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VULNERABILIDADES E RISCOS NA METRÓPOLE: A PERSPECTIVA DA EXPERIÊNCIA
Eduardo Marandola Jr.1
— E para que serve a cidade senão para se sair dela no sábado e no domingo? [...] Para Avandero, como para centenas de milhares de outras pessoas que se afundam a semana inteira em ocupações cinzentas para poder escapar no domingo, a cidade era um mundo perdido, um moinho para produzir os meios de se sair durante aquelas poucas horas e depois voltar.
“A nuvem de smog”, Italo Calvino
A nuvem que paira sobre nós
Parece que não há fim para as variâncias humanas. Temos a impressão de que a sucessão
de opiniões contraditórias, que se opõem e depois se reúnem, e tornam a se opor, buscando
depois um ponto de equilíbrio, não têm relação com tudo o que temos feito. As aflições que
nos atingem todos os dias parecem querer nos prender, nos fazer cativos, nos atacar como a
pequenos seres contraditórios. E eis o que querem nos convencer do que somos.
A vida nas metrópoles não parece ser tão diferente de como Avandero acreditava. Se trabalha para poder sair nos finais de semana, nos feriados prolongados, nos finais de ano. Prende-se a ela tão somente porque ela é o “moinho” que produz os meios para podermos deixá-la. E assim negamos a maior de todas as construções humanas: a cidade.
Mas por que tanta negação, tanta fuga, tanto cinza e desgosto com as cidades? Por que nossas metrópoles tornaram-se foco de repulsão quanto ao bem-estar, tranqüilidade e qualidade de vida? Por que a cura do estresse e dos problemas de saúde está longe da urbe?
Temos aqui muitos problemas e questões entrelaçados. Em primeiro lugar, a metrópole contemporânea tornou-se, em especial em países como o Brasil, algo substancialmente diferente do que foram as metrópoles industriais européias. A
1 Geógrafo, Doutorando em Geografia no Instituto de Geociências, Colaborador do Núcleo de Estudos de População, Universidade Estadual de Campinas (NEPO/UNICAMP). [email protected]
urbanização do pós-guerra produziu outro padrão de metropolização, e isso não é uma informação nova. O que é novo são os novos rumos que este processo tomou a partir de novos quadros macro-sociais que estão ocorrendo na perspectiva planetária.
A super-articulação entre as escalas (de poder, economia, política e cultura) e o peso do
sistema mundial de produção e consumo dotaram as metrópoles deste início de século de uma
complexidade sem igual. E junto com ela, a complexificação de seus problemas e dramas.
Por outro lado, nega-se a cidade porque ela se tornou o lugar do risco, onde nos vemos
cada vez mais vulneráveis a fenômenos que estão cada vez mais longes do nosso controle. A
impotência, a imprevisibilidade e a incerteza são características da sociedade atual, chamada de
Sociedade de Risco, materializando-se de forma mais dramática na experiência da metrópole.
Não há dúvidas do impacto que essas macro-transformações causam na estruturação
produtiva, na forma urbana ou na economia regional e global. No entanto, quando tratamos
destes macro-processos trabalhamos sempre com uma dimensão de abstração, que para o
indivíduo não ocorre senão enquanto algo distante, não vivido. Buscar apreender a dimensão
vivida, da experiência, é uma forma de conhecer a concretude destes riscos e destes
fenômenos, complementando o espectro de conhecimento da realidade. Além disso, dota o
estudo de um viés humanista, que anseia por tornar o homem o centro e o valor de medida do
trabalho científico, re-valorizando sua humanidade e os fenômenos que lhe são inerentemente
característico: os sentimentos, a afetividade e a perspectiva oblíqua de percepção da realidade.
Em vista disso, traçamos um percurso teórico-metodológico para contextualizar o pensar
os riscos e vulnerabilidades na metrópole na perspectiva da experiência, procurando evocá-los
enquanto fenômenos vividos. Procuramos direcionar a argumentação para a articulação das
escalas, tentando identificar as marcas da Sociedade de Risco (escala macro) na experiência
(escala micro), utilizando um exemplo de uso do espaço público em Campinas, metrópole do
interior paulista. A reflexão aponta a relação lugar-espaço público, a macro e micro produção
dos riscos e sua experiência diferenciada a partir de distintas vulnerabilidades. O quadro que se
traça, portanto, é o de possíveis geografias do espaço público da metrópole contemporânea.
Vulnerabilidades e riscos na sociedade contemporânea
Os estudos sobre riscos já têm uma longa tradição em diferentes ciências. Partindo de
um contexto de estudos empíricos e circunscritos espaço-temporalmente, pesquisadores de
áreas como Geografia, Ciências da Saúde, Demografia, Ciências da Terra, Psicologia,
Engenharia e Economia, têm enfatizado, com diferentes níveis de objetivismo e subjetivismo,
1
as relações de causação entre fatores de risco e a probabilidade de ocorrência de certos
fenômenos. Enfatiza-se a matemática do risco, resultado de uma equação e produzindo
diferentes classes e índices de risco (MARANDOLA JR. & HOGAN, 2003, 2004a).
Nos últimos anos, no entanto, eles têm recebido atenção redobrada, ampliando suas
inserções na ciência, no debate político e na sociedade civil. O risco, juntamente com a
vulnerabilidade, entraram no jargão científico, midiático e sociopolítico. A
vulnerabilidade, nos últimos anos, têm inclusive sido uma idée force que têm motivado
estudos sobre pobreza e exclusão social, sendo as diferentes concepções e índices de
vulnerabilidade muito propalados, mostrando assim sua vinculação direta, neste cenário,
com a questão social. (MARANDOLA JR. & HOGAN, 2004b)
O debate ambiental é outra arena onde estes termos têm se situado cada vez mais no
centro da discussão. Seja no contexto dos estudos dos perigos e desastres naturais e/ou
ambientais (MARANDOLA JR. & HOGAN, 2003, 2004c), seja na discussão mais recente das
mudanças ambientais globais (MARANDOLA JR. & HOGAN, 2004b), o risco num primeiro
momento, e mais recentemente a vulnerabilidade, têm ganhado ênfase crescente como
conceitos que têm a capacidade de produzir novas leituras sobre a situação ambiental e social
nas diferentes escalas (LIVERMAN, 1994). Neste contexto, além de uma “Ciência das
Mudanças Ambientais Globais” (Science of Environmental Global Changes), muitos
pesquisadores têm defendido também uma “Ciência da Vulnerabilidade” (Vulnerability
Science), numa tentativa de reunir esforços em torno do que seria um problema novo que
envolveria as diferentes dimensões da realidade, necessitando, para seu enfrentamento, de um
corpo interdisciplinar de pesquisadores e de um novo escopo teórico-metodológico (CUTTER,
2003; MARANDOLA JR. & HOGAN, 2004b).
Esta gama de estudos e tradições trazem à tona uma multiplicidade de riscos e perigos enfrentados pelo homem diariamente. Desde os riscos envolvidos com eventos extremos do meio físico (enchentes, furacões, terremotos, erupções vulcânicas, secas, tempestades tropicais, deslizamentos), com danos à saúde (doenças contagiosas, patologias “ambientais”, intoxicações) e com conseqüências da modernização tecnológica (contaminações do solo, da água e do ar, exposição a radiações ou produtos químicos), somos alertados quanto aos riscos que corremos frente a tais perigos.
No entanto, atualmente, somos alertados para o caráter mais complexo da situação de risco que corremos. Os teóricos da Sociedade de Risco, em especial Ulrich Beck e Anthony Giddens, têm se esforçado em mostrar a natureza significativamente diferente dos
2
riscos vividos na alta modernidade, que na perspectiva destes autores, é o período de radicalização dos fenômenos e processos da modernidade que vivemos hoje.
Estes autores nos chamam a atenção para a nova fase de produção e reprodução
social, que através da alta reflexividade da modernização e de todos os processos sociais,
principalmente no embate do conhecimento do sistema de peritos com os conhecimentos
tradicionais e aqueles consagrados pela modernidade (como a própria ciência), nos
colocam em uma nova forma de insegurança (BECK, 1992). As instituições consagradas
pela modernidade são questionadas e as fontes de confiança anteriores, como a religião, o
místico e a tradição, perderam há muito tempo sua legitimidade (GIDDENS, 2002).
Este é um problema crônico da modernidade, que jogou o indivíduo numa solidão. O
liberalismo, primeira matriz, após o Renascimento, da modernidade, jogou o homem, com a
promessa de livre-arbítrio e direitos inalienáveis, em uma situação de solidão, condenando-o
“[...] a viver em ilhas afetivas no grande arquipélago da sociedade de massas”. (OLIVA,
2000, p.13) Esta solidão da cidadania, onde o indivíduo é suprimido pelas forças coletivas
como a cultura, as normas estatais e comportamentais, além de uma série de outras forças
micro ou macro políticas que isolam e constrangem, é uma marca da própria modernidade.
Alberto Oliva complementa: “O cidadão é órfão de direitos fundamentais quando faz parte
de uma ordem social que o transforma em joguete nas mãos de poderes arbitrários ou de
forças coletivas que não lhe respeitam o ‘ser próprio’ subjugando-o a projetos e interesses
especiosamente apresentados como supra-individuais.” (OLIVA, 2000, p.16)
A raiz deste quadro está vinculada às próprias raízes da modernidade. A teoria do
ator racional, por exemplo, dotou não apenas as análises sociológicas, mas também a
práxis política e cotidiana de uma determinação do sujeito limitada a uma busca racional
pela otimização de seus afazeres, a delimitação de suas metas e objetivos e de um
cronograma planejado de ação para alcançá-los (DOMINGUES, 1999). A liberdade, valor
tão exaltado no projeto da modernidade, mostrou-se uma falácia na medida em que as
instituições modernas não a garantiram nem a promoveram, seja em suas dimensões
econômicas, políticas ou mesmo culturais (SANTOS, 2000). Que dizer então de sua
dimensão existencial, a mais negligenciada nos tempos modernos.
O indivíduo enquanto um ser inalienável, livre e pensante, que designa seus próprios caminhos é uma idéia freqüentemente contrariada e veementemente combatida. Seja por posições socioconstrucionistas, seja por leituras estruturalistas, a perspectiva do indivíduo que se define é vista comumente como uma forma de romantismo (DOMINGUES, 1999) ou mesmo de inconsistência intelectual. No entanto, gostaríamos de discutir esta idéia. 3
O argumento que freqüentemente se opõe a esta idéia “romântica” é a da mediação da experiência. A experiência da metrópole, o tema em tela, é um exemplo claro. Ninguém se faz sozinho, e não é apenas a Sociologia a mostrar que para que a pessoa reconheça sua individualidade, ela precisa da socialização, ou seja, do outro. Esta é uma posição tanto da Psicologia Social quanto da Psicanálise e do Existencialismo. No entanto, não podemos derivar desta constatação de que o ser humano é um ser social, para uma determinação de sua identidade e do seu eu. Uma idéia não leva a outra, necessariamente.
Por outro lado, tanto uma visão marxista quanto uma perspectiva estruturalista ou
fenomenológica concordam, cada qual com seu jargão, que cada espaço e cada tempo possuem
uma especificidade e um contexto (essência) particular. Esta é uma idéia que vem desde
Heródoto, sofrendo acréscimos e reelaborações, mas que continua a mesma: “ninguém entra
no mesmo rio duas vezes”. O rio não é o mesmo, nem mesmo dois segundos depois. A água
passa, o tempo passa, o espaço se modifica, assim como você, que quando entra pela primeira
vez é alguém que nunca entrou naquele rio, e da segunda vez é alguém diferente, por se tornou
alguém que já viveu a experiência de entrar naquele rio.
Portanto, pessoas diferentes, com histórias de vida, relações sociais e familiares e
formação religiosa, acadêmica formal ou de vida diferentes, não terão a mesma experiência
de fenômenos macro sociais, produzidos na escala global. A experiência da metrópole, por
mais que os processos que a produzam e conduzam sua construção e desenho no espaço e
no tempo sejam hegemônicos e atinjam a solidão da cidadania de forma impiedosa, cada
indivíduo terá uma relação diferenciada com tais macro processos.
Giddens formulou duas noções que são centrais em toda sua argumentação, que procuram dar corpo a esta discussão: o desencaixe e a reflexividade. O desencaixe é entendido como o “ ‘deslocamento’ das relações sociais de contextos locais de interação e sua reestruturação através de extensões indefinidas de tempo-espaço.” (GIDDENS, 1991, p.29) Isto significa que na modernidade, e em especial na alta modernidade, os sistemas sociais e o cotidiano das pessoas não estão mais circunscritos ao seu espaço-tempo. As referências do habitante metropolitano, por exemplo, transcendem hoje o espaço e o tempo da urbe. A experiência de outros espaços, num ambiente que é chamado pelo autor de global, seja através dos meios de comunicação (desde o telégrafo até os atuais meios informacionais) ou da própria convivência de pessoas que transitam por todo o mundo, é parte constituinte da própria idéia de metrópole. Por outro lado, os fenômenos, objetos e idéias que compõem a metrópole contemporânea não são produzidos exclusivamente de forma orgânica no seu próprio espaço e tempo. A conformação deste espaço “desencaixado” de uma organicidade local é fruto da interação de processos e dinâmicas que ocorrem em escalas muito maiores e descoladas de 4
uma escala local. É neste sentido que Giddens coloca a dialética local-global no centro de sua análise da modernidade tardia e do desencaixe na Sociedade de Risco.
Parte desse desencaixe é fruto da alta reflexividade que as pessoas e a sociedade
exercem continuamente. Esta está diretamente vinculada às instituições modernas e à
tecnologia, que produziram um novo relacionamento entre os sistemas abstratos (produtores de
conhecimento e normas) e as pessoas e a sociedade, alterando os mecanismos de legitimação
de comportamentos e normas sociais. Assim, a reflexividade produz conseqüências em pelo
menos dois níveis: na escala coletiva, social, e na escala individual, existencial.
Quanto à primeira, Giddens (1991, p.45) afirma que “a reflexividade da vida social
moderna consiste no fato de que as práticas sociais são constantemente examinadas e
reformadas à luz de informação renovada sobre estas práticas, alterando assim
constitutivamente seu caráter.” Na metrópole, as novas regulamentações tanto de questões
mais orgânicas da cidade (leis de uso do solo, rodízio do uso de carros para controle da
poluição, mudança de itinerários de ônibus, orçamento e participação na tomada de
decisões, promoção de saúde e rede de educação e saúde) até problemáticas que envolvam
processos regionais e metropolitanos (a ligação entre municípios, a gestão de recursos
hídricos, controle dos níveis de poluição, atendimento integrado de educação e saúde,
promoção de redes turísticas e circuitos produtivos) passam por constantes discussões e
promovem alta reflexividade na forma de gestão do espaço metropolitano.
Todos esses temas, assim como os que envolvem a gestão do ambiente (como a
disposição dos resíduos sólidos, a manutenção de áreas verdes e reservas naturais, controle
de emissões das indústrias, recusa ou aceitação de determinados tipos de indústrias
poluidoras, radiações e contaminações em sítios de indústrias abandonadas) são refletidos
pela sociedade, em geral, e pelos indivíduos, em particular, de forma diferente na
contemporaneidade. Giddens (1991) aponta dois motivos para isso: a crise de confiança
nos sistemas abstratos, pois já não confiamos mais cegamente no que a Ciência ou os
poderes legitimados afirmam quanto ao que é ou não arriscado, e a conseqüente
reflexividade que esta insegurança produz, pois passamos a refletir continuamente sobre as
normas e as conseqüências de nossas ações e escolhas, sempre procurando minimizar a
incerteza do futuro, prevendo danos e perigos.
A diferença significativa para esta reflexividade atual, segundo Giddens, é o processo
de desencaixe que traz para o local aquilo que não foi gerado por ele. Assim, temos
extrema dificuldade de perceber certos riscos, pois não temos referências de sua produção
5
e origem. Além disso, o progresso tecnológico produziu uma intensa fragmentação do
saber perito, produzindo uma opacidade que gera, entre os peritos e a própria sociedade,
uma incapacidade de alcançar uma ampla gama de conhecimentos nas várias faces dos
sistemas abstratos. Assim, outra promessa da modernidade, a de que a técnica e a ciência
conseguiriam, através da ação racional e objetiva, sanar os problemas gerados pela
modernização, não se concretizou. Ao contrário, a modernização produziu novos riscos,
cada vez menos calculáveis e previsíveis (GIDDENS, 2002).
A conseqüência da reflexividade na escala individual refere-se ao processo contínuo
de redefinição da auto-identidade. Giddens (2002) traz para o centro da discussão a
formação do eu enquanto um dos grandes dramas da sociedade de risco, onde a angústia
existencial e a insegurança ontológica atingem o homem contemporâneo. Segundo o autor,
esta é fruto de eventos distantes que cada vez mais atingem acontecimentos próximos, trazendo
por meio da experiência canalizada pelos meios de comunicação, situações e riscos que, fora
de contexto (desencaixados), tornam as pessoas mais vulneráveis. Nesse sentido, a
reflexividade da auto-identidade torna o eu mais inseguro, na medida que se vê obrigado a ver
e rever suas posições e constituições continuamente.
Outro ponto crucial desta insegurança ontológica é a alteração dos sistemas de
confiança, que não podem mais, segundo Giddens, ser estabelecidos a partir de critérios
externos à própria relação, como os critérios de parentesco, dever social ou obrigação
tradicional. O que resta ao homem da alta modernidade é o que Giddens chama de
“relações puras”, ou seja, aquelas destituídas dos elementos externos, as quais têm de ser
pensadas e refletidas em si próprias, a curto e a longo prazo.
Esta prevalência ou gradativo predominar de relações puras nas relações pessoais é
um elemento crucial da insegurança ontológica que invade a intimidade das pessoas, como
que “retirando o chão” que tradicionalmente dava segurança às pessoas, em termos de
atitude, estilo de vida e escolhas.
Neste quadro, as diferentes razões existenciais e as relações do eu com o risco, a
segurança e a confiança, influirão na dimensão da vulnerabilidade. Mesmo que expostas
aos mesmos riscos, elementos de natureza existencial, conforme vimos, além dos de
natureza econômica, espacial ou social, serão balizadores dos danos que cada pessoa ou
coletividade sofrerá. A vulnerabilidade existencial também é um fator a ser considerado
quando procuramos parâmetros amplos de delimitação dos riscos e danos vividos pelas
pessoas em um quadro amplo e multidimensional de análise.
6
No entanto, permanece a questão da relação entre metrópole e o quadro acima
descrito, bem como a forma de buscar a perspectiva da experiência no estudo das
vulnerabilidades e riscos. Este é o desafio que procuramos pensar deste ponto em diante.
A Experiência da Metrópole: do Indivíduo ao Lugar
É comum a leitura da metrópole contemporânea como o locus da fragmentação, do desenraizamento e da polifonia esquizofrênica da malha urbana (CARLOS, 1996, 2001; BAPTISTA, 1999; BRESCIANI, 1994) No entanto, é igualmente comum o elogio da cidade, a exaltação de seus feitos, a leitura de suas virtudes (ARGAN, 1992; TUAN, 1974; CALLIGARIS, 1994). Há ainda um conjunto de estudos que buscam uma leitura da realidade assumindo seus defeitos, com posição de crítica, mas acreditando nas possibilidades inerentes à vida urbana moderna (JACOBS, 2000; ASCHER, 1998; RAMA, 1984). Talvez estejamos no terceiro grupo, tendendo para o segundo.
De fato, a cidade exerce um fascínio sobre cientistas e artistas, além de despertar a paixão das pessoas que nela escolhem – ou são escolhidas por ela – para morar. Mas isto não elimina os problemas que a cidade acumula e reverte na forma de dramas e angústias. E na metrópole tudo o que é urbano e citadino é mais dramático, radicalizado, intenso.
Já no início da década de 1990, os estudiosos do urbano viram a necessidade de renovar suas ferramentas analíticas para compreender o fenômeno metropolitano, que ganhava novos rumos e intensidade. É a mesma época das análises dos sociólogos acerca da Sociedade de Risco, o que é sintomático das mudanças sociais que se consolidaram no final da década de 1980 e início da de 1990.
Amália I. G. de Lemos foi uma das que ressaltou a necessidade de superar as formas historicamente consolidadas de estudo da metrópole: a perspectiva empiricista, a funcionalista, a estruturalista e a marxista. Todas tiveram, segundo a autora, importantes contribuições no desenvolvimento dos estudos urbanos, mas que não têm mais condições de dar conta, sozinhas, da complexidade da metrópole contemporânea (LEMOS, 1991).
A autora salienta a influência que tendências positivistas simplistas tiveram sobre todas estas perspectivas, apontando para a necessidade de buscar compreender o espaço metropolitano para além deste método científico, reconhecendo a fragmentação do conhecimento e da realidade e buscando incorporar análises mais microssociológicas ou etnográficas, que trazem à tona aspectos do modo de vida e dos diferentes domínios de práticas sociais. Estas abordagens enriquecem consideravelmente o quadro conceitual, por partir do vivido, e não do representado ou do concebido.
7
Jane Jacobs, em seu clássico livro Morte e vida de grande cidades, de 1961, já ressaltava também, de forma veemente, a necessidade de outras abordagens sobre o urbano. Para ela, os urbanistas não sabiam como as cidades eram, pois ocupavam-se demasiadamente em como elas deveriam ser. Em vista disso, Jacobs propôs-se a estudar a metrópole por outra via:
A maneira de decifrar o que ocorre no comportamento aparentemente misterioso e indomável das cidades é, em minha opinião, observar mais de perto, com o mínimo de expectativa possível, as cenas e os acontecimentos mais comuns, tentar entender o que significam e ver se surgem explicações entre eles. (JACOBS, 2003, p.12-13)
Embora sua estratégia empírica de análise não se baseie nos mesmos pressupostos desta
pesquisa, sua constatação é a mesma: ouvir primeiro, para depois analisar. Descrever a
realidade enquanto fato empírico e experienciado, e não explicar à luz de modelos teóricos ou
dos processos históricos. Eis a que se propõe a fenomenologia no estudo da experiência: [...] o método fenomenológico enfoca fenômenos subjetivos na crença de que verdades essenciais acerca da realidade são baseadas na experiência vivida. É importante a experiência tal como ela se apresenta, e não o que possamos pensar, ler ou dizer acerca dela. O que interessa é a experiência vivida no mundo do dia-a-dia da pessoa.” (MOREIRA, 2002, p.108, grifos nossos)
Utilizar a fenomenologia em busca da experiência para o estudo da metrópole,
portanto, significa que não se espera explicar a origem ou o fundamento dos processos ou
dos fenômenos. Significa, antes, descrever2 os fatos tais como são vividos, ou seja, tal
como são concretamente revelados na experiência.
Neste sentido, o lugar se apresenta como a categoria espacial mais sintonizada a esta
perspectiva, por constituir-se na menor célula espacial, configurada na escala do corpo
(TUAN, 1975), quando tem um caráter individual, em torno das relações afetivas que a pessoa
mantém com o espaço. Assim, os homens dotam de luminosidade aqueles pontos do espaço
onde atribuem significados especiais, relacionando-se com eles de maneira íntima, através do
laço afetivo denominado topofilia (TUAN, 1974). Este se configura primeiramente com a casa,
estendendo-se à medida que o homem amplia sua experiência e se envolve com outros lugares.
A experiência dos lugares, no sentido fenomenológico, tem, portanto, a perspectiva da
historicidade da pessoa, de sua vida e sua memória. Não é estrita como a percepção, mas
envolve a compreensão da experiência enquanto um fenômeno completo, que se consubstancia
no presente a partir de toda a historicidade e geograficidade vivida. Italo Calvino, falando do
papel da experiência para o escritor, nos revela esta faceta fundamental.
2 Descrever no sentido fenomenológico é mais do que enumerar ou catalogar, envolvendo a “busca das coisas mesmas”, antes das abstrações científicas. Sobre isso ver Marandola Jr. (2004a). 8
A memória – ou melhor, a experiência, que é a memória mais a ferida que a deixou, mais a mudança que causou em você e que o fez diferente – a experiência, primeiro alimento também da obra literária (mas não só dela), riqueza verdadeira do escritor (mas não só dele), eis que, apenas deu forma à obra literária, seca, destrói-se. (CALVINO, 1997, p.115)
A perspectiva da experiência é, portanto, a memória vivida, o passado tornado
presente, que na sua dinâmica, conforma o ser e o eu. Envolve tanto a experiência corpórea
sensitiva (TUAN, 1977) quanto a experiência mediada (GIDDENS, 2002), impossível de
ser excluída, mesmo que fosse necessário fazê-lo. A fenomenologia nos permite ver o
homem de uma maneira completa, independente de todos os fenômenos de diferentes
naturezas e diferentes escalas que concorram para a sua constituição e formação.
Mas como contextualizar a experiência no contexto da Sociedade de Risco?
Já abordamos aqui a individualização do indivíduo ocorrida na modernidade
(DOMINGUES, 1999), e que traz como conseqüência a restrição de seu espaço existencial a
uma experiência fragmentada da metrópole, onde é impossível que alguém viva a cidade
enquanto totalidade, sendo esta uma abstração (MARANDOLA JR., 2003). Além disso, o
desencaixe e a reflexividade trabalhadas por Giddens (1991, 2002) nos trazem mais problemas
a equacionar, já que estes fenômenos modificam a relação das pessoas com o lugar, ligando-as
diretamente ao mundo (GIDDENS, 1991, 2002; DOMINGUES, 1999). Mas será que
poderíamos, a partir disso, minimizar a importância dos lugares? Ou a experiência deveria ser
vista como vinculada mais ao sistema-mundo do que às relações interpessoais e às sensações
corpóreas dos micro-espaços? A única geografia relevante seria a da escala macro?
Para pensar a questão, vejamos uma explanação acerca da relação do Homem com o
espaço, da década de 1970: O Homem sempre teve necessidade de estruturar e identificar o seu meio circundante, e a habilidade de se locomover com um mínimo de certeza sempre esteve presente em todos os grupos humanos. Pode-se mesmo afirmar que reconhecer e padronizar as vizinhanças é uma necessidade básica, que tem suas raízes em um passado remoto e que é de relevância prática e emocional para o indivíduo isolado ou em grupo. Há uma interação profunda entre observador e observado. A Natureza sugere contrastes e relações que assumem a função de referências, que em sua maioria são apelos às percepções visuais, tanto de cor, forma, luz como de movimento. Enquanto que o Homem adapta aos seus propósitos tudo o que percebe, isto é, seleciona, organiza, e principalmente atribui significado às percepções. Os diferentes ambientes resistem ou facilitam o processo de construção do relacionamento harmonioso entre o perceber e o percebido. (OLIVEIRA, 1976, p.56)
9
Será que esta necessidade originária do homem mudou? Poderíamos afirmar que a
Sociedade de Risco, com seus processos de desencaixe e reflexividade, minimizou a
importância desta vinculação orgânica homem-meio? Será que a experiência mediada
impede o homem de se orientar a partir do lugar, e nele centrar sua visão de mundo?
Se entendermos a experiência como uma relação sensorial do corpo, mas ligada às
diversas escalas em que o indivíduo está inserido, sejam elas espaciais ou socioculturais
(TUAN, 1975, 1977; MARANDOLA JR., 2004a)3, poderemos conceber o lugar como a
menor esfera de uma série de contextos geográficos em que o homem está inserido. A
Sociedade de Risco está no topo desta série, estando o lugar na base. Não temos certeza de que
a dialética local-global trabalhada por Giddens é a melhor maneira de expressar esta natureza
transescalar da vida contemporânea. Contudo, não é a macro-escala que define a micro, nem a
micro que define a macro, mas é na escala individual, na perspectiva da experiência, que todas
elas se consubstanciam e se tornam elementos de uma mesma realidade vivida, sem abstrações.
Evidentemente, esta consubstanciação não é claramente expressada por quem a vive. A
realidade tal como é experienciada só pode ser classificada e separada através da atividade
racional de quem reflete sobre ela. Mesmo com a reflexividade atual, ela se dá também de
forma fragmentada, e poucos (ou nenhum) indivíduo consegue realizar o percurso completo de
todas as escalas em que está inserido, e todas as suas conseqüências.
A proposta fenomenológica de estudo da experiência se propõe a buscar os fenômenos
justamente nesta escala, no lugar, por meio de uma visão transescalar, descrevendo como os
fenômenos de diferentes dimensões e diferentes escalas se concretizam na experiência.
“Abrindo Espaço” – Um Ensaio Preliminar
Talvez o maior desafio de pensar este quadro macro social aplicado às metrópoles, ou mesmo a uma metrópole específica, é conseguir relacionar elementos oriundos de conjecturas ou de uma reflexão teórica-conjuntural, a da Sociedade de Risco, que se apoia em elementos assistemáticos da realidade empírica, com dados e vivências que poderíamos apontar na rua e dizer: “olhem, ali! eis a Sociedade de Risco!!”, como fazemos com uma favela, uma enchente ou mesmo uma área de elevada degradação social ou ambiental.
O que procuramos, portanto, é testar uma perspectiva de estudo, já com importantes contribuições e desenvolvimento no campo da Ciência Geográfica, em particular, e das
3 Vide a idéia das conchas de Moles & Rohmer (1978), muito bem aplicadas à relação do homem com o lugar e com o espaço, por Vieira & Oliveira (2000). 10
Ciências Humanas, em geral, para realizar este vínculo entre uma realidade vivida por nós, a metrópole de Campinas, com a teorizada Sociedade de Risco.
Para isto, é necessário levar em conta três pontos: 1. A perspectiva de estudo se apóia na filosofia fenomenológica existencial,
desenvolvida por filósofos como Husserl, Heidegger, Merleau-Ponty e Bachelard, e nas Geografias Humanista e Cultural, que receberam influência e orientação destes filósofos (MARANDOLA JR., 2003, 2004a);
2. A perspectiva da experiência é uma tentativa de incorporar às análises urbano-
metropolitanas a escala individual de ocorrência e análise dos fenômenos,
comumente negligenciada em proveito da escala coletiva. A conseqüência desta
negligência é a abstração e a inferição genérica de nexos de causalidade, por mais
que às vezes se acerte (MARANDOLA JR., 2004b);
3. Este é um ensaio preliminar, de tentativa e de proposta, que procura conectar
tradições de estudo dos riscos e vulnerabilidades, através da perspectiva da
experiência, centrada no lugar.
O espaço público aparece na discussão à medida que nas metrópoles vemos uma
carência mais ou menos generalizada por espaços de convivência e de manifestação.
Mesmo quando existem, em geral são insuficientes em relação à enorme demanda ou estão
concentrados no centro da metrópole, ficando a maior parte da população excluída deste
locus de manifestação e sociabilidade. Além disso, em Campinas, até mesmo nas áreas
centrais, o espaço público é extremamente deficitário em vários sentidos, sendo fundamental
discuti-lo enquanto espacialidade e sociabilidade possíveis e necessárias. Por fim,
poderíamos apontar um terceiro motivo: no espaço público podemos ver a sociedade
metropolitana em ação (isto é um pressuposto), refletindo muitos de seus embates e
características. O espaço público pode ser um locus de manifestação das relações das pessoas
com o lugar e com a metrópole, revelando possíveis indícios da Sociedade de Risco que
conforma a macro organização da sociedade e da metrópole contemporâneas.
Nossa expectativa, portanto, é conseguir traçar algumas linhas, em tom exploratório,
que nos estimule a pensar estas relações complexas transescalares e multidimensionais,
nutrindo a reflexão acerca da metrópole contemporânea e seus riscos e vulnerabilidades.
Praça das Águas: espaço público mediado ou lugar?4
Para começar, coloquemos um pensamento sobre a abordagem geográfica da cidade: 4 Fotos referentes a este trabalho de campo podem ser vistas em <http://br.briefcase.yahoo.com/marandola>. 11
A cidade é uma forma necessária a um certo gênero de associação humana, e suas mudanças morfológicas são condições para que esta associação se transforme. Assim, uma análise geográfica do espaço urbano deve imperativamente ser nutrida da disposição locacional dos objetos espaciais confrontados com o comportamento social que aí tem lugar. (GOMES, 2002, p.19-20)
De que “gênero de associação humana”, “disposição locacional”, “objetos espaciais”
e “comportamento social” falamos? Sobre o gênero, é certo que falamos daquele descrito
nas páginas antecedentes: metropolitanos, modernos, reflexivos, desencaixados, indivíduos
inseridos numa Sociedade de Risco, vulneráveis a cada vez mais perigos, conhecidos e
desconhecidos, e ligados à metrópole através da experiência dos lugares.
A disposição locacional possui dois níveis: um é o da metrópole, Campinas,
localizada no que alguns têm chamado de megalópole do sudeste (QUEIROGA, 2001;
LENCIONI, 2003); o outro é o da Praça das Águas. Inaugurada em 28 de agosto de 2004,
localiza-se no bairro da Ponte Preta. Este é um dos antigos “arrabaldes” da cidade, que já
existem há pelo menos 100 anos, antes da ferrovia, antes do café, antes da industrialização,
antes da modernidade. Bairro que surge com o time, ou time que surge com a ponte (sobre
a linha do trem, coberta de piche por causa da fumaça), ou ponte que surge por causa do
bairro. A Ponte Preta é um bairro a sul do centro de Campinas, “do outro lado da linha”.
Mas a linha é posterior ao bairro, e quem nasceu primeiro não tem tanta importância
para nosso tema. O bairro possui um casario razoável do início do século XX, com outras
construções posteriores (anos 1950 e 1960), além de uma dezena de edifícios residenciais.
Pelo menos duas vias dão o tom de passagem e intensidade ao bairro: a Avenida da Saudade
(sentido centro-bairro) e a Rua da Abolição (sentido bairro-centro). Estas são um único
complexo viário, paralelas que são, separadas por um único quarteirão, constituindo-se em
corredores de ônibus, indo e vindo, ligação de boa parte das linhas que vão para a zona sul.
Há ainda as linhas para Valinhos que vão pelo caminho antigo (Avenida Engenheiro Antônio
Francisco de Paula Souza), e alguns ônibus que vão e vêm de São Paulo, que entram e saem
do bairro quase no final da Avenida da Saudade.
Este tráfego intenso de veículos, vans e ônibus, é acentuado ainda por alguns
equipamentos (objetos espaciais) que existem ou no bairro ou para além dele, sendo estas vias
seu acesso preferencial: Cemitério da Saudade (no final da avenida homônima), patrimônio
histórico da cidade; sede da Sanasa (companhia de saneamento municipal); supermercado;
várias agências bancárias; Igreja de Santo Antônio; uma grande loja de materiais para
construção; duas grandes lojas de móveis; um hipermercado aberto 24 horas e uma grande
faculdade particular (a algumas quadras além do bairro). Estes estão localizados na Avenida da 12
Saudade ou na Rua da Abolição. Além deles, ao lado do supermercado será inaugurada, no
início do ano, a nova Câmara de Vereadores da cidade, que trará mais movimento ao bairro.
Alguns eventos que marcam o comportamento social da Ponte Preta estão ligados, além daqueles vinculados à funcionalidade cotidiana (comércio local) e à prestação de serviços (como as referidas lojas e serviços, além de várias revendas de veículos e comércio de móveis para escritório), a uma sazonalidade mais especifica, seja curta ou longa: as missas, casamentos e dia do Santo, na Igreja de Santo Antônio, e o dia de Finados, no Cemitério da Saudade.
O bairro é mais comprido (no sentido N-S) do que largo (sentido L-O), limitado a norte e a leste pelo leito ferroviário, que contorna o bairro.
Em toda esta descrição, a grande ausência é, sem dúvida, o espaço público. Não
importa o motivo que explique esta ausência, mas o fato é que o bairro tem concreto, ruas
estreitas, casas antigas, comércio, vias rápidas de trânsito intenso e os prédios, que ocupam
quase toda a área do bairro. A Ponte Preta é um bairro de pouquíssimos espaços públicos,
salvo uma pequena praça (Dom Barreto), que além da estátua de um vigário e um jardim,
não apresenta nada a não ser um ponto de táxi e um de ônibus. Nenhum espaço público,
que dizer de espaços verdes. E eis que inauguraram a praça!
Entre as ruas movimentadas, repletas de carros e motos e ônibus e vãs, um arquiteto
teve a iluminação da concepção: não uma praça arborizada, como um bosque cheio de
jardins e grama. Não, não era disso que a Ponte Preta precisava. O que todos precisavam,
desde as crianças com sua bola, os meninos com seus skates e bicicletas, os casais com
seus abraços, as senhoras com seus carrinhos de bebês, os aposentados com seu tempo livre,
todos precisavam de espaço. Dentro dos apertados quintais, dos prédios elevados ou das ruas
movimentadas, o que todos necessitavam era de espaço. Espaço público, espaço para
caminhar, espaço para sentar, espaço para brincar, espaço para correr, espaço para viver.
E o que mais podemos esperar de uma cidade, senão espaço para o que necessitamos? Espaço para morar, espaço para trabalhar, espaço para crer, espaço para desejar, espaço para ter, espaço para crescer, espaço para conhecer, espaço para se fazer, espaço para se relacionar.
E o projeto da praça, escolhida através de um concurso promovido pela Sanasa, elegeu um desenho limpo, sem jardins elaborados, numa concepção paisagística que atingiu em cheio a necessidade de uma população carente por espaço. Independente da concepção do projeto inicial, seu idealizador acertou, mesmo que tenha mirado em outra direção.
Esta afirmação pode parecer precipitada, mas diz respeito ao dia-a-dia da praça, que
temos acompanhado, a qual passou a ser uma referência para as pessoas do bairro. Mas,
voltemos à descrição.
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A Praça das Águas foi construída como parte das comemorações dos 230 anos de Campinas e dos 30 anos da Sanasa, na esquina de seu terreno que ocupa os cruzamentos mais movimentados do bairro: Rua da Abolição, Rua Álvaro Ribeiro e Avenida da Saudade. Ali localiza-se o primeiro reservatório de água potável de Campinas, construído em 1891. Os muros da Sanasa recuaram até que a casa de máquinas do antigo reservatório ficasse na divisa da praça e do terreno da companhia. Há um espelho d’água junto ao muro, que mantém uma linha entre a sede do reservatório e a Capela de São Francisco de Assis, que estava há tempos apagada e espremida na Rua da Abolição. Apesar de estar do outro lado da rua, após a pintura e restauração (idênticas), a capela foi integrada à paisagem da praça.
Há uma ligação de tubulação do espelho d’água com uma linha de esguichos no centro da praça. Estes saem apenas de buracos no piso, em horários definidos, para caírem e serem absorvidos no mesmo local. A água é a festa das crianças, principalmente em dias secos e quentes, muito freqüentes em Campinas.
De fato, em todos os momentos que se passa pela praça, ela está repleta.
Imediatamente após sua inauguração, ela passou a ser freqüentada de manhã até a noite.
Crianças a correr, a andar de bicicleta, de skate, mães com bebês em carrinhos, idosos a
sentar e conversar, adolescentes a paquerar. Não há como não imaginar a carência por um
espaço público neste bairro como um fator característico e marcante.
No entanto, não é sem críticas que as pessoas têm usado a praça. Uma das primeiras
(senão a primeira) reação, principalmente para quem passa de manhã, é a ausência de árvores.
As árvores que existiam no local foram transplantadas para além do muro (continuando a fazer
parte da paisagem, embora não fazendo sombra). Uma ficou no espelho d’água, no alto, e as
demais ficaram no pequeno jardim no desnível da calçada para a Rua Álvaro Ribeiro.
Principalmente no inverno e na primavera, devido à posição do sol, a praça fica boa parte da
manhã sem sombra, inclusive nos doze bancos colocados de forma perpendicular em relação
ao espelho d’água por quase toda a extensão da praça, antes dos chafarizes.
Mas na parte da tarde, principalmente no final dela, o horário de maior movimento,
com o sol deitando-se sobre a cidade, as árvores na calçada e os prédios na Avenida da
Saudade trazem sombra a todos, e parece que o projeto acertou em cheio novamente.
Outro ponto fundamental da praça é a paisagem sonora. O ruído é absurdo. Afinal, como
assinalado, aquelas são as três ruas mais movimentadas da Ponte Preta. Isto indica que a praça
não valorizou, através de sua concepção, um aconchego na sombra de grandes árvores verdes,
aspirando tranqüilidade, o que seria proporcionado principalmente por um número intenso de
árvores e jardins. O fato da praça não ter árvores ou jardins, aberta, criou a sensação de que foi
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aberto um espaço, trazendo um respiro em meio às ruas estreitas e aos corredores viários,
entre casas muito próximas e prédios elevados. Esta concepção criou uma área de lazer e
sociabilidade, na forma de um espaço público, que a julgar pelo seu uso, era uma necessidade
maior para a população do que uma área de aconchego junto a um ideal de natureza.
Em um de nossos trabalhos de campo, encontramos um funcionário da empresa
contratada para construir a praça. Ele ressaltou de imediato como funcionavam os
chafarizes, enfatizando que não há desperdício de água, como alguns estavam a falar.
Segundo ele, todo o sistema está integrado com o reservatório, num movimento cíclico.
Esta preocupação imediata em explicitar que não havia desperdício indica que houve
críticas ao desperdício de água para fins estéticos.
Mas este não foi o único ponto de divergência e crítica em torno da praça. É evidente
que ela não causou uma aceitação plena, sem embates. Muitas pessoas fizeram várias críticas
tanto à concepção quanto aos objetos colocados na praça. A ausência de árvores, por exemplo,
os bancos que não têm encosto, o espelho d’água que junta sujeira. Mas sua presença cotidiana
e contínua nos indicam que apesar das críticas, a carência por espaço é bem maior.
Em meio à fragmentação da experiência e ao individualismo da vida na metrópole, a
Praça das Águas apareceu como um refrigério, abrindo espaço para uma população que
não tinha onde sentar e olhar para os lados. Uma possibilidade para as crianças correrem
fora das áreas de estacionamento dos prédios, podendo pedalar e brincar sem o medo do
atropelamento. Enfim, foi aberto o espaço e as pessoas o ocuparam.
Geografias possíveis: do desencaixe
ao lugar ou do lugar ao desencaixe?
Como acompanhar a Sociedade de Risco, reflexiva e desencaixada, “ao rés do
chão”? Como pensar a dimensão da experiência da metrópole a partir de uma leitura macro
social, vinculada a um espaço público? Como pensar a relação das pessoas com a
metrópole: por meio do lugar ou numa ligação direta com o mundo? Seria a Praça das
Águas um lugar? Ou o desejo, por meio daquele espaço, de algo que está fora, no mundo,
que media a experiência das pessoas?
De fato, ainda não temos elementos para responder a estas perguntas pertinentes. Estas poderão ser pensadas a partir da segunda etapa da pesquisa, que consistirá no diálogo com as pessoas do bairro, freqüentadoras ou não da praça, para descrevermos a sua experiência. Este é um passo fundamental para podermos pensar a relação das escalas na experiência da
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metrópole, seus riscos e vulnerabilidades, indo além desta etapa preliminar, que se limitou a descrever o objetivo a partir da experiência do pesquisador.
No entanto, o que sabemos é que na metrópole contemporânea as pessoas possuem extrema dificuldade em desenvolver afetividade e laços com os lugares além da própria casa. Em outras pesquisas, pudemos descrever esta dificuldade em ter o espaço público enquanto lugar. Em muitos casos, esta dificuldade aparecia pela incapacidade de ter estes espaços enquanto territórios, ou seja, espaços onde as pessoas possuíam controle ou influência, não necessariamente pelo poder, mas sobretudo pelo conhecimento. Neste sentido, sem um território, é difícil estabelecer um lugar (MARANDOLA JR., 2003).
Isso implica na falta de afeição, identidade e compromisso das pessoas em sua relação com a metrópole, expressão de uma não vinculação com o ambiente. (RELPH, 1976; BUTTIMER, 1980; MARANDOLA JR. & MELLO, 2004). No espaço público, uma forma direta de relação com a metrópole e a cidade, além do lar, as pessoas precisam sentir-se seguras (tanto ontológica quanto fisicamente), à vontade (exercer controle pelo conhecimento) e usufruir objetos espaciais que lhe permitam exercer determinados comportamentos sociais ou existenciais que elas demandam, e que em seus lugares (casa) não é possível. Sem este espaço, a vulnerabilidade social pode aumentar, no sentido de que pode haver uma diminuição do capital social (uma das formas de definição da vulnerabilidade)5 enquanto sociabilidade, lazer e satisfação de necessidades.
Além disso, o espaço público pode tornar-se um espaço de manifestação e de encontro, podendo tornar-se polarizador de ações e de participação pública e de construção ou reforço de identidades, locais (bairro) ou mesmo citadinas (metrópole).
Outro aspecto relevante que precisa ser investigado é a possibilidade que um espaço
público, como a Praça das Águas, que “abriu espaço” em meio ao movimento e ao
concreto, de proporcionar a pausa necessária ao homem para que estabeleça relação com o
espaço, transformando-o em lugar (TUAN, 1977).
Sem esta pausa, sem este espaço, as pessoas estão constantemente vulneráveis a riscos cada vez mais onipresentes, desconhecidos e, diante deles, quase nada podem fazer. Duas suposições: sem lugar, as pessoas estão lançadas no mundo, sem a segurança espacial do lugar, o que gera a insegurança ontológica contida na experiência diária da metrópole. A segunda diz respeito à fragmentação da metrópole (CARLOS, 1996, 2001), e à hipermobilidade (JARVIS; PRATT & CHENG-CHONG WU, 2001), que lança o homem metropolitano numa aventura diária, solto pelos itinerários e espaços (ASCHER, 1999), expondo-o a cada vez mais riscos (MELLO; et al, 2004).
5 Ver Kaztman (1999), Kaztman; et al (1999) e Marandola Jr. & Hogan (2004c). 16
Esta situação é agravada pela alta reflexividade, que produz nas pessoas constante re-pensar sobre o uso do espaço, em nosso caso específico, no uso do espaço público. No entanto, o uso ou necessidade do espaço público enquanto lugar ou enquanto passagem, só pode ser pensado a partir da relação da pessoa com seu espaço privado, a casa. Em vista disso, se houver modificações no uso ou na disposição dos objetos espaciais, é possível que também haja uma modificação na forma como as pessoas encaram e utilizam a praça. Além disso, como o exemplo da crítica pelo desperdício de água, que pode ter dois níveis de reflexividade (a partir de sua vivência urbana e do valor pago pela água ou da preocupação maior, de âmbito global, em virtude da finitude deste elemento no planeta como um todo), sugere que pensar os riscos e as vulnerabilidades ambientais na metrópole contemporânea possui rebatimentos diretos no cotidiano vivido, levanta-se a necessidade de compreender as ligações entre o lugar, enquanto a casa, e o espaço público, enquanto um possível lugar e território, ambos mediadores da experiência da metrópole.
Quanto ao desencaixe, cabe refletir se ele é de tamanha envergadura que se reflete na experiência do espaço público na metrópole. Seria ele presente na forma como as pessoas percebem e formulam demandas? Seria a demanda por espaço na Ponte Preta uma construção macro social ou uma elaboração orgânica de uma disposição locacional dos objetos espaciais? Poderíamos, por outro lado, desvincular o desencaixe do lugar?
Mesmo que não se consiga responder a tais perguntas, a pesquisa de campo poderá revelar outras questões pertinentes, e talvez mostrar a impertinência destas aqui formuladas. Esta é uma busca e uma tentativa de descrever possíveis geografias da experiência da metrópole contemporânea.
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