Upload
others
View
1
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
VIDA NO ESPÍRITO SANTO
Franklin Ferreira
Fran
klin
Fer
reir
a
1
2. A Graça Comum
Fran
klin
Fer
reir
a
2
Uma importante distinção
Graça Comum
(amor benevolente)
Deus o criador concede dádivas a justos e a
injustos.
O amor benevolente de Deus é universal, se
estendendo a todas as pessoas, sem distinção.
Graça Salvadora
(amor complacente)
Bênção especial que Deus, o redentor, concede ao
seu povo por meio da fé em Cristo.
O amor complacente de Deus é o deleite e o
prazer especiais que Deus tem em seu Filho
unigênito e, por meio da adoção, por cada crente.
Fran
klin
Fer
reir
a
3
•As Escrituras afirmam que todas ascoisas que Deus criou pertencemsomente a ele: “O mundo é meu e tudoque nele existe” (Sl 50.12).•A doutrina da graça comum está
intimamente relacionada com acompreensão das várias esferas dacriação, do Estado, da Igreja, dafamília e do indivíduo.• Esse ensino afirma que, mesmo em
meio ao pecado em que o mundo seencontra, o bem é preservado e amaldade restringida (Mt 5.45) emtoda a criação.
Fran
klin
Fer
reir
a
4
O CRISTÃO E A RELAÇÃO COM A CULTURA
Fran
klin
Fer
reir
a
5
H. Richard Niebuhr (1894-1962)Membro da Igreja Evangélica e Reformada e professor na
Universidade de Yale, nos Estados Unidos.6
Fran
klin
Fer
reir
a
H. Richard Niebuhr (1894-1962)Membro da Igreja Evangélica e Reformada e professor na
Universidade de Yale, nos Estados Unidos.7
Fran
klin
Fer
reir
a
• Cristo e cultura: cinco categorias de classificação do relacionamento entre o cristão e a cultura.
• Ferramentas para descrever a forma que os cristãos encaram questões familiares, éticas, educacionais, políticas e trabalhistas.
Uma definição de cultura
• Em sentido amplo, refere-se ao cultivode hábitos, interesses, língua e vidaartística de uma nação: histórias,símbolos, estruturas de poder,estruturas organizacionais, sistemasde controle, rituais e rotinas.
• Tudo o que caracteriza uma realidadesocial de um povo ou nação, ou entãode grupos no interior de umasociedade: valores, atitudes, crenças ecostumes.
Fran
klin
Fer
reir
a
8
O cristão contra a cultura• Os que seguem esta corrente enfatizam que,
diante da natureza decaída da criação, énecessário que se criem estruturasalternativas, e que estas sigam mais de perto ochamado radical do evangelho.
• Esta posição foi afirmada no Didaquê(c.80-180), na Primeira Epístola de Clemente(c.95-97), e nos escritos de Tertuliano (c.160–c.225) e dos anabatistas do século XVI, comoMichael Sattler (c.1490–1527), assim como apregação dos fundamentalistas do final doséculo XIX.
Fran
klin
Fer
reir
a
9
10
Fran
klin
Fer
reir
a
“A filosofia é a matéria básica dasabedoria mundana, intérpretetemerária da natureza e da ordem deDeus. De fato, é a filosofia que equipaas heresias...
Tertuliano, De praescr. haeret., VII
11
Fran
klin
Fer
reir
a
Ó miserável Aristóteles! Que lhesproporcionaste a dialética, esse artíficehábil para construir e destruir, esseversátil camaleão que se disfarça nassentenças, se faz violento nasconjecturas, duro nos argumentos, quefomenta contendas, molesta a simesmo, sempre recolocandoproblemas antes mesmo de nadaresolver.
Tertuliano, De praescr. haeret., VII
12
Fran
klin
Fer
reir
a
Por ela, proliferam essas intermináveisfábulas e genealogias, essas questõesestéreis, esses discursos que sealastram, qual caranguejos, e contra osquais o Apóstolo nos adverte na suacarta aos Colossenses: ‘Cuidado queninguém vos venha a enredar comsuas sutilezas vazias, acordadas àstradições humanas, mas contrárias àprovidência do Espírito Santo’.
Tertuliano, De praescr. haeret., VII
13
Fran
klin
Fer
reir
a
Este foi o mal de Atenas... Ora que háde comum entre Atenas e Jerusalém,entre a Academia e a Igreja, entre oshereges e os cristãos? Nossa formaçãonos vem do pórtico de Salomão, ali nosensinou que o Senhor deve serbuscado na simplicidade do coração.Reflitam, pois, os que andampropalando seu cristianismo estóicoou platônico.
Tertuliano, De praescr. haeret., VII
14
Fran
klin
Fer
reir
a
Que novidade mais precisamos depoisde Cristo? ... Que pesquisanecessitamos mais depois doEvangelho? Possuidores da fé, nadamais esperamos de credos ulteriores.Pois a primeira coisa que cremos é quepara a fé, não existe objeto ulterior.”
Tertuliano, De praescr. haeret., VII
15
Fran
klin
Fer
reir
a
“Quarto, unimos nossas forças no quediz respeito à separação do mal.Devemos nos afastar do mal e daperversidade que o diabo semeou nomundo, para não termos comunhãocom isso e não nos perdermos naconfusão dessas abominações.
Confissão de Schleitheim, IV
16
Fran
klin
Fer
reir
a
Aliás, todos que não aceitaram a fé enão se uniram a Deus para fazer a suavontade são uma grande abominaçãoaos olhos de Deus. Deles não poderãoacrescentar ou surgir nada mais doque coisas abomináveis.
Confissão de Schleitheim, IV
17
Fran
klin
Fer
reir
a
Não existe nada mais no mundo e emtoda a criação do que o bem e o mal,crentes e incrédulos, trevas e luz, osque estão no mundo e fora do mundo,os templos de Deus e dos ídolos, Cristoe Belial, e nenhum deles poderá tercomunhão um com o outro.
Confissão de Schleitheim, IV
18
Fran
klin
Fer
reir
a
Para nós, pois, é obvio o imperativo doSenhor, pelo qual nos ordena que nosafastemos e nos mantenhamos longedos maus. Assim, ele será nosso Deus enós seremos seus filhos e filhas. Alémdisso, ele nos exorta a abandonar aBabilônia e o paraíso terreno egípcio,para não passar pelos sofrimentos edores que o Senhor enviará sobreeles...
Confissão de Schleitheim, IV
19
Fran
klin
Fer
reir
a
Devemos nos afastar de tudo isso e nãoparticipar com eles. Porque tudo issonão passa de abominações, que nostornam odiosos diante do nossoSenhor Jesus Cristo, o qual nos libertouda escravidão da nossa naturezapecaminosa e nos tornou aptos para oserviço de Deus, por meio do Espíritoque nos ortogou.”
Confissão de Schleitheim, IV
O cristão da cultura
•Os cristãos tendem a ver na sociedadea realização das propostas docristianismo, desfrutando de íntimarelação com as estruturas culturais,num processo de aculturação, isto é,de imposição cultural.
•Apesar das objeções que são lançadasa esta posição, especialmente por estater sacrificado o que é essencial aocristianismo, ela tem sido influente nahistória da igreja.
Fran
klin
Fer
reir
a
20
O cristão da cultura
•Os ensinos de gnósticos do séculoIII, de Abelardo de Paris (1079–1142) e dos teólogos liberais doséculo XIX refletem esta posição.
•No século XX a igreja evangélica naAlemanha, por influência desteentendimento, assumiu-se comoIgreja do Reich. Fr
ankl
in F
erre
ira
21
St. MarienKircheBerlin, 23 de Julho de 1933 22
Fran
klin
Fer
reir
a
O cristão acima da cultura
•Este é o conceito católicomedieval, influenciado porClemente de Alexandria (c.150–c.215) e Tomás de Aquino(1225–1274), que busca umaunidade entre o cristão e acultura, onde toda a sociedadeaparece hierarquizada.
Fran
klin
Fer
reir
a
23
O cristão acima da cultura
•Na Idade Média o ensino eclesiásticoalcançou quase todos os aspectos dasociedade: suas práticas religiosasformaram o calendário; seus rituaismarcaram momentos importantes(batismo, confirmação, casamento,ordenação) e seus ensinamentossustentavam crenças sobremoralidade, significado da vida e avida após a morte.
Fran
klin
Fer
reir
a
24
dirigindo o consistório de cardeais, 'Decretals of Boniface VIII'.Papa Bonifácio VIII (c.1235-1303) 25
Fran
klin
Fer
reir
a
O cristão e a cultura em paradoxo
• Posição associada a Martinho Lutero (1483-1546) e Søren Kierkegaard (1813-1855).
• Esta posição mantém o entendimento bíblicoda queda e da miséria do pecado, e o chamadopara se lidar com a cultura. A relação docristão com a cultura é marcada por umatensão dinâmica entre a ira e a misericórdia.
• Um cristão é ao mesmo tempo cidadão de doisreinos e está debaixo do governo peculiar decada um.
Fran
klin
Fer
reir
a
26
• Lutero enfatizou este temacom sua doutrina dos “doisreinos”: a mão esquerda,terrena, segura a espada dopoder no mundo, enquanto amão direita, celeste, segura aespada do Espírito, a Palavrade Deus.
• O cristão permanece livreem sua consciência, cativa àPalavra de Deus; o cidadão échamado a obedecer àsordens e obrigações dosreinos terrenos. Fr
ankl
in F
erre
ira
27
O cristão como agente transformador da cultura• Sem desconsiderar a queda e o pecado, mas
enfatizando que, no princípio, a criação era boa,afirma que o objetivo da redenção é a salvação doindivíduo, mas que também a cultura deve serlevada cativa ao senhorio de Cristo.
• Agostinho (354-430), João Calvino (1509-1564) eJohn Wesley (1703-1791) são alguns dos queentenderam que os cristãos são agentes detransformação da cultura, afirmando que, por maisiníquas que sejam certas instituições, elas nãoestão fora do alcance da soberania e da graça deDeus.
Fran
klin
Fer
reir
a
28
29
Fran
klin
Fer
reir
a
“Oh! Nem uma só área de nossomundo mental deve serhermeticamente isolada do resto, enão existe um só centímetroquadrado de toda a esfera daexistência humana sobre o qualCristo, que é soberano sobre tudo,não exclame: ‘Meu!’”
Abraham Kuyper
A ordem social e a autoridade de Deus
Fran
klin
Fer
reir
a
30
Esta visão da sociedade não secentraliza no indivíduo nem nainstituição, mas na soberania de Deussobre as esferas da criação, nas quaisdiferentes instituições estão debaixo doreinado de Deus.
Deus
Estado Família Escola Artes Igreja Trabalho
31
Fran
klin
Fer
reir
a
“Em vez de imaginar que Cristo contraa cultura e Cristo transformando acultura são duas posições mutuamenteexcludentes, a rica complexidade dasnormas bíblicas (...) ensinam-nos quecom frequência essas duas posiçõesoperam simultaneamente. (...)
D. A. Carson
32
Fran
klin
Fer
reir
a
A complexidade instruirá nossoserviço, sem insistir que as coisasaconteçam de determinada maneira:aprendemos a confiar e a obedecer edeixamos os resultados com Deus, poistanto com as Escrituras quanto com ahistória aprendemos que às vezes afidelidade conduz ao despertamento eà reforma, às vezes à perseguição, e àsvezes a ambos. (...)
D. A. Carson
33
Fran
klin
Fer
reir
a
Viveremos na tensão de reivindicarcada centímetro quadrado para o reiJesus, embora saibamos muito bemque a consumação ainda não chegou,que andamos pela fé e não pelo quevemos e que as armas com as quaislutamos não são as armas do mundo.”
D. A. Carson
Relatório de Willowbank•A afirmação de que o cristão é um
agente transformador da cultura podeser resumida na compreensão de que“uma vez que o homem é criado porDeus, parte de sua cultura será ricaem beleza e bondade. Por causa daqueda e do pecado do homem, toda asua cultura [usos e costumes] estámanchada pelo pecado, e parte dela édemoníaca” (Pacto de Lausanne[1974] §10) — o evangelho nunca éhóspede da cultura, mas sempre seujuiz e redentor.
Fran
klin
Fer
reir
a
34
Relatório de Willowbank
•O Grupo de Teologia e Educaçãode Lausanne propôs um modelohierárquico de ação sobre aentrada do evangelho na cultura(Relatório de Willowbank,1978) que pode ser de auxílioem nosso trato com a cultura aonosso redor. Fr
ankl
in F
erre
ira
35
O Evangelho como juiz da cultura
•“A essência do cristianismo ésupracultural, no sentido de quehá certo conteúdo nele que deveser sustentado ainda que suapreservação vá contra esignifique destruir uma culturaparticular”. (Bruce Nicholls)
Fran
klin
Fer
reir
a
36
Este conteúdo supracultural pode serresumido como:
1. Crença e fidelidade ao Deus Trino;2. Crença na Bíblia como a Palavra de
Deus;3. Crença nos pontos decisivos da
história redentora (criação, queda,redenção e restauração) e emmandamentos, ordenanças edoutrinas claramente estabelecidasna Bíblia.
Fran
klin
Fer
reir
a
37
O Evangelho como juiz da cultura
Categorias de costumes
1. Alguns costumes não podem sertolerados, como a idolatria, infanticídio,canibalismo, vingança, mutilação física,prostituição ritual, entre outros.
2. Alguns costumes podem sertemporariamente tolerados, como aescravidão, o sistema de castas, osistema tribal, a poligamia, entreoutros.
Fran
klin
Fer
reir
a
38
Categorias de costumes
3. Há alguns costumes cujas objeções nãosão relevantes para o evangelho, como ocostume de o homem e a mulhersentarem separados nos cultos, oscostumes alimentares, vestimentas,hábitos de higiene pessoal, entre outros.
4. Assuntos secundários (adiáforos) sobreos quais há controvérsias mas que pode-se ter liberdade de análise, comoescatologia, governo da igreja, ceia ebatismo.
Fran
klin
Fer
reir
a
39
40
Fran
klin
Fer
reir
a
“Os cristãos, de fato, não se distinguemdos outros homens, nem por sua terra,nem por sua língua ou costumes. (...)Pelo contrário, (...) adaptando-se aoscostumes do lugar quanto à roupa, aoalimento e ao resto, testemunham ummodo de vida social admirável e, semdúvida, paradoxal.
Carta a Diogneto 5-6
41
Fran
klin
Fer
reir
a
Participam de tudo como cristãos esuportam tudo como estrangeiros. (...)moram na terra, mas têm suacidadania no céu; obedecem às leis,mas com sua vida ultrapassam as leis;amam a todos e são perseguidos portodos; (...) Em outras palavras, assimcomo a alma está no corpo, assim oscristãos estão no mundo.”
Carta a Diogneto 5-6
Uma definição da graça comum
• Esta se refere a toda e qualquer dádivarecebida — com exceção da salvação —que essa criação caída no pecadodesfruta das mãos de Deus.
• A graça comum não envolve nenhumamudança de coração, mas atuarestringindo o pecado e a miséria nacriação, preservando boas virtudes taiscomo verdade, excelência, criatividade,sabedoria e conhecimento, nobreza,integridade e beleza.
Fran
klin
Fer
reir
a
42
Uma definição da graça comum
• O Espírito Santo inspira e qualifica oshomens para suas tarefas, tais como otrabalho na ciência e nas artes (cf. Êx28.3; 31.2,3,6; 35.35; 1Sm 11.6;16.13,14).
• Por consequência, cristãos e não cristãossão capazes de realizar coisas boasporque ainda possuem a imagem deDeus e são dotados pela graça comum deDeus.
Fran
klin
Fer
reir
a
43
Uma definição da graça comum
• Assim, desempenharão com excelênciasuas vocações nas diversas esferas doEstado, da Igreja, da família e doindivíduo — uns cumprirão sua vocaçãotendo em vista a glória de Deus, outrosterão em vista alguma outra causa.
• A despeito disso, os mandatos sãocumpridos, e o reino é estabelecido. Fr
ankl
in F
erre
ira
44
Graça comum e ordem social
•A compreensão da doutrina da ordemsocial da sociedade combinada com agraça comum determina nossoenvolvimento nas várias esferas dacriação, tais como família, arte,música, literatura, ciência e educação.
•O cristão não precisa justificar suavocação por aquilo que a tornaespiritual, ética, evangelística ourelacionada com a igreja.
Fran
klin
Fer
reir
a
45
46
Fran
klin
Fer
reir
a
“Não é necessário que se ‘abençoe’ otrabalho ou as instituições seculares com oadjetivo ‘cristão’ ou ‘do reino’ para que elese torne digno para com Deus. Era esse oponto da Reforma: que o reino secular éhonrado porque tem o mesmo Criador eSustentador que a própria igreja. Achamosque há um estilo ‘cristão’ de pintura,trabalho, escrita, pesquisa e criação defilhos, que faz com que os crentesautomaticamente sejam superiores nessescampos.
Michael Horton
47
Fran
klin
Fer
reir
a
Cristãos e não cristãos envolvem-se nessasatividades mundanas na mesma base:ambos são portadores da imagem de Deusque receberam, que inclui um chamadopara assumir um determinado posto nacriação. Isso seria verdade se não houvessea Queda, se não houvesse a cruz e nãohouvesse a redenção. Mas mesmo após aQueda, o âmbito da criação é suficiente parajustificar nossa atividade [nas diversasesferas criacionais].”
Michael Horton
•A vocação do cristão não precisaredimir nem revelar explicitamenteconvicções cristãs, antes deveexpressar excelência, integridade,verdade e beleza.
•A doutrina da graça comum ressalta opoder destrutivo do pecado, masreconhece os dons que vemos nos nãocristãos como dons de Deus. E isso nosajuda a explicar a possibilidade daconstrução da civilização e da cultura adespeito do pecado na humanidade.
Fran
klin
Fer
reir
a
48
• Com isso, somos abençoados com umavisão ampla e rica da cultura, em que seentende que Deus é o autor e senhor detodas as coisas — na verdade, todaverdade é verdade, pois procede deDeus.
• Por isso, tendo a tipologia de Niebuhrem mente, afirmamos que os cristãossão chamados a se portarem comoagentes de transformação de todacultura, trazendo-a cativa ao senhoriode Cristo.
Fran
klin
Fer
reir
a
49