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ORGANIZADORES:
WELLINGTON RIBEIRO JUSTO
MARIA ISADORA GOMES DE PINHO
XVII SEMANA DE ECONOMIA DA URCA
NORDESTE BRASILEIRO: Fatores sociais,
econômicos e políticas públicas para a promoção
do desenvolvimento regional diante da crise
XVII SEMANA DE ECONOMIA DA
URCA:
NORDESTE BRASILEIRO: Fatores
sociais, econômicos e políticas públicas
para a promoção do desenvolvimento
regional diante da crise.
2017
Realização:
Apoio:
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca central da URCA
Ana Paula Saraiva de Sousa - Bibliotecária – CRB 3/1000
Crato - CE
Os artigos apresentados neste livro são de inteira responsabilidade dos seus autores. As
opiniões neles emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista dos organizadores
do evento.
D294 XVII Semana de Economia Nordeste Brasileiro: fatores sociais,
econômicos e políticas públicas para a promoção do desenvolvimento
regional diante da crise, de 11 a 15 de setembro de 2017/
Organizadores: Wellington Ribeiro Justo e Maria Isadora Gomes de
Pinho. – Crato-CE: URCA/Departamento de Economia, 2017.
234páginas.
ISBN: 978-85-65425-38-4
1. Economia regional e urbana; 2. Municípios - crescimento, 3.
Contexto social; I. Título, II. URCA – Departamento de Economia, III.
Justo, Wellington Ribeiro, IV. Pinho, Maria Isadora Gomes
CDD: 330
EDITORIAL
PRESIDENTE DA COMISSÃO ORGANIZADORA
Marcelo Henrick Alves dos Santos
COMISSÃO GERAL
Prof.ª Dra. Silvana Nunes de Queiroz
Marcelo Henrick Alves dos Santos
Wellington Rodrigues da Silva
COMISSÃO DE LOGÍSTICA
Aglaylson Ferreira de Sousa
Guilherme Sousa Brandão
COMISSÃO CIENTÍFICA
Prof. Dr. Wellington Ribeiro Justo
AntoniaJaine da Silva Pereira
Maria Isadora Gomes de Pinho
Luanna Pereira de Morais
COMISSÃO DE DIVULGAÇÃO
Thierry Barros
Jardênia de Sousa Santos Damasio
COMISSÃO DE INFRAESTRUTURA
Joana Priscila Barbosa da Silva
Natanael Pessoa Lustoza
Ricardo Vieira Silva
COMISSÃO ORGANIZADORA
DOCENTES
Prof.ª Dra. Silvana Nunes de Queiroz
Prof. Dr. Wellington Ribeiro Justo
DISCENTES
Marcelo Henrick Alves dos Santos
Antonia Jaine da Silva Pereira
Thierry Barros
Aglaylson Ferreira de Sousa
Joana Priscila Barbosa da Silva
Wellington Rodrigues da Silva
Maria Isadora Gomes de Pinho
Luanna Pereira de Morais
Natanael Pessoa Lustoza
Guilherme Sousa Brandão Ricardo Vieira Silva
Jardênia de Sousa Santos Damasio
PARECERISTAS
Alan Francisco Carvalho Pereira (UNIVASF)
Andréa Ferreira da Silva (UFPB- PPGE)
Áydano Ribeiro Leite (URCA)
Christiane Luci Bezerra Alves (URCA)
Eryka Fernanda Miranda Sobral (UFPB-PPGE)
Francisco do O’ de Lima Junior (URCA)
João Ricardo Ferreira de Lima (EMBRAPA- PPGECON)
José Márcio Santos (URCA)
Josué Nunes de Araújo Junior (PPGECON)
Kélvio Felipe dos Santos (IF- Iguatu- UNICAMP)
Maria Jeanne Gonzaga de Paiva (URCA)
Monaliza Ferreira de Oliveira (UFPE-PPGECON)
Poema Ísis Andrade de Souza (UFRPE)
Roberta de Moraes Rocha (UFPE- PPGECON)
Rogério Moreira de Siqueira (URCA)
Silvana Nunes de Queiroz (URCA)
Sónia Maria Pereira Fonseca Oliveira (UFRPE- PPGECON)
Wellington Ribeiro Justo (URCA- PPGECON)
XVII Semana de Economia da URCA
NORDESTE BRASILEIRO: Fatores sociais,
econômicos e políticas públicas para a promoção do
desenvolvimento regional diante da crise.
Universidade Regional do Cariri, URCA.
EIXOS TEMÁTICOS
Economia Regional e Urbana;
Economia Agrícola, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável;
Economia Social, Economia do Trabalho e Demografia;
Economia Política, Metodologia e História Econômica;
Teoria Econômica e Aplicada.
8
XVII Semana de Economia da URCA
NORDESTE BRASILEIRO: Fatores sociais,
econômicos e políticas públicas para a promoção do
desenvolvimento regional diante da crise.
REALIZAÇÃO:
PATROCÍNIO:
9
Apresentação
A XVII Semana de Economia da Universidade Regional do Cariri – URCA foi
realizada no período de 11 a 15 de Setembro de 2017, com o tema: Nordeste brasileiro:
fatores sociais, econômicos e políticas públicas para a promoção do desenvolvimento regional
diante da crise.
As áreas temáticas contempladas foram: Economia Regional e Urbana; Economia
Agrícola; Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; Economia Social, Economia do
Trabalho e Demografia; Economia Política, Metodologia e Historia Econômica e Teoria
Econômica e Aplicada. Foram submetidos 50 trabalhos entre artigos e resumos expandidos
Dos trabalhos apresentados foram escolhidos os dez mais bem avaliados artigos pela
comissão de pareceristas para fazer parte do livro virtual do evento. Os artigos
selecionados para o livro contemplam todas as áreas temáticas. Há uma diversidade de
metodologias utilizadas pelos autores. Há artigos com análise mais exploratória e outros que
fazem uso de métodos mais avançados.
No primeiro artigo os autores analisam a dinâmica de crescimento dos municípios de
médio porte no Nordeste e utilizam econometria espacial. O artigo permite ao leitor uma visão
da aplicação da nova geografia econômica com uso de modelos econométricos. Foi testada a
hipótese de convergência condicional desses municípios incorporando os efeitos espaciais. Os
autores identificaram a convergência e fatores que determinam com que a renda dos
municípios menores cresça mais rapidamente que os maiores.
Em seguida, o leitor adentra em uma análise das parcerias público-privada em um
estudo de caso sobre as tradicionais festas juninas de Caruaru em Pernambuco e Campina
Grande na Paraíba. Os autores identificam além das questões econômicas um forte apelo
cultural no processo de desenvolvimento.
O livro também traz um capítulo que analisa os determinantes da mortalidade por
doença respiratória na Paraíba. Os autores fazem uso de econometria espacial e encontram
que essas doenças estão mais presentes em áreas urbanas, com maior pluviosidade e menor
renda per capita. Também encontraram relação dessas doenças com baixos indicadores
socioeconômicos.
Explorando um tema bastante atual, tem-se um artigo que analisa a dependência
familiar de jovens e adultos urbanos no Brasil. Na mesma área temática que aborda a questão
dos jovens, em seguida tem-se um trabalho que analisa o contexto social na explicação do
trabalho precoce em Pernambuco. Com base nos dados das Pnads de 2002 a 2012 através de
modelo logit, os autores identificaram o perfil dos indivíduos na faixa etária entre 25 e 34
anos, com maior probabilidade de residir no lar de origem.
Ainda nesse contexto social o artigo seguinte aborda o trabalho precoce em
Pernambuco. Com base em um modelo logit multinível e com dados do Censo Demográfico
de 2010 os autores identificaram os fatores que mais afetam a probabilidade dos jovens
ingressarem de forma precoce no mercado de trabalho.
Analisando um fenômeno secular, mas que tem apresentado efeitos menos perversos
na população, a seca no Nordeste brasileiro, é possível discorrer sobre seu efeito na produção
agrícola através de uma análise nas microrregiões, em um capítulo do livro. Os autores
identificaram os efeitos de dois fenômenos climáticos que afetam o regime de chuvas no
nordeste, o El Niño e a La Niña, sobre a produção das principais culturas cultivadas pela
agricultura familiar.
A questão da migração é tratada em três artigos com enfoque no Ceará. O primeiro
identifica a qualidade do emprego dos migrantes e o segundo, caracteriza o perfil dos
migrantes intraestaduais. Já o terceiro, identifica o perfil sociodemocrático, socioeconômico e
ocupacional dos migrantes interestaduais.
10
O leitor também pode apreciar a análise do preço da cesta básica no município de
Fortaleza através de uma aplicação de modelos com múltiplas quebras estruturais. Assim, os
autores conseguem identificar a presença de várias quebras estruturais tanto na série dos
preços da cesta básica em Fortaleza como dos seus principais produtos e, associando essas
quebras, com acontecimentos políticos e econômicos.
Wellington Ribeiro Justo
Professor Associado do Curso de Economia da URCA
Professor do PPGECON – UFPE
Doutor em Economia –PIMES (UFPE)
11
SUMÁRIO
DINÂMICA DE CRESCIMENTO DOS MUNICÍPIOS DE MÉDIO PORTE DO
NORDESTE: 1991 A 2016 12
AS FESTAS JUNINAS NA CONTEMPORANEIDADE E A OCORRÊNCIA DE
PARCERIAS ENTRE PÚBLICO-PRIVADO: OS CASOS DOS FESTEJOS DE
CAMPINA GRANDE (PB) E CARUARU (PE) 39
UMA ANÁLISE ESPACIAL DOS DETERMINANTES DA MORTALIDADE POR
DOENÇA RESPIRATÓRIA NA PARAÍBA 59
UMA ANÁLISE SOBRE A DEPENDÊNCIA FAMILIAR DE JOVENS ADULTOS NO
BRASIL URBANO 77
O CONTEXTO SOCIAL COMO DETERMINANTE DO TRABALHO PRECOCE EM
PERNAMBUCO 104
O EFEITO DA SECA NA PRODUÇÃO AGRÍCOLA: UM ESTUDO DE CASO NAS
MICRORREGIÕES DO NORDESTE: 1991-2015 122
A QUALIDADE DO EMPREGO DOS IMIGRANTES NO ESTADO DO CEARÁ:
ANÁLISE PARA OS ANOS 2004 E 2014 147
PERFIL DOS MIGRANTES INTRAESTADUAIS CEARENSES: RMF VIS-À-VIS O
INTERIOR DO ESTADO - 1986/1991, 1995/2000 E 2005/2010 165
ANÁLISE DO PREÇO DA CESTA BÁSICA NO MUNICÍPIO DE FORTALEZA-CE
NO PERÍODO DE 1994 A 2016 SOB A ÓTICA DE QUEBRAS ESTRUTURAIS
187
PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO, SOCIOECONÔMICO E OCUPACIONAL DOS
IMIGRANTES INTERESTADUAIS RESIDENTES NO CEARÁ 211
12
DINÂMICA DE CRESCIMENTO DOS MUNICÍPIOS DE MÉDIO PORTE DO
NORDESTE: 1991 A 2016
NATANIELE DOS SANTOS ALENCAR
Economista pela Universidade Regional do Cariri (URCA), e-mail: nataniele-
[email protected], Telefone: (88) 99449-1362.
WELLINGTON RIBEIRO JUSTO
Professor associado da Universidade Regional do Cariri (URCA), Professor do Programa de
Pós-graduação em Economia (PPGECON-UFPE), Doutor em Economia pelo Programa de
Pós-graduação em Economia do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (PIMES-UFPE), e-
mail: [email protected], (81) 98848-1898.
JAMILY FREIRE GONÇALVES
Graduanda em Economia pela Universidade Regional do Cariri (URCA), e-mail:
[email protected], Telefone: (88) 99941-5302.
TIAGO CARTAXO DE LUCENA
Professor Efetivo da Secretaria da Educação do Estado do Ceará (SEDUC), Mestre em Geografia
pela Universidade Federal do Ceará (UFC), e-mail: [email protected], Telefone: (88)
99924-6554.
13
RESUMO:
O crescimento da urbanização brasileira nas últimas décadas tem apontado para uma
desconcentração espacial no sentido que municípios de médio porte têm crescido mais que as
grandes metrópoles. Nesse contexto esse estudo buscou inicialmente discutir o crescimento de
cidade de porte médio à luz das teorias do crescimento endógeno e na busca de identificação
de padrões de crescimento. Assim, fazendo uso de modelos de econometria espacial esse
estudo buscou testar a hipótese de convergência condicional do crescimento das cidades de
porte médio do Nordeste brasileiro. As estimações foram feitas considerando dois períodos:
1991-2000 e 1991-2016. A robustez dos testes apontou para a necessidade de incorporação do
efeito de vizinhança nos modelos econométricos. Assim, foram estimados modelos de erro
espacial (SEM) e modelo de defasagem espacial (SLM). Os testes apontaram o modelo SEM
como mais adequado. Dessa forma, a hipótese de convergência condicional foi aceita. Isto é,
municípios menores crescem mais rapidamente que os maiores e todos na direção de
equilíbrio de longo prazo. Melhor infraestrutura, saúde e renda per capita atuam no sentido de
aumentar o crescimento, já o analfabetismo e a concentração de renda atuam no sentido
contrário.
Palavras-chaves: Econometria espacial; Modelos endógenos; Nordeste.
ABSTRACT:
The growth of Brazilian urbanization in the last decades has pointed to a spatial
deconcentration in the sense that medium sized municipalities have grown more than the
great metropolis. In this context, this study initially sought to discuss the growth of medium-
sized cities in light of the theories of endogenous growth and the search for identification of
growth patterns. Thus, using models of spatial econometrics, this study sought to test the
hypothesis of conditional convergence of the growth of medium sized cities in the Brazilian
Northeast. The estimates were made considering two periods: 1991-2000 and 1991-216. The
robustness of the tests pointed out to the necessity of incorporating the neighborhood effect in
the econometric models. Thus, spatial error models (SEM) and spatial lag model (SLM) were
estimated. The tests pointed to the most appropriate SEM model. Thus, the hypothesis of
conditional convergence was accepted. That is, smaller municipalities grow faster than larger
ones and all in the direction of long-term equilibrium. Better infrastructure, health, and per
capita income are working to increase growth, while illiteracy and income concentration
work in the opposite direction.
Keywords: Spatial econometrics; Endogenous models; Northeast.
14
1. Introdução
Nas últimas décadas, vários pesquisadores têm observado a importância das cidades
médias na dinâmica atual de urbanização brasileira, por apresentarem avanços nos seus
dinamismos, como também novas relações espaciais e socioeconômicas da população. O
significativo crescimento e a valorização dessas cidades foram provocados principalmente
pela interiorização da urbanização.
As novas dinâmicas apresentadas pelas cidades estão relacionadas a vários fatores,
dentre os quais se destacam a deterioração da qualidade de vida e o processo de
desconcentração da atividade industrial e comercial que ocorrem nas grandes cidades
(FRANÇA, 2007).
Motta e Mata (2008, p. 34) consideraram que as cidades médias são importantes por
possuírem dinâmica econômica e demográfica próprias que possibilitam o atendimento “às
expectativas de empreendedores e cidadãos, manifestados na qualidade de equipamentos
urbanos e na prestação de serviços públicos, evitando as deseconomias das grandes cidades e
metrópoles”.
No Brasil na década de 1970, foram realizados os primeiros estudos sobre a
importância das cidades médias, foi nesse período que se definiu os centros urbanos de porte
médio, a partir da “formulação e implementação de programas governamentais direcionados a
este segmento da rede urbana, através da Política Nacional de Desenvolvimento Urbano
(PNDU), que compunha o II Plano Nacional de Desenvolvimento do Brasil (II PND)”
(FRANÇA, et al. 2009, p. 01).
Vários foram os fatos que contribuíram com o processo de crescimento das cidades
brasileiras nos últimos cem anos, entre eles os que mais se destacaram e moveram esse
processo foram: à industrialização e a expansão da fronteira agrícola. Antes desse período as
cidades que cresciam mais rapidamente eram as maiores cidades, porém, a partir de então são
as cidades menores que passaram a apresentar rápidos e significativos crescimentos, entre elas
há indicações que são as cidades de porte médio que apresentaram sinais de crescimento mais
acelerado (JUSTO, 2013).
Segundo Araújo (2014), são as cidades médias do Nordeste que crescem com mais
intensidade. Umas das variáveis que têm contribuído com esse dinamismo são: o crescimento
do comércio e dos serviços, impulsionados pela elevação da renda das famílias do seu
entorno, a expansão e interiorização do ensino superior. A presença do ensino superior nas
cidades médias influencia a vida cultural, o comércio e os serviços locais promovendo
transformações e deixando-os mais dinâmicos.
15
Apesar dos indicadores sociais e econômicos ainda não serem tão satisfatórios, devido
à persistência da miséria e dos baixos índices de desenvolvimento humano, já é possível
observar uma nova realidade presente na região, com melhoria da posição discriminatória
sofrida por décadas em relação às outras regiões.
Em meio a um cenário no qual o Nordeste tem passado nos últimos anos, marcado por
um rápido processo de urbanização, pela existência de heterogeneidades entre os municípios e
pelo grande crescimento das cidades de médio porte é importante buscar responder: Qual a
dinâmica de crescimento dos municípios de médio porte do Nordeste, no período 1991 a
2016?
Portanto, o artigo tem como objetivos analisar a dinâmica de crescimento dos
municípios de médio porte do Nordeste no período de 1991 a 2016, apresentar aspectos
teóricos sobre o crescimento dos municípios de médio porte do Nordeste e identificar os
fatores determinantes da dinâmica de crescimento das cidades médias no período de estudo.
2. Fundamentos teóricos sobre as cidades de médio porte
Nesta seção, apresentam-se aspectos teóricos sobre as cidades de médio porte para
melhor compreender a temática destacada no presente estudo.
Para Beltrão Sposito (2006) as cidades médias estabeleceram ligações entre as cidades
maiores e menores, participam da divisão territorial do trabalho que atinge a escala
internacional, a partir, por exemplo, de negócios realizados com empresas que estão sediadas
em outros países.
Essas cidades são privilegiadas pela oferta de serviços qualificados e a possibilidade
de disponibilizar bem-estar para população. Segundo o IPEA (2008) são as populações das
cidades médias brasileiras as que mais crescem. As cidades grandes e pequenas brasileiras
encolheram entre 2000 e 2007, enquanto as médias cresceram. As médias concentravam
23,8% da população em 2000 e passaram a 25,05% em 2007. As grandes caíram de 29,81%
para 29,71%, e as pequenas, de 46,39% para 45,24%, no mesmo período.
Foram a partir das reestruturações dos centros urbanos que a cidade média deixou de
ser apenas um intermédio entre os centros menores e maiores do que ela, e passou a
representar “um centro de atração de mão-de-obra qualificada, reduto de uma classe média,
altos índices de qualidade de vida, espaço de lazer, “lócus” de novos investimentos industriais
e de serviços”, sendo essas características, reflexo da produção e das atividades desenvolvidas
na região (SILVA; CALIXTO, 2009, p. 3).
16
No Brasil, a partir do processo de integração do mercado nacional, da interiorização da
urbanização e da intensificação da complexidade da rede urbana, tornou-se evidente
principalmente nas regiões mais dinâmicas, a constituição de um conjunto expressivo de
cidades médias (FERNANDES et al. 2009).
No Brasil, atualmente, nota-se a ocorrência da interiorização da atividade econômica e
criação de novas centralidades urbanas, provocadas pela desconcentração industrial e a
expansão das fronteiras agropecuária e mineral, ocorrendo, assim, a movimentação do capital
em busca de matéria prima.
Segundo Simões e Amaral (2011), analisando a evolução das cidades médias nos
últimos 40 anos, elevou-se sua importância quanto à conformação da rede urbana brasileira.
Pois nos anos de 1970, 2000 e 2007 o número de cidades brasileiras com populações entre
50.000 e 500.000 habitantes (característica de cidades médias) cresceram relativamente de
aproximadamente 100 para quase 400 passando para 530, ou seja, em valores relativos, de
menos de 3% dos municípios brasileiros em 1970 para aproximadamente 7% em 2000 e para
9,53% em 2007.
Como no Brasil há uma grande heterogeneidade entre as regiões, no âmbito
econômico, político, social e cultural, evidentemente com as cidades médias não são
diferentes, pois os fenômenos que ocorrem em cada uma delas são diferentes de região para
região, devido principalmente ao tempo histórico em que ocorrem, sendo que esses
fenômenos são articulados nos lugares pela reprodução do capital. Essas cidades têm grande
importância regional no seu papel estratégico na rede urbana, elas são referências para os
pequenos aglomerados urbanos e o meio rural, além de estabelecerem relações com os centros
urbanos maiores e mais importantes.
3. Aspectos teóricos acerca do crescimento econômico
Na busca de fundamentar o modelo empírico utilizado, adotou-se o modelo de
crescimento endógeno, já que o mesmo auxilia na compreensão do processo de crescimento.
Autores como Porto e Santana Júnior (2012) consideraram que a cidade é o local
privilegiado da acumulação do capital. Logo, para compreender o crescimento das cidades
médias é importante levar em consideração os níveis de investimentos, as empresas, as novas
tecnologias e a mão de obra mais qualificada que se instala nessas cidades. Esses fatores
contribuem com o crescimento dessas cidades, tornando-as pontos ou possibilidades de
investimentos e após serem influenciadas passam a apresentar novas dinâmicas com mais
bens e serviços, surgindo ou desenvolvendo novos setores.
17
Para compreender por que uma região é mais rica, ou tem um maior crescimento,
comparada à outra região, é importante partir da análise do modelo de crescimento
econômico.
Jones (1997) destacou que se duas economias têm o mesmo nível de tecnologia, as
mesmas taxas de investimento e de crescimento populacional, então, à medida que as
economias se aproximam do estado estacionário o hiato do produto por trabalhador se ajusta,
assim as regiões que apresentam o mesmo estado estacionário, sustentam a hipótese da
convergência. Porém nem todas as regiões apresentam o mesmo estado estacionário por não
terem as mesmas taxas, já destacadas.
No modelo de Romer o progresso tecnológico é endogeneizado. A teoria do
crescimento endógeno foi construída por Romer e busca entender as forças econômicas que
estão por trás do progresso tecnológico. Esse modelo torna endógeno o progresso tecnológico
e o processo de crescimento econômico, ao se compreender e obter resultados endógenos na
economia em que os indivíduos buscam lucros e podem obter retornos sobre o fruto de seus
esforços em busca de ideias novas e melhores, já que o progresso tecnológico é movido pela
pesquisa e desenvolvimento (P&D) (JONES, 1997).
Esse modelo permite afirmar que uma região obtém um produto homogêneo a partir
da utilização de mão de obra e um conjunto de bens de capital. Porém, a quantidade de bens
de capital empregada pelos trabalhadores é limitada pelo seu nível de qualificação.
Jones (1997) destaca que no estado estacionário desse modelo a economia cresce ao
longo de uma trajetória de crescimento equilibrado, com taxa de progresso tecnológico igual à
taxa de crescimento populacional. Logo, a ocorrência de um aumento permanente na
proporção da população dedicada à pesquisa aumenta temporariamente a taxa de progresso
tecnológico. Sendo que, o nível de tecnologia ao longo do tempo fica em um patamar
permanentemente mais elevado em consequência do aumento de pesquisa e desenvolvimento.
As predições quanto à convergência dos modelos de crescimento endógeno são
diferentes do modelo de Solow. Pois “nos modelos de crescimento endógeno a diferença de
renda per capita pode persistir indefinidamente mesmo se as unidades geográficas tiverem a
mesma taxa de poupança e crescimento populacional” (JUSTO, 2012, p. 4).
Justo (2012) destacou de forma sintetizada a hipótese de convergência absoluta, na
qual, os maiores valores da taxa de variação face à exogeneidade do progresso técnico e dos
rendimentos decrescentes são resultados da distância do estado estacionário.
18
Os modelos endógenos são uns dos modelos mais atuais e completos sobre
crescimento. Esses modelos de crescimento são categorizados na literatura principalmente a
partir dos modelos de Schumpeter e de Romer (MOURA; CORREIO, 2013).
Souza (2005) ressaltou que a teoria do crescimento endógeno foi popularizada por
Romer (1986), porém sua origem é mais antiga. Já que abordagens sobre esse crescimento
podiam ser encontradas nos trabalhos dos autores: Schltz (1961), Arrow (1962), Nelson e
Phelps (1966), Schultz (1967) e Nordhaus (1969). Portanto, esses são exemplos de autores
que já trabalhavam com o crescimento antes de Romer, apesar da teoria ser popularizada a
partir dele.
Segundo Cavalcante (2007) essa teoria surgiu nos anos 80 e teve como fundamento os
trabalhos dos Professores Paul Romer e Robert Lucas, que destacavam questões que iam além
da tradicional Teoria do Crescimento Exógeno, ou seja, a mesma surgiu da necessidade da
introdução de elementos que tornassem a taxa de crescimento endógena, logo os principais
elementos dessa teoria são o capital humano e os efeitos das pesquisas e desenvolvimento.
A teoria do crescimento com o progresso técnico endógeno teve impulso a partir de
1980, sendo o progresso técnico responsável por exercer efeitos expansivos sobre o produto,
pois eleva a produtividade dos fatores e retransmite esses efeitos entre as unidades produtivas.
O impulso ocorreu em 1980 por não haver uma tendência à convergência dos produtos per
capita entre áreas com diferentes níveis de desenvolvimento iniciais (SOUZA, 2005).
A partir da teoria do crescimento endógeno, tornou-se possível enfatizar as diferentes
oportunidades de crescimento no capital físico e no capital do conhecimento. Essa teoria
aborda a ideia de que “um maior investimento em conhecimento aumenta o crescimento é
importante para vincular taxas de poupança mais elevadas a taxas de crescimento de
equilíbrio mais altas”, enfatizando assim os fatores determinantes do progresso tecnológico
(DORNBUSCH; FISCHER; STARTZ, 2013, p. 77).
Vale destacar que “o crescimento econômico endógeno é um crescimento econômico
de longo-prazo”, suas taxas são determinadas pelas forças que são internas ao sistema
econômico, sendo que são essas forças que governam as oportunidades e os incentivos para a
criação de conhecimento tecnológico (CAVALCANTE, 2007, p. 7).
O modelo de crescimento apresentado pelas cidades nos últimos tempos foi endógeno,
pois, “o crescimento é visto como um produto das forças econômicas endógenas aos sistemas
de mercado descentralizados” (SILVA FILHO; CARVALHO, 2001, p. 471). As forças
internas comandam o processo mais do que as inovações tecnológicas exógenas, sobre essas
19
forças o mercado não tem controle, são através delas que a economia pode atingir equilíbrio
de crescimento contínuo.
Segundo Silva Filho e Carvalho (2001, p. 472) a região Nordeste tem as novas
estratégias de desenvolvimento dos anos 2000 marcadas por fatores essenciais que são a
incorporação do capital humano e a eliminação da tendência dos retornos decrescentes no
modelo neoclássico. Já que “o incremento do estoque de capital melhora o nível tecnológico
de cada produtor, podendo provocar retornos constantes ou crescentes para o capital
agregado”.
4. Metodologia
Essa seção traz a descrição da estratégia empírica empregada bem como a descrição
das variáveis e a fonte dos dados.
4.1 Área de estudo, fonte de dados e descrição das variáveis
O presente estudo tem como foco, analisar a dinâmica de crescimento dos municípios
de médio porte do Nordeste, no período de 1991 a 2016. Como a definição mais usada para
classificar as cidades médias está baseada no tamanho demográfico, foi utilizado o conceito
de Andrade e Serra (2001), que define cidades médias como centros com população entre 50
mil e 500 mil habitantes.
O Nordeste tem uma área territorial de 1.554.291,313 Km², uma população estimada
em 2016 de 56.915.936 habitantes. E é formado por nove Estados que são: Alagoas, Bahia,
Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe (IBGE, 2015).
A partir da tabela 1 é possível observar a descrição demográfica de cada estado.
20
Tabela 1- Descrição demográfica dos estados nordestinos Estados População Estimada 2016 Área 2016 (km²) Número de Municípios
Alagoas 3.358.963 27. 848,158 102
Bahia 15.276.566 564.732,642 417
Ceará 8.963.663 148.887,632 184
Maranhão 6.954.036 331.936,955 217
Paraíba 3.999.415 56.468,427 223
Pernambuco 9.410.336 98.076,001 185
Piauí 3.212.180 251.611,934 224
Rio Grande do Norte 3.474.998 52.811,110 167
Sergipe 2.265.779 21.918,454 75
Total 56.915.936 1.554.291,313 1794
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IBGE (2016), IPEADATA (2016) e PNUD (2013).
Baseado no IPEADATA (2016) foi possível afirmar que no Nordeste dos 1794
municípios, 151 são médio porte.
Para alcançar os objetivos propostos por essa pesquisa foi feito o uso do mesmo
procedimento metodológico utilizado por Justo (2014) com adaptações, haja vista a não
disponibilidade de dados de todas as variáveis além de diferença no recorte espacial e
temporal.
As informações dos municípios de médio porte do Nordeste são do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEADATA) e
do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD, 2013) para os anos de
1991, 2000, 2010 e 2016. Como a abordagem do trabalho será voltada para o crescimento, é
importante considerar e destacar os trabalhos de Glaeser et al (1995) e Vieira (2009) que
utilizaram a taxa de crescimento populacional dos municípios para o referido período como
proxy para o crescimento econômico. As estimações dos modelos de econometria espacial
assim como todos os testes, foram realizadas no STATA 13.
As variáveis explicativas utilizadas serão a Escolaridade Média (Escol) e a Taxa de
Analfabetismo (Analf) para captar o papel da educação nas taxas de crescimento dos
municípios. Em relação à literatura de crescimento econômico como Mankiw, Romer e Weil
(1992), Romer (1991) no caso brasileiro, entre outros Justo (2014) e Vieira (2009),
consideram o nível de educação como proxy para capital humano. Portanto, é esperada uma
21
correlação positiva desta variável com a taxa de crescimento dos municípios e uma correlação
inversa com a taxa de analfabetismo. Os percentuais de residências com energia elétrica
(Energia91), água e banheiro (Peraguaban91) representam as condições de infraestrutura. A
renda per capita (Rpc91) é um dos determinantes da taxa de crescimento também seguindo o
padrão da literatura como também a concentração de renda (Gini91).
Seguindo a Nova Geografia Economica-NGE, foram incluídos entre os determinantes
a esperança de vida ao nascer (Esper91) para captar condições de saúde da população. Assim
como Silva Junior (2011) e Vieira (2009) foi incluída a variável área do município (Área).
É necessário acrescentar também a variável distância dos municípios das capitais
(Distcapital) para verificar se há uma interiorização do crescimento das cidades de porte
médio no Nordeste.
4.2 Modelo empírico
Em uma estrutura de dados cross section, na qual as observações são espacialmente
distribuídas, a existência de spillovers espaciais viola a hipótese que os termos de erro entre as
regiões vizinhas são não autocorrelacionados (REY; MONTOURI, 1999, apud JUSTO,
2014). Para corrigir este problema é necessário incorporar na regressão um componente
espacial (JUSTO, 2010).
Um teste utilizado para detectar possível autocorrelação espacial é o teste I de Moran.
Esta estatística segue a seguinte expressão segundo Battisti e Vaio (2009):
Onde, 𝜔𝑖𝑗 é um elemento da matriz de peso W, 𝑥𝑖 é uma variável específica para a
observação i, n é o número de observações, q é um fator de escala igualando a soma de todos
os elementos da matriz. Foi utilizada no decorrer da execução da pesquisa uma matriz binária
de linha padronizada baseada na estrutura de vizinhança com um número fixo de vizinhos
próximos (k-nearest), nos quais os elementos são:
Onde 𝑑𝑖 é um valor crítico, definido para cada observação i, assegurando que cada
município tenha o mesmo número de vizinhos.
22
Os modelos empíricos a serem estimados serão os das equações (1) e (2) para os
modelos com log espacial (SLM) e erro espacial (SEM), respectivamente.
Tem-se então que o modelo empírico dos determinantes do crescimento com
autocorrelação espacial e dependência espacial são:
Sendo y um vetor que representa a taxa de crescimento dos municípios de médio porte
do Nordeste entre 1991, 2000 e 2016. As variáveis explicativas são compreendidas pela
matriz X. O 𝛽𝑖 é o vetor de coeficientes. A matriz W é uma matriz de peso espacial que neste
caso será utilizada com o número de vizinhos mais próximos que será definido estimando o
modelo com várias opções e escolhendo, o melhor modelo pelos critérios formais de escolha.
e 𝜌2 são, respectivamente, o coeficiente de erro escalar e o coeficiente de defasagem
espacial que capta as externalidades espaciais da taxa de crescimento sobre os municípios
vizinhos.
No modelo de erro espacial o erro é modelado da seguinte forma:
Onde é um escalar do coeficiente do erro e:
𝑢 ~ 𝑁(0, 𝜎2𝐼)
Desta forma, o modelo de erro espacial é especificado da seguinte forma:
A análise é feita considerando dois recortes temporais: 1991-2000 e 1991-2016. A
escolha desses períodos justifica-se pela mudança ocorrida na economia do Nordeste a partir
de 2003 com os governos petistas. Contudo, para dados municipais as informações
disponíveis são dos Censos Demográficos, daí utilizar o primeiro recorte. O segundo abrange
todo o período de análise em que se dispõem das informações necessárias para as estimações.
5. Dinâmica socioeconômica do Nordeste
O Nordeste tem vivenciado no decorrer das quatro últimas décadas, um processo de
urbanização de rapidez e intensidade significativas, mesmo com um processo de crescimento
econômico e de desenvolvimento social dessa região ocorrendo de forma heterogênea e
descontínua. Porém, a partir dessa heterogeneidade e descontinuidade que surgiram os novos
23
centros dinâmicos aos quais se tornaram preferenciais para o destino dos fluxos migratórios
(LUBAMBO et al. 2003).
Segundo Selva (2005) para compreender o processo de transformações no espaço
urbano das cidades de porte médio da região Nordeste é de fundamental abrangência destacar
o Programa Nacional de Cidade e Capitais de Porte Médio (PNCCPM) que surgiu na fase do
II Plano Nacional de Desenvolvimento Econômico (II PND). Uma das principais buscas com
a intervenção do Programa era de conter o processo imigratório para as Regiões
Metropolitanas do Centro-Sul, particularmente Rio de Janeiro e São Paulo.
De acordo com Carvalho (2008) a dinâmica regional nordestina tem sido comandada
pelo fortalecimento e surgimento de áreas com estruturas modernas destacando-se os polos
calçadistas espalhados por diversos estados; os polos turísticos implantados nas cidades
litorâneas; o complexo Petroquímico de Camaçari; o polo agroindustrial da agricultura
irrigada de Juazeiro-Petrolina; o complexo minerometalúrgico do Maranhão; a moderna
agricultura do cerrado que se estende da Bahia ao Piauí e Maranhão; o polo têxtil e de
confecções do Ceará; o polo de confecções do agreste pernambucano; a área de fruticultura
irrigada do Vale do Açú, no Rio Grande do Norte; e os polos tecnológicos de Campina
Grande, Ilhéus e Recife.
Na última década, o hiato de desenvolvimento entre o Nordeste e as regiões mais
prósperas foi reduzido. Essa redução ficou evidente “nos indicadores de renda, de emprego,
de produção, de saúde e de escolaridade”. Pois, recentemente a região tem apresentado taxas
de crescimento da produção e do consumo acima da média brasileira, assim o Nordeste tem
atraído importantes investimentos, de dentro e de fora do país (MELO, 2013).
Segundo Silva (2013, p. 13) os fatores que podem explicar o crescimento do Nordeste
são: “políticas de redistribuição de renda, valorização do salário mínimo, aumento do
emprego formal, crescimento e diversificação das exportações, aumento do crédito e, por fim,
aumento do consumo”.
Nos últimos anos, o Nordeste tem apresentado crescimento econômico acima da média
brasileira, porém esse crescimento contribuiu apenas para recuperar a média histórica de sua
participação no PIB do Brasil. Para melhor compreender a região vale destacar que a mesma
tem uma população que representa quase 28% do total do País, sua participação no PIB
nacional é de apenas 13,5%, em relação ao o PIB per capita a contribuição é de 48% da média
do Brasil. No ano de 2010, o Nordeste conseguiu recuperar a participação relativa de 13,5%
no PIB brasileiro, participação essa que é equivalente a registrada no início dos anos de 1990,
24
resultado obtido a partir de uma trajetória de expansão sem grandes oscilações ao longo da
década (SOUZA, 2014).
Segundo Araújo (2014), para entender as mudanças ocorridas recentemente na vida
econômica do Nordeste é importante analisar as indústrias de alimentos e bebidas, de bens
duráveis, grandes redes de supermercados e os shoppings centers já que eles buscaram se
instalar principalmente nas cidades médias, a fim de disputar os novos consumidores.
No período entre os anos de 2000 e 2010 o PIB Nordestino cresceu mais do que o
nacional, pois o do Nordeste cresceu à taxa de 4,4% a.a. e o do Brasil, 3,6% a.a. Esse
crescimento ocorreu principalmente devido à magnitude das exportações, às políticas de
transferências diretas e à retomada de investimentos (públicos e privados), tanto produtivos
em infraestrutura social e econômica (SOUZA, 2014).
De 2000 para 2010, vários foram os avanços ocorridos em diversas variáveis na
região, entre eles destacaram-se as melhorias na formalização das relações de trabalho, pois
em 2000 o número de empregados com carteira de trabalho assinada era de 3,8 milhões e
passou para 6,5 milhões no ano de 2010, ocorrendo assim um crescimento médio de 5,5%.
Entre esses avanços destacaram-se também as melhorias dos índices de instrução e
qualificação da mão de obra, pois a partir do ano 2000 houve uma importante evolução da
oferta do ensino superior (SOUZA, 2014).
Atualmente, a região Nordeste tem passado por várias transformações principalmente
nos contextos econômicos e sociais, influenciando o processo de urbanização da região.
Como essa região apresenta um histórico no qual apesar de ter a taxa de fecundidade maior
que a média do Brasil e taxas de crescimentos populacionais são variáveis como as outras
regiões, devido ao fato de ser responsável por exportar pessoas para outras regiões do Brasil, é
importante destacar que esse cenário tem mudado nos últimos tempos, pois a região passou a
apresentar novas dinâmicas de migração interna, devido aos polos econômicos que
constantemente estão se formando. Grandes têm sido os fluxos migratórios de retorno que a
região tem recebido tanto de outras regiões como a busca dos que moram em pequenas e
grandes cidades pelas de médio porte.
Segundo Souza (2014, p. 69) são nas cidades médias que ocorrem com frequência tais
transformações, devido principalmente: “a presença cada vez maior das instituições de ensino
superior, dos serviços de saúde, dos empreendimentos e instalações voltados para o varejo e
serviços modernos”.
Para Alves (2014, p. 18), analisando o contexto histórico, fica evidente a adoção de
políticas para amenizar a pobreza e redução da fome. Entre essas políticas destacaram-se:
25
“previdenciárias, de transferência de renda, de oferta de crédito e de valorização do salário
mínimo”. Apesar dos investimentos recentes, das melhorias sociais e as reduções das
desigualdades, o Nordeste no ano de 2010, continuou apresentando a maior parte da pobreza
brasileira, localizadas principalmente no semiárido.
Souza (2014, p. 71) também afirmou que, embora haja melhorias ainda é persistente:
“a permanência dos grandes déficits de serviços básicos e a atomização, fragmentação e
isolamento da base da rede urbana constituída pelas cidades de menor porte”. A segurança
pública é o indicador mais problemático da região, pois não tem apresentado melhorias.
6. Resultados e Discussões
Na presente seção expõem-se os resultados obtidos na pesquisa. Inicialmente
apresenta-se a estatística descritiva das variáveis utilizadas no estudo para o período analisado
de 1990 a 2016.
Na tabela 2 é apresentada a taxa de crescimento populacional dos municípios de médio
porte do Nordeste entre 1991 e 2016, além de alguns indicadores do ano de 1991.
Tabela 2- Taxa de crescimento populacional dos municípios de médio porte do Nordeste
no período 1991-2000, 1991-2016 e variáveis municipais em 1991 Variáveis Média Desvio Padrão Mínima Máxima
Taxa de Crescimento Populacional Total de 1991 a 2000 0,018 0,018 -0,005 0,116
Taxa de Crescimento Populacional Total de 1991 a 2016 0,015 0,012 -0,008 0,101
Logaritmo da população total de 1991 11,061 0,562 8,795 12,915
Esperança de vida em 1991 60,747 2,980 52,95 68,65
População total em 1991 76.314,93 58.822,77 6.600 406.523
População total em 2000 89.295,91 67.990,23 18.757 481.368
População total em 2016 112.161,3 86.784,92 50.806 622.639
Área 1.788,43 2.337,70 27,5 13.980,6
Energia em 1991 74,059 19,997 22,01 99,74
Percentual de domicílios com água e banheiro em 1991 41,809 20,155 1,3 84,05
Distancia da Capital 201,002 167,54 7,72 963
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IBGE (2016), IPEADATA (2016) e PNUD (2013).
Em média, a taxa de crescimento populacional dos municípios de médio porte do
Nordeste entre 1991 e 2000 foi de (1,8%), enquanto que de 1991 a 2016 foi de (1,5%). Essa
26
diferença na taxa de crescimento entre períodos distintos justifica a escolha dos recortes
temporais adotados. Percebeu-se um arrefecimento do crescimento o que pode implicar em
menor convergência do crescimento entre as cidades de porte médio nordestinas.
Em relação a população total média desses municípios nos anos 1991, 2000 e 2016, foi
de respectivamente: (76.314,93), (89.295,91), (112.161,3). Já a área média dos municípios no
período estudado foi de 1.788,43Km2.
Quanto à esperança de vida média da população em 1991, era de 61 anos. Das
residências presentes nas cidades médias nordestinas, 74% tinham energia elétrica e 42% água
e banheiro.
Tratando-se da distância dos municípios de médio porte da capital, os resultados
mostraram que a distância média é de 201 km. Vale destacar que a cidade média mais
próxima e a mais distante da capital estão localizadas, respectivamente, em aproximadamente
7,72 km e 963 km.
Para alcançar os objetivos do trabalho, estimou-se inicialmente uma regressão por
mínimos quadrados ordinários para o período 1991-2000. Para diagnosticar a dependência
espacial1.
Nesse modelo, apenas três dos coeficientes das variáveis foram significantes:
Esperança de vida em 1991 (Esper91) e domicílios com energia elétrica foram a 1%; e o
Logaritmo da população total (lnpopto91) foi a 5%. O modelo sugere convergência
condicional do crescimento das cidades. Contudo, faz-se necessária a averiguação da
dependência espacial, o que tornaria os coeficientes do modelo de Mínimos Quadrados
Ordinários (MQO) inconsistentes.
A tabela 3 traz o teste de diagnóstico da dependência espacial na regressão estimada.
1 Por falta de espaço optou-se em não apresentar os resultados da estimação de MQO.
27
Tabela 3- Teste de diagnóstico da dependência espacial para o período 1991-2000 Test Diagnostic Statistic Df p-value
Spatial error:
Moran’s I 34,177 1 0,000
Lagrange multiplier 0,070 1 0,792
Robust Lagrange multiplier 15,117 1 0,000
Spatial lag:
Lagrange multiplier 17,453 1 0,000
Robust Lagrange multiplier 32,501 1 0,000
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IBGE (2016), IPEADATA (2016) e PNUD (2013).
A Tabela 3 mostra a dependência espacial e aponta para a necessidade de incorporar a
dependência espacial no modelo de regressão. Contudo, a robustez dos resultados em todos os
testes sugere o modelo de defasagem mais apropriado. Assim, partiu-se para a execução do
teste I de Moran global que é apresentado na tabela 4 para assim verificar a autocorrelação
espacial. O resultado mostrou uma forte autocorrelação espacial na variável dependente que é
a taxa de crescimento dos municípios de porte médio para o período 1991-2000. Ou seja, há
uma correlação forte entre a taxa de crescimento das cidades e seus vizinhos.
Tabela 4- Teste I de Moran global para o período 1991-2000 Variables I E(I) sd(I) Z p-value*
Txpopto9100 0,348 -0,007 0,072 4,950 0,000
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IBGE (2016), IPEADATA (2016) e PNUD (2013).
Na figura 2 é possível observar a autocorrelação local a partir do gráfico de dispersão
de Moran para o período 1991-2000, o qual apresentou resultado da estimativa da sua
estatística de 0,348, seu padrão indicado foi alto-alto e baixo-baixo em relação à concentração
da matriz de contiguidade, ou seja, estão concentrados no 1º e 3º quadrante. Portanto,
municípios com taxa de crescimento mais elevadas afetam positivamente a taxa de
crescimento de municípios dos que estão na mesma situação. Já as cidades que estão com
taxas de crescimento menores são influenciadas pelas pelos vizinhos que estão na mesma
situação.
28
Figura 2- Gráfico de Dispersão de Moran para o período 1991-2000 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IBGE (2016), IPEADATA (2016) e PNUD (2013).
Com esse diagnóstico, partiu-se, então para a estimação dos modelos de convergência
condicional incorporando os efeitos espaciais.
Foram estimados os modelos de defasagem e erro espacial para captar as
externalidades espaciais da taxa de crescimento. Na tabela 5 estão os resultados do modelo de
defasagem para o período de 1991 a 2000.
No modelo de defasagem para o período de 1991 a 2000 apenas os coeficientes das
variáveis área e distância da capital não foram significantes. O modelo apontou convergência
condicional de crescimento haja vista o sinal negativo da variável lnpopto91. O teste de Wald
valida o modelo, o grau de ajuste do modelo apresenta um 2R de 41,80%. O teste LR aponta a
significância do termo de defasagem espacial. Contudo, somente após a estimação do modelo
de erro espacial e utilizar o critério de Akaike é que se pode identificar o modelo mais
adequado.
Moran scatterplot (Moran's I = 0.348)txcpopto9100
Wz
z-2 -1 0 1 2 3 4 5 6
-2
-1
0
1
2
3
PalmarAcopia
Coruri
Serra
Campo
Timbaú
IlhéusSousa
Ipirá
Sapé (
Quixer
Itamar
Pesque
Tauá (
JequiéUnião
Impera
Limoei
Escada
Icó (C
Monte Boa ViAraci
Piripi
Euclid
FloriaBarra
GuarabItabunCrateúCajaze
Concei
Caxias
São Be
Catu (
AcaraúChapad
São Mi
BrumadCodó (
Tucano
ItapetSalgue
OuricuOlindaSão Lo
Serrin
Camoci
Penedo
GuanamGravatItaberAçu (R
Morada
Bezerr
ArcoveCampin
Bacaba
Goiana
Viçosa
Surubi
Mossor
Alagoi
Paulo
Santa
Arapir
Patos
Caicó
Canind
Granja
Parnaí
Irecê
Candei
Iguatu
Belo J
Picos
Quixad
VitóriCruz d
Bom Je
Garanh
Paudal
Maraca
Bayeux
Moreno
Lagart
Campo
Abreu Crato
Valenç
BuíqueCarpin
Itapec
Rio La
AraripVitóriCoroat
Santa
Feira
Caruar
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Casa N
Itabai
Limoei
Ceará-
Jaguaq
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Cabo d
Timon
Santa
Aracat
Zé Doc
Tutóia
Sobral
JuazeiBarbal
Trairi
Paulis
Cascav
Russas
TeixeiCamara
Macaíb
Grajaú
Ipojuc
Aquira
Barrei
Tiangu
Simões
PetrolJuazei
São Cr
Pacatu
PacajuAçailâ
Camaça
Balsas
Dias D
Cabede
Caucai
Santa
São Go
São JoLauro Paço d
Horizo
Nossa
Parnam
Buriti
Luís E
29
Tabela 5- Modelo espacial de defasagem para o período de 1991 a 2010 Spatial lag model
Number of obs= 151
Variance ratio= 0,573
Squared corr.= 0,573
Log likelihood = 459,38309 Sigma= 0,01
txcpopto9100 Coef. Std. Err. z P>z [95% Conf. Interval]
lnpopto91 -0,0100297 0,0020794 -4,82 0,000 -0,0141052 -0,0059542
Esper91 0,0009903 0,0004073 2,43 0,015 0,0001921 0,0017885
Escol. -0,0034117 0,0010241 -3,33 0,001 -0,005419 -0,0014044
Analf. -0,0004002 0,0001869 -2,14 0,032 -0,0007666 -0,0000338
Rpc91 0,0001211 0,0000268 4,52 0,000 0,0000686 0,0001736
Gini91 -0,0963378 0,0260986 -3,69 0,000 -0,1474901 -0,0451855
Área 7,30e-07 5,43e-07 1,34 0,179 -3,34e-07 1,79e-06
Energia91 0,0002352 0,0001136 2,07 0,038 0,0000125 0,0004578
Peraguaban91 -0,0003674 0,0000987 -3,72 0,000 -0,0005609 -0,0001738
Distcapital -6,56e-07 8,76e-06 -0,07 0,940 -0,0000178 0,0000165
_cons 0,1854785 0,0392979 4,72 0,000 -0,108456 0,262501
Rho -0,0226718 0,004445 -5,08 0,000 -0,031422 -0,01392115
Wald test of rho=0: chi2(1)= 25.788 (0.000)
Likelihood ratio test of rho=0: chi2(1)= 23.809 (0.000)
Sample Size= 151
Wald Test= 117,7156 P=Value> Chi2(10)= 0,0000
F=Test= 11,7716 P=Value> F(10, 140)= 0,0000
R2 (R=Squared)= 0,4568 Raw Moments R2= 0,7361
R2a (Ajustado R2)= 0,4180 Raw Moments R2 Adj= 0,7172
Root MSE (Sigma)= 0,0135 Log Likelihood Function= 426, 3023
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IBGE (2016), IPEADATA (2016) e PNUD (2013).
Na tabela 6 é possível observar os resultados do modelo de erro espacial, para o
período de 1991 a 2000. Considerando o Critério de informação de Akaike o modelo
escolhido é o de erro espacial, já que para o modelo Lag (SLM): o AIC foi de -9,4221 e o
modelo de Erro (SEM) o AIC foi de -9,4518. Tendo em vista que o teste LR para o termo que
capta a autocorrelação espacial no modelo indicando que o coeficiente é significante, tem-
se que o modelo de erro espacial é mais apropriado para mensurar a convergência de
crescimento das cidades de porte médio no nordeste no período 1991-2000. Com o sinal de
é negativo sugere um efeito negativo, ou seja, o crescimento dos municípios de médio porte é
afetado negativamente pelos seus vizinhos.
30
Tabela 6- Modelo de erro espacial para o período de 1991 a 2000 Spatial erro model
Number of obs= 151
Variance ratio= 0,331
Squared corr.= 0,471
Log likelihood = 456,52792 Sigma= 0,01
txcpopto9100 Coef. Std. Err. z P>z [95% Conf. Interval]
lnpopto91 -0,0105137 0,0021504 -4,89 0,000 -0,0147284 -0,0062991
Esper91 0,0010607 0,0004242 2,50 0,012 0,0002293 0,0018921
Escol. -0,0034304 0,0010476 -3,27 0,001 -0,0054836 -0,0013772
Analf. -0,000387 0,0001933 -2,00 0,045 -0,0007666 -8,06e-06
Rpc91 0,0001306 0,0000272 4,80 0,000 0,0000773 0,000184
Gini91 -0,1024418 0,0267244 -3,83 0,000 -0,1548207 -0,0500628
Área 7,60e-07 5,55e-07 1,37 0,171 -3,27e-07 1,85e-06
Energia91 0,0002374 0,0001171 2,03 0,043 7,95e-06 0,0004669
Peraguaban91 -0,0003778 0,0001015 -3,72 0,000 -0,0005766 -0,0001789
Distcapital 9,01e-07 8,96e-06 0,10 0,920 -0,0000167 0,0000185
_cons 0,1788185 0,0415852 4,30 0,000 0,097313 0,2603241
Lambda -0,0025306 0,0011155 -2,27 0,023 -0,004717 -0,0003441
Wald test of lambda =0: chi2(1)= 5,146 (0,023)
Likelihood ratio test of lambda =0: chi2(1)= 18.098 (0,000)
Sample Size= 151
Wald Test= 131,0939 P=Value> Chi2(10)= 0,0000
F=Test= 13,1094 P=Value> F(10, 140)= 0,0000
R2 (R=Squared)= 0,4836 Raw Moments R2= 0,7491
R2a (Ajustado R2)= 0,4467 Raw Moments R2 Adj= 0,7372
Root MSE (Sigma)= 0,0132 Log Likelihood Function= 425, 3388
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IBGE (2016), IPEADATA (2016) e PNUD (2013).
Após a seleção do modelo adequado e a análise dos testes, segue-se, para a análise dos
resultados. O coeficiente da variável lnpopto91 é significante a (1%), com o sinal do
coeficiente negativo, indicando que está ocorrendo convergência condicional de crescimento
entre os municípios de médio porte do Nordeste. Ou seja, os municípios menores crescem
mais rapidamente que os maiores, contudo cada um atingirá o seu próprio estado estacionário.
Apenas os coeficientes das variáveis: Área e Distcapital não são significantes. Exceto
os sinais das variáveis: Escol e Peraguaban91 apresentaram sinais contrários aos esperados.
Assim, observa-se que no período 1991-2000 há uma relação direta entre crescimento das
cidades de porte médio nordestinas e a renda per capita, domicílios com energia elétrica e
esperança de vida ao nascer. Há uma relação inversa do crescimento com a taxa de
31
analfabetismo e com a concentração de renda medida pelo Índice de Gini. Contrariando o
esperado, há uma relação inversa com a escolaridade e o crescimento. Uma possível
explicação é que a escolaridade média não seja de qualidade. A relação inversa do
crescimento com a variável percentual de casas com água e esgoto, embora com magnitude
muito pequena, pode refletir que ainda há entre os municípios de porte médio baixa cobertura
nesse serviço. De fato, quando se analisa a média dessa variável há essa constatação. O
modelo tem um 2R de 44, 67% e o teste F valida o modelo. Importante salientar a diferença
do resultado do modelo que capta o efeito espacial com o modelo sem incorporar esse efeito.
O ajuste do modelo aqui quase que dobra e a convergência é menor.
Quanto ao período de 1991- 2016 também foi estimada uma regressão por mínimos
quadrados ordinários2.
Também esses resultados apontam para a convergência de crescimento entre as
cidades de porte médio no período. Contudo, esses resultados podem não ser consistentes em
função da ausência do termo que capta o efeito de vizinhança.
A tabela 7 traz o teste de diagnóstico da dependência espacial na regressão anterior.
Os resultados são robustos para os dois modelos, ou seja, tanto pode haver a dependência
como a autocorrelação espacial. Ou seja, há indicação para incorporar o efeito de vizinhança.
Tabela 7- Teste de diagnóstico da dependência espacial para o período 1991-2016 Test Diagnostic Statistic df p-value
Spatial error:
Moran’s I 15,888 1 0,000
Lagrange multiplier 111,930 1 0,000
Robust Lagrange multiplier 27,410 1 0,000
Spatial lag:
Lagrange multiplier 107,392 1 0,000
Robust Lagrange multiplier 22,873 1 0,000
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IBGE (2016), IPEADATA (2016) e PNUD (2013).
2 Igualmente para o recorte temporal a anterior, por falta de espaço, optou-se em não apresentar a estimação do
modelo por MQO.
32
A tabela 8 apresenta o teste I de Moran global para assim verificar a autocorrelação
espacial. O resultado é que há uma dependência espacial, com magnitude menor que o
período 1991-2000.
Tabela 8- Teste I de Moran global para o período 1991-2016 Variables I E(I) sd(I) Z p-value*
Txpopto9116 0,289 -0,007 0,013 23,492 0,000
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IBGE (2016), IPEADATA (2016) e PNUD (2013).
Na figura 3 é possível observar a autocorrelação local no gráfico de dispersão de
Moran para o período de 1991 a 2016. Outros testes como correlograma da estatística de
Moran foram realizados para todas as estatísticas de Moran utilizadas nessa investigação, com
a hipótese de aproximação normal e aleatória, obtendo assim a confirmação da dependência
espacial nas taxas de crescimento das cidades médias. A dispersão no Gráfico de Moran, está
concentrada no 3º e 1º quadrante. Apontando a predominância do padrão baixo-baixo e alto-
alto. Ou seja, municípios com baixa taxa de crescimento circundado por municípios de baixa
taxa de crescimento e em menor magnitude, municípios com alta taxa de crescimento rodeado
por municípios que também apresentam alta taxa de crescimento.
Figura 3- Gráfico de Dispersão de Moran para o período 1991-2016 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IBGE (2016), IPEADATA (2016) e PNUD (2013).
Para o período de 1991 a 2016, também foram estimados os modelos de defasagem e
erro espacial. Na tabela 9 estão os resultados do modelo de defasagem para esse período.
Considerando uma significância de 10%, todos os coeficientes são significantes. O modelo
aponta para convergência de crescimento condicional. O coeficiente é significante,
contudo, faz-se necessário estimar o modelo de erro espacial, visto que os testes de
Moran scatterplot (Moran's I = 0.333)txcpop9116
Wz
z-2 -1 0 1 2 3 4 5 6 7
-2
-1
0
1
2
3
4
IlhéusTimbaú
Ipirá
LimoeiMorada
Palmar
Itamar
Jequié
AcopiaMonte
Piripi
Sousa
Sapé (Icó (C
Crateú
Boa Vi
Impera
Tauá (
FloriaCampo PesqueOlindaUnião
Bezerr
TucanoCodó (Serra
Itabun
Brumad
Bayeux
Guarab
Granja
Escada
Araci Camoci
GoianaPenedoSanta
Coruri
Bacaba
Itaber
Cajaze
Belo JCaxias
Canind
Salgue
Barra
Campin
Euclid
Parnaí
Concei
Abreu
Catu (
Serrin
Ouricu
Picos Arcove
Patos
Candei
QuixerGuanam
VitóriAçu (R
Alagoi
Garanh
São Lo
Caicó Gravat
Iguatu
Coroat
Acaraú
Zé DocAraripChapadSão Be
Paulo Santa
Maraca
LimoeiRio La
Arapir
Quixad
Paudal
Ceará-
Surubi
Bom Je
Cruz d
LagartCrato
Itapet
Jaguaq
Moreno
Aracat
ValençViçosa
Itabai
Irecê
ItapecSanta
CarpinBuíque
TrairiCascav
São MiMossor
CamaraPaulis
Feira
BarbalJuazei
Timon
Casa N
Vitóri
Cabo dSobral
Itapip
Russas
Campo EunápoIgaras
Caruar
Tiangu
Aquira
Tutóia
JuazeiAçailâ
Grajaú
Macaíb
São Cr
Teixei
Simões
IpojucBarrei
PetrolCaucai
São Go
PacatuPacaju
Balsas
Cabede
São Jo
Dias DCamaça
Nossa
Paço d
Santa
Lauro
Buriti
Horizo
Parnam
Luís E
33
diagnóstico indicaram a possibilidade do modelo de defasagem como o de erro espacial e
analisar a significância do coeficiente que apreende o efeito espacial e o valor do teste AIC,
para a identificação do modelo que melhor se ajusta aos dados.
Tabela 9- Modelo espacial de defasagem para o período de 1991 a 2016 Spatial lag model
Number of obs= 151
Variance ratio= 0,634
Squared corr.= 0,634
Log likelihood = 524,15852 Sigma= 0,01
txcpopto9116 Coef. Std. Err. Z P>z [95% Conf. Interval]
lnpopto91 -0,0084921 0,0013538 -6,27 0,000 -0,0111456 -0,0058387
Esper91 0,0004714 0,0002651 1,78 0,075 -0,0000482 0,0009911
Escol. -0,0016514 0,0006672 -2,48 0,013 -0,002959 -0,0003437
Analf. -0,0001951 0,0001218 -1,60 0,109 -0,0004338 -0,0000435
Rpc91 0,0001038 0,0000174 5,95 0,000 0,0000696 0,000138
Gini91 -0,0663938 0,0169756 -3,91 0,000 -0,0996653 -0,0331222
Área 5,71e-07 3,54e-07 1,61 0,107 -1,22e-07 1,26e-06
Energia91 0,0001291 0,000074 1,74 0,081 0,000016 0,0002741
Peraguaban91 -0,0002257 0,0000643 -3,51 0,000 -0,0003517 -0,0000996
Distcapital 6,84e-07 5,71e-06 0,12 0,905 -0,0000105 0,0000119
_cons 0,1523381 0,0255891 5,95 0,000 0,1021843 0,2024919
Rho -0,0186755 0,0034075 -5,48 0,000 -0,025354 -0,011997
Wald test of rho=0: chi2(1)= 30,039 (0.000)
Likelihood ratio test of rho=0: chi2(1)= 27,396 (0.000)
Sample Size= 151
Wald Test= 128,6873 P=Value> Chi2(10)= 0,0000
F=Test= 12,8687 P=Value> F(10, 140)= 0,0000
R2 (R=Squared)= 0,4789 Raw Moments R2= 0,7952
R2a (Ajustado R2)= 0,4417 Raw Moments R2 Adj= 0,7806
Root MSE (Sigma)= 0,0093 Log Likelihood Function= 506, 5257
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IBGE (2016), IPEADATA (2016) e PNUD (2013).
A tabela 10 traz a estimação do modelo SEM para o período 1991-2016. Uma vez que
o coeficiente é significante, parte-se para análise utilizando o critério AIC para a escolha
do modelo. Pelo Critério de informação de Akaike AIC o modelo escolhido para o período de
1991-2016 também foi o de erro espacial, já que os modelos SLM o AIC foi de -9,4221 e o
modelo SEM o AIC foi de -9,4518. Assim interpretou-se o resultado desse modelo.
34
Como pode ser vista na tabela 10, existe convergência de crescimento condicional
entre as cidades de porte médio do Nordeste no período 1991-2016, haja vista que o valor do
coeficiente da variável lnpopto91 é significante e negativo. Contudo, tem-se que a
convergência é menor que quando comparado ao período 1991-2000. Esses resultados são
corroborados com os apresentados por Justo (2010) para os municípios baianos.
Tabela 10- Modelo de erro espacial para o período de 1991 a 2016 Spatial error model
Number of obs= 151
Variance ratio= 0,347
Squared corr.= 0,538
Log likelihood = 521,76224 Sigma= 0,01
txcpopto9116
Coef. Std. Err. z P>z [95% Conf. Interval]
lnpopto91 -0,0087923 0,0013808 -6,37 0,000 -0,0114987 -0,006086
Esper91 0,005005 0,0002722 1,84 0,066 -0,000033 0,0010339
Escol. -0,0016539 0,0006797 -2,43 0,015 -0,0029862 -0,0003216
Analf. -0,0001889 0,0001246 -1,52 0,130 -0,0004332 0,0000554
Rpc91 0,0001092 0,0000176 6,20 0,000 0,0000747 0,0001437
Gini91 -0,0696748 0,0172705 -4,03 0,000 -0,1035243 -0,0358253
Área 5,88e-07 3,60e-07 1,63 0,102 -1,18e-07 1,29e-06
Energia91 0,0001294 0,0000757 1,71 0,087 -0,0000188 0,0002777
Peraguaban91 -0,0002305 0,0000656 -3,51 0,000 -0,0003592 -0,0001019
Distcapital 1,48e-06 5,81e-06 0,26 0,799 -9,91e-06 0,0000129
_cons 0,1494973 0,0264502 5,65 0,000 0,0976559 0,2013386
Lambda -0,0021062 0,0007226 -2,91 0,004 -0,0035225 -0,00069
Wald test of lambda =0: chi2(1)= 8,496 (0,004)
Likelihood ratio test of lambda =0: chi2(1)= 22.603 (0,000)
Sample Size= 151
Wald Test= 169,2139 P=Value> Chi2(10)= 0,0000
F=Test= 16,9214 P=Value> F(10, 140)= 0,0000
R2 (R=Squared)= 0,5472 Raw Moments R2= 0,8221
R2a (Ajustado R2)= 0,5149 Raw Moments R2 Adj= 0,8094
Root MSE (Sigma)= 0,0087 Log Likelihood Function= 505, 8642
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IBGE (2016), IPEADATA (2016) e PNUD (2013).
Considerando a significância a 10%, tem-se que todos os coeficientes das variáveis
explicativas são significantes, exceto o coeficiente da variável taxa de analfabetismo e
Distcapital. Os sinais das variáveis: Escol e Peraguaban91 são contrários aos esperados
igualmente ao ocorrido na estimação do modelo para o período 1991-2000. Assim, a renda
35
per capita, a área, percentual de residência com energia elétrica e a esperança de vida ao
nascer afetam positivamente a taxa de crescimento. Por outro lado, a concentração de renda é
um fator que atua diminuindo o crescimento. Também aqui, observou-se um resultado não
esperado que o efeito negativo da escolaridade média no crescimento, o que já foi explicado.
Tendo em vista que o coeficiente da variável distância da capital não foi significante, não se
pode inferir que o crescimento se dá no sentido da interiorização.
O valor do 2R indica que 51,49% da variância da variável dependente é explicada pela
variação do conjunto das variáveis explicativas. O teste F valida o modelo indicando que em
conjunto todas as variáveis explicativas são importantes para explicar a variável dependente.
O sinal negativo do parâmetro indica que o crescimento das cidades de porte médio
nordestinas é afetado negativamente pelos seus vizinhos de porte médio.
7. Considerações Finais
No Brasil, grande é a heterogeneidade socioeconômica existente entre as regiões,
principalmente em relação à região Nordeste, a qual por muito tempo foi conhecida como a
região problema do Brasil. Porém, dentro do cenário de mudanças e avanços vividos no país,
essa região também foi beneficiada pelas melhorias.
As cidades médias surgem como novos centros dinâmicos e atrativos, e começam a se
destacar no cenário urbano, a partir da interiorização da urbanização, a desconcentração
industrial e a expansão das fronteiras agropecuárias e minerais, e principalmente a partir dos
Planos Nacionais de Desenvolvimento.
A região nordeste passa então a apresentar uma nova dinâmica com pessoas
retornando e empresas nacionais e multinacionais se instalando na região. Nesse novo
cenário, as cidades médias se destacam por permitirem aos seus moradores menores índices
de criminalidade, redução do tempo de locomoção, menores níveis de poluição atmosférica,
menores custos de vida e melhores condições ambientais.
Vale destacar que apesar das mudanças ocorridas na região, os indicadores
socioeconômicos ainda não são satisfatórios, pois há ainda a persistência da miséria e baixos
índices de desenvolvimento humano, mas já é possível observar uma nova realidade presente
nos municípios de médio porte do Nordeste.
O presente estudo abordou o crescimento econômico das cidades médias do Nordeste,
a partir das teorias de crescimento econômico. Procurou-se identificar a dinâmica de
crescimento dessas cidades e quais as variáveis correlacionadas com este crescimento.
36
Em meio a um cenário no qual o Nordeste tem passado nos últimos anos, marcado por
um rápido processo de urbanização e pelo grande crescimento das cidades de médio porte
locais, o trabalho buscou avaliar a convergência de crescimento entre os municípios de porte
médio nordestinos. Utilizando-se de técnicas de econometria espacial para apreender os
efeitos de vizinhança, foram feitos testes preliminares para apontar a necessidade de
incorporar esse efeito nas regressões estimadas corrigindo a inconsistência dos parâmetros. Os
resultados foram robustos ao apontarem efeito de vizinhança. Assim, foram estimados
modelos de defasagem e de erro espacial para o período 1991-2000 e 1991-2016.
Os resultados sugerem que há convergência condicional do crescimento das cidades de
porte médio no Nordeste para os dois períodos. Ou seja, os municípios menores crescem
mais rapidamente que os maiores, mas cada um em direção ao seu estado de equilíbrio de
longo prazo. A convergência, contudo é menor no período 1991-2016. O crescimento dos
municípios é afetado pelo crescimento dos seus vizinhos. Os padrões de crescimento mais
presentes foram municípios com alta taxa de crescimento circundados por municípios que
também apresentam crescimento elevado e municípios com baixa taxa de crescimento
circundados por municípios com essa mesma característica.
Melhor infraestrutura, qualidade da saúde e maior renda per capita ajudam o
crescimento. Já o analfabetismo e a concentração de renda afetam negativamente. Não se
constatou o crescimento das cidades de porte médio em direção ao interior dos estados. A
escolaridade média afeta negativamente o crescimento. Isso sugere que embora a escolaridade
média tenha aumentado nos últimos anos, a qualidade da educação formal não tem
melhorado.
Sugestões futuras para esse trabalho é a obtenção de informações de outras variáveis
que captem os efeitos aglomerativos e desaglomerativos que já se percebe ocorrendo em
municípios de porte médio a exemplo da elevação rápida da violência.
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39
AS FESTAS JUNINAS NA CONTEMPORANEIDADE E A OCORRÊNCIA DE
PARCERIAS ENTRE PÚBLICO-PRIVADO: OS CASOS DOS FESTEJOS DE
CAMPINA GRANDE (PB) E CARUARU (PE)
MARCELO HENRICK ALVES DOS SANTOS
Graduando em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri – URCA, Bolsista
de Iniciação Científica PIBIC/URCA. E-mail: [email protected]. Telefone: (88)
98152-6751.
JESSYCA LANGE DE ARAÚJO SILVA
Graduanda em Ciências Econômicas pela Universidade regional do Cariri – URCA. Bolsista
de Extensão. E-mail: [email protected]. Telefone: (88) 98824-9572.
JUCIANA ALVES DA SILVA
Graduanda em Ciências Econômicas pela Universidade regional do Cariri – URCA. E-mail:
[email protected]. Telefone: (88) 9222-9638.
CHRISTIANE LUCI BEZERRA ALVES
Professora Adjunta do Departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri.
Mestrado em Economia pela Universidade Federal da Paraíba - UFPB. Doutora em
Desenvolvimento e Meio Ambiente - DDMA pela Universidade Federal do Ceará - UFC. E-
mail: [email protected]. Telefone: (88) 99659-0226.
VALÉRIA FEITOSA PINHEIRO
Professora Adjunta do Departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri.
Mestrado em Desenvolvimento Regional pela Universidade Regional do Cariri.
E-mail: [email protected]. Telefone: (88) 9 9965-7314.
40
RESUMO:
Nas últimas décadas, o setor público e o setor privado têm mantido relações de enlaçe que,
inicialmente, são estabelecidas para fins de ganho político, econômico e social. Exemplo desta
parceria é o que ocorre nas cidades de Campina Grande, no Estado da Paraíba, e Caruaru, no
Estado de Pernambuco. Ambas as cidades formam o “corredor de nordestinidade” durante as
festividades do mês de junho no Nordeste, e são referências nacionais em questões de cultura
e identidade. Assim, apesar do forte apelo econômico, os eventos em questão demonstram
como cultura e crescimento e desenvolvimento econômicos se fundem e caracterizam uma
nova forma de relações sistêmicas, acompanhando a evolução de novos paradigmas
econômicos. O elemento cultural, portanto, assume o papel de vetor de promoção de
crescimento e desenvolvimento local e regional, demarcando a construção e estabelecimento
de aspectos que caracterizam as territorialidades de uma região. A cultura, nessa perspectiva,
materializa-se como um importante indicador para adoção de políticas públicas eficientes e
que promovam o reconhecimento de identidades de grupos e/ou civilizações, fortalecendo as
tradições. Ao mesmo tempo, adere-se aos modelos edificados pelo capitalismo e pelo
processo de globalização, principalmente no que tange a fomentar sustentabilidades
econômicas e prosseguimento de atividades que determinam dinâmicas mercadológicas
modernas, mas que devem ser pensadas na perspectiva da inclusão de populações locais nos
processos de crescimento e desenvolvimento.
Palavras-chaves: Campina Grande, Caruaru, Cultura, Desenvolvimento.
ABSTRACT: In the last decades, the public sector and the private sector have maintained
bond relationships that are initially established for political, economic and social gain.
Example of this partnership is what happens in the cities of Campina Grande, in the State of
Paraíba, and Caruaru, in the State of Pernambuco. Both cities form the "northeastern corridor"
during the festivities of June in the Northeast, and are national references in questions of
culture and identity. Thus, despite the strong economic appeal, the events in question
demonstrate how culture and development merge and characterize a new form of systemic
relations, accompanying the evolution of new economic paradigms. The cultural element,
therefore, assumes the role of a vector promoting local and regional development,
demarcating the construction and establishment of aspects that characterize the territorialities
of a region. Culture, in this perspective, materializes as an important indicator for the adoption
of efficient public policies and that promote the recognition of identities of groups and / or
civilizations, strengthening the traditions. At the same time, it adheres to the models built by
capitalism and the process of globalization, mainly in what concerns to foment economic
sustainability and pursuit of activities that determine modern market dynamics, but that must
be thought in the perspective of the inclusion of local populations in the processes Growth
and development.
Keywords: Campina Grande, Caruaru, Culture, Development.
41
1. INTRODUÇÃO
O Brasil sempre foi um país de grande referência em mesclar diferentes culturas e uni-
las na construção da caracterização de seu povo. As manifestações culturais tornaram-se
objeto de caráter temporal e de expressão de cada região, que remetem às épocas de colheita e
se confundem com comemorações de cunho religioso. O Boi-Bumbá e o círio de Nazaré da
região Norte podem ser comparados, em nível cultural, ao fandango e a chula da região Sul.
No Nordeste, neste sentido, as maiores comemorações ocorrem no mês de junho, no ciclo de
comemorações juninas que marcam as festas a Santo Antônio, São João e São Pedro
(RANGEL, 2008).
Ainda segundo Rangel (2008), se por um lado os europeus comemoravam as festas de
Santo Antônio – este principalmente em Lisboa – São João e São Pedro em suas terras, ao
virem ao Brasil, prosseguiram com seus costumes e, concomitantemente, os praticavam junto
aos festejos indígenas para a agricultura que ocorriam na mesma época. O Nordeste
preservou, em suas raízes, a comemoração oriunda dos sítios, ou seja, da família do campo
que organizava banquetes de comidas típicas e rodas de danças ao redor da fogueira, e
promoviam arraiás, além de quermesses junto à paróquia local. Desse modo, propõe-se, com
este trabalho, apontar elementos que permitam inferir sobre a dinamização de economias
locais, promovida pelos festejos juninos de Campina Grande e Caruaru. A escolha da área em
análise provém, portanto, das importantes contribuições de ambas como referências culturais
e comerciais dos festejos juninos, bem como a integração promovida à montante e à jusante
com a economia local e regional, que são beneficiadas pela realização destes eventos.
Em que pesem as limitações para a obtenção de dados, um balanço mais completo e
sistêmico das conexões estabelecidas em torno das atividades só é possível com pesquisas
complementares, particularmente, as que tratem de intervenções diretas. Todavia, a dinâmica
a ser investigada é aqui abordada: sob seus impactos financeiros; sob a relevância da parceria
público-privado para tais festejos e na perspectiva de compreensão da importância das festas
juninas para as cidades de Campina Grande e Caruaru.
São crescentes os estudos em que a cultura aparece como peça-chave para o
entendimento de processos de desenvolvimento local e, de forma sistêmica, do
desenvolvimento sustentável. Adicionalmente, os aspectos culturais conferem força ao
reconhecimento de identidades e pertencimentos de populações e territórios, o que no
Nordeste é expresso em suas diferentes territorialidades. Desta forma, o estudo é relevante no
campo acadêmico, bem como para população em geral, na medida em que promove o
42
conhecimento de como a mesma pode ser beneficiada e integrada no funcionamento das
atividades. Potencializa-se, ainda, como um canal de comunicação entre atividade, população
e setor público, podendo sinalizar para um melhor aproveitamento e aplicação eficiente de
políticas públicas para, desta forma, fomentar o bem-estar e a economia regional, assim como
a cultura.
2. ASPECTOS TEÓRICOS
Nesta seção serão discutidos aspectos relacionados à questão da cultura como vetor
para o desenvolvimento econômico, a origem das festas juninas, bem como a relação que as
festas juninas possuem com o comércio e o turismo.
2.1 AS NOVAS RELAÇÕES ENTRE CULTURA E DESENVOLVIMENTO
A evolução de paradigmas econômicos em sua interpretação sobre o desenvolvimento
é palco de profundas reflexões, mediante a natureza estrutural e sistêmica que assume a crise
na sociedade em fins do século XX, que dá a expressão de uma crise civilizatória
pluridimensional. Esses elementos contribuem para a releitura e interpretação de paradigmas
dominantes e para que sejam traçados caminhos epistemológicos tão profundos e diversos,
que se possa incluir nestes os percursos de produção da própria ciência (PINHEIRO; ALVES;
RODRIGUES, 2014).
Um dos principais campos epistemológicos instituídos a partir dos anos 1970 tem
como base as reflexões em torno das caracterizações relativas ao desenvolvimento
sustentável, incorporando à dimensão econômica, elementos de natureza social, institucional e
ambiental. Em abordagens mais recentes, onde prevalece o viés institucionalista, reforça-se o
poder das teorias do desenvolvimento local fundadas na “compreensão do movimento
dialético entre a pressão heterônoma exercida pelas leis de funcionamento de uma economia
global e a reação autônoma suscitada pelas redes e instituições locais” (MULS, 2008, p. 2).
Na maioria dessas contribuições reconhece-se a chave e a força dos elementos culturais na
promoção do desenvolvimento.
No entanto, há outros aspectos que devem ser considerados na tentativa de reconhecer
a cultura como um dos fatores de promoção do desenvolvimento. O próprio conceito de
cultura é abrangente e conforme sinaliza UNESCO (1982) envolve:
43
o conjunto dos traços distintivos, espirituais e materiais, intelectuais e afetivos que
caracterizam uma sociedade ou um grupo social e que abarca, para além das artes e
das letras, os modos de vida, os direitos fundamentais do ser humano, os sistemas de
valores, as tradições e as crenças.
É, ainda, “simultaneamente a diversidade criativa plasmada em culturas concretas e o
instinto criador que se encontra na origem dessa diversidade de culturas” (UNESCO, 2009,
p.10).
Dentro deste contexto, onde a cultura assume o seu lugar de importância na promoção
do desenvolvimento, o fortalecimento do elemento cultural é desafio, tanto como construtor
de traços e aspectos que marcam territorialidades de uma região, como fio condutor para
implementação de políticas de fortalecimento territorial e desenvolvimento local, o que,
certamente, torna-se desafio norteador para gestão de políticas públicas (PINHEIRO; ALVES;
RODRIGUES, 2014).
Nessa perspectiva, numa região traçada por múltiplas manifestações culturais, onde
tradição, identidade e pertencimento são faces de uma realidade em constante transformação,
que influencia e é influenciada pelas novas relações estabelecidas pela integração dessa
economia à realidade global, o entendimento dos festejos juninos e sua importância como
vetor de crescimento e desenvolvimento de economias locais tornam-se imperativo em
estudos de natureza econômico-social.
2.2 ORIGEM DAS FESTAS JUNINAS
A temporada de festejos juninos é uma das épocas mais aguardadas do ano, dado que é
o evento popular mais festejado pela população brasileira após o carnaval, havendo uma
valorização da cultura e resgatando as tradições trazidas ao Brasil pelos portugueses que
principiaram essa comemoração (NASCIMENTO, 2016). As festas juninas vão muito além
do que eventos adorativos.
A pesquisa sobre a origem dessas festividades aponta que remontam a um tempo
muito antigo, anterior ao surgimento da era cristã. De acordo com o livro O ramo de ouro, de
sir James George Frazer, o mês de junho, tempo do solstício de verão (no dia 21 ou 22 de
junho, o Sol, ao meio-dia, atinge seu ponto mais alto no céu; esse é o dia mais longo e a noite
mais curta do ano) no Hemisfério Norte, era a época do ano em que diversos povos — celtas,
bretões, bascos, sardenhos, egípcios, persas, sírios, sumérios — faziam rituais de invocação
de fertilidade para estimular o crescimento da vegetação, promover a fartura nas colheitas e
trazer chuvas (RANGEL, p. 15, 2008).
44
Portanto, os festejos têm sua origem vinculada ao solstício de verão, relacionando o
início e o fim da época de colheita. Os registros, portanto, demonstram que sua prática é
anterior a era cristã, com as civilizações do Hemisfério Norte. Assim, os rituais que deram
origem a estas festividades também eram utilizados para promover a fertilidade das
plantações. Segundo Sousa (2012, p. 3):
Festas juninas são populares celebrações que acontecem em vários países
historicamente relacionadas com a festa pagã do solstício de verão, que era
celebrada no dia 24 de junho, segundo o calendário juliano (pré-gregoriano) e
cristianizada na Idade Média como "Festa de São João". É considerada a principal
festa de todo o Nordeste, levando-se em conta suas manifestações em todos os
Estados da região.
Desta forma, de uma festividade ao dia mais longo do ano, passou-se a comemorar o
aniversário de um santo da igreja católica – São João – cuja mesma época, na região Nordeste
do Brasil, também é aquela em que na Zona Rural ocorre a chegada da temporada de colheita
do milho, por exemplo (SOUSA, 2012).
Quando os portugueses iniciaram o empreendimento colonial no Brasil, a partir de
1500, as festas de São João eram ainda o centro das comemorações de junho. Alguns
cronistas contam que os jesuítas acendiam fogueiras e tochas em junho, provocando
grande atração sobre os indígenas. Mesmo que no Brasil essa época marcasse o
início do inverno, ela coincidia com a realização dos rituais mais importantes para os
povos que aqui viviam, referentes à preparação dos novos plantios e às colheitas.
(RANGEL, 2008, p. 21)
As festas juninas se afirmaram, de fato, como demonstrações culturais espetaculares.
No interior do Nordeste esse é o maior e mais importante evento festivo, por diferentes
motivos: pela sua grandeza espacial, amplitude e significados culturais, restaurados ao longo
do tempo (CASTRO, 2012).
2.3 AS FESTAS JUNINAS E O COMÉRCIO
Quanto à propensão recente de mercantilizar a cultura, Jacques (2004) revela que na
lógica atual de consumo cultural urbano, tem-se uma “cultura-econômica”, que se caracteriza
como simples retrato da marca, ou grife de entretenimento, que rapidamente será consumida.
As municipalidades têm o objetivo de alcançar o desenvolvimento urbano através da
aglomeração festiva, fomentando a economia privada e o comércio formal e informal, que
fazem vários indivíduos sobreviverem com a renda adquirida nesses eventos juninos durante
meses (CASTRO, 2012).
O São João é a segunda época em que há mais vendas no Nordeste, perdendo apenas
para o Natal, onde os principais consumidores são aqueles que se encontram nas classes B, C
45
e D (BRITO, 2008). Neste período, constata-se uma demanda maior por hotéis, empresas de
ônibus, companhias aéreas, restaurantes e o comércio em geral, e estes devem dispor de mais
lugares para satisfazer a demanda, que aumentará o lucro dessas empresas e irá contribuir para
uma maior oferta de empregos (NORONHA, 2013).
Os produtos mais consumidos são roupas e calçados (especialmente os de couro); as
fábricas de calçados de couro, assim como as de confecções, situadas no interior do Nordeste,
aumentam sua capacidade produtiva e vendas na época junina. Porém, em Caruaru (PE) a
pouca mão de obra local impede que a expansão da produção seja de maior magnitude
(BRITO, 2008).
Em tais eventos há uma grande circulação de dinheiro com empresas de eventos,
grupos musicais, cervejarias, transporte coletivo e alternativo, produção de fogos,
alimentação, hospedagem, aumento no consumo de objetos pessoais, dentre outros serviços.
Em relação ao comércio, existe a venda de itens juninos, comidas típicas, roupas etc.,
aumentando, dessa forma, os negócios em vários segmentos produtivos e de serviços
(CASTRO, 2012).
Conforme Jacques (2004), os municípios batalham para vender melhor a imagem da
sua cidade, favorecendo o turismo e o marketing, mediante a atração que chama mais atenção.
2.4 AS FESTAS JUNINAS E O TURISMO
Uma pesquisa do Ministério do Turismo e da FGV (Fundação Getúlio Vargas) mostra
que, no mês de junho, 49,3% dos entrevistados se destinam ao Nordeste devido às festas
juninas, e dessa forma movimentam a economia da Região (SUZANNE; DELMIRO;
BARBOSA, 2014).
Segundo Henrique Eduardo Alves, ministro do turismo no período de 2015 a 2016, os
festejos de São João criam um grande impacto nas economias locais, gerando empregos e
renda nos municípios onde são praticadas (NASCIMENTO, 2016).
O turismo no país teve sua expansão motivada a partir da criação da Empresa
Brasileira de Turismo - EMBRATUR, em 1966, por meio do Decreto-Lei nº 55, que criou
também o Conselho Nacional de Turismo. A atividade prosseguiu seu desenvolvimento pelos
anos 1960 e 1970, com grande expansão de roteiros turísticos e do parque hoteleiro,
potencializado pelo poder público e expansão das linhas de crédito para o setor, especialmente
na região Sudeste (MENEZES, 2012).
46
Principalmente, a partir dos anos de 1970, um novo formato das festas juninas
começou a ser traçado com a iniciativa das prefeituras, de segmentos dos governos de Estados
como Bahia, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Sergipe, bem como empresas e
comerciantes que investiram nas festas juninas como estratégia para atrair a mídia e os turistas
às cidades. A partir da década de 1980, ocorreu um aumento do número de turistas no
território brasileiro, impulsionando as formas de espetacularização das festas juninas no
ambiente urbano de algumas cidades do Nordeste brasileiro (CASTRO, 2012).
O turismo no Nordeste, nas décadas de 1980/90, dispôs de uma demanda direcionada
às capitais, principalmente Salvador, Recife, Fortaleza e Natal, pois possuíam um espaço
privilegiado no litoral urbano, com uma constituição hoteleira, bares, restaurantes e atividades
de lazer. Ao longo dos anos 1990, a política direcionada à região pelo Governo Federal tem
no turismo, juntamente com a fruticultura irrigada, um dos seus principais pilares de
sustentação. Já em 2000, a importância passa a ser ditada pelo litoral desses estados e
apostam-se na ampliação de toda uma infraestrutura para atender ao potencial turístico das
cidades (MENEZES, 2012). A intervenção, através de políticas setoriais, ganha associação, de
forma mais explícita, com as iniciativas de caráter estadual e municipal.
Nesse contexto, nas últimas décadas, diversas cidades procuraram investir em
potenciais turísticos específicos, aptos a impulsionar o marketing da cidade. Os grandes
investimentos na ‘espetacularização’ das festas juninas favoreceram a vinda de turistas para a
cidade e incrementaram a economia local. A prefeitura favorecera, portanto, a atração de
investimentos de empresas que divulgassem evento junino de sua cidade em televisões, telões,
painéis fixos, rádios, dentre outros (CASTRO, 2012).
Mais recentemente, as mídias sociais são a expressão de uma atividade econômica em
constante transformação e dinamização, ganhando a tecnologia, posição de destaque na
agregação de valor a serviços e produtos dos diferentes segmentos turísticos.
3. METODOLOGIA
A metodologia utilizada para interpretação do problema foi fundamentada em
levantamento bibliográfico sobre o tema e em obtenção de dados junto ao Portal da
Transparência. Empregou-se o método descritivo, a fim de facilitar a leitura e fornecer
elementos para a compreensão e interpretação dos dados que apontem de que forma as festas
juninas de Campina Grande e Caruaru estão impactando a economia local e regional. Dadas
as limitações para a obtenção de dados mais desagregados, torna-se inviável fazer um balanço
47
mais preciso, sendo o fenômeno estudado de maneira parcial. Desta forma, a análise é
suscetível a mudanças de acordo com o transcorrer da realidade e em função de alterações, de
forma geral, na conjuntura econômica nacional.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
De acordo com Compans (apud PONTE, 2005, p. 127), no cenário de crescentes crises
globais, as respostas do sistema engendram associações “à reestruturação produtiva do capital
e às formas flexíveis da acumulação: flexibilização, desregulamentação, empreendedorismo e
mecanismos de parceria público-privada”. Assim, as parcerias público-privadas se mostram
como “instrumentos de priorização de investimento em atividades e infra-estruturas rentáveis,
em detrimento daqueles – “ultrapassados” – investimentos universalistas do Estado de Bem-
Estar Social” (COMPANS, apud PONTE, 2005, p.129).
Nesse espaço, conforme apontado por Castro (2012), o Governo Federal trabalhou de
modo a beneficiar os centros público-privados, com o intuito de concluir obras inacabadas no
Brasil e de restaurar a infraestrutura técnica do país nos anos de 2000. Desta forma, a parceria
público-privado funcionou como uma fusão entre o governo e a empresa com fins específicos,
onde se inserem a elaboração de eventos esportivos e culturais, investimentos nos setores
hídricos e minerais e etc. Mas vale ressaltar que tal forma de organização do capital contribui
para uma “homogeneização crescente das condições objetivas da produção e da acumulação”.
A Lei Rouanet de 1991, que trata do incentivo à cultura nacional, por meio de políticas
públicas, começou a fazer um elo entre as empresas e o governo, com o objetivo de dar
relevância ao patrimônio cultural material e imaterial do Brasil. Essa lei gera uma redução dos
impostos de empresas que patrocinam, de forma parcial ou total, eventos que se incluam na
pauta cultural do país; todavia, nem sempre as empresas desejam patrocinar eventos culturais,
cuja ação resulta numa eventual amortização fiscal, da mesma forma que muitas festividades
estão distribuídas, por exemplo, no Nordeste demandando patrocínio (CASTRO, 2012).
Compans (2005) chama atenção que o city marketing, que materializa a participação
do capital privado nas parcerias, e está relacionado a diversos fatores que promovem um
progresso da agenda econômica, por exemplo, promoções turísticas, venda nos locais
atrativos da cidade, programas de hotéis, atividades culturais e diversas outras ações que estão
relacionadas ao próprio evento local.
Na esteira de novas manifestações e reprodução do capital, para Santos (1999), as
festas tradicionais foram invadidas por formas midiáticas de atuação e os moradores,
48
juntamente com as pessoas de outras cidades, podem ter suas imagens transmitidas para o
mundo através de emissoras de TV e até mesmo através de câmeras de celulares.
Cabe destacar, que a mercantilização das tradições e dos festejos e as novas dimensões
alcançadas aparecem refletidas numa ‘estrangeirização’ dos eventos, que utilizam
crescentemente atrações com pouca referência regional. Aqui, o capital se reproduz de forma
segmentada, onde contrastam atrações de cunho local com valor de mercado dezenas e, às
vezes, centenas de vezes menor que os cachês distribuídos a atrações reconhecidamente
nacionais.
4.1 OS FESTEJOS JUNINOS DE CAMPINA GRANDE (PB) e CARUARU (PE)
É de caráter público o reconhecimento de que os dois maiores centros festivos juninos
do Nordeste são Campina Grande e Caruaru. Para Castro (2012), a agenda da festa
progressivamente foi ampliando-se, ocorrendo, nos dias de hoje em praticamente todos os
trinta dias do mês de junho, com um método político-administrativo atuante para captação de
dividendos econômicos e políticos, através das marcas do “Maior São João do Mundo” e
“Capital do Forró”, retratadas na visão mercadológica de expansão dos lucros pela iniciativa
privada. Em Caruaru, Pernambuco, estado natal de Luiz Gonzaga, tem início a partir do dia 30
de maio, e segue pelo mês de junho, sendo que a festa paraibana segue até o dia 5 de julho
(MINISTÉRIO DO TURISMO, 2015).
Ainda, segundo o Ministério do Turismo (2015), no ano de 2014, a festa de São João de
Caruaru registrou 364 shows, R$ 246 milhões de movimentação financeira e gerou seis mil
empregos diretos e indiretos; já em Campina Grande estimou-se o número de dois milhões de
pessoas transitando no evento.
Dados recentes mostram que não menos de 3 milhões e meio de pessoas participam dos
eventos ocorridos nos dois municípios e tem crescimento largamente a participação do setor
privado nas mesmas (Quadro 1).
49
Quadro 1 - São João 2016
Cidade Caruaru – Pernambuco Campina Grande – Paraíba
Orçamento R$ 10 milhões de reais R$ 8 milhões de reais
Duração da Festa 04 a 26 de junho 03 de junho a 03 de julho
Patrocinadores Cerveja Skol, Cachaça Pitú,
Banco Bradesco, Whisky
Teacher’s, Banco Caixa
Econômica Federal, Rede
Máquinas de Cartões,
Sorvetes Kibon, Sardinha
Coqueiro, Carnes Friboi,
Seara, Margarina Delicata,
Carne Bordon, Celpe
companhia elétrica, Tridente
fresh, Nutrisse, Consul,
Secretaria de Turismo de
Pernambuco, Governo de
Pernambuco, Gufs, Loteria
Caruaru Sorte.
Governo do Estado, Secretaria
de Turismo da Paraíba, Cerveja
Itaipava, Energético TNT,
Cachaça Matuta, FM 98 de
Campina Grande, Universidade
Estadual da Paraíba, Sky TV
por assinatura, Café São Braz.
Turistas 2 milhões de pessoas 1,5 milhão de pessoas Fonte: HERMENEGILDO, 2017
4.1.1 São João de Campina Grande
Segundo Gilson Lira, secretário de Desenvolvimento Econômico de Campina Grande,
por causa da festa, a economia regional de Campina Grande (que engloba 60 cidades) fica
aquecida por inteiro, movimentando da base ao topo da pirâmide, beneficiando desde
ambulantes informais à hotéis de luxo (MADEIRO, 2012).
Na cidade de Campina Grande, a partir dos anos 1970, as festas passaram a ter uma
ampla divulgação, refletindo-se tal feito sobre a economia da cidade e do estado da Paraíba,
principalmente depois que foi inaugurado o Parque Do Povo, em 1986, pois este se consolida
como ponto principal da cidade nesta época, sediando os festejos juninos. A prefeitura do
município se encarrega de divulgar o evento, através da Secretaria de Turismo, utilizando a
estratégia de marketing para divulgá-lo como o “maior são João do mundo”, dado que existe
um duelo com a cidade pernambucana de Caruaru, intitulado de capital da festa de São João
nordestino, brasileiro e “mundial” (FARIAS, 2005).
Em 2012, a expectativa era de que dois milhões de pessoas passassem pelos 31 dias de
festa e movimentassem entre R$ 110 milhões e R$ 115 milhões, ressaltando-se que a
prefeitura municipal investiu R$ 6,5 milhões (MADEIRO, 2012).
Atualmente, o Parque do Povo possui uma área de 42 mil metros quadrados, que
acolhe aproximadamente dois milhões de pessoas, a maioria delas oriundas de outras cidades,
50
estados e até de outros países (Espanha, França e Estados Unidos, por exemplo), interessadas
em ver as mais de 300 atrações, 90 quadrilhas e 85 shows que se revezam no palco principal e
espaços secundários, contabilizando em torno de mil horas de forró (SUZANNE; DELMIRO;
BARBOSA, 2014).
Em 2015, a Prefeitura e o Governo do Estado investiram R$ 8,5 milhões na festa do São
João de Campina Grande (PB). Os visitantes ocuparam entre 70 e 90% das reservas de hotéis
da cidade. O total de retorno financeiro contabilizado em Caruaru e Campina Grande foi de
aproximadamente R$ 320 milhões, sendo criados até 25 mil empregos diretos e indiretos
(INNOVARE PESQUISA, 2016).
Os dados recentes sobre receita e despesa, relativos ao mês de junho, entre os anos de
2014 e 2016 são apresentados no quadro 2. A trajetória da receita municipal revela uma
arrecadação expressiva, porém, também traduz a conjuntura recente de desaceleração dos
níveis de atividade econômica e principalmente os efeitos que incertezas e crise política
impuseram à economia nacional. Nesse sentido, a receita apresenta uma taxa de crescimento
anual com queda significativa de –31,6% a.a. Isso em parte se reflete na necessidade de
aumento nos repasses através de órgãos municipais, cujo crescimento anual corresponde a
10,4% no período. No geral, a receita municipal tem retração significativa de 2014 para 2015,
mas praticamente recupera os patamares de 2014 no ano de 2016, o que reflete um
crescimento anual de apenas 0,32%.
Quadro 2 - Quadro de evolução receitas X despesas relativas ao mês de Junho – 2014 – 2016 (em
mil reais)
Ano 2014 2015 2016 Tx. Média
anual de
crescimento
Receita (Arrecadada) 48.951,94
38.935,27 22.891,18 -31,6%
Transf. Recebida de
Órgãos do Município
124.809,00
109.169,00 152.000,00 10,4%
Total Receita 173.760,94
148.104,27
174.891,18 0,3%
Despesa 121.105,75
229.112,52
163.465,36
16,2%
Transf. Concedida a
Órgãos do Município
0,00 0,00 0,00 -
Total Despesa 121.105,75
229.112,52
163.465,36 16,2%
Déficit/
Superávit
52.655,19 -81.008,25 11.425,82 -53,4175
Fonte: Elaboração própria baseada nos dados do portal da transparência pública de Campina Grande - PB.
51
As despesas têm aumentado, com destaque para o comportamento mais atípico entre
2014 e 2015, onde quase duplicam; todavia, considerando o crescimento anual entre 2014 e
2016, as mesmas crescem 16,2%.
Numa análise mais desagregada, verifica-se que
Campina Grande vive, durante o período de realização do Maior São João do
Mundo, a cada mês de junho, notável incremento em sua atividade econômica (...),
com notáveis reflexões em sua arrecadação de impostos. Um dos principais
indicadores deste fato é o crescimento do montante arrecadado com o Imposto Sobre
serviços (ISS). De acordo com o secretário de finanças, Joab Pacheco, Campina
Grande arrecada mensalmente, em média, R$ 4 milhões com o ISS. Contudo, nos
meses de junho, julho e agosto a prefeitura municipal registra um incremento
percentual médio da ordem 10% em relação a esse imposto. Com isso, mensalmente,
entre junho e agosto, gera-se uma arrecadação de R$ 4 milhões e 100 mil reais
(CODECOM, 11 de maio 2016, Press Release).
Por sua vez, o Secretário de Desenvolvimento Econômico, Luiz Alberto Leito, destacou que
em 2016, apesar do grave quadro de crise nacional, o maior São João do Mundo já sinalizava para uma
maior geração de empregos, receitas e rendas para o município. Segundo ele, profissionais autônomos,
a área de serviços e outros segmentos apresentam ganhos além das expectativas (CODECOM, 11 de
maio 2016, Press Release).
A seguir, tem-se o demonstrativo do impacto econômico do maior São João do Mundo
(MSJM) na realidade local, considerando o distrito de Galantes, onde parte relevante da festa
também acontece e no Parque do Povo, através de indicadores mais diretamente associados a
realização do evento.
O faturamento das atividades comerciais em Galante é expressivo, atingindo valores
próximos a R$ 1 milhão. Os dados são quase nove vezes maiores quando se considera o
faturamento no parque do Povo. Considerando a receita total bruta no parque, atinge-se a
vultosa cifra de R$ 45.087.476,96 (Quadro 3).
52
Quadro 3 - Dados econômicos selecionados (2013)
Faturamento dos comerciantes do Distrito de Galante
durante o MSJM
R$ 961.648,77
Faturamento dos barraqueiros, quiosque, ambulantes e
artesãos no Parque do Povo durante o MSJM
R$ 8.780.031,66
Receita total bruta gerada pela população da cidade no
parque do povo
R$ 45.087.476,96
Impacto econômico final gerado pelo evento do São
Joao de Campina Grande de 2013
R$ 160.952.075,32
Fonte: COSTA, 2016
Segue, no quadro 4, os valores referentes às despesas com apresentações artísticas e
locações de estruturas, consideradas no período que se estende de 2009 a 2015. Mesmo
considerando o período imediatamente posterior à crise financeira de 2008, os gastos com as
apresentações artísticas são significativamente altos em 2009 e 2010 e apesar da queda em
anos como 2011 e 2012, voltam a ter expressivo crescimento no ano de 2013, mantendo-se
em semelhante patamar em 2014. A crise recente se faz sentir de forma mais robusta com a
queda nas despesas para o ano de 2015 em mais de 30%.
Quadro 4 - Despesas com o evento do maior São João do Mundo - 2009 - 2015
ANO APRESENTAÇOES
ARTISTICAS
LOCAÇOES DE
ESTRUTURAS
VALOR TOTAL
2009 4.087.778,00 1.293.300,00 5.381.078,00
2010 4.216.100,00 2.392.300,00 6.608.400,00
2011 3.237.800,00 2.688.100,00 5.925.900,00
2012 3.392.000,00 3.248.350,00 6.640.350,00
2013 4.964.900,00 3.285.200,00 8.250.100,00
2014 4.834.100,00 4.216.000,00 9.050.100,00
2015 3.311.000,00 4.298.000,00 7.609.000,00
Fonte: Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Campina Grande.
Mesmo com a rivalidade histórica com Caruaru, o secretário de Desenvolvimento
Econômico de Campina Grande explica que a ideia é unir as marcas para criar um corredor do
forró. "Enquanto o turista estiver vindo para cá, visitando Campina e Caruaru, que é nossa
53
cidade irmã, todo o nordeste ganha, porque ele passa por esse corredor de ‘nordestinidade’,
conhecendo nossa cultura e tradições” (MADEIRO, 2012).
A prefeitura de Campina Grande, em 2013, encomendou ao Grupo 6Sigma – empresa
de desenvolvimento de pesquisas – um estudo sobre os impactos e o nível de satisfação
relativos ao São João de Campina Grande, considerando os diferentes setores envolvidos no
evento. Os resultados foram apresentados no primeiro semestre de 2016 e tiveram aspectos
importantes. Destacando-se os estabelecimentos comerciais, hotéis, bares e restaurantes, a
amostra relativa a tais estabelecimentos envolveu: 138 empreendimentos comerciais, 68 bares
e restaurantes e 13 hotéis, totalizando 219 formulários coletados (COSTA, 2016). Constatou-
se que o melhor desempenho foi auferido no segmento de hotéis, nos quais 67% dos
estabelecimentos apresentaram ganhos associados ao evento, seguido pelos estabelecimentos
comerciais, com 47%, e bares e restaurantes, com 43%. No entanto, considerando-se o
aumento dos ganhos em comparação com o ano anterior, os estabelecimentos comerciais
apresentaram um crescimento de 27%, 1% a mais do que os ganhos obtidos pela rede de
hotelaria local. Enquanto que os bares e restaurantes cresceram apenas 25% neste interim.
Ainda, segundo Costa (2016), através desta pesquisa foi possível construir o perfil do
turista e sua visão do Maior São João do Mundo, e analisar o nível de satisfação dos mesmos.
Na avaliação pelos usuários relativo ao Parque do Povo, 63% dos entrevistados consideram
que melhorou o evento com este equipamento; 26,1% avaliam que piorou e 10,3%, que
continuou igual.
4.1.2 São João de Caruaru
Madeiro (2012) informa que a festa em Caruaru (a 130 km de Recife) é do mesmo porte
de Campina Grande. As festividades acontecem no pátio de Eventos Luiz "Lua" Gonzaga, em
uma área total de festejos estimada em 100 mil metros quadrados (equivalente a cerca de 14
campos de futebol). O estudo da consultoria Grupo 6Sigma mostrou que em 2011 o São João
de Caruaru injetou R$ 181 milhões na economia local, com a passagem de 1,2 milhão de
pessoas nos 30 dias de festa, dado que cada visitante da cidade gasta em média R$ 216 por
dia.
O São João de Caruaru é interesse nacional e compete com a cidade de Campina Grande
o título de o “Maior e Melhor do Mundo”. Caruaru também possui o título de “Capital do
Forró” e tem popularidade de ser a cidade mais cantada pelos artistas locais e regionais, pois
54
grande parte dessas inúmeras canções retrata a importância do São João caruaruense
(NEVES; CLEMENTINO,2016).
Nessa época festiva, os 17 hotéis de Caruaru (com seus 696 leitos) ficam lotados
durante os fins de semana. Dados relativos à 2012 mostram que no fim de semana que se
iniciam os festejos, a ocupação hoteleira chegou a 98% e nos demais fins de semana
contabiliza 100%. Essa quantidade de hotéis ainda não dá para suprir a demanda nesta época,
então é comum moradores próximos ao Pátio do Forró alugarem suas casas para turistas. Os
preços chegam a variar e podiam chegar a R$ 4.000 por fim de semana, dependendo da
localização do imóvel (MADEIRO, 2012).
O quadro 6 demonstra a movimentação financeira decorrente das festividades juninas
de Caruaru no período de 2013 a 2016. Os ganhos verificados na economia do município
mostram trajetória crescente, chegando a atingir R$ 300 milhões no ano de 2016, mesmo com
a desaceleração observada nos níveis de atividade econômica.
Quadro 6 – Movimentação financeira de Caruaru
Ano Valor injetado na economia
2013 R$ 224 Milhões
2014 R$ 246 Milhões
2015 R$ 270 Milhões
2016 R$ 300 Milhões
Fonte: G1 CARUARU, 2016.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As comemorações juninas estão na pauta dos eventos mais festejados pela população
brasileira, principalmente no que diz respeito aos nordestinos, pois as mesmas buscam
valorizar a cultura e resgatar as tradições antigas. Este evento destaca-se no interior do
Nordeste brasileiro, sendo o segundo período do ano em que se realizam mais vendas e que
movimenta a economia local. O evento junino é realizado com parcerias de investimento tanto
público, quanto privado, considerando-se também a intervenção da Lei Rouanet neste
processo de incentivo à cultura. As festas que mais se destacam nessa categoria no Nordeste
são as de Caruaru (PE) e de Campina Grande (PB), ficando a sua durabilidade ser em torno de
quase um mês. As mesmas disputam o título de “maior e melhor São João do mundo”, tanto
55
na movimentação econômica, quanto na mobilização do fluxo de turistas associados ao
evento.
Há que se destacar, neste ensaio, o caráter comercial que adquiriram as festas juninas,
principalmente a partir da década de 1970, quando as prefeituras municipais praticamente
passam a executá-las, tomando frente no que antes eram festividades do campo e agora
integram o leque cultural da cidade, estando incumbidas de forte apelo comercial e
econômico. A partir da parceria com a iniciativa privada, utilizam-se do marketing para
promover os eventos e atrair turistas e dinheiro às suas localidades. Por fim, o São João na
contemporaneidade foi integrado às relações do interesse privado, e, por conseguinte, ao
universo do mundo capitalista, onde por trás de dança, comidas típicas e muito forró, está o
interesse de instituições públicas e do empresariado a fim de obterem retorno em cifras muito
maiores do que o valor investido.
Os festejos juninos, portanto, ganham importância crescente para a sustentação e
dinamização da economia do Nordeste, principalmente nas cidades de Campina Grande (PB)
e Caruaru (PE). Estes lugares competem no sentido de promoverem estes eventos, numa
disputa que incentiva o desenvolvimento regional e torna mundial o conhecimento a respeito
de suas ocorrências.
Ademais, cultura e desenvolvimento se entrelaçam e caracterizam uma nova forma de
relação mutável de acordo com a evolução de novos paradigmas econômicos. O elemento
cultural assume o papel de vetor de promoção de desenvolvimento local e regional,
demarcando a construção e estabelecimento de aspectos que caracterizam as territorialidades
de uma região. A cultura, assim sendo, aspira para si um importante indicador para adoção de
políticas públicas eficientes e que promovam o reconhecimento de identidades de grupos e/ou
civilizações, fortalecendo as tradições ao mesmo tempo em que aderem aos modelos
edificados pelo capitalismo e pelo processo de globalização firmemente no que tange a
fomentar a sustentabilidade econômica e prosseguimento de atividades que fluam
financeiramente e socialmente bem. Os incentivos públicos e privados mercantilizam, de fato,
as festividades aqui analisadas. Entretanto, corroboram para que haja o fortalecimento das
mesmas, apesar da finalidade econômica, não deixando de lado a promoção do
desenvolvimento social.
56
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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59
UMA ANÁLISE ESPACIAL DOS DETERMINANTES DA
MORTALIDADE POR DOENÇA RESPIRATÓRIA NA PARAÍBA
Otoniel Rodrigues dos Anjos Júnior
Doutorando em Economia pelo Programa de Pós-graduação em Economia da Universidade
Federal da Paraíba (PPGE-UFPB).
Endereço: Rua Radialista Antônio Assunção de Jesus, n° 654, apt. 202, João Pessoa-PB, CEP:
58052-230. Fone (83) 9 8860-3463. E-mail: [email protected]
Juliane da Silva Ciríaco
Doutoranda em Economia pelo Centro de Aperfeiçoamento de Economistas do Nordeste da
Universidade Federal do Ceará (CAEN-UFC). Endereço: Rua Coronel Bia, n° 1851,
Cascavel-CE, CEP: 62850-000. Fone (85) 9 8540-6900. E-mail: [email protected]
Stélio Coêlho Lombardi Filho
Doutorando em Economia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional
(CEDEPLAR-UFMG).
Endereço: Av. Antônio Carlos, 6627 - Belo Horizonte, MG / CEP: 31270-901.
Telefone: (31) 3409-7100. E-mail: [email protected]
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Resumo Este artigo tem por objetivo analisar a distribuição espacial da taxa de mortalidade por doença
respiratória nos municípios paraibanos. Foi constatada a ocorrência de dependência espacial
significativa associada ao fenômeno em estudo, tornando necessário a utilização de instrumentos da
econometria espacial. A dependência espacial foi verificada global e localmente, apontando
similaridade no primeiro teste e a formação de diversos clusters no segundo. As estimativas obtidas
pelo modelo econométrico permitiram concluir que a mortalidade por doenças respiratórias ocorre
com maior intensidade nas áreas urbanas, de alta pluviosidade, com baixo rendimento per capita e
baixa quantidade de equipamentos disponíveis no SUS. Ademais, essa mortalidade aponta sinais de
relação com as baixas condições socioeconômicas e de bem-estar urbano, tais como o percentual de
famílias sem rede de esgoto e sem coleta de lixo, assim como o percentual de famílias vivendo em
casas de taipa.
Palavras-chave: Doenças Respiratórias; Municípios Paraibanos; Dependência Espacial.
Abstract
This article aims to analyze the spatial distribution of the mortality rate due to respiratory
disease in the municipalities of Paraíba. It was verified the occurrence of significant spatial
dependence associated to the phenomenon under study, making necessary the use of
instruments of spatial econometrics. Spatial dependence was verified globally and locally,
indicating similarity in the first test and the formation of several clusters in the second. The
estimates obtained by the econometric model allowed us to conclude that mortality due to
respiratory diseases occurs with greater intensity in urban areas, with high rainfall, low per
capita income and low quantity of equipment available at SUS. In addition, this mortality
indicates signs of a relationship with low socioeconomic conditions and urban well-being,
such as the percentage of families without a sewage network and without garbage collection,
as well as the percentage of families living in houses of mud.
Keywords: Respiratory Diseases; Municipalities of Paraíba; Spatial Dependence.
61
1. Introdução
As doenças respiratórias são uma das principais causas do expressivo aumento de
internações e mortes por doenças em todo o mundo. Dados da World Health Organization
(Organização Mundial da Saúde - OMS) apontam que são centenas de milhões de pessoas
afetadas por doenças respiratórias todos os anos. São indivíduos de todas as idades e em todos
os países do mundo, sendo que mais de 50% das pessoas atingidas vivem em países de baixo
ou médio rendimento, e 80% das mortes são de pessoas que pertencem às camadas
desfavorecidas da população. Segundo a OMS, este tipo de doença, que atinge massivamente
idosos e crianças, não apenas prejudica a saúde e o bem-estar dos indivíduos, mas também
impacta negativamente as famílias e a sociedade (OMS, 2007).
Goulart (2011) ressalta que as chamadas Doenças Crônicas Não Transmissíveis
(DCNTs), que inclui a diabetes e as doenças cardiovasculares, respiratórias e mentais, são
responsáveis por promover a pobreza, uma vez que incidem em gastos prolongados, gerando
ciclos de endividamento em lares mais pobres. Tais gastos contraem os ganhos familiares,
atingindo a capacidade de sustento e a educação dos filhos. Ao mesmo tempo, os custos de
natureza doméstica das DCNTs apresentam efeitos perversos sobre a produtividade da força
de trabalho ao redor do mundo. Acredita-se que cada aumento de 10% na sua taxa de
mortalidade ocasiona contração no crescimento econômico em até 0,5%, o que torna tais
doenças grandes ameaças ao desenvolvimento econômico mundial (GOULART, 2011).
Dados da OMS apontam que são mais de 36 milhões de mortes anuais em
consequência das DCNTs, de modo que essas ocorrências representam aproximadamente dois
terços das mortes globais. Por sua vez, apenas as doenças respiratórias (asma, doenças
pulmonares obstrutivas crônicas, estados alérgicos, hipertensão pulmonar, entre outras)
representam 7% da mortalidade global, com cerca de 4,2 milhões de mortes anuais
(GOULART, 2011). A título de ilustração, segundo o Instituto Nacional de Câncer José
Alencar Gomes da Silva (INCA, 2014), apenas o câncer de laringe acomete 160 mil novas
pessoas e responde pela morte de 83 mil indivíduos por ano no mundo, a maior parte homens
com idade superior a 40 anos. No Brasil, estima-se o risco de aproximadamente sete casos
para cada grupo de 100 mil homens, e 0,75 a cada 100 mil mulheres, em 2014, o que
representou 6.870 novos casos em homens e 770 em mulheres no respectivo ano.
O nicho de doenças respiratórias encontra forte ligação com a poluição do ar,
sobretudo a exposição de vias respiratórias à produtos químicos na forma de poeira, pó,
fuligem, vapores, fumaça, entre outros. Nesta perspectiva, as queimadas podem potencializar
e disseminar a ocorrência de doenças respiratórias entre os indivíduos (LAST, 1986;
PANDEY, 1989).
Apesar de toda problemática ligada às queimadas, incêndios e emissão de poluentes
sobre a saúde das pessoas, nota-se que no Brasil tal prática é bastante comum, advindo do
setor agropecuário e industrial, ou mesmo da própria ação direta dos agentes. No setor
canavieiro brasileiro, por exemplo, observa-se as constantes queimadas, emissões de fumaça e
fuligem no ar. Como consequências, tem-se expressiva piora na saúde das pessoas, resultando
em aumento da incidência de doenças respiratórias nas regiões atingidas (RIBEIRO, 2008).
Ademais, nos grandes centros urbanos, tem-se ainda os perversos efeitos da poluição
ligados à ação das fábricas e automóveis. Logo, há evidências em favor da hipótese de
potencial relação entre doenças respiratórias e regiões mais industrializadas. As queixas
pulmonares aparecem de forma mais acentuada entre os indivíduos residentes próximos a
complexos industriais (LOUREIRO, 1976; CARVALHO et al., 1986).
Nessa mesma linha, Love et al. (1982), estudando as famílias expostas ao dióxido de
nitrogênio, constataram que a mortalidade reduziu próximo de um terço em um período de
greve. Já Saric et al. (1981) mostraram que moradores de regiões mais poluídas possuíam
62
fluxo expiratório inferior, além de ocorrência maior de doenças respiratórias,
comparativamente às outras áreas menos poluídas.
As regiões dotadas de maior potencial de industrialização são famosas por atrair
expressivos contingentes populacionais em busca de oportunidade de trabalho e melhores
condições de vida. No entanto, não raramente, observa-se efeitos indesejáveis decorrentes das
condições insalubres de moradia e trabalho a que tais indivíduos são expostos, podendo
chegar, inclusive, à ocorrência de doenças mortais. Neste contexto, em São Paulo, a
incidência de mortalidade ocasionada por infecções respiratórias é significativa e ocupa a
terceiro maior causa na população infantil (CHIESA; WESTPHAL; AKERMAN, 2008).
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2014) foram registradas
22.319 mortes por doenças respiratórias no estado, atingindo 95,57% dos municípios, com
uma média de 34,6 mortes por município.
Em relação ao estado da Paraíba, foco desse estudo, dados do IBGE (2013) apontam a
incidência de mortes por doenças respiratórias em 77,13% de seus municípios, em 2013. Tais
dados expressam uma média de 8,31 mortes por município, ou 47,36 mortes para cada grupo
de 100 mil habitantes. As mortes observadas em 2013, nesse estado, somam 1.854 casos. Já
em 2005, o total de óbitos por tal motivação era de 1.249, média de 5,6 mortes por município
e um percentual de 69,06% de municípios afetados. Dessa forma, entre 2005 e 2013, houve
um aumento de 32,7% na quantidade de mortes relacionadas às doenças respiratórias, sendo
que nesse mesmo lapso temporal o crescimento populacional do estado não atingiu sequer
10%.
A OMS (2007) destaca que, no longo prazo, a incidência de doenças crônicas passam
a surtir efeito direto no status econômico e nas oportunidades de emprego dos agentes. Assim,
tal enfermidade desencadeia expressiva redução de rendimentos em toda família devido à
perda de produtividade provocada pela doença, ou mesmo pela morte do indivíduo. O
problema ocasiona ausência de salários por parte de famílias adultas, ao passo que estes têm
de cuidar dos doentes, o que desencadeia redução na renda futura familiar. Já os componentes
mais jovens da família, acabam abandonando a escola para poderem cuidar dos adultos
acometidos com a enfermidade, ou mesmo procuram emprego para poderem contribuir com a
renda domiciliar.
Diante do exposto, nota-se que o problema de saúde, devido às consequências das
doenças respiratórias nas famílias, é também de natureza econômica, podendo afetar o próprio
potencial de crescimento do país. Frente a tal problemática, tem-se que a mortalidade nos
municípios pode ser influenciada por uma série de fatores: nível de poluição e precipitação,
estrutura e quantidade de profissionais existentes para atender pessoas acometidas, renda dos
agentes envolvidos, estrutura do lar (como existência de coleta de lixo e saneamento) tipo de
residência que o indivíduo habita (taipa ou tijolo) entre outros.
Tendo em vista o que foi discutido, o objetivo do presente estudo é analisar a
influência do clima e da poluição sobre a mortalidade ocasionada por doenças respiratórias na
Paraíba. Uma metodologia que se adequa bem aos dados encontrados em tal problemática é a
análise a partir de instrumentos econométricos espaciais. Com este mecanismo analítico é
possível capturar possíveis relações entre variáveis socioeconômicas municipais e as suas
respectivas influências sobre a mortalidade por doenças respiratórias. Tal modelagem permite
ainda captar possíveis influências de características de algum município nas taxas de
mortalidade de seus vizinhos, uma vez que considera os efeitos dos transbordamentos
espaciais. Cabe ainda ressaltar que a presente pesquisa é inovadora, uma vez que é realizada
para todos os municípios do estado e incorpora características locais dos mesmos na
explicação da morbidade por doenças respiratórias.
O artigo está dividido em quatro seções, além desta introdução e das conclusões. Na
seção seguinte são contemplados os aspectos gerais da economia da saúde. A terceira seção
63
contém a metodologia e o banco de dados utilizado. Na quarta, são apresentados e discutidos
os principais resultados encontrados.
2. A Ciência Econômica e a Saúde
No mundo moderno, conceitos como otimização, eficiência, custo/eficácia e
viabilidade econômico-financeira têm se tornado cada vez mais frequentes, uma vez que a
escassez de recursos é um problema recorrente entre os agentes econômicos (famílias,
empresas e governo). Alocar corretamente seus recursos escassos deve ser missão preliminar
de qualquer instituição pública ou privada que pretenda otimizar dotações e atingir o máximo
de resultado com o mínimo de insumos.
Os estudos construídos à luz da economia da saúde devem ser entendidos como um
modo de pensar que tem a ver com a consciência da escassez, a imperiosidade das escolhas e
a necessidade de tomadas de decisões precedidas por avaliação dos custos e das
consequências das alternativas possíveis, com vista a melhorar a repartição final dos recursos
(CAMPOS, 1985). A Ciência Econômica se preocupa com a administração dos recursos
escassos. Assim, direcionar o acesso aos serviços de saúde, discutindo questões relevantes
como equidade e distributividade, são procedimentos típicos em economia e ilustram como os
conceitos dessa ciência podem ser aplicados ao setor da saúde (CULYER, 1978).
Folland, Goodman e Stano (2009) mostram que o setor de saúde apresenta expressiva
importância na geração de empregos, representando aproximadamente 10% dos empregos
gerados nos Estados Unidos no ano de 2003. No Brasil, dados do DATASUS (2010) apontam
que, no ano de 2010, contabilizando apenas médicos, odontologistas e enfermeiras, somava-se
884.391 profissionais. No entanto, existem outros profissionais envolvidos, tais como
nutricionistas, fisioterapeutas, educadores físicos, farmacêuticos, biomédicos entre outros
diversos técnicos pertencentes ao setor. Assim, todos estes profissionais formam um setor de
importante impacto na geração de emprego e renda para a economia brasileira.
Além disso, nota-se a relevância da economia da saúde também ao buscar quantificar
as perdas advindas da ação das doenças sobre a produção e a geração de renda. Logo, o
acometimento do trabalhador por determinada doença acarreta uma série de possíveis
desencadeamentos: afastamento temporário ou permanente, mudança permanente ou
temporária de atividade, paralização de estudos e perda de produtividade, entre outros.
Neste contexto, Torgal (2007) destaca que no ano 2000, estimou-se que os fatores de
risco no local de trabalho foram responsáveis por 37% de dores lombar no mundo, 16% de
perdas de audição, 13% de doenças pulmonares obstrutivas crônicas, 11% de asma, 8% de
ferimentos, 9% de cancros do pulmão e 2% de leucemia. Tais riscos no trabalho provocaram
850 000 mortes em todo o mundo e resultaram na perda de cerca de 24 milhões de anos de
vida saudável. Em tempo, destaca-se que o trabalhador pode ainda ser afetado por doenças de
seus familiares, uma vez que podem ter que se ausentar para tratá-los. Portanto, todos os
acontecimentos destacados afetam a produtividade dos agentes e desencadeiam efeitos
negativos de longo prazo na geração de renda e, por fim, voltam a afetar os indivíduos de
maneira circular.
3. Aspectos Metodológicos
64
3.1 Fonte e Descrição dos Dados
As informações referentes à mortalidade por doenças respiratórias na Paraíba são
provenientes de uma amostra obtida pelo IBGE (2014). Por sua vez, os dados de precipitação
utilizados na presente pesquisa são oriundos da Agência Executiva de Gestão das Águas do
Estado da Paraíba (AESA,2014).
Quadro 1: Variáveis da Pesquisa
Variável Dependente
Taxa de mortalidade (por grupo de 100 mil habitantes) causadas por doenças respiratórias em cada município
paraibano em 2014.
Variáveis Explicativas Sinal
Densidade Pluviométrica é a quantidade de chuva por quilômetro quadrado caída em terra (AESA,
2014). Acredita-se que tal variável pode reduzir poeira, pó, fuligem, clima seco entre outros. -
Percentual de famílias convivendo com fezes e urina a céu aberto (dados de dezembro de 2014). Tais
dados não mudam muito ao longo dos meses e representam bem os demais meses do ano (SIAB-
DATASUS). +
Percentual de famílias convivendo sem coleta de lixo (dados de dezembro de 2014). Tais dados não
mudam muito ao longo dos meses e representam bem os demais meses do ano (SIAB-DATASUS). +
Percentual da população que reside no meio urbano. O dado para o ano de 2014 foi elaborado a partir
da proporção observada no censo (2010) vezes a estimativa populacional do ano de 2014 (IBGE). +
Percentual de famílias residente em casas de taipa (revestida ou não) (dado de dezembro de 2014).
Tais dados não mudam muito ao longo dos meses e representam bem os demais meses do ano
(SIAB-DATASUS). +
Renda per capita municipal (TABNET-DATASUS). - Equipamento físicos disponíveis no SISTEMA Único de Saúde (SUS) por mil habitantes (dado de
dezembro de 2014). Tais dados não mudam muito ao longo dos meses e representam bem os demais
meses do ano (TABNET-DATASUS). -
Dummy de mesorregião - busca capturar o diferencial da taxa de mortalidade por doença respiratória
em comparação com a Mesorregião da Zona da Mata. Na Mata Paraibana, observa-se o maior parque
industrial do estado (empresas produtoras de cimento, cerâmica, tijolos entre outros). Maior
concentração de plantações de cana-de-açúcar e que utiliza a queima no processo de colheita. Na
mesma região, tem-se expressivo contingente populacional e automobilístico levando a acreditar em
maior poluição comparativamente as demais regiões.
-
Fonte: elaboração própria dos autores a partir dos dados do IBGE (2014), AESA (2014) e DATASUS (2014).
Os demais dados, todos referentes a 2014, advêm do Sistema de Informação da
Atenção Básica (SIAB) e do Informações de Saúde (TABNET) pertencente ao DATASUS.
As variáveis utilizadas e seus respectivos sinais esperados são apontados no Quadro 1. A
presente pesquisa não busca encerrar a discussão acerca da mortalidade por doenças
respiratórias nos municípios paraibanos. Busca-se apenas reunir explicação aceitável,
modelando diferentes características municipais para facilitar, ao menos no curto prazo, a
implementação de políticas públicas mais eficientes e ajustadas no setor. Assim, a presente
pesquisa não deve causar contentamento e sim incentivar novas buscas por melhores
resultados.
3.2 Estratégia Empírica
A estratégia empírica adotada nesse estudo consiste na estimação de modelos
econométricos espaciais, indicados sob a hipótese de transbordamentos espaciais e dados
65
espacialmente intensivos. A omissão do efeito de transbordamento pode levar a resultados
enganosos e conclusões irreais acerca de determinado evento. Logo, a modelagem espacial
tem como objetivo especificar, estimar, testar e prever modelos teóricos influenciados por
efeitos espaciais, diferindo da abordagem tradicional por incorporar efeitos espaciais tanto na
estimação quanto no teste de hipótese e previsão dos modelos (ALMEIDA, 2012).
3.2.1 Análise Exploratória de Dados Espaciais (AEDE)
Antes de realizar as estimativas dos modelos econométricos, é interessante apresentar
uma análise exploratória da mortalidade por doenças respiratórias na Paraíba. Assim,
objetiva-se analisar previamente a estrutura espacial dessa variável nos municípios do referido
estado. Na perspectiva de Anselin (1999), a AEDE permite descrever e visualizar padrões
espaciais, identificar localidades atípicas (outliers espaciais) e descobrir padrões de
associação espacial (clusters espaciais). A estatística espacial pode servir para avaliar
quantitativamente o comportamento de agentes heterogêneos e sua interação com outros
indivíduos igualmente heterogêneos no espaço (ALMEIDA, 2012).
Os efeitos espaciais causados, sobretudo, pela autocorrelação espacial e
heterogeneidade espacial podem ser identificadas por meio de testes específicos. A AEDE é a
mais indicada na investigação de variáveis densas ou intensivas (ALMEIDA, 2012). A
tendência de correlação espúria entre as variáveis extensivas e a área ou população total da
região analisada podem conduzir a resultados enganosos (ANSELIN, 2005). A AEDE testa
hipótese de dados aleatoriamente distribuídos em que os valores de um atributo de
determinada região não dependem dos valores do mesmo atributo nas regiões vizinhas
(ALMEIDA, 2012).
Moran (1948) elaborou um indicador de autocorrelação espacial capaz de realizar
consistentemente a AEDE. A estatística I de Moran pode ser utilizada na detecção da
autocorrelação espacial global. Tal indicador pode ser representado por meio de um valor
único representando o grau de associação espacial presente nos dados. Formalmente, o I de
Moran Global univariado pode ser expresso da seguinte forma:
𝑰 = 𝑁
∑ ∑ 𝑤𝑖𝑗𝑗𝑖 ∑ ∑ 𝑤𝑖𝑗𝑗𝑖 (𝑦𝑖𝑡 − �̅�𝑡)(𝑦𝑗𝑡 − �̅�𝑡)
∑ (𝑦𝑖𝑡 −𝑖 �̅�𝑡)2 (1)
Salienta-se que 𝑁 é o número de regiões, 𝑤𝑖𝑗 são os elementos da matriz de pesos
espaciais (𝑾), 𝑦𝑖𝑡 é a observação na região 𝑖 no período 𝑡 e �̅�𝑡 é a média das observações
entre as regiões no período 𝑡. Conforme Anselin (1995), a matriz 𝑾 contempla as
informações referentes à dependência espacial entre as 𝑁 regiões 𝑖. Os elementos 𝒘𝑖𝑗 indicam
a associação espacial entre as regiões 𝑖 e 𝑗, sendo os elementos na diagonal principal iguais a
zero. Assim, dadas as considerações acima efetuadas, tem-se que a estatística de Moran
assume valores entre 1 e -1 e possui valor esperado igual a:
𝐸[𝐼] = − [1
(𝑛 − 1)] (2)
66
Da equação (2) têm-se duas informações bastante relevantes. Inicialmente, nota-se que
essa equação representa o valor obtido quando não há padrão espacial nos dados.
Secundariamente, nota-se que tal estatística se aproxima de zero quando o número de
municípios aumenta muito (n → ∞). Portanto, valores positivos de I que excedem E[I]
indicam autocorrelação espacial positiva, enquanto valores de I abaixo do E[I] sinalizam
autocorrelação espacial negativa.
Apesar da eficiência em mapear globalmente a incidência de autocorrelação espacial, a
utilização do teste de Moran global pode deixar de captar padrões espaciais locais
significantes (clusters e outliers) em algumas regiões (ANSELIN, 1995). Nesse sentido,
Anselin (1995) aponta que é possível encontrar um teste de associação espacial local a partir
de fragmentos do teste de Moran global. A análise da autocorrelação espacial local pode ser
efetuada utilizando o I de Moran Local, que é um indicador LISA (Local Indicator of Spatial
Association). Segundo Anselin (1995), o LISA fornece indicação de clusters ou agrupamentos
espaciais significativos de valores semelhantes em torno de certa observação. Neste contexto,
o LISA para cada região 𝑖 e período 𝑡 pode ser expresso por:
𝑰𝑖 =(𝑦𝑖𝑡 − �̅�𝑡) ∑ 𝑤𝑖𝑗(𝑦𝑗𝑡 − �̅�𝑡)𝑗
𝑚0 (3)
Em que 𝑚0 =∑ (𝑦𝑖𝑡−�̅�𝑡)2
𝑖
𝑁 .
Sendo assim, conforme a equação (3), valores positivos de 𝑰𝑖 devem indicar presença
de agrupamentos de valores similares entre si. Por outro, valores negativos indicam presença
de agrupamentos de valores relativamente dissimilares.
Em tempo, destaca-se que a AEDE deve funcionar como ponto de apoio para a
estimação econométrica, pois possibilita ex ante a constatação de indícios de autocorrelação
espacial, sendo que tal fato é devidamente confirmado apenas a partir das estimações dos
modelos espaciais.
3.2.2 Abordagem Econométrica
Os efeitos dos transbordamentos espaciais causam restrições ao processo de
estimação, e sob a ação de tais efeitos tem-se que o Modelo Clássico de Regressão Linear
(MCRL) apresenta limitações que desencadeiam inconsistência e/ou ineficiência dos
estimadores (ANSELIN, 1988; ANSELIN; BERA, 1998). A estimação do MCRL no contexto
de dependência espacial é um processo que possibilita apenas verificar como a dependência
espacial toma forma: se na defasagem da variável dependente, independente e/ou na
defasagem do termo de erro.
A ação da dependência espacial pode ser constatada por meio dos testes do
Multiplicador de Lagrange e Multiplicador de Lagrange Robusto3, tais testes são capazes de
avaliar as hipóteses nulas dos parâmetros espaciais serem iguais a zero. No modelo de lag
3 Para mais informações consultar Florax, Folmer e Rey (2003).
67
e/ou erro espacial, se a hipótese nula não é rejeitada, então tem-se inexistência de dependência
espacial agindo sobre os dados. Partindo do modelo espacial geral:
𝑦 = 𝜌𝑊1𝑦 + 𝑋𝛽 + 𝜆𝑊2𝑢 + 𝜀 (4)
Em que: 𝑾𝒚 é um vetor 𝑁 × 1 de defasagens espaciais para a variável dependente e ρ é o seu
respectivo coeficiente autorregressivo espacial; 𝑿 é uma matriz de variáveis independentes
exógenas e 𝜷 o vetor de coeficientes associados; 𝝀 é o coeficiente de erro autorregressivo
espacial que acompanha a defasagem 𝑾𝒖; e ɛ é o termo de erro do modelo. Por fim, tem-se
que W1 e W2 são as matrizes de pesos espaciais, respectivamente associadas a um processo
autorregressivo na variável dependente e no termo erro.
As estatísticas espaciais (Local, Global e modelos Econométricos) são elaboradas
admitindo determinada matriz de ligação. No presente estudo, considera-se uma matriz de
vizinhança do tipo Queen de primeira ordem normalizada na linha. Portanto, utiliza-se a
matriz binária de pesos espaciais (W) que atribui valor um para o caso em que dois
municípios são vizinhos e valor zero no caso contrário.
A partir da equação (4), tem-se que se ρ ≠ 0 e λ = 0 a modelagem poderá ser feita na
forma de lag espacial (modelo lag). No entanto, se ρ = 0 e λ ≠ 0, tem-se apenas o modelo com
erro espacial. Por fim, se ρ ≠ 0 e λ ≠ 0 o modelo autorregressivo espacial pode ser tanto na
variável dependente quanto no erro (SARMA).
4. Resultados
4.1 Estatísticas Descritivas
Na Tabela 1, apresenta-se as estatísticas descritivas da mortalidade por doença
respiratória nos municípios paraibanos. Os dados levam em conta as diferenças de gênero e
permitem constatar que a média da mortalidade de homens é sensivelmente menor que de
mulheres no estado (3,64 versus 3,68). Em 2014, os dados apontam que 75 municípios
(33,63%) não apresentaram ocorrência de morte por doença respiratória em indivíduos
homens.
Tabela 1: Diferencial por Gênero na Vitimização por Doença
Respiratória nos Municípios da Paraíba (2014) Homens Mulheres Total
Média 3,64 3,68 7,32
Desvio Padrão 14,53 15,66 30,05
Máximo 167 199 366
Mínimo 0 0 0
Soma dos casos de morte 811 821 1.632
Contagem de Municípios 223 223 223
Fonte: elaboração própria dos autores a partir dos dados do IBGE (2014)
Entre as mulheres, tem-se que não foram registrados casos de mortes pela mesma
doença em 77 municípios (34,53%). Na presente análise, leva-se em conta apenas a
68
ocorrência ou não de casos de mortes por essa doença no município. Salienta-se que no
mesmo município pode ocorrer mais de uma morte do mesmo gênero, assim, entre os
municípios que apresentaram mortes, a maior parte (64,56%) atinge os homens.
Os municípios de João Pessoa, Campina Grande, Santa Rita, Bayeux e Cajazeiras
apresentaram as maiores quantidades de casos de morte, com 366, 232, 104, 56 e 51 casos
respectivamente4. A partir das estatísticas, nota-se que o diferencial de mortes entre homens e
mulheres não se mostra tão grande. No entanto, tais dados emanam especial atenção uma vez
que a variável em estudo é mortalidade e tais casos podem afetar outros seguimentos, como o
mercado de trabalho, a estrutura familiar e os rendimentos. Por sua vez, nota-se que três
dentre os cinco municípios de maior quantidade de mortalidade dividem fronteiras entre si,
apontando indícios de transbordamentos do fenômeno em questão.
Considerando mortes por 100 mil habitantes, elabora-se na Tabela 2 as estatísticas da
taxa de mortalidade por doenças respiratórias em cada mesorregião do estado da Paraíba, em
2014. A maior quantidade de municípios paraibanos está na mesorregião do Sertão (83),
seguido pelo Agreste (66), Borborema (44) e Zona da Mata (30). Constata-se que a taxa de
mortalidade média municipal por 100 mil habitantes da mesorregião da Borborema (33,94) e
do Sertão (26,17) são inferiores à média estadual. Já a Zona da Mata (38,55) e o Agreste
(41,95) apresentam valores acima dessa média com destaque para segunda região.
Tabela 2: Taxa de Mortalidade (por 100 mil habitantes) Ocasionada por Doenças
Respiratória nas Mesorregiões e no Estado da Paraíba (2014)
Zona da Mata Agreste Borborema Sertão Paraíba
Média 38,55 41,95 33,94 26,17 34,04
Desvio Padrão 18,33 21,75 26,65 30.43 26,58
Máximo 77,70 89,90 134,00 194,90 194,90
Mínimo 12,50 0 0 0 0
Total (ocorrências) 691 616 100 231 1.638
Total (municípios) 30 66 44 83 223
Fonte: elaboração própria dos autores a partir dos dados do IBGE (2014), AESA (2014) e DATASUS (2014).
Como observado, a mortalidade por doenças respiratórias não se distribui
igualitariamente entre as regiões do estado. A maior média de casos registrados encontra-se
na mesorregião do Agreste, seguida pela Zona da Mata, Borborema e Sertão. Aparentemente,
as mortes ocorridas na Paraíba sofrem efeitos advindos de características das próprias regiões
analisadas, podendo ser explicadas por uma série de fatores, tais como características
socioeconômicas, ambientais, culturais e estruturais.
A distribuição espacial das doenças por morte respiratória é representada pela Figura
1, que classifica as taxas de mortalidade por 100 mil habitantes em cinco grupos distintos.
Conforme enunciado anteriormente, não há uma distribuição homogênea da referida taxa
entre os municípios do estado.
4 Como a quantidade total de mortes estadual para o mesmo ano é de 1.632, tem-se a proporção para os
municípios de João Pessoa (24,43%), Campina Grande (14,22%), Santa Rita (6,37%) e Bayeux (3,43%)
respectivamente
69
Figura 1: Mapa Temático da Taxa de Mortalidade por Doença Respiratória
0 – 12,51 12,52 – 26,43 26,44 – 37,5 37,6 – 55,27 55,28 – 194,86
Fonte: elaboração própria dos autores a partir dos dados do IBGE (2014), utilizando o software IpeaGeo.
Como visto, o mapa já fornece alguns indícios de que municípios com baixas/altas
taxas de mortalidade por doenças respiratórias encontram-se, de forma geral, próximo de
municípios com valores similares dessa mesma variável.
A Tabela 3, por seu turno, apresenta as estatísticas descritivas da variável de interesse
(mortes por doença respiratória por 100 mil habitantes) e das variáveis explicativas, conforme
descritas no Quadro 1. Tem-se, dessa forma, que a média de mortes por doença respiratória é
de 34,04 por 100 mil habitantes na Paraíba, tendo municípios que chegaram a registrar quase
195 casos.
Tabela 3: Estatísticas Descritivas da Base de Dados (Paraíba – 2014)
Variável Média Desvio-Padrão Mínimo Máximo
Mortes por 100 mil hab. 34,04 26,58 0 194,90
Densidade Pluviométrica 693,95 34,11 0 2.437,40
% de famílias (fezes e urina a céu aberto) 0,07 0,10 0 0,91
% de famílias (sem coleta de lixo) 0,05 0,04 0 0,18
% de famílias que reside na área urbana 0,56 0,18 0,09 0,99
% de famílias (casas de taipa, revestida ou não) 0,01 0,01 0 0,07
Renda per capita municipal (R$) 7.487,77 3.504,12 4.545,91 32.977,22
Equipamentos Físicos (SUS) por 1.000 hab. 4,62 14,69 0,03 143,83
Dummy (Zona da Mata) 0,13 0,34 0 1
Dummy (Agreste) 0,30 0,46 0 1
Dummy (Borborema) 0,20 0,40 0 1
Dummy (Sertão) 0,37 0,48 0 1
Fonte: elaboração própria dos autores a partir dos dados do IBGE (2014), AESA (2014) e DATASUS (2014).
Finalmente, é importante ter em mente que tais estatísticas não permitem tirar
conclusões definitivas acerca do problema. Para garantir maior robustez nos resultados, torna-
se fundamental a implementação de instrumentos mais contundentes, como a estimação de
modelos econométricos adequados para tratar a espacialidade presente nos dados.
70
4.2 Resultados da AEDE
Existem testes que podem ser utilizados para a constatação da dependência espacial de
determinada variável. Nessa linha, Almeida (2012) destaca os indicadores de Moran (1948),
Geary (1954) e o indicador de Getis e Ord (1992). Apesar de apresentarem resultados
relativamente similares, o I de Moran aparece com maior frequência nos trabalhos
acadêmicos. Adicionalmente, também é possível incorporar às análises espaciais os
Indicadores de Segregação (IS), propostos por Duncan e Duncan (1955). Com esse último,
pode-se verificar a dispersão e medir a proporção da população que deveria se mudar para
outras áreas para que a composição populacional relativa das mortes por doenças respiratórias
se tornasse homogênea. O IS varia entre zero e um, sendo zero a ausência de segregação em
que a população é distribuída homogeneamente ao longo do território. Por outro lado, quanto
maior for seu valor, menor será a dispersão da população (CARVALHO et al., 2013).
Na Tabela 4, encontram-se os resultados dos indicadores de Moran e de segregação
espacial da mortalidade por doença respiratória na Paraíba. O valor do I de Moran foi obtido
considerando 95% de confiança e 1000 permutações aleatórias. Como pode ser observado,
deve-se rejeitar a hipótese nula de aleatoriedade espacial nos dados. Esse resultado reforça a
ideia de dados globalmente dependentes, sugerindo que a mortalidade por doença respiratória
apresenta distribuição desigual entre os municípios do estado.
Os indicadores espaciais de segregação confirmam o aspecto desigual da distribuição
das mortes por doenças respiratórias na Paraíba. Assim, tem-se que cerca de 58% das
incidências de mortes deveriam mudar de local de ocorrência para que sua distribuição fosse
considerada homogênea no espaço. Tais valores, juntamente com o observado no I de Moran,
apontam que municípios com alta taxa de mortalidade estão mais associados a outros de alta
taxa de mortalidade, enquanto que municípios com baixa taxa de mortalidade se localizam nas
proximidades de outros que também apresentam baixa taxa de mortalidade.
Tabela 4 – Indicadores de Moran e de Segregação Espacial da Mortalidade por
Doença Respiratória na Paraíba (2014)
Dependência Espacial Global Univariada
I de Moran 0,467
P-valor 0,010
Indicadores Espaciais de Segregação
I de Segregação 0,576
I de Segregação Ajustado por Contiguidade 0,576 Fonte: elaboração dos autores a partir de dados da pesquisa
Como se sabe, o indicador de autocorrelação espacial global pode ser ineficiente para
capturar alguns padrões locais significantes, tais como os clusters e os outliers espaciais.
Neste contexto, pode-se utilizar o indicador LISA. Tal indicador de associação espacial
possibilita capturar localmente possíveis padrões de autocorrelação espacial camuflados, bem
como identificar agrupamentos de objetos com valores de atributos semelhantes entre si
(ANSELIN, 1995).
O mapa temático do LISA (Figura 2) é composto por cinco cores distintas, cada qual
representando um tipo de associação espacial. Como visto, o indicador de autocorrelação
espacial local demonstra a formação de diversos conglomerados de municípios ao longo do
71
estado. Salienta-se que as relações do tipo Alto-Alto e Baixo-Alto se concentram, sobretudo,
envolvendo o município de João Pessoa e no entorno de Campina Grande, situados nas
mesorregiões da Zona da Mata e Agreste, respectivamente. Por sua vez, os municípios com
relação Baixo-Baixo e Alto-Baixo se localizam, em sua maioria, nas mesorregiões da
Borborema e Sertão paraibano.
Figura 2 – LISA da mortalidade (por 100 mil habitantes) por doença
respiratória na Paraíba (2014)
Fonte: elaboração dos autores a partir de dados da pesquisa e utilizando o software IpeaGeo.
Em suma, os resultados expostos até o momento sinalizam que os dados referentes à
mortalidade por doença respiratória no estado da Paraíba, em 2014, apresentam distribuição
espacial não aleatória. Esse fenômeno foi constatado tanto pelo indicador de dependência
espacial global, quanto pelo LISA.
4.3 Resultados dos Modelos Econométricos
Na Tabela 5 encontra-se o resultado da estimação do MCRL. Inicialmente, é possível
constatar, por meio do resultado significativo encontrado no I de Moran (8,714), que há sinais
de associação espacial nos dados, indicando uma distribuição não aleatória da mortalidade por
doença respiratória ao longo do território paraibano. Logo, tal verificação invalida os
estimadores do MCRL, tornando-se necessário recorrer a modelos que possam incorporar
eficiente e consistentemente os efeitos dos transbordamentos espaciais.
Comumente, a escolha dentre modelos econométricos pode ser realizada a partir da
utilização dos critérios de informação de Akaike (AIC) e Schwarz (BIC), bem como maior
valor da função de verossimilhança (LIK). No entanto, Almeida (2012) argumenta que os
resultados do teste do Multiplicador de Lagrange (ML) e Multiplicador de Lagrange Robusto
(MLR) são suficientes para identificar como a dependência espacial toma forma no espaço: na
defasagem e/ou nos erros.
72
Tabela 5 - Estimação do MCRL
Variáveis Coeficiente P-valor
Constante 95,839** 0,114
Densidade Pluviométrica 0,156** 0,036
% de famílias (fezes e urina a céu aberto) 0,254*** 0,000
% de famílias (sem coleta de lixo) 0,148** 0,034
% de famílias que reside na área urbana 0,121** 0,046
% de famílias (casas de taipa, revestida ou não) 0,111** 0,017
Renda per capita municipal -1,62** 0,010
Equipamentos Físicos (SUS) por 1.000 hab. -1,86 0,110
Dummy Agreste -0,93 0,121
Dummy Borborema -0,82* 0,163
Dummy Sertão -1,03** 0,235
Diagnóstico da Regressão
Multicolinearidade 7,278 -
Teste Jarque-Bera 10,312* 0,065
Teste Breusch-Pagan 12,538* 0,074
Diagnóstico da dependência espacial
I de Moran no Erro do MCRL 8,714*** 0,000
ML𝜌 (defasagem) 47,237*** 0,000
MLR𝜌 (defasagem robusta) 19,977*** 0,000
ML𝜆 (erro) 54,325*** 0,000
MLR𝜆 (erro robusto) 1,939 0,164
ML(SARMA) 67,113 0,135
Fonte: elaboração própria a partir dos dados da pesquisa. Notas: *** significante a
1%; ** significante a 5%; * significante a 10%.
Como visto, os critérios do ML da defasagem (ML𝜌 = 47,237) e da defasagem robusta
(MLR𝜌 = 19,977) sugerem que o modelo Spacial Auto Regressive (SAR) é a forma funcional
mais adequada para tratar o problema dos transbordamentos existentes na mortalidade por
doença respiratória na Paraíba.
Os resultados encontrados até o presente servem apenas para direcionar o processo de
estimação dos modelos espaciais. A Tabela 6 apresenta os resultados da estimação do modelo
espacial SAR por meio do método de Máxima Verossimilhança (MV). Esse modelo apresenta
coeficiente autorregressivo (𝜌 = 0,658) positivo, sugerindo que municípios com alta/baixa
taxa de mortalidade por doença respiratória estão localizados na vizinhança de outros com
mesma característica.
Entre todos os coeficientes estimados apenas a densidade pluviométrica não
apresentou o sinal esperado. Os demais, além de estatisticamente significativos, apresentam o
sinal esperado pela literatura. Neste contexto, tem-se que a densidade pluviométrica, o
percentual de famílias convivendo sem rede de esgoto (fezes e urina a céu aberto), o
percentual de famílias sem coleta de lixo, o percentual de famílias vivendo em áreas urbanas e
o percentual de famílias vivendo em casas de taipa afetam positivamente a ocorrência de
mortalidade por doença respiratória na Paraíba. Neste contexto, Goulart (2011) argumenta que
a situação que DCNT, como as respiratórias, podem ser agravadas por esse processo rápida de
transição demográfica ocorrido em diversos países do mundo, assim como o Brasil.
73
Tabela 6 - Estimativa do Modelo Espacial SAR (MV) Variáveis Coeficiente Prob.
Constante 25,068*** 0,000
𝜌 0,658*** 0,000
Densidade Pluviométrica 0,177** 0,028
% de famílias (fezes e urina a céu aberto) 0,289*** 0,001
% de famílias (sem coleta de lixo) 0,168** 0,046
% de famílias que reside na área urbana 0,138** 0,022
% de famílias (casas de taipa, revestida ou não) 0,126** 0,015
Renda per capita municipal -1,844** 0,010
Equipamentos Físicos (SUS) por 1.000 hab. -1,937* 0,101
Dummy 1 (Agreste) -1,058 0,176
Dummy 2 (Borborema) -0,96* 0,149
Dummy 3 (Sertão) -0,72* 0,168
Diagnóstico da dependência espacial (resíduos estimados)
Likelohood Ratio Test 47,245*** 0,000
Fonte: elaboração própria a partir dos dados da pesquisa Notas: *** significante a
1%. ** significante a 5%. * significante a 10%.
Já a renda per capita municipal e a quantidade de equipamentos físicos disponíveis no
Sistema Único de Saúde (SUS) apresentam relação negativa com a referida taxa de
mortalidade.
Por fim, os sinais apresentados pelas Dummies regionais em relação à Zona da Mata
sugerem taxa de mortalidade menores. Esse resultado, sinaliza que as características locais
das mesorregiões reduzem suas respectivas taxas de mortalidade por doenças respiratória. A
Zona da Mata apresenta mais de um terço de toda população paraibana, além de concentra a
maior parte de indústrias, sobretudo produtores de cimento, cana de açúcar e cerâmica. Ela
também possui uma expressiva frota veicular que contribui com disseminação da poluição por
meio da emissão de gases tóxicos. Nesta perspectiva, acredita-se que esse perfil pode
impulsionar o nível de poluição provocado pela emissão de gases, poeira e fuligem. Todas
esses podem levar ao surgimento ou piora na incidência de doenças relacionadas ao sistema
respiratório.
Os modelos espaciais podem ser testados pós estimação. Assim, há como elaborar
procedimento que mostra se a modelagem utilizada foi capaz de resolver toda a fonte de
dependência espacial. Nesta perspectiva, o melhor modelo será aquele que não apresentar
evidências de autocorrelação espacial. Nesse caso, pode-se utilizar o teste Likelihood Ratio
para identificar possível incidência de autocorrelação espacial nos resíduos do modelo
espacial estimado. Como visto, o modelo SAR tratou robustamente o problema dos
transbordamentos espaciais contidos na taxa de mortalidade por doença respiratória na
Paraíba.
5. Conclusões
O artigo analisou a distribuição espacial da taxa de mortalidade por doença respiratória
nos municípios paraibanos. Constatou-se dependência espacial significativa associada ao
fenômeno, tornando necessário a utilização de instrumentos da econometria espacial. A
dependência espacial foi constatada global e localmente, apontando similaridade no primeiro
teste e a formação de diversos clusters no segundo. Logo, municípios com alta/baixa taxa de
74
mortalidade por doenças respiratória se encontram geograficamente próximos de outros que
também apresentam alta/baixa taxa de mortalidade.
As estimativas do modelo espacial permitem concluir que a mortalidade por doenças
respiratórias no estado da Paraíba está relacionada às áreas urbanas, de alta pluviosidade, com
baixo rendimento per capita e baixa quantidade de equipamentos disponíveis no SUS.
Continuamente, essa mortalidade aponta sinais de relação com as condições socioeconômicas
e de bem-estar urbano, tais como o percentual de famílias sem rede de esgoto e sem coleta de
lixo, assim como o percentual de famílias vivendo em casas de taipa.
A partir dos resultados expressos até o presente, destaca-se que as políticas públicas
elaboradas para reduzirem a taxa de mortalidade por doenças respiratória no estado deve levar
em consideração os seguintes aspectos: serem políticas focadas nas áreas urbanas de
municípios de baixo rendimento médio e com sistema de saúde com baixa quantidade de
equipamentos por habitante, e direcionado para famílias vivendo em ambientes sem coleta de
lixo e esgoto e com famílias vivendo em casas de taipa.
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77
UMA ANÁLISE SOBRE A DEPENDÊNCIA FAMILIAR DE JOVENS ADULTOS NO
BRASIL URBANO
Juliane da Silva Ciríaco
Doutoranda em Economia pelo Centro de Aperfeiçoamento de Economistas do Nordeste da
Universidade Federal do Ceará (CAEN-UFC). Correio Postal: Rua Coronel Bia, 1851, CEP:
62850-000. Centro, Cascavel-CE. E-mail: [email protected].
Fone (85) 99838-2279.
Otoniel Rodrigues dos Anjos Júnior
Doutorando em Economia pelo Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade
Federal da Paraíba (PPGE-UFPB). Correio Postal: Rua Radialista Antônio Assunção De
Jesus, 654, APT 202, CEP: 58052-230. João Pessoa-PB. E-mail: [email protected].
Fone (83) 98860-3463.
Priscila Silva Rodrigues
Doutoranda em Economia pelo Centro de Aperfeiçoamento de Economistas do Nordeste da
Universidade Federal do Ceará (CAEN-UFC). Correio Postal: Rua Dr. Perilo Teixeira, 945,
CEP: 60534080. Fortaleza-CE. E-mail:[email protected].
Fone: (85) 997899072.
78
RESUMO Este artigo tem como objetivo principal analisar de forma empírica os principais determinantes da
geração canguru no Brasil com base nos dados oriundos da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílio (PNAD), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para os anos
de 2002 a 2012. Para tal fim, utiliza-se um modelo logit para identificar os principais fatores atuantes
na probabilidade do indivíduo de 25 a 34 anos a habitar no ambiente familiar de origem, considerando
o delineamento do banco de dados. Para avaliar o impacto da incorporação do plano amostral sobre a
precisão das estimativas, realiza-se o processo exposto por Leite e Nascimento Silva (2002) com base
no modelo proposto por Kish (1965). Os resultados apontaram que o fato do jovem adulto ser homem,
possuir residência própria, mãe viva, e ser estudante, tende em aumentar a probabilidade do mesmo ser
canguru.
Palavras-chave: Demografia. Geração Canguru. Família.
ABSTRACT This article is meant to examine empirically the main determinants of kangaroo generation in Brazil
based on data from the Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) conducted by the
Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE) for years 2002 to 2012. To this end, it uses a
logit model to identify the main factors acting on the probability of an individual of 25 to 34 years to
live in the family environment of origin, considering the design of the database. To assess the impact
of the merger of the sampling plan for the accuracy of the estimates, is held by the exposed process of
Leite e Nascimento Silva (2002) based on the model proposed by Kish (1965). The results showed that
the fact of being young adult man, owning their own homes, living mother, and being a student, tends
to increase the likelihood of it being kangaroo.
Keywords: Demography. Kangaroo Generation. Family.
79
1 Introdução
Desde do início das civilizações modernas a célula familiar é considerada a mais
importante para determinar o comportamento humano e, sobretudo, para explicar as
transformações ocorridas na sociedade. As mudanças na organização e estrutura das famílias
tem impactado diretamente sobre as regras de funcionamento da sociedade, sendo capaz de
gerar mudanças na percepção dos indivíduos e, assim, criar novos padrões comportamentais
ao longo dos anos.
No apogeu dos anos 70 quanto mais jovem os indivíduos saiam de casa maior
seria a certificação de liberdade e independência. Contudo lá para cá muita coisa mudou,
sobretudo, porque o desenvolvimento da sociedade contemporânea atrelado, principalmente,
ao expressivo processo de transição demográfica tem ocasionado relevantes modificações nos
arranjos familiares e, consequentemente, mudado a concepção dos agentes. Logo, tal processo
fez com que aqueles lares ditos "tradicionais" compostos por uma grande quantidade de
indivíduos desse lugar a famílias menores e mais envelhecidas.
Nota-se, sobretudo, que as mudanças ocorridas na estrutura das famílias
brasileiras, principalmente, nas últimas cinco décadas foram reflexo direto das mudanças do
papel da mulher no seio familiar. Destaca-se que a necessidade de a mulher adentrar ao
mercado de trabalho proporcionou relevantes mudanças na organização e estrutura das
famílias brasileiras. Tal fato, possivelmente, proporcionou as recorrentes mudanças na
educação, tamanho, relação e, sobretudo, nas regras até então vigente na sociedade. Nos dias
atuais a mulher assume alguns papeis até então pertencentes efetivamente aos homens e isto
tem alavancado o desenvolvimento da sociedade, modernizando as ideias e permitido novas
interpretações das velhas regras sociais.
O jovem dos tempos modernos possui uma percepção do mundo bem diferente
daquela encontrada na juventude de outrora. Tal fato pode ter sido impulsionado pelas
mudanças comportamentais ocorridas dentro dos próprios lares brasileiros. Nota-se, por
exemplo, que se tornou comum jovens de idade adulta residirem com seus pais mesmo após
ter alcançado relativa estabilidade financeira, tal comportamento tem sido bastante retratado e
recorrentemente discutido na mídia, sobretudo, nas revistas, jornais, noticiários e até filmes.
Para Cobo e Saboia (2010) a decisão de morar no ambiente parental pode estar baseada em
justificativas e explicações diversas. A lista é grande e envolve desde questões de ordem
financeiras (custo habitacional), psicológicas (comodismo e Síndrome do Peter Pan) até
mesmo sócio demográficas (queda da taxa de fecundidade, aumento do número de divórcios).
80
Ressalta-se que o campo da justificativa é longo, abrangente e acaba incidindo em
uma série bastante diversificada de explicações plausíveis. Fato consensual, porém, é que tal
comportamento encontra, geralmente, apoio dos pais. Esta geração de jovens adultos que
prolongam a convivência com seus respectivos pais foi denominada, na literatura, de
"cangurus". Segundo Síntese de Indicadores Sociais (SIS, 2013) em levantamento baseado em
números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD, 2012), o Brasil detinha
aproximadamente 24,3% de indivíduos nesta situação (Jovem que residem com pai ou/e mãe)
em uma faixa etária de idade entre 25 a 34 anos. Dados da mesma pesquisa sugerem que
existe aumentos cada vez maiores de jovens nesta faixa de idade morando com os genitores
no país, em dez anos, houve aumento de aproximadamente quatro pontos percentuais. Sendo
assim, saltou de 20,5% no ano de 2002 para 24,3% em 2012. Apesar de parecer pouco, tais
mudanças comportamentais são o reflexo das variações nos costumes das famílias brasileiras
ao longo dos anos.
Diante do exposto, e sabendo que tal aspecto continua pouco explorado, pode-se
dizer que o presente artigo contribui atualmente para a literatura ao investigar em âmbito
nacional os principais determinantes da geração canguru entre os jovens de 25 a 34 anos,
levando em consideração as características individuais, familiares e geográficas. Para isto,
utiliza-se o modelo econométrico de ordem qualitativa, logit, utilizando como fonte de dados
a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) ao longo do período anual de 2002 a
2012, exceto por 2010 (ano do Censo Demográfico). Objetivando-se avaliar o impacto da
incorporação do plano amostral sobre a precisão das estimativas, realiza-se o processo
exposto por Leite e Nascimento Silva (2002) com base no modelo proposto por Kish (1965).
Em seguida, com o intuito de compreender quais os fatores são atuantes na evolução (ou
aumento) dos jovens adultos que habitam com pai e/ou mãe, realiza-se a técnica de
decomposição de Yun (2004).
Para a consecução do presente estudo, optou-se por dividir o artigo em quatro
partes, além desta introdução. A próxima contempla uma breve revisão de literatura sobre a
problemática. A terceira seção expõem-se a descrição e tratamento do banco de dados. E, por
fim, na quarta e quinta seção, reporta-se os principais resultados encontrados, ressaltando e
discutindo os aspectos relevantes como também ressaltando as devidas considerações finais.
2 Transição Demográfica versus Geração Canguru: Fatos Estilizados
As transformações demográficas ocorridas nas últimas décadas no país estão
relacionadas à elevação da expectativa de vida da população e à redução da taxa de
81
fecundidade (MOREIRA, 2001). Com a finalidade de observar mais detalhadamente a
evolução da estrutura demográfica no Brasil foi feita uma distribuição da população por faixa
de idade e sexo para os anos de 2002, 2012, 2022 e 2032, conforme a Figura 1. Percebe-se
que há um acentuado estreitamento da base da pirâmide ao longo das décadas, enquanto o
topo se torna cada vez mais largo. Tais mudanças repercutiram de forma clara e evidente
sobre diversos segmentos das áreas humanas, acompanhando os padrões expostos nos países
mais desenvolvidos. Em um sentido mais abrangente, as transformações relacionadas ao
cenário social, cultural, econômico, institucional e de valores (em especial, a maior inserção
da mulher no mercado de trabalho) afetaram a configuração dos lares brasileiros (MELLO;
CAMARANO; KANSO, 2010). Diante disto torna-se cada vez mais complexo a percepção
do conceito de juventude e transição para a fase adulta em que de forma geral é marcado pela
entrada no mercado de trabalho, universidade, constituição de uma família, independência
domiciliar e financeira.
A partir do século XXI vêm sendo realizados estudos brasileiros em alguns ramos
do conhecimento como economia, sociologia e psicologia, que permeiam sobre as
interconexões de elementos que podem influenciar na condição do jovem na conjuntura
familiar. A grande problemática ao se estudar a possível saída ou permanência dos jovens
adultos no lar parental consiste principalmente na falta de disponibilidade de dados
apropriados para análise, principalmente empírica, sendo ainda poucas as contribuições
técnicas, principalmente em países em desenvolvimento, em que boa parte dos estudos estão
dispostos na América do Norte e continente Europeu, (MORAIS; RÊGO, 2011; FILGUEIRA;
AMOROSO, 1997; DE VOS, 1989).
A Teoria do Apego visa fornecer um maior entendimento sobre a problemática,
ressaltando o leque de elementos psicodinâmicos que podem repercutir sobre o fenômeno.
Fatores como a separação dos pais e o cuidado inadequado na primeira infância pode gerar
desconfortos e ansiedades nas crianças, dificultando para os pais o futuro “lançamento dos
filhos ao mundo”. Compreende-se que um apego inseguro na infância pode causar alguns
temores em um jovem adulto frente a uma nova vida sem a presença dos pais, fazendo com
que o mesmo prolongue a permanência no lar parental adiando sua transição para um arranjo
totalmente independente (BOWLBY, 2002; ABREU, 2005; VIEIRA; RAVA, 2010).
82
Figura 1- Brasil: Pirâmides demográficas observada e projetada, em percentual.
2002-2032
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IBGE
Segundo Gallagher (2013) o fenômeno do prolongamento da convivência familiar
possui uma característica multidimensional, abrangendo questões de ordem pessoal, familiar e
social (podendo ser fruto da ausência de segurança no campo profissional e afetivo). O autor
ainda ressalta que a evolução na sociedade trouxe implicações sobre o comportamento dos
arranjos familiares, isso por que a família outrora marcada pela hierarquia entre os membros
atualmente é regida pelos ideais igualitários, possibilitando maior espaço para negociação e
diálogo entre as gerações.
Para Nico (2012) existe certa influência das transições escolares sobre o processo
de saída da casa dos pais atuando de duas formas. A primeira, está relacionada ao próprio
destino da saída, atuando de forma mais direta, baixando a idade na primeira saída, mas
aumentando a idade na “última” saída da casa dos pais, ao mesmo tempo que aumenta a
probabilidade de regresso. Enquanto a segunda tem a ver com o adiamento da entrada no
mercado de trabalho tendo efeitos sobre a autonomia habitacional completa. Além do mais
0 a 4
15 a 19
30 a 34
45 a 49
60 a 64
75 a 79
90+
MULHER HOMEM
2002
10% 0% 10%
0 a 4
15 a 19
30 a 34
45 a 49
60 a 64
75 a 79
90+
MULHER HOMEM
10% 0% 10%
0 a 4
15 a 19
30 a 34
45 a 49
60 a 64
75 a 79
90+
MULHER HOMEM
2022
10% 5% 0% 5% 10%
0 a 4
15 a 19
30 a 34
45 a 49
60 a 64
75 a 79
90+
MULHER HOMEM
2032
2012
83
agrega-se ao fato de que os jovens adultos estão de maneira particular mais vulneráveis aos
efeitos da recessão e ao desemprego (NICO, 2012; OLIVEIRA; CARVALHO, 2010).
Segundo Morais e Rêgo (2011) um dos principais fatores evidenciados na
literatura que podem determinar a possível permanência/saída do indivíduo no ambiente
familiar está relacionado à educação. Isso por que os demais estudos apontam que a idade
com que os filhos decidem deixar a casa dos pais eleva-se à medida que estes passam um
maior tempo na escola, principalmente para aqueles que residem nas áreas rurais. Contudo,
baseado em achados da literatura internacional, os autores ressaltam ainda que não
necessariamente a educação evita a emancipação do lar, pois observa-se que aqueles
indivíduos mais capacitados têm maiores probabilidades de sair da casa dos pais quando
“jovens”, inclusive motivados pela busca de maiores oportunidades educacionais.
Diversos fatores tem contribuído para a permanência dos filhos no lar de origem
tais como: maior liberdade de expressão, a diminuição/ou neutralização dos conflitos
geracionais, ambivalência dos pais no que concerne à saída dos filhos de casa, a permissão
para o sexo na casa dos pais, custo habitacional, falta de maturidade, comodismo, casamento
tardio, as transformações dos laços afetivos, menos exigências e expectativas no
relacionamentos entre os pares, instabilidade no mercado de trabalho, insegurança e violência
urbana (COBO; SABOIA, 2010; FERREIRA; REZENDE; LOURENÇO, 2008;
HENRIQUES, 2006; HENRIQUES; JABLONSKI; FERES-CARNEIRO,2004;
CAMARANO et al. , 2003).
O resultado da “esticada” na casa dos pais está relacionado com o maior potencial
para a formação de poupança (destinados para o investimento educacional, compra de imóvel
e lazer). De forma geral os "cangurus" costumam arcar, em parte ou na íntegra com suas
despesas pessoais. Apesar de que de um jeito ou de outro, este trata-se de um gasto
considerado bem inferior do que aquele que teriam se não morassem com os pais (RAMON,
2008).
Fatos observados em estudos anteriores na Europa, têm demonstrado que quando
se estuda a decisão de sair de casa, ou (formar uma família) deve-se levar em consideração
aspectos como a situação econômica da família de origem (nível de riqueza do lar), estado
civil, inserção no mercado de trabalho e processo de decisão (motivo) sobre deixar o ninho.
Desta forma, a seguir, expõem-se sumarizados no Quadro 1 os principais estudos realizados
dentro dessa temática. Com o intuito de fornecer um maior esteio sobre a revisão literária
expõem-se o detalhamento do tipo de pesquisa de cada estudo observado, considerando
84
aspectos como: tipo de base de dados, faixa etária e os métodos empregados para aferir os
resultados.
Quadro 1: Síntese de alguns estudos sobre a problemática.
Referência Âmbito do Estudo Base de Dados Faixa Etária Método
Carvalho (2009) Brasil PNAD 15-34 Logit
Morais e Rêgo (2011) Brasil PNAD 18-29 Logit
Cobo e Saboia (2010) Brasil PNAD 25-34 Caráter Descritivo
Vieira e Rava (2012) Brasil PRIMÁRIA 20-34 Caráter Descritivo
Camarano et al., 2003 Brasil CENSO / PNAD 15-24 Caráter Descritivo
Fonte: Elaborado pelos autores.
3 Metodologia e Banco de Dados
A presente seção se encarrega de descrever todo procedimento metodológico
adotado na construção da pesquisa, assim como, o tratamento e descrição do banco de dados
utilizado em sua elaboração. Destaca-se, no entanto, a importância na escolha tanto do
modelo que melhor se adapte ao problema inicialmente proposto quanto na seleção de
variáveis que ofertem a melhor resposta ao entendimento da evolução da população canguru
nos últimos anos.
3.1 Metodologia
O modelo adotado é composto por uma variável binária, que representa a
condição domiciliar do indivíduo, definida a partir de uma relação linear entre a variável
explicada e explicativa. Desse modo, utiliza-se de uma variável dicotômica que assume valor
igual a 1 caso o jovem seja filho ou outro parente na residência e 0 caso o mesmo tenha
condição de chefe ou de conjugue do indivíduo de referência do domicílio. Dessa forma a
função de probabilidade logística acumulada pode ser especificada da seguinte forma:
85
𝐶𝑎𝑛𝑔𝑢𝑟𝑢𝑖 = F(𝑍𝑖) = F(𝛼 + ∑ 𝐵𝑘𝑘𝑘=0 𝑋𝑖𝑘) =
1
1+𝑒−𝑧𝑖=
1
1+𝑒−(𝛼+∑ 𝐵𝑘𝑘𝑘=0 𝑋𝑖𝑘)
(1)
De acordo com a equação (1), o termo "Cangurui" corresponde a probabilidade de
ocorrência da condição canguru para o indivíduo de 24 a 35 anos no domicílio dada a ocorrência de
Xik na observação i, para 1≤ i ≤ m, onde m é o número de observações presentes, F(.) é a função de
distribuição acumulada, Bk é o coeficiente da variável explicativa Xik e Zi é um índice contínuo
teórico determinado pelas variáveis explicativas Xik.
O modelo adotado nesta pesquisa também pode ser representado como o logaritmo da
razão de probabilidades, em que a probabilidade do sucesso representa P(Zi =1) = p = Canguru, e a
probabilidade do insucesso corresponde a P(Zi = 0) = 1− p = Independente, descrita como:
𝑍𝑖 = 𝑙𝑛 (𝑃𝑖
1−𝑃𝑖) = 𝑙𝑛 (
𝐶𝑎𝑛𝑔𝑢𝑟𝑢𝑖
1−𝑐𝑎𝑛𝑔𝑢𝑟𝑢𝑖) = 𝑙𝑛 (
𝐶𝑎𝑛𝑔𝑢𝑟𝑢𝑖
𝐼𝑛𝑑𝑒𝑝𝑒𝑛𝑑𝑒𝑛𝑡𝑒𝑖) = 𝛼 + ∑ 𝛽𝑘
𝑘𝑘=0 𝑋𝑖𝑘 = 𝛼 + 𝛽𝑋𝑖 (2)
Em que Xi é um vetor das variáveis explicativas; 𝛼 é o intercepto do modelo, e k
é vetor dos parâmetros. Resolvendo o antilogaritmo da equação (2), obtêm-se:
𝐿𝑜𝑔𝑖𝑡(𝐽𝑜𝑣𝑒𝑚 𝐶𝑎𝑛𝑔𝑢𝑟𝑢𝑖) = 𝑃(𝑍𝑖 = 1|𝑋𝑖) =𝑒𝑥𝑝(𝛼+𝛽𝑋𝑖)
1+𝑒𝑥𝑝(𝛼+𝛽𝑋𝑖) =
exp (𝑍𝑖)
1+exp (𝑍𝑖)=ᴧ(𝑍𝑖) (3)
Com 0 ≤ 𝐽𝑜𝑣𝑒𝑚 𝐶𝑎𝑛𝑔𝑢𝑟𝑢𝑖 ≤1
Dessa maneira a equação (3) representa o logaritmo relacionado à probabilidade de
ocorrência de determinado evento. A estimação dos parâmetros é realizada por máxima
verossimilhança, que possuem uma série de propriedades estatisticamente desejáveis. Tomando o
produto de toda a amostra ( ni ,,2,1 ), especificado por:
𝐿(𝑍|𝑋, 𝛽) = ∏ ᴧ(𝛼 + 𝛽𝑋𝑖)𝑍𝑖𝑖 [1 − ᴧ(𝛼 + 𝛽𝑋𝑖]1−𝑍𝑖 (4)
Ao aplicar o logaritmo natural e diferenciar com respeito a βk, tem-se o método da
Máxima Verossimilhança (MV) na equação (5):
86
𝜕𝑙𝑛𝐿(𝑍|𝑋,𝛽)
𝜕𝛽𝑘= ∑ [𝑍𝑖 −𝑛
𝑡=1 ᴧ]𝑋𝑖 = 0
(5)
Com o intuito de avaliar a significância individual dos parâmetros estimados, utiliza-
se o teste de Wald, obtido pela razão do coeficiente pelo seu respectivo erro padrão. Em seguida,
obtêm-se os efeitos marginais derivados (ou elasticidades), que permitem uma interpretação mais
objetiva dos resultados com relação ao impacto de cada variável explicativa sobre a probabilidade
do indivíduo estar na condição “canguru”.
3.2 Decomposição de Yun
Como já mencionado anteriormente, o maior interesse do presente estudo é avaliar
a evolução da geração canguru entre os indivíduos de 25 a 34 anos no país no período de 2002
(grupo B) e 2012 (grupo A). Para tal finalidade, empregou-se o método de Yun (2004) para
decompor estas variações em fatores observáveis (explicados), e não observáveis (ou seja não
explicados) dado pela diferença entre os comportamentos dos indivíduos nos anos analisados.
Cabe ressaltar que a referida técnica é uma extensão aplicada a modelos de resposta binária do
tradicional método de decomposição de Oaxaca-Blinder, em que leva em consideração pesos
consistentes para contribuição de cada característica observada e para cada efeito do
coeficiente.
Desta maneira com o intuito de tornar mais claro o entendimento sobre o método
de Yun (2004), considere, inicialmente, a diferença média de probabilidade do jovem adulto
estar na condição canguru para o ano 2002 (grupo B) e para o ano 2012 (grupo A)
considerando o modelo logit5(2). Sendo assim decompõe-se a diferença global em dois
componentes principais que refletirão a diferença entre a composição dos grupos e as
diferenças nos efeitos da características (Diferenças nos coeficientes ou retornos) entre os
grupos. Assim descreve-se a Eq. 6 a seguir.
�̅�𝟐𝟎𝟏𝟐 − �̅�𝟐𝟎𝟎𝟐 = { 𝑭(𝒙𝒊𝟐𝟎𝟏𝟐′ 𝒃𝟐𝟎𝟏𝟐)̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ − 𝑭(𝒙𝒊𝟐𝟎𝟎𝟐
′ 𝒃𝟐𝟎𝟏𝟐)̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ } + { 𝑭(𝒙𝒊𝟐𝟎𝟎𝟐′ 𝒃𝟐𝟎𝟎𝟐)̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ 𝑭(𝒙𝒊𝟐𝟎𝟎𝟐
′ 𝒃𝟐𝟎𝟏𝟐)̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ } (6)
5 Em que 𝑏𝑗 é um vetor de coeficientes K × 1, 𝑋𝑖𝑗 é um vetor K × 1 de características individuais para o ano (j = 2002, 2012), e 𝐹(𝑥𝑖𝑗
′ 𝑏𝑗)
denota o valor médio logístico. Pode-se motivar essa decomposição de outras maneiras. Em um modelo logit, o diferencial total 𝑑𝑟 =
𝜕�̂�/𝜕 𝑏 𝑥𝑏 = 𝑏𝑓(𝑥𝑏)𝑑𝑥 + 𝑥𝑓(𝑥𝑏)𝑑𝑏. Em termos de diferenças finitas, ∆𝑟𝑏 ≈ 𝑏𝑓(𝑥𝑏)∆𝑥 + 𝑥𝑓(𝑥)∆𝑏.
E C
87
A primeira parte da equação (6) mensura a diferença de probabilidade da variável de
resultado explicada pelo hiato em características observadas (diferença justificada
representada por “E”), enquanto a segunda parte capta os potenciais efeitos das características
não observáveis (ou seja, a parcela da diferença de probabilidade relacionadas ao
comportamento dos dois grupos no ano de 2002 e 2012, representado por “C”). Com o
objetivo de se obter pesos apropriados para contribuição de cada atributo e coeficiente na
diferença de probabilidade intergrupo, avalia-se primeiramente a função de densidade normal
acumulada na média das características observadas para cada grupo, e logo após usa-se uma
aproximação de Taylor de 1ª ordem para obtenção da equação de decomposição com pesos
específicos para cada atributo observado e coeficiente estimado, dado por:
�̅�𝟐𝟎𝟏𝟐 − �̅�𝟐𝟎𝟎𝟐=∑ 𝑾∆𝒙𝒌
𝑲𝒌=𝟏 { 𝑭(𝒙𝒊𝟐𝟎𝟏𝟐
′ 𝒃𝟐𝟎𝟏𝟐̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ − 𝑭(𝒙𝒊𝟐𝟎𝟏𝟐
′ 𝒃𝟐𝟎𝟏𝟐)̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ } + ∑ 𝑾∆𝒃𝒌
𝑲𝒌=𝟏 { 𝑭(𝒙𝒊𝟐𝟎𝟎𝟐
′ 𝒃𝟐𝟎𝟏𝟐̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ − 𝑭(𝒙𝒊𝟐𝟎𝟎𝟐
′ 𝒃𝟐𝟎𝟎𝟐)̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ } (7)
Onde os pesos 𝑊∆𝑥𝑘 representam a característica explicada pela diferença de
probabilidade justificada pelo hiato de atributos observados nos grupos e 𝑊∆𝑏𝑘 representa a
importância do coeficiente na explicação da diferença de probabilidade entre os grupos
atribuída a inequidade de coeficientes. Dessa forma representa-se:
𝑾∆𝒙𝒌=
(�̅�𝟐𝟎𝟏𝟐𝒌−�̅�𝟐𝟎𝟎𝟐𝒌
)𝒃𝟐𝟎𝟏𝟐𝒌̂
∑ (�̅�𝟐𝟎𝟏𝟐𝒌−�̅�𝟐𝟎𝟎𝟐𝒌
)𝒃𝟐𝟎𝟏𝟐𝒌̂𝑲
𝒌=𝟏
(8)
e
𝑾∆𝒃𝒌=
(𝒃𝟐𝟎𝟏𝟐𝒌−𝒃𝟐𝟎𝟎𝟐𝒌
)𝑿𝟐𝟎𝟎𝟐𝒌̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅
∑ (𝒃𝟐𝟎𝟏𝟐𝒌−𝒃𝟐𝟎𝟎𝟐𝒌
)𝑿𝟐𝟎𝟎𝟐𝒌̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅ ̅̅𝑲
𝒌=𝟏
(9)
Onde ∑ 𝑾∆𝒙𝒌𝒌 =∑ 𝑾∆𝒃𝒌𝒌 =1, assegura que soma dos respectivos pesos totaliza 1.
Dessa forma este método possibilita calcular a decomposição inicial, estabelecendo a parte
correspondente a diferença das variáveis e a parte correspondente a dos parâmetros.
Subsequentemente calcula-se a importância relativa de cada variável e de cada
parâmetro em cada uma das diferenças de decomposição6.
3.3 Banco de Dados
6 Ver Powers e Pullum (2006).
88
Para a realização deste trabalho, utilizou-se os microdados da PNAD de 2002 a
2012, disponíveis anualmente no portal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). A escolha desse banco de dados consiste na gama de informações disponíveis sobre a
população residente no país.
Com o intuito de atender os objetivos dessa pesquisa, foram aplicados alguns
filtros como, por exemplo, excluir aqueles jovens que simultaneamente não se enquadravam
em nenhuma das categorias analisadas (ou seja, aqueles indivíduos que não eram “canguru” e
não eram “independentes”). Além disso, foi considerado somente os jovens de 25 a 34 anos
de idade que residiam nas áreas urbanas brasileiras. Destaca-se ainda que foi considerado
como canguru, somente aquele indivíduo que tinha posição familiar de dependente na família,
o qual nesta pesquisa é designado pelos indivíduos que detinham status de filho na
residência7; e no caso do jovem independente dos pais, foram considerados aqueles indivíduos
que tinham posição domiciliar de chefe da família e cônjuge do indivíduo considerado como
responsável pelo lar, os demais foram excluídos da amostra. Após esses filtros e exclusão das
observações faltantes (missings values) restaram aproximadamente um total de 484 mil
observações, para os anos de 2002 a 2012 conjuntamente.
Diferentemente dos demais trabalhos atuais observados na área, este estudo optou
por considerar o plano amostral complexo estratificado adotado pela PNAD. Isso por que ao
ignorar as características inerentes ao plano amostral podem ocorrer problemas que
comprometem a inferência analítica das estimações. Logo optou-se em levar em consideração
tais argumentos com intuito de que os resultados obtidos sejam consistentes e não viciados8.
Dessa forma, para obtenção de estimativas mais precisos9, incluiu-se o delineamento amostral,
considerando os fatores de expansão (pesos de pessoas), STRAT (estratos) e PSU (unidade
primária amostral)10. Tendo em vista que essas variáveis fazem parte do arquivo domicílios,
foi necessário a realização da correspondência com o arquivo de pessoas.
Para avaliar o impacto da incorporação do plano amostral da PNAD sobre a precisão
das estimativas, realiza-se o processo exposto por Leite e Nascimento Silva (2002) com base
7 Cabe destacar que nesta pesquisa utilizou-se uma proxy para designar os indivíduos de detinham status de
canguru, desta forma se assumiu que o jovem declarado como responsável ou cônjuge do responsável pelo lar saiu para constituir uma família independente, enquanto o jovem cuja relação com o responsável pelo domicílio era a de filho foi considerado que o mesmo permanecia no domicílio de origem. 8 Segundo Lima (2008) a PNAD não é uma amostra independente e identicamente distribuída (iid), não se
originando, portanto, de uma amostra aleatória simples com reposição, sendo necessária a consideração do plano amostral para que as estimações pontuais e as variâncias sejam corretamente especificadas. 9 Neste trabalho utilizou-se o método de Máxima Pseudoverossimilhança e para à obtenção das estimativas da
variância dos coeficientes realizou-se o método de Linearização de Taylor. Com intuito de ressaltar a importância das características do plano amostral, foram calculadas as medidas Deff e Meff. 10
O programa Stata, utilizado neste artigo permite a realização desse ajustamento através dos comandos svy.
89
no modelo proposto por Kish (1965), sendo denominado Efeito do Plano Amostral (EPA ou
Deff – Disgn Effect), cuja expressão é dada por:
𝐸𝑃𝐴 =𝑉𝑎𝑟𝑣𝑒𝑟𝑑(𝐵)̃
𝑉𝑎𝑟𝑎𝑠𝑠(𝐵)̃ (10)
Em que 𝑉𝑎𝑟𝑣𝑒𝑟𝑑(𝐵)̃ é a variância estimada incorporando a estrutura do plano
amostral efetivamente utilizado, enquanto 𝑉𝑎𝑟𝑎𝑠𝑠(𝐵)̃ é a variância estimada supondo o plano
amostral igual a uma amostra aleatória simples (AAS).
Cabe destacar que valores do EPA significativamente diferentes de 1 ressaltam a
importância da consideração do plano amostral efetivamente utilizado na estimação das
variâncias associada aos parâmetros do modelo. Dessa forma, a interpretação do EPA (Efeito
do Plano Amostral) segue o seguinte critério:
• Se EPA < 1, variância sob AAS superestimada;
• Se EPA = 1, não há diferença entre as estimativas de variância;
• Se EPA > 1, variância sob AAS subestimada
Outro método com finalidade semelhante foi desenvolvido por Skinner, Holt e
Smith (1989), denominado de EPA ampliado (Meff -Misspecification Effect). Neste método
utiliza-se o pressuposto que υ0 é um estimador usual e consistente da variância do estimador
sob a hipótese de observações idd (independente identicamente distribuída); 𝑉𝑣𝑒𝑟𝑑(𝐵)̃é a
variância do estimador considerando-se o desenho amostral complexo; 𝐸𝑣𝑒𝑟𝑑(𝑣𝑜) é a
esperança do estimador usual sob o plano amostral complexo. O EPA ampliado é descrito
por:
𝐸𝑃𝐴(�̃�; 𝑣𝑜) =𝑉𝑣𝑒𝑟𝑑(𝐵)̃
𝐸𝑣𝑒𝑟𝑑(𝑣𝑜) (11)
Considerando-se os procedimentos metodológicos descritos anteriormente, o
modelo a ser estimado no presente estudo é formado pelas variáveis descritas no Quadro 1,
em que representa os determinantes da condição canguru no Brasil para os anos de 2002 a
2012.
90
Quadro 1-Brasil: Descrição dos dados utilizados nas estimações
Variáveis Descrição das Variáveis
Variável dependente
Jovem Canguru 1 caso o jovem resida no domicílio parental e 0 caso o jovem tenha formado seu
próprio domicílio.
Características dos indivíduos e do lar
Homem 1 para Homem e 0 para Mulher.
Anos de estudo
Variável contínua que representa ao nível ou ao grau educacional dos indivíduos.
A equivalência é feita de forma que cada série concluída com aprovação é
considerada como 1 ano de estudo.
Branca 1 para Branca e 0 caso contrário.
Criança 1 para Criança e 0 caso contrário.
Mãe Viva 1 para Mãe viva e 0 caso contrário.
Renda ñ trabalho 1 para jovem que recebe rendimento não oriundo do trabalho e 0 caso contrário.
Residência Própria 1 para Residência própria e 0 caso contrário.
Estuda 1 para o jovem que estuda e 0 caso contrário.
Trabalha 1 para jovem que trabalha e 0 caso contrário.
Idade Ref: 𝜏 𝟑𝟏 𝐚 𝟑𝟒 𝐚𝐧𝐨𝐬 (31 a 34 anos)
𝜏𝟐𝟓 𝐚 𝟐𝟕 𝐚𝐧𝐨s 1 para indivíduo entre 25 a 27 anos e 0 caso contrário.
𝜏𝟐𝟖 𝐚 𝟑𝟎 𝐚𝐧𝐨s 1 para indivíduo entre 28 a 30 anos e 0 caso contrário.
Proxy para Percepção de
riqueza do indivíduo.
Representada pela Renda per capita do lar (canguru ou independente). Ref:
𝜓𝟒° 𝒒𝒖𝒂𝒓𝒕𝒊𝒍 (acima 75° Percentil, ou seja 25% mais ricos)
𝜓𝟏° 𝒒𝒖𝒂𝒓𝒕𝒊𝒍 1 para o indivíduo situado no primeiro quartil de renda familiar per capita (25°
Percentil) e 0 caso contrário.
𝜓𝟐° 𝒒𝒖𝒂𝒓𝒕𝒊𝒍 1 para o indivíduo situado no segundo quartil de renda familiar per capita (50°
Percentil) e 0 caso contrário.
𝜓𝟑° 𝒒𝒖𝒂𝒓𝒕𝒊𝒍 1 para o indivíduo situado no terceiro quartil de renda familiar per capita (75°
Percentil) e 0 caso contrário.
Características Geográficas
Metropolitana 1 se o indivíduo mora na Região Metropolitana e 0 caso contrário.
Centro-Oeste (Ref: Norte) 1 se o indivíduo mora no Centro-Oeste e 0 caso contrário.
Nordeste 1 se o indivíduo mora no Nordeste e 0 caso contrário.
Sul 1 se o indivíduo mora no Sul e 0 caso contrário.
Sudeste 1 se o indivíduo mora no Sudeste e 0 caso contrário.
Fonte: Elaboração própria.
4 Resultados Descritivos e Econométricos
Nesta seção, representa-se, inicialmente, algumas estatísticas descritivas do banco
de dados empregado. Logo após, são mostrados os resultados obtidos do modelo empírico,
juntamente com as medidas Meff e Deff, considerando isoladamente os anos de 2002 a 2012.
Em seguida realiza-se decomposição de Yun (2004) com o intuito de captar o diferencial de
probabilidades existente entre o primeiro e último ano analisados.
91
4.1 Características dos Jovens Adultos Canguru: Fatos observados
A Tabela 1 reporta uma análise preliminar das principais variáveis empregadas na
análise empírica11
para o ano de 2002 e 2012. Dessa forma a seguir são apresentadas
características dos jovens adultos brasileiros segundo as categorias selecionadas: “canguru” e
“independente”. Os dados apontam que entre 2002 e 2012, após o tratamento do banco de
dados, a proporção de indivíduos que residem com os pais, subiu de 26% para 29%. No
Sudeste, o indicador alcançou o patamar de 48%, seguida pela região Nordeste com 25%,
sugerindo que os indivíduos residentes destas macrorregiões estão mais predispostos a morar
com pai ou/e mãe. Além dos mais ressalta-se que aproximadamente 40% dos jovens cangurus
residem na região metropolitana.
É possível observar que, do total de jovens caracterizados como canguru em 2012,
cerca de 7% possuíam criança no lar, enquanto para os jovens independentes representava
aproximadamente 26%. Observa-se ainda que de forma geral, independente do ano, a maioria
dos jovens adultos que moram no ambiente familiar possuem mãe viva, são do sexo
masculino, com maior nível de renda, moradores de residência própria, e com maior nível de
escolaridade em relação aos demais.
Com relação a cor, nota-se que há um maior percentual de jovens brancos que são
cangurus, em relação aos jovens considerados independentes. No que diz respeito a situação
educacional no ano de 2012, percebe-se que boa parte dos jovens que estudam residem no
ambiente familiar representando por volta de 14%, contra 7% dos jovens que saíram de casa.
No que diz respeito ao recebimento de outras rendas não oriunda do trabalho (o
qual inclui aposentadoria, pensão, aluguel, doações, juros de caderneta de poupança,
dividendo e programas de transferência de renda) observa-se que a grande maioria dos jovens
que residem no ambiente parental não auferem este tipo de rendimento. Ademais percebe-se
que há uma maior proporção de indivíduos que recebem esse tipo de rendimento para aqueles
que não habitam no lar parental. Adicionalmente, analisando aspectos relacionados à renda
familiar, considerando a relação vis-à-vis entre os grupos, verifica-se de forma geral que
aqueles indivíduos considerados independentes estão inseridos em famílias de menor poder
aquisitivo. Os resultados apontam de forma clara e evidente as diferenças existentes os
diferentes extratos de renda. No caso específico das famílias situadas no 3º e 4º quartis
11
Devido à grande gama de informações disponíveis e com o intuito de facilitar o entendimento do leitor, optou-se por reportar somente dois anos da análise descritiva. Cabe destacar que a estatísticas dos demais anos poderão ser obtidas junto autores.
92
averígua-se uma maior prevalência percentual de “cangurus” em comparação aos lares
situados nos extratos de renda mais baixos (1° ao 2° quartil).
Por fim, após essa análise preliminar, com o intuito de se obter uma análise mais
aprofundada, na próxima seção serão realizadas análises econométricas, com intuito de
detectar os principais condicionantes da Geração Canguru no Brasil.
Tabela 1- Brasil: Descrição das Variáveis Explicativas Utilizadas.
2002 2012
Variáveis/Ano Canguru Independente Canguru Independente
Mãe Viva
Não (Omitida) 0,0362 0,1394
0,0285 0,1062
Sim 0,9638 0,8606
0,9715 0,8938
Renda do não Trabalho
Não (Omitida) 0,9446 0,8963
0,966 0,957
Sim 0,0554 0,1037
0,034 0,043
Cor
Outras (Omitida) 0,4541 0,4579
0,5013 0,4579
Branca 0,5459 0,5421
0,4987 0,5421
Sexo
Mulher (Omitida) 0,4582 0,5464
0,4503 0,5464
Homem 0,5418 0,4536
0,5497 0,4536
Idade
𝜏𝟑𝟏 𝐚 𝟑𝟒 𝐚𝐧𝐨𝐬 (Omitida) 0,2463 0,4446
0,2683 0,4576
𝜏𝟐𝟓 𝐚 𝟐𝟕 𝐚𝐧𝐨s 0,4601 0,2545
0,4212 0,2391
𝜏𝟐𝟖 𝐚 𝟑𝟎 𝐚𝐧𝐨s 0,2936 0,301
0,3105 0,3033
Presença de Criança no Lar
2002 2012 2002
Variáveis/Ano Canguru Independente Variáveis/Ano Canguru
Não (Omitida) 0,9237 0,6995
0,9336 0,7365
Sim 0,0763 0,3005
0,0664 0,2635
Regiões
Norte (Omitida) 0,06 0,0689
0,0684 0,08068
Centro- Oeste 0,0638 0,0866
0,0737 0,09185
Nordeste 0,2543 0,2293
0,2526 0,2342
Sul 0,1104 0,1532
0,1206 0,1416
Sudeste 0,5115 0,462
0,4847 0,4516
Estuda
Não (Omitida) 0,8449 0,92
0,8603 0,9297
93
Sim 0,1551 0,08
0,1397 0,07032
Renda em quartis
𝜓𝟒° 𝒒𝒖𝒂𝒓𝒕𝒊𝒍 (Omitida) 0,3797 0,2956
0,3795 0,2857
𝜓𝟏° 𝒒𝒖𝒂𝒓𝒕𝒊𝒍 0,1384 0,1872
0,1198 0,2153
𝜓𝟐° 𝒒𝒖𝒂𝒓𝒕𝒊𝒍 0,1934 0,2517
0,2081 0,246
𝜓𝟑° 𝒒𝒖𝒂𝒓𝒕𝒊𝒍 0,2885 0,2655
0,2926 0,253
Tipo de Residência
Caso contrário (Omitida) 0,1288 0,3679
0,1355 0,3987
Própria 0,8712 0,6321
0,8656 0,6013
Trabalha
Não (Omitida) 0,2832 0,2775
0,2396 0,2338
Sim 0,7168 0,7225
0,7604 0,7662
Região Metropolitana
Não (Omitida) 0,6001 0,6433
0,6103 0,6448
Sim 0,3999 0,3567
0,3897 0,3552
Anos de Estudo (média) 9,03 7,69 10,72 9,83
Observações 12.317 34.629 13.154 32.383
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da PNAD.
Nota¹: Expandido para a população.
4.2 Determinantes da Geração Canguru
Na Tabela 2 e Tabela 3 encontram-se os resultados para as estimações dos
determinantes da geração canguru no Brasil. As variáveis mais impactantes foram às
relacionadas à questão de possuir residência própria, idade, existência de criança na família,
mãe viva, ser homem, trabalhar e o fato do jovem ser estudante.
As estimativas do efeito do plano amostral indicaram a importância de se
considerar o delineamento amostral para a obtenção de estimativas robustas e não viciadas.
Em linhas gerais, independente do ano, boa parte das estimativas Deff e Meff, apresentaram-se
maiores que 1, indicando que as variâncias dos coeficientes estimados, caso a amostra
complexa fosse considerada como AAS, seriam subestimadas
Os resultados das estimativas evidenciaram que o fato do jovem ser homem
aumenta a probabilidade de residir com os pais, em mais de 7 pontos percentuais (p.p.) ao
longo dos períodos analisados. Já no que diz respeito a idade, os resultados apontam que a
94
medida que o jovem se torna mais velho, maior é a probabilidade de o mesmo sair de casa,
independente do período analisado. Ou seja, no último ano, indivíduos na faixa de idade de 25
a 27 anos e 28 a 30 anos tem probabilidade, na devida ordem, de pouco mais de 20 p.p e 9 p.p
(pontos percentuais) de estar na condição canguru em comparação aos jovens de 30 a 34 anos.
No que diz respeito à situação educacional juvenil, os resultados evidenciam que
indivíduos que estão estudando possuem maior probabilidade de continuar morando na casa
parental. O mesmo é observado pela variável que representa o nível educacional, o qual
evidência que jovens com maior nível de escolaridade tem maiores chances de morar com os
pais representando um acréscimo de aproximadamente 0,7 p.p. para cada ano adicional de
estudo no ano de 2012. Isso corrobora com os argumentos expostos por Cobo e Saboia
(2010), em que os mesmos evidenciam que um dos principais suportes oferecidos pelos pais
para a permanência juvenil no domicílio é possibilitar a obtenção de maior nível de
escolaridade e qualificação.
No tocante a localização geográfica os moradores da região Sudeste e Nordeste, e
residentes da região metropolitana possuem uma chance maior de morar com o pai ou/e mãe.
Ressalta-se ainda que aqueles que declararam estar trabalhando no período de referência da
pesquisa possuem maior probabilidade de sair da residência familiar de origem em relação aos
jovens que não estão trabalhando, representando entorno de 5 a 7 pontos percentuais (p.p) no
decorrer dos períodos analisados.
O efeito da existência materna mostrou significância estatística e sinal positivo na
probabilidade de o jovem adulto residir com a família. As evidências empíricas apontam que
jovens que possuíam mãe viva, no último ano, tinham entorno de 20 p.p. maior de chance de
permanecer na casa dos pais em relação aqueles que não tinham a figura materna presente. O
que já era esperado, pois jovens que vivem em lares com ausência da figura maternal, tendem
de certa forma acelerar a transição para um arranjo independente. Sugere-se que isso ocorre
por que a não existência da figura materna representa uma perda fundamental de recursos
disponíveis, uma vez que na maioria dos casos é a mãe que tende a alocar seu tempo para a
realização de afazeres domésticos (ex: comida e roupa lavada), trabalho e educação dos filhos.
Carvalho (2009) corrobora com tais argumentos, ressaltando que ambientes onde não existe a
convivência maternal presente, está devidamente susceptível a possíveis conflitos familiares,
principalmente quando a ausência da mãe seja substituída por uma madrasta.
Observa-se que quanto menor a percepção da riqueza que o indivíduo tem do lar,
independente do ano analisado, menor a probabilidade do jovem estar na condição canguru.
Ou seja, se o indivíduo está inserido, no último ano, entre os domicílios 25 % mais pobres,
95
percebe-se uma redução em mais de 5 p.p. da probabilidade deste habitar com a família de
origem, em relação aos situados entre os domicílios 25% mais ricos. Além do mais sugere-se
que para aqueles que auferem outras fontes de renda (juros, aluguéis, aposentadorias e
pensões, transferências privadas e governamentais), considerando a relação vis- à-vis entre os
grupos, possuem menores chances de estar morando com os pais.
Por fim, ressalta-se que os resultados encontrados sobre as variáveis relacionadas
às características individuais, familiares e de localização ratificam a análise descritiva
preliminar elaborada anteriormente e também corroboram com as evidências expostas na
literatura nacional e internacional [Cobo; Saboia (2010), Ferreira, Rezende, Lourenço, (2008),
Henriques, Jablonski, Feres-carneiro (2004)].
Tabela 2- Brasil: Coeficientes Estimados e Efeito do Plano Amostral
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012
Coef. Meff Deff Coef. Meff Deff Coef. Meff Deff Coef. Meff Deff Coef. Meff Deff Coef. Meff Deff Coef. Meff Deff Coef. Meff Deff Coef. Meff Deff Coef. Meff Deff
Mãe viva 1.338*** 1.6 1.7 1.181*** 1.8 1.7 1.341*** 1.6 1.7 1.339*** 1.7 1.7 1.192*** 1.7 1.6 1.300*** 1.6 1.5 1.341*** 1.5 1.4 1.250*** 1.7 1.6 1.235*** 1.6 1.5 1.243*** 1.6 1.6
Renda ñ
trabalho
-0.574*** 1.3 1.5 -0.574*** 1.5 1.7 -0.559*** 1.2 1.4 -0.529*** 1.3 1.5 -0.578*** 1.3 1.5 -0.572*** 1.3 1.4 -0.0378 1.2 1.3 -0.159** 1.2 1.3 -0.0167 1.3 1.4 0.0406 1.2 1.3
Branco -0.124*** 1.6 1.6 -0.148*** 1.6 1.6 -0.127*** 1.7 1.7 -0.121*** 1.8 1.7 -0.089*** 1.6 1.6 -0.00569 1.7 1.7 -0.00682 1.6 1.5 -0.0458 1.6 1.5 -0.00438 1.6 1.6 0.0342 1.7 1.7
𝜏𝟐𝟓 𝐚 𝟐𝟕 𝐚𝐧𝐨s 1.324*** 1.3 1.3 1.307*** 1.3 1.3 1.277*** 1.3 1.3 1.269*** 1.3 1.3 1.283*** 1.4 1.4 1.300*** 1.4 1.4 1.285*** 1.4 1.4 1.237*** 1.3 1.3 1.244*** 1.3 1.3 1.210*** 1.3 1.3
𝜏𝟐𝟖 𝐚 𝟑𝟎 𝐚𝐧𝐨s 0.657*** 1.2 1.2 0.667*** 1.2 1.2 0.611*** 1.2 1.2 0.620*** 1.2 1.2 0.582*** 1.3 1.3 0.597*** 1.3 1.3 0.604*** 1.3 1.3 0.605*** 1.2 1.2 0.574*** 1.2 1.2 0.603*** 1.3 1.3
Homem 0.549*** 1.1 1.1 0.497*** 1.1 1.1 0.458*** 1.1 1.1 0.515*** 1.1 1.1 0.490*** 1.1 1.1 0.538*** 1.1 1.1 0.593*** 1.1 1.1 0.588*** 1.1 1.1 0.602*** 1.1 1.1 0.582*** 1 1
𝜓𝟏° 𝒒𝒖𝒂𝒓𝒕𝒊𝒍 0.203*** 1.6 1.7 0.0117 1.5 1.7 -0.00160 1.6 1.7 -0.0558 1.6 1.6 -0.0885 1.4 1.6 -0.265*** 1.7 1.8 -0.339*** 1.4 1.5 -0.390*** 1.5 1.6 -0.533*** 1.5 1.6 -0.354*** 1.5 1.6
𝜓𝟐° 𝒒𝒖𝒂𝒓𝒕𝒊𝒍 0.00213 1.7 1.7 -0.104** 1.6 1.7 -0.0241 1.8 1.8 -0.0864* 1.7 1.7 -0.206*** 1.6 1.6 -0.101** 1.8 1.8 -0.107** 1.5 1.7 -0.188*** 1.5 1.6 -0.148*** 1.7 1.7 -0.0746 1.7 1.8
𝜓𝟑° 𝒒𝒖𝒂𝒓𝒕𝒊𝒍 0.168*** 1.8 1.8 0.105** 1.7 1.6 0.0837* 1.9 1.9 0.0721* 1.7 1.6 0.0327 1.7 1.6 0.0475 2 1.8 0.0907** 1.9 1.8 0.0990** 1.8 1.7 0.0588 1.9 1.8 0.208*** 1.8 1.7
Criança -1.757*** 1.4 1.5 -1.738*** 1.4 1.5 -1.729*** 1.4 1.5 -1.702*** 1.4 1.5 -1.639*** 1.4 1.4 -1.505*** 1.6 1.6 -1.571*** 1.2 1.2 -1.530*** 1.5 1.6 -1.437*** 1.5 1.6 -1.611*** 1.5 1.6
Res. Própria 1.477*** 2.1 2 1.386*** 2 2 1.506*** 2.1 2 1.494*** 1.9 1.8 1.544*** 1.8 1.8 1.437*** 2 1.8 1.607*** 1.9 1.8 1.545*** 1.9 1.8 1.548*** 1.9 1.9 1.575*** 1.8 1.8
Estuda 0.414*** 1.3 1.3 0.373*** 1.3 1.3 0.351*** 1.3 1.3 0.322*** 1.3 1.3 0.361*** 1.3 1.3 0.428*** 1.3 1.3 0.351*** 1.2 1.2 0.428*** 1.3 1.3 0.476*** 1.1 1.2 0.468*** 1.2 1.2
Trabalha -0.359*** 1.3 1.3 -0.339*** 1.2 1.3 -0.375*** 1.2 1.3 -0.429*** 1.2 1.2 -0.456*** 1.3 1.3 -0.437*** 1.2 1.3 -0.400*** 1.2 1.2 -0.427*** 1.2 1.2 -0.445*** 1.1 1.2 -0.439*** 1.1 1.2
Anos de
Estudo
0.0830*** 1.7 1.8 0.0814*** 1.6 1.8 0.0770*** 1.6 1.7 0.0698*** 1.6 1.7 0.0664*** 1.4 1.5 0.0668*** 1.5 1.6 0.0548*** 1.4 1.5 0.0532*** 1.3 1.4 0.0515*** 1.5 1.6 0.0468*** 1.4 1.5
Centro-Oeste -0.0354 1.3 2.2 -0.0778 1.2 2.1 -0.0613 1.3 2.1 0.158** 1.6 2.6 -0.00254 1.3 2.3 -0.0701 1.1 1.7 0.0720 1.3 2.1 -0.0487 1.2 1.9 0.0188 1.1 1.9 -0.0417 1.3 2.1
Nordeste 0.374*** 1.5 2.5 0.327*** 1.4 2.4 0.350*** 1.7 2.9 0.538*** 1.8 3.1 0.306*** 1.7 2.8 0.451*** 1.2 2.1 0.404*** 1.4 2.3 0.259*** 1.5 2.4 0.355*** 1.1 2 0.302*** 1.5 2.5
Sul -0.143* 1.5 2.2 -0.111 1.4 2 -0.123* 1.6 2.4 0.0533 1.6 2.4 -0.0770 1.7 2.4 -0.0836 1.4 1.9 -0.130* 1.4 2 -0.189*** 1.6 2.2 -0.137** 1.3 2 -0.168** 1.3 2
Sudeste 0.387*** 1.5 2.4 0.328*** 1.3 2.3 0.317*** 1.7 2.6 0.481*** 1.7 2.5 0.295*** 1.8 2.7 0.336*** 1.3 1.9 0.374*** 1.5 2.2 0.213*** 1.6 2.3 0.243*** 1.2 1.8 0.221*** 1.5 2.3
Metropolitana 0.0531 2.2 2.4 0.0313 2.1 2.3 0.0100 2.4 2.5 -0.0326 2.3 2.4 0.00508 2.3 2.4 -0.0549 2.1 2.3 0.0696** 2.1 2.2 0.0999*** 2.3 2.4 0.0873** 2.1 2.2 0.0912** 2.2 2.3
Constante -4.750*** 1.6 1.8 -4.382*** 1.5 1.7 -4.481*** 1.5 1.7 -4.509*** 1.7 2.1 -4.139*** 1.6 1.8 -4.313*** 1.4 1.6 -4.517*** 1.4 1.5 -4.142*** 1.4 1.6 -4.251*** 1.5 1.7 -4.242*** 1.5 1.7
Fonte: Elaboração dos autores a partir dos dados da PNAD.
Nota¹: Significância *** p<0,01, ** p<0,05, * p<0,1.
Tabela 3- Brasil: Efeitos dos Determinantes da Geração Canguru
VARIAVEIS /ANO 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012
Mãe viva 0.203*** 0.183*** 0.209*** 0.212*** 0.190*** 0.210*** 0.218*** 0.206*** 0.200*** 0.203***
(0.0104) (0.0106) (0.0105) (0.0109) (0.0103) (0.0106) (0.0105) (0.0112) (0.0116) (0.0120)
Renda ñ trabalho -0.0869*** -0.0888*** -0.0870*** -0.0837*** -0.0920*** -0.0924*** -0.00615 -0.0262** -0.00271 0.00662
(0.00874) (0.00964) (0.00746) (0.00778) (0.00728) (0.00809) (0.0101) (0.0102) (0.0129) (0.0119)
Branco -0.0188*** -0.0230*** -0.0198*** -0.0192*** -0.0142*** -0.000919 -0.00111 -0.00756 -0.000709 0.00558
(0.00514) (0.00515) (0.00534) (0.00524) (0.00499) (0.00528) (0.00503) (0.00500) (0.00533) (0.00544)
𝜏𝟐𝟓 𝐚 𝟐𝟕 𝐚𝐧𝐨s 0.209*** 0.211*** 0.208*** 0.209*** 0.214*** 0.220*** 0.218*** 0.212*** 0.211*** 0.206***
(0.00543) (0.00520) (0.00521) (0.00519) (0.00541) (0.00529) (0.00538) (0.00541) (0.00561) (0.00556)
0.0939*** 0.0976*** 0.0902*** 0.0933*** 0.0882*** 0.0917*** 0.0939*** 0.0959*** 0.0885*** 0.0947***
(0.00483) (0.00482) (0.00479) (0.00481) (0.00497) (0.00500) (0.00506) (0.00490) (0.00495) (0.00518)
Homem 0.0832*** 0.0770*** 0.0713*** 0.0815*** 0.0780*** 0.0870*** 0.0965*** 0.0969*** 0.0975*** 0.0949***
(0.00400) (0.00397) (0.00409) (0.00399) (0.00391) (0.00398) (0.00395) (0.00385) (0.00408) (0.00400)
𝜓𝟏° 𝒒𝒖𝒂𝒓𝒕𝒊𝒍 0.0309*** 0.00181 -0.000248 -0.00880 -0.0142 -0.0421*** -0.0539*** -0.0629*** -0.0829*** -0.0557***
(0.00910) (0.00891) (0.00882) (0.00869) (0.00865) (0.00907) (0.00822) (0.00832) (0.00873) (0.00878)
𝜓𝟐° 𝒒𝒖𝒂𝒓𝒕𝒊𝒍 0.000314 -0.0158** -0.00372 -0.0136* -0.0325*** -0.0165** -0.0175** -0.0311*** -0.0244*** -0.0122
(0.00731) (0.00740) (0.00765) (0.00727) (0.00728) (0.00773) (0.00711) (0.00714) (0.00781) (0.00775)
𝜓𝟑° 𝒒𝒖𝒂𝒓𝒕𝒊𝒍 0.0254*** 0.0165** 0.0131* 0.0116* 0.00532 0.00787 0.0152** 0.0170** 0.00996 0.0352***
(0.00666) (0.00654) (0.00685) (0.00643) (0.00639) (0.00688) (0.00639) (0.00665) (0.00725) (0.00696)
Criança -0.266*** -0.269*** -0.269*** -0.269*** -0.261*** -0.243*** -0.256*** -0.252*** -0.233*** -0.263***
(0.00665) (0.00671) (0.00692) (0.00654) (0.00650) (0.00709) (0.00728) (0.00719) (0.00748) (0.00756)
Res. Própria 0.224*** 0.215*** 0.234*** 0.236*** 0.246*** 0.232*** 0.261*** 0.255*** 0.251*** 0.257***
(0.00648) (0.00656) (0.00624) (0.00590) (0.00567) (0.00590) (0.00595) (0.00577) (0.00623) (0.00608)
Estuda 0.0627*** 0.0577*** 0.0546*** 0.0510*** 0.0575*** 0.0692*** 0.0571*** 0.0705*** 0.0771*** 0.0763***
(0.00628) (0.00624) (0.00618) (0.00617) (0.00614) (0.00637) (0.00623) (0.00646) (0.00650) (0.00692)
Trabalha -0.0543*** -0.0525*** -0.0584*** -0.0679*** -0.0726*** -0.0707*** -0.0651*** -0.0704*** -0.0721*** -0.0717***
(0.00507) (0.00514) (0.00507) (0.00497) (0.00514) (0.00518) (0.00522) (0.00500) (0.00541) (0.00542)
Anos de Estudo 0.0126*** 0.0126*** 0.0120*** 0.0111*** 0.0106*** 0.0108*** 0.00891*** 0.00877*** 0.00833*** 0.00764***
(0.000746) (0.000744) (0.000737) (0.000734) (0.000703) (0.000733) (0.000729) (0.000696) (0.000762) (0.000786)
Centro-Oeste -0.00494 -0.0112 -0.00890 0.0231** -0.000384 -0.0105 0.0111 -0.00773 0.00291 -0.00652
(0.0105) (0.0102) (0.0104) (0.0110) (0.0105) (0.00938) (0.0106) (0.00991) (0.0102) (0.0108)
Nordeste 0.0559*** 0.0501*** 0.0541*** 0.0830*** 0.0482*** 0.0727*** 0.0649*** 0.0428*** 0.0575*** 0.0494***
(0.00939) (0.00928) (0.0101) (0.00987) (0.00964) (0.00862) (0.00913) (0.00941) (0.00878) (0.00992)
Sul -0.0196* -0.0159 -0.0177* 0.00763 -0.0115 -0.0125 -0.0193* -0.0294*** -0.0206** -0.0258**
(0.0101) (0.00988) (0.0106) (0.0105) (0.0105) (0.00952) (0.01000) (0.0104) (0.00976) (0.0101)
Sudeste 0.0579*** 0.0503*** 0.0488*** 0.0736*** 0.0464*** 0.0533*** 0.0600*** 0.0349*** 0.0388*** 0.0358***
(0.00927) (0.00860) (0.00967) (0.00977) (0.00967) (0.00844) (0.00908) (0.00930) (0.00848) (0.00953)
Metropolitana 0.00805 0.00484 0.00156 -0.00516 0.000808 -0.00887 0.0113** 0.0165*** 0.0141** 0.0149**
(0.00573) (0.00557) (0.00591) (0.00575) (0.00576) (0.00567) (0.00556) (0.00577) (0.00590) (0.00605)
Fonte: Elaboração dos autores a partir dos dados da PNAD.
Nota¹: Desvio Padrão em Parênteses *** p<0,01, ** p<0,05, * p<0,1.
98
4.3 Decompondo a Geração Canguru no Brasil (2002- 2012)
Como já evidenciado em seções anteriores, observa-se um aumento do percentual
de jovens adultos que residem com a família de origem aos longos dos anos de 2002 e 2012.
Desta forma, o principal objetivo desta subseção é decompor estas variações em dois efeitos:
transformações na composição dos indivíduos adultos em termos de características
observáveis; e mudança relacionadas a outros fatores, influenciada pelos retornos dessas
características na probabilidade de ser canguru, e fatores não observáveis (como apego
familiar, casamento tardio, comodismo e questões socioeconômicas). Para tanto, será
utilizado um método para decompor a diferença de probabilidades entre os dois períodos de
tempo (2002 e 2012), baseado no técnica desenvolvida por Yun (2004)12
.
A Tabela 4 apresenta os resultados obtidos a partir da decomposição da diferença
de probabilidade no período de 2002 e 2012. Os dados mostram que após considerar o efeito
das características observadas e não observadas referentes aos atributos individuais, familiares
e geográficos, há uma diferença negativa de probabilidade nos respectivos períodos de tempo,
representando a magnitude de -2,7 p.p, sugerindo que, em média, no ano de 2002 o jovem
adulto estava relativamente menos propenso a estar na condição canguru. Observar-se ainda
que a parte atribuída aos fatores não explicados (dado pela diferença do comportamento do
indivíduo ao longo dos anos) não apresentou significância estatística (representando 9,23% do
referido hiato de probabilidade). Enquanto a diferença justificada pelos atributos médios
observados foi significante e teve importância de 90,77%.
Cabe destacar que as características observáveis que mais explicam a diferença de
probabilidade de estar na condição canguru na respectiva janela de tempo são respectivamente
o nível de escolaridade do indivíduo (70%), presença de criança na família (30,7%), mãe viva
(19,97%), residência própria (-15,37%). Isso implica dizer que, se fossem eliminadas as
diferenças no nível de escolaridade no ano de 2002 e 2012, a diferença de probabilidade do
indivíduo estar morando na casa dos pais entre tais grupos reduziria em aproximadamente
1,88 p.p. O mesmo pode ser observado para o caso em que fossem também exauridas as
diferenças intergrupos para a existência de criança (redução de 0,8 p.p), mãe viva (aumento de
0,5 p.p), residência própria (aumento de 0,04 p.p).
12
Optou-se nesta subseção não fazer inferência a população pois o comando mvdcmp disponível no Stata 13,
para modelos não lineares, não permite considerar o desenho amostral estratificado (svy). Assim, dessa forma o
objetivo desta subseção é averiguar e mensurar o efeito em destaque da decomposição de diferenças de
probabilidade para o ano de 2002-2012 e não aferir sobre o número de indivíduos que contribuíram para este
diferencial.
Tabela 4-Brasil: Decomposição da diferença de probabilidade no período de 2002 e 2012
Diferença em Atributos Observados (E) Diferença nos Coeficientes (C)
Coeficiente Desvio-Padrão Importância (%) Coeficiente Desvio-Padrão Importância (%)
Mãe viva -0,0053 0,0004 19,9752 0,0063* 0,0084 -23,4217
Renda ñ trabalho -0,0023 0,0003 8,6321 -0,0028* 0,0028 10,3890
Branco -0,0004* 0,0003 1,3398 -0,0059* 0,0062 22,2217
Homem 0,0001* 0,0002 -0,4328 -0,0011* 0,0017 4,2867
Criança -0,0082 0,0009 30,5036 -0,0024* 0,0024 9,1153
Estuda 0,0006 0,0002 -2,2678 -0,0004* 0,0005 1,4142
Res. Própria 0,0041 0,0011 -15,3701 -0,0049* 0,0066 18,4571
Trabalha 0,0024 0,0003 -9,0839 0,0044* 0,0051 -16,3556
𝜓𝟏° 𝒒𝒖𝒂𝒓𝒕𝒊𝒍 0,0001 0,0001 -0,4690 0,0073* 0,0074 -27,1310
𝜓𝟐° 𝒒𝒖𝒂𝒓𝒕𝒊𝒍 0,0000* 0,0000 -0,0024 0,0013* 0,0018 -4,9665
𝜓𝟑° 𝒒𝒖𝒂𝒓𝒕𝒊𝒍 0,0005* 0,0002 -1,7577 -0,0008* 0,0013 2,8205
𝜏𝟐𝟓 𝐚 𝟐𝟕 𝐚𝐧𝐨s 0,0029 0,0008 -10,7597 0,0025* 0,0026 -9,4184
𝜏𝟐𝟖 𝐚 𝟑𝟎 𝐚𝐧𝐨s -0,0007 0,0003 2,4752 0,0011* 0,0014 -4,4653
Centro 0,0000* 0,0001 -0,1327 0,0000* 0,0006 0,1603
Nordeste -0,0003* 0,0006 0,9717 0,0012* 0,0019 -4,7516
Sul -0,0001* 0,0002 0,3872 0,0002* 0,0010 -0,9609
Sudeste 0,0008* 0,0007 -2,9958 0,0057* 0,0058 -21,2182
Escolaridade -0,0188 0,0012 70,0851 0,0238* 0,0243 -89,1360
Metropolitana 0,0001* 0,0001 -0,3266 -0,0010* 0,0016 3,8050
Constante
-0,0372* 0,0382 139,2306
Subtotal -0,0243 0,0024 90,77 -0,0025* 0,0040 9,23
R=Total (E+C) -0,0268 0,0046 100
Fonte: Elaboração dos autores a partir dos dados da PNAD.
Nota¹: *Valores não significativos até 10%
100
5 Conclusão
Sair ou não da casa dos pais? No mundo atual, observam-se que muitos filhos em idade
adulta estão adiando a saída do lar ou até mesmo voltado a morar com os pais, mesmo aqueles que
possuem renda mensal que lhes proporcione viver de forma independente e cômoda. Diante destes
argumentos, este artigo teve como principal objetivo investigar de forma teórica e empírica os
principais aliados que contribuem para essa opção.
Este trabalho buscou complementar as pesquisas de Cobo e Saboia (2010), Morais
e Rêgo (2009), Carvalho (2009), Camarano (2006) e Henriques (2006), ao buscar analisar e
delinear os perfis dos adultos que moram no lar de origem, considerando determinadas
características dos domicílios. Em relação aos expostos dos demais trabalhos, este avança ao
visar aprofundar de forma empírica o entendimento sobre a temática da geração canguru em
âmbito nacional ao longo dos anos de 2002 a 2012, tentando captar a existência de alguma
mudança do efeito sobre decisões do indivíduo, levando em consideração as características
individuais, familiares e geográficas.
O presente artigo, ao considerar uma respectiva janela de tempo de dez anos
(2002-2012) ressalta a existência de uma trajetória crescente de filhos residindo com os pais.
Dessa forma, constata-se que a propensão em ser canguru está fortemente associada ao fato do
indivíduo ser homem, possuir mãe viva, estudar, residir em residência própria e maior nível
de renda da família. A educação tornou-se o principal fator que pode levar o indivíduo na fase
adulta a morar com a família de origem aumentando as chances em aproximadamente 0,7 p.p.
para cada ano adicional de estudo no ano de 2012. Além do mais ressalta-se que os indivíduos
moradores da região Sudeste e Nordeste, e residentes da região metropolitana possuem uma
chance maior de morar com o pai ou/e mãe.
A grande problemática ao se estudar os determinantes da geração canguru no
Brasil, consiste na falta de dados apropriados para as analises, visto que o banco de dados em
questão não a permite acompanhar o indivíduo ao longo do tempo, bem como conhecer
profundamente os principais motivos que levaram o indivíduo a sair ou não do lar parental.
Desta forma sugere-se para futuras pesquisas verificar o tipo de arranjo domiciliar constituído,
fazendo-se uma distinção entre tipos de famílias, ou seja, constituídas por: laços matrimoniais,
da coabitação, unipessoais, com ou sem parentes. Tal subdivisão irá permitir um maior
detalhamento sobre o destino e possíveis repercussões sobre a vida do mesmo, permitindo o
maior entendimento sobre a conjuntura familiar em diversas óticas.
101
O presente estudo não visa encerrar as discussões do problema e nem apresentar a
solução final de tal questão. Busca-se encontrar não a fórmula que soluciona os seculares
problemas advindo da inter-relação humana no círculo familiar, e sim, enumerar a menor
quantidade de respostas plausíveis e significantes para, com isso, auxiliar a elaboração de
políticas públicas mais ajustadas. Nesta perspectiva, tais iniciativas seriam elaboradas por
meio da utilização de informações menos obscuras acerca do comportamento da dinâmica da
população jovem dos tempos modernos.
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104
O CONTEXTO SOCIAL COMO DETERMINANTE DO TRABALHO PRECOCE EM
PERNAMBUCO
Juliane da Silva Ciríaco
Doutoranda em Economia pelo Centro de Aperfeiçoamento de Economistas do Nordeste da
Universidade Federal do Ceará (CAEN-UFC). Fone (83) 9 8860-3463.
E-mail: [email protected]
Otoniel Rodrigues dos Anjos Júnior
Doutorando em Economia pelo Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade
Federal da Paraíba (PPGE-UFPB). E-mail: [email protected]
Celina Santos de Oliveira
Doutora em Economia pelo Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade
Federal da Paraíba (PPGE-UFPB). E-mail: [email protected]
105
Resumo
O artigo analisa os determinantes do trabalho precoce em Pernambuco utilizando o Método Logit
Multinível e dados do Censo Demográfico de 2010. Em termos gerais, a oferta de trabalho precoce
pernambucana está associada ao contexto social precário no qual as crianças estão inseridas, as
condições de informalidade do mercado de trabalho e a baixa qualidade de vida ou bem-estar. Os
dados apontam, ainda, relação positiva entre idade e inserção no mundo do trabalho e ter pais mais
instruídos reduzem as chances das crianças e dos adolescentes trabalharem. Por sua vez, a variável
mãe presente no lar reduz essa probabilidade e quanto maior o número de componentes da família
maior a chance de participação precoce na força de trabalho. Por fim, o fato de morar na zona rural
também contribui para o aumento dessa probabilidade.
Palavras-chave: Contexto social. Trabalho Precoce. Pernambuco.
Abstract
The article analyzes the determinants of precocious work in Pernambuco using the
Multidivisible Logit Method and data from the 2010 Demographic Census. In general terms,
the offer of early work in Pernambuco is associated with the precarious social context in
which children are inserted, the conditions of informality of the labor market and the poor
quality of life or well-being. The data also indicate a positive relation between age and
insertion in the world of work and having more educated parents reduces the chances of
children and adolescents working. In turn, the variable mother present in the household
reduces this probability and the greater the number of components of the family the greater
the chance of early participation in the workforce. Finally, the fact of living in the countryside
also contributes to the increase of this probability.
Keywords: Social Context. Premature Labor. Pernambuco.
106
1. INTRODUÇÃO
A implantação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) no Brasil na década de
noventa, juntamente com outros mecanismos de fiscalização sociais, permitiram relevantes
reduções na incidência de trabalho infantil no país. A esse respeito, a literatura aponta que
crianças e adolescentes que estão no mercado de trabalho têm seu desenvolvimento
psicológico e individual prejudicado (MAGALHÃES, 2005). Essa modalidade de trabalho
contribui com a estagnação familiar e social e atinge massivamente países subdesenvolvidos e
em processo de desenvolvimento.
Mesquita e Ramalho (2015) destacam que apesar da redução no número de crianças e
adolescentes trabalhando nas últimas décadas, o problema ainda persiste em todos os Estados
brasileiros, principalmente nos Estados do Nordeste, como ilustra o gráfico 1.
Gráfico 1: Participação do Trabalho Precoce por Estado no Nordeste, 2010 (%).
Fonte: Elaboração própria com base em microdados do Censo Demográfico de 2010.
Nota: Resultados expandidos para o universo.
Nota: 10 a 16 anos.
Os três Estados com maior participação de trabalho precoce são Bahia, Ceará e
Pernambuco, este último, será foco do presente trabalho e segundo dados do Censo (IBGE,
2010) possui participação de 15% no total de trabalho jovem do Nordeste.
No estado de Pernambuco existem pouco mais de 56 mil crianças e adolescentes entre
10 a 16 anos no mercado de trabalho, dessas, o maior contingente, 69% estão localizados na
área urbana, possivelmente devido a maior facilidade da criança ou adolescente ser absorvido
em atividades informais que, de maneira geral, exigem baixa qualificação.
A relevância do tema em análise está no fato de que o trabalho precoce gera efeitos
danosos sobre o aprendizado, saúde e renda futura das crianças e adolescentes envolvidos em
tal processo. Nesse contexto, diversas pesquisas como Kassouf (1997, 1999), Cavalieri
(2002), Emerson e Portela Souza (2005), Ponczek e Souza (2007), entre outras concordam
0
5
10
15
20
25
30
35
Maranhão Piauí Ceará Rio Grande
do Norte
Paraíba Pernambuco Alagoas Sergipe Bahia
107
que o trabalho precoce prejudica o aprendizado, aumenta a repetência e a desistência dos
jovens trabalhadores.
A literatura em questão apresenta estudos enfatizando os mais diversos aspectos: são
trabalhos que destacam a importância da renda ou da riqueza na decisão entre ofertar ou não
trabalho na infância, estrutura familiar, instrução dos pais entre outros. Nessa linha, acredita-
se que a oferta de trabalho tem forte ligação com o baixo nível de renda e a estrutura familiar
dos indivíduos, indicando que o declínio da renda familiar poderá aumentar a probabilidade
da criança ou do adolescente entrar no mercado de trabalho precocemente (SANTOS e
KASSOUF, 2010; CACCIAMALI et al., 2010).
Tanto na ótica de Santos (2005) quanto de Kassouf (2002) o trabalho de crianças e
adolescentes possui o poder de gerar um ciclo vicioso na pobreza. Ao passo que se entra
precocemente no mercado de trabalho, acaba-se por limitar as melhorias advindas do processo
de qualificação, gerando expressivas reduções nas chances de receber maiores remunerações
na fase adulta. Este fenômeno gerador de ciclos de pobreza possui o poder de se propagar
entre diferentes gerações ao longo do tempo uma vez que renda adulta menor pode incentivar
a oferta de trabalho infantil novamente, agora dos filhos e depois dos netos e assim por diante.
O fator intergeracional se manifesta ao passo que há relação inversa entre a
escolaridade dos pais e a probabilidade dos filhos começam a trabalhar em determinada idade.
Dessa forma, quanto mais educação formal os pais detiverem menores as chances de seus
filhos ofertarem trabalho infantil ou adolescente (KASSOUF, 1999).
Para Moreira et al., (2014), a inserção rápida de crianças no mercado de trabalho
depende do fato delas estarem inseridas em ambientes rurais ou não. Na mesma pesquisa
destacam que os meninos têm maiores chances de exercer atividades laborais
comparativamente as meninas.
Na atual pesquisa, além de se considerar os fatores e características dos indivíduos já
testados pela literatura acima, como por exemplo, às relacionadas aos atributos pessoais
(gênero, idade e raça) e atributos do lar (tamanho da família e escolaridade do chefe) procura-
se verificar qual o efeito do contexto social, no qual a criança ou o adolescente está inserido,
sobre a decisão de ofertar ou não trabalho. Em tal análise, avalia-se o Estado de Pernambuco
considerando, para tanto, dados do Censo Demográfico do Instituto de Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) elaborado em 2010. Nessa perspectiva, acredita-se que a
interação de crianças com demais agentes de sua comunidade, poderá causar influência sobre
o seu bem-estar de diferentes formas e intensidades.
Como meio de captar esse efeito, utilizou-se variáveis que representassem a
desestruturação social, o mercado de trabalho e o bem-estar. O primeiro capta o quanto as
condições de estrutura familiar e socioeconômica que a criança ou o adolescente está inserido
afetam as suas decisões. Já o segundo, representa as características do mercado de trabalho da
localidade em que a criança está inserida e, por fim, o terceiro, referem-se as questões
relacionadas à qualidade de vida e infraestrutura do local onde essas crianças estão vivendo.
Para a elaboração do presente estudo, optou-se por dividir a pesquisa em quatro partes,
além desta introdução. Inicialmente, apresenta-se o modelo teórico de desenvolvimento
humano exposto por Bronfenbrenner (1996). A próxima contempla a descrição e tratamento
do banco de dados. A quarta seção, reporta-se os principais resultados encontrados,
ressaltando e discutindo os aspectos relevantes que culminam nas considerações finais.
108
2.
A vulnerabilidade social de pessoas, famílias ou comunidades engloba um conjunto de
características peculiar multidimensional associada com a privação de renda, a composição
familiar, as condições de acesso e a qualidade do sistema educacional, a possibilidade de
obter trabalho com qualidade e remuneração adequada, a existência de garantias legais e
políticas governamentais entre outros. Embasado nisto, para se analisar a participação infanto-
juvenil no mercado de trabalho, usa-se a abordagem teórica baseada no modelo de
desenvolvimento humano de Bronfenbrenner (1996) e a sua exploração sobre microssistemas
com interação progressivas mais complexas dos processos de desenvolvimento.
O modelo proposto abrange aspectos multidirecionados e inter-relacionados, que
envolve combinações entre os diversos níveis de desenvolvimento à medida que afeta
indivíduos, grupos e comunidades em planos distintos de seu bem-estar, de diferentes formas
e intensidades. Esses níveis podem ser divididos em: microssistema, mesossistema,
exossistema, macrossistema como exposto na Figura 1.
Figura 1: Ótica Sistêmica
109
No microssistema os agentes encontram-se influenciados por características próximas,
originadas do interior do indivíduo, de objetos e pessoas do contato local imediato, dada pela
relação face a face, crucial para o relacionamento com o mundo social em que os processos se
desenvolvem. Posteriormente têm-se o mesossistema, dado pelos elos e processos entre dois
ou mais microssistemas. O exossistema compreende-se os ambientes que o indivíduo não
participa, porém recebe influência indiretamente. Por fim, o macrossistema representa os
valores culturais, ideologias e instituições, representando o núcleo mais amplo do ambiente
ecológico.
Cabe destacar que a dimensão do “tempo” no que se refere ao ambiente de uma
criança é um elemento fundamental, no qual atribui valor crucial às continuidades e
descontinuidades na trajetória de vida, ao longo de um período. Desta forma, a análise do
tempo, focaliza-se no indivíduo em relação aos acontecimentos de sua vida, desde os mais
próximos até os mais distantes como grandes acontecimentos históricos (SIQUEIRA, 2009).
Diante deste ensejo, nesta pesquisa, assume-se a hipótese de que as condições em que
cada agente está envolvido e se desenvolve condicionam o seu próprio processo de
desenvolvimento, condicionados justamente pelos cenários mais próximos e imediatos em tais
agentes estão envolvidos.
3. ESTRATÉGIA METODOLÓGICA E BASE DE DADOS
3.1 Abordagem Hierárquica
Para entender melhor os fatores que afetam as chances dos indivíduos entre 10 e 16
anos ofertarem trabalho, considera-se nesta pesquisa, a influência simultânea das
características de ordem individual (nível 1) e do contexto social onde os indivíduos estão
inseridos (nível 2). Na qual, a variável independente é dicotômica, onde se atribui o valor de
“um” para os indivíduos entre 10 a 16 anos, que na semana de referência do Censo de 2010
trabalhou ao menos 1 hora sendo remunerada em dinheiro, produtos, mercadorias ou
benefícios, e “zero” caso contrário. Logo, a probabilidade de ocorrência do evento é dada por:
𝜂𝑖𝑗 = log (Φ𝑖𝑗
1−Φ𝑖𝑗) e:
𝑃𝑟(𝑇𝑟𝑎𝑏𝑎𝑙ℎ𝑜_𝐼𝑛𝑓𝑎𝑛𝑡𝑖𝑙𝑗𝑢𝑣𝑒𝑛𝑖𝑙 = 1/ 𝛽) = Φ𝑖𝑗 ,
é modelado por uma função de ligação logit, descrita como:
𝜂𝑖𝑗 = 𝑙𝑜𝑔 (𝛷𝑖𝑗
1 − 𝛷𝑖𝑗) = 𝛽𝑜𝑗 + ∑ 𝛽𝑞
𝑞𝑋𝑞𝑖𝑗 + 𝜉𝑖𝑗 (nível 1) (1)
Fonte: adaptado pelos autores com base em Siraj et al.,(2014).
110
𝛽𝑜𝑗 = 𝜙𝑜𝑜 + ∑ 𝜙𝑜𝑠𝑊𝑠𝑗 +
𝑠
𝑟𝑜𝑗 (nível 2) (2)
𝛽𝑞𝑗 = 𝜙𝑞0 (nível 2) (3)
O subscrito 𝑖 refere-se ao indivíduo e 𝑗 ao município o qual este faz parte. Logo,
𝛽𝑜𝑗 representa o intercepto; 𝑋𝑞𝑖𝑗 é o valor associado as 𝑞 variáveis incluídas no modelo; 𝛽𝑞 é
o efeito parcial das variáveis nas chances de ocorrência do evento, 𝜉𝑖𝑗 corresponde ao termo
de erro (do nível 1) com distribuição logística padronizada com média zero e variância 𝜎𝜉2.
No segundo nível, expresso pela equação 2, assume-se que o intercepto do nível 1,
𝛽𝑜𝑗, varia aleatoriamente em todos os municípios, enquanto admite-se inclinação igual para
todas as unidades de nível 2 (ver equação 3), mudando somente o intercepto de cada unidade
j, que é representada por (ϕ𝑜𝑜 + 𝑟𝑜𝑗). Logo, o intercepto está decomposto no valor médio
global para todos os indivíduos (ϕ𝑜𝑜 ) e pelo componente aleatório associado ao segundo
nível (𝑟𝑜𝑗 ). Substituindo a Equação (2) e (3), em (1), tem-se a equação (4) exposta a seguir:
𝑙𝑜𝑔 (𝛷𝑖𝑗
1 − 𝛷𝑖𝑗) = 𝜙𝑜𝑜 + ∑ 𝜙𝑜𝑠𝑊𝑠𝑗
𝑠
+ ∑ 𝜙𝑞𝑞
𝑋𝑞𝑖𝑗 + 𝜉𝑖𝑗 𝑟𝑜𝑗 (4)
𝑊𝑠𝑗 = Valor associado as s variáveis associadas ao nível 2. Com, 𝑟𝑜𝑗~𝑁(0, 𝜎𝑜𝑜2 ).
Na abordagem hierárquica é conveniente, a estimação do modelo de baixo para cima,
tendo como ponto de partida o Modelo Nulo. Usa-se o coeficiente de correlação intra-classe
com o intuito de verificar se é justificável a inclusão do segundo nível. A métrica é
representada por:
𝜌𝑙𝑜𝑔𝑖𝑡 =𝜎𝑜𝑜
2
𝜎𝑜𝑜2 +𝜎𝜉
2 0 ≤ 𝜌𝑙𝑜𝑔𝑖𝑡 ≤1
No qual, 𝜎𝑜𝑜2 representa a variância residual do nível 2, que por suposição é
normalmente distribuída, por sua vez, 𝜎𝜉2 = (𝜋2/3) = 3,29 representa a variância residual do
nível 1. O 𝜌𝑙𝑜𝑔𝑖𝑡 mensura a proporção da variância entre o grupo frente à variância total, ou
seja, indica o quanto da variação observada na variável explicada pode ser atribuído às
características no nível dos grupos13
, variando entre 0 e 1. Quanto mais próximo de zero,
significa que os grupos entre si considerados são mais homogêneos, logo a comportamento do
indivíduo independe do grupo que este frequenta, enquanto, quanto mais o 𝜌𝑙𝑜𝑔𝑖𝑡 se aproxima
de 1 indica que variabilidade no padrão comportamental dos indivíduos nos grupos se deve
basicamente às diferenças existentes entre esses grupos.
3.2 Construção do Modelo Multinível
13
Ver Hox (2002).
111
O passo inicial para análise da trajetória de construção de um modelo Hierárquico
consiste na especificação mais simples, chamado de Modelo Nulo ou Vazio, em que se
observa apenas as variações no comportamento dos indivíduos (nível 1), dadas pelas
diferenças atribuídas a estrutura municipal (nível 2), expresso por:
log[Φ𝑖𝑗/(1 − Φ𝑖𝑗)] = 𝛽0𝑗 + 𝜉𝑖𝑗 (Indivíduo) (5)
𝛼0𝑗 = 𝜙00 + 𝑟0𝑗 (Município) (6)
Introduzindo as equações 6 na 5, obtém-se o 1° modelo expresso por:
Modelo Vazio ou Nulo
log[Φ𝑖𝑗/(1 − Φ𝑖𝑗) ] = 𝜙00 + 𝑟0𝑗 + 𝜉𝑖𝑗 (7)
Em seguida, procura-se estimar a existência de variações no comportamento dos
indivíduos causados pelas diferenças existentes entre os municípios, ao incluir as variáveis
relacionadas às características individuais e do lar. Dessa forma, o modelo é especificado
como:
log[Φ𝑖𝑗/(1 − Φ𝑖𝑗)] = 𝛽0𝑗 + 𝛽1𝑗𝑖𝑛𝑑𝑖𝑣í𝑑𝑢𝑜𝑖𝑗 + 𝛽2𝑗𝑙𝑎𝑟𝑖𝑗 + 𝜉𝑖𝑗 (Indivíduo) (8)
𝛼0𝑗 = 𝜙00 + 𝑟0𝑗
(Município)
(9)
𝛼𝑘𝑗 = 𝜙𝑞0 𝑡𝑎𝑙 𝑞𝑢𝑒: 𝑞 = 2
(Município)
(10)
Substituindo as equações (9) e (10) em (8), obtêm-se o modelo:
Modelo com inclusão das variáveis nível 1
Finalizando, na última especificação, além das variáveis expostas anteriormente,
acrescenta-se a variável que representam a estrutura municipal ilustradas abaixo:
log[Φ𝑖𝑗/(1 − Φ𝑖𝑗) ] = 𝛽0𝑗 + 𝛽1𝑗𝑖𝑛𝑑𝑖𝑣í𝑑𝑢𝑜𝑖𝑗 + 𝛽2𝑗𝑙𝑎𝑟𝑖𝑗 + 𝜉𝑖𝑗 (Indivíduo) (12)
𝛼0𝑗 = 𝜙00 + 𝜙01 𝐶𝑎𝑟𝑎𝑐𝑡𝑒𝑟í𝑠𝑡𝑖𝑐𝑎𝐿𝑜𝑐𝑎𝑙𝑖𝑗 + 𝑟0𝑗 (Município) (13)
𝛼𝑘𝑗 = 𝜙𝑞0 𝑡𝑎𝑙 𝑞𝑢𝑒: 𝑞 = 2 (Município) (14)
Inserindo as equações 13 e 14 na equação 12, tem-se o modelo final expresso pela
equação abaixo:
Modelo com inclusão das variáveis nível 2
log[Φ𝑖𝑗/(1 − Φ𝑖𝑗) ] = 𝜙00 + 𝜙01 𝐶𝑎𝑟𝑎𝑐𝑡𝑒𝑟í𝑠𝑡𝑖𝑐𝑎𝐿𝑜𝑐𝑎𝑙𝑖𝑗 + 𝜙10𝑖𝑛𝑑𝑖𝑣í𝑑𝑢𝑜𝑖𝑗 + 𝜙20𝑙𝑎𝑟𝑖𝑗 + 𝑟0𝑗 + 𝜉𝑖𝑗 (15)
log[Φ𝑖𝑗/(1 − Φ𝑖𝑗 )] = 𝜙00 + 𝜙10𝐼𝑛𝑑𝑖𝑣í𝑑𝑢𝑜𝑖𝑗 + 𝜙2𝑗𝑙𝑎𝑟𝑖𝑗 + 𝑟0𝑗+ 𝜉𝑖𝑗 (11)
112
Adicionalmente, com o objetivo de entender a importância direta das características
relacionadas a conjuntura municipal, usa-se a métrica proposta por Raudenbush e Bryk
(2002). Este método visa verificar o quanto a introdução de variáveis do segundo nível ajuda
a explicar a variabilidade relacionado ao intercepto do modelo não condicional. Desta forma
as variáveis associadas ao nível 2, serão acrescentadas de forma gradual com intuito de
verificar a sua importância no modelo. Ressalta-se que, quanto menor o componente de
variância, mais elevado é o poder explicativo das variáveis atribuíveis ao segundo nível,
obtidas pela seguinte expressão:
𝑉𝑎𝑟𝑖â𝑛𝑐𝑖𝑎 𝐸𝑥𝑝𝑙𝑖𝑐𝑎𝑑𝑎 = (𝜎𝑜𝑜
2(𝑛ã𝑜 𝑐𝑜𝑛𝑑𝑖𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑙)−
𝜎𝑜𝑜2
(𝑐𝑜𝑛𝑑𝑖𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑙)
𝜎𝑜𝑜2
(𝑛ã𝑜 𝑐𝑜𝑛𝑑𝑖𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑙)
) ∗ 100
Onde:
𝝈𝒐𝒐𝟐 = Estimativa do componente da variância do intercepto do modelo não condicional
14 e
modelo condicional (o qual inclui-se as variáveis de nível 2).
3.3 Descrição do Banco de Dados
A fonte de dados utilizada para construção das variáveis de nível individual (nível 1),
como já mencionada anteriormente, advém do Censo Demográfico, restringindo-se ao Estado
de Pernambuco. Desta forma foram selecionados indivíduos entre 10 a 16 anos que na semana
de referência do Censo de 2010 responderam se trabalharam ou não ao menos 1 hora sendo
remunerada em dinheiro, produtos, mercadorias ou benefícios. A escolha desta fonte de dados
deve-se principalmente ao fato dela abranger de maneira mais rica informações
socioeconômicas relacionadas diretamente as localidades de residência de cada pessoa
estudada.
Já a amostra do nível municipal (nível 2) é de origem secundária, disponível no site do
IPEAGEO, e constituem-se principalmente de estatísticas oriunda do Censo Demográfico do
IBGE, para o ano de 2010, contemplando os 185 municípios de Pernambuco.
Após a escolha do banco de dados e definição da modelagem a ser utilizada, resta
definir quais os vetores de variáveis explicativas para ambos os níveis. Como variáveis do
nível um, segue-se os apontamentos teóricos abordadas na literatura nacional como, por
exemplo, gênero, idade, escolaridade, presença materna, tamanho da família e cor da pele
uma vez que podem influenciar na probabilidade de oferta de trabalho precoce.
No referente as variáveis de segundo nível (contextuais), foram elencadas variáveis
associadas a métrica de desestruturação social (como o percentual de mães chefes de família
sem fundamental completo e com filhos menores de 15 anos), mercado de trabalho (taxa de
informalidade) e bem-estar (percentual da população em domicílios com banheiro e água
encanada). A inclusão das variáveis contextuais visa captar a extensão e profundidade das
desigualdades sociais em diversas óticas, afim de justificar os embasamentos do modelo
teórico, abordado na seção 2.
14
Esse modelo é denominado de não condicional, pois permite mensurar a variabilidade não condicional do
segundo nível;
113
O percentual municipal de lares com chefia feminina, pouco escolarizadas, é uma
proxy de indicador de desestruturação social. Com base no exposto por Pearce (1978),
acredita-se que a mesma é resultado das transformações da estrutura familiar e condições
socioeconômicas, as quais conduziram as mulheres a assumir, sozinhas, a função de
provedoras do lar, tornando-as mais vulneráveis a pobreza. Ademais acredita-se na
transmissão intergeracional da pobreza, uma vez que mães mais educadas podem dar maior
apoio e motivação para seus filhos. Desta forma, acredita-se que determinados locais com
maior dimensão de desestruturação familiar podem afetar negativamente as escolhas
ocupacionais das crianças e dos adolescentes.
No que se refere a informações diretamente relacionadas à qualidade de vida dessa
sociedade, foi incluída como variável o acesso a serviços públicos, representados pelo
percentual de banheiro e água encanada, está associada à proxy para o bem-estar. Desta forma
busca-se captar a eficiência ao acesso de serviços básicos, dado que em determinadas
localidades do Estado, encontram-se discrepâncias quanto à distribuição do saneamento. De
modo geral, esta variável procura representar a infraestrutura local que possui influência
direta na qualidade de vida dos moradores.
O grau de informalidade busca captar as diferenças estruturais municipais. Segundo
Mesquita e Ramalho (2015) quanto maior for o grau de informalidade dos mercados, maior
tende a ser o emprego de crianças. Neves e Menezes (2010), apontam que o caráter ilegal do
trabalho infantil-juvenil no país juntamente com a natureza precária dos empregos informais
(trabalho sem carteira assinada) facilita a demanda por trabalho precoce.
Com o intuito de atender os objetivos dessa pesquisa, foram aplicados alguns recortes
como, por exemplo, excluir aquelas crianças que não possuíam status de filho da pessoa
responsável pelo lar. Além disso, para homogeneizar os dados foram selecionadas
adolescentes entre 10 e 16 anos de idade, sem qualquer deficiência física e/ou mental. No que
tange aos aspectos associados aos responsáveis pelos domicílios, para diminuir eventuais
problemas associados a seletividade amostral foram considerados apenas as pessoas
economicamente ativas (ocupadas ou procurando emprego na semana de referência do Censo)
e com idade igual ou inferior a 65 anos. Após essas filtragens e exclusão das observações
faltantes, a amostra final do nível individual foi constituída por 59.119 pessoas.
Quadro 1: Variáveis Utilizada para Estimação
Variável independente Origem
Nível 1: Individual
Atributos do(a) filho(a)
CENSO
Menino 1 para Menino e 0 para Menina
Idade Idade aferida em anos de vida.
Branco 1 para Branco e 0 caso contrário
Rural 1 para criança que mora na Zona Rural e 0 caso contrário
Atributos do(a) responsável e Composição do lar
S/ instrução e fund.
Incompleto*
1 para indivíduos sem instrução e com nível fundamental
incompleto; 0 caso contrário
Fund. completo e médio
incompleto
1 para indivíduos com nível fundamental completo e médio
incompleto; 0 caso contrário
Médio comp. e superior
incompleto
1 para indivíduos com nível médio completo e superior
incompleto; 0 caso contrário
114
Antes da exposição dos resultados econométricos, comtempla-se na Tabela 1 as
estatísticas descritivas das variáveis utilizadas nesta pesquisa. Observa-se que a amostra, após
tratamento, é formada por 59.119 crianças e adolescentes, sendo que 5,69% estão no mercado
de trabalho.
A idade média das crianças e adolescentes trabalhadoras é de 14 anos, sendo destes
32% de raça branca, com 83,14% dos chefes de suas famílias pouco escolarizados, com os
lares compostos em média por 4 membros e com mais de 94% das famílias com mãe presente.
No que se refere a localização, pouco mais de 45,3% estão na zona rural.
Analisando as características dos não trabalhadores que representam 94,31% do total
de crianças e adolescentes, observa-se que a média de idade é de 12 anos, com 34% de cor
branca, compostos por lares com 4 integrantes em média, com 67,45% dos chefes pouco
escolarizados (menor que fundamental completo), e com mais de 94% das famílias com mãe
presente. Em relação a localização, pouco mais 31% estão na zona rural.
Tabela 1: Perfil médio das adolescentes segundo o Censo 2010
Trabalha Não Trabalha
Município
Informalidade Municipal (%) 28,95 26,69
Agua /banheiro Municipal (%) 65,62 72,02
Chefe Mulher Municipal (%) 28,49 25,02
Atributos do(a) responsável e do(a) filho(a)
Rural (%) 45,3 31,9
Urbana (%) 54,7 68,1
Média Idade 14,26 12,85
Mãe presente (%) 94,0 94,5
Sem Mãe presente (%) 6,0 5,5
Média Tamanho Lar 4,0 4,0
Homem (%) 64,3 52,3
Mulher (%) 35,7 47,7
Branco (%) 32,4 34,5
Não Branco (%) 67,6 65,5
S/ instrução e fund. Incompleto (%) 83,14 67,45
Fund. completo e médio incompleto (%) 8,21 11,11
Médio comp. e superior incompleto (%) 7,61 16,77
Superior completo (%) 1,04 4,67
Superior completo 1 para indivíduos com nível superior completo; 0 caso contrário
Mãe presente 1 para a existência de mãe no lar e 0 caso contrário
Tamanho Lar Número de indivíduos na família
Nível 2: Município
Chefe mulher Percentual de mães chefes de família sem fundamental completo
e com filhos menores de 15 anos.
IPEAGEO Agua /banheiro
Percentual da população em domicílios com banheiro e água
encanada.
Informalidade
Proxy para Taxa de informalidade do mercado de trabalho.
Percentual da população de 18 anos ou mais empregados sem
carteira.
Nota: (*) Categoria omitida. Fonte: Elaboração dos autores.
115
Observações 3.363 55.756
(5,69%) (94,31%)
Fonte: Elaboração própria com base em microdados do Censo Demográfico de 2010.
No que diz respeito às características peculiares ao município, a taxa de informalidade
é maior em localidades onde há trabalho precoce. Em relação a infraestrutura local, nota-se
que municípios com maior acesso à água encanada e banheiro possuem um menor contingente
de crianças e adolescentes trabalhadoras. Por fim, verifica-se uma maior presença de trabalho
precoce em municípios com um maior percentual de lares cuja a mãe é chefe de família e
apresenta baixa escolaridade.
4. ANÁLISES DE RESULTADOS
Diante à hierarquia dos dados, a utilização da modelagem Multinível se faz necessária
uma vez que possibilita a determinação dos efeitos diretos (nível 1) e dos efeitos indiretos
(nível 2). Desta forma a primeira etapa da abordagem consiste na análise do modelo Vazio,
em que nenhuma variável é inserida, objetivando-se constatar aleatoriedade dos coeficientes,
exposto na Tabela 2.
Para testar a significância estatística da variância foi realizado o teste de razão
verossimilhança, assumindo a hipótese nula de que a variância do nível 2 é igual a zero.
Constata-se no modelo nulo, que a variância do nível 2 é significativamente diferente de zero
e, portanto, há um efeito aleatório sobre os coeficientes causados por aspectos não
observados, logo, é possível que as localidades apresentem valores diferenciados para a
probabilidade das crianças e dos adolescentes ofertarem trabalho.
De forma adicional, o coeficiente de correlação intra-classe mostra que 14,4% da
variação na probabilidade de o indivíduo participar do mercado de trabalho precocemente são
atribuídas às características peculiares da localidade (nível2), contribuindo para a possível
existência de um efeito de contexto social. Tanto pelo teste de razão verossimilhança quanto o
pelo valor do ICC, justifica-se a utilização da abordagem hierárquica, ao invés de um modelo
de regressão clássico15
.
Tabela 2: Determinantes do Trabalho Precoce em Pernambuco, 2010. (Modelo Nulo)
Parâmetros
Componente Fixo
Constante
-2,970***
(0,060)
Componente Aleatório
σu2 (Variância residual do nível 2: municípios) 0,554
***
ICC 14,4%
Teste LR vs regressão logística: 𝜒² = 1243.52 (p-valor = 0,0)
15
Para Hope e Shannon (2005) recomenda-se a modelagem Multinível sempre que o ICC for maior que 0,01.
116
Fonte: Elaboração dos autores partir dos microdados do Censo Demográfico de 2010 e dados do IPEAGEO.
Notas: Desvio Padrão em parêntese. ***
indica significância a 1%.
Dessa forma, o passo seguinte consiste na estimação do Modelo 1 com a inclusão de
variáveis relativas às características do indivíduo e de sua família como, por exemplo, a idade,
sexo, escolaridade do chefe, presença materna, cor, local de residência (urbana ou rural) e
tamanho da família. Além disso, verifica-se a importância direta das variáveis de contexto
social de ordem municipal. Sendo assim, observa-se (assim como no modelo Vazio) o
comportamento da variância do segundo nível, ou seja, à medida que se insere gradualmente
as variáveis: mulher chefe, informalidade e água/saneamento, representadas no Modelo 2,
Modelo 3 e Modelo 4, respectivamente. Esses resultados estão expostos na Tabela 3.
Tabela 3: Determinantes da Participação no Mercado de Trabalho Precoce em Pernambuco, 2010.
Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3 Modelo 4 Razão de Chances
Componente Fixo
Idade 0.420*** 0.420*** 0.420*** 0.420*** 1.522***
(0.0109) (0.0109) (0.0109) (0.0109) (0.0166)
Rural 0.298*** 0.289*** 0.292*** 0.283*** 1.328***
(0.0451) (0.0450) (0.0450) (0.0452) (0.0600)
Homem 0.495*** 0.496*** 0.497*** 0.497*** 1.643***
(0.0387) (0.0387) (0.0387) (0.0387) (0.0635)
Branco -0.0256 -0.0265 -0.0277 -0.0283 0.972
(0.0407) (0.0406) (0.0406) (0.0406) (0.0395)
Mae presente -0.331*** -0.331*** -0.332*** -0.333*** 0.717***
(0.0796) (0.0796) (0.0796) (0.0796) (0.0571)
Tamanho da família 0.0394*** 0.0381*** 0.0384*** 0.0382*** 1.039***
(0.00981) (0.00980) (0.00980) (0.00980) (0.0102)
Fund. completo e médio incompleto -0.241*** -0.236*** -0.234*** -0.232*** 0.793***
(0.0690) (0.0690) (0.0690) (0.0690) (0.0547)
Médio comp. e superior incompleto -0.612*** -0.606*** -0.603*** -0.600*** 0.549***
(0.0717) (0.0717) (0.0717) (0.0717) (0.0393)
Superior completo -1.399*** -1.396*** -1.393*** -1.391*** 0.249***
(0.175) (0.175) (0.175) (0.175) (0.0437)
Mulher Chefe
0.0334*** 0.0278*** 0.0212*** 1.021***
(0.00694) (0.00702) (0.00773) (0.00790)
Informalidade
0.0228*** 0.0252*** 1.026***
(0.00768) (0.00768) (0.00788)
Agua/saneamento
-0.00674* 0.993*
(0.00351) (0.00349)
Intercepto -8.861*** -9.777*** -10.29*** -9.737*** 5.91e-05***
(0.192) (0.273) (0.322) (0.429) (2.53e-05)
Componente aleatório
𝜎𝑢2(Variância entre municípios) 0,574*** 0,490*** 0,460*** 0,446*** -
% da variância explicada
14,7% 19,9% 27,9% -
Observação
Nível individual 59,119 59,119 59,119 59,119 59,119
Nível municipal 185 185 185 185 185
Fonte: Elaboração dos autores a partir dos microdados do Censo Demográfico de 2010 e dados do IPEAGEO. Nota: significante a ***1%; **; 5%. * e 10%.
Observando a Tabela 3, as variâncias do segundo nível são estatisticamente
significantes e, portanto, diferentes de zero para todos os modelos. Logo, rejeita-se a hipótese
nula de que a variância entre os municípios é zero, logo existe a presença de efeito aleatório,
indicando que há diferenças sobre a probabilidade de participar de maneira precoce no
mercado de trabalho entre os ambientes sociais, neste caso representado pelos municípios no
qual o adolescente está inserido.
Destaca-se ainda, que a inclusão de todas as variáveis de contexto (Modelo 4) que
representam as “características locais” dos municípios explicam conjuntamente 27,9% da
variabilidade sobre o intercepto. Sendo que ao comparar os Modelos 2, 3 e 4 a variável que
mais explica essa variabilidade sobre o intercepto, é a variável de percentual de mães chefes
de família sem fundamental completo e com filhos menores de 15 anos, essa importância é de
14,7% (Modelo 2). Isto significa que 14,7% da variação na probabilidade de inserção precoce
no mundo do trabalho são explicados por características peculiares associados a proporção de
famílias chefiadas por mulheres mães e de baixa escolaridade que representa uma medida de
desestruturação social local. Além disso, dado a significância estatística dessa variável,
verifica-se que quanto maior o percentual de famílias nos municípios com mães figurando
como chefes e de baixa escolaridade, então, maior a incidência do trabalho precoce, ou seja,
indivíduos inseridos em municípios com maior incidência de desestruturação social elevam-se
em 1,021 as chances das crianças e dos adolescentes ofertar trabalho.
Com relação a variável de mercado de trabalho, que se apresentou estatisticamente
significante, verifica-se que quanto maior o percentual de trabalhadores sem carteira assinada
maior a incidência de crianças e adolescentes no mercado de trabalho, isto porque à ausência
de regras legais acaba por facilitar a contratação da mão-de-obra infantil, este resultado foi
também encontrado por Mesquita e Ramalho (2015).
Já a variável associada ao bem-estar, que também se apresentou estatisticamente
significante e com sinal negativo, indica que quanto maior o percentual da população com
acesso a serviços de água encanada e infraestrutura, menor será a probabilidade dos
adolescentes e crianças estarem exercendo atividades laborais.
Com relação a análise da significância estatística, as variáveis do primeiro nível
mostram-se significativas, em sua maioria com 99% de confiança, e com sinal esperado. Os
resultados evidenciam que crianças e adolescentes do sexo masculino são mais propensos a
trabalhar em relação ao feminino. Ademais, percebe-se uma relação positiva entre a idade e a
inserção no mundo do trabalho, isso implica dizer que quanto mais velho for o adolescente
maior a chance do mesmo de inserir-se no mercado de trabalho.
Destaca-se, ainda, que ter pais mais instruídos reduzem as chances das crianças e dos
adolescentes a trabalharem. Cabe destacar que nesta pesquisa considerou-se a educação como
uma proxy do nível de renda dos pais, logo acredita-se na existência de uma relação inversa
entre a renda do lar e o trabalho precoce. Nesta perspectiva, há uma série de pesquisas
realizadas no Brasil como Kassouf (1999, 2001, 2002) e Santos e Kassouf (2010) que
encontram a mesma relação entre educação dos país e a probabilidade das crianças e
adolescentes ofertarem trabalho.
Por sua vez, a variável mãe presente no lar acaba reduzindo a probabilidade do
adolescente ofertar trabalho, tal resultado está de acordo com esperado, uma vez que a mãe é
responsável por fornecer maior incentivo educacional aos filhos.
As estimativas apontam que quanto maior o número de componentes da família maior
a probabilidade da participação infanto-juvenil na força de trabalho. O achado está de acordo
com os demais estudos observados na área como Barros et al. (1994), Kassouf (2005),
Emerson e Portela Souza (2008) e Mesquita e Ramalho (2015), isso porque acredita-se que
quanto maior o tamanho da família menor será a renda per capita, portanto, maior o grau de
vulnerabilidade do lar.
O fato de morar na zona rural aumenta a probabilidade de inserção precoce de crianças
e adolescentes no mercado de trabalho em Pernambuco. Tais resultados corroboram com os
achados expostos na literatura nacional como Kassouf (2007) e Santos e Kassouf (2010).
Nesta ótica, Moreira et al. (2014) argumentam que a inserção rápida de crianças no mercado
de trabalho depende da situação censitária da mesma, ou seja, o fato dela estar inserida em um
ambiente rural ou não. Entende-se que o trabalho rural necessita de maior porte físico e tal
característica é mais facilmente preenchida pelos indivíduos do gênero masculino. Já nas
áreas urbanas o trabalho é menos rigoroso quanto ao uso da força e das condições físicas do
indivíduo.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diversas pesquisas sobre o trabalho infantil têm apontado os efeitos danosos de tal
prática na vida da criança, adolescente e para a sociedade em geral. Nesse sentido, procurou-
se evidenciar o que leva certa criança ou adolescente a ofertar trabalho. Diferentemente da
literatura já existente, procurou-se destacar os efeitos que o contexto social possui sobre tal
processo de escolha.
Como modo de captar esse efeito de contexto social, utilizou-se o Modelo Multinível
com variáveis que representaram a desestruturação social, o mercado de trabalho e o bem-
estar. De modo geral, o ambiente em que a criança ou adolescente vive é importante para o
seu desenvolvimento, onde contextos sociais precários com baixo acesso a infraestrutura,
presença de desestruturação social e acesso ao mercado informal, contribuem para a baixa
escolarização e escolha de ofertar trabalho precoce.
Os resultados apontam ainda que há uma relação positiva entre idade e inserção no
mundo do trabalho e que ter pais mais instruídos reduzem as chances das crianças e dos
adolescentes trabalharem. Por sua vez, a variável mãe presente no lar reduz a probabilidade
do adolescente ofertar trabalho e quanto maior o número de componentes da família maior a
probabilidade da participação infanto-juvenil na força de trabalho. Por fim, o fato de morar na
zona rural aumenta a probabilidade de inserção precoce de crianças e adolescentes no
mercado de trabalho pernambucano.
Em termos gerais, ressalta-se que os resultados encontrados sobre às características
individuais, familiares e locais, acima listadas, ratificam a análise descritiva preliminar
elaborada anteriormente, e, também, corroboram com aspectos expostos na literatura nacional
e internacional, como as pesquisas de McLanahan (1985), Barros et al. (1994), Cavalieri
(2002), Kassouf (2005, 2007), Emerson e Portela Souza (2008), Santos e Kassouf (2010),
Moreira et al. (2014), Mesquita e Ramalho (2015).
Logo, diante de todas essas informações, nota-se que as políticas públicas voltadas à
redução do trabalho infantil não dependem apenas do grau de fiscalização implementada
pelos mais diversos órgãos e instituições. Apesar de importantes, existem outros fatores
ligados, sobretudo aos arranjos familiares (mãe chefe de família, quantidade de pessoas na
família), educacionais e de renda (educação da mãe), características do contexto social
(estrutura municipal como, por exemplo, acesso a infraestrutura), ou mesmo as relacionadas
ao próprio mercado de trabalho (pessoas trabalhando com carteira assinada) que podem
influenciar nas decisões dos indivíduos. Assim, as políticas voltadas para este setor devem ser
construídas localmente e levando em consideração todos esses possíveis impactos.
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O EFEITO DA SECA NA PRODUÇÃO AGRÍCOLA: UM ESTUDO DE CASO NAS
MICRORREGIÕES DO NORDESTE: 1991-2015
JAMILY FREIRE GONÇALVES
Graduanda em Economia pela Universidade Regional do Cariri (URCA), e-mail:
[email protected], Telefone: (88) 9 9941-5302.
WELLINGTON RIBEIRO JUSTO
Professor associado da Universidade Regional do Cariri (URCA), Professor do Programa de
Pós-graduação em Economia (PPGECON-UFPE), Doutor em Economia pelo Programa de
Pós-graduação em Economia do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (PIMES-UFPE), e-
mail: [email protected], Telefone: (81) 9 8848-1898.
NATANIELE DOS SANTOS ALENCAR
Economista pela Universidade Regional do Cariri (URCA), e-mail: nataniele-
[email protected], Telefone: (88) 9 9449-1362.
TIAGO CARTAXO DE LUCENA
Professor Efetivo da Secretaria da Educação do Estado do Ceará (SEDUC), Mestre em Geografia
pela Universidade Federal do Ceará (UFC), e-mail: [email protected], Telefone: (88) 9
9924-6554.
O EFEITO DA SECA NA PRODUÇÃO AGRÍCOLA: UM ESTUDO DE CASO NAS
MICRORREGIÕES DO NORDESTE: 1991-2015
RESUMO:
Apesar da extensa literatura sobre a seca que é um fator determinante da economia, poucos
são os trabalhos que a relacionam com a produção agrícola e com o valor da produção para as
microrregiões do Nordeste brasileiro. O objetivo desse trabalho foi analisar o efeito da seca na
produção agrícola e valor da produção das principais culturas da agricultura familiar: arroz,
milho, feijão e mandioca nas microrregiões do Nordeste do Brasil no período de 1991 a 2015.
Foram estimados modelos de regressão múltipla com variáveis dummies com dados em painel
com dados do Sistema IBGE de Recuperação Automática – SIDRA. Durante o período
analisado, observou-se que tanto o El Niño como o La Niña afetam tanto a produção como o
valor da produção. Constatou-se, também, uma baixa produtividade dessas culturas. Não
linearmente, mas observou-se o crescimento da produção de milho e queda na produção de
arroz. Assim, tem-se que há espaço para implantação de políticas públicas que permitam o
cultivo de variedades mais adaptadas para região bem como de outras práticas agrícolas que
atenuem os efeitos das variações climáticas na produção e renda dos agricultores.
Palavras-Chaves: Produção agrícola; Produtividade; Valor da Produção; El Niño; La Niña.
ABSTRACT:
Despite the extensive literature on drought that is a determinant factor of the economy, there
are few studies that relate it to agricultural production and production value for the micro
regions of the Brazilian Northeast. The objective of this study was to analyze the effect of
drought on the agricultural production and value of the production of the main crops of
family agriculture: rice, corn, beans and cassava in the micro regions of Northeastern Brazil
from 1991 to 2015. Multiple regression models with dummy variables with panel data are
estimated with data from the IBGE-SIDRA. During the analyzed period, it was observed that
both El Niño and La Niña affect both production and production value. There was also a low
productivity of these crops. Non-linearly, but growth of maize production and drop in rice
production were observed. Thus, there is room for the implementation of public policies that
allow the cultivation of varieties more adapted to the region as well as other agricultural
practices that attenuate the effects of climatic variations on farmers' production and income.
Keywords: Agricultural production; Productivity; Production Value; El Niño; La Niña.
1. Introdução
Na região nordeste do Brasil, existe três tipos de clima: O semiárido, o tropical e o
equatorial úmido. Nessa região as chuvas não são bem distribuídas ao longo do ano,
principalmente na zona semiárida, contribuindo por marcar a agricultura do semiárido como
fragilizada.
A seca é um fenômeno natural que contribui para a desestruturação de um sistema
socioeconômico, parcela importante na economia do nordeste que é baseada na agricultura, na
qual é responsável por grande parte da dinâmica alimentícia da região. Como o clima é um
fator importante para o bom êxito dessa dinâmica, é principalmente a partir de ocorrência de
prolongadas estiagens que a produtividade, a geração de renda e emprego são mais
comprometidas.
Os impactos das secas são problemas ainda bastantes sérios, pois deixam em seu rasto
a miséria, doenças, epidemias e grandes migrações, devido às condições precárias
proporcionadas pelos períodos de estiagens, principalmente nas regiões sem condições
necessárias de conviver com tal realidade, pois falta comida e não há trabalho para todos. Ou
seja, esse cenário econômico traz a redução da produção agrícola nas regiões afetadas e,
consequentemente, vêm os acréscimos nos preços dos alimentos básicos e a redução do nível
renda.
A seca tem sido estudada há muito tempo na tentativa de buscar soluções de forma a
conviver com este problema secular, porém são persistentes os problemas enfrentados. Várias
foram as propostas apresentadas que vão desde a construção de grandes açudes à transposição
do Rio São Francisco que depois de décadas está sendo concretizada.
Mas não foi fácil a seca ser reconhecida como problema nacional que deveria ser
objeto de políticas públicas. Só depois da catastrófica seca de 1877 a 1879 veio a aceitação.
Segundo Smith (1879, apud CAMPOS, 2013).
Em 1958, houve uma das secas mais intensas da história. Porém, o impacto na
população não foi gigantesco comparando com antigamente, pois já havia inúmeros açudes e
amparos sociais. Atualmente, os programas sociais feitos ao longo dos tempos reduziram
bastante o impacto da seca sobre a parcela mais pobre da população.
Os impactos destas secas têm sido amenizados ao longo das últimas décadas pela
implantação de diversas políticas e ações de instituições governamentais e não
governamentais como a Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA), o Projeto de implantação
de um milhão de cisternas, a construção de grandes açudes, a elevação do crédito do
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), o programa Luz
para todos e diversos programas de transferência de renda. Esses programas têm contribuído
para criar infraestrutura que ameniza os efeitos nefastos da seca e são relevantes para
identificar se de fato a população rural do Nordeste está mais bem estruturada para enfrentar
este problema.
Assim, diante do quadro de seca destes últimos anos, caracterizado como uma das
maiores já ocorridas, estudos que possam avaliar os possíveis efeitos da seca em um ambiente
de nova realidade. Nesse contexto é relevante buscar responder: quais os efeitos que a seca
traz para a população atingida? Falta o apoio do governo com a implementação de mais
políticas públicas? A seca causa diminuição da produção e afeta o preço dos produtos
agrícolas das áreas atingidas a despeito de tantos recursos investidos através de políticas
públicas como o PRONAF e o programa construção de cisternas?
Esse trabalho busca responder a essa lacuna e contribuir com a literatura avaliando o
efeito da seca nas principais produções agrícolas nas 188 microrregiões do Nordeste no
período 1991 a 2015, analisando o impacto da seca sobre a produção de feijão, milho, arroz e
mandioca nas microrregiões Nordestina e mensurando os possíveis impactos da seca na renda
agrícola. A partir da utilização de dados para as microrregiões do Nordeste Brasileiro no
Sistema IBGE de recuperação automática - SIDRA, estudos desenvolvidos anteriormente
analisaram os efeitos da seca sobre outras variáveis ou recortes espaciais e temporais. A
escolha das culturas se dá em função de serem as mais tradicionais na agricultura familiar e o
período foi escolhido em função da disponibilidade de dados.
2. A seca na região Nordeste
Essa seção busca fazer um levantamento de trabalhos empíricos que abordam a
temática que nortearão as discussões dos resultados, como também apresentar um histórico
sobre a seca no nordeste.
De acordo com o IBGE (2012), a região nordeste ocupa 20% do território nacional.
Duarte (2001) destaca que 57% do território nordestino é ocupado pela zona semiárida. Para a
CMN (2013) a seca na região nordeste atinge 38% da população do semiárido, abrangendo
em torno de 9 milhões de habitantes. Segundo Pessoa et al. (1998) é o semiárido mais
populoso do mundo. Nessa área as chuvas não são bem distribuídas ao longo do ano,
principalmente na zona semiárida, caracterizada por constantes períodos de secas que
contribui por marcar a agricultura do semiárido como fragilizada (GTDN, 1959).
As secas de 1784 a 1791 no espaço hoje conhecido como nordeste do Brasil foi muito
intensa, mas pouco se escreveu sobre aqueles anos de extrema dificuldade, nota-se que essas
secas têm sido dadas e tidas como mais comuns ao Ceará do que a outros locais das áreas
afetadas. Depois dessas secas, a mais notada foi a de 1877 a 1879, que foram reconhecidas em
todo país, por seus impactos paradigmáticos. Isso ocorreu não apenas por seus efeitos sobre os
seres humanos mortos, o número de animais dizimados ou o destroçamento da frágil
economia sertaneja. Mas também foi por causa das descrições e registros efetuados sobre
aqueles três anos, em proporção ampla, comparadas às descrições produzidas sobre secas
plurianuais (CARVALHO, 2013).
Os anos de 1915, 1932, 1958 e 1970 foram de secas, se destacando também por seus
prejuízos de magnitude e natureza variada sobre os habitantes no semiárido nordestino,
complicando a vida de milhares de pessoas residentes no espaço cognominado de Polígono
das Secas, instituído como figura oficialmente protegida pelos governos da União e dos
estados (CARVALHO, 2013).
A partir de autores como Furtado (1959), Pessoa, Cavalcanti e Duque (1973) é
possível destacar que o próprio desenvolvimento econômico tende a criar desigualdades no
mundo todo, sendo que nas ocorrências de períodos prolongados de estiagens a perda da
produção é inevitável e afeta diretamente a população mais excluída pelo próprio sistema,
piorando, assim, a situação de pobreza, a partir do aumento da falta de oportunidades de
trabalho e redução das condições de subsistência.
Contudo para Carleial e Oliveira (1991) e Duarte (2001), as secas apenas tornam mais
visível a condição da pobreza reinante no Nordeste rural, além de resultar desigualdades na
posse da terra, é agravada pela instabilidade representada pelo trabalho temporário. Destaca
também a forma de sobrevivência dessas pessoas que vai depender de políticas públicas
urgentes.
Autores como Furtado (1998) e Khan e Campos (1995) consideram a seca como um
colapso da produção agrícola e que na zona semiárida é ainda mais grave pela periódica
ocorrência, que reduzem bastante os volumes de produção e que incidem sobre a população
sem-terra e de escassos recursos financeiros, atingindo a agricultura de subsistência. Foi
confirmado pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste SUDENE em 1970 que
os efeitos da seca recaem pesadamente sobre a população menos favorecida da população
rural que são os pequenos proprietários e os trabalhadores sem-terra. Vale ressaltar que a
SUDENE e o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas - DNOCS ambos foram
criados em 1959 e 1945 respectivamente, para estudos e obras contra os efeitos da seca.
Silva (2007) destaca a realidade dominante da seca até os dias atuais, tendo a mesma
intensidade de antigamente. Essa vulnerabilidade hídrica é o principal problema dessa região,
pois desencadeia outras como econômicas e sociais, assinala o autor. A migração é, na
maioria das vezes, a principal estratégia para as famílias atingidas.
Autores como Teracines (2011) e Cirino (2012) revelam que as perdas agrícolas
provocadas pelas secas são potencializadas nos anos de El Niño, que são os anos de
incidências das secas. Nessas condições, principalmente as camadas mais pobres da
população rural tornam-se inteiramente vulneráveis a esse fenômeno. A região Nordeste é
onde historicamente registraram-se as maiores perdas agrícolas (DNOCS, 2012). Campos
(2012) descreveu sobre o enorme desafio no atendimento à população que habitam essas
regiões afastadas na distribuição desta água.
Sampaio et al. (2014) destacam que a seca afeta a queda da renda geral,
principalmente nos pequenos produtores, que não tem reservas. Determinante das grandes
tragédias como a fome, doenças e morte, do século XIII, XIX e início do século XX. Para os
autores a seca é um fenômeno natural geográfico, que sempre irá ocorrer, porém pode ter
ajuste na economia para reduzir o impacto das calamidades. Como cita a Superintendência de
Desenvolvimento do Nordeste - SUDENE da necessidade de ter planos preventivos ajustados
anualmente.
Sampaio e Sampaio (2014) ressaltam o impacto econômico das incidências das secas,
sobre a função de lucro e produção na agricultura, também da demanda e oferta de trabalho
nas regiões afetadas, ou seja, destacam impactos sobre a distribuição de renda, apontando a
necessidade de intervenção do governo.
3. Fases das políticas públicas para convivência com a seca
Campos (2013) declara que as políticas públicas para enfrentamento das secas,
iniciaram após a grande tragédia da seca de 1877 a 1879, quando morreram muitas pessoas.
A evolução e implementação de várias políticas públicas teve com propostas feitas por
(ANDRADE, 1970; CARVALHO, 1988; MAGALHÃES; GLANTZ, 1992). Esses autores
estruturaram as políticas de secas em algumas fases. A primeira fase para Andrade (1970) é a
humanitária referente à comiseração às vítimas das secas. Carvalho (1988) analisa a primeira
fase sendo da presença governamental até 1950, avaliada em dois caminhos: primeiro as
medidas tomadas pelos governos para socorro das populações e segundo as ações preventivas
para resolverem os problemas das secas que corresponde ao que se denomina de solução
hidráulica. Magalhães e Glantz (1992) estruturaram a primeira fase como a de estudos,
considerando o período de 1877 a 1906, quando várias comissões vieram ao Nordeste com o
objetivo de propor soluções para o problema das secas.
Andrade (1970) estruturou a segunda fase de políticas de secas como a da intervenção,
também denominada fase hidráulica, inicia-se com a criação da Inspetoria de Obras Contra as
Secas em 1909. Nessa fase construíram-se açudes e sistematiza-se a rede de dados
meteorológicos e hidrológicos. Carvalho (1988) a segunda fase é a mudança de padrão, de
1950 a 1959. A segunda fase Magalhães e Glantz (1992) estrutura como a de engenharia de
recursos hídricos que abrange o período de 1906 a 1945.
Andrade (1970) analisa e estrutura a terceira fase de políticas de secas como a de
diferenciação, que inicia com a criação do Banco do Nordeste do Brasil (BNB) em 1951.
Carvalho (1988) estrutura a terceira fase das políticas com as reformas para modernização de
1959 a 1964. A terceira fase Magalhães e Glantz (1992) analisa como ecológica, que foi no
período de 1945 a 1950, no qual se procurou o desenvolvimento da agricultura adaptada à
região.
Andrade (1970) estrutura a quarta fase das políticas contra seca, como a de
desenvolvimento regional tem como marco o seminário para o desenvolvimento econômico
do nordeste, realizado em Pernambuco em 1959. Carvalho (1988) analisa a quarta fase como
a da modernização conservadora, decorrente da implantação do regime militar. A quarta fase
para Magalhães e Glantz (1992) foi a de desenvolvimento econômico, que compreende o
período de 1950 a 1970, no qual foram criadas instituições, como a Companhia Hidrelétrica
do São Francisco (Chesf), o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e a (SUDENE). Classificam
as políticas em mais duas fases, a quinta a fase de desenvolvimento sócio econômico,
corresponde ao período em que se estabelece a erradicação da pobreza como prioridade, a
sexta a fase de desenvolvimento sustentável inicia em 1990 no âmbito do desenvolvimento
sustentável.
4. Soluções para convivência com a seca
Duarte (2001) singulariza que as políticas públicas emergenciais que amenizam as
situações provocadas pelas secas, não resolvem o problema. O ideal seria aumentar os
investimentos em infraestrutura, ou seja, aumento de cisternas e barragens, que ainda são
poucas, buscando também o fim da burocracia no atendimento em situações de emergências
dos municípios. O aumento da transposição de bacias hidrográficas para a irrigação das áreas
afetadas. Ou seja, um plano adequado de gerenciamento de recursos hídricos, além de
medidas emergenciais, pois os eventos temporais El Niño e La niña são irregulares.
Khan et al. (2005) mencionam a necessidade de construir novas oportunidades de
segurança trabalhista nos períodos pós secas nas regiões afetadas e capacitações produtivas
sustentáveis e menos agressivas aos recursos naturais, como também o melhoramento e
expansão da água tratada nas pequenas cidades e pequenas comunidades rurais.
Silva (2007) afirma a falta de uma gestão eficiente amplia as ameaças, como
consequência estão os desmatamentos, a perda da fertilidade dos solos, entre outros. A
evidente importância da elaboração de estratégias minimizam os impactos trazidos pela seca
Para Pinto e Assad (2008), se nada for feito para mitigar os efeitos das mudanças
climáticas e adaptar as culturas para a nova situação, regiões que atualmente são as maiores
produtoras de grãos podem não estar mais aptas ao plantio. Considerando a heterogeneidade
climática e condições que podem ser favoráveis ou desfavoráveis, dependendo da cultura
agrícola. Uma das saídas para o nordeste são técnicas de convivência com a seca e incentivo à
produção de espécies adaptadas à seca. Citam como ação o melhoramento e a transgenia que
pode ajudar a minimizar os danos no Semiárido.
Soares (2013) analisa a importância da transposição do Rio São Francisco para a
solução da problemática da seca. Destacado pela CNM (2013) como uma infraestrutura
hídrica muito importante para o fortalecimento da oferta de água no semiárido. Soares (2013)
menciona a extensão do rio é 73% da oferta hídrica superficial do nordeste, o rio passa nos
estados nordestinos de Alagoas, Sergipe e Pernambuco, essa transposição leva água à
população que sofre com graves problemas acarretados pela escassez de água em sua
localidade, afirmam a falta de uma gestão integrada e sustentável de recursos hídricos,
mencionando a falta de planejamentos técnicos, propõe a conscientização para evitar o
desperdício da população.
Segundo Campos (2013), as futuras secas intensas devem causar danos, mas nada
comparado ao passado, pois existem já muitos benefícios para erradicar a pobreza, como a
implementação de vários programas, como Bolsa Família, que é de transferência direta de
renda. O seguro safra que garante uma pequena renda para pequenos agricultores no caso de
perda das plantações. O programa água para todos, que tem como objetivo levar água para a
população mais pobre do meio rural.
Campos (2013) destaca que os programas sociais implantados no nordeste reduziram
os impactos causados pela seca sobre a população. Campos (2013) juntamente com Silva
(2007) reconhecem que muitas coisas já foram feitas para a sociedade nordestina crescesse e
industrializasse, porém há ainda muitos desafios de políticas públicas. Como erradicar a
pobreza, eliminar as desigualdades regionais, modernizar as gestões de aguas, melhorar a
qualidade das aguas nos reservatórios existentes.
A melhor solução para a convivência com a seca, para Araújo et al. (2013) é que os
formuladores de políticas públicas desenvolvam medidas de longo prazo. Ou seja, um plano
adequado dos recursos hídricos, garantindo o abastecimento de água, ampliação da área
irrigada para o produtor rural e a estocagem de alimentos são duas ações fundamentais. Além
da perenização de rios e poços, da transposição de rios, da construção de barragens de médio
porte e assistência técnica aos produtores.
5. Metodologia
Essa seção traz a caracterização da área de estudo, os dados e o modelo empírico
utilizado.
5.1 Área de estudo
O presente estudo tem como foco analisar o efeito da seca sob a dinâmica da produção
e do valor da produção das principais culturas da agricultura familiar, a partir das
microrregiões do nordeste no período de 1991 a 2015, possibilitando um recorte temporal de
24 anos, compreendendo períodos de seca e períodos de inverno normal. As culturas que
estão sendo analisadas são: arroz, feijão, milho e mandioca.
5.2 Fonte de dados
Os dados utilizados são do Sistema IBGE de Recuperação Automática – SIDRA. Na
figura 1 – observam-se em destaque as áreas do Nordeste mais susceptíveis à ocorrência das
secas.
Figura 1: Áreas do Nordeste mais susceptíveis à ocorrência das secas
Fonte: CARVALHO et al. (2012).
O Nordeste tem uma área territorial de 1.558.000 km² com uma população estimada de
46.995.094 habitantes, IGBE (2017). Composta por 9 estados: Ceará, Rio Grande do Norte,
Paraíba, Piauí, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Maranhão. Totalizando em 188
microrregiões Nordestinas.
5.3 Variáveis utilizadas
As variáveis utilizadas nos modelos estimados são: produção, área plantada,
produtividade, valor da produção, delnino e delanina que são dummys que assume valor 1
para os anos que ocorreu esses fenômenos de moderado a forte nas microrregiões. Serão
criadas variáveis dummies para as microrregiões para captar possíveis comportamentos
distintos da produção das culturas analisadas.
5.4 Modelo empírico
O modelo empírico utilizado é o de regressão linear múltipla com dados em painel
com variáveis dummies. O modelo a ser estimado poderá ser o de efeitos aleatórios ou de
efeitos fixos. Os modelos com efeitos fixos a estimação são feitos assumindo que a
heterogeneidade das microrregiões é captada na parte constante, que é diferente de
microrregião para microrregião. Ou seja, consideram que as diferenças das microrregiões
(indivíduos) são captadas na parte constante. Já os modelos com efeitos aleatórios consideram
a constante não como um parâmetro fixo, mas como um parâmetro aleatório não observável e
que essas diferenças são captadas no termo de erro. O teste de Hausman que avalia a
consistência de um estimador comparado a um outro estimador alternativo, evidencia qual dos
dois modelos o mais apropriado. A hipótese nula do Teste de Hausman assegura que o
modelo de efeito aleatório é o mais adequado. Se a hipótese nula não for aceita, ou seja, se for
rejeitada, então o modelo de efeito fixo será o mais apropriado. O modelo a ser estimado
segue a seguinte equação seguindo Greene (2008):
itit
N
i
iiit ubXDaY
...1
(1)
Com Di a variável Dummy referente ao indivíduo i (microrregião). T compreende o
período: 1991 a 2015. a e b são parâmetros a serem estimados e u é o termo de erro. Admite-
se que todos os erros são homocedásticos e não autocorrelacionados. A autocorrelação dos
erros dentro do próprio indivíduo (within-unit autocorrelation) torna os estimadores OLS não
eficientes e os erros padrão inválidos. A solução é estimar o modelo de efeitos aleatórios pelo
método GLS (Método dos Mínimos Quadrados Generalizados), obtendo-se estimadores
eficientes. Para corrigir problemas de heterocedasticidade serão estimados erros padrões
robustos por meio de bootstrap. Para testar a presença de raiz unitária foi utilizado o método
de Fisher com opção de Phillip-Perron seguindo Choi (2001). As estimações foram feitas no
STATA 13.0.
6. Resultado e Discussões
6.2 Estatística descritiva das variáveis no painel
Na Tabela 1, observa-se a estatística descritiva das variáveis no painel das 188
microrregiões do Nordeste. É apresentada uma análise comparativa entre as culturas do arroz,
feijão, mandioca e milho. Referindo-se a média da variável, desvio padrão, do valor mínimo,
valor máximo e o número de observações. Com as respectivas variáveis: área plantada, área
colhida, produção, produtividade e o valor da produção, juntamente com as variáveis delnino
e delnina, que identificam anos ocorrência moderada ou forte desses fenômenos (1) ou fraca
ou inexistente (0), ao longo do tempo. O período de análise é de 1991 a 2015. Vale destacar
que between é a dispersão entre as microrregiões e within é a dispersão dentro das
microrregiões estudadas ao longo do tempo.
Resumidamente, na tabela 1 podemos observar, de modo geral, na área plantada
durante os anos analisados as culturas com as maiores médias em ordem crescente foram: o
milho com 15.215,51; feijão com 12.214,49; arroz com 7.612,96 e por último a menor média
a mandioca com 4.536,04, vale destacar que permanece essa mesma ordem na média da área
colhida das respectivas culturas. A média da variável do valor da produção é maior para a
cultura da mandioca com R$13,418 milhões, em seguida a do milho com R$9,414 milhões,
em seguida o feijão com R$ 9,125 milhões e por último o arroz que está com
R$8,631milhões. Em geral também se observa que há uma dispersão heterogênea dentro e
entre para cada variável. Ou seja, não somente a dispersão de cada variável muda ao longo do
tempo como também essa heterogeneidade da dispersão ocorre entre as microrregiões. Isso
intuitivamente é esperado haja vista que no nordeste há regiões com nível tecnológico mais
elevado na agricultura bem como o regime de chuvas é bem heterogêneo entre elas.
Tabela 1 – Estatística descritiva das variáveis no painel das microrregiões do nordeste
Fonte: Elaboração própria a partir do SIDRA/IBGE.
A tabela 2 traz o resultado do teste de raiz unitária para todas as séries utilizadas nas
estimações. Considerando a escolha de quatro defasagens, nenhuma série apresentou raiz
unitária para os dados em painel. Assim, podem-se utilizar todas as séries com as variáveis em
nível.
Tabela 2 - Teste de Raiz Unitária de Fisher das Séries utilizadas na estimação com dados em
painel
Variável Valor da estatística Prob
ProducaoArroz 748.9664 0.0000
AreaplanArroz 1307.8337 0.0000
Produtarroz 1360. 0.0000
ProducaoFeijao 804.1530 0.0000
AreaplanFeijao 1104.5603 0.0000
ProdutFeijao 464.7852 0.0009
ProducaoMandioca 1384.3477 0.0000
AreaplanMandioca 1552.5656 0.0000
ProdutMandioca 491.8126 0.0000
ProduçaoMilho 2158.9370 0.0000
AreaplanMilho 1188.7404 0.0000
ProdutMilho 2366.8236 0.0000
delnino 2352.6233 0.0000
Delnina 1246.4042 0.0000
Fonte: elaborado pelos autores com base nos dados do IBGE-SIDRA.
6.3 Produção das culturas do arroz, feijão, mandioca e milho das Microrregiões do
Nordeste
Na tabela 3, tem-se resultado da estimação da regressão da produção de arroz. O teste
de Hausman identificou que o modelo de efeito fixo, representado pelo número 1, é o mais
apropriado. Ou seja, a hipótese nula não foi aceita. Todos os coeficientes são significativos e
apresentam os sinais esperados. Tudo mais constante, quanto maior a área plantada e a
produtividade, maior a produção. Já nos anos de ocorrência do El Niño, há uma diminuição da
produção. Já quando prevalece o fenômeno La Niña, ocorre o oposto.
Tabela 3 – Produção de arroz das microrregiões do Nordeste: modelo de efeito fixo e aleatório
Fonte: Elaboração própria a partir do SIDRA/IBGE.
A Tabela 4 traz a estimação do modelo que apreende a produção de feijão. O teste de
Hausman apontou que o modelo de efeito fixo (1), é o mais apropriado. Ou seja, a hipótese
nula foi rejeitada. O número de observações é bem maior que na estimação da produção de
arroz. Isto ocorre em virtude d menor exigência do feijão em relação ao clima e ao solo.
Os coeficientes da variável área plantada e produtividade foram significantes e
apresentaram os sinais esperados, ou seja, quanto maiores estes, maior a produção de feijão.
Contudo, apesar dos sinais das variáveis que captam os efeitos climáticos estarem de acordo
com o esperado, mas os seus respectivos coeficientes não foram significantes. Assim, não é
possível fazer inferência. Esse resultado é explicado em parte em função do ciclo curto da
* p<0.05, ** p<0.01, *** p<0.001
t statistics in parentheses
N 2559 2559
(-3.81) (-6.43)
_cons -1616.3*** -2781.4***
(2.07) (2.18)
delnina 590.0* 629.2*
(-2.61) (-3.63)
delnino -691.8** -967.7***
(14.29) (18.31)
Produtarroz 2.726*** 2.809***
(48.00) (79.80)
AreaplanAr~z 1.029*** 1.156***
ProducaoAr~z ProducaoAr~z
(1) (2)
. esttab REG1 REG2
Prob>chi2 = 0.0000
= 63.59
chi2(4) = (b-B)'[(V_b-V_B)^(-1)](b-B)
Test: Ho: difference in coefficients not systematic
cultura do feijão e da heterogeneidade do clima entre as microrregiões do nordeste. Assim,
mesmo em períodos de ocorrência do El niño é possível haver produção do feijão,
especificamente onde se cultiva o feijão “macassa” que tem ciclo de produção extremamente
curto, pois uma característica do semiárido brasileiro é que mesmo quando ocorre esse
fenômeno pode chover ainda que com menor intensidade e maior irregularidade.
Tabela 4 - Produção de feijão das microrregiões do Nordeste: modelo de efeito fixo e
aleatório
Fonte: Elaboração própria a partir do IBGE/SIDRA.
A Tabela 5 traz a estimação da regressão da produção de mandioca. Novamente o teste
de Hausman identificou que o modelo mais apropriado é o de efeitos fixos. Também se
observa um número de observação mais elevado comparativamente à produção de arroz e
bem próximo da produção de feijão.
Os coeficientes das variáveis: área plantada e produtividade são significantes e
apresentaram os sinais esperados. Quanto maiores estes, maior a produção de mandioca. Já os
coeficientes das variáveis que apreendem o efeito climático não são significantes, o que
impede de fazer inferência. Uma possível explicação é em virtude do ciclo longo da cultura da
* p<0.05, ** p<0.01, *** p<0.001
t statistics in parentheses
N 4589 4589
(-26.84) (-21.93)
_cons -5987.8*** -5966.2***
(0.65) (0.60)
delnina 98.85 92.81
(-0.13) (0.51)
delnino -17.77 71.22
(24.62) (29.65)
ProdutFeijao 10.45*** 11.72***
(65.68) (71.87)
AreaplanFe~o 0.491*** 0.442***
ProducaoFe~o ProducaoFe~o
(1) (2)
Prob>chi2 = 0.0000
= 143.72
chi2(4) = (b-B)'[(V_b-V_B)^(-1)](b-B)
Test: Ho: difference in coefficients not systematic
mandioca que em média atinge dois anos entre o plantio e a colheita. Assim, durante esse
período pode ocorrer a presença dos dois fenômenos não permitindo isolar os efeitos
separadamente. Ademais, a mandioca é mais adaptada aos períodos de estiagem, o que
também explica esses resultados.
Tabela 5 - Produção da mandioca das microrregiões do Nordeste: modelo de efeito fixo e
aleatório
Fonte: Elaboração própria a partir do IBGE/SIDRA.
O modelo de estimação da produção de milho é apresentado na Tabela 6. O teste de
Hausman também apontou que o modelo mais apropriado é o de efeitos fixos. O número de
observações é maior que o da produção de arroz, mas menor que a de produção de feijão e
mandioca.
Os coeficientes das variáveis: área plantada e produtividade são significantes e
apresentam os sinais esperados indicando uma relação direta com a produção. Já o coeficiente
da variável que capta o El Niño foi significante e negativo. Nesse caso, nos anos de
ocorrência desse fenômeno a produção de milho é menor nas microrregiões do Nordeste, com
uma queda média de mais de três mil toneladas nesses anos. Já o fenômeno La Niña não se
mostrou relevante para a produção do milho.
* p<0.05, ** p<0.01, *** p<0.001
t statistics in parentheses
N 4575 4575
(-29.43) (-21.86)
_cons -32806.8*** -33679.6***
(-0.90) (-0.87)
delnina -445.1 -430.9
(-0.08) (-0.21)
delnino -37.73 -97.41
(32.82) (34.28)
ProdutMand~a 3.611*** 3.673***
(120.63) (130.69)
AreaplanMa~a 9.436*** 9.479***
ProducaoMa~a ProducaoMa~a
(1) (2)
. esttab REG1 REG2
Prob>chi2 = 0.0000
= 31.34
chi2(4) = (b-B)'[(V_b-V_B)^(-1)](b-B)
Test: Ho: difference in coefficients not systematic
Tabela 6 - Produção de milho das microrregiões do Nordeste: modelo de efeito fixo e
aleatório
Fonte: Elaboração própria a partir do IBGE/SIDRA.
6.4 Valor da produção das culturas do arroz, feijão, mandioca e milho das microrregiões
do Nordeste
Nessa seção, buscou-se identificar os determinantes do valor da produção das principais
culturas da agricultura familiar no nordeste.
Na Tabela 7, tem-se o valor da produção de arroz nas microrregiões do Nordeste.
Através do teste de Hausman, rejeitou-se a hipótese nula e o modelo apropriado foi o de
efeitos fixos.
O coeficiente da variável produção foi significante e positivo, indicando uma relação
direta com o valor da produção. Não se pode fazer inferência, contudo, com o efeito da
produtividade e do El Niño. O coeficiente da variável que aprende o efeito do fenômeno La
Niña foi significante e negativo. Isso indica que nos anos em que esse fenômeno ocorre há
uma redução média de aproximadamente R$ 692 mil no valor da produção de arroz.
* p<0.05, ** p<0.01, *** p<0.001
t statistics in parentheses
N 4505 4505
(-32.06) (-32.06)
_cons -41430.7*** -41430.7***
(-0.18) (-0.18)
delnina -195.3 -195.3
(-3.04) (-3.04)
delnino -3053.3** -3053.3**
(31.86) (31.86)
ProdutMilho 27.20*** 27.20***
(48.06) (48.06)
AreaplanMi~o 2.536*** 2.536***
ProduçaoMi~o ProduçaoMi~o
(1) (2)
. esttab REG1 REG2
Prob>chi2 = 0.0000
= 153.38
chi2(4) = (b-B)'[(V_b-V_B)^(-1)](b-B)
Test: Ho: difference in coefficients not systematic
Tabela 7 – Valor da produção do arroz das microrregiões do Nordeste: modelo de efeito fixo e
aleatório
Fonte: Elaboração própria a partir do SIDRA/IBGE.
Na Tabela 8, tem-se o resultado da estimação do modelo do valor da produção para o
feijão. Também aqui, o teste de Hausman identificou que o modelo de efeito fixo é o mais
apropriado.
Observa-se uma relação direta entre o valor da produção e feijão e a produção, haja
vista que o coeficiente dessa variável é significante e positivo. Contudo não se pode fazer
inferência do efeito da produtividade e do fenômeno La Niña. Já o coeficiente da variável que
capta o efeito do El Niño foi significante e positivo, como esperado. Ou seja, nos anos de
ocorrência desse fenômeno o valor da produção se eleva possivelmente pelo maior preço
obtido pelos produtores.
* p<0.05, ** p<0.01, *** p<0.001
t statistics in parentheses
N 2483 2483
(3.64) (1.71)
_cons 1276.7*** 417.7
(-2.84) (-2.76)
delnina -692.0** -669.3**
(-0.47) (-0.94)
delnino -106.3 -210.8
(0.75) (3.02)
Produtarroz 0.127 0.260**
(54.69) (147.74)
ProducaoAr~z 0.711*** 0.776***
Valorrealp~z Valorrealp~z
(1) (2)
. esttab REG1 REG2
Prob>chi2 = 0.0000
= 35.35
chi2(4) = (b-B)'[(V_b-V_B)^(-1)](b-B)
Test: Ho: difference in coefficients not systematic
Tabela 8 – Valor da produção do feijão das microrregiões do Nordeste: modelo de efeito fixo
e aleatório
Fonte: Elaboração própria a partir do SIDRA/IBGE.
Na tabela 9, têm-se os modelos estimados para o valor da produção da mandioca nas
microrregiões do Nordeste. Como nos demais modelos estimados, pelo teste de Hausman
tem-se que o modelo de efeito fixo é o mais adequado.
Observa-se que o coeficiente da variável produção é significante e positivo, indicando
uma relação direta com o valor da produção de mandioca. Nada se pode afirmar sobre o efeito
da produtividade, haja vista que o coeficiente desta variável não foi significante. Contudo,
dada a significância e ao sinal negativo da variável delnina, infere-se que nos anos de
ocorrência desse fenômeno o valor da produção de mandioca é menor com um valor a menos
de cerca de R$2 milhões.
* p<0.05, ** p<0.01, *** p<0.001
t statistics in parentheses
N 4408 4408
(1.17) (-2.03)
_cons 490.1 -662.1*
(-0.15) (-0.21)
delnina -43.76 -62.75
(4.08) (3.82)
delnino 1105.0*** 1038.6***
(0.11) (2.71)
ProdutFeijao 0.101 1.577**
(82.25) (130.42)
ProducaoFe~o 1.832*** 1.965***
Valorreal~ao Valorreal~ao
(1) (2)
. esttab REG1 REG2
Prob>chi2 = 0.0000
= 90.83
chi2(4) = (b-B)'[(V_b-V_B)^(-1)](b-B)
Test: Ho: difference in coefficients not systematic
Tabela 9 - Valor da produção mandioca das microrregiões do Nordeste: modelo de efeito fixo
e aleatório
Fonte: Elaboração própria a partir do SIDRA/IBGE.
Finalmente, na Tabela 10 são apresentados os resultados das estimações para o valor
da produção do milho. Novamente, o teste de Hausman apontou que o modelo mais
apropriado é o de efeito fixo.
Todos os coeficientes das variáveis são significantes. Há uma relação direta entre a
produção e a produtividade e o valor da produção. Já nos anos de ocorrência do El Niño, o
valor da produção de Milho tem um acréscimo médio de R$ 500 mil, enquanto nos anos de
ocorrência do La Ninã, o valor da produção cai em média R$ 527 mil.
* p<0.05, ** p<0.01, *** p<0.001
t statistics in parentheses
N 4397 4397
(5.38) (4.11)
_cons 5310.4*** 3929.8***
(-4.87) (-4.76)
delnina -2134.5*** -2098.2***
(-0.35) (-1.04)
delnino -141.6 -422.5
(-1.79) (-1.80)
ProdutMand~a -0.186 -0.165
(36.31) (55.61)
ProducaoMa~a 0.237*** 0.266***
Valorrealp~a Valorrealp~a
(1) (2)
. esttab REG1 REG2
Prob>chi2 = 0.0000
= 46.31
chi2(3) = (b-B)'[(V_b-V_B)^(-1)](b-B)
Test: Ho: difference in coefficients not systematic
Tabela 10 - Valor da produção do milho das microrregiões do Nordeste: modelo de efeito fixo
e aleatório
Fonte: Elaboração própria a partir do SIDRA/IGBE.
7. Considerações Finais
Em economias onde a produção é mais voltada para o mercado interno, a agricultura
familiar exerce um papel mais preponderante. Assim, o fortalecimento dessa atividade
contribui para o desenvolvimento e, consequentemente, contribui para a redução do êxodo
rural.
Como o arroz, feijão, milho e mandioca são as principais culturas da agricultura
familiar no Nordeste Brasileiro, buscou-se analisar a produção e o valor da produção no
período de 1991 a 2015, relacionando-as com o clima da região.
Ainda que a seca seja um fenômeno secular, os agricultores se arriscam a plantar suas
lavouras e apostam em obter boas colheitas. Contudo, quando a seca ocorre há frustação na
produção, queda na renda, falta de água para o consumo e para fornecimento de suas criações
afetando o bem-estar da população rural.
Observou-se, de modo geral que houve uma forte expansão na área plantada e colhida
da produção do milho ao longo do período. Observou-se, também, que nos anos de ocorrência
* p<0.05, ** p<0.01, *** p<0.001
t statistics in parentheses
N 4328 4328
(0.89) (0.06)
_cons 233.7 15.07
(-2.15) (-1.87)
delnina -527.0* -461.2
(2.20) (2.58)
delnino 499.4* 588.1**
(9.55) (10.47)
ProdutMilho 2.151*** 2.024***
(147.97) (184.33)
ProduçaoMi~o 0.446*** 0.461***
Valorreal~ho Valorreal~ho
(1) (2)
Prob>chi2 = 0.0000
= 49.09
chi2(3) = (b-B)'[(V_b-V_B)^(-1)](b-B)
Test: Ho: difference in coefficients not systematic
do El Ninõ e La Niña a produção das culturas de ciclo mais longo é mais sensível às
mudanças climáticas provocadas por esses fenômenos.
É possível que a expansão da cultura do milho na região seja reflexo de um conjunto
de políticas públicas implantadas na região, como o Pronaf, bem como a parceria com órgãos
de assistência técnica estaduais, juntamente com a associação dos criadores de aves que
incentivaram essa produção garantindo mercado para esse produto, bem como para alimentar
os rebanhos que produzem para o consumo das famílias.
Uma característica preocupante é a baixa produtividade dessas lavouras. Ainda que
sejam isolados os efeitos maléficos ou benéficos do El Niño e da La Niña, respectivamente, a
produtividade das lavouras fica aquém de outras regiões. Assim tem-se que políticas voltadas
para elevar a produtividade, seja por meio de sementes mais produtivas e mais adaptadas à
região, bem como maior assistência técnica elevaria a produção contribuindo para melhoria da
renda dos agricultores.
Embora, não linearmente, houve um aumento significativo no valor da produção da
mandioca, uma vez identificada que a cultura da mandioca apresenta melhor condição em
períodos de seca e, possivelmente, o aumento no consumo de tapioca nas grandes cidades.
Contudo, a produtividade baixa ainda é um entrave, bem como ainda é restrito em poucas
microrregiões a produção da massa de mandioca pronta para o consumo final que tem
apresentado uma elevação substancial no consumo. Dessa forma, políticas públicas de
disseminação de tecnologias que permitam regiões tradicionalmente produtoras de mandioca
agregar valor à produção produzindo esse tipo de produto poderia também contribuir para
melhorar a renda dos produtores.
Contribuição a esse trabalho pode ser no sentido de avaliar o efeito do crédito agrícola
e obtenção de dados pluviométricos em nível das microrregiões para aferir com mais precisão
o efeito do clima nas variáveis analisadas.
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A QUALIDADE DO EMPREGO DOS IMIGRANTES NO ESTADO DO CEARÁ:
ANÁLISE PARA OS ANOS 2004 E 2014
THIERRY BARROS
(Bolsista IC/URCA – FECOP; Graduando em Economia pela Universidade Regional do
Cariri; e membro do Observatório das Migrações no Estado do Ceará – OMEC.
ALINE ALVES DE OLIVEIRA
(Professora do Departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri; Mestra em
Economia Regional pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte; e Pesquisadora dos
grupos Observatório das Migrações no Estado do Ceará – OMEC e Grupo de Estudos em
Territorialidades e Desenvolvimento Regional e Urbano – GETEDRU.
RESUMO:
As alterações na conjuntura econômica brasileira ocorridas no século XX desencadearam
grandes mudanças nos fluxos migratórios internos. No Brasil o intenso processo de
urbanização, inicialmente com a mudança da matriz econômica brasileira de primária para
uma matriz secundária gerou um aumento no nível de emprego ocasionado, essencialmente,
pelos inúmeros investimentos no setor industrial atraindo uma leva de imigrantes nordestinos
para as regiões onde se concentrava as atividades industriais, devido aos fatores de expulsão
apresentados na região Nordeste. O Ceará por sofrer com os efeitos das condições climáticas
combinada a outros fatores se destacava como um dos principais polos de expulsões.
Buscando viabilizar o crescimento econômico e amenizar a situação de escassez econômica, o
governo estabeleceu projetos e medidas através de uma profunda transformação agrícola,
agrária e industrial. Entre as décadas de 1960 e 1970 vários programas de industrialização
foram implementados no Ceará, entre eles o PLAMEG. No final dos anos 1980 o governador
Tasso Jereissati implementou políticas de atração de investimento, que foram continuadas
pelos outros governadores durante as décadas de 1990 e 2000, essas políticas promoveram o
crescimento econômico no estado e teve como reflexo a atração de imigrantes. Considerando
este cenário o estudo tem por objetivo analisar a qualidade do emprego dos imigrantes no
estado do Ceará em 2004 e 2014. Para o alcance dos resultados desejados será utilizado o
Índice de Qualidade do Emprego baseado na proposta de Balsadi (2007), que analisa as
variáveis de educação, rendimentos, formalização e recebimentos de auxílios.
Palavras-chaves: Crescimento Econômico; Imigrantes; Qualidade do emprego.
ABSTRACT:
The changes in the Brazilian economic situation occurred in the twentieth century triggered
major changes in internal migratory flows. In Brazil, the intense urbanization process, initially
with the change of the Brazilian economic matrix from primary to secondary, generated an
increase in the level of employment caused, mainly due to the numerous investments in the
industrial sector attracting a large number of Northeastern immigrants to the regions where
industrial activities were concentrated due to the expulsion factors presented in the Northeast
region. The Ceará to suffer from the effects of climatic conditions combined with other
factors stood out as one of the main poles of expulsions. Seeking to make economic growth
feasible and to alleviate the situation of economic scarcity, the government established
projects and measures through a profound agricultural, agrarian and industrial transformation.
Between the 1960s and 1970s several industrialization programs were implemented in Ceará,
among them PLAMEG. In the late 1980s, Governor Tasso Jereissati implemented investment
attraction policies that were continued by the other governors during the 1990s and 2000s,
hese policies promoted economic growth in the state and had as a reflection the attraction of
immigrants. Considering this scenario the study aims to analyze the quality of employment of
immigrants in the state of Ceará in 2004 and 2014. To achieve the desired results, the
Employment Quality Index will be used based on the Balsadi proposal (2007), which analyzes
the variables of education, income, formalization and receipt of aid.
Keywords: Economic growth; Immigrants; Quality of employment.
1. Introdução
As alterações na conjuntura econômica brasileira ocorridas no final do século XX
desencadearam grandes mudanças nos fluxos migratórios internos. Em meados do século XX
o Brasil foi palco de um intenso processo de urbanização que ganhou impulso inicialmente
com a mudança da matriz econômica brasileira, de primária, dedicada à monocultura do café,
para uma matriz secundária voltada para setor industrial e da construção civil gerando um
aumento no nível de emprego ocasionado, essencialmente, pelos inúmeros investimentos no
setor industrial atraindo uma leva de imigrantes nordestinos para as regiões onde se
concentrava as atividades industriais. Singer (1973), explica que a parcela de migrantes
sofrem influência de dois fatores, expulsão e atração, que podem agir de forma singular ou em
conjunto. O fator de expulsão, por se relacionar à impulsores de origem, ocorre, na maioria
das vezes, por causas econômicas, a exemplo, estagnação financeira. Já no fator de atração, os
fundamentos estão no local de destino, como a presença de grandes polos de desenvolvimento
urbano, onde as relações do capital se reproduzem com imensa facilidade e observa-se um
maior índice na criação de empregos devido a expansão da atividade industrial.
Empregando a explicação dada por Singer (1973) ao fator de expulsão, verifica-se
que após a década de 1950 os estados nordestinos se destacaram como polos de expulsão de
migrantes. No Ceará por exemplo, enquanto a população sofria com inúmeros obstáculos,
tendo como exemplo, os efeitos das condições climáticas combinadas a fortes concentrações
latifundiárias, baixa produtividade econômica e extrema pobreza rural, simultaneamente
ocorria forte concentração industrial na região sudeste do Brasil. Isso demonstra que a evasão
populacional cearense ocorrida entre as décadas de 1950 e 1980 é resultado da atuação em
conjunto desses dois fatores (expulsão e atração) e que a região Sudeste se destaca como
principal destino dos imigrantes nordestinos, em razão da alta oferta de emprego e assim
maiores chances de inserção no mercado de trabalho. (QUEIROZ, 2013)
Apesar das externalidades positivas geradas pelo forte investimento industrial no
Sudeste do país, nas últimas décadas do século XX, foi possível notar grandes transformações
estruturais que provocaram desequilíbrios macroeconômicos fruto do desordenado e mal
planejado processo de urbanização brasileiro.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a população
urbana que antes era visivelmente menor que a rural, cresceu de forma exponencial em
pouquíssimo período de tempo, caracterizando o processo de urbanização brasileiro como um
dos maiores do mundo. Entretanto o fenômeno aglomerativo nem sempre atua de forma
positiva, algumas vezes “podem se comportar como uma parábola, atingindo um ponto de
máximo, e a partir de então proporcionando deseconomias de aglomeração” (DALBERTO e
ESTADUTO, 2013 p.541). Isso ocorre quando o mercado de trabalho apresentado se torna
ineficiente em suprir as ofertas de mão de obra disponível, com isso a infraestrutura básica
produtiva como acesso a serviços de saneamento básico, educação e principalmente saúde
entra em declínio e prejudica a ascensão econômica do país como um todo. Brito (2009)
esclarece que as migrações apresentam um caráter determinado em conformidade com o
processo de industrialização. Além disso ele diz que a imposição de racionalidade econômica,
fruto do progresso técnico, promoveria economias de aglomerações remodelando-se assim as
atividades econômicas e redistribuído a população de acordo com os anseios do programa de
industrialização. Nesse sentido as migrações internas foram de extrema importância para a
alocação demográfica em regiões onde ainda se fazia presente as economias de aglomeração.
Com o objetivo de viabilizar o crescimento econômico, garantir mudanças
significativas na estrutura produtiva nacional e amenizar a situação de escassez econômica e
relações de disparidades econômicas regionais enfrentada, principalmente, pela região
Nordeste, o governo brasileiro estabeleceu projetos e medidas através de uma profunda
transformação agrícola, agraria e industrial.
No Nordeste, com a finalidade de obter organização na estrutura administrativa e
elaborar uma política de desenvolvimento eficiente, surge a Superintendência de
Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), que transformaria, gradativamente, a economia
das áreas até então, cada vez mais improdutivas por suas características semiáridas. Segundo
Lima Júnior (2014) as ações promovidas pela SUDENE foram de grande importância para as
alterações observadas dentro do quadro econômico na década de 1970.
A partir da década de 1960, o governo cearense, visando a acentuação do estado na
concorrência entre polos de atração industrial, elaborou o Plano de Metas Governamental
(PLAMEG) com o objetivo de modernizar o aparato industrial já existente no estado através
da formação de uma infraestrutura básica e criação de órgãos e empresas públicas voltadas
para o planejamento e desenvolvimento industrial. A partir de 1990, com a entrada de Tasso
Jereissati ao governo do Ceará, é assinalado, segundo Pereira Júnior (2011), a implementação
de uma terceira fase de evolução industrial, isso em virtude do seu caráter modernizador e
progressista, que buscou o desenvolvimento estadual através da estruturação de um novo
Ceará. Com a continuação de projetos de governos anteriores, as políticas de interiorização da
economia pretendiam atenuar as desigualdades apresentadas entre o interior e a capital,
diversificando o mercado de trabalho e promovendo o aumento da oferta de trabalho através
da expansão de novos centros produtivos desenvolvidos no interior e que consequentemente
impulsionaram a atração de imigrantes, principalmente daqueles, em busca de novas
oportunidades de emprego que surgiam no Ceará.
Neste contexto, o presente trabalho tem como objetivo analisar a qualidade do
emprego dos imigrantes no estado Ceará nos anos 2004 e 2014, período em que é possível
notar, os reflexos das políticas adotadas nas décadas anteriores que influenciaram no aumento
do número de empregos.
2. Referencial Teórico
A compreensão das transformações de caráter econômico e social ocorridas no
estado do Ceará em meados do século XX são de extrema significância para o entendimento
da situação apresentada no mercado de trabalho cearense no período de 2004 à 2014, tendo os
imigrantes como agentes ativos deste mercado.
Por meio de uma perspectiva histórica percebe-se como explicado por Jucá (1994)
que a pecuária se deu como fator primordial para ocupação dos solos nordestinos. A criação
de gado e sobre tudo a comercialização da carne bovina possibilitou a aproximação dos
diferentes espaços ocupados. Nesse sentido, a capitania do Ceará passa a receber correntes de
povoamento, que seguiam os vales fluviais, principalmente partidas da Bahia e Pernambuco
onde se concentrava as grandes fazendas de criação de gado, com isso já se observava a
introdução de novas funções para realizar as tarefas de comercialização da carne. (JUCÁ,
1994)
Com o cultivo do algodão desenvolvido nos solos cearenses, foi possível notar uma
nova reorganização do espaço concentrando, na capital (Fortaleza) todo o excedente
produzido, era exportado, isso devido à grande procura pelo mercado externo impulsionada
pela Revolução Industrial e a Guerra de Secessão dos Estados Unidos. (AMORA 1994).
Segundo Amora (1994), com o fim da guerra e a consequente queda do preço do
algodão, rapidamente se articulava uma grande rede de indústrias voltadas para o ramo da
produção têxtil, amenizando os efeitos da crise deste setor através do consumo de parte
excedente produzido.
A mais intensa reorganização do espaço cearense se deu, em especial, com a
firmação da malha ferroviária, que estruturou a composição do território de forma à facilitar
maiores benefícios a circulação mercantil, introduzindo ao seu próprio espaço o sentido da
acumulação capitalista, advinda da profunda industrialização na qual o país penetrava em
meados do século XX. Essa nova dinâmica territorial foi responsável por importantes avanços
no desenvolvimento econômico do estado, através da atuação da capital Fortaleza como
importante entreposto comercial, como explica Macedo, Lima Júnior e Moraes (2014):
A capital passaria a exercer, a partir daquele momento, papel que seria decisivo para
consolidação de sua primazia urbana: centro comercial responsável pela
centralização e intermediação da produção algodoeira sertaneja (e de outras
mercadorias de menor monta) para o exterior e/ou para o mercado extraestadual (p.
47).
Com essa nova composição espacial, em que Fortaleza passa a exercer forte
concentração do excedente econômico surge um grande fluxo de migração interestadual com
significante parcela populacional do interior se deslocando rumo a capital, transformando
rapidamente este segmento territorial do Ceará em um característico espaço macrocefálico.
Ainda juntamente a isto as políticas de industrialização regional, que visavam
amenizar condições econômicas do Nordeste, ajustarão a criação de órgãos públicos com o
objetivo de incentivar a industrialização tanto por meio do financiamento público, a exemplo
da criação do Banco do Nordeste, quanto por uma organização mais sistemática no caráter de
desenvolver ações que promovesse a canalização de recursos vindos principalmente do
Sudeste para reduzir os danos causados pelo atraso econômico do Nordeste com a
implementação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) como
relata Amora (1994).
A presença de graves disparidades econômicas apresentadas entre o Nordeste e o
Sudeste do país se constituíam como grandes barreiras ao desenvolvimento econômico
nacional, perceptível principalmente pela diferença de ritmo de crescimento econômico da
região em relação ao Sudeste, o que contribui ainda mais, em conjunto com as situações de
baixa precipitação pluviométrica, para um atraso econômico cumulativo que produz
consequências prejudiciais ainda hoje, como é o caso do desenvolvimento tardio e
desestruturado que resulta nas disparidades regionais de renda.
Considerando-se o quadro de transformações apresentado, o Grupo de Trabalho para
o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN, 1959) elaborou uma série de estudos apresentando
em seguida um Plano de Ação com o objetivo de amenizar a complexa situação de escassez
econômica observada na região Nordeste, o projeto foi ordenado fundamentando-se em quatro
diretrizes básicas: a) intensificação dos investimentos industriais, visando criar no Nordeste
um centro autônomo de expansão manufatureira; b) transformação da economia agrícola na
faixa úmida, com vistas a proporcionar uma oferta adequada de alimentos nos centros
urbanos, cuja a industrialização deverá ser intensificada; c) transformação progressiva da
economia das zonas semiáridas no sentido de elevar sua produtividade e torná-la mais
resistentes as secas; e d) deslocamento da fronteira agrícola do Nordeste, visando incorporar à
economia da região as terras úmidas do hinterland maranhense que estão em condições de
receber excedentes populacionais criados pela reorganização da economia na faixa semiárida
(GTDN, 1967) .
A Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) seria resultado da
investigação estabelecida pelo Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste
(GTDN) e é a partir da implementação da SUDENE, pondo em prática as ações da política de
industrialização regional, que segundo Amora (1994), inicia-se uma nova fase de implantação
industrial, ideia fundamentada pelo GTDN.
Se a população aumenta com intensidade e a constelação de recursos naturais não é
muito favorável tal possibilidade torna-se difícil ou mesmo impraticável. Sendo
assim, o desenvolvimento só é factível mediante a diversificação da própria
produção interna, ou seja, pela industrialização. Sem prejuízo de um esforço
sistemático no sentido de ampliar as linhas de exportação do Nordeste, a análise da
presente situação econômica dessa região indica, nitidamente, que o seu atraso
relativo só poderá ser superado mediante uma política de industrialização. (GTDN,
1967)
Nesse sentido, os espaços nordestinos que apresentassem maiores benefícios na
localização, tais como, baixo custo na obtenção da matéria-prima e uma infraestrutura
adequada ao desenvolvimento econômico, seriam os principais polos de atração industrial.
Como governador do Ceará, Virgílio Távora, visando a acentuação do estado na concorrência
entre polos de atração industrial, elaborou o Plano de Metas Governamental (PLAMEG) com
o objetivo de atribuir ao Ceará uma infraestrutura mais desenvolvida para atender as
exigências impostas como necessárias à atuação no avanço industrial ocorrido no Brasil,
como explica Lima Júnior (2014):
O mercado interno limitado e a incerteza quanto à geração de benefícios advindos do
desenvolvimento de encadeamentos produtivos somavam-se às deficiências infra-
estruturais para o pouco interesse despertado pelo grande capital de outras regiões.
Foi o contexto que exigiu dos governos estaduais medidas estimuladas pelo
momento histórico nacional de implantação de aparatos e órgãos convergindo para
pensar o desenvolvimento brasileiro dos anos 1950 em diante. (p.54)
Com o PLAMEG, o governo de Virgílio Távora pretendia propor ações que
viabilizassem condições necessárias à instalação industrial, assim tem-se como viés para
industrialização, uma forte intervenção do Estado por meio de medidas estruturantes
objetivando a modernização e aperfeiçoamento do aparato industrial já existente no estado
através da formação de uma infraestrutura básica (eletrificação, abastecimento de água,
saneamento básico), criação de órgãos e empresas públicas voltadas para o planejamento e
desenvolvimento industrial como é o caso da Superintendência de Desenvolvimento do Ceará
(SUDEC) e o Banco do Estado do Ceará (BEC) além da implantação do I Distrito Industrial
de Fortaleza em Maracanaú (LIMA JÚNIOR, 2014).
A localização dos diversos órgãos implantados no Ceará retoma, mais uma vez, o
caráter macrocefálico atribuído a capital Fortaleza ressaltando ainda mais seu papel
centralizador na economia cearense, gerando condições satisfatórias ao desenvolvimento
urbano da capital, especialmente, com a implantação de órgãos indispensáveis na criação de
vagas de emprego como o Banco do Nordeste do Brasil em 1952 e a Universidade Federal do
Ceará criada em 1954. Tudo isso culminou no rápido e intenso aumento da população urbana
do estado do Ceará que de 1970 à 1980 segundo Queiroz (2013) tem a taxa de crescimento da
população urbana de 4,67% maior que a taxa nacional de 4,44%.
Nessa perspectiva a modernização do circuito produtivo industrial cearense foi de
grande importância na atração de uma grande quantidade de empresas, garantindo assim um
papel relevante para o estado do Ceará dentro do cenário de competição regional, sendo isso a
presença do estado um fator crucial para os desdobramentos apresentados, como expõe
Pereira Júnior (2011):
No Nordeste do Brasil, em especial no Ceará, o papel do Estado não só se
apresentou necessário como determinou os rumos do crescimento industrial,
sobretudo ao proporcionar densidade técnica ao território, incentivando a
mobilidade de capitais e garantindo a reprodutibilidade da força de trabalho.
(p.212)
A criação do Fundo de Desenvolvimento Industrial (FDI) em conjunto à Política de
Atração de Investimentos configurou-se como propulsores da industrialização cearense,
fortalecendo o parque industrial recém formado do estado. O FDI, desenvolvido ainda no
governo de Virgílio Távora, se mostrou como principal dispositivo do ‘governo mudancista’
para promover sua política de atração de investimentos, atraindo investimentos extraestaduais
(MACEDO, LIMA JÚNIOR e MORAES, 2014).
Com o slogan, ‘O Brasil Mudou, Mude o Ceará’, a entrada de Tasso Jereissati ao
governo do Ceará marca segundo Pereira Júnior (2011), a implementação de uma terceira fase
de evolução industrial isso em virtude do seu caráter modernizador e progressista que buscou
o desenvolvimento estatal através da estruturação de um novo Ceará com a continuação de
projetos de governos anteriores como a instalação de uma siderúrgica e de uma refinaria,
idealizadas ainda no governo de Virgílio Távora, que garantiria avanços significativos
concretizadas por meio de mecanismos presentes dentro de um plano de mudanças.
Segundo Nunes (2005), durante o período em que Tasso Jereissati e o grupo de
empresários do Centro Industrial do Ceará (CIC) estiveram no poder, o governo do Ceará
elaborou cinco planos de governo. Os planos de ação do governo pretendiam modernizar e
adaptar a agricultura estadual, fomentar a implantação de indústrias e desenvolver o turismo
no estado.
Um ponto fundamental dos planos de governo era a interiorização do desenvolvimento
econômico. Essa estratégia visava reduzir as disparidades econômicas entre a capital -
Fortaleza e sua região metropolitana - e as outras regiões do estado, imersas em uma situação
econômica extremamente fraca, com cidades incapazes de oferecer, por exemplo, ao mesmo
tempo, oferta de empregos e suporte à dinâmica da produção rural.
Estas políticas acabaram modificando o cenário econômico do Ceará, segundo
Queiroz (2013) o PIB cearense na década de 1990 cresceu 4,57%, enquanto o PIB brasileiro
elevou-se 2,43%, na década seguinte o PIB do Ceará permaneceu com crescimento de 4,63%
e o PIB do Brasil cresceu 3,62%. Ainda de acordo com a autora, o emprego formal no Ceará
na década de 1990 cresceu 4,22% e esta tendência permaneceu na década seguinte.
Consequentemente, estas mudanças econômicas impulsionaram a atração de
imigrantes, que vieram em busca de oportunidades de trabalho.
3. Metodologia
A pesquisa tem metodologia de cunho bibliográfico e descritivo. A pesquisa é
bibliográfica porque na visão de Gil (2008), constitui-se de um estudo com base em material
já elaborado, a exemplo de livros e artigos científicos, coletando as principais contribuições
de cada autor para o assunto estudado. O autor complementa que este tipo de pesquisa,
permite ao pesquisador a cobertura de uma gama de fenômenos mais ampla, do que se fosse
pesquisar diretamente. E a pesquisa é descritiva, porque segundo Gil (2008) visa descrever
determinadas características de determinada população ou o estabelecimento de relação entre
as variáveis. Para a obtenção de dados foi utilizado a base de dados de origem secundária da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), disponível e assim produzido pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para identificar o trabalhador imigrante,
foi utilizado os filtros, pessoa ocupada na semana de referência, pessoa que residia no Ceará
mas que não nasceu no estado.
A metodologia para a análise da qualidade do emprego ofertado aos imigrantes no
Ceará tem por base a proposta de Balsadi (2007), descrito como Índice de Qualidade do
Emprego (IQE), este método parte de três passos. Inicialmente é realizada a obtenção dos
indicadores simples, a parti destes é realizado o cálculo de índices parciais, formados a partir
da média aritmética dos indicadores simples e por fim calcula-se o IQE através das médias
aritméticas, mas dessa vez dos índices parciais encontrados.
O IQE é composto por quatro tipos de índices parciais, sendo estes: nível educacional,
grau de formalidade do emprego, rendimento recebido no trabalho principal e auxílios
recebidos pelos empregadores.
O índice parcial de nível educacional é formado por três indicadores simples, sendo
índices apresentados por: % de pessoas empregadas na atividade que não são analfabetas ou
que possuem mais de um ano de estudo (INDALF), % de pessoas empregadas na atividade
com até quatro anos de estudo (INDESC1) e, % de pessoas empregadas na atividade com oito
ou mais anos de estudo (INDESC2). Resultando no seguinte cálculo:
𝐼𝑁𝐷𝐸𝐷𝑈𝐶 = (𝐼𝑁𝐷𝐴𝐿𝐹 + 𝐼𝑁𝐷𝐸𝑆𝐶1 + 𝐼𝑁𝐷𝐸𝑆𝐶2)
3
Para a elaboração do índice parcial de grau de formalidade de emprego utiliza-se os
seguintes indicadores simples: % de empregados com idade superior a 15 anos (NINF), para
ilustrar a situação de não trabalho infantil, % de empregados com atividade menor ou igual a
44 horas semanais (JORN), para indicar pessoas com sobrecarga de trabalho, % de
empregados com carteira assinada (CART) e por último % de pessoas empregadas e que
contribuem com Previdência Social (PREV). Com as informações colhidas dos indicadores
simples é elaborado o cálculo seguinte:
𝐼𝑁𝐷𝐹𝑂𝑅𝑀𝐴𝐿 = (𝑁𝐼𝑁𝐹 + 𝐽𝑂𝑅𝑁 + 𝐶𝐴𝑅𝑇 + 𝑃𝑅𝐸𝑉)
4
No índice de rendimento recebido no trabalho principal são utilizados apenas % de
pessoas empregadas na atividade com remuneração acima de um salário mínimo (NPOB) e o
rendimento médio mensal (REND). Para realizar o índice parcial tem-se:
𝐼𝑁𝐷𝑅𝐸𝑁𝐷 = (𝑁𝑃𝑂𝐵 + 𝑅𝐸𝑁𝐷)
2
Existe, porém uma observação acerca do indicador simples do rendimento médio
mensal, já que o mesmo não é uma porcentagem como os demais indicadores. Portanto tendo
de ser padronizado em uma formula de variação, variando assim de 0 a 100 para comparação
intertemporal. A apuração desse valor segue da seguinte forma:
𝑅𝐸𝑁𝐷 = (𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 − 𝑚í𝑛𝑖𝑚𝑜)
(𝑚á𝑥𝑖𝑚𝑜 − 𝑚í𝑛𝑖𝑚𝑜)
Para a construção do último índice parcial leva-se em consideração apenas auxílios
recebidos pelos empregados, os indicadores simples referem-se à porcentagem de pessoas
empregadas na atividade que recebiam; auxílio moradia (AUXMOR), auxílio alimentação
(AUXALIM), auxílio educação (AUXEDUC) e auxílio saúde (AUXSAU). Resultando na
seguinte fórmula:
𝐼𝑁𝐷𝐴𝑈𝑋 = (𝐴𝑈𝑋𝑀𝑂𝑅 + 𝐴𝑈𝑋𝐿𝐼𝑀 + 𝐴𝑈𝑋𝑇𝑅𝐴𝑁𝑆 + 𝐴𝑈𝑋𝐸𝐷𝑈𝐶 + 𝐴𝑈𝑋𝑆𝐴𝑈)
5
Através da média aritmética dos quatro índices assim apresentados, o Índice de
Qualidade de Emprego (IQE) é então formado, sendo assim:
𝐼𝑄𝐸 = (𝐼𝑁𝐷𝐸𝐷𝑈𝐶 + 𝐼𝑁𝐷𝐹𝑂𝑅𝑀𝐴𝐿 + 𝐼𝑁𝐷𝑅𝐸𝑁𝐷 + 𝐼𝑁𝐷𝐴𝑈𝑋)
4
Através da análise dos dados obtidos neste trabalho, salienta-se, novamente, a
importância de propiciar qualidade no emprego, considerando-se este como sendo um
expressivo fator capaz de alavancar ou minimizar o desenvolvimento econômico e até social
de uma determinada região como o estado do Ceará.
4. Resultados e Discussões
As mudanças nos padrões demográficos apresentadas no Ceará, iniciadas na década
de 1980 podem ser destacadas principalmente com o aumento das perdas líquidas
populacionais seguidas de alterações drásticas entre os recortes temporais de 1970/ 1980 e
1981/1991 onde “o volume de emigrantes aumentou ligeiramente de 464.786 pessoas para
482.355 indivíduos, enquanto o contingente de imigrantes praticamente duplicou, de 150.434
pessoas para 293.392 mil” (QUEIROZ, 2013 p. 80), o que permite afirmar que a mão de obra
imigrante, no caso cearense, tem bastante relevância quanto a nova composição do mercado
de trabalho pois, segundo Singer (2002) durante um processo de industrialização (como o
apresentado no Ceará) as consequentes aglomerações, surgidas da necessidade de integração
de diversas estruturas do mercado produtivo e redução dos custos na produção, implicam no
surgimento de enormes centros industriais habilitados em atrair populações e assim “o
crescimento demográfico da cidade torna-a, por sua vez, um mercado cada vez mais
importante para bens e serviços de consumo, o que passa a constituir um fator adicional na
atração de atividade produtiva” (SINGER, 2002 p. 30 e 31).
Para Oliveira (2014), o funcionamento da estrutura de mercado do Ceará está
intimamente ligados as vertentes de movimento do capital e reagem às alterações no sistema
capitalista global e assim as mudanças nos padrões demográficos também seguem nesta
mesma linha. Segundo Vetrano (2015), a grande predominância das extremas complicações
geradas pelo funcionamento, muitas vezes desordenado, do processo acumulativo do capital
está profundamente vinculado aos motivos que impulsionam os imigrantes à iniciarem
deslocamentos intraespaciais.
Segundo Martine (1987), as mudanças de fluxos dos migrantes são responsáveis por
enormes transformações no eixo produtivo local, em especial ao imediato surgimentos de
concentrações populacionais que resultam em processos de conurbação, que na maioria das
vezes, mal planejados, agravam as desigualdades sociais, por não apresentarem políticas de
emprego eficazes na absorção de mão de obra disponível que assegure o fornecimento de
empregos de qualidade. Como também, pode ser observado por Lyra (2009) quando este
explica que o aumento do fluxo de indivíduos em busca de trabalho num mesmo local resulta
em um ‘exército global de reserva’, que é dito como sendo aqueles “que estão
desempregados, mas que são capazes de atender a uma maior demanda por força de trabalho”
(LYRA, 2009 p. 28).
A presença de um ‘exército global de reserva se mostra um fator crucial para a
criação de postos de trabalho marcados pela alta rotatividade e baixos salários deteriorando os
trabalhadores através das condições precárias de trabalho observadas sendo na maioria dos
casos ilegal e informal (QUEIROZ, 2013). Como ainda explica a Organização Internacional
do Trabalho (1999) quando acrescenta que, com o crescimento dos índices de informalidade
aumentam consideravelmente o número de famílias em situação de extrema vulnerabilidade
por sustentarem suas famílias com o que ganha sem a garantia de nenhuma rede de seguridade
social ou proteção de leis trabalhistas, o que resulta na baixa qualidade de vida.
A preocupação em disponibilizar empregos de qualidade muitas vezes é deixada de
lado em virtude da atenção ser voltada para promoção de medidas que busquem minimizar as
alarmantes taxas de desemprego divulgados diariamente. É importante enfatizar que como
também dito por Lyra (2009), o aumento dos índices de desemprego não significa dizer que
não estejam sendo criados constantemente vagas de trabalho mas a grande questão que
merece destaque é que esses novos postos de trabalho estão sendo criados com qualidade cada
vez mais precária, fato que preocupa aquela parcela de trabalhadores que enfrentam sérias
dificuldades na inserção no mercado profissional, no caso a massa de imigrante que sofre
barreira de impedimento à sua entrada no mercado laboral, devido diversos fatores como a
não adaptação ao local de destino e ausência de especialização laboral exigidas nas vagas de
emprego ofertadas.
No ano de 2004 o Ceará possuía 204.007 imigrantes ocupados, este número elevou-
se para 234.549 em 2014, um crescimento de 15%, sendo estes imigrantes distribuídos por
diversas atividades como mostra o Gráfico 1.
Gráfico 2- Posição na ocupação das Pessoas Ocupadas na Semana de Referência que não
nasceram no Ceará.
Fonte: PNAD 2004, 2014. Elaboração própria
Esse aumento de imigrantes no Ceará, pode ser explicado como sendo, em parte,
consequência ainda das políticas de atração de investimento, promovidas pelos governos
cearenses, que abriu diversas vagas de emprego promovendo assim a criação de fatores de
atração como explicados por Singer (1973). No Gráfico 1 é perceptível que o aumento mais
significativo é registrado no número de trabalhadores empregados com carteira assinada, esse
acréscimo no índice de formalidade é demonstrado como desfecho do propósito geral da
política industrial promovida no Ceará, que “era mudar o perfil industrial do estado, de modo
a elevar o número de empregos e os níveis de renda da população cearense” (OLIVEIRA,
2014, p.62).
A escolaridade média dos imigrantes em 2004 era de 8,4 anos de estudo, em 2014 a
escolaridade passou a ser de 10,2 anos, um aumento de 21%, essa tendência do aumento da
escolaridade pode estar ligada aos programas do governo voltados para educação e o
atrelamento das políticas sociais a educação, como o Bolsa Família. Com relação ao
rendimento médio, este era de R$553,8 em 2004, elevou-se para R$1.660,6 em 2014, um
crescimento de 200%. Esses aumentos apresentados quanto a renda e escolaridade dos
imigrantes suscita indagações, principalmente, pensar se estes novos postos criados
apresentam condições propicias aos níveis de escolaridade apresentados para assim, somado a
outros fatores, elevar o Índice de Qualidade de Emprego - IQE.
Com relação aos auxílios recebidos, em 2004, 55% dos imigrantes ocupados
recebiam auxílios, já em 2014, 65% receberam auxílios, uma elevação de 18%. Isso é
explicado pelo aumento da formalidade do emprego, já que estes auxílios são recebidos por
quem tem carteira de trabalho assinada.
Essa melhora dos indicadores fizeram com o IQE aumentasse de 0,37 em 2004 para
0,41 em 2014, como pode ser observado na Tabela 1.
Tabela 1 - Índice da Qualidade do Emprego dos Imigrantes no Estado do Ceará nos
anos 2004 e 2014.
2004 2014
INDEDUC 0,56 0,57
INDREND 0,26 0,29
INDEFORM 0,54 0,64
INDAUX 0,11 0,13
IQE 0,37 0,41 Fonte: PNAD 2004, 2014. Elaboração própria.
Mesmo assim, quando considerado os índices parciais, as mudanças foram
insignificantes, com exceção do índice de formalidade, que elevou-se de 0,54 para 0,64, os
demais índices, principalmente o de renda e auxílios pouco se modificaram, demonstrando
que o Ceará gerou empregos precários e de baixo rendimento.
5. Conclusões
Este estudo teve por objetivo analisar a qualidade do emprego ofertado ao imigrante
no estado do Ceará no ano de 2004 e 2014. Através dos dados observa-se que as políticas de
atração de investimentos implementadas no estado do Ceará, nos anos 1990 e 2000, refletiram
em aumento da população de imigrantes no Ceará, na elevação de empregos formais e
aumento do rendimento dos trabalhadores, mas ainda assim através das relações apresentadas
entre: nível educacional, grau de formalidade do emprego, rendimento recebido no trabalho
principal e auxílios recebidos pelos empregados, verifica-se que os aumentos apresentados
nesses índices não apresentaram um impacto significativo no índice de qualidade do emprego
dos imigrantes.
É importante salientar ainda, que a percepção da oscilação do índice de qualidade do
emprego é de extrema significação para orientação de novas políticas públicas formuladas
com o objetivo de atuar na promoção do bem estar de todos, especialmente assegurando
direitos à cidadania para a parcela da população que mais sofre com as injustiças das
estruturas estabelecidas na sociedade, ou seja, a parcela de imigrantes, devido suas
desvantagens no mercado profissional, dificuldades de realocar-se com sua família no novo
território e obter acesso ao mercado de trabalho altamente competitivo mesmo com ausência
de qualificação profissional.
Assim, com a apresentação dos dados deste trabalho, observa-se que a variação de
imigrantes no Ceará, no período de 2004 à 2014, é em parte consequência das diversas
políticas de incentivo industrial adotadas no estado antes mesmo da década de 1990 e que
ainda é necessário a revisão e implementação de novas políticas públicas destinadas ao
imigrante, bem como medidas que aprimorem ainda mais a qualidade dos postos de trabalho
no estado. Através dessas medidas será possível aperfeiçoar, consequentemente, os níveis de
produtividade, salários e por fim reduzir o grau de pobreza da população, haja vista que o
combate à pobreza não se faz apenas mediante a geração de novos empregos e sim criação de
postos de trabalho que ofereçam a qualidade apropriada.
6. Referências
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PERFIL DOS MIGRANTES INTRAESTADUAIS CEARENSES:
RMF VIS-À-VIS O INTERIOR DO ESTADO - 1986/1991, 1995/2000 E 2005/2010
ANTONIA JAINE DA SILVA PEREIRA
Graduanda em Ciências Econômicas na Universidade Regional do Cariri (URCA), bolsista de
iniciação científica PIBIC/CNPq e pesquisadora do Observatório das Migrações no Estado do
Ceará (OMEC/CNPq, 2013-2017).
E-mail: [email protected]
Telefone: (88) 9 9662-8226
SILVANA NUNES DE QUEIROZ
Professora Adjunta do Departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri
(URCA) e Coordenadora do Observatório das Migrações no Estado do Ceará (OMEC/CNPq,
2013-2017).
E-mail: [email protected]
Telefone: (88) 9 9792-8808
RESUMO: O presente trabalho traça e compara o perfil sociodemográfico, socioeconômico e
ocupacional dos migrantes intraestaduais cearenses residentes na RMF (Região Metropolitana
de Fortaleza) vis-à-vis aos residentes no interior do estado, no período de 1986 a 2010.
Procura-se saber quem são e como estão inseridos no mercado de trabalho local, nas duas
áreas em questão. Utilizou-se como principal fonte de dados os microdados das amostras dos
Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010, além de informações do IPECE (Instituto de
Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará) e do Atlas do Desenvolvimento Humano
(PNUD/2013). Os principais resultados mostram a RMF melhor posicionada na maioria dos
indicadores econômicos, demográficos e ocupacionais em relação ao interior cearense.
Entretanto, paulatinamente, ao longo do período em estudo, o interior registrou avanços,
principalmente no tocante aos indicadores sociodemográficos, arrefecendo o “gap” entre a
RMF e os municípios localizados no interior do Ceará.
Palavras-chave: Migrantes Cearenses; Perfil Sociodemográfico; Inserção Ocupacional.
ABSTRACT: The present study traces and compares the socio-demographic, socioeconomic
and occupational profile of the intra-state migrants from Ceará State living in the MRF
(Metropolitan Region of Fortaleza) face to face to the residents in the countryside of the State,
from 1986 to 2010. It wonders who they are and how they are inserted in the local labor
market, in the two areas in question. The microdata of the Demographic Censuses of 1991,
2000 and 2010 were used as the main source of data, as well as information from the IPECE
(Economic Research and Strategy Institute of Ceará) and the Atlas of Human Development
(PNUD / 2013). The main results show the MRF as the best positioned in most of the
economic, demographic and occupational indicators in relation to the countryside of Ceará
State. However, over the period under study, the countryside has progressively registered
advances, mainly in relation to sociodemographic indicators, cooling the gap between the
MRF and the municipalities located in the countryside of Ceará State.
Keywords: Migrants from Ceará; Socio-Demographic Profile; Ocupational Insertion
1. INTRODUÇÃO
Inúmeros estudos se debruçam em desvendar a distribuição dos migrantes em distintos
recortes espaciais e temporais, a partir dos seus principais trajetos (origem e destino),
volumes, tendências e inflexões. Entretanto, torna-se de igual importância saber quem são
esses migrantes e como estão inseridos no mercado de trabalho.
Nesse sentido, esse estudo complementa o projeto anterior que tratou de analisar a
distribuição espacial dos migrantes intraestaduais cearenses, no fluxo entre a Região
Metropolitana de Fortaleza e os municípios do interior do Ceará e vice-versa. Sendo assim,
esse trabalho analisa as características sociodemográficas e ocupacionais dos migrantes
intraestaduais residentes na RMF vis-à-vis os residentes no interior do estado, procurando
saber quem são e como estão inseridos no mercado de trabalho local.
Em síntese, almeja-se traçar o perfil sociodemográfico, socioeconômico e ocupacional
dos migrantes intraestaduais cearenses, na RMF e no interior do estado, no período de 1986 a
2010. Para isso, utilizou-se como principal fonte de dados, os microdados das amostras dos
Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010, além de dados do IPECE e do Atlas do
Desenvolvimento Humano (PNUD/2013).
A restrição do espaço temporal (1986 a 2010) deve-se a opção por estudar o migrante
de data fixa, quesito somente investigado a partir do Censo Demográfico de 1991. Quanto às
ferramentas utilizadas na tabulação das informações, tem-se o software estatístico SPSS e o
programa TerraView, utilizado para a elaboração do mapa de localização.
No que se refere a estrutura do estudo, o trabalho conta com cinco seções contando
com esta introdução. A segunda seção descreve a metodologia e os conceitos adotados no
estudo. Por sua vez, a terceira trata de apresentar e comparar as características econômicas e
sociodemográficas da RMF, interior cearense e estado do Ceará. Dando continuidade, a quarta
seção se dedica a análise do perfil sociodemográfico, socioeconômico e ocupacional dos
migrantes intraestaduais residentes na RMF e nos municípios do interior do Ceará. Por
último, a quinta seção apresenta as conclusões do estudo.
2. METODOLOGIA
Os 184 municípios do estado do Ceará são a área de estudo desse trabalho. O mesmo
foi separado em dois locais de análise: i) Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) com os
seus 15 municípios, e ii) interior cearense, com os 169 municípios que não fazem parte dessa
metrópole (Figura 1).
Figura 1 – Mapa de localização e divisão política do estado do Ceará Fonte: Elaborado pelo Observatório das Migrações no Estado do Ceará (OMEC-CNPq-URCA), com base no
IPECE.
A principal fonte de informações são os microdados das amostras dos Censos
Demográficos de 1991, 2000 e 2010, captados pelo IBGE. O recorte temporal compreende
precisamente os quinquênios de 1986/1991, 1995/2000 e 2005/2010. A opção por esse ponto
de partida justifica-se em função do quesito data fixa referir-se ao lugar de residência anterior
há exatamente cinco anos antes da coleta do Censo Demográfico, sendo mensurado somente a
partir do Censo de 1991.
Quanto as categorias de análise, as populações são classificadas em dois tipos:
Migrante Intraestadual Residente na RMF - indivíduo com dez anos ou mais de idade que, na
data de referência do Censo Demográfico, residia na RMF, e em uma data fixa (exatamente
cinco anos antes do recenseamento) morava em algum município do interior do Ceará.
Migrante Intraestadual Residente no Interior do Ceará - indivíduo com dez anos ou mais de
idade que, na data de referência do Censo Demográfico residia no interior do Ceará, e em uma
data fixa (exatamente cinco anos antes do recenseamento) morava na RMF.
Devido à falta de espaço, os demais conceitos e fórmulas adotadas para a extração dos
dados tiveram que ser omitidas do estudo.
3. CARACTERÍSTICAS ECONÔMICAS E RETRATO SOCIODEMOGRÁFICO DA
POPULAÇÃO RESIDENTE NA RMF, INTERIOR CEARENSE E ESTADO DO
CEARÁ
3.1. CARACTERÍSTICAS ECONÔMICAS DA RMF, INTERIOR CEARENSE E
ESTADO DO CEARÁ
Antes da análise das características demográficas da população residente na RMF,
interior cearense e estado do Ceará, foi feita uma breve descrição do quadro macroeconômico
recente das três áreas em apreço.
A Tabela 1 mostra o PIB a preços de mercado e per capita para a RMF, o interior e o
estado do Ceará, em 2010. Constata-se a predominância da participação relativa da RMF, isto
é, dos 77.865.415 bilhões de reais produzidos no PIB a preço de mercado no Ceará, mais de
50 bilhões (aproximadamente 65%) são referentes à RMF, e somente 35% (R$ 27.259.710) é
distribuído com o interior cearense que, nesse mesmo ano, concentra 57,20% da população
(Tabela 3).
Tabela 1 - PIB a preços de mercado e PIB per capita, segundo RMF, Interior e estado do
Ceará - 2010
Anos RMF INTERIOR CEARÁ
PIB a preços de mercado (R$ mil)
2010 50.605.704 27.259.710 77.865.415
PIB per capita (R$ mil)
2010 14,00 5,64 9,22 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Anuário Estatístico do Ceará - IPECE.
Com relação ao segundo indicador ocorre o mesmo, a RMF se destaca com o PIB per
capita de R$ 14.000,00, superior aos R$ 5.640,00 do interior e a média estadual (R$
9.220,00). Com isso, observa-se a concentração da renda e da riqueza na RMF e, portanto, o
insucesso das políticas de desconcentração industrial e do emprego adotadas pelo governo do
estado. Como ressaltam Silva Filho e Queiroz (2009, p. 19):
[...] nos três FDIs o investimento concentrou-se cada vez mais na RMF, embora se
constatem oscilações no número de empresas e empregos nesse período. Mas,
considerando-se que a RMF tem apenas treze municípios contra os 171 no interior
do estado, percebem-se as disparidades nos investimentos por município, assim
como a falta de sucesso das políticas implementadas pelo Fundo de
Desenvolvimento Industrial do Ceará.
Em complemento a análise anterior, constatou-se que entre os quinze municípios com
os maiores PIB’s do estado, em 2002 e 2009, apenas dois municípios, localizados na RMF,
respondiam por mais de 50% do PIB cearense (IPECE, 2011). Tal resultado reafirma a
concentração da atividade econômica na RMF, visto que a maior parte (9) dos municípios do
ranking localizam-se nessa metrópole, ocupando ainda as primeiras colocações.
3.2. RETRATO SOCIODEMOGRÁFICO DA POPULAÇÃO RESIDENTE NA RMF,
INTERIOR CEARENSE E ESTADO DO CEARÁ, AO LONGO DAS DÉCADAS DE 1980,
1990 E 2000
Conforme mostra a Tabela 2, em 1990, dos 6.366.647 milhões de habitantes residentes
no Ceará, aproximadamente 39% estavam na Região Metropolitana de Fortaleza e mais de
60% no interior cearense. Ao longo dos anos analisados, a população cearense cresceu, e
chega, em 2010, a 8.448.055 milhões. A RMF apresentou participação crescente no total do
estado, em detrimento do interior. Contudo, ambas as áreas apresentaram redução na taxa de
crescimento populacional.
Tabela 2 - População residente e taxa de crescimento médio anual da população – RMF,
Interior e estado do Ceará - 1991/2000/2010
Ano RMF Interior Ceará
População residente
1991 2.460.999 3.905.648 6.366.647
2000 3.056.900 4.373.761 7.430.661
2010 3.615.767 4.832.288 8.448.055
Ano População residente (%)
1991 38,65 61,35 100,00
2000 41,14 58,86 100,00
2010 42,80 57,20 100,00
Ano Taxa de crescimento populacional (% a.a)
1991/2000 2,44 1,27 1,73
2000/2010 1,69 1,00 1,29 Fonte: Microdados das amostras dos Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010 (IBGE). Elaborado pelo
Observatório das Migrações no Estado do Ceará (OMEC-CNPq-URCA).
Tal diminuição na taxa de crescimento populacional ocorre em função de uma
tendência mundial e nacional, que é o declínio na taxa de fecundidade. Brito e Baeninger
(2008) ao analisarem o ritmo de crescimento da população mundial para o período de 1950 a
2050, indicam (2008, p. 22) uma tendência clara de “estancamento do crescimento da
população mundial, em função do declínio das taxas de fecundidade”, sendo esta situação
estacionária, seguida de outra com taxas de crescimento declinantes, isto é, com diminuição
da população em termos absolutos.
Gráfico 1 - Taxa de fecundidade total - RMF, Interior e estado do Ceará - 1991, 2000 e
2010
Fonte: Elaborado pelo Observatório das Migrações no Estado do Ceará (OMEC-CNPq-URCA) a partir do Atlas
do Desenvolvimento Humano (PNUD/2013).
No que se refere à fecundidade, esta apresenta declínio nos últimos decênios, sendo
que o arrefecimento se apresenta mais acentuado no interior. No primeiro período em estudo,
a diferença entre a fecundidade na RMF e no interior era de 1 filho, ao passo que em
2005/2010, praticamente não havia diferença.
Do mesmo modo, a esperança de vida ao nascer e as probabilidades de sobrevivência
até 40 e 60 anos apresentaram grandes melhorias no período analisado. Tanto na RMF quanto
no interior, a esperança de vida situou-se, em 2005/2010, em torno de 71 anos. Já as
probabilidades de sobrevivência ficaram em torno de 95% e 85%, respectivamente.
3,62
4,64 4,59
2,92
3,41 3,37
1,99 2,17 2,28
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
3,00
3,50
4,00
4,50
5,00
RMF Interior Ceará
1991 2000 2010
Gráfico 2 - Esperança de vida ao nascer - RMF, Interior e estado do Ceará - 1991, 2000
e 2010
Fonte: Elaborado pelo Observatório das Migrações no Estado do Ceará (OMEC-CNPq-URCA) a partir do Atlas
do Desenvolvimento Humano (PNUD/2013).
Por sua vez, a tendência da mortalidade infantil, bem como da mortalidade de menores
de 5 anos é de diminuição. O comportamento dos indicadores nas duas áreas estudadas é
semelhante, porém com avanços sempre mais intensos no interior.
Gráfico 3 - Mortalidade infantil - RMF, Interior e estado do Ceará - 1991, 2000 e 2010
Fonte: Elaborado pelo Observatório das Migrações no Estado do Ceará (OMEC-CNPq-URCA) a partir do Atlas
do Desenvolvimento Humano (PNUD/2013).
A mortalidade infantil reduziu-se no último período a aproximadamente um terço do
apresentado em 1986/1991, e até 5 anos de idade, o progresso foi maior, sendo resultado tanto
de maiores investimentos na saúde, quanto da maior atenção dada à saúde infantil, que se
62,73 59,92 59,97
68,14 66,06 66,20
71,98 70,56 70,67
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
80,00
RMF Interior Ceará
1991 2000 2010
57,90
71,11 70,53
39,80
47,70 47,14
21,14 25,01 24,70
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
80,00
RMF Interior Ceará
1991 2000 2010
manifesta no acompanhamento das gestantes e posteriormente das crianças, administrando
vacinações.
4. PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO, SOCIOECONÔMICO E OCUPACIONAL DOS
MIGRANTES INTRAESTADUAIS CEARENSES
4.1. PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO DOS MIGRANTES INTRAESTADUAIS
RESIDENTES NA RMF E NOS MUNICÍPIOS DO INTERIOR DO ESTADO DO CEARÁ
A Tabela 3 apresenta os atributos sociodemográficos dos migrantes no quinquênio
1986/1991. Quanto ao sexo, verifica-se que mais da metade dos imigrantes são mulheres,
sendo 57,82% residentes na RMF e 52,51% no interior. Segundo Oliveira e Jannuzzi (2005, p.
135): “63% [das mulheres] declaram migrar pela necessidade de acompanhar a família”.
Entretanto, “no caso de fluxos migratórios [...] em que as mulheres não exercem o papel de
acompanhantes [...] a entrada no mercado de trabalho proporciona transformações em seus
papéis dentro do domicílio e perante a família” (PERES e BAENINGER, 2012, p. 8).
Também sabe-se que a migração feminina é bastante concentrada nos deslocamentos
de curta distância, como é o caso do fluxo intraestadual cearense, e que, uma vez estabelecida,
as migrantes conservam as relações com a origem e tecem conexões com o destino,
estabelecendo redes que incitam novas migrações (CHAVES, 2004; ASSIS, 2007).
Tabela 3 - Perfil dos imigrantes intraestaduais, residentes na RMF e no interior do
Ceará - 1986/1991
Atributos
Sociodemográficos
Imigrante residente na
RMF
Imigrante residente no
interior
Sexo
Masculino 42,18 47,49
Feminino 57,82 52,51
Faixa etária
5 a 17 37,53 33,88
18-29 39,8 30,83
30-39 9,67 16,28
40-49 5,62 8,89
50-59 3,82 4,91
>=60 3,56 5,22
Nível de instrução
Sem inst. e fund. incompl. 89,6 82,94
Fund. compl. e médio incompl. 2,78 3,25
Médio compl. e sup. incompl. 6,21 9,21
Superior completo 1,41 4,6
Raça/Cor
Branca 28,26 7,74
Preta 1,75 0,66
Amarela 0,02 0
Parda 69,91 91,59
Indígena 0,05 0,01
Estado civil
Solteiro(a) 57,38 36,84
Casado(a) 35,62 53,23
Desq.(a)/Div.(a)/Sep.(a)/Viúvo(a) 7 9,92
Religião
Sem religião 3,27 1,92
Católica 91,08 89,24
Evangélica/Protestante 5,1 7,58
Outras 0,55 1,27
Filhos (as)
Sem filho (a)s 61,3 39,48
Com filho (a)s 38,7 60,52 Fonte: Microdados da amostra do Censo Demográfico 1991 (IBGE). Elaborado pelo Observatório das Migrações
no Estado do Ceará (OMEC-CNPq-URCA).
No tocante à faixa etária, a maioria dos imigrantes é jovem, principalmente aqueles
que chegam à RMF, com destaque para as faixas de 5 a 17 e 18 a 29 anos. O predomínio de
migrantes nessas duas faixas de idade está intimamente relacionado à motivação do
deslocamento. Como as crianças não migram sozinhas, “[...] é natural que, para cada chefe de
família que declarasse migrar em busca de trabalho, houvesse cônjuge e filhos que
declarassem que o deslocamento decorria, para eles, como a necessidade de acompanhar o
chefe ou os pais” (OLIVEIRA e JANNUZZI, 2005, p. 135). Do mesmo modo, “[...] para
migrantes pertencentes à força de trabalho primária, com 25 até 49 anos de idade, o trabalho é
claramente o motivo mais importante [...]” (OLIVEIRA e JANNUZZI, 2005, p. 136).
Quanto a escolaridade, o nível de instrução é majoritariamente baixo, pois
aproximadamente 90% e 83% dos imigrantes residentes na RMF e no interior, do Ceará
respectivamente, não possui instrução ou possui ensino fundamental incompleto.
Com relação a raça/cor, os residentes na RMF, a maioria (aproximadamente 70%)
considera-se parda, enquanto o segundo maior percentual pertence a raça/cor branca. Já entre
os imigrantes residentes no interior, mais de 90% se diz pardo, sendo mínimos os percentuais
das demais categorias. Conforme dados referentes ao censo de 2010, o Nordeste é a região
brasileira em que a raça/cor parda é predominante. No estado do Ceará, mais de 60% dos
residentes se autodeclaram pardos (IPECE, 2012), ratificando os achados desse estudo.
No que diz respeito ao estado civil, os imigrantes residentes na RMF e no interior
cearense divergem. Enquanto aqueles residentes na RMF são em maioria solteiros (57,38%),
os que chegaram ao interior são em sua maior parte casados (53,23%). No quesito religião,
aproximadamente 90% dos imigrantes residentes em ambas as regiões são católicos.
Outra característica que é considerada é se o imigrante tem filho ou não. Os resultados
para esta variável assemelham-se aos obtidos para o estado civil, fato esperado dado que as
variáveis relacionam-se. Mais de 60% dos imigrantes residentes na RMF não tem filhos, ao
contrário dos residentes no interior, entre os quais mais de 60% tem filhos. Como visto, a
maioria dos imigrantes na RMF são jovens solteiros e, portanto, sem filhos. Já no interior,
mais de 53% dos imigrantes que chegam são casados e, provavelmente, com filhos.
Quanto ao Censo Demográfico 2000 (Tabela 4), este aponta que a maioria dos
imigrantes é do sexo feminino, não havendo praticamente nenhuma alteração em relação aos
percentuais observados no quinquênio anterior.
Tabela 4 - Perfil dos imigrantes intraestaduais, residentes na RMF e no interior do
Ceará - 1995/2000
Atributos
Sociodemográficos
Imigrante residente na
RMF
Imigrante residente no
interior
Sexo
Masculino 42,49 48,46
Feminino 57,51 51,54
Faixa etária
10-14 11,83 12,53
15-29 44,29 27,05
30-39 25,90 37,10
40-49 7,59 11,30
50-59 4,39 6,40
>=60 5,99 5,63
Nível de instrução (anos)
Sem instrução. e fund. incompl. 51,11 53,46
Fund. compl. e médio incompl. 26,86 23,36
Médio compl. e sup. incompl 16,95 13,87
Superior completo 5,08 9,30
Raça/Cor
Branca 38,68 40,25
Preta 3,17 3,57
Amarela 0,21 0,09
Parda 57,79 55,90
Indígena 0,15 0,20
Estado civil
Solteiro(a) 68,55 62,30
Casado(a) 25,96 32,68
Desq.(a)/Div.(a)/Sep(a) 2,24 2,89
Viúvo(a) 3,26 2,13
Religião
Sem religião 4,25 3,67
Católica 84,33 83,14
Evangélica/Protestante 10,82 12,74
Outras 0,60 0,44
Filho (a)s
Sem filho (a)s 53,21 37,04
Com filho (a)s 46,79 62,96 Fonte: Microdados da amostra do Censo Demográfico 2000 (IBGE). Elaborado pelo Observatório das Migrações
no Estado do Ceará (OMEC-CNPq-URCA).
Com relação à faixa etária, pode-se afirmar que os imigrantes são mais velhos, visto
que no quinquênio anterior as faixas etárias a partir dos 30 anos concentravam pouco mais de
20% dos imigrantes residentes na RMF, enquanto em 1995/2000 este percentual ultrapassa os
40%. Com os imigrantes residentes no interior ocorre o mesmo. As últimas quatro faixas
etárias concentravam, no interregno anterior, 35,3% dos imigrantes, ao passo que em
1995/2000 concentram mais de 60%. Este aumento se deu principalmente na faixa que vai dos
30 aos 39 anos.
Em relação ao nível de instrução, mais de 50% dos migrantes intraestaduais não possui
instrução ou possui ensino fundamental incompleto, sendo 51,11% daqueles residentes na
RMF e 53,46% dos que residem no interior. À medida que aumenta o nível de instrução,
diminuem os percentuais de migrantes. Do ensino fundamental completo ao superior
incompleto, constata-se que os imigrantes que chegam à RMF possuem mais instrução
quando comparado aos que chegam ao interior. Já com superior completo, é maior o
percentual de imigrantes residentes no interior. Os resultados registraram grande melhora em
relação ao Censo anterior, tendo em vista a grande diminuição no percentual de migrantes
sem ou com pouca instrução.
No que tange à raça/cor, os percentuais de imigrantes residentes em ambas as regiões
foram bem parecidos. Mais de 55% deles consideravam-se pardos e o percentual de
imigrantes brancos girou em torno dos 40%, enquanto os negros eram, aproximadamente, 3%.
Também puderam ser observados leves aumentos nos percentuais de amarelos e indígenas.
Em estado civil, tem-se que a maior parte dos imigrantes residentes tanto na RMF
quanto no interior são solteiros (68,55% na RMF e 62,30% no interior). Em seguida, está o
percentual de casados (25,96% na RMF e 32,68% no interior). Quanto às demais categorias,
houve diminuição em relação ao Censo anterior.
Referindo-se a religião dos imigrantes que chegam à RMF, o percentual relativo de
católicos diminuiu, aumentando nas demais, principalmente evangélicos/protestantes. Já no
interior, diminuíram também os imigrantes de outras religiões, além da católica, aumentando
a participação de sem religião e de religião evangélica/protestante.
Quanto aos filhos, os percentuais são semelhantes aos observados em 1986/1991, visto
que a maioria (53,21%) dos imigrantes residentes na RMF não tem filhos, ao contrário dos
que residem no interior, onde aproximadamente 63% tem filhos. Entretanto, aumentou o
percentual de imigrantes com filhos em ambas as regiões.
Em 2005/2010, último interregno em estudo, ao analisar o sexo dos imigrantes da
RMF, vê-se que embora o percentual de migrantes do sexo feminino tenha reduzido em
relação ao quinquênio anterior, este permanece maior (55,81%) em relação ao masculino. Já
entre os migrantes que chegam ao interior, houve aumento no percentual de mulheres, de
51,54% para 52,50%.
No que se refere a idade do imigrante, a faixa de 18 a 29 anos continuou se
destacando, tanto entre os residentes da RMF (48,92%) quanto entre os do interior (26,71%).
Em seguida estão os migrantes de 0 a 17 (21,97% e 30,25%, respectivamente) e os de 30 a 39
(12,29% e 19,02%, respectivamente). Contudo, essas três categorias apresentaram aumento
entre aqueles que residem na RMF, ao passo que no interior houve diminuição. Também foi
observado leve aumento no percentual de imigrantes de 60 anos ou mais em relação ao Censo
anterior, especialmente nos imigrantes do interior. Este fato relaciona-se com a migração após
a aposentadoria. Apesar do envelhecimento da população, ainda são poucos os estudos sobre a
migração de idosos, já que estes direcionam-se mais a idade ativa. Entretanto, são diferentes
as motivações para o deslocamento, pois enquanto a migração jovem associa-se à busca de
emprego ou de melhores salários, a idosa está ligada “[...] as especificidades das etapas do
ciclo de vida das idades mais avançadas, como aposentadoria, busca de suporte e reunião
familiar” (CAMPUS e BARBIERI, 2013).
Tabela 5 - Perfil dos imigrantes intraestaduais, residentes na RMF e no interior do
Ceará - 2005/2010
Atributos Sociodemográficos Imigrante residente na
RMF
Imigrante residente no
interior
Sexo
Masculino 44,19 47,50
Feminino 55,81 52,50
Faixa etária (anos)
0-17 21,97 30,25
18-29 48,92 26,71
30-39 12,29 19,02
40-49 7,09 11,40
50-59 3,63 5,95
>=60 6,10 6,67
Nível de instrução (anos)
Sem instrução e fund. incompl. 44,15 56,44
Fund. compl. e médio incompl. 21,54 16,81
Médio compl. e sup. incompl. 30,42 20,44
Superior completo 3,88 6,31
Raça/Cor
Branca 32,83 33,78
Preta 3,84 4,13
Amarela 1,43 1,57
Parda 61,60 60,39
Indígena 0,30 0,12
Estado civil
Solteiro(a) 73,71 62,44
Casado(a) 20,94 30,18
Desq.(a)/Div.(a)/Sep(a) 2,65 4,34
Viúvo(a) 2,69 3,05
Religião
Sem religião 5,98 5,46
Católica 73,07 71,52
Evangélica/Protestante 20,46 21,55
Outras 0,49 1,47
Filho (a)s
Sem filho (a)s 57,38 38,44
Com filho (a)s 42,62 61,56 Fonte: Microdados da amostra do Censo Demográfico 2010 (IBGE). Elaborado pelo Observatório das Migrações
no Estado do Ceará (OMEC-CNPq-URCA).
No que tange ao nível de instrução em 2005/2010, houve diminuição no percentual de
migrantes que tem até o ensino médio incompleto e aumentou consideravelmente o percentual
daqueles que possuem ensino médio completo e superior incompleto (de 16,95% para
30,42%). Como nos Censos anteriores, predominam os migrantes de raça/cor parda, inclusive
apresentou leve aumento em relação à 1995/2000 (de 57,79 para 61,60%), enquanto houve
diminuição no percentual de brancos (de 38,68% para 32,83%).
Quanto ao estado civil, a maioria dos imigrantes residentes na RMF no período em
estudo (2005/2010), declarou ser solteiro (73,71%), seguida do percentual de casados
(20,94%), que se destaca também pela redução em relação à 1995/2000. No interior, a ordem
é a mesma, porém com um percentual menor para os solteiros (62,44%) e maior para os
casados (30,18%).
Apesar da expressividade do número de imigrantes da religião católica em detrimento
das outras religiões, tanto na RMF quanto no interior, estes reduziram-se em
aproximadamente 10%, enquanto os imigrantes da religião evangélica/protestante
aumentaram praticamente no mesmo percentual.
Semelhante aos quinquênios anteriores, 2005/2010 mostra que a maioria dos
imigrantes da RMF não tem filhos (57,38%), enquanto no interior a maior parte tem filhos
(61,56%). Comparado às análises anteriores, o percentual de imigrantes sem filhos na RMF
apresentou leve recuperação, e o do interior permaneceu praticamente inalterado.
4.2. INSERÇÃO OCUPACIONAL DOS MIGRANTES INTRAESTADUAIS NO
MERCADO DE TRABALHO DA RMF E DOS MUNICÍPIOS DO INTERIOR CEARENSE
No que se refere a distribuição de ocupados no trabalho principal, entre as duas áreas
em apreço, segundo trabalho e rendimento, em 1986/1991 (Tabela 6), observa-se que a
inserção da População em Idade Ativa (PIA) na RMF foi de 117.607 pessoas, ao passo que a
inserida no interior cearense foi de 28.859 pessoas. Por conseguinte, a População
Economicamente Ativa (PEA) na RMF foi de 70.909 indivíduos, e no interior cearense de
14.870. Mas apesar da RMF apresentar uma taxa de participação de 60,29% e a do interior
cearense de 51,53%, este último assemelha-se a RMF quanto às taxas de ocupação e
desemprego, com uma diferença de aproximadamente dois pontos percentuais.
Tabela 6 - Distribuição dos imigrantes intraestaduais ocupados no trabalho principal na
RMF e no interior do Ceará, segundo trabalho e rendimento - 1986/1991
Condição de Atividade Imigrante residente na
RMF
Imigrante residente no
interior
PIA 117.607 28.859
PEA 70.909 14.870
PO 67.093 13.890
PD 3.816 980
Taxa de Participação=PEA/PIA 60,29 51,53
Taxa de Ocupação=PO/PEA 94,62 93,41
Taxa de Desemprego=PD/PEA 5,38 6,59
Posição na Ocupação
a) Empregados
Com carteira assinada 34,56 24,89
Mil. e func. púb. Estat. 5,6 5,40
Sem carteira assinada 27,49 38,9
b) Conta própria 24,00 26,79
c) Empregadores 3,1 1,24
d) Não remunerados 4,44 1,84
e) Trab. para o próprio cons. 0,81 0,94
Situação Ocupacional
Taxa de Formalização 40,16 30,29
Taxa de Informalidade 51,49 65,69
Ocupação por Setor de Atividade
Agropecuária, Silvic. e Pesca 5,94 9,89
Indústria Extrativa 1,34 0,31
Indústria de Transformação 12,98 9,8
Indústria da Construção 5,95 8,72
Serviços Indust. de Util. Púb. 1,99 0,36
Comércio 29,11 23,89
Serviços 35,9 38,98
Administração Pública 3,9 5,1
Atividades mal Definidas 2,89 2,95
Faixas Rendimentos em SM
Até 1SM 54,60 63,79
+ De 1 a 2SM 23,50 16,70
+ De 2 a 5SM 9,80 13,40
+ De 5 a 10SM 6,89 4,90
+ De 10SM 5,21 1,21 Fonte: Microdados da amostra do Censo Demográfico de 1991 (IBGE). Elaborado pelo Observatório das
Migrações no Estado do Ceará (OMEC-CNPq-URCA).
No que concerne a posição na ocupação, a RMF apresenta maior proporção de
empregados com carteira assinada (34,56%), enquanto no interior cearense prevalecem os
sem carteira (38,90%). Quanto à conta própria, tanto na RMF quanto no interior cearense,
constata-se significativo percentual de migrantes ocupados nessa posição, com 24% e
26,79%, respectivamente. Em seguida estão os não remunerados, que na RMF (4,44%)
representam mais que o dobro do percentual para a mesma categoria no interior (1,84%), e os
empregadores que representam 3,1% na RMF e 1,24% no interior. Aqueles que trabalham
para consumo próprio são minoria em ambas as áreas, não atingindo 1%.
Quanto a situação ocupacional, a taxa de informalidade prevalece na RMF e no
interior, porém apresenta-se mais baixa neste último (65,69% contra 51,49%).
Analisando as ocupações por setor de atividade, tem-se que o setor de serviços é o que
mais absorve migrante, sendo 35,9% na RMF e 38,98% no interior. Em seguida vem o
comércio (aproximadamente 29% na RMF e 24% no interior) e depois o setor industrial,
especialmente a indústria de transformação na RMF, e a agropecuária no interior do estado.
Tratando agora da remuneração do trabalho, vê-se que prevalecem os rendimentos até
1 SM e à medida que a faixa salarial cresce, diminuem os percentuais. Chama atenção a faixa
de mais de 2 a 5 SM, única que se mostrou superior no interior em relação à RMF. Mas de
modo geral, o trabalho se mostra, em termos de rendimento, bem mais precário no interior.
Por sua vez, a tabela 7 mostra a inserção ocupacional do migrante intraestadual para o
período 1995/2000. Com relação a condição dos migrantes, houve grande aproximação entre
os volumes da PIA e da PEA na RMF e no interior em relação à 1986/1991.
Tabela 7 - Distribuição dos imigrantes intraestaduais ocupados no trabalho principal na
RMF e no interior do Ceará, segundo trabalho e rendimento - 1995/2000
Condição de Atividade Imigrante residente na
RMF
Imigrante residente no
interior
PIA 78.175 44.437
PEA 48.815 24.567
PO 43.958 22.356
PD 4.857 2.211
Taxa de Participação=PEA/PIA 62,44 55,28
Taxa de Ocupação=PO/PEA 90,05 91,00
Taxa de Desemprego=PD/PEA 9,95 9,00
Posição na Ocupação
a) Empregados
Com carteira assinada 38,02 29,19
Mil. e func. púb. Estat. 5,33 6,79
Sem carteira assinada 24,38 33,8
b) Conta própria 25,50 26,00
c) Empregadores 2,94 1,51
d) Não remunerados 3,18 1,69
e) Trab. para o próprio cons. 0,65 1,02
Situação Ocupacional
Taxa de Formalização 43,35 35,98
Taxa de Informalidade 49,88 59,80
Ocupação por Setor de Atividade
Agropecuária, Silvic. e Pesca 6,04 10,19
Indústria Extrativa 1,15 0,13
Indústria de Transformação 13,01 9,69
Indústria da Construção 6,29 8,55
Serviços Indust. de Util. Púb. 2,01 0,33
Comércio 28,22 23,09
Serviços 36,83 40,83
Administração Pública 3,62 5,28
Atividades mal Definidas 2,82 1,90
Faixas Rendimentos em SM
Até 1SM 49,80 54,50
+ De 1 a 2SM 24,21 23,70
+ De 2 a 5SM 11,59 12,25
+ De 5 a 10SM 8,20 6,90
+ De 10SM 6,20 2,65 Fonte: Microdados da amostra do Censo Demográfico 2000 (IBGE). Elaborado pelo Observatório das Migrações
no Estado do Ceará (OMEC-CNPq-URCA).
No tocante à PEA, fazem parte aproximadamente 90% dos imigrantes residentes na
RMF e 91% dos que residem no interior. Contudo, estes percentuais apresentaram diminuição
em relação ao quinquênio anterior, principalmente na RMF (de 94,62% para 90,05%).
Quanto a posição na ocupação, cresceu o número de migrantes com carteira assinada,
em detrimento, principalmente, dos sem carteira. Na RMF, o percentual de migrantes
ocupados com carteira assinada cresceu aproximadamente 3,5%, enquanto no interior o
aumento foi em 4,3 pontos percentuais. Os percentuais referentes aos imigrantes que
trabalham por conta própria apresentaram pequenas alterações, sendo que na RMF houve
redução enquanto no interior a alteração foi para mais. Os demais subitens relacionados aos
empregadores, não remunerados e os que trabalham por conta própria apresentaram leves
diminuições para ambas as áreas estudadas, com exceção dos não remunerados no interior.
Considerando ambas as áreas em análise, observa-se que a taxa de formalidade
cresceu, enquanto a de informalidade apresentou diminuição. Porém, as variações se deram de
forma bem mais intensa no interior. A RMF elevou a sua taxa de formalidade em
aproximadamente 3% e reduziu a de informalidade em pouco mais de 1,5%, enquanto no
interior essas variações foram próximas de 6%.
Quanto aos setores nos quais são inseridos os migrantes, continua a sobressair-se o de
serviços, inclusive apresentando pequeno aumento. A ordem continuou a mesma em relação a
1986/1991, em seguida vem o comércio e a indústria de transformação. De modo geral, as
mudanças se restringiram a pequenas variações, que na maioria das vezes não passou de
decimais.
Sobre a remuneração dos imigrantes em 1995/2000, infere-se que houve grande
diminuição no percentual daqueles que recebiam até 1 SM. Aqui, novamente, o interior se
destaca, ao sair de 63,79% para 54,5%, com uma redução praticamente duas vezes maior em
relação à RMF. Distribuindo-se entre as demais faixas salariais, essa redução seguiu quase em
sua totalidade para a faixa de mais de 2 até 5 SM, que agora representa a remuneração de
quase 24% dos imigrantes residentes no interior cearense. Já na RMF, todas as demais faixas
absorveram dessa redução.
Em 2005/2010 a PIA na RMF, ao contrário do quinquênio anterior, apresentou
decréscimo em mais de 8.000 migrantes, ao passo que no interior cearense ocorreu acréscimo.
Comportamento semelhante foi observado para a PEA e, consequentemente, para a taxa de
participação. Mas apesar da tendência diferente quanto ao volume da PEA, tanto a RMF
quanto o interior apresentaram redução na taxa de ocupação. Também houve elevação na taxa
de desemprego para as duas áreas, especialmente entre os imigrantes residentes na RMF.
Tabela 8 - Distribuição dos imigrantes intraestaduais ocupados no trabalho principal na
RMF e no interior do Ceará, segundo trabalho e rendimento - 2005/2010
Condição de Atividade Imigrante residente na
RMF
Imigrante residente no
interior
PIA 70.168 47.652
PEA 42.569 29.586
PO 37.590 26.799
PD 4.979 2.787
Taxa de Participação=PEA/PIA 60,67 62,09
Taxa de Ocupação=PO/PEA 88,30 90,58
Taxa de Desemprego=PD/PEA 11,70 9,42
Posição na Ocupação
a) Empregados
Com carteira assinada 34,02 22,10
Mil. e func. púb. Estat. 4,10 6,08
Sem carteira assinada 27,98 39,80
b) Conta própria 26,79 27,77
c) Empregadores 2,67 1,33
d) Não remunerados 3,96 1,94
e) Trab. para o próprio cons. 0,48 0,98
Situação Ocupacional
Taxa de Formalização 38,12 28,18
Taxa de Informalidade 54,77 67,57
Ocupação por Setor de Atividade
Agropecuária, Silvic. e Pesca 5,89 10,05
Indústria Extrativa 1,10 0,11
Indústria de Transformação 12,22 9,40
Indústria da Construção 7,05 7,60
Serviços Ind. de Util. Púb. 2,28 0,56
Comércio 29,10 26,14
Serviços 36,15 39,35
Administração Pública 3,54 5,01
Atividades mal Definidas 2,67 1,78
Faixas Rendimentos em SM
Até 1SM 53,09 59,69
+ De 1 a 2SM 23,28 23,20
+ De 2 a 5SM 10,90 9,98
+ De 5 a 10SM 6,80 4,75
+ De 10SM 5,93 2,38 Fonte: Microdados da amostra do Censo Demográfico 2010 (IBGE). Elaborado pelo Observatório das Migrações
no Estado do Ceará (OMEC-CNPq-URCA).
Para a posição na ocupação observou-se o inverso do ocorrido no período anterior,
onde houve uma troca entre migrantes sem e com carteira assinada, em benefício desses
últimos na RMF e no interior. Isto é, o volume de empregados com carteira assinada na RMF
diminuiu de 38% para 34%, e no interior de 29% para 22%. Esse declínio se traduziu em
crescimento dos percentuais de migrantes que trabalham por conta própria e de não
remunerados, mas principalmente entre os que trabalham sem carteira assinada.
Diante do exposto anteriormente e referindo-se à situação ocupacional, deduz-se que
houve diminuição na taxa de formalização e ampliação na de informalidade. Desse modo, as
duas regiões em apreço liquidaram o avanço obtido entre o primeiro e o segundo período, já
que apresenta resultados piores que os de 1986/1991 nesse quesito.
Quanto aos setores que absorvem a mão de obra migrante, continuou em destaque o
setor de serviços, seguido do comércio e da indústria de transformação, dentre os quais apenas
o setor comercial apresentou algum avanço. Os demais setores continuam a mostrar
percentuais pequenos, assim como suas variações.
Os rendimentos também apresentaram retrocesso, visto que na RMF e no interior
voltou a crescer o número de migrantes que recebem até 1 SM. Desse modo, minimizou-se o
ganho relativo à variação entre os dois primeiros períodos. Por essa ótica, o interior ainda se
saiu melhor, visto que foi grande seu avanço entre 1986/1991 e 1995/2000. Todas as demais
faixas salariais apresentaram redução, destacando-se a de mais de 2 a 5 SM no interior
cearense.
5. CONCLUSÕES
O presente trabalho se propôs a traçar e comparar o perfil sociodemográfico,
socioeconômico e ocupacional dos migrantes intraestaduais cearenses residentes na RMF vis-
à-vis os residentes no interior do estado, no período de 1986 a 2010. Ademais, foi feita uma
breve descrição do quadro macroeconômico recente das áreas em apreço, bem como o retrato
sociodemográfico da população residente em tais áreas.
Os primeiros resultados mostram que a RMF está melhor posicionada na maioria dos
indicadores econômicos, demográficos e ocupacionais. Principalmente com relação aos
indicadores econômicos, permanece o ‘gap’ entre os distintos “Cearás”: RMF e interior do
estado.
No tocante as variáveis sociodemográficas, houve aproximação do interior cearense
em relação a RMF, principalmente em relação a taxa de fecundidade e as taxas de mortalidade
infantil e de menores de 5 anos.
Em se tratando do perfil dos migrantes, foram observadas semelhanças entre aqueles
que chegaram a RMF e ao interior. A maioria dos migrantes são mulheres jovens, da raça/cor
parda ou branca e de religião católica. A instrução é baixa, com leve melhora para a RMF, ao
longo dos quinquênios. Sobre o estado civil, no último período analisado, a maioria é solteira,
sem filhos na RMF e com filhos no interior do estado.
Para o último objetivo proposto pelo projeto, qual seja a análise da inserção
ocupacional dos migrantes no mercado de trabalho de destino, obteve-se como principal
resultado a constatação de que o interregno de 1995/2000, foi o melhor período tanto em
termos de situação ocupacional quanto em termos de rendimentos, mantendo-se o gap entre a
RMF e o interior do estado.
Ratifica-se, por fim, que o governo deve continuar a olhar para o interior, ou ainda
intensificar seus esforços. Mesmo diante dos avanços e melhorias obtidos no interior
cearense, deve-se dar continuidade as medidas e/ou políticas públicas que proporcionaram tais
resultados, no intuito de diminuir cada vez mais o “gap” existente entre metrópole e interior, e
de proporcionar uma vida digna a todos os cidadãos cearenses.
6. REFERÊNCIAS
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migração internacional. Estudos Feministas, Florianópolis, 15(3): 336, setembro-
dezembro/2007.
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transição demográfica e das migrações internacionais. Brasília: Centro de Gestão e
Estudos Estratégicos, 2008. 345p.
CAMPUS, M. B.; BARBIERI, A. F. Considerações teóricas sobre as migrações de idosos.
Revista Brasileira de Estudos de População (Impresso), v. 30, p. 69-84, 2013.
CHAVES, M. F. G. Migração feminina: familiar ou autônoma? Observações sobre as
mulheres que migram solteiras e separadas. In: XIV Encontro Nacional de Estudos
Populacionais, 2004, Caxambu-MG. Anais do XIV Encontro da ABEP. Associação Brasileira
de Estudos Populacionais, 2004.
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IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Indicadores Sociais Mínimos.
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IPECE. Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará. Informe Nº 02. Estimativa do
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IPECE. Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará. Informe nº. 23. Perfil da raça
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OLIVEIRA, K. F.; JANNUZZI, P. M. Motivos para migração no Brasil e retorno ao
Nordeste: padrões etários, por sexo e origem/destino. São Paulo em Perspectiva (Impresso), v.
19, p. 134-143, 2005.
PERES, R. G.; BAENINGER, R. Migração Feminina: um debate teórico e metodológico
no âmbito dos estudos de gênero. In: XVIII Encontro Nacional da Associação Brasileira de
Estudos Populacionais: transformações na população brasileira: complexidades, incertezas e
perspectivas, 2012, Águas de Lindóia-SP. Anais do XVIII Encontro Nacional da Associação
Brasileira de Estudos Populacionais, 2012. v. 1. p. 1-20.
SILVA FILHO, L. A.; QUEIROZ, S. N. Políticas de concentração ou desconcentração
industrial no território cearense? Administração Pública e Gestão Social, v. 1, p. 1-22,
2009.
ANÁLISE DO PREÇO DA CESTA BÁSICA NO MUNICÍPIO DE FORTALEZA-CE
NO PERÍODO DE 1994 A 2016 SOB A ÓTICA DE QUEBRAS ESTRUTURAIS
MAURI GOMES DA SILVA
Economista pela Universidade Regional do Cariri (URCA). Tel.: (87) 9811-4027.
E-mail: [email protected]
WELLINGTON RIBEIRO JUSTO
Professor Associado da URCA. Professor do PPGECON. Doutor em Economia pelo PIMES-
UFPE. Tel.: (88) 3102-1212.
E-mail: [email protected]
MATHEUS OLIVEIRA DE ALENCAR
Economista pela Universidade Regional do Cariri (URCA) e Mestrando em Economia Rural
pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Tel.: (88) 98107-0613.
E-mail: [email protected]
RESUMO:
Acompanhar o comportamento do valor da cesta básica é fundamental, em especial para
famílias de renda mais baixa. Este estudo tem como objetivo geral estimar a elasticidade do
preço da cesta básica em relação aos preços do açúcar, arroz, café, carne e óleo em Fortaleza
(CE) no período de julho de 1994 a setembro de 2016. Foram utilizadas as séries de preços
coletados pelo DIEESE no período de análise dos referidos produtos. A metodologia utilizada
foi a estimação de regressão múltipla com as variáveis em logaritmo com múltiplas quebras
estruturais identificas pelo teste de Bai-Perron. Os resultados apontaram que as variáveis
apresentaram tendência de elevação ao longo do tempo, mas com dinâmica diferente entre as
variáveis. Os testes indicaram a presença de quatro quebras estruturais ao longo do tempo.
Assim, observou-se que a elasticidade do preço da cesta básica em relação ao preço dos
produtos considerados varia de forma distinta em cada período de quebra.
Palavras-chaves: Cesta básica; Fortaleza; Elasticidade; Quebra estrutural; Bai-Perron.
ABSTRACT:
Monitoring the value pattern of the food basket is fundamental especially for lower income
families. This study aims at estimating the price elasticity of the basic basket in relation to the
prices of sugar, rice, coffee, meat and oil in Fortaleza (CE) from July 1994 to September
2016. For the analysis were used the price series of the products collected by DIEESE. The
methodology used was the estimation of multiple regressions with the variables in logarithm
with multiple structural breaks identified by the Bai-Perron test. The results showed that the
variables tended to increase over time, but with different dynamics among the variables. The
tests indicated the presence of four structural breaks over time. Thus, it was observed that the
elasticity of the price of the food basket in relation to the price of the products considered
varies for each breach period.
Keywords: Food basket; Fortaleza; Elasticity; Structural breakage; Bai-Perron.
1. Introdução
O conceito inicial a respeito da temática sobre a cesta básica surgiu no Brasil mais
precisamente em 1938, com a publicação do Decreto nº. 399, quando o governo brasileiro
estabeleceu uma lei indicando uma lista de alimentos balanceados, os quais eram
indispensáveis à alimentação diária de uma pessoa, além de lhe garantir saúde e bem-estar.
Essa iniciativa foi tomada levando em consideração as adversidades socioeconômicas
das cinco regiões do País e o nível de renda per capita da população. Foram consideradas
também, outras variáveis que tendem a pesar mais ou menos nos preços desses produtos. A
relação com os alimentos componentes dessa cesta inclui carne, leite, feijão, farinha, batata,
legumes (tomate), pão francês, café em pó, frutas (banana), açúcar, banha/óleo e manteiga.
Segundo Ganne et al. (2015), a cesta básica é a denominação atribuída a um conjunto
de produtos composto por itens alimentícios, higiene pessoal e limpeza, consumido por uma
família composta por quatro membros no período de um mês, variando a quantidade
consumida por produto. Neste caso, aumenta-se a importância de pesquisas de mercado
agregados às preferências, tendências de consumo e preços, tanto para consumidores finais
como para organizações.
A média de custo de cada um desses itens na cesta básica de uma família tem se
refletido principalmente em relação à capacidade de demandar quantidade suficiente e
necessária a alimentação de todos os membros da família. O parâmetro usado para definir esse
termo é o salário mínimo.
Para Paula, Soares e Bonfim (2011), o salário mínimo é o menor valor pago
legalmente por um empregador para um colaborador, sendo estabelecido por lei baseado no
custo de vida da população sendo amparado pela Lei n° 185, de 14 de janeiro de 1936, pelo
Decreto Lei n° 399, e tem como referência uma família composta por quatro membros. Neste
caso, o salário mínimo seria necessário para garantir a sobrevivência de uma família composta
por quatro pessoas em relação à alimentação, higiene e vestuário.
Ao longo do processo de correção do valor desse peso (salário mínimo), tem-se notado
que cada vez mais as famílias têm perdido poder de compra em relação aos pequenos ajustes
anuais do piso, pois esse valor rapidamente é corroído pela crescente inflação, o que no final
das contas resulta em ganho pequeno ou quase nenhum ao poder de compra, em relação aos
preços dos produtos. Outro fator que influência diretamente no valor da cesta é o clima, tanto
em um excesso de oferta de alimentos ou uma escassez, provocando variações nos preços16
.
Para Santos e Corazza (2006) um dos principais efeitos da inflação é a redução do
poder aquisitivo dos agentes econômicos, especialmente da classe trabalhadora. Esse
segmento tem uma redução ao acesso de determinados bens e serviços prejudicado pelo
processo inflacionário, provocando acentuada redução no seu padrão de vida.
Com isso, as famílias se veem obrigadas a trabalhar cada vez mais para manter o
mesmo nível de consumo ou entram em um ciclo de restrição alimentar que condiciona a
aquisição dos mesmos produtos em menor quantidade e qualidade inferior (bens substitutos)
quando existentes.
Essa retórica tem sido observada ao longo dos anos pelos institutos responsáveis pelas
pesquisas nessa área, que são o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos
Socioeconômicos - DIEESE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- IBGE, Fundação
de Proteção e Defesa do Consumidor - PROCON e a Fundação Instituto de Pesquisa
Econômica - FIPE. Essas organizações têm o objetivo de calcular o valor desses alimentos
nos supermercados e depois divulgar para a população.
Dentre todas as regiões do país, o Nordeste tem sido uma das regiões mais atingidas
pelos aumentos no valor da cesta básica, e isso pode ser explicado tanto pela média do salário
local, como pela dificuldade de obtenção de renda pelas famílias, em sua maioria de baixa
renda, que complementam seus ganhos mensais graças a ajuda advinda de programas sociais
do governo, que muito tem contribuído para a melhoria do consumo das famílias beneficiadas.
A estimativa do salário pago por região é definida pelos custos diários referentes à
alimentação, habitação, higiene, vestuário e transporte. Calcula-se o seu valor com base no
custo mensal com alimentação obtido na pesquisa da cesta. Outro dado importante da
pesquisa são as horas de trabalho necessárias ao indivíduo que ganha salário mínimo, para
adquirir estes bens.
Segundo o IBGE, no ano de 2010, o PIB per capita de Fortaleza foi de R$ 15.204,00
passando para R$ 19.494,00 em 2013, neste caso, houve um crescimento de R$ 4.290,00 em
um período de três anos. Essas taxas positivas foram influenciadas principalmente pelo setor
de serviços que apresentou taxas de crescimento e representa cerca de 81% do valor do PIB
per capita do município.
16
Uma exceção foi o período a partir do governo Lula quando se adotou a correção do valor do salário mínimo
acima da inflação como política de combate às desigualdades.
Dentro dessa abordagem, faz-se necessária a seguinte indagação: como se comportou
os preços dos itens da cesta básica no município de Fortaleza no período de 1994 a 2016?
Nesse Contexto, diante da relevância do tema, com foco no mercado consumidor e no
nível de renda da população, surge a necessidade de buscar entender como os produtos
influenciam diretamente no preço final da cesta, dando importância às constantes mudanças
no cenário econômico nacional, onde a inflação tem sido o indicador mais poderoso do
momento e o responsável pelos desajustes do mercado.
Contudo, tem-se observado ao longo dos anos grandes variações nos custos dos
produtos componentes da cesta básica tanto no interior como na capital cearense, porém o
foco dessa análise é direcionado principalmente para os impactos de maior ponderação dentro
do espaço de consumo das famílias residentes na capital.
Ademais, o município de Fortaleza (CE) está entre as 18 capitais acompanhadas pelo
DIEESE, e segundo relatórios das pesquisas divulgadas está entre as capitais com o menor
valor da cesta básica no período de 1994 a 2016, sofrendo variações ao longo dos anos.
Este estudo tem como objetivo estimar a elasticidade do preço da cesta básica em
relação aos preços do açúcar, arroz, café, carne e óleo em Fortaleza (CE) no período de julho
de 1994 a outubro de 2016. Como objetivos específicos têm-se: identificar se há quebras
estruturais ao longo das séries do modelo estimado, detectar princípios da relação entre
inflação e cesta básica, e verificar os aspectos que influenciam na oferta e demanda de
alimentos.
Assim, esse estudo acrescentará várias perspectivas, que nortearão a prática diária dos
consumidores fortalezenses. Daí a relevância do estudo, como contribuição para o
desenvolvimento da economia regional e para o entendimento dos mecanismos de dinamismo
desse mercado, que nos últimos anos tem sofrido constantes variações. Nesse contexto, faz-se
necessário destacar a importância da análise da cesta e o impacto causado por ela nas famílias
fortalezenses.
Estudos que permitam compreender a dinâmica do valor da cesta básica permitem aos
tomadores de decisão atuar para amenizar os efeitos perversos de elevações de preços,
essencialmente para as classes menos favorecidas.
O trabalho está dividido em mais cinco seções além dessa introdução. Na segunda
seção discute-se a relação entre cesta básica e inflação: conceitos, causas e efeitos. A seção
três traz a metodologia. Na quarta seção são apresentados os resultados e finalmente a última
seção traz as conclusões.
2. Relação entre Cesta Básica e Inflação: conceitos, causas e efeitos
2.1. Contextualização da Cesta Básica na Economia Brasileira
Em uma sociedade economicamente ativa a alimentação adequada depende da relação
entre o sistema de produção e distribuição, além de outros fatores como: acesso aos meios
físicos e financeiros, hábitos da sociedade, leis que regem o mercado de trabalho, relações
familiares, comércio internacional e ações do estado.
Foi com esse entendimento que o governo brasileiro definiu uma política de proteção
alimentar voltada para o combate à fome e miséria do país. Dentre essas medidas se incluía a
criação de uma lista com alimentos, considerados componentes básicos da dieta diária de um
trabalhador adulto e que foi denominada de cesta básica. Essa denominação foi estipulada em
conformidade com o que dispõe a Lei nº. 6.321, de 14 de abril de 1976, e do Decreto nº. 5, de
14 de janeiro de 1991 (FIEMG, 2009).
Não existe uma formulação padrão sobre a cesta básica nacional, sendo que a lista de
produtos pode variar de acordo com a realidade e necessidade de cada região. Há leis em
alguns estados brasileiros que proporcionam isenção de impostos sobre produtos da cesta
básica (DIEESE, 2008 apud CARDOSO et al. 2011).
O Quadro 01 mostra a relação entre a quantidade de alimentos por região e as
provisões mínimas estipuladas pelo Decreto Lei 399 de 1936, conforme segue: Região 1 –
Compreende os estados de São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Goiás e
Distrito Federal; Região 2 - Compreende os estados de Pernambuco, Bahia, Ceará, Rio
Grande do Norte, Alagoas, Sergipe, Amazonas, Pará, Piauí, Tocantins, Acre, Paraíba,
Rondônia, Amapá, Roraima e Maranhão; Região 3 - Compreende os estados de Paraná, Santa
Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul; Nacional – Cesta normal
média para a massa trabalhadora em atividades diversas e para todo o território nacional. Ao
longo dos anos, a partir da criação dos Escritórios Regionais do DIEESE, foi sendo
implantado o acompanhamento da cesta nas várias capitais do Brasil. Hoje, são divulgados os
custos da cesta básica de dezoito capitais. Esta pesquisa permite acompanhar a variação dos
preços de cada produto, o custo de cada um deles e quantas horas um indivíduo que ganha
salário mínimo precisa trabalhar para poder comprá-los mensalmente (DIEESE, 2009).
Quadro 01: Relação quantidade de alimentos por região e provisões mínimas
Alimentos Região 1 Região 2 Região 3 Nacional
Carne 6,0 kg 4,5 kg 6,6 kg 6,0 kg
Leite 7,5 l 6,0 l 7,5 l 15,0 l
Feijão 4,5 kg 4,5 kg 4,5 kg 4,5 kg
Arroz 3,0 kg 3,6 kg 3,0 kg 3,0 kg
Farinha 1,5 kg 3,0 kg 1,5 kg 1,5 kg
Batata 6,0 kg - 6,0 kg 6,0 kg
Legumes (Tomate) 9,0 kg 12,0 kg 9,0 kg 9,0 kg
Pão francês 6,0 kg 6,0 kg 6,0 kg 6,0 kg
Café em pó 600 gr 300 gr 600 gr 600 gr
Frutas (Banana) 90 unid 90 unid 90 unid 90 unid
Açúcar 3,0 kg 3,0 kg 3,0 kg 3,0 kg
Banha/Óleo 750 gr 750 gr 900 gr 1,5 kg
Manteiga 750 gr 750 gr 750 gr 900 gr
Fonte: DIEESE, 1993 e Decreto lei nº. 399 de 1938.
Segundo Amorim et al. (2013), a cesta básica funciona como um importante
instrumento para avaliação do desenvolvimento socioeconômico e nutricional de uma região,
servindo como referência para avaliar a qualidade de vida de determinada população.
A partir do cálculo do custo da cesta básica é possível estimar o valor do salário
mínimo regional necessário ao cumprimento do estabelecido pela Constituição de 1988. Lá,
se define o salário mínimo como:
“[...]Aquele fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender às
necessidades vitais básicas (do trabalhador) e às de sua família, como moradia,
alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência
social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo” (BRASIL,
1988, apud SILVA, et al. 2012, p.1).
As observações realizadas periodicamente sobre as variações de preço dos produtos
componentes da cesta básica, tem se tornado um termômetro de referência e um importante
indexador para a fixação de salários e para a evolução do poder de compra no país.
Ao relacionar um elenco reduzido de itens alimentares, majoritariamente de alimentos
de baixa elasticidade-renda, busca-se expressar o maior volume do consumo nacional dentre
as principais categorias alimentares que incluem cereais, tubérculos, energéticos, frutas e
carnes (LAVINAS, 1998).
Justamente por se tratar de itens básicos da alimentação do brasileiro, esses produtos
se tornaram o principal alvo das medidas dos níveis de inflação registrados. Diversos foram os
planos econômicos que tiveram como objetivo controlar a inflação.
De acordo com Gazzana (2004), o Plano Real conseguiu atingir o objetivo de
estabilização da economia, promovendo confiança e solidez, e mostrando os problemas que a
inflação inercial causa na economia. Diante disso, o país teria possibilidade de um elevado
crescimento econômico, principalmente através de investimentos externos.
Após vários planos econômicos não terem alcançado êxito como o Plano Cruzado,
Plano Bresser e Plano Verão, o Plano Real foi o único que pôs fim à inflação galopante dos
anos anteriores, promovendo o controle cambial, onde o país passa a adotar um sistema de
câmbio flutuante que tem como principal característica a livre flutuação do câmbio.
Posteriormente, adota um sistema de indexação da economia, ou seja, é o processo de atrelar
todos os preços a um único índice de inflação que no caso, é o IPCA (Índice de Preço do
Consumidor Amplo), calculado mensalmente pelo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística). Logo, o objetivo do plano econômico citado anteriormente era o controle da
inflação e a estabilização da economia, todos esses propósitos foram alcançados.
Atualmente, após vários anos de inflação controlada com a implementação do Plano
Real, o país aos poucos tem se mostrado bastante afetado por constantes aumentos de preços
em todas as áreas e desgaste cada vez maior do salário mínimo, influenciando em vários
problemas na economia como, desemprego, redução do consumo, provocando desequilíbrios
e consequentemente, a necessidade de intervenção do governo.
Segundo Baracho (2005), o cálculo da inflação pode variar, porém, na maioria das
vezes é definido de acordo com uma cesta de produtos e serviços que servem como base para
estabelecer a inflação de uma região e em todo território nacional. Pode divergir também de
acordo com a metodologia adotada, o ambiente estudado, dentre outras variáveis. Se a
inflação sofrer variações regionais, considerando uma economia individual, a mesma poderá
se elevar, isso porque sua cesta de produção é única.
Os modelos teóricos que debatem a relação entre inflação e distribuição de renda, em
sua maioria estão estruturados em função da economia política.
2.2. O Plano Real e o Processo Inflacionário no Brasil
Para relatar acerca das definições e influências da inflação, é de suma importância ter
ciência que as variações da variável “desemprego” afeta várias outras variáveis, provocando
um efeito em cadeia na economia.
A taxa de desemprego baixa gera um aumento na demanda por trabalho ocasionando
uma elevação dos salários nominais. Neste caso, a economia pode apresentar altas taxas de
crescimento, em contrapartida acarretará um aumento nos preços (NAZARETH, 2011).
Fica evidente que a variável “inflação” influência na variável “desemprego”,
especialmente através do regime de metas da primeira, em que o governo estabelece o piso e o
teto da meta. Se esta variável reduz, impacta em um crescimento do desemprego gerando uma
redução do consumo. Outro fator que afeta as famílias é a quantidade de impostos no Brasil.
Os valores cobrados são altíssimos, enquanto que o salário se comparado com a inflação
período após período decresce o poder de compra das mesmas, principalmente as de baixa
renda.
De acordo com Gonçalves (2006), a carga fiscal brasileira onera os contribuintes,
afetando a demanda por produtos domésticos e diminuindo o poder aquisitivo das famílias.
Isso significa que com o aumento da inflação, a taxa dos tributos também aumenta em
termos nominais, ou seja, o trabalhador terá de aumentar a quantidade monetária para adquirir
os mesmos produtos ou reduzir os itens que compõe a sua alimentação.
A inflação pode também ser causada pela excessiva emissão de moedas pelo governo
sem a contrapartida de uma elevação na riqueza do país (produção de bens e serviços). Desta
forma, o dinheiro é desvalorizado gerando uma queda no poder aquisitivo (PAULA et al.
2011).
Um exemplo disso são as intervenções do BACEN (Banco Central) no mercado de
câmbio comprando e vendendo moeda, com o intuito de promover uma valorização ou
desvalorização cambial para atingir as metas de inflação.
O surgimento da crise, influenciada principalmente pela inflação, induziu diversos
estudos para saber os efeitos de seu crescimento e a forma de combate da mesma
(BARBOSA, 2008).
Para Oliveira et al. (2013), a inflação é um problema mundial, onde há uma queda do
poder de compra, impactando de forma negativa principalmente na população assalariada, que
tem o aumento incompatível com esse fenômeno.
É importante ressaltar que o aumento periódico do salário mínimo não preserva o
poder aquisitivo das famílias, isso porque os reajustes salariais na maioria das vezes estão
abaixo da inflação, reduzindo a quantidade consumida, diminuindo a demanda por produtos,
impactando em uma redução do poder de compra. Outra questão importante é a influência do
crescimento econômico, que apresenta pontos positivos e negativos para a população, pois em
um país que apresenta um alto grau de crescimento, não significa necessariamente que todos
estão sendo igualmente beneficiados em relação ao nível de renda e o acesso a serviços e
recursos sociais. Diante disso, Stoffel et al. (2012, p. 4) afirmam:
“O crescimento econômico é condição necessária, porém não suficiente para que o
desenvolvimento econômico ocorra. Apenas gerar maior volume de produção não
significa que todos estão melhorando suas condições. O acesso ao emprego e renda
precisa ser democratizado de forma que todos possam participar da ‘divisão do bolo’
da geração e distribuição de riquezas. Em países com disparidades antigas como no
caso brasileiro as mudanças não são rápidas, sendo necessária a adoção de políticas
que permitam o avanço econômico e social o que resultará em melhores condições
de vida, senão para todos, mas ao menos para a maioria. Mas este caminho não é
curto e passa pela geração de empregos e a superação do problema do desemprego”.
Com o aumento do desemprego, influenciado basicamente pela redução da quantidade
produzida, há uma redução do consumo já que os trabalhadores desempregados não irão
manter o mesmo padrão. Dessa forma, com o aumento da inflação ocorre uma elevação do
valor da cesta básica, mesmo que o país esteja em pleno crescimento, porém, com o
desemprego em alta, muitas famílias não terão acesso à alimentação necessária para manter a
segurança alimentar.
Nesse contexto, é importante ressaltar que “os índices mais difundidos são os índices
de preços ao consumidor”, que medem a variação do custo de vida de segmentos da
população (a taxa de inflação ou de deflação). Essa taxa mostra a variação de um número
índice que é calculado a partir da média ponderada de preços de vários bens (previamente
estabelecidos por um instituto de pesquisa) (PAULA et al. 2011).
Como esses índices estão atrelados à inflação, um aumento no segundo provocará uma
elevação dos índices, indicando crescimento do preço dos produtos. Portanto, o índice de
preços é importante porque informa as famílias para as mesmas se planejarem para adquirir os
produtos que se encaixa na sua renda.
Neste caso, Moreira (2011, p.7 apud Paula et al. 2011), relata que:
“[...] Para mensurar a inflação, é preciso utilizar índices de preços, construídos para
a finalidade de acompanhar a evolução dos preços. Algumas das entidades
credenciadas para divulgar os índices de preços são: IBGE - Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística; a FGV - Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro; a
FIPE - Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, em São Paulo, o DIEESE -
Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos, em São
Paulo; e o IPEA - Instituto de Pesquisas Econômicas, em Belo Horizonte.”
As principais organizações que estão envolvidas no cálculo de inflação foram essas
enumeradas anteriormente, porém, como já foi dito, o Brasil adotou um processo de
indexação da economia atrelando todos os preços da economia ao IPCA.
De acordo com Pimentel (2013), o Regime de Metas de Inflação (RMI) é oficialmente
adotado em 1999, e a partir daí, a política monetária brasileira passou a funcionar da seguinte
forma: O Conselho Monetário Nacional (CMN) no qual seu presidente é o Ministro da
Fazenda estabelece as metas de inflação e faixas de flutuação para o IPCA e o Comitê de
Política monetária (COPOM) buscará atingir essa meta através da utilização da taxa de juros
de curto prazo, SELIC.
Essas mudanças foram adotadas posteriormente a implementação do Plano Real. O
regime de metas foi adotado após a desvalorização do câmbio com o intuito de elevar as
exportações, e aumentar a taxa básica de juros brasileira para atrair capital estrangeiro. Neste
caso, o país adota um sistema de abertura comercial, principalmente através da entrada de
multinacionais provocando um aumento na oferta de empregos.
Para Mendonça (2007), o principal problema para obtenção do regime de metas no
Brasil é a dificuldade para captação das metas que provoca falha da âncora nominal na busca
por a meta desejada. Sendo que, a taxa de juros aparece como o principal instrumento da
autoridade monetária para se alcançar a respectiva meta e provocando, uma rígida baixa da
taxa SELIC.
Diante de tantos fatos relevantes referentes à inflação, é muito importante relatar
acerca dos processos inflacionário no Brasil e os planos que tinham como principal objetivo
estabilizar a economia do País.
Na década de 1960, o processo inflacionário acelerou-se de forma elevada devido à
falta de uma política de contenção de preços. Os anos 80 a inflação alcançou índices
relativamente altos atingindo três dígitos, o Brasil vinha passando um período de recessão e,
diante disso, foi elaborado um plano de congelamento de preços conhecido como Plano
Cruzado que tinha como principal característica tabelar os preços. Porém como a economia
apresentava um componente inercial, o plano não conseguiu alcançar os objetivos e provocou
uma aceleração inflacionária maior.
Em 1987 foi elaborado o Plano Bresser que congelava preços e salários, porém por um
período fixo, exemplo cinco meses, também não obteve êxito. No ano seguinte foi implantado
o Plano Verão, com as mesmas características de congelamento de preços e acompanhado por
uma reforma monetária, tendo o mesmo resultado dos planos anteriores.
Após vários planos de estabilização e controle inflacionário serem aplicados sem
sucesso. Em 1993 houve mais uma tentativa de estabilização da economia brasileira. Diante
da perspectiva do novo plano, Pereira (1998, p.97), afirma o seguinte:
“Para se chegar à futura estabilidade da economia e da moeda nacional, seria
necessário, então, colocar em prática, junto com o plano, uma série de medidas que
levassem a economia a uma das mais severas políticas de contenção de gastos,
monetária, fiscal, de investimentos e cambial. No entanto, algumas dessas medidas
até hoje não surtiram efeito ou, ainda, não foram realmente colocadas em prática
pelo governo.”
No entanto, o principal objetivo do plano foi alcançado com a inserção da nova moeda
da economia que provocou uma valorização do câmbio e, consequentemente, da moeda
brasileira, provocando também o controle da inflação. Nesse contexto, pode-se afirmar que o
plano real conseguiu alcançar os objetivos propostos no período em que foi aplicado e,
diferentemente dos planos anteriores, conseguiu obter sucesso.
3. Metodologia
3.1 Área de Estudo
Esta pesquisa tem como área de estudo o município de Fortaleza. A área territorial do
município de Fortaleza compreende 314,930 (km²). Sua densidade demográfica é de 7.786,44
(hab/km²). A população estimada de Fortaleza em 2015 foi de 2.591.188, com PIB per capita
a preços correntes no valor de R$ 19.494,40, em 2013. Valor do rendimento nominal médio
mensal dos domicílios particulares permanentes com rendimento domiciliar, por situação de
domicilio é de R$2.907,21. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) foi estimado em
0,754, segundo o censo demográfico de 2010 (IBGE, 2015).
3.2 Natureza e Fonte de Dados
Para realizar a presente pesquisa foram utilizados dados secundários provenientes do
Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), onde se
buscou fazer uma análise quantitativa com os procedimentos metodológicos adotados.
3.3 Método de Análise
Para estimar a elasticidade da demanda do valor da cesta básica em Fortaleza em
relação aos produtos selecionados estimou-se o seguinte modelo:
ln (Cesta Básica) = α + β1 ln(Açúcar) + β2 ln(Arroz) + β3 ln(Café) + β4 ln(Carne) + β5 ln(Óleo) + ε (1)
Onde: ln(Cesta Básica) refere-se ao logaritmo do valor da cesta básica, ln(Açúcar) é o
logaritmo do valor do açúcar, ln(Arroz) é o logaritmo do valor do arroz, ln(Café) é o
logaritmo do valor do café, ln(Carne) é o logaritmo do valor da carne, ln(Óleo) é o logaritmo
do valor do óleo, α é o intercepto, β1, β2 … β5 são os parâmetros a serem estimados e ε é o
erro estocástico.
A escolha dos produtos se deu em razão de serem os que apresentam maior peso no
valor da cesta básica e por serem commodities, e assim, mais expostos às flutuações de preços
internacionais.
Para correção da heteroscedasticidade e autocorrelação foi utilizado o procedimento
de Newey-West (1997).
Sob a ótica de estimação de modelo de Mínimos Quadrados Ordinários (MQO) com
múltiplas quebras estruturais, após a estimação do modelo (1) realizou-se o teste de Bai e
Perron. A vantagem desse método é que o pesquisador não precisa definir as possíveis
quebras ad hoc. O teste considera que haja mudanças dinâmicas ao longo do tempo com
variações significativas nos parâmetros estimados (BAI; PERRON, 1998). No contexto do
modelo estimado (1), esse teste permite identificar a sensibilidade do valor da elasticidade da
cesta básica a cada uma das variáveis explicativas a choques exógenos.
O teste é aplicado sobre o modelo de MQO através da estimação de diferentes
regressões com subperíodos menores identificados como quebras após a realização de teste de
mudanças nos valores dos coeficientes. Esse procedimento tem a vantagem de considerar as
quebras através da variância da regressão o que dá maior robustez na análise da estabilidade
do modelo (OLIVEIRA; JUSTO; PEREIRA, 2016).
O teste de Bai-Perron consiste em duas etapas. A primeira busca identificar o número
de quebras no modelo estimado. Na segunda etapa realiza-se um teste “F” de significância
sobre as possíveis quebras considerando os valores críticos de Bai e Perron (2003).
Cada uma das possíveis quebras é identificada considerando o período de tempo que
tem o maior coeficiente de determinação em cada período através de um número mínimo de
observações previamente estabelecido, sendo o padrão fixado em quinze. Dessa forma, o
número de quebras será aquele que maximiza o 2R para cada subperíodo considerado. O teste
“F” em cada subperíodo é realizado considerando a razão da Soma dos Quadrados dos
Resíduos do modelo restrito (considerando quebras) sobre a Soma dos Quadrados dos
Resíduos do modelo irrestrito (modelo original sem quebra) (BAI; PERRON, 1998).
A estimação do modelo e do teste de Bai e Perron (1998) foi realizada através do
Programa Eviews 8.0.
Antes da estimação do teste de Bai e Perron (1998), faz-se o teste de raiz unitária
para identificar se cada uma das séries é estacionária ou não. No contexto desse trabalho,
optou-se por aplicar o teste de raiz unitária de Dickey-Fuller por mínimos quadrados
generalizados (DF-GLS).
Segundo Elliot et al. (1996) o teste DF-GLS é considerado um teste potente de
segunda geração dos testes de raiz unitária com característica de ponderamento.
Para Wooldridge (2006) na realização do DF-GLS retira-se a tendência
determinística dos dados através de uma regressão por mínimos quadrados generalizados
(MQG). Após essa etapa, o teste é executado com a hipótese de existência de raiz unitária. As
hipóteses alternativas do teste são:
𝐻𝑎0: a série não possui raiz unitária com tendência linear;
𝐻𝑎1: a série não possui raiz unitária sem tendência linear.
Para comprovar a identificação de múltiplas quebras pelo teste de Bai-Perron realizou-
se o teste de quebra global e para testar a hipótese de quebra global em detrimento de
múltiplas quebras executou-se a análise de multicritérios, seguindo Bai e Perron (2003).
Segundo os autores, testa-se a hipótese nula de não existência de quebra contra a hipótese
alternativa de múltiplas quebras. No caso do Teste Global, utilizam-se duas estatísticas:
UDmax e WDmax. No caso de conflito pelas duas estatísticas, escolhe-se o número de
quebras com maior valor crítico e na análise de multicritérios verifica-se o menor valor do
Schwarz Criterion.
4. Resultados e Discussões
A Tabela 01 traz a estatística descritiva das variáveis utilizadas na estimação do
modelo. Os valores das variáveis estão em valores nominais mensais ao longo do período
analisado que vai de julho de 1994 a setembro de 2016. O valor da cesta básica nesse período
apresentou média de R$ 160,38 oscilando entre R$ 55,25 e R$415,94, ou seja, uma variação
de 652,83% entre o menor e maior valor. A oscilação do valor do açúcar foi de 711,26%, do
arroz foi de 532,17%, do café foi de 397,22%, da carne foi de 688,73% e do óleo foi de
436.26%. Desta forma, fica evidente que a dinâmica de preços dos produtos varia bastante.
Tabela 01: Análise Descritiva das Variáveis Variável Média Desvio Padrão Mínimo Máximo
Cesta Básica 160,38 85,29 55,25 415,94
Açúcar 3,72 1,87 1,29 9,18
Arroz 5,75 2,35 2,3 12,24
Café 2,67 1,01 1,44 5,72
Carne 45,23 26,43 16,06 110,61
Óleo 2,25 0,91 0,91 3,97 Fonte: DIEESE (2016).
A dinâmica do valor da cesta básica pode ser observada na Figura 01. A análise visual
do comportamento das séries das variáveis analisadas é importante porque pode evidenciar
mudanças na trajetória. Como pode-se perceber, a trajetória é de crescimento, com
subperíodos em que a elevação do valor da cesta básica ocorrou com maior velocidade.
Figura 01: Dinâmica do valor da cesta básica em Fortaleza entre julho de 1994 e setembro de
2016. Fonte: Elaboração própria com base nos dados do DIEESE.
Optou-se por apresentar a dinâmica dos preços das demais variáveis separadas do
valor da cesta básica em virtude da diferença de escala o que dificultaria a interpretação.
Figura 02: Dinâmica do valor do açúcar, arroz, café, carne e óleo em Fortaleza entre julho
de 1994 e setembro de 2016. Fonte: Elaboração própria com base nos dados do DIEESE.
Como pode-se observar na Figura 02, a dinâmica de preços de cada uma das variáveis
é distinta, corroborando o que foi mostrado pela análise descritiva. A série de preços da carne
apresenta uma tendência de crescimento mais constante, ao passo que as demais apesar de
apresentar tendência de crescimento ao longo do período, apresentam períodos de alta e baixa
nos valores com maior oscilação.
0
100
200
300
400
Cesta
Bás
ica
1995m1 2000m1 2005m1 2010m1 2015m1timevar
20
40
60
80
10
01
20
Ca
rne
1995m1 2000m1 2005m1 2010m1 2015m1timevar
24
68
10
12
Arr
oz
1995m1 2000m1 2005m1 2010m1 2015m1timevar
12
34
56
Ca
fé
1995m1 2000m1 2005m1 2010m1 2015m1timevar
24
68
10
Açú
ca
r
1995m1 2000m1 2005m1 2010m1 2015m1timevar
12
34
Óle
o
1995m1 2000m1 2005m1 2010m1 2015m1timevar
A Tabela 02 traz o resultado da estimação da equação 1. Observa-se que os
coeficientes das variáveis ln(Arroz), ln(Café), ln(Carne) e da constante são signficantes a 1%,
enquanto o coeficiente da variável ln(Açúcar) é signficante a 5%, e da variável ln(Óleo)
signficante a 10%. O maior impacto no valor da cesta básica em Fortaleza se dá pela varição
no preço da carne, arroz, café, óleo e açúcar, nessa ordem. Uma elevação de 10% no valor da
carne eleva o valor da cesta básica em 4,44%. A mesma variação no preço do açúcar eleva o
valor da cesta básica em 0,8%. Como explicado na metodologia, problemas de
heteroscedasticidade e autocorrelação foram corrigidos pelo procedimento de Newey-West.
Cerca de 98% da variação da variável dependente é explicada pela variação do conjunto das
variáveis explicativas. A hipótese que os coeficientes das variáveis explicativas sejam
simultaneamente nulos e rejeitado a 1%, como pode ser visto no resultado do teste F.
Tabela 02: Elasticidade do Preço da cesta básica em Fortaleza em relação aos produtos
selecionados Variáveis Coeficiente Desvio Padrão t-Statistic Prob.
C 2,506085*** 0,160570 15,60748 0,0000
ln(Açúcar) 0,082072** 0,040330 2,034999 0,0429
ln(Arroz) 0,277614*** 0,060091 4,619888 0,0000
ln(Café) 0,207670*** 0,065463 3,172348 0,0017
ln(Carne) 0,444339*** 0,075809 5,861273 0,0000
ln(Óleo) 0,093538* 0,055810 1,676000 0,0949
Adjusted R-squared: 0,983275
F-Statistic: 3140,348
Prob (F-Statisc): 0,000000
Número de Observações: 268
*;**; *** indicam signficância a 10%, 5% e 1%, respectivamente.
Fonte: Elaboração própria com base nos dados do DIEESE.
Contudo, para atender os objetivos do trabalho, prossegue-se testando a
estacionaridade das séries. O resultado da aplicação do teste de DF-GLS é apresentado na
Tabela 03. A hipótese nula é de raiz unitária. A estacionaridade é observada para o valor da
cesta básica e da carne com constante a 1% de significância. Também com constante, porém a
5% de significância, a estacionaridade é verificada para o café. A estacionaridade da série do
óleo é constatada com constante e tendência a 1% de significância.
Tabela 03: Teste de raiz unitária de Dickey-Fuller – GLS para as séries das variáveis em
logaritmo utilizadas na análise da elasticidade do Valor da Cesta Básica em relação ao valor
dos produtos considerados
Variáveis Constante e tendência Com constante
Cesta Básica -0,21 3,77***
Açúcar -1,35 1,92
Arroz -1,67 1,52
Café -0,26 2,55**
Carne -0,45 3,69***
Óleo 3,52*** -0,11
***, **, e * indicam, respectivamente, 1%, 5%, 10% de significância.
Fonte: Elaboração própria com base nos dados do DIEESE.
Após a análise da estacionaridade das séries das variáveis utilizadas no modelo parte-
se para o teste de múltiplas quebras estruturais pelo procedimento de Bai-Perron. Foi
identificada a existência de quatro quebras estruturais, conforme pode ser visto na Tabela 04.
As quebras se dão em: agosto de 1998; abril de 2005; outubro de 2009 e; fevereiro de 2013.
Tabela 04: Teste de Bai-Perron para seleção do número de quebras estruturais para o modelo
de regressão
Número de quebras Estatística F Estatística F
(Dispersão)
Valor Crítico*
0 vs. 1 ** 12,95848 77,75086 20,08
1 vs. 2 ** 8,929390 53,57634 22,11
2 vs. 3 ** 8,315190 49,89114 23,04
3 vs. 4 ** 16,61613 99,69679 23,77
4 vs. 5 0,000000 0,000000 24,43
Quebras consideradas Ocorrência Sequência
1 1998M08 2013M02
2 2005M04 1998M09
3 2009M10 2005M04
4 2013M02 2009M10
** indica, 5% de significância. * Valor Crítico de Bai-Perron (Econometric Journal, 2003).
Fonte: Elaboração própria com base nos dados do DIEESE.
Para dar maior robustez a identificação de múltiplas quebras estruturais realizou-se o
teste de quebra global. O resultado do teste corrobora com o resultado de múltiplas quebras
apresentado no teste de Bai-Perron, ou seja, de fato há quatro quebras na série, conforme pode
ser visto na Tabela 05.
Tabela 05: Teste de Quebra Global Sequential F-statistic determined breaks: 5
Significant F-statistic largest breaks: 5
UDmax determined breaks: 4
WDmax determined breaks: 5
Scaled Weighted Critical
Breaks F-statistic F-statistic F-statistic Value
1 * 12,95848 77,75086 77,75086 20,08
2 * 13,98116 83,88695 96,97466 17,37
3 * 14,25530 85,53182 110,2361 15,58
4 * 30,40714 182,4429 263,5577 13,90
5 * 27,33238 163,9943 275,7961 11,94
UDMax statistic* 182,4429 UDMax critical value** 20,30
WDMax statistic* 275,7961 WDMax critical value** 21,86
* Significant at the 0,05 level.
** Bai-Perron (Econometric Journal, 2003) critical values.
Estimated break dates:
1: 2013M02
2: 1998M09, 2013M02
3: 1998M08, 2005M04, 2013M02
4: 1998M08, 2005M04, 2009M10, 2013M02
5: 1998M09, 2002M01, 2005M05, 2009M10, 2013M02
Fonte: Elaboração própria com base nos dados do DIEESE.
Bai-Perron recomenda que ao haver divergência na indicação do número de quebras
pelo critério UDmax e UDmin escolhe-se o número de quebras na qual o valor de uma destas
estatísticas apresente o maior valor crítico.
Também com o intuito de testar a hipótese de quebra global em detrimento de
múltiplas quebras realizou-se a análise de multicritérios. Também nesse procedimento, os
resultados apontam para múltiplas quebras, como pode ser vista na Tabela 06. Observa-se que
pelo menor valor do Schwarz Criterion segundo Bai e Perron (2003), tem-se que há pelo
menos três quebras.
Tabela 06: Análise de múltiplas quebras X quebra global através de múltiplos Critérios Schwarz criterion selected breaks: 3
LWZ criterion selected breaks: 0
Sum of Schwarz* LWZ*
Breaks # of Coefs. Sq. Resids. Log-L Criterion Criterion
0 6 1,153171 349,8197 -5,323300 -5,177279
1 13 0,844061 391,6338 -5,489312 -5,172269
2 20 0,627888 431,2795 -5,639143 -5,150323
3 27 0,525138 455,2254 -5,671810 -5,010417
4 34 0,478720 467,6264 -5,618322 -4,783511
5 41 0,445509 477,2608 -5,544187 -4,535064
* Minimum information criterion values displayed with shading
Estimated break dates:
1: 2013M02
2: 1998M09, 2013M02
3: 1998M08, 2005M04, 2013M02
4: 1998M08, 2005M04, 2009M10, 2013M02
5: 1998M09, 2002M01, 2005M05, 2009M10, 2013M02
Fonte: Elaboração própria com base nos dados do DIEESE.
Como os resultados do teste de Bai-Perron corroborados pelo teste global e de
multicritérios sugerem múltiplas quebras estruturais, tem-se que a utilização desse
procedimento apresenta maior robustez comparada à estimação de MQO, ou seja, a
elasticidade do valor da cesta básica em Fortaleza apresenta valores distintos ao longo do
período analisado.
As quebras estruturais na série de preços do valor da cesta básica podem ser melhor
visualizadas através da Figura 03. A primeira quebra identificada é em agosto de 1998. Esse
período corresponde a instabilidade cambial vivida pelo ataque especulativo ao real, onde o
governo mudou o regime de câmbio fixo para as bandas cambiais na tentativa de conter a
instabilidade do real frente ao dólar. Nesse período, o real manteve uma trajetória de
desvalorização, o que traz elevação aos preços internos das commodities. O ápice do ataque
especulativo foi em janeiro de 1999, quando o governo passou a adotar o câmbio flutuante.
Figura 03: Identificação das quebras estruturais no logaritmo do valor da cesta básica em
Fortaleza. Fonte: Elaboração própria com base nos dados do DIEESE.
A segunda quebra revelada ocorreu em abril de 2005. Esse período é considerado um
dos mais favoráveis à economia mundial com a China apresentando elevadas taxas de
crescimento, calmaria nos mercados financeiros com taxas reais de juros muito baixas nos
países desenvolvidos o que elevou substancialmente os investimentos nos países emergentes e
consequente forte elevação no preço das commodities no mercado internacional face ao forte
crescimento da demanda chinesa por esses produtos. Reforçando esse comportamento
internacional favorável ao Brasil, uma série de medidas de incentivo à demanda interna foi
adotada pelo governo Lula. A partir de então, a economia brasileira reagiu e passou a
apresentar crescimento.
A terceira quebra estrutural identificada pelo teste de Bai-perron foi em outubro de
2009. Exatamente no período de turbulência política em virtude da revelação do “esquema do
mensalão” em 2009, o que gerou incerteza da eleição da Presidente Dilma. Nesse período,
houve a depreciação do real com reflexo nos preços das commodities.
A quarta e última quebra estrutural ocorreu em fevereiro de 2013. Aqui o
comportamento dos preços da cesta básica em Fortaleza já antecipava os problemas na
mudança da política fiscal implantada pelo Governo Dilma com os programas de desoneração
fiscal para incentivar a demanda agregada, mas que impactaram fortemente nas contas
públicas fazendo o governo apresentar déficit primário após longo período de superávit.
Esses problemas se agravaram e provocaram a instabilidade política que culminou com o
impeachment da presidente. Esses fenômenos tiveram reflexo na inflação no Brasil e, como
pode ser observado, também afetaram fortemente o valor da cesta básica em Fortaleza.
0
100
200
300
400
Valo
r da
Cesta
Bás
ica e
m F
ortal
eza
1995m1 2000m1 2005m1 2010m1 2015m1timevar
5. Conclusões
Embora a partir do Plano Real a inflação tenha passado a patamares menores que no
período anterior, ainda está presente na economia brasileira e algumas vezes ultrapassa a casa
dos dois dígitos. A variação de preços dos alimentos entra na composição de diversos índices
de inflação, contudo, é na cesta básica que eles têm uma maior participação.
No Brasil, o DIEESE faz o levantamento de preços da cesta básica em 18 capitais.
Este estudo buscou analisar a elasticidade do preço da cesta básica em relação aos preços do
açúcar, arroz, café, carne e óleo em Fortaleza entre 1994 e 2016 sob a ótica de quebras
estruturais.
Os resultados apontaram para quatro quebras estruturais, ou seja, a sensibilidade do
valor da cesta básica em relação às variações dos preços dos produtos varia de acordo com o
subperíodo identificado pela aplicação do teste de Bai-Perrron.
Assim, tem-se que a cada um dos subperíodos identificados em decorrência de algum
fenômeno interno como ação de políticas de incentivo ou desestímulo ao crescimento da
economia, ou mesmo como reflexo de fenômenos ocorridos na economia internacional, o
preço da cesta básica tem dinâmica variada.
Em geral observou-se uma tendência de crescimento do preço de cada um dos
produtos ao longo do período analisado, mas a dinâmica de crescimento varia de acordo com
cada produto e da própria cesta básica.
Esses resultados são relevantes, pois auxiliam as autoridades tomadoras de decisão a
acompanharem com mais afinco o reflexo do que está ocorrendo na economia sobre o valor
da cesta básica, haja vista que estes produtos têm uma maior participação relativa na
composição dos gastos das famílias de menor renda.
Contribuições futuras a esse trabalho seria a análise do efeito de variáveis
macroeconômicas no valor da cesta básica através de modelos de cointegração.
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PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO, SOCIOECONÔMICO E OCUPACIONAL DOS
IMIGRANTES INTERESTADUAIS RESIDENTES NO CEARÁ
CICERO BRUNO RODRIGUES PEREIRA
Graduando em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA). Bolsista
de Iniciação Científica – PIBIC/CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico) e pesquisador do Observatório das Migrações no Estado do Ceará (OMEC).
(88) – 99255-0277. E-mail: [email protected]
SILVANA NUNES DE QUEIROZ
Professora Adjunta do Departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri
(URCA) e Coordenadora do Observatório das Migrações no Estado do Ceará (OMEC). (88) –
99792-8808. E-mail: [email protected]
PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO, SOCIOECONÔMICO E OCUPACIONAL DOS
IMIGRANTES INTERESTADUAIS RESIDENTES NO CEARÁ
RESUMO:
O presente estudo tem como objetivo traçar o perfil sociodemográfico, socioeconômico e
ocupacional dos imigrantes interestaduais residentes no Ceará, no período de 1986 a 2010. A
principal fonte de informações são os microdados das amostras dos Censos Demográficos de
1991, 2000 e 2010. Para a fundamentação teórica foi feita a contextualização de estudos
internacionais e nacionais sobre migração e seletividade no mercado de trabalho. Os
resultados iniciais quanto aos quesitos sociodemográficos apontam para um maior número de
imigrantes do sexo masculino residentes no Ceará, contudo, a cada interregno em estudo,
arrefece a discrepância em relação as mulheres . Quanto a variável raça/cor, mais de 90% dos
imigrantes são pardos ou brancos, concentrados no grupo etário de 25 a 29 anos de idade.
Ademais, constatou-se mudança no nível de instrução dos imigrantes que, paulatinamente,
aumentam o grau de instrução. Quanto aos quesitos socioeconômicos, a maioria dos
imigrantes ocupados no trabalho principal (homens e notadamente mulheres) auferem até um
salário mínimo. Quanto à ocupação, evidencia-se melhora ao longo dos interregnos, a destacar
o aumento relativo no número de imigrantes empregados formalmente e a diminuição relativa
no número de empregados não remunerados.
Palavras-chaves: Seleção Migratória, Sociodemografia, Socioeconomia, Ceará.
ABSTRACT:
The present study aims to trace the socio-demographic, socioeconomic and occupational
profile of the interstate immigrants living in Ceará from 1986 to 2010. The main source of
information is the microdata of the 1991, 2000 and 2010 Demographic Census samples.
Theoretical background was the contextualization of international and national studies on
migration and selectivity in the labor market. The initial results regarding sociodemographic
issues point to a greater number of male immigrants living in Ceará, however, at each
interregnum under study, it cools down the discrepancy in relation to women. As for the race /
color variable, more than 90% of the immigrants are brown or white, concentrated in the 25-
29 age group. In addition, it was verified a change in the level of education of the immigrants
who, gradually, increase the level of education. As for socio-economic issues, the majority of
immigrants employed in the main job (men and especially women) earn up to a minimum
wage. Concerning the occupation, there is evidence of improvement over the interregnums,
highlighting the relative increase in the number of immigrants formally employed and the
relative decrease in the number of unpaid employees.
Keywords: Migration Selection, Sociodemography, Socioeconomics, Ceará.
1. INTRODUÇÃO
Pereira e Queiroz (2015) resgataram em cinquenta anos (1960 a 2010) os fluxos
migratórios interestaduais que partiram e chegaram ao Ceará, em suas diversas modalidades
migratórias, distintos tempos e espaços, desvendando os principais trajetos, tendências e
inflexões da dinâmica migratória estadual, tendo como pano de fundo a análise da dinâmica
da economia brasileira e, notadamente, cearense.
Contudo, esse trabalho procura avançar e complementar o estudo de tais autores, ao
saber quem são esses migrantes. Portanto, o presente estudo tem como objetivo principal
traçar o perfil sociodemográfico, socioeconômico e ocupacional dos imigrantes interestaduais
que chegaram ao Ceará, no período de 1986 a 2010. Ademais, busca-se contextualizar estudos
internacionais e nacionais sobre migração e seletividade no mercado de trabalho.
Para o alcance dos objetivos propostos foram observadas as variáveis
sociodemográficas e socioeconômicas (sexo, idade, escolaridade e raça/cor) e ocupacional
(condição de atividade, condição de ocupação, condição de desemprego, posição na ocupação,
classificação das ocupações, classificação dos setores de atividade econômica e rendimento)
dos imigrantes.
Para a sua realização foram usados os microdados dos Censos Demográficos de 1991,
2000 e 2010. Para o tratamento estatístico das informações e seleção das variáveis fez-se uso
do software SPSS (Statistical Package for the Social Sciense). Por sua vez, o tratamento
gráfico das informações e os mapas de localizações foi realizado através do programa
TerraView.
A pesquisa está estruturada em cinco seções incluindo esta introdução. A segunda trata
da migração e seletividade, através da revisão de estudos internacionais e nacionais. A seção
três apresenta os passos metodológicos adotados no estudo para o alcance dos objetivos
propostos. A quarta seção analisa os imigrantes interestaduais inseridos no mercado de
trabalho cearense, através do perfil sociodemográfico, econômico e ocupacional, nos
interregnos de 1986/1991, 1995/2000 e 2005/2010. Por fim, a quinta seção traz a conclusão
do estudo.
2. MIGRAÇÃO E SELETIVIDADE
2.1 REVISÃO DE ESTUDOS INTERNACIONAL
Lee (1966), no seu estudo identifica que a migração é seletiva, de forma que cada
indivíduo responde de maneira diferente, devido as suas características intrínsecas e os
distintos mecanismos que existem no país de origem e no país acolhedor. Ademais, a seleção
vai ser positiva ou negativa, sendo que, em geral, quem tem maior qualificação é selecionado
positivamente e o contrário disto a seleção será negativa. Dessa maneira, os mais adaptáveis
às circunstâncias impostas no país acolhedor tem seleção positiva.
Vanderkamp (1971) ao estudar os movimentos migratórios ocorridos nas províncias
canadenses mostra que são importantes os retornos migratórios, no qual o migrante ao
adquirir conhecimentos e experiências no país acolhedor e no processo migratório. Traz
benefícios para o país de origem/nascimento e se insere com mais facilidade no mercado de
trabalho local.
Davanzo (1983), num estudo mais abrangente, aponta que o migrante age com
racionalidade quando decide migrar, com o intuito de conseguir maiores benefícios. No
entanto, por não obter conhecimentos suficientes sobre o país de destino, o migrante pode
incorrer em uma seleção negativa em que o retorno surge como uma solução a não adaptação,
e amenização ao fracasso.
Borjas (1987), ao analisar os migrantes destinados aos EUA, afirma que o mecanismo
de seleção envia somente os mais capacitados e ambiciosos dos diversos países. Segundo o
autor, os ganhos esperados pelo trabalhador nos EUA são condições para que ocorra uma
seleção positiva, de maneira que imigrantes com rendimentos altos geralmente são
procedentes de países desenvolvidos.
Chiswick (1999) destaca que os migrantes selecionados positivamente são pessoas
mais estruturadas economicamente, com visão empresarial, empreendedoras e mais
ambiciosas quando comparado aos migrantes não econômicos, que são sem ambição: como
refugiados, peregrinos e migrantes ideológicos. Características como nível de escolaridade,
qualificação profissional, idade e proficiência na língua de destino ajudam ao migrante ser
selecionado positivamente.
Dustmann e Kirchkamp (2002) constatam que os migrantes turcos que foram para a
Alemanha e retornaram posteriormente para a Turquia, mais da metade se envolvem em
atividades autônomas e empreendedoras, pois adquirem experiência, habilidade e poupança,
participando economicamente no país de origem. Destacam que migrantes mais educados são
mais ativos economicamente no seu retorno, pois o maior nível de educação, conciliados com
um planejamento de cunho empreendedor refletem na diminuição da duração da migração, de
forma a retornar. Mas não somente questões econômicas, mas também laços familiares fazem
com que os migrantes retornem mais rapidamente.
Coulon e Piracha (2004) ao analisarem o desempenho dos migrantes retornados para a
Albânia em contraste aos que decidiram ficar no país, constatam que os retornados são
negativamente selecionados em relação aos não migrantes, ao qual esse último grupo têm
ganhos salariais maiores. O fato de ter maior qualificação faz com que algumas pessoas não
migrem, pois já estão alocadas e encontrariam dificuldades com a língua e o reconhecimento
de sua qualificação no país acolhedor. Já os menos qualificados migram, pois são facilmente
alocados em trabalhos braçais, no qual necessita pouco treinamento. Por fim, variáveis como
idade e escolaridade não interferem no rendimento dos retornados no país de origem, mas no
rendimento dos não migrantes. Os autores ainda relatam que grande parte dos retornados ao
chegarem no país de origem optam por trabalhos autônomos. Ademais, sendo restritas as
linhas de crédito na Albânia, muitos decidem remigrar, trabalhar e economizar para em
seguida voltar.
Nekby (2006) coloca como foco central das migrações o nível educacional, e constata
que indivíduos com formação universitária tende a emigrar da Suécia para outros países, com
isso recebem maiores rendimentos em relação ao país de origem. Além disso, adquirem mais
educação/instrução e ao retornar são selecionados positivamente em comparação ao não
migrante.
Vadean e Piracha (2009) ao analisarem as migrações de retornados e migrantes
circulares na Albânia, identificam que variáveis como sexo, idade e localização geográfica
afetam a migração inicial. Quanto aos retornos migratórios, estes são determinados
principalmente por laços familiares e poupança satisfatória adquirida no país acolhedor. Por
sua vez, os migrantes circulares por serem, em geral, menos escolarizados, sofrem na seleção
migratória, sendo selecionados negativamente. Assim, optam por re-emigrar para tentar
mudar tal seleção.
Borodak e Piracha (2010), ao analisarem os retornadas para a Moldávia identificam
que fatores sociais, demográficos e políticos, não só os econômicos contribuem para as
correntes migratórias, que são principalmente de curta duração, estas são principalmente de
curta duração, pois os trabalhos feitos pelos moldavos são geralmente pouco qualificados no
país acolhedor. Relatando que os moldavos, em geral, tem preferência em viver e desfrutar do
consumo e lazer em seu país, buscando adquirir posses no país acolhedor com o intuito de
retornar posteriormente.
Démurger e Xu (2010) ao estudarem com base em informações de uma pesquisa
domiciliar rural chinesa, analisam e comparam os retornados e não migrantes. Evidenciam
que os migrantes retornados são selecionados positivamente, ao adquirirem
conhecimentos/capital humano e instigarem sua capacidade empreendedora no país de
destino, e ao retornarem colocam em prática tais conhecimentos, trabalhando em geral como
empreendedores ou conta própria.
Pungas et all (2012), ao analisarem os migrantes procedentes da Estônia na Finlândia,
buscam mostrar a relação existente entre o nível de escolaridade dos migrantes e a
intenção/vontade de retornar. Segundo os autores, quando há um excesso de nível educacional
adquirido no país acolhedor, há um crescente interesse de retornar, associado também ao fato
de muitos destes ao chegarem no país acolhedor não serem devidamente alocados em cargos
correspondentes ao seu nível educacional, contribuindo para o retorno.
2.2 REVISÃO DE ESTUDOS NACIONAL
No tocante aos estudos nacional sobre migração e seletividade, Santos Júnior (2002),
com base na PNAD de 1999, por meio de análises bivariadas e trivariadas, constatou que os
migrantes tem maiores salário em contraste aos não migrantes, destacando que características
não observáveis diretamente são responsáveis por tal seleção positiva.
Ferreira (2003), a partir dos microdados da PNAD de 1999 e de analises bivariadas,
trivariadas e regressões, comprovou que no Brasil existe seleção positiva do migrante em
relação ao não migrante. Isto porque, os migrantes são mais preparados, já que se
comprometem a migrar e consequentemente enfrentar dificuldades que fazem com que estes
adquiram capital humano a mais em relação ao não migrante.
Siqueira (2007) analisa o retorno dos emigrantes procedentes da Microrregião de
Governador Valadares que tiveram como local de destino os EUA. O estudo constata que
muitos dos retornados investem em atividades econômicas no município de nascimento.
Contudo, sem o acompanhamento de pessoas capacitadas, tal investimento pode ter insucesso,
já que quanto mais tempo fora da terra natal, mais difícil é a readaptação do retornado.
Ramalho e Silveira Neto (2009), com base na PNAD 2007, buscam analisar como se
insere o retornado no mercado de trabalho formal e informal brasileiro. Evidenciam que maior
o grau de escolaridade, maior a probabilidade de inserção no mercado formal. Sendo esse
mercado composto geralmente de retornados do sexo masculino, por outro lado, a composição
do segmento informal, tem probabilidades correlatas maiores com o sexo feminino e com
menor grau de instrução.
Maciel e Oliveira (2011), a partir da PNAD 2008, mostram que pessoas que moram na
zona urbana e que residem em regiões menos favorecidas são mais propensas a migrarem.
Quanto às análises individuais, variáveis como sexo e escolaridade são importantes na decisão
de migrar, bem como as características não observáveis diretamente, como por exemplo:
ambição, motivação, habilidades especificas, capacidade empresarial.
Justo e Ferreira (2012), ao analisarem as migrações em âmbito interestadual,
evidenciam maior nível educacional dos retornados em contraste aos não migrantes,
aumentando a probabilidade do retorno dos migrantes para as regiões ditas como mais pobres,
gerando, dessa maneira, impactos positivos, pois trazem consigo maior qualificação.
Dantas (2013), ao estudar as migrações para a região Nordeste do Brasil, com base no
Censo Demográfico de 2010, comprova que os imigrantes (não naturais) são mais
qualificados e melhores renumerados em relação não migrantes, relatando ainda, que essa
seleção positiva como um dos possíveis fatores explicativos da desigualdade vivida na região,
tendo em vista que há uma discrepância salarial de quem é natural e não natural.
Melo (2013), ao analisar os microdados das PNADs de 2001 à 2009, evidencia que os
retornados compunham mais da metade do fluxo total de migrantes que se dirigiram para
Pernambuco, procedentes em sua maioria do estado de São Paulo. No tocante aos atributos
pessoais os retornados apresentavam maior escolaridade e renda em comparação a população
total de Pernambuco. Contudo, os regressados, em grande parte, voltam ainda na idade
produtiva, mediante a forte concorrência encontrada no local de destino.
Os estudos mais específicos sobre a migração cearense e seletividade no mercado de
trabalho foi o de Queiroz (2003), que utilizou os microdados do Censo Demográfico de 2000,
e analisa e compara por meio de estatísticas descritivas o perfil socioeconômico e ocupacional
dos migrantes retornados para o Ceará em relação aos migrantes não naturais. A autora
constatou que os retornados apresentavam níveis de escolaridade menores que os não naturais,
da mesma maneira os salários obtidos pelos retornados eram inferiores aos obtidos pelos
imigrantes não naturais do Ceará, portanto, apresentam seletividade negativa.
Lacerda (2005), com base na Pesquisa de Desemprego e Subemprego coletada pelo
SINE/IDT-CE (Sistema Nacional de Emprego/ Instituto de Desenvolvimento do Trabalho –
Ceará) e por meio de estimação de correção do viés de seleção do modelo de Heckman, pode
observar a migração intraestadual no estado do Ceará, procurando descrever de que forma foi
selecionado o migrante do interior cearense que foi a capital, no período de 2000 a 2002. O
estudo comprova que os migrantes tem níveis de escolaridade abaixo dos não migrantes,
acarretando uma seleção negativa do migrante procedente do interior em comparação aos
naturais de Fortaleza. Ao passo que os migrantes obtém rendimentos inferiores para quem
migra.
Queiroz (2013), através dos microdados dos Censos Demográficos de 1991, 2000 e
2010, por meio de análises descritivas e da equação minceriana dos rendimentos, buscou
identificar a seleção dos migrantes interestaduais de retorno no mercado de trabalho cearense,
e por seguinte traçar e comparar o seu perfil em relação ao não migrante e ao imigrante não
natural. Os resultados mostram que o migrante retornado é selecionado positivamente em
relação ao não migrante, ao possuir maiores níveis de escolaridade, melhores ocupações e
maior rendimento, todavia, é selecionado negativamente em relação ao imigrante não natural
do Ceará, que é dotado de mais capital humano, insere-se em postos de trabalho de maior
projeção social, com isso aufere maiores rendimentos.
3. METODOLOGIA
3.1 Área de estudo, base de dados e categorias de análise
O Ceará representa a área de estudo desse trabalho . Localizado na região Nordeste do
Brasil, o estado limita-se ao norte com o Oceano Atlântico, ao sul com o Pernambuco, a leste
com o Rio Grande do Norte e Paraíba e a oeste com o Piauí (Figura 1). A proximidade
geográfica com o Continente Africano, Europeu e Americano o torna privilegiado para o
desenvolvimento de relações com o comércio exterior e atração do turismo internacional
(IPECE, 2010).
Figura 1 – Mapa de localização e divisão política do Estado do Ceará Fonte: Malha Municipal Digital do Brasil (IBGE-2010). Elaborado pelo Observatório das Migrações no Estado
do Ceará (OMEC).
Com uma área de 148.825,6 km², que corresponde a 1,75% do território brasileiro e a
9,58% da região Nordeste, o Ceará figura como o quarto maior estado nordestino e o décimo
sétimo do país. A divisão política compreende sete mesorregiões, que comportam 33
microrregiões e 184 municípios (Figura 1). A população total era de 8.448.055 milhões de
habitantes em 01/08/2010, posicionando-se como a oitava Unidade Federativa mais populosa
do Brasil, ao contribuir com 4,4% do contingente demográfico do país e 15,9% do Nordeste
(IPECE, 2012).
A principal fonte de informações do estudo são os microdados das amostras dos
Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010, captados pelo IBGE. O recorte temporal
compreende precisamente os quinquênios de 1986/1991, 1995/2000 e 2005/2010. A opção
por esse ponto de partida justifica-se em função do quesito data fixa referir-se ao lugar de
residência anterior há exatamente cinco anos antes da coleta do Censo Demográfico, sendo
mensurado somente a partir do Censo de 1991.
Quanto a categoria de análise, a população em estudo trata-se do imigrante
interestadual de data fixa, definida da seguinte forma:
Imigrante Interestadual – indivíduo com dez anos ou mais de idade, que na data de
referência do Censo Demográfico residia no Ceará, mas em uma data fixa (exatamente cinco
anos antes do recenseamento) morava em outra Unidade da Federação.
3.2. Descrição das variáveis utilizadas, definições e indicadores
As ferramentas utilizadas na tabulação das informações foram o software estatístico
SPSS e os mapas temáticos elaborados através do programa TerraView.
3.2.1 Perfil Sociodemográfico e Socioeconômico
As variáveis selecionadas na caracterização sociodemográfica foram sexo: masculino
e feminino; idade: i) 10 a 14 anos, ii) 15 a 24 anos, iii) 25 a 39 anos, iv) 40 a 49 anos, v) 50 a
59 anos, e vi) 60 anos ou mais; nível de instrução: i) sem instrução e fundamental
incompleto; ii) fundamental completo e médio incompleto; iii) médio completo e superior
incompleto; e iv) superior completo; raça/cor: i) branca, ii) preta, iii) amarela, iv) parda e v)
indígena.
3.2.2 Trabalho
Abaixo apresentamos algumas definições e indicadores adotados no estudo.
População em Idade Ativa (PIA) – pessoas com 10 anos ou mais de idade no período
de referência. A PIA é composta pela População Economicamente Ativa (PEA) e pela
População Não Economicamente Ativa (PNEA).
PIA = PEA + PNEA
Considerou-se como População Economicamente Ativa - a população com 10 anos
ou mais de idade, ocupada com remuneração e a ocupada sem remuneração que trabalhou
menos de 15 horas por semana e aqueles que produziram para autoconsumo, mais as pessoas
desempregadas que procuraram emprego num período de referência. (DEDECCA;
ROSANDISKI, 2003). A PEA inclui, portanto, a População Ocupada (PO) e a População
Desempregada (PD).
PEA = PO + PD
A partir das definições de PIA e PEA é possível calcularmos a Taxa de Participação.
Taxa de Participação – calculada pela razão entre a População Economicamente
Ativa (PEA) e a População em Idade Ativa (PIA). Esse indicador representa a oferta de
trabalho das pessoas com 10 anos ou mais de idade, incorporadas ao mercado de trabalho
como ocupadas ou desempregadas.
Taxa de Participação = PEA/PIA * 100
A partir da PEA definiu-se como População Ocupada (PO) aqueles com 10 anos ou
mais de idade ocupados com remuneração e os ocupados sem remuneração que trabalharam
15 horas ou mais por semana e, aqueles que produziram para autoconsumo.
A Taxa de Ocupação foi calculada pela razão entre a População Ocupada (PO) e a
População Economicamente Ativa (PEA).
Taxa de Ocupação = PO/PEA*100
Considerou-se como População Desempregada (PD) aqueles com 10 anos ou mais
de idade que declararam estar desempregados, mas procuraram emprego num período de
referência (30 dias). A Taxa de Desemprego é calculada pela razão entre a População
Desempregada (PD) e a População Economicamente Ativa (PEA).
Taxa de Desemprego = PD/PEA*100
A posição ocupação foi desagregada em sete categorias/classes, conforme segue: i)
Empregados com carteira de trabalho assinada; ii) Militares e funcionários públicos
estatutários; iii) Empregados sem carteira de trabalho assinada; iv) Conta própria; v)
Empregadores; vi) Não remunerados; e vii) Trabalhadores na produção para o próprio
consumo
A taxa de formalidade e a taxa de informalidade são outros indicadores analisados,
sendo estimados e definidos da forma abaixo.
Taxa de Formalidade – calculada pela razão entre os trabalhadores formais
(empregado com carteira assinada mais os militares e os funcionários públicos estatutários)
sobre o total da População Ocupada (PO).
Taxa de Formalidade = Trabalhadores Formais/PO*100
Taxa de Informalidade – calculada pela razão entre os trabalhadores informais
(empregado sem carteira assinada mais os trabalhadores por conta própria) sobre o total da
População Ocupada (PO).
Taxa de Informalidade = Trabalhadores Informais/PO*100
Com relação à classificação da atividade econômica, dividimos em nove grandes
setores descritos a seguir: i) agropecuária, silvicultura e pesca; ii) indústria extrativa; iii)
indústria de transformação; iv) indústria da construção; v) serviços industriais de utilidade
pública; vi) comércio; vii) serviços; viii) administração pública e ix) atividades mal definidas.
3.2.3 Rendimento
Neste estudo, optamos por trabalhar com o rendimento bruto mensal no trabalho
principal, em salário mínimo. Os mesmos foram classificados em cinco faixas salariais: i) até
1 S.M.; ii) mais de 1 a 2 S.M.; iii) mais de 2 a 5 S.M.; iv) mais de 5 a 10 S.M.; v) acima de 10
S.M. Não serão considerados os “sem declaração” e os “sem rendimentos”.
4. IMIGRANTES INTERESTADUAIS NO MERCADO DE TRABALHO CEARENSE:
PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO, ECONÔMICO E OCUPACIONAL - 1986/1991,
1995/2000 E 2005/2010
4.1 PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO
Esta seção aborda de maneira descritiva e analítica, o perfil sociodemográfico dos
imigrantes interestaduais inseridos no mercado de trabalho cearense. Ao analisarmos os
atributos sociodemógraficos dos imigrantes com destino ao Ceará, ocupado no trabalho
principal, constata-se as principais modificações no perfil dessa população, entre 1991 até
2010 (Tabela 1).
Tabela 1 –Imigrante interestadual ocupado no trabalho principal, segundo atributos
sociodemográficos – Estado do Ceará – 1986/1991, 1995/2000 e 2005/2010
Atributos Sociodemográficos 1991 2000 2010
Sexo
Masculino 72,03 65,26 62,80 Feminino 27,97 34,74 37,20
Grupos de idade
10 a 14 2,41 1,39 0,89 15 a 24 24,55 24,18 18,46 25 a 39 51,26 51,57 51,71 40 a 49 14,75 15,37 18,98 50 a 59 5,41 5,95 7,49
60 ou mais 1,62 1,53 2,47
Nível de instrução
Sem instrução e fundamental incompleto 75,14 60,40 32,00
Fundamental completo e médio incompl. 3,70 6,08 18,18
Médio completo e superior incompleto 14,36 22,21 32,69 Superior completo 6,80 11,31 17,13
Raça/Cor
Branca 35,15 44,95 43,78 Preta 2,80 3,99 6,05 Amarela 0,04 0,39 1,31 Parda 61,97 50,38 48,44 Indígena 0,04 0,29 0,42
Fonte: Microdados das amostras dos Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010 (IBGE). Elaborado pelo
Observatório das Migrações no Estado do Ceará (CNPq-URCA).
Nos três quinquênios estudados, a divisão dos imigrantes quanto ao sexo masculino e
feminino, mostrou queda na participação relativa de homens ocupados, ao passar de 72,03%,
entre 1986/1991, para 62,80%, no último interregno (2005/2010). No caso das mulheres, a
participação relativa feminina foi crescente, de 27,97% no primeiro quinquênio (1986/1991),
para 37,20% no intervalo 2005/2010 (Tabela 1). Portanto, conforme Peres e Baeninger (2012,
p.8):
No caso de fluxos migratórios femininos – ou aqueles em que as mulheres não
exercem o papel de acompanhantes ou agentes de reunificação familiar – a entrada
no mercado de trabalho proporciona transformações em seus papéis dentro do
domicílio e perante a família.
No tocante aos grupos de idade, a faixa etária de 25 a 39 anos, por ser o grupo com
maior representação, revela constância ao longo dos quinquênios, com participação média de
51% (Tabela 1). Ratificando essa dinâmica, Dedecca afirma (1996, p.30):
A crescente participação econômica da população e a migração aparecem, em um
contexto de crescimento vegetativo ainda elevado da população de 10 anos ou mais,
como alavancas de crescimento da PIA e da PEA nos espaços urbanos.
No que se refere ao nível de instrução, os imigrantes sem instrução e fundamental
incompleto representavam no quinquênio 1986/1991, 75,14%, e arrefece significativamente
para 32% no último intervalo (2005/2010). Por sua vez, cabe destacar o crescente aumento do
nível médio completo e superior incompleto, que passa de 14,36% para 32,69%, entre os
interregnos de 1986/1991 e 2005/2010, respectivamente, tornando-se o nível educacional
preponderante dos imigrantes ocupados no mercado de trabalho cearense (Tabela 1).
A explicação para esse avanço na educação do trabalhador imigrante está alicerçada na
seleção e/ou exigência do mercado de trabalho, no qual quem tem maior qualificação/nível
educacional têm vantagens, sendo selecionado positivamente no mercado de trabalho, ao
auferir maiores rendimentos (LEE, 1996; NEKBY, 2006; PUNGAS et all,2012; QUEIROZ,
2013).
Em relação a variável raça/cor, as predominantes são a parda e a branca. Os imigrantes
pardos ocupados no trabalho principal, no quinquênio 1986/1991, representavam 61,97% e
arrefece para 48,44% em 2005/2010; já os imigrantes brancos, no quinquênio 1986/1991,
representavam 35,15%, chegando ao quinquênio 2005/2010 a representar 43,78% (Tabela 1).
A razão para o baixo contingente de pretos ocupados no mercado de trabalho cearense,
apenas 6,05% em 2010, é explicada por fatores históricos, inicialmente devido a sua
colonização por portugueses e holandeses, sendo esses homens europeus e brancos
(PEREIRA E QUEIROZ, 2015), bem como da própria formação do estado, no qual, quatro
anos antes da lei Áurea (1888), ocorreu à abolição da escravatura no Ceará (1884), liderada
por Francisco José do Nascimento, o Dragão do Mar, jangadeiro que vendo um grande
número de mortes ocorridas pelo transporte das jangadas feitas por eles que iam de encontro
aos navios negreiros que não tinham como chegar perto da costa cearense, e sendo
intermediários no transporte dos escravos, mas por conta do forte mar bravio, ocorriam muitas
mortes dos jangadeiros, até o Dragão do Mar comandar greves contra o transporte de
escravos, tornando-se o estopim para a abolição (MARTINS, 2012).
Com a abolição, os escravos agora libertos não eram inseridos nas atividades
existentes em razão da pouca utilidade da mão de obra negra para a pecuária, atividade
econômica importante para o Ceará, não sendo uma atividade ideal para o homem negro, por
conta da facilidade de fuga de tal e em razão de ser uma atividade desenvolvida em grandes
extensões e campos abertos, sendo atividade realizada por vaqueiros, geralmente brancos,
nativos e homens libertos (QUEIROZ, 2013; PEREIRA E QUEIROZ, 2015).
4.2 PERFIL OCUPACIONAL
Essa seção aborda de maneira descritiva e analítica o perfil ocupacional dos imigrantes
interestaduais inseridos no mercado de trabalho cearense. Para isso, foram analisados
indicadores sobre a População em Idade Ativa (PIA), População Economicamente Ativa
(PEA) e suas partes constituintes, bem como a taxa de atividade e inatividade econômica, taxa
de ocupação, taxa de desemprego e a posição na ocupação, além de identificar e distribuir os
imigrantes segundo os setores de atividade econômica. Essa seção também mostra as taxas de
formalidade e informalidade dos imigrantes interestaduais, ao longo de três interregnos
(1986/1991, 1995/2000 e 2005/2010).
A tabela 2 mostra a distribuição dos imigrantes interestaduais segundo a condição de
atividade. Em termos absolutos constata-se diminuição no número de imigrantes na
População em Idade Ativa (PIA), População Economicamente Ativa (PEA) e População Não
Economicamente Ativa (PNEA), ao longo dos períodos.
É importante frisar que esse decréscimo está associado ao volume de imigrantes que
chegaram ao Ceará durante os três interregnos em estudo, dado que o mesmo passou de um
volume de entradas de 126.910 imigrantes nos anos 1991 para 142.191 imigrantes nos anos
2000 e posteriormente 100.240 imigrantes nos anos 2010 (Tabela 2).
Tabela 2 - Distribuição dos imigrantes interestaduais com 10 anos e mais de idade,
segundo a condição de atividade – Estado do Ceará – 1986/1991, 1995/2000 e 2005/2010
Condição de Atividade 1991 2000 2010
PIA (1) 126.910 142.191 100.240
PEA (2) 67.884 76.634 54.054
PNEA (3) 59.025 65.557 46.186
Tx.Ativ.(2)/(1) 53,49 53,90 53,92
Tx.Inativ.(3)/(1) 46,51 46,10 46,08 Fonte: Microdados das amostras dos Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010 (IBGE). Elaborado pelo
Observatório das Migrações no Estado do Ceará (CNPq-URCA).
Por sua vez, a taxa de atividade ou taxa de participação, que mede a proporção da
População em Idade Ativa inserida na atividade econômica, evidencia pequenas variações ao
longo dos interregnos, mas que se deram de maneira crescente e ininterrupta, saindo de
53,49% em 1991 para 53,90% em 2000, atingindo o patamar de 53,92% em 2010.
A Tabela 3 destaca a distribuição dos imigrantes segundo a PEA e suas partes
constituintes. Busca-se por meio da mesma visualizar os imigrantes ocupados e os
desempregados ao longo dos anos em estudo, através de números absolutos e relativos.
Tabela 3 - Distribuição dos imigrantes interestaduais com 10 anos e mais de idade,
segundo a PEA e suas partes constituintes – Estado do Ceará – 1986/1991, 1995/2000 e
2005/2010
Condição de Atividade 1991 2000 2010
PEA (1) 67.884 76.634 54.054
PO (2) 63.987 64.140 47.943
PD (3) 3.897 12.494 6.111
Tx.Ocup. (2)/(1) 94,26 83,70 88,69
Tx.Des. (3)/(1) 5,74 16,30 11,30 Fonte: Microdados das amostras dos Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010 (IBGE). Elaborado pelo
Observatório das Migrações no Estado do Ceará (CNPq-URCA).
Ao analisarmos o PEA (População Ocupada e População Desempregada), constatamos
que o melhor momento registrado foi em 1991, onde grande parte dos imigrantes estava
ocupado, dado que dos 67.884 imigrantes economicamente ativos, 63.987 estavam ocupados,
com taxa de ocupação 94,24% (Tabela 3). Por outro lado, em 2000, registra-se a menor taxa
de ocupação (83,70%) e, em complemento, evidencia-se a maior taxa de desemprego
(16,30%). Já nos anos 2010, retoma-se um pouco do crescimento da taxa de ocupação que foi
de 88,69%, contra 11,30% de taxa de desemprego (Tabela 3).
Diante desse cenário, é possível afirmar que os imigrantes residentes no Ceará,
figuram com grande inserção no mercado de trabalho estadual, ratificando os estudos de
Ferreira (2003), que mostra no Brasil, seleção positiva para o migrante em relação ao não
migrante; Dantas (2013), que comprova que os imigrantes (não naturais) são melhores
qualificados em relação aos não migrantes, e Queiroz (2013) relata que imigrantes não
naturais são selecionados positivamente em relação aos retornados e aos naturais, ao serem
dotados de maior qualificação e capital humano.
A tabela 4 mostra a distribuição relativa dos imigrantes interestaduais ocupados no
trabalho principal, segundo a posição na ocupação. Os resultados mostram participação
relativa crescente e ininterrupta dos imigrantes na condição de empregados, de 60,04% em
1991 para 65,01% em 2000 e 71,47% em 2010.
Tabela 4 – Distribuição relativa dos imigrantes interestaduais com 10 anos e mais de
idade, ocupado no trabalho principal, segundo a posição na ocupação – Estado do Ceará
– 1986/1991, 1995/2000 e 2005/2010
Posição na Ocupação 1991 2000 2010
a) Empregado 60,04 65,01 71,47
Com carteira 27,74 26,22 34,58
Mil. e Func. púb. estat. 8,57 5,00 5,14
Sem carteira 23,74 33,79 31,75
b) Conta própria 33,05 29,26 24,82
c) Empregador 3,92 2,84 2,36
d) Não remunerado 2,99 2,88 1,35 Fonte: Microdados das amostras dos Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010 (IBGE). Elaborado pelo
Observatório das Migrações no Estado do Ceará (CNPq-URCA).
Quanto aos imigrantes empregados com carteira assinada, boa parte está nessa
condição, apesar da pequena diminuição entre 1991 e 2000 (27,74% para 26,22%), mas com
crescimento para 34,58% em 2010.
Com relação ao emprego na condição de militar e funcionário público estatutário,
observamos diminuição, de 8,57% em 1991, caindo para 5% em 2000 e tendo pequeno
aumento para 5,14% em 2010.
Em relação aos imigrantes empregados sem carteira assinada, essa posição na
ocupação cresce entre 1991 e 2000 (de 23,74% para 33,79%), evidenciando aumento relativo
no número de imigrantes submetidos a trabalhar sem carteira assinada, mas com um posterior
pequeno declínio (31,75%) em 2010 (Tabela 4).
Quanto aos imigrantes que trabalharam por conta própria, há uma ininterrupta e
significativa diminuição nesse tipo de ocupação (caindo de 33,05% em 1991 para 29,26% em
2000), mas com destaque para a permanência dessa dinâmica de diminuição, culminando na
menor participação relativa em 2010, cerca de 24,82%. O imigrante na condição de
empregador apresenta diminuição contínua ao longo dos períodos, mas sendo essas variações
sutis (3,92% em 1991 para 2,84% em 2000), postergando essa tendência ao período seguinte,
chegando a 2,36% em 2010.
No tocante ao imigrante não remunerado, constata-se dinâmica semelhante ao
imigrante na condição de empregador, com diminuições ininterruptas e sutis ao longo dos
períodos (2,99%; 2,88% e 1,35%, respectivamente em 1991, 2000 e 2010) (Tabela 4).
As taxas de formalidade e informalidade ratificam os achados acima, dado que a
informalidade ainda supera os ocupados formais. Portanto, grande parte dos imigrantes tem
trabalhos informais no estado do Ceará, mas é observado uma melhora nesse quadro, dada a
diminuição dessa discrepância (Gráfico 1).
Evidencia-se melhora no quadro do imigrante residente no Ceará, seja no aumento
relativo no número de empregados e em grande parte com carteira assinada, ainda que os sem
carteira assinada figurem também próximos, seja na diminuição relativa no número de
empregados não remunerados, seja no aumento da formalidade e diminuição da informalidade
nos postos de trabalho (Tabela 4 e Gráfico 1), isso pode ser refletido não só por uma possível
seleção positiva do imigrante, como exposto na seção 2, mas também pela dinâmica
econômica vivida no período.
Nos anos de 1990 à 2000, o PIB cearense se manteve em alta (4,57%) e na década
seguinte (2000-2010) cresce 4,63%, sendo acompanhado de perto pelo crescimento
do PIB nacional (3,62%), diminuindo a diferença para 1%. (IPECE, 2011 apud
QUEIROZ, 2013).
Gráfico 1– Taxa de formalidade e taxa de informalidade dos imigrantes interestaduais com 10 anos e mais de idade (%) – Estado do Ceará – 1986/1991, 1995/2000 e 2005/2010
Fonte: Microdados das amostras dos Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010 (IBGE). Elaborado pelo
Observatório das Migrações no Estado do Ceará (CNPq-URCA).
A tabela 5 ilustra os imigrantes interestaduais ocupados no tralho principal, segundo o
setor de atividade econômica. O setor de serviços foi o que mais empregou durante todo o
período, chegando na casa dos 40,67% em 2000, a maior registrada, com pequeno
arrefecimento para 38,67% em 2010.
Tabela 5 – Imigrantes interestaduais com 10 anos e mais de idade, ocupado no trabalho
principal, segundo o setor de atividade econômica – Estado do Ceará – 1986/1991,
1995/2000 e 2005/2010
Ocupação por setor de atividade 1991 2000 2010
Agrop., Sivic e Pesca 19,20 9,65 7,85
Ind. Extrativa 0,52 0,35 0,43
Ind. de Transformação 12,41 12,83 11,14
Ind. da Construção 7,80 7,33 7,49
Serv. Ind de Util. Púb. 0,44 0,57 0,59
Comércio 17,48 22,53 22,55
Serviços 37,82 40,67 38,57
Administração Pública 3,66 4,65 6,09
Atividades mal definidas 0,66 1,41 5,29 Fonte: Microdados das amostras dos Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010 (IBGE). Elaborado pelo
Observatório das Migrações no Estado do Ceará (CNPq-URCA).
Outro setor de destaque é o comércio, sendo o segundo em absorção dos imigrantes
interestaduais cearenses, com crescimento no intervalo de 1991 a 2000, de 17,48% para
22,53%, respectivamente, crescendo de maneira mais contida em 2010, ao chegar em 22,55%
(Tabela 5).
Atendo-se a agropecuária, silvicultura e pesca na geração de empregos, a mesma tem
um declínio considerável, pois era responsável por cerca de 19,20% dos empregos em 1991,
caindo para 9,65% em 2000 e culminado com a menor geração em 2010, cerca de 7,85%
(Tabela 5).
Quanto à indústria (extrativa, transformação, construção e serviço industrial de
utilidade pública), os dados evidenciam pouca mudança em todas as categorias, apenas
pequenas alterações, mantendo-se uniforme em todos os períodos. Tendo destaque a indústria
de transformação (Tabela 5).
Apesar de uma participação menos abrangente, o setor de administração pública
mostra um crescimento paulatino na absorção de imigrantes, chegando a 6,09% em 2010. O
mesmo ocorre para o setor de atividades mal definidas, que chegou a 5,29% em 2010 (Tabela
5).
4.3 PERFIL SOCIOECONÔMICO
Essa seção analisa de maneira descritiva e analítica o perfil socioeconômico dos
imigrantes interestaduais inseridos no mercado de trabalho cearense, a partir do rendimento
nominal mensal.
A tabela 6 mostra a distribuição relativa dos imigrantes ocupada no trabalho principal
segundo as classes de rendimento nominal mensal. Evidenciamos que exclusive o ano 2000
(37,13%), os demais anos apontam que aproximadamente metade (50%) dos imigrantes
ganham até um salário mínimo.
Inicialmente, qualquer que seja o espaço geográfico sob investigação, uma
constatação por demais evidente é que as novas oportunidades de emprego no Ceará
foram acompanhadas de salários mais baixos. A eliminação de empregos nas faixas
acima de 1,5 salário-mínimo e a concentração das contratações nas faixas salariais
inferiores, notadamente até um salário, são evidências muito fortes do acontecido, o
que está associado ao perfil salarial vigente no estado, tendo como parâmetro o
salário-mínimo, além da política de valorização deste, com reajustes além da
reposição das perdas inflacionárias (COSTA, 2009, p.58).
Tabela 6 - Distribuição relativa dos imigrantes interestaduais com 10 anos e mais de idade, ocupado no trabalho principal, segundo as classes de rendimento nominal mensal* (SM) – Estado do Ceará – 1986/1991, 1995/2000 e 2005/2010
Rendimento em SM na ocupação principal 1991 2000 2010
Até 1SM 50,05 37,13 48,26
+ De 1 a 2SM 21,99 24,83 22,21
+ De 2 a 5SM 15,51 17,13 13,77
+ De 5 a 10SM 7,63 11,07 9,73
+ De 10SM 4,83 9,84 6,04 Fonte: Microdados das amostras dos Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010 (IBGE). Elaborado pelo
Observatório das Migrações no Estado do Ceará (CNPq-URCA).
*Valor do salário mínimo nominal vigente na data de referência do Censo Demográfico - em 1991: Cr$
36.161,60; em 2000: R$ 151,00; em 2010: R$ 510,00.
Ao nos atermos aos anos 2000, visualizamos algo bastante interessante, a classe de
rendimento nominal mensal de até um salário mínimo diminui consideravelmente (de 50,05%
em 1991 para 37,13% em 2000) enquanto as demais têm aumentos substancias, e mais que
isso, as classes de +De5 a 10SM (7,63% em 1991 para 11,07% em 2000) e a classe de +De
10SM (4,83% em 1991 para 9,84% em 2000) são aonde observamos os maiores aumentos
(Tabela 6).
Posteriormente há uma nova queda no número de imigrantes com ganhos elevados e
um aumento ainda menor que o primeiro período de estudo (1991), mas ainda assim grande
número de imigrantes com ganhos de até um salário mínimo, isso por que Segundo Costa
(2009, p. 74): “[...] algumas características do mercado de trabalho brasileiro são reproduzidas
em nível local, tais como: a facilidade com que os trabalhadores são contratados e desligados,
contribuindo para altas taxas de rotatividade de mão-de-obra”. Ou seja, dada essa rotatividade,
consegue-se manter níveis de salários baixos.
5. CONCLUSÕES
O objetivo desse estudo foi traçar o perfil sociodemográfico, socioeconômico e
ocupacional dos imigrantes interestaduais que chegaram ao Ceará, no período de 1986 a 2010,
precisamente nos interregnos de 1986/1991, 1995/2000 e 2005/2010. Ademais,
contextualizou-se estudos internacionais e nacionais sobre migração e seletividade no
mercado de trabalho.
Quanto aos estudos acerca da migração e seletividade, em âmbito internacional,
comprovou-se que a migração é seletiva, dado que o migrante é selecionado positivamente ou
negativamente em função de características diretamente observáveis (escolaridade,
qualificação profissional, idade, entre outros) e não observáveis (determinação, motivação,
dedicação, entre outros), além de levar em consideração as características e peculiaridades do
país do emigrante (local de nascimento) e o país para o qual emigrou (local de destino). Por
sua vez, os estudos nacionais, em geral, apontam que os imigrantes interestaduais são
selecionados positivamente em relação aos não migrantes, contribuindo com o local de
destino.
Quanto aos atributos sociodemográficos dos imigrantes residentes no Ceará, os
resultados apontam para o maior número do sexo masculino, mas aumento relativo na
participação feminina, ao longo dos interregnos. Quanto a variável raça/cor, cerca de 50% são
pardos, com destaque para o grupo etário de 25 a 29 anos de idade, que representa mais da
metade dos imigrantes que residem no Ceará. Observa-se também mudança no nível de
instrução dos imigrantes que, paulatinamente, evoluiu ao sair de uma predominância de sem
instrução para níveis escolares maiores (médio completo e superior incompleto), revelando
uma capacitação contínua dos imigrantes face às exigências e seletividade que impõe o
mercado de trabalho cearense.
No tocante ao perfil ocupacional foi identificado inicialmente que a taxa de atividade
sofreu pequenas variações, mas se manteve crescente, ou seja, o imigrante com idade ativa foi
mais inserido na atividade econômica cearense, aumentando a sua participação ao longo dos
interregnos.
Quanto à distribuição dos imigrantes segundo a posição na ocupação, grande parte está
na condição de empregado com carteira assinada, sendo que em 2010, 34,58% estavam nessa
condição, melhor registro entre os períodos em estudo. Outra grande parte está na condição de
trabalhador sem carteira assinada, com 31,75%, em 2010.
Nesse sentindo, evidencia-se melhora no quadro do imigrante residente no Ceará, seja
no aumento relativo no número de empregados e em grande parte com carteira assinada, ainda
que os sem carteira assinada figurem com valores próximos, seja na diminuição relativa no
número de empregados não remunerados, ou no aumento da formalidade e diminuição da
informalidade nos postos de trabalho. Contudo, o rendimento do imigrante residente e
ocupado no trabalho principal no mercado de trabalho cearense, ao longo dos interregnos em
estudo, se caracterizou em grande parte por ser de até de um salário mínimo.
Portanto conclui-se que devido às melhoras nos níveis educacionais e ocupacionais, o
imigrante está, paulatinamente, cada vez melhor inserido no mercado de trabalho cearense. A
continuidade de estudos nessa linha se faz importante, tanto para as empresas, como para o
governo, quanto para os estudiosos da área. A análise pode avançar, através da comparação
dos perfis dos imigrantes retornados, não naturais, e os não migrantes.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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