineral em solução e
em suspensão, assim como alta quantidade de bactérias e outros organismos
patogênicos e não patogênicos.
O tratamento dos esgotos domésticos tem como objetivo, principalmente:
remover o material sólido; reduzir a demanda bioquímica de oxigênio; exterminar
micro-organismos patogênicos; reduzir as substâncias químicas indesejáveis.
Os sistemas de tratamento de esgoto sanitários, em geral, resultam em bom nível
de redução de carga orgânica. Tratamentos avançados levam a uma significativa
redução bacteriológica, e a remoção de contaminantes que permitem reúso para fins
mais nobres (STEPHEENSON, 2000; FANE et al., 2000).
A classificação da membrana de Microfiltração utilizada na área do saneamento
básico possui porosidade variando entre 0,1 μm – 0,2 μm e retém Protozoários,
bactérias, vírus (maioria), partículas.
2.4 Materiais das Membranas
Em função da aplicação a que se destina a membrana, estas podem apresentar
diversas texturas como:
a) textura física: densas ou porosas. Uma membrana densa se caracteriza pela ausência
de porosidade. Ela é fabricada a base de polímero de alta densidade e se apresenta sob a
forma de camadas finas de material cerâmico ou metálico. A transferência de moléculas
através da membrana se desenvolve segundo mecanismo de solução-difusão. Uma
membrana porosa deve possuir boa resistência mecânica, porem espessura fina que
permita vazão de permeação elevada (LAPOLLI, 1998).
b) textura de origem: natural ou artificial. As membranas sintéticas são produzidas a
partir de duas classes distintas de material: os polímeros orgânicos e as membranas de
material inorgânico. (RESEAU NOVELECT-INNOVATION ÉNERGÉTIQUE
ÉLECTRICITÉ, 1993).
A membrana Inorgânica tem como classe tradicional o material cerâmico.
Representam uma opção que permite aumentar limites de operação a temperaturas
elevadas (acima de 150ºC) e em meios quimicamente agressivos. São representantes
clássicos desta categoria a alumina, sílica, óxido de silício ou de alumínio, zircônio e
titânio. Sua importância maior reside no fato que permitem a fabricação de estruturas
microporosas bem variadas com um bom controle de distribuição de tamanho de poros,
caracterizadas por resistências térmicas e químicas elevadas e baixa plasticidade. As
membranas inorgânicas apresentam maior vida útil e permitem limpezas mais eficientes
em relação às orgânicas.
A Tabela 1 mostra uma comparação das propriedades das membranas
inorgânicas e orgânicas.
Tabela 1. Comparação das propriedades das membranas inorgânicas e orgânicas.
Propriedade Membrana inorgânica
Membrana orgânica
Aplicação MF,UF MF, UF, NF, RO
Resistência térmica
Cerâmicas < 250°C
Carvão/grafite < 180°C
Aço < 400°C
Acetato de Celulose <
40°C
Polisulfona < 90°C
Aramida < 45°C
Poliacrolinitrila < 60°C
Polipropileno < 70°C
Faixa de pH
0 - 14
Maioria dos polímeros: 2-
12
Acetato de celulose:
4,5 < pH < 6,5
Resistência mecânica Boa Média a ruim, necessitam
de suporte
Tolerância a materiais
oxidantes
Boa
Depende do polímero,
tempo de contato e
concentração do oxidante
(a maioria dos polímeros
não resiste a ação de
oxidantes)
Fonte: CARDOT, 1999
As membranas de primeira geração eram membranas isotrópicas ou simétricas
com poros regulares, quase cilíndricos, que atravessavam toda a espessura da
membrana. Este tipo de membrana possuía varias limitações devido à pressão. São
pouco utilizadas em aplicações industriais, pois as perdas de carga são consideráveis.
Essas membranas são sensíveis aos ataques de microrganismos.
Dos principais inconvenientes são um fraco fluxo do permeado ligado às fortes
perdas de carga devido a grande espessura e de uma duração de vida relativamente
curta, devido a sua sensibilidade à hidrólise e aos ataques bacterianos (LACOSTE,
1992).
As membranas assimétricas ou anisotrópicas da segunda geração são
caracterizadas por um gradiente de porosidade interno onde uma fina película fica
situada sobre uma superfície mais grossa. Estas membranas são constituídas geralmente
de um único tipo de polímero. Apresentam boas propriedades mecânicas e
proporcionam um melhor fluxo de permeado, resistem bem aos ataques químicos e
bacterianos, não suportando, porém, altas temperaturas e valores extremos de pH. A
Figura 1 apresenta as morfologias mais comuns observadas em membranas.
Figura 1. Representação esquemática da morfologia das membranas (HABERT et al.,
1997).
Segundo Malack et al. (1996), a eficiência da filtração tangencial varia em
função dos parâmetros operacionais do sistema como são:
i. Velocidade tangencial;
ii. Pressão transmembrana;
iii. Temperatura;
iv. Tamanho do poro da membrana e
v. Características do liquido permeado.
2.5 Filtração Tangencial
Na filtração tangencial, também conhecida como "crossflow filtration", o fluxo
do permeado circula em sentido perpendicular enquanto o fluxo de circulação do
sistema permanece em sentido paralelo conforme mostra a Figura 2.
Figura 2. Esquema ilustrativo da filtração convencional e filtração tangencial
(HABERT et al., 1997).
Este fenômeno é possível devido ao um sistema de pressão que é aplicado ao
sistema, dividindo assim o fluxo no permeado e no recirculado.
2.6 Colmatação
O declínio no fluxo do permeado, o qual acontece devido à perda de
permeabilidade da membrana, tem sido foco de vários estudos.
O declino do fluxo do permeado é a maior limitação da microfiltração tangencial
nos sistemas de tratamento de águas residuais. Este fenômeno é atribuído à colmatação,
que é o fenômeno de deposição de solutos nos poros da membrana que causam uma
obstrução progressiva que reduz sua capacidade de filtração. Isto ocorre também na
filtração tangencial, porém, a uma menor escala do que na filtração convencional. A
intensidade da colmatação depende de diversos fatores como as características do
liquido filtrado, assim como das propriedades da membrana utilizada.
2.7 Permeabilidade
O material que atravessa a membrana pode ser medido pela sua permeabilidade.
O mecanismo de transporte é o do fluxo capilar convectivo, em que cada poro é
assimilado a um capilar e a soma de todos os escoamentos fornece o fluxo total
(DUCLERT, 1989).
A permeabilidade à água permite avaliar a porosidade superficial e da
subestrutura da membrana, fornecendo informações sobre as propriedades hidrofílicas-
hidrofóbicas, portanto, sendo fundamental para sua caracterização.
Não se encontra membranas com diâmetros de poros único, e sim, com uma
certa distribuição em torno de um diâmetro médio. O material que atravessa a
membrana é quantificado pela sua permeabilidade. O mecanismo de transporte é o do
fluxo capilar convectivo, em que cada poro é assimilado a um capilar e a soma de todos
os escoamentos fornece o fluxo total (DUCLERT, 1989). Para o caso de soluções que
apresentam diferentes tipos de macromoléculas e de massas moleculares variadas e
partículas em suspensão, devem-se levar em consideração as diversas resistências ao
fluxo do permeado. Dessa forma, tem-se:
J = P - / .(Rm+Rp+Rg+Rc) (1)
Em que:
J = fluxo do permeado (L/m2.s)
P = pressão aplicada (Pa)
= pressão osmótica (Pa)
= viscosidade da solução (Pa.s)
Rm = resistência da membrana (m-1
)
Rp = resistência da zona de polarização (m-1
)
Rg = resistência da camada de gel (m-1
)
Rc = resistência devido à colmatação (m-1
)
O fluxo do permeado, normalmente, no início da operação diminui rapidamente
até um valor determinado, ocasionado pela formação da camada crítica nas
proximidades da parede da membrana. Observa-se, ainda, mesmo com a circulação
tangencial, uma continuidade na redução do fluxo do permeado. Sua intensidade
depende das características da suspensão à filtrar, e também, das propriedades físicas
(tamanho dos poros, distribuição do tamanho dos poros, etc), e químicas (natureza) da
membrana porosa utilizada.
Diferentes hipóteses foram estabelecidas para justificar o fenômeno da
colmatação em membranas, cuja origem, de acordo com VISVANATHAN et al in
WISNIEWSKI (1996) é devido : a) acumulação de partículas sobre a membrana
formando uma camada de polarização por concentração e/ou uma camada de gel, cujas
propriedades podem evoluir ao longo da operação ; b) uma colmatagem por
bloqueamento dos poros ou adsorção de partículas na superfície externa ou no interior
dos poros da membrana, dificultando a passagem do permeado.
2.8 Vazão do Filtrado
A vazão no filtrado é calculada como mostrado a seguir:
( ) ( ) / ( )LQ Vol L t hh (2)
2( / . ) ( / ) /F FQ L m h Q L h A (3)
Onde:
QF = Vazão de Filtrado (L/m2.h)
2.9 Condições de Operação (Petrus, 1997)
As condições de operação de uma membrana são muito importantes, tanto pelo
aspecto de amenizar os efeitos da colmatação, quanto pelo aspecto econômico. O
consumo de energia aumenta à medida que aumenta a pressão, a velocidade de
circulação e a temperatura.
De acordo com Persson, Gekas & Trägardh (1995), para altas pressões a
membrana e a camada de gel, normalmente, são compactadas e, também, ocorre uma
alteração na seletividade do sistema, de tal modo que a colmatação pode ser
intensificada.
Petrus (1997), concluiu que além de um certo limite, que é específico para cada
processo, o aumento da pressão pode não mais corresponder a um aumento de fluxo e,
até mesmo reduzi-lo, com conseqüências adversas para a integridade da membrana.
Normalmente, para os processos de microfiltração são utilizadas pressões entre
0,5 a 3,0 kgf/cm2.
3 Material e Método
O sistema compreende um reator com capacidade de 10 litros e uma membrana
cerâmica monotubular que deve ser preenchida, posteriormente ao tratamento da água
com Escherichia coli, com resina trocadora iônica, diâmetro de poro de 0,20μm, bomba
de alta pressão de 1/2hp com um suporte de PVC que mantém a membrana cerâmica no
seu interior, válvulas e manômetros na entrada e saída do concentrado e permeado, onde
será analisado a porcentagem de água do Boqueirão - PB que o sistema híbrido
consegue recuperar, avaliando o desempenho da membrana. Serão realizadas diferentes
bateladas à temperatura ambiente sob circulação tipo looping por duas horas para
diferentes gradientes de pressão (1,0kgf/cm2
≤ ΔΡ ≤ 3,0kgf/cm2). Foram coletadas
amostras de águas do permeado e concentrado em intervalos de 5 minutos visando obter
as vazões em função do peso das amostras. Com os valores das vazões do concentrado e
do permeado calculou-se a recuperação do sistema.
A membrana utilizada foi a do tipo cerâmica composta de Argila Plástica e
Alumina (α-Al2O3) de forma tubular, monocanal com área filtrante de 0,005 m2 e de
porosidade média 0,2 µm. A representação esquemática do sistema para medida de
fluxo tangencial de membrana tubular pode ser representada na Figura 3.
Figura 3. Representação esquemática
Caracterização das Membranas
As membranas cerâmicas foram caracterizadas por ensaios de microscopia
eletrônica de varredura, porosimetria pelo método de intrusão de mercúrio e
permeabilidade por meio de fluxo tangencial.
Foram realizados ensaios de caracterização da membrana, sob pressão de 1, 2 e 3
bar. O tanque de alimentação foi alimentado com água deionizada para este processo de
filtração, coletando-se o permeado em Becker com seus respectivos intervalos em
tempos pré-determinados. A temperatura do tanque de alimentação foi controlada e
mantida a (27 ± 1) °C.
As amostras de permeado foram coletadas de cinco em cinco minutos em um
intervalo de tempo de duas horas para uma boa determinação da curva de fluxo de
permeado em função do tempo. Entre cada processo de filtração a membrana foi
trocada.
Para a análise bacteriológica será utilizada água contaminada com Escherichia
coli e não receberá nenhum tratamento prévio. O mesmo procedimento feito na
caracterização com água deionizada será feito no ensaio de filtração da água bruta.
Serão feitas análises bacteriológicas e físico-químicas, realizadas segundo
procedimento recomendado pelo Standard Methods (APHA, 1995).
4 Resultados e Discussão
Análises iniciais foram realizadas com água deionizada nas pressões de 1 a 3 bar
sob a temperatura de (27 ± 1) °C, sendo a densidade da água a essa temperatura, ρH2O
27ºC = 0,99654 kg/L e área do filtrante de 0,006 m2.
As bateladas foram realizadas em um intervalo de tempo de 2 horas e as coletas
realizadas a cada 5 minutos.
Na Tabela 2 encontram-se os dados de vazão e fluxo do permeado em pontos
alternados de 25 em 25 minutos para uma pressão de entrada de 1 bar.
Tabela 2. Vazão e Fluxo médios do permeado para uma pressão de entrada 1 bar.
t (minutos) Q (L/h) Fluxo (L/h.m²)
5 6,9 1194,9
30 6,2 1074,5
55 5,3 914,3
80 5,1 886,5
105 4,4 766,3
120 4,0 701,9
Média 5,4 939,5
A Figuras 4 mostra a curva de caracterização da membrana cerâmica com o
fluxo do permeado pelo tempo na pressão de entrada de 1 bar.
Figura 4. Comportamento do Fluxo de Permeado pelo Tempo no Ensaio de Filtração a
1 bar.
A média da vazão mássica transmembrana, à 1 bar, ficou acima daquelas
encontradas nas pressões de 2 e 3 bar.
As Tabelas de 2 a 4 apresentam os resultados das vazões transmembrana em
função do tempo para 120 minutos de processo.
A Figura 4 mostra valores de fluxo transmembrana mais estáveis, o que indica a
estabilização da camada de polarização, enquanto que na Figura 6, na maior pressão
transmembrana (3 bar), a vazão transmembrana sofre uma redução significativa a partir
do início do processo, estabilizando decorrido aproximadamente 80 minutos.
Na Tabela 3 encontram-se os dados de vazão e fluxo do permeado para uma
pressão de entrada de 2 bar.
Tabela 3. Vazão e Fluxo médios do permeado para uma pressão de entrada 2 bar.
t (minutos) Q (L/h) Fluxo (L/h.m²)
5 8,6 1461,7
30 2,9 497,1
55 1,3 213,5
80 0,9 151,4
105 0,7 115,6
120 0,6 107,4
Média 2,0 344,9
A Figuras 5 mostra a curva de caracterização da membrana cerâmica com o
fluxo do permeado pelo tempo na pressão de entrada de 2 bar.
Figura 5. Comportamento do Fluxo de Permeado pelo Tempo no Ensaio de Filtração a
2 bar.
Nas Figuras 4 e 5, nas pressões de 1 e 2 bar, observa que o comportamento do
fluxo transmembrana manteve-se decrescente desde o início do experimento e com
valores de fluxo transmembrana médio variando entre 300 e 900 L/h.m2.
Na Tabela 4 encontram-se os dados de vazão e fluxo do permeado para uma
pressão de entrada de 3 bar.
Tabela 4. Vazão e Fluxo médios do permeado para uma pressão de entrada 3
bar.
t (minutos) Q (L/h) Fluxo (L/h.m²)
5 12,7 2169,6
30 9,7 1656,6
55 7,2 1218,7
80 5,3 910,2 105 3,6 616,6
120 3,1 519,5
Média 2,6 437,1
A Figuras 6 mostra a curva de caracterização da membrana cerâmica com o
fluxo do permeado pelo tempo na pressão de entrada de 3 bar.
Figura 6. Comportamento do Fluxo de Permeado pelo Tempo no Ensaio de Filtração a
3 bar.
Observa-se na Figura 6 que à maior pressão transmembrana (3 bar), a vazão
sofre uma redução significativa a partir do início do processo, e na maioria dos casos
mantendo os valores de Fluxo acima dos processos a 1 e 2 bar. As variações de Fluxo
ao longo do processo são atribuídas a não estabilização da camada de polarização.
O fluxo transmembrana à 3 bar reduziu significativamente até aproximadamente
60 minutos. Depois apresenta valores de fluxo transmembrana estáveis, o que significa
estabilização da camada de polarização.
5 Conclusões
Até o presente momento, baseado nos resultados obtidos, as bateladas iniciais
feitas com água deionizada em todos os ensaios de filtração realizados, para as pressões
de 1 a 3 bar, pode-se observar que a melhor vazão e fluxo de permeado é para a menor
pressão, 1 bar, obtendo um menor efeito da colmatação confirmando que esse fenômeno
ocorre em maior escala quanto maior a pressão. O tratamento mostrou-se de maneira
satisfatória, sendo de interesse econômico e qualitativo. O procedimento seguinte será a
caracterização da água residuária para avaliar sua qualidade após a filtração por
membrana cerâmica de microfiltração com o objetivo de obter água própria para o
consumo humano livre de todos os microrganismos e impurezas.
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Avaliação da vulnerabilidade familiar dos moradores do bairro de Mangabeira na cidade de João Pessoa-PB
Mônica Maria Souto Maior1 Gesinaldo Ataíde Cândido**
Resumo
Este artigo trata de um estudo sobre a vulnerabilidade familiar, buscando estabelecer o índice de risco que as famílias estão expostas em decorrência de sua situação socioeconômica, adaptando o modelo IVF – Índice de Vulnerabilidade Familiar - que foi utilizado por Frei (2007) no município de Assis no Estado de São Paulo, para o bairro de mangabeira na cidade de João Pessoa. Para seu desenvolvimento foi utilizada uma pesquisa bibliográfica sobre vulnerabilidade social e familiar, seguido de um levantamento de dados para compor os indicadores no censo do IBGE (2010), nos estudos feitos por Sposati (2010) - Topografia social da cidade de João Pessoa -, no Fórum do Bairro de Mangabeira e dados originados da Secretaria de Desenvolvimento Humano de João Pessoa. Obtendo como resultado que o bairro de mangabeira apresenta um índice baixo de vulnerabilidade familiar (0,23), mas estar numa situação considerada crítica nas dimensões de desenvolvimento infantil, educação e risco familiar, porque apresenta alguns indicadores com uma percentagem acima de 25% e outros mais preocupantes acima de 50%, indicando a possibilidade de um alto risco de desagregação familiar.
Palavras chave: Índice, indicadores, vulnerabilidade familiar.
Abstract
This article deals with a study on household vulnerability, seeking to establish the risk index that families are exposed due to their socioeconomic status, adapting the model IVF - Vulnerability Index Family - which was used by Frei (2007) in the municipality of Assis in São Paulo, for the mangabeira neighborhood in the city of João Pessoa. For development we used a literature search on social vulnerability and family, followed by a survey of data for the indicators composing the IBGE census (2010), in studies by Sposati (2010) - social topography of the city of João Pessoa - Forum Neighborhood Mangabeira and data originating from the Department of Human Development João Pessoa. The result being that the mangabeira neighborhood has a low rate of household vulnerability (0.23), but being in a situation deemed critical dimensions of child development, education and family risk, because it presents some indicators with a percentage above 25% and more concern over 50%, indicating the possibility of a high risk of breakdown family.
Keywords: Index, indicators, household vulnerability
1 Possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Paraíba (1989), mestrado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal da Paraíba (2002), atualmente está fazendo doutorado no Programa de Pós-graduação em Recursos Naturais na Universidade Federal de Campina Grande. Em 1995 ingressou no Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia da Paraíba, onde permanece até o momento. Na área acadêmica tem lecionado e desenvolvido pesquisas em Arquitetura e urbanismo, Engenharia de Produção e Recursos Naturais. Possui diversos artigos publicados em eventos nacionais e internacionais. E-mail: [email protected]
*� Professor Titular em Administração Geral da UFCG, Doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (2001), Mestrado em Administração pela Universidade Federal da Paraíba (1995. Professor permanente junto ao Programa de Pós-graduação em Recursos Naturais da UFCG e professor permanente junto ao programa de pós-graduação em Engenharia de Produção da UFPB. Líder do GEGIT (Grupo de Estudos em Gestão, Inovação e Tecnologia), cadastrado no diretório de grupos de pesquisa do CNPq. É autor de vários artigos publicados em periódicos e apresentados em eventos. E-mail: [email protected]
1. INTRODUÇÃO
A exclusão social urbana estabelece uma relação de causa e efeito na estruturação das
famílias devido à instabilidade gerada pela negação dos direitos básicos que fornecem a qualidade
de vida humana, tais como: renda, educação, saúde, alimentação, água e moradia.
A estruturação familiar está associada a estes fatores porque, a negação desses direitos
muitas vezes gera em seu seio uma dinâmica de conflito que pode levar a desagregação familiar.
Assim observa-se que como todo organismo dinâmico, a família, sofre, ao longo do tempo,
influências dos fatores ambientais, socioeconômicos e culturais na qual se insere, acarretando
algumas vezes alterações no seu padrão tradicional de organização – pai, mãe e filhos –
modificando as ligações consangüíneas, cedendo lugar a novas articulações, tornando a família uma
construção mutável, permanecendo apenas aquilo, que segundo Amaral (2001), se chama
“sentimento familiar”.
Segundo Petrini (2003) A família encontra novas formas de estruturação que, de alguma
maneira, as reconstituem, sendo reconhecida como estrutura básica permanente da experiência
humana. No entanto, a articulação familiar, seja ela qual for, se caracteriza como grupo básico da
sociedade e tem como finalidade a proteção e a propagação da cultura, propiciando aportes afetivos
e materiais, necessários ao desenvolvimento e bem estar dos seus integrantes.
A família se caracteriza pela convivência entre seus membros implicando compartilhamento
do modo de vida no meio físico chamado de casa ou lar, no entanto, para a família pobre, segundo
Gomes (2005), marcada pela privação, a casa representa um espaço de instabilidade, de
esgarçamento de laços afetivos e da solidariedade, gerando conflitos que podem ter como
conseqüências sua desestruturação. A perda ou rompimento dos vínculos produz sofrimento e leva o
individuo a descrença de si mesmo, tornando-o frágil e com baixa auto-estima.
A família pobre brasileira, de um modo geral, está segregada em bairros periféricos, longe
dos centros urbanos, ou em favelas e invasões próximas a esses centros, no entanto, em ambos os
casos, sem um mínimo de condições mínimas de vida digna, pois além da falta da estrutura urbana
– escolas, trabalho, hospitais, transporte e lazer- ainda lhes faltam renda básica para sua manutenção
diária. Apesar do desenvolvimento econômico brasileiro, as desigualdades na distribuição de renda
e de direitos fundamentais ainda são gritantes, excluindo parte significativa da população ao acesso
as condições mínimas de vida, propiciando a uma vulnerabilidade familiar.
Segundo Masten & Garmezy (1985), a vulnerabilidade refere-se a uma predisposição a
apresentar resultados negativos ao desenvolvimento. Desta forma, o estudo de vulnerabilidade
familiar vem sendo desenvolvido ao longo destas duas últimas décadas para aprofundar as
consequências dos riscos para as famílias e para a sociedade.
As metodologias criadas partiram de estudos do desenvolvimento humano e social – IDH
(Índice de Desenvolvimento Humano), ICV (Índice de Condições de Vida) e IDHM (Índice de
Desenvolvimento Humano Municipal) – estes estudos geraram necessidades de aprimoramento,
fazendo surgir outros métodos de cunho mais significativos, concebidos não só como mecanismo de
conhecimento da vida, mas como ferramenta de transformação social, baseado nos direitos
constitucionais brasileiros. Podendo ser citados os seguintes autores: Barros et all (2003)-
desenvolveu o Índice de Desenvolvimento Familiar (IDF) -, Frei (2007) – que adaptou o Índice de
Vulnerabilidade Familiar (IVF) a partir do IDF, e Martins et all (2010) - que desenvolveu o Sistema
de Indicadores de Vulnerabilidade Familiar (SIVF).
As metodologias que estudam a vulnerabilidade familiar precisam estar atreladas a outros
tipos de vulnerabilidades que de uma forma indireta afeta a estrutura harmônica da família, tais
como: a econômica e a ambiental. Porque na contextualização familiar, a falta de percepção aos
riscos envolve uma incapacidade de se precaver aos danos. Assim a busca por indicadores devem
vir de fontes seguras e confiáveis, para que se possa construir um índice da vulnerabilidade familiar
correlacionado com essas outras dimensões.
A pesquisa de campo muitas vezes não consegue resultados satisfatórios, devido à limitação
temporal e espacial a qual está submetida, não conseguindo abarcar uma amostra populacional
representativa. Assim deve-se recorrer a dados secundários provindos de órgãos conceituados e
confiáveis.
A mensuração da vulnerabilidade familiar é de grande importância para a construção de
políticas públicas, porque trabalha com variáveis sociais que espelham a associação das condições
de vida com as doenças sociais, ocasionadas pelas inadequações de vida digna familiar. As
metodologias estão em fase de desenvolvimento e teste devido a sua recente criação, e precisam
ainda de muitas adaptações para ter um resultado representativo da vulnerabilidade familiar
brasileira, até agora os estudos desenvolvidos abarcam pontualmente alguns focos, que devem ser
expandidos para se ter um quadro mais abrangente de indicadores. Outro ponto critico, é que as
variáveis são de difícil tratamento, porque envolvem mensurações diferentes que não se encontram
padronizadas numa mesma medida, porém o estudo da vulnerabilidade familiar é de grande
importância e deve considerar as especificidades do local estudado, incluindo não só os fatores
sociais, mas outras dimensões, que para o contexto estudado, tem influência na desagregação das
famílias. Apresentar um índice de vulnerabilidade é de grande importância, porque identifica e
localiza as pessoas com maiores necessidades a fim de criar programas para incluí-las novamente na
sociedade.
Decorrendo desta visão, o bairro de mangabeira foi escolhido por apresentar alguns fatores
que o diferencia dos outros bairros pobres da cidade de João Pessoa. Este bairro apesar de ser
considerado o maior bairro do município, com proporções de cidades – tanto em população quanto
em dimensão – apresenta especificidades de bairro periférico que ainda atrapalham o
desenvolvimento das famílias – grande concentração de pobreza, violência elevada e falta de
equipamentos urbanos que atendam a totalidade da população residente. Alguns serviços urbanos
oferecidos ao bairro não considera o volume populacional que o utiliza. No entanto, sinaliza para
melhoria das condições sociais, numa perspectiva de geração de emprego, devido ao afloramento e
expansão do comércio, para atender não só a sua população, mas também as dos bairros vizinhos,
inclusive condomínios horizontais fechados voltados para a classe social média alta.
Assim este estudo busca responder quais os fatores que mais influenciam a vulnerabilidade
familiar em nível de microlocalização urbana, buscando identificar o risco de desagregação familiar
do bairro de mangabeira na cidade de João Pessoa-PB, partindo do índice de vulnerabilidade
familiar, através de indicadores da exclusão socioambientais estudados por Sposati (2010), IBGE
(2010) e Instituições públicas estabelecendo correlações entre a exclusão social e vulnerabilidade
familiar, a partir das quantificações de violência contra a mulher, gravidez de jovens, homicídios de
jovens e divórcios litigiosos.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Vulnerabilidade social X Vulnerabilidade familiar
Kaztman (1999) define vulnerabilidade social como a incapacidade de uma pessoa ou lugar,
para aproveitar as oportunidades disponíveis em distintos âmbitos socioeconômicos, para melhorar
sua situação de bem estar ou impedir sua deterioração.
Os índices de pobreza quantificam o grau da exclusão que fatores socioeconômicos impõem
em um determinado lugar a alguns grupos. Uma das formas de mensuração dessa exclusão é
baseada na satisfação das necessidades básicas que geram bem estar e que estão associadas aos
ativos pessoais e do amparo Institucional dos cidadãos pelo Estado. Segundo estudos do Ministério
do Trabalho e Emprego, (Brasil, 1997) o termo exclusão social que teve sua origem na França
durante as duas últimas décadas do século XX, deve abarcar situações mais extensas do que os
problemas gerados no mercado de trabalho. A estrutura de oportunidades não é linear para os
diferentes grupos sociais, a segregação de gênero, raça e condições financeiras aumentam a
discrepância de oportunidade para uma vida mais digna.
Pode-se constatar que os processos de exclusão social nas cidades têm gerado um aumento
constante e infindável de violência urbana e de degradação social. A família como célula base da
sociedade se torna expostas ao risco, porque as perspectivas de melhorias socioeconômicas se
tornam, a cada dia, mais intangíveis. Assim pode-se relacionar a vulnerabilidade familiar aos planos
econômicos capitalistas, que deixam os pobres ainda mais pobres, e os ricos cada vez mais ricos.
Neste contexto vulnerabilidade e risco social são sinônimos de pobreza, porém, um é conseqüência
do outro, uma vez que a vulnerabilidade é que coloca as pessoas em um risco social. Segundo
Moser (1998), vulnerabilidade é uma situação que precisa de pelo menos três componentes: 1)
exposição ao risco; 2) incapacidade de reação e 3) dificuldade de adaptação diante da
materialização do risco.
Diante do exposto existe dentro deste grupo social ligado a pobreza, um subgrupo que está
mais vulnerável, ligado a questão de gênero, que é a mulher, onde as relações desiguais de poder e
de prestigio são facilmente identificáveis.
Com a transformação da família ocorreu nos últimos tempos um crescimento da participação
da mulher como pessoa de referência da família, e muitas vezes como única provedora na base do
domicílio, a qual vem acumulando as funções de cuidado com os filhos, casa e trabalho, gerando
um risco de sobrecarga psicológica. No caso da mulher como única provedora, existe uma forte
tendência para a inserção de crianças em atividades remuneráveis, afastando-os das escolas, para
suprir a ausência da renda masculina e a desigualdade de remuneração existente entre gêneros no
mercado de trabalho brasileiro.
Outro aspecto a ser considerado é a mudança no comportamento reprodutivo das mulheres
que, cada vez mais, estão se tornando mães mais cedo. A gravidez precoce é muitas vezes
indesejada, seja por inexperiência, falta de informação, negligência da família ou por violência
sexual, obrigando a evasão escolar e a inserção precoce no mercado de trabalho, principalmente em
subempregos.
Nas diversas faces da pobreza, a fome se apresenta como um aspecto perverso, apesar da
alta produtividade de alimentos no país. O que se conclui que existe uma desigualdade de acesso
aos alimentos ou a seus meios de produção, e que não se pode ter harmonia e paz familiar quando se
tem fome ou quando se vê filhos chorando com fome sem ter os meios de suprir tais necessidades.
Na estrutura social encontrada hoje é esperado que as pessoas convivam com uma grande
variedade de riscos diferentes e contraditórios, pois instituições como a família não tem condições
de fornecer apoio contra tais ameaças, (BECK, 1997). Mesmo considerando os riscos como sendo
individuais – desemprego, trabalho precário e a própria dissolução conjugal - eles tem uma
conseqüência coletiva afetando todo o grupo familiar. Autores como Moser (1998), Vignoli (2000),
Camarano e Gahouri (1999), discutem a possibilidade de uma ciência multidisciplinar da
vulnerabilidade que possa abarcar diferentes formas de risco que a sociedade está exposta, onde as
conexões entre elas formam uma malha de causa e efeito uma sobre a outra, defendendo que não se
pode mais analisar a vulnerabilidade sobre um aspecto somente.
Segundo Dechamps (2009, p 11):
Em nível de famílias, a vulnerabilidade está vinculada à capacidade de
resposta e ajustes frente às condições adversas do meio, ou seja, a
capacidade que as famílias têm de mobilizar ativos, escassos ou não, para
enfrentar as adversidades. As famílias ou pessoas com pouco capital
humano, com ativos produtivos escassos, pouco acesso à informação e às
habilidades sociais básicas, com falta de relações pessoais e com pouca
capacidade para manejar seus recursos, estão em condições de
vulnerabilidade diante de qualquer mudança ocorrida em seu entorno
imediato.
Considerando o aspecto da vulnerabilidade familiar Therborn (2006) endossa a teoria de
Weber – da racionalidade em relação a valores - de que os interesses não econômicos como
sentimentos e afetos são de fundamental importância na definição de objetivos e na condução da
ação de enfrentar determinado risco e resolvê-lo, porque cria laços de união e objetivos comuns na
família. Por outro lado, a supervalorização de sentimentos em relação a racionalidade pode gerar
novos riscos, citando como exemplo, o evasão do trabalho feminino para cuidar dos filhos
pequenos, que gera dependência feminina ao marido provedor, diminuição da renda familiar e
consequentemente, a entrada tardia dos filhos em ambientes educacionais.
O encadeamento de ações e reações, no seio familiar, é complexo constatando-se que alguns
membros terão mais direitos e outras mais obrigações e nesta distribuição está contida a
determinação do poder de uns sobre os outros, gerando relações contraditórias de interdependência
com uma imensa carga conflitiva, nas quais, ao mesmo tempo em que oferecem proteção e
cuidados, são potencialmente violentas. (THERBORN, 2006). Pondo em risco a unidade familiar.
2.2 Índice de Vulnerabilidade Familiar - IVF
A elaboração de índice que possam retratar as condições socioeconômicas começou a ter
importância no Brasil nas décadas de 1990 a 2000 se destacando o Índice de Qualidade de Vida
Urbana (Nahas, 1995), Índice de Exclusão Inclusão Social (Sposati, 1996), Índice de̸
Desenvolvimento Familiar (Barros et all, 2003) e Índice de Vulnerabilidade Familiar (Frei 2007).
O IVF – Índice de Vulnerabilidade Familiar – foi desenvolvido por Frei (2007), que adaptou
o IDF (Índice de Desenvolvimento Familiar) de Barros (2003), modificando-o e ampliando o rol de
indicadores.
O Estudo de Barros (2003) busca aprimorar o IDH – Índice de Desenvolvimento Humano –
calculando no nível local, ao invés de global, o desenvolvimento de cada família, incluindo a
segregação por grupo demográfico tais como negro e mulheres chefe de família. Ele é composto por
seis dimensões: 1) ausência de vulnerabilidade; 2) acesso ao conhecimento; 3) acesso ao trabalho;
4) disponibilidade de recursos; 5) desenvolvimento infantil; 6) condições habitacionais. Cada
dimensão representa os meios necessários para a satisfação das necessidades efetivas. Utiliza vinte e
seis componentes, e quarenta e oito indicadores que são trabalhados através de perguntas, e
respondidos em forma de “sim ou não”, cada “sim” é computado como algo positivo e aumenta a
posição da família em direção a um maior nível de desenvolvimento humano.
No caso do IVF, Frei (2003) trabalhou adaptando as informações aos dados que poderiam
ser obtidos através de pesquisa de campo, adaptando as dimensões e os indicadores de modo a
analisar a vulnerabilidade ao invés do desenvolvimento. Assim trabalhou com sete dimensões: 1)
risco familiar; 2) acesso ao conhecimento; 3) acesso ao trabalho; 4) desenvolvimento infantil; 5)
carência habitacional; 6) condições de saúde; 7) recursos; e vinte e cinco indicadores, ao invés de
quarenta e oito, representativos das carências familiares abrangentes, que vão afetar de forma
indireta as condições das famílias da localidade estudada.
O Índice de Vulnerabilidade Familiar buscou estudar o reflexo da violência através das
desvantagens socioeconômicas e sua consequência na estrutura familiar, vista como um dos
sistemas sociais que estabelece padrões morais e de conduta. Um ponto positivo apresentado neste
método é o seu poder discriminatório, onde é possível identificar quais as dimensões que são mais
afetadas, o que permite aos gestores públicos uma atenção mais eficaz.
O IVF é um método simples e flexível que permite alterações, na inserção ou exclusão de
indicadores de forma que se adaptem melhor ao foco da pesquisa, no entanto, exige um escopo
técnico grande para aplicação da metodologia em campo, no caso de Frei (2007), foi de 60
monitores para aplicação dos questionários em 3 semanas.
Segundo Frei (2007, p. 124):
A metodologia necessita de ser revista em alguns pontos, entre eles se
destaca a ponderação para determinadas dimensões ou indicadores. A
criação de pesos pode ser efetuada através de metodologias estatísticas ou
de forma mais subjetiva, mas não menos importante, por consenso entre
especialista e sociedade. Fica evidente que a sensibilidade do IVF pode ser
ampliada levando-se em consideração o número de eventos em cada
indicador.
As limitações detectadas pelo autor não diminui a importância e a seriedade da metodologia
proposta, como o estudo da vulnerabilidade familiar está em fase de desenvolvimento, necessita de
várias aplicações para obter um feed-back, e assim, se conseguir aperfeiçoar não só este método,
mas vários outros empregados para esse tipo de estudo.
3. METODOLOGIA
3.1 Bairro de Mangabeira
Mangabeira localiza-se na região sul da cidade de João Pessoa (Coordenadas: 07° 10' S, 34°
50' O), foi fundado com o nome de conjunto habitacional Tarcísio de Miranda Burity em 23 de abril
de 1983 e foi construído para barrar conflitos sociais ligados aos movimentos populares pela
moradia. LAVIERI (1999).
É o bairro mais populoso da cidade, com cerca de 70 mil habitantes, tendo uma população
equivalente a um município. (IBGE 2010). O nome Mangabeira nasceu da fazenda que existia no
local, onde havia uma plantação da fruta.
O bairro é subdividido em oito partes, numeradas do I (um) ao VIII (oito). Ocupa uma área
de 1.079 hectares e os números conferem ao bairro grande importância política e econômica. É um
bairro vocacionalmente comercial para as classes médias B e C, ficando atrás apenas do centro da
cidade em quantidade de comércio e serviços. Possui distribuído em seus limites: duas creches, sete
escolas, um hospital e vinte e sete Postos de Saúde Familiar – PSF.
3.2 Levantamento e coleta de dados
Os indicadores selecionados foram coletados no levantamento estatístico do IBGE (2010),
Sposati (2010), órgãos da Prefeitura de João Pessoa – Secretaria do Desenvolvimento Social e
Secretaria da Mulher –, e Fórum Civil do Bairro de Mangabeira.
3.3 Indicadores Selecionados
O modelo adotado nesta pesquisa foi baseado no estudo desenvolvido por Frei (2007), que
utilizou para a cidade de Assis – SP, sete grandes áreas temáticas e 25 indicadores. Para este estudo
foram feitas algumas inclusões e ou exclusões de áreas temáticas, como também de indicadores –̸
havendo a exclusão da área temática da saúde, usada por Frei (2007) e incluindo a área temática da
degradação familiar - e 28 indicadores para uma melhor adaptação aos dados encontrados, tanto do
ponto de vista temporal, quanto territorial. Os indicadores trabalhados representam carências
familiares abrangentes, igual ao trabalho de referência.
Grande Área de Risco Familiar - Esta área indica a necessidade de recursos adicionais para
famílias vulneráveis em relação a uma família padrão, porque as quantidades de gestantes,
crianças, idosos e adolescentes aumentam o volume de recursos necessários para a satisfação
de suas necessidades básicas.
1. Indicadores de Risco Familiar
a. Presença de crianças (idade de 0 – 4 anos)
b. Presença de adolescente (idade de 5 – 14 anos)
c. Presença de adolescentes (idade de 15 – 19 anos)
d. Presença de idosos (60 anos ou mais)
e. Presença de mulher chefe de família
f. Presença de adolescente grávida
g. Presença de portadores de deficiência física
Grande Área de Acesso ao Conhecimento – Indica a baixa ou nenhuma escolaridade a qual
os componentes adultos responsáveis pela renda familiar estão vulneráveis por não terem um
nível de escolaridade que lhes dê oportunidade de trabalho, nas relações comunitárias e
compreensão de seus direitos.
2. Indicadores de Acesso ao Conhecimento
a. Chefe de família analfabeto
b. Presença de adulto analfabeto
c. Presença de adulto com 1° grau incompleto
Grande Área de Acesso a Trabalho – Indica a capacidade produtiva familiar e de
suprimento das necessidades básicas de vida, como renda e salário remunerado.
3. Indicadores de Acesso ao Trabalho
a. Presença de desempregados
b. Presença de ocupados no setor informal
c. Presença de famílias com renda per capita inferior a 14 SM̸
d. Presença de famílias com renda per capita inferior a 12 SM ̸
Grande Área de Desenvolvimento Infantil – Indica o desenvolvimento infantil. O acesso a
educação como caminho de evitar o ingresso de Jovens a drogas, violência e reprodução em
idade infantil.
4. Indicadores de Desenvolvimento Infantil
a. Presença de crianças de 0 a 4 anos fora da creche
b. Presença de pessoas de 4 a 14 anos fora da escola
c. Presença de pessoa de 14 a 17 anos fora da escola
Grande Área de Carência Habitacional – Indica a carência na dimensão de condições de
vida em família, pouco espaço, falta de abastecimento de água tratada, falta de saneamento
básico e coleta de lixo, fatores que podem trazer precariedade da saúde dos moradores.
5. Indicadores de Carência Habitacional
a. Densidade domiciliar média
b. Domicílios não próprios
c. Domicílios não conectados com a rede de água
d. Domicílios com esgoto inadequado
e. Domicílios sem banheiro
f. Domicílios sem coleta de lixo
Grande Área de Degradação Familiar – Indica a vulnerabilidade familiar associada às
condições de violência gerada pela conjuntura sócio-econômica educacional.
6. Indicadores de Degradação Familiar
a. Porcentagem de usuárias dos Centros de Proteção à Mulher
b. Porcentagem de Homicídios de jovens
c. Porcentagem Separações e divórcios
Grande Área de Necessidades de Recursos – indica o nível de dependência econômica
relacionado a programas de governo, os quais dependem de políticas públicas e de
interesses de governantes, aparentando uma contribuição paliativa de renda.
7. Indicadores de Recursos
a. Porcentagem de Beneficiários do Programa Bolsa-Família
b. Porcentagem de Família que recebe Auxílio PETI - Programa de Erradicação do
Trabalho Infantil
c. Porcentagem de Beneficiários do Benefício de Prestação Continuada
3.4 Ponderação
A ponderação do IVF se deu seguindo os estudos feitos por Frei (2007), o qual trabalhou de
forma inversa para cada grande área, desta forma, quanto menor o número de indicadores, maior foi
o peso desta mesma área. Neste estudo a ponderação segue que para todas as grandes áreas os pesos
são ponderados em relação ao total de indicadores, assim, nas áreas onde há menor número de
indicadores, maior é o peso desta mesma área .
3.5 Análise Estatística
A análise dos indicadores foi feita utilizando técnicas estatísticas descritivas utilizando o
intervalo de confiança de 95% com margem de erro de 3%.
4. RESULTADOS
4.1 Construção do índice
Na metodologia de Frei (2007), a construção do índice de vulnerabilidade familiar é feito
da seguinte forma: atribuindo o mesmo peso para todos os indicadores de cada componente de uma
mesma dimensão; a todos os componentes de uma mesma dimensão e a cada uma das sete áreas
temáticas que compõem o índice.
Neste estudo foi utilizada a equação abaixo, para definir a vulnerabilidade a partir dos
indicadores escolhidos:
Vf =
1K[∑k=1
m1nk
(∑i=1
n
Bik)]Onde k denota o número de áreas temáticas (k = 1,2,...,m sendo m=7).
Onde nk denota o número de indicadores em cada área temática K.
B ik denota o i-nésimo indicador da k área temática.
Quadro 1 – Caracterização e Quantificação dos Indicadores
DIMENSÕES INDICADORES VALORES TOTAL
1.Risco Familiar
Porcentagem de crianças (idade de 0 – 4 anos)
0,07
Vf =
17[∑k =1
m17 (∑
i=1
n
Bik)]V rf =0,022
Porcentagem de crianças (idade de 5 – 14 anos)
0,185
Porcentagem de jovens (idade de 15 – 19 anos)
0,155
Porcentagem de idosos (idade acima de 65 anos)
0,060
Porcentagem de mulher chefe de família
0,375
Porcentagem de adolescente grávida (*�*�)
0,150
Porcentagem de portadores de deficiência física
0,104
2. Acesso ao Conhecimento
Porcentagem de mulheres chefes de famílias analfabetas
0,275
Vf =
17[∑k =1
m13 (∑
i=1
n
Bik)]V ac=0,032
Porcentagem de adultos responsável pelo domicilio com até 3 anos de estudo
0,123
Porcentagem de adultos chefes de família com 1° grau incompleto
0,275
3. Acesso ao Trabalho
Porcentagem de mulheres sem rendimento
0,060
Vf =
17[∑k =1
m14 (∑
i=1
n
Bik)]V at=0,0194
Porcentagem de responsáveis pelo domicilio sem rendimento
0,055
Porcentagem de responsáveis pelo domicilio com renda inferior a 1 SM
0,170
Porcentagem de responsáveis pelo domicilio com renda entre 1 SM e 2 SM
0,260
4.Desenvolvimento Infantil
Porcentagem de crianças de 0 a 4 anos fora da creche
0,800V
f =17[∑k =1
m12 (∑
i=1
n
Bik)]V di=0.094
Porcentagem de criança de 5 a 14 anos fora da escola
0,440
5. Carência Habitacional
Porcentagem da densidade domiciliar média
0,039
Vf =
17[∑k =1
m16 (∑
i=1
n
Bik)]V ch=0,0254
Porcentagem de domicílios não próprios
0,750
Porcentagem de domicílios não conectados com a rede de água
0,001
Porcentagem de domicílios com esgoto inadequado
0,250
Porcentagem de domicílios sem banheiro
0,0003
Porcentagem de domicílios sem coleta de lixo
0,012
6. Degradação
Porcentagem de usuárias dos Centros de Proteção à Mulher
0,056
Porcentagem de 0,180
Familiar Homicídios de jovens (*�*�)V
f =17[∑k =1
m13 (∑
i=1
n
Bik)]V df =0,024
Porcentagem Divórcios Litigiosos (*�*�*�)
0,270
7. Recursos
Porcentagem de Beneficiários do Programa Bolsa-Família
0,156
Vf =
17[∑k =1
m13 (∑
i=1
n
Bik)]V r=0,014
Porcentagem de Beneficiários do Benefício de Prestação Continuada
0,085
Porcentagem de Família que recebe Auxílio PETI - Programa de Erradicação do Trabalho Infantil
0,005
Índice da vulnerabilidade familiar de Mangabeira:
V f =∑k=1
m
W k Bk=0,23
Onde: k denota o número de áreas temáticas (k=1, 2, 3.......7) e onde W k foi considerado igual a 1, porque se considerou que quaisquer uns dos indicadores trabalhados têm a mesma importância no processo de vulnerabilidade das famílias estudadas.
Fonte: Sposatti (2010),*�*� Secretaria do Desenvolvimento Humano (2010) e *�*�*� Fórum Civil do bairro de Mangabeira (2010).
O IVF para o bairro de mangabeira é de 0,23. O que pode ser considerado baixo, no entanto,
pode-se verificar que as dimensões acesso ao conhecimento e desenvolvimento infantil são as que
apresentam valores mais altos, necessitando de maior atenção nas políticas públicas. Sobre outro
prisma, mostram que existe um relaxamento da atuação do governo nessas dimensões. Ver gráfico
1.
Gráfico 1 – Gráfico dos resultados das dimensões estudadas
.
Fonte: Elaboração própria
Considerando os conceitos apresentados neste estudo pode-se afirmar que todas as famílias
que possuem uma ou mais vulnerabilidade está em risco de degradação familiar, significando que
elas necessitam de atenção dos planos de gestão para amenizar ou minimizar seus problemas. A
violência urbana e domiciliar é um assunto corrente no bairro, apontando a desestruturação
harmônica no seio familiar e social. Essas famílias além de ter problemas econômicos decorrentes
das crises do capitalismo se deparam com os problemas de ordem social conseqüentes da exclusão
gerada pela sua condição de pobreza e periferização urbana, tais como serviços de saúde, educação
e segurança.
Apesar de o bairro ter uma boa estrutura comercial e de perspectiva de emprego – já que
abriga um setor comercial avançado para a classe média B e C – os equipamentos de saúde, que
apesar de estarem presentes no bairro não conseguem atender a demanda da superpopulação, porque
também prestam serviços a outros usuários de bairros periféricos próximos que não possuem este
tipo de equipamento, devendo ser ponto de observação dos gestores no planejamento urbano
municipal.
Outro aspecto que reflete na condição de perpetuação da pobreza é a defasagem de
equipamentos educacionais para suprir a demanda populacional de crianças e jovens que ficam sem
escola ou precisam se deslocar para outros bairros para ter acesso à educação. Esse fator acarreta
ainda uma evasão escolar alta, devido ao transtorno com gastos e tempo para o deslocamento, por
isso nos indicadores apresentados a porcentagem de crianças e jovens fora da escola se apresentou
tão altos.
A situação de vulnerabilidade familiar está diretamente associada aos índices de pobreza e
da privação gerada pela falta de políticas públicas que busquem solucionar tais problemas de forma
mais permanente e menos paliativa, que vislumbre a melhoria da qualidade de vida de forma mais
igualitária e mais humana. Desta maneira os riscos sociais geram a vulnerabilidade familiar sendo
muitas vezes a causa das separações e divórcios, que por sua vez agravam o risco a pobreza,
ocasionando um ciclo vicioso de causa e efeito. Em mangabeira, o indicador de divorcio litigioso
apresentou um valor elevado 27,5%, indicando uma grande desagregação familiar conflituosa.
Outro aspecto de agravamento da pobreza é o alto grau de membros dependentes
economicamente dentro do domicilio. O que faz do alto índice de reprodução um fator preocupante.
Pois se observa que, as políticas públicas contribuem para esse agravamento quando estabelece
apoio financeiro para famílias que tem crianças em idade escolar, fazendo da procriação um bom
negócio. Por outro lado, a bolsa família não consegue suprir as necessidades de manutenção que as
crianças necessitam de vida digna e alimentação e o aumento demográfico traz para a sociedade
outros males sociais.
Como solução ao problema da vulnerabilidade familiar, este estudo recomenda maior
atenção no planejamento estratégico municipal de forma a construir mais creches e escolas no
bairro para não criar um ciclo vicioso nas famílias com condições mínimas de oportunidades, pela
falta do nível de instrução, e também, permitindo que as mulheres chefes de família possam deixar
seus filhos seguros e alimentados quando forem trabalhar.
Outra necessidade urgente é a criação de políticas públicas de incentivo ao
empreendedorismo, porque o bairro já apresenta uma forte vocação ao comércio e serviço, o que
permitiria uma criação de mais oportunidade de emprego para jovens e adultos.
5. CONCLUSÕES
Esta pesquisa não encerra um diagnóstico preciso da vulnerabilidade familiar do bairro de
mangabeira, porque as informações trabalhadas enfocam apenas um lado objetivo de análise.
Sugere-se que a pesquisa possa continuar para a obtenção de dados que possam abarcar o lado
subjetivo da vulnerabilidade familiar como sentimentos e comportamentos dos grupos, ou seja, o
lado individual de análise dos membros constituintes da família na situação de risco social para
avaliar a resiliência familiar
No caso do bairro de Mangabeira, pode ser observado que os grupos familiares que
apresentam risco social são aqueles que estão mais vulneráveis a desestruturação. Para
complementação e maior segurança no diagnóstico carece uma pesquisa sobre os comportamentos
repetitivos dentro da família, que muitas vezes, remete a uma situação de vulnerabilidade, como uso
da bebida por algum membro, drogas, que são dados que só podem ser conseguidos na abordagem
direta, de casa em casa, e mesmo assim são escondidos, porque sua admissão resulta em vergonha.
Numa estrutura familiar onde o risco econômico é mínimo, observa-se que os conflitos estão
mais ligados aos fatores de incompatibilidade de sentimentos entre seus membros – marido e
mulher, filhos e padrastos ou madrastas, entre irmãos, dentre outros -, esse lado psicológico deve ser
levantado para se obter um diagnóstico mais preciso considerando as relações humanas no seio
familiar, que é tão importante quanto às relações econômicas, porque traz a harmonização e a busca
por objetivos comuns dentro da estrutura familiar. Segundo Vicente (1994), o fato de a família ser
um espaço privilegiado de convivência não significa que não haja conflitos nesta esfera. No entanto,
a forma como estes conflitos são trabalhados por seus componentes é que são determinantes para a
estruturação da família.
Apesar da não abordagem da subjetividade das famílias, o modelo usado nesta pesquisa o
IVF, trouxe um diagnóstico urbano-familiar do bairro indicando os aspectos onde a atuação das
políticas públicas se faz urgente. Assim este estudo cumpre com seu objetivo, apesar da limitação
de espaço e tempo para sua execução.
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Impact of the new national solid waste strategy on waste management in
Palmas, Brazil
Olivia Marques and Gareth Swift 1
ResumoNeste artigo os autores apresentam um estudo de caso sobre a gestão de resíduos em Palmas – TO, uma cidade de médio porte localizada na região Norte do Brasil. Características do município e da atual logística de gestão de resíduos foram analisados e levados em consideração para proposição de um modelo de gestão baseado na nova politica nacional de resíduos sólidos. Os autores enfatizam a falta de profissionais qualificados que possam operar sistemas complexos de tratamentos, o que levou à proposição de um modelo de gestão a partir de tecnologias baseadas na mão de obra intensiva, já que a ausência de profissionais especializados representa uma barreira para a aplicação de tecnologias mais eficientes e complexas. Como conclusão do trabalho, os autores apresentam um modelo de tratamento baseado em sistemas mecânicos e biológicos com inclusão social de catadores de recicláveis, que é compatível com a recém aprovada Politica Nacional de Resíduos Sólidos.
Palavras-chave: Gerenciamento de Resíduos Sólidos Urbanos ReciclagemCompostagem
AbstractThis paper presents a case study of a medium sized city located in northern Brazil, Palmas, which is representative of the current Brazilian demographic trend. Through this case study, factors influencing the successful implementation of the new national solid waste strategy are considered and analysed. The authors emphasise the importance of an abundant, non-skilled labour force that led to the proposal of management model based on labour intensive waste treatment technologies, since the lack of a highly skilled workforce represents a significant barrier to the development of more efficient, but significantly more complex treatment options. At a conclusion it is presented a model of MBT with social inclusion that is compatible with the new National Solid Wastes Policy – NSWP.
Keywords: Solid Waste Management, Recycling, Composting
1 Olivia Marque is Senior Consultant at CTE – Centro de Tecnologia em Edificação, e-mail:
[email protected] ; Gareth Swift - Civil Engineering Research Centre, University of Salford, Greater
Manchester, United Kingdom
1.0 Introduction
This paper considers the current waste management strategy in a medium
sized city, Palmas, in the state of Tocantins in Northern Brazil, and how this strategy
will be impacted by the new national policy on waste management. The Brazilian
Senate recently approved the National Solid Wastes Policy framework (Law No.
12,305/2010) that sets out new rules and regulations regarding solid waste
management and the control of open dumps. It provides guidelines on joint and
environmentally appropriate management of solid waste, and regulates issues such as
joint management, proper allocation and disposal, and shared responsibilities. The
main components of the NSWP are: social inclusion, reverse logistics and full
treatment of the wastes generated.
This case study location is considered a typical urban site of the new Brazilian
demographical trend: the migration from coastal areas to the inner agricultural areas
(MAD, 2011). According to IBGE (2010), Palmas represents most medium size cities
of the Northern frontier of development, such as high population growth rates due to
migration from Southern regions, great distances from São Paulo, the polarized centre
of Brazilian economy, and strong dependence of inter-regional trade flows between
North and South regions together with a low share in the Brazilian trade (Magalhães e
Domingues, 2009). This particular situation brings to light some of the issues and
barriers that need to be addressed in order to ensure effective implementation of the
new national solid residues strategy at local levels. We will describe the geographical
setting and current waste management system in order to propose a model for
compliance with the new regulation in the field of waste management.
2.0 CASE STUDY: Palmas as a model for medium size cities in Northern
Brazil
2.1 Geographical setting
Palmas is a planned city created in 1989 as the capital of the newest state of
the Brazilian Federation, Tocantins. The city comprises four divisions of the urban
centre and five expansions to the southern area. Because of geographic obstacles, the
city growth occurs to the southern and northern directions only. This creates a
problem to the administration of Palmas, since the extensive north-south dimension of
circa 36km makes it expensive to provide sanitation infrastructure such as waste and
water collection and treatment (Bazolli, 2007). Despite the fact that the central region
is completely urbanized it has a low population density, which for Carvalho & Braga
(2001), raises the per capita cost of infrastructure.
The population in 2007 was 178,386 with a density of 80.99 inhab/km2
distributed in urban areas (around 97.69%) and 2.31% in rural areas (IBGE, 2007;
IBGE 2000). Data from SEPLAN (Secretariat of Planning) shows that the city had the
highest growth rate among Brazilian municipalities with a growth rate of 28.7%
between 1991 and 1996 (Finco et al., 2006) and around 5.81%, between 2000/2007,
which is higher than the state population growth rate of 1.5% and the national growth
rate of 2.1%, but lower than in the previous decade (Rodrigues, 2008).
The Gross Domestic Product (GDP) per capita was US$22.10 in 2010. The
capital has low industrial development and most of its GDP arises from the
government sector of services which differs from Tocantins GDP in which industry,
agriculture and livestock have a similar share (IBGE, 2010). Since, the public services
are the main economic drivers of Palmas economy. A proposal for management of the
town services based on public-private partnerships such as recyclables collectors
associations and the municipality could introduce new sources of income and through
this diversify and strengthen the economy of Palmas.
2.2 Current waste management system
The waste management system is provided by the Secretaria Municipal de
Infra-Estrutura e Serviços Públicos through the operation of the MSW facilities and
managerial and technical support, and a private company has a contract for the
collection of MSW in the urban area. The urban MSW is landfilled without any pre-
treatment. The amount of waste collected is reported as 136t/day in 2009 an
equivalent of 0.784kg/inhabitant/day (ABRELPE, 2009). The generation of residues
in Palmas is similar to other capital cities of the North Brazil such as Porto Velho and
Rio Branco with an average of 1.051kg/head/day of waste collected per inhabitant,
typical of the North Region.
The composition of the household waste is shown in Figure 2. The residues
presented 35% of humidity and high concentration of volatile solids which indicates a
high level of compostable/digestible material. Pereira (2001) presented a similar result
of composition of waste.
Figure 2: Palmas waste composition according to Naval and Gondim (2001).
The household waste of Palmas shows a high quantity of glass, plastic and
metal when compared to Brazilian waste. According to Santana (2008) this is due to
low recovery of materials that could be recycled. The low presence of paper and
cardboard results from the presence of recyclables collectors associations that are
specialized in this type of material (Santana, 2008). The organic fraction in Palmas is
similar to the standard Brazilian composition. According to Naval and Godim (2001),
the residues presented 35% of humidity and high concentration of volatile solids
which indicates a high level of compostable/digestible material.
The Palmas landfill is located in a rural area around 2km from the surrounding
communities (Figure 3). The distance between the landfill and the city centre is
around 26km. The landfill started operations in 2001 and receives roughly 130t/day of
unsorted MSW (Santana, 2008). All of the volume of waste produced and collected in
Palmas goes to this landfill. The residues do not pass through any pre-treatment or
selection processes prior to disposal (Finco et al., 2006).
Figure 3: Location of the landfill in the municipality of Palmas-TO (not to
scale)
According to the Municipality of Palmas, the landfill is a sanitary landfill.
This type of landfill uses engineering principles to store the waste with the minimum
volume as possible and covering it with soil at the end of each activity or within
shorter periods if necessary as defined by a regulation from Brazilian Standardization
Bureau (NBR 8.849 and NBR 8.419). Although the Palmas landfill is limited by
fences and it has an administrative building, control of waste at arrival since 2007,
engineered lining system, soil coverage, drainage and treatment of leachate on-site
and gas drainage, there is no gas recovery, no rainwater drainage system and no
recirculation of leachate, which are necessary conditions for a landfill operation
according to the regulation above. The residues are covered with topsoil weekly
although the regulation requires it to be done at shorter periods, at least daily. Finco et
al. (2006) observes that the landfill cannot be considered a sanitary landfill but a
controlled landfill where the residues are only covered with topsoil weekly, the
operations are hampered by a lack of resources and poorly maintained plant, and
workers are at risk of direct contact with hazardous health facilities residues.
Finco et al. (2006) state that the landfill could generate around 65.582 tons of
CO2 equivalent in ten years (period of 2005 to 2015), corresponding to 65.582 carbon
credits in the CDM - Clean Developed Mechanism of the Kyoto Protocol, by reducing
33.606 GgCH4 atmospheric emissions during ten years, and hence, reducing global
warming (Finco et al., 2006). The calculation was done following the methane
emission IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) methodology revised
by Vieira & Silva (2002). In Brazil, this approach of using the CDM in landfills to
generate credits of carbon while decreasing the greenhouse gases emitted to the
atmosphere is not new. The Bandeirantes landfill that receives half of the waste
produced by São Paulo, the major Brazilian metropolis, collects the methane produced
and generated 20 MWh of electricity since 2003. The project was approved by the
Brazilian government in 2005, registered in the IPCC and in 2007 it sold the first part
of the credits of carbon (808.450 tons of carbon) to the Fortis Bank of Holland that
paid US$21.70 per ton of carbon. The revenue generated was around US$17.5 million
shared between the private company responsible for the project and the municipality
(Pereira & Gutierrez, 2009).
According to data from the National Information System of Sanitation (2007),
there are no scavengers in the landfill, but associations for the collection of
recyclables in the town have close relationships to the municipality. Currently there
are two groups that receive the municipality support for recycling activities, including
the location of sites to process the recyclables, training and trolleys: Cooperativa
Mista de Trabalho e Produção de Recicláveis Ltda. (COOPERAN) in the southern
region with 250 associates and the Associação de Catadores e Catadoras de Materiais
Recicláveis da Região Norte de Palmas (ASCAMPA) with almost 60 associates,
according to the Municipal Environmental Secretariat in 2010. The COOPERAN
shreds and compresses around 600kg of paper/day, but it does not operate at full
capacity due to a lack of materials.
The collection system is designed according to the city areas and the routes are
determined for groups of blocks (set of residential and commercial areas). The
collection service covers 100% of the population. The cost of collection of wastes in
Palmas was 87.93 US$/tonne in 2005 (National Information Sanitation System,
2007). Other municipalities such as Rio Branco, capital of Rondonia, that has a
similar index of waste collected per inhabitant as Palmas presents a cost of collection
of residual waste of US$/tonne 43.64 in 2005 (CEMPRE, 2008). This shows that the
cost of collection in Palmas is higher than the cost of other municipalities with similar
waste production and population size and this may be due to the urban layout with an
extended distance in the north/south direction, because of geographic obstacles.
The private company responsible for the residues collection has a five-year
concession since 2008. It should be emphasized that a period of 5 years for a company
to invest in public education and logistics in the waste collection is not sufficient for a
payback period. This may lead to a poor investment in these important areas of the
waste management, and consequently to difficulties in introducing new strategies at
household level. There is no guidance provided by the company for households
regarding separation or storage of wastes, and there are no recycling or recovery
facilities; waste is simply collected for disposal to landfill (Finco et al. 2006).
3.0 Proposed strategy for Palmas city
The waste management strategy proposed for Palmas emphasizes the
segregation between dry and wet residues that must occur at household level with
constant public education. There are two integrated different strategies: an MRF
model for the recyclables collectors associations to manage the dry residues and an
MBT model for the wet residues (Figure 4). It is important to emphasize that it
includes the main components of the new NSWP, which are:
a) the priority of recyclables collectors association to work in the
reverse logistics,
b) the inclusion of procedures to compost the organic fraction and
c) the influence of the reverse logistics in the market of the
recyclables.
Figure 4: Flow chart of the household solid residues management proposed
for Palmas-TO.
This proposal would most probably occur as two separate services: the dry
fraction or the recyclables would be managed by recyclables collectors associations
with the support of the public sector; and the composting or treatment of the wet
fraction would be done via the owner of the public cleaning and waste management
services. Since Palmas is organized in small geographical areas, or neighbourhoods –
squares with about 500 to 1000 households - this could facilitate the action of
a)
b)
c)
recyclables collectors associations, by organizing and dividing the collection areas
among these associations and hence preventing conflicts. In Brazil, in general,
recyclables collectors associations are responsible for diverting 560 tons of residues,
the majority being paper and cardboard, followed by metals from landfills. This
amount is minimum regarding the amount of domestic and public residues: in 2007,
around 163.473 tons of residues were landfilled, comprising 67.067 tons of
construction and demolition waste, 57.971 tons of domestic and public residues,
36,960 tons of green waste and 1.475 tons of hospital waste (National Information
System of Sanitation, 2007). In Palmas, around 5.797 tons could be potentially
recycled since Naval and Gondim (2001) accounts 10% of the residues as paper as
shown above.
The proposed recyclables collection would start with the selection of the
materials separated in door-to-door or dropped-in recycling points and further
compression for storage. The co-operation of the public is highly important since in
this process the willingness of the public is necessary to correctly separate the
residues or to move and drop it in the collection points. The materials collected are
glass, metal, plastic, some electronic products and predominantly paper. The products
are then sold to companies in industrialized regions such as Goiania-GO (around
900km away) and São Paulo-SP (around 1,800km away). These long distances have a
high influence on the cost of the recyclables and consequently in their attraction as a
tradable commodity (PR-TO, 2008).
Among the main obstacles, we would point that the recycling market in
Palmas is incipient for a range of reasons such as the population habits to deal with its
own waste, transport difficulties and cost-benefit of the recyclables. Monteiro et al.
(2001) states that the support of the municipal manager for the extraction of the
residues by the associations is important because of the public information which is
essential in a recycling programme. Door-to-door collection demands a degree of
waste segregation at household level which in turn demands environmental education
campaigns such as that in which, in the US, Captain Planet, an animated television
series, introduced kids to the phrase, “Reduce, reuse and recycle”. As we said above
the private company that runs the waste collection probably would not invest in such
campaigns because they are less profitable than the current collection based on waste
weight.
For Monteiro et al. (2001), the municipality should also provide administrative
and financial support which is connected with the ability of elaborating and co-
ordinating recycling programmes by the associations. The Palmas Secretariat of the
Environment declared its intention to support a recycling programme implemented by
the associations, although it has no intention to elaborate and co-ordinate such a
programme. This would provide an additional difficulty because there are few
associations in the municipality, but it could be circumvented by cooperation with
universities and research centres.
Of all these problems, the cost benefit of the recyclable product is offset by the
cost of transportation (Parry & Bento, 2001, Knemeyer et al., 2002) of the product
that in Brazil is mostly done by road. The storage of the recyclables helps to decrease
the cost of transportation although the diversification of transport would be beneficial.
The National Transport Logistics Plan aims to increase to up to 29% the share of
waterways which is the lowest cost of transportation in Brazil. The National Plan also
includes the North-South Railway and the Tocantins-Araguaia waterway as part of the
Central-Northern Multi-modal Transport Corridor that will benefit the city of Palmas
lowering the cost of transport of goods to other Brazilian regions.
On the other hand, the NSRP brings new rules to the waste management such
as the inclusion of the private sector initiating reverse logistics, and the prioritization
of the formalized recyclables collectors association to work in the loop cycle of the
waste management chain. Through this prioritization of recyclables collectors
association and the obligation of composting by the municipality or the owner of the
service, the NSRP clearly states its preference being a mechanical and biological
treatment without energy recovery. Since, Palmas would be in advantage when
applying for financial support for the investments needed.
The dry and wet segregation at household level represents the ideal share of
responsibilities among the various stakeholders according to Gage (1998) and
Monteiro et al. (2001), since it is better for the municipal manager to support a
recyclables collection programme instead of be responsible for its actions. Currently,
the recyclables collection is performed by scavengers or recyclables associations with
or without support of the public sector. The dry residues would be collected and go to
units similar to an MRF to be processed, the whole process being the responsibility of
the recyclables associations. The wet residues would be composted by the municipal
manager or the owner of the service in an MBT plant. Although the ‘mechanical
treatment’ is expected to have some mechanical equipment, most of the segregation is
likely to be done manually.
A dry and wet collection would encourage an aerobic composting that would
provide better quality compost product to be used in the agricultural industry within
the region. The viability of a composting practice in Palmas was pointed by Silva et
al. (2012) that showed that the composting process is faster than in other regions
because of the weather which is a point in favour to the aerobic process, according to
Silva et al. (2012). The climate in the Tocantins state comprises two definite seasons:
the wet season from October to April when almost 90% of the precipitation occurs
and the dry season from May to September with rare rain and low air humidity (ANA,
2006). The annual climate regime influences the composition of the waste
management both in humidity and total carbon content. The humidity of wastes is
slightly higher in the wet season and the total carbon doubles in the dry season
according to data from Naval and Gondim (2001). Generally, the higher the humidity
the faster is the digestion of compostable materials and generation of leachate. The
carbon content indicates the digestible part of the residue and potential for composting
or biogas production. As the distribution of rain is unpredictable, and possibly it is
influenced by global warming due to greenhouse effects, the management of
composting or biogas plants would be increasingly variable during the year. The
temperature varies from 24˚C to 35.4˚C, (SEAGRO, 2005 in Marques, 2006). The
standard evaporation is around 1,100mm to 1,700mm. The high environmental
temperatures increase the velocity of biological reactions and the digestion of
compostable materials.
It is worth commenting that the NSWP is not the only driver to push the
municipal manager to supervise directly or indirectly the solid residues management.
In fact, some municipalities have directed efforts for the correct management of
wastes before the NSWP was placed, and this should be a spontaneous action of a
government that aims towards the sustainability of its city, but this is not a rule in
Brazilian administration. For example, the Resolution CONAMA 307 from 2002,
regarding the management of construction residues, establishes that all construction
and demolition activities should prepare an Integrated Management Plan of
Construction Residues monitored by the Municipal Environmental Secretariat which
is required since 2004. These activities must follow the guidance of the municipal
integrated management plan which should had been done since 2004 and does not
exist in 2013 according to the Municipal Secretariat of the Environment and the
Municipal Secretariat of Infra-Structure of Palmas. Similarly, the National Solid
Residues Policy requires the elaboration of a municipal management plan of solid
residues which raises a question on the capability of the municipal managers to
produce this document since the Municipality was not able to follow the prescription
of Resolution CONAMA 307. Now there is high expectation regarding the new
municipal, state and national plans which can be the next step for an integrated waste
management of solid residues to be implemented in most of municipalities including
Palmas. These plans, together with other actions required by the NSWP will support
the strategy proposed for Palmas that is similar to strategies already in place in other
Brazilian municipalities. Nevertheless, while many Brazilians appreciate the
environmental benefits of recycling, this is not a major driver in Brazil. Instead, the
economics is the main driver of the policies and actions of governments and
organizations (Barlaz & Loughlin, 2003).
4.0 CONCLUSIONS
For the reasons stated above, especially the lack of skilled work for complex
treatment options, the lack of funds for expensive options and the abundance of low-
skilled workers, mechanical and biological treatment is recommended in Palmas,
utilising the human resources as collectors of the dry waste – in associations to
strengthen the social gains and to reduce poverty, and providing composting
techniques for the wet residue through public-private partnerships.
The Brazilian NSRP encourages composting and recycling by recyclables
collectors association and this is consonant with the concept of mechanical and
biological treatment. It is possible, therefore, to conclude that MBT is compatible with
the new National Solid Residues Policy – NSWP. However the procedures would
have to be considerably different to those treatment technologies applied in Europe.
Changes should be made throughout the waste management chain regarding
environmental education and the introduction of social and environmental
responsibility in the production sector, among others. The market, public willingness
and costs are disadvantageous in Palmas, even though they were managed by other
municipalities with recycling schemes in Brazil and hence this cannot be used as an
excuse.
ACKNOWLEDGEMENTS
The authors acknowledge the assistance and suggestions offered by Dr Paula
B. Morais.
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*Escola de Artes, Ciências e Humanidades – Universidade de São Paulo [email protected] ** Escola de Artes, Ciências e Humanidades – Universidade de São Paulo [email protected]
Responsabilidade Social Empresarial: estudo de caso do processo de reciclagem do Pão de Açúcar
Camila Leite*
Julia Affonso**
Orientador: Marcos Bernardino de Carvalho
RESUMO Com o advento da noção de Responsabilidade Social Empresarial frente as questões ambientais, verifica-se que diversos segmentos empresariais se apropriam do termo como forma estratégica para se promover e elevar-se no mercado, aumentando sua competitividade e atraindo stakeholders. Dessa forma o presente trabalho busca averiguar o real comprometimento da rede de supermercados Pão de Açúcar com a sociedade através da investigação e avaliação da efetividade do processo de reciclagem, assim como averiguar a política de transparência e de Responsabilidade da mesma. Palavras-chave: Responsabilidade Social Empresarial, Marketing, Transparência.
INTRODUÇÃO
A gravidade das questões ambientais mostra a necessidade de estudos que vise ao
estabelecimento de verdades a respeito do tema. A problemática relacionada à produção de
lixo é unânime no mundo e a existência de uma solução prática também. Entretanto,
especificamente no Brasil, é notável a falta de uma política pública eficaz para a reciclagem
de resíduos. Ao mesmo tempo observa-se um crescente movimento de empresas privadas
autodenominadas responsáveis que se apropriam dessa abstenção do Estado alegando resolver
o problema.
Uma das empresas que atuam nesse sentido é o Grupo Pão de Açúcar (GPA),
importante rede varejista que se coloca como empresa responsável social e ambientalmente.
Tendo a gestão ambiental como um dos pilares mais divulgado e conhecido, o GPA integrou a
sustentabilidade à gestão de negócio como eixo estratégico.
Dentre suas diversas ações está a coleta seletiva de lixo em algumas unidades das
redes de supermercados. Porém, poucas informações são disponibilizadas ao consumidor, que
confia na empresa e deposita ali seus resíduos acreditando ter solucionado o problema. Mas
até que ponto este problema tem sido de fato solucionado?
Em um período em que se procura associar o modelo capitalista de desenvolvimento a
ações socioambientais que promovam e maximizem a imagem do empreendedor, é relevante
uma visão crítica e a verificação da efetivação de suas ações. Nesse contexto, a rede de
supermercados Pão de Açúcar é um exemplo de corporação que procura elevar-se no mercado
a partir da autodenominação como empresa sustentável e responsável sócio-ambientalmente.
Desse modo fez-se necessário averiguar o comprometimento desta com a sociedade
através da investigação e avaliação da efetividade do processo de reciclagem. Frente a isso,
estudantes de Gestão Ambiental da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade
de São Paulo (EACH/USP) se juntaram para investigar a questão através de um estudo de
caso. Utilizando o método PBL (Problem Based Learning - Aprendizado Baseado em
Problemas) partiu-se da seguinte questão: “Qual a efetividade do processo de reciclagem
realizado pela rede Pão de Açúcar de supermercados?”.
Para tal, realizou-se levantamento bibliográfico, entrevistas e pesquisas de campo
investigativas. Em primeiro lugar procurou-se o Grupo Pão de Açúcar para obtenção de dados
e informações sobre o processo de reciclagem e em seguida realizou-se as pesquisas de campo
investigativas, eixo central norteador da pesquisa, onde se seguiu três caminhões de coleta
aleatoriamente. Esse método serviu como base de referência para o estabelecimento da
veracidade das informações disponibilizadas pela empresa.
DESENVOLVIMENTO
Responsabilidade Empresarial Frente o quadro de intensa degradação ambiental deu início ao surgimento de um
conjunto coordenado de atividades e responsabilidades pelo governo, indústria e
consumidores, amplamente pressionados por setores da sociedade, no sentido de reduzir os
impactos gerados pelas atividades humanas. Com o passar do tempo, a questão ambiental foi
sendo cada vez mais inserida na gestão empresarial, como demonstra a evolução da postura
empresarial sobre a questão ambiental na Figura 1.
Fig.1: Evolução da postura empresarial sobre a questão ambiental. Nagan et al (2009).
O termo Responsabilidade Social Empresarial (RSE) surgiu no final da década de 90
com o advento da noção de desenvolvimento sustentável e consiste na “forma de gestão que
se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela
se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o
desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para
gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades
sociais” (Instituto Ethos, 2009).
Nesse sentindo, RSE tornou-se um fator de competitividade para os negócios, e muitas
empresas passaram a adotar a filosofia e práticas TBL (triple bottom line), que engloba as
questões sociais, econômicas e ambientais, já citadas dentro de RSE. No entanto, muitas vezes
a preocupação com a dimensão ambiental e com a sustentabilidade surge apenas em prol da
questão financeira e econômica.
De acordo com HART & MILSTEIN (2003), existem inúmeros fatores motivadores
da sustentabilidade empresarial. O principal deles é a crescente industrialização que tem
impactos em grande escala. Em seguida, se tem a proliferação e interligação dos stakeholders,
em que as empresas são pressionadas a atuar de forma transparente e responsável pelo
gerenciamento de produto pela integração da perspectiva dos stakeholders nos negócios. Por
fim, o intenso aumento populacional e a expansão da pobreza e das desigualdades sociais
tornam necessária a alteração do atual modelo de produção e consumo, de modo que todas as
necessidades sejam atendidas e a evitar um colapso do sistema natural.
No entanto, frente a tudo isso, as empresas aderem aos valores de sustentabilidade por
outros motivos, associados a objetivos internos, na medida em que se busca maximizar os
lucros e minimizar os riscos, e externos à empresa, ligado ao marketing empresarial.
As empresas também possuem fatores motivadores ligados a objetivos no curto e no
longo prazo. No curto prazo, busca–se adquirir reputação e legitimidade pelos clientes, assim
como a redução de custos e riscos. Já no longo prazo, busca-se o caminho para o crescimento,
inovação e reposicionamento no mercado.
De acordo com o Instituto Ethos (2009), OSCIP com foco na gestão de negócios
socialmente responsáveis, a competitividade das empresas não está mais somente nos preços e
na qualidade dos seus produtos e serviços. No atual cenário as empresas devem investir e
arcar com as responsabilidades e relações com seus fornecedores, acionistas, funcionários,
clientes e comunidade na qual estão inseridas.
Vender e/ou fabricar produtos e serviços que não degradem o meio ambiente,
promover projetos e ações sociais e incentivar o desenvolvimento da comunidade onde está
inserida são pontos essenciais na conquista de clientes e consumidores. Há uma melhora no
reconhecimento da empresa, maior competitividade no mercado, além de contribuição com o
desenvolvimento da sociedade. Dessa forma o fluxo rumo à Responsabilidade Empresarial
vem crescendo cada vez mais no Brasil (INSTITUTO ETHOS, 2003).
Para que uma empresa exerça a RSE faz-se necessário apropriar-se de alguns critérios
essenciais que são classificados em sete grandes áreas: direitos humanos, direitos das relações
de trabalho, proteção das relações de consumo, meio ambiente, ética e transparência, diálogo
e planejamento com stakeholders e governança corporativa.
Ao assumir uma postura comprometida com a RSE as empresas se tornam grandes
influenciadoras de uma mudança ou estagnação cultural, uma vez que contribuem para a
construção da sociedade de consumo atual.
Segundo pesquisa “Ação Social das Empresas” do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (IPEA), aproximadamente 465 mil empresas no país agem de acordo com a RSE.
Dentre as empresas brasileiras que adotam tal postura e que também são associadas ao
Instituto Ethos estão algumas que contribuem com 20% do PIB brasileiro, como Abril S/A,
Petrobrás S/A e o Grupo Pão de Açúcar (TREVISAN, 2002).
O Grupo Pão de Açúcar (GPA), importante rede varejista, que “vem se destacando
cada vez mais no sentido de seguir as diretrizes da RSE, tendo a gestão ambiental como um
dos pilares mais divulgado e conhecido. A sustentabilidade foi integrada à gestão de negócio
do GPA como eixo estratégico, de modo a inserí-la em todas as definições de políticas e
linhas de ação através da compreensão dos impactos econômicos, sociais e ambientais sobre
seus stakeholders, além da adoção de programas, projetos, práticas e ações que permitam
garantir o equilíbrio desses três aspectos no presente e no futuro” (GRUPO PÃO DE
AÇÚCAR, 2010).
Markentig social e verde
Estratégia utilizada nas vendas, comunicação e desenvolvimento do negócio, o
marketing social e verde são duas ferramentas que contribuem para a divulgação e promoção
das empresas que atuam com a responsabilidade social e ambiental.
Enquanto o marketing social visa as ações no âmbito social, indo do desenvolvimento
local a questões de destaque global, o marketing verde tem como foco a sustentabilidade pela
adoção de práticas sustentáveis, como gestão de resíduos e inclusão de produtos de baixo
impacto ambiental no empreendimento, demonstrando para os clientes atuação consciente e
responsável por parte da empresa.
Sendo assim as empresas utilizam estas ferramentas para se diferenciarem no mercado
competitivo, estimulando suas vendas. Simultaneamente a imagem institucional também é
valorizada e a empresa obtêm maior reconhecimento.
Agregar valores e conceitos aos produtos e serviços tem sido a estratégia adotada pelo
setor empresarial para aumentar a competitividade e sua participação no mercado, com busca
a atrair os steakholders inseridos em uma sociedade que exige cada vez mais ações
sustentáveis e responsáveis.
Frente a isso torna-se indispensável verificar a precisão e a fidedignidade na adoção e
uso de tais ferramentas e averiguar o real comprometimento e responsabilidade das empresas
no que tange as questões socioambientais. Muitas empresas se utilizam do marketing social e
verde com o intuito de obter um diferencial competitivo e promover-se, podendo não existir
uma real preocupação e efetivação das ações, programas e projetos divulgados.
Grandes empresas têm um papel importante na sociedade, uma vez que direta ou
indiretamente suas decisões e ações possuem potencial impactante. É importante que estas
empresas tenham um aspecto ético envolvido em suas escolhas, levando em conta o que será
refletido na sociedade.
Para orientar as ações empresariais utiliza-se o Código de Ética como instrumento.
Esse é o caso do Grupo Pão de Açúcar, cujo Código de Ética possui um item especifico para
meio ambiente, onde é explicitada a responsabilidade com a questão.
Transparência
A transparência empresarial surgida há meio século é um fenômeno social que ganhou
força nessa última década e se tornou essencial às organizações, “uma espécie de virtude
inevitável, por decorrência dos costumes democráticos e das facilidades de acesso à
informação” (CHAPARRO, 2000).
Uma organização transparente é aquela aberta ao diálogo e com bom relacionamento
com a sociedade, associados, acionistas, clientes, fornecedores e funcionários, que estabelece
canais de comunicação com estes, buscando se adaptar às novas demandas, rever ações e
estratégias inadequadas aos seus públicos e incorporar sugestões dos mesmos. “A organização
transparente prioriza o atendimento, favorece o contato e, sob nenhuma hipótese, manipula
dados ou informações, com o objetivo de conseguir vantagens. Ela pratica como diz o
mercado, o jogo limpo” (BUENO, s/ ano).
As organizações que não estabelecem essa transparência e não se comunicam com os
grupos de interesse ligados a ela, “ou tem pouco pra contar ou tem muito pra esconder. Em
qualquer um dos casos, ela estará em desvantagem no mercado” (BUENO, s/ ano).
Por outro lado, ao adotarem a transparência, “devem ter cuidados redobrados com a
coerência. Coerência entre o dizer e o agir, entre o que anunciam e o que vendem, entre o que
fazem hoje e o que fizeram ontem, entre os compromissos públicos e as ações particulares”
(CHAPARRO, 2000)
Nesse sentido, considerando o Grupo Pão de Açúcar, foco da presente pesquisa, o qual
afirma prezar pela transparência em todas as suas formas de negócio em respeito à sociedade
(GRUPO PÃO DE AÇUCAR 2010, p. 75), pecou em sua política de transparência quando
solicitadas informações sobre o processo de reciclagem realizado nos supermercados da rede
Pão de Açúcar.
Quando solicitada autorização ao Grupo Pão de Açúcar para a obtenção de dados e
informações pela BR+10, empresa terceirizada responsável pela gestão do lixo dos
supermercados da rede Pão de Açúcar, esta foi concedida, porém com certa resistência e
restrições a alguns itens.
Os itens solicitados foram:
1. Nomes, contatos e localizações das cooperativas parceiras
2. As lojas em que cada cooperativa atua
3. A quantidade de lixo recolhido diariamente ou mensalmente pelo Pão de Açúcar em
São Paulo e no Brasil
4. O tipo de material mais coletado pelo Pão de Açúcar em São Paulo e no Brasil
5. As lojas do município de São Paulo que recebem mais lixo, suas respectivas
quantidades e tipo de material predominante
6. O destino dado ao material após a reciclagem
As restrições não foram especificadas, no entanto, dentre as perguntas feitas, algumas
não foram respondidas, completa ou parcialmente.
Em resposta ao item 3, foi enviada uma tabela com os dados presente no anexo 1. O
item 4 foi respondido com o seguinte gráfico:
Fig.2: Gráfico com a classificação do tipo de material recebido pelas lojas Pão de
Açúcar. Fonte: BR+10
O item 6 não foi respondido enquanto o item 1 foi parcialmente respondido, apenas
com informações referentes aos nomes das cooperativas e seus respectivos responsáveis.
Quanto ao item 2 a resposta dada não acorda com o verificado posteriormente na pesquisa de
campo investigativa. De acordo com a BR+10 seria feito um rodízio contínuo de cooperativas
e lojas para evitar roubos e vícios de coleta, mas isso não ocorre nas lojas Cerro Corá e
Panamericana, onde a coleta é feita sempre e apenas pela Cooperativa Viva Bem. Esta por sua
vez só coleta lixo dessas duas lojas e de mais nenhuma. Portanto não foi verificado rodízio em
duas das três lojas estudadas, sendo que na terceira não foi identificada a cooperativa atuante.
Diante a discussão anterior fica evidente a falta de coerência do Grupo naquilo que
dizem e fazem. Ao restringir o acesso à informação o Grupo falhou em sua política de
transparência, o que nos leva a supor que possui coisas a esconder, as quais provavelmente
não condizem com sua auto-imagem de empresa sustentável, responsável social e
ambientalmente.
Perseguições e reflexão
No dia 4 de novembro chegou-se na loja Cerro Corá do Supermercado Pão de Açúcar,
na Rua Bairi, 435, Zona Oeste de São Paulo, por volta das 15 horas. No local havia três
funcionários da Cooperativa Viva Bem, identificáveis pelo uniforme, e dois deles terminavam
de fazer o carregamento em um caminhão do Departamento de Limpeza Urbana da Prefeitura
de São Paulo (Limpurb). Conversando com um dos funcionários descobriu-se que o lixo
seguiria direto para a cooperativa localizada na Marginal Tietê, onde todo o lixo seria de fato
reciclado, fato justificado pela grande quantidade de trabalhadores dedicados a essa função no
local. Terminado o carregamento, o caminhão seguiu caminho à Marginal Tietê e durante o
percurso perdeu-se o caminhão de vista. Isso ocorreu na Rua Botocudos localizada a 2 km da
cooperativa na Rua Embaixador Macedo Soares (Marginal Tietê) de acordo com o Google
Maps, o que leva a crer que o material estava tendo destinação correta.
No dia 5 de novembro foi-se ao Supermercado Brigadeiro Luis Antônio, localizado em
rua de mesmo nome e número 3172, também na Zona Oeste de São Paulo, às 11 horas,
horário em que o caminhão da Limburb deixava a loja, junto com dois funcionários também
da Limpurb identificados pelo uniforme. O caminhão seguiu para o Pão de Açúcar da Av.
Conselheiro Rodrigo Alvez onde permaneceu por uma hora fazendo o carregamento. Saindo
de lá, o caminhão seguiu para Avenida do Estado, 300 onde entrou em um grande
estabelecimento. Não se sabia o que era, mas viam-se diversos caminhões de lixo, tanto da
Limpurb quanto da Loga em fila para entrar e uma montanha de lixo no lado de dentro. Dois
funcionários na entrada do local forneceram a informação de que o local consistia em um
aterro e que o material reciclado passava por lá apenas para ser pesado e seguia para a
cooperativa. Mais tarde pesquisando na internet descobriu-se que o local tratava-se de uma
Estação de Transbordo chamada Ponte Pequena, “pontos de destinação intermediária dos
resíduos coletados na cidade, criados em função da considerável distância entre a área de
coleta e o aterro sanitário”, de acordo com site da Prefeitura de São Paulo.
No domingo dia 13 de novembro de 2011 chegou-se no Supermercado Pão de Açúcar
na Avenida Professor Alfonso Bovero, 1425 – Perdizes, Zona Oeste de São Paulo às 12h30
aproximadamente. Ao aproximar-se do ponto de coleta seletiva instalado no estacionamento
deste, havia um caminhão da empresa Limpurb sendo abastecido com os resíduos por três
funcionários, sendo um deles do próprio Pão de Açúcar e os outros dois da Limpurb,
identificáveis também através de seus uniformes.
Em conversa com estes três funcionários foi possível saber que realizavam este serviço
de terça e sábado e que este domingo era uma exceção e, antes desta parada neste mesmo dia
pela manhã haviam feito o mesmo trabalho (recolhimento de resíduos para reciclagem) no
Supermercado Pão de Açúcar da Praça Panamericana, 217 – Alto de Pinheiros, Zona Oeste de
São Paulo e ainda que levariam todo o resíduo recolhido para a Avenida do Estado.
Por volta das 13h00 já haviam carregado tudo para dentro do caminhão e os dois
funcionários da Limpurb seguiram com o seu caminho até a Avenida do Estado, como dito.
Em 40 minutos chegaram ao Transbordo Ponte Pequena.
Diante disso, ligou-se no Transbordo Ponte Pequena, cujo telefone é disponibilizado
no site da Prefeitura, para averiguar os fatos. Em primeira ligação perguntou-se somente se
todo o lixo que chegava ali ia para o aterro e a pessoa que atendeu o telefonema afirmou que
sim. Já em outra ligação buscou-se informações sobre o lixo reciclado que chegava ao local e
a pessoa disse que esse tipo de material só era pesado no local e seguia para as cooperativas
que faziam o trabalho de reciclagem.
Cabe aqui ressaltar que dentro do Transbordo Ponte Pequena também atua uma
Cooperativa chamada Coopere. No entanto de acordo com dados fornecidos tanto pela
empresa BR+10 (Anexo 2) quanto pela Cooperativa Coopere, essa empresa não recolhe lixo
das lojas da rede Pão de Açúcar.
Analisando as informações fornecidas pela BR+10 a respeito do processo de
reciclagem, o lixo deixa o ponto de coleta voluntária das lojas e, via logística de coleta, segue
para um ponto de triagem e, em seguida, para as indústrias recicladoras que correspondem ao
destino final (Figura 3).
Fig. 3: Ciclo do programa de reciclagem segundo a empresa BR+10 responsável por
essa gestão dentro dos Supermercados Pão de Açúcar
No entanto, segundo informações fornecidas por funcionário da BR+10, a coleta do
material é feita pelas próprias cooperativas, que levam o lixo para os centros de triagem
localizados dentro de suas cooperativas.
Veem-se então algumas informações contraditórias, pois obtive-se pessoalmente a
informação de que em três supermercados (Av. Alfonso Bovero, Pça. Panamericana e Av.
Brigadeiro Luis Antônio) quem estava fazendo a coleta do material era a Limpurb e não a
cooperativa. Além disso, esses resíduos foram encaminhados ao transbordo, ponto anterior do
encaminhamento para aterros, e não para as cooperativas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante dos fatos ficam evidentes contradições e divergências entre as informações
fornecidas e aquilo que se observou. A trajetória do trabalho foi marcada por grandes
inconsistências que não podem ser ignoradas, uma vez que a empresa Pão de Açúcar é um
supermercado de grande atuação em todo o Brasil e, portanto contribui e é influenciador do
comportamento e do consumo da sociedade atual.
Nesse contexto cabe um questionamento e reflexão sobre a atuação do Grupo Pão de
Açúcar (GPA) quanto à sua política de transparência e de responsabilidade sócio ambiental,
visto que a empresa busca se elevar no mercado a partir dessa autodenominação de empresa
responsável, o que traz aspectos positivos para sua imagem e na captação de clientes.
É de extrema importância que o GPA detenha todas as informações sobre o processo
de coleta seletiva mesmo que o serviço seja transferido às empresas terceirizadas (BR+10 e
cooperativas), afinal isso faz parte da responsabilidade do grupo para com seus clientes e a
sociedade na medida em que ele se apropria do processo, tendo como obrigação acompanhá-
lo até o fim. É preciso se apropriar do processo de forma efetiva e buscar pela concretização
deste, indo de encontro com o prometido e esperado pelos envolvidos.
Ressalta-se também a importância dos clientes e da sociedade envolvidos nesse
processo. Estes não devem simplesmente depositar lá os seus resíduos acreditando terem
solucionado o problema, e sim buscar informações sobre o caminho percorrido para
efetivação da reciclagem, acompanhando o processo até o fim, de forma a exercer
verdadeiramente sua postura de consumidor consciente.
REFERÊNCIAS
BUENO, Wilson da Costa. “A Transparência na Comunicação Empresarial”.
http://www.comunicacaoempresarial.com.br/comunicacaoempresarial/artigos/comunicacao_c
orporativa/artigo7.php (consultado em 07/11/11)
CHAPARRO, Manuel Carlos (2000). “Idéias sobre Comunicação Empresarial”. In: Revista
Comunicação Empresarial n. 16.
GRUPO PÃO DE AÇÚCAR (2010). Relatório Anual e de Sustentabilidade.
HART, S. L., MILSTEIN, M. B. (2003). “Creating sustainable value”. In: Academy of
Management Executive, Vol.17, No 2.
INSTITUTO ETHOS. Manual de incorporação dos critérios essenciais de Responsabilidade
Social Empresarial. São Paulo, 2009.
INSTITUTO ETHOS. Responsabilidade Social Empresarial para Empresas – Passo a Passo.
São Paulo, 2003.
NAGAN, M.S., MERLO, E.M., JUNIOR, S.S.B (2009). “Um estudo comparativo das
práticas de logística reversa no varejo de médio porte”. Revista da Micro e Pequena Empresa,
v.3, n.1.
TREVISAN, F. A (2002). “Balanço Social Como Instrumento De Marketing”. RAE-
eletrônica, Volume 1, Número 2.
Anexo 1: Volume médio mensal coletado por loja, cuja analise proporciona conhecimento das lojas com maior e menor volume de materiais doados pelos clientes
Nº LOJA REGIONAL MÉDIA
1 PA 1218 304 / 305 Sul Brasília 1.568,1 2 PA 0310 516 Sul Brasília 2.991,9 3 PA 2384 Abílio Soares Norte Paulista 4.420,5 4 PA 2372 Águas Claras Brasília 2.327,3 5 PA 0006 Alfonso Bovero Oeste 9.734,3 6 PA 1222 Alphaville Jardins Morumbi 1.555,4 7 PA 2381 Alphaville Residencial Jardins Morumbi 1.796,0 8 PA 1017 Ana Rosa Norte Paulista 5.389,6 9 PA 122 Araçatuba Interior 2.799,2
10 PA 2450 Araujo Leite Interior 1.966,5 11 PA 2383 Baby Bassitt Interior 2.209,9 12 PA 2465 Barão de Itapura Campinas / Vale 4.461,2 13 PA 1293 Barão Geraldo Campinas / Vale 3.561,5 14 PA 1295 Barra da Tijuca Rio de Janeiro 1.830,5 15 PA 1758 Bartolomeu de Gusmão ABC - Litoral 2.080,5 16 PA 2370 Batel Paraná 1.741,1 17 PA 1284 Bessa Pe E Pb 603,2 18 PA 1201 Borba Gato Sul 15.362,4 19 PA 2481 Botucatu Interior 17.701,0 20 PA 0061 Brooklin Sul 9.101,5 21 PA 2374 Buena Vista Ceará 1.639,2 22 PA 0037 Cambuí Campinas / Vale 6.659,7 23 PA 1273 Campos do Jordão Campinas / Vale 3.349,1 24 PA 0150 Cardoso de Almeida Oeste 10.290,3 25 PA 2461 Carneiro da Cunha (Saúde) ABC - Litoral 4.994,5 26 PA 2318 Casa Verde Norte Paulista 9.950,7 27 PA 0026 Castelo Campinas / Vale 3.304,0 28 PA 2352 Cerro Corá Oeste 18.059,6 29 PA 2369 Champagnat Paraná 1.723,5 30 PA 1704 Clodomiro Amazonas Jardins Morumbi 16.848,1 31 PA 1253 Cocó Ceará 1.944,9 32 PA 2382 Dom Severino Teresina 1.838,5 33 PA 2464 Dr. César Norte Paulista 10.693,2 34 PA 143 Dr. Sattamini Rio de Janeiro 1.644,0 35 PA 1743 Epitácio Pessoa ABC - Litoral 6.482,5 36 PA 0255 Fatima Ceará 1.845,0 37 PA 2468 Figueiras ABC - Litoral 2.082,6 38 PA 1724 Fiúsa Interior 2.861,6 39 PA 1290 Granja Viana Jardins Morumbi 48.742,1 40 PA 1602 Guará I Brasília 2.887,9 41 PA 1768 Guatas Norte Paulista 10.919,4 42 PA 1205 Ibirapuera Sul 3.670,0 43 PA 1640 Ingá Rio de Janeiro 769,6 44 PA 1002 Itú Interior 3.776,9 45 PA 2336 Jabaquara ABC - Litoral 6.100,9
46 PA 2449 Jardim Estoril Interior 3.224,6 47 PA 0001 Jardim Paulista Jardins Morumbi 12.545,6 48 PA 0009 Jardim Paulistano Jardins Morumbi 15.491,7 49 PA 1269 Jardim Social Paraná 1.665,3 50 PA 1204 Joaquim Floriano Jardins Morumbi 13.669,1 51 PA 1252 Júlio Ventura Ceará 1.741,0 52 PA 1230 Lago Norte Brasília 3.203,3 53 PA 0304 Lago Sul Brasília 7.754,2 54 PA 2457 Lavandisca Sul 5.023,2 55 PA 2385 Loja Verde Indaiatuba Interior 8.336,0 56 PA 2435 Maracatins Sul 6.871,9 57 PA 0185 Maranhão Oeste 9.126,1 58 PA 2380 Maria Amália Norte Paulista 11.952,1 59 PA 2474 Marilia Interior 4.949,8 60 PA 1283 Miramar Pe E Pb 732,5 61 PA 1221 Moema Sul 12.514,9 62 PA 2333 Mons. Silva Barros Campinas / Vale 3.120,1 63 PA 1292 Morumbi Jardins Morumbi 38.074,2 64 PA 1257 Mucuripe Ceará 1.165,4 65 PA 1004 Náutico Ceará 1.496,4 66 PA 1291 Nova Cantareira Norte Paulista 18.591,9 67 PA 2332 Nova Santos ABC - Litoral 4.392,0 68 PA 2484 Ourinhos Interior 2.183,2 69 PA 0039 Pacaembu Oeste 7.530,3 70 PA 1770 Padre Antonio Sul 6.361,1 71 PA 1722 Panamby 3.138,8 72 PA 2377 Parnamirin Pe E Pb 2.068,7 73 PA 0146 Paróquia Rio De Janeiro 836,4 74 PA 1231 Pedroso Norte Paulista 4.690,3 75 PA 2329 Piracicaba Interior 3.835,9 76 PA 1216 Portal Jardins Morumbi 20.133,9 77 PA 1207 Praça Panamericana Oeste 23.304,3 78 PA 0189 Proença Campinas / Vale 4.027,7 79 PA 1299 Real Parque Jardins Morumbi 20.474,2 80 CB 0183 Rebouças Oeste 3.558,9 81 CB 1297 Rep. Argentina Paraná 2.049,1
82 PA 1021 Ribeirão Preto / Independência Interior 6.406,2
83 PA 1717 Ricardo Jafet ABC - Litoral 81.470,3 84 PA 1294 Rosa E Silva Pe E Pb 2.324,2 85 PA 1026 Rubem Berta Norte Paulista 5.786,4 86 PA 2462 Santa Filomena ABC - Litoral 7.016,9 87 PA 0116 Santana Norte Paulista 8.413,0 88 PA 0170 Santo Amaro Sul 13.711,8 89 PA 0018 Santos ABC - Litoral 4.062,0 90 PA 2469 São Caetano do Sul ABC - Litoral 8.258,2 91 PA 0225 São Cristovão Teresina 1.520,4 92 PA 2375 São Gerardo Ceará 1.014,5 93 PA 1220 São João Ceará 3.920,1 94 PA 2402 São Jose do Rio Preto Interior 2.364,8 95 PA 1774 São Sebastião ABC - Litoral 496,0
96 PA 205 São Vicente ABC - Litoral 1.406,8 97 PA 1214 Sócrates Sul 14.649,4 98 PA 1296 Sudoeste Brasília 5.903,3 99 PA 0062 Sumaré Oeste 6.270,8 100 PA 2378 T63 Pão de Açucar Brasília 1.282,8 101 PA 2379 Tamandaré Brasília 1.359,6 102 PA 1289 Tatuapé Norte Paulista 17.843,7 103 PA 0186 Taubaté Independência Campinas / Vale 3.572,5 104 PA 2354 Tejereba ABC - Litoral 3.315,0 105 PA 2349 Teodoro Oeste 19.488,3 106 PA 2053 Vila Clementino Sul 7.108,9 107 PA 2068 Vila Romana Oeste 4.468,3 108 PA 1298 Virgílio Távora Ceará 2.255,1 109 PA 1233 W3 Norte Brasília 3.204,6 110 PA 2409 Washington Luis Sul 36.649,6 111 PA 1668 Jd. Oceânico Rio de Janeiro 370,9 112 PA 1878 Souza Campinas 3.245,2 113 PA Augusto Tolli São Paulo 1.443,4
Anexo 2: Cooperativas beneficiadas com a gestão do lixo dos Supermercados Pão de Açúcar
NOME FANTASIA CONTATO CIDADE U.F.
ACREPON Silvia / Helena Araçatuba SP ASCAJAN Liana Fortaleza CE AVEMARE Isabel/Claudilene Santana de Parnaíba SP COMAREI Dárcio Itú SP COOPAGRES Maria José Recife PE COOPAMARE Célia São Paulo SP COOPCICLA Altanir ABC SP COOPERAÇÃO Neilton São Paulo SP COOPERBEN Marcelo ABC - Litoral SP COOPERCAPS Sandra São Paulo SP COOPERCIAL Verônica/Vânia São Vicente SP COOPERLAGOS João São José do Rio Preto SP
COOPERLIMPA José Lacerda Diadema SP
COOPERMYRE Alberto São Paulo SP COOPERNOES Alex Brasília DF COOPERSUSS Sandra São Sebastião SP COOTRACIL Ana Marília SP COTRAMAT Caceília Bauru SP DOE SEU LIXO Julio Rio de aneiro RJ EMAÚS Antônio Teresina PI GRANJA JULIETA Mara São Paulo SP MÃO A MÃO Evanir Botucatu SP MÃOS DADAS Eliane Ribeirão Preto SP NOVA CONQUISTA Rose/Arami São Paulo SP ONG CLARA NUNES Regina Osasco SP RECICLA OURINHOS Matilde Ourinhos SP RECICLO Jaqueline Brasília DF RE-SI-CLANDO Solange Taubaté SP
SEM FRONTEIRAS Flavio Sã Paulo SP
UNIÃO ITAQUERA Roberto/Pedro São Paulo SP VIVA BEM Telma/Tereza São Paulo SP