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Villa da Feira 31

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villa da feira terra de santa maria

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Publicidade: Telef.: 965 310 162 | 256 379 604Fax: 256 379 607Tiragem: 500 exemplaresEdição: N.º 31 - Junho de 2012Pré-impressão, Impressão e Acabamento:Empresa Gráfi ca Feirense, S. A.Apartado 4 - 4524-909 Santa Maria da FeiraSede Social: Edifício Clube Feirense - Associação Cultural Vila Boa - 4520-283 Santa Maria da FeiraEmail: [email protected]://villadafeira.blogspot.pt/Depósito Legal: 180748/02ISSN: 1645-4480

Reg. ICS: 124038Depositária: Livraria Vício das Letras Rua Dr. José Correia e Sá, 59 4520-208 Santa Maria da FeiraApoios: Câmara Municipal Santa Maria da Feira Irmãos Cavaco S.A. E. Leclerc Termas das Caldas de S. Jorge Sociedade de Turismo de Santa Maria da Feira Patrícios, S.A. Centralobão.

Ficha Técnica

Título: Villa da Feira - Terra de Santa Maria

Propriedade: LAF - Liga dos Amigos da Feira ®

Director: Celestino Portela

Director Adjunto: Fernando Sampaio Maia

Colectivo Editorial - Fundadores LAF:

Alberto Rodrigues Camboa; António Luís Carneiro;

Carlos Gomes Maia; Celestino Augusto Portela; Joaquim Carneiro

Processamento de Imagem e Design: Joaquim Carneiro

Coordenação Científi ca: J. M. Costa e Silva

Supervisão Editorial e Gráfi ca: Anthero Monteiro

Colaboração do TOC, Belmiro da Silva Resende

Periodicidade: Quadrimestral

Assinatura anual: 30 euros

Assinatura auxiliar: 50 euros

Este número: 15 euros

Pagamentos por:

Transferência bancária NIB 007900001127152910124

Cheque à ordem de LAF - Liga dos Amigos da Feira

Capa: Castro de Romariz. Santa Maria da Feira. Foto Filipe Pinto

Fotografi as: Óscar Maia, J. M. Costa e Silva, Filipe Pinto, Biblioteca

Municipal, Arquivos particulares, LAF e Fotos Web por António

Madureira

Redacção e Administração: Apartado 230 • 4524-909 Feira

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*Advogado. Devoto Aquiliniano.

PÓRTICO

Aqui há uns dias telefonou-me o meu caro Dr. Celestino Portela, director desta revista cultural VilladaFeira e, sem mais, atirou-me a ordem peremptória: - Faça-me um pórtico. E eu, reconhecendo a minha falta de habilitações porque nunca tinha feito nenhum mas dando-me bem conta da distinção que a ordem envolvia, não tive como furtar-me ao encargo. O diabo da questão é que os tempos correm tão tumultuários e revolutos que o pórtico, para ter por onde se lhe pegue e estar em consonância com as páginas desta publicação que se quer amável, elegante e culta, deverá refl ectir a realidade que o povo deste velho país vive e que neste momento não pode deixar de ser considerada igualmente amável, elegante e culta. Na verdade, há que ser justos e reconhecer que temos tido a boa sorte de, a um governo mau, suceder invariavelmente um governo péssimo. À tribo política que ascendeu ao poder esfaimada, há-de suceder-lhe outra que já não comia há quatro anos. De tal modo os negócios do país correm prósperos que as outras nações não se podem explicar como conseguimos chegar às meias-fi nais do Europeu de futebol

e só não alcançamos a fi nal porque um poste da baliza adversária estava em escandaloso fora de jogo. Apenas a título exemplifi cativo vou referir dois tipos de pórticos que me parecem refl ectirem aspectos interessantes, embora muito pouco signifi cativos, da actual situação que os portugueses vivem. Um é o pórtico - ou portão - dos cemitérios onde por vezes aparece, no ferro forjado do arco superior, a palavra latina fi nis como aviso de que, passando aquele limite, se havia chegado ao fi m. E até encontrei outro pórtico com uma frase completa, colhida por certo na Divina Comédia do fl orentino Dante Alighieri, que prevenia os que cruzavam o fatídico umbral que ali deveriam deixar para trás toda a esperança. O outro caso de pórtico exemplar encontrei-o há umas dezenas de anos quando visitei o campo de concentração de Buchenwald na fi nada República Democrática Alemã donde é natural uma simpática senhora, estadista de fortes convicções europeístas, que atende pelo angélico nome de Merkel. Pois havia também na entrada do famoso centro de acolhimento um apelativo pórtico que, bem ao alto e em ferro forjado, dizia com teutónica sabedoria Arbeit macht Frei, que signifi ca aproximadamente que o trabalho nos torna livres, máxima seguida à risca já que libertou da servidão humana quase todos que aí se recolheram. Conjecturo que foi com base neste princípio salutar que se eliminaram feriados civis e religiosos, se aumentou a duração da jornada de trabalho sem remuneração, as ociosas férias fi caram mais curtas e os salários se reduziram para que as pessoas, trabalhando mais, fi cassem mais livres e naturalmente eufóricas com o facto. A verdade é que os portugueses, possuidores de muitas qualidades admiráveis, não têm reconhecido o esforço de quem governa e têm-se recusado a libertar-se trabalhando algo mais. Um estudo sociológico muito recente demonstra que é esta a razão do aumento galopante do desemprego. É claro que, recusando-se as pessoas a trabalhar mais, além de fi carem com níveis de liberdade muito reduzidos, têm de gastar menos o que provoca a queda a pique das receitas fi scais e o empobrecimento das classes dirigentes com consequências macroeconómicas desastrosas. A única vantagem que se descortina na dieta alimentar forçada a que preferem submeter-se é que, com o verão à porta, a população fi cará elegantemente mais magra e bronzeada, com o que por certo vai melhorar o aspecto geral do país.

Manuel Lima Bastos*

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Os artigos publicados são da responsabilidade científi ca e ética dos seus autores.

Pórtico Manuel de Lima Bastos 5

Mensagem para o nosso futuro LAF - Liga dos amigos da Feira 7

Santa Maria da Feira Rua Dr. Roberto Alves Germano Santos 8

Homilia de Dom Carlos Moreira Azevedo 9

Desenho com Mensagem João Rodrigues 10

O Castro de Romariz

e a Proto-história entre Douro e Vouga Armando Coelho Ferreira da Silva - Filipe M. Soares Pinto 11

Festa de S. Sebastião

Santa Maria da Feira, 20 Janeiro 2012 Dom João Lavrador 63

Poesia António Madureira 68

Alunos da Academia Politécnica do Porto Oriundos do Concelho

de Santa Maria da Feira (1877-1911) Francisco Ribeiro da Silva 69

Poesia Francisco Pinho 84

O percurso de 115 anos de História do jornal Correio da Feira Luis Filipe Higino 85

Poesia Ilda Maria 92

Manuel Laranjeira: Textos Sociais e Políticos Francisco de Azevedo Brandão 93

Poesia Anthero Monteiro 100

“Contributo para uma melhor compreensão

da doença do Dr. Manuel Laranjeira” Flávio Beleza Laranjeira 101

Poesia H. Veiga de Macedo 108

Fernando Pessoa e a Ortografi a da Língua Portuguesa

e o Acordo Ortográfi co de 1990 Maria do Carmo Vieira 109

Poesia António Madureira 112

Texto do II Livro de Visitações de Pigeiros (1850-1873) Domingos Azevedo Moreira 113

Poesia Ilda Maria 126

Dicionário Biográfi co de Personalidades Feirenses Francisco de Azevedo Brandão 127

Poesia Maria Gracinda Coelho de Sousa 144

Na apresentação do livro

“ No esplendor da Sombra de Mestre Aquilino” em Fiães José Mário de Almeida Cardoso 145

Dr. Manuel de Lima Bastos 147

Camões entre o antes e o depois Maria da Conceição Vilhena 151

Um Pouco da História do Vinho Jorge Augusto Pais de Amaral 161

Poesia Anthero Monteiro 164

O Canto do Muezin Augusto Santos 165

In memoriam Dr. J M Pinto da Silva Mota 167

Poesia JM Matos Vila 168

Postais do Concelho da Feira Ceomar Tranquilo 169

SUMÁRIO

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7 Para isso queremos ouvir a opinião dos nossos assinantes, apoiantes e leitores:

- Aumentar o número de assinantes? Será possível se cada assinante inscrever um novo.

- Aumentar o número de apoiantes? Será possível se nos indicarem sugestões viáveis.

- Reduzir o número de páginas?

- Reduzir o número de edições?

Um problema que queremos partilhar para conseguirmos a melhor solução.

Esperamos o favor das vossas sugestões, certos de que os Amigos, felizes da nossa Presença, nos ajudem para que o Amanhã continue.

Mensagem para o nosso futuro

Ontem a palavra de ordem pertencia aos nutricionistas que recomendavam dietas, exercícios físicos, e até pílulas como forma adelgaçante.

Hoje o emagrecimento aparece de forma natural, sendo o mais importante sobreviver.

E amanhã?

Aqui chegados deparamos com um problema: como continuar se no nosso horizonte não queremos ver sinal de paragem?

O importante é chegar… o mais longe possível!

Começamos com edição quadrimestral e 72 páginas amassadas pela dedicação e sacrifício de alguns que partiram já mas não nos deixaram sós.

Insistimos em SER, com a certeza de que “a memória é a marca maior dos povos” e “uma terra é aquilo que for a sua gente”.¹

¹ Doutor Eugénio dos Santos no Colóquio sobre “ Aquilino: Pátria e Liberdade”, realizado em Sernancelhe no dia 25 de Abril de 2012

Liga dos Amigos da Feira

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SANTA MARIA DA FEIRA Rua Dr. Roberto Alves

Óleo sobre tela de Germano Santos

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9HOMILIA**

de Dom Carlos Moreira Azevedo*nas Exéquias de sua MãeDona Maria do Carmo Valente de Pinho

Milheirós de Poiares, 08-02-2012

Tomai o meu jugo sobre vós e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave, e a minha carga é leve. (Mt.11)

1. Leve, a carga? Suave, o jugo? Eis a pergunta feita por tantos homens e mulheres nestes dias difíceis de tão negro horizonte na Europa e no mundo. É a questão posta por nós, hoje, aqui. Manter-se em família, com onze criaturas dadas á luz, na serenidade de uma casa simples; manter-se em família na resistência de um trabalho quotidianamente duro e na dedicação fi el a um marido de vincada personalidade; manter-se em família com dores nos ossos e na alma, sem pesadas lamúrias, não parece confi rmar uma carga leve. Mas foi suave o jugo? Foi. A fortaleza interior, sustentada na oração, tornou manso

e humilde o seu coração. A ternura do seu olhar puro sobre a vida fez do peso carga leve. A força de Deus fez transparecer, nesta bela criatura, uma maternal suavidade de afectos sem amarras. Jesus, o exemplo da mansidão e humildade de coração, tem a ousadia de nos dizer para aprender dele, para encontrar nele o alívio para os cansaços e opressões, sem amarguras nem depressões.

2. Quem, como Ele, dá a vida vai morrendo. E morrer é apenas a verdade dura do dom. Aquele morrer lento, sem tragédias nem heroísmo, mas no natural apagamento, embora tenso de emoções, de quem se despede em cada leve sorriso oferecido. Dizem os mestres que a evangelização, nova e de sempre, deve recorrer a um estilo simbólico, poético, narrativo. Então assim seja: no dia do aniversário da mãe, há quinze dias, falámos de manhã por telefone. Mas a distância e um certo pressentimento levou-me a ligar de novo à noite. Foi a última vez que a ouvi, mas a mãe já não me conseguiu ouvir. Tal era a algazarra dos netos e bisnetos à sua volta. São assim as vozes da vida, em difícil comunicação de palavras, mas belas, na festa e na alegria dos que prosseguem a corrente azul da humilde e mansa luta pela vida. A mãe já não ouve a nossa voz, agora rodeada da festa dos coros celestes. A profecia de Daniel hoje proclamada diz que na luta pelo bem, os mestres como Jesus, os sábios simples e humildes, os que tiverem ensinado a muitos o caminho da justiça brilharão como estrelas por toda a eternidade. Escolhemos esta frase para a pagela que mantém na memória este dia. De facto, fechou-se o azul meigo de um olhar que nos lia a alma. Brilhará o refl exo da luz de Deus em momentos lindos, mesmo na dor, que a mãe nos permitiu viver. Esse azul manso e humilde de Deus está tão afastado da nossa cultura e estilo de vida! Por isso se acinzentam os dias e se cria uma visão negra e pesada do futuro. Aprendamos de Deus, revelado plenamente em Jesus, a mansidão e a humildade que se não nos tornam azuis os olhos, nos abrem o brilho de viver na serenidade dos justos. A Senhora do Carmo, de seu nome e de sua devoção, a acompanhou na purifi cação para a plena alegria do Reino.

Eu te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra!

* Bispo Titular de Belali. Delegado ao Conselho Pontifício para a Cultura. Membro da Academia de História.** A Homilia de Dom Carlos Moreira Azevedo foi publicada no número anterior com gralhas, do que pedimos desculpa a Dom Carlos Moreira Azevedo e aos estimados leitores. O Director.

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11esclarecidas, com acções signifi cativas no espaço entre Douro e Vouga com relação à entidade étnica dos Turduli Veteres, prenunciando os limites da Terra de Santa Maria.

O quadro geográfi co

Situada na faixa atlântica do Noroeste Peninsular, a área compreendida entre os rios Douro e Vouga é um seguimento da paisagem de além Douro, onde “as planícies, depressões e vales alinhados estão cobertos por inúmeros casais, lugarejos e aldeias” e a habitação “exprime perfeitamente uma área de pequena exploração agrária acompanhada de pastoreio ou criação de gado de lavoura”1, apesar destes mesmos autores verem, igualmente, características próprias na região, que auferem aspectos de transição entre o Norte e o Centro do País2. O povoamento disperso característico desta região origina o retalhar do espaço, ao mesmo tempo que cria estreitos laços com a terra cultivada, impregnada de água das chuvas e humidade dos nevoeiros, dando azo à policultura num sistema de regadio3.

1 Ribeiro e Lautensach 1989, 838 e 859.2 Ribeiro 1986, 145 e ss; Ribeiro e Lautensach 1987, 166.3 Ribeiro 1991, 318 e 320.

Armando Coelho Ferreira da Silva∗ Filipe M. Soares Pinto∗∗

Nota Introdutória

Com a ocupação antecedente testemunhada de tempos antigos, vai ser durante o I milénio a. C. que se irá observar a organização do território, num quadro evolutivo de longa duração, desde pequenas aldeias, no fi nal da Idade do Bronze, para centros urbanos de grande dimensão durante o domínio romano. A litoralidade do território, percorrida por interesses de procedência mediterrânica vai marcar a própria composição e construção deste vasto território, modelando-o, com contributos marcadamente meridionais sobre o fundo indígena, acentuando a sua progressiva aculturação. Com base em sítios estratégicos qualifi cados, houve oportunidade de analisar este processo a partir de escavações no Castro de Romariz que, pondo em relação a importância dos registos arqueológicos fornecidos com outros dados conhecidos da região, assumindo grande relevo a problemática relacionada com migrações internas peninsulares anteriormente menos

O Castro de Romariz e a Proto-história entre Douro e Vouga

* Professor Catedrático. Presidente do Departamento de Ciências e Técnicas do Património da Faculdade de Letras da Universidade do Porto; Director do Curso de Doutoramento em Museologia. Investigador do CITCEM – Centro de Investigação Transdisicplinar Cultura, Espaço e Memória.** Arqueólogo. Centro de Arqueologia de Arouca. Investigador do CITCEM/Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória. fi [email protected]

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Sob ponto de vista geológico, na generalidade, esta área assenta em duas realidades distintas: uma, mais litoral, revela a presença de formações plio-plistocénicas, de entre as quais ressaltam as coberturas dunares de fi nais do Holoceno, mormente a sul de Espinho e que se estendem bem para lá da actual foz do Vouga, chegando até latitudes próximas do cabo Mondego, podendo resultar de um progressivo assoreamento de zonas estuarinas que colocariam a linha de costa, no I milénio a. C., mais para Este8. A estas, sucedem “terrenos xistentos ou granito-gnáissicos, quase sempre muito alterados”9, muitas vezes exercido por metamorfi smo regional e acções de granitização10. O complexo xisto-grauváquico ante-ordovícico ocupa grande superfície do território analisado, onde é normal estarmos perante “terrenos formados por rochas variadas, em que se encontram granito-migmatitos, gnaisses, micaxistos, xistos luzentes”11, fazendo parte, embora na periferia, do Terreno Autóctone Ibérico12. Assim, conclui-se que os mais antigos solos existentes remontam ao complexo xisto-grauváquico ante-ordovícico, denunciando a presença de um mar ancestral, onde, ao longo dos tempos, foram sendo depositadas partículas que terão sofrido, posteriormente, acções de metamorfi smo regional e movimentos tectónicos; em alternância com estes níveis encontramos conglomerados, os quais expressam a presença de quartzo. Deste período temos, igualmente, a formação do «granito do Porto»13, para além de uma linha costeira que foi sofrendo alterações ao longo dos tempos. Quanto à hidronímia, esta área encontra-se enquadrada por dois dos mais importantes rios do Noroeste português, o Douro e o Vouga. No entanto, este terreno interfl uvial evidencia um abundante conjunto de linhas de água, que tomam a direcção, de um modo geral, da costa, mas correndo de forma perpendicular a esta. Este fenómeno está ligado a uma “rede de fracturação” na área de maior relevo14. A mesma autora identifi ca-a como a “falha Porto-Tomar”15, que parece-nos compreender o que Denise Ferreira identifi ca

8 Granja 2002; Pereira 2011, 24 e 38.9 Teixeira e Assunção 1963, 8.10 Teixeira et alii 1962, 12.11 Teixeira e Assunção 1963, 13.12 Chaminé 2000, 21.13 Teixeira et alii 1962, 23.14 Araújo 1991, 36.15 Idem Ibidem, 85.

Vários caminhos e estradas percorrem estas localidades, que a par das habitações e demais construções, misturam-se com a ainda signifi cativa mancha fl orestal e agrícola, evidenciando um passado não muito distante ligado ao amanho da terra e criação de gado. Todo este espaço apresenta, de facto, elementos que remetem para essas duas realidades, conferindo-lhe distinção e, ao mesmo tempo, torna-o homogéneo, começando por uma orografi a que se desenvolve desde zonas em que se registam “aluviões actuais e areias de duna”4, áreas de baixa altitude, que podem chegar a cotas de 130 metros, até locais onde se registam altitudes na ordem dos 300 metros de altitude, formando uma linha de cumeada coincidente com a falha de cisalhamento Porto-Tomar, pertencendo já a um maciço orográfi co, designado por “relevo marginal” e que se estende no sentido Nor-Noroeste/Sul-Sudeste, iniciando o seu desenvolvimento a partir dos 120-140 metros “através de diversos patamares”5. O contacto entre estas duas realidades geomorfológicas “é, em geral, rectilíneo e abrupto, o que denuncia uma origem tectónica, tendo o rebordo sido depois retocado pela erosão marinha e continental”6. Esta gradação altimétrica torna-se mais acentuada para zonas mais interiores, chegando a ultrapassar os 1100 metros no Maciço da Gralheira. Todas estas linhas de cumeada sucessivas em zonas mais montanhosas desenvolvem-se, tal como a falha de cisalhamento Porto-Tomar, no sentido Noroeste-Sudeste, acabando por bordejar a margem direita do Vouga em grande parte do seu percurso. Deste modo, será possível distinguir ou dividir esta faixa de terreno em duas partes: a primeira, corresponde a uma faixa de baixas e médias altitudes, defi nida até à primeira linha de cumeada, registada em torno dos 300 metros de altitude e a segunda é defi nida por um conjunto de relevos que se encontram na franja ocidental do designado «Maciço Antigo».É exactamente nesta área periférica e interfl uvial que se localiza o castro de Romariz, ponto central deste trabalho, um dos vários povoados fortifi cados que, em época pré-romana marcavam o território dos Turduli Veteres, grosso modo plasmando, séculos mais tarde, o que viria a denominar-se Terra de Santa Maria7.

4 Teixeira e Assunção 1963, 6.5 Araújo 1991, 21 e 31.6 Ferreira 2005, 91.7 Mattoso et alii 1989, 118.

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desenvolve a Sul do Douro até ao Vouga, aparecem tradicionalmente centrados, relativamente ao litoral Norte da Beira, do distrito de Aveiro, com elementos de fraca densidade, em função da problemática da localização de Talabriga19 e Lancobriga20, sendo de assinalar as publicações de Alberto Souto21 e Arlindo de Sousa22 e sobretudo os estudos de profunda incidência geográfi ca de Amorim Girão para o Vale do Vouga23. Nesta área geográfi ca, que conta agora com uma inventariação geral24, à qual foi efectuada uma posterior actualização, sempre “com base em dados arqueológicos explícitos ou reconhecidos a partir de indicações toponímicas e características topográfi cas que consideramos seguras (…) se computarmos também diversos elementos toponímicos algo imprecisos ou outros sítios ainda não confi rmados, estes valores alteram-se substancialmente25. A implantação destes povoados não difere, na sua generalidade, do que é possível observar para o Norte de Portugal, mas no espaço entre o Douro e o Vouga a sua distribuição altimétrica encontra-se muito mais concentrada em cotas inferiores a 400 metros (cerca de duas dezenas e meia de castros dos trinta e sete que compõem essa inventariação) e quase sempre ligados ou nas proximidades imediatas de uma ou mais linhas de água. Ainda relativamente a esta caracterização sumária do «universo castrejo» da região, a área abrangida por estes povoados cifra-se, em mais de metade dos casos, abaixo dos 2 ha, distribuindo-se os restantes por áreas que variam entre os 2 e os 5 ha. Somente, dois casos, O Monte Murado (V. N. Gaia) e o Castro de Sardoura (Castelo de Paiva), atingem os 6 ha26. Podem distinguir-se como intervenções programadas as escavações dos castros de Fiães e Romariz no município de Santa Maria da Feira27, S. João de Valinhas28, em Arouca, e no castro de Ovil29, no concelho de Espinho.

19 Pereira 1907; Souto 1930 e 1942; Madahil 1941; Lopes 1995; Mantas 1996, 630-640; Guerra 1998, 619-621.20 Corrêa 1925; Sousa 1942; Sá 1939a, 1939b e 1940; Teixeira 1938a; Mantas 1996, 640-645; Guerra A. 1998, 484-486.21 Souto 1930 e 1942.22 Sousa 1942.23 Girão 1922.24 Silva, A. M. P. 1994, 31.25 Idem 1999, 405.26 Silva, A. M. P. 1994, 33-34: 1999, 406.27 Almeida e Santos 1971 e 1972; Santos 1940 (reed. 1984); Centeno e Silva 1982, 63-69; Silva, A.C.F. 1986.28 Silva, A. M. P. 2004, 206-233.29 Salvador e Silva 2010, 53-73.

como “la plate-forme continentale nord-portugaise, du Minho et de la Beira Litoral (…) n’est pás très large (45 km em moyenne) et elle est limitée à l’ouest par une rupture de pente nette vers – 160m”16. Geralmente inseridos nas bacias duriense ou vaucense, todo este território detém um conjunto de rios de assinalável importância, sempre subsidiados por ribeiras e regatos com expressão local, como são os casos do Arda, Paiva e Uíma, que desaguam no Douro, e o Antuã, Caima, Teixeira e Ul que desembocam no Vouga.

O Povoamento Proto-histórico e o Castro de Romariz

As particularidades que o Noroeste peninsular foi registando cumulativamente desde os tempos pré-históricos vão evidenciar-se com a emergência, a partir do fi nal da Idade do Bronze, de uma cultura original fundamentalmente caracterizada pelo seu tipo peculiar de habitat em povoados fortifi cados em posições elevadas vulgarmente conhecidos pelo nome geral de castros, donde deriva a sua designação tradicional de cultura castreja, que, constituindo já um intenso foco de densidade humana, ocupa um lugar bem individualizado na Proto-história peninsular e é sem dúvida uma das manifestações mais signifi cativas da personalidade desta vasta região. As características geográfi cas do Noroeste peninsular, num ambiente onde o relevo desempenha papel predominante, tornaram-se condição propícia ao assentamento de núcleos populacionais em posições elevadas, cuja implantação terá obedecido prioritariamente a critérios estratégicos de defesa, a denotar um período de profunda mudança económica e social claramente manifestada na construção de inúmeros povoados fortifi cados no intervalo de alguns séculos, podendo contabilizar-se, de momento, segundo os dados cartográfi cos dos levantamentos que temos em curso, um número que ultrapassa bem o milhar para o Noroeste do território português, revelando quantidades que se distanciam do exagero de alguns cálculos genéricos repetidos desde o princípio do século XX17 e que vêm sendo, para algumas áreas, criteriosamente corrigidos18 (Fig. 01). Os levantamentos da área meridional castreja, que se

16 Ferreira 1981, 31.17 Cfr., vg., o número de 5800 de Castillo 1908.18 Para a região entre Douro e Vouga, cfr., vg., Silva, A.M.P. 1994 (Entre Douro e Vouga), Silva, A.M.P. 1997 e Queiroga 2001 (Vale de Cambra), Pinho et alii 1998 (Cinfães), Silva, A.M.P. 2004 (Arouca).

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muralhas, reforçada por um fosso que se estende de Oeste para Sudoeste, com cerca de 500 metros de comprimento e 10 metros de largura, permitindo, deste modo, proteger o povoado pelo seu acesso mais fácil. Essa mesma plataforma superior “é constituída por uma série de casas, em granito, com os diferentes espaços organizados em torno de um pátio, delimitadas por arruamentos irregulares, geralmente mal defi nidos, e/ou paredes-meias”33. Na sua monografi a sobre a freguesia, o padre Manuel Fernandes Santos refere que por volta de 1915, durante a escavação dos alicerces para uma habitação, foi descoberto “um forno, de bôca larga, tendo em frente um eirado”. Este achado foi precedido, alguns anos antes, de um outro, correspondendo a “uma pedra grande com uma pia e feitios e de um palmo de grossura” que, segundo adianta, teria semelhanças com a Pedra Formosa da Citânia de Briteiros34. Na linha destas indicações, não será descabido considerar, tal como já outros o fi zeram35, que o povoado teria um balneário tipo sauna, possuindo, assim, um dos monumentos singulares da cultura castreja na sua área meridional.

Entendemos, como resultado da análise a que vimos procedendo desde o início deste estudo, com base em elementos signifi cativos do registo arqueológico, controlado por perfi s estratigráfi cos e datações absolutas, também explicitado no estudo do espólio e outras formas da actividade económica e social, que fi ca mais consolidada a nossa proposta sobre a evolução do habitat castrejo segundo um esquema de periodização relacionável como o seu desenvolvimento interno e o discurso histórico peninsular em que se defi nem três fases, cada qual com uma divisão interna, que cobrem globalmente o I milénio a. C. e grande parte do século I d. C. respectivamente: - uma primeira fase, correspondente à 1ª metade do I milénio a. C., como sendo da sua formação, com emergência de povoados fortifi cados no contexto do Bronze Final Atlântico, com relações continentais e mediterrânicas. A sua primeira parte (IA) situar-se-á desde 1100 a 700 a. C. e o seu desenvolvimento (IB) durante os séculos VII e VI a. C., revelando crescentes contactos interiores e meridionais;

33 Centeno 2011, 3.34 Santos 1940, 368.35 Silva 1999, 410.

O castro de Romariz, localiza-se na freguesia com o mesmo nome, no concelho de Santa Maria da Feira. Implanta-se no topo de uma elevação – Monte Crasto – a noroeste da povoação, a cotas que variam entre os 360 e os 375 metros de altitude (Fig. 02), uma das mais signifi cativas da região, proporcionando um amplo domínio visual, principalmente, nas vertentes Norte e Este, atingindo essa visibilidade, nos dias de céu mais limpo, a Serra da Freita e o Maciço da Gralheira. A sua plataforma central, com pouco menos de 2 ha de área, encontra-se, na sua grande parte, ocupada por diversas estruturas postas a descoberto desde a descoberta deste povoado, em 184330, fortuitamente, durante actividades agrícolas, em que um lavrador colocou a descoberto “uma espécie de ânfora de prata (…) contendo uma argola de ouro (…), uma espécie de crescente de prata (…) e 102 moedas de prata de vários imperadores romanos”31. Dada a curiosidade do achado, o local terá sido alvo de muitas visitas dos populares e outros tantos encetaram buscas à procura de mais moedas romanas e outros achados valiosos, sendo essas «pesquisas» patrocinadas pelo edil local, José Correia, sem que nada surgisse para além de um conjunto de “16 casas circulares, um forno, uma mámoa, uma coluna com seu capitel, uma mó redonda” e bastante espólio. As «escavações» terminaram em 1846, sendo retomadas pela mão do padre Manuel Fernandes dos Santos, na década de 40 do século passado, após visita ao local de Alberto Souto32. Desde 1980, numa perspectiva de investigação arqueológica, temos os trabalhos realizados pelos professores de Arqueologia Proto-Histórica e Clássica da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Armando Coelho e Rui Centeno, munidos de uma metodologia de estudo com uma ampla base científi ca que tem trazido à estampa alguns artigos, ainda que parcelares, mas traçando as linhas gerais de referência para compreensão da ocupação deste povoado. Do espaço edifi cado, que essencialmente ocupa a plataforma superior do povoado (Fig. 02), encontra-se delimitado por uma espessa muralha, que em alguns pontos chega a atingir os 5 metros de espessura, construída para proteger o fl anco Oeste, mais susceptível de fragilidade defensiva. O castro era ainda circundado por uma segunda linha de

30 M. J. B. 1843, 135.31 Santos 1940, 19. Cita um manuscrito de Pinho Leal, de 1858, incluído no Arquivo Paroquial, mas assinado por José Ferreira dos Reis, abade de Fermedo.32 Idem Ibidem, 367-369.

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identifi cação do Castelo de Gaia com Caeno oppidum é francamente possível, estando, para mais na origem do topónimo Gaia, tendo em conta a pronúncia arcaizante do ditongo –æ por parte dos Turduli Veteres. A proximidade etimológica deste vocábulo com Can-/Con- com eventual interpretação de natureza totémica, relacionada com a signifi cação de canis lupus (Cão/Lobo) sugere tratar-se de referência identitária coberta sobre o étnico maior dos Turduli Veteres, extensivo a toda a região. A frequência de topónimos como Canidelo, Canedo, Coimbrões, ajustam-se à sugestão do referido radical com o limite setentrional da colonização da costa atlântica por parte de entidades étnicas meridionais, designados como Cónios, desde as fontes clássicas mais antigas, como a Ora Marítima de Avieno. Não será de subestimar, nesta apreciação, a presença de versões toponímicas deste vocábulo, sobretudo na área setentrional do território, como a de Gulpilhares <Bolpelhares <Vulpes e, mais declaradamente, Lobão e Corga do Lobão, nas imediações do Castro de Romariz. O contexto desta colonização (Fig. 03) poderá ainda ser avançado com referências a outros topónimos de origem meridional, designadamente os que se podem verifi car em Iliabum (Ílhavo), construído a partir de um radical pré-latino típico il- e com pervivências na região visível, por exemplo, em Hasta Regia (Estarreja), reportável a uma origo do estuário do Guadalquivir39, não sendo descabido, neste quadro, incluir uma procedência meridional ao topónimo Lancobriga, com referência congénere a Laccobriga (Lagos), no Algarve. Nestas circunstâncias, a densidade desta onomástica em correspondência com os primeiros vestígios arqueológicos do castro de Romariz poderá sugerir o relacionamento da migração de Túrdulos e Célticos, citada por Estrabão, com este horizonte orientalizante que poderá estar velado na designação de Veteres, atribuída a esses Túrdulos. Estas observações convergem para os dados mais recentes sobre a proto-história meridional para referente às vicissitudes tartéssicas que, através de uma colonização de longo-curso ao longo da costa atlântica, onde a toponímia parece documentar essa acção, com os exemplos terminados em –ipo: Callipo/Cantnipo (no estuário do Sado, possivelmente relacionada com Alcácer do Sal), Olisipo (Lisboa) e Collipo (S. Sebastião de Freixo, Leiria) aos quais será possível adicionar o caso de Conímbriga,

39 Almagro-Gorbea e Torres Ortiz 2009, 117.

- uma segunda fase, de afi rmação do habitat castrejo em fácies regionais e sua hierarquização segundo critérios de predominância económica que denota, na primeira parte (IIA), com cronologia entre cerca de 500 e 200 a.C., estímulos continentais de teor post-hallstáttico ou dos Campos de Urnas da Idade do Ferro, migrações internas peninsulares, como a dos Turduli Veteres, e intercâmbios por via do comércio púnico; o seu desenvolvimento posterior (IIB), já sob os auspícios das primeiras importações itálicas, anuncia próximos contactos directos entre romanos e indígenas; - e uma terceira fase, de proto-urbanização e reordenamento territorial no quadro da romanização, com relevância para critérios político-militares, que presumimos ter-se iniciado (IIIA) na sequência da campanha de Decimus Iunius Brutus (138-136 a.C.) e se terá prolongado até à 2ª metade do século I d.C., com referência às reformas fl avianas na região, cuja nitidez se altera a meio da fase (IIIB), após a conquista e pacifi cação do Noroeste, com a assimilação progressiva de modelos impostos e propostos pelo domínio de Roma.

Relacionadas com as duas primeiras fases, especialmente até ao fi nal da fase IIA, entendemos existir uma base de trabalho que ao longo destes últimos anos tem vindo a ser desenvolvida e que procura demonstrar alterações substanciais no substrato indígena desta região relacionadas com infl uxos meridionais e que, possivelmente, sobreviveram, chegando até aos nossos dias com maior ou menor grau de alteridade, nomeadamente ao nível da Onomástica. A designação Caeno oppidum atribuível ao Castelo de Gaia, ocorre uma única vez nas fontes clássicas, na Cosmografi a do Anónimo de Ravena, situada entre Langobrica e Calo (Rav. 307, 4) 36. Seguindo, de resto uma proposta já antiga de Hübner37. Considerando a onomástica pré-romana da Lusitânia, em que se verifi ca uma presença do antropónimo Caeno, entre as versões linguísticas possíveis para a forma latinizada do termo grego, entendemos optar por esta leitura. A ocupação pré-romana deste povoado fortifi cado, frente a Cale, é confi rmada por documentação arqueológica. Julgamos, assim, com Vasco Mantas38 que, de acordo com os testemunhos conhecidos, a

36 Mantas 1996, 646.37 Hübner 1871, 67-68.38 Mantas 1996, 650.

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a batalha de Alalia ocorrida em 535 a. C.45, o Noroeste peninsular terá servido de palco aos episódios da expedição de Túrdulos e Célticos referida por Estrabão46 com contornos mitológicos e objecto de interessante estudo por parte de A. García y Bellido47, hoje melhor esclarecida48 com os resultados das escavações arqueológicas realizadas na área dos Turduli Veteres, nomeadamente no Castro de Romariz (Santa Maria da Feira)49, e a partir da confi rmação epigráfi ca da sua presença na margem esquerda do Douro, de acordo com P. Mela50 e sobretudo C. Plinius51. Segundo Estrabão52, viviam junto do cabo Nérion (Finisterra) uns célticos (Kéltikoi), aparentados aos das margens do Anas (Guadiana) que para aí se teriam dirigido na sequência de uma expedição conjunta com túrdulos. “E dizem – acrescenta Estrabão – que, passado o rio Lima, os túrdulos desertaram”, separando-se dos seus companheiros, após luta travada entre si. Tendo perecido o seu chefe, os túrdulos fi caram sem guia para regressar, dispersando-se pela região. Pelos dados obtidos, sabemos agora com segurança que se estabeleceram na franja meridional da cultura castreja, a Sul do Douro, conferindo a esta área as diferenças verifi cadas em relação às zonas setentrionais, imprimindo-lhe a densidade de materiais de tradição púnica uma fácies paralela à de maior infl uência céltica para a área da Corunha, na Galiza. Duas referências cronológicas, obtidas por C14, em amostras procedentes de estratos inferiores de estações dessas zonas, respectivamente de 600 ± 100 a. C. no Castro de Romariz, Santa Maria da Feira, e 520 ± 100 no Castro de Borneiro, Corunha, também poderão sugerir a cronologia desta ocorrência em torno dos meados do I milénio a. C., com o apoio de outras datações absolutas para a região53, eventualmente no quadro do horizonte orientalizante oportunamente sugerido, bem confi rmado, pelas suas extensões, mesmo no âmbito do Noroeste Peninsular.

45 Cfr., vg., Gras 1972; Maluquer de Motes 1985.46 Estrabão, III, 3, 5. (vide Strabo).47 García y Bellido 1951.48 Silva A.C.F. 1983 e 1986; Guerra A. 1998, p. 852-858.49 Escavações realizadas desde 1980 em colaboração com Rui M. S. Centeno.50 P. Mela, III, 8. (vide Pomponii Melae).51 C. Plinius, IV, 112-113. (vide Pliny The Elder).52 Estrabão, III, 3, 4. (vide Strabo).53 Carballo-Fábregas 1992; Rubinos et alii 1999.

relacionável com Conisturgis, registando-se, desta forma, um enclave cónio na zona litoral deste território. Para além destes assentamentos de carácter urbano, identifi ca-se um último sinal dessa acção, testemunhada através de vestígios arqueológicos que podem bem constituir um grupo de feitorias ou simples pontos de controle, em áreas mais setentrionais, como parecem ser os casos de Santa Olaia (Figueira da Foz), na desembocadura do Mondego e a presença dos Turduli Veteres junto à foz do Douro, na sua margem esquerda40. Relacionar-se-ão estes dados com um contributo migratório de Túrdulos e Célticos, que se associam a comunidades indígenas, nas quais se pode perceber um fundo linguístico indo-europeu e em alguns casos paradigmáticos com relação à língua vasca, como são os exemplos do rio Ul/Ur e Úmia/Uíma, de um substrato ainda mais antigo, pré-indo-europeu, segundo os estudos monográfi cos de Domingos Moreira, sobre a região41. Enquadrada neste contexto, surge a ara votiva de Duas Igrejas (Romariz) que é dedicada “a uma divindade indígena cada vez mais expressivamente documentada com o teónimo de Ilurbeda, cuja leitura preferimos considerando sobretudo as referências hidronímicas e toponímicas que o vocábulo, se enquadrado linguisticamente no Vasco, transmite com o signifi cado de “água” (ilur/-ur/ul), presente no principal curso de água da região”42. Ainda, segundo Domingos Moreira, a hidronímia portuguesa e, com especial atenção a que se encontra confi nada à área deste trabalho, já estudada “refl ecte as grandes correntes onomásticas da Antiguidade: a indoeuropeia (sic) nos seus diferentes estratos (…) cruzando-se com a pré-indoeuropeia (sic) de tipo mediterrâneo e ainda com a árabe”43. Acrescente-se a estes dados a materialidade dos vestígios que começaram a ser introduzidos, a partir do século V a. C., presentes num número signifi cativo de estações neste espaço geográfi co44, atestando a forte expressão deste contactos.

A Evolução do Habitat e a Organização do Espaço

Por meados do I milénio a.C., certamente como resultado das perturbações acontecidas no Sul da Península após

40 Almagro-Gorbea 2008, 97-103.41 Moreira 1967, 103-105; 1996, 93-94.42 Silva, A. C. F. 2010, 44.43 Moreira 2002, 11.44 Pereira 2011, 121-134.

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produção e/ou tradição púnica sobre 74% de cerâmica indígena no estrato inferior (07), com 4% de cerâmica importada (3,5% púnica e 0,5% grega, correspondente apenas a 1 fragmento) sobre 96% de cerâmica indígena no estrato (06) e, de novo, com mais cerâmica púnica representada por 29% sobre 71% no estrato (05) (Fig. 04) do corte estratigráfi co L-M. (Fig. 06).

A área de escavação ROM 80-82 (Figs. 05 e 07), a que se deu continuidade em posteriores campanhas de intervenção, além de um conjunto arquitectónico da fase III, a considerar oportunamente, forneceu-nos algumas estruturas e sobretudo sequências estratigráfi cas (Fig. 06) de grande amplitude cronológica que, em conjunto, acompanham, com materiais característicos, o decurso da fase II, de que o corte L-M se poderá considerar como mais representativo das áreas intervencionadas em profundidade, donde vamos sumariar as notas mais relevantes para a análise do desenvolvimento do povoado. Sendo as origens prováveis deste povoado do fi nal da Idade do Bronze, conforme se parece deduzir de vestígios de cerâmica com desengordurante arenoso57, de recolha superfi cial recente, e uma forma carenada, os níveis mais antigos de ocupação revelados mostram anterioridade aos meados do 1.° milénio a.C., com relações a um horizonte orientalizante que se associou durante os séculos VII/VI a. C., progressivamente crescentes após a queda do reino de Tartessos. Situada esta cronologia num período de expansão que vimos observando no quadro de uma reinterpretação das migrações internas peninsulares eventualmente relacionadas com rupturas históricas do domínio do Mediterrâneo Ocidental, para este ponto de referência convergem as indicações do numeroso espólio de cerâmica indígena micácea e de fabrico manual, associada a um elucidativo conjunto de cerâmica de importação com numerosos fragmentos de ânforas e outras formas de procedência e/ou tradição púnica, e também contas de vidro azul, com o que concordará a datação de 600 ± 100 anos a.C. obtida por análise C1458 de bolotas carbonizadas do estrato mais profundo da nossa escavação L-M (estrato 07), se atendermos aos limites desse resultado.

57 Centeno 2011, 35, 42 e ss.58 Análise realizada pelo Laboratório de Datación por Carbono-14, da Facul-dade de Ciências da Universidade de Granada, Espanha, que forneceu a data de 2550±100 b.p. equivalente a 600±100 a.C.

É provável que a revisão cronológica desta expedição se venha a tornar num marco importante a assinalar o começo de um novo período castrejo e a ilustrar os itinerários, os factores e as matrizes das transformações operadas, até agora entendidas como infl uências post-hallstátticas, de origem continental, sobre o fundo indígena, devendo o estudo da celtização da região ter na devida conta este novo dado. Sendo ainda prematuro estimar o alcance deste movimento, não se poderá, de qualquer modo, ignorar a amplitude do reordenamento territorial sequente às vicissitudes desta expedição que terá resultado em verdadeiras formas de colonização de âmbito regional de acordo com as apetências e as aptidões desses agentes e os recursos naturais que certamente tinham por objectivo explorar, como será lícito supor em relação à exploração metalúrgica, designadamente de ouro e estanho, por parte de um grupo que se terá implantado para interior, na Beira Alta (porventura epigrafi camente identifi cados, numa lousa de xisto procedente das minas da Queiriga, (Vila Nova de Paiva, Viseu), com os Hiberi, porventura dos Paesuri, e a exploração do sal, de reconhecida importância económica nas sociedades proto-históricas por parte dos Turduli Veteres, instalados na Beira Litoral54, expressas nas fontes clássicas e comprovadas arqueológica e epigrafi camente, pelos Turduli Veteres da franja meridional castreja, a Sul do Douro. Portadores de uma cultura superior, salientada nas fontes clássicas55, devem estes povos ter promovido, conforme apontou J. Alarcão56 o progresso das comunidades indígenas, permitindo-nos consolidar a probabilidade de relacionar o desenvolvimento das infl uências mediterrânicas que nos é dado perceber neste processo evolutivo castrejo, em especial na área litoral, com a associação deste movimento migratório ao comércio púnico, tornando-se, assim, num valioso indicador do peso da colonização cartaginesa relativamente à infl uência grega no Mediterrâneo ocidental e no mar exterior. Tal se parece deduzir dos dados regionais conhecidos, inclusivamente dos gráfi cos de frequência do espólio cerâmico do Castro de Romariz, com registos signifi cativos de 26% de cerâmica de

54 A revisão epigráfi ca do cipo de Romariz, Santa Maria da Feira, não abona as nos-sas referências anteriores à possível existência de uma entidade étnica apelidada de Haberi (Silva, A.C.F. e Gomes 1992, 46-47; Silva, A.C.F. 1995, 514), por se tratar de um aforismo, sem dúvida erudito, onde se lê: tu talis eris vis qualis haberi, “tu serás tal como queres ser tido”. Agradeço ao Doutor Delfi m Leão, da Faculda-de de Letras da Universidade de Coimbra, as observações sobre esta inscrição.55 Estrabão, III, 3, 16. (vide Strabo).56 Alarcão 1992 e 1996.

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da cerâmica indígena, sobre o qual se levantou uma espessa muralha de pedra (Fig. 05, IX), tendo em 04 o estrato da sua construção. Também a leitura do corte C-D (Fig. 06), em que um piso fi no de saibro esbranquiçado assente sobre a parte superior do estrato 05, igualmente com muita cerâmica castreja, alguma de tradição púnica e metade de uma conta azul na parte inferior, penetrando a Oeste sob o alicerce da edifi cação, parece fazer corresponder a construção de planta circular, também de pedra, com a construção da muralha, que aparecem, deste modo, como os primeiros edifícios da fase III, que se mostrará em sucessivas reformulações. Com a identifi cação destes níveis castrejos da fase II, com particularidades em cada uma das estações, que se tornam mais salientes quando confrontados os elementos comuns entre os rios Minho e Douro com os da área a Sul do Douro, onde ainda não foram encontradas estruturas de habitação pétreas, cumpre observar, por se tratar de um signifi cativo elemento caracterizador da arquitectura castreja, a adopção sistemática da planta circular documentada, com idênticas características construtivas de paredes pouco espessas com dois paramentos unidos por argamassa de saibro e sem utilização de pico de ferro e com estratos de ocupação de pisos fi nos, em vários outras estações da região60. Escasseando os dados defi nidores destas transformações, parece preferível entendê-las como a consolidação de modelos anteriores até então construídos em materiais perecíveis em convergência com elementos inovadores adquiridos por um processo de aculturação de matriz exógena. E se, no quadro das relações estabelecidas na segunda fase, se pode apontar uma dualidade de infl uências externas sobre o fundo indígena, umas de cariz post-hallstáttico documentado por materiais de origem continental e outros de procedência meridional com relação predominante ao comércio púnico, é na conformidade das representações e das soluções técnicas castrejas com as estruturas congéneres progressivamente reconhecidas nas áreas interiores do Vale do Douro e do Vale do Ebro que parece fundamentar-se o sentido de tal derivação, com certeza como resultado da expansão de grupos de Campos de Urnas tardios que nessa região adoptaram nos fi nais da 1.ª Idade do Ferro esse modelo por infl uência do grupo Soto61, neste contexto

60 Almeida e Santos 1972; Silva, A. M. P. 2004; Salvador e Silva 2010.61 Para uma visão do conjunto do grupo Soto e sua expansão para o Oci-dente, vide Esparza Arroyo 1983-84 (p. 139-141, especialmente).

Em termos de estruturas, porém, não se detectou neste estrato do fundo mais do que duas lareiras de saibro, uma avermelhada e com bastantes carvões e outra rodeada por pequenas pedras com coloração bege escurecida no centro, que comprovam um nível de ocupação e, não se relacionando com quaisquer outros dados referentes à urbanização ou arquitectura, sugerem a utilização de materiais perecíveis, que, segundo a leitura das sequências estratigráfi cas, seria eventualmente exclusiva desde esse período até à primeira reforma do povoado. Esta renovação manifesta-se no início da fase III por um ordenamento, que vamos evidenciar como característico, segundo núcleos individualizados de âmbito familiar agrupados em unidades de ordem superior com limites arqueologicamente defi nidos por elementos do sistema defensivo de enquadramento geral, e do sistema de circulação, sinalizando divisões internas, e em que se mostra preferência sistemática por estruturas de pedra, cuja utilização se tornará mais intensa ao longo dessa fase, como veremos posteriormente, neste trabalho. Deste modo, verifi camos, resumidamente, durante a fase IIA, dois níveis de ocupação sem vestígios de estruturas pétreas, um mais antigo, manifesto no estrato 07 do corte L-M, com início provável cerca de 500 a.C., acabado de referir, e outro posterior, correspondente ao estrato 05 do mesmo corte, também assinalado por duas lareiras de saibro alaranjado pela acção do fogo, que poderá datar-se do séc. III a.C., atendendo ao seu próprio espólio, que inclui cerâmica micácea de fabrico manual com decoração impressa de círculos concêntricos e outros motivos designadamente de escudetes, alguns com besantes, por vezes organizados em cacho, e também alinhamentos de SS, além de incisões tradicionais59 e cerâmica importada de produção e/ou tradição púnica, a que se acrescentam contas de vidro azul, e ao espólio do estrato inferior (06), com materiais de idêntico teor e onde se registou o aparecimento de um fragmento de cerâmica ática de verniz negro atribuível aos fi nais do séc. IV a.C. Nesta sequência, à segunda parte desta fase (IIB) corresponderá possivelmente o estrato 04A, onde ainda recolhemos alguns fragmentos de cerâmica importada mas em que parece notória a introdução do torno lento no fabrico

59 A análise da distribuição dos motivos decorativos por estratos dá-nos conta de uma pervivência que continua no estrato seguinte sobre-tudo em relação às incisões, de resto, raras, e aos motivos estampi-lhados que se tornam muito abundantes desde os fi nais do séc. IV a.C.

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uma evolução do mundo indígena integrado num quadro de relações com infl uxos de procedência continental e de contactos meridionais e mediterrânicos, no âmbito das migrações túrdulas e do comércio púnico e, posteriormente, das primeiras infl uências itálicas. Esta ordem de relações, cuja assimilação transparece nos dois grandes grupos de ourivesaria castreja desta fase, um interior, transmontano, mais céltico, e outro litoral, mais mediterrânico64, é-nos testemunhada por inúmeros outros materiais, em particular, os que resultam do intercâmbio cartaginês65. Assumidos como bens de prestígio, a integração destes produtos terá desempenhado papel de relevo no funcionamento da sociedade castreja do Noroeste: o vinho, para os actos de comensalidade; o azeite e as essências, porventura para os banhos e outros rituais ou para o uso quotidiano qualifi cado; jóias e contas, para ostentação das elites; outras peças, como as cerâmicas áticas e a própria moeda, como elementos de valorização social. A própria iconografi a dos guerreiros deste período denunciará esta diferença, que parece visível quando se confronta o guerreiro de Capeludos (Chaves) com o de S. João de Ver (Santa Maria da Feira). O de Capeludos, fruste, sem torques, e incompleto, mas certamente com saio, a crer na designação toponímica de Bragado nas imediações do seu achado, tem a cabeça coberta de forma cónica, a lembrar o sombrero do príncipe de Hochdorf e a representação de Hirschlanden, enquanto o de S. João de Ver66 (Fig. 08) entre os Túrdulos Velhos, com estola e armado, mostra atributos de carácter mediterrânico, que o sugerem como eventual representação do chefe túrdulo da expedição referenciada67. As fíbulas tipo Sabroso e Santa Luzia, bem presentes na orla litoral, e as ditas de tipo transmontano, sobretudo assinaladas na sua área epónima do interior, apoiam um horizonte referenciado desde há muito por Bosch-Gimpera68 como de natureza post-hallstáttica e mais recentemente como dos Campos de Urnas da Idade do Ferro69. Por sua vez, o horizonte mediterrânico é testemunhado por numerosas cerâmicas de procedência e/ou tradição púnica e algumas cerâmicas

64 Blanco Freijeiro 1957.65 Silva e Pinto 2001.66 Jorge e Jorge, 1983 e 1990.67 Silva, A.C.F. 2003, 44.68 Bosch-Gimpera 1920, 189; Höck 1980, 69.69 Ruíz Zapatero 1985.

se explicando o quadro das relações post-hallstátticas particularmente evidenciado em alguns produtos e manifestações exemplares, de que citamos, entre outros, as fíbulas tipo Sabroso e Santa Luzia, torques e braceletes de ouro e decoração típica estampada na cerâmica, armas, utensílios e adereços. Independentemente da intensidade destas infl uências, o que parece não oferecer, jamais, dúvidas é de que a utilização da pedra como matéria-prima das construções castrejas mais vulgarizada nesta segunda fase surge na continuidade de experiências regionais anteriores, que cada vez mais se vêm documentando quer para os sistemas defensivos quer para as estruturas residenciais. Do conjunto destas observações sobre o habitat castrejo, se conclui também, a partir dos dados da Cividade de Terroso, que a anexação de um átrio ou vestíbulo «em caranguejo», que se tornará um dos elementos mais típicos da arquitectura castreja agindo como primeiro elemento diversifi cador no interior de uma estruturação arquitectónica de grande simplicidade e homogeneidade em relação aos padrões contemporâneos peninsulares, se pode reportar a esta mesma fase, ainda que, segundo a leitura estratigráfi ca do corte estratigráfi co C-D (Fig. 06), se possa atribuir a um momento tardio do seu desenvolvimento correspondente já à sua última parte (fase IIB). Mais uma vez nos confrontamos, certamente, com um caso de assimilação indirecta de um protótipo mediterrânico por intermédio de agentes peninsulares onde esse elemento desde há muito é testemunhado na arquitectura doméstica tanto nas casas circulares de Soto de Medinilla62 como nas rectangulares do Vale do Ebro63. Fica-nos todavia ainda por saber se a sua adopção se compreende apenas como uma medida destinada a alargar o espaço com intuitos funcionais, para o exercício de determinadas actividades domésticas ou artesanais, tipo forno ou lugar de fundição, ou se se distingue, também, como uma estrutura particular na organização da casa castreja segundo o esquema da fase III. Através dos dados expostos, sugerimos para esta segunda fase um escalonamento em duas etapas, que perspectivam

62 Casas 2 e 3 do nível II-3 de Soto de Medinilla (Palol e Wattenberg 1974, fi gs. 61-66).63 Maluquer de Motes 1954-59.

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religiosa, como lugares centrais de territórios demarcados, cujos limites alguns ensaios de modelização pretendem esclarecer74. Ter-se-á tratado, na prática, de um processo de agrupamento em lugares altamente estratégicos de unidades castrejas menores, para cujo desaparecimento ou retracção aguardamos a resposta de trabalhos arqueológicos, ou então como resultado de migrações internas provocadas pelas movimentações da ocupação peninsular, de que destacamos as campanhas sertorianas (com referência nas fontes clássicas relativamente a Cale75 e com ocultação de tesouros seguramente atribuídos a essa data, como foi registado para Romariz76), as campanhas de César em que as fontes expressamente mencionam deslocações de populações para o Norte77 e, mais tarde, os momentos defi nitivos da conquista por Augusto signifi cativamente documentados, entre outros dados mesmo numismáticos, como as moedas com a representação de armas indígenas como a caetra e outras, por uma série de tesouros de denários78. A análise espacial de alguns destes núcleos, com características familiares bem defi nidas79 constituiu precisamente uma das linhas programáticas da nossa investigação no sentido de esclarecer a antropologia da casa castreja da fase III, que concretizámos, especialmente com os resultados das nossas escavações na Citânia de Sanfi ns, Cividade de Âncora e Castro de Romariz, bem representativas deste momento, no Noroeste de Portugal. As estruturas postas a descoberto nas escavações do Castro de Romariz, alvo de reconstituição (Figs. 05, 07 e 09), em utilização na fase III, constituem também, essencialmente, um núcleo de âmbito familiar com limites bem defi nidos pela muralha (IX) e por um muro contíguo a um arruamento (Vl) que o separa de outras unidades pertencentes a outro sector, com uma entrada principal e outra secundária. Este conjunto estava organizado em torno de um pátio lajeado e era composto por diversos compartimentos, de planta circular

74 Vg., Silva, A.C.F. 1986; Martins 1990; Alarcão 1992; Xusto Rodríguez 1992; Dinis 1993; Lemos 1993; Maciel 1997; Parcero Oubiña 2002; Carballo Arceo 2002; Berrocal et alii 2002.75 Sallustius, Historiarum Reliquiae. Cfr., Tranoy 1981, 130.76 Centeno 1976-77.77 Vasconcellos 1913 (RL, 3), 142-143.78 Paço-Jalhay 1955; Centeno 1977 e 1987; Torres 1978-79.79 Silva, A.C.F. 1981-82, 83-85; Almeida 1983a, 1983b e 1984.

gregas70 e pré-campanienses, que nos serviram de suporte para datar a fase IIA entre os séculos V - III a.C. em especial no Coto da Pena e no Castro de Romariz mas também no Morro da Sé do Porto71 e no Castelo de Gaia72, e que aparecem associadas a diversas formas de cerâmicas indígenas sempre de fabrico manual e com diversidade e riqueza decorativa denunciadora da vitalidade desta fase, que se vai simplifi cando na segunda parte deste período, na fase IIB. Neste passo, se percebeu o aparecimento do torno lento no fabrico da cerâmica indígena e se manifestou a chegada dos primeiros produtos de importação itálica, em especial cerâmica campaniense A, que recolhemos no Coto da Pena, em conformidade com as transformações operadas no Mediterrâneo Ocidental, como resultado das guerras púnicas, a favor do domínio romano, que não tardará a impor-se a toda a Península. A campanha de Decimus Iunius Brutus (138-136 a.C.), atestando os primeiros contactos directos entre romanos e populações indígenas, nesta região, pelo seu perfi l de expedição litoral - podendo ter, na sua caminhada até ao Minho, comprovação arqueológica verosímil na destruição da Cividade de Terroso, com espessa camada de cinza de incêndio por toda a parte, e no possível abandono do Coto da Pena – pelas proporções assumidas, segundo as fontes73, e pelos estímulos criados e novas motivações e modelos propostos, deverá considerar-se responsável pelo termo desta fase e o início de uma nova etapa que, pelas estruturas aparentes, se manifestou como de padronização do habitat castrejo como fruto das novas relações estabelecidas doravante no processus da romanização.

Por força dos contactos cada vez mais sistemáticos com os romanos, por motivo das etapas da conquista peninsular, esta região terá assistido a profundas alterações de organização espacial, que terá originado o surto de novas aglomerações proto-urbanas, com polarização do conjunto das actividades de ordem defensiva, político-administrativa, económica e

70 Além dos nossos achados do castro de Romariz (Vila da Feira) e Coto da Pena (Caminha), conhecemos o do Castelo de Faria (Barcelos), Jesufrei (V. N. Famalicão), S. Lourenço (Esposende), Santo Estêvão de Facha (Ponte de Lima), Palheiros (Murça) e, na Galiza, em Alobre, Cidade de Caneiro (Fozara, Ponteareas), Castromao (Celanova), Castro de Elviña (La Coruña) e Fuentes de Ropel.71 Escavações de 1984-85 (dir. Manuel Real).72 Dois fragmentos de pança de ânfora procedente das escavações de 1985.73 Cfr., vg., Tranoy 1981, 126-129.

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período, designadamente, ânfora, em geral, Haltern 70 e sigillata sudgálica, as unidades I e II, com lareiras demarcadas (I, 5; II, 6) foram utilizadas para cozinha e, atendendo ao espaço disponível, é natural que tivessem servido também para alojamento. As unidades VII, VIII e IX, pela sua tipologia, dimensões e qualidade de construção e pela ausência de espólio, são de manifesta infl uência romana sugerindo-nos que se deverá considerar, no âmbito do funcionamento do núcleo, a unidade VII como reservada preferentemente a local de dormida, podendo manifestar a posição central das duas lareiras, uma rectangular (VII, 1) e outra arredondada (VII, 2), a preocupação do seu aquecimento, sem que este argumento exclua necessariamente outras hipóteses. Do ponto de vista arquitectónico, torna-se notória a singularidade do aproveitamento da área compreendida entre I e VII para formar um compartimento (IA) da unidade I, com acesso pelo seu interior, evidenciando uma progressiva diferenciação da utilização do espaço doméstico. O agrupamento das diversas unidades deste conjunto, em bloco, com recintos de paredes comuns e posicionamento mais ou menos ortogonal, facilitaria a cobertura de tegula e imbrex, cuja utilização se documenta na unidade I-IA e parte Este da unidade VII, onde coexistia com cobertura de materiais perecíveis na parte restante, que seria porventura suportada por um conjunto de postes de madeira instalados em cinco covas abertas no piso, duas na zona central e três junto à parede Oeste (VII, 3). Numa leitura diacrónica, este complexo denuncia a adopção gradual de novas técnicas e materiais de construção visíveis sobretudo nas unidades VII, VIII e IX de aparelhos mais sólidos e perfeitos nos muros, com ângulos externos vincados, o interior com reboco pintado de branco e a cobertura, conquanto parcialmente, de tegula e imbrex. Estas construções contam, em geral, com paralelos próximos na casa de Decimus Iulius Cilo situada no Monte Murado (V. N. Gaia) (Figs. 11 e 12), que terá sido edifi cada na primeira década do século I d.C., sendo também provável que a mesma infl uência se tenha exercido no tipo de planta celular, que aqui se concluiu com a edifi cação do compartimento IA, solidarizando todo o conjunto arquitectónico, que terá evoluído a partir das unidades I e II, com ângulos internamente rectos e externamente arredondados, certamente construídos ainda durante a fase IIIA, após a necessária reforma do povoado

e rectangular, que cumpriam a diversidade das funções domésticas, designadamente, áreas de cozinha, de dormir, de estar e de receber e recintos para animais e alfaias, representando uma evolução original do habitat castrejo face às novidades propostas pela arquitectura romana. No espaço desta domus, que ocupa uma superfície de cerca de 400 m2, foram implantadas em distribuição periférica convergentes para um pátio interior lajeado as estruturas dos edifícios, dois de planta circular, um deles com vestígios de bancos ao redor dos muros (III), do início da fase III, e um conjunto formado por diversas construções celulares de planta rectangular com paredes comuns (I-IA, II, VII, VIII e IX), que se foram associando ao longo da fase, em manifesta complementaridade funcional. O estudo axonométrico da domus do Castro de Romariz80 evidencia, assim, aculturação de elementos claramente romanos que caracterizam um segundo nível de evolução ocorrida desde Augusto, documentando bem as mudanças do meio desta fase (IIIA/IIIB). O espaço indígena, que continuou a integrar duas unidades circulares e uma rectangular, que terão conservado as mesmas funções, foi internamente reformulado, substituindo as estruturas anteriores por um complexo policelular com características arquitectónicas romanas, nomeadamente notórias nos alinhamentos ortogonais e ângulos de construção, na cobertura de tegula, nas argamassas, rebocos e pinturas das paredes e noutros elementos, como um cartibulum (Fig. 10), que se poderá interpretar como ajustado a funções indígenas ou, mais provavelmente, como adopção de comportamentos romanos.

O complexo de edifi cações rectangulares, com pormenores que refl ectem sucessivos reajustamentos estruturais, acabando por formar um bloco original no conjunto dos núcleos castrejos analisados, merece-nos as seguintes observações: Do ponto de vista funcional, e em consideração ao teor do espólio encontrado, constando de cerâmica castreja feita à roda da fase III, mas com frequência de formas mais numerosas do período IIIB, indiciadoras de infl uência romana, associadas a uma especial abundância de cerâmica cinzenta fi na polida característica da região desde a primeira metade do séc. I d.C. e a produtos romanos de importação do mesmo

80 Silva, A.C.F. 2002.

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laços de sangue organicamente presentes na solidariedade de todos os seus membros, vivos ou mortos. Um afl oramento granítico a Este deste núcleo (X), com características impróprias para uma ocupação regular, separaria uma casa castreja da outra que terá sido sobreposta pelas construções romanas e de que restou uma estrutura circular mantida nesta domus, que ocuparia, assim, o espaço de duas unidades familiares castrejas. Esta domus estaria integrada num possível conjunto de núcleos agrupados numa unidade de âmbito suprafamiliar, segundo o esquema de ordenamento comum à sociedade castreja da Fase III, onde uma série de núcleos familiares parece constituir uma unidade limitada por arruamentos, funcionando simultaneamente como elementos do sistema de circulação e de estruturação da ocupação com função delimitadora. Com efeito, o arruamento, por onde se fazem as entradas desta unidade e que a envolve a Nordeste (VI), marca notoriamente uma separação de outro sector, outrora escavado, formando eventualmente no seu conjunto outra(s) unidade(s) suprafamiliar(es), que na área da nossa intervenção atingiu mais uma unidade constituída por uma casa rectangular com cantos arredondados no exterior e angulosos no interior (IV), cuja escavação se tornou de utilidade para observar formas de ocupação e estabelecer relações e cronologias de maior amplitude, podendo situar-se a construção das suas estruturas de pedra, por analogia com as unidades I e II do núcleo anterior, em momento pós-sertoriano da fase III. A esta referência cronológica poder-se-ão hipoteticamente remeter as construções de planta e estrutura congéneres que se repartem neste povoado segundo percentagens similares com as construções de planta circular, presumivelmente mais antigas, e que aparecem associadas a pátios lajeados formando núcleos cuja identifi cação, composição e cronologia se espera recuperar com escavações especifi camente programadas para o efeito, sendo certa, porém, a sua coexistência e funcionamento durante a 1.ª metade do século I d.C.. Para a defi nição destes limites, considerámos os dados das leituras estratigráfi cas, em que o último nível de ocupação correspondente ao estrato 02 presente nos diversos cortes forneceu sobre os pisos de barro, no interior das construções, os lajeados do pátio e arruamento muita cerâmica micácea feita à roda e com decoração simplifi cada ou inexistente, especial abundância de cerâmica cinzenta fi na polida,

por ocasião das campanhas sertorianas, a deduzir de data presumível do ocultamento do tesouro monetário descoberto neste castro em 184381. Em posição destacada, com abertura para o pátio, para onde também convergem as entradas das restantes unidades do núcleo, conservou-se desde o início da fase a construção circular (III), com vestígios de bancos ao redor da parede interna, documentando igualmente neste núcleo a existência de um local próprio de reuniões familiares, a manifestar, também aqui, uma identifi cação essencial com comportamentos da sociabilidade castreja. O pátio lajeado (V), compreendido entre as unidades l-IA, II e VII e rodeando este edifício de planta circular, onde apareceram alguns elementos indicativos de convivência e actividades normais num espaço aberto82, revelou no ângulo Sudoeste como elemento de excepcional importância uma mesa rectangular de granito, moldurada e com pé em colunelo (V, 7), localizada em frente à entrada principal da casa, à semelhança do cartibulum das domus romanas (Fig. 10). Dela se poderá apontar como paralelo mais aproximado em termos de analogia e função, como eventual mesa de sacrifícios, uma estrutura do mesmo teor de Munigua (Sevilha)83, de onde será lícito supor se tenham recebido mesmo estas infl uências, que poderão ser sugeridas pelo estreito relacionamento entre a tessera hospitalis dessa cidade romana e as do Monte Murado84, cuja casa mostra, conforme atrás referimos, notórios pontos de contacto com as construções deste núcleo de Romariz, tudo, aparentemente, muito plausível num quadro de relações entre núcleos de Turduli Veteres, incluindo os da área da sua procedência originária (Fig. 13). De qualquer modo, o que de mais claramente signifi cativo se poderá sugerir a partir deste dado é a noção da sacralização do espaço doméstico, que aqui se manifesta como lugar onde se ofereciam sacrifícios com certeza a divindades tutelares do agregado familiar e que noutras situações já revelou espaços reservados aos antepassados, que, globalmente, se transforma nos indicadores mais originais de uma dimensão religiosa actuante no interior destes núcleos que sinalizam a unidade básica da sociedade castreja estruturada a partir dos

81 Centeno 1976-77.82 Um banco de pedra (Fig. 05, V, 8) e elementos de suporte giratório de pos-sível “pio de piar milho” entre a construção circular e o muro da rua (Fig. 05).83 Hauschild 1968, Abb. 8-10.84 Silva, A.C.F. 1983.

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sua abordagem, queremos sublinhar um apontamento sobre a cobertura das casas de planta circular, que, em nossa opinião, era de forma cónica com materiais perecíveis, eventualmente de giesta ou colmo, sobre estrutura geralmente apoiada em poste central, que documentámos em sequência desde a fase II, sendo de relacionar certas alterações de planta datáveis da fase IIIB, com a adopção de tegula como novo material de cobertura que se generaliza nessa época nas casas de planta rectangular, sendo possível verifi car esta ocorrência em Romariz (Fig. 05, I-IA, IV, VII), também. Nas escavações, da fase II, de Romariz (Fig. 06, corte estratigráfi co L-M) as lareiras apareceram-nos indistintas do piso, assinaladas apenas pela presença de áreas enrubescidas e maior endurecimento e vestígios de carvões e cinzas, segundo práticas que nessas e noutras estações, como Sanfi ns, perdurou na fase seguinte e em posições diversas, frequentemente excêntricas, servindo para cozinha e/ou aquecimento. O espólio que nos fi cou das antigas escavações, que não atingiram, a não ser casualmente, níveis mais profundos que os dos pisos da última ocupação, de que observámos diversa cerâmica indígena, sobretudo dolia, cerâmica cinzenta fi na polida, um bom conjunto de sigillata sudgálica, um fragmento de bordo decorado à roleta de cerâmica «bracarense», vários exemplares de pondera, uma fíbula tipo Aucissa90, uma campânula de bronze, um pico de ferro, um molde de fundição de granito e o fundo de um dolium com metal de ferro fundido no interior e uma taça gomada de vidro91, é indicador das cronologias gerais da fase castreja III A e B para a generalidade da ocupação mais recente do povoado, segundo as particularidades delineadas.

Espólio Arqueológico: Cerâmica

De entre o universo castrejo, do seu conjunto de materialidades, há que dedicar um acentuado destaque à cerâmica, não só pela abundante quantidade com que surge neste tipo de povoados, mas surge-nos como um dos vectores que melhor tem contribuído para perceber as transformações que foram ocorrendo durante todos esses séculos e, dessa forma, permite-nos coligir um signifi cativo número de elementos, permitindo-nos caracterizar com maior acuidade

90 Museu de Arte Sacra e Arqueologia do Seminário Maior do Porto.91 Idem.

sigillata sudgálica, ânfora Haltern 70 e três moedas datáveis da 2ª metade do séc. I a.C. e 1ª metade do séc. I d.C.85, apontando as últimas referências cronológicas do espólio, que não é contraditada por qualquer elemento das camadas de destruição e abandono – estrato 01 -, com tegula, imbrex e cerâmica diversa, comum, da romanização, para um terminus ante quem situado por meados do século, com anterioridade presumível aos tempos fl avianos. Como referência técnica aos aparelhos de construção, cumpre-nos observar que as defi ciências técnicas da fase II, que se tentavam superar com a utilização de cunhas e argamassa, originavam aparelhos irregulares86, que perduraram na fase seguinte, bem mais aperfeiçoados, coexistindo com processos de construção mais sólidos em que o tratamento dos materiais resulta em aparelhos poligonais e helicoidais, entre outros. E, se o aparelho poligonal, em que os blocos de pedra se adaptam perfeitamente, dispensando cunhas e, por vezes, dispondo-se em forma helicoidal, segundo uma modalidade que se tornou característica da cultura castreja, de presumível infl uência meridional87, documenta-se sobretudo nas zonas de granito desde o início da fase IIIA como nas muralhas de Sabroso, Arados88, Monte Murado89 e Cárcoda e também presente em habitações diversas da Cidade Velha de Santa Luzia, Briteiros e Sanfi ns, entre outros castros. Mas se a diversidade destes aparelhos apenas se reporta à qualidade da aparência exterior das construções castrejas, também, para a generalidade dos paramentos internos, normalmente constituídos por pedras relativamente pequenas em disposição mais irregular, não foi descurada a procura de soluções técnicas de inegável intenção estética, que a existência muito frequente de rebocos testemunha na fase III das nossas escavações, designadamente, em Romariz (Fig. 05, Vll) e no Monte Murado, por exemplo. Relativamente a outros problemas em aberto sobre a restituição da estrutura da casa castreja, constantes de inúmera bibliografi a que se faz eco da atenção que tem merecido a

85 Um denário de Brutus (54 a.C.), outro de Tiberius e outro de Nero Drusus (41-45 d.C.). Classifi cação de Rui Centeno.86 Cfr. Santo Estêvão de Facha (Almeida et alii 1981).87 Hawkes 1984, 192.88 É ainda visível um expressivo troço com aparelho deste tipo na muralha exterior deste castro do concelho de Marco de Canaveses, na margem direita do Douro.89 Idem, no Monte Murado ou Castro da Senhora da Saúde no concelho de Vila Nova de Gaia.

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A análise das pastas, técnicas de fabrico e acabamento do espólio cerâmico manifesta, durante esta fase, a existência de fabricos locais, distinguindo-se, mesmo ao nível da observação macroscópica, a produção dos diversos povoados estudados. Utilizando, na generalidade, elevado teor de desen-gordurantes, normalmente constituídos por areia e mica, e com pastas de coloração beje, castanha e rosada, a denotar cozeduras razoáveis em atmosfera oxidante, a cerâmica de algumas estações, como, a Cividade de Terroso, mostra ainda uma preferência por pastas escuras, de atmosfera redutora, juntamente com outros elementos individualizantes, verifi cando-se, de qualquer modo, um progresso técnico signifi cativo que permitiu o desaparecimento dos fabricos grosseiros anteriores sem que, todavia, fosse atingida uma uniformidade de produção, onde coexistem habitualmente fabricos diversifi cados. Nesta variedade, que também se revela nos acabamentos e decoração, sobressaem por vezes produtos mais elaborados que apontam para uma especialização de oleiros locais, sem que seja de excluir a possível existência de centros produtores com circulação de âmbito regional, numa fase em que, de resto, são vulgares testemunhos de intercâmbio. Poderá exemplifi car bem esta hipótese a analogia do conjunto de cerâmicas de espessos engobes e riqueza decorativa dos níveis intermédios do Castro do Coto da Pena com exemplares paralelos da Citânia da Santa Tecla95, Citânia de Troña96 e Castro de Montalegre (Domayo)97, que poderá, além disso, traduzir afi nidades de natureza étnica. Uma curiosidade técnica, típica deste período, que valoriza o trabalho do oleiro mesmo quando se refere a produtos onde não é visível uma qualidade especial, é o processo utilizado por aplicação de remendos de argila para consertar os vasos fracturados, situação que também se testemunha no povoado romarizense, em algumas peças exumadas. Apesar das pervivências ocasionalmente ocorridas, são igualmente bem signifi cativas as mudanças registadas na morfologia dos vasos, com preferência por um novo tipo de perfi l, em que raramente aparecem as formas carenadas ora substituídas por outras de perfi l em S, e por maior diversidade de formas mais adequadas às funções.

95 Martínez Tamuxe 1983, 100-102.96 Pericot-López Cuevillas 1931, fi gs. 5-7, 11-12.97 Losada y Diegues 1927, sobretudo Lâm. I, II, IV e VI, com paralelos directos aos do nosso quadro decorativo.

este tipo de comunidades, não só ao nível das realidades artefactuais, mas também no que concerne a muita da vivência destas populações. Sobre a fase II, documentada predominantemente a partir dos dados estratigráfi cos das nossas escavações no Castro do Coto da Pena, situado no limite Norte da zona deste estudo, junto ao rio Minho, na Cividade de Terroso, entre Cávado e Ave, e no Castro de Romariz (Fig. 06, cortes estratigráfi cos A-B (estratos 05-07), C-D (estratos 04-05) e L-M (estratos 05-07), a Sul do Douro, na área meridional desta cultura, diríamos que conheceu neste período um crescente afl uxo de infl uências inovadoras, de ordem técnica, morfológica e decorativa, de procedência meridional posta em relação com as migrações túrdulas e o comércio púnico em simultâneo com correntes interiores, relacionáveis com os Campos de Urnas da Idade do Ferro. Entre as inovações técnicas ocupa sem dúvida o primeiro lugar a introdução da roda de oleiro notória pelo menos na parte fi nal do período.Considerando, pois, a problemática das origens e evolução deste instrumento segundo os esquemas conhecidos e elaborados com base no estudo de materiais ceramológicos e observações etnográfi cas92, somos de opinião que a presença de formas simétricas de perfi l em S e paredes geralmente pouco espessas, que se tornaram frequentes na fase IIB, foram modeladas a torno lento. De resto, sem mais vestígios disponíveis para reconhecer o tipo de mecanismo utilizado, não se afi gura fora de propósito deduzir a existência desta técnica por a entendermos paralela da usada nas mós giratórias, que registamos estratigrafi camente em níveis anteriores a meados do séc. II a.C. da Cividade de Terroso em associação com cerâmicas com as características referidas93. Pensamos, porém, que não deverão ter sido estranhos a este processo os contactos relacionados com a importação de cerâmicas de procedência meridional, todas elas já fabricadas a torno rápido, segundo técnica que se generalizou defi nitivamente na área meridional peninsular durante o horizonte ibérico ou turdetano andaluz posteriormente a 500 a.C.94 e cuja presença se regista com frequência no castro de Romariz em estratigrafi as desde o séc. V a.C.

92 Selecionamos, de entre a numerosa bibliografi a: Dias 1965; Johnston 1977.93 Cfr. leitura estratigráfi ca do corte E-F da Cividade de Terroso (Est. XIX) Silva, A. C. F. 2007; Gomes 1996.94 Aubet Semmler et alii 1983, 108-116.

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de jazida, foram reconhecidos diversos bordos e fundos de ânforas e outros recipientes de grande porte de produção e/ou tradição púnica no castro de Romariz que apresentam todos um fabrico à roda, com pastas de cor atijolada ou alaranjada, em geral porosas e friáveis e relativamente depuradas, e superfícies alisadas com espesso engobe ou pintura de tons azulados escuros, mais frequentes em Romariz, ou bejes, no Coto da Pena. O grupo exumado no povoado do município feirense é constituído por formas diversas de pequenos vasos de cerâmica fi na cinzenta recolhidos em níveis datáveis de cerca de 500 a 200 a.C., neles se incluindo um exemplar de prato covo com bastantes paralelos em Conímbriga101 e sobretudo em Tavarede102, com que, de resto, se relacionam também fragmentos de formas afi ns em pasta beje, sendo muito vulgar, neste contexto, a presença de exemplares de fundo côncavo como o do último exemplar desta série, que evidencia, globalmente, valiosos índices de infl uência púnica na área litoral castreja no âmbito do presente estudo. Nas escavações que realizámos, apenas foi referenciado, com segurança, um pequeno fragmento de cerâmica ática, no estrato 06 do corte L-M do Castro de Romariz (Fig. 06), sem forma defi nida, mas que poderá fazer parte de um kylix, datável dos séculos V/IV a. C.103. Com uma distribuição marcadamente litoral, às vezes com penetração fl uvial104, a escassez destes achados face à relativa abundância com que nos aparecem os produtos púnicos e de tradição púnica e considerando as circunstâncias históricas do domínio do Mediterrâneo ocidental105, tudo faz supor tratar-se de uma fácies de exportação da 2.ª metade do séc. IV a.C., de fraca qualidade106, feita por intermédio do comércio púnico107. Apesar de termos indicado os conjuntos de Romariz e Coto da Pena como exemplos onde a presença deste tipo de cerâmicas se fez notar em maior quantidade, nos últimos anos na região entre o Douro e o Vouga temos vindo a tomar contacto com uma maior número de estações que revelam de entre o seu espólio este tipo de cerâmicas de procedência meridional, demonstrando um conjunto de contactos, uma

101 Alarcão 1974, Est. IX, 179-182.102 Museu Municipal Santos Rocha e de entre os paralelos de Conímbriga, cfr. Alarcão 1974, Est. XI, 246.103 Centeno 2011, 33 e 44-45.104 Com eventual excepção para as cerâmicas de Fuentes de Ropel situados no interior, motivo porque se preferiu a sua importação pela Via da Prata. Cfr. Fariña et alii 1983, 120.105 Cfr. sobretudo as implicações do tratado entre Roma e Cartago de 348 a.C. in Blázquez 1981, 17-20. In genere, vide, vg., Sznycer 1978.106 Trías de Arribas 1968, 20; Almeida et alii 1981, 66.107 Sanmartí 1981, 169, onde se refere a comercialização de produtos pré-campanienses para o Sul da Península; Blázquez 1983, 372.

Os vestígios que melhor testemunham a pervivência da tradição indígena reportam-se a vasos em que predomina um largo bordo horizontal como característica principal do seu perfi l frequente em recipientes de forma, função e dimensões diversas do Castro de Romariz. Por seu lado, a decoração apresenta fortes infl uências continentais, tais como: combinações diversas de SS, círculos concêntricos e triângulos com e sem besantes, presentes em Romariz, em estratos datados dos seculos IV/III a. C.. As organizações decorativas poderão ter, por sua vez, infl uência meridional. As composições de cerâmica incisa, com uma longa pervivência cronológica, nesta fase também terão recebido esse tipo de infl uência ao nível da organização decorativa.

A identifi cação de diversos conjuntos de cerâmicas de importação mediterrânica, de produção e/ou tradição púnica, grega e campaniense em níveis estratigrafados das nossas escavações, percorrendo diversos momentos das fases II e IIIA da periodização que propomos, poderá realmente considerar-se como um dos resultados de maior interesse das campanhas efectuadas, entrando neste estudo sobretudo em função do seu valor cronológico. Vestigialmente representada por materiais importados correspondentes à nossa fase IB, não foram por nós referenciados quaisquer exemplares de cerâmica de verniz vermelho, superfícies pintadas e cinzentas fi nas do teor dos conjuntos de Santa Olaia e Tavarede98, Conímbriga99 e Castelo de Alcácer do Sal100, entre os sítios mais representativos, na órbita da infl uência fenícia e tartéssica do Sul da Península, podendo alguns exemplares destas conhecidas estações aproximar-se das cronologias que apresentamos. De entre os dados adquiridos, sobressaem dois conjuntos maiores, típicos, de cerâmica de tradição púnica: um do Castro de Romariz, em Santa Maria da Feira, apoiado numa série estratigráfi ca datável a partir de meados do 1.º milénio aos fi nais do séc. III a.C., e outro do Castro do Coto da Pena, Vilarelho, Caminha, centrado nos séc. IV-III a.C., permitindo deduzir, pelos paralelos, a sua proveniência como resultante de um comércio púnico de cabotagem. Apesar do carácter fragmentário que estes materiais apresentam, dada a fragilidade das suas pastas e as condições

98 Rocha 1905-08; Pereira 1997; Arruda 2000.99 Alarcão 1974, 55-68; Alarcão, A.M. 1976, 3-13; Correia 1993.100 Soares e Silva 1980; Arruda 2000.

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a atenção para um conjunto “de pastas depuradas de tons bege”, encontradas nos estratos cronologicamente enquadráveis na 2ª metade/fi nais do século IV a.C e inícios da centúria seguinte114. Para áreas mais interiores desta região, merece destaque o sítio da Cividade, em Rossas (Arouca), alvo de escavações arqueológicas recentemente e surge-nos com um horizonte cronológico de ocupação entre os séculos VII-IV a. C., “de onde são provenientes duas contas de pasta vítrea, lisas, e um conjunto de cerâmicas rodadas, de pasta cinzenta muito depurada”115, numa alusão à possibilidade destes elementos fazerem parte de uma rede de comércio púnico ou de tradição púnica que se foi estendendo para além da zona litoral, onde o Castelo de Gaia e o Cabeço do Vouga terão, segundo os dados avançados, um papel importante em funções relativas ao apoio à navegação e, também, no comércio destes produtos, funcionando como possíveis intermediários entre as zonas mais costeiras e os povoados mais interiores116. Este intercâmbio poderia, igualmente, estender-se aos produtos provenientes da Ática, nomeadamente às cerâmicas, com uma presença muito pouco signifi cativa nesta região, mas que poderiam ter sido comercializadas pelos mesmos interlocutores.

A campaniense B, que conta com presenças registadas em núcleos peninsulares de população romana e em núcleos indígenas do interior principalmente na Catalunha e Vale do Ebro e seus afl uentes sobretudo desde o último quartel do séc. II a.C.117, sendo frequentes na primeira metade do séc. I a.C.118, que nos aparece no Castro de Romariz um conjunto de diversos fragmentos no estrato 04, representado no corte estratigráfi co L-M (Fig. 06) e Santa Luzia, Viana do Castelo119, deverá ser deste período, contemporanizando com uma maior penetração política de Roma na região que caracteriza a fase III, em que se assiste à introdução generalizada de ânforas e sigillata, que desse período se tornam valioso índice cronológico.

114 Pereira 2011, 131.115 Pereira 2011, 134.116 Pereira 2011, 139.117 Sanmartí 1981, 175.118 Atendendo à extinção de centros produtores itálicos cerca de 50/40 a.C.. Idem 1981, 176.119 Museu Municipal de Viana do Castelo, onde é possível observar um frag-mento de pé de pequena taça.

rede de comércio que ultrapassa a esfera local, atingindo a escala regional, testemunhando, para este período, que estes contactos devem ter sido grandemente impulsionados pela existência do enclave orientalizante de Santa Olaia. Essa estruturação e organização superior da actividade comercial teria como alvo produtos de cariz mineiro, nomeadamente ouro, o estanho e o cobre, que progressivamente escasseavam na zona mediterrânica, tornando-se exuberantes e fortemente divulgados108. Regista-se, assim, entre os séculos V e III a. C. a “uma entrada massiva de materiais púnicos no Noroeste Peninsular”, da mesma forma que ao longo da linha litoral surgem mais povoados, encarados como “pontos de apoio à navegação de cabotagem” e dado o elevado número em que foi detectado material exógeno, púnico109. Para o mesmo Autor, baseando-se na presença de espólio cerâmico de proveniência meridional e na sua proximidade do oceano, esses “pontos de apoio”, encontram-se, em boa parte, já identifi cados e espalham-se de uma forma regular entre as fozes do Douro e do Vouga110.Na margem esquerda do Douro, temos a presença de material púnico ou de tradição púnica na parte superior do morro do Castelo de Gaia111, em Romariz, como pudemos já analisar neste texto, na estação do Cabeço do Vouga, onde a par de vestígios cerâmicos foi encontrado um conjunto de contas em pasta vítrea enquadráveis no mesmo horizonte de contactos/trocas comerciais e, mais recentemente, no Castro de Salreu foram identifi cadas pequenos fragmentos cerâmicos apresentando pastas bastante depuradas, em tons entre o beje e o cinzento, bem como duas contas de colar, uma delas oculada112. Ainda na orla costeira e apresentando semelhanças com este último povoado, temos o Castro de Ovil, situado em Paramos, Espinho. Aqui, a elevada quantidade de material anfórico de importação revela o seu contacto com comunidades ligadas ao comércio; de entre este vasto espólio, foi possível identifi car uma forma que remontará ao século I a. C., para além de um fragmento de cerâmica cinzenta rodada que, possivelmente, corresponderá “a uma importação pré-romana”113. Ainda neste quadro, Gabriel Pereira chama

108 Arruda 2000b, 39-51; 2000c, 59-77.109 Pereira 2011, 118.110 Idem Ibidem, 91-94.111 Silva, A. C. F. 1984, 44.112 Pereira 2011, 131.113 Salvador e Silva 2010, 60.

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Espólio Arqueológico: Metalurgia

São numerosas as situações que permitem correlacionar o desenvolvimento da metalurgia do bronze com o período de formação da cultura castreja do Noroeste122, mais recentemente desenvolvidos por múltiplas abordagens123. Das ocorrências de achados isolados e depósitos do fi nal da Idade do Bronze Atlântico atribuídas a habitats castrejos ou com eles proximamente relacionados124, destaca-se pela sua importância e proximidade geográfi ca o depósito fundidor descoberto no Castro da Senhora da Guia (Baiões, S. Pedro do Sul)125, que através da valiosa contribuição do numeroso e diversifi cado volume de bronzes encontrado, com características morfológicas e tecnológicas que não permitem interpretá-lo senão como fazendo parte de um depósito de fundidor localizado dentro do castro, tornando-se assim, na mais expressiva manifestação de uma metalurgia local do Bronze Final no interior de povoados castrejos do Noroeste peninsular, a que se poderá relacionar o depósito de Vila Cova do Perrinho (Vale de Cambra)126 como o conjunto mais expressivo da área litoral, entre Douro e Vouga. Além dos machados de talão, típicos desta metalurgia, merecem especial referência a uma série de peças do depósito, que dirão respeito a outras actividades: um cinzel, artefacto raro, de que conhecemos um paralelo das salinas de Villafáfi la, Zamora127 e deveria servir para talhe de madeira; dois escopros, que contam com mais paralelos128, estariam certamente mais relacionados com puncionamento de peças metálicas; e ainda, vários fragmentos de chapa de bronze, que foram identifi cados por A. Coffyn como sendo de capacetes de crista

122 Martínez Santa-Olalla 1946; Savory 1949; Mac White 1951; Monteagudo 1977; Almagro-Gorbea 1977a e 1977b; Kalb 1980a e 1980b; Coffyn 183 e 1985.123 Senna Martínez 1989, 1994 e 2000; Silva A.C.F. 1990; Martins M. 1990; Coffyn 1998; Almagro-Gorbea 1993 e 1998; Ruíz-Gálvez Priego 1993; Vila-ça 1995, 1997 e 1998; Jorge S.O. 1995 e 1998; Bettencourt 1995, 1998 e 2001; Martins M. 1990; Melo 2000; Cardoso 2002, 349-400; Armbruster 2002-03, entre os mais representativos.124 In genere, Kalb 1980b (14 mapas fora de texto).125 Silva A.C.F. et alii 1984; Silva A.C.F. 1986; Lopes 1993.126 Brandão 1963, 114-118.127 García Rozas 1999, 28.128 Referenciados na Beira Baixa em Aldeia do Bispo, Vila Boa e Cabeço de Santiago (Vilaça 1995, 338, Fig. CCLVII, 3, 4, 7) e na Extremadura Espanhola em Salvatierra de Santiago, Trujillo e La Cabeza del Buey (Martín Bravo 1999, 34, Fig. 10, p. 46, Fig. 5, 11-12).

Utensílios que se não podem considerar específi cos de uma época ou civilização determinada, os achados mais antigos que registamos como resultado dos nossos trabalhos ocorreram no Castro de Romariz (Santa Maria da Feira) num estrato datável do séc. V a.C. constando de dois exemplares de forma semi-esférica e outros dois de forma esferóide, um dos quais ilustrado, todos de barro alaranjado friável, de peças de importação de tradição púnica, podendo servir como pontos de referência das primeiras formas dessa técnica de fi ação na região, eventualmente difundida a partir de infl uências meridionais, para mais considerando não termos registado qualquer ocorrência destes instrumentos nos níveis do Bronze Final das estações por nós estudadas. Pequenos discos com perfuração central destinada a introduzir na parte inferior do fuso, a que conferia o equilíbrio necessário, servindo de volante durante o movimento rotativo, entendemos que a variedade de peso, dimensões e material, de preferência a relacionar-se com a natureza das fi bras, mais terá a ver com uma diversidade funcional, devendo alguns destes objectos, designadamente os de tamanho reduzido, que se não poderiam adequar instrumentalmente ao fuso, ter servido como botões aplicados no vestuário120. Na última fase, observamos a generalização dos processos técnicos, como a utilização do torno rápido, padronização morfológica e decorativa, assim como a introdução da cerâmica comum e imitações de produções romanas e uma melhor qualidade técnica de cozedura, de teor oxidante, com a regressão das formas indígenas típicas, o abandono generalizado dos desengordurantes micáceos e a maior presença de pastas depuradas de cor beje e alaranjada. De destacar, do vasto conjunto dos produtos característicos deste período, uma referência especial para a cerâmica cinzenta fi na polida121 que nos apareceu muito vulgarizada nos níveis superiores do Castro de Romariz e Monte Murado, entre outras estações da área dos Turduli Veteres, onde poderia ter tido um dos seus centros principais de produção, com certeza na sequência das técnicas de fabrico das cerâmicas cinzentas de tradição anterior, registadas com certa abundância nos níveis mais antigos do Castro de Romariz, e seguindo novas formas de cerâmica comum de feição romana.

120 Apesar de serem normalmente de cerâmica, como os ilustrados, conhe-cem-se bastantes exemplares castrejos de material lítico, sendo alguns deles decorados.121 Sobre este tipo de cerâmica, cfr. Alarcão 1974, Est. XII, 460-474 e XXIII, 471-482; Soeiro 1981-82.

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do Bronze Final uma primeira Idade do Ferro, não se encontrou ainda a correspondência necessária na área da cultura castreja do Noroeste durante a fase II que a credite como uma cultura do Ferro, sendo ainda surpreendentemente escassas as informações sobres elementos desse metal nesta fase, deles registando, como resultado dos nossos trabalhos, entre outros poucos onde procedemos a trabalhos de escavação arqueológica, o achado de um possível cabo de instrumento no Castro de Romariz. Só na fase III aparece, fi nalmente, com base nos nossos dados, a cultura castreja primordialmente caracterizada pela metalurgia do ferro, presente, por testemunhos directos e indirectos, na generalidade das actividades domésticas, produtivas e guerreiras típicas das comunidades castrejas, continuando o bronze a gozar de preferência sobretudo em peças ornamentais, com destaque para as fíbulas. Sendo, com efeito, raro o castro em que se não registe abundância de escórias136, os vestígios sistematicamente referenciados nas áreas das nossas escavações nos níveis relativos a esta fase documentam sobejamente a generalização da sua metalurgia, aparecendo-nos a própria fundição deste metal bem atestada numa massa de ferro depositada no fundo de um dolium do Castro de Romariz, onde terá sido vertido em fusão, sendo ainda parcos os vestígios detectados de instalações que se lhe refi ram, como fornos ou forjas, que, todavia, deveriam seguir processos siderúrgicos conhecidos137. Ainda relacionado com a fundição, foi encontrada neste castro uma lingoteira, mas para a fundição do bronze. No decurso das nossas investigações138, através da análise de objectos metálicos em ferro, foi possível constatar que, desde os tempos proto-históricos, em especial durante a fase III da nossa periodização, também na área castreja se processou a uma adequação efi caz entre a forma e a função dos instrumentos de trabalho agrícola, de cuja análise se conclui por uma diversidade que se torna notória numa manifestação de longa pervivência. Paralelamente a essa actividade, terá ocorrido, de forma intensa, a de construção de habitações, muralhas e outros edifícios públicos em pedra, patentes nos inúmeros povoados castrejos, o que terá exigido uma generalizada especialização profi ssional sobretudo para algumas fases do processo

136 Osório 1991.137 Vg., Tylecote 1986, Cap. 6; Kruta 2000, 818-819, Fig. 158 (vb. sidérurgie).138 Silva 2007, 252.

de «coiffe pointue» como os de Bernieres d ‘Ailly (Calvados)129, e com paralelos no achado da Ria de Huelva130. De maior interesse se afi gura ainda esta notável associação de materiais, ao poder considerar-se, pelas circunstâncias verifi cadas na sua descoberta, como um verdadeiro «conjunto fechado» atribuível, por razões tipológicas e técnicas e de cronologia interna do povoado, a uma datação em torno de 900 a.C.131, com enquadramento no Bronze Final Atlântico II.Deste conjunto de meia centena de bronzes exumados, ressaltamos o registo da primeira ocorrência entre nós reconhecida de um objecto de ferro, mais precisamente, uma lâmina de punhal com cabo de bronze, que se interpreta como um testemunho de artesanato local, como o ambiente do achado sugere, mas representando também uma consequência de intercâmbio com comunidades mais avançadas, num quadro de presenças de objectos de ferro enquanto bens de prestígio com procedência atribuível ao Mediterrâneo oriental, de que se vão conhecendo cada vez mais registos bem documentados na Beira Interior inclusivamente nas imediações do Castro da Senhora da Guia132. Na sequência de situações similares em contextos do Bronze Final133, trata-se, em todo o caso, de ocorrências singulares a considerar no âmbito da problemática da introdução da metalurgia do ferro na Península Ibérica, vislumbrando-se uma antecipação do papel pioneiro que será, nesta sequência, exercido pelos fenícios, segundo se pode depreender dos vestígios de fundição de ferro na feitoria de Toscanos datados dos fi nais do séc. VIII/ princípios do séc. VII a.C.134 e da caracterização de uma primeira Idade do Ferro bem documentada na área do Sudoeste relacionada com a civilização tartéssica, de onde procederam objectos até ao Noroeste135, modifi cando-se, assim, o quadro interpretativo tradicional sobre a introdução desta metalurgia na região. Sem elementos comprovativos de um fabrico local durante os séc. VII e Vl a.C. que permitam autonomizar decididamente

129 Coffyn 1983, 179 e 1985, 19, Est. XL, 10-11.130 Hencken 1955-56 e 1971, 56-78; Almagro-Gorbea 1973, Fig. 1; Coffyn 1985, 171, 208, Est. XXXI; 1-4.131 Silva A.C.F. et alii 1984, 82-94.132 Silva A.C.F. 1990; Almagro-Gorbea 1993 e 1998; Vilaça 1995; Senna Martínez 2000.133 Vg., Coffyn et alii 1981, 17; Madroñero 1984; Gonzalez-Tables Sastre 1984, 6 (dactil.); Maluquer de Motes 1984, 3 (dactil.); Coffyn 1985, 238 (te-souro de Villena).134 Schubart 1969.135 López Cuevillas 1946-47, 560-567; Schüle 1969, 81-89, Karte 15, 176-178; Ruíz Priego 1980; Coffyn 1985, 174, Fig. 61.

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As suas dimensões, a avaliar pelos exemplares mais completos, são em geral reduzidas142 em confronto com os seus paralelos meridionais, assim se adequando ao género de luta, corpo a corpo, praticada pelos povos castrejos, mais se afastando deles pela rudeza de linhas e ausência de decoração. Por último, ainda no domínio do armamento ofensivo, uma nota indicativa para a descoberta de um fragmento de folha de lança, em escavações realizadas no Castelo de Gaia, em 1985, em ferro, invocando os mesmos contextos ao da espada afalcatada registada no povoado de Romariz. Ainda que se não conheçam achados de armas defensivas, para além dos fragmentos de Vila Cova do Perrinho, nesta região, algumas representações iconográfi cas de estátuas de guerreiro de granito, claramente nas de S. João de Ver (Fig. 08) e Capeludos, Sanfi ns, e também Calendário, Alfândega da Fé e Guarda confi rmam a utilização de capacetes, que outras estátuas não ostentam. Não se devendo retirar, pelo carácter estilizado da representação de Capeludos, em forma de gorro cónico, assim como das miniaturas do carro alegórico proto-histórico de Vilela (Paredes), conclusões seguras de carácter tipológico, ainda que se lhe possam apontar relações com sombreros, como o do guerreiro de Hierschlanden143, são mais claras as aproximações do capacete do guerreiro de S. João de Ver com modelos mediterrânicos144, relacionáveis com a celebrada expedição de Túrdulos e Célticos para este território. Um derradeiro conjunto que trazemos a estas páginas, ainda relacionado com a metalurgia, diz respeito aos adornos, de entre os quais tem uma signifi cativa expressão o grupo das fíbulas, objectos utilizados para prender duas ou mais peças de vestuário, funcionando como uma agulha ou alfi nete de segurança, sendo “apanágio do vestuário e dos seus drapejados, pela função que ocupa no panejamento masculino e feminino da Antiguidade”, com funções que vão desde o carácter utilitário, passando pela ostentação social, insígnia militar e até simbólico, entre outras145. Desse vasto corpus, que nos surge como fóssil director, de importância tipológica, tecnológica, cronológico e cultural para a proto-história regional, resumem-se a três os achados

142 Centeno 2011, 116, 118 e 119.143 Silva A.C.F. 2003, 43; Quesada Sanz 2003, 99.144 Queiroga 1992, 83; Silva, A.C.F. 2003, 44.145 Ponte 2006, 25-26.

construtivo de que, todavia, também poucos instrumentos são comprovação directa. Se não se pode testemunhar a extracção da pedra para construção por aproveitamento das fracturas naturais, inúmeras outras situações, partindo-a por intermédio de picos e cunhas aplicadas em cavidades alinhadas na superfície das rochas, são frequentes na área das estações castrejas, segundo processos e meios ainda hoje perviventes, tal não se poderá inferir de todo o trabalho de cantaria, desde a selecção, ajustamento e aperfeiçoamento das diversas pedras, que exigia abundância de instrumentos adequados, como martelos, cinzéis e sobretudo picos. Deste conjunto de ferramentas para o trabalho da pedra, apenas recolhemos, nos nossos trabalhos arqueológicos referentes ao Noroeste de Portugal, um exemplar completo deste tipo, no Castro de Romariz, apesar da generalização do mesmo sistema de construção e tratamento dos materiais na fase III, também com paralelos peninsulares conhecidos139. No que diz respeito a armamento, temos a reter que para este período mais recente da cultura castreja, neste povoado, foi exumada uma lâmina de espada afalcatada, em 1990. Este grupo de armas encontra-se bem representado nas fontes literárias e numismáticas, especifi camente nas moedas com a representação da panóplia castreja cunhadas por ocasião das guerras cântabras, e que não deverão ser necessariamente considerados como uma derivação da falcata ibérica e, por isso, apelando a uma relação meridional. Do ponto de vista tipológico, este achado foi acompanhado de um outro, por sua vez, no Castro da Baiza (Vila Nova de Gaia), na campanha de escavações de 1985. Mostram, nos casos observados, uma lâmina de secção triangular, espessada e plana no dorso e afi ada no gume, encurvada na zona média e pontiaguda, e com cabo ora em alvado ora espalmado, para aplicação de punho de madeira, que era fi xo por rebites de ferro e ocasionalmente por outros elementos de bronze140, ou por simples espigão de ferro para introdução em cabo de madeira, conforme se depreende de alguns vestígios por nós documentados141.

139 Manrique Mayor 1980, 144, Fig. 30, n.º de inventário 10692 («pico, pa-rece de cantero») de Numância; Sanahuja YII 1971, 98, Fig. 23:2, do povoado ibérico de San Miguel de Sorba.140 Silva 2007, 647, Est. LXXXVIII, 6.141 Vg., no Castro do Coto da Pena (Vilarelho, Caminha) (Silva 2007, 647, Est. LXXXVIII, 9).

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segundo idiossincrasia característica deste tesouro, sem paralelo, a não ser para algumas das suas peças nos fechos do diadema de San Martín de Oscos153 e, onde também se evidencia duplicidade de infl uências. A notável arrecada de ouro, em forma de lúnula e apêndice triangular em cacho, integrará o conjunto de bens de prestígio adquiridos no contexto dos intercâmbios com o mundo púnico do século IV-III a. C.154, bem presentes na arqueologia da região.

A Sociedade Castreja

A investigação dos últimos anos sobre as fontes literárias, epigráfi cas e arqueológicas tem permitido esclarecer, quantitativa e qualitativamente, vários aspectos da organização política e social dos povos do Norte da Península na Antiguidade, tendo, não raras vezes, a revisão dos dados antigos pelos recentemente conseguidos, apoiada numa metodologia tecnicamente mais rigorosa, proporcionado a rectifi cação de conceitos dados como estabelecidos. Torna-se, assim, já possível fazer as distinções necessárias entre os dados estruturais e as formas organizativas de ordem política e social, que omissões e imprecisões das fontes escritas difi cultam e os elementos arqueológicos disponíveis ainda não resolveram. Em todo o caso, uma característica se afi rma à partida: a organização social castreja estava baseada nos laços de sangue, que dava coesão aos diferentes grupos aparentados e aos diversos níveis em que se manifestavam, diferenciando-se, apesar dos paralelos, da área das sociedades de tipo gentilício da Espanha céltica propriamente dita155 ainda mais das áreas tartéssica e ibérica, do Sul e Levante, que eram política, económica, social e culturalmente mais desenvolvidas156. E, a informar todo o ordenamento aparente, um notório espírito de hierarquização geral, ao gosto das sociedades indo-europeias, vulgarizado a partir de certos textos clássicos e que tem merecido em muitos dos seus aspectos outra confi rmação documental.

Sem elementos arqueológicos que permitam caracterizar convenientemente os diversos níveis da organização social

153 Idem.154 Teixeira e Fonseca 2010, 78.155 Caro Baroja 1970.156 Vg., Cabo-Vigil 1973, 242-269; Blázquez Martínez 1974, 29-81.

desta série no castro de Romariz. O primeiro, uma fíbula de tipo Santa Luzia – da estação epónima, localizada em Viana do Castelo -, num nível estratigráfi co datável do séc. III a. C.146, ou seja, fazendo parte da fase II da nossa periodização. Este tipo de fíbula, designado por José Fortes147, numa primeira catalogação, entretanto revista e que aqui temos como referência148, tem uma pervivência longa no tempo, podendo ir desde o séc. VII/VI a. C. até meados do séc. III a. C.149, contando-se com pervivências ainda mais tardias, como a que verifi camos na Cividade de Terroso, datável do séc. I d. C.. O outro exemplar é referente a um fragmento de aro, que corresponde a uma fíbula anular em ómega. Detectada em níveis do século I da nossa era, encontra-se em conformidade com as periodizações adiantadas para este tipo de adorno, que vão desde o século I a. C. até ao início do século V150.Datável do século I d. C., também a fíbula tipo Aucissa que fomos encontrar no espólio legado das antigas escavações do P.e Manuel Fernandes dos Santos. Demonstrando alguma diversidade na tipologia do uso destas peças, registe-se a descoberta, no Castro de Fiães, outra das estações castrejas do município feirense, de uma fíbula ‘de tipo transmontano’, entendida como um último estádio de evolução do modelo de tipo ‘Sabroso’ e ‘Santa Luzia’151 e que o seu enquadramento cronológico estará entre o séc. III a. C. e a mudança da era.

Uma referência particular para as peças de ourivesaria castreja, designadamente os dois prismas rectangulares do que seria o colar articulado de Romariz e a arrecada do Castelo da Feira, que se distanciam cronológica e tipologicamente dos colares maciços do fi nal da Idade do Bronze, do Castro de Baiões, e do início da Idade do Ferro, do Vale da Malhada (Sever do Vouga)152. O colar articulado, manifesta a assimilação de elementos técnicos e decorativos de índole mediterrânica, patentes no uso da fi ligrana e do granulado, com elementos de estrutura e decoração de carácter geométrico mais afi ns ao gosto da tradição local ou de tipo centro-europeu, com paralelos no complexo colar de Estela (Póvoa de Varzim),

146 Silva 2007, 272.147 Fortes 1905-1908, 16-21. 148 Ponte 2006.149 Ponte 2006, 222.150 Ponte 2006, 397-400.151 Silva 2007, 272.152 Silva 2007, 346, Est. CV, 1 e 2; 347, CVI, 1.

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indígena durante as fases I e II, parece um testemunho documentado com segurança pela Arqueologia que, na fase III, a unidade doméstica se encontra na base da sociedade, facto bem expresso nos sistemáticos núcleos de âmbito familiar descritos na análise do habitat. O carácter específi co das construções, diferentes e complementares entre si pelas suas estruturas e espólio respectivo, sugere sem dúvida a atribuição de cada núcleo a uma só família, cuja complexidade de composição permanece todavia difícil de defi nir157 para além da afi rmação genérica de que se deveria tratar de uma “família extensa” (extended family) constituída por várias famílias nucleares ligadas entre si genealogicamente e com residência comum158. É com certeza a este âmbito que, em nosso entender, se reporta o texto de Estrabão, referente às festas familiares159, quando diz que os castrejos «bebem geralmente cerveja e raramente vinho, e o pouco que têm depressa o consomem em banquetes familiares... Comem sentados em bancos construídos ao redor dos muros, ocupando os lugares segundo a idade e a dignidade e fazendo circular a comida de mão em mão»(...), com expressão material nas construções circulares com bancos de pedra junto aos muros e lareira central aparecidos perfeitamente integrados em núcleos familiares de vários povoados castrejos160. O signifi cado do vocábulo συγγένεια, por seu turno, nada tem a opor a esta interpretação mais compreensiva, que reputamos, neste caso, a mais ajustada161. Duas inscrições da Citânia de Briteiros, uma numa padieira decorada de uma porta de casa redonda, onde se lê Coroneril/Camali/domus162, e uma outra de idêntico teor, Camali domi /Caturo163, poderão traduzir literalmente essa expressão que, obviamente, não designa, no universo das concepções indo-europeias, a casa como construção material, devendo ser entendida num sentido exclusivamente

157 Cfr., Vg., Marie 1975, 51; Zonabend 1996.158 Tranoy 1981, 106-108.159 Estrabão III, 3, 7 (vide Strabo).160 Bancos interiores apareceram na Citânia de Santa Luzia, Cividade de Ân-cora, Santa Tecla, Cidá de Castro, Meirás, Coaña, etc.161 Cfr., vg., Bailly, A., Dictionnaire grec français. Paris, 1950, 397 (vb. γένος) e 1806 (vb. συγγένεια).162 Silva, A. C. F. 1986, Est. CXXVI, 18; CIL II 5595 (vide Hübner 1869-1892)=ILER 2124 (vide Vives 1971-1972); Cardozo 1985, 5, n.º 3.163 CIL II 5590 (vide Hübner 1869-1892)=ILER 2122 (vide Vives 1971-1972); Cardozo 1985, 10, n.º 8.

social e moral164, reportando-se, assim, à «casa-família» de Coronerus, que compreenderia os respectivos membros ligados por ascendência (seu pai Camalus) e descendência, consanguinidade e afi nidade, um dos quais (Caturo) poderá estar referido na segunda lápide. A este mesmo âmbito, se reporta a inscrição P. MACRI gravada no lajeado de uma «casa» do Castro de Romariz165 (Fig. 14), que seria propriedade da família de Publius Macer, que conta também com paralelos na Citânia de Briteiros sem a designação do vocábulo domus/casa. Além da residência e da descendência166, a família castreja teria também em comum as actividades económicas, os direitos de propriedade e de sucessão e o exercício de actividades religiosas. Segundo as fontes, a mulher ocuparia um lugar fundamental na estrutura desta unidade. A prática da covada167, a transmissão da herança por linha feminina168, a participação da mulher ao lado do homem na guerra e a sua intervenção indispensável na produção de alimentos, expressamente nos trabalhos agrícolas169, terão sido justifi cação sufi ciente para que Estrabão tenha falado numa certa γυναικοκρατία170, «ginecocracia», ou seja, em regime de matriarcado. Todavia, esta referência, directa e detalhada, de Estrabão ao matriarcado parece validar-se através dos testemunhos epigráfi cos encontrados na zona cântabra e dos que se referem a indivíduos dela procedentes171, que manifestam na época romana pervivência de vestígios de um sistema matriarcal na instituição do avunculado, em que o tio materno aparece como o chefe da matrilinhagem, e que, por confrontos da antropologia cultural, poderia funcionar como o sistema crow, que estabelece uma sucessão de varão a varão mas em linha

164 Benveniste 1975, 1, p. 304.165 Centeno 2011, 14-15.166 Os dados sobre inferências no domínio de parentesco são raras. Vg. Silva 2007, 378-379.167 Estrabão, III, 4, 17: τεκοῦσαί τε διακονοῦσι τοῖς ἀνδράσιν ἐκείνους ἀνθ᾽ ἑαυτῶν κατακλίνασαι “depois do parto, fazem-se substituir pelos seus maridos e cuidam deles”. (vide Strabo).168 Estrabão, III, 4, 18: παρὰ τοῖς Καντάβροις τοὺς ἄνδρας διδόναι ταῖς γυναιξὶ προῖκα [καὶ] τὸ τὰς θυγατέρας κληρονόμους ἀπολείπεσθαι τούς τε ἀδελφοὺς ὑπὸ τούτων ἐκδίδοσθαι γυναιξίν “entre os cantâbros, são os homens que dotam as esposas e as fi lhas que são as herdeiras e escolhem as esposas para os seus imãos”. (vide Strabo).169 Estrabão, III, 4, 17: γεωργοῦσιν αὗται “Elas cultivam a terra”. (vide Strabo).170 Estrabão, III, 4, 18: ἔχει γάρ τινα γυναικοκρατίαν “Têm portanto uma certa ginecrocacia”. (vide Strabo).171 Iglesias Gil 1974, insc. 30, 42.

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Teoricamente, em termos gerais, a mulher deve ter gozado do mesmo status social que o homem, podendo, com base na identifi cação de numerosos bens de prestígio, designadamente jóias de ouro usadas por mulheres, falar-se de uma hierarquia feminina a par de uma hierarquia masculina, seguramente comprovada. E ainda que não exercessem o poder político, revestir-se-iam de importância os casamentos com mulheres de status, para reforçar as alianças, como se depreende do casamento de Viriato com a fi lha de um magnata, do mesmo modo que o de Asdrúbal ou Aníbal, que se casaram com fi lhas de reis e/ou chefes, o que deixa transparecer o seu papel no jogo das alianças políticas entre as elites sociais. As práticas funerárias de sepultura no interior da própria habitação e, depois, em recinto próprio dentro do núcleo, melhor testemunhadas na Cividade de Terroso e na Cividade de Âncora181, se denunciam o lugar cada vez mais relevante que o agregado familiar foi progressivamente assumindo como unidade social no contexto das comunidades castrejas, são sobretudo a mais fl agrante invocação da coesão dos laços de sangue que permanecem vivos e presentes para além da morte, em referência clara a um culto dos antepassados, que seria com certeza ofi ciado pelo paterfamilias agindo como sacerdote na qualidade de representante qualifi cado da comunidade de linhagem. A união de vários grupos familiares organizados, descendentes do mesmo antepassado comum, constituiria a primeira unidade suprafamiliar com funções específi cas: o castro = castellum. Não havendo registo epigráfi co, por extenso ou siglado, correspondente a este nível de organização social, intermédia, no território compreendido entre o Douro e o Vouga, a ele se reportam duas referências opidâneas, retiradas das fontes clássicas justamente na área que P. Mela182 atribui a turdulorum oppida, que poderão corresponder aos lugares centrais dos Túrdulos Velhos, a norte, no Castro da Senhora da Saúde ou Monte Murado e, a sul, no Cristelo da Branca, senão no Cabeço do Vouga, dos Talabrigenses, com relação a um nível de organização superior. Considerando, porém, os sítios inventariados e os dados contidos na diversidade das fontes históricas e linguísticas, podemos supor uma ocupação do território segundo princípios

181 García y Bellido 1966, p. 10 (Fig. 1); Almeida 1972, p. 17 (Fig. 1); Silva A.C.F. 1980a, p. 311 (Fig. 4, 7).182 P. Mela III, 8 (vide Pomponii Melae); C. Plinius 4, 112-113 (vide Pliny The Elder).

feminina172, a fazer supor uma evolução de uma fase matriarcal para uma patriarcal, por infl uência indo-europeia, que teria seguido o esquema proposto por Tylor em fi nais do século XIX173, de acordo com investigadores desta problemática174. Da sobrevivência dessa forma transitória de sucessão matrilinear indirecta em contextos romanos, bem exemplifi cada entre os Vadinienses175, e o predomínio de inscrições em que a fi gura central é a mãe e nos falam de um tipo de família onde perduravam ainda as relações matriarcais, uma delas inequivocamente ainda manifestando uma sucessão matrilinear directa, procedentes de Penta Amaya e Monte Cildá (antiga Vellica), no Alto Pisuerga176, deduziram A. Barbero e M. Vigil177, concludentemente, a confi rmação da veracidade da informação de Estrabão sobre a existência de uma ginecocracia entre os Cântabros. Fórmulas análogas, com tipos de sucessão matrilinear indirecta, foram também já registadas entre os Astures por A. Schulten178. Resta indagar até que ponto a referência de Estrabão, localizada «entre os Cântabros»179, evocando um quadro de relações de produção específi ca de uma sociedade agrícola de subsistência anteriormente às transformações provenientes do exterior, se poderá generalizar ao conjunto dos povos do Noroeste, onde cada vez mais se vai observando uma diversidade de componentes étnicas e de organização social. De qualquer modo, fi ca observado que essa expressão do matriarcado não deverá ser entendida como estádio em que o domínio e a autoridade seriam apanágio exclusivo das mulheres, que os modernos estudos etno-antropológicos vêm revelando sem fundamento real e, a propósito, afi rmando que, nas sociedades matrilineares, onde a descendência e a propriedade se defi nem em relação à linha feminina, como seria o caso, a autoridade política e o controlo económico (a nível de grupos) e até a autoridade doméstica (a nível de família) são normalmente exercidas pelos homens180.

172 Bernardi 1978, 303 e 306.173 Tylor 1889.174 Vg., Iglesias Gil 1976, 35.175 Barbero-Vigil 1971, 220.176 Idem, 221-222.177 Idem, 223.178 Schulten 1962, 51 e ss; 106 e ss.179 Estrabão, III, 4, 18: παρὰ τοῖς Καντάβροις.180 Bernardi 1978, 261. Zonabend 1996, para perspectiva etnológica; para resumo, Fernández M., Matriarcado (Metriarchy), in Conceptos clave de la an-tropología cultural. Madrid-Barcelona-México, p. 210-211.

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cosmogónicos de fundo indo-europeu, testemunhado em contextos indianos, iranianos e célticos, com quatro unidades intermédias em torno de um santuário como centro axial. Retomando observações iniciais, os Cænii ocupariam o quadrante noroeste do hemisfério setentrional, os Hasta Regienses, a mesma posição na área meridional, faltando indicações para as zonas interiores, em torno de Castelo Paiva

e Arouca, que ocupariam o quadrante nordeste do hemisfério setentrional e, eventualmente, os Caminobrigenses em Vale de Cambra, com reconstrução toponímica, a sudeste. No centro, o núcleo fundacional, dos Lancobrigenses, eventualmente com a representação religiosa no sítio do castelo da Feira, fi cando a capital política dos Turduli Veteres no Castro da Senhora da Saúde, em Vila Nova de Gaia.

O inventário das estações castrejas regionais poderá percepcionar o quadro organizativo que sugerimos:

PORTO

Vila Nova de Gaia

Santa MarinhaCandal; Castelo de GaiaLong 08 37 26 / Lat 41 08 27 / Alt 78m

Fortes 1909, 11; Corrêa 1935; Mattos 1937, 16-17; Silva A. C. F. 1984, 44-48 e 1986, nº 430; Guimarães G. 1993; Silva A.M.P. 1994, n.º 32.

MafamudeCastroLong 08 35 06 / Lat 41 07 52 / Alt 87m

Fortes 1909, 11; Corrêa 1935; Mattos 1937; Silva A.C.F. 1986, n.º 431; Silva A.M.P. 1994, n.º 29.

Avintes / Vilar de AndorinhoCastro de BaizaLong 08 33 57 / Lat 41 06 49 / Alt 87m

Corrêa 1935; Mattos 1937; Sousa 1957, 40-41; Silva A.C.F. 1986, n.º 432; Silva A.M.P. 1994, n.º 28.

Oliveira do DouroCastroLong 08 34 21 / Lat 41 07 32 / Alt 63m

Corrêa 1935; Mattos 1937; Silva A.C.F. 1986, n.º 433; Silva A.M.P. 1994, p. 66.

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MadalenaCastro de AguimLong 08 38 19 / Lat 41 05 51 / Alt 62m

Fortes 1909, 11; Corrêa 1935; Mattos 1937; Silva A.C.F. 1986, n.º 434; Silva A.M.P. 1994, p. 66.

PerosinhoCastro Long 08 35 20 / Lat 41 04 25 / Alt 223m

Corrêa 1935; Mattos 1937; Silva A.C.F. 1986, n.º 435.

PedrosoCastro da Senhora da Saúde; Monte MuradoLong 08 34 25 / Lat 41 03 32 / Alt 241m

Fortes 1909, p. 1-28; Araújo J. R.1920, 27-33; Corrêa 1935; Mattos 1937, 13; Sousa 1957, 20-25; Silva A. C. F. 1983 e 1984 e 1986, n.º 436; Silva A.M.P. 1994, n.º 30.

CrestumaCasteloLong 08 38 21 / Lat 41 03 17 / Alt 57m

Corrêa 1935; Sousa 1957, 15-19; Silva A.C.F. 1986, n.º 437; Silva A.M.P. 1994, 66; Guimarães e Guimarães 2001, 43-47; Guimarães 2010, 30-31; Guimarães et alii 2011; Silva e Guimarães 2011, 5-13.

SandimCrastoLong 08 29 23 / Lat 41 01 46 / Alt 99m

Corrêa 1935; Mattos 1937; Sousa 1957, 13-14; Silva A.C.F. 1986, n.º 438; Silva A.M.P. 1994, n.º 31.

AVEIRO

Espinho

ParamosCastro de OvilLong 08 37 49 / Lat 40 58 42 / Alt 53m

Azevedo P. A. 1897; Santos M. Fe. 1940; Brandão F. A. 1982; Silva A.C.F. 1986, n.º 826; Silva A. M. P. 1994, n.º 14, 52; Salvador e Silva 2010, 53-73.

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Santa Maria da Feira

ArgoncilheCasinhasLong 08 31 47 / Lat 41 01 47 / Alt 144m

Sousa 1942; Silva A.C.F. 1986, n.º 827.

MoselosMonte MuradoLong 08 35 52 / Lat 41 00 00 / Alt 229m

Pereira F. A. 1907; Sousa 1942; Silva A.C.F. 1986, n.º 828; Silva A. M. P. 1994, n.º 17, p. 54; Pereira 2010, 113-116.

FiãesMonte RedondoLong 08 30 01 / Lat 40 59 06 / Alt 188m

Corrêa 1925; Sá 1938-39 e 1940; Teixeira 1938; Sousa 1942, 1954; Souto 1942, 317; Freire 1965; Almeida-Santos 1971, 1972; Kalb 1980, n.º 40, Abb. 7; Silva A.C.F. 1986, n.º 829; Silva A. M. P. 1994, n.º 16, 54; Pinto e Santos 2009, 139-156.

ValeMonte da MóLong 08 26 01 / Lat 40 58 49 / Alt 226m

Santos M. Fe. 1940; Silva A.C.F. 1986, n.º 830.

RomarizCastro de RomarizLong 08 27 25 / Lat 40 56 50 / Alt 375m

Azevedo P. A. 1896; Santos M. Fe. 1940; Sousa 1942 e 1954; Centeno 1976-77; Centeno-Silva A. C. F. 1982; Silva A.C.F. 1986, n.º 831; Silva A. M. P. 1994, n.º 18, 54; Centeno 2011.

FeiraCastelo Long 08 32 29 / Lat 40 55 19 / Alt 178m

Vasconcellos 1905; Távora 1917; Sousa 1942, 1954; Souto 1942; Encarnação 1971, 1975, 128-129, 291-292 e 1976; Silva A.C.F. 1986, n.º 832; Teixeira e Fonseca 2010, 75-85.

Castelo de Paiva

Santa Maria de SardouraMonte CastroLong 08 15 36 / Lat 41 01 50 / Alt 209m

Filgueiras J. C. O. - Marrana 1978; Silva A.C.F. 1986, n.º 833; Silva A. M. P. 1994, nº 13, 52.

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Santa Maria de SardouraValesLong 08 17 31 / Lat 41 03 51 / Alt 128m

Cardozo 1949; Almeida 1974, 162; Filgueiras J. C. O. - Marrana 1978; Silva A.C.F. 1986, n.º 834.

FornosCastelo de Paiva; Castro de FornosLong 08 15 34 / Lat 41 03 19 / Alt 187m

Filgueiras J. C. O.-Marrana 1978; Silva A.C.F. 1986, n.º 835; Silva A.M.P. 1994, n.º 12, 51.

RealMonte CastroLong 08 15 31 / Lat 41 00 58 / Alt 273m

Filgueiras J. C. O. - Marrana 1978; Silva A.C.F. 1986b, n.º 836.

Arouca

FermedoCasteloLong 08 24 27 / Lat 40 57 31 / Alt 351m

Silva A.C.F. 1986, n.º 837.

MansoresMonte CasteloLong 08 23 10 / Lat 40 55 59 / Alt 620m

Silva A.C.F. 1986, n.º 839; Silva A. M. P. 1994, n.º 6, 48.

EscarizMonte CorutoLong 08 24 17 / Lat 40 56 47 / Alt 510m

Silva A.C.F. 1986, n.º 838; Silva A. M. P. 1994, n.º 5, 48.

MansoresCastro de MansoresLong 08 22 27 / Lat 40 55 59 / Alt 410m

Silva A. M. P. 1994, n.º 7, 49.

Arouca / Stª EuláliaS. João de Valinhas; CrastoLong 08 15 20 / Lat 40 56 08 / Alt 332m

Silva A.C.F. 1986, n.º 840; Silva A. M. P. 1994, n.º 8, 49.

Covelo de PaivôRegoufe; Monte da Prova; Castro do MuroLong 08 09 19 / Lat 40 54 11 / Alt 660m

Cortez 1948; Simões Júnior 1962; Silva A.C.F. 1986, n.º 841.

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UrrôCividade de UrrôLong 08 17 56 / Lat 40 55 10 / Alt 358m

Silva A. M. P. 1994, n.º 9, 50.

AlvarengaCastro de AlvarengaLong 08 09 27 / Lat 40 57 25 / Alt 495m

Silva A. M. P. 1994, n.º 4, 47.RossasCividadeLong 08 17 48 / Lat 40 54 52 / Alt 424m

Silva e Leite 2010, 153-160.

Oliveira de Azeméis

CesarCastro de CalvoLong 08 34 37 / Lat 40 55 19 / Alt 463m

Silva A.C.F. 1986, n.º 842; Silva A. M. P. 1994, n.º 19, 55.

S. Martinho de Gândara; Ovar; S. Vicente de PereiraCastro de RecareiLong 08 30 19 / Lat 40 50 00 / Alt 244m

Souto 1942; Arêde 1935; Silva A.C.F. 1986, n.º 843; Silva A. M. P. 1994, n.º 21, 56.

Santiago de Riba-UlCrastoLong 08 24 56 / Lat 40 50 05 / Alt 358m

Silva A.C.F. 1986, n.º 844.

OsselaCastro de OsselaLong 08 24 53 / Lat 40 50 06 / Alt 358m

Madahil 1941; Souto 1942; Silva A.C.F. 1986, n.º 845; Silva A. M. P. 1994, n.º 20, 56.

Santa Maria de UlCastro de UlLong 08 29 48 / Lat 40 48 52 / Alt 109m

Souto 1942; Silva A.C.F. 1986, n.º 846; Silva A. M. P. 1994, n.º 22, 57.

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Vale de Cambra

Vila Cova do PerrinhoMonte CrastoLong 08 23 29 / Lat 40 43 51 / Alt 612m

Brandão 1963; Kalb 1980, nº 41, Abb. 7; Coffyn 1985, nº 140, 156, 202, 268; Silva A.C.F. 1986, n.º 847; Silva A. M. P. 1994, n.º 27, 59 e 1997, n.º 4, 41-42; Queiroga 2001, n.º 7, 116-119.

RogeSandiães; Castelo do Mau Vizinho; Castelo de SandiãesLong 08 21 00 / Lat 40 51 07 / Alt 366m

Almeida J. 1946; Silva A.C.F. 1986, n.º 848; Silva A.M.P. 1994, n.º 26, 59 e 1997, n.º 2, 40-41; Queiroga 2001, n.º 9, 90.

ArõesChão do Carvalho; Castro de ArõesLong 08 18 24 / Lat 40 49 07 / Alt 804m

Souto 1940; Almeida J. 1946; Silva A.C.F. 1986, n.º 849; Silva A. M. P. 1994, n.º 24, 58 e 1997, n.º 1, 39-40; Queiroga 2001, n.º 7, 30.

ArõesCastro de ParadaLong 08 17 11 / Lat 40 43 51 / Alt 428m

Silva A. M. P. 1994, n.º 25, 58 e 1997, n.º 2, 40; Queiroga 2001, n.º 20, 44.

Estarreja

SalreuCristeloLong 08 28 51 / Lat 40 44 40 / Alt 54m

Silva A.C.F. 1986, n.º 850; Silva A. M. P. 1994, n.º 15, 53.

Albergaria-a-Velha

BrancaCristeloLong 08 29 08 / Lat 40 44 20 / Alt 81m

Madahil 1941, 330; Arêde 1944, 291-295; Souto 1942; Silva A.C.F. 1986, n.º 851; Silva A. M. P. 1994, n.º 2, 46.

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Branca

Castelo de S. Gião

Long 08 28 04 / Lat 40 46 16 / Alt 333m

Souto 1942; Silva A.C.F. 1986, n.º 852; Silva A. M. P. 1994, n.º 3, 46.

Albergaria-a-Velha

Cristelo de Serém

Long 08 28 01 / Lat 40 39 50 / Alt 88m

Souto 1942; Silva A.C.F. 1986, n.º 853.

Aveiro

CaciaMonte de S. JuliãoLong 08 17 31 / Lat 40 41 43 / Alt 8m

Madahil 1941; Souto 1942; Silva A.C.F. 1986, n.º 858; Silva A. M. P. 1994, n.º 11, 50.

Um dos dados mais relevantes da nossa investigação em termos de povoamento foi sem dúvida a evidência epigráfi ca que obtivemos sobre a ocupação da margem Sul do Douro pelos Turduli Veteres183, confi rmando as referências de P. Mela184 e sobretudo C. Plinius185 assim como dados arqueológicos dos nossos trabalhos na região. Justamente invocando os elementos das nossas escavações, entendemos ter recolhido um conjunto signifi cativo de materiais sobre esta movimentação étnica, até agora sem comprovação arqueológica e que os dados cronológicos derivados do estudo estratigráfi co realizado particularmente no Castro de Romarizpermitem presumir ter

183 Silva, A. C. F. 2007, nº 632-633 (Epig. 46- 47).184 P. Mela, III, 8. (vide Pomponii Melae).185 C. Plinius, IV, 112-113. (vide Pliny The Elder).

tido lugar, em torno de 500 a.C., com certeza relacionada com as perturbações acontecidas no Sul da Península após a batalha de Alalia e que poderia contar com antecedentes datáveis dos séculos VII-VI a. C., deste modo nos afastando das datações dos meados do séc. II a.C. provocada pelas guerras celtibéricas e lusitanas, conforme pretendia A. García y Bellido186, entre outros cenários propostos. Confi nados a Norte pelo Douro e Oeste pelo Oceano, fi ca-nos ainda por resolver o problema da sua delimitação para Este e Sul, sendo presumível que o terminus augustalis de Riba-Ul187 defi na o termo meridional do seu território. Com efeito, em nosso entender, deverá ser revista

186 García y Bellido 1951.187 Silva, A. C. F. 2007, nº 640 (Epig. 55).

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a utilização deste monumento epigráfi co para demarcar os territórios de Talabriga e Lancobriga conforme a um critério viário de acordo com o Itinerarium de Antoninus Pius, uma vez que os termini augustales, pelos paralelos conhecidos com segurança na Lusitânia, delimitam étnicos maiores, o que não se coaduna, neste caso, concretamente em relação a Lancobriga, que nem sequer é citada por C. Plinius e, a ser identifi cada com o Castro de Fiães (Santa Maria da Feira)188 só no Baixo Império terá alcançado, pelos dados arqueológicos disponíveis189, uma posição de certo relevo, sendo verosímil que este terminus separasse os Turduli Veteres dos Paesuri, referidos por C. Plinius na sua sequência. Vindo a ser localizados, sem comprovação, na região de Cárquere e do Castro da Mogueira, junto ao Douro, poderão, nestas circunstâncias, situar-se, para Sul dos Turduli Veteres, na região de Dão-Lafões, a deduzir do radical do registo epigráfi co Paisicaicoi190.

A Religiosidade Indígena

A defi ciência das informações sobre a religião castreja antes da conquista romana é-nos compensada por uma numerosa documentação epigráfi ca posterior que permite corrigir, completar e sobretudo interpretar convenientemente os dados das fontes literárias, o primeiro dos quais será a afi rmação de Estrabão, III, 4,16 sobre o ateísmo dos povos do Norte da Península, que poderá ser interpretada, em termos de tabu, entre outras versões191.

188 Cfr. sobre o problema, bibliografi a da autoria de Pereira F.A. 1907; Mat-tos 1937; Sá 1938-39 e 1940; Sousa 1942; Almeida-Santos 1971 e 1972, entre outra. O argumento epigráfi co retirado da hipótese de desdobramento da expressão p(osuit) L(ancobriga) l(ibens) da ara dedicada a Júpiter referenciada nesse castro (Almeida-Santos 1971, 159) deverá ser substituída, naturalmen-te, por p(osuit) l(aetus) l(ibens) ou respectivo plural, em consideração aos pa-ralelos dessa fórmula.189 Evidência fundamentada nos resultados das escavações aí efectuadas, em especial por Almeida-Santos 1971 e 1972. De um corte estratigráfi co da muralha, que aí realizámos em 1980 em colaboração com Rui Centeno, no âmbito do apoio pedagógico à nossa docência dos cursos de variante de Arque-ologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, chegámos a idêntica conclusão.190 Silva, A. C. F. 2007, nº 722 (Epig. 137). Reis 1997, 10-11. A inscrição rupestre de Pindelo, Nespereira, Cinfães, não lhes diz respeito porque, onde se viu uma referência aos Paesuri (Encarnação-Pinho 2001; FE 299) encontra-se a forma verbal “patitur”. 191 Blázquez 1962, 28, citando idêntica prática entre os germanos (Tacitus, Germania, IX). Cfr. outras interpretações, vg., ateísmo 0 religião «bárbara», in Bermejo 1982, p. 13-20 (cap. I). Idem sobre o signifi cado de ausência de re-presentações iconográfi cas das divindades, com referências a paralelos irlande-

Com efeito, os dados recolhidos manifestam um vasto panteão com relações muito estreitas às unidades étnicas e de organização social, aos seus diversos níveis.Já, a propósito da análise do habitat tivemos a oportunidade de documentar um conjunto diversifi cado de circunstâncias, de que recordamos a existência de um cartibulum que poderia funcionar como mesa de sacrifícios de um santuário doméstico no pátio interior de um agregado familiar do Castro de Romariz, Santa Maria da Feira (Fig. 10), onde o paterfamilias ofi ciaria a celebração de sacrifícios que teriam lugar, entre outras manifestações de culto, em rituais funerários ou repetição de actos de comunhão com os espíritos antepassados eventualmente conexos com cultos de fecundidade que teriam sobretudo vez por ocasião da realização de alianças matrimoniais, entre os momentos mais decisivos da vida familiar. Segundo M. Almagro-Gorbea, tratar-se-á de uma mensa de pedra ou altar de sacrifícios doméstico, situado no pátio interior de um importante complexo familiar, que se poderá interpretar mesmo como uma domus nobilis, porventura a Regia local, considerando o destaque que alcança no povoado. Este altar está orientado para Sudoeste, o que confi rmaria um culto ctónico ou funerário onde o pater famílias ofi ciaria os sacrifícios rituaos aos antepassados, protectores da fecundidade, com paralelos de orientação e função no altar do Castrejón del Capote (na Betúria céltica). Esta estrutura cultual recorda o santuário doméstico da domus de Quintus Sergius Macrinus, em Argentomagus192, com um altar ou mesa de oferendas face a duas esculturas de antepassados, uma delas com torques e uma serpente, contexto que confi rma a sua relação com o culto a um antepassado heroicizado193.

Uma ara votiva de Duas Igrejas (Romariz) (Fig. 15) tem sido interpretada como uma dedicação a Júpiter, também referenciado no Castro de Fiães194 e em Arrifana195. Em nosso

-ses relativamente aos deuses Teutates (Vendryes 1948, 264), gauleses em relação a divindades da fl oresta (Lucanus, Farsalia, III, 417) e peninsulares ao nome da lua (Estrabão, III, 3, 16). As nossas observações, com possíveis iden-tifi cações de imagens divinas divergem desta interpretação.192 Coulon 1996, 87 e 141.193 Almagro-Gorbea e Lorrio-Alvarado 2011, 214-215.194 Almeida-Santos 1971, 158-159; Gonçalves-Dias 1979, 30; Garcia 1991, 395; Silva, A. M. P. 1994, 118-119.195 Vasconcellos 1913, 506-507; Saa 1952, 158-159; Sousa s/d, 86-87; Garcia 1991, 395; Silva, A. M. P. 1994, 117-118.

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entender, este designação invocará uma divindade indígena cada vez mais expressivamente documentada com o teónimo de Ilurbeda, cuja leitura preferimos, considerando sobretudo as referências hidronímicas e toponímicas que o vocábulo, se enquadrado linguisticamente no Vasco, transmite com o signifi cado de “água” (ilur/-ur/ul), presente no principal curso de água da região e “passagem/porto” documentado na toponímia actual e na documentação medieval referente ao Castro de Romariz com o nome de Portela, interpretável como versão medieval da palavra beda, segundo a mesma família linguística196. Esta interpretatio pretende apenas desafi ar o aprofundamento da pesquisa da estratigrafi a linguística do povoamento regional que, neste caso, evocaria reminiscências pré-indoeuropeias, apelando para a antiguidade do povoamento deste território, conferindo a este núcleo carácter fundacional. Sem mais registos de religiosidade indígena que atestem conformidade com a organização da sociedade de tipo tripartida e trifuncional indo-europeia, não deixa de ser inestimável a presença de uma referência votiva do grupo Band-, que entendemos como expressão de um nome comum equivalente a deus/deia, lar ou genius que o seu presumível signifi cado etimológico parece traduzir. Com efeito, das invocações epigráfi cas do Castelo da Feira197 (Fig. 16) assim esquematizadas

1 2 3

Bande Velugo Toiraeco

I I I

Deo Volenti Tueraeo

1 3 2

parece clara a dedução de uma equivalência do vocábulo Band-, indígena, com o de deus, romano, para mais considerando o paralelismo entre Toiraeco e Tueraeo198 e os

196 Hernando Sobriño 2005.197 Silva, A. C. F. 2007, nº 663 (Epig. 78) e nº 734 (Epig. 149). Quadro 3:4, Est. XIII:14. 198 Silva, A. C. F. 2007, nº 663 (Epig. 78). Bande Velugo Toiraeco = Deo Tueraeo (Quadro 3: 4, Est. XIII, 14).

termos velugo e volenti, do mesmo radical *vel/vol, que entram em variantes com afi nidade de formação em qualifi cativos divinos bem conhecidos, como os que se referem a Endovélico199, interpretado como forma superlativada ande- do adjectivo *vello-, com signifi cado de ‘o melhor’, ‘optimus’, como Júpiter. A implantação meridional, entre os célticos, a sugerir, em eventual associação com os Túrdulos, segundo a referência estraboniana de Endovélico, faz-nos sugerir que se trataria de uma divindade jupiteriana, tutelar, dos Túrdulos, que teriam, porventura, no sítio destes achados a localização de um espaço especial de sacralidade que a intervenção arqueológica no Castelo parece avalizar200. Os aprofundamentos linguísticos201, a partir de outra etimologia do nome do deus, fazendo-a derivar do céltico *vailo- “lobo” que aparece nas invocações do castelo da Feira, pode comparar-se com a do deus gaulês Sucellus, que aparece numa representação coberto com a pele desse animal, que alcança grande signifi cado nas festas romanas a Júpiter, com a designação de Lupercalia e que é sucedâneo da designação indígena em ara própria, romana, erigida no mesmo local, evidenciando aculturação progressiva do mundo indígena ante o domínio romano. Cabe neste quadro, renovar a leitura do universo linguístico regional, fazendo relacionar o signifi cado deste animal como símbolo da própria divindade, associada à tutela do grupo étnico dos Turduli Veteres, eventualmente referenciado no epíteto das epigrafes votivas do castelo da Feira, que em épocas recuadas se implantou neste território, em conformidade com o testemunho de numerosas invocações toponomásticas perviventes.

199 Cfr. Encarnação 1984, 800-805; Ribeiro J.C. 2002.200 Teixeira 2008, 137-144.201 Olivares Pedreño 2002, 228-231.

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50 ANEXOS

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Fig. 01 – Castros do Noroeste de Portugal e pormenor da sua área meridional.

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Fig 02 – Planta geral do Castro de Romariz.

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Fig. 03 – Vias que uniam os principais povoados tartéssicos ou de colonização tartéssica (Séc. VII a. C.)

Fig. 4 – Quadro e gráfi co referente à cerâmica do Castro de Romariz.

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Fig. 05 - Planta da domus do Castro de Romariz.

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Fig. 06 – Cortes estratigráfi cos das escavações arqueológicas do Castro de Romariz.

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Fig. 07 – Vista aérea da domus do Castro de Romariz, em fase de escavação.

Fig. 08 – Imagem do guerreiro de S. João de Ver (Santa Maria da Feira).

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Fig. 09 – Reconstituição da domus do Castro de Romariz.

Fig. 10 – Cartibulum.

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Fig. 11 – No Monte Murado, registam-se paralelos construtivos, como é este caso registado no lugar da Idanha.

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Fig. 12 – Planta da casa de Decimus Iulius Cilo, no Monte Murado (Vila Nova de Gaia).

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Procedência: Monte Murado ou Castro da Senhora da Saúde, Pedroso, V. Nova de Gaia.

Leitura: Q(uinto) Caecilio Metello A(ulo) Licinio co(n)s(ulibus) D(ecimus) Iulius D(ecimi) f(ilius) Gal(eria tribu) Cilo hospitium fecit sibi liberis posterisque suis cum Nigro et Rufo et Prisco Turdulis Veteribus liberis posterisque eorum.

Procedência: Monte Murado ou Castro da Senhora da Saúde, Pedroso, V. Nova de Gaia.

Leitura: Q(uinto) Sulpicio Camerino C(aio) Poppaeo Sabino co(n)s(ulibus) D(ecimus) Iulius M(arci)f(ilius) Gal(eria tribu) Cilo hospitium fecit cum Lugario Septanii f(ilio) ex Turduleis Veteribus eumque recepit leiberorum posterorum que suorum egit Lugarius Septanii.

Fig. 13 – Tesserae hospitalis do Castro de N. S. da Saúde/Monte Murado (Vila Nova de Gaia).

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61Fig. 14 – Inscrição encontrada, em 2003, no Castro de Romariz.

Procedência: Cemitério de Duas Igrejas, Romariz

Leitura: Flaus Flavini f(ilius) v(otum) p(osuit) I(lurbedae) (?)

(Foto: Dias 1979, 81)

Fig. 15 – Ara votiva de Duas Igrejas (Romariz) e a nossa sugestão de leitura.

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Procedência: Castelo de Santa Maria da Feira

Leitura:Bande Ve-lugo Toir-

aeco L(ucius) Lat-rius Blaes-

us v(otum) l(ibens) a(nimo) s(olvit).

Procedência: Castelo de Santa Maria da Feira

Leitura:Deo

TueraeoVolentiArcius

Epeici (fi lius) B-racarus

s(acrum) f(ecit).

Fig. 16 – As duas aras encontradas no Castelo da Feira, no início do século XX.

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63existência de Deus, transcendente ao homem, mas também a Sua relação amorosa com as Suas criaturas e o convite que, pela encarnação do Verbo eterno de Deus, lança à humanidade na dignifi cação pessoal de cada individuo. Como afi rma o Concilio Vaticano II «a Igreja acredita que Cristo, morto e ressuscitado por todos, oferece à humanidade, pelo Seu Espírito, a luz e as forças que lhe permitem corresponder à sua altíssima vocação e que não há debaixo do céu outro nome dado aos homens pelo qual eles devam ser salvos» (GS, 10). A Igreja está igualmente convicta e proclama como verdade que a chave, o centro e o fi m de toda a história humana se encontram em Jesus Cristo. Mas o medo que parece invadir a vida e a convivência dos homens de hoje só poderá ser combatido pela verdadeira sabedoria. Tal como nos narra a primeira leitura, exige-se o esforço e a abertura à profundidade do nosso ser onde nos encontramos com a verdade autêntica, onde se desvanecem as aparências e as futilidades e somos chamados a viver a comunhão perfeita com Deus onde tudo tem consistência e a paz não sofre ameaças. O medo da vida, do futuro, da convivência e da verdade acerca de cada sujeito, perguntamo-nos, não estará relacionada com o afastamento de Deus da esfera pessoal e comunitária gerando então um desejo desenfreado de ter, de prazer e de poder? Temos necessidade da verdadeira sabedoria porque, como afi rma o Concilio

Festa de S. SebastiãoSanta Maria da Feira, 20 Janeiro 2012

Homilia

Dom João Lavrador*

«Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma». Neste dia em que celebramos a S. Sebastião, padroeiro desta cidade de Santa Maria da Feira e das gentes deste município, ecoa para nós, em tempos tão distantes mas tão semelhantes ao da primeira proclamação evangélica, o convite «não temais». Precisamos de interiorizar verdadeiramente esta advertência para vivermos em confi ança na nossa cultura marcada por tantos sinais de morte e de medo. Refere o evangelho que a pessoa humana tem um valor inestimável perante Deus Pai e Criador. Temos necessidade de exaltar a dignidade do ser humano no contexto de uma cultura que projectou o medo e cerceia o homem de algumas as suas dimensões e sobretudo da mais nobre e dignifi cante que diz respeito à sua relação com Deus. Quando somos submergidos por modelos pagãos de vida, onde se exalta o sensual, o material, a ganância e os apetites desenfreados, é forçoso reconhecer o avanço civilizacional e cultural, antropológico e consequentemente ético que o cristianismo trouxe à humanidade, não só em afi rmar a

*Bispo Auxiliar do Porto.

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Deocleciano é senhor do mundo, protótipo do ser humano obcecado pelo domínio de tudo e de todos, que no próximo só consegue ver um rival para combater. No fundo, se meditarmos bem, até Deus lhe parece um rival, aliás, um adversário particularmente perigoso, que gostaria de privar os homens do seu espaço vital, da sua autonomia, do seu poder; um concorrente que indica o caminho a percorrer na vida, e assim impede que se realize tudo o que se deseja. É verdade: aparentemente parece que a violência, os totalitarismos, a perseguição, a brutalidade cega se revelam mais fortes, fazendo silenciar a voz das testemunhas da fé, que podem humanamente parecer derrotadas pela história. Mas Jesus ressuscitado ilumina o seu testemunho e compreenderemos, deste modo, o sentido do martírio. Afi rma a propósito Tertuliano:

num dado passo, «a natureza inteligente da pessoa humana aperfeiçoa-se e deve aperfeiçoar-se por meio da sabedoria que atrai com suavidade a inteligência humana à investigação e ao amor da verdade e do bem; impregnado dela, o homem é conduzido pelas coisas visíveis para as invisíveis» (GS. 15). Por isso, a nossa época tem necessidade da verdadeira sabedoria para que as novas descobertas se tornem mais humanas.Celebramos a festa de S. Sebastião, mártir do século III, soldado romano que por ajudar os cristãos e se condoer das atrocidades que sobre eles infringiam as autoridades romanas acabou por sofrer o martírio sob as ordens do imperador Deocleciano. Os poderes do mundo não toleram a presença de Deus nem a Sua revelação. O ser humano não tolera ser confrontado nos seus critérios, nas suas opções e no seu poder.

Homilia.

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solidariedade humana será tanto mais consistente quanto todos os homens se reconhecerem como fi lhos de Deus. Vivemos muitos problemas na sociedade actual mas podemos correr o risco de nos situarmos apenas na superfi cialidade dos mesmos encarando-os na dimensão económica e fi nanceira, quando a verdadeira raiz do mal estar actual, como diz o Papa, é de ordem antropológica e cultural. É urgente recolocar a pergunta acerca do homem e com ela e no seu aprofundamento as questões sobre a verdade e a autêntica liberdade dignas do ser humano. É urgente interrogar-se sobre os valores que informam a cultura

actual e como estamos a construir uma sociedade onde o ser humano toma o centro de todas as decisões e onde as diversas dimensões do homem são igualmente valorizadas reconhecendo nele um ser transcendente e, como pessoa, relacionado com os outros e com Deus. Ao referir-se à promoção da cultura, o concilio afi rma que aumenta o número de homens e mulheres que tomam consciência de serem os artífi ces e os autores da cultura na sua comunidade. Adianta ainda que cresce cada vez mais o sentido da responsabilidade e da autonomia o que se reveste de muita importância para a maturidade espiritual e moral do género humano. Tudo isto ainda se torna mais evidente se perscrutarmos os anseios a um mundo mais unido e a missão comum de edifi carmos um mundo melhor na verdade e na justiça. Deste modo, «somos testemunhas do nascimento dum novo humanismo, no qual o homem se defi ne, principalmente, pela responsabilidade perante os seus irmãos e perante a história» (GS. 55). Assistindo ao desmoronar de uma sociedade e de uma cultura que exaltaram o humanismo sem Deus e mesmo contra Ele que acabou por se virar contra o homem, é necessário construir uma nova forma de estar e de se relacionar pautada por um novo humanismo que só será digno do homem se Deus tiver o Seu lugar. As palavras do Evangelho pelas quais Jesus Cristo nos

«Nós multiplicamo-nos todas as vezes que somos ceifados por vós: o sangue dos mártires é semente de novos cristãos» (Apol., 50, 13: CCL 1, 171). Na derrota, na humilhação de quantos sofrem por causa do Evangelho, age uma força que o mundo não conhece: «quando me sinto fraco exclama São Paulo é então que sou forte» (2 Cor 12, 10). É a força do amor, indefeso e vitorioso também na derrota aparente. É a força que desafi a e vence a morte (cfr. Bento XVI, homilia, 7 Abril 2008). Dizia há poucos dias Bento XVI perante estudantes universitários que não temos necessidade de um deus genérico, indefi nido, mas do Deus vivo e verdadeiro, que abra o horizonte do futuro do homem a uma perspectiva de esperança fi rme e segura, rica de eternidade e que permita enfrentar com coragem o presente em todos os seus aspectos. Mas então deveríamos perguntar-nos: onde encontra a minha busca a verdadeira face deste Deus? Ou melhor ainda: onde vem ao meu encontro o próprio Deus, mostrando-me o Seu rosto, revelando-me o seu mistério, entrando na minha história? (Bento XVI alocução aos estudantes universitários, 15 de Dezembro de 2011). Este é um dos maiores desafi os que esta celebração nos lança a todos nós, procurar Deus porque só nesta busca se encontra a resposta à pergunta mais profunda que o ser humano terá de colocar-se. Mas mais ainda, a

Missa Solene

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Precisamos de uma proclamação da esperança sólida e consistente. E ela só o será se for verdadeiramente fundamentada e credivelmente testemunhada. São necessárias mensagens de esperança, Boa Nova que ilumine e desperte o ser humano para a sua realização plena, mas precisa também de gestos concretos de comunhão, de justiça, de verdade, de fraternidade, de solidariedade e de caridade.Estas fogaceiras que hoje cativam o nosso olhar devem ser sinal de tantos que na marginalidade da nossa sociedade imploram por integração e dignifi cação, são desempregados que procuram o sustento para si e para as suas famílias, são injustiçados a clamar por justiça, são espoliados a reclamar o direito ao que é seu, são os pobres e humildes a reclamar a sua cidadania, são os migrantes a exigir espaço para eles.A humanidade é um todo ou não é humana. Muitos interesses

exorta a reconhecer que só Deus é absoluto e que as relações pessoais devem libertar-se a partir da prioridade dada à relação com Deus são iluminadoras de uma nova ordem comunitária. Porque só dando a vida se pode salvá-la. Esta foi a verdadeira experiência e convicção dos mártires. Eles ensinam-nos que só na escola da cruz se podem apreciar todas as coisas e só a partir dela se pode estabelecer uma relação pessoal com Deus, com os outros e com as coisas que dignifi que todos os seres humanos.Estai sempre prontos a dar as razões da vossa esperança, diz-nos S. Pedro. Esta nossa celebração mergulha na tradição deste povo de Santa Maria da Feira que no meio do desespero procura o alívio e a esperança. Busca-a em Deus embora se manifeste na proximidade com S. Sebastião a quem recorre para o livrar dos males que o afl igem.

Fogaceiras.

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próprio Filho Jesus Cristo. A Eucaristia, celebração tão simples e humilde, torna-se no maior dos desafi os e das maiores propostas humanizadoras da sociedade dos homens de todos os tempos e também do nosso. Esta mesa eucarística torna-se sinal da grande mesa para a qual Deus quer convidar todos os homens para saborearem dos bens que só Deus Pai nos pode oferecer. Mas é também compromisso a olhar toda e qualquer pessoa como irmã com a qual sou obrigado a partilhar da minha vida. Termino implorando de S. Sebastião para a autarquia do município da Feira, para as suas gentes, para os mais carenciados e os que de algum modo buscam uma sociedade melhor as suas graças e bênçãos.

Amén.

particulares e obscuros estão a fazer tremer a nossa sociedade. Não podemos caminhar numa solução que continue com os mesmos caminhos que de humanos nada têm. O homem todo e todos os homens têm de estar no centro das decisões político-sociais e a força humanizadora que cada um de nós traz em si deve agora despontar em criatividade, esforço, partilha, comunhão e solidariedade. Somos peregrinos do amor. Prosseguimos no amor e só no amor infi nito o homem se encontra saciado. Por isso, consciente ou inconscientemente, somos peregrinos à procura de Deus que nos dá tantos sinais da sua presença mas que nós tão teimosamente queremos ignorar. A fogaça, pão de acção de graças, só tomará o seu sublime signifi cado se nos conduzir a um outro pão que pela intervenção do Espírito de Deus nos faz comungar o Seu

Procissão. Em primeiro plano os presidentes da Câmara Municipal e da Assembleia Municipal.

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Paraísoonde me recolho e declinoquarto vagodiminuto berçoperdido na tempestade

Paraísoa primeira palavra, do teu corpoela encoraja as precesanunciando a visita, ao teu íntimoquando te plantas em mim

Paraísogotas quentesalvorecem no teu corpoo teu esplendor exála aromasprovocados por nós

Paraísocomo quem partedeito-me na chuvapara que me colhasantes do alvorecer

Paraísodesfolhando relâmpagoseu espero ao sol, que a noite cheguecom a esperança que regressesquando for dia

Paraísoamanhã talvezas curvas do teu corpo, se façam minhase os sons pronunciadossejam de amor

Paraíso!António Madureira*

*Nasceu em 1963, na freguesia de Massarelos, Porto.Actualmente reside e exerce a sua actividade profi ssional em Santa Maria da Feira.

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* Professor Catedrático da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, jubilado.

ALUNOS DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO ORIUNDOS DO CONCELHO DE SANTA MARIA DA FEIRA (1877-1911)

Francisco Ribeiro da Silva*

1- Introdução

A ideia da elaboração deste trabalho surgiu da necessida-de de, por razões outras, consultar os Anuários da Academia Politécnica do Porto que foram publicados ano a ano, sem interrupção, entre 1877 e 1911. Percorrendo os Anuários, verifi ca-se que neles se regista, um ano após outro, o nome, o nome do pai, a terra de origem e as cadeiras em que cada aluno se matriculava. Raramente se indica o curso frequentado, mas pelas cadeiras de inscrição é possível ter-se boa presunção dos objectivos perseguidos pelos matriculados. Daí, a ideia óbvia da organização de uma lista dos alunos naturais do nosso Concelho. Esta recolha não terá muito maior importância do que a curiosidade que possa despertar eventualmente a conterrâneos, descendentes ou familiares destes antigos alunos. Para além de o período abrangido ser curto (34 anos), não contempla todos os jovens do concelho que

ingressavam no Ensino Superior, visto que alguma parte dos potenciais candidatos talvez preferisse a antiga e prestigiada Universidade de Coimbra onde se podiam formar nas áreas dos Direitos Civil e Canónico, da Medicina, da Teologia, da Filosofi a Natural e das Matemáticas ou, embora mais raramente, outros estabelecimentos situados em Lisboa (Escola Politécnica, Curso Superior de Letras, para além da Escola do Exército e da Escola Naval) ou ainda a Academia Portuense de Belas Artes, fundada em 1836 ou o Instituto Industrial do Porto que funcionava no mesmo edifício da Academia Politécnica. Na cidade do Porto existiam também a Escola Médico-Cirúrgica (1836) e a Escola de Farmácia a ela anexa. Mas para as frequentar, os alunos teriam que passar primeiro ou em simultâneo pela Academia Politécnica1. E não devem esquecer os Seminários. Os alunos da Academia Politécnica vieram um pouco de todo o país, das Ilhas Atlânticas, das Colónias e até do Brasil. A maioria proveio da metade norte do país, com prevalência para a cidade do Porto. Há anos em que cerca de 30% dos alunos são nascidos no Porto. Os três concelhos do distrito de

1 Para ingressar na Escola Médico-Cirúrgica, os alunos tinham que fazer as seguintes cadeiras: 6ª (Física geral e física prática - 8 h/semana); 7ª (Química inorgânica geral. Química prática/8 h. semana); 8ª (Química orgânica, biológica e analítica e química geral/ 8 h/semana); 10ª (Botânica Geral - 6h/semana e 11ª (Zoologia geral – 6h/semana).O ingresso na Escola de Farmácia exigia apenas 3 cadeiras: 7ª, 8ª e 10ª.

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Aveiro que mais alunos forneceram neste período à Academia Politécnica foram o de Santa Maria da Feira, o de Oliveira de Azeméis (em alguns anos suplanta o da Feira ) e o de Ovar.

2 – A ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO

Para o leitor ter uma ideia do que estamos a falar, informamos que a Academia Politécnica do Porto foi fundada em 1837 por um decreto de D. Maria II, apresentado por Manuel da Silva Passos, Secretário de Estado dos Negócios do Reino. Por esse decreto, a Rainha reformava a antiga Academia Real da Marinha e Comércio do Porto, que fora criada por D. João VI em 1803, fundando no seu lugar a Academia Politécnica do Porto. Mas o seu verdadeiro impulsionador foi Passos Manuel a quem aliás, se devem outras meritórias instituições de educação e de instrução. Por sua vez, a Academia Real da Marinha e Comércio do Porto resultara da reforma da antiga Aula de Náutica (fundada em 1762) e da Aula de Debuxo e Desenho (criada em 1779). Acrescente-se, já agora, que a Universidade do Porto, criada por decreto de 22 de Março de 1911, sucedeu imediatamente à Academia Politécnica do Porto, mas as suas raízes mais antigas remontam, por conseguinte, a 1762 e a 1779.

Na história da Academia Politécnica do Porto, reconhecem-se 2 períodos: um que vai de 1837 a 1885 durante o qual a Instituição se foi mantendo com grandes difi culdades de fi nanciamento e teve que lutar, com parcos resultados, contra a discriminação quase escandalosa do Poder central em favor das instituições congéneres da capital. O segundo, de 1885 a 1910, depois da refundação levada a cabo pelo lente e homem público Wenceslau de Lima, foi um período de afi rmação da Academia Politécnica como Escola útil, credível e prestigiada.

Para que servia a Academia Politécnica do Porto? Essencialmente destinava-se à formação de técnicos industriais, comerciais e agrícolas. Assim, pelo programa inicial de 1837 competia-lhe formar: 1º Engenheiros civis, (ou seja, engenheiros de minas, engenheiros de pontes e estradas e engenheiros geógrafos); 2º Comerciantes; 3º Agricultores; 4º Directores de fábricas; 5º Artistas.

6º Ministrava ainda cursos preparatórios para a Escola do Exército, para a Escola Naval, para as Escolas Médico-Cirúrgicas e para a Escola de Farmácia nas Escolas Médico-Cirúrgicas.

A partir de 1885, desapareceram os cursos de Agricultores, Directores de Fábricas e Artistas, por inadequados às novas directrizes legislativas, e os cursos de engenharia foram reformados, passando a ter novas designações, a saber: engenheiros civis de obras públicas, engenheiros civis de minas e engenheiros civis industriais. Mantiveram-se o Curso de Comércio (por pouco tempo) e os Cursos Preparatórios referidos. Já no fi nal da sua existência, em 1903-04, a Academia Politécnica começa a ministrar o curso de Professores de Matemáticas, de Ciências Físico-Químicas, Histórico-Naturais, e ainda de Desenho de Plano dos Liceus. Estes cursos duravam quatro anos, mas o 4º ano era feito em Lisboa, no Instituto Superior de Letras.

- OS ALUNOS DA ACADEMIA POLITÉCNICA NATURAIS DO CONCELHO DE SANTA MARIA DA FEIRA

Ao todo, no período que vai de 1877 a 1911, contamos 32 alunos naturais do Concelho de Santa Maria da Feira. Média inferior a um aluno por ano. Mas como cada aluno, com raríssimas excepções, se inscrevia em anos sucessivos, havia sempre alunos originários das freguesias da Feira. A única excepção foi o ano de 1877/78.

3.1 – Freguesias de origem

Mais de metade das freguesias do então Concelho da Vila da Feira tiveram um ou mais alunos na Academia Politécnica do Porto. Eis a lista e o número: Argoncilhe (1); Canedo (2); Fiães (1);Gião (2); Lamas (2); Louredo (1); Moselos (4); Mosteiró (1); Oleiros (3); Paços de Brandão (1); Romariz (2); S. Jorge (1); São João de Ver (1); Souto (2); Travanca (1); Vale (1); Vila da Feira (6). Algumas freguesias contaram mais que um aluno. Merecem destaque Moselos com 4 alunos e sobretudo a sede do Concelho com 6.

3.2 – Questões de género

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em que se inscreveu. Partindo dessa informação, como dissemos, é possível uma aproximação aos objectivos profi ssionais do aluno. Assim, fazendo fé nas informações objectivas do Anuário, sabemos que entre 1880 e 1883 alguns alunos seguiram o Curso de Agricultor, outros preparavam-se para ingressar nas Escolas Médico-Cirúrgicas e nas Escolas de Farmácia, cumprindo o programa acima referido3. Por conseguinte, parece correcto afi rmar-se que os cursos de agricultor, médico e farmacêutico foram os mais procurados pelos alunos oriundos do nosso Concelho. Não se pense, porém, que quem cursasse agricultura se teria que limitar profi ssionalmente no futuro à gestão agrícola. Lembraremos, a propósito, que o célebre Bento Carqueja, natural de Oliveira de Azeméis, empresário, publicista, escritor, naturalista, director de «O Comércio do Porto» e professor da Academia Politécnica e da Universidade do Porto, possuía como formação de base, referida no seu curriculum vitae, o Curso Superior de Agricultura da Academia Politécnica do Porto, que, aliás, como dissemos, deixou de ser leccionado a partir de 1885. Outros ingressavam nos Cursos de Engenharia. Sabemos, por exemplo, que António Xavier Gomes dos Santos, que inicialmente se inscrevera no curso de Agricultor, concluiu o Curso de Engenheiro de Obras Públicas em 1892 mas apenas recebeu a carta de curso em 7 de Setembro de 1905, cerca de 13 anos depois. Porquê a demora? É que a carta de curso apenas era dada a quem a pedia. E nem todos os engenheiros requeriam esse diploma ou nem todos o requeriam no fi m do curso. Outros alunos do Concelho terão frequentado e concluído os cursos de Engenharia. Mas, a acreditar na documentação disponível, nenhum mais requereu a carta de curso. A indicação das cadeiras frequentadas confi rma-nos que a maior parte dos alunos naturais da Feira optou pela Academia Politécnica para fazer os preparatórios para a Escola Médico-Cirúrgica e, menos, para a de Farmácia.

3.4 – A projecção social, económica e cultural dos Feirenses que cursaram a Academia Politécnica

Seria interessante seguir o rasto destes 32 antigos alunos e tentar perceber o que foram na vida. O facto de, nos fi nais do séc. XIX e princípios do séc. XX, terem frequentado o

3 Ver nota 1.

Na quase totalidade trata-se de alunos do sexo masculino. Mas há uma excepção de grande signifi cado. É que a primeira aluna da Academia Politécnica do Porto nasceu na freguesia de Canedo, fi lha de Manuel José Paes Moreira. Ingressou depois na Escola Médico-Cirúrgica do Porto e veio a ser uma das três primeiras médicas formadas por essa Escola. Foi também uma das primeiras médicas de Portugal. Há um pormenor curioso com a menção desta aluna no Anuário da Academia Politécnica de 1884/85, ano do seu ingresso. É que o redactor dessa publicação em vez de Maria escreveu Mário. Não se trata de mera gralha tipográfi ca, mas de um acto voluntário. Por que é que o afi rmamos? Porque os nomes dos alunos aparecem em dois locais: numa lista geral organizada por ordem alfabética e é nessa que aparece o tal «Mário». E depois aparecem também as listas dos alunos, cadeira a cadeira. Aí aparece o nome correcto: Dª Maria Leite da Silva Tavares Paes Moreira. Só que em vez de aparecer no sítio exigido pela ordem alfabética, aparece apenas no fi m da lista, fora da ordem normal. A razão da «anomalia», a nosso ver. é que sendo a primeira mulher a entrar naquele estabelecimento de ensino superior, num ambiente até então reservado a homens, a sua admissão teria suscitado algum desconforto pelo inusitado. Não era ilegal mas era surpreendente e fracturante. No ano seguinte, entraram mais duas alunas. Já eram três, o que tornava irreversível o processo. Não foi mais necessário esconder ou camufl ar o que quer que fosse. Provavelmente os jornais da época fi zeram-se eco do glorioso rompimento desse tabu. Não tivemos tempo para o verifi car. De qualquer modo, mulher de coragem foi essa Maria Leite da Silva Tavares Paes Moreira! Já agora não deixa de ser curioso acrescentar que a primeira aluna da Universidade de Coimbra foi também uma feirense – Domitila Hormizinda Miranda de Carvalho, natural de Travanca2. 3.3 – Os Cursos frequentados

Como dissemos acima, raramente se indica o curso frequentado pelo aluno. Mas indicam-se sempre as cadeiras

2 Sobre esta temática ver o pioneiro trabalho de Cândido dos Santos, «A mulher e o ensino superior. Do antifeminismo à situação actual» inserido no seu livro Para a História da Universidade do Porto, Porto, Editora da Universidade, 2007, pp. 201-211. Ver ainda no mesmo livro o capítulo «A mulher e a Universidade do Porto», pp. 61-71.

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em medicina em 1890 com a dissertação «As Caldas de S. Jorge: Concelho da Feira» com o patrocínio do Prof. António Joaquim de Morais Caldas, lente proprietário da 4ª cadeira, Patologia Externa e Terapêutica Externa. Foi Presidente em 1911 e 1912 da «Comissão Política Municipal do Partido Republicano» da Vila da Feira e nessa condição fez publicar uma comunicação no «Correio da Feira», que para o efeito se convertera no «órgão do partido republicano do Concelho»6. António Ribeiro Leite da Silva defendeu em 1905 a sua dissertação «Breves considerações sobre o segredo médico» sob o patrocínio do Prof. Maximiano de Lemos. Exerceu a medicina em São João da Madeira e desempenhou importante papel na criação do Hospital da Santa Casa da Misericórdia local. Homem de causas, republicano assumido, interveio publicamente em várias circunstâncias a defender os seus ideais políticos7. António Xavier Gomes dos Santos, engenheiro, juntamente com mais três sócios fundou em 1907 (ou em 1904 segundo outros) a Fábrica de Gomas do Cercal, lugar da freguesia de S. Tiago Riba-Ul, concelho de Oliveira de Azeméis, em terreno alugado. Passados dez anos essa fábrica foi vendida, sendo nela instalada a Fábrica de Vidros Progresso, Lda8. Bernardino Alves da Silva apresentou em 1908 a sua dissertação intitulada «Doenças Venereas: tratamento da syphilis pelo bibrometo de mercúrio», publicada pela Tipografi a Porto Médico. O Professor apoiante foi António Plácido da Costa. João Augusto da Cunha Sampaio Maia foi uma personalidade de grande projecção. Ilustre médico e cirurgião, apresentou em 1883, sob o patrocínio do Prof. António de Azevedo Maia, a sua dissertação intitulada «Indicações da laparotomia na oclusão intestinal aguda». Foi o 1º Conde de São João de Ver (25.6.1904)9. Foi Presidente da Câmara da Feira e fundador do Hospital de São Paio de Oleiros.

6 Roberto Vaz de Oliveira, Imprensa Periódica da Vila e Concelho da Feira in «Aveiro e o seu Distrito», nº 8,Dezembro de 1969. (Artigo consultado em www.prof2000.pt/users/avcultur/aveidistrito/boletim08/page51.htm)7 Nota recolhida do Jornal «O Regional», número de 2 de Fevereiro de 2012, num artigo comemorativo dos 90 anos da Misericórdia local (publicado na Net – (www.oregional.pt). 8 Ver site www.prof2000.pt/users/avcultur/indusvidreira/capitulo003.htm.9 Tiago Santos em historiasdaminhaterra.blogspot.com

Ensino Superior colocava-os em posição de virem a fazer parte das elites locais ou nacionais. Mas não sabemos se todos acabaram os cursos e se, uma vez diplomados, regressaram à terra de origem. Nem todos eram oriundos de famílias opulentas. Vários vieram a ser médicos, farmacêuticos, engenheiros. Porventura, alguns foram pessoas de meritória intervenção social, económica ou cultural. Na verdade sobre isso pouco sabemos. Mesmo assim, conhecemos notícias interessantes sobre o itinerário de alguns que iremos expor telegrafi camente. Uma fi gura de enorme relevo foi António Augusto Aguiar Cardoso que depois de cursar a Academia Politécnica se formou em Medicina na Escola Médico-Cirúrgica do Porto, em 1892, com a dissertação «Contribuição para o estudo da anatomia patológica das ovarites» apadrinhado pelo Prof. Pedro Augusto Dias, lente da cadeira de Medicina Operatória. Para além de médico competente e dedicado, foi um criador cultural e um investigador e conhecedor profundo da História local, e defensor das tradições e da alma de Santa Maria da Feira. António Augusto de Castro Soares formou-se igualmente em 1892 com a dissertação «A grippe ou infl uenza», dirigida pelo Prof. António de Oliveira Monteiro, lente proprietário da 7ª cadeira, Patologia Interna e Terapêutica Interna. Viria a ser médico em Espinho e o primeiro Presidente da Câmara Municipal da mesma cidade4. Percurso idêntico terá sido o de Adriano Augusto Pimenta que, depois de ter sido médico municipal em Valongo, instalou consultório no Porto. Iniciado na Maçonaria e homem de convicções republicanas, fez parte da primeira comissão republicana do Porto. Após a proclamação da República foi Governador Civil de Viana do Castelo por pouco tempo e mais tarde Presidente da Câmara Municipal do Porto (1913). Incompatibilizando-se com os dirigentes do Partido Republicano Português, veio a abandonar a política, desiludido com o que via à sua volta. Foi Director de «O Primeiro de Janeiro» e foi Mesário da Santa Casa da Misericórdia do Porto (1931).5 Alfredo Pinto de Lemos foi o 2º Conde das Devezas. António Ferreira Pinto da Mota também se formou

4 Álvaro Pereira, «Espinho» in «Aveiro e o seu Distrito», nº 7, Junho de 1969. 5 Todos estes dados foram recolhidos de um texto de Luís Bonifácio, inscrito no blogue Cartas Portuguesas.

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Sobre estes e acerca dos demais, sem dúvida muito fi ca por dizer. Mas a mais não chegaram as minhas fontes. Talvez o distinto leitor possa acrescentar algo num dos próximos números da «Villa da Feira». Quem sabe?

ANEXOS

ANEXO 1

CADEIRAS MINISTRADAS NA ACADEMIA POLITÉCNICA Como no texto várias vezes se indicam e identifi cam as cadeiras por números, achei conveniente descodifi car os algarismos. Aos números correspondiam designações, às vezes complexas. O elenco das matérias ensinadas foi variando. Inicialmente eram 12. A partir da reforma de 1885 operaram-se desdobramentos de algumas alargando-se o seu número para 18. Em 1902 foram acrescentadas mais duas. O conteúdo de algumas era muito vasto. Por isso, várias, na prática, dividiam-se em duas ou mais partes. E outras prolongavam-se por dois anos lectivos. Fica aqui registado o número e nome das cadeiras para que o leitor entenda melhor o percurso curricular dos alunos.

Em 1877/78 o elenco das cadeiras era o seguinte:

1ª cadeira – Geometria Analítica no plano e no espaço, trigonometria esférica, álgebra superior. 2ª cadeira - Cálculo diferencial e integral, das diferenças e das variações 3ª cadeira – Geometria descritiva, mecânica racional – cinemática das máquinas 4ª cadeira - Desenho de fi gura e paisagem, de ornato e decorações, de maquinas e topografi a 5ª cadeira - Astronomia e Geodesia 6ª cadeira – Mineralogia, arte de minas e metalurgia 7 ª cadeira – Zoologia, mineralogia e geologia veterinária 8ª cadeira – Física teórica experimental 9ª cadeira – Química inorgânica e orgânica 10ª cadeira – Botânica, agricultura 11ª cadeira – Comércio. Escrituração e aritmética mercantil. Instituições de crédito. 12ª cadeira – Economia política e princípios de direito civil e administrativo

Joaquim Alexandrino da Conceição foi médico distinto, tendo apresentado em 1901 a sua dissertação apoiada pelo Prof. Cândido Augusto Correia de Pinho, intitulada «Da semeiologia no prognostico da arterio-esclerose». Joaquim Alves Ferreira da Silva apresentou a sua dissertação na Faculdade de Medicina em 1912 a que deu o título «Dois casos de ankilostomiase». Foi nela apoiado pelo Prof. Alberto Pereira Pinto de Aguiar. José Correia Marques Júnior formou-se em Medicina em 1903 apresentando uma dissertação intitulada «A tuberculose humana» dirigida pelo Prof. António Plácido da Costa. Manuel dos Santos Carvalho Júnior, em 1888, sob o patrocínio do conterrâneo e futuro Reitor da Universidade do Porto, Prof. Cândido Augusto Correia de Pinho, apresentou como dissertação um trabalho a que chamou «Breves considerações sobre os cálculos biliares». Manuel Fernandes Laranjeira, mais conhecido por Manuel Laranjeira, nascido em Vergada, na freguesia de Moselos, e tendo feito a instrução primária na vizinha freguesia de Argoncilhe, formou-se em medicina em 1907 com a dissertação «A doença da santidade: ensaio psycopathologico sobre mysticismo de forma religiosa», que foi patrocinada pelo Prof. António Joaquim de Sousa Júnior. Mas não foi tanto como médico que comprou a imortalidade. Os seus escritos de poesia, de teatro, de pensador fecundo, de amigo e interlocutor de celebridades culturais, projectaram-no na sociedade portuguesa e europeia e fi zeram dele um dos mais ilustres fi lhos do nosso Concelho. Manuel José de Oliveira Heitor. Houve um professor com este nome que foi responsável pela leccionação de Física e Química e Introdução à História Natural no Colégio dos Santíssimos Corações de Jesus e Maria, de Cucujães10. Pelas datas, pode ter sido o mesmo. Maria Leite da Silva Tavares Paes Moreira apresentou a sua dissertação de formatura em medicina em 1891 a que chamou «Higiene da gravidez e do parto», patrocinada pelo Prof. Cândido de Pinho. Exerceu a medicina na cidade do Porto e terá sido médica da Rainha Dª Amélia. No fi nal da carreira regressou a Canedo, sua terra natal e à Casa da Botica, onde dirigiu uma espécie de Salão Cultural e onde recebeu personalidades eminentes do mundo da cultura.11

10 Valter Santos, O ensino em Cucujães no séc. XIX. (www.ocucujanense.com/forum/index.php?topic=231.0).11 Ver Wikipedia, Canedo (Santa Maria da Feira).

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74

António Augusto Aguiar Cardoso

João Augusto da Cunha Sampaio Maia

Joaquim Pinto Coelho

Manuel Fernandes Laranjeira

Maria Leite da Silva Tavares Paes Moreira

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75

11ª – Zoologia 12ª – Resistência dos materiais e estabilidade das construções. Materiais de construção. Resistência dos materiais; grafo estática aplicada 13ª - Hidráulica e máquinas – curso bienal 1º ano – hidráulica maquinas em geral.Máquinas hidráulicas. 2º ano –Termodinâmica. Máquinas térmicas. Construção de máquinas. 14ª – Construções e Vias de Comunicação. Curso bienal – 1º ano – edifícios. Abastecimento de água e esgotos. Hidráulica agrícola. 2º ano – Estradas, caminhos de ferro, pontes 15ª – Montanística e Docimasia. Curso bienal – 1º ano – 1ª parte - Docimasia 2ª parte metalurgia; 2º ano - Arte de minas 16ª – Economia Política, legislação de minas industrial e de obras públicas. 1ª parte – Economia Política e estatística; 2ª parte - legislação de minas industrial e de obras públicas e reguladora da indústria de transportes terrestres no direito comercial 17ª – Tecnologia industrial. (Substituíra a cadeira de Comércio cujo curso se extinguira por falta de alunos) 18ª - Desenho 1ª parte – desenho de fi gura, paisagem e ornato; 2ª parte desenho de arquitectura e aguadas; 3ª parte – desenho de máquinas 19ª cadeira – física matemática (decreto de 2.9.1901) 20ª cadeira – Mineralogia (decreto de 2.9.1901).

ANEXO 2

LISTA NOMINAL DOS ALUNOS NATURAIS DO CONCELHO DE SANTA MARIA DA FEIRA, POR ANOS LECTIVOS, A PARTIR DE 1877/78 ATÉ 1910/11. 1877-78 – Total de 96 alunos na Academia

João Augusto da Cunha Sampaio Maia, natural de São João de Ver, 2ª classe12, 7ª (Zoologia), 10ª (Botânica). Fora aluno também no ano anterior e obtivera uma classifi cação distinta na 9ª cadeira (Química inorgânica). Aí fora colega do célebre historiador José Maria de Queirós Veloso.

12 Nesta altura designavam-se como 2ª classe os alunos que não tinham feito todos os preparatórios. (Ver Anuário)

Em 1885 surgiram alterações. Ficou assim:

1ª cadeira – Geometria Analítica, álgebra superior e trigonometria esférica 2ª cadeira - cálculo diferencial e integral, das diferenças e das variações 3ª cadeira - mecânica racional; cinemática 4ª cadeira - Geometria Descritiva 5ª cadeira - Astronomia e Geodesia 6ª cadeira – Física Geral 7 ª cadeira – Química inorgânica 8ª cadeira – Química orgânica e analítica 9ª cadeira – Mineralogia, paleontologia e geologia 10ª cadeira – Botânica 11ª cadeira – Zoologia 12ª cadeira – Resistência dos materiais e estabilidade das construções 13ª cadeira – Hidráulica e máquinas 14ª cadeira – Construções e vias de comunicação 15ª cadeira – Montanistica e Docimasia 16ª cadeira - Economia política, estatística, princípios de direito publico, administrativo e comercial, legislação 17ª cadeira – Comércio. Geografi a Comercial. Economia Comercial 18ª cadeira – Desenho

Novas alterações em 1902-1903

1ª – Geometria Analítica, álgebra superior, trigonometria esférica 2ª – cálculo diferencial e integral. Cálculo das diferenças e das variações 3ª – mecânica racional – cinemática 4ª – Geometria descritiva (1ª parte geometria descritiva) e 2ª parte- complementos e aplicações da geometria descritiva) 5ª – Astronomia e Geodesia (1ª parte Astronomia e 2ª parte topografi a e geodesia) 6ª - Física Geral 7ª – Química inorgânica 8ª – Química orgânica e analítica (1ª parte química orgânica geral e biológica); 2ª parte química analítica 9ª - Mineralogia, Paleontologia, Geologia 10ª - Botânica

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António Xavier Gomes dos Santos, fi lho de António Gomes dos Santos, natural de S. Miguel do Souto, 8ª e 9ª – Curso de Agricultor.

José Caetano Ferreira Pinto dos Reis, fi lho de José Caetano dos Reis, natural de Lamas, 10ª (Botânica). Curso de Agricultor.

Manuel dos Santos Carvalho Júnior, fi lho de Manuel dos Santos Carvalho, natural de Oleiros, 8ª e 9ª. Curso de preparação para a Escola Médico-Cirúrgica.

1883/84 -208 alunos

Adriano Augusto Pimenta, fi lho de Domingos António Pimenta, natural da Vila da Feira, freguesia de S. Nicolau,7ª (Zoologia) e 12ª (Economia política e princípios de direito civil e administrativo).

António Augusto de Aguiar Cardoso, fi lho de Silvestre de Aguiar Cardoso, natural de Vila da Feira, 8ª e 9ª.

António Ferreira Pinto da Mota, fi lho de José Ferreira da Mota, natural de Fiães, 8ª e 9ª.

António Xavier Gomes dos Santos, fi lho de António Gomes dos Santos, natural de S. Miguel do Souto, 1ª, 9ª e 12ª (Economia política e princípios de direito civil e administrativo).

José Caetano Ferreira Pinto dos Reis, fi lho de José Caetano dos Reis, natural de Lamas,7ª.

Manuel dos Santos Carvalho Júnior, fi lho de Manuel dos Santos Carvalho, natural de Oleiros, 7ª (Zoologia) e 10ª (Botânica).

Não se referem os cursos dos alunos, mas apenas as cadeiras.

1884/85- 206 alunos

Adriano Augusto Pimenta, fi lho de Domingos António Pimenta, natural da Vila da Feira,7ª (Zoologia)

Manuel José de Oliveira Heitor, natural de Romariz, 2ª classe, 7ª, 10ª.

1878/79 – 113 alunos

Havia 7 alunos do distrito de Aveiro, mas nenhum do Concelho da Feira.

879/1880 – 121 alunos

José Caetano Ferreira Pinto dos Reis, fi lho de José Caetano dos Reis, natural de Lamas, 8ª (Física) e 9ª (Química orgânica).

1880/81 – 150 alunos

José Caetano Ferreira Pinto dos Reis, fi lho de José Caetano dos Reis, natural de Lamas, 9ª. (Química inorgânica) Inscrevera-se no curso de Agricultores, no qual, ao todo estavam inscritos 86 alunos.

1881/1882 – 153 alunos

Adriano Augusto Pimenta, fi lho de Domingos António Pimenta, natural da Vila da Feira, 8ª e 9ª. Curso Preparatório para a Escola Médico-Cirúrgica.

José Caetano Ferreira Pinto dos Reis, fi lho de José Caetano dos Reis, natural de Lamas, 9ª. Curso de Agricultores.

1882/1883 -190 alunos

Adriano Augusto Pimenta, fi lho de Domingos António Pimenta, natural da Vila da Feira,9ª (Química) e 10ª (Botânica) – Curso Preparatório para a Escola de Farmácia.

António Augusto de Aguiar Cardoso, fi lho de Silvestre de Aguiar Bizarro, natural de Vila da Feira, 8ª (Física) e 9ª (Química orgânica e inorgânica). Curso de preparação para a Escola Médico-Cirúrgica.

António Ferreira Pinto da Mota, fi lho de José Ferreira da Mota, natural de Fiães, 8ª e 9ª. Curso de Agricultor.

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Maria Leite da Silva Tavares Paes Moreira, fi lha de Manuel José Paes Moreira, aparece agora estranhamente como natural do Porto, inscrita nas (8ª – 1ª e 2ª partes), 10ª (1ª parte) e 11 (1ª parte).

1886/87 – 242 alunos

António Augusto de Aguiar Cardoso, fi lho de Silvestre de Aguiar Bizarro, natural de Vila da Feira,8ª (1ª e 2ª parte), 11ª (1ª parte)

António Augusto de Castro Soares, fi lho de José Bonifácio do Carmo Soares, natural de Oleiros, concelho de Vila da Feira 8ª (1º e 2º Parte), 10ª (1ª parte), 11ª (1ª parte).

António Xavier Gomes dos Santos, fi lho de António Gomes dos Santos, natural de S. Miguel do Souto, Concelho da Feira, 3ª, 8ª (2ª parte) e 18ª (3ª parte).

José Caetano Ferreira Pinto dos Reis, fi lho de José Caetano dos Reis, natural de Lamas, 11ª (1ª parte) 11ª (1ª parte).

1887/88- 226 alunos António Xavier Gomes dos Santos, fi lho de António Gomes dos Santos, natural de S. Miguel do Souto, Concelho da Feira, 3ª, 4ª (1ª parte), 8ª (2ª parte) e 9ª.

Joaquim Pinto Coelho, fi lho de José Pinto Coelho, natural de Moselos, concelho da Feira, 6ª (1ª parte) e 7ª (1ª parte).

1888/89 – 220 António Xavier Gomes dos Santos, fi lho de António Gomes dos Santos, natural de S. Miguel do Souto, Concelho da Feira, 4ª (1ª e 2ª parte),5ª (1ª parte) e 9ª.

Joaquim Pinto Coelho, fi lho de José Pinto Coelho, natural de Moselos, concelho da Feira, 6ª (1ª parte), 8ª (1ª e 2ª parte) e 10ª (1ª parte), 11ª (1ª parte).

António Augusto de Aguiar Cardoso, fi lho de Silvestre de Aguiar Bizarro, natural de Vila da Feira, 8ª, 9ª (química inorgânica), 10ª (1ª parte) (Botânica).

António Ferreira Pinto da Mota, fi lho de José Ferreira da Mota, natural da Vila da Feira, 7ª (Zoologia), 9ª (Química orgânica), 10º (1ª e 3ª partes)(Botânica e Agricultura) e 12ª (Economia política e princípios de direito civil e administrativo).

António Xavier Gomes dos Santos, fi lho de António Gomes dos Santos, natural de S. Miguel do Souto,1ª (Geometria Analítica no plano e no espaço, trigonometria esférica, álgebra superior), 4ª (Desenho de fi gura e paisagem, de ornato e decorações, de maquinas e topografi a) 9ª (Química orgânica), 7ª (Zoologia) e 10ª (3ª parte)(Agricultura)

José Caetano Ferreira Pinto dos Reis, fi lho de José Caetano dos Reis, natural de Lamas, 7ª

Maria Leite da Silva Tavares Paes Moreira, fi lha de Manuel José Paes Moreira, natural de Canedo, Concelho da Feira,8ª (Física) e 9ª (química inorgânica).

1885/86 – 220 alunos

António Augusto de Aguiar Cardoso, fi lho de Silvestre de Aguiar Bizarro, natural de Vila da Feira,8ª (1ª parte), 11ª (1ª parte).

António Augusto de Castro Soares, fi lho de José Bonifácio do Carmo Soares, natural de Oleiros, concelho de Vila da Feira, 6ª (1ª parte) e 7ª (1ª parte). António Ferreira Pinto da Mota, fi lho de José Ferreira da Mota, natural de Fiães, Concelho da Vila da Feira, 7ª, 9ª (orgânica), 11ª (1ª parte).

António Xavier Gomes dos Santos, fi lho de António Gomes dos Santos, natural de S. Miguel do Souto, Concelho da Feira, 2ª, 10ª, (1ª parte), 18ª (2ªparte)

José Caetano Ferreira Pinto dos Reis, fi lho de José Caetano dos Reis, natural de Lamas, 11ª (1ª parte)

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de Lemos, natural da Vila da Feira, 6ª (1ª parte) (Fisica geral) e 7ª (1ª parte) (Química orgânica).

Fernando Pinto de Mendonça Ferrão, fi lho de Bernardo José Pinto Ferrão, natural da Vila da Feira, 6ª (1ª parte), 8ª (1ª e 2ª partes) (Química orgânica e biológica e química analítica) e 11ª (1ª parte) (Zoologia).

Joaquim Alexandrino da Conceição, fi lho de Manuel José da Conceição, natural de Romariz, concelho da Feira, 8ª (1ª e 2ª parte) (Química orgânica e biológica e química analítica) e 11ª (1ª parte) (Zoologia).

1894/1895 – 322 alunos

António Ribeiro Leite da Silva, fi lho de António Ribeiro Leite, natural de Mosteiró, Concelho da Feira, 7ª (1ª parte) – (Química inorgânica) e 10ª (1ª parte) (Botânica).Voluntário.

Fernando Pinto de Mendonça Ferrão, fi lho de Bernardo José Pinto Ferrão, natural da Vila da Feira, 8ª (1ª e 2ª partes) (Química orgânica e biológica e química analítica) e 10ª (1ª parte). (Botânica). Voluntário.

Joaquim Alexandrino da Conceição, fi lho de Manuel José da Conceição, natural de Romariz, concelho da Feira, 10ª (1ª parte).(Botânica). Voluntário.

1895/96 – 347 alunos Alberto Augusto da Silva Tavares, fi lho de Francisco Paes Moreira, natural de Gião, Concelho da Feira 7ª (1ª parte) (Química inorgânica), 8ª (1ª e 2ª parte) (Química orgânica e biológica e química analítica), 10ª (1ª parte) –(Botânica). Voluntário.

Alfredo Pinto de Lemos, fi lho do Conde das Devezas, natural de S. Nicolau, Concelho de Vila da Feira, 7ª (1ª parte) (Química inorgânica), 8ª (1ª e 2ª parte) (Química orgânica e biológica e química analítica), 10ª (1ª parte),(Botânica). Voluntário.

António Ribeiro Leite da Silva, fi lho de António Ribeiro Leite, natural de Mosteiró, Concelho da Feira, 6ª (1ª parte)

1889/90- 237

António Xavier Gomes dos Santos, fi lho de António Gomes dos Santos, natural de S. Miguel do Souto, Concelho da Feira, 5ª (2ª parte),12ª,13ª,14ª e 15ª

Joaquim Pinto Coelho, fi lho de José Pinto Coelho, natural de Moselos, concelho da Vila da Feira, 1ª, 8ª (1ª e 2ª parte) e 10ª (1ª parte).

1890-1891- 246 alunos

António Xavier Gomes dos Santos, fi lho de António Gomes dos Santos, natural de S. Miguel do Souto, Concelho de Vila da Feira, 5ª, (2ª parte), 12ª, 13ª, 14ª.

1891-1892- 246 alunos13

António Xavier Gomes dos Santos, fi lho de António Gomes dos Santos, natural de S. Miguel do Souto, Concelho de Vila da Feira, 13ª (hidráulica e máquinas – cadeira bienal), 14ª (construções e vias de comunicação), 16ª (2ª parte) (economia e legislação de obras públicas, de minas e industrial e 17ª (2º ano) (economia comercial e geografi a comercial).

Joaquim Alexandrino da Conceição, fi lho de Manuel José da Conceição, natural de Romariz, concelho da Feira – 7ª (1ª parte), química inorgânica geral 10ª (1ª parte) botânica .

1892/93 - 297 alunos

Joaquim Alexandrino da Conceição, fi lho de Manuel José da Conceição, natural de Romariz, concelho da Feira – 6ª (1ª parte), física geral, 8ª (1ª e 2ª parte) química orgânica e biológica e química analítica, 11ª (1ª parte) zoologia. V.

1893/94 – 343 ALUNOS

Alfredo Pinto de Lemos, fi lho de Francisco Pereira Pinto

13 Do concelho de Oliveira de Azeméis havia 8 alunos neste ano lectivo. A partir deste ano, os alunos dividem-se em voluntários e ordinários. Eram quase todos voluntários porque com esse estatuto podiam fazer as cadeiras pela ordem que mais lhes convinha.

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79

António da Fonseca Vasconcelos, fi lho de António Ferreira dos Santos Vasconcelos, natural de Paços de Brandão, concelho da Vila da Feira, 8ª (1ª e 2ª parte) (Química orgânica e biológica e química analítica) e 10ª (1ª parte) (Botânica) e 11ª (1ª parte).(Zoologia).Voluntário.

Bernardino Alves da Silva, fi lho de António Alves Santiago, natural de S. Jorge, concelho da Feira, 7ª (1ª parte), 8ª (1ª e 2ª parte), 10ª (1ª parte). V.

Hermenegildo José da Silva Tavares, fi lho de António José da Silva Tavares, natural de Canedo, Concelho da Vila da Feira, 7ª (1ª parte), 10ª (1ª parte). V.

José Correia Marques Júnior, fi lho de José Correia Marques, natural de Travanca, concelho da Feira (6ª – 1ª parte), 7ª (1ª parte), 11ª (1ª e 2ª parte).V.

Manuel Fernandes Laranjeira, fi lho de Domingos Fernandes, natural de Moselos, concelho da Feira, 7ª (1ª parte), 8ª (1º e 2ª parte), 10ª, 1ª parte. V.

1898/99 - 278

António Francisco da Conceição, fi lho de José Francisco da Conceição, natural de Louredo, aluno voluntário inscrito nas 6ª (1ª parte), 7ª, 10ª. Vol.

Bernardino Alves da Silva, fi lho de António Alves Santiago, natural de S. Jorge, concelho da Feira, 6ª (1ª parte) e 7ª. Volunt.

Custódio Gonçalves Tavares da Conceição, fi lho de Bernardo José Gonçalves Tavares, natural do Vale, concelho da Feira. 7ª, 8ª (1ª e 2ª partes), 10ª cadeiras. Vol.

Hermenegildo José da Silva Tavares, fi lho de António José da Silva Tavares, natural de Canedo, Concelho da Vila da Feira, 6ª, 8ª (1ª e 2ª parte), 11ª. Vol.

José Correia Marques Júnior, fi lho de José Correia Marques, natural de Travanca, concelho da Feira 10ª e 11ª .Vol.

(Física), 8ª (1ª e 2ª parte) (Química orgânica e biológica e química analítica),e 10ª (1ª parte)-(Botânica). Voluntário.

Francisco Adriano da Silva Tavares, fi lho de Francisco Paes Moreira, natural de Gião, Concelho da Feira, 6ª (1ª parte) (Física), 7ª (1ª parte) (Química inorgânica), 8ª (1ª e 2ª parte) (Química orgânica e biológica e química analítica). Voluntário.

Joaquim Alexandrino da Conceição, fi lho de Manuel José da Conceição, natural de Romariz, concelho da Feira, 10ª (1ª parte)(Botânica). Voluntário.

1896/1897 – 299 alunos

Alberto Augusto da Silva Tavares, fi lho de Francisco Paes Moreira, natural de Gião, Concelho da Feira - 6ª (1ª parte) (Física geral), 8ª (1ª e 2ª parte) (Química orgânica e biológica e química analítica),10ª (1ª parte) – (Botânica), 11ª (1ª parte) (Zoologia geral). Voluntário.

António da Fonseca Vasconcelos, fi lho de António Ferreira dos Santos Vasconcelos, natural de Paços de Brandão, concelho da Vila da Feira, 6ª (1ª parte) (Física Geral)e 7ª (1ª parte)(Química inorgânica).

António Ribeiro Leite da Silva, fi lho de António Ribeiro Leite, natural de Mosteiró, Concelho da Feira, 8ª (1ª e 2ª parte) (Química orgânica e biológica e química analítica) e 11ª (1ª parte)- (Zoologia).

Francisco Adriano da Silva Tavares, fi lho de Francisco Paes Moreira, natural de Gião, Concelho da Feira, 8ª (1ª e 2ª parte) (Química orgânica e biológica e química analítica), 10ª (1ª parte) (Botânica) e 11ª (1ª parte) (Zoologia).

1897/98- 273 alunos

Alberto Augusto da Silva Tavares, fi lho de Francisco Paes Moreira, natural de Gião, Concelho da Feira - 8ª (1ª e 2ª parte) (Química orgânica e biológica e química analítica),10ª (1ª parte) – (Botânica), 11ª (1ª parte) Zoologia geral. Voluntário.

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Bernardino Alves da Silva, fi lho de António Alves Santiago, natural de S. Jorge, concelho da Feira, aluno voluntário inscrito na 1ª, 8ª (1ª e 2ª partes), 18ª (1ª parte).

Custódio Gonçalves Tavares da Conceição, fi lho de Bernardo José Gonçalves Tavares, natural do Vale, concelho da Feira. Aluno voluntário inscrito nas 7ª, 8ª (1ª e 2ª partes), 10ª cadeiras.

José Dias Tavares, fi lho de Manuel Dias Tavares, natural de Lamas, concelho da Feira, voluntário, inscrito na 10ª.

José Moreira da Costa, fi lho de José Domingues da Costa, natural de Oleiros, Concelho da Feira, voluntário, inscrito nas 7ª, 8ª (1ª e 2ª parte) e 11ª.

Manuel Vicente Pinto de Sousa, fi lho de Vicente Pinto de Sousa, natural de Argoncilhe, Concelho da Feira, voluntário, 6ª, 7ª e 8ª (1ª e 2ª parte).

1901-02- 200 alunos

Custódio Gonçalves Tavares da Conceição, fi lho de Bernardo José Gonçalves Tavares, natural do Vale, concelho da Feira. Aluno voluntário inscrito nas 6ª, 7ª, 8ª (1ª e 2ª partes), 10ª cadeiras.

José Dias Tavares, fi lho de Manuel Dias Tavares, natural de Lamas, concelho da Feira, voluntário, inscrito na 10ª.

José Moreira da Costa, fi lho de José Domingues da Costa, natural de Oleiros, Concelho da Feira, voluntário, inscrito na, 8ª (1ª e 2ª parte).

Manuel Vicente Pinto de Sousa, fi lho de Vicente Pinto de Sousa, natural de Argoncilhe, Concelho da Feira, voluntário, 8ª (1ª e 2ª parte) e 11ª.

1902-03 – 150 alunos

José Dias Tavares, fi lho de Manuel Dias Tavares, natural de Lamas, concelho da Feira, voluntário, 10ª.

José Dias Tavares, fi lho de Manuel Dias Tavares, natural de Lamas, concelho da Vila da Feira, 6ª (1ª parte), 7ª e 10ª. Vol.

Manuel Fernandes Laranjeira, fi lho de Domingos Fernandes, natural de Moselos, concelho da Feira, 6ª (1ª parte), 8ª (1º e 2ª parte), 11ª. Vol.

1899-1900 – 237 ALUNOS

Alberto Augusto da Silva Tavares, fi lho de Francisco Paes Moreira, natural de Gião, Concelho da Feira. Aluno voluntário inscrito na 10ª cadeira.

António Francisco da Conceição, fi lho de José Francisco da Conceição, natural de Louredo, aluno voluntário inscrito nas 7ª, 8ª (1ª e 2ª partes), 10ª e 11ª.

Bernardino Alves da Silva, fi lho de António Alves Santiago, natural de S. Jorge, concelho da Feira, aluno voluntário inscrito na 8ª (1ª e 2ª partes), 10ª e 11ª.

Custódio Gonçalves Tavares da Conceição, fi lho de Bernardo José Gonçalves Tavares, natural do Vale, concelho da Feira. Aluno voluntário inscrito nas 7ª, 8ª (1ª e 2ª partes), 10ª cadeiras.

José Dias Tavares, fi lho de Manuel Dias Tavares, natural de Lamas, concelho da Feira, voluntário, inscrito nas 8ª (1ª e 2ª partes), 10ª e 11ª.

José Moreira da Costa, fi lho de José Domingues da Costa, natural de Oleiros, Concelho da Feira, voluntário, inscrito nas 6ª, 7ª e 10ª.

Manuel Fernandes Laranjeira, fi lho de Domingos Fernandes, natural de Moselos, Concelho da Feira, voluntário inscrito na 11ª cadeira.

1900/01 – 241 alunos

António Francisco da Conceição, fi lho de José Francisco da Conceição, natural de Louredo, concelho da Feira, aluno voluntário inscrito na 10ª.

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1909/1910 – 269 alunos, dos quais 30,8% eram naturais do Porto

Américo Meneres Pereira, fi lho de João António Pereira, natural de Vila da Feira, 1ª, 4ª, (1ª parte), 7ª. Ângelo Ferreira Leite, fi lho de Manuel Coelho Ferreira Leite, natural de Moselos, Concelho da Feira, 6ª, 7ª e 10ª. 1910-1911 – 297 alunos Américo Meneres Pereira, fi lho de João António Pereira, natural de Vila da Feira, 1ª, 4ª, (1ª parte),8ª (1ª e 2ª parte), 16ª (1ª parte), 18ª (2ª parte). Voluntário. Américo Meneres Pereira continuou como aluno da Faculdade de Ciências, em 1911-12 e em 1912-1913. Foi o primeiro ou um dos primeiros alunos da Universidade do Porto oriundos de Santa Maria da Feira. Ângelo Ferreira Leite, fi lho de Manuel Coelho Ferreira Leite, natural de Moselos, Concelho da Feira, 8ª (1 e 2ª parte), 11ª.

ANEXO 3

LISTA NOMINAL POR ORDEM ALFABÉTICA DOS ALUNOS DA ACADEMIA POLITÉCNICA NATURAIS DO CONCELHO DE SANTA MARIA DA FEIRA, COM INDICAÇÃO DOS ANOS DE FREQUÊNCIA

1- Adriano Augusto Pimenta, fi lho de Domingos António Pimenta natural da Vila da Feira, aluno entre os anos lectivos de 1881/82 e 1884/85.

2- Alberto Augusto da Silva Tavares, fi lho de Francisco Paes Moreira, natural de Gião, aluno entre 1895/1896 e 1899/1900. (5 matrículas)

3- Alfredo Pinto de Lemos, fi lho de Francisco Pereira Pinto de Lemos (Conde das Devezas), natural da Vila da Feira, aluno nos anos lectivos de 1893/94 e 1894/95.

José Cromwell Camossa Pinto, fi lho de Adriano Carlos Vaz Pinto, natural da Feira, 1ª, 7ª e 18ª (1ª parte).

1903-1904 – 143 alunos

José Cromwell Camossa Pinto, fi lho de Adriano Carlos Vaz Pinto, natural da Feira, 2ª, 6ª, 8ª (1ª e 2ª parte),18ª (1º e 2º ano). Voluntário. Aluno distinto em Física (6ª ) e em Química orgânica e analítica (8ª),

1904-05 – 132 alunos

José Cromwell Camossa Pinto, fi lho de Adriano Carlos Vaz Pinto, natural de Vila da Feira, 3ª, 4ª (1ª parte), 9ª, 16ª (1ª parte),18ª (3º ano) e 19ª. Voluntário. Premiado na 4ª cadeira.

1905-1906 – 156 alunos

Joaquim Alves Ferreira da Silva, fi lho de Manuel Pereira da Silva, natural de Moselos, Concelho de Vila da Feira, 6ª, 7ª e 10ª.

1906-1907 – 143 alunos Joaquim Alves Ferreira da Silva, fi lho de Manuel Pereira da Silva, natural de Moselos, Concelho de Vila da Feira, 8ª (1ª e 2ª parte), 11ª, 16ª (1ª parte). 1907/1908- 175 alunos Jaime Filipe Santiago, fi lho de António Filipe dos Santos Reis, natural do Souto, Concelho da Vila da Feira, 6ª, 7ª e 10ª. 1908/1909 – 210 alunos

Américo Meneres Pereira, fi lho de João António Pereira, natural de Vila da Feira, 1ª, 4ª, (1ª parte), 7ª, 18ª (3ª parte). Vol.

Jaime Filipe Santiago, fi lho de António Filipe dos Santos Reis, natural do Souto, Concelho da Vila da Feira, 6ª, 8ª (1ª E 2ª PARTE), 11ª. Distinto na 8ª cadeira

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15- Fernando Pinto de Mendonça Ferrão, fi lho de Bernardo José Pinto Ferrão, natural da Vila da Feira, aluno nos anos lectivos de 1893/94 e 1894/95.

16 -Francisco Adriano da Silva Tavares, fi lho de Francisco Paes Moreira, natural de Gião, aluno nos anos lectivos de 1895/96 e 1896/97.

17- Hermenegildo José da Silva Tavares, fi lho de António José da Silva Tavares, natural de Canedo, aluno nos anos lectivos de 1897/98 e 1898/99.

18- Jaime Filipe Santiago, fi lho de António Filipe dos Santos Reis, natural do Souto, aluno nos anos lectivos de 1907/08 e 1908/09.

19-João Augusto da Cunha Sampaio Maia, natural de São João de Ver aluno nos anos lectivos de 1876/77 e 1877/78.

20-Joaquim Alexandrino da Conceição, fi lho de Manuel José da Conceição, natural de Romariz, aluno entre os anos lectivos de 1891/92 e 1895/96. (5 matrículas).

21- Joaquim Alves Ferreira da Silva, fi lho de Manuel Pereira da Silva, natural de Moselos, aluno nos anos lectivos de 1905/06 e 1906/07.

22- Joaquim Pinto Coelho, fi lho de José Pinto Coelho, natural de Moselos, aluno entre ao anos lectivos de 1887/88 e 1889/90.

23- José Caetano Ferreira Pinto dos Reis, fi lho de José Caetano dos Reis, natural de Lamas, aluno entre os anos lectivos de 1879/80 e 186/87 (8 matrículas).

24- José Correia Marques Júnior, fi lho de José Correia Marques, natural de Travanca, aluno nos anos lectivos de 1897/98 e 1898/99.

25- José Cromwell Camossa Pinto, fi lho de Adriano Carlos Vaz Pinto, natural da Feira, aluno entre os anos lectivos de 1902/03 e 1904-05.

26-José Dias Tavares, fi lho de Manuel Dias Tavares,

4- Américo Meneres Pereira, fi lho de João António Pereira, natural de Vila da Feira, aluno entre os anos lectivos de 1908/09 e 1910/11, passando depois para a nova Faculdade de Ciências.

5- Ângelo Ferreira Leite, fi lho de Manuel Coelho Ferreira Leite, natural de Moselos, aluno nos anos lectivos de 1909/1910 E 1910/11.

6- António Augusto de Aguiar Cardoso, fi lho de Silvestre de Aguiar Bizarro, natural de Vila da Feira, aluno entre os anos lectivos de 1882/83 e 1886/87

7- António Augusto de Castro Soares,, fi lho de José Bonifácio do Carmo Soares, natural de Oleiros, aluno nos anos lectivos de 1885/86 e 1886/87

8- António da Fonseca Vasconcelos, fi lho de António Ferreira dos Santos Vasconcelos,natural de Paços de Brandão, aluno nos anos lectivos de 1896/97 e 1897/98.

9- António Ferreira Pinto da Mota, fi lho de José Ferreira da Mota, natural de Fiães, aluno entre os anos lectivos de 1882/83 e 1885/86.

10- António Francisco da Conceição, fi lho de José Francisco da Conceição, natural de Louredo, aluno entre os anos lectivos de 1898/99 e 1900/01.

11- António Ribeiro Leite da Silva, fi lho de António Ribeiro Leite, natural de Mosteiró, aluno entre os anos lectivos de 1894/95 e 1896/97.

12- António Xavier Gomes dos Santos, fi lho de António Gomes dos Santos, natural de S. Miguel do Souto, aluno entre os anos lectivos de 1882/83 e 1891/92 (ao todo, dez matrículas).

13- Bernardino Alves da Silva, fi lho de António Alves Santiago, natural de S. Jorge, aluno entre os anos lectivos de 1897/98 e 1900/01.

14- Custódio Gonçalves Tavares da Conceição, fi lho de Bernardo José Gonçalves Tavares, natural do Vale, aluno entre os anos lectivos de 1898/99 e 1901/02.

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30- Manuel Fernandes Laranjeira, fi lho de Domingos Fernandes, natural de Moselos, aluno entre os anos lectivos de 1897/98 e 1899/00.

31 -Manuel José de Oliveira Heitor, natural de Romariz, aluno em 1877/78. Pode ter sido aluno no ano anterior, mas disso não temos registo.

32- Maria Leite da Silva Tavares Paes Moreira, fi lha de Manuel José Paes Moreira, natural de Canedo, aluna entre os anos lectivos de 1884/85 e 1885/86.

natural de Lamas, aluno entre os anos lectivos de 1898/99 e 1902/03 (5 matrículas).

27- José Moreira da Costa, fi lho de José Domingues da Costa, natural de Oleiros, aluno entre os anos lectivos de 1899/00 e 1901/02.

28- Manuel Vicente Pinto de Sousa, fi lho de Vicente Pinto de Sousa, natural de Argoncilhe, aluno nos anos lectivos de 1900/01 e 1901-02.

29 -Manuel dos Santos Carvalho Júnior, fi lho de Manuel dos Santos Carvalho, natural de Oleiros, aluno nos anos lectivos de 1882/83 e 1883/84.

Fotografi a publicada no Annuario da Academia Polytechnica do Porto, ano lectivo de 1881-82

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Caminhando pela praiaSem saber o que fazer,Encontrei uma cabanaCom uma fogueira a arder.Pus minha roupa a secarE o meu corpo aquecer,De tão cansada que estavaDeixei-me adormecer.

Um pescador que voltavaDa pesca no alto-mar,Ao ver-me ali deitada-Qual sereia abandonada-Abriu a boca de espantoFechou os olhos de encantoPôs mais lenha na fogueiraE o peixe a grelhar,E deitou-se à minha beiraA dormir e eu a sonhar,Que um pescador me levavaNuma barca encantadaSobre as ondas baloiçandoNos seus braços me embalava!

Francisco Pinho*

*Director Comercial.

Fui ao mar, molhei os pésEstava o mar enraivecisoApanhou-me de surpresaE molhou o meu vestido.

Com o frio que faziaComecei toda a tremerSem saber se era do frioOu vergonha de me ver.

Para não me constiparTirei a roupa molhada.Passou o cabo do marViu-me tão atrapalhada,Olhou pró lado e sorriuA fi ngir que não viu nada.

Veio a noite e o luarCobriu-me de fantasia...Voltou o cabo do marCom um brilho no olharQue me deixou perturbada:Quanto mais ele sorriaMais eu fi cava corada!

Lá vai barca, lá vem ondaAi Jesus, que lá vou eu!-Oh da barca, donde vaisQue tão longe me levais?-Vou prá ilha dos amoresQue a barca anda à derivaE eu encontrei meu amorUm rumo prá minha vida!

Lá vai a barca sobre as ondasBarcabela em alto mar:-Oh da barca, não te afoitesTem cuidado, não baloicesQue o marinheiro é novoE a barca pode afundar.

Marinheiro do mar altoFaz-te à terra, se faz tardeNão te deixes enredar.Traz de volta a BarcabelaQue a sereia canta belaE tu podes te encantar.

Deu à costa a BarcabelaNuma noite de luar,Com um par de namorados,Tu e eu, enfeitiçadosSonhando à beira-mar...

...e uma onda de mansinhoVeio beijar os teus pés.Com amor e com carinhoEu tirei o teu vestidoPra não molhar outra vez.

BARCABELA

No mar alto me perdiNuma barca à deriva.Perdido de amores por tiFui ao fundo, renasciEncontrei rumo na vida

Francisco Pinho

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85O percurso de 115 anos de História do jornal Correio da Feira

Luis Filipe Higino*

A fundação do jornal em 1897 O “Correio da Feira” iniciou a sua publicação em 11 de Abril de 1897. Foram seus fundadores os vultos da política regeneradora da Feira: Dr. António de Castro Pereira Corte Real, Dr. Vitorino Joaquim Correia de Sá, Dr. Manuel Batista Camossa Nunes Saldanha, “Visconde de Albergaria” e Joaquim José Pinto Valente. O número 1 do jornal “Correio da Feira”, com quatro páginas, indicava Pinto Valente como secretário da redacção, mas não era mencionado o director do jornal. O preço avulso do jornal era de dez réis. A administração do jornal instalou-se primeiro na Praça de Camões na Vila da Feira e a partir do nº 35 de 5 de Dezembro de 1897 aí também se fi xou a redacção do jornal. A propriedade do jornal era atribuída à “Empresa do Correio da Feira” fi gurando como editor José Gomes da Silva. A partir do jornal nº 69, editado em 31 de Julho de 1898, o “Correio da Feira” passou a ser impresso na tipografi a Gandara, na Rua Entre Paredes, no Porto.

A imprensa feirense no século XIX e início do século XX O “Correio da Feira” não foi a primeira publicação da então Vila da Feira. O primeiro jornal da terra foi o “Jornal da Feira” cujo primeiro número foi publicado em 20 de Agosto de 1882, sendo no entanto extinto em 10 de Julho de 1904. No entanto, no longínquo ano de 1817 até ao ano de 1819 manteve-se em circulação um manuscrito, “A Gazeta da Vila da Feira”, ao que parece com propósitos meramente políticos. Posteriormente, em 1885 saiu o jornal “O Campeão da Feira” sendo extinto no mesmo ano. Em 1893 o jornal “O Feirense” iniciou a sua publicação sendo extinto em 1898 e “A Voz da Feira” sucessor de “O Feirense” saiu somente durante o ano de 1898. “O Commercio da Feira” saiu entre 1902 e 1908 e o “Progresso da Feira” foi publicado entre 1904 e 1920. O “Informador” saiu de 1907 a 1909 e em sua substituição saiu o “Notícias da Feira” entre 1909 e 1911. A “Gazeta Feirense” saiu entre 1908 e 1914 e o jornal “A Feira” saiu nos anos de 1916 e 1917. Referência também para o “Vila da Feira” publicado entre 1920 e 1923 e ainda para os jornais “O Leverense” e “O Arrifanense”. Esporadicamente saíram também algumas publicações, algumas de número único e inclusive alguns manuscritos. Se exceptuarmos o “Correio da Feira”, os jornais de maior longevidade desta época foram o “Democrata Feirense” que foi publicado entre 1914 e 1936 e o já citado “Jornal da Feira”.

* Investigador

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estavam situadas naquela rua. Em 20 de Abril de 1907, no nº 524 aparece como director do jornal Pinto Valente, mantendo José Soares de Sá como administrador. No entanto, desde o nº 588 de 11 de Julho de 1908, este já é anunciado como director e proprietário. Desde o número 767 de 30 de Março de 1912, José Soares de Sá é anunciado como director, administrador, proprietário e editor, situação que se manteve até ao nº 3239 de 8 de Abril de 1961, ou seja durante quase cinco décadas. No nº 22, de 5 de Setembro de 1897, o jornal já inscrevia ao lado do seu título: “O Correio da Feira é o órgão do partido regenerador local”. A partir do nº 117 de 1 de Julho de 1899 altera para: “órgão do partido regenerador e dos interesses do

concelho da Feira” em virtude, por certo, da luta que se travava entre a Feira e Espinho, devido à elevação desta localidade a concelho. Na edição do jornal nº 691 de 9 de Julho de 1910, o jornal toma posição a favor dos monárquicos, mesmo depois de alguns desentendimentos políticos entre elementos do próprio jornal. Em 5 de Outubro de 1910 dá-se a Proclamação da República. A partir da edição nº 704 de 8 de Outubro de 1910, o “Correio da Feira” intitula-se semanário político e abraça o regime republicano. Por motivos políticos, a publicação do jornal foi suspensa em 22 de Março de 1911 e retomada em 1 de Julho do mesmo ano. Na edição seguinte, em 8 de Julho, passou a denominar-se semanário republicano e na edição nº 756 de 13 de Janeiro de 1912 intitula-se órgão do partido republicano do concelho. A partir do nº 1679 de 26 de Julho de 1930 o “Correio da Feira” denomina-se semanário republicano independente e regionalista. No nº 1000 de 16 de Setembro de 1916, o jornal informa que a sua redacção, administração, tipografi a e ofi cinas de impressão já estavam situadas num edifício na então Praça

José Soares de Sá compra o “Correio da Feira” em 1899 A partir do nº 92, em 8 de Janeiro de 1899, a administração do jornal “Correio da Feira” passou para o lugar das Eiras, embora a redacção se mantivesse na Praça de Camões. O jornal esclarecia ainda que “a redacção do Correio da Feira, que continua a ser na Praça de Camões, participa aos seus assinantes que, por contrato feito com o Sr. José Soares de Sá, do largo das Eiras, passa este a editar e administrar o jornal por sua conta”. José Soares de Sá tinha adquirido todo o material e apetrechamento de tipografi a a José João Ferreira proprietário do jornal “O Feirense”, que foi extinto por esta altura. Assim, a partir do nº 210 de 13 de Abril de 1901, o jornal já anota que a redacção, administração e tipografi a se localizavam no Largo das Eiras, na Vila da Feira. Até ao número 107, de 23 de Abril de 1899, o jornal distribuía-se aos domingos, mas a partir do número seguinte passou-se a distribuir aos sábados. Em 1903, José Soares de Sá adquiriu uma casa na Rua Dr. Roberto Alves, na então Rua Direita, defronte da chamada Casa da Secretaria. No jornal nº 351, de 26 de Dezembro de 1903, é anunciado que a redacção, administração e tipografi a

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A passagem de testemunho de José Soares de Sá em 1961 às suas fi lhas D. Brízida Alvão e D. Maria Luísa Depois de uma vida exaustiva de trabalho, quando já tinha cerca de 90 anos, José Soares de Sá abandonou a direcção e a editoria do “Correio da Feira”, no número 3240 de 15 de Abril de 1961, fi cando como directora e editora a sua fi lha D. Brízida Monte Santos Soares Alvão e como proprietários e administradores, ele e os seus fi lhos. Desde o nº 3509 de 11 de Junho de 1966 o jornal passou a apresentar como directora e editora a já mencionada D. Brízida Alvão e como administradora a sua irmã D. Maria Luísa Soares de Sá Braga. Até 1975 o jornal era distribuído aos sábados, mas no início de 1976, a edição do jornal foi antecipada em um dia, passando o jornal a ser distribuído às sextas-feiras aos seus assinantes. O jornal teve muitos e bons colaboradores ao longo dos anos e contou sempre com os seus habituais e importantes correspondentes das diversas freguesias do concelho, que também ajudaram a um longo período de estabilidade do jornal. Teve também alguns funcionários carismáticos na tipogra-fi a do jornal como o foram o poeta popular Adriano Meireles, Dinis Senos e também Constantino Henrique da Silva, que também elaborou as crónicas desportivas do jornal durante muitos anos sob o nome de “Tinotancons”. Desde 1970 até 1997, D. Brízida Alvão e D. Maria Luísa Braga, tiveram o cuidado sufi ciente para que o jornal não alterasse o seu rosto e a sua estrutura.

As Bodas de Diamante do “Correio da Feira” em 1972 Entretanto, em 11 de Abril de 1972 o jornal “Correio da Feira” perfazia 75 anos. Em reunião de 4 de Abril desse ano, a Câmara Municipal da Feira prestou uma pública homenagem ao jornal, atribuindo o seu nome a uma rua da então Vila da Feira. A Câmara Municipal deliberou por unanimidade dar o nome “Rua Jornal Correio da Feira” a um dos novos arruamentos da vila como testemunho de gratidão do povo do concelho da Feira ao jornal, aos seus fundadores, continuadores, proprietários, colaboradores e directores. A lápide foi descerrada no dia 11 de Abril de 1972, com a presença da directora e administradora do jornal e de diversas personalidades.

Velha, hoje Praça da República, em frente à Câmara Municipal da Feira, onde se manteve durante nove longas décadas e que ainda hoje pertence aos herdeiros de José Soares de Sá. Devido à carestia do papel, desde o nº 1185 de 1 de Maio de 1920 até ao nº 1189 de 1 de Julho, o jornal foi quinzenal, voltando a semanal a partir do nº 1190 de 10 de Julho de 1920.

Em 1930 o “Correio da Feira” suspenso por seis meses

Em 1930 o jornal “Correio da Feira” foi suspenso na sua publicação durante seis meses, na sequência de um criterioso artigo publicado em 1 de Fevereiro de 1930, a que não foi estranho o ilustre Dr. Aguiar Cardoso, dado a ausência da atribuição de um subsídio por parte da Assistência Nacional à Santa Casa da Misericórdia da Feira, ao contrário de outras. O jornal entrou então num longo período de estabilidade sob a administração de José Soares de Sá, não obstante as difi culdades inerentes à Segunda Grande Guerra Mundial.

As Bodas de Ouro do jornal em 1947

A edição do “Correio da Feira” nº 2524 de 12 de Abril de 1947, dá conta da passagem dos 50 anos de vida do jornal com um longo artigo de Vaz Ferreira publicado na sua primeira página. Dizia então entre outras coisas: “Meio século de existência é período que merece especial comemoração. O Correio da Feira publicou o seu primeiro número a 11 de Abril de 1897. Vinha assumir as funções de órgão local do partido regenerador concelhio. Os dirigentes deste importante grupo político eram o Dr. António de Castro Corte Real, deputado pelo círculo e mais tarde visconde e conde de Fijô; o visconde de Albergaria de Souto Redondo, presidente da Câmara Municipal; o Dr. Vitorino Joaquim Correia de Sá, administrador do concelho até 16 de Fevereiro desse ano; e Joaquim José Pinto Valente, vereador em exercício. Foram estes quatro grandes, como agora costuma dizer-se, que fundaram o Correio da Feira. (…) Ficou sendo secretário da direcção Joaquim José Pinto Valente, que tinha a bossa do jornalismo e depois foi director deste semanário até 4 de Julho de 1908. A seu tempo será comemorado este facto importante da vida do velho semanário. Por agora, as felicitações são só pelo quinquagésimo aniversário desta folha que há meio século vem lutando pelos interesses da nossa querida terra.“

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Por esta altura do centenário o “Correio da Feira” recebeu a “Medalha de Ouro do Município” atribuída pela Câmara Municipal da Feira, foi editado o livro “Imprensa Periódica de Santa Maria da Feira II”, foi realizada uma exposição dedicada à imprensa regional e ainda um concerto e um almoço comemorativo. Foram também editadas uma Medalha Comemorativa do Centenário do “Correio da Feira” e também um conjunto de quatro medalhas alusivas à mesma data.

Os Bombeiros Voluntários da Feira atribuíram, por aclamação, em Assembleia-geral o título de Sócio Honorário ao jornal. Para além de Santa Maria da Feira, o jornal também já fi gurava na toponímia de Escapães. As “Senhoras do Correio da Feira” como eram conhecidas a D. Brízida Monte e a D. Maria Luísa, deram uma única entrevista por altura do centenário do jornal, concretamente a “O Jornal da Feira”, reportagem publicada em 28 de Março de 1997, onde dão conta de inúmeros episódios da História do jornal. Na edição de 2 de Janeiro de 1998 o “Correio da Feira” iniciou então um novo ciclo com a direcção do jornal a ser confi ada a Manuel Tavares, que tinha como director-adjunto Serafi m Aires Lopes. Este ciclo durou cinco anos até à edição de 27 de Dezembro de 2002, altura em que ambos cessaram

A Medalha de Ouro de Mérito Municipal em 1979 A primeira Câmara Municipal eleita democraticamente após o 25 de Abril de 1974 soube honrar o “Correio da Feira” com a Medalha de Ouro de Mérito Municipal. Assim, da proposta saída da reunião de 12 de Abril de 1979 da Câmara Municipal da Feira constava o seguinte: “Que o jornal Correio da Feira conta já com 82 anos de existência o que é raro na imprensa regional, que a sua longa carreira tem sido inspirada nos princípios Republicanos e Democráticos ao serviço do povo do concelho da Feira, que para além da atribuição do nome do jornal a uma rua nunca os poderes político-administrativos consagraram a acção do Correio da Feira, que foi difícil a vida do jornal no tempo da acção repressiva da censura e que só sobreviveu com espírito de sacrifício, que o jornal constitui um elo de ligação entre a terra natal e os feirenses espalhados pelo Mundo e que tem tido acção importante na defesa do concelho da Feira.” O “Correio da Feira” rejubilou com a decisão camarária da atribuição da Medalha de Ouro de Mérito Municipal, a que deu grande relevo na sua primeira página da edição de 27 de Abril de 1979. Mais à frente, em 11 de Abril de 1987, na passagem do 90º aniversário do jornal, foi cunhada uma medalha comemorativa para assinalar a data. Do programa comemorativo dos 90 anos do “Correio da Feira” constaram diversos eventos.

O centenário do jornal em 1997 e a passagem de testemunho a Albino Santos Por alturas do centenário do jornal em 1997, a D. Brízida então já com 93 anos e a D. Maria Luísa, então com 91 anos, anunciaram a passagem do testemunho ao jovem Albino Hernâni de Paiva Santos, nado e criado naquela casa e ao seu pai Manuel Alípio dos Santos, há muitos anos tipógrafo no jornal. Era uma autêntica família este jornal, que se completava com a D. Andelina Alves e a Luísa Maria, mãe e irmã de Albino Santos. Também foi anunciado que o novo director do jornal seria no início do ano seguinte Manuel Tavares. No dia 11 de Abril de 1997, na edição nº 5044, o jornal “Correio da Feira”, semanário republicano independente e regionalista, assinalou o 100º aniversário com uma edição comemorativa de 20 páginas.

Medalhas do Centenário do jornal Correio da Feira, da Escultora Irene Vilar.

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regressou a director interino do jornal provisoriamente. Na edição nº 5488, do dia 5 de Outubro de 2006, o jornal “Correio da Feira” surgiu com um novo director, Paulo Noguês, que se manteve no cargo até 2011. Em 30 de Outubro de 2006, na edição nº 5492, o jornal iniciou uma nova etapa, com a sua edição semanal a estar disponível às segundas-feiras. O jornal era e ainda é impresso na Unipress Centro Gráfi co, Lda. em Arcozelo, Vila Nova de Gaia. Paulo Noguês cessou funções de director do jornal, na edição nº 5731, em 5 de Setembro de 2011. No número seguinte, na edição de 12 de Setembro de 2011, o jornal “Correio da Feira” ainda propriedade da “Trazer Notícias, Lda.” inicia uma nova etapa e surge com um novo administrador, Jorge de Andrade e também com um novo director, Orlando Macedo. Em 17 de Outubro de 2011, em entrevista a este jornal, Alcides Branco dá nota da passagem do testemunho do jornal afi rmando que o jornal passara a fazer parte da sua organização empresarial num determinado momento, em 2006, para que este não fosse adquirido por pessoas de fora do concelho. Agora estava de saída, mas o jornal fi cava em boas mãos, em pessoas desta terra. A partir do nº 5738, de 24 de Outubro de 2011, o jornal passa a ter um novo grafi smo e um novo tipo de letra no título “Correio da Feira”, tipo de letra muito usual nos jornais mais antigos. Na edição nº 5753, de 6 de Fevereiro de 2011, Orlando Macedo cessou as suas funções de director do jornal. A partir da edição nº 5754, de 13 de Fevereiro de 2012, o jornal “Correio da Feira” saiu para as bancas com uma nova directora, Sandra Moreno. Mantém-se na estrutura do jornal Albino Santos, que recebeu o legado deste jornal das fi lhas de José Soares de Sá em 1997. A empresa “Trazer Notícias, Lda.” mantém-se como proprietária do jornal, que tem presentemente como administradores Jorge de Andrade e Paulo Fonseca. A redacção do jornal é constituída por Sandra Moreno, Albino Santos, Rui Almeida Santos, Pedro Almeida, Fernando Correia, Orlando Macedo, Vítor Pereira e o jornal conta também com os seus habituais colaboradores. Em 11 de Abril de 2012 o “Correio da Feira” completará um longo percurso de 115 anos de existência. O jornal nasceu ainda durante a Monarquia no reinado de D. Carlos I, passou pela Proclamação da República em 1910, pelas duas Grandes Guerras Mundiais nos anos 1914-1918 e depois nos anos

funções. Nova etapa no jornal em 2003

Em 3 de Janeiro de 2003, na edição do jornal nº 5317, o jornal surgiu com uma nova apresentação e com um novo tipo de papel. Albino Hernâni de Paiva Santos era a partir desta altura o novo director interino do jornal e manteve-se no cargo durante um ano até à edição de 19 de Dezembro de 2003. Manuel Alípio dos Santos era o director adjunto. Ambos pertenciam à administração do jornal e detinham a totalidade do capital do “Correio da Feira – Impressão do Jornal, Lda.”. Em 2 de Janeiro de 2004 na edição nº 5364, o jornal apresentou um novo director, Salomão Rodrigues, tendo como adjunto precisamente Albino Santos, mantendo o jornal ainda a mesma administração. A partir desta data, o jornal também surgiu com um novo visual e com um novo formato do título “Correio da Feira”. O anterior tipo de título era o usado desde o ano de 1899. O jornal manteve a sua sede nas suas históricas e seculares instalações, com a sua redacção e a sua tipografi a, na Praça da República em Santa Maria da Feira, até à edição nº 5478 de 26 de Maio de 2006.

As novas tecnologias do século XXI No entanto, a nova era dos computadores e das novas tecnologias informáticas de paginação ditavam as suas leis. Para trás fi cariam defi nitivamente as grandes máquinas de impressão e os caracteres das grandes placas de chumbo que durante décadas e décadas fi zeram o jornal. Depois de um interregno de quatro semanas, o jornal iniciou uma nova etapa e transitou a sua redacção para as novas instalações situadas na Avenida 5 de Outubro. Assim, na edição seguinte do jornal, do dia 29 de Junho de 2006, o jornal apresentou um grafi smo renovado e com mais páginas a cores. O jornal passava a ser gerido pela “Trazer Notícias, Lda.” que contava na administração com Albino Hernâni de Paiva Santos e João Sá. Nesta altura outra novidade foi o facto de o jornal antecipar em um dia a sua edição, passando a sair às quintas-feiras. Entretanto o jornal transitou novamente a sua redacção para outro local de Santa Maria da Feira, situada na Rua Dr. João de Magalhães, onde já foi elaborada a edição nº 5487 do “Correio da Feira”do dia 28 de Setembro de 2006. Salomão Rodrigues manteve-se no cargo de director até à edição de 21 de Setembro de 2006 e na edição seguinte, Albino Santos

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proceder à digitalização do arquivo do jornal “Correio da Feira”, para assim o disponibilizar gradualmente on-line no seu sítio da internet a quem o pretenda consultar. O jornal “Correio da Feira” está no facebook e tem também disponível on-line o seu sítio na internet. A programação das comemorações dos 115 anos do jornal incluíram uma exposição de capas histórias do jornal na Biblioteca Municipal de Santa Maria da Feira, missa na Capela de Campos, um jantar de benefi cência, tertúlia dedicada à imprensa, espectáculo no Cine-Teatro António Lamoso e edição especial de aniversário.

1939-1945, pelo longo período do Estado Novo e fi nalmente chegou à Democracia depois da Revolução dos Cravos em 1974, conhecendo a sua publicação três séculos diferentes, os séculos XIX, XX e XXI. O arquivo do jornal, ainda depositado nas suas históricas instalações da Praça da República, é um autêntico testemunho da história do concelho da Feira e das suas gentes, sendo por isso o jornal “Correio da Feira” autêntico património de Santa Maria da Feira. A Biblioteca Municipal de Santa Maria da Feira está a

Exposição na Biblioteca Municipal de Santa Maria da Feira

Texto elaborado por Luís Filipe Higino com base nas obras “Imprensa Periódica da Vila e Concelho da Feira” de Roberto Vaz de Oliveira editado em 1970, “Imprensa Periódica de Santa Maria da Feira II” de Etelvina Araújo e Márcia Cruz editado em 1997, Revista “Villa da Feira” nº 17 editada pela L.A.F. em 2007 e ainda na recolha de elementos e apontamentos diversos por Luís Filipe Higino.

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92 “Gabi”

Ilda Maria*

Quando um dia fores velhinho,

Recordarás com saudade,

Tamanha felicidade,

Tanto amor, tanto carinho.

Ficar-te-ão na lembrança

As brincadeiras de agora,

Vais relembrar hora a hora

Tuas festas de criança.

Lembrarás teus amiguinhos,

Toda a gente conhecida

E, com saudade, os Paizinhos,

Vida fora, toda a vida!....

19-5-81*Poeta Faleceu em 20/07/1981

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* Licenciado em História pela Universidade do Porto e Bacharel em Filologia Românica pela Universidade de Coimbra. Historiador local, é autor de Anais da História de Espinho, O Associativismo em Espinho, Joaquim Pinto Coelho, um Político de Espinho, O Campo de Aviação de Espinho, O Culto de Nª Sª da Ajuda em Espinho e Manuel Laranjeira, por ele mesmo.** Colóquio “Manuel Laranjeira: a vida na adversidade e a obra na diversidade”. realizado na Biblioteca Municipal José Marmelo e Silva. Organização da Câmara Municipal de Espinho. Na impossibilidade de incluir todas as intervenções apresentamos aos nossos leitores as que versam temas ainda não tratados nesta revista.

Francisco de Azevedo Brandão*

«Desde há muito que me habituei a comover-me com uma coisa apenas – a verdade. Os confl itos dos homens não me interessam, senão quando neles existem um confl ito de ideias». Manuel Laranjeira.

Em Manuel Laranjeira ressaltam dois retratos completamente antagónicos, como bem acentuou Bernard Martocq no seu livro «Manuel Laranjeira et Son Temps» (Fondation Caloust Gulbenkian, Centre Culturel, Paris, 1985) retratos esses já pressentidos por Joel Serrão, em 1962, quando, em «As Raízes do Tédio em Manuel Laranjeira», Portugália Editora notara que «a natureza psicológica de Laranjeira propendia a intercadências de entusiasmo e de abatimento, de euforia sentimental-romântica e de depressão entediada». Com efeito, num retrato destaca-se a fi gura de um homem doente, de corpo e de espírito, pessimista, triste, depressivo, mergulhado num tédio de morte que o levará à neurastenia e ao suicídio.

No outro, revela-se um homem de acção, optimista e confi ante, que combate ardorosamente pelas suas ideias, cheio de vida palpitante, nas várias frentes de batalha com que lutou com coragem, abnegação e generosidade. Se o primeiro retrato é o mais conhecido e glosado, graças ao seu «Diário Íntimo» e ao seu livro de poemas «Comigo», nos quais se vislumbra uma alma mística «pedindo à existência terrena perfeição e paz que nunca poderá ser dela», onde em todas as suas páginas se exala um aborrecimento sem fi m, um tédio de morte, o nojo da vida e se procura um Deus que lhe dê um sentido à vida. No segundo retrato, porém, surge um homem corajoso, entusiasta e combativo, na defesa intransigente dos seus ideais sociais. Culturais e políticos. É este segundo retrato que aqui e agora queremos apresentar através dos seus escritos de doutrina social e política, a maioria deles ainda inéditos em livro, que nos revela uma nova faceta deste malogrado escritor, um novo pensamento «que continha em si a rebeldia, a coragem, a cultura e uma desassombrada sinceridade para impor o seu temperamento pessoal, repudiando posições subalternas ou servis». Crítico acérrimo de falsos ídolos e polemista de raro poder argumentativo, zurzia impiedosamente até ao sarcasmo irreverente aqueles que procuravam a fama nas letras nacionais sem a merecerem. Homem de independência de carácter e de um orgulho intelectual desmedido, Laranjeira não perdoava à sociedade

MANUEL LARANJEIRATEXTOS SOCIAIS E POLÍTICOS**

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que vibrantemente se comunicava à sua atitude, à sua Voz e aos seus gestos desordenados. Discutindo, era tenaz até à intolerância e todo cheio dessa áspera altivez dos que se capacitam que têm na mão a forma algébrica da verdade, e, para vingar, absoluta confi ança em si próprio, como ele tinha no seu cérebro, de facto robustecido de saber e a lampejar talento».

Nos Textos sociais e políticos que Manuel Laranjeira escreveu em vários jornais do Porto (O Norte, A Pátria, A Voz Pública, Porto Médico) e na Gazeta de Espinho, o malogrado médico da Vergada refere-se aos casos que mais apaixonaram a opinião pública do país: os adiantamentos ilegais ``a Coroa real, as greves, as prisões políticas, a ditadura franquista, o rotativismo dos partidos monárquicos, as eleições para a Câmara dos deputados, o papel da educação moderna, a assistência aos alienados, o advento da República e a progressiva decadência de Portugal. Em todos estes temas, Manuel Laranjeira mostrava-se um produto típico da sua época, época caracterizada por um sentimento de decadência da civilização e da cultura que se repercutia na obras da inteligência europeia, fosse nos romances de Oscar Wilde e de Lafotgue, fosse nos ensaios de Miguel de Unamuno e Gasset, fosse ainda e sobretudo na fi losofi a de Nietszche e nos textos dramáticos de Ibsen e de Strindberg, que questionavam todos eles sobre o destino e a alma dos respectivos povos. Em Portugal, como se sabe, foi principalmente a partir do Ultimatum de 1890, que veio ferir profundamente o brio patriótico nacional, que «a sensibilidade literária portuguesa» foi atingida por um sentimento de catástrofe nacional, sentimento que mais se arreigou no espírito dos portugueses com os fracassos e as desilusões oferecidos pelo regime republicano que proclamava o paraíso na terra. É este sentimento de desalento, de descrença e de decadência que impregna toda a obra de Laranjeira, desde o teatro à poesia, do diário aos artigos políticos disseminados na imprensa, que levou Miguel de Unamuno a proclamar que «foi Manuel Laranjeira, quem mais me ajudou a penetrar na visão do Portugal trágico de Camilo, de Antero, de Oliveira Martins, de Soares dos Reis»- Tal sentimento está bem patente nos textos sociais e político, nos quais Manuel Laranjeira nos dá toda a dimensão do seu pensamento político e humano – pensamento que se

do seu tempo, sobretudo às camadas privilegiadas, as faltas morais, os falsos valores, a mediocridade militante «em que os nulos, os medíocres e os corruptos impavam pelos salões e pelas tertúlias». Intolerante para com aqueles, era francamente tolerante para a gente humilde, para com o povo, donde tinha nascido e que ele amava como um fi lho a sua mãe. Mas debaixo da sua aparente máscara de frieza, vivifi cava em Laranjeira um ser profundamente moral e afectivo, tanto na sua vida particular como no convívio social com os seus amigos, afectividade reconhecida e publicitada por muitos dos seus amigos e correligionários aquando da sua morte em testemunhos escritos na imprensa diária e local. Destes testemunhos, destacamos o de Antero de Figueiredo, que nos dá o retrato vivo da dupla personalidade deste singular escritor do princípio do nosso século XX. Disse ele: «Manuel Laranjeira era intelectualmente e moralmente uma fi gura muito complexa…A dor, o sarcasmo, as lágrimas, o riso, a revolta, viviam juntos nessa alma atribulada que se buscava buscando a melhor para si e para os outros…A sua inteligência pronta, a sua permanente avidez de saber, a sua variada e invulgar cultura toda sistematizada e bem moderna, a sua concepção da vida, constituíram nele um modo de ser muito especial, vivaz e agitado». E concluía deste modo o autor das «Jornadas de Portugal»: «Parecia que as ideias viviam dentro do Dr. Manuel Laranjeira numa ebulição contínua,

Manuel Laranjeira por Orlando da Silva.

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sentimentos de interesse individual. Em Portugal não existe o egoísmo da nação vencendo e disciplinando o egoísmo de cada português», atribuindo ainda a decadência do País ao proverbial messianismo do povo português: «Um dos aspectos mais típicos da vida portuguesa é a futilidade messiânica. A cada passo surge um homem que se sente com envergadura e ventre de Messias. À medida que a nação rola à aventura de messianismo em messianismo, a sociedade portuguesa, lentamente se vai desagregando». (Pessimismo Nacional). Neste estado lastimoso o único remédio que Laranjeira encontra para curar todas estas feridas que corroem o corpo e a alma de um povo é a aposta na educação: «Em Portugal existe um povo em que há, devoradas por um polilha parasitária e dirigente, uma maioria que sofre porque a não educam e uma minoria que sofre porque a maioria não é educada. Só através da Educação, é possível refundir a sociedade portuguesa de baixo a cima, incansavelmente, obstinadamente, com o desespero tenaz e árduo de quem se debate contra a morte». (Pessimismo Nacional). Laranjeira volta mais que uma vez a preocupar-se com a educação. No artigo «Coisas da Divina Providência» escreve: «Somos um povo intelectualmente atrasado um século na evolução

contemporânea e economicamente quase falido, moral e civicamente por educar»; e no artigo «Para a Posteridade», conclui: «O primeiro problema, o urgente e inadiável problema, para realizar a reeducação cívica de um povo que não sabe ler nem escrever, parece que seria o problema da instrução». Para debelar e combater o analfabetismo «da massa comum da sociedade portuguesa», Laranjeira bate-se pela introdução da «Cartilha Maternal, no artigo «A Obra de João de Deus e a Educação Primária», nestes termos: «A Cartilha Maternal, dando uma solução nova, integralmente perfeita, ao ensino da leitura, veio facilitar, de um modo maravilhoso, a acção das escolas móveis e do professor primário. Esse prodigioso método de leitura, realizado dentro de um plano educativo profundamente humano e nobilitador, não só permite ensinar e aprender, sobretudo aprender e ler de uma maneira lógica, espontânea, rápida e agradável, e por consequência fazendo desaparecer o ódio

enquadra bem dentro do paradigma ideológico progressista da época e particularmente da ideologia que enformava os princípios defendidos e proclamados pelo Partido Republicano Português, de que era membro no concelho de Espinho. Assim, sobre a decadência de Portugal, Laranjeira atribui-a à ignorância do povo português, onde prolifera uma populaça de 80% de analfabetos: «Somos um povo civilizado…na aparência, porque a negra realidade é que quatro quintos da população portuguesa nem sequer sabem ler e escrever… Somos um povo pertencendo pelo aspecto ao tempo dos Direitos do Homem e pertencendo, na verdade, pelo espírito, aos tempos da pedra lascada». (Pessimismo Nacional). Laranjeira atribui a ignorância do povo ao parasitismo da oligarquia política que mantém o poder: «A nossa organização social é uma organização mentirosa, sem estabilidade, sem unidade, uma fi cção de engrenagem civilizada, encobrindo a torpeza de um parasitismo desenfreado e impudente. (Pessimismo Nacional); atribui a decadência do país à desagregação da personalidade colectiva da nação, denunciando: «O mal da sociedade portuguesa é apenas este – a desagregação da personalidade colectiva, o sentimento de interesse nacional abafado na confusão caótica dos

Exposição sobre Manuel Laranjeira por Orlando da Silva, com o autor no uso da palavra.

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que lhe é peculiar: «Uma monarquia que há quase um século vive de mentiras e fi cções apenas e vem à última hora com ares de arrependida prometer a perfeição liberal e dizer que vai realizar a idealidade de uma república platónica é uma monarquia muito suspeita…É preciso não esquecer que, se foi a ditadura que liquidou os adiantamentos ilegais, foi a monarquia e o seu rotativismo quem os fez». Apologista do regime republicano, que para ele seria a cura de todos os males que padecia a sociedade portuguesa do princípio do século, Laranjeira parecia adivinhar que esse sonhado regime estava prestes a despertar no horizonte e que vinha pressurosa e salvadora, instalar-se no meio do povo que ansiosamente a esperava. Assim, escrevia ele em «Pré-Revolução», dois anos antes da revolução de Outubro: «A sociedade

portuguesa está evolucionando até aos seus fundamentos. Eis uma verdade que só contestará quem for cego, ou quem estiver bêbado. Daqui é fácil concluir que, para funcionar normalmente, sem perturbações, a vida social portuguesa, exige uma engrenagem nova, que desenvolva as suas novas aptidões, que auxilie as suas novas tendências, que satisfaça as suas novas necessidades». Profundamente democrata, não deixa de dar o seu conceito de democracia e que ainda hoje poderia servir de paradigma a alguns democratas de aviário que proliferam pelos corredores do poder. Dizia ele no seu artigo «Maioria Eloquente»: «A lógica democrática, pese a quem pesar, não impõe o direito das maiorias contra o direito das minorias. A lógica democrática impõe o direito de todos, a soberania de todos. É muito diferente…a lógica democrática não afi rma que a maioria tem sempre razão. A lógica democrática diz que a maioria tem a sua razão e que a minoria democrática tem a sua. Cada um tem os seus direitos sagrados, cada um tem o seu papel adentro da vida social. Em boa doutrina democrática, maioria e minoria têm o seu papel, o seu domínio inconfundível; e a boa lógica democrática impõe que ambas desempenhem amplamente, dentro da sua esfera própria, mantendo sempre um respeito mútuo de direitos. Dentro dos princípios democráticos, tão revoltante é a tirania das minorias como a tirania das maiorias».

à escola, criada pelos velhos e degradantes processos de ensino jesuítico e anti-natural, mas também a adaptar-se, de uma maneira inesperada ao fi m que as escola móveis é verdadeiramente a nossa obra de reabilitação cívica, e é por isso que ela deve ser para nós, o povo decaído e quase morto, o primeiro canto, bondoso e prometeiro do nosso poema de redenção». Sobra a ditadura franquista, Laranjeira assesta a sua pena crítica, sem dó nem piedade, escalpelizando-lhe o seu falhanço total na resolução dos problemas do país. Dizia ele em, «Coisas da Divina Providência: «A obra franquista, examinada em si, como expressão de uma fi losofi a social, de um sistema doutrinário de regeneração portuguesa, não passa de um montículo de futilidades incomentáveis. Sem uma ideia útil, superior, sem um princípio de proveitoso alcance colectivo, sem um acto à altura da angustiosa crise moral e económica portuguesa, a obra franquista não passa de uma meia dúzia de enfezados decretos, mais ou menos bíblicos na essência, que nos querem fazer passar por enormidades salvadoras». Acérrimo adversário do regime monárquico, Laranjeira não lhe perdoa o disfarce do liberalismo com que tenta enganar o povo português. No seu artigo «Uma Legenda Perfeita», escreve, sem rodeios nem contemplações, com a coragem

Pormenor da exposição.

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de certas quadrilhas políticas, a isso chamam eles honradez. Defender os cofres do tesouro público, exigir que o dinheiro da nação não desapareça escusamente, a isso chamam eles atentar contra a propriedade pública e particular. Expomos-lhes razões, respondem-nos a tiro – para acalmar os ânimos e debelar o perigo vermelho. Exigimos-lhes justiça e a garantia dos nossos direitos e eles fazem-nos pontaria baixa ao centro do alvo, para não perder munições». Defensor do povo e dos seus direitos, escreve em «A Jornada Vermelha»: «Aos interesses das classes médias, que

Amante da paz e tranquilidade cívicas, não deixou de se insurgir, a quando das eleições legislativas de 5 de Outubro de 1908, contra a violência da guarda monárquica que feriu e matou, nas ruas de Lisboa alguns cidadãos que davam vivas à República. Referindo-se ao acontecimento, Laranjeira escrevia em «Pré-Revolução»; «Ao nosso desejo de paz, respondem com a agressão: Garantem-nos a ordem, fazendo a desordem. Aos seus abusos chamam-lhe direitos e aos nossos direitos chamam-lhe abusos. Fazer adiantamentos ilegais à casa real, esbanjar dinheiros da nação para saciar a voracidade

Exposição bibliográfi ca, por Orlando da Silva.

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decoro pessoal. E não estão convictos de que um só desses «sapateiros» tem mais civismo do que eles todos juntos! Não se querem convencer…mesmo depois de tantas vezes terem tentado debalde comprar os sem-gravata! Não se querem convencer nesta hora de desengano cruel. Pois tanto pior para eles. E então chamam-lhes desdenhosamente «sapateiros», «sem-gravata» - os grandes sem vergonha! …Mas descansem as almas rancorosas. A comarca virá, não para dar prestígio a este ou àquele, mas, sim, porque é justo que ela venha. A comarca virá, porque aqueles que a República encarregou da divisão administrativa e judicial do país, hão-de atender aos interesses gerais das populações e não aos interesses particulares e inconfessáveis deste ou daquele cacique». Pois seja assim. «Sapateiros», sim senhores! E porque não? Porque se não há-de ser orgulhosamente «sapateiro» e «sem-gravata», numa terra onde há grandes fi gurões que não passam de uns grandes sem vergonha? «Homem de um só parecer de um só carácter, coerente toda a sua vida com as suas ideias que sempre defendeu, Laranjeira não perdoava àqueles que, do dia para a noite, mudavam de casaca e se refastelavam pressurosos à mesa do orçamento. Assim, num artigo sob o título «Doutrina Distrital» que escreveu para a «Gazeta de Espinho» de 13 de Novembro de 1910, quase mês e meio após a proclamação da República, Laranjeira não deixou de denunciar de muitos que juravam defender a Monarquia e corriam pressurosos para os braços do novo regime: «Passado o susto das primeiras horas pós-revolucionárias, as quadrilhas azul branco tomaram essa magnanimidade à conta da fraqueza e tolerância ingénua e tentam aproveitá-la em benefício da sua voracidade insaciável. Daí esse êxodo pitoresco e sem vergonha a que estamos assistindo desde há um mês para cá. Se é certo que alguns aderem num ímpeto de sinceridade patriótica, não é menos certo que a grande maioria, o que pretende, é apenas invadir a República – para devorar. A República não se fez só para os republicanos; fez-se para os portugueses – proclamavam e proclamam ainda aqueles que a fi zeram e trabalharam. É precisamente, agarrando-se a esta afi rmação, como um náufrago que se agarra a uma tábua podre, todas essa quadrilhas de grandes estadistas…que nos puseram neste estado e se julgam no direito de invadir a República. Sim, decerto, a República fez-se para os portugueses. Mas para ela não se fez é para quadrilhas derrotistas. Pelo contrário, fez-se

hão-de dominar ou ser esmagadas pelas quadrilhas oligárquicas e parasitárias que nos devoram o sangue e a honra, estão subordinados os interesses das classes trabalhadoras, isto é, da massa comum da sociedade portuguesa…Quer dizer, a transformação social da vida portuguesa à quase global». Atento e preocupado com os problemas de política local, onde foi presidente da Câmara Municipal de Espinho por escassos meses, Laranjeira não deixou de invectivar a atitude de uma espinhense que se tinha manifestado contra a criação da de uma Comarca em Espinho. Assim, no artigo «Comarca de Sapateiros», inserido na «Gazeta de Espinho» de 27 de Novembro de 1910, Laranjeira escreveu: «Corre aí de boca em boca que uma velha dama espinhense, franquista como todos o demónios, ao dizer-se que as Comissões Municipal e Paroquial trabalhavam para fazer de Espinho a sede de uma vasta comarca a que tem direito, soltara este dito espirituoso e feliz: «Espinho vai ser uma comarca de gente sem gravata, uma comarca de sapateiros». O dito fez sucesso em certos meios que sabem apreciar sempre «um bom dito» e logo se apressaram a ventilá-lo por aí com ar trocista e picante de quem conta uma das melhores piadas de Bocage. Eu, por mim, francamente, acho-lhe graça, sobretudo pelo ódio mal abafado que esse dito contém, pelo azedume e decepção que ele representa. De facto, o que lhe dói, é que esses a que a graciosa dama chama de sapateiros, politicamente valham tanto e civicamente valham mais do que todos esses grandes fi gurões de gravata e chapéu de coco. E esse rancor é de tal modo manifesto, de tal modo obcecante, que criaturas ainda há pouco tempo ansiosas de comarca, se insurgem hoje contra ela, só para não terem de sofrer o ódio grotesco que os cega. Toda a gente sabe onde lhes dói e eles próprios não dissimulam. Em tese, eles acham que a comarca é um bem para Espinho. Mas na prática, a criação da comarca por infl uência dos sem-gravata é uma bofetada no prestígio de alguns fi gurões que se supunham donos disto – e aqui é que bate o ponto e aqui é que ela dói. – Pode dar talvez prestígio político a dois ou três «sapateiros» que também são doutores. É esse prestígio que os assusta. E não vêem os pobres cegos que esse prestígio foi conquistado dia a dia esta luta de democracia honrada contra o caciquismo torpe dos que desejavam estar de cima, mesmo com o sacrifício do

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é perder-se o brio do que se foi… O espírito de Ramalho Ortigão, hoje, é um cadáver: envelheceu e morreu antes do corpo. Do cérebro resta apenas um punhado de cinzas duras, calcifi cadas. Agonia lenta: o espírito foi caindo aos pedaços, a alma foi-se desagregando, desfazendo em farrapos, como uma greda mole». Nesta breve análise dos textos sociais e políticos, vimos, a traços largos, a ideologia política, social e cultural de Manuel Laranjeira – um homem lúcido, atento ao seu tempo, idealista, sofredor e combativo, que através da sua pena corajosa e por vezes irreverente, expôs a nu a sua própria alma e apontou sem tibiezas os vírus que corroíam a sociedade portuguesa dos princípios do século XX. Os seus textos mantêm, hoje e agora, uma fl agrante actualidade, reconhecida por todos aqueles que, no meio do lamaçal que empesta a sociedade portuguesa contemporânea, ainda conseguem discernir, com a lucidez possível, a virtude, os valores e a Verdade.

Espinho, 12 de Abril de 2012

para as destroçar, fez-se para varrer da sociedade portuguesa toda essa parasitagem política que nos pôs à beira do abismo e da falência». Mas, o libelo acusatório mais violento àqueles que mudaram «de camisola» à última hora, foi o dirigido a Ramalho Ortigão que na «Farpas», anos antes zurzira nos reis e na monarquia e agora com o peso dos anos e de necessidades encobertas, aceitara, em 1906, a sua nomeação pelo rei D. Carlos para o cargo de secretário da Academia das Ciências e Director da Biblioteca do Palácio da Ajuda. Laranjeira, não perdoando tal atitude, escreve em «Frutos da Velhice Mental» uma das peças jornalísticas mais amargas e desapiedadas que algum dia saiu da sua pena: «morrer não é triste… o que é triste sobretudo é morrer de certa maneira…miseravelmente. Alguém que soube viver e se esquece de saber morrer – isso sim, que é um espectáculo arrepiante. O que entristece é assistir à morte vergonhosa de alguém que viveu orgulhosamente. O que é degradante, é ver alguém colocar-se abaixo de si mesmo, depois de ter vivido acima de si mesmo. O que é trágico,

Desenho de João Carlos (Celestino Gomes).

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100 PESCADORES EM TERRAAnthero Monteiro*

lá anda o acrobata a exibir-sedesgrenha-se enrola-se dramatizasalta os rochedos desce em socalcospatina derrama-seesgota-se em mesurasespuma de cansaço

e reclama que mar é nome exíguoquer ser muito mais oceanoquer ser muito mais atlântico

hoje os pescadores não ousam afrontá-loe deixam os barcos dormir a sono soltodeitados de bruços no travesseiro das dunas

espreitam as lacunas das redes e com as lançadeiras nos dedos remendando-asensinam em terra aos olhos sôfregos das criançascom elegantes gestos de exímios nadadorescomo se mergulha no abismo e se regressa à tona das águas

*Escritor e poeta natural de S. Paio de Oleiros. É autor de vários livros de

poesia e de ensaio.

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101de 80% da população portuguesa. A sociedade estratifi cada numa nobreza decadente e arrogante, uma burguesia em pleno fl orescimento, e um povo que podíamos dividir em funcionários, artesãos, carpinteiros, pedreiros, lavradores, com alguma capacidade de subsistência cujos fi lhos frequentavam a escola, aos quais se associava uma legião de serviçais e pescadores, homens, mulheres e crianças – o trabalho infantil era um fl agelo -, os sem terra e os sem trabalho, muitos dependentes do trabalho sazonal, profundamente marginalizados e, porque não dizer, escravizados e famintos, sujeitos a uma economia de subsistência. A revolução liberal, transportadora dos novas ideais de liberdade, fraternidade e igualdade começa a germinar e paulatinamente, ainda que com sofrimento, a dar os seus frutos. Esta revolução encabeçada pela burguesia fl orescente, que vai tomando o lugar da nobreza, começa a instalar-se através da banca e do comércio. A industrialização, o comboio, o automóvel dão os primeiros passos, haja em vista o dinheiro vindo do Brasil, surgem os primeiros proletários recrutados nos sem terra e nos sem trabalho, que apesar de tudo não resolvem o problema do analfabetismo, da fome e sobretudo da doença. É neste cadinho que a doença assume um carácter dramático. Ela atinge indiscriminadamente todos – ricos, remediados e pobres.

“Contributo para uma melhor compreensão da doença do Dr. Manuel Laranjeira”

Espinho,12/4/2012

Flávio Beleza Laranjeira*

Meus senhores e minhas senhoras, desculpem-me a ousadia de publicamente vir falar sobre Manuel Laranjeira (ML). Quando me foi colocada o convite, duas atitudes podia tomar, ou recusar liminarmente, ou participar. Decidi correr todos os riscos e aqui estou.

Tentarei ser, sem pretensões, humildemente, como sangue do seu sangue, de certo modo o prolongamento da sua voz e a presença viva da sua pessoa. Falar sobre ML não é coisa fácil, pelo que entendi que sendo eu médico, como ele, poderia aqui ter alguma capacidade para me debruçar sobre a sua doença, ou melhor, as doenças de que padecia, e que por certo tanto o atormentaram, tanto física quanto psicologicamente. Por saber e por experiencia, tinha a noção exata e clara das doenças que padecia, e das suas consequências. Primeiro a sífi lis – na sua forma tabética – e depois a tuberculose. Estávamos no último terço do século XIX, ML nasce em 1877. Onde a fome a miséria e o analfabetismo dominam mais

*Flávio Beleza Laranjeira, neto de Manuel Laranjeira. Médico.

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a vida assista ao espectáculo agonizante da morte. Antecipa a morte que não o assusta matando a vida injusta e mentirosa.

ML conviveu desde muito novo com o espectro da morte e a presença da doença, não apenas a sua... Interesse por tudo o que é ciência, movido pelo desejo profundo de saber, para quem “o fi m da ciência é interpretar e compreender a vida”, a ânsia de saber mais sobre o mundo, mas também de si próprio, o tenham incentivado, em certo momento, a aprofundar os seus conhecimentos sobre a constituição e funcionamento do corpo humano, e dos males que o atingem, o seu corpo afi nal, razão talvez decisiva que o levaram a tornar-se médico! Provavelmente a ânsia de saber mais sobre o mundo, mas também de si próprio, o tenham incentivado a aprofundar os seus conhecimentos sobre a constituição e funcionamento do corpo humano, e dos males que o atingem, o seu corpo afi nal, razão talvez decisiva que o levaram também a ser médico! ML fi ca órfão de pai, que morre, com 59 anos, de tuberculose. Tinha ML treze anos. Com ele fi cam sua mãe, com 65 anos, e mais 5 irmãos, mais velhos, e uma irmã, mais nova um ano. Importante notar que a mãe sobrevive a todos os fi lhos. Todos morrem de tuberculose, alguns primeiro que ML. Quando ML nasce, a mãe tem 52 anos, quando ML se suicida, sua mãe tem 88 anos, e ainda lhe sobrevive perto de 3 anos. Mulher de uma robustez e tenacidade invulgar, com uma saúde de ferro, certamente muito inteligente, analfabeta mas não inculta, não no sentido erudito da palavra, mas da cultura apreendida na escola da vida, atenta, que por certo a dotou de uma resiliência notável, o que a tornou num esteio importante e decisivo na coesão e sobrevivência do agregado familiar. “...a minha mãe trata-me por Laranjeira, e não pelo nome de baptismo, como aos meus irmãos”. Ao perguntar-lhe a sua impressão sobre o quadro pintado por António Carneiro, diz: – “Estás muito triste. Mas tu és assim – quando estás só...Às vezes andas dias seguidos assim.- A minha mãe veio revelar-me, que todas as minhas tempestades íntimas, a que eu supunha alheia por completo a minha família, eram intuitivamente adivinhadas por essa criatura silenciosa”. Esta situação passa despercebida aos outros membros da família, que o não reconhecem no quadro, mas sobretudo no íntimo, não sua mãe!

Estamos a falar das chamadas doenças infecto-contagiosas. Entre as mais temidas, se situam a “Tabes” e a “Tísica”, vulgo sífi lis e tuberculose, que eram doenças incuráveis e que só muito tardiamente, no fi m do sec. XIX, princípio do sec. XX, se descobrem os agentes patogénicos que as provocam. O agente da Tuberculose é descoberto em 1882, por R. Koch, e o da Sífi lis em 1905, por Schaudin, mas só a partir da descoberta dos antibióticos em 1922, particularmente a penicilina, primeiro, e a estreptomicina depois, se encontram as armas efi cazes para o êxito no combate aos microorganismos provocadores destas doenças. Até aí as medidas utilizadas eram medidas higieno-sanitárias e o isolamento dos doentes para as formas mais graves. Os fármacos utilizados no seu combate, até então, eram tão ou mais deletérios que as doenças que pretendiam tratar. ML utilizou essa panóplia de fármacos, queixando-se, não raras vezes, mais dos seus efeitos que dos efeitos da própria doença. ML como médico, dotado de uma bagagem científi ca assinalável, contemporâneo das maiores sumidades cientí--fi cas do seu tempo, médicos, químicos, farmacologistas, microbiologistas, higienistas, tem o conhecimento completo e actualizado dos efeitos e consequências das suas doenças e da impossibilidade de cura uma vez instaladas. ML não foi desenganado por ninguém, nem enganado por qualquer mentira piedosa de algum colega mais chegado: ele tinha a consciência absoluta do seu estado e da sua evolução. E desde muito cedo se preparou para isso... “Vida não vás tão depressa que ainda te não vivi...Um coração que não crê na mentira cegamente coração feliz não é… e não me assusta a morte só me assusta ter tido tanta fé na vida injusta e não saber sequer para que a vivi!” Ele amava a “Vida”, desde que vivida com Verdade (no sentido cientifi co) e Justiça (expressão moral da Vida). “Vida para todos – eis a Verdade a conquistar, e a Justiça a cumprir! Os Novos Apóstolos da Vida, armados da Verdade (que o pensamento, defi nitivamente conquistou, no domínio cientico), devem substituir todos os outros velhos apóstolos. ML. foi coerente na vida e na obra, até ao fi m. Não tolera que

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trabalhar a madeira seria mais leve que trabalhar o granito! Não era esta decisivamente, a sua aspiração. Porém não há alternativa, é preciso contribuir para o sustento da família – tem de fazer-se à vida. Julgo que se terá iniciado muito cedo na experiência sexual. “O direito de pecar, está justifi cado pelo direito de Viver”! Não lhe teria sido difícil experimentar: a prostituição de rua pululava, equiparada à marginalidade e à vadiagem, era actividade corrente e fácil, e fonte de doenças sexualmente transmissíveis e não só... Deduzo que vítima de uma experiencia negativa, terá contraído a sífi lis ainda muito jovem. Só assim se compreende os sintomas típicos de sífi lis tardia, a neurosifi lis na sua forma tabética, que levava cinco a dez anos a manifestar-se após a contracção da infecção primária. Com o advento dos antibióticos, particularmente estas formas de sífi lis tardia desapareceram completamente do âmbito da patologia médica contemporânea. Elimino liminarmente a sífi lis congénita, que só poderia ter sido transmitida pela mãe durante a gravidez, o que não faz sentido numa mulher que não revela qualquer tipo de doença, senhora por certo de uma imunidade humoral e celular notável, o que atesta a sua longevidade, e o passar incólume às doenças que afl igiam a época, vive 90 anos, o que para a altura é um facto notável, e a tabes não fazia parte da sífi lis congénita. A esperança de vida na população em geral, não ultrapassava os 45 anos. Qualquer desentendimento que eventualmente possa ter tido com o pai, não foi certamente por causa da sua doença, como já ouvi a alguém, em algum momento. Provavelmente, se algum desentendimento tenha surgido, talvez mais por não aceitar a profi ssão que parecia estar-lhe destinada, por certo e com razão aspirava a mais, como se viu. Talvez! Ou então, se algum desentendimento houve, talvez esteja relacionado mais com o número de fi lhos que sua mãe teve, sete, e que ele referia com alguma graça, disfarçada de reprovação, que mais parecia uma coelha que uma mulher!Aliás esta frase ele aplicava-a com alguma frequência a outras situações idênticas, lembro, quando se referia a Pinilla, que tinha dez fi lhos, o que era inconcebível para quem como ML era um maltusiano convicto.

ML era por certo um outsider, mas amado e integrado no seio da família, em que todos se respeitavam e amavam independentemente das suas convicções; a mãe era uma pessoa profundamente crente, a antítese de ML, que era ateu! ML dotado de uma inteligência invulgar, que cedo o seu professor de instrução primário, o Pera Loura, homem progressista e republicano, constata e realça. E realça, não só a inteligência, mas também a argúcia, as interrogações e a curiosidade precoce, que um miúdo superiormente dotado e tão jovem revelava, tendo passado, no seu entender, da infância a “virilidade” tão precocemente. Por certo este professor, marcante para o que viriam a ser as ideias de ML, deu-lhe as bases, certamente mais que as bases, os alicerces para a sua formação de homem livre, e do abraçar as ideias sociais e politicamente avançadas à época.Observador atento do meio em que vive, ávido de conhecimentos, desde muito cedo foi construindo a sua bagagem humanista de intelectual interventivo e empenhado na transformação da sociedade, mas também sem se ter alheado dos prazeres mundanos, vivendo a vida, como era seu timbre, apaixonada e intensamente. Com rara sensibilidade e um conjunto extraordinário de conhecimentos com que se dotou, até a conclusão do ensino secundário em 1898, concluido em apenas três anos, revela ser um ser humano invulgar, com uma capacidade e uma ânsia de saber sem limites. Um autêntico, self-made-man, autodidacta, muito acima da vulgaridade. Recordo um soneto muito bem construído datado de 1897- dedicado a uma admiradora -“Tenho inveja ao Cristo”, tinha ML 20 anos, o que é um facto revelador. E em 1898, escreve a peça de teatro em um acto “O Filósofo”; em 1899 escreve sobre Ibsen e Max Nordeau “ O crepúsculo dos Povos, a psicologia do misticismo e do egotismo”...Uma intuição rara, particularmente para as questões da psicologia humana, uma vertente precoce em ML, e que aprofundou ao longo da vida.É neste contexto que surgem os primeiros sinais da doença que viria a vitimar ML. Deve ter sido uma criança muito sensível e saudável. Com a conclusão da instrução primária, deve ter acompanhado o pai na arte de pedreiro, como era tradição. Por certo foi-se apercebendo que não era isso a que aspirava. Muito cedo fi cou órfão de pai, tinha 13 anos. Aos 14 anos inicia a arte de carpinteiro, eventualmente menos dura que a de pedreiro –

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os pulmões de pessoas sãs, originam a tuberculose, também designada por peste branca, ou moléstia do peito, doença, ao contrário da sífi lis, socialmente aceite, e que na época de ML, eram doenças difi cilmente curáveis. A tuberculose,” foi cadeia do velório sepulcral no Portugal do século XIX”, como dizia alguém. Insidiosas, por vezes silenciosas, estas infecções passam de uma situação de simples infecção aguda para uma situação de doença crónica, podendo atingir praticamente todos os órgãos ou sistemas do corpo humano e, quando tal acontece, a esperança desaparece. Inexoravelmente progressivas, quando instaladas, cada uma à sua maneira, conduziam quase fatalmente à morte, mais tarde ou mais cedo, quem por elas fosse atingido. Apesar de tudo, podia e pode haver algumas pessoas, que nunca desenvolverão doença, apesar de se terem infectado, mas que, em virtude de possuírem um sistema imunitário altamente competente, escapam. Quem resiste à infecção pode tornar-se imune à doença – é um verdadeiro processo de selecção natural, um processo idêntico ao das Vacinas – que começam a aparecer por volta de 1885 com os trabalhos desenvolvidos, principalmente por Pasteur. A medicina, entre os fi nais do séc XIX e meados do sec. XX, não dispunha de quaisquer recursos farmacológicos efi cazes para a cura das doenças infecto-contagiosas. A penicilina é descoberta em 1922 por Fleming, mas só é aplicada a partir de 1940. Os fármacos que existiam – mercúrio, arsénio, sabão de potássio, estricnina, bismuto, etc. – embora utilizados, e todos ML utilizou, eram de efi cácia duvidosa, senão mesmo comprovadamente deletéria, provocando sofrimento físico, efeitos tóxicos indesejáveis, comportamento depressivo, não raramente atribuídos, erradamente, a doença. As medidas mais efi cazes eram as que estavam ligadas à implementação da promoção da saúde e à prevenção do contágio, eram: as higieno-sanitárias, preconizadas por Pasteur, eram seguidas por todo o mundo, estavam no auge, assim como medidas do isolamento, papel atribuído aos sanatórios, a partir de 1853, que tiveram um grande incremento na época, solução já na altura a suscitar alguma controvérsia, onde as pessoas fi cavam internadas longos anos, não raramente até à morte; o repouso; o combate ao álcool; uma alimentação adequada; actividade física regular ainda que moderada – a bicicleta tornou-se no meio mais acessível e aconselhado pelos médicos para atingir esse desiderato (ML utilizou-o

As primeiras referências que se fazem a tabes em Manuel Laranjeira, portanto manifestação de sífi lis tardia, que tipicamente se manifesta nos membros inferiores, e que perturba a marcha, designada tipicamente de marcha tabética, situação lentamente progressiva, são atestadas por volta de 1897, tinha ML 20 anos, o que é demonstrado pela permanente utilização de bengala, que sempre o acompanha quando o fotografam ou caricaturizam. A fotografi a que se conhece de ML mais jovem, talvez com dezassete, dezoito anos, revela um jovem aparentemente saudável. ML e família escolhem Espinho para viver. Na altura Espinho, bem servido de meios de comunicações modernas, particularmente o comboio, com ligação a Europa, era um chamariz muito atractivo de uma urbe cosmopolita, efervescente, sobretudo na época balnear, onde afl uíam de toda a parte, turistas, nacionais e estrangeiros, particularmente espanhóis, originários de uma burguesia endinheirada, muitos artistas, músicos, instrumentistas, poetas, intelectuais de nomeada, pintores, de entre os quais se destacam, Unamuno e Sousa Cardoso, amigos e admiradores de ML, atraídos, pelo mar rico em “iodo”, e um sol temperado e revigorante – estavam na berra a talassoterapia e a helioterapia -, pelo divertimento, simbolizado no Casino Peninsular – infl uência da cultura parisiense, em plena Belle-Époque, cujo eco e refl exo chegavam com estrondo a tudo isso, facilitavam os contactos, trocas de ideias e disputas ideológicas acesas. As pessoas juntavam-se em estimulantes tertúlias, em associações cívicas e politicas, à volta das mesas dos cafés. ”O Chinês” é disso um exemplo marcante. Espinho era então palco de uma vida cultural notável e signifi cativa. ML conviveu, contactou e participou activamente de tudo isto. Que lugar ocupava a doença neste panorama? A sífi lis e a tuberculose eram das mais temidas. No sec. XIX e parte do sec. XX, a “tabes” e a “tísica”, atingem, como vimos, todos os estratos sociais, mais intensamente, naturalmente, as classes mais desfavorecidas, e a mortalidade era assustadora. As fontes de contágio pelos agentes patogénicos, através da actividade sexual de pessoas infectadas com pessoas sãs, estão na origem da sífi lis –âmbito das chamadas doenças sexualmente transmissíveis, também conhecidas por doenças do “pecado” – ou do ar que se respira, contaminado por doentes próximos, que atingindo

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casamento e apercebia-se quanto falsos e hipócritas eram por vezes os comportamentos das pessoas, homens e mulheres nesta matéria, daí o conceito das “falsas virtuosas”, que o Diário Íntimo tão real e cruamente revela! As ciências ligadas à saúde dos fi nais de século atingem grande prestígio com o nascimento da microbiologia. Passa a conhecer-se a causa das doenças infecto-contagiosas, o que conduz à descoberta das primeiras vacinas. Daí o crescente reconhecimento e prestígio da medicina como profi ssão! Um tuberculoso ou suspeito de tuberculose que curava era um sobrevivente e o médico que o acompanhava e supostamente o tratava tornava-se num semi-deus. Ch.Lavern (1880), identifi ca o agente da malária; Pasteur (1885-1995) descobre o estreptococo e cria a vacina contra o carbúnculo e a raiva; R. Koch (1882) descobre o bacilo de Koch, responsável pela tuberculose; Fritz Schaudin (1905) descobre o treponema pallidum, responsável pela sífi lis; Wasserman (1906) descreve o método que permite o diagnóstico da mesma. Muitas destas personalidades estiveram em Portugal em conferências e congressos...Alguns eram Prémios Nobel!A passagem de suspeita a certeza de que a sífi lis é uma doença sexualmente transmissível é agora defi nitivamente confi rmada. E o tratamento? P. Ehrlich (1905) procura o fármaco capaz de curar a sífi lis. Utiliza o guaico e o mercúrio, o famoso Salvarsan, perfeitamente inefi caz, senão, como vimos, extremamente deletéro. Há um crescente reconhecimento e prestígio da medicina apesar de tudo... A ML não escapam estes conhecimentos! Aplica-os.

Mesmo assim, particularmente a partir de 1908, a irmã Zulmira morre com tuberculose, dois anos antes a doença em ML começara a mostrar os dentes, progredindo paulatinamente e em crescendo: -“Sinto-me adentrado dum grande tédio”... levanto-me decidido a encontrar seja onde for remédio para este tédio de morte”. Ou...”dia de tédio e de enfermidade. Passo a fazer o balanço da minha vida e uma das conclusões é que não me restam

regularmente) implementação de regras e estratégias sociais capazes de melhorar as condições de vida das pessoas, uma vida com regras salutares, fi nalmente. Uma das medidas mais controversas particularmente para as correntes conservadoras e religiosas, e de certo modo aceite por alguma parte da burguesia, em contraste com as correntes mais liberais, mais tolerantes, era o da legalização da prostituição. A procura do prazer fora do casamento estava vedado à mulher, e mesmo no âmbito conjugal, o prazer, se existisse, seria parcimonioso e recatado, já que sua fi nalidade última seria o de assegurar, basicamente, através da relação sexual, a função fi siológica da procriação, tendo em atenção a continuidade e sobrevivência da espécie. A procura do prazer através do sexo, saía fora das necessidades fi siológicas da mulher, não compatível com a sua condição de esposa e mãe. A mulher estava destinada à prática da castidade, o que não se exigia tanto ao homem, uma vez que se considerava que a concretização da plena satisfação do prazer sexual era uma exigência fi siológica inerente à sua condição de macho. Dada a impossibilidade de satisfazer essa exigência dentro da esfera conjugal, era-lhe tolerado, porém, fazê-lo fora desse âmbito. Este era um dos argumentos, justifi cativos, poderosos, invocados para a existência da prostituição, considerada, então, uma necessidade social... desde que devidamente regulada e controlada, para bem do equilíbrio fi siológico, emocional e da saúde do homem, só atingido através da satisfação plena do prazer sexual, que, como se dizia, lhe estava vedado concretizar plenamente na sua recatada e pacata relação conjugal. A ideologia burguesa no seu melhor!

É assim que, com o crescente medo de contágio, é instituído, pelas autoridades sanitárias, o controlo do estado de saúde das prostitutas, fonte principal de contágio das doenças sexualmente transmitidas através do chamado exame sanitário. ML foi responsável por essa função, na qualidade de sub-delegado de saúde concelhio. À data estariam inscritas, ou seja, legalizadas, cerca de 40 prostitutas. O mundo do prazer estava assim supostamente garantido, sem receio de contrair doença no lar e, provavelmente, se possível, fora dele! Como médico, no exercício das suas funções, tinha conhecimento real das situações existentes dentro e fora do

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receio que ele desconfi e, não o interrogo. Mas aquela tosse impressiona-me. E como eu tenho tosse também, começo a pensar que morro e que esta tosse pertinaz é o começo do fi m”. ...”E penso também com tristeza funda no que será dos que precisam de mim, moralmente pelo menos se eu morrer”... Está a lembrar-se por certo da mãe, e dos fi lhos! Degradação física até ao limite, mas sempre lúcido e senhor da sua vontade! A doença progride inexoravelmente, até ao limite da sua capacidade de controlo, mas sempre consciente do que se passa em volta de si e do mundo! E só quando se apercebe da incapacidade de poder saber o que se passa no mundo, mas sobretudo no seu país por incapacidade física, não aceita nem suporta a situação. A Unamuno em 15/2/1912- “ Desde o começo da minha doença, ignoro o que se passa no meu país”. Adeus meu amigo, até...não sei quando”. ML não aceita que o espectáculo da morte se apodere de si. Quando o corpo já não consegue sustentar fi sicamente a vida, renuncia! Mas fá-lo com lucidez. Quando o mundo se limita ao seu quarto, sem alternativa ou saída possível, quando parte do seu corpo frágil não responde à sua cabeça ainda poderosa, sede de uma inteligência que manteve intacta até ao fi m, ainda assim a força da sua vontade prevalece. Até ao fi m, só, consigo mesmo, num acto solitário, que procurava nos seus momentos de maior tédio, e eram tantos e tão frequentes, exerceu plenamente a sua Vontade! BIBLIOGRAFIA Avelãs Nunes, José Carlos, O(s) Berço(s) da Arquitectura Branca em Portugal. O surgimento dos primeiros Sanatórios de Tuberculose.-PDF, 2007 Beraldo, Heloísa, Contribuições da Química Inorgânica Para a Química Medicinal, Cadernos Temáticos, nº. 6, Julho, 2005 Brandão, José, Suicídios Famosos em Portugal- Europress Editores, Nov. 2007 Graça, Luís, História da Medicina e da Saúde, Textos 2 e 5, Fev/Março 2004/2005 Graça, Luís, História da Saúde e Segurança, Textos 15 e 16, Março de 2005

muitos meses para viver”...mas logo a seguir...”Claro neste momento não sinto desejos de morrer, mas a possibilidade de morrer breve deixa-me insensível como se tratasse do facto mais banal e insignifi cante”...e mais adiante -“...porque me assusta às vezes tanto a ideia de morrer? Tens medo à morte, alma cobarde? Porquê? Se a terra fosse um paraíso e a vida uma coisa infi nita, esse teu medo seria uma cobardia compreensível! Mas sendo a terra um deserto enfadonho, uma charneca gris, e a vida uma ininterrupta enxurrada de lástimas, essa cobardia é simplesmente absurda. E um apego estúpido.” ML padece de stress crónico, a que ele chama nevrose!O tempo inexoravelmente vai galopando. ...”quero escrever e não posso, sinto-me doente, mal humorado. Uma tosse asmática insuportável a querer sufocar-me (espectro da TP que tão bem conhecia). Vem-me a ideia da morte, pequenos episódios criados pela imaginação obcecam-me o espírito. E sinto um pavor vago, mórbido da morte. Cobarde.” Mesmo assim continua a desfrutar da vida...” Uma noitada que me leva muitos dias de vida. E para que me serve a vida senão para isto? Ao menos esquece a vida. Como os náufragos, que para se não verem morrer se afogam mais depressa.” No seio da família as coisas não vão melhor, agora é a sobrinha e o irmão. ...”Morre a minha sobrinhita. Deve ser bem extraordinária a sensação de ver morrer os fi lhos.Faz-me lembrar uma árvore que pensasse e sentisse, e visse as raízes a secarem-lhe”...Deve estar a pensar também na sua mãe! ...”Agora ele, a seguir eu – acerca da doença do irmão – é a roda da vida...porque é que os que morrem se preocupam tanto com a dor que causarão aos que fi cam. Em suma o melhor é partir sem saudades”. “Sinto o espírito deprimido, em mim, é doença”. A imagem real, autêntica da doença física, surge -“...fi ta-me o rosto magro, fatigado e pálido:- estás tão doente meu amor, estás tão doente. -Eu sei, eu adivinho...Sinto-me mais magro, os olhos mais cansados e tristes daquela tristeza misteriosa. -: Vai-te deitar ao menos um bocado”. ...” Vou deitar-me de dia, com febre no corpo e na alma,...febre de tédio. “Meu irmão tosse: suspeito duma tuberculose. Com

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Saraiva, Valéria, A Sífi lis, a Gravidez e a Sífi lis Congénita- 2005 Silva, Orlando da, Manuel Laranjeira (1877-!912) – Vivências e Imagens de uma Época -1992 Luta Contra a Tuberculose em Portugal no Inicio do Sec.XX -Portal de Saúde Pública Neurosifi lis – Revisão Clínica e Laboratorial- Arquivos de Medicina, 19(3):121-129 -2005 The Nobel Foundation- The offi cial Web site of the Nobel Prize – 1908

Graça, Luís, História da Saúde e do Trabalho, 1890-1926, Textos, 15 Março, 2005 Laranjeira, Manuel, Comigo, Versos dum Solitário, Ed. F.Laranjeira,2ª. Ed.,1923 Laranjeira, Manuel, Obras de M. Laranjeira , 2 Vols.,Ed.ASA, 1993 Laranjeira, Manuel, Diário Intimo, Portugália, 1957 Laranjeira, Manuel, Cartas, Portugália Editora, 1943 Monteiro, Anthero, O Misticismo Laico de Manuel Laranjeira,Roma Editora, 2006 Montoito, Eugénio, Manuel Laranjeira e o Sentimento Decadentista na Passagem do Século XIX, Europress, 2001 Poppe, Manuel, A Tragédia de Manuel Laranjeira, Editorial Teorema, 2002

Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918)Caricatura de Amadeo de Souza-Cardoso e Manuel Laranjeira

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108 ESTA TAPEÇARIAH. Veiga de Macedo*

Esta tapeçaria aqui na minha frente,De longe veio. Trouxe-a eu de Portugal.- Quando a saudade em mim é forte vendaval,Todo o painel se agita em luz, e fala e sente.

A cor e a vida da vindima, de repente,Fazendo-se ritmo, sinfonia, ritual,E a moça bela e os rapagões dão o sinal,E ei-los que vão para o vinhedo alegremente.

Sobre o tonel, brejeiro, eufórico – evoé! -,Baco-menino chupa um cacho e bate o pé,E, demiúrgico, sorri entre os sarmentos.

A Pátria azul do Sol, das uvas e do vinho,Toda se entorna, então, em mim, do Algarve ao Minho,E me embriaga e põe em festa os sentimentos.

A Guilherme CamarinhaMestre na arte e na amizadePresente na minha emoção.

* Poeta. Foi Ministro de Portugal.Faleceu em 25-01-2005

São Paulo – Alameda – Casa Branca,- Olhando a tapeçaria de Guilherme Camarinha –28 de Fevereiro de 1981

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109FERNANDO PESSOA E A ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA

E O ACORDO ORTOGRÁFICO DE 1990

O Estado nada tem a ver com o espírito. O Estado não tem direito a compelir-me, em matéria estranha ao Estado, a escrever numa ortografi a que repugno […].

Fernando Pessoa

Minha pátria é a língua portuguesa é a frase poética de Bernardo Soares que mais tem sido citada, e, a nosso ver, de forma desajustada, a propósito do AO de 1990. Com efeito, desintegrada do seu contexto e das suas infl uências perde o seu sentido, e daí a manipulação de que lamentavelmente tem sido alvo, enganando o incauto que, por desconhecimento do texto em que a mesma se encontra, dará razão ao mistifi cador. Integrada no Livro do Desassossego, de autoria deste semi-heterónimo de Fernando Pessoa, «ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa», a referida frase, assim isolada, parece servir, e mesmo assim forçadamente, os objectivos dos acordistas, mas se nos dermos ao trabalho, e ao prazer,

Foto de Clara Azevedo

* Licenciada em Filologia Românica, mestre em Literatura de Viagens e Professora do Ensino Secundário. Tem vários livros publicados sobre ensino e viagens; em 2010 publicou o Ensino do Português, editado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, Lisboa.

Maria do Carmo Vieira*

de a ler no contexto em que se insere, compreenderemos o seu signifi cado. Assim, transcreverei do texto de Bernardo Soares o sufi ciente para que o possamos compreender, não deturpando as palavras do seu autor: Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incomodassem pessoalmente. Mas odeio, com ódio verdadeiro, com o único ódio que sinto, não quem escreve mal português, não quem não sabe syntaxe, não quem escreve em orthographia simplifi cada, mas a página mal escripta, como pessoa própria, a syntaxe errada, como gente em quem se bata, a orthographia sem ípsilon […]. Sim, porque a ortographia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-ma do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha. Bernardo Soares, neste seu texto, confessa, indirectamente, o seu apoio a Fernando Pessoa, comungando da mesma aversão pela reforma ortográfi ca de 1911 (que o poeta considerou «desnecessária e não urgente») e pelo acordo de 1931 (entre Portugal e o Brasil),1 caracterizando-se os dois momentos pela valorização da escrita fonética em detrimento da ortografi a etimológica, que, no entanto, constitui a marca

1 Fernando Pessoa não o cumpre, na sua única obra publicada em vida, Men-sagem (1934).

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alíneas d) e f), onde se acusa, de uma forma sobranceira e bizarramente colonialista, não só a «teimosia lusitana em conservar consoantes que não se articulam» quando a «norma brasileira» já «há muito as suprimiu», mas também o facto de os lusitanos «tentarem impor a sua grafi a àqueles que há muito as não escrevem, justamente por elas não se pronunciarem.» Historicamente, a reforma ortográfi ca de 1911, nunca aceite pelos brasileiros, foi por estes revogada em 1919; o AO de 1931, de início aceite pelos brasileiros, acabou por ser revogado em 1934 (governo de Getúlio Vargas) e o AO de 1945, delineado na «Conferência Inter-Académica de Lisboa para a Unifi cação Ortográfi ca da Língua Portuguesa», e adoptado pelos brasileiros foi posteriormente rejeitado pelo decreto-lei 2.623 de 21.10.1955,4 ou seja, 10 anos depois. Neste acordo, exigia-se ao Brasil que conservasse as consoantes mudas não-articuladas, que já haviam abolido, aspecto que esteve na origem da sua revogação. Agora, invertendo-se o «imperialismo linguístico», expressão, então, usada pelos brasileiros (e a nossa ver correctamente), são os autores da «Nota Explicativa» que classifi cam de «teimosia lusitana», como se de um «critério científi co» se tratasse, o termos mantido as consoantes mudas, respeitando o factor etimológico da ortografi a portuguesa (europeia). Não se pode esquecer igualmente que, a propósito do AO de 1990, os linguistas brasileiros, «os mais fundamentalistas», conforme foi, na altura, sublinhado, propuseram durante a sua discussão que, tendo em conta o número de falantes brasileiros, a língua deveria passar a chamar-se «língua brasileira». Não representa esta atitude uma aberração do ponto de vista da história da língua e da cultura? Na obra já indicada, refere ainda Fernando Pessoa que «a palavra escrita consegue escapar aos equívocos inevitáveis da palavra falada», apontando os exemplos de dois verbos de igual som: «coser (com agulha) e cozer (ao lume)». Este AO de 1990, de tão «inovador» que deseja ser, chega ao ponto de fomentar o equívoco na própria palavra escrita e basta lembrarmo-nos da confusão entre a preposição «para» e o verbo parar, escrito na 3ª pessoa do singular do Presente do Indicativo ou na 2ª pessoa do singular do Imperativo sem o acento agudo, gerando-se assim o equívoco. Não haverá quem não tenha lido o exemplo de «alto, e pára o baile», agora

4 Maurício Silva (USP), Reforma ortográfi ca e nacionalismo linguístico no Brasil. (www,fi lologia.org.br/revista/…/5(15)58-67.html)

«da cultura greco-latina, origem do mundo moderno».2 Nesse território abstracto, que constitui a pátria, identifi cada com a língua portuguesa, revelou-se conscientemente Pessoa, como «poeta-dramático», criador de vários «actores» e «amigos», veiculando no uso da palavra escrita e criativa uma cultura que se universalizará, no cumprimento desse Quinto Império espiritual que a Mensagem (1934) anuncia. Quando Bernardo Soares salienta que «a palavra é completa vista e ouvida» aponta os dois «princípios opostos», que o seu criador, Fernando Pessoa, defendera em relação à ortografi a da língua portuguesa, envolvendo o necessário equilíbrio entre «memória visual» (palavra escrita) e «memória auditiva» (palavra falada), ou seja, «cultura/etimologia» e «uso», concluindo: «ambas as forças são necessárias, porém cada uma, considerada em si, é nociva, e assim nocivo o seu predomínio sobre a outra, […]. […] uma ortografi a absolutamente conforme com a pronúncia não tem pois necessariamente razão de assim ser […]».3 Com efeito, a etimologia é o traje da palavra, através do qual se desvenda o signifi cado dos elementos que a «vestem» e que constituem a sua história e «a continuidade da nossa cultura». Como tal é um acto grosseiro desejar anulá-la, decretando simultaneamente uma obediência que põe em causa a liberdade cultural. Será interessante retomar as críticas fundamentadas por Fernando Pessoa, a propósito da reforma (1911) e do acordo ortográfi cos (1931), acima referidos, aplicando-as, porque, na verdade, se ajustam, ao AO de 1990, «desnecessário e não urgente», que também impôs levianamente o predomínio da «pronúncia» sobre a «etimologia», através de um processo profundamente polémico cujos porquês se mantêm, exigindo respostas. Escreveu Pessoa, na obra já identifi cada: «Mas, se havia que reformar, a reforma não haveria de ser senão em tornar o sistema mais lógico, mais coerente consigo mesmo, onde porventura o não fosse, […]». Actualmente, onde está a lógica quando se escreve, por exemplo, na base deste AO, «Egito» e, para o habitante do país, «egípcio»? Onde se situa o critério científi co quando se justifi ca esta situação com «a pronúncia» e se explica a abolição das consoantes mudas, invocando a «teimosia lusitana»? Parece anedótico, mas leia-se a «Nota Explicativa» do AO de 1990, no ponto 4.2 («justifi cação da supressão de consoantes não articuladas»),

2 Fernando Pessoa, A Língua Portuguesa (edição, Luísa Medeiros). Lisboa, Assírio Alvim, 19973 Idem.

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que devíamos honrar, forcem a revogação deste apressado e polémico AO de 1990. Nesse sentido, chamamos a atenção dos leitores para uma Iniciativa Legislativa de Cidadãos (ILC) a qual pode ser lida e assinada no seguinte endereço: http://ilcao.cedilha.net Servindo-nos novamente da edição de Luísa Medeiros, terminamos com as palavras de Fernando Pessoa, escolhidas para epígrafe da obra já referida e que estão em profunda harmonia com o texto do «ajudante de guarda-livros da cidade de Lisboa»: Quem não vê bem uma palavra não pode ver bem uma alma.

Lisboa, 23 de Abril de 2012

«alto, e para o baile», ou outros títulos de notícias em que temos de retirar o sentido, analisando a categoria morfológica empregue. Ter-se-á transformado o «equívoco» num «critério científi co»? Parece que sim! Como esquecer também que em 1986, ano-génese do AO de 1990, se pretendeu abolir o acento das palavras esdrúxulas e que só o caricato exemplo de «cagado», com dois signifi cados, o substantivo «cágado» e o particípio passado do verbo, fez os mentores desta famigerada aventura recuar na sua proposta? É ponto assente, e publicamente já assumido, que este AO responde a um lobby político, indiferente, como é natural, a toda a actividade espiritual. Esperemos que os portugueses reajam como os brasileiros, e dentro de algum tempo, constatando a degradação da língua portuguesa, herança

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Tu, que me lês

na penumbra da noite

e me vês, na claridade do dia

tens canto de rouxinol

quando cantas ao fi m do dia

Tu, reincides na leitura

decifras tatuagens

ouves os sons

que o tempo

no meu corpo calou

Tu, que percorres a minha alma

e te interrogas quem sou

serei as reticências da indecisão?

ou serei apenas uma folha branca

deitada para o chão?

Tu, és mais do que eu vejo

és aquilo que eu sinto

és musa desta poesia

e metáfora

que com palavras pinto

Tu, que me vês

para lá da porta da interrogação

absorve aquilo que eu sou

sou o que escrevo

e o nada que te dou

Para lá da porta da interrogação!António Madureira*

*Nasceu em 1963, na freguesia de Massarelos, Porto.Actualmente reside e exerce a sua actividade profi ssional em Santa Maria da Feira.

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113 | 1 «Damos Commissão ao R.do Abade da freguezia de Sam Jorge para numerar e rubricar este Livro, que há-de servir para nelle se escreverem os Capítulos das Vezitações e se Copiarem as Pastorais e Circulares dos Ex.mos Snr.es Bispos d’esta Diocese e no fi m lavrará o competente termo de encerramento. Paço Episcopal do Porto em 25 de Abril de 1850. Jerónymo, Bispo do Porto».

«Negocios q. pertênsão à Bula desde 1857 desde f. 140».

«Os meus R.mos Snr.s Successores devem ver a fi el historia da vitella da páscua desta freguezia a folhas 29 verso».

111

| 1 v folha em branco

| 2 «Circular de 10 de Março de 1851. 4.º Distr.º da Feira. Constando-nos com pungente mágoa do nosso Coração que em algumas paróchias deste Bispado se têm arrojado os Reverendos Párochos e outros Eccleseásticos a fazer exorcismos por hum modo diferente do que uza a Santa Igreja

*Abade de Pigeiros. Faleceu a 10 de Janeiro de 2011.

Domingos Azevedo Moreira *

TEXTO DO II LIVRO DE

VISITAÇÕES DE

PIGEIROS (1850-1873)

Vol. I (1769 – 1849)

Vol. II (1850 – 1873)

PIGEIROS 1990

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Dioceses do Reino e desta mesma Diocese, dispensamos e concedemos q. no prezente anno se antecipe e observe o mencionado jejum no sábado Vinte e hum do seguinte mez de Fevereiro em q. o dia vinte e quatro do mesmo último do Carnaval fi que aliviado de abstinencia e habilitado p.ª nelle se poder fazer uzo de qualq.r vianda e de mais de huma refeição, recommendamos porém aos Fieis nossos Diocezanos q. no dia imdicado (sic) último e nos outros de carnaval se retirem dos divertimentos profanos proprios dos tempos bárbaros e do Gentilismo e que na conveniente temperança e salutar sobriedade evitem quaesquer excessos reprehensíveis e dezordenados na qualidade e quantid.e de comidas e bebidas de que fi zerem uzo. Aos R.dos Párochos renovamos as mesmas recommendaçoens dos annos anteriores sobre a exactidão e zelo pastoral q. devem empregar nos trabalhos quaresmaes, promovendo diligentem.te q. todos os seus Parochianos dê(e)m satisfação aos preceitos da Santa Igreja, lembrando aos q. forem refra(c)tarios q., além de Ex- | 2 v Excommunhão em q. encorrem (sic) da perda 2(140) de suas almas, serão privados na sua morte da sepultura Eccleseástica segundo as dispoziçoens da Const. Diocezana no L.º 4.º, Tit. 12, Const. 7ª nas palavras aos q. p.r sua culpa, o q. he sobremaneira infamante p.ª a sua memoria e dezonroso p.ª as suas Famílias! Tambem novamente lhes recommendamos a muito e louvavel prática da 1.ª communhão dos Meninos solemne, provimento dos Santos Óleos e aprezentação dos Rois de dezobrigas em tempo competente, observancia da Const. Diocezana L. 1.º, Tit. 5, Const. 4ª, v.º 2.º sobre a Comunhão paschal dos Fieis nas Igrejas parochiaes e fi nalm.te, conformando-nos com as Dispoziçoens da Const. Dioc. Liv. 2.º. Tit. 3.º, Const. 8.ª, § 1.º da 4.ª concedemos aos Fieis nossos Diocezanos o uzo dos ovos e lacticínios nos dias de jejum e de abstinencia emquanto (sic) se não publicar a Bulla da Cruzada como está determinado no Decreto de 20 de Setembro do anno proximo passado, expedido pelo Ministerio dos negócios Eccleseást.os e de Justiça. Os m.to R.dos Vig.os da Vara farão girar esta com urgencia pelas freg.as dos seus distr.os de sorte q. tênhão chegado ao último antes do Dum.º (sic) da Sexagézisma (sic) p.ª q. os R.dos P.cos a registem e publiquem aos seus parochianos na Estação da Missa Conventual as determinaçoens q. deixamos expendidas.

2 (140) Está emendado no texto, cfr. livro de Visitações de Romariz f. 39.

nas suas ceremónias e do que prescrevem os Rituaes e mesmo em lugares inteiramente impróprios da Santidade de actos semelhantes, para obviarmos a estes tão intoleráveis abuzos altamente reprovados pelos Sagrados Cânones e pela Const. Diocesana L.º 5.º, Tit.º 3.º, Const. 3.ª, verso 5.º, determinamos que nenhum Eccleseástico de qualquer Ordem ou Jerarchia possa d’aqui em diante fazer Exorcismos nesta nossa Diocese sem nos requerer por escrito e sem expressa Licença nossa, sob pena de Suspensão “Ipso facto” do uzo de todas as suas Ordens e jurisdicção e outros(s)im determinamos que fícão declaradas nullas e de nenhum effeito algumas Licenças que hajamos concedido para esse fi m, devendo estas renovar-se pelo referido modo. Encarregamos os M.tos R.dos Vig.os da Vara de vigiarem com todo o cuidado pela execução do que acima determinamos, fazendo girar esta pelas Freguezias do seu respectivo Distr.º, para que os Reverendos Párochos lhe dê(e)m inteiro comprimento (sic), a registem no Livro competente e a fáção constar a todos os Eccleseásticos seus Parochianos. Paço Episcopal do Porto, 10 de Março de 1851. Bispo do Porto. Cumpra-se na forma do estilo. Macieira de Sarnes, 17 de Março de 1851. Luiz Moreira Maia da Silva. N. B. chegou esta Circular a esta Paróchia no dia 18 do d.º mez e anno». 1(139b)

112 (Ver Apêndice 51)

«Pastoral ou Circular de 19 de Janeiro de 1852. 4.º Distr.º da Feira. D. Jeronimo Joze da Costa Rebello, p.r mercê de D.s e da S.ta Sé Apostolica Bispo do Porto, do Conselho de S. Mag.de Fidelissima, Par do Reino, Gram Cruz da Ordem Religioza e Militar de S. Maurício e S. Lázaro da Sardenha. A todos os R.dos Párochos e Clero e Fieis, nossos Diocezanos, saúde, pás e Bênção em Jezus Christo, nosso Div.º Redemtor (sic). Sendo o prezente anno hum d’aquelles em q. o jejum da Vigília do Apóstolo S. Matias coincide no último dia do Carnaval, pela auctorid.e Apostolica a nós especialmente comettida e em observancia da prática incessantemente guardada p.r muitos prelados sábios e virtuozos de diversas

1 (139b) Sobre exorcismos vide um texto do abade Osório publicado no nosso livro Santa Maria de Pigeiros da Terra da Feira, Porto 1968, página 155 e 156.

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dos mesmos R.dos Párochos q. deverão conservar na sua mão as esmollas averiguando cuidadozamente q. séjão de bom dinheiro, corrente para entregarem o seu producto a quem no mez d’Abril do corrente anno lhes determinarmos assim como as Bullas que sobrarem. Se algum dos R.dos Párochos quizer e necessitar de maior n.º de Bullas do que as q. lhe séjão agora remettidas o partecipará (sic) ao seu M.to R.do Vig.º da V.ª ou a Nós directamente, indicando o n.º q. quer e de q. esmola p.ª lhe serem entregues pelo seu M.to R.do Vig.º da Vara do Distr.º, depois de fi car bem sciente do que nesta se expende 3(141), a fará girar com toda a urgencia pelas Freg.as do seu Distr.º, p.ª q. os R.dos Párochos, tomando nota do q. he essencial, a transmíttão à Freg.ª seguinte e lhe dê(e)m inteiro comprim.to (sic). Paço Episcopal, 5 de Março de 1852. J., Bispo do Porto Cumpra-se: S. João da Madeira, 6 de Março de 1852. J.e Joaq.m Corr.ª de Magalhaens, Vig.º da V.ª Intr.º do 4.º Distr.º. Respondi a este Circular assim: Pigeiros, 9 de Março de 1852 pelas 9 horas da noute em q. a recebi.

Não obstante o novo ódio q. sobre os Párochos vai lançar esta operação, malquistando-se com os povos por não vender fi adas as mesmas Bullas e por não aceitar moeda q. lhe não parece boa, athé p.r q., vendo-se correr o dinheiro p.ª a mão do Párocho, os rústicos acredítão q. o Párocho obra por mero interesse temporal, mormente tendo elle exortado a tomá-las; Todavia por obedecer, expor-me-hei a tudo com a condição expressa de q. as Bullas me séjão entregues na Caza da minha habitação e à mesma se virá receber o seu producto e passar os recibos. An.to Caetano Ozorio Gondim».

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«Circular do 1.º de Junho 1852 sobre a remessa do dinheiro das Bullas vendidas nesta Paróchia aos do Contracto do Tabaco. Em observancia das determinaçoens da Junta da Bulla da Cruzada, mandadas cumprir p.r S. Mag.de a Rainha, remettemos

3 (141) Assim está no livro de Visitações de Guisande folha 41 mas no nosso texto parece estar “expudi”.

Dada no Paço Episcopal do Porto aos 19 de Janeiro de 1852. Jerónimo, B.º do Porto».

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«1.ª Circular sobre as Bulas da Cruzada do Ex.mo S.r Bispo de 5 de Março de 1852. Lamentamos o acrescido trabalho q. vamos dar aos M.to R.dos Vigarios da Vara e aos R.dos Párochos nossos Diocesanos q. tambem da sua parte hão de sentir e deplorar as avultadas fadigas q. vão de novo pezar sobre nossos débeis hombros, já enfraquecidos pela idade e mais de 43 a.s de nunca interrompidos e variados serviços Eccleseásticos, fadigas a q. nos sugeitamos e que vamos soportando (sic) com paciencia pela consideração dos bens espirituaes e temporaes q. das Graças, indulgencias e privilegios concedidos na Bula da S.ta Cruzada têm de rezultar p.ª Todos os Fieis nossos Diocesanos, q. a tomarem, pela boa applicação q. está destinada às esmolas que ella produzir e pela obediencia que prestamos às Reaes Ordens q. pela Junta Geral da Bula da Cruzada nestes Reinos nos fôrão communicadas. Os m.to R.dos Vig.os da V.ª, logo q. receberem as Bullas, q. vão separadas p.ª cada huma das Freguezias do seu Distr.º, avizarão os R.dos Párochos imediatamente e com urgencia p.ª q. as vão receber da sua mão ou, se estiverem legitimamente impedidos, para mandar algum Eccleseástico q. as receba sob responsabilidade dos mesmos R.dos Párochos. Com as Bulas destinadas p.ª cada huma das freguezias vão duas relaçoens do número e qualidade das mesmas, hum edital e huma tabella do preço das esmolas. Os m.to R.os Vig.os da V.ª farão assinar por cada hum dos R.dos Pa.cos as duas relaçoens, huma p.ª fi car na mão dos mesmos R.dos Pa.cos e outra q. com todas as dos R.dos Párochos do seu Distr.º nos serão remettidas pelos m.mos R.dos Vig.os da V.ª. Cada hum dos R.dos Párochos, logo q. receber as Bulas destinadas à sua Freg.ª, publicará no seguinte Dom.º o Edital q. as acompanha e exhortará os seus Freguezes a q. tomem a Bulla pelas graças, indulg.as e privilegios nella concedidos, affi xará na porta da sacristia o mesmo Edital e ao seu lado a Tabella do preço das Bulas aos Fieis q. das m.mas se quizerem provir, ou encarregará da distribuição a algum Ecclese.º ou mesmo Secular | 3 q. séjão dotados de sentimentos de Religião e probidade e que pelo bem espiritual das Almas se quéirão prestar a essa distribuição mas sob responsabilidade

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Câmeras Municipaes, pelos prezidentes das Commiçoens dos Recenseamentos e Administradores dos Concelhos. Os M.to R.dos Verg.os da Vara farão girar esta pelas Freguezias dos seos Districtos e com urgencia. Paço Episcopal do Porto em 15 de Outubro de 1852. J. Bispo do Porto. O Abb.e Ozorio».

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«Circular de 29 de Outubro de 1852 para se fazerem Preces “Ad postulandam serenitatem” e competente Oração nas Missas. O Abb.e Ozorio».

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«1.ª Circular sobre a publicação das Bullas da Cruzada de 20 de Dezembro de 1852 do Snr. Bispo. Apezar das consideraçoens m.to graves e bem notorias somos compellidos pelo dever do nosso Ministerio Episcopal a dar as necessarias providencias p.ª nova publicação da Bula da Cruzada, q. há de ter lugar nesta Cidade em o dia Dom.º 16 de Janr.º seguinte e mais Freg.as ruraes deste Bispado no Dom.º 23 do m.mo mez segundo as Determinaçoens do Governo e da Junta Geral da mesma Bulla. E em verd.e não podíamos conscienciozam.te e sem grande quebra no comprim.to (sic) das nossas Obrigaçoens pastoraes deixar privados os nossos Diocezanos das Indulgencias, Graças e previlegios q. em virtude da Bula lhes são concedidos. Convém p.r tanto q. os R.dos Párochos do 4.º Distr.º da Feira se prestem zelozos à observancia das seg.tes Dispoziçoens, o q. muito e m.to lhes recommendamos.

1.º A cada hum dos R.dos P.cos he remmetido com esta hum Edital e huma tabella do preço das esmolas da Bulla.

2.º O Edital será lido e publicado e bem claramente explicado pelos R.dos Párocos no Domingo 23 do seguinte mez de Janeiro à Estação da Missa conventual ou naquella a q. concorrer maior n.º de Parochianos, aos quaes exhortarão convenientem.te a q. comprem a Bulla da Cruzada, pelas Indulg.as, Graças e

a cada hum dos R.dos P.cos do 4.º Distr.º da Feira dous modellos de Recibos impressos p.ª q. com toda a possivel brevidade e exactidão observem as seg.tes disposziçoens: 1.º Aos Caixas clavicularios do contracto do Tabaco desta Cid.e ou aos encarregados do m.mo Contracto nas Vilas ou lugares q. lhes fi carem mais proximos entregarão o producto de todas as Bullas e escritos q. lhe remettemos em 1.ª remessas (sic) ou tambem 2.ª e 3.ª e q. distribuirão. 2.º Aos ditos Caixas ou Administradores aprezentarão tambem os dous Modellos de recibos impressos q. agora lhes remettemos p.ª q. elles os ênchão, declarando as quantias q. recebem e passando recibo. 3.º Hum dos recibos fi cará na mão de cada hum dos R.dos Párochos p.ª a sua ressalva e outro recibo será entregue 4(141b) pelos mesmos ao seu m.to Vergalho (sic) da Vara, ao qual tambem entregarão todas as Bullas e escritos q. não podérão distribuir, acompanhadas dum relação em q. se declare o seu n.º e preços. 4.º O m.to reverendo verg.º (sic) da Vara nos remetterá o dito recibo de cada hum dos R.dos Párochos q. as não podérão distribuir todas e juntam.te as relaçoens mencionadas no fi m da Dispozição 3.ª. Recommendamos com toda a effi cacia ao dito m.to rev.do vig.º da Vara e aos seus (re)borrendos (sic) párochos do seu distr.º a indispensauel e completa observancia de tudo sobre este obje(c)to de tamanha importancia e responsabilidade. Paço episcopal do Porto em o 1.º de Junho de 1852. Bispo do Porto».

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| 3 v «Circular do Ex.mo Snr. Bispo de 15 de Outubro de 1852. Sobre Eleiçoens de Deputados. 4.º Districto da Feira Em virtude do Offi cio, que hontem recebemos do Governo Civil deste Districto do Porto, recomendamos e fás-se necessario que os Reverendos Párochos, nossos diocezanos, cúmprão pontualmente as obrigaçoens q. lhes marca o Decreto eleitoral de 30 de Setembro p. p., satisfazendo com exactidão às requisiçoens e convocaçoens, que nos termos do citado Decreto lhes forem derigidas (sic) pelos Prezidentes das

4 (141b) No texto parece mais “entregou”.

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dar princípios na seg.te primavera. Paço Episcopal do Porto, era ut supra. Bispo do Porto».

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«Mais Bulas. Circular de 30 de Dezembro de 1852.Bem certos estamos (de) q. os R.dos P.cos do 4.º Distr.º da Feira aprezentarão por todo o seguintte (sic) mez de Janr.º ao seu M.to R.do Verg.º da Vara os L.os dos Assentos e respectivos Docum.tos e já d’antemão acreditamos q. tudo estará em completa harmonia com o regulamento de 7br.º de 1844. Lembramos aos mesmos R.dos P.cos q. poderão encarregar a distribuição das Bullas a algum Eccleseástico ou mesmo secular de reconhecida probid.e e da sua inteira confi ansa (sic) mas tudo debaixo da responsabilidade dos m.mos R.dos P.cos. O m.to rev.do Verg.º da Vara faça girar esta com a rapidez. Páçaro (sic) Episcopal do Porto, 30 de Dezembro de 1852. Bispo do Porto».

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«Offi cio q. escrevi pedindo as Bulas deste anno, o q.l offi cio remetto pelo Estudante Pinho Cerejeira de Milheirós de Poiares. Ill.mo e R.mo Snr: Digne-se V. S.ª mandar-me pelo portador os seg.tes Summarios da Bulla da Cruzada. 40 summarios de esmola de 40 rs. cada hum no valor de 1$600 40 ditos de 80 rs. cada hum no valor de 3$200 huma de 200 rs. 0$200 valor total 5$000

He o total desta remessa cinco mil rs. de q. me constituo devedor ou entregarei os mesmos summarios q. não podér (sic) passar. No cazo de os remetter, este mesmo Offi cio lhe fi cará em poder de V. S.ª como título desta dívida. Não havendo de 200 rs., então p.ª evitar confuzões terá a bondade de inteirar a somma do modo q. poder (sic) p.ª evitar dúvidas. D.s g.de a V. S.ª m.tos a.s. Pigeiros, 4 de Janeiro de 1853. De V. S.ª súbdito att.º e v.or

O P.co An.to Caet.º Ozorio Gondim».

Previlegios q. ella lhes concede e será depois affi xado na Porta da Sacristia e a Tabella ao lado do mesmo.

3.º Na caza e Rezidencia do M.to (re)Borrendo (sic) Vig.º da Vara do Distr.º se achará depois do referido dia 23 de Janr.º ou ahinda antes hum Depózito de Sumários, Bullas e escritos, onde cada hum dos Rev.dos P.cos se proverá p.r huma ou mais vezes, das q. julgarem necessarias p.ª se distribuírem pelos seus parochianos, devendo o 1.º provim.to ser o m.s amplo e calculado pela povoação e podendo os R.dos P.cos ir pessoalm.te prover-se ou mandarem portador seguro com carta p.r elles assinada em q. declarem a quantid.e e qualid.e de Summários e escritos e Bullas q. pertendem (sic).

4.º Não devem distribuir as Bullas senão a q.m entregar no m.mo acto da distribuição a comp.te esmolla, o q. m.to lhes recommendamos assim como q. só recêbão dinhr.º bom e corr.te.

5.º Devem conservar em seu poder os Summarios etc. q. não distribuírem athé novo avizo assim como o producto das esmollas athé q. indiquemos a q.m o devem entregar, o q. diligenciaremos seja com a possivel commodidade.

6.º Bem conhecemos q. vamos acrescentar novas fadigas e trabalhos aos R.dos P.cos mas lembramos-lhes q. os nossos (trabalhos) | 4 sobre este affl ictivo obje(c)to são tresdobrados, complicadissimos e athé hum pouco dispendiozos como nos aconteceo na passada public.ão da Burra!!! (sic) O M.to R.do Vig.º da Vara fará girar esta e os Impressos com brevidade e cautella pelas Freguezias do seu Distr.º. Paço Ep.al do Porto em 20 de Dezembro de 1852. Novos e m.to poderozos motivos acrescem agora p.ª renovarmos aos R.dos P.cos as effi cazes recomendaçoens assima transcritas p.r q.to a Junta Geral da Bulla em seu Offi cio de 16 do corrente nos partecipa (sic) q. estão consignados nove centos onze mil trezentos e quarenta e nove rs. 911$349 do produto das esmolas da Bula q. se recebêrão nesta Diocese na passada publicação p.ª serem applicados na reedifi cação do Colegio de S. Lourenço próximo a este Páçaro (sic) e distinado (sic) p.ª seminario Diocesano, reedifi cação a q. havemos de

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dos R.dos P.cos do referido Distr.º entregue sem falta athé ao dia 15 do seguinte mez de Agosto (ao mais tardar) 5(142) ao seu M.to R.do Vig.º da Vara em dinheiro corrente o produto das esmolas e Escritos etc. que distribuiu, recebendo do mesmo hum Impresso por elle cheio e assinado em que declara estar entregue e ter recebido o dito produto, o q.l recibo cada hum dos R.dos P.cos guardará em seu poder p.ª lhe servir de re-salva. Se algum dos R.dos P.cos entregar o producto da caixa das esmolas e commutaçoens de votos, receberá do m.mo m.to r.do vig.º da Vara outro impresso em q. declara ter recebido o m.mo producto. No Impresso relativo à sua Freg.ª deve o m.to r.do Vig.º da V.ª declarar em q.to importou o producto das esmolas da m.ma fi cando com elle e remettendo-nos outro igual; o m.mo fará com a caixa das esmolas se a tiver na sua Igreja. Aos R.dos P.cos a q.m ahinda se não satisfez a despeza do concerto ou reparos da caixa da bula, será essa solvida directam.te e não por desconto para não complicar a conta. Paço Episcopal do Porto em 22 de Julho de 1853. B.º do Porto.Correrá na forma do estilo. Macieira de Sarnes, 26 de Julho de 1853. L. Mor.ª Maia da Silva;recebida aqui em Pigeiros em 27 de Julho de 1853. Ozorio».

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«Falecimento de S. Mag.de Fidelissima a S.ra D. Maria 2.ª. Circular de 17 de Novembro de 1853. Tendo chegado a esta cidade a doloroza noticia da morte de S. Mag.de a Rainha a S.ra D. Maria Segunda, acontecida no dia 15 do corrente, p.ª darmos princípio às demonstraçoens de mágoa e sentimento por tão infausto successo determinamos q. em todas as torres das Igrejas e Capelas das paróchias desta Diocese se fáção signaes fúnebres nos tres dias seguintes àquelles em q. os R.dos Párochos esta receberem e q. nas Igrejas parochiaes se fáção suffragios e se enviem ao Ceo rogativas pelo descanso eterno6 da Alma da mesma Augusta Senhora. Os M.to R.dos Vig.os da Vara fáção girar esta com urgencia pelos seus respectivos Distr.os. Paço Episcopal do Porto em 17 de Novembro de 1853. J., B.º do Porto.

5 (142) O parêntese consta do texto.6 Palavra mal legível [Nota: Carla Ferreira]

120

«Permissão de Comida de Carnes na prezente Quaresma; Indulto Apostólico em Pastoral impressa p.ª se affi xar con (sic) data de 5 de Fevr.º de 1853 e tres. Com o mesmo vinha a seg.te

Portaria Não tendo recebido ordem da Ex.ma Junta Geral da Bulla da Cruzada p.ª se consertarem as caixinhas da m.ma Bulla em todas as Igrejas Parochiaes desta Diocese onde as costumava haver pela g.de despeza q. isso importava, determinamos p.r Ordem da mesma Junta q. aquelles reparos e consertos se fazem nas Caixinhas das Igrejas Parochiaes das cabeças de comarca e dos con.cos, o q. partecipamos (sic) aos R.dos Párochos p.ª q. póssão remetter p.ª ellas o produto das commutaçoens de votos etc. Os m.tos R.dos Verg.os (sic) da Vara fáção girar esta na forma do co(s)tume. Páçaro (sic) Ep.al do P.to, 11 de Feuer.º de 1853. B.º do Porto».

121

| 4 v «Ill.mo Snr.: Em virt.e do Off.º de 4 de Janeiro do corr.e anno se dignou V. S.ª enviar-me 40 Summarios da Bula da Cruzada de 40 rs. cada hum, valor 1:600M.s 40 ditos de 80 importando 3:200M.s hum d.º de 200valor total 5:000remetto 25 de 80 rs. cada hum no valor de 2:000Fica em meu poder p.ª entregar tres mil rs. 3:000q. V. S.ª se dignará mandar aqui receber q.do lhe approveir (sic). D.s g.de a V. S.ª. Pigeiros, 19 de Maio de 1853 e tres. Entreguei. O Abb.e de Pigeiros A. C. Ozorio Gondim».

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«Bulas. Circular de 22 de Julho de 1853. Renovamos nossos louvores e agradecimentos aos R.dos P.cos das Freg.as do 4.º Distr.º da Feira pelo seu diligente cuidado na distribuição das Bullas da Cruzada. Em virt.e das instrucçoens q. recebemos da Junta Geral das Bullas com data de 28 de Junho p. p. fás-se necessario que cada hum

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de Pigeiros tanto ajudando-me com empenhos para restaurar os Passaes desta Igreja, uzurpados por ajuda e favor dum chamado Bispo, Santa Ignez, de execrável recordação para esta Igreja, como ajudando-me na reedifi cação da mesma Igreja incendiada accintozamente por causa da mesma Demanda na noute (sic) de vinte e quatro para vinte e cinco de Setembro do anno de mil oito centos e quarenta e tres. Deão, Dignidades, Cónegos, Cabido da Santa Igreja Cathedral desta Cidade do Porto Sede “Episcopal vacante” etc.ª. Aos nossos m.to amados Súbditos, Clero e Povo deste Bispado saúde e paz em Jezus Christo nosso Salvador. O Altissimo e Poderozo D.s q. sabiamente tem determinado os dias da vida a cada hum dos homens chamou a Si o nosso Ex.mo e R.mo Prelado o Snr. D. Jerónimo Joze da Costa Rebello no dia de hontem 27 do corrente pelas 3 horas da tarde, tão cheio de merecimentos e de virtude q. será de saudosa Memoria para toda esta Diocese. Recomendamos pois a todos os Reverendos Párochos deste Bispado que, seguindo o nosso exemplo, fáção os devidos funeraes nas suas Igrejas cuja execução será muito do agrado de D.s e nosso. Recomendamos mais aos Reverendos Párochos deste Bispado fáção publicarem particulares Oraçoens a Nosso Senhor para que seja provida esta Diocese com muita brevidade de novo Prelado em quem se continuem as virtudes do Ex.mo Snr. Bispo Defuncto e ordenamos a todos os Sacerdotes assim o deprequem na Colecta de todas as Missas. Dada em Cabido sob os nossos signaes e sello da Meza Capitular aos 28 de Fever.º de 1854. D.or D. Luiz do Pilar Per.ª de Castro Joaq.m Henriques da Silva, Chantre Joaquim Per.ª Peixoto, Mestre Escola Joze de Oliveira Chamiço, Thesoureiro mor Ricardo Vanzeler, Arcediago de Oliveira Alexandre da Cunha Valle, Arcipestre An.to Pinheiro de Aragão 9(144b)

Joaq.m Joze Correia de Vasconcellos Domingos do Nascimento Pinto da Fonseca Telles Antonio Teixeira de Vasconcellos Joze Pereira Peixoto João Constantino Alves do Valle Manoel Rodrigues do Rozario».

9 (144b) Assim está no Almanak Eccleseástico do Bispado do Porto para 1857 Porto 1856, página 230, pois no nosso texto parece ser “alragão”.

Cumpra-se na forma do est.º. Porto, 21 de Novembro de 1853. L. M. Maia da Silva (Foi recebida aqui em 23 do dito 7(143)».

124

«Portaria de 21 de Novembro de 1853 ordena que na Colecta da Missa se diga “Regem nostrum Petrum Regentem Ferdinandum, Regiaeque Domus Principes”».

125

«Circular de 13 de Dezembro de 1853 do Ex.mo Snr. Bº.Ordena aos R.dos Párochos q. prestem com exactidão e brevidade quaesquer informaçoens q. lhes forem pedidas p.ª a formação da Assemble(i)a dos Quarenta e oito maiores contribuintes de cada Concelho na forma determinada pela Lei, operação q. tem de começar no 1.º Dom.º do mez de Janeiro».

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«Bullas em 1854. Offi cio a pedi-las. Ill.mo e R.mo Snr.: Rogo-lhe o favor de me mandar pelo portador as seg.tes Bullas da S.ta Cruzada: Summarios da Bulla a 40 rs. 40 na soma 1:600 d.os de 80 rs. 20 1:600 Na somma total de rs. 3:200

De q. p.r este Off.º me constituo devedor. D.s g.de a V. S.ª. Pigeiros, 7 de Feuer.º de 1854. Ill.mo e R.mo S.r Luiz Mor.ª Maia da Silva. N. B. pedi pelo m.mo Off.º o m.mo n.º p.ª 1855. A. C. Ozorio Gondim».

127

| 5 «Morte do Ex.mo Snr. Bispo D. Jerónimo Joze da Costa Rebello, de saudosissima Memoria (Circular de 28 de Fevereiro de 1854) 8(144), o qual foi o maior Bemfeitor (sic) desta Igreja

7 (143) O parêntese conta do texto mas falta o segundo traço.8 (144) O parêntese consta do texto.

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40 summ.os de 40 rs. cada hum na somma de 1$60020 d.os de 80 rs. cada hum 1$600 somma 3$200Sobrárão, q. remetto, 12 de 80 rs. 960Remetto em dinheiro 2$240 3$200

Sirva-se V. S.ª remetter-me o recibo pelo portador. D.s g.de a V. S.ª m.tos a.s. Pigeiros, 9 de Maio de 1854. De V. S.ª Súbdito m.to att.º v.or e obrigado An.to Caet.º Ozorio Gondim. Ill.mo e R.mo Snr. Luiz Mor.ª Maia da Silva Vig.º da Vara deste 4.º Distr.º da Feira. P. S. Não há nesta Igreja Caixa da Bulla nem della se preciza, havendo-a nas paróchias próximas. N. B. foi portador deste Offi cio, m.mo Aberto, o Snr. P.e An.to Fran.co de Pinho, Minorista e meu Discípulo, da Corogeira de Milheirós de Poiares».

129 (Ver Apêndice n.º 2)

«Cópia fi el do Offi cio q. em 5 de Setembro de 1854 vou dirigir pessoalmente ao Snr. Adm.or deste Con.co sobre o Pavimento da Igreja. Ill.mo Snr. Adm.or: Tendo-se há annos manifestado no pavim.to desta Igreja uma terrivel moléstia da terra q. apodrece toda a madeira, tratei eu de consultar a anterior Junta de Paróchia sobre o modo de se occorrer a esta calamidade. A Junta consultou todo o povo e achou m.ta diversidade de oppinioens e não pôde por isso tomar huma resolução, p.r

q. o povo na sua maior parte quer sepulturas de louzas ou de pedra mas esmorecem à vista da grande despeza q. tal obra demanda; não se confórmão com a minha opinião q. era a mais rápida e menos dispendioza: solhar o pavimento de cal e areia como se fazem ordinariamente as eiras porq. espérão ahinda sepultar-se dentro da Igreja. Não me sendo possivel trazê-los a hum acordo, abandonei este negocio, esperando q. elles m.mos o apressaríão quando se vissem e as suas mulheres e Filhos ajoelhados sobre a terra pura e sobre os ossos dos Defunctos mas nem assim se movem!!! Resolvi-me outra vez empregar o dom da palavra, convocando a actual Junta composta de M.el Joze Almeida e Manoel Francisco Leite, ameaçando-os publicamente na

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«Determinaçoens do Ex.mo Snr. Vig.º Capitular em Circular de 28 de Abril de 1854.

Dispozição 1.ª

Athé ao fi m do proximo mez de Maio cada hum dos R.dos Párochos em cuja Igreja houver Caixa da Bula procederá juntamente com o Regedor da Paróchia à abertura della, lavrando aucto por ambos assinado no qual se declare a quantia encontrada na m.ma caixa ou q. nada se achou, e este aucto bem como o producto achado na caixa dos Somários, bulas e escritos e os Sumarios não distribuídos será tudo entregue por cada hum dos R.dos Párochos ao seu M.to Vigario da Vara athé 15 de Junho próximo.

Dispozição 2.ª

No acto da referida entrega o m.to r.do Vig.º da V.ª achará, datará e assinará em duplicado os recibos adjuntos 1.º e 2.º do producto dos Sum.os, bulas e escritos distribuídos e do producto da Caixa da bula, havendo-o, bem como passará em duplicado nas costas do recibo n.º 1 os recibos dos Sum.os não distribuídos e a cada hum dos r.dos párocos entregará hum de cada hum desses recibos diversos e me remetterá os outros athé ao fi m | 5 v do dito mez de junho.

Dispozição 3.ª

Nas costas do recibo do producto de cada huma das caixas fará o respectivo P.co huma nota declaratória de qualq.r despeza q. nellas tenha sido feita ou se preciza de fazer a fi m de lhe ser satisfeita ou de se providenciar sobre a obra do Concerto; esta nota deverá ser assinada também pelo m.to r.do vigº da Vara».

«Contas com entrega do produto da Bula da Santa Cruzada neste anno de 1854. Ill.mo e R.mo Snr.: Pelo meu Off.º a V. S.ª de 7 de Fever.º do corr.e anno recebi da mão de V. S.ª os seguintes Summarios da Bula da S.ta Cruzada:

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«Piedoza Associação da Immaculada Conceição (de) Maria com o título da Coroa d’Ouro. Seja Bemdita (sic) a Santa e immaculada Conceição da Santissima Mai (sic) de Deus. Consta esta Coroa das Missas que em cada hum mez deverão ser celebradas em honra da Mai de D.s por trinta e hum sacerdotes em dia que para isso tiverem escolhido. Offrecerão (sic) estes Sacerdotes o Santo Sacrifi cio à Augusta Trindade em união com os Coros Celestes, que com Jezus Christo réinão em o Ceo, e dos escolhidos q. ahinda peregrínão neste mundo e q. de todo o coração derem as mais renhidas Graças à Trindade Santíssima pelos grandes e imensoráveis (sic) e singulares obséquios de q. admiravelmente tem sido acumulada a S.ma Virgem, muito principalmente pelo alto previlegio de sua Conceição Immaculada; devendo todos os associados dirigir-se à mesma Mai de Graça e de Misericordia instantes e mui fervorozas Súpplicas pelas prezentes necessidades da Santa Igreja Catholica e pela conversão dos peccadores em conformidade com o Soberano Pontífi ce. Se por causa justa qualquer Sacerdote associado não podér (sic) celebrar o Santo Sacrifi cio em o dia designado, poderá transferir p.ª outro dia qualquer a celebração ou comettê-la a outro Sacerdote. Segue-se a Lista, Dia dos mezes; Nomes dos Associados. Eu Abb.e Antonio Caetano Ozorio Gondim assinei no dia hum de cada mez. Tal tem sido a Piedade e desvelo dos Sob(e)ranos Pontífi ces, digo, dos Sagrados Prelados p.ª com a Immaculada Virgem Maria Mai de Deos, Carinhoza Mai e Protectora nossa q. já nos fi ns de 1853 se havia inscrito nesta Piedoza Associação tamanho número de Sacerdotes q. mais de mil Missas se celébrão diariamente em todo o orbe catholico com o referido intuito de glorifi car Maria S.ma. À vista de progressos tão rápidos, dirigírão os mesmos Bispos, animados do mais ardente zelo humildes Súpplicas ao S.mo Padre Pio IX a fi m de q. se dignasse ampliar esta associação erigindo-a canonicamente. Condescendento (sic) p.r tanto S. Santidade mui gostozamente com os piedozos dezejos e rogativas dos mesmos Prelados, pelo Prescripto de 11 de 7br.º do corr.e anno de 1853 escripto de seu proprio punho instituio canonicamente a mesma associação na Igreja de Santa Maria Pacífera (da Paz) 10(145) desta

10 (145) O parêntese consta do texto.

Igreja de q. me vou queixar a V. S.ª e aos Ex.mos Snr.s Gov.or Civil e Bispo Diocesano, p.r q. a molestia se vai apegando aos Altares q. em breve fi carão totalm.te distrohidos. De nada esta Junta cuida, nada lhe importa: quando os convoco ou não me apparecem ou quando m.to apparece só hum sendo o actual Regedor o único q. mais zelo mostra. Se V. S.ª não dá providencias, em breve não terei Altar onde diga Missa nem Confessionario onde confesse, sendo q. todos os Altares são novos e fructo de subscriçoens q. promovi pelas paróchias extranhas. Eu já prohibi a celebração de Festividades nesta Igreja emq.to se não remediar esta indecencia e fi ca este Offi cio fi elm.te rezistado (sic) no Capítulo das Vezitas a f. 5 v p.ª q. a todo o tempo conste q. procurei q.to me foi possivel evitar esta eminente calamidade e no mesmo Livro transcreverei as | 6 medidas q. V. S.ª empregar. D.s g.de a V. S.ª. Pigeiros, 5 de Setembro de 1854. Ill.mo Snr. M.el de Lima Ferrás da S.ª. O Abb.e de Pigeiros Antonio Caetano Ozorio Gondim. Está conforme. Ozorio Gondim».

«Resposta q. recebi ao Offi cio acima referido. Administração do Concelho da Feira N.º 48. Ill.mo e R.mo Senhor: Acuzo recebido o seu Offi cio de V. S.ª com a data de 5 do corrente, no qual me expõem (sic) o estado em que se acha o pavimento da Igreja dessa Paróchia e que os Membros da Junta não têm reunido para deliberarem o melhor meio da factura da Obra; cumpre-me dizer a V. S.ª que sinto não poder de promto (sic) obstar ao mal que está causando o desleixo dos Membros da Junta, porquanto he necessario que S. Ex.cia o Governador Civil me auctorize para se proceder nas diligencias legaes e por isso como Prez.e da Junta queira expor offi cialmente ao mesmo Ex.mo Snr. a necessidade da obra e a omissão dos Membros da Junta e ao mesmo tempo indicar os meios pelos quaes se pode fazer a despeza; estou certo q. immediatamente vem a informar e eu cumprirei de promto as Ordens de S. Ex.cia. D.s g.de a V. S.(a). Administração do Concelho da Feira, 11 de Setembro de 1854. Ill.mo Snr. R.do Párocho de Pigeiros. O Adm.or do Con.co Manoel de Lima Ferrás da Silva. Está conforme. Ozorio Gondim».

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moderadores e estoutros empregarão qualquer dos meios já indicados p.ª as ffazerem chegar à associação central. P.ª q. esta mútua communicação possa continuar e progredir, o mesmo Cardeal Vig.º Prezidente pede a todos os Prelados e Superiores de Cazas Religiozas q. no fi m de cada anno quéirão dar parte do aumento ou diminuição das Coroas, proveniente de qualquer causa, principalmente em razão da morte dos associados. As Almas dos Associados falecidos terão parte tanto no Santo Sacrifi cio do Altar como nos outros suffrágios q. conforme à mente do Summo Pontífi ce são especialm.te concedidos em proveito das Almas dos Associados. Pelo q. diz resp.to aos paízes do Oriente ser-lhe(s)-há enviado este pequeno impresso escrito na propria lingua de cada Paíz; devendo toda a correspondencia ser dirigida pelos Patriarcas e Bispos à Sag.da Congreg.am da Propagação da Fé, q. tomarão a seu cargo fazê-la chegar às mãos do Cardeal Vig.º Prez.te da Associação. Pelo Prescripto de 23 de Outubro de 1853 concede Sua Santid.e, Protector desta Associação, as seguintes IndulgenciasA todo o Sacerdote associado huma Indulgencia plenaria por mez e o previlegio d’Altar huma vez por semana “ad libitum” tanto às pessoas q. vivem em corporação como aos leigos de ambos os Sexos p.r todas as vezes q. bem confessados receberem a Sagrada Communhão e Orarem conformes na intenção de Sua Santid.e pelos fi ns já ditos trezentos dias de Indulgencias. Porém nas quatro Festas principaes da S.ma Virgem, Immaculada Conceição, Nativid.e, Annunciação e Assumpção da Senhora, concede a todos os Fieis de ambos os sexos (a bem dos Associados) 12(147) Indulgencia Plenaria, comtanto (sic) que, tendo-se confessado e recebendo o S.mo Sacram.to da Eucharistia, diríjão a D.s suas súpplicas em conformid.e com o Summo Pontífi ce e vizitem naquelles dias Festivos ou durante as respectivas oitavas a Igreja designada pelo Ordinario, podendo todavia p.r elle ser designada alguma Igreja qualquer nas Dioceses dos q. se associarem. Todas estas Indulgencias poderão ser applicadas p.r modo de suffragio às (Almas) do Purgatorio. Aos Párochos incumbe p.r sua pied.e exhortar o Rebanho q. lhes estiver confi ado, principalm.te à explicação do Evangelho, dias antes das Festevidades (sic) supraditas, p.ª q. póssão lucrar as mencionadas Indulgencias.

12 (147) O parêntese consta do texto.

Cidade e a enriqueceo das Sagradas Indulgencias adiante expressas, declarando-se o mesmo Sob(e)rano Pontífi ce seu | 6 v Protector e nomeando Prezid.e da mesma o Cardeal Patrizi, Vigario de S. Santid.e. Por isso o Cardeal Vigario, abaixo assinado e revestido do Poder q. lhe foi conferido, tem a mais bem fundada esperança em q. todos os Prelados à huma animados do fervorozo zelo Religiozo poderão sem diffi culdade em suas respectivas Dioceses formar hum número Suffi ciente de Sacerdotes q. sem esmola de casta alguma se prestem quistozos à celebração das ditas Missas em honra da Immaculada Virgem Maria Mai de D.s. Assim pede encarecidamente o mesmo Cardeal a todos os Prelados q. se empenhem em exhortar sobre este obje(c)to o rebanho a cada qual confi ado, empregando para isso o zelozo cuidado dos Párochos e animem do mesmo modo e com o mesmo fi m à sagrada Communhão as pessoas do sexo feminino, consagradas a Deos, q. porventura houver em suas Dioceses, para o que muito deverão cooperar os Varoens de piedade e os Directores espirituaes. Pois q. a Santissima Virgem, Mai de D.s, jamais cessa de, em prezença de D.s, intrepor (sic) seu valiozo Patrocínio e Protecção em favor de todos os seus Adoradores (sic), q., a bem de todos os mais previlegios admiráveis, se gloríão com venerar e celebrar a immaculada Conceição da mesma Virgem com q. ella tanto se comprás (sic). Mais pede o mesmo Cardeal Vigario a todos os Prelados q. quéirão dirigir à associação central de Roma hum fi el extracto do número de Coroas (cada huma Coroa compõem-se de 31 Sacerdotes) 11(146) e associados q. se houverem inscrito em seus respectivos registros (sic), o q. chegará ao conhecimento do Summo Pontífi ce, Protector da Piedoza Associação. E p.ª q. isto mais facilmente possa levar-se a effeito, cada Prelado poderá enviar suas correspondencias sobre este assunto aos Núncios ou Delegados da S.ta Sé, existentes no proprio Reino pelos quaes serão dirigidos (sic) ao Cardeal dos negocios publicos do Pontífi ce Máximo, do qual receberá as mesmas o Cardeal Vig.ro Prez.e da associação. Poderá tambem esta remessa ser (feita) directam.te pelos proprios Prelados, aproveitando-se d’alguma occasião opportuna q. p.ª isso possa dar-se, como pode ser a ida de alguma pessoa p.ª Roma. As Familias Religiozas farão suas remessas aos seus Provinciaes, estes aos Geraes

11 (146) O parêntese consta do texto, no qual está “compõem-se” por “compõe-se”.

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Assinatura: Missão Portugueza 14(149). Contém louvores dos Ecclezeásticos amigos das bulas e censura seus inimigos e sobre este obje(c)to de bulas manda cumprir as Circulares do seu Antecessor principalm.te as q. têm a data de 2 de Maio de 1853 e a de Janeiro (sic) de 1854 sobre o mesmo Assumpto e, se em algum ponto se offrecer (sic) dúvida, q. se recorra directam.te a S. Ex.cia p.ª rezolver qualq.r diffi culdade. Com esta Circular vinha o empenho do Snr. Provizor p.ª se assinar hum Jornal da Missão portugueza e eu assinei hum exemplar com 720 pelo Corr.º da Vila da Feira e nada assinei de donativo p.ª o Colegio».

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«Providencias sobre a fome do prezente anno de 1855 q. eu solicitei em virtude da Acta q. assinei no dia 20 do corr.e Março deste anno na Câmara deste Concelho em que me obriguei a promover trabalho e sustentação ao povo desta Freguezia mas que nenhum fructo produzírão, pelo espírito malévolo dos mesmos pobres como se vê abaixo. No domingo 25 de Março de 1855 publiquei a todas as Missas q. se celebrárão nesta Igreja a seguinte Alocução: Antonio Caetano Ozorio Gondim, Abb.e desta parochial Igreja de Santa Maria de Pigeiros, a seus amados Parochianos. Em (h)armonia com as determinaçoens da Ill.ma Câmara e Snr. Adm.or deste Con.co, nomeio uma Commissão de Benefi ciencia p.ª promover os soccorros p.ª os Pobres desta Freguezia. Esta Commissão he composta dos seguintes Senhores: Regedor Manoel Joze Milheiro Prezidente na Quintám, Manoel Fran.co Pascual na Aldeia Vice-Prezid.e, P.e Manoel Joze Per.ª Duarte secret.º, P.e Firmino Joze Henriques Coutinho vice-secretario, P.e Bernardo Alz. Gomes dos Santos, Joze Inacio na Aldeia Thezoureiro, Manoel Joze de Oliveira Ped’Arca, M.el Francisco Leite em Trezuma. Esta Commissão tratará entre si e decidirá, a mais votos, o modo mais promto (sic) de soccorrer os nossos Irmãos Po- | 7 v Pobres desta Freguezia. 1.º Se será dando a todos os q. não podem trabalhar, huma tigela de caldo e huma fatia de pão a cada hum ao jantar todos os dias.

14 (149) Esta linha encontra-se escrita à margem do texto.

Dado em Roma aos 21 de Novembro de 1853 e três. C. Cardeal Patrizi, Bispo Albanez Vig.º de Sua Santid.e em Roma e Presidente da piedoza Associação. J. F. O. Luquet, Bispo Esabanense Secretario Geral da mesma Associação.Traduzido fi elm.te etc. O Abb.e Antonio Caetano Ozorio Gondim».

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| 7 «Em 13 de Novembro de 1854 recebi a Pastoral 1.ª do Ex.mo e R.mo Snr. Bispo D. Antonio Bernardo da Fonseca Moniz, Bispo desta Diocese e se resistará (sic) aqui em tempo opportuno e com a referida Pastoral recebi o seguinte off.º do R.mo Snr. Vigario da Vara da forma seguinte:

Ill.mos e R.mos Senhores: P.ª satisfação ao determinado pelo Ex.mo e R.mo Snr. Bispo desta Diocese he indispensavel q. V.as S.as com a maior brevidade possivel me enviem os esclarecimentos seguintes:1.º Os nomes de todos os Eccleseásticos, residentes em suas Paróchias (neste n.º êntrão os Snr.s Párochos) 13(148), sua idade, naturalidade, qualifi caçoens, emprego E occupaçoens. E sendo algum de differente comarca ou Diocese, (dar) a razão da mudança de Domicílio. 2.º Os Nomes, naturalidades e idades dos Ordinandos e dos pertendentes (sic) ao Estado Eccleseástico: q. ordens têm aquelles e q. vocação têm estes. 3.º Qual he o estado material da sua Igreja: se ameaça ruína ou está totalmente desprovida dos Paramentos indispensáveis para as solemnidades do Culto. 4.º fi nalm.te: Se os seus Parochianos se recúzão ao pagamento da Côngrua e qual o procedimento das Auctoridades Civis respectivas sobre este obje(c)to. S. Ex.cia R.ma m.to dezeja q. este imp.e serviço se conclua q.to antes e eu confi o no zelo de V.as S.as q. os seus dezejos serão preenchidos. D.s g.de a VV. SS. Macieira de Sarnes, 11 de Novembro de 1854. O vig.º da Vara do 4.º D.º Luiz Mor.ª Maia da S.ª.

Ill.mos e R.mos Snr.s P.cos das Freg.as notadas à margem».

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«Bullas. Circular do Ex.mo S.r B.º D. Antonio de 17 de Janeiro de 1855.

13 (148) O parêntese consta do texto.

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tão repetidas o castigo dos nossos pecados e a ira do nosso D.s contra nós? Espero pois tanto da Ill.ª Comm.ão como de todo o povo desta Freg.ª q. empenhem todo o seu zelo, Caridade e Religião sobre este importantissimo negócio q. tanto interessa à humanidade e q. no dia apprazado me dê(e)m resposta às perguntas q. lhes faço, podendo consultar, se assin (sic) lhes aprouver, as pessoas mais inteligentes da Paróchia. No fi m espero poder dar a todos sinceros agradecimentos assim como, se houver desmazelo em qualquer que seja, assim o farei constar com mágoa à Ill.ma Câmara e Snr. Adm.or deste Con.co p.ª q. tomem as medidas q. tão séria cazualidade demandar.

Dada em Pigeiros aos 23 de Março de 1855.O Abb.e An.to Caetano Ozorio Gondim».

| 8 «Acta sobre este Obje(c)to. Aos vinte oito de Março de mil oito centos e cincoenta e cinco nesta Sacristia de Pigeiros se reunírão os Membros da Commissão de Benefi ciencia, adiada do dia de hontem, perante mim dicérão unanimemente que era impraticável o estabelecimento do caldo e sopa económica aos Pobres porq. estes érão os primeiros q. se oppúnhão, bradando que os queríamos matar à fome, querendo dar-lhes só hum caldo e pão por dia, tolhendo-lhes a liberdade de elles mendigarem de porta em porta por onde quizessem; que esta oppozição q. fazem os pobres a tão acertada medida claram.te denuncía q. a maior parte delles não sentem as privaçoens q. alégão, q. góstão da vadiagem e q. têm certa espéc(i)e de soberba e orgulho inqualifi cável e incompatível com a sua condição; q. os ricos por sua parte temíão à vista da má educação dos pobres as censuras q. estes lhes faríão quando fossem obrigados a dar-lhes a sopa p.r q. pela sua grosseria não deixaríão de murmurar da qualidade ou quantidade, rezultando daqui q., ahinda mesmo q. so obtivessem subscriçoens, ninguem haveria q. se incumbisse da futura distribuição. Em vista do q. nos rezolvemos a fazer a vontade aos Pobres e aos ricos, dezestindo (sic) desta empreza (sic), deixando tudo como estava, de que eu Abbade fi s esta Acta q. vai ser Assinada por toda a Commissão. O Abb.e Antonio Caetano Ozorio Gondim, P(rezidente) Manoel Jose Milheiro, V(ice) P(rezidente) Manoel Francisco Pascoal, P.e Firmino Joze Henriques Coutinho, P.e Bernardo Alz. Gomes dos S.tos, Manoel Fr.co Leite, De Joze + Inácio, Manoel Jose de Oliveira, P.e Manoel J.e Pereira Duarte».

2.º Como se há-de obter este caldo e pão diário. 3.º Se por subscriçoens voluntarias. 4.º se será melhor por giro ou por dias da semana, dando cada caza q. melhor podér (sic), hum dia cada semana o caldo e o pão aos pobres. 5.º Se por Aldeia incumbindo-se cada Aldeia ou cada duas Aldeias de dar caldo e pão aos pobres. 6.º Se pelas antigas jurararias (sic). 7.º Se fi nalmente por subscriçoens, assinando cada caza a porção em dinheiro ou em géneros com q. pode concorrer por mez, emquanto (sic) o milho não vier p.ª o preço ordinário. Esta Commissão relacionará em duas Classes todos os Pobres desta Freguezia. Na 1.ª Classe escreverá os nomes de todos os Pobres, homens, mulheres e meninos q. por doentes não podem trabalhar. Na segunda Classe escreverá aquelles nomes de todos os q. não têm q. comer por não ter trabalho e quaes os Offi cios q. têm para se lhe(s) procurar trabalho e remetter seus nomes à Ill.ma Câmara para q. os empregue nos trabalhos públicos. Como estas medidas são geraes para toda a parte, por isso dorante (sic) a prezente penúria fícão suspensas as esmolas aos Pobres de fora da Freguezia. Esta Comissão me apprezentará o rezultado dos seus trabalhos infalivelmente na próxima terça feira 27 do corr.e às 6 horas da manhám na Sacristia desta Igreja, onde toda a Junta se reunirá comigo para me aprezentarem o rezultado dos seus trabalhos. Exhorto aos Senhores desta Com.ão a que trabalhem com todo o cuidado e esmero nesta obra tão agradavel a D.s e aos homens, q. todos desta Paróchia se lembrem das necessidades de nossos Irmãos pobres q. agora não podem ganhar a sua subsistencia pelo excessivo preço dos géneros da 1.ª necessidade; q. precizamos de lhes ministrar o pão do corpo, sem o qual elles não podem subsistir e q., se na nossa Paróchia morrer algum à fome, pezará sobre cada hum de nós todos hum crime de morte diante de D.s e as outras paróchias nos apontarão como huns bárbaros assassinos da humanidade. Dizimai, meus caros Filhos, dizimai este anno com os Pobres esse pouco rendimento q. tivestes no passsado S. Miguel. Sirva este sacrifi cio de mitigar a cólera Div.ª q. está sobre nós, pois, não nos dando pão necessario neste anno, não no-lo deixa vir de fora. Ahinda nesta semana naufragou à barra do Porto huma embarcação com muitos mil alq.es de milho, q. todo se perdeo, morrendo 11 homens, acontecendo outro igual dezastre com outro navio carregado de milho q. se perdeo na barra da Figueira! Quem não vê nestas desgraças

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4.ª Pertence aos Ill.mos e R.mos Vig.os da Vara e por isso não se copia. O M.to R.do Vig.º da Vara, depois de ter mandado tirar huma cópia exa(c)ta desta nossa circular, a fará girar na forma do costume e cada hum dos r.dos párochos tirará tambem uma cópia das Dispoziçoens 1.ª, 2.ª e 3.ª. Paço Espiscopal do Porto em 25 de Abril de 1855. Bispo do Porto.N. B. do S.r Vig.º da Vara: Desde o dia 15 de Maio até ao dia 15 de Junho p. f. Tenciono estar em caza. Macieira de Sarnes, 29 de Abril de 1855. Luiz Mor.ª Maia da Silva.Esta Circular escrita em má letra foi-me entregue agora 9 horas da noute (sic) de 2 de Maio e por isso e pela manhã pouca vista e de noute há de ir com muitas imperfeiçoens. Ozorio».

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«Bullas em 1855. Circular sobre bullas de 25 de Abril (de) 1855. M.to confi amos q. o m.to r.do Vig.º da Vara do 4.º Dist.º da Feira bem como os r.dos párochos do seu Distr.º tênhão empregado todo o seu zelo e bons serviços a pró do m.to pio estabelecim.to da bulla da Cruzada e p.ª irmos approximando ao seu comprimento (sic) esta laborioza mas m.to meritória tarefa e em virtude das Instrucçoens q. recebemos da Junta Geral em data de 30 de Dezembro do anno p. p. recomendamos ao m.to r.do Vig.º da V.ª e a todos os r.dos p.cos do Distr.º o comprimento (sic) das seguintes dispoziçoens:

1.ª Athé ao fi m do próximo mez de Maio cada hum dos (re)berrendos p.cos em cuja freg.ª houver caixa da bulla, procederá juntamente com o regedor da paróchia à abertura della, lavrando Acta por ambos assinada, na qual se declare a quantia encontrada na mesma caixa, (ou) do (sic) q. nada se achou e este Aucto bem como o produto | 8 v achado na caixa, o produto dos summarios, bulas e escritos distribuídos e todos os sumarios etc. não distribuídos, será (tudo) entregue por cada hum dos r.dos párochos ao seu m.to r.do vig.º da Vara.

2.ª No acto da referida entrega, o m.to r.do vig.º da vara enxerá (sic), datará e assinará em duplicado os recibos adjuntos no 1.º e 2.º do produto dos summarios distribuídos e do produto da caixa da bula (havendo-a) 15(150) bem como passará em duplicado nas costas do recibo n.º 1.º os recibos dos Summarios etc. não distribuídos; e a cada hum dos párochos entregará hum de cada hum desses diversos recibos, nos remetterá os outros athé ao fi m do mez de Junho.

3.ª Nas costas do recibo do produto de cada huma das caixas fará o respectivo r.do párocho huma nota declaratória de qualq.r desp.ª q. nellas tenha sido feita ou se preciza fazer, a fi m de lhes ser satisfeita ou de se providenciar sobre a obra do concerto e esta nota deverá ser assinada pelo m.to r.do vigº da V.ª.

15 (150) O parêntese consta do texto.

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126 “Rosa num vaso perdida”Ilda Maria*

Rosa num vaso perdida,

Pelo tempo impiedoso,

Sem cor, sem aroma ou vida,

Rosa num vaso perdida,

De detalhe primoroso

Folha de Outono a fi car

Cada vez mais enrugada,

Onda perdida no mar,

Maré de sonho vazada,

Menina só, andrajosa

No mundo agreste, sentida,

De alma faminta, chorosa,

De alma tal qual a rosa,

Rosa num vaso perdida….*Poeta Faleceu em 20/07/1981

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127 RAMOS, Manuel Rodrigues (? – ?). Foi pároco da freguesia de Pigeiros, apresentado, em 1707, pelos «Rochas», continuadores dos antigos Pereiras da Quinta do Paço de Pigeiros.

Bibliografi a P.e José Inácio da Costa e Silva, «Santa Maria de Pigeiros», jornal «Tradição», número especial das Comemorações dos Centenários, Setembro, 1940.

RAMOS, Tomé Pereira (? – ?). Vivia em1704, segundo Carta de Familiar do Santo Ofício que lhe foi concedida nessa data e que a seguir se transcreve: «formado em cânones pela Universidade de Coimbra, natural de Cassemes, freguesia de São Vicente de Pereira, Ovar, Filho de António Francisco Ramos, contratador de sal e vinhos, natural da dita Cassemes, e de Maria Pereira, natural da freguesia de São Cristóvão de Ovar e aí moradores. Neto paterno de Frutuoso Francisco, contratador de arcos para pipas e de Maria Fernandes, naturais de Cassemes e materno de João Pereira, contratador de sal e de Isabel de Oliveira, naturais e moradores em Ovar. Estava ajustado para casar, em 13 de Novembro de 1704, com Ana Eugénia dos Santos, natural de Santiago de Rio Meão, fi lha de Nicolau Luís dos Santos, natural de Santa Marinha de Vila Nova de Gaia e de

RAMIRES, João (? – ?) E seu fi lho Rodrigo Gonçalves cederam a Elvira Nunes e a seus fi lhos, em 24 de Junho de 1102, em troca do seu padroado, um casal situado em Argoncilhe.

Bibliografi a Robert Durand, Le Cartulaire Baio Ferrado du Monastère de Grijó (XI-XIII Siècles). Fundação Calouste Gulbenkian, Centro Cultural Português, Paris, 1971.

RAMIRES, Loba (? – ?). Filha de Ramiro Mendes e de Toda Veilaz. Vendeu, juntamente com sua mãe, por volta de 1050, uma propriedade em Paramos (hoje concelho de Espinho). Era casada com o conde Sancho Vasques, magnate da corte de D. Fernando Magno, em Palência.

Bibliografi a José Mattoso, A Nobreza Medieval Portuguesa – A Família e o Poder. Editorial Estampa, 4.ª edição, 1994

* Licenciado em História pela Universidade do Porto e Bacharel em Filologia Românica pela Universidade de Coimbra. Historiador local, é autor de Anais da História de Espinho, O Associativismo em Espinho, Joaquim Pinto Coelho, um Político de Espinho, O Campo de Aviação de Espinho, O Culto de Nª Sª da Ajuda em Espinho e Manuel Laranjeira, por ele mesmo.

Dicionário Biográfi co de Personalidades Feirenses (continuação)

Francisco de Azevedo Brandão *

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de Matrizes. Em 1893, foi Presidente da Assembleia-Geral do Centro Progressista e em 1896 foi nomeado Juiz substituto da Comarca de Oliveira de Azeméis e Vice-Presidente da Junta Geral do Distrito de Aveiro. Foi, por três vezes, Presidente da Câmara de Oliveira de Azeméis. Neste cargo autárquico a ele se deve: o empenho colocado no pedido de criação de uma escola primária em Cucujães, bem como da aceitação de subsídio do Conde de Ferreira para a construção de uma escola em Oliveira de Azeméis e na criação de aulas nocturnas para adultos em S. João da Madeira, Pinheiro da Bemposta e Oliveira de Azeméis; a construção de um cemitério em S. João da Madeira e obras de benefi ciação nos cemitérios de Pinheiro da Bemposta e S. Martinho da Gândara; aquisição de uma bomba de incêndio e compra de um cilindro para as estradas; a inauguração da feira de Santa Luzia e a construção de estradas de S. João da Madeira a S. Martinho da Gândara, de Oliveira de Azeméis a Madail e de Oliveira de Azeméis a Ovar. Publica no jornal do Povo artigos de índole histórica local que irão servir de base para a elaboração dos Anais do Município, editados em livro por Bento Carqueja. José António Gomes Leite Rebelo morre de pneumonia, em Oliveira de Azeméis, em 29 de Novembro de 1907.

Bibliografi a Presidentes de Oliveira de Azeméis, com a seguinte bibliografi a: Fontes consultadas: Jornal do Povo de 02/11/1883, 14/04/1884, 19/2/1886, 25/3/1887, 08/10/1892, 04/03/1896, 01/12/1907, 04/12/1907. Actas das sessões da Câmara: 17/02/1878, 03/12/1878, 11/02/1879, 21/01/1881,09/10/1889, 18/11/1891, 19/11/1892, 24/10/1894, 30/10/1894. Actas das Sessões da Câmara: Livro 5— 1866-1869 Actas das Sessões da Câmara: Livro 6- 1869-1872 Actas das Sessões da Câmara: Livro 7— 1872-1874 Bibliografi a consultada: Correio de Azeméis de 07/08/1975. Nobreza de Portugal e do Brasil, vol. 30, Editorial Enciclopédia, Lisboa, 1961, pag. 297.

REBOLO, Pedro Nunes (? – ?), vendeu aos monges do Mosteiro de S. Salvador de Grijó, em 17 de Fevereiro de 1381, por 120 «modios» 1/8 da «villa» de Seitela e de Scapa e ¼.da igreja de Seitela.

Apolónia de Sá, de Santiago de Rio Meão e aí moradores. Neta paterna de António Luís, lavrador, e de Eugénia dos Santos, das Azenhas, Vila Nova de Gaia e materna de João de Sá, mercador de panos e de Maria Fernandes, naturais e moradores em Rio Meão.

Carta de Familiar de 13 de Novembro de 1704. A.N.T.T. – Tomé – m2, n.º2»

Bibliografi a David Simões Rodrigues, Rio Meão, a Terra e o Povo na História. Edição da Junta de Freguesia de Rio Meão, 2001.

RANGEL, Inácio Carneiro (? – ?). Foi pároco da freguesia de S. Jorge, de 1631 a 1633.

Bibliografi a P.e José Inácio da Costa e Silva, «A Freguesia de S. Jorge», jornal «Tradição», número especial das Comemorações dos Centenários, Setembro, 1940.

RANGEL, João Carneiro (? – ?). Foi pároco da freguesia de S. Jorge, de 1633 a 1637.

Bibliografi a P.e José Inácio da Costa e Silva, «A Freguesia de S. Jorge», jornal «Tradição», número especial das Comemorações dos Centenários, Setembro, 1940.

REBELO, José António Gomes Leite (1819 – 1907). Nasceu em Arrifana a 2 de Março de 1819. Era fi lho de Francisco António Gomes Leite e de D. Maria Albina Cândida de Menezes Viveu com seus tios, o Capitão António Pinho Tavares e D. Caetana Margarida Leite, em Santiago de Riba Ul. Comendador da Ordem da Conceição de Nossa Senhora de Vila Viçosa, foi 1.º Visconde de Santa Maria de Arrifana, título atribuído em 3 de Fevereiro de 1888, pelo governo de José Luciano de Castro, sob proposta de Simões Reis. Em 1878, foi nomeado procurador à Junta Geral do Distrito de Aveiro e vogal da Junta dos Repartidores da Contribuição Industrial. Em 1879, foi escolhido para Comissão de Auxílio às vítimas. Em 1881, foi nomeado vogal efectivo da comissão de lançamento de impostos de rendimento. Em 1889 foi indicado para vogal da Junta Escolar e de 1891 a 1894, vogal da Junta

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Lousã, Soure, Oliveira de Azeméis e Figueira da Foz. Os uniformes destes Regimentos foram aprovados pelo Decreto de 19.05.1806, sendo as fardas de pano azul ferrete e os botões brancos com pluma amarela. As cores da gola, canhão e forro eram diferentes para cada Regimento. O da Feira tinha a gola azul, o canhão branco e o forro amarelo. Os Ofi ciais deste Regimento eram os seguintes: António Ferreira Carneiro de Vasconcelos, Coronel a partir de 25.06.1821; António Ferreira Carneiro, Coronel agregado a partir de 12.02.1823; Álvaro Leite Pereira de Melo Alvim, Coronel a partir de 16.11.1831; Francisco Correia de Melo Osório Sarmento, Tenente-Coronel a partir de 20.09.1801, residente em Ovar; António Barreto Pinto Feio, Tenente- Coronel a partir de 04.05.1810, residente em Oliveira de Azeméis; Álvaro Leite Pereira de Melo, Tenente-Coronel a partir de 26.009.1823. Era cadete no Regimento de Infantaria 18; João Álvares Souto, Tenente-Coronel agregado a partir de 22.01.1824; Henrique Freire de Andrade Coutinho Bandeira, Tenente-Coronel a partir de 09.01.1832; João António Lopes, Sargento-Mor a partir de 20.09.1808, residente no Porto, reformado em 13.01.1824; António José Guimarães, Major a partir de 13.01.1824. Era Capitão no Regimento de Infantaria 18; Francisco Pereira de Magalhães, Ajudante graduado em Capitão a partir de 04.05.1810, residente no Porto, reformado em 13.01.1824; José António Teixeira, Ajudante a partir de 20.09.1808, residente no Porto; Jacinto José Ferreira, Ajudante a partir de 13-01.1824. Era Tenente no Batalhão de Caçadores 9; Padre José Francisco Lopes Júnior, Capelão a partir de 08.02.1832, demitido em 17.03.1833; António Rodrigues de Melo, Quartel-Mestre a partir de 04.05.1810, residente no Porto; Manuel António Ferreira Pinto, Quartel-Mestre a partir de 13.05.1825; José Rodrigues da Costa, Quartel-Mestre a partir de 15-06.1832; Francisco Xavier de Melo, Cirurgião-Mor a partir de 08.02.1832; Bernardo José da Silva Tavares, Capitão Granadeiro a partir de 20.09. 1808, residente em Fagil; Custódio Pinto de Almeida, Capitão a partir de 20.09.1808, residente em S. Paio de Oleiros; Manuel José de Azevedo, Capitão a partir de 20.09.1808, residente em Paços de Brandão; João José Teixeira, Capitão a partir de 20.09.1808, residente na Feira; José Pinto Henriques, Capitão a partir de 04.05.1810, residente no Porto; João Álvares Souto, Capitão a partir de 04.05.1810, residente em Vila Nova; José Maria Quesado, Capitão a

Bibliografi a Robert Durand, Le Cartulaire Baio Ferrado du Monastère de Grijó (XI-XIII Siècles). Fundação Calouste Gulbenkian, Centro Cultural Português, Paris, 1971.

REBELO, Manuel Valente (? -?). Vivia em 1742, segundo Carta de Familiar do santo Ofício que lhe foi concedida nessa data e que a seguir se transcreve: «natural da freguesia de Santa Marinha de Avanca, Estarreja e morador em Guilhadães, freguesia de Santa Maria de Arrifana, Feira, fi lho de António Valente, natural de Arção, Avanca, e de Margarida da Rebela, natural da freguesia de S. Mamede de Travanca, Feira, moradores em Avanca; neto paterno de Belchior André, natural da freguesia de S. Bartolomeu de Veiros, Estarreja, e de Maria Valente, natural de Arção, e aí lavradores, e materno de Manuel Rebelo, natural de Pinheiro, Travanca, e de Maria Manuel, natural de Aldão, Travanca, moradores em Travanca; casado com Isabel Gomes, natural de Guilhadães, já viúva de Miguel Rebelo, natural e morador na freguesia de S. Martinho de Gândara, Oliveira de Azeméis, fi lho de João Francisco e de Isabel Vaz, naturais e moradores em S. Martinho da Gândara, de quem tivera um fi lho, Manuel Rebelo, também natural de S. Martinho da Gândara, fi lha de António da Rocha, natural de Presa, freguesia de S. Miguel de Milheirós, Feira, e de Antónia Gomes, natural de Guilhadães, e aí moradores, neta paterna de Gaspar Dias e de Bernarda da Rocha, naturais e moradores em Presa, materna de Domingos António, natural de Rua, Arrifana de Santa Maria, e de Guiomar Gomes, natural de Guilhadães e aí moradores.

Carta de Familiar de 10 de Outubro de 1742.Manuel – m.122, n.º2189»

Bibliografi a Jorge Hugo Pires de Lima, O Distrito de Aveiro nas Habilitações do Santo Ofício. Arquivo do Distrito de Saveiro, n.161, 1975.

REGIMENTO de Milícias da Feira (1807 – 1834). Foi criado pelo Alvará do Príncipe Regente, em 21.10.1807, juntamente com Idanha-a-Nova, Tondela, Arouca, Lisboa Oriental, Lisboa Ocidental, Alcácer do Sal,

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Pinto Gonçalves, Tenente a partir de 13.05.1825; José Moreira dos Santos, Tenente a partir de 13.05.1825; António Joaquim de Sousa, Tenente a partir de 13.05.1825; José dos Santos Moreira, Tenente, demitido em 10.07.1829; António José Soares de Pina, Tenente Granadeiro a partir de 15.06.1832; Manuel Alves Allen, Tenente a partir de 15.06.1832; Pedro Filipe dos Santos, Tenente a partir de 15.06.1832; Manuel Alves Moreira, Tenente a partir de 15.06.1832; António Pinto, Alferes Granadeiro a partir de 04.05.1810, residente em Fiães; Joaquim José Pinto, Alferes a partir de 04.05.1810, residente na Feira; Manuel José Coelho, Alferes a partir de 04-05.1810, residente em Mozelos; José Fernandes Teixeira, Alferes a partir de 04.05.1810, residente em Arcozelo; Manuel Joaquim Ramos, Alferes a partir de 04.05.1810, residente em São Félix; Manuel António Soares, Alferes a partir de 04.05.1810, residente em Serzedo; José Álvares de Almeida, Alferes a partir de 04.05.1810, residente no Porto; Manuel Moreira Rebelo Marques, Alferes a partir de 04.05.1810, residente no Porto; José Francisco de Oliveira, Alferes a partir de 04.o5.1810, residente em Olival; Clemente José Pereira de Castro, Alferes a partir de 04.05.1810, residente em Olival; Joaquim Custódio, Alferes a partir de 04.05.1810, residente em Sandim; António Pais de Sousa, Alferes a partir de 04.05.1810, residente em S. Martinho de Argoncilhe: António Leite Tinoco, Alferes a partir de 04.05.1910, residente em Fornos; Joaquim Pinto, Alferes a partir de 04.05.1810, residente em Fiães; José Álvares da Silva, Alferes a partir de 04.05.1810, residente em Gião; Manuel Moreira Aranha, Alferes a partir de 04.05.1810, residente em Pedorido; José dos Santos Moreira, Alferes graduado em Tenente a partir de 20.08.1821; António Joaquim do Reis Castro Portugal, Alferes a partir de 01.07.1822; José dos Reis Castro, Alferes, demitido em 05.06.1824; António Tomás da Silva, Alferes graduado em Tenente, demitido em 11.05.1825; António de Oliveira Tau, Alferes graduado em Tenente, demitido em 11.05.1825; José de Oliveira Tau, Alferes, demitido em 11.05.1825; Manuel José de Amorim, Alferes, demitido em 11.05.1825; António Joaquim Pais, Alferes, demitido em 13.05.1825; João de Oliveira Fonseca, Alferes, demitido em 13.05.1825; António Joaquim de Oliveira Rezende, Alferes Granadeiro a partir de 13.05.1825, demitido em 15.06.1832; António José Soares de Pina, Alferes Granadeiro, a partir de 13.05.1825, reintegrado em

partir de 04.05.1810, residente em Lombos; Manuel José Pais, Capitão a partir de 04.05.1810, residente em S. Jorge; Bernardo Gomes Abreu, Capitão agregado a partir de 04.05.1810, residente em S. Miguel; João Francisco Pinheiro Capitão a partir de 29.10.1814; António Alves Souto, Capitão Granadeiro, reformado em 30.12.1832; José Álvares de Almeida, Capitão reformado em 13.05.1825; Bernardo José Henriques, Capitão, reformado em 13.05.1825; João Francisco Pinheiro, Capitão Granadeiro, reformado em 15.06.1832; Francisco José de Almeida, Capitão a partir de 13.05.1825; Fernando Camelo Sarmento, Capitão a partir de 13.05.1825; António Beleza de Andrade, Capitão a partir de 13.05.1825; Félix Bernardo França, Capitão a partir de 13.05.1825. Era também Capitão da Ordem de Malta; Manuel José de Azevedo, Capitão graduado em Major a partir de 05.11.1826, demitido em 10.07.1829; Félix Bernardo França, Capitão a partir de 05.01.1826; Manuel Joaquim Borges de Castro, Capitão a partir de 05.01.1826; Vicente Francisco Guimarães, Capitão a partir de 03.02.1831. Tinha vindo do Regimento de Milícias do Porto; Manuel Alves Moreira, Capitão a partir de 15.06.1832; Manuel Fernandes Alves, Capitão a partir de 15.06.1832; Hermegildo José da Silva Tavares, Capitão a partir de 18.01.1833; José Lucas, Tenente Granadeiro a partir de 04.05.1810, residente na freguesia de Anta; Manuel Correia Pais, Tenente a partir de 04.05.1810, residente em Travanca; Francisco José de Oliveira, Tenente a partir de 04.05.1810, residente em Valadares; José Álvares Souto, Tenente a partir de 04.05.1810, residente em Vila Nova; João José da Rocha, Tenente a partir de 04.05.1810, residente em Silvalde; Manuel Joaquim Borges, Tenente a partir de 04.05.1810, residente em Milheiros; Bernardo José Henriques, Tenente a partir de 04.05.1810, residente em Pigeiros; Sebastião Álvares da Silva, Tenente a partir de 04.05.1810, residente em São Vicente de Louredo; Manuel Alves Moreira, Tenente a partir de 31.03.1817, reintegrado em 24.04.1830; Joaquim Custódio, Tenente, reformado em 31.01.1822; Manuel dos Santos, Tenente, reformado em 16.10.1823; João da Silva Gomes, Tenente, demitido em 29.01.1824; Francisco Maria Carneiro Cirne, Tenente, demitido em 11.05.1825; Domingos Pereira de Castro, Tenente Granadeiro a partir de 13.05.1825; José Alves Pereira da Silva, Tenente a partir de 13.05.1825; Manuel Correia Ramos, Tenente a partir de 13.05.1825; Francisco

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geração, Maria Gramacho que também morreu sem geração e Violante Botelho da Silveira d’Eça que continuou a geração.

Bibliografi a Francisco de Moura Coutinho de Almeida d’Eça, Genealogias do Distrito de Aveiro. Separata do «Arquivo do Distrito de Aveiro», vol. X, 1944.

REIS, António Caetano dos (1750 – ?). Terá nascido por 1750, na Freguesia de Lourosa, onde residia. Era pároco encomendado de Rio Meão, em 1816.

Bibliografi a David Simões Rodrigues, Rio Meão – A Terra e o Povo na História. Edição da Junta de Freguesia de Rio Meão, 2001.

REIS, Domingos Dias dos (? – ?). Vivia, em 1652, segundo Carta de Familiar do Santo Ofício que lhe foi concedida nessa data e que a seguir se transcreve: «natural de Framil, freg. de S. Pedro de Canedo, Feira, e morador em Carvoeiro, freg. de S. Pedro de Canedo; fi lho de Domingos António, o «Quatro Réis» e de Domingas Dias, naturais e moradores em Framil; neto paterno de António Gonçalves e de Francisca Amador, naturais e moradores em Framil e materno de Gaspar Dias, também de Framil, e de Francisca Domingues, de Stº. André de Gião, Feira; casado com Maria Gonçalves, natural e moradora em Carvoeiro, fi lha de Domingos Gonçalves, também do Carvoeiro e de Maria Gonçalves, natural de Vila Cova, freg. de Stª. Maria das Medas, Gondomar, moradores em Carvoeiro, neta paterna de Bento Gonçalves e de Antónia Gaspar, igualmente naturais e moradores em Carvoeiro e materna de Domingos Vaz, natural de Leveirinho, freg. de Covelo, Penafi el, e de Catarina Gonçalves, natural de Vila Cova e aí moradores. 1652. – Domingos – m. 10, nº. 242».

Bibliografi a Jorge Hugo Pires de Lima, O Distrito de Aveiro nas Habilitações do Santo Ofício. Revista «Arquivo do Distrito de Aveiro, nº. 113 (Janeiro, Fevereiro e Março), 1963.

REIS, José Caetano dos (? – ?). Foi pároco encomendado de Rio Meão, em 1779.

23.03.1830; António de Amorim Aranha, Alferes a partir de 13.05.1825; Manuel Alves Brigada, Alferes a partir de 1825; José António Camarinha Júnior, Alferes a partir de 13.05.1825; Francisco José Gomes Monteiro, Alferes a partir de 13.05.1825; António Pinto da Cunha, Alferes a partir de 13.05.1825; Tomás Rodrigues de Araújo, Alferes a partir de 13.05.1825; Tomás da Silva, Alferes a partir de 13.05.1825; José Nunes, Alferes a partir de 13.05.1825; Manuel Fernandes Alves, Alferes a partir de 13.05.1825; Hermenegildo da Silva Tavares, Alferes a partir de 13.05.1825; António Lopes Fontes, Alferes a partir de 13.05,1825; Manuel Alves, Alferes a partir de 13.05.1825; Manuel Alves Moreira Júnior, Alferes a partir de 13.05.1825; Manuel da Silva Valente, Alferes a partir de 13.05.1825, demitido em 10.07.1829; António Joaquim do Couto Alexandrino, Alferes Granadeiro a partir de 15.06.1832; Manuel João dos Santos, Alferes a partir de 15.06.1832; Manuel António dos Santos, Alferes a partir de 15.06.1832; Joaquim Lopes da Cruz, Alferes a partir de 15.06.1832; Manuel Pais da Maia, Alferes a partir de 15.06.1832.

Bibliografi a Nuno Gonçalo Pereira Borrego, As Ordenanças e as Milícias em Portugal, Subsídios para o seu estudo, vol. I. Edição Guarda-Mor, Edição de Publicações Multimédia, Lisboa, 2006.

REGO, Gaspar do (? – ?). Foi Comendador de S. Tiago de Lobão. Era casado com D. Maria Gramacho, da Terra da Feira, de quem teve Gonçalo Rodrigues Gramacho. Este casou com D. Guiomar Ferreira de quem teve Angélica do Rego de Almeida que casou com António Borges da Silveira, fi dalgo da Casa Real e proprietário do ofício de escrivão dos órfãos de Esgueira e senhor da Torre que está na Praça de Esgueira, fi lho de Jerónimo de Morais e de D. Violante Botelho da Silveira. Este António Borges da Silveira era neto de Pedro Vaz d’Eça, Fidalgo da casa Real, e de D. Catarina da Silveira, que morreu em 27 de Novembro de 1632. Angélica do Rego, sua mulher era neta de Gaspar do Rego, comendador que foi de Lobão e Canello e de Maria Gramacho que faleceu a 13 de Outubro de 1688. António Borges tinha falecido em 27 de Novembro de 1632. Do casamento de António Borges com D. Angélica houve os seguintes fi lhos: Manuel da Silveira d’Eça que morreu sem

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de Arrifana de St.ª Maria, e materno de Domingos Francisco de Oliveira, natural de Cortegaça, e de Teresa Vitória de Oliveira, natural da freg. do Olival, junto a Arnelas. Carta de Familiar de 10 de Março de 1812. A.N.T.T. – José – m. 172, n.º4147»

Bibliografi a Jorge Hugo Pires de Lima, O Distrito de Aveiro nas Habilitações do Santo Ofício. Revista «Arquivo do Distrito de Aveiro», n.º141 (Janeiro, Fevereiro e Março), 1970

REIS, José dos (? – ?). Vivia em 1757, segundo Carta de Familiar do Santo Ofício que lhe foi concedida nessa data e que a seguir se transcreve: «natural e morador na cidade de Viseu; fi lho de Baltasar dos Reis, natural de Veloso, freg. de St.º Adrião do Sul, e de Francisca de Matos, natural de Viseu, e aí moradores; neto paterno de António Rodrigues, natural de Anciães, freg. da Várzea de S. Pedro do Sul, e de Domingas Lourença, natural de S. Pedro do Sul, moradores em Veloso, e materno de Francisco Lopes, natural de Lajas, e de Mariana de Matos, natural d Viseu, e aí moradores; casado com Rosa Inácia, natural da freg. de S. Pedro de Sanfi ns; Feira, fi lha de Simão Álvares, natural de S. Miguel de Milheirós de Poiares, Feira, moradores em Sanfi ns, neta paterna de Simão Manuel e de Maria Álvares, naturais e moradores em Sanfi ns, e materna de Dionísio da Costa e de Maria de Resende, naturais e moradores em Milheirós de Poiares, irmã de Francisco Álvares da Costa, Familiar do St.º Ofício em Pinheiro de Ázere, e do Pe. Alberto Álvares da Costa, presbítero do hábito de S. Pedro, igualmente naturais de Sanfi ns.

Carta de Familiar de 20 de Setembro de 1757. A.N.T.T. – José – m.81, n.º1201»

Bibliografi a Jorge Hugo Pires de Lima, O Distrito de Aveiro nas Habilitações do Santo Ofício. Revista «Arquivo do Distrito de Aveiro», n.º143 (Julho, Agosto e Setembro), 1970.

REIS, Serafi m José dos (1871-1941). Nasceu na freguesia de Escapães, Feira em 1871.

Bibliografi a David Simões Rodrigues, Rio Meão – A Terra e o Povo na História. Edição da Junta de Freguesia de Rio Meão.

REIS, João da Mota (? – ?). Vivia em 1726, segundo Carta de Familiar do Santo Ofício que lhe foi concedida nessa data e que a seguir se transcreve: «natural e morador em Framil, freg. de S. Pedro de Canedo, Fira; fi lho de João dos Reis, natural de Framil, e de Ângela da Mota, natural da Mota, Canedo, e moradores em Framil; neto paterno de Domingos António, o «Quatro reis», e de Domingas Dias, naturais e moradores em Framil, e materno de Pedro da Mota e de Maria Antónia, naturais e moradores em Mota.

Carta de Familiar de 22 de Março de 1726. A.N.T.T. – João – m.56, n.º10 84»

Bibliografi a Jorge Hugo Pires de Lima. O Distrito de Aveiro nas Habilitações do Santo Ofício. Revista «Arquivo do Distrito de Aveiro», n.º 132 (Outubro, Novembro e Dezembro), 1967.

REIS, José Bento dos (? – ?). Era natural de Sandim, Gaia. Era pároco de Fiães em 1834, nomeado pelo governador interino do Bispado do Porto, Frei Manuel de Santa Inês. Politicamente era partidário de D. Pedro.

Bibliografi a Padre Manuel Francisco de Sá, Santa Maria de Fiães da Terra da Feira. Casa Nun’Álvares, Porto, 1940.

REIS, José Inácio dos (? – ?). Vivia em 1812, segundo Carta de Familiar do Santo Ofício que lhe foi concedida nessa data e que a seguir se transcreve: «Caudatário do Bispo Inquisidor-Geral; natural da freg. de Arrifana de St.ª Maria, Feira, e morador em Lisboa; fi lho de Francisco dos reis Rebelo de Sá, natural da freg. de S. Pedro de Canedo, Feira, e de Custódia Teresa de Oliveira, natural da freg. de St.ª Marinha de Cortegaça, Ovar, e moradores em Arrifana de St.ª Maria; neto paterno de Constantino Dias dos Reis, natural de Canedo, e de Ana Maria Gomes de Sá, natural

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P.e Crispim da Madre de Deus Crispiano (1724-1726); P.e Pregador António de São Bento, de Braga (1727); P.e Manuel dos Anjos (1728); P.e Sebastião de Santo António, de Anadia (1729); P.e João de São Bernardo (1730-1732); P.e Domingos da Esperança, de Matosinhos (1733-1736); P.e Pregador José da Anunciação Evangelista, do Porto (1737-1739); P.e Simão de Santa Teresa (1740); P.e José de Santo António (1741); P.e Manuel de Visela (1742); P.e Sebastião de Santa Ana Torres (1743-1745); P.e Pregador Tomás de Santa Maria, de Braga (1746-1748); P.e Paulo de Assumpção, do Alentejo (1749-1751); P.e Egídio de Santa Helena, de Soure (1752-1754); P.e Pedro de São Joaquim, de Soure (1755-1757); P.e Manuel de Santo Albino, do Porto (1768-1771); P.e João de Santo António, do Porto (1772-1775); P.e Teodoro de Santa Clara (1776); P.e Vicente de S. Carlos, de Lisboa (1777-1780); P.e Joaquim Lopes da Costa Baltar, do Porto (1780-1786); P.e Gregório Luiz Furtado, do Porto (1787-1789); P.e Domingos Basto, de Faro (1790); P.e António de Pádua Corrêa de Sá, do Porto (1791-1792); P.e Alexandre de São Carlos de Magalhães, de Lisboa (1792-1794); P.e José Camelo Cotrim (1795-1797); P.e Joaquim José Couceiro, de Braga (1798-1800); P.e Custódio José de Araújo e Silva, da Póvoa do Lanhoso (1801-1803); P.e Joaquim Feliciano Abreu (1804-1806); P.e Joaquim de Azevedo (1807-1809); P.e José Duarte Coelho, de Vila do Conde (1810-1812); P.e António Rodrigues de Sousa Vale, de Valongo (1813-1815); P.e José Duarte Coelho Aroso, de Vila do Conde (1816-1818); P.e Tomás Aquino Pereira Sá, do Porto (18191821); P.e João Paulo Carneiro de Sá Barbosa Bezerra, de Vila do Conde (1822-1824); P.e Manuel da Silva Cerqueira, de Braga (1825-1827); P.e João Nunes de Matos, do Porto (1828-1829); P.e António Baptista da Silva, de Braga (1830-1831).

Bibliografi a Padre António Ferreira Pinto, Cónegos Seculares de S. João Evangelista – Colegiada ou Colégio do Espírito Santo na Vila da Feira. «Arquivo do Distrito de Aveiro», n.º 14, 1938.

RELVAS, Manuel Ramiro Alves (1924 – 2005). Nasceu em Paços de Brandão, concelho da Feira a 4 de Maio de 1924. Era fi lho de Manuel Relvas, corticeiro, ajudante no Cine local e elemento activo da Tuna Velha de Paços de

Foi pároco de Milheirós de Poiares. Foi ele que iniciou a reedifi cação da igreja, em 1904, e que seria concluída em 1907.

Bibliografi a David Simões Rodrigues, D. Sebastião Soares de Resende – Percurso de uma Vida…Revista «Villa da Feira», n.º 12, Fevereiro, 2006

REIS, Vicente Rebelo de Sousa (1893 – 1972). Nasceu em Arrifana em 17 de Março de 1893. Era fi lho de Domingos dos Reis e de D. Maria da Piedade Leal Rebelo de Sousa, casado com D. Rute Gomes Faria Reis, Era técnico de contas, foi presidente doa Bombeiros de Arrifana e presidente da Junta de Freguesia. Foi director do jornal «O Arrifanense», onde manteve polémica literária com o Dr. Paulo de Sá que então usava o pseudónimo de Rafael Smart. Foi «um tenaz defensor da integridade da sua terra, tendo falecido em Outubro de 1972, com 79 anos de idade deixando apenas uma fi lha. D. Natalina dos Reis Gonçalves.

Bibliografi a Correio da Feira, 14.10.1972Roberto Vaz de Oliveira, Imprensa Periódica da Vila e Concelho da Feira. Revista «Aveiro e o seu Distrito, n.º 8, 1969.

REITORES da Colegiada do Espírito Santo na Vila da Feira. P.e Paulo da Trindade (1653-1655); P.e Gaspar de Santa Maria (1656-1658); Pe. Inácio de Assumpção (1659-1661); P.e António da Madre de Deus (1662-1664); P.e João dos Mártires (1665-1667); P.e Manuel da Purifi cação Magalhães (1668-1670); P.e Jacinto da Conceição (1671-1673); P.e João Evangelista (1774-1676); P.e António de Santa Margarida (1677-1679); P.e Bento da Esperança (1680-1682); P.e Francisco das Chagas (1683-1685); P.e Manuel Silvestre de Santo Isidoro (1686-1688); P.e Francisco do Espírito Santo Sintra (1689-1691); P.e João da Graça (1692-1694); P.e Mnuel de Santo Agostinho (1695-1697); P.e Francisco Evangelista (1701-1703); P.e Manuel da Anunciação, do Porto (1704-1708);P.e António da Esperança, do Porto (1709-1711); P.e Brás da Purifi cação (1712-1714); P.e Manuel dos Anjos (1715-1717); P.e Diogo da Anunciação (1718-1720); P.e Salvador de S. Bernardo (1721-1723);

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Museu do Papel, em Paços de Brandão e um concerto de música pelo «Quinteto Lusitânia: Rumos do Fado», integrado no XVIII Festival de Música de Verão de Paços de Brandão.

Bibliografi a Correio da Feira, 25.2.2005«Notícias de Paços de Brandão, 15.3.2005; 30.6.2005«Terras da Feira», 14.2.2005

RESENDE, Francisco Plácido de (1901 – 1975). Nasceu na Vila da Feira em 1901. «Homem de ação», transformou a antiga «Casa Plácido» num estabelecimento comercial de 1.ª categoria». Procurou sempre dar o seu contributo para o bem da terra, tendo sido um dos fundadores da Humanitária Associação dos Bombeiros Voluntários da Feira, fazendo parte, durante muitos anos, do seu corpo activo. Era casado com D. Deolinda Faria Alão de Resende, da qual teve um fi lho: Manuel Plácido de Faria Resende. Faleceu na sua casa dos Moinhos, freguesia de Sanfi ns, em 23 de Fevereiro de 1975, com 74 anos de idade, estando sepultado em Sanfi ns.

Bibliografi a Correio da Feira, 1.3.1975

RESENDE, Gaspar Moutinho de (1615 – 1655). Nasceu na Casa e lugar do Tapado, em S. João da Madeira em 1615, tendo sido baptizado em 16 de Abril de 1615. Era fi lho de Gaspar Moutinho e de Ana Francisca; neto de Manuel Moutinho, da estirpe dos Moutinhos, e de D. Margarida Luiza, falecida a 15 de Abril de 1638. Casou, em Arrifana, a 8 de Setembro de 1641, com D. Domingas Fernandes, fi lha de Santos Fernandes, que faleceu em Manhouce, Arrifana, em 18 de Dezembro de 1635, e de Catarina Fernandes, e viviam em Manhouce em 8 de Setembro de 1641 quando três dos seus fi lhos, Sebastião, Helena e Domingas se consorciaram. Além destes, ainda teve os seguintes fi lhos: Manuel, Maria, António, Baltazar, José e Fernando. Gaspar Moutinho de Resende foi capitão e faleceu a 12 de Fevereiro de 1655, com 39 anos de idade.

Bibliografi a António de Souza Brandão, Moutinhos de S. João da Madeira e Pinhos de Arrifana de Santa Maria. Revista «Armas e Troféus», 1980

Brandão. Em 1935 matricula-se no Seminário de Braga «onde cursou, aprendeu a ser homem sob um regime de mão de ferro, mas que os recordava como verdadeiros valores, onde a integridade e a humildade seriam os padrões da sua vida». Em 1949 fez sociedade com seu tio, Joaquim de Sá Rosa para a exploração da sala de cinema local que tinha sido fundada por aquele seu tio quando este regressou de França em 1939. Com a concorrência do cinema de Santa Maria de Lamas, os dois sócios «acicatados pelo bairrismo e pela rivalidade estimulante com aquele cinema, melhoraram as instalações e o empenho de Sá Rosas permitiu ao Salão-Cine, exibir um fi lme, por maior que fosse, sem interrupção, tratando-se dum caso único no país e quiçá em todo o mundo» As décadas de 50 e 60 marcaram «o esplendor na exibição cinematográfi ca, passando nesses 20 anos o que de melhor se realizou em Hollywood e Europa» No início dos anos 50, Ramiro Relvas começou também a dedicar-se a outra actividade cultural: a pintura. Partindo da execução dos cartazes para o cinema e depois de ter conhecido as obras de Bordalo Pinheiro, Van Gogh e outros expressionistas, apaixonou-se defi nitivamente pala pintura. O seu atelier de Paços de Brandão começou a encher-se de quadros em que predominavam os recantos mais belos da sua terra. A sua primeira exposição deu-se nos princípios dos anos 70 no salão nobre da Junta de Freguesia de Paços de Brandão, o que constituiu uma agradável surpresa e foi motivo dos mais rasgados elogios dos críticos de arte. Seguiram-se outras exposições onde recebeu prémios e o reconhecimento do seu talento e sensibilidade. Também em 1978 funda uma escola de pintura nas instalações do CiRAC (Círculo de Recreio, Arte e Cultura) de Paços de Brandão, onde se dedicou a ensinar gratuitamente centenas de alunos na arte de pintar até à sua morte. A 27 de Outubro, o CiRAC, nas comemorações dos seus 25 anos de existência, atribuiu-lhe o emblema em ouro da associação. Para além da sua actividade cultural, Ramiro Relvas foi também um credenciado industrial de tapeçarias. Faleceu em Paços de Brandão, no dia 7 de Fevereiro de 2005. Ao evocar a sua morte, o director do «Notícias de Paços de Brandão, no seu editorial, disse dele: «Ramiro Relvas fi cará na história de Paços de Brandão e do concelho da Feira como um homem solidário, humanista, íntegro, de fi no trato e um artista de rara sensibilidade e gosto refi nado». Nos dias 1 e 2 de Julho de 2005, o CiRAC prestou-lhe uma homenagem com a atribuição do seu nome à Escola de Pintura, uma exposição de alguns dos seus quadros no

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RESENDE, Manuel Moutinho de (1642 – ?). Nasceu em Manhoce, Arrifana em cuja igreja foi baptizado em 1 de Abril de 1642 pelo padre José Cardoso de Miranda. Era fi lho de Gaspar Moutinho e de D. Domingas Fernandes, de Manhouce, Arrifana. Casou na igreja de Arrifana em 6 de Janeiro de 1663, com D. Francisca de Pinho, nascida em Manhouce e baptizada em 17 de Abril de 1639, fi lha de Domingos Fernandes, do lugar dos Valos, S. João da Madeira, e de D. Isabel de Pinho, moradores em Manhouce e tinham casado em Arrifana a 11 de Setembro de 1629. Do casamento de Manuel Moutinho com D. Domingas Fernandes houve 8 fi lhos: Braz Moutinho de Resende, Maria de Pinho Resende, Isabel de Pinho Resende, Fernando de Pinho Resende, António de Pinho Resende, Ana de Pinho Resende, Francisca de Pinho Resende e Joana de Pinho Resende.

Bibliografi a António de Souza Brandão, Moutinhos de S. João da Madeira e Pinhos de Arrifana de Santa Maria. Revista «Armas e troféus», 1980

RESENDE, Sebastião Soares de (1906 – 1967). Nasceu em Milheirós de Poiares em 14 de Junho de 1906. Era fi lho de José Joaquim Soares de Resende, nascido a 24.7.1866 e falecido a 15.8.1951, e de D. Margarida Rosa dos Santos, nascida a 25.12.1862 e falecida a 20.2.1947. Frequentou o Seminário Episcopal do Porto, onde terminou o respectivo curso em 21 de Outubro de 1926, tendo-se ordenado em 1928. Formou-se na Universidade Gregoriana de Roma, onde concluiu a licenciatura em Filosofi a e o doutoramento em Teologia, em 1933. Frequentou ainda o Curso de Ciência Sociais em Bérgamo. Foi professor e reitor do Seminário do Porto. Em 1935, na abertura das aulas do Seminário Maior do Porto fez uma oração de sapiência sobre o tema «Acção dos Teólogos Portugueses no Concílio de Trento. Em Junho de 1941 publicou o estudo «O Sacrifício da Missa em D. Frei Gaspar do Casal», e em 1943 «Portugal e a Doutrina Dogmática da Comunhão». Em 21 de Abril de 1943, o Papa Pio XII, pela Bula «Solemnibus Conventionibus», criou a Diocese da Beira (Moçambique) e nomeou D. Sebastião para 1.º Bispo daquela Diocese. A sua sagração realizou-se na Sé do Porto em 15 de Agosto de 1944, tendo tomado posse da mesma em 8 de Dezembro desse ano. Nessa data publicou a sua primeira pastoral. Escreveu ainda: «Fé, Vida

RESENDE, João Leite de (? – ?). Natural de Milheirós de Poiares, era fi lho do Dr. José Leite de Resende e de Maria Teresa Soares de Resende, fi lha de Manuel Valente da Silva e de Ana Soares de Resende. Defendeu Conclusões de Filosofi a na Congregação do Porto e, em 1769, estava matriculado em Coimbra. Em 1796, era conhecido por João Leite Soares de Resende e Reis, Presbítero Secular, graduado e formado nos Sagrados Cânones.

Bibliografi a Manuel Joaquim Santos Conceição, Milheirós de Poiares (Século XVI a XVIII). Revista Villa da Feira, n.º 13, 2006

RESENDE, José Domingues de (? – 1993). Nascido na freguesia de Milheirós de Poiares, fi xou residência em S. João da Madeira, onde sempre trabalhou e granjeou os seus amigos. Foi um poeta autodidacta de merecimento, tendo dedicado à sua terra adoptiva grande parte das suas composições. Escreveu e publicou os seguintes livros: «De Mim», «Folhas Dispersas», «Vértice Negado», «Mãe», etc.. Nos seus poemas «exaltou a terra e as gentes, o trabalho e o cansaço dos anónimos operários que estavam construindo o progresso de S. João da Madeira». Faleceu nesta cidade em Setembro de 1993.

Bibliografi a Eurico Andrade Alves, «Correio da Feira», 17.9.1993

RESENDE, José Leite de (? – ?). Vivia em Milheirós de Poiares em 1753, pois foi ele que mandou construir no lugar de Gaiate um cruzeiro a cerca de cem metros da Capela de Gaiate, conforme a inscrição no referido cruzeiro e que é do seguinte teor: «DR. JZ.E LT.E DE RZ.DE/ COMSTOIV ESTE CR/OZEIRO NO ANN/ O 1753». Era fi lho de Manuel Leite de Resende e de Sebastiana Rodrigues dos Reis, do lugar de Gaiate. Casou a 13/11/1748 com Maria Teresa Soares de Resende, fi lha de Manuel Valente da Silva e Ana Soares de Resende, do lugar do Casal. Deste casamento houve um fi lho, João Leite de Resende.

Bibliografi a Manuel Joaquim Santos Conceição, Milheirós de Poiares (Século XVI a XVIII). Revista Villa da Feira, n.º 13, 2006.

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cidade encerrou as suas portas para que a população tomasse parte nas cerimónias fúnebres do seu prelado, que por vontade expressa foi sepultado em campa rasa num dos cemitérios da Beira. O Sr. D. Sebastião, conhecido e admirado pelos seus sentimentos de bondade e ideias liberais, recebia no Paço todas as pessoas sem defi nição de raças ou posição social com iguais atenções. As suas notáveis pastorais que publicava anualmente eram sempre recebidas com anseio pela maneira como apresentava os problemas religiosos e sociais…»

Bibliografi a António Marujo, Sebastião Soares de Resende – O Bispo que Abalou o Colonialismo em Moçambique. Jornal «Público», 17.6.2006 Correio da Feira, 24.7.1943; 28.1.1967: 4.2.1967; 18.2.1967; 4.3.1967 e 12.3.1982; Primeiro Centenário de Dom Sebastião Soares de Resende. Revista «Villa da Feira – Terra de Santa Maria», n.º 12, Fevereiro, 2006

REZENDE, Américo Soares de (1875 – 1913). Nasceu na freguesia de Sanfi ns em 29 de Abril de 1875. Era fi lho de António Joaquim de Rezende e de Maria Soares da Mota. Foi durante muitos anos ajudante do escrivão-notário, José Cândido Marques de Azevedo, destacando-se como actor amador e organizado e de festivais. Foi secretário do «Jornal da Feira», vereador da Câmara Municipal da Feira (1905 a 1910) e administrador do mesmo concelho em 1911. Faleceu a 10 de Outubro de 1913.

Bibliografi a Roberto Vaz de Oliveira, Imprensa Periódica da Vila e Concelho da Feira. Revista «Aveiro e o seu Distrito, n. 8, 1969.

REZENDE, José Leite de (? – ?). Nasceu na Freguesia de Guisande, Era fi lho de Manuel José Resende. Recebeu a ordem de presbítero, em 13 de Setembro de 1784. Foi pároco encomendado da Freguesia de Guisande em 15 de Abril de 1904, por motivo da retirada, por motivo de doença, do seu antecessor, padre António Domingues da Conceição.

e Colonização» (1945); «Ordem Comunista» (1948); «Ordem anti-comunista» (1949); «A Verdadeira Internacional» (1950); «Problemas de Educação em África» (1951); «Hora Decisiva de Moçambique» (1954); «Moçambique na Encruzilhada» (1959); e «Grandes Relativos Humanos em Moçambique» (1961). Deu início ao ensino secundário no norte e centro de Moçambique com a fundação do Instituto Liceal D. Gonçalo da Silveira, que entregou aos irmãos Maristas. Fundou o «Diário de Moçambique», que lhe traria alguns dissabores causados pelo regime de Salazar, que não permitia a divulgação e a defesa dos povos indígenas que ainda trabalhavam em autêntica escravidão, e a Rádio Pax. Foi um bispo crítico do colonialismo português e defendia o direito dos indígenas à propriedade sem limitações, estendendo as suas críticas ao apartheid da África do Sul. Estas críticas custariam ao bispo da Beira «vários remoques, perseguições e censuras do regime de Salazar». A revista «Villa da Feira – Terra de Santa Maria», n.º12, de Fevereiro de 2006 publicou depoimentos de «várias individualidades que privaram de perto com Dom Sebastião Soares de Resende ou viveram o excelente da sua Missão», que nos dão a dimensão humana e eclesial desta grande fi gura da Igreja. Ali se registam testemunhos de Dom Jaime Pedro Gonçalves, Arcebispo da Beira; Dom Eurico Dias Nogueira, Bispo de Vila Cabral, Moçambique; Dom Carlos Moreira de Azevedo, Bispo Auxiliar de Lisboa; Professor Doutor Adriano Moreira, antigo Ministro do Ultramar; Padre Manuel Leão, Presidente da Fundação Manuel Leão; Cónego Sebastião Brás, Director do Colégio de Ermesinde; Dr. Soares Martins, ex-Secretário de Dom Sebastião; Dr. David Simões Rodrigues, investigador; Alfredo Luz, Mestre pintor que desenhou o retrato de Dom Sebastião, que é o motivo da capa da referida revista e o Dr. Roberto Carlos, investigador. Dom Sebastião Soares de Resende faleceu em Moçambique em 25 de Janeiro de 1967. O «Correio da Feira» de 4 de Fevereiro de 1967 ao anunciar a sua morte e depois de traçar um breve bosquejo da sua biografi a, acrescentou; «O funeral de D. Sebastião, a que assistiram mais de trinta mil pessoas, foi a maior manifestação de pesar realizada na província da Beira. Nela tomaram parte todos os prelados e clero de Moçambique e de outra terras africanas. O Rádio Club de Moçambique dedicou a D. Sebastião vários programas. Falando ao microfone daquela estação emissora o bispo de Vila Cabral. Toda a província de Moçambique esteve de luto. Não foi apenas a Igreja que perdeu um invulgar apóstolo, mas a Pátria também. O comércio da

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Pinho Ribeiro, natural das Caldas de S. Jorge e de D. Inês Moreira Ribeiro, de Escariz; neto paterno de José Henriques Ribeiro e de D. Miquelina Alves Pereira, ambos da mesma freguesia, e materno de Manuel Gomes Moreira e de D. Maria Rosa Moreira, lavradores, proprietários e moradores no lugar de Alvite de Cima, Escariz. Com a idade de seis anos acompanha seus pais no regresso a Portugal e vem viver para as Caldas de S. Jorge. Faz a Escola Primária e os estudos secundários nos Carvalhos, matricula-se na escola Médico-Cirúrgica do Porto e forma-se em medicina, a 5 de Novembro de 1930. Casou, em 20 de Maio de 1942, com D. Maria Teresa de Jesus Gomes, fi lha de Manuel Maria Gomes. Comerciante no Porto, natural de S. Cipriano, Vila Nova de Cerveira e de D. Maria Cândida Wendel da Silva. Deste casamento há dois fi lhos: Maria Teresa e António. Exerceu a medicina na sua terra, tendo estado sempre «disponível para, desinteressadamente e com o verdadeiro espírito de missão, revelar todo o seu amor à terra e suas gentes». Ao longo de 45 anos, «foi assistindo as gentes de São Jorge, Lobão, Pigeiros, Guisande e Romariz». Foi um defensor intransigente da abertura das Termas, que se encontravam votadas ao abandono, tendo sido nomeado seu subdirector. Faleceu em 6 de Setembro de 1975. Em 6 de Setembro de 2009, foi-lhe prestada uma homenagem na sua terra, onde foi descerrado um busto em sua memória.

Bibliografi a António Ferreira, Homenagem ao Dr. Carlos —O Médico do Povo. Revista Villa da Feira — Terra de Santa Maria, n.º 24, Fevereiro de 2010; Correio da Feira, 27.9.1975; Eugénio dos Santos, Dr. Carlos Pinho Ribeiro. Revista Villa da Feira — Terra de Santa Maria, n.º 24, Fevereiro de 2010.

RIBEIRO, Francisco (? – ?). Vivia em 1764, segundo Carta de Familiar do Santo Ofício que lhe foi concedida nessa data e que a seguir se transcreve: «lavrador, natural de Campo, freg. de S. Nicolau da Vila da Feira; fi lho de António Ribeiro e de Joana de Oliveira, lavradores em Campo; neto paterno de Manuel Ribeiro, natural da Vila da Feira e de Rosa Leite, natural de Macieira, freg. de S. Miguel do Souto, Feira, morador em Farinheira, freg. de S. Nicolau da Vila da Feira, e materno de Manuel Lopes, natural do Campo e de Maria de Oliveira, natural de Pinheiro, freg. de S. Mamede

Bibliografi a António Ferreira Pinto, Defendei Vossas Terras – Monografi a de Guisande. Edição da Junta de Freguesia de Guisande, 1999.

RIBEIRA, Martim Moniz de (? – ?). Era fi lho de Maria Nunes de Grijó e do cavaleiro galego Monio Osores de Cabrera. Morreu em 1147 na tomada de Lisboa. «Os infanções da Terra de Santa Maria lutaram pela prossecução da guerra de fronteira e contribuíram ao mesmo tempo, pela expansão territorial do novo reino, sobretudo durante as décadas de 30 a 70 do século XII». Por isso, os encontramos, como é o caso de Martim Moniz, na defesa da linha de Lisboa e nas praças alentejanas.

Bibliografi a José Mattoso, O Castelo e a Feira (A Terra de Santa Maria nos séc. XI e XII). Editorial Estampa, 1989

RIBEIRO; Alexandre Coelho (? – ?). O Padre Alexandre Coelho Ribeiro era clérigo «in minoribus» e tesoureiro da igreja de Santiago de Rio Meão em 2 de Agosto de 1760. Nasceu no lugar da Pedra, freguesia de S. Martinho de Recesinhos, comarca de Penafi el. Era fi lho de Luís Lourenço, do lugar da Carreira, e de Teresa Ribeiro, naturais da dita freguesia de Recesinhos.

Bibliografi a David Simões Rodrigues, Rio Meão – a Terra e o Povo na História. Edição da Junta de Freguesia de Rio Meão, 2001.

RIBEIRO, Caetano Fernandes (? – ?). Natural do Padrão, foi pároco na freguesia do Souto. «Uma fatalidade da sua vida, constantemente agitada num século turbulento e assomadiço, levou-o a expiar uma pena grave em terras de África, onde faleceu há cerca de um século» (meados do século XIX).

Bibliografi a Jornal «Tradição», 8.8.1936

RIBEIRO, Carlos Pinto (? – 1975). RIBEIRO, Carlos Pinho (1905-1975). Nasceu no Rio de Janeiro, Brasil, em 7 de Junho de 1905. Era fi lho de António

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RIBEIRO, José Miranda (? – ?) Vivia em 1754, segundo Carta de Familiar do Santo Ofício que lhe concedida nessa data e que a seguir se transcreve:

«Alferes. Natural da Rechousa, freguesia de São João de Canelas, Gaia, morador em Minas Gerais de Mato Dentro, freguesia de São Miguel, comarca da vila de Sabará. Filho de António de Miranda Ribeiro, natural de Seara, freguesia de Santo André de Covelas, Baião, e de Isabel de Sá, natural do lugar de Aldeia, freguesia de S. Cipriano de Paços de Brandão. Neto paterno de António Ferreira, natural da dita Seara, e de Antónia da Matos, natural de Vilares, freguesia de São Bartolomeu de Campelo, Baião, e materno de João de Sá, natural do lugar do Outeiro, freguesia de Santiago de Rio Meão e de Cezília João, natural da dita Aldeia, Paços de Brandão. O pai do habilitando fora primeiramente casado com Ana Maria, fi lha de Manuel Alves e de Maria Manuel, de Vilar do Paraíso.

Carta de Familiar de 15 de Abril de 1754. A.N.T.T J- José. – m.73, n.º1094»

Bibliografi a David Simões Rodrigues, Rio Meão, a Terra e o Povo na História. Edição da Junta de Freguesia de Rio Meão, 2001

RIBEIRO, José da Silva (1850 – 1922). Nasceu na Vila da Feira em 8 de Maio de 1850. Era fi lho de Manuel da Silva Ribeiro e de D. Marcolina (ou Miquelina) de Freitas Apenceler Ribeiro; neto paterno de Manuel Ribeiro e de Custódia Moreira e materno de Joaquim Manuel de Freitas e de Clara Joana Apenceler. Foi o fundador do primeiro jornal da Vila da Feira, que se intitulava de «Jornal da Feira» e cujo primeiro número apareceu em 20 de Agosto de 1882.Foi um intemerato defensor da integridade do concelho, quando do seu desmembramento com a criação do concelho de Espinho em 1899. Pertenceu ao Partido Progressista, chefi ado no concelho pelo abade Manuel de Oliveira Costa, que era então presidente da Câmara da Feira (conhecido pelo abade Costa ou Abade de Arrifana, por ter paroquiado aquela freguesia). A ele se deve a «Miscelânea Musical» (1883-1884), continuado por «Eurico». Fundou e foi proprietário do «Diário de Anúncios» (1885) e montou «O Campeão da Feira» (1885) Era casado com D. Maria do Vale de Moura Ribeiro. Faleceu em Espinho, a 6 de Julho de 1922, em estado de decadência económica.

de Travanca, Feira, moradores em Campo; ajustado para casar, em 1769, com Antónia Rosa de Pinho, natural da Feira, freg. de S. Nicolau, fi la de Antão de Pinho e de Felícia Teresa, neta paterna de Manuel de Pinho e de Domingas Fernandes, todos naturais das Eiras, Feira. e materna de Domingos Henriques e de Teresa Ribeiro, naturais do Campo.

Carta de Familiar de 2 de Outubro de 1764. A.N.T.T. – Francisco – m. 97, n.º1599»

Bibliografi a Jorge Hugo Pires de Lima, O Distrito de Aveiro nas Habilitações do Santo Ofício. Revista «Arquivo do Distrito de Aveiro», n.º120 (Outubro, Novembro e Dezembro), 1964

RIBEIRO, Joaquim Pinto (? – 1969). Natural da freguesia de Argoncilhe, Feira, emigrou ainda novo ainda para o Brasil, onde foi um dos que mais trabalhou para a Fundação e Desenvolvimento da Casa das Terras de Santa Maria da Vila da Feira naquele país. Foi assíduo colaborador do «Correio da Feira» quando regressou do Brasil e fi xou residência em Espinho, onde faleceu em Outubro de 1969. Bibliografi a Correio da Feira, 11.10.1969

RIBEIRO, José Alves (1816 – 1825). Nasceu no lugar do Chão do Rio, Fiães. Foi sacerdote e fi xou residência na Sé, em S. Jorge. Faleceu ali em 1825.

Bibliografi a Padre Manuel Francisco de Sá, Santa Maria de Fiães da Terra da Feira. Casa Nun’Álvares, Porto, 1940.

RIBEIRO, José Leite (? – ?). Era natural do lugar de Fafi ão, Duas Igrejas, Romariz. Formou-se em Direito Canónico e Civil pela Universidade de Coimbra em 1776. Foi pároco de Duas Igrejas durante 5 anos (1774-1779).

Bibliografi a Padre Manuel Francisco de Sá, Breve Monografi a de Duas Igrejas do termo da Feira. Casa Nun’Álvares, Porto, 1936.

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Bibliografi a Roberto Vaz de Oliveira, Imprensa Periódica da Vila e Concelho da Feira. Revista «Aveiro e o seu Distrito», n.º 8, 1969.

RIBEIRO, Manuel Alves (1835 – 1899). Nasceu no lugar da Chousa de Cima, Fiães em 1835. Foi conhecido por Padre Sobela e foi capelão. Faleceu a 25 de Julho de 1899 com 64 anos de idade.

Bibliografi a Padre Manuel Francisco de Sá, Santa Maria de Fiães da Terra da Feira. Casa Nun’Álvares, Porto, 1940

RIBEIRO, Manuel Alves (1880 – 1967). Nasceu nos Vales, freguesia de Fiães, em 3 de Novembro de 1880. Era fi lho de José Alves Ribeiro e de Maria de Jesus. Ordenou-se padre, na Sé do Porto, em 2 de Agosto de 1903. Foi capelão da freguesia de S. Jorge, pároco em Lourosa e Maceda e, a partir de 1910, em Rio Meão, tendo aqui paroquiado até à sua morte, ocorrida a 28 de Janeiro de 1967.

Bibliografi a David Simões Rodrigues, Rio Meão, a Terra e o Povo na História. Edição de Junta de Freguesia de Rio Meão, 2001;Padre Manuel Francisco de Sá, Santa Maria de Fiães da Terra da Feira. Casa Nun’Álvares, Porto, 1940

RIFA, Bernardino José da Costa (? – 1887). Era natural de S. Cristóvão de Ovar. Foi boticário e o primeiro a estabelecer uma farmácia na Vila da Feira, pelo menos desde 1845, segundo uma acta da Câmara Municipal datada de 25 de Janeiro desse ano, na qual consta que os vereadores «deliberaram mais se passasse mandato de levantamento ao boticário Bernardino José da Costa desta vila da quantia de 480 reis importância de um remédio que subministrou da sua botica para o curativo de presos pobres das cadeias desta mesma vila por uma receita». Foi vulto importante na política local, tendo sustentado polémicas renhidas em correspondências e comunicados em periódicos de Aveiro e Porto. Era casado com D. Maria José Rodrigues da Graça, da qual teve um fi lho e três fi lhas, uma das quais, D. Henriqueta Rifa casou com o farmacêutico Joaquim Pinto

Bibliografi a Roberto Vaz de Oliveira, Imprensa Periódica da Vila e Concelho da Feira. Revista «Aveiro e o seu Distrito», n.º 8, 1969

RIBEIRO, Manuel Alves (? – 1967). Nasceu no lugar dos Vales, na Freguesia de Fiães. Era fi lho de José Alves Ribeiro e de Maria de Jesus. Ordenou-se na Sé do Porto em 2 de Agosto de 1903. Foi capelão da Freguesia de S. Jorge, pároco em Lourosa e Rio Meão, onde fez o primeiro baptizado em 24 de Abril de 1910. Tinha ido substituir o padre Augusto de Oliveira Pinto. Paroquiou Rio Meão até à sua morte, ocorrida em 28 de Janeiro de 1967.

Bibliografi a David Simões Rodrigues, Rio Meão – A Terra e o Povo na História. Edição da Junta de Freguesia de Rio Meão, 2001

RIBEIRO, Matias da Silva (? – ?). Era abade de Paços de Brandão em 1697, pois foi procurador do Dr. Manuel Gouveia e Figueiredo, Cavaleiro da Ordem de Cristo, no baptizado de Jacinto Luís de Azevedo, da Quinta dos Azevedos, em Alpoços, Rio Meão, em 1 de Maio de 1697.

Bibliografi a David Simões Rodrigues, Rio Meão – A Terra e o Povo na História. Edição da Junta de Freguesia de Rio Meão;Padre Joaquim Correia da Rocha, Recordar 900 Anos de Paços de Brandão. Edição da Junta de Freguesia de Paços de Brandão, 1995

RIBEIRO, Vergílio Apesenter (1881 – 1939). Nasceu na Vila da Feira em 6 de Dezembro de 1881. Era fi lho de José da Silva Ribeiro e de D. Maria de Vale Pinto de Moura, casado com D. Alice Carmina de Sousa Lima de Azevedo Sanhudo Mendonça de Vasconcelos Ribeiro. Foi director dos jornais «O Brinco» fundado em fi ns de 1907 ou princípios de 1908 e «O Informador» na Vila da Feira e deu início ao «Notícias da Feira». Depois foi para Cortegaça, onde montou uma tipografi a e mais tarde para Viana do Castelo, onde casou, e Marinha Grande. Do seu casamento houve dois fi lhos: Mário Vergílio Apesenter Ribeiro e A. Vasconcelos Ribeiro. Faleceu em Coimbra a 8 de Novembro de 1939.

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onde permaneceu até ao fi m da 4:ª sessão legislativa (1960-1961), não subscreveu ou relatou qualquer parecer».

Bibliografi a Manuel Braga da Cruz e António Costa Pinto, Dicionário Biográfi co Parlamentar, 1935-1974, Vol. II (M – Z), 2005

ROCHA, João de Sá da (? – 1809). Natural da freguesia de Anta (hoje do concelho de Espinho), o Padre João de Sá da Rocha foi morto pelos franceses, a 11 de Maio de 1809, por não lhes revelar a confi ssão de um tal Catafula, «indivíduo de má fama e piores acções», natural de Olivães, Nogueira da Regedoura e que tinha morto três soldados franceses. Por tal motivo, o padre João da Rocha foi arcabuzado e pendurado com outras vítimas, entre as quais, seu irmão Manuel e o próprio Catafula, no Pinheiro das Sete Cruzes, entre a Vergada e o Picoto, na estrada nacional, n.º 1. O padre Rocha era capelão do convento de Monchique, Porto, e nessa data encontrava-se em Anta, sua terra natal. Mais tarde uma sua sobrinha, de nome Francisca Alves de Sá, do lugar da Idanha, Anta, mandou construir, junto do Pinheiro, uma capelinha em cujo retábulo mandou gravar as seguintes palavras: «Aqui foram mortos pelos franceses, a 11 de Maio de 1809, o venerando Padre João de Sá Rocha, seu irmão Manuel e outros, nascidos no lugar de Esmojães, freguesia de Anta».

Bibliografi a Orlando Silva, O Pinheiro das Sete Cruzes da Vergada – Um Padre digno da sotaina que vestia. Revista Villa da Feira, n.º4, ano II, Junho, 2003

ROCHA, Joaquim Alves da (1869 – 1947). Nasceu em Paços de Brandão em 1869. Era fi lho de Manual Alves da Rocha e de D. Francisca de Jesus; sobrinho de Francisco Alves da Rocha 81810-1889), feitor da Casa da Portela e co-fundador da Tuna estudantina em 1870, que lhe incutiu o gosto pela música, ensinou-lhe a tocar violino e tornou-o contramestre em 1880, sucedendo a seu tio na regência da mesma. Foi maestro e compositor da Tuna Estudantina. Foi fabricante de pandas e de biões de cortiça, juntamente com o seu grande amigo e parente, Joaquim Macedo. Fundou a Academia da Praça em 1895, onde ensinou

de Araújo, que à morte do sogro tomou de trespasse a sua farmácia em 1887. Faleceu em 1 de Fevereiro de 1887.

Bibliografi a António Lamoso Regal de Castro, Factos e Personalidades da Feira e do Concelho – 1917 a 1950. Edição do autor, 1991

RIOS, Joaquim de Sousa (? – ?). Natural da freguesia de Mozelos, Feira. Concluiu a sua formatura na Faculdade de Farmácia do Porto, em Maio de 1939. Foi proprietário da Farmácia Santos, na rua 19, em Espinho.

Bibliografi a Jornal «Tradição», 20.5 1939

ROCHA, Aleixo (? – 1623). Natural de Pigeiros, foi padre em Lobão de 1621 a 31 de Março de 1623, dia do seu falecimento. A herdeira foi sua mãe e foi sepultado na sua terra.

Bibliografi a Padre Domingos Moreira, Nótulas Históricas Sobre Pigeiros (Feira), Separata do «Arquivo do Distrito de Aveiro», vol XXXVIII, 1972

ROCHA, Bernardino Francisco da (1920 – ?). Nasceu a 4 de Março de 1920 em S. Paio de Oleiros, Feira. Era fi lho de António Francisco da Rocha e de D. Guilhermina da Costa Ferreira. Frequentou a escola primária e mais tarde empregou-se como papeleiro. Desempenhou as funções e a de presidente da direcção do Sindicato dos Operários Manufactores de Papel e Ofícios Correlativos do Distrito de Aveiro e de secretário do Sindicato do Papeleiros do Distrito de Aveiro. Vem mencionado no «Dicionário Biográfi co Parlamentar da direcção de Manuel Braga da Cruz e António Costa Pinto 1935-1974, Vol II (M – Z)», com verbete assinado por Ana Filipa Silva e que diz o seguinte: «Em 25 de Novembro de 1957 foi admitido como procurador à VII Legislatura (1957-1961), integrando a IX Secção (Imprensa, Artes Gráfi cas e Indústria do Papel), na qualidade de representante do trabalho das indústrias de papel e cartonagem, pelo sindicato nacional de que era presidente da direcção. Nesta função,

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Bibliografi a Correio da Feira, 8.2.1985

ROCHA, Ricardo Alves Ferreira da ou Ricardo Álvares da Rocha ou Ricardo Ferreira (? – 1769). Morava no lugar de Ribas, Rio Meão, onde terá nascido. Era fi lho de António Álvares Ferreira e de Rosa da Rocha Ferreira, ele de Rio Meão e ela de Santiago de Lobão; neto paterno de Pedro Fernandes, de S. João de Ver e de Marta Fernandes de Rio Meão. Neto materno de Paulo Coelho de S. Nicolau da Feira e de Domingas Francisca, de Santiago de Lobão. Em 28 de Abril de 1722, era estudante do Seminário diocesano e requereu admissão ao estado clerical. Em 5 de Agosto do mesmo ano requereu Ordens Menores e, em 3 e 4 de Setembro de 1726, fez exame de cantochão, tendo sido aprovado para a ordem de Epístola (Subdiácono). O início do processo de inquirição para subdiácono deu-se em 27 de Agosto de 1726, em casa do abade de Esmoriz, D. Bento da Assunção Pimenta, e foi confi rmado pelo bispo de Tui, D. Fernando, em 21 de Setembro de 1726. Um ano mais tarde, a 28 de Agosto de 1727, foi diácono. Em 20 de Agosto de 1759, foi cura de Rio Meão. Faleceu no lugar das Ribas, em 10 de Outubro de 1769.

Bibliografi a David Simões Rodrigues, Rio Meão – A Terra e o Povo na História. Edição da Junta de Freguesia de Rio Meão, 2001

ROCHA, Tomé da (? – ?). Comprou o solar e quinta do Pereira, em Pigeiros, a D. Isabel de Andrade, viúva de António Pereira, senhor do Paço do Ribeiro da mesma freguesia e descendente da Casa da Feira, e instituiu morgadio, em 1569, com a cláusula de que o administrador dele tomasse o nome de «Rocha», sob pena de o perderem, e passar a outro parente próximo, que tivesse esse apelido. Através dos anos foram entroncando nesta família, devido a casamentos, outros apelidos – Távoras, Pintos, Corte Reais, Colmieiros, Coutinhos de Almeida, d’Eça. Mas foi sempre mantido o de «Rocha». Em 1940, a representante dos Rochas e morgada, era D. Antónia da Rocha Colmieiro Corte Real, de 86 anos de idade e moradora em Esgueira, Aveiro. Os padroados viriam a ser extintos pela lei de 5 de Agosto de 1833.

todos os executantes que passaram pelas tunas futuras, até ao ano de 1908. Por razões políticas e musicais entrou em confl ito com os seus amigos Joaquim Macedo e Francisco Oliveira Leite 8Chico da Ferreira), acabou com a Estudantina e fundou a Nova Tuna de Paços de Brandão, de que foi maestro de 1910 a 1926.Foi ainda maestro da Tuna Cortegacense de 1916 a 1920 e actuou ainda nas Tunas de Mozelos, Grijó e Anta. Não possuía formação musical, mas foi sem dúvida o maior compositor de Paços de Brandão. Faleceu em 1947.

Bibliografi a Informação fornecida pelo Sr. Eduardo Rocha, actual correspondente do «Correio da Feira» em Paços de Brandão

ROCHA, José Gomes da (? – ?). Foi pároco de Paços de Brandão de 1957 a 1961. Antes tinha sido pároco de Vilar do Paraíso. Foi um bom zelador da igreja de Paços de Brandão: embelezou o seu interior com anjos tocheiros, via-sacra em relevo e imagem do Milagroso Menino Jesus de Praga; no exterior, calcetou todo o adro, ajardinou em frente da residência paroquial, com uma pérgula e uma gruta dedicada a N.ª Sr.ª de Lourdes e ergueu um monumento ao Sagrado Coração de Jesus, cuja base era a antiga Pia Baptismal. Colaborou no desenvolvimento da Tuna e do Grupo Desportivo, tendo sido no seu tempo que se adquiriu o terreno para o campo de futebol «D. Zulmira Dias».

Bibliografi a Padre Antero Gomes da Silva, Apontamentos sobre Paços de Brandão

ROCHA, Manuel José da (1898 – 1985). Nasceu na freguesia de Travanca em 1898. Foi muito novo para o Brasil, onde se estabeleceu como comerciante no Rio de Janeiro. Aqui fez parte de várias instituições portuguesas, entre as quais, a Casa da Vila da Feira e Terras de Santa Maris, da qual era conselheiro e sócio benemérito da Federação das Associações Portuguesas Luso-Brasileiras. Era casado com D. Dorinda Pinto da Rocha de quem teve Amadeu Pinto da Rocha, que foi advogado no Brasil. Faleceu a 1 de Fevereiro de 1985, no Hospital da Casa de Portugal do Rio de Janeiro, com 87 anos e fi cou sepultado no cemitério de Irajá, Rio de Janeiro.

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Bibliografi a Jorge Hugo Pires de Lima, O Distrito de Aveiro nas Habilitações do Santo Ofício. Revista «Arquivo do Distrito d Aveiro, nº.149 (Janeiro, Fevereiro e Março, 1972.

RODRIGUES, José Francisco (? – ?). Vivia em 1773, segundo Carta de Familiar do Santo Ofício que lhe foi concedida nessa data e que a seguir se transcreve: «em 1773, quando recebe carta de Familiar do Santo Ofício, é mercador com loja no Cais da Farinha da cidade da Baia, Brasil. Mas era natural do Carvalhal. Maceda, Ovar. Filho de José Francisco Rodrigues e de Maria Pinta de Magalhães, naturais ele do dito Carvalhal e ela do rego de Baixo, da dita freguesia de Maceda e residentes no Carvalhal. Neto paterno de José Francisco e de Isabel André, naturais do dito Carvalhal onde residem. Materno de Manuel Francisco, da Eira Velha, e de Antónia Pinta, natural do Rego de Baixo, de Maceda onde residem, no dito Rego de Baixo. Com ascendentes em Rio Meão.

Carta de Familiar de 1773. A.N.T.T. – José – m. 138, n.º2763»

Bibliografi a David Simões Rodrigues, Rio Meão, a Terra e o Povo na História. Edição da Junta de Freguesia de Rio Meão, 2001

RODRIGUES, Manuel Agostinho da Cruz (? – ?). Foi pároco da Freguesia de Guisande. Era natural da Freguesia da Vitória, presbítero secularizado dos Eremitas Calçados de Stº Agostinho. Tinha sido pároco de Escariz, também do padroado de S. Bento. Logo no dia 28 de Março foi apresentado pela Abadessa D. Juliana Isabel Garcia, sendo escrivã do mosteiro D. Antónia Augusta Pinto da Cunha.

Faleceu em 5 de Dezembro de 1851

Bibliografi a António Ferreira Pinto, Defendei as Vossas Terras – Monografi a de Guisande. Edição da Junta de Freguesia de Guisande, 1999

RODRIGUES, Manuel Álvares (? – ?). Vivia em 1733, segunda Carta de Familiar do Santo

Bibliografi a Jacob da Azenha, A Freguesia de Santa Maria de Pigeiros. «Correio da Feira», 29.9.1962;P.e José Inácio da Costa e Silva, «Santa Maria de Pigeiros», jornal «Tradição», número especial das Comemorações dos Centenários, Setembro, 1940.

RODRIGO, Afonso (? – ?). Cónego da Sé do Porto, foi nomeado pároco de Guisande, permutando com o pároco anterior, Padre João de Araújo, em 1 de Fevereiro de 1510.

Bibliografi a António Ferreira Pinto, Defendei Vossas Terras – Monografi a de Guisande. Edição da Junta de Freguesia de Guisande, 1999

RODRIGUES, Leandro Gomes (? – ?). Vivia em 1654 segundo Carta de Familiar do Santo Ofício que lhe foi concedida nessa data e que a seguir se transcreve: «homem de negócios; natural da freg. de Stª. Maria de Lamas, Feira, e morador na cidade da Baía na rua do Cais do Dourado, freg. do Sacramento de Nº. Srª. do Pilar; fi lho de Simão Gomes e de Maria Gomes, naturais e moradores em Lamas; neto paterno de Domingos Fernandes, o «Volato», natural de Cardielos, freg. de Santiago de Rio Meão, Feira, e de Isabel Gomes, natural de Moure, Lamas, e materno de Domingos Gomes, o «Corcova», natural de Moure, e de Maria Fernandes, natural de Regaladas, freg. de S. Martinho de Mozelos, Feira; casado mais tarde, em 1764, com Antónia Freire de Sousa, natural da freg. de Vera Cruz, termo da cidade da Baía, e de Teodora Pereira de Sousa, natural da citada freg. de Vera Cruz e aí moradores, neta paterna de Filipe de Orleães, natural da mesma freguesia de S. Pedro, e de Maria da Conceição, natural da freguesia de Nª. Sr.ª. Da Conceição da Praia da Baía, e materna do alferes António Pereira de Pina, natural de Caminha, e de Antónia de Sousa Lobata, natural da freg. de Vera Cruz de Itaparica.

Carta Familiar de 12 de Fevereiro de 1654. Leandro – m. 2, nº. 15»

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Ofício que lhe foi concedida nessa data e que a seguir se transcreve: «homem de negócio; natural de Choupelo, freg. de St.º Isidoro de Romariz, Feira, e morador em Lisboa na rua dos Mercadores, freg. de N.ª Srª da Conceição da Rua Nova; fi lho de Domingos Rodrigues, natural de Choupelo, Romariz e de Catarina Francisca, natural de Monte Calvo, Romariz, moradores em Choupelo; neto paterno de António Rodrigues, natural de Romariz e de Maria Fernandes, natural de Choupelo e aí moradores, e materno de Pedro Francisco Álvares, natural de Monte Calvo, e de Jerónima Fernandes, natural de Vila Nova, Romariz, moradores em Monte Calvo, todos lavradores.Carta de Familiar de 1 de Setembro de 1733. A.N.T.T. – m. 102, n.º1892»

Bibliografi a Jorge Hugo Pires de Lima, O Distrito de Aveiro nas Habilitações do Santo Ofício. Revista «Arquivo do Distrito de Aveiro», n.º 153 (Janeiro, Fevereiro e Março), 1973

RODRIGUES, Manuel Cunha (1933 – 2007). Natural de Valença, onde nasceu a 29 de Agosto, radicou-se em Santa Maria da Feira em 1967, como gerente do Banco Pinto de Magalhães. Casado com D. Branca Barros da Silva Morgado e pai de Paulo Alexandre Morgado Rodrigues.Licenciou-se em Direito, tendo-se dedicado à advocacia depois de sair do Banco. Foi eleito Deputado à Assembleia Constituinte em 25 de Abril de 1975. Foi vereador nas Câmaras Municipais de Santa Maria da Feira e Valença e presidente da Assembleia Municipal de Valença. Foi presidente da direcção do Clube Desportivo Feirense, (1973/75). Presidente da Assembleia Geral da Associação do Grupo de Danças e Cantares Regionais da Feira. Faleceu em 12 de Fevereiro e foi sepultado na sua terra, Friestas, concelho de Valença.

Bibliografi a Correio da Feira

RODRIGUES, Manuel Caetano (1908 – 1993). Nasceu na freguesia de Rio Meão em 8 de Janeiro de 1908. Emigrou para o Brasil muito novo e estabeleceu-se no

Rio de Janeiro. Era casado com D. Angelina Rodrigues, foi autor de um apreciado livro de poemas com o título «Rústicos Madrigais, publicado em 1991. Faleceu no Rio de Janeiro em 12 de Fevereiro de 1993, com 85 anos de idade.

Bibliografi a Correio da Feira, 19.2.1993

ROSÁRIO, Baltasar Pereira (? – ?). Vivia em1707, segundo as diligências aprovadas para concessão de Carta de Familiar do Santo Ofício por ele requerida e que a seguir se transcreve: «natural da freg. de Paços de Brandão, Feira; fi lho natural do P.e António Pereira de Sampaio, natural de Sampaio da Portela, Penafi el, e de Isabel Fernandes, natural de Paços de Brandão; neto paterno de Baltasar Gonçalves e de Filipa Lopes, do lugar do Barreiro, Sampaio da Portela, concelho de Penafi el, e materno de Manuel Fernandes, natural de S. João de Ver, Feira, e de Margarida Gonçalves, natural de Paços de Brandão; casado com Isabel Coelho, natural de Moselos, Feira, fi lha de Simão Rodrigues, de Lavandeira, freg. de S. João de Ver, neta paterna de Simão Rodrigues, do lugar de Vilar, freg. de Moselos, e de Isabel João, de Oleiros, Feira, e materna de Domingos Fernandes, de Lavandeira, e de Maria Coelho, de Pousadela, freg. de Nogueira, Feira.1707. Foram aprovadas as diligências, mas não consta a data da concessão da respectiva Carta de Familiar.A.N.T.T. – Baltasar – m.5, n.º89»

Bibliografi a Jorge Hugo Pires de Lima, O Distrito de Aveiro nas Habilitações do Santo Ofício. Revista «Arquivo do Distrito de Aveiro» n.º101 (Janeiro, Fevereiro e Março), 1960.

ROSAS, Joaquim Eduardo Pereira (1844 – 1914?). Nasceu em Paços de Brandão em 6 de Janeiro de 1844. Foi funcionário dos Caminhos- de Ferro-Portugueses de 1864 a 1876, tendo ali exercido o cargo de telegrafi sta na estação ferroviária de Vila Nova de Gaia. Em 1876, foi nomeado escrivão do Julgado de Paz de Paços de Brandão, presidido por João de Azevedo Aguiar Brandão, da casa do Engenho Novo da mesma freguesia. À sua morte, em Outubro de 1914, sucedeu-lhe seu fi lho, Augusto Rosas no Julgado de Paz de Paços de Brandão.

Bibliografi a Correio da Feira, 30.10.1914; 31.10.1964

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Creio que a amizade vale a pena

e é mais forte que o amor material.

Gera afectos, empatias, suportes,

tolerância, bem-estar, compreensão.

Cria desejo de ser melhor,

acende a luz interior

e apaga a noite da solidão.

AmizadeMaria Gracinda Coelho de Sousa*

Do livro Poesia meu Amor *Poeta. Escritora. Autora de vários livros, em especial para a infância.

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Exmo. Sr. Dr. Alfredo Oliveira Henriques, Ilustre Presidente da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira

Exmo. Sr. Dom Manuel da Silva Martins

Exmo. Sr. Prof. Dr. Eugénio dos Santos

Exmo. Sr. Dr. Manuel de Lima Bastos, caro amigo.

Minhas senhoras e meus senhores Gostaria de apresentar os meus cumprimentos a tão distintas personalidades e agradecer ao Dr. Manuel de Lima Bastos por querer associar Sernancelhe, a terra natal do Mestre Aquilino Ribeiro, a esta cerimónia de apresentação da obra “No Esplendor da Sombra de Mestre Aquilino”, em Fiães, Santa Maria da Feira, a sua terra natal. Faz agora três anos que tive a honra de conhecer pessoalmente o Dr. Lima Bastos. Foi em Sernancelhe, durante uma das suas muitas visitas que faz à terra de nascença e de

inspiração do Mestre Aquilino Ribeiro. Conheci, então, uma pessoa que há muito desejava conhecer, depois de ter tido o grato prazer de ler o seu primeiro livro dedicado a Aquilino Ribeiro, “À Sombra de Mestre Aquilino”, e que viria a merecer o justíssimo Prémio Literário da Ordem dos Advogados. Confesso que ler este livro de Manuel de Lima Bastos foi um prazer inesperado. A linguagem ritmada e muito atrativa, o conhecimento das nossas gentes, terras e paisagens, a vivência e saber etnográfi co, a consciência social e comunitária, e o profundo conhecimento da obra de Aquilino Ribeiro revelaram-me um Manuel de Lima Bastos que eu tinha de conhecer e que Sernancelhe não se podia dar ao luxo de não conhecer e acarinhar. Manuel de Lima Bastos, apesar de indomável feirense, é, pelo seu conhecimento e encantamento pelo planalto beirão onde pousa a Lapa e o Carregal de Aquilino Ribeiro, um sernancelhense que a todos orgulha. Escuteiro incansável na divulgação da obra de Aquilino Ribeiro, o Dr. Lima Bastos tem sido, sem falsas modéstias, o maior divulgador da obra de Aquilino Ribeiro dos últimos anos. Graças à qualidade e atratividade das suas obras literárias Aquilino ganhou novos admiradores, novos leitores, novos investigadores e, muito provavelmente, novos espaços de discussão e debate. Esta cerimónia aqui hoje é prova disso mesmo. Pela mão de Manuel de Lima Bastos, Aquilino Ribeiro traz-nos a Santa Maria da Feira. Por iniciativa de Manuel de Lima Bastos, o

Na apresentação do livro“No esplendor da Sombra de Mestre Aquilino”

em Fiães**

José Mário de Almeida Cardoso*

*Presidente da Câmara de Sernancelhe.** Cerimónia que teve lugar na Residence Sénior, Fiães.

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país ganhou obras preciosas para a compreensão e admiração do Mestre Aquilino como são os casos de “À Sombra de Mester Aquilino”, “Na luz da Sombra de Mestre Aquilino”, “De novo à Sombra de Mestre Aquilino” e, mais recentemente, “No Esplendor da Sombra de Mestre Aquilino”, que hoje está também a ser aqui apresentado. Permitam-se destacar uma destas obras em particular: “De novo à Sombra de Mestre Aquilino”, não só pela sua qualidade mas também pelas impagáveis viagens em que nos conduz pelas imensas Terras do Demo. Sernancelhe teve o privilégio de conhecer roteiros aquilinianos inéditos de cerca de cinquenta páginas, em que Lima Bastos descobriu e descreveu lugares pouco conhecidos que Aquilino Ribeiro tinha afl orado nas suas obras literárias: episódios como a relação com o amigo Mota de Freixinho e a construção da barragem, as pás estáticas do Moinho de Vento de Lamosa, a importância da castanha-pão, o engenho das recolhidas do Convento de Nossa Senhora da Assunção de Tabosa para resistirem às invasões napoleónicas… enfi m, uma riqueza e uma beleza literárias que prendem os leitores e convidam-nos a conhecer os locais “pintados” por Lima Bastos. Como que guiados pela mão invisível do Mestre, vamos aos lugares onde aconteceram os episódios fascinantes; leva-nos a admirar as paisagens, a simplicidade das gentes, a diversidade e a riqueza patrimonial das aldeias, a sentir e a viver os lugares e a experimentar cheiros e sabores. Sernancelhe torna-se um território transparente no percurso das páginas dos seus livros. É notável! Mas não queria deixar de me referir a esta obra “No Esplendor da sombra de Mester Aquilino”. Quis o Dr. Lima Bastos cometer o exagero de me dedicar esta obra, subindo-me ao patamar de tão ilustre fi gura nacional como é o Dr. Miguel Veiga. Agradeço a distinção e aceito-a sabendo que a fez por reconhecimento ao pouco que Sernancelhe tem podido fazer para valorizar e divulgar Aquilino Ribeiro ao longo das últimas duas décadas. Com efeito, esta obra traz também um depoimento precioso, que a história se encarregará de elevar à sua real dimensão: falo dos textos inéditos da autoria do Sr. Engº Aquilino Ribeiro Machado, fi lho do escritor, cuja amizade para com Sernancelhe muito prezamos. Também ele, do alto do seu incansável saber aquiliniano, viu no Dr. Lima Bastos marcas literárias de traço similar às de seu pai. Disse-o em Sernancelhe e reiteradamente o manifesta sempre que o motivo é o

Dr. Lima Bastos. Por isso, cedeu-lhe, para publicação neste livro, escritos únicos, preciosos e de grande qualidade, que o autor mostra agora aos novos leitores aquilinianos. Permita-me, pois, Dr. Lima Bastos, que me detenha numa frase retirada do posfácio deste livro, em que diz, a propósito de esta não ser última obra dedicada a Aquilino Ribeiro: “No mais há que esperar para ver se o sonho alcança a concretização. Se não for o último livrinho sobre Aquilino Ribeiro, por certo será o penúltimo. Ou o antepenúltimo, nestas coisas nunca se sabe, e quem se atreverá a jurar em contrário…?” Da minha parte desejo que se concretize outra frase deste seu livro: “rodeado pelos seus livros (de Aquilino), esparsos e abertos à minha volta, senti que era a sua mão que conduzia a minha quando procurava uma página, muitas vezes sem saber bem o que procurava”. Aquilino Ribeiro vai continuar a iluminá-lo com o esplendor da sua sombra, e a sua mão vai continuar a ser conduzida pelo Mestre, tal e qual como se o Dr. Lima Bastos fosse seu discípulo.

Obrigado.

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com a Medalha Municipal de Mérito, de Ouro,

galardão que lhe foi entregue na sessão solene comemorativa do 25 de Abril de 1974.

Dr. Manuel de Lima Bastos

Distinguido pelo Município de Sernancelhe

Anverso e reverso da medalha.

Dr. Manuel de Lima Bastos após a cerimónia.

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Adélia Sobral, Presidente da Assembleia Municipal. sublinhou que o 25 de Abril é uma data “Que merece ser sempre recordada, porque signifi ca a restituição a Portugal da sua identidade histórica.”

José Mário Cardoso, Presidente da Câmara Municipal, sublinhando as presenças de Dom Manuel da Silva Martins, Prof. Eugénio dos Santos e Dr. Marinho e Pinto, disse: “ Graças à vossa intervenção cívica é a voz do povo que se ouve, tal e qual preconizava o 25 de Abril de 74.”

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Manuel de Lima Bastos agradeceu, em especial, ao Bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho e Pinto, a Dom Manuel da Silva Martins, Bispo Emérito de Setúbal, ao Professor Doutor Eugénio dos Santos e a Emídio Sousa, Vice-Presidente da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, por se associarem à cerimónia. “Na idade em que me encontro julgo que ainda tenho juízo sufi ciente para distinguir a mensagem do mensageiro”, disse Lima Bastos, acrescentando: “A mensagem é a obra esplendorosa de Mestre Aquilino Ribeiro; o mensageiro sou eu”. Logo depois justifi cou: “Além do dia que hoje celebramos, das liberdades democráticas, celebramos com esta medalha que me atribuíram a obra de Mestre Aquilino Ribeiro e a sua mensagem cívica que foi o seu percurso por este Mundo”. A concluir disse: “Não preciso de renegar as minhas origens feirenses, das quais muito me orgulho, para ser reconhecido como cidadão honorário de Sernancelhe e das Terras do Demo. Isto porque, como é o caso, não é preciso expulsar da inteligência e do coração um amigo para deixar entrar outro. Cabem lá todos”.

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151Camões entre o antes e o depois

Maria da Conceição Vilhena*

Camões, designado geralmente pelo ÉPICO, é afi nal tão grande poeta no domínio da epopeia como o é no domínio da lírica. A sua obra é multifacetada, elaborada sobre uma vida pessoal rica de experiências, como ele próprio afi rma: Nem me falta na vida honesto estudo Com longa experiência misturado. É que o humanista é simultaneamente o desordeiro que conheceu a prisão, o soldado, o viajante, a alma apaixonada tanto pela beleza feminina como pela cultura do seu tempo. Cultura Literária que é rica e variada, que tanto segue na linha da tradição como inova, seguindo modelos italianizantes. A propósito da tradição, podemos afi rmar que Camões foi um apreciador da poesia trovadoresca. Para ele, como para os trovadores, sobretudo provençais, a mulher amada é fonte de virtudes; ela tem até o condão de tornar quente a neve, de conciliar os inimigos, de dar saúde aos doentes. Se o trovador faz belas poesias, é da mulher amada que recebe inspiração e saber. Como as donas provençais, assim Beatriz conduz Dante ao paraíso; e Laura, mesmo depois de morta, é a grande inspiradora de Petrarca.

Como a amada do trovador, como Beatriz, como Laura, assim também a apaixonada de Camões o leva à sua produção lírica. Camões é um servidor do amor, como nos confessa, por exemplo, no soneto “Sete anos de pastor Jacob servia”… Temos portanto, em Camões, além do poema épico e das peças de teatro, uma poesia lírica confessional, italianizante, composta por odes, sonetos, canções…e igualmente uma poesia mais popular e menos intimista, mas não menos bela ou literariamente menos válida. É a propósito desta poesia que A. José Saraiva considera Camões como “um subtil ourives de composições delicadas e gráceis, discretamente preciosas, fabricadas com o ouro dos cabelos e do sol, com o verde dos campos e dos olhos, o resplandecimento dos olhares e das águas…” (Inic. na Lit. Port. P.53). São redondilhas de cariz local, que mantêm a sua graciosidade até aos nossos dias, como a tão conhecida “Descalça vai para a fonte Leonor pela verdura.” Se Camões foi o melhor poeta português da escola petrarquista, ele o foi igualmente na prática da redondilha e do mote glosado. É, pois, um continuador da nossa poesia trovadoresca, extinta havia perto de dois séculos, daquela poesia tradicional que agora havia deixado de ser a cantiga de amigo e de amor para surgir com a designação de quintilha, vilancete, cantiga de mote, etc., tanto em redondilha maior como em menor. E é precisamente uma redondilha menor a poesia que até hoje deve ter conhecido maior número de traduções.

* Licenciada em Filologia Românica, pela Faculdade de Letras de Lisboa, 1965. Doutoramento de Estado ès-Lettres, pela Sorbonne, Paris, 1975; Professora Catedrática. Leccionou na Universidade de Aix-en-Provence, França; na Universidade dos Açores; na Universidade Aberta de Lisboa e na Universidade da Ásia Oriental, em Macau. Tem publicado perto de cento e cinquenta trabalhos (livros e artigos) sobre literatura, linguística, etnografi a e história. Actualmente é aposentada e Presidente Honorária e Vitalícia da Associação de Solidariedade dos Professores.

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Referimo-nos às Endechas à Bárbara Escrava, que Xavier da Cunha, então director da Biblioteca Nacional de Lisboa, fez traduzir em varias línguas e publicou num enorme volume de 851 páginas, a que deu o título de Pretidão de Amor….De entre essas línguas citaremos: crioulo de Cabo Verde, guarani, n’bundo, hebreu, latim, romance, boémio, húngaro, polaco, russo, fi nlandês, sueco, norueguês, irlandês, islandês, escossês, gaélico, inglês, holandês, fl amengo, Wallon, genovês, sardo, milanês, siciliano, galego, castelhano, alemão, francês, provençal….

Mas venhamos de novo aos trovadores; estes não cantavam apenas a mulher; outros temas, irónicos ou satíricos, políticos ou fi losófi cos, religiosos ou moralistas, mereciam os dotes da sua inspiração. Temas refl exivos sobre as contradições da vida, sobre a instabilidade do bem ou a pertinácia do mal. Ora também em Camões vamos encontrar uma abundante variedade temática, sobretudo em relação com as contradições e males que advêm da mudança. Foi, pois, este o tema que escolhemos para o nosso trabalho, e que é o resultado de uma refl exão a partir da leitura do tão conhecido soneto de Camões Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, (Rimas, 1973, soneto 92) em confronto com a cantiga de amigo de Joan Ayras, Todalas cousas eu vejo partir/do mod’en como soíam seer (CV500 e CB 963)1

2. Em todas as concepções do mundo de teor idealista e anti-realista, há o sentimento da desilusão da experiência sensível. Perante a mudança, o homem é chamado à refl exão sobre o carácter ilusório das riquezas terrenas, que são disfarce e sedução mentirosa.

A transitoriedade repugna ao crente; por isso detesta tudo o que é moda e vive preso à tradição. Todavia, é pela morte que se alcança a vida eterna. Se mudança constante é para o cristão uma causa de instabilidade, ela é também necessária para atingir a estabilidade permanente. É pelos contrários, pois, que se consegue a harmonia. A Igreja prega o desapego aos bens terrenos: toda a carne é podridão, está-se num mundo de passagem, a morte espreita-nos. O supremo Juiz tem a espada levantada. A riqueza material é perigosa. O

mundo é mudança: “Uma geração passa, outra lhe sucede: mas a terra subsiste sempre”. O sol nasce e põe-se e apressa-se a voltar ao seu lugar, donde volta a nascer. O vento vai em direcção ao sul, depois declina para o norte; gira, torna a girar continuamente e recomeça as suas idas e vindas”, assim canta o Eclesiastes (I, 4-6). As coisas boas, como a saúde e o repouso, só são possíveis se se reconhecem os seus contrários: a doença e a fadiga: se subida implica descida, o caminho que se sobe é o mesmo que se desce, essencialmente ligados como o dia e a noite. É esta reacção equilibrada dos contrários que leva à unidade das coisas. Assim, só pode haver equilíbrio no Cosmos se a mudança numa direcção conduzir eventualmente à mudança na outra. A antítese e o paradoxo são conaturais à visão cristã do mundo, em que tudo é oposição: corpo-espirito, céu-terra, deus-diabo, santidade-pecado, céu-inferno. Cristo disse: “Quem quiser ganhar a sua alma, perdê-la-á”; e “os últimos serão os primeiros”. Em Frei Agostinho da Cruz há o emprego obsessivo de fórmulas antitéticas, particularidade que se reporta ao estrato metafísico da sua poesia e também a um estilo epocal. Frei Agostinho da Cruz tem sobretudo em vista chamar a atenção dos cristãos para a caducidade dos bens terrenos, sempre em constante mutação.

3. Ora já na Antiguidade, e com Heráclito, é pela mudança que a morte engendra a vida, num ciclo de devir feito de harmonia, em que se realiza a coincidência dos contrários, tal como na circunferência o fi m coincide com o princípio. O homem, pela sua dimensão histórica, está inserido no tempo. E tempo quer dizer sucessividade, sequencialidade, mudança, evolução. Para ser ele próprio nesse devir constante, o homem tem de manter a sua identidade dentro e através do fl uir do tempo. Como se lê nos Fragmentos 8 e 53 de Heráclito, a natureza compôs a concórdia original a partir dos contrários e não dos semelhantes. Tudo nasce da luta e a harmonia é o resultado das diferenças, tal como a multiplicidade das coisas brotou do uno e a ele retornará. A identidade corre, deste modo, atrás da diferença, a qual se encontra, afi nal, no próprio coração da Identidade. A unidade é, pois, feita de tensões opostas; e o bramido dos contrários está no centro da harmonia, como as dúvidas e dores do poeta estão no centro da sua felicidade.

(1) O texto integral encontra-se no fi nal deste trabalho.

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sentimento…só que este, também já mudado, cessou de ser a esperança dos apaixonados:

Continuamente vemos novidades Diferentes em tudo da esperança. Do mal fi cam as mágoas na lembrança, E do bem (se algum houve), as saudades.

5. …Discórdia ou guerra são metáforas empregadas por Heráclito, para exprimir a presença da mudança no mundo, porque esta é susceptível de produzir contrários que se afrontam, podendo a sua reacção ser mesmo violenta, como sucede ao gelo em face do fogo. Discórdia e guerra são de certo modo uma necessidade; e como a luta termina geralmente pela vitória de um dos contentores, ela tende a estabelecer o reinado permanente do vencedor. Quer dizer que o equilíbrio do cosmos é sempre precário, porque resultante de uma estabilidade temporária no campo de batalha cósmico. Porém, este equilíbrio na mudança deverá existir, porque da sua medida e conservação depende a unidade do cosmos. Segundo Heráclito, como já afi rmámos, a Natureza ama os contrários e sabe operar-lhes a síntese, nela realizando a harmonia. O afrontar de contrários é luta e é combate; mas pela luta também se chega à unifi cação. Esta unifi cação mantém-se como uma tensão entre opostos que tendem a separar-se ou a destruir-se mutuamente. Daí o sofrimento dos amantes, aquele amor que é doçura e amargor simultaneamente.

6. A fi losofi a de Heráclito é mais uma fi losofi a do revir do que do devir, operando-se as mudanças no interior do Ser. Deus é dia e noite, Inverno e verão, guerra e paz, saciedade e fome. Pela mudança tudo segue num movimento de retorno (fragmento 78). Neste revir, as coisas corrompem-se e transformam-se; e assim o mundo é feito de uma perpétua metamorfose das substâncias. Aqueles que descem aos mesmos rios banham-se sempre em águas novas. Se esta é a lei natural que rege o mundo físico, porque não havia de ser a mesma a reger o mundo da angústia?

Na Ode XII já calma nos deixou (ed. Costa Pimpão, p.283), Camões lamenta que só o coração da mulher que o repele não seja susceptível de mudança:

Na sua relação com os outros homens e com as coisas, e em razão da mudança que está constantemente a operar-se, o homem tem necessidade de se situar e de se afi rmar face a tudo o que muda. Se a história é a dialéctica entre a mudança e a permanência, o homem vai sentir-se sem dúvida dividido entre uma e outra, solicitado por ambas, atraído ora pela mudança ora pela permanência. Destas solicitações opostas e destas constantes alterações surge o temor e o medo. A mudança, ao criar a instabilidade, coloca o homem numa situação de insegurança. É o que diz Camões num dos seus sonetos:

Toda as coisas vejo remudadas, porque o tempo ligeiro não consente que estejam de fi rmeza acompanhadas.

4. O fogo essencial do cosmos circula através de todos os elementos, pelo que o mundo em devir é um fogo que aparece, desaparece e se reacende. “O fogo repousa na mudança”, são palavras de Heráclito, no fragmento 84; e repousa na mudança, porque as coisas tentam uma plenitude que lhe escapa, tentativa que se repete, é sucessividade, e é ela própria o devir. O fogo, que para Heráclito é a imagem móvel da eternidade, para Camões é a imagem do amor. Também o amor é mudança, devir do ser; e também ele deveria conduzir à felicidade. No entanto, como canta o poeta, tudo muda de tal modo, que até a mudança mudou também:

E, agora este mudar-se cada dia, outra mudança faz de mor espanto, que não se muda já como soía.

Se “não se muda como soía”, a fi losofi a de Heráclito fi ca invalidada e o múltiplo já não retorna ao uno. A regeneração e renascimento que o universo deveria encontrar no fogo foi, pois, igualmente mudada. A confl agração universal, que era afi nal uma apoteose através do eterno retorno, surge agora, para o poeta, como uma mera catástrofe sentimental; e a dissolução e renovação, simbolizadas pelo círculo, deixaram de corresponder à morte como caminho de vida. O amor continua a ser expresso por um vocabulário da família do fogo: chama da paixão, febre do amor, calor do

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E d’amor doussa sabor, E sui arditz per paor E sai perden gazanhar E, quan sui vencutz, sobrar.

(XXXXVIII, II)

Em Camões, mais que uma ausência de lógica no comportamento do apaixonado, há antes uma constatação da malícia da Natureza, expressa por uma sequência de antíteses:

O tempo o claro dia torna escuro E o mais ledo prazer em choro triste.

(Rimas, p. 199)

No período maneirista, houve realmente uma revivescência de elementos góticos e medievalizantes. No entanto o maneirismo não se limitou a imitar esquemas herdados. O seu sentimento vital está impregnado da consciência e da intuição de que todo o ser está sujeito à discórdia, à equivocidade e à contradição. A sua essência consiste na tensão entre elementos, atitudes e valores, aparentemente inconciliáveis; numa predilecção pelo requintado, pelo insólito, pelo provocante, traduzido por meio de antíteses e paradoxos; prática aliás já tão querida dos trovadores provençais. A mudança, no seu ritmo sazonário, é generosa para com a Natureza, permitindo-lhe anualmente o rejuvenescimento primaveril. Porquê então avara, relativamente ao homem?

O tempo cobre o chão de verde manto, que já coberto foi de neve fria, e, em mim, converte em choro o doce canto.

A própria imagem do tempo é afi nal contraditória, porque, se tudo muda, também deveria mudar a paixão que devora os amantes. Ora na Natureza tudo passa e tudo volta renovado, só o coração do homem, eterno cativo do amor, assiste impotente à degradação contínua do corpo:

Tudo, enfi m, faz mudança. Quanto o claro Sol vê, quanto alumia; Não se acha segurança Em tudo quanto alegra o belo dia; Mudam-se as condições, muda-se a idade, A bonança, os estados e a vontade.

Só a minha inimiga A dura condição nunca mudou, Para que o mundo diga Que nela, lei tão certa se quebrou. Só ela em me não ver sempre está fi rme, Ou por fugir d’amor, ou por fugir-me.

A mudança deixou assim de ser a lei universal do Cosmos, uma lei indiscutível, fi losófi ca, objectiva, que enuncia o movimento inesgotável e permanente de toda a realidade humano-social, mas à qual escapam os sentimentos. Apanhada nos meandros da mudança, a alma martiriza-se sem esperança, e o homem é tiranizado pela insegurança, pela confusão, pelo desconcerto das coisas. Roído pela angústia, pela melancolia e incerteza, cativo pela servidão a um amor infi el, a sua vida é cáreere e desterro.

7. A fi losofi a de Heráclito é de harmonia, mas é também a fi losofi a do homem trágico, dilacerado na guerra entre os contrários. A paz de que o homem pode usufruir é sempre uma paz manchada pelo sangue do combate, tal como o amor que o poeta apaixonado procura; só que, neste, a situação é ainda mais trágica, uma vez que, em amor, a lei da mudança é alterada precisamente lá onde ela poderia conduzir à harmonia dos contrários. As contradições da vida levam forçosamente o poeta apaixonado a atitudes contraditórias. Por isso Peire Vidal, trovador provençal dos fi ns do séc. XII, canta, numa sucessão de antíteses e paradoxos, o seu comportamento alheio a toda a lógica:

Ses peccat pris penedensa E ses tort fait quis perdo, E trais de nien gen do Et ai d’ira benevolensa E gaug entier de plorar

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submetido a uma dialéctica que, fazendo brotar da morte a vida, é afi nal o responsável por uma certa ordem do universo: Cronos devorador e procriador. No entanto, como vimos, nem sempre o tempo actua conforme ao seu duplo poder; e é neste desobedecer à ordem estabelecida que espanta e desilude o poeta: Que não se muda já como soía. Na cantiga de amigo do trovador Joan Ayras, também tudo está em movimento e “muda-s’a gente en fazer bem ou mal”. Quer dizer que, para o trovador, as coisas tanto podem melhorar como degradar-se. O seu pessimismo é, assim, atenuado; além disso, a incapacidade do amigo em deixar de querer bem à amiga pode ser considerado como uma atitude absolutamente positiva:

Mudam-s’os ventos e tod’outra ren, Mais non se pod’o coraçon mudar Do meu amigo de mi querer bem.

A mudança qualitativa da primeira estrofe da cantiga, que é de decadência moral, contrapõe-se o refrão, como um cântico de aleluia, sendo a fi rmeza e persistência dos sentimentos do amigo uma prova irrefutável de fi delidade ao seu amor. Enquanto que em Camões o ponto de vista é masculino e, consequentemente, de dor, em razão da frieza e indiferença da amada, na cantiga trovadoresca temos a visão oposta, do lado da mulher, vaidosamente feliz pela impossibilidade do amigo em deixar de lhe querer bem.

9. Se é certo que o séc. XVI foi um século de acentuadas mudanças estruturais da sociedade (ideologia, mentalidades, sistema económico….) temos, todavia, de reconhecer que estas mudanças foram apenas o culminar de um processo que se vinha a desenvolver já nos séculos anteriores, como a instituição das cortes, a fundação das universidades, e o progresso marítimo e comercial. À riqueza estável e latifundiária, sucedia uma riqueza mobiliária em mercadorias e numerário, o que dava uma nova visão fi nanceira da sociedade, visão de confi ança nas realizações humanas, mas também de receio pelo futuro. Por isso também já os trovadores sentiam os perigos da mudança. Para o poeta maneirista, o mundo é puro engano: desilusão, perplexidade, desconfi ança, insegurança, são vocábulos que

E vi que todos os danos se causavam das mudanças e as mudanças dos anos.

(Sobolos rios…)

Qualquer esperança foge como o vento: tudo faz mudança salvo meu tormento.

(canção X, P.83)

Que ardesse num só fogo, não queria o Céu, porque tivesse experimentado que nem mudar as causas ao cuidado mudança na ventura me faria.

(soneto 99)

8. O homem transporá consigo o tempo. Os objectos, as coisas, os seres inanimados sofrem a acção corrosiva do tempo que os ataca por fora. O homem caminha dentro do tempo e com o tempo dentro de si. O homem é tempo, todo o seu ser, é tempo, como o ar que respira. Morrer é cortar o tempo, suspendê-lo dentro de si. Respirar é prolongar-se com o tempo, no tempo, em marcha para a imobilidade, em marcha degradante da matéria. A todo o momento o homem muda e todas as coisas mudam: Porque não o sofrimento?

O tempo acaba o ano, o mês e a hora, a força, a arte, a manha, a fortaleza; o tempo acaba a fama e a riqueza, o tempo o mesmo tempo de si chora.

O tempo busca e acaba o onde mora qualquer ingratidão, qualquer dureza; mas não pode acabar minha tristeza, enquanto não quiserdes vós, Senhora.

(soneto 133)

Ao ser responsável da sucessão de realidades contrárias, como o são o Inverno e o Verão, o tempo manifesta-se

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função dos bens terrenos; todavia, relativamente aos ideais religiosos e morais predominantes, Camões segue na linha trovadoresca. O trovador, apesar da sua vida cristã, ou talvez por isso mesmo, dá-se conta da efemeridade das coisas e dos bens do mundo; dessa consciência brota o sentimento da insegurança existencial e da incoerência do universo. A visão que o trovador tem do mundo e dos homens é sempre pessimista, porque nada permanece. Para ele, tudo é confl ito: entre a alma e o corpo, entre a fé e a razão, entre a razão e a natureza, entre a ordem divina e a ordem humana. O homem é pecador e vive muitas vezes uma moral dupla, porque no seu corpo um acicate se opõe às aspirações do espírito. Tudo nele é incoerência, confl ito e contradição. O trovador desconhece os ideais da normatividade, do equilíbrio, da sobriedade e da proporção, que iriam ser as características do classicismo; ele compraz-se antes na crítica do obsceno e do grotesco, na apreciação dos contrastes e na produção do hiperbólico. Quanto ao poeta maneirista, ele é não só um degenerador do classicismo, como, em certo sentido, um continuador dos trovadores; e podemos afi rmar que tanto o seu ideal cortês de estilo de vida, como o seu preciosismo e artifi cialismo de comportamento, o ligam profundamente à poesia dos trovadores provençais.

Como conclusão, podemos afi rmar que, por um certo pendor platonista nas relações amorosas, pela crença na decadência dos costumes e pela angústia da ausência, entre outros elementos, a poesia dos trovadores pode facilmente conjugar-se com aquele sentimento de pessimismo que vai surgir da contra-reforma. E também poderemos assinalar já nos trovadores, em especial nos provençais, o emprego de certos elementos estilístico-formais, como a antítese ou a metáfora conceituosa, que, passando pelo “dolce stil nuovo”, vão ser cultivados pelos maneiristas, como jogo cerebral de subtilezas psicológicas que já era na Provença. Como os maneiristas, também já os trovadores medievais da Provença se tinham preocupado com problemas fi losófi co-morais. Também eles tinham cultivado uma arte para elites, anti-realista e preciosista, que foi depois seguida pelos petrarquistas. Como os trovadores, e melhor que eles, Camões exprimiu poeticamente a angústia e as contradições do homem e da

exprimem a angústia existencial dos poetas quinhentistas e que percutem obsidiantemente nos seus poemas. Mudança é instabilidade e confusão interior, inquietação, sentido agónico da existência, angústia vital, temor e ansiedade. As certezas do homem diluem-se e o destino fi nal do ser humano oferece dúvidas. Ora, duma certa maneira, também os trovadores são maneiristas “avant la lettre”: por olharem o homem enleado de enganos e desenganos, decepcionado pela decadência que reina no mundo, sempre melancólico e angustiado; e pelo modo atormentado como constatam as metamorfoses e destruição causadas pelo fl uir do tempo. Os trovadores já pressentem a contradição que há no mundo, aquela desordem do pensamento e da sensibilidade cristã que em breve Petrarca cantaria, assumindo a confusão inconsciente inerente ao cristianismo. Se é certo que Petrarca está na origem da melancolia moderna, o trovador também já sofria o drama da contradição amorosa, de que a sua alma era palco. Por isso morre de não morrer, tal o grau que atinge o desespero humano. Há uma eternidade em que crê, que compensará o seu sofrimento. Mas o trovador não o deseja nem nele se compraz masoquisticamente. Tal como nos maneiristas, já o cântico de amor dos trovadores era feito de queixas e lamentos, de desenganos e vãos anseios. Só a morte, ou talvez nem mesmo a morte, lhe traria apaziguamento. Como Camões, também o trovador não fruía nunca nem da beleza nem dos prazeres do mundo; embora, claro está, o trovador não tenha atingido aquele grau de refl exão e de análise psicológica que são uma das características do grande poeta quinhentista. Como os trovadores, também Camões, na lírica, não canta a beleza da mulher em termos sensuais e eróticos, nem a convida para uma realização carnal. Há paixão e há desejo, mas tudo se consome em mágoa e suspiros.

10. Do séc. XVII até ao séc. XVI, houve certamente uma mudança na estrutura cultural e sócio-politica do país. Pela confi ança nas possibilidades humanas, desenvolve-se um clima próprio à aceitação dos ideais humanistas, que compreendiam o anseio à felicidade do homem no mundo. Convencidos da sua deterioração, em virtude da mácula do pecado original, os trovadores não fazem a apologia da

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Porque, enfi m, tudo passa; Não sabe o tempo ter fi rmeza em nada; E nossa vida escassa Foge tão apressada, Que quando se começa é acabada.

Cantiga de Joan Aires, in J.J.Nunes, Cantigas de Amigo, II, p. 253, nº CCLXXIX

I

Todalas cousas eu vejo partir do mod’en como soían seer e vej’as gentes partir de fazer bem que soiam (tal tempo nos ven!) mais non se pod’o coraçon partir Do meu amigo de m’querer ben.

II

Pêro que home part’o coraçon das cousas, que ama, per boa fé, e parte-s’ome da terra ond’é, e parte-s’ ome d’u gran prol tem, non se pode parti-lo coraçon Do meu amigo de mi querer bem.

III

Todalas cousas eu vejo mudar: mudan-s’os tempos e muda’s o al, muda-s’a gente en fazer bem ou mal, mudan-s’os ventos e tod’outra ren, mais non se pod’o coraçon mudar do meu amigo de mi querer bem.

(CV 550, CBN 963)

vida, resultantes do fl uir dialéctico do tempo. Toda a poesia de Camões é compromisso entre a infl uência trovadoresca, que espiritualiza a mulher, quase apagando a chama do desejo, e a poesia grego-latina, que é vibração dos sentidos. Em Camões, porém, a sua consciência dramática da vida parece surgir como consequência duma época de crise de valores religiosos e morais, que então se fazia sentir muito mais acentuadamente do que no tempo dos trovadores. Há, num e noutros, uma identidade de cosmovisão, especialmente no domínio amoroso, salvaguardadas, claro está, todas as divergências que os distanciam. Em ambos os lados são cantados os desenganos de amor e o desencanto da vida, embora segundo cânones estéticos próprios de cada uma das épocas, que dois séculos separam.

Camões morreu com a Pátria, mas nenhum deles pereceu. Camões continua vivo em todos aqueles que amam a boa poesia.

Ele, que se situa no prolongamento da poesia trovadoresca, vai agora continuar presente na poesia de alguns grandes poetas que lhe sucederam. A título de exemplo, citaremos apenas alguns, por ordem cronológica;

No séc. XVIII, o soneto de Camões, de Bocage.No séc. XIX, o longo poema de A. Garrett, intitulado igualmente Camões.

Do nosso século referiremos Para o Luís, de Alexandre O’Neil; Camões de José Blanc de Portugal; Transforma-se o amador na coisa amada, de Herberto Hélder; e Camões dirige-se aos seus contemporâneos, de Jorge de Sena. (2)

É tempo de terminarmos esta homenagem a Camões. Vamos, pois, fazê-lo com as palavras do próprio poeta (Ode nº IX, 8ª estrofe):

(2) – Este trabalho integrou-se na homenagem prestada a Camões em Junho de 1991, no Departamento de Estudos Portugueses da Universidade de Macau, e os poetas referidos foram lidos pelos docentes: Prof. Dr. António Baptista, Dr.ª Isménia Sousa e Dr.ª Patrícia Gonçalves, acompanhadas ao piano pela estudante Marta Baptista

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Fragmentos do Camões, de Almeida Garrett

O meu nome – inda mal! bem conhecido Por esse novo Império do Oriente – É Luís de Camões. Em tenros anos Ânsia ardente de glória e de renome, Porventura outra causa mais violenta,

Mais nobre…e mais funesta – me levaram Às africanas praias, dura escola Da portuguesa mocidade. Alegre, Que me sorria então verde esperança No enganoso porvir, - entrei os muros Da veneranda Ceuta, insigne preço De sangue régio e de um martírio ilustre. Paternas mãos as armas me cingiram. Oh! Pai tinha eu ainda …Honrado velho, Na vereda da honra me puseste; Fui, como tu, caminho da desgraça.

«Anos sete vaguei de terra em terra, Ora vendo essas ilhas escaladas Do eterno fogo que as consome e anima, Ora os deliciosos habitantes Da malaia península. – Um repoiso, Plácido quanto o gozam desgraçados, Encontrei na escalvada penedia, Onde na roca estéril se alevanta Macau, fértil agora das riquezas Que o manancial do trafi co lhe verte. Ali, só com meus tristes pensamentos, Livre ao menos dos homens, só comigo, Coas lembranças da pátria, côas saudades Que lá me tinham coração e vida, Se não vivi feliz, sequer tranquilo.

«Nas penhas dessa ilha abriu natura Cava na rocha, solitária gruta,

Onde as náiades frias vão coitar-se Do ardor da sesta: à entrada lhe vicejam Recendentes arbustos, heras crespas; E no vivo rochedo lhe entalharam Misteriosas mãos ignotas letras.

Soneto de Camões, in Rimas, edit, por Costa Pimpão, 1973, p. 162

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades Muda-se o ser, muda-se a confi ança; Todo o mundo é composto de mudança, Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades, Diferentes em tudo da esperança; Do mal fi cam as mágoas na lembrança, E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto, Que já coberto foi de neve fria, E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia, Outra mudança faz de mor espanto, Que não se muda já como soía.

Soneto de Bocage

Camões, grande Camões, quão semelhante Acho teu fado ao meu, quando os cotejo! Igual causa nos fez, perdendo o Tejo, Arrostar co’o sacrílego gigante;(1)

Como tu, junto ao Ganges sussurrante, Da penúria cruel no horror me vejo; Como tu, gostos vãos, que em vão desejo, Também carpindo estou, saudoso amante.

Ludíbrio, como tu, da Sorte dura Meu fi m demando ao céu, pela certeza De que só terei paz na sepultura.

Modelo meu tu és…Mas. Oh tristeza!.... Se te imito nos transes da ventura, Não te imito nos dons da natureza.

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Mas aprende, também, Que uma forma, adoptada, Tem o que tem.

E se, a tal caminho, Não quiseres aceder, Põe Lianor, na fonte, A render, a render.

Esquece a Bárbara e os outros Amores de redenção. Luís, tu que és dos loucos, Escuta a voz da razão.

E a razão, a mais prática, Bem te diz que desistas E aprendas a gramática Videirinha dos dias.

CAMÕES JOSÉ BLANC DE PORTUGAL

Passaste fome. Dizem alguns que de tua vida comem Vermes parasitas que vivem de inventar as tuas histórias… Talvez um dia neles a mutação se opere Quando os bichos mudem de alimentação e Passem a roer a tua obra E não a tua morta vida terreal.

Ah Camões! Luiz Vaz, se visses Como os vermes pastam tua glória! Por um que ame apenas tua obra Quantos te inventam a vida passada P’ra explicar versos que não sentem Ou sentem tão à epiderme Que precisam de outra história Que são a das palavras que escreveste!

Talvez em longes eras meditasse Solitário discíp’lo de Confúcio Nessa caverna as eternas verdades Do grande Tien, do deus da Natureza, Que ao Sócrates da China se amostrara Mais temporão, (se lhes não mentem crónicas), Que ao amante de Fédon. – Vem quebrar-se Perto o mar, que se espraia longo e longe, Té se perder no extremo horizonte.

«Oh gruta de Macau, soidão querida, Onde tão doces horas de tristeza, De saudade passei! Gruta benigna Que escutaste meus lânguidos suspiros, Que ouviste minhas queixas namoradas, Oh fresquidão amena, oh grato asilo Onde me ia acoitar de acerbas mágoas, Onde amor, onde a pátria me inspiraram Os maviosos sons e os sons terríveis Que hão-de afrontar os tempos e a injustiça! Tu guardarás no seio os meus queixumes, Tu contarás às porvindouras eras Os segredos de amor que me escutaste, E tu dirás a ingratos Portugueses Se português eu fui, se amei a Pátria, Se, além dela e de amor, por outro objecto Meu coração bateu, lutou meu braço, Ou modulou meu verso eternos carmes. Pátria, Pátria, rival tu foste d’Ela!

PARA O LUÍS De Alexandre O’Neil

Não te rias do cerimonial Dos graúdos Eles conhecem a moral E os usos.

Mesmo ridículos, são temíveis. Perpetuam as formas. Eles não gostam dos esquivos. Cumpre as normas. A norma é forma, já o sabes,

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Dá-lhe o grito dele. E o amador e a coisa amada são um único grito Anterior de amor.

E gritam e batem. Ele bate-lhe com o seu espírito De amador. E ela é batida, e bate-lhe Com o seu espírito de amada. Então o mundo transforma-se neste ruído áspero Do amor. Enquanto em cima O silêncio do amador e da amada alimentam O imprevisto silêncio do mundo e do amor.

CAMÕES Dirige-se aos seus contemporâneos Jorge de Sena

Podereis roubar-me tudo: As ideias, as palavras, as imagens, E também as metáforas, os temas, os motivos, Os símbolos, e a primazia Nas dores sofridas de uma língua nova, No entendimento de outros, na coragem De combater, julgar, de penetrar Em recessos de amor para que sois castrados. E podereis depois não me citar, Suprimir-me, ignorar-me, aclamar até Outros ladrões mais felizes. Não importa nada: que o castigo Será terrível. Não só quando Vossos netos não souberem já quem sois Terão de me saber melhor ainda Do que fi ngis que não sabeis, Como tudo, tudo o que laboriosamente pilhais, Reverterá para o meu nome. E mesmo será meu, Tido por meu, contado como meu, Até mesmo aquele pouco e miserável Que, só por vós, sem roubo, haveríeis feito. Nada tereis, mas nada: nem os ossos, Que um vosso esqueleto há-de ser buscado, Para passar por meu. E para outros ladrões, Iguais a vós, de joelhos, porem fl ores no túmulo.

Também eu li demais a tua inventada vida: Tudo quero esquecer p’ra mais lembrar Que poesia é só a tua glória Eterna vida é só tua Poesia E a vida que viveste é morta história.

Herberto Hélder

«Transforma-se o amador na coisa amada» com seu feroz sorriso, os dentes, as mãos que relampejam no escuro. Traz ruído e silêncio. Traz o barulho das ondas frias e das ardentes pedras que tem dentro de si. E cobre esse ruído rudimentar com o assombrado Silêncio da sua última vida. O amador transforma-se de instante para instante, E sente-se o espírito imortal do amor Criando a carne em extremas atmosferas, acima De todas as coisas mortas.

Transforma-se o amador. Corre pelas formas dentro. E a coisa amada é uma baía estanque. É o espaço de um castiçal, A coluna vertebral e o espírito Das mulheres sentadas.

Transforma-se em noite extintora. Porque o amador é tudo, e a coisa amada É uma cortina Onde o vento do amador bate no alto da janela Aberta. O amador entra Por todas as janelas abertas. Ele bate, bate, bate, O amador é um martelo que esmaga. Que transforma a coisa amada.

Ela entra pelos ouvidos, e depois a mulher Que escuta Fica com aquele grito para sempre na cabeça A arder como o primeiro dia do verão. Ela ouve E vai-se transformando, enquanto dorme, naquele grito Do amador. Depois acorda, e vai, e dá-se ao amador,

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161UM POUCO DA HISTÓRIA DO VINHO

Jorge Augusto Pais de Amaral*

Ao falarmos de vinho, não podemos deixar de recordar a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, também conhecida por Real Companhia Velha, criada pelo Marquês de Pombal na segunda metade do século XVIII. Foi fundada em 1756 e detinha o exclusivo da produção e distribuição dos vinhos da região demarcada do Douro, os conhecidos vinhos do Porto, concedendo-lhe a isenção de impostos no comércio e nas exportações. Mais tarde outras zonas demarcadas se lhe seguiram. Trata-se de zonas de produção estanques, com legislação especial para a defesa e promoção da sua produção vinícola, de forma a que não seja confundida com a de outras regiões. Após a entrada de Portugal na Comunidade Europeia, em 1986, as regiões vinícolas portuguesas estabeleceram o sistema de “Denominação de Origem Controlada” (DOC) em substituição do anterior “Região Demarcada” que vigorava desde o início do século XX. Portugal, apesar da sua reduzida extensão geográfi ca, apresenta, de Norte a Sul do País, uma extensa gama de bons vinhos, desde os verdes aos maduros e aos licorosos. O vinho é uma bebida e um alimento muito antigo. A mais remota produção de vinho teria tido lugar em várias partes da

Geórgia, Irão e China entre os anos 6.000 e 5.000 antes de Cristo. No antigo Egito desempenhou um papel importante na vida cerimonial. Eram-lhe atribuídas propriedades medicinais. Por vezes, dissolviam pérolas no vinho para obter determinados efeitos na saúde. Conta-se que Cleópatra prometeu a Marco António que beberia o valor de uma província numa taça de vinho, após o que dissolveu nessa mesma taça uma valiosa pérola. A introdução do vinho no Egito teria sido levada a cabo pelos Gregos. Estes eram grandes apreciadores do vinho e da boa mesa. É elucidativo a este respeito saber que a palavra com que designavam os banquetes era symposium, com o signifi cado de beber conjuntamente. O vinho não era consumido puro, mas diluído em água e acrescido de ervas aromáticas, de resina de pinheiro, de condimentos, usados mais como conservantes e que certamente não lhe favoreciam o sabor (cfr. Sérgio de Paula Santos, in Vinho e História, pág. 105) . A importância do vinho também é revelada pela criação de um deus próprio. Para os gregos é o deus Dionísio que, entre os romanos, toma o nome de Baco. É geralmente representado sob a forma de um jovem imberbe, risonho e festivo, de longa cabeleira loira e fl utuante, tendo em uma das mãos um cacho de uvas ou uma taça de vinho e na outra um tirso (um dardo) enfeitado de folhagens e fi tas.

*Juiz Conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça, Jubilado.

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Em tempos muito recuados o vinho era guardado em ânforas, mas também chegou até nós a notícia de vinho engarrafado. O fabrico de vidro no Egito teria ocorrido a partir de 1.500 a.C.. Uma garrafa portuguesa, de forma globosa, conhecida como onion (cebola), faz parte de um grupo de seis garrafas de vinho do Porto, do século XVI ao XIX, que mostra a evolução da forma da garrafa.(ob. cit., pág. 25) Entre os romanos, os vinhos eram habitualmente cortados com água como na Grécia, água do mar, água pura do gelo, água fervida, além do acréscimo de pimenta, de mel, de ervas aromáticas e de macerados de fl ores como rosas e violetas. Nos banquetes sorteava-se entre os convivas o senhor da bebida, encarregado de estabelecer as proporções de água e

vinho a serem misturadas, da distribuição do vinho e até das quantidades a serem consumidas. Os vinhos eram servidos em taças de meio litro, sendo oportuno lembrar que os brindes podiam exigir que se bebesse a taça cheia de uma só vez. Na antiga Roma, os prazeres da mesa não se limitavam à satisfação do estômago. Eram também os prazeres artísticos, culturais e até sexuais (ob. cit., pág. 112). A propósito de brinde, diz-se que os primeiros registos são da Grécia, no século IV a. C.. Porém, o brinde só se popularizou a partir do século XVI, na Inglaterra. Existem diversas explicações para a sua prática. Uma delas baseia-se essencialmente no signifi cado do ato de tocar com os copos uns nos outros. Como se sabe, naqueles recuados tempos, corria-se frequentemente o risco de ser envenenado por meio da bebida. Foi também, durante algum tempo, o modo de execução dos condenados. Sócrates foi envenenado com cicuta, um dos mais letais usado na Grécia antiga. Ao fazer o brinde, o bater com os copos uns nos outros, obrigava a que o veneno que eventualmente existisse num deles se disseminasse pelos restantes, assim se reduzindo os seus efeitos. Além disso, constituía a oportunidade para ver quem se recusava a beber depois dessa forçada “mistura”. Atualmente o brinde signifi ca um momento de alegria, de união e de paz. Mas diz-se também que é uma oportunidade de realçar e unir os 5 sentidos humanos com os do vinho: o do olfato (pelo aroma), o do paladar (pelo sabor), o do tato (pela temperatura), o da visão (pelas cores) e o da audição (pelo som do toque das taças). Portugal levou a vinha às várias partes do mundo que descobriu. Foi o caso do Brasil, com a expedição de Pedro Álvares Cabral. Mas também a levou a outras paragens que procurou evangelizar. Assim, os missionários que espalharam a fé cristã no Japão, sentiram necessidade de cultivar a vinha com o fi m de obterem o vinho para a celebração da missa. Já numa época muito anterior aos descobrimentos podemos encontrar notícias acerca do interesse da Igreja em relação ao vinho. Em 1101 a diocese de Santiago de Compostela reclamou o direito de receber “uma medida de pão e uma de vinho por cada junta de bois com que se lavrarem as terras entre o rio Pissuerga e o mar”, tornando-se essa diocese a mais importante de toda a Península Ibérica. As dioceses ao Norte de Portugal, ao exemplo de Compostela, pleitearam e conseguiram as mesmas regalias, a de Braga em 1121 e a do Porto em 1209. Isto deu lugar a uma longa

Baco, de da Vinci

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disputa entre o clero e os lavradores, a começar pelo valor da “medida” do pão e do vinho. Para os lavradores, a medida seria de um alqueire e meio (54,4 litros) de cereal e meio almude (16 litros) de vinho por cada junta de bois. Para D. Antão, bispo do Porto, a medida seria a “fanega”, usual na Galiza medieval, que correspondia a quatro alqueires de cereal e dois almudes de vinho. A importância deste produto agrícola resulta não só do facto de o mesmo constituir um alimento e uma bebida muito apreciada, mas também pelo valor que podia representar como moeda de troca. Antes de ser criada a moeda (o dinheiro) com que se compra tudo de que necessitamos, as pessoas trocavam os produtos de que dispunham em abundância por outros que lhes faziam falta. Tratava-se de um contrato de escambo, permuta ou troca direta. Os indivíduos de idade mais avançada ainda se lembrarão de alguns casos de troca direta de produtos. Na minha aldeia, há mais de meio século, por vezes, a peixeira ainda trocava a sardinha por ovos, quando a freguesa não dispunha de dinheiro e tinha ovos em abundância. Igualmente se fazia a troca de mel por igual quantidade de azeite, ou a troca de tremoços por centeio ou outro cereal. Entre os astecas, o cacau era tão apreciado que as suas sementes ou “amêndoas” foram utilizadas como moeda corrente. Em 1553, na cidade do México, um escravo valia cem “amêndoas”, um coelho dez e os favores de uma “mulher pública” oito. Estes preços podiam variar de acordo com as distâncias entre as regiões produtoras e aquelas onde se operava a transação. E já então ocorria a falsifi cação da “moeda” de troca. Os falsários cortavam e levantavam delicadamente a casca da semente, removiam a polpa, que era vendida para a preparação do chocolate, e enchiam-na com cera ou argila (cfr. ob. cit., pág. 134). Voltando ao vinho, devemos referir que o copo ou taça tem grande infl uência na degustação do líquido. Alguns fabricantes de cristais chegam ao ponto de produzir copos diferentes para cada tipo de vinho. Por outro lado, também tem importância a apresentação. A maioria dos vinhos é vendida em garrafas de vidro selado com rolhas de cortiça. Recentemente alguns produtores têm tentado utilizar outro tipo de recipientes ou outro modo de fechar as garrafas, mas a preferência dos consumidores continua a ser pelas garrafas de vidro fechadas com rolhas de cortiça. É claro, que existem pessoas para quem apenas interessa

a quantidade. Se lhe perguntarem se preferem este ou aquele vinho, a sua resposta resumir-se-á à palavra muito. Com esta resposta, está tudo dito. Lembro-me de ter ouvido contar ao dono de um bom restaurante de Lisboa que um dia dois clientes escolheram para o almoço uma garrafa de um vinho muito bom e de preço muitíssimo elevado. Ora aqui estão uns bons apreciadores do bom vinho, pensou o dono do restaurante. Mas logo fi cou desiludido quando viu o copo cheio daquele néctar ser bebido de um trago. Mal empregado vinho, disse então o homem para consigo próprio. Existem pessoas que nem sequer são capazes de detetar que o vinho está estragado e consomem-no como se estivesse nas melhores condições. Aquilino Ribeiro chamava a esta insensibilidade “mitridatização”. Mitridatizar signifi ca imunizar(-se) contra um ou vários venenos. Com efeito, parece ser o caso. In vino veritas, afi rmavam os antigos romanos. Na verdade, o consumo de vinho produz em algumas pessoas uma mudança de atitude, que as leva a soltar a língua e a mostrar o que são. Pena é quando aquilo que mostram não é nada de bom, pois os torna deploráveis e animalescos. Antes de terminar, apenas um referência a uma bonita estátua erguida na Vila de Nelas – vila situada numa região de produção de vinho do Dão de muito boa qualidade - “Ao Escanção, por bem servir”.

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164 poema com camarinhas (corema album)Anthero Monteiro*

Para Rosa Alice Branco

as mãos vazias sim. e o relógio no pulsoa dar conta das horas perdidas dos anos em cinzadas pegadas alisadas por dunas viajantes. cavalgo então no dorso de uma ali por miramar senhor da pedra à vista e encontro aquelas translúcidas camândulas com que encho os bolsos e mato a sede à saudade. voo então no bicodas gaivotas até mais além pertinho da infânciae pouso numa palmeira do adro da igreja à sombra da qual aos domingos mulheres de negro vendiamdoces de gema níveos de açúcar e as mesmas bagasminúsculas que trazíamos para casa num cone de jornal.

agora as mãos vazias e tanto bolso roto incapazde suster a memória dos dias afogueados a lata dos docescomida da ferrugem e das formigas e a boca sedentade frutos sumarentos exilados do mercado e dos dias do senhor.

de repente topo de novo estas pequenas drupas rosadas e que bem me sabem uhmm camarinhas num poema de rosa alice

*Escritor e poeta natural de S. Paio de Oleiros. É autor de vários livros de

poesia e de ensaio.

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165O CANTO DO MUEZIN

Augusto Santos*

Quem não foi acordado, antes do sol nascer, pelo canto do “Muezin”, que me soa mais a um lamento sofrido do que a outra coisa, é, mal comparado, como nunca ter ouvido o coro dos escravos, do Nabuco, a marcha triunfal da Aida, ou mesmo a sinfonia nº5 de Mahler. Isto só para nomear algumas das maravilhas musicais que têm extasiado e confortado tantos e tantos seres humanos por esse mundo fora, há já séculos. O hotel “Des Merinides” que está localizado numa elevação sobranceira a toda a cidade de Fez, em Marrocos, tem uma vista que se pode considerar bíblica, espantosa, única. Neste mesmo monte onde está o hotel, estão as ruínas dos grandes túmulos da dinastia Merinides. Não muito longe, está o Forte onde morreu D. Fernando, o Infante Santo, príncipe da ínclita geração, irmão do Infante D. Henrique e fi lho de D. João I e de D. Filipa de Lencastre. Nas noites quentes de verão, naquela sala de jantar de estilo berbere, deste belo hotel “Des Merinides”, com iguarias marroquinas, com músicos e bailarinas das várias danças típicas orientais, o tecto da sala abria-se e deixava ver o céu estrelado. Assistir ao pôr-do-sol, do terraço deste hotel, é deixar-se envolver por uma das grandes belezas da natureza. À noite,

quando as luzinhas bruxuleantes invadem toda a cidade, é outro panorama misterioso, envolvente, mas o que é mesmo único é, antes do sol nascer, quando a neblina intercalada com os minaretes, faz da cidade um lugar etéreo, parece que a qualquer momento se vai elevar no ar, isto apesar de esta cidade estar situada numa cova, é como se estivesse fl utuando entre os dois montes que fazem a protecção da cidade e faz lembrar uma página das Mil e Uma Noites. Neste exacto momento o Muezin lança no ar o seu lamento plangente e melodioso e, aos nossos pés, lá em baixo, está toda a magia dos contos muçulmanos, toda a poesia de Hafez. Faz-me sempre lembrar um fabuloso livro de poesia que se chama “Rubaiyat of Omar Khayyam”, de que tenho um exemplar traduzido para inglês por “Edward Fitzgerald” com ilustrações belíssimas por Edmund Dulac.

Fez

De todas as capitais imperiais de Marrocos, Fez é a mais antiga. Fundada no início do século IX, pode ser 808, a cidade é composta por quatro pequenas cidades fundadas sucessivamente: “Fez es Bali” que é Fez a Velha, 808; mais tarde, aí por meados do século XIII, em seguida de várias lutas entre Al Mohades e Merinides, funda-se outra cidade a que primeiro chamaram “El Medinat el Beida”, a Cidade

* Guia – Intérprete.

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Branca, que pouco depois se veio a chamar “Fez el Jedid”, a Cidade Nova; no primeiro quartel do século XIV, fundou-se um enorme bairro, outra cidade para os judeus, que se chamou “El Mellah”. Em Marrocos os bairros judeus chamam-se sempre “Mellah” que é uma palavra que em Hebraico antigo queria dizer sal e como os judeus é que tinham este comércio muito lucrativo e tiveram sempre os comércios mais lucrativos, entre outros, eram sempre conotados com o sal e daí se chamar assim aos bairros judeus. Nesses tempos o sal era uma mercadoria tão importante que chegava a ser usado como moeda de troca; às vezes, os trabalhadores eram pagos com sal, e é daí que vem a palavra salário. De 1912 a 1956, todo o sul de Marrocos torna-se um protectorado francês e aí se constrói a quarta cidade, “La Ville Nouvelle”, a Cidade Nova, para a população francesa viver. É do princípio da fundação da cidade do século IX, a primeira, que se constrói a famosa mesquita “El Karawyyin”, Mesquita esta que os marroquinos chamam de “Medersa”, ou seja, universidade, e reclamam para eles que esta foi a primeira universidade do mundo. Não é de estranhar porque os árabes tiveram uma das civilizações mais brilhantes de toda a história da humanidade. Basta dizer que são os pais da matemática, que ainda hoje, passados tantos séculos, é uma ciência que não está ao alcance de todos os seres humanos, alguns políticos que o digam. Foram também grandes mestres de Poesia, dois temas que só por si dão crédito a qualquer civilização. Assim, Fez, ainda hoje é a cidade marroquina da religião, da cultura, do artesanato e da política. É a cidade mais difícil de governar porque também é a mais esclarecida.

De Fez para Marraquech A manhã está fresca, creio que é uma frescura resultante do muito calor de ontem. No hotel, os empregados regam o jardim à volta da piscina; há melros por todo o lado, negros com o bico cor de laranja e também demais passarinhada, toda em grande movimento; cheira a relva molhada. Depois, já na estrada, não me canso de admirar estas casas campestres, de ver as pessoas na azáfama do campo, logo de manhã. Acho que sou um agricultor frustrado, e por isso o bem que me faz ver esta gente no trabalho, a beleza dos campos, a comporem quadros bucólicos de grande efeito

cénico. É por isso que venho a Marrocos sempre com muita satisfação. Se eu soubesse descrever o bem que isto tudo me faz à alma, toda a gente compreenderia o porquê deste meu apego à vida berbere, aqui no Norte de África. Estamos a sair de Fez. Numa destas casas rurais, um velhote alto vestido duma “djelaba” branca, turbante branco, “babouches” brancas, portanto viúvo, caminha, com um alguidar cheio do que me parece ser aquilo que aqui se chama gémeas. Seguem-no três galinhas, cada uma da sua cor e uma delas tem uma poupa. Não me parece haver terapêutica melhor, para enfrentar males, provenientes da vida moderna, do que dar milho às galinhas. Gostava, ainda um dia, de poder “dar milho às galinhas” pelas manhãs frescas, mas também ler os livros de que gosto e escrever às pessoas em quem me dá prazer pensar. Não sei se é pedir muito, mas faz-me bem sonhar que um dia vou acabar assim. Se for diferente, paciência. Ter o poder de sonhar já é muito bom. Entretanto, chegamos a Azrou, depois de ter passado pela zona de esqui em Ifrane e descido uma parte das montanhas, se bem que ainda nos espera muita montanha pela frente. Aqui, em Azrou, as casas estão rodeadas de arvoredo silencioso a cerrar fi leiras contra o sol e o calor. Já a esta hora, cá em baixo, um grupo de galináceos, de bico aberto devido ao calor, espaneja-se à sombra protectora das árvores. Espera-nos a estrada do Atlas, maciço imponente de montanhas, com aldeias pequenas aqui e ali, panoramas de cortar a respiração, e temos o dia todo para chegar a Marraquech. As últimas duas horas, já no sopé das montanhas, tendo sempre ao lado esquerdo a impressionante cadeia nevada do Atlas.

O Canto do Muezin.

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Um Castelo entre verdura,Um prender de feiticeira...Uma graça, uma ternura,- Santa Maria da Feira.2

*Vila da Feira, cidade,Terra de Santa Maria!Eu casava no castelo,Sempre a noiva me fugia...2

*Senhora do tempo antigo,É o que a História nos ensina...Mas eu penso nela e digo:- Vila da Feira, menina!3

In memoriam

O senhor Dr. José Maria Pinto da Silva Mota, que foi nosso colaborador, faleceu no dia 11 de Maio último, em Guilhufe, Penafi el. Nasceu em 30 de Janeiro de 1929, em Castelões, Penafi el. Foi Conservador do Registo Civil em Santa Maria da Feira, onde viveu vários anos. Como poeta, distinguiu-se com o poema “Cântico Tinto”, uma paródia ao “Cântico Negro”, que lhe deu fama e notoriedade, usando o anagrama JM Matos Vila.

Em sua homenagem publicamos

Feira dos Vinte na Feira!Lá comprei uma fogaça,Caladinhos, pão e mel.Sorrisos.., foram de graça. 2

*Chamem-te vila ou cidade,Responde de igual maneira:- Segue em frente, com audácia,Terra da gente da Feira!2

*Em cada ano remoça,Cada dia tem mais viço...Feira fresca e sempre moçaDesvenda-me o teu feitiço!3

Serenata Feirense

Feira exaltada na história,Terra de Santa Maria;Castelo que se revolta

Portugal que principia.1

1 – Jornal da Feira, n.º 53, de 08/02/1999.2 - As Cinco Sentidas, edição LAF, n.º 7 - 2002.3 – Villa da Feira, nº2 – Outubro/2002.

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Se o tempo corre veloz,

Mais veloz é o pensamento.

Volto ao passado pensando,

Penso em ti neste momento.

Contigo, ó Penafi el,

Tão cedo aprendi a amar!

Voltar a ti é viver,

Pensar em ti é sonhar.

Fado Penafi el*

Ai pena, Penafi el,

Ai pena de te não ver!

Pena de andar pelo mundo

Sem te poder esquecer...

Se vais a Penafi el,

Retornas à mocidade...

— Leva abraços para todos,

FaIa da minha saudade!

(Aos jovens carmianos)

JM Matos Vila As 5 sentidas, Edição Laf N.º 7 2002

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169 Postais do Concelho da Feira

Ceomar Tranquilo* A - Postais Ilustrados

* Caminheiro por feiras, lojas e mercados.

110 – Estádio Marcolino de CastroSanta Maria da Feira

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110 - A- Reverso do mesmo postal

Santa Maria da Feira. Estádio Marcolino Castro (19.000). C. D. FeirenseACOPP – 97 – 01-03-98 – tiragem 300 exemplares.Fotos J.A.Simoes / A.M. Patrício Mapa de Portugal assinalando: Porto – Sta. Maria da Feira – Lisboa e Faro

111 – Estádio Comendador Henrique Amorim

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111 – A – Reverso do mesmo postalSanta Maria de Lamas

Estádio Comendador Henrique Amorim (16.000 espectadores) C.F. União de LamasACOPP – 59 – 15/04/95Tiragem: 450 exemplaresMapa de Portugal assinalando: Porto – Lamas – Lisboa e Faro.

112 – Estádio Comendador Henrique Amorim – C.F. União de Lamas

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112 – A – Reverso do mesmo postal

110 Santa Maria de LamasVista aérea. Edições Camilo Passos.Postal da amizade (em 5 línguas)

113 – Estádio Comendador Henrique Amorim

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113 – A – Reverso do mesmo postal.Santa Maria de Lamas

Estádio Comendador Henrique AmorimC.F. União de LamasACOPP – 32 – Fotografi a de Américo Magalhães. Mapa de Portugal assinalando: Porto-Lamas-Lisboa e Faro

114 – Estádio Mª Carolina L.R. Garcia Arrifana.

Emblema do clube no canto superior esquerdo.

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114 – A- Arrifana (Aveiro)

Estádio Maria Carolina Leite Resende GarciaC.D. Arrifanense ACOPP-110-01/06/99Tiragem 300 exemplaresMapa de Portugal assinalando: Porto – Aveiro – Lisboa e Faro.

115 – Estádio do Bolhão – Fiães

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115 – A – Reverso do mesmo postal

Fiães – Estádio do Bolhão (10.750)ACCOPP – 70 -15/11/96Foto A.M. PatrícioTiragem: 350 exemplaresMapa de Portugal assinalando: Porto – Fiães – Lisboa – Faro.

116 – Parque Desportivo de Caldas de S. Jorge.

Emblema do clube no campo inferior esquerdo.

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116 – A – Reverso do mesmo postal

Caldas de S. Jorge. Santa Maria da FeiraParque Desportivo de Caldas de S. JorgeCaldas de S. Jorge S.C.Port. 69. Foto A.M. Patrício100 Exemplares

Mapa de Portugal assinalando varias cidades e os rios Tâmega – Douro – Mondego – Tejo e Sado.Em destaque e sublinhado: Caldas de S. Jorge.

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Liga dos Amigos da Feira

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Liga dos Amigos da Feira

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