Upload
others
View
1
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Isabelle Clara Clemente
O PRINCIacutePIO DO NON-REFOULEMENT COMO NORMA
JUS COGENS O DIREITO DE ASILO NA UNIAtildeO EUROPEIA E A PROTECcedilAtildeO DO INDIVIacuteDUO NO MAR
VOLUME 1
Dissertaccedilatildeo no acircmbito do 2ordm Ciclo de Estudos em Direito (conducente grau de mestre) - Menccedilatildeo em Direito Internacional Puacuteblico e Europeu orientada pelo Professor Doutor Rui Manuel
Gens Moura Ramos e apresentada agrave Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (FDUC)
Outubro de 2020
ISABELLE CLARA CLEMENTE
O PRINCIacutePIO DO NON-REFOULEMENT COMO NORMA JUS COGENS O
DIREITO DE ASILO NA UNIAtildeO EUROPEIA E A PROTECcedilAtildeO DO
INDIVIacuteDUO NO MAR
THE PRINCIPLE OF NON-REFOULEMENT AS JUS COGENS STANDARD THE RIGHT
TO ASYLUM IN THE EUROPEAN UNION AND THE PROTECTION OF THE
INDIVIDUAL AT SEA
Dissertaccedilatildeo apresentada agrave Faculdade de Direito da
Universidade de Coimbra no acircmbito do 2ordm Ciclo de Estudos
em Direito (conducente ao grau de Mestre) na Aacuterea de
Especializaccedilatildeo de Ciecircncias Juriacutedico-PoliacuteticasMenccedilatildeo em
Direito Internacional Puacuteblico e Europeu
Orientador Prof Dr Rui Manuel Gens Moura Ramos
COIMBRA
2020
2
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeccedilo a Deus e a Nossa Senhora Aparecida por tudo que me
proporcionam na vida e por me conceder a oportunidade de cursar mestrado nesta
Universidade que eacute referecircncia na aacuterea do Direito tanto em Portugal quanto no Brasil
Agradeccedilo tambeacutem aos meus pais por estarem comigo neste pleito de cursar o
mestrado que com amor e carinho me incentivaram e apoiaram para a realizaccedilatildeo desse
sonho
Meus sinceros agradecimentos ao meu orientador Prof Dr Rui Manuel Gens Moura
Ramos natildeo somente pela orientaccedilatildeo no presente trabalho mas tambeacutem pela sua atuaccedilatildeo
durante todo o curso do mestrado que aleacutem de sua reconhecida sapiecircncia nos encanta com
sua generosidade sempre disponiacutevel e cortecircs com os seus alunos
Tambeacutem agradeccedilo ao Prof Dr Bernardo Cortese da Universidade de Paacutedua (Itaacutelia)
onde tive minha experiecircncia Erasmus que tambeacutem me auxiliou neste trabalho de mestrado
tendo sugerido a linha de pesquisa para o tema escolhido com o aval do Prof Dr Rui e que
tambeacutem sempre esteve disponiacutevel e soliacutecito em me orientar na pesquisa
3
RESUMO
CLEMENTE Isabelle C O Princiacutepio do Non-Refoulement como Norma Jus Cogens o Direito de Asilo na
Uniatildeo Europeia e a Proteccedilatildeo do Indiviacuteduo no Mar 2020 162f Dissertaccedilatildeo de Mestrado Faculdade de
Direito da Universidade de Coimbra Coimbra 2020 A presente pesquisa se justifica devido ao intenso fluxo migratoacuterio que tem ocorrido via Mar Mediterracircneo e
o consequente desrespeito aos direitos humanos dos refugiados por alguns paiacuteses Analisou-se a proteccedilatildeo
internacional dos refugiados o direito de asilo na Europa e em alguns paiacuteses europeus o princiacutepio da natildeo-
repulsatildeo e a proteccedilatildeo internacional do indiviacuteduo no mar fazendo uma anaacutelise de alguns casos decididos pelo
Tribunal Europeu dos Direitos Humanos - TEDH e outros dois que natildeo foram analisados pelo mencionado
Tribunal poreacutem relacionados ao tema do presente trabalho Assim demonstrou-se que os Estados tecircm o dever
de assistecircncia de busca e salvamento no mar e de proteger aqueles que necessitam de proteccedilatildeo natildeo enviando
os migrantes de volta agrave situaccedilatildeo de perseguiccedilatildeo ou em situaccedilotildees em que a vida pode estar em risco ou seja
natildeo violando o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo Para este estudo utilizou-se o meacutetodo dedutivo aplicando teacutecnicas
de pesquisa bibliograacutefica com consultas em livros revistas eletrocircnicas legislaccedilatildeo e pesquisa jurisprudencial
Chegou-se agrave conclusatildeo de que apesar do dever de assistecircncia de busca e salvamento no mar os Estados tecircm
o dever de respeitar o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo natildeo enviando os migrantes agraves situaccedilotildees de tortura e tratamento
desumanos e degradantes (conforme haacute a proibiccedilatildeo no artigo 3ordm da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos
- CEDH) Muitos Estados europeus cometem violaccedilotildees dos direitos humanos dos refugiados repetidas vezes
seja colocando-os em campos de refugiados em situaccedilotildees precaacuterias seja enviando-os de volta para locais que
natildeo satildeo seguros seja repelindo-os coletivamente (violaccedilatildeo ao artigo 4ordm do Protocolo nordm4 da CEDH) ou quer
deixando os migrantes agrave deriva causando acidentes etc assim notou-se que as condenaccedilotildees realizadas pelo
TEDH natildeo satildeo suficientes para inibir novas accedilotildees violadoras dos Estados tampouco para ressarcir os danos
causados para os migrantes Dessa forma deve haver uma mudanccedila de mentalidade tanto das autoridades como
da comunidade internacional em prol da proteccedilatildeo das pessoas que precisam de ajuda inclusive criar medidas
ou sanccedilotildees internacionais eficazes na esfera diplomaacutetica poliacutetica e econocircmica como forma de punir o paiacutes
infrator tambeacutem devem ser adotadas medidas eficazes que natildeo sobrecarregam os Estados de entrada sendo
este um dos pontos da proposta do Novo Pacto Sobre Migraccedilatildeo e Asilo que ainda necessita de aprovaccedilatildeo do
Conselho da UE e do Parlamento Europeu
Palavras-chave Refugiados Princiacutepio do Non-Refoulement Artigo 3ordm CEDH Direito de Asilo Proteccedilatildeo do
Indiviacuteduo no Mar
4
ABSTRACT
CLEMENTE Isabelle C The Principle of Non-Refoulement as Jus Cogens Standard the Right to Asylum
in the European Union and the Protection of the Individual at Sea 2020 162f Masteracutes Degree
Dissertation Faculty of Law of the University of Coimbra Coimbra 2020
The present research is justified due to the intense migratory flow that has occurred via the Mediterranean Sea
and consequent disrespect for the human rights of refugees by some countries The international protection of
refugees the right of asylum in Europe and in some European countries the principle of non-refoulement and
the international protection of the individual at sea were analyzed and it makes an analysis of some cases
decided by the European Court of Human Rights - ECHR and two others that were not analyzed by the
mentioned Court but related to the theme of the present work Thus it was demonstrated that States have a
duty to assist search and rescue at sea and to protect those in need of protection by not sending migrants back
to persecution or in situations where life may be at risk that is not violating the principle of non-refoulement
For this study the deductive method was used bibliographic research techniques with consultations in books
electronic journals legislation and precedents research were applied It was concluded that despite the duty
of assistance search and rescue at the sea the States have a duty to respect the principle of non-refoulement
not sending migrants to situations of inhuman and degrading torture and treatment (according to the prohibition
in Article 3 of the European Convention on Human Rights - ECHR) Many European States repeatedly violate
the human rights of refugees either by placing them in refugee camps in precarious situations or by sending
them back to places that are not safe or by repelling them collectively (violation of Article 4 of Protocol
number 4 of the ECHR) or either leaving migrants adrift causing accidents etc thus it was noted that the
condemnations carried out by the ECHR are not sufficient to inhibit new violating actions by States nor to
compensate for the damage caused to migrants Thus there must be a change in mentality of both the authorities
and the international community in favor of protecting people who need help including creating effective
international measures or sanctions in the diplomatic political and economic spheres as a way to punish the
offending country effective measures must also be taken in order not to burden the State of entry this being
one of the points of the proposal of the New Pact on Migration and Asylum which still needs approval from
the EU Council and the European Parliament
Keywords Refugees Principle of Non-Refoulement Article 3 ECHR Right to Asylum Protection of the
Individual at Sea
5
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ACNUR ou UNHCR ndash Alto Comissariado das Naccedilotildees Unidas Para os Refugiados
AZR ndash Registro Central de Estrangeiros
AFP ndash Agence France-Presse
AWAS ndash Agency for the Welfare of Asylum Seekers (Agecircncia para o bem-estar para os
requerentes de asilo)
CAR ndash Centro de Acolhida de Refugiados
CAS ndash Convenccedilatildeo de Aplicaccedilatildeo do Acordo Schengen
CDFUE ndash Carta dos Direitos Fundamentais da Uniatildeo Europeia
CDP SpA ndash Cassa Depositi e Prestiti SpA
CEDH ndash Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos
CESEDA ndash Coacutedigo de Entrada e Permanecircncia de Estrangeiros e do Direito de Asilo
CIREA ndash Centro de Informaccedilatildeo Investigaccedilatildeo e Intercacircmbio em Mateacuteria de Asilo
CIREFI ndash Centro de Informaccedilatildeo Investigaccedilatildeo e Intercacircmbio em Mateacuteria de Passagem das
Fronteiras e Imigraccedilatildeo
CNDA ndash Corte Nacional de Direito de Asilo
CPR ndash Conselho Portuguecircs para os Refugiados
CSPA ndash Centro de Socorro e Primeiro Acolhimento
DUDH - Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos
EURASIL - European Union Network for asylum practitioners (Rede da Uniatildeo Europeia
para praticantes de asilo)
EURODAC - European Dactyloscopy (base de dados de impressotildees digitais da Uniatildeo
Europeia para requerentes de asilo)
EASO ndash Gabinete Europeu de Apoio ao Asilo
EASY ndash Distribuiccedilatildeo Inicial dos Requerentes de Asilo
FRONTEX ndash Agecircncia Europeia de Gestatildeo da Cooperaccedilatildeo Operacional nas Fronteiras
Externas
GETZ ndash Centro de Extremismo e Contra-Terrorismo
GTAZ ndash Centro Contra-Terrorismo
IMRCC ndash Centro Italiano de Coordenaccedilatildeo de Socorro Mariacutetimo
OFII ndash Escritoacuterio Francecircs de Imigraccedilatildeo e Integraccedilatildeo
6
OFPRA ndash Escritoacuterio Francecircs de Proteccedilatildeo dos Refugiados e Apaacutetridas
OMI ou IMO ndash Organizaccedilatildeo Mariacutetima Internacional
ONG ndash Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental
ONU - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas
OSCE ndash Organizaccedilatildeo para Seguranccedila e Cooperaccedilatildeo na Europa
OUA ndash Organizaccedilatildeo da Unidade Africana
SAR ndash Convenccedilatildeo de Busca e Salvamento no Mar (Search and Rescue)
SECA ndash Sistema Europeu Comum de Asilo
SEF ndash Serviccedilo de Estrangeiros e Fronteiras
SOLAS ndash Convenccedilatildeo Internacional para a Salvaguarda da Vida Humana no Mar
SPRAR ndash Sistema de Proteccedilatildeo para o Requerente de Asilo e Refugiado
TEDH ndash Tribunal Europeu de Direitos Humanos
TFUE ndash Tratado de Funcionamento da Uniatildeo Europeia
TUE ndash Tratado da Uniatildeo Europeia
UE ndash Uniatildeo Europeia
UNCLOS ou CNUDM - Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar
ZEE ndash Zona Econocircmica Exclusiva
7
IacuteNDICE
INTRODUCcedilAtildeO09
CAPIacuteTULO 1 ndash A Proteccedilatildeo Internacional dos Refugiados e o Princiacutepio do Non-
Refoulement11
11 Aspectos Gerais11
12 Convenccedilatildeo de 1951 e o Protocolo de 196714
121 Conceito de Refugiado14
122 Pontos Importantes Relativos agrave Proteccedilatildeo Internacional15
a) Entrada Ilegal16
b) Pertencimento a um Grupo Social Especiacutefico18
c) Solicitaccedilotildees de Refuacutegio com Base na Religiatildeo19
d) Fuga Interna ou Alternativa do Deslocamento20
e) Aplicaccedilatildeo das Claacuteusulas de Exclusatildeo22
f) Cessaccedilatildeo da Condiccedilatildeo de Refugiado27
g) Unidade Familiar29
h) Responsabilidade de Supervisatildeo da ACNUR30
13 O Princiacutepio Non-Refoulement como Norma Jus Cogens e a Responsabilidade do
Estado por Atos Iliacutecitos30
131 Princiacutepio de Non-Refoulement31
132 Normas Jus Cogens35
133 Responsabilidade Internacional dos Estados38
134 Teorias a Respeito da Responsabilidade Internacional dos Estado43
135 Imputabilidade dos Estados44
136 Violaccedilatildeo de Uma Obrigaccedilatildeo Internacional45
137 Princiacutepio Non-Refoulement como Norma Jus Cogens46
CAPIacuteTULO 2 ndash O Asilo na Ordem Juriacutedica Europeia e Nacionais49
21 O Asilo Aspectos Gerais49
211 O Asilo e a Soberania do Estado52
22 A Instituiccedilatildeo de Asilo no Continente Europeu54
221 Principais Documentos Sobre o Asilo na Ordem Juriacutedica
Europeia57
8
23 Ordens Juriacutedicas Nacionais Itaacutelia Portugal Greacutecia Malta Espanha Franccedila e
Alemanha69
231 Itaacutelia69
232 Portugal73
233 Greacutecia75
234 Malta78
235 Espanha81
236 Franccedila84
237 Alemanha85
CAPIacuteTULO 3 - Direito Internacional e Europeu do Mar Busca e Resgate dos
Refugiados em Perigo e o Dever de Assistecircncia89
31 Breves Consideraccedilotildees a Respeito do Direito Internacional do Mar89
32 O Direito do Mar e a Proteccedilatildeo Internacional do Indiviacuteduo93
321 O Direito do Mar e os Direitos Humanos97
322 O Princiacutepio da Natildeo-Repulsatildeo e os Migrantes em Perigo no Mar99
323 A Busca e Salvamento no Mar e o Dever de Assistecircncia108
CAPIacuteTULO 4 - Casos de Violaccedilatildeo do Artigo 3ordm da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos
Humanos e o Princiacutepio da Natildeo-repulsatildeo121
41 Contexto Faacutetico122
411 Caso Hirsi Jamaa e Outros versus Itaacutelia123
412 Caso Khlaifia e Outros versus Itaacutelia125
413 Caso Abdi Mahamud versus Malta129
414 Caso Sharifi versus Aacuteustria131
415 Caso Vos Thalassa134
416 Caso Asso 28137
42 Alguns Apontamentos a Respeito dos Casos Apresentados140
CONCLUSAtildeO143
BIBLIOGRAFIA151
JURISPRUDEcircNCIAS157
LEGISLACcedilAtildeO CONSULTADA158
9
INTRODUCcedilAtildeO
Os fluxos migratoacuterios natildeo satildeo acontecimentos recentes existindo portanto desde os
primoacuterdios da humanidade assim o que muda satildeo os motivos que levam as pessoas a saiacuterem
do seu local de origem No entanto nas uacuteltimas deacutecadas o fenocircmeno da migraccedilatildeo tem se
intensificado principalmente apoacutes 2011 com a Primavera Aacuterabe em que eclodiram muitas
revoltas contra os governos autoritaacuterios no Oriente Meacutedio e paiacuteses africanos sobretudo no
norte da Aacutefrica Por este motivo para um estudo da atual situaccedilatildeo eacute importante a pesquisa
no acircmbito do direito internacional dos refugiados bem como dos direitos humanos
Nesse sentido a Europa tem sido um dos principais destinos desses migrantes e os
paiacuteses mais afetados tecircm adotado medidas para limitar esse fluxo muitos satildeo os meios que
as pessoas se sujeitam a enfrentar para migrarem inclusive pelo mar se aventurando em
embarcaccedilotildees precaacuterias arriscando suas vidas com o fim de fugir de algum tipo de
perseguiccedilatildeo Assim o objetivo do presente trabalho eacute fazer uma anaacutelise teoacuterica sobre a
proteccedilatildeo internacional dos refugiados direito de asilo e o direito de busca e salvamento dos
migrantes no mar juntamente com uma breve anaacutelise jurisprudencial do Tribunal Europeu
dos Direitos Humanos e apresentaccedilatildeo de outros casos natildeo analisados pelo mencionado
Tribunal
Dessa forma no primeiro capiacutetulo faz-se uma abordagem da proteccedilatildeo internacional
dos direitos humanos explicandos alguns dos assuntos mais importantes ao que se refere ao
direito dos refugiados como a Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 bem como o Protocolo de
1967 passando pelo conceito de refugiado e alguns pontos importantes como entrada ilegal
fuga interna claacuteusulas de exclusatildeo cessaccedilatildeo da condiccedilatildeo de refugiado perseguiccedilatildeo por
pertencer algum grupo social por seguir determinada religiatildeo unidade familiar etc aleacutem
disso traz-se a ideia do Princiacutepio do Non-Refoulement (tambeacutem citado neste trabalho como
Princiacutepio da Natildeo-Repulsatildeo) como jus cogens e a responsabilidade do Estado
No segundo capiacutetulo discorre-se sobre o tema do asilo na ordem juriacutedica europeia e
nacional de alguns paiacuteses europeus (os mais afetados pelo fenocircmeno migratoacuterio) Dessa
forma traz-se para anaacutelise os principais documentos europeus como Tratado de Lisboa
Tratado de Funcionamento da Uniatildeo Europeia Acordo Schengen Convenccedilatildeo de Dublin
Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos e algumas diretivas a respeito do tema Aleacutem
10
disso traz-se a questatildeo do asilo nos paiacuteses Itaacutelia Portugal Greacutecia Malta Espanha Franccedila
e Alemanha
Jaacute no terceiro capiacutetulo o foco eacute o direito internacional e europeu do mar no que se
refere agrave busca e resgate dos refugiados bem como o dever de assistecircncia Assim em um
primeiro momento faz-se algumas breves consideraccedilotildees a respeito do direito do mar
explicando brevemente as zonas mariacutetimas posteriormente a relaccedilatildeo do direito do mar com
a proteccedilatildeo internacional do indiviacuteduo passando pelos direitos humanos e princiacutepio da natildeo-
repulsatildeo no direito do mar chegando no direito de busca e salvamento e o dever de
assistecircncia Todos esses pontos tendo como base principalmente as Convenccedilotildees
UNCLOS SOLAS e SAR
Por fim o quarto capiacutetulo traz quatro decisotildees do Tribunal Europeu dos Direitos
Humanos e dois outros casos sem anaacutelise do referido Tribunal para exemplificar todo o
exposto nos demais capiacutetulos Assim o intuito eacute demonstrar qual a posiccedilatildeo do TEDH e se
as decisotildees estatildeo sendo suficientes para inibir a violaccedilatildeo do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo dos
migrantes resgatados no mar
Para a elaboraccedilatildeo do presente trabalho foi utilizado o meacutetodo dedutivo sendo
realizadas teacutecnicas de pesquisa bibliograacutefica com consultas em livros revistas eletrocircnicas
legislaccedilatildeo sendo utilizada a pesquisa jurisprudencial realizada no respectivo trabalho aleacutem
de outros documentos uacuteteis para a anaacutelise proposta no presente trabalho Os casos escolhidos
no uacuteltimo capiacutetulo foram escolhidos por amostragem e por serem pertinentes ao tema
11
CAPIacuteTULO 1
A PROTECcedilAtildeO INTERNACIONAL DOS REFUGIADOS E O PRINCIacutePIO DO
NON-REFOULEMENT
Apesar do fenocircmeno migratoacuterio existir haacute muito tempo tem-se que nas uacuteltimas
deacutecadas este assunto tem se tornado preocupaccedilatildeo mundial trazendo agrave tona a proteccedilatildeo
internacional dos refugiados principalmente na Europa que tem recebido um grande
contingente de refugiados Assim destaca-se os aspectos do mencionado fenocircmeno
humanitaacuterio e social que consiste na proteccedilatildeo de pessoas que fogem de seus paiacuteses em busca
de um lugar seguro para si e para sua famiacutelia bem como o aspecto diplomaacutetico-poliacutetico
pois as pessoas ao ingressarem em outros paiacuteses em busca de estabelecer residecircncia entram
de forma ilegal ferindo a soberania dos Estados Dessa forma faz com que os paiacuteses de
destino elaborem medidas limitativas de tal fenocircmeno (de forma interna) que tambeacutem
atuam como forma de controlar as tensotildees que porventura acabam surgindo1
11 Aspectos gerais
Nas uacuteltimas sete deacutecadas a situaccedilatildeo dos refugiados tem mudado consideravelmente
isso se deve ao surgimento do Alto Comissariado das Naccedilotildees Unidas para os Refugiados
(ACNUR - UNHCR) e tambeacutem da Convenccedilatildeo Relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951
O regime de proteccedilatildeo internacional dos direitos humanos vem sendo construiacutedo desde a
Segunda Guerra Mundial e atualmente consiste em um sistema complexo de proteccedilatildeo agraves
pessoas que satildeo obrigadas a saiacuterem de seus paiacuteses de forma forccedilada tendo por base a
mencionada convenccedilatildeo e o Protocolo de 1967 relativo ao Estatuto dos Refugiados Mas se
reconhece que haacute muito que se melhorar nesse ldquosistema complexordquo tendo em vista a
existecircncia de lacunas que favorecem a natildeo aplicaccedilatildeo do previsto na Convenccedilatildeo dificultando
as questotildees de asilo2
Os dois diplomas mencionados acima segundo Nicholson e Turk satildeo ldquothe modern
legal embodiment of the ancient and universal tradition of providing sanctuary to those at
1 CIERCO Teresa A Instituiccedilatildeo de Asilo na Uniatildeo Europeia Almedina Coimbra 2010 2 FELLER Erika Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos Global Consultations on International
Protection Prefaacutecio Cambridge Cambridge 2003
12
risk and in dangerrdquo3 consistem na personificaccedilatildeo juriacutedica da tradiccedilatildeo mundial de proteger
as pessoas que estatildeo em perigo Portanto consistem nos principais e uacutenicos documentos em
niacutevel mundial que tratam do assunto ldquorefugiadosrdquo
A crise migratoacuteria atual eacute considerada pela ONU a maior deste seacuteculo e de acordo
com dados ateacute o momento soacute perde para a crise migratoacuteria ocorrida durante a Segunda
Guerra Mundial4 As pessoas saem dos seus paiacuteses por motivos de perseguiccedilatildeo e ofensas
aos direitos humanos em busca de uma vida melhor em outros paiacuteses Diversos satildeo os paiacuteses
que geram refugiados como por exemplo Siacuteria (paiacutes que mais gerou refugiados) paiacuteses da
Aacutefrica Subsaariana5 e atualmente a Liacutebia (paiacutes no qual muitos refugiados buscaram ajuda
mas acabaram sendo aprisionados e submetidos a tratamentos degradantes e torturas)
A situaccedilatildeo atual na Liacutebia merece atenccedilatildeo e preocupa paiacuteses europeus sobretudo a
Itaacutelia O caos no mencionado paiacutes africano comeccedilou apoacutes a queda de Muamar Kadafi
iniciando-se uma nova guerra civil assim as autoridades do paiacutes perderam a sede do
governo em Triacutepoli passando a governar a partir de quartos de hoteacuteis e casas alugadas na
cidade de Bayda tendo em vista que parte da Liacutebia estava sob o domiacutenio de miliacutecias eacutetnicas
e coalizatildeo islamita6
Diante de tal cenaacuterio muitas pessoas foram capturadas vendidas como escravos e
torturadas O Estado Islacircmico publicou um viacutedeo executando 21 egiacutepcios em uma praia do
Mar Mediterracircneo e manifestou interesse em conquistar Roma fato que deixou a Itaacutelia em
alerta poreacutem a questatildeo da Liacutebia natildeo se trata de uma preocupaccedilatildeo apenas para as autoridades
italianas mas tambeacutem para toda Europa7
Assim apoacutes a Segunda Guerra Mundial notou-se a importacircncia da proteccedilatildeo
internacional dos refugiados situaccedilatildeo que culminou na elaboraccedilatildeo da Convenccedilatildeo de 1951
mas muito tempo passou e a relevacircncia da referida proteccedilatildeo internacional continua os fatos
mudaram poreacutem a proteccedilatildeo dos refugiados a niacutevel internacional eacute de suma importacircncia para
3 NICHOLSON Frances TURK Volker Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos Global
Consultations on International Protection Part 1 Refugee Protection in International Law an overall
perspective Cambridge Cambridge 2003 4 MARS Amanda ONU alerta que o mundo vive a pior crise humanitaacuteria em 70 anos 2017 In El Paiacutes Brasil
Disponiacutevel em httpsbrasilelpaiscombrasil20170311internacional1489186916_587899html Acesso
em 03012020 5 ACNUR Refugiados Disponiacutevel em httpswwwacnurorgportuguesquem-ajudamosrefugiados Acesso
em 03012020 6 NATIONAL POST National Post View Stabilizing Libya may be the best way to keep Europe safe
Disponiacutevel em httpsnationalpostcomopinionnational-post-view-stabilizing-libya-may-be-the-best-way-
to-keep-europe-safe Acesso em 06012020 7Ibidem
13
promover a dignidade humana princiacutepio base de grande parte dos ordenamentos juriacutedicos
no mundo8
Apoacutes o teacutermino da Guerra Fria surgiram vaacuterios conflitos como na ex-Iugoslaacutevia
Caacuteucaso Grandes Lagos e Afeganistatildeo tais conflitos forccedilaram a fuga de pessoas e tal ecircxodo
se deve agraves perseguiccedilotildees de diversas motivaccedilotildees (poliacutetica religiosa eacutetnica etc) sendo assim
estas pessoas podem ser enquadradas no conceito de ldquorefugiadordquo presente na Convenccedilatildeo de
1951 que veremos adiante9
Eacute bem verdade que a comunidade internacional deve zelar pela proteccedilatildeo
internacional dos refugiados mas ressalta-se que o deslocamento de milhares de refugiados
a um determinado Estado pode trazer problemas nas situaccedilotildees de concessatildeo de asilo Assim
alguns paiacuteses na Europa estatildeo sofrendo com excesso de refugiados como Itaacutelia Alemanha e
Franccedila
A partir de situaccedilotildees de excessos como mencionado acima surge o desafio de
compartilhar responsabilidades ou seja natildeo apenas um ou poucos paiacuteses a ter que arcar com
todos os ocircnus dos refugiados Portanto deve haver medidas para que haja uma distribuiccedilatildeo
dos ocircnus referentes aos refugiados10 Situaccedilatildeo essa que a Convenccedilatildeo de Dublin (juntamente
com suas duas reformas) tentou resolver no entanto ainda haacute falhas e a proposta de um
novo pacto foi apresentada como seraacute visto no decorrer deste trabalho
Nos paiacuteses que estatildeo sobrecarregados com as ldquoobrigaccedilotildeesrdquo referentes aos refugiados
comeccedilou a aumentar a xenofobia e intoleracircncia aos estrangeiros Isso se deve por diversos
motivos como por exemplo o receio de que o excesso de refugiados pode por ventura
tentar impor sua cultura no novo paiacutes ou paiacutes de asilo como acontece em alguns bairros do
subuacuterbio de Paris em que mulheres natildeo satildeo bem-vindas em cafeacutes (situaccedilatildeo ldquojustificadardquo
pela submissatildeo da mulher na cultura islacircmica)11 e tambeacutem devido ao fato de muitos
refugiados serem de origem islacircmica tambeacutem haacute o temor de atentados terroristas
principalmente apoacutes os atentados nos Estados Unidos em que houve uma maior
preocupaccedilatildeo de analisar com mais atenccedilatildeo o previsto na Convenccedilatildeo de 195112
8 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 9 Ibidem 10 Ibidem 11 FRANCE 24 English Focus Women made to keep low profile in some French suburbs Disponiacutevel em
httpswwwyoutubecomwatchv=6gZFGpNdH1A Acesso em08012020 12 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit
14
12 Convenccedilatildeo de 1951 e o Protocolo de 1967
A Convenccedilatildeo de 1951 e o Protocolo de 1967 satildeo documentos de proteccedilatildeo
internacional dos refugiados portanto tecircm abrangecircncia mundial Assim neles constam os
princiacutepios baacutesicos a respeito do assunto devendo ser a base do regime de proteccedilatildeo aos
refugiados nos demais ordenamentos juriacutedicos
O Protocolo de 1967 serviu para complementar a Convenccedilatildeo de 1951 como consta
expressamente que o conceito de refugiado deveria ser ampliado conforme consta no artigo
1ordm paraacutegrafo 2ordm do documento13
Um dos maiores desafios do Alto Comissariado da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas
para os Refugiados (ACNUR) eacute de zelar pelo cumprimento destes documentos e para isto
eacute necessaacuterio que a comunidade internacional se una em prol da proteccedilatildeo internacional dos
refugiados14
121 Conceito de Refugiado
O conceito de refugiado que consta na Convenccedilatildeo de 1951 no artigo 1ordm item 2
refugiado eacute aquela pessoa que
() temendo ser perseguida por motivos de raccedila religiatildeo nacionalidade grupo
social ou opiniotildees poliacuteticas se encontra fora do paiacutes de sua nacionalidade e que
natildeo pode ou em virtude desse temor natildeo quer valer-se da proteccedilatildeo desse paiacutes ou
que se natildeo tem nacionalidade e se encontra fora do paiacutes no qual tinha sua
residecircncia habitual em consequumlecircncia de tais acontecimentos natildeo pode ou devido
ao referido temor natildeo quer voltar a ele15
Os refugiados consistem em uma categoria de pessoas que fogem de seus paiacuteses por
temer perseguiccedilatildeo por motivos de raccedila religiatildeo nacionalidade grupo social ou opiniotildees
poliacuteticas assim se encontram fora do paiacutes de sua nacionalidade e que natildeo podem ou em
virtude desse temor natildeo quer valer-se mais da proteccedilatildeo do seu paiacutes de origem ou natal
13 ACNUR PROTOCOLO DE 1967 Relativo ao Estatuto dos Refugiados Disponiacutevel
httpswwwacnurorgfileadminDocumentosportuguesBD_LegalInstrumentos_InternacionaisProtocolo_
de_1967pdf Acesso em 05032020 14 Ibidem 15 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951
Disponiacutevel em
httpswwwacnurorgfileadminDocumentosportuguesBDLConvencao_relativa_ao_Estatuto_dos_Refugi
adospdf Acesso em 03012020
15
portanto passam a vincular ao ordenamento juriacutedico do paiacutes de asilo submetidos agrave
legislaccedilatildeo desse novo paiacutes assim como estatildeo sujeitos os cidadatildeos presentes no territoacuterio do
paiacutes que os acolheu isto eacute em casos de ofensas agrave lei e agrave ordem puacuteblica no paiacutes de asilo os
refugiados estatildeo sujeitos agraves leis domeacutesticas16
A Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo de Unidade Africana de 1969 em seu artigo I nordm 2
traz a seguinte conceituaccedilatildeo de refugiado
() qualquer pessoa que devido a uma agressatildeo ocupaccedilatildeo externa dominaccedilatildeo
estrangeira ou a acontecimentos que perturbem gravemente a ordem puacuteblica numa
parte ou na totalidade do seu pais de origem ou do pais de que tem nacionalidade
seja obrigada a deixar o lugar da residecircncia habitual para procurar refuacutegio noutro
lugar fora do seu paiacutes de origem ou de sua nacionalidade17
Assim o conceito de refugiado eacute amplo pois engloba vaacuterios fatores como raccedila
religiatildeo nacionalidade grupo social e opiniatildeo poliacutetica A perseguiccedilatildeo presente no citado
dispositivo natildeo se refere somente agraves questotildees individuais como tambeacutem agraves questotildees
coletivas isto eacute ldquoacontecimentos de natureza geral que envolve toda uma comunidaderdquo18
Portanto deve-se analisar caso a caso para que natildeo sejam cometidas injusticcedilas
Poreacutem natildeo se deve confundir os conceitos de migrante econocircmico com o de
refugiado propriamente dito Assim o migrante econocircmico deixa seu paiacutes fugindo da
pobreza e situaccedilatildeo de miseacuteria enquanto o refugiado abandona seu paiacutes sua famiacutelia fugindo
de perseguiccedilatildeo e risco de morte Aleacutem disso o migrante econocircmico normalmente planeja
para onde ir agraves vezes jaacute possui algum viacutenculo no paiacutes de destino o refugiado natildeo possui
dinheiro natildeo sabe para qual paiacutes ir (apenas quer sair do lugar onde sua vida corre risco) natildeo
sabe a liacutengua e nem a cultura do paiacutes tendo que aprender a viver novamente19
122 Pontos Importantes Relativos agrave Proteccedilatildeo Internacional
Sabe-se da importacircncia dos pontos relativos agrave perseguiccedilatildeo baseada no gecircnero
requerimento de refuacutegio solicitado por crianccedilas ou com base na orientaccedilatildeo sexual embora
16 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 17 ORGANIZACcedilAtildeO DE UNIDADE AFRICANA Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo de Unidade Africana que Rege
os Aspectos Especiacuteficos dos Problemas dos Refugiados em Aacutefrica Disponiacutevel em
httpwwwdhnetorgbrdireitossipafricaouahtm Acesso em 17012020 18 CIERCO Teresa A Instituiccedilatildeo de Asilo na Uniatildeo Europeia Almedina Coimbra 2010 p 59 19 Ibidem
16
esse tema especiacutefico natildeo tenha sido abordado neste trabalho por ser especiacutefico e natildeo
pertencer ao tema central do trabalho No que tange agrave religiatildeo e grupos especiacuteficos fez-se
uma abordagem geral por constarem no conceito de refugiados no artigo 1ordm da Convenccedilatildeo
de 1951
Alguns desses pontos importantes possuem diretrizes publicadas pelo ACNUR que
foram elaboradas em uma mesa redonda juntamente com Church World Service em 2002
nos Estados Unidos20 No entanto devido a importacircncia do princiacutepio do non-refoulement
(natildeo-repulsatildeo) este seraacute desenvolvido no final do presente capiacutetulo
a) Entrada ilegal
Um ponto importante a se analisar no que tange agrave proteccedilatildeo internacional dos
refugiados eacute a entrada ilegal disciplinada no artigo 31 da Convenccedilatildeo de 1951 ou seja os
refugiados que chegarem a determinado paiacutes sem autorizaccedilatildeo natildeo devem ser penalizados
caso estejam fugindo de situaccedilatildeo em que a vida esteja ameaccedilada para isto eles devem se
apresentar o mais raacutepido possiacutevel para as autoridades demonstrando assim boa-feacute em sua
entrada ilegal21
A este respeito tem-se que os indiviacuteduos que entram ilegalmente em algum paiacutes e
requerem asilo possuem a presunccedilatildeo desse direito ateacute que se demonstre a natildeo necessidade
de proteccedilatildeo internacional atraveacutes do devido processo legal o nuacutemero 2 do artigo 31 dispotildee
que os Estados devem aplicar apenas as restriccedilotildees ldquonecessaacuteriasrdquo ateacute a regularizaccedilatildeo do
refugiado ressalta-se que sempre deve haver respeito aos direitos humanos22
No que se refere agrave regularizaccedilatildeo do refugiado entende-se que nos casos de entrada
ilegal o indiviacuteduo deve se apresentar o mais raacutepido possiacutevel para as autoridades os Estados
devem aguardar a regularizaccedilatildeo do refugiado seja no paiacutes em que estaacute ou em outro paiacutes que
o tenha admitido23
20 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Disponiacutevel em httpswwwacnurorgportugueswp-
contentuploads201802Manual_de_procedimentos_e_critC3A9rios_para_a_determinaC3A7C3
A3o_da_condiC3A7C3A3o_de_refugiadopdf Acesso em 16012020 21 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 22 Ibidem 23 GOODWIN-GILL Guy S Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos Global Consultations on
International Protection Part 3 Article 31 of the 1951 Convention Relating to the Status of Refugees non-
penalization detention and protection Cambridge Cambridge 2003
17
Poreacutem mesmo com a existecircncia do artigo 31 da Convenccedilatildeo muitos dos indiviacuteduos
que entram ilegalmente nos paiacuteses satildeo encaminhados para centros de detenccedilatildeo (na Europa
Ameacuterica do Norte e Austraacutelia) Alguns paiacuteses como a Aacuteustria Beacutelgica Alemanha e Franccedila
possuem centros especiais de detenccedilatildeo para aprisionar indiviacuteduos relativos agrave imigraccedilatildeo que
em muitos casos natildeo haacute periacuteodos preacute-fixados nessas prisotildees mas devido agrave alta demanda
surge outro problema muitos indiviacuteduos satildeo aprisionados em centros de detenccedilatildeo comum
sem separaccedilatildeo com os presos comuns (condenados por crimes)24
Neste cenaacuterio nota-se que natildeo eacute razoaacutevel aplicar a penalidade de detenccedilatildeo ao
indiviacuteduo que natildeo cometeu crime algum mas apenas fugiu de algum lugar no qual sua vida
estava em risco Poreacutem cada paiacutes tem sua legislaccedilatildeo a respeito da entrada ilegal e possui o
poder de soberania de controlar o fluxo de entrada e saiacuteda do paiacutes bem como a fixaccedilatildeo de
residecircncia nesse sentido a jurisprudecircncia do Tribunal Europeu de Direitos Humanos diz
que apesar deste poder soberano deve-se respeitar o que estaacute previsto na Convenccedilatildeo
Portanto a detenccedilatildeo provisoacuteria eacute permitida quando se faz necessaacuterio alguma investigaccedilatildeo
preliminar poreacutem a detenccedilatildeo administrativa eacute permitida nos termos do que estaacute previsto no
artigo 31 nordm 2 da Convenccedilatildeo de 1951 ou seja somente as restriccedilotildees necessaacuterias podem ser
impostas aos requerentes de asilo dentre estas pode incluir a prisatildeo administrativa em alguns
casos Ressalta-se que apesar do indiviacuteduo estar detido natildeo se deve privaacute-lo da possibilidade
de requerer asilo e portanto de obter o status de refugiado25
Neste aspecto percebemos uma controveacutersia pois o artigo 14 da Declaraccedilatildeo
Universal dos Direitos Humanos dispotildee sobre a requisiccedilatildeo de asilo de que eacute um direito de
todos que sofrem algum tipo de perseguiccedilatildeo aleacutem disso o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo faz
com que os Estados natildeo rejeitem os refugiados devolvendo-os para locais onde suas vidas
correm risco Poreacutem a controveacutersia estaacute na situaccedilatildeo de que muitas vezes satildeo impostas
restriccedilotildees de liberdade aos requerentes de asilo Defende-se portanto que deve haver
alguma razoabilidade para justificar a restriccedilatildeo de liberdade26
24 GOODWIN-GILL Guy S Op cit 25 Ibidem 26 Ibidem
18
b) Pertencimento a um grupo social especiacutefico
No artigo 1ordm da Convenccedilatildeo de 1951 conforme citado acima consta a expressatildeo
ldquogrupo socialrdquo pela qual o conceito descreve a situaccedilatildeo de ser perseguido por pertencer
algum ldquogrupo socialrdquo Nesse sentido o assunto eacute abordado na Diretriz Sobre a Proteccedilatildeo
Internacional nordm227 Ao questionar o que seria tal expressatildeo ldquogrupo socialrdquo analisa-se se se
aquele grupo possui caracteriacutesticas distintas sendo estas imutaacuteveis ou inerentes agrave dignidade
humana que dificilmente se consegue separar o indiviacuteduo dessa caracteriacutestica28
Nesse sentido pode-se entender o conceito a partir da ideia de ldquocaracteriacutesticas
protegidasrdquo ou seja nesta ideia uma caracteriacutestica considerada imutaacutevel consiste em
criteacuterios de sexo e etnia por exemplo e tambeacutem em situaccedilotildees nas quais as caracteriacutesticas
satildeo inalteraacuteveis por diversos motivos (sendo intriacutenseca agrave dignidade humana) como por
exemplo fatos histoacutericos ou status passado Tal ideia eacute comumente adotada no Canadaacute
Estados Unidos e Reino Unido29
Entatildeo ao se abordar o aspecto de ldquogrupo socialrdquo a partir de uma ldquopercepccedilatildeo socialrdquo
conceitua que um grupo social pode se diferenciar da sociedade em geral a partir de uma
caracteriacutestica que diferencia seus indiviacuteduos de toda a sociedade Este entendimento eacute
adotado pela jurisprudecircncia australiana30
Tais abordagens podem gerar conflitos pois podem convergir fazendo com que as
pessoas que satildeo diferenciadas a partir de uma caracteriacutestica imutaacutevel ou fundamental
(intriacutenseca) podem tambeacutem serem diferenciadas por caracteriacutesticas que os distinguem do
resto da sociedade Portanto podem surgir lacunas no que tange a proteccedilatildeo quando
analisadas isoladamente31
Este aspecto tem sido muito utilizado para enquadrar as pessoas requerentes de asilo
assim os Estados entendem como grupos especiacuteficos homossexuais famiacutelias tribos grupos
profissionais com base no previsto na Convenccedilatildeo de 1951 Portanto tal ideia aprofunda o
conceito de refugiado32
27 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit p 91 28 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 29 Ibidem 30 Ibidem 31 Ibidem 32 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit p 91
19
Entretanto natildeo se pode amplificar demasiadamente tal ideia isto eacute natildeo se aplica em
todo e qualquer caso poreacutem a ideia de pertencer a um grupo social especiacutefico deve ser
entendida de forma evolutiva com base nas sociedades e nas normas internacionais de
direitos humanos33
c) Solicitaccedilotildees de Refuacutegio com base na Religiatildeo
Antes de adentrar na situaccedilatildeo de solicitaccedilatildeo de refuacutegio em razatildeo da religiatildeo precisa-
se primeiro entender no que consiste o termo ldquoreligiatildeordquo Sendo assim a Convenccedilatildeo de 1951
apesar de trazer no conceito de refugiado a religiatildeo como uma das motivaccedilotildees de
perseguiccedilotildees natildeo trouxe o conceito de religiatildeo Portanto entende-se de forma interpretativa
a definiccedilatildeo de religiatildeo como sendo a liberdade de pensamento consciecircncia e credo dessa
forma o conceito engloba tambeacutem a possibilidade de natildeo possuir religiatildeo ou natildeo adotar
nenhuma crenccedila relacionada agrave religiatildeo34
Nesse sentido a Diretriz Sobre Proteccedilatildeo Internacional nordm6 dispotildee sobre a utilidade
dos artigos 18 da Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos (DUDH) e dos artigos 18 e
27 do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Poliacuteticos bem como outros documentos
internacionais que norteiam o entendimento do termo ldquoreligiatildeordquo na conjuntura do Direito
Internacional dos Refugiados35
Portanto em razatildeo do explicado acima requisiccedilotildees de refuacutegio baseadas em religiatildeo
satildeo situaccedilotildees complicadas pois os agentes que analisam a situaccedilatildeo de cada indiviacuteduo nem
sempre aplicam de forma correta a definiccedilatildeo de religiatildeo Ressalta-se que de acordo com o
Direito Internacional dos Direitos Humanos a liberdade religiosa de pensamento e
consciecircncia satildeo considerados direitos fundamentais36
Dessa forma ao requerer refuacutegio os indiviacuteduos podem se basear nos seguintes
elementos relativos agrave religiatildeo crenccedila ou descrenccedila identidade e estilo de vida Assim a
religiatildeo referente agrave ldquocrenccedilardquo inclui tanto as pessoas que acreditam em alguma divindade
quanto aos que natildeo acreditam quanto agrave ldquoidentidaderdquo refere pertencer a uma religiatildeo no
33 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit p 91 34 Ibidem 35 Ibidem 36 Ibidem
20
sentido de uma comunidade de pessoas que acreditam nas mesmas ideias e por fim quanto
ldquoestilo de vidardquo consiste em situaccedilotildees em que a religiatildeo pode se manifestar de diversas
formas como por exemplo o uso de vestimentas e praacuteticas especiacuteficas 37
O indiviacuteduo pode sofrer perseguiccedilatildeo religiosa de vaacuterias maneiras como a proibiccedilatildeo
de se filiar a alguma comunidade religiosa ou impor medidas discriminatoacuterias pelo motivo
da religiatildeo Tal situaccedilatildeo eacute mais comumente observada em paiacuteses que haacute uma religiatildeo que
predomina ou que haja uma estreita relaccedilatildeo entre Estado e religiatildeo assim uma pessoa que
natildeo segue a religiatildeo dominante por vezes acaba sofrendo algum tipo de perseguiccedilatildeo38
d) Fuga Interna ou alternativa do deslocamento
Um ponto muito discutido a respeito do Direito dos Refugiados eacute sobre a fuga interna
ou alternativa do deslocamento (assunto abordado na Diretriz Sobre Proteccedilatildeo Internacional
nordm 439) pois tal conceito consiste na ideia daquele indiviacuteduo que sofre algum tipo de
perseguiccedilatildeo poder buscar refuacutegio dentro do seu paiacutes de origem Mas de acordo com o Direito
Internacional natildeo eacute necessaacuterio que sejam esgotados os recursos no paiacutes de origem portanto
natildeo se exige que o refuacutegio seja o uacuteltimo recurso40
Nesse sentido na deacutecada de 1980 alguns paiacuteses concedentes de asilo utilizavam esse
conceito como motivo para negar asilo poreacutem natildeo consta nada de forma expressa na
Convenccedilatildeo de 1951 Assim entende-se que a melhor opccedilatildeo nesse aspecto eacute analisar caso a
caso41 Assim sugere-se uma situaccedilatildeo de anaacutelise em duas etapas o risco de perseguiccedilatildeo (por
motivos previstos na Convenccedilatildeo de 1951) em alguma aacuterea do paiacutes de origem e depois analisa
a possibilidade do requerente de asilo ser protegido pelo paiacutes de origem42
Como vimos na definiccedilatildeo de refugiado consta os termos ldquotemendo ser perseguidardquo
e ldquonatildeo pode ou em virtude desse temor natildeo quer valer-se da proteccedilatildeo desse paiacutesrdquo tais
expressotildees devem ser entendidas juntamente com o conceito da alternativa de fuga ou
37 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit 38 Ibidem 39 Ibidem p 107 40 Ibidem 41 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 42 FOSTER Michelle HATHAWAY James C Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos Global
Consultations on International Protection Part 6 Internal ProtectionRelocationFlight Alternative
Cambridge Cambridge 2003
21
deslocamento interno Ressalta-se que natildeo satildeo conceitos contraditoacuterios poreacutem a relaccedilatildeo
entre esses conceitos deve-se analisar os casos separadamente Na anaacutelise individual de cada
caso como mencionado acima dois aspectos devem ser levados em consideraccedilatildeo
relevacircncia e razoabilidade 43
Ao se analisar a relevacircncia deve-se ter em mente se a aacuterea na qual propotildeem o
deslocamento se tal accedilatildeo eacute acessiacutevel facilmente de forma segura e que natildeo infrinja normas
quem eacute o agente perseguidor pois se for o Estado este iraacute perseguir o indiviacuteduo em todo o
territoacuterio ou caso o agente natildeo seja o Estado se haacute a possibilidade deste agente perseguidor
acessar as aacutereas de fuga ou deslocamento interno e se apoacutes o deslocamento haver a
possibilidade de o indiviacuteduo continuar a ser perseguido ou sofrer algum outro dano grave44
No que tange a razoabilidade a anaacutelise eacute mais simples ou seja analisa-se a
possibilidade do indiviacuteduo conseguir ter uma vida digna sem perseguiccedilotildees Essa anaacutelise
deve ser tanto objetiva quanto subjetiva isto eacute considerar o indiviacuteduo e as condiccedilotildees de fuga
ou deslocamento Os criteacuterios a serem analisados satildeo caracteriacutesticas pessoais (analisam-se
fatores como a idade sexo a famiacutelia se possui alguma deficiecircncia escolaridade situaccedilotildees
de vulnerabilidade etc) perseguiccedilatildeo preteacuterita (consiste no indiviacuteduo possuir algum trauma
ocasionado por perseguiccedilotildees no passado) proteccedilatildeo e seguranccedila respeito aos direitos
humanos e subsistecircncia econocircmica45
Entende-se portanto que natildeo se deve justificar a negaccedilatildeo da condiccedilatildeo de refugiado
com base nos conceitos de alternativa de fuga ou deslocamento interno tendo em vista os
princiacutepios dos direitos humanos que zelam pela proteccedilatildeo internacional Dessa forma as
pessoas tecircm o direito de saiacuterem dos seus paiacuteses buscando uma vida mais segura longe de
situaccedilotildees que podem colocar a vida em perigo46
Nesse sentido vimos anteriormente que na Convenccedilatildeo da OUA parte do conceito de
refugiados traz a seguinte expressatildeo relacionando a acontecimentos que ldquoperturbem
gravemente a ordem puacuteblica numa parte ou na totalidade do seu paiacutes de origem ou do paiacutes
de que tem nacionalidaderdquo assim depreende-se que natildeo eacute necessaacuterio que todo o paiacutes esteja
em crise para que uma pessoa possa requerer refuacutegio em outro paiacutes47
43 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit 44 Ibidem 45 Ibidem 46 Ibidem 47 Ibidem
22
e) Aplicaccedilatildeo das Claacuteusulas de Exclusatildeo
A Convenccedilatildeo de 1951 no artigo 1- F traz as claacuteusulas de exclusatildeo isto eacute situaccedilotildees
em que o previsto no mencionado diploma natildeo deve ser aplicado Assim estas situaccedilotildees
referem-se agraves pessoas que
() cometeram um crime contra a paz um crime de guerra ou um crime contra a
humanidade no sentido dos instrumentos internacionais elaborados para prever
tais crimes
() cometeram um crime grave de direito comum fora do paiacutes de refuacutegio antes de
serem nele admitidas como refugiados
() se tornaram culpadas de atos contraacuterios aos fins e princiacutepios das Naccedilotildees
Unidas48
A respeito das disposiccedilotildees acima tem-se que o primeiro item (artigo 1F ldquoardquo) e o
uacuteltimo (artigo 1F ldquocrdquo) satildeo atemporais ou seja dizem respeito a crimes ocorridos em
qualquer tempo Contudo no artigo 1F ldquobrdquo referem-se a crimes cometidos em momento
anterior ao ser considerado refugiado e que tenham ocorrido em local fora do paiacutes de
refuacutegio49
Assim situaccedilotildees como abrigar os genocidas responsaacuteveis pelo massacre ocorrido em
Ruanda no ano de 1994 contraria o disposto na Convenccedilatildeo de 1951 pois natildeo seria justo
ajudar quem jaacute provocou muita dor e tristeza e tambeacutem contribuiu para fuga de muitas
pessoas para natildeo serem mortas em seus paiacuteses como o proacuteprio documento jaacute dispotildee alguns
atos satildeo de extrema gravidade que os autores de determinadas accedilotildees satildeo indignos de proteccedilatildeo
internacional e portanto tais pessoas devem enfrentar a justiccedila e pagarem pelos seus atos50
Os mencionados dispositivos tem a motivaccedilatildeo de excluir do conceito de refugiado
pessoas que praticaram crimes graves e assim natildeo deveriam ser protegidos pela Convenccedilatildeo
Nesse sentido natildeo se deveria portanto conceder asilo agrave pessoa perseguida por cometer um
crime poreacutem a interpretaccedilatildeo correta eacute a de que natildeo deve ser permitido o asilo para pessoas
que pedem a proteccedilatildeo com intuito de fugir da penalidade mas tambeacutem natildeo se pode admitir
que pessoa seja enviada para um local onde seus direitos humanos baacutesicos seratildeo violados
48 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951 Op
cit 49 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit 50 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit
23
uma alternativa para este caso eacute o cumprimento da penalidade dos seus atos em algum local
seguro onde teraacute sua dignidade respeitada
Portanto a aplicaccedilatildeo da exclusatildeo deve ser feita com muita cautela e de forma
extremamente restrita e priorizando sempre os direitos humanos devendo-se evitar
resultados graves ao excluir pessoas da proteccedilatildeo internacional Portanto passa-se a analisar
mais detalhadamente as situaccedilotildees de exclusatildeo
bull Crimes contra a paz crimes de guerra e crimes contra a humanidade
No que se refere a essa linha de crimes satildeo vaacuterios diplomas internacionais que
disciplinam o assunto quais sejam Convenccedilatildeo de 1948 sobre a Prevenccedilatildeo e Puniccedilatildeo do
Crime de Genociacutedio as Convenccedilotildees de Genebra de 1949 para a Proteccedilatildeo de Viacutetimas de
Guerra (junto com os Protocolos Adicionais de 1977) os Estatutos dos Tribunais Penais
Internacionais para a Ex-Iugoslaacutevia e Ruanda a Carta de Londres e o Estatuto de Roma (que
disciplina o Tribunal Penal Internacional sediado em Haia)51
Entre esses documentos a Carta de Londres que consiste na Carta do Tribunal
Militar Internacional de 1945 conceitua os crimes contra a paz da seguinte maneira
ldquonamely planning preparation initiation or waging of a war of aggression or a war in
violation of international treaties agreements or assurances or participation in a common
plan or conspiracy for the accomplishment of any of the foregoingrdquo52
Portanto atos que envolvam o planejamento preparaccedilatildeo e iniacutecio de guerra que uma
guerra desrespeite disposiccedilotildees internacionais (tratados compromissos acordos etc) ou
alguma conspiraccedilatildeo ou plano para promover quaisquer das situaccedilotildees mencionadas acima
Nota-se entatildeo que tais crimes somente podem ser praticados por autoridades ou pessoas
que possuem cargos importantes em um governo53
Da mesma maneira o supramencionado diploma tambeacutem conceitua os crimes de
guerra como segue
51 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit 52 UNITED NATIONS Charter of the International Military Tribunal 1945 Disponiacutevel em
httpswwwunorgengenocidepreventiondocumentsatrocity-
crimesDoc2_Charter20of20IMT201945pdf Acesso em 21012020 53 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit
24
Namely violations of the laws or custos of war Such violations shall include but
not be limited to murder ill-treatment or deportation to slave labour or for any
other purpose of civilian population of or in occupied territory murder or ill-
treatment of prisoners of war or persons on the seas killing of hostages plunder
of public or private property wanton destruction of cities towns or villages or
devastation not justified by military necessity54
Nesse sentido violaccedilotildees do Direito Internacional Humanitaacuterio podem consistir em
crimes de guerra portanto essa categoria de crimes inclui trabalho escravo tratamento
degradante torturas ataques contra populaccedilatildeo civil sem qualquer propoacutesito maus tratos de
prisioneiros de guerras assassinatos de refeacutens destruiccedilatildeo de cidades ou devastaccedilatildeo natildeo
justificada atraveacutes de uma necessidade militar
Por fim a conceituaccedilatildeo de crimes contra a humanidade na Carta de Londres eacute a
seguinte
Namely murder extermination enslavement deportation and other inhumane
acts committed against any civilian population before or during the war or
persecutions on political racial or religious grounds in execution of or in
connection with any crime within the jurisdiction of the Tribunal whether or not
in violation of the domestic law of the country where perpetrated55
Assim esse tipo de crime deve ser contra a populaccedilatildeo e ocorrer sob a forma de um
ataque generalizado e sistemaacutetico mas natildeo exclui alguma situaccedilatildeo em que um uacutenico ato
possa ser considerado crime contra a humanidade ou seja se este ato consistir em parte de
um sistema ou se faz parte de uma seacuterie de atos sistemaacuteticos e repetitivos 56 No entanto
repete-se o indiviacuteduo natildeo deve ser enviado para local natildeo seguro
bull Graves delitos comuns natildeo-poliacuteticos
Essa categoria trata de crimes graves assim faz-se necessaacuterio analisar a questatildeo da
gravidade ou seja se determinado crime eacute grave o bastante portanto os criteacuterios
internacionais devem predominar perante os criteacuterios locais Nesse aspecto alguns pontos
devem ser analisados como natureza do ato e da pena o dano causado o que foi utilizado
54 UNITED NATIONS Charter of the International Military Tribunal 1945 Op cit 55 Ibidem 56 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit
25
para a praacutetica do crime e o que o crime em questatildeo representa em grande parte dos
ordenamentos juriacutedicos57
Aleacutem do aspecto da gravidade outro ponto faz parte desta categoria de crimes isto
eacute crimes natildeo-poliacuteticos Como o proacuteprio nome jaacute diz satildeo crimes praticados por motivos
particulares portanto o crime natildeo deve ter relaccedilatildeo com motivos poliacuteticos ou pelo menos se
houver algum tipo de motivaccedilatildeo poliacutetica a proporccedilatildeo do objetivo poliacutetico deve ser muito
inferior ao motivo particular58
O dispositivo tambeacutem prevecirc sobre o local e tempo da praacutetica do ato ou seja o crime
deve ter ocorrido fora do paiacutes de refuacutegio e anterior agrave aceitaccedilatildeo do indiviacuteduo no paiacutes de asilo
Assim em situaccedilotildees de que o indiviacuteduo comete um crime no paiacutes de refuacutegio podem correr
o risco de serem expulsos conforme o previsto nos artigos 32 e 33 nordm 2 da Convenccedilatildeo de
195159 No entanto veremos adiante que o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo (previsto no artigo 33
da referida Convenccedilatildeo) natildeo admite reservas ou seja o indiviacuteduo natildeo pode ser repelido isto
eacute enviado de volta para o paiacutes de origem sendo que laacute seria submetido agrave condiccedilotildees
desumanas e degradantes
bull Atos contraacuterios aos objetivos e princiacutepios das Naccedilotildees Unidas
Este dispositivo raramente eacute aplicado pois deve ser interpretado de forma restritiva
Assim na maioria das vezes aplica-se aos casos o previsto nos itens ldquoardquo e ldquobrdquo do dispositivo
A aplicaccedilatildeo deste dispositivo restringe-se em situaccedilotildees pontuais nas quais o ato cometido
afronta os pilares da coexistecircncia da comunidade internacional60
Entatildeo como jaacute visto sobre as Claacuteusulas de Exclusatildeo o ACNUR publicou a Diretriz
Sobre Proteccedilatildeo Internacional nordm5 Neste aspecto tem-se que a razatildeo mais importante das
claacuteusulas de exclusatildeo eacute o impedimento de pessoas que jaacute cometeram atrocidades possam sair
impunes de seus atos atraveacutes do refuacutegio poreacutem como jaacute explicado acima devem ser
57 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit 58 Ibidem 59 Ibidem 60 Ibidem
26
aplicadas de maneira extremamente restritiva de forma que uma pessoa natildeo deve ser enviada
para um local onde teraacute seus direitos humanos violados61
Uma soluccedilatildeo para essa situaccedilatildeo como jaacute mencionado eacute o cumprimento da
penalidade em algum paiacutes seguro ou seja natildeo enviar a pessoa para a tortura ou tratamentos
desumanos ou degradantes poreacutem natildeo deixar a pessoa impune devendo cumprir a sua pena
O instituto do asilo natildeo deve ser requerido com intuito de se esquivar do cumprimento da
pena
Poreacutem natildeo deve deixar o indiviacuteduo em situaccedilatildeo de risco mesmo que tenha cometido
um crime Neste caso propotildee-se a possibilidade de enviar o indiviacuteduo para um outro paiacutes
que natildeo seja colocado em risco Cita-se a Convenccedilatildeo Americana sobre os Direitos Humanos
e a Declaraccedilatildeo de Cartagena como exemplos de que o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo natildeo estaacute
sujeito agrave exceccedilatildeo no contexto dos direitos humanos natildeo haacute possibilidade de limitaccedilatildeo do
mencionado princiacutepio62
Haacute muita discussatildeo a respeito das situaccedilotildees de exceccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo
nesse sentido Bethlehem e Lauterpacht citam as diretrizes para elaboraccedilatildeo da legislaccedilatildeo
nacional realizada por um grupo de pessoas da Organizaccedilatildeo da Unidade Africana (OUA) e
o ACNUR dispotildeem que nenhuma pessoa deve ser rejeitada devolvida expulsa ou submetida
agrave condiccedilotildees que colocam em risco sua integridade fiacutesica ou liberdade Portanto de acordo
com esses documentos natildeo haacute nenhuma restriccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo63
A respeito dessas diretrizes observa-se que a tendecircncia a respeito dessas exceccedilotildees
tem sofrido uma evoluccedilatildeo desde 1951 sendo que se excluiria qualquer tipo de exclusatildeo da
aplicaccedilatildeo da natildeo-repulsatildeo Entatildeo o indiviacuteduo natildeo poderia ser rejeitado eou enviado de volta
para qualquer situaccedilatildeo que colocasse em risco a vida a liberdade ou a integridade fiacutesica
Ressalta-se que na mentalidade dos redatores da Convenccedilatildeo de 1951 haveria a possibilidade
das exclusotildees de aplicaccedilatildeo do non-refoulement mas adotar essa interpretaccedilatildeo atualmente
deixaria este princiacutepio fora de sintonia com os desenvolvimentos mais recentes das
legislaccedilotildees64
61 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit 62 BETHLEHEM Daniel LAUTERPACHT Sir E Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos
Global Consultations on International Protection Part 2 Non-refoulement (Article 33 of the 1951 Convention)
- The scope and content of the principle of non-refoulement Opinion Cambridge Cambridge 2003 63 Ibidem 64 BETHLEHEM Daniel LAUTERPACHT Sir E Op cit
27
A este respeito Bethlehem e Lauterpacht expotildeem suas opiniotildees no sentido de que
as exceccedilotildees previstas no artigo 33 da Convenccedilatildeo de 1951 devem ser limitadas e respeitar o
devido processo legal ou seja segundo eles somente em situaccedilatildeo a respeito de seguranccedila
nacional ou risco ordem puacuteblica que poderia devolverexpulsarrejeitar o indiviacuteduo mas natildeo
deve haver exceccedilatildeo a natildeo-repulsatildeo caso este seja submetido agrave situaccedilotildees degradantes tortura
eou tratamentos crueacuteis pois tal princiacutepio de proteccedilatildeo possui caraacuteter humanitaacuterio Em casos
extremos de aplicaccedilatildeo de alguma exceccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo repulsatildeo eacute de extrema
importacircncia que o Estado adote medidas razoaacuteveis para que o indiviacuteduo seja admitido em
um paiacutes terceiro seguro65
O artigo 33 natildeo identifica quais os atos que configurariam uma ameaccedila agrave seguranccedila
nacional portanto ficaria a cargo de uma margem de apreciaccedilatildeo dos Estados poreacutem esta
apreciaccedilatildeo como jaacute explicado deve ser limitada sendo que deve haver ldquomotivos razoaacuteveisrdquo
para considerar um indiviacuteduo perigoso para a seguranccedila do paiacutes em que estaacute Sendo assim
o Estado natildeo pode agir de forma arbitraacuteria e deve analisar especificamente se haacute um risco
futuro comprovado com evidecircncias66
Entatildeo vimos que a regra eacute a natildeo-repulsatildeo caso se avente a possibilidade de enviar
o indiviacuteduo para outro paiacutes como no caso de cometimento de algum tipo de crime o Estado
deve assegurar que a pessoa natildeo seja enviada para um local em que seus direitos humanos
seratildeo violados No entanto ressalta-se que a concessatildeo de asilo natildeo deve ser realizada com
intuito de fugir das penalidades impostas por comentimento de crimes Em uacuteltimo caso
sugere-se o cumprimento da pena em algum paiacutes seguro entendendo como local seguropaiacutes
seguro onde o indiviacuteduo natildeo teraacute seus direitos humanos baacutesicos violados
f) Cessaccedilatildeo da Condiccedilatildeo de Refugiado
A situaccedilatildeo que se refere este dispositivo eacute quando ocorre a cessaccedilatildeo da condiccedilatildeo de
refugiado sendo este repatriado Assim terminada a condiccedilatildeo que ensejou o indiviacuteduo a
buscar refuacutegio em algum paiacutes cessa a sua condiccedilatildeo de refugiado e portanto o indiviacuteduo
deve retornar ao seu paiacutes de origem Poreacutem esta situaccedilatildeo gera alguns questionamentos que
seratildeo discutidos neste toacutepico
65 BETHLEHEM Daniel LAUTERPACHT Sir E Op cit 66 Ibidem
28
As claacuteusulas de cessaccedilatildeo se originaram a partir da ideia explicada acima assim a
partir destas disposiccedilotildees a condiccedilatildeo de refugiado de diversas pessoas termina
principalmente apoacutes o teacutermino da Guerra Fria por outro lado originou a preocupaccedilatildeo em
ter soluccedilotildees duraacuteveis isto eacute refere-se agraves situaccedilotildees de longa duraccedilatildeo de refugiados e tambeacutem
a questatildeo do repatriamento voluntaacuterio67
O entendimento predominante de acordo com as accedilotildees praticadas pelo ACNUR
pelos Estados e pelas conclusotildees da mesa redonda que ocorreu em Lisboa em 2001 eacute de que
a situaccedilatildeo no paiacutes de origem deve ser relevante ou seja eacute necessaacuterio ser de caraacuteter
fundamental estaacutevel e duraacutevel Aleacutem disso de acordo com as conclusotildees mencionadas
acima eacute importante que se leve em consideraccedilatildeo as questotildees de seguranccedila sustentabilidade
ao retornar e recursos humanos de uma forma geral68
Nesse cenaacuterio destaca-se um ponto importante que eacute a questatildeo das exceccedilotildees agraves
declaraccedilotildees de cessaccedilatildeo Assim havendo razotildees substanciais originadas de perseguiccedilotildees
preacutevias deve-se ponderar a situaccedilatildeo de retornar ao paiacutes de origem Haacute tambeacutem situaccedilotildees em
que o retorno do indiviacuteduo eacute proibido por tratados de direitos humanos pois o refugiado
poderia sofrer algum tipo de dano caso retorne ao seu paiacutes de origem Aleacutem disso tem casos
em que o indiviacuteduo jaacute formou laccedilos consistentes no paiacutes de asilo tendo familiares e
estabilidade econocircmica por exemplo nestes casos o Estado de asilo pode conceder status
de residecircncia69
Sobre essa questatildeo cita-se a Diretiva 200155CE do Conselho de 20 de Julho de
2001 em que dispotildee que nas situaccedilotildees que o procedimento de asilo foi suspenso durante a
proteccedilatildeo temporaacuteria (refuacutegio) eacute reconhecido o direito dos indiviacuteduos requererem o asilo apoacutes
o termino da proteccedilatildeo caso queiram por motivos de perseguiccedilotildees passadas70
Ainda quanto agrave cessaccedilatildeo da condiccedilatildeo de refugiado tem-se que muitos refugiados
procuram a repatriaccedilatildeo voluntariamente assim mesmo com a possibilidade do ACNUR e
dos Estados emitirem declaraccedilotildees a respeito da cessaccedilatildeo da condiccedilatildeo estas natildeo ocorrem de
forma frequente Ademais muitos paiacuteses concedem a permissatildeo de residecircncia mesmo com
67 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 68 Ibidem 69 Ibidem 70 CONSELHO EUROPEU Directiva 200155CE do Conselho de 20 de Julho de 2001 Disponiacutevel em
httpseur-lexeuropaeulegal-contentPTTXTHTMLuri=CELEX32001L0055ampfrom=PT Acesso em
31012020
29
o teacutermino das condiccedilotildees que ensejaram o refuacutegio e favorecem a integraccedilatildeo local e a
naturalizaccedilatildeo71
Contudo eacute importante que a cessaccedilatildeo da condiccedilatildeo de refugiado natildeo seja algo incerto
isto eacute colocar os indiviacuteduos em situaccedilatildeo de inseguranccedila sem saber o que os espera no futuro
Nesse sentido natildeo se deve obrigar as pessoas a retornarem a uma situaccedilatildeo que possa colocaacute-
las em risco ensejando nova fuga e um novo procedimento de reconhecimento como
refugiado Portanto antes de cessar a condiccedilatildeo de um refugiado eacute necessaacuterio de que as
condiccedilotildees no paiacutes de origem tenham se alterado substancialmente e que seja estaacutevel72
Cessar a condiccedilatildeo de refugiado natildeo eacute necessaacuterio consentimento ou algum ato
voluntaacuterio por parte do refugiado assim deve-se analisar com cautela e as claacuteusulas de
cessaccedilatildeo devem ser interpretadas de forma estrita para que natildeo causar consequecircncias graves
pois tal procedimento pode acarretar muitos transtornos na vida do indiviacuteduo como
rompimento de laccedilos familiares relaccedilatildeo de emprego da comunidade onde vivia etc73
Como mencionado acima a mudanccedila da situaccedilatildeo do refugiado deve ter natureza
fundamental ou seja isso significa que o indiviacuteduo natildeo pode mais recusar a proteccedilatildeo do seu
paiacutes de origem pois as mudanccedilas ocorridas fizeram com que cessassem as circunstacircncias
que originaram a situaccedilatildeo de refugiado Portanto considera-se cessaccedilatildeo das circunstacircncias
quando ocorre o fim dos confrontos alteraccedilatildeo completa da situaccedilatildeo poliacutetica estabilidade e
situaccedilatildeo de paz ressalta-se que aleacutem das mudanccedilas a mudanccedila deve ser estaacutevel
consolidada74
g) Unidade familiar
No que tange a unidade familiar na questatildeo dos refugiados o reagrupamento familiar
eacute o ponto principal para implementaccedilatildeo do mencionado direito tendo em vista que
considera-se a unidade familiar eacute considerada um direito essencial do refugiado pois
independente do status eacute um direito humano internacional e humanitaacuterio sendo aplicaacutevel a
todos os seres humanos Assim a famiacutelia do refugiado tambeacutem recebe o mesmo status
71 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit 72 Ibidem 73 Ibidem 74 Ibidem
30
portanto chama-se de ldquostatus derivadordquo possuindo os mesmos direitos que qualquer outro
indiviacuteduo considerado ldquorefugiadordquo75
Deve-se analisar caso a caso sobre a existecircncia ou natildeo de uma famiacutelia devendo levar
em consideraccedilatildeo questotildees culturais dependecircncia econocircmica e emocional dos indiviacuteduos
Nesse sentido considera-se ldquofamiacuteliardquo pelo menos os cocircnjuges e filhos menores76
h) Responsabilidade de supervisatildeo da ACNUR
O livro ldquoRefugee Protection in International Lawrdquo coloca como um dos pontos mais
importantes na questatildeo da proteccedilatildeo internacional dos refugiados a supervisatildeo do ACNUR
tendo por base os artigos 35 da Convenccedilatildeo de 1951 e o II do Protocolo de 1967 Nesse
sentido o ACNUR tem como funccedilatildeo baacutesica monitorar as accedilotildees dos Estados bem como
analisar e intervir quando for necessaacuteria a correccedilatildeo de alguma situaccedilatildeo77
Para exemplificar o assunto deste toacutepico tem-se que as diretrizes elaboradas pelo
ACNUR (algumas jaacute comentadas em toacutepicos anteriores) orientam os Estados aconselhando
as autoridades oacutergatildeos e tribunais a respeito da aplicaccedilatildeo dos diplomas internacionais a
respeito dos refugiados78
Dessa forma o ACNUR atua em diversos paiacuteses no mundo em prol do direito dos
refugiados promovendo ajuda aos migrantes orientando-os quanto aos seus direitos bem
como atuando em procedimentos judiciais na defesa desses direitos Aleacutem de orientaccedilotildees
sobre quais paiacuteses satildeo seguros ou natildeo em casos de envio dos migrantes como veremos no
uacutetltimo capiacutetulo no caso Sharifi versus Aacuteustria em que o ACNUR demonstrou que a Greacutecia
natildeo era um bom lugar para enviar o migrante de volta
13 O Princiacutepio Non-Refoulement como Norma Jus Cogens e a Responsabilidade
do Estado por Atos Iliacutecitos
No presente item em um primeiro momento traz a ideia do Princiacutepio Non-
Refoulement posteriormente fala-se sobre o que satildeo as normas jus cogens e por fim a
75 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 76 Ibidem 77 Ibidem 78 Ibidem
31
responsabilidade internacional dos Estados tendo por fundamento os Draft Articles
apresentados na 53ordf sessatildeo da Comissatildeo de Direito Internacional na ONU Depois desse
desenvolvimento traz-se a ideia de o princiacutepio non-refoulement como norma jus cogens e
portanto sua violaccedilatildeo configuraria responsabilidade civil do Estado
131 Princiacutepio de Non-Refoulement
Em linhas gerais este princiacutepio do Direito Internacional da natildeo-repulsatildeo disciplina
que o refugiado natildeo pode ser devolvido ao seu paiacutes de origem enquanto perdurar a crise
Vejamos
Art 33 - Proibiccedilatildeo de expulsatildeo ou de rechaccedilo 1 Nenhum dos Estados Contratantes
expulsaraacute ou rechaccedilaraacute de maneira alguma um refugiado para as fronteiras dos
territoacuterios em que a sua vida ou a sua liberdade seja ameaccedilada em virtude da sua
raccedila da sua religiatildeo da sua nacionalidade do grupo social a que pertence ou das
suas opiniotildees poliacuteticas 2 O benefiacutecio da presente disposiccedilatildeo natildeo poderaacute todavia
ser invocado por um refugiado que por motivos seacuterios seja considerado um perigo
para a seguranccedila do paiacutes no qual ele se encontre ou que tendo sido condenado
definitivamente por crime ou delito particularmente grave constitui ameaccedila para
a comunidade do referido paiacutes79
Como visto o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo consta no artigo 33 da Convenccedilatildeo de 1951
e tambeacutem consiste em um princiacutepio do direito internacional consuetudinaacuterio assim como
afirmou a Declaraccedilatildeo Ministerial que ocorreu em 2001 Dessa forma os Estados satildeo
responsaacuteveis por suas accedilotildees tais como reagrupamentos praacuteticas de interceptaccedilatildeo rejeiccedilatildeo
na fronteira ou repulsatildeo indireta Assim discutiu-se sobre a natildeo-repulsatildeo na Comissatildeo de
Direito Internacional das Naccedilotildees Unidas que ocorreu em 31 de maio de 2001 e aprovados
pela Assembleia Geral restando claro que os Estados satildeo responsaacuteveis pelas accedilotildees de
repulsatildeo80
No mesmo sentido o artigo 3ordm da Declaraccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Asilo
Territorial tambeacutem haacute a previsatildeo do princiacutepio non-refoulement assim faz referecircncia ao
79 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951 Op
cit 80 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit
32
primeiro artigo do mesmo documento em que estabelece a possibilidade da concessatildeo de
asilo com base no artigo 14 da Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem81
A proibiccedilatildeo da natildeo-repulsatildeo deve ser aplicada de forma ampla no entanto os atos
relativos agrave rejeiccedilatildeorepulsatildeo de pessoas ocorrem geralmente nos locais de fronteiras isto eacute
distante da visatildeo puacuteblica aleacutem disso o princiacutepio em questatildeo deve ser aplicadorespeitado
inclusive em alto mar e zonas internacionais Considera-se tortura ou tratamentopuniccedilatildeo
desumana eou degradante devolver um indiviacuteduo a um lugar no qual sofre algum tipo de
perseguiccedilatildeo ou ateacute mesmo ameaccedila de perseguiccedilatildeo82 destacando que o princiacutepio da natildeo-
repulsatildeo deve ser analisado juntamente com o artigo 3ordm da CEDH
De uma forma geral natildeo haacute limitaccedilatildeo ou exceccedilatildeo a esse princiacutepio poreacutem em
situaccedilotildees de repelir um indiviacuteduo enviando-o de volta para outro local soacute eacute ldquopermitidardquo
quando houver motivos significantes que afetam a seguranccedila nacional ou a seguranccedila
puacuteblica devendo sempre ter em mente que o indiacuteviduo em hipoacutetese alguma pode ser
enviado para locais natildeo seguros ou seja que tenham seus direitos humanos violados
Apoacutes os atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos os paiacuteses ficaram
mais atentos com a seguranccedila e portanto adotaram controles mais rigorosos de fronteiras
para tentar minimizar as entradas ilegais Mas ao mesmo tempo era necessaacuterio que
garantissem agrave proteccedilatildeo daqueles que desejassem a proteccedilatildeo internacional para os
refugiados83
A amplitude deste princiacutepio abrange inclusive casos de extradiccedilatildeo assim em
situaccedilatildeo que o paiacutes de origem insista na extradiccedilatildeo de uma pessoa que cometeu crime e a
extradiccedilatildeo configurar retorno agrave situaccedilatildeo de perseguiccedilatildeo a acusaccedilatildeo e o processo devem
correr no paiacutes que concedeu o asilo Portanto a Convenccedilatildeo de 1951 natildeo se trata de um
documento para impedir extradiccedilatildeo poreacutem se o status do indiviacuteduo for de refugiado tais
obrigaccedilotildees satildeo do Estado extraditante84 ou seja o indiacuteviduo natildeo deve ser extraditado para
local onde corra o risco de ser submetido agrave tortura e nesse caso o paiacutes de asilo que deve ser
responsaacutevel pelo cumprimento da pena eou processo criminal se for o caso
81 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Declaraccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas Sobre o Asilo Territorial 1967
Disponiacutevel
httpswwwacnurorgfileadminDocumentosportuguesBD_LegalInstrumentos_InternacionaisDeclaracao
_ONU_Asilo_Territorialpdffile=fileadminDocumentosportuguesBD_LegalInstrumentos_Internacionais
Declaracao_ONU_Asilo_Territorial Acesso em 09032020 82 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 83 Ibidem 84 Ibidem
33
Nesse sentido vimos que no item 2 do artigo 33 da Convenccedilatildeo de 1951 consta uma
exceccedilatildeo ao princiacutepio do non-refoulement ou seja este princiacutepio natildeo poderia ser invocado
por um refugiado que possa configurar uma ameaccedila agrave seguranccedila do paiacutes em que estaacute ou que
tenha condenaccedilatildeo por crime ou delito grave que possa consistir em uma ameaccedila para o paiacutes
de asilo85 no entanto em caso de repulsatildeo o Estado deveraacute analisar as condiccedilotildees do paiacutes de
destino natildeo se admite que envie pessoas para locais natildeo seguros
O artigo 32 dispotildee sobre a expulsatildeo e no item 2 disciplina que a possibilidade de
expulsatildeo deve ser realizada com base no devido processo legal como segue
A expulsatildeo desse refugiado somente ocorreraacute em virtude de decisatildeo proferida
conforme o processo previsto por lei A natildeo ser que a isso se oponham razotildees
imperiosas de seguranccedila nacional o refugiado deveraacute ter permissatildeo de fornecer
provas que o justifiquem de apresentar um recurso e de se fazer representar para
esse fim perante uma autoridade competente ou perante uma ou vaacuterias pessoas
especialmente designadas pela autoridade competente86
Dessa forma menciona-se o julgamento Suresh versus Canada da Corte Superior
Canadense em 2002 em que o ACNUR argumentou que a Convenccedilatildeo de 1951 natildeo deve ser
usada para negaccedilatildeo de direitos e do direito internacional de forma geral rejeita a tortura
mesmo em situaccedilotildees de perigo para a seguranccedila nacional O entendimento da Corte era de
que enviar uma pessoa de volta ao perigo constitui em infraccedilatildeo agraves normas internacionais
Assim de acordo com a jurisprudecircncia internacional enviar algueacutem agrave tortura eacute de extrema
gravidade que de qualquer forma seraacute desproporcional agraves questotildees relativas agrave seguranccedila
nacional87
Nesse sentido a Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (CEDH) em seu artigo
3ordm disciplina a proibiccedilatildeo agrave tortura como segue ldquoNingueacutem pode ser submetido a torturas
nem a penas ou tratamentos desumanos ou degradantesrdquo88 Dessa forma um indiviacuteduo natildeo
deve ser devolvido ao seu paiacutes de origem quando houver risco de tortura tratamento
desumano ou degradante ou submetido agrave pena de morte de acordo o Protocolo nordm 6 da
CEDH89
85 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951 Op
cit 86 Ibidem 87 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 88 CONSELHO DA EUROPA Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (CEDH) Disponiacutevel em
httpswwwechrcoeintDocumentsConvention_PORpdf Acesso em 13012020 89 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit
34
A respeito do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo Bethlehem e Lauterpacht expressaram suas
opiniotildees no sentido de que este princiacutepio consiste em um princiacutepio geral do direito
internacional consuetudinaacuterio Assim considera-se que a natildeo-repulsatildeo eacute um componente
imprescindiacutevel da lei internacional consuetudinaacuteria principalmente nas questotildees
humanitaacuterias que envolvem a proibiccedilatildeo da tortura e tratamentos crueacuteis degradantes e
desumanos90
Portanto considera-se que o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo natildeo permite limitaccedilatildeo ou
exceccedilatildeo pois trata-se de um princiacutepio internacional costumeiro de direitos humanos e
considera que natildeo se deve rejeitardevolver ou expulsar algueacutem colocando em risco sua vida
e integridade fiacutesica sendo submetido agrave tortura tratamento desumano e degradante Assim
eacute atribuiacuteda ao Estado a valoraccedilatildeo da natildeo-repulsatildeo e este deve agir de acordo com as
obrigaccedilotildees internacionais tendo por base as normas a respeito da responsabilidade do Estado
Ressalta-se que haacute uma tendecircncia contra exceccedilotildees em princiacutepios baacutesicos de direitos
humanos entatildeo as exceccedilotildees devem ser interpretadas de maneira restritiva e sendo o uacuteltimo
recurso lembrando que natildeo haacute exceccedilatildeo a este princiacutepio quando desrespeitar os direitos
humanos baacutesicos dos indiviacuteduos91
Nesse aspecto tem-se que haacute colisatildeo de interesses no que tange a proteccedilatildeo dos
refugiados pois os Estados tendem a defender seu territoacuterio atraveacutes do controle de imigraccedilatildeo
ilegal Dessa forma a fiscalizaccedilatildeo nas fronteiras como por exemplo nos aeroportos os
refugiados desembarcam junto com as requisiccedilotildees de asilo e muitas vezes ocorre o reenvio
para o paiacutes de origem (para situaccedilotildees de perseguiccedilatildeo) devido o impedimento dos requerentes
de asilo acessar o processo para se enquadrar na situaccedilatildeo de refugiado e requerer tal
proteccedilatildeo92
Haacute tambeacutem a situaccedilatildeo chamada de ldquorefoulement indiretordquo que consiste na ideia de
um outro paiacutes (terceiro) acolher o requerente de asilo poreacutem essa situaccedilatildeo pode levar a
deixar os refugiados ldquoem oacuterbitardquo ou seja natildeo encontra algum Estado que admite a
competecircncia para a anaacutelise do pedido de asilo aleacutem disso pode ocorrer o envio dos
refugiados para Estados em que natildeo haacute garantias de que estes natildeo vatildeo ser reenviados para o
seu paiacutes de origem93
90 BETHLEHEM Daniel LAUTERPACHT Sir E Op cit 91 Ibidem 92 CIERCO Teresa Op cit 93 Ibidem
35
Devido agrave importacircncia desse princiacutepio mais a frente seraacute necessaacuteria uma nova
abordagem aprofundando o assunto e encaminhando para a discussatildeo referente agrave natildeo-
repulsatildeo juntamente com o direito do mar ou seja sobre as pessoas que satildeo encontradas em
perigo no mar e a proibiccedilatildeo de repulsatildeo destas
132 Normas Jus Cogens
O artigo 53 da Convenccedilatildeo de Viena sobre o Direito dos Tratados encontramos a
definiccedilatildeo de norma jus cogens
Artigo 53ordm Tratados incompatiacuteveis com uma norma imperativa de direito
internacional geral (jus cogens) Eacute nulo todo o tratado que no momento da sua
conclusatildeo seja incompatiacutevel com uma norma imperativa de direito internacional
geral Para os efeitos da presente Convenccedilatildeo uma norma imperativa de direito
internacional geral eacute uma norma aceite e reconhecida pela comunidade
internacional dos Estados no seu todo como norma cuja derrogaccedilatildeo natildeo eacute
permitida e que soacute pode ser modificada por uma nova norma de direito
internacional geral com a mesma natureza94 (grifo nosso)
O trecho destacado demonstra a relevacircncia de uma norma jus cogens para o direito
internacional tendo em vista que uma norma dessa natureza apenas poderaacute ser modificada
por outra que tenha o mesmo status ou seja somente uma norma jus cogens pode alterar
uma norma jus cogens jaacute em vigor
Aleacutem disso confirmando a supremacia das normas jus cogens o artigo 64 da
Convenccedilatildeo de Viena traz a seguinte redaccedilatildeo ldquoSuperveniecircncia de uma norma imperativa de
direito internacional geral (jus cogens) - Se sobrevier uma nova norma imperativa de direito
internacional geral qualquer tratado existente que seja incompatiacutevel com essa norma torna-
se nulo e cessa a sua vigecircnciardquo95 Assim ao surgir uma nova norma jus cogens contrariando
algum tratado este deixaraacute de ter valor
Quando falamos que uma norma jus cogens eacute imperativa estamos diante de uma
redundacircncia tendo em vista que as normas de direito internacional satildeo obrigatoacuterias por si
soacute isto eacute no que se refere agrave obrigatoriedade tem-se que eacute intriacutenseca agraves normas dessa
94 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo de Viena sobre o Direito dos Tratados Disponiacutevel
em httpgddcministeriopublicoptsitesdefaultfilesdocumentosinstrumentosrar67-2003pdf Acesso em
11092020 95 Ibidem
36
natureza Sendo assim podemos falar que uma norma jus cogens limita a liberdade dos
Estados96
Entatildeo no que se refere agraves normas jus cogens temos que
Todas essas noccedilotildees ndash direito internacional geral ou mesmo universal obrigaccedilotildees
erga omnes crimes de direito internacional ou graves violaccedilotildees de obrigaccedilotildees
essenciais uma constituiccedilatildeo para a sociedade internacional a ordem puacuteblica
internacional e de modo mais geral a questatildeo da hierarquia normativa ndash
encontram-se de algum modo conectadas a um conceito central do direito
internacional contemporacircneo o jus cogens97
As normas jus cogens portanto satildeo imperativas e inderrogaacuteveis isto eacute satildeo
obrigatoacuterias e natildeo aceitam supressatildeo ou que sejam abolidas de alguma forma Assim as
normas dessa natureza jus cogens satildeo de notaacutevel importacircncia98
No que se refere agrave hierarquia dessas normas conclui-se que elas satildeo de elevada
importacircncia e obrigatoacuterias poreacutem natildeo haacute uma ideia soacutelida sobre suas origens Haacute quem
entenda que as normas jus cogens foram originadas a partir do costume internacional99
Um sistema normativo internacional deve consistir em uma unidade portanto
uniforme Neste aspecto natildeo importa a origem ou objeto de uma norma internacional todas
satildeo colocadas em um mesmo patamar Mas essa ideia eacute ofuscada pelo conceito da teoria das
normas jus cogens bem como pela diferenciaccedilatildeo entre crimes internacionais e delitos
internacionais100
Nesse aspecto pode-se aventar a nulidade de tratados quando houver normas
contraacuterias agraves normas internacionais superiores Entatildeo tendo em vista que a teoria jus cogens
diferencia as regras gerais de direito internacional e de uma categoria especiacuteficas sendo
normas de ldquocuacutepulardquo isto eacute consistem em normas de elite no direito internacional101 Assim
um tratado pode ser anulado em casos de contradiccedilatildeo com as normas jus cogens
Assim notamos uma diferenciaccedilatildeo entre os regimes de responsabilidade
internacional A Comissatildeo de Direito Internacional trouxe a seguinte redaccedilatildeo no artigo 19
96 RODAS Joatildeo G Jus Cogens em Direito Internacional Disponiacutevel em
wwwrevistasuspbrrfdusparticleviewFile6673669346 Acesso em 11092020 97 NASSER Salem H Jus Cogens Ainda esse Desconhecido Disponiacutevel em
httpbibliotecadigitalfgvbrojsindexphprevdireitogvarticleview3523334033 Acesso em 12092020 98 Ibidem 99 Ibidem 100 WEIL Prosper Towards relative normativity in international law The American Journal of International
Law Vol 77 nordm 3 (julho de 1983) p 413 ndash 442 Disponiacutevel em
httpswwwcambridgeorgcorejournalsamerican-journal-of-international-lawarticletowards-relative-
normativity-in-international-lawD494CB41D732291285CBC9F5424FF11C Acesso em 10092020 101 Ibidem
37
dos Draft Articles ldquoThis chapter is without prejudice to the international responsibility
under other provisions of these articles of the State which commits the act in question or of
any other Staterdquo102 Nos comentaacuterios dos Draft Articles estatildeo os propoacutesitos do artigo citado
entatildeo a finalidade do artigo eacute a preservaccedilatildeo da responsabilidade do Estado que tenha
cometido ato internacionalmente iliacutecito103
Nesse sentido o entendimento de Prosper Weil eacute de que artigo citado acima tem o
intuito de diferenciar algumas obrigaccedilotildees internacionais essenciais aos interesses
fundamentais da comunidade internacional que a ocorrecircncia de violaccedilatildeo dessas obrigaccedilotildees
deve ser interpretada como um crime internacional sendo assim com gravidade maior Jaacute a
violaccedilatildeo de todas as outras obrigaccedilotildees internacionais constituiria somente em um delito
internacional Podemos entender essa ideia no trecho abaixo
Here again international norms are divided into two categories at the summit
the few that create obligations ldquothe observance of which is of fundamental
importance to the international community as a wholerdquo then below them the
great mass of norms that create obligations ldquoof lesser and less general
importancerdquo104
Assim nota-se a divisatildeo das normas internacionais as de elitecuacutepula (aquelas que a
observacircncia eacute fundamental para comunidade internacional) e as normas gerais (de menor
importacircncia)
A este respeito faz-se necessaacuterio um parecircntese o Tribunal Internacional de Justiccedila
tem o entendimento de que um Estado tem obrigaccedilotildees perante a comunidade internacional
mas o que seria essa comunidade internacional Ela eacute formada pelos Estados natildeo
necessariamente todos os Estados do mundo mas um conjunto destes para que se forme o
reconhecimento da comunidade internacional Desse ponto podemos dizer que uma norma
eacute hierarquicamente superior quando ela eacute reconhecida por todos os entes essenciais da
comunidade internacional Ou seja uma ldquosupernormardquo eacute oponiacutevel a todos os Estado105
No que se refere agrave hierarquia das normas no direito internacional o professor Jocircnatas
Machado diz
102 UNITED NATIONS Draft articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful Acts with
commentaries Disponiacutevel em httplegalunorgilctextsinstrumentsenglishcommentaries9_6_2001pdf
Acesso em 11092020 103 Ibidem 104 WEIL Prosper Op cit 105 Ibidem
38
No entanto outras linhas argumentativas apoiam-se no valor universal da
manutenccedilatildeo da paz constante na Carta da ONU chamam a atenccedilatildeo para o
desenvolvimento da ideia de ius cogens superior agrave vontade dos Estados ou mais
recentemente procuram afirmar o primado do indiviacuteduo em face da soberania
estadual106
Do exposto as normas jus cogens eacute superior agrave vontade dos Estados tendo em vista
que o indiviacuteduo eacute prevalente perante a soberania de um determinado Estado Tal fato se deve
porque essas normas satildeo ldquosuperioresrdquo com base em fundamentos de legitimidade ou seja
dignidade da pessoa humana direito justiccedila etc referem-se a valores que comunidade
internacional coloca em patamar superior ao consentimento dos Estados107
A este respeito Jocircnatas Machado entende que haacute trecircs teses na doutrina maximalistas
intermeacutedias e minimalistas As maximalistas referem-se ao direito internacional dos direitos
humanos de modo geral ou seja todas satildeo normas jus cogens as intermeacutedias consistem num
niacutevel intermediaacuterio e dispotildeem que apenas o nuacutecleo essencial dos direitos humanos eacute
considerado jus cogens e a tese minimalista dispotildee que se trata de jus cogens se a violaccedilatildeo
das normas de direitos humanos consistirem em um crime internacional108
Do exposto acima podemos entender que as normas jus cogens consistem em normas
imperativas no direito internacional sendo portanto obrigaccedilotildees erga omnes Entatildeo natildeo haacute
rol taxativo de quais satildeo essas normas no entanto podemos dizer que se a violaccedilatildeo de uma
norma internacional configurar um crime internacional ou seja pirataria escravidatildeo
genociacutedio crimes de guerra e os crimes contra a humanidade essa violaccedilatildeo consiste em
violaccedilatildeo de uma norma jus cogens Assim de uma forma gera podemos dizer que a proteccedilatildeo
dos direitos fundamentais refere-se agraves normas jus cogens109
133 Responsabilidade Internacional dos Estados
O conceito de responsabilidade internacional dos Estados se baseia nos conceitos de
soberania internacional e capacidade juriacutedica internacional Ademais a ideia de
responsabilidade internacional do Estado consiste em uma garantia da legalidade
106 MACHADO Joacutenatas E M Direito Internacional 4ordf ediccedilatildeo Coimbra Coimbra Editora 2013 p 141 107 Ibidem 108 Ibidem 109 Ibidem
39
internacional isto eacute no que se refere agrave violaccedilatildeo de bens que satildeo internacionalmente
protegidos que essa garantia eacute necessaacuteria para promoccedilatildeo da proteccedilatildeo de direitos110
Tem-se que a responsabilidade internacional deve se basear nos princiacutepios da
igualdade e da reciprocidade de direitos e deveres A este respeito o Professor Joacutenatas
Machado diz
Podem incorrer em responsabilidade internacional quaisquer sujeitos de direito
internacional por danos causados a qualquer sujeito de direito internacional ou agrave
comunidade internacional globalmente considerada A responsabilidade dos
Estados eacute apenas um subtema da responsabilidade internacional em geral111
O Professor Francisco Ferreira de Almeida em um primeiro momento diferencia
normas primaacuterias e secundaacuterias entatildeo as primaacuterias satildeo ldquoobrigaccedilotildees de conduta para os
destinataacuteriosrdquo e as secundaacuterias ldquofixar as particulares consequecircncias juriacutedicas que se ligam agrave
violaccedilatildeo das normas primaacuteriasrdquo Entatildeo podemos afirmar que haacute normas de condutas a serem
seguidas sendo portanto normas primaacuterias no entanto na situaccedilatildeo de violaccedilatildeo destas
falamos das sanccedilotildees que consistem nas normas secundaacuterias112
Assim no que tange agrave responsabilidade internacional do Estado por atos iliacutecitos
devemos ter em mente em um primeiro momento sobre o que seria um ato
internacionalmente iliacutecito que resulta na responsabilidade internacional subjetiva Entatildeo
entende-se como ato iliacutecito uma accedilatildeo ou omissatildeo que infrinja uma obrigaccedilatildeo
internacional113
Complementando a ideia o Professor Francisco Ferreira de Almeida dispotildee
Daqui resulta pois ser necessaacuterio em segundo lugar demonstrar o nexo de
imputaccedilatildeo do referido facto iliacutecito ao Estado Isto eacute o comportamento em causa
deveraacute ser atribuiacutedo ao Estado por haver sido adoptado por pessoas ou oacutergatildeos que
o representam e estatildeo por consequecircncia sob sua autoridade efectiva Pouco
importam aliaacutes a natureza (individual ou colectiva centralizada ou
descentralizada etc) desses oacutergatildeos e bem assim o caraacuteter (vg legislativo
judicial ou executivo) das funccedilotildees ou actividades do agente ou agentes
infractores114
110 MACHADO Joacutenatas E M Direito Internacional Op cit 111 Ibidem p 630 112 ALMEIDA Francisco F Direito Internacional Puacuteblico 2ordf ediccedilatildeo Coimbra Coimbra Editora 2003 p 226 113 Ibidem 114 Ibidem p 226227
40
Diante disto nota-se que o Estado tem responsabilidade pelos atos praticados pelos
seus oacutergatildeos ou agentes que estejam sob sua supervisatildeo Ademais eacute necessaacuteria a ocorrecircncia
de danos para que um Estado seja responsaacutevel internacionalmente natildeo importando se os
danos causados satildeo morais ou materiais necessaacuterio apenas a ocorrecircncia Portanto exige-se
o nexo causal entre a accedilatildeo do Estado e o dano causado115
No que se refere agrave responsabilidade do Estado Pinto de Albuquerque ex-juiz do
TEDH leciona que a jurisdiccedilatildeo do Estado no que tange imigraccedilatildeo e controle de fronteiras
implica que em caso de quaisquer violaccedilotildees dos direitos humanos haacute a responsabilidade do
Estado durante o referido controle e mencionou a Resoluccedilatildeo 5683 de 2001 sobre a
Responsabilidade do Estado por Atos Internacionalmente Iliacutecitos116
Assim o artigo 8ordm da referida Resoluccedilatildeo visa que o Estado eacute responsaacutevel pela conduta
dos seus agentes pois agem sob suas instruccedilotildees Como segue ldquoThe conduct of a person or
group of persons shall be considered an act of a State under international law if the person
or group of persons is in fact acting on the instructions of or under the direction or control
of that State in carrying out the conductrdquo117
No mesmo sentido poreacutem em situaccedilatildeo de Estados auxiliando outro o artigo 16 do
mesmo documento traz a seguinte redaccedilatildeo
A State which aids or assists another State in the commission of an internationally
wrongful act by the latter is internationally responsible for doing so if (a) that
State does so with knowledge of the circumstances of the internationally wrongful
act and (b) the act would be internationally wrongful if committed by that State118
Portanto um Estado que age em assistecircncia a outro e comete algum ato
internacionalmente iliacutecito o Estado que recebe a assistecircncia eacute responsaacutevel tambeacutem se souber
da ilicitude do ato e o ato ser cometido pelo Estado em questatildeo No que se refere agrave
responsabilidade do Estado esse artigo traz a ideia de um Estado auxiliar ser responsaacutevel
por atos iliacutecitos de outro Estado ou seja uma situaccedilatildeo de cumplicidade entre os estados
Assim nos comentaacuterios dos Drafts Articles tem-se a suposiccedilatildeo de que o Estado auxiliar
tenha uma importante participaccedilatildeo no ato neste aspecto o fornecimento de auxiacutelio
115 ALMEIDA Francisco F Direito Internacional Puacuteblico Op cit 116 EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Hirsi Jamaa and others v Italy Application no
2776509 Disponiacutevel em httphudocechrcoeintspai=001-109231 Acesso em 16092020 117 UNITED NATIONS Draft articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful Acts with
commentaries Op cit 118 Ibidem
41
financeiro e teacutecnico por um Estado pode ser considerada uma importante contribuiccedilatildeo para
o ato Ou seja no uacuteltimo capiacutetulo veremos entre outros casos algumas situaccedilotildees a respeito
da situaccedilatildeo entre Itaacutelia e Liacutebia e portanto analisando a responsabilidade da Itaacutelia perante as
repulsotildees realizadas pela Guarda Costeira Liacutebia sob subsiacutedios italianos
O artigo 16 mencionado acima traz dois requisitos para ser configurada a
responsabilidade do Estado auxiliar o primeiro eacute a ldquoconsciecircnciardquo da ilicitude do ato pelo
Estado auxiliar o segundo eacute que a conduta iliacutecita deve ser considerada violaccedilatildeo para os dois
paiacuteses Entatildeo uma violaccedilatildeo dos direitos humanos a proibiccedilatildeo da tortura por exemplo eacute
uma norma consuetudinaacuteria e portanto a conduta eacute iliacutecita para todos os Estados
Na mesma linha de raciociacutenio o artigo 41 nordm 2 dos Drafts Articles traz que ldquoNo
State shall recognize as lawful a situation created by a serious breach within the meaning
of article 40 nor render aid or assistance in maintaining that situationrdquo ou seja nenhum
Estado pode reconhecer como conduta legal uma grave violaccedilatildeo e tambeacutem natildeo deve prestar
auxiacutelio para manter a situaccedilatildeo gravosa119
A atenccedilatildeo referente agrave responsabilidade internacional do Estado ganhou espaccedilo a
depois do ano de 1956 momento em que a Comissatildeo de Direito Internacional (CDI) da ONU
voltou seus olhares agrave responsabilidade internacional do Estado perante aos cidadatildeos Neste
aspecto a questatildeo era se a responsabilidade internacional do Estado consistia ldquoapenas
civilmente por delitos internacionais civilmente para crimes internacionais ou
criminalmente para crimes internacionaisrdquo120
Destarte em 2001 a 53ordf sessatildeo da Comissatildeo de Direito Internacional da ONU previu
artigos a respeito da responsabilidade do Estado por atos iliacutecitos internacionais121 Entatildeo no
segundo artigo do documento originado desta sessatildeo encontramos o seguinte
Article 2 Elements of an internationally wrongful act of a State
There is an internationally wrongful act of a State when conduct consisting of an
action or omission (a) is attributable to the State under international law and
(b) constitutes a breach of an international obligation of the State122
119 UNITED NATIONS Draft articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful Acts with
commentaries Op cit 120 MACHADO Joacutenatas E M Direito Internacional Op cit p 633 121 Ibidem 122 UNITED NATIONS Draft articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful Acts with
commentaries Op cit
42
Do artigo acima um ato internacionalmente iliacutecito quando praticado por um Estado
tem duas formas de ser cometido por accedilatildeo ou omissatildeo ou seja quando se refere agrave situaccedilotildees
atribuiacutedas ao Estado pela lei internacional ou quando houver uma violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees
internacionais pelo Estado Veremos entatildeo mais adiante que a questatildeo de natildeo resgate no
mar das pessoas em agonia pode consistir em um ato iliacutecito do Estado caso este natildeo preste
socorro agraves viacutetimas
A previsatildeo no Customary International Humanitarian Law na regra nuacutemero 150
encontramos a seguinte redaccedilatildeo ldquoA State responsible for violations of international
humanitarian law is required to make full reparation for the loss or injury causedrdquo123
portanto o mencionado documento dispotildee que reparar o dano causado eacute uma regra antiga
no direito internacional consuetudinaacuterio
No mesmo sentido o artigo 91 do Protocolo Adicional I agrave Convenccedilatildeo de Genebra124
de 1949 dispotildee sobre a responsabilidade do Estado disciplinando no sentido de que um
Estado que infringir o previsto na Convenccedilatildeo tem o dever de compensar os danos causados
Como podemos confirmar no seguinte trecho ldquoA Party to the conflict which violates the
provisions of the Conventions or of this Protocol shall if the case demands be liable to pay
compensation It shall be responsible for all acts committed by persons forming part of its
armed forcesrdquo125
Portanto um Estado ao violar o direito humanitaacuterio tem o dever de indenizar
Ademais nos dispositivos a respeito da responsabilidade do Estado consta que a restituiccedilatildeo
se trata de um princiacutepio legal mas nem sempre eacute possiacutevel ou adequado ao caso a este
respeito entende-se que o papel da compensaccedilatildeo eacute o preenchimento das lacunas a fim de
assegurar a reparaccedilatildeo integral dos danos causados Assim a obrigaccedilatildeo de compensar os
danos causados por violaccedilatildeo ao direito internacional humanitaacuterio foi ratificada por diversos
diplomas oficiais bem como pelo Conselho de Seguranccedila da ONU126 No entanto sabe-se
123 INTERNATIONAL COMMITTEE OF THE RED CROSS Customary International Humanitarian Law ndash
Volume I Rules Disponiacutevel httpswwwicrcorgendocassetsfilesothercustomary-international-
humanitarian-law-i-icrc-engpdf Acesso em 11092020 124 A Convenccedilatildeo de Genebra de 1949 levou em consideraccedilatildeo os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial
abordando a proteccedilatildeo geral das populaccedilotildees contra certas consequecircncias da guerra 125 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Protocolo Adicional I da Convenccedilatildeo de Genebra de 1949
Disponiacutevel em httpsihl-
databasesicrcorgapplicihlihlnsfArticlexspaction=openDocumentampdocumentId=F461FC196C18A52D
C12563CD0051E2AC Acesso em 11092020 126 INTERNATIONAL COMMITTEE OF THE RED CROSS Customary International Humanitarian Law ndash
Volume I Rules Op cit
43
que dependendo da gravidade do dano moral causado natildeo importa o valor da indenizaccedilatildeo
pois muitas vezes satildeo danos de impossiacutevel reparaccedilatildeo poreacutem o um valor indenizatoacuterio justo
pode fazer com que o sofrimento seja amenizado
134 Teorias a Respeito da Responsabilidade Internacional dos Estados
Nesse aspecto o Professor Jocircnatas Machado dispotildee a respeito de diversas teorias a
respeito da responsabilidade internacional do Estado quais sejam tese da responsabilidade
sui generis tese dos iliacutecitos excepcionalmente graves tese dos crimes de Estado e tese dos
crimes e delitos
A primeira traz posicionamento contraacuterio ao entendimento de que o Estado possa
cometer um ldquocrime internacionalrdquo porque o cometimento de crime seria apenas
responsabilidade de indiviacuteduos e natildeo de um Estado entatildeo esta teoria leva em conta quais
normas foram violadas e verificar os pontos de vista a respeito da responsabilidade do Estado
e encontrar a melhor soluccedilatildeo natildeo devendo portanto ultrapassar os limites de
responsabilidade civil ou criminal consistindo em uma responsabilidade sui generis127
A tese dos iliacutecitos excepcionalmente graves segue no mesmo sentido da ideia da
teoria anterior mas entende ser correta a expressatildeo ldquoatos iliacutecitos excepcionalmente gravesrdquo
a fim de natildeo diferenciar ldquodelitosrdquo e ldquocrimesrdquo Entatildeo esta teoria entende que o Estado pode
cometer uma grave violaccedilatildeo de obrigaccedilatildeo internacional e a responsabilidade natildeo
necessariamente seraacute criminal entatildeo pode consistir em uma responsabilidade internacional
civil compensatoacuteriareparatoacuteria poreacutem ressalta-se que natildeo se deve excluir uma
responsabilidade sancionatoacuteriapunitiva eacute por este motivo que se fala a respeito do caraacuteter
sui generis da responsabilidade internacional dos Estados128
A tese dos crimes de Estado dispotildee que atos iliacutecitos excepcionalmente graves satildeo
ldquocrimes internacionaisrdquo mas ditos de forma diferente e entatildeo chega-se agrave ideia de crimes de
Estado e igualmente de caraacuteter sui generis tendo em vista que natildeo haacute a necessidade de ter
o mesmo procedimento que o direito penal nacional Assim destaca-se as sanccedilotildees que o
Conselho de Seguranccedila da ONU impocircs agrave Liacutebia por atos terroristas neste caso portanto haacute
uma responsabilidade sancionatoacuteria129
127 MACHADO Joacutenatas E M Direito Internacional Op cit 128 Ibidem 129 Ibidem
44
Por fim a teoria dos crimes e delitos ressalta a importacircncia da diferenciaccedilatildeo dos dois
conceitos Assim o mais importante eacute a ideia de crime por consistir em ldquocondutas violentas
que suscitem a reprovaccedilatildeo da opiniatildeo puacuteblica mundialrdquo130 Sobre o assunto o Professor
Jocircnatas Machado diz
Aleacutem disso certas condutas qualificadas pelo direito internacional como crimes
contra a humanidade crimes de guerra e crimes contra a paz transcendem
largamente a vontade dos indiviacuteduos que os cometem tendo por detraacutes uma
orientaccedilatildeo poliacutetica estadual pelo que seria iloacutegico reduzi-los agrave expressatildeo de meros
crimes individuais prescindindo da responsabilizaccedilatildeo dos Estados131
Diante do que foi mencionado destaca-se a relativizaccedilatildeo da soberania do Estado no
direito internacional que tem por base a ideia de ldquocrimes internacionaisrdquo132 Assim levando
em conta a existecircncia dos ldquocrimes de Estadordquo eacute necessaacuterio a existecircncia de oacutergatildeos e
procedimentos para fins de investigaccedilatildeo destas condutas bem como consequecircncias juriacutedicas
como
()imposiccedilatildeo de multas lsquoindemnizaccedilotildees punitivasrsquo (punitive damages) a
adopccedilatildeo de contra-medidas a absoluta proibiccedilatildeo de quaisquer efeitos juriacutedicos aos
crimes a privaccedilatildeo da imunidade estadual aos titulares dos oacutergatildeos de soberania e
outras medidas da mais diversa natureza susceptiacuteveis de afectar a dignidade de o
Estado criminoso133
Entatildeo a respeito dessa uacuteltima teoria nota-se uma maior responsabilizaccedilatildeo ao Estado
infrator tendo por base a ideia deste como um sujeito no direito internacional com
capacidade de cometer crimes ou seja os chamados ldquocrimes de Estadordquo Portanto podem
ser impostas medidas sancionatoacuterias ao Estado infrator sendo reduzida a sua soberania a fim
de imposiccedilotildees de sanccedilotildees
135 Imputabilidade dos Estados
Ao falar da imputabilidade dos Estados refere-se agrave ideia de um Estado praticar atos
iliacutecitos internacionais atraveacutes dos seus poderes (legislativo executivo e judiciaacuterio) das
forccedilas armadas ou por qualquer outro oacutergatildeoentidade considerada de direito puacuteblico134
130 MACHADO Joacutenatas E M Direito Internacional Op cit p 636 131 Ibidem p 636 132 Ibidem 133 Ibidem p 636637 134 Ibidem
45
Entatildeo a imputabilidade de atos iliacutecitos a um Estado ocorre quando seus agentes ultrapassam
os limites dos poderes que lhe foram dados e que pode incorrer em casos omissivos ou
comissivos conforme vimos acima a previsatildeo nos Drafts Articles
Podemos entatildeo depreender que o Estado agindo de forma omissa nos casos de
proteccedilatildeo aos direitos humanos faz com que o Estado tenha responsabilidade pelos danos
causados por essa omissatildeo pois consiste em natildeo-vigilacircncia de um direito de proteccedilatildeo
Ademais ao natildeo cumprir com uma obrigaccedilatildeo internacional tambeacutem se imputa a um
determinado Estado de forma objetiva135
Na visatildeo de Canccedilado Trindade juiz do Tribunal Internacional de Justiccedila na
ocorrecircncia de grave violaccedilatildeo de direitos humanos pouco importa a diferenciaccedilatildeo de jure
imperii (atos cometidos pelo proacuteprio governo) e jure gestionis (atos praticados por entes
privados com aquiescecircncia do Estado) Para o magistrado tal classificaccedilatildeo natildeo tem
importacircncia devido a gravidade dos atos e portanto o Estado deve ser responsabilizado136
136 Violaccedilatildeo de uma Obrigaccedilatildeo Internacional
A respeito da violaccedilatildeo de uma obrigaccedilatildeo internacional dois pontos devem ser
analisados sobre qual a forma de violaccedilatildeo ocorreu ou seja se foi violaccedilatildeo de obrigaccedilotildees
entre Estados atraveacutes de tratados e obrigaccedilotildees dos Estados perante a comunidade
internacional Assim o primeiro ponto referente a obrigaccedilotildees inter partes refere-se a
descumprimentos de tratados bilaterais ou multilaterais jaacute o segundo ponto eacute referente agrave
proteccedilatildeo de um interesse coletivo acordado em tratados multilaterais abertos137
No entanto quanto agraves obrigaccedilotildees dos Estados perante a comunidade internacional
sendo estas obrigaccedilotildees erga omnes fundamento eacute o interesse puacuteblico comunitaacuterio
internacional138
Acima jaacute explicamos que a Comissatildeo de Direito Internacional rejeitou os termos
ldquocrimes internacionaisrdquo ldquocrimes de Estadordquo e inclusive ldquoiliacutecito excepcionalmente graverdquo
Nesse sentido chegaram ao termo ldquoviolaccedilotildees graves de obrigaccedilotildees internacionaisrdquo ou seja
135 MACHADO Joacutenatas E M Direito Internacional Op cit 136 INTERNATIONAL COURT OF JUSTICE Jurisdictional Immunities of the State (Germany v Italy
Greece intervening) General List Nordm 143 Disponiacutevel em httpswwwicj-cijorgencase143 Acesso em
11092020 137 MACHADO Joacutenatas E M Direito Internacional Op cit 138 Ibidem
46
os serious breach Entatildeo satildeo consideradas violaccedilotildees graves quando se tratar de violaccedilotildees
de normas jus cogens pois consistem em normas imperativas de direito internacional
137 Princiacutepio Non-Refoulement como Norma Jus Cogens
Como exposto anteriormente o princiacutepio do non-refoulement eacute de extrema
importacircncia na proteccedilatildeo internacional dos refugiados previsto no artigo 33 da Convenccedilatildeo
de 1951 Dessa forma seraacute demonstrado a seguir que o referido princiacutepio consiste em norma
jus cogens do Direito Internacional sendo portanto uma norma de elite natildeo aceitando
qualquer transgressatildeo independentemente se for unilateral bilateral ou multilateral Vimos
que ao se afirmar que determinada regra tem natureza de jus cogens os Estados estatildeo
proibidos de violar essa norma Entatildeo caracterizar o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo como norma
desta natureza configura um poderoso instrumento a fim de salvaguardar a proteccedilatildeo dos
refugiados
Aleacutem da Convenccedilatildeo de 1951 outros tratados de direitos humanos como a
Convenccedilatildeo Contra a Tortura de 1984 que em seu artigo terceiro nordm1 traz a proibiccedilatildeo de
enviar uma pessoa de volta a um paiacutes em que seraacute submetido agrave tortura como segue
ldquoNenhum Estado Parte procederaacute agrave expulsatildeo devoluccedilatildeo ou extradiccedilatildeo de uma pessoa para
outro Estado quando houver razotildees substanciais para crer que a mesma corre perigo de ali
ser submetida agrave torturardquo139
Neste aspecto destaca-se o ponto de que a Convenccedilatildeo Contra a Tortura mencionada
acima eacute mais ampla que a Convenccedilatildeo de 1951 tendo em vista que a primeira natildeo comporta
nenhuma exceccedilatildeo ou seja ningueacutem deveraacute ser enviado para algum local onde seraacute
submetido agrave tortura e a segunda traz consigo algumas exceccedilotildees140 Tal fato demonstra que
o princiacutepio do non-refoulement eacute absoluto natildeo comportando nenhuma violaccedilatildeo quando
analisado agrave luz da Convenccedilatildeo Contra a Tortura Ambas Convenccedilotildees satildeo documentos que
referem-se agrave proteccedilatildeo dos indiviacuteduos bem como proteccedilatildeo da vida assim ainda que a
Convenccedilatildeo de 1951 tenha previsto exceccedilotildees ao princiacutepio em questatildeo se um Estado
139 NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Crueacuteis Desumanos ou
Degradantes 1984 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto1990-1994D0040htm
Acesso em 12092020 140 PAULA Bruna V O Princiacutepio do Non-Refoulement sua Natureza Jus Cogens e a Proteccedilatildeo Internacional
dos Refugiados 2006 Disponiacutevel em httpsrevistaibdhorgbrindexphpibdhissueview14 Acesso em
12092020
47
promover a devoluccedilatildeo de algueacutem para lugar onde poderaacute ser submetido agrave tortura e
consequentemente ter sua vida em risco estaraacute violando a Convenccedilatildeo Contra a Tortura
Portanto apesar das exceccedilotildees previstas na Convenccedilatildeo de 1951 elas natildeo podem ser aplicadas
sob pena de violaccedilatildeo do artigo 3ordm nordm1 da Convenccedilatildeo Contra a Tortura
Dessa forma a Convenccedilatildeo de 1951 natildeo deve ser interpretada de forma isolada mas
deve ter por base os tratados de direitos humanos que complementam a garantia de proteccedilatildeo
agravequeles que necessitam ser protegidos A interpretaccedilatildeo portanto deve ser entendida dentro
do complexo juriacutedico (tratados e jurisprudecircncias)141
Ademais como jaacute visto anteriormente uma norma para ter a natureza de jus cogens
precisa cumprir dois requisitos previstos no artigo 53 da Convenccedilatildeo de Viena como segue
ldquo()uma norma aceite e reconhecida pela comunidade internacional dos Estados no seu todo
como norma cuja derrogaccedilatildeo natildeo eacute permitida ()142rdquo Portanto os dois pontos para uma
norma ser considerada jus cogens consistem em ser aceita pela comunidade internacional e
natildeo admitir derrogaccedilatildeo
Assim no que se refere ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo temos que tal princiacutepio eacute
reconhecido e aceite no todo pela comunidade internacional dos Estados pois estaacute prevista
na Convenccedilatildeo de 1951 bem como em outros tratados de direitos humanos como por
exemplo Convenccedilatildeo Contra a Tortura de 1984 jaacute mencionada anteriormente Convenccedilatildeo
Sobre os Refugiados da OUA de 1969 Convenccedilatildeo Americana Sobre os Direitos Humanos
de 1969 entre outras portanto o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo deve ser visto como uma garantia
fundamental ao refugiado pois assegura seus direitos miacutenimos como a natildeo tortura e a vida
No que tange a derrogaccedilatildeo agrave proacutepria Convenccedilatildeo de 1951 traz no artigo 42 nordm1 que
os artigos admitem reservas com exceccedilatildeo de alguns sendo que o artigo 33 referente ao
princiacutepio da natildeo-repulsatildeo natildeo admite reservas Vejamos ldquoArt 42 - Reservas 1 No momento
da assinatura da ratificaccedilatildeo ou da adesatildeo qualquer Estado poderaacute formular reservas aos
artigos da Convenccedilatildeo outros que natildeo os arts 1ordm 3ordm 4ordm 16 (1) 33 36 a 46 inclusiverdquo143 o
mesmo dispotildee o artigo 7 nordm1 do Protocolo de 1967 No mesmo sentido a interpretaccedilatildeo
conjunta do artigo 3ordm nordm1 e o artigo 2ordm nordm 2 ambos da Convenccedilatildeo Sobre a Tortura de 1984
podemos depreender que o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo previsto no artigo 3ordm natildeo pode ser
derrogado pois no artigo 2ordm dispotildee que ldquoEm nenhum caso poderatildeo invocar-se circunstacircncias
141 PAULA Bruna V Op cit 142 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo de Viena sobre o Direito dos Tratados Op cit 143 Ibidem
48
excepcionais tais como ameaccedila ou estado de guerra instabilidade poliacutetica interna ou
qualquer outra emergecircncia puacuteblica como justificaccedilatildeo para torturardquo144 No entanto mesmo se
pairasse alguma duacutevida sobre a natildeo-derrogabilidade do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo a
Resoluccedilatildeo 52132 das Naccedilotildees Unidas traz expressamente ldquo() and recalling that the
principle of non-refoulement is not subject to derogation145rdquo
Nesse prisma podemos afirmar que o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo consiste em uma
norma de natureza jus cogens e por este motivo eacute uma norma superior devendo ser
obedecida pelos Estados e em caso de violaccedilatildeo o Estado violador deveraacute ser
responsabilizado
144 NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Crueacuteis Desumanos ou
Degradantes 1984 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto1990-1994D0040htm
Acesso em 12092020 145 GENERAL ASSEMBLY UNITED NATIONS Resolution Adopted by the General Assembly ndash Resolution
52132 Human rights and mass exoduses 1998 Disponiacutevel em httpsundocsorgenARES52132 Acesso
em 12092020
49
CAPIacuteTULO 2
O ASILO NA ORDEM JURIacuteDICA EUROPEIA E NACIONAIS
Este capiacutetulo eacute destinado ao estudo da legislaccedilatildeo europeia a respeito do procedimento
de asilo bem como de legislaccedilotildees a respeito de alguns Estados europeus como Itaacutelia
Portugal Greacutecia Malta Espanha Franccedila e Alemanha Para isso em um primeiro momento
seraacute feita a anaacutelise do instituto de asilo para posteriormente analisar a ordem juriacutedica
internacional europeia e nacionais sobre o assunto
Assim foi a partir do seacuteculo XX que o fluxo de refugiados na Europa intensificou
ocasionado por vaacuterios fatos como por exemplo o fim dos impeacuterios russo e otomano a
ascensatildeo dos governos totalitaristas o comunismo que foi ressaltado no leste europeu apoacutes
a Segunda Guerra Mundial e mais recentemente a Primavera Aacuterabe146 Dessa forma passa-
se a analisar o instituto do asilo
21 O Asilo Aspectos Gerais
Inicialmente destaca-se que o instituto do asilo estaacute previsto no Tratado de Lisboa
no artigo 3ordm como segue
A Uniatildeo proporciona aos seus cidadatildeos um espaccedilo de liberdade
seguranccedila e justiccedila sem fronteiras internas em que seja assegurada a livre
circulaccedilatildeo de pessoas em conjugaccedilatildeo com medidas adequadas em
mateacuteria de controlos na fronteira externa de asilo e imigraccedilatildeo bem
como de prevenccedilatildeo da criminalidade e combate a este fenoacutemeno147
Assim logo no iniacutecio do Tratado percebemos que a questatildeo do asilo e imigraccedilatildeo eacute
assunto importante para a Uniatildeo Europeia e que por isso deve haver medidas adequadas a
este respeito bem como assuntos de controle das fronteiras portanto eacute niacutetido o destaque
que a soberania de um paiacutes tem a respeito da questatildeo do asilo assunto que seraacute abordado
adiante
146 CIERCO Teresa Op cit 147 UNIAtildeO EUROPEIA Tratado de Lisboa Disponiacutevel em
httpswwwparlamentopteuropaDocumentsTratado_Versao_Consolidadapdf Acesso em 31032020
50
A respeito da conceitualizaccedilatildeo do asilo Teresa Cierco dispotildee ldquoO asilo consiste numa
praacutetica antiga de concessatildeo de protecccedilatildeo a algueacutem em perigo () Asilo eacute o que o refugiado
procura quando sente que a sua vida ou liberdade estatildeo ameaccediladas no seu paiacutes de origemrdquo148
portanto trata-se de uma proteccedilatildeo concedida a estrangeiro em determinado Estado Assim
a referida proteccedilatildeo tem o objetivo de promover a seguranccedila do indiviacuteduo sendo esta um
direito fundamental previsto na Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem de 1948149
Haacute tambeacutem a Declaraccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre Asilo Territorial que no artigo 1ordm
nordm 1 traz a seguinte disposiccedilatildeo ldquoO asilo concedido por um Estado no exerciacutecio da sua
soberania a pessoas que tenham justificaccedilatildeo para invocar o artigo 14ordm da Declaraccedilatildeo
Universal dos Direitos do Homem ()rdquo150 Portanto o referido dispositivo traz que questatildeo
de conceder asilo estaacute inserida na questatildeo da soberania estatal tendo por base o direito de
asilo previsto na Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem
A professora Teresa Cierco chama a atenccedilatildeo no sentido de que aleacutem da Convenccedilatildeo
de 1951 a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem de 1948 tambeacutem merece destaque
nas questotildees atinentes agrave questatildeo do asilo pois em seu artigo 3ordm dispotildee ldquoTodo ser humano
tem direito agrave vida agrave liberdade e agrave seguranccedila pessoalrdquo e aleacutem deste os artigos 13 e 14 nos
quais dispotildeem a respeito agrave liberdade de locomoccedilatildeo bem como o direito de asilo
respectivamente151
Assim chama-se a atenccedilatildeo para a redaccedilatildeo do artigo 14 da Declaraccedilatildeo Universal dos
Direitos do Homem como segue
1 Todo ser humano viacutetima de perseguiccedilatildeo tem o direito de procurar e de gozar
asilo em outros paiacuteses
2 Este direito natildeo pode ser invocado em caso de perseguiccedilatildeo legitimamente
motivada por crimes de direito comum ou por atos contraacuterios aos objetivos e
princiacutepios das Naccedilotildees Unidas152
No mencionado dispositivo percebemos que no nordm 1 nada mais eacute que uma alusatildeo ao
conceito de refugiado ou seja a pessoa viacutetima de perseguiccedilatildeo tem o direito de procurar asilo
148 CIERCO Teresa Op cit p15 149 Ibidem 150 NACcedilOtildeES UNIDAS Declaraccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas Sobre o Asilo Territorial 1967 Disponiacutevel
httpswwwacnurorgfileadminDocumentosportuguesBD_LegalInstrumentos_InternacionaisDeclaracao
_ONU_Asilo_Territorialpdffile=fileadminDocumentosportuguesBD_LegalInstrumentos_Internacionais
Declaracao_ONU_Asilo_Territorial Acesso em 09032020 151 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem 1948
Disponiacutevel em httpsnacoesunidasorgwp-contentuploads201810DUDHpdf Acesso em 05032020 152 Ibidem
51
e ter uma vida digna ressalta-se poreacutem que no nordm2 haacute uma exceccedilatildeo agrave concessatildeo de asilo
isto eacute pessoas que cometeram crimes de direito comum ou que praticaram atos contraacuterios
aos princiacutepios e ideais das Naccedilotildees Unidas em teoria natildeo poderiam invocar direito de asilo
No entanto vimos que o indiviacuteduo natildeo deve requerer asilo a fim de se livrar das penalidades
impostas devido ao cometimento de crimes mas caso a pessoa corra o risco de ter seus
direitos humanos baacutesicos violados ela poderaacute cumprir a pena no local de asilo
No que tange a Convenccedilatildeo de 1951 quando um indiviacuteduo eacute reconhecido como
refugiado haacute o direito de asilo ou seja esse instituto consiste na proteccedilatildeo do indiviacuteduo tanto
na questatildeo da seguranccedila fiacutesica como tambeacutem engloba o direito de natildeo ser enviado de volta
ao paiacutes que o perseguia e tambeacutem ter agrave sua disposiccedilatildeo assistecircncia na soluccedilatildeo de problemas
referentes a sua inserccedilatildeo no novo paiacutes153
O real intuito da Convenccedilatildeo natildeo eacute instituir o direito de asilo apesar de ter esse efeito
uma vez que a pessoa adquire o status de refugiado ela possui o direito de receber o
benefiacutecio de asilo poreacutem as normas da concessatildeo do asilo ficam a criteacuterio de cada Estado
Neste aspecto cita-se como instrumentos limitadores do Estado o princiacutepio da natildeo repulsatildeo
e natildeo expulsatildeo como jaacute vimos anteriormente bem como a limitaccedilatildeo das sanccedilotildees penais
para quem entrar de forma ilegal no paiacutes154
Assim entende-se que o direito de asilo consiste em um direito que se submete agrave
soberania de cada paiacutes ou seja cada paiacutes tem a sua normatizaccedilatildeo a respeito do asilo que
deve ser seguida portanto tendo caraacuteter poliacutetico mas aleacutem de um direito poliacutetico consiste
em um direito cultural pressupondo um elo de normas entre as democracias e a
universalidade dos direitos humanos Portanto o asilo depende dos interesses de cada paiacutes
mas tambeacutem haacute o lado solidaacuterio dos Estados em socorrer as pessoas que necessitam de
proteccedilatildeo155 Diz-se portanto que os Estados possuem o poder soberano de disciplinar as
regras a respeito do asilo mas sendo limitado pelos direitos humanos
Cita-se tambeacutem a CAS ou seja Convenccedilatildeo de Aplicaccedilatildeo do Acordo de Schengen
elaborada no ano de 1985 que traz os conceitos de ldquopedido de asilordquo ldquorequerente de asilordquo
e ldquotratamento de um pedido de asilordquo Assim o primeiro consiste em qualquer pedido
apresentado por estrangeiro que esteja na fronteira externa ou no territoacuterio de uma parte
contratante podendo o pedido ser feito oralmente escrito ou qualquer outra forma e que
153 CIERCO Teresa Op cit 154 Ibidem 155 Ibidem
52
tenha intuito de que se reconheccedila a condiccedilatildeo de refugiado do requerente a fim de se obter a
autorizaccedilatildeo de residecircncia ressalta-se que se deve ter como base a Convenccedilatildeo de Genebra
1951 e o Protocolo de 1967 no que se refere ao segundo conceito consiste no estrangeiro
que requereu asilo nas condiccedilotildees previstas na CAS e ainda natildeo teve decisatildeo e por fim
entende-se por tratamento de um pedido de asilo os atos realizados durante o procedimento
ou seja os atos de anaacutelise e decisatildeo bem como as medidas a serem aplicadas156
211 O Asilo e a Soberania do Estado
Antes de analisar a questatildeo da soberania propriamente dita eacute necessaacuterio entender a
ideia de ldquoterritoacuteriordquo ou seja trata-se de um elemento fundamental do Estado sendo
constituiacutedo por partes continentais delimitado pelas suas fronteiras bem como o territoacuterio
mariacutetimo (composto pelas aacuteguas interiores arquipelaacutegicas e o mar territorial)157
Assim a questatildeo do asilo esbarra num dos pontos mais importantes do Direito
Internacional Puacuteblico que eacute a soberania do Estado e dentro deste conceito inclui o controle
de entrada saiacuteda e permanecircncia no territoacuterio de um determinado paiacutes Nesse sentido Teresa
Cierco explica ldquo() enquanto exerciacutecio de soberania estatal o direito de asilo eacute em direito
internacional o direito que um Estado tem em conceder protecccedilatildeo sobre o seu territoacuterio a
algueacutem que o solicitardquo158 portanto natildeo se trata aqui de um direito de uma pessoa em obter
asilo mas sim um direito Estatal de conceder o asilo Dessa forma o Estado concedente do
asilo pratica um ato de humanidade
No que se refere agrave obrigaccedilatildeo (ou natildeo) de um Estado conceder asilo a um refugiado
tem-se que os Estados ao assinarem instrumentos internacionais acabam por aceitar essa
ldquoobrigaccedilatildeordquo portanto natildeo se trata de direito de asilo do refugiado mas sim o direito de
concessatildeo de asilo pelo Estado Assim o Estado que acolhe pode natildeo conceder asilo mas
156 CONVENCcedilAtildeO DE APLICACcedilAtildeO DO ACORDO DE SCHENGEN Disponiacutevel em httpseur-
lexeuropaeulegal-contentptTXTuri=celex3A42000A0922280229 Acesso em 29032020 157 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Controllo dele Frontiere Statali e Respingimenti nel Diritto
Internazionale e nel Diritto del Mare In Diritto Immigrazione e Cittadinanza Nordm 12020 Disponiacutevel em
httpswwwdirittoimmigrazionecittadinanzaitarchivio-saggi-commentisaggifascicolo-n-1-2020-1532-
controllo-delle-frontiere-statali-e-respingimenti-nel-diritto-internazionale-e-nel-diritto-del-mare Acesso em
19062020 158 CIERCO Teresa Op cit p 74
53
tambeacutem natildeo pode devolver o indiviacuteduo ao paiacutes de origem sendo que natildeo haacute nenhuma
proibiccedilatildeo de enviar o indiviacuteduo para outro Estado que possa conceder asilo159
Poreacutem ao que se refere agrave soberania do Estado haacute duas situaccedilotildees contrastantes a
primeira consiste no poder dos Estados em controlar as suas fronteiras analisando quem
entra e quem sai em seu territoacuterio por outro lado a globalizaccedilatildeo integraccedilatildeo e regionalizaccedilatildeo
satildeo fenocircmenos em que resulta uma interdependecircncia dos Estados em vaacuterios pontos assim
com base nesses fenocircmenos o Estado tem sua soberania reduzida e os limites territoriais
diluiacutedos como eacute o caso da Uniatildeo Europeia160
Nos seacuteculos passados a soberania de um Estado era vista como uma condiccedilatildeo
absoluta isso significa que os governos poderiam ter quaisquer atos referentes a tratamentos
de nacionais e minorias por exemplo Contudo nas uacuteltimas deacutecadas passou-se a priorizar
os direitos humanos presente nos principais documentos internacionais portanto muitos
Estados passam a praticar atos em prol dos direitos humanos161
Devido aos fenocircmenos mencionados acima tem-se que a ideia de Estado soberano
vem se diluindo ao longo do tempo devido ao aumento da interdependecircncia dos Estados
neste ponto os Estados tentam individualmente zelar pela pouca independecircncia que lhes
restam ou seja de se defender das ameaccedilas de cunho mundial como problemas ambientais
traacuteficos internacionais iliacutecitos terrorismo entre outras situaccedilotildees multinacionais162
Nesse sentido percebemos que haacute diversos obstaacuteculos no que tange a soberania pois
os paiacuteses ao se comprometerem a respeitar os direitos humanos devem ter as decisotildees
poliacuteticas convergentes a tais direitos isso implica tanto em poliacuteticas internas quanto
externas resultando portanto em limitaccedilotildees no poder estatal163
Sabe-se que o direito dos refugiados estaacute inserido nos direitos humanos e estatildeo
presentes nas legislaccedilotildees internacionais bem como na legislaccedilatildeo nacional de cada paiacutes
Neste aspecto tem-se que um dos principais fatores de influecircncia nas medidas do paiacutes e dos
cidadatildeos como um todo eacute a situaccedilatildeo econocircmica de cada Estado assim um paiacutes com maiores
condiccedilotildees financeiras tende a receber mais refugiados Da mesma forma em tempos de que
haacute ascensatildeo da economia faz com que a concessatildeo de asilo seja maior por outro lado em
159 CIERCO Teresa Op cit 160 Ibidem 161 Ibidem 162 Ibidem 163 Ibidem
54
periacuteodos de recessatildeo um nuacutemero menor de requisiccedilatildeo de asilo eacute concedido Portanto os
paiacuteses mais generosos no que tange a aceitaccedilatildeo dos requerimentos de asilo satildeo aqueles mais
ricos e que possuem maior estabilidade interna164
No mesmo sentido Irini Papanicolopulu e Giulia Baj dispotildeem que os Estados tecircm o
direito de decidir quem seraacute admitido no territoacuterio poreacutem eacute consenso de que este direito de
rejeitar as pessoas eacute absoluto pois os Estados devem respeitar aos compromissos
internacionais firmados165
Os Estados portanto tem sua soberania limitada atraveacutes dos documentos
internacionais em que satildeo signataacuterios pois ao assinarem tais documentos se comprometem
a agirem de determinada maneira Assim os paiacuteses estatildeo limitados e natildeo possuem total
liberdade para decidirem assuntos referentes agrave concessatildeo de asilo Poreacutem nota-se da anaacutelise
praacutetica das atividades fronteiriccedilas que os Estados agem de acordo com os seus interesses166
22 A Instituiccedilatildeo de Asilo no Continente Europeu
Historicamente a Europa sempre se destacou como um continente rico e que
proporcionava riqueza e uma melhor qualidade de vida para aqueles que a habitavam aleacutem
de tambeacutem se destacar pelos governos democraacuteticos Acreditou-se que apoacutes o teacutermino da
Guerra Fria a situaccedilatildeo dos refugiados ficaria mais faacutecil devido a facilidade de fazer acordos
poreacutem natildeo foi o que aconteceu a Uniatildeo Sovieacutetica se dividiu em vaacuterios outros paiacuteses e gerou
muitos conflitos bem como muitos refugiados167
Atualmente tem-se que a situaccedilatildeo dos refugiados extrapola o acircmbito dos direitos
humanos e a questatildeo humanitaacuteria consiste tambeacutem em situaccedilotildees relacionadas agrave seguranccedila e
paz Dessa forma faz-se necessaacuterio encontrar boas soluccedilotildees (duraacuteveis) a fim de proporcionar
a maior proteccedilatildeo possiacutevel dos refugiados168
Para se falar em nuacutemeros tem-se que os recordes de refugiados na Europa ocorreram
nos anos de 2015 e 2016 sendo que neste uacuteltimo foram 1 milhatildeo e trezentos pedidos de asilo
no continente europeu no ano de 2017 foram por volta de 728 mil pedidos de asilo e quase
164 CIERCO Teresa Op cit 165 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit 166 CIERCO Teresa Op cit 167 Ibidem 168 Ibidem
55
635 mil no ano de 2018 Destes pedidos de 2018 foram concedidos por volta 333 mil
pedidos notando-se uma queda de 40 na concessatildeo de asilo quando comparado com o ano
anterior isto eacute 2017169
No que consiste a proteccedilatildeo dos refugiados a partir do ano 1989 as organizaccedilotildees
internacionais ganharam espaccedilo e passaram atuar de forma mais ampla pois anteriormente
eram limitadas pela questatildeo da soberania dos estados assim priorizou-se a ajuda
internacional humanitaacuteria sendo que a ONU passou a negociar diretamente com quem
possuiacutea o poder poliacutetico do local seja o proacuteprio Estado ou algum movimento que laacute estava
a fim de chegar ateacute os refugiados170
Os conflitos gerados apoacutes a Guerra Fria bem como outros acontecimentos
internacionais geraram uma grande instabilidade e proporcionou uma atualizaccedilatildeo do que se
entendia por seguranccedila nacional e internacional pois anteriormente isto eacute durante o periacuteodo
da disputa de poderes da Guerra Fria entendia-se como sinocircnimo de seguranccedila o poderio
beacutelico e militar desenvolvimento e evoluccedilatildeo tecnoloacutegica produccedilatildeo das induacutestrias e as
alianccedilas que poderiam trazer algum tipo de seguranccedila Assim a nova conceitualizaccedilatildeo de
seguranccedila trouxe novos problemas como por exemplo questotildees ambientais relativas agrave
poluiccedilatildeo o traacutefico de drogas crime organizado e terrorismo violaccedilatildeo dos direitos humanos
e migraccedilotildees em larga escala Isso fez com que os paiacuteses adotassem a cooperaccedilatildeo para tentar
solucionar os problemas surgindo neste contexto a OSCE que consiste na Organizaccedilatildeo para
a Seguranccedila e Cooperaccedilatildeo na Europa171
Com o desenvolvimento do assunto fez com que a regulamentaccedilatildeo passasse do
Conselho da Europa para os membros da Uniatildeo Europeia de forma cooperada mas ressalta-
se que o objetivo do referido Conselho e da UE natildeo satildeo os mesmos Enquanto o bloco
econocircmico busca caminhos para se proteger do fluxo exagerado de refugiados o Conselho
da Europa jaacute enfoca os direitos do homem e os direitos fundamentais portanto enfoques
quase que antagocircnicos Assim o Conselho da Europa consiste em um foacuterum de paiacuteses da
Europa sendo sua composiccedilatildeo por 47 membros e trata-se de um oacutergatildeo voltado para a defesa
dos direitos do homem172
169 PARLAMENTO EUROPEU Asilo e Migraccedilatildeo na UE em Nuacutemeros 2019 Disponiacutevel em
httpswwweuroparleuropaeunewsptheadlinesprioritiesmigracao20170629STO78630asilo-e-
migracao-na-ue-em-numeros Acesso em 06042020 170 CIERCO Teresa Op cit 171 Ibidem 172 Ibidem
56
Existem muitos documentos adotados ao longo do tempo pelo referido oacutergatildeo que
tratam da questatildeo do asilo e direito dos refugiados Dessa forma apenas como uma
demonstraccedilatildeo histoacuterica cita-se abaixo alguns documentos que Teresa Cierco destacou173
bull Recomendaccedilatildeo nordm 293 (elaborada em 1961 pela Assembleia Consultiva do
Conselho da Europa) que sugere a inserccedilatildeo de um artigo referente agrave questatildeo
de asilo em protocolo da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos do Homem
bull Recomendaccedilatildeo nordm 434 (elaborada em 1965 tambeacutem pela Assembleia
Consultiva do Conselho da Europa) que refere ao direito de asilo aos
refugiados do continente europeu destacando a ideia de que o direito de asilo
faz parte das tradiccedilotildees do continente europeu e faz um convite aos paiacuteses a
respeitarem o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo
bull Resoluccedilatildeo nordm 14 (elaborada pelo Comitecirc de Ministros em 1967) e trata da
questatildeo da concessatildeo de asilo agraves pessoas que satildeo ameaccediladas de perseguiccedilatildeo
promovendo asilo a fim de evitar sofrimento a partir de algum tipo de
negativa de entrada expulsatildeo ou qualquer outro ato que leve o indiviacuteduo a
permanecer ou regressar para local onde sofre perseguiccedilatildeo
bull Resoluccedilatildeo nordm 817 (elaborada pela Assembleia Parlamentar em 1977) apoia a
Resoluccedilatildeo nordm 14 jaacute mencionada acima e pede o reconhecimento da Comissatildeo
Europeia dos Direitos do Homem como competente para a anaacutelise das
requisiccedilotildees de asilo bem como a manutenccedilatildeo de comportamento liberal
perante os indiviacuteduos que requerem asilo em seus paiacuteses Isso porque a
Convenccedilatildeo Sobre Asilo Territorial fracassou assim essa resoluccedilatildeo veio para
reafirmar as previsotildees que jaacute existiam e considerar o instituto do asilo como
ato humanitaacuterio
bull Recomendaccedilatildeo nordm 1088 (elaborada em 1988 pela Assembleia Parlamentar)
que trata sobre o direito de asilo territorial demonstra a intenccedilatildeo de proteger
de forma plena o direito de asilo territorial
bull Recomendaccedilatildeo nordm 1237 (elaborada em 1994) que se refere agraves requisiccedilotildees de
asilo que foram indeferidas e reafirmou que qualquer indiviacuteduo que sofra
173 CIERCO Teresa Op cit
57
perseguiccedilatildeo tem o direito de procurar asilo poreacutem destacou tambeacutem que
cabe agrave cada Estado a concessatildeo de asilo por se tratar de questatildeo da soberania
nacional
bull Diretiva 832004 que consiste num documento da Uniatildeo Europeia que possui
um consideraacutevel acolhimento do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo este documento
trata da normatizaccedilatildeo miacutenima necessaacuteria a fim de atingir a proteccedilatildeo
internacional Poreacutem ressalta-se que o referido princiacutepio natildeo deve ser
considerado de forma independente ou desvinculado de outras legislaccedilotildees
Assim deve-se analisar de forma conjunta com as accedilotildees realizadas para
retirar estrangeiros do territoacuterio de um determinado paiacutes ou seja situaccedilatildeo de
extradiccedilatildeo expulsatildeo e deportaccedilatildeo
No que se refere agrave deportaccedilatildeo tal medida somente eacute adotada quando o indiviacuteduo que
requereu asilo natildeo foi enquadrado no estatuto do refugiado assim o indiviacuteduo por conta
proacutepria deveraacute deixar o territoacuterio caso natildeo seja feito a medida deve ser realizada pelo Estado
Quanto agrave expulsatildeo a situaccedilatildeo eacute um pouco mais gravosa pois ldquoocorrerdquo quando o indiviacuteduo
promove atentados contra a seguranccedila nacional eou perturbe a tranquilidade puacuteblica174 No
que se refere agrave esse instituto referente aos refugiados vimos que a sua expulsatildeo deve ser
analisada com muita cautela ou seja se a pessoa se enquadrar no conceito de refugiado mas
eacute um criminoso ele natildeo pode se valer do instituto do asilo para ficar livre da penalidade no
entanto natildeo deve ser enviado para algum paiacutes em que teraacute seus direitos humanos violados
221 Principais Documentos Sobre o Asilo na Ordem Juriacutedica Europeia
Sabemos que a grandiosidade do bloco da Uniatildeo Europeia faz-se necessaacuterio uma
seacuterie de normatizaccedilotildees dos assuntos e no que tange asilo e imigraccedilatildeo eacute importante que as
disposiccedilotildees entre os paiacuteses que fazem parte do bloco sejam harmocircnicas ou seja para uma
maior efetividade das medidas de asilo e imigraccedilatildeo as regras para os paiacuteses devem ser as
mesmas Assim neste toacutepico analisa-se os principais documentos europeus que abordam o
assunto
174 CIERCO Teresa Op cit
58
bull Tratado da Uniatildeo Europeia (Tratado de Lisboa)
O TUE eacute um dos principais tratados que regem as normas a serem adotadas na Uniatildeo
Europeia Como jaacute mencionado anteriormente desde o iniacutecio (no artigo 3ordm) a UE demonstra
a sua preocupaccedilatildeo a respeito do assunto Assim a seguir analisa-se os pontos importantes
do Tratado relativos a este assunto
Dessa forma o Tiacutetulo V denominado ldquoO Espaccedilo de Liberdade Seguranccedila e Justiccedilardquo
trata mais especificamente sobre o assunto ou seja no artigo 67 nordm 2 consta
A Uniatildeo assegura a ausecircncia de controlos de pessoas nas fronteiras
internas e desenvolve uma poliacutetica comum em mateacuteria de asilo de
imigraccedilatildeo e de controlo das fronteiras externas que se baseia na
solidariedade entre Estados-Membros e que eacute equitativa em relaccedilatildeo aos
nacionais de paiacuteses terceiros175
Neste dispositivo nota-se o desejo da Uniatildeo Europeia em ter as regras sobre asilo e
imigraccedilatildeo harmonizadas bem como ressalta a ausecircncia dos controles nas fronteiras internas
Nesse sentido o Capiacutetulo 2 do Tiacutetulo V trata do assunto de asilo e imigraccedilatildeo bem como
sobre o controle das fronteiras externas No artigo 78 nordm2 haacute a disposiccedilatildeo para que se tenha
um documento uniforme referente a asilo bem como proteccedilatildeo subsidiaacuteria dos indiviacuteduos
que natildeo obterem o asilo mas mesmo assim necessitarem de proteccedilatildeo internacional e outras
situaccedilotildees referentes agraves pessoas que necessitam de acolhimento ou proteccedilatildeo
Assim como mencionado acima a UE preza pela harmonia entre as regras a respeito
de diversos assuntos e a questatildeo de asilo e imigraccedilatildeo natildeo eacute diferente isto estaacute expressamente
no artigo 78 como segue
A Uniatildeo desenvolve uma poliacutetica comum em mateacuteria de asilo de protecccedilatildeo
subsidiaacuteria e de protecccedilatildeo temporaacuteria destinada a conceder um estatuto adequado
a qualquer nacional de um paiacutes terceiro que necessite de protecccedilatildeo
internacional e a garantir a observacircncia do princiacutepio da natildeo repulsatildeo176
A UE aleacutem de enfatizar que a questatildeo do asilo tem poliacutetica comum destaca-se
tambeacutem a preocupaccedilatildeo do bloco com aqueles que necessitam de proteccedilatildeo e por isso prezam
175 UNIAtildeO EUROPEIA Tratado de Lisboa Disponiacutevel em
httpswwwparlamentopteuropaDocumentsTratado_Versao_Consolidadapdf Acesso em 31032020 176 Ibidem
59
por conceder um tratamento adequado aos indiviacuteduos que buscam proteccedilatildeo bem como
garantir a aplicaccedilatildeo do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo
Ainda eacute importante destacar que tendo em vista que o artigo 6ordm nordm 1 do TUE satildeo
reconhecidos os direitos e garantias fundamentais previstos na Carta dos Direitos
Fundamentais da Uniatildeo Europeia Nesse sentido cita-se a importacircncia do artigo 18 do
documento no qual haacute a previsatildeo do direito de asilo como um direito fundamental bem
como o artigo 19 que proiacutebe a expulsatildeo coletiva e principalmente no nordm 2 dispotildee que
ningueacutem pode ser enviado para um paiacutes onde poderaacute ser submetido agrave pena de morte tortura
e outros tratamentos desumanos e degradantes177 Reforccedilando a importacircncia do princiacutepio da
natildeo-repulsatildeo
bull Tratado de Funcionamento da Uniatildeo Europeia (TFUE)
O Tratado de Funcionamento da Uniatildeo Europeia prevecirc algumas disposiccedilotildees a
respeito do asilo No artigo 67 nordm 2 tem a disposiccedilatildeo de que a poliacutetica de asilo na UE eacute uacutenica
e baseada na solidariedade como segue ldquo() desenvolve uma poliacutetica comum em mateacuteria
de asilo de imigraccedilatildeo e de controlo das fronteiras externas que se baseia na solidariedade
entre Estados-Membros e que eacute equitativa em relaccedilatildeo aos nacionais de paiacuteses terceiros
()rdquo178
O capiacutetulo 2 do TFUE cujo tiacutetulo eacute ldquoPoliacuteticas relativas aos controlos nas fronteiras
ao asilo e agrave imigraccedilatildeordquo tem regulamenta de forma geral o assunto Nesse sentido o artigo
78 nordm 1 reitera a poliacutetica comum de asilo bem como de proteccedilotildees subsidiaacuterias e temporaacuterias
levando sempre em conta a Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 e o Protocolo de Nova Iorque
de 1967 Por sua vez o nordm 2 do artigo mencionado traz algumas orientaccedilotildees a respeito das
poliacuteticas comuns a serem adotadas pelos Estados-membros179
Nesse sentido o mencionado diploma europeu traz a exigecircncia de que a Uniatildeo
Europeia elabore poliacuteticas comuns a fim de garantir eficaacutecia na gestatildeo dos fluxos
migratoacuterios Para isso entende-se que tanto o Parlamento Europeu quanto o Conselho devem
177 UNIAtildeO EUROPEIA Carta dos Direitos Fundamentais da Uniatildeo Europeia Disponiacutevel em
httpswwweuroparleuropaeucharterpdftext_ptpdf Acesso em 27052020 178 TRATADO DE FUNCIONAMENTO DA UNIAtildeO EUROPEIA Disponiacutevel em httpseur-
lexeuropaeulegal-contentPTTXTuri=celex3A12012E2FTXT Acesso em 07042020 179 Ibidem
60
adotar medidas relacionadas a fim de coibir a imigraccedilatildeo ilegal bem como residecircncia ilegal
o traacutefico de seres humanos e tambeacutem de promover a remoccedilatildeo e repatriamento de pessoas
que estejam com status irregular180
Portanto este documento traz apontamentos gerais para que se possa elaborar uma
poliacutetica comum de asilo no continente europeu Ressalta-se que neste documento natildeo haacute
nenhuma regra a ser aplicada de forma concreta mas sim orientaccedilotildees de que a normatizaccedilatildeo
do assunto deve ser a mesma para todos os Estados-membros
bull Convenccedilatildeo de Aplicaccedilatildeo do Acordo de Schengen (CAS)
A forte corrente migratoacuteria destinada agrave Europa fez com que os paiacuteses endurecessem
as medidas referentes agrave concessatildeo de asilo Nesse sentido cita-se a CAS conforme jaacute
falamos eacute a Convenccedilatildeo de Aplicaccedilatildeo do Acordo de Schengen que trata do assunto relativo
a pedidos de asilo no Capiacutetulo 7 (artigo 28 a 38) mas foi somente no Tratado de Amsterdatilde
eacute que tal ideia eacute trazida ao acircmbito da Uniatildeo Europeia181
No capiacutetulo supramencionado da CAS o Capiacutetulo 7 denominado
ldquoResponsabilidade pelo Tratamento de Pedidos de Asilordquo faz referecircncia agrave Convenccedilatildeo de
1951 e o Protocolo de 1967 Em resumo os Estados contratantes se comprometem em
analisar qualquer pedido de asilo que forem feitos em seus territoacuterios conforme estaacute
expresso no artigo 29 nordm1 mas ressalta-se que natildeo eacute obrigatoacuteria a concessatildeo de asilo em
todos os casos (nordm 2 do mesmo artigo)182
Poreacutem um Estado-membro com base nas suas normas nacionais pode enviar o
requerente de asilo para outro Estado e ateacute mesmo expulsar este uacuteltimo com muita
ponderaccedilatildeo desde que obedeccedila ao que estaacute previsto nos compromissos internacionais tal
disposiccedilatildeo consta tambeacutem no nordm 2 do artigo 29183 Mais uma vez ressalta-se que na
expulsatildeo em hipoacutetese alguma deve-se enviar o indiviacuteduo para algum local natildeo seguro
180 TANI Ilaria Ricerca e Soccorso nel Mediterraneo Centrale tra Diritto Internazionale e Nuove (Discutibili)
Qualificazioni del Fenomeno Migratorio In Diritto Immigrazione e Cittadinanza Nordm 32019 Disponiacutevel em
httpswwwdirittoimmigrazionecittadinanzaitarchivio-saggi-commentisaggifascicolo-n-3-2019-1474-
ricerca-e-soccorso-nel-mediterraneo-centrale-tra-diritto-internazionale-e-nuove-discutibili-qualificazioni-del-
fenomeno-migratoriofile Acesso em 22082020 181 CIERCO Teresa Op cit 182 CONVENCcedilAtildeO DE APLICACcedilAtildeO DO ACORDO DE SCHENGEN 1985 Op cit 183 Ibidem
61
Este documento traz tambeacutem qual o Estado-membro que deve analisar o pedido de
asilo trazendo portanto as regras no artigo 30 ou seja se o Estado-membro emitiu algum
visto para o indiviacuteduo ele eacute responsaacutevel pela anaacutelise ou se outro paiacutes deu autorizaccedilatildeo para
esse visto eacute o paiacutes da autorizaccedilatildeo o responsaacutevel em casos de mais de um Estado-membro
conceder algum visto o responsaacutevel eacute o que deu o visto de maior duraccedilatildeo caso o indiviacuteduo
tenha ingressado no territoacuterio sem os documentos necessaacuterios o responsaacutevel eacute o Estado-
membro em que o requerente de asilo entrou184
O documento em seu artigo 32 traz que o direito a ser aplicado no procedimento de
asilo das partes contratantes da CAS seraacute o direito nacional Portanto cada paiacutes tem a sua
independecircncia no acircmbito interno podendo aplicar as suas regras no procedimento de asilo
desde que natildeo contrarie os compromissos internacionais assumidos185
bull Convenccedilatildeo de Dublin
O alto fluxo de refugiados e as discussotildees entre os governos fez com que fosse
elaborada em 1990 a Convenccedilatildeo de Dublin (ou Regulamento Dublin) assinada pelos
paiacuteses Beacutelgica Dinamarca Alemanha Greacutecia Espanha Franccedila Irlanda Itaacutelia
Luxemburgo Holanda Portugal e Reino Unido186 Assim a finalidade era obter soluccedilatildeo
para a alta quantidade de requisiccedilatildeo de asilo Tal documento consistiu em um relevante ato
com intuito de harmonizar o direito de asilo nos paiacuteses Anteriormente as opccedilotildees eram
impedir os refugiados de entrar e requerer asilo situaccedilatildeo que contrariava o previsto na
Convenccedilatildeo de Schengen (mencionada anteriormente) ou tentar fazer com que as normas a
respeito de asilo fossem harmocircnicas Nesse sentido alguns paiacuteses limitavam a entrada de
requerentes de asilo e fazia com que estes fossem para outros paiacuteses mas que tais atitudes
em nada ajudavam na soluccedilatildeo da situaccedilatildeo187
Esta Convenccedilatildeo consiste na base do direito de asilo no sistema europeu que
determina qual paiacutes eacute responsaacutevel pela anaacutelise dos pedidos de proteccedilatildeo internacional e no
ano de 2017 foi autorizado pelo Parlamento Europeu uma reforma desta Convenccedilatildeo poreacutem
184 CONVENCcedilAtildeO DE APLICACcedilAtildeO DO ACORDO DE SCHENGEN 1985 Op cit 185 Ibidem 186 UNIAtildeO EUROPEIA CONVENCcedilAtildeO DE DUBLIN 1990 Disponiacutevel httpseur-lexeuropaeulegal-
contentPTALLuri=celex3A41997A0819280129 Acesso em 06042020 187 CIERCO Teresa Op cit
62
natildeo houve acordo a respeito ateacute o momento188 no entanto no mecircs de setembro de 2020 foi
apresentada a proposta do Novo Pacto sobre Migraccedilatildeo e Asilo que se aprovado substituiraacute
a Convenccedilatildeo tratada nesse toacutepico
Assim a Convenccedilatildeo de Dublin consistiu em um marco do direito humanitaacuterio dos
refugiados e pretendeu pocircr fim agraves situaccedilotildees em que colocavam os refugiados a circular por
vaacuterios paiacuteses sem que nenhum Estado analisasse o pedido de asilo Vaacuterias satildeo as disposiccedilotildees
a respeito do direito dos refugiados uma delas eacute a situaccedilatildeo citada anteriormente (na
Convenccedilatildeo de Schengen) isto eacute qual paiacutes eacute responsaacutevel pela anaacutelise do pedido de asilo
dessa forma entende-se que caso o refugiado tenha algum laccedilo familiar (o indiviacuteduo tiver
algum familiar em algum Estado membro) laccedilo institucional (possuir algum visto ou tiacutetulo
de residecircncia) ou inclusive entrou de forma ilegal por algum paiacutes a competecircncia para anaacutelise
da concessatildeo de asilo eacute do Estado em questatildeo ou seja no paiacutes onde estaacute o familiar onde
tem visto ou residecircncia ou no paiacutes em que entrou de forma natildeo permitida Caso o refugiado
natildeo se enquadrar nestas situaccedilotildees o paiacutes competente para analisar o pedido de asilo eacute o
primeiro paiacutes que recebeu a requisiccedilatildeo189
Em 1991 a Comissatildeo elaborou uma comunicaccedilatildeo a fim de adotar 3 medidas atinentes
ao asilo e imigraccedilatildeo no continente europeu quais sejam a primeira consistia na ldquopressatildeo
migratoacuteriardquo que levava em consideraccedilatildeo as migraccedilotildees reais e potenciais que tinham como
destino a Europa a segunda medida referia-se ao controle dos fluxos migratoacuterios levando
em conta as obrigaccedilotildees internacionais dos Estados bem como os ideais humanitaacuterios por
fim a terceira medida consistia no melhor entendimento nas medidas adotadas para integrar
os imigrantes com status legal190
Aleacutem disso conforme previsto na Convenccedilatildeo de Dublin no ano de 1992 foram
criados dois centros de informaccedilatildeo relativos agrave questatildeo dos refugiados o CIREA que
consiste no Centro de Informaccedilatildeo Investigaccedilatildeo e Intercacircmbio em Mateacuteria de Asilo e o
CIREFI que eacute o Centro de Informaccedilatildeo Investigaccedilatildeo e Intercacircmbio em Mateacuteria de Passagem
das Fronteiras e de Imigraccedilatildeo ambos para auxiliar na obtenccedilatildeo de informaccedilotildees e evitar a
188 PARLAMENTO EUROPEU Regras do Sistema de Asilo da UE a posiccedilatildeo do Parlamento sobre a reforma
da regulaccedilatildeo de Dublin Atualizado em 25072019 Disponiacutevel em
httpswwweuroparleuropaeunewsptheadlinesworld20180615STO05927regras-do-asilo-da-ue-
posicao-do-parlamento-sobre-a-reforma-da-regulacao-dublin Acesso em 06042020 189 CIERCO Teresa Op cit 190 Ibidem
63
imigraccedilatildeo clandestina utilizaccedilatildeo de documentos falsos bem como a responsabilizaccedilatildeo dos
infratores neste quesito191
Poreacutem faz-se necessaacuterio fazer uma observaccedilatildeo na explicaccedilatildeo pois em 1992 em
contrapartida aos documentos que buscavam garantir o direito internacional dos refugiados
que tinham base nos ideais humanitaacuterios e proteccedilatildeo foram editadas as ldquoResoluccedilotildees de
Londresrdquo que em partes seguiam na contramatildeo da proteccedilatildeo internacional dos refugiados
Tal ideia se firmou devido tal documento englobar resoluccedilotildees que davam mais liberdades
aos Estados para natildeo enquadrar um indiviacuteduo como refugiado (nos moldes da Convenccedilatildeo
de 1951) pois diziam sobre ldquopedidos de asilo manifestamente infundadosrdquo ldquopaiacuteses que natildeo
se verificavam graves riscos de perseguiccedilatildeordquo e ldquoabordagem harmonizada das questotildees
referentes ao paiacutes terceiro de acolhimentordquo Desse modo menciona-se a possiacutevel lesatildeo a um
dos principais princiacutepios do Direito Internacional dos Refugiados que consiste na anaacutelise
individual de cada pedido de asilo192
Voltando ao que tange a Convenccedilatildeo de Dublin destaca-se que em 2002 a Comissatildeo
Europeia fez com que o CIREA e o CIREFI cessassem suas atividades sendo criado o
EURASIL Assim foi criado o Gabinete Europeu de Apoio ao Asilo (EASO) que assumiu
a responsabilidade pelo EURASIL bem como as atividades deste193 Ressalta-se que o
EASO como o proacuteprio nome jaacute diz eacute responsaacutevel por implementar o Sistema Europeu
Comum de Asilo (SECA) apoiar e fortalecer a cooperaccedilatildeo entre os Estados-membros no
que se refere ao asilo bem como auxiliar operacionalmente os Estados-membros194
O SECA (ou CEAS em inglecircs) por sua vez tem por base o artigo 78 do Tratado de
Funcionamento da Uniatildeo Europeia (TFUE) e consiste em uma estrutura de regras que
estabelecem procedimentos comuns no que tange a proteccedilatildeo internacional bem como uma
uniformidade de status agravequeles que satildeo considerados refugiados ou possuem alguma
proteccedilatildeo subsidiaacuteria visando agrave uniformidade ou harmonizaccedilatildeo dos sistemas de asilo da
Uniatildeo Europeia tendo sempre por base a Convenccedilatildeo de Genebra de 1951195
191 CIERCO Teresa Op cit 192 Ibidem 193 COMISSAtildeO EUROPEIA EURASIL Disponiacutevel em httpseceuropaeuhome-affairswhat-we-
donetworkseuropean_migration_networkglossary_searcheurasil_en Acesso em 06042020 194 COMISSAtildeO EUROPEIA European Asylum Support Office (EASO) Disponiacutevel em
httpseceuropaeuhome-affairswhat-we-
donetworkseuropean_migration_networkglossary_searcheuropean-asylum-support-office-easo_en Acesso
em 06042020 195 COMISSAtildeO EUROPEIA Common European Asylum Sistem (CEAS) ndash Definition(s) Disponiacutevel em
httpseceuropaeuhome-affairswhat-we-
64
A Convenccedilatildeo de Dublin assim como outros documentos jaacute mencionados traz
conceitos para melhor entendimento dos termos utilizados no corpo do texto Nesse sentido
esta Convenccedilatildeo traz a conceituaccedilatildeo de estrangeiros pedido de asilo requerente de asilo
anaacutelise de um pedido de asilo tiacutetulo de residecircncia visto de entrada e visto de tracircnsito tais
conceitos estatildeo em consonacircncia com a conceituaccedilatildeo presente nos outros documentos jaacute
citados
Logo no iniacutecio no artigo 2ordm desta Convenccedilatildeo faz-se a alusatildeo agrave Convenccedilatildeo de
Genebra de 1951 e o Protocolo de Nova Iorque de 1967 ou seja ocorre a reiteraccedilatildeo do que
estaacute previsto nestes documentos pelos paiacuteses signataacuterios Assim de forma geral os
dispositivos presentes nesta Convenccedilatildeo estatildeo de acordo com vaacuterias previsotildees na CAS no
capiacutetulo 7
No entanto conforme jaacute mencionado acima desde o ano de 2017 discute-se a
possibilidade de reforma deste documento pois com a crise migratoacuteria que o continente
europeu vem sofrendo foram expostos os defeitos presentes na referida Convenccedilatildeo Dessa
forma as sugestotildees de reforma satildeo alterar a responsabilidade automaacutetica de um Estado-
membro de analisar um pedido de asilo quando o refugiado entrar por este paiacutes as pessoas
que requererem asilo e tiverem uma ldquoligaccedilatildeo genuiacutenardquo com determinado paiacutes do Estado-
membro essas pessoas devem ser enviadas para este paiacutes os que natildeo possuiacuterem tal ldquoligaccedilatildeo
genuiacutenardquo devem ser distribuiacutedos de forma igualitaacuteria para os demais Estados-membros (sob
pena de perda de acesso ao fundo europeu os paiacuteses que natildeo aceitarem esta determinaccedilatildeo)
intensificar as medidas de seguranccedila devendo as pessoas que chegarem com intuito de
requisiccedilatildeo de asilo serem identificadas e colhidas as impressotildees digitais destas reforccedilar as
regras relativas aos menores e acelerar o reagrupamento familiar entre outras sugestotildees196
Pretende-se portanto com a reforma a divisatildeo de responsabilidade pelos
requerentes de asilo para todos os Estados-membros tendo uma justa reparticcedilatildeo com base
na populaccedilatildeo e no PIB de cada Estado-membro197 A ideia natildeo eacute alterar as regras jaacute existentes
donetworkseuropean_migration_networkglossary_searchcommon-european-asylum-system-ceas_en
Acesso em 06042020 196 PARLAMENTO EUROPEU Regras do Sistema de Asilo da UE a posiccedilatildeo do Parlamento sobre a reforma
da regulaccedilatildeo de Dublin Atualizado em 25072019 Disponiacutevel em
httpswwweuroparleuropaeunewsptheadlinesworld20180615STO05927regras-do-asilo-da-ue-
posicao-do-parlamento-sobre-a-reforma-da-regulacao-dublin Acesso em 06042020 197 Ibidem
65
para determinar qual paiacutes eacute responsaacutevel pela anaacutelise dos pedidos de asilo mas sim uma
revisatildeo do regime previsto simplificando e complementando o que jaacute estaacute em vigor198
Como jaacute mencionado a Convenccedilatildeo de Dublin foi elaborada no ano de 1990 sendo
que em 2003 e 2013 houve a ediccedilatildeo dos regulamentos II e III (duas reformas)
respectivamente sendo que o Regulamento III estaacute em vigor desde 2014 Assim o sistema
de asilo previsto pelo ldquoSistema Dublinrdquo natildeo objetivou o compartilhamento de
responsabilidades dos Estados-membros pois o principal objetivo era a responsabilidade de
um determinado paiacutes para analisar as requisiccedilotildees de asilo199
Dessa forma o Regulamento Dublin III (uacuteltima reforma) indica qual Estado-membro
eacute o responsaacutevel por analisar um pedido de asilo passando por um criteacuterio hieraacuterquico de
anaacutelise ou seja unidade familiar existecircncia de visto ou autorizaccedilatildeo de residecircncia se a
entrada foi irregular ou se teve isenccedilatildeo de visto ao entrar etc mas ressalta-se que a forma
mais comum aplicada eacute a do paiacutes da UE onde o indiviacuteduo entrou200
A ideia de que o Parlamento Europeu requer um mecanismo vinculativo para que
haja uma distribuiccedilatildeo justa dos requerentes de asilo pelos Estados-membros da Uniatildeo
Europeia vem desde o ano de 2009 tendo sido editadas resoluccedilotildees pelo oacutergatildeo em 2009
2013 2014 e 2015 Na resoluccedilatildeo de abril de 2016 destacou-se a questatildeo da regiatildeo do
Mediterracircneo com a necessidade alterar a abordagem da migraccedilatildeo201
Assim a ideia do Parlamento Europeu eacute rever o criteacuterio de entrada ou seja o paiacutes
por onde entrou o indiviacuteduo eacute o responsaacutevel pela anaacutelise do pedido de asilo Entatildeo o
mencionado oacutergatildeo defende ter um sistema central de atribuiccedilatildeo de responsabilidade pelos
requerentes de asilo prevendo limites para cada paiacutes com base no nuacutemero de chegadas
Poreacutem a alocaccedilatildeo de responsabilidade natildeo deve excluir as questotildees de unidade familiar e
interesses da crianccedila202
As principais ideias do Parlamento Europeu eacute um sistema automatizado para
monitorar os pedidos de asilo recebidos e o nuacutemero dos pedidos em cada Estado-membro
tambeacutem haver um mecanismo para determinar quando um paiacutes estaacute com casos
198 PARLAMENTO EUROPEU Reform of the Dublin system Disponiacutevel em
httpswwweuroparleuropaeuRegDataetudesBRIE2016586639EPRS_BRI28201629586639_ENp
df Acesso em 07042020 199 Ibidem 200 Ibidem 201 Ibidem 202 Ibidem
66
desproporcionais de procedimento de asilo Portanto quando um paiacutes tiver o nuacutemero de
pedidos de asilo superior 150 da accedilatildeo de referecircncia seria ativado um mecanismo para
realocar os novos pedidos de asilo em toda a Uniatildeo Europeia Caso um paiacutes natildeo aceite a
atribuiccedilatildeo dos requerentes de asilo deveraacute arcar com a ldquocontribuiccedilatildeo de solidariedaderdquo de
250 mil euros por candidato203
No entanto no dia 23 de setembro de 2020 foi apresentada uma proposta da
Comissatildeo Europeia a respeito de um novo documento sobre a migraccedilatildeo chamado ldquoNovo
Pacto sobre Migraccedilatildeo e Asilordquo A intenccedilatildeo desse pacto eacute a substituiccedilatildeo da Convenccedilatildeo de
Dublin que jaacute foi reformada por duas vezes (Regulamentos II e III) A ideia desse Novo
Pacto eacute para ter uma melhor divisatildeo da responsabilidade entre os paiacuteses da UE (tendo um
mecanismo melhor de realocaccedilatildeo) prevendo maior solidariedade entre os Estados-membros
com a finalidade de reduzir o ocircnus dos Estados mais afetados pela migraccedilatildeo como a Itaacutelia
Greacutecia e Espanha agilidade e eficaacutecia nos procedimentos nas fronteiras e mudanccedila de
paradigma com paiacuteses terceiros no que se refere agrave cooperaccedilatildeo Uma das novidades na
proposta eacute tentar agradar paiacuteses pouco receptivos com os refugiados como a Aacuteustria Polocircnia
e Hungria ou seja estes paiacuteses podem ser responsaacuteveis pela deportaccedilatildeo do migrante caso o
pedido de asilo seja negado aleacutem disso os Estados-membros poderatildeo acolher requerentes
de asilo que entraram por outro paiacutes na UE Ressalta-se poreacutem que essa proposta deve ser
analisada ainda pelo Conselho da UE e pelo Parlamento Europeu204
bull Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos
Eacute o documento adotado pelo Tribunal Europeu dos Direitos Humanos sendo que
para o presente trabalho destaca-se a importacircncia do artigo 3ordm deste documento tendo em
vista a condenaccedilatildeo de paiacuteses europeus por violaccedilatildeo do respectivo dispositivo Sendo assim
o supramencionado artigo prevecirc a proibiccedilatildeo da tortura como segue ldquoNingueacutem pode ser
submetido a torturas nem a penas ou tratamentos desumanos ou degradantesrdquo205
203 PARLAMENTO EUROPEU Reform of the Dublin system Op cit 204 DEUTSCHE WELLE (DW) Novo Pacto Migratoacuterio da UE descarta realocaccedilatildeo obrigatoacuteria 2020
Disponiacutevel em httpswwwdwcompt-brnovo-pacto-migratC3B3rio-da-ue-descarta-
realocaC3A7C3A3o-obrigatC3B3riaa-55029567 Acesso em 09102020 205 CONSELHO EUROPEU Convenccedilatildeo Europeia de Direitos Humanos Op cit
67
Outro artigo comumente violado eacute o artigo 4ordm dessa Convenccedilatildeo que consiste na
proibiccedilatildeo de expulsatildeo coletiva Assim eacute proibido que um Estado rejeite coletivamente os
migrantes sem qualquer identificaccedilatildeo sem uma anaacutelise de cada caso A exemplo disso cita-
se o caso Hirsi Jamaa que veremos adiante em que a Itaacutelia repeliu os migrantes no mar
levando-os de volta para Liacutebia sem qualquer identificaccedilatildeo
Tambeacutem de igual importacircncia satildeo os artigos 2ordm e 5ordm que prezam pela proteccedilatildeo da
vida e liberdade e seguranccedila dos migrantes respectivamente Dessa forma notamos que a
CEDH preza pela dignidade dos migrantes apontando expressamente os principais direitos
sendo que estes natildeo devem ser violados
Assim no capiacutetulo 3 e 4 seratildeo analisados casos da referida Corte Europeia para ter
um melhor entendimento da aplicaccedilatildeo deste dispositivo devido a devoluccedilatildeo de refugiados
no mar para a Liacutebia e tendo em vista a situaccedilatildeo no paiacutes norte-africano (que veremos mais
detalhadamente no capiacutetulo 4) essa devoluccedilatildeo configura o envio de pessoas para a tortura e
tratamentos desumanos
bull Diretivas 201195UE 201332UE 201333UE e 2008115CE
A ideia da Uniatildeo Europeia desde 1999 eacute ter um Sistema Europeu Comum de Asilo
(SECA) e as atitudes da UE sempre foram para buscar a harmonizaccedilatildeo dessas leis destaca-
se a criaccedilatildeo do Fundo Europeu para os Refugiados diretivas elaboradas para respostas de
altos fluxos de migrantes Assim o SECA era alicerccedilado em trecircs pilares sendo eles a
harmonia das normas de proteccedilatildeo cooperaccedilatildeo entre os paiacuteses membros e maior
solidariedade entre os paiacuteses da UE e esta com os demais paiacuteses (natildeo pertencentes agrave UE)206
Vaacuterios satildeo os documentos elaborados para obter a harmonia desejada alguns deles
inclusive jaacute discutidos neste trabalho Poreacutem aleacutem destes documentos tem-se as diretivas
europeias que norteiam os Estados-membros a fim de obter o tatildeo desejado ldquosistema comumrdquo
Assim cita-se algumas importantes diretivas Diretiva 201195UE Diretiva 201332UE
Diretiva 201333UE e 2008115CE
A primeira (Diretiva 201195UE) traz as motivaccedilotildees para que se conceda a proteccedilatildeo
internacional bem como melhorar as medidas de integraccedilatildeo para os indiviacuteduos que
206 COMISSAtildeO EUROPEIA Common European Asylum System Disponiacutevel em httpseceuropaeuhome-
affairswhat-we-dopoliciesasylum_en Acesso em 27052020
68
receberem a proteccedilatildeo internacional207 Portanto esta diretiva tem por finalidade
ldquoestabelecer normas comuns relativas agrave identificaccedilatildeo dos cidadatildeos de paiacuteses terceiros ou
apaacutetridas que necessitam verdadeiramente de proteccedilatildeo internacional na Uniatildeo Europeia
(UE) como refugiados ou beneficiaacuterios de proteccedilatildeo subsidiaacuteriardquo208
Assim essa Diretiva traz normas comuns para o enquadramento no status de
refugiado ou de proteccedilatildeo subsidiaacuteria ressaltando que os paiacuteses membros podem ter normas
mais beneacuteficas do que as previstas no mencionado documento Tem-se aqui que a condiccedilatildeo
de refugiado tem por base a Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 e a proteccedilatildeo subsidiaacuteria traz a
situaccedilatildeo quando natildeo haacute o enquadramento na condiccedilatildeo de refugiado poreacutem o indiviacuteduo tem
um risco real de sofrer uma ofensa grave caso retorne para seu paiacutes de origem (entende-se
por ofensa grave a pena de morte tortura ameaccedila agrave integridade fiacutesica ou agrave vida)209
A Diretiva 201332UE refere-se aos procedimentos de asilo e tem a finalidade de
decisotildees de asilo mais justas raacutepidas e de melhor qualidade Sendo assim os procedimentos
natildeo devem ultrapassar o periacuteodo de 6 meses Esse documento tambeacutem traacutes garantias
especiacuteficas para menores natildeo acompanhados e pessoas com necessidades especiais (idosos
deficientes doenccedila orientaccedilatildeo sexual trauma entre outros)210
A Diretiva 201333UE refere-se agraves condiccedilotildees de acolhimento dos requerentes de
proteccedilatildeo internacional ou seja a questatildeo da moradia e de vida dos requerentes de proteccedilatildeo
internacional Dessa maneira eacute de extrema importacircncia que os direitos fundamentais dos
indiviacuteduos sejam respeitados bem como se for o caso de detenccedilatildeo do indiviacuteduo que seja
em uacuteltimo recurso211
E por fim a Diretiva 2008115CE refere-se aos procedimentos comuns dos Estados-
membros para regresso de cidadatildeos de paiacuteses terceiros que natildeo estatildeo com sua situaccedilatildeo
regularizada no entanto chama-se a atenccedilatildeo do artigo 5ordm deste documento no qual consta
entre outras disposiccedilotildees que os Estados-membros devem respeitar o princiacutepio da natildeo-
repulsatildeo como segue ldquoc) O estado de sauacutede do nacional de paiacutes terceiro em causa e
207 COMISSAtildeO EUROPEIA Common European Asylum System Op cit 208 EUR-LEX Diretiva 201195UE Disponiacutevel em httpseur-lexeuropaeulegal-
contentPTLSUuri=celex32011L0095 Acesso em 27052020 209 Ibidem 210 EUR-LEX Diretiva 201332UE Disponiacutevel em httpseur-lexeuropaeulegal-
contentPTTXTuri=LEGISSUM23010502_1 Acesso em 27052020 211 EUR-LEX Diretiva 201333UE Disponiacutevel em httpseur-lexeuropaeulegal-
contentPTTXTuri=LEGISSUM23010502_2 Acesso em 27052020
69
respeitar o princiacutepio da natildeo-repulsatildeordquo212 Portanto apesar da mencionada diretiva dispor a
respeito do retorno de pessoas com situaccedilatildeo irregular ela consta expressamente o respeito
ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo
23 Ordens juriacutedicas nacionais Itaacutelia Portugal Greacutecia Malta Espanha
Franccedila e Alemanha
Este toacutepico eacute destinado ao estudo de algumas legislaccedilotildees nacionais a fim de comparar
os respectivos ordenamentos juriacutedicos Assim foram escolhidos paiacuteses como Itaacutelia Greacutecia
e Malta por sofrerem constantemente com chegada de refugiados pelo Mar Mediterracircneo
Franccedila e Alemanha por serem paiacuteses que apesar de natildeo estarem proacuteximos do Mar
Mediterracircneo recebem milhares de refugiados todos os anos Espanha e Portugal pela
proximidade com o Mediterracircneo sendo que a Espanha jaacute ofereceu porto para desembarque
de um barco de refugiados quando este foi rejeitado pela Itaacutelia213 Para anaacutelise da legislaccedilatildeo
de asiloproteccedilatildeo internacional dos paiacuteses foram utilizados livros mas principalmente
consulta nos sites dos governos de cada paiacutes
231 Itaacutelia
No ano de 2016 foi o auge de desembarques de migrantes na Itaacutelia foram 181436
migrantes que desembarcaram em busca de proteccedilatildeo internacional Nos anos seguintes
houve uma diminuiccedilatildeo de pessoas que chegaram no paiacutes sendo 11097 pessoas no ano de
2019 Poreacutem ao se comparar o periacuteodo de janeiro a junho de 2019 com o mesmo periacuteodo
em 2020 (ateacute o dia 15062020) nota-se um aumento de 2144 para 5639 migrantes214
Na Itaacutelia entende-se que assim que o migrante chegar agrave costa do paiacutes deve haver um
breve reconhecimento do tratamento daqueles que procuram proteccedilatildeo apoacutes isso procede-se
212 UNIAtildeO EUROPEIA Diretiva 2008115CE Disponiacutevel em httpseur-lexeuropaeulegal-
contentPTTXTuri=CELEX3A32008L0115 Acesso em 27052020 213 Situaccedilatildeo que ocorreu em agosto de 2019 quando a Itaacutelia recusou o desembarque do barco Open Arms e a
Espanha ofereceu porto poreacutem a ONG responsaacutevel rejeitou o pedido dizendo que natildeo havia condiccedilotildees para
uma jornada tatildeo longa ateacute a Espanha pois jaacute estavam a 17 dias no mar Fonte Jornal El Paiacutes Espanha oferece
porto para navio com imigrantes rejeitados pela Itaacutelia mas ONG recusa Disponiacutevel
httpsbrasilelpaiscombrasil20190818internacional1566124937_065336html Acesso em 07042020 214 MINISTERO DELLrsquoINTERNO Cruscotto statistico giornaliero Disponiacutevel em
httpwwwlibertaciviliimmigrazionedlciinternogovititdocumentazionestatisticacruscotto-statistico-
giornaliero Acesso em 19062020
70
agrave anaacutelise do procedimento de asilo e dos pedidos de proteccedilatildeo internacional Assim em um
primeiro momento faz-se uma distinccedilatildeo entre os migrantes econocircmicos e agravequeles que
solicitam a proteccedilatildeo internacional215
Nesse sentido em setembro de 2015 o Ministeacuterio do Interior da Itaacutelia publicou a
ldquoRoadmap italianardquo que consiste em explicar as medidas adotadas pelo governo para
administrar os migrantes que chegariam na costa italiana Ressalta-se poreacutem que natildeo
consiste em um texto legal mas sim uma nota de endereccedilo formal presente em uma circular
ministerial publicada no mecircs seguinte216
A ideia eacute que todos migrantes que cheguem aos pontos chamados ldquocentros de criserdquo
que ficam proacuteximos aos principais portos no sul da Itaacutelia para que ocorra uma preacute-
identificaccedilatildeo anaacutelise das condiccedilotildees de sauacutede e tambeacutem a respeito da entrada ilegal
ressalta-se que tais centros satildeo fechados ou seja ocorre uma privaccedilatildeo de liberdade
temporaacuteria para que sejam feitos os procedimentos necessaacuterios217
Sobre os chamados ldquocentros de criserdquo notamos que o artigo 8 nuacutemero 2 do Decreto
Legislativo 1422015 reitera a preacute-identificaccedilatildeo dos requerentes de proteccedilatildeo internacional
nos termos previstos no Decreto-Lei nordm 451 de 30 de outubro de 1995 em que prevecirc a criaccedilatildeo
dessas estruturas de acolhimento218
Dessa forma destaca-se a importacircncia de haver uma distinccedilatildeo nestes ldquocentros de
criserdquo dos migrantes econocircmicos dos que procuram proteccedilatildeo internacional humanitaacuteria219
ou seja eacute importante haver a distinccedilatildeo do tipo de migrante para saber se o indiviacuteduo se
enquadra nas hipoacuteteses de refugiado (conforme jaacute visto anteriormente na Convenccedilatildeo da
ONU de 1951) e assim receber proteccedilatildeo internacional220
Os requerimentos de asilo devem ser realizados nos postos de fronteira (ou na poliacutecia
de fronteira) poreacutem destaca-se que estes natildeo satildeo os oacutergatildeos competentes pela anaacutelise dos
215 SAVIO Guido Capitolo II Le procedure amministrative della domanda drsquoasilo dallrsquoavvio alla decisione
In ROCCA Paolo Immigrazione Asilo e Cittadinanza IV Edizione Maggioli Editore Santarcangelo di
Romagna 2019 216 Ibidem 217 Ibidem 218 REPUBBLICA ITALIANA Gazzetta Ufficiale della Reppublica Italiana - Decreto Legislativo 18 Agosto
2015 N 142 Disponiacutevel em httpswwwgazzettaufficialeiteliid2015091515G00158sg Acesso em
11052020 219 SAVIO Guido Op cit 220 NACcedilOtildeES UNIDAS Qual a diferenccedila entre lsquorefugiadosrsquo e lsquomigrantesrsquo Disponiacutevel em
httpsnacoesunidasorgqual-a-diferenca-entre-refugiados-migrantesamp Acesso em 11052020
71
requerimentos Portanto estes oacutergatildeos de fronteira devem remeter os requerimentos agraves
Comissotildees Territoriais responsaacuteveis pela anaacutelise dos pedidos de asilo221
A respeito dessas Comissotildees Territoriais tem-se que no artigo 4 do Decreto-
Legislativo 252008 dispotildee a respeito desses oacutergatildeos Assim tais oacutergatildeos fazem uso de
estruturas do Ministeacuterio do Interior e podem ser no maacuteximo 10 comissotildees (conforme n2 do
mencionado artigo) destaca-se o fato de um dos integrantes dessas comissotildees serem
representantes do ACNUR222
Entatildeo a respeito do pedido de asilo deve ser preenchido um formulaacuterio chamado
C3 que deve ser acompanhado com os documentos necessaacuterios Tal requerimento deve ser
feito dentro de 3 dias uacuteteis depois da manifestaccedilatildeo da intenccedilatildeo de requerer proteccedilatildeo
internacional ou 6 dias uacuteteis se a manifestaccedilatildeo de vontade foi feita na poliacutecia de fronteira
ressalta-se que pode haver um aumento desse prazo em casos de altas demandas neste caso
aceita-se o requerimento em ateacute 10 dias uacuteteis223
Nesse sentido o Decreto-Legislativo 252008 no artigo 6 nuacutemero 1 dispotildee o
seguinte ldquoLa domanda di protezione internazionale e presentata personalmente dal
richiedente presso lufficio di polizia di frontiera allatto dellingresso nel territorio
nazionale o presso lufficio della questura competente in base al luogo di dimora del
richiedente224rdquo
Apoacutes a apresentaccedilatildeo do requerimento de asilo os requerentes possuem o direito de
permanecer na Itaacutelia por um periacuteodo de 6 meses podendo ser prorrogado pelo periacuteodo que
durar a anaacutelise do pedido Assim apoacutes haacute a autorizaccedilatildeo de trabalho para os requerentes bem
como usufruir das garantias previstas no artigo 10 do Decreto-Legislativo 252008 que
incluem entre outras o direito agrave informaccedilatildeo (assim como previsto na Diretiva 201313UE)
direito de contato com o ACNUR direito agrave assistecircncia linguiacutestica etc225
Para o estrangeiro que requerer proteccedilatildeo internacional aleacutem da autorizaccedilatildeo de
moradia durante a anaacutelise do procedimento da requisiccedilatildeo de asilo teraacute acesso agraves medidas de
221 SAVIO Guido Op cit 222 REPUBBLICA ITALIANA Gazzetta Ufficiale della Reppublica Italiana - Decreto Legislativo 28 Gennaio
2008 N 25 Disponiacutevel em
httpswwwgazzettaufficialeitattoserie_generalecaricaDettaglioAttooriginarioattodataPubblicazioneGa
zzetta=2008-02-16ampattocodiceRedazionale=008G0044ampelenco30giorni=false Acesso em 12052020 223 SAVIO Guido Op cit 224 REPUBBLICA ITALIANA Gazzetta Ufficiale della Reppublica Italiana - Decreto Legislativo 28 Gennaio
2008 N 25 Op cit 225 SAVIO Guido Op cit
72
acolhimento previstas no Decreto Legislativo 1422015226 sobre este documento tem-se no
artigo 8ordm uma explicaccedilatildeo sobre o que eacute o sistema de colhimento dividido em duas fases
Assim a base deste sistema consiste na ldquo()leale collaborazione tra i livelli di governo
interessati secondo le forme di coordinamento nazionale e regionale ()rdquo227
Dessa forma como supramencionado com base na leitura do artigo percebemos a
existecircncia de duas fases no sistema de acolhimento A primeira consiste no acolhimento
assegurado como previsto nos artigos de 9 a 11 do decreto (que dispotildeem sobre as estruturas
de primeiro acolhimento modalidades e medidas extraordinaacuterias) e a segunda disciplinada
no artigo 14 que dispotildee que caso o estrangeiro natildeo tenha condiccedilotildees de arcar com uma vida
digna (com qualidade de vida) ela teraacute acesso ao SPRAR (Sistema de Proteccedilatildeo para o
Requerente de Asilo e Refugiado)228 Portanto destaca-se que haacute duas estruturas de
acolhimento uma referida no artigo 9 e outra no artigo 14
Ressalta-se poreacutem que em 2018 houve uma reforma com o Decreto-Legislativo
1132018 no qual foi estruturado um sistema de acolhimento separado para solicitantes de
asilo nos centros extraordinaacuterios229 estes estatildeo previstos no artigo 11 do Decreto 1422015
assim tal dispositivo prevecirc que em casos de natildeo haver vagas nas estruturas de acolhimento
previstas nos artigos 9 e 14 a recepccedilatildeo pode ser realizada pelas prefeituras em estruturas
temporaacuterias montadas especificamente para estes casos depois de ouvido o Departamento
pela Liberdade Civil e Imigraccedilatildeo do Ministeacuterio do Interior230 Nesse sentido o Decreto
1132018 traz a reforma dispondo a respeito de um sistema de acolhimento de forma
separada para os solicitantes de asilo nestes centros extraordinaacuterios231
Diante da reforma ocorrida em 2018 as estruturas previstas no Decreto-Legislativo
1422015 continuam em vigor para um sistema comum de asilo jaacute as novas estruturas
extraordinaacuterias satildeo destinadas agraves requisiccedilotildees de asilo das pessoas que necessitam de proteccedilatildeo
226 SAVIO Guido Op cit 227 REPUBBLICA ITALIANA Gazzetta Ufficiale della Reppublica Italiana - Decreto Legislativo 18 agosto
2015 n 142 ndash Art 8 Disponiacutevel em httpswwwgazzettaufficialeiteliid2015091515G00158sg Acesso
em 23052020 228 Ibidem 229 SAVIO Guido Op cit 230 REPUBBLICA ITALIANA Gazzetta Ufficiale della Reppublica Italiana - Decreto Legislativo 18 agosto
2015 n 142 Disponiacutevel em httpswwwgazzettaufficialeiteliid2015091515G00158sg Acesso em
23052020 231 SAVIO Guido Op cit
73
internacional Sendo que as estruturas extraordinaacuterias satildeo administradas pelos governos
locais232
No que se refere agraves requisiccedilotildees de proteccedilatildeo internacional na Itaacutelia elas devem ser
validadas caso a caso por um oacutergatildeo instituiacutedo pelo Ministeacuterio do Interior chamado Comissatildeo
Nacional para o Direito de Asilo (sediada em Roma) mas articulada em 20 Comissotildees
Territoriais e 30 seccedilotildees separadas destas comissotildees Sendo que estas Comissotildees Territoriais
estatildeo instaladas nas prefeituras233
Portanto sendo a Itaacutelia um dos paiacuteses que mais sofrem com a chegada de imigrantes
notamos que possui ampla legislaccedilatildeo no que se refere a asilo e acolhimento de pessoas que
necessitam de proteccedilatildeo internacional bem como possui oacutergatildeos para melhor organizaccedilatildeo da
estrutura de acolhimento Obviamente existem muitas criacuteticas a respeito deste sistema
poreacutem se deve levar em conta que satildeo milhares de pessoas que chegam na Itaacutelia requerendo
proteccedilatildeo Esse grande fluxo migratoacuterio na Itaacutelia faz com que o paiacutes viole reiteradamente os
direitos humanos dos migrantes obviamente natildeo se deve justificar as violaccedilotildees pelo grande
fluxo no entanto alguma accedilatildeo para administraccedilatildeo e organizaccedilatildeo dos migrantes deve ser
tomada a fim de desafogar os paiacuteses de entrada Uma melhor distribuiccedilatildeo dos migrantes eacute
uma das propostas do Novo Pacto sobre Migraccedilatildeo e Asilo
232 Portugal
Portugal assim como outros paiacuteses europeus eacute signataacuterio dos principais diplomas
internacionais como a Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 Protocolo de Nova Iorque e a
Convenccedilatildeo de Dublin que foram explicados anteriormente em acircmbito nacional o
documento que disciplina a questatildeo de asilo e proteccedilatildeo internacional eacute a Lei nordm 262014 de
5 de maio
O procedimento para requisiccedilatildeo de asilo e proteccedilatildeo internacional em Portugal se
inicia atraveacutes de requisiccedilatildeo ao SEF (Serviccedilo de Estrangeiros e Fronteiras) ou qualquer outra
autoridade policial dessa forma seraacute feita a identificaccedilatildeo do imigrante atraveacutes de seus dados
foto e impressotildees digitais (para maiores de 14 anos) assim receberaacute um comprovante de que
requereu a proteccedilatildeo e poderaacute permanecer no paiacutes ateacute o final do procedimento Caso o
232 SAVIO Guido Op cit 233 Ibidem
74
requerimento seja realizado em um posto de fronteira deveraacute permanecer ali por pelo menos
7 dias ateacute que se tenha alguma decisatildeo a respeito do pedido se admitirem o pedido seraacute
autorizada a entrada em Portugal caso contraacuterio deveraacute ser enviado ao paiacutes de origem (haacute a
possibilidade de recorrer com efeito suspensivo no prazo de 4 dias) mas se o pedido for
realizado jaacute no territoacuterio portuguecircs eacute encaminhado para centros de acolhimento de
requerentes de proteccedilatildeo e laacute deveraacute esperar ser convocado para entrevista em alguma agecircncia
do SEF
Na entrevista seratildeo analisados os fatos e se a decisatildeo for positiva receberaacute uma
autorizaccedilatildeo de residecircncia no prazo de 6 meses apoacutes esse periacuteodo seraacute analisado se a pessoa
reuacutene os requisitos para obtenccedilatildeo de asilo ou de proteccedilatildeo subsidiaacuteria Neste periacuteodo destaca-
se que o indiviacuteduo poderaacute trabalhar eou estudar Se a decisatildeo for negativa a pessoa teraacute o
prazo de 20 dias para deixar o paiacutes mas tem o prazo de 15 dias para apresentar recurso234
A decisatildeo pode ser para conceder o asilo com base no Estatuto de Refugiado
(Convenccedilatildeo de 1951) e neste caso seraacute emitida uma autorizaccedilatildeo de residecircncia por 5 anos
podendo ser renovaacutevel poreacutem se o caso for de proteccedilatildeo subsidiaacuteria a autorizaccedilatildeo de
residecircncia eacute de 3 anos tambeacutem podendo ser renovaacutevel235
Ressalta-se que a concessatildeo de asilo com base no Estatuto do Refugiado tem por base
a Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 jaacute a proteccedilatildeo subsidiaacuteria natildeo tem por base este diploma
poreacutem as pessoas ldquo() natildeo podem regressar ao seu paiacutes por aiacute se verificar a violaccedilatildeo
sistemaacutetica dos direitos humanos ou por correrem o risco de sofrerem ofensa grave pena de
morte tortura ou tratamento desumano e degradanterdquo236
Ainda referente agraves questotildees de apoio ao refugiado cita-se o CPR (Conselho
Portuguecircs para os Refugiados) que consiste em uma ONG parceira do ACNUR para prestar
auxiacutelio aos refugiados alocados em Portugal Sendo assim faz-se importante destacar que
esta estrutura ldquoEacute o parceiro operacional do Alto Comissariado das Naccedilotildees Unidas
(ACNUR) para Portugal mantendo um Protocolo de Cooperaccedilatildeo desde Julho de 1993 que
visa agrave proteccedilatildeo juriacutedica e social dos requerentes de asilo e dos refugiados A partir de
234 PORTUGAL Serviccedilo de Estrangeiros e Fronteiras ndash Etapas do Procedimento de Proteccedilatildeo Internacional
Disponiacutevel em
httpswwwsefptptDocumentsFolheto20InformaC3A7C3A3o20ProteC3A7C3A3o
20Internacionalpdf Acesso em 23052020 235 Ibidem 236 Ibidem
75
Dezembro de 1998 data do encerramento do ACNUR em Portugal o CPR passou a
representar esta organizaccedilatildeo no nosso paiacutesrdquo237
Nota-se que a estrutura para recebimento de refugiado em Portugal eacute muito mais
simples que a italiana isso talvez se justifique pelo fato da Itaacutelia receber milhares de
refugiados de forma direta ou seja chegam diretamente em terras italianas por embarcaccedilotildees
clandestinas eou de ONGrsquos na costa requerendo ajuda por fugirem de situaccedilotildees de
sofrimento e ofensas aos direitos humanos
233 Greacutecia
Assim como a Itaacutelia a Greacutecia eacute um dos paiacuteses que mais sofrem com a chegada de
migrantes devido agrave proximidade com paiacuteses do Oriente Meacutedio e Norte da Aacutefrica muitos
refugiados chegam diretamente no paiacutes atraveacutes das embarcaccedilotildees pelo mar mediterracircneo e
tambeacutem pela Turquia
Para comeccedilarmos entender a estrutura de asilo no paiacutes helecircnico vamos ter por base o
Serviccedilo de Asilo (Asylum Service) instituiacutedo pela Lei nordm 39072011 sendo esta instituiccedilatildeo
responsaacutevel por analisar os pedidos de proteccedilatildeo internacional Trata-se portanto da primeira
instituiccedilatildeo autocircnoma para este objetivo238
Assim as funccedilotildees do Serviccedilo de Asilo consistem em analisar e aplicar as disposiccedilotildees
nacionais bem como observar as obrigaccedilotildees internacionais ao reconhecer um indiviacuteduo
como refugiado Aleacutem disso tambeacutem tem a funccedilatildeo de elaborar as poliacuteticas nacionais no que
se refere agrave proteccedilatildeo internacional e cooperaccedilatildeo com as organizaccedilotildees internacionais e da
Uniatildeo Europeia239
A estrutura desta instituiccedilatildeo eacute baseada em um escritoacuterio central escritoacuterios regionais
de asilo e unidades de asilo sendo que a primeira assessora e controla as demais estruturas
menores Assim o Serviccedilo de Asilo somente se reporta ao Ministro da Proteccedilatildeo do
Cidadatildeo240
237 CONSELHO PORTUGUEcircS PARA OS REFUGIADOS Histoacuteria Disponiacutevel httpscprpthistoria
Acesso em 24052020 238 HELLENIC REPUBLIC Asylum Service Disponiacutevel httpasylogovgrenpage_id=39 Acesso em
24052020 239 Ibidem 240 Ibidem
76
A respeito da concessatildeo da proteccedilatildeo internacional a Lei nordm 43752016 no artigo 21
modificou o decreto presidencial 1412013 Neste dispositivo haacute a informaccedilatildeo de que
quando concedida a proteccedilatildeo internacional o refugiado tem a autorizaccedilatildeo de residecircncia por
3 anos devendo requerer a renovaccedilatildeo (se for o caso) ateacute 30 dias antes do vencimento poreacutem
ressalta-se que o simples atraso natildeo deve ser motivo para rejeiccedilatildeo da renovaccedilatildeo Ainda no
mesmo dispositivo haacute previsatildeo da uniatildeo familiar do refugiado241
Na parte C da lei mencionada acima haacute adoccedilatildeo da Diretiva 201332UE sendo que
no artigo 33 haacute a menccedilatildeo do artigo 1ordm da diretiva que consiste na adoccedilatildeo comum de
procedimentos como disposto ldquo()on common procedures for granting and withdrawing
international protection statusrdquo242
Assim no artigo 34 da Lei nordm 43752016 faz referecircncia aos artigos 2 e 4 da diretiva
supramencionada trazendo uma seacuterie de conceitos e disposiccedilotildees para requisiccedilatildeo de asilo
para pessoas de uma mesma famiacutelia Ressalta-se tambeacutem que a interpretaccedilatildeo deve ser feita
com base nas disposiccedilotildees nacionais internacionais bem como na jurisprudecircncia243
A respeito dos pedidos de asilo tem-se que estes natildeo devem ser rejeitados apenas
por natildeo terem sido enviados rapidamente Assim na anaacutelise de todos os pedidos de proteccedilatildeo
internacional primeiro se analisa se haacute o enquadramento no status de refugiado caso natildeo
ocorra esse enquadramento deve-se analisar se eacute o caso de proteccedilatildeo subsidiaacuteria (conforme
artigo 39 da Lei nordm 43752016 e artigo 10 da Diretiva 201332EU)244
Assim como em outros paiacuteses a Greacutecia tambeacutem dispotildee que os pedidos devem ser
analisados individualmente sendo um processo de anaacutelise abrangente objetivo e imparcial
Nesse sentido o Serviccedilo de Asilo deve ter conhecimento de qual eacute a situaccedilatildeo no paiacutes de
origem das pessoas que pedem refuacutegio bem como deve assegurar que a equipe que analisa
os pedidos tenha amplo conhecimento das disposiccedilotildees nacionais internacionais e
jurisprudecircncias no que se refere agrave proteccedilatildeo internacional (para isso cita-se a realizaccedilatildeo de
treinamentos da equipe)245
A respeito do procedimento ele eacute gratuito e o pedido deve ser feito perante os
escritoacuterios regionais ou unidades de asilo o pedido tambeacutem pode ser feito para todos os
241 HELLENIC REPUBLIC Legislation Disponiacutevel httpasylogovgrenpage_id=113 Acesso em
24052020 242 Ibidem 243 Ibidem 244 Ibidem 245 Ibidem
77
integrantes da famiacutelia que estejam na Greacutecia Haacute tambeacutem a possibilidade de que um
advogado ou conselheiro acompanhe o processo poreacutem sem a intermediaccedilatildeo do Serviccedilo de
Asilo sendo as custas arcadas de forma independente pelo requisitante de asilo Durante o
procedimento assim como em outros paiacuteses ocorre a entrevista do requerente que apoacutes esta
recebe um cartatildeo que lhe assegura estar sob condiccedilatildeo de proteccedilatildeo246
Por fim de forma sinteacutetica podemos notar que a Greacutecia assim como os demais paiacuteses
da Uniatildeo Europeia segue as normas internacionais bem como as diretivas europeias que
norteiam o assunto Poreacutem em 2019 o paiacutes helecircnico comeccedilou com procedimentos com uma
seacuterie de reformas da legislaccedilatildeo nacional a fim de dificultar o procedimento e concessatildeo de
pedido de asilo O governo grego disse que a maioria dos migrantes que laacute chegam
atualmente natildeo satildeo os que necessitam de proteccedilatildeo internacional que se trata de migrantes
econocircmicos Tal argumento foi refutado pelo ACNUR que disse que 85 dos refugiados
que chegam atualmente na Greacutecia satildeo provenientes da Siacuteria Afeganistatildeo Iraque Repuacuteblica
Democraacutetica do Congo entre outros paiacuteses247
Nesse sentido a Anistia Internacional se manifestou a respeito dizendo ldquoThe new
Bill introduces significant changes to asylum procedures the rights and obligations of
asylum seekers reception and detention as well as economic social and cultural rightsrdquo
Dessa forma o governo grego alterou o conceito de pessoas vulneraacuteveis excluindo as
pessoas que se enquadram em situaccedilatildeo de estresse poacutes-traumaacutetico Trata-se de uma
significativa mudanccedila tendo em vista que a maioria dos requerentes de proteccedilatildeo
internacional sofre com esse transtorno pois estavam expostos a diversas situaccedilotildees como
de violecircncia fiacutesica e psicoloacutegica por exemplo248
Outro ponto importante eacute a ideia de acelerar os procedimentos de asilo tornando a
anaacutelise mais superficial e sem aprofundamento no meacuterito de cada pedido de asilo aleacutem disso
tambeacutem impacta as pessoas em que a proteccedilatildeo internacional eacute concedida ou seja dificulta
o acesso ao mercado de trabalho ao sistema de sauacutede e agrave educaccedilatildeo altera a composiccedilatildeo do
246 HELLENIC REPUBLIC Legislation Op cit 247 NATIONAL INTEGRATION EVALUATION MECHANISM (NIEM) The new law on asylum in Greece
Disponiacutevel em httpwwwforintegrationeuplthe-new-law-on-asylum-in-greece Acesso em 25052020 248 ANISTIA INTERNACIONAL Greece Proposed bill on asylum downgrades EU and International Law
standards on refugees protection 2019 Disponiacutevel em httpwwwantigonegrennewspost452 Acesso em
25052020
78
Serviccedilo de Asilo entre outras reformas no sentido de prejudicar a concessatildeo de proteccedilatildeo
internacional249
Sendo assim muitas satildeo as criacuteticas a respeito da nova lei grega para a concessatildeo da
proteccedilatildeo internacional o ACNUR recebeu com preocupaccedilatildeo a notiacutecia da possibilidade de
reforma pois tal mudanccedila enfraqueceria a proteccedilatildeo internacional dos indiviacuteduos
necessitados O oacutergatildeo reconheceu que a necessidade de fortalecimento da legislaccedilatildeo grega
sobre o tema poreacutem natildeo da forma como tem sucedido ou seja tal projeto de lei
sobrecarrega os requerentes de asilo250
E mesmo sob criacuteticas de diversas organizaccedilotildees internacionais como a Anistia
Internacional o ACNUR (ONU) Meacutedicos Sem Fronteiras entre outras em maio de 2020 a
governo helecircnico aprovou a nova lei de asilo em detrimento dos direitos dos indiviacuteduos que
necessitam de proteccedilatildeo internacional251
Aleacutem disso adiante demonstraraacute adiante mais claramente que a Greacutecia natildeo tem sido
um paiacutes seguro para requerer asilo tendo em vista muitas violaccedilotildees dos direitos humanos
inclusive com relatoacuterio do ACNUR orientando os paiacuteses para que natildeo enviem os migrantes
para Greacutecia devido agraves violaccedilotildees e falta de cuidados com os mesmos Ademais uma
reportagem do jornal ldquoThe New York Timesrdquo citada no uacuteltimo capiacutetulo trouxe agrave tona a
violaccedilatildeo grega de deixar migrantes agrave deriva no mar levando-os ateacute a fronteira do mar
territorial e abandonando-os
234 Malta
A ilha de Malta sofre com a chegada de milhares de refugiados da mesma forma que
a Itaacutelia e a Greacutecia principalmente por embarcaccedilotildees clandestinas ou de ONGrsquos tendo origem
no norte do continente africano em paiacuteses como a Liacutebia por exemplo Sendo assim eacute um
dos paiacuteses mais afetados pela migraccedilatildeo em busca de proteccedilatildeo internacional da Uniatildeo
Europeia
249 ANISTIA INTERNACIONAL Greece Proposed bill on asylum downgrades EU and International Law
standards on refugees protection 2019 Op cit 250 UNHCR GREECE UNHCR urges Greece to strengthen safeguards in draft asylum law 2019 Disponiacutevel
em httpswwwunhcrorggren13170-unhcr-urges-greece-to-strengthen-safeguards-in-draft-asylum-
lawhtml 251 DIAacuteRIO DE NOTIacuteCIAS Greacutecia aprova nova reforma na lei de asilo do paiacutes 2020 Disponiacutevel em
httpswwwdnoticiasptmundogrecia-aprova-nova-reforma-na-lei-de-asilo-do-pais-FE6240421 Acesso em
25052020
79
Assim o oacutergatildeo responsaacutevel pela anaacutelise dos pedidos de proteccedilatildeo internacional em
Malta faz parte do Ministeacuterio de Assuntos Internos e Seguranccedila Nacional e consiste no
Escritoacuterio do Comissaacuterio para Refugiados A criaccedilatildeo deste estaacute prevista na Lei dos
Refugiados (capiacutetulo 420 das Leis de Malta) e tomou agrave frente da anaacutelise dos requerimentos
de asilo em janeiro de 2002 anteriormente a anaacutelise era realizada pelo ACNUR
A principal funccedilatildeo do referido oacutergatildeo eacute receber processar e determinar os pedidos de
proteccedilatildeo internacional conforme previsto na Lei dos Refugiados (alterada pelas leis VI e
VII em 2015) e na Legislaccedilatildeo Subsidiaacuteria 42007 Aleacutem destas leis que consistem na
legislaccedilatildeo nacional a respeito da concessatildeo de proteccedilatildeo internacional observa-se tambeacutem a
Convenccedilatildeo de Genebra Protocolo de Nova Iorque Convenccedilatildeo de Dublin e diretrizes
europeias sobre o tema252
As pessoas que necessitam de proteccedilatildeo para requisitarem a concessatildeo de asilo
devem contatar o Escritoacuterio do Comissaacuterio para Refugiado ou alguma outra autoridade de
Malta para demonstrar a intenccedilatildeo de obter a proteccedilatildeo internacional Assim os indiviacuteduos
satildeo orientados a preencher o chamado ldquoQuestionaacuterio Preliminarrdquo apoacutes a apresentaccedilatildeo deste
documento o Escritoacuterio do Comissaacuterio para Refugiado eacute o oacutergatildeo competente para analisar
os pedidos Obedece-se portanto as previsotildees da Convenccedilatildeo de Dublin253
Para auxiliar na anaacutelise do pedido eacute realizada entrevista (pelo menos uma) assim
como em outros paiacuteses europeus e esta eacute realizada por uma assistente social e inteacuterprete se
for o caso O procedimento para requerimento de asilo eacute uacutenico Portanto em um primeiro
momento eacute analisado se o indiviacuteduo se enquadra nos requisitos para a concessatildeo do status
de refugiado caso natildeo seja concedida a condiccedilatildeo de refugiado analisa-se se eacute a situaccedilatildeo de
concessatildeo de proteccedilatildeo subsidiaacuteria254
Apoacutes a anaacutelise informa-se o requerente sobre a decisatildeo constando nela os motivos
que levaram a chegar naquela decisatildeo Haacute a possibilidade de recurso em caso de decisatildeo
negativa sendo que satildeo fornecidas por escrito as informaccedilotildees necessaacuterias para que o
indiviacuteduo apresente o recurso255
252 MINISTRY FOR HOME AFFAIRS AND NATIONAL SECURITY (MALTA) The Office of the Refugee
Commissioner Disponiacutevel em httpshomeaffairsgovmtenmhas-
departmentsthe20office20of20the20refugee20commissionerPagesRefugeeaspx Acesso em
26052020 253 Ibidem 254 Ibidem 255 Ibidem
80
Assim de acordo com a Regra 14 da Legislaccedilatildeo Subsidiaacuteria 42007 uma pessoa a
qual foi concedida proteccedilatildeo internacional pode permanecer em Malta e lhe seraacute entregue
documentos pessoais autorizaccedilatildeo de residecircncia (por 3 anos podendo ser renovada) e
liberdade de circulaccedilatildeo A Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 prevecirc a entrega de um documento
de viagem (para aqueles que possuem status de refugiado jaacute para os que possuem proteccedilatildeo
subsidiaacuteria a legislaccedilatildeo nacional prevecirc a entrega de um documento de viagem permitindo a
pessoa sair e retornar a Malta (com exceccedilatildeo se estiver respondendo processo judicial
criminal ou cumprindo pena) Aleacutem disso os indiviacuteduos detentores de proteccedilatildeo internacional
teratildeo acesso a atividades laborais bem-estar social educaccedilatildeo assistecircncia meacutedica entre
outros benefiacutecios256
Como vimos haacute dois niacuteveis de proteccedilatildeo internacional ter o status de refugiado ou
se natildeo for possiacutevel receber proteccedilatildeo subsidiaacuteria Poreacutem o Escritoacuterio do Comissaacuterio para
Refugiados pode apresentar outro tipo de proteccedilatildeo ou seja a Proteccedilatildeo Humanitaacuteria
Temporaacuteria Tal regime deveraacute ser concedido para casos especiais para as pessoas que natildeo
se enquadrem no status de refugiado e nas condiccedilotildees para receber proteccedilatildeo subsidiaacuteria mas
que sejam considerados necessitados por razotildees humanitaacuterias especiais257
Aleacutem disso Malta ainda possui uma agecircncia voltada para o bem estar do refugiado
(Agecircncia para o Bem-Estar dos Requerentes de Asilo) que auxilia na implementaccedilatildeo da
legislaccedilatildeo nacional e poliacuteticas voltadas para o bem-estar dos requerentes de proteccedilatildeo
internacional bem como em assistecircncia para obtenccedilatildeo de emprego cursos de treinamentos
e de liacutenguas suporte social (sauacutede bem-estar da famiacutelia encaminhamento para apoio
psicoloacutegico e escolaridade)258
No entanto mesmo com toda essa estrutura para acolhimento dos migrantes Malta
a exemplo de outros paiacuteses europeus como Itaacutelia e Greacutecia tambeacutem tem violado direitos
humanos dos refugiados como veremos no uacuteltimo capiacutetulo
256 MINISTRY FOR HOME AFFAIRS AND NATIONAL SECURITY (MALTA) The Office of the Refugee
Commissioner Op cit 257 Ibidem 258 MINISTRY FOR HOME AFFAIRS AND NATIONAL SECURITY (MALTA) AWAS ndash Mission and
Function Disponiacutevel httpshomeaffairsgovmtenMHAS-DepartmentsawasPagesMission-and-
Functionaspx Acesso 26052020
81
235 Espanha
A Espanha tambeacutem eacute um paiacutes que sofre com as migraccedilotildees advindas do Mar
Mediterracircneo poreacutem ressalta-se que os mais afetados ainda satildeo Itaacutelia Greacutecia e Malta
Poreacutem como dito anteriormente a Espanha ofereceu a recepccedilatildeo de uma embarcaccedilatildeo que
estava haacute mais de duas semanas ancorada a 800 metros da costa de Lampedusa (Itaacutelia) com
107 migrantes na qual a Itaacutelia rejeitava o desembarque mas a embarcaccedilatildeo rejeitou o pedido
por natildeo ter condiccedilotildees de navegar ateacute Espanha259
A Espanha aceitou receber os migrantes por entender que a recusa de recebimento
pela Itaacutelia era inconcebiacutevel260 Resultado disso no dia 20 de agosto de 2019 os migrantes
saltaram ao mar para tentar chegar na costa italiana sendo assim as autoridades portuaacuterias
italianas comeccedilaram a resgatar os migrantes261 Poreacutem o assunto de resgate de migrantes no
mar seraacute abordado mais adiante
As principais normativas a respeito de proteccedilatildeo internacional na Espanha consistem
nos seguintes documentos a Lei 122009 regula o direito de asilo e a proteccedilatildeo subsidiaacuteria
o Decreto Real 13252003 que se refere agrave aprovaccedilatildeo do Regulamento a respeito do regime
de proteccedilatildeo temporal quando ocorrer um alto fluxo de pessoas deslocadas o Decreto Real
8652001que diz respeito agrave aprovaccedilatildeo do Estatuto do Apaacutetrida262
Assim o sistema de asilo da Espanha eacute formado por uma rede de centros de
acolhimento (do governo) os chamados CAR (Centros de Acolhida de Refugiados) bem
como disposiccedilotildees e programas que atendem as pessoas solicitantes que estatildeo sob proteccedilatildeo
internacional estes centros satildeo geridos por organizaccedilotildees sem fins lucrativos sob supervisatildeo
da Direccedilatildeo Geral de Migraccedilotildees263
259 O GLOBO Crise envolvendo navio de resgate humanitaacuterio ldquoOpen Armsrdquo contrapotildee Itaacutelia Espanha e ONG
2019 Disponiacutevel em httpsogloboglobocommundocrise-envolvendo-navio-de-resgate-humanitario-open-
arms-contrapoe-italia-espanha-ong-23887061 Acesso em 27052020 260 Ibidem 261 REVISTA VEJA Imigrantes se jogam no mar do navio Open Arms para alcanccedilar a Itaacutelia 2019 Disponiacutevel
httpsvejaabrilcombrmundoimigrantes-se-jogam-do-navio-open-arms-no-mar-alcancar-a-italia Acesso
em 27052020 262 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DE INCLUSIOacuteN SEGURIDAD SOCIAL Y
MIGRACIONES) PORTAL DE INMIGRACIOacuteN ndash Reacutegimen de Asilo Disponiacutevel em
httpextranjerosmitramissgobesesnormativanacionalasiloindexhtml Acesso em 27052020 263 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DE INCLUSIOacuteN SEGURIDAD SOCIAL Y
MIGRACIONES) PORTAL DE INMIGRACIOacuteN ndash Informacioacuten Disponiacutevel em
httpextranjerosmitramissgobesesProteccionAsiloinformacionindexhtml Acesso em 27052020
82
O financiamento dessas ONGrsquos proveacutem da Secretaria Geral de Imigraccedilatildeo e
Emigraccedilatildeo com auxiacutelio em alguns casos do Fundo Social Europeu e Fundo de Asilo
Migraccedilatildeo e Integraccedilatildeo O ACNUR pode intervir nos procedimentos de asilo (nos termos que
a lei permitir) nesse sentido esta organizaccedilatildeo recebe valores da Direccedilatildeo Geral das
Migraccedilotildees264
A lei que regula a questatildeo do asilo e da proteccedilatildeo subsidiaacuteria na Espanha eacute a Lei
122009 e no artigo 231 haacute a previsatildeo da Oficina de Asilo e Refuacutegio que eacute o oacutergatildeo
responsaacutevel pela tramitaccedilatildeo e solicitaccedilotildees de proteccedilatildeo internacional265 Essa informaccedilatildeo estaacute
presente tambeacutem no folheto informativo sobre a proteccedilatildeo internacional que diz que todas as
solicitaccedilotildees satildeo analisadas pela Oficina de Asilo e Refuacutegio e a decisatildeo eacute tomada pelo
Ministeacuterio do Interior266 Assim conforme disposto no site do governo espanhol a Oficina
de Asilo estaacute subordinada agrave Subdireccedilatildeo Geral de Proteccedilatildeo Internacional que por sua vez se
submete agrave Direccedilatildeo Geral de Poliacutetica Interior (inserida portanto no acircmbito do Ministeacuterio do
Interior)267
O procedimento portanto se inicia com a solicitaccedilatildeo do indiviacuteduo perante o posto
fronteiriccedilo (se estaacute chegando na Espanha) ou se jaacute estiver na Espanha na Oficina de Asilo
e Refuacutegio Oficina de Estrangeiros Delegacias de Poliacutecia Autorizadas e Centros de
Internaccedilatildeo para Estrangeiros e devem requerer no prazo de 1 mecircs que estejam na Espanha
ou quando ocorram acontecimentos que justifiquem a requisiccedilatildeo268
A solicitaccedilatildeo deve ser pessoalmente e passaraacute por uma entrevista que deveraacute explicar
os motivos que justifiquem a proteccedilatildeo internacional e como chegou agrave Espanha O requerente
tem o direito de permanecer na Espanha ateacute que se resolva a sua requisiccedilatildeo e ter assistecircncia
sanitaacuteria aleacutem disso tem o direito de ser assistido por um advogado e caso natildeo tenha
264 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DE INCLUSIOacuteN SEGURIDAD SOCIAL Y
MIGRACIONES) PORTAL DE INMIGRACIOacuteN ndash Informacioacuten Op cit 265 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DEL INTERIOR) Oficina de Asilo y Refugio Disponiacutevel em
httpwwwinteriorgobeswebservicios-al-ciudadanooficina-de-asilo-y-refugio Acesso em 27052020 266 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DEL INTERIOR) Informacioacuten para los solicitantes de
proteccioacuten internacional em Espantildea Derecho de Asilo y Proteccioacuten Subsidiaria Disponiacutevel em
httpwwwinteriorgobesdocuments6423171201485Informacion_solicitantes_Asilo_EspaC3B1ol_12
6160083pdfd8fb2cb4-9bc4-4a53-9032-628c02f1e114 Acesso em 27052020 267 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DE INCLUSIOacuteN SEGURIDAD SOCIAL Y
MIGRACIONES) PORTAL DE INMIGRACIOacuteN ndash Informacioacuten Op cit 268 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DEL INTERIOR) Informacioacuten para los solicitantes de
proteccioacuten internacional em Espantildea Derecho de Asilo y Proteccioacuten Subsidiaria Op cit
83
condiccedilotildees de pagar deveraacute requerer agrave ONGrsquos ou Coleacutegios de Advogados Assim que se eacute
realizado a requisiccedilatildeo de asilo deveraacute comunicar o ACNUR269
Da decisatildeo de negativa da concessatildeo de proteccedilatildeo internacional cabe recurso ao juiz
(se a requisiccedilatildeo ocorrer no territoacuterio espanhol) se requereu em um posto fronteiriccedilo deveraacute
permanecer no local sendo que as autoridades possuem ateacute 4 dias para analisar a admissatildeo
do tracircmite Autorizado o procedimento o indiviacuteduo poderaacute entrar no paiacutes caso seja negada
a admissatildeo do pedido o requerente teraacute dois dias para apresentar recurso (chamado reexame)
e a autoridade teraacute dois dias para analisar mesmo assim se ocorrer a negativa o indiviacuteduo
deveraacute deixar a Espanha ou recorrer a um juiz ou tribunal270
O prazo para anaacutelise dos pedidos eacute de seis meses podendo ser reduzido para trecircs
meses em casos urgentes desta decisatildeo caberaacute recurso ao Tribunal (ldquoAudiencia Nacionalrdquo)
e destaca-se que o requerente tem direito a assistecircncia gratuita de um advogado caso natildeo
tenha condiccedilotildees de arcar com os custos271
Anteriormente foi explicado que a Espanha possui em seu sistema de asilo o Centro
de Acolhida dos Refugiados (CAR) que consistem em locais puacuteblicos cuja utilidade eacute o
alojamento assistecircncia social manutenccedilatildeo entre outros serviccedilos sociais com a finalidade
de integrar e facilitar a vida dos requerentes de asilo Sendo assim o seu regramento esta
previsto no Regramento da Lei Orgacircnica 42000 que trata sobre os direitos e liberdades de
estrangeiros na Espanha e tambeacutem da integraccedilatildeo social sendo que estaacute previsto no artigo
2642 os programas para as pessoas que requerem proteccedilatildeo internacional aleacutem disso cita-
se a Ordem Ministerial de 13 de janeiro de 1989 que regula os centros de acolhida de
refugiados e asilados e tambeacutem a Resoluccedilatildeo de 6 de julho de 1998 que aprovou o Estatuto
baacutesico dos CAR que resulta na Ordem de 13 de janeiro de 1989 que os regula272
269 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DEL INTERIOR) Informacioacuten para los solicitantes de
proteccioacuten internacional em Espantildea Derecho de Asilo y Proteccioacuten Subsidiaria Op cit 270 Ibidem 271 Ibidem 272 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DE INCLUSIOacuteN SEGURIDAD SOCIAL Y
MIGRACIONES) PORTAL DE INMIGRACIOacuteN ndash Centro de Acogida a Refugiados (CAR) Disponiacutevel em
httpextranjerosmitramissgobesesproteccionasilocarindexhtml Acesso em 27052020
84
236 Franccedila
Em 2019 a Franccedila se tornou o paiacutes com maior nuacutemero de solicitaccedilotildees de refuacutegio na
Europa Sendo assim eacute o Ministeacuterio do Interior a reparticcedilatildeo do governo responsaacutevel pela
anaacutelise dos pedidos de asilo no paiacutes sendo o Escritoacuterio Francecircs de Proteccedilatildeo dos Refugiados
e Apaacutetridas oacutergatildeo responsaacutevel pela anaacutelise dos requerimentos de proteccedilatildeo internacional
Ao se analisar os dispositivos a respeito de asilo na Franccedila tem-se que logo no
preacircmbulo (Nordm 4) de sua Constituiccedilatildeo este direito estaacute previsto ou seja possuem direito de
asilo no territoacuterio francecircs aqueles que ao buscarem sua liberdade sofrerem algum tipo de
perseguiccedilatildeo Como segue ldquoTout homme perseacutecuteacute en raison de son action en faveur de la
liberteacute a droit dasile sur les territoires de la Reacutepubliquerdquo273 Portanto o direito de asilo no
direito francecircs consiste em um princiacutepio constitucional O direito de asilo estaacute previsto
tambeacutem no Livro VII do Coacutedigo de Entrada e Permanecircncia de Estrangeiros e do Direito de
Asilo (CESEDA)274
O site do governo francecircs dispotildee que o direito de asilo tambeacutem deriva dos
compromissos internacionais assumidos pelo paiacutes ou seja ser signataacuteria da Convenccedilatildeo de
Genebra de 1951 Convenccedilatildeo de Dublin e Diretivas Europeias Aleacutem disso o referido direito
se baseia em trecircs princiacutepios ter seu pedido analisado de forma imparcial direito de proteccedilatildeo
estendida direito de acolhimento e vida digna enquanto aguarda o resultado da
solicitaccedilatildeo275
Por proteccedilatildeo estendida entende-se duas formas de proteccedilatildeo internacional (como jaacute
explicado) isto eacute concessatildeo de status de refugiado ou concessatildeo de proteccedilatildeo subsidiaacuteria O
pedido deve ser analisado de forma imparcial pelo OFPRA e CNDA (Cocircrte Nacional de
Direito de Asilo oacutergatildeo ligado ao Conselho de Estado) Assim o OFPRA eacute vinculado ao
Ministeacuterio do Interior e natildeo deve sofrer interferecircncias da CNDA Portanto caso seja negada
a proteccedilatildeo internacional pelo OFPRA o requerente poderaacute recorrer agrave CNDA e neste caso
ele poderaacute ter acesso agrave assistecircncia juriacutedica E o direito de permanecircncia no territoacuterio francecircs
273 CONSEIL CONSTITUTIONNEL Preacuteambule de la Constitution du 27 Octobre 1946 Disponiacutevel em
httpswwwconseil-constitutionnelfrle-bloc-de-constitutionnalitepreambule-de-la-constitution-du-27-
octobre-1946 Acesso em 27052020 274 MINISTEacuteRE DE LrsquoINTEacuteRIEUR (IMMIGRATION ASILE ACCUEIL ET ACCOMPAGNEMENT DES
EacuteTRANGERS EM FRANCE Les Grands Principes du Droit DrsquoAsile Disponiacutevel em
httpswwwimmigrationinterieurgouvfrAsileLe-droit-d-asileLes-grands-principes-du-droit-d-asile
Acesso em 27052020 275 Ibidem
85
durante a anaacutelise do requerimento em um primeiro momento eacute entregue um certificado de
pedido de asilo com duraccedilatildeo de 1 mecircs podendo ser renovaacutevel Aleacutem do OFPRA e da CNDA
ainda tem o Escritoacuterio Francecircs de Imigraccedilatildeo e Integraccedilatildeo (OFII) que eacute responsaacutevel pela
acomodaccedilatildeo dos requerentes de asilo nos centros de acolhimento276
Portanto em termos de procedimentos e requisitos natildeo haacute muitas alteraccedilotildees de um
paiacutes para o outro (em geral na Uniatildeo Europeia) Poreacutem eacute de faacutecil percepccedilatildeo que a
distribuiccedilatildeo dos oacutergatildeos responsaacuteveis pela anaacutelise dos pedidos eacute diferente entre os paiacuteses a
Franccedila por exemplo possui trecircs oacutergatildeos inclusive um tribunal administrativo para analisar
os recursos das decisotildees
237 Alemanha
A Alemanha assim como a Franccedila eacute um dos paiacuteses da Europa que mais recebem
solicitaccedilotildees de proteccedilatildeo internacional todos os anos sendo que por vaacuterios anos foi o paiacutes
europeu que mais recebeu refugiados No ano de 2019 como jaacute mencionado a Franccedila
ultrapassou a Alemanha nos pedidos de proteccedilatildeo
Entatildeo como na maioria dos paiacuteses o primeiro passo eacute se apresentar perante uma
autoridade do paiacutes (sendo na fronteira ou jaacute no territoacuterio) Assim na Alemanha haacute o registro
de todos os indiviacuteduos que pretendem solicitar o pedido de asilo no paiacutes germacircnico sendo
colhidas impressotildees digitais e fotos para os maiores de 14 anos Os dados satildeo salvos no
ldquoRegistro Central de Estrangeirosrdquo (AZR) assim a anaacutelise se inicia pela comparaccedilatildeo de
dados jaacute salvos (se for o caso) neste registro posteriormente analisa-se no Departamento de
Poliacutecia Criminal Federal se houve a praacutetica de algum crime no paiacutes pelo indiviacuteduo Analisa-
se tambeacutem o EURODAC para se certificar que natildeo haacute nenhum outro paiacutes europeu
responsaacutevel pela anaacutelise do pedido de asilo A respeito do ldquoRegistro Geral de Estrangeirosrdquo
(AZR) trata-se de um registro nacional gerenciado pelo Escritoacuterio Federal sendo um oacutergatildeo
importante de consulta para as autoridades germacircnicas que trabalham com imigraccedilatildeo277
276 MINISTEacuteRE DE LrsquoINTEacuteRIEUR (IMMIGRATION ASILE ACCUEIL ET ACCOMPAGNEMENT DES
EacuteTRANGERS EM FRANCE Les Grands Principes du Droit DrsquoAsile Op cit 277 FEDERAL OFFICE FOR MIGRATION AND REFUGEES The Stages of the German Asylum Procedure
ndash An overview of the individual procedural steps and the legal basis Disponiacutevel em
httpswwwbamfdeSharedDocsAnlagenENAsylFluechtlingsschutzAsylverfahrendas-deutsche-
asylverfahrenpdf__blob=publicationFileampv=12 Acesso em 28052020
86
Ao se registrar o requerente de asilo recebe um documento de comprovaccedilatildeo de
chegada a fim de provar quando necessaacuterio o seu registro perante a autoridade alematilde Este
documento tem tambeacutem a funccedilatildeo de autorizar o indiviacuteduo a residir na Alemanha bem como
assistecircncia de sauacutede acomodaccedilatildeo alimentaccedilatildeo entre outros benefiacutecios estatais278
Apoacutes o registro os requerentes satildeo encaminhados e instalados no centro de
acolhimento mais proacuteximo podendo ser de forma temporaacuteria ou de longo prazo sendo de
ateacute 6 meses ou ateacute que a solicitaccedilatildeo seja decidida Em casos de reagrupamento familiar pode
ser que os indiviacuteduos sejam transferidos de um centro de acolhimento para outro Haacute ainda
a distribuiccedilatildeo dos refugiados pelas ldquoFederal Landrdquo atraveacutes do sistema de cotas EASY
(Distribuiccedilatildeo Inicial dos Requerentes de Asilo)279
Nesses centros de acolhimento as pessoas recebem comida e benefiacutecios a fim de
proporcionar a sua subsistecircncia durante os dias que permanecerem no local Ressalta-se que
haacute inclusive benefiacutecios financeiros para cobrir as necessidades pessoais diaacuterias conforme
a lei de benefiacutecios dos requerentes de asilo (Asylbewerberleistungsgesetz) Ressalta-se que
os requerentes de proteccedilatildeo apesar de poderem residir legalmente na Alemanha enquanto
aguardam a conclusatildeo do processo natildeo podem trabalhar neste periacuteodo280
Considera-se a entrevista a etapa mais importante no procedimento de asilo Assim
os requerentes satildeo convidados para esta etapa e caso natildeo possam comparecer devem avisar
em tempo haacutebil caso contraacuterio o pedido poderaacute ser interrompido ou ateacute recusado Os
requerentes podem estar acompanhados de um advogado ou por um representante do
ACNUR ademais ao longo do trabalho percebe-se a importacircncia deste oacutergatildeo nos
procedimentos de asilo na Alemanha natildeo eacute diferente o ACNUR pode solicitar informaccedilotildees
sobre o trabalho do Escritoacuterio Federal e monitora os procedimentos para garantir que haacute o
respeito pela Convenccedilatildeo de Genebra de 1951281
Haacute tambeacutem o ldquoGerenciamento Integrado de Identidadesrdquo que pode ser uacutetil quando
for necessaacuterio realizar alguns tipos investigaccedilotildees podendo facilitar para obter informaccedilotildees
sobre o caso a ser investigado Esse sistema eacute composto por biometria de imagem (aleacutem das
impressotildees digitais) transliteraccedilatildeo e anaacutelise de nomes biometria de fala avaliaccedilatildeo de miacutedia
278 FEDERAL OFFICE FOR MIGRATION AND REFUGEES The Stages of the German Asylum Procedure
ndash An overview of the individual procedural steps and the legal basis Op cit 279 Ibidem 280 Ibidem 281 Ibidem
87
de dados moacuteveis Essas investigaccedilotildees podem ser necessaacuterias para avaliar casos possiacuteveis de
terrorismo sendo assim haacute a atuaccedilatildeo em conjunto com Centro de Extremismo e Contra-
Terrorismo (GETZ) e Centro Contra o Terrorismo (GTAZ)282
Quem toma a decisatildeo no procedimento de asilo eacute o Escritoacuterio Federal com base na
entrevista e nos documentos apresentados pelos requerentes A anaacutelise do pedido de asilo
tem por base a lei alematilde sobre o tema (Asylgesetz) sobre uma das quatro formas de proteccedilatildeo
que podem ser concedidas (direito de asilo proteccedilatildeo de refugiado proteccedilatildeo subsidiaacuteria e
proibiccedilatildeo de deportaccedilatildeo) Considera-se rejeitado o pedido quando nenhuma das quatro
formas eacute aplicaacutevel ao caso283
Assim o reconhecimento do direito de direito de asilo eacute previsto no artigo 16a parte
1 da Lei Baacutesica (Grundgesetz ndash GG) neste caso pessoas que se retornassem aos seus paiacuteses
sofreriam graves violaccedilotildees dos direitos humanos principalmente devido a perseguiccedilotildees por
opiniatildeo poliacutetica Portanto eacute considerado um direito fundamental com base Constitucional
prezando pela vida e dignidade humana Quando haacute a concessatildeo deste tipo de proteccedilatildeo o
indiviacuteduo tem o direito de residir na Alemanha por 3 anos autorizaccedilatildeo de trabalho e direito
de reagrupamento familiar Aleacutem disso apoacutes o periacuteodo de 3 ou 5 anos pode haver uma
concessatildeo de permanecircncia na Alemanha caso comprove condiccedilotildees de se manter e de
conhecimento da liacutengua alematilde284
A proteccedilatildeo de refugiado eacute prevista na Seccedilatildeo 3 da Lei de Asilo (AsylG) e tem por
fundamento a Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 sendo que esta proteccedilatildeo eacute mais extensa que
o direito de asilo sendo aplicada em mais casos Tambeacutem se aplica agraves pessoas que sofrem
perseguiccedilotildees referentes agraves situaccedilotildees previstas na Convenccedilatildeo Poreacutem as consequecircncias da
concessatildeo deste tipo de proteccedilatildeo satildeo os mesmos que o direito de asilo285
A proteccedilatildeo subsidiaacuteria estaacute prevista na Seccedilatildeo 4 da Lei de Asilo bem como na
Diretiva 201195UE e eacute concedida em situaccedilotildees em que se a pessoa retornar ao seu paiacutes
poderaacute sofrer graves riscos de danos Em casos de concessatildeo de proteccedilatildeo subsidiaacuteria o
indiviacuteduo receberaacute a permissatildeo de residecircncia por 1 ano (podendo ser estendida por mais dois
anos) acesso ao mercado de trabalho direito de reunificaccedilatildeo familiar bem como o direito
282 FEDERAL OFFICE FOR MIGRATION AND REFUGEES The Stages of the German Asylum Procedure
ndash An overview of the individual procedural steps and the legal basis Op cit 283 Ibidem 284 Ibidem 285 Ibidem
88
de permanecer na Alemanha apoacutes 5 anos caso demonstre condiccedilotildees de subsistecircncia e
conhecimento da liacutengua alematilde286
As trecircs formas de proteccedilatildeo acima natildeo seratildeo concedidas quando configurar um risco
agrave Alemanha desrespeitar princiacutepios baacutesicos do ACNUR ou ter cometido crimes de guerra
e ofensas criminais natildeo-poliacuteticas fora do paiacutes e condenado agrave prisatildeo por um crime ou por um
delito particularmente grave287
E por fim a proibiccedilatildeo de deportaccedilatildeo consta na Seccedilatildeo 60 V e VII da Lei de
Residecircncia (AufenthG) e tem por base a Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos
Portanto uma pessoa que requer proteccedilatildeo natildeo pode ser devolvida ao paiacutes de origem quando
haacute um risco concreto agrave vida ou agrave liberdade Essa proteccedilatildeo natildeo se aplica em casos de que o
indiviacuteduo possa ir para outros paiacuteses Na concessatildeo dessa proteccedilatildeo a pessoa poderaacute residir
na Alemanha por pelo menos 1 ano (podendo ser renovaacutevel) a permissatildeo de trabalho deve
ser obtida com a autoridade de imigraccedilatildeo e a permanecircncia definitiva pode ser autorizada
apoacutes 5 anos se tiver condiccedilotildees de se manter e tiver bom conhecimento da liacutengua alematilde288
Em caso de negativa de proteccedilatildeo ou seja o indiviacuteduo natildeo se enquadrar em nenhum
tipo dos 4 tipos de proteccedilatildeo poderaacute recorrer da decisatildeo no prazo de 30 dias poreacutem o periacuteodo
para deixar a Alemanha eacute de uma semana Uma accedilatildeo judicial contra o Escritoacuterio Federal
tambeacutem pode ser proposta289
286 FEDERAL OFFICE FOR MIGRATION AND REFUGEES The Stages of the German Asylum Procedure
ndash An overview of the individual procedural steps and the legal basis Op cit 287 Ibidem 288 Ibidem 289 Ibidem
89
CAPIacuteTULO 3
DIREITO INTERNACIONAL E EUROPEU DO MAR BUSCA E RESGATE DOS
REFUGIADOS EM PERIGO E O DEVER DE ASSISTEcircNCIA
Este capiacutetulo destina-se a analisar o direito do mar no acircmbito internacional e europeu
na seara dos refugiados do direito de resgate e salvamento no mar agrave luz da relaccedilatildeo deste
ramo do direito com os direitos humanos primeiro faz-se necessaacuterio algumas breves
consideraccedilotildees a respeito do direito internacional do mar Sendo sabido que nos uacuteltimos anos
muitas pessoas arriscaram suas vidas em embarcaccedilotildees para tentarem ter uma vida melhor e
sem riscos podendo citar o exemplo da Liacutebia que retrata uma situaccedilatildeo ldquocomumrdquo ao fato de
milhares de migrantes saiacuterem do paiacutes arriscando suas vidas no Mar Mediterracircneo com
destino agrave Europa principalmente paiacuteses como a Greacutecia Itaacutelia e Malta devido agrave proximidade
do norte do continente africano agrave costa e ilhas europeias
31 Breves Consideraccedilotildees a Respeito do Direito Internacional do Mar
O mar com sua particular imensidatildeo traz consigo um encantamento e admiraccedilatildeo por
um lado e uma versatildeo sombria e obscura de outro Muito utilizado para recursos que
auxiliam no dia a dia das pessoas eacute tambeacutem utilizado de forma maldosa atraveacutes de
cometimento de crimes graves como por exemplo traacutefico de pessoas de drogas e pirataria
Tal fato justifica a necessidade de uma Convenccedilatildeo a fim de regular as regras neste grandioso
espaccedilo a Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar (conhecida como UNCLOS
ndash sigla em inglecircs)290
Assim para tentar coibir infraccedilotildees e aumentar a proteccedilatildeo das pessoas no mar a
UNCLOS atribui aos Estados poderes de poliacutecia nas zonas mariacutetimas (aacuteguas e portos
interiores mar territorial zona contiacutegua zona econocircmica exclusiva e alto mar) Passa-se
entatildeo a anaacutelise do poder de poliacutecia em cada zona
Portanto o Estado costeiro pode exercer sua soberania em aacutereas de jurisdiccedilatildeo
nacional tem-se que aacuteguas e portos interiores estatildeo submetidos agraves regras nacionais do
290 FORTEAU Mathias THOUVENIN Jean-Marc Traiteacute de Droit International de la Mer Editions A
Pedone Paris 2017
90
Estado e este possui poderes de poliacutecia amplos ao que se refere a embarcaccedilotildees nessas aacutereas
bem como pode controlar o acesso dessas embarcaccedilotildees nessa zona e tambeacutem embarcaccedilotildees
que estatildeo no mar territorial com destino agraves aacuteguas e portos interiores Entatildeo o Estado
costeirodo porto eacute soberano para aplicar as suas leis nacionais em embarcaccedilotildees que estatildeo
em seus portos geralmente natildeo interferem em assuntos internos da embarcaccedilatildeo desde que
natildeo atinja os interesses estaduais291
Situaccedilatildeo semelhante ocorre no mar territorial (que consiste nas aacuteguas adjacentes agrave
costa ateacute 12 milhas naacuteuticas conforme disposto na UNCLOS) ou seja o Estado costeiro
possui amplos poderes nesta zona sendo portanto uma extensatildeo do territoacuterio do paiacutes
exceto em situaccedilotildees de passagem inocente (garantindo a liberdade de navegaccedilatildeo) contudo
mesmo nesses casos o Estado pode dispor normas a este respeito292
Desse modo o Estado costeiro possui soberania no seu mar territorial sendo limitado
pelo direito de passagem inocente que os navios de todos os Estados possuem notando-se
portanto a conciliaccedilatildeo da soberania do Estado com o direito de navegaccedilatildeo Poreacutem caso
exista alguma embarcaccedilatildeo com pessoas no mar territorial com o fim de violar as regras de
imigraccedilatildeo do Estado costeiro este Estado poderaacute intervir293 entretanto tambeacutem haacute a
obrigaccedilatildeo de salvamento das pessoas em perigo no mar ou seja nos casos de embarcaccedilatildeo
clandestina de migrantes o Estado tem o dever de resgatar essas pessoas
A zona contiacutegua consiste no espaccedilo de mais 12 milhas naacuteuticas aleacutem das jaacute previstas
no mar territorial Nesta zona o Estado pode exercer o controle nas situaccedilotildees de violaccedilatildeo das
leis nacionais e tambeacutem situaccedilotildees referentes agraves questotildees aduaneiras tributaacuterias imigraccedilatildeo
e sauacutede294 Poreacutem haacute liberdade de navegaccedilatildeo ou seja natildeo haacute soberania do Estado costeiro
nessa zona mariacutetima295
A Zona Econocircmica Exclusiva (ZEE) com limite de ateacute 200 milhas naacuteuticas contadas
a partir da linha de base do mar territorial trata-se de uma zona de caracteriacutesticas
particulares considerada de caraacuteter sui generis por ser uma aacuterea de alto mar sendo que o
Estado costeiro possui alguns direitos nesta aacuterea isto significa que o Estado costeiro possui
poderes de poliacutecia amplos no que se refere agraves situaccedilotildees de direito e jurisdiccedilatildeo soberana como
291 FORTEAU Mathias THOUVENIN Jean-Marc Op cit 292 Ibidem 293 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit 294 FORTEAU Mathias THOUVENIN Jean-Marc Op cit 295 LISSON Urszula WEINZIERL Ruth Border Management and Human Rights A study of EU Law and
the Law of the Sea German Institute for Human Rights 2007
91
por exemplo exploraccedilatildeo de recursos naturais ilhas artificiais instalaccedilotildees e estruturas de
pesquisa e proteccedilatildeo do meio ambiente marinho296
No que se refere ao alto mar Jonatas Machado entende como mar ldquoo conjunto dos
espaccedilos de aacutegua salgada em comunicaccedilatildeo livre e naturalrdquo297 Tal espaccedilo consiste em 72 da
atmosfera terrestre e o princiacutepio fundamental que rege eacute o mare liberum poreacutem natildeo se trata
de um uso irrestrito e incondicional tal princiacutepio eacute aplicado dentro do conceito de
democratizaccedilatildeo do direito do mar Tem-se que o alto mar constitui res communis omnium
ou seja eacute algo comum a todos298
Nesse sentido o artigo 87 da UNCLOS trata das liberdades do alto mar no qual todos
os Estados satildeo livres para navegar sobrevoar pescar colocar cabos e dutos submarinos
investigaccedilatildeo cientiacutefica e construir ilhas artificiais ou outras instalaccedilotildees permitidas pelo
direito internacional
A jurisdiccedilatildeo em alto mar eacute como regra geral do Estado da bandeira da embarcaccedilatildeo
conforme o artigo 87 da UNCLOS poreacutem haacute exceccedilotildees a esta regra previstas no artigo 92
nordm 1 isto eacute regras previstas de forma expressa em tratados internacionais aleacutem de algumas
previstas nos artigos 105 109 110 220 e 221 da Convenccedilatildeo Sendo respectivamente
pirataria difusatildeo natildeo autorizada direito de visita (artigo 111 tambeacutem a respeito do direito
de perseguiccedilatildeo) execuccedilatildeo pelo Estado costeiro poluiccedilatildeo e acidente mariacutetimo299
No que tange agrave soberania em alto mar haacute a questatildeo sobre ateacute que ponto um Estado
atraveacutes de suas embarcaccedilotildees pode exercer medidas coercitivas sobre navios de outras
nacionalidades Deve-se observar portanto a divisatildeo de aacuteguas conforme descrito acima
Assim nas aacuteguas interiores o Estado costeiro tem total controle da aacuterea entatildeo os navios
estrangeiros estatildeo submetidos ao controle e permissatildeo daquele Estado O mar territorial
tambeacutem estaacute sob a soberania do Estado costeiro mas como vimos haacute o direito de passagem
inocente de outros navios que arvorem sua bandeira Nesse sentido as embarcaccedilotildees com
migrantes na maioria das vezes natildeo possuem bandeira e em teoria com base no direito
internacional do mar estes poderiam ser parados controlados e desviados para fora do mar
territorial poreacutem tal questatildeo esbarra nas obrigaccedilotildees dos direitos humanos Dessa forma de
296 FORTEAU Mathias THOUVENIN Jean-Marc Op cit 297 MACHADO Joacutenatas E M Op cit p 574 298 Ibidem 299 HONNIBALL Arron N The Exclusive Jurisdiction of Flag States A Limitation on Pro-active Port States
The International Journal of Marine and Coastal Law 2016 Disponiacutevel em
httpsbrillcomviewjournalsestu313article-p499_6xml Acesso 01062020
92
acordo com as diretivas europeias que devem ser aplicadas no mar territorial haacute a proibiccedilatildeo
da repulsatildeo e os Estados satildeo obrigados a examinar os pedidos de proteccedilatildeo No alto mar a
liberdade de navegaccedilatildeo eacute imperativa e medidas coercitivas em regra satildeo proibidas desde
que para embarcaccedilotildees com bandeira situaccedilatildeo que na maioria das vezes natildeo eacute a das
embarcaccedilotildees com refugiados dessa forma os navios sem bandeira podem ser controlados
em alto mar300
Tendo por base as informaccedilotildees acima passa-se a analisar aspectos mais proacuteximos a
respeito dos direitos dos refugiados Sendo assim como jaacute mencionado anteriormente o
encantamento pelas riquezas marinhas acaba sendo ofuscado em parte pelo lado obscuro dos
oceanos ou seja o cometimento de crimes em espaccedilos mariacutetimos como o traacutefico de
migrantes no mar para combater este tipo de crime eacute imprescindiacutevel a cooperaccedilatildeo
internacional entre os paiacuteses
Sabemos que muitos satildeo os fatores que levam as pessoas a migrarem para outros
paiacuteses ou seja as pessoas fogem da tortura de perseguiccedilotildees de violaccedilotildees de direitos
humanos em siacutentese de uma vida indigna Poreacutem muitos arriscam suas vidas nas matildeos de
traficantes e pagam para estes fazerem a travessia em embarcaccedilotildees precaacuterias como jaacute vimos
nos noticiaacuterios e que natildeo suportam a travessia e acabam naufragando com muitas pessoas a
bordo ou ateacute mesmo acabam sendo abandonados pelos traficantes O desespero dessas
pessoas eacute tanto que arriscam suas vidas nas matildeos de criminosos na esperanccedila de ter uma
vida melhor do outro lado do mar
O artigo 8ordm do Protocolo citado acima prevecirc medidas contra o traacutefico de migrantes
por via mariacutetima dispondo assim accedilotildees a serem realizadas pelos Estados a fim de finalizar
a utilizaccedilatildeo da embarcaccedilatildeo para a finalidade ilegal Assim um Estado pode pedir ajuda a
outro Estado para tentar resolver a situaccedilatildeo entre outras accedilotildees301 Mas tal ideia esbarra na
questatildeo da responsabilidade do Estado que como vimos caso a accedilatildeo de um dos Estados for
violadora das obrigaccedilotildees internacionais principalmente dos direitos humanos o outro
Estado pode ter tambeacutem responsabilidade pelos atos
300 LISSON Urszula WEINZIERL Ruth Op cit 301 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Protocolo Adicional agrave Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas Contra
o Crime Organizado Transnacional relativo ao Combate ao Traacutefico de Migrantes por Via Terrestre Mariacutetima
e Aeacuterea 2000 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2004-
20062004DecretoD5016htm Acesso em 01062020
93
Chama-se a atenccedilatildeo para o artigo 98 da UNCLOS ou seja dispotildee sobre o dever de
prestar assistecircncia no mar Portanto eacute obrigaccedilatildeo do capitatildeo do navio prestar assistecircncia agraves
pessoas que estatildeo em perigo no mar necessitando de ajuda inclusive em casos de consistir
em outra embarcaccedilatildeo que esteja em perigo isto eacute natildeo apenas pessoas que estejam no mar
na aacutegua sob o risco de desaparecer Aleacutem disso o Estado costeiro tem o dever de
proporcionar um eficiente sistema de busca e salvamento a fim de promover a seguranccedila
mariacutetima e aeacuterea o dever se prolonga inclusive aos Estados vizinhos no que puderem
cooperar302
No capiacutetulo 2 item 2110 da Convenccedilatildeo de Busca e Resgate Mariacutetimo de 1979
(International Convention on Maritime Search and Rescue ndash SAR Convention) traz o dever
do Estado de prestar assistecircncia a qualquer pessoa que esteja em perigo no mar independente
de qualquer outro fator relacionado a ela (nacionalidade status etc)303 No mesmo sentido
em 2015 o Conselho de Seguranccedila da ONU adotou a Resoluccedilatildeo 2240 a fim de prestar auxiacutelio
agrave Liacutebia para proteger suas fronteiras e espaccedilo mariacutetimo inclusive em alto mar visando coibir
o traacutefico de pessoas e de migrantes na regiatildeo bem como proteger as pessoas viacutetimas deste
crime304
Tendo como base essas noccedilotildees gerais a respeito do direito internacional do mar e
uma breve introduccedilatildeo a respeito dos documentos que abordam o assunto passa-se a
relacionar o direito do mar com a proteccedilatildeo internacional do indiviacuteduo com foco no
salvamento e resgate de pessoas em perigo no mar
32 O Direito do Mar e a Proteccedilatildeo Internacional do Indiviacuteduo
Face aos acontecimentos desumanos relacionados aos refugiados principalmente em
relaccedilatildeo aos naufraacutegios ocorridos o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos condenou
alguns paiacuteses com base no artigo 3ordm da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos em
situaccedilotildees ocorridas no mar Assim como forma de assegurar a proteccedilatildeo internacional do
302 UNITED NATIONS United Nations Convention on the Law of the Seas Disponiacutevel
httpswwwunorgdeptslosconvention_agreementstextsunclosunclos_epdf Acesso 04092020 303 INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION International Convention on Maritime Search and
Rescue ndash SAR Convention 1979 Disponiacutevel em httpsonboard-aquariusorguploads201808SAR-
Convention-1979pdf Acesso em 02062020 304 CONSELHO DE SEGURANCcedilA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Resoluccedilatildeo 2240 (2015) Disponiacutevel em
httpseur-lexeuropaeulegal-contentPTTXTuri=CELEX3A32016D0118 Acesso em 30082020
94
indiviacuteduo no mar talvez seja o caso de se atrelar agrave legislaccedilatildeo sobre o direito do mar aos
princiacutepios universais dos direitos humanos tendo em vista que o Estado tem obrigaccedilatildeo
positiva de proteger os indiviacuteduos colocados sob sua jurisdiccedilatildeo contra desrespeitos
cometidos por outrem Poreacutem natildeo haacute este tipo de previsatildeo expressa no direito do mar
Um dos princiacutepios fundamentais do direito internacional eacute a obrigaccedilatildeo de salvar as
vidas no mar sendo que as primeiras manifestaccedilotildees juriacutedicas a este respeito foram oriundas
de tratados multilaterais do direito do mar no comeccedilo do seacuteculo XX Assim o salvamento
de vidas no mar se divide em dois pontos O primeiro princiacutepio eacute a obrigaccedilatildeo de fornecer
assistecircncia de responsabilidade do Estado da bandeira e dos capitatildees o outro ponto eacute a
obrigaccedilatildeo dos Estados costeiros de operar sistemas de buscas e salvamento305
Faz-se necessaacuterio fazer um parecircntese no aspecto de busca e resgate no mar bem
como o dever de assistecircncia previsto no artigo 98 da UNCLOS assim um dos bens juriacutedicos
tutelados eacute o direito agrave vida sendo ele um princiacutepio basilar pois sem a vida nenhum outro
direito faria sentido por este motivo a vida eacute protegida nos principais tratados de direitos
humanos
A maior expressatildeo dos direitos humanos ligado ao direito do mar ocorre quando haacute
o direito agrave vida em jogo ou seja quando algueacutem no mar estaacute correndo risco de vida em
situaccedilatildeo de perigo Assim a Convenccedilatildeo SOLAS (Convenccedilatildeo Internacional para a
Salvaguarda da Vida no Mar) tem como diz o proacuteprio tiacutetulo exatamente o propoacutesito de
proteger vidas306
Neste aspecto o Capiacutetulo V da SOLAS dispotildee sobre a seguranccedila de navegaccedilatildeo e na
regra 71 traz a responsabilidade do Estado em providenciar tudo que for necessaacuterio para
proporcionar a busca e resgate no mar nas zonas de sua competecircncia bem como o artigo
33 do mesmo Capiacutetulo trata das obrigaccedilotildees e procedimentos nas situaccedilotildees de perigo
305 RUGGIERO Carol Dalla Criminalizzazione alla Giustificazione delle Attivita di Ricerca e Soccorso in
Mare le Tendenze Interpretative Piu Recenti alla Luce dei Casi Vos Thalassa e Rackete In Diritto
Immigrazione e Cittadinanza Nordm 12020 Disponiacutevel em
httpswwwdirittoimmigrazionecittadinanzaitarchivio-saggi-commentinote-e-commentifascicolo-2020-
1526-dalla-criminalizzazione-alla-giustificazione-delle-attivita-di-ricerca-e-soccorso-in-mare-le-tendenze-
interpretative-piu-recenti-alla-luce-dei-casi-vos-thalassa-e-rackete Acesso em 25062020 306 GROSBON Sophie Droit de la Mer et Protection Internationale de LrsquoIndividurdquo In FORTEAU Mathias
THOUVENIN Jean-Marc Traiteacute de Droit International de la Mer Editions A Pedone Paris 2017
95
colocando o capitatildeo do navio como responsaacutevel por salvamento e caso o possa fazer deve
explicar os motivos sob pena de desrespeito ao artigo 2ordm da CEDH307
Rejeita-se a suposiccedilatildeo de que o mar eacute uma aacuterea sem lei ou que possua uma
salvaguarda para que infratores se eximam de respeitar os direitos humanos direito dos
refugiados bem como o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo As pessoas em perigo devem ter
respeitados seus direitos fundamentais protegidos sendo que o tratamento digno e humano
deve ser garantido308
Nesse sentido quando haacute pessoas em perigo no mar haacute o dever de resgate e
assistecircncia e em casos de embarcaccedilotildees de refugiados o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo deve ser
observado pois conforme vimos anteriormente o artigo 3ordm da Convenccedilatildeo Europeia dos
Direitos Humanos haacute a previsatildeo da proibiccedilatildeo de enviar pessoas agrave tortura Assim as pessoas
estatildeo em uma embarcaccedilatildeo com intuito de fugir de afrontas agrave sua dignidade e de lesotildees agrave sua
integridade fiacutesica nesse caso o Estado costeiro (ou o mais proacuteximo) bem como capitatildeo de
outras embarcaccedilotildees tecircm o dever de proteger essas pessoas e inclusive natildeo enviaacute-los
novamente para o paiacutes que lhes oprimiam
A este respeito tem-se que o Tribunal Europeu de Direitos Humanos bem como o
Comitecirc dos Direitos Humanos dispotildee a respeito do efeito horizontal indireto de alguns
direitos como por exemplo direito agrave vida proibiccedilatildeo da tortura e da escravidatildeo como
supramencionado o Estado tem obrigaccedilatildeo positiva de proteger os indiviacuteduos colocados sob
sua jurisdiccedilatildeo309
Muito se fala a respeito das lacunas no direito do mar e que pode trazer consequecircncias
na proteccedilatildeo dos direitos humanos Uma dessas lacunas estaacute no artigo 27 e 28 da UNCLOS
que tratam da jurisdiccedilatildeo criminal e civil do Estado costeiro impondo limites a este poreacutem
constam exceccedilotildees nas aliacuteneas ou seja situaccedilotildees em que o Estado costeiro poderaacute exercer
sua jurisdiccedilatildeo Curiosamente na aliacutenea ldquodrdquo do artigo 27 haacute a previsatildeo da possibilidade
exercer a jurisdiccedilatildeo penal em casos de ldquorepressatildeo do traacutefico iliacutecito de estupefacientes ou de
substacircncias psicotroacutepicasrdquo310 mas nada se fala a respeito da luta contra a tortura e o combate
agrave escravidatildeo ou traacutefico de pessoas Sobre este uacuteltimo o Estado costeiro pode interferir caso
307 INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION International Convention for the Safety of Life at Sea
(SOLAS) Disponiacutevel em httpswwwsamgongustofaismediaenglishSOLAS-Consolidated-Edition-
2018docxpdf Acesso em 05062020 308 Ibidem 309 Ibidem 310 UNITED NATIONS United Nations Convention on the Law of the Seas Op cit
96
o destino final seja seu espaccedilo terrestre no entanto deve sempre atuar de forma a respeitar
dos direitos humanos resgatando e dando um tratamento digno para as pessoas que
necessitam de proteccedilatildeo
O traacutefico de migrantes difere do traacutefico de escravos poreacutem muito se assemelham na
forma de transporte Muitas pessoas fogem da tortura situaccedilotildees de perseguiccedilotildees e
tratamentos desumanos e degradantes pagando para traficantes fazerem sua travessia do
norte do continente africano para paiacuteses europeus banhados pelo Mar Mediterracircneo
correndo risco de vida em embarcaccedilotildees precaacuterias e tendo suas vidas nas matildeos dos traficantes
bem como muitas pessoas satildeo usadas como mercadorias (escravos) e tambeacutem transportadas
por embarcaccedilotildees clandestinas
A este respeito o ldquoProtocolo Adicional agrave Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas contra o
Crime Organizado Transnacional relativo ao Combate ao Traacutefico de Migrantes por Via
Terrestre Mariacutetima e Aeacutereardquo no seu artigo 3ordm traz a definiccedilatildeo de traacutefico de migrantes ldquo()
lsquotraacutefico de migrantesrsquo significa a promoccedilatildeo com o objetivo de obter direta ou indiretamente
um benefiacutecio financeiro ou outro benefiacutecio material da entrada ilegal de uma pessoa num
Estado Parte do qual essa pessoa natildeo seja nacional ou residente permanenterdquo311
E quanto ao traacutefico de pessoas tem-se a definiccedilatildeo no artigo 3ordm no Protocolo Adicional
agrave Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Relativo agrave
Prevenccedilatildeo Repressatildeo e Puniccedilatildeo do Traacutefico de Pessoas em Especial Mulheres e Crianccedilas
ou seja
A expressatildeo traacutefico de pessoas significa o recrutamento o transporte a
transferecircncia o alojamento ou o acolhimento de pessoas recorrendo agrave ameaccedila ou
uso da forccedila ou a outras formas de coaccedilatildeo ao rapto agrave fraude ao engano ao abuso
de autoridade ou agrave situaccedilatildeo de vulnerabilidade ou agrave entrega ou aceitaccedilatildeo de
pagamentos ou benefiacutecios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha
autoridade sobre outra para fins de exploraccedilatildeo A exploraccedilatildeo incluiraacute no miacutenimo
a exploraccedilatildeo da prostituiccedilatildeo de outrem ou outras formas de exploraccedilatildeo sexual o
trabalho ou serviccedilos forccedilados escravatura ou praacuteticas similares agrave escravatura a
servidatildeo ou a remoccedilatildeo de oacutergatildeos312
311 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Protocolo Adicional agrave Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas contra
o Crime Organizado Transnacional relativo ao Combate ao Traacutefico de Migrantes por Via Terrestre Mariacutetima
e Aeacuterea 2000 Op cit 312 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Protocolo Adicional agrave Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas contra
o Crime Organizado Transnacional Relativo agrave Prevenccedilatildeo Repressatildeo e Puniccedilatildeo do Traacutefico de Pessoas em
Especial Mulheres e Crianccedilas Disponiacutevel httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2004-
20062004DecretoD5017htm Acesso 14062020
97
Assim o crime de traacutefico de migrantes e o de traacutefico de pessoas satildeo crimes diferentes
poreacutem em alguns casos como jaacute mencionamos a forma de transporte pode ser a mesma
atraveacutes de embarcaccedilotildees clandestinas e em situaccedilotildees precaacuterias Poreacutem natildeo seraacute aprofundado
neste aspecto criminal pois o foco do presente trabalho eacute a situaccedilatildeo dos refugiados em perigo
no mar contudo esta situaccedilatildeo pode relacionar-se com o traacutefico de migrantes ressalta-se que
satildeo vaacuterios os crimes que podem ser cometidos no espaccedilo mariacutetimo mas sem relaccedilatildeo com a
questatildeo dos refugiados
Sabemos que no que se refere ao alto mar eacute a jurisdiccedilatildeo do Estado da bandeira que
prevalece poreacutem no artigo 110 da UNCLOS autoriza-se o direito de visita em situaccedilotildees que
haacute a suspeita da ocorrecircncia de crimes como por exemplo a pirataria o traacutefico de escravos
embarcaccedilatildeo sem nacionalidade entre outras313 Neste ponto chama-se a atenccedilatildeo para
embarcaccedilotildees sem nacionalidades ou seja na imigraccedilatildeo clandestina os migrantes satildeo
transportados em embarcaccedilotildees sem nacionalidade e em situaccedilotildees precaacuterias Portanto a
UNCLOS autoriza o direito de visita em situaccedilotildees de embarcaccedilotildees sem nacionalidade
No mesmo sentido o artigo 19 do mesmo documento refere-se agrave passagem inocente
e diz que natildeo seraacute considerada passagem inocente (no mar territorial) e portanto prejudicial
agrave paz boa ordem e seguranccedila do Estado costeiro se a embarcaccedilatildeo for destinada agrave imigraccedilatildeo
(conforme artigo 19 nordm 2 aliacutenea ldquogrdquo)
No que se refere ao combate da imigraccedilatildeo clandestina tem-se que a liberdade de
navegaccedilatildeo fica comprometida inclusive em aacutereas em que natildeo haacute soberania de algum Estado
Aleacutem disso destaca-se que um paiacutes ao recusar o desembarque de migrantes e requerentes de
asilo poderaacute lesionar o direito agrave vida314 Portanto tal fato reforccedila a ideia de prestar assistecircncia
no mar
321 O Direito do Mar e os Direitos Humanos
Sabe-se que os Estados possuem obrigaccedilotildees de direitos humanos tanto positivado
por meio de tratados quanto pelo direito consuetudinaacuterio internacional Nesse sentido vale
a pena destacar trecircs aspectos as obrigaccedilotildees positivas e negativas do Estado separabilidade
313 UNITED NATIONS United Nations Convention on the Law of the Seas Op cit 314 GROSBON Sophie Op cit
98
dos direitos humanos e contenccedilotildees especiais justificadas pela natureza que no caso consiste
no ambiente marinho315
Tendo por base a tradiccedilatildeo juriacutedica ocidental que deu origem aos direitos humanos
tem-se que o objetivo era proteger as pessoas perante abusos dos soberanos ou seja o Estado
tem o dever de evitar atitudes que agridam os direitos dos indiviacuteduos Portanto obrigaccedilatildeo
negativa dos direitos humanos eacute referente ao Estado em se abster de tomar medidas que
possam infringir os direitos humanos nesse sentido a obrigaccedilatildeo positiva consiste no Estado
agir para evitar que os direitos dos indiviacuteduos sejam lesionados tendo como exemplo a
UNCLOS atraveacutes da positivaccedilatildeo de normas a respeito de busca e resgate no mar316
No que se refere agrave separabilidade tem-se que este conceito estaacute relacionado com a
jurisdiccedilatildeo Assim eacute importante ressaltar que existem duas correntes a este respeito a
primeira diz sobre uma jurisdiccedilatildeo limitada ao seu territoacuterio e outra defende a competecircncia
extraterritorial dos Estados ao que se refere agrave proteccedilatildeo dos direitos humanos Deste modo agrave
luz da natureza dos direitos humanos a segunda eacute mais compatiacutevel e aceita pelo Tribunal
Europeu dos Direitos Humanos A referida Corte entende que quando um Estado atua fora
da sua jurisdiccedilatildeo para exercer controle e autoridade sobre um indiviacuteduo o Estado deveraacute
assegurar os direitos individuais e a liberdade da pessoa317
Haacute muitas controveacutersias sobre este assunto mas entende-se como razoaacutevel a ideia de
que quando o Estado exerce sua jurisdiccedilatildeo fora dos seus limites territoriais em diversas
situaccedilotildees (ao que se refere a presente pesquisa citamos o resgate de pessoas em perigo no
mar) ele tem a obrigaccedilatildeo de assegurar os direitos individuais como por exemplo o direito
agrave vida o direito de natildeo ser torturado ou de natildeo ser submetido a tratamentos desumanos ou
degradantes de natildeo ser devolvidorejeitado (non-refoulement) de ter suas liberdades
individuais318
Natildeo haacute a previsatildeo da aplicabilidade dos direitos humanos no direito do mar poreacutem
decisotildees de tribunais internacionais bem como a intepretaccedilatildeo sistecircmica dos tratados fazem
com que o respeito aos direitos humanos seja base de todos os ramos do direito Nesse
315 PAPANICOLOPULU Irini Human Rights and The Law of the Sea In The IMLI Manual on International
Maritime Law Volume I Law of The Sea General Editor David Joseph Attard Edited by Malgosia
Fitzmaurice Norman A Martineacutez Gutieacuterrez Oxford University Press Oxford 2014 316 Ibidem 317 Ibidem 318 Ibidem
99
sentido ao interpretar o artigo 311 nordm 2 da UNCLOS juntamente com o artigo 1ordm nordm 3 da
Carta das Naccedilotildees Unidas temos respectivamente
(hellip)This Convention shall not alter the rights and obligations of States Parties
which arise from other agreements compatible with this Convention and which do
not affect the enjoyment by other States Parties of their rights or the performance
of their obligations under this Convention (hellip)319
()Conseguir uma cooperaccedilatildeo internacional para resolver os problemas
internacionais de caraacuteter econocircmico social cultural ou humanitaacuterio e para
promover e estimular o respeito aos direitos humanos e agraves liberdades fundamentais
para todos sem distinccedilatildeo de raccedila sexo liacutengua ou religiatildeo ()320
Notamos nos dispositivos supra a preocupaccedilatildeo com o cumprimento das obrigaccedilotildees
perante os outros estados bem como a cooperaccedilatildeo entre eles zelando sempre por diversos
aspectos sendo os direitos humanos um dos pontos expressos no artigo 1ordm da Carta das
Naccedilotildees Unidas
No mesmo sentido os artigos 55 e 56 da Carta das Naccedilotildees Unidas dispotildeem sobre a
cooperaccedilatildeo internacional econocircmica e social assim os estados se comprometem em
cooperar juntamente com a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas Portanto ao que se refere agrave
interpretaccedilatildeo dos dispositivos na UNCLOS ela deve ser sistemaacutetica e realizada em conjunto
com os demais diplomas internacionas no entanto ressalta-se que dificilmente haveraacute
alguma interpretaccedilatildeo que impeccedila os estados de cumprirem com suas obrigaccedilotildees
internacionais no acircmbito dos direitos humanos321
322 O Princiacutepio da Natildeo-Repulsatildeo e os Migrantes em Perigo no Mar
Como jaacute visto no primeiro capiacutetulo este princiacutepio eacute um dos principais aspectos de
proteccedilatildeo agraves pessoas que requerem asilo e ele garante que essas natildeo sejam devolvidas para
seu paiacutes de origem ou seja para local onde sofria algum tipo de perseguiccedilatildeo Poreacutem haacute
discussatildeo a respeito de que tal regra prevista no artigo 33 da Convenccedilatildeo de 1951 somente
se aplica para pessoas que se enquadram no statusconceito de refugiado322
319 UNITED NATIONS United Nations Convention on the Law of the Seas Op cit 320 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Carta das Naccedilotildees Unidas 1945 Disponiacutevel em
httpsnacoesunidasorgwp-contentuploads201711A-Carta-das-NaC3A7C3B5es-Unidaspdf
Acesso em 04092020 321 PAPANICOLOPULU Irini Op cit 322 TREVISANUT Seline The Principle of Non-Refoulement and the De-Territorialization of Border Control
at Sea Leiden Journal of International Law vol 27 no 3 September 2014 p 661-676 HeinOnline
100
Assim Seline Trevisanut destaca que o ponto principal do conceito de refugiado eacute a
questatildeo do medo fundamentado de perseguiccedilatildeo situaccedilatildeo em que a vida ou a liberdade de
algueacutem estaria em risco Portanto nada se discute a respeito da aplicaccedilatildeo do
supramencionado artigo aos refugiados (propriamente ditos) a questatildeo controversa reside
em pessoas que natildeo se enquadram no referido conceito323
O conceito de refugiado foi analisado mais detalhadamente no primeiro capiacutetulo no
entanto aqui se faz um parecircntese a resepeito da questatildeo espacial do conceito Assim tal
ideia traz eacute a de que o indiviacuteduo deve estar fora do seu paiacutes ou natildeo ter nacionalidade ou
fora do paiacutes de sua residecircncia habitual ou seja em uma anaacutelise bem restrita a natildeo-repulsatildeo
natildeo se aplicaria nas aacuteguas territoriais ou na zona contiacutegua do paiacutes de origem Mas vale
destacar que o artigo 33 da Convenccedilatildeo natildeo traz limitaccedilatildeo territorial assim haacute
entendimentos324 de que a natildeo-repulsatildeo deve ser obedecida em qualquer local onde um
Estado possa exercer sua jurisdiccedilatildeo sendo uma interpretaccedilatildeo aceita tendo por base a defesa
dos direitos humanos325 eacute a situaccedilatildeo da extraterritorialidade
O artigo 13 nordm 2 da DUDH dispotildee ldquoToda a pessoa tem o direito de abandonar o paiacutes
em que se encontra incluindo o seu e o direito de regressar ao seu paiacutesrdquo326 a mesma redaccedilatildeo
eacute dada no artigo 12 nordm 2 do Pacto Internacional de Direitos Civis e Poliacuteticos Assim os
migrantes em regiotildees mariacutetimas com ausecircncia de soberania de algum Estado natildeo podem ser
considerados em situaccedilatildeo irregular mesmo porque natildeo haacute previsatildeo sobre a proibiccedilatildeo de
indiviacuteduos deixarem seu paiacutes por via mariacutetima327
O entendimento do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos eacute de que se um Estado
adota medidas em aacuteguas internacionais ou territoriais de outro Estado com intuito de
combater a imigraccedilatildeo natildeo consiste na violaccedilatildeo do direito de saiacuteda do migrante do seu paiacutes
poreacutem as medidas satildeo tomadas com intuito de evitar a entrada no territoacuterio do Estado
323 TREVISANUT Seline The Principle of Non-Refoulement and the De-Territorialization of Border Control
at Sea Op cit 324 Seline Trevisanut citou Goodwin-Gill e J McAdam com o livro The Refugee in International Law (2007)
em TREVISANUT Seline The Principle of Non-Refoulement and the De-Territorialization of Border
Control at Sea Leiden Journal of International Law vol 27 no 3 September 2014 p 661-676 HeinOnline 325 TREVISANUT Seline The Principle of Non-Refoulement and the De-Territorialization of Border Control
at Sea Op cit 326 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem 1948
Disponiacutevel em httpsnacoesunidasorgwp-contentuploads201810DUDHpdf Acesso em 05032020 327 GROSBON Sophie Op cit
101
infringindo as regras de proteccedilatildeo internacional o direito de pedir asilo e a proibiccedilatildeo de
expulsatildeo coletivas328
Aleacutem disso um Estado ao abordar uma embarcaccedilatildeo com migrantes natildeo deve
devolvecirc-los ao paiacutes de origem pois estaria infringindo o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo tendo
em vista que os migrantes muitas vezes estatildeo fugindo de perseguiccedilotildees e ameaccedilas agraves suas
vidas Nesse sentido a Comissatildeo Interamericana de Direitos Humanos considera que a
interceptaccedilatildeo e reenvio sistemaacutetico de barcos cheios de migrantes atentam contra o direito agrave
vida Assim um dos maiores desafios relacionado com o direito do mar e os direitos
humanos estaacute questatildeo da imigraccedilatildeo ilegal bem como a questatildeo do porto de desembarque e
o paiacutes no qual vai analisar o procedimento de asilo329
A este respeito Sophie Grosbon destaca que uma significante falha na legislaccedilatildeo a
respeito do mar eacute o fato de natildeo haver uma clara identificaccedilatildeo de onde as pessoas encontradas
no mar devem desembarcar em situaccedilotildees de que as pessoas tentam entrar ilegalmente em
um paiacutes Antes as convenccedilotildees SAR e SOLAS nada previam sobre o assunto poreacutem foram
adotadas emendas com intuito de garantir um local de desembarque seguro para as pessoas
que satildeo resgatadas no mar natildeo importando a nacionalidade status ou quaisquer outras
circunstacircncias que se encontrem330
Na visatildeo do direito internacional e europeu a rejeiccedilatildeo de migrantes em alto mar
coloca em conflito vaacuterias convenccedilotildees sobre os direitos humanos direito internacional e
direto do mar Destaca-se a as convenccedilotildees UNCLOS SOLAS SAR Convenccedilatildeo de Genebra
de 1951 Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas contra Tortura de 1984 o Pacto Internacional dos
Direitos Civis e Poliacuteticos e a CEDH331
Sabe-se que o artigo 3ordm da CEDH estaacute intimamente relacionado ao princiacutepio da natildeo-
repulsatildeo pois haacute a proibiccedilatildeo de tortura e tratamentos desumanos e degradantes sendo assim
enviar algueacutem para um local onde possa sofrer de tais accedilotildees seria uma violaccedilatildeo do referido
dispositivo Assim mesmo jaacute tendo explicado anteriormente sobre esse princiacutepio faz-se
necessaacuterio rediscutir o mesmo conduzindo para a abordagem de refugiados em perigo no
mar
328 GROSBON Sophie Op cit 329 Ibidem 330 Ibidem 331 TERRASI Alfredo I respingimenti in mare di migrant alla luce della Convenzione europea dei diritti
umani In Diritti umani e diritto Internazionale Nordm 32009 p 591-607
102
No entanto natildeo haacute expressamente no artigo 3ordm da CEDH a obrigaccedilatildeo de natildeo-
repulsatildeo desse modo o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos utiliza o mecanismo de
proteccedilatildeo indireta (ldquoprotection paricochetrdquo) isto eacute estende a proteccedilatildeo do artigo para pessoas
que correm risco de serem torturadas ou serem submetidas agrave tratamentos desumanos e
degradantes caso haja uma expulsatildeo ou extradiccedilatildeo332
O artigo 4ordm do seu Protocolo adicional nordm 4 que se refere agraves expulsotildees coletivas
vimos que se aplica tanto para pessoas que jaacute estatildeo no territoacuterio como tambeacutem para as
pessoas que ainda natildeo atingiram a fronteira ou seja situaccedilatildeo dos migrantes em alto mar com
a pretensatildeo de ingressar no territoacuterio assim possui um mecanismo de aplicaccedilatildeo semelhante
ao artigo 3ordm da CEDH333
Do mesmo modo o artigo 3ordm nordm 1 da Convenccedilatildeo Contra a Tortura e Outros
Tratamentos ou Penas Crueacuteis Desumanos ou Degradantes traz a proibiccedilatildeo do envio de
pessoas para estados nos quais poderatildeo correr risco de serem submetidos agrave tortura ou
qualquer tratamento desumano ou degradante como podemos depreender da leitura do
dispositivo ldquoNenhum Estado Parte procederaacute agrave expulsatildeo devoluccedilatildeo ou extradiccedilatildeo de uma
pessoa para outro Estado quando houver razotildees substanciais para crer que a mesma corre
perigo de ali ser submetida agrave torturardquo334
Portanto satildeo vaacuterios os instrumentos internacionais bem como a praacutetica dos Estados
que trazem a natildeo-repulsatildeo como uma regra do direito consuetudinaacuterio tanto quanto os
direitos humanos335 como jaacute vimos no primeiro capiacutetulo A jurisprudecircncia do TEDH eacute no
sentido de que enviar uma pessoa para um paiacutes no qual sua vida e integridade fiacutesica vatildeo ser
postas em risco haacute a violaccedilatildeo do artigo 33 da Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 mas quando
se refere aos migrantes rejeitados em alto mar natildeo se poderia afirmar isso de imediato devido
agrave questatildeo da jurisdiccedilatildeo em alto mar mas como vimos haacute a possibilidade da
extraterritorialidade da jurisdiccedilatildeo de um Estado em alto mar336 Assim isso justificaria a
ideia de que sob a jurisdiccedilatildeo de um paiacutes este natildeo deve rejeitar os migrantes e enviaacute-los
332 TERRASI Alfredo Op cit 333 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit 334 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas
Crueacuteis Desumanos ou Degradantes 1984 Disponiacutevel em
httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto1990-1994D0040htm Acesso em 12092020 335 TREVISANUT Seline The Principle of Non-Refoulement and the De-Territorialization of Border Control
at Sea Op cit 336 TERRASI Alfredo Op cit
103
novamente agraves situaccedilotildees de risco sob pena de incorrer em lesatildeo aos artigos 3ordm da CEDH e 33
da Convenccedilatildeo de Genebra de 1951
Neste aspecto Alfredo Terrasi menciona que o ACNUR bem como a doutrina
majoritaacuteria sobre o tema entende pela aplicabilidade do artigo 33 da Convenccedilatildeo de Genebra
de 1951 tambeacutem na regiatildeo de alto mar ou seja como jaacute falamos acima aplicando a
extraterritorialidade da jurisdiccedilatildeo do paiacutes e portanto a extraterritorialidade do princiacutepio da
natildeo-repulsatildeo337
A este respeito o ACNUR no documento ldquoNotes on International Protectionrdquo de 13
de setembro de 2001 dispotildee que natildeo satildeo admitidas reservas no princiacutepio da natildeo-repulsatildeo e
que consiste em uma regra de direito internacional consuetudinaacuterio e portanto se vincula a
todos os Estados aleacutem disso consiste em um princiacutepio atrelado agrave proibiccedilatildeo da tortura e
tratamentos desumanos degradantes e crueacuteis bem como aplicaacutevel a todos os refugiados
independentemente do status formal do indiviacuteduo e como jaacute visto proiacutebe o envio de
indiviacuteduos para locais onde correm o risco de terem sua vida e liberdade ameaccediladas sendo
que o local da rejeiccedilatildeo natildeo importa se eacute na fronteira repulsatildeo indireta ou interceptaccedilatildeo de
embarcaccedilotildees por exemplo338
Nesta mesma linha vimos que a Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos do Homem no
Protocolo nordm 4 artigo 4ordm haacute a proibiccedilatildeo de expulsotildees coletivas tal disposto se justifica no
fato de que a anaacutelise para configurar o status de refugiado deve ser efetuada individualmente
com isso a expulsatildeo coletiva infringe gravemente a anaacutelise individual pois ao recusar os
migrantes em grupos faz com que a anaacutelise seja sumaacuteria339
A regulaccedilatildeo de entrada nos paiacuteses sempre foi praticada inclusive com rejeiccedilotildees de
entrada E como jaacute explicado no capiacutetulo anterior nos uacuteltimos anos a Itaacutelia eacute um dos paiacuteses
que mais vecircm sofrendo com a chegada massiva de migrantes que atravessam o Mar
Mediterracircneo com intuito de chegar agrave Europa Vimos tambeacutem que os Estados possuem sua
soberania e por isso tecircm direito de controlar o fluxo de entrada no paiacutes mas este fato esbarra
nas situaccedilotildees em que pessoas necessitam de proteccedilatildeo internacional
337 TERRASI Alfredo Op cit 338 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Note on International Protection ndash UNHCR 13 september
2001 Disponiacutevel httpswwwunhcrorgexcomexcomrep3bb1c6cc4note-international-protectionhtml
Acesso em 18092020 339 TERRASI Alfredo Op cit
104
Assim o direito de rejeitar a entrada de pessoas no paiacutes consiste em uma expressatildeo
da soberania dos Estados no entanto haacute limites Vejamos A ideia de soberania eacute de que se
trata de uma ferramenta para garantia dos direitos do Estado e dos indiviacuteduos agrave luz do direito
internacional ou seja a garantia de proteccedilatildeo miacutenima com base nos direitos humanos
tornando o princiacutepio da natildeo-discriminaccedilatildeo o centro de reconstruccedilatildeo dos deveres do Estado
em relaccedilatildeo a todos indiviacuteduos natildeo importando a nacionalidade destes Nesse sentido com
base nesse princiacutepio todas as pessoas que estiverem sob a jurisdiccedilatildeo de algum Estado este
deve fazer com que os direitos fundamentais reconhecidos pelo direito internacional sejam
observados340
A accedilatildeo de rejeitar a entrada de pessoas consiste em um exerciacutecio de poder dos oacutergatildeos
do Estado que satildeo responsaacuteveis pelo controle das fronteiras mas esta accedilatildeo faz com que
sejam ativadas as ferramentas para que se respeitem os direitos humanos dos envolvidos
Dessa forma a proteccedilatildeo ao direito agrave vida proibiccedilatildeo de tratamentos desumanos e
degradantes a liberdade pessoal entre outras proteccedilotildees dos direitos humanos pode fazer
com que o Estado seja impedido de rejeitar as pessoas ou seja que se respeite o princiacutepio
da natildeo-repulsatildeo341
Assim o direito dos refugiados eacute a primeira aacuterea do direito internacional em que a
regra da natildeo-repulsatildeo foi desenvolvida foi durante a Segunda Guerra Mundial que os
Estados decidiram adotar a proibiccedilatildeo geral de recusar refugiados342 ou seja como jaacute vimos
os Estados-partes que adotaram a Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 comprometeram-se a natildeo
expulsar um refugiado para locais onde a vida e a liberdade seriam ameaccediladas
Destaca-se que a natildeo repulsatildeo se aplica aos refugiados isto eacute aqueles que se
enquadram nas situaccedilotildees previstas na Convenccedilatildeo de 1951 portanto alguns elementos que
caracterizam uma pessoa como refugiado satildeo o medo a perseguiccedilatildeo pelos motivos
especiacuteficos (raccedila religiatildeo nacionalidade e outros) e natildeo poder se beneficiar da proteccedilatildeo
estatal Poreacutem pessoas que necessitam de proteccedilatildeo por fugirem de guerra (natildeo enquadradas
nas situaccedilotildees de perseguiccedilatildeo) refugiados ambientais pessoas deslocadas internamente satildeo
excluiacutedas do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo343
340 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit 341 Ibidem 342 Ibidem 343 Ibidem
105
No entanto natildeo eacute exigiacutevel que os indiviacuteduos jaacute estejam no territoacuterio para que se
aplique a natildeo-repulsatildeo ou seja os migrantes podem estar na fronteira ou inclusive em aacutereas
onde o Estado natildeo exerce a soberania como o alto mar De qualquer forma os indiviacuteduos
devem ter seu direito de natildeo serem devolvidos respeitado344 Dessa forma o artigo 33 da
Convenccedilatildeo de 1951 aleacutem de ser uma proteccedilatildeo aos refugiados consiste em um
desenvolvimento dos direitos humanos pois tambeacutem foi adotado em outros documentos
internacionais demonstrando a relevacircncia desta regra345
Nesse sentido a Convenccedilatildeo contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Crueacuteis
Desumanos ou Degradantes adotada em 1984 traz no artigo 3ordm nordm1 a proibiccedilatildeo da expulsatildeo
de uma pessoa quando houver relevantes razotildees para se acreditar que o indiviacuteduo corra
perigo e possa ser submetido agrave tortura346 Entatildeo a Convenccedilatildeo de 1951 diz respeito aos
refugiados e a Convenccedilatildeo contra a Tortura amplia a aplicaccedilatildeo deste princiacutepio para mais
pessoas que natildeo satildeo consideradas refugiadas bastando ter motivos substanciais para
acreditar que a pessoa seraacute submetida agrave tortura
Entatildeo destaca-se o fato de que a Convenccedilatildeo Contra a Tortura natildeo prevecirc exceccedilotildees
ou seja ningueacutem poderaacute ser expulso de um paiacutes sabendo que o indiviacuteduo seraacute submetido agrave
tortura Neste aspecto podemos entender o caraacuteter de uma norma jus cogens (resumidamente
satildeo regras internacionais imperativas como vimos no primeiro capiacutetulo) na proibiccedilatildeo da
repulsatildeo347
Tendo por base todas essas informaccedilotildees a respeito da natildeo-repulsatildeo passa-se agora a
explorar a relaccedilatildeo deste princiacutepio juntamente com o direito do mar Neste aspecto eacute
importante destacar que a natildeo-repulsatildeo natildeo consta expressamente na lei do mar poreacutem isso
natildeo significa que natildeo deva ser aplicado pois o direito internacional prevecirc a possibilidade de
integrar as regras presentes em outros documentos A exemplo disto a UNCLOS prevecirc que
os assuntos natildeo regulados por ela continuam sendo disciplinados pelos princiacutepios do direito
internacional348
344 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit 345 Ibidem 346 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Contra a Tortura e Outros Tratamentos
ou Penas Crueacuteis Desumanos ou Degradantes 1984 Disponiacutevel em
httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto1990-1994D0040htm Acesso em 24062020 347 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit 348 Ibidem
106
Ao observar algumas obrigaccedilotildees fundamentais neste ponto do direito internacional
percebe-se a evidecircncia da proteccedilatildeo dos direitos humanos exemplificado pelo princiacutepio da
natildeo-repulsatildeo assim menciona-se a obrigaccedilatildeo de salvar as pessoas que estatildeo em perigo no
mar e levaacute-las para um local seguro Esta obrigaccedilatildeo jaacute presente nas regras costumeiras eacute
expressa na UNCLOS e em outros documentos internacionais como a SOLAS e a SAR No
entanto natildeo haacute definiccedilatildeo do que seria ldquolugar segurordquo mas entende-se que consiste em um
local onde os indiviacuteduos possuem seus direitos fundamentais respeitados assim os
migrantes resgatados no mar devem ser desembarcados em lugares onde a vida e liberdade
dessas pessoas estatildeo salvas349
Portanto o elo entre a obrigaccedilatildeo de salvamento no mar e desembarcar as pessoas em
locais seguros juntamente com o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo constituem em uma
convergecircncia do direito do mar direitos humanos e direito dos refugiados As chances das
pessoas resgatadas no mar principalmente no Mar Mediterracircneo serem pessoas que se
enquadram no conceito de refugiado eacute grande350 Veremos adiante que a Itaacutelia foi condenada
pelo TEDH por desrespeitar essas obrigaccedilotildees internacionais
No entanto os limites impostos pelo direito dos refugiados e direitos humanos agrave
atuaccedilatildeo do Estado no que se refere agrave rejeiccedilatildeo dos estrangeiros tecircm sido considerados como
oacutebices agraves poliacuteticas estatais de rejeiccedilatildeo indiscriminadas adotadas por alguns paiacuteses Nesse
sentido alguns governos tentaram coibir a chegada de migrantes para requisiccedilatildeo de asilo
que a exemplo disso cita-se a Austraacutelia Itaacutelia e Estados Unidos351
Dos exemplos citados no uacuteltimo capiacutetulo falaremos das violaccedilotildees nos principais
paiacuteses afetados como Itaacutelia Greacutecia e Malta pois tem sido os paiacuteses mais afetados pela
migraccedilatildeo atraveacutes do Mar Mediterracircneo Nesse sentido a Itaacutelia adotou haacute pouco tempo uma
legislaccedilatildeo que possui a finalidade de impedir a entrada de embarcaccedilotildees que resgatam
migrantes em suas aacuteguas e portos Do ponto de vista de diversas aacutereas do direito como
direitos humanos e direito do mar tal medida do governo italiano eacute ilegiacutetima352
A UNCLOS nos seus artigos 17 e 25 nordm 3 dispotildee a respeito de passagem inocente
mas em alguns casos o estado costeiro pode suspender temporariamente esse direito esta
deve ser temporaacuteria deve ser em aacutereas especiacuteficas a accedilatildeo deve ser importante para a
349 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit 350 Ibidem 351 Ibidem 352 Ibidem
107
seguranccedila do Estado e natildeo deve ter cunho discriminatoacuterio Portanto a aacuterea deve ser restrita
e aplicaacutevel a todos os navios ou seja natildeo se pode restringir a navegaccedilatildeo de embarcaccedilotildees de
ONGs que prestam assistecircncia no mar por exemplo353
Dessa forma observa-se que as accedilotildees do governo italiano tinham intenccedilatildeo de excluir
uma categoria de barcos e que inclusive natildeo realizam atividades ilegais assim a Itaacutelia deixa
de respeitar uma seacuterie de obrigaccedilotildees legais Nesse sentido desembarcar migrantes
resgatados em alto mar em locais como a Liacutebia por exemplo acarreta uma violaccedilatildeo ao
princiacutepio da natildeo-repulsatildeo pois este paiacutes africano estaacute longe de ser um local seguro354
O direito internacional do mar autoriza em casos extremos que uma embarcaccedilatildeo
que esteja em situaccedilatildeo de perigo tenha acesso aos portos mesmo que o Estado portuaacuterio seja
diverso do Estado da bandeira independentemente da permissatildeo355 Aleacutem disso em outro
aspecto os estados de destino da migraccedilatildeo irregular tentam prevenir a chegada de migrantes
ilegais em seu territoacuterio controlando as fronteiras fora do seu territoacuterio ou seja em alto mar
Esta accedilatildeo eacute chamada de desterritorializaccedilatildeo neste aspecto nos deparamos com o conceito
do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo que vimos ser um instrumento importante na proteccedilatildeo dos
migrantes que necessitam de proteccedilatildeo Aleacutem disso vale lembrar que o ato de migrar natildeo eacute
ilegal sendo que quem comente o crime satildeo os contrabandistas nesse sentido os migrantes
ldquocometemrdquo iliacutecitos ao entrar de forma irregular no territoacuterio internacional356
Nesse sentido Seline Trevisanut traz a ideia de dois tipos de fronteiras a primeira
consiste na fronteira propriamente dita delimitada no mapa que visa delimitar a aacuterea fiacutesica
na qual o Estado costeiro tem assegurada sua soberania na medida de cada zona mariacutetima
como vimos no iniacutecio deste capiacutetulo a segunda ideia de fronteira mariacutetima funcional que
traz uma fronteira dinacircmica ou seja ela eacute alterada de acordo com a natureza da accedilatildeo em
questatildeo Portanto no que se refere agrave migraccedilatildeo a fronteira eacute no local que as autoridades
realizaram o controle de fronteira ou seja em tese na interceptaccedilatildeo de um navio no mar o
controle de fronteira estaacute sendo realizado naquele local357
Tal fato traz a ideia de imposiccedilatildeo do seu sistema juriacutedico como eacute o caso por
exemplo da Itaacutelia em que alega seu tratado de amizade com a Liacutebia Assim a Itaacutelia entende
353 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit 354 Ibidem 355 Ibidem 356 TREVISANUT Seline The Principle of Non-Refoulement and the De-Territorialization of Border Control
at Sea Op cit 357 Ibidem
108
que pode tomar as medidas de acordo com a sua legislaccedilatildeo e tratados Ocorre que o princiacutepio
da natildeo-repulsatildeo eacute aplicado agrave pessoa que foi interceptada pois mesmo que a entrada seja
ilegal a Convenccedilatildeo de 1951 no artigo 31 nordm1 dispotildee que a entrada ilegal natildeo deve ser motivo
para recusar as pessoas que foram abordadas Entatildeo se deve sempre buscar a proteccedilatildeo de
pessoas que necessitam de ajuda No entanto a praacutetica de repelir os navios para alto mar natildeo
configuraria violaccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo mas eacute importante que esse ato natildeo
configure colocar vidas em perigo caso contraacuterio estaria em desacordo com o dever de
assistecircncia e socorro no mar358 mas sabemos que a situaccedilatildeo natildeo simples dessa forma pois
ao repelir um barco de migrantes para alto mar eacute colocar a vida das pessoas que estatildeo na
embarcaccedilatildeo em perigo pois voltar para o paiacutes de origem natildeo eacute uma opccedilatildeo ficar a deriva
pode levaacute-las agrave morte ir para outro paiacutes mais longe pode deteriorar ainda mais a embarcaccedilatildeo
e a mesma naufragar causando acidentes e provavelmente mortes
Assim podemos dizer que o desvio forccedilado de migrantes enviando-os de volta para
o paiacutes de partida ou para algum paiacutes que natildeo escolheram ou para algum paiacutes considerado
inseguro consiste em violaccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo Ressalta-se que tal princiacutepio natildeo
traz obrigatoriedade de recepccedilatildeo dos migrantes poreacutem repeliacute-los pode infringir algumas
normas do direito internacional como por exemplo o dever de prestar assistecircncia no mar359
323 A Busca e Salvamento no Mar e o Dever de Assistecircncia
O direito agrave vida deve prevalecer perante questotildees em que o navio esteja em perigo
ou que possua um maior nuacutemero de passageiros que possa comprometer a seguranccedila da
embarcaccedilatildeo Assim a primazia do direito agrave vida deve fazer com que o Estado costeiro abra
sua fronteira para o acesso dos migrantes Aleacutem disso o Tribunal Europeu dos Direitos
Humanos natildeo permite a ideia do Estado separar a obrigaccedilatildeo de salvar as vidas no mar
(prevista na UNCLOS) das obrigaccedilotildees de respeitar os direitos fundamentais Dessa forma
o Estado deve se preocupar com qualquer pessoa em perigo no mar e que as pessoas natildeo
devem ser devolvidas ao paiacutes de embarque360
358 TREVISANUT Seline The Principle of Non-Refoulement and the De-Territorialization of Border Control
at Sea Op cit 359 TREVISANUT Seline Maritime Border Control and the Protection of Asylum-Seekers in the European
Union Touro International Law Review 12 2009 p 157-161 HeinOnline 360 GROSBON Sophie Op cit
109
No que se refere agrave imigraccedilatildeo clandestina cita-se a Convenccedilatildeo de 1957 que nunca
entrou em vigor ela previa a autonomia do capitatildeo de um navio de entregar os migrantes agraves
autoridades do primeiro porto de escala sendo responsaacutevel por devolverem ao seu paiacutes de
origem No mesmo sentido em 2002 tentaram resolver a questatildeo de passageiros que entram
clandestinamente em alguma embarcaccedilatildeo portanto a ideia era de que os capitatildees natildeo
deveriam desviar a rota do navio para desembarcar o indiviacuteduo (exceto se tiver autorizaccedilatildeo
do porto ldquode desviordquo e se for necessaacuterio o desembarque em casos de seguranccedila e
humanidade) assim o Estado de desembarque deve aceitar o passageiro que for encontrado
no seu mar territorial sendo que em casos de recusa esta deveraacute ser justificada361
A este respeito Sophie Grosbon destaca que o desembarque das pessoas resgatadas
no mar sejam elas migrantes ou passageiros clandestinos estatildeo submetidos agrave lei dos
refugiados bem como ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo isso implica que o indiviacuteduo natildeo seja
desembarcado em um paiacutes no qual seus direitos vida e integridade fiacutesica sejam ameaccedilados
o mesmo ocorre para paiacuteses que possam enviaacute-los de volta ao paiacutes de origem ou Estado onde
seria ameaccediladoperseguido (situaccedilatildeo conhecida como repulsatildeo indireta)362
Percebe-se entatildeo a ligaccedilatildeo do ponto estudado neste capiacutetulo com o que foi exposto
no capiacutetulo 1 a respeito do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo visto anteriormente ou seja uma
pessoa que estaacute fugindo de ameaccedilas e tratamentos desumanos e degradantes que vivia em
um lugar que a vida e a integridade fiacutesica estavam ameaccediladas natildeo deve ser enviada de volta
para a tortura conforme consta no artigo 3ordm da CEDH bem como na Convenccedilatildeo contra a
Tortura
Quanto aos navios que socorrem as pessoas no mar a respeito da situaccedilatildeo dos
passageiros clandestinos faz-se uma separaccedilatildeo na anaacutelise ou seja se o navio eacute estatal ou se
eacute uma embarcaccedilatildeo particular No caso de embarcaccedilatildeo puacuteblica entende-se que o Estado da
bandeira eacute o responsaacutevel pela anaacutelise do pedido de asilo mesmo se estiver em aacuteguas internas
do estado de fuga mas ressalta-se que o mar natildeo eacute o local apropriado para que ocorra o
procedimento de anaacutelise do status de refugiado pois o capitatildeo e sua equipe natildeo possuem
conhecimento e treinamento para este serviccedilo bem como ocasionaria um atraso na rota
aleacutem disso se a anaacutelise ocorrer a bordo pode colocar em risco o respeito aos direitos
361 GROSBON Sophie Op cit 362 Ibidem
110
fundamentais do indiviacuteduo (direito a um tradutor um advogado possibilidade de recorrer e
confidencialidade do processo)363
Por outro lado se a embarcaccedilatildeo for particular a lei internacional dos refugiados junto
com a lei mariacutetima internacional sugere que o Estado responsaacutevel pelo pedido de asilo eacute
aquele onde ocorre o desembarque podendo inclusive que os Estados (de desembarque da
bandeira e outro Estado terceiro que aceite o procedimento de asilo) celebrem acordos para
compartilhar os encargos e as responsabilidades Essa dificulta o desembarque dos
migrantes pois ocasiona a obrigatoriedade de processar o pedido de asilo e isso resultaria
em situaccedilatildeo de natildeo assistecircncia das pessoas em perigo no mar364
Vimos que a UNCLOS no artigo 98 traz o dever de assistecircncia no mar isto eacute o nordm
1 aliacutenea ldquoardquo traz um princiacutepio consistente do direito consuetudinaacuterio que eacute o dever de prestar
assistecircncia para pessoas que estatildeo em perigo no mar e o nordm 2 do artigo traz o dever do Estado
costeiro de promover um eficaz serviccedilo de busca e salvamento bem como promover o
funcionamento a manutenccedilatildeo deste serviccedilo365
No que se refere ao direito internacional consuetudinaacuterio eacute niacutetido de que o dever de
salvar vidas no mar eacute um exemplo desta expressatildeo Nesse sentido tal regra eacute aplicaacutevel a
todos os Estados independentemente de serem signataacuterios de algum tratado internacional366
mas as Convenccedilotildees internacionais trazem disposiccedilotildees para confirmar o dever de salvamento
Como exemplo no Capiacutetulo V temos a regra 33 nordm 1 da SOLAS cujo tiacutetulo eacute ldquoDistress
situations obligations and proceduresrdquo que trata da obrigaccedilatildeo de um capitatildeo do navio em
salvar pessoas que estejam em perigo no mar natildeo importando as circunstacircncias em que satildeo
encontrados nacionalidade ou status das pessoas367
No que diz respeito agrave obrigaccedilatildeo de salvamento prevista na regra 33 nordm 1 da SOLAS
mencionada acima natildeo basta apenas salvar as pessoas em perigo no mar mas tambeacutem faz
parte da obrigaccedilatildeo desembarcar essas pessoas em local seguro este que por sua vez consta
no item 11 do mesmo artigo como segue ldquo() so that survivors assisted are disembarked
from the assisting ship and delivered to a place of safety ()rdquo368
363 GROSBON Sophie Op cit 364 Ibidem 365 UNITED NATIONS United Nations Convention on the Law of the Seas Op cit 366 RUGGIERO Carol Op cit 367 INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION International Convention for the Safety of Life at Sea
(SOLAS) Op cit 368 Ibidem
111
No que se refere ao desembarque em local de seguranccedila nem a SOLAS e nem a SAR
trouxeram a definiccedilatildeo do que seria esse local de seguranccedila poreacutem em 2004 nas
ldquoOrientaccedilotildees sobre o tratamento de pessoas resgatadas no marrdquo da Organizaccedilatildeo Mariacutetima
Internacional (OMI - IMO) dispotildee que esse lugar eacute onde a vida dos sobreviventes natildeo estaacute
mais em perigo tendo as principais necessidades humanas respeitadas ou seja alimentaccedilatildeo
acomodaccedilatildeo assistecircncia meacutedica como segue ldquo()is a location where rescue operations
are considered to terminate It is also a place where the survivorsrsquo safety of life is no longer
threatened and where their basic human needs (such as food shelter and medical needs)
can be met369rdquo
Vale ressaltar que se as pessoas resgatadas estiverem fugindo de perseguiccedilotildees satildeo
pessoas que provavelmente vatildeo querer asilo portanto a questatildeo de resgate e assistecircncia no
mar natildeo se restringe apenas em socorro fiacutesico pois neste caso seraacute tambeacutem uma questatildeo
de proteccedilatildeo internacional370
A regra 7 do Capiacutetulo V da SOLAS tem o tiacutetulo de ldquoSearch and rescue servicesrdquo que
traz a obrigaccedilatildeo de cada Estado-parte em garantir que as providecircncias necessaacuterias de socorro
agraves pessoas em perigo na sua aacuterea de responsabilidade371 no mesmo sentido a SAR no
Capiacutetulo 2 nordm 2110 dispotildee ldquoParties shall ensure that assistance be provided to any person
in distress at sea They shall do so regardless of the nationality or status of such a person or
the circumstances in which that person is foundrdquo372 ou seja os Estados signataacuterios tecircm o
dever de prestar assistecircncia a qualquer pessoa em perigo no mar independente de status
nacionalidade ou qualquer outra circunstacircncia conforme jaacute mencionado anteriormente
Tendo por base essas informaccedilotildees podemos fazer uma anaacutelise com base no estudo
realizado por Ilaria Trani ou seja em seu estudo trouxe a informaccedilatildeo de que o estado liacutebio
estaria atuando na regiatildeo mariacutetima a fim de executar operaccedilotildees de busca e resgate sendo
financiados por paiacuteses como a Itaacutelia por exemplo Isto traz a situaccedilatildeo de que se as
autoridades liacutebias resgatarem os barcos de migrantes ilegais poderiam levaacute-los de volta para
369 INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION Guidelines on the Treatment of Persons Rescued at
Sea 2004 Disponiacutevel em
httpwwwimoorgenOurWorkFacilitationpersonsrescuedDocumentsMSC167(78)pdf Acesso em
27062020 370 RUGGIERO Carol Op cit 371 INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION International Convention for the Safety of Life at Sea
(SOLAS) Op cit 372 INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION Search and Rescue Convention 1979 Disponiacutevel
em httpsonboard-aquariusorguploads201808SAR-Convention-1979pdf Acesso em 27062020
112
Liacutebia sem configurar a ldquonatildeo-repulsatildeordquo situaccedilatildeo em que a Itaacutelia jaacute foi condenada pelo
Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (como veremos agrave frente) Poreacutem destaca-se que tal
situaccedilatildeo natildeo exime os paiacuteses da Uniatildeo Europeia das suas obrigaccedilotildees de proteger a vida
humana no mar mesmo que a operaccedilatildeo necessaacuteria seja fora da regiatildeo de busca e salvamento
sob a justificativa da responsabilidade perante o direito internacional373 Aleacutem disso a Itaacutelia
fornecer subsiacutedios para que a Liacutebia resgate os migrantes no mar e os levem de volta estaacute
sendo cuacutemplice de um atividade iliacutecita e por isso deve ser responsabilizada tendo por base
o artigo 16 dos ldquoDraft articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful Actsrdquo
bull Procedimentos e operaccedilotildees de busca e resgate no mar
Em um primeiro momento o capitatildeo deve passar informaccedilotildees do navio auxiliar para
o Centro de Coordenaccedilatildeo de Resgate bem como informaccedilotildees a respeito das pessoas a serem
resgatadas accedilotildees jaacute concluiacutedas e ainda por realizar procedimento de desembarque sugerido
pelo capitatildeo do navio e fatores especiacuteficos (clima carga do navio etc) Se as pessoas
resgatadas forem migrantes que pretendem requerer asilo o capitatildeo deve informar tambeacutem
o ACNUR aleacutem de alertar o Centro de Coordenaccedilatildeo de Resgate mais proacuteximo natildeo deve
solicitar desembarque de onde os migrantes estavam fugindo e natildeo fornecer os dados dos
migrantes agraves autoridades do paiacutes de origem ou para quem possa informar as autoridades374
Os Centros de Coordenaccedilatildeo de Resgate satildeo importantes pois deve assegurar que os
compromissos assumidos internacionalmente sejam cumpridos como por exemplo respeito
agraves convenccedilotildees SAR e SOLAS bem como ter um plano de operaccedilatildeo para accedilotildees de
recuperaccedilatildeo organizar o desembarque dos sobreviventes entregarem as pessoas resgatadas
em um lugar seguro Aleacutem disso esses centros tem a funccedilatildeo de fazer acordos com setores
de imigraccedilatildeo alfacircndegas controles de fronteira etc providenciando inclusive hospedagens
temporaacuterias para os resgatados enquanto o problema relativo ao resgate seja solucionado
com intuito de desonerar o navio que resgatou o mais breve possiacutevel para evitar atrasos
encargos financeiros ou outras dificuldades375
373 TANI Ilaria Op cit 374 INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION INTERNATIONAL CHAMBER OF SHIPPING
UNITED NATIONS (UNHCR) Soccorso in Mare 2015 Disponiacutevel em httpswwwunhcritwp-
contentuploads201512Soccorso_in_Marepdf Acesso em 29062020 375 INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION INTERNATIONAL CHAMBER OF SHIPPING
UNITED NATIONS (UNHCR) Soccorso in Mare 2015 Op cit
113
Assim no ano de 2015 a Comissatildeo o Conselho e o Parlamento Europeu passaram
a atuar de formas variadas na questatildeo de busca e salvamento no mar no que se refere aos
refugiados principalmente devido agraves trageacutedias acontecidas no Mediterracircneo376 Antes de
entendermos um pouco da situaccedilatildeo de busca e resgate no Mediterracircneo faz-se necessaacuterio
entender um pouco sobre a Frontex
O controle de fronteiras na Europa eacute exercido pela Frontex que foi criada em 2004
e consiste na Agecircncia Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira tendo como finalidade
ajudar os paiacuteses da Uniatildeo Europeia bem como os pertencentes agrave aacuterea Schengen a proteger
suas fronteiras e ter um maior controle da livre circulaccedilatildeo presente no respectivo territoacuterio
No ano de 2016 as funccedilotildees da Frontex foram ampliadas para ter maior controle da
migraccedilatildeo a fim de ter maior responsabilidade na questatildeo de combate agrave criminalidade
transfronteiriccedila aleacutem disso as operaccedilotildees de busca e salvamento satildeo de competecircncia da
Frontex377
No sentido de busca e salvamento tem-se que ldquoA Frontex eacute obrigada a prestar
assistecircncia teacutecnica e operacional no mar para apoiar operaccedilotildees de salvamento que possam
ocorrer durante as operaccedilotildees de vigilacircncia das fronteiras378rdquo Segundo dados a Frontex
auxiliou no salvamento 280000 no Mar Mediterracircneo379
Podemos citar portanto duas operaccedilotildees da Frontex que tinham por objetivo a
interceptaccedilatildeo de navios de migrantes ilegais originados do Senegal e Mauritacircnia sendo
denominadas Hera II e III nestas operaccedilotildees parte dos migrantes foram devolvidos Ressalta-
se que as patrulhas foram feitas tambeacutem no mar territorial dos dois paiacuteses africanos
supramencionados aleacutem disso a existecircncia de acordos entre paiacuteses terceiros e de fora da
Uniatildeo Europeia autorizam as patrulhas bem como autoriza outros Estados-membros a
intervir nas aacuteguas territoriais dos referidos paiacuteses africanos380
Como vimos tendo por base o direito internacional os estados costeiros possuem
ampla soberania no seu mar territorial sendo limitado pelo direito de passagem inocente ou
por algum tratado Nesse sentido o acordo entre Mauritacircnia e Espanha dispotildee que os dois
376 TANI Ilaria Op cit 377 FRONTEX O que eacute a Frontex Disponiacutevel em httpsfrontexeuropaeulanguagept Acesso em
19082020 378 Ibidem 379 Dados informados no site da Frontex FRONTEX O que eacute a Frontex Disponiacutevel em
httpsfrontexeuropaeulanguagept Acesso em 19082020 380 TREVISANUT Seline Maritime Border Control and the Protection of Asylum-Seekers in the European
Union Op cit
114
paiacuteses poderiam interceptar e desviar pessoas nacionais de paiacuteses terceiros que natildeo
apresentem os requisitos de entrada em ambos os paiacuteses mesmo que seja no mar territorial
No caso apenas embarcaccedilotildees espanholas poderiam interceptar embarcaccedilotildees no mar
territorial da Mauritacircnia ocorre que a Frontex natildeo especifica a nacionalidade da
embarcaccedilatildeo constando apenas que se trata de embarcaccedilatildeo dos Estados-membros assim natildeo
sendo navio de nacionalidade espanhola provavelmente haacute uma infringecircncia agraves normas de
direito internacional a natildeo ser que tenha a aceitaccedilatildeo do paiacutes africano381
Nesse sentido o anexo da ldquoCouncil Decisionrdquo de 26 de abril de 2010 traz os
princiacutepios gerais para operaccedilotildees de fronteiras mariacutetimas realizadas pela Frontex assim estas
operaccedilotildees devem ser realizadas com base nos direitos fundamentais promovendo a
seguranccedila das pessoas interceptadas ou resgatadas dispotildee tambeacutem que nenhuma pessoa
pode ser enviada a um localpaiacutes em que possa haver risco para sua integridade fiacutesica e
liberdade consistindo em uma violaccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo382
No entanto uma das mais importantes operaccedilotildees de resgate no Mediterracircneo foi a
Mare Nostrum lanccedilada pela Itaacutelia e surgiu em 2013 apoacutes o aumento dos naufraacutegios das
embarcaccedilotildees de imigrantes nas proximidades da ilha de Lampedusa A ideia era vigiar o Mar
Mediterracircneo 24 horas por dia a fim de salvar o maior nuacutemero de vidas possiacuteveis Assim
em um ano mais de 150 mil pessoas foram salvas isso significa o resgate de pelo menos
400 pessoas por dia Tambeacutem conseguiram prender mais de 300 traficantes poreacutem natildeo foi
totalmente eficaz tendo em vista a morte de pelo menos trecircs mil e trezentos migrantes no
ano de 2014 Tal operaccedilatildeo custava em torno de 9 milhotildees de euros por mecircs e devido aos
custos a Itaacutelia finalizou esta operaccedilatildeo devido a falta de ajuda no custeio383
Posteriormente a Europa adotou a Operaccedilatildeo Triton coordenada pela Frontex que
foi auxiliada pelos Estados-membros com a cessatildeo de embarcaccedilotildees aviotildees helicoacutepteros e
pessoal para auxiliar nos serviccedilos Diferentemente da Mare Nostrum que o objetivo era de
381 TREVISANUT Seline Maritime Border Control and the Protection of Asylum-Seekers in the European
Union Op cit 382 COUNCIL OF THE EUROPEAN UNION Council Decision of 26 April 2010 (2010252EU) Disponiacutevel
em httpseur-lexeuropaeuLexUriServLexUriServdouri=OJL201011100200026ENPDF Acesso
em 18092020 383 G1 GLOBO Conheccedila as missotildees de resgate de imigrantes no Mediterracircneo 2015 Disponiacutevel em
httpg1globocommundonoticia201504conheca-as-missoes-de-resgate-de-imigrantes-no-
mediterraneohtml Acesso em 30082020
115
resgate e tinha uma atuaccedilatildeo ateacute costa da Liacutebia a Triton focou no controle de fronteiras sendo
que as buscas se limitaram nas aacuteguas europeias384
Outra operaccedilatildeo foi a EUNAFOR MED SOPHIA implementada em 2016 pela
Resoluccedilatildeo 22402015 derivada da EUNAFOR ATLANTA esta que tinha o objetivo de
combater a pirataria na costa da Somaacutelia Essa nova forccedila naval da Uniatildeo Europeia no
Mediterracircneo recebeu diversas criacuteticas quanto aos planos de operaccedilotildees que se referem
questatildeo de naufraacutegios Uma dessas tarefas eacute monitorar a formaccedilatildeo agrave Guarda Costeira da
Liacutebia Houve tambeacutem outro adendo o Memorando de Entendimento entre a Itaacutelia e a Liacutebia
de 2017 que foi acolhido pelo Conselho Europeu poreacutem recebeu criacuteticas do Comitecirc das
Naccedilotildees Unidas contra a Tortura pois natildeo tratava sobre a colaboraccedilatildeo dos Estados no que se
refere aos direitos humanos385 No que se refere agrave Resoluccedilatildeo mencionada acima tem-se que
ela ldquo() reforccedila a autoridade para tomar medidas contra a introduccedilatildeo clandestina de
migrantes e o traacutefico de pessoas a partir do territoacuterio da Liacutebia e ao largo da costa deste
paiacutesrdquo386
Aleacutem disso o jornal alematildeo ldquoDeutsche Wellerdquo no ano passado (2019) trouxe a
notiacutecia de que um grupo de advogados em Paris apresentou agrave Fatou Bensouda (procuradora
geral do Tribunal Penal Internacional) uma denuacutencia de que a UE e Estados-membros desde
2014 estariam cometendo crime contra a humanidade no cumprimento de poliacuteticas
migratoacuterias no Mar Mediterracircneo e na Liacutebia Na denuacutencia haacute informaccedilotildees de que 40 mil
pessoas foram ldquoresgatadasrdquo no mar e consequentemente levadas para campos de detenccedilatildeo
de refugiados e submetidos agrave tortura aleacutem de casos de tortura e estupros cometidos pela
Guarda Costeira Liacutebia financiada por paiacuteses europeus (Itaacutelia por exemplo) Nos uacuteltmos 6
anos mais de 12 mil migrantes morreram ao tentar fugir da Liacutebia e chegar ao continente
europeu387
Agraves situaccedilotildees demonstradas acima podemos suspeitar de que a Uniatildeo Europeia por
meio da Frontex juntamente com alguns paiacuteses europeus atuam no sentido de repelir os
migrantes tendo em vista o auxiacutelio promovido por essa agecircncia no sentido de resgate das
384 G1 GLOBO Conheccedila as missotildees de resgate de imigrantes no Mediterracircneo 2015 Op cit 385 TANI Ilaria Op cit 386 COMITEcirc DE SEGURANCcedilA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Resoluccedilatildeo 2240 (2015) Disponiacutevel em httpseur-
lexeuropaeulegal-contentPTTXTuri=CELEX3A32016D0118 Acesso em 30082020 387 DEUTSCHE WELLE (DW) Juristas processam UE por morte de migrantes 2019 Disponiacutevel em
httpswwwdwcompt-brjuristas-processam-ue-por-mortes-de-migrantesa-49036829 Acesso em
05102020
116
pessoas no mar enviando os de volta aos seus paiacuteses como no caso envolvendo a Espanha e
a Mauritacircnia
bull Conflito de interesses Estados vs Refugiados
Como vimos a Mare Nostrum foi descontinuada e portanto substituiacutedas por outras
missotildees que aos poucos foram reduzindo sua amplitude bem como natildeo tinham a busca e
salvamento como objetivo principal Nesse sentido enquanto a Itaacutelia coordenava as
operaccedilotildees de busca e salvamento no Mar Mediterracircneo a Liacutebia cada vez mais assumia a
responsabilidade pelas operaccedilotildees Aleacutem disso vimos tambeacutem que houve apoio da Uniatildeo
Europeia agrave Guarda Costeira da Liacutebia e entatildeo alterando as atividades de busca e salvamento
Houve tambeacutem em 2017 a elaboraccedilatildeo de um Coacutedigo de Conduta destinada agraves
Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais (ONGrsquos) da Itaacutelia (tambeacutem com apoio da UE)
coincidindo com a proposiccedilatildeo de processos criminais contra os capitatildees de navios e ONGrsquos
que resgatassem as pessoas em perigo como tambeacutem houve a negativa de entrada nas aacuteguas
territoriais e portos Tais accedilotildees diminuiacuteram a chegada de pessoas na costa europeia poreacutem
muitas vidas foram afetadas por isso (devido aos afogamentos e desaparecimentos das
pessoas que buscam proteccedilatildeo)388
Sendo assim devido ao menor nuacutemero de patrulhamento no Mediterracircneo a busca e
resgate leva mais tempo muitas vezes o resgate chegando tarde demais Natildeo se pode ignorar
o fato de que as pessoas que fogem da Liacutebia estatildeo buscando ter uma vida digna ou pelo
menos um miacutenimo de sobrevivecircncia e esta situaccedilatildeo com maior atuaccedilatildeo da Guarda Costeira
da Liacutebia faz com que as embarcaccedilotildees resgatadas pelo estado liacutebio levem de volta agrave Liacutebia as
pessoas que estavam fugindo de situaccedilotildees dramaacuteticas como por exemplo prisotildees arbitraacuterias
violecircncia sexual trabalho forccedilado assassinatos etc Aleacutem disso os capitatildees de navios caso
cumpram com a sua obrigaccedilatildeo de salvamento podem responder a processos judiciais
criminais389
388 COUNCIL OF EUROPE ndash COMMISSIONER FOR HUMAN RIGHTS Lives Saved Rights protected
Bridging the protection gap for refugees and migrants in the Mediterranean - Recommendations 2019
Disponiacutevel em httpsrmcoeintlives-saved-rights-protected-bridging-the-protection-gap-for-refugees-
168094eb87 Acesso em 01092020 389 Ibidem
117
Trata-se portanto de uma situaccedilatildeo complexa devido ao conflito de questotildees de
natureza humanitaacuteria e a relutacircncia dos Estados em partilhar as responsabilidades Dessa
forma sabe-se que os Estados tecircm o direito de controlar suas fronteiras mas natildeo se deve
deixar de lado agraves vidas humanas que pedem proteccedilatildeo por fugirem de situaccedilotildees degradantes
Assim todos os seres humanos tecircm direito agrave vida bem como agrave proteccedilatildeo da sua dignidade
aleacutem disso o direito internacional do mar traz a obrigaccedilatildeo de que os Estados devem tomar
medidas para preservaccedilatildeo da vida no mar390
A salvaguarda da vida humana deve ter por base a Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos
do Homem aleacutem de outros diplomas internacionais jaacute mencionados na presente pesquisa
Isso significa o respeito ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo proteccedilatildeo contra detenccedilatildeo arbitraacuteria
proibiccedilatildeo de expulsatildeo coletiva entre outros direitos relativos agrave proteccedilatildeo internacional391
Jaacute vimos que o direito de resgate das pessoas em perigo no mar natildeo eacute um direito
isolado mas que envolve princiacutepios do direito do mar do direito internacional e dos direitos
humanos Poreacutem ainda haacute muitos problemas neste aspecto pois muitos navios se abstecircm de
resgatar pessoas em perigo por natildeo terem um local seguro para desembarcar os migrantes
ou por terem que desviar a rota e isso traria maiores encargos financeiros aleacutem disso paiacuteses
como Itaacutelia e Malta estatildeo sobrecarregados no que tange ao recebimento de migrantes devido
agrave proximidade com a costa da Liacutebia e tambeacutem pela falta de uniatildeo dos Estados-membros
tendo em vista a necessidade da reparticcedilatildeo dos encargos392
No que se refere ao resgate tem-se que natildeo haacute uma obrigaccedilatildeo legal de
monitoramento ou seja um dever de realizar patrulhamento as accedilotildees de resgate satildeo
estruturadas de acordo com cada Estado poreacutem se um Estado recebe a notiacutecia de que haacute
pessoas em perigo no mar esse Estado eacute obrigado a realizar o resgate Nesse sentido o dever
de resgate no mar estaacute presente no direito internacional do mar em diversos diplomas
internacionais bem como UNCLOS SAR SOLAS e International Convention of Salvage
aleacutem de diretrizes estabelecidas pela Organizaccedilatildeo Mariacutetima Internacional e resoluccedilotildees e
recomendaccedilotildees elaboradas pelo ACNUR393
390 COUNCIL OF EUROPE ndash COMMISSIONER FOR HUMAN RIGHTS Lives Saved Rights protected
Bridging the protection gap for refugees and migrants in the Mediterranean - Recommendations 2019 Op cit 391 Ibidem 392 LISSON Urszula WEINZIERL Ruth Op cit 393 Ibidem
118
Portanto em situaccedilatildeo de alguma embarcaccedilatildeo em perigo no mar o resgate deveraacute ser
efetuado sendo inicialmente providenciados os primeiros socorros e necessidades baacutesicas
Aleacutem disso o dever de resgate inclui a proibiccedilatildeo de discriminaccedilatildeo ou seja qualquer pessoa
que esteja em perigo no mar deve ser resgatada independente de sua nacionalidade ou
qualquer outra circunstacircncia Entatildeo tem-se que a soberania de um Estado costeiro encontra
limites nas obrigaccedilotildees humanitaacuterias isso significa que haacute a permissatildeo de entrada de
embarcaccedilatildeo em perigo em seu porto estando ela no mar territorial buscando por
assistecircncia394
Eacute importante ressaltar que com base no direito mariacutetimo todo Estado deve exigir
que o comandante de alguma embarcaccedilatildeo que arvore sua bandeira preste assistecircncia agraves
pessoas que estatildeo em perigo no mar sendo eximida apenas quando houver risco para o navio
Poreacutem com a situaccedilatildeo atual haacute incentivos para que os comandantes evitem os resgates
exatamente para evitar se depararem com o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo Assim vimos que
alguns comandantes estavam respondendo processos criminais ao resgatar pessoas e
desembarcarem em paiacuteses da UE sendo potenciais requerentes de asilo Ao que se refere agraves
embarcaccedilotildees privadas a demora dos paiacuteses para indicarem local para o desembarque pode
trazer implicaccedilotildees financeiras e portanto torna-se um desincentivo para que resgatem as
pessoas em perigo no mar Aleacutem disso o Estado costeiro deve promover o serviccedilo de busca
e salvamento natildeo sendo excluiacuteda a ajuda de paiacuteses vizinhos
No entanto vimos que atualmente a Itaacutelia com auxiacutelio da Uniatildeo Europeia estaacute
auxiliando a Liacutebia para patrulhamento das aacuteguas do Mediterracircneo para tentar se eximir da
obrigaccedilatildeo de busca e salvamento tendo que arcar com o acolhimento dos migrantes e talvez
consequente pedido de asilo395
O Conselho da Europa trouxe recomendaccedilotildees uma delas eacute a de que todos os Estados
membros devem contribuir de alguma forma com as atividades de busca e salvamento aleacutem
disso os Estados costeiros devem garantir que as unidades de busca e salvamento devem
estar disponiacuteveis para as pessoas que estejam em perigo no mar isso inclui embarcaccedilotildees das
ONGrsquos de atividades humanitaacuterias396
394 LISSON Urszula WEINZIERL Ruth Op cit 395 COUNCIL OF EUROPE ndash COMMISSIONER FOR HUMAN RIGHTS Lives Saved Rights protected
Bridging the protection gap for refugees and migrants in the Mediterranean - Recommendations 2019 Op cit 396 Ibidem
119
Os membros do Conselho da Europa devem respeitar as medidas tomadas pelos
comandantes dos navios em situaccedilotildees de natildeo desembarcar migrantes na Liacutebia ou qualquer
outro local natildeo seguro ou seja o Conselho entende que os comandantes devem respeitar a
disposiccedilatildeo de desembarque de migrantes em local seguro por exemplo a Liacutebia natildeo consiste
em local seguro Portanto os Estados-membros devem respeitar o natildeo desembarque de
migrantes em locais nos quais suas vidas estatildeo em risco bem como natildeo devem aplicar
penalidades sanccedilotildees ou medidas repressivas quando comandantes atuarem para salvar as
vidas das pessoas em perigo no mar Assim sempre devem ser garantidos os direitos
humanos dos migrantes resgatados natildeo devendo estes ser colocados em situaccedilotildees de risco agrave
vida ou em situaccedilotildees de tortura tratamento desumano ou degradante397
Aleacutem disso o Conselho da Europa recomenda que os Estados-membros em uma
operaccedilatildeo de busca e resgate devem cooperar a fim de proporcionar um desembarque raacutepido
das pessoas resgatadas sendo que natildeo deveraacute ser admitida alguma discordacircncia entre os
estados colocando em risco os direitos humanos dos migrantes Portanto primeiro deve-se
promover o resgate e desembarque em local seguro e apoacutes isso seraacute feita a anaacutelise de qual
estado seraacute responsaacutevel pelo procedimento de asilo devendo haver uma partilha entre os
estados para anaacutelise dos pedidos de asilo398
Vimos anteriormente que no caso particular da Liacutebia desde o ano de 2017 houve
investimentos de grande porte do Conselho da Europa bem como da Uniatildeo Europeia para
melhorar a capacidade de resgate da Guarda Costeira da Liacutebia ou seja execuccedilatildeo de
treinamentos fornecimentos de recursos entre outros incentivos Tal investimento teve
como resultado um maior resgate de pessoas que tentavam deixar a Liacutebia ou seja houve
portanto uma tentativa de impedir que as pessoas fugissem do paiacutes Poreacutem tal fato faz com
que devido agrave situaccedilatildeo dramaacutetica na Liacutebia pessoas sejam resgatadas detidas e submetidas agrave
tortura bem como violecircncia sexual e diversas outras violaccedilotildees dos direitos humanos 399
Nesse sentido nos deparamos com uma situaccedilatildeo de necessidade de rotas seguras e
legais para que essas travessias de migrantes natildeo ocorram de forma irregular e perigosa
Aleacutem de risco de vida as rotas irregulares favorecem o traacutefico de seres humanos Assim a
ausecircncia de rotas seguras e legais coloca em perigo os direitos dos migrantes e tambeacutem o
397 COUNCIL OF EUROPE ndash COMMISSIONER FOR HUMAN RIGHTS Lives Saved Rights protected
Bridging the protection gap for refugees and migrants in the Mediterranean - Recommendations 2019 Op cit 398 Ibidem 399 Ibidem
120
intuito dos estados em combater o traacutefico de pessoas Portanto a ideia eacute de que os estados
tomem medidas corretas para que a migraccedilatildeo ocorra dentro da lei dessa forma rotas seguras
e legais satildeo extremamente necessaacuterias para as pessoas que precisam de proteccedilatildeo
internacional400
Diante de todo esse cenaacuterio percebemos que haacute um grave conflito de interesses dos
Estados-membros bem como da Uniatildeo Europeia com o dos refugiados Os paiacuteses-destino
(grande parte europeus) e a UE tentam atraveacutes da Frontex e mediante auxiacutelio aos paiacuteses de
fuga (a Liacutebia por exemplo) reduzir o nuacutemero de migrantes poreacutem fazem isso auxiliando
em equipamentos e treinamentos as guardas costeiras dos paiacuteses de origem para que estes
interceptem as embarcaccedilotildees levando as pessoas de volta Ocorre que tal accedilatildeo consiste em
um sistema de escapar da obrigatoriedade do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo sendo assim muitas
dessas pessoas resgatadas pelos paiacuteses de origem satildeo levadas de volta ao territoacuterio sendo
submetidos agrave prisotildees torturas assassinatos ou seja fica niacutetida o desrespeito aos direitos
humanos tanto pelos Estados-membros e pela UE (pois estariam promovendo o envio de
pessoas de volta para situaccedilotildees dramaacuteticas) quanto pelos paiacuteses de origem que muitas vezes
estatildeo passando por crises internas sendo que a Liacutebia vive atualmente uma grave guerra civil
onde as pessoas satildeo torturadas e submetidas a trabalhos forccedilados entre outras atrocidades
Portanto muito se fala da cooperaccedilatildeo entre os estados poreacutem esta deve ser realizada
de forma beneacutefica promovendo o direito agrave vida e o respeito aos direitos humanos Se as
pessoas que estatildeo fugindo dos seus paiacuteses muitas vezes estatildeo fugindo para que suas vidas
e a de sua famiacutelia sejam preservadas entatildeo natildeo faz sentido devolver estas pessoas para o
paiacutes em que colocava suas vidas em risco bem como faz menos sentido ainda auxiliar os
paiacuteses de origem para que resgatem os migrantes e os levem de volta para a costa
400 COUNCIL OF EUROPE ndash COMMISSIONER FOR HUMAN RIGHTS Lives Saved Rights protected
Bridging the protection gap for refugees and migrants in the Mediterranean - Recommendations 2019 Op cit
121
CAPIacuteTULO 4
CASOS DE VIOLACcedilAtildeO DO ARTIGO 3ordm DA CONVENCcedilAtildeO EUROPEIA DOS
DIREITOS HUMANOS E O PRINCIacutePIO DA NAtildeO-REPULSAtildeO
Vimos anteriormente que apesar de natildeo haver regra expressa na CEDH a respeito da
natildeo-repulsatildeo das pessoas que necessitam de proteccedilatildeo o Tribunal Europeu dos Direitos
Humanos firmou jurisprudecircncia no sentido de vincular o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo ao artigo
3ordm da CEDH que se refere agrave proibiccedilatildeo da tortura E da mesma maneira que a Convenccedilatildeo
Contra a Tortura a CEDH engloba todos os indiviacuteduos natildeo somente aos refugiados que eacute o
caso da Convenccedilatildeo de Genebra de 1951
Assim o TEDH natildeo se limitou aos casos de extradiccedilatildeo como tambeacutem de expulsatildeo
dessa forma os Estados signataacuterios da CEDH natildeo podem rejeitar pessoas enviando-as para
locais em que corram o risco de serem submetidas a tratamentos desumanos degradantes
bem como a tortura Nesse sentido o Tribunal entende que a natildeo-repulsatildeo tambeacutem eacute aplicada
para accedilotildees estatais em alto mar inclusive em situaccedilotildees que envolvam os migrantes por via
mariacutetima401 Entatildeo neste capiacutetulo seratildeo analisadas algumas decisotildees do Tribunal Europeu
dos Direitos Humanos a respeito da violaccedilatildeo do artigo 3ordm da CEDH do princiacutepio da natildeo-
repulsatildeo bem como casos relativos agrave repulsatildeo no mar seratildeo analisados tambeacutem outros
casos que natildeo satildeo decisotildees do TEDH poreacutem ajudam a demonstrar a situaccedilatildeo dramaacutetica dos
migrantes
O fenocircmeno migratoacuterio natildeo eacute recente contudo nas uacuteltimas deacutecadas sobretudo apoacutes
2011 com a Primavera Aacuterabe o fluxo de migrantes oriundos do Oriente Meacutedio e da Aacutefrica
especialmente no norte do continente africano com a eclosatildeo das revoltas da populaccedilatildeo
contra governos ditatoriais tem aumentado muito e fazendo com que os migrantes arrisquem
suas vidas nas matildeos de traficantes muitas vezes em embarcaccedilotildees precaacuterias na tentativa de
travessia para Europa
Sabemos que a maioria dos migrantes natildeo planeja a viagem bem como muitas vezes
fazem a travessia ateacute ldquocontra a sua vontaderdquo poreacutem as condiccedilotildees de vida no paiacutes de origem
satildeo tatildeo precaacuterias a exemplo da Liacutebia que as pessoas saem agraves pressas para tentarem ter um
miacutenimo de dignidade Isso porque como dito anteriormente a dignidade humana eacute
401 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit
122
praticamente inexistente no paiacutes de origem em que pessoas satildeo submetidas agrave tortura
trabalho escravo presenciando situaccedilotildees de assassinatos de formas arbitraacuterias e
autoritaacuterias402
A questatildeo da Liacutebia no que tange busca e resgate destaca-se dois pontos importantes
a serem levados em conta o primeiro eacute o proacuteprio estado liacutebio que se encontra em total
desordem o outro ponto consiste nas graves violaccedilotildees de direitos humanos que fazem com
que milhares de pessoas fujam do paiacutes em busca de uma vida mais digna e segura403
O acordo realizado entre Itaacutelia e Liacutebia em 2017 fez com que a Itaacutelia transferisse seu
controle dos fluxos migratoacuterios para a Liacutebia concedendo apoio financeiro e teacutecnico como
jaacute vimos anteriormente No entanto essa estrateacutegia fez com que a praacutetica de repelir os
migrantes de volta para Liacutebia se tornasse comum Dessa forma o Centro Italiano di
Coordinamento del Soccorso Marittimo (IMRCC) coordena as operaccedilotildees de forma
remota404
41 Contexto Faacutetico
Tendo por base todos os comentaacuterios acima e tambeacutem o jaacute mencionado neste
capiacutetulo algumas decisotildees do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos seratildeo apresentadas
analisando jurisprudecircncia do referido Tribunal a respeito de todo o estudo apresentado no
presente trabalho dessa forma demonstra-se as violaccedilotildees ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo
analisados de forma conjunta com o artigo 3ordm da CEDH e a responsabilidade do Estado tanto
em situaccedilotildees de repulsatildeo no mar quanto em situaccedilotildees em que os migrantes conseguiram de
alguma forma chegar no territoacuterio europeu no entanto foram repelidos Nota-se que em
alguns casos as violaccedilotildees esbarram em um outro artigo da CEDH o artigo 4ordm do Protocolo
Adicional nordm 4 referente agraves expulsotildees coletivas
Vimos que a situaccedilatildeo da Liacutebia tem sido uma das principais crises no momento tendo
em vista os problemas que assolam o paiacutes pois devido agrave crise muitas pessoas estatildeo fugindo
do paiacutes Por este motivo dos casos abaixo apresentados metade satildeo relacionados agrave Liacutebia
(Hirsi Jamaa Vos Thalassa e Asso 28) referentes agrave repulsatildeo no mar no entanto outros
402 TANI Ilaria Op cit 403 Ibidem 404 AGENZIA ITALIA Cosa egrave successo a bordo della nave Asso Ventotto 2018 Disponiacutevel em
httpswwwagiitcronacamigranti_asso_ventotto-4224246news2018-07-31 Acesso em 05102020
123
casos tambeacutem foram apresentados (Khlaifia Abdi Mahamud e Sharifi) que esses uacuteltimos
referem-se agrave situaccedilotildees em que os migrantes foram resgatados no mar ou seja tiveram seu
direito de assistecircncia no mar respeitados no entanto posteriormente tiveram seus direitos
humanos violados
411 Caso Hirsi Jamaa e Outros versus Itaacutelia
Neste caso a decisatildeo405 foi proferida pelo TEDH em fevereiro de 2012 mas o fato
ocorreu em 2009 quando os refugiados um total de 200 foram interceptados a 35 milhas
naacuteuticas de Lampedusa aacuterea de busca e salvamento de Malta poreacutem foram abordados por
autoridades italianas e devolvidos para a Liacutebia Sendo que na versatildeo dos migrantes durante
a viagem de volta para o paiacutes africano eles natildeo foram informados qual seria o destino e
quando chegaram agrave Liacutebia se recusaram a desembarcar mas acabaram sendo forccedilados a
saiacuterem da embarcaccedilatildeo
Dessa forma alguns destes migrantes ingressaram com accedilatildeo perante o TEDH
alegando violaccedilatildeo do artigo 3ordm e 4ordm da CEDH que correspondem respectivamente a proibiccedilatildeo
da tortura e do trabalho escravo eou forccedilado bem como do artigo 4ordm do Protocolo Adicional
nordm 4 que consiste na proibiccedilatildeo de expulsatildeo coletiva
A Itaacutelia por sua vez atraveacutes do seu Ministro do Interior disse ter agido de forma
correta tendo em vista o acordo bilateral entre Itaacutelia e Liacutebia para reduccedilatildeo da imigraccedilatildeo ilegal
e que esse acordo ajudou salvar vidas diminuindo o desembarque de migrantes na costa
italiana Assim em 2009 a Itaacutelia realizou 9 interceptaccedilotildees de migrantes irregulares com base
nesse acordo Ressalta-se que alguns destes migrantes que foram interceptados foram
enquadrados na condiccedilatildeo de refugiado pelo escritoacuterio do ACNUR ou seja restou claro a
violaccedilatildeo aos direitos humanos
Aleacutem disso o governo italiano alegou que os migrantes natildeo tinham requerido asilo
e que tambeacutem natildeo informaram a situaccedilatildeo em que poderiam ser submetidos na Liacutebia os
requerentes por sua vez informaram que a tripulaccedilatildeo os induziu acreditar que estavam
sendo levados para a Itaacutelia e natildeo para a Liacutebia bem como disseram que foi informado aos
militares italianos de que necessitavam de proteccedilatildeo internacional No entanto mesmo se os
405 EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Hirsi Jamaa and others v Italy Application no
2776509 Disponiacutevel em httphudocechrcoeintspai=001-109231 Acesso em 16092020
124
migrantes natildeo tivessem demonstrado a intenccedilatildeo de proteccedilatildeo internacional tal fato natildeo isenta
a Itaacutelia de cumprir com as obrigaccedilotildees previstas no artigo 3ordm da CEDH Portanto na opiniatildeo
do TEDH houve a violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees internacionais pela Itaacutelia sobretudo no que se
refere ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo A situaccedilatildeo na Liacutebia eacute notoacuteria e por isso natildeo haacute que se
falar que os migrantes natildeo avisaram as autoridades italianas sobre o risco de tortura
Entatildeo vimos que o TEDH entendeu haver violaccedilatildeo do artigo 3ordm da CEDH bem como
o artigo 4ordm do Protocolo nordm 4 que consiste respectivamente a proibiccedilatildeo da tortura e proibiccedilatildeo
de expulsatildeo coletiva sendo este uacuteltimo devendo ter uma interpretaccedilatildeo evolutiva ou seja
adotando a ideia de extraterritorialidade considerando como extensatildeo do territoacuterio italiano
a embarcaccedilatildeo de resgate
Por fim o TEDH entendeu por unanimidade que os migrantes estavam sob jurisdiccedilatildeo
italiana bem como jaacute mencionado acima que houve violaccedilatildeo do artigo 3ordm da CEDH do
artigo 4ordm do Protocolo nordm 4 e do artigo 13 que se refere ao direito de recurso efetivo Assim
condenou a Itaacutelia ao pagamento de 15 mil euros por danos morais para cada um dos
requerentes acrescido da quantia de 157574 euros referente custas e despesas somados de
eventual imposto de cobranccedila aos requerentes
Este caso consiste em uma importante reafirmaccedilatildeo dos direitos dos refugiados frente
ao direito internacional e a responsabilidade do Estado em situaccedilotildees de violaccedilotildees a esses
direitos Assim ficou demonstrada a responsabilidade do Estado no caso a Itaacutelia de reparar
os danos causados aos migrantes Poreacutem destaca-se a indenizaccedilatildeo iacutenfima paga aos
requerentes frente agrave gravidade do problema sendo que alguns deles faleceram e natildeo se sabe
a causa ou seja podem ter sido mortos aleacutem disso os que sobreviveram podem ter sofrido
seacuterios danos fiacutesicos e morais como por exemplo terem sido enviados para trabalho escravo
Em situaccedilotildees dessas nenhuma quantia pode ser capaz de reparar sobretudo uma quantia
insignificante de 15 mil euros O valor indenizatoacuterio tem como principal funccedilatildeo coibir essas
condutas danosas mais que a funccedilatildeo compensatoacuteria dos danos no entanto nota-se que o
valor da indenizaccedilatildeo aplicada eacute tatildeo irrisoacuterio para um paiacutes no caso a Itaacutelia que deixa de ter
o condatildeo de inibir o reiteramento desse comportamento ou conduta
Neste aspecto abordagem de devolver migrantes para a Liacutebia sofreu algumas
alteraccedilotildees a Itaacutelia atraveacutes do seu Tratado de Amizade promoveu treinamentos da Guarda
Costeira Liacutebia bem como auxiliou com embarcaccedilotildees para fazer com que autoridades da
125
Liacutebia fizessem o resgate para tentar burlar o sistema e natildeo ser responsabilizada pela
repulsatildeo esse auxiacutelio teve apoio inclusive da UE como vimos anteriormente
Portanto diante de todo o exposto teoacuterico no presente caso houve uma seacuterie de
graves violaccedilotildees principalmente ao que se refere ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo como o
direito de busca e salvamento no mar em que os migrantes deveriam ser desembarcados em
local seguro assim como a proibiccedilatildeo da expulsatildeo coletiva Assim os imigrantes foram
enviados de volta com futuro incerto dos 200 repelidos poucos entraram com a accedilatildeo
alguns morreram outros desapareceram
412 Caso Khlaifia e Outros versus Itaacutelia
Esta decisatildeo406 foi proferida pelo TEDH em dezembro de 2016 e refere-se a fatos
que ocorreram em 2011 com 3 requerentes tunisianos Os requerentes deixaram a Tuniacutesia
em embarcaccedilotildees clandestinas rumo agrave Itaacutelia posteriormente as embarcaccedilotildees foram
interceptadas pela guarda costeira italiana e levados para um porto na ilha de Lampedusa e
posteriormente encaminhados ao Centro de Socorro e de Primeiro Acolhimento (Centro di
Soccorso e Prima Accoglienza ndash CSPA) sendo acomodados em um local que segundo os
requerentes era um local com muitas pessoas e sujo sendo que tinham que dormir no chatildeo
devido agrave falta de cama e as refeiccedilotildees eram feitas ao ar livre sentados no chatildeo aleacutem disso
eram impedidos de ter contato com pessoas fora do local
Houve uma revolta no local e o alojamento foi destruiacutedo algumas pessoas foram
transferidas para outro lugar neste novo lugar os requerentes se uniram a outros refugiados
e conseguiram fugir e chegar ateacute a cidade de Lampedusa onde fizeram protestos e foram
interceptados pela poliacutecia e levados para o centro de acolhimento e posteriormente enviados
para o aeroporto e encaminhados para Palermo apoacutes foram ldquoacomodadosrdquo em navios em
situaccedilotildees desconfortaacuteveis tendo que dormir no chatildeo e esperar por muito tempo para usar o
banheiro Apoacutes alguns dias foram enviados por aviatildeo para a Tuniacutesia
Os requerentes alegaram que a Itaacutelia violou os artigos 3ordm e 5ordm (proibiccedilatildeo da tortura e
direito agrave liberdade e seguranccedila respectivamente) bem como violaccedilatildeo do artigo 4ordm do
Protocolo nordm4 (proibiccedilatildeo da expulsatildeo coletiva) todos da CEDH A Itaacutelia por sua vez se
406 EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Khlaifia and others v Italy Application no
1648312 Disponiacutevel em httphudocechrcoeintengi=001-170054 Acesso em 21092020
126
defendeu com base na sua legislaccedilatildeo interna e o tratado bilateral realizado com o paiacutes
africano sendo que neste tratado a Tuniacutesia se compromete a aceitar de volta os cidadatildeos que
chegarem ilegalmente na costa italiana por meio de um processo bem simplificado
Nesse sentido o TEDH entendeu que houve a violaccedilatildeo do artigo 5ordm da Convenccedilatildeo
Europeia dos Direitos Humanos tendo em vista a restriccedilatildeo da liberdade dos requerentes no
campo de acolhimento e os requerentes argumentaram que natildeo havia motivos para que suas
liberdades fossem restritas Aleacutem disso os requerentes alegaram que foram submetidos a
tratamentos desumanos e degradantes no centro de acolhimento inclusive a bordo dos
navios que os levaram de volta para Tuniacutesia poreacutem o Tribunal entendeu que natildeo houve
tratamento desumano ou degradante
O TEDH entendeu tambeacutem que natildeo houve violaccedilatildeo do artigo 4ordm do Protocolo nordm4 da
CEDH pois o entendimento eacute de que a violaccedilatildeo deste dispositivo ocorre quando natildeo haacute
anaacutelise dos indiviacuteduos e simplesmente ldquoexpulsamrdquo um grupo de pessoas Assim no caso
anterior houve a violaccedilatildeo do mencionado artigo pois as autoridades italianas simplesmente
colocaram os migrantes dentro da embarcaccedilatildeo e os enviou de volta para a Liacutebia sem
qualquer identificaccedilatildeo dos migrantes Jaacute neste caso os requerentes tiveram a oportunidade
de se manifestarem contra o seu envio de volta agrave Tuniacutesia
No que se refere ao artigo 3ordm da CEDH o Tribunal entende que deve haver um niacutevel
miacutenimo de severidade que para tal avaliaccedilatildeo se leva em conta alguns fatores como por
exemplo finalidade (intenccedilatildeo ou motivaccedilatildeo) contexto da agressatildeo se a viacutetima estaacute em
situaccedilatildeo vulneraacutevel entre outros aspectos Em alguns casos a superlotaccedilatildeo de um sistema
carceraacuterio pode consistir em violaccedilatildeo do mencionado artigo poreacutem neste ponto alguns
aspectos devem ser levados em consideraccedilatildeo como o uso dos banheiros (privacidade)
ventilaccedilatildeo (ar e luz natural) normas de higiene baacutesicas respeitadas aquecimento do
ambiente etc No presente caso se analisou as condiccedilotildees no centro de acolhimento quanto
nos navios que levaram os migrantes de volta para a Tuniacutesia
Sabe-se que em tempos anteriores agrave chegada dos requerentes no ano de 2009 a
situaccedilatildeo do centro de acolhimento era peacutessima constatadas tanto por uma comissatildeo do
Senado Italiano bem como da Anistia Internacional (ONG) contudo esta situaccedilatildeo foi
alterada anos depois ou seja em 2011 quando os requerentes chegaram agraves instalaccedilotildees
constataram que as condiccedilotildees do centro de acolhimento embora muito baacutesicas eram
decentes tinham acesso ao atendimento meacutedico e tambeacutem liberdade de locomoccedilatildeo dentro
127
do centro de acolhimento bem como as ONGrsquos eram autorizadas a prestar atendimentos no
local
Em que se refere agraves embarcaccedilotildees natildeo houve comprovaccedilatildeo de situaccedilotildees degradantes
pelos requerentes tatildeo somente os seus depoimentos sendo assim natildeo haacute como afirmar de
que natildeo havia as condiccedilotildees miacutenimas e portanto o Tribunal entendeu que natildeo houve violaccedilatildeo
ao artigo 3ordm da CEDH em razatildeo da natildeo houve comprovaccedilatildeo de que as situaccedilotildees natildeo possuiacuteam
o niacutevel miacutenimo de gravidade necessaacuterio para que fosse configurada a violaccedilatildeo em questatildeo
Destarte apesar do Tribunal ter entendido que natildeo houve violaccedilatildeo aos artigos 3ordm da
CEDH e 4ordm do Protocolo nordf 4 as queixas dos migrantes natildeo foram completamente infundadas
e por isso outro ponto foi analisado pelo TEDH ao que se refere agrave violaccedilatildeo do artigo 13
junto com os artigos 3ordm e 5ordm da CEDH e o artigo 4ordm do Protocolo nordm 4 (CEDH) assim apoacutes
a anaacutelise conjunta do artigo 3ordm com o artigo 13 que prevecirc o direito de recurso efetivo frente
agrave violaccedilatildeo de direitos e liberdades por unanimidade verificou-se que houve violaccedilatildeo de
direitos tendo em vista que o governo italiano natildeo indicou os recursos pelos quais os
requerentes poderiam apresentar no entanto no que se refere ao artigo 4ordm do Protocolo nordm 4
por 16 votos a 1 o Tribunal entendeu que natildeo houve violaccedilatildeo por entender que a ausecircncia
de efeito suspensivo do recurso por si soacute natildeo demonstra violaccedilatildeo ao artigo 13
Que o artigo 5ordm paraacutegrafos 1ordm 2ordm e 4ordm por si soacute jaacute foram violados que da anaacutelise
conjunta do artigo 5ordm juntamente com o 13ordm fez com que o Tribunal decidisse por
unanimidade que direitos foram violados pois os requerentes natildeo tiveram acesso a recurso
tampouco uma decisatildeo formal de prisatildeo Por fim a Itaacutelia foi condenada a pagar 15 mil euros
conjuntamente para os requerentes
A Itaacutelia em um de seus argumentos alegou dificuldade de organizar os migrantes
devido ao grande fluxo deles no mar sendo assim a obrigaccedilatildeo de busca e resgate faz com
que a Itaacutelia seja responsaacutevel por um grande nuacutemero de migrantes e este fato dificulta agrave
logiacutestica e a estruturaccedilatildeo dos centros de acolhimento principalmente no que se refere agrave
proteccedilatildeo internacional dos refugiados Poreacutem o entendimento do TEDH nesta situaccedilatildeo eacute de
que o fluxo intenso natildeo exime o Estado de cumprir com suas obrigaccedilotildees
O periacuteodo que os requerentes ficaram em solo italiano foi demasiadamente curto para
tentarem um pedido de asilo tanto eacute que nem recurso a sua detenccedilatildeo conseguiram apresentar
Neste ponto questiona-se sobre a violaccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo pois de acordo com
manifestaccedilotildees dos terceiros no processo houve esse questionamento como podemos ver na
128
manifestaccedilatildeo da ldquoCoordination Franccedilaise pour le droit drsquoasilerdquo ldquoThe expulsion of migrants
without thoroughly examining their individual situation would significantly increase the risk
of a breach of the non-refoulement principlerdquo407
No entanto o TEDH entendeu que natildeo houve violaccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo
por entender que as autoridades italianas em outros casos de migrantes recebeu os
requerimentos de asilo e portanto natildeo teria razotildees para entender que houve recusa destas a
pedidos de proteccedilatildeo bem como os proacuteprios requerentes no paraacutegrafo 222 da decisatildeo
disseram que ldquo() they were not claiming that they had a right of abode in Italy or that
their return had exposed them to a risk of being ubjected to inhuman or degrading treatment
in Tunisiardquo408
Sendo assim natildeo haacute que se falar em princiacutepio da natildeo-repulsatildeo pois natildeo ficou
configurado que os requerentes seriam enviados de volta agrave tortura ou tratamentos
desumanosdegradantes Portanto o TEDH analisou a violaccedilatildeo ao artigo 3ordm somente
enquanto estiveram em solo italiano que foi um periacuteodo curto natildeo comprovando o
tratamento desumano ou degradante pois natildeo atingiu o niacutevel miacutenimo de gravidade
Entatildeo no presente caso a violaccedilatildeo configurada foi ter restringido a liberdade dos
requerentes tendo em vista a ausecircncia de base de legal para tal medida poreacutem natildeo foi
configurada a expulsatildeo coletiva pois os requerentes foram identificados por duas vezes
bem como natildeo houve lesatildeo ao artigo 3ordm da CEDH pois natildeo foi comprovado que houve
tratamento desumanodegradante durante o periacuteodo em que os migrantes estavam sob
custoacutedia das autoridades italianas tampouco que a situaccedilatildeo na Tuniacutesia colocaria os
requerentes em risco
No entanto a tiacutetulo de comparaccedilatildeo chama-se a atenccedilatildeo ao criteacuterio discrepante
aplicado nas indenizaccedilotildees ao se comparar o caso anterior (Hirsi Jamaa) ao presente caso
Nota-se que o valor eacute o mesmo poreacutem as violaccedilotildees no caso anterior foram muito mais
gravosas configurando expulsatildeo coletiva envio dos requerentes para situaccedilatildeo de
torturatratamentos desumanos e degradantes Assim conforme questionado no caso anterior
o valor indenizatoacuterio aplicado naquele caso foi irrisoacuterio perto das violaccedilotildees que os
requerentes sofreram aleacutem disso questiona-se qual o paracircmetro que o TEDH se baseia para
407 EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Khlaifia and others v Italy Application no
1648312 Disponiacutevel em httphudocechrcoeintengi=001-170054 Acesso em 21092020 408 Ibidem
129
arbitrar as indenizaccedilotildees pois em niacuteveis de violaccedilotildees diferentes o valor da indenizaccedilatildeo foi o
mesmo
Nesse caso os migrantes tiveram seu direito de assistecircncia no mar respeitados foram
resgatados e levados para um paiacutes seguro no entanto foram detidos e poucos dias depois
enviados de volta para a Tuniacutesia Por mais que natildeo tenha ficado comprovado que poderiam
ser enviados agrave tortura ou tratamentos desumanosdegradantes na Tuniacutesia permaneceram
poucos dias em solo italiano para que houvesse uma anaacutelise detalhada isto eacute anaacutelise
individual da situaccedilatildeo de cada um tal fato demonstra pouca preocupaccedilatildeo da Itaacutelia com os
migrantes trantando-os como coisas devolvendo-os para seus paiacuteses de origem sem pensar
duas vezes
413 Caso Abdi Mahamud versus Malta
Esta decisatildeo do TEDH409 refere-se ao caso de uma cidadatilde de nacionalidade da
Somaacutelia que entrou de forma irregular em Malta pelo mar no ano de 2012 e na sua chegada
jaacute lhe foi dada um nuacutemero de identificaccedilatildeo bem como jaacute lhe foi apresentada uma decisatildeo
de regresso uma ordem de afastamento e foi detida com base na legislaccedilatildeo nacional de
Malta
A decisatildeo de regresso tambeacutem baseada na legislaccedilatildeo nacional foi devido agrave falta de
meios de subsistecircncia e potencial fonte de gastos para os fundos puacuteblicos A requerente
manifestou sua vontade de pedir asilo por meio do Questionaacuterio Preliminar e foi convocada
para entrevista no oacutergatildeo competente poreacutem o pedido foi recusado devido agrave falta de provas
convincentes de que ela realmente era do centro-sul da Somaacutelia e por demonstrar sotaques e
conhecimentos da capital do paiacutes Mogadiacutescio
Em um primeiro momento verificou-se que a requerente viajou para a Liacutebia
passando pelo Quecircnia e Sudatildeo poreacutem natildeo requereu asilo nestes paiacuteses E que devido agrave
eclosatildeo da crise na Liacutebia a requerente foi para Malta onde desembarcou ilegalmente e sem
documentos disse que procurava paz e que o restante da famiacutelia ainda morava na Somaacutelia
sendo que um de seus irmatildeos foi morto por uma organizaccedilatildeo terrorista islacircmica afirmou
tambeacutem que se estivesse paz em seu local de origem estaria disposta a voltar Aleacutem disso
409 EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Abdi Mahamud V Malta Application no 5679613
Disponiacutevel em httphudocechrcoeintengi=001-162424 Acesso em 26092020
130
a requerente teve vaacuterios problemas de sauacutede os quais pioraram com a recusa do pedido de
asilo Foi requerida a liberdade da requerente devido a sua vulnerabilidade causada pelos
problemas de sauacutede e segundo as informaccedilotildees que recebeu ela seria liberada mas soacute foi
liberada tempos depois por meio da intervenccedilatildeo da AWAS (Agency for the Welfare of
Asylum Seekers) A esse respeito o artigo 5ordm aliacutenea ldquocrdquo da Diretiva 2008115CE refere-se
que o estado de sauacutede do migrante deve ser levado em conta quando ao se analisar o envio
do migrante para outro paiacutes
Nesse sentido a requerente diz ter sido violado o artigo 3ordm da CEDH alegaccedilatildeo
contestada pelo governo de Malta que disse haver recursos eficazes a serem apresentados
para reclamar do tratamento perante a justiccedila maltesa poreacutem no entendimento do Tribunal
os recursos indicados pelo governo de Malta natildeo se mostraram efetivos no sentido de
prevenir ou de barrar a continuaccedilatildeo da alegada violaccedilatildeo
Assim diante de toda a situaccedilatildeo da requerente no centro de detenccedilatildeo ou seja seu
estado de sauacutede vulneraacutevel como a demora em liberaacute-la a falta de exerciacutecios fiacutesicos ao ar
livre ambiente frio e falta de medidas para combater gripes e resfriados inclusive a falta de
funcionaacuterias do sexo feminino e pouca privacidade fez com que o Tribunal entendesse que
houve diminuiccedilatildeo da dignidade humana da requerente e portanto houve a violaccedilatildeo do artigo
3ordm da CEDH
Outra alegaccedilatildeo da requerente eacute a violaccedilatildeo do artigo 5ordm paraacutegrafo 4ordm que eacute referente
ao direito de accedilatildeo do indiviacuteduo para averiguar a sua detenccedilatildeo sendo assim da anaacutelise feita
pelo TEDH verificou-se que natildeo havia recursos eficazes para a requerente contestar a
legalidade da sua detenccedilatildeo inclusive sua soltura foi realizada por meio da intervenccedilatildeo da
AWAS Aleacutem disso houve alegaccedilatildeo da violaccedilatildeo do paraacutegrafo 1ordm do mesmo artigo no sentido
da liberdade e seguranccedila pessoal e o Tribunal entendeu que houve a violaccedilatildeo deste
dispositivo ou seja natildeo foram verificadas situaccedilotildees que justificassem a detenccedilatildeo
Entatildeo diante de todo o exposto o Governo de Malta foi condenado a pagar
indenizaccedilatildeo no valor de 12 mil euros para a requerente devido agraves violaccedilotildees de seus direitos
baacutesicos sendo tratamentos desumanos e degradantes aleacutem de ter sua liberdade restringida
aleacutem disso houve a condenaccedilatildeo no valor de 2500 euros a tiacutetulo de custas e despesas
No presente caso verificamos violaccedilatildeo tanto do artigo 3ordm quanto do artigo 5ordm ambos
da CEDH O Tribunal verificou que a requerente teve sua dignidade diminuiacuteda devido ao
tratamento que recebia no centro de acolhimento bem como face sua vulnerabilidade o
131
governo maltecircs violou a sua liberdade ao demorar em liberaacute-la Aleacutem disso a justificativa
da negativa do pedido de asilo eacute de que pela entrevista a requerente aparentou ser da capital
da Somaacutelia e natildeo da regiatildeo de conflitos Poreacutem a requerente relatou que seu irmatildeo foi
assassinado por grupo terroristas ou seja nota-se claramente o perigo em que a requerente
estava exposta e portanto em uma anaacutelise sumaacuteria desta negativa do pedido de asilo tem-
se que pode ser que essa decisatildeo tenha sido arbitraacuteria da mesma forma que a decisatildeo da
detenccedilatildeo apresentada logo de iniacutecio para requerente Apesar da dentenccedilatildeo ter sido justificada
no direito maltecircs vimos anteriormente que a detenccedilatildeo de migrantes deve ser realizada em
situaccedilotildees pontuais e quando houver justificativa para tal medida
Ademais mais uma vez chama-se a atenccedilatildeo o valor irrizoacuterio de indenizaccedilatildeo arbitrado
para o Estado no caso Malta Nota-se que o valor eacute menor que dos dois casos anteriores e
assim como no caso Hirsi Jamaa houve violaccedilatildeo do artigo 3ordm da CEDH ou seja tal violaccedilatildeo
eacute de extrema gravidade pois reduz a dignidade da pessoa humana logo violaccedilotildees fiacutesicas
eou morais desse porte natildeo conseguem ser pagas por meio de indenizaccedilotildees consistindo
apenas em uma espeacutecie de ldquoconfortordquo para agravequeles que sofreram tais danos Dessa forma
como jaacute mencionado anteriormente a indenizaccedilatildeo tem o intuito de coibir novas atitudes
arbitraacuterias dos Estados poreacutem com os valores iacutenfimos arbitrados pelo TEDH dificilmente
teratildeo impactos suficientes a ponto de fazer com que os Estados parem com tais praacuteticas
danosas cometidas aos refugiados
414 Caso Sharifi versus Aacuteustria
Neste caso a decisatildeo410 foi proferida em 2014 pelo TEDH e refere-se a um migrante
que chegou agrave Greacutecia de barco e possui origem afegatilde disse que seu pai for morto por ter sido
considerado comunista e infiel fato que levou sua matildee fugir com ele e o irmatildeo para o
Paquistatildeo Apoacutes 15 anos retornou ao Afeganistatildeo para reaver as terras do seu pai que seu tio
havia tomado agrave eacutepoca da execuccedilatildeo do seu pai tendo sido ameaccedilado pelo tio que foi um dos
apoiadores da morte do irmatildeo pois queria suas terras aleacutem da ameaccedila pelo tio o requerente
e seu irmatildeo tambeacutem foram espancados sendo que seu irmatildeo foi sequestrado e nunca mais
foi visto Diante dessa situaccedilatildeo o requerente voltou para o Paquistatildeo e passou pelo Iratilde e
410 EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Sharifi V Austria Application no 6010408
Disponiacutevel em httphudocechrcoeintengi=001-138593 Acesso em 26092020
132
Turquia ateacute contratar um traficante para fazer sua travessia para a Greacutecia onde ficou 15 dias
e apoacutes se deslocou para a Aacuteustria passando pela Itaacutelia poreacutem foi preso pelas autoridades
austriacuteacas
Diante de todo esse trajeto o requerente foi questionado por natildeo pedir asilo na Greacutecia
e justificou que as condiccedilotildees dos refugiados no paiacutes natildeo eram boas (sem comida aacutegua
alojamento e instalaccedilotildees sanitaacuterias bem como alegou saber de abusos de policiais gregos) e
que tambeacutem natildeo teve acesso ao processo de asilo assim requereu asilo na Aacuteustria no ano
de 2008
De acordo com a Convenccedilatildeo de Dublin a Greacutecia seria a responsaacutevel para anaacutelise do
processo de asilo O pedido de asilo feito na Aacuteustria foi rejeitado sob o fundamento de que
a Greacutecia era a responsaacutevel e tambeacutem foi ordenada sua transferecircncia para a Greacutecia Dessa
forma a decisatildeo justificou que natildeo havia riscos de maus tratos conforme previsto no artigo
3ordm da CEDH O recurso ao Tribunal de Asilo na Aacuteustria da mesma forma foi rejeitado
tendo em vista que a proacutepria Convenccedilatildeo de Dublin considerava que todos os Estados-
membros eram seguros Aleacutem disso com base na recusa do governo austriacuteaco ao pedido de
asilo do requerente e seu consequente envio para a Greacutecia fez com que as autoridades gregas
declarassem que o requerente teria acesso ao procedimento de asilo no paiacutes
Apoacutes seu envio de volta agrave Greacutecia na sua chegada agrave Atenas o requerente disse ter
sido detido por 3 dias e depois disso foi realizada uma entrevista curta e recebeu um cartatildeo
e foi enviado para um campo de refugiados que posteriormente foi destruiacutedo Apoacutes esse
periacuteodo trabalhou em plantaccedilotildees e procurou emprego nas cidades tendo dividido quarto com
outras 20 pessoas disse natildeo ter nenhum apoio das autoridades gregas e que os alimentos e
roupas que recebia eram de particulares
Aleacutem disso da decisatildeo analisada nesse toacutepico foram citados documentos publicados
por ONGrsquos bem como do ACNUR de que a Greacutecia natildeo eacute um local bom para requerer asilo
e que os migrantes estavam sendo submetidos a maus tratos e detenccedilotildees arbitraacuterias
Posteriormente o ACNUR acolheu as medidas gregas para reforccedilar o sistema de asilo no
paiacutes mas continuou trazendo a seguinte disposiccedilatildeo
In view of EU Member Statesrsquo obligation to ensure access to fair and effective
asylum procedures including in cases subject to the Dublin Regulation UNHCR
133
advises Governments to refrain from returning asylum-seekers to Greece under
the Dublin Regulation until further notice (hellip)411
Ou seja apesar das melhorias do sistema de asilo grego haacute o aviso de que natildeo envie
migrantes para Greacutecia ateacute segunda ordem e que os Estados se pautassem no artigo 3 nordm 2 da
Convenccedilatildeo de Dublin para analisarem pedidos de asilo mesmo natildeo sendo de sua
responsabilidade Assim devido a sua transferecircncia para a Greacutecia o requerente alegou
violaccedilatildeo do artigo 3ordm da CEDH
Tendo em vista a melhoria do sistema de asilo na Greacutecia reconhecida inclusive no
documento do ACNUR412 o TEDH entendeu que havia a presunccedilatildeo de que o paiacutes helecircnico
cumpriria com as suas obrigaccedilotildees e que caso hauvesse necessidade caberia recurso ao
Tribunal de Justiccedila contra a Greacutecia Aleacutem disso nenhum Estado-membro se absteve de
enviar migrantes para Greacutecia apenas a Noruega que em um primeiro momento disse que
natildeo enviaria migrantes de volta para a Greacutecia mas posteriormente disse que os casos seriam
analisados individualmente
Dessa forma o Tribunal entendeu que natildeo tinha como a Aacuteustria prever que as
deficiecircncias do procedimento de asilo grego chegariam ao niacutevel de violar o artigo 3ordm da
CEDH e por este motivo negou que a Aacuteustria tenha violado o mencionado artigo
principalmente por estar ao abrigo da Convenccedilatildeo de Dublin
Diante do exposto teoacuterico do presente trabalho vimos que o paiacutes responsaacutevel pela
anaacutelise do pedido de asilo eacute o paiacutes pelo qual o migrante entrou portanto no caso o paiacutes seria
a Greacutecia Ocorre que o requerente se deparou com condiccedilotildees precaacuterias dos seus conterracircneos
afegatildeos e por este motivo resolveu natildeo ficar no paiacutes helecircnico Dessa forma foi para a Itaacutelia
e de laacute para a Aacuteustria onde foi preso Assim o pedido de asilo foi negado sob o motivo de
que o paiacutes responsaacutevel era a Greacutecia e foi enviado para laacute No entanto vimos que havia fortes
evidecircncias das condiccedilotildees ruins dos migrantes no paiacutes e que apesar das melhorias do sistema
de asilo na Greacutecia havia fortes indiacutecios de que o requerente poderia ser submetido a
tratamentos desumanos e degradantes Dessa forma viu-se que o requerente foi praticamente
deixado agrave proacutepria sorte pois trabalhou em plantaccedilotildees e tambeacutem morou com mais de 20
pessoas em um mesmo quarto sem qualquer respaldo do governo
411 UNITED NATIONS ndash UNHCR UNHCR Position on the Return of Asylum-Seekers to Greece Under the
ldquoDublin Regulationrdquo Disponiacutevel em httpswwwunhcrorg482199802pdf Acesso em 01102020 412 Ibidem
134
Da anaacutelise dessa situaccedilatildeo tornou-se notaacutevel que a dignidade humana do requerente
foi reduzida mas o TEDH entendeu que natildeo tinha como a Aacuteustria prever que o requerente
receberia este tratamento ou melhor natildeo recebesse qualquer tratamento sem qualquer
respaldo do governo No entanto a violaccedilatildeo prevista no artigo 3ordm da CEDH eacute tatildeo gravosa
que natildeo se deve eximir a responsabilidade do Estado por natildeo ter previsatildeo de maus
tratamentos inclusive quando se pode prever que eacute o caso da Greacutecia com documentos
internacionais apontando as falhas do sistema de asilo grego
Portanto tanto neste caso como nos demais acima mencionados nota-se que haacute uma
impunidade diante das violaccedilotildees dos estados quanto a preservar os direitos fundamentais dos
migrantes quando haacute uma condenaccedilatildeo do Estado violador dos direitos dos refugiados natildeo
haacute uma justa indenizaccedilatildeo nesse caso a justificativa foi no sentido de que o Estado natildeo tinha
como prever a violaccedilatildeo
415 Caso Vos Thalassa
Este caso natildeo se trata de decisatildeo proferida pelo TEDH contudo eacute muito importante
pois inicialmente em 2019 o Tribunal de Trapani413 na Itaacutelia absolveu migrantes que
estavam sendo julgados sob a acusaccedilatildeo de sequestro da embarcaccedilatildeo italiana Vos Thalassa
em aacuteguas proacuteximas da Siciacutelia Assim os migrantes teriam sequestrado o rebocador italiano
em julho de 2018 para evitar que fossem devolvidos para a Liacutebia depois de terem sido
resgatados em aacuteguas internacionais (aacuterea de busca e salvamento da Liacutebia)
No entanto o Tribunal de Recurso de Palermo414 em junho de 2020 inverteu a
sentenccedila do Tribunal de Trapani e condenou os migrantes a 3 anos e 6 meses de prisatildeo por
violecircncia privada resistecircncia a funcionaacuterios puacuteblicos bem como cumplicidade na imigraccedilatildeo
ilegal A opiniatildeo de Salvini Ministro do Interior italiano os migrantes deveriam ser todos
rejeitados coletivamente e devolvidos para a Liacutebia fato que contraria o artigo 4ordm do Protocolo
nordm4 da CEDH
413 TRIBUNALE DI TRAPANI Sentenza Vos Thalassa 2019 Disponiacutevel em
httpswwwquestionegiustiziaitdatadoc2613sentenza-vos-thalassa-gip-trapani-3-giugno-2019pdf
Acesso em 05102020 414 LA CORTE DI APPELLO DI PALERMO Sentenza Vos Thalassa Appello ndash N Sent 15252020
Disponiacutevel httpswwwquestionegiustiziaitdatadoc2613sentenza-vos-thalassa-appello-palermo-3-
giugno-2020pdf Acesso em 05102020
135
Nesse sentido o juiz do Tribunal de Trapani alegou que o acordo assinado entre Itaacutelia
e Liacutebia em 2017 natildeo tem aprovaccedilatildeo parlamentar de acordo com o artigo 80 da Constituiccedilatildeo
Italiana e por isso o documento natildeo eacute vinculativo e natildeo legislativo Aleacutem disso o juiz tomou
por base relatoacuterios da ONU a respeito da exposiccedilatildeo dos maus tratos de migrantes da Liacutebia
Os migrantes que saem da Liacutebia satildeo pessoas que estatildeo sofrendo tratamentos
degradantes muitas vezes o destino eacute a tortura ou a morte Dessa forma os acordos entre
Itaacutelia e Liacutebia parecem ignorar as disposiccedilotildees da ONU e do Papa O Tribunal de Apelaccedilatildeo de
Palermo alegou que natildeo se pode entender que o sequestro da embarcaccedilatildeo seja por legiacutetima
defesa tendo em vista que eles mesmos se colocaram em perigo criando uma situaccedilatildeo falsa
de necessidade poreacutem questiona-se se realmente os migrantes se colocaram em perigo ou
se foi um ato de desespero ao fugir da Liacutebia pelo fato de que laacute sim estavam realmente em
perigo Ou seja os migrantes preferiram correr o risco no mar ao continuar em uma situaccedilatildeo
em que suas vidas certamente jaacute estavam ameaccediladas
Assim a refutaccedilatildeo da legiacutetima defesa natildeo possui bases convincentes Com base na
legislaccedilatildeo penal italiana o perigo deve ser atual para se configurar a legiacutetima defesa e o
Tribunal de Palermo entendeu que o perigo foi devido aos migrantes ldquose entregaremrdquo aos
traficantes ou seja anteciparam a previsatildeo do ldquoperigo atualrdquo contrariando as normas
vigentes tanto nacionais quanto internacionais Poreacutem na Liacutebia natildeo haacute locais para fuga e as
pessoas satildeo privadas de todos os seus direitos
Nesse sentido nota-se que datildeo prioridade ao combate agrave imigraccedilatildeo irregular frente agrave
proteccedilatildeo dos direitos fundamentais das pessoas contrariando o que dispotildee a Convenccedilatildeo de
Palermo contra o Crime Organizado de 2000 bem como o Protocolo Adicional sobre o
Traacutefico de Seres Humanos Portanto o perigo que os migrantes estavam sujeitos era o de
serem devolvidos agrave Liacutebia onde provavelmente seriam submetidos agrave tortura e mortos
Sabe-se que a situaccedilatildeo na Liacutebia principalmente no que se refere aos naacuteufragos
interceptados pela Guarda Costeira da Liacutebia e devolvidos ao paiacutes africano eacute bem grave
Aleacutem disso jaacute estaacute claro atraveacutes dos noticiaacuterios de que o governo de Triacutepoli natildeo consegue
exercer a sua soberania em todo o territoacuterio No entanto apesar disso em 2018 foi
reconhecida uma zona de resgate e salvamento da Liacutebia tendo inclusive a missatildeo Nauras
sob a natureza de assistecircncia teacutecnica prestada em Triacutepoli com auxiacutelio da Frontex
Neste contexto a partir do momento em que os migrantes ingressaram na
embarcaccedilatildeo italiana considera-se que estatildeo em solo italiano conforme jaacute visto no caso Hirsi
136
Jamaa Assim em situaccedilatildeo de devolver os migrantes para a Liacutebia certamente haveria a
violaccedilatildeo do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo sob o fundamento de que seriam enviados para tortura
ou tratamentos desumanos e degradantes (conforme o artigo 3ordm da CEDH) bem como como
jaacute mencionamos a violaccedilatildeo do artigo 4ordm do Protocolo Adicional nordm 4 da CEDH que refere-
se agrave expulsatildeo coletiva
No entanto atraveacutes do acordo entre Itaacutelia e Liacutebia inclusive sob auxiacutelio da Frontex
milhares de migrantes satildeo interceptados pela Guarda Costeira Liacutebia e levados de volta ao
paiacutes africano Portanto os migrantes do Vos Thalassa certamente ldquosequestraramrdquo a
embarcaccedilatildeo no desespero de serem enviados de volta tendo em vista que eles jaacute sabiam o
que poderia ocorrer com eles quando chegassem ao territoacuterio do paiacutes africano
Dessa forma a decisatildeo do Tribunal de Palermo ignorou o contexto faacutetico-poliacutetico da
Liacutebia bem como as normas de direito internacional do mar e do direito dos refugiados Aleacutem
disso o tribunal de primeira instacircncia Tribunal de Trapani aventou nulidade do acordo entre
Itaacutelia e Liacutebia em 2017 tendo em vista o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo ter status de jus cogens e
de acordo com a Convenccedilatildeo de Viena nenhum tratado poderaacute violar normas jus cogens
caso contraacuterio o tratado seria nulo
Diante do presente caso fica evidente que as indenizaccedilotildees impostas pelo TEDH nos
casos que vimos acima satildeo insuficientes para inibir tais atitudes dos Estados tendo em vista
que o valor de reparaccedilatildeo de dano para os migrantes eacute praticamente irrisoacuterio Assim estas
atitudes violadoras dos direitos fundamentais dos refugiados continuaratildeo ocorrendo
enquanto natildeo houver uma justa indenizaccedilatildeo a fim de evitar novos casos como este
Dessa forma os migrantes ao sequestrarem o Vos Thalassa impediram que seus
direitos fossem violados assim como ocorreu no caso Hirsi Jamaa a atitude extrema foi na
defesa de seus direitos fundamentais sobretudo a vida Diante disso o entendimento do
Tribunal de Trapani entendeu como legiacutetima defesa pois o perigo era atual (de acordo com
o que exige a legislaccedilatildeo italiana) ou seja o perigo dos migrantes serem levados de volta
para Liacutebia podendo ser torturados e mortos era atual e real tendo em vista atitudes
anteriores da Itaacutelia inclusive com condenaccedilotildees pelo TEDH
137
416 Caso Asso 28
Este caso tambeacutem natildeo eacute referente agrave decisatildeo proferida pelo TEDH poreacutem eacute de suma
importacircncia tendo em vista ser idecircntico ao caso Hirsi Jamaa Assim refere-se a uma
embarcaccedilatildeo comercial italiana a Asso 28 que em julho de 2018 ldquoresgatourdquo 108 migrantes
em aacuteguas internacionais mas dentro da regiatildeo de busca e salvamento da Liacutebia e levou-os
de volta para Liacutebia sob recomendaccedilatildeo do paiacutes africano No caso a Guarda Costeira Liacutebia
pediu para que a embarcaccedilatildeo ldquoAsso 28rdquo resgatasse os migrantes que estavam em uma
embarcaccedilatildeo de borracha a 57 milhas naacuteuticas de Triacutepoli e que essas pessoas fossem levadas
de volta para Liacutebia415
Imagina-se que se essas pessoas que foram levadas de volta para Liacutebia conseguissem
chegar agrave Itaacutelia elas realizariam pedido de proteccedilatildeo internacional aleacutem disso havia crianccedilas
e mulheres graacutevidas Dessa forma como jaacute vimos estaacute niacutetida a violaccedilatildeo das disposiccedilotildees de
direito internacional e dos refugiados ou seja princiacutepio da natildeo-repulsatildeo artigo 3ordm da CEDH
e artigo 4ordm do Protocolo Adicional nordm 4 da CEDH
Como a embarcaccedilatildeo ldquoAsso 28rdquo estava em aacuteguas internacionais poreacutem em regiatildeo de
busca e salvamento da Liacutebia as leis que vigoravam no ato de resgate era a legislaccedilatildeo italiana
e portanto natildeo deveria se submeter agrave recomendaccedilatildeo do paiacutes africano devendo respeitar os
tratados internacionais dos quais eacute signataacuteria bem como sua legislaccedilatildeo nacional Portanto
eacute niacutetida a violaccedilatildeo das normas de direito internacional como jaacute mencionado anteriormente
repetindo o caso Hirsi Jamaa
Como eacute sabido definitivamente a Liacutebia natildeo eacute considerada um local seguro para
desembarque de pessoas resgatadas Dessa forma houve realmente violaccedilatildeo de normas de
direito internacional importantiacutessimas sendo necessaacuterio averiguar como foi feita a
coordenaccedilatildeo desse resgate para apontar os culpados pois segundo a Agence France-Presse
(AFP)416 o IMRCC natildeo foi avisado ou seja questiona-se se o capitatildeo do navio agiu sozinho
A empresa multinacional italiana de oacuteleo e gaacutes ENI informou que o resgate foi coordenado
415 CAMILLI Eleonora Migranti scoppia il caso Asso 28 ldquoFatto grave egrave respingimentordquo 2018 In Redattore
Sociale Disponiacutevel em
httpswwwredattoresocialeitarticlenotiziariomigranti_scoppia_il_caso_asso_28_fatto_grave_e_respingi
mento Acesso em 05102020 416 Citado por BATHKE Benjamin First trial in Italy over ldquomigrant pushbackrdquo to Libya 2020 In
Infomigrants Disponiacutevel em httpswwwinfomigrantsnetenpost26108first-trial-in-italy-over-migrant-
pushback-to-libya Acesso em 05102020
138
pela Guarda Costeira Liacutebia Aleacutem disso a embarcaccedilatildeo de resgate Open Arms solicitou
detalhes dos migrantes bem como informou que devolvecirc-los agrave Liacutebia era ilegal segundo
Nicola Fratoianni parlamentar italiano e liacuteder da esquerda italiana que estava a bordo do
Open Arms como observador Aleacutem disso de acordo com informaccedilotildees da AFP natildeo houve
qualquer tentativa de identificar os migrantes tampouco verificar as condiccedilotildees de sauacutede as
condiccedilotildees dos menores se pretendiam requerer asilo417
O que chama atenccedilatildeo neste caso eacute a ausecircncia de provas tanto por parte da Liacutebia
quanto por parte da Itaacutelia sendo que dificilmente o capitatildeo do navio agiria sozinho por conta
proacutepria Entretanto a questatildeo aqui eacute a de que a empresa ENI informa que a operaccedilatildeo foi
realizada juntamente com a guarda costeira Liacutebia poreacutem natildeo haacute provas Da mesma forma
natildeo haacute provas de que o IMRCC de Roma foi alertado418
No entanto a embarcaccedilatildeo eacute de bandeira italiana e portanto tendo em vista o resgate
ter ocorrido em aacuteguas internacionais a lei aplicaacutevel eacute a italiana Sendo assim tendo por base
de que a Itaacutelia eacute signataacuteria de diversos documentos internacionais principalmente a
Convenccedilatildeo de Hamburgo (SAR Convention) que dispotildee que os migrantes resgatados devem
ser desembarcados em um local seguro ou seja eacute notoacuterio que a Liacutebia natildeo era uma das
possibilidades para desembarcar os migrantes Aleacutem disso o comandante do navio deveria
entrar em contato com o Estado da bandeira para saber qual o melhor local para
desembarque
A embarcaccedilatildeo ldquoAsso 28rdquo eacute de propriedade da ldquoAugusta Offshorerdquo empresa que
possui relaccedilotildees com diversas empresas entre elas a ENI na Itaacutelia e na Liacutebia Segundo a
empresa a coordenaccedilatildeo do resgate foi da Guarda Costeira Liacutebia no entanto Nicola
Fratoianni disse que o oficial da embarcaccedilatildeo informou que as instruccedilotildees eram emitidas da
plataforma da ENI Nesse sentido o parlamentar italiano indignou-se como o capitatildeo de um
navio de bandeira italiana em aacuteguas internacionais ou seja extensatildeo do territoacuterio italiano
(extraterritorialidade) natildeo informou o governo italiano do resgate e natildeo suficiente
desembarcou as pessoas em um local de extremo perigo A empresa ENI negou qualquer
417 BATHKE Benjamin First trial in Italy over ldquomigrant pushbackrdquo to Libya 2020 In Infomigrants
Disponiacutevel em httpswwwinfomigrantsnetenpost26108first-trial-in-italy-over-migrant-pushback-to-
libya Acesso em 05102020 418 Ibidem
139
envolvimento com o caso e que a coordenaccedilatildeo foi totalmente realizada pela Guarda Costeira
Liacutebia419
A petroleira ENI destaca que o navio ldquoAsso 28rdquo opera em nome da empresa ldquoMellitah
Oil amp Gasrdquo que a gestatildeo ocorre pela NOC empresa na qual a ENI eacute acionista420 ou seja a
ENI possui ao menos responsabilidade subsidiaacuteria no que se refere aos danos causados pela
embarcaccedilatildeo Partindo desse ponto tem-se tambeacutem que a Itaacutelia eacute uma das acionistas da ENI
conforme consta no site da empresa ldquoIl Ministero dellrsquoEconomia e delle Finanze ha il
controllo di fatto in Eni SpA in forza della partecipazione detenuta sia direttamente sia
attraverso Cassa Depositi e Prestiti SpA (CDP SpA)rdquo421 assim a Itaacutelia possui 30 das accedilotildees
da empresa consistindo na maior acionista da empresa Dessa forma podemos aventar a
responsabilidade da Itaacutelia no presente caso
Portanto a embarcaccedilatildeo comercial possui bandeira italiana portanto mesmo que
indiretamente estava a serviccedilo do governo italiano ou seja a Itaacutelia eacute responsaacutevel pelos atos
praticados pela empresa tendo em vista sua significativa participaccedilatildeo na empresa Dessa
forma era obrigatoacuterio que o capitatildeo da empresa informasse o caso ao governo italiano pois
era o paiacutes pelo qual estava submetido como tal fato natildeo ficou comprovado fala-se na
responsabilidade da Itaacutelia pois o capitatildeo estava a serviccedilo do paiacutes europeu mesmo que
indiretamente Aleacutem disso o artigo 8ordm da Resoluccedilatildeo 5683 traz a responsabilidade do Estado
quando algueacutem estaacute sob supervisatildeo de algum Estado e essa pessoa comete algum ato iliacutecito
ou seja o navio territoacuterio e empresa satildeo de nacionalidade italiana bem como o capitatildeo a
serviccedilo de empresas cujo capital eacute majoritariamente italiano portanto natildeo restando duacutevida
da responsabilidade da Itaacutelia no caso
Poreacutem um fato sem precedentes ocorreu na Itaacutelia o capitatildeo do navio foi denunciado
pelas violaccedilotildees das obrigaccedilotildees internacionais ou seja a repulsatildeo dos migrantes para a Liacutebia
No entanto apesar da responsabilidade objetiva do capitatildeo da embarcaccedilatildeo tendo em vista
que desembarcar os migrantes em um local seguro consiste em uma das obrigaccedilotildees do
capitatildeo de um navio a Itaacutelia possui responsabilidade subjetiva no caso tendo em vista ser a
maior acionista da ENI e a embarcaccedilatildeo ldquoAsso 28rdquo estar mesmo que indiretamente a serviccedilo
da mencionada petroleira
419 AGENZIA ITALIA Cosa egrave successo a bordo della nave Asso Ventotto 2018 Op cit 420 Ibidem 421 ENI ITAacuteLIA Azionisti Disponiacutevel em httpswwwenicomit-ITchi-siamogovernanceazionistihtml
2019 Acesso em 05102020
140
Diante deste cenaacuterio nota-se que o acordo entre Itaacutelia e Liacutebia prioriza o combate agrave
imigraccedilatildeo ilegal em detrimento da proteccedilatildeo dos direitos fundamentais No caso do ldquoAsso
28rdquo podemos dizer que a Itaacutelia possui responsabilidade pois aleacutem dos outros motivos jaacute
explicados acima a Itaacutelia assume o papel de cuacutemplice nos atos praacuteticos devido ao acordo
realizado tendo em vista que no ano de 2017 (ano do acordo) a situaccedilatildeo jaacute era caoacutetica na
Liacutebia
42 Alguns Apontamentos a Respeito dos Casos Apresentados
Portanto tendo por base os casos acima nota-se que as decisotildees proferidas pelo
TEDH natildeo estatildeo sendo suficientes para inibir a accedilatildeo de paiacuteses europeus na repulsatildeo de
migrantes mesmo a Itaacutelia sendo condenada no caso do Hirsi Jamaa esta decisatildeo natildeo foi
suficiente para que o paiacutes revesse suas accedilotildees pois vimos que houve reincidecircncia mesmo
que natildeo de forma direta como no caso ldquoAsso 28rdquo em que a Itaacutelia se exime de culpa no
entanto ao manter o tratado de 2017 bilateral com a Liacutebia fornecendo apoio teacutecnico e
financeiro ao paiacutes norte-africano bem como uma embarcaccedilatildeo de bandeira italiana a serviccedilo
de uma empresa cujo capital eacute majoritariamente italiano mesmo que o capitatildeo tenha agido
de forma independente (ou cumprindo ordens da Guarda Costeira Liacutebia devido ao acordo
existente) a responsabilidade da Itaacutelia eacute notoacuteria
Em que refere agrave Itaacutelia alguns eventos nos mostra algum tipo de reaccedilatildeo a favor dos
refugiados como no caso Vos Thalassa em que o Tribunal de Trapani entendeu o sequestro
da embarcaccedilatildeo como legiacutetima defesa mas haacute ldquocontroveacutersiasrdquo tendo em vista que o Tribunal
de Apelaccedilatildeo de Palermo anulou a decisatildeo As decisotildees em alguns casos aparentam ter
opiniatildeo poliacutetica o que natildeo deveria acontecer tendo em vista que o Tribunal de Trapani
decidiu conforme a jurisprudecircncia quando se trata de decisotildees para cidadatildeos italianos ou
seja foram coerentes com o entendimento juriacutedico entendendo como perigo atual e por
isso os migrantes agiram em legiacutetima defesa poreacutem o Tribunal de Palermo talvez
motivado por opiniatildeo poliacutetica decidiu que natildeo eacute aplicaacutevel o instituto da legiacutetima defesa no
caso
Outro ponto favoraacutevel aos refugiados na justiccedila italiana observado neste capiacutetulo eacute a
questatildeo do capitatildeo do ldquoAsso 28rdquo estar sendo processado pela devoluccedilatildeo dos migrantes agrave
Liacutebia ou seja aleacutem dos Estados as pessoas fiacutesicas tambeacutem podem ser responsaacuteveis pelos
141
atos pois sabidamente consiste em uma violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees de direito internacional Os
capitatildees dos navios possuem o dever de assistecircncia agraves pessoas em perigo no mar no entanto
ao resgatar as pessoas elas devem ser encaminhadas para um local seguro e no caso do
ldquoAsso 28rdquo eacute notoacuterio que a Liacutebia estaacute muito longe de ser considerada segura Aleacutem disso
como mencionado no capiacutetulo 3 no ano de 2017 houve inclusive a elaboraccedilatildeo de um Coacutedigo
de Conduta para as ONGrsquos na Itaacutelia no qual consta se os capitatildees dessas organizaccedilotildees
resgatassem embarcaccedilotildees com migrantes ilegais eles poderiam ser responsabilizados
criminalmente e administrativamente No entanto se observou o oposto nesse caso o capitatildeo
sendo processado por ter devolvido os migrantes agrave Liacutebia talvez atualmente comeccedila-se a
ver alguns movimentos a favor dos refugiados mas devido tamanhas violaccedilotildees tais
movimentos satildeo muito pequenos poreacutem talvez seja o iniacutecio de uma nova mentalidade
Este capiacutetulo demonstrou a existecircncia de diversas falhas no sistema de auxiacutelio aos
migrantes como no caso em que a Aacuteustria enviou o migrante de volta para a Greacutecia mesmo
com apontamentos de que os refugiados estavam sofrendo maus-tratos por laacute pois segundo
a Convenccedilatildeo de Dublin este uacuteltimo paiacutes era o responsaacutevel pela anaacutelise do pedido de asilo
No mesmo sentido Malta recusou o pedido de asilo a uma cidadatilde somali devido natildeo ter
comprovado que era da regiatildeo de conflitos e por apresentar conhecimento e sotaque da
capital da Somaacutelia mesmo ela tendo diversos problemas de sauacutede (inclusive psiacutequicos) e
explicando que seu irmatildeo foi assassinado por um grupo terrorista
Aleacutem disso vale fazer um parecircntese no que se refere agrave Greacutecia apesar de toda a
situaccedilatildeo relatada da questatildeo dos migrantes no paiacutes ou seja de que os migrantes natildeo devem
ser enviados para o paiacutes helecircnico devido agraves situaccedilotildees precaacuterias dos campos de refugiados
bem como o tratamento desumano e degradante que os indiviacuteduos satildeo submetidos sem
qualquer respaldo do governo grego haacute ainda relatos de expulsatildeo dos migrantes via mar
deixando-os agrave deriva conforme consta na notiacutecia de 14 de agosto de 2020 do jornal ldquoThe
New York Timesrdquo422
Na notiacutecia relata-se que desde marccedilo a Greacutecia tem expulsado migrantes colocando-
os em botes salva-vidas e deixando-os agrave deriva na fronteira do mar territorial grego com o
da Turquia inclusive com bebecircs ademais o jornal norte-americano entrevistou alguns dos
422 KINGSLEY Patrick SHOUMALI Karam Taking Hard Line Greece Turns Back Migrants by
Abandoning Them at Sea In ldquoThe New York Timesrdquo Disponiacutevel em
httpswwwnytimescom20200814worldeuropegreece-migrants-abandoning-seahtml Acesso em
09102020
142
sobreviventes e trouxe o desabafo de uma migrante siacuteria de 50 anos em que ela diz que fugiu
de bombardeios na Siacuteria mas depois que foi repelida pela Greacutecia da forma como foi ela
preferiria ter morrido em algum bombardeio O paiacutes helecircnico se posicionou afirmando que
natildeo cometeu nenhuma ilegalidade no entanto natildeo eacute o que ficou demonstrado atraveacutes dos
depoimentos colhidos pelo jornal tanto de migrantes quanto de pesquisadores a respeito do
tema423
Apesar de muitos direitos protetivos existirem na teoria na praacutetica tem muito a ser
melhorado Muitos satildeo os casos de violaccedilotildees aos artigos 2ordm e 3ordm da CEDH ou seja muitas
pessoas satildeo devolvidas agraves situaccedilotildees em que suas vidas e integridades fiacutesicas eou moral estatildeo
sendo violadas faltam atitudes das autoridades em prol das pessoas que necessitam de
proteccedilatildeo internacional
Aleacutem da necessidade de accedilotildees mais proativas dos governos haacute tambeacutem a necessidade
de mudanccedila de mentalidade da populaccedilatildeo europeia pois na maioria dos paiacuteses os migrantes
satildeo viacutetimas de discriminaccedilatildeo sofrendo com a xenofobia tendo em vista que muitas pessoas
possuem a ideia de que os refugiados satildeo terroristas No entanto muitos desses refugiados
fogem exatamente de grupos terroristas
423 KINGSLEY Patrick SHOUMALI Karam Op cit
143
CONCLUSAtildeO
O presente trabalho tem como propoacutesito demonstrar a situaccedilatildeo vivenciada pelos
refugiados sua vulnerabilidade e percalccedilos enfrentados a caminho do asilo inclusive com
a possibilidade da repulsatildeo apesar da obrigatoriedade do respeito ao princiacutepio da natildeo-
repulsatildeo assim analisou-se a questatildeo da proteccedilatildeo internacional dos refugiados o direito de
asilo na Uniatildeo Europeia citando situaccedilotildees de resgate no mar por alguns paiacuteses europeu e a
proteccedilatildeo internacional do indiviacuteduo no mar Portanto para cumprir com o objetivo do
presente trabalho iniciou-se a pesquisa abordando a questatildeo geral dos refugiados ou seja
os principais aspectos a respeito da proteccedilatildeo internacional dos mesmos chegando agrave
conclusatildeo de que refugiado eacute aquele que eacute viacutetima de perseguiccedilatildeo em seu paiacutes e natildeo quer ou
natildeo pode valer da proteccedilatildeo desse Estado conforme previsto na Convenccedilatildeo de 1951
Destarte foram citados alguns casos especiacuteficos decididos pelo TEDH Tambeacutem
procurou demonstrar a relaccedilatildeo entre o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo e o artigo 3ordm da Convenccedilatildeo
Europeia dos Direitos Humanos agrave luz do direito de busca e salvamento no mar tendo por
exemplo algumas decisotildees do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos como alguns casos
natildeo analisados pelo referido Tribunal pesquisou-se casos em que pessoas foram resgatadas
ainda no mar no entanto foram repelidas posteriormente em terra tambeacutem haacute casos em que
a repulsatildeo ocorreu ainda em mar portanto a proteccedilatildeo do refugiado trata-se de um assunto
de extrema urgecircncia e importacircncia haja vista os noticiaacuterios de naufraacutegios e descasos com os
refugiados ocorridos tanto nas embarcaccedilotildees como no paiacutes em que se busca asilo Ressalta-
se a questatildeo da migraccedilatildeo natildeo eacute um fenocircmeno recente poreacutem foi intensificado nas uacuteltimas
deacutecadas principalmente durante a Primavera Aacuterabe que consistiu na eclosatildeo de diversos
conflitos contra governos ditatoriais no Oriente Meacutedio e na Aacutefrica sobretudo no norte do
continente africano
Aleacutem disso eacute notoacuterio que a intensidade dos fluxos migratoacuterios na atualidade eacute de
tamanha monta que torna difiacutecil a administraccedilatildeo dos migrantes pelos paiacuteses principalmente
aos mais afetados como a Itaacutelia a Greacutecia Malta e a Espanha por serem banhadas pelo Mar
Mediterracircneo principal via de acesso agrave Europa Ademais Franccedila e Alemanha tambeacutem
sofreram com muitos migrantes requerendo asilo Portanto neste estudo verificou-se
tambeacutem a necessidade de uma maior cooperaccedilatildeo entre paiacuteses para solucionar esse problema
que de certa forma eacute exatamente isso que a Convenccedilatildeo de Dublin procura fazer ou seja
144
tenta distribuir a responsabilidade da questatildeo de asilo mas tal documento apresenta falhas e
jaacute haacute proposta chamada de ldquoNovo Pacto sobre Migraccedilatildeo e Asilordquo para substituir e tentar
retirar o ocircnus excessivo dos principais paiacuteses pelos quais os migrantes entram na Europa
A grande variedade de normas no direito internacional a respeito da proteccedilatildeo
internacional dos refugiados faz com que os Estados tenham liberdade para regular a entrada
de estrangeiros no seu territoacuterio poreacutem natildeo podem deixar de lado o respeito aos direitos
humanos e suas obrigaccedilotildees internacionais Entatildeo podemos dizer que a soberania dos
Estados acaba sendo limitada pelas normas obrigatoacuterias de direito internacional
A partir daiacute surge a ideia de que o refugiado natildeo deve ser repelido de acordo com o
artigo 33 da referida Convenccedilatildeo o chamado princiacutepio do non-refoulement Assim analisou-
se este artigo juntamente com a Convenccedilatildeo Contra a Tortura que dispotildee que ningueacutem deve
enviado para locais onde corra o risco de ser torturado bem como com o artigo 3ordm da CEDH
que traz a proibiccedilatildeo da tortura e tratamento desumanodegradante de forma expressa ou
seja apesar da Convenccedilatildeo de 1951 no artigo 33 trazer situaccedilotildees em que natildeo se aplica o
princiacutepio da natildeo-repulsatildeo deve-se avaliar o mencionado princiacutepio diante do complexo
juriacutedico isto eacute outros importantes diplomas internacionais trazem o princiacutepio sem qualquer
exceccedilatildeo dessa forma da anaacutelise conjunta dos diplomas internacionais de direitos humanos
notamos que para que natildeo tenha nenhuma infraccedilatildeo agraves essas normas deve-se interpretar de
acordo com a norma mais beneacutefica ou seja de que ningueacutem deve ser enviado para local
onde corra o risco de ser torturado conforme a Convenccedilatildeo Contra a Tortura e a CEDH
Ademais a exceccedilatildeo prevista no artigo 33 nordm 2 da Convenccedilatildeo de 1951 traz que a
pessoa que consista em perigo agrave seguranccedila do paiacutes ou que tenha cometido crime natildeo deve
ser protegida pelo princiacutepio da natildeo-repulsatildeo no entanto vimos acima que esse dispositivo
deve ser interpretado de acordo com o complexo juriacutedico a respeito do tema e portanto essa
exceccedilatildeo acaba se tornando sem efeito Obviamente que natildeo se deve ldquopremiarrdquo um criminoso
com o benefiacutecio do asilo a fim de que o mesmo natildeo cumpra sua pena no entanto a proibiccedilatildeo
do envio do indiviacuteduo para a tortura eacute absoluta assim sugere-se o cumprimento da pena no
paiacutes de asilo natildeo enviando o criminoso para onde possa ser torturado
Aleacutem disso demonstrou a importacircncia deste princiacutepio tendo em vista o seu caraacuteter
de norma jus cogens ou seja consiste no grupo de normas obrigatoacuterias de direito
internacional e para corroborar tal natureza mencionou-se o artigo 42 nordm 1 da Convenccedilatildeo
de 1951 no qual dispotildee que o artigo 33 da mesma Convenccedilatildeo natildeo comporta reservas assim
145
como uma norma para ser considerada jus cogens precisa ser reconhecida pela comunidade
internacional fato que eacute notoacuterio que as convenccedilotildees de 1951 Contra a Tortura e CEDH satildeo
de amplo reconhecimento pelos paiacuteses ou seja a natildeo-repulsatildeo possui reconhecimento e natildeo
admite reserva isto eacute possui os dois requisitos necessaacuterios para ter tal status
Assim tem-se que a questatildeo de asilo esbarra na soberania nacional dos paiacuteses pois
cada Estado tem o direito de regular suas normas de direito de asilo mas como mencionado
acima limitado pelos direitos humanos e obrigaccedilotildees internacionais Dessa forma o
continente europeu possui diversos documentos disciplinando o assunto a exemplo do
Tratado de Lisboa (TUE) o TFUE o Acordo Schengen a Convenccedilatildeo de Dublin a CEDH
aleacutem das diretivas Estes documentos dispotildeem sobre aspectos gerais no que se refere ao asilo
e controle de fronteiras no entanto a Convenccedilatildeo de Dublin aborda mais especificamente
sobre quais satildeo os Estados responsaacuteveis pela anaacutelise do procedimento de asilo mas as regras
a serem aplicadas no procedimento satildeo as normas nacionais de cada paiacutes Assim foram
apresentados de forma sucinta os mecanismos dos processos de asilo em alguns paiacuteses
europeus apenas a tiacutetulo de comparaccedilatildeo de como que os principais paiacuteses que sofrem com
o intenso fluxo migratoacuterio lidam com a questatildeo de asilo
O primeiro capiacutetulo e o segundo foram destinados agraves questotildees gerais de refugiado e
e asilo explicando a questatildeo do direito de asilo no continente europeu e em algumas
legislaccedilotildees nacionais A partir disso no capiacutetulo 3 restringiu-se o foco na questatildeo dos
refugiados para a questatildeo do direito internacional e europeu no mar no que se refere (a)
busca e resgate dos refugiados em perigo no mar e o dever de assistecircncia tendo como base
diversos documentos internacionais como a UNCLOS SAR e SOLAS Assim para melhor
compreensatildeo partiu-se dos conceitos a respeito das zonas mariacutetimas nas quais se destaca a
questatildeo do mar territorial como o proacuteprio nome jaacute diz consiste no territoacuterio do estado
costeiro e portanto o Estado costeiro possui soberania nessa aacuterea aleacutem disso mais adiante
vimos que existem as SARrsquos que satildeo zonas de busca e salvamento de responsabilidade dos
paiacuteses cada estado com a sua SAR Nas demais zonas vigoram as regras de alto mar e
portanto satildeo aacutereas internacionais assim vale a lei da bandeira da embarcaccedilatildeo consistindo
numa extensatildeo do territoacuterio do paiacutes ou seja o fenocircmeno da extraterritorialidade Discute-se
a respeito das SARrsquos sobre a aplicaccedilatildeo da extraterritorialidade nessas regiotildees pois apesar de
configurarem zonas de busca e salvamento podem estar em aacuteguas internacionais ou seja a
146
responsabilidade de busca e salvamento eacute de um estado no entanto se forem aacuteguas
internacionais vale a lei do estado da bandeira da embarcaccedilatildeo (artigo 110 da UNCLOS)
Um dos principais documentos a respeito do direito do mar eacute a UNCLOS na qual o
artigo 98 traz o dever de assistecircncia das pessoas em perigo no mar Dessa forma esse artigo
deve ser entendido juntamente com o artigo 2ordm da CEDH (bem como o artigo 2ordm da CDFUE)
pois ambos trazem a proteccedilatildeo do direito agrave vida Dessa forma a questatildeo de salvar as vidas no
mar deve-se levar em conta dois aspectos sendo que eacute responsabilidade dos estados bem
como dos capitatildees dos navios
Outros documentos que seguem o mesmo sentido deste artigo 98 da UNCLOS eacute a
Convenccedilatildeo SOLAS que se refere agrave salvaguarda da vida das pessoas no mar e a SAR que
dispotildee sobre a busca e salvamento no mar sob pena de violaccedilatildeo do direito agrave vida Essas duas
convenccedilotildees dispotildeem que as pessoas resgatadas devem ser desembarcadas em um local
seguro apesar de natildeo apresentarem um conceito claro das condiccedilotildees desses locais eacute evidente
que alguns paiacuteses como a Liacutebia estatildeo longe de serem seguros Portanto a falta de
conceituaccedilatildeo de local seguro nessas convenccedilotildees consiste em uma falha fazendo com que
muitos paiacuteses tentem justificar o envio de pessoas para paiacuteses natildeo seguros no entanto diante
da ausecircncia dessa conceituaccedilatildeo faz-se necessaacuterio bom senso das autoridades para natildeo enviar
os migrantes para locais onde corram riscos
Tendo por base todas essas disposiccedilotildees toma-se em questatildeo a relaccedilatildeo do direito do
mar conjuntamente com os direitos humanos Nesse ponto sabemos que os direitos humanos
satildeo de extrema importacircncia consistindo em normas jus cogens no direito internacional
portanto deve ser respeitado em todos os ramos do direito inclusive no direito do mar
Assim vimos que o respeito ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo eacute absoluto natildeo admitindo reservas
por ser considerado norma jus cogens bem como haacute a previsatildeo no artigo 42 nordm1 da
Convenccedilatildeo de 1951 de que o artigo 33 que se refere agrave natildeo-repulsatildeo natildeo se admite reservas
Portanto a interpretaccedilatildeo conjunta das normas de busca e salvamento do mar
juntamente com o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo leva ao entendimento de que os migrantes
resgatados no mar devem ser desembarcados em local seguro e principalmente natildeo devem
ser devolvidos para o local de onde saiacuteram sob pena de violaccedilatildeo do direito agrave vida (artigo 2ordm
da CEDH) da proibiccedilatildeo da tortura e tratamentos desumanos e degradantes (artigo 3ordm da
CEDH e artigo 3ordm da Convenccedilatildeo Contra a Tortura) e proibiccedilatildeo de expulsatildeo coletiva (artigo
4ordm do Protocolo Adicional nordm 4 da CEDH)
147
Para ter uma ideia na praacutetica sobre como ocorre a violaccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-
repulsatildeo no uacuteltimo capiacutetulo realizou-se estudo de alguns casos decididos pelo TEDH bem
como outros casos que ocorreram poreacutem sem anaacutelise do referido Tribunal Destaca-se que
nem todas as decisotildees consistem na repulsatildeo no mar poreacutem em todos os casos estudados as
pessoas chegaram pelo mar ou resgatadas pela guarda do estado costeiro e levadas para o
continente ou acabaram tendo ecircxito na trajetoacuteria em embarcaccedilotildees precaacuterias Isso demonstra
que a repulsatildeo ocorre tanto no mar quanto em situaccedilotildees em que os migrantes jaacute estatildeo em
terra Aleacutem disso quando a repulsatildeo ocorre no mar normalmente haacute a violaccedilatildeo da proibiccedilatildeo
de expulsatildeo coletiva nesses casos as pessoas geralmente satildeo repelidas todas juntas sem
qualquer identificaccedilatildeo conforme os casos Hirsi Jamaa e do Asso 28
Dessa forma como jaacute mencionado a anaacutelise da violaccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo
deve ser realizada juntamente com o artigo 3ordm da CEDH e tambeacutem com a Convenccedilatildeo Contra
a Tortura assim vimos que a violaccedilatildeo ao artigo 3ordm pode ocorrer tanto no paiacutes do pedido de
asilo nos campos de detenccedilatildeo ou quando se deixa as pessoas a sua proacutepria sorte assim a
violaccedilatildeo eacute configurada quando os indiviacuteduos forem enviados para local em que podem ser
submetidos agrave tortura e tratamentos desumanos eou degradantes
Nesse sentido no uacuteltimo capiacutetulo foram 4 os casos apresentados que tiveram decisotildees
proferidas pelo TEDH sendo constatado que quando haacute condenaccedilatildeo ao Estadopaiacutes que
violou direitos dos refugiados satildeo arbitradasaplicadas indenizaccedilotildees irrisoacuterias (em torno de
15 mil euros por requerente) ou seja acabam natildeo inibindo a repeticcedilatildeo da conduta Assim
notamos a ocorrecircncia do caso Hirsi Jamaa em 2009 e que no ano de 2018 o caso do Asso 28
ou seja repetiu os mesmos atos ocorridos em 2009 No entanto o capitatildeo do Asso 28 foi
denunciado nos tribunais italianos por ter tomado a conduta de devolver os migrantes agrave
Liacutebia talvez esse fato demonstre o iniacutecio de uma possiacutevel mudanccedila de mentalidade Mas
somente o tempo poderaacute dizer pois no caso Vos Thalassa o Tribunal de Trapani decidiu
que os migrantes que ldquosequestraramrdquo a embarcaccedilatildeo agiram em legiacutetima defesa que agiram
dessa forma face ao desespero de serem repelidos para a Liacutebia como ocorreu em situaccedilotildees
anteriores no entanto o Tribunal de Palermo anulou a sentenccedila inclusive contrariando a
jurisprudecircncia do proacuteprio Tribunal assim questiona-se se essa decisatildeo do tribunal de
apelaccedilatildeo de anular a sentenccedila natildeo consistiu em uma decisatildeo poliacutetica
Nas decisotildees do TEDH que analisamos notou-se que a condenaccedilatildeo indenizatoacuteria foi
em valor baixo como no caso Hirsi Jamaa cuja decisatildeo foi no sentido de que natildeo houve
148
violaccedilatildeo do artigo 3ordm da CEDH por entender que a conduta do Estado natildeo atingiu o niacutevel
miacutenimo de gravidade Ora natildeo haacute que se falar em niacutevel de tortura ou que o tratamento
desumano foi leve A tortura traz uma ideia de que natildeo tem uma ldquomeia torturardquo ou a pessoa
sofre tortura ou natildeo ou a pessoa recebe tratamento desumano ou natildeo ou seja natildeo haacute que se
falar em natildeo ter atingido os niacuteveis miacutenimos
Assim a partir da anaacutelise dos fatos como no caso Khlaifia em que os migrantes
alegavam que foram submetidos a tratamentos desumanos eou degradantes nota-se que o
tratamento natildeo eacute ldquomeiordquo desumano as pessoas tinham sua dignidade diminuiacuteda por esperar
horas para ir ao banheiro por exemplo Poreacutem o TEDH entendeu natildeo haver violaccedilatildeo ao
artigo 3ordm da CEDH que natildeo ficou comprovado que o tratamento atingiu os niacuteveis miacutenimos
Portanto mais um indicativo da impunidade natildeo se deve aceitar que os direitos humanos
dos migrantes sejam relativizados a empatia eacute obrigatoacuteria os julgadores devem se
colocarem no lugar do outro para poder apontar se existe ou natildeo um niacutevel miacutenimo de tortura
ou tratamento desumano a ser atingido
Outra situaccedilatildeo do caso Abdi Mahamud julgado pelo TEDH foi configurada a
violaccedilatildeo dos artigos 3ordm e 5ordm da CEDH sendo a condenaccedilatildeo de 12 mil euros menor que as
demais indenizaccedilotildees arbitradas pelo TEDH Ou seja trata-se de mais uma condenaccedilatildeo com
valor irisoacuterio de indenizaccedilatildeo pois trata-se de um paiacutes portanto facilita a continuidade da
praacutetica desrespeitosa aos direitos humanos Aleacutem disso nesse caso mesmo a requerente ter
demonstrado reais perigos a que estava exposta (seu irmatildeo foi morto por um grupo
terrorista) o pedido de asilo foi negado sob o fundamento de que ela natildeo demonstrou ser da
regiatildeo de conflitos da Somaacutelia em virtude do sotaque e conhecimentos da regiatildeo da capital
somali Assim as autoridades tecircm julgado os casos de forma arbitraacuteria com total ausecircncia
de empatia Ademais a refugiada tambeacutem estava com a sauacutede debilitada que piorou apoacutes a
negativa do pedido de asilo eacute notaacutevel o transtorno mental que a requerente estava por natildeo
querer retornar ao seu paiacutes
Na Greacutecia como vimos no caso Sharifi os migrantes satildeo tratados com completo
descaso situaccedilatildeo reconhecida inclusive por oacutergatildeos das Naccedilotildees Unidas que apontavam as
violaccedilotildees e orientaram os Estados para que natildeo enviasse migrantes para a Greacutecia Aleacutem
disso neste ano de 2020 em plena pandemia o paiacutes helecircnico levava migrantes ateacute fronteira
do mar territorial deixando-os agrave deriva em botes inflaacuteveis sem motor e correndo risco de
morte Entatildeo tal conduta eacute uma afronta e um descaso enorme dos Estados com os migrantes
149
ou seja com pessoas que saiacuteram de seus paiacuteses por serem submetidas agraves situaccedilotildees horriacuteveis
ainda se deparam com tamanho descaso e desrespeito daqueles cujo dever eacute socorrer e
acolher
Outra questatildeo que chamou agrave atenccedilatildeo pelo despauteacuterio refere-se ao acordo feito entre
a Itaacutelia e Liacutebia em 2017 que confirma o descaso de certos paiacuteses com os refugiados quem
deveria acolher na verdade desdenha da situaccedilatildeo Sabe-se que desde a eclosatildeo da Primavera
Aacuterabe a Liacutebia estaacute longe de ser um lugar seguro Eacute de amplo conhecimento de que
atrocidades satildeo cometidas no paiacutes como assassinatos torturas tratamentos desumanos e
degradantes etc Podemos dizer que a Itaacutelia ao celebrar este acordo eacute cuacutemplice expressa das
atrocidades cometidas com as pessoas por laacute sobretudo com os migrantes que satildeo
devolvidos para o paiacutes norte-africano Assim notamos que os paiacuteses tecircm priorizado o
combate agrave imigraccedilatildeo ilegal em detrimento dos direitos humanos dos migrantes que as
decisotildees proferidas pelo TEDH natildeo estatildeo sendo suficientes para inibir a accedilatildeo de paiacuteses
europeus na repulsatildeo de migrantes ou de coibir os Estados de violar direitos dos refugiados
O que se constatou nesse estudo eacute que quando haacute uma condenaccedilatildeo do Estado por
violar direitos dos refugiados natildeo haacute uma justa indenizaccedilatildeo e que em algumas vezes a
decisatildeo eacute no sentido de que natildeo tinha como o Estado prever a violaccedilatildeo jogando o ocircnus aos
requerentes deixando-os lidarem eles mesmos com os danos e as feridas causadas ou que
natildeo atingiu os niacuteveis miacutenimos de tratamentos desumanos Assim notamos que as puniccedilotildees
impostas aos Estados natildeo tecircm sido eficazes tendo em vista o valor iacutenfimo das indenizaccedilotildees
Dessa forma talvez seja necessaacuteria uma puniccedilatildeo mais eficaz que force os Estados a
respeitarem o direito dos refugiados talvez como medida inibitoacuteria seja o caso de estudar a
possibilidade de imposiccedilatildeo de embargos poliacutetico-econocircmicos ao Estado infrator aleacutem de
melhorar o valor das indenizaccedilotildees pecuniaacuterias iniciando um estudo nesse sentido em prol
da proteccedilatildeo dos refugiados
Em verdade proteger os migrantes natildeo deve ser uma opccedilatildeo dos paiacuteses mas um dever
de proteccedilatildeo agrave vida humana que eacute um direito universal portanto um direito tambeacutem dos
refugiados independentemente se foi resgatado no mar ou dos que jaacute estatildeo no territoacuterio do
paiacutes de chegadaescolhido Portanto ter uma boa poliacutetica de migraccedilatildeo legislaccedilatildeo de asilo e
a proteccedilatildeo dos direitos humanos natildeo satildeo coisas opostas Sendo uma necessidade a
convergecircncia de medidas em prol de menos sofrimento no mundo se as pessoas estatildeo
fugindo de suas casas elas precisam ser acolhidas e natildeo repelidas Em um mundo que
150
pregamos a paz e a justiccedila natildeo eacute justo que negue ajuda e proteccedilatildeo para aqueles mais
necessitados ou menos favorecidos
151
BIBLIOGRAFIA
ACNUR Refugiados Disponiacutevel em httpswwwacnurorgportuguesquem-
ajudamosrefugiados Acesso em 03012020
AGENZIA ITALIA Cosa egrave successo a bordo della nave Asso Ventotto 2018 Disponiacutevel em
httpswwwagiitcronacamigranti_asso_ventotto-4224246news2018-07-31 Acesso
em 05102020
ALMEIDA Francisco F Direito Internacional Puacuteblico 2ordf ediccedilatildeo Coimbra Coimbra
Editora 2003
ANISTIA INTERNACIONAL Greece Proposed bill on asylum downgrades EU and
International Law standards on refugees protection 2019 Disponiacutevel em
httpwwwantigonegrennewspost452 Acesso em 25052020
BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Controllo dele Frontiere Statali e
Respingimenti nel Diritto Internazionale e nel Diritto del Mare In Diritto
Immigrazione e Cittadinanza Nordm 12020 Disponiacutevel em
httpswwwdirittoimmigrazionecittadinanzaitarchivio-saggi-commentisaggifascicolo-
n-1-2020-1532-controllo-delle-frontiere-statali-e-respingimenti-nel-diritto-internazionale-
e-nel-diritto-del-mare Acesso em 19062020
BATHKE Benjamin First trial in Italy over ldquomigrant pushbackrdquo to Libya 2020 In
Infomigrants Disponiacutevel em httpswwwinfomigrantsnetenpost26108first-trial-in-
italy-over-migrant-pushback-to-libya Acesso em 05102020
BETHLEHEM Daniel LAUTERPACHT Sir E Part 2 Non-refoulement (Article 33 of
the 1951 Convention) - The scope and content of the principle of non-refoulement
Opinion In Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos Global
Consultations on International Protection Cambridge Cambridge 2003
CAMILLI Eleonora Migranti scoppia il caso Asso 28 ldquoFatto grave egrave
respingimentordquo 2018 In Redattore Sociale Disponiacutevel em
httpswwwredattoresocialeitarticlenotiziariomigranti_scoppia_il_caso_asso_28_fatto_
grave_e_respingimento Acesso em 05102020
CIERCO Teresa A Instituiccedilatildeo de Asilo na Uniatildeo Europeia Almedina Coimbra 2010
COMISSAtildeO EUROPEIA Common European Asylum Sistem (CEAS) ndash Definition(s)
Disponiacutevel em httpseceuropaeuhome-affairswhat-we-
donetworkseuropean_migration_networkglossary_searchcommon-european-asylum-
system-ceas_en Acesso em 06042020
COMISSAtildeO EUROPEIA Common European Asylum System Disponiacutevel em
httpseceuropaeuhome-affairswhat-we-dopoliciesasylum_en Acesso em 27052020
152
COMISSAtildeO EUROPEIA EURASIL Disponiacutevel em httpseceuropaeuhome-
affairswhat-we-donetworkseuropean_migration_networkglossary_searcheurasil_en
Acesso em 06042020
COMISSAtildeO EUROPEIA European Asylum Support Office (EASO) Disponiacutevel em
httpseceuropaeuhome-affairswhat-we-
donetworkseuropean_migration_networkglossary_searcheuropean-asylum-support-
office-easo_en Acesso em 06042020
COUNCIL OF EUROPE ndash COMMISSIONER FOR HUMAN RIGHTS Lives Saved
Rights protected Bridging the protection gap for refugees and migrants in the
Mediterranean - Recommendations 2019 Disponiacutevel em httpsrmcoeintlives-saved-
rights-protected-bridging-the-protection-gap-for-refugees-168094eb87 Acesso em
01092020
CONSEIL CONSTITUTIONNEL Preacuteambule de la Constitution du 27 Octobre 1946
Disponiacutevel em httpswwwconseil-constitutionnelfrle-bloc-de-
constitutionnalitepreambule-de-la-constitution-du-27-octobre-1946 Acesso em
27052020
CONSELHO PORTUGUEcircS PARA OS REFUGIADOS Histoacuteria Disponiacutevel
httpscprpthistoria Acesso em 24052020
DIAacuteRIO DE NOTIacuteCIAS Greacutecia aprova nova reforma na lei de asilo do paiacutes 2020
Disponiacutevel em httpswwwdnoticiasptmundogrecia-aprova-nova-reforma-na-lei-de-
asilo-do-pais-FE6240421 Acesso em 25052020
DEUTSCHE WELLE (DW) Juristas processam UE por morte de migrantes 2019
Disponiacutevel em httpswwwdwcompt-brjuristas-processam-ue-por-mortes-de-
migrantesa-49036829 Acesso em 05102020
DEUTSCHE WELLE (DW) Novo Pacto Migratoacuterio da UE descarta realocaccedilatildeo
obrigatoacuteria 2020 Disponiacutevel em httpswwwdwcompt-brnovo-pacto-
migratC3B3rio-da-ue-descarta-realocaC3A7C3A3o-obrigatC3B3riaa-
55029567 Acesso em 09102020
ENI ITAacuteLIA Azionisti Disponiacutevel em httpswwwenicomit-ITchi-
siamogovernanceazionistihtml 2019 Acesso em 05102020
FEDERAL OFFICE FOR MIGRATION AND REFUGEES The Stages of the German
Asylum Procedure ndash An overview of the individual procedural steps and the legal
basis Disponiacutevel em
httpswwwbamfdeSharedDocsAnlagenENAsylFluechtlingsschutzAsylverfahrendas-
deutsche-asylverfahrenpdf__blob=publicationFileampv=12 Acesso em 28052020
FELLER Erika Prefaacutecio In Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos
Global Consultations on International Protection Cambridge Cambridge 2003
153
FORTEAU Mathias THOUVENIN Jean-Marc Traiteacute de Droit International de la
Mer Editions A Pedone Paris 2017
FOSTER Michelle HATHAWAY James C Part 6 Internal ProtectionRelocationFlight
Alternative In Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos Global
Consultations on International Protection Cambridge Cambridge 2003
FRANCE 24 English Focus Women made to keep low profile in some French
suburbs Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=6gZFGpNdH1A Acesso
em08012020
FRONTEX O que eacute a Frontex Disponiacutevel em httpsfrontexeuropaeulanguagept
Acesso em 19082020
G1 GLOBO Conheccedila as missotildees de resgate de imigrantes no Mediterracircneo 2015 Disponiacutevel em
httpg1globocommundonoticia201504conheca-as-missoes-de-resgate-de-imigrantes-
no-mediterraneohtml Acesso em 30082020
GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DE INCLUSIOacuteN SEGURIDAD SOCIAL Y
MIGRACIONES) PORTAL DE INMIGRACIOacuteN ndash Centro de Acogida a Refugiados
(CAR) Disponiacutevel em
httpextranjerosmitramissgobesesproteccionasilocarindexhtml Acesso em
27052020
GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DEL INTERIOR) Informacioacuten para los
solicitantes de proteccioacuten internacional em Espantildea Derecho de Asilo y Proteccioacuten
Subsidiaria Disponiacutevel em
httpwwwinteriorgobesdocuments6423171201485Informacion_solicitantes_Asilo_E
spaC3B1ol_126160083pdfd8fb2cb4-9bc4-4a53-9032-628c02f1e114 Acesso em
27052020
GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DE INCLUSIOacuteN SEGURIDAD SOCIAL Y
MIGRACIONES) PORTAL DE INMIGRACIOacuteN ndash Informacioacuten Disponiacutevel em
httpextranjerosmitramissgobesesProteccionAsiloinformacionindexhtml Acesso em
27052020
GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DEL INTERIOR) Oficina de Asilo y
Refugio Disponiacutevel em httpwwwinteriorgobeswebservicios-al-ciudadanooficina-
de-asilo-y-refugio Acesso em 27052020
GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DE INCLUSIOacuteN SEGURIDAD SOCIAL Y
MIGRACIONES) PORTAL DE INMIGRACIOacuteN ndash Reacutegimen de Asilo Disponiacutevel em
httpextranjerosmitramissgobesesnormativanacionalasiloindexhtml Acesso em
27052020
GOODWIN-GILL Guy S Part 3 Article 31 of the 1951 Convention Relating to the Status
of Refugees non-penalization detention and protection In Refugee Protection in
154
International Law ndash UNHCRrsquos Global Consultations on International Protection
Cambridge Cambridge 2003
GROSBON Sophie Droit de la Mer et Protection Internationale de LrsquoIndividurdquo In
FORTEAU Mathias THOUVENIN Jean-Marc Traiteacute de Droit International de la
Mer Editions A Pedone Paris 2017
HELLENIC REPUBLIC Asylum Service Disponiacutevel
httpasylogovgrenpage_id=39 Acesso em 24052020
HELLENIC REPUBLIC Legislation Disponiacutevel httpasylogovgrenpage_id=113
Acesso em 24052020
HONNIBALL Arron N The Exclusive Jurisdiction of Flag States A Limitation on
Pro-active Port States The International Journal of Marine and Coastal Law 2016
Disponiacutevel em httpsbrillcomviewjournalsestu313article-p499_6xml Acesso
01062020
INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION Guidelines on the Treatment of
Persons Rescued at Sea 2004 Disponiacutevel em
httpwwwimoorgenOurWorkFacilitationpersonsrescuedDocumentsMSC167(78)pd
f Acesso em 27062020
INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION INTERNATIONAL CHAMBER
OF SHIPPING UNITED NATIONS (UNHCR) Soccorso in Mare 2015 Disponiacutevel em
httpswwwunhcritwp-contentuploads201512Soccorso_in_Marepdf Acesso em
29062020
KINGSLEY Patrick SHOUMALI Karam Taking Hard Line Greece Turns Back
Migrants by Abandoning Them at Sea In ldquoThe New York Timesrdquo Disponiacutevel em
httpswwwnytimescom20200814worldeuropegreece-migrants-abandoning-seahtml
Acesso em 09102020
LISSON Urszula WEINZIERL Ruth Border Management and Human Rights A
study of EU Law and the Law of the Sea German Institute for Human Rights 2007
MACHADO Joacutenatas E M Direito Internacional 4ordf ediccedilatildeo Coimbra Coimbra Editora
2013
MARS Amanda ONU alerta que o mundo vive a pior crise humanitaacuteria em 70 anos
2017 In El Paiacutes Brasil Disponiacutevel em
httpsbrasilelpaiscombrasil20170311internacional1489186916_587899html
Acesso em 03012020
MINISTEacuteRE DE LrsquoINTEacuteRIEUR (IMMIGRATION ASILE ACCUEIL ET
ACCOMPAGNEMENT DES EacuteTRANGERS EM FRANCE Les Grands Principes du
Droit DrsquoAsile Disponiacutevel em httpswwwimmigrationinterieurgouvfrAsileLe-droit-
d-asileLes-grands-principes-du-droit-d-asile Acesso em 27052020
155
MINISTERO DELLrsquoINTERNO Cruscotto statistico giornaliero Disponiacutevel em
httpwwwlibertaciviliimmigrazionedlciinternogovititdocumentazionestatisticacrusc
otto-statistico-giornaliero Acesso em 19062020
MINISTRY FOR HOME AFFAIRS AND NATIONAL SECURITY (MALTA) AWAS ndash
Mission and Function Disponiacutevel httpshomeaffairsgovmtenMHAS-
DepartmentsawasPagesMission-and-Functionaspx Acesso 26052020
MINISTRY FOR HOME AFFAIRS AND NATIONAL SECURITY (MALTA) The
Office of the Refugee Commissioner Disponiacutevel em
httpshomeaffairsgovmtenmhas-
departmentsthe20office20of20the20refugee20commissionerPagesRefugeeasp
x Acesso em 26052020
NASSER Salem H Jus Cogens Ainda esse Desconhecido Disponiacutevel em
httpbibliotecadigitalfgvbrojsindexphprevdireitogvarticleview3523334033 Acesso
em 12092020
NATIONAL INTEGRATION EVALUATION MECHANISM (NIEM) The new law on
asylum in Greece Disponiacutevel em httpwwwforintegrationeuplthe-new-law-on-
asylum-in-greece Acesso em 25052020
NATIONAL POST National Post View Stabilizing Libya may be the best way to
keep Europe safe Disponiacutevel em httpsnationalpostcomopinionnational-post-view-
stabilizing-libya-may-be-the-best-way-to-keep-europe-safe Acesso em 06012020
NICHOLSON Frances TURK Volker Part 1 Refugee Protection in International Law
an overall perspective In Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos Global
Consultations on International Protection Cambridge Cambridge 2003
O GLOBO Crise envolvendo navio de resgate humanitaacuterio ldquoOpen Armsrdquo contrapotildee
Itaacutelia Espanha e ONG 2019 Disponiacutevel em httpsogloboglobocommundocrise-
envolvendo-navio-de-resgate-humanitario-open-arms-contrapoe-italia-espanha-ong-
23887061 Acesso em 27052020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para
a determinaccedilatildeo da Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Disponiacutevel em
httpswwwacnurorgportugueswp-
contentuploads201802Manual_de_procedimentos_e_critC3A9rios_para_a_determi
naC3A7C3A3o_da_condiC3A7C3A3o_de_refugiadopdf Acesso em
16012020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Note on International Protection ndash
UNHCR 13 september 2001 Disponiacutevel
httpswwwunhcrorgexcomexcomrep3bb1c6cc4note-international-protectionhtml
Acesso em 18092020
156
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Qual a diferenccedila entre lsquorefugiadosrsquo e
lsquomigrantesrsquo Disponiacutevel em httpsnacoesunidasorgqual-a-diferenca-entre-refugiados-
migrantesamp Acesso em 11052020
PAPANICOLOPULU Irini Human Rights and The Law of the Sea In The IMLI
Manual on International Maritime Law Volume I Law of The Sea General Editor
David Joseph Attard Edited by Malgosia Fitzmaurice Norman A Martineacutez Gutieacuterrez
Oxford University Press Oxford 2014
PARLAMENTO EUROPEU Asilo e Migraccedilatildeo na UE em Nuacutemeros 2019 Disponiacutevel
em
httpswwweuroparleuropaeunewsptheadlinesprioritiesmigracao20170629STO7863
0asilo-e-migracao-na-ue-em-numeros Acesso em 06042020
PARLAMENTO EUROPEU Reform of the Dublin System Disponiacutevel em
httpswwweuroparleuropaeuRegDataetudesBRIE2016586639EPRS_BRI282016
29586639_ENpdf Acesso em 07042020
PARLAMENTO EUROPEU Regras do Sistema de Asilo da UE a posiccedilatildeo do
Parlamento sobre a reforma da regulaccedilatildeo de Dublin Atualizado em 25072019
Disponiacutevel em
httpswwweuroparleuropaeunewsptheadlinesworld20180615STO05927regras-do-
asilo-da-ue-posicao-do-parlamento-sobre-a-reforma-da-regulacao-dublin Acesso em
06042020
PAULA Bruna V O Princiacutepio do Non-Refoulement sua Natureza Jus Cogens e a
Proteccedilatildeo Internacional dos Refugiados 2006 Disponiacutevel em
httpsrevistaibdhorgbrindexphpibdhissueview14 Acesso em 12092020
PORTUGAL Serviccedilo de Estrangeiros e Fronteiras ndash Etapas do Procedimento de
Proteccedilatildeo Internacional Disponiacutevel em
httpswwwsefptptDocumentsFolheto20InformaC3A7C3A3o20ProteC3
A7C3A3o20Internacionalpdf Acesso em 23052020
REVISTA VEJA Imigrantes se jogam no mar do navio Open Arms para alcanccedilar a
Itaacutelia 2019 Disponiacutevel httpsvejaabrilcombrmundoimigrantes-se-jogam-do-navio-
open-arms-no-mar-alcancar-a-italia Acesso em 27052020
RODAS Joatildeo G Jus Cogens em Direito Internacional Disponiacutevel em
wwwrevistasuspbrrfdusparticleviewFile6673669346 Acesso em 11092020
RUGGIERO Carol Dalla Criminalizzazione alla Giustificazione delle Attivita di
Ricerca e Soccorso in Mare le Tendenze Interpretative Piu Recenti alla Luce dei Casi
Vos Thalassa e Rackete In Diritto Immigrazione e Cittadinanza Nordm 12020 Disponiacutevel
em httpswwwdirittoimmigrazionecittadinanzaitarchivio-saggi-commentinote-e-
commentifascicolo-2020-1526-dalla-criminalizzazione-alla-giustificazione-delle-attivita-
di-ricerca-e-soccorso-in-mare-le-tendenze-interpretative-piu-recenti-alla-luce-dei-casi-vos-
thalassa-e-rackete Acesso em 25062020
157
SAVIO Guido Capitolo II Le procedure amministrative della domanda drsquoasilo
dallrsquoavvio alla decisione In ROCCA Paolo Immigrazione Asilo e Cittadinanza IV
Edizione Maggioli Editore Santarcangelo di Romagna 2019
TANI Ilaria Ricerca e Soccorso nel Mediterraneo Centrale tra Diritto Internazionale
e Nuove (Discutibili) Qualificazioni del Fenomeno Migratorio In Diritto
Immigrazione e Cittadinanza Nordm 32019 Disponiacutevel em
httpswwwdirittoimmigrazionecittadinanzaitarchivio-saggi-commentisaggifascicolo-
n-3-2019-1474-ricerca-e-soccorso-nel-mediterraneo-centrale-tra-diritto-internazionale-e-
nuove-discutibili-qualificazioni-del-fenomeno-migratoriofile Acesso em 22082020
TERRASI Alfredo I Respingimenti in Mare di Migrant Alla Luce Della Convenzione
Europea dei Diritti Umani In Diritti umani e diritto Internazionale Nordm 32009 p 591-
607
TREVISANUT Seline Maritime Border Control and the Protection of Asylum-
Seekers in the European Union Touro International Law Review 12 2009 p 157-161
HeinOnline
TREVISANUT Seline The Principle of Non-Refoulement and the De-
Territorialization of Border Control at Sea Leiden Journal of International Law vol
27 no 3 September 2014 p 661-676 HeinOnline
UNHCR GREECE UNHCR urges Greece to strengthen safeguards in draft asylum
law 2019 Disponiacutevel em httpswwwunhcrorggren13170-unhcr-urges-greece-to-
strengthen-safeguards-in-draft-asylum-lawhtml
UNITED NATIONS ndash UNHCR UNHCR Position on the Return of Asylum-Seekers to
Greece Under the ldquoDublin Regulationrdquo Disponiacutevel em
httpswwwunhcrorg482199802pdf Acesso em 01102020
WEIL Prosper Towards relative normativity in international law The American
Journal of International Law Vol 77 nordm 3 (julho de 1983) p 413 ndash 442 Disponiacutevel em
httpswwwcambridgeorgcorejournalsamerican-journal-of-international-
lawarticletowards-relative-normativity-in-international-
lawD494CB41D732291285CBC9F5424FF11C Acesso em 10092020
JURISPRUDEcircNCIAS
EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Abdi Mahamud V Malta
Application no 5679613 Disponiacutevel em httphudocechrcoeintengi=001-162424
Acesso em 26092020
EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Hirsi Jamaa and others v Italy
Application no 2776509 Disponiacutevel em httphudocechrcoeintspai=001-109231
Acesso em 16092020
158
EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Khlaifia and others v Italy
Application no 1648312 Disponiacutevel em httphudocechrcoeintengi=001-170054
Acesso em 21092020
EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Sharifi V Austria Application
no 6010408 Disponiacutevel em httphudocechrcoeintengi=001-138593 Acesso em
26092020
INTERNATIONAL COURT OF JUSTICE Jurisdictional Immunities of the State
(Germany v Italy Greece intervening) General List Nordm 143 Disponiacutevel em
httpswwwicj-cijorgencase143 Acesso em 11092020
LA CORTE DI APPELLO DI PALERMO Sentenza Vos Thalassa Appello ndash N Sent
15252020 Disponiacutevel httpswwwquestionegiustiziaitdatadoc2613sentenza-vos-
thalassa-appello-palermo-3-giugno-2020pdf Acesso em 05102020
TRIBUNALE DI TRAPANI Sentenza Vos Thalassa 2019 Disponiacutevel em
httpswwwquestionegiustiziaitdatadoc2613sentenza-vos-thalassa-gip-trapani-3-
giugno-2019pdf Acesso em 05102020
LEGISLACcedilAtildeO CONSULTADA
CONVENCcedilAtildeO DE APLICACcedilAtildeO DO ACORDO DE SCHENGEN 1985 Disponiacutevel
em httpseur-lexeuropaeulegal-
contentptTXTuri=celex3A42000A0922280229 Acesso em 29032020
CONSELHO DE SEGURANCcedilA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Resoluccedilatildeo 2240 (2015)
Disponiacutevel em httpseur-lexeuropaeulegal-
contentPTTXTuri=CELEX3A32016D0118 Acesso em 30082020
CONSELHO DA EUROPA Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (CEDH)
Disponiacutevel em httpswwwechrcoeintDocumentsConvention_PORpdf Acesso em
13012020
CONSELHO EUROPEU Directiva 200155CE do Conselho de 20 de Julho de 2001
Disponiacutevel em httpseur-lexeuropaeulegal-
contentPTTXTHTMLuri=CELEX32001L0055ampfrom=PT Acesso em 31012020
COUNCIL OF THE EUROPEAN UNION Council Decision of 26 April 2010
(2010252EU) Disponiacutevel em httpseur-
lexeuropaeuLexUriServLexUriServdouri=OJL201011100200026ENPDF Acesso
em 18092020
GENERAL ASSEMBLY UNITED NATIONS Resolution Adopted by the General
Assembly ndash Resolution 52132 Human rights and mass exoduses 1998 Disponiacutevel em
httpsundocsorgenARES52132 Acesso em 12092020
159
INTERNATIONAL COMMITTEE OF THE RED CROSS Customary International
Humanitarian Law ndash Volume I Rules Disponiacutevel
httpswwwicrcorgendocassetsfilesothercustomary-international-humanitarian-law-i-
icrc-engpdf Acesso em 11092020
INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION International Convention for the
Safety of Life at Sea (SOLAS) 1974 Disponiacutevel em
httpswwwsamgongustofaismediaenglishSOLAS-Consolidated-Edition-
2018docxpdf Acesso em 05062020
INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION International Convention on
Maritime Search and Rescue ndash SAR Convention 1979 Disponiacutevel em httpsonboard-
aquariusorguploads201808SAR-Convention-1979pdf Acesso em 02062020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Carta das Naccedilotildees Unidas 1945 Disponiacutevel
em httpsnacoesunidasorgwp-contentuploads201711A-Carta-das-
NaC3A7C3B5es-Unidaspdf Acesso em 04092020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Contra a Tortura e Outros
Tratamentos ou Penas Crueacuteis Desumanos ou Degradantes 1984 Disponiacutevel em
httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto1990-1994D0040htm Acesso em
12092020
ORGANIZACcedilAtildeO DE UNIDADE AFRICANA Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo de Unidade
Africana que Rege os Aspectos Especiacuteficos dos Problemas dos Refugiados em Aacutefrica
Disponiacutevel em httpwwwdhnetorgbrdireitossipafricaouahtm Acesso em
17012020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo de Viena sobre o Direito dos
Tratados Disponiacutevel em
httpgddcministeriopublicoptsitesdefaultfilesdocumentosinstrumentosrar67-
2003pdf Acesso em 11092020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Relativa ao Estatuto dos
Refugiados de 1951 Disponiacutevel em
httpswwwacnurorgfileadminDocumentosportuguesBDLConvencao_relativa_ao_Est
atuto_dos_Refugiadospdf Acesso em 03012020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Declaraccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas Sobre o
Asilo Territorial 1967 Disponiacutevel
httpswwwacnurorgfileadminDocumentosportuguesBD_LegalInstrumentos_Internac
ionaisDeclaracao_ONU_Asilo_Territorialpdffile=fileadminDocumentosportuguesBD_
LegalInstrumentos_InternacionaisDeclaracao_ONU_Asilo_Territorial Acesso em
09032020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do
Homem 1948 Disponiacutevel em httpsnacoesunidasorgwp-
contentuploads201810DUDHpdf Acesso em 05032020
160
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Protocolo Adicional agrave Convenccedilatildeo das
Naccedilotildees Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Relativo agrave Prevenccedilatildeo
Repressatildeo e Puniccedilatildeo do Traacutefico de Pessoas em Especial Mulheres e Crianccedilas
Disponiacutevel httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2004-
20062004DecretoD5017htm Acesso 14062020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Protocolo Adicional agrave Convenccedilatildeo das
Naccedilotildees Unidas Contra o Crime Organizado Transnacional relativo ao Combate ao
Traacutefico de Migrantes por Via Terrestre Mariacutetima e Aeacuterea 2000 Disponiacutevel em
httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2004-20062004DecretoD5016htm Acesso
em 01062020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Protocolo Adicional I da Convenccedilatildeo de
Genebra de 1949 Disponiacutevel em httpsihl-
databasesicrcorgapplicihlihlnsfArticlexspaction=openDocumentampdocumentId=F461
FC196C18A52DC12563CD0051E2AC Acesso em 11092020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Protocolo de 1967 Relativo ao Estatuto dos
Refugiados Disponiacutevel
httpswwwacnurorgfileadminDocumentosportuguesBD_LegalInstrumentos_Internac
ionaisProtocolo_de_1967pdf Acesso em 05032020
REPUBBLICA ITALIANA Gazzetta Ufficiale della Reppublica Italiana - Decreto
Legislativo 28 Gennaio 2008 N 25 Disponiacutevel em
httpswwwgazzettaufficialeitattoserie_generalecaricaDettaglioAttooriginarioattodat
aPubblicazioneGazzetta=2008-02-
16ampattocodiceRedazionale=008G0044ampelenco30giorni=false Acesso em 12052020
REPUBBLICA ITALIANA Gazzetta Ufficiale della Reppublica Italiana - Decreto
Legislativo 18 agosto 2015 n 142 Disponiacutevel em
httpswwwgazzettaufficialeiteliid2015091515G00158sg Acesso em 23052020
UNIAtildeO EUROPEIA Carta dos Direitos Fundamentais da Uniatildeo Europeia Disponiacutevel
em httpswwweuroparleuropaeucharterpdftext_ptpdf Acesso em 27052020
UNIAtildeO EUROPEIA Convenccedilatildeo de Dublin 1990 Disponiacutevel httpseur-
lexeuropaeulegal-contentPTALLuri=celex3A41997A0819280129 Acesso em
06042020
UNIAtildeO EUROPEIA Diretiva 2008115CE Disponiacutevel em httpseur-
lexeuropaeulegal-contentPTTXTuri=CELEX3A32008L0115 Acesso em
27052020
UNIAtildeO EUROPEIA Diretiva 201195UE Disponiacutevel em httpseur-
lexeuropaeulegal-contentPTLSUuri=celex32011L0095 Acesso em 27052020
161
UNIAtildeO EUROPEIA Diretiva 201332UE Disponiacutevel em httpseur-
lexeuropaeulegal-contentPTTXTuri=LEGISSUM23010502_1 Acesso em
27052020
UNIAtildeO EUROPEIA Diretiva 201333UE Disponiacutevel em httpseur-
lexeuropaeulegal-contentPTTXTuri=LEGISSUM23010502_2 Acesso em
27052020
UNIAtildeO EUROPEIA Tratado de Funcionamento da Uniatildeo Europeia Disponiacutevel em
httpseur-lexeuropaeulegal-contentPTTXTuri=celex3A12012E2FTXT Acesso
em 07042020
UNIAtildeO EUROPEIA Tratado de Lisboa Disponiacutevel em
httpswwwparlamentopteuropaDocumentsTratado_Versao_Consolidadapdf Acesso
em 31032020
UNITED NATIONS Charter of the International Military Tribunal 1945 Disponiacutevel
em httpswwwunorgengenocidepreventiondocumentsatrocity-
crimesDoc2_Charter20of20IMT201945pdf Acesso em 21012020
UNITED NATIONS Convention on the Law of the Seas (UNCLOS) Disponiacutevel
httpswwwunorgdeptslosconvention_agreementstextsunclosunclos_epdf Acesso
04092020
UNITED NATIONS Draft articles on Responsibility of States for Internationally
Wrongful Acts with commentaries Disponiacutevel em
httplegalunorgilctextsinstrumentsenglishcommentaries9_6_2001pdf Acesso em
11092020
ISABELLE CLARA CLEMENTE
O PRINCIacutePIO DO NON-REFOULEMENT COMO NORMA JUS COGENS O
DIREITO DE ASILO NA UNIAtildeO EUROPEIA E A PROTECcedilAtildeO DO
INDIVIacuteDUO NO MAR
THE PRINCIPLE OF NON-REFOULEMENT AS JUS COGENS STANDARD THE RIGHT
TO ASYLUM IN THE EUROPEAN UNION AND THE PROTECTION OF THE
INDIVIDUAL AT SEA
Dissertaccedilatildeo apresentada agrave Faculdade de Direito da
Universidade de Coimbra no acircmbito do 2ordm Ciclo de Estudos
em Direito (conducente ao grau de Mestre) na Aacuterea de
Especializaccedilatildeo de Ciecircncias Juriacutedico-PoliacuteticasMenccedilatildeo em
Direito Internacional Puacuteblico e Europeu
Orientador Prof Dr Rui Manuel Gens Moura Ramos
COIMBRA
2020
2
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeccedilo a Deus e a Nossa Senhora Aparecida por tudo que me
proporcionam na vida e por me conceder a oportunidade de cursar mestrado nesta
Universidade que eacute referecircncia na aacuterea do Direito tanto em Portugal quanto no Brasil
Agradeccedilo tambeacutem aos meus pais por estarem comigo neste pleito de cursar o
mestrado que com amor e carinho me incentivaram e apoiaram para a realizaccedilatildeo desse
sonho
Meus sinceros agradecimentos ao meu orientador Prof Dr Rui Manuel Gens Moura
Ramos natildeo somente pela orientaccedilatildeo no presente trabalho mas tambeacutem pela sua atuaccedilatildeo
durante todo o curso do mestrado que aleacutem de sua reconhecida sapiecircncia nos encanta com
sua generosidade sempre disponiacutevel e cortecircs com os seus alunos
Tambeacutem agradeccedilo ao Prof Dr Bernardo Cortese da Universidade de Paacutedua (Itaacutelia)
onde tive minha experiecircncia Erasmus que tambeacutem me auxiliou neste trabalho de mestrado
tendo sugerido a linha de pesquisa para o tema escolhido com o aval do Prof Dr Rui e que
tambeacutem sempre esteve disponiacutevel e soliacutecito em me orientar na pesquisa
3
RESUMO
CLEMENTE Isabelle C O Princiacutepio do Non-Refoulement como Norma Jus Cogens o Direito de Asilo na
Uniatildeo Europeia e a Proteccedilatildeo do Indiviacuteduo no Mar 2020 162f Dissertaccedilatildeo de Mestrado Faculdade de
Direito da Universidade de Coimbra Coimbra 2020 A presente pesquisa se justifica devido ao intenso fluxo migratoacuterio que tem ocorrido via Mar Mediterracircneo e
o consequente desrespeito aos direitos humanos dos refugiados por alguns paiacuteses Analisou-se a proteccedilatildeo
internacional dos refugiados o direito de asilo na Europa e em alguns paiacuteses europeus o princiacutepio da natildeo-
repulsatildeo e a proteccedilatildeo internacional do indiviacuteduo no mar fazendo uma anaacutelise de alguns casos decididos pelo
Tribunal Europeu dos Direitos Humanos - TEDH e outros dois que natildeo foram analisados pelo mencionado
Tribunal poreacutem relacionados ao tema do presente trabalho Assim demonstrou-se que os Estados tecircm o dever
de assistecircncia de busca e salvamento no mar e de proteger aqueles que necessitam de proteccedilatildeo natildeo enviando
os migrantes de volta agrave situaccedilatildeo de perseguiccedilatildeo ou em situaccedilotildees em que a vida pode estar em risco ou seja
natildeo violando o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo Para este estudo utilizou-se o meacutetodo dedutivo aplicando teacutecnicas
de pesquisa bibliograacutefica com consultas em livros revistas eletrocircnicas legislaccedilatildeo e pesquisa jurisprudencial
Chegou-se agrave conclusatildeo de que apesar do dever de assistecircncia de busca e salvamento no mar os Estados tecircm
o dever de respeitar o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo natildeo enviando os migrantes agraves situaccedilotildees de tortura e tratamento
desumanos e degradantes (conforme haacute a proibiccedilatildeo no artigo 3ordm da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos
- CEDH) Muitos Estados europeus cometem violaccedilotildees dos direitos humanos dos refugiados repetidas vezes
seja colocando-os em campos de refugiados em situaccedilotildees precaacuterias seja enviando-os de volta para locais que
natildeo satildeo seguros seja repelindo-os coletivamente (violaccedilatildeo ao artigo 4ordm do Protocolo nordm4 da CEDH) ou quer
deixando os migrantes agrave deriva causando acidentes etc assim notou-se que as condenaccedilotildees realizadas pelo
TEDH natildeo satildeo suficientes para inibir novas accedilotildees violadoras dos Estados tampouco para ressarcir os danos
causados para os migrantes Dessa forma deve haver uma mudanccedila de mentalidade tanto das autoridades como
da comunidade internacional em prol da proteccedilatildeo das pessoas que precisam de ajuda inclusive criar medidas
ou sanccedilotildees internacionais eficazes na esfera diplomaacutetica poliacutetica e econocircmica como forma de punir o paiacutes
infrator tambeacutem devem ser adotadas medidas eficazes que natildeo sobrecarregam os Estados de entrada sendo
este um dos pontos da proposta do Novo Pacto Sobre Migraccedilatildeo e Asilo que ainda necessita de aprovaccedilatildeo do
Conselho da UE e do Parlamento Europeu
Palavras-chave Refugiados Princiacutepio do Non-Refoulement Artigo 3ordm CEDH Direito de Asilo Proteccedilatildeo do
Indiviacuteduo no Mar
4
ABSTRACT
CLEMENTE Isabelle C The Principle of Non-Refoulement as Jus Cogens Standard the Right to Asylum
in the European Union and the Protection of the Individual at Sea 2020 162f Masteracutes Degree
Dissertation Faculty of Law of the University of Coimbra Coimbra 2020
The present research is justified due to the intense migratory flow that has occurred via the Mediterranean Sea
and consequent disrespect for the human rights of refugees by some countries The international protection of
refugees the right of asylum in Europe and in some European countries the principle of non-refoulement and
the international protection of the individual at sea were analyzed and it makes an analysis of some cases
decided by the European Court of Human Rights - ECHR and two others that were not analyzed by the
mentioned Court but related to the theme of the present work Thus it was demonstrated that States have a
duty to assist search and rescue at sea and to protect those in need of protection by not sending migrants back
to persecution or in situations where life may be at risk that is not violating the principle of non-refoulement
For this study the deductive method was used bibliographic research techniques with consultations in books
electronic journals legislation and precedents research were applied It was concluded that despite the duty
of assistance search and rescue at the sea the States have a duty to respect the principle of non-refoulement
not sending migrants to situations of inhuman and degrading torture and treatment (according to the prohibition
in Article 3 of the European Convention on Human Rights - ECHR) Many European States repeatedly violate
the human rights of refugees either by placing them in refugee camps in precarious situations or by sending
them back to places that are not safe or by repelling them collectively (violation of Article 4 of Protocol
number 4 of the ECHR) or either leaving migrants adrift causing accidents etc thus it was noted that the
condemnations carried out by the ECHR are not sufficient to inhibit new violating actions by States nor to
compensate for the damage caused to migrants Thus there must be a change in mentality of both the authorities
and the international community in favor of protecting people who need help including creating effective
international measures or sanctions in the diplomatic political and economic spheres as a way to punish the
offending country effective measures must also be taken in order not to burden the State of entry this being
one of the points of the proposal of the New Pact on Migration and Asylum which still needs approval from
the EU Council and the European Parliament
Keywords Refugees Principle of Non-Refoulement Article 3 ECHR Right to Asylum Protection of the
Individual at Sea
5
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ACNUR ou UNHCR ndash Alto Comissariado das Naccedilotildees Unidas Para os Refugiados
AZR ndash Registro Central de Estrangeiros
AFP ndash Agence France-Presse
AWAS ndash Agency for the Welfare of Asylum Seekers (Agecircncia para o bem-estar para os
requerentes de asilo)
CAR ndash Centro de Acolhida de Refugiados
CAS ndash Convenccedilatildeo de Aplicaccedilatildeo do Acordo Schengen
CDFUE ndash Carta dos Direitos Fundamentais da Uniatildeo Europeia
CDP SpA ndash Cassa Depositi e Prestiti SpA
CEDH ndash Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos
CESEDA ndash Coacutedigo de Entrada e Permanecircncia de Estrangeiros e do Direito de Asilo
CIREA ndash Centro de Informaccedilatildeo Investigaccedilatildeo e Intercacircmbio em Mateacuteria de Asilo
CIREFI ndash Centro de Informaccedilatildeo Investigaccedilatildeo e Intercacircmbio em Mateacuteria de Passagem das
Fronteiras e Imigraccedilatildeo
CNDA ndash Corte Nacional de Direito de Asilo
CPR ndash Conselho Portuguecircs para os Refugiados
CSPA ndash Centro de Socorro e Primeiro Acolhimento
DUDH - Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos
EURASIL - European Union Network for asylum practitioners (Rede da Uniatildeo Europeia
para praticantes de asilo)
EURODAC - European Dactyloscopy (base de dados de impressotildees digitais da Uniatildeo
Europeia para requerentes de asilo)
EASO ndash Gabinete Europeu de Apoio ao Asilo
EASY ndash Distribuiccedilatildeo Inicial dos Requerentes de Asilo
FRONTEX ndash Agecircncia Europeia de Gestatildeo da Cooperaccedilatildeo Operacional nas Fronteiras
Externas
GETZ ndash Centro de Extremismo e Contra-Terrorismo
GTAZ ndash Centro Contra-Terrorismo
IMRCC ndash Centro Italiano de Coordenaccedilatildeo de Socorro Mariacutetimo
OFII ndash Escritoacuterio Francecircs de Imigraccedilatildeo e Integraccedilatildeo
6
OFPRA ndash Escritoacuterio Francecircs de Proteccedilatildeo dos Refugiados e Apaacutetridas
OMI ou IMO ndash Organizaccedilatildeo Mariacutetima Internacional
ONG ndash Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental
ONU - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas
OSCE ndash Organizaccedilatildeo para Seguranccedila e Cooperaccedilatildeo na Europa
OUA ndash Organizaccedilatildeo da Unidade Africana
SAR ndash Convenccedilatildeo de Busca e Salvamento no Mar (Search and Rescue)
SECA ndash Sistema Europeu Comum de Asilo
SEF ndash Serviccedilo de Estrangeiros e Fronteiras
SOLAS ndash Convenccedilatildeo Internacional para a Salvaguarda da Vida Humana no Mar
SPRAR ndash Sistema de Proteccedilatildeo para o Requerente de Asilo e Refugiado
TEDH ndash Tribunal Europeu de Direitos Humanos
TFUE ndash Tratado de Funcionamento da Uniatildeo Europeia
TUE ndash Tratado da Uniatildeo Europeia
UE ndash Uniatildeo Europeia
UNCLOS ou CNUDM - Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar
ZEE ndash Zona Econocircmica Exclusiva
7
IacuteNDICE
INTRODUCcedilAtildeO09
CAPIacuteTULO 1 ndash A Proteccedilatildeo Internacional dos Refugiados e o Princiacutepio do Non-
Refoulement11
11 Aspectos Gerais11
12 Convenccedilatildeo de 1951 e o Protocolo de 196714
121 Conceito de Refugiado14
122 Pontos Importantes Relativos agrave Proteccedilatildeo Internacional15
a) Entrada Ilegal16
b) Pertencimento a um Grupo Social Especiacutefico18
c) Solicitaccedilotildees de Refuacutegio com Base na Religiatildeo19
d) Fuga Interna ou Alternativa do Deslocamento20
e) Aplicaccedilatildeo das Claacuteusulas de Exclusatildeo22
f) Cessaccedilatildeo da Condiccedilatildeo de Refugiado27
g) Unidade Familiar29
h) Responsabilidade de Supervisatildeo da ACNUR30
13 O Princiacutepio Non-Refoulement como Norma Jus Cogens e a Responsabilidade do
Estado por Atos Iliacutecitos30
131 Princiacutepio de Non-Refoulement31
132 Normas Jus Cogens35
133 Responsabilidade Internacional dos Estados38
134 Teorias a Respeito da Responsabilidade Internacional dos Estado43
135 Imputabilidade dos Estados44
136 Violaccedilatildeo de Uma Obrigaccedilatildeo Internacional45
137 Princiacutepio Non-Refoulement como Norma Jus Cogens46
CAPIacuteTULO 2 ndash O Asilo na Ordem Juriacutedica Europeia e Nacionais49
21 O Asilo Aspectos Gerais49
211 O Asilo e a Soberania do Estado52
22 A Instituiccedilatildeo de Asilo no Continente Europeu54
221 Principais Documentos Sobre o Asilo na Ordem Juriacutedica
Europeia57
8
23 Ordens Juriacutedicas Nacionais Itaacutelia Portugal Greacutecia Malta Espanha Franccedila e
Alemanha69
231 Itaacutelia69
232 Portugal73
233 Greacutecia75
234 Malta78
235 Espanha81
236 Franccedila84
237 Alemanha85
CAPIacuteTULO 3 - Direito Internacional e Europeu do Mar Busca e Resgate dos
Refugiados em Perigo e o Dever de Assistecircncia89
31 Breves Consideraccedilotildees a Respeito do Direito Internacional do Mar89
32 O Direito do Mar e a Proteccedilatildeo Internacional do Indiviacuteduo93
321 O Direito do Mar e os Direitos Humanos97
322 O Princiacutepio da Natildeo-Repulsatildeo e os Migrantes em Perigo no Mar99
323 A Busca e Salvamento no Mar e o Dever de Assistecircncia108
CAPIacuteTULO 4 - Casos de Violaccedilatildeo do Artigo 3ordm da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos
Humanos e o Princiacutepio da Natildeo-repulsatildeo121
41 Contexto Faacutetico122
411 Caso Hirsi Jamaa e Outros versus Itaacutelia123
412 Caso Khlaifia e Outros versus Itaacutelia125
413 Caso Abdi Mahamud versus Malta129
414 Caso Sharifi versus Aacuteustria131
415 Caso Vos Thalassa134
416 Caso Asso 28137
42 Alguns Apontamentos a Respeito dos Casos Apresentados140
CONCLUSAtildeO143
BIBLIOGRAFIA151
JURISPRUDEcircNCIAS157
LEGISLACcedilAtildeO CONSULTADA158
9
INTRODUCcedilAtildeO
Os fluxos migratoacuterios natildeo satildeo acontecimentos recentes existindo portanto desde os
primoacuterdios da humanidade assim o que muda satildeo os motivos que levam as pessoas a saiacuterem
do seu local de origem No entanto nas uacuteltimas deacutecadas o fenocircmeno da migraccedilatildeo tem se
intensificado principalmente apoacutes 2011 com a Primavera Aacuterabe em que eclodiram muitas
revoltas contra os governos autoritaacuterios no Oriente Meacutedio e paiacuteses africanos sobretudo no
norte da Aacutefrica Por este motivo para um estudo da atual situaccedilatildeo eacute importante a pesquisa
no acircmbito do direito internacional dos refugiados bem como dos direitos humanos
Nesse sentido a Europa tem sido um dos principais destinos desses migrantes e os
paiacuteses mais afetados tecircm adotado medidas para limitar esse fluxo muitos satildeo os meios que
as pessoas se sujeitam a enfrentar para migrarem inclusive pelo mar se aventurando em
embarcaccedilotildees precaacuterias arriscando suas vidas com o fim de fugir de algum tipo de
perseguiccedilatildeo Assim o objetivo do presente trabalho eacute fazer uma anaacutelise teoacuterica sobre a
proteccedilatildeo internacional dos refugiados direito de asilo e o direito de busca e salvamento dos
migrantes no mar juntamente com uma breve anaacutelise jurisprudencial do Tribunal Europeu
dos Direitos Humanos e apresentaccedilatildeo de outros casos natildeo analisados pelo mencionado
Tribunal
Dessa forma no primeiro capiacutetulo faz-se uma abordagem da proteccedilatildeo internacional
dos direitos humanos explicandos alguns dos assuntos mais importantes ao que se refere ao
direito dos refugiados como a Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 bem como o Protocolo de
1967 passando pelo conceito de refugiado e alguns pontos importantes como entrada ilegal
fuga interna claacuteusulas de exclusatildeo cessaccedilatildeo da condiccedilatildeo de refugiado perseguiccedilatildeo por
pertencer algum grupo social por seguir determinada religiatildeo unidade familiar etc aleacutem
disso traz-se a ideia do Princiacutepio do Non-Refoulement (tambeacutem citado neste trabalho como
Princiacutepio da Natildeo-Repulsatildeo) como jus cogens e a responsabilidade do Estado
No segundo capiacutetulo discorre-se sobre o tema do asilo na ordem juriacutedica europeia e
nacional de alguns paiacuteses europeus (os mais afetados pelo fenocircmeno migratoacuterio) Dessa
forma traz-se para anaacutelise os principais documentos europeus como Tratado de Lisboa
Tratado de Funcionamento da Uniatildeo Europeia Acordo Schengen Convenccedilatildeo de Dublin
Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos e algumas diretivas a respeito do tema Aleacutem
10
disso traz-se a questatildeo do asilo nos paiacuteses Itaacutelia Portugal Greacutecia Malta Espanha Franccedila
e Alemanha
Jaacute no terceiro capiacutetulo o foco eacute o direito internacional e europeu do mar no que se
refere agrave busca e resgate dos refugiados bem como o dever de assistecircncia Assim em um
primeiro momento faz-se algumas breves consideraccedilotildees a respeito do direito do mar
explicando brevemente as zonas mariacutetimas posteriormente a relaccedilatildeo do direito do mar com
a proteccedilatildeo internacional do indiviacuteduo passando pelos direitos humanos e princiacutepio da natildeo-
repulsatildeo no direito do mar chegando no direito de busca e salvamento e o dever de
assistecircncia Todos esses pontos tendo como base principalmente as Convenccedilotildees
UNCLOS SOLAS e SAR
Por fim o quarto capiacutetulo traz quatro decisotildees do Tribunal Europeu dos Direitos
Humanos e dois outros casos sem anaacutelise do referido Tribunal para exemplificar todo o
exposto nos demais capiacutetulos Assim o intuito eacute demonstrar qual a posiccedilatildeo do TEDH e se
as decisotildees estatildeo sendo suficientes para inibir a violaccedilatildeo do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo dos
migrantes resgatados no mar
Para a elaboraccedilatildeo do presente trabalho foi utilizado o meacutetodo dedutivo sendo
realizadas teacutecnicas de pesquisa bibliograacutefica com consultas em livros revistas eletrocircnicas
legislaccedilatildeo sendo utilizada a pesquisa jurisprudencial realizada no respectivo trabalho aleacutem
de outros documentos uacuteteis para a anaacutelise proposta no presente trabalho Os casos escolhidos
no uacuteltimo capiacutetulo foram escolhidos por amostragem e por serem pertinentes ao tema
11
CAPIacuteTULO 1
A PROTECcedilAtildeO INTERNACIONAL DOS REFUGIADOS E O PRINCIacutePIO DO
NON-REFOULEMENT
Apesar do fenocircmeno migratoacuterio existir haacute muito tempo tem-se que nas uacuteltimas
deacutecadas este assunto tem se tornado preocupaccedilatildeo mundial trazendo agrave tona a proteccedilatildeo
internacional dos refugiados principalmente na Europa que tem recebido um grande
contingente de refugiados Assim destaca-se os aspectos do mencionado fenocircmeno
humanitaacuterio e social que consiste na proteccedilatildeo de pessoas que fogem de seus paiacuteses em busca
de um lugar seguro para si e para sua famiacutelia bem como o aspecto diplomaacutetico-poliacutetico
pois as pessoas ao ingressarem em outros paiacuteses em busca de estabelecer residecircncia entram
de forma ilegal ferindo a soberania dos Estados Dessa forma faz com que os paiacuteses de
destino elaborem medidas limitativas de tal fenocircmeno (de forma interna) que tambeacutem
atuam como forma de controlar as tensotildees que porventura acabam surgindo1
11 Aspectos gerais
Nas uacuteltimas sete deacutecadas a situaccedilatildeo dos refugiados tem mudado consideravelmente
isso se deve ao surgimento do Alto Comissariado das Naccedilotildees Unidas para os Refugiados
(ACNUR - UNHCR) e tambeacutem da Convenccedilatildeo Relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951
O regime de proteccedilatildeo internacional dos direitos humanos vem sendo construiacutedo desde a
Segunda Guerra Mundial e atualmente consiste em um sistema complexo de proteccedilatildeo agraves
pessoas que satildeo obrigadas a saiacuterem de seus paiacuteses de forma forccedilada tendo por base a
mencionada convenccedilatildeo e o Protocolo de 1967 relativo ao Estatuto dos Refugiados Mas se
reconhece que haacute muito que se melhorar nesse ldquosistema complexordquo tendo em vista a
existecircncia de lacunas que favorecem a natildeo aplicaccedilatildeo do previsto na Convenccedilatildeo dificultando
as questotildees de asilo2
Os dois diplomas mencionados acima segundo Nicholson e Turk satildeo ldquothe modern
legal embodiment of the ancient and universal tradition of providing sanctuary to those at
1 CIERCO Teresa A Instituiccedilatildeo de Asilo na Uniatildeo Europeia Almedina Coimbra 2010 2 FELLER Erika Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos Global Consultations on International
Protection Prefaacutecio Cambridge Cambridge 2003
12
risk and in dangerrdquo3 consistem na personificaccedilatildeo juriacutedica da tradiccedilatildeo mundial de proteger
as pessoas que estatildeo em perigo Portanto consistem nos principais e uacutenicos documentos em
niacutevel mundial que tratam do assunto ldquorefugiadosrdquo
A crise migratoacuteria atual eacute considerada pela ONU a maior deste seacuteculo e de acordo
com dados ateacute o momento soacute perde para a crise migratoacuteria ocorrida durante a Segunda
Guerra Mundial4 As pessoas saem dos seus paiacuteses por motivos de perseguiccedilatildeo e ofensas
aos direitos humanos em busca de uma vida melhor em outros paiacuteses Diversos satildeo os paiacuteses
que geram refugiados como por exemplo Siacuteria (paiacutes que mais gerou refugiados) paiacuteses da
Aacutefrica Subsaariana5 e atualmente a Liacutebia (paiacutes no qual muitos refugiados buscaram ajuda
mas acabaram sendo aprisionados e submetidos a tratamentos degradantes e torturas)
A situaccedilatildeo atual na Liacutebia merece atenccedilatildeo e preocupa paiacuteses europeus sobretudo a
Itaacutelia O caos no mencionado paiacutes africano comeccedilou apoacutes a queda de Muamar Kadafi
iniciando-se uma nova guerra civil assim as autoridades do paiacutes perderam a sede do
governo em Triacutepoli passando a governar a partir de quartos de hoteacuteis e casas alugadas na
cidade de Bayda tendo em vista que parte da Liacutebia estava sob o domiacutenio de miliacutecias eacutetnicas
e coalizatildeo islamita6
Diante de tal cenaacuterio muitas pessoas foram capturadas vendidas como escravos e
torturadas O Estado Islacircmico publicou um viacutedeo executando 21 egiacutepcios em uma praia do
Mar Mediterracircneo e manifestou interesse em conquistar Roma fato que deixou a Itaacutelia em
alerta poreacutem a questatildeo da Liacutebia natildeo se trata de uma preocupaccedilatildeo apenas para as autoridades
italianas mas tambeacutem para toda Europa7
Assim apoacutes a Segunda Guerra Mundial notou-se a importacircncia da proteccedilatildeo
internacional dos refugiados situaccedilatildeo que culminou na elaboraccedilatildeo da Convenccedilatildeo de 1951
mas muito tempo passou e a relevacircncia da referida proteccedilatildeo internacional continua os fatos
mudaram poreacutem a proteccedilatildeo dos refugiados a niacutevel internacional eacute de suma importacircncia para
3 NICHOLSON Frances TURK Volker Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos Global
Consultations on International Protection Part 1 Refugee Protection in International Law an overall
perspective Cambridge Cambridge 2003 4 MARS Amanda ONU alerta que o mundo vive a pior crise humanitaacuteria em 70 anos 2017 In El Paiacutes Brasil
Disponiacutevel em httpsbrasilelpaiscombrasil20170311internacional1489186916_587899html Acesso
em 03012020 5 ACNUR Refugiados Disponiacutevel em httpswwwacnurorgportuguesquem-ajudamosrefugiados Acesso
em 03012020 6 NATIONAL POST National Post View Stabilizing Libya may be the best way to keep Europe safe
Disponiacutevel em httpsnationalpostcomopinionnational-post-view-stabilizing-libya-may-be-the-best-way-
to-keep-europe-safe Acesso em 06012020 7Ibidem
13
promover a dignidade humana princiacutepio base de grande parte dos ordenamentos juriacutedicos
no mundo8
Apoacutes o teacutermino da Guerra Fria surgiram vaacuterios conflitos como na ex-Iugoslaacutevia
Caacuteucaso Grandes Lagos e Afeganistatildeo tais conflitos forccedilaram a fuga de pessoas e tal ecircxodo
se deve agraves perseguiccedilotildees de diversas motivaccedilotildees (poliacutetica religiosa eacutetnica etc) sendo assim
estas pessoas podem ser enquadradas no conceito de ldquorefugiadordquo presente na Convenccedilatildeo de
1951 que veremos adiante9
Eacute bem verdade que a comunidade internacional deve zelar pela proteccedilatildeo
internacional dos refugiados mas ressalta-se que o deslocamento de milhares de refugiados
a um determinado Estado pode trazer problemas nas situaccedilotildees de concessatildeo de asilo Assim
alguns paiacuteses na Europa estatildeo sofrendo com excesso de refugiados como Itaacutelia Alemanha e
Franccedila
A partir de situaccedilotildees de excessos como mencionado acima surge o desafio de
compartilhar responsabilidades ou seja natildeo apenas um ou poucos paiacuteses a ter que arcar com
todos os ocircnus dos refugiados Portanto deve haver medidas para que haja uma distribuiccedilatildeo
dos ocircnus referentes aos refugiados10 Situaccedilatildeo essa que a Convenccedilatildeo de Dublin (juntamente
com suas duas reformas) tentou resolver no entanto ainda haacute falhas e a proposta de um
novo pacto foi apresentada como seraacute visto no decorrer deste trabalho
Nos paiacuteses que estatildeo sobrecarregados com as ldquoobrigaccedilotildeesrdquo referentes aos refugiados
comeccedilou a aumentar a xenofobia e intoleracircncia aos estrangeiros Isso se deve por diversos
motivos como por exemplo o receio de que o excesso de refugiados pode por ventura
tentar impor sua cultura no novo paiacutes ou paiacutes de asilo como acontece em alguns bairros do
subuacuterbio de Paris em que mulheres natildeo satildeo bem-vindas em cafeacutes (situaccedilatildeo ldquojustificadardquo
pela submissatildeo da mulher na cultura islacircmica)11 e tambeacutem devido ao fato de muitos
refugiados serem de origem islacircmica tambeacutem haacute o temor de atentados terroristas
principalmente apoacutes os atentados nos Estados Unidos em que houve uma maior
preocupaccedilatildeo de analisar com mais atenccedilatildeo o previsto na Convenccedilatildeo de 195112
8 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 9 Ibidem 10 Ibidem 11 FRANCE 24 English Focus Women made to keep low profile in some French suburbs Disponiacutevel em
httpswwwyoutubecomwatchv=6gZFGpNdH1A Acesso em08012020 12 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit
14
12 Convenccedilatildeo de 1951 e o Protocolo de 1967
A Convenccedilatildeo de 1951 e o Protocolo de 1967 satildeo documentos de proteccedilatildeo
internacional dos refugiados portanto tecircm abrangecircncia mundial Assim neles constam os
princiacutepios baacutesicos a respeito do assunto devendo ser a base do regime de proteccedilatildeo aos
refugiados nos demais ordenamentos juriacutedicos
O Protocolo de 1967 serviu para complementar a Convenccedilatildeo de 1951 como consta
expressamente que o conceito de refugiado deveria ser ampliado conforme consta no artigo
1ordm paraacutegrafo 2ordm do documento13
Um dos maiores desafios do Alto Comissariado da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas
para os Refugiados (ACNUR) eacute de zelar pelo cumprimento destes documentos e para isto
eacute necessaacuterio que a comunidade internacional se una em prol da proteccedilatildeo internacional dos
refugiados14
121 Conceito de Refugiado
O conceito de refugiado que consta na Convenccedilatildeo de 1951 no artigo 1ordm item 2
refugiado eacute aquela pessoa que
() temendo ser perseguida por motivos de raccedila religiatildeo nacionalidade grupo
social ou opiniotildees poliacuteticas se encontra fora do paiacutes de sua nacionalidade e que
natildeo pode ou em virtude desse temor natildeo quer valer-se da proteccedilatildeo desse paiacutes ou
que se natildeo tem nacionalidade e se encontra fora do paiacutes no qual tinha sua
residecircncia habitual em consequumlecircncia de tais acontecimentos natildeo pode ou devido
ao referido temor natildeo quer voltar a ele15
Os refugiados consistem em uma categoria de pessoas que fogem de seus paiacuteses por
temer perseguiccedilatildeo por motivos de raccedila religiatildeo nacionalidade grupo social ou opiniotildees
poliacuteticas assim se encontram fora do paiacutes de sua nacionalidade e que natildeo podem ou em
virtude desse temor natildeo quer valer-se mais da proteccedilatildeo do seu paiacutes de origem ou natal
13 ACNUR PROTOCOLO DE 1967 Relativo ao Estatuto dos Refugiados Disponiacutevel
httpswwwacnurorgfileadminDocumentosportuguesBD_LegalInstrumentos_InternacionaisProtocolo_
de_1967pdf Acesso em 05032020 14 Ibidem 15 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951
Disponiacutevel em
httpswwwacnurorgfileadminDocumentosportuguesBDLConvencao_relativa_ao_Estatuto_dos_Refugi
adospdf Acesso em 03012020
15
portanto passam a vincular ao ordenamento juriacutedico do paiacutes de asilo submetidos agrave
legislaccedilatildeo desse novo paiacutes assim como estatildeo sujeitos os cidadatildeos presentes no territoacuterio do
paiacutes que os acolheu isto eacute em casos de ofensas agrave lei e agrave ordem puacuteblica no paiacutes de asilo os
refugiados estatildeo sujeitos agraves leis domeacutesticas16
A Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo de Unidade Africana de 1969 em seu artigo I nordm 2
traz a seguinte conceituaccedilatildeo de refugiado
() qualquer pessoa que devido a uma agressatildeo ocupaccedilatildeo externa dominaccedilatildeo
estrangeira ou a acontecimentos que perturbem gravemente a ordem puacuteblica numa
parte ou na totalidade do seu pais de origem ou do pais de que tem nacionalidade
seja obrigada a deixar o lugar da residecircncia habitual para procurar refuacutegio noutro
lugar fora do seu paiacutes de origem ou de sua nacionalidade17
Assim o conceito de refugiado eacute amplo pois engloba vaacuterios fatores como raccedila
religiatildeo nacionalidade grupo social e opiniatildeo poliacutetica A perseguiccedilatildeo presente no citado
dispositivo natildeo se refere somente agraves questotildees individuais como tambeacutem agraves questotildees
coletivas isto eacute ldquoacontecimentos de natureza geral que envolve toda uma comunidaderdquo18
Portanto deve-se analisar caso a caso para que natildeo sejam cometidas injusticcedilas
Poreacutem natildeo se deve confundir os conceitos de migrante econocircmico com o de
refugiado propriamente dito Assim o migrante econocircmico deixa seu paiacutes fugindo da
pobreza e situaccedilatildeo de miseacuteria enquanto o refugiado abandona seu paiacutes sua famiacutelia fugindo
de perseguiccedilatildeo e risco de morte Aleacutem disso o migrante econocircmico normalmente planeja
para onde ir agraves vezes jaacute possui algum viacutenculo no paiacutes de destino o refugiado natildeo possui
dinheiro natildeo sabe para qual paiacutes ir (apenas quer sair do lugar onde sua vida corre risco) natildeo
sabe a liacutengua e nem a cultura do paiacutes tendo que aprender a viver novamente19
122 Pontos Importantes Relativos agrave Proteccedilatildeo Internacional
Sabe-se da importacircncia dos pontos relativos agrave perseguiccedilatildeo baseada no gecircnero
requerimento de refuacutegio solicitado por crianccedilas ou com base na orientaccedilatildeo sexual embora
16 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 17 ORGANIZACcedilAtildeO DE UNIDADE AFRICANA Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo de Unidade Africana que Rege
os Aspectos Especiacuteficos dos Problemas dos Refugiados em Aacutefrica Disponiacutevel em
httpwwwdhnetorgbrdireitossipafricaouahtm Acesso em 17012020 18 CIERCO Teresa A Instituiccedilatildeo de Asilo na Uniatildeo Europeia Almedina Coimbra 2010 p 59 19 Ibidem
16
esse tema especiacutefico natildeo tenha sido abordado neste trabalho por ser especiacutefico e natildeo
pertencer ao tema central do trabalho No que tange agrave religiatildeo e grupos especiacuteficos fez-se
uma abordagem geral por constarem no conceito de refugiados no artigo 1ordm da Convenccedilatildeo
de 1951
Alguns desses pontos importantes possuem diretrizes publicadas pelo ACNUR que
foram elaboradas em uma mesa redonda juntamente com Church World Service em 2002
nos Estados Unidos20 No entanto devido a importacircncia do princiacutepio do non-refoulement
(natildeo-repulsatildeo) este seraacute desenvolvido no final do presente capiacutetulo
a) Entrada ilegal
Um ponto importante a se analisar no que tange agrave proteccedilatildeo internacional dos
refugiados eacute a entrada ilegal disciplinada no artigo 31 da Convenccedilatildeo de 1951 ou seja os
refugiados que chegarem a determinado paiacutes sem autorizaccedilatildeo natildeo devem ser penalizados
caso estejam fugindo de situaccedilatildeo em que a vida esteja ameaccedilada para isto eles devem se
apresentar o mais raacutepido possiacutevel para as autoridades demonstrando assim boa-feacute em sua
entrada ilegal21
A este respeito tem-se que os indiviacuteduos que entram ilegalmente em algum paiacutes e
requerem asilo possuem a presunccedilatildeo desse direito ateacute que se demonstre a natildeo necessidade
de proteccedilatildeo internacional atraveacutes do devido processo legal o nuacutemero 2 do artigo 31 dispotildee
que os Estados devem aplicar apenas as restriccedilotildees ldquonecessaacuteriasrdquo ateacute a regularizaccedilatildeo do
refugiado ressalta-se que sempre deve haver respeito aos direitos humanos22
No que se refere agrave regularizaccedilatildeo do refugiado entende-se que nos casos de entrada
ilegal o indiviacuteduo deve se apresentar o mais raacutepido possiacutevel para as autoridades os Estados
devem aguardar a regularizaccedilatildeo do refugiado seja no paiacutes em que estaacute ou em outro paiacutes que
o tenha admitido23
20 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Disponiacutevel em httpswwwacnurorgportugueswp-
contentuploads201802Manual_de_procedimentos_e_critC3A9rios_para_a_determinaC3A7C3
A3o_da_condiC3A7C3A3o_de_refugiadopdf Acesso em 16012020 21 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 22 Ibidem 23 GOODWIN-GILL Guy S Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos Global Consultations on
International Protection Part 3 Article 31 of the 1951 Convention Relating to the Status of Refugees non-
penalization detention and protection Cambridge Cambridge 2003
17
Poreacutem mesmo com a existecircncia do artigo 31 da Convenccedilatildeo muitos dos indiviacuteduos
que entram ilegalmente nos paiacuteses satildeo encaminhados para centros de detenccedilatildeo (na Europa
Ameacuterica do Norte e Austraacutelia) Alguns paiacuteses como a Aacuteustria Beacutelgica Alemanha e Franccedila
possuem centros especiais de detenccedilatildeo para aprisionar indiviacuteduos relativos agrave imigraccedilatildeo que
em muitos casos natildeo haacute periacuteodos preacute-fixados nessas prisotildees mas devido agrave alta demanda
surge outro problema muitos indiviacuteduos satildeo aprisionados em centros de detenccedilatildeo comum
sem separaccedilatildeo com os presos comuns (condenados por crimes)24
Neste cenaacuterio nota-se que natildeo eacute razoaacutevel aplicar a penalidade de detenccedilatildeo ao
indiviacuteduo que natildeo cometeu crime algum mas apenas fugiu de algum lugar no qual sua vida
estava em risco Poreacutem cada paiacutes tem sua legislaccedilatildeo a respeito da entrada ilegal e possui o
poder de soberania de controlar o fluxo de entrada e saiacuteda do paiacutes bem como a fixaccedilatildeo de
residecircncia nesse sentido a jurisprudecircncia do Tribunal Europeu de Direitos Humanos diz
que apesar deste poder soberano deve-se respeitar o que estaacute previsto na Convenccedilatildeo
Portanto a detenccedilatildeo provisoacuteria eacute permitida quando se faz necessaacuterio alguma investigaccedilatildeo
preliminar poreacutem a detenccedilatildeo administrativa eacute permitida nos termos do que estaacute previsto no
artigo 31 nordm 2 da Convenccedilatildeo de 1951 ou seja somente as restriccedilotildees necessaacuterias podem ser
impostas aos requerentes de asilo dentre estas pode incluir a prisatildeo administrativa em alguns
casos Ressalta-se que apesar do indiviacuteduo estar detido natildeo se deve privaacute-lo da possibilidade
de requerer asilo e portanto de obter o status de refugiado25
Neste aspecto percebemos uma controveacutersia pois o artigo 14 da Declaraccedilatildeo
Universal dos Direitos Humanos dispotildee sobre a requisiccedilatildeo de asilo de que eacute um direito de
todos que sofrem algum tipo de perseguiccedilatildeo aleacutem disso o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo faz
com que os Estados natildeo rejeitem os refugiados devolvendo-os para locais onde suas vidas
correm risco Poreacutem a controveacutersia estaacute na situaccedilatildeo de que muitas vezes satildeo impostas
restriccedilotildees de liberdade aos requerentes de asilo Defende-se portanto que deve haver
alguma razoabilidade para justificar a restriccedilatildeo de liberdade26
24 GOODWIN-GILL Guy S Op cit 25 Ibidem 26 Ibidem
18
b) Pertencimento a um grupo social especiacutefico
No artigo 1ordm da Convenccedilatildeo de 1951 conforme citado acima consta a expressatildeo
ldquogrupo socialrdquo pela qual o conceito descreve a situaccedilatildeo de ser perseguido por pertencer
algum ldquogrupo socialrdquo Nesse sentido o assunto eacute abordado na Diretriz Sobre a Proteccedilatildeo
Internacional nordm227 Ao questionar o que seria tal expressatildeo ldquogrupo socialrdquo analisa-se se se
aquele grupo possui caracteriacutesticas distintas sendo estas imutaacuteveis ou inerentes agrave dignidade
humana que dificilmente se consegue separar o indiviacuteduo dessa caracteriacutestica28
Nesse sentido pode-se entender o conceito a partir da ideia de ldquocaracteriacutesticas
protegidasrdquo ou seja nesta ideia uma caracteriacutestica considerada imutaacutevel consiste em
criteacuterios de sexo e etnia por exemplo e tambeacutem em situaccedilotildees nas quais as caracteriacutesticas
satildeo inalteraacuteveis por diversos motivos (sendo intriacutenseca agrave dignidade humana) como por
exemplo fatos histoacutericos ou status passado Tal ideia eacute comumente adotada no Canadaacute
Estados Unidos e Reino Unido29
Entatildeo ao se abordar o aspecto de ldquogrupo socialrdquo a partir de uma ldquopercepccedilatildeo socialrdquo
conceitua que um grupo social pode se diferenciar da sociedade em geral a partir de uma
caracteriacutestica que diferencia seus indiviacuteduos de toda a sociedade Este entendimento eacute
adotado pela jurisprudecircncia australiana30
Tais abordagens podem gerar conflitos pois podem convergir fazendo com que as
pessoas que satildeo diferenciadas a partir de uma caracteriacutestica imutaacutevel ou fundamental
(intriacutenseca) podem tambeacutem serem diferenciadas por caracteriacutesticas que os distinguem do
resto da sociedade Portanto podem surgir lacunas no que tange a proteccedilatildeo quando
analisadas isoladamente31
Este aspecto tem sido muito utilizado para enquadrar as pessoas requerentes de asilo
assim os Estados entendem como grupos especiacuteficos homossexuais famiacutelias tribos grupos
profissionais com base no previsto na Convenccedilatildeo de 1951 Portanto tal ideia aprofunda o
conceito de refugiado32
27 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit p 91 28 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 29 Ibidem 30 Ibidem 31 Ibidem 32 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit p 91
19
Entretanto natildeo se pode amplificar demasiadamente tal ideia isto eacute natildeo se aplica em
todo e qualquer caso poreacutem a ideia de pertencer a um grupo social especiacutefico deve ser
entendida de forma evolutiva com base nas sociedades e nas normas internacionais de
direitos humanos33
c) Solicitaccedilotildees de Refuacutegio com base na Religiatildeo
Antes de adentrar na situaccedilatildeo de solicitaccedilatildeo de refuacutegio em razatildeo da religiatildeo precisa-
se primeiro entender no que consiste o termo ldquoreligiatildeordquo Sendo assim a Convenccedilatildeo de 1951
apesar de trazer no conceito de refugiado a religiatildeo como uma das motivaccedilotildees de
perseguiccedilotildees natildeo trouxe o conceito de religiatildeo Portanto entende-se de forma interpretativa
a definiccedilatildeo de religiatildeo como sendo a liberdade de pensamento consciecircncia e credo dessa
forma o conceito engloba tambeacutem a possibilidade de natildeo possuir religiatildeo ou natildeo adotar
nenhuma crenccedila relacionada agrave religiatildeo34
Nesse sentido a Diretriz Sobre Proteccedilatildeo Internacional nordm6 dispotildee sobre a utilidade
dos artigos 18 da Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos (DUDH) e dos artigos 18 e
27 do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Poliacuteticos bem como outros documentos
internacionais que norteiam o entendimento do termo ldquoreligiatildeordquo na conjuntura do Direito
Internacional dos Refugiados35
Portanto em razatildeo do explicado acima requisiccedilotildees de refuacutegio baseadas em religiatildeo
satildeo situaccedilotildees complicadas pois os agentes que analisam a situaccedilatildeo de cada indiviacuteduo nem
sempre aplicam de forma correta a definiccedilatildeo de religiatildeo Ressalta-se que de acordo com o
Direito Internacional dos Direitos Humanos a liberdade religiosa de pensamento e
consciecircncia satildeo considerados direitos fundamentais36
Dessa forma ao requerer refuacutegio os indiviacuteduos podem se basear nos seguintes
elementos relativos agrave religiatildeo crenccedila ou descrenccedila identidade e estilo de vida Assim a
religiatildeo referente agrave ldquocrenccedilardquo inclui tanto as pessoas que acreditam em alguma divindade
quanto aos que natildeo acreditam quanto agrave ldquoidentidaderdquo refere pertencer a uma religiatildeo no
33 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit p 91 34 Ibidem 35 Ibidem 36 Ibidem
20
sentido de uma comunidade de pessoas que acreditam nas mesmas ideias e por fim quanto
ldquoestilo de vidardquo consiste em situaccedilotildees em que a religiatildeo pode se manifestar de diversas
formas como por exemplo o uso de vestimentas e praacuteticas especiacuteficas 37
O indiviacuteduo pode sofrer perseguiccedilatildeo religiosa de vaacuterias maneiras como a proibiccedilatildeo
de se filiar a alguma comunidade religiosa ou impor medidas discriminatoacuterias pelo motivo
da religiatildeo Tal situaccedilatildeo eacute mais comumente observada em paiacuteses que haacute uma religiatildeo que
predomina ou que haja uma estreita relaccedilatildeo entre Estado e religiatildeo assim uma pessoa que
natildeo segue a religiatildeo dominante por vezes acaba sofrendo algum tipo de perseguiccedilatildeo38
d) Fuga Interna ou alternativa do deslocamento
Um ponto muito discutido a respeito do Direito dos Refugiados eacute sobre a fuga interna
ou alternativa do deslocamento (assunto abordado na Diretriz Sobre Proteccedilatildeo Internacional
nordm 439) pois tal conceito consiste na ideia daquele indiviacuteduo que sofre algum tipo de
perseguiccedilatildeo poder buscar refuacutegio dentro do seu paiacutes de origem Mas de acordo com o Direito
Internacional natildeo eacute necessaacuterio que sejam esgotados os recursos no paiacutes de origem portanto
natildeo se exige que o refuacutegio seja o uacuteltimo recurso40
Nesse sentido na deacutecada de 1980 alguns paiacuteses concedentes de asilo utilizavam esse
conceito como motivo para negar asilo poreacutem natildeo consta nada de forma expressa na
Convenccedilatildeo de 1951 Assim entende-se que a melhor opccedilatildeo nesse aspecto eacute analisar caso a
caso41 Assim sugere-se uma situaccedilatildeo de anaacutelise em duas etapas o risco de perseguiccedilatildeo (por
motivos previstos na Convenccedilatildeo de 1951) em alguma aacuterea do paiacutes de origem e depois analisa
a possibilidade do requerente de asilo ser protegido pelo paiacutes de origem42
Como vimos na definiccedilatildeo de refugiado consta os termos ldquotemendo ser perseguidardquo
e ldquonatildeo pode ou em virtude desse temor natildeo quer valer-se da proteccedilatildeo desse paiacutesrdquo tais
expressotildees devem ser entendidas juntamente com o conceito da alternativa de fuga ou
37 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit 38 Ibidem 39 Ibidem p 107 40 Ibidem 41 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 42 FOSTER Michelle HATHAWAY James C Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos Global
Consultations on International Protection Part 6 Internal ProtectionRelocationFlight Alternative
Cambridge Cambridge 2003
21
deslocamento interno Ressalta-se que natildeo satildeo conceitos contraditoacuterios poreacutem a relaccedilatildeo
entre esses conceitos deve-se analisar os casos separadamente Na anaacutelise individual de cada
caso como mencionado acima dois aspectos devem ser levados em consideraccedilatildeo
relevacircncia e razoabilidade 43
Ao se analisar a relevacircncia deve-se ter em mente se a aacuterea na qual propotildeem o
deslocamento se tal accedilatildeo eacute acessiacutevel facilmente de forma segura e que natildeo infrinja normas
quem eacute o agente perseguidor pois se for o Estado este iraacute perseguir o indiviacuteduo em todo o
territoacuterio ou caso o agente natildeo seja o Estado se haacute a possibilidade deste agente perseguidor
acessar as aacutereas de fuga ou deslocamento interno e se apoacutes o deslocamento haver a
possibilidade de o indiviacuteduo continuar a ser perseguido ou sofrer algum outro dano grave44
No que tange a razoabilidade a anaacutelise eacute mais simples ou seja analisa-se a
possibilidade do indiviacuteduo conseguir ter uma vida digna sem perseguiccedilotildees Essa anaacutelise
deve ser tanto objetiva quanto subjetiva isto eacute considerar o indiviacuteduo e as condiccedilotildees de fuga
ou deslocamento Os criteacuterios a serem analisados satildeo caracteriacutesticas pessoais (analisam-se
fatores como a idade sexo a famiacutelia se possui alguma deficiecircncia escolaridade situaccedilotildees
de vulnerabilidade etc) perseguiccedilatildeo preteacuterita (consiste no indiviacuteduo possuir algum trauma
ocasionado por perseguiccedilotildees no passado) proteccedilatildeo e seguranccedila respeito aos direitos
humanos e subsistecircncia econocircmica45
Entende-se portanto que natildeo se deve justificar a negaccedilatildeo da condiccedilatildeo de refugiado
com base nos conceitos de alternativa de fuga ou deslocamento interno tendo em vista os
princiacutepios dos direitos humanos que zelam pela proteccedilatildeo internacional Dessa forma as
pessoas tecircm o direito de saiacuterem dos seus paiacuteses buscando uma vida mais segura longe de
situaccedilotildees que podem colocar a vida em perigo46
Nesse sentido vimos anteriormente que na Convenccedilatildeo da OUA parte do conceito de
refugiados traz a seguinte expressatildeo relacionando a acontecimentos que ldquoperturbem
gravemente a ordem puacuteblica numa parte ou na totalidade do seu paiacutes de origem ou do paiacutes
de que tem nacionalidaderdquo assim depreende-se que natildeo eacute necessaacuterio que todo o paiacutes esteja
em crise para que uma pessoa possa requerer refuacutegio em outro paiacutes47
43 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit 44 Ibidem 45 Ibidem 46 Ibidem 47 Ibidem
22
e) Aplicaccedilatildeo das Claacuteusulas de Exclusatildeo
A Convenccedilatildeo de 1951 no artigo 1- F traz as claacuteusulas de exclusatildeo isto eacute situaccedilotildees
em que o previsto no mencionado diploma natildeo deve ser aplicado Assim estas situaccedilotildees
referem-se agraves pessoas que
() cometeram um crime contra a paz um crime de guerra ou um crime contra a
humanidade no sentido dos instrumentos internacionais elaborados para prever
tais crimes
() cometeram um crime grave de direito comum fora do paiacutes de refuacutegio antes de
serem nele admitidas como refugiados
() se tornaram culpadas de atos contraacuterios aos fins e princiacutepios das Naccedilotildees
Unidas48
A respeito das disposiccedilotildees acima tem-se que o primeiro item (artigo 1F ldquoardquo) e o
uacuteltimo (artigo 1F ldquocrdquo) satildeo atemporais ou seja dizem respeito a crimes ocorridos em
qualquer tempo Contudo no artigo 1F ldquobrdquo referem-se a crimes cometidos em momento
anterior ao ser considerado refugiado e que tenham ocorrido em local fora do paiacutes de
refuacutegio49
Assim situaccedilotildees como abrigar os genocidas responsaacuteveis pelo massacre ocorrido em
Ruanda no ano de 1994 contraria o disposto na Convenccedilatildeo de 1951 pois natildeo seria justo
ajudar quem jaacute provocou muita dor e tristeza e tambeacutem contribuiu para fuga de muitas
pessoas para natildeo serem mortas em seus paiacuteses como o proacuteprio documento jaacute dispotildee alguns
atos satildeo de extrema gravidade que os autores de determinadas accedilotildees satildeo indignos de proteccedilatildeo
internacional e portanto tais pessoas devem enfrentar a justiccedila e pagarem pelos seus atos50
Os mencionados dispositivos tem a motivaccedilatildeo de excluir do conceito de refugiado
pessoas que praticaram crimes graves e assim natildeo deveriam ser protegidos pela Convenccedilatildeo
Nesse sentido natildeo se deveria portanto conceder asilo agrave pessoa perseguida por cometer um
crime poreacutem a interpretaccedilatildeo correta eacute a de que natildeo deve ser permitido o asilo para pessoas
que pedem a proteccedilatildeo com intuito de fugir da penalidade mas tambeacutem natildeo se pode admitir
que pessoa seja enviada para um local onde seus direitos humanos baacutesicos seratildeo violados
48 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951 Op
cit 49 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit 50 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit
23
uma alternativa para este caso eacute o cumprimento da penalidade dos seus atos em algum local
seguro onde teraacute sua dignidade respeitada
Portanto a aplicaccedilatildeo da exclusatildeo deve ser feita com muita cautela e de forma
extremamente restrita e priorizando sempre os direitos humanos devendo-se evitar
resultados graves ao excluir pessoas da proteccedilatildeo internacional Portanto passa-se a analisar
mais detalhadamente as situaccedilotildees de exclusatildeo
bull Crimes contra a paz crimes de guerra e crimes contra a humanidade
No que se refere a essa linha de crimes satildeo vaacuterios diplomas internacionais que
disciplinam o assunto quais sejam Convenccedilatildeo de 1948 sobre a Prevenccedilatildeo e Puniccedilatildeo do
Crime de Genociacutedio as Convenccedilotildees de Genebra de 1949 para a Proteccedilatildeo de Viacutetimas de
Guerra (junto com os Protocolos Adicionais de 1977) os Estatutos dos Tribunais Penais
Internacionais para a Ex-Iugoslaacutevia e Ruanda a Carta de Londres e o Estatuto de Roma (que
disciplina o Tribunal Penal Internacional sediado em Haia)51
Entre esses documentos a Carta de Londres que consiste na Carta do Tribunal
Militar Internacional de 1945 conceitua os crimes contra a paz da seguinte maneira
ldquonamely planning preparation initiation or waging of a war of aggression or a war in
violation of international treaties agreements or assurances or participation in a common
plan or conspiracy for the accomplishment of any of the foregoingrdquo52
Portanto atos que envolvam o planejamento preparaccedilatildeo e iniacutecio de guerra que uma
guerra desrespeite disposiccedilotildees internacionais (tratados compromissos acordos etc) ou
alguma conspiraccedilatildeo ou plano para promover quaisquer das situaccedilotildees mencionadas acima
Nota-se entatildeo que tais crimes somente podem ser praticados por autoridades ou pessoas
que possuem cargos importantes em um governo53
Da mesma maneira o supramencionado diploma tambeacutem conceitua os crimes de
guerra como segue
51 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit 52 UNITED NATIONS Charter of the International Military Tribunal 1945 Disponiacutevel em
httpswwwunorgengenocidepreventiondocumentsatrocity-
crimesDoc2_Charter20of20IMT201945pdf Acesso em 21012020 53 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit
24
Namely violations of the laws or custos of war Such violations shall include but
not be limited to murder ill-treatment or deportation to slave labour or for any
other purpose of civilian population of or in occupied territory murder or ill-
treatment of prisoners of war or persons on the seas killing of hostages plunder
of public or private property wanton destruction of cities towns or villages or
devastation not justified by military necessity54
Nesse sentido violaccedilotildees do Direito Internacional Humanitaacuterio podem consistir em
crimes de guerra portanto essa categoria de crimes inclui trabalho escravo tratamento
degradante torturas ataques contra populaccedilatildeo civil sem qualquer propoacutesito maus tratos de
prisioneiros de guerras assassinatos de refeacutens destruiccedilatildeo de cidades ou devastaccedilatildeo natildeo
justificada atraveacutes de uma necessidade militar
Por fim a conceituaccedilatildeo de crimes contra a humanidade na Carta de Londres eacute a
seguinte
Namely murder extermination enslavement deportation and other inhumane
acts committed against any civilian population before or during the war or
persecutions on political racial or religious grounds in execution of or in
connection with any crime within the jurisdiction of the Tribunal whether or not
in violation of the domestic law of the country where perpetrated55
Assim esse tipo de crime deve ser contra a populaccedilatildeo e ocorrer sob a forma de um
ataque generalizado e sistemaacutetico mas natildeo exclui alguma situaccedilatildeo em que um uacutenico ato
possa ser considerado crime contra a humanidade ou seja se este ato consistir em parte de
um sistema ou se faz parte de uma seacuterie de atos sistemaacuteticos e repetitivos 56 No entanto
repete-se o indiviacuteduo natildeo deve ser enviado para local natildeo seguro
bull Graves delitos comuns natildeo-poliacuteticos
Essa categoria trata de crimes graves assim faz-se necessaacuterio analisar a questatildeo da
gravidade ou seja se determinado crime eacute grave o bastante portanto os criteacuterios
internacionais devem predominar perante os criteacuterios locais Nesse aspecto alguns pontos
devem ser analisados como natureza do ato e da pena o dano causado o que foi utilizado
54 UNITED NATIONS Charter of the International Military Tribunal 1945 Op cit 55 Ibidem 56 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit
25
para a praacutetica do crime e o que o crime em questatildeo representa em grande parte dos
ordenamentos juriacutedicos57
Aleacutem do aspecto da gravidade outro ponto faz parte desta categoria de crimes isto
eacute crimes natildeo-poliacuteticos Como o proacuteprio nome jaacute diz satildeo crimes praticados por motivos
particulares portanto o crime natildeo deve ter relaccedilatildeo com motivos poliacuteticos ou pelo menos se
houver algum tipo de motivaccedilatildeo poliacutetica a proporccedilatildeo do objetivo poliacutetico deve ser muito
inferior ao motivo particular58
O dispositivo tambeacutem prevecirc sobre o local e tempo da praacutetica do ato ou seja o crime
deve ter ocorrido fora do paiacutes de refuacutegio e anterior agrave aceitaccedilatildeo do indiviacuteduo no paiacutes de asilo
Assim em situaccedilotildees de que o indiviacuteduo comete um crime no paiacutes de refuacutegio podem correr
o risco de serem expulsos conforme o previsto nos artigos 32 e 33 nordm 2 da Convenccedilatildeo de
195159 No entanto veremos adiante que o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo (previsto no artigo 33
da referida Convenccedilatildeo) natildeo admite reservas ou seja o indiviacuteduo natildeo pode ser repelido isto
eacute enviado de volta para o paiacutes de origem sendo que laacute seria submetido agrave condiccedilotildees
desumanas e degradantes
bull Atos contraacuterios aos objetivos e princiacutepios das Naccedilotildees Unidas
Este dispositivo raramente eacute aplicado pois deve ser interpretado de forma restritiva
Assim na maioria das vezes aplica-se aos casos o previsto nos itens ldquoardquo e ldquobrdquo do dispositivo
A aplicaccedilatildeo deste dispositivo restringe-se em situaccedilotildees pontuais nas quais o ato cometido
afronta os pilares da coexistecircncia da comunidade internacional60
Entatildeo como jaacute visto sobre as Claacuteusulas de Exclusatildeo o ACNUR publicou a Diretriz
Sobre Proteccedilatildeo Internacional nordm5 Neste aspecto tem-se que a razatildeo mais importante das
claacuteusulas de exclusatildeo eacute o impedimento de pessoas que jaacute cometeram atrocidades possam sair
impunes de seus atos atraveacutes do refuacutegio poreacutem como jaacute explicado acima devem ser
57 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit 58 Ibidem 59 Ibidem 60 Ibidem
26
aplicadas de maneira extremamente restritiva de forma que uma pessoa natildeo deve ser enviada
para um local onde teraacute seus direitos humanos violados61
Uma soluccedilatildeo para essa situaccedilatildeo como jaacute mencionado eacute o cumprimento da
penalidade em algum paiacutes seguro ou seja natildeo enviar a pessoa para a tortura ou tratamentos
desumanos ou degradantes poreacutem natildeo deixar a pessoa impune devendo cumprir a sua pena
O instituto do asilo natildeo deve ser requerido com intuito de se esquivar do cumprimento da
pena
Poreacutem natildeo deve deixar o indiviacuteduo em situaccedilatildeo de risco mesmo que tenha cometido
um crime Neste caso propotildee-se a possibilidade de enviar o indiviacuteduo para um outro paiacutes
que natildeo seja colocado em risco Cita-se a Convenccedilatildeo Americana sobre os Direitos Humanos
e a Declaraccedilatildeo de Cartagena como exemplos de que o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo natildeo estaacute
sujeito agrave exceccedilatildeo no contexto dos direitos humanos natildeo haacute possibilidade de limitaccedilatildeo do
mencionado princiacutepio62
Haacute muita discussatildeo a respeito das situaccedilotildees de exceccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo
nesse sentido Bethlehem e Lauterpacht citam as diretrizes para elaboraccedilatildeo da legislaccedilatildeo
nacional realizada por um grupo de pessoas da Organizaccedilatildeo da Unidade Africana (OUA) e
o ACNUR dispotildeem que nenhuma pessoa deve ser rejeitada devolvida expulsa ou submetida
agrave condiccedilotildees que colocam em risco sua integridade fiacutesica ou liberdade Portanto de acordo
com esses documentos natildeo haacute nenhuma restriccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo63
A respeito dessas diretrizes observa-se que a tendecircncia a respeito dessas exceccedilotildees
tem sofrido uma evoluccedilatildeo desde 1951 sendo que se excluiria qualquer tipo de exclusatildeo da
aplicaccedilatildeo da natildeo-repulsatildeo Entatildeo o indiviacuteduo natildeo poderia ser rejeitado eou enviado de volta
para qualquer situaccedilatildeo que colocasse em risco a vida a liberdade ou a integridade fiacutesica
Ressalta-se que na mentalidade dos redatores da Convenccedilatildeo de 1951 haveria a possibilidade
das exclusotildees de aplicaccedilatildeo do non-refoulement mas adotar essa interpretaccedilatildeo atualmente
deixaria este princiacutepio fora de sintonia com os desenvolvimentos mais recentes das
legislaccedilotildees64
61 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit 62 BETHLEHEM Daniel LAUTERPACHT Sir E Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos
Global Consultations on International Protection Part 2 Non-refoulement (Article 33 of the 1951 Convention)
- The scope and content of the principle of non-refoulement Opinion Cambridge Cambridge 2003 63 Ibidem 64 BETHLEHEM Daniel LAUTERPACHT Sir E Op cit
27
A este respeito Bethlehem e Lauterpacht expotildeem suas opiniotildees no sentido de que
as exceccedilotildees previstas no artigo 33 da Convenccedilatildeo de 1951 devem ser limitadas e respeitar o
devido processo legal ou seja segundo eles somente em situaccedilatildeo a respeito de seguranccedila
nacional ou risco ordem puacuteblica que poderia devolverexpulsarrejeitar o indiviacuteduo mas natildeo
deve haver exceccedilatildeo a natildeo-repulsatildeo caso este seja submetido agrave situaccedilotildees degradantes tortura
eou tratamentos crueacuteis pois tal princiacutepio de proteccedilatildeo possui caraacuteter humanitaacuterio Em casos
extremos de aplicaccedilatildeo de alguma exceccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo repulsatildeo eacute de extrema
importacircncia que o Estado adote medidas razoaacuteveis para que o indiviacuteduo seja admitido em
um paiacutes terceiro seguro65
O artigo 33 natildeo identifica quais os atos que configurariam uma ameaccedila agrave seguranccedila
nacional portanto ficaria a cargo de uma margem de apreciaccedilatildeo dos Estados poreacutem esta
apreciaccedilatildeo como jaacute explicado deve ser limitada sendo que deve haver ldquomotivos razoaacuteveisrdquo
para considerar um indiviacuteduo perigoso para a seguranccedila do paiacutes em que estaacute Sendo assim
o Estado natildeo pode agir de forma arbitraacuteria e deve analisar especificamente se haacute um risco
futuro comprovado com evidecircncias66
Entatildeo vimos que a regra eacute a natildeo-repulsatildeo caso se avente a possibilidade de enviar
o indiviacuteduo para outro paiacutes como no caso de cometimento de algum tipo de crime o Estado
deve assegurar que a pessoa natildeo seja enviada para um local em que seus direitos humanos
seratildeo violados No entanto ressalta-se que a concessatildeo de asilo natildeo deve ser realizada com
intuito de fugir das penalidades impostas por comentimento de crimes Em uacuteltimo caso
sugere-se o cumprimento da pena em algum paiacutes seguro entendendo como local seguropaiacutes
seguro onde o indiviacuteduo natildeo teraacute seus direitos humanos baacutesicos violados
f) Cessaccedilatildeo da Condiccedilatildeo de Refugiado
A situaccedilatildeo que se refere este dispositivo eacute quando ocorre a cessaccedilatildeo da condiccedilatildeo de
refugiado sendo este repatriado Assim terminada a condiccedilatildeo que ensejou o indiviacuteduo a
buscar refuacutegio em algum paiacutes cessa a sua condiccedilatildeo de refugiado e portanto o indiviacuteduo
deve retornar ao seu paiacutes de origem Poreacutem esta situaccedilatildeo gera alguns questionamentos que
seratildeo discutidos neste toacutepico
65 BETHLEHEM Daniel LAUTERPACHT Sir E Op cit 66 Ibidem
28
As claacuteusulas de cessaccedilatildeo se originaram a partir da ideia explicada acima assim a
partir destas disposiccedilotildees a condiccedilatildeo de refugiado de diversas pessoas termina
principalmente apoacutes o teacutermino da Guerra Fria por outro lado originou a preocupaccedilatildeo em
ter soluccedilotildees duraacuteveis isto eacute refere-se agraves situaccedilotildees de longa duraccedilatildeo de refugiados e tambeacutem
a questatildeo do repatriamento voluntaacuterio67
O entendimento predominante de acordo com as accedilotildees praticadas pelo ACNUR
pelos Estados e pelas conclusotildees da mesa redonda que ocorreu em Lisboa em 2001 eacute de que
a situaccedilatildeo no paiacutes de origem deve ser relevante ou seja eacute necessaacuterio ser de caraacuteter
fundamental estaacutevel e duraacutevel Aleacutem disso de acordo com as conclusotildees mencionadas
acima eacute importante que se leve em consideraccedilatildeo as questotildees de seguranccedila sustentabilidade
ao retornar e recursos humanos de uma forma geral68
Nesse cenaacuterio destaca-se um ponto importante que eacute a questatildeo das exceccedilotildees agraves
declaraccedilotildees de cessaccedilatildeo Assim havendo razotildees substanciais originadas de perseguiccedilotildees
preacutevias deve-se ponderar a situaccedilatildeo de retornar ao paiacutes de origem Haacute tambeacutem situaccedilotildees em
que o retorno do indiviacuteduo eacute proibido por tratados de direitos humanos pois o refugiado
poderia sofrer algum tipo de dano caso retorne ao seu paiacutes de origem Aleacutem disso tem casos
em que o indiviacuteduo jaacute formou laccedilos consistentes no paiacutes de asilo tendo familiares e
estabilidade econocircmica por exemplo nestes casos o Estado de asilo pode conceder status
de residecircncia69
Sobre essa questatildeo cita-se a Diretiva 200155CE do Conselho de 20 de Julho de
2001 em que dispotildee que nas situaccedilotildees que o procedimento de asilo foi suspenso durante a
proteccedilatildeo temporaacuteria (refuacutegio) eacute reconhecido o direito dos indiviacuteduos requererem o asilo apoacutes
o termino da proteccedilatildeo caso queiram por motivos de perseguiccedilotildees passadas70
Ainda quanto agrave cessaccedilatildeo da condiccedilatildeo de refugiado tem-se que muitos refugiados
procuram a repatriaccedilatildeo voluntariamente assim mesmo com a possibilidade do ACNUR e
dos Estados emitirem declaraccedilotildees a respeito da cessaccedilatildeo da condiccedilatildeo estas natildeo ocorrem de
forma frequente Ademais muitos paiacuteses concedem a permissatildeo de residecircncia mesmo com
67 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 68 Ibidem 69 Ibidem 70 CONSELHO EUROPEU Directiva 200155CE do Conselho de 20 de Julho de 2001 Disponiacutevel em
httpseur-lexeuropaeulegal-contentPTTXTHTMLuri=CELEX32001L0055ampfrom=PT Acesso em
31012020
29
o teacutermino das condiccedilotildees que ensejaram o refuacutegio e favorecem a integraccedilatildeo local e a
naturalizaccedilatildeo71
Contudo eacute importante que a cessaccedilatildeo da condiccedilatildeo de refugiado natildeo seja algo incerto
isto eacute colocar os indiviacuteduos em situaccedilatildeo de inseguranccedila sem saber o que os espera no futuro
Nesse sentido natildeo se deve obrigar as pessoas a retornarem a uma situaccedilatildeo que possa colocaacute-
las em risco ensejando nova fuga e um novo procedimento de reconhecimento como
refugiado Portanto antes de cessar a condiccedilatildeo de um refugiado eacute necessaacuterio de que as
condiccedilotildees no paiacutes de origem tenham se alterado substancialmente e que seja estaacutevel72
Cessar a condiccedilatildeo de refugiado natildeo eacute necessaacuterio consentimento ou algum ato
voluntaacuterio por parte do refugiado assim deve-se analisar com cautela e as claacuteusulas de
cessaccedilatildeo devem ser interpretadas de forma estrita para que natildeo causar consequecircncias graves
pois tal procedimento pode acarretar muitos transtornos na vida do indiviacuteduo como
rompimento de laccedilos familiares relaccedilatildeo de emprego da comunidade onde vivia etc73
Como mencionado acima a mudanccedila da situaccedilatildeo do refugiado deve ter natureza
fundamental ou seja isso significa que o indiviacuteduo natildeo pode mais recusar a proteccedilatildeo do seu
paiacutes de origem pois as mudanccedilas ocorridas fizeram com que cessassem as circunstacircncias
que originaram a situaccedilatildeo de refugiado Portanto considera-se cessaccedilatildeo das circunstacircncias
quando ocorre o fim dos confrontos alteraccedilatildeo completa da situaccedilatildeo poliacutetica estabilidade e
situaccedilatildeo de paz ressalta-se que aleacutem das mudanccedilas a mudanccedila deve ser estaacutevel
consolidada74
g) Unidade familiar
No que tange a unidade familiar na questatildeo dos refugiados o reagrupamento familiar
eacute o ponto principal para implementaccedilatildeo do mencionado direito tendo em vista que
considera-se a unidade familiar eacute considerada um direito essencial do refugiado pois
independente do status eacute um direito humano internacional e humanitaacuterio sendo aplicaacutevel a
todos os seres humanos Assim a famiacutelia do refugiado tambeacutem recebe o mesmo status
71 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit 72 Ibidem 73 Ibidem 74 Ibidem
30
portanto chama-se de ldquostatus derivadordquo possuindo os mesmos direitos que qualquer outro
indiviacuteduo considerado ldquorefugiadordquo75
Deve-se analisar caso a caso sobre a existecircncia ou natildeo de uma famiacutelia devendo levar
em consideraccedilatildeo questotildees culturais dependecircncia econocircmica e emocional dos indiviacuteduos
Nesse sentido considera-se ldquofamiacuteliardquo pelo menos os cocircnjuges e filhos menores76
h) Responsabilidade de supervisatildeo da ACNUR
O livro ldquoRefugee Protection in International Lawrdquo coloca como um dos pontos mais
importantes na questatildeo da proteccedilatildeo internacional dos refugiados a supervisatildeo do ACNUR
tendo por base os artigos 35 da Convenccedilatildeo de 1951 e o II do Protocolo de 1967 Nesse
sentido o ACNUR tem como funccedilatildeo baacutesica monitorar as accedilotildees dos Estados bem como
analisar e intervir quando for necessaacuteria a correccedilatildeo de alguma situaccedilatildeo77
Para exemplificar o assunto deste toacutepico tem-se que as diretrizes elaboradas pelo
ACNUR (algumas jaacute comentadas em toacutepicos anteriores) orientam os Estados aconselhando
as autoridades oacutergatildeos e tribunais a respeito da aplicaccedilatildeo dos diplomas internacionais a
respeito dos refugiados78
Dessa forma o ACNUR atua em diversos paiacuteses no mundo em prol do direito dos
refugiados promovendo ajuda aos migrantes orientando-os quanto aos seus direitos bem
como atuando em procedimentos judiciais na defesa desses direitos Aleacutem de orientaccedilotildees
sobre quais paiacuteses satildeo seguros ou natildeo em casos de envio dos migrantes como veremos no
uacutetltimo capiacutetulo no caso Sharifi versus Aacuteustria em que o ACNUR demonstrou que a Greacutecia
natildeo era um bom lugar para enviar o migrante de volta
13 O Princiacutepio Non-Refoulement como Norma Jus Cogens e a Responsabilidade
do Estado por Atos Iliacutecitos
No presente item em um primeiro momento traz a ideia do Princiacutepio Non-
Refoulement posteriormente fala-se sobre o que satildeo as normas jus cogens e por fim a
75 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 76 Ibidem 77 Ibidem 78 Ibidem
31
responsabilidade internacional dos Estados tendo por fundamento os Draft Articles
apresentados na 53ordf sessatildeo da Comissatildeo de Direito Internacional na ONU Depois desse
desenvolvimento traz-se a ideia de o princiacutepio non-refoulement como norma jus cogens e
portanto sua violaccedilatildeo configuraria responsabilidade civil do Estado
131 Princiacutepio de Non-Refoulement
Em linhas gerais este princiacutepio do Direito Internacional da natildeo-repulsatildeo disciplina
que o refugiado natildeo pode ser devolvido ao seu paiacutes de origem enquanto perdurar a crise
Vejamos
Art 33 - Proibiccedilatildeo de expulsatildeo ou de rechaccedilo 1 Nenhum dos Estados Contratantes
expulsaraacute ou rechaccedilaraacute de maneira alguma um refugiado para as fronteiras dos
territoacuterios em que a sua vida ou a sua liberdade seja ameaccedilada em virtude da sua
raccedila da sua religiatildeo da sua nacionalidade do grupo social a que pertence ou das
suas opiniotildees poliacuteticas 2 O benefiacutecio da presente disposiccedilatildeo natildeo poderaacute todavia
ser invocado por um refugiado que por motivos seacuterios seja considerado um perigo
para a seguranccedila do paiacutes no qual ele se encontre ou que tendo sido condenado
definitivamente por crime ou delito particularmente grave constitui ameaccedila para
a comunidade do referido paiacutes79
Como visto o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo consta no artigo 33 da Convenccedilatildeo de 1951
e tambeacutem consiste em um princiacutepio do direito internacional consuetudinaacuterio assim como
afirmou a Declaraccedilatildeo Ministerial que ocorreu em 2001 Dessa forma os Estados satildeo
responsaacuteveis por suas accedilotildees tais como reagrupamentos praacuteticas de interceptaccedilatildeo rejeiccedilatildeo
na fronteira ou repulsatildeo indireta Assim discutiu-se sobre a natildeo-repulsatildeo na Comissatildeo de
Direito Internacional das Naccedilotildees Unidas que ocorreu em 31 de maio de 2001 e aprovados
pela Assembleia Geral restando claro que os Estados satildeo responsaacuteveis pelas accedilotildees de
repulsatildeo80
No mesmo sentido o artigo 3ordm da Declaraccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Asilo
Territorial tambeacutem haacute a previsatildeo do princiacutepio non-refoulement assim faz referecircncia ao
79 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951 Op
cit 80 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit
32
primeiro artigo do mesmo documento em que estabelece a possibilidade da concessatildeo de
asilo com base no artigo 14 da Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem81
A proibiccedilatildeo da natildeo-repulsatildeo deve ser aplicada de forma ampla no entanto os atos
relativos agrave rejeiccedilatildeorepulsatildeo de pessoas ocorrem geralmente nos locais de fronteiras isto eacute
distante da visatildeo puacuteblica aleacutem disso o princiacutepio em questatildeo deve ser aplicadorespeitado
inclusive em alto mar e zonas internacionais Considera-se tortura ou tratamentopuniccedilatildeo
desumana eou degradante devolver um indiviacuteduo a um lugar no qual sofre algum tipo de
perseguiccedilatildeo ou ateacute mesmo ameaccedila de perseguiccedilatildeo82 destacando que o princiacutepio da natildeo-
repulsatildeo deve ser analisado juntamente com o artigo 3ordm da CEDH
De uma forma geral natildeo haacute limitaccedilatildeo ou exceccedilatildeo a esse princiacutepio poreacutem em
situaccedilotildees de repelir um indiviacuteduo enviando-o de volta para outro local soacute eacute ldquopermitidardquo
quando houver motivos significantes que afetam a seguranccedila nacional ou a seguranccedila
puacuteblica devendo sempre ter em mente que o indiacuteviduo em hipoacutetese alguma pode ser
enviado para locais natildeo seguros ou seja que tenham seus direitos humanos violados
Apoacutes os atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos os paiacuteses ficaram
mais atentos com a seguranccedila e portanto adotaram controles mais rigorosos de fronteiras
para tentar minimizar as entradas ilegais Mas ao mesmo tempo era necessaacuterio que
garantissem agrave proteccedilatildeo daqueles que desejassem a proteccedilatildeo internacional para os
refugiados83
A amplitude deste princiacutepio abrange inclusive casos de extradiccedilatildeo assim em
situaccedilatildeo que o paiacutes de origem insista na extradiccedilatildeo de uma pessoa que cometeu crime e a
extradiccedilatildeo configurar retorno agrave situaccedilatildeo de perseguiccedilatildeo a acusaccedilatildeo e o processo devem
correr no paiacutes que concedeu o asilo Portanto a Convenccedilatildeo de 1951 natildeo se trata de um
documento para impedir extradiccedilatildeo poreacutem se o status do indiviacuteduo for de refugiado tais
obrigaccedilotildees satildeo do Estado extraditante84 ou seja o indiacuteviduo natildeo deve ser extraditado para
local onde corra o risco de ser submetido agrave tortura e nesse caso o paiacutes de asilo que deve ser
responsaacutevel pelo cumprimento da pena eou processo criminal se for o caso
81 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Declaraccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas Sobre o Asilo Territorial 1967
Disponiacutevel
httpswwwacnurorgfileadminDocumentosportuguesBD_LegalInstrumentos_InternacionaisDeclaracao
_ONU_Asilo_Territorialpdffile=fileadminDocumentosportuguesBD_LegalInstrumentos_Internacionais
Declaracao_ONU_Asilo_Territorial Acesso em 09032020 82 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 83 Ibidem 84 Ibidem
33
Nesse sentido vimos que no item 2 do artigo 33 da Convenccedilatildeo de 1951 consta uma
exceccedilatildeo ao princiacutepio do non-refoulement ou seja este princiacutepio natildeo poderia ser invocado
por um refugiado que possa configurar uma ameaccedila agrave seguranccedila do paiacutes em que estaacute ou que
tenha condenaccedilatildeo por crime ou delito grave que possa consistir em uma ameaccedila para o paiacutes
de asilo85 no entanto em caso de repulsatildeo o Estado deveraacute analisar as condiccedilotildees do paiacutes de
destino natildeo se admite que envie pessoas para locais natildeo seguros
O artigo 32 dispotildee sobre a expulsatildeo e no item 2 disciplina que a possibilidade de
expulsatildeo deve ser realizada com base no devido processo legal como segue
A expulsatildeo desse refugiado somente ocorreraacute em virtude de decisatildeo proferida
conforme o processo previsto por lei A natildeo ser que a isso se oponham razotildees
imperiosas de seguranccedila nacional o refugiado deveraacute ter permissatildeo de fornecer
provas que o justifiquem de apresentar um recurso e de se fazer representar para
esse fim perante uma autoridade competente ou perante uma ou vaacuterias pessoas
especialmente designadas pela autoridade competente86
Dessa forma menciona-se o julgamento Suresh versus Canada da Corte Superior
Canadense em 2002 em que o ACNUR argumentou que a Convenccedilatildeo de 1951 natildeo deve ser
usada para negaccedilatildeo de direitos e do direito internacional de forma geral rejeita a tortura
mesmo em situaccedilotildees de perigo para a seguranccedila nacional O entendimento da Corte era de
que enviar uma pessoa de volta ao perigo constitui em infraccedilatildeo agraves normas internacionais
Assim de acordo com a jurisprudecircncia internacional enviar algueacutem agrave tortura eacute de extrema
gravidade que de qualquer forma seraacute desproporcional agraves questotildees relativas agrave seguranccedila
nacional87
Nesse sentido a Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (CEDH) em seu artigo
3ordm disciplina a proibiccedilatildeo agrave tortura como segue ldquoNingueacutem pode ser submetido a torturas
nem a penas ou tratamentos desumanos ou degradantesrdquo88 Dessa forma um indiviacuteduo natildeo
deve ser devolvido ao seu paiacutes de origem quando houver risco de tortura tratamento
desumano ou degradante ou submetido agrave pena de morte de acordo o Protocolo nordm 6 da
CEDH89
85 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951 Op
cit 86 Ibidem 87 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 88 CONSELHO DA EUROPA Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (CEDH) Disponiacutevel em
httpswwwechrcoeintDocumentsConvention_PORpdf Acesso em 13012020 89 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit
34
A respeito do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo Bethlehem e Lauterpacht expressaram suas
opiniotildees no sentido de que este princiacutepio consiste em um princiacutepio geral do direito
internacional consuetudinaacuterio Assim considera-se que a natildeo-repulsatildeo eacute um componente
imprescindiacutevel da lei internacional consuetudinaacuteria principalmente nas questotildees
humanitaacuterias que envolvem a proibiccedilatildeo da tortura e tratamentos crueacuteis degradantes e
desumanos90
Portanto considera-se que o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo natildeo permite limitaccedilatildeo ou
exceccedilatildeo pois trata-se de um princiacutepio internacional costumeiro de direitos humanos e
considera que natildeo se deve rejeitardevolver ou expulsar algueacutem colocando em risco sua vida
e integridade fiacutesica sendo submetido agrave tortura tratamento desumano e degradante Assim
eacute atribuiacuteda ao Estado a valoraccedilatildeo da natildeo-repulsatildeo e este deve agir de acordo com as
obrigaccedilotildees internacionais tendo por base as normas a respeito da responsabilidade do Estado
Ressalta-se que haacute uma tendecircncia contra exceccedilotildees em princiacutepios baacutesicos de direitos
humanos entatildeo as exceccedilotildees devem ser interpretadas de maneira restritiva e sendo o uacuteltimo
recurso lembrando que natildeo haacute exceccedilatildeo a este princiacutepio quando desrespeitar os direitos
humanos baacutesicos dos indiviacuteduos91
Nesse aspecto tem-se que haacute colisatildeo de interesses no que tange a proteccedilatildeo dos
refugiados pois os Estados tendem a defender seu territoacuterio atraveacutes do controle de imigraccedilatildeo
ilegal Dessa forma a fiscalizaccedilatildeo nas fronteiras como por exemplo nos aeroportos os
refugiados desembarcam junto com as requisiccedilotildees de asilo e muitas vezes ocorre o reenvio
para o paiacutes de origem (para situaccedilotildees de perseguiccedilatildeo) devido o impedimento dos requerentes
de asilo acessar o processo para se enquadrar na situaccedilatildeo de refugiado e requerer tal
proteccedilatildeo92
Haacute tambeacutem a situaccedilatildeo chamada de ldquorefoulement indiretordquo que consiste na ideia de
um outro paiacutes (terceiro) acolher o requerente de asilo poreacutem essa situaccedilatildeo pode levar a
deixar os refugiados ldquoem oacuterbitardquo ou seja natildeo encontra algum Estado que admite a
competecircncia para a anaacutelise do pedido de asilo aleacutem disso pode ocorrer o envio dos
refugiados para Estados em que natildeo haacute garantias de que estes natildeo vatildeo ser reenviados para o
seu paiacutes de origem93
90 BETHLEHEM Daniel LAUTERPACHT Sir E Op cit 91 Ibidem 92 CIERCO Teresa Op cit 93 Ibidem
35
Devido agrave importacircncia desse princiacutepio mais a frente seraacute necessaacuteria uma nova
abordagem aprofundando o assunto e encaminhando para a discussatildeo referente agrave natildeo-
repulsatildeo juntamente com o direito do mar ou seja sobre as pessoas que satildeo encontradas em
perigo no mar e a proibiccedilatildeo de repulsatildeo destas
132 Normas Jus Cogens
O artigo 53 da Convenccedilatildeo de Viena sobre o Direito dos Tratados encontramos a
definiccedilatildeo de norma jus cogens
Artigo 53ordm Tratados incompatiacuteveis com uma norma imperativa de direito
internacional geral (jus cogens) Eacute nulo todo o tratado que no momento da sua
conclusatildeo seja incompatiacutevel com uma norma imperativa de direito internacional
geral Para os efeitos da presente Convenccedilatildeo uma norma imperativa de direito
internacional geral eacute uma norma aceite e reconhecida pela comunidade
internacional dos Estados no seu todo como norma cuja derrogaccedilatildeo natildeo eacute
permitida e que soacute pode ser modificada por uma nova norma de direito
internacional geral com a mesma natureza94 (grifo nosso)
O trecho destacado demonstra a relevacircncia de uma norma jus cogens para o direito
internacional tendo em vista que uma norma dessa natureza apenas poderaacute ser modificada
por outra que tenha o mesmo status ou seja somente uma norma jus cogens pode alterar
uma norma jus cogens jaacute em vigor
Aleacutem disso confirmando a supremacia das normas jus cogens o artigo 64 da
Convenccedilatildeo de Viena traz a seguinte redaccedilatildeo ldquoSuperveniecircncia de uma norma imperativa de
direito internacional geral (jus cogens) - Se sobrevier uma nova norma imperativa de direito
internacional geral qualquer tratado existente que seja incompatiacutevel com essa norma torna-
se nulo e cessa a sua vigecircnciardquo95 Assim ao surgir uma nova norma jus cogens contrariando
algum tratado este deixaraacute de ter valor
Quando falamos que uma norma jus cogens eacute imperativa estamos diante de uma
redundacircncia tendo em vista que as normas de direito internacional satildeo obrigatoacuterias por si
soacute isto eacute no que se refere agrave obrigatoriedade tem-se que eacute intriacutenseca agraves normas dessa
94 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo de Viena sobre o Direito dos Tratados Disponiacutevel
em httpgddcministeriopublicoptsitesdefaultfilesdocumentosinstrumentosrar67-2003pdf Acesso em
11092020 95 Ibidem
36
natureza Sendo assim podemos falar que uma norma jus cogens limita a liberdade dos
Estados96
Entatildeo no que se refere agraves normas jus cogens temos que
Todas essas noccedilotildees ndash direito internacional geral ou mesmo universal obrigaccedilotildees
erga omnes crimes de direito internacional ou graves violaccedilotildees de obrigaccedilotildees
essenciais uma constituiccedilatildeo para a sociedade internacional a ordem puacuteblica
internacional e de modo mais geral a questatildeo da hierarquia normativa ndash
encontram-se de algum modo conectadas a um conceito central do direito
internacional contemporacircneo o jus cogens97
As normas jus cogens portanto satildeo imperativas e inderrogaacuteveis isto eacute satildeo
obrigatoacuterias e natildeo aceitam supressatildeo ou que sejam abolidas de alguma forma Assim as
normas dessa natureza jus cogens satildeo de notaacutevel importacircncia98
No que se refere agrave hierarquia dessas normas conclui-se que elas satildeo de elevada
importacircncia e obrigatoacuterias poreacutem natildeo haacute uma ideia soacutelida sobre suas origens Haacute quem
entenda que as normas jus cogens foram originadas a partir do costume internacional99
Um sistema normativo internacional deve consistir em uma unidade portanto
uniforme Neste aspecto natildeo importa a origem ou objeto de uma norma internacional todas
satildeo colocadas em um mesmo patamar Mas essa ideia eacute ofuscada pelo conceito da teoria das
normas jus cogens bem como pela diferenciaccedilatildeo entre crimes internacionais e delitos
internacionais100
Nesse aspecto pode-se aventar a nulidade de tratados quando houver normas
contraacuterias agraves normas internacionais superiores Entatildeo tendo em vista que a teoria jus cogens
diferencia as regras gerais de direito internacional e de uma categoria especiacuteficas sendo
normas de ldquocuacutepulardquo isto eacute consistem em normas de elite no direito internacional101 Assim
um tratado pode ser anulado em casos de contradiccedilatildeo com as normas jus cogens
Assim notamos uma diferenciaccedilatildeo entre os regimes de responsabilidade
internacional A Comissatildeo de Direito Internacional trouxe a seguinte redaccedilatildeo no artigo 19
96 RODAS Joatildeo G Jus Cogens em Direito Internacional Disponiacutevel em
wwwrevistasuspbrrfdusparticleviewFile6673669346 Acesso em 11092020 97 NASSER Salem H Jus Cogens Ainda esse Desconhecido Disponiacutevel em
httpbibliotecadigitalfgvbrojsindexphprevdireitogvarticleview3523334033 Acesso em 12092020 98 Ibidem 99 Ibidem 100 WEIL Prosper Towards relative normativity in international law The American Journal of International
Law Vol 77 nordm 3 (julho de 1983) p 413 ndash 442 Disponiacutevel em
httpswwwcambridgeorgcorejournalsamerican-journal-of-international-lawarticletowards-relative-
normativity-in-international-lawD494CB41D732291285CBC9F5424FF11C Acesso em 10092020 101 Ibidem
37
dos Draft Articles ldquoThis chapter is without prejudice to the international responsibility
under other provisions of these articles of the State which commits the act in question or of
any other Staterdquo102 Nos comentaacuterios dos Draft Articles estatildeo os propoacutesitos do artigo citado
entatildeo a finalidade do artigo eacute a preservaccedilatildeo da responsabilidade do Estado que tenha
cometido ato internacionalmente iliacutecito103
Nesse sentido o entendimento de Prosper Weil eacute de que artigo citado acima tem o
intuito de diferenciar algumas obrigaccedilotildees internacionais essenciais aos interesses
fundamentais da comunidade internacional que a ocorrecircncia de violaccedilatildeo dessas obrigaccedilotildees
deve ser interpretada como um crime internacional sendo assim com gravidade maior Jaacute a
violaccedilatildeo de todas as outras obrigaccedilotildees internacionais constituiria somente em um delito
internacional Podemos entender essa ideia no trecho abaixo
Here again international norms are divided into two categories at the summit
the few that create obligations ldquothe observance of which is of fundamental
importance to the international community as a wholerdquo then below them the
great mass of norms that create obligations ldquoof lesser and less general
importancerdquo104
Assim nota-se a divisatildeo das normas internacionais as de elitecuacutepula (aquelas que a
observacircncia eacute fundamental para comunidade internacional) e as normas gerais (de menor
importacircncia)
A este respeito faz-se necessaacuterio um parecircntese o Tribunal Internacional de Justiccedila
tem o entendimento de que um Estado tem obrigaccedilotildees perante a comunidade internacional
mas o que seria essa comunidade internacional Ela eacute formada pelos Estados natildeo
necessariamente todos os Estados do mundo mas um conjunto destes para que se forme o
reconhecimento da comunidade internacional Desse ponto podemos dizer que uma norma
eacute hierarquicamente superior quando ela eacute reconhecida por todos os entes essenciais da
comunidade internacional Ou seja uma ldquosupernormardquo eacute oponiacutevel a todos os Estado105
No que se refere agrave hierarquia das normas no direito internacional o professor Jocircnatas
Machado diz
102 UNITED NATIONS Draft articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful Acts with
commentaries Disponiacutevel em httplegalunorgilctextsinstrumentsenglishcommentaries9_6_2001pdf
Acesso em 11092020 103 Ibidem 104 WEIL Prosper Op cit 105 Ibidem
38
No entanto outras linhas argumentativas apoiam-se no valor universal da
manutenccedilatildeo da paz constante na Carta da ONU chamam a atenccedilatildeo para o
desenvolvimento da ideia de ius cogens superior agrave vontade dos Estados ou mais
recentemente procuram afirmar o primado do indiviacuteduo em face da soberania
estadual106
Do exposto as normas jus cogens eacute superior agrave vontade dos Estados tendo em vista
que o indiviacuteduo eacute prevalente perante a soberania de um determinado Estado Tal fato se deve
porque essas normas satildeo ldquosuperioresrdquo com base em fundamentos de legitimidade ou seja
dignidade da pessoa humana direito justiccedila etc referem-se a valores que comunidade
internacional coloca em patamar superior ao consentimento dos Estados107
A este respeito Jocircnatas Machado entende que haacute trecircs teses na doutrina maximalistas
intermeacutedias e minimalistas As maximalistas referem-se ao direito internacional dos direitos
humanos de modo geral ou seja todas satildeo normas jus cogens as intermeacutedias consistem num
niacutevel intermediaacuterio e dispotildeem que apenas o nuacutecleo essencial dos direitos humanos eacute
considerado jus cogens e a tese minimalista dispotildee que se trata de jus cogens se a violaccedilatildeo
das normas de direitos humanos consistirem em um crime internacional108
Do exposto acima podemos entender que as normas jus cogens consistem em normas
imperativas no direito internacional sendo portanto obrigaccedilotildees erga omnes Entatildeo natildeo haacute
rol taxativo de quais satildeo essas normas no entanto podemos dizer que se a violaccedilatildeo de uma
norma internacional configurar um crime internacional ou seja pirataria escravidatildeo
genociacutedio crimes de guerra e os crimes contra a humanidade essa violaccedilatildeo consiste em
violaccedilatildeo de uma norma jus cogens Assim de uma forma gera podemos dizer que a proteccedilatildeo
dos direitos fundamentais refere-se agraves normas jus cogens109
133 Responsabilidade Internacional dos Estados
O conceito de responsabilidade internacional dos Estados se baseia nos conceitos de
soberania internacional e capacidade juriacutedica internacional Ademais a ideia de
responsabilidade internacional do Estado consiste em uma garantia da legalidade
106 MACHADO Joacutenatas E M Direito Internacional 4ordf ediccedilatildeo Coimbra Coimbra Editora 2013 p 141 107 Ibidem 108 Ibidem 109 Ibidem
39
internacional isto eacute no que se refere agrave violaccedilatildeo de bens que satildeo internacionalmente
protegidos que essa garantia eacute necessaacuteria para promoccedilatildeo da proteccedilatildeo de direitos110
Tem-se que a responsabilidade internacional deve se basear nos princiacutepios da
igualdade e da reciprocidade de direitos e deveres A este respeito o Professor Joacutenatas
Machado diz
Podem incorrer em responsabilidade internacional quaisquer sujeitos de direito
internacional por danos causados a qualquer sujeito de direito internacional ou agrave
comunidade internacional globalmente considerada A responsabilidade dos
Estados eacute apenas um subtema da responsabilidade internacional em geral111
O Professor Francisco Ferreira de Almeida em um primeiro momento diferencia
normas primaacuterias e secundaacuterias entatildeo as primaacuterias satildeo ldquoobrigaccedilotildees de conduta para os
destinataacuteriosrdquo e as secundaacuterias ldquofixar as particulares consequecircncias juriacutedicas que se ligam agrave
violaccedilatildeo das normas primaacuteriasrdquo Entatildeo podemos afirmar que haacute normas de condutas a serem
seguidas sendo portanto normas primaacuterias no entanto na situaccedilatildeo de violaccedilatildeo destas
falamos das sanccedilotildees que consistem nas normas secundaacuterias112
Assim no que tange agrave responsabilidade internacional do Estado por atos iliacutecitos
devemos ter em mente em um primeiro momento sobre o que seria um ato
internacionalmente iliacutecito que resulta na responsabilidade internacional subjetiva Entatildeo
entende-se como ato iliacutecito uma accedilatildeo ou omissatildeo que infrinja uma obrigaccedilatildeo
internacional113
Complementando a ideia o Professor Francisco Ferreira de Almeida dispotildee
Daqui resulta pois ser necessaacuterio em segundo lugar demonstrar o nexo de
imputaccedilatildeo do referido facto iliacutecito ao Estado Isto eacute o comportamento em causa
deveraacute ser atribuiacutedo ao Estado por haver sido adoptado por pessoas ou oacutergatildeos que
o representam e estatildeo por consequecircncia sob sua autoridade efectiva Pouco
importam aliaacutes a natureza (individual ou colectiva centralizada ou
descentralizada etc) desses oacutergatildeos e bem assim o caraacuteter (vg legislativo
judicial ou executivo) das funccedilotildees ou actividades do agente ou agentes
infractores114
110 MACHADO Joacutenatas E M Direito Internacional Op cit 111 Ibidem p 630 112 ALMEIDA Francisco F Direito Internacional Puacuteblico 2ordf ediccedilatildeo Coimbra Coimbra Editora 2003 p 226 113 Ibidem 114 Ibidem p 226227
40
Diante disto nota-se que o Estado tem responsabilidade pelos atos praticados pelos
seus oacutergatildeos ou agentes que estejam sob sua supervisatildeo Ademais eacute necessaacuteria a ocorrecircncia
de danos para que um Estado seja responsaacutevel internacionalmente natildeo importando se os
danos causados satildeo morais ou materiais necessaacuterio apenas a ocorrecircncia Portanto exige-se
o nexo causal entre a accedilatildeo do Estado e o dano causado115
No que se refere agrave responsabilidade do Estado Pinto de Albuquerque ex-juiz do
TEDH leciona que a jurisdiccedilatildeo do Estado no que tange imigraccedilatildeo e controle de fronteiras
implica que em caso de quaisquer violaccedilotildees dos direitos humanos haacute a responsabilidade do
Estado durante o referido controle e mencionou a Resoluccedilatildeo 5683 de 2001 sobre a
Responsabilidade do Estado por Atos Internacionalmente Iliacutecitos116
Assim o artigo 8ordm da referida Resoluccedilatildeo visa que o Estado eacute responsaacutevel pela conduta
dos seus agentes pois agem sob suas instruccedilotildees Como segue ldquoThe conduct of a person or
group of persons shall be considered an act of a State under international law if the person
or group of persons is in fact acting on the instructions of or under the direction or control
of that State in carrying out the conductrdquo117
No mesmo sentido poreacutem em situaccedilatildeo de Estados auxiliando outro o artigo 16 do
mesmo documento traz a seguinte redaccedilatildeo
A State which aids or assists another State in the commission of an internationally
wrongful act by the latter is internationally responsible for doing so if (a) that
State does so with knowledge of the circumstances of the internationally wrongful
act and (b) the act would be internationally wrongful if committed by that State118
Portanto um Estado que age em assistecircncia a outro e comete algum ato
internacionalmente iliacutecito o Estado que recebe a assistecircncia eacute responsaacutevel tambeacutem se souber
da ilicitude do ato e o ato ser cometido pelo Estado em questatildeo No que se refere agrave
responsabilidade do Estado esse artigo traz a ideia de um Estado auxiliar ser responsaacutevel
por atos iliacutecitos de outro Estado ou seja uma situaccedilatildeo de cumplicidade entre os estados
Assim nos comentaacuterios dos Drafts Articles tem-se a suposiccedilatildeo de que o Estado auxiliar
tenha uma importante participaccedilatildeo no ato neste aspecto o fornecimento de auxiacutelio
115 ALMEIDA Francisco F Direito Internacional Puacuteblico Op cit 116 EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Hirsi Jamaa and others v Italy Application no
2776509 Disponiacutevel em httphudocechrcoeintspai=001-109231 Acesso em 16092020 117 UNITED NATIONS Draft articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful Acts with
commentaries Op cit 118 Ibidem
41
financeiro e teacutecnico por um Estado pode ser considerada uma importante contribuiccedilatildeo para
o ato Ou seja no uacuteltimo capiacutetulo veremos entre outros casos algumas situaccedilotildees a respeito
da situaccedilatildeo entre Itaacutelia e Liacutebia e portanto analisando a responsabilidade da Itaacutelia perante as
repulsotildees realizadas pela Guarda Costeira Liacutebia sob subsiacutedios italianos
O artigo 16 mencionado acima traz dois requisitos para ser configurada a
responsabilidade do Estado auxiliar o primeiro eacute a ldquoconsciecircnciardquo da ilicitude do ato pelo
Estado auxiliar o segundo eacute que a conduta iliacutecita deve ser considerada violaccedilatildeo para os dois
paiacuteses Entatildeo uma violaccedilatildeo dos direitos humanos a proibiccedilatildeo da tortura por exemplo eacute
uma norma consuetudinaacuteria e portanto a conduta eacute iliacutecita para todos os Estados
Na mesma linha de raciociacutenio o artigo 41 nordm 2 dos Drafts Articles traz que ldquoNo
State shall recognize as lawful a situation created by a serious breach within the meaning
of article 40 nor render aid or assistance in maintaining that situationrdquo ou seja nenhum
Estado pode reconhecer como conduta legal uma grave violaccedilatildeo e tambeacutem natildeo deve prestar
auxiacutelio para manter a situaccedilatildeo gravosa119
A atenccedilatildeo referente agrave responsabilidade internacional do Estado ganhou espaccedilo a
depois do ano de 1956 momento em que a Comissatildeo de Direito Internacional (CDI) da ONU
voltou seus olhares agrave responsabilidade internacional do Estado perante aos cidadatildeos Neste
aspecto a questatildeo era se a responsabilidade internacional do Estado consistia ldquoapenas
civilmente por delitos internacionais civilmente para crimes internacionais ou
criminalmente para crimes internacionaisrdquo120
Destarte em 2001 a 53ordf sessatildeo da Comissatildeo de Direito Internacional da ONU previu
artigos a respeito da responsabilidade do Estado por atos iliacutecitos internacionais121 Entatildeo no
segundo artigo do documento originado desta sessatildeo encontramos o seguinte
Article 2 Elements of an internationally wrongful act of a State
There is an internationally wrongful act of a State when conduct consisting of an
action or omission (a) is attributable to the State under international law and
(b) constitutes a breach of an international obligation of the State122
119 UNITED NATIONS Draft articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful Acts with
commentaries Op cit 120 MACHADO Joacutenatas E M Direito Internacional Op cit p 633 121 Ibidem 122 UNITED NATIONS Draft articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful Acts with
commentaries Op cit
42
Do artigo acima um ato internacionalmente iliacutecito quando praticado por um Estado
tem duas formas de ser cometido por accedilatildeo ou omissatildeo ou seja quando se refere agrave situaccedilotildees
atribuiacutedas ao Estado pela lei internacional ou quando houver uma violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees
internacionais pelo Estado Veremos entatildeo mais adiante que a questatildeo de natildeo resgate no
mar das pessoas em agonia pode consistir em um ato iliacutecito do Estado caso este natildeo preste
socorro agraves viacutetimas
A previsatildeo no Customary International Humanitarian Law na regra nuacutemero 150
encontramos a seguinte redaccedilatildeo ldquoA State responsible for violations of international
humanitarian law is required to make full reparation for the loss or injury causedrdquo123
portanto o mencionado documento dispotildee que reparar o dano causado eacute uma regra antiga
no direito internacional consuetudinaacuterio
No mesmo sentido o artigo 91 do Protocolo Adicional I agrave Convenccedilatildeo de Genebra124
de 1949 dispotildee sobre a responsabilidade do Estado disciplinando no sentido de que um
Estado que infringir o previsto na Convenccedilatildeo tem o dever de compensar os danos causados
Como podemos confirmar no seguinte trecho ldquoA Party to the conflict which violates the
provisions of the Conventions or of this Protocol shall if the case demands be liable to pay
compensation It shall be responsible for all acts committed by persons forming part of its
armed forcesrdquo125
Portanto um Estado ao violar o direito humanitaacuterio tem o dever de indenizar
Ademais nos dispositivos a respeito da responsabilidade do Estado consta que a restituiccedilatildeo
se trata de um princiacutepio legal mas nem sempre eacute possiacutevel ou adequado ao caso a este
respeito entende-se que o papel da compensaccedilatildeo eacute o preenchimento das lacunas a fim de
assegurar a reparaccedilatildeo integral dos danos causados Assim a obrigaccedilatildeo de compensar os
danos causados por violaccedilatildeo ao direito internacional humanitaacuterio foi ratificada por diversos
diplomas oficiais bem como pelo Conselho de Seguranccedila da ONU126 No entanto sabe-se
123 INTERNATIONAL COMMITTEE OF THE RED CROSS Customary International Humanitarian Law ndash
Volume I Rules Disponiacutevel httpswwwicrcorgendocassetsfilesothercustomary-international-
humanitarian-law-i-icrc-engpdf Acesso em 11092020 124 A Convenccedilatildeo de Genebra de 1949 levou em consideraccedilatildeo os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial
abordando a proteccedilatildeo geral das populaccedilotildees contra certas consequecircncias da guerra 125 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Protocolo Adicional I da Convenccedilatildeo de Genebra de 1949
Disponiacutevel em httpsihl-
databasesicrcorgapplicihlihlnsfArticlexspaction=openDocumentampdocumentId=F461FC196C18A52D
C12563CD0051E2AC Acesso em 11092020 126 INTERNATIONAL COMMITTEE OF THE RED CROSS Customary International Humanitarian Law ndash
Volume I Rules Op cit
43
que dependendo da gravidade do dano moral causado natildeo importa o valor da indenizaccedilatildeo
pois muitas vezes satildeo danos de impossiacutevel reparaccedilatildeo poreacutem o um valor indenizatoacuterio justo
pode fazer com que o sofrimento seja amenizado
134 Teorias a Respeito da Responsabilidade Internacional dos Estados
Nesse aspecto o Professor Jocircnatas Machado dispotildee a respeito de diversas teorias a
respeito da responsabilidade internacional do Estado quais sejam tese da responsabilidade
sui generis tese dos iliacutecitos excepcionalmente graves tese dos crimes de Estado e tese dos
crimes e delitos
A primeira traz posicionamento contraacuterio ao entendimento de que o Estado possa
cometer um ldquocrime internacionalrdquo porque o cometimento de crime seria apenas
responsabilidade de indiviacuteduos e natildeo de um Estado entatildeo esta teoria leva em conta quais
normas foram violadas e verificar os pontos de vista a respeito da responsabilidade do Estado
e encontrar a melhor soluccedilatildeo natildeo devendo portanto ultrapassar os limites de
responsabilidade civil ou criminal consistindo em uma responsabilidade sui generis127
A tese dos iliacutecitos excepcionalmente graves segue no mesmo sentido da ideia da
teoria anterior mas entende ser correta a expressatildeo ldquoatos iliacutecitos excepcionalmente gravesrdquo
a fim de natildeo diferenciar ldquodelitosrdquo e ldquocrimesrdquo Entatildeo esta teoria entende que o Estado pode
cometer uma grave violaccedilatildeo de obrigaccedilatildeo internacional e a responsabilidade natildeo
necessariamente seraacute criminal entatildeo pode consistir em uma responsabilidade internacional
civil compensatoacuteriareparatoacuteria poreacutem ressalta-se que natildeo se deve excluir uma
responsabilidade sancionatoacuteriapunitiva eacute por este motivo que se fala a respeito do caraacuteter
sui generis da responsabilidade internacional dos Estados128
A tese dos crimes de Estado dispotildee que atos iliacutecitos excepcionalmente graves satildeo
ldquocrimes internacionaisrdquo mas ditos de forma diferente e entatildeo chega-se agrave ideia de crimes de
Estado e igualmente de caraacuteter sui generis tendo em vista que natildeo haacute a necessidade de ter
o mesmo procedimento que o direito penal nacional Assim destaca-se as sanccedilotildees que o
Conselho de Seguranccedila da ONU impocircs agrave Liacutebia por atos terroristas neste caso portanto haacute
uma responsabilidade sancionatoacuteria129
127 MACHADO Joacutenatas E M Direito Internacional Op cit 128 Ibidem 129 Ibidem
44
Por fim a teoria dos crimes e delitos ressalta a importacircncia da diferenciaccedilatildeo dos dois
conceitos Assim o mais importante eacute a ideia de crime por consistir em ldquocondutas violentas
que suscitem a reprovaccedilatildeo da opiniatildeo puacuteblica mundialrdquo130 Sobre o assunto o Professor
Jocircnatas Machado diz
Aleacutem disso certas condutas qualificadas pelo direito internacional como crimes
contra a humanidade crimes de guerra e crimes contra a paz transcendem
largamente a vontade dos indiviacuteduos que os cometem tendo por detraacutes uma
orientaccedilatildeo poliacutetica estadual pelo que seria iloacutegico reduzi-los agrave expressatildeo de meros
crimes individuais prescindindo da responsabilizaccedilatildeo dos Estados131
Diante do que foi mencionado destaca-se a relativizaccedilatildeo da soberania do Estado no
direito internacional que tem por base a ideia de ldquocrimes internacionaisrdquo132 Assim levando
em conta a existecircncia dos ldquocrimes de Estadordquo eacute necessaacuterio a existecircncia de oacutergatildeos e
procedimentos para fins de investigaccedilatildeo destas condutas bem como consequecircncias juriacutedicas
como
()imposiccedilatildeo de multas lsquoindemnizaccedilotildees punitivasrsquo (punitive damages) a
adopccedilatildeo de contra-medidas a absoluta proibiccedilatildeo de quaisquer efeitos juriacutedicos aos
crimes a privaccedilatildeo da imunidade estadual aos titulares dos oacutergatildeos de soberania e
outras medidas da mais diversa natureza susceptiacuteveis de afectar a dignidade de o
Estado criminoso133
Entatildeo a respeito dessa uacuteltima teoria nota-se uma maior responsabilizaccedilatildeo ao Estado
infrator tendo por base a ideia deste como um sujeito no direito internacional com
capacidade de cometer crimes ou seja os chamados ldquocrimes de Estadordquo Portanto podem
ser impostas medidas sancionatoacuterias ao Estado infrator sendo reduzida a sua soberania a fim
de imposiccedilotildees de sanccedilotildees
135 Imputabilidade dos Estados
Ao falar da imputabilidade dos Estados refere-se agrave ideia de um Estado praticar atos
iliacutecitos internacionais atraveacutes dos seus poderes (legislativo executivo e judiciaacuterio) das
forccedilas armadas ou por qualquer outro oacutergatildeoentidade considerada de direito puacuteblico134
130 MACHADO Joacutenatas E M Direito Internacional Op cit p 636 131 Ibidem p 636 132 Ibidem 133 Ibidem p 636637 134 Ibidem
45
Entatildeo a imputabilidade de atos iliacutecitos a um Estado ocorre quando seus agentes ultrapassam
os limites dos poderes que lhe foram dados e que pode incorrer em casos omissivos ou
comissivos conforme vimos acima a previsatildeo nos Drafts Articles
Podemos entatildeo depreender que o Estado agindo de forma omissa nos casos de
proteccedilatildeo aos direitos humanos faz com que o Estado tenha responsabilidade pelos danos
causados por essa omissatildeo pois consiste em natildeo-vigilacircncia de um direito de proteccedilatildeo
Ademais ao natildeo cumprir com uma obrigaccedilatildeo internacional tambeacutem se imputa a um
determinado Estado de forma objetiva135
Na visatildeo de Canccedilado Trindade juiz do Tribunal Internacional de Justiccedila na
ocorrecircncia de grave violaccedilatildeo de direitos humanos pouco importa a diferenciaccedilatildeo de jure
imperii (atos cometidos pelo proacuteprio governo) e jure gestionis (atos praticados por entes
privados com aquiescecircncia do Estado) Para o magistrado tal classificaccedilatildeo natildeo tem
importacircncia devido a gravidade dos atos e portanto o Estado deve ser responsabilizado136
136 Violaccedilatildeo de uma Obrigaccedilatildeo Internacional
A respeito da violaccedilatildeo de uma obrigaccedilatildeo internacional dois pontos devem ser
analisados sobre qual a forma de violaccedilatildeo ocorreu ou seja se foi violaccedilatildeo de obrigaccedilotildees
entre Estados atraveacutes de tratados e obrigaccedilotildees dos Estados perante a comunidade
internacional Assim o primeiro ponto referente a obrigaccedilotildees inter partes refere-se a
descumprimentos de tratados bilaterais ou multilaterais jaacute o segundo ponto eacute referente agrave
proteccedilatildeo de um interesse coletivo acordado em tratados multilaterais abertos137
No entanto quanto agraves obrigaccedilotildees dos Estados perante a comunidade internacional
sendo estas obrigaccedilotildees erga omnes fundamento eacute o interesse puacuteblico comunitaacuterio
internacional138
Acima jaacute explicamos que a Comissatildeo de Direito Internacional rejeitou os termos
ldquocrimes internacionaisrdquo ldquocrimes de Estadordquo e inclusive ldquoiliacutecito excepcionalmente graverdquo
Nesse sentido chegaram ao termo ldquoviolaccedilotildees graves de obrigaccedilotildees internacionaisrdquo ou seja
135 MACHADO Joacutenatas E M Direito Internacional Op cit 136 INTERNATIONAL COURT OF JUSTICE Jurisdictional Immunities of the State (Germany v Italy
Greece intervening) General List Nordm 143 Disponiacutevel em httpswwwicj-cijorgencase143 Acesso em
11092020 137 MACHADO Joacutenatas E M Direito Internacional Op cit 138 Ibidem
46
os serious breach Entatildeo satildeo consideradas violaccedilotildees graves quando se tratar de violaccedilotildees
de normas jus cogens pois consistem em normas imperativas de direito internacional
137 Princiacutepio Non-Refoulement como Norma Jus Cogens
Como exposto anteriormente o princiacutepio do non-refoulement eacute de extrema
importacircncia na proteccedilatildeo internacional dos refugiados previsto no artigo 33 da Convenccedilatildeo
de 1951 Dessa forma seraacute demonstrado a seguir que o referido princiacutepio consiste em norma
jus cogens do Direito Internacional sendo portanto uma norma de elite natildeo aceitando
qualquer transgressatildeo independentemente se for unilateral bilateral ou multilateral Vimos
que ao se afirmar que determinada regra tem natureza de jus cogens os Estados estatildeo
proibidos de violar essa norma Entatildeo caracterizar o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo como norma
desta natureza configura um poderoso instrumento a fim de salvaguardar a proteccedilatildeo dos
refugiados
Aleacutem da Convenccedilatildeo de 1951 outros tratados de direitos humanos como a
Convenccedilatildeo Contra a Tortura de 1984 que em seu artigo terceiro nordm1 traz a proibiccedilatildeo de
enviar uma pessoa de volta a um paiacutes em que seraacute submetido agrave tortura como segue
ldquoNenhum Estado Parte procederaacute agrave expulsatildeo devoluccedilatildeo ou extradiccedilatildeo de uma pessoa para
outro Estado quando houver razotildees substanciais para crer que a mesma corre perigo de ali
ser submetida agrave torturardquo139
Neste aspecto destaca-se o ponto de que a Convenccedilatildeo Contra a Tortura mencionada
acima eacute mais ampla que a Convenccedilatildeo de 1951 tendo em vista que a primeira natildeo comporta
nenhuma exceccedilatildeo ou seja ningueacutem deveraacute ser enviado para algum local onde seraacute
submetido agrave tortura e a segunda traz consigo algumas exceccedilotildees140 Tal fato demonstra que
o princiacutepio do non-refoulement eacute absoluto natildeo comportando nenhuma violaccedilatildeo quando
analisado agrave luz da Convenccedilatildeo Contra a Tortura Ambas Convenccedilotildees satildeo documentos que
referem-se agrave proteccedilatildeo dos indiviacuteduos bem como proteccedilatildeo da vida assim ainda que a
Convenccedilatildeo de 1951 tenha previsto exceccedilotildees ao princiacutepio em questatildeo se um Estado
139 NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Crueacuteis Desumanos ou
Degradantes 1984 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto1990-1994D0040htm
Acesso em 12092020 140 PAULA Bruna V O Princiacutepio do Non-Refoulement sua Natureza Jus Cogens e a Proteccedilatildeo Internacional
dos Refugiados 2006 Disponiacutevel em httpsrevistaibdhorgbrindexphpibdhissueview14 Acesso em
12092020
47
promover a devoluccedilatildeo de algueacutem para lugar onde poderaacute ser submetido agrave tortura e
consequentemente ter sua vida em risco estaraacute violando a Convenccedilatildeo Contra a Tortura
Portanto apesar das exceccedilotildees previstas na Convenccedilatildeo de 1951 elas natildeo podem ser aplicadas
sob pena de violaccedilatildeo do artigo 3ordm nordm1 da Convenccedilatildeo Contra a Tortura
Dessa forma a Convenccedilatildeo de 1951 natildeo deve ser interpretada de forma isolada mas
deve ter por base os tratados de direitos humanos que complementam a garantia de proteccedilatildeo
agravequeles que necessitam ser protegidos A interpretaccedilatildeo portanto deve ser entendida dentro
do complexo juriacutedico (tratados e jurisprudecircncias)141
Ademais como jaacute visto anteriormente uma norma para ter a natureza de jus cogens
precisa cumprir dois requisitos previstos no artigo 53 da Convenccedilatildeo de Viena como segue
ldquo()uma norma aceite e reconhecida pela comunidade internacional dos Estados no seu todo
como norma cuja derrogaccedilatildeo natildeo eacute permitida ()142rdquo Portanto os dois pontos para uma
norma ser considerada jus cogens consistem em ser aceita pela comunidade internacional e
natildeo admitir derrogaccedilatildeo
Assim no que se refere ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo temos que tal princiacutepio eacute
reconhecido e aceite no todo pela comunidade internacional dos Estados pois estaacute prevista
na Convenccedilatildeo de 1951 bem como em outros tratados de direitos humanos como por
exemplo Convenccedilatildeo Contra a Tortura de 1984 jaacute mencionada anteriormente Convenccedilatildeo
Sobre os Refugiados da OUA de 1969 Convenccedilatildeo Americana Sobre os Direitos Humanos
de 1969 entre outras portanto o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo deve ser visto como uma garantia
fundamental ao refugiado pois assegura seus direitos miacutenimos como a natildeo tortura e a vida
No que tange a derrogaccedilatildeo agrave proacutepria Convenccedilatildeo de 1951 traz no artigo 42 nordm1 que
os artigos admitem reservas com exceccedilatildeo de alguns sendo que o artigo 33 referente ao
princiacutepio da natildeo-repulsatildeo natildeo admite reservas Vejamos ldquoArt 42 - Reservas 1 No momento
da assinatura da ratificaccedilatildeo ou da adesatildeo qualquer Estado poderaacute formular reservas aos
artigos da Convenccedilatildeo outros que natildeo os arts 1ordm 3ordm 4ordm 16 (1) 33 36 a 46 inclusiverdquo143 o
mesmo dispotildee o artigo 7 nordm1 do Protocolo de 1967 No mesmo sentido a interpretaccedilatildeo
conjunta do artigo 3ordm nordm1 e o artigo 2ordm nordm 2 ambos da Convenccedilatildeo Sobre a Tortura de 1984
podemos depreender que o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo previsto no artigo 3ordm natildeo pode ser
derrogado pois no artigo 2ordm dispotildee que ldquoEm nenhum caso poderatildeo invocar-se circunstacircncias
141 PAULA Bruna V Op cit 142 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo de Viena sobre o Direito dos Tratados Op cit 143 Ibidem
48
excepcionais tais como ameaccedila ou estado de guerra instabilidade poliacutetica interna ou
qualquer outra emergecircncia puacuteblica como justificaccedilatildeo para torturardquo144 No entanto mesmo se
pairasse alguma duacutevida sobre a natildeo-derrogabilidade do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo a
Resoluccedilatildeo 52132 das Naccedilotildees Unidas traz expressamente ldquo() and recalling that the
principle of non-refoulement is not subject to derogation145rdquo
Nesse prisma podemos afirmar que o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo consiste em uma
norma de natureza jus cogens e por este motivo eacute uma norma superior devendo ser
obedecida pelos Estados e em caso de violaccedilatildeo o Estado violador deveraacute ser
responsabilizado
144 NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Crueacuteis Desumanos ou
Degradantes 1984 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto1990-1994D0040htm
Acesso em 12092020 145 GENERAL ASSEMBLY UNITED NATIONS Resolution Adopted by the General Assembly ndash Resolution
52132 Human rights and mass exoduses 1998 Disponiacutevel em httpsundocsorgenARES52132 Acesso
em 12092020
49
CAPIacuteTULO 2
O ASILO NA ORDEM JURIacuteDICA EUROPEIA E NACIONAIS
Este capiacutetulo eacute destinado ao estudo da legislaccedilatildeo europeia a respeito do procedimento
de asilo bem como de legislaccedilotildees a respeito de alguns Estados europeus como Itaacutelia
Portugal Greacutecia Malta Espanha Franccedila e Alemanha Para isso em um primeiro momento
seraacute feita a anaacutelise do instituto de asilo para posteriormente analisar a ordem juriacutedica
internacional europeia e nacionais sobre o assunto
Assim foi a partir do seacuteculo XX que o fluxo de refugiados na Europa intensificou
ocasionado por vaacuterios fatos como por exemplo o fim dos impeacuterios russo e otomano a
ascensatildeo dos governos totalitaristas o comunismo que foi ressaltado no leste europeu apoacutes
a Segunda Guerra Mundial e mais recentemente a Primavera Aacuterabe146 Dessa forma passa-
se a analisar o instituto do asilo
21 O Asilo Aspectos Gerais
Inicialmente destaca-se que o instituto do asilo estaacute previsto no Tratado de Lisboa
no artigo 3ordm como segue
A Uniatildeo proporciona aos seus cidadatildeos um espaccedilo de liberdade
seguranccedila e justiccedila sem fronteiras internas em que seja assegurada a livre
circulaccedilatildeo de pessoas em conjugaccedilatildeo com medidas adequadas em
mateacuteria de controlos na fronteira externa de asilo e imigraccedilatildeo bem
como de prevenccedilatildeo da criminalidade e combate a este fenoacutemeno147
Assim logo no iniacutecio do Tratado percebemos que a questatildeo do asilo e imigraccedilatildeo eacute
assunto importante para a Uniatildeo Europeia e que por isso deve haver medidas adequadas a
este respeito bem como assuntos de controle das fronteiras portanto eacute niacutetido o destaque
que a soberania de um paiacutes tem a respeito da questatildeo do asilo assunto que seraacute abordado
adiante
146 CIERCO Teresa Op cit 147 UNIAtildeO EUROPEIA Tratado de Lisboa Disponiacutevel em
httpswwwparlamentopteuropaDocumentsTratado_Versao_Consolidadapdf Acesso em 31032020
50
A respeito da conceitualizaccedilatildeo do asilo Teresa Cierco dispotildee ldquoO asilo consiste numa
praacutetica antiga de concessatildeo de protecccedilatildeo a algueacutem em perigo () Asilo eacute o que o refugiado
procura quando sente que a sua vida ou liberdade estatildeo ameaccediladas no seu paiacutes de origemrdquo148
portanto trata-se de uma proteccedilatildeo concedida a estrangeiro em determinado Estado Assim
a referida proteccedilatildeo tem o objetivo de promover a seguranccedila do indiviacuteduo sendo esta um
direito fundamental previsto na Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem de 1948149
Haacute tambeacutem a Declaraccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre Asilo Territorial que no artigo 1ordm
nordm 1 traz a seguinte disposiccedilatildeo ldquoO asilo concedido por um Estado no exerciacutecio da sua
soberania a pessoas que tenham justificaccedilatildeo para invocar o artigo 14ordm da Declaraccedilatildeo
Universal dos Direitos do Homem ()rdquo150 Portanto o referido dispositivo traz que questatildeo
de conceder asilo estaacute inserida na questatildeo da soberania estatal tendo por base o direito de
asilo previsto na Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem
A professora Teresa Cierco chama a atenccedilatildeo no sentido de que aleacutem da Convenccedilatildeo
de 1951 a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem de 1948 tambeacutem merece destaque
nas questotildees atinentes agrave questatildeo do asilo pois em seu artigo 3ordm dispotildee ldquoTodo ser humano
tem direito agrave vida agrave liberdade e agrave seguranccedila pessoalrdquo e aleacutem deste os artigos 13 e 14 nos
quais dispotildeem a respeito agrave liberdade de locomoccedilatildeo bem como o direito de asilo
respectivamente151
Assim chama-se a atenccedilatildeo para a redaccedilatildeo do artigo 14 da Declaraccedilatildeo Universal dos
Direitos do Homem como segue
1 Todo ser humano viacutetima de perseguiccedilatildeo tem o direito de procurar e de gozar
asilo em outros paiacuteses
2 Este direito natildeo pode ser invocado em caso de perseguiccedilatildeo legitimamente
motivada por crimes de direito comum ou por atos contraacuterios aos objetivos e
princiacutepios das Naccedilotildees Unidas152
No mencionado dispositivo percebemos que no nordm 1 nada mais eacute que uma alusatildeo ao
conceito de refugiado ou seja a pessoa viacutetima de perseguiccedilatildeo tem o direito de procurar asilo
148 CIERCO Teresa Op cit p15 149 Ibidem 150 NACcedilOtildeES UNIDAS Declaraccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas Sobre o Asilo Territorial 1967 Disponiacutevel
httpswwwacnurorgfileadminDocumentosportuguesBD_LegalInstrumentos_InternacionaisDeclaracao
_ONU_Asilo_Territorialpdffile=fileadminDocumentosportuguesBD_LegalInstrumentos_Internacionais
Declaracao_ONU_Asilo_Territorial Acesso em 09032020 151 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem 1948
Disponiacutevel em httpsnacoesunidasorgwp-contentuploads201810DUDHpdf Acesso em 05032020 152 Ibidem
51
e ter uma vida digna ressalta-se poreacutem que no nordm2 haacute uma exceccedilatildeo agrave concessatildeo de asilo
isto eacute pessoas que cometeram crimes de direito comum ou que praticaram atos contraacuterios
aos princiacutepios e ideais das Naccedilotildees Unidas em teoria natildeo poderiam invocar direito de asilo
No entanto vimos que o indiviacuteduo natildeo deve requerer asilo a fim de se livrar das penalidades
impostas devido ao cometimento de crimes mas caso a pessoa corra o risco de ter seus
direitos humanos baacutesicos violados ela poderaacute cumprir a pena no local de asilo
No que tange a Convenccedilatildeo de 1951 quando um indiviacuteduo eacute reconhecido como
refugiado haacute o direito de asilo ou seja esse instituto consiste na proteccedilatildeo do indiviacuteduo tanto
na questatildeo da seguranccedila fiacutesica como tambeacutem engloba o direito de natildeo ser enviado de volta
ao paiacutes que o perseguia e tambeacutem ter agrave sua disposiccedilatildeo assistecircncia na soluccedilatildeo de problemas
referentes a sua inserccedilatildeo no novo paiacutes153
O real intuito da Convenccedilatildeo natildeo eacute instituir o direito de asilo apesar de ter esse efeito
uma vez que a pessoa adquire o status de refugiado ela possui o direito de receber o
benefiacutecio de asilo poreacutem as normas da concessatildeo do asilo ficam a criteacuterio de cada Estado
Neste aspecto cita-se como instrumentos limitadores do Estado o princiacutepio da natildeo repulsatildeo
e natildeo expulsatildeo como jaacute vimos anteriormente bem como a limitaccedilatildeo das sanccedilotildees penais
para quem entrar de forma ilegal no paiacutes154
Assim entende-se que o direito de asilo consiste em um direito que se submete agrave
soberania de cada paiacutes ou seja cada paiacutes tem a sua normatizaccedilatildeo a respeito do asilo que
deve ser seguida portanto tendo caraacuteter poliacutetico mas aleacutem de um direito poliacutetico consiste
em um direito cultural pressupondo um elo de normas entre as democracias e a
universalidade dos direitos humanos Portanto o asilo depende dos interesses de cada paiacutes
mas tambeacutem haacute o lado solidaacuterio dos Estados em socorrer as pessoas que necessitam de
proteccedilatildeo155 Diz-se portanto que os Estados possuem o poder soberano de disciplinar as
regras a respeito do asilo mas sendo limitado pelos direitos humanos
Cita-se tambeacutem a CAS ou seja Convenccedilatildeo de Aplicaccedilatildeo do Acordo de Schengen
elaborada no ano de 1985 que traz os conceitos de ldquopedido de asilordquo ldquorequerente de asilordquo
e ldquotratamento de um pedido de asilordquo Assim o primeiro consiste em qualquer pedido
apresentado por estrangeiro que esteja na fronteira externa ou no territoacuterio de uma parte
contratante podendo o pedido ser feito oralmente escrito ou qualquer outra forma e que
153 CIERCO Teresa Op cit 154 Ibidem 155 Ibidem
52
tenha intuito de que se reconheccedila a condiccedilatildeo de refugiado do requerente a fim de se obter a
autorizaccedilatildeo de residecircncia ressalta-se que se deve ter como base a Convenccedilatildeo de Genebra
1951 e o Protocolo de 1967 no que se refere ao segundo conceito consiste no estrangeiro
que requereu asilo nas condiccedilotildees previstas na CAS e ainda natildeo teve decisatildeo e por fim
entende-se por tratamento de um pedido de asilo os atos realizados durante o procedimento
ou seja os atos de anaacutelise e decisatildeo bem como as medidas a serem aplicadas156
211 O Asilo e a Soberania do Estado
Antes de analisar a questatildeo da soberania propriamente dita eacute necessaacuterio entender a
ideia de ldquoterritoacuteriordquo ou seja trata-se de um elemento fundamental do Estado sendo
constituiacutedo por partes continentais delimitado pelas suas fronteiras bem como o territoacuterio
mariacutetimo (composto pelas aacuteguas interiores arquipelaacutegicas e o mar territorial)157
Assim a questatildeo do asilo esbarra num dos pontos mais importantes do Direito
Internacional Puacuteblico que eacute a soberania do Estado e dentro deste conceito inclui o controle
de entrada saiacuteda e permanecircncia no territoacuterio de um determinado paiacutes Nesse sentido Teresa
Cierco explica ldquo() enquanto exerciacutecio de soberania estatal o direito de asilo eacute em direito
internacional o direito que um Estado tem em conceder protecccedilatildeo sobre o seu territoacuterio a
algueacutem que o solicitardquo158 portanto natildeo se trata aqui de um direito de uma pessoa em obter
asilo mas sim um direito Estatal de conceder o asilo Dessa forma o Estado concedente do
asilo pratica um ato de humanidade
No que se refere agrave obrigaccedilatildeo (ou natildeo) de um Estado conceder asilo a um refugiado
tem-se que os Estados ao assinarem instrumentos internacionais acabam por aceitar essa
ldquoobrigaccedilatildeordquo portanto natildeo se trata de direito de asilo do refugiado mas sim o direito de
concessatildeo de asilo pelo Estado Assim o Estado que acolhe pode natildeo conceder asilo mas
156 CONVENCcedilAtildeO DE APLICACcedilAtildeO DO ACORDO DE SCHENGEN Disponiacutevel em httpseur-
lexeuropaeulegal-contentptTXTuri=celex3A42000A0922280229 Acesso em 29032020 157 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Controllo dele Frontiere Statali e Respingimenti nel Diritto
Internazionale e nel Diritto del Mare In Diritto Immigrazione e Cittadinanza Nordm 12020 Disponiacutevel em
httpswwwdirittoimmigrazionecittadinanzaitarchivio-saggi-commentisaggifascicolo-n-1-2020-1532-
controllo-delle-frontiere-statali-e-respingimenti-nel-diritto-internazionale-e-nel-diritto-del-mare Acesso em
19062020 158 CIERCO Teresa Op cit p 74
53
tambeacutem natildeo pode devolver o indiviacuteduo ao paiacutes de origem sendo que natildeo haacute nenhuma
proibiccedilatildeo de enviar o indiviacuteduo para outro Estado que possa conceder asilo159
Poreacutem ao que se refere agrave soberania do Estado haacute duas situaccedilotildees contrastantes a
primeira consiste no poder dos Estados em controlar as suas fronteiras analisando quem
entra e quem sai em seu territoacuterio por outro lado a globalizaccedilatildeo integraccedilatildeo e regionalizaccedilatildeo
satildeo fenocircmenos em que resulta uma interdependecircncia dos Estados em vaacuterios pontos assim
com base nesses fenocircmenos o Estado tem sua soberania reduzida e os limites territoriais
diluiacutedos como eacute o caso da Uniatildeo Europeia160
Nos seacuteculos passados a soberania de um Estado era vista como uma condiccedilatildeo
absoluta isso significa que os governos poderiam ter quaisquer atos referentes a tratamentos
de nacionais e minorias por exemplo Contudo nas uacuteltimas deacutecadas passou-se a priorizar
os direitos humanos presente nos principais documentos internacionais portanto muitos
Estados passam a praticar atos em prol dos direitos humanos161
Devido aos fenocircmenos mencionados acima tem-se que a ideia de Estado soberano
vem se diluindo ao longo do tempo devido ao aumento da interdependecircncia dos Estados
neste ponto os Estados tentam individualmente zelar pela pouca independecircncia que lhes
restam ou seja de se defender das ameaccedilas de cunho mundial como problemas ambientais
traacuteficos internacionais iliacutecitos terrorismo entre outras situaccedilotildees multinacionais162
Nesse sentido percebemos que haacute diversos obstaacuteculos no que tange a soberania pois
os paiacuteses ao se comprometerem a respeitar os direitos humanos devem ter as decisotildees
poliacuteticas convergentes a tais direitos isso implica tanto em poliacuteticas internas quanto
externas resultando portanto em limitaccedilotildees no poder estatal163
Sabe-se que o direito dos refugiados estaacute inserido nos direitos humanos e estatildeo
presentes nas legislaccedilotildees internacionais bem como na legislaccedilatildeo nacional de cada paiacutes
Neste aspecto tem-se que um dos principais fatores de influecircncia nas medidas do paiacutes e dos
cidadatildeos como um todo eacute a situaccedilatildeo econocircmica de cada Estado assim um paiacutes com maiores
condiccedilotildees financeiras tende a receber mais refugiados Da mesma forma em tempos de que
haacute ascensatildeo da economia faz com que a concessatildeo de asilo seja maior por outro lado em
159 CIERCO Teresa Op cit 160 Ibidem 161 Ibidem 162 Ibidem 163 Ibidem
54
periacuteodos de recessatildeo um nuacutemero menor de requisiccedilatildeo de asilo eacute concedido Portanto os
paiacuteses mais generosos no que tange a aceitaccedilatildeo dos requerimentos de asilo satildeo aqueles mais
ricos e que possuem maior estabilidade interna164
No mesmo sentido Irini Papanicolopulu e Giulia Baj dispotildeem que os Estados tecircm o
direito de decidir quem seraacute admitido no territoacuterio poreacutem eacute consenso de que este direito de
rejeitar as pessoas eacute absoluto pois os Estados devem respeitar aos compromissos
internacionais firmados165
Os Estados portanto tem sua soberania limitada atraveacutes dos documentos
internacionais em que satildeo signataacuterios pois ao assinarem tais documentos se comprometem
a agirem de determinada maneira Assim os paiacuteses estatildeo limitados e natildeo possuem total
liberdade para decidirem assuntos referentes agrave concessatildeo de asilo Poreacutem nota-se da anaacutelise
praacutetica das atividades fronteiriccedilas que os Estados agem de acordo com os seus interesses166
22 A Instituiccedilatildeo de Asilo no Continente Europeu
Historicamente a Europa sempre se destacou como um continente rico e que
proporcionava riqueza e uma melhor qualidade de vida para aqueles que a habitavam aleacutem
de tambeacutem se destacar pelos governos democraacuteticos Acreditou-se que apoacutes o teacutermino da
Guerra Fria a situaccedilatildeo dos refugiados ficaria mais faacutecil devido a facilidade de fazer acordos
poreacutem natildeo foi o que aconteceu a Uniatildeo Sovieacutetica se dividiu em vaacuterios outros paiacuteses e gerou
muitos conflitos bem como muitos refugiados167
Atualmente tem-se que a situaccedilatildeo dos refugiados extrapola o acircmbito dos direitos
humanos e a questatildeo humanitaacuteria consiste tambeacutem em situaccedilotildees relacionadas agrave seguranccedila e
paz Dessa forma faz-se necessaacuterio encontrar boas soluccedilotildees (duraacuteveis) a fim de proporcionar
a maior proteccedilatildeo possiacutevel dos refugiados168
Para se falar em nuacutemeros tem-se que os recordes de refugiados na Europa ocorreram
nos anos de 2015 e 2016 sendo que neste uacuteltimo foram 1 milhatildeo e trezentos pedidos de asilo
no continente europeu no ano de 2017 foram por volta de 728 mil pedidos de asilo e quase
164 CIERCO Teresa Op cit 165 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit 166 CIERCO Teresa Op cit 167 Ibidem 168 Ibidem
55
635 mil no ano de 2018 Destes pedidos de 2018 foram concedidos por volta 333 mil
pedidos notando-se uma queda de 40 na concessatildeo de asilo quando comparado com o ano
anterior isto eacute 2017169
No que consiste a proteccedilatildeo dos refugiados a partir do ano 1989 as organizaccedilotildees
internacionais ganharam espaccedilo e passaram atuar de forma mais ampla pois anteriormente
eram limitadas pela questatildeo da soberania dos estados assim priorizou-se a ajuda
internacional humanitaacuteria sendo que a ONU passou a negociar diretamente com quem
possuiacutea o poder poliacutetico do local seja o proacuteprio Estado ou algum movimento que laacute estava
a fim de chegar ateacute os refugiados170
Os conflitos gerados apoacutes a Guerra Fria bem como outros acontecimentos
internacionais geraram uma grande instabilidade e proporcionou uma atualizaccedilatildeo do que se
entendia por seguranccedila nacional e internacional pois anteriormente isto eacute durante o periacuteodo
da disputa de poderes da Guerra Fria entendia-se como sinocircnimo de seguranccedila o poderio
beacutelico e militar desenvolvimento e evoluccedilatildeo tecnoloacutegica produccedilatildeo das induacutestrias e as
alianccedilas que poderiam trazer algum tipo de seguranccedila Assim a nova conceitualizaccedilatildeo de
seguranccedila trouxe novos problemas como por exemplo questotildees ambientais relativas agrave
poluiccedilatildeo o traacutefico de drogas crime organizado e terrorismo violaccedilatildeo dos direitos humanos
e migraccedilotildees em larga escala Isso fez com que os paiacuteses adotassem a cooperaccedilatildeo para tentar
solucionar os problemas surgindo neste contexto a OSCE que consiste na Organizaccedilatildeo para
a Seguranccedila e Cooperaccedilatildeo na Europa171
Com o desenvolvimento do assunto fez com que a regulamentaccedilatildeo passasse do
Conselho da Europa para os membros da Uniatildeo Europeia de forma cooperada mas ressalta-
se que o objetivo do referido Conselho e da UE natildeo satildeo os mesmos Enquanto o bloco
econocircmico busca caminhos para se proteger do fluxo exagerado de refugiados o Conselho
da Europa jaacute enfoca os direitos do homem e os direitos fundamentais portanto enfoques
quase que antagocircnicos Assim o Conselho da Europa consiste em um foacuterum de paiacuteses da
Europa sendo sua composiccedilatildeo por 47 membros e trata-se de um oacutergatildeo voltado para a defesa
dos direitos do homem172
169 PARLAMENTO EUROPEU Asilo e Migraccedilatildeo na UE em Nuacutemeros 2019 Disponiacutevel em
httpswwweuroparleuropaeunewsptheadlinesprioritiesmigracao20170629STO78630asilo-e-
migracao-na-ue-em-numeros Acesso em 06042020 170 CIERCO Teresa Op cit 171 Ibidem 172 Ibidem
56
Existem muitos documentos adotados ao longo do tempo pelo referido oacutergatildeo que
tratam da questatildeo do asilo e direito dos refugiados Dessa forma apenas como uma
demonstraccedilatildeo histoacuterica cita-se abaixo alguns documentos que Teresa Cierco destacou173
bull Recomendaccedilatildeo nordm 293 (elaborada em 1961 pela Assembleia Consultiva do
Conselho da Europa) que sugere a inserccedilatildeo de um artigo referente agrave questatildeo
de asilo em protocolo da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos do Homem
bull Recomendaccedilatildeo nordm 434 (elaborada em 1965 tambeacutem pela Assembleia
Consultiva do Conselho da Europa) que refere ao direito de asilo aos
refugiados do continente europeu destacando a ideia de que o direito de asilo
faz parte das tradiccedilotildees do continente europeu e faz um convite aos paiacuteses a
respeitarem o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo
bull Resoluccedilatildeo nordm 14 (elaborada pelo Comitecirc de Ministros em 1967) e trata da
questatildeo da concessatildeo de asilo agraves pessoas que satildeo ameaccediladas de perseguiccedilatildeo
promovendo asilo a fim de evitar sofrimento a partir de algum tipo de
negativa de entrada expulsatildeo ou qualquer outro ato que leve o indiviacuteduo a
permanecer ou regressar para local onde sofre perseguiccedilatildeo
bull Resoluccedilatildeo nordm 817 (elaborada pela Assembleia Parlamentar em 1977) apoia a
Resoluccedilatildeo nordm 14 jaacute mencionada acima e pede o reconhecimento da Comissatildeo
Europeia dos Direitos do Homem como competente para a anaacutelise das
requisiccedilotildees de asilo bem como a manutenccedilatildeo de comportamento liberal
perante os indiviacuteduos que requerem asilo em seus paiacuteses Isso porque a
Convenccedilatildeo Sobre Asilo Territorial fracassou assim essa resoluccedilatildeo veio para
reafirmar as previsotildees que jaacute existiam e considerar o instituto do asilo como
ato humanitaacuterio
bull Recomendaccedilatildeo nordm 1088 (elaborada em 1988 pela Assembleia Parlamentar)
que trata sobre o direito de asilo territorial demonstra a intenccedilatildeo de proteger
de forma plena o direito de asilo territorial
bull Recomendaccedilatildeo nordm 1237 (elaborada em 1994) que se refere agraves requisiccedilotildees de
asilo que foram indeferidas e reafirmou que qualquer indiviacuteduo que sofra
173 CIERCO Teresa Op cit
57
perseguiccedilatildeo tem o direito de procurar asilo poreacutem destacou tambeacutem que
cabe agrave cada Estado a concessatildeo de asilo por se tratar de questatildeo da soberania
nacional
bull Diretiva 832004 que consiste num documento da Uniatildeo Europeia que possui
um consideraacutevel acolhimento do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo este documento
trata da normatizaccedilatildeo miacutenima necessaacuteria a fim de atingir a proteccedilatildeo
internacional Poreacutem ressalta-se que o referido princiacutepio natildeo deve ser
considerado de forma independente ou desvinculado de outras legislaccedilotildees
Assim deve-se analisar de forma conjunta com as accedilotildees realizadas para
retirar estrangeiros do territoacuterio de um determinado paiacutes ou seja situaccedilatildeo de
extradiccedilatildeo expulsatildeo e deportaccedilatildeo
No que se refere agrave deportaccedilatildeo tal medida somente eacute adotada quando o indiviacuteduo que
requereu asilo natildeo foi enquadrado no estatuto do refugiado assim o indiviacuteduo por conta
proacutepria deveraacute deixar o territoacuterio caso natildeo seja feito a medida deve ser realizada pelo Estado
Quanto agrave expulsatildeo a situaccedilatildeo eacute um pouco mais gravosa pois ldquoocorrerdquo quando o indiviacuteduo
promove atentados contra a seguranccedila nacional eou perturbe a tranquilidade puacuteblica174 No
que se refere agrave esse instituto referente aos refugiados vimos que a sua expulsatildeo deve ser
analisada com muita cautela ou seja se a pessoa se enquadrar no conceito de refugiado mas
eacute um criminoso ele natildeo pode se valer do instituto do asilo para ficar livre da penalidade no
entanto natildeo deve ser enviado para algum paiacutes em que teraacute seus direitos humanos violados
221 Principais Documentos Sobre o Asilo na Ordem Juriacutedica Europeia
Sabemos que a grandiosidade do bloco da Uniatildeo Europeia faz-se necessaacuterio uma
seacuterie de normatizaccedilotildees dos assuntos e no que tange asilo e imigraccedilatildeo eacute importante que as
disposiccedilotildees entre os paiacuteses que fazem parte do bloco sejam harmocircnicas ou seja para uma
maior efetividade das medidas de asilo e imigraccedilatildeo as regras para os paiacuteses devem ser as
mesmas Assim neste toacutepico analisa-se os principais documentos europeus que abordam o
assunto
174 CIERCO Teresa Op cit
58
bull Tratado da Uniatildeo Europeia (Tratado de Lisboa)
O TUE eacute um dos principais tratados que regem as normas a serem adotadas na Uniatildeo
Europeia Como jaacute mencionado anteriormente desde o iniacutecio (no artigo 3ordm) a UE demonstra
a sua preocupaccedilatildeo a respeito do assunto Assim a seguir analisa-se os pontos importantes
do Tratado relativos a este assunto
Dessa forma o Tiacutetulo V denominado ldquoO Espaccedilo de Liberdade Seguranccedila e Justiccedilardquo
trata mais especificamente sobre o assunto ou seja no artigo 67 nordm 2 consta
A Uniatildeo assegura a ausecircncia de controlos de pessoas nas fronteiras
internas e desenvolve uma poliacutetica comum em mateacuteria de asilo de
imigraccedilatildeo e de controlo das fronteiras externas que se baseia na
solidariedade entre Estados-Membros e que eacute equitativa em relaccedilatildeo aos
nacionais de paiacuteses terceiros175
Neste dispositivo nota-se o desejo da Uniatildeo Europeia em ter as regras sobre asilo e
imigraccedilatildeo harmonizadas bem como ressalta a ausecircncia dos controles nas fronteiras internas
Nesse sentido o Capiacutetulo 2 do Tiacutetulo V trata do assunto de asilo e imigraccedilatildeo bem como
sobre o controle das fronteiras externas No artigo 78 nordm2 haacute a disposiccedilatildeo para que se tenha
um documento uniforme referente a asilo bem como proteccedilatildeo subsidiaacuteria dos indiviacuteduos
que natildeo obterem o asilo mas mesmo assim necessitarem de proteccedilatildeo internacional e outras
situaccedilotildees referentes agraves pessoas que necessitam de acolhimento ou proteccedilatildeo
Assim como mencionado acima a UE preza pela harmonia entre as regras a respeito
de diversos assuntos e a questatildeo de asilo e imigraccedilatildeo natildeo eacute diferente isto estaacute expressamente
no artigo 78 como segue
A Uniatildeo desenvolve uma poliacutetica comum em mateacuteria de asilo de protecccedilatildeo
subsidiaacuteria e de protecccedilatildeo temporaacuteria destinada a conceder um estatuto adequado
a qualquer nacional de um paiacutes terceiro que necessite de protecccedilatildeo
internacional e a garantir a observacircncia do princiacutepio da natildeo repulsatildeo176
A UE aleacutem de enfatizar que a questatildeo do asilo tem poliacutetica comum destaca-se
tambeacutem a preocupaccedilatildeo do bloco com aqueles que necessitam de proteccedilatildeo e por isso prezam
175 UNIAtildeO EUROPEIA Tratado de Lisboa Disponiacutevel em
httpswwwparlamentopteuropaDocumentsTratado_Versao_Consolidadapdf Acesso em 31032020 176 Ibidem
59
por conceder um tratamento adequado aos indiviacuteduos que buscam proteccedilatildeo bem como
garantir a aplicaccedilatildeo do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo
Ainda eacute importante destacar que tendo em vista que o artigo 6ordm nordm 1 do TUE satildeo
reconhecidos os direitos e garantias fundamentais previstos na Carta dos Direitos
Fundamentais da Uniatildeo Europeia Nesse sentido cita-se a importacircncia do artigo 18 do
documento no qual haacute a previsatildeo do direito de asilo como um direito fundamental bem
como o artigo 19 que proiacutebe a expulsatildeo coletiva e principalmente no nordm 2 dispotildee que
ningueacutem pode ser enviado para um paiacutes onde poderaacute ser submetido agrave pena de morte tortura
e outros tratamentos desumanos e degradantes177 Reforccedilando a importacircncia do princiacutepio da
natildeo-repulsatildeo
bull Tratado de Funcionamento da Uniatildeo Europeia (TFUE)
O Tratado de Funcionamento da Uniatildeo Europeia prevecirc algumas disposiccedilotildees a
respeito do asilo No artigo 67 nordm 2 tem a disposiccedilatildeo de que a poliacutetica de asilo na UE eacute uacutenica
e baseada na solidariedade como segue ldquo() desenvolve uma poliacutetica comum em mateacuteria
de asilo de imigraccedilatildeo e de controlo das fronteiras externas que se baseia na solidariedade
entre Estados-Membros e que eacute equitativa em relaccedilatildeo aos nacionais de paiacuteses terceiros
()rdquo178
O capiacutetulo 2 do TFUE cujo tiacutetulo eacute ldquoPoliacuteticas relativas aos controlos nas fronteiras
ao asilo e agrave imigraccedilatildeordquo tem regulamenta de forma geral o assunto Nesse sentido o artigo
78 nordm 1 reitera a poliacutetica comum de asilo bem como de proteccedilotildees subsidiaacuterias e temporaacuterias
levando sempre em conta a Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 e o Protocolo de Nova Iorque
de 1967 Por sua vez o nordm 2 do artigo mencionado traz algumas orientaccedilotildees a respeito das
poliacuteticas comuns a serem adotadas pelos Estados-membros179
Nesse sentido o mencionado diploma europeu traz a exigecircncia de que a Uniatildeo
Europeia elabore poliacuteticas comuns a fim de garantir eficaacutecia na gestatildeo dos fluxos
migratoacuterios Para isso entende-se que tanto o Parlamento Europeu quanto o Conselho devem
177 UNIAtildeO EUROPEIA Carta dos Direitos Fundamentais da Uniatildeo Europeia Disponiacutevel em
httpswwweuroparleuropaeucharterpdftext_ptpdf Acesso em 27052020 178 TRATADO DE FUNCIONAMENTO DA UNIAtildeO EUROPEIA Disponiacutevel em httpseur-
lexeuropaeulegal-contentPTTXTuri=celex3A12012E2FTXT Acesso em 07042020 179 Ibidem
60
adotar medidas relacionadas a fim de coibir a imigraccedilatildeo ilegal bem como residecircncia ilegal
o traacutefico de seres humanos e tambeacutem de promover a remoccedilatildeo e repatriamento de pessoas
que estejam com status irregular180
Portanto este documento traz apontamentos gerais para que se possa elaborar uma
poliacutetica comum de asilo no continente europeu Ressalta-se que neste documento natildeo haacute
nenhuma regra a ser aplicada de forma concreta mas sim orientaccedilotildees de que a normatizaccedilatildeo
do assunto deve ser a mesma para todos os Estados-membros
bull Convenccedilatildeo de Aplicaccedilatildeo do Acordo de Schengen (CAS)
A forte corrente migratoacuteria destinada agrave Europa fez com que os paiacuteses endurecessem
as medidas referentes agrave concessatildeo de asilo Nesse sentido cita-se a CAS conforme jaacute
falamos eacute a Convenccedilatildeo de Aplicaccedilatildeo do Acordo de Schengen que trata do assunto relativo
a pedidos de asilo no Capiacutetulo 7 (artigo 28 a 38) mas foi somente no Tratado de Amsterdatilde
eacute que tal ideia eacute trazida ao acircmbito da Uniatildeo Europeia181
No capiacutetulo supramencionado da CAS o Capiacutetulo 7 denominado
ldquoResponsabilidade pelo Tratamento de Pedidos de Asilordquo faz referecircncia agrave Convenccedilatildeo de
1951 e o Protocolo de 1967 Em resumo os Estados contratantes se comprometem em
analisar qualquer pedido de asilo que forem feitos em seus territoacuterios conforme estaacute
expresso no artigo 29 nordm1 mas ressalta-se que natildeo eacute obrigatoacuteria a concessatildeo de asilo em
todos os casos (nordm 2 do mesmo artigo)182
Poreacutem um Estado-membro com base nas suas normas nacionais pode enviar o
requerente de asilo para outro Estado e ateacute mesmo expulsar este uacuteltimo com muita
ponderaccedilatildeo desde que obedeccedila ao que estaacute previsto nos compromissos internacionais tal
disposiccedilatildeo consta tambeacutem no nordm 2 do artigo 29183 Mais uma vez ressalta-se que na
expulsatildeo em hipoacutetese alguma deve-se enviar o indiviacuteduo para algum local natildeo seguro
180 TANI Ilaria Ricerca e Soccorso nel Mediterraneo Centrale tra Diritto Internazionale e Nuove (Discutibili)
Qualificazioni del Fenomeno Migratorio In Diritto Immigrazione e Cittadinanza Nordm 32019 Disponiacutevel em
httpswwwdirittoimmigrazionecittadinanzaitarchivio-saggi-commentisaggifascicolo-n-3-2019-1474-
ricerca-e-soccorso-nel-mediterraneo-centrale-tra-diritto-internazionale-e-nuove-discutibili-qualificazioni-del-
fenomeno-migratoriofile Acesso em 22082020 181 CIERCO Teresa Op cit 182 CONVENCcedilAtildeO DE APLICACcedilAtildeO DO ACORDO DE SCHENGEN 1985 Op cit 183 Ibidem
61
Este documento traz tambeacutem qual o Estado-membro que deve analisar o pedido de
asilo trazendo portanto as regras no artigo 30 ou seja se o Estado-membro emitiu algum
visto para o indiviacuteduo ele eacute responsaacutevel pela anaacutelise ou se outro paiacutes deu autorizaccedilatildeo para
esse visto eacute o paiacutes da autorizaccedilatildeo o responsaacutevel em casos de mais de um Estado-membro
conceder algum visto o responsaacutevel eacute o que deu o visto de maior duraccedilatildeo caso o indiviacuteduo
tenha ingressado no territoacuterio sem os documentos necessaacuterios o responsaacutevel eacute o Estado-
membro em que o requerente de asilo entrou184
O documento em seu artigo 32 traz que o direito a ser aplicado no procedimento de
asilo das partes contratantes da CAS seraacute o direito nacional Portanto cada paiacutes tem a sua
independecircncia no acircmbito interno podendo aplicar as suas regras no procedimento de asilo
desde que natildeo contrarie os compromissos internacionais assumidos185
bull Convenccedilatildeo de Dublin
O alto fluxo de refugiados e as discussotildees entre os governos fez com que fosse
elaborada em 1990 a Convenccedilatildeo de Dublin (ou Regulamento Dublin) assinada pelos
paiacuteses Beacutelgica Dinamarca Alemanha Greacutecia Espanha Franccedila Irlanda Itaacutelia
Luxemburgo Holanda Portugal e Reino Unido186 Assim a finalidade era obter soluccedilatildeo
para a alta quantidade de requisiccedilatildeo de asilo Tal documento consistiu em um relevante ato
com intuito de harmonizar o direito de asilo nos paiacuteses Anteriormente as opccedilotildees eram
impedir os refugiados de entrar e requerer asilo situaccedilatildeo que contrariava o previsto na
Convenccedilatildeo de Schengen (mencionada anteriormente) ou tentar fazer com que as normas a
respeito de asilo fossem harmocircnicas Nesse sentido alguns paiacuteses limitavam a entrada de
requerentes de asilo e fazia com que estes fossem para outros paiacuteses mas que tais atitudes
em nada ajudavam na soluccedilatildeo da situaccedilatildeo187
Esta Convenccedilatildeo consiste na base do direito de asilo no sistema europeu que
determina qual paiacutes eacute responsaacutevel pela anaacutelise dos pedidos de proteccedilatildeo internacional e no
ano de 2017 foi autorizado pelo Parlamento Europeu uma reforma desta Convenccedilatildeo poreacutem
184 CONVENCcedilAtildeO DE APLICACcedilAtildeO DO ACORDO DE SCHENGEN 1985 Op cit 185 Ibidem 186 UNIAtildeO EUROPEIA CONVENCcedilAtildeO DE DUBLIN 1990 Disponiacutevel httpseur-lexeuropaeulegal-
contentPTALLuri=celex3A41997A0819280129 Acesso em 06042020 187 CIERCO Teresa Op cit
62
natildeo houve acordo a respeito ateacute o momento188 no entanto no mecircs de setembro de 2020 foi
apresentada a proposta do Novo Pacto sobre Migraccedilatildeo e Asilo que se aprovado substituiraacute
a Convenccedilatildeo tratada nesse toacutepico
Assim a Convenccedilatildeo de Dublin consistiu em um marco do direito humanitaacuterio dos
refugiados e pretendeu pocircr fim agraves situaccedilotildees em que colocavam os refugiados a circular por
vaacuterios paiacuteses sem que nenhum Estado analisasse o pedido de asilo Vaacuterias satildeo as disposiccedilotildees
a respeito do direito dos refugiados uma delas eacute a situaccedilatildeo citada anteriormente (na
Convenccedilatildeo de Schengen) isto eacute qual paiacutes eacute responsaacutevel pela anaacutelise do pedido de asilo
dessa forma entende-se que caso o refugiado tenha algum laccedilo familiar (o indiviacuteduo tiver
algum familiar em algum Estado membro) laccedilo institucional (possuir algum visto ou tiacutetulo
de residecircncia) ou inclusive entrou de forma ilegal por algum paiacutes a competecircncia para anaacutelise
da concessatildeo de asilo eacute do Estado em questatildeo ou seja no paiacutes onde estaacute o familiar onde
tem visto ou residecircncia ou no paiacutes em que entrou de forma natildeo permitida Caso o refugiado
natildeo se enquadrar nestas situaccedilotildees o paiacutes competente para analisar o pedido de asilo eacute o
primeiro paiacutes que recebeu a requisiccedilatildeo189
Em 1991 a Comissatildeo elaborou uma comunicaccedilatildeo a fim de adotar 3 medidas atinentes
ao asilo e imigraccedilatildeo no continente europeu quais sejam a primeira consistia na ldquopressatildeo
migratoacuteriardquo que levava em consideraccedilatildeo as migraccedilotildees reais e potenciais que tinham como
destino a Europa a segunda medida referia-se ao controle dos fluxos migratoacuterios levando
em conta as obrigaccedilotildees internacionais dos Estados bem como os ideais humanitaacuterios por
fim a terceira medida consistia no melhor entendimento nas medidas adotadas para integrar
os imigrantes com status legal190
Aleacutem disso conforme previsto na Convenccedilatildeo de Dublin no ano de 1992 foram
criados dois centros de informaccedilatildeo relativos agrave questatildeo dos refugiados o CIREA que
consiste no Centro de Informaccedilatildeo Investigaccedilatildeo e Intercacircmbio em Mateacuteria de Asilo e o
CIREFI que eacute o Centro de Informaccedilatildeo Investigaccedilatildeo e Intercacircmbio em Mateacuteria de Passagem
das Fronteiras e de Imigraccedilatildeo ambos para auxiliar na obtenccedilatildeo de informaccedilotildees e evitar a
188 PARLAMENTO EUROPEU Regras do Sistema de Asilo da UE a posiccedilatildeo do Parlamento sobre a reforma
da regulaccedilatildeo de Dublin Atualizado em 25072019 Disponiacutevel em
httpswwweuroparleuropaeunewsptheadlinesworld20180615STO05927regras-do-asilo-da-ue-
posicao-do-parlamento-sobre-a-reforma-da-regulacao-dublin Acesso em 06042020 189 CIERCO Teresa Op cit 190 Ibidem
63
imigraccedilatildeo clandestina utilizaccedilatildeo de documentos falsos bem como a responsabilizaccedilatildeo dos
infratores neste quesito191
Poreacutem faz-se necessaacuterio fazer uma observaccedilatildeo na explicaccedilatildeo pois em 1992 em
contrapartida aos documentos que buscavam garantir o direito internacional dos refugiados
que tinham base nos ideais humanitaacuterios e proteccedilatildeo foram editadas as ldquoResoluccedilotildees de
Londresrdquo que em partes seguiam na contramatildeo da proteccedilatildeo internacional dos refugiados
Tal ideia se firmou devido tal documento englobar resoluccedilotildees que davam mais liberdades
aos Estados para natildeo enquadrar um indiviacuteduo como refugiado (nos moldes da Convenccedilatildeo
de 1951) pois diziam sobre ldquopedidos de asilo manifestamente infundadosrdquo ldquopaiacuteses que natildeo
se verificavam graves riscos de perseguiccedilatildeordquo e ldquoabordagem harmonizada das questotildees
referentes ao paiacutes terceiro de acolhimentordquo Desse modo menciona-se a possiacutevel lesatildeo a um
dos principais princiacutepios do Direito Internacional dos Refugiados que consiste na anaacutelise
individual de cada pedido de asilo192
Voltando ao que tange a Convenccedilatildeo de Dublin destaca-se que em 2002 a Comissatildeo
Europeia fez com que o CIREA e o CIREFI cessassem suas atividades sendo criado o
EURASIL Assim foi criado o Gabinete Europeu de Apoio ao Asilo (EASO) que assumiu
a responsabilidade pelo EURASIL bem como as atividades deste193 Ressalta-se que o
EASO como o proacuteprio nome jaacute diz eacute responsaacutevel por implementar o Sistema Europeu
Comum de Asilo (SECA) apoiar e fortalecer a cooperaccedilatildeo entre os Estados-membros no
que se refere ao asilo bem como auxiliar operacionalmente os Estados-membros194
O SECA (ou CEAS em inglecircs) por sua vez tem por base o artigo 78 do Tratado de
Funcionamento da Uniatildeo Europeia (TFUE) e consiste em uma estrutura de regras que
estabelecem procedimentos comuns no que tange a proteccedilatildeo internacional bem como uma
uniformidade de status agravequeles que satildeo considerados refugiados ou possuem alguma
proteccedilatildeo subsidiaacuteria visando agrave uniformidade ou harmonizaccedilatildeo dos sistemas de asilo da
Uniatildeo Europeia tendo sempre por base a Convenccedilatildeo de Genebra de 1951195
191 CIERCO Teresa Op cit 192 Ibidem 193 COMISSAtildeO EUROPEIA EURASIL Disponiacutevel em httpseceuropaeuhome-affairswhat-we-
donetworkseuropean_migration_networkglossary_searcheurasil_en Acesso em 06042020 194 COMISSAtildeO EUROPEIA European Asylum Support Office (EASO) Disponiacutevel em
httpseceuropaeuhome-affairswhat-we-
donetworkseuropean_migration_networkglossary_searcheuropean-asylum-support-office-easo_en Acesso
em 06042020 195 COMISSAtildeO EUROPEIA Common European Asylum Sistem (CEAS) ndash Definition(s) Disponiacutevel em
httpseceuropaeuhome-affairswhat-we-
64
A Convenccedilatildeo de Dublin assim como outros documentos jaacute mencionados traz
conceitos para melhor entendimento dos termos utilizados no corpo do texto Nesse sentido
esta Convenccedilatildeo traz a conceituaccedilatildeo de estrangeiros pedido de asilo requerente de asilo
anaacutelise de um pedido de asilo tiacutetulo de residecircncia visto de entrada e visto de tracircnsito tais
conceitos estatildeo em consonacircncia com a conceituaccedilatildeo presente nos outros documentos jaacute
citados
Logo no iniacutecio no artigo 2ordm desta Convenccedilatildeo faz-se a alusatildeo agrave Convenccedilatildeo de
Genebra de 1951 e o Protocolo de Nova Iorque de 1967 ou seja ocorre a reiteraccedilatildeo do que
estaacute previsto nestes documentos pelos paiacuteses signataacuterios Assim de forma geral os
dispositivos presentes nesta Convenccedilatildeo estatildeo de acordo com vaacuterias previsotildees na CAS no
capiacutetulo 7
No entanto conforme jaacute mencionado acima desde o ano de 2017 discute-se a
possibilidade de reforma deste documento pois com a crise migratoacuteria que o continente
europeu vem sofrendo foram expostos os defeitos presentes na referida Convenccedilatildeo Dessa
forma as sugestotildees de reforma satildeo alterar a responsabilidade automaacutetica de um Estado-
membro de analisar um pedido de asilo quando o refugiado entrar por este paiacutes as pessoas
que requererem asilo e tiverem uma ldquoligaccedilatildeo genuiacutenardquo com determinado paiacutes do Estado-
membro essas pessoas devem ser enviadas para este paiacutes os que natildeo possuiacuterem tal ldquoligaccedilatildeo
genuiacutenardquo devem ser distribuiacutedos de forma igualitaacuteria para os demais Estados-membros (sob
pena de perda de acesso ao fundo europeu os paiacuteses que natildeo aceitarem esta determinaccedilatildeo)
intensificar as medidas de seguranccedila devendo as pessoas que chegarem com intuito de
requisiccedilatildeo de asilo serem identificadas e colhidas as impressotildees digitais destas reforccedilar as
regras relativas aos menores e acelerar o reagrupamento familiar entre outras sugestotildees196
Pretende-se portanto com a reforma a divisatildeo de responsabilidade pelos
requerentes de asilo para todos os Estados-membros tendo uma justa reparticcedilatildeo com base
na populaccedilatildeo e no PIB de cada Estado-membro197 A ideia natildeo eacute alterar as regras jaacute existentes
donetworkseuropean_migration_networkglossary_searchcommon-european-asylum-system-ceas_en
Acesso em 06042020 196 PARLAMENTO EUROPEU Regras do Sistema de Asilo da UE a posiccedilatildeo do Parlamento sobre a reforma
da regulaccedilatildeo de Dublin Atualizado em 25072019 Disponiacutevel em
httpswwweuroparleuropaeunewsptheadlinesworld20180615STO05927regras-do-asilo-da-ue-
posicao-do-parlamento-sobre-a-reforma-da-regulacao-dublin Acesso em 06042020 197 Ibidem
65
para determinar qual paiacutes eacute responsaacutevel pela anaacutelise dos pedidos de asilo mas sim uma
revisatildeo do regime previsto simplificando e complementando o que jaacute estaacute em vigor198
Como jaacute mencionado a Convenccedilatildeo de Dublin foi elaborada no ano de 1990 sendo
que em 2003 e 2013 houve a ediccedilatildeo dos regulamentos II e III (duas reformas)
respectivamente sendo que o Regulamento III estaacute em vigor desde 2014 Assim o sistema
de asilo previsto pelo ldquoSistema Dublinrdquo natildeo objetivou o compartilhamento de
responsabilidades dos Estados-membros pois o principal objetivo era a responsabilidade de
um determinado paiacutes para analisar as requisiccedilotildees de asilo199
Dessa forma o Regulamento Dublin III (uacuteltima reforma) indica qual Estado-membro
eacute o responsaacutevel por analisar um pedido de asilo passando por um criteacuterio hieraacuterquico de
anaacutelise ou seja unidade familiar existecircncia de visto ou autorizaccedilatildeo de residecircncia se a
entrada foi irregular ou se teve isenccedilatildeo de visto ao entrar etc mas ressalta-se que a forma
mais comum aplicada eacute a do paiacutes da UE onde o indiviacuteduo entrou200
A ideia de que o Parlamento Europeu requer um mecanismo vinculativo para que
haja uma distribuiccedilatildeo justa dos requerentes de asilo pelos Estados-membros da Uniatildeo
Europeia vem desde o ano de 2009 tendo sido editadas resoluccedilotildees pelo oacutergatildeo em 2009
2013 2014 e 2015 Na resoluccedilatildeo de abril de 2016 destacou-se a questatildeo da regiatildeo do
Mediterracircneo com a necessidade alterar a abordagem da migraccedilatildeo201
Assim a ideia do Parlamento Europeu eacute rever o criteacuterio de entrada ou seja o paiacutes
por onde entrou o indiviacuteduo eacute o responsaacutevel pela anaacutelise do pedido de asilo Entatildeo o
mencionado oacutergatildeo defende ter um sistema central de atribuiccedilatildeo de responsabilidade pelos
requerentes de asilo prevendo limites para cada paiacutes com base no nuacutemero de chegadas
Poreacutem a alocaccedilatildeo de responsabilidade natildeo deve excluir as questotildees de unidade familiar e
interesses da crianccedila202
As principais ideias do Parlamento Europeu eacute um sistema automatizado para
monitorar os pedidos de asilo recebidos e o nuacutemero dos pedidos em cada Estado-membro
tambeacutem haver um mecanismo para determinar quando um paiacutes estaacute com casos
198 PARLAMENTO EUROPEU Reform of the Dublin system Disponiacutevel em
httpswwweuroparleuropaeuRegDataetudesBRIE2016586639EPRS_BRI28201629586639_ENp
df Acesso em 07042020 199 Ibidem 200 Ibidem 201 Ibidem 202 Ibidem
66
desproporcionais de procedimento de asilo Portanto quando um paiacutes tiver o nuacutemero de
pedidos de asilo superior 150 da accedilatildeo de referecircncia seria ativado um mecanismo para
realocar os novos pedidos de asilo em toda a Uniatildeo Europeia Caso um paiacutes natildeo aceite a
atribuiccedilatildeo dos requerentes de asilo deveraacute arcar com a ldquocontribuiccedilatildeo de solidariedaderdquo de
250 mil euros por candidato203
No entanto no dia 23 de setembro de 2020 foi apresentada uma proposta da
Comissatildeo Europeia a respeito de um novo documento sobre a migraccedilatildeo chamado ldquoNovo
Pacto sobre Migraccedilatildeo e Asilordquo A intenccedilatildeo desse pacto eacute a substituiccedilatildeo da Convenccedilatildeo de
Dublin que jaacute foi reformada por duas vezes (Regulamentos II e III) A ideia desse Novo
Pacto eacute para ter uma melhor divisatildeo da responsabilidade entre os paiacuteses da UE (tendo um
mecanismo melhor de realocaccedilatildeo) prevendo maior solidariedade entre os Estados-membros
com a finalidade de reduzir o ocircnus dos Estados mais afetados pela migraccedilatildeo como a Itaacutelia
Greacutecia e Espanha agilidade e eficaacutecia nos procedimentos nas fronteiras e mudanccedila de
paradigma com paiacuteses terceiros no que se refere agrave cooperaccedilatildeo Uma das novidades na
proposta eacute tentar agradar paiacuteses pouco receptivos com os refugiados como a Aacuteustria Polocircnia
e Hungria ou seja estes paiacuteses podem ser responsaacuteveis pela deportaccedilatildeo do migrante caso o
pedido de asilo seja negado aleacutem disso os Estados-membros poderatildeo acolher requerentes
de asilo que entraram por outro paiacutes na UE Ressalta-se poreacutem que essa proposta deve ser
analisada ainda pelo Conselho da UE e pelo Parlamento Europeu204
bull Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos
Eacute o documento adotado pelo Tribunal Europeu dos Direitos Humanos sendo que
para o presente trabalho destaca-se a importacircncia do artigo 3ordm deste documento tendo em
vista a condenaccedilatildeo de paiacuteses europeus por violaccedilatildeo do respectivo dispositivo Sendo assim
o supramencionado artigo prevecirc a proibiccedilatildeo da tortura como segue ldquoNingueacutem pode ser
submetido a torturas nem a penas ou tratamentos desumanos ou degradantesrdquo205
203 PARLAMENTO EUROPEU Reform of the Dublin system Op cit 204 DEUTSCHE WELLE (DW) Novo Pacto Migratoacuterio da UE descarta realocaccedilatildeo obrigatoacuteria 2020
Disponiacutevel em httpswwwdwcompt-brnovo-pacto-migratC3B3rio-da-ue-descarta-
realocaC3A7C3A3o-obrigatC3B3riaa-55029567 Acesso em 09102020 205 CONSELHO EUROPEU Convenccedilatildeo Europeia de Direitos Humanos Op cit
67
Outro artigo comumente violado eacute o artigo 4ordm dessa Convenccedilatildeo que consiste na
proibiccedilatildeo de expulsatildeo coletiva Assim eacute proibido que um Estado rejeite coletivamente os
migrantes sem qualquer identificaccedilatildeo sem uma anaacutelise de cada caso A exemplo disso cita-
se o caso Hirsi Jamaa que veremos adiante em que a Itaacutelia repeliu os migrantes no mar
levando-os de volta para Liacutebia sem qualquer identificaccedilatildeo
Tambeacutem de igual importacircncia satildeo os artigos 2ordm e 5ordm que prezam pela proteccedilatildeo da
vida e liberdade e seguranccedila dos migrantes respectivamente Dessa forma notamos que a
CEDH preza pela dignidade dos migrantes apontando expressamente os principais direitos
sendo que estes natildeo devem ser violados
Assim no capiacutetulo 3 e 4 seratildeo analisados casos da referida Corte Europeia para ter
um melhor entendimento da aplicaccedilatildeo deste dispositivo devido a devoluccedilatildeo de refugiados
no mar para a Liacutebia e tendo em vista a situaccedilatildeo no paiacutes norte-africano (que veremos mais
detalhadamente no capiacutetulo 4) essa devoluccedilatildeo configura o envio de pessoas para a tortura e
tratamentos desumanos
bull Diretivas 201195UE 201332UE 201333UE e 2008115CE
A ideia da Uniatildeo Europeia desde 1999 eacute ter um Sistema Europeu Comum de Asilo
(SECA) e as atitudes da UE sempre foram para buscar a harmonizaccedilatildeo dessas leis destaca-
se a criaccedilatildeo do Fundo Europeu para os Refugiados diretivas elaboradas para respostas de
altos fluxos de migrantes Assim o SECA era alicerccedilado em trecircs pilares sendo eles a
harmonia das normas de proteccedilatildeo cooperaccedilatildeo entre os paiacuteses membros e maior
solidariedade entre os paiacuteses da UE e esta com os demais paiacuteses (natildeo pertencentes agrave UE)206
Vaacuterios satildeo os documentos elaborados para obter a harmonia desejada alguns deles
inclusive jaacute discutidos neste trabalho Poreacutem aleacutem destes documentos tem-se as diretivas
europeias que norteiam os Estados-membros a fim de obter o tatildeo desejado ldquosistema comumrdquo
Assim cita-se algumas importantes diretivas Diretiva 201195UE Diretiva 201332UE
Diretiva 201333UE e 2008115CE
A primeira (Diretiva 201195UE) traz as motivaccedilotildees para que se conceda a proteccedilatildeo
internacional bem como melhorar as medidas de integraccedilatildeo para os indiviacuteduos que
206 COMISSAtildeO EUROPEIA Common European Asylum System Disponiacutevel em httpseceuropaeuhome-
affairswhat-we-dopoliciesasylum_en Acesso em 27052020
68
receberem a proteccedilatildeo internacional207 Portanto esta diretiva tem por finalidade
ldquoestabelecer normas comuns relativas agrave identificaccedilatildeo dos cidadatildeos de paiacuteses terceiros ou
apaacutetridas que necessitam verdadeiramente de proteccedilatildeo internacional na Uniatildeo Europeia
(UE) como refugiados ou beneficiaacuterios de proteccedilatildeo subsidiaacuteriardquo208
Assim essa Diretiva traz normas comuns para o enquadramento no status de
refugiado ou de proteccedilatildeo subsidiaacuteria ressaltando que os paiacuteses membros podem ter normas
mais beneacuteficas do que as previstas no mencionado documento Tem-se aqui que a condiccedilatildeo
de refugiado tem por base a Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 e a proteccedilatildeo subsidiaacuteria traz a
situaccedilatildeo quando natildeo haacute o enquadramento na condiccedilatildeo de refugiado poreacutem o indiviacuteduo tem
um risco real de sofrer uma ofensa grave caso retorne para seu paiacutes de origem (entende-se
por ofensa grave a pena de morte tortura ameaccedila agrave integridade fiacutesica ou agrave vida)209
A Diretiva 201332UE refere-se aos procedimentos de asilo e tem a finalidade de
decisotildees de asilo mais justas raacutepidas e de melhor qualidade Sendo assim os procedimentos
natildeo devem ultrapassar o periacuteodo de 6 meses Esse documento tambeacutem traacutes garantias
especiacuteficas para menores natildeo acompanhados e pessoas com necessidades especiais (idosos
deficientes doenccedila orientaccedilatildeo sexual trauma entre outros)210
A Diretiva 201333UE refere-se agraves condiccedilotildees de acolhimento dos requerentes de
proteccedilatildeo internacional ou seja a questatildeo da moradia e de vida dos requerentes de proteccedilatildeo
internacional Dessa maneira eacute de extrema importacircncia que os direitos fundamentais dos
indiviacuteduos sejam respeitados bem como se for o caso de detenccedilatildeo do indiviacuteduo que seja
em uacuteltimo recurso211
E por fim a Diretiva 2008115CE refere-se aos procedimentos comuns dos Estados-
membros para regresso de cidadatildeos de paiacuteses terceiros que natildeo estatildeo com sua situaccedilatildeo
regularizada no entanto chama-se a atenccedilatildeo do artigo 5ordm deste documento no qual consta
entre outras disposiccedilotildees que os Estados-membros devem respeitar o princiacutepio da natildeo-
repulsatildeo como segue ldquoc) O estado de sauacutede do nacional de paiacutes terceiro em causa e
207 COMISSAtildeO EUROPEIA Common European Asylum System Op cit 208 EUR-LEX Diretiva 201195UE Disponiacutevel em httpseur-lexeuropaeulegal-
contentPTLSUuri=celex32011L0095 Acesso em 27052020 209 Ibidem 210 EUR-LEX Diretiva 201332UE Disponiacutevel em httpseur-lexeuropaeulegal-
contentPTTXTuri=LEGISSUM23010502_1 Acesso em 27052020 211 EUR-LEX Diretiva 201333UE Disponiacutevel em httpseur-lexeuropaeulegal-
contentPTTXTuri=LEGISSUM23010502_2 Acesso em 27052020
69
respeitar o princiacutepio da natildeo-repulsatildeordquo212 Portanto apesar da mencionada diretiva dispor a
respeito do retorno de pessoas com situaccedilatildeo irregular ela consta expressamente o respeito
ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo
23 Ordens juriacutedicas nacionais Itaacutelia Portugal Greacutecia Malta Espanha
Franccedila e Alemanha
Este toacutepico eacute destinado ao estudo de algumas legislaccedilotildees nacionais a fim de comparar
os respectivos ordenamentos juriacutedicos Assim foram escolhidos paiacuteses como Itaacutelia Greacutecia
e Malta por sofrerem constantemente com chegada de refugiados pelo Mar Mediterracircneo
Franccedila e Alemanha por serem paiacuteses que apesar de natildeo estarem proacuteximos do Mar
Mediterracircneo recebem milhares de refugiados todos os anos Espanha e Portugal pela
proximidade com o Mediterracircneo sendo que a Espanha jaacute ofereceu porto para desembarque
de um barco de refugiados quando este foi rejeitado pela Itaacutelia213 Para anaacutelise da legislaccedilatildeo
de asiloproteccedilatildeo internacional dos paiacuteses foram utilizados livros mas principalmente
consulta nos sites dos governos de cada paiacutes
231 Itaacutelia
No ano de 2016 foi o auge de desembarques de migrantes na Itaacutelia foram 181436
migrantes que desembarcaram em busca de proteccedilatildeo internacional Nos anos seguintes
houve uma diminuiccedilatildeo de pessoas que chegaram no paiacutes sendo 11097 pessoas no ano de
2019 Poreacutem ao se comparar o periacuteodo de janeiro a junho de 2019 com o mesmo periacuteodo
em 2020 (ateacute o dia 15062020) nota-se um aumento de 2144 para 5639 migrantes214
Na Itaacutelia entende-se que assim que o migrante chegar agrave costa do paiacutes deve haver um
breve reconhecimento do tratamento daqueles que procuram proteccedilatildeo apoacutes isso procede-se
212 UNIAtildeO EUROPEIA Diretiva 2008115CE Disponiacutevel em httpseur-lexeuropaeulegal-
contentPTTXTuri=CELEX3A32008L0115 Acesso em 27052020 213 Situaccedilatildeo que ocorreu em agosto de 2019 quando a Itaacutelia recusou o desembarque do barco Open Arms e a
Espanha ofereceu porto poreacutem a ONG responsaacutevel rejeitou o pedido dizendo que natildeo havia condiccedilotildees para
uma jornada tatildeo longa ateacute a Espanha pois jaacute estavam a 17 dias no mar Fonte Jornal El Paiacutes Espanha oferece
porto para navio com imigrantes rejeitados pela Itaacutelia mas ONG recusa Disponiacutevel
httpsbrasilelpaiscombrasil20190818internacional1566124937_065336html Acesso em 07042020 214 MINISTERO DELLrsquoINTERNO Cruscotto statistico giornaliero Disponiacutevel em
httpwwwlibertaciviliimmigrazionedlciinternogovititdocumentazionestatisticacruscotto-statistico-
giornaliero Acesso em 19062020
70
agrave anaacutelise do procedimento de asilo e dos pedidos de proteccedilatildeo internacional Assim em um
primeiro momento faz-se uma distinccedilatildeo entre os migrantes econocircmicos e agravequeles que
solicitam a proteccedilatildeo internacional215
Nesse sentido em setembro de 2015 o Ministeacuterio do Interior da Itaacutelia publicou a
ldquoRoadmap italianardquo que consiste em explicar as medidas adotadas pelo governo para
administrar os migrantes que chegariam na costa italiana Ressalta-se poreacutem que natildeo
consiste em um texto legal mas sim uma nota de endereccedilo formal presente em uma circular
ministerial publicada no mecircs seguinte216
A ideia eacute que todos migrantes que cheguem aos pontos chamados ldquocentros de criserdquo
que ficam proacuteximos aos principais portos no sul da Itaacutelia para que ocorra uma preacute-
identificaccedilatildeo anaacutelise das condiccedilotildees de sauacutede e tambeacutem a respeito da entrada ilegal
ressalta-se que tais centros satildeo fechados ou seja ocorre uma privaccedilatildeo de liberdade
temporaacuteria para que sejam feitos os procedimentos necessaacuterios217
Sobre os chamados ldquocentros de criserdquo notamos que o artigo 8 nuacutemero 2 do Decreto
Legislativo 1422015 reitera a preacute-identificaccedilatildeo dos requerentes de proteccedilatildeo internacional
nos termos previstos no Decreto-Lei nordm 451 de 30 de outubro de 1995 em que prevecirc a criaccedilatildeo
dessas estruturas de acolhimento218
Dessa forma destaca-se a importacircncia de haver uma distinccedilatildeo nestes ldquocentros de
criserdquo dos migrantes econocircmicos dos que procuram proteccedilatildeo internacional humanitaacuteria219
ou seja eacute importante haver a distinccedilatildeo do tipo de migrante para saber se o indiviacuteduo se
enquadra nas hipoacuteteses de refugiado (conforme jaacute visto anteriormente na Convenccedilatildeo da
ONU de 1951) e assim receber proteccedilatildeo internacional220
Os requerimentos de asilo devem ser realizados nos postos de fronteira (ou na poliacutecia
de fronteira) poreacutem destaca-se que estes natildeo satildeo os oacutergatildeos competentes pela anaacutelise dos
215 SAVIO Guido Capitolo II Le procedure amministrative della domanda drsquoasilo dallrsquoavvio alla decisione
In ROCCA Paolo Immigrazione Asilo e Cittadinanza IV Edizione Maggioli Editore Santarcangelo di
Romagna 2019 216 Ibidem 217 Ibidem 218 REPUBBLICA ITALIANA Gazzetta Ufficiale della Reppublica Italiana - Decreto Legislativo 18 Agosto
2015 N 142 Disponiacutevel em httpswwwgazzettaufficialeiteliid2015091515G00158sg Acesso em
11052020 219 SAVIO Guido Op cit 220 NACcedilOtildeES UNIDAS Qual a diferenccedila entre lsquorefugiadosrsquo e lsquomigrantesrsquo Disponiacutevel em
httpsnacoesunidasorgqual-a-diferenca-entre-refugiados-migrantesamp Acesso em 11052020
71
requerimentos Portanto estes oacutergatildeos de fronteira devem remeter os requerimentos agraves
Comissotildees Territoriais responsaacuteveis pela anaacutelise dos pedidos de asilo221
A respeito dessas Comissotildees Territoriais tem-se que no artigo 4 do Decreto-
Legislativo 252008 dispotildee a respeito desses oacutergatildeos Assim tais oacutergatildeos fazem uso de
estruturas do Ministeacuterio do Interior e podem ser no maacuteximo 10 comissotildees (conforme n2 do
mencionado artigo) destaca-se o fato de um dos integrantes dessas comissotildees serem
representantes do ACNUR222
Entatildeo a respeito do pedido de asilo deve ser preenchido um formulaacuterio chamado
C3 que deve ser acompanhado com os documentos necessaacuterios Tal requerimento deve ser
feito dentro de 3 dias uacuteteis depois da manifestaccedilatildeo da intenccedilatildeo de requerer proteccedilatildeo
internacional ou 6 dias uacuteteis se a manifestaccedilatildeo de vontade foi feita na poliacutecia de fronteira
ressalta-se que pode haver um aumento desse prazo em casos de altas demandas neste caso
aceita-se o requerimento em ateacute 10 dias uacuteteis223
Nesse sentido o Decreto-Legislativo 252008 no artigo 6 nuacutemero 1 dispotildee o
seguinte ldquoLa domanda di protezione internazionale e presentata personalmente dal
richiedente presso lufficio di polizia di frontiera allatto dellingresso nel territorio
nazionale o presso lufficio della questura competente in base al luogo di dimora del
richiedente224rdquo
Apoacutes a apresentaccedilatildeo do requerimento de asilo os requerentes possuem o direito de
permanecer na Itaacutelia por um periacuteodo de 6 meses podendo ser prorrogado pelo periacuteodo que
durar a anaacutelise do pedido Assim apoacutes haacute a autorizaccedilatildeo de trabalho para os requerentes bem
como usufruir das garantias previstas no artigo 10 do Decreto-Legislativo 252008 que
incluem entre outras o direito agrave informaccedilatildeo (assim como previsto na Diretiva 201313UE)
direito de contato com o ACNUR direito agrave assistecircncia linguiacutestica etc225
Para o estrangeiro que requerer proteccedilatildeo internacional aleacutem da autorizaccedilatildeo de
moradia durante a anaacutelise do procedimento da requisiccedilatildeo de asilo teraacute acesso agraves medidas de
221 SAVIO Guido Op cit 222 REPUBBLICA ITALIANA Gazzetta Ufficiale della Reppublica Italiana - Decreto Legislativo 28 Gennaio
2008 N 25 Disponiacutevel em
httpswwwgazzettaufficialeitattoserie_generalecaricaDettaglioAttooriginarioattodataPubblicazioneGa
zzetta=2008-02-16ampattocodiceRedazionale=008G0044ampelenco30giorni=false Acesso em 12052020 223 SAVIO Guido Op cit 224 REPUBBLICA ITALIANA Gazzetta Ufficiale della Reppublica Italiana - Decreto Legislativo 28 Gennaio
2008 N 25 Op cit 225 SAVIO Guido Op cit
72
acolhimento previstas no Decreto Legislativo 1422015226 sobre este documento tem-se no
artigo 8ordm uma explicaccedilatildeo sobre o que eacute o sistema de colhimento dividido em duas fases
Assim a base deste sistema consiste na ldquo()leale collaborazione tra i livelli di governo
interessati secondo le forme di coordinamento nazionale e regionale ()rdquo227
Dessa forma como supramencionado com base na leitura do artigo percebemos a
existecircncia de duas fases no sistema de acolhimento A primeira consiste no acolhimento
assegurado como previsto nos artigos de 9 a 11 do decreto (que dispotildeem sobre as estruturas
de primeiro acolhimento modalidades e medidas extraordinaacuterias) e a segunda disciplinada
no artigo 14 que dispotildee que caso o estrangeiro natildeo tenha condiccedilotildees de arcar com uma vida
digna (com qualidade de vida) ela teraacute acesso ao SPRAR (Sistema de Proteccedilatildeo para o
Requerente de Asilo e Refugiado)228 Portanto destaca-se que haacute duas estruturas de
acolhimento uma referida no artigo 9 e outra no artigo 14
Ressalta-se poreacutem que em 2018 houve uma reforma com o Decreto-Legislativo
1132018 no qual foi estruturado um sistema de acolhimento separado para solicitantes de
asilo nos centros extraordinaacuterios229 estes estatildeo previstos no artigo 11 do Decreto 1422015
assim tal dispositivo prevecirc que em casos de natildeo haver vagas nas estruturas de acolhimento
previstas nos artigos 9 e 14 a recepccedilatildeo pode ser realizada pelas prefeituras em estruturas
temporaacuterias montadas especificamente para estes casos depois de ouvido o Departamento
pela Liberdade Civil e Imigraccedilatildeo do Ministeacuterio do Interior230 Nesse sentido o Decreto
1132018 traz a reforma dispondo a respeito de um sistema de acolhimento de forma
separada para os solicitantes de asilo nestes centros extraordinaacuterios231
Diante da reforma ocorrida em 2018 as estruturas previstas no Decreto-Legislativo
1422015 continuam em vigor para um sistema comum de asilo jaacute as novas estruturas
extraordinaacuterias satildeo destinadas agraves requisiccedilotildees de asilo das pessoas que necessitam de proteccedilatildeo
226 SAVIO Guido Op cit 227 REPUBBLICA ITALIANA Gazzetta Ufficiale della Reppublica Italiana - Decreto Legislativo 18 agosto
2015 n 142 ndash Art 8 Disponiacutevel em httpswwwgazzettaufficialeiteliid2015091515G00158sg Acesso
em 23052020 228 Ibidem 229 SAVIO Guido Op cit 230 REPUBBLICA ITALIANA Gazzetta Ufficiale della Reppublica Italiana - Decreto Legislativo 18 agosto
2015 n 142 Disponiacutevel em httpswwwgazzettaufficialeiteliid2015091515G00158sg Acesso em
23052020 231 SAVIO Guido Op cit
73
internacional Sendo que as estruturas extraordinaacuterias satildeo administradas pelos governos
locais232
No que se refere agraves requisiccedilotildees de proteccedilatildeo internacional na Itaacutelia elas devem ser
validadas caso a caso por um oacutergatildeo instituiacutedo pelo Ministeacuterio do Interior chamado Comissatildeo
Nacional para o Direito de Asilo (sediada em Roma) mas articulada em 20 Comissotildees
Territoriais e 30 seccedilotildees separadas destas comissotildees Sendo que estas Comissotildees Territoriais
estatildeo instaladas nas prefeituras233
Portanto sendo a Itaacutelia um dos paiacuteses que mais sofrem com a chegada de imigrantes
notamos que possui ampla legislaccedilatildeo no que se refere a asilo e acolhimento de pessoas que
necessitam de proteccedilatildeo internacional bem como possui oacutergatildeos para melhor organizaccedilatildeo da
estrutura de acolhimento Obviamente existem muitas criacuteticas a respeito deste sistema
poreacutem se deve levar em conta que satildeo milhares de pessoas que chegam na Itaacutelia requerendo
proteccedilatildeo Esse grande fluxo migratoacuterio na Itaacutelia faz com que o paiacutes viole reiteradamente os
direitos humanos dos migrantes obviamente natildeo se deve justificar as violaccedilotildees pelo grande
fluxo no entanto alguma accedilatildeo para administraccedilatildeo e organizaccedilatildeo dos migrantes deve ser
tomada a fim de desafogar os paiacuteses de entrada Uma melhor distribuiccedilatildeo dos migrantes eacute
uma das propostas do Novo Pacto sobre Migraccedilatildeo e Asilo
232 Portugal
Portugal assim como outros paiacuteses europeus eacute signataacuterio dos principais diplomas
internacionais como a Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 Protocolo de Nova Iorque e a
Convenccedilatildeo de Dublin que foram explicados anteriormente em acircmbito nacional o
documento que disciplina a questatildeo de asilo e proteccedilatildeo internacional eacute a Lei nordm 262014 de
5 de maio
O procedimento para requisiccedilatildeo de asilo e proteccedilatildeo internacional em Portugal se
inicia atraveacutes de requisiccedilatildeo ao SEF (Serviccedilo de Estrangeiros e Fronteiras) ou qualquer outra
autoridade policial dessa forma seraacute feita a identificaccedilatildeo do imigrante atraveacutes de seus dados
foto e impressotildees digitais (para maiores de 14 anos) assim receberaacute um comprovante de que
requereu a proteccedilatildeo e poderaacute permanecer no paiacutes ateacute o final do procedimento Caso o
232 SAVIO Guido Op cit 233 Ibidem
74
requerimento seja realizado em um posto de fronteira deveraacute permanecer ali por pelo menos
7 dias ateacute que se tenha alguma decisatildeo a respeito do pedido se admitirem o pedido seraacute
autorizada a entrada em Portugal caso contraacuterio deveraacute ser enviado ao paiacutes de origem (haacute a
possibilidade de recorrer com efeito suspensivo no prazo de 4 dias) mas se o pedido for
realizado jaacute no territoacuterio portuguecircs eacute encaminhado para centros de acolhimento de
requerentes de proteccedilatildeo e laacute deveraacute esperar ser convocado para entrevista em alguma agecircncia
do SEF
Na entrevista seratildeo analisados os fatos e se a decisatildeo for positiva receberaacute uma
autorizaccedilatildeo de residecircncia no prazo de 6 meses apoacutes esse periacuteodo seraacute analisado se a pessoa
reuacutene os requisitos para obtenccedilatildeo de asilo ou de proteccedilatildeo subsidiaacuteria Neste periacuteodo destaca-
se que o indiviacuteduo poderaacute trabalhar eou estudar Se a decisatildeo for negativa a pessoa teraacute o
prazo de 20 dias para deixar o paiacutes mas tem o prazo de 15 dias para apresentar recurso234
A decisatildeo pode ser para conceder o asilo com base no Estatuto de Refugiado
(Convenccedilatildeo de 1951) e neste caso seraacute emitida uma autorizaccedilatildeo de residecircncia por 5 anos
podendo ser renovaacutevel poreacutem se o caso for de proteccedilatildeo subsidiaacuteria a autorizaccedilatildeo de
residecircncia eacute de 3 anos tambeacutem podendo ser renovaacutevel235
Ressalta-se que a concessatildeo de asilo com base no Estatuto do Refugiado tem por base
a Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 jaacute a proteccedilatildeo subsidiaacuteria natildeo tem por base este diploma
poreacutem as pessoas ldquo() natildeo podem regressar ao seu paiacutes por aiacute se verificar a violaccedilatildeo
sistemaacutetica dos direitos humanos ou por correrem o risco de sofrerem ofensa grave pena de
morte tortura ou tratamento desumano e degradanterdquo236
Ainda referente agraves questotildees de apoio ao refugiado cita-se o CPR (Conselho
Portuguecircs para os Refugiados) que consiste em uma ONG parceira do ACNUR para prestar
auxiacutelio aos refugiados alocados em Portugal Sendo assim faz-se importante destacar que
esta estrutura ldquoEacute o parceiro operacional do Alto Comissariado das Naccedilotildees Unidas
(ACNUR) para Portugal mantendo um Protocolo de Cooperaccedilatildeo desde Julho de 1993 que
visa agrave proteccedilatildeo juriacutedica e social dos requerentes de asilo e dos refugiados A partir de
234 PORTUGAL Serviccedilo de Estrangeiros e Fronteiras ndash Etapas do Procedimento de Proteccedilatildeo Internacional
Disponiacutevel em
httpswwwsefptptDocumentsFolheto20InformaC3A7C3A3o20ProteC3A7C3A3o
20Internacionalpdf Acesso em 23052020 235 Ibidem 236 Ibidem
75
Dezembro de 1998 data do encerramento do ACNUR em Portugal o CPR passou a
representar esta organizaccedilatildeo no nosso paiacutesrdquo237
Nota-se que a estrutura para recebimento de refugiado em Portugal eacute muito mais
simples que a italiana isso talvez se justifique pelo fato da Itaacutelia receber milhares de
refugiados de forma direta ou seja chegam diretamente em terras italianas por embarcaccedilotildees
clandestinas eou de ONGrsquos na costa requerendo ajuda por fugirem de situaccedilotildees de
sofrimento e ofensas aos direitos humanos
233 Greacutecia
Assim como a Itaacutelia a Greacutecia eacute um dos paiacuteses que mais sofrem com a chegada de
migrantes devido agrave proximidade com paiacuteses do Oriente Meacutedio e Norte da Aacutefrica muitos
refugiados chegam diretamente no paiacutes atraveacutes das embarcaccedilotildees pelo mar mediterracircneo e
tambeacutem pela Turquia
Para comeccedilarmos entender a estrutura de asilo no paiacutes helecircnico vamos ter por base o
Serviccedilo de Asilo (Asylum Service) instituiacutedo pela Lei nordm 39072011 sendo esta instituiccedilatildeo
responsaacutevel por analisar os pedidos de proteccedilatildeo internacional Trata-se portanto da primeira
instituiccedilatildeo autocircnoma para este objetivo238
Assim as funccedilotildees do Serviccedilo de Asilo consistem em analisar e aplicar as disposiccedilotildees
nacionais bem como observar as obrigaccedilotildees internacionais ao reconhecer um indiviacuteduo
como refugiado Aleacutem disso tambeacutem tem a funccedilatildeo de elaborar as poliacuteticas nacionais no que
se refere agrave proteccedilatildeo internacional e cooperaccedilatildeo com as organizaccedilotildees internacionais e da
Uniatildeo Europeia239
A estrutura desta instituiccedilatildeo eacute baseada em um escritoacuterio central escritoacuterios regionais
de asilo e unidades de asilo sendo que a primeira assessora e controla as demais estruturas
menores Assim o Serviccedilo de Asilo somente se reporta ao Ministro da Proteccedilatildeo do
Cidadatildeo240
237 CONSELHO PORTUGUEcircS PARA OS REFUGIADOS Histoacuteria Disponiacutevel httpscprpthistoria
Acesso em 24052020 238 HELLENIC REPUBLIC Asylum Service Disponiacutevel httpasylogovgrenpage_id=39 Acesso em
24052020 239 Ibidem 240 Ibidem
76
A respeito da concessatildeo da proteccedilatildeo internacional a Lei nordm 43752016 no artigo 21
modificou o decreto presidencial 1412013 Neste dispositivo haacute a informaccedilatildeo de que
quando concedida a proteccedilatildeo internacional o refugiado tem a autorizaccedilatildeo de residecircncia por
3 anos devendo requerer a renovaccedilatildeo (se for o caso) ateacute 30 dias antes do vencimento poreacutem
ressalta-se que o simples atraso natildeo deve ser motivo para rejeiccedilatildeo da renovaccedilatildeo Ainda no
mesmo dispositivo haacute previsatildeo da uniatildeo familiar do refugiado241
Na parte C da lei mencionada acima haacute adoccedilatildeo da Diretiva 201332UE sendo que
no artigo 33 haacute a menccedilatildeo do artigo 1ordm da diretiva que consiste na adoccedilatildeo comum de
procedimentos como disposto ldquo()on common procedures for granting and withdrawing
international protection statusrdquo242
Assim no artigo 34 da Lei nordm 43752016 faz referecircncia aos artigos 2 e 4 da diretiva
supramencionada trazendo uma seacuterie de conceitos e disposiccedilotildees para requisiccedilatildeo de asilo
para pessoas de uma mesma famiacutelia Ressalta-se tambeacutem que a interpretaccedilatildeo deve ser feita
com base nas disposiccedilotildees nacionais internacionais bem como na jurisprudecircncia243
A respeito dos pedidos de asilo tem-se que estes natildeo devem ser rejeitados apenas
por natildeo terem sido enviados rapidamente Assim na anaacutelise de todos os pedidos de proteccedilatildeo
internacional primeiro se analisa se haacute o enquadramento no status de refugiado caso natildeo
ocorra esse enquadramento deve-se analisar se eacute o caso de proteccedilatildeo subsidiaacuteria (conforme
artigo 39 da Lei nordm 43752016 e artigo 10 da Diretiva 201332EU)244
Assim como em outros paiacuteses a Greacutecia tambeacutem dispotildee que os pedidos devem ser
analisados individualmente sendo um processo de anaacutelise abrangente objetivo e imparcial
Nesse sentido o Serviccedilo de Asilo deve ter conhecimento de qual eacute a situaccedilatildeo no paiacutes de
origem das pessoas que pedem refuacutegio bem como deve assegurar que a equipe que analisa
os pedidos tenha amplo conhecimento das disposiccedilotildees nacionais internacionais e
jurisprudecircncias no que se refere agrave proteccedilatildeo internacional (para isso cita-se a realizaccedilatildeo de
treinamentos da equipe)245
A respeito do procedimento ele eacute gratuito e o pedido deve ser feito perante os
escritoacuterios regionais ou unidades de asilo o pedido tambeacutem pode ser feito para todos os
241 HELLENIC REPUBLIC Legislation Disponiacutevel httpasylogovgrenpage_id=113 Acesso em
24052020 242 Ibidem 243 Ibidem 244 Ibidem 245 Ibidem
77
integrantes da famiacutelia que estejam na Greacutecia Haacute tambeacutem a possibilidade de que um
advogado ou conselheiro acompanhe o processo poreacutem sem a intermediaccedilatildeo do Serviccedilo de
Asilo sendo as custas arcadas de forma independente pelo requisitante de asilo Durante o
procedimento assim como em outros paiacuteses ocorre a entrevista do requerente que apoacutes esta
recebe um cartatildeo que lhe assegura estar sob condiccedilatildeo de proteccedilatildeo246
Por fim de forma sinteacutetica podemos notar que a Greacutecia assim como os demais paiacuteses
da Uniatildeo Europeia segue as normas internacionais bem como as diretivas europeias que
norteiam o assunto Poreacutem em 2019 o paiacutes helecircnico comeccedilou com procedimentos com uma
seacuterie de reformas da legislaccedilatildeo nacional a fim de dificultar o procedimento e concessatildeo de
pedido de asilo O governo grego disse que a maioria dos migrantes que laacute chegam
atualmente natildeo satildeo os que necessitam de proteccedilatildeo internacional que se trata de migrantes
econocircmicos Tal argumento foi refutado pelo ACNUR que disse que 85 dos refugiados
que chegam atualmente na Greacutecia satildeo provenientes da Siacuteria Afeganistatildeo Iraque Repuacuteblica
Democraacutetica do Congo entre outros paiacuteses247
Nesse sentido a Anistia Internacional se manifestou a respeito dizendo ldquoThe new
Bill introduces significant changes to asylum procedures the rights and obligations of
asylum seekers reception and detention as well as economic social and cultural rightsrdquo
Dessa forma o governo grego alterou o conceito de pessoas vulneraacuteveis excluindo as
pessoas que se enquadram em situaccedilatildeo de estresse poacutes-traumaacutetico Trata-se de uma
significativa mudanccedila tendo em vista que a maioria dos requerentes de proteccedilatildeo
internacional sofre com esse transtorno pois estavam expostos a diversas situaccedilotildees como
de violecircncia fiacutesica e psicoloacutegica por exemplo248
Outro ponto importante eacute a ideia de acelerar os procedimentos de asilo tornando a
anaacutelise mais superficial e sem aprofundamento no meacuterito de cada pedido de asilo aleacutem disso
tambeacutem impacta as pessoas em que a proteccedilatildeo internacional eacute concedida ou seja dificulta
o acesso ao mercado de trabalho ao sistema de sauacutede e agrave educaccedilatildeo altera a composiccedilatildeo do
246 HELLENIC REPUBLIC Legislation Op cit 247 NATIONAL INTEGRATION EVALUATION MECHANISM (NIEM) The new law on asylum in Greece
Disponiacutevel em httpwwwforintegrationeuplthe-new-law-on-asylum-in-greece Acesso em 25052020 248 ANISTIA INTERNACIONAL Greece Proposed bill on asylum downgrades EU and International Law
standards on refugees protection 2019 Disponiacutevel em httpwwwantigonegrennewspost452 Acesso em
25052020
78
Serviccedilo de Asilo entre outras reformas no sentido de prejudicar a concessatildeo de proteccedilatildeo
internacional249
Sendo assim muitas satildeo as criacuteticas a respeito da nova lei grega para a concessatildeo da
proteccedilatildeo internacional o ACNUR recebeu com preocupaccedilatildeo a notiacutecia da possibilidade de
reforma pois tal mudanccedila enfraqueceria a proteccedilatildeo internacional dos indiviacuteduos
necessitados O oacutergatildeo reconheceu que a necessidade de fortalecimento da legislaccedilatildeo grega
sobre o tema poreacutem natildeo da forma como tem sucedido ou seja tal projeto de lei
sobrecarrega os requerentes de asilo250
E mesmo sob criacuteticas de diversas organizaccedilotildees internacionais como a Anistia
Internacional o ACNUR (ONU) Meacutedicos Sem Fronteiras entre outras em maio de 2020 a
governo helecircnico aprovou a nova lei de asilo em detrimento dos direitos dos indiviacuteduos que
necessitam de proteccedilatildeo internacional251
Aleacutem disso adiante demonstraraacute adiante mais claramente que a Greacutecia natildeo tem sido
um paiacutes seguro para requerer asilo tendo em vista muitas violaccedilotildees dos direitos humanos
inclusive com relatoacuterio do ACNUR orientando os paiacuteses para que natildeo enviem os migrantes
para Greacutecia devido agraves violaccedilotildees e falta de cuidados com os mesmos Ademais uma
reportagem do jornal ldquoThe New York Timesrdquo citada no uacuteltimo capiacutetulo trouxe agrave tona a
violaccedilatildeo grega de deixar migrantes agrave deriva no mar levando-os ateacute a fronteira do mar
territorial e abandonando-os
234 Malta
A ilha de Malta sofre com a chegada de milhares de refugiados da mesma forma que
a Itaacutelia e a Greacutecia principalmente por embarcaccedilotildees clandestinas ou de ONGrsquos tendo origem
no norte do continente africano em paiacuteses como a Liacutebia por exemplo Sendo assim eacute um
dos paiacuteses mais afetados pela migraccedilatildeo em busca de proteccedilatildeo internacional da Uniatildeo
Europeia
249 ANISTIA INTERNACIONAL Greece Proposed bill on asylum downgrades EU and International Law
standards on refugees protection 2019 Op cit 250 UNHCR GREECE UNHCR urges Greece to strengthen safeguards in draft asylum law 2019 Disponiacutevel
em httpswwwunhcrorggren13170-unhcr-urges-greece-to-strengthen-safeguards-in-draft-asylum-
lawhtml 251 DIAacuteRIO DE NOTIacuteCIAS Greacutecia aprova nova reforma na lei de asilo do paiacutes 2020 Disponiacutevel em
httpswwwdnoticiasptmundogrecia-aprova-nova-reforma-na-lei-de-asilo-do-pais-FE6240421 Acesso em
25052020
79
Assim o oacutergatildeo responsaacutevel pela anaacutelise dos pedidos de proteccedilatildeo internacional em
Malta faz parte do Ministeacuterio de Assuntos Internos e Seguranccedila Nacional e consiste no
Escritoacuterio do Comissaacuterio para Refugiados A criaccedilatildeo deste estaacute prevista na Lei dos
Refugiados (capiacutetulo 420 das Leis de Malta) e tomou agrave frente da anaacutelise dos requerimentos
de asilo em janeiro de 2002 anteriormente a anaacutelise era realizada pelo ACNUR
A principal funccedilatildeo do referido oacutergatildeo eacute receber processar e determinar os pedidos de
proteccedilatildeo internacional conforme previsto na Lei dos Refugiados (alterada pelas leis VI e
VII em 2015) e na Legislaccedilatildeo Subsidiaacuteria 42007 Aleacutem destas leis que consistem na
legislaccedilatildeo nacional a respeito da concessatildeo de proteccedilatildeo internacional observa-se tambeacutem a
Convenccedilatildeo de Genebra Protocolo de Nova Iorque Convenccedilatildeo de Dublin e diretrizes
europeias sobre o tema252
As pessoas que necessitam de proteccedilatildeo para requisitarem a concessatildeo de asilo
devem contatar o Escritoacuterio do Comissaacuterio para Refugiado ou alguma outra autoridade de
Malta para demonstrar a intenccedilatildeo de obter a proteccedilatildeo internacional Assim os indiviacuteduos
satildeo orientados a preencher o chamado ldquoQuestionaacuterio Preliminarrdquo apoacutes a apresentaccedilatildeo deste
documento o Escritoacuterio do Comissaacuterio para Refugiado eacute o oacutergatildeo competente para analisar
os pedidos Obedece-se portanto as previsotildees da Convenccedilatildeo de Dublin253
Para auxiliar na anaacutelise do pedido eacute realizada entrevista (pelo menos uma) assim
como em outros paiacuteses europeus e esta eacute realizada por uma assistente social e inteacuterprete se
for o caso O procedimento para requerimento de asilo eacute uacutenico Portanto em um primeiro
momento eacute analisado se o indiviacuteduo se enquadra nos requisitos para a concessatildeo do status
de refugiado caso natildeo seja concedida a condiccedilatildeo de refugiado analisa-se se eacute a situaccedilatildeo de
concessatildeo de proteccedilatildeo subsidiaacuteria254
Apoacutes a anaacutelise informa-se o requerente sobre a decisatildeo constando nela os motivos
que levaram a chegar naquela decisatildeo Haacute a possibilidade de recurso em caso de decisatildeo
negativa sendo que satildeo fornecidas por escrito as informaccedilotildees necessaacuterias para que o
indiviacuteduo apresente o recurso255
252 MINISTRY FOR HOME AFFAIRS AND NATIONAL SECURITY (MALTA) The Office of the Refugee
Commissioner Disponiacutevel em httpshomeaffairsgovmtenmhas-
departmentsthe20office20of20the20refugee20commissionerPagesRefugeeaspx Acesso em
26052020 253 Ibidem 254 Ibidem 255 Ibidem
80
Assim de acordo com a Regra 14 da Legislaccedilatildeo Subsidiaacuteria 42007 uma pessoa a
qual foi concedida proteccedilatildeo internacional pode permanecer em Malta e lhe seraacute entregue
documentos pessoais autorizaccedilatildeo de residecircncia (por 3 anos podendo ser renovada) e
liberdade de circulaccedilatildeo A Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 prevecirc a entrega de um documento
de viagem (para aqueles que possuem status de refugiado jaacute para os que possuem proteccedilatildeo
subsidiaacuteria a legislaccedilatildeo nacional prevecirc a entrega de um documento de viagem permitindo a
pessoa sair e retornar a Malta (com exceccedilatildeo se estiver respondendo processo judicial
criminal ou cumprindo pena) Aleacutem disso os indiviacuteduos detentores de proteccedilatildeo internacional
teratildeo acesso a atividades laborais bem-estar social educaccedilatildeo assistecircncia meacutedica entre
outros benefiacutecios256
Como vimos haacute dois niacuteveis de proteccedilatildeo internacional ter o status de refugiado ou
se natildeo for possiacutevel receber proteccedilatildeo subsidiaacuteria Poreacutem o Escritoacuterio do Comissaacuterio para
Refugiados pode apresentar outro tipo de proteccedilatildeo ou seja a Proteccedilatildeo Humanitaacuteria
Temporaacuteria Tal regime deveraacute ser concedido para casos especiais para as pessoas que natildeo
se enquadrem no status de refugiado e nas condiccedilotildees para receber proteccedilatildeo subsidiaacuteria mas
que sejam considerados necessitados por razotildees humanitaacuterias especiais257
Aleacutem disso Malta ainda possui uma agecircncia voltada para o bem estar do refugiado
(Agecircncia para o Bem-Estar dos Requerentes de Asilo) que auxilia na implementaccedilatildeo da
legislaccedilatildeo nacional e poliacuteticas voltadas para o bem-estar dos requerentes de proteccedilatildeo
internacional bem como em assistecircncia para obtenccedilatildeo de emprego cursos de treinamentos
e de liacutenguas suporte social (sauacutede bem-estar da famiacutelia encaminhamento para apoio
psicoloacutegico e escolaridade)258
No entanto mesmo com toda essa estrutura para acolhimento dos migrantes Malta
a exemplo de outros paiacuteses europeus como Itaacutelia e Greacutecia tambeacutem tem violado direitos
humanos dos refugiados como veremos no uacuteltimo capiacutetulo
256 MINISTRY FOR HOME AFFAIRS AND NATIONAL SECURITY (MALTA) The Office of the Refugee
Commissioner Op cit 257 Ibidem 258 MINISTRY FOR HOME AFFAIRS AND NATIONAL SECURITY (MALTA) AWAS ndash Mission and
Function Disponiacutevel httpshomeaffairsgovmtenMHAS-DepartmentsawasPagesMission-and-
Functionaspx Acesso 26052020
81
235 Espanha
A Espanha tambeacutem eacute um paiacutes que sofre com as migraccedilotildees advindas do Mar
Mediterracircneo poreacutem ressalta-se que os mais afetados ainda satildeo Itaacutelia Greacutecia e Malta
Poreacutem como dito anteriormente a Espanha ofereceu a recepccedilatildeo de uma embarcaccedilatildeo que
estava haacute mais de duas semanas ancorada a 800 metros da costa de Lampedusa (Itaacutelia) com
107 migrantes na qual a Itaacutelia rejeitava o desembarque mas a embarcaccedilatildeo rejeitou o pedido
por natildeo ter condiccedilotildees de navegar ateacute Espanha259
A Espanha aceitou receber os migrantes por entender que a recusa de recebimento
pela Itaacutelia era inconcebiacutevel260 Resultado disso no dia 20 de agosto de 2019 os migrantes
saltaram ao mar para tentar chegar na costa italiana sendo assim as autoridades portuaacuterias
italianas comeccedilaram a resgatar os migrantes261 Poreacutem o assunto de resgate de migrantes no
mar seraacute abordado mais adiante
As principais normativas a respeito de proteccedilatildeo internacional na Espanha consistem
nos seguintes documentos a Lei 122009 regula o direito de asilo e a proteccedilatildeo subsidiaacuteria
o Decreto Real 13252003 que se refere agrave aprovaccedilatildeo do Regulamento a respeito do regime
de proteccedilatildeo temporal quando ocorrer um alto fluxo de pessoas deslocadas o Decreto Real
8652001que diz respeito agrave aprovaccedilatildeo do Estatuto do Apaacutetrida262
Assim o sistema de asilo da Espanha eacute formado por uma rede de centros de
acolhimento (do governo) os chamados CAR (Centros de Acolhida de Refugiados) bem
como disposiccedilotildees e programas que atendem as pessoas solicitantes que estatildeo sob proteccedilatildeo
internacional estes centros satildeo geridos por organizaccedilotildees sem fins lucrativos sob supervisatildeo
da Direccedilatildeo Geral de Migraccedilotildees263
259 O GLOBO Crise envolvendo navio de resgate humanitaacuterio ldquoOpen Armsrdquo contrapotildee Itaacutelia Espanha e ONG
2019 Disponiacutevel em httpsogloboglobocommundocrise-envolvendo-navio-de-resgate-humanitario-open-
arms-contrapoe-italia-espanha-ong-23887061 Acesso em 27052020 260 Ibidem 261 REVISTA VEJA Imigrantes se jogam no mar do navio Open Arms para alcanccedilar a Itaacutelia 2019 Disponiacutevel
httpsvejaabrilcombrmundoimigrantes-se-jogam-do-navio-open-arms-no-mar-alcancar-a-italia Acesso
em 27052020 262 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DE INCLUSIOacuteN SEGURIDAD SOCIAL Y
MIGRACIONES) PORTAL DE INMIGRACIOacuteN ndash Reacutegimen de Asilo Disponiacutevel em
httpextranjerosmitramissgobesesnormativanacionalasiloindexhtml Acesso em 27052020 263 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DE INCLUSIOacuteN SEGURIDAD SOCIAL Y
MIGRACIONES) PORTAL DE INMIGRACIOacuteN ndash Informacioacuten Disponiacutevel em
httpextranjerosmitramissgobesesProteccionAsiloinformacionindexhtml Acesso em 27052020
82
O financiamento dessas ONGrsquos proveacutem da Secretaria Geral de Imigraccedilatildeo e
Emigraccedilatildeo com auxiacutelio em alguns casos do Fundo Social Europeu e Fundo de Asilo
Migraccedilatildeo e Integraccedilatildeo O ACNUR pode intervir nos procedimentos de asilo (nos termos que
a lei permitir) nesse sentido esta organizaccedilatildeo recebe valores da Direccedilatildeo Geral das
Migraccedilotildees264
A lei que regula a questatildeo do asilo e da proteccedilatildeo subsidiaacuteria na Espanha eacute a Lei
122009 e no artigo 231 haacute a previsatildeo da Oficina de Asilo e Refuacutegio que eacute o oacutergatildeo
responsaacutevel pela tramitaccedilatildeo e solicitaccedilotildees de proteccedilatildeo internacional265 Essa informaccedilatildeo estaacute
presente tambeacutem no folheto informativo sobre a proteccedilatildeo internacional que diz que todas as
solicitaccedilotildees satildeo analisadas pela Oficina de Asilo e Refuacutegio e a decisatildeo eacute tomada pelo
Ministeacuterio do Interior266 Assim conforme disposto no site do governo espanhol a Oficina
de Asilo estaacute subordinada agrave Subdireccedilatildeo Geral de Proteccedilatildeo Internacional que por sua vez se
submete agrave Direccedilatildeo Geral de Poliacutetica Interior (inserida portanto no acircmbito do Ministeacuterio do
Interior)267
O procedimento portanto se inicia com a solicitaccedilatildeo do indiviacuteduo perante o posto
fronteiriccedilo (se estaacute chegando na Espanha) ou se jaacute estiver na Espanha na Oficina de Asilo
e Refuacutegio Oficina de Estrangeiros Delegacias de Poliacutecia Autorizadas e Centros de
Internaccedilatildeo para Estrangeiros e devem requerer no prazo de 1 mecircs que estejam na Espanha
ou quando ocorram acontecimentos que justifiquem a requisiccedilatildeo268
A solicitaccedilatildeo deve ser pessoalmente e passaraacute por uma entrevista que deveraacute explicar
os motivos que justifiquem a proteccedilatildeo internacional e como chegou agrave Espanha O requerente
tem o direito de permanecer na Espanha ateacute que se resolva a sua requisiccedilatildeo e ter assistecircncia
sanitaacuteria aleacutem disso tem o direito de ser assistido por um advogado e caso natildeo tenha
264 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DE INCLUSIOacuteN SEGURIDAD SOCIAL Y
MIGRACIONES) PORTAL DE INMIGRACIOacuteN ndash Informacioacuten Op cit 265 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DEL INTERIOR) Oficina de Asilo y Refugio Disponiacutevel em
httpwwwinteriorgobeswebservicios-al-ciudadanooficina-de-asilo-y-refugio Acesso em 27052020 266 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DEL INTERIOR) Informacioacuten para los solicitantes de
proteccioacuten internacional em Espantildea Derecho de Asilo y Proteccioacuten Subsidiaria Disponiacutevel em
httpwwwinteriorgobesdocuments6423171201485Informacion_solicitantes_Asilo_EspaC3B1ol_12
6160083pdfd8fb2cb4-9bc4-4a53-9032-628c02f1e114 Acesso em 27052020 267 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DE INCLUSIOacuteN SEGURIDAD SOCIAL Y
MIGRACIONES) PORTAL DE INMIGRACIOacuteN ndash Informacioacuten Op cit 268 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DEL INTERIOR) Informacioacuten para los solicitantes de
proteccioacuten internacional em Espantildea Derecho de Asilo y Proteccioacuten Subsidiaria Op cit
83
condiccedilotildees de pagar deveraacute requerer agrave ONGrsquos ou Coleacutegios de Advogados Assim que se eacute
realizado a requisiccedilatildeo de asilo deveraacute comunicar o ACNUR269
Da decisatildeo de negativa da concessatildeo de proteccedilatildeo internacional cabe recurso ao juiz
(se a requisiccedilatildeo ocorrer no territoacuterio espanhol) se requereu em um posto fronteiriccedilo deveraacute
permanecer no local sendo que as autoridades possuem ateacute 4 dias para analisar a admissatildeo
do tracircmite Autorizado o procedimento o indiviacuteduo poderaacute entrar no paiacutes caso seja negada
a admissatildeo do pedido o requerente teraacute dois dias para apresentar recurso (chamado reexame)
e a autoridade teraacute dois dias para analisar mesmo assim se ocorrer a negativa o indiviacuteduo
deveraacute deixar a Espanha ou recorrer a um juiz ou tribunal270
O prazo para anaacutelise dos pedidos eacute de seis meses podendo ser reduzido para trecircs
meses em casos urgentes desta decisatildeo caberaacute recurso ao Tribunal (ldquoAudiencia Nacionalrdquo)
e destaca-se que o requerente tem direito a assistecircncia gratuita de um advogado caso natildeo
tenha condiccedilotildees de arcar com os custos271
Anteriormente foi explicado que a Espanha possui em seu sistema de asilo o Centro
de Acolhida dos Refugiados (CAR) que consistem em locais puacuteblicos cuja utilidade eacute o
alojamento assistecircncia social manutenccedilatildeo entre outros serviccedilos sociais com a finalidade
de integrar e facilitar a vida dos requerentes de asilo Sendo assim o seu regramento esta
previsto no Regramento da Lei Orgacircnica 42000 que trata sobre os direitos e liberdades de
estrangeiros na Espanha e tambeacutem da integraccedilatildeo social sendo que estaacute previsto no artigo
2642 os programas para as pessoas que requerem proteccedilatildeo internacional aleacutem disso cita-
se a Ordem Ministerial de 13 de janeiro de 1989 que regula os centros de acolhida de
refugiados e asilados e tambeacutem a Resoluccedilatildeo de 6 de julho de 1998 que aprovou o Estatuto
baacutesico dos CAR que resulta na Ordem de 13 de janeiro de 1989 que os regula272
269 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DEL INTERIOR) Informacioacuten para los solicitantes de
proteccioacuten internacional em Espantildea Derecho de Asilo y Proteccioacuten Subsidiaria Op cit 270 Ibidem 271 Ibidem 272 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DE INCLUSIOacuteN SEGURIDAD SOCIAL Y
MIGRACIONES) PORTAL DE INMIGRACIOacuteN ndash Centro de Acogida a Refugiados (CAR) Disponiacutevel em
httpextranjerosmitramissgobesesproteccionasilocarindexhtml Acesso em 27052020
84
236 Franccedila
Em 2019 a Franccedila se tornou o paiacutes com maior nuacutemero de solicitaccedilotildees de refuacutegio na
Europa Sendo assim eacute o Ministeacuterio do Interior a reparticcedilatildeo do governo responsaacutevel pela
anaacutelise dos pedidos de asilo no paiacutes sendo o Escritoacuterio Francecircs de Proteccedilatildeo dos Refugiados
e Apaacutetridas oacutergatildeo responsaacutevel pela anaacutelise dos requerimentos de proteccedilatildeo internacional
Ao se analisar os dispositivos a respeito de asilo na Franccedila tem-se que logo no
preacircmbulo (Nordm 4) de sua Constituiccedilatildeo este direito estaacute previsto ou seja possuem direito de
asilo no territoacuterio francecircs aqueles que ao buscarem sua liberdade sofrerem algum tipo de
perseguiccedilatildeo Como segue ldquoTout homme perseacutecuteacute en raison de son action en faveur de la
liberteacute a droit dasile sur les territoires de la Reacutepubliquerdquo273 Portanto o direito de asilo no
direito francecircs consiste em um princiacutepio constitucional O direito de asilo estaacute previsto
tambeacutem no Livro VII do Coacutedigo de Entrada e Permanecircncia de Estrangeiros e do Direito de
Asilo (CESEDA)274
O site do governo francecircs dispotildee que o direito de asilo tambeacutem deriva dos
compromissos internacionais assumidos pelo paiacutes ou seja ser signataacuteria da Convenccedilatildeo de
Genebra de 1951 Convenccedilatildeo de Dublin e Diretivas Europeias Aleacutem disso o referido direito
se baseia em trecircs princiacutepios ter seu pedido analisado de forma imparcial direito de proteccedilatildeo
estendida direito de acolhimento e vida digna enquanto aguarda o resultado da
solicitaccedilatildeo275
Por proteccedilatildeo estendida entende-se duas formas de proteccedilatildeo internacional (como jaacute
explicado) isto eacute concessatildeo de status de refugiado ou concessatildeo de proteccedilatildeo subsidiaacuteria O
pedido deve ser analisado de forma imparcial pelo OFPRA e CNDA (Cocircrte Nacional de
Direito de Asilo oacutergatildeo ligado ao Conselho de Estado) Assim o OFPRA eacute vinculado ao
Ministeacuterio do Interior e natildeo deve sofrer interferecircncias da CNDA Portanto caso seja negada
a proteccedilatildeo internacional pelo OFPRA o requerente poderaacute recorrer agrave CNDA e neste caso
ele poderaacute ter acesso agrave assistecircncia juriacutedica E o direito de permanecircncia no territoacuterio francecircs
273 CONSEIL CONSTITUTIONNEL Preacuteambule de la Constitution du 27 Octobre 1946 Disponiacutevel em
httpswwwconseil-constitutionnelfrle-bloc-de-constitutionnalitepreambule-de-la-constitution-du-27-
octobre-1946 Acesso em 27052020 274 MINISTEacuteRE DE LrsquoINTEacuteRIEUR (IMMIGRATION ASILE ACCUEIL ET ACCOMPAGNEMENT DES
EacuteTRANGERS EM FRANCE Les Grands Principes du Droit DrsquoAsile Disponiacutevel em
httpswwwimmigrationinterieurgouvfrAsileLe-droit-d-asileLes-grands-principes-du-droit-d-asile
Acesso em 27052020 275 Ibidem
85
durante a anaacutelise do requerimento em um primeiro momento eacute entregue um certificado de
pedido de asilo com duraccedilatildeo de 1 mecircs podendo ser renovaacutevel Aleacutem do OFPRA e da CNDA
ainda tem o Escritoacuterio Francecircs de Imigraccedilatildeo e Integraccedilatildeo (OFII) que eacute responsaacutevel pela
acomodaccedilatildeo dos requerentes de asilo nos centros de acolhimento276
Portanto em termos de procedimentos e requisitos natildeo haacute muitas alteraccedilotildees de um
paiacutes para o outro (em geral na Uniatildeo Europeia) Poreacutem eacute de faacutecil percepccedilatildeo que a
distribuiccedilatildeo dos oacutergatildeos responsaacuteveis pela anaacutelise dos pedidos eacute diferente entre os paiacuteses a
Franccedila por exemplo possui trecircs oacutergatildeos inclusive um tribunal administrativo para analisar
os recursos das decisotildees
237 Alemanha
A Alemanha assim como a Franccedila eacute um dos paiacuteses da Europa que mais recebem
solicitaccedilotildees de proteccedilatildeo internacional todos os anos sendo que por vaacuterios anos foi o paiacutes
europeu que mais recebeu refugiados No ano de 2019 como jaacute mencionado a Franccedila
ultrapassou a Alemanha nos pedidos de proteccedilatildeo
Entatildeo como na maioria dos paiacuteses o primeiro passo eacute se apresentar perante uma
autoridade do paiacutes (sendo na fronteira ou jaacute no territoacuterio) Assim na Alemanha haacute o registro
de todos os indiviacuteduos que pretendem solicitar o pedido de asilo no paiacutes germacircnico sendo
colhidas impressotildees digitais e fotos para os maiores de 14 anos Os dados satildeo salvos no
ldquoRegistro Central de Estrangeirosrdquo (AZR) assim a anaacutelise se inicia pela comparaccedilatildeo de
dados jaacute salvos (se for o caso) neste registro posteriormente analisa-se no Departamento de
Poliacutecia Criminal Federal se houve a praacutetica de algum crime no paiacutes pelo indiviacuteduo Analisa-
se tambeacutem o EURODAC para se certificar que natildeo haacute nenhum outro paiacutes europeu
responsaacutevel pela anaacutelise do pedido de asilo A respeito do ldquoRegistro Geral de Estrangeirosrdquo
(AZR) trata-se de um registro nacional gerenciado pelo Escritoacuterio Federal sendo um oacutergatildeo
importante de consulta para as autoridades germacircnicas que trabalham com imigraccedilatildeo277
276 MINISTEacuteRE DE LrsquoINTEacuteRIEUR (IMMIGRATION ASILE ACCUEIL ET ACCOMPAGNEMENT DES
EacuteTRANGERS EM FRANCE Les Grands Principes du Droit DrsquoAsile Op cit 277 FEDERAL OFFICE FOR MIGRATION AND REFUGEES The Stages of the German Asylum Procedure
ndash An overview of the individual procedural steps and the legal basis Disponiacutevel em
httpswwwbamfdeSharedDocsAnlagenENAsylFluechtlingsschutzAsylverfahrendas-deutsche-
asylverfahrenpdf__blob=publicationFileampv=12 Acesso em 28052020
86
Ao se registrar o requerente de asilo recebe um documento de comprovaccedilatildeo de
chegada a fim de provar quando necessaacuterio o seu registro perante a autoridade alematilde Este
documento tem tambeacutem a funccedilatildeo de autorizar o indiviacuteduo a residir na Alemanha bem como
assistecircncia de sauacutede acomodaccedilatildeo alimentaccedilatildeo entre outros benefiacutecios estatais278
Apoacutes o registro os requerentes satildeo encaminhados e instalados no centro de
acolhimento mais proacuteximo podendo ser de forma temporaacuteria ou de longo prazo sendo de
ateacute 6 meses ou ateacute que a solicitaccedilatildeo seja decidida Em casos de reagrupamento familiar pode
ser que os indiviacuteduos sejam transferidos de um centro de acolhimento para outro Haacute ainda
a distribuiccedilatildeo dos refugiados pelas ldquoFederal Landrdquo atraveacutes do sistema de cotas EASY
(Distribuiccedilatildeo Inicial dos Requerentes de Asilo)279
Nesses centros de acolhimento as pessoas recebem comida e benefiacutecios a fim de
proporcionar a sua subsistecircncia durante os dias que permanecerem no local Ressalta-se que
haacute inclusive benefiacutecios financeiros para cobrir as necessidades pessoais diaacuterias conforme
a lei de benefiacutecios dos requerentes de asilo (Asylbewerberleistungsgesetz) Ressalta-se que
os requerentes de proteccedilatildeo apesar de poderem residir legalmente na Alemanha enquanto
aguardam a conclusatildeo do processo natildeo podem trabalhar neste periacuteodo280
Considera-se a entrevista a etapa mais importante no procedimento de asilo Assim
os requerentes satildeo convidados para esta etapa e caso natildeo possam comparecer devem avisar
em tempo haacutebil caso contraacuterio o pedido poderaacute ser interrompido ou ateacute recusado Os
requerentes podem estar acompanhados de um advogado ou por um representante do
ACNUR ademais ao longo do trabalho percebe-se a importacircncia deste oacutergatildeo nos
procedimentos de asilo na Alemanha natildeo eacute diferente o ACNUR pode solicitar informaccedilotildees
sobre o trabalho do Escritoacuterio Federal e monitora os procedimentos para garantir que haacute o
respeito pela Convenccedilatildeo de Genebra de 1951281
Haacute tambeacutem o ldquoGerenciamento Integrado de Identidadesrdquo que pode ser uacutetil quando
for necessaacuterio realizar alguns tipos investigaccedilotildees podendo facilitar para obter informaccedilotildees
sobre o caso a ser investigado Esse sistema eacute composto por biometria de imagem (aleacutem das
impressotildees digitais) transliteraccedilatildeo e anaacutelise de nomes biometria de fala avaliaccedilatildeo de miacutedia
278 FEDERAL OFFICE FOR MIGRATION AND REFUGEES The Stages of the German Asylum Procedure
ndash An overview of the individual procedural steps and the legal basis Op cit 279 Ibidem 280 Ibidem 281 Ibidem
87
de dados moacuteveis Essas investigaccedilotildees podem ser necessaacuterias para avaliar casos possiacuteveis de
terrorismo sendo assim haacute a atuaccedilatildeo em conjunto com Centro de Extremismo e Contra-
Terrorismo (GETZ) e Centro Contra o Terrorismo (GTAZ)282
Quem toma a decisatildeo no procedimento de asilo eacute o Escritoacuterio Federal com base na
entrevista e nos documentos apresentados pelos requerentes A anaacutelise do pedido de asilo
tem por base a lei alematilde sobre o tema (Asylgesetz) sobre uma das quatro formas de proteccedilatildeo
que podem ser concedidas (direito de asilo proteccedilatildeo de refugiado proteccedilatildeo subsidiaacuteria e
proibiccedilatildeo de deportaccedilatildeo) Considera-se rejeitado o pedido quando nenhuma das quatro
formas eacute aplicaacutevel ao caso283
Assim o reconhecimento do direito de direito de asilo eacute previsto no artigo 16a parte
1 da Lei Baacutesica (Grundgesetz ndash GG) neste caso pessoas que se retornassem aos seus paiacuteses
sofreriam graves violaccedilotildees dos direitos humanos principalmente devido a perseguiccedilotildees por
opiniatildeo poliacutetica Portanto eacute considerado um direito fundamental com base Constitucional
prezando pela vida e dignidade humana Quando haacute a concessatildeo deste tipo de proteccedilatildeo o
indiviacuteduo tem o direito de residir na Alemanha por 3 anos autorizaccedilatildeo de trabalho e direito
de reagrupamento familiar Aleacutem disso apoacutes o periacuteodo de 3 ou 5 anos pode haver uma
concessatildeo de permanecircncia na Alemanha caso comprove condiccedilotildees de se manter e de
conhecimento da liacutengua alematilde284
A proteccedilatildeo de refugiado eacute prevista na Seccedilatildeo 3 da Lei de Asilo (AsylG) e tem por
fundamento a Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 sendo que esta proteccedilatildeo eacute mais extensa que
o direito de asilo sendo aplicada em mais casos Tambeacutem se aplica agraves pessoas que sofrem
perseguiccedilotildees referentes agraves situaccedilotildees previstas na Convenccedilatildeo Poreacutem as consequecircncias da
concessatildeo deste tipo de proteccedilatildeo satildeo os mesmos que o direito de asilo285
A proteccedilatildeo subsidiaacuteria estaacute prevista na Seccedilatildeo 4 da Lei de Asilo bem como na
Diretiva 201195UE e eacute concedida em situaccedilotildees em que se a pessoa retornar ao seu paiacutes
poderaacute sofrer graves riscos de danos Em casos de concessatildeo de proteccedilatildeo subsidiaacuteria o
indiviacuteduo receberaacute a permissatildeo de residecircncia por 1 ano (podendo ser estendida por mais dois
anos) acesso ao mercado de trabalho direito de reunificaccedilatildeo familiar bem como o direito
282 FEDERAL OFFICE FOR MIGRATION AND REFUGEES The Stages of the German Asylum Procedure
ndash An overview of the individual procedural steps and the legal basis Op cit 283 Ibidem 284 Ibidem 285 Ibidem
88
de permanecer na Alemanha apoacutes 5 anos caso demonstre condiccedilotildees de subsistecircncia e
conhecimento da liacutengua alematilde286
As trecircs formas de proteccedilatildeo acima natildeo seratildeo concedidas quando configurar um risco
agrave Alemanha desrespeitar princiacutepios baacutesicos do ACNUR ou ter cometido crimes de guerra
e ofensas criminais natildeo-poliacuteticas fora do paiacutes e condenado agrave prisatildeo por um crime ou por um
delito particularmente grave287
E por fim a proibiccedilatildeo de deportaccedilatildeo consta na Seccedilatildeo 60 V e VII da Lei de
Residecircncia (AufenthG) e tem por base a Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos
Portanto uma pessoa que requer proteccedilatildeo natildeo pode ser devolvida ao paiacutes de origem quando
haacute um risco concreto agrave vida ou agrave liberdade Essa proteccedilatildeo natildeo se aplica em casos de que o
indiviacuteduo possa ir para outros paiacuteses Na concessatildeo dessa proteccedilatildeo a pessoa poderaacute residir
na Alemanha por pelo menos 1 ano (podendo ser renovaacutevel) a permissatildeo de trabalho deve
ser obtida com a autoridade de imigraccedilatildeo e a permanecircncia definitiva pode ser autorizada
apoacutes 5 anos se tiver condiccedilotildees de se manter e tiver bom conhecimento da liacutengua alematilde288
Em caso de negativa de proteccedilatildeo ou seja o indiviacuteduo natildeo se enquadrar em nenhum
tipo dos 4 tipos de proteccedilatildeo poderaacute recorrer da decisatildeo no prazo de 30 dias poreacutem o periacuteodo
para deixar a Alemanha eacute de uma semana Uma accedilatildeo judicial contra o Escritoacuterio Federal
tambeacutem pode ser proposta289
286 FEDERAL OFFICE FOR MIGRATION AND REFUGEES The Stages of the German Asylum Procedure
ndash An overview of the individual procedural steps and the legal basis Op cit 287 Ibidem 288 Ibidem 289 Ibidem
89
CAPIacuteTULO 3
DIREITO INTERNACIONAL E EUROPEU DO MAR BUSCA E RESGATE DOS
REFUGIADOS EM PERIGO E O DEVER DE ASSISTEcircNCIA
Este capiacutetulo destina-se a analisar o direito do mar no acircmbito internacional e europeu
na seara dos refugiados do direito de resgate e salvamento no mar agrave luz da relaccedilatildeo deste
ramo do direito com os direitos humanos primeiro faz-se necessaacuterio algumas breves
consideraccedilotildees a respeito do direito internacional do mar Sendo sabido que nos uacuteltimos anos
muitas pessoas arriscaram suas vidas em embarcaccedilotildees para tentarem ter uma vida melhor e
sem riscos podendo citar o exemplo da Liacutebia que retrata uma situaccedilatildeo ldquocomumrdquo ao fato de
milhares de migrantes saiacuterem do paiacutes arriscando suas vidas no Mar Mediterracircneo com
destino agrave Europa principalmente paiacuteses como a Greacutecia Itaacutelia e Malta devido agrave proximidade
do norte do continente africano agrave costa e ilhas europeias
31 Breves Consideraccedilotildees a Respeito do Direito Internacional do Mar
O mar com sua particular imensidatildeo traz consigo um encantamento e admiraccedilatildeo por
um lado e uma versatildeo sombria e obscura de outro Muito utilizado para recursos que
auxiliam no dia a dia das pessoas eacute tambeacutem utilizado de forma maldosa atraveacutes de
cometimento de crimes graves como por exemplo traacutefico de pessoas de drogas e pirataria
Tal fato justifica a necessidade de uma Convenccedilatildeo a fim de regular as regras neste grandioso
espaccedilo a Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar (conhecida como UNCLOS
ndash sigla em inglecircs)290
Assim para tentar coibir infraccedilotildees e aumentar a proteccedilatildeo das pessoas no mar a
UNCLOS atribui aos Estados poderes de poliacutecia nas zonas mariacutetimas (aacuteguas e portos
interiores mar territorial zona contiacutegua zona econocircmica exclusiva e alto mar) Passa-se
entatildeo a anaacutelise do poder de poliacutecia em cada zona
Portanto o Estado costeiro pode exercer sua soberania em aacutereas de jurisdiccedilatildeo
nacional tem-se que aacuteguas e portos interiores estatildeo submetidos agraves regras nacionais do
290 FORTEAU Mathias THOUVENIN Jean-Marc Traiteacute de Droit International de la Mer Editions A
Pedone Paris 2017
90
Estado e este possui poderes de poliacutecia amplos ao que se refere a embarcaccedilotildees nessas aacutereas
bem como pode controlar o acesso dessas embarcaccedilotildees nessa zona e tambeacutem embarcaccedilotildees
que estatildeo no mar territorial com destino agraves aacuteguas e portos interiores Entatildeo o Estado
costeirodo porto eacute soberano para aplicar as suas leis nacionais em embarcaccedilotildees que estatildeo
em seus portos geralmente natildeo interferem em assuntos internos da embarcaccedilatildeo desde que
natildeo atinja os interesses estaduais291
Situaccedilatildeo semelhante ocorre no mar territorial (que consiste nas aacuteguas adjacentes agrave
costa ateacute 12 milhas naacuteuticas conforme disposto na UNCLOS) ou seja o Estado costeiro
possui amplos poderes nesta zona sendo portanto uma extensatildeo do territoacuterio do paiacutes
exceto em situaccedilotildees de passagem inocente (garantindo a liberdade de navegaccedilatildeo) contudo
mesmo nesses casos o Estado pode dispor normas a este respeito292
Desse modo o Estado costeiro possui soberania no seu mar territorial sendo limitado
pelo direito de passagem inocente que os navios de todos os Estados possuem notando-se
portanto a conciliaccedilatildeo da soberania do Estado com o direito de navegaccedilatildeo Poreacutem caso
exista alguma embarcaccedilatildeo com pessoas no mar territorial com o fim de violar as regras de
imigraccedilatildeo do Estado costeiro este Estado poderaacute intervir293 entretanto tambeacutem haacute a
obrigaccedilatildeo de salvamento das pessoas em perigo no mar ou seja nos casos de embarcaccedilatildeo
clandestina de migrantes o Estado tem o dever de resgatar essas pessoas
A zona contiacutegua consiste no espaccedilo de mais 12 milhas naacuteuticas aleacutem das jaacute previstas
no mar territorial Nesta zona o Estado pode exercer o controle nas situaccedilotildees de violaccedilatildeo das
leis nacionais e tambeacutem situaccedilotildees referentes agraves questotildees aduaneiras tributaacuterias imigraccedilatildeo
e sauacutede294 Poreacutem haacute liberdade de navegaccedilatildeo ou seja natildeo haacute soberania do Estado costeiro
nessa zona mariacutetima295
A Zona Econocircmica Exclusiva (ZEE) com limite de ateacute 200 milhas naacuteuticas contadas
a partir da linha de base do mar territorial trata-se de uma zona de caracteriacutesticas
particulares considerada de caraacuteter sui generis por ser uma aacuterea de alto mar sendo que o
Estado costeiro possui alguns direitos nesta aacuterea isto significa que o Estado costeiro possui
poderes de poliacutecia amplos no que se refere agraves situaccedilotildees de direito e jurisdiccedilatildeo soberana como
291 FORTEAU Mathias THOUVENIN Jean-Marc Op cit 292 Ibidem 293 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit 294 FORTEAU Mathias THOUVENIN Jean-Marc Op cit 295 LISSON Urszula WEINZIERL Ruth Border Management and Human Rights A study of EU Law and
the Law of the Sea German Institute for Human Rights 2007
91
por exemplo exploraccedilatildeo de recursos naturais ilhas artificiais instalaccedilotildees e estruturas de
pesquisa e proteccedilatildeo do meio ambiente marinho296
No que se refere ao alto mar Jonatas Machado entende como mar ldquoo conjunto dos
espaccedilos de aacutegua salgada em comunicaccedilatildeo livre e naturalrdquo297 Tal espaccedilo consiste em 72 da
atmosfera terrestre e o princiacutepio fundamental que rege eacute o mare liberum poreacutem natildeo se trata
de um uso irrestrito e incondicional tal princiacutepio eacute aplicado dentro do conceito de
democratizaccedilatildeo do direito do mar Tem-se que o alto mar constitui res communis omnium
ou seja eacute algo comum a todos298
Nesse sentido o artigo 87 da UNCLOS trata das liberdades do alto mar no qual todos
os Estados satildeo livres para navegar sobrevoar pescar colocar cabos e dutos submarinos
investigaccedilatildeo cientiacutefica e construir ilhas artificiais ou outras instalaccedilotildees permitidas pelo
direito internacional
A jurisdiccedilatildeo em alto mar eacute como regra geral do Estado da bandeira da embarcaccedilatildeo
conforme o artigo 87 da UNCLOS poreacutem haacute exceccedilotildees a esta regra previstas no artigo 92
nordm 1 isto eacute regras previstas de forma expressa em tratados internacionais aleacutem de algumas
previstas nos artigos 105 109 110 220 e 221 da Convenccedilatildeo Sendo respectivamente
pirataria difusatildeo natildeo autorizada direito de visita (artigo 111 tambeacutem a respeito do direito
de perseguiccedilatildeo) execuccedilatildeo pelo Estado costeiro poluiccedilatildeo e acidente mariacutetimo299
No que tange agrave soberania em alto mar haacute a questatildeo sobre ateacute que ponto um Estado
atraveacutes de suas embarcaccedilotildees pode exercer medidas coercitivas sobre navios de outras
nacionalidades Deve-se observar portanto a divisatildeo de aacuteguas conforme descrito acima
Assim nas aacuteguas interiores o Estado costeiro tem total controle da aacuterea entatildeo os navios
estrangeiros estatildeo submetidos ao controle e permissatildeo daquele Estado O mar territorial
tambeacutem estaacute sob a soberania do Estado costeiro mas como vimos haacute o direito de passagem
inocente de outros navios que arvorem sua bandeira Nesse sentido as embarcaccedilotildees com
migrantes na maioria das vezes natildeo possuem bandeira e em teoria com base no direito
internacional do mar estes poderiam ser parados controlados e desviados para fora do mar
territorial poreacutem tal questatildeo esbarra nas obrigaccedilotildees dos direitos humanos Dessa forma de
296 FORTEAU Mathias THOUVENIN Jean-Marc Op cit 297 MACHADO Joacutenatas E M Op cit p 574 298 Ibidem 299 HONNIBALL Arron N The Exclusive Jurisdiction of Flag States A Limitation on Pro-active Port States
The International Journal of Marine and Coastal Law 2016 Disponiacutevel em
httpsbrillcomviewjournalsestu313article-p499_6xml Acesso 01062020
92
acordo com as diretivas europeias que devem ser aplicadas no mar territorial haacute a proibiccedilatildeo
da repulsatildeo e os Estados satildeo obrigados a examinar os pedidos de proteccedilatildeo No alto mar a
liberdade de navegaccedilatildeo eacute imperativa e medidas coercitivas em regra satildeo proibidas desde
que para embarcaccedilotildees com bandeira situaccedilatildeo que na maioria das vezes natildeo eacute a das
embarcaccedilotildees com refugiados dessa forma os navios sem bandeira podem ser controlados
em alto mar300
Tendo por base as informaccedilotildees acima passa-se a analisar aspectos mais proacuteximos a
respeito dos direitos dos refugiados Sendo assim como jaacute mencionado anteriormente o
encantamento pelas riquezas marinhas acaba sendo ofuscado em parte pelo lado obscuro dos
oceanos ou seja o cometimento de crimes em espaccedilos mariacutetimos como o traacutefico de
migrantes no mar para combater este tipo de crime eacute imprescindiacutevel a cooperaccedilatildeo
internacional entre os paiacuteses
Sabemos que muitos satildeo os fatores que levam as pessoas a migrarem para outros
paiacuteses ou seja as pessoas fogem da tortura de perseguiccedilotildees de violaccedilotildees de direitos
humanos em siacutentese de uma vida indigna Poreacutem muitos arriscam suas vidas nas matildeos de
traficantes e pagam para estes fazerem a travessia em embarcaccedilotildees precaacuterias como jaacute vimos
nos noticiaacuterios e que natildeo suportam a travessia e acabam naufragando com muitas pessoas a
bordo ou ateacute mesmo acabam sendo abandonados pelos traficantes O desespero dessas
pessoas eacute tanto que arriscam suas vidas nas matildeos de criminosos na esperanccedila de ter uma
vida melhor do outro lado do mar
O artigo 8ordm do Protocolo citado acima prevecirc medidas contra o traacutefico de migrantes
por via mariacutetima dispondo assim accedilotildees a serem realizadas pelos Estados a fim de finalizar
a utilizaccedilatildeo da embarcaccedilatildeo para a finalidade ilegal Assim um Estado pode pedir ajuda a
outro Estado para tentar resolver a situaccedilatildeo entre outras accedilotildees301 Mas tal ideia esbarra na
questatildeo da responsabilidade do Estado que como vimos caso a accedilatildeo de um dos Estados for
violadora das obrigaccedilotildees internacionais principalmente dos direitos humanos o outro
Estado pode ter tambeacutem responsabilidade pelos atos
300 LISSON Urszula WEINZIERL Ruth Op cit 301 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Protocolo Adicional agrave Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas Contra
o Crime Organizado Transnacional relativo ao Combate ao Traacutefico de Migrantes por Via Terrestre Mariacutetima
e Aeacuterea 2000 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2004-
20062004DecretoD5016htm Acesso em 01062020
93
Chama-se a atenccedilatildeo para o artigo 98 da UNCLOS ou seja dispotildee sobre o dever de
prestar assistecircncia no mar Portanto eacute obrigaccedilatildeo do capitatildeo do navio prestar assistecircncia agraves
pessoas que estatildeo em perigo no mar necessitando de ajuda inclusive em casos de consistir
em outra embarcaccedilatildeo que esteja em perigo isto eacute natildeo apenas pessoas que estejam no mar
na aacutegua sob o risco de desaparecer Aleacutem disso o Estado costeiro tem o dever de
proporcionar um eficiente sistema de busca e salvamento a fim de promover a seguranccedila
mariacutetima e aeacuterea o dever se prolonga inclusive aos Estados vizinhos no que puderem
cooperar302
No capiacutetulo 2 item 2110 da Convenccedilatildeo de Busca e Resgate Mariacutetimo de 1979
(International Convention on Maritime Search and Rescue ndash SAR Convention) traz o dever
do Estado de prestar assistecircncia a qualquer pessoa que esteja em perigo no mar independente
de qualquer outro fator relacionado a ela (nacionalidade status etc)303 No mesmo sentido
em 2015 o Conselho de Seguranccedila da ONU adotou a Resoluccedilatildeo 2240 a fim de prestar auxiacutelio
agrave Liacutebia para proteger suas fronteiras e espaccedilo mariacutetimo inclusive em alto mar visando coibir
o traacutefico de pessoas e de migrantes na regiatildeo bem como proteger as pessoas viacutetimas deste
crime304
Tendo como base essas noccedilotildees gerais a respeito do direito internacional do mar e
uma breve introduccedilatildeo a respeito dos documentos que abordam o assunto passa-se a
relacionar o direito do mar com a proteccedilatildeo internacional do indiviacuteduo com foco no
salvamento e resgate de pessoas em perigo no mar
32 O Direito do Mar e a Proteccedilatildeo Internacional do Indiviacuteduo
Face aos acontecimentos desumanos relacionados aos refugiados principalmente em
relaccedilatildeo aos naufraacutegios ocorridos o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos condenou
alguns paiacuteses com base no artigo 3ordm da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos em
situaccedilotildees ocorridas no mar Assim como forma de assegurar a proteccedilatildeo internacional do
302 UNITED NATIONS United Nations Convention on the Law of the Seas Disponiacutevel
httpswwwunorgdeptslosconvention_agreementstextsunclosunclos_epdf Acesso 04092020 303 INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION International Convention on Maritime Search and
Rescue ndash SAR Convention 1979 Disponiacutevel em httpsonboard-aquariusorguploads201808SAR-
Convention-1979pdf Acesso em 02062020 304 CONSELHO DE SEGURANCcedilA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Resoluccedilatildeo 2240 (2015) Disponiacutevel em
httpseur-lexeuropaeulegal-contentPTTXTuri=CELEX3A32016D0118 Acesso em 30082020
94
indiviacuteduo no mar talvez seja o caso de se atrelar agrave legislaccedilatildeo sobre o direito do mar aos
princiacutepios universais dos direitos humanos tendo em vista que o Estado tem obrigaccedilatildeo
positiva de proteger os indiviacuteduos colocados sob sua jurisdiccedilatildeo contra desrespeitos
cometidos por outrem Poreacutem natildeo haacute este tipo de previsatildeo expressa no direito do mar
Um dos princiacutepios fundamentais do direito internacional eacute a obrigaccedilatildeo de salvar as
vidas no mar sendo que as primeiras manifestaccedilotildees juriacutedicas a este respeito foram oriundas
de tratados multilaterais do direito do mar no comeccedilo do seacuteculo XX Assim o salvamento
de vidas no mar se divide em dois pontos O primeiro princiacutepio eacute a obrigaccedilatildeo de fornecer
assistecircncia de responsabilidade do Estado da bandeira e dos capitatildees o outro ponto eacute a
obrigaccedilatildeo dos Estados costeiros de operar sistemas de buscas e salvamento305
Faz-se necessaacuterio fazer um parecircntese no aspecto de busca e resgate no mar bem
como o dever de assistecircncia previsto no artigo 98 da UNCLOS assim um dos bens juriacutedicos
tutelados eacute o direito agrave vida sendo ele um princiacutepio basilar pois sem a vida nenhum outro
direito faria sentido por este motivo a vida eacute protegida nos principais tratados de direitos
humanos
A maior expressatildeo dos direitos humanos ligado ao direito do mar ocorre quando haacute
o direito agrave vida em jogo ou seja quando algueacutem no mar estaacute correndo risco de vida em
situaccedilatildeo de perigo Assim a Convenccedilatildeo SOLAS (Convenccedilatildeo Internacional para a
Salvaguarda da Vida no Mar) tem como diz o proacuteprio tiacutetulo exatamente o propoacutesito de
proteger vidas306
Neste aspecto o Capiacutetulo V da SOLAS dispotildee sobre a seguranccedila de navegaccedilatildeo e na
regra 71 traz a responsabilidade do Estado em providenciar tudo que for necessaacuterio para
proporcionar a busca e resgate no mar nas zonas de sua competecircncia bem como o artigo
33 do mesmo Capiacutetulo trata das obrigaccedilotildees e procedimentos nas situaccedilotildees de perigo
305 RUGGIERO Carol Dalla Criminalizzazione alla Giustificazione delle Attivita di Ricerca e Soccorso in
Mare le Tendenze Interpretative Piu Recenti alla Luce dei Casi Vos Thalassa e Rackete In Diritto
Immigrazione e Cittadinanza Nordm 12020 Disponiacutevel em
httpswwwdirittoimmigrazionecittadinanzaitarchivio-saggi-commentinote-e-commentifascicolo-2020-
1526-dalla-criminalizzazione-alla-giustificazione-delle-attivita-di-ricerca-e-soccorso-in-mare-le-tendenze-
interpretative-piu-recenti-alla-luce-dei-casi-vos-thalassa-e-rackete Acesso em 25062020 306 GROSBON Sophie Droit de la Mer et Protection Internationale de LrsquoIndividurdquo In FORTEAU Mathias
THOUVENIN Jean-Marc Traiteacute de Droit International de la Mer Editions A Pedone Paris 2017
95
colocando o capitatildeo do navio como responsaacutevel por salvamento e caso o possa fazer deve
explicar os motivos sob pena de desrespeito ao artigo 2ordm da CEDH307
Rejeita-se a suposiccedilatildeo de que o mar eacute uma aacuterea sem lei ou que possua uma
salvaguarda para que infratores se eximam de respeitar os direitos humanos direito dos
refugiados bem como o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo As pessoas em perigo devem ter
respeitados seus direitos fundamentais protegidos sendo que o tratamento digno e humano
deve ser garantido308
Nesse sentido quando haacute pessoas em perigo no mar haacute o dever de resgate e
assistecircncia e em casos de embarcaccedilotildees de refugiados o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo deve ser
observado pois conforme vimos anteriormente o artigo 3ordm da Convenccedilatildeo Europeia dos
Direitos Humanos haacute a previsatildeo da proibiccedilatildeo de enviar pessoas agrave tortura Assim as pessoas
estatildeo em uma embarcaccedilatildeo com intuito de fugir de afrontas agrave sua dignidade e de lesotildees agrave sua
integridade fiacutesica nesse caso o Estado costeiro (ou o mais proacuteximo) bem como capitatildeo de
outras embarcaccedilotildees tecircm o dever de proteger essas pessoas e inclusive natildeo enviaacute-los
novamente para o paiacutes que lhes oprimiam
A este respeito tem-se que o Tribunal Europeu de Direitos Humanos bem como o
Comitecirc dos Direitos Humanos dispotildee a respeito do efeito horizontal indireto de alguns
direitos como por exemplo direito agrave vida proibiccedilatildeo da tortura e da escravidatildeo como
supramencionado o Estado tem obrigaccedilatildeo positiva de proteger os indiviacuteduos colocados sob
sua jurisdiccedilatildeo309
Muito se fala a respeito das lacunas no direito do mar e que pode trazer consequecircncias
na proteccedilatildeo dos direitos humanos Uma dessas lacunas estaacute no artigo 27 e 28 da UNCLOS
que tratam da jurisdiccedilatildeo criminal e civil do Estado costeiro impondo limites a este poreacutem
constam exceccedilotildees nas aliacuteneas ou seja situaccedilotildees em que o Estado costeiro poderaacute exercer
sua jurisdiccedilatildeo Curiosamente na aliacutenea ldquodrdquo do artigo 27 haacute a previsatildeo da possibilidade
exercer a jurisdiccedilatildeo penal em casos de ldquorepressatildeo do traacutefico iliacutecito de estupefacientes ou de
substacircncias psicotroacutepicasrdquo310 mas nada se fala a respeito da luta contra a tortura e o combate
agrave escravidatildeo ou traacutefico de pessoas Sobre este uacuteltimo o Estado costeiro pode interferir caso
307 INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION International Convention for the Safety of Life at Sea
(SOLAS) Disponiacutevel em httpswwwsamgongustofaismediaenglishSOLAS-Consolidated-Edition-
2018docxpdf Acesso em 05062020 308 Ibidem 309 Ibidem 310 UNITED NATIONS United Nations Convention on the Law of the Seas Op cit
96
o destino final seja seu espaccedilo terrestre no entanto deve sempre atuar de forma a respeitar
dos direitos humanos resgatando e dando um tratamento digno para as pessoas que
necessitam de proteccedilatildeo
O traacutefico de migrantes difere do traacutefico de escravos poreacutem muito se assemelham na
forma de transporte Muitas pessoas fogem da tortura situaccedilotildees de perseguiccedilotildees e
tratamentos desumanos e degradantes pagando para traficantes fazerem sua travessia do
norte do continente africano para paiacuteses europeus banhados pelo Mar Mediterracircneo
correndo risco de vida em embarcaccedilotildees precaacuterias e tendo suas vidas nas matildeos dos traficantes
bem como muitas pessoas satildeo usadas como mercadorias (escravos) e tambeacutem transportadas
por embarcaccedilotildees clandestinas
A este respeito o ldquoProtocolo Adicional agrave Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas contra o
Crime Organizado Transnacional relativo ao Combate ao Traacutefico de Migrantes por Via
Terrestre Mariacutetima e Aeacutereardquo no seu artigo 3ordm traz a definiccedilatildeo de traacutefico de migrantes ldquo()
lsquotraacutefico de migrantesrsquo significa a promoccedilatildeo com o objetivo de obter direta ou indiretamente
um benefiacutecio financeiro ou outro benefiacutecio material da entrada ilegal de uma pessoa num
Estado Parte do qual essa pessoa natildeo seja nacional ou residente permanenterdquo311
E quanto ao traacutefico de pessoas tem-se a definiccedilatildeo no artigo 3ordm no Protocolo Adicional
agrave Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Relativo agrave
Prevenccedilatildeo Repressatildeo e Puniccedilatildeo do Traacutefico de Pessoas em Especial Mulheres e Crianccedilas
ou seja
A expressatildeo traacutefico de pessoas significa o recrutamento o transporte a
transferecircncia o alojamento ou o acolhimento de pessoas recorrendo agrave ameaccedila ou
uso da forccedila ou a outras formas de coaccedilatildeo ao rapto agrave fraude ao engano ao abuso
de autoridade ou agrave situaccedilatildeo de vulnerabilidade ou agrave entrega ou aceitaccedilatildeo de
pagamentos ou benefiacutecios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha
autoridade sobre outra para fins de exploraccedilatildeo A exploraccedilatildeo incluiraacute no miacutenimo
a exploraccedilatildeo da prostituiccedilatildeo de outrem ou outras formas de exploraccedilatildeo sexual o
trabalho ou serviccedilos forccedilados escravatura ou praacuteticas similares agrave escravatura a
servidatildeo ou a remoccedilatildeo de oacutergatildeos312
311 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Protocolo Adicional agrave Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas contra
o Crime Organizado Transnacional relativo ao Combate ao Traacutefico de Migrantes por Via Terrestre Mariacutetima
e Aeacuterea 2000 Op cit 312 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Protocolo Adicional agrave Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas contra
o Crime Organizado Transnacional Relativo agrave Prevenccedilatildeo Repressatildeo e Puniccedilatildeo do Traacutefico de Pessoas em
Especial Mulheres e Crianccedilas Disponiacutevel httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2004-
20062004DecretoD5017htm Acesso 14062020
97
Assim o crime de traacutefico de migrantes e o de traacutefico de pessoas satildeo crimes diferentes
poreacutem em alguns casos como jaacute mencionamos a forma de transporte pode ser a mesma
atraveacutes de embarcaccedilotildees clandestinas e em situaccedilotildees precaacuterias Poreacutem natildeo seraacute aprofundado
neste aspecto criminal pois o foco do presente trabalho eacute a situaccedilatildeo dos refugiados em perigo
no mar contudo esta situaccedilatildeo pode relacionar-se com o traacutefico de migrantes ressalta-se que
satildeo vaacuterios os crimes que podem ser cometidos no espaccedilo mariacutetimo mas sem relaccedilatildeo com a
questatildeo dos refugiados
Sabemos que no que se refere ao alto mar eacute a jurisdiccedilatildeo do Estado da bandeira que
prevalece poreacutem no artigo 110 da UNCLOS autoriza-se o direito de visita em situaccedilotildees que
haacute a suspeita da ocorrecircncia de crimes como por exemplo a pirataria o traacutefico de escravos
embarcaccedilatildeo sem nacionalidade entre outras313 Neste ponto chama-se a atenccedilatildeo para
embarcaccedilotildees sem nacionalidades ou seja na imigraccedilatildeo clandestina os migrantes satildeo
transportados em embarcaccedilotildees sem nacionalidade e em situaccedilotildees precaacuterias Portanto a
UNCLOS autoriza o direito de visita em situaccedilotildees de embarcaccedilotildees sem nacionalidade
No mesmo sentido o artigo 19 do mesmo documento refere-se agrave passagem inocente
e diz que natildeo seraacute considerada passagem inocente (no mar territorial) e portanto prejudicial
agrave paz boa ordem e seguranccedila do Estado costeiro se a embarcaccedilatildeo for destinada agrave imigraccedilatildeo
(conforme artigo 19 nordm 2 aliacutenea ldquogrdquo)
No que se refere ao combate da imigraccedilatildeo clandestina tem-se que a liberdade de
navegaccedilatildeo fica comprometida inclusive em aacutereas em que natildeo haacute soberania de algum Estado
Aleacutem disso destaca-se que um paiacutes ao recusar o desembarque de migrantes e requerentes de
asilo poderaacute lesionar o direito agrave vida314 Portanto tal fato reforccedila a ideia de prestar assistecircncia
no mar
321 O Direito do Mar e os Direitos Humanos
Sabe-se que os Estados possuem obrigaccedilotildees de direitos humanos tanto positivado
por meio de tratados quanto pelo direito consuetudinaacuterio internacional Nesse sentido vale
a pena destacar trecircs aspectos as obrigaccedilotildees positivas e negativas do Estado separabilidade
313 UNITED NATIONS United Nations Convention on the Law of the Seas Op cit 314 GROSBON Sophie Op cit
98
dos direitos humanos e contenccedilotildees especiais justificadas pela natureza que no caso consiste
no ambiente marinho315
Tendo por base a tradiccedilatildeo juriacutedica ocidental que deu origem aos direitos humanos
tem-se que o objetivo era proteger as pessoas perante abusos dos soberanos ou seja o Estado
tem o dever de evitar atitudes que agridam os direitos dos indiviacuteduos Portanto obrigaccedilatildeo
negativa dos direitos humanos eacute referente ao Estado em se abster de tomar medidas que
possam infringir os direitos humanos nesse sentido a obrigaccedilatildeo positiva consiste no Estado
agir para evitar que os direitos dos indiviacuteduos sejam lesionados tendo como exemplo a
UNCLOS atraveacutes da positivaccedilatildeo de normas a respeito de busca e resgate no mar316
No que se refere agrave separabilidade tem-se que este conceito estaacute relacionado com a
jurisdiccedilatildeo Assim eacute importante ressaltar que existem duas correntes a este respeito a
primeira diz sobre uma jurisdiccedilatildeo limitada ao seu territoacuterio e outra defende a competecircncia
extraterritorial dos Estados ao que se refere agrave proteccedilatildeo dos direitos humanos Deste modo agrave
luz da natureza dos direitos humanos a segunda eacute mais compatiacutevel e aceita pelo Tribunal
Europeu dos Direitos Humanos A referida Corte entende que quando um Estado atua fora
da sua jurisdiccedilatildeo para exercer controle e autoridade sobre um indiviacuteduo o Estado deveraacute
assegurar os direitos individuais e a liberdade da pessoa317
Haacute muitas controveacutersias sobre este assunto mas entende-se como razoaacutevel a ideia de
que quando o Estado exerce sua jurisdiccedilatildeo fora dos seus limites territoriais em diversas
situaccedilotildees (ao que se refere a presente pesquisa citamos o resgate de pessoas em perigo no
mar) ele tem a obrigaccedilatildeo de assegurar os direitos individuais como por exemplo o direito
agrave vida o direito de natildeo ser torturado ou de natildeo ser submetido a tratamentos desumanos ou
degradantes de natildeo ser devolvidorejeitado (non-refoulement) de ter suas liberdades
individuais318
Natildeo haacute a previsatildeo da aplicabilidade dos direitos humanos no direito do mar poreacutem
decisotildees de tribunais internacionais bem como a intepretaccedilatildeo sistecircmica dos tratados fazem
com que o respeito aos direitos humanos seja base de todos os ramos do direito Nesse
315 PAPANICOLOPULU Irini Human Rights and The Law of the Sea In The IMLI Manual on International
Maritime Law Volume I Law of The Sea General Editor David Joseph Attard Edited by Malgosia
Fitzmaurice Norman A Martineacutez Gutieacuterrez Oxford University Press Oxford 2014 316 Ibidem 317 Ibidem 318 Ibidem
99
sentido ao interpretar o artigo 311 nordm 2 da UNCLOS juntamente com o artigo 1ordm nordm 3 da
Carta das Naccedilotildees Unidas temos respectivamente
(hellip)This Convention shall not alter the rights and obligations of States Parties
which arise from other agreements compatible with this Convention and which do
not affect the enjoyment by other States Parties of their rights or the performance
of their obligations under this Convention (hellip)319
()Conseguir uma cooperaccedilatildeo internacional para resolver os problemas
internacionais de caraacuteter econocircmico social cultural ou humanitaacuterio e para
promover e estimular o respeito aos direitos humanos e agraves liberdades fundamentais
para todos sem distinccedilatildeo de raccedila sexo liacutengua ou religiatildeo ()320
Notamos nos dispositivos supra a preocupaccedilatildeo com o cumprimento das obrigaccedilotildees
perante os outros estados bem como a cooperaccedilatildeo entre eles zelando sempre por diversos
aspectos sendo os direitos humanos um dos pontos expressos no artigo 1ordm da Carta das
Naccedilotildees Unidas
No mesmo sentido os artigos 55 e 56 da Carta das Naccedilotildees Unidas dispotildeem sobre a
cooperaccedilatildeo internacional econocircmica e social assim os estados se comprometem em
cooperar juntamente com a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas Portanto ao que se refere agrave
interpretaccedilatildeo dos dispositivos na UNCLOS ela deve ser sistemaacutetica e realizada em conjunto
com os demais diplomas internacionas no entanto ressalta-se que dificilmente haveraacute
alguma interpretaccedilatildeo que impeccedila os estados de cumprirem com suas obrigaccedilotildees
internacionais no acircmbito dos direitos humanos321
322 O Princiacutepio da Natildeo-Repulsatildeo e os Migrantes em Perigo no Mar
Como jaacute visto no primeiro capiacutetulo este princiacutepio eacute um dos principais aspectos de
proteccedilatildeo agraves pessoas que requerem asilo e ele garante que essas natildeo sejam devolvidas para
seu paiacutes de origem ou seja para local onde sofria algum tipo de perseguiccedilatildeo Poreacutem haacute
discussatildeo a respeito de que tal regra prevista no artigo 33 da Convenccedilatildeo de 1951 somente
se aplica para pessoas que se enquadram no statusconceito de refugiado322
319 UNITED NATIONS United Nations Convention on the Law of the Seas Op cit 320 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Carta das Naccedilotildees Unidas 1945 Disponiacutevel em
httpsnacoesunidasorgwp-contentuploads201711A-Carta-das-NaC3A7C3B5es-Unidaspdf
Acesso em 04092020 321 PAPANICOLOPULU Irini Op cit 322 TREVISANUT Seline The Principle of Non-Refoulement and the De-Territorialization of Border Control
at Sea Leiden Journal of International Law vol 27 no 3 September 2014 p 661-676 HeinOnline
100
Assim Seline Trevisanut destaca que o ponto principal do conceito de refugiado eacute a
questatildeo do medo fundamentado de perseguiccedilatildeo situaccedilatildeo em que a vida ou a liberdade de
algueacutem estaria em risco Portanto nada se discute a respeito da aplicaccedilatildeo do
supramencionado artigo aos refugiados (propriamente ditos) a questatildeo controversa reside
em pessoas que natildeo se enquadram no referido conceito323
O conceito de refugiado foi analisado mais detalhadamente no primeiro capiacutetulo no
entanto aqui se faz um parecircntese a resepeito da questatildeo espacial do conceito Assim tal
ideia traz eacute a de que o indiviacuteduo deve estar fora do seu paiacutes ou natildeo ter nacionalidade ou
fora do paiacutes de sua residecircncia habitual ou seja em uma anaacutelise bem restrita a natildeo-repulsatildeo
natildeo se aplicaria nas aacuteguas territoriais ou na zona contiacutegua do paiacutes de origem Mas vale
destacar que o artigo 33 da Convenccedilatildeo natildeo traz limitaccedilatildeo territorial assim haacute
entendimentos324 de que a natildeo-repulsatildeo deve ser obedecida em qualquer local onde um
Estado possa exercer sua jurisdiccedilatildeo sendo uma interpretaccedilatildeo aceita tendo por base a defesa
dos direitos humanos325 eacute a situaccedilatildeo da extraterritorialidade
O artigo 13 nordm 2 da DUDH dispotildee ldquoToda a pessoa tem o direito de abandonar o paiacutes
em que se encontra incluindo o seu e o direito de regressar ao seu paiacutesrdquo326 a mesma redaccedilatildeo
eacute dada no artigo 12 nordm 2 do Pacto Internacional de Direitos Civis e Poliacuteticos Assim os
migrantes em regiotildees mariacutetimas com ausecircncia de soberania de algum Estado natildeo podem ser
considerados em situaccedilatildeo irregular mesmo porque natildeo haacute previsatildeo sobre a proibiccedilatildeo de
indiviacuteduos deixarem seu paiacutes por via mariacutetima327
O entendimento do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos eacute de que se um Estado
adota medidas em aacuteguas internacionais ou territoriais de outro Estado com intuito de
combater a imigraccedilatildeo natildeo consiste na violaccedilatildeo do direito de saiacuteda do migrante do seu paiacutes
poreacutem as medidas satildeo tomadas com intuito de evitar a entrada no territoacuterio do Estado
323 TREVISANUT Seline The Principle of Non-Refoulement and the De-Territorialization of Border Control
at Sea Op cit 324 Seline Trevisanut citou Goodwin-Gill e J McAdam com o livro The Refugee in International Law (2007)
em TREVISANUT Seline The Principle of Non-Refoulement and the De-Territorialization of Border
Control at Sea Leiden Journal of International Law vol 27 no 3 September 2014 p 661-676 HeinOnline 325 TREVISANUT Seline The Principle of Non-Refoulement and the De-Territorialization of Border Control
at Sea Op cit 326 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem 1948
Disponiacutevel em httpsnacoesunidasorgwp-contentuploads201810DUDHpdf Acesso em 05032020 327 GROSBON Sophie Op cit
101
infringindo as regras de proteccedilatildeo internacional o direito de pedir asilo e a proibiccedilatildeo de
expulsatildeo coletivas328
Aleacutem disso um Estado ao abordar uma embarcaccedilatildeo com migrantes natildeo deve
devolvecirc-los ao paiacutes de origem pois estaria infringindo o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo tendo
em vista que os migrantes muitas vezes estatildeo fugindo de perseguiccedilotildees e ameaccedilas agraves suas
vidas Nesse sentido a Comissatildeo Interamericana de Direitos Humanos considera que a
interceptaccedilatildeo e reenvio sistemaacutetico de barcos cheios de migrantes atentam contra o direito agrave
vida Assim um dos maiores desafios relacionado com o direito do mar e os direitos
humanos estaacute questatildeo da imigraccedilatildeo ilegal bem como a questatildeo do porto de desembarque e
o paiacutes no qual vai analisar o procedimento de asilo329
A este respeito Sophie Grosbon destaca que uma significante falha na legislaccedilatildeo a
respeito do mar eacute o fato de natildeo haver uma clara identificaccedilatildeo de onde as pessoas encontradas
no mar devem desembarcar em situaccedilotildees de que as pessoas tentam entrar ilegalmente em
um paiacutes Antes as convenccedilotildees SAR e SOLAS nada previam sobre o assunto poreacutem foram
adotadas emendas com intuito de garantir um local de desembarque seguro para as pessoas
que satildeo resgatadas no mar natildeo importando a nacionalidade status ou quaisquer outras
circunstacircncias que se encontrem330
Na visatildeo do direito internacional e europeu a rejeiccedilatildeo de migrantes em alto mar
coloca em conflito vaacuterias convenccedilotildees sobre os direitos humanos direito internacional e
direto do mar Destaca-se a as convenccedilotildees UNCLOS SOLAS SAR Convenccedilatildeo de Genebra
de 1951 Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas contra Tortura de 1984 o Pacto Internacional dos
Direitos Civis e Poliacuteticos e a CEDH331
Sabe-se que o artigo 3ordm da CEDH estaacute intimamente relacionado ao princiacutepio da natildeo-
repulsatildeo pois haacute a proibiccedilatildeo de tortura e tratamentos desumanos e degradantes sendo assim
enviar algueacutem para um local onde possa sofrer de tais accedilotildees seria uma violaccedilatildeo do referido
dispositivo Assim mesmo jaacute tendo explicado anteriormente sobre esse princiacutepio faz-se
necessaacuterio rediscutir o mesmo conduzindo para a abordagem de refugiados em perigo no
mar
328 GROSBON Sophie Op cit 329 Ibidem 330 Ibidem 331 TERRASI Alfredo I respingimenti in mare di migrant alla luce della Convenzione europea dei diritti
umani In Diritti umani e diritto Internazionale Nordm 32009 p 591-607
102
No entanto natildeo haacute expressamente no artigo 3ordm da CEDH a obrigaccedilatildeo de natildeo-
repulsatildeo desse modo o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos utiliza o mecanismo de
proteccedilatildeo indireta (ldquoprotection paricochetrdquo) isto eacute estende a proteccedilatildeo do artigo para pessoas
que correm risco de serem torturadas ou serem submetidas agrave tratamentos desumanos e
degradantes caso haja uma expulsatildeo ou extradiccedilatildeo332
O artigo 4ordm do seu Protocolo adicional nordm 4 que se refere agraves expulsotildees coletivas
vimos que se aplica tanto para pessoas que jaacute estatildeo no territoacuterio como tambeacutem para as
pessoas que ainda natildeo atingiram a fronteira ou seja situaccedilatildeo dos migrantes em alto mar com
a pretensatildeo de ingressar no territoacuterio assim possui um mecanismo de aplicaccedilatildeo semelhante
ao artigo 3ordm da CEDH333
Do mesmo modo o artigo 3ordm nordm 1 da Convenccedilatildeo Contra a Tortura e Outros
Tratamentos ou Penas Crueacuteis Desumanos ou Degradantes traz a proibiccedilatildeo do envio de
pessoas para estados nos quais poderatildeo correr risco de serem submetidos agrave tortura ou
qualquer tratamento desumano ou degradante como podemos depreender da leitura do
dispositivo ldquoNenhum Estado Parte procederaacute agrave expulsatildeo devoluccedilatildeo ou extradiccedilatildeo de uma
pessoa para outro Estado quando houver razotildees substanciais para crer que a mesma corre
perigo de ali ser submetida agrave torturardquo334
Portanto satildeo vaacuterios os instrumentos internacionais bem como a praacutetica dos Estados
que trazem a natildeo-repulsatildeo como uma regra do direito consuetudinaacuterio tanto quanto os
direitos humanos335 como jaacute vimos no primeiro capiacutetulo A jurisprudecircncia do TEDH eacute no
sentido de que enviar uma pessoa para um paiacutes no qual sua vida e integridade fiacutesica vatildeo ser
postas em risco haacute a violaccedilatildeo do artigo 33 da Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 mas quando
se refere aos migrantes rejeitados em alto mar natildeo se poderia afirmar isso de imediato devido
agrave questatildeo da jurisdiccedilatildeo em alto mar mas como vimos haacute a possibilidade da
extraterritorialidade da jurisdiccedilatildeo de um Estado em alto mar336 Assim isso justificaria a
ideia de que sob a jurisdiccedilatildeo de um paiacutes este natildeo deve rejeitar os migrantes e enviaacute-los
332 TERRASI Alfredo Op cit 333 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit 334 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas
Crueacuteis Desumanos ou Degradantes 1984 Disponiacutevel em
httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto1990-1994D0040htm Acesso em 12092020 335 TREVISANUT Seline The Principle of Non-Refoulement and the De-Territorialization of Border Control
at Sea Op cit 336 TERRASI Alfredo Op cit
103
novamente agraves situaccedilotildees de risco sob pena de incorrer em lesatildeo aos artigos 3ordm da CEDH e 33
da Convenccedilatildeo de Genebra de 1951
Neste aspecto Alfredo Terrasi menciona que o ACNUR bem como a doutrina
majoritaacuteria sobre o tema entende pela aplicabilidade do artigo 33 da Convenccedilatildeo de Genebra
de 1951 tambeacutem na regiatildeo de alto mar ou seja como jaacute falamos acima aplicando a
extraterritorialidade da jurisdiccedilatildeo do paiacutes e portanto a extraterritorialidade do princiacutepio da
natildeo-repulsatildeo337
A este respeito o ACNUR no documento ldquoNotes on International Protectionrdquo de 13
de setembro de 2001 dispotildee que natildeo satildeo admitidas reservas no princiacutepio da natildeo-repulsatildeo e
que consiste em uma regra de direito internacional consuetudinaacuterio e portanto se vincula a
todos os Estados aleacutem disso consiste em um princiacutepio atrelado agrave proibiccedilatildeo da tortura e
tratamentos desumanos degradantes e crueacuteis bem como aplicaacutevel a todos os refugiados
independentemente do status formal do indiviacuteduo e como jaacute visto proiacutebe o envio de
indiviacuteduos para locais onde correm o risco de terem sua vida e liberdade ameaccediladas sendo
que o local da rejeiccedilatildeo natildeo importa se eacute na fronteira repulsatildeo indireta ou interceptaccedilatildeo de
embarcaccedilotildees por exemplo338
Nesta mesma linha vimos que a Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos do Homem no
Protocolo nordm 4 artigo 4ordm haacute a proibiccedilatildeo de expulsotildees coletivas tal disposto se justifica no
fato de que a anaacutelise para configurar o status de refugiado deve ser efetuada individualmente
com isso a expulsatildeo coletiva infringe gravemente a anaacutelise individual pois ao recusar os
migrantes em grupos faz com que a anaacutelise seja sumaacuteria339
A regulaccedilatildeo de entrada nos paiacuteses sempre foi praticada inclusive com rejeiccedilotildees de
entrada E como jaacute explicado no capiacutetulo anterior nos uacuteltimos anos a Itaacutelia eacute um dos paiacuteses
que mais vecircm sofrendo com a chegada massiva de migrantes que atravessam o Mar
Mediterracircneo com intuito de chegar agrave Europa Vimos tambeacutem que os Estados possuem sua
soberania e por isso tecircm direito de controlar o fluxo de entrada no paiacutes mas este fato esbarra
nas situaccedilotildees em que pessoas necessitam de proteccedilatildeo internacional
337 TERRASI Alfredo Op cit 338 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Note on International Protection ndash UNHCR 13 september
2001 Disponiacutevel httpswwwunhcrorgexcomexcomrep3bb1c6cc4note-international-protectionhtml
Acesso em 18092020 339 TERRASI Alfredo Op cit
104
Assim o direito de rejeitar a entrada de pessoas no paiacutes consiste em uma expressatildeo
da soberania dos Estados no entanto haacute limites Vejamos A ideia de soberania eacute de que se
trata de uma ferramenta para garantia dos direitos do Estado e dos indiviacuteduos agrave luz do direito
internacional ou seja a garantia de proteccedilatildeo miacutenima com base nos direitos humanos
tornando o princiacutepio da natildeo-discriminaccedilatildeo o centro de reconstruccedilatildeo dos deveres do Estado
em relaccedilatildeo a todos indiviacuteduos natildeo importando a nacionalidade destes Nesse sentido com
base nesse princiacutepio todas as pessoas que estiverem sob a jurisdiccedilatildeo de algum Estado este
deve fazer com que os direitos fundamentais reconhecidos pelo direito internacional sejam
observados340
A accedilatildeo de rejeitar a entrada de pessoas consiste em um exerciacutecio de poder dos oacutergatildeos
do Estado que satildeo responsaacuteveis pelo controle das fronteiras mas esta accedilatildeo faz com que
sejam ativadas as ferramentas para que se respeitem os direitos humanos dos envolvidos
Dessa forma a proteccedilatildeo ao direito agrave vida proibiccedilatildeo de tratamentos desumanos e
degradantes a liberdade pessoal entre outras proteccedilotildees dos direitos humanos pode fazer
com que o Estado seja impedido de rejeitar as pessoas ou seja que se respeite o princiacutepio
da natildeo-repulsatildeo341
Assim o direito dos refugiados eacute a primeira aacuterea do direito internacional em que a
regra da natildeo-repulsatildeo foi desenvolvida foi durante a Segunda Guerra Mundial que os
Estados decidiram adotar a proibiccedilatildeo geral de recusar refugiados342 ou seja como jaacute vimos
os Estados-partes que adotaram a Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 comprometeram-se a natildeo
expulsar um refugiado para locais onde a vida e a liberdade seriam ameaccediladas
Destaca-se que a natildeo repulsatildeo se aplica aos refugiados isto eacute aqueles que se
enquadram nas situaccedilotildees previstas na Convenccedilatildeo de 1951 portanto alguns elementos que
caracterizam uma pessoa como refugiado satildeo o medo a perseguiccedilatildeo pelos motivos
especiacuteficos (raccedila religiatildeo nacionalidade e outros) e natildeo poder se beneficiar da proteccedilatildeo
estatal Poreacutem pessoas que necessitam de proteccedilatildeo por fugirem de guerra (natildeo enquadradas
nas situaccedilotildees de perseguiccedilatildeo) refugiados ambientais pessoas deslocadas internamente satildeo
excluiacutedas do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo343
340 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit 341 Ibidem 342 Ibidem 343 Ibidem
105
No entanto natildeo eacute exigiacutevel que os indiviacuteduos jaacute estejam no territoacuterio para que se
aplique a natildeo-repulsatildeo ou seja os migrantes podem estar na fronteira ou inclusive em aacutereas
onde o Estado natildeo exerce a soberania como o alto mar De qualquer forma os indiviacuteduos
devem ter seu direito de natildeo serem devolvidos respeitado344 Dessa forma o artigo 33 da
Convenccedilatildeo de 1951 aleacutem de ser uma proteccedilatildeo aos refugiados consiste em um
desenvolvimento dos direitos humanos pois tambeacutem foi adotado em outros documentos
internacionais demonstrando a relevacircncia desta regra345
Nesse sentido a Convenccedilatildeo contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Crueacuteis
Desumanos ou Degradantes adotada em 1984 traz no artigo 3ordm nordm1 a proibiccedilatildeo da expulsatildeo
de uma pessoa quando houver relevantes razotildees para se acreditar que o indiviacuteduo corra
perigo e possa ser submetido agrave tortura346 Entatildeo a Convenccedilatildeo de 1951 diz respeito aos
refugiados e a Convenccedilatildeo contra a Tortura amplia a aplicaccedilatildeo deste princiacutepio para mais
pessoas que natildeo satildeo consideradas refugiadas bastando ter motivos substanciais para
acreditar que a pessoa seraacute submetida agrave tortura
Entatildeo destaca-se o fato de que a Convenccedilatildeo Contra a Tortura natildeo prevecirc exceccedilotildees
ou seja ningueacutem poderaacute ser expulso de um paiacutes sabendo que o indiviacuteduo seraacute submetido agrave
tortura Neste aspecto podemos entender o caraacuteter de uma norma jus cogens (resumidamente
satildeo regras internacionais imperativas como vimos no primeiro capiacutetulo) na proibiccedilatildeo da
repulsatildeo347
Tendo por base todas essas informaccedilotildees a respeito da natildeo-repulsatildeo passa-se agora a
explorar a relaccedilatildeo deste princiacutepio juntamente com o direito do mar Neste aspecto eacute
importante destacar que a natildeo-repulsatildeo natildeo consta expressamente na lei do mar poreacutem isso
natildeo significa que natildeo deva ser aplicado pois o direito internacional prevecirc a possibilidade de
integrar as regras presentes em outros documentos A exemplo disto a UNCLOS prevecirc que
os assuntos natildeo regulados por ela continuam sendo disciplinados pelos princiacutepios do direito
internacional348
344 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit 345 Ibidem 346 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Contra a Tortura e Outros Tratamentos
ou Penas Crueacuteis Desumanos ou Degradantes 1984 Disponiacutevel em
httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto1990-1994D0040htm Acesso em 24062020 347 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit 348 Ibidem
106
Ao observar algumas obrigaccedilotildees fundamentais neste ponto do direito internacional
percebe-se a evidecircncia da proteccedilatildeo dos direitos humanos exemplificado pelo princiacutepio da
natildeo-repulsatildeo assim menciona-se a obrigaccedilatildeo de salvar as pessoas que estatildeo em perigo no
mar e levaacute-las para um local seguro Esta obrigaccedilatildeo jaacute presente nas regras costumeiras eacute
expressa na UNCLOS e em outros documentos internacionais como a SOLAS e a SAR No
entanto natildeo haacute definiccedilatildeo do que seria ldquolugar segurordquo mas entende-se que consiste em um
local onde os indiviacuteduos possuem seus direitos fundamentais respeitados assim os
migrantes resgatados no mar devem ser desembarcados em lugares onde a vida e liberdade
dessas pessoas estatildeo salvas349
Portanto o elo entre a obrigaccedilatildeo de salvamento no mar e desembarcar as pessoas em
locais seguros juntamente com o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo constituem em uma
convergecircncia do direito do mar direitos humanos e direito dos refugiados As chances das
pessoas resgatadas no mar principalmente no Mar Mediterracircneo serem pessoas que se
enquadram no conceito de refugiado eacute grande350 Veremos adiante que a Itaacutelia foi condenada
pelo TEDH por desrespeitar essas obrigaccedilotildees internacionais
No entanto os limites impostos pelo direito dos refugiados e direitos humanos agrave
atuaccedilatildeo do Estado no que se refere agrave rejeiccedilatildeo dos estrangeiros tecircm sido considerados como
oacutebices agraves poliacuteticas estatais de rejeiccedilatildeo indiscriminadas adotadas por alguns paiacuteses Nesse
sentido alguns governos tentaram coibir a chegada de migrantes para requisiccedilatildeo de asilo
que a exemplo disso cita-se a Austraacutelia Itaacutelia e Estados Unidos351
Dos exemplos citados no uacuteltimo capiacutetulo falaremos das violaccedilotildees nos principais
paiacuteses afetados como Itaacutelia Greacutecia e Malta pois tem sido os paiacuteses mais afetados pela
migraccedilatildeo atraveacutes do Mar Mediterracircneo Nesse sentido a Itaacutelia adotou haacute pouco tempo uma
legislaccedilatildeo que possui a finalidade de impedir a entrada de embarcaccedilotildees que resgatam
migrantes em suas aacuteguas e portos Do ponto de vista de diversas aacutereas do direito como
direitos humanos e direito do mar tal medida do governo italiano eacute ilegiacutetima352
A UNCLOS nos seus artigos 17 e 25 nordm 3 dispotildee a respeito de passagem inocente
mas em alguns casos o estado costeiro pode suspender temporariamente esse direito esta
deve ser temporaacuteria deve ser em aacutereas especiacuteficas a accedilatildeo deve ser importante para a
349 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit 350 Ibidem 351 Ibidem 352 Ibidem
107
seguranccedila do Estado e natildeo deve ter cunho discriminatoacuterio Portanto a aacuterea deve ser restrita
e aplicaacutevel a todos os navios ou seja natildeo se pode restringir a navegaccedilatildeo de embarcaccedilotildees de
ONGs que prestam assistecircncia no mar por exemplo353
Dessa forma observa-se que as accedilotildees do governo italiano tinham intenccedilatildeo de excluir
uma categoria de barcos e que inclusive natildeo realizam atividades ilegais assim a Itaacutelia deixa
de respeitar uma seacuterie de obrigaccedilotildees legais Nesse sentido desembarcar migrantes
resgatados em alto mar em locais como a Liacutebia por exemplo acarreta uma violaccedilatildeo ao
princiacutepio da natildeo-repulsatildeo pois este paiacutes africano estaacute longe de ser um local seguro354
O direito internacional do mar autoriza em casos extremos que uma embarcaccedilatildeo
que esteja em situaccedilatildeo de perigo tenha acesso aos portos mesmo que o Estado portuaacuterio seja
diverso do Estado da bandeira independentemente da permissatildeo355 Aleacutem disso em outro
aspecto os estados de destino da migraccedilatildeo irregular tentam prevenir a chegada de migrantes
ilegais em seu territoacuterio controlando as fronteiras fora do seu territoacuterio ou seja em alto mar
Esta accedilatildeo eacute chamada de desterritorializaccedilatildeo neste aspecto nos deparamos com o conceito
do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo que vimos ser um instrumento importante na proteccedilatildeo dos
migrantes que necessitam de proteccedilatildeo Aleacutem disso vale lembrar que o ato de migrar natildeo eacute
ilegal sendo que quem comente o crime satildeo os contrabandistas nesse sentido os migrantes
ldquocometemrdquo iliacutecitos ao entrar de forma irregular no territoacuterio internacional356
Nesse sentido Seline Trevisanut traz a ideia de dois tipos de fronteiras a primeira
consiste na fronteira propriamente dita delimitada no mapa que visa delimitar a aacuterea fiacutesica
na qual o Estado costeiro tem assegurada sua soberania na medida de cada zona mariacutetima
como vimos no iniacutecio deste capiacutetulo a segunda ideia de fronteira mariacutetima funcional que
traz uma fronteira dinacircmica ou seja ela eacute alterada de acordo com a natureza da accedilatildeo em
questatildeo Portanto no que se refere agrave migraccedilatildeo a fronteira eacute no local que as autoridades
realizaram o controle de fronteira ou seja em tese na interceptaccedilatildeo de um navio no mar o
controle de fronteira estaacute sendo realizado naquele local357
Tal fato traz a ideia de imposiccedilatildeo do seu sistema juriacutedico como eacute o caso por
exemplo da Itaacutelia em que alega seu tratado de amizade com a Liacutebia Assim a Itaacutelia entende
353 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit 354 Ibidem 355 Ibidem 356 TREVISANUT Seline The Principle of Non-Refoulement and the De-Territorialization of Border Control
at Sea Op cit 357 Ibidem
108
que pode tomar as medidas de acordo com a sua legislaccedilatildeo e tratados Ocorre que o princiacutepio
da natildeo-repulsatildeo eacute aplicado agrave pessoa que foi interceptada pois mesmo que a entrada seja
ilegal a Convenccedilatildeo de 1951 no artigo 31 nordm1 dispotildee que a entrada ilegal natildeo deve ser motivo
para recusar as pessoas que foram abordadas Entatildeo se deve sempre buscar a proteccedilatildeo de
pessoas que necessitam de ajuda No entanto a praacutetica de repelir os navios para alto mar natildeo
configuraria violaccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo mas eacute importante que esse ato natildeo
configure colocar vidas em perigo caso contraacuterio estaria em desacordo com o dever de
assistecircncia e socorro no mar358 mas sabemos que a situaccedilatildeo natildeo simples dessa forma pois
ao repelir um barco de migrantes para alto mar eacute colocar a vida das pessoas que estatildeo na
embarcaccedilatildeo em perigo pois voltar para o paiacutes de origem natildeo eacute uma opccedilatildeo ficar a deriva
pode levaacute-las agrave morte ir para outro paiacutes mais longe pode deteriorar ainda mais a embarcaccedilatildeo
e a mesma naufragar causando acidentes e provavelmente mortes
Assim podemos dizer que o desvio forccedilado de migrantes enviando-os de volta para
o paiacutes de partida ou para algum paiacutes que natildeo escolheram ou para algum paiacutes considerado
inseguro consiste em violaccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo Ressalta-se que tal princiacutepio natildeo
traz obrigatoriedade de recepccedilatildeo dos migrantes poreacutem repeliacute-los pode infringir algumas
normas do direito internacional como por exemplo o dever de prestar assistecircncia no mar359
323 A Busca e Salvamento no Mar e o Dever de Assistecircncia
O direito agrave vida deve prevalecer perante questotildees em que o navio esteja em perigo
ou que possua um maior nuacutemero de passageiros que possa comprometer a seguranccedila da
embarcaccedilatildeo Assim a primazia do direito agrave vida deve fazer com que o Estado costeiro abra
sua fronteira para o acesso dos migrantes Aleacutem disso o Tribunal Europeu dos Direitos
Humanos natildeo permite a ideia do Estado separar a obrigaccedilatildeo de salvar as vidas no mar
(prevista na UNCLOS) das obrigaccedilotildees de respeitar os direitos fundamentais Dessa forma
o Estado deve se preocupar com qualquer pessoa em perigo no mar e que as pessoas natildeo
devem ser devolvidas ao paiacutes de embarque360
358 TREVISANUT Seline The Principle of Non-Refoulement and the De-Territorialization of Border Control
at Sea Op cit 359 TREVISANUT Seline Maritime Border Control and the Protection of Asylum-Seekers in the European
Union Touro International Law Review 12 2009 p 157-161 HeinOnline 360 GROSBON Sophie Op cit
109
No que se refere agrave imigraccedilatildeo clandestina cita-se a Convenccedilatildeo de 1957 que nunca
entrou em vigor ela previa a autonomia do capitatildeo de um navio de entregar os migrantes agraves
autoridades do primeiro porto de escala sendo responsaacutevel por devolverem ao seu paiacutes de
origem No mesmo sentido em 2002 tentaram resolver a questatildeo de passageiros que entram
clandestinamente em alguma embarcaccedilatildeo portanto a ideia era de que os capitatildees natildeo
deveriam desviar a rota do navio para desembarcar o indiviacuteduo (exceto se tiver autorizaccedilatildeo
do porto ldquode desviordquo e se for necessaacuterio o desembarque em casos de seguranccedila e
humanidade) assim o Estado de desembarque deve aceitar o passageiro que for encontrado
no seu mar territorial sendo que em casos de recusa esta deveraacute ser justificada361
A este respeito Sophie Grosbon destaca que o desembarque das pessoas resgatadas
no mar sejam elas migrantes ou passageiros clandestinos estatildeo submetidos agrave lei dos
refugiados bem como ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo isso implica que o indiviacuteduo natildeo seja
desembarcado em um paiacutes no qual seus direitos vida e integridade fiacutesica sejam ameaccedilados
o mesmo ocorre para paiacuteses que possam enviaacute-los de volta ao paiacutes de origem ou Estado onde
seria ameaccediladoperseguido (situaccedilatildeo conhecida como repulsatildeo indireta)362
Percebe-se entatildeo a ligaccedilatildeo do ponto estudado neste capiacutetulo com o que foi exposto
no capiacutetulo 1 a respeito do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo visto anteriormente ou seja uma
pessoa que estaacute fugindo de ameaccedilas e tratamentos desumanos e degradantes que vivia em
um lugar que a vida e a integridade fiacutesica estavam ameaccediladas natildeo deve ser enviada de volta
para a tortura conforme consta no artigo 3ordm da CEDH bem como na Convenccedilatildeo contra a
Tortura
Quanto aos navios que socorrem as pessoas no mar a respeito da situaccedilatildeo dos
passageiros clandestinos faz-se uma separaccedilatildeo na anaacutelise ou seja se o navio eacute estatal ou se
eacute uma embarcaccedilatildeo particular No caso de embarcaccedilatildeo puacuteblica entende-se que o Estado da
bandeira eacute o responsaacutevel pela anaacutelise do pedido de asilo mesmo se estiver em aacuteguas internas
do estado de fuga mas ressalta-se que o mar natildeo eacute o local apropriado para que ocorra o
procedimento de anaacutelise do status de refugiado pois o capitatildeo e sua equipe natildeo possuem
conhecimento e treinamento para este serviccedilo bem como ocasionaria um atraso na rota
aleacutem disso se a anaacutelise ocorrer a bordo pode colocar em risco o respeito aos direitos
361 GROSBON Sophie Op cit 362 Ibidem
110
fundamentais do indiviacuteduo (direito a um tradutor um advogado possibilidade de recorrer e
confidencialidade do processo)363
Por outro lado se a embarcaccedilatildeo for particular a lei internacional dos refugiados junto
com a lei mariacutetima internacional sugere que o Estado responsaacutevel pelo pedido de asilo eacute
aquele onde ocorre o desembarque podendo inclusive que os Estados (de desembarque da
bandeira e outro Estado terceiro que aceite o procedimento de asilo) celebrem acordos para
compartilhar os encargos e as responsabilidades Essa dificulta o desembarque dos
migrantes pois ocasiona a obrigatoriedade de processar o pedido de asilo e isso resultaria
em situaccedilatildeo de natildeo assistecircncia das pessoas em perigo no mar364
Vimos que a UNCLOS no artigo 98 traz o dever de assistecircncia no mar isto eacute o nordm
1 aliacutenea ldquoardquo traz um princiacutepio consistente do direito consuetudinaacuterio que eacute o dever de prestar
assistecircncia para pessoas que estatildeo em perigo no mar e o nordm 2 do artigo traz o dever do Estado
costeiro de promover um eficaz serviccedilo de busca e salvamento bem como promover o
funcionamento a manutenccedilatildeo deste serviccedilo365
No que se refere ao direito internacional consuetudinaacuterio eacute niacutetido de que o dever de
salvar vidas no mar eacute um exemplo desta expressatildeo Nesse sentido tal regra eacute aplicaacutevel a
todos os Estados independentemente de serem signataacuterios de algum tratado internacional366
mas as Convenccedilotildees internacionais trazem disposiccedilotildees para confirmar o dever de salvamento
Como exemplo no Capiacutetulo V temos a regra 33 nordm 1 da SOLAS cujo tiacutetulo eacute ldquoDistress
situations obligations and proceduresrdquo que trata da obrigaccedilatildeo de um capitatildeo do navio em
salvar pessoas que estejam em perigo no mar natildeo importando as circunstacircncias em que satildeo
encontrados nacionalidade ou status das pessoas367
No que diz respeito agrave obrigaccedilatildeo de salvamento prevista na regra 33 nordm 1 da SOLAS
mencionada acima natildeo basta apenas salvar as pessoas em perigo no mar mas tambeacutem faz
parte da obrigaccedilatildeo desembarcar essas pessoas em local seguro este que por sua vez consta
no item 11 do mesmo artigo como segue ldquo() so that survivors assisted are disembarked
from the assisting ship and delivered to a place of safety ()rdquo368
363 GROSBON Sophie Op cit 364 Ibidem 365 UNITED NATIONS United Nations Convention on the Law of the Seas Op cit 366 RUGGIERO Carol Op cit 367 INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION International Convention for the Safety of Life at Sea
(SOLAS) Op cit 368 Ibidem
111
No que se refere ao desembarque em local de seguranccedila nem a SOLAS e nem a SAR
trouxeram a definiccedilatildeo do que seria esse local de seguranccedila poreacutem em 2004 nas
ldquoOrientaccedilotildees sobre o tratamento de pessoas resgatadas no marrdquo da Organizaccedilatildeo Mariacutetima
Internacional (OMI - IMO) dispotildee que esse lugar eacute onde a vida dos sobreviventes natildeo estaacute
mais em perigo tendo as principais necessidades humanas respeitadas ou seja alimentaccedilatildeo
acomodaccedilatildeo assistecircncia meacutedica como segue ldquo()is a location where rescue operations
are considered to terminate It is also a place where the survivorsrsquo safety of life is no longer
threatened and where their basic human needs (such as food shelter and medical needs)
can be met369rdquo
Vale ressaltar que se as pessoas resgatadas estiverem fugindo de perseguiccedilotildees satildeo
pessoas que provavelmente vatildeo querer asilo portanto a questatildeo de resgate e assistecircncia no
mar natildeo se restringe apenas em socorro fiacutesico pois neste caso seraacute tambeacutem uma questatildeo
de proteccedilatildeo internacional370
A regra 7 do Capiacutetulo V da SOLAS tem o tiacutetulo de ldquoSearch and rescue servicesrdquo que
traz a obrigaccedilatildeo de cada Estado-parte em garantir que as providecircncias necessaacuterias de socorro
agraves pessoas em perigo na sua aacuterea de responsabilidade371 no mesmo sentido a SAR no
Capiacutetulo 2 nordm 2110 dispotildee ldquoParties shall ensure that assistance be provided to any person
in distress at sea They shall do so regardless of the nationality or status of such a person or
the circumstances in which that person is foundrdquo372 ou seja os Estados signataacuterios tecircm o
dever de prestar assistecircncia a qualquer pessoa em perigo no mar independente de status
nacionalidade ou qualquer outra circunstacircncia conforme jaacute mencionado anteriormente
Tendo por base essas informaccedilotildees podemos fazer uma anaacutelise com base no estudo
realizado por Ilaria Trani ou seja em seu estudo trouxe a informaccedilatildeo de que o estado liacutebio
estaria atuando na regiatildeo mariacutetima a fim de executar operaccedilotildees de busca e resgate sendo
financiados por paiacuteses como a Itaacutelia por exemplo Isto traz a situaccedilatildeo de que se as
autoridades liacutebias resgatarem os barcos de migrantes ilegais poderiam levaacute-los de volta para
369 INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION Guidelines on the Treatment of Persons Rescued at
Sea 2004 Disponiacutevel em
httpwwwimoorgenOurWorkFacilitationpersonsrescuedDocumentsMSC167(78)pdf Acesso em
27062020 370 RUGGIERO Carol Op cit 371 INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION International Convention for the Safety of Life at Sea
(SOLAS) Op cit 372 INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION Search and Rescue Convention 1979 Disponiacutevel
em httpsonboard-aquariusorguploads201808SAR-Convention-1979pdf Acesso em 27062020
112
Liacutebia sem configurar a ldquonatildeo-repulsatildeordquo situaccedilatildeo em que a Itaacutelia jaacute foi condenada pelo
Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (como veremos agrave frente) Poreacutem destaca-se que tal
situaccedilatildeo natildeo exime os paiacuteses da Uniatildeo Europeia das suas obrigaccedilotildees de proteger a vida
humana no mar mesmo que a operaccedilatildeo necessaacuteria seja fora da regiatildeo de busca e salvamento
sob a justificativa da responsabilidade perante o direito internacional373 Aleacutem disso a Itaacutelia
fornecer subsiacutedios para que a Liacutebia resgate os migrantes no mar e os levem de volta estaacute
sendo cuacutemplice de um atividade iliacutecita e por isso deve ser responsabilizada tendo por base
o artigo 16 dos ldquoDraft articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful Actsrdquo
bull Procedimentos e operaccedilotildees de busca e resgate no mar
Em um primeiro momento o capitatildeo deve passar informaccedilotildees do navio auxiliar para
o Centro de Coordenaccedilatildeo de Resgate bem como informaccedilotildees a respeito das pessoas a serem
resgatadas accedilotildees jaacute concluiacutedas e ainda por realizar procedimento de desembarque sugerido
pelo capitatildeo do navio e fatores especiacuteficos (clima carga do navio etc) Se as pessoas
resgatadas forem migrantes que pretendem requerer asilo o capitatildeo deve informar tambeacutem
o ACNUR aleacutem de alertar o Centro de Coordenaccedilatildeo de Resgate mais proacuteximo natildeo deve
solicitar desembarque de onde os migrantes estavam fugindo e natildeo fornecer os dados dos
migrantes agraves autoridades do paiacutes de origem ou para quem possa informar as autoridades374
Os Centros de Coordenaccedilatildeo de Resgate satildeo importantes pois deve assegurar que os
compromissos assumidos internacionalmente sejam cumpridos como por exemplo respeito
agraves convenccedilotildees SAR e SOLAS bem como ter um plano de operaccedilatildeo para accedilotildees de
recuperaccedilatildeo organizar o desembarque dos sobreviventes entregarem as pessoas resgatadas
em um lugar seguro Aleacutem disso esses centros tem a funccedilatildeo de fazer acordos com setores
de imigraccedilatildeo alfacircndegas controles de fronteira etc providenciando inclusive hospedagens
temporaacuterias para os resgatados enquanto o problema relativo ao resgate seja solucionado
com intuito de desonerar o navio que resgatou o mais breve possiacutevel para evitar atrasos
encargos financeiros ou outras dificuldades375
373 TANI Ilaria Op cit 374 INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION INTERNATIONAL CHAMBER OF SHIPPING
UNITED NATIONS (UNHCR) Soccorso in Mare 2015 Disponiacutevel em httpswwwunhcritwp-
contentuploads201512Soccorso_in_Marepdf Acesso em 29062020 375 INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION INTERNATIONAL CHAMBER OF SHIPPING
UNITED NATIONS (UNHCR) Soccorso in Mare 2015 Op cit
113
Assim no ano de 2015 a Comissatildeo o Conselho e o Parlamento Europeu passaram
a atuar de formas variadas na questatildeo de busca e salvamento no mar no que se refere aos
refugiados principalmente devido agraves trageacutedias acontecidas no Mediterracircneo376 Antes de
entendermos um pouco da situaccedilatildeo de busca e resgate no Mediterracircneo faz-se necessaacuterio
entender um pouco sobre a Frontex
O controle de fronteiras na Europa eacute exercido pela Frontex que foi criada em 2004
e consiste na Agecircncia Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira tendo como finalidade
ajudar os paiacuteses da Uniatildeo Europeia bem como os pertencentes agrave aacuterea Schengen a proteger
suas fronteiras e ter um maior controle da livre circulaccedilatildeo presente no respectivo territoacuterio
No ano de 2016 as funccedilotildees da Frontex foram ampliadas para ter maior controle da
migraccedilatildeo a fim de ter maior responsabilidade na questatildeo de combate agrave criminalidade
transfronteiriccedila aleacutem disso as operaccedilotildees de busca e salvamento satildeo de competecircncia da
Frontex377
No sentido de busca e salvamento tem-se que ldquoA Frontex eacute obrigada a prestar
assistecircncia teacutecnica e operacional no mar para apoiar operaccedilotildees de salvamento que possam
ocorrer durante as operaccedilotildees de vigilacircncia das fronteiras378rdquo Segundo dados a Frontex
auxiliou no salvamento 280000 no Mar Mediterracircneo379
Podemos citar portanto duas operaccedilotildees da Frontex que tinham por objetivo a
interceptaccedilatildeo de navios de migrantes ilegais originados do Senegal e Mauritacircnia sendo
denominadas Hera II e III nestas operaccedilotildees parte dos migrantes foram devolvidos Ressalta-
se que as patrulhas foram feitas tambeacutem no mar territorial dos dois paiacuteses africanos
supramencionados aleacutem disso a existecircncia de acordos entre paiacuteses terceiros e de fora da
Uniatildeo Europeia autorizam as patrulhas bem como autoriza outros Estados-membros a
intervir nas aacuteguas territoriais dos referidos paiacuteses africanos380
Como vimos tendo por base o direito internacional os estados costeiros possuem
ampla soberania no seu mar territorial sendo limitado pelo direito de passagem inocente ou
por algum tratado Nesse sentido o acordo entre Mauritacircnia e Espanha dispotildee que os dois
376 TANI Ilaria Op cit 377 FRONTEX O que eacute a Frontex Disponiacutevel em httpsfrontexeuropaeulanguagept Acesso em
19082020 378 Ibidem 379 Dados informados no site da Frontex FRONTEX O que eacute a Frontex Disponiacutevel em
httpsfrontexeuropaeulanguagept Acesso em 19082020 380 TREVISANUT Seline Maritime Border Control and the Protection of Asylum-Seekers in the European
Union Op cit
114
paiacuteses poderiam interceptar e desviar pessoas nacionais de paiacuteses terceiros que natildeo
apresentem os requisitos de entrada em ambos os paiacuteses mesmo que seja no mar territorial
No caso apenas embarcaccedilotildees espanholas poderiam interceptar embarcaccedilotildees no mar
territorial da Mauritacircnia ocorre que a Frontex natildeo especifica a nacionalidade da
embarcaccedilatildeo constando apenas que se trata de embarcaccedilatildeo dos Estados-membros assim natildeo
sendo navio de nacionalidade espanhola provavelmente haacute uma infringecircncia agraves normas de
direito internacional a natildeo ser que tenha a aceitaccedilatildeo do paiacutes africano381
Nesse sentido o anexo da ldquoCouncil Decisionrdquo de 26 de abril de 2010 traz os
princiacutepios gerais para operaccedilotildees de fronteiras mariacutetimas realizadas pela Frontex assim estas
operaccedilotildees devem ser realizadas com base nos direitos fundamentais promovendo a
seguranccedila das pessoas interceptadas ou resgatadas dispotildee tambeacutem que nenhuma pessoa
pode ser enviada a um localpaiacutes em que possa haver risco para sua integridade fiacutesica e
liberdade consistindo em uma violaccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo382
No entanto uma das mais importantes operaccedilotildees de resgate no Mediterracircneo foi a
Mare Nostrum lanccedilada pela Itaacutelia e surgiu em 2013 apoacutes o aumento dos naufraacutegios das
embarcaccedilotildees de imigrantes nas proximidades da ilha de Lampedusa A ideia era vigiar o Mar
Mediterracircneo 24 horas por dia a fim de salvar o maior nuacutemero de vidas possiacuteveis Assim
em um ano mais de 150 mil pessoas foram salvas isso significa o resgate de pelo menos
400 pessoas por dia Tambeacutem conseguiram prender mais de 300 traficantes poreacutem natildeo foi
totalmente eficaz tendo em vista a morte de pelo menos trecircs mil e trezentos migrantes no
ano de 2014 Tal operaccedilatildeo custava em torno de 9 milhotildees de euros por mecircs e devido aos
custos a Itaacutelia finalizou esta operaccedilatildeo devido a falta de ajuda no custeio383
Posteriormente a Europa adotou a Operaccedilatildeo Triton coordenada pela Frontex que
foi auxiliada pelos Estados-membros com a cessatildeo de embarcaccedilotildees aviotildees helicoacutepteros e
pessoal para auxiliar nos serviccedilos Diferentemente da Mare Nostrum que o objetivo era de
381 TREVISANUT Seline Maritime Border Control and the Protection of Asylum-Seekers in the European
Union Op cit 382 COUNCIL OF THE EUROPEAN UNION Council Decision of 26 April 2010 (2010252EU) Disponiacutevel
em httpseur-lexeuropaeuLexUriServLexUriServdouri=OJL201011100200026ENPDF Acesso
em 18092020 383 G1 GLOBO Conheccedila as missotildees de resgate de imigrantes no Mediterracircneo 2015 Disponiacutevel em
httpg1globocommundonoticia201504conheca-as-missoes-de-resgate-de-imigrantes-no-
mediterraneohtml Acesso em 30082020
115
resgate e tinha uma atuaccedilatildeo ateacute costa da Liacutebia a Triton focou no controle de fronteiras sendo
que as buscas se limitaram nas aacuteguas europeias384
Outra operaccedilatildeo foi a EUNAFOR MED SOPHIA implementada em 2016 pela
Resoluccedilatildeo 22402015 derivada da EUNAFOR ATLANTA esta que tinha o objetivo de
combater a pirataria na costa da Somaacutelia Essa nova forccedila naval da Uniatildeo Europeia no
Mediterracircneo recebeu diversas criacuteticas quanto aos planos de operaccedilotildees que se referem
questatildeo de naufraacutegios Uma dessas tarefas eacute monitorar a formaccedilatildeo agrave Guarda Costeira da
Liacutebia Houve tambeacutem outro adendo o Memorando de Entendimento entre a Itaacutelia e a Liacutebia
de 2017 que foi acolhido pelo Conselho Europeu poreacutem recebeu criacuteticas do Comitecirc das
Naccedilotildees Unidas contra a Tortura pois natildeo tratava sobre a colaboraccedilatildeo dos Estados no que se
refere aos direitos humanos385 No que se refere agrave Resoluccedilatildeo mencionada acima tem-se que
ela ldquo() reforccedila a autoridade para tomar medidas contra a introduccedilatildeo clandestina de
migrantes e o traacutefico de pessoas a partir do territoacuterio da Liacutebia e ao largo da costa deste
paiacutesrdquo386
Aleacutem disso o jornal alematildeo ldquoDeutsche Wellerdquo no ano passado (2019) trouxe a
notiacutecia de que um grupo de advogados em Paris apresentou agrave Fatou Bensouda (procuradora
geral do Tribunal Penal Internacional) uma denuacutencia de que a UE e Estados-membros desde
2014 estariam cometendo crime contra a humanidade no cumprimento de poliacuteticas
migratoacuterias no Mar Mediterracircneo e na Liacutebia Na denuacutencia haacute informaccedilotildees de que 40 mil
pessoas foram ldquoresgatadasrdquo no mar e consequentemente levadas para campos de detenccedilatildeo
de refugiados e submetidos agrave tortura aleacutem de casos de tortura e estupros cometidos pela
Guarda Costeira Liacutebia financiada por paiacuteses europeus (Itaacutelia por exemplo) Nos uacuteltmos 6
anos mais de 12 mil migrantes morreram ao tentar fugir da Liacutebia e chegar ao continente
europeu387
Agraves situaccedilotildees demonstradas acima podemos suspeitar de que a Uniatildeo Europeia por
meio da Frontex juntamente com alguns paiacuteses europeus atuam no sentido de repelir os
migrantes tendo em vista o auxiacutelio promovido por essa agecircncia no sentido de resgate das
384 G1 GLOBO Conheccedila as missotildees de resgate de imigrantes no Mediterracircneo 2015 Op cit 385 TANI Ilaria Op cit 386 COMITEcirc DE SEGURANCcedilA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Resoluccedilatildeo 2240 (2015) Disponiacutevel em httpseur-
lexeuropaeulegal-contentPTTXTuri=CELEX3A32016D0118 Acesso em 30082020 387 DEUTSCHE WELLE (DW) Juristas processam UE por morte de migrantes 2019 Disponiacutevel em
httpswwwdwcompt-brjuristas-processam-ue-por-mortes-de-migrantesa-49036829 Acesso em
05102020
116
pessoas no mar enviando os de volta aos seus paiacuteses como no caso envolvendo a Espanha e
a Mauritacircnia
bull Conflito de interesses Estados vs Refugiados
Como vimos a Mare Nostrum foi descontinuada e portanto substituiacutedas por outras
missotildees que aos poucos foram reduzindo sua amplitude bem como natildeo tinham a busca e
salvamento como objetivo principal Nesse sentido enquanto a Itaacutelia coordenava as
operaccedilotildees de busca e salvamento no Mar Mediterracircneo a Liacutebia cada vez mais assumia a
responsabilidade pelas operaccedilotildees Aleacutem disso vimos tambeacutem que houve apoio da Uniatildeo
Europeia agrave Guarda Costeira da Liacutebia e entatildeo alterando as atividades de busca e salvamento
Houve tambeacutem em 2017 a elaboraccedilatildeo de um Coacutedigo de Conduta destinada agraves
Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais (ONGrsquos) da Itaacutelia (tambeacutem com apoio da UE)
coincidindo com a proposiccedilatildeo de processos criminais contra os capitatildees de navios e ONGrsquos
que resgatassem as pessoas em perigo como tambeacutem houve a negativa de entrada nas aacuteguas
territoriais e portos Tais accedilotildees diminuiacuteram a chegada de pessoas na costa europeia poreacutem
muitas vidas foram afetadas por isso (devido aos afogamentos e desaparecimentos das
pessoas que buscam proteccedilatildeo)388
Sendo assim devido ao menor nuacutemero de patrulhamento no Mediterracircneo a busca e
resgate leva mais tempo muitas vezes o resgate chegando tarde demais Natildeo se pode ignorar
o fato de que as pessoas que fogem da Liacutebia estatildeo buscando ter uma vida digna ou pelo
menos um miacutenimo de sobrevivecircncia e esta situaccedilatildeo com maior atuaccedilatildeo da Guarda Costeira
da Liacutebia faz com que as embarcaccedilotildees resgatadas pelo estado liacutebio levem de volta agrave Liacutebia as
pessoas que estavam fugindo de situaccedilotildees dramaacuteticas como por exemplo prisotildees arbitraacuterias
violecircncia sexual trabalho forccedilado assassinatos etc Aleacutem disso os capitatildees de navios caso
cumpram com a sua obrigaccedilatildeo de salvamento podem responder a processos judiciais
criminais389
388 COUNCIL OF EUROPE ndash COMMISSIONER FOR HUMAN RIGHTS Lives Saved Rights protected
Bridging the protection gap for refugees and migrants in the Mediterranean - Recommendations 2019
Disponiacutevel em httpsrmcoeintlives-saved-rights-protected-bridging-the-protection-gap-for-refugees-
168094eb87 Acesso em 01092020 389 Ibidem
117
Trata-se portanto de uma situaccedilatildeo complexa devido ao conflito de questotildees de
natureza humanitaacuteria e a relutacircncia dos Estados em partilhar as responsabilidades Dessa
forma sabe-se que os Estados tecircm o direito de controlar suas fronteiras mas natildeo se deve
deixar de lado agraves vidas humanas que pedem proteccedilatildeo por fugirem de situaccedilotildees degradantes
Assim todos os seres humanos tecircm direito agrave vida bem como agrave proteccedilatildeo da sua dignidade
aleacutem disso o direito internacional do mar traz a obrigaccedilatildeo de que os Estados devem tomar
medidas para preservaccedilatildeo da vida no mar390
A salvaguarda da vida humana deve ter por base a Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos
do Homem aleacutem de outros diplomas internacionais jaacute mencionados na presente pesquisa
Isso significa o respeito ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo proteccedilatildeo contra detenccedilatildeo arbitraacuteria
proibiccedilatildeo de expulsatildeo coletiva entre outros direitos relativos agrave proteccedilatildeo internacional391
Jaacute vimos que o direito de resgate das pessoas em perigo no mar natildeo eacute um direito
isolado mas que envolve princiacutepios do direito do mar do direito internacional e dos direitos
humanos Poreacutem ainda haacute muitos problemas neste aspecto pois muitos navios se abstecircm de
resgatar pessoas em perigo por natildeo terem um local seguro para desembarcar os migrantes
ou por terem que desviar a rota e isso traria maiores encargos financeiros aleacutem disso paiacuteses
como Itaacutelia e Malta estatildeo sobrecarregados no que tange ao recebimento de migrantes devido
agrave proximidade com a costa da Liacutebia e tambeacutem pela falta de uniatildeo dos Estados-membros
tendo em vista a necessidade da reparticcedilatildeo dos encargos392
No que se refere ao resgate tem-se que natildeo haacute uma obrigaccedilatildeo legal de
monitoramento ou seja um dever de realizar patrulhamento as accedilotildees de resgate satildeo
estruturadas de acordo com cada Estado poreacutem se um Estado recebe a notiacutecia de que haacute
pessoas em perigo no mar esse Estado eacute obrigado a realizar o resgate Nesse sentido o dever
de resgate no mar estaacute presente no direito internacional do mar em diversos diplomas
internacionais bem como UNCLOS SAR SOLAS e International Convention of Salvage
aleacutem de diretrizes estabelecidas pela Organizaccedilatildeo Mariacutetima Internacional e resoluccedilotildees e
recomendaccedilotildees elaboradas pelo ACNUR393
390 COUNCIL OF EUROPE ndash COMMISSIONER FOR HUMAN RIGHTS Lives Saved Rights protected
Bridging the protection gap for refugees and migrants in the Mediterranean - Recommendations 2019 Op cit 391 Ibidem 392 LISSON Urszula WEINZIERL Ruth Op cit 393 Ibidem
118
Portanto em situaccedilatildeo de alguma embarcaccedilatildeo em perigo no mar o resgate deveraacute ser
efetuado sendo inicialmente providenciados os primeiros socorros e necessidades baacutesicas
Aleacutem disso o dever de resgate inclui a proibiccedilatildeo de discriminaccedilatildeo ou seja qualquer pessoa
que esteja em perigo no mar deve ser resgatada independente de sua nacionalidade ou
qualquer outra circunstacircncia Entatildeo tem-se que a soberania de um Estado costeiro encontra
limites nas obrigaccedilotildees humanitaacuterias isso significa que haacute a permissatildeo de entrada de
embarcaccedilatildeo em perigo em seu porto estando ela no mar territorial buscando por
assistecircncia394
Eacute importante ressaltar que com base no direito mariacutetimo todo Estado deve exigir
que o comandante de alguma embarcaccedilatildeo que arvore sua bandeira preste assistecircncia agraves
pessoas que estatildeo em perigo no mar sendo eximida apenas quando houver risco para o navio
Poreacutem com a situaccedilatildeo atual haacute incentivos para que os comandantes evitem os resgates
exatamente para evitar se depararem com o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo Assim vimos que
alguns comandantes estavam respondendo processos criminais ao resgatar pessoas e
desembarcarem em paiacuteses da UE sendo potenciais requerentes de asilo Ao que se refere agraves
embarcaccedilotildees privadas a demora dos paiacuteses para indicarem local para o desembarque pode
trazer implicaccedilotildees financeiras e portanto torna-se um desincentivo para que resgatem as
pessoas em perigo no mar Aleacutem disso o Estado costeiro deve promover o serviccedilo de busca
e salvamento natildeo sendo excluiacuteda a ajuda de paiacuteses vizinhos
No entanto vimos que atualmente a Itaacutelia com auxiacutelio da Uniatildeo Europeia estaacute
auxiliando a Liacutebia para patrulhamento das aacuteguas do Mediterracircneo para tentar se eximir da
obrigaccedilatildeo de busca e salvamento tendo que arcar com o acolhimento dos migrantes e talvez
consequente pedido de asilo395
O Conselho da Europa trouxe recomendaccedilotildees uma delas eacute a de que todos os Estados
membros devem contribuir de alguma forma com as atividades de busca e salvamento aleacutem
disso os Estados costeiros devem garantir que as unidades de busca e salvamento devem
estar disponiacuteveis para as pessoas que estejam em perigo no mar isso inclui embarcaccedilotildees das
ONGrsquos de atividades humanitaacuterias396
394 LISSON Urszula WEINZIERL Ruth Op cit 395 COUNCIL OF EUROPE ndash COMMISSIONER FOR HUMAN RIGHTS Lives Saved Rights protected
Bridging the protection gap for refugees and migrants in the Mediterranean - Recommendations 2019 Op cit 396 Ibidem
119
Os membros do Conselho da Europa devem respeitar as medidas tomadas pelos
comandantes dos navios em situaccedilotildees de natildeo desembarcar migrantes na Liacutebia ou qualquer
outro local natildeo seguro ou seja o Conselho entende que os comandantes devem respeitar a
disposiccedilatildeo de desembarque de migrantes em local seguro por exemplo a Liacutebia natildeo consiste
em local seguro Portanto os Estados-membros devem respeitar o natildeo desembarque de
migrantes em locais nos quais suas vidas estatildeo em risco bem como natildeo devem aplicar
penalidades sanccedilotildees ou medidas repressivas quando comandantes atuarem para salvar as
vidas das pessoas em perigo no mar Assim sempre devem ser garantidos os direitos
humanos dos migrantes resgatados natildeo devendo estes ser colocados em situaccedilotildees de risco agrave
vida ou em situaccedilotildees de tortura tratamento desumano ou degradante397
Aleacutem disso o Conselho da Europa recomenda que os Estados-membros em uma
operaccedilatildeo de busca e resgate devem cooperar a fim de proporcionar um desembarque raacutepido
das pessoas resgatadas sendo que natildeo deveraacute ser admitida alguma discordacircncia entre os
estados colocando em risco os direitos humanos dos migrantes Portanto primeiro deve-se
promover o resgate e desembarque em local seguro e apoacutes isso seraacute feita a anaacutelise de qual
estado seraacute responsaacutevel pelo procedimento de asilo devendo haver uma partilha entre os
estados para anaacutelise dos pedidos de asilo398
Vimos anteriormente que no caso particular da Liacutebia desde o ano de 2017 houve
investimentos de grande porte do Conselho da Europa bem como da Uniatildeo Europeia para
melhorar a capacidade de resgate da Guarda Costeira da Liacutebia ou seja execuccedilatildeo de
treinamentos fornecimentos de recursos entre outros incentivos Tal investimento teve
como resultado um maior resgate de pessoas que tentavam deixar a Liacutebia ou seja houve
portanto uma tentativa de impedir que as pessoas fugissem do paiacutes Poreacutem tal fato faz com
que devido agrave situaccedilatildeo dramaacutetica na Liacutebia pessoas sejam resgatadas detidas e submetidas agrave
tortura bem como violecircncia sexual e diversas outras violaccedilotildees dos direitos humanos 399
Nesse sentido nos deparamos com uma situaccedilatildeo de necessidade de rotas seguras e
legais para que essas travessias de migrantes natildeo ocorram de forma irregular e perigosa
Aleacutem de risco de vida as rotas irregulares favorecem o traacutefico de seres humanos Assim a
ausecircncia de rotas seguras e legais coloca em perigo os direitos dos migrantes e tambeacutem o
397 COUNCIL OF EUROPE ndash COMMISSIONER FOR HUMAN RIGHTS Lives Saved Rights protected
Bridging the protection gap for refugees and migrants in the Mediterranean - Recommendations 2019 Op cit 398 Ibidem 399 Ibidem
120
intuito dos estados em combater o traacutefico de pessoas Portanto a ideia eacute de que os estados
tomem medidas corretas para que a migraccedilatildeo ocorra dentro da lei dessa forma rotas seguras
e legais satildeo extremamente necessaacuterias para as pessoas que precisam de proteccedilatildeo
internacional400
Diante de todo esse cenaacuterio percebemos que haacute um grave conflito de interesses dos
Estados-membros bem como da Uniatildeo Europeia com o dos refugiados Os paiacuteses-destino
(grande parte europeus) e a UE tentam atraveacutes da Frontex e mediante auxiacutelio aos paiacuteses de
fuga (a Liacutebia por exemplo) reduzir o nuacutemero de migrantes poreacutem fazem isso auxiliando
em equipamentos e treinamentos as guardas costeiras dos paiacuteses de origem para que estes
interceptem as embarcaccedilotildees levando as pessoas de volta Ocorre que tal accedilatildeo consiste em
um sistema de escapar da obrigatoriedade do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo sendo assim muitas
dessas pessoas resgatadas pelos paiacuteses de origem satildeo levadas de volta ao territoacuterio sendo
submetidos agrave prisotildees torturas assassinatos ou seja fica niacutetida o desrespeito aos direitos
humanos tanto pelos Estados-membros e pela UE (pois estariam promovendo o envio de
pessoas de volta para situaccedilotildees dramaacuteticas) quanto pelos paiacuteses de origem que muitas vezes
estatildeo passando por crises internas sendo que a Liacutebia vive atualmente uma grave guerra civil
onde as pessoas satildeo torturadas e submetidas a trabalhos forccedilados entre outras atrocidades
Portanto muito se fala da cooperaccedilatildeo entre os estados poreacutem esta deve ser realizada
de forma beneacutefica promovendo o direito agrave vida e o respeito aos direitos humanos Se as
pessoas que estatildeo fugindo dos seus paiacuteses muitas vezes estatildeo fugindo para que suas vidas
e a de sua famiacutelia sejam preservadas entatildeo natildeo faz sentido devolver estas pessoas para o
paiacutes em que colocava suas vidas em risco bem como faz menos sentido ainda auxiliar os
paiacuteses de origem para que resgatem os migrantes e os levem de volta para a costa
400 COUNCIL OF EUROPE ndash COMMISSIONER FOR HUMAN RIGHTS Lives Saved Rights protected
Bridging the protection gap for refugees and migrants in the Mediterranean - Recommendations 2019 Op cit
121
CAPIacuteTULO 4
CASOS DE VIOLACcedilAtildeO DO ARTIGO 3ordm DA CONVENCcedilAtildeO EUROPEIA DOS
DIREITOS HUMANOS E O PRINCIacutePIO DA NAtildeO-REPULSAtildeO
Vimos anteriormente que apesar de natildeo haver regra expressa na CEDH a respeito da
natildeo-repulsatildeo das pessoas que necessitam de proteccedilatildeo o Tribunal Europeu dos Direitos
Humanos firmou jurisprudecircncia no sentido de vincular o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo ao artigo
3ordm da CEDH que se refere agrave proibiccedilatildeo da tortura E da mesma maneira que a Convenccedilatildeo
Contra a Tortura a CEDH engloba todos os indiviacuteduos natildeo somente aos refugiados que eacute o
caso da Convenccedilatildeo de Genebra de 1951
Assim o TEDH natildeo se limitou aos casos de extradiccedilatildeo como tambeacutem de expulsatildeo
dessa forma os Estados signataacuterios da CEDH natildeo podem rejeitar pessoas enviando-as para
locais em que corram o risco de serem submetidas a tratamentos desumanos degradantes
bem como a tortura Nesse sentido o Tribunal entende que a natildeo-repulsatildeo tambeacutem eacute aplicada
para accedilotildees estatais em alto mar inclusive em situaccedilotildees que envolvam os migrantes por via
mariacutetima401 Entatildeo neste capiacutetulo seratildeo analisadas algumas decisotildees do Tribunal Europeu
dos Direitos Humanos a respeito da violaccedilatildeo do artigo 3ordm da CEDH do princiacutepio da natildeo-
repulsatildeo bem como casos relativos agrave repulsatildeo no mar seratildeo analisados tambeacutem outros
casos que natildeo satildeo decisotildees do TEDH poreacutem ajudam a demonstrar a situaccedilatildeo dramaacutetica dos
migrantes
O fenocircmeno migratoacuterio natildeo eacute recente contudo nas uacuteltimas deacutecadas sobretudo apoacutes
2011 com a Primavera Aacuterabe o fluxo de migrantes oriundos do Oriente Meacutedio e da Aacutefrica
especialmente no norte do continente africano com a eclosatildeo das revoltas da populaccedilatildeo
contra governos ditatoriais tem aumentado muito e fazendo com que os migrantes arrisquem
suas vidas nas matildeos de traficantes muitas vezes em embarcaccedilotildees precaacuterias na tentativa de
travessia para Europa
Sabemos que a maioria dos migrantes natildeo planeja a viagem bem como muitas vezes
fazem a travessia ateacute ldquocontra a sua vontaderdquo poreacutem as condiccedilotildees de vida no paiacutes de origem
satildeo tatildeo precaacuterias a exemplo da Liacutebia que as pessoas saem agraves pressas para tentarem ter um
miacutenimo de dignidade Isso porque como dito anteriormente a dignidade humana eacute
401 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit
122
praticamente inexistente no paiacutes de origem em que pessoas satildeo submetidas agrave tortura
trabalho escravo presenciando situaccedilotildees de assassinatos de formas arbitraacuterias e
autoritaacuterias402
A questatildeo da Liacutebia no que tange busca e resgate destaca-se dois pontos importantes
a serem levados em conta o primeiro eacute o proacuteprio estado liacutebio que se encontra em total
desordem o outro ponto consiste nas graves violaccedilotildees de direitos humanos que fazem com
que milhares de pessoas fujam do paiacutes em busca de uma vida mais digna e segura403
O acordo realizado entre Itaacutelia e Liacutebia em 2017 fez com que a Itaacutelia transferisse seu
controle dos fluxos migratoacuterios para a Liacutebia concedendo apoio financeiro e teacutecnico como
jaacute vimos anteriormente No entanto essa estrateacutegia fez com que a praacutetica de repelir os
migrantes de volta para Liacutebia se tornasse comum Dessa forma o Centro Italiano di
Coordinamento del Soccorso Marittimo (IMRCC) coordena as operaccedilotildees de forma
remota404
41 Contexto Faacutetico
Tendo por base todos os comentaacuterios acima e tambeacutem o jaacute mencionado neste
capiacutetulo algumas decisotildees do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos seratildeo apresentadas
analisando jurisprudecircncia do referido Tribunal a respeito de todo o estudo apresentado no
presente trabalho dessa forma demonstra-se as violaccedilotildees ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo
analisados de forma conjunta com o artigo 3ordm da CEDH e a responsabilidade do Estado tanto
em situaccedilotildees de repulsatildeo no mar quanto em situaccedilotildees em que os migrantes conseguiram de
alguma forma chegar no territoacuterio europeu no entanto foram repelidos Nota-se que em
alguns casos as violaccedilotildees esbarram em um outro artigo da CEDH o artigo 4ordm do Protocolo
Adicional nordm 4 referente agraves expulsotildees coletivas
Vimos que a situaccedilatildeo da Liacutebia tem sido uma das principais crises no momento tendo
em vista os problemas que assolam o paiacutes pois devido agrave crise muitas pessoas estatildeo fugindo
do paiacutes Por este motivo dos casos abaixo apresentados metade satildeo relacionados agrave Liacutebia
(Hirsi Jamaa Vos Thalassa e Asso 28) referentes agrave repulsatildeo no mar no entanto outros
402 TANI Ilaria Op cit 403 Ibidem 404 AGENZIA ITALIA Cosa egrave successo a bordo della nave Asso Ventotto 2018 Disponiacutevel em
httpswwwagiitcronacamigranti_asso_ventotto-4224246news2018-07-31 Acesso em 05102020
123
casos tambeacutem foram apresentados (Khlaifia Abdi Mahamud e Sharifi) que esses uacuteltimos
referem-se agrave situaccedilotildees em que os migrantes foram resgatados no mar ou seja tiveram seu
direito de assistecircncia no mar respeitados no entanto posteriormente tiveram seus direitos
humanos violados
411 Caso Hirsi Jamaa e Outros versus Itaacutelia
Neste caso a decisatildeo405 foi proferida pelo TEDH em fevereiro de 2012 mas o fato
ocorreu em 2009 quando os refugiados um total de 200 foram interceptados a 35 milhas
naacuteuticas de Lampedusa aacuterea de busca e salvamento de Malta poreacutem foram abordados por
autoridades italianas e devolvidos para a Liacutebia Sendo que na versatildeo dos migrantes durante
a viagem de volta para o paiacutes africano eles natildeo foram informados qual seria o destino e
quando chegaram agrave Liacutebia se recusaram a desembarcar mas acabaram sendo forccedilados a
saiacuterem da embarcaccedilatildeo
Dessa forma alguns destes migrantes ingressaram com accedilatildeo perante o TEDH
alegando violaccedilatildeo do artigo 3ordm e 4ordm da CEDH que correspondem respectivamente a proibiccedilatildeo
da tortura e do trabalho escravo eou forccedilado bem como do artigo 4ordm do Protocolo Adicional
nordm 4 que consiste na proibiccedilatildeo de expulsatildeo coletiva
A Itaacutelia por sua vez atraveacutes do seu Ministro do Interior disse ter agido de forma
correta tendo em vista o acordo bilateral entre Itaacutelia e Liacutebia para reduccedilatildeo da imigraccedilatildeo ilegal
e que esse acordo ajudou salvar vidas diminuindo o desembarque de migrantes na costa
italiana Assim em 2009 a Itaacutelia realizou 9 interceptaccedilotildees de migrantes irregulares com base
nesse acordo Ressalta-se que alguns destes migrantes que foram interceptados foram
enquadrados na condiccedilatildeo de refugiado pelo escritoacuterio do ACNUR ou seja restou claro a
violaccedilatildeo aos direitos humanos
Aleacutem disso o governo italiano alegou que os migrantes natildeo tinham requerido asilo
e que tambeacutem natildeo informaram a situaccedilatildeo em que poderiam ser submetidos na Liacutebia os
requerentes por sua vez informaram que a tripulaccedilatildeo os induziu acreditar que estavam
sendo levados para a Itaacutelia e natildeo para a Liacutebia bem como disseram que foi informado aos
militares italianos de que necessitavam de proteccedilatildeo internacional No entanto mesmo se os
405 EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Hirsi Jamaa and others v Italy Application no
2776509 Disponiacutevel em httphudocechrcoeintspai=001-109231 Acesso em 16092020
124
migrantes natildeo tivessem demonstrado a intenccedilatildeo de proteccedilatildeo internacional tal fato natildeo isenta
a Itaacutelia de cumprir com as obrigaccedilotildees previstas no artigo 3ordm da CEDH Portanto na opiniatildeo
do TEDH houve a violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees internacionais pela Itaacutelia sobretudo no que se
refere ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo A situaccedilatildeo na Liacutebia eacute notoacuteria e por isso natildeo haacute que se
falar que os migrantes natildeo avisaram as autoridades italianas sobre o risco de tortura
Entatildeo vimos que o TEDH entendeu haver violaccedilatildeo do artigo 3ordm da CEDH bem como
o artigo 4ordm do Protocolo nordm 4 que consiste respectivamente a proibiccedilatildeo da tortura e proibiccedilatildeo
de expulsatildeo coletiva sendo este uacuteltimo devendo ter uma interpretaccedilatildeo evolutiva ou seja
adotando a ideia de extraterritorialidade considerando como extensatildeo do territoacuterio italiano
a embarcaccedilatildeo de resgate
Por fim o TEDH entendeu por unanimidade que os migrantes estavam sob jurisdiccedilatildeo
italiana bem como jaacute mencionado acima que houve violaccedilatildeo do artigo 3ordm da CEDH do
artigo 4ordm do Protocolo nordm 4 e do artigo 13 que se refere ao direito de recurso efetivo Assim
condenou a Itaacutelia ao pagamento de 15 mil euros por danos morais para cada um dos
requerentes acrescido da quantia de 157574 euros referente custas e despesas somados de
eventual imposto de cobranccedila aos requerentes
Este caso consiste em uma importante reafirmaccedilatildeo dos direitos dos refugiados frente
ao direito internacional e a responsabilidade do Estado em situaccedilotildees de violaccedilotildees a esses
direitos Assim ficou demonstrada a responsabilidade do Estado no caso a Itaacutelia de reparar
os danos causados aos migrantes Poreacutem destaca-se a indenizaccedilatildeo iacutenfima paga aos
requerentes frente agrave gravidade do problema sendo que alguns deles faleceram e natildeo se sabe
a causa ou seja podem ter sido mortos aleacutem disso os que sobreviveram podem ter sofrido
seacuterios danos fiacutesicos e morais como por exemplo terem sido enviados para trabalho escravo
Em situaccedilotildees dessas nenhuma quantia pode ser capaz de reparar sobretudo uma quantia
insignificante de 15 mil euros O valor indenizatoacuterio tem como principal funccedilatildeo coibir essas
condutas danosas mais que a funccedilatildeo compensatoacuteria dos danos no entanto nota-se que o
valor da indenizaccedilatildeo aplicada eacute tatildeo irrisoacuterio para um paiacutes no caso a Itaacutelia que deixa de ter
o condatildeo de inibir o reiteramento desse comportamento ou conduta
Neste aspecto abordagem de devolver migrantes para a Liacutebia sofreu algumas
alteraccedilotildees a Itaacutelia atraveacutes do seu Tratado de Amizade promoveu treinamentos da Guarda
Costeira Liacutebia bem como auxiliou com embarcaccedilotildees para fazer com que autoridades da
125
Liacutebia fizessem o resgate para tentar burlar o sistema e natildeo ser responsabilizada pela
repulsatildeo esse auxiacutelio teve apoio inclusive da UE como vimos anteriormente
Portanto diante de todo o exposto teoacuterico no presente caso houve uma seacuterie de
graves violaccedilotildees principalmente ao que se refere ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo como o
direito de busca e salvamento no mar em que os migrantes deveriam ser desembarcados em
local seguro assim como a proibiccedilatildeo da expulsatildeo coletiva Assim os imigrantes foram
enviados de volta com futuro incerto dos 200 repelidos poucos entraram com a accedilatildeo
alguns morreram outros desapareceram
412 Caso Khlaifia e Outros versus Itaacutelia
Esta decisatildeo406 foi proferida pelo TEDH em dezembro de 2016 e refere-se a fatos
que ocorreram em 2011 com 3 requerentes tunisianos Os requerentes deixaram a Tuniacutesia
em embarcaccedilotildees clandestinas rumo agrave Itaacutelia posteriormente as embarcaccedilotildees foram
interceptadas pela guarda costeira italiana e levados para um porto na ilha de Lampedusa e
posteriormente encaminhados ao Centro de Socorro e de Primeiro Acolhimento (Centro di
Soccorso e Prima Accoglienza ndash CSPA) sendo acomodados em um local que segundo os
requerentes era um local com muitas pessoas e sujo sendo que tinham que dormir no chatildeo
devido agrave falta de cama e as refeiccedilotildees eram feitas ao ar livre sentados no chatildeo aleacutem disso
eram impedidos de ter contato com pessoas fora do local
Houve uma revolta no local e o alojamento foi destruiacutedo algumas pessoas foram
transferidas para outro lugar neste novo lugar os requerentes se uniram a outros refugiados
e conseguiram fugir e chegar ateacute a cidade de Lampedusa onde fizeram protestos e foram
interceptados pela poliacutecia e levados para o centro de acolhimento e posteriormente enviados
para o aeroporto e encaminhados para Palermo apoacutes foram ldquoacomodadosrdquo em navios em
situaccedilotildees desconfortaacuteveis tendo que dormir no chatildeo e esperar por muito tempo para usar o
banheiro Apoacutes alguns dias foram enviados por aviatildeo para a Tuniacutesia
Os requerentes alegaram que a Itaacutelia violou os artigos 3ordm e 5ordm (proibiccedilatildeo da tortura e
direito agrave liberdade e seguranccedila respectivamente) bem como violaccedilatildeo do artigo 4ordm do
Protocolo nordm4 (proibiccedilatildeo da expulsatildeo coletiva) todos da CEDH A Itaacutelia por sua vez se
406 EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Khlaifia and others v Italy Application no
1648312 Disponiacutevel em httphudocechrcoeintengi=001-170054 Acesso em 21092020
126
defendeu com base na sua legislaccedilatildeo interna e o tratado bilateral realizado com o paiacutes
africano sendo que neste tratado a Tuniacutesia se compromete a aceitar de volta os cidadatildeos que
chegarem ilegalmente na costa italiana por meio de um processo bem simplificado
Nesse sentido o TEDH entendeu que houve a violaccedilatildeo do artigo 5ordm da Convenccedilatildeo
Europeia dos Direitos Humanos tendo em vista a restriccedilatildeo da liberdade dos requerentes no
campo de acolhimento e os requerentes argumentaram que natildeo havia motivos para que suas
liberdades fossem restritas Aleacutem disso os requerentes alegaram que foram submetidos a
tratamentos desumanos e degradantes no centro de acolhimento inclusive a bordo dos
navios que os levaram de volta para Tuniacutesia poreacutem o Tribunal entendeu que natildeo houve
tratamento desumano ou degradante
O TEDH entendeu tambeacutem que natildeo houve violaccedilatildeo do artigo 4ordm do Protocolo nordm4 da
CEDH pois o entendimento eacute de que a violaccedilatildeo deste dispositivo ocorre quando natildeo haacute
anaacutelise dos indiviacuteduos e simplesmente ldquoexpulsamrdquo um grupo de pessoas Assim no caso
anterior houve a violaccedilatildeo do mencionado artigo pois as autoridades italianas simplesmente
colocaram os migrantes dentro da embarcaccedilatildeo e os enviou de volta para a Liacutebia sem
qualquer identificaccedilatildeo dos migrantes Jaacute neste caso os requerentes tiveram a oportunidade
de se manifestarem contra o seu envio de volta agrave Tuniacutesia
No que se refere ao artigo 3ordm da CEDH o Tribunal entende que deve haver um niacutevel
miacutenimo de severidade que para tal avaliaccedilatildeo se leva em conta alguns fatores como por
exemplo finalidade (intenccedilatildeo ou motivaccedilatildeo) contexto da agressatildeo se a viacutetima estaacute em
situaccedilatildeo vulneraacutevel entre outros aspectos Em alguns casos a superlotaccedilatildeo de um sistema
carceraacuterio pode consistir em violaccedilatildeo do mencionado artigo poreacutem neste ponto alguns
aspectos devem ser levados em consideraccedilatildeo como o uso dos banheiros (privacidade)
ventilaccedilatildeo (ar e luz natural) normas de higiene baacutesicas respeitadas aquecimento do
ambiente etc No presente caso se analisou as condiccedilotildees no centro de acolhimento quanto
nos navios que levaram os migrantes de volta para a Tuniacutesia
Sabe-se que em tempos anteriores agrave chegada dos requerentes no ano de 2009 a
situaccedilatildeo do centro de acolhimento era peacutessima constatadas tanto por uma comissatildeo do
Senado Italiano bem como da Anistia Internacional (ONG) contudo esta situaccedilatildeo foi
alterada anos depois ou seja em 2011 quando os requerentes chegaram agraves instalaccedilotildees
constataram que as condiccedilotildees do centro de acolhimento embora muito baacutesicas eram
decentes tinham acesso ao atendimento meacutedico e tambeacutem liberdade de locomoccedilatildeo dentro
127
do centro de acolhimento bem como as ONGrsquos eram autorizadas a prestar atendimentos no
local
Em que se refere agraves embarcaccedilotildees natildeo houve comprovaccedilatildeo de situaccedilotildees degradantes
pelos requerentes tatildeo somente os seus depoimentos sendo assim natildeo haacute como afirmar de
que natildeo havia as condiccedilotildees miacutenimas e portanto o Tribunal entendeu que natildeo houve violaccedilatildeo
ao artigo 3ordm da CEDH em razatildeo da natildeo houve comprovaccedilatildeo de que as situaccedilotildees natildeo possuiacuteam
o niacutevel miacutenimo de gravidade necessaacuterio para que fosse configurada a violaccedilatildeo em questatildeo
Destarte apesar do Tribunal ter entendido que natildeo houve violaccedilatildeo aos artigos 3ordm da
CEDH e 4ordm do Protocolo nordf 4 as queixas dos migrantes natildeo foram completamente infundadas
e por isso outro ponto foi analisado pelo TEDH ao que se refere agrave violaccedilatildeo do artigo 13
junto com os artigos 3ordm e 5ordm da CEDH e o artigo 4ordm do Protocolo nordm 4 (CEDH) assim apoacutes
a anaacutelise conjunta do artigo 3ordm com o artigo 13 que prevecirc o direito de recurso efetivo frente
agrave violaccedilatildeo de direitos e liberdades por unanimidade verificou-se que houve violaccedilatildeo de
direitos tendo em vista que o governo italiano natildeo indicou os recursos pelos quais os
requerentes poderiam apresentar no entanto no que se refere ao artigo 4ordm do Protocolo nordm 4
por 16 votos a 1 o Tribunal entendeu que natildeo houve violaccedilatildeo por entender que a ausecircncia
de efeito suspensivo do recurso por si soacute natildeo demonstra violaccedilatildeo ao artigo 13
Que o artigo 5ordm paraacutegrafos 1ordm 2ordm e 4ordm por si soacute jaacute foram violados que da anaacutelise
conjunta do artigo 5ordm juntamente com o 13ordm fez com que o Tribunal decidisse por
unanimidade que direitos foram violados pois os requerentes natildeo tiveram acesso a recurso
tampouco uma decisatildeo formal de prisatildeo Por fim a Itaacutelia foi condenada a pagar 15 mil euros
conjuntamente para os requerentes
A Itaacutelia em um de seus argumentos alegou dificuldade de organizar os migrantes
devido ao grande fluxo deles no mar sendo assim a obrigaccedilatildeo de busca e resgate faz com
que a Itaacutelia seja responsaacutevel por um grande nuacutemero de migrantes e este fato dificulta agrave
logiacutestica e a estruturaccedilatildeo dos centros de acolhimento principalmente no que se refere agrave
proteccedilatildeo internacional dos refugiados Poreacutem o entendimento do TEDH nesta situaccedilatildeo eacute de
que o fluxo intenso natildeo exime o Estado de cumprir com suas obrigaccedilotildees
O periacuteodo que os requerentes ficaram em solo italiano foi demasiadamente curto para
tentarem um pedido de asilo tanto eacute que nem recurso a sua detenccedilatildeo conseguiram apresentar
Neste ponto questiona-se sobre a violaccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo pois de acordo com
manifestaccedilotildees dos terceiros no processo houve esse questionamento como podemos ver na
128
manifestaccedilatildeo da ldquoCoordination Franccedilaise pour le droit drsquoasilerdquo ldquoThe expulsion of migrants
without thoroughly examining their individual situation would significantly increase the risk
of a breach of the non-refoulement principlerdquo407
No entanto o TEDH entendeu que natildeo houve violaccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo
por entender que as autoridades italianas em outros casos de migrantes recebeu os
requerimentos de asilo e portanto natildeo teria razotildees para entender que houve recusa destas a
pedidos de proteccedilatildeo bem como os proacuteprios requerentes no paraacutegrafo 222 da decisatildeo
disseram que ldquo() they were not claiming that they had a right of abode in Italy or that
their return had exposed them to a risk of being ubjected to inhuman or degrading treatment
in Tunisiardquo408
Sendo assim natildeo haacute que se falar em princiacutepio da natildeo-repulsatildeo pois natildeo ficou
configurado que os requerentes seriam enviados de volta agrave tortura ou tratamentos
desumanosdegradantes Portanto o TEDH analisou a violaccedilatildeo ao artigo 3ordm somente
enquanto estiveram em solo italiano que foi um periacuteodo curto natildeo comprovando o
tratamento desumano ou degradante pois natildeo atingiu o niacutevel miacutenimo de gravidade
Entatildeo no presente caso a violaccedilatildeo configurada foi ter restringido a liberdade dos
requerentes tendo em vista a ausecircncia de base de legal para tal medida poreacutem natildeo foi
configurada a expulsatildeo coletiva pois os requerentes foram identificados por duas vezes
bem como natildeo houve lesatildeo ao artigo 3ordm da CEDH pois natildeo foi comprovado que houve
tratamento desumanodegradante durante o periacuteodo em que os migrantes estavam sob
custoacutedia das autoridades italianas tampouco que a situaccedilatildeo na Tuniacutesia colocaria os
requerentes em risco
No entanto a tiacutetulo de comparaccedilatildeo chama-se a atenccedilatildeo ao criteacuterio discrepante
aplicado nas indenizaccedilotildees ao se comparar o caso anterior (Hirsi Jamaa) ao presente caso
Nota-se que o valor eacute o mesmo poreacutem as violaccedilotildees no caso anterior foram muito mais
gravosas configurando expulsatildeo coletiva envio dos requerentes para situaccedilatildeo de
torturatratamentos desumanos e degradantes Assim conforme questionado no caso anterior
o valor indenizatoacuterio aplicado naquele caso foi irrisoacuterio perto das violaccedilotildees que os
requerentes sofreram aleacutem disso questiona-se qual o paracircmetro que o TEDH se baseia para
407 EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Khlaifia and others v Italy Application no
1648312 Disponiacutevel em httphudocechrcoeintengi=001-170054 Acesso em 21092020 408 Ibidem
129
arbitrar as indenizaccedilotildees pois em niacuteveis de violaccedilotildees diferentes o valor da indenizaccedilatildeo foi o
mesmo
Nesse caso os migrantes tiveram seu direito de assistecircncia no mar respeitados foram
resgatados e levados para um paiacutes seguro no entanto foram detidos e poucos dias depois
enviados de volta para a Tuniacutesia Por mais que natildeo tenha ficado comprovado que poderiam
ser enviados agrave tortura ou tratamentos desumanosdegradantes na Tuniacutesia permaneceram
poucos dias em solo italiano para que houvesse uma anaacutelise detalhada isto eacute anaacutelise
individual da situaccedilatildeo de cada um tal fato demonstra pouca preocupaccedilatildeo da Itaacutelia com os
migrantes trantando-os como coisas devolvendo-os para seus paiacuteses de origem sem pensar
duas vezes
413 Caso Abdi Mahamud versus Malta
Esta decisatildeo do TEDH409 refere-se ao caso de uma cidadatilde de nacionalidade da
Somaacutelia que entrou de forma irregular em Malta pelo mar no ano de 2012 e na sua chegada
jaacute lhe foi dada um nuacutemero de identificaccedilatildeo bem como jaacute lhe foi apresentada uma decisatildeo
de regresso uma ordem de afastamento e foi detida com base na legislaccedilatildeo nacional de
Malta
A decisatildeo de regresso tambeacutem baseada na legislaccedilatildeo nacional foi devido agrave falta de
meios de subsistecircncia e potencial fonte de gastos para os fundos puacuteblicos A requerente
manifestou sua vontade de pedir asilo por meio do Questionaacuterio Preliminar e foi convocada
para entrevista no oacutergatildeo competente poreacutem o pedido foi recusado devido agrave falta de provas
convincentes de que ela realmente era do centro-sul da Somaacutelia e por demonstrar sotaques e
conhecimentos da capital do paiacutes Mogadiacutescio
Em um primeiro momento verificou-se que a requerente viajou para a Liacutebia
passando pelo Quecircnia e Sudatildeo poreacutem natildeo requereu asilo nestes paiacuteses E que devido agrave
eclosatildeo da crise na Liacutebia a requerente foi para Malta onde desembarcou ilegalmente e sem
documentos disse que procurava paz e que o restante da famiacutelia ainda morava na Somaacutelia
sendo que um de seus irmatildeos foi morto por uma organizaccedilatildeo terrorista islacircmica afirmou
tambeacutem que se estivesse paz em seu local de origem estaria disposta a voltar Aleacutem disso
409 EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Abdi Mahamud V Malta Application no 5679613
Disponiacutevel em httphudocechrcoeintengi=001-162424 Acesso em 26092020
130
a requerente teve vaacuterios problemas de sauacutede os quais pioraram com a recusa do pedido de
asilo Foi requerida a liberdade da requerente devido a sua vulnerabilidade causada pelos
problemas de sauacutede e segundo as informaccedilotildees que recebeu ela seria liberada mas soacute foi
liberada tempos depois por meio da intervenccedilatildeo da AWAS (Agency for the Welfare of
Asylum Seekers) A esse respeito o artigo 5ordm aliacutenea ldquocrdquo da Diretiva 2008115CE refere-se
que o estado de sauacutede do migrante deve ser levado em conta quando ao se analisar o envio
do migrante para outro paiacutes
Nesse sentido a requerente diz ter sido violado o artigo 3ordm da CEDH alegaccedilatildeo
contestada pelo governo de Malta que disse haver recursos eficazes a serem apresentados
para reclamar do tratamento perante a justiccedila maltesa poreacutem no entendimento do Tribunal
os recursos indicados pelo governo de Malta natildeo se mostraram efetivos no sentido de
prevenir ou de barrar a continuaccedilatildeo da alegada violaccedilatildeo
Assim diante de toda a situaccedilatildeo da requerente no centro de detenccedilatildeo ou seja seu
estado de sauacutede vulneraacutevel como a demora em liberaacute-la a falta de exerciacutecios fiacutesicos ao ar
livre ambiente frio e falta de medidas para combater gripes e resfriados inclusive a falta de
funcionaacuterias do sexo feminino e pouca privacidade fez com que o Tribunal entendesse que
houve diminuiccedilatildeo da dignidade humana da requerente e portanto houve a violaccedilatildeo do artigo
3ordm da CEDH
Outra alegaccedilatildeo da requerente eacute a violaccedilatildeo do artigo 5ordm paraacutegrafo 4ordm que eacute referente
ao direito de accedilatildeo do indiviacuteduo para averiguar a sua detenccedilatildeo sendo assim da anaacutelise feita
pelo TEDH verificou-se que natildeo havia recursos eficazes para a requerente contestar a
legalidade da sua detenccedilatildeo inclusive sua soltura foi realizada por meio da intervenccedilatildeo da
AWAS Aleacutem disso houve alegaccedilatildeo da violaccedilatildeo do paraacutegrafo 1ordm do mesmo artigo no sentido
da liberdade e seguranccedila pessoal e o Tribunal entendeu que houve a violaccedilatildeo deste
dispositivo ou seja natildeo foram verificadas situaccedilotildees que justificassem a detenccedilatildeo
Entatildeo diante de todo o exposto o Governo de Malta foi condenado a pagar
indenizaccedilatildeo no valor de 12 mil euros para a requerente devido agraves violaccedilotildees de seus direitos
baacutesicos sendo tratamentos desumanos e degradantes aleacutem de ter sua liberdade restringida
aleacutem disso houve a condenaccedilatildeo no valor de 2500 euros a tiacutetulo de custas e despesas
No presente caso verificamos violaccedilatildeo tanto do artigo 3ordm quanto do artigo 5ordm ambos
da CEDH O Tribunal verificou que a requerente teve sua dignidade diminuiacuteda devido ao
tratamento que recebia no centro de acolhimento bem como face sua vulnerabilidade o
131
governo maltecircs violou a sua liberdade ao demorar em liberaacute-la Aleacutem disso a justificativa
da negativa do pedido de asilo eacute de que pela entrevista a requerente aparentou ser da capital
da Somaacutelia e natildeo da regiatildeo de conflitos Poreacutem a requerente relatou que seu irmatildeo foi
assassinado por grupo terroristas ou seja nota-se claramente o perigo em que a requerente
estava exposta e portanto em uma anaacutelise sumaacuteria desta negativa do pedido de asilo tem-
se que pode ser que essa decisatildeo tenha sido arbitraacuteria da mesma forma que a decisatildeo da
detenccedilatildeo apresentada logo de iniacutecio para requerente Apesar da dentenccedilatildeo ter sido justificada
no direito maltecircs vimos anteriormente que a detenccedilatildeo de migrantes deve ser realizada em
situaccedilotildees pontuais e quando houver justificativa para tal medida
Ademais mais uma vez chama-se a atenccedilatildeo o valor irrizoacuterio de indenizaccedilatildeo arbitrado
para o Estado no caso Malta Nota-se que o valor eacute menor que dos dois casos anteriores e
assim como no caso Hirsi Jamaa houve violaccedilatildeo do artigo 3ordm da CEDH ou seja tal violaccedilatildeo
eacute de extrema gravidade pois reduz a dignidade da pessoa humana logo violaccedilotildees fiacutesicas
eou morais desse porte natildeo conseguem ser pagas por meio de indenizaccedilotildees consistindo
apenas em uma espeacutecie de ldquoconfortordquo para agravequeles que sofreram tais danos Dessa forma
como jaacute mencionado anteriormente a indenizaccedilatildeo tem o intuito de coibir novas atitudes
arbitraacuterias dos Estados poreacutem com os valores iacutenfimos arbitrados pelo TEDH dificilmente
teratildeo impactos suficientes a ponto de fazer com que os Estados parem com tais praacuteticas
danosas cometidas aos refugiados
414 Caso Sharifi versus Aacuteustria
Neste caso a decisatildeo410 foi proferida em 2014 pelo TEDH e refere-se a um migrante
que chegou agrave Greacutecia de barco e possui origem afegatilde disse que seu pai for morto por ter sido
considerado comunista e infiel fato que levou sua matildee fugir com ele e o irmatildeo para o
Paquistatildeo Apoacutes 15 anos retornou ao Afeganistatildeo para reaver as terras do seu pai que seu tio
havia tomado agrave eacutepoca da execuccedilatildeo do seu pai tendo sido ameaccedilado pelo tio que foi um dos
apoiadores da morte do irmatildeo pois queria suas terras aleacutem da ameaccedila pelo tio o requerente
e seu irmatildeo tambeacutem foram espancados sendo que seu irmatildeo foi sequestrado e nunca mais
foi visto Diante dessa situaccedilatildeo o requerente voltou para o Paquistatildeo e passou pelo Iratilde e
410 EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Sharifi V Austria Application no 6010408
Disponiacutevel em httphudocechrcoeintengi=001-138593 Acesso em 26092020
132
Turquia ateacute contratar um traficante para fazer sua travessia para a Greacutecia onde ficou 15 dias
e apoacutes se deslocou para a Aacuteustria passando pela Itaacutelia poreacutem foi preso pelas autoridades
austriacuteacas
Diante de todo esse trajeto o requerente foi questionado por natildeo pedir asilo na Greacutecia
e justificou que as condiccedilotildees dos refugiados no paiacutes natildeo eram boas (sem comida aacutegua
alojamento e instalaccedilotildees sanitaacuterias bem como alegou saber de abusos de policiais gregos) e
que tambeacutem natildeo teve acesso ao processo de asilo assim requereu asilo na Aacuteustria no ano
de 2008
De acordo com a Convenccedilatildeo de Dublin a Greacutecia seria a responsaacutevel para anaacutelise do
processo de asilo O pedido de asilo feito na Aacuteustria foi rejeitado sob o fundamento de que
a Greacutecia era a responsaacutevel e tambeacutem foi ordenada sua transferecircncia para a Greacutecia Dessa
forma a decisatildeo justificou que natildeo havia riscos de maus tratos conforme previsto no artigo
3ordm da CEDH O recurso ao Tribunal de Asilo na Aacuteustria da mesma forma foi rejeitado
tendo em vista que a proacutepria Convenccedilatildeo de Dublin considerava que todos os Estados-
membros eram seguros Aleacutem disso com base na recusa do governo austriacuteaco ao pedido de
asilo do requerente e seu consequente envio para a Greacutecia fez com que as autoridades gregas
declarassem que o requerente teria acesso ao procedimento de asilo no paiacutes
Apoacutes seu envio de volta agrave Greacutecia na sua chegada agrave Atenas o requerente disse ter
sido detido por 3 dias e depois disso foi realizada uma entrevista curta e recebeu um cartatildeo
e foi enviado para um campo de refugiados que posteriormente foi destruiacutedo Apoacutes esse
periacuteodo trabalhou em plantaccedilotildees e procurou emprego nas cidades tendo dividido quarto com
outras 20 pessoas disse natildeo ter nenhum apoio das autoridades gregas e que os alimentos e
roupas que recebia eram de particulares
Aleacutem disso da decisatildeo analisada nesse toacutepico foram citados documentos publicados
por ONGrsquos bem como do ACNUR de que a Greacutecia natildeo eacute um local bom para requerer asilo
e que os migrantes estavam sendo submetidos a maus tratos e detenccedilotildees arbitraacuterias
Posteriormente o ACNUR acolheu as medidas gregas para reforccedilar o sistema de asilo no
paiacutes mas continuou trazendo a seguinte disposiccedilatildeo
In view of EU Member Statesrsquo obligation to ensure access to fair and effective
asylum procedures including in cases subject to the Dublin Regulation UNHCR
133
advises Governments to refrain from returning asylum-seekers to Greece under
the Dublin Regulation until further notice (hellip)411
Ou seja apesar das melhorias do sistema de asilo grego haacute o aviso de que natildeo envie
migrantes para Greacutecia ateacute segunda ordem e que os Estados se pautassem no artigo 3 nordm 2 da
Convenccedilatildeo de Dublin para analisarem pedidos de asilo mesmo natildeo sendo de sua
responsabilidade Assim devido a sua transferecircncia para a Greacutecia o requerente alegou
violaccedilatildeo do artigo 3ordm da CEDH
Tendo em vista a melhoria do sistema de asilo na Greacutecia reconhecida inclusive no
documento do ACNUR412 o TEDH entendeu que havia a presunccedilatildeo de que o paiacutes helecircnico
cumpriria com as suas obrigaccedilotildees e que caso hauvesse necessidade caberia recurso ao
Tribunal de Justiccedila contra a Greacutecia Aleacutem disso nenhum Estado-membro se absteve de
enviar migrantes para Greacutecia apenas a Noruega que em um primeiro momento disse que
natildeo enviaria migrantes de volta para a Greacutecia mas posteriormente disse que os casos seriam
analisados individualmente
Dessa forma o Tribunal entendeu que natildeo tinha como a Aacuteustria prever que as
deficiecircncias do procedimento de asilo grego chegariam ao niacutevel de violar o artigo 3ordm da
CEDH e por este motivo negou que a Aacuteustria tenha violado o mencionado artigo
principalmente por estar ao abrigo da Convenccedilatildeo de Dublin
Diante do exposto teoacuterico do presente trabalho vimos que o paiacutes responsaacutevel pela
anaacutelise do pedido de asilo eacute o paiacutes pelo qual o migrante entrou portanto no caso o paiacutes seria
a Greacutecia Ocorre que o requerente se deparou com condiccedilotildees precaacuterias dos seus conterracircneos
afegatildeos e por este motivo resolveu natildeo ficar no paiacutes helecircnico Dessa forma foi para a Itaacutelia
e de laacute para a Aacuteustria onde foi preso Assim o pedido de asilo foi negado sob o motivo de
que o paiacutes responsaacutevel era a Greacutecia e foi enviado para laacute No entanto vimos que havia fortes
evidecircncias das condiccedilotildees ruins dos migrantes no paiacutes e que apesar das melhorias do sistema
de asilo na Greacutecia havia fortes indiacutecios de que o requerente poderia ser submetido a
tratamentos desumanos e degradantes Dessa forma viu-se que o requerente foi praticamente
deixado agrave proacutepria sorte pois trabalhou em plantaccedilotildees e tambeacutem morou com mais de 20
pessoas em um mesmo quarto sem qualquer respaldo do governo
411 UNITED NATIONS ndash UNHCR UNHCR Position on the Return of Asylum-Seekers to Greece Under the
ldquoDublin Regulationrdquo Disponiacutevel em httpswwwunhcrorg482199802pdf Acesso em 01102020 412 Ibidem
134
Da anaacutelise dessa situaccedilatildeo tornou-se notaacutevel que a dignidade humana do requerente
foi reduzida mas o TEDH entendeu que natildeo tinha como a Aacuteustria prever que o requerente
receberia este tratamento ou melhor natildeo recebesse qualquer tratamento sem qualquer
respaldo do governo No entanto a violaccedilatildeo prevista no artigo 3ordm da CEDH eacute tatildeo gravosa
que natildeo se deve eximir a responsabilidade do Estado por natildeo ter previsatildeo de maus
tratamentos inclusive quando se pode prever que eacute o caso da Greacutecia com documentos
internacionais apontando as falhas do sistema de asilo grego
Portanto tanto neste caso como nos demais acima mencionados nota-se que haacute uma
impunidade diante das violaccedilotildees dos estados quanto a preservar os direitos fundamentais dos
migrantes quando haacute uma condenaccedilatildeo do Estado violador dos direitos dos refugiados natildeo
haacute uma justa indenizaccedilatildeo nesse caso a justificativa foi no sentido de que o Estado natildeo tinha
como prever a violaccedilatildeo
415 Caso Vos Thalassa
Este caso natildeo se trata de decisatildeo proferida pelo TEDH contudo eacute muito importante
pois inicialmente em 2019 o Tribunal de Trapani413 na Itaacutelia absolveu migrantes que
estavam sendo julgados sob a acusaccedilatildeo de sequestro da embarcaccedilatildeo italiana Vos Thalassa
em aacuteguas proacuteximas da Siciacutelia Assim os migrantes teriam sequestrado o rebocador italiano
em julho de 2018 para evitar que fossem devolvidos para a Liacutebia depois de terem sido
resgatados em aacuteguas internacionais (aacuterea de busca e salvamento da Liacutebia)
No entanto o Tribunal de Recurso de Palermo414 em junho de 2020 inverteu a
sentenccedila do Tribunal de Trapani e condenou os migrantes a 3 anos e 6 meses de prisatildeo por
violecircncia privada resistecircncia a funcionaacuterios puacuteblicos bem como cumplicidade na imigraccedilatildeo
ilegal A opiniatildeo de Salvini Ministro do Interior italiano os migrantes deveriam ser todos
rejeitados coletivamente e devolvidos para a Liacutebia fato que contraria o artigo 4ordm do Protocolo
nordm4 da CEDH
413 TRIBUNALE DI TRAPANI Sentenza Vos Thalassa 2019 Disponiacutevel em
httpswwwquestionegiustiziaitdatadoc2613sentenza-vos-thalassa-gip-trapani-3-giugno-2019pdf
Acesso em 05102020 414 LA CORTE DI APPELLO DI PALERMO Sentenza Vos Thalassa Appello ndash N Sent 15252020
Disponiacutevel httpswwwquestionegiustiziaitdatadoc2613sentenza-vos-thalassa-appello-palermo-3-
giugno-2020pdf Acesso em 05102020
135
Nesse sentido o juiz do Tribunal de Trapani alegou que o acordo assinado entre Itaacutelia
e Liacutebia em 2017 natildeo tem aprovaccedilatildeo parlamentar de acordo com o artigo 80 da Constituiccedilatildeo
Italiana e por isso o documento natildeo eacute vinculativo e natildeo legislativo Aleacutem disso o juiz tomou
por base relatoacuterios da ONU a respeito da exposiccedilatildeo dos maus tratos de migrantes da Liacutebia
Os migrantes que saem da Liacutebia satildeo pessoas que estatildeo sofrendo tratamentos
degradantes muitas vezes o destino eacute a tortura ou a morte Dessa forma os acordos entre
Itaacutelia e Liacutebia parecem ignorar as disposiccedilotildees da ONU e do Papa O Tribunal de Apelaccedilatildeo de
Palermo alegou que natildeo se pode entender que o sequestro da embarcaccedilatildeo seja por legiacutetima
defesa tendo em vista que eles mesmos se colocaram em perigo criando uma situaccedilatildeo falsa
de necessidade poreacutem questiona-se se realmente os migrantes se colocaram em perigo ou
se foi um ato de desespero ao fugir da Liacutebia pelo fato de que laacute sim estavam realmente em
perigo Ou seja os migrantes preferiram correr o risco no mar ao continuar em uma situaccedilatildeo
em que suas vidas certamente jaacute estavam ameaccediladas
Assim a refutaccedilatildeo da legiacutetima defesa natildeo possui bases convincentes Com base na
legislaccedilatildeo penal italiana o perigo deve ser atual para se configurar a legiacutetima defesa e o
Tribunal de Palermo entendeu que o perigo foi devido aos migrantes ldquose entregaremrdquo aos
traficantes ou seja anteciparam a previsatildeo do ldquoperigo atualrdquo contrariando as normas
vigentes tanto nacionais quanto internacionais Poreacutem na Liacutebia natildeo haacute locais para fuga e as
pessoas satildeo privadas de todos os seus direitos
Nesse sentido nota-se que datildeo prioridade ao combate agrave imigraccedilatildeo irregular frente agrave
proteccedilatildeo dos direitos fundamentais das pessoas contrariando o que dispotildee a Convenccedilatildeo de
Palermo contra o Crime Organizado de 2000 bem como o Protocolo Adicional sobre o
Traacutefico de Seres Humanos Portanto o perigo que os migrantes estavam sujeitos era o de
serem devolvidos agrave Liacutebia onde provavelmente seriam submetidos agrave tortura e mortos
Sabe-se que a situaccedilatildeo na Liacutebia principalmente no que se refere aos naacuteufragos
interceptados pela Guarda Costeira da Liacutebia e devolvidos ao paiacutes africano eacute bem grave
Aleacutem disso jaacute estaacute claro atraveacutes dos noticiaacuterios de que o governo de Triacutepoli natildeo consegue
exercer a sua soberania em todo o territoacuterio No entanto apesar disso em 2018 foi
reconhecida uma zona de resgate e salvamento da Liacutebia tendo inclusive a missatildeo Nauras
sob a natureza de assistecircncia teacutecnica prestada em Triacutepoli com auxiacutelio da Frontex
Neste contexto a partir do momento em que os migrantes ingressaram na
embarcaccedilatildeo italiana considera-se que estatildeo em solo italiano conforme jaacute visto no caso Hirsi
136
Jamaa Assim em situaccedilatildeo de devolver os migrantes para a Liacutebia certamente haveria a
violaccedilatildeo do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo sob o fundamento de que seriam enviados para tortura
ou tratamentos desumanos e degradantes (conforme o artigo 3ordm da CEDH) bem como como
jaacute mencionamos a violaccedilatildeo do artigo 4ordm do Protocolo Adicional nordm 4 da CEDH que refere-
se agrave expulsatildeo coletiva
No entanto atraveacutes do acordo entre Itaacutelia e Liacutebia inclusive sob auxiacutelio da Frontex
milhares de migrantes satildeo interceptados pela Guarda Costeira Liacutebia e levados de volta ao
paiacutes africano Portanto os migrantes do Vos Thalassa certamente ldquosequestraramrdquo a
embarcaccedilatildeo no desespero de serem enviados de volta tendo em vista que eles jaacute sabiam o
que poderia ocorrer com eles quando chegassem ao territoacuterio do paiacutes africano
Dessa forma a decisatildeo do Tribunal de Palermo ignorou o contexto faacutetico-poliacutetico da
Liacutebia bem como as normas de direito internacional do mar e do direito dos refugiados Aleacutem
disso o tribunal de primeira instacircncia Tribunal de Trapani aventou nulidade do acordo entre
Itaacutelia e Liacutebia em 2017 tendo em vista o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo ter status de jus cogens e
de acordo com a Convenccedilatildeo de Viena nenhum tratado poderaacute violar normas jus cogens
caso contraacuterio o tratado seria nulo
Diante do presente caso fica evidente que as indenizaccedilotildees impostas pelo TEDH nos
casos que vimos acima satildeo insuficientes para inibir tais atitudes dos Estados tendo em vista
que o valor de reparaccedilatildeo de dano para os migrantes eacute praticamente irrisoacuterio Assim estas
atitudes violadoras dos direitos fundamentais dos refugiados continuaratildeo ocorrendo
enquanto natildeo houver uma justa indenizaccedilatildeo a fim de evitar novos casos como este
Dessa forma os migrantes ao sequestrarem o Vos Thalassa impediram que seus
direitos fossem violados assim como ocorreu no caso Hirsi Jamaa a atitude extrema foi na
defesa de seus direitos fundamentais sobretudo a vida Diante disso o entendimento do
Tribunal de Trapani entendeu como legiacutetima defesa pois o perigo era atual (de acordo com
o que exige a legislaccedilatildeo italiana) ou seja o perigo dos migrantes serem levados de volta
para Liacutebia podendo ser torturados e mortos era atual e real tendo em vista atitudes
anteriores da Itaacutelia inclusive com condenaccedilotildees pelo TEDH
137
416 Caso Asso 28
Este caso tambeacutem natildeo eacute referente agrave decisatildeo proferida pelo TEDH poreacutem eacute de suma
importacircncia tendo em vista ser idecircntico ao caso Hirsi Jamaa Assim refere-se a uma
embarcaccedilatildeo comercial italiana a Asso 28 que em julho de 2018 ldquoresgatourdquo 108 migrantes
em aacuteguas internacionais mas dentro da regiatildeo de busca e salvamento da Liacutebia e levou-os
de volta para Liacutebia sob recomendaccedilatildeo do paiacutes africano No caso a Guarda Costeira Liacutebia
pediu para que a embarcaccedilatildeo ldquoAsso 28rdquo resgatasse os migrantes que estavam em uma
embarcaccedilatildeo de borracha a 57 milhas naacuteuticas de Triacutepoli e que essas pessoas fossem levadas
de volta para Liacutebia415
Imagina-se que se essas pessoas que foram levadas de volta para Liacutebia conseguissem
chegar agrave Itaacutelia elas realizariam pedido de proteccedilatildeo internacional aleacutem disso havia crianccedilas
e mulheres graacutevidas Dessa forma como jaacute vimos estaacute niacutetida a violaccedilatildeo das disposiccedilotildees de
direito internacional e dos refugiados ou seja princiacutepio da natildeo-repulsatildeo artigo 3ordm da CEDH
e artigo 4ordm do Protocolo Adicional nordm 4 da CEDH
Como a embarcaccedilatildeo ldquoAsso 28rdquo estava em aacuteguas internacionais poreacutem em regiatildeo de
busca e salvamento da Liacutebia as leis que vigoravam no ato de resgate era a legislaccedilatildeo italiana
e portanto natildeo deveria se submeter agrave recomendaccedilatildeo do paiacutes africano devendo respeitar os
tratados internacionais dos quais eacute signataacuteria bem como sua legislaccedilatildeo nacional Portanto
eacute niacutetida a violaccedilatildeo das normas de direito internacional como jaacute mencionado anteriormente
repetindo o caso Hirsi Jamaa
Como eacute sabido definitivamente a Liacutebia natildeo eacute considerada um local seguro para
desembarque de pessoas resgatadas Dessa forma houve realmente violaccedilatildeo de normas de
direito internacional importantiacutessimas sendo necessaacuterio averiguar como foi feita a
coordenaccedilatildeo desse resgate para apontar os culpados pois segundo a Agence France-Presse
(AFP)416 o IMRCC natildeo foi avisado ou seja questiona-se se o capitatildeo do navio agiu sozinho
A empresa multinacional italiana de oacuteleo e gaacutes ENI informou que o resgate foi coordenado
415 CAMILLI Eleonora Migranti scoppia il caso Asso 28 ldquoFatto grave egrave respingimentordquo 2018 In Redattore
Sociale Disponiacutevel em
httpswwwredattoresocialeitarticlenotiziariomigranti_scoppia_il_caso_asso_28_fatto_grave_e_respingi
mento Acesso em 05102020 416 Citado por BATHKE Benjamin First trial in Italy over ldquomigrant pushbackrdquo to Libya 2020 In
Infomigrants Disponiacutevel em httpswwwinfomigrantsnetenpost26108first-trial-in-italy-over-migrant-
pushback-to-libya Acesso em 05102020
138
pela Guarda Costeira Liacutebia Aleacutem disso a embarcaccedilatildeo de resgate Open Arms solicitou
detalhes dos migrantes bem como informou que devolvecirc-los agrave Liacutebia era ilegal segundo
Nicola Fratoianni parlamentar italiano e liacuteder da esquerda italiana que estava a bordo do
Open Arms como observador Aleacutem disso de acordo com informaccedilotildees da AFP natildeo houve
qualquer tentativa de identificar os migrantes tampouco verificar as condiccedilotildees de sauacutede as
condiccedilotildees dos menores se pretendiam requerer asilo417
O que chama atenccedilatildeo neste caso eacute a ausecircncia de provas tanto por parte da Liacutebia
quanto por parte da Itaacutelia sendo que dificilmente o capitatildeo do navio agiria sozinho por conta
proacutepria Entretanto a questatildeo aqui eacute a de que a empresa ENI informa que a operaccedilatildeo foi
realizada juntamente com a guarda costeira Liacutebia poreacutem natildeo haacute provas Da mesma forma
natildeo haacute provas de que o IMRCC de Roma foi alertado418
No entanto a embarcaccedilatildeo eacute de bandeira italiana e portanto tendo em vista o resgate
ter ocorrido em aacuteguas internacionais a lei aplicaacutevel eacute a italiana Sendo assim tendo por base
de que a Itaacutelia eacute signataacuteria de diversos documentos internacionais principalmente a
Convenccedilatildeo de Hamburgo (SAR Convention) que dispotildee que os migrantes resgatados devem
ser desembarcados em um local seguro ou seja eacute notoacuterio que a Liacutebia natildeo era uma das
possibilidades para desembarcar os migrantes Aleacutem disso o comandante do navio deveria
entrar em contato com o Estado da bandeira para saber qual o melhor local para
desembarque
A embarcaccedilatildeo ldquoAsso 28rdquo eacute de propriedade da ldquoAugusta Offshorerdquo empresa que
possui relaccedilotildees com diversas empresas entre elas a ENI na Itaacutelia e na Liacutebia Segundo a
empresa a coordenaccedilatildeo do resgate foi da Guarda Costeira Liacutebia no entanto Nicola
Fratoianni disse que o oficial da embarcaccedilatildeo informou que as instruccedilotildees eram emitidas da
plataforma da ENI Nesse sentido o parlamentar italiano indignou-se como o capitatildeo de um
navio de bandeira italiana em aacuteguas internacionais ou seja extensatildeo do territoacuterio italiano
(extraterritorialidade) natildeo informou o governo italiano do resgate e natildeo suficiente
desembarcou as pessoas em um local de extremo perigo A empresa ENI negou qualquer
417 BATHKE Benjamin First trial in Italy over ldquomigrant pushbackrdquo to Libya 2020 In Infomigrants
Disponiacutevel em httpswwwinfomigrantsnetenpost26108first-trial-in-italy-over-migrant-pushback-to-
libya Acesso em 05102020 418 Ibidem
139
envolvimento com o caso e que a coordenaccedilatildeo foi totalmente realizada pela Guarda Costeira
Liacutebia419
A petroleira ENI destaca que o navio ldquoAsso 28rdquo opera em nome da empresa ldquoMellitah
Oil amp Gasrdquo que a gestatildeo ocorre pela NOC empresa na qual a ENI eacute acionista420 ou seja a
ENI possui ao menos responsabilidade subsidiaacuteria no que se refere aos danos causados pela
embarcaccedilatildeo Partindo desse ponto tem-se tambeacutem que a Itaacutelia eacute uma das acionistas da ENI
conforme consta no site da empresa ldquoIl Ministero dellrsquoEconomia e delle Finanze ha il
controllo di fatto in Eni SpA in forza della partecipazione detenuta sia direttamente sia
attraverso Cassa Depositi e Prestiti SpA (CDP SpA)rdquo421 assim a Itaacutelia possui 30 das accedilotildees
da empresa consistindo na maior acionista da empresa Dessa forma podemos aventar a
responsabilidade da Itaacutelia no presente caso
Portanto a embarcaccedilatildeo comercial possui bandeira italiana portanto mesmo que
indiretamente estava a serviccedilo do governo italiano ou seja a Itaacutelia eacute responsaacutevel pelos atos
praticados pela empresa tendo em vista sua significativa participaccedilatildeo na empresa Dessa
forma era obrigatoacuterio que o capitatildeo da empresa informasse o caso ao governo italiano pois
era o paiacutes pelo qual estava submetido como tal fato natildeo ficou comprovado fala-se na
responsabilidade da Itaacutelia pois o capitatildeo estava a serviccedilo do paiacutes europeu mesmo que
indiretamente Aleacutem disso o artigo 8ordm da Resoluccedilatildeo 5683 traz a responsabilidade do Estado
quando algueacutem estaacute sob supervisatildeo de algum Estado e essa pessoa comete algum ato iliacutecito
ou seja o navio territoacuterio e empresa satildeo de nacionalidade italiana bem como o capitatildeo a
serviccedilo de empresas cujo capital eacute majoritariamente italiano portanto natildeo restando duacutevida
da responsabilidade da Itaacutelia no caso
Poreacutem um fato sem precedentes ocorreu na Itaacutelia o capitatildeo do navio foi denunciado
pelas violaccedilotildees das obrigaccedilotildees internacionais ou seja a repulsatildeo dos migrantes para a Liacutebia
No entanto apesar da responsabilidade objetiva do capitatildeo da embarcaccedilatildeo tendo em vista
que desembarcar os migrantes em um local seguro consiste em uma das obrigaccedilotildees do
capitatildeo de um navio a Itaacutelia possui responsabilidade subjetiva no caso tendo em vista ser a
maior acionista da ENI e a embarcaccedilatildeo ldquoAsso 28rdquo estar mesmo que indiretamente a serviccedilo
da mencionada petroleira
419 AGENZIA ITALIA Cosa egrave successo a bordo della nave Asso Ventotto 2018 Op cit 420 Ibidem 421 ENI ITAacuteLIA Azionisti Disponiacutevel em httpswwwenicomit-ITchi-siamogovernanceazionistihtml
2019 Acesso em 05102020
140
Diante deste cenaacuterio nota-se que o acordo entre Itaacutelia e Liacutebia prioriza o combate agrave
imigraccedilatildeo ilegal em detrimento da proteccedilatildeo dos direitos fundamentais No caso do ldquoAsso
28rdquo podemos dizer que a Itaacutelia possui responsabilidade pois aleacutem dos outros motivos jaacute
explicados acima a Itaacutelia assume o papel de cuacutemplice nos atos praacuteticos devido ao acordo
realizado tendo em vista que no ano de 2017 (ano do acordo) a situaccedilatildeo jaacute era caoacutetica na
Liacutebia
42 Alguns Apontamentos a Respeito dos Casos Apresentados
Portanto tendo por base os casos acima nota-se que as decisotildees proferidas pelo
TEDH natildeo estatildeo sendo suficientes para inibir a accedilatildeo de paiacuteses europeus na repulsatildeo de
migrantes mesmo a Itaacutelia sendo condenada no caso do Hirsi Jamaa esta decisatildeo natildeo foi
suficiente para que o paiacutes revesse suas accedilotildees pois vimos que houve reincidecircncia mesmo
que natildeo de forma direta como no caso ldquoAsso 28rdquo em que a Itaacutelia se exime de culpa no
entanto ao manter o tratado de 2017 bilateral com a Liacutebia fornecendo apoio teacutecnico e
financeiro ao paiacutes norte-africano bem como uma embarcaccedilatildeo de bandeira italiana a serviccedilo
de uma empresa cujo capital eacute majoritariamente italiano mesmo que o capitatildeo tenha agido
de forma independente (ou cumprindo ordens da Guarda Costeira Liacutebia devido ao acordo
existente) a responsabilidade da Itaacutelia eacute notoacuteria
Em que refere agrave Itaacutelia alguns eventos nos mostra algum tipo de reaccedilatildeo a favor dos
refugiados como no caso Vos Thalassa em que o Tribunal de Trapani entendeu o sequestro
da embarcaccedilatildeo como legiacutetima defesa mas haacute ldquocontroveacutersiasrdquo tendo em vista que o Tribunal
de Apelaccedilatildeo de Palermo anulou a decisatildeo As decisotildees em alguns casos aparentam ter
opiniatildeo poliacutetica o que natildeo deveria acontecer tendo em vista que o Tribunal de Trapani
decidiu conforme a jurisprudecircncia quando se trata de decisotildees para cidadatildeos italianos ou
seja foram coerentes com o entendimento juriacutedico entendendo como perigo atual e por
isso os migrantes agiram em legiacutetima defesa poreacutem o Tribunal de Palermo talvez
motivado por opiniatildeo poliacutetica decidiu que natildeo eacute aplicaacutevel o instituto da legiacutetima defesa no
caso
Outro ponto favoraacutevel aos refugiados na justiccedila italiana observado neste capiacutetulo eacute a
questatildeo do capitatildeo do ldquoAsso 28rdquo estar sendo processado pela devoluccedilatildeo dos migrantes agrave
Liacutebia ou seja aleacutem dos Estados as pessoas fiacutesicas tambeacutem podem ser responsaacuteveis pelos
141
atos pois sabidamente consiste em uma violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees de direito internacional Os
capitatildees dos navios possuem o dever de assistecircncia agraves pessoas em perigo no mar no entanto
ao resgatar as pessoas elas devem ser encaminhadas para um local seguro e no caso do
ldquoAsso 28rdquo eacute notoacuterio que a Liacutebia estaacute muito longe de ser considerada segura Aleacutem disso
como mencionado no capiacutetulo 3 no ano de 2017 houve inclusive a elaboraccedilatildeo de um Coacutedigo
de Conduta para as ONGrsquos na Itaacutelia no qual consta se os capitatildees dessas organizaccedilotildees
resgatassem embarcaccedilotildees com migrantes ilegais eles poderiam ser responsabilizados
criminalmente e administrativamente No entanto se observou o oposto nesse caso o capitatildeo
sendo processado por ter devolvido os migrantes agrave Liacutebia talvez atualmente comeccedila-se a
ver alguns movimentos a favor dos refugiados mas devido tamanhas violaccedilotildees tais
movimentos satildeo muito pequenos poreacutem talvez seja o iniacutecio de uma nova mentalidade
Este capiacutetulo demonstrou a existecircncia de diversas falhas no sistema de auxiacutelio aos
migrantes como no caso em que a Aacuteustria enviou o migrante de volta para a Greacutecia mesmo
com apontamentos de que os refugiados estavam sofrendo maus-tratos por laacute pois segundo
a Convenccedilatildeo de Dublin este uacuteltimo paiacutes era o responsaacutevel pela anaacutelise do pedido de asilo
No mesmo sentido Malta recusou o pedido de asilo a uma cidadatilde somali devido natildeo ter
comprovado que era da regiatildeo de conflitos e por apresentar conhecimento e sotaque da
capital da Somaacutelia mesmo ela tendo diversos problemas de sauacutede (inclusive psiacutequicos) e
explicando que seu irmatildeo foi assassinado por um grupo terrorista
Aleacutem disso vale fazer um parecircntese no que se refere agrave Greacutecia apesar de toda a
situaccedilatildeo relatada da questatildeo dos migrantes no paiacutes ou seja de que os migrantes natildeo devem
ser enviados para o paiacutes helecircnico devido agraves situaccedilotildees precaacuterias dos campos de refugiados
bem como o tratamento desumano e degradante que os indiviacuteduos satildeo submetidos sem
qualquer respaldo do governo grego haacute ainda relatos de expulsatildeo dos migrantes via mar
deixando-os agrave deriva conforme consta na notiacutecia de 14 de agosto de 2020 do jornal ldquoThe
New York Timesrdquo422
Na notiacutecia relata-se que desde marccedilo a Greacutecia tem expulsado migrantes colocando-
os em botes salva-vidas e deixando-os agrave deriva na fronteira do mar territorial grego com o
da Turquia inclusive com bebecircs ademais o jornal norte-americano entrevistou alguns dos
422 KINGSLEY Patrick SHOUMALI Karam Taking Hard Line Greece Turns Back Migrants by
Abandoning Them at Sea In ldquoThe New York Timesrdquo Disponiacutevel em
httpswwwnytimescom20200814worldeuropegreece-migrants-abandoning-seahtml Acesso em
09102020
142
sobreviventes e trouxe o desabafo de uma migrante siacuteria de 50 anos em que ela diz que fugiu
de bombardeios na Siacuteria mas depois que foi repelida pela Greacutecia da forma como foi ela
preferiria ter morrido em algum bombardeio O paiacutes helecircnico se posicionou afirmando que
natildeo cometeu nenhuma ilegalidade no entanto natildeo eacute o que ficou demonstrado atraveacutes dos
depoimentos colhidos pelo jornal tanto de migrantes quanto de pesquisadores a respeito do
tema423
Apesar de muitos direitos protetivos existirem na teoria na praacutetica tem muito a ser
melhorado Muitos satildeo os casos de violaccedilotildees aos artigos 2ordm e 3ordm da CEDH ou seja muitas
pessoas satildeo devolvidas agraves situaccedilotildees em que suas vidas e integridades fiacutesicas eou moral estatildeo
sendo violadas faltam atitudes das autoridades em prol das pessoas que necessitam de
proteccedilatildeo internacional
Aleacutem da necessidade de accedilotildees mais proativas dos governos haacute tambeacutem a necessidade
de mudanccedila de mentalidade da populaccedilatildeo europeia pois na maioria dos paiacuteses os migrantes
satildeo viacutetimas de discriminaccedilatildeo sofrendo com a xenofobia tendo em vista que muitas pessoas
possuem a ideia de que os refugiados satildeo terroristas No entanto muitos desses refugiados
fogem exatamente de grupos terroristas
423 KINGSLEY Patrick SHOUMALI Karam Op cit
143
CONCLUSAtildeO
O presente trabalho tem como propoacutesito demonstrar a situaccedilatildeo vivenciada pelos
refugiados sua vulnerabilidade e percalccedilos enfrentados a caminho do asilo inclusive com
a possibilidade da repulsatildeo apesar da obrigatoriedade do respeito ao princiacutepio da natildeo-
repulsatildeo assim analisou-se a questatildeo da proteccedilatildeo internacional dos refugiados o direito de
asilo na Uniatildeo Europeia citando situaccedilotildees de resgate no mar por alguns paiacuteses europeu e a
proteccedilatildeo internacional do indiviacuteduo no mar Portanto para cumprir com o objetivo do
presente trabalho iniciou-se a pesquisa abordando a questatildeo geral dos refugiados ou seja
os principais aspectos a respeito da proteccedilatildeo internacional dos mesmos chegando agrave
conclusatildeo de que refugiado eacute aquele que eacute viacutetima de perseguiccedilatildeo em seu paiacutes e natildeo quer ou
natildeo pode valer da proteccedilatildeo desse Estado conforme previsto na Convenccedilatildeo de 1951
Destarte foram citados alguns casos especiacuteficos decididos pelo TEDH Tambeacutem
procurou demonstrar a relaccedilatildeo entre o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo e o artigo 3ordm da Convenccedilatildeo
Europeia dos Direitos Humanos agrave luz do direito de busca e salvamento no mar tendo por
exemplo algumas decisotildees do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos como alguns casos
natildeo analisados pelo referido Tribunal pesquisou-se casos em que pessoas foram resgatadas
ainda no mar no entanto foram repelidas posteriormente em terra tambeacutem haacute casos em que
a repulsatildeo ocorreu ainda em mar portanto a proteccedilatildeo do refugiado trata-se de um assunto
de extrema urgecircncia e importacircncia haja vista os noticiaacuterios de naufraacutegios e descasos com os
refugiados ocorridos tanto nas embarcaccedilotildees como no paiacutes em que se busca asilo Ressalta-
se a questatildeo da migraccedilatildeo natildeo eacute um fenocircmeno recente poreacutem foi intensificado nas uacuteltimas
deacutecadas principalmente durante a Primavera Aacuterabe que consistiu na eclosatildeo de diversos
conflitos contra governos ditatoriais no Oriente Meacutedio e na Aacutefrica sobretudo no norte do
continente africano
Aleacutem disso eacute notoacuterio que a intensidade dos fluxos migratoacuterios na atualidade eacute de
tamanha monta que torna difiacutecil a administraccedilatildeo dos migrantes pelos paiacuteses principalmente
aos mais afetados como a Itaacutelia a Greacutecia Malta e a Espanha por serem banhadas pelo Mar
Mediterracircneo principal via de acesso agrave Europa Ademais Franccedila e Alemanha tambeacutem
sofreram com muitos migrantes requerendo asilo Portanto neste estudo verificou-se
tambeacutem a necessidade de uma maior cooperaccedilatildeo entre paiacuteses para solucionar esse problema
que de certa forma eacute exatamente isso que a Convenccedilatildeo de Dublin procura fazer ou seja
144
tenta distribuir a responsabilidade da questatildeo de asilo mas tal documento apresenta falhas e
jaacute haacute proposta chamada de ldquoNovo Pacto sobre Migraccedilatildeo e Asilordquo para substituir e tentar
retirar o ocircnus excessivo dos principais paiacuteses pelos quais os migrantes entram na Europa
A grande variedade de normas no direito internacional a respeito da proteccedilatildeo
internacional dos refugiados faz com que os Estados tenham liberdade para regular a entrada
de estrangeiros no seu territoacuterio poreacutem natildeo podem deixar de lado o respeito aos direitos
humanos e suas obrigaccedilotildees internacionais Entatildeo podemos dizer que a soberania dos
Estados acaba sendo limitada pelas normas obrigatoacuterias de direito internacional
A partir daiacute surge a ideia de que o refugiado natildeo deve ser repelido de acordo com o
artigo 33 da referida Convenccedilatildeo o chamado princiacutepio do non-refoulement Assim analisou-
se este artigo juntamente com a Convenccedilatildeo Contra a Tortura que dispotildee que ningueacutem deve
enviado para locais onde corra o risco de ser torturado bem como com o artigo 3ordm da CEDH
que traz a proibiccedilatildeo da tortura e tratamento desumanodegradante de forma expressa ou
seja apesar da Convenccedilatildeo de 1951 no artigo 33 trazer situaccedilotildees em que natildeo se aplica o
princiacutepio da natildeo-repulsatildeo deve-se avaliar o mencionado princiacutepio diante do complexo
juriacutedico isto eacute outros importantes diplomas internacionais trazem o princiacutepio sem qualquer
exceccedilatildeo dessa forma da anaacutelise conjunta dos diplomas internacionais de direitos humanos
notamos que para que natildeo tenha nenhuma infraccedilatildeo agraves essas normas deve-se interpretar de
acordo com a norma mais beneacutefica ou seja de que ningueacutem deve ser enviado para local
onde corra o risco de ser torturado conforme a Convenccedilatildeo Contra a Tortura e a CEDH
Ademais a exceccedilatildeo prevista no artigo 33 nordm 2 da Convenccedilatildeo de 1951 traz que a
pessoa que consista em perigo agrave seguranccedila do paiacutes ou que tenha cometido crime natildeo deve
ser protegida pelo princiacutepio da natildeo-repulsatildeo no entanto vimos acima que esse dispositivo
deve ser interpretado de acordo com o complexo juriacutedico a respeito do tema e portanto essa
exceccedilatildeo acaba se tornando sem efeito Obviamente que natildeo se deve ldquopremiarrdquo um criminoso
com o benefiacutecio do asilo a fim de que o mesmo natildeo cumpra sua pena no entanto a proibiccedilatildeo
do envio do indiviacuteduo para a tortura eacute absoluta assim sugere-se o cumprimento da pena no
paiacutes de asilo natildeo enviando o criminoso para onde possa ser torturado
Aleacutem disso demonstrou a importacircncia deste princiacutepio tendo em vista o seu caraacuteter
de norma jus cogens ou seja consiste no grupo de normas obrigatoacuterias de direito
internacional e para corroborar tal natureza mencionou-se o artigo 42 nordm 1 da Convenccedilatildeo
de 1951 no qual dispotildee que o artigo 33 da mesma Convenccedilatildeo natildeo comporta reservas assim
145
como uma norma para ser considerada jus cogens precisa ser reconhecida pela comunidade
internacional fato que eacute notoacuterio que as convenccedilotildees de 1951 Contra a Tortura e CEDH satildeo
de amplo reconhecimento pelos paiacuteses ou seja a natildeo-repulsatildeo possui reconhecimento e natildeo
admite reserva isto eacute possui os dois requisitos necessaacuterios para ter tal status
Assim tem-se que a questatildeo de asilo esbarra na soberania nacional dos paiacuteses pois
cada Estado tem o direito de regular suas normas de direito de asilo mas como mencionado
acima limitado pelos direitos humanos e obrigaccedilotildees internacionais Dessa forma o
continente europeu possui diversos documentos disciplinando o assunto a exemplo do
Tratado de Lisboa (TUE) o TFUE o Acordo Schengen a Convenccedilatildeo de Dublin a CEDH
aleacutem das diretivas Estes documentos dispotildeem sobre aspectos gerais no que se refere ao asilo
e controle de fronteiras no entanto a Convenccedilatildeo de Dublin aborda mais especificamente
sobre quais satildeo os Estados responsaacuteveis pela anaacutelise do procedimento de asilo mas as regras
a serem aplicadas no procedimento satildeo as normas nacionais de cada paiacutes Assim foram
apresentados de forma sucinta os mecanismos dos processos de asilo em alguns paiacuteses
europeus apenas a tiacutetulo de comparaccedilatildeo de como que os principais paiacuteses que sofrem com
o intenso fluxo migratoacuterio lidam com a questatildeo de asilo
O primeiro capiacutetulo e o segundo foram destinados agraves questotildees gerais de refugiado e
e asilo explicando a questatildeo do direito de asilo no continente europeu e em algumas
legislaccedilotildees nacionais A partir disso no capiacutetulo 3 restringiu-se o foco na questatildeo dos
refugiados para a questatildeo do direito internacional e europeu no mar no que se refere (a)
busca e resgate dos refugiados em perigo no mar e o dever de assistecircncia tendo como base
diversos documentos internacionais como a UNCLOS SAR e SOLAS Assim para melhor
compreensatildeo partiu-se dos conceitos a respeito das zonas mariacutetimas nas quais se destaca a
questatildeo do mar territorial como o proacuteprio nome jaacute diz consiste no territoacuterio do estado
costeiro e portanto o Estado costeiro possui soberania nessa aacuterea aleacutem disso mais adiante
vimos que existem as SARrsquos que satildeo zonas de busca e salvamento de responsabilidade dos
paiacuteses cada estado com a sua SAR Nas demais zonas vigoram as regras de alto mar e
portanto satildeo aacutereas internacionais assim vale a lei da bandeira da embarcaccedilatildeo consistindo
numa extensatildeo do territoacuterio do paiacutes ou seja o fenocircmeno da extraterritorialidade Discute-se
a respeito das SARrsquos sobre a aplicaccedilatildeo da extraterritorialidade nessas regiotildees pois apesar de
configurarem zonas de busca e salvamento podem estar em aacuteguas internacionais ou seja a
146
responsabilidade de busca e salvamento eacute de um estado no entanto se forem aacuteguas
internacionais vale a lei do estado da bandeira da embarcaccedilatildeo (artigo 110 da UNCLOS)
Um dos principais documentos a respeito do direito do mar eacute a UNCLOS na qual o
artigo 98 traz o dever de assistecircncia das pessoas em perigo no mar Dessa forma esse artigo
deve ser entendido juntamente com o artigo 2ordm da CEDH (bem como o artigo 2ordm da CDFUE)
pois ambos trazem a proteccedilatildeo do direito agrave vida Dessa forma a questatildeo de salvar as vidas no
mar deve-se levar em conta dois aspectos sendo que eacute responsabilidade dos estados bem
como dos capitatildees dos navios
Outros documentos que seguem o mesmo sentido deste artigo 98 da UNCLOS eacute a
Convenccedilatildeo SOLAS que se refere agrave salvaguarda da vida das pessoas no mar e a SAR que
dispotildee sobre a busca e salvamento no mar sob pena de violaccedilatildeo do direito agrave vida Essas duas
convenccedilotildees dispotildeem que as pessoas resgatadas devem ser desembarcadas em um local
seguro apesar de natildeo apresentarem um conceito claro das condiccedilotildees desses locais eacute evidente
que alguns paiacuteses como a Liacutebia estatildeo longe de serem seguros Portanto a falta de
conceituaccedilatildeo de local seguro nessas convenccedilotildees consiste em uma falha fazendo com que
muitos paiacuteses tentem justificar o envio de pessoas para paiacuteses natildeo seguros no entanto diante
da ausecircncia dessa conceituaccedilatildeo faz-se necessaacuterio bom senso das autoridades para natildeo enviar
os migrantes para locais onde corram riscos
Tendo por base todas essas disposiccedilotildees toma-se em questatildeo a relaccedilatildeo do direito do
mar conjuntamente com os direitos humanos Nesse ponto sabemos que os direitos humanos
satildeo de extrema importacircncia consistindo em normas jus cogens no direito internacional
portanto deve ser respeitado em todos os ramos do direito inclusive no direito do mar
Assim vimos que o respeito ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo eacute absoluto natildeo admitindo reservas
por ser considerado norma jus cogens bem como haacute a previsatildeo no artigo 42 nordm1 da
Convenccedilatildeo de 1951 de que o artigo 33 que se refere agrave natildeo-repulsatildeo natildeo se admite reservas
Portanto a interpretaccedilatildeo conjunta das normas de busca e salvamento do mar
juntamente com o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo leva ao entendimento de que os migrantes
resgatados no mar devem ser desembarcados em local seguro e principalmente natildeo devem
ser devolvidos para o local de onde saiacuteram sob pena de violaccedilatildeo do direito agrave vida (artigo 2ordm
da CEDH) da proibiccedilatildeo da tortura e tratamentos desumanos e degradantes (artigo 3ordm da
CEDH e artigo 3ordm da Convenccedilatildeo Contra a Tortura) e proibiccedilatildeo de expulsatildeo coletiva (artigo
4ordm do Protocolo Adicional nordm 4 da CEDH)
147
Para ter uma ideia na praacutetica sobre como ocorre a violaccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-
repulsatildeo no uacuteltimo capiacutetulo realizou-se estudo de alguns casos decididos pelo TEDH bem
como outros casos que ocorreram poreacutem sem anaacutelise do referido Tribunal Destaca-se que
nem todas as decisotildees consistem na repulsatildeo no mar poreacutem em todos os casos estudados as
pessoas chegaram pelo mar ou resgatadas pela guarda do estado costeiro e levadas para o
continente ou acabaram tendo ecircxito na trajetoacuteria em embarcaccedilotildees precaacuterias Isso demonstra
que a repulsatildeo ocorre tanto no mar quanto em situaccedilotildees em que os migrantes jaacute estatildeo em
terra Aleacutem disso quando a repulsatildeo ocorre no mar normalmente haacute a violaccedilatildeo da proibiccedilatildeo
de expulsatildeo coletiva nesses casos as pessoas geralmente satildeo repelidas todas juntas sem
qualquer identificaccedilatildeo conforme os casos Hirsi Jamaa e do Asso 28
Dessa forma como jaacute mencionado a anaacutelise da violaccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo
deve ser realizada juntamente com o artigo 3ordm da CEDH e tambeacutem com a Convenccedilatildeo Contra
a Tortura assim vimos que a violaccedilatildeo ao artigo 3ordm pode ocorrer tanto no paiacutes do pedido de
asilo nos campos de detenccedilatildeo ou quando se deixa as pessoas a sua proacutepria sorte assim a
violaccedilatildeo eacute configurada quando os indiviacuteduos forem enviados para local em que podem ser
submetidos agrave tortura e tratamentos desumanos eou degradantes
Nesse sentido no uacuteltimo capiacutetulo foram 4 os casos apresentados que tiveram decisotildees
proferidas pelo TEDH sendo constatado que quando haacute condenaccedilatildeo ao Estadopaiacutes que
violou direitos dos refugiados satildeo arbitradasaplicadas indenizaccedilotildees irrisoacuterias (em torno de
15 mil euros por requerente) ou seja acabam natildeo inibindo a repeticcedilatildeo da conduta Assim
notamos a ocorrecircncia do caso Hirsi Jamaa em 2009 e que no ano de 2018 o caso do Asso 28
ou seja repetiu os mesmos atos ocorridos em 2009 No entanto o capitatildeo do Asso 28 foi
denunciado nos tribunais italianos por ter tomado a conduta de devolver os migrantes agrave
Liacutebia talvez esse fato demonstre o iniacutecio de uma possiacutevel mudanccedila de mentalidade Mas
somente o tempo poderaacute dizer pois no caso Vos Thalassa o Tribunal de Trapani decidiu
que os migrantes que ldquosequestraramrdquo a embarcaccedilatildeo agiram em legiacutetima defesa que agiram
dessa forma face ao desespero de serem repelidos para a Liacutebia como ocorreu em situaccedilotildees
anteriores no entanto o Tribunal de Palermo anulou a sentenccedila inclusive contrariando a
jurisprudecircncia do proacuteprio Tribunal assim questiona-se se essa decisatildeo do tribunal de
apelaccedilatildeo de anular a sentenccedila natildeo consistiu em uma decisatildeo poliacutetica
Nas decisotildees do TEDH que analisamos notou-se que a condenaccedilatildeo indenizatoacuteria foi
em valor baixo como no caso Hirsi Jamaa cuja decisatildeo foi no sentido de que natildeo houve
148
violaccedilatildeo do artigo 3ordm da CEDH por entender que a conduta do Estado natildeo atingiu o niacutevel
miacutenimo de gravidade Ora natildeo haacute que se falar em niacutevel de tortura ou que o tratamento
desumano foi leve A tortura traz uma ideia de que natildeo tem uma ldquomeia torturardquo ou a pessoa
sofre tortura ou natildeo ou a pessoa recebe tratamento desumano ou natildeo ou seja natildeo haacute que se
falar em natildeo ter atingido os niacuteveis miacutenimos
Assim a partir da anaacutelise dos fatos como no caso Khlaifia em que os migrantes
alegavam que foram submetidos a tratamentos desumanos eou degradantes nota-se que o
tratamento natildeo eacute ldquomeiordquo desumano as pessoas tinham sua dignidade diminuiacuteda por esperar
horas para ir ao banheiro por exemplo Poreacutem o TEDH entendeu natildeo haver violaccedilatildeo ao
artigo 3ordm da CEDH que natildeo ficou comprovado que o tratamento atingiu os niacuteveis miacutenimos
Portanto mais um indicativo da impunidade natildeo se deve aceitar que os direitos humanos
dos migrantes sejam relativizados a empatia eacute obrigatoacuteria os julgadores devem se
colocarem no lugar do outro para poder apontar se existe ou natildeo um niacutevel miacutenimo de tortura
ou tratamento desumano a ser atingido
Outra situaccedilatildeo do caso Abdi Mahamud julgado pelo TEDH foi configurada a
violaccedilatildeo dos artigos 3ordm e 5ordm da CEDH sendo a condenaccedilatildeo de 12 mil euros menor que as
demais indenizaccedilotildees arbitradas pelo TEDH Ou seja trata-se de mais uma condenaccedilatildeo com
valor irisoacuterio de indenizaccedilatildeo pois trata-se de um paiacutes portanto facilita a continuidade da
praacutetica desrespeitosa aos direitos humanos Aleacutem disso nesse caso mesmo a requerente ter
demonstrado reais perigos a que estava exposta (seu irmatildeo foi morto por um grupo
terrorista) o pedido de asilo foi negado sob o fundamento de que ela natildeo demonstrou ser da
regiatildeo de conflitos da Somaacutelia em virtude do sotaque e conhecimentos da regiatildeo da capital
somali Assim as autoridades tecircm julgado os casos de forma arbitraacuteria com total ausecircncia
de empatia Ademais a refugiada tambeacutem estava com a sauacutede debilitada que piorou apoacutes a
negativa do pedido de asilo eacute notaacutevel o transtorno mental que a requerente estava por natildeo
querer retornar ao seu paiacutes
Na Greacutecia como vimos no caso Sharifi os migrantes satildeo tratados com completo
descaso situaccedilatildeo reconhecida inclusive por oacutergatildeos das Naccedilotildees Unidas que apontavam as
violaccedilotildees e orientaram os Estados para que natildeo enviasse migrantes para a Greacutecia Aleacutem
disso neste ano de 2020 em plena pandemia o paiacutes helecircnico levava migrantes ateacute fronteira
do mar territorial deixando-os agrave deriva em botes inflaacuteveis sem motor e correndo risco de
morte Entatildeo tal conduta eacute uma afronta e um descaso enorme dos Estados com os migrantes
149
ou seja com pessoas que saiacuteram de seus paiacuteses por serem submetidas agraves situaccedilotildees horriacuteveis
ainda se deparam com tamanho descaso e desrespeito daqueles cujo dever eacute socorrer e
acolher
Outra questatildeo que chamou agrave atenccedilatildeo pelo despauteacuterio refere-se ao acordo feito entre
a Itaacutelia e Liacutebia em 2017 que confirma o descaso de certos paiacuteses com os refugiados quem
deveria acolher na verdade desdenha da situaccedilatildeo Sabe-se que desde a eclosatildeo da Primavera
Aacuterabe a Liacutebia estaacute longe de ser um lugar seguro Eacute de amplo conhecimento de que
atrocidades satildeo cometidas no paiacutes como assassinatos torturas tratamentos desumanos e
degradantes etc Podemos dizer que a Itaacutelia ao celebrar este acordo eacute cuacutemplice expressa das
atrocidades cometidas com as pessoas por laacute sobretudo com os migrantes que satildeo
devolvidos para o paiacutes norte-africano Assim notamos que os paiacuteses tecircm priorizado o
combate agrave imigraccedilatildeo ilegal em detrimento dos direitos humanos dos migrantes que as
decisotildees proferidas pelo TEDH natildeo estatildeo sendo suficientes para inibir a accedilatildeo de paiacuteses
europeus na repulsatildeo de migrantes ou de coibir os Estados de violar direitos dos refugiados
O que se constatou nesse estudo eacute que quando haacute uma condenaccedilatildeo do Estado por
violar direitos dos refugiados natildeo haacute uma justa indenizaccedilatildeo e que em algumas vezes a
decisatildeo eacute no sentido de que natildeo tinha como o Estado prever a violaccedilatildeo jogando o ocircnus aos
requerentes deixando-os lidarem eles mesmos com os danos e as feridas causadas ou que
natildeo atingiu os niacuteveis miacutenimos de tratamentos desumanos Assim notamos que as puniccedilotildees
impostas aos Estados natildeo tecircm sido eficazes tendo em vista o valor iacutenfimo das indenizaccedilotildees
Dessa forma talvez seja necessaacuteria uma puniccedilatildeo mais eficaz que force os Estados a
respeitarem o direito dos refugiados talvez como medida inibitoacuteria seja o caso de estudar a
possibilidade de imposiccedilatildeo de embargos poliacutetico-econocircmicos ao Estado infrator aleacutem de
melhorar o valor das indenizaccedilotildees pecuniaacuterias iniciando um estudo nesse sentido em prol
da proteccedilatildeo dos refugiados
Em verdade proteger os migrantes natildeo deve ser uma opccedilatildeo dos paiacuteses mas um dever
de proteccedilatildeo agrave vida humana que eacute um direito universal portanto um direito tambeacutem dos
refugiados independentemente se foi resgatado no mar ou dos que jaacute estatildeo no territoacuterio do
paiacutes de chegadaescolhido Portanto ter uma boa poliacutetica de migraccedilatildeo legislaccedilatildeo de asilo e
a proteccedilatildeo dos direitos humanos natildeo satildeo coisas opostas Sendo uma necessidade a
convergecircncia de medidas em prol de menos sofrimento no mundo se as pessoas estatildeo
fugindo de suas casas elas precisam ser acolhidas e natildeo repelidas Em um mundo que
150
pregamos a paz e a justiccedila natildeo eacute justo que negue ajuda e proteccedilatildeo para aqueles mais
necessitados ou menos favorecidos
151
BIBLIOGRAFIA
ACNUR Refugiados Disponiacutevel em httpswwwacnurorgportuguesquem-
ajudamosrefugiados Acesso em 03012020
AGENZIA ITALIA Cosa egrave successo a bordo della nave Asso Ventotto 2018 Disponiacutevel em
httpswwwagiitcronacamigranti_asso_ventotto-4224246news2018-07-31 Acesso
em 05102020
ALMEIDA Francisco F Direito Internacional Puacuteblico 2ordf ediccedilatildeo Coimbra Coimbra
Editora 2003
ANISTIA INTERNACIONAL Greece Proposed bill on asylum downgrades EU and
International Law standards on refugees protection 2019 Disponiacutevel em
httpwwwantigonegrennewspost452 Acesso em 25052020
BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Controllo dele Frontiere Statali e
Respingimenti nel Diritto Internazionale e nel Diritto del Mare In Diritto
Immigrazione e Cittadinanza Nordm 12020 Disponiacutevel em
httpswwwdirittoimmigrazionecittadinanzaitarchivio-saggi-commentisaggifascicolo-
n-1-2020-1532-controllo-delle-frontiere-statali-e-respingimenti-nel-diritto-internazionale-
e-nel-diritto-del-mare Acesso em 19062020
BATHKE Benjamin First trial in Italy over ldquomigrant pushbackrdquo to Libya 2020 In
Infomigrants Disponiacutevel em httpswwwinfomigrantsnetenpost26108first-trial-in-
italy-over-migrant-pushback-to-libya Acesso em 05102020
BETHLEHEM Daniel LAUTERPACHT Sir E Part 2 Non-refoulement (Article 33 of
the 1951 Convention) - The scope and content of the principle of non-refoulement
Opinion In Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos Global
Consultations on International Protection Cambridge Cambridge 2003
CAMILLI Eleonora Migranti scoppia il caso Asso 28 ldquoFatto grave egrave
respingimentordquo 2018 In Redattore Sociale Disponiacutevel em
httpswwwredattoresocialeitarticlenotiziariomigranti_scoppia_il_caso_asso_28_fatto_
grave_e_respingimento Acesso em 05102020
CIERCO Teresa A Instituiccedilatildeo de Asilo na Uniatildeo Europeia Almedina Coimbra 2010
COMISSAtildeO EUROPEIA Common European Asylum Sistem (CEAS) ndash Definition(s)
Disponiacutevel em httpseceuropaeuhome-affairswhat-we-
donetworkseuropean_migration_networkglossary_searchcommon-european-asylum-
system-ceas_en Acesso em 06042020
COMISSAtildeO EUROPEIA Common European Asylum System Disponiacutevel em
httpseceuropaeuhome-affairswhat-we-dopoliciesasylum_en Acesso em 27052020
152
COMISSAtildeO EUROPEIA EURASIL Disponiacutevel em httpseceuropaeuhome-
affairswhat-we-donetworkseuropean_migration_networkglossary_searcheurasil_en
Acesso em 06042020
COMISSAtildeO EUROPEIA European Asylum Support Office (EASO) Disponiacutevel em
httpseceuropaeuhome-affairswhat-we-
donetworkseuropean_migration_networkglossary_searcheuropean-asylum-support-
office-easo_en Acesso em 06042020
COUNCIL OF EUROPE ndash COMMISSIONER FOR HUMAN RIGHTS Lives Saved
Rights protected Bridging the protection gap for refugees and migrants in the
Mediterranean - Recommendations 2019 Disponiacutevel em httpsrmcoeintlives-saved-
rights-protected-bridging-the-protection-gap-for-refugees-168094eb87 Acesso em
01092020
CONSEIL CONSTITUTIONNEL Preacuteambule de la Constitution du 27 Octobre 1946
Disponiacutevel em httpswwwconseil-constitutionnelfrle-bloc-de-
constitutionnalitepreambule-de-la-constitution-du-27-octobre-1946 Acesso em
27052020
CONSELHO PORTUGUEcircS PARA OS REFUGIADOS Histoacuteria Disponiacutevel
httpscprpthistoria Acesso em 24052020
DIAacuteRIO DE NOTIacuteCIAS Greacutecia aprova nova reforma na lei de asilo do paiacutes 2020
Disponiacutevel em httpswwwdnoticiasptmundogrecia-aprova-nova-reforma-na-lei-de-
asilo-do-pais-FE6240421 Acesso em 25052020
DEUTSCHE WELLE (DW) Juristas processam UE por morte de migrantes 2019
Disponiacutevel em httpswwwdwcompt-brjuristas-processam-ue-por-mortes-de-
migrantesa-49036829 Acesso em 05102020
DEUTSCHE WELLE (DW) Novo Pacto Migratoacuterio da UE descarta realocaccedilatildeo
obrigatoacuteria 2020 Disponiacutevel em httpswwwdwcompt-brnovo-pacto-
migratC3B3rio-da-ue-descarta-realocaC3A7C3A3o-obrigatC3B3riaa-
55029567 Acesso em 09102020
ENI ITAacuteLIA Azionisti Disponiacutevel em httpswwwenicomit-ITchi-
siamogovernanceazionistihtml 2019 Acesso em 05102020
FEDERAL OFFICE FOR MIGRATION AND REFUGEES The Stages of the German
Asylum Procedure ndash An overview of the individual procedural steps and the legal
basis Disponiacutevel em
httpswwwbamfdeSharedDocsAnlagenENAsylFluechtlingsschutzAsylverfahrendas-
deutsche-asylverfahrenpdf__blob=publicationFileampv=12 Acesso em 28052020
FELLER Erika Prefaacutecio In Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos
Global Consultations on International Protection Cambridge Cambridge 2003
153
FORTEAU Mathias THOUVENIN Jean-Marc Traiteacute de Droit International de la
Mer Editions A Pedone Paris 2017
FOSTER Michelle HATHAWAY James C Part 6 Internal ProtectionRelocationFlight
Alternative In Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos Global
Consultations on International Protection Cambridge Cambridge 2003
FRANCE 24 English Focus Women made to keep low profile in some French
suburbs Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=6gZFGpNdH1A Acesso
em08012020
FRONTEX O que eacute a Frontex Disponiacutevel em httpsfrontexeuropaeulanguagept
Acesso em 19082020
G1 GLOBO Conheccedila as missotildees de resgate de imigrantes no Mediterracircneo 2015 Disponiacutevel em
httpg1globocommundonoticia201504conheca-as-missoes-de-resgate-de-imigrantes-
no-mediterraneohtml Acesso em 30082020
GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DE INCLUSIOacuteN SEGURIDAD SOCIAL Y
MIGRACIONES) PORTAL DE INMIGRACIOacuteN ndash Centro de Acogida a Refugiados
(CAR) Disponiacutevel em
httpextranjerosmitramissgobesesproteccionasilocarindexhtml Acesso em
27052020
GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DEL INTERIOR) Informacioacuten para los
solicitantes de proteccioacuten internacional em Espantildea Derecho de Asilo y Proteccioacuten
Subsidiaria Disponiacutevel em
httpwwwinteriorgobesdocuments6423171201485Informacion_solicitantes_Asilo_E
spaC3B1ol_126160083pdfd8fb2cb4-9bc4-4a53-9032-628c02f1e114 Acesso em
27052020
GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DE INCLUSIOacuteN SEGURIDAD SOCIAL Y
MIGRACIONES) PORTAL DE INMIGRACIOacuteN ndash Informacioacuten Disponiacutevel em
httpextranjerosmitramissgobesesProteccionAsiloinformacionindexhtml Acesso em
27052020
GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DEL INTERIOR) Oficina de Asilo y
Refugio Disponiacutevel em httpwwwinteriorgobeswebservicios-al-ciudadanooficina-
de-asilo-y-refugio Acesso em 27052020
GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DE INCLUSIOacuteN SEGURIDAD SOCIAL Y
MIGRACIONES) PORTAL DE INMIGRACIOacuteN ndash Reacutegimen de Asilo Disponiacutevel em
httpextranjerosmitramissgobesesnormativanacionalasiloindexhtml Acesso em
27052020
GOODWIN-GILL Guy S Part 3 Article 31 of the 1951 Convention Relating to the Status
of Refugees non-penalization detention and protection In Refugee Protection in
154
International Law ndash UNHCRrsquos Global Consultations on International Protection
Cambridge Cambridge 2003
GROSBON Sophie Droit de la Mer et Protection Internationale de LrsquoIndividurdquo In
FORTEAU Mathias THOUVENIN Jean-Marc Traiteacute de Droit International de la
Mer Editions A Pedone Paris 2017
HELLENIC REPUBLIC Asylum Service Disponiacutevel
httpasylogovgrenpage_id=39 Acesso em 24052020
HELLENIC REPUBLIC Legislation Disponiacutevel httpasylogovgrenpage_id=113
Acesso em 24052020
HONNIBALL Arron N The Exclusive Jurisdiction of Flag States A Limitation on
Pro-active Port States The International Journal of Marine and Coastal Law 2016
Disponiacutevel em httpsbrillcomviewjournalsestu313article-p499_6xml Acesso
01062020
INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION Guidelines on the Treatment of
Persons Rescued at Sea 2004 Disponiacutevel em
httpwwwimoorgenOurWorkFacilitationpersonsrescuedDocumentsMSC167(78)pd
f Acesso em 27062020
INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION INTERNATIONAL CHAMBER
OF SHIPPING UNITED NATIONS (UNHCR) Soccorso in Mare 2015 Disponiacutevel em
httpswwwunhcritwp-contentuploads201512Soccorso_in_Marepdf Acesso em
29062020
KINGSLEY Patrick SHOUMALI Karam Taking Hard Line Greece Turns Back
Migrants by Abandoning Them at Sea In ldquoThe New York Timesrdquo Disponiacutevel em
httpswwwnytimescom20200814worldeuropegreece-migrants-abandoning-seahtml
Acesso em 09102020
LISSON Urszula WEINZIERL Ruth Border Management and Human Rights A
study of EU Law and the Law of the Sea German Institute for Human Rights 2007
MACHADO Joacutenatas E M Direito Internacional 4ordf ediccedilatildeo Coimbra Coimbra Editora
2013
MARS Amanda ONU alerta que o mundo vive a pior crise humanitaacuteria em 70 anos
2017 In El Paiacutes Brasil Disponiacutevel em
httpsbrasilelpaiscombrasil20170311internacional1489186916_587899html
Acesso em 03012020
MINISTEacuteRE DE LrsquoINTEacuteRIEUR (IMMIGRATION ASILE ACCUEIL ET
ACCOMPAGNEMENT DES EacuteTRANGERS EM FRANCE Les Grands Principes du
Droit DrsquoAsile Disponiacutevel em httpswwwimmigrationinterieurgouvfrAsileLe-droit-
d-asileLes-grands-principes-du-droit-d-asile Acesso em 27052020
155
MINISTERO DELLrsquoINTERNO Cruscotto statistico giornaliero Disponiacutevel em
httpwwwlibertaciviliimmigrazionedlciinternogovititdocumentazionestatisticacrusc
otto-statistico-giornaliero Acesso em 19062020
MINISTRY FOR HOME AFFAIRS AND NATIONAL SECURITY (MALTA) AWAS ndash
Mission and Function Disponiacutevel httpshomeaffairsgovmtenMHAS-
DepartmentsawasPagesMission-and-Functionaspx Acesso 26052020
MINISTRY FOR HOME AFFAIRS AND NATIONAL SECURITY (MALTA) The
Office of the Refugee Commissioner Disponiacutevel em
httpshomeaffairsgovmtenmhas-
departmentsthe20office20of20the20refugee20commissionerPagesRefugeeasp
x Acesso em 26052020
NASSER Salem H Jus Cogens Ainda esse Desconhecido Disponiacutevel em
httpbibliotecadigitalfgvbrojsindexphprevdireitogvarticleview3523334033 Acesso
em 12092020
NATIONAL INTEGRATION EVALUATION MECHANISM (NIEM) The new law on
asylum in Greece Disponiacutevel em httpwwwforintegrationeuplthe-new-law-on-
asylum-in-greece Acesso em 25052020
NATIONAL POST National Post View Stabilizing Libya may be the best way to
keep Europe safe Disponiacutevel em httpsnationalpostcomopinionnational-post-view-
stabilizing-libya-may-be-the-best-way-to-keep-europe-safe Acesso em 06012020
NICHOLSON Frances TURK Volker Part 1 Refugee Protection in International Law
an overall perspective In Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos Global
Consultations on International Protection Cambridge Cambridge 2003
O GLOBO Crise envolvendo navio de resgate humanitaacuterio ldquoOpen Armsrdquo contrapotildee
Itaacutelia Espanha e ONG 2019 Disponiacutevel em httpsogloboglobocommundocrise-
envolvendo-navio-de-resgate-humanitario-open-arms-contrapoe-italia-espanha-ong-
23887061 Acesso em 27052020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para
a determinaccedilatildeo da Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Disponiacutevel em
httpswwwacnurorgportugueswp-
contentuploads201802Manual_de_procedimentos_e_critC3A9rios_para_a_determi
naC3A7C3A3o_da_condiC3A7C3A3o_de_refugiadopdf Acesso em
16012020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Note on International Protection ndash
UNHCR 13 september 2001 Disponiacutevel
httpswwwunhcrorgexcomexcomrep3bb1c6cc4note-international-protectionhtml
Acesso em 18092020
156
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Qual a diferenccedila entre lsquorefugiadosrsquo e
lsquomigrantesrsquo Disponiacutevel em httpsnacoesunidasorgqual-a-diferenca-entre-refugiados-
migrantesamp Acesso em 11052020
PAPANICOLOPULU Irini Human Rights and The Law of the Sea In The IMLI
Manual on International Maritime Law Volume I Law of The Sea General Editor
David Joseph Attard Edited by Malgosia Fitzmaurice Norman A Martineacutez Gutieacuterrez
Oxford University Press Oxford 2014
PARLAMENTO EUROPEU Asilo e Migraccedilatildeo na UE em Nuacutemeros 2019 Disponiacutevel
em
httpswwweuroparleuropaeunewsptheadlinesprioritiesmigracao20170629STO7863
0asilo-e-migracao-na-ue-em-numeros Acesso em 06042020
PARLAMENTO EUROPEU Reform of the Dublin System Disponiacutevel em
httpswwweuroparleuropaeuRegDataetudesBRIE2016586639EPRS_BRI282016
29586639_ENpdf Acesso em 07042020
PARLAMENTO EUROPEU Regras do Sistema de Asilo da UE a posiccedilatildeo do
Parlamento sobre a reforma da regulaccedilatildeo de Dublin Atualizado em 25072019
Disponiacutevel em
httpswwweuroparleuropaeunewsptheadlinesworld20180615STO05927regras-do-
asilo-da-ue-posicao-do-parlamento-sobre-a-reforma-da-regulacao-dublin Acesso em
06042020
PAULA Bruna V O Princiacutepio do Non-Refoulement sua Natureza Jus Cogens e a
Proteccedilatildeo Internacional dos Refugiados 2006 Disponiacutevel em
httpsrevistaibdhorgbrindexphpibdhissueview14 Acesso em 12092020
PORTUGAL Serviccedilo de Estrangeiros e Fronteiras ndash Etapas do Procedimento de
Proteccedilatildeo Internacional Disponiacutevel em
httpswwwsefptptDocumentsFolheto20InformaC3A7C3A3o20ProteC3
A7C3A3o20Internacionalpdf Acesso em 23052020
REVISTA VEJA Imigrantes se jogam no mar do navio Open Arms para alcanccedilar a
Itaacutelia 2019 Disponiacutevel httpsvejaabrilcombrmundoimigrantes-se-jogam-do-navio-
open-arms-no-mar-alcancar-a-italia Acesso em 27052020
RODAS Joatildeo G Jus Cogens em Direito Internacional Disponiacutevel em
wwwrevistasuspbrrfdusparticleviewFile6673669346 Acesso em 11092020
RUGGIERO Carol Dalla Criminalizzazione alla Giustificazione delle Attivita di
Ricerca e Soccorso in Mare le Tendenze Interpretative Piu Recenti alla Luce dei Casi
Vos Thalassa e Rackete In Diritto Immigrazione e Cittadinanza Nordm 12020 Disponiacutevel
em httpswwwdirittoimmigrazionecittadinanzaitarchivio-saggi-commentinote-e-
commentifascicolo-2020-1526-dalla-criminalizzazione-alla-giustificazione-delle-attivita-
di-ricerca-e-soccorso-in-mare-le-tendenze-interpretative-piu-recenti-alla-luce-dei-casi-vos-
thalassa-e-rackete Acesso em 25062020
157
SAVIO Guido Capitolo II Le procedure amministrative della domanda drsquoasilo
dallrsquoavvio alla decisione In ROCCA Paolo Immigrazione Asilo e Cittadinanza IV
Edizione Maggioli Editore Santarcangelo di Romagna 2019
TANI Ilaria Ricerca e Soccorso nel Mediterraneo Centrale tra Diritto Internazionale
e Nuove (Discutibili) Qualificazioni del Fenomeno Migratorio In Diritto
Immigrazione e Cittadinanza Nordm 32019 Disponiacutevel em
httpswwwdirittoimmigrazionecittadinanzaitarchivio-saggi-commentisaggifascicolo-
n-3-2019-1474-ricerca-e-soccorso-nel-mediterraneo-centrale-tra-diritto-internazionale-e-
nuove-discutibili-qualificazioni-del-fenomeno-migratoriofile Acesso em 22082020
TERRASI Alfredo I Respingimenti in Mare di Migrant Alla Luce Della Convenzione
Europea dei Diritti Umani In Diritti umani e diritto Internazionale Nordm 32009 p 591-
607
TREVISANUT Seline Maritime Border Control and the Protection of Asylum-
Seekers in the European Union Touro International Law Review 12 2009 p 157-161
HeinOnline
TREVISANUT Seline The Principle of Non-Refoulement and the De-
Territorialization of Border Control at Sea Leiden Journal of International Law vol
27 no 3 September 2014 p 661-676 HeinOnline
UNHCR GREECE UNHCR urges Greece to strengthen safeguards in draft asylum
law 2019 Disponiacutevel em httpswwwunhcrorggren13170-unhcr-urges-greece-to-
strengthen-safeguards-in-draft-asylum-lawhtml
UNITED NATIONS ndash UNHCR UNHCR Position on the Return of Asylum-Seekers to
Greece Under the ldquoDublin Regulationrdquo Disponiacutevel em
httpswwwunhcrorg482199802pdf Acesso em 01102020
WEIL Prosper Towards relative normativity in international law The American
Journal of International Law Vol 77 nordm 3 (julho de 1983) p 413 ndash 442 Disponiacutevel em
httpswwwcambridgeorgcorejournalsamerican-journal-of-international-
lawarticletowards-relative-normativity-in-international-
lawD494CB41D732291285CBC9F5424FF11C Acesso em 10092020
JURISPRUDEcircNCIAS
EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Abdi Mahamud V Malta
Application no 5679613 Disponiacutevel em httphudocechrcoeintengi=001-162424
Acesso em 26092020
EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Hirsi Jamaa and others v Italy
Application no 2776509 Disponiacutevel em httphudocechrcoeintspai=001-109231
Acesso em 16092020
158
EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Khlaifia and others v Italy
Application no 1648312 Disponiacutevel em httphudocechrcoeintengi=001-170054
Acesso em 21092020
EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Sharifi V Austria Application
no 6010408 Disponiacutevel em httphudocechrcoeintengi=001-138593 Acesso em
26092020
INTERNATIONAL COURT OF JUSTICE Jurisdictional Immunities of the State
(Germany v Italy Greece intervening) General List Nordm 143 Disponiacutevel em
httpswwwicj-cijorgencase143 Acesso em 11092020
LA CORTE DI APPELLO DI PALERMO Sentenza Vos Thalassa Appello ndash N Sent
15252020 Disponiacutevel httpswwwquestionegiustiziaitdatadoc2613sentenza-vos-
thalassa-appello-palermo-3-giugno-2020pdf Acesso em 05102020
TRIBUNALE DI TRAPANI Sentenza Vos Thalassa 2019 Disponiacutevel em
httpswwwquestionegiustiziaitdatadoc2613sentenza-vos-thalassa-gip-trapani-3-
giugno-2019pdf Acesso em 05102020
LEGISLACcedilAtildeO CONSULTADA
CONVENCcedilAtildeO DE APLICACcedilAtildeO DO ACORDO DE SCHENGEN 1985 Disponiacutevel
em httpseur-lexeuropaeulegal-
contentptTXTuri=celex3A42000A0922280229 Acesso em 29032020
CONSELHO DE SEGURANCcedilA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Resoluccedilatildeo 2240 (2015)
Disponiacutevel em httpseur-lexeuropaeulegal-
contentPTTXTuri=CELEX3A32016D0118 Acesso em 30082020
CONSELHO DA EUROPA Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (CEDH)
Disponiacutevel em httpswwwechrcoeintDocumentsConvention_PORpdf Acesso em
13012020
CONSELHO EUROPEU Directiva 200155CE do Conselho de 20 de Julho de 2001
Disponiacutevel em httpseur-lexeuropaeulegal-
contentPTTXTHTMLuri=CELEX32001L0055ampfrom=PT Acesso em 31012020
COUNCIL OF THE EUROPEAN UNION Council Decision of 26 April 2010
(2010252EU) Disponiacutevel em httpseur-
lexeuropaeuLexUriServLexUriServdouri=OJL201011100200026ENPDF Acesso
em 18092020
GENERAL ASSEMBLY UNITED NATIONS Resolution Adopted by the General
Assembly ndash Resolution 52132 Human rights and mass exoduses 1998 Disponiacutevel em
httpsundocsorgenARES52132 Acesso em 12092020
159
INTERNATIONAL COMMITTEE OF THE RED CROSS Customary International
Humanitarian Law ndash Volume I Rules Disponiacutevel
httpswwwicrcorgendocassetsfilesothercustomary-international-humanitarian-law-i-
icrc-engpdf Acesso em 11092020
INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION International Convention for the
Safety of Life at Sea (SOLAS) 1974 Disponiacutevel em
httpswwwsamgongustofaismediaenglishSOLAS-Consolidated-Edition-
2018docxpdf Acesso em 05062020
INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION International Convention on
Maritime Search and Rescue ndash SAR Convention 1979 Disponiacutevel em httpsonboard-
aquariusorguploads201808SAR-Convention-1979pdf Acesso em 02062020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Carta das Naccedilotildees Unidas 1945 Disponiacutevel
em httpsnacoesunidasorgwp-contentuploads201711A-Carta-das-
NaC3A7C3B5es-Unidaspdf Acesso em 04092020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Contra a Tortura e Outros
Tratamentos ou Penas Crueacuteis Desumanos ou Degradantes 1984 Disponiacutevel em
httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto1990-1994D0040htm Acesso em
12092020
ORGANIZACcedilAtildeO DE UNIDADE AFRICANA Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo de Unidade
Africana que Rege os Aspectos Especiacuteficos dos Problemas dos Refugiados em Aacutefrica
Disponiacutevel em httpwwwdhnetorgbrdireitossipafricaouahtm Acesso em
17012020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo de Viena sobre o Direito dos
Tratados Disponiacutevel em
httpgddcministeriopublicoptsitesdefaultfilesdocumentosinstrumentosrar67-
2003pdf Acesso em 11092020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Relativa ao Estatuto dos
Refugiados de 1951 Disponiacutevel em
httpswwwacnurorgfileadminDocumentosportuguesBDLConvencao_relativa_ao_Est
atuto_dos_Refugiadospdf Acesso em 03012020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Declaraccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas Sobre o
Asilo Territorial 1967 Disponiacutevel
httpswwwacnurorgfileadminDocumentosportuguesBD_LegalInstrumentos_Internac
ionaisDeclaracao_ONU_Asilo_Territorialpdffile=fileadminDocumentosportuguesBD_
LegalInstrumentos_InternacionaisDeclaracao_ONU_Asilo_Territorial Acesso em
09032020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do
Homem 1948 Disponiacutevel em httpsnacoesunidasorgwp-
contentuploads201810DUDHpdf Acesso em 05032020
160
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Protocolo Adicional agrave Convenccedilatildeo das
Naccedilotildees Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Relativo agrave Prevenccedilatildeo
Repressatildeo e Puniccedilatildeo do Traacutefico de Pessoas em Especial Mulheres e Crianccedilas
Disponiacutevel httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2004-
20062004DecretoD5017htm Acesso 14062020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Protocolo Adicional agrave Convenccedilatildeo das
Naccedilotildees Unidas Contra o Crime Organizado Transnacional relativo ao Combate ao
Traacutefico de Migrantes por Via Terrestre Mariacutetima e Aeacuterea 2000 Disponiacutevel em
httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2004-20062004DecretoD5016htm Acesso
em 01062020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Protocolo Adicional I da Convenccedilatildeo de
Genebra de 1949 Disponiacutevel em httpsihl-
databasesicrcorgapplicihlihlnsfArticlexspaction=openDocumentampdocumentId=F461
FC196C18A52DC12563CD0051E2AC Acesso em 11092020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Protocolo de 1967 Relativo ao Estatuto dos
Refugiados Disponiacutevel
httpswwwacnurorgfileadminDocumentosportuguesBD_LegalInstrumentos_Internac
ionaisProtocolo_de_1967pdf Acesso em 05032020
REPUBBLICA ITALIANA Gazzetta Ufficiale della Reppublica Italiana - Decreto
Legislativo 28 Gennaio 2008 N 25 Disponiacutevel em
httpswwwgazzettaufficialeitattoserie_generalecaricaDettaglioAttooriginarioattodat
aPubblicazioneGazzetta=2008-02-
16ampattocodiceRedazionale=008G0044ampelenco30giorni=false Acesso em 12052020
REPUBBLICA ITALIANA Gazzetta Ufficiale della Reppublica Italiana - Decreto
Legislativo 18 agosto 2015 n 142 Disponiacutevel em
httpswwwgazzettaufficialeiteliid2015091515G00158sg Acesso em 23052020
UNIAtildeO EUROPEIA Carta dos Direitos Fundamentais da Uniatildeo Europeia Disponiacutevel
em httpswwweuroparleuropaeucharterpdftext_ptpdf Acesso em 27052020
UNIAtildeO EUROPEIA Convenccedilatildeo de Dublin 1990 Disponiacutevel httpseur-
lexeuropaeulegal-contentPTALLuri=celex3A41997A0819280129 Acesso em
06042020
UNIAtildeO EUROPEIA Diretiva 2008115CE Disponiacutevel em httpseur-
lexeuropaeulegal-contentPTTXTuri=CELEX3A32008L0115 Acesso em
27052020
UNIAtildeO EUROPEIA Diretiva 201195UE Disponiacutevel em httpseur-
lexeuropaeulegal-contentPTLSUuri=celex32011L0095 Acesso em 27052020
161
UNIAtildeO EUROPEIA Diretiva 201332UE Disponiacutevel em httpseur-
lexeuropaeulegal-contentPTTXTuri=LEGISSUM23010502_1 Acesso em
27052020
UNIAtildeO EUROPEIA Diretiva 201333UE Disponiacutevel em httpseur-
lexeuropaeulegal-contentPTTXTuri=LEGISSUM23010502_2 Acesso em
27052020
UNIAtildeO EUROPEIA Tratado de Funcionamento da Uniatildeo Europeia Disponiacutevel em
httpseur-lexeuropaeulegal-contentPTTXTuri=celex3A12012E2FTXT Acesso
em 07042020
UNIAtildeO EUROPEIA Tratado de Lisboa Disponiacutevel em
httpswwwparlamentopteuropaDocumentsTratado_Versao_Consolidadapdf Acesso
em 31032020
UNITED NATIONS Charter of the International Military Tribunal 1945 Disponiacutevel
em httpswwwunorgengenocidepreventiondocumentsatrocity-
crimesDoc2_Charter20of20IMT201945pdf Acesso em 21012020
UNITED NATIONS Convention on the Law of the Seas (UNCLOS) Disponiacutevel
httpswwwunorgdeptslosconvention_agreementstextsunclosunclos_epdf Acesso
04092020
UNITED NATIONS Draft articles on Responsibility of States for Internationally
Wrongful Acts with commentaries Disponiacutevel em
httplegalunorgilctextsinstrumentsenglishcommentaries9_6_2001pdf Acesso em
11092020
2
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeccedilo a Deus e a Nossa Senhora Aparecida por tudo que me
proporcionam na vida e por me conceder a oportunidade de cursar mestrado nesta
Universidade que eacute referecircncia na aacuterea do Direito tanto em Portugal quanto no Brasil
Agradeccedilo tambeacutem aos meus pais por estarem comigo neste pleito de cursar o
mestrado que com amor e carinho me incentivaram e apoiaram para a realizaccedilatildeo desse
sonho
Meus sinceros agradecimentos ao meu orientador Prof Dr Rui Manuel Gens Moura
Ramos natildeo somente pela orientaccedilatildeo no presente trabalho mas tambeacutem pela sua atuaccedilatildeo
durante todo o curso do mestrado que aleacutem de sua reconhecida sapiecircncia nos encanta com
sua generosidade sempre disponiacutevel e cortecircs com os seus alunos
Tambeacutem agradeccedilo ao Prof Dr Bernardo Cortese da Universidade de Paacutedua (Itaacutelia)
onde tive minha experiecircncia Erasmus que tambeacutem me auxiliou neste trabalho de mestrado
tendo sugerido a linha de pesquisa para o tema escolhido com o aval do Prof Dr Rui e que
tambeacutem sempre esteve disponiacutevel e soliacutecito em me orientar na pesquisa
3
RESUMO
CLEMENTE Isabelle C O Princiacutepio do Non-Refoulement como Norma Jus Cogens o Direito de Asilo na
Uniatildeo Europeia e a Proteccedilatildeo do Indiviacuteduo no Mar 2020 162f Dissertaccedilatildeo de Mestrado Faculdade de
Direito da Universidade de Coimbra Coimbra 2020 A presente pesquisa se justifica devido ao intenso fluxo migratoacuterio que tem ocorrido via Mar Mediterracircneo e
o consequente desrespeito aos direitos humanos dos refugiados por alguns paiacuteses Analisou-se a proteccedilatildeo
internacional dos refugiados o direito de asilo na Europa e em alguns paiacuteses europeus o princiacutepio da natildeo-
repulsatildeo e a proteccedilatildeo internacional do indiviacuteduo no mar fazendo uma anaacutelise de alguns casos decididos pelo
Tribunal Europeu dos Direitos Humanos - TEDH e outros dois que natildeo foram analisados pelo mencionado
Tribunal poreacutem relacionados ao tema do presente trabalho Assim demonstrou-se que os Estados tecircm o dever
de assistecircncia de busca e salvamento no mar e de proteger aqueles que necessitam de proteccedilatildeo natildeo enviando
os migrantes de volta agrave situaccedilatildeo de perseguiccedilatildeo ou em situaccedilotildees em que a vida pode estar em risco ou seja
natildeo violando o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo Para este estudo utilizou-se o meacutetodo dedutivo aplicando teacutecnicas
de pesquisa bibliograacutefica com consultas em livros revistas eletrocircnicas legislaccedilatildeo e pesquisa jurisprudencial
Chegou-se agrave conclusatildeo de que apesar do dever de assistecircncia de busca e salvamento no mar os Estados tecircm
o dever de respeitar o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo natildeo enviando os migrantes agraves situaccedilotildees de tortura e tratamento
desumanos e degradantes (conforme haacute a proibiccedilatildeo no artigo 3ordm da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos
- CEDH) Muitos Estados europeus cometem violaccedilotildees dos direitos humanos dos refugiados repetidas vezes
seja colocando-os em campos de refugiados em situaccedilotildees precaacuterias seja enviando-os de volta para locais que
natildeo satildeo seguros seja repelindo-os coletivamente (violaccedilatildeo ao artigo 4ordm do Protocolo nordm4 da CEDH) ou quer
deixando os migrantes agrave deriva causando acidentes etc assim notou-se que as condenaccedilotildees realizadas pelo
TEDH natildeo satildeo suficientes para inibir novas accedilotildees violadoras dos Estados tampouco para ressarcir os danos
causados para os migrantes Dessa forma deve haver uma mudanccedila de mentalidade tanto das autoridades como
da comunidade internacional em prol da proteccedilatildeo das pessoas que precisam de ajuda inclusive criar medidas
ou sanccedilotildees internacionais eficazes na esfera diplomaacutetica poliacutetica e econocircmica como forma de punir o paiacutes
infrator tambeacutem devem ser adotadas medidas eficazes que natildeo sobrecarregam os Estados de entrada sendo
este um dos pontos da proposta do Novo Pacto Sobre Migraccedilatildeo e Asilo que ainda necessita de aprovaccedilatildeo do
Conselho da UE e do Parlamento Europeu
Palavras-chave Refugiados Princiacutepio do Non-Refoulement Artigo 3ordm CEDH Direito de Asilo Proteccedilatildeo do
Indiviacuteduo no Mar
4
ABSTRACT
CLEMENTE Isabelle C The Principle of Non-Refoulement as Jus Cogens Standard the Right to Asylum
in the European Union and the Protection of the Individual at Sea 2020 162f Masteracutes Degree
Dissertation Faculty of Law of the University of Coimbra Coimbra 2020
The present research is justified due to the intense migratory flow that has occurred via the Mediterranean Sea
and consequent disrespect for the human rights of refugees by some countries The international protection of
refugees the right of asylum in Europe and in some European countries the principle of non-refoulement and
the international protection of the individual at sea were analyzed and it makes an analysis of some cases
decided by the European Court of Human Rights - ECHR and two others that were not analyzed by the
mentioned Court but related to the theme of the present work Thus it was demonstrated that States have a
duty to assist search and rescue at sea and to protect those in need of protection by not sending migrants back
to persecution or in situations where life may be at risk that is not violating the principle of non-refoulement
For this study the deductive method was used bibliographic research techniques with consultations in books
electronic journals legislation and precedents research were applied It was concluded that despite the duty
of assistance search and rescue at the sea the States have a duty to respect the principle of non-refoulement
not sending migrants to situations of inhuman and degrading torture and treatment (according to the prohibition
in Article 3 of the European Convention on Human Rights - ECHR) Many European States repeatedly violate
the human rights of refugees either by placing them in refugee camps in precarious situations or by sending
them back to places that are not safe or by repelling them collectively (violation of Article 4 of Protocol
number 4 of the ECHR) or either leaving migrants adrift causing accidents etc thus it was noted that the
condemnations carried out by the ECHR are not sufficient to inhibit new violating actions by States nor to
compensate for the damage caused to migrants Thus there must be a change in mentality of both the authorities
and the international community in favor of protecting people who need help including creating effective
international measures or sanctions in the diplomatic political and economic spheres as a way to punish the
offending country effective measures must also be taken in order not to burden the State of entry this being
one of the points of the proposal of the New Pact on Migration and Asylum which still needs approval from
the EU Council and the European Parliament
Keywords Refugees Principle of Non-Refoulement Article 3 ECHR Right to Asylum Protection of the
Individual at Sea
5
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ACNUR ou UNHCR ndash Alto Comissariado das Naccedilotildees Unidas Para os Refugiados
AZR ndash Registro Central de Estrangeiros
AFP ndash Agence France-Presse
AWAS ndash Agency for the Welfare of Asylum Seekers (Agecircncia para o bem-estar para os
requerentes de asilo)
CAR ndash Centro de Acolhida de Refugiados
CAS ndash Convenccedilatildeo de Aplicaccedilatildeo do Acordo Schengen
CDFUE ndash Carta dos Direitos Fundamentais da Uniatildeo Europeia
CDP SpA ndash Cassa Depositi e Prestiti SpA
CEDH ndash Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos
CESEDA ndash Coacutedigo de Entrada e Permanecircncia de Estrangeiros e do Direito de Asilo
CIREA ndash Centro de Informaccedilatildeo Investigaccedilatildeo e Intercacircmbio em Mateacuteria de Asilo
CIREFI ndash Centro de Informaccedilatildeo Investigaccedilatildeo e Intercacircmbio em Mateacuteria de Passagem das
Fronteiras e Imigraccedilatildeo
CNDA ndash Corte Nacional de Direito de Asilo
CPR ndash Conselho Portuguecircs para os Refugiados
CSPA ndash Centro de Socorro e Primeiro Acolhimento
DUDH - Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos
EURASIL - European Union Network for asylum practitioners (Rede da Uniatildeo Europeia
para praticantes de asilo)
EURODAC - European Dactyloscopy (base de dados de impressotildees digitais da Uniatildeo
Europeia para requerentes de asilo)
EASO ndash Gabinete Europeu de Apoio ao Asilo
EASY ndash Distribuiccedilatildeo Inicial dos Requerentes de Asilo
FRONTEX ndash Agecircncia Europeia de Gestatildeo da Cooperaccedilatildeo Operacional nas Fronteiras
Externas
GETZ ndash Centro de Extremismo e Contra-Terrorismo
GTAZ ndash Centro Contra-Terrorismo
IMRCC ndash Centro Italiano de Coordenaccedilatildeo de Socorro Mariacutetimo
OFII ndash Escritoacuterio Francecircs de Imigraccedilatildeo e Integraccedilatildeo
6
OFPRA ndash Escritoacuterio Francecircs de Proteccedilatildeo dos Refugiados e Apaacutetridas
OMI ou IMO ndash Organizaccedilatildeo Mariacutetima Internacional
ONG ndash Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental
ONU - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas
OSCE ndash Organizaccedilatildeo para Seguranccedila e Cooperaccedilatildeo na Europa
OUA ndash Organizaccedilatildeo da Unidade Africana
SAR ndash Convenccedilatildeo de Busca e Salvamento no Mar (Search and Rescue)
SECA ndash Sistema Europeu Comum de Asilo
SEF ndash Serviccedilo de Estrangeiros e Fronteiras
SOLAS ndash Convenccedilatildeo Internacional para a Salvaguarda da Vida Humana no Mar
SPRAR ndash Sistema de Proteccedilatildeo para o Requerente de Asilo e Refugiado
TEDH ndash Tribunal Europeu de Direitos Humanos
TFUE ndash Tratado de Funcionamento da Uniatildeo Europeia
TUE ndash Tratado da Uniatildeo Europeia
UE ndash Uniatildeo Europeia
UNCLOS ou CNUDM - Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar
ZEE ndash Zona Econocircmica Exclusiva
7
IacuteNDICE
INTRODUCcedilAtildeO09
CAPIacuteTULO 1 ndash A Proteccedilatildeo Internacional dos Refugiados e o Princiacutepio do Non-
Refoulement11
11 Aspectos Gerais11
12 Convenccedilatildeo de 1951 e o Protocolo de 196714
121 Conceito de Refugiado14
122 Pontos Importantes Relativos agrave Proteccedilatildeo Internacional15
a) Entrada Ilegal16
b) Pertencimento a um Grupo Social Especiacutefico18
c) Solicitaccedilotildees de Refuacutegio com Base na Religiatildeo19
d) Fuga Interna ou Alternativa do Deslocamento20
e) Aplicaccedilatildeo das Claacuteusulas de Exclusatildeo22
f) Cessaccedilatildeo da Condiccedilatildeo de Refugiado27
g) Unidade Familiar29
h) Responsabilidade de Supervisatildeo da ACNUR30
13 O Princiacutepio Non-Refoulement como Norma Jus Cogens e a Responsabilidade do
Estado por Atos Iliacutecitos30
131 Princiacutepio de Non-Refoulement31
132 Normas Jus Cogens35
133 Responsabilidade Internacional dos Estados38
134 Teorias a Respeito da Responsabilidade Internacional dos Estado43
135 Imputabilidade dos Estados44
136 Violaccedilatildeo de Uma Obrigaccedilatildeo Internacional45
137 Princiacutepio Non-Refoulement como Norma Jus Cogens46
CAPIacuteTULO 2 ndash O Asilo na Ordem Juriacutedica Europeia e Nacionais49
21 O Asilo Aspectos Gerais49
211 O Asilo e a Soberania do Estado52
22 A Instituiccedilatildeo de Asilo no Continente Europeu54
221 Principais Documentos Sobre o Asilo na Ordem Juriacutedica
Europeia57
8
23 Ordens Juriacutedicas Nacionais Itaacutelia Portugal Greacutecia Malta Espanha Franccedila e
Alemanha69
231 Itaacutelia69
232 Portugal73
233 Greacutecia75
234 Malta78
235 Espanha81
236 Franccedila84
237 Alemanha85
CAPIacuteTULO 3 - Direito Internacional e Europeu do Mar Busca e Resgate dos
Refugiados em Perigo e o Dever de Assistecircncia89
31 Breves Consideraccedilotildees a Respeito do Direito Internacional do Mar89
32 O Direito do Mar e a Proteccedilatildeo Internacional do Indiviacuteduo93
321 O Direito do Mar e os Direitos Humanos97
322 O Princiacutepio da Natildeo-Repulsatildeo e os Migrantes em Perigo no Mar99
323 A Busca e Salvamento no Mar e o Dever de Assistecircncia108
CAPIacuteTULO 4 - Casos de Violaccedilatildeo do Artigo 3ordm da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos
Humanos e o Princiacutepio da Natildeo-repulsatildeo121
41 Contexto Faacutetico122
411 Caso Hirsi Jamaa e Outros versus Itaacutelia123
412 Caso Khlaifia e Outros versus Itaacutelia125
413 Caso Abdi Mahamud versus Malta129
414 Caso Sharifi versus Aacuteustria131
415 Caso Vos Thalassa134
416 Caso Asso 28137
42 Alguns Apontamentos a Respeito dos Casos Apresentados140
CONCLUSAtildeO143
BIBLIOGRAFIA151
JURISPRUDEcircNCIAS157
LEGISLACcedilAtildeO CONSULTADA158
9
INTRODUCcedilAtildeO
Os fluxos migratoacuterios natildeo satildeo acontecimentos recentes existindo portanto desde os
primoacuterdios da humanidade assim o que muda satildeo os motivos que levam as pessoas a saiacuterem
do seu local de origem No entanto nas uacuteltimas deacutecadas o fenocircmeno da migraccedilatildeo tem se
intensificado principalmente apoacutes 2011 com a Primavera Aacuterabe em que eclodiram muitas
revoltas contra os governos autoritaacuterios no Oriente Meacutedio e paiacuteses africanos sobretudo no
norte da Aacutefrica Por este motivo para um estudo da atual situaccedilatildeo eacute importante a pesquisa
no acircmbito do direito internacional dos refugiados bem como dos direitos humanos
Nesse sentido a Europa tem sido um dos principais destinos desses migrantes e os
paiacuteses mais afetados tecircm adotado medidas para limitar esse fluxo muitos satildeo os meios que
as pessoas se sujeitam a enfrentar para migrarem inclusive pelo mar se aventurando em
embarcaccedilotildees precaacuterias arriscando suas vidas com o fim de fugir de algum tipo de
perseguiccedilatildeo Assim o objetivo do presente trabalho eacute fazer uma anaacutelise teoacuterica sobre a
proteccedilatildeo internacional dos refugiados direito de asilo e o direito de busca e salvamento dos
migrantes no mar juntamente com uma breve anaacutelise jurisprudencial do Tribunal Europeu
dos Direitos Humanos e apresentaccedilatildeo de outros casos natildeo analisados pelo mencionado
Tribunal
Dessa forma no primeiro capiacutetulo faz-se uma abordagem da proteccedilatildeo internacional
dos direitos humanos explicandos alguns dos assuntos mais importantes ao que se refere ao
direito dos refugiados como a Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 bem como o Protocolo de
1967 passando pelo conceito de refugiado e alguns pontos importantes como entrada ilegal
fuga interna claacuteusulas de exclusatildeo cessaccedilatildeo da condiccedilatildeo de refugiado perseguiccedilatildeo por
pertencer algum grupo social por seguir determinada religiatildeo unidade familiar etc aleacutem
disso traz-se a ideia do Princiacutepio do Non-Refoulement (tambeacutem citado neste trabalho como
Princiacutepio da Natildeo-Repulsatildeo) como jus cogens e a responsabilidade do Estado
No segundo capiacutetulo discorre-se sobre o tema do asilo na ordem juriacutedica europeia e
nacional de alguns paiacuteses europeus (os mais afetados pelo fenocircmeno migratoacuterio) Dessa
forma traz-se para anaacutelise os principais documentos europeus como Tratado de Lisboa
Tratado de Funcionamento da Uniatildeo Europeia Acordo Schengen Convenccedilatildeo de Dublin
Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos e algumas diretivas a respeito do tema Aleacutem
10
disso traz-se a questatildeo do asilo nos paiacuteses Itaacutelia Portugal Greacutecia Malta Espanha Franccedila
e Alemanha
Jaacute no terceiro capiacutetulo o foco eacute o direito internacional e europeu do mar no que se
refere agrave busca e resgate dos refugiados bem como o dever de assistecircncia Assim em um
primeiro momento faz-se algumas breves consideraccedilotildees a respeito do direito do mar
explicando brevemente as zonas mariacutetimas posteriormente a relaccedilatildeo do direito do mar com
a proteccedilatildeo internacional do indiviacuteduo passando pelos direitos humanos e princiacutepio da natildeo-
repulsatildeo no direito do mar chegando no direito de busca e salvamento e o dever de
assistecircncia Todos esses pontos tendo como base principalmente as Convenccedilotildees
UNCLOS SOLAS e SAR
Por fim o quarto capiacutetulo traz quatro decisotildees do Tribunal Europeu dos Direitos
Humanos e dois outros casos sem anaacutelise do referido Tribunal para exemplificar todo o
exposto nos demais capiacutetulos Assim o intuito eacute demonstrar qual a posiccedilatildeo do TEDH e se
as decisotildees estatildeo sendo suficientes para inibir a violaccedilatildeo do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo dos
migrantes resgatados no mar
Para a elaboraccedilatildeo do presente trabalho foi utilizado o meacutetodo dedutivo sendo
realizadas teacutecnicas de pesquisa bibliograacutefica com consultas em livros revistas eletrocircnicas
legislaccedilatildeo sendo utilizada a pesquisa jurisprudencial realizada no respectivo trabalho aleacutem
de outros documentos uacuteteis para a anaacutelise proposta no presente trabalho Os casos escolhidos
no uacuteltimo capiacutetulo foram escolhidos por amostragem e por serem pertinentes ao tema
11
CAPIacuteTULO 1
A PROTECcedilAtildeO INTERNACIONAL DOS REFUGIADOS E O PRINCIacutePIO DO
NON-REFOULEMENT
Apesar do fenocircmeno migratoacuterio existir haacute muito tempo tem-se que nas uacuteltimas
deacutecadas este assunto tem se tornado preocupaccedilatildeo mundial trazendo agrave tona a proteccedilatildeo
internacional dos refugiados principalmente na Europa que tem recebido um grande
contingente de refugiados Assim destaca-se os aspectos do mencionado fenocircmeno
humanitaacuterio e social que consiste na proteccedilatildeo de pessoas que fogem de seus paiacuteses em busca
de um lugar seguro para si e para sua famiacutelia bem como o aspecto diplomaacutetico-poliacutetico
pois as pessoas ao ingressarem em outros paiacuteses em busca de estabelecer residecircncia entram
de forma ilegal ferindo a soberania dos Estados Dessa forma faz com que os paiacuteses de
destino elaborem medidas limitativas de tal fenocircmeno (de forma interna) que tambeacutem
atuam como forma de controlar as tensotildees que porventura acabam surgindo1
11 Aspectos gerais
Nas uacuteltimas sete deacutecadas a situaccedilatildeo dos refugiados tem mudado consideravelmente
isso se deve ao surgimento do Alto Comissariado das Naccedilotildees Unidas para os Refugiados
(ACNUR - UNHCR) e tambeacutem da Convenccedilatildeo Relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951
O regime de proteccedilatildeo internacional dos direitos humanos vem sendo construiacutedo desde a
Segunda Guerra Mundial e atualmente consiste em um sistema complexo de proteccedilatildeo agraves
pessoas que satildeo obrigadas a saiacuterem de seus paiacuteses de forma forccedilada tendo por base a
mencionada convenccedilatildeo e o Protocolo de 1967 relativo ao Estatuto dos Refugiados Mas se
reconhece que haacute muito que se melhorar nesse ldquosistema complexordquo tendo em vista a
existecircncia de lacunas que favorecem a natildeo aplicaccedilatildeo do previsto na Convenccedilatildeo dificultando
as questotildees de asilo2
Os dois diplomas mencionados acima segundo Nicholson e Turk satildeo ldquothe modern
legal embodiment of the ancient and universal tradition of providing sanctuary to those at
1 CIERCO Teresa A Instituiccedilatildeo de Asilo na Uniatildeo Europeia Almedina Coimbra 2010 2 FELLER Erika Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos Global Consultations on International
Protection Prefaacutecio Cambridge Cambridge 2003
12
risk and in dangerrdquo3 consistem na personificaccedilatildeo juriacutedica da tradiccedilatildeo mundial de proteger
as pessoas que estatildeo em perigo Portanto consistem nos principais e uacutenicos documentos em
niacutevel mundial que tratam do assunto ldquorefugiadosrdquo
A crise migratoacuteria atual eacute considerada pela ONU a maior deste seacuteculo e de acordo
com dados ateacute o momento soacute perde para a crise migratoacuteria ocorrida durante a Segunda
Guerra Mundial4 As pessoas saem dos seus paiacuteses por motivos de perseguiccedilatildeo e ofensas
aos direitos humanos em busca de uma vida melhor em outros paiacuteses Diversos satildeo os paiacuteses
que geram refugiados como por exemplo Siacuteria (paiacutes que mais gerou refugiados) paiacuteses da
Aacutefrica Subsaariana5 e atualmente a Liacutebia (paiacutes no qual muitos refugiados buscaram ajuda
mas acabaram sendo aprisionados e submetidos a tratamentos degradantes e torturas)
A situaccedilatildeo atual na Liacutebia merece atenccedilatildeo e preocupa paiacuteses europeus sobretudo a
Itaacutelia O caos no mencionado paiacutes africano comeccedilou apoacutes a queda de Muamar Kadafi
iniciando-se uma nova guerra civil assim as autoridades do paiacutes perderam a sede do
governo em Triacutepoli passando a governar a partir de quartos de hoteacuteis e casas alugadas na
cidade de Bayda tendo em vista que parte da Liacutebia estava sob o domiacutenio de miliacutecias eacutetnicas
e coalizatildeo islamita6
Diante de tal cenaacuterio muitas pessoas foram capturadas vendidas como escravos e
torturadas O Estado Islacircmico publicou um viacutedeo executando 21 egiacutepcios em uma praia do
Mar Mediterracircneo e manifestou interesse em conquistar Roma fato que deixou a Itaacutelia em
alerta poreacutem a questatildeo da Liacutebia natildeo se trata de uma preocupaccedilatildeo apenas para as autoridades
italianas mas tambeacutem para toda Europa7
Assim apoacutes a Segunda Guerra Mundial notou-se a importacircncia da proteccedilatildeo
internacional dos refugiados situaccedilatildeo que culminou na elaboraccedilatildeo da Convenccedilatildeo de 1951
mas muito tempo passou e a relevacircncia da referida proteccedilatildeo internacional continua os fatos
mudaram poreacutem a proteccedilatildeo dos refugiados a niacutevel internacional eacute de suma importacircncia para
3 NICHOLSON Frances TURK Volker Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos Global
Consultations on International Protection Part 1 Refugee Protection in International Law an overall
perspective Cambridge Cambridge 2003 4 MARS Amanda ONU alerta que o mundo vive a pior crise humanitaacuteria em 70 anos 2017 In El Paiacutes Brasil
Disponiacutevel em httpsbrasilelpaiscombrasil20170311internacional1489186916_587899html Acesso
em 03012020 5 ACNUR Refugiados Disponiacutevel em httpswwwacnurorgportuguesquem-ajudamosrefugiados Acesso
em 03012020 6 NATIONAL POST National Post View Stabilizing Libya may be the best way to keep Europe safe
Disponiacutevel em httpsnationalpostcomopinionnational-post-view-stabilizing-libya-may-be-the-best-way-
to-keep-europe-safe Acesso em 06012020 7Ibidem
13
promover a dignidade humana princiacutepio base de grande parte dos ordenamentos juriacutedicos
no mundo8
Apoacutes o teacutermino da Guerra Fria surgiram vaacuterios conflitos como na ex-Iugoslaacutevia
Caacuteucaso Grandes Lagos e Afeganistatildeo tais conflitos forccedilaram a fuga de pessoas e tal ecircxodo
se deve agraves perseguiccedilotildees de diversas motivaccedilotildees (poliacutetica religiosa eacutetnica etc) sendo assim
estas pessoas podem ser enquadradas no conceito de ldquorefugiadordquo presente na Convenccedilatildeo de
1951 que veremos adiante9
Eacute bem verdade que a comunidade internacional deve zelar pela proteccedilatildeo
internacional dos refugiados mas ressalta-se que o deslocamento de milhares de refugiados
a um determinado Estado pode trazer problemas nas situaccedilotildees de concessatildeo de asilo Assim
alguns paiacuteses na Europa estatildeo sofrendo com excesso de refugiados como Itaacutelia Alemanha e
Franccedila
A partir de situaccedilotildees de excessos como mencionado acima surge o desafio de
compartilhar responsabilidades ou seja natildeo apenas um ou poucos paiacuteses a ter que arcar com
todos os ocircnus dos refugiados Portanto deve haver medidas para que haja uma distribuiccedilatildeo
dos ocircnus referentes aos refugiados10 Situaccedilatildeo essa que a Convenccedilatildeo de Dublin (juntamente
com suas duas reformas) tentou resolver no entanto ainda haacute falhas e a proposta de um
novo pacto foi apresentada como seraacute visto no decorrer deste trabalho
Nos paiacuteses que estatildeo sobrecarregados com as ldquoobrigaccedilotildeesrdquo referentes aos refugiados
comeccedilou a aumentar a xenofobia e intoleracircncia aos estrangeiros Isso se deve por diversos
motivos como por exemplo o receio de que o excesso de refugiados pode por ventura
tentar impor sua cultura no novo paiacutes ou paiacutes de asilo como acontece em alguns bairros do
subuacuterbio de Paris em que mulheres natildeo satildeo bem-vindas em cafeacutes (situaccedilatildeo ldquojustificadardquo
pela submissatildeo da mulher na cultura islacircmica)11 e tambeacutem devido ao fato de muitos
refugiados serem de origem islacircmica tambeacutem haacute o temor de atentados terroristas
principalmente apoacutes os atentados nos Estados Unidos em que houve uma maior
preocupaccedilatildeo de analisar com mais atenccedilatildeo o previsto na Convenccedilatildeo de 195112
8 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 9 Ibidem 10 Ibidem 11 FRANCE 24 English Focus Women made to keep low profile in some French suburbs Disponiacutevel em
httpswwwyoutubecomwatchv=6gZFGpNdH1A Acesso em08012020 12 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit
14
12 Convenccedilatildeo de 1951 e o Protocolo de 1967
A Convenccedilatildeo de 1951 e o Protocolo de 1967 satildeo documentos de proteccedilatildeo
internacional dos refugiados portanto tecircm abrangecircncia mundial Assim neles constam os
princiacutepios baacutesicos a respeito do assunto devendo ser a base do regime de proteccedilatildeo aos
refugiados nos demais ordenamentos juriacutedicos
O Protocolo de 1967 serviu para complementar a Convenccedilatildeo de 1951 como consta
expressamente que o conceito de refugiado deveria ser ampliado conforme consta no artigo
1ordm paraacutegrafo 2ordm do documento13
Um dos maiores desafios do Alto Comissariado da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas
para os Refugiados (ACNUR) eacute de zelar pelo cumprimento destes documentos e para isto
eacute necessaacuterio que a comunidade internacional se una em prol da proteccedilatildeo internacional dos
refugiados14
121 Conceito de Refugiado
O conceito de refugiado que consta na Convenccedilatildeo de 1951 no artigo 1ordm item 2
refugiado eacute aquela pessoa que
() temendo ser perseguida por motivos de raccedila religiatildeo nacionalidade grupo
social ou opiniotildees poliacuteticas se encontra fora do paiacutes de sua nacionalidade e que
natildeo pode ou em virtude desse temor natildeo quer valer-se da proteccedilatildeo desse paiacutes ou
que se natildeo tem nacionalidade e se encontra fora do paiacutes no qual tinha sua
residecircncia habitual em consequumlecircncia de tais acontecimentos natildeo pode ou devido
ao referido temor natildeo quer voltar a ele15
Os refugiados consistem em uma categoria de pessoas que fogem de seus paiacuteses por
temer perseguiccedilatildeo por motivos de raccedila religiatildeo nacionalidade grupo social ou opiniotildees
poliacuteticas assim se encontram fora do paiacutes de sua nacionalidade e que natildeo podem ou em
virtude desse temor natildeo quer valer-se mais da proteccedilatildeo do seu paiacutes de origem ou natal
13 ACNUR PROTOCOLO DE 1967 Relativo ao Estatuto dos Refugiados Disponiacutevel
httpswwwacnurorgfileadminDocumentosportuguesBD_LegalInstrumentos_InternacionaisProtocolo_
de_1967pdf Acesso em 05032020 14 Ibidem 15 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951
Disponiacutevel em
httpswwwacnurorgfileadminDocumentosportuguesBDLConvencao_relativa_ao_Estatuto_dos_Refugi
adospdf Acesso em 03012020
15
portanto passam a vincular ao ordenamento juriacutedico do paiacutes de asilo submetidos agrave
legislaccedilatildeo desse novo paiacutes assim como estatildeo sujeitos os cidadatildeos presentes no territoacuterio do
paiacutes que os acolheu isto eacute em casos de ofensas agrave lei e agrave ordem puacuteblica no paiacutes de asilo os
refugiados estatildeo sujeitos agraves leis domeacutesticas16
A Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo de Unidade Africana de 1969 em seu artigo I nordm 2
traz a seguinte conceituaccedilatildeo de refugiado
() qualquer pessoa que devido a uma agressatildeo ocupaccedilatildeo externa dominaccedilatildeo
estrangeira ou a acontecimentos que perturbem gravemente a ordem puacuteblica numa
parte ou na totalidade do seu pais de origem ou do pais de que tem nacionalidade
seja obrigada a deixar o lugar da residecircncia habitual para procurar refuacutegio noutro
lugar fora do seu paiacutes de origem ou de sua nacionalidade17
Assim o conceito de refugiado eacute amplo pois engloba vaacuterios fatores como raccedila
religiatildeo nacionalidade grupo social e opiniatildeo poliacutetica A perseguiccedilatildeo presente no citado
dispositivo natildeo se refere somente agraves questotildees individuais como tambeacutem agraves questotildees
coletivas isto eacute ldquoacontecimentos de natureza geral que envolve toda uma comunidaderdquo18
Portanto deve-se analisar caso a caso para que natildeo sejam cometidas injusticcedilas
Poreacutem natildeo se deve confundir os conceitos de migrante econocircmico com o de
refugiado propriamente dito Assim o migrante econocircmico deixa seu paiacutes fugindo da
pobreza e situaccedilatildeo de miseacuteria enquanto o refugiado abandona seu paiacutes sua famiacutelia fugindo
de perseguiccedilatildeo e risco de morte Aleacutem disso o migrante econocircmico normalmente planeja
para onde ir agraves vezes jaacute possui algum viacutenculo no paiacutes de destino o refugiado natildeo possui
dinheiro natildeo sabe para qual paiacutes ir (apenas quer sair do lugar onde sua vida corre risco) natildeo
sabe a liacutengua e nem a cultura do paiacutes tendo que aprender a viver novamente19
122 Pontos Importantes Relativos agrave Proteccedilatildeo Internacional
Sabe-se da importacircncia dos pontos relativos agrave perseguiccedilatildeo baseada no gecircnero
requerimento de refuacutegio solicitado por crianccedilas ou com base na orientaccedilatildeo sexual embora
16 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 17 ORGANIZACcedilAtildeO DE UNIDADE AFRICANA Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo de Unidade Africana que Rege
os Aspectos Especiacuteficos dos Problemas dos Refugiados em Aacutefrica Disponiacutevel em
httpwwwdhnetorgbrdireitossipafricaouahtm Acesso em 17012020 18 CIERCO Teresa A Instituiccedilatildeo de Asilo na Uniatildeo Europeia Almedina Coimbra 2010 p 59 19 Ibidem
16
esse tema especiacutefico natildeo tenha sido abordado neste trabalho por ser especiacutefico e natildeo
pertencer ao tema central do trabalho No que tange agrave religiatildeo e grupos especiacuteficos fez-se
uma abordagem geral por constarem no conceito de refugiados no artigo 1ordm da Convenccedilatildeo
de 1951
Alguns desses pontos importantes possuem diretrizes publicadas pelo ACNUR que
foram elaboradas em uma mesa redonda juntamente com Church World Service em 2002
nos Estados Unidos20 No entanto devido a importacircncia do princiacutepio do non-refoulement
(natildeo-repulsatildeo) este seraacute desenvolvido no final do presente capiacutetulo
a) Entrada ilegal
Um ponto importante a se analisar no que tange agrave proteccedilatildeo internacional dos
refugiados eacute a entrada ilegal disciplinada no artigo 31 da Convenccedilatildeo de 1951 ou seja os
refugiados que chegarem a determinado paiacutes sem autorizaccedilatildeo natildeo devem ser penalizados
caso estejam fugindo de situaccedilatildeo em que a vida esteja ameaccedilada para isto eles devem se
apresentar o mais raacutepido possiacutevel para as autoridades demonstrando assim boa-feacute em sua
entrada ilegal21
A este respeito tem-se que os indiviacuteduos que entram ilegalmente em algum paiacutes e
requerem asilo possuem a presunccedilatildeo desse direito ateacute que se demonstre a natildeo necessidade
de proteccedilatildeo internacional atraveacutes do devido processo legal o nuacutemero 2 do artigo 31 dispotildee
que os Estados devem aplicar apenas as restriccedilotildees ldquonecessaacuteriasrdquo ateacute a regularizaccedilatildeo do
refugiado ressalta-se que sempre deve haver respeito aos direitos humanos22
No que se refere agrave regularizaccedilatildeo do refugiado entende-se que nos casos de entrada
ilegal o indiviacuteduo deve se apresentar o mais raacutepido possiacutevel para as autoridades os Estados
devem aguardar a regularizaccedilatildeo do refugiado seja no paiacutes em que estaacute ou em outro paiacutes que
o tenha admitido23
20 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Disponiacutevel em httpswwwacnurorgportugueswp-
contentuploads201802Manual_de_procedimentos_e_critC3A9rios_para_a_determinaC3A7C3
A3o_da_condiC3A7C3A3o_de_refugiadopdf Acesso em 16012020 21 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 22 Ibidem 23 GOODWIN-GILL Guy S Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos Global Consultations on
International Protection Part 3 Article 31 of the 1951 Convention Relating to the Status of Refugees non-
penalization detention and protection Cambridge Cambridge 2003
17
Poreacutem mesmo com a existecircncia do artigo 31 da Convenccedilatildeo muitos dos indiviacuteduos
que entram ilegalmente nos paiacuteses satildeo encaminhados para centros de detenccedilatildeo (na Europa
Ameacuterica do Norte e Austraacutelia) Alguns paiacuteses como a Aacuteustria Beacutelgica Alemanha e Franccedila
possuem centros especiais de detenccedilatildeo para aprisionar indiviacuteduos relativos agrave imigraccedilatildeo que
em muitos casos natildeo haacute periacuteodos preacute-fixados nessas prisotildees mas devido agrave alta demanda
surge outro problema muitos indiviacuteduos satildeo aprisionados em centros de detenccedilatildeo comum
sem separaccedilatildeo com os presos comuns (condenados por crimes)24
Neste cenaacuterio nota-se que natildeo eacute razoaacutevel aplicar a penalidade de detenccedilatildeo ao
indiviacuteduo que natildeo cometeu crime algum mas apenas fugiu de algum lugar no qual sua vida
estava em risco Poreacutem cada paiacutes tem sua legislaccedilatildeo a respeito da entrada ilegal e possui o
poder de soberania de controlar o fluxo de entrada e saiacuteda do paiacutes bem como a fixaccedilatildeo de
residecircncia nesse sentido a jurisprudecircncia do Tribunal Europeu de Direitos Humanos diz
que apesar deste poder soberano deve-se respeitar o que estaacute previsto na Convenccedilatildeo
Portanto a detenccedilatildeo provisoacuteria eacute permitida quando se faz necessaacuterio alguma investigaccedilatildeo
preliminar poreacutem a detenccedilatildeo administrativa eacute permitida nos termos do que estaacute previsto no
artigo 31 nordm 2 da Convenccedilatildeo de 1951 ou seja somente as restriccedilotildees necessaacuterias podem ser
impostas aos requerentes de asilo dentre estas pode incluir a prisatildeo administrativa em alguns
casos Ressalta-se que apesar do indiviacuteduo estar detido natildeo se deve privaacute-lo da possibilidade
de requerer asilo e portanto de obter o status de refugiado25
Neste aspecto percebemos uma controveacutersia pois o artigo 14 da Declaraccedilatildeo
Universal dos Direitos Humanos dispotildee sobre a requisiccedilatildeo de asilo de que eacute um direito de
todos que sofrem algum tipo de perseguiccedilatildeo aleacutem disso o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo faz
com que os Estados natildeo rejeitem os refugiados devolvendo-os para locais onde suas vidas
correm risco Poreacutem a controveacutersia estaacute na situaccedilatildeo de que muitas vezes satildeo impostas
restriccedilotildees de liberdade aos requerentes de asilo Defende-se portanto que deve haver
alguma razoabilidade para justificar a restriccedilatildeo de liberdade26
24 GOODWIN-GILL Guy S Op cit 25 Ibidem 26 Ibidem
18
b) Pertencimento a um grupo social especiacutefico
No artigo 1ordm da Convenccedilatildeo de 1951 conforme citado acima consta a expressatildeo
ldquogrupo socialrdquo pela qual o conceito descreve a situaccedilatildeo de ser perseguido por pertencer
algum ldquogrupo socialrdquo Nesse sentido o assunto eacute abordado na Diretriz Sobre a Proteccedilatildeo
Internacional nordm227 Ao questionar o que seria tal expressatildeo ldquogrupo socialrdquo analisa-se se se
aquele grupo possui caracteriacutesticas distintas sendo estas imutaacuteveis ou inerentes agrave dignidade
humana que dificilmente se consegue separar o indiviacuteduo dessa caracteriacutestica28
Nesse sentido pode-se entender o conceito a partir da ideia de ldquocaracteriacutesticas
protegidasrdquo ou seja nesta ideia uma caracteriacutestica considerada imutaacutevel consiste em
criteacuterios de sexo e etnia por exemplo e tambeacutem em situaccedilotildees nas quais as caracteriacutesticas
satildeo inalteraacuteveis por diversos motivos (sendo intriacutenseca agrave dignidade humana) como por
exemplo fatos histoacutericos ou status passado Tal ideia eacute comumente adotada no Canadaacute
Estados Unidos e Reino Unido29
Entatildeo ao se abordar o aspecto de ldquogrupo socialrdquo a partir de uma ldquopercepccedilatildeo socialrdquo
conceitua que um grupo social pode se diferenciar da sociedade em geral a partir de uma
caracteriacutestica que diferencia seus indiviacuteduos de toda a sociedade Este entendimento eacute
adotado pela jurisprudecircncia australiana30
Tais abordagens podem gerar conflitos pois podem convergir fazendo com que as
pessoas que satildeo diferenciadas a partir de uma caracteriacutestica imutaacutevel ou fundamental
(intriacutenseca) podem tambeacutem serem diferenciadas por caracteriacutesticas que os distinguem do
resto da sociedade Portanto podem surgir lacunas no que tange a proteccedilatildeo quando
analisadas isoladamente31
Este aspecto tem sido muito utilizado para enquadrar as pessoas requerentes de asilo
assim os Estados entendem como grupos especiacuteficos homossexuais famiacutelias tribos grupos
profissionais com base no previsto na Convenccedilatildeo de 1951 Portanto tal ideia aprofunda o
conceito de refugiado32
27 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit p 91 28 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 29 Ibidem 30 Ibidem 31 Ibidem 32 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit p 91
19
Entretanto natildeo se pode amplificar demasiadamente tal ideia isto eacute natildeo se aplica em
todo e qualquer caso poreacutem a ideia de pertencer a um grupo social especiacutefico deve ser
entendida de forma evolutiva com base nas sociedades e nas normas internacionais de
direitos humanos33
c) Solicitaccedilotildees de Refuacutegio com base na Religiatildeo
Antes de adentrar na situaccedilatildeo de solicitaccedilatildeo de refuacutegio em razatildeo da religiatildeo precisa-
se primeiro entender no que consiste o termo ldquoreligiatildeordquo Sendo assim a Convenccedilatildeo de 1951
apesar de trazer no conceito de refugiado a religiatildeo como uma das motivaccedilotildees de
perseguiccedilotildees natildeo trouxe o conceito de religiatildeo Portanto entende-se de forma interpretativa
a definiccedilatildeo de religiatildeo como sendo a liberdade de pensamento consciecircncia e credo dessa
forma o conceito engloba tambeacutem a possibilidade de natildeo possuir religiatildeo ou natildeo adotar
nenhuma crenccedila relacionada agrave religiatildeo34
Nesse sentido a Diretriz Sobre Proteccedilatildeo Internacional nordm6 dispotildee sobre a utilidade
dos artigos 18 da Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos (DUDH) e dos artigos 18 e
27 do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Poliacuteticos bem como outros documentos
internacionais que norteiam o entendimento do termo ldquoreligiatildeordquo na conjuntura do Direito
Internacional dos Refugiados35
Portanto em razatildeo do explicado acima requisiccedilotildees de refuacutegio baseadas em religiatildeo
satildeo situaccedilotildees complicadas pois os agentes que analisam a situaccedilatildeo de cada indiviacuteduo nem
sempre aplicam de forma correta a definiccedilatildeo de religiatildeo Ressalta-se que de acordo com o
Direito Internacional dos Direitos Humanos a liberdade religiosa de pensamento e
consciecircncia satildeo considerados direitos fundamentais36
Dessa forma ao requerer refuacutegio os indiviacuteduos podem se basear nos seguintes
elementos relativos agrave religiatildeo crenccedila ou descrenccedila identidade e estilo de vida Assim a
religiatildeo referente agrave ldquocrenccedilardquo inclui tanto as pessoas que acreditam em alguma divindade
quanto aos que natildeo acreditam quanto agrave ldquoidentidaderdquo refere pertencer a uma religiatildeo no
33 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit p 91 34 Ibidem 35 Ibidem 36 Ibidem
20
sentido de uma comunidade de pessoas que acreditam nas mesmas ideias e por fim quanto
ldquoestilo de vidardquo consiste em situaccedilotildees em que a religiatildeo pode se manifestar de diversas
formas como por exemplo o uso de vestimentas e praacuteticas especiacuteficas 37
O indiviacuteduo pode sofrer perseguiccedilatildeo religiosa de vaacuterias maneiras como a proibiccedilatildeo
de se filiar a alguma comunidade religiosa ou impor medidas discriminatoacuterias pelo motivo
da religiatildeo Tal situaccedilatildeo eacute mais comumente observada em paiacuteses que haacute uma religiatildeo que
predomina ou que haja uma estreita relaccedilatildeo entre Estado e religiatildeo assim uma pessoa que
natildeo segue a religiatildeo dominante por vezes acaba sofrendo algum tipo de perseguiccedilatildeo38
d) Fuga Interna ou alternativa do deslocamento
Um ponto muito discutido a respeito do Direito dos Refugiados eacute sobre a fuga interna
ou alternativa do deslocamento (assunto abordado na Diretriz Sobre Proteccedilatildeo Internacional
nordm 439) pois tal conceito consiste na ideia daquele indiviacuteduo que sofre algum tipo de
perseguiccedilatildeo poder buscar refuacutegio dentro do seu paiacutes de origem Mas de acordo com o Direito
Internacional natildeo eacute necessaacuterio que sejam esgotados os recursos no paiacutes de origem portanto
natildeo se exige que o refuacutegio seja o uacuteltimo recurso40
Nesse sentido na deacutecada de 1980 alguns paiacuteses concedentes de asilo utilizavam esse
conceito como motivo para negar asilo poreacutem natildeo consta nada de forma expressa na
Convenccedilatildeo de 1951 Assim entende-se que a melhor opccedilatildeo nesse aspecto eacute analisar caso a
caso41 Assim sugere-se uma situaccedilatildeo de anaacutelise em duas etapas o risco de perseguiccedilatildeo (por
motivos previstos na Convenccedilatildeo de 1951) em alguma aacuterea do paiacutes de origem e depois analisa
a possibilidade do requerente de asilo ser protegido pelo paiacutes de origem42
Como vimos na definiccedilatildeo de refugiado consta os termos ldquotemendo ser perseguidardquo
e ldquonatildeo pode ou em virtude desse temor natildeo quer valer-se da proteccedilatildeo desse paiacutesrdquo tais
expressotildees devem ser entendidas juntamente com o conceito da alternativa de fuga ou
37 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit 38 Ibidem 39 Ibidem p 107 40 Ibidem 41 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 42 FOSTER Michelle HATHAWAY James C Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos Global
Consultations on International Protection Part 6 Internal ProtectionRelocationFlight Alternative
Cambridge Cambridge 2003
21
deslocamento interno Ressalta-se que natildeo satildeo conceitos contraditoacuterios poreacutem a relaccedilatildeo
entre esses conceitos deve-se analisar os casos separadamente Na anaacutelise individual de cada
caso como mencionado acima dois aspectos devem ser levados em consideraccedilatildeo
relevacircncia e razoabilidade 43
Ao se analisar a relevacircncia deve-se ter em mente se a aacuterea na qual propotildeem o
deslocamento se tal accedilatildeo eacute acessiacutevel facilmente de forma segura e que natildeo infrinja normas
quem eacute o agente perseguidor pois se for o Estado este iraacute perseguir o indiviacuteduo em todo o
territoacuterio ou caso o agente natildeo seja o Estado se haacute a possibilidade deste agente perseguidor
acessar as aacutereas de fuga ou deslocamento interno e se apoacutes o deslocamento haver a
possibilidade de o indiviacuteduo continuar a ser perseguido ou sofrer algum outro dano grave44
No que tange a razoabilidade a anaacutelise eacute mais simples ou seja analisa-se a
possibilidade do indiviacuteduo conseguir ter uma vida digna sem perseguiccedilotildees Essa anaacutelise
deve ser tanto objetiva quanto subjetiva isto eacute considerar o indiviacuteduo e as condiccedilotildees de fuga
ou deslocamento Os criteacuterios a serem analisados satildeo caracteriacutesticas pessoais (analisam-se
fatores como a idade sexo a famiacutelia se possui alguma deficiecircncia escolaridade situaccedilotildees
de vulnerabilidade etc) perseguiccedilatildeo preteacuterita (consiste no indiviacuteduo possuir algum trauma
ocasionado por perseguiccedilotildees no passado) proteccedilatildeo e seguranccedila respeito aos direitos
humanos e subsistecircncia econocircmica45
Entende-se portanto que natildeo se deve justificar a negaccedilatildeo da condiccedilatildeo de refugiado
com base nos conceitos de alternativa de fuga ou deslocamento interno tendo em vista os
princiacutepios dos direitos humanos que zelam pela proteccedilatildeo internacional Dessa forma as
pessoas tecircm o direito de saiacuterem dos seus paiacuteses buscando uma vida mais segura longe de
situaccedilotildees que podem colocar a vida em perigo46
Nesse sentido vimos anteriormente que na Convenccedilatildeo da OUA parte do conceito de
refugiados traz a seguinte expressatildeo relacionando a acontecimentos que ldquoperturbem
gravemente a ordem puacuteblica numa parte ou na totalidade do seu paiacutes de origem ou do paiacutes
de que tem nacionalidaderdquo assim depreende-se que natildeo eacute necessaacuterio que todo o paiacutes esteja
em crise para que uma pessoa possa requerer refuacutegio em outro paiacutes47
43 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit 44 Ibidem 45 Ibidem 46 Ibidem 47 Ibidem
22
e) Aplicaccedilatildeo das Claacuteusulas de Exclusatildeo
A Convenccedilatildeo de 1951 no artigo 1- F traz as claacuteusulas de exclusatildeo isto eacute situaccedilotildees
em que o previsto no mencionado diploma natildeo deve ser aplicado Assim estas situaccedilotildees
referem-se agraves pessoas que
() cometeram um crime contra a paz um crime de guerra ou um crime contra a
humanidade no sentido dos instrumentos internacionais elaborados para prever
tais crimes
() cometeram um crime grave de direito comum fora do paiacutes de refuacutegio antes de
serem nele admitidas como refugiados
() se tornaram culpadas de atos contraacuterios aos fins e princiacutepios das Naccedilotildees
Unidas48
A respeito das disposiccedilotildees acima tem-se que o primeiro item (artigo 1F ldquoardquo) e o
uacuteltimo (artigo 1F ldquocrdquo) satildeo atemporais ou seja dizem respeito a crimes ocorridos em
qualquer tempo Contudo no artigo 1F ldquobrdquo referem-se a crimes cometidos em momento
anterior ao ser considerado refugiado e que tenham ocorrido em local fora do paiacutes de
refuacutegio49
Assim situaccedilotildees como abrigar os genocidas responsaacuteveis pelo massacre ocorrido em
Ruanda no ano de 1994 contraria o disposto na Convenccedilatildeo de 1951 pois natildeo seria justo
ajudar quem jaacute provocou muita dor e tristeza e tambeacutem contribuiu para fuga de muitas
pessoas para natildeo serem mortas em seus paiacuteses como o proacuteprio documento jaacute dispotildee alguns
atos satildeo de extrema gravidade que os autores de determinadas accedilotildees satildeo indignos de proteccedilatildeo
internacional e portanto tais pessoas devem enfrentar a justiccedila e pagarem pelos seus atos50
Os mencionados dispositivos tem a motivaccedilatildeo de excluir do conceito de refugiado
pessoas que praticaram crimes graves e assim natildeo deveriam ser protegidos pela Convenccedilatildeo
Nesse sentido natildeo se deveria portanto conceder asilo agrave pessoa perseguida por cometer um
crime poreacutem a interpretaccedilatildeo correta eacute a de que natildeo deve ser permitido o asilo para pessoas
que pedem a proteccedilatildeo com intuito de fugir da penalidade mas tambeacutem natildeo se pode admitir
que pessoa seja enviada para um local onde seus direitos humanos baacutesicos seratildeo violados
48 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951 Op
cit 49 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit 50 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit
23
uma alternativa para este caso eacute o cumprimento da penalidade dos seus atos em algum local
seguro onde teraacute sua dignidade respeitada
Portanto a aplicaccedilatildeo da exclusatildeo deve ser feita com muita cautela e de forma
extremamente restrita e priorizando sempre os direitos humanos devendo-se evitar
resultados graves ao excluir pessoas da proteccedilatildeo internacional Portanto passa-se a analisar
mais detalhadamente as situaccedilotildees de exclusatildeo
bull Crimes contra a paz crimes de guerra e crimes contra a humanidade
No que se refere a essa linha de crimes satildeo vaacuterios diplomas internacionais que
disciplinam o assunto quais sejam Convenccedilatildeo de 1948 sobre a Prevenccedilatildeo e Puniccedilatildeo do
Crime de Genociacutedio as Convenccedilotildees de Genebra de 1949 para a Proteccedilatildeo de Viacutetimas de
Guerra (junto com os Protocolos Adicionais de 1977) os Estatutos dos Tribunais Penais
Internacionais para a Ex-Iugoslaacutevia e Ruanda a Carta de Londres e o Estatuto de Roma (que
disciplina o Tribunal Penal Internacional sediado em Haia)51
Entre esses documentos a Carta de Londres que consiste na Carta do Tribunal
Militar Internacional de 1945 conceitua os crimes contra a paz da seguinte maneira
ldquonamely planning preparation initiation or waging of a war of aggression or a war in
violation of international treaties agreements or assurances or participation in a common
plan or conspiracy for the accomplishment of any of the foregoingrdquo52
Portanto atos que envolvam o planejamento preparaccedilatildeo e iniacutecio de guerra que uma
guerra desrespeite disposiccedilotildees internacionais (tratados compromissos acordos etc) ou
alguma conspiraccedilatildeo ou plano para promover quaisquer das situaccedilotildees mencionadas acima
Nota-se entatildeo que tais crimes somente podem ser praticados por autoridades ou pessoas
que possuem cargos importantes em um governo53
Da mesma maneira o supramencionado diploma tambeacutem conceitua os crimes de
guerra como segue
51 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit 52 UNITED NATIONS Charter of the International Military Tribunal 1945 Disponiacutevel em
httpswwwunorgengenocidepreventiondocumentsatrocity-
crimesDoc2_Charter20of20IMT201945pdf Acesso em 21012020 53 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit
24
Namely violations of the laws or custos of war Such violations shall include but
not be limited to murder ill-treatment or deportation to slave labour or for any
other purpose of civilian population of or in occupied territory murder or ill-
treatment of prisoners of war or persons on the seas killing of hostages plunder
of public or private property wanton destruction of cities towns or villages or
devastation not justified by military necessity54
Nesse sentido violaccedilotildees do Direito Internacional Humanitaacuterio podem consistir em
crimes de guerra portanto essa categoria de crimes inclui trabalho escravo tratamento
degradante torturas ataques contra populaccedilatildeo civil sem qualquer propoacutesito maus tratos de
prisioneiros de guerras assassinatos de refeacutens destruiccedilatildeo de cidades ou devastaccedilatildeo natildeo
justificada atraveacutes de uma necessidade militar
Por fim a conceituaccedilatildeo de crimes contra a humanidade na Carta de Londres eacute a
seguinte
Namely murder extermination enslavement deportation and other inhumane
acts committed against any civilian population before or during the war or
persecutions on political racial or religious grounds in execution of or in
connection with any crime within the jurisdiction of the Tribunal whether or not
in violation of the domestic law of the country where perpetrated55
Assim esse tipo de crime deve ser contra a populaccedilatildeo e ocorrer sob a forma de um
ataque generalizado e sistemaacutetico mas natildeo exclui alguma situaccedilatildeo em que um uacutenico ato
possa ser considerado crime contra a humanidade ou seja se este ato consistir em parte de
um sistema ou se faz parte de uma seacuterie de atos sistemaacuteticos e repetitivos 56 No entanto
repete-se o indiviacuteduo natildeo deve ser enviado para local natildeo seguro
bull Graves delitos comuns natildeo-poliacuteticos
Essa categoria trata de crimes graves assim faz-se necessaacuterio analisar a questatildeo da
gravidade ou seja se determinado crime eacute grave o bastante portanto os criteacuterios
internacionais devem predominar perante os criteacuterios locais Nesse aspecto alguns pontos
devem ser analisados como natureza do ato e da pena o dano causado o que foi utilizado
54 UNITED NATIONS Charter of the International Military Tribunal 1945 Op cit 55 Ibidem 56 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit
25
para a praacutetica do crime e o que o crime em questatildeo representa em grande parte dos
ordenamentos juriacutedicos57
Aleacutem do aspecto da gravidade outro ponto faz parte desta categoria de crimes isto
eacute crimes natildeo-poliacuteticos Como o proacuteprio nome jaacute diz satildeo crimes praticados por motivos
particulares portanto o crime natildeo deve ter relaccedilatildeo com motivos poliacuteticos ou pelo menos se
houver algum tipo de motivaccedilatildeo poliacutetica a proporccedilatildeo do objetivo poliacutetico deve ser muito
inferior ao motivo particular58
O dispositivo tambeacutem prevecirc sobre o local e tempo da praacutetica do ato ou seja o crime
deve ter ocorrido fora do paiacutes de refuacutegio e anterior agrave aceitaccedilatildeo do indiviacuteduo no paiacutes de asilo
Assim em situaccedilotildees de que o indiviacuteduo comete um crime no paiacutes de refuacutegio podem correr
o risco de serem expulsos conforme o previsto nos artigos 32 e 33 nordm 2 da Convenccedilatildeo de
195159 No entanto veremos adiante que o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo (previsto no artigo 33
da referida Convenccedilatildeo) natildeo admite reservas ou seja o indiviacuteduo natildeo pode ser repelido isto
eacute enviado de volta para o paiacutes de origem sendo que laacute seria submetido agrave condiccedilotildees
desumanas e degradantes
bull Atos contraacuterios aos objetivos e princiacutepios das Naccedilotildees Unidas
Este dispositivo raramente eacute aplicado pois deve ser interpretado de forma restritiva
Assim na maioria das vezes aplica-se aos casos o previsto nos itens ldquoardquo e ldquobrdquo do dispositivo
A aplicaccedilatildeo deste dispositivo restringe-se em situaccedilotildees pontuais nas quais o ato cometido
afronta os pilares da coexistecircncia da comunidade internacional60
Entatildeo como jaacute visto sobre as Claacuteusulas de Exclusatildeo o ACNUR publicou a Diretriz
Sobre Proteccedilatildeo Internacional nordm5 Neste aspecto tem-se que a razatildeo mais importante das
claacuteusulas de exclusatildeo eacute o impedimento de pessoas que jaacute cometeram atrocidades possam sair
impunes de seus atos atraveacutes do refuacutegio poreacutem como jaacute explicado acima devem ser
57 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit 58 Ibidem 59 Ibidem 60 Ibidem
26
aplicadas de maneira extremamente restritiva de forma que uma pessoa natildeo deve ser enviada
para um local onde teraacute seus direitos humanos violados61
Uma soluccedilatildeo para essa situaccedilatildeo como jaacute mencionado eacute o cumprimento da
penalidade em algum paiacutes seguro ou seja natildeo enviar a pessoa para a tortura ou tratamentos
desumanos ou degradantes poreacutem natildeo deixar a pessoa impune devendo cumprir a sua pena
O instituto do asilo natildeo deve ser requerido com intuito de se esquivar do cumprimento da
pena
Poreacutem natildeo deve deixar o indiviacuteduo em situaccedilatildeo de risco mesmo que tenha cometido
um crime Neste caso propotildee-se a possibilidade de enviar o indiviacuteduo para um outro paiacutes
que natildeo seja colocado em risco Cita-se a Convenccedilatildeo Americana sobre os Direitos Humanos
e a Declaraccedilatildeo de Cartagena como exemplos de que o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo natildeo estaacute
sujeito agrave exceccedilatildeo no contexto dos direitos humanos natildeo haacute possibilidade de limitaccedilatildeo do
mencionado princiacutepio62
Haacute muita discussatildeo a respeito das situaccedilotildees de exceccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo
nesse sentido Bethlehem e Lauterpacht citam as diretrizes para elaboraccedilatildeo da legislaccedilatildeo
nacional realizada por um grupo de pessoas da Organizaccedilatildeo da Unidade Africana (OUA) e
o ACNUR dispotildeem que nenhuma pessoa deve ser rejeitada devolvida expulsa ou submetida
agrave condiccedilotildees que colocam em risco sua integridade fiacutesica ou liberdade Portanto de acordo
com esses documentos natildeo haacute nenhuma restriccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo63
A respeito dessas diretrizes observa-se que a tendecircncia a respeito dessas exceccedilotildees
tem sofrido uma evoluccedilatildeo desde 1951 sendo que se excluiria qualquer tipo de exclusatildeo da
aplicaccedilatildeo da natildeo-repulsatildeo Entatildeo o indiviacuteduo natildeo poderia ser rejeitado eou enviado de volta
para qualquer situaccedilatildeo que colocasse em risco a vida a liberdade ou a integridade fiacutesica
Ressalta-se que na mentalidade dos redatores da Convenccedilatildeo de 1951 haveria a possibilidade
das exclusotildees de aplicaccedilatildeo do non-refoulement mas adotar essa interpretaccedilatildeo atualmente
deixaria este princiacutepio fora de sintonia com os desenvolvimentos mais recentes das
legislaccedilotildees64
61 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit 62 BETHLEHEM Daniel LAUTERPACHT Sir E Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos
Global Consultations on International Protection Part 2 Non-refoulement (Article 33 of the 1951 Convention)
- The scope and content of the principle of non-refoulement Opinion Cambridge Cambridge 2003 63 Ibidem 64 BETHLEHEM Daniel LAUTERPACHT Sir E Op cit
27
A este respeito Bethlehem e Lauterpacht expotildeem suas opiniotildees no sentido de que
as exceccedilotildees previstas no artigo 33 da Convenccedilatildeo de 1951 devem ser limitadas e respeitar o
devido processo legal ou seja segundo eles somente em situaccedilatildeo a respeito de seguranccedila
nacional ou risco ordem puacuteblica que poderia devolverexpulsarrejeitar o indiviacuteduo mas natildeo
deve haver exceccedilatildeo a natildeo-repulsatildeo caso este seja submetido agrave situaccedilotildees degradantes tortura
eou tratamentos crueacuteis pois tal princiacutepio de proteccedilatildeo possui caraacuteter humanitaacuterio Em casos
extremos de aplicaccedilatildeo de alguma exceccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo repulsatildeo eacute de extrema
importacircncia que o Estado adote medidas razoaacuteveis para que o indiviacuteduo seja admitido em
um paiacutes terceiro seguro65
O artigo 33 natildeo identifica quais os atos que configurariam uma ameaccedila agrave seguranccedila
nacional portanto ficaria a cargo de uma margem de apreciaccedilatildeo dos Estados poreacutem esta
apreciaccedilatildeo como jaacute explicado deve ser limitada sendo que deve haver ldquomotivos razoaacuteveisrdquo
para considerar um indiviacuteduo perigoso para a seguranccedila do paiacutes em que estaacute Sendo assim
o Estado natildeo pode agir de forma arbitraacuteria e deve analisar especificamente se haacute um risco
futuro comprovado com evidecircncias66
Entatildeo vimos que a regra eacute a natildeo-repulsatildeo caso se avente a possibilidade de enviar
o indiviacuteduo para outro paiacutes como no caso de cometimento de algum tipo de crime o Estado
deve assegurar que a pessoa natildeo seja enviada para um local em que seus direitos humanos
seratildeo violados No entanto ressalta-se que a concessatildeo de asilo natildeo deve ser realizada com
intuito de fugir das penalidades impostas por comentimento de crimes Em uacuteltimo caso
sugere-se o cumprimento da pena em algum paiacutes seguro entendendo como local seguropaiacutes
seguro onde o indiviacuteduo natildeo teraacute seus direitos humanos baacutesicos violados
f) Cessaccedilatildeo da Condiccedilatildeo de Refugiado
A situaccedilatildeo que se refere este dispositivo eacute quando ocorre a cessaccedilatildeo da condiccedilatildeo de
refugiado sendo este repatriado Assim terminada a condiccedilatildeo que ensejou o indiviacuteduo a
buscar refuacutegio em algum paiacutes cessa a sua condiccedilatildeo de refugiado e portanto o indiviacuteduo
deve retornar ao seu paiacutes de origem Poreacutem esta situaccedilatildeo gera alguns questionamentos que
seratildeo discutidos neste toacutepico
65 BETHLEHEM Daniel LAUTERPACHT Sir E Op cit 66 Ibidem
28
As claacuteusulas de cessaccedilatildeo se originaram a partir da ideia explicada acima assim a
partir destas disposiccedilotildees a condiccedilatildeo de refugiado de diversas pessoas termina
principalmente apoacutes o teacutermino da Guerra Fria por outro lado originou a preocupaccedilatildeo em
ter soluccedilotildees duraacuteveis isto eacute refere-se agraves situaccedilotildees de longa duraccedilatildeo de refugiados e tambeacutem
a questatildeo do repatriamento voluntaacuterio67
O entendimento predominante de acordo com as accedilotildees praticadas pelo ACNUR
pelos Estados e pelas conclusotildees da mesa redonda que ocorreu em Lisboa em 2001 eacute de que
a situaccedilatildeo no paiacutes de origem deve ser relevante ou seja eacute necessaacuterio ser de caraacuteter
fundamental estaacutevel e duraacutevel Aleacutem disso de acordo com as conclusotildees mencionadas
acima eacute importante que se leve em consideraccedilatildeo as questotildees de seguranccedila sustentabilidade
ao retornar e recursos humanos de uma forma geral68
Nesse cenaacuterio destaca-se um ponto importante que eacute a questatildeo das exceccedilotildees agraves
declaraccedilotildees de cessaccedilatildeo Assim havendo razotildees substanciais originadas de perseguiccedilotildees
preacutevias deve-se ponderar a situaccedilatildeo de retornar ao paiacutes de origem Haacute tambeacutem situaccedilotildees em
que o retorno do indiviacuteduo eacute proibido por tratados de direitos humanos pois o refugiado
poderia sofrer algum tipo de dano caso retorne ao seu paiacutes de origem Aleacutem disso tem casos
em que o indiviacuteduo jaacute formou laccedilos consistentes no paiacutes de asilo tendo familiares e
estabilidade econocircmica por exemplo nestes casos o Estado de asilo pode conceder status
de residecircncia69
Sobre essa questatildeo cita-se a Diretiva 200155CE do Conselho de 20 de Julho de
2001 em que dispotildee que nas situaccedilotildees que o procedimento de asilo foi suspenso durante a
proteccedilatildeo temporaacuteria (refuacutegio) eacute reconhecido o direito dos indiviacuteduos requererem o asilo apoacutes
o termino da proteccedilatildeo caso queiram por motivos de perseguiccedilotildees passadas70
Ainda quanto agrave cessaccedilatildeo da condiccedilatildeo de refugiado tem-se que muitos refugiados
procuram a repatriaccedilatildeo voluntariamente assim mesmo com a possibilidade do ACNUR e
dos Estados emitirem declaraccedilotildees a respeito da cessaccedilatildeo da condiccedilatildeo estas natildeo ocorrem de
forma frequente Ademais muitos paiacuteses concedem a permissatildeo de residecircncia mesmo com
67 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 68 Ibidem 69 Ibidem 70 CONSELHO EUROPEU Directiva 200155CE do Conselho de 20 de Julho de 2001 Disponiacutevel em
httpseur-lexeuropaeulegal-contentPTTXTHTMLuri=CELEX32001L0055ampfrom=PT Acesso em
31012020
29
o teacutermino das condiccedilotildees que ensejaram o refuacutegio e favorecem a integraccedilatildeo local e a
naturalizaccedilatildeo71
Contudo eacute importante que a cessaccedilatildeo da condiccedilatildeo de refugiado natildeo seja algo incerto
isto eacute colocar os indiviacuteduos em situaccedilatildeo de inseguranccedila sem saber o que os espera no futuro
Nesse sentido natildeo se deve obrigar as pessoas a retornarem a uma situaccedilatildeo que possa colocaacute-
las em risco ensejando nova fuga e um novo procedimento de reconhecimento como
refugiado Portanto antes de cessar a condiccedilatildeo de um refugiado eacute necessaacuterio de que as
condiccedilotildees no paiacutes de origem tenham se alterado substancialmente e que seja estaacutevel72
Cessar a condiccedilatildeo de refugiado natildeo eacute necessaacuterio consentimento ou algum ato
voluntaacuterio por parte do refugiado assim deve-se analisar com cautela e as claacuteusulas de
cessaccedilatildeo devem ser interpretadas de forma estrita para que natildeo causar consequecircncias graves
pois tal procedimento pode acarretar muitos transtornos na vida do indiviacuteduo como
rompimento de laccedilos familiares relaccedilatildeo de emprego da comunidade onde vivia etc73
Como mencionado acima a mudanccedila da situaccedilatildeo do refugiado deve ter natureza
fundamental ou seja isso significa que o indiviacuteduo natildeo pode mais recusar a proteccedilatildeo do seu
paiacutes de origem pois as mudanccedilas ocorridas fizeram com que cessassem as circunstacircncias
que originaram a situaccedilatildeo de refugiado Portanto considera-se cessaccedilatildeo das circunstacircncias
quando ocorre o fim dos confrontos alteraccedilatildeo completa da situaccedilatildeo poliacutetica estabilidade e
situaccedilatildeo de paz ressalta-se que aleacutem das mudanccedilas a mudanccedila deve ser estaacutevel
consolidada74
g) Unidade familiar
No que tange a unidade familiar na questatildeo dos refugiados o reagrupamento familiar
eacute o ponto principal para implementaccedilatildeo do mencionado direito tendo em vista que
considera-se a unidade familiar eacute considerada um direito essencial do refugiado pois
independente do status eacute um direito humano internacional e humanitaacuterio sendo aplicaacutevel a
todos os seres humanos Assim a famiacutelia do refugiado tambeacutem recebe o mesmo status
71 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit 72 Ibidem 73 Ibidem 74 Ibidem
30
portanto chama-se de ldquostatus derivadordquo possuindo os mesmos direitos que qualquer outro
indiviacuteduo considerado ldquorefugiadordquo75
Deve-se analisar caso a caso sobre a existecircncia ou natildeo de uma famiacutelia devendo levar
em consideraccedilatildeo questotildees culturais dependecircncia econocircmica e emocional dos indiviacuteduos
Nesse sentido considera-se ldquofamiacuteliardquo pelo menos os cocircnjuges e filhos menores76
h) Responsabilidade de supervisatildeo da ACNUR
O livro ldquoRefugee Protection in International Lawrdquo coloca como um dos pontos mais
importantes na questatildeo da proteccedilatildeo internacional dos refugiados a supervisatildeo do ACNUR
tendo por base os artigos 35 da Convenccedilatildeo de 1951 e o II do Protocolo de 1967 Nesse
sentido o ACNUR tem como funccedilatildeo baacutesica monitorar as accedilotildees dos Estados bem como
analisar e intervir quando for necessaacuteria a correccedilatildeo de alguma situaccedilatildeo77
Para exemplificar o assunto deste toacutepico tem-se que as diretrizes elaboradas pelo
ACNUR (algumas jaacute comentadas em toacutepicos anteriores) orientam os Estados aconselhando
as autoridades oacutergatildeos e tribunais a respeito da aplicaccedilatildeo dos diplomas internacionais a
respeito dos refugiados78
Dessa forma o ACNUR atua em diversos paiacuteses no mundo em prol do direito dos
refugiados promovendo ajuda aos migrantes orientando-os quanto aos seus direitos bem
como atuando em procedimentos judiciais na defesa desses direitos Aleacutem de orientaccedilotildees
sobre quais paiacuteses satildeo seguros ou natildeo em casos de envio dos migrantes como veremos no
uacutetltimo capiacutetulo no caso Sharifi versus Aacuteustria em que o ACNUR demonstrou que a Greacutecia
natildeo era um bom lugar para enviar o migrante de volta
13 O Princiacutepio Non-Refoulement como Norma Jus Cogens e a Responsabilidade
do Estado por Atos Iliacutecitos
No presente item em um primeiro momento traz a ideia do Princiacutepio Non-
Refoulement posteriormente fala-se sobre o que satildeo as normas jus cogens e por fim a
75 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 76 Ibidem 77 Ibidem 78 Ibidem
31
responsabilidade internacional dos Estados tendo por fundamento os Draft Articles
apresentados na 53ordf sessatildeo da Comissatildeo de Direito Internacional na ONU Depois desse
desenvolvimento traz-se a ideia de o princiacutepio non-refoulement como norma jus cogens e
portanto sua violaccedilatildeo configuraria responsabilidade civil do Estado
131 Princiacutepio de Non-Refoulement
Em linhas gerais este princiacutepio do Direito Internacional da natildeo-repulsatildeo disciplina
que o refugiado natildeo pode ser devolvido ao seu paiacutes de origem enquanto perdurar a crise
Vejamos
Art 33 - Proibiccedilatildeo de expulsatildeo ou de rechaccedilo 1 Nenhum dos Estados Contratantes
expulsaraacute ou rechaccedilaraacute de maneira alguma um refugiado para as fronteiras dos
territoacuterios em que a sua vida ou a sua liberdade seja ameaccedilada em virtude da sua
raccedila da sua religiatildeo da sua nacionalidade do grupo social a que pertence ou das
suas opiniotildees poliacuteticas 2 O benefiacutecio da presente disposiccedilatildeo natildeo poderaacute todavia
ser invocado por um refugiado que por motivos seacuterios seja considerado um perigo
para a seguranccedila do paiacutes no qual ele se encontre ou que tendo sido condenado
definitivamente por crime ou delito particularmente grave constitui ameaccedila para
a comunidade do referido paiacutes79
Como visto o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo consta no artigo 33 da Convenccedilatildeo de 1951
e tambeacutem consiste em um princiacutepio do direito internacional consuetudinaacuterio assim como
afirmou a Declaraccedilatildeo Ministerial que ocorreu em 2001 Dessa forma os Estados satildeo
responsaacuteveis por suas accedilotildees tais como reagrupamentos praacuteticas de interceptaccedilatildeo rejeiccedilatildeo
na fronteira ou repulsatildeo indireta Assim discutiu-se sobre a natildeo-repulsatildeo na Comissatildeo de
Direito Internacional das Naccedilotildees Unidas que ocorreu em 31 de maio de 2001 e aprovados
pela Assembleia Geral restando claro que os Estados satildeo responsaacuteveis pelas accedilotildees de
repulsatildeo80
No mesmo sentido o artigo 3ordm da Declaraccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Asilo
Territorial tambeacutem haacute a previsatildeo do princiacutepio non-refoulement assim faz referecircncia ao
79 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951 Op
cit 80 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit
32
primeiro artigo do mesmo documento em que estabelece a possibilidade da concessatildeo de
asilo com base no artigo 14 da Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem81
A proibiccedilatildeo da natildeo-repulsatildeo deve ser aplicada de forma ampla no entanto os atos
relativos agrave rejeiccedilatildeorepulsatildeo de pessoas ocorrem geralmente nos locais de fronteiras isto eacute
distante da visatildeo puacuteblica aleacutem disso o princiacutepio em questatildeo deve ser aplicadorespeitado
inclusive em alto mar e zonas internacionais Considera-se tortura ou tratamentopuniccedilatildeo
desumana eou degradante devolver um indiviacuteduo a um lugar no qual sofre algum tipo de
perseguiccedilatildeo ou ateacute mesmo ameaccedila de perseguiccedilatildeo82 destacando que o princiacutepio da natildeo-
repulsatildeo deve ser analisado juntamente com o artigo 3ordm da CEDH
De uma forma geral natildeo haacute limitaccedilatildeo ou exceccedilatildeo a esse princiacutepio poreacutem em
situaccedilotildees de repelir um indiviacuteduo enviando-o de volta para outro local soacute eacute ldquopermitidardquo
quando houver motivos significantes que afetam a seguranccedila nacional ou a seguranccedila
puacuteblica devendo sempre ter em mente que o indiacuteviduo em hipoacutetese alguma pode ser
enviado para locais natildeo seguros ou seja que tenham seus direitos humanos violados
Apoacutes os atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos os paiacuteses ficaram
mais atentos com a seguranccedila e portanto adotaram controles mais rigorosos de fronteiras
para tentar minimizar as entradas ilegais Mas ao mesmo tempo era necessaacuterio que
garantissem agrave proteccedilatildeo daqueles que desejassem a proteccedilatildeo internacional para os
refugiados83
A amplitude deste princiacutepio abrange inclusive casos de extradiccedilatildeo assim em
situaccedilatildeo que o paiacutes de origem insista na extradiccedilatildeo de uma pessoa que cometeu crime e a
extradiccedilatildeo configurar retorno agrave situaccedilatildeo de perseguiccedilatildeo a acusaccedilatildeo e o processo devem
correr no paiacutes que concedeu o asilo Portanto a Convenccedilatildeo de 1951 natildeo se trata de um
documento para impedir extradiccedilatildeo poreacutem se o status do indiviacuteduo for de refugiado tais
obrigaccedilotildees satildeo do Estado extraditante84 ou seja o indiacuteviduo natildeo deve ser extraditado para
local onde corra o risco de ser submetido agrave tortura e nesse caso o paiacutes de asilo que deve ser
responsaacutevel pelo cumprimento da pena eou processo criminal se for o caso
81 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Declaraccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas Sobre o Asilo Territorial 1967
Disponiacutevel
httpswwwacnurorgfileadminDocumentosportuguesBD_LegalInstrumentos_InternacionaisDeclaracao
_ONU_Asilo_Territorialpdffile=fileadminDocumentosportuguesBD_LegalInstrumentos_Internacionais
Declaracao_ONU_Asilo_Territorial Acesso em 09032020 82 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 83 Ibidem 84 Ibidem
33
Nesse sentido vimos que no item 2 do artigo 33 da Convenccedilatildeo de 1951 consta uma
exceccedilatildeo ao princiacutepio do non-refoulement ou seja este princiacutepio natildeo poderia ser invocado
por um refugiado que possa configurar uma ameaccedila agrave seguranccedila do paiacutes em que estaacute ou que
tenha condenaccedilatildeo por crime ou delito grave que possa consistir em uma ameaccedila para o paiacutes
de asilo85 no entanto em caso de repulsatildeo o Estado deveraacute analisar as condiccedilotildees do paiacutes de
destino natildeo se admite que envie pessoas para locais natildeo seguros
O artigo 32 dispotildee sobre a expulsatildeo e no item 2 disciplina que a possibilidade de
expulsatildeo deve ser realizada com base no devido processo legal como segue
A expulsatildeo desse refugiado somente ocorreraacute em virtude de decisatildeo proferida
conforme o processo previsto por lei A natildeo ser que a isso se oponham razotildees
imperiosas de seguranccedila nacional o refugiado deveraacute ter permissatildeo de fornecer
provas que o justifiquem de apresentar um recurso e de se fazer representar para
esse fim perante uma autoridade competente ou perante uma ou vaacuterias pessoas
especialmente designadas pela autoridade competente86
Dessa forma menciona-se o julgamento Suresh versus Canada da Corte Superior
Canadense em 2002 em que o ACNUR argumentou que a Convenccedilatildeo de 1951 natildeo deve ser
usada para negaccedilatildeo de direitos e do direito internacional de forma geral rejeita a tortura
mesmo em situaccedilotildees de perigo para a seguranccedila nacional O entendimento da Corte era de
que enviar uma pessoa de volta ao perigo constitui em infraccedilatildeo agraves normas internacionais
Assim de acordo com a jurisprudecircncia internacional enviar algueacutem agrave tortura eacute de extrema
gravidade que de qualquer forma seraacute desproporcional agraves questotildees relativas agrave seguranccedila
nacional87
Nesse sentido a Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (CEDH) em seu artigo
3ordm disciplina a proibiccedilatildeo agrave tortura como segue ldquoNingueacutem pode ser submetido a torturas
nem a penas ou tratamentos desumanos ou degradantesrdquo88 Dessa forma um indiviacuteduo natildeo
deve ser devolvido ao seu paiacutes de origem quando houver risco de tortura tratamento
desumano ou degradante ou submetido agrave pena de morte de acordo o Protocolo nordm 6 da
CEDH89
85 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951 Op
cit 86 Ibidem 87 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 88 CONSELHO DA EUROPA Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (CEDH) Disponiacutevel em
httpswwwechrcoeintDocumentsConvention_PORpdf Acesso em 13012020 89 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit
34
A respeito do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo Bethlehem e Lauterpacht expressaram suas
opiniotildees no sentido de que este princiacutepio consiste em um princiacutepio geral do direito
internacional consuetudinaacuterio Assim considera-se que a natildeo-repulsatildeo eacute um componente
imprescindiacutevel da lei internacional consuetudinaacuteria principalmente nas questotildees
humanitaacuterias que envolvem a proibiccedilatildeo da tortura e tratamentos crueacuteis degradantes e
desumanos90
Portanto considera-se que o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo natildeo permite limitaccedilatildeo ou
exceccedilatildeo pois trata-se de um princiacutepio internacional costumeiro de direitos humanos e
considera que natildeo se deve rejeitardevolver ou expulsar algueacutem colocando em risco sua vida
e integridade fiacutesica sendo submetido agrave tortura tratamento desumano e degradante Assim
eacute atribuiacuteda ao Estado a valoraccedilatildeo da natildeo-repulsatildeo e este deve agir de acordo com as
obrigaccedilotildees internacionais tendo por base as normas a respeito da responsabilidade do Estado
Ressalta-se que haacute uma tendecircncia contra exceccedilotildees em princiacutepios baacutesicos de direitos
humanos entatildeo as exceccedilotildees devem ser interpretadas de maneira restritiva e sendo o uacuteltimo
recurso lembrando que natildeo haacute exceccedilatildeo a este princiacutepio quando desrespeitar os direitos
humanos baacutesicos dos indiviacuteduos91
Nesse aspecto tem-se que haacute colisatildeo de interesses no que tange a proteccedilatildeo dos
refugiados pois os Estados tendem a defender seu territoacuterio atraveacutes do controle de imigraccedilatildeo
ilegal Dessa forma a fiscalizaccedilatildeo nas fronteiras como por exemplo nos aeroportos os
refugiados desembarcam junto com as requisiccedilotildees de asilo e muitas vezes ocorre o reenvio
para o paiacutes de origem (para situaccedilotildees de perseguiccedilatildeo) devido o impedimento dos requerentes
de asilo acessar o processo para se enquadrar na situaccedilatildeo de refugiado e requerer tal
proteccedilatildeo92
Haacute tambeacutem a situaccedilatildeo chamada de ldquorefoulement indiretordquo que consiste na ideia de
um outro paiacutes (terceiro) acolher o requerente de asilo poreacutem essa situaccedilatildeo pode levar a
deixar os refugiados ldquoem oacuterbitardquo ou seja natildeo encontra algum Estado que admite a
competecircncia para a anaacutelise do pedido de asilo aleacutem disso pode ocorrer o envio dos
refugiados para Estados em que natildeo haacute garantias de que estes natildeo vatildeo ser reenviados para o
seu paiacutes de origem93
90 BETHLEHEM Daniel LAUTERPACHT Sir E Op cit 91 Ibidem 92 CIERCO Teresa Op cit 93 Ibidem
35
Devido agrave importacircncia desse princiacutepio mais a frente seraacute necessaacuteria uma nova
abordagem aprofundando o assunto e encaminhando para a discussatildeo referente agrave natildeo-
repulsatildeo juntamente com o direito do mar ou seja sobre as pessoas que satildeo encontradas em
perigo no mar e a proibiccedilatildeo de repulsatildeo destas
132 Normas Jus Cogens
O artigo 53 da Convenccedilatildeo de Viena sobre o Direito dos Tratados encontramos a
definiccedilatildeo de norma jus cogens
Artigo 53ordm Tratados incompatiacuteveis com uma norma imperativa de direito
internacional geral (jus cogens) Eacute nulo todo o tratado que no momento da sua
conclusatildeo seja incompatiacutevel com uma norma imperativa de direito internacional
geral Para os efeitos da presente Convenccedilatildeo uma norma imperativa de direito
internacional geral eacute uma norma aceite e reconhecida pela comunidade
internacional dos Estados no seu todo como norma cuja derrogaccedilatildeo natildeo eacute
permitida e que soacute pode ser modificada por uma nova norma de direito
internacional geral com a mesma natureza94 (grifo nosso)
O trecho destacado demonstra a relevacircncia de uma norma jus cogens para o direito
internacional tendo em vista que uma norma dessa natureza apenas poderaacute ser modificada
por outra que tenha o mesmo status ou seja somente uma norma jus cogens pode alterar
uma norma jus cogens jaacute em vigor
Aleacutem disso confirmando a supremacia das normas jus cogens o artigo 64 da
Convenccedilatildeo de Viena traz a seguinte redaccedilatildeo ldquoSuperveniecircncia de uma norma imperativa de
direito internacional geral (jus cogens) - Se sobrevier uma nova norma imperativa de direito
internacional geral qualquer tratado existente que seja incompatiacutevel com essa norma torna-
se nulo e cessa a sua vigecircnciardquo95 Assim ao surgir uma nova norma jus cogens contrariando
algum tratado este deixaraacute de ter valor
Quando falamos que uma norma jus cogens eacute imperativa estamos diante de uma
redundacircncia tendo em vista que as normas de direito internacional satildeo obrigatoacuterias por si
soacute isto eacute no que se refere agrave obrigatoriedade tem-se que eacute intriacutenseca agraves normas dessa
94 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo de Viena sobre o Direito dos Tratados Disponiacutevel
em httpgddcministeriopublicoptsitesdefaultfilesdocumentosinstrumentosrar67-2003pdf Acesso em
11092020 95 Ibidem
36
natureza Sendo assim podemos falar que uma norma jus cogens limita a liberdade dos
Estados96
Entatildeo no que se refere agraves normas jus cogens temos que
Todas essas noccedilotildees ndash direito internacional geral ou mesmo universal obrigaccedilotildees
erga omnes crimes de direito internacional ou graves violaccedilotildees de obrigaccedilotildees
essenciais uma constituiccedilatildeo para a sociedade internacional a ordem puacuteblica
internacional e de modo mais geral a questatildeo da hierarquia normativa ndash
encontram-se de algum modo conectadas a um conceito central do direito
internacional contemporacircneo o jus cogens97
As normas jus cogens portanto satildeo imperativas e inderrogaacuteveis isto eacute satildeo
obrigatoacuterias e natildeo aceitam supressatildeo ou que sejam abolidas de alguma forma Assim as
normas dessa natureza jus cogens satildeo de notaacutevel importacircncia98
No que se refere agrave hierarquia dessas normas conclui-se que elas satildeo de elevada
importacircncia e obrigatoacuterias poreacutem natildeo haacute uma ideia soacutelida sobre suas origens Haacute quem
entenda que as normas jus cogens foram originadas a partir do costume internacional99
Um sistema normativo internacional deve consistir em uma unidade portanto
uniforme Neste aspecto natildeo importa a origem ou objeto de uma norma internacional todas
satildeo colocadas em um mesmo patamar Mas essa ideia eacute ofuscada pelo conceito da teoria das
normas jus cogens bem como pela diferenciaccedilatildeo entre crimes internacionais e delitos
internacionais100
Nesse aspecto pode-se aventar a nulidade de tratados quando houver normas
contraacuterias agraves normas internacionais superiores Entatildeo tendo em vista que a teoria jus cogens
diferencia as regras gerais de direito internacional e de uma categoria especiacuteficas sendo
normas de ldquocuacutepulardquo isto eacute consistem em normas de elite no direito internacional101 Assim
um tratado pode ser anulado em casos de contradiccedilatildeo com as normas jus cogens
Assim notamos uma diferenciaccedilatildeo entre os regimes de responsabilidade
internacional A Comissatildeo de Direito Internacional trouxe a seguinte redaccedilatildeo no artigo 19
96 RODAS Joatildeo G Jus Cogens em Direito Internacional Disponiacutevel em
wwwrevistasuspbrrfdusparticleviewFile6673669346 Acesso em 11092020 97 NASSER Salem H Jus Cogens Ainda esse Desconhecido Disponiacutevel em
httpbibliotecadigitalfgvbrojsindexphprevdireitogvarticleview3523334033 Acesso em 12092020 98 Ibidem 99 Ibidem 100 WEIL Prosper Towards relative normativity in international law The American Journal of International
Law Vol 77 nordm 3 (julho de 1983) p 413 ndash 442 Disponiacutevel em
httpswwwcambridgeorgcorejournalsamerican-journal-of-international-lawarticletowards-relative-
normativity-in-international-lawD494CB41D732291285CBC9F5424FF11C Acesso em 10092020 101 Ibidem
37
dos Draft Articles ldquoThis chapter is without prejudice to the international responsibility
under other provisions of these articles of the State which commits the act in question or of
any other Staterdquo102 Nos comentaacuterios dos Draft Articles estatildeo os propoacutesitos do artigo citado
entatildeo a finalidade do artigo eacute a preservaccedilatildeo da responsabilidade do Estado que tenha
cometido ato internacionalmente iliacutecito103
Nesse sentido o entendimento de Prosper Weil eacute de que artigo citado acima tem o
intuito de diferenciar algumas obrigaccedilotildees internacionais essenciais aos interesses
fundamentais da comunidade internacional que a ocorrecircncia de violaccedilatildeo dessas obrigaccedilotildees
deve ser interpretada como um crime internacional sendo assim com gravidade maior Jaacute a
violaccedilatildeo de todas as outras obrigaccedilotildees internacionais constituiria somente em um delito
internacional Podemos entender essa ideia no trecho abaixo
Here again international norms are divided into two categories at the summit
the few that create obligations ldquothe observance of which is of fundamental
importance to the international community as a wholerdquo then below them the
great mass of norms that create obligations ldquoof lesser and less general
importancerdquo104
Assim nota-se a divisatildeo das normas internacionais as de elitecuacutepula (aquelas que a
observacircncia eacute fundamental para comunidade internacional) e as normas gerais (de menor
importacircncia)
A este respeito faz-se necessaacuterio um parecircntese o Tribunal Internacional de Justiccedila
tem o entendimento de que um Estado tem obrigaccedilotildees perante a comunidade internacional
mas o que seria essa comunidade internacional Ela eacute formada pelos Estados natildeo
necessariamente todos os Estados do mundo mas um conjunto destes para que se forme o
reconhecimento da comunidade internacional Desse ponto podemos dizer que uma norma
eacute hierarquicamente superior quando ela eacute reconhecida por todos os entes essenciais da
comunidade internacional Ou seja uma ldquosupernormardquo eacute oponiacutevel a todos os Estado105
No que se refere agrave hierarquia das normas no direito internacional o professor Jocircnatas
Machado diz
102 UNITED NATIONS Draft articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful Acts with
commentaries Disponiacutevel em httplegalunorgilctextsinstrumentsenglishcommentaries9_6_2001pdf
Acesso em 11092020 103 Ibidem 104 WEIL Prosper Op cit 105 Ibidem
38
No entanto outras linhas argumentativas apoiam-se no valor universal da
manutenccedilatildeo da paz constante na Carta da ONU chamam a atenccedilatildeo para o
desenvolvimento da ideia de ius cogens superior agrave vontade dos Estados ou mais
recentemente procuram afirmar o primado do indiviacuteduo em face da soberania
estadual106
Do exposto as normas jus cogens eacute superior agrave vontade dos Estados tendo em vista
que o indiviacuteduo eacute prevalente perante a soberania de um determinado Estado Tal fato se deve
porque essas normas satildeo ldquosuperioresrdquo com base em fundamentos de legitimidade ou seja
dignidade da pessoa humana direito justiccedila etc referem-se a valores que comunidade
internacional coloca em patamar superior ao consentimento dos Estados107
A este respeito Jocircnatas Machado entende que haacute trecircs teses na doutrina maximalistas
intermeacutedias e minimalistas As maximalistas referem-se ao direito internacional dos direitos
humanos de modo geral ou seja todas satildeo normas jus cogens as intermeacutedias consistem num
niacutevel intermediaacuterio e dispotildeem que apenas o nuacutecleo essencial dos direitos humanos eacute
considerado jus cogens e a tese minimalista dispotildee que se trata de jus cogens se a violaccedilatildeo
das normas de direitos humanos consistirem em um crime internacional108
Do exposto acima podemos entender que as normas jus cogens consistem em normas
imperativas no direito internacional sendo portanto obrigaccedilotildees erga omnes Entatildeo natildeo haacute
rol taxativo de quais satildeo essas normas no entanto podemos dizer que se a violaccedilatildeo de uma
norma internacional configurar um crime internacional ou seja pirataria escravidatildeo
genociacutedio crimes de guerra e os crimes contra a humanidade essa violaccedilatildeo consiste em
violaccedilatildeo de uma norma jus cogens Assim de uma forma gera podemos dizer que a proteccedilatildeo
dos direitos fundamentais refere-se agraves normas jus cogens109
133 Responsabilidade Internacional dos Estados
O conceito de responsabilidade internacional dos Estados se baseia nos conceitos de
soberania internacional e capacidade juriacutedica internacional Ademais a ideia de
responsabilidade internacional do Estado consiste em uma garantia da legalidade
106 MACHADO Joacutenatas E M Direito Internacional 4ordf ediccedilatildeo Coimbra Coimbra Editora 2013 p 141 107 Ibidem 108 Ibidem 109 Ibidem
39
internacional isto eacute no que se refere agrave violaccedilatildeo de bens que satildeo internacionalmente
protegidos que essa garantia eacute necessaacuteria para promoccedilatildeo da proteccedilatildeo de direitos110
Tem-se que a responsabilidade internacional deve se basear nos princiacutepios da
igualdade e da reciprocidade de direitos e deveres A este respeito o Professor Joacutenatas
Machado diz
Podem incorrer em responsabilidade internacional quaisquer sujeitos de direito
internacional por danos causados a qualquer sujeito de direito internacional ou agrave
comunidade internacional globalmente considerada A responsabilidade dos
Estados eacute apenas um subtema da responsabilidade internacional em geral111
O Professor Francisco Ferreira de Almeida em um primeiro momento diferencia
normas primaacuterias e secundaacuterias entatildeo as primaacuterias satildeo ldquoobrigaccedilotildees de conduta para os
destinataacuteriosrdquo e as secundaacuterias ldquofixar as particulares consequecircncias juriacutedicas que se ligam agrave
violaccedilatildeo das normas primaacuteriasrdquo Entatildeo podemos afirmar que haacute normas de condutas a serem
seguidas sendo portanto normas primaacuterias no entanto na situaccedilatildeo de violaccedilatildeo destas
falamos das sanccedilotildees que consistem nas normas secundaacuterias112
Assim no que tange agrave responsabilidade internacional do Estado por atos iliacutecitos
devemos ter em mente em um primeiro momento sobre o que seria um ato
internacionalmente iliacutecito que resulta na responsabilidade internacional subjetiva Entatildeo
entende-se como ato iliacutecito uma accedilatildeo ou omissatildeo que infrinja uma obrigaccedilatildeo
internacional113
Complementando a ideia o Professor Francisco Ferreira de Almeida dispotildee
Daqui resulta pois ser necessaacuterio em segundo lugar demonstrar o nexo de
imputaccedilatildeo do referido facto iliacutecito ao Estado Isto eacute o comportamento em causa
deveraacute ser atribuiacutedo ao Estado por haver sido adoptado por pessoas ou oacutergatildeos que
o representam e estatildeo por consequecircncia sob sua autoridade efectiva Pouco
importam aliaacutes a natureza (individual ou colectiva centralizada ou
descentralizada etc) desses oacutergatildeos e bem assim o caraacuteter (vg legislativo
judicial ou executivo) das funccedilotildees ou actividades do agente ou agentes
infractores114
110 MACHADO Joacutenatas E M Direito Internacional Op cit 111 Ibidem p 630 112 ALMEIDA Francisco F Direito Internacional Puacuteblico 2ordf ediccedilatildeo Coimbra Coimbra Editora 2003 p 226 113 Ibidem 114 Ibidem p 226227
40
Diante disto nota-se que o Estado tem responsabilidade pelos atos praticados pelos
seus oacutergatildeos ou agentes que estejam sob sua supervisatildeo Ademais eacute necessaacuteria a ocorrecircncia
de danos para que um Estado seja responsaacutevel internacionalmente natildeo importando se os
danos causados satildeo morais ou materiais necessaacuterio apenas a ocorrecircncia Portanto exige-se
o nexo causal entre a accedilatildeo do Estado e o dano causado115
No que se refere agrave responsabilidade do Estado Pinto de Albuquerque ex-juiz do
TEDH leciona que a jurisdiccedilatildeo do Estado no que tange imigraccedilatildeo e controle de fronteiras
implica que em caso de quaisquer violaccedilotildees dos direitos humanos haacute a responsabilidade do
Estado durante o referido controle e mencionou a Resoluccedilatildeo 5683 de 2001 sobre a
Responsabilidade do Estado por Atos Internacionalmente Iliacutecitos116
Assim o artigo 8ordm da referida Resoluccedilatildeo visa que o Estado eacute responsaacutevel pela conduta
dos seus agentes pois agem sob suas instruccedilotildees Como segue ldquoThe conduct of a person or
group of persons shall be considered an act of a State under international law if the person
or group of persons is in fact acting on the instructions of or under the direction or control
of that State in carrying out the conductrdquo117
No mesmo sentido poreacutem em situaccedilatildeo de Estados auxiliando outro o artigo 16 do
mesmo documento traz a seguinte redaccedilatildeo
A State which aids or assists another State in the commission of an internationally
wrongful act by the latter is internationally responsible for doing so if (a) that
State does so with knowledge of the circumstances of the internationally wrongful
act and (b) the act would be internationally wrongful if committed by that State118
Portanto um Estado que age em assistecircncia a outro e comete algum ato
internacionalmente iliacutecito o Estado que recebe a assistecircncia eacute responsaacutevel tambeacutem se souber
da ilicitude do ato e o ato ser cometido pelo Estado em questatildeo No que se refere agrave
responsabilidade do Estado esse artigo traz a ideia de um Estado auxiliar ser responsaacutevel
por atos iliacutecitos de outro Estado ou seja uma situaccedilatildeo de cumplicidade entre os estados
Assim nos comentaacuterios dos Drafts Articles tem-se a suposiccedilatildeo de que o Estado auxiliar
tenha uma importante participaccedilatildeo no ato neste aspecto o fornecimento de auxiacutelio
115 ALMEIDA Francisco F Direito Internacional Puacuteblico Op cit 116 EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Hirsi Jamaa and others v Italy Application no
2776509 Disponiacutevel em httphudocechrcoeintspai=001-109231 Acesso em 16092020 117 UNITED NATIONS Draft articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful Acts with
commentaries Op cit 118 Ibidem
41
financeiro e teacutecnico por um Estado pode ser considerada uma importante contribuiccedilatildeo para
o ato Ou seja no uacuteltimo capiacutetulo veremos entre outros casos algumas situaccedilotildees a respeito
da situaccedilatildeo entre Itaacutelia e Liacutebia e portanto analisando a responsabilidade da Itaacutelia perante as
repulsotildees realizadas pela Guarda Costeira Liacutebia sob subsiacutedios italianos
O artigo 16 mencionado acima traz dois requisitos para ser configurada a
responsabilidade do Estado auxiliar o primeiro eacute a ldquoconsciecircnciardquo da ilicitude do ato pelo
Estado auxiliar o segundo eacute que a conduta iliacutecita deve ser considerada violaccedilatildeo para os dois
paiacuteses Entatildeo uma violaccedilatildeo dos direitos humanos a proibiccedilatildeo da tortura por exemplo eacute
uma norma consuetudinaacuteria e portanto a conduta eacute iliacutecita para todos os Estados
Na mesma linha de raciociacutenio o artigo 41 nordm 2 dos Drafts Articles traz que ldquoNo
State shall recognize as lawful a situation created by a serious breach within the meaning
of article 40 nor render aid or assistance in maintaining that situationrdquo ou seja nenhum
Estado pode reconhecer como conduta legal uma grave violaccedilatildeo e tambeacutem natildeo deve prestar
auxiacutelio para manter a situaccedilatildeo gravosa119
A atenccedilatildeo referente agrave responsabilidade internacional do Estado ganhou espaccedilo a
depois do ano de 1956 momento em que a Comissatildeo de Direito Internacional (CDI) da ONU
voltou seus olhares agrave responsabilidade internacional do Estado perante aos cidadatildeos Neste
aspecto a questatildeo era se a responsabilidade internacional do Estado consistia ldquoapenas
civilmente por delitos internacionais civilmente para crimes internacionais ou
criminalmente para crimes internacionaisrdquo120
Destarte em 2001 a 53ordf sessatildeo da Comissatildeo de Direito Internacional da ONU previu
artigos a respeito da responsabilidade do Estado por atos iliacutecitos internacionais121 Entatildeo no
segundo artigo do documento originado desta sessatildeo encontramos o seguinte
Article 2 Elements of an internationally wrongful act of a State
There is an internationally wrongful act of a State when conduct consisting of an
action or omission (a) is attributable to the State under international law and
(b) constitutes a breach of an international obligation of the State122
119 UNITED NATIONS Draft articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful Acts with
commentaries Op cit 120 MACHADO Joacutenatas E M Direito Internacional Op cit p 633 121 Ibidem 122 UNITED NATIONS Draft articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful Acts with
commentaries Op cit
42
Do artigo acima um ato internacionalmente iliacutecito quando praticado por um Estado
tem duas formas de ser cometido por accedilatildeo ou omissatildeo ou seja quando se refere agrave situaccedilotildees
atribuiacutedas ao Estado pela lei internacional ou quando houver uma violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees
internacionais pelo Estado Veremos entatildeo mais adiante que a questatildeo de natildeo resgate no
mar das pessoas em agonia pode consistir em um ato iliacutecito do Estado caso este natildeo preste
socorro agraves viacutetimas
A previsatildeo no Customary International Humanitarian Law na regra nuacutemero 150
encontramos a seguinte redaccedilatildeo ldquoA State responsible for violations of international
humanitarian law is required to make full reparation for the loss or injury causedrdquo123
portanto o mencionado documento dispotildee que reparar o dano causado eacute uma regra antiga
no direito internacional consuetudinaacuterio
No mesmo sentido o artigo 91 do Protocolo Adicional I agrave Convenccedilatildeo de Genebra124
de 1949 dispotildee sobre a responsabilidade do Estado disciplinando no sentido de que um
Estado que infringir o previsto na Convenccedilatildeo tem o dever de compensar os danos causados
Como podemos confirmar no seguinte trecho ldquoA Party to the conflict which violates the
provisions of the Conventions or of this Protocol shall if the case demands be liable to pay
compensation It shall be responsible for all acts committed by persons forming part of its
armed forcesrdquo125
Portanto um Estado ao violar o direito humanitaacuterio tem o dever de indenizar
Ademais nos dispositivos a respeito da responsabilidade do Estado consta que a restituiccedilatildeo
se trata de um princiacutepio legal mas nem sempre eacute possiacutevel ou adequado ao caso a este
respeito entende-se que o papel da compensaccedilatildeo eacute o preenchimento das lacunas a fim de
assegurar a reparaccedilatildeo integral dos danos causados Assim a obrigaccedilatildeo de compensar os
danos causados por violaccedilatildeo ao direito internacional humanitaacuterio foi ratificada por diversos
diplomas oficiais bem como pelo Conselho de Seguranccedila da ONU126 No entanto sabe-se
123 INTERNATIONAL COMMITTEE OF THE RED CROSS Customary International Humanitarian Law ndash
Volume I Rules Disponiacutevel httpswwwicrcorgendocassetsfilesothercustomary-international-
humanitarian-law-i-icrc-engpdf Acesso em 11092020 124 A Convenccedilatildeo de Genebra de 1949 levou em consideraccedilatildeo os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial
abordando a proteccedilatildeo geral das populaccedilotildees contra certas consequecircncias da guerra 125 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Protocolo Adicional I da Convenccedilatildeo de Genebra de 1949
Disponiacutevel em httpsihl-
databasesicrcorgapplicihlihlnsfArticlexspaction=openDocumentampdocumentId=F461FC196C18A52D
C12563CD0051E2AC Acesso em 11092020 126 INTERNATIONAL COMMITTEE OF THE RED CROSS Customary International Humanitarian Law ndash
Volume I Rules Op cit
43
que dependendo da gravidade do dano moral causado natildeo importa o valor da indenizaccedilatildeo
pois muitas vezes satildeo danos de impossiacutevel reparaccedilatildeo poreacutem o um valor indenizatoacuterio justo
pode fazer com que o sofrimento seja amenizado
134 Teorias a Respeito da Responsabilidade Internacional dos Estados
Nesse aspecto o Professor Jocircnatas Machado dispotildee a respeito de diversas teorias a
respeito da responsabilidade internacional do Estado quais sejam tese da responsabilidade
sui generis tese dos iliacutecitos excepcionalmente graves tese dos crimes de Estado e tese dos
crimes e delitos
A primeira traz posicionamento contraacuterio ao entendimento de que o Estado possa
cometer um ldquocrime internacionalrdquo porque o cometimento de crime seria apenas
responsabilidade de indiviacuteduos e natildeo de um Estado entatildeo esta teoria leva em conta quais
normas foram violadas e verificar os pontos de vista a respeito da responsabilidade do Estado
e encontrar a melhor soluccedilatildeo natildeo devendo portanto ultrapassar os limites de
responsabilidade civil ou criminal consistindo em uma responsabilidade sui generis127
A tese dos iliacutecitos excepcionalmente graves segue no mesmo sentido da ideia da
teoria anterior mas entende ser correta a expressatildeo ldquoatos iliacutecitos excepcionalmente gravesrdquo
a fim de natildeo diferenciar ldquodelitosrdquo e ldquocrimesrdquo Entatildeo esta teoria entende que o Estado pode
cometer uma grave violaccedilatildeo de obrigaccedilatildeo internacional e a responsabilidade natildeo
necessariamente seraacute criminal entatildeo pode consistir em uma responsabilidade internacional
civil compensatoacuteriareparatoacuteria poreacutem ressalta-se que natildeo se deve excluir uma
responsabilidade sancionatoacuteriapunitiva eacute por este motivo que se fala a respeito do caraacuteter
sui generis da responsabilidade internacional dos Estados128
A tese dos crimes de Estado dispotildee que atos iliacutecitos excepcionalmente graves satildeo
ldquocrimes internacionaisrdquo mas ditos de forma diferente e entatildeo chega-se agrave ideia de crimes de
Estado e igualmente de caraacuteter sui generis tendo em vista que natildeo haacute a necessidade de ter
o mesmo procedimento que o direito penal nacional Assim destaca-se as sanccedilotildees que o
Conselho de Seguranccedila da ONU impocircs agrave Liacutebia por atos terroristas neste caso portanto haacute
uma responsabilidade sancionatoacuteria129
127 MACHADO Joacutenatas E M Direito Internacional Op cit 128 Ibidem 129 Ibidem
44
Por fim a teoria dos crimes e delitos ressalta a importacircncia da diferenciaccedilatildeo dos dois
conceitos Assim o mais importante eacute a ideia de crime por consistir em ldquocondutas violentas
que suscitem a reprovaccedilatildeo da opiniatildeo puacuteblica mundialrdquo130 Sobre o assunto o Professor
Jocircnatas Machado diz
Aleacutem disso certas condutas qualificadas pelo direito internacional como crimes
contra a humanidade crimes de guerra e crimes contra a paz transcendem
largamente a vontade dos indiviacuteduos que os cometem tendo por detraacutes uma
orientaccedilatildeo poliacutetica estadual pelo que seria iloacutegico reduzi-los agrave expressatildeo de meros
crimes individuais prescindindo da responsabilizaccedilatildeo dos Estados131
Diante do que foi mencionado destaca-se a relativizaccedilatildeo da soberania do Estado no
direito internacional que tem por base a ideia de ldquocrimes internacionaisrdquo132 Assim levando
em conta a existecircncia dos ldquocrimes de Estadordquo eacute necessaacuterio a existecircncia de oacutergatildeos e
procedimentos para fins de investigaccedilatildeo destas condutas bem como consequecircncias juriacutedicas
como
()imposiccedilatildeo de multas lsquoindemnizaccedilotildees punitivasrsquo (punitive damages) a
adopccedilatildeo de contra-medidas a absoluta proibiccedilatildeo de quaisquer efeitos juriacutedicos aos
crimes a privaccedilatildeo da imunidade estadual aos titulares dos oacutergatildeos de soberania e
outras medidas da mais diversa natureza susceptiacuteveis de afectar a dignidade de o
Estado criminoso133
Entatildeo a respeito dessa uacuteltima teoria nota-se uma maior responsabilizaccedilatildeo ao Estado
infrator tendo por base a ideia deste como um sujeito no direito internacional com
capacidade de cometer crimes ou seja os chamados ldquocrimes de Estadordquo Portanto podem
ser impostas medidas sancionatoacuterias ao Estado infrator sendo reduzida a sua soberania a fim
de imposiccedilotildees de sanccedilotildees
135 Imputabilidade dos Estados
Ao falar da imputabilidade dos Estados refere-se agrave ideia de um Estado praticar atos
iliacutecitos internacionais atraveacutes dos seus poderes (legislativo executivo e judiciaacuterio) das
forccedilas armadas ou por qualquer outro oacutergatildeoentidade considerada de direito puacuteblico134
130 MACHADO Joacutenatas E M Direito Internacional Op cit p 636 131 Ibidem p 636 132 Ibidem 133 Ibidem p 636637 134 Ibidem
45
Entatildeo a imputabilidade de atos iliacutecitos a um Estado ocorre quando seus agentes ultrapassam
os limites dos poderes que lhe foram dados e que pode incorrer em casos omissivos ou
comissivos conforme vimos acima a previsatildeo nos Drafts Articles
Podemos entatildeo depreender que o Estado agindo de forma omissa nos casos de
proteccedilatildeo aos direitos humanos faz com que o Estado tenha responsabilidade pelos danos
causados por essa omissatildeo pois consiste em natildeo-vigilacircncia de um direito de proteccedilatildeo
Ademais ao natildeo cumprir com uma obrigaccedilatildeo internacional tambeacutem se imputa a um
determinado Estado de forma objetiva135
Na visatildeo de Canccedilado Trindade juiz do Tribunal Internacional de Justiccedila na
ocorrecircncia de grave violaccedilatildeo de direitos humanos pouco importa a diferenciaccedilatildeo de jure
imperii (atos cometidos pelo proacuteprio governo) e jure gestionis (atos praticados por entes
privados com aquiescecircncia do Estado) Para o magistrado tal classificaccedilatildeo natildeo tem
importacircncia devido a gravidade dos atos e portanto o Estado deve ser responsabilizado136
136 Violaccedilatildeo de uma Obrigaccedilatildeo Internacional
A respeito da violaccedilatildeo de uma obrigaccedilatildeo internacional dois pontos devem ser
analisados sobre qual a forma de violaccedilatildeo ocorreu ou seja se foi violaccedilatildeo de obrigaccedilotildees
entre Estados atraveacutes de tratados e obrigaccedilotildees dos Estados perante a comunidade
internacional Assim o primeiro ponto referente a obrigaccedilotildees inter partes refere-se a
descumprimentos de tratados bilaterais ou multilaterais jaacute o segundo ponto eacute referente agrave
proteccedilatildeo de um interesse coletivo acordado em tratados multilaterais abertos137
No entanto quanto agraves obrigaccedilotildees dos Estados perante a comunidade internacional
sendo estas obrigaccedilotildees erga omnes fundamento eacute o interesse puacuteblico comunitaacuterio
internacional138
Acima jaacute explicamos que a Comissatildeo de Direito Internacional rejeitou os termos
ldquocrimes internacionaisrdquo ldquocrimes de Estadordquo e inclusive ldquoiliacutecito excepcionalmente graverdquo
Nesse sentido chegaram ao termo ldquoviolaccedilotildees graves de obrigaccedilotildees internacionaisrdquo ou seja
135 MACHADO Joacutenatas E M Direito Internacional Op cit 136 INTERNATIONAL COURT OF JUSTICE Jurisdictional Immunities of the State (Germany v Italy
Greece intervening) General List Nordm 143 Disponiacutevel em httpswwwicj-cijorgencase143 Acesso em
11092020 137 MACHADO Joacutenatas E M Direito Internacional Op cit 138 Ibidem
46
os serious breach Entatildeo satildeo consideradas violaccedilotildees graves quando se tratar de violaccedilotildees
de normas jus cogens pois consistem em normas imperativas de direito internacional
137 Princiacutepio Non-Refoulement como Norma Jus Cogens
Como exposto anteriormente o princiacutepio do non-refoulement eacute de extrema
importacircncia na proteccedilatildeo internacional dos refugiados previsto no artigo 33 da Convenccedilatildeo
de 1951 Dessa forma seraacute demonstrado a seguir que o referido princiacutepio consiste em norma
jus cogens do Direito Internacional sendo portanto uma norma de elite natildeo aceitando
qualquer transgressatildeo independentemente se for unilateral bilateral ou multilateral Vimos
que ao se afirmar que determinada regra tem natureza de jus cogens os Estados estatildeo
proibidos de violar essa norma Entatildeo caracterizar o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo como norma
desta natureza configura um poderoso instrumento a fim de salvaguardar a proteccedilatildeo dos
refugiados
Aleacutem da Convenccedilatildeo de 1951 outros tratados de direitos humanos como a
Convenccedilatildeo Contra a Tortura de 1984 que em seu artigo terceiro nordm1 traz a proibiccedilatildeo de
enviar uma pessoa de volta a um paiacutes em que seraacute submetido agrave tortura como segue
ldquoNenhum Estado Parte procederaacute agrave expulsatildeo devoluccedilatildeo ou extradiccedilatildeo de uma pessoa para
outro Estado quando houver razotildees substanciais para crer que a mesma corre perigo de ali
ser submetida agrave torturardquo139
Neste aspecto destaca-se o ponto de que a Convenccedilatildeo Contra a Tortura mencionada
acima eacute mais ampla que a Convenccedilatildeo de 1951 tendo em vista que a primeira natildeo comporta
nenhuma exceccedilatildeo ou seja ningueacutem deveraacute ser enviado para algum local onde seraacute
submetido agrave tortura e a segunda traz consigo algumas exceccedilotildees140 Tal fato demonstra que
o princiacutepio do non-refoulement eacute absoluto natildeo comportando nenhuma violaccedilatildeo quando
analisado agrave luz da Convenccedilatildeo Contra a Tortura Ambas Convenccedilotildees satildeo documentos que
referem-se agrave proteccedilatildeo dos indiviacuteduos bem como proteccedilatildeo da vida assim ainda que a
Convenccedilatildeo de 1951 tenha previsto exceccedilotildees ao princiacutepio em questatildeo se um Estado
139 NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Crueacuteis Desumanos ou
Degradantes 1984 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto1990-1994D0040htm
Acesso em 12092020 140 PAULA Bruna V O Princiacutepio do Non-Refoulement sua Natureza Jus Cogens e a Proteccedilatildeo Internacional
dos Refugiados 2006 Disponiacutevel em httpsrevistaibdhorgbrindexphpibdhissueview14 Acesso em
12092020
47
promover a devoluccedilatildeo de algueacutem para lugar onde poderaacute ser submetido agrave tortura e
consequentemente ter sua vida em risco estaraacute violando a Convenccedilatildeo Contra a Tortura
Portanto apesar das exceccedilotildees previstas na Convenccedilatildeo de 1951 elas natildeo podem ser aplicadas
sob pena de violaccedilatildeo do artigo 3ordm nordm1 da Convenccedilatildeo Contra a Tortura
Dessa forma a Convenccedilatildeo de 1951 natildeo deve ser interpretada de forma isolada mas
deve ter por base os tratados de direitos humanos que complementam a garantia de proteccedilatildeo
agravequeles que necessitam ser protegidos A interpretaccedilatildeo portanto deve ser entendida dentro
do complexo juriacutedico (tratados e jurisprudecircncias)141
Ademais como jaacute visto anteriormente uma norma para ter a natureza de jus cogens
precisa cumprir dois requisitos previstos no artigo 53 da Convenccedilatildeo de Viena como segue
ldquo()uma norma aceite e reconhecida pela comunidade internacional dos Estados no seu todo
como norma cuja derrogaccedilatildeo natildeo eacute permitida ()142rdquo Portanto os dois pontos para uma
norma ser considerada jus cogens consistem em ser aceita pela comunidade internacional e
natildeo admitir derrogaccedilatildeo
Assim no que se refere ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo temos que tal princiacutepio eacute
reconhecido e aceite no todo pela comunidade internacional dos Estados pois estaacute prevista
na Convenccedilatildeo de 1951 bem como em outros tratados de direitos humanos como por
exemplo Convenccedilatildeo Contra a Tortura de 1984 jaacute mencionada anteriormente Convenccedilatildeo
Sobre os Refugiados da OUA de 1969 Convenccedilatildeo Americana Sobre os Direitos Humanos
de 1969 entre outras portanto o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo deve ser visto como uma garantia
fundamental ao refugiado pois assegura seus direitos miacutenimos como a natildeo tortura e a vida
No que tange a derrogaccedilatildeo agrave proacutepria Convenccedilatildeo de 1951 traz no artigo 42 nordm1 que
os artigos admitem reservas com exceccedilatildeo de alguns sendo que o artigo 33 referente ao
princiacutepio da natildeo-repulsatildeo natildeo admite reservas Vejamos ldquoArt 42 - Reservas 1 No momento
da assinatura da ratificaccedilatildeo ou da adesatildeo qualquer Estado poderaacute formular reservas aos
artigos da Convenccedilatildeo outros que natildeo os arts 1ordm 3ordm 4ordm 16 (1) 33 36 a 46 inclusiverdquo143 o
mesmo dispotildee o artigo 7 nordm1 do Protocolo de 1967 No mesmo sentido a interpretaccedilatildeo
conjunta do artigo 3ordm nordm1 e o artigo 2ordm nordm 2 ambos da Convenccedilatildeo Sobre a Tortura de 1984
podemos depreender que o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo previsto no artigo 3ordm natildeo pode ser
derrogado pois no artigo 2ordm dispotildee que ldquoEm nenhum caso poderatildeo invocar-se circunstacircncias
141 PAULA Bruna V Op cit 142 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo de Viena sobre o Direito dos Tratados Op cit 143 Ibidem
48
excepcionais tais como ameaccedila ou estado de guerra instabilidade poliacutetica interna ou
qualquer outra emergecircncia puacuteblica como justificaccedilatildeo para torturardquo144 No entanto mesmo se
pairasse alguma duacutevida sobre a natildeo-derrogabilidade do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo a
Resoluccedilatildeo 52132 das Naccedilotildees Unidas traz expressamente ldquo() and recalling that the
principle of non-refoulement is not subject to derogation145rdquo
Nesse prisma podemos afirmar que o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo consiste em uma
norma de natureza jus cogens e por este motivo eacute uma norma superior devendo ser
obedecida pelos Estados e em caso de violaccedilatildeo o Estado violador deveraacute ser
responsabilizado
144 NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Crueacuteis Desumanos ou
Degradantes 1984 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto1990-1994D0040htm
Acesso em 12092020 145 GENERAL ASSEMBLY UNITED NATIONS Resolution Adopted by the General Assembly ndash Resolution
52132 Human rights and mass exoduses 1998 Disponiacutevel em httpsundocsorgenARES52132 Acesso
em 12092020
49
CAPIacuteTULO 2
O ASILO NA ORDEM JURIacuteDICA EUROPEIA E NACIONAIS
Este capiacutetulo eacute destinado ao estudo da legislaccedilatildeo europeia a respeito do procedimento
de asilo bem como de legislaccedilotildees a respeito de alguns Estados europeus como Itaacutelia
Portugal Greacutecia Malta Espanha Franccedila e Alemanha Para isso em um primeiro momento
seraacute feita a anaacutelise do instituto de asilo para posteriormente analisar a ordem juriacutedica
internacional europeia e nacionais sobre o assunto
Assim foi a partir do seacuteculo XX que o fluxo de refugiados na Europa intensificou
ocasionado por vaacuterios fatos como por exemplo o fim dos impeacuterios russo e otomano a
ascensatildeo dos governos totalitaristas o comunismo que foi ressaltado no leste europeu apoacutes
a Segunda Guerra Mundial e mais recentemente a Primavera Aacuterabe146 Dessa forma passa-
se a analisar o instituto do asilo
21 O Asilo Aspectos Gerais
Inicialmente destaca-se que o instituto do asilo estaacute previsto no Tratado de Lisboa
no artigo 3ordm como segue
A Uniatildeo proporciona aos seus cidadatildeos um espaccedilo de liberdade
seguranccedila e justiccedila sem fronteiras internas em que seja assegurada a livre
circulaccedilatildeo de pessoas em conjugaccedilatildeo com medidas adequadas em
mateacuteria de controlos na fronteira externa de asilo e imigraccedilatildeo bem
como de prevenccedilatildeo da criminalidade e combate a este fenoacutemeno147
Assim logo no iniacutecio do Tratado percebemos que a questatildeo do asilo e imigraccedilatildeo eacute
assunto importante para a Uniatildeo Europeia e que por isso deve haver medidas adequadas a
este respeito bem como assuntos de controle das fronteiras portanto eacute niacutetido o destaque
que a soberania de um paiacutes tem a respeito da questatildeo do asilo assunto que seraacute abordado
adiante
146 CIERCO Teresa Op cit 147 UNIAtildeO EUROPEIA Tratado de Lisboa Disponiacutevel em
httpswwwparlamentopteuropaDocumentsTratado_Versao_Consolidadapdf Acesso em 31032020
50
A respeito da conceitualizaccedilatildeo do asilo Teresa Cierco dispotildee ldquoO asilo consiste numa
praacutetica antiga de concessatildeo de protecccedilatildeo a algueacutem em perigo () Asilo eacute o que o refugiado
procura quando sente que a sua vida ou liberdade estatildeo ameaccediladas no seu paiacutes de origemrdquo148
portanto trata-se de uma proteccedilatildeo concedida a estrangeiro em determinado Estado Assim
a referida proteccedilatildeo tem o objetivo de promover a seguranccedila do indiviacuteduo sendo esta um
direito fundamental previsto na Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem de 1948149
Haacute tambeacutem a Declaraccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre Asilo Territorial que no artigo 1ordm
nordm 1 traz a seguinte disposiccedilatildeo ldquoO asilo concedido por um Estado no exerciacutecio da sua
soberania a pessoas que tenham justificaccedilatildeo para invocar o artigo 14ordm da Declaraccedilatildeo
Universal dos Direitos do Homem ()rdquo150 Portanto o referido dispositivo traz que questatildeo
de conceder asilo estaacute inserida na questatildeo da soberania estatal tendo por base o direito de
asilo previsto na Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem
A professora Teresa Cierco chama a atenccedilatildeo no sentido de que aleacutem da Convenccedilatildeo
de 1951 a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem de 1948 tambeacutem merece destaque
nas questotildees atinentes agrave questatildeo do asilo pois em seu artigo 3ordm dispotildee ldquoTodo ser humano
tem direito agrave vida agrave liberdade e agrave seguranccedila pessoalrdquo e aleacutem deste os artigos 13 e 14 nos
quais dispotildeem a respeito agrave liberdade de locomoccedilatildeo bem como o direito de asilo
respectivamente151
Assim chama-se a atenccedilatildeo para a redaccedilatildeo do artigo 14 da Declaraccedilatildeo Universal dos
Direitos do Homem como segue
1 Todo ser humano viacutetima de perseguiccedilatildeo tem o direito de procurar e de gozar
asilo em outros paiacuteses
2 Este direito natildeo pode ser invocado em caso de perseguiccedilatildeo legitimamente
motivada por crimes de direito comum ou por atos contraacuterios aos objetivos e
princiacutepios das Naccedilotildees Unidas152
No mencionado dispositivo percebemos que no nordm 1 nada mais eacute que uma alusatildeo ao
conceito de refugiado ou seja a pessoa viacutetima de perseguiccedilatildeo tem o direito de procurar asilo
148 CIERCO Teresa Op cit p15 149 Ibidem 150 NACcedilOtildeES UNIDAS Declaraccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas Sobre o Asilo Territorial 1967 Disponiacutevel
httpswwwacnurorgfileadminDocumentosportuguesBD_LegalInstrumentos_InternacionaisDeclaracao
_ONU_Asilo_Territorialpdffile=fileadminDocumentosportuguesBD_LegalInstrumentos_Internacionais
Declaracao_ONU_Asilo_Territorial Acesso em 09032020 151 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem 1948
Disponiacutevel em httpsnacoesunidasorgwp-contentuploads201810DUDHpdf Acesso em 05032020 152 Ibidem
51
e ter uma vida digna ressalta-se poreacutem que no nordm2 haacute uma exceccedilatildeo agrave concessatildeo de asilo
isto eacute pessoas que cometeram crimes de direito comum ou que praticaram atos contraacuterios
aos princiacutepios e ideais das Naccedilotildees Unidas em teoria natildeo poderiam invocar direito de asilo
No entanto vimos que o indiviacuteduo natildeo deve requerer asilo a fim de se livrar das penalidades
impostas devido ao cometimento de crimes mas caso a pessoa corra o risco de ter seus
direitos humanos baacutesicos violados ela poderaacute cumprir a pena no local de asilo
No que tange a Convenccedilatildeo de 1951 quando um indiviacuteduo eacute reconhecido como
refugiado haacute o direito de asilo ou seja esse instituto consiste na proteccedilatildeo do indiviacuteduo tanto
na questatildeo da seguranccedila fiacutesica como tambeacutem engloba o direito de natildeo ser enviado de volta
ao paiacutes que o perseguia e tambeacutem ter agrave sua disposiccedilatildeo assistecircncia na soluccedilatildeo de problemas
referentes a sua inserccedilatildeo no novo paiacutes153
O real intuito da Convenccedilatildeo natildeo eacute instituir o direito de asilo apesar de ter esse efeito
uma vez que a pessoa adquire o status de refugiado ela possui o direito de receber o
benefiacutecio de asilo poreacutem as normas da concessatildeo do asilo ficam a criteacuterio de cada Estado
Neste aspecto cita-se como instrumentos limitadores do Estado o princiacutepio da natildeo repulsatildeo
e natildeo expulsatildeo como jaacute vimos anteriormente bem como a limitaccedilatildeo das sanccedilotildees penais
para quem entrar de forma ilegal no paiacutes154
Assim entende-se que o direito de asilo consiste em um direito que se submete agrave
soberania de cada paiacutes ou seja cada paiacutes tem a sua normatizaccedilatildeo a respeito do asilo que
deve ser seguida portanto tendo caraacuteter poliacutetico mas aleacutem de um direito poliacutetico consiste
em um direito cultural pressupondo um elo de normas entre as democracias e a
universalidade dos direitos humanos Portanto o asilo depende dos interesses de cada paiacutes
mas tambeacutem haacute o lado solidaacuterio dos Estados em socorrer as pessoas que necessitam de
proteccedilatildeo155 Diz-se portanto que os Estados possuem o poder soberano de disciplinar as
regras a respeito do asilo mas sendo limitado pelos direitos humanos
Cita-se tambeacutem a CAS ou seja Convenccedilatildeo de Aplicaccedilatildeo do Acordo de Schengen
elaborada no ano de 1985 que traz os conceitos de ldquopedido de asilordquo ldquorequerente de asilordquo
e ldquotratamento de um pedido de asilordquo Assim o primeiro consiste em qualquer pedido
apresentado por estrangeiro que esteja na fronteira externa ou no territoacuterio de uma parte
contratante podendo o pedido ser feito oralmente escrito ou qualquer outra forma e que
153 CIERCO Teresa Op cit 154 Ibidem 155 Ibidem
52
tenha intuito de que se reconheccedila a condiccedilatildeo de refugiado do requerente a fim de se obter a
autorizaccedilatildeo de residecircncia ressalta-se que se deve ter como base a Convenccedilatildeo de Genebra
1951 e o Protocolo de 1967 no que se refere ao segundo conceito consiste no estrangeiro
que requereu asilo nas condiccedilotildees previstas na CAS e ainda natildeo teve decisatildeo e por fim
entende-se por tratamento de um pedido de asilo os atos realizados durante o procedimento
ou seja os atos de anaacutelise e decisatildeo bem como as medidas a serem aplicadas156
211 O Asilo e a Soberania do Estado
Antes de analisar a questatildeo da soberania propriamente dita eacute necessaacuterio entender a
ideia de ldquoterritoacuteriordquo ou seja trata-se de um elemento fundamental do Estado sendo
constituiacutedo por partes continentais delimitado pelas suas fronteiras bem como o territoacuterio
mariacutetimo (composto pelas aacuteguas interiores arquipelaacutegicas e o mar territorial)157
Assim a questatildeo do asilo esbarra num dos pontos mais importantes do Direito
Internacional Puacuteblico que eacute a soberania do Estado e dentro deste conceito inclui o controle
de entrada saiacuteda e permanecircncia no territoacuterio de um determinado paiacutes Nesse sentido Teresa
Cierco explica ldquo() enquanto exerciacutecio de soberania estatal o direito de asilo eacute em direito
internacional o direito que um Estado tem em conceder protecccedilatildeo sobre o seu territoacuterio a
algueacutem que o solicitardquo158 portanto natildeo se trata aqui de um direito de uma pessoa em obter
asilo mas sim um direito Estatal de conceder o asilo Dessa forma o Estado concedente do
asilo pratica um ato de humanidade
No que se refere agrave obrigaccedilatildeo (ou natildeo) de um Estado conceder asilo a um refugiado
tem-se que os Estados ao assinarem instrumentos internacionais acabam por aceitar essa
ldquoobrigaccedilatildeordquo portanto natildeo se trata de direito de asilo do refugiado mas sim o direito de
concessatildeo de asilo pelo Estado Assim o Estado que acolhe pode natildeo conceder asilo mas
156 CONVENCcedilAtildeO DE APLICACcedilAtildeO DO ACORDO DE SCHENGEN Disponiacutevel em httpseur-
lexeuropaeulegal-contentptTXTuri=celex3A42000A0922280229 Acesso em 29032020 157 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Controllo dele Frontiere Statali e Respingimenti nel Diritto
Internazionale e nel Diritto del Mare In Diritto Immigrazione e Cittadinanza Nordm 12020 Disponiacutevel em
httpswwwdirittoimmigrazionecittadinanzaitarchivio-saggi-commentisaggifascicolo-n-1-2020-1532-
controllo-delle-frontiere-statali-e-respingimenti-nel-diritto-internazionale-e-nel-diritto-del-mare Acesso em
19062020 158 CIERCO Teresa Op cit p 74
53
tambeacutem natildeo pode devolver o indiviacuteduo ao paiacutes de origem sendo que natildeo haacute nenhuma
proibiccedilatildeo de enviar o indiviacuteduo para outro Estado que possa conceder asilo159
Poreacutem ao que se refere agrave soberania do Estado haacute duas situaccedilotildees contrastantes a
primeira consiste no poder dos Estados em controlar as suas fronteiras analisando quem
entra e quem sai em seu territoacuterio por outro lado a globalizaccedilatildeo integraccedilatildeo e regionalizaccedilatildeo
satildeo fenocircmenos em que resulta uma interdependecircncia dos Estados em vaacuterios pontos assim
com base nesses fenocircmenos o Estado tem sua soberania reduzida e os limites territoriais
diluiacutedos como eacute o caso da Uniatildeo Europeia160
Nos seacuteculos passados a soberania de um Estado era vista como uma condiccedilatildeo
absoluta isso significa que os governos poderiam ter quaisquer atos referentes a tratamentos
de nacionais e minorias por exemplo Contudo nas uacuteltimas deacutecadas passou-se a priorizar
os direitos humanos presente nos principais documentos internacionais portanto muitos
Estados passam a praticar atos em prol dos direitos humanos161
Devido aos fenocircmenos mencionados acima tem-se que a ideia de Estado soberano
vem se diluindo ao longo do tempo devido ao aumento da interdependecircncia dos Estados
neste ponto os Estados tentam individualmente zelar pela pouca independecircncia que lhes
restam ou seja de se defender das ameaccedilas de cunho mundial como problemas ambientais
traacuteficos internacionais iliacutecitos terrorismo entre outras situaccedilotildees multinacionais162
Nesse sentido percebemos que haacute diversos obstaacuteculos no que tange a soberania pois
os paiacuteses ao se comprometerem a respeitar os direitos humanos devem ter as decisotildees
poliacuteticas convergentes a tais direitos isso implica tanto em poliacuteticas internas quanto
externas resultando portanto em limitaccedilotildees no poder estatal163
Sabe-se que o direito dos refugiados estaacute inserido nos direitos humanos e estatildeo
presentes nas legislaccedilotildees internacionais bem como na legislaccedilatildeo nacional de cada paiacutes
Neste aspecto tem-se que um dos principais fatores de influecircncia nas medidas do paiacutes e dos
cidadatildeos como um todo eacute a situaccedilatildeo econocircmica de cada Estado assim um paiacutes com maiores
condiccedilotildees financeiras tende a receber mais refugiados Da mesma forma em tempos de que
haacute ascensatildeo da economia faz com que a concessatildeo de asilo seja maior por outro lado em
159 CIERCO Teresa Op cit 160 Ibidem 161 Ibidem 162 Ibidem 163 Ibidem
54
periacuteodos de recessatildeo um nuacutemero menor de requisiccedilatildeo de asilo eacute concedido Portanto os
paiacuteses mais generosos no que tange a aceitaccedilatildeo dos requerimentos de asilo satildeo aqueles mais
ricos e que possuem maior estabilidade interna164
No mesmo sentido Irini Papanicolopulu e Giulia Baj dispotildeem que os Estados tecircm o
direito de decidir quem seraacute admitido no territoacuterio poreacutem eacute consenso de que este direito de
rejeitar as pessoas eacute absoluto pois os Estados devem respeitar aos compromissos
internacionais firmados165
Os Estados portanto tem sua soberania limitada atraveacutes dos documentos
internacionais em que satildeo signataacuterios pois ao assinarem tais documentos se comprometem
a agirem de determinada maneira Assim os paiacuteses estatildeo limitados e natildeo possuem total
liberdade para decidirem assuntos referentes agrave concessatildeo de asilo Poreacutem nota-se da anaacutelise
praacutetica das atividades fronteiriccedilas que os Estados agem de acordo com os seus interesses166
22 A Instituiccedilatildeo de Asilo no Continente Europeu
Historicamente a Europa sempre se destacou como um continente rico e que
proporcionava riqueza e uma melhor qualidade de vida para aqueles que a habitavam aleacutem
de tambeacutem se destacar pelos governos democraacuteticos Acreditou-se que apoacutes o teacutermino da
Guerra Fria a situaccedilatildeo dos refugiados ficaria mais faacutecil devido a facilidade de fazer acordos
poreacutem natildeo foi o que aconteceu a Uniatildeo Sovieacutetica se dividiu em vaacuterios outros paiacuteses e gerou
muitos conflitos bem como muitos refugiados167
Atualmente tem-se que a situaccedilatildeo dos refugiados extrapola o acircmbito dos direitos
humanos e a questatildeo humanitaacuteria consiste tambeacutem em situaccedilotildees relacionadas agrave seguranccedila e
paz Dessa forma faz-se necessaacuterio encontrar boas soluccedilotildees (duraacuteveis) a fim de proporcionar
a maior proteccedilatildeo possiacutevel dos refugiados168
Para se falar em nuacutemeros tem-se que os recordes de refugiados na Europa ocorreram
nos anos de 2015 e 2016 sendo que neste uacuteltimo foram 1 milhatildeo e trezentos pedidos de asilo
no continente europeu no ano de 2017 foram por volta de 728 mil pedidos de asilo e quase
164 CIERCO Teresa Op cit 165 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit 166 CIERCO Teresa Op cit 167 Ibidem 168 Ibidem
55
635 mil no ano de 2018 Destes pedidos de 2018 foram concedidos por volta 333 mil
pedidos notando-se uma queda de 40 na concessatildeo de asilo quando comparado com o ano
anterior isto eacute 2017169
No que consiste a proteccedilatildeo dos refugiados a partir do ano 1989 as organizaccedilotildees
internacionais ganharam espaccedilo e passaram atuar de forma mais ampla pois anteriormente
eram limitadas pela questatildeo da soberania dos estados assim priorizou-se a ajuda
internacional humanitaacuteria sendo que a ONU passou a negociar diretamente com quem
possuiacutea o poder poliacutetico do local seja o proacuteprio Estado ou algum movimento que laacute estava
a fim de chegar ateacute os refugiados170
Os conflitos gerados apoacutes a Guerra Fria bem como outros acontecimentos
internacionais geraram uma grande instabilidade e proporcionou uma atualizaccedilatildeo do que se
entendia por seguranccedila nacional e internacional pois anteriormente isto eacute durante o periacuteodo
da disputa de poderes da Guerra Fria entendia-se como sinocircnimo de seguranccedila o poderio
beacutelico e militar desenvolvimento e evoluccedilatildeo tecnoloacutegica produccedilatildeo das induacutestrias e as
alianccedilas que poderiam trazer algum tipo de seguranccedila Assim a nova conceitualizaccedilatildeo de
seguranccedila trouxe novos problemas como por exemplo questotildees ambientais relativas agrave
poluiccedilatildeo o traacutefico de drogas crime organizado e terrorismo violaccedilatildeo dos direitos humanos
e migraccedilotildees em larga escala Isso fez com que os paiacuteses adotassem a cooperaccedilatildeo para tentar
solucionar os problemas surgindo neste contexto a OSCE que consiste na Organizaccedilatildeo para
a Seguranccedila e Cooperaccedilatildeo na Europa171
Com o desenvolvimento do assunto fez com que a regulamentaccedilatildeo passasse do
Conselho da Europa para os membros da Uniatildeo Europeia de forma cooperada mas ressalta-
se que o objetivo do referido Conselho e da UE natildeo satildeo os mesmos Enquanto o bloco
econocircmico busca caminhos para se proteger do fluxo exagerado de refugiados o Conselho
da Europa jaacute enfoca os direitos do homem e os direitos fundamentais portanto enfoques
quase que antagocircnicos Assim o Conselho da Europa consiste em um foacuterum de paiacuteses da
Europa sendo sua composiccedilatildeo por 47 membros e trata-se de um oacutergatildeo voltado para a defesa
dos direitos do homem172
169 PARLAMENTO EUROPEU Asilo e Migraccedilatildeo na UE em Nuacutemeros 2019 Disponiacutevel em
httpswwweuroparleuropaeunewsptheadlinesprioritiesmigracao20170629STO78630asilo-e-
migracao-na-ue-em-numeros Acesso em 06042020 170 CIERCO Teresa Op cit 171 Ibidem 172 Ibidem
56
Existem muitos documentos adotados ao longo do tempo pelo referido oacutergatildeo que
tratam da questatildeo do asilo e direito dos refugiados Dessa forma apenas como uma
demonstraccedilatildeo histoacuterica cita-se abaixo alguns documentos que Teresa Cierco destacou173
bull Recomendaccedilatildeo nordm 293 (elaborada em 1961 pela Assembleia Consultiva do
Conselho da Europa) que sugere a inserccedilatildeo de um artigo referente agrave questatildeo
de asilo em protocolo da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos do Homem
bull Recomendaccedilatildeo nordm 434 (elaborada em 1965 tambeacutem pela Assembleia
Consultiva do Conselho da Europa) que refere ao direito de asilo aos
refugiados do continente europeu destacando a ideia de que o direito de asilo
faz parte das tradiccedilotildees do continente europeu e faz um convite aos paiacuteses a
respeitarem o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo
bull Resoluccedilatildeo nordm 14 (elaborada pelo Comitecirc de Ministros em 1967) e trata da
questatildeo da concessatildeo de asilo agraves pessoas que satildeo ameaccediladas de perseguiccedilatildeo
promovendo asilo a fim de evitar sofrimento a partir de algum tipo de
negativa de entrada expulsatildeo ou qualquer outro ato que leve o indiviacuteduo a
permanecer ou regressar para local onde sofre perseguiccedilatildeo
bull Resoluccedilatildeo nordm 817 (elaborada pela Assembleia Parlamentar em 1977) apoia a
Resoluccedilatildeo nordm 14 jaacute mencionada acima e pede o reconhecimento da Comissatildeo
Europeia dos Direitos do Homem como competente para a anaacutelise das
requisiccedilotildees de asilo bem como a manutenccedilatildeo de comportamento liberal
perante os indiviacuteduos que requerem asilo em seus paiacuteses Isso porque a
Convenccedilatildeo Sobre Asilo Territorial fracassou assim essa resoluccedilatildeo veio para
reafirmar as previsotildees que jaacute existiam e considerar o instituto do asilo como
ato humanitaacuterio
bull Recomendaccedilatildeo nordm 1088 (elaborada em 1988 pela Assembleia Parlamentar)
que trata sobre o direito de asilo territorial demonstra a intenccedilatildeo de proteger
de forma plena o direito de asilo territorial
bull Recomendaccedilatildeo nordm 1237 (elaborada em 1994) que se refere agraves requisiccedilotildees de
asilo que foram indeferidas e reafirmou que qualquer indiviacuteduo que sofra
173 CIERCO Teresa Op cit
57
perseguiccedilatildeo tem o direito de procurar asilo poreacutem destacou tambeacutem que
cabe agrave cada Estado a concessatildeo de asilo por se tratar de questatildeo da soberania
nacional
bull Diretiva 832004 que consiste num documento da Uniatildeo Europeia que possui
um consideraacutevel acolhimento do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo este documento
trata da normatizaccedilatildeo miacutenima necessaacuteria a fim de atingir a proteccedilatildeo
internacional Poreacutem ressalta-se que o referido princiacutepio natildeo deve ser
considerado de forma independente ou desvinculado de outras legislaccedilotildees
Assim deve-se analisar de forma conjunta com as accedilotildees realizadas para
retirar estrangeiros do territoacuterio de um determinado paiacutes ou seja situaccedilatildeo de
extradiccedilatildeo expulsatildeo e deportaccedilatildeo
No que se refere agrave deportaccedilatildeo tal medida somente eacute adotada quando o indiviacuteduo que
requereu asilo natildeo foi enquadrado no estatuto do refugiado assim o indiviacuteduo por conta
proacutepria deveraacute deixar o territoacuterio caso natildeo seja feito a medida deve ser realizada pelo Estado
Quanto agrave expulsatildeo a situaccedilatildeo eacute um pouco mais gravosa pois ldquoocorrerdquo quando o indiviacuteduo
promove atentados contra a seguranccedila nacional eou perturbe a tranquilidade puacuteblica174 No
que se refere agrave esse instituto referente aos refugiados vimos que a sua expulsatildeo deve ser
analisada com muita cautela ou seja se a pessoa se enquadrar no conceito de refugiado mas
eacute um criminoso ele natildeo pode se valer do instituto do asilo para ficar livre da penalidade no
entanto natildeo deve ser enviado para algum paiacutes em que teraacute seus direitos humanos violados
221 Principais Documentos Sobre o Asilo na Ordem Juriacutedica Europeia
Sabemos que a grandiosidade do bloco da Uniatildeo Europeia faz-se necessaacuterio uma
seacuterie de normatizaccedilotildees dos assuntos e no que tange asilo e imigraccedilatildeo eacute importante que as
disposiccedilotildees entre os paiacuteses que fazem parte do bloco sejam harmocircnicas ou seja para uma
maior efetividade das medidas de asilo e imigraccedilatildeo as regras para os paiacuteses devem ser as
mesmas Assim neste toacutepico analisa-se os principais documentos europeus que abordam o
assunto
174 CIERCO Teresa Op cit
58
bull Tratado da Uniatildeo Europeia (Tratado de Lisboa)
O TUE eacute um dos principais tratados que regem as normas a serem adotadas na Uniatildeo
Europeia Como jaacute mencionado anteriormente desde o iniacutecio (no artigo 3ordm) a UE demonstra
a sua preocupaccedilatildeo a respeito do assunto Assim a seguir analisa-se os pontos importantes
do Tratado relativos a este assunto
Dessa forma o Tiacutetulo V denominado ldquoO Espaccedilo de Liberdade Seguranccedila e Justiccedilardquo
trata mais especificamente sobre o assunto ou seja no artigo 67 nordm 2 consta
A Uniatildeo assegura a ausecircncia de controlos de pessoas nas fronteiras
internas e desenvolve uma poliacutetica comum em mateacuteria de asilo de
imigraccedilatildeo e de controlo das fronteiras externas que se baseia na
solidariedade entre Estados-Membros e que eacute equitativa em relaccedilatildeo aos
nacionais de paiacuteses terceiros175
Neste dispositivo nota-se o desejo da Uniatildeo Europeia em ter as regras sobre asilo e
imigraccedilatildeo harmonizadas bem como ressalta a ausecircncia dos controles nas fronteiras internas
Nesse sentido o Capiacutetulo 2 do Tiacutetulo V trata do assunto de asilo e imigraccedilatildeo bem como
sobre o controle das fronteiras externas No artigo 78 nordm2 haacute a disposiccedilatildeo para que se tenha
um documento uniforme referente a asilo bem como proteccedilatildeo subsidiaacuteria dos indiviacuteduos
que natildeo obterem o asilo mas mesmo assim necessitarem de proteccedilatildeo internacional e outras
situaccedilotildees referentes agraves pessoas que necessitam de acolhimento ou proteccedilatildeo
Assim como mencionado acima a UE preza pela harmonia entre as regras a respeito
de diversos assuntos e a questatildeo de asilo e imigraccedilatildeo natildeo eacute diferente isto estaacute expressamente
no artigo 78 como segue
A Uniatildeo desenvolve uma poliacutetica comum em mateacuteria de asilo de protecccedilatildeo
subsidiaacuteria e de protecccedilatildeo temporaacuteria destinada a conceder um estatuto adequado
a qualquer nacional de um paiacutes terceiro que necessite de protecccedilatildeo
internacional e a garantir a observacircncia do princiacutepio da natildeo repulsatildeo176
A UE aleacutem de enfatizar que a questatildeo do asilo tem poliacutetica comum destaca-se
tambeacutem a preocupaccedilatildeo do bloco com aqueles que necessitam de proteccedilatildeo e por isso prezam
175 UNIAtildeO EUROPEIA Tratado de Lisboa Disponiacutevel em
httpswwwparlamentopteuropaDocumentsTratado_Versao_Consolidadapdf Acesso em 31032020 176 Ibidem
59
por conceder um tratamento adequado aos indiviacuteduos que buscam proteccedilatildeo bem como
garantir a aplicaccedilatildeo do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo
Ainda eacute importante destacar que tendo em vista que o artigo 6ordm nordm 1 do TUE satildeo
reconhecidos os direitos e garantias fundamentais previstos na Carta dos Direitos
Fundamentais da Uniatildeo Europeia Nesse sentido cita-se a importacircncia do artigo 18 do
documento no qual haacute a previsatildeo do direito de asilo como um direito fundamental bem
como o artigo 19 que proiacutebe a expulsatildeo coletiva e principalmente no nordm 2 dispotildee que
ningueacutem pode ser enviado para um paiacutes onde poderaacute ser submetido agrave pena de morte tortura
e outros tratamentos desumanos e degradantes177 Reforccedilando a importacircncia do princiacutepio da
natildeo-repulsatildeo
bull Tratado de Funcionamento da Uniatildeo Europeia (TFUE)
O Tratado de Funcionamento da Uniatildeo Europeia prevecirc algumas disposiccedilotildees a
respeito do asilo No artigo 67 nordm 2 tem a disposiccedilatildeo de que a poliacutetica de asilo na UE eacute uacutenica
e baseada na solidariedade como segue ldquo() desenvolve uma poliacutetica comum em mateacuteria
de asilo de imigraccedilatildeo e de controlo das fronteiras externas que se baseia na solidariedade
entre Estados-Membros e que eacute equitativa em relaccedilatildeo aos nacionais de paiacuteses terceiros
()rdquo178
O capiacutetulo 2 do TFUE cujo tiacutetulo eacute ldquoPoliacuteticas relativas aos controlos nas fronteiras
ao asilo e agrave imigraccedilatildeordquo tem regulamenta de forma geral o assunto Nesse sentido o artigo
78 nordm 1 reitera a poliacutetica comum de asilo bem como de proteccedilotildees subsidiaacuterias e temporaacuterias
levando sempre em conta a Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 e o Protocolo de Nova Iorque
de 1967 Por sua vez o nordm 2 do artigo mencionado traz algumas orientaccedilotildees a respeito das
poliacuteticas comuns a serem adotadas pelos Estados-membros179
Nesse sentido o mencionado diploma europeu traz a exigecircncia de que a Uniatildeo
Europeia elabore poliacuteticas comuns a fim de garantir eficaacutecia na gestatildeo dos fluxos
migratoacuterios Para isso entende-se que tanto o Parlamento Europeu quanto o Conselho devem
177 UNIAtildeO EUROPEIA Carta dos Direitos Fundamentais da Uniatildeo Europeia Disponiacutevel em
httpswwweuroparleuropaeucharterpdftext_ptpdf Acesso em 27052020 178 TRATADO DE FUNCIONAMENTO DA UNIAtildeO EUROPEIA Disponiacutevel em httpseur-
lexeuropaeulegal-contentPTTXTuri=celex3A12012E2FTXT Acesso em 07042020 179 Ibidem
60
adotar medidas relacionadas a fim de coibir a imigraccedilatildeo ilegal bem como residecircncia ilegal
o traacutefico de seres humanos e tambeacutem de promover a remoccedilatildeo e repatriamento de pessoas
que estejam com status irregular180
Portanto este documento traz apontamentos gerais para que se possa elaborar uma
poliacutetica comum de asilo no continente europeu Ressalta-se que neste documento natildeo haacute
nenhuma regra a ser aplicada de forma concreta mas sim orientaccedilotildees de que a normatizaccedilatildeo
do assunto deve ser a mesma para todos os Estados-membros
bull Convenccedilatildeo de Aplicaccedilatildeo do Acordo de Schengen (CAS)
A forte corrente migratoacuteria destinada agrave Europa fez com que os paiacuteses endurecessem
as medidas referentes agrave concessatildeo de asilo Nesse sentido cita-se a CAS conforme jaacute
falamos eacute a Convenccedilatildeo de Aplicaccedilatildeo do Acordo de Schengen que trata do assunto relativo
a pedidos de asilo no Capiacutetulo 7 (artigo 28 a 38) mas foi somente no Tratado de Amsterdatilde
eacute que tal ideia eacute trazida ao acircmbito da Uniatildeo Europeia181
No capiacutetulo supramencionado da CAS o Capiacutetulo 7 denominado
ldquoResponsabilidade pelo Tratamento de Pedidos de Asilordquo faz referecircncia agrave Convenccedilatildeo de
1951 e o Protocolo de 1967 Em resumo os Estados contratantes se comprometem em
analisar qualquer pedido de asilo que forem feitos em seus territoacuterios conforme estaacute
expresso no artigo 29 nordm1 mas ressalta-se que natildeo eacute obrigatoacuteria a concessatildeo de asilo em
todos os casos (nordm 2 do mesmo artigo)182
Poreacutem um Estado-membro com base nas suas normas nacionais pode enviar o
requerente de asilo para outro Estado e ateacute mesmo expulsar este uacuteltimo com muita
ponderaccedilatildeo desde que obedeccedila ao que estaacute previsto nos compromissos internacionais tal
disposiccedilatildeo consta tambeacutem no nordm 2 do artigo 29183 Mais uma vez ressalta-se que na
expulsatildeo em hipoacutetese alguma deve-se enviar o indiviacuteduo para algum local natildeo seguro
180 TANI Ilaria Ricerca e Soccorso nel Mediterraneo Centrale tra Diritto Internazionale e Nuove (Discutibili)
Qualificazioni del Fenomeno Migratorio In Diritto Immigrazione e Cittadinanza Nordm 32019 Disponiacutevel em
httpswwwdirittoimmigrazionecittadinanzaitarchivio-saggi-commentisaggifascicolo-n-3-2019-1474-
ricerca-e-soccorso-nel-mediterraneo-centrale-tra-diritto-internazionale-e-nuove-discutibili-qualificazioni-del-
fenomeno-migratoriofile Acesso em 22082020 181 CIERCO Teresa Op cit 182 CONVENCcedilAtildeO DE APLICACcedilAtildeO DO ACORDO DE SCHENGEN 1985 Op cit 183 Ibidem
61
Este documento traz tambeacutem qual o Estado-membro que deve analisar o pedido de
asilo trazendo portanto as regras no artigo 30 ou seja se o Estado-membro emitiu algum
visto para o indiviacuteduo ele eacute responsaacutevel pela anaacutelise ou se outro paiacutes deu autorizaccedilatildeo para
esse visto eacute o paiacutes da autorizaccedilatildeo o responsaacutevel em casos de mais de um Estado-membro
conceder algum visto o responsaacutevel eacute o que deu o visto de maior duraccedilatildeo caso o indiviacuteduo
tenha ingressado no territoacuterio sem os documentos necessaacuterios o responsaacutevel eacute o Estado-
membro em que o requerente de asilo entrou184
O documento em seu artigo 32 traz que o direito a ser aplicado no procedimento de
asilo das partes contratantes da CAS seraacute o direito nacional Portanto cada paiacutes tem a sua
independecircncia no acircmbito interno podendo aplicar as suas regras no procedimento de asilo
desde que natildeo contrarie os compromissos internacionais assumidos185
bull Convenccedilatildeo de Dublin
O alto fluxo de refugiados e as discussotildees entre os governos fez com que fosse
elaborada em 1990 a Convenccedilatildeo de Dublin (ou Regulamento Dublin) assinada pelos
paiacuteses Beacutelgica Dinamarca Alemanha Greacutecia Espanha Franccedila Irlanda Itaacutelia
Luxemburgo Holanda Portugal e Reino Unido186 Assim a finalidade era obter soluccedilatildeo
para a alta quantidade de requisiccedilatildeo de asilo Tal documento consistiu em um relevante ato
com intuito de harmonizar o direito de asilo nos paiacuteses Anteriormente as opccedilotildees eram
impedir os refugiados de entrar e requerer asilo situaccedilatildeo que contrariava o previsto na
Convenccedilatildeo de Schengen (mencionada anteriormente) ou tentar fazer com que as normas a
respeito de asilo fossem harmocircnicas Nesse sentido alguns paiacuteses limitavam a entrada de
requerentes de asilo e fazia com que estes fossem para outros paiacuteses mas que tais atitudes
em nada ajudavam na soluccedilatildeo da situaccedilatildeo187
Esta Convenccedilatildeo consiste na base do direito de asilo no sistema europeu que
determina qual paiacutes eacute responsaacutevel pela anaacutelise dos pedidos de proteccedilatildeo internacional e no
ano de 2017 foi autorizado pelo Parlamento Europeu uma reforma desta Convenccedilatildeo poreacutem
184 CONVENCcedilAtildeO DE APLICACcedilAtildeO DO ACORDO DE SCHENGEN 1985 Op cit 185 Ibidem 186 UNIAtildeO EUROPEIA CONVENCcedilAtildeO DE DUBLIN 1990 Disponiacutevel httpseur-lexeuropaeulegal-
contentPTALLuri=celex3A41997A0819280129 Acesso em 06042020 187 CIERCO Teresa Op cit
62
natildeo houve acordo a respeito ateacute o momento188 no entanto no mecircs de setembro de 2020 foi
apresentada a proposta do Novo Pacto sobre Migraccedilatildeo e Asilo que se aprovado substituiraacute
a Convenccedilatildeo tratada nesse toacutepico
Assim a Convenccedilatildeo de Dublin consistiu em um marco do direito humanitaacuterio dos
refugiados e pretendeu pocircr fim agraves situaccedilotildees em que colocavam os refugiados a circular por
vaacuterios paiacuteses sem que nenhum Estado analisasse o pedido de asilo Vaacuterias satildeo as disposiccedilotildees
a respeito do direito dos refugiados uma delas eacute a situaccedilatildeo citada anteriormente (na
Convenccedilatildeo de Schengen) isto eacute qual paiacutes eacute responsaacutevel pela anaacutelise do pedido de asilo
dessa forma entende-se que caso o refugiado tenha algum laccedilo familiar (o indiviacuteduo tiver
algum familiar em algum Estado membro) laccedilo institucional (possuir algum visto ou tiacutetulo
de residecircncia) ou inclusive entrou de forma ilegal por algum paiacutes a competecircncia para anaacutelise
da concessatildeo de asilo eacute do Estado em questatildeo ou seja no paiacutes onde estaacute o familiar onde
tem visto ou residecircncia ou no paiacutes em que entrou de forma natildeo permitida Caso o refugiado
natildeo se enquadrar nestas situaccedilotildees o paiacutes competente para analisar o pedido de asilo eacute o
primeiro paiacutes que recebeu a requisiccedilatildeo189
Em 1991 a Comissatildeo elaborou uma comunicaccedilatildeo a fim de adotar 3 medidas atinentes
ao asilo e imigraccedilatildeo no continente europeu quais sejam a primeira consistia na ldquopressatildeo
migratoacuteriardquo que levava em consideraccedilatildeo as migraccedilotildees reais e potenciais que tinham como
destino a Europa a segunda medida referia-se ao controle dos fluxos migratoacuterios levando
em conta as obrigaccedilotildees internacionais dos Estados bem como os ideais humanitaacuterios por
fim a terceira medida consistia no melhor entendimento nas medidas adotadas para integrar
os imigrantes com status legal190
Aleacutem disso conforme previsto na Convenccedilatildeo de Dublin no ano de 1992 foram
criados dois centros de informaccedilatildeo relativos agrave questatildeo dos refugiados o CIREA que
consiste no Centro de Informaccedilatildeo Investigaccedilatildeo e Intercacircmbio em Mateacuteria de Asilo e o
CIREFI que eacute o Centro de Informaccedilatildeo Investigaccedilatildeo e Intercacircmbio em Mateacuteria de Passagem
das Fronteiras e de Imigraccedilatildeo ambos para auxiliar na obtenccedilatildeo de informaccedilotildees e evitar a
188 PARLAMENTO EUROPEU Regras do Sistema de Asilo da UE a posiccedilatildeo do Parlamento sobre a reforma
da regulaccedilatildeo de Dublin Atualizado em 25072019 Disponiacutevel em
httpswwweuroparleuropaeunewsptheadlinesworld20180615STO05927regras-do-asilo-da-ue-
posicao-do-parlamento-sobre-a-reforma-da-regulacao-dublin Acesso em 06042020 189 CIERCO Teresa Op cit 190 Ibidem
63
imigraccedilatildeo clandestina utilizaccedilatildeo de documentos falsos bem como a responsabilizaccedilatildeo dos
infratores neste quesito191
Poreacutem faz-se necessaacuterio fazer uma observaccedilatildeo na explicaccedilatildeo pois em 1992 em
contrapartida aos documentos que buscavam garantir o direito internacional dos refugiados
que tinham base nos ideais humanitaacuterios e proteccedilatildeo foram editadas as ldquoResoluccedilotildees de
Londresrdquo que em partes seguiam na contramatildeo da proteccedilatildeo internacional dos refugiados
Tal ideia se firmou devido tal documento englobar resoluccedilotildees que davam mais liberdades
aos Estados para natildeo enquadrar um indiviacuteduo como refugiado (nos moldes da Convenccedilatildeo
de 1951) pois diziam sobre ldquopedidos de asilo manifestamente infundadosrdquo ldquopaiacuteses que natildeo
se verificavam graves riscos de perseguiccedilatildeordquo e ldquoabordagem harmonizada das questotildees
referentes ao paiacutes terceiro de acolhimentordquo Desse modo menciona-se a possiacutevel lesatildeo a um
dos principais princiacutepios do Direito Internacional dos Refugiados que consiste na anaacutelise
individual de cada pedido de asilo192
Voltando ao que tange a Convenccedilatildeo de Dublin destaca-se que em 2002 a Comissatildeo
Europeia fez com que o CIREA e o CIREFI cessassem suas atividades sendo criado o
EURASIL Assim foi criado o Gabinete Europeu de Apoio ao Asilo (EASO) que assumiu
a responsabilidade pelo EURASIL bem como as atividades deste193 Ressalta-se que o
EASO como o proacuteprio nome jaacute diz eacute responsaacutevel por implementar o Sistema Europeu
Comum de Asilo (SECA) apoiar e fortalecer a cooperaccedilatildeo entre os Estados-membros no
que se refere ao asilo bem como auxiliar operacionalmente os Estados-membros194
O SECA (ou CEAS em inglecircs) por sua vez tem por base o artigo 78 do Tratado de
Funcionamento da Uniatildeo Europeia (TFUE) e consiste em uma estrutura de regras que
estabelecem procedimentos comuns no que tange a proteccedilatildeo internacional bem como uma
uniformidade de status agravequeles que satildeo considerados refugiados ou possuem alguma
proteccedilatildeo subsidiaacuteria visando agrave uniformidade ou harmonizaccedilatildeo dos sistemas de asilo da
Uniatildeo Europeia tendo sempre por base a Convenccedilatildeo de Genebra de 1951195
191 CIERCO Teresa Op cit 192 Ibidem 193 COMISSAtildeO EUROPEIA EURASIL Disponiacutevel em httpseceuropaeuhome-affairswhat-we-
donetworkseuropean_migration_networkglossary_searcheurasil_en Acesso em 06042020 194 COMISSAtildeO EUROPEIA European Asylum Support Office (EASO) Disponiacutevel em
httpseceuropaeuhome-affairswhat-we-
donetworkseuropean_migration_networkglossary_searcheuropean-asylum-support-office-easo_en Acesso
em 06042020 195 COMISSAtildeO EUROPEIA Common European Asylum Sistem (CEAS) ndash Definition(s) Disponiacutevel em
httpseceuropaeuhome-affairswhat-we-
64
A Convenccedilatildeo de Dublin assim como outros documentos jaacute mencionados traz
conceitos para melhor entendimento dos termos utilizados no corpo do texto Nesse sentido
esta Convenccedilatildeo traz a conceituaccedilatildeo de estrangeiros pedido de asilo requerente de asilo
anaacutelise de um pedido de asilo tiacutetulo de residecircncia visto de entrada e visto de tracircnsito tais
conceitos estatildeo em consonacircncia com a conceituaccedilatildeo presente nos outros documentos jaacute
citados
Logo no iniacutecio no artigo 2ordm desta Convenccedilatildeo faz-se a alusatildeo agrave Convenccedilatildeo de
Genebra de 1951 e o Protocolo de Nova Iorque de 1967 ou seja ocorre a reiteraccedilatildeo do que
estaacute previsto nestes documentos pelos paiacuteses signataacuterios Assim de forma geral os
dispositivos presentes nesta Convenccedilatildeo estatildeo de acordo com vaacuterias previsotildees na CAS no
capiacutetulo 7
No entanto conforme jaacute mencionado acima desde o ano de 2017 discute-se a
possibilidade de reforma deste documento pois com a crise migratoacuteria que o continente
europeu vem sofrendo foram expostos os defeitos presentes na referida Convenccedilatildeo Dessa
forma as sugestotildees de reforma satildeo alterar a responsabilidade automaacutetica de um Estado-
membro de analisar um pedido de asilo quando o refugiado entrar por este paiacutes as pessoas
que requererem asilo e tiverem uma ldquoligaccedilatildeo genuiacutenardquo com determinado paiacutes do Estado-
membro essas pessoas devem ser enviadas para este paiacutes os que natildeo possuiacuterem tal ldquoligaccedilatildeo
genuiacutenardquo devem ser distribuiacutedos de forma igualitaacuteria para os demais Estados-membros (sob
pena de perda de acesso ao fundo europeu os paiacuteses que natildeo aceitarem esta determinaccedilatildeo)
intensificar as medidas de seguranccedila devendo as pessoas que chegarem com intuito de
requisiccedilatildeo de asilo serem identificadas e colhidas as impressotildees digitais destas reforccedilar as
regras relativas aos menores e acelerar o reagrupamento familiar entre outras sugestotildees196
Pretende-se portanto com a reforma a divisatildeo de responsabilidade pelos
requerentes de asilo para todos os Estados-membros tendo uma justa reparticcedilatildeo com base
na populaccedilatildeo e no PIB de cada Estado-membro197 A ideia natildeo eacute alterar as regras jaacute existentes
donetworkseuropean_migration_networkglossary_searchcommon-european-asylum-system-ceas_en
Acesso em 06042020 196 PARLAMENTO EUROPEU Regras do Sistema de Asilo da UE a posiccedilatildeo do Parlamento sobre a reforma
da regulaccedilatildeo de Dublin Atualizado em 25072019 Disponiacutevel em
httpswwweuroparleuropaeunewsptheadlinesworld20180615STO05927regras-do-asilo-da-ue-
posicao-do-parlamento-sobre-a-reforma-da-regulacao-dublin Acesso em 06042020 197 Ibidem
65
para determinar qual paiacutes eacute responsaacutevel pela anaacutelise dos pedidos de asilo mas sim uma
revisatildeo do regime previsto simplificando e complementando o que jaacute estaacute em vigor198
Como jaacute mencionado a Convenccedilatildeo de Dublin foi elaborada no ano de 1990 sendo
que em 2003 e 2013 houve a ediccedilatildeo dos regulamentos II e III (duas reformas)
respectivamente sendo que o Regulamento III estaacute em vigor desde 2014 Assim o sistema
de asilo previsto pelo ldquoSistema Dublinrdquo natildeo objetivou o compartilhamento de
responsabilidades dos Estados-membros pois o principal objetivo era a responsabilidade de
um determinado paiacutes para analisar as requisiccedilotildees de asilo199
Dessa forma o Regulamento Dublin III (uacuteltima reforma) indica qual Estado-membro
eacute o responsaacutevel por analisar um pedido de asilo passando por um criteacuterio hieraacuterquico de
anaacutelise ou seja unidade familiar existecircncia de visto ou autorizaccedilatildeo de residecircncia se a
entrada foi irregular ou se teve isenccedilatildeo de visto ao entrar etc mas ressalta-se que a forma
mais comum aplicada eacute a do paiacutes da UE onde o indiviacuteduo entrou200
A ideia de que o Parlamento Europeu requer um mecanismo vinculativo para que
haja uma distribuiccedilatildeo justa dos requerentes de asilo pelos Estados-membros da Uniatildeo
Europeia vem desde o ano de 2009 tendo sido editadas resoluccedilotildees pelo oacutergatildeo em 2009
2013 2014 e 2015 Na resoluccedilatildeo de abril de 2016 destacou-se a questatildeo da regiatildeo do
Mediterracircneo com a necessidade alterar a abordagem da migraccedilatildeo201
Assim a ideia do Parlamento Europeu eacute rever o criteacuterio de entrada ou seja o paiacutes
por onde entrou o indiviacuteduo eacute o responsaacutevel pela anaacutelise do pedido de asilo Entatildeo o
mencionado oacutergatildeo defende ter um sistema central de atribuiccedilatildeo de responsabilidade pelos
requerentes de asilo prevendo limites para cada paiacutes com base no nuacutemero de chegadas
Poreacutem a alocaccedilatildeo de responsabilidade natildeo deve excluir as questotildees de unidade familiar e
interesses da crianccedila202
As principais ideias do Parlamento Europeu eacute um sistema automatizado para
monitorar os pedidos de asilo recebidos e o nuacutemero dos pedidos em cada Estado-membro
tambeacutem haver um mecanismo para determinar quando um paiacutes estaacute com casos
198 PARLAMENTO EUROPEU Reform of the Dublin system Disponiacutevel em
httpswwweuroparleuropaeuRegDataetudesBRIE2016586639EPRS_BRI28201629586639_ENp
df Acesso em 07042020 199 Ibidem 200 Ibidem 201 Ibidem 202 Ibidem
66
desproporcionais de procedimento de asilo Portanto quando um paiacutes tiver o nuacutemero de
pedidos de asilo superior 150 da accedilatildeo de referecircncia seria ativado um mecanismo para
realocar os novos pedidos de asilo em toda a Uniatildeo Europeia Caso um paiacutes natildeo aceite a
atribuiccedilatildeo dos requerentes de asilo deveraacute arcar com a ldquocontribuiccedilatildeo de solidariedaderdquo de
250 mil euros por candidato203
No entanto no dia 23 de setembro de 2020 foi apresentada uma proposta da
Comissatildeo Europeia a respeito de um novo documento sobre a migraccedilatildeo chamado ldquoNovo
Pacto sobre Migraccedilatildeo e Asilordquo A intenccedilatildeo desse pacto eacute a substituiccedilatildeo da Convenccedilatildeo de
Dublin que jaacute foi reformada por duas vezes (Regulamentos II e III) A ideia desse Novo
Pacto eacute para ter uma melhor divisatildeo da responsabilidade entre os paiacuteses da UE (tendo um
mecanismo melhor de realocaccedilatildeo) prevendo maior solidariedade entre os Estados-membros
com a finalidade de reduzir o ocircnus dos Estados mais afetados pela migraccedilatildeo como a Itaacutelia
Greacutecia e Espanha agilidade e eficaacutecia nos procedimentos nas fronteiras e mudanccedila de
paradigma com paiacuteses terceiros no que se refere agrave cooperaccedilatildeo Uma das novidades na
proposta eacute tentar agradar paiacuteses pouco receptivos com os refugiados como a Aacuteustria Polocircnia
e Hungria ou seja estes paiacuteses podem ser responsaacuteveis pela deportaccedilatildeo do migrante caso o
pedido de asilo seja negado aleacutem disso os Estados-membros poderatildeo acolher requerentes
de asilo que entraram por outro paiacutes na UE Ressalta-se poreacutem que essa proposta deve ser
analisada ainda pelo Conselho da UE e pelo Parlamento Europeu204
bull Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos
Eacute o documento adotado pelo Tribunal Europeu dos Direitos Humanos sendo que
para o presente trabalho destaca-se a importacircncia do artigo 3ordm deste documento tendo em
vista a condenaccedilatildeo de paiacuteses europeus por violaccedilatildeo do respectivo dispositivo Sendo assim
o supramencionado artigo prevecirc a proibiccedilatildeo da tortura como segue ldquoNingueacutem pode ser
submetido a torturas nem a penas ou tratamentos desumanos ou degradantesrdquo205
203 PARLAMENTO EUROPEU Reform of the Dublin system Op cit 204 DEUTSCHE WELLE (DW) Novo Pacto Migratoacuterio da UE descarta realocaccedilatildeo obrigatoacuteria 2020
Disponiacutevel em httpswwwdwcompt-brnovo-pacto-migratC3B3rio-da-ue-descarta-
realocaC3A7C3A3o-obrigatC3B3riaa-55029567 Acesso em 09102020 205 CONSELHO EUROPEU Convenccedilatildeo Europeia de Direitos Humanos Op cit
67
Outro artigo comumente violado eacute o artigo 4ordm dessa Convenccedilatildeo que consiste na
proibiccedilatildeo de expulsatildeo coletiva Assim eacute proibido que um Estado rejeite coletivamente os
migrantes sem qualquer identificaccedilatildeo sem uma anaacutelise de cada caso A exemplo disso cita-
se o caso Hirsi Jamaa que veremos adiante em que a Itaacutelia repeliu os migrantes no mar
levando-os de volta para Liacutebia sem qualquer identificaccedilatildeo
Tambeacutem de igual importacircncia satildeo os artigos 2ordm e 5ordm que prezam pela proteccedilatildeo da
vida e liberdade e seguranccedila dos migrantes respectivamente Dessa forma notamos que a
CEDH preza pela dignidade dos migrantes apontando expressamente os principais direitos
sendo que estes natildeo devem ser violados
Assim no capiacutetulo 3 e 4 seratildeo analisados casos da referida Corte Europeia para ter
um melhor entendimento da aplicaccedilatildeo deste dispositivo devido a devoluccedilatildeo de refugiados
no mar para a Liacutebia e tendo em vista a situaccedilatildeo no paiacutes norte-africano (que veremos mais
detalhadamente no capiacutetulo 4) essa devoluccedilatildeo configura o envio de pessoas para a tortura e
tratamentos desumanos
bull Diretivas 201195UE 201332UE 201333UE e 2008115CE
A ideia da Uniatildeo Europeia desde 1999 eacute ter um Sistema Europeu Comum de Asilo
(SECA) e as atitudes da UE sempre foram para buscar a harmonizaccedilatildeo dessas leis destaca-
se a criaccedilatildeo do Fundo Europeu para os Refugiados diretivas elaboradas para respostas de
altos fluxos de migrantes Assim o SECA era alicerccedilado em trecircs pilares sendo eles a
harmonia das normas de proteccedilatildeo cooperaccedilatildeo entre os paiacuteses membros e maior
solidariedade entre os paiacuteses da UE e esta com os demais paiacuteses (natildeo pertencentes agrave UE)206
Vaacuterios satildeo os documentos elaborados para obter a harmonia desejada alguns deles
inclusive jaacute discutidos neste trabalho Poreacutem aleacutem destes documentos tem-se as diretivas
europeias que norteiam os Estados-membros a fim de obter o tatildeo desejado ldquosistema comumrdquo
Assim cita-se algumas importantes diretivas Diretiva 201195UE Diretiva 201332UE
Diretiva 201333UE e 2008115CE
A primeira (Diretiva 201195UE) traz as motivaccedilotildees para que se conceda a proteccedilatildeo
internacional bem como melhorar as medidas de integraccedilatildeo para os indiviacuteduos que
206 COMISSAtildeO EUROPEIA Common European Asylum System Disponiacutevel em httpseceuropaeuhome-
affairswhat-we-dopoliciesasylum_en Acesso em 27052020
68
receberem a proteccedilatildeo internacional207 Portanto esta diretiva tem por finalidade
ldquoestabelecer normas comuns relativas agrave identificaccedilatildeo dos cidadatildeos de paiacuteses terceiros ou
apaacutetridas que necessitam verdadeiramente de proteccedilatildeo internacional na Uniatildeo Europeia
(UE) como refugiados ou beneficiaacuterios de proteccedilatildeo subsidiaacuteriardquo208
Assim essa Diretiva traz normas comuns para o enquadramento no status de
refugiado ou de proteccedilatildeo subsidiaacuteria ressaltando que os paiacuteses membros podem ter normas
mais beneacuteficas do que as previstas no mencionado documento Tem-se aqui que a condiccedilatildeo
de refugiado tem por base a Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 e a proteccedilatildeo subsidiaacuteria traz a
situaccedilatildeo quando natildeo haacute o enquadramento na condiccedilatildeo de refugiado poreacutem o indiviacuteduo tem
um risco real de sofrer uma ofensa grave caso retorne para seu paiacutes de origem (entende-se
por ofensa grave a pena de morte tortura ameaccedila agrave integridade fiacutesica ou agrave vida)209
A Diretiva 201332UE refere-se aos procedimentos de asilo e tem a finalidade de
decisotildees de asilo mais justas raacutepidas e de melhor qualidade Sendo assim os procedimentos
natildeo devem ultrapassar o periacuteodo de 6 meses Esse documento tambeacutem traacutes garantias
especiacuteficas para menores natildeo acompanhados e pessoas com necessidades especiais (idosos
deficientes doenccedila orientaccedilatildeo sexual trauma entre outros)210
A Diretiva 201333UE refere-se agraves condiccedilotildees de acolhimento dos requerentes de
proteccedilatildeo internacional ou seja a questatildeo da moradia e de vida dos requerentes de proteccedilatildeo
internacional Dessa maneira eacute de extrema importacircncia que os direitos fundamentais dos
indiviacuteduos sejam respeitados bem como se for o caso de detenccedilatildeo do indiviacuteduo que seja
em uacuteltimo recurso211
E por fim a Diretiva 2008115CE refere-se aos procedimentos comuns dos Estados-
membros para regresso de cidadatildeos de paiacuteses terceiros que natildeo estatildeo com sua situaccedilatildeo
regularizada no entanto chama-se a atenccedilatildeo do artigo 5ordm deste documento no qual consta
entre outras disposiccedilotildees que os Estados-membros devem respeitar o princiacutepio da natildeo-
repulsatildeo como segue ldquoc) O estado de sauacutede do nacional de paiacutes terceiro em causa e
207 COMISSAtildeO EUROPEIA Common European Asylum System Op cit 208 EUR-LEX Diretiva 201195UE Disponiacutevel em httpseur-lexeuropaeulegal-
contentPTLSUuri=celex32011L0095 Acesso em 27052020 209 Ibidem 210 EUR-LEX Diretiva 201332UE Disponiacutevel em httpseur-lexeuropaeulegal-
contentPTTXTuri=LEGISSUM23010502_1 Acesso em 27052020 211 EUR-LEX Diretiva 201333UE Disponiacutevel em httpseur-lexeuropaeulegal-
contentPTTXTuri=LEGISSUM23010502_2 Acesso em 27052020
69
respeitar o princiacutepio da natildeo-repulsatildeordquo212 Portanto apesar da mencionada diretiva dispor a
respeito do retorno de pessoas com situaccedilatildeo irregular ela consta expressamente o respeito
ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo
23 Ordens juriacutedicas nacionais Itaacutelia Portugal Greacutecia Malta Espanha
Franccedila e Alemanha
Este toacutepico eacute destinado ao estudo de algumas legislaccedilotildees nacionais a fim de comparar
os respectivos ordenamentos juriacutedicos Assim foram escolhidos paiacuteses como Itaacutelia Greacutecia
e Malta por sofrerem constantemente com chegada de refugiados pelo Mar Mediterracircneo
Franccedila e Alemanha por serem paiacuteses que apesar de natildeo estarem proacuteximos do Mar
Mediterracircneo recebem milhares de refugiados todos os anos Espanha e Portugal pela
proximidade com o Mediterracircneo sendo que a Espanha jaacute ofereceu porto para desembarque
de um barco de refugiados quando este foi rejeitado pela Itaacutelia213 Para anaacutelise da legislaccedilatildeo
de asiloproteccedilatildeo internacional dos paiacuteses foram utilizados livros mas principalmente
consulta nos sites dos governos de cada paiacutes
231 Itaacutelia
No ano de 2016 foi o auge de desembarques de migrantes na Itaacutelia foram 181436
migrantes que desembarcaram em busca de proteccedilatildeo internacional Nos anos seguintes
houve uma diminuiccedilatildeo de pessoas que chegaram no paiacutes sendo 11097 pessoas no ano de
2019 Poreacutem ao se comparar o periacuteodo de janeiro a junho de 2019 com o mesmo periacuteodo
em 2020 (ateacute o dia 15062020) nota-se um aumento de 2144 para 5639 migrantes214
Na Itaacutelia entende-se que assim que o migrante chegar agrave costa do paiacutes deve haver um
breve reconhecimento do tratamento daqueles que procuram proteccedilatildeo apoacutes isso procede-se
212 UNIAtildeO EUROPEIA Diretiva 2008115CE Disponiacutevel em httpseur-lexeuropaeulegal-
contentPTTXTuri=CELEX3A32008L0115 Acesso em 27052020 213 Situaccedilatildeo que ocorreu em agosto de 2019 quando a Itaacutelia recusou o desembarque do barco Open Arms e a
Espanha ofereceu porto poreacutem a ONG responsaacutevel rejeitou o pedido dizendo que natildeo havia condiccedilotildees para
uma jornada tatildeo longa ateacute a Espanha pois jaacute estavam a 17 dias no mar Fonte Jornal El Paiacutes Espanha oferece
porto para navio com imigrantes rejeitados pela Itaacutelia mas ONG recusa Disponiacutevel
httpsbrasilelpaiscombrasil20190818internacional1566124937_065336html Acesso em 07042020 214 MINISTERO DELLrsquoINTERNO Cruscotto statistico giornaliero Disponiacutevel em
httpwwwlibertaciviliimmigrazionedlciinternogovititdocumentazionestatisticacruscotto-statistico-
giornaliero Acesso em 19062020
70
agrave anaacutelise do procedimento de asilo e dos pedidos de proteccedilatildeo internacional Assim em um
primeiro momento faz-se uma distinccedilatildeo entre os migrantes econocircmicos e agravequeles que
solicitam a proteccedilatildeo internacional215
Nesse sentido em setembro de 2015 o Ministeacuterio do Interior da Itaacutelia publicou a
ldquoRoadmap italianardquo que consiste em explicar as medidas adotadas pelo governo para
administrar os migrantes que chegariam na costa italiana Ressalta-se poreacutem que natildeo
consiste em um texto legal mas sim uma nota de endereccedilo formal presente em uma circular
ministerial publicada no mecircs seguinte216
A ideia eacute que todos migrantes que cheguem aos pontos chamados ldquocentros de criserdquo
que ficam proacuteximos aos principais portos no sul da Itaacutelia para que ocorra uma preacute-
identificaccedilatildeo anaacutelise das condiccedilotildees de sauacutede e tambeacutem a respeito da entrada ilegal
ressalta-se que tais centros satildeo fechados ou seja ocorre uma privaccedilatildeo de liberdade
temporaacuteria para que sejam feitos os procedimentos necessaacuterios217
Sobre os chamados ldquocentros de criserdquo notamos que o artigo 8 nuacutemero 2 do Decreto
Legislativo 1422015 reitera a preacute-identificaccedilatildeo dos requerentes de proteccedilatildeo internacional
nos termos previstos no Decreto-Lei nordm 451 de 30 de outubro de 1995 em que prevecirc a criaccedilatildeo
dessas estruturas de acolhimento218
Dessa forma destaca-se a importacircncia de haver uma distinccedilatildeo nestes ldquocentros de
criserdquo dos migrantes econocircmicos dos que procuram proteccedilatildeo internacional humanitaacuteria219
ou seja eacute importante haver a distinccedilatildeo do tipo de migrante para saber se o indiviacuteduo se
enquadra nas hipoacuteteses de refugiado (conforme jaacute visto anteriormente na Convenccedilatildeo da
ONU de 1951) e assim receber proteccedilatildeo internacional220
Os requerimentos de asilo devem ser realizados nos postos de fronteira (ou na poliacutecia
de fronteira) poreacutem destaca-se que estes natildeo satildeo os oacutergatildeos competentes pela anaacutelise dos
215 SAVIO Guido Capitolo II Le procedure amministrative della domanda drsquoasilo dallrsquoavvio alla decisione
In ROCCA Paolo Immigrazione Asilo e Cittadinanza IV Edizione Maggioli Editore Santarcangelo di
Romagna 2019 216 Ibidem 217 Ibidem 218 REPUBBLICA ITALIANA Gazzetta Ufficiale della Reppublica Italiana - Decreto Legislativo 18 Agosto
2015 N 142 Disponiacutevel em httpswwwgazzettaufficialeiteliid2015091515G00158sg Acesso em
11052020 219 SAVIO Guido Op cit 220 NACcedilOtildeES UNIDAS Qual a diferenccedila entre lsquorefugiadosrsquo e lsquomigrantesrsquo Disponiacutevel em
httpsnacoesunidasorgqual-a-diferenca-entre-refugiados-migrantesamp Acesso em 11052020
71
requerimentos Portanto estes oacutergatildeos de fronteira devem remeter os requerimentos agraves
Comissotildees Territoriais responsaacuteveis pela anaacutelise dos pedidos de asilo221
A respeito dessas Comissotildees Territoriais tem-se que no artigo 4 do Decreto-
Legislativo 252008 dispotildee a respeito desses oacutergatildeos Assim tais oacutergatildeos fazem uso de
estruturas do Ministeacuterio do Interior e podem ser no maacuteximo 10 comissotildees (conforme n2 do
mencionado artigo) destaca-se o fato de um dos integrantes dessas comissotildees serem
representantes do ACNUR222
Entatildeo a respeito do pedido de asilo deve ser preenchido um formulaacuterio chamado
C3 que deve ser acompanhado com os documentos necessaacuterios Tal requerimento deve ser
feito dentro de 3 dias uacuteteis depois da manifestaccedilatildeo da intenccedilatildeo de requerer proteccedilatildeo
internacional ou 6 dias uacuteteis se a manifestaccedilatildeo de vontade foi feita na poliacutecia de fronteira
ressalta-se que pode haver um aumento desse prazo em casos de altas demandas neste caso
aceita-se o requerimento em ateacute 10 dias uacuteteis223
Nesse sentido o Decreto-Legislativo 252008 no artigo 6 nuacutemero 1 dispotildee o
seguinte ldquoLa domanda di protezione internazionale e presentata personalmente dal
richiedente presso lufficio di polizia di frontiera allatto dellingresso nel territorio
nazionale o presso lufficio della questura competente in base al luogo di dimora del
richiedente224rdquo
Apoacutes a apresentaccedilatildeo do requerimento de asilo os requerentes possuem o direito de
permanecer na Itaacutelia por um periacuteodo de 6 meses podendo ser prorrogado pelo periacuteodo que
durar a anaacutelise do pedido Assim apoacutes haacute a autorizaccedilatildeo de trabalho para os requerentes bem
como usufruir das garantias previstas no artigo 10 do Decreto-Legislativo 252008 que
incluem entre outras o direito agrave informaccedilatildeo (assim como previsto na Diretiva 201313UE)
direito de contato com o ACNUR direito agrave assistecircncia linguiacutestica etc225
Para o estrangeiro que requerer proteccedilatildeo internacional aleacutem da autorizaccedilatildeo de
moradia durante a anaacutelise do procedimento da requisiccedilatildeo de asilo teraacute acesso agraves medidas de
221 SAVIO Guido Op cit 222 REPUBBLICA ITALIANA Gazzetta Ufficiale della Reppublica Italiana - Decreto Legislativo 28 Gennaio
2008 N 25 Disponiacutevel em
httpswwwgazzettaufficialeitattoserie_generalecaricaDettaglioAttooriginarioattodataPubblicazioneGa
zzetta=2008-02-16ampattocodiceRedazionale=008G0044ampelenco30giorni=false Acesso em 12052020 223 SAVIO Guido Op cit 224 REPUBBLICA ITALIANA Gazzetta Ufficiale della Reppublica Italiana - Decreto Legislativo 28 Gennaio
2008 N 25 Op cit 225 SAVIO Guido Op cit
72
acolhimento previstas no Decreto Legislativo 1422015226 sobre este documento tem-se no
artigo 8ordm uma explicaccedilatildeo sobre o que eacute o sistema de colhimento dividido em duas fases
Assim a base deste sistema consiste na ldquo()leale collaborazione tra i livelli di governo
interessati secondo le forme di coordinamento nazionale e regionale ()rdquo227
Dessa forma como supramencionado com base na leitura do artigo percebemos a
existecircncia de duas fases no sistema de acolhimento A primeira consiste no acolhimento
assegurado como previsto nos artigos de 9 a 11 do decreto (que dispotildeem sobre as estruturas
de primeiro acolhimento modalidades e medidas extraordinaacuterias) e a segunda disciplinada
no artigo 14 que dispotildee que caso o estrangeiro natildeo tenha condiccedilotildees de arcar com uma vida
digna (com qualidade de vida) ela teraacute acesso ao SPRAR (Sistema de Proteccedilatildeo para o
Requerente de Asilo e Refugiado)228 Portanto destaca-se que haacute duas estruturas de
acolhimento uma referida no artigo 9 e outra no artigo 14
Ressalta-se poreacutem que em 2018 houve uma reforma com o Decreto-Legislativo
1132018 no qual foi estruturado um sistema de acolhimento separado para solicitantes de
asilo nos centros extraordinaacuterios229 estes estatildeo previstos no artigo 11 do Decreto 1422015
assim tal dispositivo prevecirc que em casos de natildeo haver vagas nas estruturas de acolhimento
previstas nos artigos 9 e 14 a recepccedilatildeo pode ser realizada pelas prefeituras em estruturas
temporaacuterias montadas especificamente para estes casos depois de ouvido o Departamento
pela Liberdade Civil e Imigraccedilatildeo do Ministeacuterio do Interior230 Nesse sentido o Decreto
1132018 traz a reforma dispondo a respeito de um sistema de acolhimento de forma
separada para os solicitantes de asilo nestes centros extraordinaacuterios231
Diante da reforma ocorrida em 2018 as estruturas previstas no Decreto-Legislativo
1422015 continuam em vigor para um sistema comum de asilo jaacute as novas estruturas
extraordinaacuterias satildeo destinadas agraves requisiccedilotildees de asilo das pessoas que necessitam de proteccedilatildeo
226 SAVIO Guido Op cit 227 REPUBBLICA ITALIANA Gazzetta Ufficiale della Reppublica Italiana - Decreto Legislativo 18 agosto
2015 n 142 ndash Art 8 Disponiacutevel em httpswwwgazzettaufficialeiteliid2015091515G00158sg Acesso
em 23052020 228 Ibidem 229 SAVIO Guido Op cit 230 REPUBBLICA ITALIANA Gazzetta Ufficiale della Reppublica Italiana - Decreto Legislativo 18 agosto
2015 n 142 Disponiacutevel em httpswwwgazzettaufficialeiteliid2015091515G00158sg Acesso em
23052020 231 SAVIO Guido Op cit
73
internacional Sendo que as estruturas extraordinaacuterias satildeo administradas pelos governos
locais232
No que se refere agraves requisiccedilotildees de proteccedilatildeo internacional na Itaacutelia elas devem ser
validadas caso a caso por um oacutergatildeo instituiacutedo pelo Ministeacuterio do Interior chamado Comissatildeo
Nacional para o Direito de Asilo (sediada em Roma) mas articulada em 20 Comissotildees
Territoriais e 30 seccedilotildees separadas destas comissotildees Sendo que estas Comissotildees Territoriais
estatildeo instaladas nas prefeituras233
Portanto sendo a Itaacutelia um dos paiacuteses que mais sofrem com a chegada de imigrantes
notamos que possui ampla legislaccedilatildeo no que se refere a asilo e acolhimento de pessoas que
necessitam de proteccedilatildeo internacional bem como possui oacutergatildeos para melhor organizaccedilatildeo da
estrutura de acolhimento Obviamente existem muitas criacuteticas a respeito deste sistema
poreacutem se deve levar em conta que satildeo milhares de pessoas que chegam na Itaacutelia requerendo
proteccedilatildeo Esse grande fluxo migratoacuterio na Itaacutelia faz com que o paiacutes viole reiteradamente os
direitos humanos dos migrantes obviamente natildeo se deve justificar as violaccedilotildees pelo grande
fluxo no entanto alguma accedilatildeo para administraccedilatildeo e organizaccedilatildeo dos migrantes deve ser
tomada a fim de desafogar os paiacuteses de entrada Uma melhor distribuiccedilatildeo dos migrantes eacute
uma das propostas do Novo Pacto sobre Migraccedilatildeo e Asilo
232 Portugal
Portugal assim como outros paiacuteses europeus eacute signataacuterio dos principais diplomas
internacionais como a Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 Protocolo de Nova Iorque e a
Convenccedilatildeo de Dublin que foram explicados anteriormente em acircmbito nacional o
documento que disciplina a questatildeo de asilo e proteccedilatildeo internacional eacute a Lei nordm 262014 de
5 de maio
O procedimento para requisiccedilatildeo de asilo e proteccedilatildeo internacional em Portugal se
inicia atraveacutes de requisiccedilatildeo ao SEF (Serviccedilo de Estrangeiros e Fronteiras) ou qualquer outra
autoridade policial dessa forma seraacute feita a identificaccedilatildeo do imigrante atraveacutes de seus dados
foto e impressotildees digitais (para maiores de 14 anos) assim receberaacute um comprovante de que
requereu a proteccedilatildeo e poderaacute permanecer no paiacutes ateacute o final do procedimento Caso o
232 SAVIO Guido Op cit 233 Ibidem
74
requerimento seja realizado em um posto de fronteira deveraacute permanecer ali por pelo menos
7 dias ateacute que se tenha alguma decisatildeo a respeito do pedido se admitirem o pedido seraacute
autorizada a entrada em Portugal caso contraacuterio deveraacute ser enviado ao paiacutes de origem (haacute a
possibilidade de recorrer com efeito suspensivo no prazo de 4 dias) mas se o pedido for
realizado jaacute no territoacuterio portuguecircs eacute encaminhado para centros de acolhimento de
requerentes de proteccedilatildeo e laacute deveraacute esperar ser convocado para entrevista em alguma agecircncia
do SEF
Na entrevista seratildeo analisados os fatos e se a decisatildeo for positiva receberaacute uma
autorizaccedilatildeo de residecircncia no prazo de 6 meses apoacutes esse periacuteodo seraacute analisado se a pessoa
reuacutene os requisitos para obtenccedilatildeo de asilo ou de proteccedilatildeo subsidiaacuteria Neste periacuteodo destaca-
se que o indiviacuteduo poderaacute trabalhar eou estudar Se a decisatildeo for negativa a pessoa teraacute o
prazo de 20 dias para deixar o paiacutes mas tem o prazo de 15 dias para apresentar recurso234
A decisatildeo pode ser para conceder o asilo com base no Estatuto de Refugiado
(Convenccedilatildeo de 1951) e neste caso seraacute emitida uma autorizaccedilatildeo de residecircncia por 5 anos
podendo ser renovaacutevel poreacutem se o caso for de proteccedilatildeo subsidiaacuteria a autorizaccedilatildeo de
residecircncia eacute de 3 anos tambeacutem podendo ser renovaacutevel235
Ressalta-se que a concessatildeo de asilo com base no Estatuto do Refugiado tem por base
a Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 jaacute a proteccedilatildeo subsidiaacuteria natildeo tem por base este diploma
poreacutem as pessoas ldquo() natildeo podem regressar ao seu paiacutes por aiacute se verificar a violaccedilatildeo
sistemaacutetica dos direitos humanos ou por correrem o risco de sofrerem ofensa grave pena de
morte tortura ou tratamento desumano e degradanterdquo236
Ainda referente agraves questotildees de apoio ao refugiado cita-se o CPR (Conselho
Portuguecircs para os Refugiados) que consiste em uma ONG parceira do ACNUR para prestar
auxiacutelio aos refugiados alocados em Portugal Sendo assim faz-se importante destacar que
esta estrutura ldquoEacute o parceiro operacional do Alto Comissariado das Naccedilotildees Unidas
(ACNUR) para Portugal mantendo um Protocolo de Cooperaccedilatildeo desde Julho de 1993 que
visa agrave proteccedilatildeo juriacutedica e social dos requerentes de asilo e dos refugiados A partir de
234 PORTUGAL Serviccedilo de Estrangeiros e Fronteiras ndash Etapas do Procedimento de Proteccedilatildeo Internacional
Disponiacutevel em
httpswwwsefptptDocumentsFolheto20InformaC3A7C3A3o20ProteC3A7C3A3o
20Internacionalpdf Acesso em 23052020 235 Ibidem 236 Ibidem
75
Dezembro de 1998 data do encerramento do ACNUR em Portugal o CPR passou a
representar esta organizaccedilatildeo no nosso paiacutesrdquo237
Nota-se que a estrutura para recebimento de refugiado em Portugal eacute muito mais
simples que a italiana isso talvez se justifique pelo fato da Itaacutelia receber milhares de
refugiados de forma direta ou seja chegam diretamente em terras italianas por embarcaccedilotildees
clandestinas eou de ONGrsquos na costa requerendo ajuda por fugirem de situaccedilotildees de
sofrimento e ofensas aos direitos humanos
233 Greacutecia
Assim como a Itaacutelia a Greacutecia eacute um dos paiacuteses que mais sofrem com a chegada de
migrantes devido agrave proximidade com paiacuteses do Oriente Meacutedio e Norte da Aacutefrica muitos
refugiados chegam diretamente no paiacutes atraveacutes das embarcaccedilotildees pelo mar mediterracircneo e
tambeacutem pela Turquia
Para comeccedilarmos entender a estrutura de asilo no paiacutes helecircnico vamos ter por base o
Serviccedilo de Asilo (Asylum Service) instituiacutedo pela Lei nordm 39072011 sendo esta instituiccedilatildeo
responsaacutevel por analisar os pedidos de proteccedilatildeo internacional Trata-se portanto da primeira
instituiccedilatildeo autocircnoma para este objetivo238
Assim as funccedilotildees do Serviccedilo de Asilo consistem em analisar e aplicar as disposiccedilotildees
nacionais bem como observar as obrigaccedilotildees internacionais ao reconhecer um indiviacuteduo
como refugiado Aleacutem disso tambeacutem tem a funccedilatildeo de elaborar as poliacuteticas nacionais no que
se refere agrave proteccedilatildeo internacional e cooperaccedilatildeo com as organizaccedilotildees internacionais e da
Uniatildeo Europeia239
A estrutura desta instituiccedilatildeo eacute baseada em um escritoacuterio central escritoacuterios regionais
de asilo e unidades de asilo sendo que a primeira assessora e controla as demais estruturas
menores Assim o Serviccedilo de Asilo somente se reporta ao Ministro da Proteccedilatildeo do
Cidadatildeo240
237 CONSELHO PORTUGUEcircS PARA OS REFUGIADOS Histoacuteria Disponiacutevel httpscprpthistoria
Acesso em 24052020 238 HELLENIC REPUBLIC Asylum Service Disponiacutevel httpasylogovgrenpage_id=39 Acesso em
24052020 239 Ibidem 240 Ibidem
76
A respeito da concessatildeo da proteccedilatildeo internacional a Lei nordm 43752016 no artigo 21
modificou o decreto presidencial 1412013 Neste dispositivo haacute a informaccedilatildeo de que
quando concedida a proteccedilatildeo internacional o refugiado tem a autorizaccedilatildeo de residecircncia por
3 anos devendo requerer a renovaccedilatildeo (se for o caso) ateacute 30 dias antes do vencimento poreacutem
ressalta-se que o simples atraso natildeo deve ser motivo para rejeiccedilatildeo da renovaccedilatildeo Ainda no
mesmo dispositivo haacute previsatildeo da uniatildeo familiar do refugiado241
Na parte C da lei mencionada acima haacute adoccedilatildeo da Diretiva 201332UE sendo que
no artigo 33 haacute a menccedilatildeo do artigo 1ordm da diretiva que consiste na adoccedilatildeo comum de
procedimentos como disposto ldquo()on common procedures for granting and withdrawing
international protection statusrdquo242
Assim no artigo 34 da Lei nordm 43752016 faz referecircncia aos artigos 2 e 4 da diretiva
supramencionada trazendo uma seacuterie de conceitos e disposiccedilotildees para requisiccedilatildeo de asilo
para pessoas de uma mesma famiacutelia Ressalta-se tambeacutem que a interpretaccedilatildeo deve ser feita
com base nas disposiccedilotildees nacionais internacionais bem como na jurisprudecircncia243
A respeito dos pedidos de asilo tem-se que estes natildeo devem ser rejeitados apenas
por natildeo terem sido enviados rapidamente Assim na anaacutelise de todos os pedidos de proteccedilatildeo
internacional primeiro se analisa se haacute o enquadramento no status de refugiado caso natildeo
ocorra esse enquadramento deve-se analisar se eacute o caso de proteccedilatildeo subsidiaacuteria (conforme
artigo 39 da Lei nordm 43752016 e artigo 10 da Diretiva 201332EU)244
Assim como em outros paiacuteses a Greacutecia tambeacutem dispotildee que os pedidos devem ser
analisados individualmente sendo um processo de anaacutelise abrangente objetivo e imparcial
Nesse sentido o Serviccedilo de Asilo deve ter conhecimento de qual eacute a situaccedilatildeo no paiacutes de
origem das pessoas que pedem refuacutegio bem como deve assegurar que a equipe que analisa
os pedidos tenha amplo conhecimento das disposiccedilotildees nacionais internacionais e
jurisprudecircncias no que se refere agrave proteccedilatildeo internacional (para isso cita-se a realizaccedilatildeo de
treinamentos da equipe)245
A respeito do procedimento ele eacute gratuito e o pedido deve ser feito perante os
escritoacuterios regionais ou unidades de asilo o pedido tambeacutem pode ser feito para todos os
241 HELLENIC REPUBLIC Legislation Disponiacutevel httpasylogovgrenpage_id=113 Acesso em
24052020 242 Ibidem 243 Ibidem 244 Ibidem 245 Ibidem
77
integrantes da famiacutelia que estejam na Greacutecia Haacute tambeacutem a possibilidade de que um
advogado ou conselheiro acompanhe o processo poreacutem sem a intermediaccedilatildeo do Serviccedilo de
Asilo sendo as custas arcadas de forma independente pelo requisitante de asilo Durante o
procedimento assim como em outros paiacuteses ocorre a entrevista do requerente que apoacutes esta
recebe um cartatildeo que lhe assegura estar sob condiccedilatildeo de proteccedilatildeo246
Por fim de forma sinteacutetica podemos notar que a Greacutecia assim como os demais paiacuteses
da Uniatildeo Europeia segue as normas internacionais bem como as diretivas europeias que
norteiam o assunto Poreacutem em 2019 o paiacutes helecircnico comeccedilou com procedimentos com uma
seacuterie de reformas da legislaccedilatildeo nacional a fim de dificultar o procedimento e concessatildeo de
pedido de asilo O governo grego disse que a maioria dos migrantes que laacute chegam
atualmente natildeo satildeo os que necessitam de proteccedilatildeo internacional que se trata de migrantes
econocircmicos Tal argumento foi refutado pelo ACNUR que disse que 85 dos refugiados
que chegam atualmente na Greacutecia satildeo provenientes da Siacuteria Afeganistatildeo Iraque Repuacuteblica
Democraacutetica do Congo entre outros paiacuteses247
Nesse sentido a Anistia Internacional se manifestou a respeito dizendo ldquoThe new
Bill introduces significant changes to asylum procedures the rights and obligations of
asylum seekers reception and detention as well as economic social and cultural rightsrdquo
Dessa forma o governo grego alterou o conceito de pessoas vulneraacuteveis excluindo as
pessoas que se enquadram em situaccedilatildeo de estresse poacutes-traumaacutetico Trata-se de uma
significativa mudanccedila tendo em vista que a maioria dos requerentes de proteccedilatildeo
internacional sofre com esse transtorno pois estavam expostos a diversas situaccedilotildees como
de violecircncia fiacutesica e psicoloacutegica por exemplo248
Outro ponto importante eacute a ideia de acelerar os procedimentos de asilo tornando a
anaacutelise mais superficial e sem aprofundamento no meacuterito de cada pedido de asilo aleacutem disso
tambeacutem impacta as pessoas em que a proteccedilatildeo internacional eacute concedida ou seja dificulta
o acesso ao mercado de trabalho ao sistema de sauacutede e agrave educaccedilatildeo altera a composiccedilatildeo do
246 HELLENIC REPUBLIC Legislation Op cit 247 NATIONAL INTEGRATION EVALUATION MECHANISM (NIEM) The new law on asylum in Greece
Disponiacutevel em httpwwwforintegrationeuplthe-new-law-on-asylum-in-greece Acesso em 25052020 248 ANISTIA INTERNACIONAL Greece Proposed bill on asylum downgrades EU and International Law
standards on refugees protection 2019 Disponiacutevel em httpwwwantigonegrennewspost452 Acesso em
25052020
78
Serviccedilo de Asilo entre outras reformas no sentido de prejudicar a concessatildeo de proteccedilatildeo
internacional249
Sendo assim muitas satildeo as criacuteticas a respeito da nova lei grega para a concessatildeo da
proteccedilatildeo internacional o ACNUR recebeu com preocupaccedilatildeo a notiacutecia da possibilidade de
reforma pois tal mudanccedila enfraqueceria a proteccedilatildeo internacional dos indiviacuteduos
necessitados O oacutergatildeo reconheceu que a necessidade de fortalecimento da legislaccedilatildeo grega
sobre o tema poreacutem natildeo da forma como tem sucedido ou seja tal projeto de lei
sobrecarrega os requerentes de asilo250
E mesmo sob criacuteticas de diversas organizaccedilotildees internacionais como a Anistia
Internacional o ACNUR (ONU) Meacutedicos Sem Fronteiras entre outras em maio de 2020 a
governo helecircnico aprovou a nova lei de asilo em detrimento dos direitos dos indiviacuteduos que
necessitam de proteccedilatildeo internacional251
Aleacutem disso adiante demonstraraacute adiante mais claramente que a Greacutecia natildeo tem sido
um paiacutes seguro para requerer asilo tendo em vista muitas violaccedilotildees dos direitos humanos
inclusive com relatoacuterio do ACNUR orientando os paiacuteses para que natildeo enviem os migrantes
para Greacutecia devido agraves violaccedilotildees e falta de cuidados com os mesmos Ademais uma
reportagem do jornal ldquoThe New York Timesrdquo citada no uacuteltimo capiacutetulo trouxe agrave tona a
violaccedilatildeo grega de deixar migrantes agrave deriva no mar levando-os ateacute a fronteira do mar
territorial e abandonando-os
234 Malta
A ilha de Malta sofre com a chegada de milhares de refugiados da mesma forma que
a Itaacutelia e a Greacutecia principalmente por embarcaccedilotildees clandestinas ou de ONGrsquos tendo origem
no norte do continente africano em paiacuteses como a Liacutebia por exemplo Sendo assim eacute um
dos paiacuteses mais afetados pela migraccedilatildeo em busca de proteccedilatildeo internacional da Uniatildeo
Europeia
249 ANISTIA INTERNACIONAL Greece Proposed bill on asylum downgrades EU and International Law
standards on refugees protection 2019 Op cit 250 UNHCR GREECE UNHCR urges Greece to strengthen safeguards in draft asylum law 2019 Disponiacutevel
em httpswwwunhcrorggren13170-unhcr-urges-greece-to-strengthen-safeguards-in-draft-asylum-
lawhtml 251 DIAacuteRIO DE NOTIacuteCIAS Greacutecia aprova nova reforma na lei de asilo do paiacutes 2020 Disponiacutevel em
httpswwwdnoticiasptmundogrecia-aprova-nova-reforma-na-lei-de-asilo-do-pais-FE6240421 Acesso em
25052020
79
Assim o oacutergatildeo responsaacutevel pela anaacutelise dos pedidos de proteccedilatildeo internacional em
Malta faz parte do Ministeacuterio de Assuntos Internos e Seguranccedila Nacional e consiste no
Escritoacuterio do Comissaacuterio para Refugiados A criaccedilatildeo deste estaacute prevista na Lei dos
Refugiados (capiacutetulo 420 das Leis de Malta) e tomou agrave frente da anaacutelise dos requerimentos
de asilo em janeiro de 2002 anteriormente a anaacutelise era realizada pelo ACNUR
A principal funccedilatildeo do referido oacutergatildeo eacute receber processar e determinar os pedidos de
proteccedilatildeo internacional conforme previsto na Lei dos Refugiados (alterada pelas leis VI e
VII em 2015) e na Legislaccedilatildeo Subsidiaacuteria 42007 Aleacutem destas leis que consistem na
legislaccedilatildeo nacional a respeito da concessatildeo de proteccedilatildeo internacional observa-se tambeacutem a
Convenccedilatildeo de Genebra Protocolo de Nova Iorque Convenccedilatildeo de Dublin e diretrizes
europeias sobre o tema252
As pessoas que necessitam de proteccedilatildeo para requisitarem a concessatildeo de asilo
devem contatar o Escritoacuterio do Comissaacuterio para Refugiado ou alguma outra autoridade de
Malta para demonstrar a intenccedilatildeo de obter a proteccedilatildeo internacional Assim os indiviacuteduos
satildeo orientados a preencher o chamado ldquoQuestionaacuterio Preliminarrdquo apoacutes a apresentaccedilatildeo deste
documento o Escritoacuterio do Comissaacuterio para Refugiado eacute o oacutergatildeo competente para analisar
os pedidos Obedece-se portanto as previsotildees da Convenccedilatildeo de Dublin253
Para auxiliar na anaacutelise do pedido eacute realizada entrevista (pelo menos uma) assim
como em outros paiacuteses europeus e esta eacute realizada por uma assistente social e inteacuterprete se
for o caso O procedimento para requerimento de asilo eacute uacutenico Portanto em um primeiro
momento eacute analisado se o indiviacuteduo se enquadra nos requisitos para a concessatildeo do status
de refugiado caso natildeo seja concedida a condiccedilatildeo de refugiado analisa-se se eacute a situaccedilatildeo de
concessatildeo de proteccedilatildeo subsidiaacuteria254
Apoacutes a anaacutelise informa-se o requerente sobre a decisatildeo constando nela os motivos
que levaram a chegar naquela decisatildeo Haacute a possibilidade de recurso em caso de decisatildeo
negativa sendo que satildeo fornecidas por escrito as informaccedilotildees necessaacuterias para que o
indiviacuteduo apresente o recurso255
252 MINISTRY FOR HOME AFFAIRS AND NATIONAL SECURITY (MALTA) The Office of the Refugee
Commissioner Disponiacutevel em httpshomeaffairsgovmtenmhas-
departmentsthe20office20of20the20refugee20commissionerPagesRefugeeaspx Acesso em
26052020 253 Ibidem 254 Ibidem 255 Ibidem
80
Assim de acordo com a Regra 14 da Legislaccedilatildeo Subsidiaacuteria 42007 uma pessoa a
qual foi concedida proteccedilatildeo internacional pode permanecer em Malta e lhe seraacute entregue
documentos pessoais autorizaccedilatildeo de residecircncia (por 3 anos podendo ser renovada) e
liberdade de circulaccedilatildeo A Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 prevecirc a entrega de um documento
de viagem (para aqueles que possuem status de refugiado jaacute para os que possuem proteccedilatildeo
subsidiaacuteria a legislaccedilatildeo nacional prevecirc a entrega de um documento de viagem permitindo a
pessoa sair e retornar a Malta (com exceccedilatildeo se estiver respondendo processo judicial
criminal ou cumprindo pena) Aleacutem disso os indiviacuteduos detentores de proteccedilatildeo internacional
teratildeo acesso a atividades laborais bem-estar social educaccedilatildeo assistecircncia meacutedica entre
outros benefiacutecios256
Como vimos haacute dois niacuteveis de proteccedilatildeo internacional ter o status de refugiado ou
se natildeo for possiacutevel receber proteccedilatildeo subsidiaacuteria Poreacutem o Escritoacuterio do Comissaacuterio para
Refugiados pode apresentar outro tipo de proteccedilatildeo ou seja a Proteccedilatildeo Humanitaacuteria
Temporaacuteria Tal regime deveraacute ser concedido para casos especiais para as pessoas que natildeo
se enquadrem no status de refugiado e nas condiccedilotildees para receber proteccedilatildeo subsidiaacuteria mas
que sejam considerados necessitados por razotildees humanitaacuterias especiais257
Aleacutem disso Malta ainda possui uma agecircncia voltada para o bem estar do refugiado
(Agecircncia para o Bem-Estar dos Requerentes de Asilo) que auxilia na implementaccedilatildeo da
legislaccedilatildeo nacional e poliacuteticas voltadas para o bem-estar dos requerentes de proteccedilatildeo
internacional bem como em assistecircncia para obtenccedilatildeo de emprego cursos de treinamentos
e de liacutenguas suporte social (sauacutede bem-estar da famiacutelia encaminhamento para apoio
psicoloacutegico e escolaridade)258
No entanto mesmo com toda essa estrutura para acolhimento dos migrantes Malta
a exemplo de outros paiacuteses europeus como Itaacutelia e Greacutecia tambeacutem tem violado direitos
humanos dos refugiados como veremos no uacuteltimo capiacutetulo
256 MINISTRY FOR HOME AFFAIRS AND NATIONAL SECURITY (MALTA) The Office of the Refugee
Commissioner Op cit 257 Ibidem 258 MINISTRY FOR HOME AFFAIRS AND NATIONAL SECURITY (MALTA) AWAS ndash Mission and
Function Disponiacutevel httpshomeaffairsgovmtenMHAS-DepartmentsawasPagesMission-and-
Functionaspx Acesso 26052020
81
235 Espanha
A Espanha tambeacutem eacute um paiacutes que sofre com as migraccedilotildees advindas do Mar
Mediterracircneo poreacutem ressalta-se que os mais afetados ainda satildeo Itaacutelia Greacutecia e Malta
Poreacutem como dito anteriormente a Espanha ofereceu a recepccedilatildeo de uma embarcaccedilatildeo que
estava haacute mais de duas semanas ancorada a 800 metros da costa de Lampedusa (Itaacutelia) com
107 migrantes na qual a Itaacutelia rejeitava o desembarque mas a embarcaccedilatildeo rejeitou o pedido
por natildeo ter condiccedilotildees de navegar ateacute Espanha259
A Espanha aceitou receber os migrantes por entender que a recusa de recebimento
pela Itaacutelia era inconcebiacutevel260 Resultado disso no dia 20 de agosto de 2019 os migrantes
saltaram ao mar para tentar chegar na costa italiana sendo assim as autoridades portuaacuterias
italianas comeccedilaram a resgatar os migrantes261 Poreacutem o assunto de resgate de migrantes no
mar seraacute abordado mais adiante
As principais normativas a respeito de proteccedilatildeo internacional na Espanha consistem
nos seguintes documentos a Lei 122009 regula o direito de asilo e a proteccedilatildeo subsidiaacuteria
o Decreto Real 13252003 que se refere agrave aprovaccedilatildeo do Regulamento a respeito do regime
de proteccedilatildeo temporal quando ocorrer um alto fluxo de pessoas deslocadas o Decreto Real
8652001que diz respeito agrave aprovaccedilatildeo do Estatuto do Apaacutetrida262
Assim o sistema de asilo da Espanha eacute formado por uma rede de centros de
acolhimento (do governo) os chamados CAR (Centros de Acolhida de Refugiados) bem
como disposiccedilotildees e programas que atendem as pessoas solicitantes que estatildeo sob proteccedilatildeo
internacional estes centros satildeo geridos por organizaccedilotildees sem fins lucrativos sob supervisatildeo
da Direccedilatildeo Geral de Migraccedilotildees263
259 O GLOBO Crise envolvendo navio de resgate humanitaacuterio ldquoOpen Armsrdquo contrapotildee Itaacutelia Espanha e ONG
2019 Disponiacutevel em httpsogloboglobocommundocrise-envolvendo-navio-de-resgate-humanitario-open-
arms-contrapoe-italia-espanha-ong-23887061 Acesso em 27052020 260 Ibidem 261 REVISTA VEJA Imigrantes se jogam no mar do navio Open Arms para alcanccedilar a Itaacutelia 2019 Disponiacutevel
httpsvejaabrilcombrmundoimigrantes-se-jogam-do-navio-open-arms-no-mar-alcancar-a-italia Acesso
em 27052020 262 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DE INCLUSIOacuteN SEGURIDAD SOCIAL Y
MIGRACIONES) PORTAL DE INMIGRACIOacuteN ndash Reacutegimen de Asilo Disponiacutevel em
httpextranjerosmitramissgobesesnormativanacionalasiloindexhtml Acesso em 27052020 263 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DE INCLUSIOacuteN SEGURIDAD SOCIAL Y
MIGRACIONES) PORTAL DE INMIGRACIOacuteN ndash Informacioacuten Disponiacutevel em
httpextranjerosmitramissgobesesProteccionAsiloinformacionindexhtml Acesso em 27052020
82
O financiamento dessas ONGrsquos proveacutem da Secretaria Geral de Imigraccedilatildeo e
Emigraccedilatildeo com auxiacutelio em alguns casos do Fundo Social Europeu e Fundo de Asilo
Migraccedilatildeo e Integraccedilatildeo O ACNUR pode intervir nos procedimentos de asilo (nos termos que
a lei permitir) nesse sentido esta organizaccedilatildeo recebe valores da Direccedilatildeo Geral das
Migraccedilotildees264
A lei que regula a questatildeo do asilo e da proteccedilatildeo subsidiaacuteria na Espanha eacute a Lei
122009 e no artigo 231 haacute a previsatildeo da Oficina de Asilo e Refuacutegio que eacute o oacutergatildeo
responsaacutevel pela tramitaccedilatildeo e solicitaccedilotildees de proteccedilatildeo internacional265 Essa informaccedilatildeo estaacute
presente tambeacutem no folheto informativo sobre a proteccedilatildeo internacional que diz que todas as
solicitaccedilotildees satildeo analisadas pela Oficina de Asilo e Refuacutegio e a decisatildeo eacute tomada pelo
Ministeacuterio do Interior266 Assim conforme disposto no site do governo espanhol a Oficina
de Asilo estaacute subordinada agrave Subdireccedilatildeo Geral de Proteccedilatildeo Internacional que por sua vez se
submete agrave Direccedilatildeo Geral de Poliacutetica Interior (inserida portanto no acircmbito do Ministeacuterio do
Interior)267
O procedimento portanto se inicia com a solicitaccedilatildeo do indiviacuteduo perante o posto
fronteiriccedilo (se estaacute chegando na Espanha) ou se jaacute estiver na Espanha na Oficina de Asilo
e Refuacutegio Oficina de Estrangeiros Delegacias de Poliacutecia Autorizadas e Centros de
Internaccedilatildeo para Estrangeiros e devem requerer no prazo de 1 mecircs que estejam na Espanha
ou quando ocorram acontecimentos que justifiquem a requisiccedilatildeo268
A solicitaccedilatildeo deve ser pessoalmente e passaraacute por uma entrevista que deveraacute explicar
os motivos que justifiquem a proteccedilatildeo internacional e como chegou agrave Espanha O requerente
tem o direito de permanecer na Espanha ateacute que se resolva a sua requisiccedilatildeo e ter assistecircncia
sanitaacuteria aleacutem disso tem o direito de ser assistido por um advogado e caso natildeo tenha
264 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DE INCLUSIOacuteN SEGURIDAD SOCIAL Y
MIGRACIONES) PORTAL DE INMIGRACIOacuteN ndash Informacioacuten Op cit 265 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DEL INTERIOR) Oficina de Asilo y Refugio Disponiacutevel em
httpwwwinteriorgobeswebservicios-al-ciudadanooficina-de-asilo-y-refugio Acesso em 27052020 266 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DEL INTERIOR) Informacioacuten para los solicitantes de
proteccioacuten internacional em Espantildea Derecho de Asilo y Proteccioacuten Subsidiaria Disponiacutevel em
httpwwwinteriorgobesdocuments6423171201485Informacion_solicitantes_Asilo_EspaC3B1ol_12
6160083pdfd8fb2cb4-9bc4-4a53-9032-628c02f1e114 Acesso em 27052020 267 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DE INCLUSIOacuteN SEGURIDAD SOCIAL Y
MIGRACIONES) PORTAL DE INMIGRACIOacuteN ndash Informacioacuten Op cit 268 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DEL INTERIOR) Informacioacuten para los solicitantes de
proteccioacuten internacional em Espantildea Derecho de Asilo y Proteccioacuten Subsidiaria Op cit
83
condiccedilotildees de pagar deveraacute requerer agrave ONGrsquos ou Coleacutegios de Advogados Assim que se eacute
realizado a requisiccedilatildeo de asilo deveraacute comunicar o ACNUR269
Da decisatildeo de negativa da concessatildeo de proteccedilatildeo internacional cabe recurso ao juiz
(se a requisiccedilatildeo ocorrer no territoacuterio espanhol) se requereu em um posto fronteiriccedilo deveraacute
permanecer no local sendo que as autoridades possuem ateacute 4 dias para analisar a admissatildeo
do tracircmite Autorizado o procedimento o indiviacuteduo poderaacute entrar no paiacutes caso seja negada
a admissatildeo do pedido o requerente teraacute dois dias para apresentar recurso (chamado reexame)
e a autoridade teraacute dois dias para analisar mesmo assim se ocorrer a negativa o indiviacuteduo
deveraacute deixar a Espanha ou recorrer a um juiz ou tribunal270
O prazo para anaacutelise dos pedidos eacute de seis meses podendo ser reduzido para trecircs
meses em casos urgentes desta decisatildeo caberaacute recurso ao Tribunal (ldquoAudiencia Nacionalrdquo)
e destaca-se que o requerente tem direito a assistecircncia gratuita de um advogado caso natildeo
tenha condiccedilotildees de arcar com os custos271
Anteriormente foi explicado que a Espanha possui em seu sistema de asilo o Centro
de Acolhida dos Refugiados (CAR) que consistem em locais puacuteblicos cuja utilidade eacute o
alojamento assistecircncia social manutenccedilatildeo entre outros serviccedilos sociais com a finalidade
de integrar e facilitar a vida dos requerentes de asilo Sendo assim o seu regramento esta
previsto no Regramento da Lei Orgacircnica 42000 que trata sobre os direitos e liberdades de
estrangeiros na Espanha e tambeacutem da integraccedilatildeo social sendo que estaacute previsto no artigo
2642 os programas para as pessoas que requerem proteccedilatildeo internacional aleacutem disso cita-
se a Ordem Ministerial de 13 de janeiro de 1989 que regula os centros de acolhida de
refugiados e asilados e tambeacutem a Resoluccedilatildeo de 6 de julho de 1998 que aprovou o Estatuto
baacutesico dos CAR que resulta na Ordem de 13 de janeiro de 1989 que os regula272
269 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DEL INTERIOR) Informacioacuten para los solicitantes de
proteccioacuten internacional em Espantildea Derecho de Asilo y Proteccioacuten Subsidiaria Op cit 270 Ibidem 271 Ibidem 272 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DE INCLUSIOacuteN SEGURIDAD SOCIAL Y
MIGRACIONES) PORTAL DE INMIGRACIOacuteN ndash Centro de Acogida a Refugiados (CAR) Disponiacutevel em
httpextranjerosmitramissgobesesproteccionasilocarindexhtml Acesso em 27052020
84
236 Franccedila
Em 2019 a Franccedila se tornou o paiacutes com maior nuacutemero de solicitaccedilotildees de refuacutegio na
Europa Sendo assim eacute o Ministeacuterio do Interior a reparticcedilatildeo do governo responsaacutevel pela
anaacutelise dos pedidos de asilo no paiacutes sendo o Escritoacuterio Francecircs de Proteccedilatildeo dos Refugiados
e Apaacutetridas oacutergatildeo responsaacutevel pela anaacutelise dos requerimentos de proteccedilatildeo internacional
Ao se analisar os dispositivos a respeito de asilo na Franccedila tem-se que logo no
preacircmbulo (Nordm 4) de sua Constituiccedilatildeo este direito estaacute previsto ou seja possuem direito de
asilo no territoacuterio francecircs aqueles que ao buscarem sua liberdade sofrerem algum tipo de
perseguiccedilatildeo Como segue ldquoTout homme perseacutecuteacute en raison de son action en faveur de la
liberteacute a droit dasile sur les territoires de la Reacutepubliquerdquo273 Portanto o direito de asilo no
direito francecircs consiste em um princiacutepio constitucional O direito de asilo estaacute previsto
tambeacutem no Livro VII do Coacutedigo de Entrada e Permanecircncia de Estrangeiros e do Direito de
Asilo (CESEDA)274
O site do governo francecircs dispotildee que o direito de asilo tambeacutem deriva dos
compromissos internacionais assumidos pelo paiacutes ou seja ser signataacuteria da Convenccedilatildeo de
Genebra de 1951 Convenccedilatildeo de Dublin e Diretivas Europeias Aleacutem disso o referido direito
se baseia em trecircs princiacutepios ter seu pedido analisado de forma imparcial direito de proteccedilatildeo
estendida direito de acolhimento e vida digna enquanto aguarda o resultado da
solicitaccedilatildeo275
Por proteccedilatildeo estendida entende-se duas formas de proteccedilatildeo internacional (como jaacute
explicado) isto eacute concessatildeo de status de refugiado ou concessatildeo de proteccedilatildeo subsidiaacuteria O
pedido deve ser analisado de forma imparcial pelo OFPRA e CNDA (Cocircrte Nacional de
Direito de Asilo oacutergatildeo ligado ao Conselho de Estado) Assim o OFPRA eacute vinculado ao
Ministeacuterio do Interior e natildeo deve sofrer interferecircncias da CNDA Portanto caso seja negada
a proteccedilatildeo internacional pelo OFPRA o requerente poderaacute recorrer agrave CNDA e neste caso
ele poderaacute ter acesso agrave assistecircncia juriacutedica E o direito de permanecircncia no territoacuterio francecircs
273 CONSEIL CONSTITUTIONNEL Preacuteambule de la Constitution du 27 Octobre 1946 Disponiacutevel em
httpswwwconseil-constitutionnelfrle-bloc-de-constitutionnalitepreambule-de-la-constitution-du-27-
octobre-1946 Acesso em 27052020 274 MINISTEacuteRE DE LrsquoINTEacuteRIEUR (IMMIGRATION ASILE ACCUEIL ET ACCOMPAGNEMENT DES
EacuteTRANGERS EM FRANCE Les Grands Principes du Droit DrsquoAsile Disponiacutevel em
httpswwwimmigrationinterieurgouvfrAsileLe-droit-d-asileLes-grands-principes-du-droit-d-asile
Acesso em 27052020 275 Ibidem
85
durante a anaacutelise do requerimento em um primeiro momento eacute entregue um certificado de
pedido de asilo com duraccedilatildeo de 1 mecircs podendo ser renovaacutevel Aleacutem do OFPRA e da CNDA
ainda tem o Escritoacuterio Francecircs de Imigraccedilatildeo e Integraccedilatildeo (OFII) que eacute responsaacutevel pela
acomodaccedilatildeo dos requerentes de asilo nos centros de acolhimento276
Portanto em termos de procedimentos e requisitos natildeo haacute muitas alteraccedilotildees de um
paiacutes para o outro (em geral na Uniatildeo Europeia) Poreacutem eacute de faacutecil percepccedilatildeo que a
distribuiccedilatildeo dos oacutergatildeos responsaacuteveis pela anaacutelise dos pedidos eacute diferente entre os paiacuteses a
Franccedila por exemplo possui trecircs oacutergatildeos inclusive um tribunal administrativo para analisar
os recursos das decisotildees
237 Alemanha
A Alemanha assim como a Franccedila eacute um dos paiacuteses da Europa que mais recebem
solicitaccedilotildees de proteccedilatildeo internacional todos os anos sendo que por vaacuterios anos foi o paiacutes
europeu que mais recebeu refugiados No ano de 2019 como jaacute mencionado a Franccedila
ultrapassou a Alemanha nos pedidos de proteccedilatildeo
Entatildeo como na maioria dos paiacuteses o primeiro passo eacute se apresentar perante uma
autoridade do paiacutes (sendo na fronteira ou jaacute no territoacuterio) Assim na Alemanha haacute o registro
de todos os indiviacuteduos que pretendem solicitar o pedido de asilo no paiacutes germacircnico sendo
colhidas impressotildees digitais e fotos para os maiores de 14 anos Os dados satildeo salvos no
ldquoRegistro Central de Estrangeirosrdquo (AZR) assim a anaacutelise se inicia pela comparaccedilatildeo de
dados jaacute salvos (se for o caso) neste registro posteriormente analisa-se no Departamento de
Poliacutecia Criminal Federal se houve a praacutetica de algum crime no paiacutes pelo indiviacuteduo Analisa-
se tambeacutem o EURODAC para se certificar que natildeo haacute nenhum outro paiacutes europeu
responsaacutevel pela anaacutelise do pedido de asilo A respeito do ldquoRegistro Geral de Estrangeirosrdquo
(AZR) trata-se de um registro nacional gerenciado pelo Escritoacuterio Federal sendo um oacutergatildeo
importante de consulta para as autoridades germacircnicas que trabalham com imigraccedilatildeo277
276 MINISTEacuteRE DE LrsquoINTEacuteRIEUR (IMMIGRATION ASILE ACCUEIL ET ACCOMPAGNEMENT DES
EacuteTRANGERS EM FRANCE Les Grands Principes du Droit DrsquoAsile Op cit 277 FEDERAL OFFICE FOR MIGRATION AND REFUGEES The Stages of the German Asylum Procedure
ndash An overview of the individual procedural steps and the legal basis Disponiacutevel em
httpswwwbamfdeSharedDocsAnlagenENAsylFluechtlingsschutzAsylverfahrendas-deutsche-
asylverfahrenpdf__blob=publicationFileampv=12 Acesso em 28052020
86
Ao se registrar o requerente de asilo recebe um documento de comprovaccedilatildeo de
chegada a fim de provar quando necessaacuterio o seu registro perante a autoridade alematilde Este
documento tem tambeacutem a funccedilatildeo de autorizar o indiviacuteduo a residir na Alemanha bem como
assistecircncia de sauacutede acomodaccedilatildeo alimentaccedilatildeo entre outros benefiacutecios estatais278
Apoacutes o registro os requerentes satildeo encaminhados e instalados no centro de
acolhimento mais proacuteximo podendo ser de forma temporaacuteria ou de longo prazo sendo de
ateacute 6 meses ou ateacute que a solicitaccedilatildeo seja decidida Em casos de reagrupamento familiar pode
ser que os indiviacuteduos sejam transferidos de um centro de acolhimento para outro Haacute ainda
a distribuiccedilatildeo dos refugiados pelas ldquoFederal Landrdquo atraveacutes do sistema de cotas EASY
(Distribuiccedilatildeo Inicial dos Requerentes de Asilo)279
Nesses centros de acolhimento as pessoas recebem comida e benefiacutecios a fim de
proporcionar a sua subsistecircncia durante os dias que permanecerem no local Ressalta-se que
haacute inclusive benefiacutecios financeiros para cobrir as necessidades pessoais diaacuterias conforme
a lei de benefiacutecios dos requerentes de asilo (Asylbewerberleistungsgesetz) Ressalta-se que
os requerentes de proteccedilatildeo apesar de poderem residir legalmente na Alemanha enquanto
aguardam a conclusatildeo do processo natildeo podem trabalhar neste periacuteodo280
Considera-se a entrevista a etapa mais importante no procedimento de asilo Assim
os requerentes satildeo convidados para esta etapa e caso natildeo possam comparecer devem avisar
em tempo haacutebil caso contraacuterio o pedido poderaacute ser interrompido ou ateacute recusado Os
requerentes podem estar acompanhados de um advogado ou por um representante do
ACNUR ademais ao longo do trabalho percebe-se a importacircncia deste oacutergatildeo nos
procedimentos de asilo na Alemanha natildeo eacute diferente o ACNUR pode solicitar informaccedilotildees
sobre o trabalho do Escritoacuterio Federal e monitora os procedimentos para garantir que haacute o
respeito pela Convenccedilatildeo de Genebra de 1951281
Haacute tambeacutem o ldquoGerenciamento Integrado de Identidadesrdquo que pode ser uacutetil quando
for necessaacuterio realizar alguns tipos investigaccedilotildees podendo facilitar para obter informaccedilotildees
sobre o caso a ser investigado Esse sistema eacute composto por biometria de imagem (aleacutem das
impressotildees digitais) transliteraccedilatildeo e anaacutelise de nomes biometria de fala avaliaccedilatildeo de miacutedia
278 FEDERAL OFFICE FOR MIGRATION AND REFUGEES The Stages of the German Asylum Procedure
ndash An overview of the individual procedural steps and the legal basis Op cit 279 Ibidem 280 Ibidem 281 Ibidem
87
de dados moacuteveis Essas investigaccedilotildees podem ser necessaacuterias para avaliar casos possiacuteveis de
terrorismo sendo assim haacute a atuaccedilatildeo em conjunto com Centro de Extremismo e Contra-
Terrorismo (GETZ) e Centro Contra o Terrorismo (GTAZ)282
Quem toma a decisatildeo no procedimento de asilo eacute o Escritoacuterio Federal com base na
entrevista e nos documentos apresentados pelos requerentes A anaacutelise do pedido de asilo
tem por base a lei alematilde sobre o tema (Asylgesetz) sobre uma das quatro formas de proteccedilatildeo
que podem ser concedidas (direito de asilo proteccedilatildeo de refugiado proteccedilatildeo subsidiaacuteria e
proibiccedilatildeo de deportaccedilatildeo) Considera-se rejeitado o pedido quando nenhuma das quatro
formas eacute aplicaacutevel ao caso283
Assim o reconhecimento do direito de direito de asilo eacute previsto no artigo 16a parte
1 da Lei Baacutesica (Grundgesetz ndash GG) neste caso pessoas que se retornassem aos seus paiacuteses
sofreriam graves violaccedilotildees dos direitos humanos principalmente devido a perseguiccedilotildees por
opiniatildeo poliacutetica Portanto eacute considerado um direito fundamental com base Constitucional
prezando pela vida e dignidade humana Quando haacute a concessatildeo deste tipo de proteccedilatildeo o
indiviacuteduo tem o direito de residir na Alemanha por 3 anos autorizaccedilatildeo de trabalho e direito
de reagrupamento familiar Aleacutem disso apoacutes o periacuteodo de 3 ou 5 anos pode haver uma
concessatildeo de permanecircncia na Alemanha caso comprove condiccedilotildees de se manter e de
conhecimento da liacutengua alematilde284
A proteccedilatildeo de refugiado eacute prevista na Seccedilatildeo 3 da Lei de Asilo (AsylG) e tem por
fundamento a Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 sendo que esta proteccedilatildeo eacute mais extensa que
o direito de asilo sendo aplicada em mais casos Tambeacutem se aplica agraves pessoas que sofrem
perseguiccedilotildees referentes agraves situaccedilotildees previstas na Convenccedilatildeo Poreacutem as consequecircncias da
concessatildeo deste tipo de proteccedilatildeo satildeo os mesmos que o direito de asilo285
A proteccedilatildeo subsidiaacuteria estaacute prevista na Seccedilatildeo 4 da Lei de Asilo bem como na
Diretiva 201195UE e eacute concedida em situaccedilotildees em que se a pessoa retornar ao seu paiacutes
poderaacute sofrer graves riscos de danos Em casos de concessatildeo de proteccedilatildeo subsidiaacuteria o
indiviacuteduo receberaacute a permissatildeo de residecircncia por 1 ano (podendo ser estendida por mais dois
anos) acesso ao mercado de trabalho direito de reunificaccedilatildeo familiar bem como o direito
282 FEDERAL OFFICE FOR MIGRATION AND REFUGEES The Stages of the German Asylum Procedure
ndash An overview of the individual procedural steps and the legal basis Op cit 283 Ibidem 284 Ibidem 285 Ibidem
88
de permanecer na Alemanha apoacutes 5 anos caso demonstre condiccedilotildees de subsistecircncia e
conhecimento da liacutengua alematilde286
As trecircs formas de proteccedilatildeo acima natildeo seratildeo concedidas quando configurar um risco
agrave Alemanha desrespeitar princiacutepios baacutesicos do ACNUR ou ter cometido crimes de guerra
e ofensas criminais natildeo-poliacuteticas fora do paiacutes e condenado agrave prisatildeo por um crime ou por um
delito particularmente grave287
E por fim a proibiccedilatildeo de deportaccedilatildeo consta na Seccedilatildeo 60 V e VII da Lei de
Residecircncia (AufenthG) e tem por base a Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos
Portanto uma pessoa que requer proteccedilatildeo natildeo pode ser devolvida ao paiacutes de origem quando
haacute um risco concreto agrave vida ou agrave liberdade Essa proteccedilatildeo natildeo se aplica em casos de que o
indiviacuteduo possa ir para outros paiacuteses Na concessatildeo dessa proteccedilatildeo a pessoa poderaacute residir
na Alemanha por pelo menos 1 ano (podendo ser renovaacutevel) a permissatildeo de trabalho deve
ser obtida com a autoridade de imigraccedilatildeo e a permanecircncia definitiva pode ser autorizada
apoacutes 5 anos se tiver condiccedilotildees de se manter e tiver bom conhecimento da liacutengua alematilde288
Em caso de negativa de proteccedilatildeo ou seja o indiviacuteduo natildeo se enquadrar em nenhum
tipo dos 4 tipos de proteccedilatildeo poderaacute recorrer da decisatildeo no prazo de 30 dias poreacutem o periacuteodo
para deixar a Alemanha eacute de uma semana Uma accedilatildeo judicial contra o Escritoacuterio Federal
tambeacutem pode ser proposta289
286 FEDERAL OFFICE FOR MIGRATION AND REFUGEES The Stages of the German Asylum Procedure
ndash An overview of the individual procedural steps and the legal basis Op cit 287 Ibidem 288 Ibidem 289 Ibidem
89
CAPIacuteTULO 3
DIREITO INTERNACIONAL E EUROPEU DO MAR BUSCA E RESGATE DOS
REFUGIADOS EM PERIGO E O DEVER DE ASSISTEcircNCIA
Este capiacutetulo destina-se a analisar o direito do mar no acircmbito internacional e europeu
na seara dos refugiados do direito de resgate e salvamento no mar agrave luz da relaccedilatildeo deste
ramo do direito com os direitos humanos primeiro faz-se necessaacuterio algumas breves
consideraccedilotildees a respeito do direito internacional do mar Sendo sabido que nos uacuteltimos anos
muitas pessoas arriscaram suas vidas em embarcaccedilotildees para tentarem ter uma vida melhor e
sem riscos podendo citar o exemplo da Liacutebia que retrata uma situaccedilatildeo ldquocomumrdquo ao fato de
milhares de migrantes saiacuterem do paiacutes arriscando suas vidas no Mar Mediterracircneo com
destino agrave Europa principalmente paiacuteses como a Greacutecia Itaacutelia e Malta devido agrave proximidade
do norte do continente africano agrave costa e ilhas europeias
31 Breves Consideraccedilotildees a Respeito do Direito Internacional do Mar
O mar com sua particular imensidatildeo traz consigo um encantamento e admiraccedilatildeo por
um lado e uma versatildeo sombria e obscura de outro Muito utilizado para recursos que
auxiliam no dia a dia das pessoas eacute tambeacutem utilizado de forma maldosa atraveacutes de
cometimento de crimes graves como por exemplo traacutefico de pessoas de drogas e pirataria
Tal fato justifica a necessidade de uma Convenccedilatildeo a fim de regular as regras neste grandioso
espaccedilo a Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar (conhecida como UNCLOS
ndash sigla em inglecircs)290
Assim para tentar coibir infraccedilotildees e aumentar a proteccedilatildeo das pessoas no mar a
UNCLOS atribui aos Estados poderes de poliacutecia nas zonas mariacutetimas (aacuteguas e portos
interiores mar territorial zona contiacutegua zona econocircmica exclusiva e alto mar) Passa-se
entatildeo a anaacutelise do poder de poliacutecia em cada zona
Portanto o Estado costeiro pode exercer sua soberania em aacutereas de jurisdiccedilatildeo
nacional tem-se que aacuteguas e portos interiores estatildeo submetidos agraves regras nacionais do
290 FORTEAU Mathias THOUVENIN Jean-Marc Traiteacute de Droit International de la Mer Editions A
Pedone Paris 2017
90
Estado e este possui poderes de poliacutecia amplos ao que se refere a embarcaccedilotildees nessas aacutereas
bem como pode controlar o acesso dessas embarcaccedilotildees nessa zona e tambeacutem embarcaccedilotildees
que estatildeo no mar territorial com destino agraves aacuteguas e portos interiores Entatildeo o Estado
costeirodo porto eacute soberano para aplicar as suas leis nacionais em embarcaccedilotildees que estatildeo
em seus portos geralmente natildeo interferem em assuntos internos da embarcaccedilatildeo desde que
natildeo atinja os interesses estaduais291
Situaccedilatildeo semelhante ocorre no mar territorial (que consiste nas aacuteguas adjacentes agrave
costa ateacute 12 milhas naacuteuticas conforme disposto na UNCLOS) ou seja o Estado costeiro
possui amplos poderes nesta zona sendo portanto uma extensatildeo do territoacuterio do paiacutes
exceto em situaccedilotildees de passagem inocente (garantindo a liberdade de navegaccedilatildeo) contudo
mesmo nesses casos o Estado pode dispor normas a este respeito292
Desse modo o Estado costeiro possui soberania no seu mar territorial sendo limitado
pelo direito de passagem inocente que os navios de todos os Estados possuem notando-se
portanto a conciliaccedilatildeo da soberania do Estado com o direito de navegaccedilatildeo Poreacutem caso
exista alguma embarcaccedilatildeo com pessoas no mar territorial com o fim de violar as regras de
imigraccedilatildeo do Estado costeiro este Estado poderaacute intervir293 entretanto tambeacutem haacute a
obrigaccedilatildeo de salvamento das pessoas em perigo no mar ou seja nos casos de embarcaccedilatildeo
clandestina de migrantes o Estado tem o dever de resgatar essas pessoas
A zona contiacutegua consiste no espaccedilo de mais 12 milhas naacuteuticas aleacutem das jaacute previstas
no mar territorial Nesta zona o Estado pode exercer o controle nas situaccedilotildees de violaccedilatildeo das
leis nacionais e tambeacutem situaccedilotildees referentes agraves questotildees aduaneiras tributaacuterias imigraccedilatildeo
e sauacutede294 Poreacutem haacute liberdade de navegaccedilatildeo ou seja natildeo haacute soberania do Estado costeiro
nessa zona mariacutetima295
A Zona Econocircmica Exclusiva (ZEE) com limite de ateacute 200 milhas naacuteuticas contadas
a partir da linha de base do mar territorial trata-se de uma zona de caracteriacutesticas
particulares considerada de caraacuteter sui generis por ser uma aacuterea de alto mar sendo que o
Estado costeiro possui alguns direitos nesta aacuterea isto significa que o Estado costeiro possui
poderes de poliacutecia amplos no que se refere agraves situaccedilotildees de direito e jurisdiccedilatildeo soberana como
291 FORTEAU Mathias THOUVENIN Jean-Marc Op cit 292 Ibidem 293 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit 294 FORTEAU Mathias THOUVENIN Jean-Marc Op cit 295 LISSON Urszula WEINZIERL Ruth Border Management and Human Rights A study of EU Law and
the Law of the Sea German Institute for Human Rights 2007
91
por exemplo exploraccedilatildeo de recursos naturais ilhas artificiais instalaccedilotildees e estruturas de
pesquisa e proteccedilatildeo do meio ambiente marinho296
No que se refere ao alto mar Jonatas Machado entende como mar ldquoo conjunto dos
espaccedilos de aacutegua salgada em comunicaccedilatildeo livre e naturalrdquo297 Tal espaccedilo consiste em 72 da
atmosfera terrestre e o princiacutepio fundamental que rege eacute o mare liberum poreacutem natildeo se trata
de um uso irrestrito e incondicional tal princiacutepio eacute aplicado dentro do conceito de
democratizaccedilatildeo do direito do mar Tem-se que o alto mar constitui res communis omnium
ou seja eacute algo comum a todos298
Nesse sentido o artigo 87 da UNCLOS trata das liberdades do alto mar no qual todos
os Estados satildeo livres para navegar sobrevoar pescar colocar cabos e dutos submarinos
investigaccedilatildeo cientiacutefica e construir ilhas artificiais ou outras instalaccedilotildees permitidas pelo
direito internacional
A jurisdiccedilatildeo em alto mar eacute como regra geral do Estado da bandeira da embarcaccedilatildeo
conforme o artigo 87 da UNCLOS poreacutem haacute exceccedilotildees a esta regra previstas no artigo 92
nordm 1 isto eacute regras previstas de forma expressa em tratados internacionais aleacutem de algumas
previstas nos artigos 105 109 110 220 e 221 da Convenccedilatildeo Sendo respectivamente
pirataria difusatildeo natildeo autorizada direito de visita (artigo 111 tambeacutem a respeito do direito
de perseguiccedilatildeo) execuccedilatildeo pelo Estado costeiro poluiccedilatildeo e acidente mariacutetimo299
No que tange agrave soberania em alto mar haacute a questatildeo sobre ateacute que ponto um Estado
atraveacutes de suas embarcaccedilotildees pode exercer medidas coercitivas sobre navios de outras
nacionalidades Deve-se observar portanto a divisatildeo de aacuteguas conforme descrito acima
Assim nas aacuteguas interiores o Estado costeiro tem total controle da aacuterea entatildeo os navios
estrangeiros estatildeo submetidos ao controle e permissatildeo daquele Estado O mar territorial
tambeacutem estaacute sob a soberania do Estado costeiro mas como vimos haacute o direito de passagem
inocente de outros navios que arvorem sua bandeira Nesse sentido as embarcaccedilotildees com
migrantes na maioria das vezes natildeo possuem bandeira e em teoria com base no direito
internacional do mar estes poderiam ser parados controlados e desviados para fora do mar
territorial poreacutem tal questatildeo esbarra nas obrigaccedilotildees dos direitos humanos Dessa forma de
296 FORTEAU Mathias THOUVENIN Jean-Marc Op cit 297 MACHADO Joacutenatas E M Op cit p 574 298 Ibidem 299 HONNIBALL Arron N The Exclusive Jurisdiction of Flag States A Limitation on Pro-active Port States
The International Journal of Marine and Coastal Law 2016 Disponiacutevel em
httpsbrillcomviewjournalsestu313article-p499_6xml Acesso 01062020
92
acordo com as diretivas europeias que devem ser aplicadas no mar territorial haacute a proibiccedilatildeo
da repulsatildeo e os Estados satildeo obrigados a examinar os pedidos de proteccedilatildeo No alto mar a
liberdade de navegaccedilatildeo eacute imperativa e medidas coercitivas em regra satildeo proibidas desde
que para embarcaccedilotildees com bandeira situaccedilatildeo que na maioria das vezes natildeo eacute a das
embarcaccedilotildees com refugiados dessa forma os navios sem bandeira podem ser controlados
em alto mar300
Tendo por base as informaccedilotildees acima passa-se a analisar aspectos mais proacuteximos a
respeito dos direitos dos refugiados Sendo assim como jaacute mencionado anteriormente o
encantamento pelas riquezas marinhas acaba sendo ofuscado em parte pelo lado obscuro dos
oceanos ou seja o cometimento de crimes em espaccedilos mariacutetimos como o traacutefico de
migrantes no mar para combater este tipo de crime eacute imprescindiacutevel a cooperaccedilatildeo
internacional entre os paiacuteses
Sabemos que muitos satildeo os fatores que levam as pessoas a migrarem para outros
paiacuteses ou seja as pessoas fogem da tortura de perseguiccedilotildees de violaccedilotildees de direitos
humanos em siacutentese de uma vida indigna Poreacutem muitos arriscam suas vidas nas matildeos de
traficantes e pagam para estes fazerem a travessia em embarcaccedilotildees precaacuterias como jaacute vimos
nos noticiaacuterios e que natildeo suportam a travessia e acabam naufragando com muitas pessoas a
bordo ou ateacute mesmo acabam sendo abandonados pelos traficantes O desespero dessas
pessoas eacute tanto que arriscam suas vidas nas matildeos de criminosos na esperanccedila de ter uma
vida melhor do outro lado do mar
O artigo 8ordm do Protocolo citado acima prevecirc medidas contra o traacutefico de migrantes
por via mariacutetima dispondo assim accedilotildees a serem realizadas pelos Estados a fim de finalizar
a utilizaccedilatildeo da embarcaccedilatildeo para a finalidade ilegal Assim um Estado pode pedir ajuda a
outro Estado para tentar resolver a situaccedilatildeo entre outras accedilotildees301 Mas tal ideia esbarra na
questatildeo da responsabilidade do Estado que como vimos caso a accedilatildeo de um dos Estados for
violadora das obrigaccedilotildees internacionais principalmente dos direitos humanos o outro
Estado pode ter tambeacutem responsabilidade pelos atos
300 LISSON Urszula WEINZIERL Ruth Op cit 301 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Protocolo Adicional agrave Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas Contra
o Crime Organizado Transnacional relativo ao Combate ao Traacutefico de Migrantes por Via Terrestre Mariacutetima
e Aeacuterea 2000 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2004-
20062004DecretoD5016htm Acesso em 01062020
93
Chama-se a atenccedilatildeo para o artigo 98 da UNCLOS ou seja dispotildee sobre o dever de
prestar assistecircncia no mar Portanto eacute obrigaccedilatildeo do capitatildeo do navio prestar assistecircncia agraves
pessoas que estatildeo em perigo no mar necessitando de ajuda inclusive em casos de consistir
em outra embarcaccedilatildeo que esteja em perigo isto eacute natildeo apenas pessoas que estejam no mar
na aacutegua sob o risco de desaparecer Aleacutem disso o Estado costeiro tem o dever de
proporcionar um eficiente sistema de busca e salvamento a fim de promover a seguranccedila
mariacutetima e aeacuterea o dever se prolonga inclusive aos Estados vizinhos no que puderem
cooperar302
No capiacutetulo 2 item 2110 da Convenccedilatildeo de Busca e Resgate Mariacutetimo de 1979
(International Convention on Maritime Search and Rescue ndash SAR Convention) traz o dever
do Estado de prestar assistecircncia a qualquer pessoa que esteja em perigo no mar independente
de qualquer outro fator relacionado a ela (nacionalidade status etc)303 No mesmo sentido
em 2015 o Conselho de Seguranccedila da ONU adotou a Resoluccedilatildeo 2240 a fim de prestar auxiacutelio
agrave Liacutebia para proteger suas fronteiras e espaccedilo mariacutetimo inclusive em alto mar visando coibir
o traacutefico de pessoas e de migrantes na regiatildeo bem como proteger as pessoas viacutetimas deste
crime304
Tendo como base essas noccedilotildees gerais a respeito do direito internacional do mar e
uma breve introduccedilatildeo a respeito dos documentos que abordam o assunto passa-se a
relacionar o direito do mar com a proteccedilatildeo internacional do indiviacuteduo com foco no
salvamento e resgate de pessoas em perigo no mar
32 O Direito do Mar e a Proteccedilatildeo Internacional do Indiviacuteduo
Face aos acontecimentos desumanos relacionados aos refugiados principalmente em
relaccedilatildeo aos naufraacutegios ocorridos o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos condenou
alguns paiacuteses com base no artigo 3ordm da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos em
situaccedilotildees ocorridas no mar Assim como forma de assegurar a proteccedilatildeo internacional do
302 UNITED NATIONS United Nations Convention on the Law of the Seas Disponiacutevel
httpswwwunorgdeptslosconvention_agreementstextsunclosunclos_epdf Acesso 04092020 303 INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION International Convention on Maritime Search and
Rescue ndash SAR Convention 1979 Disponiacutevel em httpsonboard-aquariusorguploads201808SAR-
Convention-1979pdf Acesso em 02062020 304 CONSELHO DE SEGURANCcedilA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Resoluccedilatildeo 2240 (2015) Disponiacutevel em
httpseur-lexeuropaeulegal-contentPTTXTuri=CELEX3A32016D0118 Acesso em 30082020
94
indiviacuteduo no mar talvez seja o caso de se atrelar agrave legislaccedilatildeo sobre o direito do mar aos
princiacutepios universais dos direitos humanos tendo em vista que o Estado tem obrigaccedilatildeo
positiva de proteger os indiviacuteduos colocados sob sua jurisdiccedilatildeo contra desrespeitos
cometidos por outrem Poreacutem natildeo haacute este tipo de previsatildeo expressa no direito do mar
Um dos princiacutepios fundamentais do direito internacional eacute a obrigaccedilatildeo de salvar as
vidas no mar sendo que as primeiras manifestaccedilotildees juriacutedicas a este respeito foram oriundas
de tratados multilaterais do direito do mar no comeccedilo do seacuteculo XX Assim o salvamento
de vidas no mar se divide em dois pontos O primeiro princiacutepio eacute a obrigaccedilatildeo de fornecer
assistecircncia de responsabilidade do Estado da bandeira e dos capitatildees o outro ponto eacute a
obrigaccedilatildeo dos Estados costeiros de operar sistemas de buscas e salvamento305
Faz-se necessaacuterio fazer um parecircntese no aspecto de busca e resgate no mar bem
como o dever de assistecircncia previsto no artigo 98 da UNCLOS assim um dos bens juriacutedicos
tutelados eacute o direito agrave vida sendo ele um princiacutepio basilar pois sem a vida nenhum outro
direito faria sentido por este motivo a vida eacute protegida nos principais tratados de direitos
humanos
A maior expressatildeo dos direitos humanos ligado ao direito do mar ocorre quando haacute
o direito agrave vida em jogo ou seja quando algueacutem no mar estaacute correndo risco de vida em
situaccedilatildeo de perigo Assim a Convenccedilatildeo SOLAS (Convenccedilatildeo Internacional para a
Salvaguarda da Vida no Mar) tem como diz o proacuteprio tiacutetulo exatamente o propoacutesito de
proteger vidas306
Neste aspecto o Capiacutetulo V da SOLAS dispotildee sobre a seguranccedila de navegaccedilatildeo e na
regra 71 traz a responsabilidade do Estado em providenciar tudo que for necessaacuterio para
proporcionar a busca e resgate no mar nas zonas de sua competecircncia bem como o artigo
33 do mesmo Capiacutetulo trata das obrigaccedilotildees e procedimentos nas situaccedilotildees de perigo
305 RUGGIERO Carol Dalla Criminalizzazione alla Giustificazione delle Attivita di Ricerca e Soccorso in
Mare le Tendenze Interpretative Piu Recenti alla Luce dei Casi Vos Thalassa e Rackete In Diritto
Immigrazione e Cittadinanza Nordm 12020 Disponiacutevel em
httpswwwdirittoimmigrazionecittadinanzaitarchivio-saggi-commentinote-e-commentifascicolo-2020-
1526-dalla-criminalizzazione-alla-giustificazione-delle-attivita-di-ricerca-e-soccorso-in-mare-le-tendenze-
interpretative-piu-recenti-alla-luce-dei-casi-vos-thalassa-e-rackete Acesso em 25062020 306 GROSBON Sophie Droit de la Mer et Protection Internationale de LrsquoIndividurdquo In FORTEAU Mathias
THOUVENIN Jean-Marc Traiteacute de Droit International de la Mer Editions A Pedone Paris 2017
95
colocando o capitatildeo do navio como responsaacutevel por salvamento e caso o possa fazer deve
explicar os motivos sob pena de desrespeito ao artigo 2ordm da CEDH307
Rejeita-se a suposiccedilatildeo de que o mar eacute uma aacuterea sem lei ou que possua uma
salvaguarda para que infratores se eximam de respeitar os direitos humanos direito dos
refugiados bem como o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo As pessoas em perigo devem ter
respeitados seus direitos fundamentais protegidos sendo que o tratamento digno e humano
deve ser garantido308
Nesse sentido quando haacute pessoas em perigo no mar haacute o dever de resgate e
assistecircncia e em casos de embarcaccedilotildees de refugiados o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo deve ser
observado pois conforme vimos anteriormente o artigo 3ordm da Convenccedilatildeo Europeia dos
Direitos Humanos haacute a previsatildeo da proibiccedilatildeo de enviar pessoas agrave tortura Assim as pessoas
estatildeo em uma embarcaccedilatildeo com intuito de fugir de afrontas agrave sua dignidade e de lesotildees agrave sua
integridade fiacutesica nesse caso o Estado costeiro (ou o mais proacuteximo) bem como capitatildeo de
outras embarcaccedilotildees tecircm o dever de proteger essas pessoas e inclusive natildeo enviaacute-los
novamente para o paiacutes que lhes oprimiam
A este respeito tem-se que o Tribunal Europeu de Direitos Humanos bem como o
Comitecirc dos Direitos Humanos dispotildee a respeito do efeito horizontal indireto de alguns
direitos como por exemplo direito agrave vida proibiccedilatildeo da tortura e da escravidatildeo como
supramencionado o Estado tem obrigaccedilatildeo positiva de proteger os indiviacuteduos colocados sob
sua jurisdiccedilatildeo309
Muito se fala a respeito das lacunas no direito do mar e que pode trazer consequecircncias
na proteccedilatildeo dos direitos humanos Uma dessas lacunas estaacute no artigo 27 e 28 da UNCLOS
que tratam da jurisdiccedilatildeo criminal e civil do Estado costeiro impondo limites a este poreacutem
constam exceccedilotildees nas aliacuteneas ou seja situaccedilotildees em que o Estado costeiro poderaacute exercer
sua jurisdiccedilatildeo Curiosamente na aliacutenea ldquodrdquo do artigo 27 haacute a previsatildeo da possibilidade
exercer a jurisdiccedilatildeo penal em casos de ldquorepressatildeo do traacutefico iliacutecito de estupefacientes ou de
substacircncias psicotroacutepicasrdquo310 mas nada se fala a respeito da luta contra a tortura e o combate
agrave escravidatildeo ou traacutefico de pessoas Sobre este uacuteltimo o Estado costeiro pode interferir caso
307 INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION International Convention for the Safety of Life at Sea
(SOLAS) Disponiacutevel em httpswwwsamgongustofaismediaenglishSOLAS-Consolidated-Edition-
2018docxpdf Acesso em 05062020 308 Ibidem 309 Ibidem 310 UNITED NATIONS United Nations Convention on the Law of the Seas Op cit
96
o destino final seja seu espaccedilo terrestre no entanto deve sempre atuar de forma a respeitar
dos direitos humanos resgatando e dando um tratamento digno para as pessoas que
necessitam de proteccedilatildeo
O traacutefico de migrantes difere do traacutefico de escravos poreacutem muito se assemelham na
forma de transporte Muitas pessoas fogem da tortura situaccedilotildees de perseguiccedilotildees e
tratamentos desumanos e degradantes pagando para traficantes fazerem sua travessia do
norte do continente africano para paiacuteses europeus banhados pelo Mar Mediterracircneo
correndo risco de vida em embarcaccedilotildees precaacuterias e tendo suas vidas nas matildeos dos traficantes
bem como muitas pessoas satildeo usadas como mercadorias (escravos) e tambeacutem transportadas
por embarcaccedilotildees clandestinas
A este respeito o ldquoProtocolo Adicional agrave Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas contra o
Crime Organizado Transnacional relativo ao Combate ao Traacutefico de Migrantes por Via
Terrestre Mariacutetima e Aeacutereardquo no seu artigo 3ordm traz a definiccedilatildeo de traacutefico de migrantes ldquo()
lsquotraacutefico de migrantesrsquo significa a promoccedilatildeo com o objetivo de obter direta ou indiretamente
um benefiacutecio financeiro ou outro benefiacutecio material da entrada ilegal de uma pessoa num
Estado Parte do qual essa pessoa natildeo seja nacional ou residente permanenterdquo311
E quanto ao traacutefico de pessoas tem-se a definiccedilatildeo no artigo 3ordm no Protocolo Adicional
agrave Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Relativo agrave
Prevenccedilatildeo Repressatildeo e Puniccedilatildeo do Traacutefico de Pessoas em Especial Mulheres e Crianccedilas
ou seja
A expressatildeo traacutefico de pessoas significa o recrutamento o transporte a
transferecircncia o alojamento ou o acolhimento de pessoas recorrendo agrave ameaccedila ou
uso da forccedila ou a outras formas de coaccedilatildeo ao rapto agrave fraude ao engano ao abuso
de autoridade ou agrave situaccedilatildeo de vulnerabilidade ou agrave entrega ou aceitaccedilatildeo de
pagamentos ou benefiacutecios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha
autoridade sobre outra para fins de exploraccedilatildeo A exploraccedilatildeo incluiraacute no miacutenimo
a exploraccedilatildeo da prostituiccedilatildeo de outrem ou outras formas de exploraccedilatildeo sexual o
trabalho ou serviccedilos forccedilados escravatura ou praacuteticas similares agrave escravatura a
servidatildeo ou a remoccedilatildeo de oacutergatildeos312
311 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Protocolo Adicional agrave Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas contra
o Crime Organizado Transnacional relativo ao Combate ao Traacutefico de Migrantes por Via Terrestre Mariacutetima
e Aeacuterea 2000 Op cit 312 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Protocolo Adicional agrave Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas contra
o Crime Organizado Transnacional Relativo agrave Prevenccedilatildeo Repressatildeo e Puniccedilatildeo do Traacutefico de Pessoas em
Especial Mulheres e Crianccedilas Disponiacutevel httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2004-
20062004DecretoD5017htm Acesso 14062020
97
Assim o crime de traacutefico de migrantes e o de traacutefico de pessoas satildeo crimes diferentes
poreacutem em alguns casos como jaacute mencionamos a forma de transporte pode ser a mesma
atraveacutes de embarcaccedilotildees clandestinas e em situaccedilotildees precaacuterias Poreacutem natildeo seraacute aprofundado
neste aspecto criminal pois o foco do presente trabalho eacute a situaccedilatildeo dos refugiados em perigo
no mar contudo esta situaccedilatildeo pode relacionar-se com o traacutefico de migrantes ressalta-se que
satildeo vaacuterios os crimes que podem ser cometidos no espaccedilo mariacutetimo mas sem relaccedilatildeo com a
questatildeo dos refugiados
Sabemos que no que se refere ao alto mar eacute a jurisdiccedilatildeo do Estado da bandeira que
prevalece poreacutem no artigo 110 da UNCLOS autoriza-se o direito de visita em situaccedilotildees que
haacute a suspeita da ocorrecircncia de crimes como por exemplo a pirataria o traacutefico de escravos
embarcaccedilatildeo sem nacionalidade entre outras313 Neste ponto chama-se a atenccedilatildeo para
embarcaccedilotildees sem nacionalidades ou seja na imigraccedilatildeo clandestina os migrantes satildeo
transportados em embarcaccedilotildees sem nacionalidade e em situaccedilotildees precaacuterias Portanto a
UNCLOS autoriza o direito de visita em situaccedilotildees de embarcaccedilotildees sem nacionalidade
No mesmo sentido o artigo 19 do mesmo documento refere-se agrave passagem inocente
e diz que natildeo seraacute considerada passagem inocente (no mar territorial) e portanto prejudicial
agrave paz boa ordem e seguranccedila do Estado costeiro se a embarcaccedilatildeo for destinada agrave imigraccedilatildeo
(conforme artigo 19 nordm 2 aliacutenea ldquogrdquo)
No que se refere ao combate da imigraccedilatildeo clandestina tem-se que a liberdade de
navegaccedilatildeo fica comprometida inclusive em aacutereas em que natildeo haacute soberania de algum Estado
Aleacutem disso destaca-se que um paiacutes ao recusar o desembarque de migrantes e requerentes de
asilo poderaacute lesionar o direito agrave vida314 Portanto tal fato reforccedila a ideia de prestar assistecircncia
no mar
321 O Direito do Mar e os Direitos Humanos
Sabe-se que os Estados possuem obrigaccedilotildees de direitos humanos tanto positivado
por meio de tratados quanto pelo direito consuetudinaacuterio internacional Nesse sentido vale
a pena destacar trecircs aspectos as obrigaccedilotildees positivas e negativas do Estado separabilidade
313 UNITED NATIONS United Nations Convention on the Law of the Seas Op cit 314 GROSBON Sophie Op cit
98
dos direitos humanos e contenccedilotildees especiais justificadas pela natureza que no caso consiste
no ambiente marinho315
Tendo por base a tradiccedilatildeo juriacutedica ocidental que deu origem aos direitos humanos
tem-se que o objetivo era proteger as pessoas perante abusos dos soberanos ou seja o Estado
tem o dever de evitar atitudes que agridam os direitos dos indiviacuteduos Portanto obrigaccedilatildeo
negativa dos direitos humanos eacute referente ao Estado em se abster de tomar medidas que
possam infringir os direitos humanos nesse sentido a obrigaccedilatildeo positiva consiste no Estado
agir para evitar que os direitos dos indiviacuteduos sejam lesionados tendo como exemplo a
UNCLOS atraveacutes da positivaccedilatildeo de normas a respeito de busca e resgate no mar316
No que se refere agrave separabilidade tem-se que este conceito estaacute relacionado com a
jurisdiccedilatildeo Assim eacute importante ressaltar que existem duas correntes a este respeito a
primeira diz sobre uma jurisdiccedilatildeo limitada ao seu territoacuterio e outra defende a competecircncia
extraterritorial dos Estados ao que se refere agrave proteccedilatildeo dos direitos humanos Deste modo agrave
luz da natureza dos direitos humanos a segunda eacute mais compatiacutevel e aceita pelo Tribunal
Europeu dos Direitos Humanos A referida Corte entende que quando um Estado atua fora
da sua jurisdiccedilatildeo para exercer controle e autoridade sobre um indiviacuteduo o Estado deveraacute
assegurar os direitos individuais e a liberdade da pessoa317
Haacute muitas controveacutersias sobre este assunto mas entende-se como razoaacutevel a ideia de
que quando o Estado exerce sua jurisdiccedilatildeo fora dos seus limites territoriais em diversas
situaccedilotildees (ao que se refere a presente pesquisa citamos o resgate de pessoas em perigo no
mar) ele tem a obrigaccedilatildeo de assegurar os direitos individuais como por exemplo o direito
agrave vida o direito de natildeo ser torturado ou de natildeo ser submetido a tratamentos desumanos ou
degradantes de natildeo ser devolvidorejeitado (non-refoulement) de ter suas liberdades
individuais318
Natildeo haacute a previsatildeo da aplicabilidade dos direitos humanos no direito do mar poreacutem
decisotildees de tribunais internacionais bem como a intepretaccedilatildeo sistecircmica dos tratados fazem
com que o respeito aos direitos humanos seja base de todos os ramos do direito Nesse
315 PAPANICOLOPULU Irini Human Rights and The Law of the Sea In The IMLI Manual on International
Maritime Law Volume I Law of The Sea General Editor David Joseph Attard Edited by Malgosia
Fitzmaurice Norman A Martineacutez Gutieacuterrez Oxford University Press Oxford 2014 316 Ibidem 317 Ibidem 318 Ibidem
99
sentido ao interpretar o artigo 311 nordm 2 da UNCLOS juntamente com o artigo 1ordm nordm 3 da
Carta das Naccedilotildees Unidas temos respectivamente
(hellip)This Convention shall not alter the rights and obligations of States Parties
which arise from other agreements compatible with this Convention and which do
not affect the enjoyment by other States Parties of their rights or the performance
of their obligations under this Convention (hellip)319
()Conseguir uma cooperaccedilatildeo internacional para resolver os problemas
internacionais de caraacuteter econocircmico social cultural ou humanitaacuterio e para
promover e estimular o respeito aos direitos humanos e agraves liberdades fundamentais
para todos sem distinccedilatildeo de raccedila sexo liacutengua ou religiatildeo ()320
Notamos nos dispositivos supra a preocupaccedilatildeo com o cumprimento das obrigaccedilotildees
perante os outros estados bem como a cooperaccedilatildeo entre eles zelando sempre por diversos
aspectos sendo os direitos humanos um dos pontos expressos no artigo 1ordm da Carta das
Naccedilotildees Unidas
No mesmo sentido os artigos 55 e 56 da Carta das Naccedilotildees Unidas dispotildeem sobre a
cooperaccedilatildeo internacional econocircmica e social assim os estados se comprometem em
cooperar juntamente com a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas Portanto ao que se refere agrave
interpretaccedilatildeo dos dispositivos na UNCLOS ela deve ser sistemaacutetica e realizada em conjunto
com os demais diplomas internacionas no entanto ressalta-se que dificilmente haveraacute
alguma interpretaccedilatildeo que impeccedila os estados de cumprirem com suas obrigaccedilotildees
internacionais no acircmbito dos direitos humanos321
322 O Princiacutepio da Natildeo-Repulsatildeo e os Migrantes em Perigo no Mar
Como jaacute visto no primeiro capiacutetulo este princiacutepio eacute um dos principais aspectos de
proteccedilatildeo agraves pessoas que requerem asilo e ele garante que essas natildeo sejam devolvidas para
seu paiacutes de origem ou seja para local onde sofria algum tipo de perseguiccedilatildeo Poreacutem haacute
discussatildeo a respeito de que tal regra prevista no artigo 33 da Convenccedilatildeo de 1951 somente
se aplica para pessoas que se enquadram no statusconceito de refugiado322
319 UNITED NATIONS United Nations Convention on the Law of the Seas Op cit 320 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Carta das Naccedilotildees Unidas 1945 Disponiacutevel em
httpsnacoesunidasorgwp-contentuploads201711A-Carta-das-NaC3A7C3B5es-Unidaspdf
Acesso em 04092020 321 PAPANICOLOPULU Irini Op cit 322 TREVISANUT Seline The Principle of Non-Refoulement and the De-Territorialization of Border Control
at Sea Leiden Journal of International Law vol 27 no 3 September 2014 p 661-676 HeinOnline
100
Assim Seline Trevisanut destaca que o ponto principal do conceito de refugiado eacute a
questatildeo do medo fundamentado de perseguiccedilatildeo situaccedilatildeo em que a vida ou a liberdade de
algueacutem estaria em risco Portanto nada se discute a respeito da aplicaccedilatildeo do
supramencionado artigo aos refugiados (propriamente ditos) a questatildeo controversa reside
em pessoas que natildeo se enquadram no referido conceito323
O conceito de refugiado foi analisado mais detalhadamente no primeiro capiacutetulo no
entanto aqui se faz um parecircntese a resepeito da questatildeo espacial do conceito Assim tal
ideia traz eacute a de que o indiviacuteduo deve estar fora do seu paiacutes ou natildeo ter nacionalidade ou
fora do paiacutes de sua residecircncia habitual ou seja em uma anaacutelise bem restrita a natildeo-repulsatildeo
natildeo se aplicaria nas aacuteguas territoriais ou na zona contiacutegua do paiacutes de origem Mas vale
destacar que o artigo 33 da Convenccedilatildeo natildeo traz limitaccedilatildeo territorial assim haacute
entendimentos324 de que a natildeo-repulsatildeo deve ser obedecida em qualquer local onde um
Estado possa exercer sua jurisdiccedilatildeo sendo uma interpretaccedilatildeo aceita tendo por base a defesa
dos direitos humanos325 eacute a situaccedilatildeo da extraterritorialidade
O artigo 13 nordm 2 da DUDH dispotildee ldquoToda a pessoa tem o direito de abandonar o paiacutes
em que se encontra incluindo o seu e o direito de regressar ao seu paiacutesrdquo326 a mesma redaccedilatildeo
eacute dada no artigo 12 nordm 2 do Pacto Internacional de Direitos Civis e Poliacuteticos Assim os
migrantes em regiotildees mariacutetimas com ausecircncia de soberania de algum Estado natildeo podem ser
considerados em situaccedilatildeo irregular mesmo porque natildeo haacute previsatildeo sobre a proibiccedilatildeo de
indiviacuteduos deixarem seu paiacutes por via mariacutetima327
O entendimento do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos eacute de que se um Estado
adota medidas em aacuteguas internacionais ou territoriais de outro Estado com intuito de
combater a imigraccedilatildeo natildeo consiste na violaccedilatildeo do direito de saiacuteda do migrante do seu paiacutes
poreacutem as medidas satildeo tomadas com intuito de evitar a entrada no territoacuterio do Estado
323 TREVISANUT Seline The Principle of Non-Refoulement and the De-Territorialization of Border Control
at Sea Op cit 324 Seline Trevisanut citou Goodwin-Gill e J McAdam com o livro The Refugee in International Law (2007)
em TREVISANUT Seline The Principle of Non-Refoulement and the De-Territorialization of Border
Control at Sea Leiden Journal of International Law vol 27 no 3 September 2014 p 661-676 HeinOnline 325 TREVISANUT Seline The Principle of Non-Refoulement and the De-Territorialization of Border Control
at Sea Op cit 326 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem 1948
Disponiacutevel em httpsnacoesunidasorgwp-contentuploads201810DUDHpdf Acesso em 05032020 327 GROSBON Sophie Op cit
101
infringindo as regras de proteccedilatildeo internacional o direito de pedir asilo e a proibiccedilatildeo de
expulsatildeo coletivas328
Aleacutem disso um Estado ao abordar uma embarcaccedilatildeo com migrantes natildeo deve
devolvecirc-los ao paiacutes de origem pois estaria infringindo o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo tendo
em vista que os migrantes muitas vezes estatildeo fugindo de perseguiccedilotildees e ameaccedilas agraves suas
vidas Nesse sentido a Comissatildeo Interamericana de Direitos Humanos considera que a
interceptaccedilatildeo e reenvio sistemaacutetico de barcos cheios de migrantes atentam contra o direito agrave
vida Assim um dos maiores desafios relacionado com o direito do mar e os direitos
humanos estaacute questatildeo da imigraccedilatildeo ilegal bem como a questatildeo do porto de desembarque e
o paiacutes no qual vai analisar o procedimento de asilo329
A este respeito Sophie Grosbon destaca que uma significante falha na legislaccedilatildeo a
respeito do mar eacute o fato de natildeo haver uma clara identificaccedilatildeo de onde as pessoas encontradas
no mar devem desembarcar em situaccedilotildees de que as pessoas tentam entrar ilegalmente em
um paiacutes Antes as convenccedilotildees SAR e SOLAS nada previam sobre o assunto poreacutem foram
adotadas emendas com intuito de garantir um local de desembarque seguro para as pessoas
que satildeo resgatadas no mar natildeo importando a nacionalidade status ou quaisquer outras
circunstacircncias que se encontrem330
Na visatildeo do direito internacional e europeu a rejeiccedilatildeo de migrantes em alto mar
coloca em conflito vaacuterias convenccedilotildees sobre os direitos humanos direito internacional e
direto do mar Destaca-se a as convenccedilotildees UNCLOS SOLAS SAR Convenccedilatildeo de Genebra
de 1951 Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas contra Tortura de 1984 o Pacto Internacional dos
Direitos Civis e Poliacuteticos e a CEDH331
Sabe-se que o artigo 3ordm da CEDH estaacute intimamente relacionado ao princiacutepio da natildeo-
repulsatildeo pois haacute a proibiccedilatildeo de tortura e tratamentos desumanos e degradantes sendo assim
enviar algueacutem para um local onde possa sofrer de tais accedilotildees seria uma violaccedilatildeo do referido
dispositivo Assim mesmo jaacute tendo explicado anteriormente sobre esse princiacutepio faz-se
necessaacuterio rediscutir o mesmo conduzindo para a abordagem de refugiados em perigo no
mar
328 GROSBON Sophie Op cit 329 Ibidem 330 Ibidem 331 TERRASI Alfredo I respingimenti in mare di migrant alla luce della Convenzione europea dei diritti
umani In Diritti umani e diritto Internazionale Nordm 32009 p 591-607
102
No entanto natildeo haacute expressamente no artigo 3ordm da CEDH a obrigaccedilatildeo de natildeo-
repulsatildeo desse modo o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos utiliza o mecanismo de
proteccedilatildeo indireta (ldquoprotection paricochetrdquo) isto eacute estende a proteccedilatildeo do artigo para pessoas
que correm risco de serem torturadas ou serem submetidas agrave tratamentos desumanos e
degradantes caso haja uma expulsatildeo ou extradiccedilatildeo332
O artigo 4ordm do seu Protocolo adicional nordm 4 que se refere agraves expulsotildees coletivas
vimos que se aplica tanto para pessoas que jaacute estatildeo no territoacuterio como tambeacutem para as
pessoas que ainda natildeo atingiram a fronteira ou seja situaccedilatildeo dos migrantes em alto mar com
a pretensatildeo de ingressar no territoacuterio assim possui um mecanismo de aplicaccedilatildeo semelhante
ao artigo 3ordm da CEDH333
Do mesmo modo o artigo 3ordm nordm 1 da Convenccedilatildeo Contra a Tortura e Outros
Tratamentos ou Penas Crueacuteis Desumanos ou Degradantes traz a proibiccedilatildeo do envio de
pessoas para estados nos quais poderatildeo correr risco de serem submetidos agrave tortura ou
qualquer tratamento desumano ou degradante como podemos depreender da leitura do
dispositivo ldquoNenhum Estado Parte procederaacute agrave expulsatildeo devoluccedilatildeo ou extradiccedilatildeo de uma
pessoa para outro Estado quando houver razotildees substanciais para crer que a mesma corre
perigo de ali ser submetida agrave torturardquo334
Portanto satildeo vaacuterios os instrumentos internacionais bem como a praacutetica dos Estados
que trazem a natildeo-repulsatildeo como uma regra do direito consuetudinaacuterio tanto quanto os
direitos humanos335 como jaacute vimos no primeiro capiacutetulo A jurisprudecircncia do TEDH eacute no
sentido de que enviar uma pessoa para um paiacutes no qual sua vida e integridade fiacutesica vatildeo ser
postas em risco haacute a violaccedilatildeo do artigo 33 da Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 mas quando
se refere aos migrantes rejeitados em alto mar natildeo se poderia afirmar isso de imediato devido
agrave questatildeo da jurisdiccedilatildeo em alto mar mas como vimos haacute a possibilidade da
extraterritorialidade da jurisdiccedilatildeo de um Estado em alto mar336 Assim isso justificaria a
ideia de que sob a jurisdiccedilatildeo de um paiacutes este natildeo deve rejeitar os migrantes e enviaacute-los
332 TERRASI Alfredo Op cit 333 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit 334 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas
Crueacuteis Desumanos ou Degradantes 1984 Disponiacutevel em
httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto1990-1994D0040htm Acesso em 12092020 335 TREVISANUT Seline The Principle of Non-Refoulement and the De-Territorialization of Border Control
at Sea Op cit 336 TERRASI Alfredo Op cit
103
novamente agraves situaccedilotildees de risco sob pena de incorrer em lesatildeo aos artigos 3ordm da CEDH e 33
da Convenccedilatildeo de Genebra de 1951
Neste aspecto Alfredo Terrasi menciona que o ACNUR bem como a doutrina
majoritaacuteria sobre o tema entende pela aplicabilidade do artigo 33 da Convenccedilatildeo de Genebra
de 1951 tambeacutem na regiatildeo de alto mar ou seja como jaacute falamos acima aplicando a
extraterritorialidade da jurisdiccedilatildeo do paiacutes e portanto a extraterritorialidade do princiacutepio da
natildeo-repulsatildeo337
A este respeito o ACNUR no documento ldquoNotes on International Protectionrdquo de 13
de setembro de 2001 dispotildee que natildeo satildeo admitidas reservas no princiacutepio da natildeo-repulsatildeo e
que consiste em uma regra de direito internacional consuetudinaacuterio e portanto se vincula a
todos os Estados aleacutem disso consiste em um princiacutepio atrelado agrave proibiccedilatildeo da tortura e
tratamentos desumanos degradantes e crueacuteis bem como aplicaacutevel a todos os refugiados
independentemente do status formal do indiviacuteduo e como jaacute visto proiacutebe o envio de
indiviacuteduos para locais onde correm o risco de terem sua vida e liberdade ameaccediladas sendo
que o local da rejeiccedilatildeo natildeo importa se eacute na fronteira repulsatildeo indireta ou interceptaccedilatildeo de
embarcaccedilotildees por exemplo338
Nesta mesma linha vimos que a Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos do Homem no
Protocolo nordm 4 artigo 4ordm haacute a proibiccedilatildeo de expulsotildees coletivas tal disposto se justifica no
fato de que a anaacutelise para configurar o status de refugiado deve ser efetuada individualmente
com isso a expulsatildeo coletiva infringe gravemente a anaacutelise individual pois ao recusar os
migrantes em grupos faz com que a anaacutelise seja sumaacuteria339
A regulaccedilatildeo de entrada nos paiacuteses sempre foi praticada inclusive com rejeiccedilotildees de
entrada E como jaacute explicado no capiacutetulo anterior nos uacuteltimos anos a Itaacutelia eacute um dos paiacuteses
que mais vecircm sofrendo com a chegada massiva de migrantes que atravessam o Mar
Mediterracircneo com intuito de chegar agrave Europa Vimos tambeacutem que os Estados possuem sua
soberania e por isso tecircm direito de controlar o fluxo de entrada no paiacutes mas este fato esbarra
nas situaccedilotildees em que pessoas necessitam de proteccedilatildeo internacional
337 TERRASI Alfredo Op cit 338 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Note on International Protection ndash UNHCR 13 september
2001 Disponiacutevel httpswwwunhcrorgexcomexcomrep3bb1c6cc4note-international-protectionhtml
Acesso em 18092020 339 TERRASI Alfredo Op cit
104
Assim o direito de rejeitar a entrada de pessoas no paiacutes consiste em uma expressatildeo
da soberania dos Estados no entanto haacute limites Vejamos A ideia de soberania eacute de que se
trata de uma ferramenta para garantia dos direitos do Estado e dos indiviacuteduos agrave luz do direito
internacional ou seja a garantia de proteccedilatildeo miacutenima com base nos direitos humanos
tornando o princiacutepio da natildeo-discriminaccedilatildeo o centro de reconstruccedilatildeo dos deveres do Estado
em relaccedilatildeo a todos indiviacuteduos natildeo importando a nacionalidade destes Nesse sentido com
base nesse princiacutepio todas as pessoas que estiverem sob a jurisdiccedilatildeo de algum Estado este
deve fazer com que os direitos fundamentais reconhecidos pelo direito internacional sejam
observados340
A accedilatildeo de rejeitar a entrada de pessoas consiste em um exerciacutecio de poder dos oacutergatildeos
do Estado que satildeo responsaacuteveis pelo controle das fronteiras mas esta accedilatildeo faz com que
sejam ativadas as ferramentas para que se respeitem os direitos humanos dos envolvidos
Dessa forma a proteccedilatildeo ao direito agrave vida proibiccedilatildeo de tratamentos desumanos e
degradantes a liberdade pessoal entre outras proteccedilotildees dos direitos humanos pode fazer
com que o Estado seja impedido de rejeitar as pessoas ou seja que se respeite o princiacutepio
da natildeo-repulsatildeo341
Assim o direito dos refugiados eacute a primeira aacuterea do direito internacional em que a
regra da natildeo-repulsatildeo foi desenvolvida foi durante a Segunda Guerra Mundial que os
Estados decidiram adotar a proibiccedilatildeo geral de recusar refugiados342 ou seja como jaacute vimos
os Estados-partes que adotaram a Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 comprometeram-se a natildeo
expulsar um refugiado para locais onde a vida e a liberdade seriam ameaccediladas
Destaca-se que a natildeo repulsatildeo se aplica aos refugiados isto eacute aqueles que se
enquadram nas situaccedilotildees previstas na Convenccedilatildeo de 1951 portanto alguns elementos que
caracterizam uma pessoa como refugiado satildeo o medo a perseguiccedilatildeo pelos motivos
especiacuteficos (raccedila religiatildeo nacionalidade e outros) e natildeo poder se beneficiar da proteccedilatildeo
estatal Poreacutem pessoas que necessitam de proteccedilatildeo por fugirem de guerra (natildeo enquadradas
nas situaccedilotildees de perseguiccedilatildeo) refugiados ambientais pessoas deslocadas internamente satildeo
excluiacutedas do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo343
340 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit 341 Ibidem 342 Ibidem 343 Ibidem
105
No entanto natildeo eacute exigiacutevel que os indiviacuteduos jaacute estejam no territoacuterio para que se
aplique a natildeo-repulsatildeo ou seja os migrantes podem estar na fronteira ou inclusive em aacutereas
onde o Estado natildeo exerce a soberania como o alto mar De qualquer forma os indiviacuteduos
devem ter seu direito de natildeo serem devolvidos respeitado344 Dessa forma o artigo 33 da
Convenccedilatildeo de 1951 aleacutem de ser uma proteccedilatildeo aos refugiados consiste em um
desenvolvimento dos direitos humanos pois tambeacutem foi adotado em outros documentos
internacionais demonstrando a relevacircncia desta regra345
Nesse sentido a Convenccedilatildeo contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Crueacuteis
Desumanos ou Degradantes adotada em 1984 traz no artigo 3ordm nordm1 a proibiccedilatildeo da expulsatildeo
de uma pessoa quando houver relevantes razotildees para se acreditar que o indiviacuteduo corra
perigo e possa ser submetido agrave tortura346 Entatildeo a Convenccedilatildeo de 1951 diz respeito aos
refugiados e a Convenccedilatildeo contra a Tortura amplia a aplicaccedilatildeo deste princiacutepio para mais
pessoas que natildeo satildeo consideradas refugiadas bastando ter motivos substanciais para
acreditar que a pessoa seraacute submetida agrave tortura
Entatildeo destaca-se o fato de que a Convenccedilatildeo Contra a Tortura natildeo prevecirc exceccedilotildees
ou seja ningueacutem poderaacute ser expulso de um paiacutes sabendo que o indiviacuteduo seraacute submetido agrave
tortura Neste aspecto podemos entender o caraacuteter de uma norma jus cogens (resumidamente
satildeo regras internacionais imperativas como vimos no primeiro capiacutetulo) na proibiccedilatildeo da
repulsatildeo347
Tendo por base todas essas informaccedilotildees a respeito da natildeo-repulsatildeo passa-se agora a
explorar a relaccedilatildeo deste princiacutepio juntamente com o direito do mar Neste aspecto eacute
importante destacar que a natildeo-repulsatildeo natildeo consta expressamente na lei do mar poreacutem isso
natildeo significa que natildeo deva ser aplicado pois o direito internacional prevecirc a possibilidade de
integrar as regras presentes em outros documentos A exemplo disto a UNCLOS prevecirc que
os assuntos natildeo regulados por ela continuam sendo disciplinados pelos princiacutepios do direito
internacional348
344 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit 345 Ibidem 346 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Contra a Tortura e Outros Tratamentos
ou Penas Crueacuteis Desumanos ou Degradantes 1984 Disponiacutevel em
httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto1990-1994D0040htm Acesso em 24062020 347 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit 348 Ibidem
106
Ao observar algumas obrigaccedilotildees fundamentais neste ponto do direito internacional
percebe-se a evidecircncia da proteccedilatildeo dos direitos humanos exemplificado pelo princiacutepio da
natildeo-repulsatildeo assim menciona-se a obrigaccedilatildeo de salvar as pessoas que estatildeo em perigo no
mar e levaacute-las para um local seguro Esta obrigaccedilatildeo jaacute presente nas regras costumeiras eacute
expressa na UNCLOS e em outros documentos internacionais como a SOLAS e a SAR No
entanto natildeo haacute definiccedilatildeo do que seria ldquolugar segurordquo mas entende-se que consiste em um
local onde os indiviacuteduos possuem seus direitos fundamentais respeitados assim os
migrantes resgatados no mar devem ser desembarcados em lugares onde a vida e liberdade
dessas pessoas estatildeo salvas349
Portanto o elo entre a obrigaccedilatildeo de salvamento no mar e desembarcar as pessoas em
locais seguros juntamente com o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo constituem em uma
convergecircncia do direito do mar direitos humanos e direito dos refugiados As chances das
pessoas resgatadas no mar principalmente no Mar Mediterracircneo serem pessoas que se
enquadram no conceito de refugiado eacute grande350 Veremos adiante que a Itaacutelia foi condenada
pelo TEDH por desrespeitar essas obrigaccedilotildees internacionais
No entanto os limites impostos pelo direito dos refugiados e direitos humanos agrave
atuaccedilatildeo do Estado no que se refere agrave rejeiccedilatildeo dos estrangeiros tecircm sido considerados como
oacutebices agraves poliacuteticas estatais de rejeiccedilatildeo indiscriminadas adotadas por alguns paiacuteses Nesse
sentido alguns governos tentaram coibir a chegada de migrantes para requisiccedilatildeo de asilo
que a exemplo disso cita-se a Austraacutelia Itaacutelia e Estados Unidos351
Dos exemplos citados no uacuteltimo capiacutetulo falaremos das violaccedilotildees nos principais
paiacuteses afetados como Itaacutelia Greacutecia e Malta pois tem sido os paiacuteses mais afetados pela
migraccedilatildeo atraveacutes do Mar Mediterracircneo Nesse sentido a Itaacutelia adotou haacute pouco tempo uma
legislaccedilatildeo que possui a finalidade de impedir a entrada de embarcaccedilotildees que resgatam
migrantes em suas aacuteguas e portos Do ponto de vista de diversas aacutereas do direito como
direitos humanos e direito do mar tal medida do governo italiano eacute ilegiacutetima352
A UNCLOS nos seus artigos 17 e 25 nordm 3 dispotildee a respeito de passagem inocente
mas em alguns casos o estado costeiro pode suspender temporariamente esse direito esta
deve ser temporaacuteria deve ser em aacutereas especiacuteficas a accedilatildeo deve ser importante para a
349 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit 350 Ibidem 351 Ibidem 352 Ibidem
107
seguranccedila do Estado e natildeo deve ter cunho discriminatoacuterio Portanto a aacuterea deve ser restrita
e aplicaacutevel a todos os navios ou seja natildeo se pode restringir a navegaccedilatildeo de embarcaccedilotildees de
ONGs que prestam assistecircncia no mar por exemplo353
Dessa forma observa-se que as accedilotildees do governo italiano tinham intenccedilatildeo de excluir
uma categoria de barcos e que inclusive natildeo realizam atividades ilegais assim a Itaacutelia deixa
de respeitar uma seacuterie de obrigaccedilotildees legais Nesse sentido desembarcar migrantes
resgatados em alto mar em locais como a Liacutebia por exemplo acarreta uma violaccedilatildeo ao
princiacutepio da natildeo-repulsatildeo pois este paiacutes africano estaacute longe de ser um local seguro354
O direito internacional do mar autoriza em casos extremos que uma embarcaccedilatildeo
que esteja em situaccedilatildeo de perigo tenha acesso aos portos mesmo que o Estado portuaacuterio seja
diverso do Estado da bandeira independentemente da permissatildeo355 Aleacutem disso em outro
aspecto os estados de destino da migraccedilatildeo irregular tentam prevenir a chegada de migrantes
ilegais em seu territoacuterio controlando as fronteiras fora do seu territoacuterio ou seja em alto mar
Esta accedilatildeo eacute chamada de desterritorializaccedilatildeo neste aspecto nos deparamos com o conceito
do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo que vimos ser um instrumento importante na proteccedilatildeo dos
migrantes que necessitam de proteccedilatildeo Aleacutem disso vale lembrar que o ato de migrar natildeo eacute
ilegal sendo que quem comente o crime satildeo os contrabandistas nesse sentido os migrantes
ldquocometemrdquo iliacutecitos ao entrar de forma irregular no territoacuterio internacional356
Nesse sentido Seline Trevisanut traz a ideia de dois tipos de fronteiras a primeira
consiste na fronteira propriamente dita delimitada no mapa que visa delimitar a aacuterea fiacutesica
na qual o Estado costeiro tem assegurada sua soberania na medida de cada zona mariacutetima
como vimos no iniacutecio deste capiacutetulo a segunda ideia de fronteira mariacutetima funcional que
traz uma fronteira dinacircmica ou seja ela eacute alterada de acordo com a natureza da accedilatildeo em
questatildeo Portanto no que se refere agrave migraccedilatildeo a fronteira eacute no local que as autoridades
realizaram o controle de fronteira ou seja em tese na interceptaccedilatildeo de um navio no mar o
controle de fronteira estaacute sendo realizado naquele local357
Tal fato traz a ideia de imposiccedilatildeo do seu sistema juriacutedico como eacute o caso por
exemplo da Itaacutelia em que alega seu tratado de amizade com a Liacutebia Assim a Itaacutelia entende
353 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit 354 Ibidem 355 Ibidem 356 TREVISANUT Seline The Principle of Non-Refoulement and the De-Territorialization of Border Control
at Sea Op cit 357 Ibidem
108
que pode tomar as medidas de acordo com a sua legislaccedilatildeo e tratados Ocorre que o princiacutepio
da natildeo-repulsatildeo eacute aplicado agrave pessoa que foi interceptada pois mesmo que a entrada seja
ilegal a Convenccedilatildeo de 1951 no artigo 31 nordm1 dispotildee que a entrada ilegal natildeo deve ser motivo
para recusar as pessoas que foram abordadas Entatildeo se deve sempre buscar a proteccedilatildeo de
pessoas que necessitam de ajuda No entanto a praacutetica de repelir os navios para alto mar natildeo
configuraria violaccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo mas eacute importante que esse ato natildeo
configure colocar vidas em perigo caso contraacuterio estaria em desacordo com o dever de
assistecircncia e socorro no mar358 mas sabemos que a situaccedilatildeo natildeo simples dessa forma pois
ao repelir um barco de migrantes para alto mar eacute colocar a vida das pessoas que estatildeo na
embarcaccedilatildeo em perigo pois voltar para o paiacutes de origem natildeo eacute uma opccedilatildeo ficar a deriva
pode levaacute-las agrave morte ir para outro paiacutes mais longe pode deteriorar ainda mais a embarcaccedilatildeo
e a mesma naufragar causando acidentes e provavelmente mortes
Assim podemos dizer que o desvio forccedilado de migrantes enviando-os de volta para
o paiacutes de partida ou para algum paiacutes que natildeo escolheram ou para algum paiacutes considerado
inseguro consiste em violaccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo Ressalta-se que tal princiacutepio natildeo
traz obrigatoriedade de recepccedilatildeo dos migrantes poreacutem repeliacute-los pode infringir algumas
normas do direito internacional como por exemplo o dever de prestar assistecircncia no mar359
323 A Busca e Salvamento no Mar e o Dever de Assistecircncia
O direito agrave vida deve prevalecer perante questotildees em que o navio esteja em perigo
ou que possua um maior nuacutemero de passageiros que possa comprometer a seguranccedila da
embarcaccedilatildeo Assim a primazia do direito agrave vida deve fazer com que o Estado costeiro abra
sua fronteira para o acesso dos migrantes Aleacutem disso o Tribunal Europeu dos Direitos
Humanos natildeo permite a ideia do Estado separar a obrigaccedilatildeo de salvar as vidas no mar
(prevista na UNCLOS) das obrigaccedilotildees de respeitar os direitos fundamentais Dessa forma
o Estado deve se preocupar com qualquer pessoa em perigo no mar e que as pessoas natildeo
devem ser devolvidas ao paiacutes de embarque360
358 TREVISANUT Seline The Principle of Non-Refoulement and the De-Territorialization of Border Control
at Sea Op cit 359 TREVISANUT Seline Maritime Border Control and the Protection of Asylum-Seekers in the European
Union Touro International Law Review 12 2009 p 157-161 HeinOnline 360 GROSBON Sophie Op cit
109
No que se refere agrave imigraccedilatildeo clandestina cita-se a Convenccedilatildeo de 1957 que nunca
entrou em vigor ela previa a autonomia do capitatildeo de um navio de entregar os migrantes agraves
autoridades do primeiro porto de escala sendo responsaacutevel por devolverem ao seu paiacutes de
origem No mesmo sentido em 2002 tentaram resolver a questatildeo de passageiros que entram
clandestinamente em alguma embarcaccedilatildeo portanto a ideia era de que os capitatildees natildeo
deveriam desviar a rota do navio para desembarcar o indiviacuteduo (exceto se tiver autorizaccedilatildeo
do porto ldquode desviordquo e se for necessaacuterio o desembarque em casos de seguranccedila e
humanidade) assim o Estado de desembarque deve aceitar o passageiro que for encontrado
no seu mar territorial sendo que em casos de recusa esta deveraacute ser justificada361
A este respeito Sophie Grosbon destaca que o desembarque das pessoas resgatadas
no mar sejam elas migrantes ou passageiros clandestinos estatildeo submetidos agrave lei dos
refugiados bem como ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo isso implica que o indiviacuteduo natildeo seja
desembarcado em um paiacutes no qual seus direitos vida e integridade fiacutesica sejam ameaccedilados
o mesmo ocorre para paiacuteses que possam enviaacute-los de volta ao paiacutes de origem ou Estado onde
seria ameaccediladoperseguido (situaccedilatildeo conhecida como repulsatildeo indireta)362
Percebe-se entatildeo a ligaccedilatildeo do ponto estudado neste capiacutetulo com o que foi exposto
no capiacutetulo 1 a respeito do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo visto anteriormente ou seja uma
pessoa que estaacute fugindo de ameaccedilas e tratamentos desumanos e degradantes que vivia em
um lugar que a vida e a integridade fiacutesica estavam ameaccediladas natildeo deve ser enviada de volta
para a tortura conforme consta no artigo 3ordm da CEDH bem como na Convenccedilatildeo contra a
Tortura
Quanto aos navios que socorrem as pessoas no mar a respeito da situaccedilatildeo dos
passageiros clandestinos faz-se uma separaccedilatildeo na anaacutelise ou seja se o navio eacute estatal ou se
eacute uma embarcaccedilatildeo particular No caso de embarcaccedilatildeo puacuteblica entende-se que o Estado da
bandeira eacute o responsaacutevel pela anaacutelise do pedido de asilo mesmo se estiver em aacuteguas internas
do estado de fuga mas ressalta-se que o mar natildeo eacute o local apropriado para que ocorra o
procedimento de anaacutelise do status de refugiado pois o capitatildeo e sua equipe natildeo possuem
conhecimento e treinamento para este serviccedilo bem como ocasionaria um atraso na rota
aleacutem disso se a anaacutelise ocorrer a bordo pode colocar em risco o respeito aos direitos
361 GROSBON Sophie Op cit 362 Ibidem
110
fundamentais do indiviacuteduo (direito a um tradutor um advogado possibilidade de recorrer e
confidencialidade do processo)363
Por outro lado se a embarcaccedilatildeo for particular a lei internacional dos refugiados junto
com a lei mariacutetima internacional sugere que o Estado responsaacutevel pelo pedido de asilo eacute
aquele onde ocorre o desembarque podendo inclusive que os Estados (de desembarque da
bandeira e outro Estado terceiro que aceite o procedimento de asilo) celebrem acordos para
compartilhar os encargos e as responsabilidades Essa dificulta o desembarque dos
migrantes pois ocasiona a obrigatoriedade de processar o pedido de asilo e isso resultaria
em situaccedilatildeo de natildeo assistecircncia das pessoas em perigo no mar364
Vimos que a UNCLOS no artigo 98 traz o dever de assistecircncia no mar isto eacute o nordm
1 aliacutenea ldquoardquo traz um princiacutepio consistente do direito consuetudinaacuterio que eacute o dever de prestar
assistecircncia para pessoas que estatildeo em perigo no mar e o nordm 2 do artigo traz o dever do Estado
costeiro de promover um eficaz serviccedilo de busca e salvamento bem como promover o
funcionamento a manutenccedilatildeo deste serviccedilo365
No que se refere ao direito internacional consuetudinaacuterio eacute niacutetido de que o dever de
salvar vidas no mar eacute um exemplo desta expressatildeo Nesse sentido tal regra eacute aplicaacutevel a
todos os Estados independentemente de serem signataacuterios de algum tratado internacional366
mas as Convenccedilotildees internacionais trazem disposiccedilotildees para confirmar o dever de salvamento
Como exemplo no Capiacutetulo V temos a regra 33 nordm 1 da SOLAS cujo tiacutetulo eacute ldquoDistress
situations obligations and proceduresrdquo que trata da obrigaccedilatildeo de um capitatildeo do navio em
salvar pessoas que estejam em perigo no mar natildeo importando as circunstacircncias em que satildeo
encontrados nacionalidade ou status das pessoas367
No que diz respeito agrave obrigaccedilatildeo de salvamento prevista na regra 33 nordm 1 da SOLAS
mencionada acima natildeo basta apenas salvar as pessoas em perigo no mar mas tambeacutem faz
parte da obrigaccedilatildeo desembarcar essas pessoas em local seguro este que por sua vez consta
no item 11 do mesmo artigo como segue ldquo() so that survivors assisted are disembarked
from the assisting ship and delivered to a place of safety ()rdquo368
363 GROSBON Sophie Op cit 364 Ibidem 365 UNITED NATIONS United Nations Convention on the Law of the Seas Op cit 366 RUGGIERO Carol Op cit 367 INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION International Convention for the Safety of Life at Sea
(SOLAS) Op cit 368 Ibidem
111
No que se refere ao desembarque em local de seguranccedila nem a SOLAS e nem a SAR
trouxeram a definiccedilatildeo do que seria esse local de seguranccedila poreacutem em 2004 nas
ldquoOrientaccedilotildees sobre o tratamento de pessoas resgatadas no marrdquo da Organizaccedilatildeo Mariacutetima
Internacional (OMI - IMO) dispotildee que esse lugar eacute onde a vida dos sobreviventes natildeo estaacute
mais em perigo tendo as principais necessidades humanas respeitadas ou seja alimentaccedilatildeo
acomodaccedilatildeo assistecircncia meacutedica como segue ldquo()is a location where rescue operations
are considered to terminate It is also a place where the survivorsrsquo safety of life is no longer
threatened and where their basic human needs (such as food shelter and medical needs)
can be met369rdquo
Vale ressaltar que se as pessoas resgatadas estiverem fugindo de perseguiccedilotildees satildeo
pessoas que provavelmente vatildeo querer asilo portanto a questatildeo de resgate e assistecircncia no
mar natildeo se restringe apenas em socorro fiacutesico pois neste caso seraacute tambeacutem uma questatildeo
de proteccedilatildeo internacional370
A regra 7 do Capiacutetulo V da SOLAS tem o tiacutetulo de ldquoSearch and rescue servicesrdquo que
traz a obrigaccedilatildeo de cada Estado-parte em garantir que as providecircncias necessaacuterias de socorro
agraves pessoas em perigo na sua aacuterea de responsabilidade371 no mesmo sentido a SAR no
Capiacutetulo 2 nordm 2110 dispotildee ldquoParties shall ensure that assistance be provided to any person
in distress at sea They shall do so regardless of the nationality or status of such a person or
the circumstances in which that person is foundrdquo372 ou seja os Estados signataacuterios tecircm o
dever de prestar assistecircncia a qualquer pessoa em perigo no mar independente de status
nacionalidade ou qualquer outra circunstacircncia conforme jaacute mencionado anteriormente
Tendo por base essas informaccedilotildees podemos fazer uma anaacutelise com base no estudo
realizado por Ilaria Trani ou seja em seu estudo trouxe a informaccedilatildeo de que o estado liacutebio
estaria atuando na regiatildeo mariacutetima a fim de executar operaccedilotildees de busca e resgate sendo
financiados por paiacuteses como a Itaacutelia por exemplo Isto traz a situaccedilatildeo de que se as
autoridades liacutebias resgatarem os barcos de migrantes ilegais poderiam levaacute-los de volta para
369 INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION Guidelines on the Treatment of Persons Rescued at
Sea 2004 Disponiacutevel em
httpwwwimoorgenOurWorkFacilitationpersonsrescuedDocumentsMSC167(78)pdf Acesso em
27062020 370 RUGGIERO Carol Op cit 371 INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION International Convention for the Safety of Life at Sea
(SOLAS) Op cit 372 INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION Search and Rescue Convention 1979 Disponiacutevel
em httpsonboard-aquariusorguploads201808SAR-Convention-1979pdf Acesso em 27062020
112
Liacutebia sem configurar a ldquonatildeo-repulsatildeordquo situaccedilatildeo em que a Itaacutelia jaacute foi condenada pelo
Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (como veremos agrave frente) Poreacutem destaca-se que tal
situaccedilatildeo natildeo exime os paiacuteses da Uniatildeo Europeia das suas obrigaccedilotildees de proteger a vida
humana no mar mesmo que a operaccedilatildeo necessaacuteria seja fora da regiatildeo de busca e salvamento
sob a justificativa da responsabilidade perante o direito internacional373 Aleacutem disso a Itaacutelia
fornecer subsiacutedios para que a Liacutebia resgate os migrantes no mar e os levem de volta estaacute
sendo cuacutemplice de um atividade iliacutecita e por isso deve ser responsabilizada tendo por base
o artigo 16 dos ldquoDraft articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful Actsrdquo
bull Procedimentos e operaccedilotildees de busca e resgate no mar
Em um primeiro momento o capitatildeo deve passar informaccedilotildees do navio auxiliar para
o Centro de Coordenaccedilatildeo de Resgate bem como informaccedilotildees a respeito das pessoas a serem
resgatadas accedilotildees jaacute concluiacutedas e ainda por realizar procedimento de desembarque sugerido
pelo capitatildeo do navio e fatores especiacuteficos (clima carga do navio etc) Se as pessoas
resgatadas forem migrantes que pretendem requerer asilo o capitatildeo deve informar tambeacutem
o ACNUR aleacutem de alertar o Centro de Coordenaccedilatildeo de Resgate mais proacuteximo natildeo deve
solicitar desembarque de onde os migrantes estavam fugindo e natildeo fornecer os dados dos
migrantes agraves autoridades do paiacutes de origem ou para quem possa informar as autoridades374
Os Centros de Coordenaccedilatildeo de Resgate satildeo importantes pois deve assegurar que os
compromissos assumidos internacionalmente sejam cumpridos como por exemplo respeito
agraves convenccedilotildees SAR e SOLAS bem como ter um plano de operaccedilatildeo para accedilotildees de
recuperaccedilatildeo organizar o desembarque dos sobreviventes entregarem as pessoas resgatadas
em um lugar seguro Aleacutem disso esses centros tem a funccedilatildeo de fazer acordos com setores
de imigraccedilatildeo alfacircndegas controles de fronteira etc providenciando inclusive hospedagens
temporaacuterias para os resgatados enquanto o problema relativo ao resgate seja solucionado
com intuito de desonerar o navio que resgatou o mais breve possiacutevel para evitar atrasos
encargos financeiros ou outras dificuldades375
373 TANI Ilaria Op cit 374 INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION INTERNATIONAL CHAMBER OF SHIPPING
UNITED NATIONS (UNHCR) Soccorso in Mare 2015 Disponiacutevel em httpswwwunhcritwp-
contentuploads201512Soccorso_in_Marepdf Acesso em 29062020 375 INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION INTERNATIONAL CHAMBER OF SHIPPING
UNITED NATIONS (UNHCR) Soccorso in Mare 2015 Op cit
113
Assim no ano de 2015 a Comissatildeo o Conselho e o Parlamento Europeu passaram
a atuar de formas variadas na questatildeo de busca e salvamento no mar no que se refere aos
refugiados principalmente devido agraves trageacutedias acontecidas no Mediterracircneo376 Antes de
entendermos um pouco da situaccedilatildeo de busca e resgate no Mediterracircneo faz-se necessaacuterio
entender um pouco sobre a Frontex
O controle de fronteiras na Europa eacute exercido pela Frontex que foi criada em 2004
e consiste na Agecircncia Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira tendo como finalidade
ajudar os paiacuteses da Uniatildeo Europeia bem como os pertencentes agrave aacuterea Schengen a proteger
suas fronteiras e ter um maior controle da livre circulaccedilatildeo presente no respectivo territoacuterio
No ano de 2016 as funccedilotildees da Frontex foram ampliadas para ter maior controle da
migraccedilatildeo a fim de ter maior responsabilidade na questatildeo de combate agrave criminalidade
transfronteiriccedila aleacutem disso as operaccedilotildees de busca e salvamento satildeo de competecircncia da
Frontex377
No sentido de busca e salvamento tem-se que ldquoA Frontex eacute obrigada a prestar
assistecircncia teacutecnica e operacional no mar para apoiar operaccedilotildees de salvamento que possam
ocorrer durante as operaccedilotildees de vigilacircncia das fronteiras378rdquo Segundo dados a Frontex
auxiliou no salvamento 280000 no Mar Mediterracircneo379
Podemos citar portanto duas operaccedilotildees da Frontex que tinham por objetivo a
interceptaccedilatildeo de navios de migrantes ilegais originados do Senegal e Mauritacircnia sendo
denominadas Hera II e III nestas operaccedilotildees parte dos migrantes foram devolvidos Ressalta-
se que as patrulhas foram feitas tambeacutem no mar territorial dos dois paiacuteses africanos
supramencionados aleacutem disso a existecircncia de acordos entre paiacuteses terceiros e de fora da
Uniatildeo Europeia autorizam as patrulhas bem como autoriza outros Estados-membros a
intervir nas aacuteguas territoriais dos referidos paiacuteses africanos380
Como vimos tendo por base o direito internacional os estados costeiros possuem
ampla soberania no seu mar territorial sendo limitado pelo direito de passagem inocente ou
por algum tratado Nesse sentido o acordo entre Mauritacircnia e Espanha dispotildee que os dois
376 TANI Ilaria Op cit 377 FRONTEX O que eacute a Frontex Disponiacutevel em httpsfrontexeuropaeulanguagept Acesso em
19082020 378 Ibidem 379 Dados informados no site da Frontex FRONTEX O que eacute a Frontex Disponiacutevel em
httpsfrontexeuropaeulanguagept Acesso em 19082020 380 TREVISANUT Seline Maritime Border Control and the Protection of Asylum-Seekers in the European
Union Op cit
114
paiacuteses poderiam interceptar e desviar pessoas nacionais de paiacuteses terceiros que natildeo
apresentem os requisitos de entrada em ambos os paiacuteses mesmo que seja no mar territorial
No caso apenas embarcaccedilotildees espanholas poderiam interceptar embarcaccedilotildees no mar
territorial da Mauritacircnia ocorre que a Frontex natildeo especifica a nacionalidade da
embarcaccedilatildeo constando apenas que se trata de embarcaccedilatildeo dos Estados-membros assim natildeo
sendo navio de nacionalidade espanhola provavelmente haacute uma infringecircncia agraves normas de
direito internacional a natildeo ser que tenha a aceitaccedilatildeo do paiacutes africano381
Nesse sentido o anexo da ldquoCouncil Decisionrdquo de 26 de abril de 2010 traz os
princiacutepios gerais para operaccedilotildees de fronteiras mariacutetimas realizadas pela Frontex assim estas
operaccedilotildees devem ser realizadas com base nos direitos fundamentais promovendo a
seguranccedila das pessoas interceptadas ou resgatadas dispotildee tambeacutem que nenhuma pessoa
pode ser enviada a um localpaiacutes em que possa haver risco para sua integridade fiacutesica e
liberdade consistindo em uma violaccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo382
No entanto uma das mais importantes operaccedilotildees de resgate no Mediterracircneo foi a
Mare Nostrum lanccedilada pela Itaacutelia e surgiu em 2013 apoacutes o aumento dos naufraacutegios das
embarcaccedilotildees de imigrantes nas proximidades da ilha de Lampedusa A ideia era vigiar o Mar
Mediterracircneo 24 horas por dia a fim de salvar o maior nuacutemero de vidas possiacuteveis Assim
em um ano mais de 150 mil pessoas foram salvas isso significa o resgate de pelo menos
400 pessoas por dia Tambeacutem conseguiram prender mais de 300 traficantes poreacutem natildeo foi
totalmente eficaz tendo em vista a morte de pelo menos trecircs mil e trezentos migrantes no
ano de 2014 Tal operaccedilatildeo custava em torno de 9 milhotildees de euros por mecircs e devido aos
custos a Itaacutelia finalizou esta operaccedilatildeo devido a falta de ajuda no custeio383
Posteriormente a Europa adotou a Operaccedilatildeo Triton coordenada pela Frontex que
foi auxiliada pelos Estados-membros com a cessatildeo de embarcaccedilotildees aviotildees helicoacutepteros e
pessoal para auxiliar nos serviccedilos Diferentemente da Mare Nostrum que o objetivo era de
381 TREVISANUT Seline Maritime Border Control and the Protection of Asylum-Seekers in the European
Union Op cit 382 COUNCIL OF THE EUROPEAN UNION Council Decision of 26 April 2010 (2010252EU) Disponiacutevel
em httpseur-lexeuropaeuLexUriServLexUriServdouri=OJL201011100200026ENPDF Acesso
em 18092020 383 G1 GLOBO Conheccedila as missotildees de resgate de imigrantes no Mediterracircneo 2015 Disponiacutevel em
httpg1globocommundonoticia201504conheca-as-missoes-de-resgate-de-imigrantes-no-
mediterraneohtml Acesso em 30082020
115
resgate e tinha uma atuaccedilatildeo ateacute costa da Liacutebia a Triton focou no controle de fronteiras sendo
que as buscas se limitaram nas aacuteguas europeias384
Outra operaccedilatildeo foi a EUNAFOR MED SOPHIA implementada em 2016 pela
Resoluccedilatildeo 22402015 derivada da EUNAFOR ATLANTA esta que tinha o objetivo de
combater a pirataria na costa da Somaacutelia Essa nova forccedila naval da Uniatildeo Europeia no
Mediterracircneo recebeu diversas criacuteticas quanto aos planos de operaccedilotildees que se referem
questatildeo de naufraacutegios Uma dessas tarefas eacute monitorar a formaccedilatildeo agrave Guarda Costeira da
Liacutebia Houve tambeacutem outro adendo o Memorando de Entendimento entre a Itaacutelia e a Liacutebia
de 2017 que foi acolhido pelo Conselho Europeu poreacutem recebeu criacuteticas do Comitecirc das
Naccedilotildees Unidas contra a Tortura pois natildeo tratava sobre a colaboraccedilatildeo dos Estados no que se
refere aos direitos humanos385 No que se refere agrave Resoluccedilatildeo mencionada acima tem-se que
ela ldquo() reforccedila a autoridade para tomar medidas contra a introduccedilatildeo clandestina de
migrantes e o traacutefico de pessoas a partir do territoacuterio da Liacutebia e ao largo da costa deste
paiacutesrdquo386
Aleacutem disso o jornal alematildeo ldquoDeutsche Wellerdquo no ano passado (2019) trouxe a
notiacutecia de que um grupo de advogados em Paris apresentou agrave Fatou Bensouda (procuradora
geral do Tribunal Penal Internacional) uma denuacutencia de que a UE e Estados-membros desde
2014 estariam cometendo crime contra a humanidade no cumprimento de poliacuteticas
migratoacuterias no Mar Mediterracircneo e na Liacutebia Na denuacutencia haacute informaccedilotildees de que 40 mil
pessoas foram ldquoresgatadasrdquo no mar e consequentemente levadas para campos de detenccedilatildeo
de refugiados e submetidos agrave tortura aleacutem de casos de tortura e estupros cometidos pela
Guarda Costeira Liacutebia financiada por paiacuteses europeus (Itaacutelia por exemplo) Nos uacuteltmos 6
anos mais de 12 mil migrantes morreram ao tentar fugir da Liacutebia e chegar ao continente
europeu387
Agraves situaccedilotildees demonstradas acima podemos suspeitar de que a Uniatildeo Europeia por
meio da Frontex juntamente com alguns paiacuteses europeus atuam no sentido de repelir os
migrantes tendo em vista o auxiacutelio promovido por essa agecircncia no sentido de resgate das
384 G1 GLOBO Conheccedila as missotildees de resgate de imigrantes no Mediterracircneo 2015 Op cit 385 TANI Ilaria Op cit 386 COMITEcirc DE SEGURANCcedilA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Resoluccedilatildeo 2240 (2015) Disponiacutevel em httpseur-
lexeuropaeulegal-contentPTTXTuri=CELEX3A32016D0118 Acesso em 30082020 387 DEUTSCHE WELLE (DW) Juristas processam UE por morte de migrantes 2019 Disponiacutevel em
httpswwwdwcompt-brjuristas-processam-ue-por-mortes-de-migrantesa-49036829 Acesso em
05102020
116
pessoas no mar enviando os de volta aos seus paiacuteses como no caso envolvendo a Espanha e
a Mauritacircnia
bull Conflito de interesses Estados vs Refugiados
Como vimos a Mare Nostrum foi descontinuada e portanto substituiacutedas por outras
missotildees que aos poucos foram reduzindo sua amplitude bem como natildeo tinham a busca e
salvamento como objetivo principal Nesse sentido enquanto a Itaacutelia coordenava as
operaccedilotildees de busca e salvamento no Mar Mediterracircneo a Liacutebia cada vez mais assumia a
responsabilidade pelas operaccedilotildees Aleacutem disso vimos tambeacutem que houve apoio da Uniatildeo
Europeia agrave Guarda Costeira da Liacutebia e entatildeo alterando as atividades de busca e salvamento
Houve tambeacutem em 2017 a elaboraccedilatildeo de um Coacutedigo de Conduta destinada agraves
Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais (ONGrsquos) da Itaacutelia (tambeacutem com apoio da UE)
coincidindo com a proposiccedilatildeo de processos criminais contra os capitatildees de navios e ONGrsquos
que resgatassem as pessoas em perigo como tambeacutem houve a negativa de entrada nas aacuteguas
territoriais e portos Tais accedilotildees diminuiacuteram a chegada de pessoas na costa europeia poreacutem
muitas vidas foram afetadas por isso (devido aos afogamentos e desaparecimentos das
pessoas que buscam proteccedilatildeo)388
Sendo assim devido ao menor nuacutemero de patrulhamento no Mediterracircneo a busca e
resgate leva mais tempo muitas vezes o resgate chegando tarde demais Natildeo se pode ignorar
o fato de que as pessoas que fogem da Liacutebia estatildeo buscando ter uma vida digna ou pelo
menos um miacutenimo de sobrevivecircncia e esta situaccedilatildeo com maior atuaccedilatildeo da Guarda Costeira
da Liacutebia faz com que as embarcaccedilotildees resgatadas pelo estado liacutebio levem de volta agrave Liacutebia as
pessoas que estavam fugindo de situaccedilotildees dramaacuteticas como por exemplo prisotildees arbitraacuterias
violecircncia sexual trabalho forccedilado assassinatos etc Aleacutem disso os capitatildees de navios caso
cumpram com a sua obrigaccedilatildeo de salvamento podem responder a processos judiciais
criminais389
388 COUNCIL OF EUROPE ndash COMMISSIONER FOR HUMAN RIGHTS Lives Saved Rights protected
Bridging the protection gap for refugees and migrants in the Mediterranean - Recommendations 2019
Disponiacutevel em httpsrmcoeintlives-saved-rights-protected-bridging-the-protection-gap-for-refugees-
168094eb87 Acesso em 01092020 389 Ibidem
117
Trata-se portanto de uma situaccedilatildeo complexa devido ao conflito de questotildees de
natureza humanitaacuteria e a relutacircncia dos Estados em partilhar as responsabilidades Dessa
forma sabe-se que os Estados tecircm o direito de controlar suas fronteiras mas natildeo se deve
deixar de lado agraves vidas humanas que pedem proteccedilatildeo por fugirem de situaccedilotildees degradantes
Assim todos os seres humanos tecircm direito agrave vida bem como agrave proteccedilatildeo da sua dignidade
aleacutem disso o direito internacional do mar traz a obrigaccedilatildeo de que os Estados devem tomar
medidas para preservaccedilatildeo da vida no mar390
A salvaguarda da vida humana deve ter por base a Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos
do Homem aleacutem de outros diplomas internacionais jaacute mencionados na presente pesquisa
Isso significa o respeito ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo proteccedilatildeo contra detenccedilatildeo arbitraacuteria
proibiccedilatildeo de expulsatildeo coletiva entre outros direitos relativos agrave proteccedilatildeo internacional391
Jaacute vimos que o direito de resgate das pessoas em perigo no mar natildeo eacute um direito
isolado mas que envolve princiacutepios do direito do mar do direito internacional e dos direitos
humanos Poreacutem ainda haacute muitos problemas neste aspecto pois muitos navios se abstecircm de
resgatar pessoas em perigo por natildeo terem um local seguro para desembarcar os migrantes
ou por terem que desviar a rota e isso traria maiores encargos financeiros aleacutem disso paiacuteses
como Itaacutelia e Malta estatildeo sobrecarregados no que tange ao recebimento de migrantes devido
agrave proximidade com a costa da Liacutebia e tambeacutem pela falta de uniatildeo dos Estados-membros
tendo em vista a necessidade da reparticcedilatildeo dos encargos392
No que se refere ao resgate tem-se que natildeo haacute uma obrigaccedilatildeo legal de
monitoramento ou seja um dever de realizar patrulhamento as accedilotildees de resgate satildeo
estruturadas de acordo com cada Estado poreacutem se um Estado recebe a notiacutecia de que haacute
pessoas em perigo no mar esse Estado eacute obrigado a realizar o resgate Nesse sentido o dever
de resgate no mar estaacute presente no direito internacional do mar em diversos diplomas
internacionais bem como UNCLOS SAR SOLAS e International Convention of Salvage
aleacutem de diretrizes estabelecidas pela Organizaccedilatildeo Mariacutetima Internacional e resoluccedilotildees e
recomendaccedilotildees elaboradas pelo ACNUR393
390 COUNCIL OF EUROPE ndash COMMISSIONER FOR HUMAN RIGHTS Lives Saved Rights protected
Bridging the protection gap for refugees and migrants in the Mediterranean - Recommendations 2019 Op cit 391 Ibidem 392 LISSON Urszula WEINZIERL Ruth Op cit 393 Ibidem
118
Portanto em situaccedilatildeo de alguma embarcaccedilatildeo em perigo no mar o resgate deveraacute ser
efetuado sendo inicialmente providenciados os primeiros socorros e necessidades baacutesicas
Aleacutem disso o dever de resgate inclui a proibiccedilatildeo de discriminaccedilatildeo ou seja qualquer pessoa
que esteja em perigo no mar deve ser resgatada independente de sua nacionalidade ou
qualquer outra circunstacircncia Entatildeo tem-se que a soberania de um Estado costeiro encontra
limites nas obrigaccedilotildees humanitaacuterias isso significa que haacute a permissatildeo de entrada de
embarcaccedilatildeo em perigo em seu porto estando ela no mar territorial buscando por
assistecircncia394
Eacute importante ressaltar que com base no direito mariacutetimo todo Estado deve exigir
que o comandante de alguma embarcaccedilatildeo que arvore sua bandeira preste assistecircncia agraves
pessoas que estatildeo em perigo no mar sendo eximida apenas quando houver risco para o navio
Poreacutem com a situaccedilatildeo atual haacute incentivos para que os comandantes evitem os resgates
exatamente para evitar se depararem com o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo Assim vimos que
alguns comandantes estavam respondendo processos criminais ao resgatar pessoas e
desembarcarem em paiacuteses da UE sendo potenciais requerentes de asilo Ao que se refere agraves
embarcaccedilotildees privadas a demora dos paiacuteses para indicarem local para o desembarque pode
trazer implicaccedilotildees financeiras e portanto torna-se um desincentivo para que resgatem as
pessoas em perigo no mar Aleacutem disso o Estado costeiro deve promover o serviccedilo de busca
e salvamento natildeo sendo excluiacuteda a ajuda de paiacuteses vizinhos
No entanto vimos que atualmente a Itaacutelia com auxiacutelio da Uniatildeo Europeia estaacute
auxiliando a Liacutebia para patrulhamento das aacuteguas do Mediterracircneo para tentar se eximir da
obrigaccedilatildeo de busca e salvamento tendo que arcar com o acolhimento dos migrantes e talvez
consequente pedido de asilo395
O Conselho da Europa trouxe recomendaccedilotildees uma delas eacute a de que todos os Estados
membros devem contribuir de alguma forma com as atividades de busca e salvamento aleacutem
disso os Estados costeiros devem garantir que as unidades de busca e salvamento devem
estar disponiacuteveis para as pessoas que estejam em perigo no mar isso inclui embarcaccedilotildees das
ONGrsquos de atividades humanitaacuterias396
394 LISSON Urszula WEINZIERL Ruth Op cit 395 COUNCIL OF EUROPE ndash COMMISSIONER FOR HUMAN RIGHTS Lives Saved Rights protected
Bridging the protection gap for refugees and migrants in the Mediterranean - Recommendations 2019 Op cit 396 Ibidem
119
Os membros do Conselho da Europa devem respeitar as medidas tomadas pelos
comandantes dos navios em situaccedilotildees de natildeo desembarcar migrantes na Liacutebia ou qualquer
outro local natildeo seguro ou seja o Conselho entende que os comandantes devem respeitar a
disposiccedilatildeo de desembarque de migrantes em local seguro por exemplo a Liacutebia natildeo consiste
em local seguro Portanto os Estados-membros devem respeitar o natildeo desembarque de
migrantes em locais nos quais suas vidas estatildeo em risco bem como natildeo devem aplicar
penalidades sanccedilotildees ou medidas repressivas quando comandantes atuarem para salvar as
vidas das pessoas em perigo no mar Assim sempre devem ser garantidos os direitos
humanos dos migrantes resgatados natildeo devendo estes ser colocados em situaccedilotildees de risco agrave
vida ou em situaccedilotildees de tortura tratamento desumano ou degradante397
Aleacutem disso o Conselho da Europa recomenda que os Estados-membros em uma
operaccedilatildeo de busca e resgate devem cooperar a fim de proporcionar um desembarque raacutepido
das pessoas resgatadas sendo que natildeo deveraacute ser admitida alguma discordacircncia entre os
estados colocando em risco os direitos humanos dos migrantes Portanto primeiro deve-se
promover o resgate e desembarque em local seguro e apoacutes isso seraacute feita a anaacutelise de qual
estado seraacute responsaacutevel pelo procedimento de asilo devendo haver uma partilha entre os
estados para anaacutelise dos pedidos de asilo398
Vimos anteriormente que no caso particular da Liacutebia desde o ano de 2017 houve
investimentos de grande porte do Conselho da Europa bem como da Uniatildeo Europeia para
melhorar a capacidade de resgate da Guarda Costeira da Liacutebia ou seja execuccedilatildeo de
treinamentos fornecimentos de recursos entre outros incentivos Tal investimento teve
como resultado um maior resgate de pessoas que tentavam deixar a Liacutebia ou seja houve
portanto uma tentativa de impedir que as pessoas fugissem do paiacutes Poreacutem tal fato faz com
que devido agrave situaccedilatildeo dramaacutetica na Liacutebia pessoas sejam resgatadas detidas e submetidas agrave
tortura bem como violecircncia sexual e diversas outras violaccedilotildees dos direitos humanos 399
Nesse sentido nos deparamos com uma situaccedilatildeo de necessidade de rotas seguras e
legais para que essas travessias de migrantes natildeo ocorram de forma irregular e perigosa
Aleacutem de risco de vida as rotas irregulares favorecem o traacutefico de seres humanos Assim a
ausecircncia de rotas seguras e legais coloca em perigo os direitos dos migrantes e tambeacutem o
397 COUNCIL OF EUROPE ndash COMMISSIONER FOR HUMAN RIGHTS Lives Saved Rights protected
Bridging the protection gap for refugees and migrants in the Mediterranean - Recommendations 2019 Op cit 398 Ibidem 399 Ibidem
120
intuito dos estados em combater o traacutefico de pessoas Portanto a ideia eacute de que os estados
tomem medidas corretas para que a migraccedilatildeo ocorra dentro da lei dessa forma rotas seguras
e legais satildeo extremamente necessaacuterias para as pessoas que precisam de proteccedilatildeo
internacional400
Diante de todo esse cenaacuterio percebemos que haacute um grave conflito de interesses dos
Estados-membros bem como da Uniatildeo Europeia com o dos refugiados Os paiacuteses-destino
(grande parte europeus) e a UE tentam atraveacutes da Frontex e mediante auxiacutelio aos paiacuteses de
fuga (a Liacutebia por exemplo) reduzir o nuacutemero de migrantes poreacutem fazem isso auxiliando
em equipamentos e treinamentos as guardas costeiras dos paiacuteses de origem para que estes
interceptem as embarcaccedilotildees levando as pessoas de volta Ocorre que tal accedilatildeo consiste em
um sistema de escapar da obrigatoriedade do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo sendo assim muitas
dessas pessoas resgatadas pelos paiacuteses de origem satildeo levadas de volta ao territoacuterio sendo
submetidos agrave prisotildees torturas assassinatos ou seja fica niacutetida o desrespeito aos direitos
humanos tanto pelos Estados-membros e pela UE (pois estariam promovendo o envio de
pessoas de volta para situaccedilotildees dramaacuteticas) quanto pelos paiacuteses de origem que muitas vezes
estatildeo passando por crises internas sendo que a Liacutebia vive atualmente uma grave guerra civil
onde as pessoas satildeo torturadas e submetidas a trabalhos forccedilados entre outras atrocidades
Portanto muito se fala da cooperaccedilatildeo entre os estados poreacutem esta deve ser realizada
de forma beneacutefica promovendo o direito agrave vida e o respeito aos direitos humanos Se as
pessoas que estatildeo fugindo dos seus paiacuteses muitas vezes estatildeo fugindo para que suas vidas
e a de sua famiacutelia sejam preservadas entatildeo natildeo faz sentido devolver estas pessoas para o
paiacutes em que colocava suas vidas em risco bem como faz menos sentido ainda auxiliar os
paiacuteses de origem para que resgatem os migrantes e os levem de volta para a costa
400 COUNCIL OF EUROPE ndash COMMISSIONER FOR HUMAN RIGHTS Lives Saved Rights protected
Bridging the protection gap for refugees and migrants in the Mediterranean - Recommendations 2019 Op cit
121
CAPIacuteTULO 4
CASOS DE VIOLACcedilAtildeO DO ARTIGO 3ordm DA CONVENCcedilAtildeO EUROPEIA DOS
DIREITOS HUMANOS E O PRINCIacutePIO DA NAtildeO-REPULSAtildeO
Vimos anteriormente que apesar de natildeo haver regra expressa na CEDH a respeito da
natildeo-repulsatildeo das pessoas que necessitam de proteccedilatildeo o Tribunal Europeu dos Direitos
Humanos firmou jurisprudecircncia no sentido de vincular o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo ao artigo
3ordm da CEDH que se refere agrave proibiccedilatildeo da tortura E da mesma maneira que a Convenccedilatildeo
Contra a Tortura a CEDH engloba todos os indiviacuteduos natildeo somente aos refugiados que eacute o
caso da Convenccedilatildeo de Genebra de 1951
Assim o TEDH natildeo se limitou aos casos de extradiccedilatildeo como tambeacutem de expulsatildeo
dessa forma os Estados signataacuterios da CEDH natildeo podem rejeitar pessoas enviando-as para
locais em que corram o risco de serem submetidas a tratamentos desumanos degradantes
bem como a tortura Nesse sentido o Tribunal entende que a natildeo-repulsatildeo tambeacutem eacute aplicada
para accedilotildees estatais em alto mar inclusive em situaccedilotildees que envolvam os migrantes por via
mariacutetima401 Entatildeo neste capiacutetulo seratildeo analisadas algumas decisotildees do Tribunal Europeu
dos Direitos Humanos a respeito da violaccedilatildeo do artigo 3ordm da CEDH do princiacutepio da natildeo-
repulsatildeo bem como casos relativos agrave repulsatildeo no mar seratildeo analisados tambeacutem outros
casos que natildeo satildeo decisotildees do TEDH poreacutem ajudam a demonstrar a situaccedilatildeo dramaacutetica dos
migrantes
O fenocircmeno migratoacuterio natildeo eacute recente contudo nas uacuteltimas deacutecadas sobretudo apoacutes
2011 com a Primavera Aacuterabe o fluxo de migrantes oriundos do Oriente Meacutedio e da Aacutefrica
especialmente no norte do continente africano com a eclosatildeo das revoltas da populaccedilatildeo
contra governos ditatoriais tem aumentado muito e fazendo com que os migrantes arrisquem
suas vidas nas matildeos de traficantes muitas vezes em embarcaccedilotildees precaacuterias na tentativa de
travessia para Europa
Sabemos que a maioria dos migrantes natildeo planeja a viagem bem como muitas vezes
fazem a travessia ateacute ldquocontra a sua vontaderdquo poreacutem as condiccedilotildees de vida no paiacutes de origem
satildeo tatildeo precaacuterias a exemplo da Liacutebia que as pessoas saem agraves pressas para tentarem ter um
miacutenimo de dignidade Isso porque como dito anteriormente a dignidade humana eacute
401 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit
122
praticamente inexistente no paiacutes de origem em que pessoas satildeo submetidas agrave tortura
trabalho escravo presenciando situaccedilotildees de assassinatos de formas arbitraacuterias e
autoritaacuterias402
A questatildeo da Liacutebia no que tange busca e resgate destaca-se dois pontos importantes
a serem levados em conta o primeiro eacute o proacuteprio estado liacutebio que se encontra em total
desordem o outro ponto consiste nas graves violaccedilotildees de direitos humanos que fazem com
que milhares de pessoas fujam do paiacutes em busca de uma vida mais digna e segura403
O acordo realizado entre Itaacutelia e Liacutebia em 2017 fez com que a Itaacutelia transferisse seu
controle dos fluxos migratoacuterios para a Liacutebia concedendo apoio financeiro e teacutecnico como
jaacute vimos anteriormente No entanto essa estrateacutegia fez com que a praacutetica de repelir os
migrantes de volta para Liacutebia se tornasse comum Dessa forma o Centro Italiano di
Coordinamento del Soccorso Marittimo (IMRCC) coordena as operaccedilotildees de forma
remota404
41 Contexto Faacutetico
Tendo por base todos os comentaacuterios acima e tambeacutem o jaacute mencionado neste
capiacutetulo algumas decisotildees do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos seratildeo apresentadas
analisando jurisprudecircncia do referido Tribunal a respeito de todo o estudo apresentado no
presente trabalho dessa forma demonstra-se as violaccedilotildees ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo
analisados de forma conjunta com o artigo 3ordm da CEDH e a responsabilidade do Estado tanto
em situaccedilotildees de repulsatildeo no mar quanto em situaccedilotildees em que os migrantes conseguiram de
alguma forma chegar no territoacuterio europeu no entanto foram repelidos Nota-se que em
alguns casos as violaccedilotildees esbarram em um outro artigo da CEDH o artigo 4ordm do Protocolo
Adicional nordm 4 referente agraves expulsotildees coletivas
Vimos que a situaccedilatildeo da Liacutebia tem sido uma das principais crises no momento tendo
em vista os problemas que assolam o paiacutes pois devido agrave crise muitas pessoas estatildeo fugindo
do paiacutes Por este motivo dos casos abaixo apresentados metade satildeo relacionados agrave Liacutebia
(Hirsi Jamaa Vos Thalassa e Asso 28) referentes agrave repulsatildeo no mar no entanto outros
402 TANI Ilaria Op cit 403 Ibidem 404 AGENZIA ITALIA Cosa egrave successo a bordo della nave Asso Ventotto 2018 Disponiacutevel em
httpswwwagiitcronacamigranti_asso_ventotto-4224246news2018-07-31 Acesso em 05102020
123
casos tambeacutem foram apresentados (Khlaifia Abdi Mahamud e Sharifi) que esses uacuteltimos
referem-se agrave situaccedilotildees em que os migrantes foram resgatados no mar ou seja tiveram seu
direito de assistecircncia no mar respeitados no entanto posteriormente tiveram seus direitos
humanos violados
411 Caso Hirsi Jamaa e Outros versus Itaacutelia
Neste caso a decisatildeo405 foi proferida pelo TEDH em fevereiro de 2012 mas o fato
ocorreu em 2009 quando os refugiados um total de 200 foram interceptados a 35 milhas
naacuteuticas de Lampedusa aacuterea de busca e salvamento de Malta poreacutem foram abordados por
autoridades italianas e devolvidos para a Liacutebia Sendo que na versatildeo dos migrantes durante
a viagem de volta para o paiacutes africano eles natildeo foram informados qual seria o destino e
quando chegaram agrave Liacutebia se recusaram a desembarcar mas acabaram sendo forccedilados a
saiacuterem da embarcaccedilatildeo
Dessa forma alguns destes migrantes ingressaram com accedilatildeo perante o TEDH
alegando violaccedilatildeo do artigo 3ordm e 4ordm da CEDH que correspondem respectivamente a proibiccedilatildeo
da tortura e do trabalho escravo eou forccedilado bem como do artigo 4ordm do Protocolo Adicional
nordm 4 que consiste na proibiccedilatildeo de expulsatildeo coletiva
A Itaacutelia por sua vez atraveacutes do seu Ministro do Interior disse ter agido de forma
correta tendo em vista o acordo bilateral entre Itaacutelia e Liacutebia para reduccedilatildeo da imigraccedilatildeo ilegal
e que esse acordo ajudou salvar vidas diminuindo o desembarque de migrantes na costa
italiana Assim em 2009 a Itaacutelia realizou 9 interceptaccedilotildees de migrantes irregulares com base
nesse acordo Ressalta-se que alguns destes migrantes que foram interceptados foram
enquadrados na condiccedilatildeo de refugiado pelo escritoacuterio do ACNUR ou seja restou claro a
violaccedilatildeo aos direitos humanos
Aleacutem disso o governo italiano alegou que os migrantes natildeo tinham requerido asilo
e que tambeacutem natildeo informaram a situaccedilatildeo em que poderiam ser submetidos na Liacutebia os
requerentes por sua vez informaram que a tripulaccedilatildeo os induziu acreditar que estavam
sendo levados para a Itaacutelia e natildeo para a Liacutebia bem como disseram que foi informado aos
militares italianos de que necessitavam de proteccedilatildeo internacional No entanto mesmo se os
405 EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Hirsi Jamaa and others v Italy Application no
2776509 Disponiacutevel em httphudocechrcoeintspai=001-109231 Acesso em 16092020
124
migrantes natildeo tivessem demonstrado a intenccedilatildeo de proteccedilatildeo internacional tal fato natildeo isenta
a Itaacutelia de cumprir com as obrigaccedilotildees previstas no artigo 3ordm da CEDH Portanto na opiniatildeo
do TEDH houve a violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees internacionais pela Itaacutelia sobretudo no que se
refere ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo A situaccedilatildeo na Liacutebia eacute notoacuteria e por isso natildeo haacute que se
falar que os migrantes natildeo avisaram as autoridades italianas sobre o risco de tortura
Entatildeo vimos que o TEDH entendeu haver violaccedilatildeo do artigo 3ordm da CEDH bem como
o artigo 4ordm do Protocolo nordm 4 que consiste respectivamente a proibiccedilatildeo da tortura e proibiccedilatildeo
de expulsatildeo coletiva sendo este uacuteltimo devendo ter uma interpretaccedilatildeo evolutiva ou seja
adotando a ideia de extraterritorialidade considerando como extensatildeo do territoacuterio italiano
a embarcaccedilatildeo de resgate
Por fim o TEDH entendeu por unanimidade que os migrantes estavam sob jurisdiccedilatildeo
italiana bem como jaacute mencionado acima que houve violaccedilatildeo do artigo 3ordm da CEDH do
artigo 4ordm do Protocolo nordm 4 e do artigo 13 que se refere ao direito de recurso efetivo Assim
condenou a Itaacutelia ao pagamento de 15 mil euros por danos morais para cada um dos
requerentes acrescido da quantia de 157574 euros referente custas e despesas somados de
eventual imposto de cobranccedila aos requerentes
Este caso consiste em uma importante reafirmaccedilatildeo dos direitos dos refugiados frente
ao direito internacional e a responsabilidade do Estado em situaccedilotildees de violaccedilotildees a esses
direitos Assim ficou demonstrada a responsabilidade do Estado no caso a Itaacutelia de reparar
os danos causados aos migrantes Poreacutem destaca-se a indenizaccedilatildeo iacutenfima paga aos
requerentes frente agrave gravidade do problema sendo que alguns deles faleceram e natildeo se sabe
a causa ou seja podem ter sido mortos aleacutem disso os que sobreviveram podem ter sofrido
seacuterios danos fiacutesicos e morais como por exemplo terem sido enviados para trabalho escravo
Em situaccedilotildees dessas nenhuma quantia pode ser capaz de reparar sobretudo uma quantia
insignificante de 15 mil euros O valor indenizatoacuterio tem como principal funccedilatildeo coibir essas
condutas danosas mais que a funccedilatildeo compensatoacuteria dos danos no entanto nota-se que o
valor da indenizaccedilatildeo aplicada eacute tatildeo irrisoacuterio para um paiacutes no caso a Itaacutelia que deixa de ter
o condatildeo de inibir o reiteramento desse comportamento ou conduta
Neste aspecto abordagem de devolver migrantes para a Liacutebia sofreu algumas
alteraccedilotildees a Itaacutelia atraveacutes do seu Tratado de Amizade promoveu treinamentos da Guarda
Costeira Liacutebia bem como auxiliou com embarcaccedilotildees para fazer com que autoridades da
125
Liacutebia fizessem o resgate para tentar burlar o sistema e natildeo ser responsabilizada pela
repulsatildeo esse auxiacutelio teve apoio inclusive da UE como vimos anteriormente
Portanto diante de todo o exposto teoacuterico no presente caso houve uma seacuterie de
graves violaccedilotildees principalmente ao que se refere ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo como o
direito de busca e salvamento no mar em que os migrantes deveriam ser desembarcados em
local seguro assim como a proibiccedilatildeo da expulsatildeo coletiva Assim os imigrantes foram
enviados de volta com futuro incerto dos 200 repelidos poucos entraram com a accedilatildeo
alguns morreram outros desapareceram
412 Caso Khlaifia e Outros versus Itaacutelia
Esta decisatildeo406 foi proferida pelo TEDH em dezembro de 2016 e refere-se a fatos
que ocorreram em 2011 com 3 requerentes tunisianos Os requerentes deixaram a Tuniacutesia
em embarcaccedilotildees clandestinas rumo agrave Itaacutelia posteriormente as embarcaccedilotildees foram
interceptadas pela guarda costeira italiana e levados para um porto na ilha de Lampedusa e
posteriormente encaminhados ao Centro de Socorro e de Primeiro Acolhimento (Centro di
Soccorso e Prima Accoglienza ndash CSPA) sendo acomodados em um local que segundo os
requerentes era um local com muitas pessoas e sujo sendo que tinham que dormir no chatildeo
devido agrave falta de cama e as refeiccedilotildees eram feitas ao ar livre sentados no chatildeo aleacutem disso
eram impedidos de ter contato com pessoas fora do local
Houve uma revolta no local e o alojamento foi destruiacutedo algumas pessoas foram
transferidas para outro lugar neste novo lugar os requerentes se uniram a outros refugiados
e conseguiram fugir e chegar ateacute a cidade de Lampedusa onde fizeram protestos e foram
interceptados pela poliacutecia e levados para o centro de acolhimento e posteriormente enviados
para o aeroporto e encaminhados para Palermo apoacutes foram ldquoacomodadosrdquo em navios em
situaccedilotildees desconfortaacuteveis tendo que dormir no chatildeo e esperar por muito tempo para usar o
banheiro Apoacutes alguns dias foram enviados por aviatildeo para a Tuniacutesia
Os requerentes alegaram que a Itaacutelia violou os artigos 3ordm e 5ordm (proibiccedilatildeo da tortura e
direito agrave liberdade e seguranccedila respectivamente) bem como violaccedilatildeo do artigo 4ordm do
Protocolo nordm4 (proibiccedilatildeo da expulsatildeo coletiva) todos da CEDH A Itaacutelia por sua vez se
406 EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Khlaifia and others v Italy Application no
1648312 Disponiacutevel em httphudocechrcoeintengi=001-170054 Acesso em 21092020
126
defendeu com base na sua legislaccedilatildeo interna e o tratado bilateral realizado com o paiacutes
africano sendo que neste tratado a Tuniacutesia se compromete a aceitar de volta os cidadatildeos que
chegarem ilegalmente na costa italiana por meio de um processo bem simplificado
Nesse sentido o TEDH entendeu que houve a violaccedilatildeo do artigo 5ordm da Convenccedilatildeo
Europeia dos Direitos Humanos tendo em vista a restriccedilatildeo da liberdade dos requerentes no
campo de acolhimento e os requerentes argumentaram que natildeo havia motivos para que suas
liberdades fossem restritas Aleacutem disso os requerentes alegaram que foram submetidos a
tratamentos desumanos e degradantes no centro de acolhimento inclusive a bordo dos
navios que os levaram de volta para Tuniacutesia poreacutem o Tribunal entendeu que natildeo houve
tratamento desumano ou degradante
O TEDH entendeu tambeacutem que natildeo houve violaccedilatildeo do artigo 4ordm do Protocolo nordm4 da
CEDH pois o entendimento eacute de que a violaccedilatildeo deste dispositivo ocorre quando natildeo haacute
anaacutelise dos indiviacuteduos e simplesmente ldquoexpulsamrdquo um grupo de pessoas Assim no caso
anterior houve a violaccedilatildeo do mencionado artigo pois as autoridades italianas simplesmente
colocaram os migrantes dentro da embarcaccedilatildeo e os enviou de volta para a Liacutebia sem
qualquer identificaccedilatildeo dos migrantes Jaacute neste caso os requerentes tiveram a oportunidade
de se manifestarem contra o seu envio de volta agrave Tuniacutesia
No que se refere ao artigo 3ordm da CEDH o Tribunal entende que deve haver um niacutevel
miacutenimo de severidade que para tal avaliaccedilatildeo se leva em conta alguns fatores como por
exemplo finalidade (intenccedilatildeo ou motivaccedilatildeo) contexto da agressatildeo se a viacutetima estaacute em
situaccedilatildeo vulneraacutevel entre outros aspectos Em alguns casos a superlotaccedilatildeo de um sistema
carceraacuterio pode consistir em violaccedilatildeo do mencionado artigo poreacutem neste ponto alguns
aspectos devem ser levados em consideraccedilatildeo como o uso dos banheiros (privacidade)
ventilaccedilatildeo (ar e luz natural) normas de higiene baacutesicas respeitadas aquecimento do
ambiente etc No presente caso se analisou as condiccedilotildees no centro de acolhimento quanto
nos navios que levaram os migrantes de volta para a Tuniacutesia
Sabe-se que em tempos anteriores agrave chegada dos requerentes no ano de 2009 a
situaccedilatildeo do centro de acolhimento era peacutessima constatadas tanto por uma comissatildeo do
Senado Italiano bem como da Anistia Internacional (ONG) contudo esta situaccedilatildeo foi
alterada anos depois ou seja em 2011 quando os requerentes chegaram agraves instalaccedilotildees
constataram que as condiccedilotildees do centro de acolhimento embora muito baacutesicas eram
decentes tinham acesso ao atendimento meacutedico e tambeacutem liberdade de locomoccedilatildeo dentro
127
do centro de acolhimento bem como as ONGrsquos eram autorizadas a prestar atendimentos no
local
Em que se refere agraves embarcaccedilotildees natildeo houve comprovaccedilatildeo de situaccedilotildees degradantes
pelos requerentes tatildeo somente os seus depoimentos sendo assim natildeo haacute como afirmar de
que natildeo havia as condiccedilotildees miacutenimas e portanto o Tribunal entendeu que natildeo houve violaccedilatildeo
ao artigo 3ordm da CEDH em razatildeo da natildeo houve comprovaccedilatildeo de que as situaccedilotildees natildeo possuiacuteam
o niacutevel miacutenimo de gravidade necessaacuterio para que fosse configurada a violaccedilatildeo em questatildeo
Destarte apesar do Tribunal ter entendido que natildeo houve violaccedilatildeo aos artigos 3ordm da
CEDH e 4ordm do Protocolo nordf 4 as queixas dos migrantes natildeo foram completamente infundadas
e por isso outro ponto foi analisado pelo TEDH ao que se refere agrave violaccedilatildeo do artigo 13
junto com os artigos 3ordm e 5ordm da CEDH e o artigo 4ordm do Protocolo nordm 4 (CEDH) assim apoacutes
a anaacutelise conjunta do artigo 3ordm com o artigo 13 que prevecirc o direito de recurso efetivo frente
agrave violaccedilatildeo de direitos e liberdades por unanimidade verificou-se que houve violaccedilatildeo de
direitos tendo em vista que o governo italiano natildeo indicou os recursos pelos quais os
requerentes poderiam apresentar no entanto no que se refere ao artigo 4ordm do Protocolo nordm 4
por 16 votos a 1 o Tribunal entendeu que natildeo houve violaccedilatildeo por entender que a ausecircncia
de efeito suspensivo do recurso por si soacute natildeo demonstra violaccedilatildeo ao artigo 13
Que o artigo 5ordm paraacutegrafos 1ordm 2ordm e 4ordm por si soacute jaacute foram violados que da anaacutelise
conjunta do artigo 5ordm juntamente com o 13ordm fez com que o Tribunal decidisse por
unanimidade que direitos foram violados pois os requerentes natildeo tiveram acesso a recurso
tampouco uma decisatildeo formal de prisatildeo Por fim a Itaacutelia foi condenada a pagar 15 mil euros
conjuntamente para os requerentes
A Itaacutelia em um de seus argumentos alegou dificuldade de organizar os migrantes
devido ao grande fluxo deles no mar sendo assim a obrigaccedilatildeo de busca e resgate faz com
que a Itaacutelia seja responsaacutevel por um grande nuacutemero de migrantes e este fato dificulta agrave
logiacutestica e a estruturaccedilatildeo dos centros de acolhimento principalmente no que se refere agrave
proteccedilatildeo internacional dos refugiados Poreacutem o entendimento do TEDH nesta situaccedilatildeo eacute de
que o fluxo intenso natildeo exime o Estado de cumprir com suas obrigaccedilotildees
O periacuteodo que os requerentes ficaram em solo italiano foi demasiadamente curto para
tentarem um pedido de asilo tanto eacute que nem recurso a sua detenccedilatildeo conseguiram apresentar
Neste ponto questiona-se sobre a violaccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo pois de acordo com
manifestaccedilotildees dos terceiros no processo houve esse questionamento como podemos ver na
128
manifestaccedilatildeo da ldquoCoordination Franccedilaise pour le droit drsquoasilerdquo ldquoThe expulsion of migrants
without thoroughly examining their individual situation would significantly increase the risk
of a breach of the non-refoulement principlerdquo407
No entanto o TEDH entendeu que natildeo houve violaccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo
por entender que as autoridades italianas em outros casos de migrantes recebeu os
requerimentos de asilo e portanto natildeo teria razotildees para entender que houve recusa destas a
pedidos de proteccedilatildeo bem como os proacuteprios requerentes no paraacutegrafo 222 da decisatildeo
disseram que ldquo() they were not claiming that they had a right of abode in Italy or that
their return had exposed them to a risk of being ubjected to inhuman or degrading treatment
in Tunisiardquo408
Sendo assim natildeo haacute que se falar em princiacutepio da natildeo-repulsatildeo pois natildeo ficou
configurado que os requerentes seriam enviados de volta agrave tortura ou tratamentos
desumanosdegradantes Portanto o TEDH analisou a violaccedilatildeo ao artigo 3ordm somente
enquanto estiveram em solo italiano que foi um periacuteodo curto natildeo comprovando o
tratamento desumano ou degradante pois natildeo atingiu o niacutevel miacutenimo de gravidade
Entatildeo no presente caso a violaccedilatildeo configurada foi ter restringido a liberdade dos
requerentes tendo em vista a ausecircncia de base de legal para tal medida poreacutem natildeo foi
configurada a expulsatildeo coletiva pois os requerentes foram identificados por duas vezes
bem como natildeo houve lesatildeo ao artigo 3ordm da CEDH pois natildeo foi comprovado que houve
tratamento desumanodegradante durante o periacuteodo em que os migrantes estavam sob
custoacutedia das autoridades italianas tampouco que a situaccedilatildeo na Tuniacutesia colocaria os
requerentes em risco
No entanto a tiacutetulo de comparaccedilatildeo chama-se a atenccedilatildeo ao criteacuterio discrepante
aplicado nas indenizaccedilotildees ao se comparar o caso anterior (Hirsi Jamaa) ao presente caso
Nota-se que o valor eacute o mesmo poreacutem as violaccedilotildees no caso anterior foram muito mais
gravosas configurando expulsatildeo coletiva envio dos requerentes para situaccedilatildeo de
torturatratamentos desumanos e degradantes Assim conforme questionado no caso anterior
o valor indenizatoacuterio aplicado naquele caso foi irrisoacuterio perto das violaccedilotildees que os
requerentes sofreram aleacutem disso questiona-se qual o paracircmetro que o TEDH se baseia para
407 EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Khlaifia and others v Italy Application no
1648312 Disponiacutevel em httphudocechrcoeintengi=001-170054 Acesso em 21092020 408 Ibidem
129
arbitrar as indenizaccedilotildees pois em niacuteveis de violaccedilotildees diferentes o valor da indenizaccedilatildeo foi o
mesmo
Nesse caso os migrantes tiveram seu direito de assistecircncia no mar respeitados foram
resgatados e levados para um paiacutes seguro no entanto foram detidos e poucos dias depois
enviados de volta para a Tuniacutesia Por mais que natildeo tenha ficado comprovado que poderiam
ser enviados agrave tortura ou tratamentos desumanosdegradantes na Tuniacutesia permaneceram
poucos dias em solo italiano para que houvesse uma anaacutelise detalhada isto eacute anaacutelise
individual da situaccedilatildeo de cada um tal fato demonstra pouca preocupaccedilatildeo da Itaacutelia com os
migrantes trantando-os como coisas devolvendo-os para seus paiacuteses de origem sem pensar
duas vezes
413 Caso Abdi Mahamud versus Malta
Esta decisatildeo do TEDH409 refere-se ao caso de uma cidadatilde de nacionalidade da
Somaacutelia que entrou de forma irregular em Malta pelo mar no ano de 2012 e na sua chegada
jaacute lhe foi dada um nuacutemero de identificaccedilatildeo bem como jaacute lhe foi apresentada uma decisatildeo
de regresso uma ordem de afastamento e foi detida com base na legislaccedilatildeo nacional de
Malta
A decisatildeo de regresso tambeacutem baseada na legislaccedilatildeo nacional foi devido agrave falta de
meios de subsistecircncia e potencial fonte de gastos para os fundos puacuteblicos A requerente
manifestou sua vontade de pedir asilo por meio do Questionaacuterio Preliminar e foi convocada
para entrevista no oacutergatildeo competente poreacutem o pedido foi recusado devido agrave falta de provas
convincentes de que ela realmente era do centro-sul da Somaacutelia e por demonstrar sotaques e
conhecimentos da capital do paiacutes Mogadiacutescio
Em um primeiro momento verificou-se que a requerente viajou para a Liacutebia
passando pelo Quecircnia e Sudatildeo poreacutem natildeo requereu asilo nestes paiacuteses E que devido agrave
eclosatildeo da crise na Liacutebia a requerente foi para Malta onde desembarcou ilegalmente e sem
documentos disse que procurava paz e que o restante da famiacutelia ainda morava na Somaacutelia
sendo que um de seus irmatildeos foi morto por uma organizaccedilatildeo terrorista islacircmica afirmou
tambeacutem que se estivesse paz em seu local de origem estaria disposta a voltar Aleacutem disso
409 EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Abdi Mahamud V Malta Application no 5679613
Disponiacutevel em httphudocechrcoeintengi=001-162424 Acesso em 26092020
130
a requerente teve vaacuterios problemas de sauacutede os quais pioraram com a recusa do pedido de
asilo Foi requerida a liberdade da requerente devido a sua vulnerabilidade causada pelos
problemas de sauacutede e segundo as informaccedilotildees que recebeu ela seria liberada mas soacute foi
liberada tempos depois por meio da intervenccedilatildeo da AWAS (Agency for the Welfare of
Asylum Seekers) A esse respeito o artigo 5ordm aliacutenea ldquocrdquo da Diretiva 2008115CE refere-se
que o estado de sauacutede do migrante deve ser levado em conta quando ao se analisar o envio
do migrante para outro paiacutes
Nesse sentido a requerente diz ter sido violado o artigo 3ordm da CEDH alegaccedilatildeo
contestada pelo governo de Malta que disse haver recursos eficazes a serem apresentados
para reclamar do tratamento perante a justiccedila maltesa poreacutem no entendimento do Tribunal
os recursos indicados pelo governo de Malta natildeo se mostraram efetivos no sentido de
prevenir ou de barrar a continuaccedilatildeo da alegada violaccedilatildeo
Assim diante de toda a situaccedilatildeo da requerente no centro de detenccedilatildeo ou seja seu
estado de sauacutede vulneraacutevel como a demora em liberaacute-la a falta de exerciacutecios fiacutesicos ao ar
livre ambiente frio e falta de medidas para combater gripes e resfriados inclusive a falta de
funcionaacuterias do sexo feminino e pouca privacidade fez com que o Tribunal entendesse que
houve diminuiccedilatildeo da dignidade humana da requerente e portanto houve a violaccedilatildeo do artigo
3ordm da CEDH
Outra alegaccedilatildeo da requerente eacute a violaccedilatildeo do artigo 5ordm paraacutegrafo 4ordm que eacute referente
ao direito de accedilatildeo do indiviacuteduo para averiguar a sua detenccedilatildeo sendo assim da anaacutelise feita
pelo TEDH verificou-se que natildeo havia recursos eficazes para a requerente contestar a
legalidade da sua detenccedilatildeo inclusive sua soltura foi realizada por meio da intervenccedilatildeo da
AWAS Aleacutem disso houve alegaccedilatildeo da violaccedilatildeo do paraacutegrafo 1ordm do mesmo artigo no sentido
da liberdade e seguranccedila pessoal e o Tribunal entendeu que houve a violaccedilatildeo deste
dispositivo ou seja natildeo foram verificadas situaccedilotildees que justificassem a detenccedilatildeo
Entatildeo diante de todo o exposto o Governo de Malta foi condenado a pagar
indenizaccedilatildeo no valor de 12 mil euros para a requerente devido agraves violaccedilotildees de seus direitos
baacutesicos sendo tratamentos desumanos e degradantes aleacutem de ter sua liberdade restringida
aleacutem disso houve a condenaccedilatildeo no valor de 2500 euros a tiacutetulo de custas e despesas
No presente caso verificamos violaccedilatildeo tanto do artigo 3ordm quanto do artigo 5ordm ambos
da CEDH O Tribunal verificou que a requerente teve sua dignidade diminuiacuteda devido ao
tratamento que recebia no centro de acolhimento bem como face sua vulnerabilidade o
131
governo maltecircs violou a sua liberdade ao demorar em liberaacute-la Aleacutem disso a justificativa
da negativa do pedido de asilo eacute de que pela entrevista a requerente aparentou ser da capital
da Somaacutelia e natildeo da regiatildeo de conflitos Poreacutem a requerente relatou que seu irmatildeo foi
assassinado por grupo terroristas ou seja nota-se claramente o perigo em que a requerente
estava exposta e portanto em uma anaacutelise sumaacuteria desta negativa do pedido de asilo tem-
se que pode ser que essa decisatildeo tenha sido arbitraacuteria da mesma forma que a decisatildeo da
detenccedilatildeo apresentada logo de iniacutecio para requerente Apesar da dentenccedilatildeo ter sido justificada
no direito maltecircs vimos anteriormente que a detenccedilatildeo de migrantes deve ser realizada em
situaccedilotildees pontuais e quando houver justificativa para tal medida
Ademais mais uma vez chama-se a atenccedilatildeo o valor irrizoacuterio de indenizaccedilatildeo arbitrado
para o Estado no caso Malta Nota-se que o valor eacute menor que dos dois casos anteriores e
assim como no caso Hirsi Jamaa houve violaccedilatildeo do artigo 3ordm da CEDH ou seja tal violaccedilatildeo
eacute de extrema gravidade pois reduz a dignidade da pessoa humana logo violaccedilotildees fiacutesicas
eou morais desse porte natildeo conseguem ser pagas por meio de indenizaccedilotildees consistindo
apenas em uma espeacutecie de ldquoconfortordquo para agravequeles que sofreram tais danos Dessa forma
como jaacute mencionado anteriormente a indenizaccedilatildeo tem o intuito de coibir novas atitudes
arbitraacuterias dos Estados poreacutem com os valores iacutenfimos arbitrados pelo TEDH dificilmente
teratildeo impactos suficientes a ponto de fazer com que os Estados parem com tais praacuteticas
danosas cometidas aos refugiados
414 Caso Sharifi versus Aacuteustria
Neste caso a decisatildeo410 foi proferida em 2014 pelo TEDH e refere-se a um migrante
que chegou agrave Greacutecia de barco e possui origem afegatilde disse que seu pai for morto por ter sido
considerado comunista e infiel fato que levou sua matildee fugir com ele e o irmatildeo para o
Paquistatildeo Apoacutes 15 anos retornou ao Afeganistatildeo para reaver as terras do seu pai que seu tio
havia tomado agrave eacutepoca da execuccedilatildeo do seu pai tendo sido ameaccedilado pelo tio que foi um dos
apoiadores da morte do irmatildeo pois queria suas terras aleacutem da ameaccedila pelo tio o requerente
e seu irmatildeo tambeacutem foram espancados sendo que seu irmatildeo foi sequestrado e nunca mais
foi visto Diante dessa situaccedilatildeo o requerente voltou para o Paquistatildeo e passou pelo Iratilde e
410 EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Sharifi V Austria Application no 6010408
Disponiacutevel em httphudocechrcoeintengi=001-138593 Acesso em 26092020
132
Turquia ateacute contratar um traficante para fazer sua travessia para a Greacutecia onde ficou 15 dias
e apoacutes se deslocou para a Aacuteustria passando pela Itaacutelia poreacutem foi preso pelas autoridades
austriacuteacas
Diante de todo esse trajeto o requerente foi questionado por natildeo pedir asilo na Greacutecia
e justificou que as condiccedilotildees dos refugiados no paiacutes natildeo eram boas (sem comida aacutegua
alojamento e instalaccedilotildees sanitaacuterias bem como alegou saber de abusos de policiais gregos) e
que tambeacutem natildeo teve acesso ao processo de asilo assim requereu asilo na Aacuteustria no ano
de 2008
De acordo com a Convenccedilatildeo de Dublin a Greacutecia seria a responsaacutevel para anaacutelise do
processo de asilo O pedido de asilo feito na Aacuteustria foi rejeitado sob o fundamento de que
a Greacutecia era a responsaacutevel e tambeacutem foi ordenada sua transferecircncia para a Greacutecia Dessa
forma a decisatildeo justificou que natildeo havia riscos de maus tratos conforme previsto no artigo
3ordm da CEDH O recurso ao Tribunal de Asilo na Aacuteustria da mesma forma foi rejeitado
tendo em vista que a proacutepria Convenccedilatildeo de Dublin considerava que todos os Estados-
membros eram seguros Aleacutem disso com base na recusa do governo austriacuteaco ao pedido de
asilo do requerente e seu consequente envio para a Greacutecia fez com que as autoridades gregas
declarassem que o requerente teria acesso ao procedimento de asilo no paiacutes
Apoacutes seu envio de volta agrave Greacutecia na sua chegada agrave Atenas o requerente disse ter
sido detido por 3 dias e depois disso foi realizada uma entrevista curta e recebeu um cartatildeo
e foi enviado para um campo de refugiados que posteriormente foi destruiacutedo Apoacutes esse
periacuteodo trabalhou em plantaccedilotildees e procurou emprego nas cidades tendo dividido quarto com
outras 20 pessoas disse natildeo ter nenhum apoio das autoridades gregas e que os alimentos e
roupas que recebia eram de particulares
Aleacutem disso da decisatildeo analisada nesse toacutepico foram citados documentos publicados
por ONGrsquos bem como do ACNUR de que a Greacutecia natildeo eacute um local bom para requerer asilo
e que os migrantes estavam sendo submetidos a maus tratos e detenccedilotildees arbitraacuterias
Posteriormente o ACNUR acolheu as medidas gregas para reforccedilar o sistema de asilo no
paiacutes mas continuou trazendo a seguinte disposiccedilatildeo
In view of EU Member Statesrsquo obligation to ensure access to fair and effective
asylum procedures including in cases subject to the Dublin Regulation UNHCR
133
advises Governments to refrain from returning asylum-seekers to Greece under
the Dublin Regulation until further notice (hellip)411
Ou seja apesar das melhorias do sistema de asilo grego haacute o aviso de que natildeo envie
migrantes para Greacutecia ateacute segunda ordem e que os Estados se pautassem no artigo 3 nordm 2 da
Convenccedilatildeo de Dublin para analisarem pedidos de asilo mesmo natildeo sendo de sua
responsabilidade Assim devido a sua transferecircncia para a Greacutecia o requerente alegou
violaccedilatildeo do artigo 3ordm da CEDH
Tendo em vista a melhoria do sistema de asilo na Greacutecia reconhecida inclusive no
documento do ACNUR412 o TEDH entendeu que havia a presunccedilatildeo de que o paiacutes helecircnico
cumpriria com as suas obrigaccedilotildees e que caso hauvesse necessidade caberia recurso ao
Tribunal de Justiccedila contra a Greacutecia Aleacutem disso nenhum Estado-membro se absteve de
enviar migrantes para Greacutecia apenas a Noruega que em um primeiro momento disse que
natildeo enviaria migrantes de volta para a Greacutecia mas posteriormente disse que os casos seriam
analisados individualmente
Dessa forma o Tribunal entendeu que natildeo tinha como a Aacuteustria prever que as
deficiecircncias do procedimento de asilo grego chegariam ao niacutevel de violar o artigo 3ordm da
CEDH e por este motivo negou que a Aacuteustria tenha violado o mencionado artigo
principalmente por estar ao abrigo da Convenccedilatildeo de Dublin
Diante do exposto teoacuterico do presente trabalho vimos que o paiacutes responsaacutevel pela
anaacutelise do pedido de asilo eacute o paiacutes pelo qual o migrante entrou portanto no caso o paiacutes seria
a Greacutecia Ocorre que o requerente se deparou com condiccedilotildees precaacuterias dos seus conterracircneos
afegatildeos e por este motivo resolveu natildeo ficar no paiacutes helecircnico Dessa forma foi para a Itaacutelia
e de laacute para a Aacuteustria onde foi preso Assim o pedido de asilo foi negado sob o motivo de
que o paiacutes responsaacutevel era a Greacutecia e foi enviado para laacute No entanto vimos que havia fortes
evidecircncias das condiccedilotildees ruins dos migrantes no paiacutes e que apesar das melhorias do sistema
de asilo na Greacutecia havia fortes indiacutecios de que o requerente poderia ser submetido a
tratamentos desumanos e degradantes Dessa forma viu-se que o requerente foi praticamente
deixado agrave proacutepria sorte pois trabalhou em plantaccedilotildees e tambeacutem morou com mais de 20
pessoas em um mesmo quarto sem qualquer respaldo do governo
411 UNITED NATIONS ndash UNHCR UNHCR Position on the Return of Asylum-Seekers to Greece Under the
ldquoDublin Regulationrdquo Disponiacutevel em httpswwwunhcrorg482199802pdf Acesso em 01102020 412 Ibidem
134
Da anaacutelise dessa situaccedilatildeo tornou-se notaacutevel que a dignidade humana do requerente
foi reduzida mas o TEDH entendeu que natildeo tinha como a Aacuteustria prever que o requerente
receberia este tratamento ou melhor natildeo recebesse qualquer tratamento sem qualquer
respaldo do governo No entanto a violaccedilatildeo prevista no artigo 3ordm da CEDH eacute tatildeo gravosa
que natildeo se deve eximir a responsabilidade do Estado por natildeo ter previsatildeo de maus
tratamentos inclusive quando se pode prever que eacute o caso da Greacutecia com documentos
internacionais apontando as falhas do sistema de asilo grego
Portanto tanto neste caso como nos demais acima mencionados nota-se que haacute uma
impunidade diante das violaccedilotildees dos estados quanto a preservar os direitos fundamentais dos
migrantes quando haacute uma condenaccedilatildeo do Estado violador dos direitos dos refugiados natildeo
haacute uma justa indenizaccedilatildeo nesse caso a justificativa foi no sentido de que o Estado natildeo tinha
como prever a violaccedilatildeo
415 Caso Vos Thalassa
Este caso natildeo se trata de decisatildeo proferida pelo TEDH contudo eacute muito importante
pois inicialmente em 2019 o Tribunal de Trapani413 na Itaacutelia absolveu migrantes que
estavam sendo julgados sob a acusaccedilatildeo de sequestro da embarcaccedilatildeo italiana Vos Thalassa
em aacuteguas proacuteximas da Siciacutelia Assim os migrantes teriam sequestrado o rebocador italiano
em julho de 2018 para evitar que fossem devolvidos para a Liacutebia depois de terem sido
resgatados em aacuteguas internacionais (aacuterea de busca e salvamento da Liacutebia)
No entanto o Tribunal de Recurso de Palermo414 em junho de 2020 inverteu a
sentenccedila do Tribunal de Trapani e condenou os migrantes a 3 anos e 6 meses de prisatildeo por
violecircncia privada resistecircncia a funcionaacuterios puacuteblicos bem como cumplicidade na imigraccedilatildeo
ilegal A opiniatildeo de Salvini Ministro do Interior italiano os migrantes deveriam ser todos
rejeitados coletivamente e devolvidos para a Liacutebia fato que contraria o artigo 4ordm do Protocolo
nordm4 da CEDH
413 TRIBUNALE DI TRAPANI Sentenza Vos Thalassa 2019 Disponiacutevel em
httpswwwquestionegiustiziaitdatadoc2613sentenza-vos-thalassa-gip-trapani-3-giugno-2019pdf
Acesso em 05102020 414 LA CORTE DI APPELLO DI PALERMO Sentenza Vos Thalassa Appello ndash N Sent 15252020
Disponiacutevel httpswwwquestionegiustiziaitdatadoc2613sentenza-vos-thalassa-appello-palermo-3-
giugno-2020pdf Acesso em 05102020
135
Nesse sentido o juiz do Tribunal de Trapani alegou que o acordo assinado entre Itaacutelia
e Liacutebia em 2017 natildeo tem aprovaccedilatildeo parlamentar de acordo com o artigo 80 da Constituiccedilatildeo
Italiana e por isso o documento natildeo eacute vinculativo e natildeo legislativo Aleacutem disso o juiz tomou
por base relatoacuterios da ONU a respeito da exposiccedilatildeo dos maus tratos de migrantes da Liacutebia
Os migrantes que saem da Liacutebia satildeo pessoas que estatildeo sofrendo tratamentos
degradantes muitas vezes o destino eacute a tortura ou a morte Dessa forma os acordos entre
Itaacutelia e Liacutebia parecem ignorar as disposiccedilotildees da ONU e do Papa O Tribunal de Apelaccedilatildeo de
Palermo alegou que natildeo se pode entender que o sequestro da embarcaccedilatildeo seja por legiacutetima
defesa tendo em vista que eles mesmos se colocaram em perigo criando uma situaccedilatildeo falsa
de necessidade poreacutem questiona-se se realmente os migrantes se colocaram em perigo ou
se foi um ato de desespero ao fugir da Liacutebia pelo fato de que laacute sim estavam realmente em
perigo Ou seja os migrantes preferiram correr o risco no mar ao continuar em uma situaccedilatildeo
em que suas vidas certamente jaacute estavam ameaccediladas
Assim a refutaccedilatildeo da legiacutetima defesa natildeo possui bases convincentes Com base na
legislaccedilatildeo penal italiana o perigo deve ser atual para se configurar a legiacutetima defesa e o
Tribunal de Palermo entendeu que o perigo foi devido aos migrantes ldquose entregaremrdquo aos
traficantes ou seja anteciparam a previsatildeo do ldquoperigo atualrdquo contrariando as normas
vigentes tanto nacionais quanto internacionais Poreacutem na Liacutebia natildeo haacute locais para fuga e as
pessoas satildeo privadas de todos os seus direitos
Nesse sentido nota-se que datildeo prioridade ao combate agrave imigraccedilatildeo irregular frente agrave
proteccedilatildeo dos direitos fundamentais das pessoas contrariando o que dispotildee a Convenccedilatildeo de
Palermo contra o Crime Organizado de 2000 bem como o Protocolo Adicional sobre o
Traacutefico de Seres Humanos Portanto o perigo que os migrantes estavam sujeitos era o de
serem devolvidos agrave Liacutebia onde provavelmente seriam submetidos agrave tortura e mortos
Sabe-se que a situaccedilatildeo na Liacutebia principalmente no que se refere aos naacuteufragos
interceptados pela Guarda Costeira da Liacutebia e devolvidos ao paiacutes africano eacute bem grave
Aleacutem disso jaacute estaacute claro atraveacutes dos noticiaacuterios de que o governo de Triacutepoli natildeo consegue
exercer a sua soberania em todo o territoacuterio No entanto apesar disso em 2018 foi
reconhecida uma zona de resgate e salvamento da Liacutebia tendo inclusive a missatildeo Nauras
sob a natureza de assistecircncia teacutecnica prestada em Triacutepoli com auxiacutelio da Frontex
Neste contexto a partir do momento em que os migrantes ingressaram na
embarcaccedilatildeo italiana considera-se que estatildeo em solo italiano conforme jaacute visto no caso Hirsi
136
Jamaa Assim em situaccedilatildeo de devolver os migrantes para a Liacutebia certamente haveria a
violaccedilatildeo do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo sob o fundamento de que seriam enviados para tortura
ou tratamentos desumanos e degradantes (conforme o artigo 3ordm da CEDH) bem como como
jaacute mencionamos a violaccedilatildeo do artigo 4ordm do Protocolo Adicional nordm 4 da CEDH que refere-
se agrave expulsatildeo coletiva
No entanto atraveacutes do acordo entre Itaacutelia e Liacutebia inclusive sob auxiacutelio da Frontex
milhares de migrantes satildeo interceptados pela Guarda Costeira Liacutebia e levados de volta ao
paiacutes africano Portanto os migrantes do Vos Thalassa certamente ldquosequestraramrdquo a
embarcaccedilatildeo no desespero de serem enviados de volta tendo em vista que eles jaacute sabiam o
que poderia ocorrer com eles quando chegassem ao territoacuterio do paiacutes africano
Dessa forma a decisatildeo do Tribunal de Palermo ignorou o contexto faacutetico-poliacutetico da
Liacutebia bem como as normas de direito internacional do mar e do direito dos refugiados Aleacutem
disso o tribunal de primeira instacircncia Tribunal de Trapani aventou nulidade do acordo entre
Itaacutelia e Liacutebia em 2017 tendo em vista o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo ter status de jus cogens e
de acordo com a Convenccedilatildeo de Viena nenhum tratado poderaacute violar normas jus cogens
caso contraacuterio o tratado seria nulo
Diante do presente caso fica evidente que as indenizaccedilotildees impostas pelo TEDH nos
casos que vimos acima satildeo insuficientes para inibir tais atitudes dos Estados tendo em vista
que o valor de reparaccedilatildeo de dano para os migrantes eacute praticamente irrisoacuterio Assim estas
atitudes violadoras dos direitos fundamentais dos refugiados continuaratildeo ocorrendo
enquanto natildeo houver uma justa indenizaccedilatildeo a fim de evitar novos casos como este
Dessa forma os migrantes ao sequestrarem o Vos Thalassa impediram que seus
direitos fossem violados assim como ocorreu no caso Hirsi Jamaa a atitude extrema foi na
defesa de seus direitos fundamentais sobretudo a vida Diante disso o entendimento do
Tribunal de Trapani entendeu como legiacutetima defesa pois o perigo era atual (de acordo com
o que exige a legislaccedilatildeo italiana) ou seja o perigo dos migrantes serem levados de volta
para Liacutebia podendo ser torturados e mortos era atual e real tendo em vista atitudes
anteriores da Itaacutelia inclusive com condenaccedilotildees pelo TEDH
137
416 Caso Asso 28
Este caso tambeacutem natildeo eacute referente agrave decisatildeo proferida pelo TEDH poreacutem eacute de suma
importacircncia tendo em vista ser idecircntico ao caso Hirsi Jamaa Assim refere-se a uma
embarcaccedilatildeo comercial italiana a Asso 28 que em julho de 2018 ldquoresgatourdquo 108 migrantes
em aacuteguas internacionais mas dentro da regiatildeo de busca e salvamento da Liacutebia e levou-os
de volta para Liacutebia sob recomendaccedilatildeo do paiacutes africano No caso a Guarda Costeira Liacutebia
pediu para que a embarcaccedilatildeo ldquoAsso 28rdquo resgatasse os migrantes que estavam em uma
embarcaccedilatildeo de borracha a 57 milhas naacuteuticas de Triacutepoli e que essas pessoas fossem levadas
de volta para Liacutebia415
Imagina-se que se essas pessoas que foram levadas de volta para Liacutebia conseguissem
chegar agrave Itaacutelia elas realizariam pedido de proteccedilatildeo internacional aleacutem disso havia crianccedilas
e mulheres graacutevidas Dessa forma como jaacute vimos estaacute niacutetida a violaccedilatildeo das disposiccedilotildees de
direito internacional e dos refugiados ou seja princiacutepio da natildeo-repulsatildeo artigo 3ordm da CEDH
e artigo 4ordm do Protocolo Adicional nordm 4 da CEDH
Como a embarcaccedilatildeo ldquoAsso 28rdquo estava em aacuteguas internacionais poreacutem em regiatildeo de
busca e salvamento da Liacutebia as leis que vigoravam no ato de resgate era a legislaccedilatildeo italiana
e portanto natildeo deveria se submeter agrave recomendaccedilatildeo do paiacutes africano devendo respeitar os
tratados internacionais dos quais eacute signataacuteria bem como sua legislaccedilatildeo nacional Portanto
eacute niacutetida a violaccedilatildeo das normas de direito internacional como jaacute mencionado anteriormente
repetindo o caso Hirsi Jamaa
Como eacute sabido definitivamente a Liacutebia natildeo eacute considerada um local seguro para
desembarque de pessoas resgatadas Dessa forma houve realmente violaccedilatildeo de normas de
direito internacional importantiacutessimas sendo necessaacuterio averiguar como foi feita a
coordenaccedilatildeo desse resgate para apontar os culpados pois segundo a Agence France-Presse
(AFP)416 o IMRCC natildeo foi avisado ou seja questiona-se se o capitatildeo do navio agiu sozinho
A empresa multinacional italiana de oacuteleo e gaacutes ENI informou que o resgate foi coordenado
415 CAMILLI Eleonora Migranti scoppia il caso Asso 28 ldquoFatto grave egrave respingimentordquo 2018 In Redattore
Sociale Disponiacutevel em
httpswwwredattoresocialeitarticlenotiziariomigranti_scoppia_il_caso_asso_28_fatto_grave_e_respingi
mento Acesso em 05102020 416 Citado por BATHKE Benjamin First trial in Italy over ldquomigrant pushbackrdquo to Libya 2020 In
Infomigrants Disponiacutevel em httpswwwinfomigrantsnetenpost26108first-trial-in-italy-over-migrant-
pushback-to-libya Acesso em 05102020
138
pela Guarda Costeira Liacutebia Aleacutem disso a embarcaccedilatildeo de resgate Open Arms solicitou
detalhes dos migrantes bem como informou que devolvecirc-los agrave Liacutebia era ilegal segundo
Nicola Fratoianni parlamentar italiano e liacuteder da esquerda italiana que estava a bordo do
Open Arms como observador Aleacutem disso de acordo com informaccedilotildees da AFP natildeo houve
qualquer tentativa de identificar os migrantes tampouco verificar as condiccedilotildees de sauacutede as
condiccedilotildees dos menores se pretendiam requerer asilo417
O que chama atenccedilatildeo neste caso eacute a ausecircncia de provas tanto por parte da Liacutebia
quanto por parte da Itaacutelia sendo que dificilmente o capitatildeo do navio agiria sozinho por conta
proacutepria Entretanto a questatildeo aqui eacute a de que a empresa ENI informa que a operaccedilatildeo foi
realizada juntamente com a guarda costeira Liacutebia poreacutem natildeo haacute provas Da mesma forma
natildeo haacute provas de que o IMRCC de Roma foi alertado418
No entanto a embarcaccedilatildeo eacute de bandeira italiana e portanto tendo em vista o resgate
ter ocorrido em aacuteguas internacionais a lei aplicaacutevel eacute a italiana Sendo assim tendo por base
de que a Itaacutelia eacute signataacuteria de diversos documentos internacionais principalmente a
Convenccedilatildeo de Hamburgo (SAR Convention) que dispotildee que os migrantes resgatados devem
ser desembarcados em um local seguro ou seja eacute notoacuterio que a Liacutebia natildeo era uma das
possibilidades para desembarcar os migrantes Aleacutem disso o comandante do navio deveria
entrar em contato com o Estado da bandeira para saber qual o melhor local para
desembarque
A embarcaccedilatildeo ldquoAsso 28rdquo eacute de propriedade da ldquoAugusta Offshorerdquo empresa que
possui relaccedilotildees com diversas empresas entre elas a ENI na Itaacutelia e na Liacutebia Segundo a
empresa a coordenaccedilatildeo do resgate foi da Guarda Costeira Liacutebia no entanto Nicola
Fratoianni disse que o oficial da embarcaccedilatildeo informou que as instruccedilotildees eram emitidas da
plataforma da ENI Nesse sentido o parlamentar italiano indignou-se como o capitatildeo de um
navio de bandeira italiana em aacuteguas internacionais ou seja extensatildeo do territoacuterio italiano
(extraterritorialidade) natildeo informou o governo italiano do resgate e natildeo suficiente
desembarcou as pessoas em um local de extremo perigo A empresa ENI negou qualquer
417 BATHKE Benjamin First trial in Italy over ldquomigrant pushbackrdquo to Libya 2020 In Infomigrants
Disponiacutevel em httpswwwinfomigrantsnetenpost26108first-trial-in-italy-over-migrant-pushback-to-
libya Acesso em 05102020 418 Ibidem
139
envolvimento com o caso e que a coordenaccedilatildeo foi totalmente realizada pela Guarda Costeira
Liacutebia419
A petroleira ENI destaca que o navio ldquoAsso 28rdquo opera em nome da empresa ldquoMellitah
Oil amp Gasrdquo que a gestatildeo ocorre pela NOC empresa na qual a ENI eacute acionista420 ou seja a
ENI possui ao menos responsabilidade subsidiaacuteria no que se refere aos danos causados pela
embarcaccedilatildeo Partindo desse ponto tem-se tambeacutem que a Itaacutelia eacute uma das acionistas da ENI
conforme consta no site da empresa ldquoIl Ministero dellrsquoEconomia e delle Finanze ha il
controllo di fatto in Eni SpA in forza della partecipazione detenuta sia direttamente sia
attraverso Cassa Depositi e Prestiti SpA (CDP SpA)rdquo421 assim a Itaacutelia possui 30 das accedilotildees
da empresa consistindo na maior acionista da empresa Dessa forma podemos aventar a
responsabilidade da Itaacutelia no presente caso
Portanto a embarcaccedilatildeo comercial possui bandeira italiana portanto mesmo que
indiretamente estava a serviccedilo do governo italiano ou seja a Itaacutelia eacute responsaacutevel pelos atos
praticados pela empresa tendo em vista sua significativa participaccedilatildeo na empresa Dessa
forma era obrigatoacuterio que o capitatildeo da empresa informasse o caso ao governo italiano pois
era o paiacutes pelo qual estava submetido como tal fato natildeo ficou comprovado fala-se na
responsabilidade da Itaacutelia pois o capitatildeo estava a serviccedilo do paiacutes europeu mesmo que
indiretamente Aleacutem disso o artigo 8ordm da Resoluccedilatildeo 5683 traz a responsabilidade do Estado
quando algueacutem estaacute sob supervisatildeo de algum Estado e essa pessoa comete algum ato iliacutecito
ou seja o navio territoacuterio e empresa satildeo de nacionalidade italiana bem como o capitatildeo a
serviccedilo de empresas cujo capital eacute majoritariamente italiano portanto natildeo restando duacutevida
da responsabilidade da Itaacutelia no caso
Poreacutem um fato sem precedentes ocorreu na Itaacutelia o capitatildeo do navio foi denunciado
pelas violaccedilotildees das obrigaccedilotildees internacionais ou seja a repulsatildeo dos migrantes para a Liacutebia
No entanto apesar da responsabilidade objetiva do capitatildeo da embarcaccedilatildeo tendo em vista
que desembarcar os migrantes em um local seguro consiste em uma das obrigaccedilotildees do
capitatildeo de um navio a Itaacutelia possui responsabilidade subjetiva no caso tendo em vista ser a
maior acionista da ENI e a embarcaccedilatildeo ldquoAsso 28rdquo estar mesmo que indiretamente a serviccedilo
da mencionada petroleira
419 AGENZIA ITALIA Cosa egrave successo a bordo della nave Asso Ventotto 2018 Op cit 420 Ibidem 421 ENI ITAacuteLIA Azionisti Disponiacutevel em httpswwwenicomit-ITchi-siamogovernanceazionistihtml
2019 Acesso em 05102020
140
Diante deste cenaacuterio nota-se que o acordo entre Itaacutelia e Liacutebia prioriza o combate agrave
imigraccedilatildeo ilegal em detrimento da proteccedilatildeo dos direitos fundamentais No caso do ldquoAsso
28rdquo podemos dizer que a Itaacutelia possui responsabilidade pois aleacutem dos outros motivos jaacute
explicados acima a Itaacutelia assume o papel de cuacutemplice nos atos praacuteticos devido ao acordo
realizado tendo em vista que no ano de 2017 (ano do acordo) a situaccedilatildeo jaacute era caoacutetica na
Liacutebia
42 Alguns Apontamentos a Respeito dos Casos Apresentados
Portanto tendo por base os casos acima nota-se que as decisotildees proferidas pelo
TEDH natildeo estatildeo sendo suficientes para inibir a accedilatildeo de paiacuteses europeus na repulsatildeo de
migrantes mesmo a Itaacutelia sendo condenada no caso do Hirsi Jamaa esta decisatildeo natildeo foi
suficiente para que o paiacutes revesse suas accedilotildees pois vimos que houve reincidecircncia mesmo
que natildeo de forma direta como no caso ldquoAsso 28rdquo em que a Itaacutelia se exime de culpa no
entanto ao manter o tratado de 2017 bilateral com a Liacutebia fornecendo apoio teacutecnico e
financeiro ao paiacutes norte-africano bem como uma embarcaccedilatildeo de bandeira italiana a serviccedilo
de uma empresa cujo capital eacute majoritariamente italiano mesmo que o capitatildeo tenha agido
de forma independente (ou cumprindo ordens da Guarda Costeira Liacutebia devido ao acordo
existente) a responsabilidade da Itaacutelia eacute notoacuteria
Em que refere agrave Itaacutelia alguns eventos nos mostra algum tipo de reaccedilatildeo a favor dos
refugiados como no caso Vos Thalassa em que o Tribunal de Trapani entendeu o sequestro
da embarcaccedilatildeo como legiacutetima defesa mas haacute ldquocontroveacutersiasrdquo tendo em vista que o Tribunal
de Apelaccedilatildeo de Palermo anulou a decisatildeo As decisotildees em alguns casos aparentam ter
opiniatildeo poliacutetica o que natildeo deveria acontecer tendo em vista que o Tribunal de Trapani
decidiu conforme a jurisprudecircncia quando se trata de decisotildees para cidadatildeos italianos ou
seja foram coerentes com o entendimento juriacutedico entendendo como perigo atual e por
isso os migrantes agiram em legiacutetima defesa poreacutem o Tribunal de Palermo talvez
motivado por opiniatildeo poliacutetica decidiu que natildeo eacute aplicaacutevel o instituto da legiacutetima defesa no
caso
Outro ponto favoraacutevel aos refugiados na justiccedila italiana observado neste capiacutetulo eacute a
questatildeo do capitatildeo do ldquoAsso 28rdquo estar sendo processado pela devoluccedilatildeo dos migrantes agrave
Liacutebia ou seja aleacutem dos Estados as pessoas fiacutesicas tambeacutem podem ser responsaacuteveis pelos
141
atos pois sabidamente consiste em uma violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees de direito internacional Os
capitatildees dos navios possuem o dever de assistecircncia agraves pessoas em perigo no mar no entanto
ao resgatar as pessoas elas devem ser encaminhadas para um local seguro e no caso do
ldquoAsso 28rdquo eacute notoacuterio que a Liacutebia estaacute muito longe de ser considerada segura Aleacutem disso
como mencionado no capiacutetulo 3 no ano de 2017 houve inclusive a elaboraccedilatildeo de um Coacutedigo
de Conduta para as ONGrsquos na Itaacutelia no qual consta se os capitatildees dessas organizaccedilotildees
resgatassem embarcaccedilotildees com migrantes ilegais eles poderiam ser responsabilizados
criminalmente e administrativamente No entanto se observou o oposto nesse caso o capitatildeo
sendo processado por ter devolvido os migrantes agrave Liacutebia talvez atualmente comeccedila-se a
ver alguns movimentos a favor dos refugiados mas devido tamanhas violaccedilotildees tais
movimentos satildeo muito pequenos poreacutem talvez seja o iniacutecio de uma nova mentalidade
Este capiacutetulo demonstrou a existecircncia de diversas falhas no sistema de auxiacutelio aos
migrantes como no caso em que a Aacuteustria enviou o migrante de volta para a Greacutecia mesmo
com apontamentos de que os refugiados estavam sofrendo maus-tratos por laacute pois segundo
a Convenccedilatildeo de Dublin este uacuteltimo paiacutes era o responsaacutevel pela anaacutelise do pedido de asilo
No mesmo sentido Malta recusou o pedido de asilo a uma cidadatilde somali devido natildeo ter
comprovado que era da regiatildeo de conflitos e por apresentar conhecimento e sotaque da
capital da Somaacutelia mesmo ela tendo diversos problemas de sauacutede (inclusive psiacutequicos) e
explicando que seu irmatildeo foi assassinado por um grupo terrorista
Aleacutem disso vale fazer um parecircntese no que se refere agrave Greacutecia apesar de toda a
situaccedilatildeo relatada da questatildeo dos migrantes no paiacutes ou seja de que os migrantes natildeo devem
ser enviados para o paiacutes helecircnico devido agraves situaccedilotildees precaacuterias dos campos de refugiados
bem como o tratamento desumano e degradante que os indiviacuteduos satildeo submetidos sem
qualquer respaldo do governo grego haacute ainda relatos de expulsatildeo dos migrantes via mar
deixando-os agrave deriva conforme consta na notiacutecia de 14 de agosto de 2020 do jornal ldquoThe
New York Timesrdquo422
Na notiacutecia relata-se que desde marccedilo a Greacutecia tem expulsado migrantes colocando-
os em botes salva-vidas e deixando-os agrave deriva na fronteira do mar territorial grego com o
da Turquia inclusive com bebecircs ademais o jornal norte-americano entrevistou alguns dos
422 KINGSLEY Patrick SHOUMALI Karam Taking Hard Line Greece Turns Back Migrants by
Abandoning Them at Sea In ldquoThe New York Timesrdquo Disponiacutevel em
httpswwwnytimescom20200814worldeuropegreece-migrants-abandoning-seahtml Acesso em
09102020
142
sobreviventes e trouxe o desabafo de uma migrante siacuteria de 50 anos em que ela diz que fugiu
de bombardeios na Siacuteria mas depois que foi repelida pela Greacutecia da forma como foi ela
preferiria ter morrido em algum bombardeio O paiacutes helecircnico se posicionou afirmando que
natildeo cometeu nenhuma ilegalidade no entanto natildeo eacute o que ficou demonstrado atraveacutes dos
depoimentos colhidos pelo jornal tanto de migrantes quanto de pesquisadores a respeito do
tema423
Apesar de muitos direitos protetivos existirem na teoria na praacutetica tem muito a ser
melhorado Muitos satildeo os casos de violaccedilotildees aos artigos 2ordm e 3ordm da CEDH ou seja muitas
pessoas satildeo devolvidas agraves situaccedilotildees em que suas vidas e integridades fiacutesicas eou moral estatildeo
sendo violadas faltam atitudes das autoridades em prol das pessoas que necessitam de
proteccedilatildeo internacional
Aleacutem da necessidade de accedilotildees mais proativas dos governos haacute tambeacutem a necessidade
de mudanccedila de mentalidade da populaccedilatildeo europeia pois na maioria dos paiacuteses os migrantes
satildeo viacutetimas de discriminaccedilatildeo sofrendo com a xenofobia tendo em vista que muitas pessoas
possuem a ideia de que os refugiados satildeo terroristas No entanto muitos desses refugiados
fogem exatamente de grupos terroristas
423 KINGSLEY Patrick SHOUMALI Karam Op cit
143
CONCLUSAtildeO
O presente trabalho tem como propoacutesito demonstrar a situaccedilatildeo vivenciada pelos
refugiados sua vulnerabilidade e percalccedilos enfrentados a caminho do asilo inclusive com
a possibilidade da repulsatildeo apesar da obrigatoriedade do respeito ao princiacutepio da natildeo-
repulsatildeo assim analisou-se a questatildeo da proteccedilatildeo internacional dos refugiados o direito de
asilo na Uniatildeo Europeia citando situaccedilotildees de resgate no mar por alguns paiacuteses europeu e a
proteccedilatildeo internacional do indiviacuteduo no mar Portanto para cumprir com o objetivo do
presente trabalho iniciou-se a pesquisa abordando a questatildeo geral dos refugiados ou seja
os principais aspectos a respeito da proteccedilatildeo internacional dos mesmos chegando agrave
conclusatildeo de que refugiado eacute aquele que eacute viacutetima de perseguiccedilatildeo em seu paiacutes e natildeo quer ou
natildeo pode valer da proteccedilatildeo desse Estado conforme previsto na Convenccedilatildeo de 1951
Destarte foram citados alguns casos especiacuteficos decididos pelo TEDH Tambeacutem
procurou demonstrar a relaccedilatildeo entre o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo e o artigo 3ordm da Convenccedilatildeo
Europeia dos Direitos Humanos agrave luz do direito de busca e salvamento no mar tendo por
exemplo algumas decisotildees do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos como alguns casos
natildeo analisados pelo referido Tribunal pesquisou-se casos em que pessoas foram resgatadas
ainda no mar no entanto foram repelidas posteriormente em terra tambeacutem haacute casos em que
a repulsatildeo ocorreu ainda em mar portanto a proteccedilatildeo do refugiado trata-se de um assunto
de extrema urgecircncia e importacircncia haja vista os noticiaacuterios de naufraacutegios e descasos com os
refugiados ocorridos tanto nas embarcaccedilotildees como no paiacutes em que se busca asilo Ressalta-
se a questatildeo da migraccedilatildeo natildeo eacute um fenocircmeno recente poreacutem foi intensificado nas uacuteltimas
deacutecadas principalmente durante a Primavera Aacuterabe que consistiu na eclosatildeo de diversos
conflitos contra governos ditatoriais no Oriente Meacutedio e na Aacutefrica sobretudo no norte do
continente africano
Aleacutem disso eacute notoacuterio que a intensidade dos fluxos migratoacuterios na atualidade eacute de
tamanha monta que torna difiacutecil a administraccedilatildeo dos migrantes pelos paiacuteses principalmente
aos mais afetados como a Itaacutelia a Greacutecia Malta e a Espanha por serem banhadas pelo Mar
Mediterracircneo principal via de acesso agrave Europa Ademais Franccedila e Alemanha tambeacutem
sofreram com muitos migrantes requerendo asilo Portanto neste estudo verificou-se
tambeacutem a necessidade de uma maior cooperaccedilatildeo entre paiacuteses para solucionar esse problema
que de certa forma eacute exatamente isso que a Convenccedilatildeo de Dublin procura fazer ou seja
144
tenta distribuir a responsabilidade da questatildeo de asilo mas tal documento apresenta falhas e
jaacute haacute proposta chamada de ldquoNovo Pacto sobre Migraccedilatildeo e Asilordquo para substituir e tentar
retirar o ocircnus excessivo dos principais paiacuteses pelos quais os migrantes entram na Europa
A grande variedade de normas no direito internacional a respeito da proteccedilatildeo
internacional dos refugiados faz com que os Estados tenham liberdade para regular a entrada
de estrangeiros no seu territoacuterio poreacutem natildeo podem deixar de lado o respeito aos direitos
humanos e suas obrigaccedilotildees internacionais Entatildeo podemos dizer que a soberania dos
Estados acaba sendo limitada pelas normas obrigatoacuterias de direito internacional
A partir daiacute surge a ideia de que o refugiado natildeo deve ser repelido de acordo com o
artigo 33 da referida Convenccedilatildeo o chamado princiacutepio do non-refoulement Assim analisou-
se este artigo juntamente com a Convenccedilatildeo Contra a Tortura que dispotildee que ningueacutem deve
enviado para locais onde corra o risco de ser torturado bem como com o artigo 3ordm da CEDH
que traz a proibiccedilatildeo da tortura e tratamento desumanodegradante de forma expressa ou
seja apesar da Convenccedilatildeo de 1951 no artigo 33 trazer situaccedilotildees em que natildeo se aplica o
princiacutepio da natildeo-repulsatildeo deve-se avaliar o mencionado princiacutepio diante do complexo
juriacutedico isto eacute outros importantes diplomas internacionais trazem o princiacutepio sem qualquer
exceccedilatildeo dessa forma da anaacutelise conjunta dos diplomas internacionais de direitos humanos
notamos que para que natildeo tenha nenhuma infraccedilatildeo agraves essas normas deve-se interpretar de
acordo com a norma mais beneacutefica ou seja de que ningueacutem deve ser enviado para local
onde corra o risco de ser torturado conforme a Convenccedilatildeo Contra a Tortura e a CEDH
Ademais a exceccedilatildeo prevista no artigo 33 nordm 2 da Convenccedilatildeo de 1951 traz que a
pessoa que consista em perigo agrave seguranccedila do paiacutes ou que tenha cometido crime natildeo deve
ser protegida pelo princiacutepio da natildeo-repulsatildeo no entanto vimos acima que esse dispositivo
deve ser interpretado de acordo com o complexo juriacutedico a respeito do tema e portanto essa
exceccedilatildeo acaba se tornando sem efeito Obviamente que natildeo se deve ldquopremiarrdquo um criminoso
com o benefiacutecio do asilo a fim de que o mesmo natildeo cumpra sua pena no entanto a proibiccedilatildeo
do envio do indiviacuteduo para a tortura eacute absoluta assim sugere-se o cumprimento da pena no
paiacutes de asilo natildeo enviando o criminoso para onde possa ser torturado
Aleacutem disso demonstrou a importacircncia deste princiacutepio tendo em vista o seu caraacuteter
de norma jus cogens ou seja consiste no grupo de normas obrigatoacuterias de direito
internacional e para corroborar tal natureza mencionou-se o artigo 42 nordm 1 da Convenccedilatildeo
de 1951 no qual dispotildee que o artigo 33 da mesma Convenccedilatildeo natildeo comporta reservas assim
145
como uma norma para ser considerada jus cogens precisa ser reconhecida pela comunidade
internacional fato que eacute notoacuterio que as convenccedilotildees de 1951 Contra a Tortura e CEDH satildeo
de amplo reconhecimento pelos paiacuteses ou seja a natildeo-repulsatildeo possui reconhecimento e natildeo
admite reserva isto eacute possui os dois requisitos necessaacuterios para ter tal status
Assim tem-se que a questatildeo de asilo esbarra na soberania nacional dos paiacuteses pois
cada Estado tem o direito de regular suas normas de direito de asilo mas como mencionado
acima limitado pelos direitos humanos e obrigaccedilotildees internacionais Dessa forma o
continente europeu possui diversos documentos disciplinando o assunto a exemplo do
Tratado de Lisboa (TUE) o TFUE o Acordo Schengen a Convenccedilatildeo de Dublin a CEDH
aleacutem das diretivas Estes documentos dispotildeem sobre aspectos gerais no que se refere ao asilo
e controle de fronteiras no entanto a Convenccedilatildeo de Dublin aborda mais especificamente
sobre quais satildeo os Estados responsaacuteveis pela anaacutelise do procedimento de asilo mas as regras
a serem aplicadas no procedimento satildeo as normas nacionais de cada paiacutes Assim foram
apresentados de forma sucinta os mecanismos dos processos de asilo em alguns paiacuteses
europeus apenas a tiacutetulo de comparaccedilatildeo de como que os principais paiacuteses que sofrem com
o intenso fluxo migratoacuterio lidam com a questatildeo de asilo
O primeiro capiacutetulo e o segundo foram destinados agraves questotildees gerais de refugiado e
e asilo explicando a questatildeo do direito de asilo no continente europeu e em algumas
legislaccedilotildees nacionais A partir disso no capiacutetulo 3 restringiu-se o foco na questatildeo dos
refugiados para a questatildeo do direito internacional e europeu no mar no que se refere (a)
busca e resgate dos refugiados em perigo no mar e o dever de assistecircncia tendo como base
diversos documentos internacionais como a UNCLOS SAR e SOLAS Assim para melhor
compreensatildeo partiu-se dos conceitos a respeito das zonas mariacutetimas nas quais se destaca a
questatildeo do mar territorial como o proacuteprio nome jaacute diz consiste no territoacuterio do estado
costeiro e portanto o Estado costeiro possui soberania nessa aacuterea aleacutem disso mais adiante
vimos que existem as SARrsquos que satildeo zonas de busca e salvamento de responsabilidade dos
paiacuteses cada estado com a sua SAR Nas demais zonas vigoram as regras de alto mar e
portanto satildeo aacutereas internacionais assim vale a lei da bandeira da embarcaccedilatildeo consistindo
numa extensatildeo do territoacuterio do paiacutes ou seja o fenocircmeno da extraterritorialidade Discute-se
a respeito das SARrsquos sobre a aplicaccedilatildeo da extraterritorialidade nessas regiotildees pois apesar de
configurarem zonas de busca e salvamento podem estar em aacuteguas internacionais ou seja a
146
responsabilidade de busca e salvamento eacute de um estado no entanto se forem aacuteguas
internacionais vale a lei do estado da bandeira da embarcaccedilatildeo (artigo 110 da UNCLOS)
Um dos principais documentos a respeito do direito do mar eacute a UNCLOS na qual o
artigo 98 traz o dever de assistecircncia das pessoas em perigo no mar Dessa forma esse artigo
deve ser entendido juntamente com o artigo 2ordm da CEDH (bem como o artigo 2ordm da CDFUE)
pois ambos trazem a proteccedilatildeo do direito agrave vida Dessa forma a questatildeo de salvar as vidas no
mar deve-se levar em conta dois aspectos sendo que eacute responsabilidade dos estados bem
como dos capitatildees dos navios
Outros documentos que seguem o mesmo sentido deste artigo 98 da UNCLOS eacute a
Convenccedilatildeo SOLAS que se refere agrave salvaguarda da vida das pessoas no mar e a SAR que
dispotildee sobre a busca e salvamento no mar sob pena de violaccedilatildeo do direito agrave vida Essas duas
convenccedilotildees dispotildeem que as pessoas resgatadas devem ser desembarcadas em um local
seguro apesar de natildeo apresentarem um conceito claro das condiccedilotildees desses locais eacute evidente
que alguns paiacuteses como a Liacutebia estatildeo longe de serem seguros Portanto a falta de
conceituaccedilatildeo de local seguro nessas convenccedilotildees consiste em uma falha fazendo com que
muitos paiacuteses tentem justificar o envio de pessoas para paiacuteses natildeo seguros no entanto diante
da ausecircncia dessa conceituaccedilatildeo faz-se necessaacuterio bom senso das autoridades para natildeo enviar
os migrantes para locais onde corram riscos
Tendo por base todas essas disposiccedilotildees toma-se em questatildeo a relaccedilatildeo do direito do
mar conjuntamente com os direitos humanos Nesse ponto sabemos que os direitos humanos
satildeo de extrema importacircncia consistindo em normas jus cogens no direito internacional
portanto deve ser respeitado em todos os ramos do direito inclusive no direito do mar
Assim vimos que o respeito ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo eacute absoluto natildeo admitindo reservas
por ser considerado norma jus cogens bem como haacute a previsatildeo no artigo 42 nordm1 da
Convenccedilatildeo de 1951 de que o artigo 33 que se refere agrave natildeo-repulsatildeo natildeo se admite reservas
Portanto a interpretaccedilatildeo conjunta das normas de busca e salvamento do mar
juntamente com o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo leva ao entendimento de que os migrantes
resgatados no mar devem ser desembarcados em local seguro e principalmente natildeo devem
ser devolvidos para o local de onde saiacuteram sob pena de violaccedilatildeo do direito agrave vida (artigo 2ordm
da CEDH) da proibiccedilatildeo da tortura e tratamentos desumanos e degradantes (artigo 3ordm da
CEDH e artigo 3ordm da Convenccedilatildeo Contra a Tortura) e proibiccedilatildeo de expulsatildeo coletiva (artigo
4ordm do Protocolo Adicional nordm 4 da CEDH)
147
Para ter uma ideia na praacutetica sobre como ocorre a violaccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-
repulsatildeo no uacuteltimo capiacutetulo realizou-se estudo de alguns casos decididos pelo TEDH bem
como outros casos que ocorreram poreacutem sem anaacutelise do referido Tribunal Destaca-se que
nem todas as decisotildees consistem na repulsatildeo no mar poreacutem em todos os casos estudados as
pessoas chegaram pelo mar ou resgatadas pela guarda do estado costeiro e levadas para o
continente ou acabaram tendo ecircxito na trajetoacuteria em embarcaccedilotildees precaacuterias Isso demonstra
que a repulsatildeo ocorre tanto no mar quanto em situaccedilotildees em que os migrantes jaacute estatildeo em
terra Aleacutem disso quando a repulsatildeo ocorre no mar normalmente haacute a violaccedilatildeo da proibiccedilatildeo
de expulsatildeo coletiva nesses casos as pessoas geralmente satildeo repelidas todas juntas sem
qualquer identificaccedilatildeo conforme os casos Hirsi Jamaa e do Asso 28
Dessa forma como jaacute mencionado a anaacutelise da violaccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo
deve ser realizada juntamente com o artigo 3ordm da CEDH e tambeacutem com a Convenccedilatildeo Contra
a Tortura assim vimos que a violaccedilatildeo ao artigo 3ordm pode ocorrer tanto no paiacutes do pedido de
asilo nos campos de detenccedilatildeo ou quando se deixa as pessoas a sua proacutepria sorte assim a
violaccedilatildeo eacute configurada quando os indiviacuteduos forem enviados para local em que podem ser
submetidos agrave tortura e tratamentos desumanos eou degradantes
Nesse sentido no uacuteltimo capiacutetulo foram 4 os casos apresentados que tiveram decisotildees
proferidas pelo TEDH sendo constatado que quando haacute condenaccedilatildeo ao Estadopaiacutes que
violou direitos dos refugiados satildeo arbitradasaplicadas indenizaccedilotildees irrisoacuterias (em torno de
15 mil euros por requerente) ou seja acabam natildeo inibindo a repeticcedilatildeo da conduta Assim
notamos a ocorrecircncia do caso Hirsi Jamaa em 2009 e que no ano de 2018 o caso do Asso 28
ou seja repetiu os mesmos atos ocorridos em 2009 No entanto o capitatildeo do Asso 28 foi
denunciado nos tribunais italianos por ter tomado a conduta de devolver os migrantes agrave
Liacutebia talvez esse fato demonstre o iniacutecio de uma possiacutevel mudanccedila de mentalidade Mas
somente o tempo poderaacute dizer pois no caso Vos Thalassa o Tribunal de Trapani decidiu
que os migrantes que ldquosequestraramrdquo a embarcaccedilatildeo agiram em legiacutetima defesa que agiram
dessa forma face ao desespero de serem repelidos para a Liacutebia como ocorreu em situaccedilotildees
anteriores no entanto o Tribunal de Palermo anulou a sentenccedila inclusive contrariando a
jurisprudecircncia do proacuteprio Tribunal assim questiona-se se essa decisatildeo do tribunal de
apelaccedilatildeo de anular a sentenccedila natildeo consistiu em uma decisatildeo poliacutetica
Nas decisotildees do TEDH que analisamos notou-se que a condenaccedilatildeo indenizatoacuteria foi
em valor baixo como no caso Hirsi Jamaa cuja decisatildeo foi no sentido de que natildeo houve
148
violaccedilatildeo do artigo 3ordm da CEDH por entender que a conduta do Estado natildeo atingiu o niacutevel
miacutenimo de gravidade Ora natildeo haacute que se falar em niacutevel de tortura ou que o tratamento
desumano foi leve A tortura traz uma ideia de que natildeo tem uma ldquomeia torturardquo ou a pessoa
sofre tortura ou natildeo ou a pessoa recebe tratamento desumano ou natildeo ou seja natildeo haacute que se
falar em natildeo ter atingido os niacuteveis miacutenimos
Assim a partir da anaacutelise dos fatos como no caso Khlaifia em que os migrantes
alegavam que foram submetidos a tratamentos desumanos eou degradantes nota-se que o
tratamento natildeo eacute ldquomeiordquo desumano as pessoas tinham sua dignidade diminuiacuteda por esperar
horas para ir ao banheiro por exemplo Poreacutem o TEDH entendeu natildeo haver violaccedilatildeo ao
artigo 3ordm da CEDH que natildeo ficou comprovado que o tratamento atingiu os niacuteveis miacutenimos
Portanto mais um indicativo da impunidade natildeo se deve aceitar que os direitos humanos
dos migrantes sejam relativizados a empatia eacute obrigatoacuteria os julgadores devem se
colocarem no lugar do outro para poder apontar se existe ou natildeo um niacutevel miacutenimo de tortura
ou tratamento desumano a ser atingido
Outra situaccedilatildeo do caso Abdi Mahamud julgado pelo TEDH foi configurada a
violaccedilatildeo dos artigos 3ordm e 5ordm da CEDH sendo a condenaccedilatildeo de 12 mil euros menor que as
demais indenizaccedilotildees arbitradas pelo TEDH Ou seja trata-se de mais uma condenaccedilatildeo com
valor irisoacuterio de indenizaccedilatildeo pois trata-se de um paiacutes portanto facilita a continuidade da
praacutetica desrespeitosa aos direitos humanos Aleacutem disso nesse caso mesmo a requerente ter
demonstrado reais perigos a que estava exposta (seu irmatildeo foi morto por um grupo
terrorista) o pedido de asilo foi negado sob o fundamento de que ela natildeo demonstrou ser da
regiatildeo de conflitos da Somaacutelia em virtude do sotaque e conhecimentos da regiatildeo da capital
somali Assim as autoridades tecircm julgado os casos de forma arbitraacuteria com total ausecircncia
de empatia Ademais a refugiada tambeacutem estava com a sauacutede debilitada que piorou apoacutes a
negativa do pedido de asilo eacute notaacutevel o transtorno mental que a requerente estava por natildeo
querer retornar ao seu paiacutes
Na Greacutecia como vimos no caso Sharifi os migrantes satildeo tratados com completo
descaso situaccedilatildeo reconhecida inclusive por oacutergatildeos das Naccedilotildees Unidas que apontavam as
violaccedilotildees e orientaram os Estados para que natildeo enviasse migrantes para a Greacutecia Aleacutem
disso neste ano de 2020 em plena pandemia o paiacutes helecircnico levava migrantes ateacute fronteira
do mar territorial deixando-os agrave deriva em botes inflaacuteveis sem motor e correndo risco de
morte Entatildeo tal conduta eacute uma afronta e um descaso enorme dos Estados com os migrantes
149
ou seja com pessoas que saiacuteram de seus paiacuteses por serem submetidas agraves situaccedilotildees horriacuteveis
ainda se deparam com tamanho descaso e desrespeito daqueles cujo dever eacute socorrer e
acolher
Outra questatildeo que chamou agrave atenccedilatildeo pelo despauteacuterio refere-se ao acordo feito entre
a Itaacutelia e Liacutebia em 2017 que confirma o descaso de certos paiacuteses com os refugiados quem
deveria acolher na verdade desdenha da situaccedilatildeo Sabe-se que desde a eclosatildeo da Primavera
Aacuterabe a Liacutebia estaacute longe de ser um lugar seguro Eacute de amplo conhecimento de que
atrocidades satildeo cometidas no paiacutes como assassinatos torturas tratamentos desumanos e
degradantes etc Podemos dizer que a Itaacutelia ao celebrar este acordo eacute cuacutemplice expressa das
atrocidades cometidas com as pessoas por laacute sobretudo com os migrantes que satildeo
devolvidos para o paiacutes norte-africano Assim notamos que os paiacuteses tecircm priorizado o
combate agrave imigraccedilatildeo ilegal em detrimento dos direitos humanos dos migrantes que as
decisotildees proferidas pelo TEDH natildeo estatildeo sendo suficientes para inibir a accedilatildeo de paiacuteses
europeus na repulsatildeo de migrantes ou de coibir os Estados de violar direitos dos refugiados
O que se constatou nesse estudo eacute que quando haacute uma condenaccedilatildeo do Estado por
violar direitos dos refugiados natildeo haacute uma justa indenizaccedilatildeo e que em algumas vezes a
decisatildeo eacute no sentido de que natildeo tinha como o Estado prever a violaccedilatildeo jogando o ocircnus aos
requerentes deixando-os lidarem eles mesmos com os danos e as feridas causadas ou que
natildeo atingiu os niacuteveis miacutenimos de tratamentos desumanos Assim notamos que as puniccedilotildees
impostas aos Estados natildeo tecircm sido eficazes tendo em vista o valor iacutenfimo das indenizaccedilotildees
Dessa forma talvez seja necessaacuteria uma puniccedilatildeo mais eficaz que force os Estados a
respeitarem o direito dos refugiados talvez como medida inibitoacuteria seja o caso de estudar a
possibilidade de imposiccedilatildeo de embargos poliacutetico-econocircmicos ao Estado infrator aleacutem de
melhorar o valor das indenizaccedilotildees pecuniaacuterias iniciando um estudo nesse sentido em prol
da proteccedilatildeo dos refugiados
Em verdade proteger os migrantes natildeo deve ser uma opccedilatildeo dos paiacuteses mas um dever
de proteccedilatildeo agrave vida humana que eacute um direito universal portanto um direito tambeacutem dos
refugiados independentemente se foi resgatado no mar ou dos que jaacute estatildeo no territoacuterio do
paiacutes de chegadaescolhido Portanto ter uma boa poliacutetica de migraccedilatildeo legislaccedilatildeo de asilo e
a proteccedilatildeo dos direitos humanos natildeo satildeo coisas opostas Sendo uma necessidade a
convergecircncia de medidas em prol de menos sofrimento no mundo se as pessoas estatildeo
fugindo de suas casas elas precisam ser acolhidas e natildeo repelidas Em um mundo que
150
pregamos a paz e a justiccedila natildeo eacute justo que negue ajuda e proteccedilatildeo para aqueles mais
necessitados ou menos favorecidos
151
BIBLIOGRAFIA
ACNUR Refugiados Disponiacutevel em httpswwwacnurorgportuguesquem-
ajudamosrefugiados Acesso em 03012020
AGENZIA ITALIA Cosa egrave successo a bordo della nave Asso Ventotto 2018 Disponiacutevel em
httpswwwagiitcronacamigranti_asso_ventotto-4224246news2018-07-31 Acesso
em 05102020
ALMEIDA Francisco F Direito Internacional Puacuteblico 2ordf ediccedilatildeo Coimbra Coimbra
Editora 2003
ANISTIA INTERNACIONAL Greece Proposed bill on asylum downgrades EU and
International Law standards on refugees protection 2019 Disponiacutevel em
httpwwwantigonegrennewspost452 Acesso em 25052020
BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Controllo dele Frontiere Statali e
Respingimenti nel Diritto Internazionale e nel Diritto del Mare In Diritto
Immigrazione e Cittadinanza Nordm 12020 Disponiacutevel em
httpswwwdirittoimmigrazionecittadinanzaitarchivio-saggi-commentisaggifascicolo-
n-1-2020-1532-controllo-delle-frontiere-statali-e-respingimenti-nel-diritto-internazionale-
e-nel-diritto-del-mare Acesso em 19062020
BATHKE Benjamin First trial in Italy over ldquomigrant pushbackrdquo to Libya 2020 In
Infomigrants Disponiacutevel em httpswwwinfomigrantsnetenpost26108first-trial-in-
italy-over-migrant-pushback-to-libya Acesso em 05102020
BETHLEHEM Daniel LAUTERPACHT Sir E Part 2 Non-refoulement (Article 33 of
the 1951 Convention) - The scope and content of the principle of non-refoulement
Opinion In Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos Global
Consultations on International Protection Cambridge Cambridge 2003
CAMILLI Eleonora Migranti scoppia il caso Asso 28 ldquoFatto grave egrave
respingimentordquo 2018 In Redattore Sociale Disponiacutevel em
httpswwwredattoresocialeitarticlenotiziariomigranti_scoppia_il_caso_asso_28_fatto_
grave_e_respingimento Acesso em 05102020
CIERCO Teresa A Instituiccedilatildeo de Asilo na Uniatildeo Europeia Almedina Coimbra 2010
COMISSAtildeO EUROPEIA Common European Asylum Sistem (CEAS) ndash Definition(s)
Disponiacutevel em httpseceuropaeuhome-affairswhat-we-
donetworkseuropean_migration_networkglossary_searchcommon-european-asylum-
system-ceas_en Acesso em 06042020
COMISSAtildeO EUROPEIA Common European Asylum System Disponiacutevel em
httpseceuropaeuhome-affairswhat-we-dopoliciesasylum_en Acesso em 27052020
152
COMISSAtildeO EUROPEIA EURASIL Disponiacutevel em httpseceuropaeuhome-
affairswhat-we-donetworkseuropean_migration_networkglossary_searcheurasil_en
Acesso em 06042020
COMISSAtildeO EUROPEIA European Asylum Support Office (EASO) Disponiacutevel em
httpseceuropaeuhome-affairswhat-we-
donetworkseuropean_migration_networkglossary_searcheuropean-asylum-support-
office-easo_en Acesso em 06042020
COUNCIL OF EUROPE ndash COMMISSIONER FOR HUMAN RIGHTS Lives Saved
Rights protected Bridging the protection gap for refugees and migrants in the
Mediterranean - Recommendations 2019 Disponiacutevel em httpsrmcoeintlives-saved-
rights-protected-bridging-the-protection-gap-for-refugees-168094eb87 Acesso em
01092020
CONSEIL CONSTITUTIONNEL Preacuteambule de la Constitution du 27 Octobre 1946
Disponiacutevel em httpswwwconseil-constitutionnelfrle-bloc-de-
constitutionnalitepreambule-de-la-constitution-du-27-octobre-1946 Acesso em
27052020
CONSELHO PORTUGUEcircS PARA OS REFUGIADOS Histoacuteria Disponiacutevel
httpscprpthistoria Acesso em 24052020
DIAacuteRIO DE NOTIacuteCIAS Greacutecia aprova nova reforma na lei de asilo do paiacutes 2020
Disponiacutevel em httpswwwdnoticiasptmundogrecia-aprova-nova-reforma-na-lei-de-
asilo-do-pais-FE6240421 Acesso em 25052020
DEUTSCHE WELLE (DW) Juristas processam UE por morte de migrantes 2019
Disponiacutevel em httpswwwdwcompt-brjuristas-processam-ue-por-mortes-de-
migrantesa-49036829 Acesso em 05102020
DEUTSCHE WELLE (DW) Novo Pacto Migratoacuterio da UE descarta realocaccedilatildeo
obrigatoacuteria 2020 Disponiacutevel em httpswwwdwcompt-brnovo-pacto-
migratC3B3rio-da-ue-descarta-realocaC3A7C3A3o-obrigatC3B3riaa-
55029567 Acesso em 09102020
ENI ITAacuteLIA Azionisti Disponiacutevel em httpswwwenicomit-ITchi-
siamogovernanceazionistihtml 2019 Acesso em 05102020
FEDERAL OFFICE FOR MIGRATION AND REFUGEES The Stages of the German
Asylum Procedure ndash An overview of the individual procedural steps and the legal
basis Disponiacutevel em
httpswwwbamfdeSharedDocsAnlagenENAsylFluechtlingsschutzAsylverfahrendas-
deutsche-asylverfahrenpdf__blob=publicationFileampv=12 Acesso em 28052020
FELLER Erika Prefaacutecio In Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos
Global Consultations on International Protection Cambridge Cambridge 2003
153
FORTEAU Mathias THOUVENIN Jean-Marc Traiteacute de Droit International de la
Mer Editions A Pedone Paris 2017
FOSTER Michelle HATHAWAY James C Part 6 Internal ProtectionRelocationFlight
Alternative In Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos Global
Consultations on International Protection Cambridge Cambridge 2003
FRANCE 24 English Focus Women made to keep low profile in some French
suburbs Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=6gZFGpNdH1A Acesso
em08012020
FRONTEX O que eacute a Frontex Disponiacutevel em httpsfrontexeuropaeulanguagept
Acesso em 19082020
G1 GLOBO Conheccedila as missotildees de resgate de imigrantes no Mediterracircneo 2015 Disponiacutevel em
httpg1globocommundonoticia201504conheca-as-missoes-de-resgate-de-imigrantes-
no-mediterraneohtml Acesso em 30082020
GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DE INCLUSIOacuteN SEGURIDAD SOCIAL Y
MIGRACIONES) PORTAL DE INMIGRACIOacuteN ndash Centro de Acogida a Refugiados
(CAR) Disponiacutevel em
httpextranjerosmitramissgobesesproteccionasilocarindexhtml Acesso em
27052020
GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DEL INTERIOR) Informacioacuten para los
solicitantes de proteccioacuten internacional em Espantildea Derecho de Asilo y Proteccioacuten
Subsidiaria Disponiacutevel em
httpwwwinteriorgobesdocuments6423171201485Informacion_solicitantes_Asilo_E
spaC3B1ol_126160083pdfd8fb2cb4-9bc4-4a53-9032-628c02f1e114 Acesso em
27052020
GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DE INCLUSIOacuteN SEGURIDAD SOCIAL Y
MIGRACIONES) PORTAL DE INMIGRACIOacuteN ndash Informacioacuten Disponiacutevel em
httpextranjerosmitramissgobesesProteccionAsiloinformacionindexhtml Acesso em
27052020
GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DEL INTERIOR) Oficina de Asilo y
Refugio Disponiacutevel em httpwwwinteriorgobeswebservicios-al-ciudadanooficina-
de-asilo-y-refugio Acesso em 27052020
GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DE INCLUSIOacuteN SEGURIDAD SOCIAL Y
MIGRACIONES) PORTAL DE INMIGRACIOacuteN ndash Reacutegimen de Asilo Disponiacutevel em
httpextranjerosmitramissgobesesnormativanacionalasiloindexhtml Acesso em
27052020
GOODWIN-GILL Guy S Part 3 Article 31 of the 1951 Convention Relating to the Status
of Refugees non-penalization detention and protection In Refugee Protection in
154
International Law ndash UNHCRrsquos Global Consultations on International Protection
Cambridge Cambridge 2003
GROSBON Sophie Droit de la Mer et Protection Internationale de LrsquoIndividurdquo In
FORTEAU Mathias THOUVENIN Jean-Marc Traiteacute de Droit International de la
Mer Editions A Pedone Paris 2017
HELLENIC REPUBLIC Asylum Service Disponiacutevel
httpasylogovgrenpage_id=39 Acesso em 24052020
HELLENIC REPUBLIC Legislation Disponiacutevel httpasylogovgrenpage_id=113
Acesso em 24052020
HONNIBALL Arron N The Exclusive Jurisdiction of Flag States A Limitation on
Pro-active Port States The International Journal of Marine and Coastal Law 2016
Disponiacutevel em httpsbrillcomviewjournalsestu313article-p499_6xml Acesso
01062020
INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION Guidelines on the Treatment of
Persons Rescued at Sea 2004 Disponiacutevel em
httpwwwimoorgenOurWorkFacilitationpersonsrescuedDocumentsMSC167(78)pd
f Acesso em 27062020
INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION INTERNATIONAL CHAMBER
OF SHIPPING UNITED NATIONS (UNHCR) Soccorso in Mare 2015 Disponiacutevel em
httpswwwunhcritwp-contentuploads201512Soccorso_in_Marepdf Acesso em
29062020
KINGSLEY Patrick SHOUMALI Karam Taking Hard Line Greece Turns Back
Migrants by Abandoning Them at Sea In ldquoThe New York Timesrdquo Disponiacutevel em
httpswwwnytimescom20200814worldeuropegreece-migrants-abandoning-seahtml
Acesso em 09102020
LISSON Urszula WEINZIERL Ruth Border Management and Human Rights A
study of EU Law and the Law of the Sea German Institute for Human Rights 2007
MACHADO Joacutenatas E M Direito Internacional 4ordf ediccedilatildeo Coimbra Coimbra Editora
2013
MARS Amanda ONU alerta que o mundo vive a pior crise humanitaacuteria em 70 anos
2017 In El Paiacutes Brasil Disponiacutevel em
httpsbrasilelpaiscombrasil20170311internacional1489186916_587899html
Acesso em 03012020
MINISTEacuteRE DE LrsquoINTEacuteRIEUR (IMMIGRATION ASILE ACCUEIL ET
ACCOMPAGNEMENT DES EacuteTRANGERS EM FRANCE Les Grands Principes du
Droit DrsquoAsile Disponiacutevel em httpswwwimmigrationinterieurgouvfrAsileLe-droit-
d-asileLes-grands-principes-du-droit-d-asile Acesso em 27052020
155
MINISTERO DELLrsquoINTERNO Cruscotto statistico giornaliero Disponiacutevel em
httpwwwlibertaciviliimmigrazionedlciinternogovititdocumentazionestatisticacrusc
otto-statistico-giornaliero Acesso em 19062020
MINISTRY FOR HOME AFFAIRS AND NATIONAL SECURITY (MALTA) AWAS ndash
Mission and Function Disponiacutevel httpshomeaffairsgovmtenMHAS-
DepartmentsawasPagesMission-and-Functionaspx Acesso 26052020
MINISTRY FOR HOME AFFAIRS AND NATIONAL SECURITY (MALTA) The
Office of the Refugee Commissioner Disponiacutevel em
httpshomeaffairsgovmtenmhas-
departmentsthe20office20of20the20refugee20commissionerPagesRefugeeasp
x Acesso em 26052020
NASSER Salem H Jus Cogens Ainda esse Desconhecido Disponiacutevel em
httpbibliotecadigitalfgvbrojsindexphprevdireitogvarticleview3523334033 Acesso
em 12092020
NATIONAL INTEGRATION EVALUATION MECHANISM (NIEM) The new law on
asylum in Greece Disponiacutevel em httpwwwforintegrationeuplthe-new-law-on-
asylum-in-greece Acesso em 25052020
NATIONAL POST National Post View Stabilizing Libya may be the best way to
keep Europe safe Disponiacutevel em httpsnationalpostcomopinionnational-post-view-
stabilizing-libya-may-be-the-best-way-to-keep-europe-safe Acesso em 06012020
NICHOLSON Frances TURK Volker Part 1 Refugee Protection in International Law
an overall perspective In Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos Global
Consultations on International Protection Cambridge Cambridge 2003
O GLOBO Crise envolvendo navio de resgate humanitaacuterio ldquoOpen Armsrdquo contrapotildee
Itaacutelia Espanha e ONG 2019 Disponiacutevel em httpsogloboglobocommundocrise-
envolvendo-navio-de-resgate-humanitario-open-arms-contrapoe-italia-espanha-ong-
23887061 Acesso em 27052020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para
a determinaccedilatildeo da Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Disponiacutevel em
httpswwwacnurorgportugueswp-
contentuploads201802Manual_de_procedimentos_e_critC3A9rios_para_a_determi
naC3A7C3A3o_da_condiC3A7C3A3o_de_refugiadopdf Acesso em
16012020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Note on International Protection ndash
UNHCR 13 september 2001 Disponiacutevel
httpswwwunhcrorgexcomexcomrep3bb1c6cc4note-international-protectionhtml
Acesso em 18092020
156
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Qual a diferenccedila entre lsquorefugiadosrsquo e
lsquomigrantesrsquo Disponiacutevel em httpsnacoesunidasorgqual-a-diferenca-entre-refugiados-
migrantesamp Acesso em 11052020
PAPANICOLOPULU Irini Human Rights and The Law of the Sea In The IMLI
Manual on International Maritime Law Volume I Law of The Sea General Editor
David Joseph Attard Edited by Malgosia Fitzmaurice Norman A Martineacutez Gutieacuterrez
Oxford University Press Oxford 2014
PARLAMENTO EUROPEU Asilo e Migraccedilatildeo na UE em Nuacutemeros 2019 Disponiacutevel
em
httpswwweuroparleuropaeunewsptheadlinesprioritiesmigracao20170629STO7863
0asilo-e-migracao-na-ue-em-numeros Acesso em 06042020
PARLAMENTO EUROPEU Reform of the Dublin System Disponiacutevel em
httpswwweuroparleuropaeuRegDataetudesBRIE2016586639EPRS_BRI282016
29586639_ENpdf Acesso em 07042020
PARLAMENTO EUROPEU Regras do Sistema de Asilo da UE a posiccedilatildeo do
Parlamento sobre a reforma da regulaccedilatildeo de Dublin Atualizado em 25072019
Disponiacutevel em
httpswwweuroparleuropaeunewsptheadlinesworld20180615STO05927regras-do-
asilo-da-ue-posicao-do-parlamento-sobre-a-reforma-da-regulacao-dublin Acesso em
06042020
PAULA Bruna V O Princiacutepio do Non-Refoulement sua Natureza Jus Cogens e a
Proteccedilatildeo Internacional dos Refugiados 2006 Disponiacutevel em
httpsrevistaibdhorgbrindexphpibdhissueview14 Acesso em 12092020
PORTUGAL Serviccedilo de Estrangeiros e Fronteiras ndash Etapas do Procedimento de
Proteccedilatildeo Internacional Disponiacutevel em
httpswwwsefptptDocumentsFolheto20InformaC3A7C3A3o20ProteC3
A7C3A3o20Internacionalpdf Acesso em 23052020
REVISTA VEJA Imigrantes se jogam no mar do navio Open Arms para alcanccedilar a
Itaacutelia 2019 Disponiacutevel httpsvejaabrilcombrmundoimigrantes-se-jogam-do-navio-
open-arms-no-mar-alcancar-a-italia Acesso em 27052020
RODAS Joatildeo G Jus Cogens em Direito Internacional Disponiacutevel em
wwwrevistasuspbrrfdusparticleviewFile6673669346 Acesso em 11092020
RUGGIERO Carol Dalla Criminalizzazione alla Giustificazione delle Attivita di
Ricerca e Soccorso in Mare le Tendenze Interpretative Piu Recenti alla Luce dei Casi
Vos Thalassa e Rackete In Diritto Immigrazione e Cittadinanza Nordm 12020 Disponiacutevel
em httpswwwdirittoimmigrazionecittadinanzaitarchivio-saggi-commentinote-e-
commentifascicolo-2020-1526-dalla-criminalizzazione-alla-giustificazione-delle-attivita-
di-ricerca-e-soccorso-in-mare-le-tendenze-interpretative-piu-recenti-alla-luce-dei-casi-vos-
thalassa-e-rackete Acesso em 25062020
157
SAVIO Guido Capitolo II Le procedure amministrative della domanda drsquoasilo
dallrsquoavvio alla decisione In ROCCA Paolo Immigrazione Asilo e Cittadinanza IV
Edizione Maggioli Editore Santarcangelo di Romagna 2019
TANI Ilaria Ricerca e Soccorso nel Mediterraneo Centrale tra Diritto Internazionale
e Nuove (Discutibili) Qualificazioni del Fenomeno Migratorio In Diritto
Immigrazione e Cittadinanza Nordm 32019 Disponiacutevel em
httpswwwdirittoimmigrazionecittadinanzaitarchivio-saggi-commentisaggifascicolo-
n-3-2019-1474-ricerca-e-soccorso-nel-mediterraneo-centrale-tra-diritto-internazionale-e-
nuove-discutibili-qualificazioni-del-fenomeno-migratoriofile Acesso em 22082020
TERRASI Alfredo I Respingimenti in Mare di Migrant Alla Luce Della Convenzione
Europea dei Diritti Umani In Diritti umani e diritto Internazionale Nordm 32009 p 591-
607
TREVISANUT Seline Maritime Border Control and the Protection of Asylum-
Seekers in the European Union Touro International Law Review 12 2009 p 157-161
HeinOnline
TREVISANUT Seline The Principle of Non-Refoulement and the De-
Territorialization of Border Control at Sea Leiden Journal of International Law vol
27 no 3 September 2014 p 661-676 HeinOnline
UNHCR GREECE UNHCR urges Greece to strengthen safeguards in draft asylum
law 2019 Disponiacutevel em httpswwwunhcrorggren13170-unhcr-urges-greece-to-
strengthen-safeguards-in-draft-asylum-lawhtml
UNITED NATIONS ndash UNHCR UNHCR Position on the Return of Asylum-Seekers to
Greece Under the ldquoDublin Regulationrdquo Disponiacutevel em
httpswwwunhcrorg482199802pdf Acesso em 01102020
WEIL Prosper Towards relative normativity in international law The American
Journal of International Law Vol 77 nordm 3 (julho de 1983) p 413 ndash 442 Disponiacutevel em
httpswwwcambridgeorgcorejournalsamerican-journal-of-international-
lawarticletowards-relative-normativity-in-international-
lawD494CB41D732291285CBC9F5424FF11C Acesso em 10092020
JURISPRUDEcircNCIAS
EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Abdi Mahamud V Malta
Application no 5679613 Disponiacutevel em httphudocechrcoeintengi=001-162424
Acesso em 26092020
EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Hirsi Jamaa and others v Italy
Application no 2776509 Disponiacutevel em httphudocechrcoeintspai=001-109231
Acesso em 16092020
158
EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Khlaifia and others v Italy
Application no 1648312 Disponiacutevel em httphudocechrcoeintengi=001-170054
Acesso em 21092020
EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Sharifi V Austria Application
no 6010408 Disponiacutevel em httphudocechrcoeintengi=001-138593 Acesso em
26092020
INTERNATIONAL COURT OF JUSTICE Jurisdictional Immunities of the State
(Germany v Italy Greece intervening) General List Nordm 143 Disponiacutevel em
httpswwwicj-cijorgencase143 Acesso em 11092020
LA CORTE DI APPELLO DI PALERMO Sentenza Vos Thalassa Appello ndash N Sent
15252020 Disponiacutevel httpswwwquestionegiustiziaitdatadoc2613sentenza-vos-
thalassa-appello-palermo-3-giugno-2020pdf Acesso em 05102020
TRIBUNALE DI TRAPANI Sentenza Vos Thalassa 2019 Disponiacutevel em
httpswwwquestionegiustiziaitdatadoc2613sentenza-vos-thalassa-gip-trapani-3-
giugno-2019pdf Acesso em 05102020
LEGISLACcedilAtildeO CONSULTADA
CONVENCcedilAtildeO DE APLICACcedilAtildeO DO ACORDO DE SCHENGEN 1985 Disponiacutevel
em httpseur-lexeuropaeulegal-
contentptTXTuri=celex3A42000A0922280229 Acesso em 29032020
CONSELHO DE SEGURANCcedilA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Resoluccedilatildeo 2240 (2015)
Disponiacutevel em httpseur-lexeuropaeulegal-
contentPTTXTuri=CELEX3A32016D0118 Acesso em 30082020
CONSELHO DA EUROPA Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (CEDH)
Disponiacutevel em httpswwwechrcoeintDocumentsConvention_PORpdf Acesso em
13012020
CONSELHO EUROPEU Directiva 200155CE do Conselho de 20 de Julho de 2001
Disponiacutevel em httpseur-lexeuropaeulegal-
contentPTTXTHTMLuri=CELEX32001L0055ampfrom=PT Acesso em 31012020
COUNCIL OF THE EUROPEAN UNION Council Decision of 26 April 2010
(2010252EU) Disponiacutevel em httpseur-
lexeuropaeuLexUriServLexUriServdouri=OJL201011100200026ENPDF Acesso
em 18092020
GENERAL ASSEMBLY UNITED NATIONS Resolution Adopted by the General
Assembly ndash Resolution 52132 Human rights and mass exoduses 1998 Disponiacutevel em
httpsundocsorgenARES52132 Acesso em 12092020
159
INTERNATIONAL COMMITTEE OF THE RED CROSS Customary International
Humanitarian Law ndash Volume I Rules Disponiacutevel
httpswwwicrcorgendocassetsfilesothercustomary-international-humanitarian-law-i-
icrc-engpdf Acesso em 11092020
INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION International Convention for the
Safety of Life at Sea (SOLAS) 1974 Disponiacutevel em
httpswwwsamgongustofaismediaenglishSOLAS-Consolidated-Edition-
2018docxpdf Acesso em 05062020
INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION International Convention on
Maritime Search and Rescue ndash SAR Convention 1979 Disponiacutevel em httpsonboard-
aquariusorguploads201808SAR-Convention-1979pdf Acesso em 02062020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Carta das Naccedilotildees Unidas 1945 Disponiacutevel
em httpsnacoesunidasorgwp-contentuploads201711A-Carta-das-
NaC3A7C3B5es-Unidaspdf Acesso em 04092020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Contra a Tortura e Outros
Tratamentos ou Penas Crueacuteis Desumanos ou Degradantes 1984 Disponiacutevel em
httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto1990-1994D0040htm Acesso em
12092020
ORGANIZACcedilAtildeO DE UNIDADE AFRICANA Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo de Unidade
Africana que Rege os Aspectos Especiacuteficos dos Problemas dos Refugiados em Aacutefrica
Disponiacutevel em httpwwwdhnetorgbrdireitossipafricaouahtm Acesso em
17012020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo de Viena sobre o Direito dos
Tratados Disponiacutevel em
httpgddcministeriopublicoptsitesdefaultfilesdocumentosinstrumentosrar67-
2003pdf Acesso em 11092020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Relativa ao Estatuto dos
Refugiados de 1951 Disponiacutevel em
httpswwwacnurorgfileadminDocumentosportuguesBDLConvencao_relativa_ao_Est
atuto_dos_Refugiadospdf Acesso em 03012020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Declaraccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas Sobre o
Asilo Territorial 1967 Disponiacutevel
httpswwwacnurorgfileadminDocumentosportuguesBD_LegalInstrumentos_Internac
ionaisDeclaracao_ONU_Asilo_Territorialpdffile=fileadminDocumentosportuguesBD_
LegalInstrumentos_InternacionaisDeclaracao_ONU_Asilo_Territorial Acesso em
09032020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do
Homem 1948 Disponiacutevel em httpsnacoesunidasorgwp-
contentuploads201810DUDHpdf Acesso em 05032020
160
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Protocolo Adicional agrave Convenccedilatildeo das
Naccedilotildees Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Relativo agrave Prevenccedilatildeo
Repressatildeo e Puniccedilatildeo do Traacutefico de Pessoas em Especial Mulheres e Crianccedilas
Disponiacutevel httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2004-
20062004DecretoD5017htm Acesso 14062020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Protocolo Adicional agrave Convenccedilatildeo das
Naccedilotildees Unidas Contra o Crime Organizado Transnacional relativo ao Combate ao
Traacutefico de Migrantes por Via Terrestre Mariacutetima e Aeacuterea 2000 Disponiacutevel em
httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2004-20062004DecretoD5016htm Acesso
em 01062020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Protocolo Adicional I da Convenccedilatildeo de
Genebra de 1949 Disponiacutevel em httpsihl-
databasesicrcorgapplicihlihlnsfArticlexspaction=openDocumentampdocumentId=F461
FC196C18A52DC12563CD0051E2AC Acesso em 11092020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Protocolo de 1967 Relativo ao Estatuto dos
Refugiados Disponiacutevel
httpswwwacnurorgfileadminDocumentosportuguesBD_LegalInstrumentos_Internac
ionaisProtocolo_de_1967pdf Acesso em 05032020
REPUBBLICA ITALIANA Gazzetta Ufficiale della Reppublica Italiana - Decreto
Legislativo 28 Gennaio 2008 N 25 Disponiacutevel em
httpswwwgazzettaufficialeitattoserie_generalecaricaDettaglioAttooriginarioattodat
aPubblicazioneGazzetta=2008-02-
16ampattocodiceRedazionale=008G0044ampelenco30giorni=false Acesso em 12052020
REPUBBLICA ITALIANA Gazzetta Ufficiale della Reppublica Italiana - Decreto
Legislativo 18 agosto 2015 n 142 Disponiacutevel em
httpswwwgazzettaufficialeiteliid2015091515G00158sg Acesso em 23052020
UNIAtildeO EUROPEIA Carta dos Direitos Fundamentais da Uniatildeo Europeia Disponiacutevel
em httpswwweuroparleuropaeucharterpdftext_ptpdf Acesso em 27052020
UNIAtildeO EUROPEIA Convenccedilatildeo de Dublin 1990 Disponiacutevel httpseur-
lexeuropaeulegal-contentPTALLuri=celex3A41997A0819280129 Acesso em
06042020
UNIAtildeO EUROPEIA Diretiva 2008115CE Disponiacutevel em httpseur-
lexeuropaeulegal-contentPTTXTuri=CELEX3A32008L0115 Acesso em
27052020
UNIAtildeO EUROPEIA Diretiva 201195UE Disponiacutevel em httpseur-
lexeuropaeulegal-contentPTLSUuri=celex32011L0095 Acesso em 27052020
161
UNIAtildeO EUROPEIA Diretiva 201332UE Disponiacutevel em httpseur-
lexeuropaeulegal-contentPTTXTuri=LEGISSUM23010502_1 Acesso em
27052020
UNIAtildeO EUROPEIA Diretiva 201333UE Disponiacutevel em httpseur-
lexeuropaeulegal-contentPTTXTuri=LEGISSUM23010502_2 Acesso em
27052020
UNIAtildeO EUROPEIA Tratado de Funcionamento da Uniatildeo Europeia Disponiacutevel em
httpseur-lexeuropaeulegal-contentPTTXTuri=celex3A12012E2FTXT Acesso
em 07042020
UNIAtildeO EUROPEIA Tratado de Lisboa Disponiacutevel em
httpswwwparlamentopteuropaDocumentsTratado_Versao_Consolidadapdf Acesso
em 31032020
UNITED NATIONS Charter of the International Military Tribunal 1945 Disponiacutevel
em httpswwwunorgengenocidepreventiondocumentsatrocity-
crimesDoc2_Charter20of20IMT201945pdf Acesso em 21012020
UNITED NATIONS Convention on the Law of the Seas (UNCLOS) Disponiacutevel
httpswwwunorgdeptslosconvention_agreementstextsunclosunclos_epdf Acesso
04092020
UNITED NATIONS Draft articles on Responsibility of States for Internationally
Wrongful Acts with commentaries Disponiacutevel em
httplegalunorgilctextsinstrumentsenglishcommentaries9_6_2001pdf Acesso em
11092020
3
RESUMO
CLEMENTE Isabelle C O Princiacutepio do Non-Refoulement como Norma Jus Cogens o Direito de Asilo na
Uniatildeo Europeia e a Proteccedilatildeo do Indiviacuteduo no Mar 2020 162f Dissertaccedilatildeo de Mestrado Faculdade de
Direito da Universidade de Coimbra Coimbra 2020 A presente pesquisa se justifica devido ao intenso fluxo migratoacuterio que tem ocorrido via Mar Mediterracircneo e
o consequente desrespeito aos direitos humanos dos refugiados por alguns paiacuteses Analisou-se a proteccedilatildeo
internacional dos refugiados o direito de asilo na Europa e em alguns paiacuteses europeus o princiacutepio da natildeo-
repulsatildeo e a proteccedilatildeo internacional do indiviacuteduo no mar fazendo uma anaacutelise de alguns casos decididos pelo
Tribunal Europeu dos Direitos Humanos - TEDH e outros dois que natildeo foram analisados pelo mencionado
Tribunal poreacutem relacionados ao tema do presente trabalho Assim demonstrou-se que os Estados tecircm o dever
de assistecircncia de busca e salvamento no mar e de proteger aqueles que necessitam de proteccedilatildeo natildeo enviando
os migrantes de volta agrave situaccedilatildeo de perseguiccedilatildeo ou em situaccedilotildees em que a vida pode estar em risco ou seja
natildeo violando o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo Para este estudo utilizou-se o meacutetodo dedutivo aplicando teacutecnicas
de pesquisa bibliograacutefica com consultas em livros revistas eletrocircnicas legislaccedilatildeo e pesquisa jurisprudencial
Chegou-se agrave conclusatildeo de que apesar do dever de assistecircncia de busca e salvamento no mar os Estados tecircm
o dever de respeitar o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo natildeo enviando os migrantes agraves situaccedilotildees de tortura e tratamento
desumanos e degradantes (conforme haacute a proibiccedilatildeo no artigo 3ordm da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos
- CEDH) Muitos Estados europeus cometem violaccedilotildees dos direitos humanos dos refugiados repetidas vezes
seja colocando-os em campos de refugiados em situaccedilotildees precaacuterias seja enviando-os de volta para locais que
natildeo satildeo seguros seja repelindo-os coletivamente (violaccedilatildeo ao artigo 4ordm do Protocolo nordm4 da CEDH) ou quer
deixando os migrantes agrave deriva causando acidentes etc assim notou-se que as condenaccedilotildees realizadas pelo
TEDH natildeo satildeo suficientes para inibir novas accedilotildees violadoras dos Estados tampouco para ressarcir os danos
causados para os migrantes Dessa forma deve haver uma mudanccedila de mentalidade tanto das autoridades como
da comunidade internacional em prol da proteccedilatildeo das pessoas que precisam de ajuda inclusive criar medidas
ou sanccedilotildees internacionais eficazes na esfera diplomaacutetica poliacutetica e econocircmica como forma de punir o paiacutes
infrator tambeacutem devem ser adotadas medidas eficazes que natildeo sobrecarregam os Estados de entrada sendo
este um dos pontos da proposta do Novo Pacto Sobre Migraccedilatildeo e Asilo que ainda necessita de aprovaccedilatildeo do
Conselho da UE e do Parlamento Europeu
Palavras-chave Refugiados Princiacutepio do Non-Refoulement Artigo 3ordm CEDH Direito de Asilo Proteccedilatildeo do
Indiviacuteduo no Mar
4
ABSTRACT
CLEMENTE Isabelle C The Principle of Non-Refoulement as Jus Cogens Standard the Right to Asylum
in the European Union and the Protection of the Individual at Sea 2020 162f Masteracutes Degree
Dissertation Faculty of Law of the University of Coimbra Coimbra 2020
The present research is justified due to the intense migratory flow that has occurred via the Mediterranean Sea
and consequent disrespect for the human rights of refugees by some countries The international protection of
refugees the right of asylum in Europe and in some European countries the principle of non-refoulement and
the international protection of the individual at sea were analyzed and it makes an analysis of some cases
decided by the European Court of Human Rights - ECHR and two others that were not analyzed by the
mentioned Court but related to the theme of the present work Thus it was demonstrated that States have a
duty to assist search and rescue at sea and to protect those in need of protection by not sending migrants back
to persecution or in situations where life may be at risk that is not violating the principle of non-refoulement
For this study the deductive method was used bibliographic research techniques with consultations in books
electronic journals legislation and precedents research were applied It was concluded that despite the duty
of assistance search and rescue at the sea the States have a duty to respect the principle of non-refoulement
not sending migrants to situations of inhuman and degrading torture and treatment (according to the prohibition
in Article 3 of the European Convention on Human Rights - ECHR) Many European States repeatedly violate
the human rights of refugees either by placing them in refugee camps in precarious situations or by sending
them back to places that are not safe or by repelling them collectively (violation of Article 4 of Protocol
number 4 of the ECHR) or either leaving migrants adrift causing accidents etc thus it was noted that the
condemnations carried out by the ECHR are not sufficient to inhibit new violating actions by States nor to
compensate for the damage caused to migrants Thus there must be a change in mentality of both the authorities
and the international community in favor of protecting people who need help including creating effective
international measures or sanctions in the diplomatic political and economic spheres as a way to punish the
offending country effective measures must also be taken in order not to burden the State of entry this being
one of the points of the proposal of the New Pact on Migration and Asylum which still needs approval from
the EU Council and the European Parliament
Keywords Refugees Principle of Non-Refoulement Article 3 ECHR Right to Asylum Protection of the
Individual at Sea
5
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ACNUR ou UNHCR ndash Alto Comissariado das Naccedilotildees Unidas Para os Refugiados
AZR ndash Registro Central de Estrangeiros
AFP ndash Agence France-Presse
AWAS ndash Agency for the Welfare of Asylum Seekers (Agecircncia para o bem-estar para os
requerentes de asilo)
CAR ndash Centro de Acolhida de Refugiados
CAS ndash Convenccedilatildeo de Aplicaccedilatildeo do Acordo Schengen
CDFUE ndash Carta dos Direitos Fundamentais da Uniatildeo Europeia
CDP SpA ndash Cassa Depositi e Prestiti SpA
CEDH ndash Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos
CESEDA ndash Coacutedigo de Entrada e Permanecircncia de Estrangeiros e do Direito de Asilo
CIREA ndash Centro de Informaccedilatildeo Investigaccedilatildeo e Intercacircmbio em Mateacuteria de Asilo
CIREFI ndash Centro de Informaccedilatildeo Investigaccedilatildeo e Intercacircmbio em Mateacuteria de Passagem das
Fronteiras e Imigraccedilatildeo
CNDA ndash Corte Nacional de Direito de Asilo
CPR ndash Conselho Portuguecircs para os Refugiados
CSPA ndash Centro de Socorro e Primeiro Acolhimento
DUDH - Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos
EURASIL - European Union Network for asylum practitioners (Rede da Uniatildeo Europeia
para praticantes de asilo)
EURODAC - European Dactyloscopy (base de dados de impressotildees digitais da Uniatildeo
Europeia para requerentes de asilo)
EASO ndash Gabinete Europeu de Apoio ao Asilo
EASY ndash Distribuiccedilatildeo Inicial dos Requerentes de Asilo
FRONTEX ndash Agecircncia Europeia de Gestatildeo da Cooperaccedilatildeo Operacional nas Fronteiras
Externas
GETZ ndash Centro de Extremismo e Contra-Terrorismo
GTAZ ndash Centro Contra-Terrorismo
IMRCC ndash Centro Italiano de Coordenaccedilatildeo de Socorro Mariacutetimo
OFII ndash Escritoacuterio Francecircs de Imigraccedilatildeo e Integraccedilatildeo
6
OFPRA ndash Escritoacuterio Francecircs de Proteccedilatildeo dos Refugiados e Apaacutetridas
OMI ou IMO ndash Organizaccedilatildeo Mariacutetima Internacional
ONG ndash Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental
ONU - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas
OSCE ndash Organizaccedilatildeo para Seguranccedila e Cooperaccedilatildeo na Europa
OUA ndash Organizaccedilatildeo da Unidade Africana
SAR ndash Convenccedilatildeo de Busca e Salvamento no Mar (Search and Rescue)
SECA ndash Sistema Europeu Comum de Asilo
SEF ndash Serviccedilo de Estrangeiros e Fronteiras
SOLAS ndash Convenccedilatildeo Internacional para a Salvaguarda da Vida Humana no Mar
SPRAR ndash Sistema de Proteccedilatildeo para o Requerente de Asilo e Refugiado
TEDH ndash Tribunal Europeu de Direitos Humanos
TFUE ndash Tratado de Funcionamento da Uniatildeo Europeia
TUE ndash Tratado da Uniatildeo Europeia
UE ndash Uniatildeo Europeia
UNCLOS ou CNUDM - Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar
ZEE ndash Zona Econocircmica Exclusiva
7
IacuteNDICE
INTRODUCcedilAtildeO09
CAPIacuteTULO 1 ndash A Proteccedilatildeo Internacional dos Refugiados e o Princiacutepio do Non-
Refoulement11
11 Aspectos Gerais11
12 Convenccedilatildeo de 1951 e o Protocolo de 196714
121 Conceito de Refugiado14
122 Pontos Importantes Relativos agrave Proteccedilatildeo Internacional15
a) Entrada Ilegal16
b) Pertencimento a um Grupo Social Especiacutefico18
c) Solicitaccedilotildees de Refuacutegio com Base na Religiatildeo19
d) Fuga Interna ou Alternativa do Deslocamento20
e) Aplicaccedilatildeo das Claacuteusulas de Exclusatildeo22
f) Cessaccedilatildeo da Condiccedilatildeo de Refugiado27
g) Unidade Familiar29
h) Responsabilidade de Supervisatildeo da ACNUR30
13 O Princiacutepio Non-Refoulement como Norma Jus Cogens e a Responsabilidade do
Estado por Atos Iliacutecitos30
131 Princiacutepio de Non-Refoulement31
132 Normas Jus Cogens35
133 Responsabilidade Internacional dos Estados38
134 Teorias a Respeito da Responsabilidade Internacional dos Estado43
135 Imputabilidade dos Estados44
136 Violaccedilatildeo de Uma Obrigaccedilatildeo Internacional45
137 Princiacutepio Non-Refoulement como Norma Jus Cogens46
CAPIacuteTULO 2 ndash O Asilo na Ordem Juriacutedica Europeia e Nacionais49
21 O Asilo Aspectos Gerais49
211 O Asilo e a Soberania do Estado52
22 A Instituiccedilatildeo de Asilo no Continente Europeu54
221 Principais Documentos Sobre o Asilo na Ordem Juriacutedica
Europeia57
8
23 Ordens Juriacutedicas Nacionais Itaacutelia Portugal Greacutecia Malta Espanha Franccedila e
Alemanha69
231 Itaacutelia69
232 Portugal73
233 Greacutecia75
234 Malta78
235 Espanha81
236 Franccedila84
237 Alemanha85
CAPIacuteTULO 3 - Direito Internacional e Europeu do Mar Busca e Resgate dos
Refugiados em Perigo e o Dever de Assistecircncia89
31 Breves Consideraccedilotildees a Respeito do Direito Internacional do Mar89
32 O Direito do Mar e a Proteccedilatildeo Internacional do Indiviacuteduo93
321 O Direito do Mar e os Direitos Humanos97
322 O Princiacutepio da Natildeo-Repulsatildeo e os Migrantes em Perigo no Mar99
323 A Busca e Salvamento no Mar e o Dever de Assistecircncia108
CAPIacuteTULO 4 - Casos de Violaccedilatildeo do Artigo 3ordm da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos
Humanos e o Princiacutepio da Natildeo-repulsatildeo121
41 Contexto Faacutetico122
411 Caso Hirsi Jamaa e Outros versus Itaacutelia123
412 Caso Khlaifia e Outros versus Itaacutelia125
413 Caso Abdi Mahamud versus Malta129
414 Caso Sharifi versus Aacuteustria131
415 Caso Vos Thalassa134
416 Caso Asso 28137
42 Alguns Apontamentos a Respeito dos Casos Apresentados140
CONCLUSAtildeO143
BIBLIOGRAFIA151
JURISPRUDEcircNCIAS157
LEGISLACcedilAtildeO CONSULTADA158
9
INTRODUCcedilAtildeO
Os fluxos migratoacuterios natildeo satildeo acontecimentos recentes existindo portanto desde os
primoacuterdios da humanidade assim o que muda satildeo os motivos que levam as pessoas a saiacuterem
do seu local de origem No entanto nas uacuteltimas deacutecadas o fenocircmeno da migraccedilatildeo tem se
intensificado principalmente apoacutes 2011 com a Primavera Aacuterabe em que eclodiram muitas
revoltas contra os governos autoritaacuterios no Oriente Meacutedio e paiacuteses africanos sobretudo no
norte da Aacutefrica Por este motivo para um estudo da atual situaccedilatildeo eacute importante a pesquisa
no acircmbito do direito internacional dos refugiados bem como dos direitos humanos
Nesse sentido a Europa tem sido um dos principais destinos desses migrantes e os
paiacuteses mais afetados tecircm adotado medidas para limitar esse fluxo muitos satildeo os meios que
as pessoas se sujeitam a enfrentar para migrarem inclusive pelo mar se aventurando em
embarcaccedilotildees precaacuterias arriscando suas vidas com o fim de fugir de algum tipo de
perseguiccedilatildeo Assim o objetivo do presente trabalho eacute fazer uma anaacutelise teoacuterica sobre a
proteccedilatildeo internacional dos refugiados direito de asilo e o direito de busca e salvamento dos
migrantes no mar juntamente com uma breve anaacutelise jurisprudencial do Tribunal Europeu
dos Direitos Humanos e apresentaccedilatildeo de outros casos natildeo analisados pelo mencionado
Tribunal
Dessa forma no primeiro capiacutetulo faz-se uma abordagem da proteccedilatildeo internacional
dos direitos humanos explicandos alguns dos assuntos mais importantes ao que se refere ao
direito dos refugiados como a Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 bem como o Protocolo de
1967 passando pelo conceito de refugiado e alguns pontos importantes como entrada ilegal
fuga interna claacuteusulas de exclusatildeo cessaccedilatildeo da condiccedilatildeo de refugiado perseguiccedilatildeo por
pertencer algum grupo social por seguir determinada religiatildeo unidade familiar etc aleacutem
disso traz-se a ideia do Princiacutepio do Non-Refoulement (tambeacutem citado neste trabalho como
Princiacutepio da Natildeo-Repulsatildeo) como jus cogens e a responsabilidade do Estado
No segundo capiacutetulo discorre-se sobre o tema do asilo na ordem juriacutedica europeia e
nacional de alguns paiacuteses europeus (os mais afetados pelo fenocircmeno migratoacuterio) Dessa
forma traz-se para anaacutelise os principais documentos europeus como Tratado de Lisboa
Tratado de Funcionamento da Uniatildeo Europeia Acordo Schengen Convenccedilatildeo de Dublin
Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos e algumas diretivas a respeito do tema Aleacutem
10
disso traz-se a questatildeo do asilo nos paiacuteses Itaacutelia Portugal Greacutecia Malta Espanha Franccedila
e Alemanha
Jaacute no terceiro capiacutetulo o foco eacute o direito internacional e europeu do mar no que se
refere agrave busca e resgate dos refugiados bem como o dever de assistecircncia Assim em um
primeiro momento faz-se algumas breves consideraccedilotildees a respeito do direito do mar
explicando brevemente as zonas mariacutetimas posteriormente a relaccedilatildeo do direito do mar com
a proteccedilatildeo internacional do indiviacuteduo passando pelos direitos humanos e princiacutepio da natildeo-
repulsatildeo no direito do mar chegando no direito de busca e salvamento e o dever de
assistecircncia Todos esses pontos tendo como base principalmente as Convenccedilotildees
UNCLOS SOLAS e SAR
Por fim o quarto capiacutetulo traz quatro decisotildees do Tribunal Europeu dos Direitos
Humanos e dois outros casos sem anaacutelise do referido Tribunal para exemplificar todo o
exposto nos demais capiacutetulos Assim o intuito eacute demonstrar qual a posiccedilatildeo do TEDH e se
as decisotildees estatildeo sendo suficientes para inibir a violaccedilatildeo do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo dos
migrantes resgatados no mar
Para a elaboraccedilatildeo do presente trabalho foi utilizado o meacutetodo dedutivo sendo
realizadas teacutecnicas de pesquisa bibliograacutefica com consultas em livros revistas eletrocircnicas
legislaccedilatildeo sendo utilizada a pesquisa jurisprudencial realizada no respectivo trabalho aleacutem
de outros documentos uacuteteis para a anaacutelise proposta no presente trabalho Os casos escolhidos
no uacuteltimo capiacutetulo foram escolhidos por amostragem e por serem pertinentes ao tema
11
CAPIacuteTULO 1
A PROTECcedilAtildeO INTERNACIONAL DOS REFUGIADOS E O PRINCIacutePIO DO
NON-REFOULEMENT
Apesar do fenocircmeno migratoacuterio existir haacute muito tempo tem-se que nas uacuteltimas
deacutecadas este assunto tem se tornado preocupaccedilatildeo mundial trazendo agrave tona a proteccedilatildeo
internacional dos refugiados principalmente na Europa que tem recebido um grande
contingente de refugiados Assim destaca-se os aspectos do mencionado fenocircmeno
humanitaacuterio e social que consiste na proteccedilatildeo de pessoas que fogem de seus paiacuteses em busca
de um lugar seguro para si e para sua famiacutelia bem como o aspecto diplomaacutetico-poliacutetico
pois as pessoas ao ingressarem em outros paiacuteses em busca de estabelecer residecircncia entram
de forma ilegal ferindo a soberania dos Estados Dessa forma faz com que os paiacuteses de
destino elaborem medidas limitativas de tal fenocircmeno (de forma interna) que tambeacutem
atuam como forma de controlar as tensotildees que porventura acabam surgindo1
11 Aspectos gerais
Nas uacuteltimas sete deacutecadas a situaccedilatildeo dos refugiados tem mudado consideravelmente
isso se deve ao surgimento do Alto Comissariado das Naccedilotildees Unidas para os Refugiados
(ACNUR - UNHCR) e tambeacutem da Convenccedilatildeo Relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951
O regime de proteccedilatildeo internacional dos direitos humanos vem sendo construiacutedo desde a
Segunda Guerra Mundial e atualmente consiste em um sistema complexo de proteccedilatildeo agraves
pessoas que satildeo obrigadas a saiacuterem de seus paiacuteses de forma forccedilada tendo por base a
mencionada convenccedilatildeo e o Protocolo de 1967 relativo ao Estatuto dos Refugiados Mas se
reconhece que haacute muito que se melhorar nesse ldquosistema complexordquo tendo em vista a
existecircncia de lacunas que favorecem a natildeo aplicaccedilatildeo do previsto na Convenccedilatildeo dificultando
as questotildees de asilo2
Os dois diplomas mencionados acima segundo Nicholson e Turk satildeo ldquothe modern
legal embodiment of the ancient and universal tradition of providing sanctuary to those at
1 CIERCO Teresa A Instituiccedilatildeo de Asilo na Uniatildeo Europeia Almedina Coimbra 2010 2 FELLER Erika Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos Global Consultations on International
Protection Prefaacutecio Cambridge Cambridge 2003
12
risk and in dangerrdquo3 consistem na personificaccedilatildeo juriacutedica da tradiccedilatildeo mundial de proteger
as pessoas que estatildeo em perigo Portanto consistem nos principais e uacutenicos documentos em
niacutevel mundial que tratam do assunto ldquorefugiadosrdquo
A crise migratoacuteria atual eacute considerada pela ONU a maior deste seacuteculo e de acordo
com dados ateacute o momento soacute perde para a crise migratoacuteria ocorrida durante a Segunda
Guerra Mundial4 As pessoas saem dos seus paiacuteses por motivos de perseguiccedilatildeo e ofensas
aos direitos humanos em busca de uma vida melhor em outros paiacuteses Diversos satildeo os paiacuteses
que geram refugiados como por exemplo Siacuteria (paiacutes que mais gerou refugiados) paiacuteses da
Aacutefrica Subsaariana5 e atualmente a Liacutebia (paiacutes no qual muitos refugiados buscaram ajuda
mas acabaram sendo aprisionados e submetidos a tratamentos degradantes e torturas)
A situaccedilatildeo atual na Liacutebia merece atenccedilatildeo e preocupa paiacuteses europeus sobretudo a
Itaacutelia O caos no mencionado paiacutes africano comeccedilou apoacutes a queda de Muamar Kadafi
iniciando-se uma nova guerra civil assim as autoridades do paiacutes perderam a sede do
governo em Triacutepoli passando a governar a partir de quartos de hoteacuteis e casas alugadas na
cidade de Bayda tendo em vista que parte da Liacutebia estava sob o domiacutenio de miliacutecias eacutetnicas
e coalizatildeo islamita6
Diante de tal cenaacuterio muitas pessoas foram capturadas vendidas como escravos e
torturadas O Estado Islacircmico publicou um viacutedeo executando 21 egiacutepcios em uma praia do
Mar Mediterracircneo e manifestou interesse em conquistar Roma fato que deixou a Itaacutelia em
alerta poreacutem a questatildeo da Liacutebia natildeo se trata de uma preocupaccedilatildeo apenas para as autoridades
italianas mas tambeacutem para toda Europa7
Assim apoacutes a Segunda Guerra Mundial notou-se a importacircncia da proteccedilatildeo
internacional dos refugiados situaccedilatildeo que culminou na elaboraccedilatildeo da Convenccedilatildeo de 1951
mas muito tempo passou e a relevacircncia da referida proteccedilatildeo internacional continua os fatos
mudaram poreacutem a proteccedilatildeo dos refugiados a niacutevel internacional eacute de suma importacircncia para
3 NICHOLSON Frances TURK Volker Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos Global
Consultations on International Protection Part 1 Refugee Protection in International Law an overall
perspective Cambridge Cambridge 2003 4 MARS Amanda ONU alerta que o mundo vive a pior crise humanitaacuteria em 70 anos 2017 In El Paiacutes Brasil
Disponiacutevel em httpsbrasilelpaiscombrasil20170311internacional1489186916_587899html Acesso
em 03012020 5 ACNUR Refugiados Disponiacutevel em httpswwwacnurorgportuguesquem-ajudamosrefugiados Acesso
em 03012020 6 NATIONAL POST National Post View Stabilizing Libya may be the best way to keep Europe safe
Disponiacutevel em httpsnationalpostcomopinionnational-post-view-stabilizing-libya-may-be-the-best-way-
to-keep-europe-safe Acesso em 06012020 7Ibidem
13
promover a dignidade humana princiacutepio base de grande parte dos ordenamentos juriacutedicos
no mundo8
Apoacutes o teacutermino da Guerra Fria surgiram vaacuterios conflitos como na ex-Iugoslaacutevia
Caacuteucaso Grandes Lagos e Afeganistatildeo tais conflitos forccedilaram a fuga de pessoas e tal ecircxodo
se deve agraves perseguiccedilotildees de diversas motivaccedilotildees (poliacutetica religiosa eacutetnica etc) sendo assim
estas pessoas podem ser enquadradas no conceito de ldquorefugiadordquo presente na Convenccedilatildeo de
1951 que veremos adiante9
Eacute bem verdade que a comunidade internacional deve zelar pela proteccedilatildeo
internacional dos refugiados mas ressalta-se que o deslocamento de milhares de refugiados
a um determinado Estado pode trazer problemas nas situaccedilotildees de concessatildeo de asilo Assim
alguns paiacuteses na Europa estatildeo sofrendo com excesso de refugiados como Itaacutelia Alemanha e
Franccedila
A partir de situaccedilotildees de excessos como mencionado acima surge o desafio de
compartilhar responsabilidades ou seja natildeo apenas um ou poucos paiacuteses a ter que arcar com
todos os ocircnus dos refugiados Portanto deve haver medidas para que haja uma distribuiccedilatildeo
dos ocircnus referentes aos refugiados10 Situaccedilatildeo essa que a Convenccedilatildeo de Dublin (juntamente
com suas duas reformas) tentou resolver no entanto ainda haacute falhas e a proposta de um
novo pacto foi apresentada como seraacute visto no decorrer deste trabalho
Nos paiacuteses que estatildeo sobrecarregados com as ldquoobrigaccedilotildeesrdquo referentes aos refugiados
comeccedilou a aumentar a xenofobia e intoleracircncia aos estrangeiros Isso se deve por diversos
motivos como por exemplo o receio de que o excesso de refugiados pode por ventura
tentar impor sua cultura no novo paiacutes ou paiacutes de asilo como acontece em alguns bairros do
subuacuterbio de Paris em que mulheres natildeo satildeo bem-vindas em cafeacutes (situaccedilatildeo ldquojustificadardquo
pela submissatildeo da mulher na cultura islacircmica)11 e tambeacutem devido ao fato de muitos
refugiados serem de origem islacircmica tambeacutem haacute o temor de atentados terroristas
principalmente apoacutes os atentados nos Estados Unidos em que houve uma maior
preocupaccedilatildeo de analisar com mais atenccedilatildeo o previsto na Convenccedilatildeo de 195112
8 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 9 Ibidem 10 Ibidem 11 FRANCE 24 English Focus Women made to keep low profile in some French suburbs Disponiacutevel em
httpswwwyoutubecomwatchv=6gZFGpNdH1A Acesso em08012020 12 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit
14
12 Convenccedilatildeo de 1951 e o Protocolo de 1967
A Convenccedilatildeo de 1951 e o Protocolo de 1967 satildeo documentos de proteccedilatildeo
internacional dos refugiados portanto tecircm abrangecircncia mundial Assim neles constam os
princiacutepios baacutesicos a respeito do assunto devendo ser a base do regime de proteccedilatildeo aos
refugiados nos demais ordenamentos juriacutedicos
O Protocolo de 1967 serviu para complementar a Convenccedilatildeo de 1951 como consta
expressamente que o conceito de refugiado deveria ser ampliado conforme consta no artigo
1ordm paraacutegrafo 2ordm do documento13
Um dos maiores desafios do Alto Comissariado da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas
para os Refugiados (ACNUR) eacute de zelar pelo cumprimento destes documentos e para isto
eacute necessaacuterio que a comunidade internacional se una em prol da proteccedilatildeo internacional dos
refugiados14
121 Conceito de Refugiado
O conceito de refugiado que consta na Convenccedilatildeo de 1951 no artigo 1ordm item 2
refugiado eacute aquela pessoa que
() temendo ser perseguida por motivos de raccedila religiatildeo nacionalidade grupo
social ou opiniotildees poliacuteticas se encontra fora do paiacutes de sua nacionalidade e que
natildeo pode ou em virtude desse temor natildeo quer valer-se da proteccedilatildeo desse paiacutes ou
que se natildeo tem nacionalidade e se encontra fora do paiacutes no qual tinha sua
residecircncia habitual em consequumlecircncia de tais acontecimentos natildeo pode ou devido
ao referido temor natildeo quer voltar a ele15
Os refugiados consistem em uma categoria de pessoas que fogem de seus paiacuteses por
temer perseguiccedilatildeo por motivos de raccedila religiatildeo nacionalidade grupo social ou opiniotildees
poliacuteticas assim se encontram fora do paiacutes de sua nacionalidade e que natildeo podem ou em
virtude desse temor natildeo quer valer-se mais da proteccedilatildeo do seu paiacutes de origem ou natal
13 ACNUR PROTOCOLO DE 1967 Relativo ao Estatuto dos Refugiados Disponiacutevel
httpswwwacnurorgfileadminDocumentosportuguesBD_LegalInstrumentos_InternacionaisProtocolo_
de_1967pdf Acesso em 05032020 14 Ibidem 15 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951
Disponiacutevel em
httpswwwacnurorgfileadminDocumentosportuguesBDLConvencao_relativa_ao_Estatuto_dos_Refugi
adospdf Acesso em 03012020
15
portanto passam a vincular ao ordenamento juriacutedico do paiacutes de asilo submetidos agrave
legislaccedilatildeo desse novo paiacutes assim como estatildeo sujeitos os cidadatildeos presentes no territoacuterio do
paiacutes que os acolheu isto eacute em casos de ofensas agrave lei e agrave ordem puacuteblica no paiacutes de asilo os
refugiados estatildeo sujeitos agraves leis domeacutesticas16
A Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo de Unidade Africana de 1969 em seu artigo I nordm 2
traz a seguinte conceituaccedilatildeo de refugiado
() qualquer pessoa que devido a uma agressatildeo ocupaccedilatildeo externa dominaccedilatildeo
estrangeira ou a acontecimentos que perturbem gravemente a ordem puacuteblica numa
parte ou na totalidade do seu pais de origem ou do pais de que tem nacionalidade
seja obrigada a deixar o lugar da residecircncia habitual para procurar refuacutegio noutro
lugar fora do seu paiacutes de origem ou de sua nacionalidade17
Assim o conceito de refugiado eacute amplo pois engloba vaacuterios fatores como raccedila
religiatildeo nacionalidade grupo social e opiniatildeo poliacutetica A perseguiccedilatildeo presente no citado
dispositivo natildeo se refere somente agraves questotildees individuais como tambeacutem agraves questotildees
coletivas isto eacute ldquoacontecimentos de natureza geral que envolve toda uma comunidaderdquo18
Portanto deve-se analisar caso a caso para que natildeo sejam cometidas injusticcedilas
Poreacutem natildeo se deve confundir os conceitos de migrante econocircmico com o de
refugiado propriamente dito Assim o migrante econocircmico deixa seu paiacutes fugindo da
pobreza e situaccedilatildeo de miseacuteria enquanto o refugiado abandona seu paiacutes sua famiacutelia fugindo
de perseguiccedilatildeo e risco de morte Aleacutem disso o migrante econocircmico normalmente planeja
para onde ir agraves vezes jaacute possui algum viacutenculo no paiacutes de destino o refugiado natildeo possui
dinheiro natildeo sabe para qual paiacutes ir (apenas quer sair do lugar onde sua vida corre risco) natildeo
sabe a liacutengua e nem a cultura do paiacutes tendo que aprender a viver novamente19
122 Pontos Importantes Relativos agrave Proteccedilatildeo Internacional
Sabe-se da importacircncia dos pontos relativos agrave perseguiccedilatildeo baseada no gecircnero
requerimento de refuacutegio solicitado por crianccedilas ou com base na orientaccedilatildeo sexual embora
16 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 17 ORGANIZACcedilAtildeO DE UNIDADE AFRICANA Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo de Unidade Africana que Rege
os Aspectos Especiacuteficos dos Problemas dos Refugiados em Aacutefrica Disponiacutevel em
httpwwwdhnetorgbrdireitossipafricaouahtm Acesso em 17012020 18 CIERCO Teresa A Instituiccedilatildeo de Asilo na Uniatildeo Europeia Almedina Coimbra 2010 p 59 19 Ibidem
16
esse tema especiacutefico natildeo tenha sido abordado neste trabalho por ser especiacutefico e natildeo
pertencer ao tema central do trabalho No que tange agrave religiatildeo e grupos especiacuteficos fez-se
uma abordagem geral por constarem no conceito de refugiados no artigo 1ordm da Convenccedilatildeo
de 1951
Alguns desses pontos importantes possuem diretrizes publicadas pelo ACNUR que
foram elaboradas em uma mesa redonda juntamente com Church World Service em 2002
nos Estados Unidos20 No entanto devido a importacircncia do princiacutepio do non-refoulement
(natildeo-repulsatildeo) este seraacute desenvolvido no final do presente capiacutetulo
a) Entrada ilegal
Um ponto importante a se analisar no que tange agrave proteccedilatildeo internacional dos
refugiados eacute a entrada ilegal disciplinada no artigo 31 da Convenccedilatildeo de 1951 ou seja os
refugiados que chegarem a determinado paiacutes sem autorizaccedilatildeo natildeo devem ser penalizados
caso estejam fugindo de situaccedilatildeo em que a vida esteja ameaccedilada para isto eles devem se
apresentar o mais raacutepido possiacutevel para as autoridades demonstrando assim boa-feacute em sua
entrada ilegal21
A este respeito tem-se que os indiviacuteduos que entram ilegalmente em algum paiacutes e
requerem asilo possuem a presunccedilatildeo desse direito ateacute que se demonstre a natildeo necessidade
de proteccedilatildeo internacional atraveacutes do devido processo legal o nuacutemero 2 do artigo 31 dispotildee
que os Estados devem aplicar apenas as restriccedilotildees ldquonecessaacuteriasrdquo ateacute a regularizaccedilatildeo do
refugiado ressalta-se que sempre deve haver respeito aos direitos humanos22
No que se refere agrave regularizaccedilatildeo do refugiado entende-se que nos casos de entrada
ilegal o indiviacuteduo deve se apresentar o mais raacutepido possiacutevel para as autoridades os Estados
devem aguardar a regularizaccedilatildeo do refugiado seja no paiacutes em que estaacute ou em outro paiacutes que
o tenha admitido23
20 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Disponiacutevel em httpswwwacnurorgportugueswp-
contentuploads201802Manual_de_procedimentos_e_critC3A9rios_para_a_determinaC3A7C3
A3o_da_condiC3A7C3A3o_de_refugiadopdf Acesso em 16012020 21 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 22 Ibidem 23 GOODWIN-GILL Guy S Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos Global Consultations on
International Protection Part 3 Article 31 of the 1951 Convention Relating to the Status of Refugees non-
penalization detention and protection Cambridge Cambridge 2003
17
Poreacutem mesmo com a existecircncia do artigo 31 da Convenccedilatildeo muitos dos indiviacuteduos
que entram ilegalmente nos paiacuteses satildeo encaminhados para centros de detenccedilatildeo (na Europa
Ameacuterica do Norte e Austraacutelia) Alguns paiacuteses como a Aacuteustria Beacutelgica Alemanha e Franccedila
possuem centros especiais de detenccedilatildeo para aprisionar indiviacuteduos relativos agrave imigraccedilatildeo que
em muitos casos natildeo haacute periacuteodos preacute-fixados nessas prisotildees mas devido agrave alta demanda
surge outro problema muitos indiviacuteduos satildeo aprisionados em centros de detenccedilatildeo comum
sem separaccedilatildeo com os presos comuns (condenados por crimes)24
Neste cenaacuterio nota-se que natildeo eacute razoaacutevel aplicar a penalidade de detenccedilatildeo ao
indiviacuteduo que natildeo cometeu crime algum mas apenas fugiu de algum lugar no qual sua vida
estava em risco Poreacutem cada paiacutes tem sua legislaccedilatildeo a respeito da entrada ilegal e possui o
poder de soberania de controlar o fluxo de entrada e saiacuteda do paiacutes bem como a fixaccedilatildeo de
residecircncia nesse sentido a jurisprudecircncia do Tribunal Europeu de Direitos Humanos diz
que apesar deste poder soberano deve-se respeitar o que estaacute previsto na Convenccedilatildeo
Portanto a detenccedilatildeo provisoacuteria eacute permitida quando se faz necessaacuterio alguma investigaccedilatildeo
preliminar poreacutem a detenccedilatildeo administrativa eacute permitida nos termos do que estaacute previsto no
artigo 31 nordm 2 da Convenccedilatildeo de 1951 ou seja somente as restriccedilotildees necessaacuterias podem ser
impostas aos requerentes de asilo dentre estas pode incluir a prisatildeo administrativa em alguns
casos Ressalta-se que apesar do indiviacuteduo estar detido natildeo se deve privaacute-lo da possibilidade
de requerer asilo e portanto de obter o status de refugiado25
Neste aspecto percebemos uma controveacutersia pois o artigo 14 da Declaraccedilatildeo
Universal dos Direitos Humanos dispotildee sobre a requisiccedilatildeo de asilo de que eacute um direito de
todos que sofrem algum tipo de perseguiccedilatildeo aleacutem disso o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo faz
com que os Estados natildeo rejeitem os refugiados devolvendo-os para locais onde suas vidas
correm risco Poreacutem a controveacutersia estaacute na situaccedilatildeo de que muitas vezes satildeo impostas
restriccedilotildees de liberdade aos requerentes de asilo Defende-se portanto que deve haver
alguma razoabilidade para justificar a restriccedilatildeo de liberdade26
24 GOODWIN-GILL Guy S Op cit 25 Ibidem 26 Ibidem
18
b) Pertencimento a um grupo social especiacutefico
No artigo 1ordm da Convenccedilatildeo de 1951 conforme citado acima consta a expressatildeo
ldquogrupo socialrdquo pela qual o conceito descreve a situaccedilatildeo de ser perseguido por pertencer
algum ldquogrupo socialrdquo Nesse sentido o assunto eacute abordado na Diretriz Sobre a Proteccedilatildeo
Internacional nordm227 Ao questionar o que seria tal expressatildeo ldquogrupo socialrdquo analisa-se se se
aquele grupo possui caracteriacutesticas distintas sendo estas imutaacuteveis ou inerentes agrave dignidade
humana que dificilmente se consegue separar o indiviacuteduo dessa caracteriacutestica28
Nesse sentido pode-se entender o conceito a partir da ideia de ldquocaracteriacutesticas
protegidasrdquo ou seja nesta ideia uma caracteriacutestica considerada imutaacutevel consiste em
criteacuterios de sexo e etnia por exemplo e tambeacutem em situaccedilotildees nas quais as caracteriacutesticas
satildeo inalteraacuteveis por diversos motivos (sendo intriacutenseca agrave dignidade humana) como por
exemplo fatos histoacutericos ou status passado Tal ideia eacute comumente adotada no Canadaacute
Estados Unidos e Reino Unido29
Entatildeo ao se abordar o aspecto de ldquogrupo socialrdquo a partir de uma ldquopercepccedilatildeo socialrdquo
conceitua que um grupo social pode se diferenciar da sociedade em geral a partir de uma
caracteriacutestica que diferencia seus indiviacuteduos de toda a sociedade Este entendimento eacute
adotado pela jurisprudecircncia australiana30
Tais abordagens podem gerar conflitos pois podem convergir fazendo com que as
pessoas que satildeo diferenciadas a partir de uma caracteriacutestica imutaacutevel ou fundamental
(intriacutenseca) podem tambeacutem serem diferenciadas por caracteriacutesticas que os distinguem do
resto da sociedade Portanto podem surgir lacunas no que tange a proteccedilatildeo quando
analisadas isoladamente31
Este aspecto tem sido muito utilizado para enquadrar as pessoas requerentes de asilo
assim os Estados entendem como grupos especiacuteficos homossexuais famiacutelias tribos grupos
profissionais com base no previsto na Convenccedilatildeo de 1951 Portanto tal ideia aprofunda o
conceito de refugiado32
27 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit p 91 28 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 29 Ibidem 30 Ibidem 31 Ibidem 32 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit p 91
19
Entretanto natildeo se pode amplificar demasiadamente tal ideia isto eacute natildeo se aplica em
todo e qualquer caso poreacutem a ideia de pertencer a um grupo social especiacutefico deve ser
entendida de forma evolutiva com base nas sociedades e nas normas internacionais de
direitos humanos33
c) Solicitaccedilotildees de Refuacutegio com base na Religiatildeo
Antes de adentrar na situaccedilatildeo de solicitaccedilatildeo de refuacutegio em razatildeo da religiatildeo precisa-
se primeiro entender no que consiste o termo ldquoreligiatildeordquo Sendo assim a Convenccedilatildeo de 1951
apesar de trazer no conceito de refugiado a religiatildeo como uma das motivaccedilotildees de
perseguiccedilotildees natildeo trouxe o conceito de religiatildeo Portanto entende-se de forma interpretativa
a definiccedilatildeo de religiatildeo como sendo a liberdade de pensamento consciecircncia e credo dessa
forma o conceito engloba tambeacutem a possibilidade de natildeo possuir religiatildeo ou natildeo adotar
nenhuma crenccedila relacionada agrave religiatildeo34
Nesse sentido a Diretriz Sobre Proteccedilatildeo Internacional nordm6 dispotildee sobre a utilidade
dos artigos 18 da Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos (DUDH) e dos artigos 18 e
27 do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Poliacuteticos bem como outros documentos
internacionais que norteiam o entendimento do termo ldquoreligiatildeordquo na conjuntura do Direito
Internacional dos Refugiados35
Portanto em razatildeo do explicado acima requisiccedilotildees de refuacutegio baseadas em religiatildeo
satildeo situaccedilotildees complicadas pois os agentes que analisam a situaccedilatildeo de cada indiviacuteduo nem
sempre aplicam de forma correta a definiccedilatildeo de religiatildeo Ressalta-se que de acordo com o
Direito Internacional dos Direitos Humanos a liberdade religiosa de pensamento e
consciecircncia satildeo considerados direitos fundamentais36
Dessa forma ao requerer refuacutegio os indiviacuteduos podem se basear nos seguintes
elementos relativos agrave religiatildeo crenccedila ou descrenccedila identidade e estilo de vida Assim a
religiatildeo referente agrave ldquocrenccedilardquo inclui tanto as pessoas que acreditam em alguma divindade
quanto aos que natildeo acreditam quanto agrave ldquoidentidaderdquo refere pertencer a uma religiatildeo no
33 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit p 91 34 Ibidem 35 Ibidem 36 Ibidem
20
sentido de uma comunidade de pessoas que acreditam nas mesmas ideias e por fim quanto
ldquoestilo de vidardquo consiste em situaccedilotildees em que a religiatildeo pode se manifestar de diversas
formas como por exemplo o uso de vestimentas e praacuteticas especiacuteficas 37
O indiviacuteduo pode sofrer perseguiccedilatildeo religiosa de vaacuterias maneiras como a proibiccedilatildeo
de se filiar a alguma comunidade religiosa ou impor medidas discriminatoacuterias pelo motivo
da religiatildeo Tal situaccedilatildeo eacute mais comumente observada em paiacuteses que haacute uma religiatildeo que
predomina ou que haja uma estreita relaccedilatildeo entre Estado e religiatildeo assim uma pessoa que
natildeo segue a religiatildeo dominante por vezes acaba sofrendo algum tipo de perseguiccedilatildeo38
d) Fuga Interna ou alternativa do deslocamento
Um ponto muito discutido a respeito do Direito dos Refugiados eacute sobre a fuga interna
ou alternativa do deslocamento (assunto abordado na Diretriz Sobre Proteccedilatildeo Internacional
nordm 439) pois tal conceito consiste na ideia daquele indiviacuteduo que sofre algum tipo de
perseguiccedilatildeo poder buscar refuacutegio dentro do seu paiacutes de origem Mas de acordo com o Direito
Internacional natildeo eacute necessaacuterio que sejam esgotados os recursos no paiacutes de origem portanto
natildeo se exige que o refuacutegio seja o uacuteltimo recurso40
Nesse sentido na deacutecada de 1980 alguns paiacuteses concedentes de asilo utilizavam esse
conceito como motivo para negar asilo poreacutem natildeo consta nada de forma expressa na
Convenccedilatildeo de 1951 Assim entende-se que a melhor opccedilatildeo nesse aspecto eacute analisar caso a
caso41 Assim sugere-se uma situaccedilatildeo de anaacutelise em duas etapas o risco de perseguiccedilatildeo (por
motivos previstos na Convenccedilatildeo de 1951) em alguma aacuterea do paiacutes de origem e depois analisa
a possibilidade do requerente de asilo ser protegido pelo paiacutes de origem42
Como vimos na definiccedilatildeo de refugiado consta os termos ldquotemendo ser perseguidardquo
e ldquonatildeo pode ou em virtude desse temor natildeo quer valer-se da proteccedilatildeo desse paiacutesrdquo tais
expressotildees devem ser entendidas juntamente com o conceito da alternativa de fuga ou
37 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit 38 Ibidem 39 Ibidem p 107 40 Ibidem 41 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 42 FOSTER Michelle HATHAWAY James C Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos Global
Consultations on International Protection Part 6 Internal ProtectionRelocationFlight Alternative
Cambridge Cambridge 2003
21
deslocamento interno Ressalta-se que natildeo satildeo conceitos contraditoacuterios poreacutem a relaccedilatildeo
entre esses conceitos deve-se analisar os casos separadamente Na anaacutelise individual de cada
caso como mencionado acima dois aspectos devem ser levados em consideraccedilatildeo
relevacircncia e razoabilidade 43
Ao se analisar a relevacircncia deve-se ter em mente se a aacuterea na qual propotildeem o
deslocamento se tal accedilatildeo eacute acessiacutevel facilmente de forma segura e que natildeo infrinja normas
quem eacute o agente perseguidor pois se for o Estado este iraacute perseguir o indiviacuteduo em todo o
territoacuterio ou caso o agente natildeo seja o Estado se haacute a possibilidade deste agente perseguidor
acessar as aacutereas de fuga ou deslocamento interno e se apoacutes o deslocamento haver a
possibilidade de o indiviacuteduo continuar a ser perseguido ou sofrer algum outro dano grave44
No que tange a razoabilidade a anaacutelise eacute mais simples ou seja analisa-se a
possibilidade do indiviacuteduo conseguir ter uma vida digna sem perseguiccedilotildees Essa anaacutelise
deve ser tanto objetiva quanto subjetiva isto eacute considerar o indiviacuteduo e as condiccedilotildees de fuga
ou deslocamento Os criteacuterios a serem analisados satildeo caracteriacutesticas pessoais (analisam-se
fatores como a idade sexo a famiacutelia se possui alguma deficiecircncia escolaridade situaccedilotildees
de vulnerabilidade etc) perseguiccedilatildeo preteacuterita (consiste no indiviacuteduo possuir algum trauma
ocasionado por perseguiccedilotildees no passado) proteccedilatildeo e seguranccedila respeito aos direitos
humanos e subsistecircncia econocircmica45
Entende-se portanto que natildeo se deve justificar a negaccedilatildeo da condiccedilatildeo de refugiado
com base nos conceitos de alternativa de fuga ou deslocamento interno tendo em vista os
princiacutepios dos direitos humanos que zelam pela proteccedilatildeo internacional Dessa forma as
pessoas tecircm o direito de saiacuterem dos seus paiacuteses buscando uma vida mais segura longe de
situaccedilotildees que podem colocar a vida em perigo46
Nesse sentido vimos anteriormente que na Convenccedilatildeo da OUA parte do conceito de
refugiados traz a seguinte expressatildeo relacionando a acontecimentos que ldquoperturbem
gravemente a ordem puacuteblica numa parte ou na totalidade do seu paiacutes de origem ou do paiacutes
de que tem nacionalidaderdquo assim depreende-se que natildeo eacute necessaacuterio que todo o paiacutes esteja
em crise para que uma pessoa possa requerer refuacutegio em outro paiacutes47
43 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit 44 Ibidem 45 Ibidem 46 Ibidem 47 Ibidem
22
e) Aplicaccedilatildeo das Claacuteusulas de Exclusatildeo
A Convenccedilatildeo de 1951 no artigo 1- F traz as claacuteusulas de exclusatildeo isto eacute situaccedilotildees
em que o previsto no mencionado diploma natildeo deve ser aplicado Assim estas situaccedilotildees
referem-se agraves pessoas que
() cometeram um crime contra a paz um crime de guerra ou um crime contra a
humanidade no sentido dos instrumentos internacionais elaborados para prever
tais crimes
() cometeram um crime grave de direito comum fora do paiacutes de refuacutegio antes de
serem nele admitidas como refugiados
() se tornaram culpadas de atos contraacuterios aos fins e princiacutepios das Naccedilotildees
Unidas48
A respeito das disposiccedilotildees acima tem-se que o primeiro item (artigo 1F ldquoardquo) e o
uacuteltimo (artigo 1F ldquocrdquo) satildeo atemporais ou seja dizem respeito a crimes ocorridos em
qualquer tempo Contudo no artigo 1F ldquobrdquo referem-se a crimes cometidos em momento
anterior ao ser considerado refugiado e que tenham ocorrido em local fora do paiacutes de
refuacutegio49
Assim situaccedilotildees como abrigar os genocidas responsaacuteveis pelo massacre ocorrido em
Ruanda no ano de 1994 contraria o disposto na Convenccedilatildeo de 1951 pois natildeo seria justo
ajudar quem jaacute provocou muita dor e tristeza e tambeacutem contribuiu para fuga de muitas
pessoas para natildeo serem mortas em seus paiacuteses como o proacuteprio documento jaacute dispotildee alguns
atos satildeo de extrema gravidade que os autores de determinadas accedilotildees satildeo indignos de proteccedilatildeo
internacional e portanto tais pessoas devem enfrentar a justiccedila e pagarem pelos seus atos50
Os mencionados dispositivos tem a motivaccedilatildeo de excluir do conceito de refugiado
pessoas que praticaram crimes graves e assim natildeo deveriam ser protegidos pela Convenccedilatildeo
Nesse sentido natildeo se deveria portanto conceder asilo agrave pessoa perseguida por cometer um
crime poreacutem a interpretaccedilatildeo correta eacute a de que natildeo deve ser permitido o asilo para pessoas
que pedem a proteccedilatildeo com intuito de fugir da penalidade mas tambeacutem natildeo se pode admitir
que pessoa seja enviada para um local onde seus direitos humanos baacutesicos seratildeo violados
48 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951 Op
cit 49 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit 50 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit
23
uma alternativa para este caso eacute o cumprimento da penalidade dos seus atos em algum local
seguro onde teraacute sua dignidade respeitada
Portanto a aplicaccedilatildeo da exclusatildeo deve ser feita com muita cautela e de forma
extremamente restrita e priorizando sempre os direitos humanos devendo-se evitar
resultados graves ao excluir pessoas da proteccedilatildeo internacional Portanto passa-se a analisar
mais detalhadamente as situaccedilotildees de exclusatildeo
bull Crimes contra a paz crimes de guerra e crimes contra a humanidade
No que se refere a essa linha de crimes satildeo vaacuterios diplomas internacionais que
disciplinam o assunto quais sejam Convenccedilatildeo de 1948 sobre a Prevenccedilatildeo e Puniccedilatildeo do
Crime de Genociacutedio as Convenccedilotildees de Genebra de 1949 para a Proteccedilatildeo de Viacutetimas de
Guerra (junto com os Protocolos Adicionais de 1977) os Estatutos dos Tribunais Penais
Internacionais para a Ex-Iugoslaacutevia e Ruanda a Carta de Londres e o Estatuto de Roma (que
disciplina o Tribunal Penal Internacional sediado em Haia)51
Entre esses documentos a Carta de Londres que consiste na Carta do Tribunal
Militar Internacional de 1945 conceitua os crimes contra a paz da seguinte maneira
ldquonamely planning preparation initiation or waging of a war of aggression or a war in
violation of international treaties agreements or assurances or participation in a common
plan or conspiracy for the accomplishment of any of the foregoingrdquo52
Portanto atos que envolvam o planejamento preparaccedilatildeo e iniacutecio de guerra que uma
guerra desrespeite disposiccedilotildees internacionais (tratados compromissos acordos etc) ou
alguma conspiraccedilatildeo ou plano para promover quaisquer das situaccedilotildees mencionadas acima
Nota-se entatildeo que tais crimes somente podem ser praticados por autoridades ou pessoas
que possuem cargos importantes em um governo53
Da mesma maneira o supramencionado diploma tambeacutem conceitua os crimes de
guerra como segue
51 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit 52 UNITED NATIONS Charter of the International Military Tribunal 1945 Disponiacutevel em
httpswwwunorgengenocidepreventiondocumentsatrocity-
crimesDoc2_Charter20of20IMT201945pdf Acesso em 21012020 53 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit
24
Namely violations of the laws or custos of war Such violations shall include but
not be limited to murder ill-treatment or deportation to slave labour or for any
other purpose of civilian population of or in occupied territory murder or ill-
treatment of prisoners of war or persons on the seas killing of hostages plunder
of public or private property wanton destruction of cities towns or villages or
devastation not justified by military necessity54
Nesse sentido violaccedilotildees do Direito Internacional Humanitaacuterio podem consistir em
crimes de guerra portanto essa categoria de crimes inclui trabalho escravo tratamento
degradante torturas ataques contra populaccedilatildeo civil sem qualquer propoacutesito maus tratos de
prisioneiros de guerras assassinatos de refeacutens destruiccedilatildeo de cidades ou devastaccedilatildeo natildeo
justificada atraveacutes de uma necessidade militar
Por fim a conceituaccedilatildeo de crimes contra a humanidade na Carta de Londres eacute a
seguinte
Namely murder extermination enslavement deportation and other inhumane
acts committed against any civilian population before or during the war or
persecutions on political racial or religious grounds in execution of or in
connection with any crime within the jurisdiction of the Tribunal whether or not
in violation of the domestic law of the country where perpetrated55
Assim esse tipo de crime deve ser contra a populaccedilatildeo e ocorrer sob a forma de um
ataque generalizado e sistemaacutetico mas natildeo exclui alguma situaccedilatildeo em que um uacutenico ato
possa ser considerado crime contra a humanidade ou seja se este ato consistir em parte de
um sistema ou se faz parte de uma seacuterie de atos sistemaacuteticos e repetitivos 56 No entanto
repete-se o indiviacuteduo natildeo deve ser enviado para local natildeo seguro
bull Graves delitos comuns natildeo-poliacuteticos
Essa categoria trata de crimes graves assim faz-se necessaacuterio analisar a questatildeo da
gravidade ou seja se determinado crime eacute grave o bastante portanto os criteacuterios
internacionais devem predominar perante os criteacuterios locais Nesse aspecto alguns pontos
devem ser analisados como natureza do ato e da pena o dano causado o que foi utilizado
54 UNITED NATIONS Charter of the International Military Tribunal 1945 Op cit 55 Ibidem 56 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit
25
para a praacutetica do crime e o que o crime em questatildeo representa em grande parte dos
ordenamentos juriacutedicos57
Aleacutem do aspecto da gravidade outro ponto faz parte desta categoria de crimes isto
eacute crimes natildeo-poliacuteticos Como o proacuteprio nome jaacute diz satildeo crimes praticados por motivos
particulares portanto o crime natildeo deve ter relaccedilatildeo com motivos poliacuteticos ou pelo menos se
houver algum tipo de motivaccedilatildeo poliacutetica a proporccedilatildeo do objetivo poliacutetico deve ser muito
inferior ao motivo particular58
O dispositivo tambeacutem prevecirc sobre o local e tempo da praacutetica do ato ou seja o crime
deve ter ocorrido fora do paiacutes de refuacutegio e anterior agrave aceitaccedilatildeo do indiviacuteduo no paiacutes de asilo
Assim em situaccedilotildees de que o indiviacuteduo comete um crime no paiacutes de refuacutegio podem correr
o risco de serem expulsos conforme o previsto nos artigos 32 e 33 nordm 2 da Convenccedilatildeo de
195159 No entanto veremos adiante que o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo (previsto no artigo 33
da referida Convenccedilatildeo) natildeo admite reservas ou seja o indiviacuteduo natildeo pode ser repelido isto
eacute enviado de volta para o paiacutes de origem sendo que laacute seria submetido agrave condiccedilotildees
desumanas e degradantes
bull Atos contraacuterios aos objetivos e princiacutepios das Naccedilotildees Unidas
Este dispositivo raramente eacute aplicado pois deve ser interpretado de forma restritiva
Assim na maioria das vezes aplica-se aos casos o previsto nos itens ldquoardquo e ldquobrdquo do dispositivo
A aplicaccedilatildeo deste dispositivo restringe-se em situaccedilotildees pontuais nas quais o ato cometido
afronta os pilares da coexistecircncia da comunidade internacional60
Entatildeo como jaacute visto sobre as Claacuteusulas de Exclusatildeo o ACNUR publicou a Diretriz
Sobre Proteccedilatildeo Internacional nordm5 Neste aspecto tem-se que a razatildeo mais importante das
claacuteusulas de exclusatildeo eacute o impedimento de pessoas que jaacute cometeram atrocidades possam sair
impunes de seus atos atraveacutes do refuacutegio poreacutem como jaacute explicado acima devem ser
57 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit 58 Ibidem 59 Ibidem 60 Ibidem
26
aplicadas de maneira extremamente restritiva de forma que uma pessoa natildeo deve ser enviada
para um local onde teraacute seus direitos humanos violados61
Uma soluccedilatildeo para essa situaccedilatildeo como jaacute mencionado eacute o cumprimento da
penalidade em algum paiacutes seguro ou seja natildeo enviar a pessoa para a tortura ou tratamentos
desumanos ou degradantes poreacutem natildeo deixar a pessoa impune devendo cumprir a sua pena
O instituto do asilo natildeo deve ser requerido com intuito de se esquivar do cumprimento da
pena
Poreacutem natildeo deve deixar o indiviacuteduo em situaccedilatildeo de risco mesmo que tenha cometido
um crime Neste caso propotildee-se a possibilidade de enviar o indiviacuteduo para um outro paiacutes
que natildeo seja colocado em risco Cita-se a Convenccedilatildeo Americana sobre os Direitos Humanos
e a Declaraccedilatildeo de Cartagena como exemplos de que o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo natildeo estaacute
sujeito agrave exceccedilatildeo no contexto dos direitos humanos natildeo haacute possibilidade de limitaccedilatildeo do
mencionado princiacutepio62
Haacute muita discussatildeo a respeito das situaccedilotildees de exceccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo
nesse sentido Bethlehem e Lauterpacht citam as diretrizes para elaboraccedilatildeo da legislaccedilatildeo
nacional realizada por um grupo de pessoas da Organizaccedilatildeo da Unidade Africana (OUA) e
o ACNUR dispotildeem que nenhuma pessoa deve ser rejeitada devolvida expulsa ou submetida
agrave condiccedilotildees que colocam em risco sua integridade fiacutesica ou liberdade Portanto de acordo
com esses documentos natildeo haacute nenhuma restriccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo63
A respeito dessas diretrizes observa-se que a tendecircncia a respeito dessas exceccedilotildees
tem sofrido uma evoluccedilatildeo desde 1951 sendo que se excluiria qualquer tipo de exclusatildeo da
aplicaccedilatildeo da natildeo-repulsatildeo Entatildeo o indiviacuteduo natildeo poderia ser rejeitado eou enviado de volta
para qualquer situaccedilatildeo que colocasse em risco a vida a liberdade ou a integridade fiacutesica
Ressalta-se que na mentalidade dos redatores da Convenccedilatildeo de 1951 haveria a possibilidade
das exclusotildees de aplicaccedilatildeo do non-refoulement mas adotar essa interpretaccedilatildeo atualmente
deixaria este princiacutepio fora de sintonia com os desenvolvimentos mais recentes das
legislaccedilotildees64
61 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit 62 BETHLEHEM Daniel LAUTERPACHT Sir E Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos
Global Consultations on International Protection Part 2 Non-refoulement (Article 33 of the 1951 Convention)
- The scope and content of the principle of non-refoulement Opinion Cambridge Cambridge 2003 63 Ibidem 64 BETHLEHEM Daniel LAUTERPACHT Sir E Op cit
27
A este respeito Bethlehem e Lauterpacht expotildeem suas opiniotildees no sentido de que
as exceccedilotildees previstas no artigo 33 da Convenccedilatildeo de 1951 devem ser limitadas e respeitar o
devido processo legal ou seja segundo eles somente em situaccedilatildeo a respeito de seguranccedila
nacional ou risco ordem puacuteblica que poderia devolverexpulsarrejeitar o indiviacuteduo mas natildeo
deve haver exceccedilatildeo a natildeo-repulsatildeo caso este seja submetido agrave situaccedilotildees degradantes tortura
eou tratamentos crueacuteis pois tal princiacutepio de proteccedilatildeo possui caraacuteter humanitaacuterio Em casos
extremos de aplicaccedilatildeo de alguma exceccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo repulsatildeo eacute de extrema
importacircncia que o Estado adote medidas razoaacuteveis para que o indiviacuteduo seja admitido em
um paiacutes terceiro seguro65
O artigo 33 natildeo identifica quais os atos que configurariam uma ameaccedila agrave seguranccedila
nacional portanto ficaria a cargo de uma margem de apreciaccedilatildeo dos Estados poreacutem esta
apreciaccedilatildeo como jaacute explicado deve ser limitada sendo que deve haver ldquomotivos razoaacuteveisrdquo
para considerar um indiviacuteduo perigoso para a seguranccedila do paiacutes em que estaacute Sendo assim
o Estado natildeo pode agir de forma arbitraacuteria e deve analisar especificamente se haacute um risco
futuro comprovado com evidecircncias66
Entatildeo vimos que a regra eacute a natildeo-repulsatildeo caso se avente a possibilidade de enviar
o indiviacuteduo para outro paiacutes como no caso de cometimento de algum tipo de crime o Estado
deve assegurar que a pessoa natildeo seja enviada para um local em que seus direitos humanos
seratildeo violados No entanto ressalta-se que a concessatildeo de asilo natildeo deve ser realizada com
intuito de fugir das penalidades impostas por comentimento de crimes Em uacuteltimo caso
sugere-se o cumprimento da pena em algum paiacutes seguro entendendo como local seguropaiacutes
seguro onde o indiviacuteduo natildeo teraacute seus direitos humanos baacutesicos violados
f) Cessaccedilatildeo da Condiccedilatildeo de Refugiado
A situaccedilatildeo que se refere este dispositivo eacute quando ocorre a cessaccedilatildeo da condiccedilatildeo de
refugiado sendo este repatriado Assim terminada a condiccedilatildeo que ensejou o indiviacuteduo a
buscar refuacutegio em algum paiacutes cessa a sua condiccedilatildeo de refugiado e portanto o indiviacuteduo
deve retornar ao seu paiacutes de origem Poreacutem esta situaccedilatildeo gera alguns questionamentos que
seratildeo discutidos neste toacutepico
65 BETHLEHEM Daniel LAUTERPACHT Sir E Op cit 66 Ibidem
28
As claacuteusulas de cessaccedilatildeo se originaram a partir da ideia explicada acima assim a
partir destas disposiccedilotildees a condiccedilatildeo de refugiado de diversas pessoas termina
principalmente apoacutes o teacutermino da Guerra Fria por outro lado originou a preocupaccedilatildeo em
ter soluccedilotildees duraacuteveis isto eacute refere-se agraves situaccedilotildees de longa duraccedilatildeo de refugiados e tambeacutem
a questatildeo do repatriamento voluntaacuterio67
O entendimento predominante de acordo com as accedilotildees praticadas pelo ACNUR
pelos Estados e pelas conclusotildees da mesa redonda que ocorreu em Lisboa em 2001 eacute de que
a situaccedilatildeo no paiacutes de origem deve ser relevante ou seja eacute necessaacuterio ser de caraacuteter
fundamental estaacutevel e duraacutevel Aleacutem disso de acordo com as conclusotildees mencionadas
acima eacute importante que se leve em consideraccedilatildeo as questotildees de seguranccedila sustentabilidade
ao retornar e recursos humanos de uma forma geral68
Nesse cenaacuterio destaca-se um ponto importante que eacute a questatildeo das exceccedilotildees agraves
declaraccedilotildees de cessaccedilatildeo Assim havendo razotildees substanciais originadas de perseguiccedilotildees
preacutevias deve-se ponderar a situaccedilatildeo de retornar ao paiacutes de origem Haacute tambeacutem situaccedilotildees em
que o retorno do indiviacuteduo eacute proibido por tratados de direitos humanos pois o refugiado
poderia sofrer algum tipo de dano caso retorne ao seu paiacutes de origem Aleacutem disso tem casos
em que o indiviacuteduo jaacute formou laccedilos consistentes no paiacutes de asilo tendo familiares e
estabilidade econocircmica por exemplo nestes casos o Estado de asilo pode conceder status
de residecircncia69
Sobre essa questatildeo cita-se a Diretiva 200155CE do Conselho de 20 de Julho de
2001 em que dispotildee que nas situaccedilotildees que o procedimento de asilo foi suspenso durante a
proteccedilatildeo temporaacuteria (refuacutegio) eacute reconhecido o direito dos indiviacuteduos requererem o asilo apoacutes
o termino da proteccedilatildeo caso queiram por motivos de perseguiccedilotildees passadas70
Ainda quanto agrave cessaccedilatildeo da condiccedilatildeo de refugiado tem-se que muitos refugiados
procuram a repatriaccedilatildeo voluntariamente assim mesmo com a possibilidade do ACNUR e
dos Estados emitirem declaraccedilotildees a respeito da cessaccedilatildeo da condiccedilatildeo estas natildeo ocorrem de
forma frequente Ademais muitos paiacuteses concedem a permissatildeo de residecircncia mesmo com
67 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 68 Ibidem 69 Ibidem 70 CONSELHO EUROPEU Directiva 200155CE do Conselho de 20 de Julho de 2001 Disponiacutevel em
httpseur-lexeuropaeulegal-contentPTTXTHTMLuri=CELEX32001L0055ampfrom=PT Acesso em
31012020
29
o teacutermino das condiccedilotildees que ensejaram o refuacutegio e favorecem a integraccedilatildeo local e a
naturalizaccedilatildeo71
Contudo eacute importante que a cessaccedilatildeo da condiccedilatildeo de refugiado natildeo seja algo incerto
isto eacute colocar os indiviacuteduos em situaccedilatildeo de inseguranccedila sem saber o que os espera no futuro
Nesse sentido natildeo se deve obrigar as pessoas a retornarem a uma situaccedilatildeo que possa colocaacute-
las em risco ensejando nova fuga e um novo procedimento de reconhecimento como
refugiado Portanto antes de cessar a condiccedilatildeo de um refugiado eacute necessaacuterio de que as
condiccedilotildees no paiacutes de origem tenham se alterado substancialmente e que seja estaacutevel72
Cessar a condiccedilatildeo de refugiado natildeo eacute necessaacuterio consentimento ou algum ato
voluntaacuterio por parte do refugiado assim deve-se analisar com cautela e as claacuteusulas de
cessaccedilatildeo devem ser interpretadas de forma estrita para que natildeo causar consequecircncias graves
pois tal procedimento pode acarretar muitos transtornos na vida do indiviacuteduo como
rompimento de laccedilos familiares relaccedilatildeo de emprego da comunidade onde vivia etc73
Como mencionado acima a mudanccedila da situaccedilatildeo do refugiado deve ter natureza
fundamental ou seja isso significa que o indiviacuteduo natildeo pode mais recusar a proteccedilatildeo do seu
paiacutes de origem pois as mudanccedilas ocorridas fizeram com que cessassem as circunstacircncias
que originaram a situaccedilatildeo de refugiado Portanto considera-se cessaccedilatildeo das circunstacircncias
quando ocorre o fim dos confrontos alteraccedilatildeo completa da situaccedilatildeo poliacutetica estabilidade e
situaccedilatildeo de paz ressalta-se que aleacutem das mudanccedilas a mudanccedila deve ser estaacutevel
consolidada74
g) Unidade familiar
No que tange a unidade familiar na questatildeo dos refugiados o reagrupamento familiar
eacute o ponto principal para implementaccedilatildeo do mencionado direito tendo em vista que
considera-se a unidade familiar eacute considerada um direito essencial do refugiado pois
independente do status eacute um direito humano internacional e humanitaacuterio sendo aplicaacutevel a
todos os seres humanos Assim a famiacutelia do refugiado tambeacutem recebe o mesmo status
71 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit 72 Ibidem 73 Ibidem 74 Ibidem
30
portanto chama-se de ldquostatus derivadordquo possuindo os mesmos direitos que qualquer outro
indiviacuteduo considerado ldquorefugiadordquo75
Deve-se analisar caso a caso sobre a existecircncia ou natildeo de uma famiacutelia devendo levar
em consideraccedilatildeo questotildees culturais dependecircncia econocircmica e emocional dos indiviacuteduos
Nesse sentido considera-se ldquofamiacuteliardquo pelo menos os cocircnjuges e filhos menores76
h) Responsabilidade de supervisatildeo da ACNUR
O livro ldquoRefugee Protection in International Lawrdquo coloca como um dos pontos mais
importantes na questatildeo da proteccedilatildeo internacional dos refugiados a supervisatildeo do ACNUR
tendo por base os artigos 35 da Convenccedilatildeo de 1951 e o II do Protocolo de 1967 Nesse
sentido o ACNUR tem como funccedilatildeo baacutesica monitorar as accedilotildees dos Estados bem como
analisar e intervir quando for necessaacuteria a correccedilatildeo de alguma situaccedilatildeo77
Para exemplificar o assunto deste toacutepico tem-se que as diretrizes elaboradas pelo
ACNUR (algumas jaacute comentadas em toacutepicos anteriores) orientam os Estados aconselhando
as autoridades oacutergatildeos e tribunais a respeito da aplicaccedilatildeo dos diplomas internacionais a
respeito dos refugiados78
Dessa forma o ACNUR atua em diversos paiacuteses no mundo em prol do direito dos
refugiados promovendo ajuda aos migrantes orientando-os quanto aos seus direitos bem
como atuando em procedimentos judiciais na defesa desses direitos Aleacutem de orientaccedilotildees
sobre quais paiacuteses satildeo seguros ou natildeo em casos de envio dos migrantes como veremos no
uacutetltimo capiacutetulo no caso Sharifi versus Aacuteustria em que o ACNUR demonstrou que a Greacutecia
natildeo era um bom lugar para enviar o migrante de volta
13 O Princiacutepio Non-Refoulement como Norma Jus Cogens e a Responsabilidade
do Estado por Atos Iliacutecitos
No presente item em um primeiro momento traz a ideia do Princiacutepio Non-
Refoulement posteriormente fala-se sobre o que satildeo as normas jus cogens e por fim a
75 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 76 Ibidem 77 Ibidem 78 Ibidem
31
responsabilidade internacional dos Estados tendo por fundamento os Draft Articles
apresentados na 53ordf sessatildeo da Comissatildeo de Direito Internacional na ONU Depois desse
desenvolvimento traz-se a ideia de o princiacutepio non-refoulement como norma jus cogens e
portanto sua violaccedilatildeo configuraria responsabilidade civil do Estado
131 Princiacutepio de Non-Refoulement
Em linhas gerais este princiacutepio do Direito Internacional da natildeo-repulsatildeo disciplina
que o refugiado natildeo pode ser devolvido ao seu paiacutes de origem enquanto perdurar a crise
Vejamos
Art 33 - Proibiccedilatildeo de expulsatildeo ou de rechaccedilo 1 Nenhum dos Estados Contratantes
expulsaraacute ou rechaccedilaraacute de maneira alguma um refugiado para as fronteiras dos
territoacuterios em que a sua vida ou a sua liberdade seja ameaccedilada em virtude da sua
raccedila da sua religiatildeo da sua nacionalidade do grupo social a que pertence ou das
suas opiniotildees poliacuteticas 2 O benefiacutecio da presente disposiccedilatildeo natildeo poderaacute todavia
ser invocado por um refugiado que por motivos seacuterios seja considerado um perigo
para a seguranccedila do paiacutes no qual ele se encontre ou que tendo sido condenado
definitivamente por crime ou delito particularmente grave constitui ameaccedila para
a comunidade do referido paiacutes79
Como visto o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo consta no artigo 33 da Convenccedilatildeo de 1951
e tambeacutem consiste em um princiacutepio do direito internacional consuetudinaacuterio assim como
afirmou a Declaraccedilatildeo Ministerial que ocorreu em 2001 Dessa forma os Estados satildeo
responsaacuteveis por suas accedilotildees tais como reagrupamentos praacuteticas de interceptaccedilatildeo rejeiccedilatildeo
na fronteira ou repulsatildeo indireta Assim discutiu-se sobre a natildeo-repulsatildeo na Comissatildeo de
Direito Internacional das Naccedilotildees Unidas que ocorreu em 31 de maio de 2001 e aprovados
pela Assembleia Geral restando claro que os Estados satildeo responsaacuteveis pelas accedilotildees de
repulsatildeo80
No mesmo sentido o artigo 3ordm da Declaraccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Asilo
Territorial tambeacutem haacute a previsatildeo do princiacutepio non-refoulement assim faz referecircncia ao
79 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951 Op
cit 80 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit
32
primeiro artigo do mesmo documento em que estabelece a possibilidade da concessatildeo de
asilo com base no artigo 14 da Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem81
A proibiccedilatildeo da natildeo-repulsatildeo deve ser aplicada de forma ampla no entanto os atos
relativos agrave rejeiccedilatildeorepulsatildeo de pessoas ocorrem geralmente nos locais de fronteiras isto eacute
distante da visatildeo puacuteblica aleacutem disso o princiacutepio em questatildeo deve ser aplicadorespeitado
inclusive em alto mar e zonas internacionais Considera-se tortura ou tratamentopuniccedilatildeo
desumana eou degradante devolver um indiviacuteduo a um lugar no qual sofre algum tipo de
perseguiccedilatildeo ou ateacute mesmo ameaccedila de perseguiccedilatildeo82 destacando que o princiacutepio da natildeo-
repulsatildeo deve ser analisado juntamente com o artigo 3ordm da CEDH
De uma forma geral natildeo haacute limitaccedilatildeo ou exceccedilatildeo a esse princiacutepio poreacutem em
situaccedilotildees de repelir um indiviacuteduo enviando-o de volta para outro local soacute eacute ldquopermitidardquo
quando houver motivos significantes que afetam a seguranccedila nacional ou a seguranccedila
puacuteblica devendo sempre ter em mente que o indiacuteviduo em hipoacutetese alguma pode ser
enviado para locais natildeo seguros ou seja que tenham seus direitos humanos violados
Apoacutes os atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos os paiacuteses ficaram
mais atentos com a seguranccedila e portanto adotaram controles mais rigorosos de fronteiras
para tentar minimizar as entradas ilegais Mas ao mesmo tempo era necessaacuterio que
garantissem agrave proteccedilatildeo daqueles que desejassem a proteccedilatildeo internacional para os
refugiados83
A amplitude deste princiacutepio abrange inclusive casos de extradiccedilatildeo assim em
situaccedilatildeo que o paiacutes de origem insista na extradiccedilatildeo de uma pessoa que cometeu crime e a
extradiccedilatildeo configurar retorno agrave situaccedilatildeo de perseguiccedilatildeo a acusaccedilatildeo e o processo devem
correr no paiacutes que concedeu o asilo Portanto a Convenccedilatildeo de 1951 natildeo se trata de um
documento para impedir extradiccedilatildeo poreacutem se o status do indiviacuteduo for de refugiado tais
obrigaccedilotildees satildeo do Estado extraditante84 ou seja o indiacuteviduo natildeo deve ser extraditado para
local onde corra o risco de ser submetido agrave tortura e nesse caso o paiacutes de asilo que deve ser
responsaacutevel pelo cumprimento da pena eou processo criminal se for o caso
81 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Declaraccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas Sobre o Asilo Territorial 1967
Disponiacutevel
httpswwwacnurorgfileadminDocumentosportuguesBD_LegalInstrumentos_InternacionaisDeclaracao
_ONU_Asilo_Territorialpdffile=fileadminDocumentosportuguesBD_LegalInstrumentos_Internacionais
Declaracao_ONU_Asilo_Territorial Acesso em 09032020 82 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 83 Ibidem 84 Ibidem
33
Nesse sentido vimos que no item 2 do artigo 33 da Convenccedilatildeo de 1951 consta uma
exceccedilatildeo ao princiacutepio do non-refoulement ou seja este princiacutepio natildeo poderia ser invocado
por um refugiado que possa configurar uma ameaccedila agrave seguranccedila do paiacutes em que estaacute ou que
tenha condenaccedilatildeo por crime ou delito grave que possa consistir em uma ameaccedila para o paiacutes
de asilo85 no entanto em caso de repulsatildeo o Estado deveraacute analisar as condiccedilotildees do paiacutes de
destino natildeo se admite que envie pessoas para locais natildeo seguros
O artigo 32 dispotildee sobre a expulsatildeo e no item 2 disciplina que a possibilidade de
expulsatildeo deve ser realizada com base no devido processo legal como segue
A expulsatildeo desse refugiado somente ocorreraacute em virtude de decisatildeo proferida
conforme o processo previsto por lei A natildeo ser que a isso se oponham razotildees
imperiosas de seguranccedila nacional o refugiado deveraacute ter permissatildeo de fornecer
provas que o justifiquem de apresentar um recurso e de se fazer representar para
esse fim perante uma autoridade competente ou perante uma ou vaacuterias pessoas
especialmente designadas pela autoridade competente86
Dessa forma menciona-se o julgamento Suresh versus Canada da Corte Superior
Canadense em 2002 em que o ACNUR argumentou que a Convenccedilatildeo de 1951 natildeo deve ser
usada para negaccedilatildeo de direitos e do direito internacional de forma geral rejeita a tortura
mesmo em situaccedilotildees de perigo para a seguranccedila nacional O entendimento da Corte era de
que enviar uma pessoa de volta ao perigo constitui em infraccedilatildeo agraves normas internacionais
Assim de acordo com a jurisprudecircncia internacional enviar algueacutem agrave tortura eacute de extrema
gravidade que de qualquer forma seraacute desproporcional agraves questotildees relativas agrave seguranccedila
nacional87
Nesse sentido a Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (CEDH) em seu artigo
3ordm disciplina a proibiccedilatildeo agrave tortura como segue ldquoNingueacutem pode ser submetido a torturas
nem a penas ou tratamentos desumanos ou degradantesrdquo88 Dessa forma um indiviacuteduo natildeo
deve ser devolvido ao seu paiacutes de origem quando houver risco de tortura tratamento
desumano ou degradante ou submetido agrave pena de morte de acordo o Protocolo nordm 6 da
CEDH89
85 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951 Op
cit 86 Ibidem 87 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 88 CONSELHO DA EUROPA Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (CEDH) Disponiacutevel em
httpswwwechrcoeintDocumentsConvention_PORpdf Acesso em 13012020 89 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit
34
A respeito do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo Bethlehem e Lauterpacht expressaram suas
opiniotildees no sentido de que este princiacutepio consiste em um princiacutepio geral do direito
internacional consuetudinaacuterio Assim considera-se que a natildeo-repulsatildeo eacute um componente
imprescindiacutevel da lei internacional consuetudinaacuteria principalmente nas questotildees
humanitaacuterias que envolvem a proibiccedilatildeo da tortura e tratamentos crueacuteis degradantes e
desumanos90
Portanto considera-se que o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo natildeo permite limitaccedilatildeo ou
exceccedilatildeo pois trata-se de um princiacutepio internacional costumeiro de direitos humanos e
considera que natildeo se deve rejeitardevolver ou expulsar algueacutem colocando em risco sua vida
e integridade fiacutesica sendo submetido agrave tortura tratamento desumano e degradante Assim
eacute atribuiacuteda ao Estado a valoraccedilatildeo da natildeo-repulsatildeo e este deve agir de acordo com as
obrigaccedilotildees internacionais tendo por base as normas a respeito da responsabilidade do Estado
Ressalta-se que haacute uma tendecircncia contra exceccedilotildees em princiacutepios baacutesicos de direitos
humanos entatildeo as exceccedilotildees devem ser interpretadas de maneira restritiva e sendo o uacuteltimo
recurso lembrando que natildeo haacute exceccedilatildeo a este princiacutepio quando desrespeitar os direitos
humanos baacutesicos dos indiviacuteduos91
Nesse aspecto tem-se que haacute colisatildeo de interesses no que tange a proteccedilatildeo dos
refugiados pois os Estados tendem a defender seu territoacuterio atraveacutes do controle de imigraccedilatildeo
ilegal Dessa forma a fiscalizaccedilatildeo nas fronteiras como por exemplo nos aeroportos os
refugiados desembarcam junto com as requisiccedilotildees de asilo e muitas vezes ocorre o reenvio
para o paiacutes de origem (para situaccedilotildees de perseguiccedilatildeo) devido o impedimento dos requerentes
de asilo acessar o processo para se enquadrar na situaccedilatildeo de refugiado e requerer tal
proteccedilatildeo92
Haacute tambeacutem a situaccedilatildeo chamada de ldquorefoulement indiretordquo que consiste na ideia de
um outro paiacutes (terceiro) acolher o requerente de asilo poreacutem essa situaccedilatildeo pode levar a
deixar os refugiados ldquoem oacuterbitardquo ou seja natildeo encontra algum Estado que admite a
competecircncia para a anaacutelise do pedido de asilo aleacutem disso pode ocorrer o envio dos
refugiados para Estados em que natildeo haacute garantias de que estes natildeo vatildeo ser reenviados para o
seu paiacutes de origem93
90 BETHLEHEM Daniel LAUTERPACHT Sir E Op cit 91 Ibidem 92 CIERCO Teresa Op cit 93 Ibidem
35
Devido agrave importacircncia desse princiacutepio mais a frente seraacute necessaacuteria uma nova
abordagem aprofundando o assunto e encaminhando para a discussatildeo referente agrave natildeo-
repulsatildeo juntamente com o direito do mar ou seja sobre as pessoas que satildeo encontradas em
perigo no mar e a proibiccedilatildeo de repulsatildeo destas
132 Normas Jus Cogens
O artigo 53 da Convenccedilatildeo de Viena sobre o Direito dos Tratados encontramos a
definiccedilatildeo de norma jus cogens
Artigo 53ordm Tratados incompatiacuteveis com uma norma imperativa de direito
internacional geral (jus cogens) Eacute nulo todo o tratado que no momento da sua
conclusatildeo seja incompatiacutevel com uma norma imperativa de direito internacional
geral Para os efeitos da presente Convenccedilatildeo uma norma imperativa de direito
internacional geral eacute uma norma aceite e reconhecida pela comunidade
internacional dos Estados no seu todo como norma cuja derrogaccedilatildeo natildeo eacute
permitida e que soacute pode ser modificada por uma nova norma de direito
internacional geral com a mesma natureza94 (grifo nosso)
O trecho destacado demonstra a relevacircncia de uma norma jus cogens para o direito
internacional tendo em vista que uma norma dessa natureza apenas poderaacute ser modificada
por outra que tenha o mesmo status ou seja somente uma norma jus cogens pode alterar
uma norma jus cogens jaacute em vigor
Aleacutem disso confirmando a supremacia das normas jus cogens o artigo 64 da
Convenccedilatildeo de Viena traz a seguinte redaccedilatildeo ldquoSuperveniecircncia de uma norma imperativa de
direito internacional geral (jus cogens) - Se sobrevier uma nova norma imperativa de direito
internacional geral qualquer tratado existente que seja incompatiacutevel com essa norma torna-
se nulo e cessa a sua vigecircnciardquo95 Assim ao surgir uma nova norma jus cogens contrariando
algum tratado este deixaraacute de ter valor
Quando falamos que uma norma jus cogens eacute imperativa estamos diante de uma
redundacircncia tendo em vista que as normas de direito internacional satildeo obrigatoacuterias por si
soacute isto eacute no que se refere agrave obrigatoriedade tem-se que eacute intriacutenseca agraves normas dessa
94 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo de Viena sobre o Direito dos Tratados Disponiacutevel
em httpgddcministeriopublicoptsitesdefaultfilesdocumentosinstrumentosrar67-2003pdf Acesso em
11092020 95 Ibidem
36
natureza Sendo assim podemos falar que uma norma jus cogens limita a liberdade dos
Estados96
Entatildeo no que se refere agraves normas jus cogens temos que
Todas essas noccedilotildees ndash direito internacional geral ou mesmo universal obrigaccedilotildees
erga omnes crimes de direito internacional ou graves violaccedilotildees de obrigaccedilotildees
essenciais uma constituiccedilatildeo para a sociedade internacional a ordem puacuteblica
internacional e de modo mais geral a questatildeo da hierarquia normativa ndash
encontram-se de algum modo conectadas a um conceito central do direito
internacional contemporacircneo o jus cogens97
As normas jus cogens portanto satildeo imperativas e inderrogaacuteveis isto eacute satildeo
obrigatoacuterias e natildeo aceitam supressatildeo ou que sejam abolidas de alguma forma Assim as
normas dessa natureza jus cogens satildeo de notaacutevel importacircncia98
No que se refere agrave hierarquia dessas normas conclui-se que elas satildeo de elevada
importacircncia e obrigatoacuterias poreacutem natildeo haacute uma ideia soacutelida sobre suas origens Haacute quem
entenda que as normas jus cogens foram originadas a partir do costume internacional99
Um sistema normativo internacional deve consistir em uma unidade portanto
uniforme Neste aspecto natildeo importa a origem ou objeto de uma norma internacional todas
satildeo colocadas em um mesmo patamar Mas essa ideia eacute ofuscada pelo conceito da teoria das
normas jus cogens bem como pela diferenciaccedilatildeo entre crimes internacionais e delitos
internacionais100
Nesse aspecto pode-se aventar a nulidade de tratados quando houver normas
contraacuterias agraves normas internacionais superiores Entatildeo tendo em vista que a teoria jus cogens
diferencia as regras gerais de direito internacional e de uma categoria especiacuteficas sendo
normas de ldquocuacutepulardquo isto eacute consistem em normas de elite no direito internacional101 Assim
um tratado pode ser anulado em casos de contradiccedilatildeo com as normas jus cogens
Assim notamos uma diferenciaccedilatildeo entre os regimes de responsabilidade
internacional A Comissatildeo de Direito Internacional trouxe a seguinte redaccedilatildeo no artigo 19
96 RODAS Joatildeo G Jus Cogens em Direito Internacional Disponiacutevel em
wwwrevistasuspbrrfdusparticleviewFile6673669346 Acesso em 11092020 97 NASSER Salem H Jus Cogens Ainda esse Desconhecido Disponiacutevel em
httpbibliotecadigitalfgvbrojsindexphprevdireitogvarticleview3523334033 Acesso em 12092020 98 Ibidem 99 Ibidem 100 WEIL Prosper Towards relative normativity in international law The American Journal of International
Law Vol 77 nordm 3 (julho de 1983) p 413 ndash 442 Disponiacutevel em
httpswwwcambridgeorgcorejournalsamerican-journal-of-international-lawarticletowards-relative-
normativity-in-international-lawD494CB41D732291285CBC9F5424FF11C Acesso em 10092020 101 Ibidem
37
dos Draft Articles ldquoThis chapter is without prejudice to the international responsibility
under other provisions of these articles of the State which commits the act in question or of
any other Staterdquo102 Nos comentaacuterios dos Draft Articles estatildeo os propoacutesitos do artigo citado
entatildeo a finalidade do artigo eacute a preservaccedilatildeo da responsabilidade do Estado que tenha
cometido ato internacionalmente iliacutecito103
Nesse sentido o entendimento de Prosper Weil eacute de que artigo citado acima tem o
intuito de diferenciar algumas obrigaccedilotildees internacionais essenciais aos interesses
fundamentais da comunidade internacional que a ocorrecircncia de violaccedilatildeo dessas obrigaccedilotildees
deve ser interpretada como um crime internacional sendo assim com gravidade maior Jaacute a
violaccedilatildeo de todas as outras obrigaccedilotildees internacionais constituiria somente em um delito
internacional Podemos entender essa ideia no trecho abaixo
Here again international norms are divided into two categories at the summit
the few that create obligations ldquothe observance of which is of fundamental
importance to the international community as a wholerdquo then below them the
great mass of norms that create obligations ldquoof lesser and less general
importancerdquo104
Assim nota-se a divisatildeo das normas internacionais as de elitecuacutepula (aquelas que a
observacircncia eacute fundamental para comunidade internacional) e as normas gerais (de menor
importacircncia)
A este respeito faz-se necessaacuterio um parecircntese o Tribunal Internacional de Justiccedila
tem o entendimento de que um Estado tem obrigaccedilotildees perante a comunidade internacional
mas o que seria essa comunidade internacional Ela eacute formada pelos Estados natildeo
necessariamente todos os Estados do mundo mas um conjunto destes para que se forme o
reconhecimento da comunidade internacional Desse ponto podemos dizer que uma norma
eacute hierarquicamente superior quando ela eacute reconhecida por todos os entes essenciais da
comunidade internacional Ou seja uma ldquosupernormardquo eacute oponiacutevel a todos os Estado105
No que se refere agrave hierarquia das normas no direito internacional o professor Jocircnatas
Machado diz
102 UNITED NATIONS Draft articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful Acts with
commentaries Disponiacutevel em httplegalunorgilctextsinstrumentsenglishcommentaries9_6_2001pdf
Acesso em 11092020 103 Ibidem 104 WEIL Prosper Op cit 105 Ibidem
38
No entanto outras linhas argumentativas apoiam-se no valor universal da
manutenccedilatildeo da paz constante na Carta da ONU chamam a atenccedilatildeo para o
desenvolvimento da ideia de ius cogens superior agrave vontade dos Estados ou mais
recentemente procuram afirmar o primado do indiviacuteduo em face da soberania
estadual106
Do exposto as normas jus cogens eacute superior agrave vontade dos Estados tendo em vista
que o indiviacuteduo eacute prevalente perante a soberania de um determinado Estado Tal fato se deve
porque essas normas satildeo ldquosuperioresrdquo com base em fundamentos de legitimidade ou seja
dignidade da pessoa humana direito justiccedila etc referem-se a valores que comunidade
internacional coloca em patamar superior ao consentimento dos Estados107
A este respeito Jocircnatas Machado entende que haacute trecircs teses na doutrina maximalistas
intermeacutedias e minimalistas As maximalistas referem-se ao direito internacional dos direitos
humanos de modo geral ou seja todas satildeo normas jus cogens as intermeacutedias consistem num
niacutevel intermediaacuterio e dispotildeem que apenas o nuacutecleo essencial dos direitos humanos eacute
considerado jus cogens e a tese minimalista dispotildee que se trata de jus cogens se a violaccedilatildeo
das normas de direitos humanos consistirem em um crime internacional108
Do exposto acima podemos entender que as normas jus cogens consistem em normas
imperativas no direito internacional sendo portanto obrigaccedilotildees erga omnes Entatildeo natildeo haacute
rol taxativo de quais satildeo essas normas no entanto podemos dizer que se a violaccedilatildeo de uma
norma internacional configurar um crime internacional ou seja pirataria escravidatildeo
genociacutedio crimes de guerra e os crimes contra a humanidade essa violaccedilatildeo consiste em
violaccedilatildeo de uma norma jus cogens Assim de uma forma gera podemos dizer que a proteccedilatildeo
dos direitos fundamentais refere-se agraves normas jus cogens109
133 Responsabilidade Internacional dos Estados
O conceito de responsabilidade internacional dos Estados se baseia nos conceitos de
soberania internacional e capacidade juriacutedica internacional Ademais a ideia de
responsabilidade internacional do Estado consiste em uma garantia da legalidade
106 MACHADO Joacutenatas E M Direito Internacional 4ordf ediccedilatildeo Coimbra Coimbra Editora 2013 p 141 107 Ibidem 108 Ibidem 109 Ibidem
39
internacional isto eacute no que se refere agrave violaccedilatildeo de bens que satildeo internacionalmente
protegidos que essa garantia eacute necessaacuteria para promoccedilatildeo da proteccedilatildeo de direitos110
Tem-se que a responsabilidade internacional deve se basear nos princiacutepios da
igualdade e da reciprocidade de direitos e deveres A este respeito o Professor Joacutenatas
Machado diz
Podem incorrer em responsabilidade internacional quaisquer sujeitos de direito
internacional por danos causados a qualquer sujeito de direito internacional ou agrave
comunidade internacional globalmente considerada A responsabilidade dos
Estados eacute apenas um subtema da responsabilidade internacional em geral111
O Professor Francisco Ferreira de Almeida em um primeiro momento diferencia
normas primaacuterias e secundaacuterias entatildeo as primaacuterias satildeo ldquoobrigaccedilotildees de conduta para os
destinataacuteriosrdquo e as secundaacuterias ldquofixar as particulares consequecircncias juriacutedicas que se ligam agrave
violaccedilatildeo das normas primaacuteriasrdquo Entatildeo podemos afirmar que haacute normas de condutas a serem
seguidas sendo portanto normas primaacuterias no entanto na situaccedilatildeo de violaccedilatildeo destas
falamos das sanccedilotildees que consistem nas normas secundaacuterias112
Assim no que tange agrave responsabilidade internacional do Estado por atos iliacutecitos
devemos ter em mente em um primeiro momento sobre o que seria um ato
internacionalmente iliacutecito que resulta na responsabilidade internacional subjetiva Entatildeo
entende-se como ato iliacutecito uma accedilatildeo ou omissatildeo que infrinja uma obrigaccedilatildeo
internacional113
Complementando a ideia o Professor Francisco Ferreira de Almeida dispotildee
Daqui resulta pois ser necessaacuterio em segundo lugar demonstrar o nexo de
imputaccedilatildeo do referido facto iliacutecito ao Estado Isto eacute o comportamento em causa
deveraacute ser atribuiacutedo ao Estado por haver sido adoptado por pessoas ou oacutergatildeos que
o representam e estatildeo por consequecircncia sob sua autoridade efectiva Pouco
importam aliaacutes a natureza (individual ou colectiva centralizada ou
descentralizada etc) desses oacutergatildeos e bem assim o caraacuteter (vg legislativo
judicial ou executivo) das funccedilotildees ou actividades do agente ou agentes
infractores114
110 MACHADO Joacutenatas E M Direito Internacional Op cit 111 Ibidem p 630 112 ALMEIDA Francisco F Direito Internacional Puacuteblico 2ordf ediccedilatildeo Coimbra Coimbra Editora 2003 p 226 113 Ibidem 114 Ibidem p 226227
40
Diante disto nota-se que o Estado tem responsabilidade pelos atos praticados pelos
seus oacutergatildeos ou agentes que estejam sob sua supervisatildeo Ademais eacute necessaacuteria a ocorrecircncia
de danos para que um Estado seja responsaacutevel internacionalmente natildeo importando se os
danos causados satildeo morais ou materiais necessaacuterio apenas a ocorrecircncia Portanto exige-se
o nexo causal entre a accedilatildeo do Estado e o dano causado115
No que se refere agrave responsabilidade do Estado Pinto de Albuquerque ex-juiz do
TEDH leciona que a jurisdiccedilatildeo do Estado no que tange imigraccedilatildeo e controle de fronteiras
implica que em caso de quaisquer violaccedilotildees dos direitos humanos haacute a responsabilidade do
Estado durante o referido controle e mencionou a Resoluccedilatildeo 5683 de 2001 sobre a
Responsabilidade do Estado por Atos Internacionalmente Iliacutecitos116
Assim o artigo 8ordm da referida Resoluccedilatildeo visa que o Estado eacute responsaacutevel pela conduta
dos seus agentes pois agem sob suas instruccedilotildees Como segue ldquoThe conduct of a person or
group of persons shall be considered an act of a State under international law if the person
or group of persons is in fact acting on the instructions of or under the direction or control
of that State in carrying out the conductrdquo117
No mesmo sentido poreacutem em situaccedilatildeo de Estados auxiliando outro o artigo 16 do
mesmo documento traz a seguinte redaccedilatildeo
A State which aids or assists another State in the commission of an internationally
wrongful act by the latter is internationally responsible for doing so if (a) that
State does so with knowledge of the circumstances of the internationally wrongful
act and (b) the act would be internationally wrongful if committed by that State118
Portanto um Estado que age em assistecircncia a outro e comete algum ato
internacionalmente iliacutecito o Estado que recebe a assistecircncia eacute responsaacutevel tambeacutem se souber
da ilicitude do ato e o ato ser cometido pelo Estado em questatildeo No que se refere agrave
responsabilidade do Estado esse artigo traz a ideia de um Estado auxiliar ser responsaacutevel
por atos iliacutecitos de outro Estado ou seja uma situaccedilatildeo de cumplicidade entre os estados
Assim nos comentaacuterios dos Drafts Articles tem-se a suposiccedilatildeo de que o Estado auxiliar
tenha uma importante participaccedilatildeo no ato neste aspecto o fornecimento de auxiacutelio
115 ALMEIDA Francisco F Direito Internacional Puacuteblico Op cit 116 EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Hirsi Jamaa and others v Italy Application no
2776509 Disponiacutevel em httphudocechrcoeintspai=001-109231 Acesso em 16092020 117 UNITED NATIONS Draft articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful Acts with
commentaries Op cit 118 Ibidem
41
financeiro e teacutecnico por um Estado pode ser considerada uma importante contribuiccedilatildeo para
o ato Ou seja no uacuteltimo capiacutetulo veremos entre outros casos algumas situaccedilotildees a respeito
da situaccedilatildeo entre Itaacutelia e Liacutebia e portanto analisando a responsabilidade da Itaacutelia perante as
repulsotildees realizadas pela Guarda Costeira Liacutebia sob subsiacutedios italianos
O artigo 16 mencionado acima traz dois requisitos para ser configurada a
responsabilidade do Estado auxiliar o primeiro eacute a ldquoconsciecircnciardquo da ilicitude do ato pelo
Estado auxiliar o segundo eacute que a conduta iliacutecita deve ser considerada violaccedilatildeo para os dois
paiacuteses Entatildeo uma violaccedilatildeo dos direitos humanos a proibiccedilatildeo da tortura por exemplo eacute
uma norma consuetudinaacuteria e portanto a conduta eacute iliacutecita para todos os Estados
Na mesma linha de raciociacutenio o artigo 41 nordm 2 dos Drafts Articles traz que ldquoNo
State shall recognize as lawful a situation created by a serious breach within the meaning
of article 40 nor render aid or assistance in maintaining that situationrdquo ou seja nenhum
Estado pode reconhecer como conduta legal uma grave violaccedilatildeo e tambeacutem natildeo deve prestar
auxiacutelio para manter a situaccedilatildeo gravosa119
A atenccedilatildeo referente agrave responsabilidade internacional do Estado ganhou espaccedilo a
depois do ano de 1956 momento em que a Comissatildeo de Direito Internacional (CDI) da ONU
voltou seus olhares agrave responsabilidade internacional do Estado perante aos cidadatildeos Neste
aspecto a questatildeo era se a responsabilidade internacional do Estado consistia ldquoapenas
civilmente por delitos internacionais civilmente para crimes internacionais ou
criminalmente para crimes internacionaisrdquo120
Destarte em 2001 a 53ordf sessatildeo da Comissatildeo de Direito Internacional da ONU previu
artigos a respeito da responsabilidade do Estado por atos iliacutecitos internacionais121 Entatildeo no
segundo artigo do documento originado desta sessatildeo encontramos o seguinte
Article 2 Elements of an internationally wrongful act of a State
There is an internationally wrongful act of a State when conduct consisting of an
action or omission (a) is attributable to the State under international law and
(b) constitutes a breach of an international obligation of the State122
119 UNITED NATIONS Draft articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful Acts with
commentaries Op cit 120 MACHADO Joacutenatas E M Direito Internacional Op cit p 633 121 Ibidem 122 UNITED NATIONS Draft articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful Acts with
commentaries Op cit
42
Do artigo acima um ato internacionalmente iliacutecito quando praticado por um Estado
tem duas formas de ser cometido por accedilatildeo ou omissatildeo ou seja quando se refere agrave situaccedilotildees
atribuiacutedas ao Estado pela lei internacional ou quando houver uma violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees
internacionais pelo Estado Veremos entatildeo mais adiante que a questatildeo de natildeo resgate no
mar das pessoas em agonia pode consistir em um ato iliacutecito do Estado caso este natildeo preste
socorro agraves viacutetimas
A previsatildeo no Customary International Humanitarian Law na regra nuacutemero 150
encontramos a seguinte redaccedilatildeo ldquoA State responsible for violations of international
humanitarian law is required to make full reparation for the loss or injury causedrdquo123
portanto o mencionado documento dispotildee que reparar o dano causado eacute uma regra antiga
no direito internacional consuetudinaacuterio
No mesmo sentido o artigo 91 do Protocolo Adicional I agrave Convenccedilatildeo de Genebra124
de 1949 dispotildee sobre a responsabilidade do Estado disciplinando no sentido de que um
Estado que infringir o previsto na Convenccedilatildeo tem o dever de compensar os danos causados
Como podemos confirmar no seguinte trecho ldquoA Party to the conflict which violates the
provisions of the Conventions or of this Protocol shall if the case demands be liable to pay
compensation It shall be responsible for all acts committed by persons forming part of its
armed forcesrdquo125
Portanto um Estado ao violar o direito humanitaacuterio tem o dever de indenizar
Ademais nos dispositivos a respeito da responsabilidade do Estado consta que a restituiccedilatildeo
se trata de um princiacutepio legal mas nem sempre eacute possiacutevel ou adequado ao caso a este
respeito entende-se que o papel da compensaccedilatildeo eacute o preenchimento das lacunas a fim de
assegurar a reparaccedilatildeo integral dos danos causados Assim a obrigaccedilatildeo de compensar os
danos causados por violaccedilatildeo ao direito internacional humanitaacuterio foi ratificada por diversos
diplomas oficiais bem como pelo Conselho de Seguranccedila da ONU126 No entanto sabe-se
123 INTERNATIONAL COMMITTEE OF THE RED CROSS Customary International Humanitarian Law ndash
Volume I Rules Disponiacutevel httpswwwicrcorgendocassetsfilesothercustomary-international-
humanitarian-law-i-icrc-engpdf Acesso em 11092020 124 A Convenccedilatildeo de Genebra de 1949 levou em consideraccedilatildeo os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial
abordando a proteccedilatildeo geral das populaccedilotildees contra certas consequecircncias da guerra 125 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Protocolo Adicional I da Convenccedilatildeo de Genebra de 1949
Disponiacutevel em httpsihl-
databasesicrcorgapplicihlihlnsfArticlexspaction=openDocumentampdocumentId=F461FC196C18A52D
C12563CD0051E2AC Acesso em 11092020 126 INTERNATIONAL COMMITTEE OF THE RED CROSS Customary International Humanitarian Law ndash
Volume I Rules Op cit
43
que dependendo da gravidade do dano moral causado natildeo importa o valor da indenizaccedilatildeo
pois muitas vezes satildeo danos de impossiacutevel reparaccedilatildeo poreacutem o um valor indenizatoacuterio justo
pode fazer com que o sofrimento seja amenizado
134 Teorias a Respeito da Responsabilidade Internacional dos Estados
Nesse aspecto o Professor Jocircnatas Machado dispotildee a respeito de diversas teorias a
respeito da responsabilidade internacional do Estado quais sejam tese da responsabilidade
sui generis tese dos iliacutecitos excepcionalmente graves tese dos crimes de Estado e tese dos
crimes e delitos
A primeira traz posicionamento contraacuterio ao entendimento de que o Estado possa
cometer um ldquocrime internacionalrdquo porque o cometimento de crime seria apenas
responsabilidade de indiviacuteduos e natildeo de um Estado entatildeo esta teoria leva em conta quais
normas foram violadas e verificar os pontos de vista a respeito da responsabilidade do Estado
e encontrar a melhor soluccedilatildeo natildeo devendo portanto ultrapassar os limites de
responsabilidade civil ou criminal consistindo em uma responsabilidade sui generis127
A tese dos iliacutecitos excepcionalmente graves segue no mesmo sentido da ideia da
teoria anterior mas entende ser correta a expressatildeo ldquoatos iliacutecitos excepcionalmente gravesrdquo
a fim de natildeo diferenciar ldquodelitosrdquo e ldquocrimesrdquo Entatildeo esta teoria entende que o Estado pode
cometer uma grave violaccedilatildeo de obrigaccedilatildeo internacional e a responsabilidade natildeo
necessariamente seraacute criminal entatildeo pode consistir em uma responsabilidade internacional
civil compensatoacuteriareparatoacuteria poreacutem ressalta-se que natildeo se deve excluir uma
responsabilidade sancionatoacuteriapunitiva eacute por este motivo que se fala a respeito do caraacuteter
sui generis da responsabilidade internacional dos Estados128
A tese dos crimes de Estado dispotildee que atos iliacutecitos excepcionalmente graves satildeo
ldquocrimes internacionaisrdquo mas ditos de forma diferente e entatildeo chega-se agrave ideia de crimes de
Estado e igualmente de caraacuteter sui generis tendo em vista que natildeo haacute a necessidade de ter
o mesmo procedimento que o direito penal nacional Assim destaca-se as sanccedilotildees que o
Conselho de Seguranccedila da ONU impocircs agrave Liacutebia por atos terroristas neste caso portanto haacute
uma responsabilidade sancionatoacuteria129
127 MACHADO Joacutenatas E M Direito Internacional Op cit 128 Ibidem 129 Ibidem
44
Por fim a teoria dos crimes e delitos ressalta a importacircncia da diferenciaccedilatildeo dos dois
conceitos Assim o mais importante eacute a ideia de crime por consistir em ldquocondutas violentas
que suscitem a reprovaccedilatildeo da opiniatildeo puacuteblica mundialrdquo130 Sobre o assunto o Professor
Jocircnatas Machado diz
Aleacutem disso certas condutas qualificadas pelo direito internacional como crimes
contra a humanidade crimes de guerra e crimes contra a paz transcendem
largamente a vontade dos indiviacuteduos que os cometem tendo por detraacutes uma
orientaccedilatildeo poliacutetica estadual pelo que seria iloacutegico reduzi-los agrave expressatildeo de meros
crimes individuais prescindindo da responsabilizaccedilatildeo dos Estados131
Diante do que foi mencionado destaca-se a relativizaccedilatildeo da soberania do Estado no
direito internacional que tem por base a ideia de ldquocrimes internacionaisrdquo132 Assim levando
em conta a existecircncia dos ldquocrimes de Estadordquo eacute necessaacuterio a existecircncia de oacutergatildeos e
procedimentos para fins de investigaccedilatildeo destas condutas bem como consequecircncias juriacutedicas
como
()imposiccedilatildeo de multas lsquoindemnizaccedilotildees punitivasrsquo (punitive damages) a
adopccedilatildeo de contra-medidas a absoluta proibiccedilatildeo de quaisquer efeitos juriacutedicos aos
crimes a privaccedilatildeo da imunidade estadual aos titulares dos oacutergatildeos de soberania e
outras medidas da mais diversa natureza susceptiacuteveis de afectar a dignidade de o
Estado criminoso133
Entatildeo a respeito dessa uacuteltima teoria nota-se uma maior responsabilizaccedilatildeo ao Estado
infrator tendo por base a ideia deste como um sujeito no direito internacional com
capacidade de cometer crimes ou seja os chamados ldquocrimes de Estadordquo Portanto podem
ser impostas medidas sancionatoacuterias ao Estado infrator sendo reduzida a sua soberania a fim
de imposiccedilotildees de sanccedilotildees
135 Imputabilidade dos Estados
Ao falar da imputabilidade dos Estados refere-se agrave ideia de um Estado praticar atos
iliacutecitos internacionais atraveacutes dos seus poderes (legislativo executivo e judiciaacuterio) das
forccedilas armadas ou por qualquer outro oacutergatildeoentidade considerada de direito puacuteblico134
130 MACHADO Joacutenatas E M Direito Internacional Op cit p 636 131 Ibidem p 636 132 Ibidem 133 Ibidem p 636637 134 Ibidem
45
Entatildeo a imputabilidade de atos iliacutecitos a um Estado ocorre quando seus agentes ultrapassam
os limites dos poderes que lhe foram dados e que pode incorrer em casos omissivos ou
comissivos conforme vimos acima a previsatildeo nos Drafts Articles
Podemos entatildeo depreender que o Estado agindo de forma omissa nos casos de
proteccedilatildeo aos direitos humanos faz com que o Estado tenha responsabilidade pelos danos
causados por essa omissatildeo pois consiste em natildeo-vigilacircncia de um direito de proteccedilatildeo
Ademais ao natildeo cumprir com uma obrigaccedilatildeo internacional tambeacutem se imputa a um
determinado Estado de forma objetiva135
Na visatildeo de Canccedilado Trindade juiz do Tribunal Internacional de Justiccedila na
ocorrecircncia de grave violaccedilatildeo de direitos humanos pouco importa a diferenciaccedilatildeo de jure
imperii (atos cometidos pelo proacuteprio governo) e jure gestionis (atos praticados por entes
privados com aquiescecircncia do Estado) Para o magistrado tal classificaccedilatildeo natildeo tem
importacircncia devido a gravidade dos atos e portanto o Estado deve ser responsabilizado136
136 Violaccedilatildeo de uma Obrigaccedilatildeo Internacional
A respeito da violaccedilatildeo de uma obrigaccedilatildeo internacional dois pontos devem ser
analisados sobre qual a forma de violaccedilatildeo ocorreu ou seja se foi violaccedilatildeo de obrigaccedilotildees
entre Estados atraveacutes de tratados e obrigaccedilotildees dos Estados perante a comunidade
internacional Assim o primeiro ponto referente a obrigaccedilotildees inter partes refere-se a
descumprimentos de tratados bilaterais ou multilaterais jaacute o segundo ponto eacute referente agrave
proteccedilatildeo de um interesse coletivo acordado em tratados multilaterais abertos137
No entanto quanto agraves obrigaccedilotildees dos Estados perante a comunidade internacional
sendo estas obrigaccedilotildees erga omnes fundamento eacute o interesse puacuteblico comunitaacuterio
internacional138
Acima jaacute explicamos que a Comissatildeo de Direito Internacional rejeitou os termos
ldquocrimes internacionaisrdquo ldquocrimes de Estadordquo e inclusive ldquoiliacutecito excepcionalmente graverdquo
Nesse sentido chegaram ao termo ldquoviolaccedilotildees graves de obrigaccedilotildees internacionaisrdquo ou seja
135 MACHADO Joacutenatas E M Direito Internacional Op cit 136 INTERNATIONAL COURT OF JUSTICE Jurisdictional Immunities of the State (Germany v Italy
Greece intervening) General List Nordm 143 Disponiacutevel em httpswwwicj-cijorgencase143 Acesso em
11092020 137 MACHADO Joacutenatas E M Direito Internacional Op cit 138 Ibidem
46
os serious breach Entatildeo satildeo consideradas violaccedilotildees graves quando se tratar de violaccedilotildees
de normas jus cogens pois consistem em normas imperativas de direito internacional
137 Princiacutepio Non-Refoulement como Norma Jus Cogens
Como exposto anteriormente o princiacutepio do non-refoulement eacute de extrema
importacircncia na proteccedilatildeo internacional dos refugiados previsto no artigo 33 da Convenccedilatildeo
de 1951 Dessa forma seraacute demonstrado a seguir que o referido princiacutepio consiste em norma
jus cogens do Direito Internacional sendo portanto uma norma de elite natildeo aceitando
qualquer transgressatildeo independentemente se for unilateral bilateral ou multilateral Vimos
que ao se afirmar que determinada regra tem natureza de jus cogens os Estados estatildeo
proibidos de violar essa norma Entatildeo caracterizar o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo como norma
desta natureza configura um poderoso instrumento a fim de salvaguardar a proteccedilatildeo dos
refugiados
Aleacutem da Convenccedilatildeo de 1951 outros tratados de direitos humanos como a
Convenccedilatildeo Contra a Tortura de 1984 que em seu artigo terceiro nordm1 traz a proibiccedilatildeo de
enviar uma pessoa de volta a um paiacutes em que seraacute submetido agrave tortura como segue
ldquoNenhum Estado Parte procederaacute agrave expulsatildeo devoluccedilatildeo ou extradiccedilatildeo de uma pessoa para
outro Estado quando houver razotildees substanciais para crer que a mesma corre perigo de ali
ser submetida agrave torturardquo139
Neste aspecto destaca-se o ponto de que a Convenccedilatildeo Contra a Tortura mencionada
acima eacute mais ampla que a Convenccedilatildeo de 1951 tendo em vista que a primeira natildeo comporta
nenhuma exceccedilatildeo ou seja ningueacutem deveraacute ser enviado para algum local onde seraacute
submetido agrave tortura e a segunda traz consigo algumas exceccedilotildees140 Tal fato demonstra que
o princiacutepio do non-refoulement eacute absoluto natildeo comportando nenhuma violaccedilatildeo quando
analisado agrave luz da Convenccedilatildeo Contra a Tortura Ambas Convenccedilotildees satildeo documentos que
referem-se agrave proteccedilatildeo dos indiviacuteduos bem como proteccedilatildeo da vida assim ainda que a
Convenccedilatildeo de 1951 tenha previsto exceccedilotildees ao princiacutepio em questatildeo se um Estado
139 NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Crueacuteis Desumanos ou
Degradantes 1984 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto1990-1994D0040htm
Acesso em 12092020 140 PAULA Bruna V O Princiacutepio do Non-Refoulement sua Natureza Jus Cogens e a Proteccedilatildeo Internacional
dos Refugiados 2006 Disponiacutevel em httpsrevistaibdhorgbrindexphpibdhissueview14 Acesso em
12092020
47
promover a devoluccedilatildeo de algueacutem para lugar onde poderaacute ser submetido agrave tortura e
consequentemente ter sua vida em risco estaraacute violando a Convenccedilatildeo Contra a Tortura
Portanto apesar das exceccedilotildees previstas na Convenccedilatildeo de 1951 elas natildeo podem ser aplicadas
sob pena de violaccedilatildeo do artigo 3ordm nordm1 da Convenccedilatildeo Contra a Tortura
Dessa forma a Convenccedilatildeo de 1951 natildeo deve ser interpretada de forma isolada mas
deve ter por base os tratados de direitos humanos que complementam a garantia de proteccedilatildeo
agravequeles que necessitam ser protegidos A interpretaccedilatildeo portanto deve ser entendida dentro
do complexo juriacutedico (tratados e jurisprudecircncias)141
Ademais como jaacute visto anteriormente uma norma para ter a natureza de jus cogens
precisa cumprir dois requisitos previstos no artigo 53 da Convenccedilatildeo de Viena como segue
ldquo()uma norma aceite e reconhecida pela comunidade internacional dos Estados no seu todo
como norma cuja derrogaccedilatildeo natildeo eacute permitida ()142rdquo Portanto os dois pontos para uma
norma ser considerada jus cogens consistem em ser aceita pela comunidade internacional e
natildeo admitir derrogaccedilatildeo
Assim no que se refere ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo temos que tal princiacutepio eacute
reconhecido e aceite no todo pela comunidade internacional dos Estados pois estaacute prevista
na Convenccedilatildeo de 1951 bem como em outros tratados de direitos humanos como por
exemplo Convenccedilatildeo Contra a Tortura de 1984 jaacute mencionada anteriormente Convenccedilatildeo
Sobre os Refugiados da OUA de 1969 Convenccedilatildeo Americana Sobre os Direitos Humanos
de 1969 entre outras portanto o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo deve ser visto como uma garantia
fundamental ao refugiado pois assegura seus direitos miacutenimos como a natildeo tortura e a vida
No que tange a derrogaccedilatildeo agrave proacutepria Convenccedilatildeo de 1951 traz no artigo 42 nordm1 que
os artigos admitem reservas com exceccedilatildeo de alguns sendo que o artigo 33 referente ao
princiacutepio da natildeo-repulsatildeo natildeo admite reservas Vejamos ldquoArt 42 - Reservas 1 No momento
da assinatura da ratificaccedilatildeo ou da adesatildeo qualquer Estado poderaacute formular reservas aos
artigos da Convenccedilatildeo outros que natildeo os arts 1ordm 3ordm 4ordm 16 (1) 33 36 a 46 inclusiverdquo143 o
mesmo dispotildee o artigo 7 nordm1 do Protocolo de 1967 No mesmo sentido a interpretaccedilatildeo
conjunta do artigo 3ordm nordm1 e o artigo 2ordm nordm 2 ambos da Convenccedilatildeo Sobre a Tortura de 1984
podemos depreender que o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo previsto no artigo 3ordm natildeo pode ser
derrogado pois no artigo 2ordm dispotildee que ldquoEm nenhum caso poderatildeo invocar-se circunstacircncias
141 PAULA Bruna V Op cit 142 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo de Viena sobre o Direito dos Tratados Op cit 143 Ibidem
48
excepcionais tais como ameaccedila ou estado de guerra instabilidade poliacutetica interna ou
qualquer outra emergecircncia puacuteblica como justificaccedilatildeo para torturardquo144 No entanto mesmo se
pairasse alguma duacutevida sobre a natildeo-derrogabilidade do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo a
Resoluccedilatildeo 52132 das Naccedilotildees Unidas traz expressamente ldquo() and recalling that the
principle of non-refoulement is not subject to derogation145rdquo
Nesse prisma podemos afirmar que o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo consiste em uma
norma de natureza jus cogens e por este motivo eacute uma norma superior devendo ser
obedecida pelos Estados e em caso de violaccedilatildeo o Estado violador deveraacute ser
responsabilizado
144 NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Crueacuteis Desumanos ou
Degradantes 1984 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto1990-1994D0040htm
Acesso em 12092020 145 GENERAL ASSEMBLY UNITED NATIONS Resolution Adopted by the General Assembly ndash Resolution
52132 Human rights and mass exoduses 1998 Disponiacutevel em httpsundocsorgenARES52132 Acesso
em 12092020
49
CAPIacuteTULO 2
O ASILO NA ORDEM JURIacuteDICA EUROPEIA E NACIONAIS
Este capiacutetulo eacute destinado ao estudo da legislaccedilatildeo europeia a respeito do procedimento
de asilo bem como de legislaccedilotildees a respeito de alguns Estados europeus como Itaacutelia
Portugal Greacutecia Malta Espanha Franccedila e Alemanha Para isso em um primeiro momento
seraacute feita a anaacutelise do instituto de asilo para posteriormente analisar a ordem juriacutedica
internacional europeia e nacionais sobre o assunto
Assim foi a partir do seacuteculo XX que o fluxo de refugiados na Europa intensificou
ocasionado por vaacuterios fatos como por exemplo o fim dos impeacuterios russo e otomano a
ascensatildeo dos governos totalitaristas o comunismo que foi ressaltado no leste europeu apoacutes
a Segunda Guerra Mundial e mais recentemente a Primavera Aacuterabe146 Dessa forma passa-
se a analisar o instituto do asilo
21 O Asilo Aspectos Gerais
Inicialmente destaca-se que o instituto do asilo estaacute previsto no Tratado de Lisboa
no artigo 3ordm como segue
A Uniatildeo proporciona aos seus cidadatildeos um espaccedilo de liberdade
seguranccedila e justiccedila sem fronteiras internas em que seja assegurada a livre
circulaccedilatildeo de pessoas em conjugaccedilatildeo com medidas adequadas em
mateacuteria de controlos na fronteira externa de asilo e imigraccedilatildeo bem
como de prevenccedilatildeo da criminalidade e combate a este fenoacutemeno147
Assim logo no iniacutecio do Tratado percebemos que a questatildeo do asilo e imigraccedilatildeo eacute
assunto importante para a Uniatildeo Europeia e que por isso deve haver medidas adequadas a
este respeito bem como assuntos de controle das fronteiras portanto eacute niacutetido o destaque
que a soberania de um paiacutes tem a respeito da questatildeo do asilo assunto que seraacute abordado
adiante
146 CIERCO Teresa Op cit 147 UNIAtildeO EUROPEIA Tratado de Lisboa Disponiacutevel em
httpswwwparlamentopteuropaDocumentsTratado_Versao_Consolidadapdf Acesso em 31032020
50
A respeito da conceitualizaccedilatildeo do asilo Teresa Cierco dispotildee ldquoO asilo consiste numa
praacutetica antiga de concessatildeo de protecccedilatildeo a algueacutem em perigo () Asilo eacute o que o refugiado
procura quando sente que a sua vida ou liberdade estatildeo ameaccediladas no seu paiacutes de origemrdquo148
portanto trata-se de uma proteccedilatildeo concedida a estrangeiro em determinado Estado Assim
a referida proteccedilatildeo tem o objetivo de promover a seguranccedila do indiviacuteduo sendo esta um
direito fundamental previsto na Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem de 1948149
Haacute tambeacutem a Declaraccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre Asilo Territorial que no artigo 1ordm
nordm 1 traz a seguinte disposiccedilatildeo ldquoO asilo concedido por um Estado no exerciacutecio da sua
soberania a pessoas que tenham justificaccedilatildeo para invocar o artigo 14ordm da Declaraccedilatildeo
Universal dos Direitos do Homem ()rdquo150 Portanto o referido dispositivo traz que questatildeo
de conceder asilo estaacute inserida na questatildeo da soberania estatal tendo por base o direito de
asilo previsto na Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem
A professora Teresa Cierco chama a atenccedilatildeo no sentido de que aleacutem da Convenccedilatildeo
de 1951 a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem de 1948 tambeacutem merece destaque
nas questotildees atinentes agrave questatildeo do asilo pois em seu artigo 3ordm dispotildee ldquoTodo ser humano
tem direito agrave vida agrave liberdade e agrave seguranccedila pessoalrdquo e aleacutem deste os artigos 13 e 14 nos
quais dispotildeem a respeito agrave liberdade de locomoccedilatildeo bem como o direito de asilo
respectivamente151
Assim chama-se a atenccedilatildeo para a redaccedilatildeo do artigo 14 da Declaraccedilatildeo Universal dos
Direitos do Homem como segue
1 Todo ser humano viacutetima de perseguiccedilatildeo tem o direito de procurar e de gozar
asilo em outros paiacuteses
2 Este direito natildeo pode ser invocado em caso de perseguiccedilatildeo legitimamente
motivada por crimes de direito comum ou por atos contraacuterios aos objetivos e
princiacutepios das Naccedilotildees Unidas152
No mencionado dispositivo percebemos que no nordm 1 nada mais eacute que uma alusatildeo ao
conceito de refugiado ou seja a pessoa viacutetima de perseguiccedilatildeo tem o direito de procurar asilo
148 CIERCO Teresa Op cit p15 149 Ibidem 150 NACcedilOtildeES UNIDAS Declaraccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas Sobre o Asilo Territorial 1967 Disponiacutevel
httpswwwacnurorgfileadminDocumentosportuguesBD_LegalInstrumentos_InternacionaisDeclaracao
_ONU_Asilo_Territorialpdffile=fileadminDocumentosportuguesBD_LegalInstrumentos_Internacionais
Declaracao_ONU_Asilo_Territorial Acesso em 09032020 151 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem 1948
Disponiacutevel em httpsnacoesunidasorgwp-contentuploads201810DUDHpdf Acesso em 05032020 152 Ibidem
51
e ter uma vida digna ressalta-se poreacutem que no nordm2 haacute uma exceccedilatildeo agrave concessatildeo de asilo
isto eacute pessoas que cometeram crimes de direito comum ou que praticaram atos contraacuterios
aos princiacutepios e ideais das Naccedilotildees Unidas em teoria natildeo poderiam invocar direito de asilo
No entanto vimos que o indiviacuteduo natildeo deve requerer asilo a fim de se livrar das penalidades
impostas devido ao cometimento de crimes mas caso a pessoa corra o risco de ter seus
direitos humanos baacutesicos violados ela poderaacute cumprir a pena no local de asilo
No que tange a Convenccedilatildeo de 1951 quando um indiviacuteduo eacute reconhecido como
refugiado haacute o direito de asilo ou seja esse instituto consiste na proteccedilatildeo do indiviacuteduo tanto
na questatildeo da seguranccedila fiacutesica como tambeacutem engloba o direito de natildeo ser enviado de volta
ao paiacutes que o perseguia e tambeacutem ter agrave sua disposiccedilatildeo assistecircncia na soluccedilatildeo de problemas
referentes a sua inserccedilatildeo no novo paiacutes153
O real intuito da Convenccedilatildeo natildeo eacute instituir o direito de asilo apesar de ter esse efeito
uma vez que a pessoa adquire o status de refugiado ela possui o direito de receber o
benefiacutecio de asilo poreacutem as normas da concessatildeo do asilo ficam a criteacuterio de cada Estado
Neste aspecto cita-se como instrumentos limitadores do Estado o princiacutepio da natildeo repulsatildeo
e natildeo expulsatildeo como jaacute vimos anteriormente bem como a limitaccedilatildeo das sanccedilotildees penais
para quem entrar de forma ilegal no paiacutes154
Assim entende-se que o direito de asilo consiste em um direito que se submete agrave
soberania de cada paiacutes ou seja cada paiacutes tem a sua normatizaccedilatildeo a respeito do asilo que
deve ser seguida portanto tendo caraacuteter poliacutetico mas aleacutem de um direito poliacutetico consiste
em um direito cultural pressupondo um elo de normas entre as democracias e a
universalidade dos direitos humanos Portanto o asilo depende dos interesses de cada paiacutes
mas tambeacutem haacute o lado solidaacuterio dos Estados em socorrer as pessoas que necessitam de
proteccedilatildeo155 Diz-se portanto que os Estados possuem o poder soberano de disciplinar as
regras a respeito do asilo mas sendo limitado pelos direitos humanos
Cita-se tambeacutem a CAS ou seja Convenccedilatildeo de Aplicaccedilatildeo do Acordo de Schengen
elaborada no ano de 1985 que traz os conceitos de ldquopedido de asilordquo ldquorequerente de asilordquo
e ldquotratamento de um pedido de asilordquo Assim o primeiro consiste em qualquer pedido
apresentado por estrangeiro que esteja na fronteira externa ou no territoacuterio de uma parte
contratante podendo o pedido ser feito oralmente escrito ou qualquer outra forma e que
153 CIERCO Teresa Op cit 154 Ibidem 155 Ibidem
52
tenha intuito de que se reconheccedila a condiccedilatildeo de refugiado do requerente a fim de se obter a
autorizaccedilatildeo de residecircncia ressalta-se que se deve ter como base a Convenccedilatildeo de Genebra
1951 e o Protocolo de 1967 no que se refere ao segundo conceito consiste no estrangeiro
que requereu asilo nas condiccedilotildees previstas na CAS e ainda natildeo teve decisatildeo e por fim
entende-se por tratamento de um pedido de asilo os atos realizados durante o procedimento
ou seja os atos de anaacutelise e decisatildeo bem como as medidas a serem aplicadas156
211 O Asilo e a Soberania do Estado
Antes de analisar a questatildeo da soberania propriamente dita eacute necessaacuterio entender a
ideia de ldquoterritoacuteriordquo ou seja trata-se de um elemento fundamental do Estado sendo
constituiacutedo por partes continentais delimitado pelas suas fronteiras bem como o territoacuterio
mariacutetimo (composto pelas aacuteguas interiores arquipelaacutegicas e o mar territorial)157
Assim a questatildeo do asilo esbarra num dos pontos mais importantes do Direito
Internacional Puacuteblico que eacute a soberania do Estado e dentro deste conceito inclui o controle
de entrada saiacuteda e permanecircncia no territoacuterio de um determinado paiacutes Nesse sentido Teresa
Cierco explica ldquo() enquanto exerciacutecio de soberania estatal o direito de asilo eacute em direito
internacional o direito que um Estado tem em conceder protecccedilatildeo sobre o seu territoacuterio a
algueacutem que o solicitardquo158 portanto natildeo se trata aqui de um direito de uma pessoa em obter
asilo mas sim um direito Estatal de conceder o asilo Dessa forma o Estado concedente do
asilo pratica um ato de humanidade
No que se refere agrave obrigaccedilatildeo (ou natildeo) de um Estado conceder asilo a um refugiado
tem-se que os Estados ao assinarem instrumentos internacionais acabam por aceitar essa
ldquoobrigaccedilatildeordquo portanto natildeo se trata de direito de asilo do refugiado mas sim o direito de
concessatildeo de asilo pelo Estado Assim o Estado que acolhe pode natildeo conceder asilo mas
156 CONVENCcedilAtildeO DE APLICACcedilAtildeO DO ACORDO DE SCHENGEN Disponiacutevel em httpseur-
lexeuropaeulegal-contentptTXTuri=celex3A42000A0922280229 Acesso em 29032020 157 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Controllo dele Frontiere Statali e Respingimenti nel Diritto
Internazionale e nel Diritto del Mare In Diritto Immigrazione e Cittadinanza Nordm 12020 Disponiacutevel em
httpswwwdirittoimmigrazionecittadinanzaitarchivio-saggi-commentisaggifascicolo-n-1-2020-1532-
controllo-delle-frontiere-statali-e-respingimenti-nel-diritto-internazionale-e-nel-diritto-del-mare Acesso em
19062020 158 CIERCO Teresa Op cit p 74
53
tambeacutem natildeo pode devolver o indiviacuteduo ao paiacutes de origem sendo que natildeo haacute nenhuma
proibiccedilatildeo de enviar o indiviacuteduo para outro Estado que possa conceder asilo159
Poreacutem ao que se refere agrave soberania do Estado haacute duas situaccedilotildees contrastantes a
primeira consiste no poder dos Estados em controlar as suas fronteiras analisando quem
entra e quem sai em seu territoacuterio por outro lado a globalizaccedilatildeo integraccedilatildeo e regionalizaccedilatildeo
satildeo fenocircmenos em que resulta uma interdependecircncia dos Estados em vaacuterios pontos assim
com base nesses fenocircmenos o Estado tem sua soberania reduzida e os limites territoriais
diluiacutedos como eacute o caso da Uniatildeo Europeia160
Nos seacuteculos passados a soberania de um Estado era vista como uma condiccedilatildeo
absoluta isso significa que os governos poderiam ter quaisquer atos referentes a tratamentos
de nacionais e minorias por exemplo Contudo nas uacuteltimas deacutecadas passou-se a priorizar
os direitos humanos presente nos principais documentos internacionais portanto muitos
Estados passam a praticar atos em prol dos direitos humanos161
Devido aos fenocircmenos mencionados acima tem-se que a ideia de Estado soberano
vem se diluindo ao longo do tempo devido ao aumento da interdependecircncia dos Estados
neste ponto os Estados tentam individualmente zelar pela pouca independecircncia que lhes
restam ou seja de se defender das ameaccedilas de cunho mundial como problemas ambientais
traacuteficos internacionais iliacutecitos terrorismo entre outras situaccedilotildees multinacionais162
Nesse sentido percebemos que haacute diversos obstaacuteculos no que tange a soberania pois
os paiacuteses ao se comprometerem a respeitar os direitos humanos devem ter as decisotildees
poliacuteticas convergentes a tais direitos isso implica tanto em poliacuteticas internas quanto
externas resultando portanto em limitaccedilotildees no poder estatal163
Sabe-se que o direito dos refugiados estaacute inserido nos direitos humanos e estatildeo
presentes nas legislaccedilotildees internacionais bem como na legislaccedilatildeo nacional de cada paiacutes
Neste aspecto tem-se que um dos principais fatores de influecircncia nas medidas do paiacutes e dos
cidadatildeos como um todo eacute a situaccedilatildeo econocircmica de cada Estado assim um paiacutes com maiores
condiccedilotildees financeiras tende a receber mais refugiados Da mesma forma em tempos de que
haacute ascensatildeo da economia faz com que a concessatildeo de asilo seja maior por outro lado em
159 CIERCO Teresa Op cit 160 Ibidem 161 Ibidem 162 Ibidem 163 Ibidem
54
periacuteodos de recessatildeo um nuacutemero menor de requisiccedilatildeo de asilo eacute concedido Portanto os
paiacuteses mais generosos no que tange a aceitaccedilatildeo dos requerimentos de asilo satildeo aqueles mais
ricos e que possuem maior estabilidade interna164
No mesmo sentido Irini Papanicolopulu e Giulia Baj dispotildeem que os Estados tecircm o
direito de decidir quem seraacute admitido no territoacuterio poreacutem eacute consenso de que este direito de
rejeitar as pessoas eacute absoluto pois os Estados devem respeitar aos compromissos
internacionais firmados165
Os Estados portanto tem sua soberania limitada atraveacutes dos documentos
internacionais em que satildeo signataacuterios pois ao assinarem tais documentos se comprometem
a agirem de determinada maneira Assim os paiacuteses estatildeo limitados e natildeo possuem total
liberdade para decidirem assuntos referentes agrave concessatildeo de asilo Poreacutem nota-se da anaacutelise
praacutetica das atividades fronteiriccedilas que os Estados agem de acordo com os seus interesses166
22 A Instituiccedilatildeo de Asilo no Continente Europeu
Historicamente a Europa sempre se destacou como um continente rico e que
proporcionava riqueza e uma melhor qualidade de vida para aqueles que a habitavam aleacutem
de tambeacutem se destacar pelos governos democraacuteticos Acreditou-se que apoacutes o teacutermino da
Guerra Fria a situaccedilatildeo dos refugiados ficaria mais faacutecil devido a facilidade de fazer acordos
poreacutem natildeo foi o que aconteceu a Uniatildeo Sovieacutetica se dividiu em vaacuterios outros paiacuteses e gerou
muitos conflitos bem como muitos refugiados167
Atualmente tem-se que a situaccedilatildeo dos refugiados extrapola o acircmbito dos direitos
humanos e a questatildeo humanitaacuteria consiste tambeacutem em situaccedilotildees relacionadas agrave seguranccedila e
paz Dessa forma faz-se necessaacuterio encontrar boas soluccedilotildees (duraacuteveis) a fim de proporcionar
a maior proteccedilatildeo possiacutevel dos refugiados168
Para se falar em nuacutemeros tem-se que os recordes de refugiados na Europa ocorreram
nos anos de 2015 e 2016 sendo que neste uacuteltimo foram 1 milhatildeo e trezentos pedidos de asilo
no continente europeu no ano de 2017 foram por volta de 728 mil pedidos de asilo e quase
164 CIERCO Teresa Op cit 165 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit 166 CIERCO Teresa Op cit 167 Ibidem 168 Ibidem
55
635 mil no ano de 2018 Destes pedidos de 2018 foram concedidos por volta 333 mil
pedidos notando-se uma queda de 40 na concessatildeo de asilo quando comparado com o ano
anterior isto eacute 2017169
No que consiste a proteccedilatildeo dos refugiados a partir do ano 1989 as organizaccedilotildees
internacionais ganharam espaccedilo e passaram atuar de forma mais ampla pois anteriormente
eram limitadas pela questatildeo da soberania dos estados assim priorizou-se a ajuda
internacional humanitaacuteria sendo que a ONU passou a negociar diretamente com quem
possuiacutea o poder poliacutetico do local seja o proacuteprio Estado ou algum movimento que laacute estava
a fim de chegar ateacute os refugiados170
Os conflitos gerados apoacutes a Guerra Fria bem como outros acontecimentos
internacionais geraram uma grande instabilidade e proporcionou uma atualizaccedilatildeo do que se
entendia por seguranccedila nacional e internacional pois anteriormente isto eacute durante o periacuteodo
da disputa de poderes da Guerra Fria entendia-se como sinocircnimo de seguranccedila o poderio
beacutelico e militar desenvolvimento e evoluccedilatildeo tecnoloacutegica produccedilatildeo das induacutestrias e as
alianccedilas que poderiam trazer algum tipo de seguranccedila Assim a nova conceitualizaccedilatildeo de
seguranccedila trouxe novos problemas como por exemplo questotildees ambientais relativas agrave
poluiccedilatildeo o traacutefico de drogas crime organizado e terrorismo violaccedilatildeo dos direitos humanos
e migraccedilotildees em larga escala Isso fez com que os paiacuteses adotassem a cooperaccedilatildeo para tentar
solucionar os problemas surgindo neste contexto a OSCE que consiste na Organizaccedilatildeo para
a Seguranccedila e Cooperaccedilatildeo na Europa171
Com o desenvolvimento do assunto fez com que a regulamentaccedilatildeo passasse do
Conselho da Europa para os membros da Uniatildeo Europeia de forma cooperada mas ressalta-
se que o objetivo do referido Conselho e da UE natildeo satildeo os mesmos Enquanto o bloco
econocircmico busca caminhos para se proteger do fluxo exagerado de refugiados o Conselho
da Europa jaacute enfoca os direitos do homem e os direitos fundamentais portanto enfoques
quase que antagocircnicos Assim o Conselho da Europa consiste em um foacuterum de paiacuteses da
Europa sendo sua composiccedilatildeo por 47 membros e trata-se de um oacutergatildeo voltado para a defesa
dos direitos do homem172
169 PARLAMENTO EUROPEU Asilo e Migraccedilatildeo na UE em Nuacutemeros 2019 Disponiacutevel em
httpswwweuroparleuropaeunewsptheadlinesprioritiesmigracao20170629STO78630asilo-e-
migracao-na-ue-em-numeros Acesso em 06042020 170 CIERCO Teresa Op cit 171 Ibidem 172 Ibidem
56
Existem muitos documentos adotados ao longo do tempo pelo referido oacutergatildeo que
tratam da questatildeo do asilo e direito dos refugiados Dessa forma apenas como uma
demonstraccedilatildeo histoacuterica cita-se abaixo alguns documentos que Teresa Cierco destacou173
bull Recomendaccedilatildeo nordm 293 (elaborada em 1961 pela Assembleia Consultiva do
Conselho da Europa) que sugere a inserccedilatildeo de um artigo referente agrave questatildeo
de asilo em protocolo da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos do Homem
bull Recomendaccedilatildeo nordm 434 (elaborada em 1965 tambeacutem pela Assembleia
Consultiva do Conselho da Europa) que refere ao direito de asilo aos
refugiados do continente europeu destacando a ideia de que o direito de asilo
faz parte das tradiccedilotildees do continente europeu e faz um convite aos paiacuteses a
respeitarem o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo
bull Resoluccedilatildeo nordm 14 (elaborada pelo Comitecirc de Ministros em 1967) e trata da
questatildeo da concessatildeo de asilo agraves pessoas que satildeo ameaccediladas de perseguiccedilatildeo
promovendo asilo a fim de evitar sofrimento a partir de algum tipo de
negativa de entrada expulsatildeo ou qualquer outro ato que leve o indiviacuteduo a
permanecer ou regressar para local onde sofre perseguiccedilatildeo
bull Resoluccedilatildeo nordm 817 (elaborada pela Assembleia Parlamentar em 1977) apoia a
Resoluccedilatildeo nordm 14 jaacute mencionada acima e pede o reconhecimento da Comissatildeo
Europeia dos Direitos do Homem como competente para a anaacutelise das
requisiccedilotildees de asilo bem como a manutenccedilatildeo de comportamento liberal
perante os indiviacuteduos que requerem asilo em seus paiacuteses Isso porque a
Convenccedilatildeo Sobre Asilo Territorial fracassou assim essa resoluccedilatildeo veio para
reafirmar as previsotildees que jaacute existiam e considerar o instituto do asilo como
ato humanitaacuterio
bull Recomendaccedilatildeo nordm 1088 (elaborada em 1988 pela Assembleia Parlamentar)
que trata sobre o direito de asilo territorial demonstra a intenccedilatildeo de proteger
de forma plena o direito de asilo territorial
bull Recomendaccedilatildeo nordm 1237 (elaborada em 1994) que se refere agraves requisiccedilotildees de
asilo que foram indeferidas e reafirmou que qualquer indiviacuteduo que sofra
173 CIERCO Teresa Op cit
57
perseguiccedilatildeo tem o direito de procurar asilo poreacutem destacou tambeacutem que
cabe agrave cada Estado a concessatildeo de asilo por se tratar de questatildeo da soberania
nacional
bull Diretiva 832004 que consiste num documento da Uniatildeo Europeia que possui
um consideraacutevel acolhimento do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo este documento
trata da normatizaccedilatildeo miacutenima necessaacuteria a fim de atingir a proteccedilatildeo
internacional Poreacutem ressalta-se que o referido princiacutepio natildeo deve ser
considerado de forma independente ou desvinculado de outras legislaccedilotildees
Assim deve-se analisar de forma conjunta com as accedilotildees realizadas para
retirar estrangeiros do territoacuterio de um determinado paiacutes ou seja situaccedilatildeo de
extradiccedilatildeo expulsatildeo e deportaccedilatildeo
No que se refere agrave deportaccedilatildeo tal medida somente eacute adotada quando o indiviacuteduo que
requereu asilo natildeo foi enquadrado no estatuto do refugiado assim o indiviacuteduo por conta
proacutepria deveraacute deixar o territoacuterio caso natildeo seja feito a medida deve ser realizada pelo Estado
Quanto agrave expulsatildeo a situaccedilatildeo eacute um pouco mais gravosa pois ldquoocorrerdquo quando o indiviacuteduo
promove atentados contra a seguranccedila nacional eou perturbe a tranquilidade puacuteblica174 No
que se refere agrave esse instituto referente aos refugiados vimos que a sua expulsatildeo deve ser
analisada com muita cautela ou seja se a pessoa se enquadrar no conceito de refugiado mas
eacute um criminoso ele natildeo pode se valer do instituto do asilo para ficar livre da penalidade no
entanto natildeo deve ser enviado para algum paiacutes em que teraacute seus direitos humanos violados
221 Principais Documentos Sobre o Asilo na Ordem Juriacutedica Europeia
Sabemos que a grandiosidade do bloco da Uniatildeo Europeia faz-se necessaacuterio uma
seacuterie de normatizaccedilotildees dos assuntos e no que tange asilo e imigraccedilatildeo eacute importante que as
disposiccedilotildees entre os paiacuteses que fazem parte do bloco sejam harmocircnicas ou seja para uma
maior efetividade das medidas de asilo e imigraccedilatildeo as regras para os paiacuteses devem ser as
mesmas Assim neste toacutepico analisa-se os principais documentos europeus que abordam o
assunto
174 CIERCO Teresa Op cit
58
bull Tratado da Uniatildeo Europeia (Tratado de Lisboa)
O TUE eacute um dos principais tratados que regem as normas a serem adotadas na Uniatildeo
Europeia Como jaacute mencionado anteriormente desde o iniacutecio (no artigo 3ordm) a UE demonstra
a sua preocupaccedilatildeo a respeito do assunto Assim a seguir analisa-se os pontos importantes
do Tratado relativos a este assunto
Dessa forma o Tiacutetulo V denominado ldquoO Espaccedilo de Liberdade Seguranccedila e Justiccedilardquo
trata mais especificamente sobre o assunto ou seja no artigo 67 nordm 2 consta
A Uniatildeo assegura a ausecircncia de controlos de pessoas nas fronteiras
internas e desenvolve uma poliacutetica comum em mateacuteria de asilo de
imigraccedilatildeo e de controlo das fronteiras externas que se baseia na
solidariedade entre Estados-Membros e que eacute equitativa em relaccedilatildeo aos
nacionais de paiacuteses terceiros175
Neste dispositivo nota-se o desejo da Uniatildeo Europeia em ter as regras sobre asilo e
imigraccedilatildeo harmonizadas bem como ressalta a ausecircncia dos controles nas fronteiras internas
Nesse sentido o Capiacutetulo 2 do Tiacutetulo V trata do assunto de asilo e imigraccedilatildeo bem como
sobre o controle das fronteiras externas No artigo 78 nordm2 haacute a disposiccedilatildeo para que se tenha
um documento uniforme referente a asilo bem como proteccedilatildeo subsidiaacuteria dos indiviacuteduos
que natildeo obterem o asilo mas mesmo assim necessitarem de proteccedilatildeo internacional e outras
situaccedilotildees referentes agraves pessoas que necessitam de acolhimento ou proteccedilatildeo
Assim como mencionado acima a UE preza pela harmonia entre as regras a respeito
de diversos assuntos e a questatildeo de asilo e imigraccedilatildeo natildeo eacute diferente isto estaacute expressamente
no artigo 78 como segue
A Uniatildeo desenvolve uma poliacutetica comum em mateacuteria de asilo de protecccedilatildeo
subsidiaacuteria e de protecccedilatildeo temporaacuteria destinada a conceder um estatuto adequado
a qualquer nacional de um paiacutes terceiro que necessite de protecccedilatildeo
internacional e a garantir a observacircncia do princiacutepio da natildeo repulsatildeo176
A UE aleacutem de enfatizar que a questatildeo do asilo tem poliacutetica comum destaca-se
tambeacutem a preocupaccedilatildeo do bloco com aqueles que necessitam de proteccedilatildeo e por isso prezam
175 UNIAtildeO EUROPEIA Tratado de Lisboa Disponiacutevel em
httpswwwparlamentopteuropaDocumentsTratado_Versao_Consolidadapdf Acesso em 31032020 176 Ibidem
59
por conceder um tratamento adequado aos indiviacuteduos que buscam proteccedilatildeo bem como
garantir a aplicaccedilatildeo do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo
Ainda eacute importante destacar que tendo em vista que o artigo 6ordm nordm 1 do TUE satildeo
reconhecidos os direitos e garantias fundamentais previstos na Carta dos Direitos
Fundamentais da Uniatildeo Europeia Nesse sentido cita-se a importacircncia do artigo 18 do
documento no qual haacute a previsatildeo do direito de asilo como um direito fundamental bem
como o artigo 19 que proiacutebe a expulsatildeo coletiva e principalmente no nordm 2 dispotildee que
ningueacutem pode ser enviado para um paiacutes onde poderaacute ser submetido agrave pena de morte tortura
e outros tratamentos desumanos e degradantes177 Reforccedilando a importacircncia do princiacutepio da
natildeo-repulsatildeo
bull Tratado de Funcionamento da Uniatildeo Europeia (TFUE)
O Tratado de Funcionamento da Uniatildeo Europeia prevecirc algumas disposiccedilotildees a
respeito do asilo No artigo 67 nordm 2 tem a disposiccedilatildeo de que a poliacutetica de asilo na UE eacute uacutenica
e baseada na solidariedade como segue ldquo() desenvolve uma poliacutetica comum em mateacuteria
de asilo de imigraccedilatildeo e de controlo das fronteiras externas que se baseia na solidariedade
entre Estados-Membros e que eacute equitativa em relaccedilatildeo aos nacionais de paiacuteses terceiros
()rdquo178
O capiacutetulo 2 do TFUE cujo tiacutetulo eacute ldquoPoliacuteticas relativas aos controlos nas fronteiras
ao asilo e agrave imigraccedilatildeordquo tem regulamenta de forma geral o assunto Nesse sentido o artigo
78 nordm 1 reitera a poliacutetica comum de asilo bem como de proteccedilotildees subsidiaacuterias e temporaacuterias
levando sempre em conta a Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 e o Protocolo de Nova Iorque
de 1967 Por sua vez o nordm 2 do artigo mencionado traz algumas orientaccedilotildees a respeito das
poliacuteticas comuns a serem adotadas pelos Estados-membros179
Nesse sentido o mencionado diploma europeu traz a exigecircncia de que a Uniatildeo
Europeia elabore poliacuteticas comuns a fim de garantir eficaacutecia na gestatildeo dos fluxos
migratoacuterios Para isso entende-se que tanto o Parlamento Europeu quanto o Conselho devem
177 UNIAtildeO EUROPEIA Carta dos Direitos Fundamentais da Uniatildeo Europeia Disponiacutevel em
httpswwweuroparleuropaeucharterpdftext_ptpdf Acesso em 27052020 178 TRATADO DE FUNCIONAMENTO DA UNIAtildeO EUROPEIA Disponiacutevel em httpseur-
lexeuropaeulegal-contentPTTXTuri=celex3A12012E2FTXT Acesso em 07042020 179 Ibidem
60
adotar medidas relacionadas a fim de coibir a imigraccedilatildeo ilegal bem como residecircncia ilegal
o traacutefico de seres humanos e tambeacutem de promover a remoccedilatildeo e repatriamento de pessoas
que estejam com status irregular180
Portanto este documento traz apontamentos gerais para que se possa elaborar uma
poliacutetica comum de asilo no continente europeu Ressalta-se que neste documento natildeo haacute
nenhuma regra a ser aplicada de forma concreta mas sim orientaccedilotildees de que a normatizaccedilatildeo
do assunto deve ser a mesma para todos os Estados-membros
bull Convenccedilatildeo de Aplicaccedilatildeo do Acordo de Schengen (CAS)
A forte corrente migratoacuteria destinada agrave Europa fez com que os paiacuteses endurecessem
as medidas referentes agrave concessatildeo de asilo Nesse sentido cita-se a CAS conforme jaacute
falamos eacute a Convenccedilatildeo de Aplicaccedilatildeo do Acordo de Schengen que trata do assunto relativo
a pedidos de asilo no Capiacutetulo 7 (artigo 28 a 38) mas foi somente no Tratado de Amsterdatilde
eacute que tal ideia eacute trazida ao acircmbito da Uniatildeo Europeia181
No capiacutetulo supramencionado da CAS o Capiacutetulo 7 denominado
ldquoResponsabilidade pelo Tratamento de Pedidos de Asilordquo faz referecircncia agrave Convenccedilatildeo de
1951 e o Protocolo de 1967 Em resumo os Estados contratantes se comprometem em
analisar qualquer pedido de asilo que forem feitos em seus territoacuterios conforme estaacute
expresso no artigo 29 nordm1 mas ressalta-se que natildeo eacute obrigatoacuteria a concessatildeo de asilo em
todos os casos (nordm 2 do mesmo artigo)182
Poreacutem um Estado-membro com base nas suas normas nacionais pode enviar o
requerente de asilo para outro Estado e ateacute mesmo expulsar este uacuteltimo com muita
ponderaccedilatildeo desde que obedeccedila ao que estaacute previsto nos compromissos internacionais tal
disposiccedilatildeo consta tambeacutem no nordm 2 do artigo 29183 Mais uma vez ressalta-se que na
expulsatildeo em hipoacutetese alguma deve-se enviar o indiviacuteduo para algum local natildeo seguro
180 TANI Ilaria Ricerca e Soccorso nel Mediterraneo Centrale tra Diritto Internazionale e Nuove (Discutibili)
Qualificazioni del Fenomeno Migratorio In Diritto Immigrazione e Cittadinanza Nordm 32019 Disponiacutevel em
httpswwwdirittoimmigrazionecittadinanzaitarchivio-saggi-commentisaggifascicolo-n-3-2019-1474-
ricerca-e-soccorso-nel-mediterraneo-centrale-tra-diritto-internazionale-e-nuove-discutibili-qualificazioni-del-
fenomeno-migratoriofile Acesso em 22082020 181 CIERCO Teresa Op cit 182 CONVENCcedilAtildeO DE APLICACcedilAtildeO DO ACORDO DE SCHENGEN 1985 Op cit 183 Ibidem
61
Este documento traz tambeacutem qual o Estado-membro que deve analisar o pedido de
asilo trazendo portanto as regras no artigo 30 ou seja se o Estado-membro emitiu algum
visto para o indiviacuteduo ele eacute responsaacutevel pela anaacutelise ou se outro paiacutes deu autorizaccedilatildeo para
esse visto eacute o paiacutes da autorizaccedilatildeo o responsaacutevel em casos de mais de um Estado-membro
conceder algum visto o responsaacutevel eacute o que deu o visto de maior duraccedilatildeo caso o indiviacuteduo
tenha ingressado no territoacuterio sem os documentos necessaacuterios o responsaacutevel eacute o Estado-
membro em que o requerente de asilo entrou184
O documento em seu artigo 32 traz que o direito a ser aplicado no procedimento de
asilo das partes contratantes da CAS seraacute o direito nacional Portanto cada paiacutes tem a sua
independecircncia no acircmbito interno podendo aplicar as suas regras no procedimento de asilo
desde que natildeo contrarie os compromissos internacionais assumidos185
bull Convenccedilatildeo de Dublin
O alto fluxo de refugiados e as discussotildees entre os governos fez com que fosse
elaborada em 1990 a Convenccedilatildeo de Dublin (ou Regulamento Dublin) assinada pelos
paiacuteses Beacutelgica Dinamarca Alemanha Greacutecia Espanha Franccedila Irlanda Itaacutelia
Luxemburgo Holanda Portugal e Reino Unido186 Assim a finalidade era obter soluccedilatildeo
para a alta quantidade de requisiccedilatildeo de asilo Tal documento consistiu em um relevante ato
com intuito de harmonizar o direito de asilo nos paiacuteses Anteriormente as opccedilotildees eram
impedir os refugiados de entrar e requerer asilo situaccedilatildeo que contrariava o previsto na
Convenccedilatildeo de Schengen (mencionada anteriormente) ou tentar fazer com que as normas a
respeito de asilo fossem harmocircnicas Nesse sentido alguns paiacuteses limitavam a entrada de
requerentes de asilo e fazia com que estes fossem para outros paiacuteses mas que tais atitudes
em nada ajudavam na soluccedilatildeo da situaccedilatildeo187
Esta Convenccedilatildeo consiste na base do direito de asilo no sistema europeu que
determina qual paiacutes eacute responsaacutevel pela anaacutelise dos pedidos de proteccedilatildeo internacional e no
ano de 2017 foi autorizado pelo Parlamento Europeu uma reforma desta Convenccedilatildeo poreacutem
184 CONVENCcedilAtildeO DE APLICACcedilAtildeO DO ACORDO DE SCHENGEN 1985 Op cit 185 Ibidem 186 UNIAtildeO EUROPEIA CONVENCcedilAtildeO DE DUBLIN 1990 Disponiacutevel httpseur-lexeuropaeulegal-
contentPTALLuri=celex3A41997A0819280129 Acesso em 06042020 187 CIERCO Teresa Op cit
62
natildeo houve acordo a respeito ateacute o momento188 no entanto no mecircs de setembro de 2020 foi
apresentada a proposta do Novo Pacto sobre Migraccedilatildeo e Asilo que se aprovado substituiraacute
a Convenccedilatildeo tratada nesse toacutepico
Assim a Convenccedilatildeo de Dublin consistiu em um marco do direito humanitaacuterio dos
refugiados e pretendeu pocircr fim agraves situaccedilotildees em que colocavam os refugiados a circular por
vaacuterios paiacuteses sem que nenhum Estado analisasse o pedido de asilo Vaacuterias satildeo as disposiccedilotildees
a respeito do direito dos refugiados uma delas eacute a situaccedilatildeo citada anteriormente (na
Convenccedilatildeo de Schengen) isto eacute qual paiacutes eacute responsaacutevel pela anaacutelise do pedido de asilo
dessa forma entende-se que caso o refugiado tenha algum laccedilo familiar (o indiviacuteduo tiver
algum familiar em algum Estado membro) laccedilo institucional (possuir algum visto ou tiacutetulo
de residecircncia) ou inclusive entrou de forma ilegal por algum paiacutes a competecircncia para anaacutelise
da concessatildeo de asilo eacute do Estado em questatildeo ou seja no paiacutes onde estaacute o familiar onde
tem visto ou residecircncia ou no paiacutes em que entrou de forma natildeo permitida Caso o refugiado
natildeo se enquadrar nestas situaccedilotildees o paiacutes competente para analisar o pedido de asilo eacute o
primeiro paiacutes que recebeu a requisiccedilatildeo189
Em 1991 a Comissatildeo elaborou uma comunicaccedilatildeo a fim de adotar 3 medidas atinentes
ao asilo e imigraccedilatildeo no continente europeu quais sejam a primeira consistia na ldquopressatildeo
migratoacuteriardquo que levava em consideraccedilatildeo as migraccedilotildees reais e potenciais que tinham como
destino a Europa a segunda medida referia-se ao controle dos fluxos migratoacuterios levando
em conta as obrigaccedilotildees internacionais dos Estados bem como os ideais humanitaacuterios por
fim a terceira medida consistia no melhor entendimento nas medidas adotadas para integrar
os imigrantes com status legal190
Aleacutem disso conforme previsto na Convenccedilatildeo de Dublin no ano de 1992 foram
criados dois centros de informaccedilatildeo relativos agrave questatildeo dos refugiados o CIREA que
consiste no Centro de Informaccedilatildeo Investigaccedilatildeo e Intercacircmbio em Mateacuteria de Asilo e o
CIREFI que eacute o Centro de Informaccedilatildeo Investigaccedilatildeo e Intercacircmbio em Mateacuteria de Passagem
das Fronteiras e de Imigraccedilatildeo ambos para auxiliar na obtenccedilatildeo de informaccedilotildees e evitar a
188 PARLAMENTO EUROPEU Regras do Sistema de Asilo da UE a posiccedilatildeo do Parlamento sobre a reforma
da regulaccedilatildeo de Dublin Atualizado em 25072019 Disponiacutevel em
httpswwweuroparleuropaeunewsptheadlinesworld20180615STO05927regras-do-asilo-da-ue-
posicao-do-parlamento-sobre-a-reforma-da-regulacao-dublin Acesso em 06042020 189 CIERCO Teresa Op cit 190 Ibidem
63
imigraccedilatildeo clandestina utilizaccedilatildeo de documentos falsos bem como a responsabilizaccedilatildeo dos
infratores neste quesito191
Poreacutem faz-se necessaacuterio fazer uma observaccedilatildeo na explicaccedilatildeo pois em 1992 em
contrapartida aos documentos que buscavam garantir o direito internacional dos refugiados
que tinham base nos ideais humanitaacuterios e proteccedilatildeo foram editadas as ldquoResoluccedilotildees de
Londresrdquo que em partes seguiam na contramatildeo da proteccedilatildeo internacional dos refugiados
Tal ideia se firmou devido tal documento englobar resoluccedilotildees que davam mais liberdades
aos Estados para natildeo enquadrar um indiviacuteduo como refugiado (nos moldes da Convenccedilatildeo
de 1951) pois diziam sobre ldquopedidos de asilo manifestamente infundadosrdquo ldquopaiacuteses que natildeo
se verificavam graves riscos de perseguiccedilatildeordquo e ldquoabordagem harmonizada das questotildees
referentes ao paiacutes terceiro de acolhimentordquo Desse modo menciona-se a possiacutevel lesatildeo a um
dos principais princiacutepios do Direito Internacional dos Refugiados que consiste na anaacutelise
individual de cada pedido de asilo192
Voltando ao que tange a Convenccedilatildeo de Dublin destaca-se que em 2002 a Comissatildeo
Europeia fez com que o CIREA e o CIREFI cessassem suas atividades sendo criado o
EURASIL Assim foi criado o Gabinete Europeu de Apoio ao Asilo (EASO) que assumiu
a responsabilidade pelo EURASIL bem como as atividades deste193 Ressalta-se que o
EASO como o proacuteprio nome jaacute diz eacute responsaacutevel por implementar o Sistema Europeu
Comum de Asilo (SECA) apoiar e fortalecer a cooperaccedilatildeo entre os Estados-membros no
que se refere ao asilo bem como auxiliar operacionalmente os Estados-membros194
O SECA (ou CEAS em inglecircs) por sua vez tem por base o artigo 78 do Tratado de
Funcionamento da Uniatildeo Europeia (TFUE) e consiste em uma estrutura de regras que
estabelecem procedimentos comuns no que tange a proteccedilatildeo internacional bem como uma
uniformidade de status agravequeles que satildeo considerados refugiados ou possuem alguma
proteccedilatildeo subsidiaacuteria visando agrave uniformidade ou harmonizaccedilatildeo dos sistemas de asilo da
Uniatildeo Europeia tendo sempre por base a Convenccedilatildeo de Genebra de 1951195
191 CIERCO Teresa Op cit 192 Ibidem 193 COMISSAtildeO EUROPEIA EURASIL Disponiacutevel em httpseceuropaeuhome-affairswhat-we-
donetworkseuropean_migration_networkglossary_searcheurasil_en Acesso em 06042020 194 COMISSAtildeO EUROPEIA European Asylum Support Office (EASO) Disponiacutevel em
httpseceuropaeuhome-affairswhat-we-
donetworkseuropean_migration_networkglossary_searcheuropean-asylum-support-office-easo_en Acesso
em 06042020 195 COMISSAtildeO EUROPEIA Common European Asylum Sistem (CEAS) ndash Definition(s) Disponiacutevel em
httpseceuropaeuhome-affairswhat-we-
64
A Convenccedilatildeo de Dublin assim como outros documentos jaacute mencionados traz
conceitos para melhor entendimento dos termos utilizados no corpo do texto Nesse sentido
esta Convenccedilatildeo traz a conceituaccedilatildeo de estrangeiros pedido de asilo requerente de asilo
anaacutelise de um pedido de asilo tiacutetulo de residecircncia visto de entrada e visto de tracircnsito tais
conceitos estatildeo em consonacircncia com a conceituaccedilatildeo presente nos outros documentos jaacute
citados
Logo no iniacutecio no artigo 2ordm desta Convenccedilatildeo faz-se a alusatildeo agrave Convenccedilatildeo de
Genebra de 1951 e o Protocolo de Nova Iorque de 1967 ou seja ocorre a reiteraccedilatildeo do que
estaacute previsto nestes documentos pelos paiacuteses signataacuterios Assim de forma geral os
dispositivos presentes nesta Convenccedilatildeo estatildeo de acordo com vaacuterias previsotildees na CAS no
capiacutetulo 7
No entanto conforme jaacute mencionado acima desde o ano de 2017 discute-se a
possibilidade de reforma deste documento pois com a crise migratoacuteria que o continente
europeu vem sofrendo foram expostos os defeitos presentes na referida Convenccedilatildeo Dessa
forma as sugestotildees de reforma satildeo alterar a responsabilidade automaacutetica de um Estado-
membro de analisar um pedido de asilo quando o refugiado entrar por este paiacutes as pessoas
que requererem asilo e tiverem uma ldquoligaccedilatildeo genuiacutenardquo com determinado paiacutes do Estado-
membro essas pessoas devem ser enviadas para este paiacutes os que natildeo possuiacuterem tal ldquoligaccedilatildeo
genuiacutenardquo devem ser distribuiacutedos de forma igualitaacuteria para os demais Estados-membros (sob
pena de perda de acesso ao fundo europeu os paiacuteses que natildeo aceitarem esta determinaccedilatildeo)
intensificar as medidas de seguranccedila devendo as pessoas que chegarem com intuito de
requisiccedilatildeo de asilo serem identificadas e colhidas as impressotildees digitais destas reforccedilar as
regras relativas aos menores e acelerar o reagrupamento familiar entre outras sugestotildees196
Pretende-se portanto com a reforma a divisatildeo de responsabilidade pelos
requerentes de asilo para todos os Estados-membros tendo uma justa reparticcedilatildeo com base
na populaccedilatildeo e no PIB de cada Estado-membro197 A ideia natildeo eacute alterar as regras jaacute existentes
donetworkseuropean_migration_networkglossary_searchcommon-european-asylum-system-ceas_en
Acesso em 06042020 196 PARLAMENTO EUROPEU Regras do Sistema de Asilo da UE a posiccedilatildeo do Parlamento sobre a reforma
da regulaccedilatildeo de Dublin Atualizado em 25072019 Disponiacutevel em
httpswwweuroparleuropaeunewsptheadlinesworld20180615STO05927regras-do-asilo-da-ue-
posicao-do-parlamento-sobre-a-reforma-da-regulacao-dublin Acesso em 06042020 197 Ibidem
65
para determinar qual paiacutes eacute responsaacutevel pela anaacutelise dos pedidos de asilo mas sim uma
revisatildeo do regime previsto simplificando e complementando o que jaacute estaacute em vigor198
Como jaacute mencionado a Convenccedilatildeo de Dublin foi elaborada no ano de 1990 sendo
que em 2003 e 2013 houve a ediccedilatildeo dos regulamentos II e III (duas reformas)
respectivamente sendo que o Regulamento III estaacute em vigor desde 2014 Assim o sistema
de asilo previsto pelo ldquoSistema Dublinrdquo natildeo objetivou o compartilhamento de
responsabilidades dos Estados-membros pois o principal objetivo era a responsabilidade de
um determinado paiacutes para analisar as requisiccedilotildees de asilo199
Dessa forma o Regulamento Dublin III (uacuteltima reforma) indica qual Estado-membro
eacute o responsaacutevel por analisar um pedido de asilo passando por um criteacuterio hieraacuterquico de
anaacutelise ou seja unidade familiar existecircncia de visto ou autorizaccedilatildeo de residecircncia se a
entrada foi irregular ou se teve isenccedilatildeo de visto ao entrar etc mas ressalta-se que a forma
mais comum aplicada eacute a do paiacutes da UE onde o indiviacuteduo entrou200
A ideia de que o Parlamento Europeu requer um mecanismo vinculativo para que
haja uma distribuiccedilatildeo justa dos requerentes de asilo pelos Estados-membros da Uniatildeo
Europeia vem desde o ano de 2009 tendo sido editadas resoluccedilotildees pelo oacutergatildeo em 2009
2013 2014 e 2015 Na resoluccedilatildeo de abril de 2016 destacou-se a questatildeo da regiatildeo do
Mediterracircneo com a necessidade alterar a abordagem da migraccedilatildeo201
Assim a ideia do Parlamento Europeu eacute rever o criteacuterio de entrada ou seja o paiacutes
por onde entrou o indiviacuteduo eacute o responsaacutevel pela anaacutelise do pedido de asilo Entatildeo o
mencionado oacutergatildeo defende ter um sistema central de atribuiccedilatildeo de responsabilidade pelos
requerentes de asilo prevendo limites para cada paiacutes com base no nuacutemero de chegadas
Poreacutem a alocaccedilatildeo de responsabilidade natildeo deve excluir as questotildees de unidade familiar e
interesses da crianccedila202
As principais ideias do Parlamento Europeu eacute um sistema automatizado para
monitorar os pedidos de asilo recebidos e o nuacutemero dos pedidos em cada Estado-membro
tambeacutem haver um mecanismo para determinar quando um paiacutes estaacute com casos
198 PARLAMENTO EUROPEU Reform of the Dublin system Disponiacutevel em
httpswwweuroparleuropaeuRegDataetudesBRIE2016586639EPRS_BRI28201629586639_ENp
df Acesso em 07042020 199 Ibidem 200 Ibidem 201 Ibidem 202 Ibidem
66
desproporcionais de procedimento de asilo Portanto quando um paiacutes tiver o nuacutemero de
pedidos de asilo superior 150 da accedilatildeo de referecircncia seria ativado um mecanismo para
realocar os novos pedidos de asilo em toda a Uniatildeo Europeia Caso um paiacutes natildeo aceite a
atribuiccedilatildeo dos requerentes de asilo deveraacute arcar com a ldquocontribuiccedilatildeo de solidariedaderdquo de
250 mil euros por candidato203
No entanto no dia 23 de setembro de 2020 foi apresentada uma proposta da
Comissatildeo Europeia a respeito de um novo documento sobre a migraccedilatildeo chamado ldquoNovo
Pacto sobre Migraccedilatildeo e Asilordquo A intenccedilatildeo desse pacto eacute a substituiccedilatildeo da Convenccedilatildeo de
Dublin que jaacute foi reformada por duas vezes (Regulamentos II e III) A ideia desse Novo
Pacto eacute para ter uma melhor divisatildeo da responsabilidade entre os paiacuteses da UE (tendo um
mecanismo melhor de realocaccedilatildeo) prevendo maior solidariedade entre os Estados-membros
com a finalidade de reduzir o ocircnus dos Estados mais afetados pela migraccedilatildeo como a Itaacutelia
Greacutecia e Espanha agilidade e eficaacutecia nos procedimentos nas fronteiras e mudanccedila de
paradigma com paiacuteses terceiros no que se refere agrave cooperaccedilatildeo Uma das novidades na
proposta eacute tentar agradar paiacuteses pouco receptivos com os refugiados como a Aacuteustria Polocircnia
e Hungria ou seja estes paiacuteses podem ser responsaacuteveis pela deportaccedilatildeo do migrante caso o
pedido de asilo seja negado aleacutem disso os Estados-membros poderatildeo acolher requerentes
de asilo que entraram por outro paiacutes na UE Ressalta-se poreacutem que essa proposta deve ser
analisada ainda pelo Conselho da UE e pelo Parlamento Europeu204
bull Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos
Eacute o documento adotado pelo Tribunal Europeu dos Direitos Humanos sendo que
para o presente trabalho destaca-se a importacircncia do artigo 3ordm deste documento tendo em
vista a condenaccedilatildeo de paiacuteses europeus por violaccedilatildeo do respectivo dispositivo Sendo assim
o supramencionado artigo prevecirc a proibiccedilatildeo da tortura como segue ldquoNingueacutem pode ser
submetido a torturas nem a penas ou tratamentos desumanos ou degradantesrdquo205
203 PARLAMENTO EUROPEU Reform of the Dublin system Op cit 204 DEUTSCHE WELLE (DW) Novo Pacto Migratoacuterio da UE descarta realocaccedilatildeo obrigatoacuteria 2020
Disponiacutevel em httpswwwdwcompt-brnovo-pacto-migratC3B3rio-da-ue-descarta-
realocaC3A7C3A3o-obrigatC3B3riaa-55029567 Acesso em 09102020 205 CONSELHO EUROPEU Convenccedilatildeo Europeia de Direitos Humanos Op cit
67
Outro artigo comumente violado eacute o artigo 4ordm dessa Convenccedilatildeo que consiste na
proibiccedilatildeo de expulsatildeo coletiva Assim eacute proibido que um Estado rejeite coletivamente os
migrantes sem qualquer identificaccedilatildeo sem uma anaacutelise de cada caso A exemplo disso cita-
se o caso Hirsi Jamaa que veremos adiante em que a Itaacutelia repeliu os migrantes no mar
levando-os de volta para Liacutebia sem qualquer identificaccedilatildeo
Tambeacutem de igual importacircncia satildeo os artigos 2ordm e 5ordm que prezam pela proteccedilatildeo da
vida e liberdade e seguranccedila dos migrantes respectivamente Dessa forma notamos que a
CEDH preza pela dignidade dos migrantes apontando expressamente os principais direitos
sendo que estes natildeo devem ser violados
Assim no capiacutetulo 3 e 4 seratildeo analisados casos da referida Corte Europeia para ter
um melhor entendimento da aplicaccedilatildeo deste dispositivo devido a devoluccedilatildeo de refugiados
no mar para a Liacutebia e tendo em vista a situaccedilatildeo no paiacutes norte-africano (que veremos mais
detalhadamente no capiacutetulo 4) essa devoluccedilatildeo configura o envio de pessoas para a tortura e
tratamentos desumanos
bull Diretivas 201195UE 201332UE 201333UE e 2008115CE
A ideia da Uniatildeo Europeia desde 1999 eacute ter um Sistema Europeu Comum de Asilo
(SECA) e as atitudes da UE sempre foram para buscar a harmonizaccedilatildeo dessas leis destaca-
se a criaccedilatildeo do Fundo Europeu para os Refugiados diretivas elaboradas para respostas de
altos fluxos de migrantes Assim o SECA era alicerccedilado em trecircs pilares sendo eles a
harmonia das normas de proteccedilatildeo cooperaccedilatildeo entre os paiacuteses membros e maior
solidariedade entre os paiacuteses da UE e esta com os demais paiacuteses (natildeo pertencentes agrave UE)206
Vaacuterios satildeo os documentos elaborados para obter a harmonia desejada alguns deles
inclusive jaacute discutidos neste trabalho Poreacutem aleacutem destes documentos tem-se as diretivas
europeias que norteiam os Estados-membros a fim de obter o tatildeo desejado ldquosistema comumrdquo
Assim cita-se algumas importantes diretivas Diretiva 201195UE Diretiva 201332UE
Diretiva 201333UE e 2008115CE
A primeira (Diretiva 201195UE) traz as motivaccedilotildees para que se conceda a proteccedilatildeo
internacional bem como melhorar as medidas de integraccedilatildeo para os indiviacuteduos que
206 COMISSAtildeO EUROPEIA Common European Asylum System Disponiacutevel em httpseceuropaeuhome-
affairswhat-we-dopoliciesasylum_en Acesso em 27052020
68
receberem a proteccedilatildeo internacional207 Portanto esta diretiva tem por finalidade
ldquoestabelecer normas comuns relativas agrave identificaccedilatildeo dos cidadatildeos de paiacuteses terceiros ou
apaacutetridas que necessitam verdadeiramente de proteccedilatildeo internacional na Uniatildeo Europeia
(UE) como refugiados ou beneficiaacuterios de proteccedilatildeo subsidiaacuteriardquo208
Assim essa Diretiva traz normas comuns para o enquadramento no status de
refugiado ou de proteccedilatildeo subsidiaacuteria ressaltando que os paiacuteses membros podem ter normas
mais beneacuteficas do que as previstas no mencionado documento Tem-se aqui que a condiccedilatildeo
de refugiado tem por base a Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 e a proteccedilatildeo subsidiaacuteria traz a
situaccedilatildeo quando natildeo haacute o enquadramento na condiccedilatildeo de refugiado poreacutem o indiviacuteduo tem
um risco real de sofrer uma ofensa grave caso retorne para seu paiacutes de origem (entende-se
por ofensa grave a pena de morte tortura ameaccedila agrave integridade fiacutesica ou agrave vida)209
A Diretiva 201332UE refere-se aos procedimentos de asilo e tem a finalidade de
decisotildees de asilo mais justas raacutepidas e de melhor qualidade Sendo assim os procedimentos
natildeo devem ultrapassar o periacuteodo de 6 meses Esse documento tambeacutem traacutes garantias
especiacuteficas para menores natildeo acompanhados e pessoas com necessidades especiais (idosos
deficientes doenccedila orientaccedilatildeo sexual trauma entre outros)210
A Diretiva 201333UE refere-se agraves condiccedilotildees de acolhimento dos requerentes de
proteccedilatildeo internacional ou seja a questatildeo da moradia e de vida dos requerentes de proteccedilatildeo
internacional Dessa maneira eacute de extrema importacircncia que os direitos fundamentais dos
indiviacuteduos sejam respeitados bem como se for o caso de detenccedilatildeo do indiviacuteduo que seja
em uacuteltimo recurso211
E por fim a Diretiva 2008115CE refere-se aos procedimentos comuns dos Estados-
membros para regresso de cidadatildeos de paiacuteses terceiros que natildeo estatildeo com sua situaccedilatildeo
regularizada no entanto chama-se a atenccedilatildeo do artigo 5ordm deste documento no qual consta
entre outras disposiccedilotildees que os Estados-membros devem respeitar o princiacutepio da natildeo-
repulsatildeo como segue ldquoc) O estado de sauacutede do nacional de paiacutes terceiro em causa e
207 COMISSAtildeO EUROPEIA Common European Asylum System Op cit 208 EUR-LEX Diretiva 201195UE Disponiacutevel em httpseur-lexeuropaeulegal-
contentPTLSUuri=celex32011L0095 Acesso em 27052020 209 Ibidem 210 EUR-LEX Diretiva 201332UE Disponiacutevel em httpseur-lexeuropaeulegal-
contentPTTXTuri=LEGISSUM23010502_1 Acesso em 27052020 211 EUR-LEX Diretiva 201333UE Disponiacutevel em httpseur-lexeuropaeulegal-
contentPTTXTuri=LEGISSUM23010502_2 Acesso em 27052020
69
respeitar o princiacutepio da natildeo-repulsatildeordquo212 Portanto apesar da mencionada diretiva dispor a
respeito do retorno de pessoas com situaccedilatildeo irregular ela consta expressamente o respeito
ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo
23 Ordens juriacutedicas nacionais Itaacutelia Portugal Greacutecia Malta Espanha
Franccedila e Alemanha
Este toacutepico eacute destinado ao estudo de algumas legislaccedilotildees nacionais a fim de comparar
os respectivos ordenamentos juriacutedicos Assim foram escolhidos paiacuteses como Itaacutelia Greacutecia
e Malta por sofrerem constantemente com chegada de refugiados pelo Mar Mediterracircneo
Franccedila e Alemanha por serem paiacuteses que apesar de natildeo estarem proacuteximos do Mar
Mediterracircneo recebem milhares de refugiados todos os anos Espanha e Portugal pela
proximidade com o Mediterracircneo sendo que a Espanha jaacute ofereceu porto para desembarque
de um barco de refugiados quando este foi rejeitado pela Itaacutelia213 Para anaacutelise da legislaccedilatildeo
de asiloproteccedilatildeo internacional dos paiacuteses foram utilizados livros mas principalmente
consulta nos sites dos governos de cada paiacutes
231 Itaacutelia
No ano de 2016 foi o auge de desembarques de migrantes na Itaacutelia foram 181436
migrantes que desembarcaram em busca de proteccedilatildeo internacional Nos anos seguintes
houve uma diminuiccedilatildeo de pessoas que chegaram no paiacutes sendo 11097 pessoas no ano de
2019 Poreacutem ao se comparar o periacuteodo de janeiro a junho de 2019 com o mesmo periacuteodo
em 2020 (ateacute o dia 15062020) nota-se um aumento de 2144 para 5639 migrantes214
Na Itaacutelia entende-se que assim que o migrante chegar agrave costa do paiacutes deve haver um
breve reconhecimento do tratamento daqueles que procuram proteccedilatildeo apoacutes isso procede-se
212 UNIAtildeO EUROPEIA Diretiva 2008115CE Disponiacutevel em httpseur-lexeuropaeulegal-
contentPTTXTuri=CELEX3A32008L0115 Acesso em 27052020 213 Situaccedilatildeo que ocorreu em agosto de 2019 quando a Itaacutelia recusou o desembarque do barco Open Arms e a
Espanha ofereceu porto poreacutem a ONG responsaacutevel rejeitou o pedido dizendo que natildeo havia condiccedilotildees para
uma jornada tatildeo longa ateacute a Espanha pois jaacute estavam a 17 dias no mar Fonte Jornal El Paiacutes Espanha oferece
porto para navio com imigrantes rejeitados pela Itaacutelia mas ONG recusa Disponiacutevel
httpsbrasilelpaiscombrasil20190818internacional1566124937_065336html Acesso em 07042020 214 MINISTERO DELLrsquoINTERNO Cruscotto statistico giornaliero Disponiacutevel em
httpwwwlibertaciviliimmigrazionedlciinternogovititdocumentazionestatisticacruscotto-statistico-
giornaliero Acesso em 19062020
70
agrave anaacutelise do procedimento de asilo e dos pedidos de proteccedilatildeo internacional Assim em um
primeiro momento faz-se uma distinccedilatildeo entre os migrantes econocircmicos e agravequeles que
solicitam a proteccedilatildeo internacional215
Nesse sentido em setembro de 2015 o Ministeacuterio do Interior da Itaacutelia publicou a
ldquoRoadmap italianardquo que consiste em explicar as medidas adotadas pelo governo para
administrar os migrantes que chegariam na costa italiana Ressalta-se poreacutem que natildeo
consiste em um texto legal mas sim uma nota de endereccedilo formal presente em uma circular
ministerial publicada no mecircs seguinte216
A ideia eacute que todos migrantes que cheguem aos pontos chamados ldquocentros de criserdquo
que ficam proacuteximos aos principais portos no sul da Itaacutelia para que ocorra uma preacute-
identificaccedilatildeo anaacutelise das condiccedilotildees de sauacutede e tambeacutem a respeito da entrada ilegal
ressalta-se que tais centros satildeo fechados ou seja ocorre uma privaccedilatildeo de liberdade
temporaacuteria para que sejam feitos os procedimentos necessaacuterios217
Sobre os chamados ldquocentros de criserdquo notamos que o artigo 8 nuacutemero 2 do Decreto
Legislativo 1422015 reitera a preacute-identificaccedilatildeo dos requerentes de proteccedilatildeo internacional
nos termos previstos no Decreto-Lei nordm 451 de 30 de outubro de 1995 em que prevecirc a criaccedilatildeo
dessas estruturas de acolhimento218
Dessa forma destaca-se a importacircncia de haver uma distinccedilatildeo nestes ldquocentros de
criserdquo dos migrantes econocircmicos dos que procuram proteccedilatildeo internacional humanitaacuteria219
ou seja eacute importante haver a distinccedilatildeo do tipo de migrante para saber se o indiviacuteduo se
enquadra nas hipoacuteteses de refugiado (conforme jaacute visto anteriormente na Convenccedilatildeo da
ONU de 1951) e assim receber proteccedilatildeo internacional220
Os requerimentos de asilo devem ser realizados nos postos de fronteira (ou na poliacutecia
de fronteira) poreacutem destaca-se que estes natildeo satildeo os oacutergatildeos competentes pela anaacutelise dos
215 SAVIO Guido Capitolo II Le procedure amministrative della domanda drsquoasilo dallrsquoavvio alla decisione
In ROCCA Paolo Immigrazione Asilo e Cittadinanza IV Edizione Maggioli Editore Santarcangelo di
Romagna 2019 216 Ibidem 217 Ibidem 218 REPUBBLICA ITALIANA Gazzetta Ufficiale della Reppublica Italiana - Decreto Legislativo 18 Agosto
2015 N 142 Disponiacutevel em httpswwwgazzettaufficialeiteliid2015091515G00158sg Acesso em
11052020 219 SAVIO Guido Op cit 220 NACcedilOtildeES UNIDAS Qual a diferenccedila entre lsquorefugiadosrsquo e lsquomigrantesrsquo Disponiacutevel em
httpsnacoesunidasorgqual-a-diferenca-entre-refugiados-migrantesamp Acesso em 11052020
71
requerimentos Portanto estes oacutergatildeos de fronteira devem remeter os requerimentos agraves
Comissotildees Territoriais responsaacuteveis pela anaacutelise dos pedidos de asilo221
A respeito dessas Comissotildees Territoriais tem-se que no artigo 4 do Decreto-
Legislativo 252008 dispotildee a respeito desses oacutergatildeos Assim tais oacutergatildeos fazem uso de
estruturas do Ministeacuterio do Interior e podem ser no maacuteximo 10 comissotildees (conforme n2 do
mencionado artigo) destaca-se o fato de um dos integrantes dessas comissotildees serem
representantes do ACNUR222
Entatildeo a respeito do pedido de asilo deve ser preenchido um formulaacuterio chamado
C3 que deve ser acompanhado com os documentos necessaacuterios Tal requerimento deve ser
feito dentro de 3 dias uacuteteis depois da manifestaccedilatildeo da intenccedilatildeo de requerer proteccedilatildeo
internacional ou 6 dias uacuteteis se a manifestaccedilatildeo de vontade foi feita na poliacutecia de fronteira
ressalta-se que pode haver um aumento desse prazo em casos de altas demandas neste caso
aceita-se o requerimento em ateacute 10 dias uacuteteis223
Nesse sentido o Decreto-Legislativo 252008 no artigo 6 nuacutemero 1 dispotildee o
seguinte ldquoLa domanda di protezione internazionale e presentata personalmente dal
richiedente presso lufficio di polizia di frontiera allatto dellingresso nel territorio
nazionale o presso lufficio della questura competente in base al luogo di dimora del
richiedente224rdquo
Apoacutes a apresentaccedilatildeo do requerimento de asilo os requerentes possuem o direito de
permanecer na Itaacutelia por um periacuteodo de 6 meses podendo ser prorrogado pelo periacuteodo que
durar a anaacutelise do pedido Assim apoacutes haacute a autorizaccedilatildeo de trabalho para os requerentes bem
como usufruir das garantias previstas no artigo 10 do Decreto-Legislativo 252008 que
incluem entre outras o direito agrave informaccedilatildeo (assim como previsto na Diretiva 201313UE)
direito de contato com o ACNUR direito agrave assistecircncia linguiacutestica etc225
Para o estrangeiro que requerer proteccedilatildeo internacional aleacutem da autorizaccedilatildeo de
moradia durante a anaacutelise do procedimento da requisiccedilatildeo de asilo teraacute acesso agraves medidas de
221 SAVIO Guido Op cit 222 REPUBBLICA ITALIANA Gazzetta Ufficiale della Reppublica Italiana - Decreto Legislativo 28 Gennaio
2008 N 25 Disponiacutevel em
httpswwwgazzettaufficialeitattoserie_generalecaricaDettaglioAttooriginarioattodataPubblicazioneGa
zzetta=2008-02-16ampattocodiceRedazionale=008G0044ampelenco30giorni=false Acesso em 12052020 223 SAVIO Guido Op cit 224 REPUBBLICA ITALIANA Gazzetta Ufficiale della Reppublica Italiana - Decreto Legislativo 28 Gennaio
2008 N 25 Op cit 225 SAVIO Guido Op cit
72
acolhimento previstas no Decreto Legislativo 1422015226 sobre este documento tem-se no
artigo 8ordm uma explicaccedilatildeo sobre o que eacute o sistema de colhimento dividido em duas fases
Assim a base deste sistema consiste na ldquo()leale collaborazione tra i livelli di governo
interessati secondo le forme di coordinamento nazionale e regionale ()rdquo227
Dessa forma como supramencionado com base na leitura do artigo percebemos a
existecircncia de duas fases no sistema de acolhimento A primeira consiste no acolhimento
assegurado como previsto nos artigos de 9 a 11 do decreto (que dispotildeem sobre as estruturas
de primeiro acolhimento modalidades e medidas extraordinaacuterias) e a segunda disciplinada
no artigo 14 que dispotildee que caso o estrangeiro natildeo tenha condiccedilotildees de arcar com uma vida
digna (com qualidade de vida) ela teraacute acesso ao SPRAR (Sistema de Proteccedilatildeo para o
Requerente de Asilo e Refugiado)228 Portanto destaca-se que haacute duas estruturas de
acolhimento uma referida no artigo 9 e outra no artigo 14
Ressalta-se poreacutem que em 2018 houve uma reforma com o Decreto-Legislativo
1132018 no qual foi estruturado um sistema de acolhimento separado para solicitantes de
asilo nos centros extraordinaacuterios229 estes estatildeo previstos no artigo 11 do Decreto 1422015
assim tal dispositivo prevecirc que em casos de natildeo haver vagas nas estruturas de acolhimento
previstas nos artigos 9 e 14 a recepccedilatildeo pode ser realizada pelas prefeituras em estruturas
temporaacuterias montadas especificamente para estes casos depois de ouvido o Departamento
pela Liberdade Civil e Imigraccedilatildeo do Ministeacuterio do Interior230 Nesse sentido o Decreto
1132018 traz a reforma dispondo a respeito de um sistema de acolhimento de forma
separada para os solicitantes de asilo nestes centros extraordinaacuterios231
Diante da reforma ocorrida em 2018 as estruturas previstas no Decreto-Legislativo
1422015 continuam em vigor para um sistema comum de asilo jaacute as novas estruturas
extraordinaacuterias satildeo destinadas agraves requisiccedilotildees de asilo das pessoas que necessitam de proteccedilatildeo
226 SAVIO Guido Op cit 227 REPUBBLICA ITALIANA Gazzetta Ufficiale della Reppublica Italiana - Decreto Legislativo 18 agosto
2015 n 142 ndash Art 8 Disponiacutevel em httpswwwgazzettaufficialeiteliid2015091515G00158sg Acesso
em 23052020 228 Ibidem 229 SAVIO Guido Op cit 230 REPUBBLICA ITALIANA Gazzetta Ufficiale della Reppublica Italiana - Decreto Legislativo 18 agosto
2015 n 142 Disponiacutevel em httpswwwgazzettaufficialeiteliid2015091515G00158sg Acesso em
23052020 231 SAVIO Guido Op cit
73
internacional Sendo que as estruturas extraordinaacuterias satildeo administradas pelos governos
locais232
No que se refere agraves requisiccedilotildees de proteccedilatildeo internacional na Itaacutelia elas devem ser
validadas caso a caso por um oacutergatildeo instituiacutedo pelo Ministeacuterio do Interior chamado Comissatildeo
Nacional para o Direito de Asilo (sediada em Roma) mas articulada em 20 Comissotildees
Territoriais e 30 seccedilotildees separadas destas comissotildees Sendo que estas Comissotildees Territoriais
estatildeo instaladas nas prefeituras233
Portanto sendo a Itaacutelia um dos paiacuteses que mais sofrem com a chegada de imigrantes
notamos que possui ampla legislaccedilatildeo no que se refere a asilo e acolhimento de pessoas que
necessitam de proteccedilatildeo internacional bem como possui oacutergatildeos para melhor organizaccedilatildeo da
estrutura de acolhimento Obviamente existem muitas criacuteticas a respeito deste sistema
poreacutem se deve levar em conta que satildeo milhares de pessoas que chegam na Itaacutelia requerendo
proteccedilatildeo Esse grande fluxo migratoacuterio na Itaacutelia faz com que o paiacutes viole reiteradamente os
direitos humanos dos migrantes obviamente natildeo se deve justificar as violaccedilotildees pelo grande
fluxo no entanto alguma accedilatildeo para administraccedilatildeo e organizaccedilatildeo dos migrantes deve ser
tomada a fim de desafogar os paiacuteses de entrada Uma melhor distribuiccedilatildeo dos migrantes eacute
uma das propostas do Novo Pacto sobre Migraccedilatildeo e Asilo
232 Portugal
Portugal assim como outros paiacuteses europeus eacute signataacuterio dos principais diplomas
internacionais como a Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 Protocolo de Nova Iorque e a
Convenccedilatildeo de Dublin que foram explicados anteriormente em acircmbito nacional o
documento que disciplina a questatildeo de asilo e proteccedilatildeo internacional eacute a Lei nordm 262014 de
5 de maio
O procedimento para requisiccedilatildeo de asilo e proteccedilatildeo internacional em Portugal se
inicia atraveacutes de requisiccedilatildeo ao SEF (Serviccedilo de Estrangeiros e Fronteiras) ou qualquer outra
autoridade policial dessa forma seraacute feita a identificaccedilatildeo do imigrante atraveacutes de seus dados
foto e impressotildees digitais (para maiores de 14 anos) assim receberaacute um comprovante de que
requereu a proteccedilatildeo e poderaacute permanecer no paiacutes ateacute o final do procedimento Caso o
232 SAVIO Guido Op cit 233 Ibidem
74
requerimento seja realizado em um posto de fronteira deveraacute permanecer ali por pelo menos
7 dias ateacute que se tenha alguma decisatildeo a respeito do pedido se admitirem o pedido seraacute
autorizada a entrada em Portugal caso contraacuterio deveraacute ser enviado ao paiacutes de origem (haacute a
possibilidade de recorrer com efeito suspensivo no prazo de 4 dias) mas se o pedido for
realizado jaacute no territoacuterio portuguecircs eacute encaminhado para centros de acolhimento de
requerentes de proteccedilatildeo e laacute deveraacute esperar ser convocado para entrevista em alguma agecircncia
do SEF
Na entrevista seratildeo analisados os fatos e se a decisatildeo for positiva receberaacute uma
autorizaccedilatildeo de residecircncia no prazo de 6 meses apoacutes esse periacuteodo seraacute analisado se a pessoa
reuacutene os requisitos para obtenccedilatildeo de asilo ou de proteccedilatildeo subsidiaacuteria Neste periacuteodo destaca-
se que o indiviacuteduo poderaacute trabalhar eou estudar Se a decisatildeo for negativa a pessoa teraacute o
prazo de 20 dias para deixar o paiacutes mas tem o prazo de 15 dias para apresentar recurso234
A decisatildeo pode ser para conceder o asilo com base no Estatuto de Refugiado
(Convenccedilatildeo de 1951) e neste caso seraacute emitida uma autorizaccedilatildeo de residecircncia por 5 anos
podendo ser renovaacutevel poreacutem se o caso for de proteccedilatildeo subsidiaacuteria a autorizaccedilatildeo de
residecircncia eacute de 3 anos tambeacutem podendo ser renovaacutevel235
Ressalta-se que a concessatildeo de asilo com base no Estatuto do Refugiado tem por base
a Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 jaacute a proteccedilatildeo subsidiaacuteria natildeo tem por base este diploma
poreacutem as pessoas ldquo() natildeo podem regressar ao seu paiacutes por aiacute se verificar a violaccedilatildeo
sistemaacutetica dos direitos humanos ou por correrem o risco de sofrerem ofensa grave pena de
morte tortura ou tratamento desumano e degradanterdquo236
Ainda referente agraves questotildees de apoio ao refugiado cita-se o CPR (Conselho
Portuguecircs para os Refugiados) que consiste em uma ONG parceira do ACNUR para prestar
auxiacutelio aos refugiados alocados em Portugal Sendo assim faz-se importante destacar que
esta estrutura ldquoEacute o parceiro operacional do Alto Comissariado das Naccedilotildees Unidas
(ACNUR) para Portugal mantendo um Protocolo de Cooperaccedilatildeo desde Julho de 1993 que
visa agrave proteccedilatildeo juriacutedica e social dos requerentes de asilo e dos refugiados A partir de
234 PORTUGAL Serviccedilo de Estrangeiros e Fronteiras ndash Etapas do Procedimento de Proteccedilatildeo Internacional
Disponiacutevel em
httpswwwsefptptDocumentsFolheto20InformaC3A7C3A3o20ProteC3A7C3A3o
20Internacionalpdf Acesso em 23052020 235 Ibidem 236 Ibidem
75
Dezembro de 1998 data do encerramento do ACNUR em Portugal o CPR passou a
representar esta organizaccedilatildeo no nosso paiacutesrdquo237
Nota-se que a estrutura para recebimento de refugiado em Portugal eacute muito mais
simples que a italiana isso talvez se justifique pelo fato da Itaacutelia receber milhares de
refugiados de forma direta ou seja chegam diretamente em terras italianas por embarcaccedilotildees
clandestinas eou de ONGrsquos na costa requerendo ajuda por fugirem de situaccedilotildees de
sofrimento e ofensas aos direitos humanos
233 Greacutecia
Assim como a Itaacutelia a Greacutecia eacute um dos paiacuteses que mais sofrem com a chegada de
migrantes devido agrave proximidade com paiacuteses do Oriente Meacutedio e Norte da Aacutefrica muitos
refugiados chegam diretamente no paiacutes atraveacutes das embarcaccedilotildees pelo mar mediterracircneo e
tambeacutem pela Turquia
Para comeccedilarmos entender a estrutura de asilo no paiacutes helecircnico vamos ter por base o
Serviccedilo de Asilo (Asylum Service) instituiacutedo pela Lei nordm 39072011 sendo esta instituiccedilatildeo
responsaacutevel por analisar os pedidos de proteccedilatildeo internacional Trata-se portanto da primeira
instituiccedilatildeo autocircnoma para este objetivo238
Assim as funccedilotildees do Serviccedilo de Asilo consistem em analisar e aplicar as disposiccedilotildees
nacionais bem como observar as obrigaccedilotildees internacionais ao reconhecer um indiviacuteduo
como refugiado Aleacutem disso tambeacutem tem a funccedilatildeo de elaborar as poliacuteticas nacionais no que
se refere agrave proteccedilatildeo internacional e cooperaccedilatildeo com as organizaccedilotildees internacionais e da
Uniatildeo Europeia239
A estrutura desta instituiccedilatildeo eacute baseada em um escritoacuterio central escritoacuterios regionais
de asilo e unidades de asilo sendo que a primeira assessora e controla as demais estruturas
menores Assim o Serviccedilo de Asilo somente se reporta ao Ministro da Proteccedilatildeo do
Cidadatildeo240
237 CONSELHO PORTUGUEcircS PARA OS REFUGIADOS Histoacuteria Disponiacutevel httpscprpthistoria
Acesso em 24052020 238 HELLENIC REPUBLIC Asylum Service Disponiacutevel httpasylogovgrenpage_id=39 Acesso em
24052020 239 Ibidem 240 Ibidem
76
A respeito da concessatildeo da proteccedilatildeo internacional a Lei nordm 43752016 no artigo 21
modificou o decreto presidencial 1412013 Neste dispositivo haacute a informaccedilatildeo de que
quando concedida a proteccedilatildeo internacional o refugiado tem a autorizaccedilatildeo de residecircncia por
3 anos devendo requerer a renovaccedilatildeo (se for o caso) ateacute 30 dias antes do vencimento poreacutem
ressalta-se que o simples atraso natildeo deve ser motivo para rejeiccedilatildeo da renovaccedilatildeo Ainda no
mesmo dispositivo haacute previsatildeo da uniatildeo familiar do refugiado241
Na parte C da lei mencionada acima haacute adoccedilatildeo da Diretiva 201332UE sendo que
no artigo 33 haacute a menccedilatildeo do artigo 1ordm da diretiva que consiste na adoccedilatildeo comum de
procedimentos como disposto ldquo()on common procedures for granting and withdrawing
international protection statusrdquo242
Assim no artigo 34 da Lei nordm 43752016 faz referecircncia aos artigos 2 e 4 da diretiva
supramencionada trazendo uma seacuterie de conceitos e disposiccedilotildees para requisiccedilatildeo de asilo
para pessoas de uma mesma famiacutelia Ressalta-se tambeacutem que a interpretaccedilatildeo deve ser feita
com base nas disposiccedilotildees nacionais internacionais bem como na jurisprudecircncia243
A respeito dos pedidos de asilo tem-se que estes natildeo devem ser rejeitados apenas
por natildeo terem sido enviados rapidamente Assim na anaacutelise de todos os pedidos de proteccedilatildeo
internacional primeiro se analisa se haacute o enquadramento no status de refugiado caso natildeo
ocorra esse enquadramento deve-se analisar se eacute o caso de proteccedilatildeo subsidiaacuteria (conforme
artigo 39 da Lei nordm 43752016 e artigo 10 da Diretiva 201332EU)244
Assim como em outros paiacuteses a Greacutecia tambeacutem dispotildee que os pedidos devem ser
analisados individualmente sendo um processo de anaacutelise abrangente objetivo e imparcial
Nesse sentido o Serviccedilo de Asilo deve ter conhecimento de qual eacute a situaccedilatildeo no paiacutes de
origem das pessoas que pedem refuacutegio bem como deve assegurar que a equipe que analisa
os pedidos tenha amplo conhecimento das disposiccedilotildees nacionais internacionais e
jurisprudecircncias no que se refere agrave proteccedilatildeo internacional (para isso cita-se a realizaccedilatildeo de
treinamentos da equipe)245
A respeito do procedimento ele eacute gratuito e o pedido deve ser feito perante os
escritoacuterios regionais ou unidades de asilo o pedido tambeacutem pode ser feito para todos os
241 HELLENIC REPUBLIC Legislation Disponiacutevel httpasylogovgrenpage_id=113 Acesso em
24052020 242 Ibidem 243 Ibidem 244 Ibidem 245 Ibidem
77
integrantes da famiacutelia que estejam na Greacutecia Haacute tambeacutem a possibilidade de que um
advogado ou conselheiro acompanhe o processo poreacutem sem a intermediaccedilatildeo do Serviccedilo de
Asilo sendo as custas arcadas de forma independente pelo requisitante de asilo Durante o
procedimento assim como em outros paiacuteses ocorre a entrevista do requerente que apoacutes esta
recebe um cartatildeo que lhe assegura estar sob condiccedilatildeo de proteccedilatildeo246
Por fim de forma sinteacutetica podemos notar que a Greacutecia assim como os demais paiacuteses
da Uniatildeo Europeia segue as normas internacionais bem como as diretivas europeias que
norteiam o assunto Poreacutem em 2019 o paiacutes helecircnico comeccedilou com procedimentos com uma
seacuterie de reformas da legislaccedilatildeo nacional a fim de dificultar o procedimento e concessatildeo de
pedido de asilo O governo grego disse que a maioria dos migrantes que laacute chegam
atualmente natildeo satildeo os que necessitam de proteccedilatildeo internacional que se trata de migrantes
econocircmicos Tal argumento foi refutado pelo ACNUR que disse que 85 dos refugiados
que chegam atualmente na Greacutecia satildeo provenientes da Siacuteria Afeganistatildeo Iraque Repuacuteblica
Democraacutetica do Congo entre outros paiacuteses247
Nesse sentido a Anistia Internacional se manifestou a respeito dizendo ldquoThe new
Bill introduces significant changes to asylum procedures the rights and obligations of
asylum seekers reception and detention as well as economic social and cultural rightsrdquo
Dessa forma o governo grego alterou o conceito de pessoas vulneraacuteveis excluindo as
pessoas que se enquadram em situaccedilatildeo de estresse poacutes-traumaacutetico Trata-se de uma
significativa mudanccedila tendo em vista que a maioria dos requerentes de proteccedilatildeo
internacional sofre com esse transtorno pois estavam expostos a diversas situaccedilotildees como
de violecircncia fiacutesica e psicoloacutegica por exemplo248
Outro ponto importante eacute a ideia de acelerar os procedimentos de asilo tornando a
anaacutelise mais superficial e sem aprofundamento no meacuterito de cada pedido de asilo aleacutem disso
tambeacutem impacta as pessoas em que a proteccedilatildeo internacional eacute concedida ou seja dificulta
o acesso ao mercado de trabalho ao sistema de sauacutede e agrave educaccedilatildeo altera a composiccedilatildeo do
246 HELLENIC REPUBLIC Legislation Op cit 247 NATIONAL INTEGRATION EVALUATION MECHANISM (NIEM) The new law on asylum in Greece
Disponiacutevel em httpwwwforintegrationeuplthe-new-law-on-asylum-in-greece Acesso em 25052020 248 ANISTIA INTERNACIONAL Greece Proposed bill on asylum downgrades EU and International Law
standards on refugees protection 2019 Disponiacutevel em httpwwwantigonegrennewspost452 Acesso em
25052020
78
Serviccedilo de Asilo entre outras reformas no sentido de prejudicar a concessatildeo de proteccedilatildeo
internacional249
Sendo assim muitas satildeo as criacuteticas a respeito da nova lei grega para a concessatildeo da
proteccedilatildeo internacional o ACNUR recebeu com preocupaccedilatildeo a notiacutecia da possibilidade de
reforma pois tal mudanccedila enfraqueceria a proteccedilatildeo internacional dos indiviacuteduos
necessitados O oacutergatildeo reconheceu que a necessidade de fortalecimento da legislaccedilatildeo grega
sobre o tema poreacutem natildeo da forma como tem sucedido ou seja tal projeto de lei
sobrecarrega os requerentes de asilo250
E mesmo sob criacuteticas de diversas organizaccedilotildees internacionais como a Anistia
Internacional o ACNUR (ONU) Meacutedicos Sem Fronteiras entre outras em maio de 2020 a
governo helecircnico aprovou a nova lei de asilo em detrimento dos direitos dos indiviacuteduos que
necessitam de proteccedilatildeo internacional251
Aleacutem disso adiante demonstraraacute adiante mais claramente que a Greacutecia natildeo tem sido
um paiacutes seguro para requerer asilo tendo em vista muitas violaccedilotildees dos direitos humanos
inclusive com relatoacuterio do ACNUR orientando os paiacuteses para que natildeo enviem os migrantes
para Greacutecia devido agraves violaccedilotildees e falta de cuidados com os mesmos Ademais uma
reportagem do jornal ldquoThe New York Timesrdquo citada no uacuteltimo capiacutetulo trouxe agrave tona a
violaccedilatildeo grega de deixar migrantes agrave deriva no mar levando-os ateacute a fronteira do mar
territorial e abandonando-os
234 Malta
A ilha de Malta sofre com a chegada de milhares de refugiados da mesma forma que
a Itaacutelia e a Greacutecia principalmente por embarcaccedilotildees clandestinas ou de ONGrsquos tendo origem
no norte do continente africano em paiacuteses como a Liacutebia por exemplo Sendo assim eacute um
dos paiacuteses mais afetados pela migraccedilatildeo em busca de proteccedilatildeo internacional da Uniatildeo
Europeia
249 ANISTIA INTERNACIONAL Greece Proposed bill on asylum downgrades EU and International Law
standards on refugees protection 2019 Op cit 250 UNHCR GREECE UNHCR urges Greece to strengthen safeguards in draft asylum law 2019 Disponiacutevel
em httpswwwunhcrorggren13170-unhcr-urges-greece-to-strengthen-safeguards-in-draft-asylum-
lawhtml 251 DIAacuteRIO DE NOTIacuteCIAS Greacutecia aprova nova reforma na lei de asilo do paiacutes 2020 Disponiacutevel em
httpswwwdnoticiasptmundogrecia-aprova-nova-reforma-na-lei-de-asilo-do-pais-FE6240421 Acesso em
25052020
79
Assim o oacutergatildeo responsaacutevel pela anaacutelise dos pedidos de proteccedilatildeo internacional em
Malta faz parte do Ministeacuterio de Assuntos Internos e Seguranccedila Nacional e consiste no
Escritoacuterio do Comissaacuterio para Refugiados A criaccedilatildeo deste estaacute prevista na Lei dos
Refugiados (capiacutetulo 420 das Leis de Malta) e tomou agrave frente da anaacutelise dos requerimentos
de asilo em janeiro de 2002 anteriormente a anaacutelise era realizada pelo ACNUR
A principal funccedilatildeo do referido oacutergatildeo eacute receber processar e determinar os pedidos de
proteccedilatildeo internacional conforme previsto na Lei dos Refugiados (alterada pelas leis VI e
VII em 2015) e na Legislaccedilatildeo Subsidiaacuteria 42007 Aleacutem destas leis que consistem na
legislaccedilatildeo nacional a respeito da concessatildeo de proteccedilatildeo internacional observa-se tambeacutem a
Convenccedilatildeo de Genebra Protocolo de Nova Iorque Convenccedilatildeo de Dublin e diretrizes
europeias sobre o tema252
As pessoas que necessitam de proteccedilatildeo para requisitarem a concessatildeo de asilo
devem contatar o Escritoacuterio do Comissaacuterio para Refugiado ou alguma outra autoridade de
Malta para demonstrar a intenccedilatildeo de obter a proteccedilatildeo internacional Assim os indiviacuteduos
satildeo orientados a preencher o chamado ldquoQuestionaacuterio Preliminarrdquo apoacutes a apresentaccedilatildeo deste
documento o Escritoacuterio do Comissaacuterio para Refugiado eacute o oacutergatildeo competente para analisar
os pedidos Obedece-se portanto as previsotildees da Convenccedilatildeo de Dublin253
Para auxiliar na anaacutelise do pedido eacute realizada entrevista (pelo menos uma) assim
como em outros paiacuteses europeus e esta eacute realizada por uma assistente social e inteacuterprete se
for o caso O procedimento para requerimento de asilo eacute uacutenico Portanto em um primeiro
momento eacute analisado se o indiviacuteduo se enquadra nos requisitos para a concessatildeo do status
de refugiado caso natildeo seja concedida a condiccedilatildeo de refugiado analisa-se se eacute a situaccedilatildeo de
concessatildeo de proteccedilatildeo subsidiaacuteria254
Apoacutes a anaacutelise informa-se o requerente sobre a decisatildeo constando nela os motivos
que levaram a chegar naquela decisatildeo Haacute a possibilidade de recurso em caso de decisatildeo
negativa sendo que satildeo fornecidas por escrito as informaccedilotildees necessaacuterias para que o
indiviacuteduo apresente o recurso255
252 MINISTRY FOR HOME AFFAIRS AND NATIONAL SECURITY (MALTA) The Office of the Refugee
Commissioner Disponiacutevel em httpshomeaffairsgovmtenmhas-
departmentsthe20office20of20the20refugee20commissionerPagesRefugeeaspx Acesso em
26052020 253 Ibidem 254 Ibidem 255 Ibidem
80
Assim de acordo com a Regra 14 da Legislaccedilatildeo Subsidiaacuteria 42007 uma pessoa a
qual foi concedida proteccedilatildeo internacional pode permanecer em Malta e lhe seraacute entregue
documentos pessoais autorizaccedilatildeo de residecircncia (por 3 anos podendo ser renovada) e
liberdade de circulaccedilatildeo A Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 prevecirc a entrega de um documento
de viagem (para aqueles que possuem status de refugiado jaacute para os que possuem proteccedilatildeo
subsidiaacuteria a legislaccedilatildeo nacional prevecirc a entrega de um documento de viagem permitindo a
pessoa sair e retornar a Malta (com exceccedilatildeo se estiver respondendo processo judicial
criminal ou cumprindo pena) Aleacutem disso os indiviacuteduos detentores de proteccedilatildeo internacional
teratildeo acesso a atividades laborais bem-estar social educaccedilatildeo assistecircncia meacutedica entre
outros benefiacutecios256
Como vimos haacute dois niacuteveis de proteccedilatildeo internacional ter o status de refugiado ou
se natildeo for possiacutevel receber proteccedilatildeo subsidiaacuteria Poreacutem o Escritoacuterio do Comissaacuterio para
Refugiados pode apresentar outro tipo de proteccedilatildeo ou seja a Proteccedilatildeo Humanitaacuteria
Temporaacuteria Tal regime deveraacute ser concedido para casos especiais para as pessoas que natildeo
se enquadrem no status de refugiado e nas condiccedilotildees para receber proteccedilatildeo subsidiaacuteria mas
que sejam considerados necessitados por razotildees humanitaacuterias especiais257
Aleacutem disso Malta ainda possui uma agecircncia voltada para o bem estar do refugiado
(Agecircncia para o Bem-Estar dos Requerentes de Asilo) que auxilia na implementaccedilatildeo da
legislaccedilatildeo nacional e poliacuteticas voltadas para o bem-estar dos requerentes de proteccedilatildeo
internacional bem como em assistecircncia para obtenccedilatildeo de emprego cursos de treinamentos
e de liacutenguas suporte social (sauacutede bem-estar da famiacutelia encaminhamento para apoio
psicoloacutegico e escolaridade)258
No entanto mesmo com toda essa estrutura para acolhimento dos migrantes Malta
a exemplo de outros paiacuteses europeus como Itaacutelia e Greacutecia tambeacutem tem violado direitos
humanos dos refugiados como veremos no uacuteltimo capiacutetulo
256 MINISTRY FOR HOME AFFAIRS AND NATIONAL SECURITY (MALTA) The Office of the Refugee
Commissioner Op cit 257 Ibidem 258 MINISTRY FOR HOME AFFAIRS AND NATIONAL SECURITY (MALTA) AWAS ndash Mission and
Function Disponiacutevel httpshomeaffairsgovmtenMHAS-DepartmentsawasPagesMission-and-
Functionaspx Acesso 26052020
81
235 Espanha
A Espanha tambeacutem eacute um paiacutes que sofre com as migraccedilotildees advindas do Mar
Mediterracircneo poreacutem ressalta-se que os mais afetados ainda satildeo Itaacutelia Greacutecia e Malta
Poreacutem como dito anteriormente a Espanha ofereceu a recepccedilatildeo de uma embarcaccedilatildeo que
estava haacute mais de duas semanas ancorada a 800 metros da costa de Lampedusa (Itaacutelia) com
107 migrantes na qual a Itaacutelia rejeitava o desembarque mas a embarcaccedilatildeo rejeitou o pedido
por natildeo ter condiccedilotildees de navegar ateacute Espanha259
A Espanha aceitou receber os migrantes por entender que a recusa de recebimento
pela Itaacutelia era inconcebiacutevel260 Resultado disso no dia 20 de agosto de 2019 os migrantes
saltaram ao mar para tentar chegar na costa italiana sendo assim as autoridades portuaacuterias
italianas comeccedilaram a resgatar os migrantes261 Poreacutem o assunto de resgate de migrantes no
mar seraacute abordado mais adiante
As principais normativas a respeito de proteccedilatildeo internacional na Espanha consistem
nos seguintes documentos a Lei 122009 regula o direito de asilo e a proteccedilatildeo subsidiaacuteria
o Decreto Real 13252003 que se refere agrave aprovaccedilatildeo do Regulamento a respeito do regime
de proteccedilatildeo temporal quando ocorrer um alto fluxo de pessoas deslocadas o Decreto Real
8652001que diz respeito agrave aprovaccedilatildeo do Estatuto do Apaacutetrida262
Assim o sistema de asilo da Espanha eacute formado por uma rede de centros de
acolhimento (do governo) os chamados CAR (Centros de Acolhida de Refugiados) bem
como disposiccedilotildees e programas que atendem as pessoas solicitantes que estatildeo sob proteccedilatildeo
internacional estes centros satildeo geridos por organizaccedilotildees sem fins lucrativos sob supervisatildeo
da Direccedilatildeo Geral de Migraccedilotildees263
259 O GLOBO Crise envolvendo navio de resgate humanitaacuterio ldquoOpen Armsrdquo contrapotildee Itaacutelia Espanha e ONG
2019 Disponiacutevel em httpsogloboglobocommundocrise-envolvendo-navio-de-resgate-humanitario-open-
arms-contrapoe-italia-espanha-ong-23887061 Acesso em 27052020 260 Ibidem 261 REVISTA VEJA Imigrantes se jogam no mar do navio Open Arms para alcanccedilar a Itaacutelia 2019 Disponiacutevel
httpsvejaabrilcombrmundoimigrantes-se-jogam-do-navio-open-arms-no-mar-alcancar-a-italia Acesso
em 27052020 262 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DE INCLUSIOacuteN SEGURIDAD SOCIAL Y
MIGRACIONES) PORTAL DE INMIGRACIOacuteN ndash Reacutegimen de Asilo Disponiacutevel em
httpextranjerosmitramissgobesesnormativanacionalasiloindexhtml Acesso em 27052020 263 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DE INCLUSIOacuteN SEGURIDAD SOCIAL Y
MIGRACIONES) PORTAL DE INMIGRACIOacuteN ndash Informacioacuten Disponiacutevel em
httpextranjerosmitramissgobesesProteccionAsiloinformacionindexhtml Acesso em 27052020
82
O financiamento dessas ONGrsquos proveacutem da Secretaria Geral de Imigraccedilatildeo e
Emigraccedilatildeo com auxiacutelio em alguns casos do Fundo Social Europeu e Fundo de Asilo
Migraccedilatildeo e Integraccedilatildeo O ACNUR pode intervir nos procedimentos de asilo (nos termos que
a lei permitir) nesse sentido esta organizaccedilatildeo recebe valores da Direccedilatildeo Geral das
Migraccedilotildees264
A lei que regula a questatildeo do asilo e da proteccedilatildeo subsidiaacuteria na Espanha eacute a Lei
122009 e no artigo 231 haacute a previsatildeo da Oficina de Asilo e Refuacutegio que eacute o oacutergatildeo
responsaacutevel pela tramitaccedilatildeo e solicitaccedilotildees de proteccedilatildeo internacional265 Essa informaccedilatildeo estaacute
presente tambeacutem no folheto informativo sobre a proteccedilatildeo internacional que diz que todas as
solicitaccedilotildees satildeo analisadas pela Oficina de Asilo e Refuacutegio e a decisatildeo eacute tomada pelo
Ministeacuterio do Interior266 Assim conforme disposto no site do governo espanhol a Oficina
de Asilo estaacute subordinada agrave Subdireccedilatildeo Geral de Proteccedilatildeo Internacional que por sua vez se
submete agrave Direccedilatildeo Geral de Poliacutetica Interior (inserida portanto no acircmbito do Ministeacuterio do
Interior)267
O procedimento portanto se inicia com a solicitaccedilatildeo do indiviacuteduo perante o posto
fronteiriccedilo (se estaacute chegando na Espanha) ou se jaacute estiver na Espanha na Oficina de Asilo
e Refuacutegio Oficina de Estrangeiros Delegacias de Poliacutecia Autorizadas e Centros de
Internaccedilatildeo para Estrangeiros e devem requerer no prazo de 1 mecircs que estejam na Espanha
ou quando ocorram acontecimentos que justifiquem a requisiccedilatildeo268
A solicitaccedilatildeo deve ser pessoalmente e passaraacute por uma entrevista que deveraacute explicar
os motivos que justifiquem a proteccedilatildeo internacional e como chegou agrave Espanha O requerente
tem o direito de permanecer na Espanha ateacute que se resolva a sua requisiccedilatildeo e ter assistecircncia
sanitaacuteria aleacutem disso tem o direito de ser assistido por um advogado e caso natildeo tenha
264 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DE INCLUSIOacuteN SEGURIDAD SOCIAL Y
MIGRACIONES) PORTAL DE INMIGRACIOacuteN ndash Informacioacuten Op cit 265 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DEL INTERIOR) Oficina de Asilo y Refugio Disponiacutevel em
httpwwwinteriorgobeswebservicios-al-ciudadanooficina-de-asilo-y-refugio Acesso em 27052020 266 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DEL INTERIOR) Informacioacuten para los solicitantes de
proteccioacuten internacional em Espantildea Derecho de Asilo y Proteccioacuten Subsidiaria Disponiacutevel em
httpwwwinteriorgobesdocuments6423171201485Informacion_solicitantes_Asilo_EspaC3B1ol_12
6160083pdfd8fb2cb4-9bc4-4a53-9032-628c02f1e114 Acesso em 27052020 267 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DE INCLUSIOacuteN SEGURIDAD SOCIAL Y
MIGRACIONES) PORTAL DE INMIGRACIOacuteN ndash Informacioacuten Op cit 268 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DEL INTERIOR) Informacioacuten para los solicitantes de
proteccioacuten internacional em Espantildea Derecho de Asilo y Proteccioacuten Subsidiaria Op cit
83
condiccedilotildees de pagar deveraacute requerer agrave ONGrsquos ou Coleacutegios de Advogados Assim que se eacute
realizado a requisiccedilatildeo de asilo deveraacute comunicar o ACNUR269
Da decisatildeo de negativa da concessatildeo de proteccedilatildeo internacional cabe recurso ao juiz
(se a requisiccedilatildeo ocorrer no territoacuterio espanhol) se requereu em um posto fronteiriccedilo deveraacute
permanecer no local sendo que as autoridades possuem ateacute 4 dias para analisar a admissatildeo
do tracircmite Autorizado o procedimento o indiviacuteduo poderaacute entrar no paiacutes caso seja negada
a admissatildeo do pedido o requerente teraacute dois dias para apresentar recurso (chamado reexame)
e a autoridade teraacute dois dias para analisar mesmo assim se ocorrer a negativa o indiviacuteduo
deveraacute deixar a Espanha ou recorrer a um juiz ou tribunal270
O prazo para anaacutelise dos pedidos eacute de seis meses podendo ser reduzido para trecircs
meses em casos urgentes desta decisatildeo caberaacute recurso ao Tribunal (ldquoAudiencia Nacionalrdquo)
e destaca-se que o requerente tem direito a assistecircncia gratuita de um advogado caso natildeo
tenha condiccedilotildees de arcar com os custos271
Anteriormente foi explicado que a Espanha possui em seu sistema de asilo o Centro
de Acolhida dos Refugiados (CAR) que consistem em locais puacuteblicos cuja utilidade eacute o
alojamento assistecircncia social manutenccedilatildeo entre outros serviccedilos sociais com a finalidade
de integrar e facilitar a vida dos requerentes de asilo Sendo assim o seu regramento esta
previsto no Regramento da Lei Orgacircnica 42000 que trata sobre os direitos e liberdades de
estrangeiros na Espanha e tambeacutem da integraccedilatildeo social sendo que estaacute previsto no artigo
2642 os programas para as pessoas que requerem proteccedilatildeo internacional aleacutem disso cita-
se a Ordem Ministerial de 13 de janeiro de 1989 que regula os centros de acolhida de
refugiados e asilados e tambeacutem a Resoluccedilatildeo de 6 de julho de 1998 que aprovou o Estatuto
baacutesico dos CAR que resulta na Ordem de 13 de janeiro de 1989 que os regula272
269 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DEL INTERIOR) Informacioacuten para los solicitantes de
proteccioacuten internacional em Espantildea Derecho de Asilo y Proteccioacuten Subsidiaria Op cit 270 Ibidem 271 Ibidem 272 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DE INCLUSIOacuteN SEGURIDAD SOCIAL Y
MIGRACIONES) PORTAL DE INMIGRACIOacuteN ndash Centro de Acogida a Refugiados (CAR) Disponiacutevel em
httpextranjerosmitramissgobesesproteccionasilocarindexhtml Acesso em 27052020
84
236 Franccedila
Em 2019 a Franccedila se tornou o paiacutes com maior nuacutemero de solicitaccedilotildees de refuacutegio na
Europa Sendo assim eacute o Ministeacuterio do Interior a reparticcedilatildeo do governo responsaacutevel pela
anaacutelise dos pedidos de asilo no paiacutes sendo o Escritoacuterio Francecircs de Proteccedilatildeo dos Refugiados
e Apaacutetridas oacutergatildeo responsaacutevel pela anaacutelise dos requerimentos de proteccedilatildeo internacional
Ao se analisar os dispositivos a respeito de asilo na Franccedila tem-se que logo no
preacircmbulo (Nordm 4) de sua Constituiccedilatildeo este direito estaacute previsto ou seja possuem direito de
asilo no territoacuterio francecircs aqueles que ao buscarem sua liberdade sofrerem algum tipo de
perseguiccedilatildeo Como segue ldquoTout homme perseacutecuteacute en raison de son action en faveur de la
liberteacute a droit dasile sur les territoires de la Reacutepubliquerdquo273 Portanto o direito de asilo no
direito francecircs consiste em um princiacutepio constitucional O direito de asilo estaacute previsto
tambeacutem no Livro VII do Coacutedigo de Entrada e Permanecircncia de Estrangeiros e do Direito de
Asilo (CESEDA)274
O site do governo francecircs dispotildee que o direito de asilo tambeacutem deriva dos
compromissos internacionais assumidos pelo paiacutes ou seja ser signataacuteria da Convenccedilatildeo de
Genebra de 1951 Convenccedilatildeo de Dublin e Diretivas Europeias Aleacutem disso o referido direito
se baseia em trecircs princiacutepios ter seu pedido analisado de forma imparcial direito de proteccedilatildeo
estendida direito de acolhimento e vida digna enquanto aguarda o resultado da
solicitaccedilatildeo275
Por proteccedilatildeo estendida entende-se duas formas de proteccedilatildeo internacional (como jaacute
explicado) isto eacute concessatildeo de status de refugiado ou concessatildeo de proteccedilatildeo subsidiaacuteria O
pedido deve ser analisado de forma imparcial pelo OFPRA e CNDA (Cocircrte Nacional de
Direito de Asilo oacutergatildeo ligado ao Conselho de Estado) Assim o OFPRA eacute vinculado ao
Ministeacuterio do Interior e natildeo deve sofrer interferecircncias da CNDA Portanto caso seja negada
a proteccedilatildeo internacional pelo OFPRA o requerente poderaacute recorrer agrave CNDA e neste caso
ele poderaacute ter acesso agrave assistecircncia juriacutedica E o direito de permanecircncia no territoacuterio francecircs
273 CONSEIL CONSTITUTIONNEL Preacuteambule de la Constitution du 27 Octobre 1946 Disponiacutevel em
httpswwwconseil-constitutionnelfrle-bloc-de-constitutionnalitepreambule-de-la-constitution-du-27-
octobre-1946 Acesso em 27052020 274 MINISTEacuteRE DE LrsquoINTEacuteRIEUR (IMMIGRATION ASILE ACCUEIL ET ACCOMPAGNEMENT DES
EacuteTRANGERS EM FRANCE Les Grands Principes du Droit DrsquoAsile Disponiacutevel em
httpswwwimmigrationinterieurgouvfrAsileLe-droit-d-asileLes-grands-principes-du-droit-d-asile
Acesso em 27052020 275 Ibidem
85
durante a anaacutelise do requerimento em um primeiro momento eacute entregue um certificado de
pedido de asilo com duraccedilatildeo de 1 mecircs podendo ser renovaacutevel Aleacutem do OFPRA e da CNDA
ainda tem o Escritoacuterio Francecircs de Imigraccedilatildeo e Integraccedilatildeo (OFII) que eacute responsaacutevel pela
acomodaccedilatildeo dos requerentes de asilo nos centros de acolhimento276
Portanto em termos de procedimentos e requisitos natildeo haacute muitas alteraccedilotildees de um
paiacutes para o outro (em geral na Uniatildeo Europeia) Poreacutem eacute de faacutecil percepccedilatildeo que a
distribuiccedilatildeo dos oacutergatildeos responsaacuteveis pela anaacutelise dos pedidos eacute diferente entre os paiacuteses a
Franccedila por exemplo possui trecircs oacutergatildeos inclusive um tribunal administrativo para analisar
os recursos das decisotildees
237 Alemanha
A Alemanha assim como a Franccedila eacute um dos paiacuteses da Europa que mais recebem
solicitaccedilotildees de proteccedilatildeo internacional todos os anos sendo que por vaacuterios anos foi o paiacutes
europeu que mais recebeu refugiados No ano de 2019 como jaacute mencionado a Franccedila
ultrapassou a Alemanha nos pedidos de proteccedilatildeo
Entatildeo como na maioria dos paiacuteses o primeiro passo eacute se apresentar perante uma
autoridade do paiacutes (sendo na fronteira ou jaacute no territoacuterio) Assim na Alemanha haacute o registro
de todos os indiviacuteduos que pretendem solicitar o pedido de asilo no paiacutes germacircnico sendo
colhidas impressotildees digitais e fotos para os maiores de 14 anos Os dados satildeo salvos no
ldquoRegistro Central de Estrangeirosrdquo (AZR) assim a anaacutelise se inicia pela comparaccedilatildeo de
dados jaacute salvos (se for o caso) neste registro posteriormente analisa-se no Departamento de
Poliacutecia Criminal Federal se houve a praacutetica de algum crime no paiacutes pelo indiviacuteduo Analisa-
se tambeacutem o EURODAC para se certificar que natildeo haacute nenhum outro paiacutes europeu
responsaacutevel pela anaacutelise do pedido de asilo A respeito do ldquoRegistro Geral de Estrangeirosrdquo
(AZR) trata-se de um registro nacional gerenciado pelo Escritoacuterio Federal sendo um oacutergatildeo
importante de consulta para as autoridades germacircnicas que trabalham com imigraccedilatildeo277
276 MINISTEacuteRE DE LrsquoINTEacuteRIEUR (IMMIGRATION ASILE ACCUEIL ET ACCOMPAGNEMENT DES
EacuteTRANGERS EM FRANCE Les Grands Principes du Droit DrsquoAsile Op cit 277 FEDERAL OFFICE FOR MIGRATION AND REFUGEES The Stages of the German Asylum Procedure
ndash An overview of the individual procedural steps and the legal basis Disponiacutevel em
httpswwwbamfdeSharedDocsAnlagenENAsylFluechtlingsschutzAsylverfahrendas-deutsche-
asylverfahrenpdf__blob=publicationFileampv=12 Acesso em 28052020
86
Ao se registrar o requerente de asilo recebe um documento de comprovaccedilatildeo de
chegada a fim de provar quando necessaacuterio o seu registro perante a autoridade alematilde Este
documento tem tambeacutem a funccedilatildeo de autorizar o indiviacuteduo a residir na Alemanha bem como
assistecircncia de sauacutede acomodaccedilatildeo alimentaccedilatildeo entre outros benefiacutecios estatais278
Apoacutes o registro os requerentes satildeo encaminhados e instalados no centro de
acolhimento mais proacuteximo podendo ser de forma temporaacuteria ou de longo prazo sendo de
ateacute 6 meses ou ateacute que a solicitaccedilatildeo seja decidida Em casos de reagrupamento familiar pode
ser que os indiviacuteduos sejam transferidos de um centro de acolhimento para outro Haacute ainda
a distribuiccedilatildeo dos refugiados pelas ldquoFederal Landrdquo atraveacutes do sistema de cotas EASY
(Distribuiccedilatildeo Inicial dos Requerentes de Asilo)279
Nesses centros de acolhimento as pessoas recebem comida e benefiacutecios a fim de
proporcionar a sua subsistecircncia durante os dias que permanecerem no local Ressalta-se que
haacute inclusive benefiacutecios financeiros para cobrir as necessidades pessoais diaacuterias conforme
a lei de benefiacutecios dos requerentes de asilo (Asylbewerberleistungsgesetz) Ressalta-se que
os requerentes de proteccedilatildeo apesar de poderem residir legalmente na Alemanha enquanto
aguardam a conclusatildeo do processo natildeo podem trabalhar neste periacuteodo280
Considera-se a entrevista a etapa mais importante no procedimento de asilo Assim
os requerentes satildeo convidados para esta etapa e caso natildeo possam comparecer devem avisar
em tempo haacutebil caso contraacuterio o pedido poderaacute ser interrompido ou ateacute recusado Os
requerentes podem estar acompanhados de um advogado ou por um representante do
ACNUR ademais ao longo do trabalho percebe-se a importacircncia deste oacutergatildeo nos
procedimentos de asilo na Alemanha natildeo eacute diferente o ACNUR pode solicitar informaccedilotildees
sobre o trabalho do Escritoacuterio Federal e monitora os procedimentos para garantir que haacute o
respeito pela Convenccedilatildeo de Genebra de 1951281
Haacute tambeacutem o ldquoGerenciamento Integrado de Identidadesrdquo que pode ser uacutetil quando
for necessaacuterio realizar alguns tipos investigaccedilotildees podendo facilitar para obter informaccedilotildees
sobre o caso a ser investigado Esse sistema eacute composto por biometria de imagem (aleacutem das
impressotildees digitais) transliteraccedilatildeo e anaacutelise de nomes biometria de fala avaliaccedilatildeo de miacutedia
278 FEDERAL OFFICE FOR MIGRATION AND REFUGEES The Stages of the German Asylum Procedure
ndash An overview of the individual procedural steps and the legal basis Op cit 279 Ibidem 280 Ibidem 281 Ibidem
87
de dados moacuteveis Essas investigaccedilotildees podem ser necessaacuterias para avaliar casos possiacuteveis de
terrorismo sendo assim haacute a atuaccedilatildeo em conjunto com Centro de Extremismo e Contra-
Terrorismo (GETZ) e Centro Contra o Terrorismo (GTAZ)282
Quem toma a decisatildeo no procedimento de asilo eacute o Escritoacuterio Federal com base na
entrevista e nos documentos apresentados pelos requerentes A anaacutelise do pedido de asilo
tem por base a lei alematilde sobre o tema (Asylgesetz) sobre uma das quatro formas de proteccedilatildeo
que podem ser concedidas (direito de asilo proteccedilatildeo de refugiado proteccedilatildeo subsidiaacuteria e
proibiccedilatildeo de deportaccedilatildeo) Considera-se rejeitado o pedido quando nenhuma das quatro
formas eacute aplicaacutevel ao caso283
Assim o reconhecimento do direito de direito de asilo eacute previsto no artigo 16a parte
1 da Lei Baacutesica (Grundgesetz ndash GG) neste caso pessoas que se retornassem aos seus paiacuteses
sofreriam graves violaccedilotildees dos direitos humanos principalmente devido a perseguiccedilotildees por
opiniatildeo poliacutetica Portanto eacute considerado um direito fundamental com base Constitucional
prezando pela vida e dignidade humana Quando haacute a concessatildeo deste tipo de proteccedilatildeo o
indiviacuteduo tem o direito de residir na Alemanha por 3 anos autorizaccedilatildeo de trabalho e direito
de reagrupamento familiar Aleacutem disso apoacutes o periacuteodo de 3 ou 5 anos pode haver uma
concessatildeo de permanecircncia na Alemanha caso comprove condiccedilotildees de se manter e de
conhecimento da liacutengua alematilde284
A proteccedilatildeo de refugiado eacute prevista na Seccedilatildeo 3 da Lei de Asilo (AsylG) e tem por
fundamento a Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 sendo que esta proteccedilatildeo eacute mais extensa que
o direito de asilo sendo aplicada em mais casos Tambeacutem se aplica agraves pessoas que sofrem
perseguiccedilotildees referentes agraves situaccedilotildees previstas na Convenccedilatildeo Poreacutem as consequecircncias da
concessatildeo deste tipo de proteccedilatildeo satildeo os mesmos que o direito de asilo285
A proteccedilatildeo subsidiaacuteria estaacute prevista na Seccedilatildeo 4 da Lei de Asilo bem como na
Diretiva 201195UE e eacute concedida em situaccedilotildees em que se a pessoa retornar ao seu paiacutes
poderaacute sofrer graves riscos de danos Em casos de concessatildeo de proteccedilatildeo subsidiaacuteria o
indiviacuteduo receberaacute a permissatildeo de residecircncia por 1 ano (podendo ser estendida por mais dois
anos) acesso ao mercado de trabalho direito de reunificaccedilatildeo familiar bem como o direito
282 FEDERAL OFFICE FOR MIGRATION AND REFUGEES The Stages of the German Asylum Procedure
ndash An overview of the individual procedural steps and the legal basis Op cit 283 Ibidem 284 Ibidem 285 Ibidem
88
de permanecer na Alemanha apoacutes 5 anos caso demonstre condiccedilotildees de subsistecircncia e
conhecimento da liacutengua alematilde286
As trecircs formas de proteccedilatildeo acima natildeo seratildeo concedidas quando configurar um risco
agrave Alemanha desrespeitar princiacutepios baacutesicos do ACNUR ou ter cometido crimes de guerra
e ofensas criminais natildeo-poliacuteticas fora do paiacutes e condenado agrave prisatildeo por um crime ou por um
delito particularmente grave287
E por fim a proibiccedilatildeo de deportaccedilatildeo consta na Seccedilatildeo 60 V e VII da Lei de
Residecircncia (AufenthG) e tem por base a Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos
Portanto uma pessoa que requer proteccedilatildeo natildeo pode ser devolvida ao paiacutes de origem quando
haacute um risco concreto agrave vida ou agrave liberdade Essa proteccedilatildeo natildeo se aplica em casos de que o
indiviacuteduo possa ir para outros paiacuteses Na concessatildeo dessa proteccedilatildeo a pessoa poderaacute residir
na Alemanha por pelo menos 1 ano (podendo ser renovaacutevel) a permissatildeo de trabalho deve
ser obtida com a autoridade de imigraccedilatildeo e a permanecircncia definitiva pode ser autorizada
apoacutes 5 anos se tiver condiccedilotildees de se manter e tiver bom conhecimento da liacutengua alematilde288
Em caso de negativa de proteccedilatildeo ou seja o indiviacuteduo natildeo se enquadrar em nenhum
tipo dos 4 tipos de proteccedilatildeo poderaacute recorrer da decisatildeo no prazo de 30 dias poreacutem o periacuteodo
para deixar a Alemanha eacute de uma semana Uma accedilatildeo judicial contra o Escritoacuterio Federal
tambeacutem pode ser proposta289
286 FEDERAL OFFICE FOR MIGRATION AND REFUGEES The Stages of the German Asylum Procedure
ndash An overview of the individual procedural steps and the legal basis Op cit 287 Ibidem 288 Ibidem 289 Ibidem
89
CAPIacuteTULO 3
DIREITO INTERNACIONAL E EUROPEU DO MAR BUSCA E RESGATE DOS
REFUGIADOS EM PERIGO E O DEVER DE ASSISTEcircNCIA
Este capiacutetulo destina-se a analisar o direito do mar no acircmbito internacional e europeu
na seara dos refugiados do direito de resgate e salvamento no mar agrave luz da relaccedilatildeo deste
ramo do direito com os direitos humanos primeiro faz-se necessaacuterio algumas breves
consideraccedilotildees a respeito do direito internacional do mar Sendo sabido que nos uacuteltimos anos
muitas pessoas arriscaram suas vidas em embarcaccedilotildees para tentarem ter uma vida melhor e
sem riscos podendo citar o exemplo da Liacutebia que retrata uma situaccedilatildeo ldquocomumrdquo ao fato de
milhares de migrantes saiacuterem do paiacutes arriscando suas vidas no Mar Mediterracircneo com
destino agrave Europa principalmente paiacuteses como a Greacutecia Itaacutelia e Malta devido agrave proximidade
do norte do continente africano agrave costa e ilhas europeias
31 Breves Consideraccedilotildees a Respeito do Direito Internacional do Mar
O mar com sua particular imensidatildeo traz consigo um encantamento e admiraccedilatildeo por
um lado e uma versatildeo sombria e obscura de outro Muito utilizado para recursos que
auxiliam no dia a dia das pessoas eacute tambeacutem utilizado de forma maldosa atraveacutes de
cometimento de crimes graves como por exemplo traacutefico de pessoas de drogas e pirataria
Tal fato justifica a necessidade de uma Convenccedilatildeo a fim de regular as regras neste grandioso
espaccedilo a Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar (conhecida como UNCLOS
ndash sigla em inglecircs)290
Assim para tentar coibir infraccedilotildees e aumentar a proteccedilatildeo das pessoas no mar a
UNCLOS atribui aos Estados poderes de poliacutecia nas zonas mariacutetimas (aacuteguas e portos
interiores mar territorial zona contiacutegua zona econocircmica exclusiva e alto mar) Passa-se
entatildeo a anaacutelise do poder de poliacutecia em cada zona
Portanto o Estado costeiro pode exercer sua soberania em aacutereas de jurisdiccedilatildeo
nacional tem-se que aacuteguas e portos interiores estatildeo submetidos agraves regras nacionais do
290 FORTEAU Mathias THOUVENIN Jean-Marc Traiteacute de Droit International de la Mer Editions A
Pedone Paris 2017
90
Estado e este possui poderes de poliacutecia amplos ao que se refere a embarcaccedilotildees nessas aacutereas
bem como pode controlar o acesso dessas embarcaccedilotildees nessa zona e tambeacutem embarcaccedilotildees
que estatildeo no mar territorial com destino agraves aacuteguas e portos interiores Entatildeo o Estado
costeirodo porto eacute soberano para aplicar as suas leis nacionais em embarcaccedilotildees que estatildeo
em seus portos geralmente natildeo interferem em assuntos internos da embarcaccedilatildeo desde que
natildeo atinja os interesses estaduais291
Situaccedilatildeo semelhante ocorre no mar territorial (que consiste nas aacuteguas adjacentes agrave
costa ateacute 12 milhas naacuteuticas conforme disposto na UNCLOS) ou seja o Estado costeiro
possui amplos poderes nesta zona sendo portanto uma extensatildeo do territoacuterio do paiacutes
exceto em situaccedilotildees de passagem inocente (garantindo a liberdade de navegaccedilatildeo) contudo
mesmo nesses casos o Estado pode dispor normas a este respeito292
Desse modo o Estado costeiro possui soberania no seu mar territorial sendo limitado
pelo direito de passagem inocente que os navios de todos os Estados possuem notando-se
portanto a conciliaccedilatildeo da soberania do Estado com o direito de navegaccedilatildeo Poreacutem caso
exista alguma embarcaccedilatildeo com pessoas no mar territorial com o fim de violar as regras de
imigraccedilatildeo do Estado costeiro este Estado poderaacute intervir293 entretanto tambeacutem haacute a
obrigaccedilatildeo de salvamento das pessoas em perigo no mar ou seja nos casos de embarcaccedilatildeo
clandestina de migrantes o Estado tem o dever de resgatar essas pessoas
A zona contiacutegua consiste no espaccedilo de mais 12 milhas naacuteuticas aleacutem das jaacute previstas
no mar territorial Nesta zona o Estado pode exercer o controle nas situaccedilotildees de violaccedilatildeo das
leis nacionais e tambeacutem situaccedilotildees referentes agraves questotildees aduaneiras tributaacuterias imigraccedilatildeo
e sauacutede294 Poreacutem haacute liberdade de navegaccedilatildeo ou seja natildeo haacute soberania do Estado costeiro
nessa zona mariacutetima295
A Zona Econocircmica Exclusiva (ZEE) com limite de ateacute 200 milhas naacuteuticas contadas
a partir da linha de base do mar territorial trata-se de uma zona de caracteriacutesticas
particulares considerada de caraacuteter sui generis por ser uma aacuterea de alto mar sendo que o
Estado costeiro possui alguns direitos nesta aacuterea isto significa que o Estado costeiro possui
poderes de poliacutecia amplos no que se refere agraves situaccedilotildees de direito e jurisdiccedilatildeo soberana como
291 FORTEAU Mathias THOUVENIN Jean-Marc Op cit 292 Ibidem 293 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit 294 FORTEAU Mathias THOUVENIN Jean-Marc Op cit 295 LISSON Urszula WEINZIERL Ruth Border Management and Human Rights A study of EU Law and
the Law of the Sea German Institute for Human Rights 2007
91
por exemplo exploraccedilatildeo de recursos naturais ilhas artificiais instalaccedilotildees e estruturas de
pesquisa e proteccedilatildeo do meio ambiente marinho296
No que se refere ao alto mar Jonatas Machado entende como mar ldquoo conjunto dos
espaccedilos de aacutegua salgada em comunicaccedilatildeo livre e naturalrdquo297 Tal espaccedilo consiste em 72 da
atmosfera terrestre e o princiacutepio fundamental que rege eacute o mare liberum poreacutem natildeo se trata
de um uso irrestrito e incondicional tal princiacutepio eacute aplicado dentro do conceito de
democratizaccedilatildeo do direito do mar Tem-se que o alto mar constitui res communis omnium
ou seja eacute algo comum a todos298
Nesse sentido o artigo 87 da UNCLOS trata das liberdades do alto mar no qual todos
os Estados satildeo livres para navegar sobrevoar pescar colocar cabos e dutos submarinos
investigaccedilatildeo cientiacutefica e construir ilhas artificiais ou outras instalaccedilotildees permitidas pelo
direito internacional
A jurisdiccedilatildeo em alto mar eacute como regra geral do Estado da bandeira da embarcaccedilatildeo
conforme o artigo 87 da UNCLOS poreacutem haacute exceccedilotildees a esta regra previstas no artigo 92
nordm 1 isto eacute regras previstas de forma expressa em tratados internacionais aleacutem de algumas
previstas nos artigos 105 109 110 220 e 221 da Convenccedilatildeo Sendo respectivamente
pirataria difusatildeo natildeo autorizada direito de visita (artigo 111 tambeacutem a respeito do direito
de perseguiccedilatildeo) execuccedilatildeo pelo Estado costeiro poluiccedilatildeo e acidente mariacutetimo299
No que tange agrave soberania em alto mar haacute a questatildeo sobre ateacute que ponto um Estado
atraveacutes de suas embarcaccedilotildees pode exercer medidas coercitivas sobre navios de outras
nacionalidades Deve-se observar portanto a divisatildeo de aacuteguas conforme descrito acima
Assim nas aacuteguas interiores o Estado costeiro tem total controle da aacuterea entatildeo os navios
estrangeiros estatildeo submetidos ao controle e permissatildeo daquele Estado O mar territorial
tambeacutem estaacute sob a soberania do Estado costeiro mas como vimos haacute o direito de passagem
inocente de outros navios que arvorem sua bandeira Nesse sentido as embarcaccedilotildees com
migrantes na maioria das vezes natildeo possuem bandeira e em teoria com base no direito
internacional do mar estes poderiam ser parados controlados e desviados para fora do mar
territorial poreacutem tal questatildeo esbarra nas obrigaccedilotildees dos direitos humanos Dessa forma de
296 FORTEAU Mathias THOUVENIN Jean-Marc Op cit 297 MACHADO Joacutenatas E M Op cit p 574 298 Ibidem 299 HONNIBALL Arron N The Exclusive Jurisdiction of Flag States A Limitation on Pro-active Port States
The International Journal of Marine and Coastal Law 2016 Disponiacutevel em
httpsbrillcomviewjournalsestu313article-p499_6xml Acesso 01062020
92
acordo com as diretivas europeias que devem ser aplicadas no mar territorial haacute a proibiccedilatildeo
da repulsatildeo e os Estados satildeo obrigados a examinar os pedidos de proteccedilatildeo No alto mar a
liberdade de navegaccedilatildeo eacute imperativa e medidas coercitivas em regra satildeo proibidas desde
que para embarcaccedilotildees com bandeira situaccedilatildeo que na maioria das vezes natildeo eacute a das
embarcaccedilotildees com refugiados dessa forma os navios sem bandeira podem ser controlados
em alto mar300
Tendo por base as informaccedilotildees acima passa-se a analisar aspectos mais proacuteximos a
respeito dos direitos dos refugiados Sendo assim como jaacute mencionado anteriormente o
encantamento pelas riquezas marinhas acaba sendo ofuscado em parte pelo lado obscuro dos
oceanos ou seja o cometimento de crimes em espaccedilos mariacutetimos como o traacutefico de
migrantes no mar para combater este tipo de crime eacute imprescindiacutevel a cooperaccedilatildeo
internacional entre os paiacuteses
Sabemos que muitos satildeo os fatores que levam as pessoas a migrarem para outros
paiacuteses ou seja as pessoas fogem da tortura de perseguiccedilotildees de violaccedilotildees de direitos
humanos em siacutentese de uma vida indigna Poreacutem muitos arriscam suas vidas nas matildeos de
traficantes e pagam para estes fazerem a travessia em embarcaccedilotildees precaacuterias como jaacute vimos
nos noticiaacuterios e que natildeo suportam a travessia e acabam naufragando com muitas pessoas a
bordo ou ateacute mesmo acabam sendo abandonados pelos traficantes O desespero dessas
pessoas eacute tanto que arriscam suas vidas nas matildeos de criminosos na esperanccedila de ter uma
vida melhor do outro lado do mar
O artigo 8ordm do Protocolo citado acima prevecirc medidas contra o traacutefico de migrantes
por via mariacutetima dispondo assim accedilotildees a serem realizadas pelos Estados a fim de finalizar
a utilizaccedilatildeo da embarcaccedilatildeo para a finalidade ilegal Assim um Estado pode pedir ajuda a
outro Estado para tentar resolver a situaccedilatildeo entre outras accedilotildees301 Mas tal ideia esbarra na
questatildeo da responsabilidade do Estado que como vimos caso a accedilatildeo de um dos Estados for
violadora das obrigaccedilotildees internacionais principalmente dos direitos humanos o outro
Estado pode ter tambeacutem responsabilidade pelos atos
300 LISSON Urszula WEINZIERL Ruth Op cit 301 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Protocolo Adicional agrave Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas Contra
o Crime Organizado Transnacional relativo ao Combate ao Traacutefico de Migrantes por Via Terrestre Mariacutetima
e Aeacuterea 2000 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2004-
20062004DecretoD5016htm Acesso em 01062020
93
Chama-se a atenccedilatildeo para o artigo 98 da UNCLOS ou seja dispotildee sobre o dever de
prestar assistecircncia no mar Portanto eacute obrigaccedilatildeo do capitatildeo do navio prestar assistecircncia agraves
pessoas que estatildeo em perigo no mar necessitando de ajuda inclusive em casos de consistir
em outra embarcaccedilatildeo que esteja em perigo isto eacute natildeo apenas pessoas que estejam no mar
na aacutegua sob o risco de desaparecer Aleacutem disso o Estado costeiro tem o dever de
proporcionar um eficiente sistema de busca e salvamento a fim de promover a seguranccedila
mariacutetima e aeacuterea o dever se prolonga inclusive aos Estados vizinhos no que puderem
cooperar302
No capiacutetulo 2 item 2110 da Convenccedilatildeo de Busca e Resgate Mariacutetimo de 1979
(International Convention on Maritime Search and Rescue ndash SAR Convention) traz o dever
do Estado de prestar assistecircncia a qualquer pessoa que esteja em perigo no mar independente
de qualquer outro fator relacionado a ela (nacionalidade status etc)303 No mesmo sentido
em 2015 o Conselho de Seguranccedila da ONU adotou a Resoluccedilatildeo 2240 a fim de prestar auxiacutelio
agrave Liacutebia para proteger suas fronteiras e espaccedilo mariacutetimo inclusive em alto mar visando coibir
o traacutefico de pessoas e de migrantes na regiatildeo bem como proteger as pessoas viacutetimas deste
crime304
Tendo como base essas noccedilotildees gerais a respeito do direito internacional do mar e
uma breve introduccedilatildeo a respeito dos documentos que abordam o assunto passa-se a
relacionar o direito do mar com a proteccedilatildeo internacional do indiviacuteduo com foco no
salvamento e resgate de pessoas em perigo no mar
32 O Direito do Mar e a Proteccedilatildeo Internacional do Indiviacuteduo
Face aos acontecimentos desumanos relacionados aos refugiados principalmente em
relaccedilatildeo aos naufraacutegios ocorridos o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos condenou
alguns paiacuteses com base no artigo 3ordm da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos em
situaccedilotildees ocorridas no mar Assim como forma de assegurar a proteccedilatildeo internacional do
302 UNITED NATIONS United Nations Convention on the Law of the Seas Disponiacutevel
httpswwwunorgdeptslosconvention_agreementstextsunclosunclos_epdf Acesso 04092020 303 INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION International Convention on Maritime Search and
Rescue ndash SAR Convention 1979 Disponiacutevel em httpsonboard-aquariusorguploads201808SAR-
Convention-1979pdf Acesso em 02062020 304 CONSELHO DE SEGURANCcedilA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Resoluccedilatildeo 2240 (2015) Disponiacutevel em
httpseur-lexeuropaeulegal-contentPTTXTuri=CELEX3A32016D0118 Acesso em 30082020
94
indiviacuteduo no mar talvez seja o caso de se atrelar agrave legislaccedilatildeo sobre o direito do mar aos
princiacutepios universais dos direitos humanos tendo em vista que o Estado tem obrigaccedilatildeo
positiva de proteger os indiviacuteduos colocados sob sua jurisdiccedilatildeo contra desrespeitos
cometidos por outrem Poreacutem natildeo haacute este tipo de previsatildeo expressa no direito do mar
Um dos princiacutepios fundamentais do direito internacional eacute a obrigaccedilatildeo de salvar as
vidas no mar sendo que as primeiras manifestaccedilotildees juriacutedicas a este respeito foram oriundas
de tratados multilaterais do direito do mar no comeccedilo do seacuteculo XX Assim o salvamento
de vidas no mar se divide em dois pontos O primeiro princiacutepio eacute a obrigaccedilatildeo de fornecer
assistecircncia de responsabilidade do Estado da bandeira e dos capitatildees o outro ponto eacute a
obrigaccedilatildeo dos Estados costeiros de operar sistemas de buscas e salvamento305
Faz-se necessaacuterio fazer um parecircntese no aspecto de busca e resgate no mar bem
como o dever de assistecircncia previsto no artigo 98 da UNCLOS assim um dos bens juriacutedicos
tutelados eacute o direito agrave vida sendo ele um princiacutepio basilar pois sem a vida nenhum outro
direito faria sentido por este motivo a vida eacute protegida nos principais tratados de direitos
humanos
A maior expressatildeo dos direitos humanos ligado ao direito do mar ocorre quando haacute
o direito agrave vida em jogo ou seja quando algueacutem no mar estaacute correndo risco de vida em
situaccedilatildeo de perigo Assim a Convenccedilatildeo SOLAS (Convenccedilatildeo Internacional para a
Salvaguarda da Vida no Mar) tem como diz o proacuteprio tiacutetulo exatamente o propoacutesito de
proteger vidas306
Neste aspecto o Capiacutetulo V da SOLAS dispotildee sobre a seguranccedila de navegaccedilatildeo e na
regra 71 traz a responsabilidade do Estado em providenciar tudo que for necessaacuterio para
proporcionar a busca e resgate no mar nas zonas de sua competecircncia bem como o artigo
33 do mesmo Capiacutetulo trata das obrigaccedilotildees e procedimentos nas situaccedilotildees de perigo
305 RUGGIERO Carol Dalla Criminalizzazione alla Giustificazione delle Attivita di Ricerca e Soccorso in
Mare le Tendenze Interpretative Piu Recenti alla Luce dei Casi Vos Thalassa e Rackete In Diritto
Immigrazione e Cittadinanza Nordm 12020 Disponiacutevel em
httpswwwdirittoimmigrazionecittadinanzaitarchivio-saggi-commentinote-e-commentifascicolo-2020-
1526-dalla-criminalizzazione-alla-giustificazione-delle-attivita-di-ricerca-e-soccorso-in-mare-le-tendenze-
interpretative-piu-recenti-alla-luce-dei-casi-vos-thalassa-e-rackete Acesso em 25062020 306 GROSBON Sophie Droit de la Mer et Protection Internationale de LrsquoIndividurdquo In FORTEAU Mathias
THOUVENIN Jean-Marc Traiteacute de Droit International de la Mer Editions A Pedone Paris 2017
95
colocando o capitatildeo do navio como responsaacutevel por salvamento e caso o possa fazer deve
explicar os motivos sob pena de desrespeito ao artigo 2ordm da CEDH307
Rejeita-se a suposiccedilatildeo de que o mar eacute uma aacuterea sem lei ou que possua uma
salvaguarda para que infratores se eximam de respeitar os direitos humanos direito dos
refugiados bem como o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo As pessoas em perigo devem ter
respeitados seus direitos fundamentais protegidos sendo que o tratamento digno e humano
deve ser garantido308
Nesse sentido quando haacute pessoas em perigo no mar haacute o dever de resgate e
assistecircncia e em casos de embarcaccedilotildees de refugiados o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo deve ser
observado pois conforme vimos anteriormente o artigo 3ordm da Convenccedilatildeo Europeia dos
Direitos Humanos haacute a previsatildeo da proibiccedilatildeo de enviar pessoas agrave tortura Assim as pessoas
estatildeo em uma embarcaccedilatildeo com intuito de fugir de afrontas agrave sua dignidade e de lesotildees agrave sua
integridade fiacutesica nesse caso o Estado costeiro (ou o mais proacuteximo) bem como capitatildeo de
outras embarcaccedilotildees tecircm o dever de proteger essas pessoas e inclusive natildeo enviaacute-los
novamente para o paiacutes que lhes oprimiam
A este respeito tem-se que o Tribunal Europeu de Direitos Humanos bem como o
Comitecirc dos Direitos Humanos dispotildee a respeito do efeito horizontal indireto de alguns
direitos como por exemplo direito agrave vida proibiccedilatildeo da tortura e da escravidatildeo como
supramencionado o Estado tem obrigaccedilatildeo positiva de proteger os indiviacuteduos colocados sob
sua jurisdiccedilatildeo309
Muito se fala a respeito das lacunas no direito do mar e que pode trazer consequecircncias
na proteccedilatildeo dos direitos humanos Uma dessas lacunas estaacute no artigo 27 e 28 da UNCLOS
que tratam da jurisdiccedilatildeo criminal e civil do Estado costeiro impondo limites a este poreacutem
constam exceccedilotildees nas aliacuteneas ou seja situaccedilotildees em que o Estado costeiro poderaacute exercer
sua jurisdiccedilatildeo Curiosamente na aliacutenea ldquodrdquo do artigo 27 haacute a previsatildeo da possibilidade
exercer a jurisdiccedilatildeo penal em casos de ldquorepressatildeo do traacutefico iliacutecito de estupefacientes ou de
substacircncias psicotroacutepicasrdquo310 mas nada se fala a respeito da luta contra a tortura e o combate
agrave escravidatildeo ou traacutefico de pessoas Sobre este uacuteltimo o Estado costeiro pode interferir caso
307 INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION International Convention for the Safety of Life at Sea
(SOLAS) Disponiacutevel em httpswwwsamgongustofaismediaenglishSOLAS-Consolidated-Edition-
2018docxpdf Acesso em 05062020 308 Ibidem 309 Ibidem 310 UNITED NATIONS United Nations Convention on the Law of the Seas Op cit
96
o destino final seja seu espaccedilo terrestre no entanto deve sempre atuar de forma a respeitar
dos direitos humanos resgatando e dando um tratamento digno para as pessoas que
necessitam de proteccedilatildeo
O traacutefico de migrantes difere do traacutefico de escravos poreacutem muito se assemelham na
forma de transporte Muitas pessoas fogem da tortura situaccedilotildees de perseguiccedilotildees e
tratamentos desumanos e degradantes pagando para traficantes fazerem sua travessia do
norte do continente africano para paiacuteses europeus banhados pelo Mar Mediterracircneo
correndo risco de vida em embarcaccedilotildees precaacuterias e tendo suas vidas nas matildeos dos traficantes
bem como muitas pessoas satildeo usadas como mercadorias (escravos) e tambeacutem transportadas
por embarcaccedilotildees clandestinas
A este respeito o ldquoProtocolo Adicional agrave Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas contra o
Crime Organizado Transnacional relativo ao Combate ao Traacutefico de Migrantes por Via
Terrestre Mariacutetima e Aeacutereardquo no seu artigo 3ordm traz a definiccedilatildeo de traacutefico de migrantes ldquo()
lsquotraacutefico de migrantesrsquo significa a promoccedilatildeo com o objetivo de obter direta ou indiretamente
um benefiacutecio financeiro ou outro benefiacutecio material da entrada ilegal de uma pessoa num
Estado Parte do qual essa pessoa natildeo seja nacional ou residente permanenterdquo311
E quanto ao traacutefico de pessoas tem-se a definiccedilatildeo no artigo 3ordm no Protocolo Adicional
agrave Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Relativo agrave
Prevenccedilatildeo Repressatildeo e Puniccedilatildeo do Traacutefico de Pessoas em Especial Mulheres e Crianccedilas
ou seja
A expressatildeo traacutefico de pessoas significa o recrutamento o transporte a
transferecircncia o alojamento ou o acolhimento de pessoas recorrendo agrave ameaccedila ou
uso da forccedila ou a outras formas de coaccedilatildeo ao rapto agrave fraude ao engano ao abuso
de autoridade ou agrave situaccedilatildeo de vulnerabilidade ou agrave entrega ou aceitaccedilatildeo de
pagamentos ou benefiacutecios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha
autoridade sobre outra para fins de exploraccedilatildeo A exploraccedilatildeo incluiraacute no miacutenimo
a exploraccedilatildeo da prostituiccedilatildeo de outrem ou outras formas de exploraccedilatildeo sexual o
trabalho ou serviccedilos forccedilados escravatura ou praacuteticas similares agrave escravatura a
servidatildeo ou a remoccedilatildeo de oacutergatildeos312
311 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Protocolo Adicional agrave Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas contra
o Crime Organizado Transnacional relativo ao Combate ao Traacutefico de Migrantes por Via Terrestre Mariacutetima
e Aeacuterea 2000 Op cit 312 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Protocolo Adicional agrave Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas contra
o Crime Organizado Transnacional Relativo agrave Prevenccedilatildeo Repressatildeo e Puniccedilatildeo do Traacutefico de Pessoas em
Especial Mulheres e Crianccedilas Disponiacutevel httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2004-
20062004DecretoD5017htm Acesso 14062020
97
Assim o crime de traacutefico de migrantes e o de traacutefico de pessoas satildeo crimes diferentes
poreacutem em alguns casos como jaacute mencionamos a forma de transporte pode ser a mesma
atraveacutes de embarcaccedilotildees clandestinas e em situaccedilotildees precaacuterias Poreacutem natildeo seraacute aprofundado
neste aspecto criminal pois o foco do presente trabalho eacute a situaccedilatildeo dos refugiados em perigo
no mar contudo esta situaccedilatildeo pode relacionar-se com o traacutefico de migrantes ressalta-se que
satildeo vaacuterios os crimes que podem ser cometidos no espaccedilo mariacutetimo mas sem relaccedilatildeo com a
questatildeo dos refugiados
Sabemos que no que se refere ao alto mar eacute a jurisdiccedilatildeo do Estado da bandeira que
prevalece poreacutem no artigo 110 da UNCLOS autoriza-se o direito de visita em situaccedilotildees que
haacute a suspeita da ocorrecircncia de crimes como por exemplo a pirataria o traacutefico de escravos
embarcaccedilatildeo sem nacionalidade entre outras313 Neste ponto chama-se a atenccedilatildeo para
embarcaccedilotildees sem nacionalidades ou seja na imigraccedilatildeo clandestina os migrantes satildeo
transportados em embarcaccedilotildees sem nacionalidade e em situaccedilotildees precaacuterias Portanto a
UNCLOS autoriza o direito de visita em situaccedilotildees de embarcaccedilotildees sem nacionalidade
No mesmo sentido o artigo 19 do mesmo documento refere-se agrave passagem inocente
e diz que natildeo seraacute considerada passagem inocente (no mar territorial) e portanto prejudicial
agrave paz boa ordem e seguranccedila do Estado costeiro se a embarcaccedilatildeo for destinada agrave imigraccedilatildeo
(conforme artigo 19 nordm 2 aliacutenea ldquogrdquo)
No que se refere ao combate da imigraccedilatildeo clandestina tem-se que a liberdade de
navegaccedilatildeo fica comprometida inclusive em aacutereas em que natildeo haacute soberania de algum Estado
Aleacutem disso destaca-se que um paiacutes ao recusar o desembarque de migrantes e requerentes de
asilo poderaacute lesionar o direito agrave vida314 Portanto tal fato reforccedila a ideia de prestar assistecircncia
no mar
321 O Direito do Mar e os Direitos Humanos
Sabe-se que os Estados possuem obrigaccedilotildees de direitos humanos tanto positivado
por meio de tratados quanto pelo direito consuetudinaacuterio internacional Nesse sentido vale
a pena destacar trecircs aspectos as obrigaccedilotildees positivas e negativas do Estado separabilidade
313 UNITED NATIONS United Nations Convention on the Law of the Seas Op cit 314 GROSBON Sophie Op cit
98
dos direitos humanos e contenccedilotildees especiais justificadas pela natureza que no caso consiste
no ambiente marinho315
Tendo por base a tradiccedilatildeo juriacutedica ocidental que deu origem aos direitos humanos
tem-se que o objetivo era proteger as pessoas perante abusos dos soberanos ou seja o Estado
tem o dever de evitar atitudes que agridam os direitos dos indiviacuteduos Portanto obrigaccedilatildeo
negativa dos direitos humanos eacute referente ao Estado em se abster de tomar medidas que
possam infringir os direitos humanos nesse sentido a obrigaccedilatildeo positiva consiste no Estado
agir para evitar que os direitos dos indiviacuteduos sejam lesionados tendo como exemplo a
UNCLOS atraveacutes da positivaccedilatildeo de normas a respeito de busca e resgate no mar316
No que se refere agrave separabilidade tem-se que este conceito estaacute relacionado com a
jurisdiccedilatildeo Assim eacute importante ressaltar que existem duas correntes a este respeito a
primeira diz sobre uma jurisdiccedilatildeo limitada ao seu territoacuterio e outra defende a competecircncia
extraterritorial dos Estados ao que se refere agrave proteccedilatildeo dos direitos humanos Deste modo agrave
luz da natureza dos direitos humanos a segunda eacute mais compatiacutevel e aceita pelo Tribunal
Europeu dos Direitos Humanos A referida Corte entende que quando um Estado atua fora
da sua jurisdiccedilatildeo para exercer controle e autoridade sobre um indiviacuteduo o Estado deveraacute
assegurar os direitos individuais e a liberdade da pessoa317
Haacute muitas controveacutersias sobre este assunto mas entende-se como razoaacutevel a ideia de
que quando o Estado exerce sua jurisdiccedilatildeo fora dos seus limites territoriais em diversas
situaccedilotildees (ao que se refere a presente pesquisa citamos o resgate de pessoas em perigo no
mar) ele tem a obrigaccedilatildeo de assegurar os direitos individuais como por exemplo o direito
agrave vida o direito de natildeo ser torturado ou de natildeo ser submetido a tratamentos desumanos ou
degradantes de natildeo ser devolvidorejeitado (non-refoulement) de ter suas liberdades
individuais318
Natildeo haacute a previsatildeo da aplicabilidade dos direitos humanos no direito do mar poreacutem
decisotildees de tribunais internacionais bem como a intepretaccedilatildeo sistecircmica dos tratados fazem
com que o respeito aos direitos humanos seja base de todos os ramos do direito Nesse
315 PAPANICOLOPULU Irini Human Rights and The Law of the Sea In The IMLI Manual on International
Maritime Law Volume I Law of The Sea General Editor David Joseph Attard Edited by Malgosia
Fitzmaurice Norman A Martineacutez Gutieacuterrez Oxford University Press Oxford 2014 316 Ibidem 317 Ibidem 318 Ibidem
99
sentido ao interpretar o artigo 311 nordm 2 da UNCLOS juntamente com o artigo 1ordm nordm 3 da
Carta das Naccedilotildees Unidas temos respectivamente
(hellip)This Convention shall not alter the rights and obligations of States Parties
which arise from other agreements compatible with this Convention and which do
not affect the enjoyment by other States Parties of their rights or the performance
of their obligations under this Convention (hellip)319
()Conseguir uma cooperaccedilatildeo internacional para resolver os problemas
internacionais de caraacuteter econocircmico social cultural ou humanitaacuterio e para
promover e estimular o respeito aos direitos humanos e agraves liberdades fundamentais
para todos sem distinccedilatildeo de raccedila sexo liacutengua ou religiatildeo ()320
Notamos nos dispositivos supra a preocupaccedilatildeo com o cumprimento das obrigaccedilotildees
perante os outros estados bem como a cooperaccedilatildeo entre eles zelando sempre por diversos
aspectos sendo os direitos humanos um dos pontos expressos no artigo 1ordm da Carta das
Naccedilotildees Unidas
No mesmo sentido os artigos 55 e 56 da Carta das Naccedilotildees Unidas dispotildeem sobre a
cooperaccedilatildeo internacional econocircmica e social assim os estados se comprometem em
cooperar juntamente com a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas Portanto ao que se refere agrave
interpretaccedilatildeo dos dispositivos na UNCLOS ela deve ser sistemaacutetica e realizada em conjunto
com os demais diplomas internacionas no entanto ressalta-se que dificilmente haveraacute
alguma interpretaccedilatildeo que impeccedila os estados de cumprirem com suas obrigaccedilotildees
internacionais no acircmbito dos direitos humanos321
322 O Princiacutepio da Natildeo-Repulsatildeo e os Migrantes em Perigo no Mar
Como jaacute visto no primeiro capiacutetulo este princiacutepio eacute um dos principais aspectos de
proteccedilatildeo agraves pessoas que requerem asilo e ele garante que essas natildeo sejam devolvidas para
seu paiacutes de origem ou seja para local onde sofria algum tipo de perseguiccedilatildeo Poreacutem haacute
discussatildeo a respeito de que tal regra prevista no artigo 33 da Convenccedilatildeo de 1951 somente
se aplica para pessoas que se enquadram no statusconceito de refugiado322
319 UNITED NATIONS United Nations Convention on the Law of the Seas Op cit 320 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Carta das Naccedilotildees Unidas 1945 Disponiacutevel em
httpsnacoesunidasorgwp-contentuploads201711A-Carta-das-NaC3A7C3B5es-Unidaspdf
Acesso em 04092020 321 PAPANICOLOPULU Irini Op cit 322 TREVISANUT Seline The Principle of Non-Refoulement and the De-Territorialization of Border Control
at Sea Leiden Journal of International Law vol 27 no 3 September 2014 p 661-676 HeinOnline
100
Assim Seline Trevisanut destaca que o ponto principal do conceito de refugiado eacute a
questatildeo do medo fundamentado de perseguiccedilatildeo situaccedilatildeo em que a vida ou a liberdade de
algueacutem estaria em risco Portanto nada se discute a respeito da aplicaccedilatildeo do
supramencionado artigo aos refugiados (propriamente ditos) a questatildeo controversa reside
em pessoas que natildeo se enquadram no referido conceito323
O conceito de refugiado foi analisado mais detalhadamente no primeiro capiacutetulo no
entanto aqui se faz um parecircntese a resepeito da questatildeo espacial do conceito Assim tal
ideia traz eacute a de que o indiviacuteduo deve estar fora do seu paiacutes ou natildeo ter nacionalidade ou
fora do paiacutes de sua residecircncia habitual ou seja em uma anaacutelise bem restrita a natildeo-repulsatildeo
natildeo se aplicaria nas aacuteguas territoriais ou na zona contiacutegua do paiacutes de origem Mas vale
destacar que o artigo 33 da Convenccedilatildeo natildeo traz limitaccedilatildeo territorial assim haacute
entendimentos324 de que a natildeo-repulsatildeo deve ser obedecida em qualquer local onde um
Estado possa exercer sua jurisdiccedilatildeo sendo uma interpretaccedilatildeo aceita tendo por base a defesa
dos direitos humanos325 eacute a situaccedilatildeo da extraterritorialidade
O artigo 13 nordm 2 da DUDH dispotildee ldquoToda a pessoa tem o direito de abandonar o paiacutes
em que se encontra incluindo o seu e o direito de regressar ao seu paiacutesrdquo326 a mesma redaccedilatildeo
eacute dada no artigo 12 nordm 2 do Pacto Internacional de Direitos Civis e Poliacuteticos Assim os
migrantes em regiotildees mariacutetimas com ausecircncia de soberania de algum Estado natildeo podem ser
considerados em situaccedilatildeo irregular mesmo porque natildeo haacute previsatildeo sobre a proibiccedilatildeo de
indiviacuteduos deixarem seu paiacutes por via mariacutetima327
O entendimento do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos eacute de que se um Estado
adota medidas em aacuteguas internacionais ou territoriais de outro Estado com intuito de
combater a imigraccedilatildeo natildeo consiste na violaccedilatildeo do direito de saiacuteda do migrante do seu paiacutes
poreacutem as medidas satildeo tomadas com intuito de evitar a entrada no territoacuterio do Estado
323 TREVISANUT Seline The Principle of Non-Refoulement and the De-Territorialization of Border Control
at Sea Op cit 324 Seline Trevisanut citou Goodwin-Gill e J McAdam com o livro The Refugee in International Law (2007)
em TREVISANUT Seline The Principle of Non-Refoulement and the De-Territorialization of Border
Control at Sea Leiden Journal of International Law vol 27 no 3 September 2014 p 661-676 HeinOnline 325 TREVISANUT Seline The Principle of Non-Refoulement and the De-Territorialization of Border Control
at Sea Op cit 326 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem 1948
Disponiacutevel em httpsnacoesunidasorgwp-contentuploads201810DUDHpdf Acesso em 05032020 327 GROSBON Sophie Op cit
101
infringindo as regras de proteccedilatildeo internacional o direito de pedir asilo e a proibiccedilatildeo de
expulsatildeo coletivas328
Aleacutem disso um Estado ao abordar uma embarcaccedilatildeo com migrantes natildeo deve
devolvecirc-los ao paiacutes de origem pois estaria infringindo o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo tendo
em vista que os migrantes muitas vezes estatildeo fugindo de perseguiccedilotildees e ameaccedilas agraves suas
vidas Nesse sentido a Comissatildeo Interamericana de Direitos Humanos considera que a
interceptaccedilatildeo e reenvio sistemaacutetico de barcos cheios de migrantes atentam contra o direito agrave
vida Assim um dos maiores desafios relacionado com o direito do mar e os direitos
humanos estaacute questatildeo da imigraccedilatildeo ilegal bem como a questatildeo do porto de desembarque e
o paiacutes no qual vai analisar o procedimento de asilo329
A este respeito Sophie Grosbon destaca que uma significante falha na legislaccedilatildeo a
respeito do mar eacute o fato de natildeo haver uma clara identificaccedilatildeo de onde as pessoas encontradas
no mar devem desembarcar em situaccedilotildees de que as pessoas tentam entrar ilegalmente em
um paiacutes Antes as convenccedilotildees SAR e SOLAS nada previam sobre o assunto poreacutem foram
adotadas emendas com intuito de garantir um local de desembarque seguro para as pessoas
que satildeo resgatadas no mar natildeo importando a nacionalidade status ou quaisquer outras
circunstacircncias que se encontrem330
Na visatildeo do direito internacional e europeu a rejeiccedilatildeo de migrantes em alto mar
coloca em conflito vaacuterias convenccedilotildees sobre os direitos humanos direito internacional e
direto do mar Destaca-se a as convenccedilotildees UNCLOS SOLAS SAR Convenccedilatildeo de Genebra
de 1951 Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas contra Tortura de 1984 o Pacto Internacional dos
Direitos Civis e Poliacuteticos e a CEDH331
Sabe-se que o artigo 3ordm da CEDH estaacute intimamente relacionado ao princiacutepio da natildeo-
repulsatildeo pois haacute a proibiccedilatildeo de tortura e tratamentos desumanos e degradantes sendo assim
enviar algueacutem para um local onde possa sofrer de tais accedilotildees seria uma violaccedilatildeo do referido
dispositivo Assim mesmo jaacute tendo explicado anteriormente sobre esse princiacutepio faz-se
necessaacuterio rediscutir o mesmo conduzindo para a abordagem de refugiados em perigo no
mar
328 GROSBON Sophie Op cit 329 Ibidem 330 Ibidem 331 TERRASI Alfredo I respingimenti in mare di migrant alla luce della Convenzione europea dei diritti
umani In Diritti umani e diritto Internazionale Nordm 32009 p 591-607
102
No entanto natildeo haacute expressamente no artigo 3ordm da CEDH a obrigaccedilatildeo de natildeo-
repulsatildeo desse modo o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos utiliza o mecanismo de
proteccedilatildeo indireta (ldquoprotection paricochetrdquo) isto eacute estende a proteccedilatildeo do artigo para pessoas
que correm risco de serem torturadas ou serem submetidas agrave tratamentos desumanos e
degradantes caso haja uma expulsatildeo ou extradiccedilatildeo332
O artigo 4ordm do seu Protocolo adicional nordm 4 que se refere agraves expulsotildees coletivas
vimos que se aplica tanto para pessoas que jaacute estatildeo no territoacuterio como tambeacutem para as
pessoas que ainda natildeo atingiram a fronteira ou seja situaccedilatildeo dos migrantes em alto mar com
a pretensatildeo de ingressar no territoacuterio assim possui um mecanismo de aplicaccedilatildeo semelhante
ao artigo 3ordm da CEDH333
Do mesmo modo o artigo 3ordm nordm 1 da Convenccedilatildeo Contra a Tortura e Outros
Tratamentos ou Penas Crueacuteis Desumanos ou Degradantes traz a proibiccedilatildeo do envio de
pessoas para estados nos quais poderatildeo correr risco de serem submetidos agrave tortura ou
qualquer tratamento desumano ou degradante como podemos depreender da leitura do
dispositivo ldquoNenhum Estado Parte procederaacute agrave expulsatildeo devoluccedilatildeo ou extradiccedilatildeo de uma
pessoa para outro Estado quando houver razotildees substanciais para crer que a mesma corre
perigo de ali ser submetida agrave torturardquo334
Portanto satildeo vaacuterios os instrumentos internacionais bem como a praacutetica dos Estados
que trazem a natildeo-repulsatildeo como uma regra do direito consuetudinaacuterio tanto quanto os
direitos humanos335 como jaacute vimos no primeiro capiacutetulo A jurisprudecircncia do TEDH eacute no
sentido de que enviar uma pessoa para um paiacutes no qual sua vida e integridade fiacutesica vatildeo ser
postas em risco haacute a violaccedilatildeo do artigo 33 da Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 mas quando
se refere aos migrantes rejeitados em alto mar natildeo se poderia afirmar isso de imediato devido
agrave questatildeo da jurisdiccedilatildeo em alto mar mas como vimos haacute a possibilidade da
extraterritorialidade da jurisdiccedilatildeo de um Estado em alto mar336 Assim isso justificaria a
ideia de que sob a jurisdiccedilatildeo de um paiacutes este natildeo deve rejeitar os migrantes e enviaacute-los
332 TERRASI Alfredo Op cit 333 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit 334 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas
Crueacuteis Desumanos ou Degradantes 1984 Disponiacutevel em
httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto1990-1994D0040htm Acesso em 12092020 335 TREVISANUT Seline The Principle of Non-Refoulement and the De-Territorialization of Border Control
at Sea Op cit 336 TERRASI Alfredo Op cit
103
novamente agraves situaccedilotildees de risco sob pena de incorrer em lesatildeo aos artigos 3ordm da CEDH e 33
da Convenccedilatildeo de Genebra de 1951
Neste aspecto Alfredo Terrasi menciona que o ACNUR bem como a doutrina
majoritaacuteria sobre o tema entende pela aplicabilidade do artigo 33 da Convenccedilatildeo de Genebra
de 1951 tambeacutem na regiatildeo de alto mar ou seja como jaacute falamos acima aplicando a
extraterritorialidade da jurisdiccedilatildeo do paiacutes e portanto a extraterritorialidade do princiacutepio da
natildeo-repulsatildeo337
A este respeito o ACNUR no documento ldquoNotes on International Protectionrdquo de 13
de setembro de 2001 dispotildee que natildeo satildeo admitidas reservas no princiacutepio da natildeo-repulsatildeo e
que consiste em uma regra de direito internacional consuetudinaacuterio e portanto se vincula a
todos os Estados aleacutem disso consiste em um princiacutepio atrelado agrave proibiccedilatildeo da tortura e
tratamentos desumanos degradantes e crueacuteis bem como aplicaacutevel a todos os refugiados
independentemente do status formal do indiviacuteduo e como jaacute visto proiacutebe o envio de
indiviacuteduos para locais onde correm o risco de terem sua vida e liberdade ameaccediladas sendo
que o local da rejeiccedilatildeo natildeo importa se eacute na fronteira repulsatildeo indireta ou interceptaccedilatildeo de
embarcaccedilotildees por exemplo338
Nesta mesma linha vimos que a Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos do Homem no
Protocolo nordm 4 artigo 4ordm haacute a proibiccedilatildeo de expulsotildees coletivas tal disposto se justifica no
fato de que a anaacutelise para configurar o status de refugiado deve ser efetuada individualmente
com isso a expulsatildeo coletiva infringe gravemente a anaacutelise individual pois ao recusar os
migrantes em grupos faz com que a anaacutelise seja sumaacuteria339
A regulaccedilatildeo de entrada nos paiacuteses sempre foi praticada inclusive com rejeiccedilotildees de
entrada E como jaacute explicado no capiacutetulo anterior nos uacuteltimos anos a Itaacutelia eacute um dos paiacuteses
que mais vecircm sofrendo com a chegada massiva de migrantes que atravessam o Mar
Mediterracircneo com intuito de chegar agrave Europa Vimos tambeacutem que os Estados possuem sua
soberania e por isso tecircm direito de controlar o fluxo de entrada no paiacutes mas este fato esbarra
nas situaccedilotildees em que pessoas necessitam de proteccedilatildeo internacional
337 TERRASI Alfredo Op cit 338 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Note on International Protection ndash UNHCR 13 september
2001 Disponiacutevel httpswwwunhcrorgexcomexcomrep3bb1c6cc4note-international-protectionhtml
Acesso em 18092020 339 TERRASI Alfredo Op cit
104
Assim o direito de rejeitar a entrada de pessoas no paiacutes consiste em uma expressatildeo
da soberania dos Estados no entanto haacute limites Vejamos A ideia de soberania eacute de que se
trata de uma ferramenta para garantia dos direitos do Estado e dos indiviacuteduos agrave luz do direito
internacional ou seja a garantia de proteccedilatildeo miacutenima com base nos direitos humanos
tornando o princiacutepio da natildeo-discriminaccedilatildeo o centro de reconstruccedilatildeo dos deveres do Estado
em relaccedilatildeo a todos indiviacuteduos natildeo importando a nacionalidade destes Nesse sentido com
base nesse princiacutepio todas as pessoas que estiverem sob a jurisdiccedilatildeo de algum Estado este
deve fazer com que os direitos fundamentais reconhecidos pelo direito internacional sejam
observados340
A accedilatildeo de rejeitar a entrada de pessoas consiste em um exerciacutecio de poder dos oacutergatildeos
do Estado que satildeo responsaacuteveis pelo controle das fronteiras mas esta accedilatildeo faz com que
sejam ativadas as ferramentas para que se respeitem os direitos humanos dos envolvidos
Dessa forma a proteccedilatildeo ao direito agrave vida proibiccedilatildeo de tratamentos desumanos e
degradantes a liberdade pessoal entre outras proteccedilotildees dos direitos humanos pode fazer
com que o Estado seja impedido de rejeitar as pessoas ou seja que se respeite o princiacutepio
da natildeo-repulsatildeo341
Assim o direito dos refugiados eacute a primeira aacuterea do direito internacional em que a
regra da natildeo-repulsatildeo foi desenvolvida foi durante a Segunda Guerra Mundial que os
Estados decidiram adotar a proibiccedilatildeo geral de recusar refugiados342 ou seja como jaacute vimos
os Estados-partes que adotaram a Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 comprometeram-se a natildeo
expulsar um refugiado para locais onde a vida e a liberdade seriam ameaccediladas
Destaca-se que a natildeo repulsatildeo se aplica aos refugiados isto eacute aqueles que se
enquadram nas situaccedilotildees previstas na Convenccedilatildeo de 1951 portanto alguns elementos que
caracterizam uma pessoa como refugiado satildeo o medo a perseguiccedilatildeo pelos motivos
especiacuteficos (raccedila religiatildeo nacionalidade e outros) e natildeo poder se beneficiar da proteccedilatildeo
estatal Poreacutem pessoas que necessitam de proteccedilatildeo por fugirem de guerra (natildeo enquadradas
nas situaccedilotildees de perseguiccedilatildeo) refugiados ambientais pessoas deslocadas internamente satildeo
excluiacutedas do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo343
340 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit 341 Ibidem 342 Ibidem 343 Ibidem
105
No entanto natildeo eacute exigiacutevel que os indiviacuteduos jaacute estejam no territoacuterio para que se
aplique a natildeo-repulsatildeo ou seja os migrantes podem estar na fronteira ou inclusive em aacutereas
onde o Estado natildeo exerce a soberania como o alto mar De qualquer forma os indiviacuteduos
devem ter seu direito de natildeo serem devolvidos respeitado344 Dessa forma o artigo 33 da
Convenccedilatildeo de 1951 aleacutem de ser uma proteccedilatildeo aos refugiados consiste em um
desenvolvimento dos direitos humanos pois tambeacutem foi adotado em outros documentos
internacionais demonstrando a relevacircncia desta regra345
Nesse sentido a Convenccedilatildeo contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Crueacuteis
Desumanos ou Degradantes adotada em 1984 traz no artigo 3ordm nordm1 a proibiccedilatildeo da expulsatildeo
de uma pessoa quando houver relevantes razotildees para se acreditar que o indiviacuteduo corra
perigo e possa ser submetido agrave tortura346 Entatildeo a Convenccedilatildeo de 1951 diz respeito aos
refugiados e a Convenccedilatildeo contra a Tortura amplia a aplicaccedilatildeo deste princiacutepio para mais
pessoas que natildeo satildeo consideradas refugiadas bastando ter motivos substanciais para
acreditar que a pessoa seraacute submetida agrave tortura
Entatildeo destaca-se o fato de que a Convenccedilatildeo Contra a Tortura natildeo prevecirc exceccedilotildees
ou seja ningueacutem poderaacute ser expulso de um paiacutes sabendo que o indiviacuteduo seraacute submetido agrave
tortura Neste aspecto podemos entender o caraacuteter de uma norma jus cogens (resumidamente
satildeo regras internacionais imperativas como vimos no primeiro capiacutetulo) na proibiccedilatildeo da
repulsatildeo347
Tendo por base todas essas informaccedilotildees a respeito da natildeo-repulsatildeo passa-se agora a
explorar a relaccedilatildeo deste princiacutepio juntamente com o direito do mar Neste aspecto eacute
importante destacar que a natildeo-repulsatildeo natildeo consta expressamente na lei do mar poreacutem isso
natildeo significa que natildeo deva ser aplicado pois o direito internacional prevecirc a possibilidade de
integrar as regras presentes em outros documentos A exemplo disto a UNCLOS prevecirc que
os assuntos natildeo regulados por ela continuam sendo disciplinados pelos princiacutepios do direito
internacional348
344 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit 345 Ibidem 346 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Contra a Tortura e Outros Tratamentos
ou Penas Crueacuteis Desumanos ou Degradantes 1984 Disponiacutevel em
httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto1990-1994D0040htm Acesso em 24062020 347 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit 348 Ibidem
106
Ao observar algumas obrigaccedilotildees fundamentais neste ponto do direito internacional
percebe-se a evidecircncia da proteccedilatildeo dos direitos humanos exemplificado pelo princiacutepio da
natildeo-repulsatildeo assim menciona-se a obrigaccedilatildeo de salvar as pessoas que estatildeo em perigo no
mar e levaacute-las para um local seguro Esta obrigaccedilatildeo jaacute presente nas regras costumeiras eacute
expressa na UNCLOS e em outros documentos internacionais como a SOLAS e a SAR No
entanto natildeo haacute definiccedilatildeo do que seria ldquolugar segurordquo mas entende-se que consiste em um
local onde os indiviacuteduos possuem seus direitos fundamentais respeitados assim os
migrantes resgatados no mar devem ser desembarcados em lugares onde a vida e liberdade
dessas pessoas estatildeo salvas349
Portanto o elo entre a obrigaccedilatildeo de salvamento no mar e desembarcar as pessoas em
locais seguros juntamente com o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo constituem em uma
convergecircncia do direito do mar direitos humanos e direito dos refugiados As chances das
pessoas resgatadas no mar principalmente no Mar Mediterracircneo serem pessoas que se
enquadram no conceito de refugiado eacute grande350 Veremos adiante que a Itaacutelia foi condenada
pelo TEDH por desrespeitar essas obrigaccedilotildees internacionais
No entanto os limites impostos pelo direito dos refugiados e direitos humanos agrave
atuaccedilatildeo do Estado no que se refere agrave rejeiccedilatildeo dos estrangeiros tecircm sido considerados como
oacutebices agraves poliacuteticas estatais de rejeiccedilatildeo indiscriminadas adotadas por alguns paiacuteses Nesse
sentido alguns governos tentaram coibir a chegada de migrantes para requisiccedilatildeo de asilo
que a exemplo disso cita-se a Austraacutelia Itaacutelia e Estados Unidos351
Dos exemplos citados no uacuteltimo capiacutetulo falaremos das violaccedilotildees nos principais
paiacuteses afetados como Itaacutelia Greacutecia e Malta pois tem sido os paiacuteses mais afetados pela
migraccedilatildeo atraveacutes do Mar Mediterracircneo Nesse sentido a Itaacutelia adotou haacute pouco tempo uma
legislaccedilatildeo que possui a finalidade de impedir a entrada de embarcaccedilotildees que resgatam
migrantes em suas aacuteguas e portos Do ponto de vista de diversas aacutereas do direito como
direitos humanos e direito do mar tal medida do governo italiano eacute ilegiacutetima352
A UNCLOS nos seus artigos 17 e 25 nordm 3 dispotildee a respeito de passagem inocente
mas em alguns casos o estado costeiro pode suspender temporariamente esse direito esta
deve ser temporaacuteria deve ser em aacutereas especiacuteficas a accedilatildeo deve ser importante para a
349 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit 350 Ibidem 351 Ibidem 352 Ibidem
107
seguranccedila do Estado e natildeo deve ter cunho discriminatoacuterio Portanto a aacuterea deve ser restrita
e aplicaacutevel a todos os navios ou seja natildeo se pode restringir a navegaccedilatildeo de embarcaccedilotildees de
ONGs que prestam assistecircncia no mar por exemplo353
Dessa forma observa-se que as accedilotildees do governo italiano tinham intenccedilatildeo de excluir
uma categoria de barcos e que inclusive natildeo realizam atividades ilegais assim a Itaacutelia deixa
de respeitar uma seacuterie de obrigaccedilotildees legais Nesse sentido desembarcar migrantes
resgatados em alto mar em locais como a Liacutebia por exemplo acarreta uma violaccedilatildeo ao
princiacutepio da natildeo-repulsatildeo pois este paiacutes africano estaacute longe de ser um local seguro354
O direito internacional do mar autoriza em casos extremos que uma embarcaccedilatildeo
que esteja em situaccedilatildeo de perigo tenha acesso aos portos mesmo que o Estado portuaacuterio seja
diverso do Estado da bandeira independentemente da permissatildeo355 Aleacutem disso em outro
aspecto os estados de destino da migraccedilatildeo irregular tentam prevenir a chegada de migrantes
ilegais em seu territoacuterio controlando as fronteiras fora do seu territoacuterio ou seja em alto mar
Esta accedilatildeo eacute chamada de desterritorializaccedilatildeo neste aspecto nos deparamos com o conceito
do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo que vimos ser um instrumento importante na proteccedilatildeo dos
migrantes que necessitam de proteccedilatildeo Aleacutem disso vale lembrar que o ato de migrar natildeo eacute
ilegal sendo que quem comente o crime satildeo os contrabandistas nesse sentido os migrantes
ldquocometemrdquo iliacutecitos ao entrar de forma irregular no territoacuterio internacional356
Nesse sentido Seline Trevisanut traz a ideia de dois tipos de fronteiras a primeira
consiste na fronteira propriamente dita delimitada no mapa que visa delimitar a aacuterea fiacutesica
na qual o Estado costeiro tem assegurada sua soberania na medida de cada zona mariacutetima
como vimos no iniacutecio deste capiacutetulo a segunda ideia de fronteira mariacutetima funcional que
traz uma fronteira dinacircmica ou seja ela eacute alterada de acordo com a natureza da accedilatildeo em
questatildeo Portanto no que se refere agrave migraccedilatildeo a fronteira eacute no local que as autoridades
realizaram o controle de fronteira ou seja em tese na interceptaccedilatildeo de um navio no mar o
controle de fronteira estaacute sendo realizado naquele local357
Tal fato traz a ideia de imposiccedilatildeo do seu sistema juriacutedico como eacute o caso por
exemplo da Itaacutelia em que alega seu tratado de amizade com a Liacutebia Assim a Itaacutelia entende
353 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit 354 Ibidem 355 Ibidem 356 TREVISANUT Seline The Principle of Non-Refoulement and the De-Territorialization of Border Control
at Sea Op cit 357 Ibidem
108
que pode tomar as medidas de acordo com a sua legislaccedilatildeo e tratados Ocorre que o princiacutepio
da natildeo-repulsatildeo eacute aplicado agrave pessoa que foi interceptada pois mesmo que a entrada seja
ilegal a Convenccedilatildeo de 1951 no artigo 31 nordm1 dispotildee que a entrada ilegal natildeo deve ser motivo
para recusar as pessoas que foram abordadas Entatildeo se deve sempre buscar a proteccedilatildeo de
pessoas que necessitam de ajuda No entanto a praacutetica de repelir os navios para alto mar natildeo
configuraria violaccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo mas eacute importante que esse ato natildeo
configure colocar vidas em perigo caso contraacuterio estaria em desacordo com o dever de
assistecircncia e socorro no mar358 mas sabemos que a situaccedilatildeo natildeo simples dessa forma pois
ao repelir um barco de migrantes para alto mar eacute colocar a vida das pessoas que estatildeo na
embarcaccedilatildeo em perigo pois voltar para o paiacutes de origem natildeo eacute uma opccedilatildeo ficar a deriva
pode levaacute-las agrave morte ir para outro paiacutes mais longe pode deteriorar ainda mais a embarcaccedilatildeo
e a mesma naufragar causando acidentes e provavelmente mortes
Assim podemos dizer que o desvio forccedilado de migrantes enviando-os de volta para
o paiacutes de partida ou para algum paiacutes que natildeo escolheram ou para algum paiacutes considerado
inseguro consiste em violaccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo Ressalta-se que tal princiacutepio natildeo
traz obrigatoriedade de recepccedilatildeo dos migrantes poreacutem repeliacute-los pode infringir algumas
normas do direito internacional como por exemplo o dever de prestar assistecircncia no mar359
323 A Busca e Salvamento no Mar e o Dever de Assistecircncia
O direito agrave vida deve prevalecer perante questotildees em que o navio esteja em perigo
ou que possua um maior nuacutemero de passageiros que possa comprometer a seguranccedila da
embarcaccedilatildeo Assim a primazia do direito agrave vida deve fazer com que o Estado costeiro abra
sua fronteira para o acesso dos migrantes Aleacutem disso o Tribunal Europeu dos Direitos
Humanos natildeo permite a ideia do Estado separar a obrigaccedilatildeo de salvar as vidas no mar
(prevista na UNCLOS) das obrigaccedilotildees de respeitar os direitos fundamentais Dessa forma
o Estado deve se preocupar com qualquer pessoa em perigo no mar e que as pessoas natildeo
devem ser devolvidas ao paiacutes de embarque360
358 TREVISANUT Seline The Principle of Non-Refoulement and the De-Territorialization of Border Control
at Sea Op cit 359 TREVISANUT Seline Maritime Border Control and the Protection of Asylum-Seekers in the European
Union Touro International Law Review 12 2009 p 157-161 HeinOnline 360 GROSBON Sophie Op cit
109
No que se refere agrave imigraccedilatildeo clandestina cita-se a Convenccedilatildeo de 1957 que nunca
entrou em vigor ela previa a autonomia do capitatildeo de um navio de entregar os migrantes agraves
autoridades do primeiro porto de escala sendo responsaacutevel por devolverem ao seu paiacutes de
origem No mesmo sentido em 2002 tentaram resolver a questatildeo de passageiros que entram
clandestinamente em alguma embarcaccedilatildeo portanto a ideia era de que os capitatildees natildeo
deveriam desviar a rota do navio para desembarcar o indiviacuteduo (exceto se tiver autorizaccedilatildeo
do porto ldquode desviordquo e se for necessaacuterio o desembarque em casos de seguranccedila e
humanidade) assim o Estado de desembarque deve aceitar o passageiro que for encontrado
no seu mar territorial sendo que em casos de recusa esta deveraacute ser justificada361
A este respeito Sophie Grosbon destaca que o desembarque das pessoas resgatadas
no mar sejam elas migrantes ou passageiros clandestinos estatildeo submetidos agrave lei dos
refugiados bem como ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo isso implica que o indiviacuteduo natildeo seja
desembarcado em um paiacutes no qual seus direitos vida e integridade fiacutesica sejam ameaccedilados
o mesmo ocorre para paiacuteses que possam enviaacute-los de volta ao paiacutes de origem ou Estado onde
seria ameaccediladoperseguido (situaccedilatildeo conhecida como repulsatildeo indireta)362
Percebe-se entatildeo a ligaccedilatildeo do ponto estudado neste capiacutetulo com o que foi exposto
no capiacutetulo 1 a respeito do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo visto anteriormente ou seja uma
pessoa que estaacute fugindo de ameaccedilas e tratamentos desumanos e degradantes que vivia em
um lugar que a vida e a integridade fiacutesica estavam ameaccediladas natildeo deve ser enviada de volta
para a tortura conforme consta no artigo 3ordm da CEDH bem como na Convenccedilatildeo contra a
Tortura
Quanto aos navios que socorrem as pessoas no mar a respeito da situaccedilatildeo dos
passageiros clandestinos faz-se uma separaccedilatildeo na anaacutelise ou seja se o navio eacute estatal ou se
eacute uma embarcaccedilatildeo particular No caso de embarcaccedilatildeo puacuteblica entende-se que o Estado da
bandeira eacute o responsaacutevel pela anaacutelise do pedido de asilo mesmo se estiver em aacuteguas internas
do estado de fuga mas ressalta-se que o mar natildeo eacute o local apropriado para que ocorra o
procedimento de anaacutelise do status de refugiado pois o capitatildeo e sua equipe natildeo possuem
conhecimento e treinamento para este serviccedilo bem como ocasionaria um atraso na rota
aleacutem disso se a anaacutelise ocorrer a bordo pode colocar em risco o respeito aos direitos
361 GROSBON Sophie Op cit 362 Ibidem
110
fundamentais do indiviacuteduo (direito a um tradutor um advogado possibilidade de recorrer e
confidencialidade do processo)363
Por outro lado se a embarcaccedilatildeo for particular a lei internacional dos refugiados junto
com a lei mariacutetima internacional sugere que o Estado responsaacutevel pelo pedido de asilo eacute
aquele onde ocorre o desembarque podendo inclusive que os Estados (de desembarque da
bandeira e outro Estado terceiro que aceite o procedimento de asilo) celebrem acordos para
compartilhar os encargos e as responsabilidades Essa dificulta o desembarque dos
migrantes pois ocasiona a obrigatoriedade de processar o pedido de asilo e isso resultaria
em situaccedilatildeo de natildeo assistecircncia das pessoas em perigo no mar364
Vimos que a UNCLOS no artigo 98 traz o dever de assistecircncia no mar isto eacute o nordm
1 aliacutenea ldquoardquo traz um princiacutepio consistente do direito consuetudinaacuterio que eacute o dever de prestar
assistecircncia para pessoas que estatildeo em perigo no mar e o nordm 2 do artigo traz o dever do Estado
costeiro de promover um eficaz serviccedilo de busca e salvamento bem como promover o
funcionamento a manutenccedilatildeo deste serviccedilo365
No que se refere ao direito internacional consuetudinaacuterio eacute niacutetido de que o dever de
salvar vidas no mar eacute um exemplo desta expressatildeo Nesse sentido tal regra eacute aplicaacutevel a
todos os Estados independentemente de serem signataacuterios de algum tratado internacional366
mas as Convenccedilotildees internacionais trazem disposiccedilotildees para confirmar o dever de salvamento
Como exemplo no Capiacutetulo V temos a regra 33 nordm 1 da SOLAS cujo tiacutetulo eacute ldquoDistress
situations obligations and proceduresrdquo que trata da obrigaccedilatildeo de um capitatildeo do navio em
salvar pessoas que estejam em perigo no mar natildeo importando as circunstacircncias em que satildeo
encontrados nacionalidade ou status das pessoas367
No que diz respeito agrave obrigaccedilatildeo de salvamento prevista na regra 33 nordm 1 da SOLAS
mencionada acima natildeo basta apenas salvar as pessoas em perigo no mar mas tambeacutem faz
parte da obrigaccedilatildeo desembarcar essas pessoas em local seguro este que por sua vez consta
no item 11 do mesmo artigo como segue ldquo() so that survivors assisted are disembarked
from the assisting ship and delivered to a place of safety ()rdquo368
363 GROSBON Sophie Op cit 364 Ibidem 365 UNITED NATIONS United Nations Convention on the Law of the Seas Op cit 366 RUGGIERO Carol Op cit 367 INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION International Convention for the Safety of Life at Sea
(SOLAS) Op cit 368 Ibidem
111
No que se refere ao desembarque em local de seguranccedila nem a SOLAS e nem a SAR
trouxeram a definiccedilatildeo do que seria esse local de seguranccedila poreacutem em 2004 nas
ldquoOrientaccedilotildees sobre o tratamento de pessoas resgatadas no marrdquo da Organizaccedilatildeo Mariacutetima
Internacional (OMI - IMO) dispotildee que esse lugar eacute onde a vida dos sobreviventes natildeo estaacute
mais em perigo tendo as principais necessidades humanas respeitadas ou seja alimentaccedilatildeo
acomodaccedilatildeo assistecircncia meacutedica como segue ldquo()is a location where rescue operations
are considered to terminate It is also a place where the survivorsrsquo safety of life is no longer
threatened and where their basic human needs (such as food shelter and medical needs)
can be met369rdquo
Vale ressaltar que se as pessoas resgatadas estiverem fugindo de perseguiccedilotildees satildeo
pessoas que provavelmente vatildeo querer asilo portanto a questatildeo de resgate e assistecircncia no
mar natildeo se restringe apenas em socorro fiacutesico pois neste caso seraacute tambeacutem uma questatildeo
de proteccedilatildeo internacional370
A regra 7 do Capiacutetulo V da SOLAS tem o tiacutetulo de ldquoSearch and rescue servicesrdquo que
traz a obrigaccedilatildeo de cada Estado-parte em garantir que as providecircncias necessaacuterias de socorro
agraves pessoas em perigo na sua aacuterea de responsabilidade371 no mesmo sentido a SAR no
Capiacutetulo 2 nordm 2110 dispotildee ldquoParties shall ensure that assistance be provided to any person
in distress at sea They shall do so regardless of the nationality or status of such a person or
the circumstances in which that person is foundrdquo372 ou seja os Estados signataacuterios tecircm o
dever de prestar assistecircncia a qualquer pessoa em perigo no mar independente de status
nacionalidade ou qualquer outra circunstacircncia conforme jaacute mencionado anteriormente
Tendo por base essas informaccedilotildees podemos fazer uma anaacutelise com base no estudo
realizado por Ilaria Trani ou seja em seu estudo trouxe a informaccedilatildeo de que o estado liacutebio
estaria atuando na regiatildeo mariacutetima a fim de executar operaccedilotildees de busca e resgate sendo
financiados por paiacuteses como a Itaacutelia por exemplo Isto traz a situaccedilatildeo de que se as
autoridades liacutebias resgatarem os barcos de migrantes ilegais poderiam levaacute-los de volta para
369 INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION Guidelines on the Treatment of Persons Rescued at
Sea 2004 Disponiacutevel em
httpwwwimoorgenOurWorkFacilitationpersonsrescuedDocumentsMSC167(78)pdf Acesso em
27062020 370 RUGGIERO Carol Op cit 371 INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION International Convention for the Safety of Life at Sea
(SOLAS) Op cit 372 INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION Search and Rescue Convention 1979 Disponiacutevel
em httpsonboard-aquariusorguploads201808SAR-Convention-1979pdf Acesso em 27062020
112
Liacutebia sem configurar a ldquonatildeo-repulsatildeordquo situaccedilatildeo em que a Itaacutelia jaacute foi condenada pelo
Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (como veremos agrave frente) Poreacutem destaca-se que tal
situaccedilatildeo natildeo exime os paiacuteses da Uniatildeo Europeia das suas obrigaccedilotildees de proteger a vida
humana no mar mesmo que a operaccedilatildeo necessaacuteria seja fora da regiatildeo de busca e salvamento
sob a justificativa da responsabilidade perante o direito internacional373 Aleacutem disso a Itaacutelia
fornecer subsiacutedios para que a Liacutebia resgate os migrantes no mar e os levem de volta estaacute
sendo cuacutemplice de um atividade iliacutecita e por isso deve ser responsabilizada tendo por base
o artigo 16 dos ldquoDraft articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful Actsrdquo
bull Procedimentos e operaccedilotildees de busca e resgate no mar
Em um primeiro momento o capitatildeo deve passar informaccedilotildees do navio auxiliar para
o Centro de Coordenaccedilatildeo de Resgate bem como informaccedilotildees a respeito das pessoas a serem
resgatadas accedilotildees jaacute concluiacutedas e ainda por realizar procedimento de desembarque sugerido
pelo capitatildeo do navio e fatores especiacuteficos (clima carga do navio etc) Se as pessoas
resgatadas forem migrantes que pretendem requerer asilo o capitatildeo deve informar tambeacutem
o ACNUR aleacutem de alertar o Centro de Coordenaccedilatildeo de Resgate mais proacuteximo natildeo deve
solicitar desembarque de onde os migrantes estavam fugindo e natildeo fornecer os dados dos
migrantes agraves autoridades do paiacutes de origem ou para quem possa informar as autoridades374
Os Centros de Coordenaccedilatildeo de Resgate satildeo importantes pois deve assegurar que os
compromissos assumidos internacionalmente sejam cumpridos como por exemplo respeito
agraves convenccedilotildees SAR e SOLAS bem como ter um plano de operaccedilatildeo para accedilotildees de
recuperaccedilatildeo organizar o desembarque dos sobreviventes entregarem as pessoas resgatadas
em um lugar seguro Aleacutem disso esses centros tem a funccedilatildeo de fazer acordos com setores
de imigraccedilatildeo alfacircndegas controles de fronteira etc providenciando inclusive hospedagens
temporaacuterias para os resgatados enquanto o problema relativo ao resgate seja solucionado
com intuito de desonerar o navio que resgatou o mais breve possiacutevel para evitar atrasos
encargos financeiros ou outras dificuldades375
373 TANI Ilaria Op cit 374 INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION INTERNATIONAL CHAMBER OF SHIPPING
UNITED NATIONS (UNHCR) Soccorso in Mare 2015 Disponiacutevel em httpswwwunhcritwp-
contentuploads201512Soccorso_in_Marepdf Acesso em 29062020 375 INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION INTERNATIONAL CHAMBER OF SHIPPING
UNITED NATIONS (UNHCR) Soccorso in Mare 2015 Op cit
113
Assim no ano de 2015 a Comissatildeo o Conselho e o Parlamento Europeu passaram
a atuar de formas variadas na questatildeo de busca e salvamento no mar no que se refere aos
refugiados principalmente devido agraves trageacutedias acontecidas no Mediterracircneo376 Antes de
entendermos um pouco da situaccedilatildeo de busca e resgate no Mediterracircneo faz-se necessaacuterio
entender um pouco sobre a Frontex
O controle de fronteiras na Europa eacute exercido pela Frontex que foi criada em 2004
e consiste na Agecircncia Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira tendo como finalidade
ajudar os paiacuteses da Uniatildeo Europeia bem como os pertencentes agrave aacuterea Schengen a proteger
suas fronteiras e ter um maior controle da livre circulaccedilatildeo presente no respectivo territoacuterio
No ano de 2016 as funccedilotildees da Frontex foram ampliadas para ter maior controle da
migraccedilatildeo a fim de ter maior responsabilidade na questatildeo de combate agrave criminalidade
transfronteiriccedila aleacutem disso as operaccedilotildees de busca e salvamento satildeo de competecircncia da
Frontex377
No sentido de busca e salvamento tem-se que ldquoA Frontex eacute obrigada a prestar
assistecircncia teacutecnica e operacional no mar para apoiar operaccedilotildees de salvamento que possam
ocorrer durante as operaccedilotildees de vigilacircncia das fronteiras378rdquo Segundo dados a Frontex
auxiliou no salvamento 280000 no Mar Mediterracircneo379
Podemos citar portanto duas operaccedilotildees da Frontex que tinham por objetivo a
interceptaccedilatildeo de navios de migrantes ilegais originados do Senegal e Mauritacircnia sendo
denominadas Hera II e III nestas operaccedilotildees parte dos migrantes foram devolvidos Ressalta-
se que as patrulhas foram feitas tambeacutem no mar territorial dos dois paiacuteses africanos
supramencionados aleacutem disso a existecircncia de acordos entre paiacuteses terceiros e de fora da
Uniatildeo Europeia autorizam as patrulhas bem como autoriza outros Estados-membros a
intervir nas aacuteguas territoriais dos referidos paiacuteses africanos380
Como vimos tendo por base o direito internacional os estados costeiros possuem
ampla soberania no seu mar territorial sendo limitado pelo direito de passagem inocente ou
por algum tratado Nesse sentido o acordo entre Mauritacircnia e Espanha dispotildee que os dois
376 TANI Ilaria Op cit 377 FRONTEX O que eacute a Frontex Disponiacutevel em httpsfrontexeuropaeulanguagept Acesso em
19082020 378 Ibidem 379 Dados informados no site da Frontex FRONTEX O que eacute a Frontex Disponiacutevel em
httpsfrontexeuropaeulanguagept Acesso em 19082020 380 TREVISANUT Seline Maritime Border Control and the Protection of Asylum-Seekers in the European
Union Op cit
114
paiacuteses poderiam interceptar e desviar pessoas nacionais de paiacuteses terceiros que natildeo
apresentem os requisitos de entrada em ambos os paiacuteses mesmo que seja no mar territorial
No caso apenas embarcaccedilotildees espanholas poderiam interceptar embarcaccedilotildees no mar
territorial da Mauritacircnia ocorre que a Frontex natildeo especifica a nacionalidade da
embarcaccedilatildeo constando apenas que se trata de embarcaccedilatildeo dos Estados-membros assim natildeo
sendo navio de nacionalidade espanhola provavelmente haacute uma infringecircncia agraves normas de
direito internacional a natildeo ser que tenha a aceitaccedilatildeo do paiacutes africano381
Nesse sentido o anexo da ldquoCouncil Decisionrdquo de 26 de abril de 2010 traz os
princiacutepios gerais para operaccedilotildees de fronteiras mariacutetimas realizadas pela Frontex assim estas
operaccedilotildees devem ser realizadas com base nos direitos fundamentais promovendo a
seguranccedila das pessoas interceptadas ou resgatadas dispotildee tambeacutem que nenhuma pessoa
pode ser enviada a um localpaiacutes em que possa haver risco para sua integridade fiacutesica e
liberdade consistindo em uma violaccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo382
No entanto uma das mais importantes operaccedilotildees de resgate no Mediterracircneo foi a
Mare Nostrum lanccedilada pela Itaacutelia e surgiu em 2013 apoacutes o aumento dos naufraacutegios das
embarcaccedilotildees de imigrantes nas proximidades da ilha de Lampedusa A ideia era vigiar o Mar
Mediterracircneo 24 horas por dia a fim de salvar o maior nuacutemero de vidas possiacuteveis Assim
em um ano mais de 150 mil pessoas foram salvas isso significa o resgate de pelo menos
400 pessoas por dia Tambeacutem conseguiram prender mais de 300 traficantes poreacutem natildeo foi
totalmente eficaz tendo em vista a morte de pelo menos trecircs mil e trezentos migrantes no
ano de 2014 Tal operaccedilatildeo custava em torno de 9 milhotildees de euros por mecircs e devido aos
custos a Itaacutelia finalizou esta operaccedilatildeo devido a falta de ajuda no custeio383
Posteriormente a Europa adotou a Operaccedilatildeo Triton coordenada pela Frontex que
foi auxiliada pelos Estados-membros com a cessatildeo de embarcaccedilotildees aviotildees helicoacutepteros e
pessoal para auxiliar nos serviccedilos Diferentemente da Mare Nostrum que o objetivo era de
381 TREVISANUT Seline Maritime Border Control and the Protection of Asylum-Seekers in the European
Union Op cit 382 COUNCIL OF THE EUROPEAN UNION Council Decision of 26 April 2010 (2010252EU) Disponiacutevel
em httpseur-lexeuropaeuLexUriServLexUriServdouri=OJL201011100200026ENPDF Acesso
em 18092020 383 G1 GLOBO Conheccedila as missotildees de resgate de imigrantes no Mediterracircneo 2015 Disponiacutevel em
httpg1globocommundonoticia201504conheca-as-missoes-de-resgate-de-imigrantes-no-
mediterraneohtml Acesso em 30082020
115
resgate e tinha uma atuaccedilatildeo ateacute costa da Liacutebia a Triton focou no controle de fronteiras sendo
que as buscas se limitaram nas aacuteguas europeias384
Outra operaccedilatildeo foi a EUNAFOR MED SOPHIA implementada em 2016 pela
Resoluccedilatildeo 22402015 derivada da EUNAFOR ATLANTA esta que tinha o objetivo de
combater a pirataria na costa da Somaacutelia Essa nova forccedila naval da Uniatildeo Europeia no
Mediterracircneo recebeu diversas criacuteticas quanto aos planos de operaccedilotildees que se referem
questatildeo de naufraacutegios Uma dessas tarefas eacute monitorar a formaccedilatildeo agrave Guarda Costeira da
Liacutebia Houve tambeacutem outro adendo o Memorando de Entendimento entre a Itaacutelia e a Liacutebia
de 2017 que foi acolhido pelo Conselho Europeu poreacutem recebeu criacuteticas do Comitecirc das
Naccedilotildees Unidas contra a Tortura pois natildeo tratava sobre a colaboraccedilatildeo dos Estados no que se
refere aos direitos humanos385 No que se refere agrave Resoluccedilatildeo mencionada acima tem-se que
ela ldquo() reforccedila a autoridade para tomar medidas contra a introduccedilatildeo clandestina de
migrantes e o traacutefico de pessoas a partir do territoacuterio da Liacutebia e ao largo da costa deste
paiacutesrdquo386
Aleacutem disso o jornal alematildeo ldquoDeutsche Wellerdquo no ano passado (2019) trouxe a
notiacutecia de que um grupo de advogados em Paris apresentou agrave Fatou Bensouda (procuradora
geral do Tribunal Penal Internacional) uma denuacutencia de que a UE e Estados-membros desde
2014 estariam cometendo crime contra a humanidade no cumprimento de poliacuteticas
migratoacuterias no Mar Mediterracircneo e na Liacutebia Na denuacutencia haacute informaccedilotildees de que 40 mil
pessoas foram ldquoresgatadasrdquo no mar e consequentemente levadas para campos de detenccedilatildeo
de refugiados e submetidos agrave tortura aleacutem de casos de tortura e estupros cometidos pela
Guarda Costeira Liacutebia financiada por paiacuteses europeus (Itaacutelia por exemplo) Nos uacuteltmos 6
anos mais de 12 mil migrantes morreram ao tentar fugir da Liacutebia e chegar ao continente
europeu387
Agraves situaccedilotildees demonstradas acima podemos suspeitar de que a Uniatildeo Europeia por
meio da Frontex juntamente com alguns paiacuteses europeus atuam no sentido de repelir os
migrantes tendo em vista o auxiacutelio promovido por essa agecircncia no sentido de resgate das
384 G1 GLOBO Conheccedila as missotildees de resgate de imigrantes no Mediterracircneo 2015 Op cit 385 TANI Ilaria Op cit 386 COMITEcirc DE SEGURANCcedilA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Resoluccedilatildeo 2240 (2015) Disponiacutevel em httpseur-
lexeuropaeulegal-contentPTTXTuri=CELEX3A32016D0118 Acesso em 30082020 387 DEUTSCHE WELLE (DW) Juristas processam UE por morte de migrantes 2019 Disponiacutevel em
httpswwwdwcompt-brjuristas-processam-ue-por-mortes-de-migrantesa-49036829 Acesso em
05102020
116
pessoas no mar enviando os de volta aos seus paiacuteses como no caso envolvendo a Espanha e
a Mauritacircnia
bull Conflito de interesses Estados vs Refugiados
Como vimos a Mare Nostrum foi descontinuada e portanto substituiacutedas por outras
missotildees que aos poucos foram reduzindo sua amplitude bem como natildeo tinham a busca e
salvamento como objetivo principal Nesse sentido enquanto a Itaacutelia coordenava as
operaccedilotildees de busca e salvamento no Mar Mediterracircneo a Liacutebia cada vez mais assumia a
responsabilidade pelas operaccedilotildees Aleacutem disso vimos tambeacutem que houve apoio da Uniatildeo
Europeia agrave Guarda Costeira da Liacutebia e entatildeo alterando as atividades de busca e salvamento
Houve tambeacutem em 2017 a elaboraccedilatildeo de um Coacutedigo de Conduta destinada agraves
Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais (ONGrsquos) da Itaacutelia (tambeacutem com apoio da UE)
coincidindo com a proposiccedilatildeo de processos criminais contra os capitatildees de navios e ONGrsquos
que resgatassem as pessoas em perigo como tambeacutem houve a negativa de entrada nas aacuteguas
territoriais e portos Tais accedilotildees diminuiacuteram a chegada de pessoas na costa europeia poreacutem
muitas vidas foram afetadas por isso (devido aos afogamentos e desaparecimentos das
pessoas que buscam proteccedilatildeo)388
Sendo assim devido ao menor nuacutemero de patrulhamento no Mediterracircneo a busca e
resgate leva mais tempo muitas vezes o resgate chegando tarde demais Natildeo se pode ignorar
o fato de que as pessoas que fogem da Liacutebia estatildeo buscando ter uma vida digna ou pelo
menos um miacutenimo de sobrevivecircncia e esta situaccedilatildeo com maior atuaccedilatildeo da Guarda Costeira
da Liacutebia faz com que as embarcaccedilotildees resgatadas pelo estado liacutebio levem de volta agrave Liacutebia as
pessoas que estavam fugindo de situaccedilotildees dramaacuteticas como por exemplo prisotildees arbitraacuterias
violecircncia sexual trabalho forccedilado assassinatos etc Aleacutem disso os capitatildees de navios caso
cumpram com a sua obrigaccedilatildeo de salvamento podem responder a processos judiciais
criminais389
388 COUNCIL OF EUROPE ndash COMMISSIONER FOR HUMAN RIGHTS Lives Saved Rights protected
Bridging the protection gap for refugees and migrants in the Mediterranean - Recommendations 2019
Disponiacutevel em httpsrmcoeintlives-saved-rights-protected-bridging-the-protection-gap-for-refugees-
168094eb87 Acesso em 01092020 389 Ibidem
117
Trata-se portanto de uma situaccedilatildeo complexa devido ao conflito de questotildees de
natureza humanitaacuteria e a relutacircncia dos Estados em partilhar as responsabilidades Dessa
forma sabe-se que os Estados tecircm o direito de controlar suas fronteiras mas natildeo se deve
deixar de lado agraves vidas humanas que pedem proteccedilatildeo por fugirem de situaccedilotildees degradantes
Assim todos os seres humanos tecircm direito agrave vida bem como agrave proteccedilatildeo da sua dignidade
aleacutem disso o direito internacional do mar traz a obrigaccedilatildeo de que os Estados devem tomar
medidas para preservaccedilatildeo da vida no mar390
A salvaguarda da vida humana deve ter por base a Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos
do Homem aleacutem de outros diplomas internacionais jaacute mencionados na presente pesquisa
Isso significa o respeito ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo proteccedilatildeo contra detenccedilatildeo arbitraacuteria
proibiccedilatildeo de expulsatildeo coletiva entre outros direitos relativos agrave proteccedilatildeo internacional391
Jaacute vimos que o direito de resgate das pessoas em perigo no mar natildeo eacute um direito
isolado mas que envolve princiacutepios do direito do mar do direito internacional e dos direitos
humanos Poreacutem ainda haacute muitos problemas neste aspecto pois muitos navios se abstecircm de
resgatar pessoas em perigo por natildeo terem um local seguro para desembarcar os migrantes
ou por terem que desviar a rota e isso traria maiores encargos financeiros aleacutem disso paiacuteses
como Itaacutelia e Malta estatildeo sobrecarregados no que tange ao recebimento de migrantes devido
agrave proximidade com a costa da Liacutebia e tambeacutem pela falta de uniatildeo dos Estados-membros
tendo em vista a necessidade da reparticcedilatildeo dos encargos392
No que se refere ao resgate tem-se que natildeo haacute uma obrigaccedilatildeo legal de
monitoramento ou seja um dever de realizar patrulhamento as accedilotildees de resgate satildeo
estruturadas de acordo com cada Estado poreacutem se um Estado recebe a notiacutecia de que haacute
pessoas em perigo no mar esse Estado eacute obrigado a realizar o resgate Nesse sentido o dever
de resgate no mar estaacute presente no direito internacional do mar em diversos diplomas
internacionais bem como UNCLOS SAR SOLAS e International Convention of Salvage
aleacutem de diretrizes estabelecidas pela Organizaccedilatildeo Mariacutetima Internacional e resoluccedilotildees e
recomendaccedilotildees elaboradas pelo ACNUR393
390 COUNCIL OF EUROPE ndash COMMISSIONER FOR HUMAN RIGHTS Lives Saved Rights protected
Bridging the protection gap for refugees and migrants in the Mediterranean - Recommendations 2019 Op cit 391 Ibidem 392 LISSON Urszula WEINZIERL Ruth Op cit 393 Ibidem
118
Portanto em situaccedilatildeo de alguma embarcaccedilatildeo em perigo no mar o resgate deveraacute ser
efetuado sendo inicialmente providenciados os primeiros socorros e necessidades baacutesicas
Aleacutem disso o dever de resgate inclui a proibiccedilatildeo de discriminaccedilatildeo ou seja qualquer pessoa
que esteja em perigo no mar deve ser resgatada independente de sua nacionalidade ou
qualquer outra circunstacircncia Entatildeo tem-se que a soberania de um Estado costeiro encontra
limites nas obrigaccedilotildees humanitaacuterias isso significa que haacute a permissatildeo de entrada de
embarcaccedilatildeo em perigo em seu porto estando ela no mar territorial buscando por
assistecircncia394
Eacute importante ressaltar que com base no direito mariacutetimo todo Estado deve exigir
que o comandante de alguma embarcaccedilatildeo que arvore sua bandeira preste assistecircncia agraves
pessoas que estatildeo em perigo no mar sendo eximida apenas quando houver risco para o navio
Poreacutem com a situaccedilatildeo atual haacute incentivos para que os comandantes evitem os resgates
exatamente para evitar se depararem com o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo Assim vimos que
alguns comandantes estavam respondendo processos criminais ao resgatar pessoas e
desembarcarem em paiacuteses da UE sendo potenciais requerentes de asilo Ao que se refere agraves
embarcaccedilotildees privadas a demora dos paiacuteses para indicarem local para o desembarque pode
trazer implicaccedilotildees financeiras e portanto torna-se um desincentivo para que resgatem as
pessoas em perigo no mar Aleacutem disso o Estado costeiro deve promover o serviccedilo de busca
e salvamento natildeo sendo excluiacuteda a ajuda de paiacuteses vizinhos
No entanto vimos que atualmente a Itaacutelia com auxiacutelio da Uniatildeo Europeia estaacute
auxiliando a Liacutebia para patrulhamento das aacuteguas do Mediterracircneo para tentar se eximir da
obrigaccedilatildeo de busca e salvamento tendo que arcar com o acolhimento dos migrantes e talvez
consequente pedido de asilo395
O Conselho da Europa trouxe recomendaccedilotildees uma delas eacute a de que todos os Estados
membros devem contribuir de alguma forma com as atividades de busca e salvamento aleacutem
disso os Estados costeiros devem garantir que as unidades de busca e salvamento devem
estar disponiacuteveis para as pessoas que estejam em perigo no mar isso inclui embarcaccedilotildees das
ONGrsquos de atividades humanitaacuterias396
394 LISSON Urszula WEINZIERL Ruth Op cit 395 COUNCIL OF EUROPE ndash COMMISSIONER FOR HUMAN RIGHTS Lives Saved Rights protected
Bridging the protection gap for refugees and migrants in the Mediterranean - Recommendations 2019 Op cit 396 Ibidem
119
Os membros do Conselho da Europa devem respeitar as medidas tomadas pelos
comandantes dos navios em situaccedilotildees de natildeo desembarcar migrantes na Liacutebia ou qualquer
outro local natildeo seguro ou seja o Conselho entende que os comandantes devem respeitar a
disposiccedilatildeo de desembarque de migrantes em local seguro por exemplo a Liacutebia natildeo consiste
em local seguro Portanto os Estados-membros devem respeitar o natildeo desembarque de
migrantes em locais nos quais suas vidas estatildeo em risco bem como natildeo devem aplicar
penalidades sanccedilotildees ou medidas repressivas quando comandantes atuarem para salvar as
vidas das pessoas em perigo no mar Assim sempre devem ser garantidos os direitos
humanos dos migrantes resgatados natildeo devendo estes ser colocados em situaccedilotildees de risco agrave
vida ou em situaccedilotildees de tortura tratamento desumano ou degradante397
Aleacutem disso o Conselho da Europa recomenda que os Estados-membros em uma
operaccedilatildeo de busca e resgate devem cooperar a fim de proporcionar um desembarque raacutepido
das pessoas resgatadas sendo que natildeo deveraacute ser admitida alguma discordacircncia entre os
estados colocando em risco os direitos humanos dos migrantes Portanto primeiro deve-se
promover o resgate e desembarque em local seguro e apoacutes isso seraacute feita a anaacutelise de qual
estado seraacute responsaacutevel pelo procedimento de asilo devendo haver uma partilha entre os
estados para anaacutelise dos pedidos de asilo398
Vimos anteriormente que no caso particular da Liacutebia desde o ano de 2017 houve
investimentos de grande porte do Conselho da Europa bem como da Uniatildeo Europeia para
melhorar a capacidade de resgate da Guarda Costeira da Liacutebia ou seja execuccedilatildeo de
treinamentos fornecimentos de recursos entre outros incentivos Tal investimento teve
como resultado um maior resgate de pessoas que tentavam deixar a Liacutebia ou seja houve
portanto uma tentativa de impedir que as pessoas fugissem do paiacutes Poreacutem tal fato faz com
que devido agrave situaccedilatildeo dramaacutetica na Liacutebia pessoas sejam resgatadas detidas e submetidas agrave
tortura bem como violecircncia sexual e diversas outras violaccedilotildees dos direitos humanos 399
Nesse sentido nos deparamos com uma situaccedilatildeo de necessidade de rotas seguras e
legais para que essas travessias de migrantes natildeo ocorram de forma irregular e perigosa
Aleacutem de risco de vida as rotas irregulares favorecem o traacutefico de seres humanos Assim a
ausecircncia de rotas seguras e legais coloca em perigo os direitos dos migrantes e tambeacutem o
397 COUNCIL OF EUROPE ndash COMMISSIONER FOR HUMAN RIGHTS Lives Saved Rights protected
Bridging the protection gap for refugees and migrants in the Mediterranean - Recommendations 2019 Op cit 398 Ibidem 399 Ibidem
120
intuito dos estados em combater o traacutefico de pessoas Portanto a ideia eacute de que os estados
tomem medidas corretas para que a migraccedilatildeo ocorra dentro da lei dessa forma rotas seguras
e legais satildeo extremamente necessaacuterias para as pessoas que precisam de proteccedilatildeo
internacional400
Diante de todo esse cenaacuterio percebemos que haacute um grave conflito de interesses dos
Estados-membros bem como da Uniatildeo Europeia com o dos refugiados Os paiacuteses-destino
(grande parte europeus) e a UE tentam atraveacutes da Frontex e mediante auxiacutelio aos paiacuteses de
fuga (a Liacutebia por exemplo) reduzir o nuacutemero de migrantes poreacutem fazem isso auxiliando
em equipamentos e treinamentos as guardas costeiras dos paiacuteses de origem para que estes
interceptem as embarcaccedilotildees levando as pessoas de volta Ocorre que tal accedilatildeo consiste em
um sistema de escapar da obrigatoriedade do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo sendo assim muitas
dessas pessoas resgatadas pelos paiacuteses de origem satildeo levadas de volta ao territoacuterio sendo
submetidos agrave prisotildees torturas assassinatos ou seja fica niacutetida o desrespeito aos direitos
humanos tanto pelos Estados-membros e pela UE (pois estariam promovendo o envio de
pessoas de volta para situaccedilotildees dramaacuteticas) quanto pelos paiacuteses de origem que muitas vezes
estatildeo passando por crises internas sendo que a Liacutebia vive atualmente uma grave guerra civil
onde as pessoas satildeo torturadas e submetidas a trabalhos forccedilados entre outras atrocidades
Portanto muito se fala da cooperaccedilatildeo entre os estados poreacutem esta deve ser realizada
de forma beneacutefica promovendo o direito agrave vida e o respeito aos direitos humanos Se as
pessoas que estatildeo fugindo dos seus paiacuteses muitas vezes estatildeo fugindo para que suas vidas
e a de sua famiacutelia sejam preservadas entatildeo natildeo faz sentido devolver estas pessoas para o
paiacutes em que colocava suas vidas em risco bem como faz menos sentido ainda auxiliar os
paiacuteses de origem para que resgatem os migrantes e os levem de volta para a costa
400 COUNCIL OF EUROPE ndash COMMISSIONER FOR HUMAN RIGHTS Lives Saved Rights protected
Bridging the protection gap for refugees and migrants in the Mediterranean - Recommendations 2019 Op cit
121
CAPIacuteTULO 4
CASOS DE VIOLACcedilAtildeO DO ARTIGO 3ordm DA CONVENCcedilAtildeO EUROPEIA DOS
DIREITOS HUMANOS E O PRINCIacutePIO DA NAtildeO-REPULSAtildeO
Vimos anteriormente que apesar de natildeo haver regra expressa na CEDH a respeito da
natildeo-repulsatildeo das pessoas que necessitam de proteccedilatildeo o Tribunal Europeu dos Direitos
Humanos firmou jurisprudecircncia no sentido de vincular o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo ao artigo
3ordm da CEDH que se refere agrave proibiccedilatildeo da tortura E da mesma maneira que a Convenccedilatildeo
Contra a Tortura a CEDH engloba todos os indiviacuteduos natildeo somente aos refugiados que eacute o
caso da Convenccedilatildeo de Genebra de 1951
Assim o TEDH natildeo se limitou aos casos de extradiccedilatildeo como tambeacutem de expulsatildeo
dessa forma os Estados signataacuterios da CEDH natildeo podem rejeitar pessoas enviando-as para
locais em que corram o risco de serem submetidas a tratamentos desumanos degradantes
bem como a tortura Nesse sentido o Tribunal entende que a natildeo-repulsatildeo tambeacutem eacute aplicada
para accedilotildees estatais em alto mar inclusive em situaccedilotildees que envolvam os migrantes por via
mariacutetima401 Entatildeo neste capiacutetulo seratildeo analisadas algumas decisotildees do Tribunal Europeu
dos Direitos Humanos a respeito da violaccedilatildeo do artigo 3ordm da CEDH do princiacutepio da natildeo-
repulsatildeo bem como casos relativos agrave repulsatildeo no mar seratildeo analisados tambeacutem outros
casos que natildeo satildeo decisotildees do TEDH poreacutem ajudam a demonstrar a situaccedilatildeo dramaacutetica dos
migrantes
O fenocircmeno migratoacuterio natildeo eacute recente contudo nas uacuteltimas deacutecadas sobretudo apoacutes
2011 com a Primavera Aacuterabe o fluxo de migrantes oriundos do Oriente Meacutedio e da Aacutefrica
especialmente no norte do continente africano com a eclosatildeo das revoltas da populaccedilatildeo
contra governos ditatoriais tem aumentado muito e fazendo com que os migrantes arrisquem
suas vidas nas matildeos de traficantes muitas vezes em embarcaccedilotildees precaacuterias na tentativa de
travessia para Europa
Sabemos que a maioria dos migrantes natildeo planeja a viagem bem como muitas vezes
fazem a travessia ateacute ldquocontra a sua vontaderdquo poreacutem as condiccedilotildees de vida no paiacutes de origem
satildeo tatildeo precaacuterias a exemplo da Liacutebia que as pessoas saem agraves pressas para tentarem ter um
miacutenimo de dignidade Isso porque como dito anteriormente a dignidade humana eacute
401 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit
122
praticamente inexistente no paiacutes de origem em que pessoas satildeo submetidas agrave tortura
trabalho escravo presenciando situaccedilotildees de assassinatos de formas arbitraacuterias e
autoritaacuterias402
A questatildeo da Liacutebia no que tange busca e resgate destaca-se dois pontos importantes
a serem levados em conta o primeiro eacute o proacuteprio estado liacutebio que se encontra em total
desordem o outro ponto consiste nas graves violaccedilotildees de direitos humanos que fazem com
que milhares de pessoas fujam do paiacutes em busca de uma vida mais digna e segura403
O acordo realizado entre Itaacutelia e Liacutebia em 2017 fez com que a Itaacutelia transferisse seu
controle dos fluxos migratoacuterios para a Liacutebia concedendo apoio financeiro e teacutecnico como
jaacute vimos anteriormente No entanto essa estrateacutegia fez com que a praacutetica de repelir os
migrantes de volta para Liacutebia se tornasse comum Dessa forma o Centro Italiano di
Coordinamento del Soccorso Marittimo (IMRCC) coordena as operaccedilotildees de forma
remota404
41 Contexto Faacutetico
Tendo por base todos os comentaacuterios acima e tambeacutem o jaacute mencionado neste
capiacutetulo algumas decisotildees do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos seratildeo apresentadas
analisando jurisprudecircncia do referido Tribunal a respeito de todo o estudo apresentado no
presente trabalho dessa forma demonstra-se as violaccedilotildees ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo
analisados de forma conjunta com o artigo 3ordm da CEDH e a responsabilidade do Estado tanto
em situaccedilotildees de repulsatildeo no mar quanto em situaccedilotildees em que os migrantes conseguiram de
alguma forma chegar no territoacuterio europeu no entanto foram repelidos Nota-se que em
alguns casos as violaccedilotildees esbarram em um outro artigo da CEDH o artigo 4ordm do Protocolo
Adicional nordm 4 referente agraves expulsotildees coletivas
Vimos que a situaccedilatildeo da Liacutebia tem sido uma das principais crises no momento tendo
em vista os problemas que assolam o paiacutes pois devido agrave crise muitas pessoas estatildeo fugindo
do paiacutes Por este motivo dos casos abaixo apresentados metade satildeo relacionados agrave Liacutebia
(Hirsi Jamaa Vos Thalassa e Asso 28) referentes agrave repulsatildeo no mar no entanto outros
402 TANI Ilaria Op cit 403 Ibidem 404 AGENZIA ITALIA Cosa egrave successo a bordo della nave Asso Ventotto 2018 Disponiacutevel em
httpswwwagiitcronacamigranti_asso_ventotto-4224246news2018-07-31 Acesso em 05102020
123
casos tambeacutem foram apresentados (Khlaifia Abdi Mahamud e Sharifi) que esses uacuteltimos
referem-se agrave situaccedilotildees em que os migrantes foram resgatados no mar ou seja tiveram seu
direito de assistecircncia no mar respeitados no entanto posteriormente tiveram seus direitos
humanos violados
411 Caso Hirsi Jamaa e Outros versus Itaacutelia
Neste caso a decisatildeo405 foi proferida pelo TEDH em fevereiro de 2012 mas o fato
ocorreu em 2009 quando os refugiados um total de 200 foram interceptados a 35 milhas
naacuteuticas de Lampedusa aacuterea de busca e salvamento de Malta poreacutem foram abordados por
autoridades italianas e devolvidos para a Liacutebia Sendo que na versatildeo dos migrantes durante
a viagem de volta para o paiacutes africano eles natildeo foram informados qual seria o destino e
quando chegaram agrave Liacutebia se recusaram a desembarcar mas acabaram sendo forccedilados a
saiacuterem da embarcaccedilatildeo
Dessa forma alguns destes migrantes ingressaram com accedilatildeo perante o TEDH
alegando violaccedilatildeo do artigo 3ordm e 4ordm da CEDH que correspondem respectivamente a proibiccedilatildeo
da tortura e do trabalho escravo eou forccedilado bem como do artigo 4ordm do Protocolo Adicional
nordm 4 que consiste na proibiccedilatildeo de expulsatildeo coletiva
A Itaacutelia por sua vez atraveacutes do seu Ministro do Interior disse ter agido de forma
correta tendo em vista o acordo bilateral entre Itaacutelia e Liacutebia para reduccedilatildeo da imigraccedilatildeo ilegal
e que esse acordo ajudou salvar vidas diminuindo o desembarque de migrantes na costa
italiana Assim em 2009 a Itaacutelia realizou 9 interceptaccedilotildees de migrantes irregulares com base
nesse acordo Ressalta-se que alguns destes migrantes que foram interceptados foram
enquadrados na condiccedilatildeo de refugiado pelo escritoacuterio do ACNUR ou seja restou claro a
violaccedilatildeo aos direitos humanos
Aleacutem disso o governo italiano alegou que os migrantes natildeo tinham requerido asilo
e que tambeacutem natildeo informaram a situaccedilatildeo em que poderiam ser submetidos na Liacutebia os
requerentes por sua vez informaram que a tripulaccedilatildeo os induziu acreditar que estavam
sendo levados para a Itaacutelia e natildeo para a Liacutebia bem como disseram que foi informado aos
militares italianos de que necessitavam de proteccedilatildeo internacional No entanto mesmo se os
405 EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Hirsi Jamaa and others v Italy Application no
2776509 Disponiacutevel em httphudocechrcoeintspai=001-109231 Acesso em 16092020
124
migrantes natildeo tivessem demonstrado a intenccedilatildeo de proteccedilatildeo internacional tal fato natildeo isenta
a Itaacutelia de cumprir com as obrigaccedilotildees previstas no artigo 3ordm da CEDH Portanto na opiniatildeo
do TEDH houve a violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees internacionais pela Itaacutelia sobretudo no que se
refere ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo A situaccedilatildeo na Liacutebia eacute notoacuteria e por isso natildeo haacute que se
falar que os migrantes natildeo avisaram as autoridades italianas sobre o risco de tortura
Entatildeo vimos que o TEDH entendeu haver violaccedilatildeo do artigo 3ordm da CEDH bem como
o artigo 4ordm do Protocolo nordm 4 que consiste respectivamente a proibiccedilatildeo da tortura e proibiccedilatildeo
de expulsatildeo coletiva sendo este uacuteltimo devendo ter uma interpretaccedilatildeo evolutiva ou seja
adotando a ideia de extraterritorialidade considerando como extensatildeo do territoacuterio italiano
a embarcaccedilatildeo de resgate
Por fim o TEDH entendeu por unanimidade que os migrantes estavam sob jurisdiccedilatildeo
italiana bem como jaacute mencionado acima que houve violaccedilatildeo do artigo 3ordm da CEDH do
artigo 4ordm do Protocolo nordm 4 e do artigo 13 que se refere ao direito de recurso efetivo Assim
condenou a Itaacutelia ao pagamento de 15 mil euros por danos morais para cada um dos
requerentes acrescido da quantia de 157574 euros referente custas e despesas somados de
eventual imposto de cobranccedila aos requerentes
Este caso consiste em uma importante reafirmaccedilatildeo dos direitos dos refugiados frente
ao direito internacional e a responsabilidade do Estado em situaccedilotildees de violaccedilotildees a esses
direitos Assim ficou demonstrada a responsabilidade do Estado no caso a Itaacutelia de reparar
os danos causados aos migrantes Poreacutem destaca-se a indenizaccedilatildeo iacutenfima paga aos
requerentes frente agrave gravidade do problema sendo que alguns deles faleceram e natildeo se sabe
a causa ou seja podem ter sido mortos aleacutem disso os que sobreviveram podem ter sofrido
seacuterios danos fiacutesicos e morais como por exemplo terem sido enviados para trabalho escravo
Em situaccedilotildees dessas nenhuma quantia pode ser capaz de reparar sobretudo uma quantia
insignificante de 15 mil euros O valor indenizatoacuterio tem como principal funccedilatildeo coibir essas
condutas danosas mais que a funccedilatildeo compensatoacuteria dos danos no entanto nota-se que o
valor da indenizaccedilatildeo aplicada eacute tatildeo irrisoacuterio para um paiacutes no caso a Itaacutelia que deixa de ter
o condatildeo de inibir o reiteramento desse comportamento ou conduta
Neste aspecto abordagem de devolver migrantes para a Liacutebia sofreu algumas
alteraccedilotildees a Itaacutelia atraveacutes do seu Tratado de Amizade promoveu treinamentos da Guarda
Costeira Liacutebia bem como auxiliou com embarcaccedilotildees para fazer com que autoridades da
125
Liacutebia fizessem o resgate para tentar burlar o sistema e natildeo ser responsabilizada pela
repulsatildeo esse auxiacutelio teve apoio inclusive da UE como vimos anteriormente
Portanto diante de todo o exposto teoacuterico no presente caso houve uma seacuterie de
graves violaccedilotildees principalmente ao que se refere ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo como o
direito de busca e salvamento no mar em que os migrantes deveriam ser desembarcados em
local seguro assim como a proibiccedilatildeo da expulsatildeo coletiva Assim os imigrantes foram
enviados de volta com futuro incerto dos 200 repelidos poucos entraram com a accedilatildeo
alguns morreram outros desapareceram
412 Caso Khlaifia e Outros versus Itaacutelia
Esta decisatildeo406 foi proferida pelo TEDH em dezembro de 2016 e refere-se a fatos
que ocorreram em 2011 com 3 requerentes tunisianos Os requerentes deixaram a Tuniacutesia
em embarcaccedilotildees clandestinas rumo agrave Itaacutelia posteriormente as embarcaccedilotildees foram
interceptadas pela guarda costeira italiana e levados para um porto na ilha de Lampedusa e
posteriormente encaminhados ao Centro de Socorro e de Primeiro Acolhimento (Centro di
Soccorso e Prima Accoglienza ndash CSPA) sendo acomodados em um local que segundo os
requerentes era um local com muitas pessoas e sujo sendo que tinham que dormir no chatildeo
devido agrave falta de cama e as refeiccedilotildees eram feitas ao ar livre sentados no chatildeo aleacutem disso
eram impedidos de ter contato com pessoas fora do local
Houve uma revolta no local e o alojamento foi destruiacutedo algumas pessoas foram
transferidas para outro lugar neste novo lugar os requerentes se uniram a outros refugiados
e conseguiram fugir e chegar ateacute a cidade de Lampedusa onde fizeram protestos e foram
interceptados pela poliacutecia e levados para o centro de acolhimento e posteriormente enviados
para o aeroporto e encaminhados para Palermo apoacutes foram ldquoacomodadosrdquo em navios em
situaccedilotildees desconfortaacuteveis tendo que dormir no chatildeo e esperar por muito tempo para usar o
banheiro Apoacutes alguns dias foram enviados por aviatildeo para a Tuniacutesia
Os requerentes alegaram que a Itaacutelia violou os artigos 3ordm e 5ordm (proibiccedilatildeo da tortura e
direito agrave liberdade e seguranccedila respectivamente) bem como violaccedilatildeo do artigo 4ordm do
Protocolo nordm4 (proibiccedilatildeo da expulsatildeo coletiva) todos da CEDH A Itaacutelia por sua vez se
406 EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Khlaifia and others v Italy Application no
1648312 Disponiacutevel em httphudocechrcoeintengi=001-170054 Acesso em 21092020
126
defendeu com base na sua legislaccedilatildeo interna e o tratado bilateral realizado com o paiacutes
africano sendo que neste tratado a Tuniacutesia se compromete a aceitar de volta os cidadatildeos que
chegarem ilegalmente na costa italiana por meio de um processo bem simplificado
Nesse sentido o TEDH entendeu que houve a violaccedilatildeo do artigo 5ordm da Convenccedilatildeo
Europeia dos Direitos Humanos tendo em vista a restriccedilatildeo da liberdade dos requerentes no
campo de acolhimento e os requerentes argumentaram que natildeo havia motivos para que suas
liberdades fossem restritas Aleacutem disso os requerentes alegaram que foram submetidos a
tratamentos desumanos e degradantes no centro de acolhimento inclusive a bordo dos
navios que os levaram de volta para Tuniacutesia poreacutem o Tribunal entendeu que natildeo houve
tratamento desumano ou degradante
O TEDH entendeu tambeacutem que natildeo houve violaccedilatildeo do artigo 4ordm do Protocolo nordm4 da
CEDH pois o entendimento eacute de que a violaccedilatildeo deste dispositivo ocorre quando natildeo haacute
anaacutelise dos indiviacuteduos e simplesmente ldquoexpulsamrdquo um grupo de pessoas Assim no caso
anterior houve a violaccedilatildeo do mencionado artigo pois as autoridades italianas simplesmente
colocaram os migrantes dentro da embarcaccedilatildeo e os enviou de volta para a Liacutebia sem
qualquer identificaccedilatildeo dos migrantes Jaacute neste caso os requerentes tiveram a oportunidade
de se manifestarem contra o seu envio de volta agrave Tuniacutesia
No que se refere ao artigo 3ordm da CEDH o Tribunal entende que deve haver um niacutevel
miacutenimo de severidade que para tal avaliaccedilatildeo se leva em conta alguns fatores como por
exemplo finalidade (intenccedilatildeo ou motivaccedilatildeo) contexto da agressatildeo se a viacutetima estaacute em
situaccedilatildeo vulneraacutevel entre outros aspectos Em alguns casos a superlotaccedilatildeo de um sistema
carceraacuterio pode consistir em violaccedilatildeo do mencionado artigo poreacutem neste ponto alguns
aspectos devem ser levados em consideraccedilatildeo como o uso dos banheiros (privacidade)
ventilaccedilatildeo (ar e luz natural) normas de higiene baacutesicas respeitadas aquecimento do
ambiente etc No presente caso se analisou as condiccedilotildees no centro de acolhimento quanto
nos navios que levaram os migrantes de volta para a Tuniacutesia
Sabe-se que em tempos anteriores agrave chegada dos requerentes no ano de 2009 a
situaccedilatildeo do centro de acolhimento era peacutessima constatadas tanto por uma comissatildeo do
Senado Italiano bem como da Anistia Internacional (ONG) contudo esta situaccedilatildeo foi
alterada anos depois ou seja em 2011 quando os requerentes chegaram agraves instalaccedilotildees
constataram que as condiccedilotildees do centro de acolhimento embora muito baacutesicas eram
decentes tinham acesso ao atendimento meacutedico e tambeacutem liberdade de locomoccedilatildeo dentro
127
do centro de acolhimento bem como as ONGrsquos eram autorizadas a prestar atendimentos no
local
Em que se refere agraves embarcaccedilotildees natildeo houve comprovaccedilatildeo de situaccedilotildees degradantes
pelos requerentes tatildeo somente os seus depoimentos sendo assim natildeo haacute como afirmar de
que natildeo havia as condiccedilotildees miacutenimas e portanto o Tribunal entendeu que natildeo houve violaccedilatildeo
ao artigo 3ordm da CEDH em razatildeo da natildeo houve comprovaccedilatildeo de que as situaccedilotildees natildeo possuiacuteam
o niacutevel miacutenimo de gravidade necessaacuterio para que fosse configurada a violaccedilatildeo em questatildeo
Destarte apesar do Tribunal ter entendido que natildeo houve violaccedilatildeo aos artigos 3ordm da
CEDH e 4ordm do Protocolo nordf 4 as queixas dos migrantes natildeo foram completamente infundadas
e por isso outro ponto foi analisado pelo TEDH ao que se refere agrave violaccedilatildeo do artigo 13
junto com os artigos 3ordm e 5ordm da CEDH e o artigo 4ordm do Protocolo nordm 4 (CEDH) assim apoacutes
a anaacutelise conjunta do artigo 3ordm com o artigo 13 que prevecirc o direito de recurso efetivo frente
agrave violaccedilatildeo de direitos e liberdades por unanimidade verificou-se que houve violaccedilatildeo de
direitos tendo em vista que o governo italiano natildeo indicou os recursos pelos quais os
requerentes poderiam apresentar no entanto no que se refere ao artigo 4ordm do Protocolo nordm 4
por 16 votos a 1 o Tribunal entendeu que natildeo houve violaccedilatildeo por entender que a ausecircncia
de efeito suspensivo do recurso por si soacute natildeo demonstra violaccedilatildeo ao artigo 13
Que o artigo 5ordm paraacutegrafos 1ordm 2ordm e 4ordm por si soacute jaacute foram violados que da anaacutelise
conjunta do artigo 5ordm juntamente com o 13ordm fez com que o Tribunal decidisse por
unanimidade que direitos foram violados pois os requerentes natildeo tiveram acesso a recurso
tampouco uma decisatildeo formal de prisatildeo Por fim a Itaacutelia foi condenada a pagar 15 mil euros
conjuntamente para os requerentes
A Itaacutelia em um de seus argumentos alegou dificuldade de organizar os migrantes
devido ao grande fluxo deles no mar sendo assim a obrigaccedilatildeo de busca e resgate faz com
que a Itaacutelia seja responsaacutevel por um grande nuacutemero de migrantes e este fato dificulta agrave
logiacutestica e a estruturaccedilatildeo dos centros de acolhimento principalmente no que se refere agrave
proteccedilatildeo internacional dos refugiados Poreacutem o entendimento do TEDH nesta situaccedilatildeo eacute de
que o fluxo intenso natildeo exime o Estado de cumprir com suas obrigaccedilotildees
O periacuteodo que os requerentes ficaram em solo italiano foi demasiadamente curto para
tentarem um pedido de asilo tanto eacute que nem recurso a sua detenccedilatildeo conseguiram apresentar
Neste ponto questiona-se sobre a violaccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo pois de acordo com
manifestaccedilotildees dos terceiros no processo houve esse questionamento como podemos ver na
128
manifestaccedilatildeo da ldquoCoordination Franccedilaise pour le droit drsquoasilerdquo ldquoThe expulsion of migrants
without thoroughly examining their individual situation would significantly increase the risk
of a breach of the non-refoulement principlerdquo407
No entanto o TEDH entendeu que natildeo houve violaccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo
por entender que as autoridades italianas em outros casos de migrantes recebeu os
requerimentos de asilo e portanto natildeo teria razotildees para entender que houve recusa destas a
pedidos de proteccedilatildeo bem como os proacuteprios requerentes no paraacutegrafo 222 da decisatildeo
disseram que ldquo() they were not claiming that they had a right of abode in Italy or that
their return had exposed them to a risk of being ubjected to inhuman or degrading treatment
in Tunisiardquo408
Sendo assim natildeo haacute que se falar em princiacutepio da natildeo-repulsatildeo pois natildeo ficou
configurado que os requerentes seriam enviados de volta agrave tortura ou tratamentos
desumanosdegradantes Portanto o TEDH analisou a violaccedilatildeo ao artigo 3ordm somente
enquanto estiveram em solo italiano que foi um periacuteodo curto natildeo comprovando o
tratamento desumano ou degradante pois natildeo atingiu o niacutevel miacutenimo de gravidade
Entatildeo no presente caso a violaccedilatildeo configurada foi ter restringido a liberdade dos
requerentes tendo em vista a ausecircncia de base de legal para tal medida poreacutem natildeo foi
configurada a expulsatildeo coletiva pois os requerentes foram identificados por duas vezes
bem como natildeo houve lesatildeo ao artigo 3ordm da CEDH pois natildeo foi comprovado que houve
tratamento desumanodegradante durante o periacuteodo em que os migrantes estavam sob
custoacutedia das autoridades italianas tampouco que a situaccedilatildeo na Tuniacutesia colocaria os
requerentes em risco
No entanto a tiacutetulo de comparaccedilatildeo chama-se a atenccedilatildeo ao criteacuterio discrepante
aplicado nas indenizaccedilotildees ao se comparar o caso anterior (Hirsi Jamaa) ao presente caso
Nota-se que o valor eacute o mesmo poreacutem as violaccedilotildees no caso anterior foram muito mais
gravosas configurando expulsatildeo coletiva envio dos requerentes para situaccedilatildeo de
torturatratamentos desumanos e degradantes Assim conforme questionado no caso anterior
o valor indenizatoacuterio aplicado naquele caso foi irrisoacuterio perto das violaccedilotildees que os
requerentes sofreram aleacutem disso questiona-se qual o paracircmetro que o TEDH se baseia para
407 EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Khlaifia and others v Italy Application no
1648312 Disponiacutevel em httphudocechrcoeintengi=001-170054 Acesso em 21092020 408 Ibidem
129
arbitrar as indenizaccedilotildees pois em niacuteveis de violaccedilotildees diferentes o valor da indenizaccedilatildeo foi o
mesmo
Nesse caso os migrantes tiveram seu direito de assistecircncia no mar respeitados foram
resgatados e levados para um paiacutes seguro no entanto foram detidos e poucos dias depois
enviados de volta para a Tuniacutesia Por mais que natildeo tenha ficado comprovado que poderiam
ser enviados agrave tortura ou tratamentos desumanosdegradantes na Tuniacutesia permaneceram
poucos dias em solo italiano para que houvesse uma anaacutelise detalhada isto eacute anaacutelise
individual da situaccedilatildeo de cada um tal fato demonstra pouca preocupaccedilatildeo da Itaacutelia com os
migrantes trantando-os como coisas devolvendo-os para seus paiacuteses de origem sem pensar
duas vezes
413 Caso Abdi Mahamud versus Malta
Esta decisatildeo do TEDH409 refere-se ao caso de uma cidadatilde de nacionalidade da
Somaacutelia que entrou de forma irregular em Malta pelo mar no ano de 2012 e na sua chegada
jaacute lhe foi dada um nuacutemero de identificaccedilatildeo bem como jaacute lhe foi apresentada uma decisatildeo
de regresso uma ordem de afastamento e foi detida com base na legislaccedilatildeo nacional de
Malta
A decisatildeo de regresso tambeacutem baseada na legislaccedilatildeo nacional foi devido agrave falta de
meios de subsistecircncia e potencial fonte de gastos para os fundos puacuteblicos A requerente
manifestou sua vontade de pedir asilo por meio do Questionaacuterio Preliminar e foi convocada
para entrevista no oacutergatildeo competente poreacutem o pedido foi recusado devido agrave falta de provas
convincentes de que ela realmente era do centro-sul da Somaacutelia e por demonstrar sotaques e
conhecimentos da capital do paiacutes Mogadiacutescio
Em um primeiro momento verificou-se que a requerente viajou para a Liacutebia
passando pelo Quecircnia e Sudatildeo poreacutem natildeo requereu asilo nestes paiacuteses E que devido agrave
eclosatildeo da crise na Liacutebia a requerente foi para Malta onde desembarcou ilegalmente e sem
documentos disse que procurava paz e que o restante da famiacutelia ainda morava na Somaacutelia
sendo que um de seus irmatildeos foi morto por uma organizaccedilatildeo terrorista islacircmica afirmou
tambeacutem que se estivesse paz em seu local de origem estaria disposta a voltar Aleacutem disso
409 EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Abdi Mahamud V Malta Application no 5679613
Disponiacutevel em httphudocechrcoeintengi=001-162424 Acesso em 26092020
130
a requerente teve vaacuterios problemas de sauacutede os quais pioraram com a recusa do pedido de
asilo Foi requerida a liberdade da requerente devido a sua vulnerabilidade causada pelos
problemas de sauacutede e segundo as informaccedilotildees que recebeu ela seria liberada mas soacute foi
liberada tempos depois por meio da intervenccedilatildeo da AWAS (Agency for the Welfare of
Asylum Seekers) A esse respeito o artigo 5ordm aliacutenea ldquocrdquo da Diretiva 2008115CE refere-se
que o estado de sauacutede do migrante deve ser levado em conta quando ao se analisar o envio
do migrante para outro paiacutes
Nesse sentido a requerente diz ter sido violado o artigo 3ordm da CEDH alegaccedilatildeo
contestada pelo governo de Malta que disse haver recursos eficazes a serem apresentados
para reclamar do tratamento perante a justiccedila maltesa poreacutem no entendimento do Tribunal
os recursos indicados pelo governo de Malta natildeo se mostraram efetivos no sentido de
prevenir ou de barrar a continuaccedilatildeo da alegada violaccedilatildeo
Assim diante de toda a situaccedilatildeo da requerente no centro de detenccedilatildeo ou seja seu
estado de sauacutede vulneraacutevel como a demora em liberaacute-la a falta de exerciacutecios fiacutesicos ao ar
livre ambiente frio e falta de medidas para combater gripes e resfriados inclusive a falta de
funcionaacuterias do sexo feminino e pouca privacidade fez com que o Tribunal entendesse que
houve diminuiccedilatildeo da dignidade humana da requerente e portanto houve a violaccedilatildeo do artigo
3ordm da CEDH
Outra alegaccedilatildeo da requerente eacute a violaccedilatildeo do artigo 5ordm paraacutegrafo 4ordm que eacute referente
ao direito de accedilatildeo do indiviacuteduo para averiguar a sua detenccedilatildeo sendo assim da anaacutelise feita
pelo TEDH verificou-se que natildeo havia recursos eficazes para a requerente contestar a
legalidade da sua detenccedilatildeo inclusive sua soltura foi realizada por meio da intervenccedilatildeo da
AWAS Aleacutem disso houve alegaccedilatildeo da violaccedilatildeo do paraacutegrafo 1ordm do mesmo artigo no sentido
da liberdade e seguranccedila pessoal e o Tribunal entendeu que houve a violaccedilatildeo deste
dispositivo ou seja natildeo foram verificadas situaccedilotildees que justificassem a detenccedilatildeo
Entatildeo diante de todo o exposto o Governo de Malta foi condenado a pagar
indenizaccedilatildeo no valor de 12 mil euros para a requerente devido agraves violaccedilotildees de seus direitos
baacutesicos sendo tratamentos desumanos e degradantes aleacutem de ter sua liberdade restringida
aleacutem disso houve a condenaccedilatildeo no valor de 2500 euros a tiacutetulo de custas e despesas
No presente caso verificamos violaccedilatildeo tanto do artigo 3ordm quanto do artigo 5ordm ambos
da CEDH O Tribunal verificou que a requerente teve sua dignidade diminuiacuteda devido ao
tratamento que recebia no centro de acolhimento bem como face sua vulnerabilidade o
131
governo maltecircs violou a sua liberdade ao demorar em liberaacute-la Aleacutem disso a justificativa
da negativa do pedido de asilo eacute de que pela entrevista a requerente aparentou ser da capital
da Somaacutelia e natildeo da regiatildeo de conflitos Poreacutem a requerente relatou que seu irmatildeo foi
assassinado por grupo terroristas ou seja nota-se claramente o perigo em que a requerente
estava exposta e portanto em uma anaacutelise sumaacuteria desta negativa do pedido de asilo tem-
se que pode ser que essa decisatildeo tenha sido arbitraacuteria da mesma forma que a decisatildeo da
detenccedilatildeo apresentada logo de iniacutecio para requerente Apesar da dentenccedilatildeo ter sido justificada
no direito maltecircs vimos anteriormente que a detenccedilatildeo de migrantes deve ser realizada em
situaccedilotildees pontuais e quando houver justificativa para tal medida
Ademais mais uma vez chama-se a atenccedilatildeo o valor irrizoacuterio de indenizaccedilatildeo arbitrado
para o Estado no caso Malta Nota-se que o valor eacute menor que dos dois casos anteriores e
assim como no caso Hirsi Jamaa houve violaccedilatildeo do artigo 3ordm da CEDH ou seja tal violaccedilatildeo
eacute de extrema gravidade pois reduz a dignidade da pessoa humana logo violaccedilotildees fiacutesicas
eou morais desse porte natildeo conseguem ser pagas por meio de indenizaccedilotildees consistindo
apenas em uma espeacutecie de ldquoconfortordquo para agravequeles que sofreram tais danos Dessa forma
como jaacute mencionado anteriormente a indenizaccedilatildeo tem o intuito de coibir novas atitudes
arbitraacuterias dos Estados poreacutem com os valores iacutenfimos arbitrados pelo TEDH dificilmente
teratildeo impactos suficientes a ponto de fazer com que os Estados parem com tais praacuteticas
danosas cometidas aos refugiados
414 Caso Sharifi versus Aacuteustria
Neste caso a decisatildeo410 foi proferida em 2014 pelo TEDH e refere-se a um migrante
que chegou agrave Greacutecia de barco e possui origem afegatilde disse que seu pai for morto por ter sido
considerado comunista e infiel fato que levou sua matildee fugir com ele e o irmatildeo para o
Paquistatildeo Apoacutes 15 anos retornou ao Afeganistatildeo para reaver as terras do seu pai que seu tio
havia tomado agrave eacutepoca da execuccedilatildeo do seu pai tendo sido ameaccedilado pelo tio que foi um dos
apoiadores da morte do irmatildeo pois queria suas terras aleacutem da ameaccedila pelo tio o requerente
e seu irmatildeo tambeacutem foram espancados sendo que seu irmatildeo foi sequestrado e nunca mais
foi visto Diante dessa situaccedilatildeo o requerente voltou para o Paquistatildeo e passou pelo Iratilde e
410 EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Sharifi V Austria Application no 6010408
Disponiacutevel em httphudocechrcoeintengi=001-138593 Acesso em 26092020
132
Turquia ateacute contratar um traficante para fazer sua travessia para a Greacutecia onde ficou 15 dias
e apoacutes se deslocou para a Aacuteustria passando pela Itaacutelia poreacutem foi preso pelas autoridades
austriacuteacas
Diante de todo esse trajeto o requerente foi questionado por natildeo pedir asilo na Greacutecia
e justificou que as condiccedilotildees dos refugiados no paiacutes natildeo eram boas (sem comida aacutegua
alojamento e instalaccedilotildees sanitaacuterias bem como alegou saber de abusos de policiais gregos) e
que tambeacutem natildeo teve acesso ao processo de asilo assim requereu asilo na Aacuteustria no ano
de 2008
De acordo com a Convenccedilatildeo de Dublin a Greacutecia seria a responsaacutevel para anaacutelise do
processo de asilo O pedido de asilo feito na Aacuteustria foi rejeitado sob o fundamento de que
a Greacutecia era a responsaacutevel e tambeacutem foi ordenada sua transferecircncia para a Greacutecia Dessa
forma a decisatildeo justificou que natildeo havia riscos de maus tratos conforme previsto no artigo
3ordm da CEDH O recurso ao Tribunal de Asilo na Aacuteustria da mesma forma foi rejeitado
tendo em vista que a proacutepria Convenccedilatildeo de Dublin considerava que todos os Estados-
membros eram seguros Aleacutem disso com base na recusa do governo austriacuteaco ao pedido de
asilo do requerente e seu consequente envio para a Greacutecia fez com que as autoridades gregas
declarassem que o requerente teria acesso ao procedimento de asilo no paiacutes
Apoacutes seu envio de volta agrave Greacutecia na sua chegada agrave Atenas o requerente disse ter
sido detido por 3 dias e depois disso foi realizada uma entrevista curta e recebeu um cartatildeo
e foi enviado para um campo de refugiados que posteriormente foi destruiacutedo Apoacutes esse
periacuteodo trabalhou em plantaccedilotildees e procurou emprego nas cidades tendo dividido quarto com
outras 20 pessoas disse natildeo ter nenhum apoio das autoridades gregas e que os alimentos e
roupas que recebia eram de particulares
Aleacutem disso da decisatildeo analisada nesse toacutepico foram citados documentos publicados
por ONGrsquos bem como do ACNUR de que a Greacutecia natildeo eacute um local bom para requerer asilo
e que os migrantes estavam sendo submetidos a maus tratos e detenccedilotildees arbitraacuterias
Posteriormente o ACNUR acolheu as medidas gregas para reforccedilar o sistema de asilo no
paiacutes mas continuou trazendo a seguinte disposiccedilatildeo
In view of EU Member Statesrsquo obligation to ensure access to fair and effective
asylum procedures including in cases subject to the Dublin Regulation UNHCR
133
advises Governments to refrain from returning asylum-seekers to Greece under
the Dublin Regulation until further notice (hellip)411
Ou seja apesar das melhorias do sistema de asilo grego haacute o aviso de que natildeo envie
migrantes para Greacutecia ateacute segunda ordem e que os Estados se pautassem no artigo 3 nordm 2 da
Convenccedilatildeo de Dublin para analisarem pedidos de asilo mesmo natildeo sendo de sua
responsabilidade Assim devido a sua transferecircncia para a Greacutecia o requerente alegou
violaccedilatildeo do artigo 3ordm da CEDH
Tendo em vista a melhoria do sistema de asilo na Greacutecia reconhecida inclusive no
documento do ACNUR412 o TEDH entendeu que havia a presunccedilatildeo de que o paiacutes helecircnico
cumpriria com as suas obrigaccedilotildees e que caso hauvesse necessidade caberia recurso ao
Tribunal de Justiccedila contra a Greacutecia Aleacutem disso nenhum Estado-membro se absteve de
enviar migrantes para Greacutecia apenas a Noruega que em um primeiro momento disse que
natildeo enviaria migrantes de volta para a Greacutecia mas posteriormente disse que os casos seriam
analisados individualmente
Dessa forma o Tribunal entendeu que natildeo tinha como a Aacuteustria prever que as
deficiecircncias do procedimento de asilo grego chegariam ao niacutevel de violar o artigo 3ordm da
CEDH e por este motivo negou que a Aacuteustria tenha violado o mencionado artigo
principalmente por estar ao abrigo da Convenccedilatildeo de Dublin
Diante do exposto teoacuterico do presente trabalho vimos que o paiacutes responsaacutevel pela
anaacutelise do pedido de asilo eacute o paiacutes pelo qual o migrante entrou portanto no caso o paiacutes seria
a Greacutecia Ocorre que o requerente se deparou com condiccedilotildees precaacuterias dos seus conterracircneos
afegatildeos e por este motivo resolveu natildeo ficar no paiacutes helecircnico Dessa forma foi para a Itaacutelia
e de laacute para a Aacuteustria onde foi preso Assim o pedido de asilo foi negado sob o motivo de
que o paiacutes responsaacutevel era a Greacutecia e foi enviado para laacute No entanto vimos que havia fortes
evidecircncias das condiccedilotildees ruins dos migrantes no paiacutes e que apesar das melhorias do sistema
de asilo na Greacutecia havia fortes indiacutecios de que o requerente poderia ser submetido a
tratamentos desumanos e degradantes Dessa forma viu-se que o requerente foi praticamente
deixado agrave proacutepria sorte pois trabalhou em plantaccedilotildees e tambeacutem morou com mais de 20
pessoas em um mesmo quarto sem qualquer respaldo do governo
411 UNITED NATIONS ndash UNHCR UNHCR Position on the Return of Asylum-Seekers to Greece Under the
ldquoDublin Regulationrdquo Disponiacutevel em httpswwwunhcrorg482199802pdf Acesso em 01102020 412 Ibidem
134
Da anaacutelise dessa situaccedilatildeo tornou-se notaacutevel que a dignidade humana do requerente
foi reduzida mas o TEDH entendeu que natildeo tinha como a Aacuteustria prever que o requerente
receberia este tratamento ou melhor natildeo recebesse qualquer tratamento sem qualquer
respaldo do governo No entanto a violaccedilatildeo prevista no artigo 3ordm da CEDH eacute tatildeo gravosa
que natildeo se deve eximir a responsabilidade do Estado por natildeo ter previsatildeo de maus
tratamentos inclusive quando se pode prever que eacute o caso da Greacutecia com documentos
internacionais apontando as falhas do sistema de asilo grego
Portanto tanto neste caso como nos demais acima mencionados nota-se que haacute uma
impunidade diante das violaccedilotildees dos estados quanto a preservar os direitos fundamentais dos
migrantes quando haacute uma condenaccedilatildeo do Estado violador dos direitos dos refugiados natildeo
haacute uma justa indenizaccedilatildeo nesse caso a justificativa foi no sentido de que o Estado natildeo tinha
como prever a violaccedilatildeo
415 Caso Vos Thalassa
Este caso natildeo se trata de decisatildeo proferida pelo TEDH contudo eacute muito importante
pois inicialmente em 2019 o Tribunal de Trapani413 na Itaacutelia absolveu migrantes que
estavam sendo julgados sob a acusaccedilatildeo de sequestro da embarcaccedilatildeo italiana Vos Thalassa
em aacuteguas proacuteximas da Siciacutelia Assim os migrantes teriam sequestrado o rebocador italiano
em julho de 2018 para evitar que fossem devolvidos para a Liacutebia depois de terem sido
resgatados em aacuteguas internacionais (aacuterea de busca e salvamento da Liacutebia)
No entanto o Tribunal de Recurso de Palermo414 em junho de 2020 inverteu a
sentenccedila do Tribunal de Trapani e condenou os migrantes a 3 anos e 6 meses de prisatildeo por
violecircncia privada resistecircncia a funcionaacuterios puacuteblicos bem como cumplicidade na imigraccedilatildeo
ilegal A opiniatildeo de Salvini Ministro do Interior italiano os migrantes deveriam ser todos
rejeitados coletivamente e devolvidos para a Liacutebia fato que contraria o artigo 4ordm do Protocolo
nordm4 da CEDH
413 TRIBUNALE DI TRAPANI Sentenza Vos Thalassa 2019 Disponiacutevel em
httpswwwquestionegiustiziaitdatadoc2613sentenza-vos-thalassa-gip-trapani-3-giugno-2019pdf
Acesso em 05102020 414 LA CORTE DI APPELLO DI PALERMO Sentenza Vos Thalassa Appello ndash N Sent 15252020
Disponiacutevel httpswwwquestionegiustiziaitdatadoc2613sentenza-vos-thalassa-appello-palermo-3-
giugno-2020pdf Acesso em 05102020
135
Nesse sentido o juiz do Tribunal de Trapani alegou que o acordo assinado entre Itaacutelia
e Liacutebia em 2017 natildeo tem aprovaccedilatildeo parlamentar de acordo com o artigo 80 da Constituiccedilatildeo
Italiana e por isso o documento natildeo eacute vinculativo e natildeo legislativo Aleacutem disso o juiz tomou
por base relatoacuterios da ONU a respeito da exposiccedilatildeo dos maus tratos de migrantes da Liacutebia
Os migrantes que saem da Liacutebia satildeo pessoas que estatildeo sofrendo tratamentos
degradantes muitas vezes o destino eacute a tortura ou a morte Dessa forma os acordos entre
Itaacutelia e Liacutebia parecem ignorar as disposiccedilotildees da ONU e do Papa O Tribunal de Apelaccedilatildeo de
Palermo alegou que natildeo se pode entender que o sequestro da embarcaccedilatildeo seja por legiacutetima
defesa tendo em vista que eles mesmos se colocaram em perigo criando uma situaccedilatildeo falsa
de necessidade poreacutem questiona-se se realmente os migrantes se colocaram em perigo ou
se foi um ato de desespero ao fugir da Liacutebia pelo fato de que laacute sim estavam realmente em
perigo Ou seja os migrantes preferiram correr o risco no mar ao continuar em uma situaccedilatildeo
em que suas vidas certamente jaacute estavam ameaccediladas
Assim a refutaccedilatildeo da legiacutetima defesa natildeo possui bases convincentes Com base na
legislaccedilatildeo penal italiana o perigo deve ser atual para se configurar a legiacutetima defesa e o
Tribunal de Palermo entendeu que o perigo foi devido aos migrantes ldquose entregaremrdquo aos
traficantes ou seja anteciparam a previsatildeo do ldquoperigo atualrdquo contrariando as normas
vigentes tanto nacionais quanto internacionais Poreacutem na Liacutebia natildeo haacute locais para fuga e as
pessoas satildeo privadas de todos os seus direitos
Nesse sentido nota-se que datildeo prioridade ao combate agrave imigraccedilatildeo irregular frente agrave
proteccedilatildeo dos direitos fundamentais das pessoas contrariando o que dispotildee a Convenccedilatildeo de
Palermo contra o Crime Organizado de 2000 bem como o Protocolo Adicional sobre o
Traacutefico de Seres Humanos Portanto o perigo que os migrantes estavam sujeitos era o de
serem devolvidos agrave Liacutebia onde provavelmente seriam submetidos agrave tortura e mortos
Sabe-se que a situaccedilatildeo na Liacutebia principalmente no que se refere aos naacuteufragos
interceptados pela Guarda Costeira da Liacutebia e devolvidos ao paiacutes africano eacute bem grave
Aleacutem disso jaacute estaacute claro atraveacutes dos noticiaacuterios de que o governo de Triacutepoli natildeo consegue
exercer a sua soberania em todo o territoacuterio No entanto apesar disso em 2018 foi
reconhecida uma zona de resgate e salvamento da Liacutebia tendo inclusive a missatildeo Nauras
sob a natureza de assistecircncia teacutecnica prestada em Triacutepoli com auxiacutelio da Frontex
Neste contexto a partir do momento em que os migrantes ingressaram na
embarcaccedilatildeo italiana considera-se que estatildeo em solo italiano conforme jaacute visto no caso Hirsi
136
Jamaa Assim em situaccedilatildeo de devolver os migrantes para a Liacutebia certamente haveria a
violaccedilatildeo do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo sob o fundamento de que seriam enviados para tortura
ou tratamentos desumanos e degradantes (conforme o artigo 3ordm da CEDH) bem como como
jaacute mencionamos a violaccedilatildeo do artigo 4ordm do Protocolo Adicional nordm 4 da CEDH que refere-
se agrave expulsatildeo coletiva
No entanto atraveacutes do acordo entre Itaacutelia e Liacutebia inclusive sob auxiacutelio da Frontex
milhares de migrantes satildeo interceptados pela Guarda Costeira Liacutebia e levados de volta ao
paiacutes africano Portanto os migrantes do Vos Thalassa certamente ldquosequestraramrdquo a
embarcaccedilatildeo no desespero de serem enviados de volta tendo em vista que eles jaacute sabiam o
que poderia ocorrer com eles quando chegassem ao territoacuterio do paiacutes africano
Dessa forma a decisatildeo do Tribunal de Palermo ignorou o contexto faacutetico-poliacutetico da
Liacutebia bem como as normas de direito internacional do mar e do direito dos refugiados Aleacutem
disso o tribunal de primeira instacircncia Tribunal de Trapani aventou nulidade do acordo entre
Itaacutelia e Liacutebia em 2017 tendo em vista o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo ter status de jus cogens e
de acordo com a Convenccedilatildeo de Viena nenhum tratado poderaacute violar normas jus cogens
caso contraacuterio o tratado seria nulo
Diante do presente caso fica evidente que as indenizaccedilotildees impostas pelo TEDH nos
casos que vimos acima satildeo insuficientes para inibir tais atitudes dos Estados tendo em vista
que o valor de reparaccedilatildeo de dano para os migrantes eacute praticamente irrisoacuterio Assim estas
atitudes violadoras dos direitos fundamentais dos refugiados continuaratildeo ocorrendo
enquanto natildeo houver uma justa indenizaccedilatildeo a fim de evitar novos casos como este
Dessa forma os migrantes ao sequestrarem o Vos Thalassa impediram que seus
direitos fossem violados assim como ocorreu no caso Hirsi Jamaa a atitude extrema foi na
defesa de seus direitos fundamentais sobretudo a vida Diante disso o entendimento do
Tribunal de Trapani entendeu como legiacutetima defesa pois o perigo era atual (de acordo com
o que exige a legislaccedilatildeo italiana) ou seja o perigo dos migrantes serem levados de volta
para Liacutebia podendo ser torturados e mortos era atual e real tendo em vista atitudes
anteriores da Itaacutelia inclusive com condenaccedilotildees pelo TEDH
137
416 Caso Asso 28
Este caso tambeacutem natildeo eacute referente agrave decisatildeo proferida pelo TEDH poreacutem eacute de suma
importacircncia tendo em vista ser idecircntico ao caso Hirsi Jamaa Assim refere-se a uma
embarcaccedilatildeo comercial italiana a Asso 28 que em julho de 2018 ldquoresgatourdquo 108 migrantes
em aacuteguas internacionais mas dentro da regiatildeo de busca e salvamento da Liacutebia e levou-os
de volta para Liacutebia sob recomendaccedilatildeo do paiacutes africano No caso a Guarda Costeira Liacutebia
pediu para que a embarcaccedilatildeo ldquoAsso 28rdquo resgatasse os migrantes que estavam em uma
embarcaccedilatildeo de borracha a 57 milhas naacuteuticas de Triacutepoli e que essas pessoas fossem levadas
de volta para Liacutebia415
Imagina-se que se essas pessoas que foram levadas de volta para Liacutebia conseguissem
chegar agrave Itaacutelia elas realizariam pedido de proteccedilatildeo internacional aleacutem disso havia crianccedilas
e mulheres graacutevidas Dessa forma como jaacute vimos estaacute niacutetida a violaccedilatildeo das disposiccedilotildees de
direito internacional e dos refugiados ou seja princiacutepio da natildeo-repulsatildeo artigo 3ordm da CEDH
e artigo 4ordm do Protocolo Adicional nordm 4 da CEDH
Como a embarcaccedilatildeo ldquoAsso 28rdquo estava em aacuteguas internacionais poreacutem em regiatildeo de
busca e salvamento da Liacutebia as leis que vigoravam no ato de resgate era a legislaccedilatildeo italiana
e portanto natildeo deveria se submeter agrave recomendaccedilatildeo do paiacutes africano devendo respeitar os
tratados internacionais dos quais eacute signataacuteria bem como sua legislaccedilatildeo nacional Portanto
eacute niacutetida a violaccedilatildeo das normas de direito internacional como jaacute mencionado anteriormente
repetindo o caso Hirsi Jamaa
Como eacute sabido definitivamente a Liacutebia natildeo eacute considerada um local seguro para
desembarque de pessoas resgatadas Dessa forma houve realmente violaccedilatildeo de normas de
direito internacional importantiacutessimas sendo necessaacuterio averiguar como foi feita a
coordenaccedilatildeo desse resgate para apontar os culpados pois segundo a Agence France-Presse
(AFP)416 o IMRCC natildeo foi avisado ou seja questiona-se se o capitatildeo do navio agiu sozinho
A empresa multinacional italiana de oacuteleo e gaacutes ENI informou que o resgate foi coordenado
415 CAMILLI Eleonora Migranti scoppia il caso Asso 28 ldquoFatto grave egrave respingimentordquo 2018 In Redattore
Sociale Disponiacutevel em
httpswwwredattoresocialeitarticlenotiziariomigranti_scoppia_il_caso_asso_28_fatto_grave_e_respingi
mento Acesso em 05102020 416 Citado por BATHKE Benjamin First trial in Italy over ldquomigrant pushbackrdquo to Libya 2020 In
Infomigrants Disponiacutevel em httpswwwinfomigrantsnetenpost26108first-trial-in-italy-over-migrant-
pushback-to-libya Acesso em 05102020
138
pela Guarda Costeira Liacutebia Aleacutem disso a embarcaccedilatildeo de resgate Open Arms solicitou
detalhes dos migrantes bem como informou que devolvecirc-los agrave Liacutebia era ilegal segundo
Nicola Fratoianni parlamentar italiano e liacuteder da esquerda italiana que estava a bordo do
Open Arms como observador Aleacutem disso de acordo com informaccedilotildees da AFP natildeo houve
qualquer tentativa de identificar os migrantes tampouco verificar as condiccedilotildees de sauacutede as
condiccedilotildees dos menores se pretendiam requerer asilo417
O que chama atenccedilatildeo neste caso eacute a ausecircncia de provas tanto por parte da Liacutebia
quanto por parte da Itaacutelia sendo que dificilmente o capitatildeo do navio agiria sozinho por conta
proacutepria Entretanto a questatildeo aqui eacute a de que a empresa ENI informa que a operaccedilatildeo foi
realizada juntamente com a guarda costeira Liacutebia poreacutem natildeo haacute provas Da mesma forma
natildeo haacute provas de que o IMRCC de Roma foi alertado418
No entanto a embarcaccedilatildeo eacute de bandeira italiana e portanto tendo em vista o resgate
ter ocorrido em aacuteguas internacionais a lei aplicaacutevel eacute a italiana Sendo assim tendo por base
de que a Itaacutelia eacute signataacuteria de diversos documentos internacionais principalmente a
Convenccedilatildeo de Hamburgo (SAR Convention) que dispotildee que os migrantes resgatados devem
ser desembarcados em um local seguro ou seja eacute notoacuterio que a Liacutebia natildeo era uma das
possibilidades para desembarcar os migrantes Aleacutem disso o comandante do navio deveria
entrar em contato com o Estado da bandeira para saber qual o melhor local para
desembarque
A embarcaccedilatildeo ldquoAsso 28rdquo eacute de propriedade da ldquoAugusta Offshorerdquo empresa que
possui relaccedilotildees com diversas empresas entre elas a ENI na Itaacutelia e na Liacutebia Segundo a
empresa a coordenaccedilatildeo do resgate foi da Guarda Costeira Liacutebia no entanto Nicola
Fratoianni disse que o oficial da embarcaccedilatildeo informou que as instruccedilotildees eram emitidas da
plataforma da ENI Nesse sentido o parlamentar italiano indignou-se como o capitatildeo de um
navio de bandeira italiana em aacuteguas internacionais ou seja extensatildeo do territoacuterio italiano
(extraterritorialidade) natildeo informou o governo italiano do resgate e natildeo suficiente
desembarcou as pessoas em um local de extremo perigo A empresa ENI negou qualquer
417 BATHKE Benjamin First trial in Italy over ldquomigrant pushbackrdquo to Libya 2020 In Infomigrants
Disponiacutevel em httpswwwinfomigrantsnetenpost26108first-trial-in-italy-over-migrant-pushback-to-
libya Acesso em 05102020 418 Ibidem
139
envolvimento com o caso e que a coordenaccedilatildeo foi totalmente realizada pela Guarda Costeira
Liacutebia419
A petroleira ENI destaca que o navio ldquoAsso 28rdquo opera em nome da empresa ldquoMellitah
Oil amp Gasrdquo que a gestatildeo ocorre pela NOC empresa na qual a ENI eacute acionista420 ou seja a
ENI possui ao menos responsabilidade subsidiaacuteria no que se refere aos danos causados pela
embarcaccedilatildeo Partindo desse ponto tem-se tambeacutem que a Itaacutelia eacute uma das acionistas da ENI
conforme consta no site da empresa ldquoIl Ministero dellrsquoEconomia e delle Finanze ha il
controllo di fatto in Eni SpA in forza della partecipazione detenuta sia direttamente sia
attraverso Cassa Depositi e Prestiti SpA (CDP SpA)rdquo421 assim a Itaacutelia possui 30 das accedilotildees
da empresa consistindo na maior acionista da empresa Dessa forma podemos aventar a
responsabilidade da Itaacutelia no presente caso
Portanto a embarcaccedilatildeo comercial possui bandeira italiana portanto mesmo que
indiretamente estava a serviccedilo do governo italiano ou seja a Itaacutelia eacute responsaacutevel pelos atos
praticados pela empresa tendo em vista sua significativa participaccedilatildeo na empresa Dessa
forma era obrigatoacuterio que o capitatildeo da empresa informasse o caso ao governo italiano pois
era o paiacutes pelo qual estava submetido como tal fato natildeo ficou comprovado fala-se na
responsabilidade da Itaacutelia pois o capitatildeo estava a serviccedilo do paiacutes europeu mesmo que
indiretamente Aleacutem disso o artigo 8ordm da Resoluccedilatildeo 5683 traz a responsabilidade do Estado
quando algueacutem estaacute sob supervisatildeo de algum Estado e essa pessoa comete algum ato iliacutecito
ou seja o navio territoacuterio e empresa satildeo de nacionalidade italiana bem como o capitatildeo a
serviccedilo de empresas cujo capital eacute majoritariamente italiano portanto natildeo restando duacutevida
da responsabilidade da Itaacutelia no caso
Poreacutem um fato sem precedentes ocorreu na Itaacutelia o capitatildeo do navio foi denunciado
pelas violaccedilotildees das obrigaccedilotildees internacionais ou seja a repulsatildeo dos migrantes para a Liacutebia
No entanto apesar da responsabilidade objetiva do capitatildeo da embarcaccedilatildeo tendo em vista
que desembarcar os migrantes em um local seguro consiste em uma das obrigaccedilotildees do
capitatildeo de um navio a Itaacutelia possui responsabilidade subjetiva no caso tendo em vista ser a
maior acionista da ENI e a embarcaccedilatildeo ldquoAsso 28rdquo estar mesmo que indiretamente a serviccedilo
da mencionada petroleira
419 AGENZIA ITALIA Cosa egrave successo a bordo della nave Asso Ventotto 2018 Op cit 420 Ibidem 421 ENI ITAacuteLIA Azionisti Disponiacutevel em httpswwwenicomit-ITchi-siamogovernanceazionistihtml
2019 Acesso em 05102020
140
Diante deste cenaacuterio nota-se que o acordo entre Itaacutelia e Liacutebia prioriza o combate agrave
imigraccedilatildeo ilegal em detrimento da proteccedilatildeo dos direitos fundamentais No caso do ldquoAsso
28rdquo podemos dizer que a Itaacutelia possui responsabilidade pois aleacutem dos outros motivos jaacute
explicados acima a Itaacutelia assume o papel de cuacutemplice nos atos praacuteticos devido ao acordo
realizado tendo em vista que no ano de 2017 (ano do acordo) a situaccedilatildeo jaacute era caoacutetica na
Liacutebia
42 Alguns Apontamentos a Respeito dos Casos Apresentados
Portanto tendo por base os casos acima nota-se que as decisotildees proferidas pelo
TEDH natildeo estatildeo sendo suficientes para inibir a accedilatildeo de paiacuteses europeus na repulsatildeo de
migrantes mesmo a Itaacutelia sendo condenada no caso do Hirsi Jamaa esta decisatildeo natildeo foi
suficiente para que o paiacutes revesse suas accedilotildees pois vimos que houve reincidecircncia mesmo
que natildeo de forma direta como no caso ldquoAsso 28rdquo em que a Itaacutelia se exime de culpa no
entanto ao manter o tratado de 2017 bilateral com a Liacutebia fornecendo apoio teacutecnico e
financeiro ao paiacutes norte-africano bem como uma embarcaccedilatildeo de bandeira italiana a serviccedilo
de uma empresa cujo capital eacute majoritariamente italiano mesmo que o capitatildeo tenha agido
de forma independente (ou cumprindo ordens da Guarda Costeira Liacutebia devido ao acordo
existente) a responsabilidade da Itaacutelia eacute notoacuteria
Em que refere agrave Itaacutelia alguns eventos nos mostra algum tipo de reaccedilatildeo a favor dos
refugiados como no caso Vos Thalassa em que o Tribunal de Trapani entendeu o sequestro
da embarcaccedilatildeo como legiacutetima defesa mas haacute ldquocontroveacutersiasrdquo tendo em vista que o Tribunal
de Apelaccedilatildeo de Palermo anulou a decisatildeo As decisotildees em alguns casos aparentam ter
opiniatildeo poliacutetica o que natildeo deveria acontecer tendo em vista que o Tribunal de Trapani
decidiu conforme a jurisprudecircncia quando se trata de decisotildees para cidadatildeos italianos ou
seja foram coerentes com o entendimento juriacutedico entendendo como perigo atual e por
isso os migrantes agiram em legiacutetima defesa poreacutem o Tribunal de Palermo talvez
motivado por opiniatildeo poliacutetica decidiu que natildeo eacute aplicaacutevel o instituto da legiacutetima defesa no
caso
Outro ponto favoraacutevel aos refugiados na justiccedila italiana observado neste capiacutetulo eacute a
questatildeo do capitatildeo do ldquoAsso 28rdquo estar sendo processado pela devoluccedilatildeo dos migrantes agrave
Liacutebia ou seja aleacutem dos Estados as pessoas fiacutesicas tambeacutem podem ser responsaacuteveis pelos
141
atos pois sabidamente consiste em uma violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees de direito internacional Os
capitatildees dos navios possuem o dever de assistecircncia agraves pessoas em perigo no mar no entanto
ao resgatar as pessoas elas devem ser encaminhadas para um local seguro e no caso do
ldquoAsso 28rdquo eacute notoacuterio que a Liacutebia estaacute muito longe de ser considerada segura Aleacutem disso
como mencionado no capiacutetulo 3 no ano de 2017 houve inclusive a elaboraccedilatildeo de um Coacutedigo
de Conduta para as ONGrsquos na Itaacutelia no qual consta se os capitatildees dessas organizaccedilotildees
resgatassem embarcaccedilotildees com migrantes ilegais eles poderiam ser responsabilizados
criminalmente e administrativamente No entanto se observou o oposto nesse caso o capitatildeo
sendo processado por ter devolvido os migrantes agrave Liacutebia talvez atualmente comeccedila-se a
ver alguns movimentos a favor dos refugiados mas devido tamanhas violaccedilotildees tais
movimentos satildeo muito pequenos poreacutem talvez seja o iniacutecio de uma nova mentalidade
Este capiacutetulo demonstrou a existecircncia de diversas falhas no sistema de auxiacutelio aos
migrantes como no caso em que a Aacuteustria enviou o migrante de volta para a Greacutecia mesmo
com apontamentos de que os refugiados estavam sofrendo maus-tratos por laacute pois segundo
a Convenccedilatildeo de Dublin este uacuteltimo paiacutes era o responsaacutevel pela anaacutelise do pedido de asilo
No mesmo sentido Malta recusou o pedido de asilo a uma cidadatilde somali devido natildeo ter
comprovado que era da regiatildeo de conflitos e por apresentar conhecimento e sotaque da
capital da Somaacutelia mesmo ela tendo diversos problemas de sauacutede (inclusive psiacutequicos) e
explicando que seu irmatildeo foi assassinado por um grupo terrorista
Aleacutem disso vale fazer um parecircntese no que se refere agrave Greacutecia apesar de toda a
situaccedilatildeo relatada da questatildeo dos migrantes no paiacutes ou seja de que os migrantes natildeo devem
ser enviados para o paiacutes helecircnico devido agraves situaccedilotildees precaacuterias dos campos de refugiados
bem como o tratamento desumano e degradante que os indiviacuteduos satildeo submetidos sem
qualquer respaldo do governo grego haacute ainda relatos de expulsatildeo dos migrantes via mar
deixando-os agrave deriva conforme consta na notiacutecia de 14 de agosto de 2020 do jornal ldquoThe
New York Timesrdquo422
Na notiacutecia relata-se que desde marccedilo a Greacutecia tem expulsado migrantes colocando-
os em botes salva-vidas e deixando-os agrave deriva na fronteira do mar territorial grego com o
da Turquia inclusive com bebecircs ademais o jornal norte-americano entrevistou alguns dos
422 KINGSLEY Patrick SHOUMALI Karam Taking Hard Line Greece Turns Back Migrants by
Abandoning Them at Sea In ldquoThe New York Timesrdquo Disponiacutevel em
httpswwwnytimescom20200814worldeuropegreece-migrants-abandoning-seahtml Acesso em
09102020
142
sobreviventes e trouxe o desabafo de uma migrante siacuteria de 50 anos em que ela diz que fugiu
de bombardeios na Siacuteria mas depois que foi repelida pela Greacutecia da forma como foi ela
preferiria ter morrido em algum bombardeio O paiacutes helecircnico se posicionou afirmando que
natildeo cometeu nenhuma ilegalidade no entanto natildeo eacute o que ficou demonstrado atraveacutes dos
depoimentos colhidos pelo jornal tanto de migrantes quanto de pesquisadores a respeito do
tema423
Apesar de muitos direitos protetivos existirem na teoria na praacutetica tem muito a ser
melhorado Muitos satildeo os casos de violaccedilotildees aos artigos 2ordm e 3ordm da CEDH ou seja muitas
pessoas satildeo devolvidas agraves situaccedilotildees em que suas vidas e integridades fiacutesicas eou moral estatildeo
sendo violadas faltam atitudes das autoridades em prol das pessoas que necessitam de
proteccedilatildeo internacional
Aleacutem da necessidade de accedilotildees mais proativas dos governos haacute tambeacutem a necessidade
de mudanccedila de mentalidade da populaccedilatildeo europeia pois na maioria dos paiacuteses os migrantes
satildeo viacutetimas de discriminaccedilatildeo sofrendo com a xenofobia tendo em vista que muitas pessoas
possuem a ideia de que os refugiados satildeo terroristas No entanto muitos desses refugiados
fogem exatamente de grupos terroristas
423 KINGSLEY Patrick SHOUMALI Karam Op cit
143
CONCLUSAtildeO
O presente trabalho tem como propoacutesito demonstrar a situaccedilatildeo vivenciada pelos
refugiados sua vulnerabilidade e percalccedilos enfrentados a caminho do asilo inclusive com
a possibilidade da repulsatildeo apesar da obrigatoriedade do respeito ao princiacutepio da natildeo-
repulsatildeo assim analisou-se a questatildeo da proteccedilatildeo internacional dos refugiados o direito de
asilo na Uniatildeo Europeia citando situaccedilotildees de resgate no mar por alguns paiacuteses europeu e a
proteccedilatildeo internacional do indiviacuteduo no mar Portanto para cumprir com o objetivo do
presente trabalho iniciou-se a pesquisa abordando a questatildeo geral dos refugiados ou seja
os principais aspectos a respeito da proteccedilatildeo internacional dos mesmos chegando agrave
conclusatildeo de que refugiado eacute aquele que eacute viacutetima de perseguiccedilatildeo em seu paiacutes e natildeo quer ou
natildeo pode valer da proteccedilatildeo desse Estado conforme previsto na Convenccedilatildeo de 1951
Destarte foram citados alguns casos especiacuteficos decididos pelo TEDH Tambeacutem
procurou demonstrar a relaccedilatildeo entre o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo e o artigo 3ordm da Convenccedilatildeo
Europeia dos Direitos Humanos agrave luz do direito de busca e salvamento no mar tendo por
exemplo algumas decisotildees do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos como alguns casos
natildeo analisados pelo referido Tribunal pesquisou-se casos em que pessoas foram resgatadas
ainda no mar no entanto foram repelidas posteriormente em terra tambeacutem haacute casos em que
a repulsatildeo ocorreu ainda em mar portanto a proteccedilatildeo do refugiado trata-se de um assunto
de extrema urgecircncia e importacircncia haja vista os noticiaacuterios de naufraacutegios e descasos com os
refugiados ocorridos tanto nas embarcaccedilotildees como no paiacutes em que se busca asilo Ressalta-
se a questatildeo da migraccedilatildeo natildeo eacute um fenocircmeno recente poreacutem foi intensificado nas uacuteltimas
deacutecadas principalmente durante a Primavera Aacuterabe que consistiu na eclosatildeo de diversos
conflitos contra governos ditatoriais no Oriente Meacutedio e na Aacutefrica sobretudo no norte do
continente africano
Aleacutem disso eacute notoacuterio que a intensidade dos fluxos migratoacuterios na atualidade eacute de
tamanha monta que torna difiacutecil a administraccedilatildeo dos migrantes pelos paiacuteses principalmente
aos mais afetados como a Itaacutelia a Greacutecia Malta e a Espanha por serem banhadas pelo Mar
Mediterracircneo principal via de acesso agrave Europa Ademais Franccedila e Alemanha tambeacutem
sofreram com muitos migrantes requerendo asilo Portanto neste estudo verificou-se
tambeacutem a necessidade de uma maior cooperaccedilatildeo entre paiacuteses para solucionar esse problema
que de certa forma eacute exatamente isso que a Convenccedilatildeo de Dublin procura fazer ou seja
144
tenta distribuir a responsabilidade da questatildeo de asilo mas tal documento apresenta falhas e
jaacute haacute proposta chamada de ldquoNovo Pacto sobre Migraccedilatildeo e Asilordquo para substituir e tentar
retirar o ocircnus excessivo dos principais paiacuteses pelos quais os migrantes entram na Europa
A grande variedade de normas no direito internacional a respeito da proteccedilatildeo
internacional dos refugiados faz com que os Estados tenham liberdade para regular a entrada
de estrangeiros no seu territoacuterio poreacutem natildeo podem deixar de lado o respeito aos direitos
humanos e suas obrigaccedilotildees internacionais Entatildeo podemos dizer que a soberania dos
Estados acaba sendo limitada pelas normas obrigatoacuterias de direito internacional
A partir daiacute surge a ideia de que o refugiado natildeo deve ser repelido de acordo com o
artigo 33 da referida Convenccedilatildeo o chamado princiacutepio do non-refoulement Assim analisou-
se este artigo juntamente com a Convenccedilatildeo Contra a Tortura que dispotildee que ningueacutem deve
enviado para locais onde corra o risco de ser torturado bem como com o artigo 3ordm da CEDH
que traz a proibiccedilatildeo da tortura e tratamento desumanodegradante de forma expressa ou
seja apesar da Convenccedilatildeo de 1951 no artigo 33 trazer situaccedilotildees em que natildeo se aplica o
princiacutepio da natildeo-repulsatildeo deve-se avaliar o mencionado princiacutepio diante do complexo
juriacutedico isto eacute outros importantes diplomas internacionais trazem o princiacutepio sem qualquer
exceccedilatildeo dessa forma da anaacutelise conjunta dos diplomas internacionais de direitos humanos
notamos que para que natildeo tenha nenhuma infraccedilatildeo agraves essas normas deve-se interpretar de
acordo com a norma mais beneacutefica ou seja de que ningueacutem deve ser enviado para local
onde corra o risco de ser torturado conforme a Convenccedilatildeo Contra a Tortura e a CEDH
Ademais a exceccedilatildeo prevista no artigo 33 nordm 2 da Convenccedilatildeo de 1951 traz que a
pessoa que consista em perigo agrave seguranccedila do paiacutes ou que tenha cometido crime natildeo deve
ser protegida pelo princiacutepio da natildeo-repulsatildeo no entanto vimos acima que esse dispositivo
deve ser interpretado de acordo com o complexo juriacutedico a respeito do tema e portanto essa
exceccedilatildeo acaba se tornando sem efeito Obviamente que natildeo se deve ldquopremiarrdquo um criminoso
com o benefiacutecio do asilo a fim de que o mesmo natildeo cumpra sua pena no entanto a proibiccedilatildeo
do envio do indiviacuteduo para a tortura eacute absoluta assim sugere-se o cumprimento da pena no
paiacutes de asilo natildeo enviando o criminoso para onde possa ser torturado
Aleacutem disso demonstrou a importacircncia deste princiacutepio tendo em vista o seu caraacuteter
de norma jus cogens ou seja consiste no grupo de normas obrigatoacuterias de direito
internacional e para corroborar tal natureza mencionou-se o artigo 42 nordm 1 da Convenccedilatildeo
de 1951 no qual dispotildee que o artigo 33 da mesma Convenccedilatildeo natildeo comporta reservas assim
145
como uma norma para ser considerada jus cogens precisa ser reconhecida pela comunidade
internacional fato que eacute notoacuterio que as convenccedilotildees de 1951 Contra a Tortura e CEDH satildeo
de amplo reconhecimento pelos paiacuteses ou seja a natildeo-repulsatildeo possui reconhecimento e natildeo
admite reserva isto eacute possui os dois requisitos necessaacuterios para ter tal status
Assim tem-se que a questatildeo de asilo esbarra na soberania nacional dos paiacuteses pois
cada Estado tem o direito de regular suas normas de direito de asilo mas como mencionado
acima limitado pelos direitos humanos e obrigaccedilotildees internacionais Dessa forma o
continente europeu possui diversos documentos disciplinando o assunto a exemplo do
Tratado de Lisboa (TUE) o TFUE o Acordo Schengen a Convenccedilatildeo de Dublin a CEDH
aleacutem das diretivas Estes documentos dispotildeem sobre aspectos gerais no que se refere ao asilo
e controle de fronteiras no entanto a Convenccedilatildeo de Dublin aborda mais especificamente
sobre quais satildeo os Estados responsaacuteveis pela anaacutelise do procedimento de asilo mas as regras
a serem aplicadas no procedimento satildeo as normas nacionais de cada paiacutes Assim foram
apresentados de forma sucinta os mecanismos dos processos de asilo em alguns paiacuteses
europeus apenas a tiacutetulo de comparaccedilatildeo de como que os principais paiacuteses que sofrem com
o intenso fluxo migratoacuterio lidam com a questatildeo de asilo
O primeiro capiacutetulo e o segundo foram destinados agraves questotildees gerais de refugiado e
e asilo explicando a questatildeo do direito de asilo no continente europeu e em algumas
legislaccedilotildees nacionais A partir disso no capiacutetulo 3 restringiu-se o foco na questatildeo dos
refugiados para a questatildeo do direito internacional e europeu no mar no que se refere (a)
busca e resgate dos refugiados em perigo no mar e o dever de assistecircncia tendo como base
diversos documentos internacionais como a UNCLOS SAR e SOLAS Assim para melhor
compreensatildeo partiu-se dos conceitos a respeito das zonas mariacutetimas nas quais se destaca a
questatildeo do mar territorial como o proacuteprio nome jaacute diz consiste no territoacuterio do estado
costeiro e portanto o Estado costeiro possui soberania nessa aacuterea aleacutem disso mais adiante
vimos que existem as SARrsquos que satildeo zonas de busca e salvamento de responsabilidade dos
paiacuteses cada estado com a sua SAR Nas demais zonas vigoram as regras de alto mar e
portanto satildeo aacutereas internacionais assim vale a lei da bandeira da embarcaccedilatildeo consistindo
numa extensatildeo do territoacuterio do paiacutes ou seja o fenocircmeno da extraterritorialidade Discute-se
a respeito das SARrsquos sobre a aplicaccedilatildeo da extraterritorialidade nessas regiotildees pois apesar de
configurarem zonas de busca e salvamento podem estar em aacuteguas internacionais ou seja a
146
responsabilidade de busca e salvamento eacute de um estado no entanto se forem aacuteguas
internacionais vale a lei do estado da bandeira da embarcaccedilatildeo (artigo 110 da UNCLOS)
Um dos principais documentos a respeito do direito do mar eacute a UNCLOS na qual o
artigo 98 traz o dever de assistecircncia das pessoas em perigo no mar Dessa forma esse artigo
deve ser entendido juntamente com o artigo 2ordm da CEDH (bem como o artigo 2ordm da CDFUE)
pois ambos trazem a proteccedilatildeo do direito agrave vida Dessa forma a questatildeo de salvar as vidas no
mar deve-se levar em conta dois aspectos sendo que eacute responsabilidade dos estados bem
como dos capitatildees dos navios
Outros documentos que seguem o mesmo sentido deste artigo 98 da UNCLOS eacute a
Convenccedilatildeo SOLAS que se refere agrave salvaguarda da vida das pessoas no mar e a SAR que
dispotildee sobre a busca e salvamento no mar sob pena de violaccedilatildeo do direito agrave vida Essas duas
convenccedilotildees dispotildeem que as pessoas resgatadas devem ser desembarcadas em um local
seguro apesar de natildeo apresentarem um conceito claro das condiccedilotildees desses locais eacute evidente
que alguns paiacuteses como a Liacutebia estatildeo longe de serem seguros Portanto a falta de
conceituaccedilatildeo de local seguro nessas convenccedilotildees consiste em uma falha fazendo com que
muitos paiacuteses tentem justificar o envio de pessoas para paiacuteses natildeo seguros no entanto diante
da ausecircncia dessa conceituaccedilatildeo faz-se necessaacuterio bom senso das autoridades para natildeo enviar
os migrantes para locais onde corram riscos
Tendo por base todas essas disposiccedilotildees toma-se em questatildeo a relaccedilatildeo do direito do
mar conjuntamente com os direitos humanos Nesse ponto sabemos que os direitos humanos
satildeo de extrema importacircncia consistindo em normas jus cogens no direito internacional
portanto deve ser respeitado em todos os ramos do direito inclusive no direito do mar
Assim vimos que o respeito ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo eacute absoluto natildeo admitindo reservas
por ser considerado norma jus cogens bem como haacute a previsatildeo no artigo 42 nordm1 da
Convenccedilatildeo de 1951 de que o artigo 33 que se refere agrave natildeo-repulsatildeo natildeo se admite reservas
Portanto a interpretaccedilatildeo conjunta das normas de busca e salvamento do mar
juntamente com o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo leva ao entendimento de que os migrantes
resgatados no mar devem ser desembarcados em local seguro e principalmente natildeo devem
ser devolvidos para o local de onde saiacuteram sob pena de violaccedilatildeo do direito agrave vida (artigo 2ordm
da CEDH) da proibiccedilatildeo da tortura e tratamentos desumanos e degradantes (artigo 3ordm da
CEDH e artigo 3ordm da Convenccedilatildeo Contra a Tortura) e proibiccedilatildeo de expulsatildeo coletiva (artigo
4ordm do Protocolo Adicional nordm 4 da CEDH)
147
Para ter uma ideia na praacutetica sobre como ocorre a violaccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-
repulsatildeo no uacuteltimo capiacutetulo realizou-se estudo de alguns casos decididos pelo TEDH bem
como outros casos que ocorreram poreacutem sem anaacutelise do referido Tribunal Destaca-se que
nem todas as decisotildees consistem na repulsatildeo no mar poreacutem em todos os casos estudados as
pessoas chegaram pelo mar ou resgatadas pela guarda do estado costeiro e levadas para o
continente ou acabaram tendo ecircxito na trajetoacuteria em embarcaccedilotildees precaacuterias Isso demonstra
que a repulsatildeo ocorre tanto no mar quanto em situaccedilotildees em que os migrantes jaacute estatildeo em
terra Aleacutem disso quando a repulsatildeo ocorre no mar normalmente haacute a violaccedilatildeo da proibiccedilatildeo
de expulsatildeo coletiva nesses casos as pessoas geralmente satildeo repelidas todas juntas sem
qualquer identificaccedilatildeo conforme os casos Hirsi Jamaa e do Asso 28
Dessa forma como jaacute mencionado a anaacutelise da violaccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo
deve ser realizada juntamente com o artigo 3ordm da CEDH e tambeacutem com a Convenccedilatildeo Contra
a Tortura assim vimos que a violaccedilatildeo ao artigo 3ordm pode ocorrer tanto no paiacutes do pedido de
asilo nos campos de detenccedilatildeo ou quando se deixa as pessoas a sua proacutepria sorte assim a
violaccedilatildeo eacute configurada quando os indiviacuteduos forem enviados para local em que podem ser
submetidos agrave tortura e tratamentos desumanos eou degradantes
Nesse sentido no uacuteltimo capiacutetulo foram 4 os casos apresentados que tiveram decisotildees
proferidas pelo TEDH sendo constatado que quando haacute condenaccedilatildeo ao Estadopaiacutes que
violou direitos dos refugiados satildeo arbitradasaplicadas indenizaccedilotildees irrisoacuterias (em torno de
15 mil euros por requerente) ou seja acabam natildeo inibindo a repeticcedilatildeo da conduta Assim
notamos a ocorrecircncia do caso Hirsi Jamaa em 2009 e que no ano de 2018 o caso do Asso 28
ou seja repetiu os mesmos atos ocorridos em 2009 No entanto o capitatildeo do Asso 28 foi
denunciado nos tribunais italianos por ter tomado a conduta de devolver os migrantes agrave
Liacutebia talvez esse fato demonstre o iniacutecio de uma possiacutevel mudanccedila de mentalidade Mas
somente o tempo poderaacute dizer pois no caso Vos Thalassa o Tribunal de Trapani decidiu
que os migrantes que ldquosequestraramrdquo a embarcaccedilatildeo agiram em legiacutetima defesa que agiram
dessa forma face ao desespero de serem repelidos para a Liacutebia como ocorreu em situaccedilotildees
anteriores no entanto o Tribunal de Palermo anulou a sentenccedila inclusive contrariando a
jurisprudecircncia do proacuteprio Tribunal assim questiona-se se essa decisatildeo do tribunal de
apelaccedilatildeo de anular a sentenccedila natildeo consistiu em uma decisatildeo poliacutetica
Nas decisotildees do TEDH que analisamos notou-se que a condenaccedilatildeo indenizatoacuteria foi
em valor baixo como no caso Hirsi Jamaa cuja decisatildeo foi no sentido de que natildeo houve
148
violaccedilatildeo do artigo 3ordm da CEDH por entender que a conduta do Estado natildeo atingiu o niacutevel
miacutenimo de gravidade Ora natildeo haacute que se falar em niacutevel de tortura ou que o tratamento
desumano foi leve A tortura traz uma ideia de que natildeo tem uma ldquomeia torturardquo ou a pessoa
sofre tortura ou natildeo ou a pessoa recebe tratamento desumano ou natildeo ou seja natildeo haacute que se
falar em natildeo ter atingido os niacuteveis miacutenimos
Assim a partir da anaacutelise dos fatos como no caso Khlaifia em que os migrantes
alegavam que foram submetidos a tratamentos desumanos eou degradantes nota-se que o
tratamento natildeo eacute ldquomeiordquo desumano as pessoas tinham sua dignidade diminuiacuteda por esperar
horas para ir ao banheiro por exemplo Poreacutem o TEDH entendeu natildeo haver violaccedilatildeo ao
artigo 3ordm da CEDH que natildeo ficou comprovado que o tratamento atingiu os niacuteveis miacutenimos
Portanto mais um indicativo da impunidade natildeo se deve aceitar que os direitos humanos
dos migrantes sejam relativizados a empatia eacute obrigatoacuteria os julgadores devem se
colocarem no lugar do outro para poder apontar se existe ou natildeo um niacutevel miacutenimo de tortura
ou tratamento desumano a ser atingido
Outra situaccedilatildeo do caso Abdi Mahamud julgado pelo TEDH foi configurada a
violaccedilatildeo dos artigos 3ordm e 5ordm da CEDH sendo a condenaccedilatildeo de 12 mil euros menor que as
demais indenizaccedilotildees arbitradas pelo TEDH Ou seja trata-se de mais uma condenaccedilatildeo com
valor irisoacuterio de indenizaccedilatildeo pois trata-se de um paiacutes portanto facilita a continuidade da
praacutetica desrespeitosa aos direitos humanos Aleacutem disso nesse caso mesmo a requerente ter
demonstrado reais perigos a que estava exposta (seu irmatildeo foi morto por um grupo
terrorista) o pedido de asilo foi negado sob o fundamento de que ela natildeo demonstrou ser da
regiatildeo de conflitos da Somaacutelia em virtude do sotaque e conhecimentos da regiatildeo da capital
somali Assim as autoridades tecircm julgado os casos de forma arbitraacuteria com total ausecircncia
de empatia Ademais a refugiada tambeacutem estava com a sauacutede debilitada que piorou apoacutes a
negativa do pedido de asilo eacute notaacutevel o transtorno mental que a requerente estava por natildeo
querer retornar ao seu paiacutes
Na Greacutecia como vimos no caso Sharifi os migrantes satildeo tratados com completo
descaso situaccedilatildeo reconhecida inclusive por oacutergatildeos das Naccedilotildees Unidas que apontavam as
violaccedilotildees e orientaram os Estados para que natildeo enviasse migrantes para a Greacutecia Aleacutem
disso neste ano de 2020 em plena pandemia o paiacutes helecircnico levava migrantes ateacute fronteira
do mar territorial deixando-os agrave deriva em botes inflaacuteveis sem motor e correndo risco de
morte Entatildeo tal conduta eacute uma afronta e um descaso enorme dos Estados com os migrantes
149
ou seja com pessoas que saiacuteram de seus paiacuteses por serem submetidas agraves situaccedilotildees horriacuteveis
ainda se deparam com tamanho descaso e desrespeito daqueles cujo dever eacute socorrer e
acolher
Outra questatildeo que chamou agrave atenccedilatildeo pelo despauteacuterio refere-se ao acordo feito entre
a Itaacutelia e Liacutebia em 2017 que confirma o descaso de certos paiacuteses com os refugiados quem
deveria acolher na verdade desdenha da situaccedilatildeo Sabe-se que desde a eclosatildeo da Primavera
Aacuterabe a Liacutebia estaacute longe de ser um lugar seguro Eacute de amplo conhecimento de que
atrocidades satildeo cometidas no paiacutes como assassinatos torturas tratamentos desumanos e
degradantes etc Podemos dizer que a Itaacutelia ao celebrar este acordo eacute cuacutemplice expressa das
atrocidades cometidas com as pessoas por laacute sobretudo com os migrantes que satildeo
devolvidos para o paiacutes norte-africano Assim notamos que os paiacuteses tecircm priorizado o
combate agrave imigraccedilatildeo ilegal em detrimento dos direitos humanos dos migrantes que as
decisotildees proferidas pelo TEDH natildeo estatildeo sendo suficientes para inibir a accedilatildeo de paiacuteses
europeus na repulsatildeo de migrantes ou de coibir os Estados de violar direitos dos refugiados
O que se constatou nesse estudo eacute que quando haacute uma condenaccedilatildeo do Estado por
violar direitos dos refugiados natildeo haacute uma justa indenizaccedilatildeo e que em algumas vezes a
decisatildeo eacute no sentido de que natildeo tinha como o Estado prever a violaccedilatildeo jogando o ocircnus aos
requerentes deixando-os lidarem eles mesmos com os danos e as feridas causadas ou que
natildeo atingiu os niacuteveis miacutenimos de tratamentos desumanos Assim notamos que as puniccedilotildees
impostas aos Estados natildeo tecircm sido eficazes tendo em vista o valor iacutenfimo das indenizaccedilotildees
Dessa forma talvez seja necessaacuteria uma puniccedilatildeo mais eficaz que force os Estados a
respeitarem o direito dos refugiados talvez como medida inibitoacuteria seja o caso de estudar a
possibilidade de imposiccedilatildeo de embargos poliacutetico-econocircmicos ao Estado infrator aleacutem de
melhorar o valor das indenizaccedilotildees pecuniaacuterias iniciando um estudo nesse sentido em prol
da proteccedilatildeo dos refugiados
Em verdade proteger os migrantes natildeo deve ser uma opccedilatildeo dos paiacuteses mas um dever
de proteccedilatildeo agrave vida humana que eacute um direito universal portanto um direito tambeacutem dos
refugiados independentemente se foi resgatado no mar ou dos que jaacute estatildeo no territoacuterio do
paiacutes de chegadaescolhido Portanto ter uma boa poliacutetica de migraccedilatildeo legislaccedilatildeo de asilo e
a proteccedilatildeo dos direitos humanos natildeo satildeo coisas opostas Sendo uma necessidade a
convergecircncia de medidas em prol de menos sofrimento no mundo se as pessoas estatildeo
fugindo de suas casas elas precisam ser acolhidas e natildeo repelidas Em um mundo que
150
pregamos a paz e a justiccedila natildeo eacute justo que negue ajuda e proteccedilatildeo para aqueles mais
necessitados ou menos favorecidos
151
BIBLIOGRAFIA
ACNUR Refugiados Disponiacutevel em httpswwwacnurorgportuguesquem-
ajudamosrefugiados Acesso em 03012020
AGENZIA ITALIA Cosa egrave successo a bordo della nave Asso Ventotto 2018 Disponiacutevel em
httpswwwagiitcronacamigranti_asso_ventotto-4224246news2018-07-31 Acesso
em 05102020
ALMEIDA Francisco F Direito Internacional Puacuteblico 2ordf ediccedilatildeo Coimbra Coimbra
Editora 2003
ANISTIA INTERNACIONAL Greece Proposed bill on asylum downgrades EU and
International Law standards on refugees protection 2019 Disponiacutevel em
httpwwwantigonegrennewspost452 Acesso em 25052020
BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Controllo dele Frontiere Statali e
Respingimenti nel Diritto Internazionale e nel Diritto del Mare In Diritto
Immigrazione e Cittadinanza Nordm 12020 Disponiacutevel em
httpswwwdirittoimmigrazionecittadinanzaitarchivio-saggi-commentisaggifascicolo-
n-1-2020-1532-controllo-delle-frontiere-statali-e-respingimenti-nel-diritto-internazionale-
e-nel-diritto-del-mare Acesso em 19062020
BATHKE Benjamin First trial in Italy over ldquomigrant pushbackrdquo to Libya 2020 In
Infomigrants Disponiacutevel em httpswwwinfomigrantsnetenpost26108first-trial-in-
italy-over-migrant-pushback-to-libya Acesso em 05102020
BETHLEHEM Daniel LAUTERPACHT Sir E Part 2 Non-refoulement (Article 33 of
the 1951 Convention) - The scope and content of the principle of non-refoulement
Opinion In Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos Global
Consultations on International Protection Cambridge Cambridge 2003
CAMILLI Eleonora Migranti scoppia il caso Asso 28 ldquoFatto grave egrave
respingimentordquo 2018 In Redattore Sociale Disponiacutevel em
httpswwwredattoresocialeitarticlenotiziariomigranti_scoppia_il_caso_asso_28_fatto_
grave_e_respingimento Acesso em 05102020
CIERCO Teresa A Instituiccedilatildeo de Asilo na Uniatildeo Europeia Almedina Coimbra 2010
COMISSAtildeO EUROPEIA Common European Asylum Sistem (CEAS) ndash Definition(s)
Disponiacutevel em httpseceuropaeuhome-affairswhat-we-
donetworkseuropean_migration_networkglossary_searchcommon-european-asylum-
system-ceas_en Acesso em 06042020
COMISSAtildeO EUROPEIA Common European Asylum System Disponiacutevel em
httpseceuropaeuhome-affairswhat-we-dopoliciesasylum_en Acesso em 27052020
152
COMISSAtildeO EUROPEIA EURASIL Disponiacutevel em httpseceuropaeuhome-
affairswhat-we-donetworkseuropean_migration_networkglossary_searcheurasil_en
Acesso em 06042020
COMISSAtildeO EUROPEIA European Asylum Support Office (EASO) Disponiacutevel em
httpseceuropaeuhome-affairswhat-we-
donetworkseuropean_migration_networkglossary_searcheuropean-asylum-support-
office-easo_en Acesso em 06042020
COUNCIL OF EUROPE ndash COMMISSIONER FOR HUMAN RIGHTS Lives Saved
Rights protected Bridging the protection gap for refugees and migrants in the
Mediterranean - Recommendations 2019 Disponiacutevel em httpsrmcoeintlives-saved-
rights-protected-bridging-the-protection-gap-for-refugees-168094eb87 Acesso em
01092020
CONSEIL CONSTITUTIONNEL Preacuteambule de la Constitution du 27 Octobre 1946
Disponiacutevel em httpswwwconseil-constitutionnelfrle-bloc-de-
constitutionnalitepreambule-de-la-constitution-du-27-octobre-1946 Acesso em
27052020
CONSELHO PORTUGUEcircS PARA OS REFUGIADOS Histoacuteria Disponiacutevel
httpscprpthistoria Acesso em 24052020
DIAacuteRIO DE NOTIacuteCIAS Greacutecia aprova nova reforma na lei de asilo do paiacutes 2020
Disponiacutevel em httpswwwdnoticiasptmundogrecia-aprova-nova-reforma-na-lei-de-
asilo-do-pais-FE6240421 Acesso em 25052020
DEUTSCHE WELLE (DW) Juristas processam UE por morte de migrantes 2019
Disponiacutevel em httpswwwdwcompt-brjuristas-processam-ue-por-mortes-de-
migrantesa-49036829 Acesso em 05102020
DEUTSCHE WELLE (DW) Novo Pacto Migratoacuterio da UE descarta realocaccedilatildeo
obrigatoacuteria 2020 Disponiacutevel em httpswwwdwcompt-brnovo-pacto-
migratC3B3rio-da-ue-descarta-realocaC3A7C3A3o-obrigatC3B3riaa-
55029567 Acesso em 09102020
ENI ITAacuteLIA Azionisti Disponiacutevel em httpswwwenicomit-ITchi-
siamogovernanceazionistihtml 2019 Acesso em 05102020
FEDERAL OFFICE FOR MIGRATION AND REFUGEES The Stages of the German
Asylum Procedure ndash An overview of the individual procedural steps and the legal
basis Disponiacutevel em
httpswwwbamfdeSharedDocsAnlagenENAsylFluechtlingsschutzAsylverfahrendas-
deutsche-asylverfahrenpdf__blob=publicationFileampv=12 Acesso em 28052020
FELLER Erika Prefaacutecio In Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos
Global Consultations on International Protection Cambridge Cambridge 2003
153
FORTEAU Mathias THOUVENIN Jean-Marc Traiteacute de Droit International de la
Mer Editions A Pedone Paris 2017
FOSTER Michelle HATHAWAY James C Part 6 Internal ProtectionRelocationFlight
Alternative In Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos Global
Consultations on International Protection Cambridge Cambridge 2003
FRANCE 24 English Focus Women made to keep low profile in some French
suburbs Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=6gZFGpNdH1A Acesso
em08012020
FRONTEX O que eacute a Frontex Disponiacutevel em httpsfrontexeuropaeulanguagept
Acesso em 19082020
G1 GLOBO Conheccedila as missotildees de resgate de imigrantes no Mediterracircneo 2015 Disponiacutevel em
httpg1globocommundonoticia201504conheca-as-missoes-de-resgate-de-imigrantes-
no-mediterraneohtml Acesso em 30082020
GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DE INCLUSIOacuteN SEGURIDAD SOCIAL Y
MIGRACIONES) PORTAL DE INMIGRACIOacuteN ndash Centro de Acogida a Refugiados
(CAR) Disponiacutevel em
httpextranjerosmitramissgobesesproteccionasilocarindexhtml Acesso em
27052020
GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DEL INTERIOR) Informacioacuten para los
solicitantes de proteccioacuten internacional em Espantildea Derecho de Asilo y Proteccioacuten
Subsidiaria Disponiacutevel em
httpwwwinteriorgobesdocuments6423171201485Informacion_solicitantes_Asilo_E
spaC3B1ol_126160083pdfd8fb2cb4-9bc4-4a53-9032-628c02f1e114 Acesso em
27052020
GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DE INCLUSIOacuteN SEGURIDAD SOCIAL Y
MIGRACIONES) PORTAL DE INMIGRACIOacuteN ndash Informacioacuten Disponiacutevel em
httpextranjerosmitramissgobesesProteccionAsiloinformacionindexhtml Acesso em
27052020
GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DEL INTERIOR) Oficina de Asilo y
Refugio Disponiacutevel em httpwwwinteriorgobeswebservicios-al-ciudadanooficina-
de-asilo-y-refugio Acesso em 27052020
GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DE INCLUSIOacuteN SEGURIDAD SOCIAL Y
MIGRACIONES) PORTAL DE INMIGRACIOacuteN ndash Reacutegimen de Asilo Disponiacutevel em
httpextranjerosmitramissgobesesnormativanacionalasiloindexhtml Acesso em
27052020
GOODWIN-GILL Guy S Part 3 Article 31 of the 1951 Convention Relating to the Status
of Refugees non-penalization detention and protection In Refugee Protection in
154
International Law ndash UNHCRrsquos Global Consultations on International Protection
Cambridge Cambridge 2003
GROSBON Sophie Droit de la Mer et Protection Internationale de LrsquoIndividurdquo In
FORTEAU Mathias THOUVENIN Jean-Marc Traiteacute de Droit International de la
Mer Editions A Pedone Paris 2017
HELLENIC REPUBLIC Asylum Service Disponiacutevel
httpasylogovgrenpage_id=39 Acesso em 24052020
HELLENIC REPUBLIC Legislation Disponiacutevel httpasylogovgrenpage_id=113
Acesso em 24052020
HONNIBALL Arron N The Exclusive Jurisdiction of Flag States A Limitation on
Pro-active Port States The International Journal of Marine and Coastal Law 2016
Disponiacutevel em httpsbrillcomviewjournalsestu313article-p499_6xml Acesso
01062020
INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION Guidelines on the Treatment of
Persons Rescued at Sea 2004 Disponiacutevel em
httpwwwimoorgenOurWorkFacilitationpersonsrescuedDocumentsMSC167(78)pd
f Acesso em 27062020
INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION INTERNATIONAL CHAMBER
OF SHIPPING UNITED NATIONS (UNHCR) Soccorso in Mare 2015 Disponiacutevel em
httpswwwunhcritwp-contentuploads201512Soccorso_in_Marepdf Acesso em
29062020
KINGSLEY Patrick SHOUMALI Karam Taking Hard Line Greece Turns Back
Migrants by Abandoning Them at Sea In ldquoThe New York Timesrdquo Disponiacutevel em
httpswwwnytimescom20200814worldeuropegreece-migrants-abandoning-seahtml
Acesso em 09102020
LISSON Urszula WEINZIERL Ruth Border Management and Human Rights A
study of EU Law and the Law of the Sea German Institute for Human Rights 2007
MACHADO Joacutenatas E M Direito Internacional 4ordf ediccedilatildeo Coimbra Coimbra Editora
2013
MARS Amanda ONU alerta que o mundo vive a pior crise humanitaacuteria em 70 anos
2017 In El Paiacutes Brasil Disponiacutevel em
httpsbrasilelpaiscombrasil20170311internacional1489186916_587899html
Acesso em 03012020
MINISTEacuteRE DE LrsquoINTEacuteRIEUR (IMMIGRATION ASILE ACCUEIL ET
ACCOMPAGNEMENT DES EacuteTRANGERS EM FRANCE Les Grands Principes du
Droit DrsquoAsile Disponiacutevel em httpswwwimmigrationinterieurgouvfrAsileLe-droit-
d-asileLes-grands-principes-du-droit-d-asile Acesso em 27052020
155
MINISTERO DELLrsquoINTERNO Cruscotto statistico giornaliero Disponiacutevel em
httpwwwlibertaciviliimmigrazionedlciinternogovititdocumentazionestatisticacrusc
otto-statistico-giornaliero Acesso em 19062020
MINISTRY FOR HOME AFFAIRS AND NATIONAL SECURITY (MALTA) AWAS ndash
Mission and Function Disponiacutevel httpshomeaffairsgovmtenMHAS-
DepartmentsawasPagesMission-and-Functionaspx Acesso 26052020
MINISTRY FOR HOME AFFAIRS AND NATIONAL SECURITY (MALTA) The
Office of the Refugee Commissioner Disponiacutevel em
httpshomeaffairsgovmtenmhas-
departmentsthe20office20of20the20refugee20commissionerPagesRefugeeasp
x Acesso em 26052020
NASSER Salem H Jus Cogens Ainda esse Desconhecido Disponiacutevel em
httpbibliotecadigitalfgvbrojsindexphprevdireitogvarticleview3523334033 Acesso
em 12092020
NATIONAL INTEGRATION EVALUATION MECHANISM (NIEM) The new law on
asylum in Greece Disponiacutevel em httpwwwforintegrationeuplthe-new-law-on-
asylum-in-greece Acesso em 25052020
NATIONAL POST National Post View Stabilizing Libya may be the best way to
keep Europe safe Disponiacutevel em httpsnationalpostcomopinionnational-post-view-
stabilizing-libya-may-be-the-best-way-to-keep-europe-safe Acesso em 06012020
NICHOLSON Frances TURK Volker Part 1 Refugee Protection in International Law
an overall perspective In Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos Global
Consultations on International Protection Cambridge Cambridge 2003
O GLOBO Crise envolvendo navio de resgate humanitaacuterio ldquoOpen Armsrdquo contrapotildee
Itaacutelia Espanha e ONG 2019 Disponiacutevel em httpsogloboglobocommundocrise-
envolvendo-navio-de-resgate-humanitario-open-arms-contrapoe-italia-espanha-ong-
23887061 Acesso em 27052020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para
a determinaccedilatildeo da Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Disponiacutevel em
httpswwwacnurorgportugueswp-
contentuploads201802Manual_de_procedimentos_e_critC3A9rios_para_a_determi
naC3A7C3A3o_da_condiC3A7C3A3o_de_refugiadopdf Acesso em
16012020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Note on International Protection ndash
UNHCR 13 september 2001 Disponiacutevel
httpswwwunhcrorgexcomexcomrep3bb1c6cc4note-international-protectionhtml
Acesso em 18092020
156
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Qual a diferenccedila entre lsquorefugiadosrsquo e
lsquomigrantesrsquo Disponiacutevel em httpsnacoesunidasorgqual-a-diferenca-entre-refugiados-
migrantesamp Acesso em 11052020
PAPANICOLOPULU Irini Human Rights and The Law of the Sea In The IMLI
Manual on International Maritime Law Volume I Law of The Sea General Editor
David Joseph Attard Edited by Malgosia Fitzmaurice Norman A Martineacutez Gutieacuterrez
Oxford University Press Oxford 2014
PARLAMENTO EUROPEU Asilo e Migraccedilatildeo na UE em Nuacutemeros 2019 Disponiacutevel
em
httpswwweuroparleuropaeunewsptheadlinesprioritiesmigracao20170629STO7863
0asilo-e-migracao-na-ue-em-numeros Acesso em 06042020
PARLAMENTO EUROPEU Reform of the Dublin System Disponiacutevel em
httpswwweuroparleuropaeuRegDataetudesBRIE2016586639EPRS_BRI282016
29586639_ENpdf Acesso em 07042020
PARLAMENTO EUROPEU Regras do Sistema de Asilo da UE a posiccedilatildeo do
Parlamento sobre a reforma da regulaccedilatildeo de Dublin Atualizado em 25072019
Disponiacutevel em
httpswwweuroparleuropaeunewsptheadlinesworld20180615STO05927regras-do-
asilo-da-ue-posicao-do-parlamento-sobre-a-reforma-da-regulacao-dublin Acesso em
06042020
PAULA Bruna V O Princiacutepio do Non-Refoulement sua Natureza Jus Cogens e a
Proteccedilatildeo Internacional dos Refugiados 2006 Disponiacutevel em
httpsrevistaibdhorgbrindexphpibdhissueview14 Acesso em 12092020
PORTUGAL Serviccedilo de Estrangeiros e Fronteiras ndash Etapas do Procedimento de
Proteccedilatildeo Internacional Disponiacutevel em
httpswwwsefptptDocumentsFolheto20InformaC3A7C3A3o20ProteC3
A7C3A3o20Internacionalpdf Acesso em 23052020
REVISTA VEJA Imigrantes se jogam no mar do navio Open Arms para alcanccedilar a
Itaacutelia 2019 Disponiacutevel httpsvejaabrilcombrmundoimigrantes-se-jogam-do-navio-
open-arms-no-mar-alcancar-a-italia Acesso em 27052020
RODAS Joatildeo G Jus Cogens em Direito Internacional Disponiacutevel em
wwwrevistasuspbrrfdusparticleviewFile6673669346 Acesso em 11092020
RUGGIERO Carol Dalla Criminalizzazione alla Giustificazione delle Attivita di
Ricerca e Soccorso in Mare le Tendenze Interpretative Piu Recenti alla Luce dei Casi
Vos Thalassa e Rackete In Diritto Immigrazione e Cittadinanza Nordm 12020 Disponiacutevel
em httpswwwdirittoimmigrazionecittadinanzaitarchivio-saggi-commentinote-e-
commentifascicolo-2020-1526-dalla-criminalizzazione-alla-giustificazione-delle-attivita-
di-ricerca-e-soccorso-in-mare-le-tendenze-interpretative-piu-recenti-alla-luce-dei-casi-vos-
thalassa-e-rackete Acesso em 25062020
157
SAVIO Guido Capitolo II Le procedure amministrative della domanda drsquoasilo
dallrsquoavvio alla decisione In ROCCA Paolo Immigrazione Asilo e Cittadinanza IV
Edizione Maggioli Editore Santarcangelo di Romagna 2019
TANI Ilaria Ricerca e Soccorso nel Mediterraneo Centrale tra Diritto Internazionale
e Nuove (Discutibili) Qualificazioni del Fenomeno Migratorio In Diritto
Immigrazione e Cittadinanza Nordm 32019 Disponiacutevel em
httpswwwdirittoimmigrazionecittadinanzaitarchivio-saggi-commentisaggifascicolo-
n-3-2019-1474-ricerca-e-soccorso-nel-mediterraneo-centrale-tra-diritto-internazionale-e-
nuove-discutibili-qualificazioni-del-fenomeno-migratoriofile Acesso em 22082020
TERRASI Alfredo I Respingimenti in Mare di Migrant Alla Luce Della Convenzione
Europea dei Diritti Umani In Diritti umani e diritto Internazionale Nordm 32009 p 591-
607
TREVISANUT Seline Maritime Border Control and the Protection of Asylum-
Seekers in the European Union Touro International Law Review 12 2009 p 157-161
HeinOnline
TREVISANUT Seline The Principle of Non-Refoulement and the De-
Territorialization of Border Control at Sea Leiden Journal of International Law vol
27 no 3 September 2014 p 661-676 HeinOnline
UNHCR GREECE UNHCR urges Greece to strengthen safeguards in draft asylum
law 2019 Disponiacutevel em httpswwwunhcrorggren13170-unhcr-urges-greece-to-
strengthen-safeguards-in-draft-asylum-lawhtml
UNITED NATIONS ndash UNHCR UNHCR Position on the Return of Asylum-Seekers to
Greece Under the ldquoDublin Regulationrdquo Disponiacutevel em
httpswwwunhcrorg482199802pdf Acesso em 01102020
WEIL Prosper Towards relative normativity in international law The American
Journal of International Law Vol 77 nordm 3 (julho de 1983) p 413 ndash 442 Disponiacutevel em
httpswwwcambridgeorgcorejournalsamerican-journal-of-international-
lawarticletowards-relative-normativity-in-international-
lawD494CB41D732291285CBC9F5424FF11C Acesso em 10092020
JURISPRUDEcircNCIAS
EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Abdi Mahamud V Malta
Application no 5679613 Disponiacutevel em httphudocechrcoeintengi=001-162424
Acesso em 26092020
EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Hirsi Jamaa and others v Italy
Application no 2776509 Disponiacutevel em httphudocechrcoeintspai=001-109231
Acesso em 16092020
158
EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Khlaifia and others v Italy
Application no 1648312 Disponiacutevel em httphudocechrcoeintengi=001-170054
Acesso em 21092020
EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Sharifi V Austria Application
no 6010408 Disponiacutevel em httphudocechrcoeintengi=001-138593 Acesso em
26092020
INTERNATIONAL COURT OF JUSTICE Jurisdictional Immunities of the State
(Germany v Italy Greece intervening) General List Nordm 143 Disponiacutevel em
httpswwwicj-cijorgencase143 Acesso em 11092020
LA CORTE DI APPELLO DI PALERMO Sentenza Vos Thalassa Appello ndash N Sent
15252020 Disponiacutevel httpswwwquestionegiustiziaitdatadoc2613sentenza-vos-
thalassa-appello-palermo-3-giugno-2020pdf Acesso em 05102020
TRIBUNALE DI TRAPANI Sentenza Vos Thalassa 2019 Disponiacutevel em
httpswwwquestionegiustiziaitdatadoc2613sentenza-vos-thalassa-gip-trapani-3-
giugno-2019pdf Acesso em 05102020
LEGISLACcedilAtildeO CONSULTADA
CONVENCcedilAtildeO DE APLICACcedilAtildeO DO ACORDO DE SCHENGEN 1985 Disponiacutevel
em httpseur-lexeuropaeulegal-
contentptTXTuri=celex3A42000A0922280229 Acesso em 29032020
CONSELHO DE SEGURANCcedilA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Resoluccedilatildeo 2240 (2015)
Disponiacutevel em httpseur-lexeuropaeulegal-
contentPTTXTuri=CELEX3A32016D0118 Acesso em 30082020
CONSELHO DA EUROPA Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (CEDH)
Disponiacutevel em httpswwwechrcoeintDocumentsConvention_PORpdf Acesso em
13012020
CONSELHO EUROPEU Directiva 200155CE do Conselho de 20 de Julho de 2001
Disponiacutevel em httpseur-lexeuropaeulegal-
contentPTTXTHTMLuri=CELEX32001L0055ampfrom=PT Acesso em 31012020
COUNCIL OF THE EUROPEAN UNION Council Decision of 26 April 2010
(2010252EU) Disponiacutevel em httpseur-
lexeuropaeuLexUriServLexUriServdouri=OJL201011100200026ENPDF Acesso
em 18092020
GENERAL ASSEMBLY UNITED NATIONS Resolution Adopted by the General
Assembly ndash Resolution 52132 Human rights and mass exoduses 1998 Disponiacutevel em
httpsundocsorgenARES52132 Acesso em 12092020
159
INTERNATIONAL COMMITTEE OF THE RED CROSS Customary International
Humanitarian Law ndash Volume I Rules Disponiacutevel
httpswwwicrcorgendocassetsfilesothercustomary-international-humanitarian-law-i-
icrc-engpdf Acesso em 11092020
INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION International Convention for the
Safety of Life at Sea (SOLAS) 1974 Disponiacutevel em
httpswwwsamgongustofaismediaenglishSOLAS-Consolidated-Edition-
2018docxpdf Acesso em 05062020
INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION International Convention on
Maritime Search and Rescue ndash SAR Convention 1979 Disponiacutevel em httpsonboard-
aquariusorguploads201808SAR-Convention-1979pdf Acesso em 02062020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Carta das Naccedilotildees Unidas 1945 Disponiacutevel
em httpsnacoesunidasorgwp-contentuploads201711A-Carta-das-
NaC3A7C3B5es-Unidaspdf Acesso em 04092020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Contra a Tortura e Outros
Tratamentos ou Penas Crueacuteis Desumanos ou Degradantes 1984 Disponiacutevel em
httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto1990-1994D0040htm Acesso em
12092020
ORGANIZACcedilAtildeO DE UNIDADE AFRICANA Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo de Unidade
Africana que Rege os Aspectos Especiacuteficos dos Problemas dos Refugiados em Aacutefrica
Disponiacutevel em httpwwwdhnetorgbrdireitossipafricaouahtm Acesso em
17012020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo de Viena sobre o Direito dos
Tratados Disponiacutevel em
httpgddcministeriopublicoptsitesdefaultfilesdocumentosinstrumentosrar67-
2003pdf Acesso em 11092020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Relativa ao Estatuto dos
Refugiados de 1951 Disponiacutevel em
httpswwwacnurorgfileadminDocumentosportuguesBDLConvencao_relativa_ao_Est
atuto_dos_Refugiadospdf Acesso em 03012020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Declaraccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas Sobre o
Asilo Territorial 1967 Disponiacutevel
httpswwwacnurorgfileadminDocumentosportuguesBD_LegalInstrumentos_Internac
ionaisDeclaracao_ONU_Asilo_Territorialpdffile=fileadminDocumentosportuguesBD_
LegalInstrumentos_InternacionaisDeclaracao_ONU_Asilo_Territorial Acesso em
09032020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do
Homem 1948 Disponiacutevel em httpsnacoesunidasorgwp-
contentuploads201810DUDHpdf Acesso em 05032020
160
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Protocolo Adicional agrave Convenccedilatildeo das
Naccedilotildees Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Relativo agrave Prevenccedilatildeo
Repressatildeo e Puniccedilatildeo do Traacutefico de Pessoas em Especial Mulheres e Crianccedilas
Disponiacutevel httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2004-
20062004DecretoD5017htm Acesso 14062020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Protocolo Adicional agrave Convenccedilatildeo das
Naccedilotildees Unidas Contra o Crime Organizado Transnacional relativo ao Combate ao
Traacutefico de Migrantes por Via Terrestre Mariacutetima e Aeacuterea 2000 Disponiacutevel em
httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2004-20062004DecretoD5016htm Acesso
em 01062020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Protocolo Adicional I da Convenccedilatildeo de
Genebra de 1949 Disponiacutevel em httpsihl-
databasesicrcorgapplicihlihlnsfArticlexspaction=openDocumentampdocumentId=F461
FC196C18A52DC12563CD0051E2AC Acesso em 11092020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Protocolo de 1967 Relativo ao Estatuto dos
Refugiados Disponiacutevel
httpswwwacnurorgfileadminDocumentosportuguesBD_LegalInstrumentos_Internac
ionaisProtocolo_de_1967pdf Acesso em 05032020
REPUBBLICA ITALIANA Gazzetta Ufficiale della Reppublica Italiana - Decreto
Legislativo 28 Gennaio 2008 N 25 Disponiacutevel em
httpswwwgazzettaufficialeitattoserie_generalecaricaDettaglioAttooriginarioattodat
aPubblicazioneGazzetta=2008-02-
16ampattocodiceRedazionale=008G0044ampelenco30giorni=false Acesso em 12052020
REPUBBLICA ITALIANA Gazzetta Ufficiale della Reppublica Italiana - Decreto
Legislativo 18 agosto 2015 n 142 Disponiacutevel em
httpswwwgazzettaufficialeiteliid2015091515G00158sg Acesso em 23052020
UNIAtildeO EUROPEIA Carta dos Direitos Fundamentais da Uniatildeo Europeia Disponiacutevel
em httpswwweuroparleuropaeucharterpdftext_ptpdf Acesso em 27052020
UNIAtildeO EUROPEIA Convenccedilatildeo de Dublin 1990 Disponiacutevel httpseur-
lexeuropaeulegal-contentPTALLuri=celex3A41997A0819280129 Acesso em
06042020
UNIAtildeO EUROPEIA Diretiva 2008115CE Disponiacutevel em httpseur-
lexeuropaeulegal-contentPTTXTuri=CELEX3A32008L0115 Acesso em
27052020
UNIAtildeO EUROPEIA Diretiva 201195UE Disponiacutevel em httpseur-
lexeuropaeulegal-contentPTLSUuri=celex32011L0095 Acesso em 27052020
161
UNIAtildeO EUROPEIA Diretiva 201332UE Disponiacutevel em httpseur-
lexeuropaeulegal-contentPTTXTuri=LEGISSUM23010502_1 Acesso em
27052020
UNIAtildeO EUROPEIA Diretiva 201333UE Disponiacutevel em httpseur-
lexeuropaeulegal-contentPTTXTuri=LEGISSUM23010502_2 Acesso em
27052020
UNIAtildeO EUROPEIA Tratado de Funcionamento da Uniatildeo Europeia Disponiacutevel em
httpseur-lexeuropaeulegal-contentPTTXTuri=celex3A12012E2FTXT Acesso
em 07042020
UNIAtildeO EUROPEIA Tratado de Lisboa Disponiacutevel em
httpswwwparlamentopteuropaDocumentsTratado_Versao_Consolidadapdf Acesso
em 31032020
UNITED NATIONS Charter of the International Military Tribunal 1945 Disponiacutevel
em httpswwwunorgengenocidepreventiondocumentsatrocity-
crimesDoc2_Charter20of20IMT201945pdf Acesso em 21012020
UNITED NATIONS Convention on the Law of the Seas (UNCLOS) Disponiacutevel
httpswwwunorgdeptslosconvention_agreementstextsunclosunclos_epdf Acesso
04092020
UNITED NATIONS Draft articles on Responsibility of States for Internationally
Wrongful Acts with commentaries Disponiacutevel em
httplegalunorgilctextsinstrumentsenglishcommentaries9_6_2001pdf Acesso em
11092020
4
ABSTRACT
CLEMENTE Isabelle C The Principle of Non-Refoulement as Jus Cogens Standard the Right to Asylum
in the European Union and the Protection of the Individual at Sea 2020 162f Masteracutes Degree
Dissertation Faculty of Law of the University of Coimbra Coimbra 2020
The present research is justified due to the intense migratory flow that has occurred via the Mediterranean Sea
and consequent disrespect for the human rights of refugees by some countries The international protection of
refugees the right of asylum in Europe and in some European countries the principle of non-refoulement and
the international protection of the individual at sea were analyzed and it makes an analysis of some cases
decided by the European Court of Human Rights - ECHR and two others that were not analyzed by the
mentioned Court but related to the theme of the present work Thus it was demonstrated that States have a
duty to assist search and rescue at sea and to protect those in need of protection by not sending migrants back
to persecution or in situations where life may be at risk that is not violating the principle of non-refoulement
For this study the deductive method was used bibliographic research techniques with consultations in books
electronic journals legislation and precedents research were applied It was concluded that despite the duty
of assistance search and rescue at the sea the States have a duty to respect the principle of non-refoulement
not sending migrants to situations of inhuman and degrading torture and treatment (according to the prohibition
in Article 3 of the European Convention on Human Rights - ECHR) Many European States repeatedly violate
the human rights of refugees either by placing them in refugee camps in precarious situations or by sending
them back to places that are not safe or by repelling them collectively (violation of Article 4 of Protocol
number 4 of the ECHR) or either leaving migrants adrift causing accidents etc thus it was noted that the
condemnations carried out by the ECHR are not sufficient to inhibit new violating actions by States nor to
compensate for the damage caused to migrants Thus there must be a change in mentality of both the authorities
and the international community in favor of protecting people who need help including creating effective
international measures or sanctions in the diplomatic political and economic spheres as a way to punish the
offending country effective measures must also be taken in order not to burden the State of entry this being
one of the points of the proposal of the New Pact on Migration and Asylum which still needs approval from
the EU Council and the European Parliament
Keywords Refugees Principle of Non-Refoulement Article 3 ECHR Right to Asylum Protection of the
Individual at Sea
5
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ACNUR ou UNHCR ndash Alto Comissariado das Naccedilotildees Unidas Para os Refugiados
AZR ndash Registro Central de Estrangeiros
AFP ndash Agence France-Presse
AWAS ndash Agency for the Welfare of Asylum Seekers (Agecircncia para o bem-estar para os
requerentes de asilo)
CAR ndash Centro de Acolhida de Refugiados
CAS ndash Convenccedilatildeo de Aplicaccedilatildeo do Acordo Schengen
CDFUE ndash Carta dos Direitos Fundamentais da Uniatildeo Europeia
CDP SpA ndash Cassa Depositi e Prestiti SpA
CEDH ndash Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos
CESEDA ndash Coacutedigo de Entrada e Permanecircncia de Estrangeiros e do Direito de Asilo
CIREA ndash Centro de Informaccedilatildeo Investigaccedilatildeo e Intercacircmbio em Mateacuteria de Asilo
CIREFI ndash Centro de Informaccedilatildeo Investigaccedilatildeo e Intercacircmbio em Mateacuteria de Passagem das
Fronteiras e Imigraccedilatildeo
CNDA ndash Corte Nacional de Direito de Asilo
CPR ndash Conselho Portuguecircs para os Refugiados
CSPA ndash Centro de Socorro e Primeiro Acolhimento
DUDH - Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos
EURASIL - European Union Network for asylum practitioners (Rede da Uniatildeo Europeia
para praticantes de asilo)
EURODAC - European Dactyloscopy (base de dados de impressotildees digitais da Uniatildeo
Europeia para requerentes de asilo)
EASO ndash Gabinete Europeu de Apoio ao Asilo
EASY ndash Distribuiccedilatildeo Inicial dos Requerentes de Asilo
FRONTEX ndash Agecircncia Europeia de Gestatildeo da Cooperaccedilatildeo Operacional nas Fronteiras
Externas
GETZ ndash Centro de Extremismo e Contra-Terrorismo
GTAZ ndash Centro Contra-Terrorismo
IMRCC ndash Centro Italiano de Coordenaccedilatildeo de Socorro Mariacutetimo
OFII ndash Escritoacuterio Francecircs de Imigraccedilatildeo e Integraccedilatildeo
6
OFPRA ndash Escritoacuterio Francecircs de Proteccedilatildeo dos Refugiados e Apaacutetridas
OMI ou IMO ndash Organizaccedilatildeo Mariacutetima Internacional
ONG ndash Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental
ONU - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas
OSCE ndash Organizaccedilatildeo para Seguranccedila e Cooperaccedilatildeo na Europa
OUA ndash Organizaccedilatildeo da Unidade Africana
SAR ndash Convenccedilatildeo de Busca e Salvamento no Mar (Search and Rescue)
SECA ndash Sistema Europeu Comum de Asilo
SEF ndash Serviccedilo de Estrangeiros e Fronteiras
SOLAS ndash Convenccedilatildeo Internacional para a Salvaguarda da Vida Humana no Mar
SPRAR ndash Sistema de Proteccedilatildeo para o Requerente de Asilo e Refugiado
TEDH ndash Tribunal Europeu de Direitos Humanos
TFUE ndash Tratado de Funcionamento da Uniatildeo Europeia
TUE ndash Tratado da Uniatildeo Europeia
UE ndash Uniatildeo Europeia
UNCLOS ou CNUDM - Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar
ZEE ndash Zona Econocircmica Exclusiva
7
IacuteNDICE
INTRODUCcedilAtildeO09
CAPIacuteTULO 1 ndash A Proteccedilatildeo Internacional dos Refugiados e o Princiacutepio do Non-
Refoulement11
11 Aspectos Gerais11
12 Convenccedilatildeo de 1951 e o Protocolo de 196714
121 Conceito de Refugiado14
122 Pontos Importantes Relativos agrave Proteccedilatildeo Internacional15
a) Entrada Ilegal16
b) Pertencimento a um Grupo Social Especiacutefico18
c) Solicitaccedilotildees de Refuacutegio com Base na Religiatildeo19
d) Fuga Interna ou Alternativa do Deslocamento20
e) Aplicaccedilatildeo das Claacuteusulas de Exclusatildeo22
f) Cessaccedilatildeo da Condiccedilatildeo de Refugiado27
g) Unidade Familiar29
h) Responsabilidade de Supervisatildeo da ACNUR30
13 O Princiacutepio Non-Refoulement como Norma Jus Cogens e a Responsabilidade do
Estado por Atos Iliacutecitos30
131 Princiacutepio de Non-Refoulement31
132 Normas Jus Cogens35
133 Responsabilidade Internacional dos Estados38
134 Teorias a Respeito da Responsabilidade Internacional dos Estado43
135 Imputabilidade dos Estados44
136 Violaccedilatildeo de Uma Obrigaccedilatildeo Internacional45
137 Princiacutepio Non-Refoulement como Norma Jus Cogens46
CAPIacuteTULO 2 ndash O Asilo na Ordem Juriacutedica Europeia e Nacionais49
21 O Asilo Aspectos Gerais49
211 O Asilo e a Soberania do Estado52
22 A Instituiccedilatildeo de Asilo no Continente Europeu54
221 Principais Documentos Sobre o Asilo na Ordem Juriacutedica
Europeia57
8
23 Ordens Juriacutedicas Nacionais Itaacutelia Portugal Greacutecia Malta Espanha Franccedila e
Alemanha69
231 Itaacutelia69
232 Portugal73
233 Greacutecia75
234 Malta78
235 Espanha81
236 Franccedila84
237 Alemanha85
CAPIacuteTULO 3 - Direito Internacional e Europeu do Mar Busca e Resgate dos
Refugiados em Perigo e o Dever de Assistecircncia89
31 Breves Consideraccedilotildees a Respeito do Direito Internacional do Mar89
32 O Direito do Mar e a Proteccedilatildeo Internacional do Indiviacuteduo93
321 O Direito do Mar e os Direitos Humanos97
322 O Princiacutepio da Natildeo-Repulsatildeo e os Migrantes em Perigo no Mar99
323 A Busca e Salvamento no Mar e o Dever de Assistecircncia108
CAPIacuteTULO 4 - Casos de Violaccedilatildeo do Artigo 3ordm da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos
Humanos e o Princiacutepio da Natildeo-repulsatildeo121
41 Contexto Faacutetico122
411 Caso Hirsi Jamaa e Outros versus Itaacutelia123
412 Caso Khlaifia e Outros versus Itaacutelia125
413 Caso Abdi Mahamud versus Malta129
414 Caso Sharifi versus Aacuteustria131
415 Caso Vos Thalassa134
416 Caso Asso 28137
42 Alguns Apontamentos a Respeito dos Casos Apresentados140
CONCLUSAtildeO143
BIBLIOGRAFIA151
JURISPRUDEcircNCIAS157
LEGISLACcedilAtildeO CONSULTADA158
9
INTRODUCcedilAtildeO
Os fluxos migratoacuterios natildeo satildeo acontecimentos recentes existindo portanto desde os
primoacuterdios da humanidade assim o que muda satildeo os motivos que levam as pessoas a saiacuterem
do seu local de origem No entanto nas uacuteltimas deacutecadas o fenocircmeno da migraccedilatildeo tem se
intensificado principalmente apoacutes 2011 com a Primavera Aacuterabe em que eclodiram muitas
revoltas contra os governos autoritaacuterios no Oriente Meacutedio e paiacuteses africanos sobretudo no
norte da Aacutefrica Por este motivo para um estudo da atual situaccedilatildeo eacute importante a pesquisa
no acircmbito do direito internacional dos refugiados bem como dos direitos humanos
Nesse sentido a Europa tem sido um dos principais destinos desses migrantes e os
paiacuteses mais afetados tecircm adotado medidas para limitar esse fluxo muitos satildeo os meios que
as pessoas se sujeitam a enfrentar para migrarem inclusive pelo mar se aventurando em
embarcaccedilotildees precaacuterias arriscando suas vidas com o fim de fugir de algum tipo de
perseguiccedilatildeo Assim o objetivo do presente trabalho eacute fazer uma anaacutelise teoacuterica sobre a
proteccedilatildeo internacional dos refugiados direito de asilo e o direito de busca e salvamento dos
migrantes no mar juntamente com uma breve anaacutelise jurisprudencial do Tribunal Europeu
dos Direitos Humanos e apresentaccedilatildeo de outros casos natildeo analisados pelo mencionado
Tribunal
Dessa forma no primeiro capiacutetulo faz-se uma abordagem da proteccedilatildeo internacional
dos direitos humanos explicandos alguns dos assuntos mais importantes ao que se refere ao
direito dos refugiados como a Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 bem como o Protocolo de
1967 passando pelo conceito de refugiado e alguns pontos importantes como entrada ilegal
fuga interna claacuteusulas de exclusatildeo cessaccedilatildeo da condiccedilatildeo de refugiado perseguiccedilatildeo por
pertencer algum grupo social por seguir determinada religiatildeo unidade familiar etc aleacutem
disso traz-se a ideia do Princiacutepio do Non-Refoulement (tambeacutem citado neste trabalho como
Princiacutepio da Natildeo-Repulsatildeo) como jus cogens e a responsabilidade do Estado
No segundo capiacutetulo discorre-se sobre o tema do asilo na ordem juriacutedica europeia e
nacional de alguns paiacuteses europeus (os mais afetados pelo fenocircmeno migratoacuterio) Dessa
forma traz-se para anaacutelise os principais documentos europeus como Tratado de Lisboa
Tratado de Funcionamento da Uniatildeo Europeia Acordo Schengen Convenccedilatildeo de Dublin
Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos e algumas diretivas a respeito do tema Aleacutem
10
disso traz-se a questatildeo do asilo nos paiacuteses Itaacutelia Portugal Greacutecia Malta Espanha Franccedila
e Alemanha
Jaacute no terceiro capiacutetulo o foco eacute o direito internacional e europeu do mar no que se
refere agrave busca e resgate dos refugiados bem como o dever de assistecircncia Assim em um
primeiro momento faz-se algumas breves consideraccedilotildees a respeito do direito do mar
explicando brevemente as zonas mariacutetimas posteriormente a relaccedilatildeo do direito do mar com
a proteccedilatildeo internacional do indiviacuteduo passando pelos direitos humanos e princiacutepio da natildeo-
repulsatildeo no direito do mar chegando no direito de busca e salvamento e o dever de
assistecircncia Todos esses pontos tendo como base principalmente as Convenccedilotildees
UNCLOS SOLAS e SAR
Por fim o quarto capiacutetulo traz quatro decisotildees do Tribunal Europeu dos Direitos
Humanos e dois outros casos sem anaacutelise do referido Tribunal para exemplificar todo o
exposto nos demais capiacutetulos Assim o intuito eacute demonstrar qual a posiccedilatildeo do TEDH e se
as decisotildees estatildeo sendo suficientes para inibir a violaccedilatildeo do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo dos
migrantes resgatados no mar
Para a elaboraccedilatildeo do presente trabalho foi utilizado o meacutetodo dedutivo sendo
realizadas teacutecnicas de pesquisa bibliograacutefica com consultas em livros revistas eletrocircnicas
legislaccedilatildeo sendo utilizada a pesquisa jurisprudencial realizada no respectivo trabalho aleacutem
de outros documentos uacuteteis para a anaacutelise proposta no presente trabalho Os casos escolhidos
no uacuteltimo capiacutetulo foram escolhidos por amostragem e por serem pertinentes ao tema
11
CAPIacuteTULO 1
A PROTECcedilAtildeO INTERNACIONAL DOS REFUGIADOS E O PRINCIacutePIO DO
NON-REFOULEMENT
Apesar do fenocircmeno migratoacuterio existir haacute muito tempo tem-se que nas uacuteltimas
deacutecadas este assunto tem se tornado preocupaccedilatildeo mundial trazendo agrave tona a proteccedilatildeo
internacional dos refugiados principalmente na Europa que tem recebido um grande
contingente de refugiados Assim destaca-se os aspectos do mencionado fenocircmeno
humanitaacuterio e social que consiste na proteccedilatildeo de pessoas que fogem de seus paiacuteses em busca
de um lugar seguro para si e para sua famiacutelia bem como o aspecto diplomaacutetico-poliacutetico
pois as pessoas ao ingressarem em outros paiacuteses em busca de estabelecer residecircncia entram
de forma ilegal ferindo a soberania dos Estados Dessa forma faz com que os paiacuteses de
destino elaborem medidas limitativas de tal fenocircmeno (de forma interna) que tambeacutem
atuam como forma de controlar as tensotildees que porventura acabam surgindo1
11 Aspectos gerais
Nas uacuteltimas sete deacutecadas a situaccedilatildeo dos refugiados tem mudado consideravelmente
isso se deve ao surgimento do Alto Comissariado das Naccedilotildees Unidas para os Refugiados
(ACNUR - UNHCR) e tambeacutem da Convenccedilatildeo Relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951
O regime de proteccedilatildeo internacional dos direitos humanos vem sendo construiacutedo desde a
Segunda Guerra Mundial e atualmente consiste em um sistema complexo de proteccedilatildeo agraves
pessoas que satildeo obrigadas a saiacuterem de seus paiacuteses de forma forccedilada tendo por base a
mencionada convenccedilatildeo e o Protocolo de 1967 relativo ao Estatuto dos Refugiados Mas se
reconhece que haacute muito que se melhorar nesse ldquosistema complexordquo tendo em vista a
existecircncia de lacunas que favorecem a natildeo aplicaccedilatildeo do previsto na Convenccedilatildeo dificultando
as questotildees de asilo2
Os dois diplomas mencionados acima segundo Nicholson e Turk satildeo ldquothe modern
legal embodiment of the ancient and universal tradition of providing sanctuary to those at
1 CIERCO Teresa A Instituiccedilatildeo de Asilo na Uniatildeo Europeia Almedina Coimbra 2010 2 FELLER Erika Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos Global Consultations on International
Protection Prefaacutecio Cambridge Cambridge 2003
12
risk and in dangerrdquo3 consistem na personificaccedilatildeo juriacutedica da tradiccedilatildeo mundial de proteger
as pessoas que estatildeo em perigo Portanto consistem nos principais e uacutenicos documentos em
niacutevel mundial que tratam do assunto ldquorefugiadosrdquo
A crise migratoacuteria atual eacute considerada pela ONU a maior deste seacuteculo e de acordo
com dados ateacute o momento soacute perde para a crise migratoacuteria ocorrida durante a Segunda
Guerra Mundial4 As pessoas saem dos seus paiacuteses por motivos de perseguiccedilatildeo e ofensas
aos direitos humanos em busca de uma vida melhor em outros paiacuteses Diversos satildeo os paiacuteses
que geram refugiados como por exemplo Siacuteria (paiacutes que mais gerou refugiados) paiacuteses da
Aacutefrica Subsaariana5 e atualmente a Liacutebia (paiacutes no qual muitos refugiados buscaram ajuda
mas acabaram sendo aprisionados e submetidos a tratamentos degradantes e torturas)
A situaccedilatildeo atual na Liacutebia merece atenccedilatildeo e preocupa paiacuteses europeus sobretudo a
Itaacutelia O caos no mencionado paiacutes africano comeccedilou apoacutes a queda de Muamar Kadafi
iniciando-se uma nova guerra civil assim as autoridades do paiacutes perderam a sede do
governo em Triacutepoli passando a governar a partir de quartos de hoteacuteis e casas alugadas na
cidade de Bayda tendo em vista que parte da Liacutebia estava sob o domiacutenio de miliacutecias eacutetnicas
e coalizatildeo islamita6
Diante de tal cenaacuterio muitas pessoas foram capturadas vendidas como escravos e
torturadas O Estado Islacircmico publicou um viacutedeo executando 21 egiacutepcios em uma praia do
Mar Mediterracircneo e manifestou interesse em conquistar Roma fato que deixou a Itaacutelia em
alerta poreacutem a questatildeo da Liacutebia natildeo se trata de uma preocupaccedilatildeo apenas para as autoridades
italianas mas tambeacutem para toda Europa7
Assim apoacutes a Segunda Guerra Mundial notou-se a importacircncia da proteccedilatildeo
internacional dos refugiados situaccedilatildeo que culminou na elaboraccedilatildeo da Convenccedilatildeo de 1951
mas muito tempo passou e a relevacircncia da referida proteccedilatildeo internacional continua os fatos
mudaram poreacutem a proteccedilatildeo dos refugiados a niacutevel internacional eacute de suma importacircncia para
3 NICHOLSON Frances TURK Volker Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos Global
Consultations on International Protection Part 1 Refugee Protection in International Law an overall
perspective Cambridge Cambridge 2003 4 MARS Amanda ONU alerta que o mundo vive a pior crise humanitaacuteria em 70 anos 2017 In El Paiacutes Brasil
Disponiacutevel em httpsbrasilelpaiscombrasil20170311internacional1489186916_587899html Acesso
em 03012020 5 ACNUR Refugiados Disponiacutevel em httpswwwacnurorgportuguesquem-ajudamosrefugiados Acesso
em 03012020 6 NATIONAL POST National Post View Stabilizing Libya may be the best way to keep Europe safe
Disponiacutevel em httpsnationalpostcomopinionnational-post-view-stabilizing-libya-may-be-the-best-way-
to-keep-europe-safe Acesso em 06012020 7Ibidem
13
promover a dignidade humana princiacutepio base de grande parte dos ordenamentos juriacutedicos
no mundo8
Apoacutes o teacutermino da Guerra Fria surgiram vaacuterios conflitos como na ex-Iugoslaacutevia
Caacuteucaso Grandes Lagos e Afeganistatildeo tais conflitos forccedilaram a fuga de pessoas e tal ecircxodo
se deve agraves perseguiccedilotildees de diversas motivaccedilotildees (poliacutetica religiosa eacutetnica etc) sendo assim
estas pessoas podem ser enquadradas no conceito de ldquorefugiadordquo presente na Convenccedilatildeo de
1951 que veremos adiante9
Eacute bem verdade que a comunidade internacional deve zelar pela proteccedilatildeo
internacional dos refugiados mas ressalta-se que o deslocamento de milhares de refugiados
a um determinado Estado pode trazer problemas nas situaccedilotildees de concessatildeo de asilo Assim
alguns paiacuteses na Europa estatildeo sofrendo com excesso de refugiados como Itaacutelia Alemanha e
Franccedila
A partir de situaccedilotildees de excessos como mencionado acima surge o desafio de
compartilhar responsabilidades ou seja natildeo apenas um ou poucos paiacuteses a ter que arcar com
todos os ocircnus dos refugiados Portanto deve haver medidas para que haja uma distribuiccedilatildeo
dos ocircnus referentes aos refugiados10 Situaccedilatildeo essa que a Convenccedilatildeo de Dublin (juntamente
com suas duas reformas) tentou resolver no entanto ainda haacute falhas e a proposta de um
novo pacto foi apresentada como seraacute visto no decorrer deste trabalho
Nos paiacuteses que estatildeo sobrecarregados com as ldquoobrigaccedilotildeesrdquo referentes aos refugiados
comeccedilou a aumentar a xenofobia e intoleracircncia aos estrangeiros Isso se deve por diversos
motivos como por exemplo o receio de que o excesso de refugiados pode por ventura
tentar impor sua cultura no novo paiacutes ou paiacutes de asilo como acontece em alguns bairros do
subuacuterbio de Paris em que mulheres natildeo satildeo bem-vindas em cafeacutes (situaccedilatildeo ldquojustificadardquo
pela submissatildeo da mulher na cultura islacircmica)11 e tambeacutem devido ao fato de muitos
refugiados serem de origem islacircmica tambeacutem haacute o temor de atentados terroristas
principalmente apoacutes os atentados nos Estados Unidos em que houve uma maior
preocupaccedilatildeo de analisar com mais atenccedilatildeo o previsto na Convenccedilatildeo de 195112
8 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 9 Ibidem 10 Ibidem 11 FRANCE 24 English Focus Women made to keep low profile in some French suburbs Disponiacutevel em
httpswwwyoutubecomwatchv=6gZFGpNdH1A Acesso em08012020 12 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit
14
12 Convenccedilatildeo de 1951 e o Protocolo de 1967
A Convenccedilatildeo de 1951 e o Protocolo de 1967 satildeo documentos de proteccedilatildeo
internacional dos refugiados portanto tecircm abrangecircncia mundial Assim neles constam os
princiacutepios baacutesicos a respeito do assunto devendo ser a base do regime de proteccedilatildeo aos
refugiados nos demais ordenamentos juriacutedicos
O Protocolo de 1967 serviu para complementar a Convenccedilatildeo de 1951 como consta
expressamente que o conceito de refugiado deveria ser ampliado conforme consta no artigo
1ordm paraacutegrafo 2ordm do documento13
Um dos maiores desafios do Alto Comissariado da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas
para os Refugiados (ACNUR) eacute de zelar pelo cumprimento destes documentos e para isto
eacute necessaacuterio que a comunidade internacional se una em prol da proteccedilatildeo internacional dos
refugiados14
121 Conceito de Refugiado
O conceito de refugiado que consta na Convenccedilatildeo de 1951 no artigo 1ordm item 2
refugiado eacute aquela pessoa que
() temendo ser perseguida por motivos de raccedila religiatildeo nacionalidade grupo
social ou opiniotildees poliacuteticas se encontra fora do paiacutes de sua nacionalidade e que
natildeo pode ou em virtude desse temor natildeo quer valer-se da proteccedilatildeo desse paiacutes ou
que se natildeo tem nacionalidade e se encontra fora do paiacutes no qual tinha sua
residecircncia habitual em consequumlecircncia de tais acontecimentos natildeo pode ou devido
ao referido temor natildeo quer voltar a ele15
Os refugiados consistem em uma categoria de pessoas que fogem de seus paiacuteses por
temer perseguiccedilatildeo por motivos de raccedila religiatildeo nacionalidade grupo social ou opiniotildees
poliacuteticas assim se encontram fora do paiacutes de sua nacionalidade e que natildeo podem ou em
virtude desse temor natildeo quer valer-se mais da proteccedilatildeo do seu paiacutes de origem ou natal
13 ACNUR PROTOCOLO DE 1967 Relativo ao Estatuto dos Refugiados Disponiacutevel
httpswwwacnurorgfileadminDocumentosportuguesBD_LegalInstrumentos_InternacionaisProtocolo_
de_1967pdf Acesso em 05032020 14 Ibidem 15 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951
Disponiacutevel em
httpswwwacnurorgfileadminDocumentosportuguesBDLConvencao_relativa_ao_Estatuto_dos_Refugi
adospdf Acesso em 03012020
15
portanto passam a vincular ao ordenamento juriacutedico do paiacutes de asilo submetidos agrave
legislaccedilatildeo desse novo paiacutes assim como estatildeo sujeitos os cidadatildeos presentes no territoacuterio do
paiacutes que os acolheu isto eacute em casos de ofensas agrave lei e agrave ordem puacuteblica no paiacutes de asilo os
refugiados estatildeo sujeitos agraves leis domeacutesticas16
A Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo de Unidade Africana de 1969 em seu artigo I nordm 2
traz a seguinte conceituaccedilatildeo de refugiado
() qualquer pessoa que devido a uma agressatildeo ocupaccedilatildeo externa dominaccedilatildeo
estrangeira ou a acontecimentos que perturbem gravemente a ordem puacuteblica numa
parte ou na totalidade do seu pais de origem ou do pais de que tem nacionalidade
seja obrigada a deixar o lugar da residecircncia habitual para procurar refuacutegio noutro
lugar fora do seu paiacutes de origem ou de sua nacionalidade17
Assim o conceito de refugiado eacute amplo pois engloba vaacuterios fatores como raccedila
religiatildeo nacionalidade grupo social e opiniatildeo poliacutetica A perseguiccedilatildeo presente no citado
dispositivo natildeo se refere somente agraves questotildees individuais como tambeacutem agraves questotildees
coletivas isto eacute ldquoacontecimentos de natureza geral que envolve toda uma comunidaderdquo18
Portanto deve-se analisar caso a caso para que natildeo sejam cometidas injusticcedilas
Poreacutem natildeo se deve confundir os conceitos de migrante econocircmico com o de
refugiado propriamente dito Assim o migrante econocircmico deixa seu paiacutes fugindo da
pobreza e situaccedilatildeo de miseacuteria enquanto o refugiado abandona seu paiacutes sua famiacutelia fugindo
de perseguiccedilatildeo e risco de morte Aleacutem disso o migrante econocircmico normalmente planeja
para onde ir agraves vezes jaacute possui algum viacutenculo no paiacutes de destino o refugiado natildeo possui
dinheiro natildeo sabe para qual paiacutes ir (apenas quer sair do lugar onde sua vida corre risco) natildeo
sabe a liacutengua e nem a cultura do paiacutes tendo que aprender a viver novamente19
122 Pontos Importantes Relativos agrave Proteccedilatildeo Internacional
Sabe-se da importacircncia dos pontos relativos agrave perseguiccedilatildeo baseada no gecircnero
requerimento de refuacutegio solicitado por crianccedilas ou com base na orientaccedilatildeo sexual embora
16 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 17 ORGANIZACcedilAtildeO DE UNIDADE AFRICANA Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo de Unidade Africana que Rege
os Aspectos Especiacuteficos dos Problemas dos Refugiados em Aacutefrica Disponiacutevel em
httpwwwdhnetorgbrdireitossipafricaouahtm Acesso em 17012020 18 CIERCO Teresa A Instituiccedilatildeo de Asilo na Uniatildeo Europeia Almedina Coimbra 2010 p 59 19 Ibidem
16
esse tema especiacutefico natildeo tenha sido abordado neste trabalho por ser especiacutefico e natildeo
pertencer ao tema central do trabalho No que tange agrave religiatildeo e grupos especiacuteficos fez-se
uma abordagem geral por constarem no conceito de refugiados no artigo 1ordm da Convenccedilatildeo
de 1951
Alguns desses pontos importantes possuem diretrizes publicadas pelo ACNUR que
foram elaboradas em uma mesa redonda juntamente com Church World Service em 2002
nos Estados Unidos20 No entanto devido a importacircncia do princiacutepio do non-refoulement
(natildeo-repulsatildeo) este seraacute desenvolvido no final do presente capiacutetulo
a) Entrada ilegal
Um ponto importante a se analisar no que tange agrave proteccedilatildeo internacional dos
refugiados eacute a entrada ilegal disciplinada no artigo 31 da Convenccedilatildeo de 1951 ou seja os
refugiados que chegarem a determinado paiacutes sem autorizaccedilatildeo natildeo devem ser penalizados
caso estejam fugindo de situaccedilatildeo em que a vida esteja ameaccedilada para isto eles devem se
apresentar o mais raacutepido possiacutevel para as autoridades demonstrando assim boa-feacute em sua
entrada ilegal21
A este respeito tem-se que os indiviacuteduos que entram ilegalmente em algum paiacutes e
requerem asilo possuem a presunccedilatildeo desse direito ateacute que se demonstre a natildeo necessidade
de proteccedilatildeo internacional atraveacutes do devido processo legal o nuacutemero 2 do artigo 31 dispotildee
que os Estados devem aplicar apenas as restriccedilotildees ldquonecessaacuteriasrdquo ateacute a regularizaccedilatildeo do
refugiado ressalta-se que sempre deve haver respeito aos direitos humanos22
No que se refere agrave regularizaccedilatildeo do refugiado entende-se que nos casos de entrada
ilegal o indiviacuteduo deve se apresentar o mais raacutepido possiacutevel para as autoridades os Estados
devem aguardar a regularizaccedilatildeo do refugiado seja no paiacutes em que estaacute ou em outro paiacutes que
o tenha admitido23
20 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Disponiacutevel em httpswwwacnurorgportugueswp-
contentuploads201802Manual_de_procedimentos_e_critC3A9rios_para_a_determinaC3A7C3
A3o_da_condiC3A7C3A3o_de_refugiadopdf Acesso em 16012020 21 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 22 Ibidem 23 GOODWIN-GILL Guy S Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos Global Consultations on
International Protection Part 3 Article 31 of the 1951 Convention Relating to the Status of Refugees non-
penalization detention and protection Cambridge Cambridge 2003
17
Poreacutem mesmo com a existecircncia do artigo 31 da Convenccedilatildeo muitos dos indiviacuteduos
que entram ilegalmente nos paiacuteses satildeo encaminhados para centros de detenccedilatildeo (na Europa
Ameacuterica do Norte e Austraacutelia) Alguns paiacuteses como a Aacuteustria Beacutelgica Alemanha e Franccedila
possuem centros especiais de detenccedilatildeo para aprisionar indiviacuteduos relativos agrave imigraccedilatildeo que
em muitos casos natildeo haacute periacuteodos preacute-fixados nessas prisotildees mas devido agrave alta demanda
surge outro problema muitos indiviacuteduos satildeo aprisionados em centros de detenccedilatildeo comum
sem separaccedilatildeo com os presos comuns (condenados por crimes)24
Neste cenaacuterio nota-se que natildeo eacute razoaacutevel aplicar a penalidade de detenccedilatildeo ao
indiviacuteduo que natildeo cometeu crime algum mas apenas fugiu de algum lugar no qual sua vida
estava em risco Poreacutem cada paiacutes tem sua legislaccedilatildeo a respeito da entrada ilegal e possui o
poder de soberania de controlar o fluxo de entrada e saiacuteda do paiacutes bem como a fixaccedilatildeo de
residecircncia nesse sentido a jurisprudecircncia do Tribunal Europeu de Direitos Humanos diz
que apesar deste poder soberano deve-se respeitar o que estaacute previsto na Convenccedilatildeo
Portanto a detenccedilatildeo provisoacuteria eacute permitida quando se faz necessaacuterio alguma investigaccedilatildeo
preliminar poreacutem a detenccedilatildeo administrativa eacute permitida nos termos do que estaacute previsto no
artigo 31 nordm 2 da Convenccedilatildeo de 1951 ou seja somente as restriccedilotildees necessaacuterias podem ser
impostas aos requerentes de asilo dentre estas pode incluir a prisatildeo administrativa em alguns
casos Ressalta-se que apesar do indiviacuteduo estar detido natildeo se deve privaacute-lo da possibilidade
de requerer asilo e portanto de obter o status de refugiado25
Neste aspecto percebemos uma controveacutersia pois o artigo 14 da Declaraccedilatildeo
Universal dos Direitos Humanos dispotildee sobre a requisiccedilatildeo de asilo de que eacute um direito de
todos que sofrem algum tipo de perseguiccedilatildeo aleacutem disso o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo faz
com que os Estados natildeo rejeitem os refugiados devolvendo-os para locais onde suas vidas
correm risco Poreacutem a controveacutersia estaacute na situaccedilatildeo de que muitas vezes satildeo impostas
restriccedilotildees de liberdade aos requerentes de asilo Defende-se portanto que deve haver
alguma razoabilidade para justificar a restriccedilatildeo de liberdade26
24 GOODWIN-GILL Guy S Op cit 25 Ibidem 26 Ibidem
18
b) Pertencimento a um grupo social especiacutefico
No artigo 1ordm da Convenccedilatildeo de 1951 conforme citado acima consta a expressatildeo
ldquogrupo socialrdquo pela qual o conceito descreve a situaccedilatildeo de ser perseguido por pertencer
algum ldquogrupo socialrdquo Nesse sentido o assunto eacute abordado na Diretriz Sobre a Proteccedilatildeo
Internacional nordm227 Ao questionar o que seria tal expressatildeo ldquogrupo socialrdquo analisa-se se se
aquele grupo possui caracteriacutesticas distintas sendo estas imutaacuteveis ou inerentes agrave dignidade
humana que dificilmente se consegue separar o indiviacuteduo dessa caracteriacutestica28
Nesse sentido pode-se entender o conceito a partir da ideia de ldquocaracteriacutesticas
protegidasrdquo ou seja nesta ideia uma caracteriacutestica considerada imutaacutevel consiste em
criteacuterios de sexo e etnia por exemplo e tambeacutem em situaccedilotildees nas quais as caracteriacutesticas
satildeo inalteraacuteveis por diversos motivos (sendo intriacutenseca agrave dignidade humana) como por
exemplo fatos histoacutericos ou status passado Tal ideia eacute comumente adotada no Canadaacute
Estados Unidos e Reino Unido29
Entatildeo ao se abordar o aspecto de ldquogrupo socialrdquo a partir de uma ldquopercepccedilatildeo socialrdquo
conceitua que um grupo social pode se diferenciar da sociedade em geral a partir de uma
caracteriacutestica que diferencia seus indiviacuteduos de toda a sociedade Este entendimento eacute
adotado pela jurisprudecircncia australiana30
Tais abordagens podem gerar conflitos pois podem convergir fazendo com que as
pessoas que satildeo diferenciadas a partir de uma caracteriacutestica imutaacutevel ou fundamental
(intriacutenseca) podem tambeacutem serem diferenciadas por caracteriacutesticas que os distinguem do
resto da sociedade Portanto podem surgir lacunas no que tange a proteccedilatildeo quando
analisadas isoladamente31
Este aspecto tem sido muito utilizado para enquadrar as pessoas requerentes de asilo
assim os Estados entendem como grupos especiacuteficos homossexuais famiacutelias tribos grupos
profissionais com base no previsto na Convenccedilatildeo de 1951 Portanto tal ideia aprofunda o
conceito de refugiado32
27 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit p 91 28 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 29 Ibidem 30 Ibidem 31 Ibidem 32 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit p 91
19
Entretanto natildeo se pode amplificar demasiadamente tal ideia isto eacute natildeo se aplica em
todo e qualquer caso poreacutem a ideia de pertencer a um grupo social especiacutefico deve ser
entendida de forma evolutiva com base nas sociedades e nas normas internacionais de
direitos humanos33
c) Solicitaccedilotildees de Refuacutegio com base na Religiatildeo
Antes de adentrar na situaccedilatildeo de solicitaccedilatildeo de refuacutegio em razatildeo da religiatildeo precisa-
se primeiro entender no que consiste o termo ldquoreligiatildeordquo Sendo assim a Convenccedilatildeo de 1951
apesar de trazer no conceito de refugiado a religiatildeo como uma das motivaccedilotildees de
perseguiccedilotildees natildeo trouxe o conceito de religiatildeo Portanto entende-se de forma interpretativa
a definiccedilatildeo de religiatildeo como sendo a liberdade de pensamento consciecircncia e credo dessa
forma o conceito engloba tambeacutem a possibilidade de natildeo possuir religiatildeo ou natildeo adotar
nenhuma crenccedila relacionada agrave religiatildeo34
Nesse sentido a Diretriz Sobre Proteccedilatildeo Internacional nordm6 dispotildee sobre a utilidade
dos artigos 18 da Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos (DUDH) e dos artigos 18 e
27 do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Poliacuteticos bem como outros documentos
internacionais que norteiam o entendimento do termo ldquoreligiatildeordquo na conjuntura do Direito
Internacional dos Refugiados35
Portanto em razatildeo do explicado acima requisiccedilotildees de refuacutegio baseadas em religiatildeo
satildeo situaccedilotildees complicadas pois os agentes que analisam a situaccedilatildeo de cada indiviacuteduo nem
sempre aplicam de forma correta a definiccedilatildeo de religiatildeo Ressalta-se que de acordo com o
Direito Internacional dos Direitos Humanos a liberdade religiosa de pensamento e
consciecircncia satildeo considerados direitos fundamentais36
Dessa forma ao requerer refuacutegio os indiviacuteduos podem se basear nos seguintes
elementos relativos agrave religiatildeo crenccedila ou descrenccedila identidade e estilo de vida Assim a
religiatildeo referente agrave ldquocrenccedilardquo inclui tanto as pessoas que acreditam em alguma divindade
quanto aos que natildeo acreditam quanto agrave ldquoidentidaderdquo refere pertencer a uma religiatildeo no
33 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit p 91 34 Ibidem 35 Ibidem 36 Ibidem
20
sentido de uma comunidade de pessoas que acreditam nas mesmas ideias e por fim quanto
ldquoestilo de vidardquo consiste em situaccedilotildees em que a religiatildeo pode se manifestar de diversas
formas como por exemplo o uso de vestimentas e praacuteticas especiacuteficas 37
O indiviacuteduo pode sofrer perseguiccedilatildeo religiosa de vaacuterias maneiras como a proibiccedilatildeo
de se filiar a alguma comunidade religiosa ou impor medidas discriminatoacuterias pelo motivo
da religiatildeo Tal situaccedilatildeo eacute mais comumente observada em paiacuteses que haacute uma religiatildeo que
predomina ou que haja uma estreita relaccedilatildeo entre Estado e religiatildeo assim uma pessoa que
natildeo segue a religiatildeo dominante por vezes acaba sofrendo algum tipo de perseguiccedilatildeo38
d) Fuga Interna ou alternativa do deslocamento
Um ponto muito discutido a respeito do Direito dos Refugiados eacute sobre a fuga interna
ou alternativa do deslocamento (assunto abordado na Diretriz Sobre Proteccedilatildeo Internacional
nordm 439) pois tal conceito consiste na ideia daquele indiviacuteduo que sofre algum tipo de
perseguiccedilatildeo poder buscar refuacutegio dentro do seu paiacutes de origem Mas de acordo com o Direito
Internacional natildeo eacute necessaacuterio que sejam esgotados os recursos no paiacutes de origem portanto
natildeo se exige que o refuacutegio seja o uacuteltimo recurso40
Nesse sentido na deacutecada de 1980 alguns paiacuteses concedentes de asilo utilizavam esse
conceito como motivo para negar asilo poreacutem natildeo consta nada de forma expressa na
Convenccedilatildeo de 1951 Assim entende-se que a melhor opccedilatildeo nesse aspecto eacute analisar caso a
caso41 Assim sugere-se uma situaccedilatildeo de anaacutelise em duas etapas o risco de perseguiccedilatildeo (por
motivos previstos na Convenccedilatildeo de 1951) em alguma aacuterea do paiacutes de origem e depois analisa
a possibilidade do requerente de asilo ser protegido pelo paiacutes de origem42
Como vimos na definiccedilatildeo de refugiado consta os termos ldquotemendo ser perseguidardquo
e ldquonatildeo pode ou em virtude desse temor natildeo quer valer-se da proteccedilatildeo desse paiacutesrdquo tais
expressotildees devem ser entendidas juntamente com o conceito da alternativa de fuga ou
37 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit 38 Ibidem 39 Ibidem p 107 40 Ibidem 41 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 42 FOSTER Michelle HATHAWAY James C Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos Global
Consultations on International Protection Part 6 Internal ProtectionRelocationFlight Alternative
Cambridge Cambridge 2003
21
deslocamento interno Ressalta-se que natildeo satildeo conceitos contraditoacuterios poreacutem a relaccedilatildeo
entre esses conceitos deve-se analisar os casos separadamente Na anaacutelise individual de cada
caso como mencionado acima dois aspectos devem ser levados em consideraccedilatildeo
relevacircncia e razoabilidade 43
Ao se analisar a relevacircncia deve-se ter em mente se a aacuterea na qual propotildeem o
deslocamento se tal accedilatildeo eacute acessiacutevel facilmente de forma segura e que natildeo infrinja normas
quem eacute o agente perseguidor pois se for o Estado este iraacute perseguir o indiviacuteduo em todo o
territoacuterio ou caso o agente natildeo seja o Estado se haacute a possibilidade deste agente perseguidor
acessar as aacutereas de fuga ou deslocamento interno e se apoacutes o deslocamento haver a
possibilidade de o indiviacuteduo continuar a ser perseguido ou sofrer algum outro dano grave44
No que tange a razoabilidade a anaacutelise eacute mais simples ou seja analisa-se a
possibilidade do indiviacuteduo conseguir ter uma vida digna sem perseguiccedilotildees Essa anaacutelise
deve ser tanto objetiva quanto subjetiva isto eacute considerar o indiviacuteduo e as condiccedilotildees de fuga
ou deslocamento Os criteacuterios a serem analisados satildeo caracteriacutesticas pessoais (analisam-se
fatores como a idade sexo a famiacutelia se possui alguma deficiecircncia escolaridade situaccedilotildees
de vulnerabilidade etc) perseguiccedilatildeo preteacuterita (consiste no indiviacuteduo possuir algum trauma
ocasionado por perseguiccedilotildees no passado) proteccedilatildeo e seguranccedila respeito aos direitos
humanos e subsistecircncia econocircmica45
Entende-se portanto que natildeo se deve justificar a negaccedilatildeo da condiccedilatildeo de refugiado
com base nos conceitos de alternativa de fuga ou deslocamento interno tendo em vista os
princiacutepios dos direitos humanos que zelam pela proteccedilatildeo internacional Dessa forma as
pessoas tecircm o direito de saiacuterem dos seus paiacuteses buscando uma vida mais segura longe de
situaccedilotildees que podem colocar a vida em perigo46
Nesse sentido vimos anteriormente que na Convenccedilatildeo da OUA parte do conceito de
refugiados traz a seguinte expressatildeo relacionando a acontecimentos que ldquoperturbem
gravemente a ordem puacuteblica numa parte ou na totalidade do seu paiacutes de origem ou do paiacutes
de que tem nacionalidaderdquo assim depreende-se que natildeo eacute necessaacuterio que todo o paiacutes esteja
em crise para que uma pessoa possa requerer refuacutegio em outro paiacutes47
43 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit 44 Ibidem 45 Ibidem 46 Ibidem 47 Ibidem
22
e) Aplicaccedilatildeo das Claacuteusulas de Exclusatildeo
A Convenccedilatildeo de 1951 no artigo 1- F traz as claacuteusulas de exclusatildeo isto eacute situaccedilotildees
em que o previsto no mencionado diploma natildeo deve ser aplicado Assim estas situaccedilotildees
referem-se agraves pessoas que
() cometeram um crime contra a paz um crime de guerra ou um crime contra a
humanidade no sentido dos instrumentos internacionais elaborados para prever
tais crimes
() cometeram um crime grave de direito comum fora do paiacutes de refuacutegio antes de
serem nele admitidas como refugiados
() se tornaram culpadas de atos contraacuterios aos fins e princiacutepios das Naccedilotildees
Unidas48
A respeito das disposiccedilotildees acima tem-se que o primeiro item (artigo 1F ldquoardquo) e o
uacuteltimo (artigo 1F ldquocrdquo) satildeo atemporais ou seja dizem respeito a crimes ocorridos em
qualquer tempo Contudo no artigo 1F ldquobrdquo referem-se a crimes cometidos em momento
anterior ao ser considerado refugiado e que tenham ocorrido em local fora do paiacutes de
refuacutegio49
Assim situaccedilotildees como abrigar os genocidas responsaacuteveis pelo massacre ocorrido em
Ruanda no ano de 1994 contraria o disposto na Convenccedilatildeo de 1951 pois natildeo seria justo
ajudar quem jaacute provocou muita dor e tristeza e tambeacutem contribuiu para fuga de muitas
pessoas para natildeo serem mortas em seus paiacuteses como o proacuteprio documento jaacute dispotildee alguns
atos satildeo de extrema gravidade que os autores de determinadas accedilotildees satildeo indignos de proteccedilatildeo
internacional e portanto tais pessoas devem enfrentar a justiccedila e pagarem pelos seus atos50
Os mencionados dispositivos tem a motivaccedilatildeo de excluir do conceito de refugiado
pessoas que praticaram crimes graves e assim natildeo deveriam ser protegidos pela Convenccedilatildeo
Nesse sentido natildeo se deveria portanto conceder asilo agrave pessoa perseguida por cometer um
crime poreacutem a interpretaccedilatildeo correta eacute a de que natildeo deve ser permitido o asilo para pessoas
que pedem a proteccedilatildeo com intuito de fugir da penalidade mas tambeacutem natildeo se pode admitir
que pessoa seja enviada para um local onde seus direitos humanos baacutesicos seratildeo violados
48 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951 Op
cit 49 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit 50 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit
23
uma alternativa para este caso eacute o cumprimento da penalidade dos seus atos em algum local
seguro onde teraacute sua dignidade respeitada
Portanto a aplicaccedilatildeo da exclusatildeo deve ser feita com muita cautela e de forma
extremamente restrita e priorizando sempre os direitos humanos devendo-se evitar
resultados graves ao excluir pessoas da proteccedilatildeo internacional Portanto passa-se a analisar
mais detalhadamente as situaccedilotildees de exclusatildeo
bull Crimes contra a paz crimes de guerra e crimes contra a humanidade
No que se refere a essa linha de crimes satildeo vaacuterios diplomas internacionais que
disciplinam o assunto quais sejam Convenccedilatildeo de 1948 sobre a Prevenccedilatildeo e Puniccedilatildeo do
Crime de Genociacutedio as Convenccedilotildees de Genebra de 1949 para a Proteccedilatildeo de Viacutetimas de
Guerra (junto com os Protocolos Adicionais de 1977) os Estatutos dos Tribunais Penais
Internacionais para a Ex-Iugoslaacutevia e Ruanda a Carta de Londres e o Estatuto de Roma (que
disciplina o Tribunal Penal Internacional sediado em Haia)51
Entre esses documentos a Carta de Londres que consiste na Carta do Tribunal
Militar Internacional de 1945 conceitua os crimes contra a paz da seguinte maneira
ldquonamely planning preparation initiation or waging of a war of aggression or a war in
violation of international treaties agreements or assurances or participation in a common
plan or conspiracy for the accomplishment of any of the foregoingrdquo52
Portanto atos que envolvam o planejamento preparaccedilatildeo e iniacutecio de guerra que uma
guerra desrespeite disposiccedilotildees internacionais (tratados compromissos acordos etc) ou
alguma conspiraccedilatildeo ou plano para promover quaisquer das situaccedilotildees mencionadas acima
Nota-se entatildeo que tais crimes somente podem ser praticados por autoridades ou pessoas
que possuem cargos importantes em um governo53
Da mesma maneira o supramencionado diploma tambeacutem conceitua os crimes de
guerra como segue
51 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit 52 UNITED NATIONS Charter of the International Military Tribunal 1945 Disponiacutevel em
httpswwwunorgengenocidepreventiondocumentsatrocity-
crimesDoc2_Charter20of20IMT201945pdf Acesso em 21012020 53 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit
24
Namely violations of the laws or custos of war Such violations shall include but
not be limited to murder ill-treatment or deportation to slave labour or for any
other purpose of civilian population of or in occupied territory murder or ill-
treatment of prisoners of war or persons on the seas killing of hostages plunder
of public or private property wanton destruction of cities towns or villages or
devastation not justified by military necessity54
Nesse sentido violaccedilotildees do Direito Internacional Humanitaacuterio podem consistir em
crimes de guerra portanto essa categoria de crimes inclui trabalho escravo tratamento
degradante torturas ataques contra populaccedilatildeo civil sem qualquer propoacutesito maus tratos de
prisioneiros de guerras assassinatos de refeacutens destruiccedilatildeo de cidades ou devastaccedilatildeo natildeo
justificada atraveacutes de uma necessidade militar
Por fim a conceituaccedilatildeo de crimes contra a humanidade na Carta de Londres eacute a
seguinte
Namely murder extermination enslavement deportation and other inhumane
acts committed against any civilian population before or during the war or
persecutions on political racial or religious grounds in execution of or in
connection with any crime within the jurisdiction of the Tribunal whether or not
in violation of the domestic law of the country where perpetrated55
Assim esse tipo de crime deve ser contra a populaccedilatildeo e ocorrer sob a forma de um
ataque generalizado e sistemaacutetico mas natildeo exclui alguma situaccedilatildeo em que um uacutenico ato
possa ser considerado crime contra a humanidade ou seja se este ato consistir em parte de
um sistema ou se faz parte de uma seacuterie de atos sistemaacuteticos e repetitivos 56 No entanto
repete-se o indiviacuteduo natildeo deve ser enviado para local natildeo seguro
bull Graves delitos comuns natildeo-poliacuteticos
Essa categoria trata de crimes graves assim faz-se necessaacuterio analisar a questatildeo da
gravidade ou seja se determinado crime eacute grave o bastante portanto os criteacuterios
internacionais devem predominar perante os criteacuterios locais Nesse aspecto alguns pontos
devem ser analisados como natureza do ato e da pena o dano causado o que foi utilizado
54 UNITED NATIONS Charter of the International Military Tribunal 1945 Op cit 55 Ibidem 56 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit
25
para a praacutetica do crime e o que o crime em questatildeo representa em grande parte dos
ordenamentos juriacutedicos57
Aleacutem do aspecto da gravidade outro ponto faz parte desta categoria de crimes isto
eacute crimes natildeo-poliacuteticos Como o proacuteprio nome jaacute diz satildeo crimes praticados por motivos
particulares portanto o crime natildeo deve ter relaccedilatildeo com motivos poliacuteticos ou pelo menos se
houver algum tipo de motivaccedilatildeo poliacutetica a proporccedilatildeo do objetivo poliacutetico deve ser muito
inferior ao motivo particular58
O dispositivo tambeacutem prevecirc sobre o local e tempo da praacutetica do ato ou seja o crime
deve ter ocorrido fora do paiacutes de refuacutegio e anterior agrave aceitaccedilatildeo do indiviacuteduo no paiacutes de asilo
Assim em situaccedilotildees de que o indiviacuteduo comete um crime no paiacutes de refuacutegio podem correr
o risco de serem expulsos conforme o previsto nos artigos 32 e 33 nordm 2 da Convenccedilatildeo de
195159 No entanto veremos adiante que o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo (previsto no artigo 33
da referida Convenccedilatildeo) natildeo admite reservas ou seja o indiviacuteduo natildeo pode ser repelido isto
eacute enviado de volta para o paiacutes de origem sendo que laacute seria submetido agrave condiccedilotildees
desumanas e degradantes
bull Atos contraacuterios aos objetivos e princiacutepios das Naccedilotildees Unidas
Este dispositivo raramente eacute aplicado pois deve ser interpretado de forma restritiva
Assim na maioria das vezes aplica-se aos casos o previsto nos itens ldquoardquo e ldquobrdquo do dispositivo
A aplicaccedilatildeo deste dispositivo restringe-se em situaccedilotildees pontuais nas quais o ato cometido
afronta os pilares da coexistecircncia da comunidade internacional60
Entatildeo como jaacute visto sobre as Claacuteusulas de Exclusatildeo o ACNUR publicou a Diretriz
Sobre Proteccedilatildeo Internacional nordm5 Neste aspecto tem-se que a razatildeo mais importante das
claacuteusulas de exclusatildeo eacute o impedimento de pessoas que jaacute cometeram atrocidades possam sair
impunes de seus atos atraveacutes do refuacutegio poreacutem como jaacute explicado acima devem ser
57 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit 58 Ibidem 59 Ibidem 60 Ibidem
26
aplicadas de maneira extremamente restritiva de forma que uma pessoa natildeo deve ser enviada
para um local onde teraacute seus direitos humanos violados61
Uma soluccedilatildeo para essa situaccedilatildeo como jaacute mencionado eacute o cumprimento da
penalidade em algum paiacutes seguro ou seja natildeo enviar a pessoa para a tortura ou tratamentos
desumanos ou degradantes poreacutem natildeo deixar a pessoa impune devendo cumprir a sua pena
O instituto do asilo natildeo deve ser requerido com intuito de se esquivar do cumprimento da
pena
Poreacutem natildeo deve deixar o indiviacuteduo em situaccedilatildeo de risco mesmo que tenha cometido
um crime Neste caso propotildee-se a possibilidade de enviar o indiviacuteduo para um outro paiacutes
que natildeo seja colocado em risco Cita-se a Convenccedilatildeo Americana sobre os Direitos Humanos
e a Declaraccedilatildeo de Cartagena como exemplos de que o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo natildeo estaacute
sujeito agrave exceccedilatildeo no contexto dos direitos humanos natildeo haacute possibilidade de limitaccedilatildeo do
mencionado princiacutepio62
Haacute muita discussatildeo a respeito das situaccedilotildees de exceccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo
nesse sentido Bethlehem e Lauterpacht citam as diretrizes para elaboraccedilatildeo da legislaccedilatildeo
nacional realizada por um grupo de pessoas da Organizaccedilatildeo da Unidade Africana (OUA) e
o ACNUR dispotildeem que nenhuma pessoa deve ser rejeitada devolvida expulsa ou submetida
agrave condiccedilotildees que colocam em risco sua integridade fiacutesica ou liberdade Portanto de acordo
com esses documentos natildeo haacute nenhuma restriccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo63
A respeito dessas diretrizes observa-se que a tendecircncia a respeito dessas exceccedilotildees
tem sofrido uma evoluccedilatildeo desde 1951 sendo que se excluiria qualquer tipo de exclusatildeo da
aplicaccedilatildeo da natildeo-repulsatildeo Entatildeo o indiviacuteduo natildeo poderia ser rejeitado eou enviado de volta
para qualquer situaccedilatildeo que colocasse em risco a vida a liberdade ou a integridade fiacutesica
Ressalta-se que na mentalidade dos redatores da Convenccedilatildeo de 1951 haveria a possibilidade
das exclusotildees de aplicaccedilatildeo do non-refoulement mas adotar essa interpretaccedilatildeo atualmente
deixaria este princiacutepio fora de sintonia com os desenvolvimentos mais recentes das
legislaccedilotildees64
61 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit 62 BETHLEHEM Daniel LAUTERPACHT Sir E Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos
Global Consultations on International Protection Part 2 Non-refoulement (Article 33 of the 1951 Convention)
- The scope and content of the principle of non-refoulement Opinion Cambridge Cambridge 2003 63 Ibidem 64 BETHLEHEM Daniel LAUTERPACHT Sir E Op cit
27
A este respeito Bethlehem e Lauterpacht expotildeem suas opiniotildees no sentido de que
as exceccedilotildees previstas no artigo 33 da Convenccedilatildeo de 1951 devem ser limitadas e respeitar o
devido processo legal ou seja segundo eles somente em situaccedilatildeo a respeito de seguranccedila
nacional ou risco ordem puacuteblica que poderia devolverexpulsarrejeitar o indiviacuteduo mas natildeo
deve haver exceccedilatildeo a natildeo-repulsatildeo caso este seja submetido agrave situaccedilotildees degradantes tortura
eou tratamentos crueacuteis pois tal princiacutepio de proteccedilatildeo possui caraacuteter humanitaacuterio Em casos
extremos de aplicaccedilatildeo de alguma exceccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo repulsatildeo eacute de extrema
importacircncia que o Estado adote medidas razoaacuteveis para que o indiviacuteduo seja admitido em
um paiacutes terceiro seguro65
O artigo 33 natildeo identifica quais os atos que configurariam uma ameaccedila agrave seguranccedila
nacional portanto ficaria a cargo de uma margem de apreciaccedilatildeo dos Estados poreacutem esta
apreciaccedilatildeo como jaacute explicado deve ser limitada sendo que deve haver ldquomotivos razoaacuteveisrdquo
para considerar um indiviacuteduo perigoso para a seguranccedila do paiacutes em que estaacute Sendo assim
o Estado natildeo pode agir de forma arbitraacuteria e deve analisar especificamente se haacute um risco
futuro comprovado com evidecircncias66
Entatildeo vimos que a regra eacute a natildeo-repulsatildeo caso se avente a possibilidade de enviar
o indiviacuteduo para outro paiacutes como no caso de cometimento de algum tipo de crime o Estado
deve assegurar que a pessoa natildeo seja enviada para um local em que seus direitos humanos
seratildeo violados No entanto ressalta-se que a concessatildeo de asilo natildeo deve ser realizada com
intuito de fugir das penalidades impostas por comentimento de crimes Em uacuteltimo caso
sugere-se o cumprimento da pena em algum paiacutes seguro entendendo como local seguropaiacutes
seguro onde o indiviacuteduo natildeo teraacute seus direitos humanos baacutesicos violados
f) Cessaccedilatildeo da Condiccedilatildeo de Refugiado
A situaccedilatildeo que se refere este dispositivo eacute quando ocorre a cessaccedilatildeo da condiccedilatildeo de
refugiado sendo este repatriado Assim terminada a condiccedilatildeo que ensejou o indiviacuteduo a
buscar refuacutegio em algum paiacutes cessa a sua condiccedilatildeo de refugiado e portanto o indiviacuteduo
deve retornar ao seu paiacutes de origem Poreacutem esta situaccedilatildeo gera alguns questionamentos que
seratildeo discutidos neste toacutepico
65 BETHLEHEM Daniel LAUTERPACHT Sir E Op cit 66 Ibidem
28
As claacuteusulas de cessaccedilatildeo se originaram a partir da ideia explicada acima assim a
partir destas disposiccedilotildees a condiccedilatildeo de refugiado de diversas pessoas termina
principalmente apoacutes o teacutermino da Guerra Fria por outro lado originou a preocupaccedilatildeo em
ter soluccedilotildees duraacuteveis isto eacute refere-se agraves situaccedilotildees de longa duraccedilatildeo de refugiados e tambeacutem
a questatildeo do repatriamento voluntaacuterio67
O entendimento predominante de acordo com as accedilotildees praticadas pelo ACNUR
pelos Estados e pelas conclusotildees da mesa redonda que ocorreu em Lisboa em 2001 eacute de que
a situaccedilatildeo no paiacutes de origem deve ser relevante ou seja eacute necessaacuterio ser de caraacuteter
fundamental estaacutevel e duraacutevel Aleacutem disso de acordo com as conclusotildees mencionadas
acima eacute importante que se leve em consideraccedilatildeo as questotildees de seguranccedila sustentabilidade
ao retornar e recursos humanos de uma forma geral68
Nesse cenaacuterio destaca-se um ponto importante que eacute a questatildeo das exceccedilotildees agraves
declaraccedilotildees de cessaccedilatildeo Assim havendo razotildees substanciais originadas de perseguiccedilotildees
preacutevias deve-se ponderar a situaccedilatildeo de retornar ao paiacutes de origem Haacute tambeacutem situaccedilotildees em
que o retorno do indiviacuteduo eacute proibido por tratados de direitos humanos pois o refugiado
poderia sofrer algum tipo de dano caso retorne ao seu paiacutes de origem Aleacutem disso tem casos
em que o indiviacuteduo jaacute formou laccedilos consistentes no paiacutes de asilo tendo familiares e
estabilidade econocircmica por exemplo nestes casos o Estado de asilo pode conceder status
de residecircncia69
Sobre essa questatildeo cita-se a Diretiva 200155CE do Conselho de 20 de Julho de
2001 em que dispotildee que nas situaccedilotildees que o procedimento de asilo foi suspenso durante a
proteccedilatildeo temporaacuteria (refuacutegio) eacute reconhecido o direito dos indiviacuteduos requererem o asilo apoacutes
o termino da proteccedilatildeo caso queiram por motivos de perseguiccedilotildees passadas70
Ainda quanto agrave cessaccedilatildeo da condiccedilatildeo de refugiado tem-se que muitos refugiados
procuram a repatriaccedilatildeo voluntariamente assim mesmo com a possibilidade do ACNUR e
dos Estados emitirem declaraccedilotildees a respeito da cessaccedilatildeo da condiccedilatildeo estas natildeo ocorrem de
forma frequente Ademais muitos paiacuteses concedem a permissatildeo de residecircncia mesmo com
67 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 68 Ibidem 69 Ibidem 70 CONSELHO EUROPEU Directiva 200155CE do Conselho de 20 de Julho de 2001 Disponiacutevel em
httpseur-lexeuropaeulegal-contentPTTXTHTMLuri=CELEX32001L0055ampfrom=PT Acesso em
31012020
29
o teacutermino das condiccedilotildees que ensejaram o refuacutegio e favorecem a integraccedilatildeo local e a
naturalizaccedilatildeo71
Contudo eacute importante que a cessaccedilatildeo da condiccedilatildeo de refugiado natildeo seja algo incerto
isto eacute colocar os indiviacuteduos em situaccedilatildeo de inseguranccedila sem saber o que os espera no futuro
Nesse sentido natildeo se deve obrigar as pessoas a retornarem a uma situaccedilatildeo que possa colocaacute-
las em risco ensejando nova fuga e um novo procedimento de reconhecimento como
refugiado Portanto antes de cessar a condiccedilatildeo de um refugiado eacute necessaacuterio de que as
condiccedilotildees no paiacutes de origem tenham se alterado substancialmente e que seja estaacutevel72
Cessar a condiccedilatildeo de refugiado natildeo eacute necessaacuterio consentimento ou algum ato
voluntaacuterio por parte do refugiado assim deve-se analisar com cautela e as claacuteusulas de
cessaccedilatildeo devem ser interpretadas de forma estrita para que natildeo causar consequecircncias graves
pois tal procedimento pode acarretar muitos transtornos na vida do indiviacuteduo como
rompimento de laccedilos familiares relaccedilatildeo de emprego da comunidade onde vivia etc73
Como mencionado acima a mudanccedila da situaccedilatildeo do refugiado deve ter natureza
fundamental ou seja isso significa que o indiviacuteduo natildeo pode mais recusar a proteccedilatildeo do seu
paiacutes de origem pois as mudanccedilas ocorridas fizeram com que cessassem as circunstacircncias
que originaram a situaccedilatildeo de refugiado Portanto considera-se cessaccedilatildeo das circunstacircncias
quando ocorre o fim dos confrontos alteraccedilatildeo completa da situaccedilatildeo poliacutetica estabilidade e
situaccedilatildeo de paz ressalta-se que aleacutem das mudanccedilas a mudanccedila deve ser estaacutevel
consolidada74
g) Unidade familiar
No que tange a unidade familiar na questatildeo dos refugiados o reagrupamento familiar
eacute o ponto principal para implementaccedilatildeo do mencionado direito tendo em vista que
considera-se a unidade familiar eacute considerada um direito essencial do refugiado pois
independente do status eacute um direito humano internacional e humanitaacuterio sendo aplicaacutevel a
todos os seres humanos Assim a famiacutelia do refugiado tambeacutem recebe o mesmo status
71 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para a determinaccedilatildeo da
Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Op cit 72 Ibidem 73 Ibidem 74 Ibidem
30
portanto chama-se de ldquostatus derivadordquo possuindo os mesmos direitos que qualquer outro
indiviacuteduo considerado ldquorefugiadordquo75
Deve-se analisar caso a caso sobre a existecircncia ou natildeo de uma famiacutelia devendo levar
em consideraccedilatildeo questotildees culturais dependecircncia econocircmica e emocional dos indiviacuteduos
Nesse sentido considera-se ldquofamiacuteliardquo pelo menos os cocircnjuges e filhos menores76
h) Responsabilidade de supervisatildeo da ACNUR
O livro ldquoRefugee Protection in International Lawrdquo coloca como um dos pontos mais
importantes na questatildeo da proteccedilatildeo internacional dos refugiados a supervisatildeo do ACNUR
tendo por base os artigos 35 da Convenccedilatildeo de 1951 e o II do Protocolo de 1967 Nesse
sentido o ACNUR tem como funccedilatildeo baacutesica monitorar as accedilotildees dos Estados bem como
analisar e intervir quando for necessaacuteria a correccedilatildeo de alguma situaccedilatildeo77
Para exemplificar o assunto deste toacutepico tem-se que as diretrizes elaboradas pelo
ACNUR (algumas jaacute comentadas em toacutepicos anteriores) orientam os Estados aconselhando
as autoridades oacutergatildeos e tribunais a respeito da aplicaccedilatildeo dos diplomas internacionais a
respeito dos refugiados78
Dessa forma o ACNUR atua em diversos paiacuteses no mundo em prol do direito dos
refugiados promovendo ajuda aos migrantes orientando-os quanto aos seus direitos bem
como atuando em procedimentos judiciais na defesa desses direitos Aleacutem de orientaccedilotildees
sobre quais paiacuteses satildeo seguros ou natildeo em casos de envio dos migrantes como veremos no
uacutetltimo capiacutetulo no caso Sharifi versus Aacuteustria em que o ACNUR demonstrou que a Greacutecia
natildeo era um bom lugar para enviar o migrante de volta
13 O Princiacutepio Non-Refoulement como Norma Jus Cogens e a Responsabilidade
do Estado por Atos Iliacutecitos
No presente item em um primeiro momento traz a ideia do Princiacutepio Non-
Refoulement posteriormente fala-se sobre o que satildeo as normas jus cogens e por fim a
75 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 76 Ibidem 77 Ibidem 78 Ibidem
31
responsabilidade internacional dos Estados tendo por fundamento os Draft Articles
apresentados na 53ordf sessatildeo da Comissatildeo de Direito Internacional na ONU Depois desse
desenvolvimento traz-se a ideia de o princiacutepio non-refoulement como norma jus cogens e
portanto sua violaccedilatildeo configuraria responsabilidade civil do Estado
131 Princiacutepio de Non-Refoulement
Em linhas gerais este princiacutepio do Direito Internacional da natildeo-repulsatildeo disciplina
que o refugiado natildeo pode ser devolvido ao seu paiacutes de origem enquanto perdurar a crise
Vejamos
Art 33 - Proibiccedilatildeo de expulsatildeo ou de rechaccedilo 1 Nenhum dos Estados Contratantes
expulsaraacute ou rechaccedilaraacute de maneira alguma um refugiado para as fronteiras dos
territoacuterios em que a sua vida ou a sua liberdade seja ameaccedilada em virtude da sua
raccedila da sua religiatildeo da sua nacionalidade do grupo social a que pertence ou das
suas opiniotildees poliacuteticas 2 O benefiacutecio da presente disposiccedilatildeo natildeo poderaacute todavia
ser invocado por um refugiado que por motivos seacuterios seja considerado um perigo
para a seguranccedila do paiacutes no qual ele se encontre ou que tendo sido condenado
definitivamente por crime ou delito particularmente grave constitui ameaccedila para
a comunidade do referido paiacutes79
Como visto o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo consta no artigo 33 da Convenccedilatildeo de 1951
e tambeacutem consiste em um princiacutepio do direito internacional consuetudinaacuterio assim como
afirmou a Declaraccedilatildeo Ministerial que ocorreu em 2001 Dessa forma os Estados satildeo
responsaacuteveis por suas accedilotildees tais como reagrupamentos praacuteticas de interceptaccedilatildeo rejeiccedilatildeo
na fronteira ou repulsatildeo indireta Assim discutiu-se sobre a natildeo-repulsatildeo na Comissatildeo de
Direito Internacional das Naccedilotildees Unidas que ocorreu em 31 de maio de 2001 e aprovados
pela Assembleia Geral restando claro que os Estados satildeo responsaacuteveis pelas accedilotildees de
repulsatildeo80
No mesmo sentido o artigo 3ordm da Declaraccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Asilo
Territorial tambeacutem haacute a previsatildeo do princiacutepio non-refoulement assim faz referecircncia ao
79 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951 Op
cit 80 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit
32
primeiro artigo do mesmo documento em que estabelece a possibilidade da concessatildeo de
asilo com base no artigo 14 da Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem81
A proibiccedilatildeo da natildeo-repulsatildeo deve ser aplicada de forma ampla no entanto os atos
relativos agrave rejeiccedilatildeorepulsatildeo de pessoas ocorrem geralmente nos locais de fronteiras isto eacute
distante da visatildeo puacuteblica aleacutem disso o princiacutepio em questatildeo deve ser aplicadorespeitado
inclusive em alto mar e zonas internacionais Considera-se tortura ou tratamentopuniccedilatildeo
desumana eou degradante devolver um indiviacuteduo a um lugar no qual sofre algum tipo de
perseguiccedilatildeo ou ateacute mesmo ameaccedila de perseguiccedilatildeo82 destacando que o princiacutepio da natildeo-
repulsatildeo deve ser analisado juntamente com o artigo 3ordm da CEDH
De uma forma geral natildeo haacute limitaccedilatildeo ou exceccedilatildeo a esse princiacutepio poreacutem em
situaccedilotildees de repelir um indiviacuteduo enviando-o de volta para outro local soacute eacute ldquopermitidardquo
quando houver motivos significantes que afetam a seguranccedila nacional ou a seguranccedila
puacuteblica devendo sempre ter em mente que o indiacuteviduo em hipoacutetese alguma pode ser
enviado para locais natildeo seguros ou seja que tenham seus direitos humanos violados
Apoacutes os atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos os paiacuteses ficaram
mais atentos com a seguranccedila e portanto adotaram controles mais rigorosos de fronteiras
para tentar minimizar as entradas ilegais Mas ao mesmo tempo era necessaacuterio que
garantissem agrave proteccedilatildeo daqueles que desejassem a proteccedilatildeo internacional para os
refugiados83
A amplitude deste princiacutepio abrange inclusive casos de extradiccedilatildeo assim em
situaccedilatildeo que o paiacutes de origem insista na extradiccedilatildeo de uma pessoa que cometeu crime e a
extradiccedilatildeo configurar retorno agrave situaccedilatildeo de perseguiccedilatildeo a acusaccedilatildeo e o processo devem
correr no paiacutes que concedeu o asilo Portanto a Convenccedilatildeo de 1951 natildeo se trata de um
documento para impedir extradiccedilatildeo poreacutem se o status do indiviacuteduo for de refugiado tais
obrigaccedilotildees satildeo do Estado extraditante84 ou seja o indiacuteviduo natildeo deve ser extraditado para
local onde corra o risco de ser submetido agrave tortura e nesse caso o paiacutes de asilo que deve ser
responsaacutevel pelo cumprimento da pena eou processo criminal se for o caso
81 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Declaraccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas Sobre o Asilo Territorial 1967
Disponiacutevel
httpswwwacnurorgfileadminDocumentosportuguesBD_LegalInstrumentos_InternacionaisDeclaracao
_ONU_Asilo_Territorialpdffile=fileadminDocumentosportuguesBD_LegalInstrumentos_Internacionais
Declaracao_ONU_Asilo_Territorial Acesso em 09032020 82 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 83 Ibidem 84 Ibidem
33
Nesse sentido vimos que no item 2 do artigo 33 da Convenccedilatildeo de 1951 consta uma
exceccedilatildeo ao princiacutepio do non-refoulement ou seja este princiacutepio natildeo poderia ser invocado
por um refugiado que possa configurar uma ameaccedila agrave seguranccedila do paiacutes em que estaacute ou que
tenha condenaccedilatildeo por crime ou delito grave que possa consistir em uma ameaccedila para o paiacutes
de asilo85 no entanto em caso de repulsatildeo o Estado deveraacute analisar as condiccedilotildees do paiacutes de
destino natildeo se admite que envie pessoas para locais natildeo seguros
O artigo 32 dispotildee sobre a expulsatildeo e no item 2 disciplina que a possibilidade de
expulsatildeo deve ser realizada com base no devido processo legal como segue
A expulsatildeo desse refugiado somente ocorreraacute em virtude de decisatildeo proferida
conforme o processo previsto por lei A natildeo ser que a isso se oponham razotildees
imperiosas de seguranccedila nacional o refugiado deveraacute ter permissatildeo de fornecer
provas que o justifiquem de apresentar um recurso e de se fazer representar para
esse fim perante uma autoridade competente ou perante uma ou vaacuterias pessoas
especialmente designadas pela autoridade competente86
Dessa forma menciona-se o julgamento Suresh versus Canada da Corte Superior
Canadense em 2002 em que o ACNUR argumentou que a Convenccedilatildeo de 1951 natildeo deve ser
usada para negaccedilatildeo de direitos e do direito internacional de forma geral rejeita a tortura
mesmo em situaccedilotildees de perigo para a seguranccedila nacional O entendimento da Corte era de
que enviar uma pessoa de volta ao perigo constitui em infraccedilatildeo agraves normas internacionais
Assim de acordo com a jurisprudecircncia internacional enviar algueacutem agrave tortura eacute de extrema
gravidade que de qualquer forma seraacute desproporcional agraves questotildees relativas agrave seguranccedila
nacional87
Nesse sentido a Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (CEDH) em seu artigo
3ordm disciplina a proibiccedilatildeo agrave tortura como segue ldquoNingueacutem pode ser submetido a torturas
nem a penas ou tratamentos desumanos ou degradantesrdquo88 Dessa forma um indiviacuteduo natildeo
deve ser devolvido ao seu paiacutes de origem quando houver risco de tortura tratamento
desumano ou degradante ou submetido agrave pena de morte de acordo o Protocolo nordm 6 da
CEDH89
85 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951 Op
cit 86 Ibidem 87 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit 88 CONSELHO DA EUROPA Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (CEDH) Disponiacutevel em
httpswwwechrcoeintDocumentsConvention_PORpdf Acesso em 13012020 89 NICHOLSON Frances TURK Volker Op cit
34
A respeito do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo Bethlehem e Lauterpacht expressaram suas
opiniotildees no sentido de que este princiacutepio consiste em um princiacutepio geral do direito
internacional consuetudinaacuterio Assim considera-se que a natildeo-repulsatildeo eacute um componente
imprescindiacutevel da lei internacional consuetudinaacuteria principalmente nas questotildees
humanitaacuterias que envolvem a proibiccedilatildeo da tortura e tratamentos crueacuteis degradantes e
desumanos90
Portanto considera-se que o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo natildeo permite limitaccedilatildeo ou
exceccedilatildeo pois trata-se de um princiacutepio internacional costumeiro de direitos humanos e
considera que natildeo se deve rejeitardevolver ou expulsar algueacutem colocando em risco sua vida
e integridade fiacutesica sendo submetido agrave tortura tratamento desumano e degradante Assim
eacute atribuiacuteda ao Estado a valoraccedilatildeo da natildeo-repulsatildeo e este deve agir de acordo com as
obrigaccedilotildees internacionais tendo por base as normas a respeito da responsabilidade do Estado
Ressalta-se que haacute uma tendecircncia contra exceccedilotildees em princiacutepios baacutesicos de direitos
humanos entatildeo as exceccedilotildees devem ser interpretadas de maneira restritiva e sendo o uacuteltimo
recurso lembrando que natildeo haacute exceccedilatildeo a este princiacutepio quando desrespeitar os direitos
humanos baacutesicos dos indiviacuteduos91
Nesse aspecto tem-se que haacute colisatildeo de interesses no que tange a proteccedilatildeo dos
refugiados pois os Estados tendem a defender seu territoacuterio atraveacutes do controle de imigraccedilatildeo
ilegal Dessa forma a fiscalizaccedilatildeo nas fronteiras como por exemplo nos aeroportos os
refugiados desembarcam junto com as requisiccedilotildees de asilo e muitas vezes ocorre o reenvio
para o paiacutes de origem (para situaccedilotildees de perseguiccedilatildeo) devido o impedimento dos requerentes
de asilo acessar o processo para se enquadrar na situaccedilatildeo de refugiado e requerer tal
proteccedilatildeo92
Haacute tambeacutem a situaccedilatildeo chamada de ldquorefoulement indiretordquo que consiste na ideia de
um outro paiacutes (terceiro) acolher o requerente de asilo poreacutem essa situaccedilatildeo pode levar a
deixar os refugiados ldquoem oacuterbitardquo ou seja natildeo encontra algum Estado que admite a
competecircncia para a anaacutelise do pedido de asilo aleacutem disso pode ocorrer o envio dos
refugiados para Estados em que natildeo haacute garantias de que estes natildeo vatildeo ser reenviados para o
seu paiacutes de origem93
90 BETHLEHEM Daniel LAUTERPACHT Sir E Op cit 91 Ibidem 92 CIERCO Teresa Op cit 93 Ibidem
35
Devido agrave importacircncia desse princiacutepio mais a frente seraacute necessaacuteria uma nova
abordagem aprofundando o assunto e encaminhando para a discussatildeo referente agrave natildeo-
repulsatildeo juntamente com o direito do mar ou seja sobre as pessoas que satildeo encontradas em
perigo no mar e a proibiccedilatildeo de repulsatildeo destas
132 Normas Jus Cogens
O artigo 53 da Convenccedilatildeo de Viena sobre o Direito dos Tratados encontramos a
definiccedilatildeo de norma jus cogens
Artigo 53ordm Tratados incompatiacuteveis com uma norma imperativa de direito
internacional geral (jus cogens) Eacute nulo todo o tratado que no momento da sua
conclusatildeo seja incompatiacutevel com uma norma imperativa de direito internacional
geral Para os efeitos da presente Convenccedilatildeo uma norma imperativa de direito
internacional geral eacute uma norma aceite e reconhecida pela comunidade
internacional dos Estados no seu todo como norma cuja derrogaccedilatildeo natildeo eacute
permitida e que soacute pode ser modificada por uma nova norma de direito
internacional geral com a mesma natureza94 (grifo nosso)
O trecho destacado demonstra a relevacircncia de uma norma jus cogens para o direito
internacional tendo em vista que uma norma dessa natureza apenas poderaacute ser modificada
por outra que tenha o mesmo status ou seja somente uma norma jus cogens pode alterar
uma norma jus cogens jaacute em vigor
Aleacutem disso confirmando a supremacia das normas jus cogens o artigo 64 da
Convenccedilatildeo de Viena traz a seguinte redaccedilatildeo ldquoSuperveniecircncia de uma norma imperativa de
direito internacional geral (jus cogens) - Se sobrevier uma nova norma imperativa de direito
internacional geral qualquer tratado existente que seja incompatiacutevel com essa norma torna-
se nulo e cessa a sua vigecircnciardquo95 Assim ao surgir uma nova norma jus cogens contrariando
algum tratado este deixaraacute de ter valor
Quando falamos que uma norma jus cogens eacute imperativa estamos diante de uma
redundacircncia tendo em vista que as normas de direito internacional satildeo obrigatoacuterias por si
soacute isto eacute no que se refere agrave obrigatoriedade tem-se que eacute intriacutenseca agraves normas dessa
94 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo de Viena sobre o Direito dos Tratados Disponiacutevel
em httpgddcministeriopublicoptsitesdefaultfilesdocumentosinstrumentosrar67-2003pdf Acesso em
11092020 95 Ibidem
36
natureza Sendo assim podemos falar que uma norma jus cogens limita a liberdade dos
Estados96
Entatildeo no que se refere agraves normas jus cogens temos que
Todas essas noccedilotildees ndash direito internacional geral ou mesmo universal obrigaccedilotildees
erga omnes crimes de direito internacional ou graves violaccedilotildees de obrigaccedilotildees
essenciais uma constituiccedilatildeo para a sociedade internacional a ordem puacuteblica
internacional e de modo mais geral a questatildeo da hierarquia normativa ndash
encontram-se de algum modo conectadas a um conceito central do direito
internacional contemporacircneo o jus cogens97
As normas jus cogens portanto satildeo imperativas e inderrogaacuteveis isto eacute satildeo
obrigatoacuterias e natildeo aceitam supressatildeo ou que sejam abolidas de alguma forma Assim as
normas dessa natureza jus cogens satildeo de notaacutevel importacircncia98
No que se refere agrave hierarquia dessas normas conclui-se que elas satildeo de elevada
importacircncia e obrigatoacuterias poreacutem natildeo haacute uma ideia soacutelida sobre suas origens Haacute quem
entenda que as normas jus cogens foram originadas a partir do costume internacional99
Um sistema normativo internacional deve consistir em uma unidade portanto
uniforme Neste aspecto natildeo importa a origem ou objeto de uma norma internacional todas
satildeo colocadas em um mesmo patamar Mas essa ideia eacute ofuscada pelo conceito da teoria das
normas jus cogens bem como pela diferenciaccedilatildeo entre crimes internacionais e delitos
internacionais100
Nesse aspecto pode-se aventar a nulidade de tratados quando houver normas
contraacuterias agraves normas internacionais superiores Entatildeo tendo em vista que a teoria jus cogens
diferencia as regras gerais de direito internacional e de uma categoria especiacuteficas sendo
normas de ldquocuacutepulardquo isto eacute consistem em normas de elite no direito internacional101 Assim
um tratado pode ser anulado em casos de contradiccedilatildeo com as normas jus cogens
Assim notamos uma diferenciaccedilatildeo entre os regimes de responsabilidade
internacional A Comissatildeo de Direito Internacional trouxe a seguinte redaccedilatildeo no artigo 19
96 RODAS Joatildeo G Jus Cogens em Direito Internacional Disponiacutevel em
wwwrevistasuspbrrfdusparticleviewFile6673669346 Acesso em 11092020 97 NASSER Salem H Jus Cogens Ainda esse Desconhecido Disponiacutevel em
httpbibliotecadigitalfgvbrojsindexphprevdireitogvarticleview3523334033 Acesso em 12092020 98 Ibidem 99 Ibidem 100 WEIL Prosper Towards relative normativity in international law The American Journal of International
Law Vol 77 nordm 3 (julho de 1983) p 413 ndash 442 Disponiacutevel em
httpswwwcambridgeorgcorejournalsamerican-journal-of-international-lawarticletowards-relative-
normativity-in-international-lawD494CB41D732291285CBC9F5424FF11C Acesso em 10092020 101 Ibidem
37
dos Draft Articles ldquoThis chapter is without prejudice to the international responsibility
under other provisions of these articles of the State which commits the act in question or of
any other Staterdquo102 Nos comentaacuterios dos Draft Articles estatildeo os propoacutesitos do artigo citado
entatildeo a finalidade do artigo eacute a preservaccedilatildeo da responsabilidade do Estado que tenha
cometido ato internacionalmente iliacutecito103
Nesse sentido o entendimento de Prosper Weil eacute de que artigo citado acima tem o
intuito de diferenciar algumas obrigaccedilotildees internacionais essenciais aos interesses
fundamentais da comunidade internacional que a ocorrecircncia de violaccedilatildeo dessas obrigaccedilotildees
deve ser interpretada como um crime internacional sendo assim com gravidade maior Jaacute a
violaccedilatildeo de todas as outras obrigaccedilotildees internacionais constituiria somente em um delito
internacional Podemos entender essa ideia no trecho abaixo
Here again international norms are divided into two categories at the summit
the few that create obligations ldquothe observance of which is of fundamental
importance to the international community as a wholerdquo then below them the
great mass of norms that create obligations ldquoof lesser and less general
importancerdquo104
Assim nota-se a divisatildeo das normas internacionais as de elitecuacutepula (aquelas que a
observacircncia eacute fundamental para comunidade internacional) e as normas gerais (de menor
importacircncia)
A este respeito faz-se necessaacuterio um parecircntese o Tribunal Internacional de Justiccedila
tem o entendimento de que um Estado tem obrigaccedilotildees perante a comunidade internacional
mas o que seria essa comunidade internacional Ela eacute formada pelos Estados natildeo
necessariamente todos os Estados do mundo mas um conjunto destes para que se forme o
reconhecimento da comunidade internacional Desse ponto podemos dizer que uma norma
eacute hierarquicamente superior quando ela eacute reconhecida por todos os entes essenciais da
comunidade internacional Ou seja uma ldquosupernormardquo eacute oponiacutevel a todos os Estado105
No que se refere agrave hierarquia das normas no direito internacional o professor Jocircnatas
Machado diz
102 UNITED NATIONS Draft articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful Acts with
commentaries Disponiacutevel em httplegalunorgilctextsinstrumentsenglishcommentaries9_6_2001pdf
Acesso em 11092020 103 Ibidem 104 WEIL Prosper Op cit 105 Ibidem
38
No entanto outras linhas argumentativas apoiam-se no valor universal da
manutenccedilatildeo da paz constante na Carta da ONU chamam a atenccedilatildeo para o
desenvolvimento da ideia de ius cogens superior agrave vontade dos Estados ou mais
recentemente procuram afirmar o primado do indiviacuteduo em face da soberania
estadual106
Do exposto as normas jus cogens eacute superior agrave vontade dos Estados tendo em vista
que o indiviacuteduo eacute prevalente perante a soberania de um determinado Estado Tal fato se deve
porque essas normas satildeo ldquosuperioresrdquo com base em fundamentos de legitimidade ou seja
dignidade da pessoa humana direito justiccedila etc referem-se a valores que comunidade
internacional coloca em patamar superior ao consentimento dos Estados107
A este respeito Jocircnatas Machado entende que haacute trecircs teses na doutrina maximalistas
intermeacutedias e minimalistas As maximalistas referem-se ao direito internacional dos direitos
humanos de modo geral ou seja todas satildeo normas jus cogens as intermeacutedias consistem num
niacutevel intermediaacuterio e dispotildeem que apenas o nuacutecleo essencial dos direitos humanos eacute
considerado jus cogens e a tese minimalista dispotildee que se trata de jus cogens se a violaccedilatildeo
das normas de direitos humanos consistirem em um crime internacional108
Do exposto acima podemos entender que as normas jus cogens consistem em normas
imperativas no direito internacional sendo portanto obrigaccedilotildees erga omnes Entatildeo natildeo haacute
rol taxativo de quais satildeo essas normas no entanto podemos dizer que se a violaccedilatildeo de uma
norma internacional configurar um crime internacional ou seja pirataria escravidatildeo
genociacutedio crimes de guerra e os crimes contra a humanidade essa violaccedilatildeo consiste em
violaccedilatildeo de uma norma jus cogens Assim de uma forma gera podemos dizer que a proteccedilatildeo
dos direitos fundamentais refere-se agraves normas jus cogens109
133 Responsabilidade Internacional dos Estados
O conceito de responsabilidade internacional dos Estados se baseia nos conceitos de
soberania internacional e capacidade juriacutedica internacional Ademais a ideia de
responsabilidade internacional do Estado consiste em uma garantia da legalidade
106 MACHADO Joacutenatas E M Direito Internacional 4ordf ediccedilatildeo Coimbra Coimbra Editora 2013 p 141 107 Ibidem 108 Ibidem 109 Ibidem
39
internacional isto eacute no que se refere agrave violaccedilatildeo de bens que satildeo internacionalmente
protegidos que essa garantia eacute necessaacuteria para promoccedilatildeo da proteccedilatildeo de direitos110
Tem-se que a responsabilidade internacional deve se basear nos princiacutepios da
igualdade e da reciprocidade de direitos e deveres A este respeito o Professor Joacutenatas
Machado diz
Podem incorrer em responsabilidade internacional quaisquer sujeitos de direito
internacional por danos causados a qualquer sujeito de direito internacional ou agrave
comunidade internacional globalmente considerada A responsabilidade dos
Estados eacute apenas um subtema da responsabilidade internacional em geral111
O Professor Francisco Ferreira de Almeida em um primeiro momento diferencia
normas primaacuterias e secundaacuterias entatildeo as primaacuterias satildeo ldquoobrigaccedilotildees de conduta para os
destinataacuteriosrdquo e as secundaacuterias ldquofixar as particulares consequecircncias juriacutedicas que se ligam agrave
violaccedilatildeo das normas primaacuteriasrdquo Entatildeo podemos afirmar que haacute normas de condutas a serem
seguidas sendo portanto normas primaacuterias no entanto na situaccedilatildeo de violaccedilatildeo destas
falamos das sanccedilotildees que consistem nas normas secundaacuterias112
Assim no que tange agrave responsabilidade internacional do Estado por atos iliacutecitos
devemos ter em mente em um primeiro momento sobre o que seria um ato
internacionalmente iliacutecito que resulta na responsabilidade internacional subjetiva Entatildeo
entende-se como ato iliacutecito uma accedilatildeo ou omissatildeo que infrinja uma obrigaccedilatildeo
internacional113
Complementando a ideia o Professor Francisco Ferreira de Almeida dispotildee
Daqui resulta pois ser necessaacuterio em segundo lugar demonstrar o nexo de
imputaccedilatildeo do referido facto iliacutecito ao Estado Isto eacute o comportamento em causa
deveraacute ser atribuiacutedo ao Estado por haver sido adoptado por pessoas ou oacutergatildeos que
o representam e estatildeo por consequecircncia sob sua autoridade efectiva Pouco
importam aliaacutes a natureza (individual ou colectiva centralizada ou
descentralizada etc) desses oacutergatildeos e bem assim o caraacuteter (vg legislativo
judicial ou executivo) das funccedilotildees ou actividades do agente ou agentes
infractores114
110 MACHADO Joacutenatas E M Direito Internacional Op cit 111 Ibidem p 630 112 ALMEIDA Francisco F Direito Internacional Puacuteblico 2ordf ediccedilatildeo Coimbra Coimbra Editora 2003 p 226 113 Ibidem 114 Ibidem p 226227
40
Diante disto nota-se que o Estado tem responsabilidade pelos atos praticados pelos
seus oacutergatildeos ou agentes que estejam sob sua supervisatildeo Ademais eacute necessaacuteria a ocorrecircncia
de danos para que um Estado seja responsaacutevel internacionalmente natildeo importando se os
danos causados satildeo morais ou materiais necessaacuterio apenas a ocorrecircncia Portanto exige-se
o nexo causal entre a accedilatildeo do Estado e o dano causado115
No que se refere agrave responsabilidade do Estado Pinto de Albuquerque ex-juiz do
TEDH leciona que a jurisdiccedilatildeo do Estado no que tange imigraccedilatildeo e controle de fronteiras
implica que em caso de quaisquer violaccedilotildees dos direitos humanos haacute a responsabilidade do
Estado durante o referido controle e mencionou a Resoluccedilatildeo 5683 de 2001 sobre a
Responsabilidade do Estado por Atos Internacionalmente Iliacutecitos116
Assim o artigo 8ordm da referida Resoluccedilatildeo visa que o Estado eacute responsaacutevel pela conduta
dos seus agentes pois agem sob suas instruccedilotildees Como segue ldquoThe conduct of a person or
group of persons shall be considered an act of a State under international law if the person
or group of persons is in fact acting on the instructions of or under the direction or control
of that State in carrying out the conductrdquo117
No mesmo sentido poreacutem em situaccedilatildeo de Estados auxiliando outro o artigo 16 do
mesmo documento traz a seguinte redaccedilatildeo
A State which aids or assists another State in the commission of an internationally
wrongful act by the latter is internationally responsible for doing so if (a) that
State does so with knowledge of the circumstances of the internationally wrongful
act and (b) the act would be internationally wrongful if committed by that State118
Portanto um Estado que age em assistecircncia a outro e comete algum ato
internacionalmente iliacutecito o Estado que recebe a assistecircncia eacute responsaacutevel tambeacutem se souber
da ilicitude do ato e o ato ser cometido pelo Estado em questatildeo No que se refere agrave
responsabilidade do Estado esse artigo traz a ideia de um Estado auxiliar ser responsaacutevel
por atos iliacutecitos de outro Estado ou seja uma situaccedilatildeo de cumplicidade entre os estados
Assim nos comentaacuterios dos Drafts Articles tem-se a suposiccedilatildeo de que o Estado auxiliar
tenha uma importante participaccedilatildeo no ato neste aspecto o fornecimento de auxiacutelio
115 ALMEIDA Francisco F Direito Internacional Puacuteblico Op cit 116 EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Hirsi Jamaa and others v Italy Application no
2776509 Disponiacutevel em httphudocechrcoeintspai=001-109231 Acesso em 16092020 117 UNITED NATIONS Draft articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful Acts with
commentaries Op cit 118 Ibidem
41
financeiro e teacutecnico por um Estado pode ser considerada uma importante contribuiccedilatildeo para
o ato Ou seja no uacuteltimo capiacutetulo veremos entre outros casos algumas situaccedilotildees a respeito
da situaccedilatildeo entre Itaacutelia e Liacutebia e portanto analisando a responsabilidade da Itaacutelia perante as
repulsotildees realizadas pela Guarda Costeira Liacutebia sob subsiacutedios italianos
O artigo 16 mencionado acima traz dois requisitos para ser configurada a
responsabilidade do Estado auxiliar o primeiro eacute a ldquoconsciecircnciardquo da ilicitude do ato pelo
Estado auxiliar o segundo eacute que a conduta iliacutecita deve ser considerada violaccedilatildeo para os dois
paiacuteses Entatildeo uma violaccedilatildeo dos direitos humanos a proibiccedilatildeo da tortura por exemplo eacute
uma norma consuetudinaacuteria e portanto a conduta eacute iliacutecita para todos os Estados
Na mesma linha de raciociacutenio o artigo 41 nordm 2 dos Drafts Articles traz que ldquoNo
State shall recognize as lawful a situation created by a serious breach within the meaning
of article 40 nor render aid or assistance in maintaining that situationrdquo ou seja nenhum
Estado pode reconhecer como conduta legal uma grave violaccedilatildeo e tambeacutem natildeo deve prestar
auxiacutelio para manter a situaccedilatildeo gravosa119
A atenccedilatildeo referente agrave responsabilidade internacional do Estado ganhou espaccedilo a
depois do ano de 1956 momento em que a Comissatildeo de Direito Internacional (CDI) da ONU
voltou seus olhares agrave responsabilidade internacional do Estado perante aos cidadatildeos Neste
aspecto a questatildeo era se a responsabilidade internacional do Estado consistia ldquoapenas
civilmente por delitos internacionais civilmente para crimes internacionais ou
criminalmente para crimes internacionaisrdquo120
Destarte em 2001 a 53ordf sessatildeo da Comissatildeo de Direito Internacional da ONU previu
artigos a respeito da responsabilidade do Estado por atos iliacutecitos internacionais121 Entatildeo no
segundo artigo do documento originado desta sessatildeo encontramos o seguinte
Article 2 Elements of an internationally wrongful act of a State
There is an internationally wrongful act of a State when conduct consisting of an
action or omission (a) is attributable to the State under international law and
(b) constitutes a breach of an international obligation of the State122
119 UNITED NATIONS Draft articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful Acts with
commentaries Op cit 120 MACHADO Joacutenatas E M Direito Internacional Op cit p 633 121 Ibidem 122 UNITED NATIONS Draft articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful Acts with
commentaries Op cit
42
Do artigo acima um ato internacionalmente iliacutecito quando praticado por um Estado
tem duas formas de ser cometido por accedilatildeo ou omissatildeo ou seja quando se refere agrave situaccedilotildees
atribuiacutedas ao Estado pela lei internacional ou quando houver uma violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees
internacionais pelo Estado Veremos entatildeo mais adiante que a questatildeo de natildeo resgate no
mar das pessoas em agonia pode consistir em um ato iliacutecito do Estado caso este natildeo preste
socorro agraves viacutetimas
A previsatildeo no Customary International Humanitarian Law na regra nuacutemero 150
encontramos a seguinte redaccedilatildeo ldquoA State responsible for violations of international
humanitarian law is required to make full reparation for the loss or injury causedrdquo123
portanto o mencionado documento dispotildee que reparar o dano causado eacute uma regra antiga
no direito internacional consuetudinaacuterio
No mesmo sentido o artigo 91 do Protocolo Adicional I agrave Convenccedilatildeo de Genebra124
de 1949 dispotildee sobre a responsabilidade do Estado disciplinando no sentido de que um
Estado que infringir o previsto na Convenccedilatildeo tem o dever de compensar os danos causados
Como podemos confirmar no seguinte trecho ldquoA Party to the conflict which violates the
provisions of the Conventions or of this Protocol shall if the case demands be liable to pay
compensation It shall be responsible for all acts committed by persons forming part of its
armed forcesrdquo125
Portanto um Estado ao violar o direito humanitaacuterio tem o dever de indenizar
Ademais nos dispositivos a respeito da responsabilidade do Estado consta que a restituiccedilatildeo
se trata de um princiacutepio legal mas nem sempre eacute possiacutevel ou adequado ao caso a este
respeito entende-se que o papel da compensaccedilatildeo eacute o preenchimento das lacunas a fim de
assegurar a reparaccedilatildeo integral dos danos causados Assim a obrigaccedilatildeo de compensar os
danos causados por violaccedilatildeo ao direito internacional humanitaacuterio foi ratificada por diversos
diplomas oficiais bem como pelo Conselho de Seguranccedila da ONU126 No entanto sabe-se
123 INTERNATIONAL COMMITTEE OF THE RED CROSS Customary International Humanitarian Law ndash
Volume I Rules Disponiacutevel httpswwwicrcorgendocassetsfilesothercustomary-international-
humanitarian-law-i-icrc-engpdf Acesso em 11092020 124 A Convenccedilatildeo de Genebra de 1949 levou em consideraccedilatildeo os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial
abordando a proteccedilatildeo geral das populaccedilotildees contra certas consequecircncias da guerra 125 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Protocolo Adicional I da Convenccedilatildeo de Genebra de 1949
Disponiacutevel em httpsihl-
databasesicrcorgapplicihlihlnsfArticlexspaction=openDocumentampdocumentId=F461FC196C18A52D
C12563CD0051E2AC Acesso em 11092020 126 INTERNATIONAL COMMITTEE OF THE RED CROSS Customary International Humanitarian Law ndash
Volume I Rules Op cit
43
que dependendo da gravidade do dano moral causado natildeo importa o valor da indenizaccedilatildeo
pois muitas vezes satildeo danos de impossiacutevel reparaccedilatildeo poreacutem o um valor indenizatoacuterio justo
pode fazer com que o sofrimento seja amenizado
134 Teorias a Respeito da Responsabilidade Internacional dos Estados
Nesse aspecto o Professor Jocircnatas Machado dispotildee a respeito de diversas teorias a
respeito da responsabilidade internacional do Estado quais sejam tese da responsabilidade
sui generis tese dos iliacutecitos excepcionalmente graves tese dos crimes de Estado e tese dos
crimes e delitos
A primeira traz posicionamento contraacuterio ao entendimento de que o Estado possa
cometer um ldquocrime internacionalrdquo porque o cometimento de crime seria apenas
responsabilidade de indiviacuteduos e natildeo de um Estado entatildeo esta teoria leva em conta quais
normas foram violadas e verificar os pontos de vista a respeito da responsabilidade do Estado
e encontrar a melhor soluccedilatildeo natildeo devendo portanto ultrapassar os limites de
responsabilidade civil ou criminal consistindo em uma responsabilidade sui generis127
A tese dos iliacutecitos excepcionalmente graves segue no mesmo sentido da ideia da
teoria anterior mas entende ser correta a expressatildeo ldquoatos iliacutecitos excepcionalmente gravesrdquo
a fim de natildeo diferenciar ldquodelitosrdquo e ldquocrimesrdquo Entatildeo esta teoria entende que o Estado pode
cometer uma grave violaccedilatildeo de obrigaccedilatildeo internacional e a responsabilidade natildeo
necessariamente seraacute criminal entatildeo pode consistir em uma responsabilidade internacional
civil compensatoacuteriareparatoacuteria poreacutem ressalta-se que natildeo se deve excluir uma
responsabilidade sancionatoacuteriapunitiva eacute por este motivo que se fala a respeito do caraacuteter
sui generis da responsabilidade internacional dos Estados128
A tese dos crimes de Estado dispotildee que atos iliacutecitos excepcionalmente graves satildeo
ldquocrimes internacionaisrdquo mas ditos de forma diferente e entatildeo chega-se agrave ideia de crimes de
Estado e igualmente de caraacuteter sui generis tendo em vista que natildeo haacute a necessidade de ter
o mesmo procedimento que o direito penal nacional Assim destaca-se as sanccedilotildees que o
Conselho de Seguranccedila da ONU impocircs agrave Liacutebia por atos terroristas neste caso portanto haacute
uma responsabilidade sancionatoacuteria129
127 MACHADO Joacutenatas E M Direito Internacional Op cit 128 Ibidem 129 Ibidem
44
Por fim a teoria dos crimes e delitos ressalta a importacircncia da diferenciaccedilatildeo dos dois
conceitos Assim o mais importante eacute a ideia de crime por consistir em ldquocondutas violentas
que suscitem a reprovaccedilatildeo da opiniatildeo puacuteblica mundialrdquo130 Sobre o assunto o Professor
Jocircnatas Machado diz
Aleacutem disso certas condutas qualificadas pelo direito internacional como crimes
contra a humanidade crimes de guerra e crimes contra a paz transcendem
largamente a vontade dos indiviacuteduos que os cometem tendo por detraacutes uma
orientaccedilatildeo poliacutetica estadual pelo que seria iloacutegico reduzi-los agrave expressatildeo de meros
crimes individuais prescindindo da responsabilizaccedilatildeo dos Estados131
Diante do que foi mencionado destaca-se a relativizaccedilatildeo da soberania do Estado no
direito internacional que tem por base a ideia de ldquocrimes internacionaisrdquo132 Assim levando
em conta a existecircncia dos ldquocrimes de Estadordquo eacute necessaacuterio a existecircncia de oacutergatildeos e
procedimentos para fins de investigaccedilatildeo destas condutas bem como consequecircncias juriacutedicas
como
()imposiccedilatildeo de multas lsquoindemnizaccedilotildees punitivasrsquo (punitive damages) a
adopccedilatildeo de contra-medidas a absoluta proibiccedilatildeo de quaisquer efeitos juriacutedicos aos
crimes a privaccedilatildeo da imunidade estadual aos titulares dos oacutergatildeos de soberania e
outras medidas da mais diversa natureza susceptiacuteveis de afectar a dignidade de o
Estado criminoso133
Entatildeo a respeito dessa uacuteltima teoria nota-se uma maior responsabilizaccedilatildeo ao Estado
infrator tendo por base a ideia deste como um sujeito no direito internacional com
capacidade de cometer crimes ou seja os chamados ldquocrimes de Estadordquo Portanto podem
ser impostas medidas sancionatoacuterias ao Estado infrator sendo reduzida a sua soberania a fim
de imposiccedilotildees de sanccedilotildees
135 Imputabilidade dos Estados
Ao falar da imputabilidade dos Estados refere-se agrave ideia de um Estado praticar atos
iliacutecitos internacionais atraveacutes dos seus poderes (legislativo executivo e judiciaacuterio) das
forccedilas armadas ou por qualquer outro oacutergatildeoentidade considerada de direito puacuteblico134
130 MACHADO Joacutenatas E M Direito Internacional Op cit p 636 131 Ibidem p 636 132 Ibidem 133 Ibidem p 636637 134 Ibidem
45
Entatildeo a imputabilidade de atos iliacutecitos a um Estado ocorre quando seus agentes ultrapassam
os limites dos poderes que lhe foram dados e que pode incorrer em casos omissivos ou
comissivos conforme vimos acima a previsatildeo nos Drafts Articles
Podemos entatildeo depreender que o Estado agindo de forma omissa nos casos de
proteccedilatildeo aos direitos humanos faz com que o Estado tenha responsabilidade pelos danos
causados por essa omissatildeo pois consiste em natildeo-vigilacircncia de um direito de proteccedilatildeo
Ademais ao natildeo cumprir com uma obrigaccedilatildeo internacional tambeacutem se imputa a um
determinado Estado de forma objetiva135
Na visatildeo de Canccedilado Trindade juiz do Tribunal Internacional de Justiccedila na
ocorrecircncia de grave violaccedilatildeo de direitos humanos pouco importa a diferenciaccedilatildeo de jure
imperii (atos cometidos pelo proacuteprio governo) e jure gestionis (atos praticados por entes
privados com aquiescecircncia do Estado) Para o magistrado tal classificaccedilatildeo natildeo tem
importacircncia devido a gravidade dos atos e portanto o Estado deve ser responsabilizado136
136 Violaccedilatildeo de uma Obrigaccedilatildeo Internacional
A respeito da violaccedilatildeo de uma obrigaccedilatildeo internacional dois pontos devem ser
analisados sobre qual a forma de violaccedilatildeo ocorreu ou seja se foi violaccedilatildeo de obrigaccedilotildees
entre Estados atraveacutes de tratados e obrigaccedilotildees dos Estados perante a comunidade
internacional Assim o primeiro ponto referente a obrigaccedilotildees inter partes refere-se a
descumprimentos de tratados bilaterais ou multilaterais jaacute o segundo ponto eacute referente agrave
proteccedilatildeo de um interesse coletivo acordado em tratados multilaterais abertos137
No entanto quanto agraves obrigaccedilotildees dos Estados perante a comunidade internacional
sendo estas obrigaccedilotildees erga omnes fundamento eacute o interesse puacuteblico comunitaacuterio
internacional138
Acima jaacute explicamos que a Comissatildeo de Direito Internacional rejeitou os termos
ldquocrimes internacionaisrdquo ldquocrimes de Estadordquo e inclusive ldquoiliacutecito excepcionalmente graverdquo
Nesse sentido chegaram ao termo ldquoviolaccedilotildees graves de obrigaccedilotildees internacionaisrdquo ou seja
135 MACHADO Joacutenatas E M Direito Internacional Op cit 136 INTERNATIONAL COURT OF JUSTICE Jurisdictional Immunities of the State (Germany v Italy
Greece intervening) General List Nordm 143 Disponiacutevel em httpswwwicj-cijorgencase143 Acesso em
11092020 137 MACHADO Joacutenatas E M Direito Internacional Op cit 138 Ibidem
46
os serious breach Entatildeo satildeo consideradas violaccedilotildees graves quando se tratar de violaccedilotildees
de normas jus cogens pois consistem em normas imperativas de direito internacional
137 Princiacutepio Non-Refoulement como Norma Jus Cogens
Como exposto anteriormente o princiacutepio do non-refoulement eacute de extrema
importacircncia na proteccedilatildeo internacional dos refugiados previsto no artigo 33 da Convenccedilatildeo
de 1951 Dessa forma seraacute demonstrado a seguir que o referido princiacutepio consiste em norma
jus cogens do Direito Internacional sendo portanto uma norma de elite natildeo aceitando
qualquer transgressatildeo independentemente se for unilateral bilateral ou multilateral Vimos
que ao se afirmar que determinada regra tem natureza de jus cogens os Estados estatildeo
proibidos de violar essa norma Entatildeo caracterizar o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo como norma
desta natureza configura um poderoso instrumento a fim de salvaguardar a proteccedilatildeo dos
refugiados
Aleacutem da Convenccedilatildeo de 1951 outros tratados de direitos humanos como a
Convenccedilatildeo Contra a Tortura de 1984 que em seu artigo terceiro nordm1 traz a proibiccedilatildeo de
enviar uma pessoa de volta a um paiacutes em que seraacute submetido agrave tortura como segue
ldquoNenhum Estado Parte procederaacute agrave expulsatildeo devoluccedilatildeo ou extradiccedilatildeo de uma pessoa para
outro Estado quando houver razotildees substanciais para crer que a mesma corre perigo de ali
ser submetida agrave torturardquo139
Neste aspecto destaca-se o ponto de que a Convenccedilatildeo Contra a Tortura mencionada
acima eacute mais ampla que a Convenccedilatildeo de 1951 tendo em vista que a primeira natildeo comporta
nenhuma exceccedilatildeo ou seja ningueacutem deveraacute ser enviado para algum local onde seraacute
submetido agrave tortura e a segunda traz consigo algumas exceccedilotildees140 Tal fato demonstra que
o princiacutepio do non-refoulement eacute absoluto natildeo comportando nenhuma violaccedilatildeo quando
analisado agrave luz da Convenccedilatildeo Contra a Tortura Ambas Convenccedilotildees satildeo documentos que
referem-se agrave proteccedilatildeo dos indiviacuteduos bem como proteccedilatildeo da vida assim ainda que a
Convenccedilatildeo de 1951 tenha previsto exceccedilotildees ao princiacutepio em questatildeo se um Estado
139 NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Crueacuteis Desumanos ou
Degradantes 1984 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto1990-1994D0040htm
Acesso em 12092020 140 PAULA Bruna V O Princiacutepio do Non-Refoulement sua Natureza Jus Cogens e a Proteccedilatildeo Internacional
dos Refugiados 2006 Disponiacutevel em httpsrevistaibdhorgbrindexphpibdhissueview14 Acesso em
12092020
47
promover a devoluccedilatildeo de algueacutem para lugar onde poderaacute ser submetido agrave tortura e
consequentemente ter sua vida em risco estaraacute violando a Convenccedilatildeo Contra a Tortura
Portanto apesar das exceccedilotildees previstas na Convenccedilatildeo de 1951 elas natildeo podem ser aplicadas
sob pena de violaccedilatildeo do artigo 3ordm nordm1 da Convenccedilatildeo Contra a Tortura
Dessa forma a Convenccedilatildeo de 1951 natildeo deve ser interpretada de forma isolada mas
deve ter por base os tratados de direitos humanos que complementam a garantia de proteccedilatildeo
agravequeles que necessitam ser protegidos A interpretaccedilatildeo portanto deve ser entendida dentro
do complexo juriacutedico (tratados e jurisprudecircncias)141
Ademais como jaacute visto anteriormente uma norma para ter a natureza de jus cogens
precisa cumprir dois requisitos previstos no artigo 53 da Convenccedilatildeo de Viena como segue
ldquo()uma norma aceite e reconhecida pela comunidade internacional dos Estados no seu todo
como norma cuja derrogaccedilatildeo natildeo eacute permitida ()142rdquo Portanto os dois pontos para uma
norma ser considerada jus cogens consistem em ser aceita pela comunidade internacional e
natildeo admitir derrogaccedilatildeo
Assim no que se refere ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo temos que tal princiacutepio eacute
reconhecido e aceite no todo pela comunidade internacional dos Estados pois estaacute prevista
na Convenccedilatildeo de 1951 bem como em outros tratados de direitos humanos como por
exemplo Convenccedilatildeo Contra a Tortura de 1984 jaacute mencionada anteriormente Convenccedilatildeo
Sobre os Refugiados da OUA de 1969 Convenccedilatildeo Americana Sobre os Direitos Humanos
de 1969 entre outras portanto o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo deve ser visto como uma garantia
fundamental ao refugiado pois assegura seus direitos miacutenimos como a natildeo tortura e a vida
No que tange a derrogaccedilatildeo agrave proacutepria Convenccedilatildeo de 1951 traz no artigo 42 nordm1 que
os artigos admitem reservas com exceccedilatildeo de alguns sendo que o artigo 33 referente ao
princiacutepio da natildeo-repulsatildeo natildeo admite reservas Vejamos ldquoArt 42 - Reservas 1 No momento
da assinatura da ratificaccedilatildeo ou da adesatildeo qualquer Estado poderaacute formular reservas aos
artigos da Convenccedilatildeo outros que natildeo os arts 1ordm 3ordm 4ordm 16 (1) 33 36 a 46 inclusiverdquo143 o
mesmo dispotildee o artigo 7 nordm1 do Protocolo de 1967 No mesmo sentido a interpretaccedilatildeo
conjunta do artigo 3ordm nordm1 e o artigo 2ordm nordm 2 ambos da Convenccedilatildeo Sobre a Tortura de 1984
podemos depreender que o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo previsto no artigo 3ordm natildeo pode ser
derrogado pois no artigo 2ordm dispotildee que ldquoEm nenhum caso poderatildeo invocar-se circunstacircncias
141 PAULA Bruna V Op cit 142 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo de Viena sobre o Direito dos Tratados Op cit 143 Ibidem
48
excepcionais tais como ameaccedila ou estado de guerra instabilidade poliacutetica interna ou
qualquer outra emergecircncia puacuteblica como justificaccedilatildeo para torturardquo144 No entanto mesmo se
pairasse alguma duacutevida sobre a natildeo-derrogabilidade do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo a
Resoluccedilatildeo 52132 das Naccedilotildees Unidas traz expressamente ldquo() and recalling that the
principle of non-refoulement is not subject to derogation145rdquo
Nesse prisma podemos afirmar que o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo consiste em uma
norma de natureza jus cogens e por este motivo eacute uma norma superior devendo ser
obedecida pelos Estados e em caso de violaccedilatildeo o Estado violador deveraacute ser
responsabilizado
144 NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Crueacuteis Desumanos ou
Degradantes 1984 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto1990-1994D0040htm
Acesso em 12092020 145 GENERAL ASSEMBLY UNITED NATIONS Resolution Adopted by the General Assembly ndash Resolution
52132 Human rights and mass exoduses 1998 Disponiacutevel em httpsundocsorgenARES52132 Acesso
em 12092020
49
CAPIacuteTULO 2
O ASILO NA ORDEM JURIacuteDICA EUROPEIA E NACIONAIS
Este capiacutetulo eacute destinado ao estudo da legislaccedilatildeo europeia a respeito do procedimento
de asilo bem como de legislaccedilotildees a respeito de alguns Estados europeus como Itaacutelia
Portugal Greacutecia Malta Espanha Franccedila e Alemanha Para isso em um primeiro momento
seraacute feita a anaacutelise do instituto de asilo para posteriormente analisar a ordem juriacutedica
internacional europeia e nacionais sobre o assunto
Assim foi a partir do seacuteculo XX que o fluxo de refugiados na Europa intensificou
ocasionado por vaacuterios fatos como por exemplo o fim dos impeacuterios russo e otomano a
ascensatildeo dos governos totalitaristas o comunismo que foi ressaltado no leste europeu apoacutes
a Segunda Guerra Mundial e mais recentemente a Primavera Aacuterabe146 Dessa forma passa-
se a analisar o instituto do asilo
21 O Asilo Aspectos Gerais
Inicialmente destaca-se que o instituto do asilo estaacute previsto no Tratado de Lisboa
no artigo 3ordm como segue
A Uniatildeo proporciona aos seus cidadatildeos um espaccedilo de liberdade
seguranccedila e justiccedila sem fronteiras internas em que seja assegurada a livre
circulaccedilatildeo de pessoas em conjugaccedilatildeo com medidas adequadas em
mateacuteria de controlos na fronteira externa de asilo e imigraccedilatildeo bem
como de prevenccedilatildeo da criminalidade e combate a este fenoacutemeno147
Assim logo no iniacutecio do Tratado percebemos que a questatildeo do asilo e imigraccedilatildeo eacute
assunto importante para a Uniatildeo Europeia e que por isso deve haver medidas adequadas a
este respeito bem como assuntos de controle das fronteiras portanto eacute niacutetido o destaque
que a soberania de um paiacutes tem a respeito da questatildeo do asilo assunto que seraacute abordado
adiante
146 CIERCO Teresa Op cit 147 UNIAtildeO EUROPEIA Tratado de Lisboa Disponiacutevel em
httpswwwparlamentopteuropaDocumentsTratado_Versao_Consolidadapdf Acesso em 31032020
50
A respeito da conceitualizaccedilatildeo do asilo Teresa Cierco dispotildee ldquoO asilo consiste numa
praacutetica antiga de concessatildeo de protecccedilatildeo a algueacutem em perigo () Asilo eacute o que o refugiado
procura quando sente que a sua vida ou liberdade estatildeo ameaccediladas no seu paiacutes de origemrdquo148
portanto trata-se de uma proteccedilatildeo concedida a estrangeiro em determinado Estado Assim
a referida proteccedilatildeo tem o objetivo de promover a seguranccedila do indiviacuteduo sendo esta um
direito fundamental previsto na Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem de 1948149
Haacute tambeacutem a Declaraccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre Asilo Territorial que no artigo 1ordm
nordm 1 traz a seguinte disposiccedilatildeo ldquoO asilo concedido por um Estado no exerciacutecio da sua
soberania a pessoas que tenham justificaccedilatildeo para invocar o artigo 14ordm da Declaraccedilatildeo
Universal dos Direitos do Homem ()rdquo150 Portanto o referido dispositivo traz que questatildeo
de conceder asilo estaacute inserida na questatildeo da soberania estatal tendo por base o direito de
asilo previsto na Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem
A professora Teresa Cierco chama a atenccedilatildeo no sentido de que aleacutem da Convenccedilatildeo
de 1951 a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem de 1948 tambeacutem merece destaque
nas questotildees atinentes agrave questatildeo do asilo pois em seu artigo 3ordm dispotildee ldquoTodo ser humano
tem direito agrave vida agrave liberdade e agrave seguranccedila pessoalrdquo e aleacutem deste os artigos 13 e 14 nos
quais dispotildeem a respeito agrave liberdade de locomoccedilatildeo bem como o direito de asilo
respectivamente151
Assim chama-se a atenccedilatildeo para a redaccedilatildeo do artigo 14 da Declaraccedilatildeo Universal dos
Direitos do Homem como segue
1 Todo ser humano viacutetima de perseguiccedilatildeo tem o direito de procurar e de gozar
asilo em outros paiacuteses
2 Este direito natildeo pode ser invocado em caso de perseguiccedilatildeo legitimamente
motivada por crimes de direito comum ou por atos contraacuterios aos objetivos e
princiacutepios das Naccedilotildees Unidas152
No mencionado dispositivo percebemos que no nordm 1 nada mais eacute que uma alusatildeo ao
conceito de refugiado ou seja a pessoa viacutetima de perseguiccedilatildeo tem o direito de procurar asilo
148 CIERCO Teresa Op cit p15 149 Ibidem 150 NACcedilOtildeES UNIDAS Declaraccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas Sobre o Asilo Territorial 1967 Disponiacutevel
httpswwwacnurorgfileadminDocumentosportuguesBD_LegalInstrumentos_InternacionaisDeclaracao
_ONU_Asilo_Territorialpdffile=fileadminDocumentosportuguesBD_LegalInstrumentos_Internacionais
Declaracao_ONU_Asilo_Territorial Acesso em 09032020 151 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem 1948
Disponiacutevel em httpsnacoesunidasorgwp-contentuploads201810DUDHpdf Acesso em 05032020 152 Ibidem
51
e ter uma vida digna ressalta-se poreacutem que no nordm2 haacute uma exceccedilatildeo agrave concessatildeo de asilo
isto eacute pessoas que cometeram crimes de direito comum ou que praticaram atos contraacuterios
aos princiacutepios e ideais das Naccedilotildees Unidas em teoria natildeo poderiam invocar direito de asilo
No entanto vimos que o indiviacuteduo natildeo deve requerer asilo a fim de se livrar das penalidades
impostas devido ao cometimento de crimes mas caso a pessoa corra o risco de ter seus
direitos humanos baacutesicos violados ela poderaacute cumprir a pena no local de asilo
No que tange a Convenccedilatildeo de 1951 quando um indiviacuteduo eacute reconhecido como
refugiado haacute o direito de asilo ou seja esse instituto consiste na proteccedilatildeo do indiviacuteduo tanto
na questatildeo da seguranccedila fiacutesica como tambeacutem engloba o direito de natildeo ser enviado de volta
ao paiacutes que o perseguia e tambeacutem ter agrave sua disposiccedilatildeo assistecircncia na soluccedilatildeo de problemas
referentes a sua inserccedilatildeo no novo paiacutes153
O real intuito da Convenccedilatildeo natildeo eacute instituir o direito de asilo apesar de ter esse efeito
uma vez que a pessoa adquire o status de refugiado ela possui o direito de receber o
benefiacutecio de asilo poreacutem as normas da concessatildeo do asilo ficam a criteacuterio de cada Estado
Neste aspecto cita-se como instrumentos limitadores do Estado o princiacutepio da natildeo repulsatildeo
e natildeo expulsatildeo como jaacute vimos anteriormente bem como a limitaccedilatildeo das sanccedilotildees penais
para quem entrar de forma ilegal no paiacutes154
Assim entende-se que o direito de asilo consiste em um direito que se submete agrave
soberania de cada paiacutes ou seja cada paiacutes tem a sua normatizaccedilatildeo a respeito do asilo que
deve ser seguida portanto tendo caraacuteter poliacutetico mas aleacutem de um direito poliacutetico consiste
em um direito cultural pressupondo um elo de normas entre as democracias e a
universalidade dos direitos humanos Portanto o asilo depende dos interesses de cada paiacutes
mas tambeacutem haacute o lado solidaacuterio dos Estados em socorrer as pessoas que necessitam de
proteccedilatildeo155 Diz-se portanto que os Estados possuem o poder soberano de disciplinar as
regras a respeito do asilo mas sendo limitado pelos direitos humanos
Cita-se tambeacutem a CAS ou seja Convenccedilatildeo de Aplicaccedilatildeo do Acordo de Schengen
elaborada no ano de 1985 que traz os conceitos de ldquopedido de asilordquo ldquorequerente de asilordquo
e ldquotratamento de um pedido de asilordquo Assim o primeiro consiste em qualquer pedido
apresentado por estrangeiro que esteja na fronteira externa ou no territoacuterio de uma parte
contratante podendo o pedido ser feito oralmente escrito ou qualquer outra forma e que
153 CIERCO Teresa Op cit 154 Ibidem 155 Ibidem
52
tenha intuito de que se reconheccedila a condiccedilatildeo de refugiado do requerente a fim de se obter a
autorizaccedilatildeo de residecircncia ressalta-se que se deve ter como base a Convenccedilatildeo de Genebra
1951 e o Protocolo de 1967 no que se refere ao segundo conceito consiste no estrangeiro
que requereu asilo nas condiccedilotildees previstas na CAS e ainda natildeo teve decisatildeo e por fim
entende-se por tratamento de um pedido de asilo os atos realizados durante o procedimento
ou seja os atos de anaacutelise e decisatildeo bem como as medidas a serem aplicadas156
211 O Asilo e a Soberania do Estado
Antes de analisar a questatildeo da soberania propriamente dita eacute necessaacuterio entender a
ideia de ldquoterritoacuteriordquo ou seja trata-se de um elemento fundamental do Estado sendo
constituiacutedo por partes continentais delimitado pelas suas fronteiras bem como o territoacuterio
mariacutetimo (composto pelas aacuteguas interiores arquipelaacutegicas e o mar territorial)157
Assim a questatildeo do asilo esbarra num dos pontos mais importantes do Direito
Internacional Puacuteblico que eacute a soberania do Estado e dentro deste conceito inclui o controle
de entrada saiacuteda e permanecircncia no territoacuterio de um determinado paiacutes Nesse sentido Teresa
Cierco explica ldquo() enquanto exerciacutecio de soberania estatal o direito de asilo eacute em direito
internacional o direito que um Estado tem em conceder protecccedilatildeo sobre o seu territoacuterio a
algueacutem que o solicitardquo158 portanto natildeo se trata aqui de um direito de uma pessoa em obter
asilo mas sim um direito Estatal de conceder o asilo Dessa forma o Estado concedente do
asilo pratica um ato de humanidade
No que se refere agrave obrigaccedilatildeo (ou natildeo) de um Estado conceder asilo a um refugiado
tem-se que os Estados ao assinarem instrumentos internacionais acabam por aceitar essa
ldquoobrigaccedilatildeordquo portanto natildeo se trata de direito de asilo do refugiado mas sim o direito de
concessatildeo de asilo pelo Estado Assim o Estado que acolhe pode natildeo conceder asilo mas
156 CONVENCcedilAtildeO DE APLICACcedilAtildeO DO ACORDO DE SCHENGEN Disponiacutevel em httpseur-
lexeuropaeulegal-contentptTXTuri=celex3A42000A0922280229 Acesso em 29032020 157 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Controllo dele Frontiere Statali e Respingimenti nel Diritto
Internazionale e nel Diritto del Mare In Diritto Immigrazione e Cittadinanza Nordm 12020 Disponiacutevel em
httpswwwdirittoimmigrazionecittadinanzaitarchivio-saggi-commentisaggifascicolo-n-1-2020-1532-
controllo-delle-frontiere-statali-e-respingimenti-nel-diritto-internazionale-e-nel-diritto-del-mare Acesso em
19062020 158 CIERCO Teresa Op cit p 74
53
tambeacutem natildeo pode devolver o indiviacuteduo ao paiacutes de origem sendo que natildeo haacute nenhuma
proibiccedilatildeo de enviar o indiviacuteduo para outro Estado que possa conceder asilo159
Poreacutem ao que se refere agrave soberania do Estado haacute duas situaccedilotildees contrastantes a
primeira consiste no poder dos Estados em controlar as suas fronteiras analisando quem
entra e quem sai em seu territoacuterio por outro lado a globalizaccedilatildeo integraccedilatildeo e regionalizaccedilatildeo
satildeo fenocircmenos em que resulta uma interdependecircncia dos Estados em vaacuterios pontos assim
com base nesses fenocircmenos o Estado tem sua soberania reduzida e os limites territoriais
diluiacutedos como eacute o caso da Uniatildeo Europeia160
Nos seacuteculos passados a soberania de um Estado era vista como uma condiccedilatildeo
absoluta isso significa que os governos poderiam ter quaisquer atos referentes a tratamentos
de nacionais e minorias por exemplo Contudo nas uacuteltimas deacutecadas passou-se a priorizar
os direitos humanos presente nos principais documentos internacionais portanto muitos
Estados passam a praticar atos em prol dos direitos humanos161
Devido aos fenocircmenos mencionados acima tem-se que a ideia de Estado soberano
vem se diluindo ao longo do tempo devido ao aumento da interdependecircncia dos Estados
neste ponto os Estados tentam individualmente zelar pela pouca independecircncia que lhes
restam ou seja de se defender das ameaccedilas de cunho mundial como problemas ambientais
traacuteficos internacionais iliacutecitos terrorismo entre outras situaccedilotildees multinacionais162
Nesse sentido percebemos que haacute diversos obstaacuteculos no que tange a soberania pois
os paiacuteses ao se comprometerem a respeitar os direitos humanos devem ter as decisotildees
poliacuteticas convergentes a tais direitos isso implica tanto em poliacuteticas internas quanto
externas resultando portanto em limitaccedilotildees no poder estatal163
Sabe-se que o direito dos refugiados estaacute inserido nos direitos humanos e estatildeo
presentes nas legislaccedilotildees internacionais bem como na legislaccedilatildeo nacional de cada paiacutes
Neste aspecto tem-se que um dos principais fatores de influecircncia nas medidas do paiacutes e dos
cidadatildeos como um todo eacute a situaccedilatildeo econocircmica de cada Estado assim um paiacutes com maiores
condiccedilotildees financeiras tende a receber mais refugiados Da mesma forma em tempos de que
haacute ascensatildeo da economia faz com que a concessatildeo de asilo seja maior por outro lado em
159 CIERCO Teresa Op cit 160 Ibidem 161 Ibidem 162 Ibidem 163 Ibidem
54
periacuteodos de recessatildeo um nuacutemero menor de requisiccedilatildeo de asilo eacute concedido Portanto os
paiacuteses mais generosos no que tange a aceitaccedilatildeo dos requerimentos de asilo satildeo aqueles mais
ricos e que possuem maior estabilidade interna164
No mesmo sentido Irini Papanicolopulu e Giulia Baj dispotildeem que os Estados tecircm o
direito de decidir quem seraacute admitido no territoacuterio poreacutem eacute consenso de que este direito de
rejeitar as pessoas eacute absoluto pois os Estados devem respeitar aos compromissos
internacionais firmados165
Os Estados portanto tem sua soberania limitada atraveacutes dos documentos
internacionais em que satildeo signataacuterios pois ao assinarem tais documentos se comprometem
a agirem de determinada maneira Assim os paiacuteses estatildeo limitados e natildeo possuem total
liberdade para decidirem assuntos referentes agrave concessatildeo de asilo Poreacutem nota-se da anaacutelise
praacutetica das atividades fronteiriccedilas que os Estados agem de acordo com os seus interesses166
22 A Instituiccedilatildeo de Asilo no Continente Europeu
Historicamente a Europa sempre se destacou como um continente rico e que
proporcionava riqueza e uma melhor qualidade de vida para aqueles que a habitavam aleacutem
de tambeacutem se destacar pelos governos democraacuteticos Acreditou-se que apoacutes o teacutermino da
Guerra Fria a situaccedilatildeo dos refugiados ficaria mais faacutecil devido a facilidade de fazer acordos
poreacutem natildeo foi o que aconteceu a Uniatildeo Sovieacutetica se dividiu em vaacuterios outros paiacuteses e gerou
muitos conflitos bem como muitos refugiados167
Atualmente tem-se que a situaccedilatildeo dos refugiados extrapola o acircmbito dos direitos
humanos e a questatildeo humanitaacuteria consiste tambeacutem em situaccedilotildees relacionadas agrave seguranccedila e
paz Dessa forma faz-se necessaacuterio encontrar boas soluccedilotildees (duraacuteveis) a fim de proporcionar
a maior proteccedilatildeo possiacutevel dos refugiados168
Para se falar em nuacutemeros tem-se que os recordes de refugiados na Europa ocorreram
nos anos de 2015 e 2016 sendo que neste uacuteltimo foram 1 milhatildeo e trezentos pedidos de asilo
no continente europeu no ano de 2017 foram por volta de 728 mil pedidos de asilo e quase
164 CIERCO Teresa Op cit 165 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit 166 CIERCO Teresa Op cit 167 Ibidem 168 Ibidem
55
635 mil no ano de 2018 Destes pedidos de 2018 foram concedidos por volta 333 mil
pedidos notando-se uma queda de 40 na concessatildeo de asilo quando comparado com o ano
anterior isto eacute 2017169
No que consiste a proteccedilatildeo dos refugiados a partir do ano 1989 as organizaccedilotildees
internacionais ganharam espaccedilo e passaram atuar de forma mais ampla pois anteriormente
eram limitadas pela questatildeo da soberania dos estados assim priorizou-se a ajuda
internacional humanitaacuteria sendo que a ONU passou a negociar diretamente com quem
possuiacutea o poder poliacutetico do local seja o proacuteprio Estado ou algum movimento que laacute estava
a fim de chegar ateacute os refugiados170
Os conflitos gerados apoacutes a Guerra Fria bem como outros acontecimentos
internacionais geraram uma grande instabilidade e proporcionou uma atualizaccedilatildeo do que se
entendia por seguranccedila nacional e internacional pois anteriormente isto eacute durante o periacuteodo
da disputa de poderes da Guerra Fria entendia-se como sinocircnimo de seguranccedila o poderio
beacutelico e militar desenvolvimento e evoluccedilatildeo tecnoloacutegica produccedilatildeo das induacutestrias e as
alianccedilas que poderiam trazer algum tipo de seguranccedila Assim a nova conceitualizaccedilatildeo de
seguranccedila trouxe novos problemas como por exemplo questotildees ambientais relativas agrave
poluiccedilatildeo o traacutefico de drogas crime organizado e terrorismo violaccedilatildeo dos direitos humanos
e migraccedilotildees em larga escala Isso fez com que os paiacuteses adotassem a cooperaccedilatildeo para tentar
solucionar os problemas surgindo neste contexto a OSCE que consiste na Organizaccedilatildeo para
a Seguranccedila e Cooperaccedilatildeo na Europa171
Com o desenvolvimento do assunto fez com que a regulamentaccedilatildeo passasse do
Conselho da Europa para os membros da Uniatildeo Europeia de forma cooperada mas ressalta-
se que o objetivo do referido Conselho e da UE natildeo satildeo os mesmos Enquanto o bloco
econocircmico busca caminhos para se proteger do fluxo exagerado de refugiados o Conselho
da Europa jaacute enfoca os direitos do homem e os direitos fundamentais portanto enfoques
quase que antagocircnicos Assim o Conselho da Europa consiste em um foacuterum de paiacuteses da
Europa sendo sua composiccedilatildeo por 47 membros e trata-se de um oacutergatildeo voltado para a defesa
dos direitos do homem172
169 PARLAMENTO EUROPEU Asilo e Migraccedilatildeo na UE em Nuacutemeros 2019 Disponiacutevel em
httpswwweuroparleuropaeunewsptheadlinesprioritiesmigracao20170629STO78630asilo-e-
migracao-na-ue-em-numeros Acesso em 06042020 170 CIERCO Teresa Op cit 171 Ibidem 172 Ibidem
56
Existem muitos documentos adotados ao longo do tempo pelo referido oacutergatildeo que
tratam da questatildeo do asilo e direito dos refugiados Dessa forma apenas como uma
demonstraccedilatildeo histoacuterica cita-se abaixo alguns documentos que Teresa Cierco destacou173
bull Recomendaccedilatildeo nordm 293 (elaborada em 1961 pela Assembleia Consultiva do
Conselho da Europa) que sugere a inserccedilatildeo de um artigo referente agrave questatildeo
de asilo em protocolo da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos do Homem
bull Recomendaccedilatildeo nordm 434 (elaborada em 1965 tambeacutem pela Assembleia
Consultiva do Conselho da Europa) que refere ao direito de asilo aos
refugiados do continente europeu destacando a ideia de que o direito de asilo
faz parte das tradiccedilotildees do continente europeu e faz um convite aos paiacuteses a
respeitarem o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo
bull Resoluccedilatildeo nordm 14 (elaborada pelo Comitecirc de Ministros em 1967) e trata da
questatildeo da concessatildeo de asilo agraves pessoas que satildeo ameaccediladas de perseguiccedilatildeo
promovendo asilo a fim de evitar sofrimento a partir de algum tipo de
negativa de entrada expulsatildeo ou qualquer outro ato que leve o indiviacuteduo a
permanecer ou regressar para local onde sofre perseguiccedilatildeo
bull Resoluccedilatildeo nordm 817 (elaborada pela Assembleia Parlamentar em 1977) apoia a
Resoluccedilatildeo nordm 14 jaacute mencionada acima e pede o reconhecimento da Comissatildeo
Europeia dos Direitos do Homem como competente para a anaacutelise das
requisiccedilotildees de asilo bem como a manutenccedilatildeo de comportamento liberal
perante os indiviacuteduos que requerem asilo em seus paiacuteses Isso porque a
Convenccedilatildeo Sobre Asilo Territorial fracassou assim essa resoluccedilatildeo veio para
reafirmar as previsotildees que jaacute existiam e considerar o instituto do asilo como
ato humanitaacuterio
bull Recomendaccedilatildeo nordm 1088 (elaborada em 1988 pela Assembleia Parlamentar)
que trata sobre o direito de asilo territorial demonstra a intenccedilatildeo de proteger
de forma plena o direito de asilo territorial
bull Recomendaccedilatildeo nordm 1237 (elaborada em 1994) que se refere agraves requisiccedilotildees de
asilo que foram indeferidas e reafirmou que qualquer indiviacuteduo que sofra
173 CIERCO Teresa Op cit
57
perseguiccedilatildeo tem o direito de procurar asilo poreacutem destacou tambeacutem que
cabe agrave cada Estado a concessatildeo de asilo por se tratar de questatildeo da soberania
nacional
bull Diretiva 832004 que consiste num documento da Uniatildeo Europeia que possui
um consideraacutevel acolhimento do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo este documento
trata da normatizaccedilatildeo miacutenima necessaacuteria a fim de atingir a proteccedilatildeo
internacional Poreacutem ressalta-se que o referido princiacutepio natildeo deve ser
considerado de forma independente ou desvinculado de outras legislaccedilotildees
Assim deve-se analisar de forma conjunta com as accedilotildees realizadas para
retirar estrangeiros do territoacuterio de um determinado paiacutes ou seja situaccedilatildeo de
extradiccedilatildeo expulsatildeo e deportaccedilatildeo
No que se refere agrave deportaccedilatildeo tal medida somente eacute adotada quando o indiviacuteduo que
requereu asilo natildeo foi enquadrado no estatuto do refugiado assim o indiviacuteduo por conta
proacutepria deveraacute deixar o territoacuterio caso natildeo seja feito a medida deve ser realizada pelo Estado
Quanto agrave expulsatildeo a situaccedilatildeo eacute um pouco mais gravosa pois ldquoocorrerdquo quando o indiviacuteduo
promove atentados contra a seguranccedila nacional eou perturbe a tranquilidade puacuteblica174 No
que se refere agrave esse instituto referente aos refugiados vimos que a sua expulsatildeo deve ser
analisada com muita cautela ou seja se a pessoa se enquadrar no conceito de refugiado mas
eacute um criminoso ele natildeo pode se valer do instituto do asilo para ficar livre da penalidade no
entanto natildeo deve ser enviado para algum paiacutes em que teraacute seus direitos humanos violados
221 Principais Documentos Sobre o Asilo na Ordem Juriacutedica Europeia
Sabemos que a grandiosidade do bloco da Uniatildeo Europeia faz-se necessaacuterio uma
seacuterie de normatizaccedilotildees dos assuntos e no que tange asilo e imigraccedilatildeo eacute importante que as
disposiccedilotildees entre os paiacuteses que fazem parte do bloco sejam harmocircnicas ou seja para uma
maior efetividade das medidas de asilo e imigraccedilatildeo as regras para os paiacuteses devem ser as
mesmas Assim neste toacutepico analisa-se os principais documentos europeus que abordam o
assunto
174 CIERCO Teresa Op cit
58
bull Tratado da Uniatildeo Europeia (Tratado de Lisboa)
O TUE eacute um dos principais tratados que regem as normas a serem adotadas na Uniatildeo
Europeia Como jaacute mencionado anteriormente desde o iniacutecio (no artigo 3ordm) a UE demonstra
a sua preocupaccedilatildeo a respeito do assunto Assim a seguir analisa-se os pontos importantes
do Tratado relativos a este assunto
Dessa forma o Tiacutetulo V denominado ldquoO Espaccedilo de Liberdade Seguranccedila e Justiccedilardquo
trata mais especificamente sobre o assunto ou seja no artigo 67 nordm 2 consta
A Uniatildeo assegura a ausecircncia de controlos de pessoas nas fronteiras
internas e desenvolve uma poliacutetica comum em mateacuteria de asilo de
imigraccedilatildeo e de controlo das fronteiras externas que se baseia na
solidariedade entre Estados-Membros e que eacute equitativa em relaccedilatildeo aos
nacionais de paiacuteses terceiros175
Neste dispositivo nota-se o desejo da Uniatildeo Europeia em ter as regras sobre asilo e
imigraccedilatildeo harmonizadas bem como ressalta a ausecircncia dos controles nas fronteiras internas
Nesse sentido o Capiacutetulo 2 do Tiacutetulo V trata do assunto de asilo e imigraccedilatildeo bem como
sobre o controle das fronteiras externas No artigo 78 nordm2 haacute a disposiccedilatildeo para que se tenha
um documento uniforme referente a asilo bem como proteccedilatildeo subsidiaacuteria dos indiviacuteduos
que natildeo obterem o asilo mas mesmo assim necessitarem de proteccedilatildeo internacional e outras
situaccedilotildees referentes agraves pessoas que necessitam de acolhimento ou proteccedilatildeo
Assim como mencionado acima a UE preza pela harmonia entre as regras a respeito
de diversos assuntos e a questatildeo de asilo e imigraccedilatildeo natildeo eacute diferente isto estaacute expressamente
no artigo 78 como segue
A Uniatildeo desenvolve uma poliacutetica comum em mateacuteria de asilo de protecccedilatildeo
subsidiaacuteria e de protecccedilatildeo temporaacuteria destinada a conceder um estatuto adequado
a qualquer nacional de um paiacutes terceiro que necessite de protecccedilatildeo
internacional e a garantir a observacircncia do princiacutepio da natildeo repulsatildeo176
A UE aleacutem de enfatizar que a questatildeo do asilo tem poliacutetica comum destaca-se
tambeacutem a preocupaccedilatildeo do bloco com aqueles que necessitam de proteccedilatildeo e por isso prezam
175 UNIAtildeO EUROPEIA Tratado de Lisboa Disponiacutevel em
httpswwwparlamentopteuropaDocumentsTratado_Versao_Consolidadapdf Acesso em 31032020 176 Ibidem
59
por conceder um tratamento adequado aos indiviacuteduos que buscam proteccedilatildeo bem como
garantir a aplicaccedilatildeo do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo
Ainda eacute importante destacar que tendo em vista que o artigo 6ordm nordm 1 do TUE satildeo
reconhecidos os direitos e garantias fundamentais previstos na Carta dos Direitos
Fundamentais da Uniatildeo Europeia Nesse sentido cita-se a importacircncia do artigo 18 do
documento no qual haacute a previsatildeo do direito de asilo como um direito fundamental bem
como o artigo 19 que proiacutebe a expulsatildeo coletiva e principalmente no nordm 2 dispotildee que
ningueacutem pode ser enviado para um paiacutes onde poderaacute ser submetido agrave pena de morte tortura
e outros tratamentos desumanos e degradantes177 Reforccedilando a importacircncia do princiacutepio da
natildeo-repulsatildeo
bull Tratado de Funcionamento da Uniatildeo Europeia (TFUE)
O Tratado de Funcionamento da Uniatildeo Europeia prevecirc algumas disposiccedilotildees a
respeito do asilo No artigo 67 nordm 2 tem a disposiccedilatildeo de que a poliacutetica de asilo na UE eacute uacutenica
e baseada na solidariedade como segue ldquo() desenvolve uma poliacutetica comum em mateacuteria
de asilo de imigraccedilatildeo e de controlo das fronteiras externas que se baseia na solidariedade
entre Estados-Membros e que eacute equitativa em relaccedilatildeo aos nacionais de paiacuteses terceiros
()rdquo178
O capiacutetulo 2 do TFUE cujo tiacutetulo eacute ldquoPoliacuteticas relativas aos controlos nas fronteiras
ao asilo e agrave imigraccedilatildeordquo tem regulamenta de forma geral o assunto Nesse sentido o artigo
78 nordm 1 reitera a poliacutetica comum de asilo bem como de proteccedilotildees subsidiaacuterias e temporaacuterias
levando sempre em conta a Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 e o Protocolo de Nova Iorque
de 1967 Por sua vez o nordm 2 do artigo mencionado traz algumas orientaccedilotildees a respeito das
poliacuteticas comuns a serem adotadas pelos Estados-membros179
Nesse sentido o mencionado diploma europeu traz a exigecircncia de que a Uniatildeo
Europeia elabore poliacuteticas comuns a fim de garantir eficaacutecia na gestatildeo dos fluxos
migratoacuterios Para isso entende-se que tanto o Parlamento Europeu quanto o Conselho devem
177 UNIAtildeO EUROPEIA Carta dos Direitos Fundamentais da Uniatildeo Europeia Disponiacutevel em
httpswwweuroparleuropaeucharterpdftext_ptpdf Acesso em 27052020 178 TRATADO DE FUNCIONAMENTO DA UNIAtildeO EUROPEIA Disponiacutevel em httpseur-
lexeuropaeulegal-contentPTTXTuri=celex3A12012E2FTXT Acesso em 07042020 179 Ibidem
60
adotar medidas relacionadas a fim de coibir a imigraccedilatildeo ilegal bem como residecircncia ilegal
o traacutefico de seres humanos e tambeacutem de promover a remoccedilatildeo e repatriamento de pessoas
que estejam com status irregular180
Portanto este documento traz apontamentos gerais para que se possa elaborar uma
poliacutetica comum de asilo no continente europeu Ressalta-se que neste documento natildeo haacute
nenhuma regra a ser aplicada de forma concreta mas sim orientaccedilotildees de que a normatizaccedilatildeo
do assunto deve ser a mesma para todos os Estados-membros
bull Convenccedilatildeo de Aplicaccedilatildeo do Acordo de Schengen (CAS)
A forte corrente migratoacuteria destinada agrave Europa fez com que os paiacuteses endurecessem
as medidas referentes agrave concessatildeo de asilo Nesse sentido cita-se a CAS conforme jaacute
falamos eacute a Convenccedilatildeo de Aplicaccedilatildeo do Acordo de Schengen que trata do assunto relativo
a pedidos de asilo no Capiacutetulo 7 (artigo 28 a 38) mas foi somente no Tratado de Amsterdatilde
eacute que tal ideia eacute trazida ao acircmbito da Uniatildeo Europeia181
No capiacutetulo supramencionado da CAS o Capiacutetulo 7 denominado
ldquoResponsabilidade pelo Tratamento de Pedidos de Asilordquo faz referecircncia agrave Convenccedilatildeo de
1951 e o Protocolo de 1967 Em resumo os Estados contratantes se comprometem em
analisar qualquer pedido de asilo que forem feitos em seus territoacuterios conforme estaacute
expresso no artigo 29 nordm1 mas ressalta-se que natildeo eacute obrigatoacuteria a concessatildeo de asilo em
todos os casos (nordm 2 do mesmo artigo)182
Poreacutem um Estado-membro com base nas suas normas nacionais pode enviar o
requerente de asilo para outro Estado e ateacute mesmo expulsar este uacuteltimo com muita
ponderaccedilatildeo desde que obedeccedila ao que estaacute previsto nos compromissos internacionais tal
disposiccedilatildeo consta tambeacutem no nordm 2 do artigo 29183 Mais uma vez ressalta-se que na
expulsatildeo em hipoacutetese alguma deve-se enviar o indiviacuteduo para algum local natildeo seguro
180 TANI Ilaria Ricerca e Soccorso nel Mediterraneo Centrale tra Diritto Internazionale e Nuove (Discutibili)
Qualificazioni del Fenomeno Migratorio In Diritto Immigrazione e Cittadinanza Nordm 32019 Disponiacutevel em
httpswwwdirittoimmigrazionecittadinanzaitarchivio-saggi-commentisaggifascicolo-n-3-2019-1474-
ricerca-e-soccorso-nel-mediterraneo-centrale-tra-diritto-internazionale-e-nuove-discutibili-qualificazioni-del-
fenomeno-migratoriofile Acesso em 22082020 181 CIERCO Teresa Op cit 182 CONVENCcedilAtildeO DE APLICACcedilAtildeO DO ACORDO DE SCHENGEN 1985 Op cit 183 Ibidem
61
Este documento traz tambeacutem qual o Estado-membro que deve analisar o pedido de
asilo trazendo portanto as regras no artigo 30 ou seja se o Estado-membro emitiu algum
visto para o indiviacuteduo ele eacute responsaacutevel pela anaacutelise ou se outro paiacutes deu autorizaccedilatildeo para
esse visto eacute o paiacutes da autorizaccedilatildeo o responsaacutevel em casos de mais de um Estado-membro
conceder algum visto o responsaacutevel eacute o que deu o visto de maior duraccedilatildeo caso o indiviacuteduo
tenha ingressado no territoacuterio sem os documentos necessaacuterios o responsaacutevel eacute o Estado-
membro em que o requerente de asilo entrou184
O documento em seu artigo 32 traz que o direito a ser aplicado no procedimento de
asilo das partes contratantes da CAS seraacute o direito nacional Portanto cada paiacutes tem a sua
independecircncia no acircmbito interno podendo aplicar as suas regras no procedimento de asilo
desde que natildeo contrarie os compromissos internacionais assumidos185
bull Convenccedilatildeo de Dublin
O alto fluxo de refugiados e as discussotildees entre os governos fez com que fosse
elaborada em 1990 a Convenccedilatildeo de Dublin (ou Regulamento Dublin) assinada pelos
paiacuteses Beacutelgica Dinamarca Alemanha Greacutecia Espanha Franccedila Irlanda Itaacutelia
Luxemburgo Holanda Portugal e Reino Unido186 Assim a finalidade era obter soluccedilatildeo
para a alta quantidade de requisiccedilatildeo de asilo Tal documento consistiu em um relevante ato
com intuito de harmonizar o direito de asilo nos paiacuteses Anteriormente as opccedilotildees eram
impedir os refugiados de entrar e requerer asilo situaccedilatildeo que contrariava o previsto na
Convenccedilatildeo de Schengen (mencionada anteriormente) ou tentar fazer com que as normas a
respeito de asilo fossem harmocircnicas Nesse sentido alguns paiacuteses limitavam a entrada de
requerentes de asilo e fazia com que estes fossem para outros paiacuteses mas que tais atitudes
em nada ajudavam na soluccedilatildeo da situaccedilatildeo187
Esta Convenccedilatildeo consiste na base do direito de asilo no sistema europeu que
determina qual paiacutes eacute responsaacutevel pela anaacutelise dos pedidos de proteccedilatildeo internacional e no
ano de 2017 foi autorizado pelo Parlamento Europeu uma reforma desta Convenccedilatildeo poreacutem
184 CONVENCcedilAtildeO DE APLICACcedilAtildeO DO ACORDO DE SCHENGEN 1985 Op cit 185 Ibidem 186 UNIAtildeO EUROPEIA CONVENCcedilAtildeO DE DUBLIN 1990 Disponiacutevel httpseur-lexeuropaeulegal-
contentPTALLuri=celex3A41997A0819280129 Acesso em 06042020 187 CIERCO Teresa Op cit
62
natildeo houve acordo a respeito ateacute o momento188 no entanto no mecircs de setembro de 2020 foi
apresentada a proposta do Novo Pacto sobre Migraccedilatildeo e Asilo que se aprovado substituiraacute
a Convenccedilatildeo tratada nesse toacutepico
Assim a Convenccedilatildeo de Dublin consistiu em um marco do direito humanitaacuterio dos
refugiados e pretendeu pocircr fim agraves situaccedilotildees em que colocavam os refugiados a circular por
vaacuterios paiacuteses sem que nenhum Estado analisasse o pedido de asilo Vaacuterias satildeo as disposiccedilotildees
a respeito do direito dos refugiados uma delas eacute a situaccedilatildeo citada anteriormente (na
Convenccedilatildeo de Schengen) isto eacute qual paiacutes eacute responsaacutevel pela anaacutelise do pedido de asilo
dessa forma entende-se que caso o refugiado tenha algum laccedilo familiar (o indiviacuteduo tiver
algum familiar em algum Estado membro) laccedilo institucional (possuir algum visto ou tiacutetulo
de residecircncia) ou inclusive entrou de forma ilegal por algum paiacutes a competecircncia para anaacutelise
da concessatildeo de asilo eacute do Estado em questatildeo ou seja no paiacutes onde estaacute o familiar onde
tem visto ou residecircncia ou no paiacutes em que entrou de forma natildeo permitida Caso o refugiado
natildeo se enquadrar nestas situaccedilotildees o paiacutes competente para analisar o pedido de asilo eacute o
primeiro paiacutes que recebeu a requisiccedilatildeo189
Em 1991 a Comissatildeo elaborou uma comunicaccedilatildeo a fim de adotar 3 medidas atinentes
ao asilo e imigraccedilatildeo no continente europeu quais sejam a primeira consistia na ldquopressatildeo
migratoacuteriardquo que levava em consideraccedilatildeo as migraccedilotildees reais e potenciais que tinham como
destino a Europa a segunda medida referia-se ao controle dos fluxos migratoacuterios levando
em conta as obrigaccedilotildees internacionais dos Estados bem como os ideais humanitaacuterios por
fim a terceira medida consistia no melhor entendimento nas medidas adotadas para integrar
os imigrantes com status legal190
Aleacutem disso conforme previsto na Convenccedilatildeo de Dublin no ano de 1992 foram
criados dois centros de informaccedilatildeo relativos agrave questatildeo dos refugiados o CIREA que
consiste no Centro de Informaccedilatildeo Investigaccedilatildeo e Intercacircmbio em Mateacuteria de Asilo e o
CIREFI que eacute o Centro de Informaccedilatildeo Investigaccedilatildeo e Intercacircmbio em Mateacuteria de Passagem
das Fronteiras e de Imigraccedilatildeo ambos para auxiliar na obtenccedilatildeo de informaccedilotildees e evitar a
188 PARLAMENTO EUROPEU Regras do Sistema de Asilo da UE a posiccedilatildeo do Parlamento sobre a reforma
da regulaccedilatildeo de Dublin Atualizado em 25072019 Disponiacutevel em
httpswwweuroparleuropaeunewsptheadlinesworld20180615STO05927regras-do-asilo-da-ue-
posicao-do-parlamento-sobre-a-reforma-da-regulacao-dublin Acesso em 06042020 189 CIERCO Teresa Op cit 190 Ibidem
63
imigraccedilatildeo clandestina utilizaccedilatildeo de documentos falsos bem como a responsabilizaccedilatildeo dos
infratores neste quesito191
Poreacutem faz-se necessaacuterio fazer uma observaccedilatildeo na explicaccedilatildeo pois em 1992 em
contrapartida aos documentos que buscavam garantir o direito internacional dos refugiados
que tinham base nos ideais humanitaacuterios e proteccedilatildeo foram editadas as ldquoResoluccedilotildees de
Londresrdquo que em partes seguiam na contramatildeo da proteccedilatildeo internacional dos refugiados
Tal ideia se firmou devido tal documento englobar resoluccedilotildees que davam mais liberdades
aos Estados para natildeo enquadrar um indiviacuteduo como refugiado (nos moldes da Convenccedilatildeo
de 1951) pois diziam sobre ldquopedidos de asilo manifestamente infundadosrdquo ldquopaiacuteses que natildeo
se verificavam graves riscos de perseguiccedilatildeordquo e ldquoabordagem harmonizada das questotildees
referentes ao paiacutes terceiro de acolhimentordquo Desse modo menciona-se a possiacutevel lesatildeo a um
dos principais princiacutepios do Direito Internacional dos Refugiados que consiste na anaacutelise
individual de cada pedido de asilo192
Voltando ao que tange a Convenccedilatildeo de Dublin destaca-se que em 2002 a Comissatildeo
Europeia fez com que o CIREA e o CIREFI cessassem suas atividades sendo criado o
EURASIL Assim foi criado o Gabinete Europeu de Apoio ao Asilo (EASO) que assumiu
a responsabilidade pelo EURASIL bem como as atividades deste193 Ressalta-se que o
EASO como o proacuteprio nome jaacute diz eacute responsaacutevel por implementar o Sistema Europeu
Comum de Asilo (SECA) apoiar e fortalecer a cooperaccedilatildeo entre os Estados-membros no
que se refere ao asilo bem como auxiliar operacionalmente os Estados-membros194
O SECA (ou CEAS em inglecircs) por sua vez tem por base o artigo 78 do Tratado de
Funcionamento da Uniatildeo Europeia (TFUE) e consiste em uma estrutura de regras que
estabelecem procedimentos comuns no que tange a proteccedilatildeo internacional bem como uma
uniformidade de status agravequeles que satildeo considerados refugiados ou possuem alguma
proteccedilatildeo subsidiaacuteria visando agrave uniformidade ou harmonizaccedilatildeo dos sistemas de asilo da
Uniatildeo Europeia tendo sempre por base a Convenccedilatildeo de Genebra de 1951195
191 CIERCO Teresa Op cit 192 Ibidem 193 COMISSAtildeO EUROPEIA EURASIL Disponiacutevel em httpseceuropaeuhome-affairswhat-we-
donetworkseuropean_migration_networkglossary_searcheurasil_en Acesso em 06042020 194 COMISSAtildeO EUROPEIA European Asylum Support Office (EASO) Disponiacutevel em
httpseceuropaeuhome-affairswhat-we-
donetworkseuropean_migration_networkglossary_searcheuropean-asylum-support-office-easo_en Acesso
em 06042020 195 COMISSAtildeO EUROPEIA Common European Asylum Sistem (CEAS) ndash Definition(s) Disponiacutevel em
httpseceuropaeuhome-affairswhat-we-
64
A Convenccedilatildeo de Dublin assim como outros documentos jaacute mencionados traz
conceitos para melhor entendimento dos termos utilizados no corpo do texto Nesse sentido
esta Convenccedilatildeo traz a conceituaccedilatildeo de estrangeiros pedido de asilo requerente de asilo
anaacutelise de um pedido de asilo tiacutetulo de residecircncia visto de entrada e visto de tracircnsito tais
conceitos estatildeo em consonacircncia com a conceituaccedilatildeo presente nos outros documentos jaacute
citados
Logo no iniacutecio no artigo 2ordm desta Convenccedilatildeo faz-se a alusatildeo agrave Convenccedilatildeo de
Genebra de 1951 e o Protocolo de Nova Iorque de 1967 ou seja ocorre a reiteraccedilatildeo do que
estaacute previsto nestes documentos pelos paiacuteses signataacuterios Assim de forma geral os
dispositivos presentes nesta Convenccedilatildeo estatildeo de acordo com vaacuterias previsotildees na CAS no
capiacutetulo 7
No entanto conforme jaacute mencionado acima desde o ano de 2017 discute-se a
possibilidade de reforma deste documento pois com a crise migratoacuteria que o continente
europeu vem sofrendo foram expostos os defeitos presentes na referida Convenccedilatildeo Dessa
forma as sugestotildees de reforma satildeo alterar a responsabilidade automaacutetica de um Estado-
membro de analisar um pedido de asilo quando o refugiado entrar por este paiacutes as pessoas
que requererem asilo e tiverem uma ldquoligaccedilatildeo genuiacutenardquo com determinado paiacutes do Estado-
membro essas pessoas devem ser enviadas para este paiacutes os que natildeo possuiacuterem tal ldquoligaccedilatildeo
genuiacutenardquo devem ser distribuiacutedos de forma igualitaacuteria para os demais Estados-membros (sob
pena de perda de acesso ao fundo europeu os paiacuteses que natildeo aceitarem esta determinaccedilatildeo)
intensificar as medidas de seguranccedila devendo as pessoas que chegarem com intuito de
requisiccedilatildeo de asilo serem identificadas e colhidas as impressotildees digitais destas reforccedilar as
regras relativas aos menores e acelerar o reagrupamento familiar entre outras sugestotildees196
Pretende-se portanto com a reforma a divisatildeo de responsabilidade pelos
requerentes de asilo para todos os Estados-membros tendo uma justa reparticcedilatildeo com base
na populaccedilatildeo e no PIB de cada Estado-membro197 A ideia natildeo eacute alterar as regras jaacute existentes
donetworkseuropean_migration_networkglossary_searchcommon-european-asylum-system-ceas_en
Acesso em 06042020 196 PARLAMENTO EUROPEU Regras do Sistema de Asilo da UE a posiccedilatildeo do Parlamento sobre a reforma
da regulaccedilatildeo de Dublin Atualizado em 25072019 Disponiacutevel em
httpswwweuroparleuropaeunewsptheadlinesworld20180615STO05927regras-do-asilo-da-ue-
posicao-do-parlamento-sobre-a-reforma-da-regulacao-dublin Acesso em 06042020 197 Ibidem
65
para determinar qual paiacutes eacute responsaacutevel pela anaacutelise dos pedidos de asilo mas sim uma
revisatildeo do regime previsto simplificando e complementando o que jaacute estaacute em vigor198
Como jaacute mencionado a Convenccedilatildeo de Dublin foi elaborada no ano de 1990 sendo
que em 2003 e 2013 houve a ediccedilatildeo dos regulamentos II e III (duas reformas)
respectivamente sendo que o Regulamento III estaacute em vigor desde 2014 Assim o sistema
de asilo previsto pelo ldquoSistema Dublinrdquo natildeo objetivou o compartilhamento de
responsabilidades dos Estados-membros pois o principal objetivo era a responsabilidade de
um determinado paiacutes para analisar as requisiccedilotildees de asilo199
Dessa forma o Regulamento Dublin III (uacuteltima reforma) indica qual Estado-membro
eacute o responsaacutevel por analisar um pedido de asilo passando por um criteacuterio hieraacuterquico de
anaacutelise ou seja unidade familiar existecircncia de visto ou autorizaccedilatildeo de residecircncia se a
entrada foi irregular ou se teve isenccedilatildeo de visto ao entrar etc mas ressalta-se que a forma
mais comum aplicada eacute a do paiacutes da UE onde o indiviacuteduo entrou200
A ideia de que o Parlamento Europeu requer um mecanismo vinculativo para que
haja uma distribuiccedilatildeo justa dos requerentes de asilo pelos Estados-membros da Uniatildeo
Europeia vem desde o ano de 2009 tendo sido editadas resoluccedilotildees pelo oacutergatildeo em 2009
2013 2014 e 2015 Na resoluccedilatildeo de abril de 2016 destacou-se a questatildeo da regiatildeo do
Mediterracircneo com a necessidade alterar a abordagem da migraccedilatildeo201
Assim a ideia do Parlamento Europeu eacute rever o criteacuterio de entrada ou seja o paiacutes
por onde entrou o indiviacuteduo eacute o responsaacutevel pela anaacutelise do pedido de asilo Entatildeo o
mencionado oacutergatildeo defende ter um sistema central de atribuiccedilatildeo de responsabilidade pelos
requerentes de asilo prevendo limites para cada paiacutes com base no nuacutemero de chegadas
Poreacutem a alocaccedilatildeo de responsabilidade natildeo deve excluir as questotildees de unidade familiar e
interesses da crianccedila202
As principais ideias do Parlamento Europeu eacute um sistema automatizado para
monitorar os pedidos de asilo recebidos e o nuacutemero dos pedidos em cada Estado-membro
tambeacutem haver um mecanismo para determinar quando um paiacutes estaacute com casos
198 PARLAMENTO EUROPEU Reform of the Dublin system Disponiacutevel em
httpswwweuroparleuropaeuRegDataetudesBRIE2016586639EPRS_BRI28201629586639_ENp
df Acesso em 07042020 199 Ibidem 200 Ibidem 201 Ibidem 202 Ibidem
66
desproporcionais de procedimento de asilo Portanto quando um paiacutes tiver o nuacutemero de
pedidos de asilo superior 150 da accedilatildeo de referecircncia seria ativado um mecanismo para
realocar os novos pedidos de asilo em toda a Uniatildeo Europeia Caso um paiacutes natildeo aceite a
atribuiccedilatildeo dos requerentes de asilo deveraacute arcar com a ldquocontribuiccedilatildeo de solidariedaderdquo de
250 mil euros por candidato203
No entanto no dia 23 de setembro de 2020 foi apresentada uma proposta da
Comissatildeo Europeia a respeito de um novo documento sobre a migraccedilatildeo chamado ldquoNovo
Pacto sobre Migraccedilatildeo e Asilordquo A intenccedilatildeo desse pacto eacute a substituiccedilatildeo da Convenccedilatildeo de
Dublin que jaacute foi reformada por duas vezes (Regulamentos II e III) A ideia desse Novo
Pacto eacute para ter uma melhor divisatildeo da responsabilidade entre os paiacuteses da UE (tendo um
mecanismo melhor de realocaccedilatildeo) prevendo maior solidariedade entre os Estados-membros
com a finalidade de reduzir o ocircnus dos Estados mais afetados pela migraccedilatildeo como a Itaacutelia
Greacutecia e Espanha agilidade e eficaacutecia nos procedimentos nas fronteiras e mudanccedila de
paradigma com paiacuteses terceiros no que se refere agrave cooperaccedilatildeo Uma das novidades na
proposta eacute tentar agradar paiacuteses pouco receptivos com os refugiados como a Aacuteustria Polocircnia
e Hungria ou seja estes paiacuteses podem ser responsaacuteveis pela deportaccedilatildeo do migrante caso o
pedido de asilo seja negado aleacutem disso os Estados-membros poderatildeo acolher requerentes
de asilo que entraram por outro paiacutes na UE Ressalta-se poreacutem que essa proposta deve ser
analisada ainda pelo Conselho da UE e pelo Parlamento Europeu204
bull Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos
Eacute o documento adotado pelo Tribunal Europeu dos Direitos Humanos sendo que
para o presente trabalho destaca-se a importacircncia do artigo 3ordm deste documento tendo em
vista a condenaccedilatildeo de paiacuteses europeus por violaccedilatildeo do respectivo dispositivo Sendo assim
o supramencionado artigo prevecirc a proibiccedilatildeo da tortura como segue ldquoNingueacutem pode ser
submetido a torturas nem a penas ou tratamentos desumanos ou degradantesrdquo205
203 PARLAMENTO EUROPEU Reform of the Dublin system Op cit 204 DEUTSCHE WELLE (DW) Novo Pacto Migratoacuterio da UE descarta realocaccedilatildeo obrigatoacuteria 2020
Disponiacutevel em httpswwwdwcompt-brnovo-pacto-migratC3B3rio-da-ue-descarta-
realocaC3A7C3A3o-obrigatC3B3riaa-55029567 Acesso em 09102020 205 CONSELHO EUROPEU Convenccedilatildeo Europeia de Direitos Humanos Op cit
67
Outro artigo comumente violado eacute o artigo 4ordm dessa Convenccedilatildeo que consiste na
proibiccedilatildeo de expulsatildeo coletiva Assim eacute proibido que um Estado rejeite coletivamente os
migrantes sem qualquer identificaccedilatildeo sem uma anaacutelise de cada caso A exemplo disso cita-
se o caso Hirsi Jamaa que veremos adiante em que a Itaacutelia repeliu os migrantes no mar
levando-os de volta para Liacutebia sem qualquer identificaccedilatildeo
Tambeacutem de igual importacircncia satildeo os artigos 2ordm e 5ordm que prezam pela proteccedilatildeo da
vida e liberdade e seguranccedila dos migrantes respectivamente Dessa forma notamos que a
CEDH preza pela dignidade dos migrantes apontando expressamente os principais direitos
sendo que estes natildeo devem ser violados
Assim no capiacutetulo 3 e 4 seratildeo analisados casos da referida Corte Europeia para ter
um melhor entendimento da aplicaccedilatildeo deste dispositivo devido a devoluccedilatildeo de refugiados
no mar para a Liacutebia e tendo em vista a situaccedilatildeo no paiacutes norte-africano (que veremos mais
detalhadamente no capiacutetulo 4) essa devoluccedilatildeo configura o envio de pessoas para a tortura e
tratamentos desumanos
bull Diretivas 201195UE 201332UE 201333UE e 2008115CE
A ideia da Uniatildeo Europeia desde 1999 eacute ter um Sistema Europeu Comum de Asilo
(SECA) e as atitudes da UE sempre foram para buscar a harmonizaccedilatildeo dessas leis destaca-
se a criaccedilatildeo do Fundo Europeu para os Refugiados diretivas elaboradas para respostas de
altos fluxos de migrantes Assim o SECA era alicerccedilado em trecircs pilares sendo eles a
harmonia das normas de proteccedilatildeo cooperaccedilatildeo entre os paiacuteses membros e maior
solidariedade entre os paiacuteses da UE e esta com os demais paiacuteses (natildeo pertencentes agrave UE)206
Vaacuterios satildeo os documentos elaborados para obter a harmonia desejada alguns deles
inclusive jaacute discutidos neste trabalho Poreacutem aleacutem destes documentos tem-se as diretivas
europeias que norteiam os Estados-membros a fim de obter o tatildeo desejado ldquosistema comumrdquo
Assim cita-se algumas importantes diretivas Diretiva 201195UE Diretiva 201332UE
Diretiva 201333UE e 2008115CE
A primeira (Diretiva 201195UE) traz as motivaccedilotildees para que se conceda a proteccedilatildeo
internacional bem como melhorar as medidas de integraccedilatildeo para os indiviacuteduos que
206 COMISSAtildeO EUROPEIA Common European Asylum System Disponiacutevel em httpseceuropaeuhome-
affairswhat-we-dopoliciesasylum_en Acesso em 27052020
68
receberem a proteccedilatildeo internacional207 Portanto esta diretiva tem por finalidade
ldquoestabelecer normas comuns relativas agrave identificaccedilatildeo dos cidadatildeos de paiacuteses terceiros ou
apaacutetridas que necessitam verdadeiramente de proteccedilatildeo internacional na Uniatildeo Europeia
(UE) como refugiados ou beneficiaacuterios de proteccedilatildeo subsidiaacuteriardquo208
Assim essa Diretiva traz normas comuns para o enquadramento no status de
refugiado ou de proteccedilatildeo subsidiaacuteria ressaltando que os paiacuteses membros podem ter normas
mais beneacuteficas do que as previstas no mencionado documento Tem-se aqui que a condiccedilatildeo
de refugiado tem por base a Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 e a proteccedilatildeo subsidiaacuteria traz a
situaccedilatildeo quando natildeo haacute o enquadramento na condiccedilatildeo de refugiado poreacutem o indiviacuteduo tem
um risco real de sofrer uma ofensa grave caso retorne para seu paiacutes de origem (entende-se
por ofensa grave a pena de morte tortura ameaccedila agrave integridade fiacutesica ou agrave vida)209
A Diretiva 201332UE refere-se aos procedimentos de asilo e tem a finalidade de
decisotildees de asilo mais justas raacutepidas e de melhor qualidade Sendo assim os procedimentos
natildeo devem ultrapassar o periacuteodo de 6 meses Esse documento tambeacutem traacutes garantias
especiacuteficas para menores natildeo acompanhados e pessoas com necessidades especiais (idosos
deficientes doenccedila orientaccedilatildeo sexual trauma entre outros)210
A Diretiva 201333UE refere-se agraves condiccedilotildees de acolhimento dos requerentes de
proteccedilatildeo internacional ou seja a questatildeo da moradia e de vida dos requerentes de proteccedilatildeo
internacional Dessa maneira eacute de extrema importacircncia que os direitos fundamentais dos
indiviacuteduos sejam respeitados bem como se for o caso de detenccedilatildeo do indiviacuteduo que seja
em uacuteltimo recurso211
E por fim a Diretiva 2008115CE refere-se aos procedimentos comuns dos Estados-
membros para regresso de cidadatildeos de paiacuteses terceiros que natildeo estatildeo com sua situaccedilatildeo
regularizada no entanto chama-se a atenccedilatildeo do artigo 5ordm deste documento no qual consta
entre outras disposiccedilotildees que os Estados-membros devem respeitar o princiacutepio da natildeo-
repulsatildeo como segue ldquoc) O estado de sauacutede do nacional de paiacutes terceiro em causa e
207 COMISSAtildeO EUROPEIA Common European Asylum System Op cit 208 EUR-LEX Diretiva 201195UE Disponiacutevel em httpseur-lexeuropaeulegal-
contentPTLSUuri=celex32011L0095 Acesso em 27052020 209 Ibidem 210 EUR-LEX Diretiva 201332UE Disponiacutevel em httpseur-lexeuropaeulegal-
contentPTTXTuri=LEGISSUM23010502_1 Acesso em 27052020 211 EUR-LEX Diretiva 201333UE Disponiacutevel em httpseur-lexeuropaeulegal-
contentPTTXTuri=LEGISSUM23010502_2 Acesso em 27052020
69
respeitar o princiacutepio da natildeo-repulsatildeordquo212 Portanto apesar da mencionada diretiva dispor a
respeito do retorno de pessoas com situaccedilatildeo irregular ela consta expressamente o respeito
ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo
23 Ordens juriacutedicas nacionais Itaacutelia Portugal Greacutecia Malta Espanha
Franccedila e Alemanha
Este toacutepico eacute destinado ao estudo de algumas legislaccedilotildees nacionais a fim de comparar
os respectivos ordenamentos juriacutedicos Assim foram escolhidos paiacuteses como Itaacutelia Greacutecia
e Malta por sofrerem constantemente com chegada de refugiados pelo Mar Mediterracircneo
Franccedila e Alemanha por serem paiacuteses que apesar de natildeo estarem proacuteximos do Mar
Mediterracircneo recebem milhares de refugiados todos os anos Espanha e Portugal pela
proximidade com o Mediterracircneo sendo que a Espanha jaacute ofereceu porto para desembarque
de um barco de refugiados quando este foi rejeitado pela Itaacutelia213 Para anaacutelise da legislaccedilatildeo
de asiloproteccedilatildeo internacional dos paiacuteses foram utilizados livros mas principalmente
consulta nos sites dos governos de cada paiacutes
231 Itaacutelia
No ano de 2016 foi o auge de desembarques de migrantes na Itaacutelia foram 181436
migrantes que desembarcaram em busca de proteccedilatildeo internacional Nos anos seguintes
houve uma diminuiccedilatildeo de pessoas que chegaram no paiacutes sendo 11097 pessoas no ano de
2019 Poreacutem ao se comparar o periacuteodo de janeiro a junho de 2019 com o mesmo periacuteodo
em 2020 (ateacute o dia 15062020) nota-se um aumento de 2144 para 5639 migrantes214
Na Itaacutelia entende-se que assim que o migrante chegar agrave costa do paiacutes deve haver um
breve reconhecimento do tratamento daqueles que procuram proteccedilatildeo apoacutes isso procede-se
212 UNIAtildeO EUROPEIA Diretiva 2008115CE Disponiacutevel em httpseur-lexeuropaeulegal-
contentPTTXTuri=CELEX3A32008L0115 Acesso em 27052020 213 Situaccedilatildeo que ocorreu em agosto de 2019 quando a Itaacutelia recusou o desembarque do barco Open Arms e a
Espanha ofereceu porto poreacutem a ONG responsaacutevel rejeitou o pedido dizendo que natildeo havia condiccedilotildees para
uma jornada tatildeo longa ateacute a Espanha pois jaacute estavam a 17 dias no mar Fonte Jornal El Paiacutes Espanha oferece
porto para navio com imigrantes rejeitados pela Itaacutelia mas ONG recusa Disponiacutevel
httpsbrasilelpaiscombrasil20190818internacional1566124937_065336html Acesso em 07042020 214 MINISTERO DELLrsquoINTERNO Cruscotto statistico giornaliero Disponiacutevel em
httpwwwlibertaciviliimmigrazionedlciinternogovititdocumentazionestatisticacruscotto-statistico-
giornaliero Acesso em 19062020
70
agrave anaacutelise do procedimento de asilo e dos pedidos de proteccedilatildeo internacional Assim em um
primeiro momento faz-se uma distinccedilatildeo entre os migrantes econocircmicos e agravequeles que
solicitam a proteccedilatildeo internacional215
Nesse sentido em setembro de 2015 o Ministeacuterio do Interior da Itaacutelia publicou a
ldquoRoadmap italianardquo que consiste em explicar as medidas adotadas pelo governo para
administrar os migrantes que chegariam na costa italiana Ressalta-se poreacutem que natildeo
consiste em um texto legal mas sim uma nota de endereccedilo formal presente em uma circular
ministerial publicada no mecircs seguinte216
A ideia eacute que todos migrantes que cheguem aos pontos chamados ldquocentros de criserdquo
que ficam proacuteximos aos principais portos no sul da Itaacutelia para que ocorra uma preacute-
identificaccedilatildeo anaacutelise das condiccedilotildees de sauacutede e tambeacutem a respeito da entrada ilegal
ressalta-se que tais centros satildeo fechados ou seja ocorre uma privaccedilatildeo de liberdade
temporaacuteria para que sejam feitos os procedimentos necessaacuterios217
Sobre os chamados ldquocentros de criserdquo notamos que o artigo 8 nuacutemero 2 do Decreto
Legislativo 1422015 reitera a preacute-identificaccedilatildeo dos requerentes de proteccedilatildeo internacional
nos termos previstos no Decreto-Lei nordm 451 de 30 de outubro de 1995 em que prevecirc a criaccedilatildeo
dessas estruturas de acolhimento218
Dessa forma destaca-se a importacircncia de haver uma distinccedilatildeo nestes ldquocentros de
criserdquo dos migrantes econocircmicos dos que procuram proteccedilatildeo internacional humanitaacuteria219
ou seja eacute importante haver a distinccedilatildeo do tipo de migrante para saber se o indiviacuteduo se
enquadra nas hipoacuteteses de refugiado (conforme jaacute visto anteriormente na Convenccedilatildeo da
ONU de 1951) e assim receber proteccedilatildeo internacional220
Os requerimentos de asilo devem ser realizados nos postos de fronteira (ou na poliacutecia
de fronteira) poreacutem destaca-se que estes natildeo satildeo os oacutergatildeos competentes pela anaacutelise dos
215 SAVIO Guido Capitolo II Le procedure amministrative della domanda drsquoasilo dallrsquoavvio alla decisione
In ROCCA Paolo Immigrazione Asilo e Cittadinanza IV Edizione Maggioli Editore Santarcangelo di
Romagna 2019 216 Ibidem 217 Ibidem 218 REPUBBLICA ITALIANA Gazzetta Ufficiale della Reppublica Italiana - Decreto Legislativo 18 Agosto
2015 N 142 Disponiacutevel em httpswwwgazzettaufficialeiteliid2015091515G00158sg Acesso em
11052020 219 SAVIO Guido Op cit 220 NACcedilOtildeES UNIDAS Qual a diferenccedila entre lsquorefugiadosrsquo e lsquomigrantesrsquo Disponiacutevel em
httpsnacoesunidasorgqual-a-diferenca-entre-refugiados-migrantesamp Acesso em 11052020
71
requerimentos Portanto estes oacutergatildeos de fronteira devem remeter os requerimentos agraves
Comissotildees Territoriais responsaacuteveis pela anaacutelise dos pedidos de asilo221
A respeito dessas Comissotildees Territoriais tem-se que no artigo 4 do Decreto-
Legislativo 252008 dispotildee a respeito desses oacutergatildeos Assim tais oacutergatildeos fazem uso de
estruturas do Ministeacuterio do Interior e podem ser no maacuteximo 10 comissotildees (conforme n2 do
mencionado artigo) destaca-se o fato de um dos integrantes dessas comissotildees serem
representantes do ACNUR222
Entatildeo a respeito do pedido de asilo deve ser preenchido um formulaacuterio chamado
C3 que deve ser acompanhado com os documentos necessaacuterios Tal requerimento deve ser
feito dentro de 3 dias uacuteteis depois da manifestaccedilatildeo da intenccedilatildeo de requerer proteccedilatildeo
internacional ou 6 dias uacuteteis se a manifestaccedilatildeo de vontade foi feita na poliacutecia de fronteira
ressalta-se que pode haver um aumento desse prazo em casos de altas demandas neste caso
aceita-se o requerimento em ateacute 10 dias uacuteteis223
Nesse sentido o Decreto-Legislativo 252008 no artigo 6 nuacutemero 1 dispotildee o
seguinte ldquoLa domanda di protezione internazionale e presentata personalmente dal
richiedente presso lufficio di polizia di frontiera allatto dellingresso nel territorio
nazionale o presso lufficio della questura competente in base al luogo di dimora del
richiedente224rdquo
Apoacutes a apresentaccedilatildeo do requerimento de asilo os requerentes possuem o direito de
permanecer na Itaacutelia por um periacuteodo de 6 meses podendo ser prorrogado pelo periacuteodo que
durar a anaacutelise do pedido Assim apoacutes haacute a autorizaccedilatildeo de trabalho para os requerentes bem
como usufruir das garantias previstas no artigo 10 do Decreto-Legislativo 252008 que
incluem entre outras o direito agrave informaccedilatildeo (assim como previsto na Diretiva 201313UE)
direito de contato com o ACNUR direito agrave assistecircncia linguiacutestica etc225
Para o estrangeiro que requerer proteccedilatildeo internacional aleacutem da autorizaccedilatildeo de
moradia durante a anaacutelise do procedimento da requisiccedilatildeo de asilo teraacute acesso agraves medidas de
221 SAVIO Guido Op cit 222 REPUBBLICA ITALIANA Gazzetta Ufficiale della Reppublica Italiana - Decreto Legislativo 28 Gennaio
2008 N 25 Disponiacutevel em
httpswwwgazzettaufficialeitattoserie_generalecaricaDettaglioAttooriginarioattodataPubblicazioneGa
zzetta=2008-02-16ampattocodiceRedazionale=008G0044ampelenco30giorni=false Acesso em 12052020 223 SAVIO Guido Op cit 224 REPUBBLICA ITALIANA Gazzetta Ufficiale della Reppublica Italiana - Decreto Legislativo 28 Gennaio
2008 N 25 Op cit 225 SAVIO Guido Op cit
72
acolhimento previstas no Decreto Legislativo 1422015226 sobre este documento tem-se no
artigo 8ordm uma explicaccedilatildeo sobre o que eacute o sistema de colhimento dividido em duas fases
Assim a base deste sistema consiste na ldquo()leale collaborazione tra i livelli di governo
interessati secondo le forme di coordinamento nazionale e regionale ()rdquo227
Dessa forma como supramencionado com base na leitura do artigo percebemos a
existecircncia de duas fases no sistema de acolhimento A primeira consiste no acolhimento
assegurado como previsto nos artigos de 9 a 11 do decreto (que dispotildeem sobre as estruturas
de primeiro acolhimento modalidades e medidas extraordinaacuterias) e a segunda disciplinada
no artigo 14 que dispotildee que caso o estrangeiro natildeo tenha condiccedilotildees de arcar com uma vida
digna (com qualidade de vida) ela teraacute acesso ao SPRAR (Sistema de Proteccedilatildeo para o
Requerente de Asilo e Refugiado)228 Portanto destaca-se que haacute duas estruturas de
acolhimento uma referida no artigo 9 e outra no artigo 14
Ressalta-se poreacutem que em 2018 houve uma reforma com o Decreto-Legislativo
1132018 no qual foi estruturado um sistema de acolhimento separado para solicitantes de
asilo nos centros extraordinaacuterios229 estes estatildeo previstos no artigo 11 do Decreto 1422015
assim tal dispositivo prevecirc que em casos de natildeo haver vagas nas estruturas de acolhimento
previstas nos artigos 9 e 14 a recepccedilatildeo pode ser realizada pelas prefeituras em estruturas
temporaacuterias montadas especificamente para estes casos depois de ouvido o Departamento
pela Liberdade Civil e Imigraccedilatildeo do Ministeacuterio do Interior230 Nesse sentido o Decreto
1132018 traz a reforma dispondo a respeito de um sistema de acolhimento de forma
separada para os solicitantes de asilo nestes centros extraordinaacuterios231
Diante da reforma ocorrida em 2018 as estruturas previstas no Decreto-Legislativo
1422015 continuam em vigor para um sistema comum de asilo jaacute as novas estruturas
extraordinaacuterias satildeo destinadas agraves requisiccedilotildees de asilo das pessoas que necessitam de proteccedilatildeo
226 SAVIO Guido Op cit 227 REPUBBLICA ITALIANA Gazzetta Ufficiale della Reppublica Italiana - Decreto Legislativo 18 agosto
2015 n 142 ndash Art 8 Disponiacutevel em httpswwwgazzettaufficialeiteliid2015091515G00158sg Acesso
em 23052020 228 Ibidem 229 SAVIO Guido Op cit 230 REPUBBLICA ITALIANA Gazzetta Ufficiale della Reppublica Italiana - Decreto Legislativo 18 agosto
2015 n 142 Disponiacutevel em httpswwwgazzettaufficialeiteliid2015091515G00158sg Acesso em
23052020 231 SAVIO Guido Op cit
73
internacional Sendo que as estruturas extraordinaacuterias satildeo administradas pelos governos
locais232
No que se refere agraves requisiccedilotildees de proteccedilatildeo internacional na Itaacutelia elas devem ser
validadas caso a caso por um oacutergatildeo instituiacutedo pelo Ministeacuterio do Interior chamado Comissatildeo
Nacional para o Direito de Asilo (sediada em Roma) mas articulada em 20 Comissotildees
Territoriais e 30 seccedilotildees separadas destas comissotildees Sendo que estas Comissotildees Territoriais
estatildeo instaladas nas prefeituras233
Portanto sendo a Itaacutelia um dos paiacuteses que mais sofrem com a chegada de imigrantes
notamos que possui ampla legislaccedilatildeo no que se refere a asilo e acolhimento de pessoas que
necessitam de proteccedilatildeo internacional bem como possui oacutergatildeos para melhor organizaccedilatildeo da
estrutura de acolhimento Obviamente existem muitas criacuteticas a respeito deste sistema
poreacutem se deve levar em conta que satildeo milhares de pessoas que chegam na Itaacutelia requerendo
proteccedilatildeo Esse grande fluxo migratoacuterio na Itaacutelia faz com que o paiacutes viole reiteradamente os
direitos humanos dos migrantes obviamente natildeo se deve justificar as violaccedilotildees pelo grande
fluxo no entanto alguma accedilatildeo para administraccedilatildeo e organizaccedilatildeo dos migrantes deve ser
tomada a fim de desafogar os paiacuteses de entrada Uma melhor distribuiccedilatildeo dos migrantes eacute
uma das propostas do Novo Pacto sobre Migraccedilatildeo e Asilo
232 Portugal
Portugal assim como outros paiacuteses europeus eacute signataacuterio dos principais diplomas
internacionais como a Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 Protocolo de Nova Iorque e a
Convenccedilatildeo de Dublin que foram explicados anteriormente em acircmbito nacional o
documento que disciplina a questatildeo de asilo e proteccedilatildeo internacional eacute a Lei nordm 262014 de
5 de maio
O procedimento para requisiccedilatildeo de asilo e proteccedilatildeo internacional em Portugal se
inicia atraveacutes de requisiccedilatildeo ao SEF (Serviccedilo de Estrangeiros e Fronteiras) ou qualquer outra
autoridade policial dessa forma seraacute feita a identificaccedilatildeo do imigrante atraveacutes de seus dados
foto e impressotildees digitais (para maiores de 14 anos) assim receberaacute um comprovante de que
requereu a proteccedilatildeo e poderaacute permanecer no paiacutes ateacute o final do procedimento Caso o
232 SAVIO Guido Op cit 233 Ibidem
74
requerimento seja realizado em um posto de fronteira deveraacute permanecer ali por pelo menos
7 dias ateacute que se tenha alguma decisatildeo a respeito do pedido se admitirem o pedido seraacute
autorizada a entrada em Portugal caso contraacuterio deveraacute ser enviado ao paiacutes de origem (haacute a
possibilidade de recorrer com efeito suspensivo no prazo de 4 dias) mas se o pedido for
realizado jaacute no territoacuterio portuguecircs eacute encaminhado para centros de acolhimento de
requerentes de proteccedilatildeo e laacute deveraacute esperar ser convocado para entrevista em alguma agecircncia
do SEF
Na entrevista seratildeo analisados os fatos e se a decisatildeo for positiva receberaacute uma
autorizaccedilatildeo de residecircncia no prazo de 6 meses apoacutes esse periacuteodo seraacute analisado se a pessoa
reuacutene os requisitos para obtenccedilatildeo de asilo ou de proteccedilatildeo subsidiaacuteria Neste periacuteodo destaca-
se que o indiviacuteduo poderaacute trabalhar eou estudar Se a decisatildeo for negativa a pessoa teraacute o
prazo de 20 dias para deixar o paiacutes mas tem o prazo de 15 dias para apresentar recurso234
A decisatildeo pode ser para conceder o asilo com base no Estatuto de Refugiado
(Convenccedilatildeo de 1951) e neste caso seraacute emitida uma autorizaccedilatildeo de residecircncia por 5 anos
podendo ser renovaacutevel poreacutem se o caso for de proteccedilatildeo subsidiaacuteria a autorizaccedilatildeo de
residecircncia eacute de 3 anos tambeacutem podendo ser renovaacutevel235
Ressalta-se que a concessatildeo de asilo com base no Estatuto do Refugiado tem por base
a Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 jaacute a proteccedilatildeo subsidiaacuteria natildeo tem por base este diploma
poreacutem as pessoas ldquo() natildeo podem regressar ao seu paiacutes por aiacute se verificar a violaccedilatildeo
sistemaacutetica dos direitos humanos ou por correrem o risco de sofrerem ofensa grave pena de
morte tortura ou tratamento desumano e degradanterdquo236
Ainda referente agraves questotildees de apoio ao refugiado cita-se o CPR (Conselho
Portuguecircs para os Refugiados) que consiste em uma ONG parceira do ACNUR para prestar
auxiacutelio aos refugiados alocados em Portugal Sendo assim faz-se importante destacar que
esta estrutura ldquoEacute o parceiro operacional do Alto Comissariado das Naccedilotildees Unidas
(ACNUR) para Portugal mantendo um Protocolo de Cooperaccedilatildeo desde Julho de 1993 que
visa agrave proteccedilatildeo juriacutedica e social dos requerentes de asilo e dos refugiados A partir de
234 PORTUGAL Serviccedilo de Estrangeiros e Fronteiras ndash Etapas do Procedimento de Proteccedilatildeo Internacional
Disponiacutevel em
httpswwwsefptptDocumentsFolheto20InformaC3A7C3A3o20ProteC3A7C3A3o
20Internacionalpdf Acesso em 23052020 235 Ibidem 236 Ibidem
75
Dezembro de 1998 data do encerramento do ACNUR em Portugal o CPR passou a
representar esta organizaccedilatildeo no nosso paiacutesrdquo237
Nota-se que a estrutura para recebimento de refugiado em Portugal eacute muito mais
simples que a italiana isso talvez se justifique pelo fato da Itaacutelia receber milhares de
refugiados de forma direta ou seja chegam diretamente em terras italianas por embarcaccedilotildees
clandestinas eou de ONGrsquos na costa requerendo ajuda por fugirem de situaccedilotildees de
sofrimento e ofensas aos direitos humanos
233 Greacutecia
Assim como a Itaacutelia a Greacutecia eacute um dos paiacuteses que mais sofrem com a chegada de
migrantes devido agrave proximidade com paiacuteses do Oriente Meacutedio e Norte da Aacutefrica muitos
refugiados chegam diretamente no paiacutes atraveacutes das embarcaccedilotildees pelo mar mediterracircneo e
tambeacutem pela Turquia
Para comeccedilarmos entender a estrutura de asilo no paiacutes helecircnico vamos ter por base o
Serviccedilo de Asilo (Asylum Service) instituiacutedo pela Lei nordm 39072011 sendo esta instituiccedilatildeo
responsaacutevel por analisar os pedidos de proteccedilatildeo internacional Trata-se portanto da primeira
instituiccedilatildeo autocircnoma para este objetivo238
Assim as funccedilotildees do Serviccedilo de Asilo consistem em analisar e aplicar as disposiccedilotildees
nacionais bem como observar as obrigaccedilotildees internacionais ao reconhecer um indiviacuteduo
como refugiado Aleacutem disso tambeacutem tem a funccedilatildeo de elaborar as poliacuteticas nacionais no que
se refere agrave proteccedilatildeo internacional e cooperaccedilatildeo com as organizaccedilotildees internacionais e da
Uniatildeo Europeia239
A estrutura desta instituiccedilatildeo eacute baseada em um escritoacuterio central escritoacuterios regionais
de asilo e unidades de asilo sendo que a primeira assessora e controla as demais estruturas
menores Assim o Serviccedilo de Asilo somente se reporta ao Ministro da Proteccedilatildeo do
Cidadatildeo240
237 CONSELHO PORTUGUEcircS PARA OS REFUGIADOS Histoacuteria Disponiacutevel httpscprpthistoria
Acesso em 24052020 238 HELLENIC REPUBLIC Asylum Service Disponiacutevel httpasylogovgrenpage_id=39 Acesso em
24052020 239 Ibidem 240 Ibidem
76
A respeito da concessatildeo da proteccedilatildeo internacional a Lei nordm 43752016 no artigo 21
modificou o decreto presidencial 1412013 Neste dispositivo haacute a informaccedilatildeo de que
quando concedida a proteccedilatildeo internacional o refugiado tem a autorizaccedilatildeo de residecircncia por
3 anos devendo requerer a renovaccedilatildeo (se for o caso) ateacute 30 dias antes do vencimento poreacutem
ressalta-se que o simples atraso natildeo deve ser motivo para rejeiccedilatildeo da renovaccedilatildeo Ainda no
mesmo dispositivo haacute previsatildeo da uniatildeo familiar do refugiado241
Na parte C da lei mencionada acima haacute adoccedilatildeo da Diretiva 201332UE sendo que
no artigo 33 haacute a menccedilatildeo do artigo 1ordm da diretiva que consiste na adoccedilatildeo comum de
procedimentos como disposto ldquo()on common procedures for granting and withdrawing
international protection statusrdquo242
Assim no artigo 34 da Lei nordm 43752016 faz referecircncia aos artigos 2 e 4 da diretiva
supramencionada trazendo uma seacuterie de conceitos e disposiccedilotildees para requisiccedilatildeo de asilo
para pessoas de uma mesma famiacutelia Ressalta-se tambeacutem que a interpretaccedilatildeo deve ser feita
com base nas disposiccedilotildees nacionais internacionais bem como na jurisprudecircncia243
A respeito dos pedidos de asilo tem-se que estes natildeo devem ser rejeitados apenas
por natildeo terem sido enviados rapidamente Assim na anaacutelise de todos os pedidos de proteccedilatildeo
internacional primeiro se analisa se haacute o enquadramento no status de refugiado caso natildeo
ocorra esse enquadramento deve-se analisar se eacute o caso de proteccedilatildeo subsidiaacuteria (conforme
artigo 39 da Lei nordm 43752016 e artigo 10 da Diretiva 201332EU)244
Assim como em outros paiacuteses a Greacutecia tambeacutem dispotildee que os pedidos devem ser
analisados individualmente sendo um processo de anaacutelise abrangente objetivo e imparcial
Nesse sentido o Serviccedilo de Asilo deve ter conhecimento de qual eacute a situaccedilatildeo no paiacutes de
origem das pessoas que pedem refuacutegio bem como deve assegurar que a equipe que analisa
os pedidos tenha amplo conhecimento das disposiccedilotildees nacionais internacionais e
jurisprudecircncias no que se refere agrave proteccedilatildeo internacional (para isso cita-se a realizaccedilatildeo de
treinamentos da equipe)245
A respeito do procedimento ele eacute gratuito e o pedido deve ser feito perante os
escritoacuterios regionais ou unidades de asilo o pedido tambeacutem pode ser feito para todos os
241 HELLENIC REPUBLIC Legislation Disponiacutevel httpasylogovgrenpage_id=113 Acesso em
24052020 242 Ibidem 243 Ibidem 244 Ibidem 245 Ibidem
77
integrantes da famiacutelia que estejam na Greacutecia Haacute tambeacutem a possibilidade de que um
advogado ou conselheiro acompanhe o processo poreacutem sem a intermediaccedilatildeo do Serviccedilo de
Asilo sendo as custas arcadas de forma independente pelo requisitante de asilo Durante o
procedimento assim como em outros paiacuteses ocorre a entrevista do requerente que apoacutes esta
recebe um cartatildeo que lhe assegura estar sob condiccedilatildeo de proteccedilatildeo246
Por fim de forma sinteacutetica podemos notar que a Greacutecia assim como os demais paiacuteses
da Uniatildeo Europeia segue as normas internacionais bem como as diretivas europeias que
norteiam o assunto Poreacutem em 2019 o paiacutes helecircnico comeccedilou com procedimentos com uma
seacuterie de reformas da legislaccedilatildeo nacional a fim de dificultar o procedimento e concessatildeo de
pedido de asilo O governo grego disse que a maioria dos migrantes que laacute chegam
atualmente natildeo satildeo os que necessitam de proteccedilatildeo internacional que se trata de migrantes
econocircmicos Tal argumento foi refutado pelo ACNUR que disse que 85 dos refugiados
que chegam atualmente na Greacutecia satildeo provenientes da Siacuteria Afeganistatildeo Iraque Repuacuteblica
Democraacutetica do Congo entre outros paiacuteses247
Nesse sentido a Anistia Internacional se manifestou a respeito dizendo ldquoThe new
Bill introduces significant changes to asylum procedures the rights and obligations of
asylum seekers reception and detention as well as economic social and cultural rightsrdquo
Dessa forma o governo grego alterou o conceito de pessoas vulneraacuteveis excluindo as
pessoas que se enquadram em situaccedilatildeo de estresse poacutes-traumaacutetico Trata-se de uma
significativa mudanccedila tendo em vista que a maioria dos requerentes de proteccedilatildeo
internacional sofre com esse transtorno pois estavam expostos a diversas situaccedilotildees como
de violecircncia fiacutesica e psicoloacutegica por exemplo248
Outro ponto importante eacute a ideia de acelerar os procedimentos de asilo tornando a
anaacutelise mais superficial e sem aprofundamento no meacuterito de cada pedido de asilo aleacutem disso
tambeacutem impacta as pessoas em que a proteccedilatildeo internacional eacute concedida ou seja dificulta
o acesso ao mercado de trabalho ao sistema de sauacutede e agrave educaccedilatildeo altera a composiccedilatildeo do
246 HELLENIC REPUBLIC Legislation Op cit 247 NATIONAL INTEGRATION EVALUATION MECHANISM (NIEM) The new law on asylum in Greece
Disponiacutevel em httpwwwforintegrationeuplthe-new-law-on-asylum-in-greece Acesso em 25052020 248 ANISTIA INTERNACIONAL Greece Proposed bill on asylum downgrades EU and International Law
standards on refugees protection 2019 Disponiacutevel em httpwwwantigonegrennewspost452 Acesso em
25052020
78
Serviccedilo de Asilo entre outras reformas no sentido de prejudicar a concessatildeo de proteccedilatildeo
internacional249
Sendo assim muitas satildeo as criacuteticas a respeito da nova lei grega para a concessatildeo da
proteccedilatildeo internacional o ACNUR recebeu com preocupaccedilatildeo a notiacutecia da possibilidade de
reforma pois tal mudanccedila enfraqueceria a proteccedilatildeo internacional dos indiviacuteduos
necessitados O oacutergatildeo reconheceu que a necessidade de fortalecimento da legislaccedilatildeo grega
sobre o tema poreacutem natildeo da forma como tem sucedido ou seja tal projeto de lei
sobrecarrega os requerentes de asilo250
E mesmo sob criacuteticas de diversas organizaccedilotildees internacionais como a Anistia
Internacional o ACNUR (ONU) Meacutedicos Sem Fronteiras entre outras em maio de 2020 a
governo helecircnico aprovou a nova lei de asilo em detrimento dos direitos dos indiviacuteduos que
necessitam de proteccedilatildeo internacional251
Aleacutem disso adiante demonstraraacute adiante mais claramente que a Greacutecia natildeo tem sido
um paiacutes seguro para requerer asilo tendo em vista muitas violaccedilotildees dos direitos humanos
inclusive com relatoacuterio do ACNUR orientando os paiacuteses para que natildeo enviem os migrantes
para Greacutecia devido agraves violaccedilotildees e falta de cuidados com os mesmos Ademais uma
reportagem do jornal ldquoThe New York Timesrdquo citada no uacuteltimo capiacutetulo trouxe agrave tona a
violaccedilatildeo grega de deixar migrantes agrave deriva no mar levando-os ateacute a fronteira do mar
territorial e abandonando-os
234 Malta
A ilha de Malta sofre com a chegada de milhares de refugiados da mesma forma que
a Itaacutelia e a Greacutecia principalmente por embarcaccedilotildees clandestinas ou de ONGrsquos tendo origem
no norte do continente africano em paiacuteses como a Liacutebia por exemplo Sendo assim eacute um
dos paiacuteses mais afetados pela migraccedilatildeo em busca de proteccedilatildeo internacional da Uniatildeo
Europeia
249 ANISTIA INTERNACIONAL Greece Proposed bill on asylum downgrades EU and International Law
standards on refugees protection 2019 Op cit 250 UNHCR GREECE UNHCR urges Greece to strengthen safeguards in draft asylum law 2019 Disponiacutevel
em httpswwwunhcrorggren13170-unhcr-urges-greece-to-strengthen-safeguards-in-draft-asylum-
lawhtml 251 DIAacuteRIO DE NOTIacuteCIAS Greacutecia aprova nova reforma na lei de asilo do paiacutes 2020 Disponiacutevel em
httpswwwdnoticiasptmundogrecia-aprova-nova-reforma-na-lei-de-asilo-do-pais-FE6240421 Acesso em
25052020
79
Assim o oacutergatildeo responsaacutevel pela anaacutelise dos pedidos de proteccedilatildeo internacional em
Malta faz parte do Ministeacuterio de Assuntos Internos e Seguranccedila Nacional e consiste no
Escritoacuterio do Comissaacuterio para Refugiados A criaccedilatildeo deste estaacute prevista na Lei dos
Refugiados (capiacutetulo 420 das Leis de Malta) e tomou agrave frente da anaacutelise dos requerimentos
de asilo em janeiro de 2002 anteriormente a anaacutelise era realizada pelo ACNUR
A principal funccedilatildeo do referido oacutergatildeo eacute receber processar e determinar os pedidos de
proteccedilatildeo internacional conforme previsto na Lei dos Refugiados (alterada pelas leis VI e
VII em 2015) e na Legislaccedilatildeo Subsidiaacuteria 42007 Aleacutem destas leis que consistem na
legislaccedilatildeo nacional a respeito da concessatildeo de proteccedilatildeo internacional observa-se tambeacutem a
Convenccedilatildeo de Genebra Protocolo de Nova Iorque Convenccedilatildeo de Dublin e diretrizes
europeias sobre o tema252
As pessoas que necessitam de proteccedilatildeo para requisitarem a concessatildeo de asilo
devem contatar o Escritoacuterio do Comissaacuterio para Refugiado ou alguma outra autoridade de
Malta para demonstrar a intenccedilatildeo de obter a proteccedilatildeo internacional Assim os indiviacuteduos
satildeo orientados a preencher o chamado ldquoQuestionaacuterio Preliminarrdquo apoacutes a apresentaccedilatildeo deste
documento o Escritoacuterio do Comissaacuterio para Refugiado eacute o oacutergatildeo competente para analisar
os pedidos Obedece-se portanto as previsotildees da Convenccedilatildeo de Dublin253
Para auxiliar na anaacutelise do pedido eacute realizada entrevista (pelo menos uma) assim
como em outros paiacuteses europeus e esta eacute realizada por uma assistente social e inteacuterprete se
for o caso O procedimento para requerimento de asilo eacute uacutenico Portanto em um primeiro
momento eacute analisado se o indiviacuteduo se enquadra nos requisitos para a concessatildeo do status
de refugiado caso natildeo seja concedida a condiccedilatildeo de refugiado analisa-se se eacute a situaccedilatildeo de
concessatildeo de proteccedilatildeo subsidiaacuteria254
Apoacutes a anaacutelise informa-se o requerente sobre a decisatildeo constando nela os motivos
que levaram a chegar naquela decisatildeo Haacute a possibilidade de recurso em caso de decisatildeo
negativa sendo que satildeo fornecidas por escrito as informaccedilotildees necessaacuterias para que o
indiviacuteduo apresente o recurso255
252 MINISTRY FOR HOME AFFAIRS AND NATIONAL SECURITY (MALTA) The Office of the Refugee
Commissioner Disponiacutevel em httpshomeaffairsgovmtenmhas-
departmentsthe20office20of20the20refugee20commissionerPagesRefugeeaspx Acesso em
26052020 253 Ibidem 254 Ibidem 255 Ibidem
80
Assim de acordo com a Regra 14 da Legislaccedilatildeo Subsidiaacuteria 42007 uma pessoa a
qual foi concedida proteccedilatildeo internacional pode permanecer em Malta e lhe seraacute entregue
documentos pessoais autorizaccedilatildeo de residecircncia (por 3 anos podendo ser renovada) e
liberdade de circulaccedilatildeo A Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 prevecirc a entrega de um documento
de viagem (para aqueles que possuem status de refugiado jaacute para os que possuem proteccedilatildeo
subsidiaacuteria a legislaccedilatildeo nacional prevecirc a entrega de um documento de viagem permitindo a
pessoa sair e retornar a Malta (com exceccedilatildeo se estiver respondendo processo judicial
criminal ou cumprindo pena) Aleacutem disso os indiviacuteduos detentores de proteccedilatildeo internacional
teratildeo acesso a atividades laborais bem-estar social educaccedilatildeo assistecircncia meacutedica entre
outros benefiacutecios256
Como vimos haacute dois niacuteveis de proteccedilatildeo internacional ter o status de refugiado ou
se natildeo for possiacutevel receber proteccedilatildeo subsidiaacuteria Poreacutem o Escritoacuterio do Comissaacuterio para
Refugiados pode apresentar outro tipo de proteccedilatildeo ou seja a Proteccedilatildeo Humanitaacuteria
Temporaacuteria Tal regime deveraacute ser concedido para casos especiais para as pessoas que natildeo
se enquadrem no status de refugiado e nas condiccedilotildees para receber proteccedilatildeo subsidiaacuteria mas
que sejam considerados necessitados por razotildees humanitaacuterias especiais257
Aleacutem disso Malta ainda possui uma agecircncia voltada para o bem estar do refugiado
(Agecircncia para o Bem-Estar dos Requerentes de Asilo) que auxilia na implementaccedilatildeo da
legislaccedilatildeo nacional e poliacuteticas voltadas para o bem-estar dos requerentes de proteccedilatildeo
internacional bem como em assistecircncia para obtenccedilatildeo de emprego cursos de treinamentos
e de liacutenguas suporte social (sauacutede bem-estar da famiacutelia encaminhamento para apoio
psicoloacutegico e escolaridade)258
No entanto mesmo com toda essa estrutura para acolhimento dos migrantes Malta
a exemplo de outros paiacuteses europeus como Itaacutelia e Greacutecia tambeacutem tem violado direitos
humanos dos refugiados como veremos no uacuteltimo capiacutetulo
256 MINISTRY FOR HOME AFFAIRS AND NATIONAL SECURITY (MALTA) The Office of the Refugee
Commissioner Op cit 257 Ibidem 258 MINISTRY FOR HOME AFFAIRS AND NATIONAL SECURITY (MALTA) AWAS ndash Mission and
Function Disponiacutevel httpshomeaffairsgovmtenMHAS-DepartmentsawasPagesMission-and-
Functionaspx Acesso 26052020
81
235 Espanha
A Espanha tambeacutem eacute um paiacutes que sofre com as migraccedilotildees advindas do Mar
Mediterracircneo poreacutem ressalta-se que os mais afetados ainda satildeo Itaacutelia Greacutecia e Malta
Poreacutem como dito anteriormente a Espanha ofereceu a recepccedilatildeo de uma embarcaccedilatildeo que
estava haacute mais de duas semanas ancorada a 800 metros da costa de Lampedusa (Itaacutelia) com
107 migrantes na qual a Itaacutelia rejeitava o desembarque mas a embarcaccedilatildeo rejeitou o pedido
por natildeo ter condiccedilotildees de navegar ateacute Espanha259
A Espanha aceitou receber os migrantes por entender que a recusa de recebimento
pela Itaacutelia era inconcebiacutevel260 Resultado disso no dia 20 de agosto de 2019 os migrantes
saltaram ao mar para tentar chegar na costa italiana sendo assim as autoridades portuaacuterias
italianas comeccedilaram a resgatar os migrantes261 Poreacutem o assunto de resgate de migrantes no
mar seraacute abordado mais adiante
As principais normativas a respeito de proteccedilatildeo internacional na Espanha consistem
nos seguintes documentos a Lei 122009 regula o direito de asilo e a proteccedilatildeo subsidiaacuteria
o Decreto Real 13252003 que se refere agrave aprovaccedilatildeo do Regulamento a respeito do regime
de proteccedilatildeo temporal quando ocorrer um alto fluxo de pessoas deslocadas o Decreto Real
8652001que diz respeito agrave aprovaccedilatildeo do Estatuto do Apaacutetrida262
Assim o sistema de asilo da Espanha eacute formado por uma rede de centros de
acolhimento (do governo) os chamados CAR (Centros de Acolhida de Refugiados) bem
como disposiccedilotildees e programas que atendem as pessoas solicitantes que estatildeo sob proteccedilatildeo
internacional estes centros satildeo geridos por organizaccedilotildees sem fins lucrativos sob supervisatildeo
da Direccedilatildeo Geral de Migraccedilotildees263
259 O GLOBO Crise envolvendo navio de resgate humanitaacuterio ldquoOpen Armsrdquo contrapotildee Itaacutelia Espanha e ONG
2019 Disponiacutevel em httpsogloboglobocommundocrise-envolvendo-navio-de-resgate-humanitario-open-
arms-contrapoe-italia-espanha-ong-23887061 Acesso em 27052020 260 Ibidem 261 REVISTA VEJA Imigrantes se jogam no mar do navio Open Arms para alcanccedilar a Itaacutelia 2019 Disponiacutevel
httpsvejaabrilcombrmundoimigrantes-se-jogam-do-navio-open-arms-no-mar-alcancar-a-italia Acesso
em 27052020 262 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DE INCLUSIOacuteN SEGURIDAD SOCIAL Y
MIGRACIONES) PORTAL DE INMIGRACIOacuteN ndash Reacutegimen de Asilo Disponiacutevel em
httpextranjerosmitramissgobesesnormativanacionalasiloindexhtml Acesso em 27052020 263 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DE INCLUSIOacuteN SEGURIDAD SOCIAL Y
MIGRACIONES) PORTAL DE INMIGRACIOacuteN ndash Informacioacuten Disponiacutevel em
httpextranjerosmitramissgobesesProteccionAsiloinformacionindexhtml Acesso em 27052020
82
O financiamento dessas ONGrsquos proveacutem da Secretaria Geral de Imigraccedilatildeo e
Emigraccedilatildeo com auxiacutelio em alguns casos do Fundo Social Europeu e Fundo de Asilo
Migraccedilatildeo e Integraccedilatildeo O ACNUR pode intervir nos procedimentos de asilo (nos termos que
a lei permitir) nesse sentido esta organizaccedilatildeo recebe valores da Direccedilatildeo Geral das
Migraccedilotildees264
A lei que regula a questatildeo do asilo e da proteccedilatildeo subsidiaacuteria na Espanha eacute a Lei
122009 e no artigo 231 haacute a previsatildeo da Oficina de Asilo e Refuacutegio que eacute o oacutergatildeo
responsaacutevel pela tramitaccedilatildeo e solicitaccedilotildees de proteccedilatildeo internacional265 Essa informaccedilatildeo estaacute
presente tambeacutem no folheto informativo sobre a proteccedilatildeo internacional que diz que todas as
solicitaccedilotildees satildeo analisadas pela Oficina de Asilo e Refuacutegio e a decisatildeo eacute tomada pelo
Ministeacuterio do Interior266 Assim conforme disposto no site do governo espanhol a Oficina
de Asilo estaacute subordinada agrave Subdireccedilatildeo Geral de Proteccedilatildeo Internacional que por sua vez se
submete agrave Direccedilatildeo Geral de Poliacutetica Interior (inserida portanto no acircmbito do Ministeacuterio do
Interior)267
O procedimento portanto se inicia com a solicitaccedilatildeo do indiviacuteduo perante o posto
fronteiriccedilo (se estaacute chegando na Espanha) ou se jaacute estiver na Espanha na Oficina de Asilo
e Refuacutegio Oficina de Estrangeiros Delegacias de Poliacutecia Autorizadas e Centros de
Internaccedilatildeo para Estrangeiros e devem requerer no prazo de 1 mecircs que estejam na Espanha
ou quando ocorram acontecimentos que justifiquem a requisiccedilatildeo268
A solicitaccedilatildeo deve ser pessoalmente e passaraacute por uma entrevista que deveraacute explicar
os motivos que justifiquem a proteccedilatildeo internacional e como chegou agrave Espanha O requerente
tem o direito de permanecer na Espanha ateacute que se resolva a sua requisiccedilatildeo e ter assistecircncia
sanitaacuteria aleacutem disso tem o direito de ser assistido por um advogado e caso natildeo tenha
264 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DE INCLUSIOacuteN SEGURIDAD SOCIAL Y
MIGRACIONES) PORTAL DE INMIGRACIOacuteN ndash Informacioacuten Op cit 265 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DEL INTERIOR) Oficina de Asilo y Refugio Disponiacutevel em
httpwwwinteriorgobeswebservicios-al-ciudadanooficina-de-asilo-y-refugio Acesso em 27052020 266 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DEL INTERIOR) Informacioacuten para los solicitantes de
proteccioacuten internacional em Espantildea Derecho de Asilo y Proteccioacuten Subsidiaria Disponiacutevel em
httpwwwinteriorgobesdocuments6423171201485Informacion_solicitantes_Asilo_EspaC3B1ol_12
6160083pdfd8fb2cb4-9bc4-4a53-9032-628c02f1e114 Acesso em 27052020 267 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DE INCLUSIOacuteN SEGURIDAD SOCIAL Y
MIGRACIONES) PORTAL DE INMIGRACIOacuteN ndash Informacioacuten Op cit 268 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DEL INTERIOR) Informacioacuten para los solicitantes de
proteccioacuten internacional em Espantildea Derecho de Asilo y Proteccioacuten Subsidiaria Op cit
83
condiccedilotildees de pagar deveraacute requerer agrave ONGrsquos ou Coleacutegios de Advogados Assim que se eacute
realizado a requisiccedilatildeo de asilo deveraacute comunicar o ACNUR269
Da decisatildeo de negativa da concessatildeo de proteccedilatildeo internacional cabe recurso ao juiz
(se a requisiccedilatildeo ocorrer no territoacuterio espanhol) se requereu em um posto fronteiriccedilo deveraacute
permanecer no local sendo que as autoridades possuem ateacute 4 dias para analisar a admissatildeo
do tracircmite Autorizado o procedimento o indiviacuteduo poderaacute entrar no paiacutes caso seja negada
a admissatildeo do pedido o requerente teraacute dois dias para apresentar recurso (chamado reexame)
e a autoridade teraacute dois dias para analisar mesmo assim se ocorrer a negativa o indiviacuteduo
deveraacute deixar a Espanha ou recorrer a um juiz ou tribunal270
O prazo para anaacutelise dos pedidos eacute de seis meses podendo ser reduzido para trecircs
meses em casos urgentes desta decisatildeo caberaacute recurso ao Tribunal (ldquoAudiencia Nacionalrdquo)
e destaca-se que o requerente tem direito a assistecircncia gratuita de um advogado caso natildeo
tenha condiccedilotildees de arcar com os custos271
Anteriormente foi explicado que a Espanha possui em seu sistema de asilo o Centro
de Acolhida dos Refugiados (CAR) que consistem em locais puacuteblicos cuja utilidade eacute o
alojamento assistecircncia social manutenccedilatildeo entre outros serviccedilos sociais com a finalidade
de integrar e facilitar a vida dos requerentes de asilo Sendo assim o seu regramento esta
previsto no Regramento da Lei Orgacircnica 42000 que trata sobre os direitos e liberdades de
estrangeiros na Espanha e tambeacutem da integraccedilatildeo social sendo que estaacute previsto no artigo
2642 os programas para as pessoas que requerem proteccedilatildeo internacional aleacutem disso cita-
se a Ordem Ministerial de 13 de janeiro de 1989 que regula os centros de acolhida de
refugiados e asilados e tambeacutem a Resoluccedilatildeo de 6 de julho de 1998 que aprovou o Estatuto
baacutesico dos CAR que resulta na Ordem de 13 de janeiro de 1989 que os regula272
269 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DEL INTERIOR) Informacioacuten para los solicitantes de
proteccioacuten internacional em Espantildea Derecho de Asilo y Proteccioacuten Subsidiaria Op cit 270 Ibidem 271 Ibidem 272 GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DE INCLUSIOacuteN SEGURIDAD SOCIAL Y
MIGRACIONES) PORTAL DE INMIGRACIOacuteN ndash Centro de Acogida a Refugiados (CAR) Disponiacutevel em
httpextranjerosmitramissgobesesproteccionasilocarindexhtml Acesso em 27052020
84
236 Franccedila
Em 2019 a Franccedila se tornou o paiacutes com maior nuacutemero de solicitaccedilotildees de refuacutegio na
Europa Sendo assim eacute o Ministeacuterio do Interior a reparticcedilatildeo do governo responsaacutevel pela
anaacutelise dos pedidos de asilo no paiacutes sendo o Escritoacuterio Francecircs de Proteccedilatildeo dos Refugiados
e Apaacutetridas oacutergatildeo responsaacutevel pela anaacutelise dos requerimentos de proteccedilatildeo internacional
Ao se analisar os dispositivos a respeito de asilo na Franccedila tem-se que logo no
preacircmbulo (Nordm 4) de sua Constituiccedilatildeo este direito estaacute previsto ou seja possuem direito de
asilo no territoacuterio francecircs aqueles que ao buscarem sua liberdade sofrerem algum tipo de
perseguiccedilatildeo Como segue ldquoTout homme perseacutecuteacute en raison de son action en faveur de la
liberteacute a droit dasile sur les territoires de la Reacutepubliquerdquo273 Portanto o direito de asilo no
direito francecircs consiste em um princiacutepio constitucional O direito de asilo estaacute previsto
tambeacutem no Livro VII do Coacutedigo de Entrada e Permanecircncia de Estrangeiros e do Direito de
Asilo (CESEDA)274
O site do governo francecircs dispotildee que o direito de asilo tambeacutem deriva dos
compromissos internacionais assumidos pelo paiacutes ou seja ser signataacuteria da Convenccedilatildeo de
Genebra de 1951 Convenccedilatildeo de Dublin e Diretivas Europeias Aleacutem disso o referido direito
se baseia em trecircs princiacutepios ter seu pedido analisado de forma imparcial direito de proteccedilatildeo
estendida direito de acolhimento e vida digna enquanto aguarda o resultado da
solicitaccedilatildeo275
Por proteccedilatildeo estendida entende-se duas formas de proteccedilatildeo internacional (como jaacute
explicado) isto eacute concessatildeo de status de refugiado ou concessatildeo de proteccedilatildeo subsidiaacuteria O
pedido deve ser analisado de forma imparcial pelo OFPRA e CNDA (Cocircrte Nacional de
Direito de Asilo oacutergatildeo ligado ao Conselho de Estado) Assim o OFPRA eacute vinculado ao
Ministeacuterio do Interior e natildeo deve sofrer interferecircncias da CNDA Portanto caso seja negada
a proteccedilatildeo internacional pelo OFPRA o requerente poderaacute recorrer agrave CNDA e neste caso
ele poderaacute ter acesso agrave assistecircncia juriacutedica E o direito de permanecircncia no territoacuterio francecircs
273 CONSEIL CONSTITUTIONNEL Preacuteambule de la Constitution du 27 Octobre 1946 Disponiacutevel em
httpswwwconseil-constitutionnelfrle-bloc-de-constitutionnalitepreambule-de-la-constitution-du-27-
octobre-1946 Acesso em 27052020 274 MINISTEacuteRE DE LrsquoINTEacuteRIEUR (IMMIGRATION ASILE ACCUEIL ET ACCOMPAGNEMENT DES
EacuteTRANGERS EM FRANCE Les Grands Principes du Droit DrsquoAsile Disponiacutevel em
httpswwwimmigrationinterieurgouvfrAsileLe-droit-d-asileLes-grands-principes-du-droit-d-asile
Acesso em 27052020 275 Ibidem
85
durante a anaacutelise do requerimento em um primeiro momento eacute entregue um certificado de
pedido de asilo com duraccedilatildeo de 1 mecircs podendo ser renovaacutevel Aleacutem do OFPRA e da CNDA
ainda tem o Escritoacuterio Francecircs de Imigraccedilatildeo e Integraccedilatildeo (OFII) que eacute responsaacutevel pela
acomodaccedilatildeo dos requerentes de asilo nos centros de acolhimento276
Portanto em termos de procedimentos e requisitos natildeo haacute muitas alteraccedilotildees de um
paiacutes para o outro (em geral na Uniatildeo Europeia) Poreacutem eacute de faacutecil percepccedilatildeo que a
distribuiccedilatildeo dos oacutergatildeos responsaacuteveis pela anaacutelise dos pedidos eacute diferente entre os paiacuteses a
Franccedila por exemplo possui trecircs oacutergatildeos inclusive um tribunal administrativo para analisar
os recursos das decisotildees
237 Alemanha
A Alemanha assim como a Franccedila eacute um dos paiacuteses da Europa que mais recebem
solicitaccedilotildees de proteccedilatildeo internacional todos os anos sendo que por vaacuterios anos foi o paiacutes
europeu que mais recebeu refugiados No ano de 2019 como jaacute mencionado a Franccedila
ultrapassou a Alemanha nos pedidos de proteccedilatildeo
Entatildeo como na maioria dos paiacuteses o primeiro passo eacute se apresentar perante uma
autoridade do paiacutes (sendo na fronteira ou jaacute no territoacuterio) Assim na Alemanha haacute o registro
de todos os indiviacuteduos que pretendem solicitar o pedido de asilo no paiacutes germacircnico sendo
colhidas impressotildees digitais e fotos para os maiores de 14 anos Os dados satildeo salvos no
ldquoRegistro Central de Estrangeirosrdquo (AZR) assim a anaacutelise se inicia pela comparaccedilatildeo de
dados jaacute salvos (se for o caso) neste registro posteriormente analisa-se no Departamento de
Poliacutecia Criminal Federal se houve a praacutetica de algum crime no paiacutes pelo indiviacuteduo Analisa-
se tambeacutem o EURODAC para se certificar que natildeo haacute nenhum outro paiacutes europeu
responsaacutevel pela anaacutelise do pedido de asilo A respeito do ldquoRegistro Geral de Estrangeirosrdquo
(AZR) trata-se de um registro nacional gerenciado pelo Escritoacuterio Federal sendo um oacutergatildeo
importante de consulta para as autoridades germacircnicas que trabalham com imigraccedilatildeo277
276 MINISTEacuteRE DE LrsquoINTEacuteRIEUR (IMMIGRATION ASILE ACCUEIL ET ACCOMPAGNEMENT DES
EacuteTRANGERS EM FRANCE Les Grands Principes du Droit DrsquoAsile Op cit 277 FEDERAL OFFICE FOR MIGRATION AND REFUGEES The Stages of the German Asylum Procedure
ndash An overview of the individual procedural steps and the legal basis Disponiacutevel em
httpswwwbamfdeSharedDocsAnlagenENAsylFluechtlingsschutzAsylverfahrendas-deutsche-
asylverfahrenpdf__blob=publicationFileampv=12 Acesso em 28052020
86
Ao se registrar o requerente de asilo recebe um documento de comprovaccedilatildeo de
chegada a fim de provar quando necessaacuterio o seu registro perante a autoridade alematilde Este
documento tem tambeacutem a funccedilatildeo de autorizar o indiviacuteduo a residir na Alemanha bem como
assistecircncia de sauacutede acomodaccedilatildeo alimentaccedilatildeo entre outros benefiacutecios estatais278
Apoacutes o registro os requerentes satildeo encaminhados e instalados no centro de
acolhimento mais proacuteximo podendo ser de forma temporaacuteria ou de longo prazo sendo de
ateacute 6 meses ou ateacute que a solicitaccedilatildeo seja decidida Em casos de reagrupamento familiar pode
ser que os indiviacuteduos sejam transferidos de um centro de acolhimento para outro Haacute ainda
a distribuiccedilatildeo dos refugiados pelas ldquoFederal Landrdquo atraveacutes do sistema de cotas EASY
(Distribuiccedilatildeo Inicial dos Requerentes de Asilo)279
Nesses centros de acolhimento as pessoas recebem comida e benefiacutecios a fim de
proporcionar a sua subsistecircncia durante os dias que permanecerem no local Ressalta-se que
haacute inclusive benefiacutecios financeiros para cobrir as necessidades pessoais diaacuterias conforme
a lei de benefiacutecios dos requerentes de asilo (Asylbewerberleistungsgesetz) Ressalta-se que
os requerentes de proteccedilatildeo apesar de poderem residir legalmente na Alemanha enquanto
aguardam a conclusatildeo do processo natildeo podem trabalhar neste periacuteodo280
Considera-se a entrevista a etapa mais importante no procedimento de asilo Assim
os requerentes satildeo convidados para esta etapa e caso natildeo possam comparecer devem avisar
em tempo haacutebil caso contraacuterio o pedido poderaacute ser interrompido ou ateacute recusado Os
requerentes podem estar acompanhados de um advogado ou por um representante do
ACNUR ademais ao longo do trabalho percebe-se a importacircncia deste oacutergatildeo nos
procedimentos de asilo na Alemanha natildeo eacute diferente o ACNUR pode solicitar informaccedilotildees
sobre o trabalho do Escritoacuterio Federal e monitora os procedimentos para garantir que haacute o
respeito pela Convenccedilatildeo de Genebra de 1951281
Haacute tambeacutem o ldquoGerenciamento Integrado de Identidadesrdquo que pode ser uacutetil quando
for necessaacuterio realizar alguns tipos investigaccedilotildees podendo facilitar para obter informaccedilotildees
sobre o caso a ser investigado Esse sistema eacute composto por biometria de imagem (aleacutem das
impressotildees digitais) transliteraccedilatildeo e anaacutelise de nomes biometria de fala avaliaccedilatildeo de miacutedia
278 FEDERAL OFFICE FOR MIGRATION AND REFUGEES The Stages of the German Asylum Procedure
ndash An overview of the individual procedural steps and the legal basis Op cit 279 Ibidem 280 Ibidem 281 Ibidem
87
de dados moacuteveis Essas investigaccedilotildees podem ser necessaacuterias para avaliar casos possiacuteveis de
terrorismo sendo assim haacute a atuaccedilatildeo em conjunto com Centro de Extremismo e Contra-
Terrorismo (GETZ) e Centro Contra o Terrorismo (GTAZ)282
Quem toma a decisatildeo no procedimento de asilo eacute o Escritoacuterio Federal com base na
entrevista e nos documentos apresentados pelos requerentes A anaacutelise do pedido de asilo
tem por base a lei alematilde sobre o tema (Asylgesetz) sobre uma das quatro formas de proteccedilatildeo
que podem ser concedidas (direito de asilo proteccedilatildeo de refugiado proteccedilatildeo subsidiaacuteria e
proibiccedilatildeo de deportaccedilatildeo) Considera-se rejeitado o pedido quando nenhuma das quatro
formas eacute aplicaacutevel ao caso283
Assim o reconhecimento do direito de direito de asilo eacute previsto no artigo 16a parte
1 da Lei Baacutesica (Grundgesetz ndash GG) neste caso pessoas que se retornassem aos seus paiacuteses
sofreriam graves violaccedilotildees dos direitos humanos principalmente devido a perseguiccedilotildees por
opiniatildeo poliacutetica Portanto eacute considerado um direito fundamental com base Constitucional
prezando pela vida e dignidade humana Quando haacute a concessatildeo deste tipo de proteccedilatildeo o
indiviacuteduo tem o direito de residir na Alemanha por 3 anos autorizaccedilatildeo de trabalho e direito
de reagrupamento familiar Aleacutem disso apoacutes o periacuteodo de 3 ou 5 anos pode haver uma
concessatildeo de permanecircncia na Alemanha caso comprove condiccedilotildees de se manter e de
conhecimento da liacutengua alematilde284
A proteccedilatildeo de refugiado eacute prevista na Seccedilatildeo 3 da Lei de Asilo (AsylG) e tem por
fundamento a Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 sendo que esta proteccedilatildeo eacute mais extensa que
o direito de asilo sendo aplicada em mais casos Tambeacutem se aplica agraves pessoas que sofrem
perseguiccedilotildees referentes agraves situaccedilotildees previstas na Convenccedilatildeo Poreacutem as consequecircncias da
concessatildeo deste tipo de proteccedilatildeo satildeo os mesmos que o direito de asilo285
A proteccedilatildeo subsidiaacuteria estaacute prevista na Seccedilatildeo 4 da Lei de Asilo bem como na
Diretiva 201195UE e eacute concedida em situaccedilotildees em que se a pessoa retornar ao seu paiacutes
poderaacute sofrer graves riscos de danos Em casos de concessatildeo de proteccedilatildeo subsidiaacuteria o
indiviacuteduo receberaacute a permissatildeo de residecircncia por 1 ano (podendo ser estendida por mais dois
anos) acesso ao mercado de trabalho direito de reunificaccedilatildeo familiar bem como o direito
282 FEDERAL OFFICE FOR MIGRATION AND REFUGEES The Stages of the German Asylum Procedure
ndash An overview of the individual procedural steps and the legal basis Op cit 283 Ibidem 284 Ibidem 285 Ibidem
88
de permanecer na Alemanha apoacutes 5 anos caso demonstre condiccedilotildees de subsistecircncia e
conhecimento da liacutengua alematilde286
As trecircs formas de proteccedilatildeo acima natildeo seratildeo concedidas quando configurar um risco
agrave Alemanha desrespeitar princiacutepios baacutesicos do ACNUR ou ter cometido crimes de guerra
e ofensas criminais natildeo-poliacuteticas fora do paiacutes e condenado agrave prisatildeo por um crime ou por um
delito particularmente grave287
E por fim a proibiccedilatildeo de deportaccedilatildeo consta na Seccedilatildeo 60 V e VII da Lei de
Residecircncia (AufenthG) e tem por base a Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos
Portanto uma pessoa que requer proteccedilatildeo natildeo pode ser devolvida ao paiacutes de origem quando
haacute um risco concreto agrave vida ou agrave liberdade Essa proteccedilatildeo natildeo se aplica em casos de que o
indiviacuteduo possa ir para outros paiacuteses Na concessatildeo dessa proteccedilatildeo a pessoa poderaacute residir
na Alemanha por pelo menos 1 ano (podendo ser renovaacutevel) a permissatildeo de trabalho deve
ser obtida com a autoridade de imigraccedilatildeo e a permanecircncia definitiva pode ser autorizada
apoacutes 5 anos se tiver condiccedilotildees de se manter e tiver bom conhecimento da liacutengua alematilde288
Em caso de negativa de proteccedilatildeo ou seja o indiviacuteduo natildeo se enquadrar em nenhum
tipo dos 4 tipos de proteccedilatildeo poderaacute recorrer da decisatildeo no prazo de 30 dias poreacutem o periacuteodo
para deixar a Alemanha eacute de uma semana Uma accedilatildeo judicial contra o Escritoacuterio Federal
tambeacutem pode ser proposta289
286 FEDERAL OFFICE FOR MIGRATION AND REFUGEES The Stages of the German Asylum Procedure
ndash An overview of the individual procedural steps and the legal basis Op cit 287 Ibidem 288 Ibidem 289 Ibidem
89
CAPIacuteTULO 3
DIREITO INTERNACIONAL E EUROPEU DO MAR BUSCA E RESGATE DOS
REFUGIADOS EM PERIGO E O DEVER DE ASSISTEcircNCIA
Este capiacutetulo destina-se a analisar o direito do mar no acircmbito internacional e europeu
na seara dos refugiados do direito de resgate e salvamento no mar agrave luz da relaccedilatildeo deste
ramo do direito com os direitos humanos primeiro faz-se necessaacuterio algumas breves
consideraccedilotildees a respeito do direito internacional do mar Sendo sabido que nos uacuteltimos anos
muitas pessoas arriscaram suas vidas em embarcaccedilotildees para tentarem ter uma vida melhor e
sem riscos podendo citar o exemplo da Liacutebia que retrata uma situaccedilatildeo ldquocomumrdquo ao fato de
milhares de migrantes saiacuterem do paiacutes arriscando suas vidas no Mar Mediterracircneo com
destino agrave Europa principalmente paiacuteses como a Greacutecia Itaacutelia e Malta devido agrave proximidade
do norte do continente africano agrave costa e ilhas europeias
31 Breves Consideraccedilotildees a Respeito do Direito Internacional do Mar
O mar com sua particular imensidatildeo traz consigo um encantamento e admiraccedilatildeo por
um lado e uma versatildeo sombria e obscura de outro Muito utilizado para recursos que
auxiliam no dia a dia das pessoas eacute tambeacutem utilizado de forma maldosa atraveacutes de
cometimento de crimes graves como por exemplo traacutefico de pessoas de drogas e pirataria
Tal fato justifica a necessidade de uma Convenccedilatildeo a fim de regular as regras neste grandioso
espaccedilo a Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar (conhecida como UNCLOS
ndash sigla em inglecircs)290
Assim para tentar coibir infraccedilotildees e aumentar a proteccedilatildeo das pessoas no mar a
UNCLOS atribui aos Estados poderes de poliacutecia nas zonas mariacutetimas (aacuteguas e portos
interiores mar territorial zona contiacutegua zona econocircmica exclusiva e alto mar) Passa-se
entatildeo a anaacutelise do poder de poliacutecia em cada zona
Portanto o Estado costeiro pode exercer sua soberania em aacutereas de jurisdiccedilatildeo
nacional tem-se que aacuteguas e portos interiores estatildeo submetidos agraves regras nacionais do
290 FORTEAU Mathias THOUVENIN Jean-Marc Traiteacute de Droit International de la Mer Editions A
Pedone Paris 2017
90
Estado e este possui poderes de poliacutecia amplos ao que se refere a embarcaccedilotildees nessas aacutereas
bem como pode controlar o acesso dessas embarcaccedilotildees nessa zona e tambeacutem embarcaccedilotildees
que estatildeo no mar territorial com destino agraves aacuteguas e portos interiores Entatildeo o Estado
costeirodo porto eacute soberano para aplicar as suas leis nacionais em embarcaccedilotildees que estatildeo
em seus portos geralmente natildeo interferem em assuntos internos da embarcaccedilatildeo desde que
natildeo atinja os interesses estaduais291
Situaccedilatildeo semelhante ocorre no mar territorial (que consiste nas aacuteguas adjacentes agrave
costa ateacute 12 milhas naacuteuticas conforme disposto na UNCLOS) ou seja o Estado costeiro
possui amplos poderes nesta zona sendo portanto uma extensatildeo do territoacuterio do paiacutes
exceto em situaccedilotildees de passagem inocente (garantindo a liberdade de navegaccedilatildeo) contudo
mesmo nesses casos o Estado pode dispor normas a este respeito292
Desse modo o Estado costeiro possui soberania no seu mar territorial sendo limitado
pelo direito de passagem inocente que os navios de todos os Estados possuem notando-se
portanto a conciliaccedilatildeo da soberania do Estado com o direito de navegaccedilatildeo Poreacutem caso
exista alguma embarcaccedilatildeo com pessoas no mar territorial com o fim de violar as regras de
imigraccedilatildeo do Estado costeiro este Estado poderaacute intervir293 entretanto tambeacutem haacute a
obrigaccedilatildeo de salvamento das pessoas em perigo no mar ou seja nos casos de embarcaccedilatildeo
clandestina de migrantes o Estado tem o dever de resgatar essas pessoas
A zona contiacutegua consiste no espaccedilo de mais 12 milhas naacuteuticas aleacutem das jaacute previstas
no mar territorial Nesta zona o Estado pode exercer o controle nas situaccedilotildees de violaccedilatildeo das
leis nacionais e tambeacutem situaccedilotildees referentes agraves questotildees aduaneiras tributaacuterias imigraccedilatildeo
e sauacutede294 Poreacutem haacute liberdade de navegaccedilatildeo ou seja natildeo haacute soberania do Estado costeiro
nessa zona mariacutetima295
A Zona Econocircmica Exclusiva (ZEE) com limite de ateacute 200 milhas naacuteuticas contadas
a partir da linha de base do mar territorial trata-se de uma zona de caracteriacutesticas
particulares considerada de caraacuteter sui generis por ser uma aacuterea de alto mar sendo que o
Estado costeiro possui alguns direitos nesta aacuterea isto significa que o Estado costeiro possui
poderes de poliacutecia amplos no que se refere agraves situaccedilotildees de direito e jurisdiccedilatildeo soberana como
291 FORTEAU Mathias THOUVENIN Jean-Marc Op cit 292 Ibidem 293 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit 294 FORTEAU Mathias THOUVENIN Jean-Marc Op cit 295 LISSON Urszula WEINZIERL Ruth Border Management and Human Rights A study of EU Law and
the Law of the Sea German Institute for Human Rights 2007
91
por exemplo exploraccedilatildeo de recursos naturais ilhas artificiais instalaccedilotildees e estruturas de
pesquisa e proteccedilatildeo do meio ambiente marinho296
No que se refere ao alto mar Jonatas Machado entende como mar ldquoo conjunto dos
espaccedilos de aacutegua salgada em comunicaccedilatildeo livre e naturalrdquo297 Tal espaccedilo consiste em 72 da
atmosfera terrestre e o princiacutepio fundamental que rege eacute o mare liberum poreacutem natildeo se trata
de um uso irrestrito e incondicional tal princiacutepio eacute aplicado dentro do conceito de
democratizaccedilatildeo do direito do mar Tem-se que o alto mar constitui res communis omnium
ou seja eacute algo comum a todos298
Nesse sentido o artigo 87 da UNCLOS trata das liberdades do alto mar no qual todos
os Estados satildeo livres para navegar sobrevoar pescar colocar cabos e dutos submarinos
investigaccedilatildeo cientiacutefica e construir ilhas artificiais ou outras instalaccedilotildees permitidas pelo
direito internacional
A jurisdiccedilatildeo em alto mar eacute como regra geral do Estado da bandeira da embarcaccedilatildeo
conforme o artigo 87 da UNCLOS poreacutem haacute exceccedilotildees a esta regra previstas no artigo 92
nordm 1 isto eacute regras previstas de forma expressa em tratados internacionais aleacutem de algumas
previstas nos artigos 105 109 110 220 e 221 da Convenccedilatildeo Sendo respectivamente
pirataria difusatildeo natildeo autorizada direito de visita (artigo 111 tambeacutem a respeito do direito
de perseguiccedilatildeo) execuccedilatildeo pelo Estado costeiro poluiccedilatildeo e acidente mariacutetimo299
No que tange agrave soberania em alto mar haacute a questatildeo sobre ateacute que ponto um Estado
atraveacutes de suas embarcaccedilotildees pode exercer medidas coercitivas sobre navios de outras
nacionalidades Deve-se observar portanto a divisatildeo de aacuteguas conforme descrito acima
Assim nas aacuteguas interiores o Estado costeiro tem total controle da aacuterea entatildeo os navios
estrangeiros estatildeo submetidos ao controle e permissatildeo daquele Estado O mar territorial
tambeacutem estaacute sob a soberania do Estado costeiro mas como vimos haacute o direito de passagem
inocente de outros navios que arvorem sua bandeira Nesse sentido as embarcaccedilotildees com
migrantes na maioria das vezes natildeo possuem bandeira e em teoria com base no direito
internacional do mar estes poderiam ser parados controlados e desviados para fora do mar
territorial poreacutem tal questatildeo esbarra nas obrigaccedilotildees dos direitos humanos Dessa forma de
296 FORTEAU Mathias THOUVENIN Jean-Marc Op cit 297 MACHADO Joacutenatas E M Op cit p 574 298 Ibidem 299 HONNIBALL Arron N The Exclusive Jurisdiction of Flag States A Limitation on Pro-active Port States
The International Journal of Marine and Coastal Law 2016 Disponiacutevel em
httpsbrillcomviewjournalsestu313article-p499_6xml Acesso 01062020
92
acordo com as diretivas europeias que devem ser aplicadas no mar territorial haacute a proibiccedilatildeo
da repulsatildeo e os Estados satildeo obrigados a examinar os pedidos de proteccedilatildeo No alto mar a
liberdade de navegaccedilatildeo eacute imperativa e medidas coercitivas em regra satildeo proibidas desde
que para embarcaccedilotildees com bandeira situaccedilatildeo que na maioria das vezes natildeo eacute a das
embarcaccedilotildees com refugiados dessa forma os navios sem bandeira podem ser controlados
em alto mar300
Tendo por base as informaccedilotildees acima passa-se a analisar aspectos mais proacuteximos a
respeito dos direitos dos refugiados Sendo assim como jaacute mencionado anteriormente o
encantamento pelas riquezas marinhas acaba sendo ofuscado em parte pelo lado obscuro dos
oceanos ou seja o cometimento de crimes em espaccedilos mariacutetimos como o traacutefico de
migrantes no mar para combater este tipo de crime eacute imprescindiacutevel a cooperaccedilatildeo
internacional entre os paiacuteses
Sabemos que muitos satildeo os fatores que levam as pessoas a migrarem para outros
paiacuteses ou seja as pessoas fogem da tortura de perseguiccedilotildees de violaccedilotildees de direitos
humanos em siacutentese de uma vida indigna Poreacutem muitos arriscam suas vidas nas matildeos de
traficantes e pagam para estes fazerem a travessia em embarcaccedilotildees precaacuterias como jaacute vimos
nos noticiaacuterios e que natildeo suportam a travessia e acabam naufragando com muitas pessoas a
bordo ou ateacute mesmo acabam sendo abandonados pelos traficantes O desespero dessas
pessoas eacute tanto que arriscam suas vidas nas matildeos de criminosos na esperanccedila de ter uma
vida melhor do outro lado do mar
O artigo 8ordm do Protocolo citado acima prevecirc medidas contra o traacutefico de migrantes
por via mariacutetima dispondo assim accedilotildees a serem realizadas pelos Estados a fim de finalizar
a utilizaccedilatildeo da embarcaccedilatildeo para a finalidade ilegal Assim um Estado pode pedir ajuda a
outro Estado para tentar resolver a situaccedilatildeo entre outras accedilotildees301 Mas tal ideia esbarra na
questatildeo da responsabilidade do Estado que como vimos caso a accedilatildeo de um dos Estados for
violadora das obrigaccedilotildees internacionais principalmente dos direitos humanos o outro
Estado pode ter tambeacutem responsabilidade pelos atos
300 LISSON Urszula WEINZIERL Ruth Op cit 301 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Protocolo Adicional agrave Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas Contra
o Crime Organizado Transnacional relativo ao Combate ao Traacutefico de Migrantes por Via Terrestre Mariacutetima
e Aeacuterea 2000 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2004-
20062004DecretoD5016htm Acesso em 01062020
93
Chama-se a atenccedilatildeo para o artigo 98 da UNCLOS ou seja dispotildee sobre o dever de
prestar assistecircncia no mar Portanto eacute obrigaccedilatildeo do capitatildeo do navio prestar assistecircncia agraves
pessoas que estatildeo em perigo no mar necessitando de ajuda inclusive em casos de consistir
em outra embarcaccedilatildeo que esteja em perigo isto eacute natildeo apenas pessoas que estejam no mar
na aacutegua sob o risco de desaparecer Aleacutem disso o Estado costeiro tem o dever de
proporcionar um eficiente sistema de busca e salvamento a fim de promover a seguranccedila
mariacutetima e aeacuterea o dever se prolonga inclusive aos Estados vizinhos no que puderem
cooperar302
No capiacutetulo 2 item 2110 da Convenccedilatildeo de Busca e Resgate Mariacutetimo de 1979
(International Convention on Maritime Search and Rescue ndash SAR Convention) traz o dever
do Estado de prestar assistecircncia a qualquer pessoa que esteja em perigo no mar independente
de qualquer outro fator relacionado a ela (nacionalidade status etc)303 No mesmo sentido
em 2015 o Conselho de Seguranccedila da ONU adotou a Resoluccedilatildeo 2240 a fim de prestar auxiacutelio
agrave Liacutebia para proteger suas fronteiras e espaccedilo mariacutetimo inclusive em alto mar visando coibir
o traacutefico de pessoas e de migrantes na regiatildeo bem como proteger as pessoas viacutetimas deste
crime304
Tendo como base essas noccedilotildees gerais a respeito do direito internacional do mar e
uma breve introduccedilatildeo a respeito dos documentos que abordam o assunto passa-se a
relacionar o direito do mar com a proteccedilatildeo internacional do indiviacuteduo com foco no
salvamento e resgate de pessoas em perigo no mar
32 O Direito do Mar e a Proteccedilatildeo Internacional do Indiviacuteduo
Face aos acontecimentos desumanos relacionados aos refugiados principalmente em
relaccedilatildeo aos naufraacutegios ocorridos o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos condenou
alguns paiacuteses com base no artigo 3ordm da Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos em
situaccedilotildees ocorridas no mar Assim como forma de assegurar a proteccedilatildeo internacional do
302 UNITED NATIONS United Nations Convention on the Law of the Seas Disponiacutevel
httpswwwunorgdeptslosconvention_agreementstextsunclosunclos_epdf Acesso 04092020 303 INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION International Convention on Maritime Search and
Rescue ndash SAR Convention 1979 Disponiacutevel em httpsonboard-aquariusorguploads201808SAR-
Convention-1979pdf Acesso em 02062020 304 CONSELHO DE SEGURANCcedilA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Resoluccedilatildeo 2240 (2015) Disponiacutevel em
httpseur-lexeuropaeulegal-contentPTTXTuri=CELEX3A32016D0118 Acesso em 30082020
94
indiviacuteduo no mar talvez seja o caso de se atrelar agrave legislaccedilatildeo sobre o direito do mar aos
princiacutepios universais dos direitos humanos tendo em vista que o Estado tem obrigaccedilatildeo
positiva de proteger os indiviacuteduos colocados sob sua jurisdiccedilatildeo contra desrespeitos
cometidos por outrem Poreacutem natildeo haacute este tipo de previsatildeo expressa no direito do mar
Um dos princiacutepios fundamentais do direito internacional eacute a obrigaccedilatildeo de salvar as
vidas no mar sendo que as primeiras manifestaccedilotildees juriacutedicas a este respeito foram oriundas
de tratados multilaterais do direito do mar no comeccedilo do seacuteculo XX Assim o salvamento
de vidas no mar se divide em dois pontos O primeiro princiacutepio eacute a obrigaccedilatildeo de fornecer
assistecircncia de responsabilidade do Estado da bandeira e dos capitatildees o outro ponto eacute a
obrigaccedilatildeo dos Estados costeiros de operar sistemas de buscas e salvamento305
Faz-se necessaacuterio fazer um parecircntese no aspecto de busca e resgate no mar bem
como o dever de assistecircncia previsto no artigo 98 da UNCLOS assim um dos bens juriacutedicos
tutelados eacute o direito agrave vida sendo ele um princiacutepio basilar pois sem a vida nenhum outro
direito faria sentido por este motivo a vida eacute protegida nos principais tratados de direitos
humanos
A maior expressatildeo dos direitos humanos ligado ao direito do mar ocorre quando haacute
o direito agrave vida em jogo ou seja quando algueacutem no mar estaacute correndo risco de vida em
situaccedilatildeo de perigo Assim a Convenccedilatildeo SOLAS (Convenccedilatildeo Internacional para a
Salvaguarda da Vida no Mar) tem como diz o proacuteprio tiacutetulo exatamente o propoacutesito de
proteger vidas306
Neste aspecto o Capiacutetulo V da SOLAS dispotildee sobre a seguranccedila de navegaccedilatildeo e na
regra 71 traz a responsabilidade do Estado em providenciar tudo que for necessaacuterio para
proporcionar a busca e resgate no mar nas zonas de sua competecircncia bem como o artigo
33 do mesmo Capiacutetulo trata das obrigaccedilotildees e procedimentos nas situaccedilotildees de perigo
305 RUGGIERO Carol Dalla Criminalizzazione alla Giustificazione delle Attivita di Ricerca e Soccorso in
Mare le Tendenze Interpretative Piu Recenti alla Luce dei Casi Vos Thalassa e Rackete In Diritto
Immigrazione e Cittadinanza Nordm 12020 Disponiacutevel em
httpswwwdirittoimmigrazionecittadinanzaitarchivio-saggi-commentinote-e-commentifascicolo-2020-
1526-dalla-criminalizzazione-alla-giustificazione-delle-attivita-di-ricerca-e-soccorso-in-mare-le-tendenze-
interpretative-piu-recenti-alla-luce-dei-casi-vos-thalassa-e-rackete Acesso em 25062020 306 GROSBON Sophie Droit de la Mer et Protection Internationale de LrsquoIndividurdquo In FORTEAU Mathias
THOUVENIN Jean-Marc Traiteacute de Droit International de la Mer Editions A Pedone Paris 2017
95
colocando o capitatildeo do navio como responsaacutevel por salvamento e caso o possa fazer deve
explicar os motivos sob pena de desrespeito ao artigo 2ordm da CEDH307
Rejeita-se a suposiccedilatildeo de que o mar eacute uma aacuterea sem lei ou que possua uma
salvaguarda para que infratores se eximam de respeitar os direitos humanos direito dos
refugiados bem como o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo As pessoas em perigo devem ter
respeitados seus direitos fundamentais protegidos sendo que o tratamento digno e humano
deve ser garantido308
Nesse sentido quando haacute pessoas em perigo no mar haacute o dever de resgate e
assistecircncia e em casos de embarcaccedilotildees de refugiados o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo deve ser
observado pois conforme vimos anteriormente o artigo 3ordm da Convenccedilatildeo Europeia dos
Direitos Humanos haacute a previsatildeo da proibiccedilatildeo de enviar pessoas agrave tortura Assim as pessoas
estatildeo em uma embarcaccedilatildeo com intuito de fugir de afrontas agrave sua dignidade e de lesotildees agrave sua
integridade fiacutesica nesse caso o Estado costeiro (ou o mais proacuteximo) bem como capitatildeo de
outras embarcaccedilotildees tecircm o dever de proteger essas pessoas e inclusive natildeo enviaacute-los
novamente para o paiacutes que lhes oprimiam
A este respeito tem-se que o Tribunal Europeu de Direitos Humanos bem como o
Comitecirc dos Direitos Humanos dispotildee a respeito do efeito horizontal indireto de alguns
direitos como por exemplo direito agrave vida proibiccedilatildeo da tortura e da escravidatildeo como
supramencionado o Estado tem obrigaccedilatildeo positiva de proteger os indiviacuteduos colocados sob
sua jurisdiccedilatildeo309
Muito se fala a respeito das lacunas no direito do mar e que pode trazer consequecircncias
na proteccedilatildeo dos direitos humanos Uma dessas lacunas estaacute no artigo 27 e 28 da UNCLOS
que tratam da jurisdiccedilatildeo criminal e civil do Estado costeiro impondo limites a este poreacutem
constam exceccedilotildees nas aliacuteneas ou seja situaccedilotildees em que o Estado costeiro poderaacute exercer
sua jurisdiccedilatildeo Curiosamente na aliacutenea ldquodrdquo do artigo 27 haacute a previsatildeo da possibilidade
exercer a jurisdiccedilatildeo penal em casos de ldquorepressatildeo do traacutefico iliacutecito de estupefacientes ou de
substacircncias psicotroacutepicasrdquo310 mas nada se fala a respeito da luta contra a tortura e o combate
agrave escravidatildeo ou traacutefico de pessoas Sobre este uacuteltimo o Estado costeiro pode interferir caso
307 INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION International Convention for the Safety of Life at Sea
(SOLAS) Disponiacutevel em httpswwwsamgongustofaismediaenglishSOLAS-Consolidated-Edition-
2018docxpdf Acesso em 05062020 308 Ibidem 309 Ibidem 310 UNITED NATIONS United Nations Convention on the Law of the Seas Op cit
96
o destino final seja seu espaccedilo terrestre no entanto deve sempre atuar de forma a respeitar
dos direitos humanos resgatando e dando um tratamento digno para as pessoas que
necessitam de proteccedilatildeo
O traacutefico de migrantes difere do traacutefico de escravos poreacutem muito se assemelham na
forma de transporte Muitas pessoas fogem da tortura situaccedilotildees de perseguiccedilotildees e
tratamentos desumanos e degradantes pagando para traficantes fazerem sua travessia do
norte do continente africano para paiacuteses europeus banhados pelo Mar Mediterracircneo
correndo risco de vida em embarcaccedilotildees precaacuterias e tendo suas vidas nas matildeos dos traficantes
bem como muitas pessoas satildeo usadas como mercadorias (escravos) e tambeacutem transportadas
por embarcaccedilotildees clandestinas
A este respeito o ldquoProtocolo Adicional agrave Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas contra o
Crime Organizado Transnacional relativo ao Combate ao Traacutefico de Migrantes por Via
Terrestre Mariacutetima e Aeacutereardquo no seu artigo 3ordm traz a definiccedilatildeo de traacutefico de migrantes ldquo()
lsquotraacutefico de migrantesrsquo significa a promoccedilatildeo com o objetivo de obter direta ou indiretamente
um benefiacutecio financeiro ou outro benefiacutecio material da entrada ilegal de uma pessoa num
Estado Parte do qual essa pessoa natildeo seja nacional ou residente permanenterdquo311
E quanto ao traacutefico de pessoas tem-se a definiccedilatildeo no artigo 3ordm no Protocolo Adicional
agrave Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Relativo agrave
Prevenccedilatildeo Repressatildeo e Puniccedilatildeo do Traacutefico de Pessoas em Especial Mulheres e Crianccedilas
ou seja
A expressatildeo traacutefico de pessoas significa o recrutamento o transporte a
transferecircncia o alojamento ou o acolhimento de pessoas recorrendo agrave ameaccedila ou
uso da forccedila ou a outras formas de coaccedilatildeo ao rapto agrave fraude ao engano ao abuso
de autoridade ou agrave situaccedilatildeo de vulnerabilidade ou agrave entrega ou aceitaccedilatildeo de
pagamentos ou benefiacutecios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha
autoridade sobre outra para fins de exploraccedilatildeo A exploraccedilatildeo incluiraacute no miacutenimo
a exploraccedilatildeo da prostituiccedilatildeo de outrem ou outras formas de exploraccedilatildeo sexual o
trabalho ou serviccedilos forccedilados escravatura ou praacuteticas similares agrave escravatura a
servidatildeo ou a remoccedilatildeo de oacutergatildeos312
311 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Protocolo Adicional agrave Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas contra
o Crime Organizado Transnacional relativo ao Combate ao Traacutefico de Migrantes por Via Terrestre Mariacutetima
e Aeacuterea 2000 Op cit 312 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Protocolo Adicional agrave Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas contra
o Crime Organizado Transnacional Relativo agrave Prevenccedilatildeo Repressatildeo e Puniccedilatildeo do Traacutefico de Pessoas em
Especial Mulheres e Crianccedilas Disponiacutevel httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2004-
20062004DecretoD5017htm Acesso 14062020
97
Assim o crime de traacutefico de migrantes e o de traacutefico de pessoas satildeo crimes diferentes
poreacutem em alguns casos como jaacute mencionamos a forma de transporte pode ser a mesma
atraveacutes de embarcaccedilotildees clandestinas e em situaccedilotildees precaacuterias Poreacutem natildeo seraacute aprofundado
neste aspecto criminal pois o foco do presente trabalho eacute a situaccedilatildeo dos refugiados em perigo
no mar contudo esta situaccedilatildeo pode relacionar-se com o traacutefico de migrantes ressalta-se que
satildeo vaacuterios os crimes que podem ser cometidos no espaccedilo mariacutetimo mas sem relaccedilatildeo com a
questatildeo dos refugiados
Sabemos que no que se refere ao alto mar eacute a jurisdiccedilatildeo do Estado da bandeira que
prevalece poreacutem no artigo 110 da UNCLOS autoriza-se o direito de visita em situaccedilotildees que
haacute a suspeita da ocorrecircncia de crimes como por exemplo a pirataria o traacutefico de escravos
embarcaccedilatildeo sem nacionalidade entre outras313 Neste ponto chama-se a atenccedilatildeo para
embarcaccedilotildees sem nacionalidades ou seja na imigraccedilatildeo clandestina os migrantes satildeo
transportados em embarcaccedilotildees sem nacionalidade e em situaccedilotildees precaacuterias Portanto a
UNCLOS autoriza o direito de visita em situaccedilotildees de embarcaccedilotildees sem nacionalidade
No mesmo sentido o artigo 19 do mesmo documento refere-se agrave passagem inocente
e diz que natildeo seraacute considerada passagem inocente (no mar territorial) e portanto prejudicial
agrave paz boa ordem e seguranccedila do Estado costeiro se a embarcaccedilatildeo for destinada agrave imigraccedilatildeo
(conforme artigo 19 nordm 2 aliacutenea ldquogrdquo)
No que se refere ao combate da imigraccedilatildeo clandestina tem-se que a liberdade de
navegaccedilatildeo fica comprometida inclusive em aacutereas em que natildeo haacute soberania de algum Estado
Aleacutem disso destaca-se que um paiacutes ao recusar o desembarque de migrantes e requerentes de
asilo poderaacute lesionar o direito agrave vida314 Portanto tal fato reforccedila a ideia de prestar assistecircncia
no mar
321 O Direito do Mar e os Direitos Humanos
Sabe-se que os Estados possuem obrigaccedilotildees de direitos humanos tanto positivado
por meio de tratados quanto pelo direito consuetudinaacuterio internacional Nesse sentido vale
a pena destacar trecircs aspectos as obrigaccedilotildees positivas e negativas do Estado separabilidade
313 UNITED NATIONS United Nations Convention on the Law of the Seas Op cit 314 GROSBON Sophie Op cit
98
dos direitos humanos e contenccedilotildees especiais justificadas pela natureza que no caso consiste
no ambiente marinho315
Tendo por base a tradiccedilatildeo juriacutedica ocidental que deu origem aos direitos humanos
tem-se que o objetivo era proteger as pessoas perante abusos dos soberanos ou seja o Estado
tem o dever de evitar atitudes que agridam os direitos dos indiviacuteduos Portanto obrigaccedilatildeo
negativa dos direitos humanos eacute referente ao Estado em se abster de tomar medidas que
possam infringir os direitos humanos nesse sentido a obrigaccedilatildeo positiva consiste no Estado
agir para evitar que os direitos dos indiviacuteduos sejam lesionados tendo como exemplo a
UNCLOS atraveacutes da positivaccedilatildeo de normas a respeito de busca e resgate no mar316
No que se refere agrave separabilidade tem-se que este conceito estaacute relacionado com a
jurisdiccedilatildeo Assim eacute importante ressaltar que existem duas correntes a este respeito a
primeira diz sobre uma jurisdiccedilatildeo limitada ao seu territoacuterio e outra defende a competecircncia
extraterritorial dos Estados ao que se refere agrave proteccedilatildeo dos direitos humanos Deste modo agrave
luz da natureza dos direitos humanos a segunda eacute mais compatiacutevel e aceita pelo Tribunal
Europeu dos Direitos Humanos A referida Corte entende que quando um Estado atua fora
da sua jurisdiccedilatildeo para exercer controle e autoridade sobre um indiviacuteduo o Estado deveraacute
assegurar os direitos individuais e a liberdade da pessoa317
Haacute muitas controveacutersias sobre este assunto mas entende-se como razoaacutevel a ideia de
que quando o Estado exerce sua jurisdiccedilatildeo fora dos seus limites territoriais em diversas
situaccedilotildees (ao que se refere a presente pesquisa citamos o resgate de pessoas em perigo no
mar) ele tem a obrigaccedilatildeo de assegurar os direitos individuais como por exemplo o direito
agrave vida o direito de natildeo ser torturado ou de natildeo ser submetido a tratamentos desumanos ou
degradantes de natildeo ser devolvidorejeitado (non-refoulement) de ter suas liberdades
individuais318
Natildeo haacute a previsatildeo da aplicabilidade dos direitos humanos no direito do mar poreacutem
decisotildees de tribunais internacionais bem como a intepretaccedilatildeo sistecircmica dos tratados fazem
com que o respeito aos direitos humanos seja base de todos os ramos do direito Nesse
315 PAPANICOLOPULU Irini Human Rights and The Law of the Sea In The IMLI Manual on International
Maritime Law Volume I Law of The Sea General Editor David Joseph Attard Edited by Malgosia
Fitzmaurice Norman A Martineacutez Gutieacuterrez Oxford University Press Oxford 2014 316 Ibidem 317 Ibidem 318 Ibidem
99
sentido ao interpretar o artigo 311 nordm 2 da UNCLOS juntamente com o artigo 1ordm nordm 3 da
Carta das Naccedilotildees Unidas temos respectivamente
(hellip)This Convention shall not alter the rights and obligations of States Parties
which arise from other agreements compatible with this Convention and which do
not affect the enjoyment by other States Parties of their rights or the performance
of their obligations under this Convention (hellip)319
()Conseguir uma cooperaccedilatildeo internacional para resolver os problemas
internacionais de caraacuteter econocircmico social cultural ou humanitaacuterio e para
promover e estimular o respeito aos direitos humanos e agraves liberdades fundamentais
para todos sem distinccedilatildeo de raccedila sexo liacutengua ou religiatildeo ()320
Notamos nos dispositivos supra a preocupaccedilatildeo com o cumprimento das obrigaccedilotildees
perante os outros estados bem como a cooperaccedilatildeo entre eles zelando sempre por diversos
aspectos sendo os direitos humanos um dos pontos expressos no artigo 1ordm da Carta das
Naccedilotildees Unidas
No mesmo sentido os artigos 55 e 56 da Carta das Naccedilotildees Unidas dispotildeem sobre a
cooperaccedilatildeo internacional econocircmica e social assim os estados se comprometem em
cooperar juntamente com a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas Portanto ao que se refere agrave
interpretaccedilatildeo dos dispositivos na UNCLOS ela deve ser sistemaacutetica e realizada em conjunto
com os demais diplomas internacionas no entanto ressalta-se que dificilmente haveraacute
alguma interpretaccedilatildeo que impeccedila os estados de cumprirem com suas obrigaccedilotildees
internacionais no acircmbito dos direitos humanos321
322 O Princiacutepio da Natildeo-Repulsatildeo e os Migrantes em Perigo no Mar
Como jaacute visto no primeiro capiacutetulo este princiacutepio eacute um dos principais aspectos de
proteccedilatildeo agraves pessoas que requerem asilo e ele garante que essas natildeo sejam devolvidas para
seu paiacutes de origem ou seja para local onde sofria algum tipo de perseguiccedilatildeo Poreacutem haacute
discussatildeo a respeito de que tal regra prevista no artigo 33 da Convenccedilatildeo de 1951 somente
se aplica para pessoas que se enquadram no statusconceito de refugiado322
319 UNITED NATIONS United Nations Convention on the Law of the Seas Op cit 320 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Carta das Naccedilotildees Unidas 1945 Disponiacutevel em
httpsnacoesunidasorgwp-contentuploads201711A-Carta-das-NaC3A7C3B5es-Unidaspdf
Acesso em 04092020 321 PAPANICOLOPULU Irini Op cit 322 TREVISANUT Seline The Principle of Non-Refoulement and the De-Territorialization of Border Control
at Sea Leiden Journal of International Law vol 27 no 3 September 2014 p 661-676 HeinOnline
100
Assim Seline Trevisanut destaca que o ponto principal do conceito de refugiado eacute a
questatildeo do medo fundamentado de perseguiccedilatildeo situaccedilatildeo em que a vida ou a liberdade de
algueacutem estaria em risco Portanto nada se discute a respeito da aplicaccedilatildeo do
supramencionado artigo aos refugiados (propriamente ditos) a questatildeo controversa reside
em pessoas que natildeo se enquadram no referido conceito323
O conceito de refugiado foi analisado mais detalhadamente no primeiro capiacutetulo no
entanto aqui se faz um parecircntese a resepeito da questatildeo espacial do conceito Assim tal
ideia traz eacute a de que o indiviacuteduo deve estar fora do seu paiacutes ou natildeo ter nacionalidade ou
fora do paiacutes de sua residecircncia habitual ou seja em uma anaacutelise bem restrita a natildeo-repulsatildeo
natildeo se aplicaria nas aacuteguas territoriais ou na zona contiacutegua do paiacutes de origem Mas vale
destacar que o artigo 33 da Convenccedilatildeo natildeo traz limitaccedilatildeo territorial assim haacute
entendimentos324 de que a natildeo-repulsatildeo deve ser obedecida em qualquer local onde um
Estado possa exercer sua jurisdiccedilatildeo sendo uma interpretaccedilatildeo aceita tendo por base a defesa
dos direitos humanos325 eacute a situaccedilatildeo da extraterritorialidade
O artigo 13 nordm 2 da DUDH dispotildee ldquoToda a pessoa tem o direito de abandonar o paiacutes
em que se encontra incluindo o seu e o direito de regressar ao seu paiacutesrdquo326 a mesma redaccedilatildeo
eacute dada no artigo 12 nordm 2 do Pacto Internacional de Direitos Civis e Poliacuteticos Assim os
migrantes em regiotildees mariacutetimas com ausecircncia de soberania de algum Estado natildeo podem ser
considerados em situaccedilatildeo irregular mesmo porque natildeo haacute previsatildeo sobre a proibiccedilatildeo de
indiviacuteduos deixarem seu paiacutes por via mariacutetima327
O entendimento do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos eacute de que se um Estado
adota medidas em aacuteguas internacionais ou territoriais de outro Estado com intuito de
combater a imigraccedilatildeo natildeo consiste na violaccedilatildeo do direito de saiacuteda do migrante do seu paiacutes
poreacutem as medidas satildeo tomadas com intuito de evitar a entrada no territoacuterio do Estado
323 TREVISANUT Seline The Principle of Non-Refoulement and the De-Territorialization of Border Control
at Sea Op cit 324 Seline Trevisanut citou Goodwin-Gill e J McAdam com o livro The Refugee in International Law (2007)
em TREVISANUT Seline The Principle of Non-Refoulement and the De-Territorialization of Border
Control at Sea Leiden Journal of International Law vol 27 no 3 September 2014 p 661-676 HeinOnline 325 TREVISANUT Seline The Principle of Non-Refoulement and the De-Territorialization of Border Control
at Sea Op cit 326 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem 1948
Disponiacutevel em httpsnacoesunidasorgwp-contentuploads201810DUDHpdf Acesso em 05032020 327 GROSBON Sophie Op cit
101
infringindo as regras de proteccedilatildeo internacional o direito de pedir asilo e a proibiccedilatildeo de
expulsatildeo coletivas328
Aleacutem disso um Estado ao abordar uma embarcaccedilatildeo com migrantes natildeo deve
devolvecirc-los ao paiacutes de origem pois estaria infringindo o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo tendo
em vista que os migrantes muitas vezes estatildeo fugindo de perseguiccedilotildees e ameaccedilas agraves suas
vidas Nesse sentido a Comissatildeo Interamericana de Direitos Humanos considera que a
interceptaccedilatildeo e reenvio sistemaacutetico de barcos cheios de migrantes atentam contra o direito agrave
vida Assim um dos maiores desafios relacionado com o direito do mar e os direitos
humanos estaacute questatildeo da imigraccedilatildeo ilegal bem como a questatildeo do porto de desembarque e
o paiacutes no qual vai analisar o procedimento de asilo329
A este respeito Sophie Grosbon destaca que uma significante falha na legislaccedilatildeo a
respeito do mar eacute o fato de natildeo haver uma clara identificaccedilatildeo de onde as pessoas encontradas
no mar devem desembarcar em situaccedilotildees de que as pessoas tentam entrar ilegalmente em
um paiacutes Antes as convenccedilotildees SAR e SOLAS nada previam sobre o assunto poreacutem foram
adotadas emendas com intuito de garantir um local de desembarque seguro para as pessoas
que satildeo resgatadas no mar natildeo importando a nacionalidade status ou quaisquer outras
circunstacircncias que se encontrem330
Na visatildeo do direito internacional e europeu a rejeiccedilatildeo de migrantes em alto mar
coloca em conflito vaacuterias convenccedilotildees sobre os direitos humanos direito internacional e
direto do mar Destaca-se a as convenccedilotildees UNCLOS SOLAS SAR Convenccedilatildeo de Genebra
de 1951 Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas contra Tortura de 1984 o Pacto Internacional dos
Direitos Civis e Poliacuteticos e a CEDH331
Sabe-se que o artigo 3ordm da CEDH estaacute intimamente relacionado ao princiacutepio da natildeo-
repulsatildeo pois haacute a proibiccedilatildeo de tortura e tratamentos desumanos e degradantes sendo assim
enviar algueacutem para um local onde possa sofrer de tais accedilotildees seria uma violaccedilatildeo do referido
dispositivo Assim mesmo jaacute tendo explicado anteriormente sobre esse princiacutepio faz-se
necessaacuterio rediscutir o mesmo conduzindo para a abordagem de refugiados em perigo no
mar
328 GROSBON Sophie Op cit 329 Ibidem 330 Ibidem 331 TERRASI Alfredo I respingimenti in mare di migrant alla luce della Convenzione europea dei diritti
umani In Diritti umani e diritto Internazionale Nordm 32009 p 591-607
102
No entanto natildeo haacute expressamente no artigo 3ordm da CEDH a obrigaccedilatildeo de natildeo-
repulsatildeo desse modo o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos utiliza o mecanismo de
proteccedilatildeo indireta (ldquoprotection paricochetrdquo) isto eacute estende a proteccedilatildeo do artigo para pessoas
que correm risco de serem torturadas ou serem submetidas agrave tratamentos desumanos e
degradantes caso haja uma expulsatildeo ou extradiccedilatildeo332
O artigo 4ordm do seu Protocolo adicional nordm 4 que se refere agraves expulsotildees coletivas
vimos que se aplica tanto para pessoas que jaacute estatildeo no territoacuterio como tambeacutem para as
pessoas que ainda natildeo atingiram a fronteira ou seja situaccedilatildeo dos migrantes em alto mar com
a pretensatildeo de ingressar no territoacuterio assim possui um mecanismo de aplicaccedilatildeo semelhante
ao artigo 3ordm da CEDH333
Do mesmo modo o artigo 3ordm nordm 1 da Convenccedilatildeo Contra a Tortura e Outros
Tratamentos ou Penas Crueacuteis Desumanos ou Degradantes traz a proibiccedilatildeo do envio de
pessoas para estados nos quais poderatildeo correr risco de serem submetidos agrave tortura ou
qualquer tratamento desumano ou degradante como podemos depreender da leitura do
dispositivo ldquoNenhum Estado Parte procederaacute agrave expulsatildeo devoluccedilatildeo ou extradiccedilatildeo de uma
pessoa para outro Estado quando houver razotildees substanciais para crer que a mesma corre
perigo de ali ser submetida agrave torturardquo334
Portanto satildeo vaacuterios os instrumentos internacionais bem como a praacutetica dos Estados
que trazem a natildeo-repulsatildeo como uma regra do direito consuetudinaacuterio tanto quanto os
direitos humanos335 como jaacute vimos no primeiro capiacutetulo A jurisprudecircncia do TEDH eacute no
sentido de que enviar uma pessoa para um paiacutes no qual sua vida e integridade fiacutesica vatildeo ser
postas em risco haacute a violaccedilatildeo do artigo 33 da Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 mas quando
se refere aos migrantes rejeitados em alto mar natildeo se poderia afirmar isso de imediato devido
agrave questatildeo da jurisdiccedilatildeo em alto mar mas como vimos haacute a possibilidade da
extraterritorialidade da jurisdiccedilatildeo de um Estado em alto mar336 Assim isso justificaria a
ideia de que sob a jurisdiccedilatildeo de um paiacutes este natildeo deve rejeitar os migrantes e enviaacute-los
332 TERRASI Alfredo Op cit 333 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit 334 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas
Crueacuteis Desumanos ou Degradantes 1984 Disponiacutevel em
httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto1990-1994D0040htm Acesso em 12092020 335 TREVISANUT Seline The Principle of Non-Refoulement and the De-Territorialization of Border Control
at Sea Op cit 336 TERRASI Alfredo Op cit
103
novamente agraves situaccedilotildees de risco sob pena de incorrer em lesatildeo aos artigos 3ordm da CEDH e 33
da Convenccedilatildeo de Genebra de 1951
Neste aspecto Alfredo Terrasi menciona que o ACNUR bem como a doutrina
majoritaacuteria sobre o tema entende pela aplicabilidade do artigo 33 da Convenccedilatildeo de Genebra
de 1951 tambeacutem na regiatildeo de alto mar ou seja como jaacute falamos acima aplicando a
extraterritorialidade da jurisdiccedilatildeo do paiacutes e portanto a extraterritorialidade do princiacutepio da
natildeo-repulsatildeo337
A este respeito o ACNUR no documento ldquoNotes on International Protectionrdquo de 13
de setembro de 2001 dispotildee que natildeo satildeo admitidas reservas no princiacutepio da natildeo-repulsatildeo e
que consiste em uma regra de direito internacional consuetudinaacuterio e portanto se vincula a
todos os Estados aleacutem disso consiste em um princiacutepio atrelado agrave proibiccedilatildeo da tortura e
tratamentos desumanos degradantes e crueacuteis bem como aplicaacutevel a todos os refugiados
independentemente do status formal do indiviacuteduo e como jaacute visto proiacutebe o envio de
indiviacuteduos para locais onde correm o risco de terem sua vida e liberdade ameaccediladas sendo
que o local da rejeiccedilatildeo natildeo importa se eacute na fronteira repulsatildeo indireta ou interceptaccedilatildeo de
embarcaccedilotildees por exemplo338
Nesta mesma linha vimos que a Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos do Homem no
Protocolo nordm 4 artigo 4ordm haacute a proibiccedilatildeo de expulsotildees coletivas tal disposto se justifica no
fato de que a anaacutelise para configurar o status de refugiado deve ser efetuada individualmente
com isso a expulsatildeo coletiva infringe gravemente a anaacutelise individual pois ao recusar os
migrantes em grupos faz com que a anaacutelise seja sumaacuteria339
A regulaccedilatildeo de entrada nos paiacuteses sempre foi praticada inclusive com rejeiccedilotildees de
entrada E como jaacute explicado no capiacutetulo anterior nos uacuteltimos anos a Itaacutelia eacute um dos paiacuteses
que mais vecircm sofrendo com a chegada massiva de migrantes que atravessam o Mar
Mediterracircneo com intuito de chegar agrave Europa Vimos tambeacutem que os Estados possuem sua
soberania e por isso tecircm direito de controlar o fluxo de entrada no paiacutes mas este fato esbarra
nas situaccedilotildees em que pessoas necessitam de proteccedilatildeo internacional
337 TERRASI Alfredo Op cit 338 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Note on International Protection ndash UNHCR 13 september
2001 Disponiacutevel httpswwwunhcrorgexcomexcomrep3bb1c6cc4note-international-protectionhtml
Acesso em 18092020 339 TERRASI Alfredo Op cit
104
Assim o direito de rejeitar a entrada de pessoas no paiacutes consiste em uma expressatildeo
da soberania dos Estados no entanto haacute limites Vejamos A ideia de soberania eacute de que se
trata de uma ferramenta para garantia dos direitos do Estado e dos indiviacuteduos agrave luz do direito
internacional ou seja a garantia de proteccedilatildeo miacutenima com base nos direitos humanos
tornando o princiacutepio da natildeo-discriminaccedilatildeo o centro de reconstruccedilatildeo dos deveres do Estado
em relaccedilatildeo a todos indiviacuteduos natildeo importando a nacionalidade destes Nesse sentido com
base nesse princiacutepio todas as pessoas que estiverem sob a jurisdiccedilatildeo de algum Estado este
deve fazer com que os direitos fundamentais reconhecidos pelo direito internacional sejam
observados340
A accedilatildeo de rejeitar a entrada de pessoas consiste em um exerciacutecio de poder dos oacutergatildeos
do Estado que satildeo responsaacuteveis pelo controle das fronteiras mas esta accedilatildeo faz com que
sejam ativadas as ferramentas para que se respeitem os direitos humanos dos envolvidos
Dessa forma a proteccedilatildeo ao direito agrave vida proibiccedilatildeo de tratamentos desumanos e
degradantes a liberdade pessoal entre outras proteccedilotildees dos direitos humanos pode fazer
com que o Estado seja impedido de rejeitar as pessoas ou seja que se respeite o princiacutepio
da natildeo-repulsatildeo341
Assim o direito dos refugiados eacute a primeira aacuterea do direito internacional em que a
regra da natildeo-repulsatildeo foi desenvolvida foi durante a Segunda Guerra Mundial que os
Estados decidiram adotar a proibiccedilatildeo geral de recusar refugiados342 ou seja como jaacute vimos
os Estados-partes que adotaram a Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 comprometeram-se a natildeo
expulsar um refugiado para locais onde a vida e a liberdade seriam ameaccediladas
Destaca-se que a natildeo repulsatildeo se aplica aos refugiados isto eacute aqueles que se
enquadram nas situaccedilotildees previstas na Convenccedilatildeo de 1951 portanto alguns elementos que
caracterizam uma pessoa como refugiado satildeo o medo a perseguiccedilatildeo pelos motivos
especiacuteficos (raccedila religiatildeo nacionalidade e outros) e natildeo poder se beneficiar da proteccedilatildeo
estatal Poreacutem pessoas que necessitam de proteccedilatildeo por fugirem de guerra (natildeo enquadradas
nas situaccedilotildees de perseguiccedilatildeo) refugiados ambientais pessoas deslocadas internamente satildeo
excluiacutedas do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo343
340 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit 341 Ibidem 342 Ibidem 343 Ibidem
105
No entanto natildeo eacute exigiacutevel que os indiviacuteduos jaacute estejam no territoacuterio para que se
aplique a natildeo-repulsatildeo ou seja os migrantes podem estar na fronteira ou inclusive em aacutereas
onde o Estado natildeo exerce a soberania como o alto mar De qualquer forma os indiviacuteduos
devem ter seu direito de natildeo serem devolvidos respeitado344 Dessa forma o artigo 33 da
Convenccedilatildeo de 1951 aleacutem de ser uma proteccedilatildeo aos refugiados consiste em um
desenvolvimento dos direitos humanos pois tambeacutem foi adotado em outros documentos
internacionais demonstrando a relevacircncia desta regra345
Nesse sentido a Convenccedilatildeo contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Crueacuteis
Desumanos ou Degradantes adotada em 1984 traz no artigo 3ordm nordm1 a proibiccedilatildeo da expulsatildeo
de uma pessoa quando houver relevantes razotildees para se acreditar que o indiviacuteduo corra
perigo e possa ser submetido agrave tortura346 Entatildeo a Convenccedilatildeo de 1951 diz respeito aos
refugiados e a Convenccedilatildeo contra a Tortura amplia a aplicaccedilatildeo deste princiacutepio para mais
pessoas que natildeo satildeo consideradas refugiadas bastando ter motivos substanciais para
acreditar que a pessoa seraacute submetida agrave tortura
Entatildeo destaca-se o fato de que a Convenccedilatildeo Contra a Tortura natildeo prevecirc exceccedilotildees
ou seja ningueacutem poderaacute ser expulso de um paiacutes sabendo que o indiviacuteduo seraacute submetido agrave
tortura Neste aspecto podemos entender o caraacuteter de uma norma jus cogens (resumidamente
satildeo regras internacionais imperativas como vimos no primeiro capiacutetulo) na proibiccedilatildeo da
repulsatildeo347
Tendo por base todas essas informaccedilotildees a respeito da natildeo-repulsatildeo passa-se agora a
explorar a relaccedilatildeo deste princiacutepio juntamente com o direito do mar Neste aspecto eacute
importante destacar que a natildeo-repulsatildeo natildeo consta expressamente na lei do mar poreacutem isso
natildeo significa que natildeo deva ser aplicado pois o direito internacional prevecirc a possibilidade de
integrar as regras presentes em outros documentos A exemplo disto a UNCLOS prevecirc que
os assuntos natildeo regulados por ela continuam sendo disciplinados pelos princiacutepios do direito
internacional348
344 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit 345 Ibidem 346 ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Contra a Tortura e Outros Tratamentos
ou Penas Crueacuteis Desumanos ou Degradantes 1984 Disponiacutevel em
httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto1990-1994D0040htm Acesso em 24062020 347 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit 348 Ibidem
106
Ao observar algumas obrigaccedilotildees fundamentais neste ponto do direito internacional
percebe-se a evidecircncia da proteccedilatildeo dos direitos humanos exemplificado pelo princiacutepio da
natildeo-repulsatildeo assim menciona-se a obrigaccedilatildeo de salvar as pessoas que estatildeo em perigo no
mar e levaacute-las para um local seguro Esta obrigaccedilatildeo jaacute presente nas regras costumeiras eacute
expressa na UNCLOS e em outros documentos internacionais como a SOLAS e a SAR No
entanto natildeo haacute definiccedilatildeo do que seria ldquolugar segurordquo mas entende-se que consiste em um
local onde os indiviacuteduos possuem seus direitos fundamentais respeitados assim os
migrantes resgatados no mar devem ser desembarcados em lugares onde a vida e liberdade
dessas pessoas estatildeo salvas349
Portanto o elo entre a obrigaccedilatildeo de salvamento no mar e desembarcar as pessoas em
locais seguros juntamente com o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo constituem em uma
convergecircncia do direito do mar direitos humanos e direito dos refugiados As chances das
pessoas resgatadas no mar principalmente no Mar Mediterracircneo serem pessoas que se
enquadram no conceito de refugiado eacute grande350 Veremos adiante que a Itaacutelia foi condenada
pelo TEDH por desrespeitar essas obrigaccedilotildees internacionais
No entanto os limites impostos pelo direito dos refugiados e direitos humanos agrave
atuaccedilatildeo do Estado no que se refere agrave rejeiccedilatildeo dos estrangeiros tecircm sido considerados como
oacutebices agraves poliacuteticas estatais de rejeiccedilatildeo indiscriminadas adotadas por alguns paiacuteses Nesse
sentido alguns governos tentaram coibir a chegada de migrantes para requisiccedilatildeo de asilo
que a exemplo disso cita-se a Austraacutelia Itaacutelia e Estados Unidos351
Dos exemplos citados no uacuteltimo capiacutetulo falaremos das violaccedilotildees nos principais
paiacuteses afetados como Itaacutelia Greacutecia e Malta pois tem sido os paiacuteses mais afetados pela
migraccedilatildeo atraveacutes do Mar Mediterracircneo Nesse sentido a Itaacutelia adotou haacute pouco tempo uma
legislaccedilatildeo que possui a finalidade de impedir a entrada de embarcaccedilotildees que resgatam
migrantes em suas aacuteguas e portos Do ponto de vista de diversas aacutereas do direito como
direitos humanos e direito do mar tal medida do governo italiano eacute ilegiacutetima352
A UNCLOS nos seus artigos 17 e 25 nordm 3 dispotildee a respeito de passagem inocente
mas em alguns casos o estado costeiro pode suspender temporariamente esse direito esta
deve ser temporaacuteria deve ser em aacutereas especiacuteficas a accedilatildeo deve ser importante para a
349 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit 350 Ibidem 351 Ibidem 352 Ibidem
107
seguranccedila do Estado e natildeo deve ter cunho discriminatoacuterio Portanto a aacuterea deve ser restrita
e aplicaacutevel a todos os navios ou seja natildeo se pode restringir a navegaccedilatildeo de embarcaccedilotildees de
ONGs que prestam assistecircncia no mar por exemplo353
Dessa forma observa-se que as accedilotildees do governo italiano tinham intenccedilatildeo de excluir
uma categoria de barcos e que inclusive natildeo realizam atividades ilegais assim a Itaacutelia deixa
de respeitar uma seacuterie de obrigaccedilotildees legais Nesse sentido desembarcar migrantes
resgatados em alto mar em locais como a Liacutebia por exemplo acarreta uma violaccedilatildeo ao
princiacutepio da natildeo-repulsatildeo pois este paiacutes africano estaacute longe de ser um local seguro354
O direito internacional do mar autoriza em casos extremos que uma embarcaccedilatildeo
que esteja em situaccedilatildeo de perigo tenha acesso aos portos mesmo que o Estado portuaacuterio seja
diverso do Estado da bandeira independentemente da permissatildeo355 Aleacutem disso em outro
aspecto os estados de destino da migraccedilatildeo irregular tentam prevenir a chegada de migrantes
ilegais em seu territoacuterio controlando as fronteiras fora do seu territoacuterio ou seja em alto mar
Esta accedilatildeo eacute chamada de desterritorializaccedilatildeo neste aspecto nos deparamos com o conceito
do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo que vimos ser um instrumento importante na proteccedilatildeo dos
migrantes que necessitam de proteccedilatildeo Aleacutem disso vale lembrar que o ato de migrar natildeo eacute
ilegal sendo que quem comente o crime satildeo os contrabandistas nesse sentido os migrantes
ldquocometemrdquo iliacutecitos ao entrar de forma irregular no territoacuterio internacional356
Nesse sentido Seline Trevisanut traz a ideia de dois tipos de fronteiras a primeira
consiste na fronteira propriamente dita delimitada no mapa que visa delimitar a aacuterea fiacutesica
na qual o Estado costeiro tem assegurada sua soberania na medida de cada zona mariacutetima
como vimos no iniacutecio deste capiacutetulo a segunda ideia de fronteira mariacutetima funcional que
traz uma fronteira dinacircmica ou seja ela eacute alterada de acordo com a natureza da accedilatildeo em
questatildeo Portanto no que se refere agrave migraccedilatildeo a fronteira eacute no local que as autoridades
realizaram o controle de fronteira ou seja em tese na interceptaccedilatildeo de um navio no mar o
controle de fronteira estaacute sendo realizado naquele local357
Tal fato traz a ideia de imposiccedilatildeo do seu sistema juriacutedico como eacute o caso por
exemplo da Itaacutelia em que alega seu tratado de amizade com a Liacutebia Assim a Itaacutelia entende
353 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit 354 Ibidem 355 Ibidem 356 TREVISANUT Seline The Principle of Non-Refoulement and the De-Territorialization of Border Control
at Sea Op cit 357 Ibidem
108
que pode tomar as medidas de acordo com a sua legislaccedilatildeo e tratados Ocorre que o princiacutepio
da natildeo-repulsatildeo eacute aplicado agrave pessoa que foi interceptada pois mesmo que a entrada seja
ilegal a Convenccedilatildeo de 1951 no artigo 31 nordm1 dispotildee que a entrada ilegal natildeo deve ser motivo
para recusar as pessoas que foram abordadas Entatildeo se deve sempre buscar a proteccedilatildeo de
pessoas que necessitam de ajuda No entanto a praacutetica de repelir os navios para alto mar natildeo
configuraria violaccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo mas eacute importante que esse ato natildeo
configure colocar vidas em perigo caso contraacuterio estaria em desacordo com o dever de
assistecircncia e socorro no mar358 mas sabemos que a situaccedilatildeo natildeo simples dessa forma pois
ao repelir um barco de migrantes para alto mar eacute colocar a vida das pessoas que estatildeo na
embarcaccedilatildeo em perigo pois voltar para o paiacutes de origem natildeo eacute uma opccedilatildeo ficar a deriva
pode levaacute-las agrave morte ir para outro paiacutes mais longe pode deteriorar ainda mais a embarcaccedilatildeo
e a mesma naufragar causando acidentes e provavelmente mortes
Assim podemos dizer que o desvio forccedilado de migrantes enviando-os de volta para
o paiacutes de partida ou para algum paiacutes que natildeo escolheram ou para algum paiacutes considerado
inseguro consiste em violaccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo Ressalta-se que tal princiacutepio natildeo
traz obrigatoriedade de recepccedilatildeo dos migrantes poreacutem repeliacute-los pode infringir algumas
normas do direito internacional como por exemplo o dever de prestar assistecircncia no mar359
323 A Busca e Salvamento no Mar e o Dever de Assistecircncia
O direito agrave vida deve prevalecer perante questotildees em que o navio esteja em perigo
ou que possua um maior nuacutemero de passageiros que possa comprometer a seguranccedila da
embarcaccedilatildeo Assim a primazia do direito agrave vida deve fazer com que o Estado costeiro abra
sua fronteira para o acesso dos migrantes Aleacutem disso o Tribunal Europeu dos Direitos
Humanos natildeo permite a ideia do Estado separar a obrigaccedilatildeo de salvar as vidas no mar
(prevista na UNCLOS) das obrigaccedilotildees de respeitar os direitos fundamentais Dessa forma
o Estado deve se preocupar com qualquer pessoa em perigo no mar e que as pessoas natildeo
devem ser devolvidas ao paiacutes de embarque360
358 TREVISANUT Seline The Principle of Non-Refoulement and the De-Territorialization of Border Control
at Sea Op cit 359 TREVISANUT Seline Maritime Border Control and the Protection of Asylum-Seekers in the European
Union Touro International Law Review 12 2009 p 157-161 HeinOnline 360 GROSBON Sophie Op cit
109
No que se refere agrave imigraccedilatildeo clandestina cita-se a Convenccedilatildeo de 1957 que nunca
entrou em vigor ela previa a autonomia do capitatildeo de um navio de entregar os migrantes agraves
autoridades do primeiro porto de escala sendo responsaacutevel por devolverem ao seu paiacutes de
origem No mesmo sentido em 2002 tentaram resolver a questatildeo de passageiros que entram
clandestinamente em alguma embarcaccedilatildeo portanto a ideia era de que os capitatildees natildeo
deveriam desviar a rota do navio para desembarcar o indiviacuteduo (exceto se tiver autorizaccedilatildeo
do porto ldquode desviordquo e se for necessaacuterio o desembarque em casos de seguranccedila e
humanidade) assim o Estado de desembarque deve aceitar o passageiro que for encontrado
no seu mar territorial sendo que em casos de recusa esta deveraacute ser justificada361
A este respeito Sophie Grosbon destaca que o desembarque das pessoas resgatadas
no mar sejam elas migrantes ou passageiros clandestinos estatildeo submetidos agrave lei dos
refugiados bem como ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo isso implica que o indiviacuteduo natildeo seja
desembarcado em um paiacutes no qual seus direitos vida e integridade fiacutesica sejam ameaccedilados
o mesmo ocorre para paiacuteses que possam enviaacute-los de volta ao paiacutes de origem ou Estado onde
seria ameaccediladoperseguido (situaccedilatildeo conhecida como repulsatildeo indireta)362
Percebe-se entatildeo a ligaccedilatildeo do ponto estudado neste capiacutetulo com o que foi exposto
no capiacutetulo 1 a respeito do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo visto anteriormente ou seja uma
pessoa que estaacute fugindo de ameaccedilas e tratamentos desumanos e degradantes que vivia em
um lugar que a vida e a integridade fiacutesica estavam ameaccediladas natildeo deve ser enviada de volta
para a tortura conforme consta no artigo 3ordm da CEDH bem como na Convenccedilatildeo contra a
Tortura
Quanto aos navios que socorrem as pessoas no mar a respeito da situaccedilatildeo dos
passageiros clandestinos faz-se uma separaccedilatildeo na anaacutelise ou seja se o navio eacute estatal ou se
eacute uma embarcaccedilatildeo particular No caso de embarcaccedilatildeo puacuteblica entende-se que o Estado da
bandeira eacute o responsaacutevel pela anaacutelise do pedido de asilo mesmo se estiver em aacuteguas internas
do estado de fuga mas ressalta-se que o mar natildeo eacute o local apropriado para que ocorra o
procedimento de anaacutelise do status de refugiado pois o capitatildeo e sua equipe natildeo possuem
conhecimento e treinamento para este serviccedilo bem como ocasionaria um atraso na rota
aleacutem disso se a anaacutelise ocorrer a bordo pode colocar em risco o respeito aos direitos
361 GROSBON Sophie Op cit 362 Ibidem
110
fundamentais do indiviacuteduo (direito a um tradutor um advogado possibilidade de recorrer e
confidencialidade do processo)363
Por outro lado se a embarcaccedilatildeo for particular a lei internacional dos refugiados junto
com a lei mariacutetima internacional sugere que o Estado responsaacutevel pelo pedido de asilo eacute
aquele onde ocorre o desembarque podendo inclusive que os Estados (de desembarque da
bandeira e outro Estado terceiro que aceite o procedimento de asilo) celebrem acordos para
compartilhar os encargos e as responsabilidades Essa dificulta o desembarque dos
migrantes pois ocasiona a obrigatoriedade de processar o pedido de asilo e isso resultaria
em situaccedilatildeo de natildeo assistecircncia das pessoas em perigo no mar364
Vimos que a UNCLOS no artigo 98 traz o dever de assistecircncia no mar isto eacute o nordm
1 aliacutenea ldquoardquo traz um princiacutepio consistente do direito consuetudinaacuterio que eacute o dever de prestar
assistecircncia para pessoas que estatildeo em perigo no mar e o nordm 2 do artigo traz o dever do Estado
costeiro de promover um eficaz serviccedilo de busca e salvamento bem como promover o
funcionamento a manutenccedilatildeo deste serviccedilo365
No que se refere ao direito internacional consuetudinaacuterio eacute niacutetido de que o dever de
salvar vidas no mar eacute um exemplo desta expressatildeo Nesse sentido tal regra eacute aplicaacutevel a
todos os Estados independentemente de serem signataacuterios de algum tratado internacional366
mas as Convenccedilotildees internacionais trazem disposiccedilotildees para confirmar o dever de salvamento
Como exemplo no Capiacutetulo V temos a regra 33 nordm 1 da SOLAS cujo tiacutetulo eacute ldquoDistress
situations obligations and proceduresrdquo que trata da obrigaccedilatildeo de um capitatildeo do navio em
salvar pessoas que estejam em perigo no mar natildeo importando as circunstacircncias em que satildeo
encontrados nacionalidade ou status das pessoas367
No que diz respeito agrave obrigaccedilatildeo de salvamento prevista na regra 33 nordm 1 da SOLAS
mencionada acima natildeo basta apenas salvar as pessoas em perigo no mar mas tambeacutem faz
parte da obrigaccedilatildeo desembarcar essas pessoas em local seguro este que por sua vez consta
no item 11 do mesmo artigo como segue ldquo() so that survivors assisted are disembarked
from the assisting ship and delivered to a place of safety ()rdquo368
363 GROSBON Sophie Op cit 364 Ibidem 365 UNITED NATIONS United Nations Convention on the Law of the Seas Op cit 366 RUGGIERO Carol Op cit 367 INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION International Convention for the Safety of Life at Sea
(SOLAS) Op cit 368 Ibidem
111
No que se refere ao desembarque em local de seguranccedila nem a SOLAS e nem a SAR
trouxeram a definiccedilatildeo do que seria esse local de seguranccedila poreacutem em 2004 nas
ldquoOrientaccedilotildees sobre o tratamento de pessoas resgatadas no marrdquo da Organizaccedilatildeo Mariacutetima
Internacional (OMI - IMO) dispotildee que esse lugar eacute onde a vida dos sobreviventes natildeo estaacute
mais em perigo tendo as principais necessidades humanas respeitadas ou seja alimentaccedilatildeo
acomodaccedilatildeo assistecircncia meacutedica como segue ldquo()is a location where rescue operations
are considered to terminate It is also a place where the survivorsrsquo safety of life is no longer
threatened and where their basic human needs (such as food shelter and medical needs)
can be met369rdquo
Vale ressaltar que se as pessoas resgatadas estiverem fugindo de perseguiccedilotildees satildeo
pessoas que provavelmente vatildeo querer asilo portanto a questatildeo de resgate e assistecircncia no
mar natildeo se restringe apenas em socorro fiacutesico pois neste caso seraacute tambeacutem uma questatildeo
de proteccedilatildeo internacional370
A regra 7 do Capiacutetulo V da SOLAS tem o tiacutetulo de ldquoSearch and rescue servicesrdquo que
traz a obrigaccedilatildeo de cada Estado-parte em garantir que as providecircncias necessaacuterias de socorro
agraves pessoas em perigo na sua aacuterea de responsabilidade371 no mesmo sentido a SAR no
Capiacutetulo 2 nordm 2110 dispotildee ldquoParties shall ensure that assistance be provided to any person
in distress at sea They shall do so regardless of the nationality or status of such a person or
the circumstances in which that person is foundrdquo372 ou seja os Estados signataacuterios tecircm o
dever de prestar assistecircncia a qualquer pessoa em perigo no mar independente de status
nacionalidade ou qualquer outra circunstacircncia conforme jaacute mencionado anteriormente
Tendo por base essas informaccedilotildees podemos fazer uma anaacutelise com base no estudo
realizado por Ilaria Trani ou seja em seu estudo trouxe a informaccedilatildeo de que o estado liacutebio
estaria atuando na regiatildeo mariacutetima a fim de executar operaccedilotildees de busca e resgate sendo
financiados por paiacuteses como a Itaacutelia por exemplo Isto traz a situaccedilatildeo de que se as
autoridades liacutebias resgatarem os barcos de migrantes ilegais poderiam levaacute-los de volta para
369 INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION Guidelines on the Treatment of Persons Rescued at
Sea 2004 Disponiacutevel em
httpwwwimoorgenOurWorkFacilitationpersonsrescuedDocumentsMSC167(78)pdf Acesso em
27062020 370 RUGGIERO Carol Op cit 371 INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION International Convention for the Safety of Life at Sea
(SOLAS) Op cit 372 INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION Search and Rescue Convention 1979 Disponiacutevel
em httpsonboard-aquariusorguploads201808SAR-Convention-1979pdf Acesso em 27062020
112
Liacutebia sem configurar a ldquonatildeo-repulsatildeordquo situaccedilatildeo em que a Itaacutelia jaacute foi condenada pelo
Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (como veremos agrave frente) Poreacutem destaca-se que tal
situaccedilatildeo natildeo exime os paiacuteses da Uniatildeo Europeia das suas obrigaccedilotildees de proteger a vida
humana no mar mesmo que a operaccedilatildeo necessaacuteria seja fora da regiatildeo de busca e salvamento
sob a justificativa da responsabilidade perante o direito internacional373 Aleacutem disso a Itaacutelia
fornecer subsiacutedios para que a Liacutebia resgate os migrantes no mar e os levem de volta estaacute
sendo cuacutemplice de um atividade iliacutecita e por isso deve ser responsabilizada tendo por base
o artigo 16 dos ldquoDraft articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful Actsrdquo
bull Procedimentos e operaccedilotildees de busca e resgate no mar
Em um primeiro momento o capitatildeo deve passar informaccedilotildees do navio auxiliar para
o Centro de Coordenaccedilatildeo de Resgate bem como informaccedilotildees a respeito das pessoas a serem
resgatadas accedilotildees jaacute concluiacutedas e ainda por realizar procedimento de desembarque sugerido
pelo capitatildeo do navio e fatores especiacuteficos (clima carga do navio etc) Se as pessoas
resgatadas forem migrantes que pretendem requerer asilo o capitatildeo deve informar tambeacutem
o ACNUR aleacutem de alertar o Centro de Coordenaccedilatildeo de Resgate mais proacuteximo natildeo deve
solicitar desembarque de onde os migrantes estavam fugindo e natildeo fornecer os dados dos
migrantes agraves autoridades do paiacutes de origem ou para quem possa informar as autoridades374
Os Centros de Coordenaccedilatildeo de Resgate satildeo importantes pois deve assegurar que os
compromissos assumidos internacionalmente sejam cumpridos como por exemplo respeito
agraves convenccedilotildees SAR e SOLAS bem como ter um plano de operaccedilatildeo para accedilotildees de
recuperaccedilatildeo organizar o desembarque dos sobreviventes entregarem as pessoas resgatadas
em um lugar seguro Aleacutem disso esses centros tem a funccedilatildeo de fazer acordos com setores
de imigraccedilatildeo alfacircndegas controles de fronteira etc providenciando inclusive hospedagens
temporaacuterias para os resgatados enquanto o problema relativo ao resgate seja solucionado
com intuito de desonerar o navio que resgatou o mais breve possiacutevel para evitar atrasos
encargos financeiros ou outras dificuldades375
373 TANI Ilaria Op cit 374 INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION INTERNATIONAL CHAMBER OF SHIPPING
UNITED NATIONS (UNHCR) Soccorso in Mare 2015 Disponiacutevel em httpswwwunhcritwp-
contentuploads201512Soccorso_in_Marepdf Acesso em 29062020 375 INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION INTERNATIONAL CHAMBER OF SHIPPING
UNITED NATIONS (UNHCR) Soccorso in Mare 2015 Op cit
113
Assim no ano de 2015 a Comissatildeo o Conselho e o Parlamento Europeu passaram
a atuar de formas variadas na questatildeo de busca e salvamento no mar no que se refere aos
refugiados principalmente devido agraves trageacutedias acontecidas no Mediterracircneo376 Antes de
entendermos um pouco da situaccedilatildeo de busca e resgate no Mediterracircneo faz-se necessaacuterio
entender um pouco sobre a Frontex
O controle de fronteiras na Europa eacute exercido pela Frontex que foi criada em 2004
e consiste na Agecircncia Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira tendo como finalidade
ajudar os paiacuteses da Uniatildeo Europeia bem como os pertencentes agrave aacuterea Schengen a proteger
suas fronteiras e ter um maior controle da livre circulaccedilatildeo presente no respectivo territoacuterio
No ano de 2016 as funccedilotildees da Frontex foram ampliadas para ter maior controle da
migraccedilatildeo a fim de ter maior responsabilidade na questatildeo de combate agrave criminalidade
transfronteiriccedila aleacutem disso as operaccedilotildees de busca e salvamento satildeo de competecircncia da
Frontex377
No sentido de busca e salvamento tem-se que ldquoA Frontex eacute obrigada a prestar
assistecircncia teacutecnica e operacional no mar para apoiar operaccedilotildees de salvamento que possam
ocorrer durante as operaccedilotildees de vigilacircncia das fronteiras378rdquo Segundo dados a Frontex
auxiliou no salvamento 280000 no Mar Mediterracircneo379
Podemos citar portanto duas operaccedilotildees da Frontex que tinham por objetivo a
interceptaccedilatildeo de navios de migrantes ilegais originados do Senegal e Mauritacircnia sendo
denominadas Hera II e III nestas operaccedilotildees parte dos migrantes foram devolvidos Ressalta-
se que as patrulhas foram feitas tambeacutem no mar territorial dos dois paiacuteses africanos
supramencionados aleacutem disso a existecircncia de acordos entre paiacuteses terceiros e de fora da
Uniatildeo Europeia autorizam as patrulhas bem como autoriza outros Estados-membros a
intervir nas aacuteguas territoriais dos referidos paiacuteses africanos380
Como vimos tendo por base o direito internacional os estados costeiros possuem
ampla soberania no seu mar territorial sendo limitado pelo direito de passagem inocente ou
por algum tratado Nesse sentido o acordo entre Mauritacircnia e Espanha dispotildee que os dois
376 TANI Ilaria Op cit 377 FRONTEX O que eacute a Frontex Disponiacutevel em httpsfrontexeuropaeulanguagept Acesso em
19082020 378 Ibidem 379 Dados informados no site da Frontex FRONTEX O que eacute a Frontex Disponiacutevel em
httpsfrontexeuropaeulanguagept Acesso em 19082020 380 TREVISANUT Seline Maritime Border Control and the Protection of Asylum-Seekers in the European
Union Op cit
114
paiacuteses poderiam interceptar e desviar pessoas nacionais de paiacuteses terceiros que natildeo
apresentem os requisitos de entrada em ambos os paiacuteses mesmo que seja no mar territorial
No caso apenas embarcaccedilotildees espanholas poderiam interceptar embarcaccedilotildees no mar
territorial da Mauritacircnia ocorre que a Frontex natildeo especifica a nacionalidade da
embarcaccedilatildeo constando apenas que se trata de embarcaccedilatildeo dos Estados-membros assim natildeo
sendo navio de nacionalidade espanhola provavelmente haacute uma infringecircncia agraves normas de
direito internacional a natildeo ser que tenha a aceitaccedilatildeo do paiacutes africano381
Nesse sentido o anexo da ldquoCouncil Decisionrdquo de 26 de abril de 2010 traz os
princiacutepios gerais para operaccedilotildees de fronteiras mariacutetimas realizadas pela Frontex assim estas
operaccedilotildees devem ser realizadas com base nos direitos fundamentais promovendo a
seguranccedila das pessoas interceptadas ou resgatadas dispotildee tambeacutem que nenhuma pessoa
pode ser enviada a um localpaiacutes em que possa haver risco para sua integridade fiacutesica e
liberdade consistindo em uma violaccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo382
No entanto uma das mais importantes operaccedilotildees de resgate no Mediterracircneo foi a
Mare Nostrum lanccedilada pela Itaacutelia e surgiu em 2013 apoacutes o aumento dos naufraacutegios das
embarcaccedilotildees de imigrantes nas proximidades da ilha de Lampedusa A ideia era vigiar o Mar
Mediterracircneo 24 horas por dia a fim de salvar o maior nuacutemero de vidas possiacuteveis Assim
em um ano mais de 150 mil pessoas foram salvas isso significa o resgate de pelo menos
400 pessoas por dia Tambeacutem conseguiram prender mais de 300 traficantes poreacutem natildeo foi
totalmente eficaz tendo em vista a morte de pelo menos trecircs mil e trezentos migrantes no
ano de 2014 Tal operaccedilatildeo custava em torno de 9 milhotildees de euros por mecircs e devido aos
custos a Itaacutelia finalizou esta operaccedilatildeo devido a falta de ajuda no custeio383
Posteriormente a Europa adotou a Operaccedilatildeo Triton coordenada pela Frontex que
foi auxiliada pelos Estados-membros com a cessatildeo de embarcaccedilotildees aviotildees helicoacutepteros e
pessoal para auxiliar nos serviccedilos Diferentemente da Mare Nostrum que o objetivo era de
381 TREVISANUT Seline Maritime Border Control and the Protection of Asylum-Seekers in the European
Union Op cit 382 COUNCIL OF THE EUROPEAN UNION Council Decision of 26 April 2010 (2010252EU) Disponiacutevel
em httpseur-lexeuropaeuLexUriServLexUriServdouri=OJL201011100200026ENPDF Acesso
em 18092020 383 G1 GLOBO Conheccedila as missotildees de resgate de imigrantes no Mediterracircneo 2015 Disponiacutevel em
httpg1globocommundonoticia201504conheca-as-missoes-de-resgate-de-imigrantes-no-
mediterraneohtml Acesso em 30082020
115
resgate e tinha uma atuaccedilatildeo ateacute costa da Liacutebia a Triton focou no controle de fronteiras sendo
que as buscas se limitaram nas aacuteguas europeias384
Outra operaccedilatildeo foi a EUNAFOR MED SOPHIA implementada em 2016 pela
Resoluccedilatildeo 22402015 derivada da EUNAFOR ATLANTA esta que tinha o objetivo de
combater a pirataria na costa da Somaacutelia Essa nova forccedila naval da Uniatildeo Europeia no
Mediterracircneo recebeu diversas criacuteticas quanto aos planos de operaccedilotildees que se referem
questatildeo de naufraacutegios Uma dessas tarefas eacute monitorar a formaccedilatildeo agrave Guarda Costeira da
Liacutebia Houve tambeacutem outro adendo o Memorando de Entendimento entre a Itaacutelia e a Liacutebia
de 2017 que foi acolhido pelo Conselho Europeu poreacutem recebeu criacuteticas do Comitecirc das
Naccedilotildees Unidas contra a Tortura pois natildeo tratava sobre a colaboraccedilatildeo dos Estados no que se
refere aos direitos humanos385 No que se refere agrave Resoluccedilatildeo mencionada acima tem-se que
ela ldquo() reforccedila a autoridade para tomar medidas contra a introduccedilatildeo clandestina de
migrantes e o traacutefico de pessoas a partir do territoacuterio da Liacutebia e ao largo da costa deste
paiacutesrdquo386
Aleacutem disso o jornal alematildeo ldquoDeutsche Wellerdquo no ano passado (2019) trouxe a
notiacutecia de que um grupo de advogados em Paris apresentou agrave Fatou Bensouda (procuradora
geral do Tribunal Penal Internacional) uma denuacutencia de que a UE e Estados-membros desde
2014 estariam cometendo crime contra a humanidade no cumprimento de poliacuteticas
migratoacuterias no Mar Mediterracircneo e na Liacutebia Na denuacutencia haacute informaccedilotildees de que 40 mil
pessoas foram ldquoresgatadasrdquo no mar e consequentemente levadas para campos de detenccedilatildeo
de refugiados e submetidos agrave tortura aleacutem de casos de tortura e estupros cometidos pela
Guarda Costeira Liacutebia financiada por paiacuteses europeus (Itaacutelia por exemplo) Nos uacuteltmos 6
anos mais de 12 mil migrantes morreram ao tentar fugir da Liacutebia e chegar ao continente
europeu387
Agraves situaccedilotildees demonstradas acima podemos suspeitar de que a Uniatildeo Europeia por
meio da Frontex juntamente com alguns paiacuteses europeus atuam no sentido de repelir os
migrantes tendo em vista o auxiacutelio promovido por essa agecircncia no sentido de resgate das
384 G1 GLOBO Conheccedila as missotildees de resgate de imigrantes no Mediterracircneo 2015 Op cit 385 TANI Ilaria Op cit 386 COMITEcirc DE SEGURANCcedilA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Resoluccedilatildeo 2240 (2015) Disponiacutevel em httpseur-
lexeuropaeulegal-contentPTTXTuri=CELEX3A32016D0118 Acesso em 30082020 387 DEUTSCHE WELLE (DW) Juristas processam UE por morte de migrantes 2019 Disponiacutevel em
httpswwwdwcompt-brjuristas-processam-ue-por-mortes-de-migrantesa-49036829 Acesso em
05102020
116
pessoas no mar enviando os de volta aos seus paiacuteses como no caso envolvendo a Espanha e
a Mauritacircnia
bull Conflito de interesses Estados vs Refugiados
Como vimos a Mare Nostrum foi descontinuada e portanto substituiacutedas por outras
missotildees que aos poucos foram reduzindo sua amplitude bem como natildeo tinham a busca e
salvamento como objetivo principal Nesse sentido enquanto a Itaacutelia coordenava as
operaccedilotildees de busca e salvamento no Mar Mediterracircneo a Liacutebia cada vez mais assumia a
responsabilidade pelas operaccedilotildees Aleacutem disso vimos tambeacutem que houve apoio da Uniatildeo
Europeia agrave Guarda Costeira da Liacutebia e entatildeo alterando as atividades de busca e salvamento
Houve tambeacutem em 2017 a elaboraccedilatildeo de um Coacutedigo de Conduta destinada agraves
Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais (ONGrsquos) da Itaacutelia (tambeacutem com apoio da UE)
coincidindo com a proposiccedilatildeo de processos criminais contra os capitatildees de navios e ONGrsquos
que resgatassem as pessoas em perigo como tambeacutem houve a negativa de entrada nas aacuteguas
territoriais e portos Tais accedilotildees diminuiacuteram a chegada de pessoas na costa europeia poreacutem
muitas vidas foram afetadas por isso (devido aos afogamentos e desaparecimentos das
pessoas que buscam proteccedilatildeo)388
Sendo assim devido ao menor nuacutemero de patrulhamento no Mediterracircneo a busca e
resgate leva mais tempo muitas vezes o resgate chegando tarde demais Natildeo se pode ignorar
o fato de que as pessoas que fogem da Liacutebia estatildeo buscando ter uma vida digna ou pelo
menos um miacutenimo de sobrevivecircncia e esta situaccedilatildeo com maior atuaccedilatildeo da Guarda Costeira
da Liacutebia faz com que as embarcaccedilotildees resgatadas pelo estado liacutebio levem de volta agrave Liacutebia as
pessoas que estavam fugindo de situaccedilotildees dramaacuteticas como por exemplo prisotildees arbitraacuterias
violecircncia sexual trabalho forccedilado assassinatos etc Aleacutem disso os capitatildees de navios caso
cumpram com a sua obrigaccedilatildeo de salvamento podem responder a processos judiciais
criminais389
388 COUNCIL OF EUROPE ndash COMMISSIONER FOR HUMAN RIGHTS Lives Saved Rights protected
Bridging the protection gap for refugees and migrants in the Mediterranean - Recommendations 2019
Disponiacutevel em httpsrmcoeintlives-saved-rights-protected-bridging-the-protection-gap-for-refugees-
168094eb87 Acesso em 01092020 389 Ibidem
117
Trata-se portanto de uma situaccedilatildeo complexa devido ao conflito de questotildees de
natureza humanitaacuteria e a relutacircncia dos Estados em partilhar as responsabilidades Dessa
forma sabe-se que os Estados tecircm o direito de controlar suas fronteiras mas natildeo se deve
deixar de lado agraves vidas humanas que pedem proteccedilatildeo por fugirem de situaccedilotildees degradantes
Assim todos os seres humanos tecircm direito agrave vida bem como agrave proteccedilatildeo da sua dignidade
aleacutem disso o direito internacional do mar traz a obrigaccedilatildeo de que os Estados devem tomar
medidas para preservaccedilatildeo da vida no mar390
A salvaguarda da vida humana deve ter por base a Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos
do Homem aleacutem de outros diplomas internacionais jaacute mencionados na presente pesquisa
Isso significa o respeito ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo proteccedilatildeo contra detenccedilatildeo arbitraacuteria
proibiccedilatildeo de expulsatildeo coletiva entre outros direitos relativos agrave proteccedilatildeo internacional391
Jaacute vimos que o direito de resgate das pessoas em perigo no mar natildeo eacute um direito
isolado mas que envolve princiacutepios do direito do mar do direito internacional e dos direitos
humanos Poreacutem ainda haacute muitos problemas neste aspecto pois muitos navios se abstecircm de
resgatar pessoas em perigo por natildeo terem um local seguro para desembarcar os migrantes
ou por terem que desviar a rota e isso traria maiores encargos financeiros aleacutem disso paiacuteses
como Itaacutelia e Malta estatildeo sobrecarregados no que tange ao recebimento de migrantes devido
agrave proximidade com a costa da Liacutebia e tambeacutem pela falta de uniatildeo dos Estados-membros
tendo em vista a necessidade da reparticcedilatildeo dos encargos392
No que se refere ao resgate tem-se que natildeo haacute uma obrigaccedilatildeo legal de
monitoramento ou seja um dever de realizar patrulhamento as accedilotildees de resgate satildeo
estruturadas de acordo com cada Estado poreacutem se um Estado recebe a notiacutecia de que haacute
pessoas em perigo no mar esse Estado eacute obrigado a realizar o resgate Nesse sentido o dever
de resgate no mar estaacute presente no direito internacional do mar em diversos diplomas
internacionais bem como UNCLOS SAR SOLAS e International Convention of Salvage
aleacutem de diretrizes estabelecidas pela Organizaccedilatildeo Mariacutetima Internacional e resoluccedilotildees e
recomendaccedilotildees elaboradas pelo ACNUR393
390 COUNCIL OF EUROPE ndash COMMISSIONER FOR HUMAN RIGHTS Lives Saved Rights protected
Bridging the protection gap for refugees and migrants in the Mediterranean - Recommendations 2019 Op cit 391 Ibidem 392 LISSON Urszula WEINZIERL Ruth Op cit 393 Ibidem
118
Portanto em situaccedilatildeo de alguma embarcaccedilatildeo em perigo no mar o resgate deveraacute ser
efetuado sendo inicialmente providenciados os primeiros socorros e necessidades baacutesicas
Aleacutem disso o dever de resgate inclui a proibiccedilatildeo de discriminaccedilatildeo ou seja qualquer pessoa
que esteja em perigo no mar deve ser resgatada independente de sua nacionalidade ou
qualquer outra circunstacircncia Entatildeo tem-se que a soberania de um Estado costeiro encontra
limites nas obrigaccedilotildees humanitaacuterias isso significa que haacute a permissatildeo de entrada de
embarcaccedilatildeo em perigo em seu porto estando ela no mar territorial buscando por
assistecircncia394
Eacute importante ressaltar que com base no direito mariacutetimo todo Estado deve exigir
que o comandante de alguma embarcaccedilatildeo que arvore sua bandeira preste assistecircncia agraves
pessoas que estatildeo em perigo no mar sendo eximida apenas quando houver risco para o navio
Poreacutem com a situaccedilatildeo atual haacute incentivos para que os comandantes evitem os resgates
exatamente para evitar se depararem com o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo Assim vimos que
alguns comandantes estavam respondendo processos criminais ao resgatar pessoas e
desembarcarem em paiacuteses da UE sendo potenciais requerentes de asilo Ao que se refere agraves
embarcaccedilotildees privadas a demora dos paiacuteses para indicarem local para o desembarque pode
trazer implicaccedilotildees financeiras e portanto torna-se um desincentivo para que resgatem as
pessoas em perigo no mar Aleacutem disso o Estado costeiro deve promover o serviccedilo de busca
e salvamento natildeo sendo excluiacuteda a ajuda de paiacuteses vizinhos
No entanto vimos que atualmente a Itaacutelia com auxiacutelio da Uniatildeo Europeia estaacute
auxiliando a Liacutebia para patrulhamento das aacuteguas do Mediterracircneo para tentar se eximir da
obrigaccedilatildeo de busca e salvamento tendo que arcar com o acolhimento dos migrantes e talvez
consequente pedido de asilo395
O Conselho da Europa trouxe recomendaccedilotildees uma delas eacute a de que todos os Estados
membros devem contribuir de alguma forma com as atividades de busca e salvamento aleacutem
disso os Estados costeiros devem garantir que as unidades de busca e salvamento devem
estar disponiacuteveis para as pessoas que estejam em perigo no mar isso inclui embarcaccedilotildees das
ONGrsquos de atividades humanitaacuterias396
394 LISSON Urszula WEINZIERL Ruth Op cit 395 COUNCIL OF EUROPE ndash COMMISSIONER FOR HUMAN RIGHTS Lives Saved Rights protected
Bridging the protection gap for refugees and migrants in the Mediterranean - Recommendations 2019 Op cit 396 Ibidem
119
Os membros do Conselho da Europa devem respeitar as medidas tomadas pelos
comandantes dos navios em situaccedilotildees de natildeo desembarcar migrantes na Liacutebia ou qualquer
outro local natildeo seguro ou seja o Conselho entende que os comandantes devem respeitar a
disposiccedilatildeo de desembarque de migrantes em local seguro por exemplo a Liacutebia natildeo consiste
em local seguro Portanto os Estados-membros devem respeitar o natildeo desembarque de
migrantes em locais nos quais suas vidas estatildeo em risco bem como natildeo devem aplicar
penalidades sanccedilotildees ou medidas repressivas quando comandantes atuarem para salvar as
vidas das pessoas em perigo no mar Assim sempre devem ser garantidos os direitos
humanos dos migrantes resgatados natildeo devendo estes ser colocados em situaccedilotildees de risco agrave
vida ou em situaccedilotildees de tortura tratamento desumano ou degradante397
Aleacutem disso o Conselho da Europa recomenda que os Estados-membros em uma
operaccedilatildeo de busca e resgate devem cooperar a fim de proporcionar um desembarque raacutepido
das pessoas resgatadas sendo que natildeo deveraacute ser admitida alguma discordacircncia entre os
estados colocando em risco os direitos humanos dos migrantes Portanto primeiro deve-se
promover o resgate e desembarque em local seguro e apoacutes isso seraacute feita a anaacutelise de qual
estado seraacute responsaacutevel pelo procedimento de asilo devendo haver uma partilha entre os
estados para anaacutelise dos pedidos de asilo398
Vimos anteriormente que no caso particular da Liacutebia desde o ano de 2017 houve
investimentos de grande porte do Conselho da Europa bem como da Uniatildeo Europeia para
melhorar a capacidade de resgate da Guarda Costeira da Liacutebia ou seja execuccedilatildeo de
treinamentos fornecimentos de recursos entre outros incentivos Tal investimento teve
como resultado um maior resgate de pessoas que tentavam deixar a Liacutebia ou seja houve
portanto uma tentativa de impedir que as pessoas fugissem do paiacutes Poreacutem tal fato faz com
que devido agrave situaccedilatildeo dramaacutetica na Liacutebia pessoas sejam resgatadas detidas e submetidas agrave
tortura bem como violecircncia sexual e diversas outras violaccedilotildees dos direitos humanos 399
Nesse sentido nos deparamos com uma situaccedilatildeo de necessidade de rotas seguras e
legais para que essas travessias de migrantes natildeo ocorram de forma irregular e perigosa
Aleacutem de risco de vida as rotas irregulares favorecem o traacutefico de seres humanos Assim a
ausecircncia de rotas seguras e legais coloca em perigo os direitos dos migrantes e tambeacutem o
397 COUNCIL OF EUROPE ndash COMMISSIONER FOR HUMAN RIGHTS Lives Saved Rights protected
Bridging the protection gap for refugees and migrants in the Mediterranean - Recommendations 2019 Op cit 398 Ibidem 399 Ibidem
120
intuito dos estados em combater o traacutefico de pessoas Portanto a ideia eacute de que os estados
tomem medidas corretas para que a migraccedilatildeo ocorra dentro da lei dessa forma rotas seguras
e legais satildeo extremamente necessaacuterias para as pessoas que precisam de proteccedilatildeo
internacional400
Diante de todo esse cenaacuterio percebemos que haacute um grave conflito de interesses dos
Estados-membros bem como da Uniatildeo Europeia com o dos refugiados Os paiacuteses-destino
(grande parte europeus) e a UE tentam atraveacutes da Frontex e mediante auxiacutelio aos paiacuteses de
fuga (a Liacutebia por exemplo) reduzir o nuacutemero de migrantes poreacutem fazem isso auxiliando
em equipamentos e treinamentos as guardas costeiras dos paiacuteses de origem para que estes
interceptem as embarcaccedilotildees levando as pessoas de volta Ocorre que tal accedilatildeo consiste em
um sistema de escapar da obrigatoriedade do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo sendo assim muitas
dessas pessoas resgatadas pelos paiacuteses de origem satildeo levadas de volta ao territoacuterio sendo
submetidos agrave prisotildees torturas assassinatos ou seja fica niacutetida o desrespeito aos direitos
humanos tanto pelos Estados-membros e pela UE (pois estariam promovendo o envio de
pessoas de volta para situaccedilotildees dramaacuteticas) quanto pelos paiacuteses de origem que muitas vezes
estatildeo passando por crises internas sendo que a Liacutebia vive atualmente uma grave guerra civil
onde as pessoas satildeo torturadas e submetidas a trabalhos forccedilados entre outras atrocidades
Portanto muito se fala da cooperaccedilatildeo entre os estados poreacutem esta deve ser realizada
de forma beneacutefica promovendo o direito agrave vida e o respeito aos direitos humanos Se as
pessoas que estatildeo fugindo dos seus paiacuteses muitas vezes estatildeo fugindo para que suas vidas
e a de sua famiacutelia sejam preservadas entatildeo natildeo faz sentido devolver estas pessoas para o
paiacutes em que colocava suas vidas em risco bem como faz menos sentido ainda auxiliar os
paiacuteses de origem para que resgatem os migrantes e os levem de volta para a costa
400 COUNCIL OF EUROPE ndash COMMISSIONER FOR HUMAN RIGHTS Lives Saved Rights protected
Bridging the protection gap for refugees and migrants in the Mediterranean - Recommendations 2019 Op cit
121
CAPIacuteTULO 4
CASOS DE VIOLACcedilAtildeO DO ARTIGO 3ordm DA CONVENCcedilAtildeO EUROPEIA DOS
DIREITOS HUMANOS E O PRINCIacutePIO DA NAtildeO-REPULSAtildeO
Vimos anteriormente que apesar de natildeo haver regra expressa na CEDH a respeito da
natildeo-repulsatildeo das pessoas que necessitam de proteccedilatildeo o Tribunal Europeu dos Direitos
Humanos firmou jurisprudecircncia no sentido de vincular o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo ao artigo
3ordm da CEDH que se refere agrave proibiccedilatildeo da tortura E da mesma maneira que a Convenccedilatildeo
Contra a Tortura a CEDH engloba todos os indiviacuteduos natildeo somente aos refugiados que eacute o
caso da Convenccedilatildeo de Genebra de 1951
Assim o TEDH natildeo se limitou aos casos de extradiccedilatildeo como tambeacutem de expulsatildeo
dessa forma os Estados signataacuterios da CEDH natildeo podem rejeitar pessoas enviando-as para
locais em que corram o risco de serem submetidas a tratamentos desumanos degradantes
bem como a tortura Nesse sentido o Tribunal entende que a natildeo-repulsatildeo tambeacutem eacute aplicada
para accedilotildees estatais em alto mar inclusive em situaccedilotildees que envolvam os migrantes por via
mariacutetima401 Entatildeo neste capiacutetulo seratildeo analisadas algumas decisotildees do Tribunal Europeu
dos Direitos Humanos a respeito da violaccedilatildeo do artigo 3ordm da CEDH do princiacutepio da natildeo-
repulsatildeo bem como casos relativos agrave repulsatildeo no mar seratildeo analisados tambeacutem outros
casos que natildeo satildeo decisotildees do TEDH poreacutem ajudam a demonstrar a situaccedilatildeo dramaacutetica dos
migrantes
O fenocircmeno migratoacuterio natildeo eacute recente contudo nas uacuteltimas deacutecadas sobretudo apoacutes
2011 com a Primavera Aacuterabe o fluxo de migrantes oriundos do Oriente Meacutedio e da Aacutefrica
especialmente no norte do continente africano com a eclosatildeo das revoltas da populaccedilatildeo
contra governos ditatoriais tem aumentado muito e fazendo com que os migrantes arrisquem
suas vidas nas matildeos de traficantes muitas vezes em embarcaccedilotildees precaacuterias na tentativa de
travessia para Europa
Sabemos que a maioria dos migrantes natildeo planeja a viagem bem como muitas vezes
fazem a travessia ateacute ldquocontra a sua vontaderdquo poreacutem as condiccedilotildees de vida no paiacutes de origem
satildeo tatildeo precaacuterias a exemplo da Liacutebia que as pessoas saem agraves pressas para tentarem ter um
miacutenimo de dignidade Isso porque como dito anteriormente a dignidade humana eacute
401 BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Op cit
122
praticamente inexistente no paiacutes de origem em que pessoas satildeo submetidas agrave tortura
trabalho escravo presenciando situaccedilotildees de assassinatos de formas arbitraacuterias e
autoritaacuterias402
A questatildeo da Liacutebia no que tange busca e resgate destaca-se dois pontos importantes
a serem levados em conta o primeiro eacute o proacuteprio estado liacutebio que se encontra em total
desordem o outro ponto consiste nas graves violaccedilotildees de direitos humanos que fazem com
que milhares de pessoas fujam do paiacutes em busca de uma vida mais digna e segura403
O acordo realizado entre Itaacutelia e Liacutebia em 2017 fez com que a Itaacutelia transferisse seu
controle dos fluxos migratoacuterios para a Liacutebia concedendo apoio financeiro e teacutecnico como
jaacute vimos anteriormente No entanto essa estrateacutegia fez com que a praacutetica de repelir os
migrantes de volta para Liacutebia se tornasse comum Dessa forma o Centro Italiano di
Coordinamento del Soccorso Marittimo (IMRCC) coordena as operaccedilotildees de forma
remota404
41 Contexto Faacutetico
Tendo por base todos os comentaacuterios acima e tambeacutem o jaacute mencionado neste
capiacutetulo algumas decisotildees do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos seratildeo apresentadas
analisando jurisprudecircncia do referido Tribunal a respeito de todo o estudo apresentado no
presente trabalho dessa forma demonstra-se as violaccedilotildees ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo
analisados de forma conjunta com o artigo 3ordm da CEDH e a responsabilidade do Estado tanto
em situaccedilotildees de repulsatildeo no mar quanto em situaccedilotildees em que os migrantes conseguiram de
alguma forma chegar no territoacuterio europeu no entanto foram repelidos Nota-se que em
alguns casos as violaccedilotildees esbarram em um outro artigo da CEDH o artigo 4ordm do Protocolo
Adicional nordm 4 referente agraves expulsotildees coletivas
Vimos que a situaccedilatildeo da Liacutebia tem sido uma das principais crises no momento tendo
em vista os problemas que assolam o paiacutes pois devido agrave crise muitas pessoas estatildeo fugindo
do paiacutes Por este motivo dos casos abaixo apresentados metade satildeo relacionados agrave Liacutebia
(Hirsi Jamaa Vos Thalassa e Asso 28) referentes agrave repulsatildeo no mar no entanto outros
402 TANI Ilaria Op cit 403 Ibidem 404 AGENZIA ITALIA Cosa egrave successo a bordo della nave Asso Ventotto 2018 Disponiacutevel em
httpswwwagiitcronacamigranti_asso_ventotto-4224246news2018-07-31 Acesso em 05102020
123
casos tambeacutem foram apresentados (Khlaifia Abdi Mahamud e Sharifi) que esses uacuteltimos
referem-se agrave situaccedilotildees em que os migrantes foram resgatados no mar ou seja tiveram seu
direito de assistecircncia no mar respeitados no entanto posteriormente tiveram seus direitos
humanos violados
411 Caso Hirsi Jamaa e Outros versus Itaacutelia
Neste caso a decisatildeo405 foi proferida pelo TEDH em fevereiro de 2012 mas o fato
ocorreu em 2009 quando os refugiados um total de 200 foram interceptados a 35 milhas
naacuteuticas de Lampedusa aacuterea de busca e salvamento de Malta poreacutem foram abordados por
autoridades italianas e devolvidos para a Liacutebia Sendo que na versatildeo dos migrantes durante
a viagem de volta para o paiacutes africano eles natildeo foram informados qual seria o destino e
quando chegaram agrave Liacutebia se recusaram a desembarcar mas acabaram sendo forccedilados a
saiacuterem da embarcaccedilatildeo
Dessa forma alguns destes migrantes ingressaram com accedilatildeo perante o TEDH
alegando violaccedilatildeo do artigo 3ordm e 4ordm da CEDH que correspondem respectivamente a proibiccedilatildeo
da tortura e do trabalho escravo eou forccedilado bem como do artigo 4ordm do Protocolo Adicional
nordm 4 que consiste na proibiccedilatildeo de expulsatildeo coletiva
A Itaacutelia por sua vez atraveacutes do seu Ministro do Interior disse ter agido de forma
correta tendo em vista o acordo bilateral entre Itaacutelia e Liacutebia para reduccedilatildeo da imigraccedilatildeo ilegal
e que esse acordo ajudou salvar vidas diminuindo o desembarque de migrantes na costa
italiana Assim em 2009 a Itaacutelia realizou 9 interceptaccedilotildees de migrantes irregulares com base
nesse acordo Ressalta-se que alguns destes migrantes que foram interceptados foram
enquadrados na condiccedilatildeo de refugiado pelo escritoacuterio do ACNUR ou seja restou claro a
violaccedilatildeo aos direitos humanos
Aleacutem disso o governo italiano alegou que os migrantes natildeo tinham requerido asilo
e que tambeacutem natildeo informaram a situaccedilatildeo em que poderiam ser submetidos na Liacutebia os
requerentes por sua vez informaram que a tripulaccedilatildeo os induziu acreditar que estavam
sendo levados para a Itaacutelia e natildeo para a Liacutebia bem como disseram que foi informado aos
militares italianos de que necessitavam de proteccedilatildeo internacional No entanto mesmo se os
405 EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Hirsi Jamaa and others v Italy Application no
2776509 Disponiacutevel em httphudocechrcoeintspai=001-109231 Acesso em 16092020
124
migrantes natildeo tivessem demonstrado a intenccedilatildeo de proteccedilatildeo internacional tal fato natildeo isenta
a Itaacutelia de cumprir com as obrigaccedilotildees previstas no artigo 3ordm da CEDH Portanto na opiniatildeo
do TEDH houve a violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees internacionais pela Itaacutelia sobretudo no que se
refere ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo A situaccedilatildeo na Liacutebia eacute notoacuteria e por isso natildeo haacute que se
falar que os migrantes natildeo avisaram as autoridades italianas sobre o risco de tortura
Entatildeo vimos que o TEDH entendeu haver violaccedilatildeo do artigo 3ordm da CEDH bem como
o artigo 4ordm do Protocolo nordm 4 que consiste respectivamente a proibiccedilatildeo da tortura e proibiccedilatildeo
de expulsatildeo coletiva sendo este uacuteltimo devendo ter uma interpretaccedilatildeo evolutiva ou seja
adotando a ideia de extraterritorialidade considerando como extensatildeo do territoacuterio italiano
a embarcaccedilatildeo de resgate
Por fim o TEDH entendeu por unanimidade que os migrantes estavam sob jurisdiccedilatildeo
italiana bem como jaacute mencionado acima que houve violaccedilatildeo do artigo 3ordm da CEDH do
artigo 4ordm do Protocolo nordm 4 e do artigo 13 que se refere ao direito de recurso efetivo Assim
condenou a Itaacutelia ao pagamento de 15 mil euros por danos morais para cada um dos
requerentes acrescido da quantia de 157574 euros referente custas e despesas somados de
eventual imposto de cobranccedila aos requerentes
Este caso consiste em uma importante reafirmaccedilatildeo dos direitos dos refugiados frente
ao direito internacional e a responsabilidade do Estado em situaccedilotildees de violaccedilotildees a esses
direitos Assim ficou demonstrada a responsabilidade do Estado no caso a Itaacutelia de reparar
os danos causados aos migrantes Poreacutem destaca-se a indenizaccedilatildeo iacutenfima paga aos
requerentes frente agrave gravidade do problema sendo que alguns deles faleceram e natildeo se sabe
a causa ou seja podem ter sido mortos aleacutem disso os que sobreviveram podem ter sofrido
seacuterios danos fiacutesicos e morais como por exemplo terem sido enviados para trabalho escravo
Em situaccedilotildees dessas nenhuma quantia pode ser capaz de reparar sobretudo uma quantia
insignificante de 15 mil euros O valor indenizatoacuterio tem como principal funccedilatildeo coibir essas
condutas danosas mais que a funccedilatildeo compensatoacuteria dos danos no entanto nota-se que o
valor da indenizaccedilatildeo aplicada eacute tatildeo irrisoacuterio para um paiacutes no caso a Itaacutelia que deixa de ter
o condatildeo de inibir o reiteramento desse comportamento ou conduta
Neste aspecto abordagem de devolver migrantes para a Liacutebia sofreu algumas
alteraccedilotildees a Itaacutelia atraveacutes do seu Tratado de Amizade promoveu treinamentos da Guarda
Costeira Liacutebia bem como auxiliou com embarcaccedilotildees para fazer com que autoridades da
125
Liacutebia fizessem o resgate para tentar burlar o sistema e natildeo ser responsabilizada pela
repulsatildeo esse auxiacutelio teve apoio inclusive da UE como vimos anteriormente
Portanto diante de todo o exposto teoacuterico no presente caso houve uma seacuterie de
graves violaccedilotildees principalmente ao que se refere ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo como o
direito de busca e salvamento no mar em que os migrantes deveriam ser desembarcados em
local seguro assim como a proibiccedilatildeo da expulsatildeo coletiva Assim os imigrantes foram
enviados de volta com futuro incerto dos 200 repelidos poucos entraram com a accedilatildeo
alguns morreram outros desapareceram
412 Caso Khlaifia e Outros versus Itaacutelia
Esta decisatildeo406 foi proferida pelo TEDH em dezembro de 2016 e refere-se a fatos
que ocorreram em 2011 com 3 requerentes tunisianos Os requerentes deixaram a Tuniacutesia
em embarcaccedilotildees clandestinas rumo agrave Itaacutelia posteriormente as embarcaccedilotildees foram
interceptadas pela guarda costeira italiana e levados para um porto na ilha de Lampedusa e
posteriormente encaminhados ao Centro de Socorro e de Primeiro Acolhimento (Centro di
Soccorso e Prima Accoglienza ndash CSPA) sendo acomodados em um local que segundo os
requerentes era um local com muitas pessoas e sujo sendo que tinham que dormir no chatildeo
devido agrave falta de cama e as refeiccedilotildees eram feitas ao ar livre sentados no chatildeo aleacutem disso
eram impedidos de ter contato com pessoas fora do local
Houve uma revolta no local e o alojamento foi destruiacutedo algumas pessoas foram
transferidas para outro lugar neste novo lugar os requerentes se uniram a outros refugiados
e conseguiram fugir e chegar ateacute a cidade de Lampedusa onde fizeram protestos e foram
interceptados pela poliacutecia e levados para o centro de acolhimento e posteriormente enviados
para o aeroporto e encaminhados para Palermo apoacutes foram ldquoacomodadosrdquo em navios em
situaccedilotildees desconfortaacuteveis tendo que dormir no chatildeo e esperar por muito tempo para usar o
banheiro Apoacutes alguns dias foram enviados por aviatildeo para a Tuniacutesia
Os requerentes alegaram que a Itaacutelia violou os artigos 3ordm e 5ordm (proibiccedilatildeo da tortura e
direito agrave liberdade e seguranccedila respectivamente) bem como violaccedilatildeo do artigo 4ordm do
Protocolo nordm4 (proibiccedilatildeo da expulsatildeo coletiva) todos da CEDH A Itaacutelia por sua vez se
406 EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Khlaifia and others v Italy Application no
1648312 Disponiacutevel em httphudocechrcoeintengi=001-170054 Acesso em 21092020
126
defendeu com base na sua legislaccedilatildeo interna e o tratado bilateral realizado com o paiacutes
africano sendo que neste tratado a Tuniacutesia se compromete a aceitar de volta os cidadatildeos que
chegarem ilegalmente na costa italiana por meio de um processo bem simplificado
Nesse sentido o TEDH entendeu que houve a violaccedilatildeo do artigo 5ordm da Convenccedilatildeo
Europeia dos Direitos Humanos tendo em vista a restriccedilatildeo da liberdade dos requerentes no
campo de acolhimento e os requerentes argumentaram que natildeo havia motivos para que suas
liberdades fossem restritas Aleacutem disso os requerentes alegaram que foram submetidos a
tratamentos desumanos e degradantes no centro de acolhimento inclusive a bordo dos
navios que os levaram de volta para Tuniacutesia poreacutem o Tribunal entendeu que natildeo houve
tratamento desumano ou degradante
O TEDH entendeu tambeacutem que natildeo houve violaccedilatildeo do artigo 4ordm do Protocolo nordm4 da
CEDH pois o entendimento eacute de que a violaccedilatildeo deste dispositivo ocorre quando natildeo haacute
anaacutelise dos indiviacuteduos e simplesmente ldquoexpulsamrdquo um grupo de pessoas Assim no caso
anterior houve a violaccedilatildeo do mencionado artigo pois as autoridades italianas simplesmente
colocaram os migrantes dentro da embarcaccedilatildeo e os enviou de volta para a Liacutebia sem
qualquer identificaccedilatildeo dos migrantes Jaacute neste caso os requerentes tiveram a oportunidade
de se manifestarem contra o seu envio de volta agrave Tuniacutesia
No que se refere ao artigo 3ordm da CEDH o Tribunal entende que deve haver um niacutevel
miacutenimo de severidade que para tal avaliaccedilatildeo se leva em conta alguns fatores como por
exemplo finalidade (intenccedilatildeo ou motivaccedilatildeo) contexto da agressatildeo se a viacutetima estaacute em
situaccedilatildeo vulneraacutevel entre outros aspectos Em alguns casos a superlotaccedilatildeo de um sistema
carceraacuterio pode consistir em violaccedilatildeo do mencionado artigo poreacutem neste ponto alguns
aspectos devem ser levados em consideraccedilatildeo como o uso dos banheiros (privacidade)
ventilaccedilatildeo (ar e luz natural) normas de higiene baacutesicas respeitadas aquecimento do
ambiente etc No presente caso se analisou as condiccedilotildees no centro de acolhimento quanto
nos navios que levaram os migrantes de volta para a Tuniacutesia
Sabe-se que em tempos anteriores agrave chegada dos requerentes no ano de 2009 a
situaccedilatildeo do centro de acolhimento era peacutessima constatadas tanto por uma comissatildeo do
Senado Italiano bem como da Anistia Internacional (ONG) contudo esta situaccedilatildeo foi
alterada anos depois ou seja em 2011 quando os requerentes chegaram agraves instalaccedilotildees
constataram que as condiccedilotildees do centro de acolhimento embora muito baacutesicas eram
decentes tinham acesso ao atendimento meacutedico e tambeacutem liberdade de locomoccedilatildeo dentro
127
do centro de acolhimento bem como as ONGrsquos eram autorizadas a prestar atendimentos no
local
Em que se refere agraves embarcaccedilotildees natildeo houve comprovaccedilatildeo de situaccedilotildees degradantes
pelos requerentes tatildeo somente os seus depoimentos sendo assim natildeo haacute como afirmar de
que natildeo havia as condiccedilotildees miacutenimas e portanto o Tribunal entendeu que natildeo houve violaccedilatildeo
ao artigo 3ordm da CEDH em razatildeo da natildeo houve comprovaccedilatildeo de que as situaccedilotildees natildeo possuiacuteam
o niacutevel miacutenimo de gravidade necessaacuterio para que fosse configurada a violaccedilatildeo em questatildeo
Destarte apesar do Tribunal ter entendido que natildeo houve violaccedilatildeo aos artigos 3ordm da
CEDH e 4ordm do Protocolo nordf 4 as queixas dos migrantes natildeo foram completamente infundadas
e por isso outro ponto foi analisado pelo TEDH ao que se refere agrave violaccedilatildeo do artigo 13
junto com os artigos 3ordm e 5ordm da CEDH e o artigo 4ordm do Protocolo nordm 4 (CEDH) assim apoacutes
a anaacutelise conjunta do artigo 3ordm com o artigo 13 que prevecirc o direito de recurso efetivo frente
agrave violaccedilatildeo de direitos e liberdades por unanimidade verificou-se que houve violaccedilatildeo de
direitos tendo em vista que o governo italiano natildeo indicou os recursos pelos quais os
requerentes poderiam apresentar no entanto no que se refere ao artigo 4ordm do Protocolo nordm 4
por 16 votos a 1 o Tribunal entendeu que natildeo houve violaccedilatildeo por entender que a ausecircncia
de efeito suspensivo do recurso por si soacute natildeo demonstra violaccedilatildeo ao artigo 13
Que o artigo 5ordm paraacutegrafos 1ordm 2ordm e 4ordm por si soacute jaacute foram violados que da anaacutelise
conjunta do artigo 5ordm juntamente com o 13ordm fez com que o Tribunal decidisse por
unanimidade que direitos foram violados pois os requerentes natildeo tiveram acesso a recurso
tampouco uma decisatildeo formal de prisatildeo Por fim a Itaacutelia foi condenada a pagar 15 mil euros
conjuntamente para os requerentes
A Itaacutelia em um de seus argumentos alegou dificuldade de organizar os migrantes
devido ao grande fluxo deles no mar sendo assim a obrigaccedilatildeo de busca e resgate faz com
que a Itaacutelia seja responsaacutevel por um grande nuacutemero de migrantes e este fato dificulta agrave
logiacutestica e a estruturaccedilatildeo dos centros de acolhimento principalmente no que se refere agrave
proteccedilatildeo internacional dos refugiados Poreacutem o entendimento do TEDH nesta situaccedilatildeo eacute de
que o fluxo intenso natildeo exime o Estado de cumprir com suas obrigaccedilotildees
O periacuteodo que os requerentes ficaram em solo italiano foi demasiadamente curto para
tentarem um pedido de asilo tanto eacute que nem recurso a sua detenccedilatildeo conseguiram apresentar
Neste ponto questiona-se sobre a violaccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo pois de acordo com
manifestaccedilotildees dos terceiros no processo houve esse questionamento como podemos ver na
128
manifestaccedilatildeo da ldquoCoordination Franccedilaise pour le droit drsquoasilerdquo ldquoThe expulsion of migrants
without thoroughly examining their individual situation would significantly increase the risk
of a breach of the non-refoulement principlerdquo407
No entanto o TEDH entendeu que natildeo houve violaccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo
por entender que as autoridades italianas em outros casos de migrantes recebeu os
requerimentos de asilo e portanto natildeo teria razotildees para entender que houve recusa destas a
pedidos de proteccedilatildeo bem como os proacuteprios requerentes no paraacutegrafo 222 da decisatildeo
disseram que ldquo() they were not claiming that they had a right of abode in Italy or that
their return had exposed them to a risk of being ubjected to inhuman or degrading treatment
in Tunisiardquo408
Sendo assim natildeo haacute que se falar em princiacutepio da natildeo-repulsatildeo pois natildeo ficou
configurado que os requerentes seriam enviados de volta agrave tortura ou tratamentos
desumanosdegradantes Portanto o TEDH analisou a violaccedilatildeo ao artigo 3ordm somente
enquanto estiveram em solo italiano que foi um periacuteodo curto natildeo comprovando o
tratamento desumano ou degradante pois natildeo atingiu o niacutevel miacutenimo de gravidade
Entatildeo no presente caso a violaccedilatildeo configurada foi ter restringido a liberdade dos
requerentes tendo em vista a ausecircncia de base de legal para tal medida poreacutem natildeo foi
configurada a expulsatildeo coletiva pois os requerentes foram identificados por duas vezes
bem como natildeo houve lesatildeo ao artigo 3ordm da CEDH pois natildeo foi comprovado que houve
tratamento desumanodegradante durante o periacuteodo em que os migrantes estavam sob
custoacutedia das autoridades italianas tampouco que a situaccedilatildeo na Tuniacutesia colocaria os
requerentes em risco
No entanto a tiacutetulo de comparaccedilatildeo chama-se a atenccedilatildeo ao criteacuterio discrepante
aplicado nas indenizaccedilotildees ao se comparar o caso anterior (Hirsi Jamaa) ao presente caso
Nota-se que o valor eacute o mesmo poreacutem as violaccedilotildees no caso anterior foram muito mais
gravosas configurando expulsatildeo coletiva envio dos requerentes para situaccedilatildeo de
torturatratamentos desumanos e degradantes Assim conforme questionado no caso anterior
o valor indenizatoacuterio aplicado naquele caso foi irrisoacuterio perto das violaccedilotildees que os
requerentes sofreram aleacutem disso questiona-se qual o paracircmetro que o TEDH se baseia para
407 EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Khlaifia and others v Italy Application no
1648312 Disponiacutevel em httphudocechrcoeintengi=001-170054 Acesso em 21092020 408 Ibidem
129
arbitrar as indenizaccedilotildees pois em niacuteveis de violaccedilotildees diferentes o valor da indenizaccedilatildeo foi o
mesmo
Nesse caso os migrantes tiveram seu direito de assistecircncia no mar respeitados foram
resgatados e levados para um paiacutes seguro no entanto foram detidos e poucos dias depois
enviados de volta para a Tuniacutesia Por mais que natildeo tenha ficado comprovado que poderiam
ser enviados agrave tortura ou tratamentos desumanosdegradantes na Tuniacutesia permaneceram
poucos dias em solo italiano para que houvesse uma anaacutelise detalhada isto eacute anaacutelise
individual da situaccedilatildeo de cada um tal fato demonstra pouca preocupaccedilatildeo da Itaacutelia com os
migrantes trantando-os como coisas devolvendo-os para seus paiacuteses de origem sem pensar
duas vezes
413 Caso Abdi Mahamud versus Malta
Esta decisatildeo do TEDH409 refere-se ao caso de uma cidadatilde de nacionalidade da
Somaacutelia que entrou de forma irregular em Malta pelo mar no ano de 2012 e na sua chegada
jaacute lhe foi dada um nuacutemero de identificaccedilatildeo bem como jaacute lhe foi apresentada uma decisatildeo
de regresso uma ordem de afastamento e foi detida com base na legislaccedilatildeo nacional de
Malta
A decisatildeo de regresso tambeacutem baseada na legislaccedilatildeo nacional foi devido agrave falta de
meios de subsistecircncia e potencial fonte de gastos para os fundos puacuteblicos A requerente
manifestou sua vontade de pedir asilo por meio do Questionaacuterio Preliminar e foi convocada
para entrevista no oacutergatildeo competente poreacutem o pedido foi recusado devido agrave falta de provas
convincentes de que ela realmente era do centro-sul da Somaacutelia e por demonstrar sotaques e
conhecimentos da capital do paiacutes Mogadiacutescio
Em um primeiro momento verificou-se que a requerente viajou para a Liacutebia
passando pelo Quecircnia e Sudatildeo poreacutem natildeo requereu asilo nestes paiacuteses E que devido agrave
eclosatildeo da crise na Liacutebia a requerente foi para Malta onde desembarcou ilegalmente e sem
documentos disse que procurava paz e que o restante da famiacutelia ainda morava na Somaacutelia
sendo que um de seus irmatildeos foi morto por uma organizaccedilatildeo terrorista islacircmica afirmou
tambeacutem que se estivesse paz em seu local de origem estaria disposta a voltar Aleacutem disso
409 EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Abdi Mahamud V Malta Application no 5679613
Disponiacutevel em httphudocechrcoeintengi=001-162424 Acesso em 26092020
130
a requerente teve vaacuterios problemas de sauacutede os quais pioraram com a recusa do pedido de
asilo Foi requerida a liberdade da requerente devido a sua vulnerabilidade causada pelos
problemas de sauacutede e segundo as informaccedilotildees que recebeu ela seria liberada mas soacute foi
liberada tempos depois por meio da intervenccedilatildeo da AWAS (Agency for the Welfare of
Asylum Seekers) A esse respeito o artigo 5ordm aliacutenea ldquocrdquo da Diretiva 2008115CE refere-se
que o estado de sauacutede do migrante deve ser levado em conta quando ao se analisar o envio
do migrante para outro paiacutes
Nesse sentido a requerente diz ter sido violado o artigo 3ordm da CEDH alegaccedilatildeo
contestada pelo governo de Malta que disse haver recursos eficazes a serem apresentados
para reclamar do tratamento perante a justiccedila maltesa poreacutem no entendimento do Tribunal
os recursos indicados pelo governo de Malta natildeo se mostraram efetivos no sentido de
prevenir ou de barrar a continuaccedilatildeo da alegada violaccedilatildeo
Assim diante de toda a situaccedilatildeo da requerente no centro de detenccedilatildeo ou seja seu
estado de sauacutede vulneraacutevel como a demora em liberaacute-la a falta de exerciacutecios fiacutesicos ao ar
livre ambiente frio e falta de medidas para combater gripes e resfriados inclusive a falta de
funcionaacuterias do sexo feminino e pouca privacidade fez com que o Tribunal entendesse que
houve diminuiccedilatildeo da dignidade humana da requerente e portanto houve a violaccedilatildeo do artigo
3ordm da CEDH
Outra alegaccedilatildeo da requerente eacute a violaccedilatildeo do artigo 5ordm paraacutegrafo 4ordm que eacute referente
ao direito de accedilatildeo do indiviacuteduo para averiguar a sua detenccedilatildeo sendo assim da anaacutelise feita
pelo TEDH verificou-se que natildeo havia recursos eficazes para a requerente contestar a
legalidade da sua detenccedilatildeo inclusive sua soltura foi realizada por meio da intervenccedilatildeo da
AWAS Aleacutem disso houve alegaccedilatildeo da violaccedilatildeo do paraacutegrafo 1ordm do mesmo artigo no sentido
da liberdade e seguranccedila pessoal e o Tribunal entendeu que houve a violaccedilatildeo deste
dispositivo ou seja natildeo foram verificadas situaccedilotildees que justificassem a detenccedilatildeo
Entatildeo diante de todo o exposto o Governo de Malta foi condenado a pagar
indenizaccedilatildeo no valor de 12 mil euros para a requerente devido agraves violaccedilotildees de seus direitos
baacutesicos sendo tratamentos desumanos e degradantes aleacutem de ter sua liberdade restringida
aleacutem disso houve a condenaccedilatildeo no valor de 2500 euros a tiacutetulo de custas e despesas
No presente caso verificamos violaccedilatildeo tanto do artigo 3ordm quanto do artigo 5ordm ambos
da CEDH O Tribunal verificou que a requerente teve sua dignidade diminuiacuteda devido ao
tratamento que recebia no centro de acolhimento bem como face sua vulnerabilidade o
131
governo maltecircs violou a sua liberdade ao demorar em liberaacute-la Aleacutem disso a justificativa
da negativa do pedido de asilo eacute de que pela entrevista a requerente aparentou ser da capital
da Somaacutelia e natildeo da regiatildeo de conflitos Poreacutem a requerente relatou que seu irmatildeo foi
assassinado por grupo terroristas ou seja nota-se claramente o perigo em que a requerente
estava exposta e portanto em uma anaacutelise sumaacuteria desta negativa do pedido de asilo tem-
se que pode ser que essa decisatildeo tenha sido arbitraacuteria da mesma forma que a decisatildeo da
detenccedilatildeo apresentada logo de iniacutecio para requerente Apesar da dentenccedilatildeo ter sido justificada
no direito maltecircs vimos anteriormente que a detenccedilatildeo de migrantes deve ser realizada em
situaccedilotildees pontuais e quando houver justificativa para tal medida
Ademais mais uma vez chama-se a atenccedilatildeo o valor irrizoacuterio de indenizaccedilatildeo arbitrado
para o Estado no caso Malta Nota-se que o valor eacute menor que dos dois casos anteriores e
assim como no caso Hirsi Jamaa houve violaccedilatildeo do artigo 3ordm da CEDH ou seja tal violaccedilatildeo
eacute de extrema gravidade pois reduz a dignidade da pessoa humana logo violaccedilotildees fiacutesicas
eou morais desse porte natildeo conseguem ser pagas por meio de indenizaccedilotildees consistindo
apenas em uma espeacutecie de ldquoconfortordquo para agravequeles que sofreram tais danos Dessa forma
como jaacute mencionado anteriormente a indenizaccedilatildeo tem o intuito de coibir novas atitudes
arbitraacuterias dos Estados poreacutem com os valores iacutenfimos arbitrados pelo TEDH dificilmente
teratildeo impactos suficientes a ponto de fazer com que os Estados parem com tais praacuteticas
danosas cometidas aos refugiados
414 Caso Sharifi versus Aacuteustria
Neste caso a decisatildeo410 foi proferida em 2014 pelo TEDH e refere-se a um migrante
que chegou agrave Greacutecia de barco e possui origem afegatilde disse que seu pai for morto por ter sido
considerado comunista e infiel fato que levou sua matildee fugir com ele e o irmatildeo para o
Paquistatildeo Apoacutes 15 anos retornou ao Afeganistatildeo para reaver as terras do seu pai que seu tio
havia tomado agrave eacutepoca da execuccedilatildeo do seu pai tendo sido ameaccedilado pelo tio que foi um dos
apoiadores da morte do irmatildeo pois queria suas terras aleacutem da ameaccedila pelo tio o requerente
e seu irmatildeo tambeacutem foram espancados sendo que seu irmatildeo foi sequestrado e nunca mais
foi visto Diante dessa situaccedilatildeo o requerente voltou para o Paquistatildeo e passou pelo Iratilde e
410 EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Sharifi V Austria Application no 6010408
Disponiacutevel em httphudocechrcoeintengi=001-138593 Acesso em 26092020
132
Turquia ateacute contratar um traficante para fazer sua travessia para a Greacutecia onde ficou 15 dias
e apoacutes se deslocou para a Aacuteustria passando pela Itaacutelia poreacutem foi preso pelas autoridades
austriacuteacas
Diante de todo esse trajeto o requerente foi questionado por natildeo pedir asilo na Greacutecia
e justificou que as condiccedilotildees dos refugiados no paiacutes natildeo eram boas (sem comida aacutegua
alojamento e instalaccedilotildees sanitaacuterias bem como alegou saber de abusos de policiais gregos) e
que tambeacutem natildeo teve acesso ao processo de asilo assim requereu asilo na Aacuteustria no ano
de 2008
De acordo com a Convenccedilatildeo de Dublin a Greacutecia seria a responsaacutevel para anaacutelise do
processo de asilo O pedido de asilo feito na Aacuteustria foi rejeitado sob o fundamento de que
a Greacutecia era a responsaacutevel e tambeacutem foi ordenada sua transferecircncia para a Greacutecia Dessa
forma a decisatildeo justificou que natildeo havia riscos de maus tratos conforme previsto no artigo
3ordm da CEDH O recurso ao Tribunal de Asilo na Aacuteustria da mesma forma foi rejeitado
tendo em vista que a proacutepria Convenccedilatildeo de Dublin considerava que todos os Estados-
membros eram seguros Aleacutem disso com base na recusa do governo austriacuteaco ao pedido de
asilo do requerente e seu consequente envio para a Greacutecia fez com que as autoridades gregas
declarassem que o requerente teria acesso ao procedimento de asilo no paiacutes
Apoacutes seu envio de volta agrave Greacutecia na sua chegada agrave Atenas o requerente disse ter
sido detido por 3 dias e depois disso foi realizada uma entrevista curta e recebeu um cartatildeo
e foi enviado para um campo de refugiados que posteriormente foi destruiacutedo Apoacutes esse
periacuteodo trabalhou em plantaccedilotildees e procurou emprego nas cidades tendo dividido quarto com
outras 20 pessoas disse natildeo ter nenhum apoio das autoridades gregas e que os alimentos e
roupas que recebia eram de particulares
Aleacutem disso da decisatildeo analisada nesse toacutepico foram citados documentos publicados
por ONGrsquos bem como do ACNUR de que a Greacutecia natildeo eacute um local bom para requerer asilo
e que os migrantes estavam sendo submetidos a maus tratos e detenccedilotildees arbitraacuterias
Posteriormente o ACNUR acolheu as medidas gregas para reforccedilar o sistema de asilo no
paiacutes mas continuou trazendo a seguinte disposiccedilatildeo
In view of EU Member Statesrsquo obligation to ensure access to fair and effective
asylum procedures including in cases subject to the Dublin Regulation UNHCR
133
advises Governments to refrain from returning asylum-seekers to Greece under
the Dublin Regulation until further notice (hellip)411
Ou seja apesar das melhorias do sistema de asilo grego haacute o aviso de que natildeo envie
migrantes para Greacutecia ateacute segunda ordem e que os Estados se pautassem no artigo 3 nordm 2 da
Convenccedilatildeo de Dublin para analisarem pedidos de asilo mesmo natildeo sendo de sua
responsabilidade Assim devido a sua transferecircncia para a Greacutecia o requerente alegou
violaccedilatildeo do artigo 3ordm da CEDH
Tendo em vista a melhoria do sistema de asilo na Greacutecia reconhecida inclusive no
documento do ACNUR412 o TEDH entendeu que havia a presunccedilatildeo de que o paiacutes helecircnico
cumpriria com as suas obrigaccedilotildees e que caso hauvesse necessidade caberia recurso ao
Tribunal de Justiccedila contra a Greacutecia Aleacutem disso nenhum Estado-membro se absteve de
enviar migrantes para Greacutecia apenas a Noruega que em um primeiro momento disse que
natildeo enviaria migrantes de volta para a Greacutecia mas posteriormente disse que os casos seriam
analisados individualmente
Dessa forma o Tribunal entendeu que natildeo tinha como a Aacuteustria prever que as
deficiecircncias do procedimento de asilo grego chegariam ao niacutevel de violar o artigo 3ordm da
CEDH e por este motivo negou que a Aacuteustria tenha violado o mencionado artigo
principalmente por estar ao abrigo da Convenccedilatildeo de Dublin
Diante do exposto teoacuterico do presente trabalho vimos que o paiacutes responsaacutevel pela
anaacutelise do pedido de asilo eacute o paiacutes pelo qual o migrante entrou portanto no caso o paiacutes seria
a Greacutecia Ocorre que o requerente se deparou com condiccedilotildees precaacuterias dos seus conterracircneos
afegatildeos e por este motivo resolveu natildeo ficar no paiacutes helecircnico Dessa forma foi para a Itaacutelia
e de laacute para a Aacuteustria onde foi preso Assim o pedido de asilo foi negado sob o motivo de
que o paiacutes responsaacutevel era a Greacutecia e foi enviado para laacute No entanto vimos que havia fortes
evidecircncias das condiccedilotildees ruins dos migrantes no paiacutes e que apesar das melhorias do sistema
de asilo na Greacutecia havia fortes indiacutecios de que o requerente poderia ser submetido a
tratamentos desumanos e degradantes Dessa forma viu-se que o requerente foi praticamente
deixado agrave proacutepria sorte pois trabalhou em plantaccedilotildees e tambeacutem morou com mais de 20
pessoas em um mesmo quarto sem qualquer respaldo do governo
411 UNITED NATIONS ndash UNHCR UNHCR Position on the Return of Asylum-Seekers to Greece Under the
ldquoDublin Regulationrdquo Disponiacutevel em httpswwwunhcrorg482199802pdf Acesso em 01102020 412 Ibidem
134
Da anaacutelise dessa situaccedilatildeo tornou-se notaacutevel que a dignidade humana do requerente
foi reduzida mas o TEDH entendeu que natildeo tinha como a Aacuteustria prever que o requerente
receberia este tratamento ou melhor natildeo recebesse qualquer tratamento sem qualquer
respaldo do governo No entanto a violaccedilatildeo prevista no artigo 3ordm da CEDH eacute tatildeo gravosa
que natildeo se deve eximir a responsabilidade do Estado por natildeo ter previsatildeo de maus
tratamentos inclusive quando se pode prever que eacute o caso da Greacutecia com documentos
internacionais apontando as falhas do sistema de asilo grego
Portanto tanto neste caso como nos demais acima mencionados nota-se que haacute uma
impunidade diante das violaccedilotildees dos estados quanto a preservar os direitos fundamentais dos
migrantes quando haacute uma condenaccedilatildeo do Estado violador dos direitos dos refugiados natildeo
haacute uma justa indenizaccedilatildeo nesse caso a justificativa foi no sentido de que o Estado natildeo tinha
como prever a violaccedilatildeo
415 Caso Vos Thalassa
Este caso natildeo se trata de decisatildeo proferida pelo TEDH contudo eacute muito importante
pois inicialmente em 2019 o Tribunal de Trapani413 na Itaacutelia absolveu migrantes que
estavam sendo julgados sob a acusaccedilatildeo de sequestro da embarcaccedilatildeo italiana Vos Thalassa
em aacuteguas proacuteximas da Siciacutelia Assim os migrantes teriam sequestrado o rebocador italiano
em julho de 2018 para evitar que fossem devolvidos para a Liacutebia depois de terem sido
resgatados em aacuteguas internacionais (aacuterea de busca e salvamento da Liacutebia)
No entanto o Tribunal de Recurso de Palermo414 em junho de 2020 inverteu a
sentenccedila do Tribunal de Trapani e condenou os migrantes a 3 anos e 6 meses de prisatildeo por
violecircncia privada resistecircncia a funcionaacuterios puacuteblicos bem como cumplicidade na imigraccedilatildeo
ilegal A opiniatildeo de Salvini Ministro do Interior italiano os migrantes deveriam ser todos
rejeitados coletivamente e devolvidos para a Liacutebia fato que contraria o artigo 4ordm do Protocolo
nordm4 da CEDH
413 TRIBUNALE DI TRAPANI Sentenza Vos Thalassa 2019 Disponiacutevel em
httpswwwquestionegiustiziaitdatadoc2613sentenza-vos-thalassa-gip-trapani-3-giugno-2019pdf
Acesso em 05102020 414 LA CORTE DI APPELLO DI PALERMO Sentenza Vos Thalassa Appello ndash N Sent 15252020
Disponiacutevel httpswwwquestionegiustiziaitdatadoc2613sentenza-vos-thalassa-appello-palermo-3-
giugno-2020pdf Acesso em 05102020
135
Nesse sentido o juiz do Tribunal de Trapani alegou que o acordo assinado entre Itaacutelia
e Liacutebia em 2017 natildeo tem aprovaccedilatildeo parlamentar de acordo com o artigo 80 da Constituiccedilatildeo
Italiana e por isso o documento natildeo eacute vinculativo e natildeo legislativo Aleacutem disso o juiz tomou
por base relatoacuterios da ONU a respeito da exposiccedilatildeo dos maus tratos de migrantes da Liacutebia
Os migrantes que saem da Liacutebia satildeo pessoas que estatildeo sofrendo tratamentos
degradantes muitas vezes o destino eacute a tortura ou a morte Dessa forma os acordos entre
Itaacutelia e Liacutebia parecem ignorar as disposiccedilotildees da ONU e do Papa O Tribunal de Apelaccedilatildeo de
Palermo alegou que natildeo se pode entender que o sequestro da embarcaccedilatildeo seja por legiacutetima
defesa tendo em vista que eles mesmos se colocaram em perigo criando uma situaccedilatildeo falsa
de necessidade poreacutem questiona-se se realmente os migrantes se colocaram em perigo ou
se foi um ato de desespero ao fugir da Liacutebia pelo fato de que laacute sim estavam realmente em
perigo Ou seja os migrantes preferiram correr o risco no mar ao continuar em uma situaccedilatildeo
em que suas vidas certamente jaacute estavam ameaccediladas
Assim a refutaccedilatildeo da legiacutetima defesa natildeo possui bases convincentes Com base na
legislaccedilatildeo penal italiana o perigo deve ser atual para se configurar a legiacutetima defesa e o
Tribunal de Palermo entendeu que o perigo foi devido aos migrantes ldquose entregaremrdquo aos
traficantes ou seja anteciparam a previsatildeo do ldquoperigo atualrdquo contrariando as normas
vigentes tanto nacionais quanto internacionais Poreacutem na Liacutebia natildeo haacute locais para fuga e as
pessoas satildeo privadas de todos os seus direitos
Nesse sentido nota-se que datildeo prioridade ao combate agrave imigraccedilatildeo irregular frente agrave
proteccedilatildeo dos direitos fundamentais das pessoas contrariando o que dispotildee a Convenccedilatildeo de
Palermo contra o Crime Organizado de 2000 bem como o Protocolo Adicional sobre o
Traacutefico de Seres Humanos Portanto o perigo que os migrantes estavam sujeitos era o de
serem devolvidos agrave Liacutebia onde provavelmente seriam submetidos agrave tortura e mortos
Sabe-se que a situaccedilatildeo na Liacutebia principalmente no que se refere aos naacuteufragos
interceptados pela Guarda Costeira da Liacutebia e devolvidos ao paiacutes africano eacute bem grave
Aleacutem disso jaacute estaacute claro atraveacutes dos noticiaacuterios de que o governo de Triacutepoli natildeo consegue
exercer a sua soberania em todo o territoacuterio No entanto apesar disso em 2018 foi
reconhecida uma zona de resgate e salvamento da Liacutebia tendo inclusive a missatildeo Nauras
sob a natureza de assistecircncia teacutecnica prestada em Triacutepoli com auxiacutelio da Frontex
Neste contexto a partir do momento em que os migrantes ingressaram na
embarcaccedilatildeo italiana considera-se que estatildeo em solo italiano conforme jaacute visto no caso Hirsi
136
Jamaa Assim em situaccedilatildeo de devolver os migrantes para a Liacutebia certamente haveria a
violaccedilatildeo do princiacutepio da natildeo-repulsatildeo sob o fundamento de que seriam enviados para tortura
ou tratamentos desumanos e degradantes (conforme o artigo 3ordm da CEDH) bem como como
jaacute mencionamos a violaccedilatildeo do artigo 4ordm do Protocolo Adicional nordm 4 da CEDH que refere-
se agrave expulsatildeo coletiva
No entanto atraveacutes do acordo entre Itaacutelia e Liacutebia inclusive sob auxiacutelio da Frontex
milhares de migrantes satildeo interceptados pela Guarda Costeira Liacutebia e levados de volta ao
paiacutes africano Portanto os migrantes do Vos Thalassa certamente ldquosequestraramrdquo a
embarcaccedilatildeo no desespero de serem enviados de volta tendo em vista que eles jaacute sabiam o
que poderia ocorrer com eles quando chegassem ao territoacuterio do paiacutes africano
Dessa forma a decisatildeo do Tribunal de Palermo ignorou o contexto faacutetico-poliacutetico da
Liacutebia bem como as normas de direito internacional do mar e do direito dos refugiados Aleacutem
disso o tribunal de primeira instacircncia Tribunal de Trapani aventou nulidade do acordo entre
Itaacutelia e Liacutebia em 2017 tendo em vista o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo ter status de jus cogens e
de acordo com a Convenccedilatildeo de Viena nenhum tratado poderaacute violar normas jus cogens
caso contraacuterio o tratado seria nulo
Diante do presente caso fica evidente que as indenizaccedilotildees impostas pelo TEDH nos
casos que vimos acima satildeo insuficientes para inibir tais atitudes dos Estados tendo em vista
que o valor de reparaccedilatildeo de dano para os migrantes eacute praticamente irrisoacuterio Assim estas
atitudes violadoras dos direitos fundamentais dos refugiados continuaratildeo ocorrendo
enquanto natildeo houver uma justa indenizaccedilatildeo a fim de evitar novos casos como este
Dessa forma os migrantes ao sequestrarem o Vos Thalassa impediram que seus
direitos fossem violados assim como ocorreu no caso Hirsi Jamaa a atitude extrema foi na
defesa de seus direitos fundamentais sobretudo a vida Diante disso o entendimento do
Tribunal de Trapani entendeu como legiacutetima defesa pois o perigo era atual (de acordo com
o que exige a legislaccedilatildeo italiana) ou seja o perigo dos migrantes serem levados de volta
para Liacutebia podendo ser torturados e mortos era atual e real tendo em vista atitudes
anteriores da Itaacutelia inclusive com condenaccedilotildees pelo TEDH
137
416 Caso Asso 28
Este caso tambeacutem natildeo eacute referente agrave decisatildeo proferida pelo TEDH poreacutem eacute de suma
importacircncia tendo em vista ser idecircntico ao caso Hirsi Jamaa Assim refere-se a uma
embarcaccedilatildeo comercial italiana a Asso 28 que em julho de 2018 ldquoresgatourdquo 108 migrantes
em aacuteguas internacionais mas dentro da regiatildeo de busca e salvamento da Liacutebia e levou-os
de volta para Liacutebia sob recomendaccedilatildeo do paiacutes africano No caso a Guarda Costeira Liacutebia
pediu para que a embarcaccedilatildeo ldquoAsso 28rdquo resgatasse os migrantes que estavam em uma
embarcaccedilatildeo de borracha a 57 milhas naacuteuticas de Triacutepoli e que essas pessoas fossem levadas
de volta para Liacutebia415
Imagina-se que se essas pessoas que foram levadas de volta para Liacutebia conseguissem
chegar agrave Itaacutelia elas realizariam pedido de proteccedilatildeo internacional aleacutem disso havia crianccedilas
e mulheres graacutevidas Dessa forma como jaacute vimos estaacute niacutetida a violaccedilatildeo das disposiccedilotildees de
direito internacional e dos refugiados ou seja princiacutepio da natildeo-repulsatildeo artigo 3ordm da CEDH
e artigo 4ordm do Protocolo Adicional nordm 4 da CEDH
Como a embarcaccedilatildeo ldquoAsso 28rdquo estava em aacuteguas internacionais poreacutem em regiatildeo de
busca e salvamento da Liacutebia as leis que vigoravam no ato de resgate era a legislaccedilatildeo italiana
e portanto natildeo deveria se submeter agrave recomendaccedilatildeo do paiacutes africano devendo respeitar os
tratados internacionais dos quais eacute signataacuteria bem como sua legislaccedilatildeo nacional Portanto
eacute niacutetida a violaccedilatildeo das normas de direito internacional como jaacute mencionado anteriormente
repetindo o caso Hirsi Jamaa
Como eacute sabido definitivamente a Liacutebia natildeo eacute considerada um local seguro para
desembarque de pessoas resgatadas Dessa forma houve realmente violaccedilatildeo de normas de
direito internacional importantiacutessimas sendo necessaacuterio averiguar como foi feita a
coordenaccedilatildeo desse resgate para apontar os culpados pois segundo a Agence France-Presse
(AFP)416 o IMRCC natildeo foi avisado ou seja questiona-se se o capitatildeo do navio agiu sozinho
A empresa multinacional italiana de oacuteleo e gaacutes ENI informou que o resgate foi coordenado
415 CAMILLI Eleonora Migranti scoppia il caso Asso 28 ldquoFatto grave egrave respingimentordquo 2018 In Redattore
Sociale Disponiacutevel em
httpswwwredattoresocialeitarticlenotiziariomigranti_scoppia_il_caso_asso_28_fatto_grave_e_respingi
mento Acesso em 05102020 416 Citado por BATHKE Benjamin First trial in Italy over ldquomigrant pushbackrdquo to Libya 2020 In
Infomigrants Disponiacutevel em httpswwwinfomigrantsnetenpost26108first-trial-in-italy-over-migrant-
pushback-to-libya Acesso em 05102020
138
pela Guarda Costeira Liacutebia Aleacutem disso a embarcaccedilatildeo de resgate Open Arms solicitou
detalhes dos migrantes bem como informou que devolvecirc-los agrave Liacutebia era ilegal segundo
Nicola Fratoianni parlamentar italiano e liacuteder da esquerda italiana que estava a bordo do
Open Arms como observador Aleacutem disso de acordo com informaccedilotildees da AFP natildeo houve
qualquer tentativa de identificar os migrantes tampouco verificar as condiccedilotildees de sauacutede as
condiccedilotildees dos menores se pretendiam requerer asilo417
O que chama atenccedilatildeo neste caso eacute a ausecircncia de provas tanto por parte da Liacutebia
quanto por parte da Itaacutelia sendo que dificilmente o capitatildeo do navio agiria sozinho por conta
proacutepria Entretanto a questatildeo aqui eacute a de que a empresa ENI informa que a operaccedilatildeo foi
realizada juntamente com a guarda costeira Liacutebia poreacutem natildeo haacute provas Da mesma forma
natildeo haacute provas de que o IMRCC de Roma foi alertado418
No entanto a embarcaccedilatildeo eacute de bandeira italiana e portanto tendo em vista o resgate
ter ocorrido em aacuteguas internacionais a lei aplicaacutevel eacute a italiana Sendo assim tendo por base
de que a Itaacutelia eacute signataacuteria de diversos documentos internacionais principalmente a
Convenccedilatildeo de Hamburgo (SAR Convention) que dispotildee que os migrantes resgatados devem
ser desembarcados em um local seguro ou seja eacute notoacuterio que a Liacutebia natildeo era uma das
possibilidades para desembarcar os migrantes Aleacutem disso o comandante do navio deveria
entrar em contato com o Estado da bandeira para saber qual o melhor local para
desembarque
A embarcaccedilatildeo ldquoAsso 28rdquo eacute de propriedade da ldquoAugusta Offshorerdquo empresa que
possui relaccedilotildees com diversas empresas entre elas a ENI na Itaacutelia e na Liacutebia Segundo a
empresa a coordenaccedilatildeo do resgate foi da Guarda Costeira Liacutebia no entanto Nicola
Fratoianni disse que o oficial da embarcaccedilatildeo informou que as instruccedilotildees eram emitidas da
plataforma da ENI Nesse sentido o parlamentar italiano indignou-se como o capitatildeo de um
navio de bandeira italiana em aacuteguas internacionais ou seja extensatildeo do territoacuterio italiano
(extraterritorialidade) natildeo informou o governo italiano do resgate e natildeo suficiente
desembarcou as pessoas em um local de extremo perigo A empresa ENI negou qualquer
417 BATHKE Benjamin First trial in Italy over ldquomigrant pushbackrdquo to Libya 2020 In Infomigrants
Disponiacutevel em httpswwwinfomigrantsnetenpost26108first-trial-in-italy-over-migrant-pushback-to-
libya Acesso em 05102020 418 Ibidem
139
envolvimento com o caso e que a coordenaccedilatildeo foi totalmente realizada pela Guarda Costeira
Liacutebia419
A petroleira ENI destaca que o navio ldquoAsso 28rdquo opera em nome da empresa ldquoMellitah
Oil amp Gasrdquo que a gestatildeo ocorre pela NOC empresa na qual a ENI eacute acionista420 ou seja a
ENI possui ao menos responsabilidade subsidiaacuteria no que se refere aos danos causados pela
embarcaccedilatildeo Partindo desse ponto tem-se tambeacutem que a Itaacutelia eacute uma das acionistas da ENI
conforme consta no site da empresa ldquoIl Ministero dellrsquoEconomia e delle Finanze ha il
controllo di fatto in Eni SpA in forza della partecipazione detenuta sia direttamente sia
attraverso Cassa Depositi e Prestiti SpA (CDP SpA)rdquo421 assim a Itaacutelia possui 30 das accedilotildees
da empresa consistindo na maior acionista da empresa Dessa forma podemos aventar a
responsabilidade da Itaacutelia no presente caso
Portanto a embarcaccedilatildeo comercial possui bandeira italiana portanto mesmo que
indiretamente estava a serviccedilo do governo italiano ou seja a Itaacutelia eacute responsaacutevel pelos atos
praticados pela empresa tendo em vista sua significativa participaccedilatildeo na empresa Dessa
forma era obrigatoacuterio que o capitatildeo da empresa informasse o caso ao governo italiano pois
era o paiacutes pelo qual estava submetido como tal fato natildeo ficou comprovado fala-se na
responsabilidade da Itaacutelia pois o capitatildeo estava a serviccedilo do paiacutes europeu mesmo que
indiretamente Aleacutem disso o artigo 8ordm da Resoluccedilatildeo 5683 traz a responsabilidade do Estado
quando algueacutem estaacute sob supervisatildeo de algum Estado e essa pessoa comete algum ato iliacutecito
ou seja o navio territoacuterio e empresa satildeo de nacionalidade italiana bem como o capitatildeo a
serviccedilo de empresas cujo capital eacute majoritariamente italiano portanto natildeo restando duacutevida
da responsabilidade da Itaacutelia no caso
Poreacutem um fato sem precedentes ocorreu na Itaacutelia o capitatildeo do navio foi denunciado
pelas violaccedilotildees das obrigaccedilotildees internacionais ou seja a repulsatildeo dos migrantes para a Liacutebia
No entanto apesar da responsabilidade objetiva do capitatildeo da embarcaccedilatildeo tendo em vista
que desembarcar os migrantes em um local seguro consiste em uma das obrigaccedilotildees do
capitatildeo de um navio a Itaacutelia possui responsabilidade subjetiva no caso tendo em vista ser a
maior acionista da ENI e a embarcaccedilatildeo ldquoAsso 28rdquo estar mesmo que indiretamente a serviccedilo
da mencionada petroleira
419 AGENZIA ITALIA Cosa egrave successo a bordo della nave Asso Ventotto 2018 Op cit 420 Ibidem 421 ENI ITAacuteLIA Azionisti Disponiacutevel em httpswwwenicomit-ITchi-siamogovernanceazionistihtml
2019 Acesso em 05102020
140
Diante deste cenaacuterio nota-se que o acordo entre Itaacutelia e Liacutebia prioriza o combate agrave
imigraccedilatildeo ilegal em detrimento da proteccedilatildeo dos direitos fundamentais No caso do ldquoAsso
28rdquo podemos dizer que a Itaacutelia possui responsabilidade pois aleacutem dos outros motivos jaacute
explicados acima a Itaacutelia assume o papel de cuacutemplice nos atos praacuteticos devido ao acordo
realizado tendo em vista que no ano de 2017 (ano do acordo) a situaccedilatildeo jaacute era caoacutetica na
Liacutebia
42 Alguns Apontamentos a Respeito dos Casos Apresentados
Portanto tendo por base os casos acima nota-se que as decisotildees proferidas pelo
TEDH natildeo estatildeo sendo suficientes para inibir a accedilatildeo de paiacuteses europeus na repulsatildeo de
migrantes mesmo a Itaacutelia sendo condenada no caso do Hirsi Jamaa esta decisatildeo natildeo foi
suficiente para que o paiacutes revesse suas accedilotildees pois vimos que houve reincidecircncia mesmo
que natildeo de forma direta como no caso ldquoAsso 28rdquo em que a Itaacutelia se exime de culpa no
entanto ao manter o tratado de 2017 bilateral com a Liacutebia fornecendo apoio teacutecnico e
financeiro ao paiacutes norte-africano bem como uma embarcaccedilatildeo de bandeira italiana a serviccedilo
de uma empresa cujo capital eacute majoritariamente italiano mesmo que o capitatildeo tenha agido
de forma independente (ou cumprindo ordens da Guarda Costeira Liacutebia devido ao acordo
existente) a responsabilidade da Itaacutelia eacute notoacuteria
Em que refere agrave Itaacutelia alguns eventos nos mostra algum tipo de reaccedilatildeo a favor dos
refugiados como no caso Vos Thalassa em que o Tribunal de Trapani entendeu o sequestro
da embarcaccedilatildeo como legiacutetima defesa mas haacute ldquocontroveacutersiasrdquo tendo em vista que o Tribunal
de Apelaccedilatildeo de Palermo anulou a decisatildeo As decisotildees em alguns casos aparentam ter
opiniatildeo poliacutetica o que natildeo deveria acontecer tendo em vista que o Tribunal de Trapani
decidiu conforme a jurisprudecircncia quando se trata de decisotildees para cidadatildeos italianos ou
seja foram coerentes com o entendimento juriacutedico entendendo como perigo atual e por
isso os migrantes agiram em legiacutetima defesa poreacutem o Tribunal de Palermo talvez
motivado por opiniatildeo poliacutetica decidiu que natildeo eacute aplicaacutevel o instituto da legiacutetima defesa no
caso
Outro ponto favoraacutevel aos refugiados na justiccedila italiana observado neste capiacutetulo eacute a
questatildeo do capitatildeo do ldquoAsso 28rdquo estar sendo processado pela devoluccedilatildeo dos migrantes agrave
Liacutebia ou seja aleacutem dos Estados as pessoas fiacutesicas tambeacutem podem ser responsaacuteveis pelos
141
atos pois sabidamente consiste em uma violaccedilatildeo das obrigaccedilotildees de direito internacional Os
capitatildees dos navios possuem o dever de assistecircncia agraves pessoas em perigo no mar no entanto
ao resgatar as pessoas elas devem ser encaminhadas para um local seguro e no caso do
ldquoAsso 28rdquo eacute notoacuterio que a Liacutebia estaacute muito longe de ser considerada segura Aleacutem disso
como mencionado no capiacutetulo 3 no ano de 2017 houve inclusive a elaboraccedilatildeo de um Coacutedigo
de Conduta para as ONGrsquos na Itaacutelia no qual consta se os capitatildees dessas organizaccedilotildees
resgatassem embarcaccedilotildees com migrantes ilegais eles poderiam ser responsabilizados
criminalmente e administrativamente No entanto se observou o oposto nesse caso o capitatildeo
sendo processado por ter devolvido os migrantes agrave Liacutebia talvez atualmente comeccedila-se a
ver alguns movimentos a favor dos refugiados mas devido tamanhas violaccedilotildees tais
movimentos satildeo muito pequenos poreacutem talvez seja o iniacutecio de uma nova mentalidade
Este capiacutetulo demonstrou a existecircncia de diversas falhas no sistema de auxiacutelio aos
migrantes como no caso em que a Aacuteustria enviou o migrante de volta para a Greacutecia mesmo
com apontamentos de que os refugiados estavam sofrendo maus-tratos por laacute pois segundo
a Convenccedilatildeo de Dublin este uacuteltimo paiacutes era o responsaacutevel pela anaacutelise do pedido de asilo
No mesmo sentido Malta recusou o pedido de asilo a uma cidadatilde somali devido natildeo ter
comprovado que era da regiatildeo de conflitos e por apresentar conhecimento e sotaque da
capital da Somaacutelia mesmo ela tendo diversos problemas de sauacutede (inclusive psiacutequicos) e
explicando que seu irmatildeo foi assassinado por um grupo terrorista
Aleacutem disso vale fazer um parecircntese no que se refere agrave Greacutecia apesar de toda a
situaccedilatildeo relatada da questatildeo dos migrantes no paiacutes ou seja de que os migrantes natildeo devem
ser enviados para o paiacutes helecircnico devido agraves situaccedilotildees precaacuterias dos campos de refugiados
bem como o tratamento desumano e degradante que os indiviacuteduos satildeo submetidos sem
qualquer respaldo do governo grego haacute ainda relatos de expulsatildeo dos migrantes via mar
deixando-os agrave deriva conforme consta na notiacutecia de 14 de agosto de 2020 do jornal ldquoThe
New York Timesrdquo422
Na notiacutecia relata-se que desde marccedilo a Greacutecia tem expulsado migrantes colocando-
os em botes salva-vidas e deixando-os agrave deriva na fronteira do mar territorial grego com o
da Turquia inclusive com bebecircs ademais o jornal norte-americano entrevistou alguns dos
422 KINGSLEY Patrick SHOUMALI Karam Taking Hard Line Greece Turns Back Migrants by
Abandoning Them at Sea In ldquoThe New York Timesrdquo Disponiacutevel em
httpswwwnytimescom20200814worldeuropegreece-migrants-abandoning-seahtml Acesso em
09102020
142
sobreviventes e trouxe o desabafo de uma migrante siacuteria de 50 anos em que ela diz que fugiu
de bombardeios na Siacuteria mas depois que foi repelida pela Greacutecia da forma como foi ela
preferiria ter morrido em algum bombardeio O paiacutes helecircnico se posicionou afirmando que
natildeo cometeu nenhuma ilegalidade no entanto natildeo eacute o que ficou demonstrado atraveacutes dos
depoimentos colhidos pelo jornal tanto de migrantes quanto de pesquisadores a respeito do
tema423
Apesar de muitos direitos protetivos existirem na teoria na praacutetica tem muito a ser
melhorado Muitos satildeo os casos de violaccedilotildees aos artigos 2ordm e 3ordm da CEDH ou seja muitas
pessoas satildeo devolvidas agraves situaccedilotildees em que suas vidas e integridades fiacutesicas eou moral estatildeo
sendo violadas faltam atitudes das autoridades em prol das pessoas que necessitam de
proteccedilatildeo internacional
Aleacutem da necessidade de accedilotildees mais proativas dos governos haacute tambeacutem a necessidade
de mudanccedila de mentalidade da populaccedilatildeo europeia pois na maioria dos paiacuteses os migrantes
satildeo viacutetimas de discriminaccedilatildeo sofrendo com a xenofobia tendo em vista que muitas pessoas
possuem a ideia de que os refugiados satildeo terroristas No entanto muitos desses refugiados
fogem exatamente de grupos terroristas
423 KINGSLEY Patrick SHOUMALI Karam Op cit
143
CONCLUSAtildeO
O presente trabalho tem como propoacutesito demonstrar a situaccedilatildeo vivenciada pelos
refugiados sua vulnerabilidade e percalccedilos enfrentados a caminho do asilo inclusive com
a possibilidade da repulsatildeo apesar da obrigatoriedade do respeito ao princiacutepio da natildeo-
repulsatildeo assim analisou-se a questatildeo da proteccedilatildeo internacional dos refugiados o direito de
asilo na Uniatildeo Europeia citando situaccedilotildees de resgate no mar por alguns paiacuteses europeu e a
proteccedilatildeo internacional do indiviacuteduo no mar Portanto para cumprir com o objetivo do
presente trabalho iniciou-se a pesquisa abordando a questatildeo geral dos refugiados ou seja
os principais aspectos a respeito da proteccedilatildeo internacional dos mesmos chegando agrave
conclusatildeo de que refugiado eacute aquele que eacute viacutetima de perseguiccedilatildeo em seu paiacutes e natildeo quer ou
natildeo pode valer da proteccedilatildeo desse Estado conforme previsto na Convenccedilatildeo de 1951
Destarte foram citados alguns casos especiacuteficos decididos pelo TEDH Tambeacutem
procurou demonstrar a relaccedilatildeo entre o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo e o artigo 3ordm da Convenccedilatildeo
Europeia dos Direitos Humanos agrave luz do direito de busca e salvamento no mar tendo por
exemplo algumas decisotildees do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos como alguns casos
natildeo analisados pelo referido Tribunal pesquisou-se casos em que pessoas foram resgatadas
ainda no mar no entanto foram repelidas posteriormente em terra tambeacutem haacute casos em que
a repulsatildeo ocorreu ainda em mar portanto a proteccedilatildeo do refugiado trata-se de um assunto
de extrema urgecircncia e importacircncia haja vista os noticiaacuterios de naufraacutegios e descasos com os
refugiados ocorridos tanto nas embarcaccedilotildees como no paiacutes em que se busca asilo Ressalta-
se a questatildeo da migraccedilatildeo natildeo eacute um fenocircmeno recente poreacutem foi intensificado nas uacuteltimas
deacutecadas principalmente durante a Primavera Aacuterabe que consistiu na eclosatildeo de diversos
conflitos contra governos ditatoriais no Oriente Meacutedio e na Aacutefrica sobretudo no norte do
continente africano
Aleacutem disso eacute notoacuterio que a intensidade dos fluxos migratoacuterios na atualidade eacute de
tamanha monta que torna difiacutecil a administraccedilatildeo dos migrantes pelos paiacuteses principalmente
aos mais afetados como a Itaacutelia a Greacutecia Malta e a Espanha por serem banhadas pelo Mar
Mediterracircneo principal via de acesso agrave Europa Ademais Franccedila e Alemanha tambeacutem
sofreram com muitos migrantes requerendo asilo Portanto neste estudo verificou-se
tambeacutem a necessidade de uma maior cooperaccedilatildeo entre paiacuteses para solucionar esse problema
que de certa forma eacute exatamente isso que a Convenccedilatildeo de Dublin procura fazer ou seja
144
tenta distribuir a responsabilidade da questatildeo de asilo mas tal documento apresenta falhas e
jaacute haacute proposta chamada de ldquoNovo Pacto sobre Migraccedilatildeo e Asilordquo para substituir e tentar
retirar o ocircnus excessivo dos principais paiacuteses pelos quais os migrantes entram na Europa
A grande variedade de normas no direito internacional a respeito da proteccedilatildeo
internacional dos refugiados faz com que os Estados tenham liberdade para regular a entrada
de estrangeiros no seu territoacuterio poreacutem natildeo podem deixar de lado o respeito aos direitos
humanos e suas obrigaccedilotildees internacionais Entatildeo podemos dizer que a soberania dos
Estados acaba sendo limitada pelas normas obrigatoacuterias de direito internacional
A partir daiacute surge a ideia de que o refugiado natildeo deve ser repelido de acordo com o
artigo 33 da referida Convenccedilatildeo o chamado princiacutepio do non-refoulement Assim analisou-
se este artigo juntamente com a Convenccedilatildeo Contra a Tortura que dispotildee que ningueacutem deve
enviado para locais onde corra o risco de ser torturado bem como com o artigo 3ordm da CEDH
que traz a proibiccedilatildeo da tortura e tratamento desumanodegradante de forma expressa ou
seja apesar da Convenccedilatildeo de 1951 no artigo 33 trazer situaccedilotildees em que natildeo se aplica o
princiacutepio da natildeo-repulsatildeo deve-se avaliar o mencionado princiacutepio diante do complexo
juriacutedico isto eacute outros importantes diplomas internacionais trazem o princiacutepio sem qualquer
exceccedilatildeo dessa forma da anaacutelise conjunta dos diplomas internacionais de direitos humanos
notamos que para que natildeo tenha nenhuma infraccedilatildeo agraves essas normas deve-se interpretar de
acordo com a norma mais beneacutefica ou seja de que ningueacutem deve ser enviado para local
onde corra o risco de ser torturado conforme a Convenccedilatildeo Contra a Tortura e a CEDH
Ademais a exceccedilatildeo prevista no artigo 33 nordm 2 da Convenccedilatildeo de 1951 traz que a
pessoa que consista em perigo agrave seguranccedila do paiacutes ou que tenha cometido crime natildeo deve
ser protegida pelo princiacutepio da natildeo-repulsatildeo no entanto vimos acima que esse dispositivo
deve ser interpretado de acordo com o complexo juriacutedico a respeito do tema e portanto essa
exceccedilatildeo acaba se tornando sem efeito Obviamente que natildeo se deve ldquopremiarrdquo um criminoso
com o benefiacutecio do asilo a fim de que o mesmo natildeo cumpra sua pena no entanto a proibiccedilatildeo
do envio do indiviacuteduo para a tortura eacute absoluta assim sugere-se o cumprimento da pena no
paiacutes de asilo natildeo enviando o criminoso para onde possa ser torturado
Aleacutem disso demonstrou a importacircncia deste princiacutepio tendo em vista o seu caraacuteter
de norma jus cogens ou seja consiste no grupo de normas obrigatoacuterias de direito
internacional e para corroborar tal natureza mencionou-se o artigo 42 nordm 1 da Convenccedilatildeo
de 1951 no qual dispotildee que o artigo 33 da mesma Convenccedilatildeo natildeo comporta reservas assim
145
como uma norma para ser considerada jus cogens precisa ser reconhecida pela comunidade
internacional fato que eacute notoacuterio que as convenccedilotildees de 1951 Contra a Tortura e CEDH satildeo
de amplo reconhecimento pelos paiacuteses ou seja a natildeo-repulsatildeo possui reconhecimento e natildeo
admite reserva isto eacute possui os dois requisitos necessaacuterios para ter tal status
Assim tem-se que a questatildeo de asilo esbarra na soberania nacional dos paiacuteses pois
cada Estado tem o direito de regular suas normas de direito de asilo mas como mencionado
acima limitado pelos direitos humanos e obrigaccedilotildees internacionais Dessa forma o
continente europeu possui diversos documentos disciplinando o assunto a exemplo do
Tratado de Lisboa (TUE) o TFUE o Acordo Schengen a Convenccedilatildeo de Dublin a CEDH
aleacutem das diretivas Estes documentos dispotildeem sobre aspectos gerais no que se refere ao asilo
e controle de fronteiras no entanto a Convenccedilatildeo de Dublin aborda mais especificamente
sobre quais satildeo os Estados responsaacuteveis pela anaacutelise do procedimento de asilo mas as regras
a serem aplicadas no procedimento satildeo as normas nacionais de cada paiacutes Assim foram
apresentados de forma sucinta os mecanismos dos processos de asilo em alguns paiacuteses
europeus apenas a tiacutetulo de comparaccedilatildeo de como que os principais paiacuteses que sofrem com
o intenso fluxo migratoacuterio lidam com a questatildeo de asilo
O primeiro capiacutetulo e o segundo foram destinados agraves questotildees gerais de refugiado e
e asilo explicando a questatildeo do direito de asilo no continente europeu e em algumas
legislaccedilotildees nacionais A partir disso no capiacutetulo 3 restringiu-se o foco na questatildeo dos
refugiados para a questatildeo do direito internacional e europeu no mar no que se refere (a)
busca e resgate dos refugiados em perigo no mar e o dever de assistecircncia tendo como base
diversos documentos internacionais como a UNCLOS SAR e SOLAS Assim para melhor
compreensatildeo partiu-se dos conceitos a respeito das zonas mariacutetimas nas quais se destaca a
questatildeo do mar territorial como o proacuteprio nome jaacute diz consiste no territoacuterio do estado
costeiro e portanto o Estado costeiro possui soberania nessa aacuterea aleacutem disso mais adiante
vimos que existem as SARrsquos que satildeo zonas de busca e salvamento de responsabilidade dos
paiacuteses cada estado com a sua SAR Nas demais zonas vigoram as regras de alto mar e
portanto satildeo aacutereas internacionais assim vale a lei da bandeira da embarcaccedilatildeo consistindo
numa extensatildeo do territoacuterio do paiacutes ou seja o fenocircmeno da extraterritorialidade Discute-se
a respeito das SARrsquos sobre a aplicaccedilatildeo da extraterritorialidade nessas regiotildees pois apesar de
configurarem zonas de busca e salvamento podem estar em aacuteguas internacionais ou seja a
146
responsabilidade de busca e salvamento eacute de um estado no entanto se forem aacuteguas
internacionais vale a lei do estado da bandeira da embarcaccedilatildeo (artigo 110 da UNCLOS)
Um dos principais documentos a respeito do direito do mar eacute a UNCLOS na qual o
artigo 98 traz o dever de assistecircncia das pessoas em perigo no mar Dessa forma esse artigo
deve ser entendido juntamente com o artigo 2ordm da CEDH (bem como o artigo 2ordm da CDFUE)
pois ambos trazem a proteccedilatildeo do direito agrave vida Dessa forma a questatildeo de salvar as vidas no
mar deve-se levar em conta dois aspectos sendo que eacute responsabilidade dos estados bem
como dos capitatildees dos navios
Outros documentos que seguem o mesmo sentido deste artigo 98 da UNCLOS eacute a
Convenccedilatildeo SOLAS que se refere agrave salvaguarda da vida das pessoas no mar e a SAR que
dispotildee sobre a busca e salvamento no mar sob pena de violaccedilatildeo do direito agrave vida Essas duas
convenccedilotildees dispotildeem que as pessoas resgatadas devem ser desembarcadas em um local
seguro apesar de natildeo apresentarem um conceito claro das condiccedilotildees desses locais eacute evidente
que alguns paiacuteses como a Liacutebia estatildeo longe de serem seguros Portanto a falta de
conceituaccedilatildeo de local seguro nessas convenccedilotildees consiste em uma falha fazendo com que
muitos paiacuteses tentem justificar o envio de pessoas para paiacuteses natildeo seguros no entanto diante
da ausecircncia dessa conceituaccedilatildeo faz-se necessaacuterio bom senso das autoridades para natildeo enviar
os migrantes para locais onde corram riscos
Tendo por base todas essas disposiccedilotildees toma-se em questatildeo a relaccedilatildeo do direito do
mar conjuntamente com os direitos humanos Nesse ponto sabemos que os direitos humanos
satildeo de extrema importacircncia consistindo em normas jus cogens no direito internacional
portanto deve ser respeitado em todos os ramos do direito inclusive no direito do mar
Assim vimos que o respeito ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo eacute absoluto natildeo admitindo reservas
por ser considerado norma jus cogens bem como haacute a previsatildeo no artigo 42 nordm1 da
Convenccedilatildeo de 1951 de que o artigo 33 que se refere agrave natildeo-repulsatildeo natildeo se admite reservas
Portanto a interpretaccedilatildeo conjunta das normas de busca e salvamento do mar
juntamente com o princiacutepio da natildeo-repulsatildeo leva ao entendimento de que os migrantes
resgatados no mar devem ser desembarcados em local seguro e principalmente natildeo devem
ser devolvidos para o local de onde saiacuteram sob pena de violaccedilatildeo do direito agrave vida (artigo 2ordm
da CEDH) da proibiccedilatildeo da tortura e tratamentos desumanos e degradantes (artigo 3ordm da
CEDH e artigo 3ordm da Convenccedilatildeo Contra a Tortura) e proibiccedilatildeo de expulsatildeo coletiva (artigo
4ordm do Protocolo Adicional nordm 4 da CEDH)
147
Para ter uma ideia na praacutetica sobre como ocorre a violaccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-
repulsatildeo no uacuteltimo capiacutetulo realizou-se estudo de alguns casos decididos pelo TEDH bem
como outros casos que ocorreram poreacutem sem anaacutelise do referido Tribunal Destaca-se que
nem todas as decisotildees consistem na repulsatildeo no mar poreacutem em todos os casos estudados as
pessoas chegaram pelo mar ou resgatadas pela guarda do estado costeiro e levadas para o
continente ou acabaram tendo ecircxito na trajetoacuteria em embarcaccedilotildees precaacuterias Isso demonstra
que a repulsatildeo ocorre tanto no mar quanto em situaccedilotildees em que os migrantes jaacute estatildeo em
terra Aleacutem disso quando a repulsatildeo ocorre no mar normalmente haacute a violaccedilatildeo da proibiccedilatildeo
de expulsatildeo coletiva nesses casos as pessoas geralmente satildeo repelidas todas juntas sem
qualquer identificaccedilatildeo conforme os casos Hirsi Jamaa e do Asso 28
Dessa forma como jaacute mencionado a anaacutelise da violaccedilatildeo ao princiacutepio da natildeo-repulsatildeo
deve ser realizada juntamente com o artigo 3ordm da CEDH e tambeacutem com a Convenccedilatildeo Contra
a Tortura assim vimos que a violaccedilatildeo ao artigo 3ordm pode ocorrer tanto no paiacutes do pedido de
asilo nos campos de detenccedilatildeo ou quando se deixa as pessoas a sua proacutepria sorte assim a
violaccedilatildeo eacute configurada quando os indiviacuteduos forem enviados para local em que podem ser
submetidos agrave tortura e tratamentos desumanos eou degradantes
Nesse sentido no uacuteltimo capiacutetulo foram 4 os casos apresentados que tiveram decisotildees
proferidas pelo TEDH sendo constatado que quando haacute condenaccedilatildeo ao Estadopaiacutes que
violou direitos dos refugiados satildeo arbitradasaplicadas indenizaccedilotildees irrisoacuterias (em torno de
15 mil euros por requerente) ou seja acabam natildeo inibindo a repeticcedilatildeo da conduta Assim
notamos a ocorrecircncia do caso Hirsi Jamaa em 2009 e que no ano de 2018 o caso do Asso 28
ou seja repetiu os mesmos atos ocorridos em 2009 No entanto o capitatildeo do Asso 28 foi
denunciado nos tribunais italianos por ter tomado a conduta de devolver os migrantes agrave
Liacutebia talvez esse fato demonstre o iniacutecio de uma possiacutevel mudanccedila de mentalidade Mas
somente o tempo poderaacute dizer pois no caso Vos Thalassa o Tribunal de Trapani decidiu
que os migrantes que ldquosequestraramrdquo a embarcaccedilatildeo agiram em legiacutetima defesa que agiram
dessa forma face ao desespero de serem repelidos para a Liacutebia como ocorreu em situaccedilotildees
anteriores no entanto o Tribunal de Palermo anulou a sentenccedila inclusive contrariando a
jurisprudecircncia do proacuteprio Tribunal assim questiona-se se essa decisatildeo do tribunal de
apelaccedilatildeo de anular a sentenccedila natildeo consistiu em uma decisatildeo poliacutetica
Nas decisotildees do TEDH que analisamos notou-se que a condenaccedilatildeo indenizatoacuteria foi
em valor baixo como no caso Hirsi Jamaa cuja decisatildeo foi no sentido de que natildeo houve
148
violaccedilatildeo do artigo 3ordm da CEDH por entender que a conduta do Estado natildeo atingiu o niacutevel
miacutenimo de gravidade Ora natildeo haacute que se falar em niacutevel de tortura ou que o tratamento
desumano foi leve A tortura traz uma ideia de que natildeo tem uma ldquomeia torturardquo ou a pessoa
sofre tortura ou natildeo ou a pessoa recebe tratamento desumano ou natildeo ou seja natildeo haacute que se
falar em natildeo ter atingido os niacuteveis miacutenimos
Assim a partir da anaacutelise dos fatos como no caso Khlaifia em que os migrantes
alegavam que foram submetidos a tratamentos desumanos eou degradantes nota-se que o
tratamento natildeo eacute ldquomeiordquo desumano as pessoas tinham sua dignidade diminuiacuteda por esperar
horas para ir ao banheiro por exemplo Poreacutem o TEDH entendeu natildeo haver violaccedilatildeo ao
artigo 3ordm da CEDH que natildeo ficou comprovado que o tratamento atingiu os niacuteveis miacutenimos
Portanto mais um indicativo da impunidade natildeo se deve aceitar que os direitos humanos
dos migrantes sejam relativizados a empatia eacute obrigatoacuteria os julgadores devem se
colocarem no lugar do outro para poder apontar se existe ou natildeo um niacutevel miacutenimo de tortura
ou tratamento desumano a ser atingido
Outra situaccedilatildeo do caso Abdi Mahamud julgado pelo TEDH foi configurada a
violaccedilatildeo dos artigos 3ordm e 5ordm da CEDH sendo a condenaccedilatildeo de 12 mil euros menor que as
demais indenizaccedilotildees arbitradas pelo TEDH Ou seja trata-se de mais uma condenaccedilatildeo com
valor irisoacuterio de indenizaccedilatildeo pois trata-se de um paiacutes portanto facilita a continuidade da
praacutetica desrespeitosa aos direitos humanos Aleacutem disso nesse caso mesmo a requerente ter
demonstrado reais perigos a que estava exposta (seu irmatildeo foi morto por um grupo
terrorista) o pedido de asilo foi negado sob o fundamento de que ela natildeo demonstrou ser da
regiatildeo de conflitos da Somaacutelia em virtude do sotaque e conhecimentos da regiatildeo da capital
somali Assim as autoridades tecircm julgado os casos de forma arbitraacuteria com total ausecircncia
de empatia Ademais a refugiada tambeacutem estava com a sauacutede debilitada que piorou apoacutes a
negativa do pedido de asilo eacute notaacutevel o transtorno mental que a requerente estava por natildeo
querer retornar ao seu paiacutes
Na Greacutecia como vimos no caso Sharifi os migrantes satildeo tratados com completo
descaso situaccedilatildeo reconhecida inclusive por oacutergatildeos das Naccedilotildees Unidas que apontavam as
violaccedilotildees e orientaram os Estados para que natildeo enviasse migrantes para a Greacutecia Aleacutem
disso neste ano de 2020 em plena pandemia o paiacutes helecircnico levava migrantes ateacute fronteira
do mar territorial deixando-os agrave deriva em botes inflaacuteveis sem motor e correndo risco de
morte Entatildeo tal conduta eacute uma afronta e um descaso enorme dos Estados com os migrantes
149
ou seja com pessoas que saiacuteram de seus paiacuteses por serem submetidas agraves situaccedilotildees horriacuteveis
ainda se deparam com tamanho descaso e desrespeito daqueles cujo dever eacute socorrer e
acolher
Outra questatildeo que chamou agrave atenccedilatildeo pelo despauteacuterio refere-se ao acordo feito entre
a Itaacutelia e Liacutebia em 2017 que confirma o descaso de certos paiacuteses com os refugiados quem
deveria acolher na verdade desdenha da situaccedilatildeo Sabe-se que desde a eclosatildeo da Primavera
Aacuterabe a Liacutebia estaacute longe de ser um lugar seguro Eacute de amplo conhecimento de que
atrocidades satildeo cometidas no paiacutes como assassinatos torturas tratamentos desumanos e
degradantes etc Podemos dizer que a Itaacutelia ao celebrar este acordo eacute cuacutemplice expressa das
atrocidades cometidas com as pessoas por laacute sobretudo com os migrantes que satildeo
devolvidos para o paiacutes norte-africano Assim notamos que os paiacuteses tecircm priorizado o
combate agrave imigraccedilatildeo ilegal em detrimento dos direitos humanos dos migrantes que as
decisotildees proferidas pelo TEDH natildeo estatildeo sendo suficientes para inibir a accedilatildeo de paiacuteses
europeus na repulsatildeo de migrantes ou de coibir os Estados de violar direitos dos refugiados
O que se constatou nesse estudo eacute que quando haacute uma condenaccedilatildeo do Estado por
violar direitos dos refugiados natildeo haacute uma justa indenizaccedilatildeo e que em algumas vezes a
decisatildeo eacute no sentido de que natildeo tinha como o Estado prever a violaccedilatildeo jogando o ocircnus aos
requerentes deixando-os lidarem eles mesmos com os danos e as feridas causadas ou que
natildeo atingiu os niacuteveis miacutenimos de tratamentos desumanos Assim notamos que as puniccedilotildees
impostas aos Estados natildeo tecircm sido eficazes tendo em vista o valor iacutenfimo das indenizaccedilotildees
Dessa forma talvez seja necessaacuteria uma puniccedilatildeo mais eficaz que force os Estados a
respeitarem o direito dos refugiados talvez como medida inibitoacuteria seja o caso de estudar a
possibilidade de imposiccedilatildeo de embargos poliacutetico-econocircmicos ao Estado infrator aleacutem de
melhorar o valor das indenizaccedilotildees pecuniaacuterias iniciando um estudo nesse sentido em prol
da proteccedilatildeo dos refugiados
Em verdade proteger os migrantes natildeo deve ser uma opccedilatildeo dos paiacuteses mas um dever
de proteccedilatildeo agrave vida humana que eacute um direito universal portanto um direito tambeacutem dos
refugiados independentemente se foi resgatado no mar ou dos que jaacute estatildeo no territoacuterio do
paiacutes de chegadaescolhido Portanto ter uma boa poliacutetica de migraccedilatildeo legislaccedilatildeo de asilo e
a proteccedilatildeo dos direitos humanos natildeo satildeo coisas opostas Sendo uma necessidade a
convergecircncia de medidas em prol de menos sofrimento no mundo se as pessoas estatildeo
fugindo de suas casas elas precisam ser acolhidas e natildeo repelidas Em um mundo que
150
pregamos a paz e a justiccedila natildeo eacute justo que negue ajuda e proteccedilatildeo para aqueles mais
necessitados ou menos favorecidos
151
BIBLIOGRAFIA
ACNUR Refugiados Disponiacutevel em httpswwwacnurorgportuguesquem-
ajudamosrefugiados Acesso em 03012020
AGENZIA ITALIA Cosa egrave successo a bordo della nave Asso Ventotto 2018 Disponiacutevel em
httpswwwagiitcronacamigranti_asso_ventotto-4224246news2018-07-31 Acesso
em 05102020
ALMEIDA Francisco F Direito Internacional Puacuteblico 2ordf ediccedilatildeo Coimbra Coimbra
Editora 2003
ANISTIA INTERNACIONAL Greece Proposed bill on asylum downgrades EU and
International Law standards on refugees protection 2019 Disponiacutevel em
httpwwwantigonegrennewspost452 Acesso em 25052020
BAJ Giulia PAPANICOLOPULU Irini Controllo dele Frontiere Statali e
Respingimenti nel Diritto Internazionale e nel Diritto del Mare In Diritto
Immigrazione e Cittadinanza Nordm 12020 Disponiacutevel em
httpswwwdirittoimmigrazionecittadinanzaitarchivio-saggi-commentisaggifascicolo-
n-1-2020-1532-controllo-delle-frontiere-statali-e-respingimenti-nel-diritto-internazionale-
e-nel-diritto-del-mare Acesso em 19062020
BATHKE Benjamin First trial in Italy over ldquomigrant pushbackrdquo to Libya 2020 In
Infomigrants Disponiacutevel em httpswwwinfomigrantsnetenpost26108first-trial-in-
italy-over-migrant-pushback-to-libya Acesso em 05102020
BETHLEHEM Daniel LAUTERPACHT Sir E Part 2 Non-refoulement (Article 33 of
the 1951 Convention) - The scope and content of the principle of non-refoulement
Opinion In Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos Global
Consultations on International Protection Cambridge Cambridge 2003
CAMILLI Eleonora Migranti scoppia il caso Asso 28 ldquoFatto grave egrave
respingimentordquo 2018 In Redattore Sociale Disponiacutevel em
httpswwwredattoresocialeitarticlenotiziariomigranti_scoppia_il_caso_asso_28_fatto_
grave_e_respingimento Acesso em 05102020
CIERCO Teresa A Instituiccedilatildeo de Asilo na Uniatildeo Europeia Almedina Coimbra 2010
COMISSAtildeO EUROPEIA Common European Asylum Sistem (CEAS) ndash Definition(s)
Disponiacutevel em httpseceuropaeuhome-affairswhat-we-
donetworkseuropean_migration_networkglossary_searchcommon-european-asylum-
system-ceas_en Acesso em 06042020
COMISSAtildeO EUROPEIA Common European Asylum System Disponiacutevel em
httpseceuropaeuhome-affairswhat-we-dopoliciesasylum_en Acesso em 27052020
152
COMISSAtildeO EUROPEIA EURASIL Disponiacutevel em httpseceuropaeuhome-
affairswhat-we-donetworkseuropean_migration_networkglossary_searcheurasil_en
Acesso em 06042020
COMISSAtildeO EUROPEIA European Asylum Support Office (EASO) Disponiacutevel em
httpseceuropaeuhome-affairswhat-we-
donetworkseuropean_migration_networkglossary_searcheuropean-asylum-support-
office-easo_en Acesso em 06042020
COUNCIL OF EUROPE ndash COMMISSIONER FOR HUMAN RIGHTS Lives Saved
Rights protected Bridging the protection gap for refugees and migrants in the
Mediterranean - Recommendations 2019 Disponiacutevel em httpsrmcoeintlives-saved-
rights-protected-bridging-the-protection-gap-for-refugees-168094eb87 Acesso em
01092020
CONSEIL CONSTITUTIONNEL Preacuteambule de la Constitution du 27 Octobre 1946
Disponiacutevel em httpswwwconseil-constitutionnelfrle-bloc-de-
constitutionnalitepreambule-de-la-constitution-du-27-octobre-1946 Acesso em
27052020
CONSELHO PORTUGUEcircS PARA OS REFUGIADOS Histoacuteria Disponiacutevel
httpscprpthistoria Acesso em 24052020
DIAacuteRIO DE NOTIacuteCIAS Greacutecia aprova nova reforma na lei de asilo do paiacutes 2020
Disponiacutevel em httpswwwdnoticiasptmundogrecia-aprova-nova-reforma-na-lei-de-
asilo-do-pais-FE6240421 Acesso em 25052020
DEUTSCHE WELLE (DW) Juristas processam UE por morte de migrantes 2019
Disponiacutevel em httpswwwdwcompt-brjuristas-processam-ue-por-mortes-de-
migrantesa-49036829 Acesso em 05102020
DEUTSCHE WELLE (DW) Novo Pacto Migratoacuterio da UE descarta realocaccedilatildeo
obrigatoacuteria 2020 Disponiacutevel em httpswwwdwcompt-brnovo-pacto-
migratC3B3rio-da-ue-descarta-realocaC3A7C3A3o-obrigatC3B3riaa-
55029567 Acesso em 09102020
ENI ITAacuteLIA Azionisti Disponiacutevel em httpswwwenicomit-ITchi-
siamogovernanceazionistihtml 2019 Acesso em 05102020
FEDERAL OFFICE FOR MIGRATION AND REFUGEES The Stages of the German
Asylum Procedure ndash An overview of the individual procedural steps and the legal
basis Disponiacutevel em
httpswwwbamfdeSharedDocsAnlagenENAsylFluechtlingsschutzAsylverfahrendas-
deutsche-asylverfahrenpdf__blob=publicationFileampv=12 Acesso em 28052020
FELLER Erika Prefaacutecio In Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos
Global Consultations on International Protection Cambridge Cambridge 2003
153
FORTEAU Mathias THOUVENIN Jean-Marc Traiteacute de Droit International de la
Mer Editions A Pedone Paris 2017
FOSTER Michelle HATHAWAY James C Part 6 Internal ProtectionRelocationFlight
Alternative In Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos Global
Consultations on International Protection Cambridge Cambridge 2003
FRANCE 24 English Focus Women made to keep low profile in some French
suburbs Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=6gZFGpNdH1A Acesso
em08012020
FRONTEX O que eacute a Frontex Disponiacutevel em httpsfrontexeuropaeulanguagept
Acesso em 19082020
G1 GLOBO Conheccedila as missotildees de resgate de imigrantes no Mediterracircneo 2015 Disponiacutevel em
httpg1globocommundonoticia201504conheca-as-missoes-de-resgate-de-imigrantes-
no-mediterraneohtml Acesso em 30082020
GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DE INCLUSIOacuteN SEGURIDAD SOCIAL Y
MIGRACIONES) PORTAL DE INMIGRACIOacuteN ndash Centro de Acogida a Refugiados
(CAR) Disponiacutevel em
httpextranjerosmitramissgobesesproteccionasilocarindexhtml Acesso em
27052020
GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DEL INTERIOR) Informacioacuten para los
solicitantes de proteccioacuten internacional em Espantildea Derecho de Asilo y Proteccioacuten
Subsidiaria Disponiacutevel em
httpwwwinteriorgobesdocuments6423171201485Informacion_solicitantes_Asilo_E
spaC3B1ol_126160083pdfd8fb2cb4-9bc4-4a53-9032-628c02f1e114 Acesso em
27052020
GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DE INCLUSIOacuteN SEGURIDAD SOCIAL Y
MIGRACIONES) PORTAL DE INMIGRACIOacuteN ndash Informacioacuten Disponiacutevel em
httpextranjerosmitramissgobesesProteccionAsiloinformacionindexhtml Acesso em
27052020
GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DEL INTERIOR) Oficina de Asilo y
Refugio Disponiacutevel em httpwwwinteriorgobeswebservicios-al-ciudadanooficina-
de-asilo-y-refugio Acesso em 27052020
GOBIERNO DE ESPANtildeA (MINISTERIO DE INCLUSIOacuteN SEGURIDAD SOCIAL Y
MIGRACIONES) PORTAL DE INMIGRACIOacuteN ndash Reacutegimen de Asilo Disponiacutevel em
httpextranjerosmitramissgobesesnormativanacionalasiloindexhtml Acesso em
27052020
GOODWIN-GILL Guy S Part 3 Article 31 of the 1951 Convention Relating to the Status
of Refugees non-penalization detention and protection In Refugee Protection in
154
International Law ndash UNHCRrsquos Global Consultations on International Protection
Cambridge Cambridge 2003
GROSBON Sophie Droit de la Mer et Protection Internationale de LrsquoIndividurdquo In
FORTEAU Mathias THOUVENIN Jean-Marc Traiteacute de Droit International de la
Mer Editions A Pedone Paris 2017
HELLENIC REPUBLIC Asylum Service Disponiacutevel
httpasylogovgrenpage_id=39 Acesso em 24052020
HELLENIC REPUBLIC Legislation Disponiacutevel httpasylogovgrenpage_id=113
Acesso em 24052020
HONNIBALL Arron N The Exclusive Jurisdiction of Flag States A Limitation on
Pro-active Port States The International Journal of Marine and Coastal Law 2016
Disponiacutevel em httpsbrillcomviewjournalsestu313article-p499_6xml Acesso
01062020
INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION Guidelines on the Treatment of
Persons Rescued at Sea 2004 Disponiacutevel em
httpwwwimoorgenOurWorkFacilitationpersonsrescuedDocumentsMSC167(78)pd
f Acesso em 27062020
INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION INTERNATIONAL CHAMBER
OF SHIPPING UNITED NATIONS (UNHCR) Soccorso in Mare 2015 Disponiacutevel em
httpswwwunhcritwp-contentuploads201512Soccorso_in_Marepdf Acesso em
29062020
KINGSLEY Patrick SHOUMALI Karam Taking Hard Line Greece Turns Back
Migrants by Abandoning Them at Sea In ldquoThe New York Timesrdquo Disponiacutevel em
httpswwwnytimescom20200814worldeuropegreece-migrants-abandoning-seahtml
Acesso em 09102020
LISSON Urszula WEINZIERL Ruth Border Management and Human Rights A
study of EU Law and the Law of the Sea German Institute for Human Rights 2007
MACHADO Joacutenatas E M Direito Internacional 4ordf ediccedilatildeo Coimbra Coimbra Editora
2013
MARS Amanda ONU alerta que o mundo vive a pior crise humanitaacuteria em 70 anos
2017 In El Paiacutes Brasil Disponiacutevel em
httpsbrasilelpaiscombrasil20170311internacional1489186916_587899html
Acesso em 03012020
MINISTEacuteRE DE LrsquoINTEacuteRIEUR (IMMIGRATION ASILE ACCUEIL ET
ACCOMPAGNEMENT DES EacuteTRANGERS EM FRANCE Les Grands Principes du
Droit DrsquoAsile Disponiacutevel em httpswwwimmigrationinterieurgouvfrAsileLe-droit-
d-asileLes-grands-principes-du-droit-d-asile Acesso em 27052020
155
MINISTERO DELLrsquoINTERNO Cruscotto statistico giornaliero Disponiacutevel em
httpwwwlibertaciviliimmigrazionedlciinternogovititdocumentazionestatisticacrusc
otto-statistico-giornaliero Acesso em 19062020
MINISTRY FOR HOME AFFAIRS AND NATIONAL SECURITY (MALTA) AWAS ndash
Mission and Function Disponiacutevel httpshomeaffairsgovmtenMHAS-
DepartmentsawasPagesMission-and-Functionaspx Acesso 26052020
MINISTRY FOR HOME AFFAIRS AND NATIONAL SECURITY (MALTA) The
Office of the Refugee Commissioner Disponiacutevel em
httpshomeaffairsgovmtenmhas-
departmentsthe20office20of20the20refugee20commissionerPagesRefugeeasp
x Acesso em 26052020
NASSER Salem H Jus Cogens Ainda esse Desconhecido Disponiacutevel em
httpbibliotecadigitalfgvbrojsindexphprevdireitogvarticleview3523334033 Acesso
em 12092020
NATIONAL INTEGRATION EVALUATION MECHANISM (NIEM) The new law on
asylum in Greece Disponiacutevel em httpwwwforintegrationeuplthe-new-law-on-
asylum-in-greece Acesso em 25052020
NATIONAL POST National Post View Stabilizing Libya may be the best way to
keep Europe safe Disponiacutevel em httpsnationalpostcomopinionnational-post-view-
stabilizing-libya-may-be-the-best-way-to-keep-europe-safe Acesso em 06012020
NICHOLSON Frances TURK Volker Part 1 Refugee Protection in International Law
an overall perspective In Refugee Protection in International Law ndash UNHCRrsquos Global
Consultations on International Protection Cambridge Cambridge 2003
O GLOBO Crise envolvendo navio de resgate humanitaacuterio ldquoOpen Armsrdquo contrapotildee
Itaacutelia Espanha e ONG 2019 Disponiacutevel em httpsogloboglobocommundocrise-
envolvendo-navio-de-resgate-humanitario-open-arms-contrapoe-italia-espanha-ong-
23887061 Acesso em 27052020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Manual de Procedimentos e Criteacuterios para
a determinaccedilatildeo da Condiccedilatildeo de Refugiado 2011 Disponiacutevel em
httpswwwacnurorgportugueswp-
contentuploads201802Manual_de_procedimentos_e_critC3A9rios_para_a_determi
naC3A7C3A3o_da_condiC3A7C3A3o_de_refugiadopdf Acesso em
16012020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Note on International Protection ndash
UNHCR 13 september 2001 Disponiacutevel
httpswwwunhcrorgexcomexcomrep3bb1c6cc4note-international-protectionhtml
Acesso em 18092020
156
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Qual a diferenccedila entre lsquorefugiadosrsquo e
lsquomigrantesrsquo Disponiacutevel em httpsnacoesunidasorgqual-a-diferenca-entre-refugiados-
migrantesamp Acesso em 11052020
PAPANICOLOPULU Irini Human Rights and The Law of the Sea In The IMLI
Manual on International Maritime Law Volume I Law of The Sea General Editor
David Joseph Attard Edited by Malgosia Fitzmaurice Norman A Martineacutez Gutieacuterrez
Oxford University Press Oxford 2014
PARLAMENTO EUROPEU Asilo e Migraccedilatildeo na UE em Nuacutemeros 2019 Disponiacutevel
em
httpswwweuroparleuropaeunewsptheadlinesprioritiesmigracao20170629STO7863
0asilo-e-migracao-na-ue-em-numeros Acesso em 06042020
PARLAMENTO EUROPEU Reform of the Dublin System Disponiacutevel em
httpswwweuroparleuropaeuRegDataetudesBRIE2016586639EPRS_BRI282016
29586639_ENpdf Acesso em 07042020
PARLAMENTO EUROPEU Regras do Sistema de Asilo da UE a posiccedilatildeo do
Parlamento sobre a reforma da regulaccedilatildeo de Dublin Atualizado em 25072019
Disponiacutevel em
httpswwweuroparleuropaeunewsptheadlinesworld20180615STO05927regras-do-
asilo-da-ue-posicao-do-parlamento-sobre-a-reforma-da-regulacao-dublin Acesso em
06042020
PAULA Bruna V O Princiacutepio do Non-Refoulement sua Natureza Jus Cogens e a
Proteccedilatildeo Internacional dos Refugiados 2006 Disponiacutevel em
httpsrevistaibdhorgbrindexphpibdhissueview14 Acesso em 12092020
PORTUGAL Serviccedilo de Estrangeiros e Fronteiras ndash Etapas do Procedimento de
Proteccedilatildeo Internacional Disponiacutevel em
httpswwwsefptptDocumentsFolheto20InformaC3A7C3A3o20ProteC3
A7C3A3o20Internacionalpdf Acesso em 23052020
REVISTA VEJA Imigrantes se jogam no mar do navio Open Arms para alcanccedilar a
Itaacutelia 2019 Disponiacutevel httpsvejaabrilcombrmundoimigrantes-se-jogam-do-navio-
open-arms-no-mar-alcancar-a-italia Acesso em 27052020
RODAS Joatildeo G Jus Cogens em Direito Internacional Disponiacutevel em
wwwrevistasuspbrrfdusparticleviewFile6673669346 Acesso em 11092020
RUGGIERO Carol Dalla Criminalizzazione alla Giustificazione delle Attivita di
Ricerca e Soccorso in Mare le Tendenze Interpretative Piu Recenti alla Luce dei Casi
Vos Thalassa e Rackete In Diritto Immigrazione e Cittadinanza Nordm 12020 Disponiacutevel
em httpswwwdirittoimmigrazionecittadinanzaitarchivio-saggi-commentinote-e-
commentifascicolo-2020-1526-dalla-criminalizzazione-alla-giustificazione-delle-attivita-
di-ricerca-e-soccorso-in-mare-le-tendenze-interpretative-piu-recenti-alla-luce-dei-casi-vos-
thalassa-e-rackete Acesso em 25062020
157
SAVIO Guido Capitolo II Le procedure amministrative della domanda drsquoasilo
dallrsquoavvio alla decisione In ROCCA Paolo Immigrazione Asilo e Cittadinanza IV
Edizione Maggioli Editore Santarcangelo di Romagna 2019
TANI Ilaria Ricerca e Soccorso nel Mediterraneo Centrale tra Diritto Internazionale
e Nuove (Discutibili) Qualificazioni del Fenomeno Migratorio In Diritto
Immigrazione e Cittadinanza Nordm 32019 Disponiacutevel em
httpswwwdirittoimmigrazionecittadinanzaitarchivio-saggi-commentisaggifascicolo-
n-3-2019-1474-ricerca-e-soccorso-nel-mediterraneo-centrale-tra-diritto-internazionale-e-
nuove-discutibili-qualificazioni-del-fenomeno-migratoriofile Acesso em 22082020
TERRASI Alfredo I Respingimenti in Mare di Migrant Alla Luce Della Convenzione
Europea dei Diritti Umani In Diritti umani e diritto Internazionale Nordm 32009 p 591-
607
TREVISANUT Seline Maritime Border Control and the Protection of Asylum-
Seekers in the European Union Touro International Law Review 12 2009 p 157-161
HeinOnline
TREVISANUT Seline The Principle of Non-Refoulement and the De-
Territorialization of Border Control at Sea Leiden Journal of International Law vol
27 no 3 September 2014 p 661-676 HeinOnline
UNHCR GREECE UNHCR urges Greece to strengthen safeguards in draft asylum
law 2019 Disponiacutevel em httpswwwunhcrorggren13170-unhcr-urges-greece-to-
strengthen-safeguards-in-draft-asylum-lawhtml
UNITED NATIONS ndash UNHCR UNHCR Position on the Return of Asylum-Seekers to
Greece Under the ldquoDublin Regulationrdquo Disponiacutevel em
httpswwwunhcrorg482199802pdf Acesso em 01102020
WEIL Prosper Towards relative normativity in international law The American
Journal of International Law Vol 77 nordm 3 (julho de 1983) p 413 ndash 442 Disponiacutevel em
httpswwwcambridgeorgcorejournalsamerican-journal-of-international-
lawarticletowards-relative-normativity-in-international-
lawD494CB41D732291285CBC9F5424FF11C Acesso em 10092020
JURISPRUDEcircNCIAS
EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Abdi Mahamud V Malta
Application no 5679613 Disponiacutevel em httphudocechrcoeintengi=001-162424
Acesso em 26092020
EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Hirsi Jamaa and others v Italy
Application no 2776509 Disponiacutevel em httphudocechrcoeintspai=001-109231
Acesso em 16092020
158
EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Khlaifia and others v Italy
Application no 1648312 Disponiacutevel em httphudocechrcoeintengi=001-170054
Acesso em 21092020
EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS Case of Sharifi V Austria Application
no 6010408 Disponiacutevel em httphudocechrcoeintengi=001-138593 Acesso em
26092020
INTERNATIONAL COURT OF JUSTICE Jurisdictional Immunities of the State
(Germany v Italy Greece intervening) General List Nordm 143 Disponiacutevel em
httpswwwicj-cijorgencase143 Acesso em 11092020
LA CORTE DI APPELLO DI PALERMO Sentenza Vos Thalassa Appello ndash N Sent
15252020 Disponiacutevel httpswwwquestionegiustiziaitdatadoc2613sentenza-vos-
thalassa-appello-palermo-3-giugno-2020pdf Acesso em 05102020
TRIBUNALE DI TRAPANI Sentenza Vos Thalassa 2019 Disponiacutevel em
httpswwwquestionegiustiziaitdatadoc2613sentenza-vos-thalassa-gip-trapani-3-
giugno-2019pdf Acesso em 05102020
LEGISLACcedilAtildeO CONSULTADA
CONVENCcedilAtildeO DE APLICACcedilAtildeO DO ACORDO DE SCHENGEN 1985 Disponiacutevel
em httpseur-lexeuropaeulegal-
contentptTXTuri=celex3A42000A0922280229 Acesso em 29032020
CONSELHO DE SEGURANCcedilA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Resoluccedilatildeo 2240 (2015)
Disponiacutevel em httpseur-lexeuropaeulegal-
contentPTTXTuri=CELEX3A32016D0118 Acesso em 30082020
CONSELHO DA EUROPA Convenccedilatildeo Europeia dos Direitos Humanos (CEDH)
Disponiacutevel em httpswwwechrcoeintDocumentsConvention_PORpdf Acesso em
13012020
CONSELHO EUROPEU Directiva 200155CE do Conselho de 20 de Julho de 2001
Disponiacutevel em httpseur-lexeuropaeulegal-
contentPTTXTHTMLuri=CELEX32001L0055ampfrom=PT Acesso em 31012020
COUNCIL OF THE EUROPEAN UNION Council Decision of 26 April 2010
(2010252EU) Disponiacutevel em httpseur-
lexeuropaeuLexUriServLexUriServdouri=OJL201011100200026ENPDF Acesso
em 18092020
GENERAL ASSEMBLY UNITED NATIONS Resolution Adopted by the General
Assembly ndash Resolution 52132 Human rights and mass exoduses 1998 Disponiacutevel em
httpsundocsorgenARES52132 Acesso em 12092020
159
INTERNATIONAL COMMITTEE OF THE RED CROSS Customary International
Humanitarian Law ndash Volume I Rules Disponiacutevel
httpswwwicrcorgendocassetsfilesothercustomary-international-humanitarian-law-i-
icrc-engpdf Acesso em 11092020
INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION International Convention for the
Safety of Life at Sea (SOLAS) 1974 Disponiacutevel em
httpswwwsamgongustofaismediaenglishSOLAS-Consolidated-Edition-
2018docxpdf Acesso em 05062020
INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION International Convention on
Maritime Search and Rescue ndash SAR Convention 1979 Disponiacutevel em httpsonboard-
aquariusorguploads201808SAR-Convention-1979pdf Acesso em 02062020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Carta das Naccedilotildees Unidas 1945 Disponiacutevel
em httpsnacoesunidasorgwp-contentuploads201711A-Carta-das-
NaC3A7C3B5es-Unidaspdf Acesso em 04092020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Contra a Tortura e Outros
Tratamentos ou Penas Crueacuteis Desumanos ou Degradantes 1984 Disponiacutevel em
httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto1990-1994D0040htm Acesso em
12092020
ORGANIZACcedilAtildeO DE UNIDADE AFRICANA Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo de Unidade
Africana que Rege os Aspectos Especiacuteficos dos Problemas dos Refugiados em Aacutefrica
Disponiacutevel em httpwwwdhnetorgbrdireitossipafricaouahtm Acesso em
17012020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo de Viena sobre o Direito dos
Tratados Disponiacutevel em
httpgddcministeriopublicoptsitesdefaultfilesdocumentosinstrumentosrar67-
2003pdf Acesso em 11092020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Convenccedilatildeo Relativa ao Estatuto dos
Refugiados de 1951 Disponiacutevel em
httpswwwacnurorgfileadminDocumentosportuguesBDLConvencao_relativa_ao_Est
atuto_dos_Refugiadospdf Acesso em 03012020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Declaraccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas Sobre o
Asilo Territorial 1967 Disponiacutevel
httpswwwacnurorgfileadminDocumentosportuguesBD_LegalInstrumentos_Internac
ionaisDeclaracao_ONU_Asilo_Territorialpdffile=fileadminDocumentosportuguesBD_
LegalInstrumentos_InternacionaisDeclaracao_ONU_Asilo_Territorial Acesso em
09032020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do
Homem 1948 Disponiacutevel em httpsnacoesunidasorgwp-
contentuploads201810DUDHpdf Acesso em 05032020
160
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Protocolo Adicional agrave Convenccedilatildeo das
Naccedilotildees Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Relativo agrave Prevenccedilatildeo
Repressatildeo e Puniccedilatildeo do Traacutefico de Pessoas em Especial Mulheres e Crianccedilas
Disponiacutevel httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2004-
20062004DecretoD5017htm Acesso 14062020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Protocolo Adicional agrave Convenccedilatildeo das
Naccedilotildees Unidas Contra o Crime Organizado Transnacional relativo ao Combate ao
Traacutefico de Migrantes por Via Terrestre Mariacutetima e Aeacuterea 2000 Disponiacutevel em
httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2004-20062004DecretoD5016htm Acesso
em 01062020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Protocolo Adicional I da Convenccedilatildeo de
Genebra de 1949 Disponiacutevel em httpsihl-
databasesicrcorgapplicihlihlnsfArticlexspaction=openDocumentampdocumentId=F461
FC196C18A52DC12563CD0051E2AC Acesso em 11092020
ORGANIZACcedilAtildeO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS Protocolo de 1967 Relativo ao Estatuto dos
Refugiados Disponiacutevel
httpswwwacnurorgfileadminDocumentosportuguesBD_LegalInstrumentos_Internac
ionaisProtocolo_de_1967pdf Acesso em 05032020
REPUBBLICA ITALIANA Gazzetta Ufficiale della Reppublica Italiana - Decreto
Legislativo 28 Gennaio 2008 N 25 Disponiacutevel em
httpswwwgazzettaufficialeitattoserie_generalecaricaDettaglioAttooriginarioattodat
aPubblicazioneGazzetta=2008-02-
16ampattocodiceRedazionale=008G0044ampelenco30giorni=false Acesso em 12052020
REPUBBLICA ITALIANA Gazzetta Ufficiale della Reppublica Italiana - Decreto
Legislativo 18 agosto 2015 n 142 Disponiacutevel em
httpswwwgazzettaufficialeiteliid2015091515G00158sg Acesso em 23052020
UNIAtildeO EUROPEIA Carta dos Direitos Fundamentais da Uniatildeo Europeia Disponiacutevel
em httpswwweuroparleuropaeucharterpdftext_ptpdf Acesso em 27052020
UNIAtildeO EUROPEIA Convenccedilatildeo de Dublin 1990 Disponiacutevel httpseur-
lexeuropaeulegal-contentPTALLuri=celex3A41997A0819280129 Acesso em
06042020
UNIAtildeO EUROPEIA Diretiva 2008115CE Disponiacutevel em httpseur-
lexeuropaeulegal-contentPTTXTuri=CELEX3A32008L0115 Acesso em
27052020
UNIAtildeO EUROPEIA Diretiva 201195UE Disponiacutevel em httpseur-
lexeuropaeulegal-contentPTLSUuri=celex32011L0095 Acesso em 27052020
161
UNIAtildeO EUROPEIA Diretiva 201332UE Disponiacutevel em httpseur-
lexeuropaeulegal-contentPTTXTuri=LEGISSUM23010502_1 Acesso em
27052020
UNIAtildeO EUROPEIA Diretiva 201333UE Disponiacutevel em httpseur-
lexeuropaeulegal-contentPTTXTuri=LEGISSUM23010502_2 Acesso em
27052020
UNIAtildeO EUROPEIA Tratado de Funcionamento da Uniatildeo Europeia Disponiacutevel em
httpseur-lexeuropaeulegal-contentPTTXTuri=celex3A12012E2FTXT Acesso
em 07042020
UNIAtildeO EUROPEIA Tratado de Lisboa Disponiacutevel em
httpswwwparlamentopteuropaDocumentsTratado_Versao_Consolidadapdf Acesso
em 31032020
UNITED NATIONS Charter of the International Military Tribunal 1945 Disponiacutevel
em httpswwwunorgengenocidepreventiondocumentsatrocity-
crimesDoc2_Charter20of20IMT201945pdf Acesso em 21012020
UNITED NATIONS Convention on the Law of the Seas (UNCLOS) Disponiacutevel
httpswwwunorgdeptslosconvention_agreementstextsunclosunclos_epdf Acesso
04092020
UNITED NATIONS Draft articles on Responsibility of States for Internationally
Wrongful Acts with commentaries Disponiacutevel em
httplegalunorgilctextsinstrumentsenglishcommentaries9_6_2001pdf Acesso em
11092020