Zapping- minipeça para não-atores

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Zapping- é uma releitura feita por Jacqueline Pinzon de experiências de montagens para não-atores. Aqui está a fundamentação teórica do projeto.

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Partindo do pressuposto de que a arte a interrupo do cotidiano, configurando uma ruptura no mesmo, ruptura esta que muitas vezes nos traz uma nova mirada em nosso horizonte cotidiano. Minha performance pretende mostrar aes cotidianas vistas em um novo contexto. Aqui, o que se enfatiza menos a linguagem em si e mais a uma proposta relacional que recontextualiza os indivduos deixando espaos para que escolham o lugar do qual desejam fruir a obra. Considerando o teatro contemporneo como um ato testemunhal, resolvi criar uma instalao onde os indivduos podem ocupar o lugar de cmplices, realizando as aes que so por mim indicadas atravs de um reprodutor de midia sonora e fones de ouvido individuais ou participarem como testemunhas, observando o ato cnico em si, ou ainda, ocupar ambas as posies, quando lhes aprouver.Assim, usarei aes bastante simples, rotineiras mas vistas em um novo contexto, o contexto do autoteatro, onde os indivduos tematizam a si prprios.Documentrio se desdobra em "autoteatro"EM BUENOS AIRESNa tarde do ltimo sbado, a sala de estudos secundria da Biblioteca Nacional da Argentina, em Buenos Aires, era s silncio. Ou talvez no s, como sugeria a interveno/site specific "Volume Silencioso", que integra o projeto "Cidades Paralelas", curado por Stefan Kaegi e sua mulher, Lola Arias.Trata-se de um exemplar de autoteatro, subdiviso do teatro documentrio. Com fones no ouvido, o participante instrudo a perceber os rudos que cortam a circunspeco do lugar: o estudante que, irritado com a matemtica, coa a cabea, a jovem que passa a pgina bruscamente, o celular que toca antes de ser desligado por algum de faces coradas...Depois, a voz guia por pginas de Jos Saramago, Kasuo Ishiguro, Agota Kristof e de um livro fotogrfico. Por vezes, o sussurro replica o que est escrito. Em outras, insere a histria na perspectiva de um personagem, confundindo quem acompanha.Mais adiante, pede que se leia com o volume de ponta-cabea ou que se "cole" em pginas brancas contornos de palavras recm-ouvidas.Autoteatro mais ou menos isso: infiltrar-se num mundo e lanar um olhar detido sobre seus cdigos. E no processo, claro, ser alvo de olhares recriminadores da turma do entorno, que ignora ser testemunha de uma cena.

HISTRICOAs bases do teatro documentrio j tinham sido lanadas por Georg Bchner em "A Morte de Danton", de 1835, com reproduo parcial de autos e obras histricas. Mas a inteno aqui ainda era ficcional, como em "As Bruxas de Salm", de Arthur Miller, sobre a investigao de pessoas supostamente envolvidas em prticas demonacas em Massachussetts, no fim do sculo 17.Coube de fato a Erwin Piscator, nas dcadas de 1920 e 1930, dar roupagem moderna vertente. Dados de no-fico (filmes, estatsticas, notcias) surgiam sem preocupao com linearidade, narrativa aristotlica. O foco era o processo histrico, no conflitos de personagens.No Brasil, Augusto Boal (1931-2009) flertou com o documentrio no "Teatro Jornal", desdobramento do Teatro do Oprimido. Agora, a Cia. Teatro Documentrio percorre casas paulistanas em busca dos flagrantes domsticos com que tecer uma pea a estrear em maio. (LN)

So instalaes que no buscam representar o mundo ou o tempo cronolgico, mas sim preencher o espao de subjetividade individual, invocando a auto-performance livre e o tempo (durao) prprio de cada indivduo; so penetrveis sem funes determinadas que se oferecem ao participante para que este os utilize de forma criativa, pessoal e descondicionada. So lugares onde o prprio indivduo artista de si mesmo (Auto-teatro) e que prope um momento de lazer desprogramado.