Videoclipe em tempos de reconfigurações

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    DIVESIDADES DA IMAGEM VISUAL

    A linguagem televisiva e a indstria fonogrfica foram

    os dois grandes estruturadores do videoclipe tanto noplano esttico quanto no cultural. Canais musicais comoa MTV, principal expoente do gnero no mundo, trans-formaram o videoclipe em um produto de massa, dandouma amplitude imagtica msica e conectando a tele-viso com os interesses da indstria fonogrfica (Soares,2007). Essa relao era to aceita que estudiosos comoGoodwin (1993) e Kaplan (1993) tratam o gnero utili-zando conceitos relacionados linguagem televisiva es suas convenes. Para analisar, por exemplo, o moti-vo que faz os cantores frequentemente se direcionaremao telespectador enquanto danam e interpretam a can-o no videoclipe, Goodwin busca referncias em ele-mentos como os talking heads (que seriam as cabe-as falantes que transmitem notcias na televiso) e nosshows de auditrio. Kaplan, por outro lado, analisa aparte visual do videoclipe e da MTV, relacionando suascaractersticas estticas ao ps-modernismo. A partemusical, como bem aponta Goodwin, fica praticamenteesquecida nas anlises de Kaplan.

    Videoclipe, televiso e msicaEntretanto, a histria do gnero aponta tambm paraoutras confluncias. No campo audiovisual, de acordocom Soares (2004) e Machado (2000), as linguagens do

    cinema, da vdeoarte e das vanguardas artsticas, comoa pop art, foram fundamentais para a definio dosparmetros estticos que at hoje sustentam o gnero.No campo musical, o videoclipe sempre esteve ligado aorock e ao pop1.

    Algumas das primeiras experincias que se preocu-param prioritariamente em sincronizar som e imagemde forma a torn-las interdependentes datam das dca-das de 20 e 30. Na poca, o artista alemo Oskar Fischin-ger fez uma srie de pequenos filmes animados que sepreocupavam em conceder som s imagens, pois paraele, todos os objetos contm som inerente (Moritz, 2004).

    Dentre as contribuies que Fischinger percebe com osurgimento do videoclipe, destaca-se a tentativa do ar-tista em conceder ritmo s imagens atravs de recursosinovadores de edio com intuito de que o espectadorno conseguisse separar a msica da imagem.

    Na dcada de 30, quando a televiso j existia emvrios pases, nmeros musicais comearam a ser veicu-lados. A estrutura era simples, feita basicamente complanos estticos na forma ao vivo, ou seja, com cenasda banda em shows e palcos. As montagens resumiam-se a descries de pequenas aes que supervaloriza-vam a beleza ou o talento prioritariamente do vocalistae, secundariamente, de sua banda. Para pensar as basesestruturais do videoclipe, importante resgatarmos Fis-chinger. Ele, em 1940, junto com o maestro britnico

    Videoclipe em tempos de reconfiguraes*

    Marildo Jos NercoliniProfessor do Programa de Ps-graduao em Comunicao da UFF/RJ/[email protected]

    RESUMO

    Desde sua origem na dcada de 1970, o videoclipe temsido definido como um gnero eminentemente televisi-vo, que encontrou nos canais musicais, como a MTV, oseu principal veculo. Recentemente, porm, essa situa-o comeou a modificar-se. Principalmente a partir doadvento do Youtube, a internet tem se transformado emveculo fundamental para a divulgao dos videoclipes.Este trabalho se prope a discutir o modo como estamudana de circuito tem provocado modificaes naproduo, na esttica e na prpria audincia dos video-clipes. Para buscar entender a situao e apontar algu-mas de suas decorrncias, analisamos os videoclipes deNX Zero, grupo de rock brasileiro, que tem na internetum suporte significativo de divulgao de seu trabalho.

    PALAVRAS-CHAVEvideoclipeinternetreconfiguraes

    ABSTRACT

    Since its origins in the 70s, the music video is considered aneminently television genre which depends on the musicalchannels, like MTV. However, recently this scenario has be-

    gun to change. Especially because of the YouTube, the Internet

    is now the fundamental vehicle for dissemination of the musicvideos. This paper will discuss the change of the disseminati-on circuit and how it has modified the production, the aesthe-tic, and the audience of the music videos. To comprehend thisnew situation and to find out some of its consequences, we willanalyse the music videos of NX Zero, a Brazilian adolescentrock band that uses the Internet as a significant support for his

    job.

    KEY WORDS

    music videointernet

    reconfiguration

    Ariane Diniz HolzbachDoutoranda do Programa de Ps-graduao em Comunicao da UFF/RJ/[email protected]

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    Leopold Stokowski, trabalhou no musical Fantasia, umdos marcos cinematogrficos de Walt Disney. O filme formado por oito curtas-metragens animados que utili-zaram msicas clssicas conhecidas para contar hist-rias de animais e seres fantasiosos. O trabalho, contudo,

    no rendeu os louros que Disney esperava e s comeoua fazer sucesso dcadas depois, em fita VHS e DVD, ouseja, aps ser veiculado na televiso.

    No campo musical, no incio da dcada de 60, ElvisPresley j havia solidificado o rock e os Beatles comea-vam a fazer sucesso. No campo audiovisual, a televisoestava consolidada em praticamente todo o mundo edividia espao com o cinema. O estilo de Elvis estavaestampado em 33 filmes que foram lanados em diver-sos pases, enquanto vrias emissoras de televiso apre-sentavam nmeros musicais gravados pelos Beatles. Emambos os casos, as imagens dos msicos reforavamlaos identitrios entre a juventude da poca e os artis-tas, o que contribuiu para a solidificao de um novotipo de audincia: os jovens fs. Alguns filmes que osBeatles estrelaram2 contm inseres musicais que se as-semelhavam futura estrutura do videoclipe, mas osnmeros musicais no eram feitos para vender umacano em particular, e sim para fazer propaganda dabanda de maneira geral.

    Apesar de ser um assunto controverso, considera-seque o videoclipe surgiu na dcada de 70. O semanrioNew Musical Express (NME3), importante referncia mu-sical europia, determinou como marco inicial da hist-ria do videoclipe feito para a cano Bohemian Rhap-

    sody 4, da banda Queen (Soares, 2004), produzido em1975 e dirigido por Gowers e Roseman. O diferencialdesse videoclipe que ele foi prioritariamente desenvol-vido para lanar a msica nos meios de comunicao. Oento chamado vdeo promocional apresentava efei-tos especiais, um roteiro razoavelmente definido e umatentativa inovadora de combinar imagens com as princi-pais batidas da msica, provocando variadas sensaessinestsicas5. O vdeo foi lanado junto com o single eveiculado em programas de televiso, como o Top of thePops, da BBC (importante veculo de divulgao do rock).O videoclipe de Bohemian Rhapsody foi o pontap inicial

    para que outras bandas investissem em produes dotipo o que foi crucial para o surgimento da MTV norte-americana, cinco anos depois. Dessa maneira, o video-clipe se consolidava como um produto significativo daindstria cultural.

    No final dos anos 70 e incio dos 80, trs elementos se juntam ao videoclipe e prepararam o terreno para osurgimento e fama da MTV: opunk rock, o new pop e adance music. O estilopunk rock, que teve seu auge no finaldos anos 70, foi crucial para que a msica massivaconcedesse importncia performance e imagem doartista, elementos decisivos do videoclipe. O surgimentono Reino Unido do new pop fez com que a Europa entras-

    se decididamente no terreno do rock. Finalmente, j nosanos 80, a dance music, ao usar a tecnologia para criar

    sonoridades, reforou mais um importante elemento in-corporado pelo videoclipe: a performance, que, na m-sica pop , mais do que nunca, uma experincia visual(Goodwin, 1993, p.33).

    Dessa forma, a televiso fixou a linguagem do video-

    clipe e obrigou o gnero a se adaptar a grades de progra-mao e a uma lgica estrutural baseada na idia defluxo (Williams, 1990). Uma das consequncias disso foique a gravao musical penetrou inequivocadamentena corrente principal da comunicao de massa (Ar-mes, 1999, p.169) e mudou, assim, a lgica de produoe consumo da msica. Ao lanar um lbum, alm damsica de trabalho e do single, era necessrio tambmpensar na parte visual das canes. A televiso, prin-cipalmente a MTV, foi a grande articuladora do videocli-pe no cenrio da indstria cultural durante as dcadasde 80 e 90. A experincia de se assistir ao videoclipe eralimitada a uma escolha em boa medida unilateral: aemissora, em negociao com gravadoras, selecionavavideoclipes de acordo com referncias temticas dos pro-gramas, levando em conta ndices de audincia.

    A MTV, criada em agosto de 1981 nos EUA, rapida-mente se espalhou pelo mundo e, com ela, o videoclipese consolidou como elemento importante para a inds-tria do entretenimento. Na dcada de 90, a MTV chegouao Brasil (bem como em dezenas de outros pases) eajudou a alavancar o gnero.

    Videoclipe, BRock e televiso brasileiraO videoclipe existe no Brasil desde os anos 70, mas

    foram nas dcadas de 80 e especialmente 90, na televi-so, que ele ganhou visibilidade e se consolidou. Napoca, dois fenmenos ajudaram a alavancar o gnero: avalorizao e consequente ampliao do rock nacional,que at ento era considerado um produto estrangei-ro6, e a consolidao do programa dominical Fantstico,da TV Globo, como divulgador e produtor de videoclipe.

    Apesar de ser um objeto surpreendentemente poucoestudado, o BRock atuou de forma significativa na in-dstria do entretenimento brasileiro da dcada de 80, e ovideoclipe ajudou a fazer com que fosse aceito e ganhas-se espao. Com a MPB passando a ser considerada um

    gnero elitizado e para adultos (Eerola, 2005), o rockencontrou um terreno frtil. Entre outros impulsionado-res desse crescimento, pode-se apontar o surgimento derdios especializadas que ajudaram a expandir o gne-ro, a exemplo da Fluminense FM, da realizao de mega-eventos de rock, como a primeira edio do Rock in Rio,em 1985, e o surgimento de dezenas de grupos de rockpor todo pas. Com isso, o BRock ganhou espao emprogramas de televiso que no eram destinados ape-nas a jovens, como o Cassino do Chacrinha7, tambm daTV Globo, ajudando a popularizar o gnero. O Fantsti-co, nesse contexto, divulgou diversas bandas de rockno apenas realizando entrevistas e divulgando apre-

    sentaes, mas especialmente produzindo e arcando comos custos dos videoclipes que apresentava.

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    Antes da metade da dcada de 80, o BRock e o video-clipe j estavam incorporados cultura jovem nacionale miditica. Em 84, por exemplo, como descreve Bueno(2008), o filme Bete Balano, dirigido por Lael Rodrigues,foi um grande sucesso de bilheteria, entre outros moti-

    vos, por causa da estratgia de divulgao adotada pe-los produtores do filme. Destinado ao pblico jovem,Bete Balano no apenas contou com um grupo de BRock o Baro Vermelho criando a msica-tema, que foiveiculada nas rdios antes da estria do filme, comotambm teve um videoclipe veiculado na televiso. Almdisso, o filme foi construdo com partes musicais quepoderiam ser destacadas e transformadas em video-clipe. De acordo com Bueno (2008, p.10), os videoclipesno eram meramente inseridos no enredo, mas funcio-navam como um dispositivo de leitura da narrativa.

    No incio da dcada de 90, o mundo passa a convivercom o acelerado processo de globalizao, o que trouxemudanas estticas e culturais no campo do rock e, tam-bm, no campo do videoclipe nacional. Como afirmaCanclini (2001), a globalizao modifica sobremaneiraas culturas e a forma como as sociedades se relacionam,o que tem provocado reconfiguraes em todos os mbi-tos culturais. Entre as muitas consequncias que podemser apontadas no campo musical, a globalizao atuouna expanso do BRock, na fragmentao da indstriafonogrfica (Janotti, 2003) e contribuiu para o surgimen-to da MTV Brasil, que entrou no ar em 20 de outubro de90 como importante ramificao da matriz norte-ameri-cana, agora j um canal televisivo transnacional8. Ainda

    nos anos 90, de acordo com Janotti (2003), a tecnologiaque barateou a fabricao de CDs e LPs possibilitou queas gravadoras investissem mais na divulgao e comer-cializao de seus produtos, ampliando o espao para aproduo de videoclipes.

    Culturalmente, o surgimento da MTV Brasil ajudou adar um novo gs ao BRock, alm de transformar o video-clipe nacional definitivamente em um produto massivo.Em pouco tempo, o canal, que comeou sendo sintoniza-do apenas em So Paulo e Rio, j chegava a outrosestados. A MTV Brasil se transformou em refernciapara o jovem, sobretudo de classe mdia urbana, e incen-

    tivou o surgimento de novos estilos que misturavamdiferentes sonoridades com aquelas criadas no BRocknos anos 80. Novas bandas foram criadas, muitas dasquais comearam a fazer sucesso nacionalmente depoisde terem seus videoclipes veiculados pela emissora, aexemplo de Cidade Negra, Raimundos, Skank e O Rappa.No campo esttico, os videoclipes passaram a ser maisbem produzidos e tornaram-se elemento importante naconstruo da identidade das bandas de forma muitomais expressiva. Mais do que propaganda da msica, ovideoclipe agora era encarado como parte importante nacriao da imagem dos grupos.

    Em 95, a MTV criou o Video Music Brasil, a mais impor-

    tante premiao de videoclipes nacionais, inspiradosno norte-americano Video Music Award, criado em 84. O

    potencial de expanso do videoclipe nacional era tantoque enquanto a MTV organizou uma premiao exclusi-va para o Brasil, havia uma nica premiao para toda aEuropa, oMTV Europe Music Award , e outra para toda aAmrica de lngua espanhola. Ainda no final dos anos

    90, a MTV Brasil passa por um processo de diversifica-o musical, e o BRock ento comea a dividir espaocom outros gneros, como o rap.

    Internet e o videoclipe na era ps-televisoNo incio dos anos 2000 o cenrio do videoclipe nacio-nal comeou a sofrer alteraes. Enquanto a MTV, desdemeados dos anos 90, foi regularmente diminuindo o seuespao de veiculao diria, diversas bandas tradicio-nais de BRock comearam a tambm diminuir a regula-ridade com que lanavam videoclipes ou a forma comoos divulgavam. Por exemplo, o grupo O Rappa9 lanouoito lbuns e nove videoclipes, ou seja, pelo menos umpara cada lbum, e cerca de um videoclipe por ano, masdesde 2005 o grupo lanou apenas dois videoclipes ofi-ciais que pouco foram veiculados na televiso.

    Aliada a essa aparente diminuio na produo devideoclipes, a MTV Brasil anunciou, no final de 2006,que devido ao novo comportamento do jovem e que-da de audincia, os videoclipes no fariam mais parteda programao principal da emissora a partir de 2007.Zico Ges, ento diretor de programao do canal, afir-mou ao jornal Folha de S. Paulo que o videoclipe no to televisivo quanto ele j foi. Apostar em clipe na TV um atraso10. De acordo com ele, a audincia do jovem

    vem migrando da televiso para a internet e, atualmente,no mais necessrio um canal de televiso para gui-ar o gosto do jovem. Assim, no lugar de preencher comvideoclipes os principais horrios, a opo a partir deento seria priorizar talk shows, programas de auditrioe seriados juvenis.11

    Contudo, importante destacar que, longe de um de-clnio da produo, nos anos 2000 acontece uma muta-o esttica dos videoclipes e do seu circuito de divulga-o. Atualmente, a maioria dos videoclipes do grupo ORappa dificilmente veiculada na televiso, mas podeser facilmente encontrada na internet, o que leva a crer

    que o formato enxuto do videoclipe tem encontrado umespao atraente na rede. Grupos musicais e as prpriasgravadoras esto cada vez mais usando a internet paraveicular videoclipes, no somente atravs de sites ofici-ais, que hoje so onipresentes, mas sobretudo por meiode portais de divulgao audiovisual, como o Youtube eo Daily Motion. Videoclipes de artistas como BritneySpears podem ser vistos em canais musicais como oMultishow, mas na internet que mostram maior poderde atrao. Uma nica postagem de um de seus maisrecentes videoclipes, Circus12, dirigido por Francis La-wrence, tem mais de 46 milhes de acessos e mais de 100mil comentrios de internautas. Enquanto isso, os me-

    lhores ndices de audincia do canal televisivo no pas-sam de dois ou trs pontos no IBOPE, o que equivale a

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    cerca de 140 mil televisores conectados no canal. Almdisso, possvel encontrar vdeos adicionais, comomaking of, ensaios da coreografia e, claro, uma infinida-de de spoofs (vdeos criados pela audincia) (Felinto,2007), reinterpretando a msica e o videoclipe. O exem-

    plo se refere a um videoclipe lanado na televiso, mas possvel perceber como a internet modificou a relao daaudincia com o produto. Isso no quer dizer que o video-clipe esteja desaparecendo da televiso, mas que a internetvem se firmando como plataforma-padro para o gnero.

    Esse novo circuito de divulgao tem incentivado,tambm, uma mudana radical no consumo desses pro-dutos. Como pontua Andrejevic (2008), uma das princi-pais consequncias proporcionadas pela interatividadevirtual o crescimento de estratgias de promoo, apro-veitamento e explorao de cada objeto criado. Se antes ovideoclipe era veiculado algumas vezes por dia na tele-viso, durante um curto perodo e ao custo de negocia-es entre gravadoras e canais musicais, com a veicula-o virtual essa estrutura sofreu uma drsticamodificao. Em princpio, qualquer pessoa pode assis-tir maioria dos videoclipes atravs de uma busca sim-ples na internet e, ainda, pode baixar o arquivo e, poste-riormente, post-lo novamente na rede. Ou, alm disso,criar o seu prprio videoclipe. Com isso, o videoclipeampliou o seu escopo de atuao incorporando, alm damsica popular massiva e da televiso, a internet. Esteti-camente, esse reordenamento, entre outras consequncias,vem consolidando duas categorias de videoclipe: aquelesfeitos por fs e os videoclipes no formato ao vivo.

    Os videoclipes ao vivo so uma estratgia de renova-o do artista pop na medida em que so em geral maisbaratos, fceis e rpidos de serem produzidos. Eles sur-giram antes da popularizao da internet, mas ganha-ram uma amplitude significativa na era virtual. Diver-sos trechos de programas televisivos sotransformados em videoclipes e postados na internetpor usurios e pelas gravadoras, modificando a relaodo produto com a televiso e com a audincia. Com isso,uma nica msica pode ter um videoclipe oficial, umaverso de um show ao vivo que foi veiculado na TV euma verso acstica. Tantas verses dificilmente seriam

    veiculadas na ntegra na televiso, mas no encontrambarreiras na internet.Os videoclipes feitos por fs, por sua vez, ajudam a

    divulgar a imagem do artista de forma independente emrelao lgica televisiva e, em parte, em relao in-dstria fonogrfica13.

    Tendo em vista que a audincia ouvinte, receptorae interpretadora (Hofer, 2006, p.308), os videoclipesfeitos por fs adicionam um elemento a mais a essaestrutura. Se antes a audincia era atuante no processode construo das bases identitrias de uma banda,agora seu poder de atuao se amplifica, podendo inter-ferir mais diretamente, pois tem a possibilidade de criar

    e postar na rede suas prprias criaes sobre as bandas.Uma nica postagem do clipe oficial para a msica

    Equalize14, por exemplo, da roqueira baiana Pitty, temquase 3 milhes de acessos, enquanto um nico spoofdamesma msica tem mais de 470 mil acessos. O spoofsegue uma lgica distinta do clipe oficial: enquanto este,dirigido por Doca Prado e Caito Ortiz, mostra cenas

    cotidianas da cantora como se estivesse em casa indoao banheiro, deitada no cho da sala... , tentando apro-ximar a imagem da artista do cotidiano dos fs, o spoof15,feito por dhionnegomes, em animao e totalmenteliteral letra da msica. Esta foi reinterpretada de formaa contar uma histria de amor entre um casal, amplian-do o significado da cano e mesmo da imagem daartista que, no lugar de ser vista somente como roqueira, apresentada tambm como cantora romntica. Essanova relao do f com o videoclipe, com o artista e coma msica explicita que, no lugar de tratar os produtosculturais como objetos, a audincia agora os v comoprticas (Booth, 2008), ou seja, como produtos inaca-bados, que podem ser reinterpretados e recriados.

    A internet, assim, est reconfigurando o videoclipe.Atravs dela a audincia pode atuar, manusear, modifi-car e criar linguagens, ampliando os significados cria-dos pela televiso e pela indstria fonogrfica. Em ou-tras palavras, a audincia age a favor dadescentralizao, de circulao em rede, de[a] apropri-ao constantes e sucessivas por que passa a culturamassiva (Lemos, 2004, p.8-9). No entanto, preciso aten-tar para o fato de que no h uma liberdade total, pois asgravadoras lutam constantemente para limitar a divul-gao feita pela audincia. Alm disso, as tecnologias

    nunca chegam a todos de forma igualitria; porm, noh como discordar de Lemos quando ele afirma que:

    A cultura de massa criou o consumo para todos.A nova cultura ps-massiva cria, para o desespe-ro dos intermedirios, daqueles que detm o poderde controle e de todos os que usam o corporativismopara barrar a criatividade que vem de fora, umaisegonia, igualdade de palavra para todos (Le-mos, 2009, p.9).

    Com isso, uma pergunta se faz necessria: como as

    bandas tm se relacionado com essa reconfigurao es-ttica e cultural que est ocorrendo nos videoclipes?

    Reconfiguraes do videoclipe e o caso NX Zero16O NX Zero, surgido em 2001 em So Paulo, formadopor cinco jovens que comearam a fazer sucesso no Bra-sil em 2005, quando ainda beiravam os 20 anos. Lana-ram um lbum com uma gravadora independente, aUrubuz Records, e logo assinaram contrato com a majorUniversal Music, especialmente devido ao sucesso doseu primeiro videoclipe, Apenas Um Olhar, que chegoua ser um dos primeiros no ranking do hoje extinto pro-grama Disk MTV. Com a Universal desde 2006, a

    banda j gravou dois lbuns e cinco videoclipes queforam veiculados em canais musicais brasileiros. Mas,

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    como normalmente ocorre no circuito televisivo, os pri-meiros videoclipes deixaram de ser veiculados para darlugar apenas ao mais recente, Daqui pra Frente.

    Na internet, todos os videoclipes do grupo esto dis-ponveis. O primeiro deles,Apenas Um Olhar, gravado

    em 2006, foi postado algumas vezes por internautas e jultrapassa os 570 mil acessos,17. Foi feito com ajuda deamigos e segue uma estrutura simples, em que o grupobasicamente toca e canta em um galpo. Mais do que seater letra, que fala de amor, o vdeo serve de apresenta-o da banda para a audincia, j que cada integrantemostra suas habilidades como se estivesse em um showao vivo. O segundo videoclipe,Alm de Mim18, dirigidopor Ricardo Laganaro, segue a mesma estrutura do pri-meiro: a banda toca em um palco. Trata-se de uma rea-presentao do grupo, visto que agora ele faz parte deuma grande gravadora. Junto com esse clipe, que ultra-passa os 470 mil acessos, possvel encontrar uma infi-nidade de vdeos alternativos, com apresentaes acs-ticas, em shows, programas televisivos e spoofs feitospela audincia. Um dos spoofs, NX Zero Alm de Mim(The Sims 2) 19, tem mais de 830 mil acessos, quase odobro do clipe oficial. O mesmo ocorre com o terceirovideoclipe, Razes e Emoes20, dirigido por Igor e IvanSpacek, em 2007. Com mais de um milho de acessos noYoutube, a letra fala de amor enquanto o clipe mostra abanda tocando e cantando em meio a efeitos visuaiscoloridos. Dessa vez, contudo, aparecem imagens de umcasal apaixonado ilustrando de forma mais expressivaa letra da msica. Um dos vdeos alternativos para essa

    msica, Nx Zero - Razoes e Emooes @ Acustico Kamaleon SP21, mostra uma verso acstica filmada por um f quetem mais de 1,2 milho de acessos.

    Com a banda j devidamente apresentada, o videocli-pe seguinte mostra novas habilidades dos artistas: ago-ra eles so atores. O quarto clipe, Pela ltima Vez, dirigi-do por Paulinho Caruso e Fabrizio Martinelli, tambmde 2007, ajudou a consolidar o seu sucesso junto aosadolescentes. Com mais de 12 milhes de acessos so-mente no Youtube, o clipe conta a histria de uma festa deaniversrio em que o NX Zero vai tocar. No meio dovdeo, cinco rapazes (os prprios integrantes do grupo)

    prendem a banda no banheiro e se fantasiam para tocarno lugar dela. O clipe busca aproximar-se do universoadolescente mostrando comportamentos estereotipadosdos mesmos, como conversas no quarto entre meninas eo grupo dos excludos que usam aparelho nos dentes etm nariz sujo. Alm desse clipe, h incontveis versesalternativas e spoofs, muitos com milhares de acessos.

    No quinto videoclipe, Cedo ou Tarde22, de 2008, a estru-tura do show ao vivo reaparece. Dirigido novamente porRicardo Laganaro, a msica uma homenagem ao paido baixista que morreu antes de o artista nascer. Noclipe, a banda se apresenta no palco de um teatro comauxlio de uma orquestra de cordas, o que parece apon-

    tar para a inteno de construir uma imagem mais culte madura do grupo. Na internet, so mais de 8 milhes

    de acessos em sete meses e, novamente, centenas declipes alternativos.

    Por fim, o mais recente videoclipe do grupo, Daqui PraFrente, traz uma surpresa. A msica comeou a fazersucesso antes de o clipe ser produzido, pois foi tema de

    abertura do seriado adolescente Malhao, da TV Glo-bo, em 2008. A partir dessa identificao j construdaentre audincia e cano, o videoclipe foi pensado deforma a ampliar esse contato. O videoclipe dividido empartes. Na primeira, um vdeo de 48 segundos sem msi-ca mostra uma garota fugindo de casa e filmando tudocom o celular23. O site da Universal Music24 explica que apersonagem Jlia, uma skatista fictcia, e que o vdeo o primeiro de uma srie e uma estratgia de lanamentodo single. O trabalho foi dirigido novamente por Ricar-do Laganaro e feito para circular na internet e em canaismusicais desde dezembro de 2008. O prprio site dagravadora oferece um link direto com seu canal no You-tube. Pouco depois, a segunda parte da srie, que naverdade o videoclipe oficial, foi lanado na MTV edivulgado na internet. Este comea mostrando o final dovdeo de 48 segundos e segue com a viagem de Jlia porrodovias brasileiras e o registro que ela faz com seucelular. A banda aparece novamente atuando, dessa vezcomo cantores do interior, e o clipe termina com umabrecha para uma possvel continuao que ainda noocorreu: Jlia cai em algum lugar, na escurido, e al-gum a encontra. Em menos de dois meses, o videoclipefoi visto por mais de 400 mil pessoas, e alguns dosvdeos alternativos j ultrapassam as 300 mil visitas.

    Trata-se de um videoclipe que quebra a estrutura tradici-onal que a televiso consolidou. Ele foi entregue inaca-bado ao pblico, usa a internet como estratgia oficial dedivulgao e agrega imagens feitas a partir de cmera decelular, uma tecnologia difundida entre os jovens queno costuma ser utilizada em programas televisivos tra-dicionais, mas que muito comum na internet25

    Consideraes finaisComo vimos no decorrer do texto, a televiso, sobretudoa MTV, e a indstria fonogrfica tradicional desempe-nharam importante papel na origem e consolidao do

    videoclipe como forma de expresso artstica. No Brasil,o videoclipe se desenvolveu muito ligado ao BRock, nosanos 80, e a partir da dcada de 1990 ganha fora e seconsolida com a implantao da MTV local. Mais recen-temente, apontamos profundas modificaes no circuitodo videoclipe, sobretudo a partir do advento da internetcomo plataforma de consumo musical e experinciaaudiovisual.

    Alm de passar a ser a plataforma privilegiada dedivulgao de videoclipes oficiais de bandas e artistas, ainternet (e as muitas possibilidades por ela trazidas)possibilita tambm que a audincia-internauta possainterferir diretamente no processo, postando videocli-

    pes j existentes, recriando-os partir de gravaes feitasamadoristicamente em shows dos artistas, assim como

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    criando seus prprios vdeos das msicas de seus artis-tas a partir da colagem e montagem de imagens por eleproduzidas ou coletadas na rede. H, portanto, todo umprocesso em curso de reconfigurao do videoclipe nostempos que correm.

    O caso mais detidamente analisado no texto, a bandaNX Zero, aponta para isso. Os videoclipes, antes contro-lados pela indstria fonogrfica e pelos canais musi-cais, esto migrando de plataforma: saindo da televisoe indo para a internet. Isso traz conseqncias tantopara a esttica do videoclipe a grande quantidade declipes no formato ao vivo aliada ao aparecimento deuma nova linguagem, mais fragmentada e aberta comopara a forma de divulgao dos produtos e, sobretudo,no papel cada vez mais decisivo da audincia nesseprocesso FAMECOS

    NOTAS* Parte do texto foi apresentado no V Encontro de Estu-

    dos Multidisciplinares em Cultura (ENECULT),UFBA, Salvador, maio de 2009.

    1 Ambos sero aqui tratados, como o faz Janotti (2005),como msica popular massiva: canes com es-trutura regular que tm na divulgao e no consumomassivos as bases de existncia.

    2 Entre as produes dos Beatles estariamA Hard DaysNight (1964) e Help! (1965), e o desenho animadoYellow Submarine (1968).

    3 Disponvel em: .

    4 Disponvel em: .

    5 Sinestesia a sensao provocada pela mistura dossentidos humanos. O videoclipe comumente incenti-va uma mistura entre a audio e a viso, fazendocom que o espectador no consiga separar a msicadas imagens no momento em que assiste ao vdeo.

    6 Embora o rock, no Brasil, tenha suas origens nosanos 50, ele no era considerado por muitos comoum produto autntico da cultura nacional, em boamedida por causa do peso simblico da Msica Po-pular Brasilera (MPB). De acordo com Nercolini(2005, p.77), a MPB no abarcava toda msica urba-na. Seus criadores estabeleciam uma delimitao,excluindo o rock, com seus sons eletrnicos e suaorigem inglesa e norte-americana, a msica romnti-ca e a considerada brega.

    7 Programa veiculado nas tardes de sbado, um dosgrandes sucessos da dcada de 80 na Globo.

    8 Desde o final da dcada de 80 a MTV foi se espalhan-

    do pelo mundo, nos anos 90 estava presente em qua-se todos os continentes, com exceo da Oceania.

    9 O Rappa o maior vencedor do VMB, seus vdeos somarcos importantes da histria do gnero no Brasil.

    O videoclipe A Minha Alma, de 2000, ganhou osprmios de Escolha da Audincia, Clipe do Ano,Clipe Rock, Direo, Fotografia e Edio. O que so-brou do cu, de 2001, ganhou Clipe do Ano, Direoe Fotografia. Instinto Coletivo, de 2002, venceuDireo e Direo de Arte. O Salto, de 2004, venceuDireo e Edio.

    10 Folha de So Paulo, 5 dez. 2006.

    11 Postura revista pela atual diretora de programao,Cris Lobo, que resolveu aumentar, em 2009, em 37%a insero de videoclipes, explicando que tem a vercom esse esprito de nicho, de internet. A gente notouque, dessa maneira, o consumo de videoclipe volta aatrair a audincia. Portanto, a partir da reconfigu-rao feita pela internet, o interesse pelo videoclipeteria voltado. Disponvel em: . Acesso em: 27 fev. 2009.

    12 Disponvel em: .Acesso em: 30 jan. 2009.

    13 Em parte porque as gravadoras podem limitar aliberdade do f na maior parte dos portais que divul-gam vdeos alegando, por exemplo, problemas rela-cionados a direitos autorais.

    14 Disponvel em: . Acesso em: 26 abr. 2009.

    15 Disponvel em: . Acesso em: 26 abr. 2009.

    16 Todos os videoclipes foram acessados apenas no

    Youtube at 26 abr. 2009. Os nmeros presentes naanlise, portanto, no do conta de toda a audinciados vdeos, servem apenas como amostra.

    17 Disponvel em:.

    18 Disponvel em:.

    19 Disponvel em:.Este clipe recria a verso oficial com ajuda do jogo eletrni-coThe Sims, um simulador de vida em que jogadorescriam e controlam personagens.

  • 8/8/2019 Videoclipe em tempos de reconfiguraes

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    Ariane Diniz Holzbach e Marildo Jos Nercolini 50 56

    56 Revista FAMECOS Porto Alegre n 39 agosto de 2009 quadrimestral

    20 Disponvel em:.

    21 Disponvel em:.

    22 Disponvel em:.

    23 Disponvel em:.

    24 Disponvel em: .

    25 NX Zero alm do site oficial utiliza outras ferramen-tas virtuais de divulgao, como fotolog, comunida-de no Orkut, blog e site do f-clube oficial. Milharesde fs deixam mensagens nos perfis dos integrantesda banda ou nos blogs, modificando, mais uma vez,a relao da audincia com os artistas e com a lgicaestruturadora da msica pop.

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