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A REVISTA DO MUSEU DO HOLOCAUSTO Vamos descobrir juntos a história de Lili Ney Vol. XII - N° 2 - 5771/2011 - R$ 14,90 pag_01.indd 1 24/01/2011 10:24:51

Yad vashem 2011

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Versão em português de artigos da revista editada em Israel

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A REVISTA DO MUSEU DO HOLOCAUSTO

Vamos descobrir juntos a história de Lili Ney

Vol. XII - N° 2 - 5771/2011 - R$ 14,90

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Patronos Primeira PáginaJack Leon Terpins

Gabriel A. Katz HoknAriel Fernando Schajnovetz Celso Lafer

Marina Lafer

Anônimos

Rosa Garfinkel

Anônimos

DIA INTERNACIONAL DE RECORDAÇÃO DAS VÍTIMAS DO HOLOCAUSTO

Moyses Millner

Michael E. PerlmanMendel DascalJosé Claudio Palheta Pires

Dov GrossmanDavid Bobrow José Alberto Pavani

Naum Keiserman

Marcos Gregório Cytrynbaum

Leopoldo Adolfo SchmalzJairo Fridlin

Chaim José Hamer

Ari Milton Kanas

Gerd Tykocinski

Anônimos

Anônimos

Stela Yara Blay

Paulo Almeida Machado

Felix Jacques Benzakein

Dalio Sahm

Boris LernerBerel Aizenstein

David Feder Fiszel Czeresnia

Flavio Calichman Haroldo Sancoviski Henrique Hirschfeld

Henry Katina

Marcos Jacob Smaletz

Jaime e Fani Koiffman

Mario Grimblat

Jayme Melsohn

Wolfgang Fleischmann

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Shalom – Yad Vashem – Published by: Yad VashemThe Holocaust Martyrs’ and Heroes

Remembrance Authority

Chairman of the Council: Rabbi Israel Meir LauVice Chairman of the Council: Dr. Yitzhak Arad, Dr. Israel Singer, Professor Elie WieselChairman of the Directorate: Avner Shalev – Director General: Nathan EitanTHE MAGAZINE: Editor-in-Chief: Iris Rosenberg – Managing Editor: Leah GoldsteinEditorial Board: Deborah Berman, Susan Weisberg, Cynthia Wroclawski, Estee Yari – Editorial Coordinator: Lilach Tamir – Itach

Yad Vashem Jerusalem Magazine – P.O Box 3477, Jerusalem 91034, IsraelTel.: 972-2-6443413, Fax: [email protected] - www.yadvashem.org

Diretor: Nesim Hamaoui Edição e Arte: Juliana Cirera Tradução: Flávia Fridman, Fabiana Besser, Sara Libne e Natália MarrettiEsta edição é autorizada pelo Instituto Yad Vashem de Jerusalém.

Edição Especial - Shalom – ISSN 1806-0056 – Uma publicação da Town Editora Ltda. R. Luis Coelho,nº 308 conj. 21- 01309-903- Tel 11 3259 6211 São Paulo-SP Jornalista Responsável Ivone Monteiro (Mtb 15.800). Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores, não representando a opinião da redação.

Educar para nunca mais acontecerpor Nessim Hamaoui

A missão número um do Museu do Holocausto de Jerusalém – Yad Vashem é preservar a memória desta tragica matança sem precedentes na história da humanidade.Quando em Israel , visite o museu em Jerusalém, conheça o seu trabalho de pesquisa, educação e envolvimento com a memória.

E dentro deste espirito educar as próximas gerações é fundamental para que isto nunca mais volte a acontecer.Através de um Centro de Educação focado para preparar educandos para que possam atraves de seu trabalho transmitir a realidade que foi o Holocausto.São realizados seminários com a presença de judeus e não judeus , de Israel e do mundo inteiro, mostrando a importancia do combate à intolerancia e ao odio gratuito e nefasto.Nossa capa fala de um destes educandos, Péter Heindl, que utilizando um sistema de cartazes e avisos , resolveu contar a história de Lili Ney e com isto motivar seus alunos a compreenderem o que realmente foi o Holocausto.Também o esforço de levar brasileiros a participarem dos seminários tem acontecido pelo trabalho da Associação de Amigos de Yad Vashem que conta com a colaboração da B’nai Brith , Unibes, bem como da Universidade São Judas Tadeu. A preocupação com o estudo é fundamental ainda quando sabemos quantos negacionistas e revisionistas da história estão sempre tentando mudar os fatos e a verdade.Editando essa publicação, graças ao apoio de Patronos, a nossa missão é difundir as informações e fazer com que cada um saiba um pouco mais sobre os fatos, para nunca esquecer e jamais deixar voltar a acontecer.

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GUETOS

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Um Mosaico de Vida e Morte

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Setenta anos após o regime nazista estabelecer o primeiro gueto judaico - Piotrków Trybunalski, na Polônia – o Yad Vashem liberou uma nova publi-cação: a Enciclopédia dos Guetos do Holocausto. Escrita por pesquisadores do Instituto para Pesqui-sas do Holocausto e editada pelos Professores Guy Meron e Shlomit Shulchanit. A enciclopédia possui anotações de aproximadamente 1.100 guetos estabe-lecidos nas áreas ocupadas pelos alemães: Polônia, República Russa, Ucrânia, Bielorússia, Lituânia, Látvia, Hungria, Transnístria, Romênia e Grécia.Sendo a primeira e única coleção que abrange os guetos estabelecidos pelo regime nazista, a enci-clopédia é um marco importante para a história da pesquisa do Holocausto e para a historiografia. Enquanto alguns guetos são bastante familiares para o grande público - Varsóvia, Lodz, Lwow, Bialystok e Vilna – essa narração épica também inclui a grande maioria dos guetos, pequenos ou grandes, que existiram por poucas semanas ou mui-tos anos por toda a União Soviética e pela Hungria.

O que é um Gueto? Decidir quais casos incluir na enciclopédia foi um problema complexo e quase indecifrável. Por exemplo, na cidade de Szydlowiec, no distrito de Kielce na Polônia, havia 12.000 judeus. A ordem de estabelecer um gueto foi dada no final de 1941, mas foi executada apenas em abril de 1942. A cida-de inteira foi transformada em gueto, com exceção de duas ruas, embora não tivesse muros ou cerca.Em contrapartida, em Mglin, Federação Russa, o gueto foi estabelecido na prisão local. Seiscentos

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Por Dr. Lea Prais

judeus, homens e mulheres separadamente, foram aprisionados lá por seis semanas até que foram levados embora e então assassinados no parque municipal. Esse e outros casos trouxeram a ques-tão: o que é um gueto? Uma cidade aberta e sem cerca ou uma prisão trancada?No final das contas, o termo “gueto” (do original em italiano “ghetto”) foi definido como qualquer comunidade existente nas áreas ocupadas pelos alemães, onde os judeus eram totalmente ou par-cialmente concentrados à força, por um período de pelo menos algumas semanas. No entanto, os editores da enciclopédia não ficaram completa-mente satisfeitos com esta definição, por isso há uma série de prefácios que introduzem os diversos problemas derivados da complexidade do fenôme-no. A questão das casas judaicas é um exemplo. Havia complexos de habitações espalhados por todas as cidades alemãs, para onde os judeus da cidade eram forçadamente transferidos até a sua deportação. Apesar do fato de que as casas dos judeus da Alemanha nunca foram consideradas guetos, sua semelhança à definição de gueto é certamente surpreendente.

Descobrindo Informações Novas

A enciclopédia é organizada em ordem alfabética, com coordenadas geográficas (Pré-guerra e Pós-guerra) e nomes judaicos escolhidos para cada comunidade. Apesar de cada anotação possuir um resumo da história judaica da comunidade antes do início da guerra, ela lida, primariamente, com a vida dos judeus no gueto; a data do estabelecimen-

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to e as circunstâncias presentes; a expansão física do gueto e o número de habitantes; e as instituições internas e as pessoas que as encabeçavam. Ela também relata os diversos desafios pelos quais os judeus do gueto passavam, os meios de sobrevi-vência diária, modelos de reações à campanha de perseguição, como atos de resistência ou fugas, e as campanhas de extermínio até a liquidação final.Historiadores e especialistas passaram seis anos pesquisando e escrevendo a enciclopédia. Con-sequentemente, mesmo em áreas já pesquisadas ostensivamente, como a Polônia, foram descober-tos novos guetos, cuja existência, no princípio, havia iludido os pesquisadores. Dessa forma, por

exemplo, foi descoberto um gueto estabelecido na Fortaleza de Solipse, em Deblin-Irena, na pro-víncia de Lublin (conhecida como Modzitz pelos judeus), onde viviam em torno de 3.500 judeus. A informação principal sobre esse gueto estava arquivada em um dos documentos do “Oneg Sha-bat”, arquivos reunidos debaixo da terra no Gueto de Varsóvia.

O poder da documentação visual

Uma coleção de mais de 250 fotos, algumas co-loridas, formam uma parte importante da enciclo-pédia. As fotos, tiradas em diversos guetos, foram

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cuidadosamente escolhidas pelos curadores de fotografia do Yad Vashem, Nian Springer-Aharoni e Orit Adurian. A coleção retrata a vida miserável e nebulosa do gueto a partir de uma luz vívida e humana. Em uma abrangente introdução às foto-grafias, Springer-Aharoni distingue a fotografia alemã, que tinha como propósito notícias e propa-ganda, e a fotografia judaica nos guetos, que eram algumas vezes tiradas por interesse das atividades clandestinas e outras vezes em nome das autori-dades judias. O poder das fotografias para fazer recordar o transitório e o efêmero permanece uma ferramenta histórica de primeira ordem.Em adição à enciclopédia propriamente dita, vem um DVD com uma série de filmes produzidos nos guetos ou às vésperas de seu estabelecimento. Os materiais cinematográficos, devotamente reuni-dos e pesquisados pelo curador de filmes do Yad Vashem Efrat Komisar-Kaplan, foram editados pelo produtor de filmes Nathan Lifshitz. As cir-cunstâncias nas quais os filmes foram gravados, assim como a identidade de quem os filmou – em sua maioria membros das unidades de propaganda nazista – convenceram Lifshitz de fazer um filme introdutório explicando os aspectos e os desafios que esses segmentos de filmes abrigam. Contudo, a raridade desses filmes e a habilidade de projetar imagens autênticas dos arredores e das caras dos judeus do gueto – a maioria deles anônimos – promovem um suplemento único e incomum das descrições.Além da coleção de fotografias e filmes, a enci-clopédia também apresenta mapas e diagramas das áreas dos guetos. Algumas das ilustrações mostram as frequentes mudanças pelas quais as áreas dos guetos passaram, como Kovno, cuja área foi desenhada em tempo real pelo artista Bauhaus Fritz Gadiel.

Um olhar particular

Uma análise da vida judaica no gueto não estaria completa sem explorar a vida diária e o mundo espiritual dos judeus enclausurados nos guetos. A enciclopédia apresenta artigos que caracteri-zam a rotina dos habitantes dos guetos, como a

remenda amarela das roupas ou a carta de traba-lho e o cartão de alimento, ao lado de trabalhos artísticos e pinturas que eles criaram no ponto fraco daqueles dias sombrios. Da mesma forma, fragmentos da extensa literatura escrita nos guetos promovem uma trilha sonora humana e particular aos textos formais, como uma pequena janela na pulsação da vida no gueto. Como Egon Redlich, residente do gueto de Terezin, expressa em seu diário: “Meu D’us, que vida! Multimorfa, horrível, cheia de contrastes e fluindo rapidamente...uma performance de cabaré e ao seu lado um homem velho morrendo... problemas com desinfetante, erradicando infestações de piolho, construindo camas – um mosaico colorido de vida e morte.”

Traduzido por Flávia Fridman

The Yad Vashem Encyclopedia of the Ghettos During the Holocaust

Tel: +9722-644 3511, Fax: +9722-644 3509,[email protected]

Para encomendar pela livraria online:www.ecom.gov.il/YadVashem

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A digitalização de milhões de documentos dos arquivos

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Do começo ao fim: um diário original da era do Holocausto é organizado, preservado, digitalizado e salvo nos computadores do Yad Vashem.

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Por Leah Goldstein

HISTÓRIA

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O Yad Vashem recentemente começou a imple-mentar um projeto abrangente para digitalizar todos os os documentos conservados em seus arquivos. Em uma entrevista especial para o Yad Vashem de Jerusalém, o Dr. Haim Gertner, diretor da Divisão dos Arquivos, explica o projeto e seus objetivos, tanto a curto como a longo prazo.

Por que os conteúdos dos arquivos precisam ser digitalizados?Os Arquivos Yad Vashem atualmente contêm a maior coleção de documentos sobre o Holocaus-to do mundo, incluindo 130 milhões de páginas de documentos, 400.000 fotografias e mais de 100.000 testemunhos de sobreviventes. Esta docu-mentação é um dos tesouros mais importantes do povo judeu. Ela serve como base para pesquisas sobre o Holocausto, para a criação de exposições e museus, para atividades comemorativas, bem como para a educação de futuras gerações. Os documentos servem como prova do Holocausto, e são vitais para compreendermos sua abrangência e significado, bem como o destino de suas vítimas. Hoje, mais de 65 anos após o fim da guerra, quando os documentos estão começando a se desintegrar e as fotografias estão gradualmente clareando, um dos mais importantes desafios que enfrentamos é proteger esses fragmentos da história contra danos, extinção e destruição para as futuras gerações. A digitalização da documentação dos Arquivos é, por-tanto, uma operação de resgate em primeiro grau.

Quando o projeto começou?Nós temos escaneado documentos e microfilmes por muitos anos, embora em um âmbito muito limitado. Nos últimos anos nós terminamos a digitalização de todas as dezenas de milhares de arquivos de áudio e vídeo, assim como a maioria das fotografias preservadas de Yad Ashem, graças ao apoio fundamental do “Legacy Heritage Fund”, homenageando o trabalho da vida de Bella e Harry Wexner, z”l. No ano passado, começamos a exa-

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minar a possibilidade de escanear metodicamente todos os documentos em papel e microfilmes restantes. Após um longo período de preparação, nós começamos o projeto no final de 2009.

Qual é a extensão deste trabalho?Através do projeto pretendemos digitalizar de-zenas de milhões de documentos e catálogos de fichas, aproximadamente 30.000 rolos de micro-filmes e microfichas (rolos de filmes com cópias miniaturizadas de documentos), bem como deze-nas de milhares de fotografias.

Quais são os objetivos do projeto?O projeto, em primeiro lugar, é voltado para a criação de cópias de alta qualidade de toda a docu-mentação encontrada no Yad Vashem. Estas cópias serão preservadas em locais seguros, empregan-do todas as tecnologias avançadas disponíveis hoje. Além disso, as cópias digitais poderão ser apresentadas nos computadores do Yad Vashem e disponibilizadas ao público em geral por todo o mundo.

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Onde você realiza o trabalho?Nas pesquisas para o projeto, descobrimos que não há muitos lugares em Israel que executam esse tipo de escaneamento profissional em tal escala. Foram consultadas muitas organizações e especia-listas no exterior, e no final decidimos realizar o projeto nós mesmos no próprio Yad Vashem. Os motivos são muitos: primeiramente, grande parte da documentação chega desordenada e temos que preparar as páginas para o escaneamento: organizá-las e paginá-las, remover os grampos e clipes de papel, e dar um tratamento de “primeiros socorros” em nossos laboratórios de conservação para os documentos danificados. Da mesma forma, precisamos estabelecer uma ligação entre o arqui-vo digitalizado e nosso acervo digital, de modo que possa ser localizado e extraído no futuro.A ordenação é executada nas salas de armazena-mento do Yad Vashem por uma equipe de cerca de dez especialistas fluentes nos idiomas em que os documentos foram criados. Após o tratamento de preservação, o material é levado para a sala de digitalização, onde os funcionários escaneiam os

documentos e testam sua qualidade usando equi-pamentos de última geração tais como scanners coloridos de alta velocidade e câmeras de mesa. Um sistema computadorizado de alta tecnologia está instalado em todas as estações de trabalho para conectá-los, extrair os dados de um catálogo informatizado e, finalmente, atualizar o catálogo online.

Que tipo de dificuldades vocês encontraram?O projeto foi elaborado por uma ampla equipe multidisciplinar, incluindo especialistas dos Arqui-vos e da Divisão de Sistemas de Informação. Para um observador desinformado, o projeto parece ser simples, mas o que se pode fazer quando se está lidando com milhões de documentos? Como priorizá-los? Como se transfere uma quantidade tão grande de documentos entre as diferentes estações sem perder alguns pelo caminho? Como decide que máquina é apropriada para cada tipo de documento? Como se certifica que a quali-dade do original seja preservada de forma que sua reconstrução a partir da cópia digital seja

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confiável? Onde salvar os arquivos digitalizados? Como conectá-los as informações do catálogo computadorizado? Os desafios aparentemente são intermináveis, mas nós trabalhamos em cada um deles até que uma resposta seja encontrada.

Você já teve alguma surpresa até agora?Nossa enorme coleção de documentação foi se acumulando durante muito tempo e algumas das caixas não foram abertas por muitos anos; assim, descobrimos novos “tesouros” a cada dia. Tam-bém fomos surpreendidos pelo grande interesse expresso pelo público nesse projeto, muito além das nossas expectativas.

Quando o público vai poder ver os documentos digitalizados?A vantagem do sistema que nós desenvolvemos é que no final de cada dia de trabalho todos os arquivos digitalizados podem ser acessados ime-diatamente pelos computadores do Yad Vashem. A equipe de computação do museu atualiza o catálogo online durante a noite e no dia seguinte as cópias digitais coloridas já podem ser vistas e impressas. Mais tarde, alguns dos documentos digitalizados são adicionados ao Banco de Dados Central de Nomes de Vítimas da Shoá, acessível online. No futuro, pretendemos gradualmente fornecer acesso aos documentos do Yad Vashem através do nosso site.

Quando se espera que o projeto termine?A taxa atual de digitalização está em torno de 100.000 páginas por mês, até o final do ano tere-mos digitalizados mais de um milhão de páginas. Pretendemos aumentar a quantidade de scanners e comprar um dispositivo avançado de alta velo-cidade para a digitalização de microfilmes, com-pletando assim o projeto dentro de alguns anos.

Quem está apoiando o projeto?O período preparatório do projeto e do primeiro ano da operação foi possível graças ao generoso apoio da Dayenu Ltd., liderada por Colin e Gail Halpern e sua família, os amigos leais do Yad Va-

shem e os parceiros de longa data. Hoje é apoiada por outros doadores e organizações financeiras, incluindo a Conferência de Reivindicações. A continuidade do projeto de digitalização depende de recursos adicionais, e eu estou convencido que eles serão encontrados.

Em um dos cadernos que digitalizamos este ano, encontrei uma carta escrita por Eliezer Gandwer-ger, um garoto órfão que morava no gueto de Mogilev, para seu professor de hebraico, que o educou durante três anos no orfanato do gueto. Em uma bela caligrafia e hebraico fluente, Eliezer es-creveu: “As memórias são o único paraíso do qual o homem não pode ser banido.” Esta frase tem me acompanhado durante todo o projeto. O processo emocionante de abrir as caixas, sacudir a poeira e encontrar-se com os documentos leva nossa equipe a redescobrir o poder de um documento original e sua força emocional, instrutiva e moral. Ninguém consegue ficar indiferente diante do contato dire-to com os relatos escritos daquelas lembranças. Viajando através de fotografias, documentos pessoais e depoimentos sobre páginas amareladas provamos novamente a cada dia a importância da documentação como a pedra fundamental para a recordação do Holocausto, e para a restauração da pessoa por trás de cada documento.

Traduzido por Fabiana Besser

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Educação em destaque

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Todo ano, a Escola Internacional de Estudos sobre o Holocausto tem centenas de seminários e conferências realizadas por mais de 300.000 educadores e estudantes em Israel e no mundo. Aqui destacamos um dos diplomados da Escola e o que ele tem realizado desde sua graduação.

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Por Szilvia Peto - Dittel

CAPA

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O professor de História e jovem educador Péter Heindl é considerado mais como uma figura pa-terna do que um professor aos seus alunos em Ma-gyarmecske, um remoto vilarejo húngaro próximo à fronteira croata. Depois de voltar de um curso de formação de professores na Escola Internacional de estudos sobre o Holocausto do Yad Vashem, Heindl não só compartilhou a sua fascinante ex-periência com seus “filhos” mas também estava ansioso para ensinar-lhes o significado humano e moral da história do Holocausto.

A fim de aumentar o interesse e a curiosidade de seus alunos, Heindl pendurou no mural de avisos da escola uma antiga foto de uma menina jovem, que aparentava ter a mesma idade que seus alu-nos, com as seguintes frases baixo: “Lili Ney:

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uma menina de Magyarmecske que desapareceu. Poucas semanas depois, ela foi morta. Quem era ela? Por que ela morreu? Ela não era a única pes-soa de Magyarmecske que sofreu este destino. Vamos descobrir juntos a história de Lili Ney e dos outros!”. O cartaz tinha uma enorme efeito sobre os alunos; dezenas queriam participar das sessões de investigação que Heindl programara, uma tarde por semana durante todo o ano letivo. “O crime da história resolveu um dos maiores desafios para educar sobre o Holocausto” explica Heindl, “como envolver jovens lidando com um tema tão sombrio e que somente os adultos acham importante o suficiente para ser lembrado?”.

Durante o “workshop de investigação”, Heindl

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e os alunos gradualmente descobriram a verda-de sobre os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial. Heindl, o “Detetive-chefe”, planejou cuidadosamente o programa a cada semana, certificando-se de que cada fase revelasse mais detalhes, e os alunos não perdessem o interesse sobre o processo durante o ano.

Com a ajuda de um historiador e pesquisador local (István Voros, também graduado no Yad Vashem), eles aprenderam sobre as diversas comunidades religiosas na aldeia no período da guerra, e des-cobriram que haviam 17 judeus e duas famílias de ciganos que viviam ali. “Tia Cinka “(Bence Kálmánné), uma antiga moradora da vila ainda se lembra dos eventos que ocorreram nos últimos 64 anos, guiou o ‘grupo de investigação’ em uma visita ao vilarejo, mostrando as antigas casas judaicas e descrevendo cada família que morava lá, bem como sua deportação e a tomada de suas

posses. Os alunos ficaram chocados ao descobrirr que um assassinato em massa apareceu na história de seu pequeno povoado.

Baseado no relato de tia Cinka, um judeu que mo-rou na vila, László Szanto (Steiner), foi localizado em Budapeste. Szanto visitou os jovens alunos em Magyarmecske, trazendo com ele algumas fotos antigas, incluindo uma de si mesmo com as duas crianças da família Ney do lado de fora de sua casa.

As aulas extras para esse grupo especial de pes-quisadores incluíram uma visita à comunidade judaica mais próxima, na cidade de Pécs e uma reunião com o rabino-chefe, András Schönberger, uma conversa sobre questões de responsabilidade com o padre católico de Alsószentmárton, que auxiliava as famílias ciganas de Magyarmecske; uma visita ao cemitério judaico de Kacsóta, onde

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a maioria dos judeus de Magyarmecske são enter-rados, e dois dias de excursão ao Centro Memorial do Holocausto, ao bairro judeu e um museu em Budapeste.

O ano letivo terminou com a descoberta da casa pertencente a um dos Justos entre as Nações, Erz-sébet Tóth. Dentro da casa, os atuais proprietários foram surpreendidos quando descobriram um esconderijo. “O acontecimento foi perfeito para fechar a história investigativa”, diz Heindl. “Isso chamou a atenção dos meus alunos para exemplos positivos do comportamento humano em tempos quando a desumanidade prevaleceu.”

O fim do ano escolar, no entanto, não significou o encerramento do projeto, que já tinha ultrapassado todas as expectativas de seu criador. Em uma ini-ciativa do grupo, toda a vila se mobilizou e fizeram uma placa memorial homenageando os 11 judeus vítimas de Magyarmecske, que foi colocada no muro da escola local (que um dia foi a casa da o Família Ledrer). Uma exposição também foi organizada a partir dos resultados obtidos pelo grupo de alunos.

A mídia nacional teve grande interesse no projeto, e a cobertura do evento foi transmitida de várias formas diferentes. Como resultado, Heindl logo recebeu um telefonema emotivo de Judit Ney, sobrinha de Lili, que tinha lido um artigo no jor-nal sobre o projeto. Mais fotos da família foram obtidas através de Judit, uma delas mostra as crianças da família Ney brincando com as crian-ças ciganas da vila. “Meus olhos se encheram de lágrimas quando vi a foto “ lembra Heindl, “Não importa o quão pequena seja a comunidade judaica agora, quase sete décadas após a sua destruição, ela ganhou vida novamente - tanto para os meus alunos como para a toda a vila”.

A autora é a secretária do Departamento Europeu da Escola Internacional de Estudos sobre do Holocausto.

Traduzido por Fabiana Besser

“O crime da história resolveu um dos maiores desafios para educar sobre o Holocausto: como envolver jovens lidando com um tema sombrio que somente os adultos acham importante o suficiente

para ser lembrado?”.

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Memórias

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Leo Luster

Leo Luster nasceu em 1927, em Viena, Áustria, vindo de uma família judaica sionista tradicional. Ele foi o segundo filho de Moshe, um comerciante de tecidos, e Golda. Durante a Kristallnacht seu pai foi preso,

mas libertado alguns dias depois, espancado e machucado. Enquanto isso, seu vizinho confiscou seu apartamento, forçando-os a se mudar para um apartamento pequeno e mofado no porão do prédio. Em 1940, a irmã de Leo, Haya, conseguiu imigrar ilegalmente para a Palestina. Em 1942, Leo e seus pais foram deportados para Theresienstadt. Ele trabalhava na cozinha, distri-buindo comida, e conseguia passar seus cupons de comida para seus pais e amigos. Em setembro de 1944 (Yom Kipur 5705), Leo e seu pai foram deportados para Auschwitz. Seu pai foi morto e Leo mandado para trabalhar no conserto dos trens.Em janeiro de 1945, Leo foi levado à marcha da morte. No campo Blechhammer, quando muitos prisioneiros se recusaram a responder à lista de chamada, os alemães botaram fogo nas barracas e atiraram em quem fugisse. Por sorte, Leo e seus amigos foram colocados em um galpão que arma-zenava garrafas de água com gás, e eles consegui-ram apagar o fogo. Alguns dias depois Leo saiu para procurar comida. Ele se deparou com um SS

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Por Ehud Amir

atirando em qualquer um à sua vista. Leo salvou sua vida enterrando-se em uma pilha de corpos.Um dia, Leo e um amigo ousaram fugir do campo. Escutando o barulho de veículos se aproximando, escaparam para o bosque. Em um dos carros Leo reparou que havia uma estrela vermelha. Ele saiu do meio das árvores e gri-tou, apontando para si: “Zhid, Zhid!” (“Judeu, Judeu!”). Um oficial russo saiu do carro e res-pondeu em Yiddish: “Eu também sou judeu!”Depois da guerra Leo encontrou sua mãe em There-sienstadt. Eles retornaram para a casa de sua infância em Viena, mas não havia restado nada. Então eles se mudaram para um campo de pessoas desabriga-das em Deggendorf, Bavaria, onde ele conseguiu localizar o endereço de sua irmã em Eretz Israel.Em 1949, Leo e Golda imigraram para Israel e se reencontraram com Haya. Leo começou tra-balhando como motorista e mais tarde se tornou empregado da Embaixada da Áustria, onde traba-lhou até sua aposentadoria em 1991. Leo é um dos membros fundadores da Associação de Ex-Austríacos em Israel. Ele ajuda a sobrevi-ventes do Holocausto reivindicarem seus direitos ao governo da Áustria, e também está envolvido com as celebrações em homenagem aos judeus austríacos assassinados na Shoá. Leo e sua mulher, Shoshana, tem um filho, uma filha e três netos.

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Sara Israeli

Sara (Kati) Israeli nasceu em 1937 em Pestszenterzsebet, Hungria (hoje Budapeste), filha de Laszlo e Ilus Semjen. Com a invasão da Hungria pelos ale-mães em março de 1944, o pai de Sara foi forçado a vender a

sua parte da farmácia que possuía ao seu sócio quando se tornou ilegal aos judeus possuirem qualquer propriedade.No começo de maio de 1944, Sara e sua família foram obrigados a viver no gueto da cidade. No começo de junho, eles foram transportados a uma fábrica de tijolos em Monor, um campo de concentração cujos presos eram mandados para Auschwitz. Contudo, ao invés de serem mandados para Auschwitz, a família de Semjen foi colocada em um caminhão e mandada de volta a um campo na rua Columbus, Budapeste. Embora ela ainda não entenda porque seu destino não foi Auschwitz como todos os outros prisioneiros do gueto de Pestszenterzsebet, muitos anos depois, Sara des-cobriu que sua família deveria ter sido colocada num trem para a Suíça, parecido ao famoso trem Kastner (que salvou milhares de vidas de judeus Húngaros), mas o plano nunca aconteceu. No começo de outubro o campo foi desmantelado, e os Semjen se mudaram para o apartamento da avó de Sara. Alguns dias depois, Ilus, a mãe de Sara, foi pre-sa na Hungria. A babá da família Gizella (Gizi) Benkovits, ficou com a família, trazendo para eles remédios e comida, pondo em risco a sua própria vida (em 2001, Gizi foi nomeada Justa entre as Nações). Quando ela ouviu que toda a área estava para se tornar o gueto central de Budapeste, Gizi levou Sara, seu irmão mais velho Ivan e seu primo Paul a um orfanato estabelecido pelo movimento Sionista secreto e a Cruz Vermelha.Enquanto isso, o pai de Sara, Laszlo, foi encarce-rado no gueto. Ilus foi mandada para Ravensbruck e depois para Berlin-Schonholz. Após a libertação, ela voltou para Budapeste. Em setembro de 1945,

Laszlo morreu em um acidente e Ilus passou a ter que sustentar a família sozinha.Com as fronteiras fechadas pelas autoridades comu-nistas, Sara e Ivan deixaram a Hungria ilegalmente como membros do Movimento Juvenil Gordonia, chegando em Israel em dezembro de 1949.Sara cresceu e permaneceu em um Kibutz, tra-balhando em diversas funções antes de dirigir a Associação da Hospedaria do Kibutz. Ela também coordenou um grupo de voluntários que traduziu depoimentos de sobreviventes húngaros para o he-braico. Hoje ela é voluntária em uma organização que cuida da genealogia de judeus americanos, ajudando a preservar documentos arquivados. Além disso, ela é voluntária na Amcha, uma or-ganização dedicada a promover apoio emocional aos sobreviventes do Holocausto, e visitar os sobreviventes em suas casas. O marido de Sara, Betzalel, morreu muitos anos atrás. Ela tem dois filhos e dois netos.

Eliezer Ayalon

Eliezer (Lazer) Ayalon nas-ceu em Random, Polônia, em 1928. Seus pais, Rebecca-Leah e Israel Herszenfis, eram judeus ortodoxos e sionistas. Na década de 30, a família de seis integrantes tentou conse-

guir vistos para a Palestina, mas não conseguiu. Em abril de 1941, Eliezer e sua família foram encarcerados no gueto de Random. Eliezer mentiu a sua idade e recebeu um trabalho em um depósito de roupas alemão fora do gueto. Ele costumava cantar no trabalho, e seus empre-gadores gostavam tanto de suas cantorias que o chamavam para cantar em seus aniversários, em troca de doces.Em agosto de 1942, o gueto foi fechado. Embo-ra qualquer um com visto de trabalho pudesse partir, Eliezer se recusou a se separar de sua

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família. Os membros de sua família ficaram duas horas inteiras implorando para que ele se salvasse. Finalmente, sua mãe disse: “Se há uma pessoa dessa família com a chance de permanecer vivo, essa pessoa é você. Azoy ist Beshert (Era para ser assim). Que você tenha uma vida doce.” Ela o acompanhou até o portão com um pote de mel. Eliezer foi transferido para o campo Blizyn, perto de Kielce, onde ele trabalhou como sapateiro. Sua mãe, seu pai, sua irmã e seus dois irmãos foram todos mortos em Treblinka.Na primavera de 1944, Eliezer foi levado para Plaszow, e depois Mauthausen e Melk na Áustria. Em abril de 1945, ele foi mandado a uma marcha da morte. Apesar de ter uma perna quebrada, conseguiu chegar a Ebensee. Em 6 de maio de 1945, o campo foi libertado pelas for-ças americanas. “Soldados da Brigada Judaica nos tiraram do inferno e nos prepararam para a aliah. Eu me lembro da alegria, das danças e das cantorias quando ouvimos a notícia de que havíamos recebido vistos para Eretz Israel.”Seis meses depois, Eliezer chegou a Israel como parte de um grupo de aliah de jovens (Youth Aliah), e entrou em uma escola de agricultura. Durante a Guerra de Independência, ele lutou na Brigada Etzioni até ser liberado da IDF (Forças de Defesa de Israel) em 1949. “Durante 37 anos eu não contei a ninguém o que havia acontecido comigo; e então eu compreendi que era meu dever. Eu me tornei testemunha.”Recentemente, Eliezer começou a contar suas experiências em escolas e bases militares. Ele recebe convites para discursar em comunidades judaicas nos EUA, e viajou muitas vezes para a Polônia com a sua própria família e como guia e testemunha para inúmeras delegações. Suas memórias “A cup of honey” (Um pote de mel) foram publicadas em Israel, nos EUA, no México e na Costa Rica.Eliezer se casou com Rebecca, e o casal tem um filho, uma filha, cinco netos e dois bisnetos.

Baruch Shub

Baruch Shub nasceu em Vilnius, Lituânia, em 1924, o segundo filho de uma família chassídica de seis. Em 1939 os soviéticos con-quistaram Vilnius e em junho de 1940 a cidade foi anexada e a lei comunista instituída. Consequen-

temente, as universidades foram abertas aos judeus e Baruch foi estudar engenharia mecânica.Em junho de 1941, os alemães conquistaram Vilnius e começaram a matar judeus em Ponary. Baruch con-seguiu trabalho em uma oficina alemã consertando veículos militares. Em setembro os judeus de Vilnius foram confinados em um gueto. Baruch e Tzipora, sua irmã mais velha, se esconderam em um caminhão indo para Radoszkovice, onde Baruch encontrou trabalho, novamente, em uma oficina alemã.Em 11 de março de 1942 os judeus foram ordena-dos a se reunir na praça da cidade. De seu escon-derijo na oficina, Baruch viu uma fila enorme de pessoas, inclusive crianças, se movendo lentamen-te em direção a um celeiro. Dava para ouvir som de tiros. De noite, o celeiro pegou fogo e um cheiro forte e denso impregnou o ar. Tzipora estava entre os 840 judeus assassinados naquele dia.Após o gueto ser ativado, a juventude judaica es-tabeleceu um movimento secreto, comprou armas e se preparou para escapar para as florestas e se juntar aos partisans. Contudo, os alemães amea-çaram matar se descobrissem alguém faltando no gueto, então suas atividades cessaram.Após ouvir que sua mãe estava viva em Vilnius, Baruch retornou a sua cidade natal, onde ele tra-balhou com plantas feitas à mão. Ele estabeleceu um movimento secreto com seu amigo Yaakov (Kuba) Koshkin, e mais tarde se juntou a FPO (Organização dos Partisans Unidos). Em setembro de 1943, os alemães realizaram algumas aktionen (captura de judeus para deportá-los a campos de concentração, de trabalho forçado ou de extermí-

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nio). Após um confronto armado com os alemães, Baruch e alguns amigos se juntaram a um grupo de partisans na Floresta Rudnicki. Duas semanas mais tarde, o gueto de Vilnius foi liquidado.Baruch se alistou em uma unidade de paraque-distas russa, participando de várias operações militares. Em julho de 1944, o Exército Vermelho conquistou Vilnius, e Baruch descobriu que toda a sua família havia sido assassinada. Após sua liberação do exército resolveu imigrar para Eretz Israel, finalmente chegando em outubro de 1945. Ele foi recrutado pelo Haganá, servindo como téc-nico de avião durante a Guerra de Independência. Dois anos mais tarde mudou para a El Al, subindo de postos na companhia até Chefe dos Engenheiros de Vôo. Após 33 anos ele se aposentou.Baruch tem sido ativo em celebrações do Holo-causto por muitos anos. Ele é o Presidente da Orga-nização dos Partisans, Combatentes Underground e Rebeldes dos Guetos de Israel, membro da Dire-toria do Yad Vashem e do Conselho de Diretores da Claims Conference. Ele também dá aulas sobre antissemitismo e negação do Holocausto.Baruch e sua mulher, Nelly, tem dois filhos e quatro netos.

Hanna Gofrit

Hanna Gofrit nasceu em 1935 na cidade de Biala Rawska, Polônia, filha de Hershel e Zisel Hershkovitz. Com a conquista nazista Hanna foi proibida de ir à escola, e seus pais a ensinaram em casa. A família de Hanna

teve permissão para viver fora do gueto estabele-cido na cidade, devido ao trabalho de sua mãe de costureira das Forças Alemãs. Os pais de Hanna arranjaram uma família polonesa para esconder a filha. Mas Hanna se recusou e se juntou a eles, se escondendo em um galpão de batatas subterrâneo.Ao final de 1942, os judeus da cidade foram de-

portados para Treblinka. O vizinho da família, Sr. Moshalkova, conseguiu arranjar documentos forjados para Hanna e sua mãe. O destino de seu pai continua desconhecido. Por dois anos as duas se esconderam no aparta-mento, em Varsóvia, da família Skowronek (mais tarde reconhecidos como Justos Entre as Nações), ajudando seus salvadores o máximo possível. Elas estavam proibidas de olhar pela janela ou usar sapatos, por medo de serem descobertas. Hanna e sua mãe foram salvas em uma das incursões da Gestapo quando uma das filhas as escondeu no sótão. No Natal, quando os Skowronek receberam visitas, as duas se esconderam em um armário. Dentro do armário escuro, Hanna se imaginou voando, livre, como uma borboleta.Após seus documentos serem queimados em um bombardeio em Varsóvia, mãe e filha se disfarçaram de católicas polonesas devotas. Elas foram deportadas para um campo de trabalho em Senftenberg, próximo a Leipzig, onde foram empregadas em uma fábrica da AEG (Allgemeine Elektricitäts-Gesellschaft ). Quando o Exército Vermelho se aproximava, Hanna e sua mãe fugi-ram. Elas retornaram para sua cidade natal, onde descobriram que eram as únicas sobreviventes de toda a sua família. Elas partiram no dia seguinte para Lodz, onde Zisel se casou com Yosef Ku-pershmid, um sobrevivente do Holocausto cuja mulher e filha foram assassinadas. Um ano depois, o irmão de Hanna, Avraham, nasceu.Em 1949, Hanna imigrou para Israel e se estabe-leceu em Tel Aviv. Após frequentar uma escola de enfermagem, trabalhou como enfermeira da área de saúde pública. Por seu trabalho dedicado, Hanna recebeu o prêmio Namir Labor Prize. Ela continuou trabalhando como Chefe de Enferma-gem na Divisão de Saúde Pública de Tel Aviv até se aposentar.Com a ajuda de Naomi Morgenstern, escreveu suas memórias “I Wanted to Fly Like a Butterfly” (“Eu queria voar como uma borboleta”). Tradu-zido para seis línguas, esse livro é muito lido em

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salas de aula de Israel e do exterior. Hanna troca cartas e se encontra com jovens leitores do livro do mundo inteiro. Hanna é casada com Yitzhak, mãe de Ofer e tem três netos.

Jakob Zim

Jakob Zim (Cymberknopf) nasceu em 1920 em Sosnowiec, Polônia, filho de Herman (Zvi) e Gabriela. Com a ocupação alemã os jovens eram reunidos para o trabalho forçado, mas graças ao seu talento artístico,

foi mandado para trabalhar como desenhista na estação de polícia da cidade. Em meados de 41, ele foi forçado a partir, mas um alemão influente, que ouviu sobre as suas habilidades, pediu para ele montar um workshop de artes aplicadas. Lá, ele encontrou um refúgio temporário, junto com os seus dois irmãos e mais 120 jovens, a maioria deles amigos do Movimento Juvenil Sionista. Na primavera de 1943, o restante dos judeus da cidade foi mandado para o gueto, inclusive membros da família de Jakob: ele, seu pai, sua mãe e seu irmão mais velho. O irmão mais novo de Jakob, Nathan, foi mandado para um campo de trabalho forçado e seus outros parentes deportados para Auschwitz. A liquidação do campo começou em 1 de agosto de 1943, nove dias antes de Tisha BeAv.Jakob foi mandado para o campo de trabalhos forçados Annaberg, na Silésia, onde ele reproduziu de memória o quadro do artista Josef Budko cha-mado “No One Cries Like Me” (“Ninguém chora como eu”), adaptando-o para a sua realidade. Ele foi sentenciado a 25 chicotadas, e deportado para o campo Blechhammer, que logo se tornou uma extensão de Auschwitz. Algumas semanas depois Nathan chegou no campo, o que Jakob considerou uma obra do destino.A medida que o Exército Vermelho se aproxi-

mava, os prisioneiros foram mandados para uma marcha da morte. Jakob e Nathan andaram com dificuldade sobre os campos cobertos de neve, um irmão ajudando o outro. De repente, eles viram ao longe telhados e uma torre de igreja brilhando feito ouro ao sol de inverno. Desfrutando da beleza da criação, Jakob percebeu que o artista dentro dele era a sua fonte de força e que ele tinha que sobreviver para contar sua história em sua própria linguagem – pintar. Os irmãos conseguiram chegar a Buchenwald, onde foram libertados.Após imigrar para Israel, Jakob continuou seus estudos na Academia de Artes e Design de Jeru-salém, Bezalel, onde conheceu sua futura esposa, Ruth. Ele ganhou fama como designer gráfico e artista, exibiu seu trabalho em Israel e no exterior, e ganhou muitos prêmios, inclusive uma competi-ção internacional para desenhar uma estampa em celebração à memória do Holocausto.As memórias de Jakob, “Shards and Light” (“Caco e Luz”), descrevem suas criações artísticas, que expressam os eventos que ele experenciou e sua abordagem otimista da vida. Jakob termina dizen-do: “Eu aprendi a viver com a escuridão e a criar com a luz.”Jakob e Ruth têm quatro filhos, oito netos e dois bisnetos.

Traduzido por Flávia Fridman

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Pelas ruas da cidade O projeto das comunidades online

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A equipe de Internet do Yad Vashem (www.yadva-shem.org) lançou recentemente um novo projeto em sua página, que conta as histórias das comu-nidades judaicas dizimadas ou destruídas durante o Holocausto. A exposição online retrata o caráter único de cada comunidade, a história, os idiomas, as conquistas e lutas para sobreviver num mundo em mudança. Eles trazem aos telespectadores um mundo da vida judaica que é rico, multifacetado e geograficamente diversificado, mas que agora está perdido: um grupo de comunidades com uma vida cultural próspera, organizações políticas e comunitárias, grandes instituições de estudo da Torá, e centros de atividade sionista.O visitante se familiariza com seus desafios e alegrias, seu cotidiano, suas escolas e empresas, seus Shabatot e feriados religiosos. Eles encon-tram ricos e pobres, sábios da Torá, prósperos comerciantes, artesãos e vendedores ambulantes. As exposições virtuais são construídas a partir uma vasta gama de materiais retirados dos Arquivos do Yad Vashem - documentos, depoimentos, relatos de testemunhas oculares, filmes, fotografias, ob-jetos e livros - em cooperação com vários outros departamentos do Yad Vashem.As etapas de preparação frequentemente levavam a “missões de resgate”: ao aproximar ex-morado-

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PROJETO ON LINE

res e sobreviventes de comunidades perdidas, os pesquisadores encontraram em suas casas muitos tesouros que recordavam a vida das comunidades. Documentos raros foram descobertos; o acervo fotográfico de Yad Vashem expandiu-se e novos depoimentos foram colhidos, derramando mais e mais luz sobre a vida de judeus em toda a Europa – tanto comunitária como pessoal - antes, durante e depois do Holocausto.

“As exposições online retratam o caráter único de cada comunidade,história, línguas, conquistas e lutas para sobreviver num mundo em mudança.”Dana Porath e Yona Kobo

Munkács: Uma comunidade judaica nas Montanhas Cárpatos (Carpathian Mountains)

Em 1959, o poeta e autor Avigdor Hameiri, que emigrou para Israel da região dos Cárpatos em 1921, descreveu um encontro com um nativo de Munkács que falou sobre a visita à sua cidade natal no final da guerra: “Eu andei pelas ruas da cidade, com a melodia de Eicha (livro das Lamentações) presa na minha garganta. Onde estava a imunda, cheia de ódio,

“Por mais de mil anos, os judeus viveram na Europa, organizando comunidades para preservar a sua identidade distinta. Em períodos de tranquilidade a cultura judaica floresceu, mas em períodos de instabilidade, os judeus foram forçados a fugir. Onde quer que se estabelecessem, dotaram as pessoas entre as quais viviam com seus talentos. Aqui suas histórias serão contadas”.Extraído da Inscrição na entrada para o Vale das Comunidades, Yad Vashem.

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questionadora, informada, criminosa, generosa, simples, caridosa, pura e doce Munkác? ... Grave-a em sua alma da maneira com ela era, e sinta-se saciado por ela pelo resto de sua vida, pois não há nada como ela em todo o mundo (Shabat Chasidico). “

“Uma comunidade judaica nas Montanhas Cárpa-tos: A História de Munkacs” é última apresentação a ser adicionada ao novo Projeto de Comunidades online. Na véspera do Holocausto, Munkacs era a maior e mais importante das comunidades judaicas na Montanhas Cárpatos tchecas. Foi uma animada comunidade do Leste Europeu, conhecida pela sua devoção religiosa, e foi também o lar de signifi-cativa atividade sionista. Em novembro de 1938, Munkacs foi anexada pela Hungria. Como resulta-do, os judeus perderam seus meios de subsistência e, logo depois, perderam também sua liberdade educacional e religiosa. Aos poucos, os jovens judeus foram obrigados a entrar para batalhões de trabalho forçado em nome do exército húngaro. No último censo antes da ocupação alemã, em janeiro de 1941, foram contados 13.488 judeus em Munkacs - 42,7% da a população da cidade. Em 19 de março de 1944, o exército alemão invadiu a Hungria e Munkacs foi ocupada. Em menos de três meses, todas as comunidades judaicas na vizi-nhança foram erradicadas e os judeus da Munkacs foram deportados para Auschwitz-Birkenau. Segundo uma avaliação de 1945, cerca de 2.000 judeus de Munkacs (15% da população pré-guerra) sobreviveram. Hoje, apenas cerca de cem judeus permanecem em Munkacs.

“Um vislumbre do passado”

Em 1938, Dora Lichtman, seu marido e filha, Glória, chegaram dos EUA para visitar os pais de Dora e outros parentes. Eles gravaram um filme durante sua visita. O vídeo caseiro foi gravado em Munkacs na casa dos pais de Dora, Chaim Tzvi-Hirsch e Nina Klein, e na vila de Batyu, a cerca de 30 km de lá, onde

o irmão de Chaim Tzvi, Moshé, vivia com sua esposa Tzila. Os filhos de Chaim Tzvi e Moshé, David e Ilona, eram casados e foram viver com Moshe e Tzila em Batyu.O filho de David e Ilona, Oskar Klein, doou o filme ao Yad Vashem e ajudou os historiadores da cinemateca a estabelecerem a identidade das pessoas e locais contidos no filme. O filme oferece ao espectador um raro vislumbre sobre o mundo de uma família judaica de Munkacs e Batyu antes da guerra, dando um verdadeiro rosto e nome àquelas vítimas do Holocausto.

“Uma Promessa e um Propósito”

Em 1934, vinte formandos da Escola Hebraica de Muncaks assinaram um documento único, no qual eles se comprometeram a se encontrarem no Muro das Lamentações, em Jerusalém, na véspera de Pes-sach de 1944. Dez tiveram a sorte de poder cumprir sua promessa e emigrar para a Terra de Israel. Em 7 de abril 1944 - véspera de Pessach, o dia em que tinham combinado de se reencontrar – os Judeus de Munkacs se depararam com o exter-mínio. Imediatamente após Pessach, eles foram presos em guetos e em 11 de maio começaram sua medonha jornada nos trens de deportação para Auschwitz- Birkenau.Com a ajuda dos sobreviventes de Munkacs e a utilização de materiais encontrados no arquivo do Yad Vashem, os pesquisadores foram capazes de descobrir o destino da maioria dos signatários do documento “Uma Promessa e um Propósito”. Além dos dez que estavam em Israel, um emigrou para o Reino Unido antes da guerra e quatro dos signatários foram assassinados durante Holocaus-to. O destino dos outros cinco ainda é desconhe-cido. Espera-se que a divulgação da sua história gere mais informações sobre eles.

O Projeto Comunidades Online é generosamente apoiado pela Conferência das Reivindicações (Claims Conference).

Dana Porath é diretora do Departamento de Internet.Yona Kobo é a coordenadora do website do Projeto Comunidades.

Traduzido por Fabiana Besser

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“Querida Mutti…”

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Antes da Segunda Guerra Mundial, a família Weil morava em Manheim, na Alemanha. O pai, Eugene, foi levado para o campo de concentração de Dachau no dia seguinte à Noite dos Cristais (Kristallnacht), em Novembro de 1938, onde faleceu após seis semanas. Imediatamente após o período de luto, seus filhos – Marianne (Nanna), 16 e Robert (Robbi), 11 - foram enviados para Terezin na Holanda através do Kindertransport.Selma também conseguiu deixar a Alemanha e acabou indo para o Reino Unido. Enquanto as crianças estavam na Holanda, transferidas de uma instituição para outra, elas fizeram questão de manter contato com a mãe. As cartas descrevem as situações pelas quais passaram, contando suas an-gústias e esperanças e expressando repetidamente seu desejo de que os três recebessem documentos de imigração para os EUA, onde poderiam estar todos juntos novamente.As cartas refletem vividamente a personalidade das duas crianças. Após Robbi, um menino gentil e atencioso, contrair difteria, ele ficou preocupado que a doença jamais o deixasse: “Querida Mamãe, Feliz Aniversário! Eu lhe desejo tudo de bom e que no futuro você não tenha tantas preocupações [...] Estamos todos na esperança de que em seu próximo aniversário eu esteja livre da doença. Isso certamente seria o melhor presente de aniversário que você poderia ter” (06 de fevereiro de 1940).A doença de Robbi o manteve isolado das crianças saudáveis. Repetidamente ele descreve as visitas médicas, sua quarentena, e os vários tratamentos a que ele foi submetido. Apesar do fato de que sua irmã, avó e tios estivessem na Holanda, ele lutou basicamente sozinho para recuperar sua saúde.Marianne aparenta ser uma jovem alegre, com

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CARTAS

enorme apetite pela vida e um ótimo senso de humor. Ao contar para sua mãe que ela tinha contraído hepatite, ela acrescenta: “Quando a cor amarela atingiu o seu ápice (eu me senti como uma borboleta ou um canário) eu comecei a ficar melhor.” (24 de abril de 1940). Um mês antes, ela descreve em uma das cartas, com muito entusiasmo, quando a campanha de limpeza da primavera chega à instituição: “...E assim a grande batalha começa. O inimigo é a sujeira, que já avançou para os lugares mais se-

Cartas entre uma mãe e seus filhos, doadas ao Arquivo Yad Vashem

Por Lital Beer

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cretos e inatingíveis. Nós rastejamos atrás dele pelos quatro cantos a fim de capturá-lo... por volta das 15:30h nós terminamos, a sala de jantar está brilhando e estamos imundos. A ‘irmã’ responsá-vel inspeciona o nosso trabalho, embora precise de quatro ou cinco pares de óculos para encontrar qualquer sujeirinha!” (17 de Março de 1940)No início, Marianne e Robbi incluíam algumas frases em Inglês no final de cada carta. Eles pediam a Selma para ajudá-los a melhorar seu inglês e que ela os corrigisse, preparando-os assim para o reencontro que certamente aconteceria nos EUA. O Inglês parece fazer parte do esforço dos filhos em manter o status da mãe como uma figura de autoridade. É também uma demonstração do oti-mismo que sentiam no primeiros tempos de suas vidas na Holanda. No entanto, com o passar do tempo, as frases em Inglês cessaram, e o assunto da emigração foi descartado. Na maioria das cartas, as crianças e sua tia Rosel focaram a descrição da luta diária para sobreviver e a tentativa de manter o contato com outros membros da família. Sua preocupação com os familiares e amigos cresce freneticamente.A última correspondência entre Selma e seus pa-rentes na Holanda são telegramas enviados através da Cruz Vermelha em que Rosel Elk relata a con-dição das crianças para sua irmã. Alguns destes telegramas chegaram a Selma apenas após a morte de Marianne em Auschwitz. Nesta última men-sagem Rosel escreveu: “Robert está aprendendo como escrever lindos cartões. “ Pouco depois desta mensagem ser escrita, Robbi e outros parentes são assassinados em Sobibor.Selma, que perdeu seu marido e filhos, sua mãe, irmã e dois de seus irmãos no Holocausto, emi-grou para Israel em 1949, vivendo primeiramen-te na casa de seu irmão. Sua sobrinha, Hannah Meyuhas, recorda dela chorando muito. Hannah recebeu as cartas de Marianne e Robbi, e as tra-duziu com o ajuda de um amigo da família. Ano passado, uma pesquisadora holandesa, Miriam Mijatovich-Keesing, fez contato com Hannah e Oded Meyuhas, e com sua ajuda eles foram capa-zes de reunir uma imagem mais clara da vida das

crianças na Holanda até sua morte trágica. Hannah e Oded Meyuhas recentemente doaram a pesquisa completa, bem como as cartas, fotografias e traduções para o Arquivo Yad Vashem. “Eu tinha uma necessidade desesperada de conhecer essas crianças “, disse Oded. “Eu queria comemorar com eles, dar uma forma humana aos seus nomes, com todos os seus desejos, talentos e aspirações. Eu me sinto como se tivesse realizado uma mitzvá; qualquer pessoa com vontade e capacidade deve fazer o mesmo, para que as histórias das vítimas nunca sejam esquecidas. “

Membros do staff dos Arquivos Yad Vashem buscam qualquer tipo de documento, fotografia, ou artefato original relacionado ao Holocausto, para que esses objetos - e as histórias por trás deles - sejam preservados para as gerações futuras.

Se você possui algo que possa contribuir com o Yad Vashem entre em contato pelo telefone +972-2 -6443702/3.

A autora é Chefe de Seção de Divulgação na Divisão de Arquivos do Yad Vashem.

Traduzido por Fabiana Besser

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Arquitetura do Extermínio

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O complexo do campo de concentração Aus-chwitz-Birkenau foi planejado como um projeto de construção gigantesco, que levaria anos para terminar, e por isso, na realidade, nunca foi conclu-ído. Inúmeras organizações e companhias foram envolvidas na construção, assim como milhares de

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Por Dr. Daniel Uziel e Leah Goldstein

ESPECIAL

trabalhadores, tanto alemães quanto estrangeiros. Um projeto de construção dessa magnitude natu-ralmente criou uma vasta quantidade de burocra-cia, incluindo papelada técnica.Durante o planejamento do complexo, os escritó-rios e companhias envolvidas no projeto prepa-

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raram centenas de esboços dos diversos terrenos de construção. Os desenhistas da SS, prisioneiros com habilidades técnicas e civis especialistas, pre-pararam o projeto, o que ajudou aos empreiteiros a apresentá-lo e executar a obra. Dentre outros esboços detalhados estavam desenhos das câmaras de gás e dos fornos crematórios.Cópias de documentos da administração – inclusi-ve das plantas – foram preservados em um arquivo próximo ao campo central. Antes da evacuação dos campos em janeiro de 1945, os alemães quei-maram os arquivos do quartel-general do campo, mas esqueceram aqueles da unidade de construção, guardados em um prédio separado. Por isso, com a libertação dos campos, uma notável porção desses arquivos cairam nas mãos dos soviéticos e foram transferidos para Moscou. Cópias encontradas por polacos foram colocadas no Museu de Auschwitz. Os projetos finalmente se tornaram acessíveis ao público com a queda do Bloco Oriental e a abertura dos arquivos no Leste Europeu.Em 2008, 29 desenhos amarelados foram encon-trados em um apartamento abandonado em Berlim, incluindo 15 plantas originais do complexo de Auschwitz. O jornal alemão de grande circula-ção Blid, propriedade da editora Axel-Springer, conseguiu os diagramas e, após comprovação por especialistas dos Arquivos Federais da Alemanha, publicaram sua descoberta. Após serem expos-tos em uma exposição temporária em Berlim, o editor chefe da Blid, Kai Diekmann concedeu-os ao Primeiro Ministro Benjamin Netanyahu e ao presidente do Yad Vashem, Avner Shalev, para guardá-los com proteção no Monte da Lembrança (aonde fica o Yad Vashem).Os desenhos guardados no Yad Vashem são data-dos de 1941 a 1943 e incluem planos de expandir Auschwitz I, as plantas originais de Birkenau e esboços de vários edifícios nos campos e em seus arredores. Entre outras coisas eles apresen-tam a evolução de Birkenau em outubro de 1941. Uma das plantas de Birkenau possui a assinatura de Heinrich Himmler assim como a do chefe do

departamento de construções da SS, Hans Kamm-ler. Em outro desenho, assinou o comandante do campo de Auschwitz, Rudolph Höss. Os desenhos também incluem um esboço do Crematório II.No ano passado, o Yad Vashem montou uma expo-sição temporária chamada “Architecture of Mur-der” (“Arquitetura do Assassinato”) mostrando os esbosços no contexto do cotidiano das pessoas cujas decisões e ações levaram à construção do maior centro de extermínio dos judeus europeus. Além dos esboços, estavam expostos uma foto aérea do complexo massivo, o Relatório Vrba-Wetzler (escrito por dois judeus que fugiram de Auschwitz em 1944), um álbum mostrando fotos da construção do campo, citações de homens da SS e de judeus prisioneiros descrevendo o lugar e seus propósitos homicidas e uma cópia do poema de Paul Celan “Fuga da Morte” (fuga é um tipo de composição musical), em que o poeta rompe a imagem comum dos nazistas se recusando a descrevê-los como monstros, ao contrário, retra-tando-os como seres humanos que, ao escolherem o mal, entregaram seu senso de moralidade.

“Architecture of Murder” foi organizada pela Diretora da Divisão de Museus do Yad Vashem Yehudit Inbar e planejada por Pnina Friedman.

Traduzido e Editado por Flávia Fridman

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O fim de uma históriaSobrevivente honra salvadores e acaba descobrindo uma nova família.

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Sentada à sombra de uma árvore na Avenida dos Justos Entre as Nações, Rochelle Sameroff relata sua história cercada por seus filhos e ne-tos. Começa falando de sua infância na cidade de Paris e relembra sua estada no hospital em Julho de 1942 e de como ficou perplexa quando subitamente sua mãe parou suas visitas sem nenhuma razão aparente. Bem mais tarde ela ficou sabendo a verdade, que seus pais Wolf

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JUSTO ENTRE AS NAÇÕES

and Bronia Kokotec mais seu irmão Fernande tinham sido deportados para Auschwitz depois de serem pegos em Vil de Hiv, uma villa perto de Paris. Quando ela saiu do hospital, quem veio busca´-la foi Madame Registel, uma vizi-nha que sabia do paradeiro dos pais, mas mentiu para não causar mais sofrimento em Rochelle dizendo que seus pais tinha conseguido escapar da França. “ Aquilo me machucou por muito

Por Irena Steinfeldt

Roger e Jeanette Voinot, segundo e terceiro da esquerda, com Rochelle, segunda à direita.

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tempo, pois pensei que ninguém me amava o suficiente a ponto de me abandonar”Como Madame Registel era uma devota cató-lica enviou Rochelle para uma escola convento em St Helene para continuar com seus estu-dos. Mas como ficou perigoso demais para um menina judia ficar na escola, ela acabou por encontrar uma família que tomaria conta dela.Então Rochelle foi viver com Roger e Jeanette Voinot que tinham uma pequena padaria na cidade de Yonne ao leste da França. Mesmo cor-rendo certos riscos , já que os alemães estavam na região, eles a receberam bem e avisaram a todos os amigos que se tratava de uma sobrinha que veio viver com eles por causa médicas. Ela ficou até o fim da guerra junto com a filha do casal e lhe deram o nome de Renée. Após a libertação, mais uma mudança e Ro-chelle foi parar em um orfanato para crianças judias. Um dia passeando pela antiga vizinhan-ça, ela entrou em um loja onde um conhecido lhe disse que ela tinha família por parte do pai

nos Estados Unidos.Então, depois de cinco anos sem ver nenhum familiar , ela acabou na casa dos avós paternos em Nova York para recomeçar sua vida.No ano passado em uma viagem para Israel ela foi prestar uma homenagem para Jeanette e Roger Voinot, seus salvadores, que tinham sido nomeados com o título “ Justos entre as Nações” pelo Yad Vashem.Mas tinha mais emoção esperando por Rochel-le, pois enquanto estavam olhando os muitos documentos em poder Yad Vashem que com-provaram a história, encontraram uma ficha que foi postada em 1957 por um primo sobre a mãe dela. A nova família que mora em Israel foi convidada para o casamento da neta que aconteceu dias depois.E assim ,70 anos depois da morte da mãe, Rochelle conseguiu encontrar um fim para o quebra cabeça que era saber a história de sua família.

No centro, Rochelle com filhos e netos.

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Olha a minha mãe!

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O jornalista Jim Berk nunca imaginou que encon-traria uma foto de sua mãe enquanto ela estava em Auschwitz. Em uma exposição que aconteceu no Memorial de Detroit, “The Auschwitz Album: Story of a Transport” Jim reconheceu sua mãe em uma das fotos onde estavam várias das mulheres que passaram pelo campo de extermínio.

O Álbum de Auschwitz é a única evidencia visual do processo de assassinato em massa. As fotos foram tiradas no verão de 1944 pela guarda da SS, e mostram a chegada dos judeus vindos da

FOTOS QUE REVELAM

Hungria e todo o processo de seleção até a hora da morte. Na época Ilma Dorenter, mãe de Jim Berk, tinha 25 anos e havia sido trazida do gueto Berehovo da Hungria.

“Fiquei completamente atônito quando descobri minha mãe na foto do álbum de Auschwitz”, disse Jim que além de jornalista é guia sobre o Holocausto, disse que “Agora será muito mais especial contar sobre a época, pois contarei as histórias e mostrarei a foto de minha mãe!”

Por Madelyn Cohen

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