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VIGILÂNCIA
EPIDEMIOLÓGICA DA
DOENÇA DOS LEGIONÁRIOS
Região de Saúde do
2004-2010
2004-20
VIGILÂNCIA
EPIDEMIOLÓGICA DA
DOENÇA DOS LEGIONÁRIOS
Região de Saúde do Norte2010
2010
EPIDEMIOLÓGICA DA
DOENÇA DOS LEGIONÁRIOS
Norte
Agosto 2011
Unidade de Vigilância Epidemiológica
ii
Ficha Técnica Título Vigilância Epidemiológica da Doença dos Legionários Região de Saúde do Norte 2004-2010 Editor Administração Regional da Saúde do Norte, I.P. Rua Santa Catarina, 1288 4000-447 Porto Presidente do Conselho Directivo da ARSN, I.P. Prof. Doutor Fernando Araújo Departamento de Saúde Pública da ARSN, I.P. Directora Dra. Maria Neto Unidade de Vigilância Epidemiológica Dr. Rocha Nogueira Morada Rua Anselmo Braamcamp, 144 4000-078 Porto Tel: 220411701 | Fax: 220411702 Autoria Carlos Carvalho Ana Maria Correia Isabel Andrade Joana Gomes Dias E-mail de contacto [email protected]
Unidade de Vigilância Epidemiológica
iii
ÍNDICE GERAL
ÍNDICE GERAL ............................................................................................................ iii
ÍNDICE DE FIGURAS .................................................................................................. iv
ÍNDICE DE QUADROS ................................................................................................ vi
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ....................................................................... vii
1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 1
2. MATERIAL E MÉTODOS .......................................................................................... 4
3. RESULTADOS ......................................................................................................... 7
3.1. Notificação Clínica (DDO) e Laboratorial ............................................................ 7
3.2. Grupos de Diagnósticos Homogéneos (GDH) .................................................. 17
3.3. Captura-Recaptura: estimativas de incidência ................................................. 22
3.3.1. Estimativas de incidência ........................................................................... 26
4. DISCUSSÃO ........................................................................................................... 28
REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 34
Unidade de Vigilância Epidemiológica
iv
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1. Taxa de notificação de doença dos legionários, por ano, na região de saúde
do Norte, 2004-10 ......................................................................................................... 7
Figura 2. Taxas de notificação de doença dos legionários, por ano, na região de saúde
do Norte (2004-09), em Portugal (2004-08) e na Europa (2004-10) .............................. 8
Figura 3. Número médio anual de notificações de doença dos legionários por grupo
etário e período na região de saúde do Norte, 2004-10 ................................................ 9
Figura 4. Número médio de casos de doença dos legionários por mês de início de
sintomas na região de saúde do Norte, 2004-10 ........................................................... 9
Figura 5. Tempos de demora a partir do início de sintomas na região de saúde do
Norte, 2004-10 ............................................................................................................ 12
Figura 6. Evolução da doença dos legionários na região de saúde do Norte no período
2004-10 ...................................................................................................................... 12
Figura 7. Exames laboratoriais utilizados para o diagnóstico de doença dos legionários
na região de saúde do Norte, 2004-10 ........................................................................ 13
Figura 8. Hábitos tabágicos nos casos notificados de doença dos legionários na região
de saúde do Norte, 2004-10 ....................................................................................... 13
Figura 9. Factores de risco associados a doença dos legionários na região de saúde
do Norte, 2004-10 ....................................................................................................... 14
Figura 10. Exposições ambientais dos casos notificados de doença dos legionários na
região de saúde do Norte, 2004-10 ............................................................................. 15
Figura 11. Classificação da doença dos legionários pela Autoridade de Saúde segundo
o local provável de aquisição na região de saúde do Norte, 2004-10 ......................... 16
Figura 12. Taxa de internamento por doença dos legionários (por 100 mil habitantes),
por ano, na região de saúde do Norte, 2004-09 .......................................................... 17
Figura 13. Média anual de internamentos por doença dos legionários, por grupo etário
e período na região de saúde do Norte, 2004-09 ........................................................ 18
Figura 14. Sazonalidade dos internamentos por doença dos legionários (com base na
data de internamento) na região de saúde do Norte, 2004-09 .................................... 19
Figura 15. Letalidade no internamento por doença dos legionários na região de saúde
do Norte, 2004-09 ....................................................................................................... 20
Unidade de Vigilância Epidemiológica
v
Figura 16. Duração mediana dos internamentos por doença dos legionários na região
de saúde do Norte, 2004-09 ....................................................................................... 20
Figura 17. Número de casos de doença dos legionários detectados por fonte de
informação, por ano, na região de saúde do Norte, 2000-09 ...................................... 22
Figura 18. Número de casos de doença dos legionários por sistema de informação na
região de saúde do Norte, 2004-09 ............................................................................. 23
Figura 19. Número de casos e taxa de incidência anual de doença dos legionários
(notificações e hospitalizações) na região de saúde do Norte, 2004-09 ...................... 24
Figura 20. Número estimado de casos e taxa estimada de incidência de doença dos
legionários na região de saúde do Norte, 2004-09 ...................................................... 26
Figura 21. Taxa de incidência anual estimada de doença dos legionários na região de
saúde do Norte e taxas de notificação anual na região de saúde do Norte, em Portugal
e na Europa, 2004-09 ................................................................................................. 27
Unidade de Vigilância Epidemiológica
vi
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 1. Número de notificações, respectiva proporção e taxa de notificação média
anual de doença dos legionários, por sexo, região de saúde do Norte 2004-10 ........... 8
Quadro 2. Número de notificações de casos de doença dos legionários e taxa de
notificação anual, por ACES, região de saúde do Norte 2004-10 ............................... 10
Quadro 3. Tempos de demora a partir do início de sintomas na região de saúde do
Norte, 2004-10 ............................................................................................................ 11
Quadro 4. Clusters notificados de doença dos legionários, por concelho de residência,
região de saúde do Norte 2004-10.............................................................................. 15
Quadro 5. Internamentos por doença dos legionários e taxa média anual, por sexo,
região de saúde do Norte 2004-09.............................................................................. 17
Quadro 6. Número e proporção de internamentos hospitalares com diagnóstico de
doença dos legionários em UCI, região de saúde do Norte 2004-09 .......................... 21
Quadro 7. Número de casos e respectiva taxa de incidência de doença dos legionários
(notificações e hospitalizações), por ACES, região de saúde do Norte 2004-09 ......... 25
Quadro 8. Exaustividade estimada para cada um dos sistemas de informação de
doença dos legionários, região de saúde do Norte 2004-09 ....................................... 27
Unidade de Vigilância Epidemiológica
vii
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ACES – Agrupamento de Centros de Saúde
ARSN – Administração Regional de Saúde do Norte, I.P.
DDO – Doenças de Declaração Obrigatória
DGS – Direcção-Geral da Saúde
DL – Doença dos Legionários
DS – Delegado de Saúde
DSP – Departamento de Saúde Pública
ECDC – European Centre for Disease Prevention and Control
GDH – Grupos de Diagnósticos Homogéneos
IC95% - Intervalo de Confiança a 95%
IE – Inquérito Epidemiológico
INCM – Imprensa Nacional da Casa da Moeda, E.P.
Lab – Notificação Laboratorial
OMS – Organização Mundial de Saúde
PAC – Pneumonia Adquirida na Comunidade
PVEIDL – Programa de Vigilância Epidemiológica Integrada da Doença dos Legionários
RSN – Região de Saúde do Norte
UCI – Unidade de Cuidados Intensivos
UE – União Europeia
ULS – Unidade Local de Saúde
Unidade de Vigilância Epidemiológica
1
1. INTRODUÇÃO
A Doença dos Legionários (DL) é uma pneumonia atípica grave, causada por bactérias
do género Legionella. A infecção transmite-se por via aérea (respiratória), através da
inalação de gotículas de água (aerossóis) ou, mais raramente, por aspiração de água
contaminada com a bactéria. Para além de se encontrar nos ambientes aquáticos
naturais (como lagos e rios), a Legionella também pode colonizar os sistemas de
abastecimento de água das redes prediais. O agente da infecção pode encontrar-se
na água sanitária, nos sistemas de ar condicionado (torres de arrefecimento,
condensadores de evaporação e humidificadores), nos equipamentos produtores de
aerossóis, nas piscinas, nos jacuzzis e nas fontes decorativas1. Embora
tradicionalmente se pensasse que a bactéria colonizava apenas sistemas de água
quente (a sua multiplicação dá-se entre 25 ºC e 45 ºC), vários estudos evidenciam que
também sistemas de água fria podem estar fortemente colonizados2.
A doença ocorre mais frequentemente nas idades mais avançadas, atingindo
preferencialmente adultos com mais de 50 anos de idade. Surge ainda muitas vezes
associada ao tabagismo e a patologias crónicas (diabetes mellitus, doença pulmonar
crónica, doença renal, doença neoplásica) ou imunossupressão1.
De acordo com alguns autores, a proporção de casos de DL varia de 0,5 a 10% dos
casos de pneumonia adquirida na comunidade e até 30% dos casos de pneumonia
que requerem internamento em Unidade de Cuidados Intensivos (UCI)3.
A DL foi descrita pela primeira vez em 1976 nos Estados Unidos da América, quando
vários casos de pneumonia atípica de causa desconhecida surgiram em participantes
numa conferência de legionários (veteranos de guerra), em Filadélfia. Apesar do
descobrimento tardio, a Legionella não é rara e tem sido identificada em todo o
Unidade de Vigilância Epidemiológica
2
mundo. Em Portugal a DL foi descrita pela primeira vez em 1979 (publicação em
boletim da OMS)4.
Portugal é actualmente um dos centros colaboradores da Rede Europeia de Vigilância
da Doença dos Legionários, a European Legionnaires' Disease Surveillance Network
(ELDSNet, anteriormente designado EWGLI – European Working Group for Legionella
Infections), que recolhe e publica regularmente informação sobre o risco para a saúde
pública, prevenção da doença e vigilância epidemiológica.
A DL foi incluída na lista das doenças de declaração obrigatória (DDO) em 1999
(Portaria n.º 1071/98, de 31 de Dezembro), sendo a notificação clínica de um caso
(provável ou confirmado) da responsabilidade de todos os médicos. Tal como nas
outras doenças de declaração obrigatória, esta deve ser efectuada através do
impresso modelo n.º 1536 (exclusivo da Imprensa Nacional da Casa da Moeda, E.P. –
INCM), em tempo útil, à autoridade de saúde da área de residência do doente.
Em 2004 foi criado o Programa de Vigilância Epidemiológica Integrada da Doença dos
Legionários (PVEIDL), através da Circular Normativa N.º 05/DEP de 22/02/2004 da
Direcção-Geral da Saúde (DGS), que prevê a notificação clínica dos casos às
autoridades de saúde e a notificação laboratorial ao Instituto Nacional de Saúde Dr.
Ricardo Jorge. À notificação dos casos segue-se, obrigatoriamente, a respectiva
investigação epidemiológica, da responsabilidade da autoridade de saúde, através da
aplicação de um inquérito epidemiológico com duas componentes: o estudo
epidemiológico para confirmação do caso, sua caracterização e procura de casos
relacionados, e o estudo ambiental de possíveis fontes de infecção, de acordo com a
Circular Normativa N.º 06/DT de 22/02/2004, da DGS.
O número anual de casos notificados em Portugal variou entre 20 casos em 2004 e 61
em 2008, parecendo apresentar uma tendência crescente5. Na Região de Saúde do
Norte (RSN) o primeiro surto de doença foi descrito em Agosto de 20006.
Unidade de Vigilância Epidemiológica
3
Com este relatório pretende-se divulgar os resultados da vigilância epidemiológica da
DL na RSN desde a implementação do PVEIDL (2004), caracterizando os casos
quanto a variáveis sócio-demográficas, sazonalidade, letalidade da doença, e a
exaustividade das fontes de informação do sistema de vigilância actualmente
implementado.
Unidade de Vigilância Epidemiológica
4
2. MATERIAL E MÉTODOS
Consideraram-se as notificações clínicas e laboratoriais de casos de DL ocorridos na
RSN entre 2004 e 2010, que foram enviados ao Departamento de Saúde Pública
(DSP) da Administração Regional de Saúde do Norte, I.P. (ARSN) no âmbito do
PVEIDL.
Foi construída uma aplicação informática para o registo dos casos de Doença dos
Legionários (DL) notificados e enviados ao DSP, tendo sido informatizados todos os
registos em papel existentes desde a implementação do PVEIDL (2004).
Analisou-se a informação contida no formulário das DDO (modelo n.º 1536 da INCM),
nos relatórios dos inquéritos epidemiológicos (IE) e nas notificações laboratoriais. Dos
suportes de informação descritos, estudaram-se as variáveis idade, sexo, local de
residência, mês e ano de ocorrência, resultado da doença, data do início dos
sintomas, data do conhecimento do caso pelo Delegado de Saúde e data de
realização do IE.
Neste estudo foram também incluídos dados obtidos a partir dos Grupos de
Diagnósticos Homogéneos (GDH) inseridos pelos hospitais na base de dados que a
Administração Central do Sistema de Saúde, I.P. fornece anualmente à ARSN.
Consideraram-se os registos de internamentos hospitalares com diagnóstico de DL
(código 482.84, segundo a Classificação Internacional de Doenças – 9ª revisão), até
ao 20.º diagnóstico, de casos de doença ocorrida em residentes na RSN durante seis
anos consecutivos (2004 a 2009). Entre as variáveis disponíveis na base de dados
GDH foram seleccionadas para este estudo as seguintes: sexo, idade, diagnósticos,
destino após a alta, internamento em Unidades de Cuidados Intensivos (UCI), número
de dias de internamento, ano de internamento e freguesia de residência. Estas
variáveis foram utilizadas para detectar casos de internamentos múltiplos do mesmo
Unidade de Vigilância Epidemiológica
5
individuo (mesma data de nascimento, sexo, freguesia de residência e datas de
internamento desfasadas em menos de 6 meses), situações em que se somaram os
dias de internamento e mantiveram os restantes dados relativos ao último deles.
Os dados populacionais considerados neste estudo foram obtidos a partir das bases
de dados disponibilizadas online pelo Instituto Nacional de Estatística (INE),
subdivididos por concelho, grupo etário e sexo.
Para a referenciação geográfica, foi usado o mapa digital de concelhos da RSN, obtido
do Instituto Geográfico Português. Todas as informações usadas neste estudo foram
georreferenciadas por freguesia de residência, por concelho e por Agrupamento de
Centros de Saúde/Unidade Local de Saúde (ACES/ULS).
A partir da variável idade foram criados os seguintes grupos etários em anos: < 20; 20-
29; 30-39; 40-49; 50-59; 60-69; 70-79; 80-89; ≥ 90, para todos os casos.
Determinaram-se os intervalos de tempo (em dias) entre o início dos sintomas e: a
hospitalização; a notificação clínica (DDO); a notificação laboratorial (Lab); a
realização do inquérito epidemiológico.
Foi efectuado o cálculo de frequências e medidas de tendência central, quando
aplicável. Utilizou-se o teste do χ2 para analisar a existência de diferenças
significativas nas proporções.
Calcularam-se taxas médias anuais de notificação, de internamento e de incidência
estimada por 100 mil habitantes para a região e para os ACES/ULS.
Avaliou-se a gravidade da doença analisando a duração média do internamento, a
proporção de doentes em UCI e a letalidade.
Com o objectivo de avaliar a exaustividade do sistema de informação do PVEIDL
(DDO e Lab), cruzaram-se as bases de dados do DSP com a base de dados hospitalar
Unidade de Vigilância Epidemiológica
6
(GDH), utilizando para isso as variáveis data de nascimento, sexo, concelho de
residência e tempo decorrido entre o início de sintomas e a data de internamento
(considerando-se o tempo máximo de três meses, dado ser altamente improvável que
decorram mais de 90 dias entre a data de início de sintomas e o internamento
hospitalar), entre 2004 e 2009 (último ano para o qual foi disponibilizada informação
referente aos GDH).
Para avaliar o grau de subnotificação de casos de DL na RSN, no período de 2004 a
2009, utilizaram-se métodos de captura-recaptura. Esta metodologia tem sido cada
vez mais usada por epidemiologistas para analisar se os sistemas de informação são
exaustivos e completos, tendo por base a teoria de análise de tabelas de contingência
incompletas e, na prática, aplicando modelos log-lineares. Depois de ajustados os
modelos, estimou-se o número de casos de DL que ocorreram no período em estudo,
com os respectivos intervalos de confiança a 95% (IC95%).
No tratamento, análise e visualização dos dados, utilizaram-se os programas
informáticos Microsoft Excel® 2007, Epidat® 3.1 e ArcMap® 9.1.
Unidade de Vigilância Epidemiológica
7
3. RESULTADOS
3.1. Notificação clínica (DDO) e Laboratorial (Lab)
Entre 2004 e 2010 o DSP recebeu notificações clínicas e laboratoriais relativas a 353
casos de DL, ocorridos na RSN, correspondendo a uma taxa de notificação média
anual de 1,35 por 100 mil habitantes. Em 2009 foram notificados 74 casos (2,0/100 mil
habitantes), subindo este número para 89 em 2010 (2,4/100 mil habitantes),
mantendo-se a tendência de aumento que se verifica desde a implementação do
PVEIDL (Figura 1).
No período em estudo observou-se um acréscimo médio anual de 45%.
Figura 1. Taxa de notificação de doença dos legionários por ano na região de saúde do Norte, 2004-10
A Figura 2 apresenta as taxas de notificação anuais de DL na RSN, em Portugal e na
Europa, verificando-se que a partir de 2008 a taxa da região foi superior à europeia,
parecendo manter uma tendência crescente, ao contrário do verificado na Europa.
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Figura 2. Taxas de notificação de doença dos legionários por ano na região de saúde do Norte (2004-09), em
Portugal (2004-08) e na Europa (2004-10)
No Quadro 1 observa-se a distribuição do número de notificações de DL, respectiva
proporção e taxa de notificação média anual por sexo. No período em estudo a
proporção de notificações no sexo masculino (81,9%) foi estatisticamente superior (p
<0,001) à proporção observada no sexo feminino, com uma razão de masculinidade
de 4,5:1.
Quadro 1. Número de notificações, respectiva proporção e taxa de notificação média anual de doença dos
legionários, por sexo na região de saúde do Norte, 2004-10
Sexo Notificações Taxa de notificação média anual
(/100 mil habitantes) n (%)
Feminino 64 (18,1) 0,51
Masculino 289 (81,9) 2,13
A Figura 3 apresenta a distribuição dos casos notificados por grupo etário no período
2004-10. Quarenta e três por cento dos casos ocorreram nos grupos etários 40-49 e
50-59.
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Figura 3. Número médio anual de notificações de doença dos legionários por grupo etário e período na
região de saúde do Norte, 2004-10
Na Figura 4 pode ver-se o padrão de sazonalidade da DL no período em estudo. A
maioria dos casos surge no final do Verão e no Outono, diminuindo com o início do
Inverno. Este padrão manteve-se no ano de 2010, em que se verificaram picos de
incidência nos meses de Agosto e Outubro.
Figura 4. Número médio de casos de doença dos legionários por mês de início de sintomas na região de
saúde do Norte, 2004-10
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2004-2006 2007-2009 2010
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10
O Quadro 2 apresenta a distribuição das notificações por ACES/ULS da área de
residência do doente. No período em estudo as taxas de notificação mais elevadas
verificaram-se nos ACES da área metropolitana do Porto.
Quadro 2. Número de notificações de casos de doença dos legionários e taxa de notificação média anual,
por ACES na região de saúde do Norte, 2004-10
ACES Notificações (2004-10)
Taxa de notificação média anual (por 100 mil habitantes)
ACES Alto Tâmega e Barroso 0 0,00
ACES Aveiro Norte 1 0,12
ACES Baixo Tâmega 3 0,23
ACES Barcelos/Esposende 11 0,98
ACES Braga 29 2,38*
ACES Douro Sul 0 0,00
ACES Espinho/Gaia 28 2,03*
ACES Famalicão 3 0,32
ACES Feira/Arouca 4 0,34
ACES Gaia 41 4,12*
ACES Gerês/Cabreira 14 1,75
ACES Gondomar 27 2,24*
ACES Guimarães/Vizela 20 1,53
ACES Maia 26 2,71*
ACES Marão e Douro Norte 2 0,27
ACES Nordeste 1 0,09
ACES Porto Ocidental 30 3,41*
ACES Porto Oriental 23 3,31*
ACES Póvoa/Conde 6 0,60
ACES Santo Tirso/Trofa 9 1,16
ACES Terras Basto 10 1,79
ACES Vale Sousa Norte 10 0,88
ACES Vale Sousa Sul 9 0,73
ACES Valongo 10 1,50
ULS Alto Minho 5 0,28
ULS Matosinhos 24 2,03
Desconhecido 7 -
REGIÃO DE SAÚDE DO NORTE 353 1,35
*Valor estatisticamente superior ao observado na RSN (p<0,05)
Unidade de Vigilância Epidemiológica
11
Em 71 notificações de DL no período em estudo (20%), o DSP não recebeu o IE
respectivo. A proporção de casos notificados com IE realizado e enviado ao DSP tem
vindo a diminuir, variando entre 90% em 2006 e 74% em 2009, subindo para 79% no
ano de 2010. Quanto ao inquérito ambiental, este só foi realizado em 62 situações
(28,2% das notificações com IE).
No Quadro 3 e na Figura 5 apresentam-se os tempos de demora, em dias, desde o
aparecimento de sintomas até às notificações clínica e laboratorial, bem como até à
realização do inquérito epidemiológico pelo DS e até à hospitalização do doente. A
demora na notificação clínica (DDO) tem sido muito variável ao longo do tempo, com
uma média de 22 e um máximo de 197 dias no ano de 2010. Neste mesmo ano o
tempo médio de demora até à notificação laboratorial foi de 14 dias. A realização do
inquérito epidemiológico pelo DS demorou, em média, 64 dias.
Quadro 3. Tempos (dias) entre o início de sintomas e a hospitalização, a notificação (clínica e laboratorial) e
o inquérito epidemiológico na região de saúde do Norte, 2004-10
Demora (em dias) entre início de sintomas e: 2004-2006 2007-2009 2010
Hospitalização (n=281) Média (Desvio-padrão) 6 (5) 5 (4) 5 (4)
Mínimo – Máximo 0 – 29 0 – 20 0 – 20
Notificação clínica (DDO) (n=180) Média (Desvio-padrão) 15 (11) 28 (32) 22 (33)
Mínimo – Máximo 3 – 62 0 – 162 1 – 197
Notificação Laboratorial (n=137) Média (Desvio-padrão) 13 (9) 30 (33) 14 (12)
Mínimo – Máximo 0 – 41 2 – 139 0 – 53
Inquérito Epidemiológico (n=282) Média (Desvio-padrão) 35 (23) 64 (62) 64 (59)
Mínimo – Máximo 7 – 146 1 – 389 10 – 264
Unidade de Vigilância Epidemiológica
12
Figura 5. Tempos de demora a partir do início de sintomas na região de saúde do Norte, 2004-10
Na Figura 6 é apresentado o resultado da doença nos casos em que houve lugar à
realização de IE (n=282). A maioria dos casos (69,5%) evoluiu para a cura. Alguns
indivíduos continuavam doentes à data da elaboração do inquérito epidemiológico do
caso, tendo falecido 3 doentes em 2010 (4,3% dos IE).
Figura 6. Evolução da doença dos legionários na região de saúde do Norte no período 2004-10
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De
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dia
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IE
DDO
Lab
Hosp
Ainda doente; 12 Ainda doente; 22 Ainda doente; 13
Cura; 49 Cura; 99 Cura; 48
Desconhecido; 10 Desconhecido; 9 Desconhecido; 6
Falecimento; 2 Falecimento; 9 Falecimento; 3
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100%
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13
A maioria dos diagnósticos de DL foi confirmada com base na pesquisa de antigénio
urinário. No ano de 2008 este exame laboratorial foi efectuado em 98% dos casos
notificados. A serologia e o exame cultural foram feitos numa proporção de casos
muito menor (entre 10 e 30%), como se pode ver na Figura 7.
Figura 7. Exames laboratoriais utilizados para o diagnóstico de doença dos legionários na região de saúde
do Norte, 2004-10 (n=282)
O tabagismo, o alcoolismo e a diabetes mellitus foram os factores de risco individuais
mais frequentemente associados aos casos de DL, como se pode ver na Figura 8 e na
Figura 9.
Figura 8. Hábitos tabágicos nos casos notificados de doença dos legionários na região de saúde do Norte,
2004-10 (n=220)
72%
98%
Antigénio Urinário
81%
Cultura
11%
Serologia
18%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Pro
po
rçã
o d
as
no
tifi
caçõ
es
com
ex
am
e l
ab
ora
tori
al
Não
fumador
19,5%
Ex-fumador
20,5%
Fumador
60,0%
Unidade de Vigilância Epidemiológica
14
Figura 9. Factores de risco associados a doença dos legionários na região de saúde do Norte, 2004-10
(n=282)
Relativamente às prováveis fontes de infecção, verifica-se que com alguma frequência
os indivíduos com DL estiveram nas duas semanas antes do início dos sintomas
expostos a aparelhos de ar condicionado (19,6% dos casos). Outras fontes de
infecção possíveis, como visita hospitalar, sistema de rega, fontes ornamentais,
sistemas de lavagem automática, piscina ou chuveiro em instalações de lazer são
menos frequentemente relatadas (entre 5 e 10% dos casos), como se pode ver na
Figura 10.
3%
11%
2%
7%
2%
15%
0%
4%
8%
12%
16%
Pro
po
rçã
o d
os
caso
s n
oti
fica
do
s
Unidade de Vigilância Epidemiológica
15
Figura 10. Exposições ambientais dos casos notificados de doença dos legionários na região de saúde do
Norte, 2004-10 (n=282)
A grande maioria dos casos notificados de DL no período em estudo foi classificada
como “caso isolado”, havendo registo da ocorrência de 3 clusters envolvendo um total
de 30 casos (Quadro 4).
Quadro 4. Clusters notificados de doença dos legionários, por concelho de residência na região de saúde do
Norte, 2004-10
Data Concelho Casos
2006 (Maio-Outubro) Vila Nova de Gaia 16
2009 (Novembro/Dezembro)
Esposende 2
Póvoa de Varzim 3
Vila do Conde 2
2010 (Julho/Agosto)
Fafe 6
Guimarães 1
Em nenhuma destas situações o inquérito ambiental levado a cabo possibilitou a
confirmação laboratorial da fonte de infecção.
19,6%
9,2% 9,5%6,8% 6,5% 5,4% 5,7%
3,6%
0,0%
5,0%
10,0%
15,0%
20,0%
25,0%
Pro
po
rçã
o d
os
caso
s n
oti
fica
do
s
Unidade de Vigilância Epidemiológica
16
Quanto à origem da doença, na maioria das situações (90,8%) esta foi “adquirida na
comunidade”, representando a infecção adquirida “em viagem” 8% dos casos no
período em estudo (Figura 11).
Figura 11. Classificação da doença dos legionários pela Autoridade de Saúde segundo o local provável de
aquisição na região de saúde do Norte, 2004-10
98%
2%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Comunidade
Viagem
Hospital
Unidade de Vigilância Epidemiológica
17
3.2. Grupos de Diagnósticos Homogéneos (GDH)
Entre 2004 e 2009 registaram-se na RSN 365 internamentos de indivíduos com
diagnóstico de DL, correspondendo a uma taxa média anual de internamento de 1,62
casos por 100 mil habitantes. Na Figura 12 apresenta-se a evolução anual da taxa de
internamento por DL. No período em estudo o acréscimo anual médio foi de 18%.
Figura 12. Taxa de internamento por doença dos legionários (por 100 mil habitantes), por ano, na região de
saúde do Norte, 2004-09
Os internamentos por DL foram muito mais frequentes nos indivíduos do sexo
masculino (p<0,001), verificando-se uma razão de masculinidade de 4,6:1 (Quadro 5).
Quadro 5. Internamentos por doença dos legionários e taxa média anual, por sexo na região de saúde do
Norte, 2004-09
Sexo Internamentos Taxa de internamento
(/100 mil habitantes) n (%)
Feminino 65 (17,8) 0,60
Masculino 300 (82,2) 2,58
0,9
1,4
2,0
1,5
2,0
1,8
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
2004 2005 2006 2007 2008 2009Ta
xa
de
in
tern
am
en
to (
/10
0 m
il h
ab
)
Ano
Unidade de Vigilância Epidemiológica
18
A Figura 13 apresenta a distribuição dos internamentos por DL nos hospitais da RSN
por grupo etário. No período em estudo 50% dos internamentos ocorreram em
indivíduos com idades compreendidas entre os 40 e os 59 anos de idade.
Figura 13. Média anual de internamentos por doença dos legionários, por grupo etário e período na região
de saúde do Norte, 2004-09
No que diz respeito à sazonalidade, no período em estudo verificou-se uma tendência
semelhante ao que se verificou com as notificações: aumento no final do Verão e
decréscimo a partir do início do Inverno, atingindo valores máximos em Novembro e
mínimos em Março (Figura 14).
0
5
10
15
20
< 20 20-29 30-39 40-49 50-59 60-69 70-79 80-89 90+
N.º
mé
dio
an
ua
l d
e i
nte
rna
me
nto
s
Grupo etário (anos)
2004-2006 2007-2009
Unidade de Vigilância Epidemiológica
19
Figura 14. Sazonalidade dos internamentos por doença dos legionários (com base na data de internamento)
na região de saúde do Norte, 2004-09
A grande maioria dos doentes internados com diagnóstico de DL teve, no período em
estudo, alta para o domicílio, tendo ocorrido 18 óbitos entre 2004 e 2009, dos quais 3
no ano de 2009.
No período em estudo a letalidade global observada foi de 4,9%, sendo 3,6% no
primeiro triénio e 6,0% no segundo triénio. Este aumento ficou-se a dever
essencialmente à letalidade verificada em 2007, ano em que atingiu 8,6% (Figura 15).
0
5
10
15
20
25
Nú
me
ro m
éd
io i
nte
rna
me
nto
s p
or
DL
Mês de início de sintomas
2004-2009 2009
Unidade de Vigilância Epidemiológica
20
Figura 15. Letalidade no internamento por doença dos legionários na região de saúde do Norte, 2004-09
A Figura 16 mostra a evolução do tempo mediano de internamento entre 2004 e 2009.
No período em estudo o tempo mediano de internamento foi de 10 dias (média de
14,1, com desvio-padrão de 14,5 e máximo de 143 dias), parecendo diminuir
ligeiramente entre 2005 e 2008 e aumentando novamente em 2009 para 12 dias.
Figura 16. Duração mediana dos internamentos por doença dos legionários na região de saúde do Norte,
2004-09
5,7%
1,9%
8,6%
4,5%
2004 2005 2006 2007 2008 2009
0,0%
2,0%
4,0%
6,0%
8,0%
10,0%
2004-2006 2007-2009
Leta
lid
ad
e
Período
14
10,510 10
9,5
12
0
2
4
6
8
10
12
14
16
2004 2005 2006 2007 2008 2009
Unidade de Vigilância Epidemiológica
21
O Quadro 6 apresenta a evolução anual do número e proporção dos internamentos
por DL na UCI. No período em estudo a percentagem de doentes que necessitaram de
tratamento na UCI foi de 12,9%. Observou-se uma maior proporção de casos
internados em UCI nos anos de 2004 e 2007 (20,0% e 20,7%, respectivamente).
Quadro 6. Número e proporção de internamentos hospitalares com diagnóstico de doença dos legionários
em UCI na região de saúde do Norte, 2004-09
Ano Casos Proporção
2004 7 20,0%
2005 4 7,4%
2006 12 15,8%
2007 12 20,7%
2008 6 7,9%
2009 6 9,1%
2004-2009 48 12,9%
Unidade de Vigilância Epidemiológica
22
3.3. Captura-Recaptura: estimativas de incidência
Utilizando os dados provenientes das três fontes de informação descritas
anteriormente, entre 2004 e 2009 foram detectados 446 casos de DL, correspondendo
a uma taxa de incidência anual de 1,99 casos por 100 mil habitantes. Destes, 180
foram detectados pelo sistema de notificação clínica (DDO), 137 pelo sistema de
notificação laboratorial (Lab) e 365 pelo registo hospitalar (GDH). A Figura 17
apresenta a evolução do número de casos de DL para cada um dos sistemas.
Observa-se que o número de internamentos por DL é sistematicamente superior ao
número de casos detectados por cada uma das outras fontes.
Figura 17. Número de casos de doença dos legionários detectados por fonte de informação, por ano, na
região de saúde do Norte, 2000-09
O diagrama da Figura 18 representa a distribuição do número de casos detectados
pelas três fontes de informação no período em estudo. De salientar que 182 casos de
internamento por DL (representando 50% do total) não foram detectados pelo PVEIDL.
29
8376
66
2
53
37
13 30
44
0
20
40
60
80
100
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Nú
me
ro d
e c
aso
s
Ano
GDH
Lab
DDO
Unidade de Vigilância Epidemioló gica
Figura 18. Número de casos de
Tendo como base a informação proveniente das
construiu-se o mapa da
geográfica dos casos de DL e a respectiva taxa de incidência no período em estudo.
Observa-se que nos concelhos dos ACES do litoral, em particular
metropolitana do Porto, existe uma maior concentração de casos de DL e taxas de
incidência mais elevadas.
gica
23
. Número de casos de doença dos legionários por sistema de informação na região de saúde do
Norte, 2004-09
Tendo como base a informação proveniente das três fontes de dados referidas,
se o mapa da Figura 19 e o Quadro 7, que apresentam
geográfica dos casos de DL e a respectiva taxa de incidência no período em estudo.
se que nos concelhos dos ACES do litoral, em particular
metropolitana do Porto, existe uma maior concentração de casos de DL e taxas de
na região de saúde do
três fontes de dados referidas,
m a distribuição
geográfica dos casos de DL e a respectiva taxa de incidência no período em estudo.
se que nos concelhos dos ACES do litoral, em particular na área
metropolitana do Porto, existe uma maior concentração de casos de DL e taxas de
Unidade de Vigilância Epidemiológica
24
Figura 19. Número de casos e taxa de incidência anual de doença dos legionários (notificações e hospitalizações) na região de saúde do Norte, 2004-09
Unidade de Vigilância Epidemiológica
25
Quadro 7. Número de casos e respectiva taxa de incidência de doença dos legionários (notificações e
hospitalizações), por ACES na região de saúde do Norte, 2004-09
ACES/ULS Casos População média Taxa incidência (/100 m il)
ACES Alto Tâmega e Barroso 1 102581 0,16
ACES Aveiro Norte 1 117486 0,14
ACES Baixo Tâmega 4 189514 0,35
ACES Barcelos/Esposende 16 159580 1,67
ACES Braga 20 174296 1,91
ACES Douro Sul 0 76671 -
ACES Espinho/Gaia 33 196590 2,80*
ACES Famalicão 5 133825 0,62
ACES Feira/Arouca 13 169401 1,28
ACES Gaia 43 142203 5,04*
ACES Gerês/Cabreira 14 114454 2,04
ACES Gondomar 39 172239 3,77*
ACES Guimarães/Vizela 34 186563 3,04*
ACES Maia 32 136910 3,90*
ACES Marão e Douro Norte 4 106909 0,62
ACES Nordeste 1 150595 0,11
ACES Porto Ocidental 44 125649 5,84*
ACES Porto Oriental 36 99126 6,05*
ACES Póvoa/Conde 7 143119 0,82
ACES Santo Tirso/Trofa 12 110742 1,81
ACES Terras Basto 4 79680 0,84
ACES Vale Sousa Norte 8 175426 0,82
ACES Vale Sousa Sul 11 161872 1,05
ACES Valongo 16 94967 2,81*
ULS Alto Minho 6 251540 0,40
ULS Matosinhos 33 169013 3,25*
Sem informação 9 - -
REGIÃO DE SAÚDE DO NORTE 446 3740951 1,99
*Valor estatisticamente superior ao observado na RSN (p<0,05)
Unidade de Vigilância Epidemiológica
26
3.3.1. Estimativas de incidência
Utilizaram-se modelos log-lineares para estimar o número de casos de DL que não
foram detectados por nenhuma fonte. O modelo que melhor se ajustou foi o que
apresenta a independência entre as fontes DDO e GDH da fonte Lab. A estimativa do
número de casos não detectados foi de 154. Assim, o número estimado de casos de
DL para o período compreendido entre 2004 e 2009 foi de 560, correspondendo a uma
taxa de incidência anual estimada de 2,49 casos por 100 mil habitantes, sendo o
respectivo IC 95% (2,28 ; 2,71).
A Figura 20 permite visualizar a evolução do número estimado de casos e respectiva
taxa de incidência estimada no período em estudo.
Figura 20. Número estimado de casos e taxa estimada de incidência de doença dos legionários na região de
saúde do Norte, 2004-09
Comparando esta taxa estimada de incidência com as taxas de notificação de DL na
RSN, em Portugal e na Europa, construiu-se o gráfico da Figura 21.
59
71
105
91
111
96
1,6
1,9
2,8
2,4
3,0
2,6
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
0
20
40
60
80
100
120
2004 2005 2006 2007 2008 2009
Ta
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in
cid
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ima
da
(/1
00
mil
)
N.º
de
ca
sos
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ima
do
Ano
Unidade de Vigilância Epidemiológica
27
Figura 21. Taxa de incidência anual estimada de doença dos legionários na região de saúde do Norte e taxas
de notificação anual na região de saúde do Norte, em Portugal e na Europa, 2004-09
Utilizando como referência o número estimado de casos, pode-se então calcular a
exaustividade de cada uma das fontes de informação em análise, e do próprio PVEIDL
(Quadro 8).
Quadro 8. Exaustividade estimada para cada uma das fontes de informação de doença dos legionários na
região de saúde do Norte, 2004-09
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2004-09
N estimado 59 71 105 91 111 96 560
IC 95% 30-89 59-83 93-119 76-107 98-126 90-104 511-609
Exaust. DDO (%) 22 32,4 38,1 33 27 45,8 32,1
Exaust. Lab (%) 6,8 2,8 17,1 25,3 47,7 38,5 24,5
Exaust. GDH (%) 59,3 76,1 73,3 65,9 67,6 66,7 65,2
Exaust. Total (%) 66,1 85,9 85,7 80,2 84,7 92,7 79,6
Exaust. PVEIDL (%) 22 35,2 45,7 41,8 59,5 77,1 47,1
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
2004 2005 2006 2007 2008 2009
Ta
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an
ua
l (p
or
10
0 m
il h
ab
ita
nte
s)
Ano
Tx Inc. Estimada RSN Tx Notif. RSN
Tx Notif. Portugal Tx Notif. Europa
Unidade de Vigilância Epidemiológica
28
4. DISCUSSÃO
A vigilância epidemiológica da DL na Europa tem sido feita de forma
predominantemente passiva7, dependendo da notificação pelos profissionais
envolvidos no diagnóstico da doença. Apesar de se tratar em Portugal de uma Doença
de Declaração Obrigatória (DDO), frequentemente a doença é diagnosticada sem que
haja lugar a qualquer notificação, o que levou a Direcção-Geral da Saúde a criar um
Programa de Vigilância que integrasse não só a notificação clínica mas também a
notificação laboratorial dos casos.
O número de casos de DL notificados no âmbito do Programa de Vigilância
Epidemiológica Integrado da Doença dos Legionários (PVEIDL) na Região de Saúde
do Norte (RSN) tem aumentado consistentemente desde 2004, assumindo-se que
possa reflectir não só um aumento do número de casos diagnosticados mas também
uma melhoria da performance dos sistemas de notificação.
Se até 2007 a taxa de notificação anual da doença na RSN se manteve próxima da
verificada em Portugal e na restante Europa (aproximadamente 1 caso por 100 mil
habitantes), a partir de 2008 esta taxa aumenta acentuadamente, atingindo 1,8/100 mil
nesse ano, 2,0/100 mil em 2009 e 2,4/100 mil em 2010 (não havendo dados nacionais
que possibilitem a comparação nestes dois últimos anos).
No que diz respeito aos internamentos hospitalares por DL na RSN, o aumento anual
do número de casos não é tão evidente, aproximando-se a respectiva taxa anual dos 2
internamentos por 100 mil habitantes em 2008 e em 2009 (último ano com dados
disponíveis).
Utilizando as várias fontes de dados e o método de captura-recaptura, foi possível
estimar o número de casos de DL para o período entre 2004 e 2009, verificando-se
que muito provavelmente a taxa de incidência real da doença na região é bastante
Unidade de Vigilância Epidemiológica
29
mais elevada do que a taxa de notificação. A exaustividade dos sistemas de
informação do PVEIDL tem aumentado anualmente desde 2004 (ano em que foram
detectados 22% dos casos estimados para a RSN) e 2009 (detectados 77%). Assim
sendo, o aumento do número de casos notificados nos últimos anos parece dever-se
mais a uma melhor performance do PVEIDL do que a um aumento do número de
casos diagnosticados.
A DL afecta principalmente indivíduos do sexo masculino, verificando-se na RSN uma
razão de masculinidade nos casos notificados bastante superior à observada na
Europa (4,5:1 vs 2,9:1)7. A razão de masculinidade encontrada nos internamentos por
DL foi semelhante à observada nas notificações.
A distribuição etária dos casos notificados de DL evidenciou uma predominância nos
indivíduos com idades compreendidas entre os 40 e os 49 anos no período 2004-
2006, situação que se alterou nos anos seguintes. Os indivíduos afectados são agora
mais velhos, passando o escalão etário mais afectado a ser o de 50-59 anos, o que
está de acordo com a situação verificada na Europa8.
No que diz respeito quer às notificações quer aos internamentos, a doença na RSN
ocorre mais frequentemente no final do Verão e Outono, ou seja, mais tardiamente do
que o que se verifica a nível europeu. Na Europa os casos começam a aumentar em
Maio, diminuindo durante os meses de Inverno7, enquanto na RSN o maior aumento
se dá habitualmente no mês de Agosto e atinge o máximo nos meses de Outubro e
Novembro.
No período em estudo as taxas de notificação e de internamento por DL foram mais
elevadas nos ACES dos grandes centros urbanos, nomeadamente Grande Porto,
Braga e Guimarães.
Unidade de Vigilância Epidemiológica
30
Embora todos os casos notificados devessem dar origem à realização de um inquérito
epidemiológico (IE)9,10, este foi enviado ao Departamento de Saúde Pública (DSP) em
apenas 80% dos casos. Apesar de ser também obrigatório, o inquérito ambiental foi
enviado ao DSP em apenas 62 casos, representando 18% do total de notificações. Na
maioria das situações é enviada ao DSP a informação de que não é justificado o
estudo ambiental por não se conhecerem fontes possíveis de infecção.
O tempo decorrido entre o início de sintomas e as notificações ou a realização do
inquérito epidemiológico continua a ser muito elevado. No triénio 2007-2009 a demora
média para a realização de IE ultrapassou os 60 dias, mantendo-se o tempo de
demora para a notificação clínica ou laboratorial entre os 20 e os 30 dias. Durante o
ano de 2010 a situação manteve-se no que diz respeito ao IE, mas o tempo de demora
para a notificação clínica e laboratorial diminuiu para 22 e 14 dias, respectivamente.
O tempo decorrido entre o início de sintomas e o internamento tem-se mantido
aproximadamente constante ao longo de todo o período em estudo: 5 dias.
A análise dos inquéritos epidemiológicos evidenciou que na grande maioria das
situações a confirmação do diagnóstico é feita laboratorialmente através da pesquisa
na urina dos antigénios da Legionella. Os dados disponíveis mostram que na Europa
este exame continua a ser o mais utilizado para chegar ao diagnóstico de DL (81%
dos casos em 2007-2008)8, pelo que os resultados encontrados na RSN (87% do total
de casos notificados no período 2004-2010) são consistentes. O exame cultural e a
serologia são também realizados com alguma frequência, representando no período
em estudo aproximadamente 20% das notificações.
Sessenta por cento dos casos notificados com IE dizem respeito a indivíduos
fumadores, o que está de acordo com o descrito na literatura1, segundo a qual estes
serão mais susceptíveis. Outros factores de risco associado incluem alcoolismo (15%),
diabetes (11%) e doença pulmonar (7%).
Unidade de Vigilância Epidemiológica
31
As principais fontes prováveis de infecção referidas no IE são sistemas de ar
condicionado, visita hospitalar e sistemas de rega, o que também está de acordo com
os locais onde mais frequentemente pode ser encontrado o agente bacteriano em
causa1.
A proporção de casos associados a viagem ou a internamentos hospitalares tem vindo
a diminuir ao longo do período em estudo, tendo a infecção sido adquirida na
comunidade em mais de 90% dos casos notificados com IE (98% no ano de 2010).
A análise dos inquéritos epidemiológicos enviados ao DSP entre 2004 e 2010 permitiu
identificar 3 clusters de DL, tendo um ocorrido em 2006 (16 casos, no concelho de Vila
Nova de Gaia), outro em 2009 (7 casos, nos concelhos de Esposende, Póvoa de
Varzim e Vila do Conde) e outro em 2010 (7 casos, nos concelhos de Fafe e
Guimarães). Em nenhuma dessas situações foi possível comparar as estirpes
humanas com as estirpes ambientais.
A análise dos dados hospitalares permitiu obter algumas informações sobre a
gravidade da doença. Apesar da melhoria no diagnóstico e opções de tratamento, a
literatura aponta para letalidades que se mantêm aproximadamente em 15%1. Na
Europa a letalidade foi de 6,5% no ano de 20088, um valor acima do verificado na RSN
entre 2004 e 2010 onde, de acordo com os registos hospitalares, apenas 4,8% dos
indivíduos internados com diagnóstico de DL acabaram por falecer.
A duração mediana dos internamentos por DL diminuiu entre 2004 e 2008, altura em
que atingiu os 9,5 dias. A partir deste ano a duração dos internamentos parece voltar a
aumentar, atingindo uma mediana de 12,5 dias no ano de 2009. A proporção de
indivíduos hospitalizados que necessitaram de internamento na Unidade de Cuidados
Intensivos, um indicador da gravidade da doença, foi de 12,9% no período
compreendido entre 2004 e 2009. Em 2008 e 2009 esta proporção foi de 7,9 e 9,1%,
respectivamente.
Unidade de Vigilância Epidemiológica
32
Estima-se que entre 0,5 e 5% dos casos de pneumonia adquirida na comunidade
(PAC) são devidos a Legionella1. Utilizando como referência os dados disponíveis de
internamentos por pneumonia na RSN11,12, entre 2004 e 2009 seriam de esperar entre
352 e 3520 casos de DL. O número estimado de casos de DL está compreendido
neste intervalo, correspondendo a 0,8% dos casos de internamento por PAC na RSN.
A estimativa do número de casos de DL na RSN, utilizando o método de captura-
recaptura para o período 2004-2009, permitiu determinar a exaustividade de cada um
dos sistemas de informação. Verificou-se que o sistema mais completo no período em
estudo foi o dos GDH, onde foram detectados 65,2% dos casos. Ainda assim, estima-
se que mais de 20% dos casos não tenha sido detectado nem nesta fonte nem pelo
PVEIDL. A exaustividade deste último sistema de informação tem, apesar de tudo,
aumentado de ano para ano, estimando-se que em 2009 tenham sido detectados
77,1% dos casos (mais 10,4% do que pelos GDH).
Os métodos referidos permitiram estimar uma taxa de incidência “real” de DL na RSN,
que no período em estudo terá sido de 2,5 casos por 100 mil habitantes por ano, um
valor bastante acima das taxas de notificação da própria região e de Portugal. As
publicações europeias mais recentes7 revelaram em 2008 uma taxa de notificação de
DL de apenas 1,2/100 mil, o que poderá indicar que mesmo a nível europeu a
verdadeira dimensão do problema de saúde estará a ser subavaliado (já que os dados
publicados pelo European Centre for Disease Control and Prevention têm como base
os sistemas de notificação de cada país) e/ou que de facto a situação na RSN é
preocupante, carecendo de investigação mais aprofundada e de medidas sérias para
fazer face à doença.
Não é objectivo deste relatório apresentar uma avaliação do sistema de vigilância na
RSN, mas apenas fornecer alguns indicadores sobre o seu funcionamento. A
notificação laboratorial permitiu o conhecimento mais precoce da ocorrência de casos
Unidade de Vigilância Epidemiológica
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e contribuiu para diminuir a subnotificação. O grande intervalo de tempo decorrido
entre o início de sintomas e a recepção da notificação da doença pelo Delegado de
Saúde (DS) pode ter numa proporção significativa de casos inviabilizado uma resposta
rápida dirigida à prevenção de novos casos. Os parâmetros analisados quanto à
demora entre o aparecimento dos casos e o conhecimento pelo DS apontam para a
necessidade de introdução de correcções no funcionamento do PVEIDL. De facto,
torna-se necessário melhorar a detecção precoce para garantir uma intervenção de
saúde pública atempada.
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REFERÊNCIAS
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Control, 2010
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9 Direcção-Geral da Saúde: Programa de Vigilância Epidemiológica Integrada da Doença dos
Legionários – Notificação Clínica e Laboratorial de Casos. Circular Normativa N.º 05/DEP de
22/04/2004. Lisboa, Direcção-Geral da Saúde, 2004
10 Direcção-Geral da Saúde: Programa de Vigilância Epidemiológica Integrada da Doença dos
Legionários – Investigação Epidemiológica. Circular Normativa N.º 06/DT de 22/04/2004.
Lisboa, Direcção-Geral da Saúde, 2004
11 Dias J, Correia AM, Queirós L. Community-acquired pneumonia and influenza
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online: http://www.eurosurveillance.org/ViewArticle.aspx?ArticleId=726
12 Dias J. Spatial modelling of pneumonia and influenza hospitalizations in Northern region of
Portugal. Porto: Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, 2010. Dissertação de
mestrado