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VISÕES CORPORATIVAS: PROPOSTA DE TAXONOMIA Dieter Brackmann Goldmeyer (UNISINOS ) [email protected] Lissandra Andrea Tomaszewski (UNISINOS ) [email protected] Luis Henrique Rodrigues (UNISINOS ) [email protected] Maria Isabel Wolf Motta Morandi (UNISINOS ) [email protected] Guilherme Sperling Trapp (UNISINOS ) [email protected] A relevância das visões corporativas no planejamento estratégico é inquestionável. Há a necessidade de visualização futura nas empresas. Muitas empresas anunciam suas visões corporativas em sites e propagandas, porém, muitas vezes, são mal entendidas enquanto conceito. Provavelmente isso se deve à falta de estrutura e de vantagens competitivas, considerando o propósito de sua criação. Nesse sentido, o objetivo deste artigo foi desenvolver, através do estudo de planejamento estratégico, uma taxonomia das visões corporativas atuais. Através da catalogação das visões das 100 maiores empresas do Brasil e a Visão Viável da Teoria das Restrições (TOC), em conjunto com a pesquisa na literatura, foi possível criar a taxonomia, ou seja, categorias que pudessem identificar características em comuns das visões corporativas atuais. Para comprovar a robustez da taxonomia proposta, todas as visões corporativas catalogadas foram confrontadas com o esquema taxonômico criado. Ademais, pretendeu-se mensurar as características comuns presentes nas visões corporativas atuais e incentivar trabalhos futuros para criação de novas abordagens de estruturação de visões corporativas que possam realmente transformar a organização em uma empresa visionária. Palavras-chaves: Planejamento Estratégico, Visão Corporativa, Taxonomia, Visão Viável, TOC XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

VISÕES CORPORATIVAS: PROPOSTA DE TAXONOMIA · da taxonomia proposta, todas as visões corporativas catalogadas foram confrontadas com o esquema taxonômico criado. Ademais, pretendeu-se

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VISÕES CORPORATIVAS: PROPOSTA

DE TAXONOMIA

Dieter Brackmann Goldmeyer (UNISINOS )

[email protected]

Lissandra Andrea Tomaszewski (UNISINOS )

[email protected]

Luis Henrique Rodrigues (UNISINOS )

[email protected]

Maria Isabel Wolf Motta Morandi (UNISINOS )

[email protected]

Guilherme Sperling Trapp (UNISINOS )

[email protected]

A relevância das visões corporativas no planejamento estratégico é

inquestionável. Há a necessidade de visualização futura nas empresas.

Muitas empresas anunciam suas visões corporativas em sites e

propagandas, porém, muitas vezes, são mal entendidas enquanto

conceito. Provavelmente isso se deve à falta de estrutura e de

vantagens competitivas, considerando o propósito de sua criação.

Nesse sentido, o objetivo deste artigo foi desenvolver, através do

estudo de planejamento estratégico, uma taxonomia das visões

corporativas atuais. Através da catalogação das visões das 100

maiores empresas do Brasil e a Visão Viável da Teoria das Restrições

(TOC), em conjunto com a pesquisa na literatura, foi possível criar a

taxonomia, ou seja, categorias que pudessem identificar características

em comuns das visões corporativas atuais. Para comprovar a robustez

da taxonomia proposta, todas as visões corporativas catalogadas

foram confrontadas com o esquema taxonômico criado. Ademais,

pretendeu-se mensurar as características comuns presentes nas visões

corporativas atuais e incentivar trabalhos futuros para criação de

novas abordagens de estruturação de visões corporativas que possam

realmente transformar a organização em uma empresa visionária.

Palavras-chaves: Planejamento Estratégico, Visão Corporativa,

Taxonomia, Visão Viável, TOC

XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos

Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

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1. Introdução

Com o aumento da competitividade entre empresas, conceitos antes desconhecidos, tais como

de planejamento estratégico empresarial, missão, valores e visão, passaram a fazer parte do

ambiente corporativo. Relevantes para a consolidação de marcas, empresas e produtos, é

inquestionável a importância das visões corporativas no planejamento estratégico. Sem

nenhuma dúvida estas são propriedades diferenciadoras no ambiente corporativo e sem estas

não se permeariam as grandes corporações. (COLLINS & PORRAS, 1995). Encontram-se

diversos trabalhos acadêmicos relacionados com missão organizacional, comparação com

performances, taxonomias etc. (BART & BAETZ, 1998). Porém, as pesquisas relacionadas à

visão corporativa são limitadas, talvez devido ao não consentimento enquanto conceito, já que

muitas vezes a visão corporativa é confundida ou mesmo tratada como sinônimo de missão

corporativa. Conforme Kendall (2010) o Programa da Visão Viável da TOC é uma estratégia

para alavancar o crescimento do lucro nas empresas, sem reduzir custos e com um aumento de

ganho de forma contínua. Há a necessidade de visualização futura nas empresas. O conceito

da meta na Visão Viável foi originado pelo Dr. Eli Goldratt e foi o primeiro a verbalizar como

transformar faturamento em lucro líquido em 4 anos ou menos. Barney e Hesterly (2007)

dizem que as “empresas visionárias” têm como característica a lucratividade em longo prazo.

“Uma vez que há conhecimento da Visão, Missão e Valores da Empresa, assim como

mobilização pessoal para o gerenciamento das ações para o alcance dos resultados desejados,

pode-se trabalhar efetivamente no sentido de se alcançar os resultados definidos

previamente”. (KAPLAN, 1997). Somente o alinhamento destes conhecimentos produz a

sinergia necessária para o cumprimento da estratégia. (BARNEY, 2002). De acordo com

Özdem (2011) um dos pontos relevantes para o sucesso do planejamento estratégico é a

correta formulação da declaração da missão e visão das organizações.

Diante disto, a proposição de uma taxonomia das visões corporativas poderia colaborar para

novos processos de construção, analisando-se grupos que compartilham características em

comum. De acordo com Campos e Gomes (2008) a taxonomia é uma ferramenta de

organização, onde há alocação, recuperação e comunicação de informações de maneira lógica.

Como também, estrutura conceitos e permite agregação de dados.

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A partir da relevância deste estudo, duas perguntas poderiam ser analisadas com relação ao

assunto: Qual é a real relevância da definição de visão nas organizações para o seu

planejamento estratégico? No presente artigo, pretende-se, a partir de uma pesquisa

direcionada às maiores empresas do Brasil e com embasamento na literatura, desenvolver uma

taxonomia das visões corporativas atuais. Estando esta completa, prova-se sua robustez

através da aplicação das visões destas 100 maiores empresas e da Visão Viável da TOC,

analisando-se quais categorizações estão mais presentes nestas empresas.

Alguns delimitantes devem ser ressaltados: foram consideradas somente as 100 maiores

empresas do Brasil e a visão Viável da TOC só será abordada enquanto visão propriamente

dita e não enquanto programa, isto é, um produto de consultoria empresarial que tem por

objetivo implementar de forma sistemática a estratégia, fazendo uso de um método

específico.(HENNER, 2007).

Na primeira seção será apresentado o referencial teórico pertinente ao problema de pesquisa

apresentado aqui, tais como: planejamento estratégico, visão corporativa, visão viável e

taxonomia. Em seguida será apresentada a metodologia e resultados. Por fim, as

considerações finais.

2. Revisão Bibliográfica

2.1. Planejamento estratégico / Visão corporativa

O conceito de planejamento estratégico nasceu no início dos anos 60, com o nome de política

de negócios e era apenas tratado de forma teórico-acadêmica. (BIBNETTI, LAUTERT e

WIETHAEUPER, 2005). Com o nascimento das firmas de consultoria durante os anos 60 o

agora chamado planejamento estratégico passa a ser desenvolvido na prática. Na Figura 1,

Kotler (1998) simplifica como é processo do planejamento estratégico moderno.

Figura 1 – Processo de Planejamento Estratégico

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Fonte: Kotler (1998, p. 86)

Como apresentado na Figura 1, as práticas de divulgação da visão, juntamente com a missão

corporativa, se tornaram a pedra fundamental do processo de planejamento estratégico. Ao

passar dos anos, a visão e missão corporativa passaram por várias transformações conceituais,

mas, embora estes conceitos estejam bem formulados e diferidos, eles ainda muitas vezes são

tratados como redundantes. (PORTO, 2003; BART & BAETZ, 1998; KANTABUTRA,

2009). De acordo com Silva e Lima (2011) os objetivos na estratégia devem ser alinhados a

esses conceitos, pois o devido alinhamento destes produz a sinergia necessária para o

cumprimento da estratégia. Sendo assim, para melhor definir o conceito de visão corporativa,

mesmo que isto não seja o principal objetivo deste artigo, segue abaixo, no Quadro 1, algumas

definições presentes na literatura.

Quadro 1 – Conceito de visão corporativa

Fonte: Mumford & Strange (2005), Senge (1994), Andrade et al. (2006) e Collins &Porras (1995), adaptado

pelos autores

Para responder a questão de pesquisa do presente artigo, Senge (1994) afirma que não existe

organização que aprende sem uma visão compartilhada, uma vez que a aprendizagem

organizacional é essencial para o desenvolvimento e pode ser a única vantagem competitiva, à

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medida que o mundo se torna cada vez mais interligado e complexo. Em relação à real

importância de se ter uma visão incorporada na corporação, vale ressaltar que não somente

por conter uma declaração de visão, esta empresa pode ser considerada visionária. (COLLINS

& PORRAS, 1995). Ser uma empresa visionária é muito mais do que uma declaração, é uma

orientação que deve ser usada na prática da tomada de decisão, uma proposta para todos os

atores que fazem parte da organização. Segundo Porto (2003) este seria o problema, pois a

maioria das corporações só percebe um cunho ideológico por trás das visões corporativas.

Embora não exista fórmula de criação da visão (SENGE, 1994) e a construção de uma visão

corporativa seja de natureza bem particular de cada empresa (PORTO, 2003), é importante

descrever alguns aspectos que, segundo alguns autores, tais como Senge (1994), Collins &

Porras (1995), Kantabutra (2009) e Collins & Porras (1996), deveriam estar presentes na

formulação da visão corporativa, pois estes poderão ser úteis para a análise e criação da

taxonomia, sendo este o objetivo principal deste artigo. São eles:

a) A visão deve estar alinhada com os valores e princípios da empresa. Estes devem

resistir ao desgaste do tempo e ser a raiz mais profunda da organização. (COLLINS &

PORRAS, 1996);

b) Herrera (2007) diz que a visão orienta a organização numa meta de longo prazo

criando um compromisso no intento de atingir o propósito declarado. Uma posição

que a empresa pretende ocupar no futuro em seu mercado de atuação;

c) Collins & Porras (1996) ressaltam que, para a formulação da visão, é necessário que

a missão organizacional, ou seja, a finalidade básica, ou melhor, a razão da exigência

da empresa já esteja bem determinada. Andrade et al, (2006) coloca ainda que o

planejamento estratégico como um todo deve estar enraizado na compreensão do

passado;

d) A visão compartilhada sugerida por Senge (1994) deve mobilizar todas as pessoas

da corporação por um mesmo objetivo e, embora muitas organizações façam uso de

várias metas, a visão necessita somente de uma “supermeta” (COLLINS & PORRAS

1996), pois, do contrário, a organização poderia se dividir em prol de metas diferentes;

e) Collins & Porras (1996), também concordam em uma “supermeta” que seja clara,

para que seja possível a fácil memorização e compreensão por parte dos atores da

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empresa. Mas somente ser clara não basta, a visão deve também ser objetiva para

causar inspiração e consequentemente despertar a energia criativa. (SENGE, 1994;

COLLINS & PORRAS, 1995; KANTABUTRA, 2009). Para contribuir, Kalabutra

(2009) afirma que, além de ser clara e objetiva, a visão corporativa deve ser breve, no

máximo 22 palavras;

Sendo assim, a visão é a raiz do planejamento estratégico, este conceito é de suma

importância para o planejamento estratégico corporativo e para que visão corporativa seja

coerente e perene. Aspectos presentes em sua criação devem ser observados, pois a visão deve

ir além de sua simples declaração. A visão viável da TOC apresenta alguns destes aspectos.

2.2. Visão Viável - TOC

Como Nunes (2007) explicita, apesar das organizações atualmente terem objetivos de cunho

social, ambiental e cultural, nada seria destes se a meta principal, que é o lucro, não fosse

alcançada. Para que esta meta ser alcançada, necessitam-se estratégias e táticas que sejam

capazes de reproduzir o futuro desejado na realidade atual, transcorrido certo período de

tempo. A Visão Viável da TOC pode ser considerada uma ferramenta estratégica que mira o

referido lucro.

“Quando faço a análise de uma empresa só me dou por satisfeito quando vejo claramente

como é possível levá-la a obter, em menos de quatro anos, um lucro líquido equivalente ao

seu faturamento” (KENDALL, p. 3, 2005). Esta declaração é o marco de surgimento da

chamada “Visão Viável”. Com o uso dos métodos e técnicas baseados em pressupostos

desenvolvidos por Goldratt da teoria das restrições, algumas empresas teriam capacidade de

alcançar tal meta/visão. (KENDAL, 2005). Nunes (2007) considera que a Visão Viável da

TOC é uma síntese resultante da dinâmica dialética entre as sucessivas construções teóricas e

as respectivas aplicações práticas realizadas pelo grupo de pensadores que tomam como

referencial a Teoria das Restrições.

Como o presente artigo não mira o esclarecimento ou desenvolvimento das técnicas,

associadas à Visão viável da TOC, embora estas tenham grande relevância nos ambientes

atuais de negócios (marketing, logística, produção, vendas e custos), considera-se aqui a visão

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viável somente com a seguinte declaração: “atingir no prazo de quatro anos um lucro líquido

igual às atuais receitas provenientes de vendas”. (NUNES, 2007). A seguir a abordagem da

questão de proposta de taxonomia para a criação de uma visão corporativa coerente com

objetivos e missão das organizações.

2.3. Taxonomia

Segundo Campos e Gomes (2008), a taxonomia, originalmente ciência das leis da

classificação de formas vivas usada na botânica e zoologia para classificar família, gênero ou

espécie, atualmente é muito usada para a classificação e organização de informações nas

corporações ou mesmo na comunidade acadêmica. O método taxonômico não seria apenas

uma abordagem descritiva, pois pode ser usada para entender o porquê de diferentes tipos de

categorizações.

3. Metodologia

3.1. Coleta de dados

A fonte dos dados primários para análise foi a revista EXAME – Maiores e melhores (2009).

Esta revista aborda assuntos relacionados a negócios e finanças das maiores empresas

brasileiras. Em pesquisa realizada, ranqueou as 500 maiores empresas do Brasil, tendo como

critério de avaliação o faturamento anual. Através desta base de dados, foi possível identificar

as 100 maiores empresas do Brasil e posteriormente localizar suas respectivas visões

corporativas. A procura das visões, foram realizadas no site das empresas, em contato direto

e em trabalhos acadêmicos.

3.2. Proposta de taxonomia

Primeiramente foram criadas categorias através da pesquisa na literatura. Considerando

alguns autores cujas pesquisas continham elementos básicos a serem considerados para a

criação da visão corporativa de uma empresa. (ANDRADE et al, 2006; SENGE, 1994;

COLLINS & PORRAS, 1995; COLLINS & PORRAS, 1994; KANTABUTRA, 2009). Em

seguida, foram adicionadas outras categorias, que não tinham sido mencionadas pela literatura

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(táxons) e que poderiam acrescentar qualidade à proposta de taxonomia, através da análise das

visões corporativas anteriormente coletadas.

3.3. Aplicação da proposta

Para submeter à taxonomia proposta um teste que pudesse comprovar sua robustez, todos os

dados coletados, ou seja, todas as visões corporativas coletadas das 100 maiores empresas do

Brasil e a Visão Viável da TOC foram confrontadas com o esquema taxonômico criado. Por

fim, realizou-se uma análise da frequência de cada categoria taxonômica com base nos dados

coletados.

4. Resultados

4.1. Dados coletados

Foram catalogadas as 100 maiores empresas do Brasil, segundo a revista EXAME, conforme

já citado, estas dos mais variados setores industriais, estados e nacionalidades, considerando o

controle acionário. Porém, somente em 85 empresas foi possível localizar a visão corporativa,

seguindo a metodologia de procura já relatada. Na maioria destas, a visão estava explícita na

forma de declaração, mas, em algumas, a visão estava localizada e implícita, em meio aos

valores, filosofia e missão da empresa. Nesses casos, a visão foi depreendida de maneira

empírica.

4.2. Taxonomia

Após a consolidação de todas as visões encontradas e a análise dos referencias teóricos

encontrados, procurou-se a primeira classificação a fim de facilitar a posterior distinção das

subcategorias que poderiam ser criadas. Abaixo serão detalhadas as categorias primárias em

conjunto com suas respectivas subcategorias de primeira ordem.

4.2.1. Temporalidade

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Esta categoria expressa em que tempo futuro a visão, ou seja, o desejo de futuro deveria estar

realizado. A seguir serão relatadas as subcategorias quanto à temporalidade das visões

corporativas.

a) Fixa - Esta subcategoria determina um tempo FIXO para o tal monitoramento, ou seja,

o tempo não se altera e o ponto de controle já é pré-determinado na formulação da

visão corporativa. Nesta subcategoria estaria quantificado o chamado “longo prazo”

sugerido por Collins & Porras (1995);

Ex: “2020 - A Transpetro transportadora do sistema Petrobras, será inovadora e

multimodal, pronta para atuar no exterior de acordo com as necessidades da

Petrobras” Transpetro.

b) Contínua - O tempo de monitoramento torna-se imutável, sendo assim, o controle pode

ser feito com mais frequência já que a temporalidade é contínua. Aqui o “longo prazo”

é fixo e não delimitado como pela subcategoria Fixa. Henner (2007) sugeriu como

Visão Viável da TOC: “atingir no prazo de quatro anos um lucro líquido igual às

atuais receitas provenientes de vendas” (NUNES, 2007) - Visão viável da TOC;

c) Indeterminada - Na subcategoria indeterminada, o período não é claro e o ponto de

controle pode passar a ser não “monitorável” quanto à temporalidade. Esta

subcategoria atende as sugestões de ALLEN (1998) que sugere a “relativa

atemporalidade”, pois acredita que a visão deve ser descrita de tal forma como se

nunca fosse mudar.

Ex: “Ter em cada mercado uma presença significativa. O crescimento do mercado deve

reforçar a independência e a valorização da empresa a longo prazo.” Carrefour.

4.2.2. Desejo

Considera-se o desejo o “coração” da visão corporativa, pois sem esta categorização,

provavelmente a visão não seria conhecida propriamente como visão corporativa. O desejo

nada mais é do que a classificação quanto à visualização do presente e do futuro enquanto

conceito de visão corporativa (ANDRADE et al, 2006; SENGE, 1994; COLLINS &

PORRAS, 1995).

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a) Quantitativa – Para valoração de atributos que realmente possam ser mensurados.

Quanto à criação desta subcategoria, entende-se que, como as pessoas gostam de

cruzar a linha de chegada (COLLINS & PORRAS, 1995), elas devem saber onde está,

exatamente, esta linha.

Ex: “Ser o grupo de comunicação móvel líder no Brasil em rentabilidade e em número de

clientes.” Claro

b) Qualitativa – Valoração onde não é possível a mensuração. Contrário aos desejos

quantitativos, o desejo se torna subjetivo. Devido a inexistência de uma abordagem

quantitativa, normalmente são usados para a motivação e criação da energia positiva

referida por Senge (1994).

Ex “Melhorar a vida, aperfeiçoando a cadeia global de alimentos e agronegócio.” Bunge

Fertilizantes

4.2.3. Delimitação Geográfica

Existem visões que, da mesma forma que a temporalidade, limitam o desejo, mas com base

em aspectos geográficos. Funciona como se fosse o ambiente específico onde realmente a

empresa quer que o desejo seja alcançado. Embora não abordada pela literatura, a categoria

foi criada através da análise prévia das visões corporativas catalogadas com delimitação para

controle, melhor visualização da linha de chegada (COLLINS & PORRAS 1995) e melhor

acompanhamento quanto ao atendimento do desejo contido na visão corporativa.

a) Específico – Subcategoria caracterizada por demarcar especificamente o ambiente em

que a empresa quer que o desejo seja alcançado;

Ex “Ser líder em qualidade, inovação, vendas e lucratividade da indústria automotiva na

América do Sul, com um time de alta performance e focado no desenvolvimento

sustentável.” Volkswagen.

b) Indeterminado – Referente às visões em que a delimitação carece de clareza na

delimitação geográfica e passa a ser passível de interpretações;

Ex: “Seremos a melhor opção no mercado regional e atuaremos no mercado

internacional, garantindo o nosso crescimento sustentável.” Refap.

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Entende-se, neste exemplo, o termo “regional” como vago, já que não explicita a

região de atuação.

4.2.4. Quantidade de objetivos

Em toda a pesquisa, foram encontradas visões dos mais variados tamanhos, formas e desejos e

esta categoria diferencia as visões quanto à quantidade de objetivos/metas.

a) Único – Existe somente um objetivo na visão corporativa. É uma subcategoria criada

para a classificação de visões que atendem à sugestão de Collins & Porras (1996)

quanto à existência de uma única “supermeta”, pois só assim a visão se tornaria clara,

inspiradora e motivadora da energia criativa. (ANDRADE et al, 2006; SENGE, 1994);

Ex: “Ser a melhor empresa de varejo do Brasil” Lojas Americanas.

b) Multiobjetivos – Ao contrário de uma “supermeta” que atingiria toda organização com

uma só meta, os multiobjetivos podem tornar a visão menos clara e inspiradora e

causar assim, o problema da falta de comprometimento referida por Senge (1994).

Ex: “Duplicar o valor dos negócios do Grupo até 2012, por meio da consolidação dos

principais negócios e da busca de oportunidades em novos segmentos ou nos

tradicionais e atingir padrões de classe mundial na operação e na gestão,

comparáveis aos das melhores empresas globais.” Votorantin Cimentos.

4.2.5. Explicitação do negócio

Algumas empresas optam pela explicitação dos setores em que atuam na própria visão como

forma de limitar o seu desejo. Da mesma forma que limita a visão a certo setor industrial, por

exemplo, pode ser usada como explicitação de parte da missão corporativa também citada por

Collins & Porras (1995) como componente importante na visão corporativa.

a) Explícito – Determina claramente o setor em que a empresa atua;

Ex “Ser a empresa de mineração líder em pelotização e reconhecida como uma

organização de classe mundial.” Samarco

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b) Indeterminado – A visão opta pela não explicitação do negócio, mantém a visão ampla

e, por conseqüência, não determina da linha de chegada.

Ex “Trabalhar com Espírito de Servir faz as pessoas mais felizes” TAM.

4.3. Esquema taxonômico

Segue na figura abaixo o esquema taxonômico proposto:

Figura 2 – Esquema taxonômico proposto

Delim. Geográfica

Contínuo Fixo Indeterm.

QuantitativaQualitativa

Explícito

Expecífica Indeterm.UnicoMulti-

objetivos

VISÃO CORPORATIVA

Desejo

Explic. NegócioTempora

tlidade

Quant.

Objetivos

Indeterm.

Fonte: Autores (2013)

4.3.1 Visão Viável X Esquema Taxonômico

Com base na taxonomia proposta e anteriormente descrita, a visão viável, “atingir no prazo

de quatro anos um lucro líquido igual às atuais receitas provenientes de vendas” (NUNES,

2007), foi classificada da seguinte forma:

- Temporalidade: Contínua – Explica-se pelo fato de citar “quatro anos” na visão.

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- Desejo: Quantitativo – A natureza do desejo é simplesmente financeira, ou seja,

através desta visão a empresa mira o crescimento econômico/financeiro da empresa.

- Explicitação do Negócio: Indeterminado – Como Goldratt declarou esta visão em um

âmbito global, sem distinção de setores industriais.

- Delimitação Geográfica: Indeterminada – Pelos mesmos motivos citados quanto à

explicitação do negócio, não foram localizados elementos que pudessem explicitar tal

delimitação.

- Objetivo: Único – A visão é clara e contém somente o objetivo de transformar o

faturamento em lucro líquido em quatro anos.

4.3.2 Maiores Empresas do Brasil X Esquema Taxonômico

Para comprovar a robustez da taxonomia proposta, todas as visões corporativas catalogadas

foram confrontadas com o esquema taxonômico criado, da mesma forma que houve a

categorização da Visão Viável. Abaixo segue a análise de frequência relativa do total de 85

visões corporativas encontradas e catalogadas.

Tabela 1 – Frequência da categoria Temporalidade

Fonte: Autora (2013)

Poucas foram as visões com a temporalidade determinada (fixa ou contínua), e em 90,6% das

visões o longo prazo é indeterminado. Nota-se também que não foram encontradas visões

com temporalidade contínua.

Tabela 2 – Frequência da categoria Desejo

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Fonte: Autora (2013)

Na categoria desejo, nenhuma visão foi puramente quantitativa, pois, quando houve a

valoração quantitativa, sempre houve um desejo qualitativo e isto justifica a soma relativa das

duas subcategorias terem apresentado valores superiores a 100%.

Tabela 3 – Frequência da categoria Explicitação do negócio

Fonte: Autores (2013)

Nesta categoria, houve melhor distribuição entre as visões corporativas catalogadas e a

maioria optou pela explicitação do negócio como um dos fatores delimitantes.

Tabela 4 – Frequência da categoria Quantidade de objetivos

Fonte: Autores (2013)

Distribuição praticamente igual, pois metades das visões corporativas catalogadas adotam

uma única meta.

Tabela 5 – Frequência da categoria Delimitação Geográfica

Fonte: Autores (2013)

Por fim, 55% das visões catalogadas optaram pela especificação geográfica, que, como a

explicitação do negócio e a temporalidade, inferem as condições para que a meta seja

atingida.

5. Considerações Finais

A partir da pesquisa apresentada, percebe-se claramente a possibilidade de uma taxonomia

para as visões corporativas atuais. O presente estudo pôde desenvolver uma proposta de

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taxonomia das visões corporativas atuais orientadas por um referencial teórico e por uma

pesquisa empírica das visões das 100 maiores empresas do Brasil. Embora existam muito

mais subcategorizações a partir do objeto proposto, foi possível sugerir a taxonomia para dois

níveis hierárquicos de categorizações e estas foram eficazes considerando que todas as visões

corporativas catalogadas continham os cinco elementos principais (temporalidade,

explicitação do negocio, desejo, delimitação geográfica e quantidade de objetivos). Como foi

feito na seção de comparação entre a Visão Viável da TOC e a taxonomia proposta, em todas

as 85 visões encontradas, foi possível localizar tais táxons e não foi encontrada nenhuma

possível nova categoria de primeira ordem para a taxonomia proposta.

Esta pesquisa atendeu os objetivos propostos e, principalmente, pode ser útil para possíveis

trabalhos futuros relacionados com planejamento estratégico ou especificamente com visão

corporativa. Pode-se notar pouco entendimento do conceito de visão e, por consequência, o

uso apenas de cunho ideológico em diversas organizações. Sendo assim, a pesquisa pode

colaborar para a criação de metodologias para construção de visões corporativas que

realmente funcionem como bússola para a corporação e que sejam capazes de movimentar

seus atores através da “energia positiva” e do comprometimento coletivo.

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