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Índice Introdução .................................................................................................................................... 2
Rui de Noronha ........................................................................................................................... 3
Nascimento .............................................................................................................................. 4
Carreira .................................................................................................................................... 4
Temática .................................................................................................................................. 5
Texto poético de Rui de Noronha ............................................................................................ 6
Noémia de Sousa ....................................................................................................................... 8
Nascimento .............................................................................................................................. 9
Carreira .................................................................................................................................... 9
Temática de Noémia de Sousa .......................................................................................... 10
Textos poéticos de Noémia de Sousa .................................................................................. 11
Nascimento ............................................................................................................................ 13
Carreira .................................................................................................................................. 13
Temática ................................................................................................................................ 13
Textos poético de Rui de Nogar ............................................................................................. 15
Conclusão .................................................................................................................................... 16
Referência bibliográfica............................................................................................................... 17
Introdução O presente trabalho é sobre as poesias, vida e obra de Rui de Noronha, Noémia de
Sousa e Rui Nogar.
São objectivos deste trabalho caracterizar as poesias destes autores acima citado,
suas maiores poesia destacadas, e principalmente a luta que estes autores deram por
usar a poesia como arma para reivindicar seus direitos como sendo cidadão
moçambicanos violados pelos colonizadores.
O trabalho contém 14 páginas. A metodologia usada foi a pesquisa bibliográfica
enriquecida por pesquisas em livros, internet e filmes.
Rui de Noronha
Nascimento
António Rui de Noronha nasceu no então Lourenço Marques, actual Maputo,
Moçambique a 28 de Outubro de 1909. Mestiço, de pai indiano, de origem brâmane, e
de mãe negra, foi funcionário público (Serviço de Portos e Caminho de Ferro) e
jornalista. O autor colaborou na imprensa escrita de Moçambique, notadamente em O
Brado Africano, com apenas 17 anos de idade. Esta produção inicial, que se reduziram
apenas a três contos, e que correspondem ainda a uma fase de afirmação literária,
virá a ser prosseguida a partir de 1932, com uma intervenção mais activa na vida do
jornal, chegando mesmo a integrar o seu corpo directivo.
Uma desilusão amorosa, causada pelo preconceito racial, fez, segundo os seus
amigos, com que o escritor se deixasse morrer no hospital da capital de Moçambique,
com 34 anos, no dia 25 de Dezembro de 1943.
Carreira
Escritor moçambicano, desde logo mostrou e deixou transparecer, na sua vida e na
sua escrita, um temperamento recolhido, uma personalidade introvertida e
amargurada. Foi, sem dúvida, um homem infeliz. Nunca chegou a concretizar, em
vida, o grande sonho de publicar o seu livro de poemas, que se diz ter intitulado Lua
Nova . Seria, postumamente, um grupo de amigos que viria a cumprir o seu desejo, ao
publicar, em 1943, Sonetos , em parte composto de sonetos publicados na imprensa
local.
Muitos dos seus poemas, porém, ainda se encontram inéditos, ou então esquecidos
na Imprensa, como é o ocaso de "O Brado Africano", na década de 30.
Poeta de transição, e vivendo numa época em que os escritores moçambicanos ainda
não tinham tido a oportunidade de acordar a sua consciência para as mensagens
poéticas de conteúdo social, caracteristicamente moçambicanas, por outro lado
limitado como estava pela repressão cultural em que utilizar a África real como
fundamento/tema-chave era imediatamente alvo do exercício diário da Censura, a
obra de Rui de Noronha ficará marcada como o primeiro sinal expressivo, o precursor
mesmo, de uma nova fase da poesia moçambicana, que viria mais tarde a alcançar o
verdadeiro ponto de ruptura com o passado.
É fundamental, assim, chamar a atenção para a importância deste poeta que veio a
anteceder, em cerca de mais de dez anos, o arranque, definitivo e altivo, para a
construção de uma poesia tipicamente moçambicana.
Rui de Noronha estava desacompanhado neste fulcral início; estava completamente
desamparado e retraído por um sistema que impedia a existência de uma tradição
literária moçambicana. Daí que o poeta se visse forçado a agarrar-se aos modelos
portugueses - com vínculos do século passado ou dos princípios do século XX. Daí
que "apenas" tenha conseguido murmurar as reivindicações do seu povo, em vez de
as gritar e levar bem longe; daí que "apenas" tenha podido insinuar os valores
africanos, o sofrimento do homem moçambicano, a injustiça criada pelo colonialismo,
em vez de os denunciar clara e explicitamente.
Mesmo que assim tivesse que ser, Rui de Noronha manifesta a sua clara intenção e
consciencialização da necessidade de moçambicanizar os modelos estéticos
tradicionais portugueses: incorpora, em muitos poemas, discursividades (palavras e
expressões) próprias de Moçambique. Em muitos dos seus textos encontramos uma
espécie de simbiose entre a oratura (forma oral de transmissão de conhecimentos) e
a escrita, numa tentativa de exigir a reabilitação nacional. Neste sentido, poderá
claramente dizer-se que a acção dos seus poemas é sempre orientada para os
caminhos do futuro: os caminhos que levarão à moçambicanidade.
Sintetizando o principal papel levado a cabo por este magnífico poeta, poder-se-á
dizer que, na década de 30, a poesia moçambicana, pela voz de um dos seus maiores
poetas - Rui de Noronha - exprime, com elevado grau de firmeza, as oposições racial,
económica e cultural que definem as relações colonizadoras versus colonizado.
Rui de Noronha teve essa consciência nacional e, em termos de criação literária,
iniciou a expressão dessa situação. Certo é que essa expressão começou por ser algo
tímida, embora sempre extremamente fecundante, o que será facilmente
compreensível se tivermos em conta a época de repressão vivida em Moçambique,
dominada por um fortíssimo e intransigente sistema colonial. Mesmo assim, Rui de
Noronha é universalmente apontado como o iniciador da mais poderosa aposta na
desalienação cultural e política, persistindo na construção de uma literatura autónoma,
verdadeiramente nacional.
Temática
Autor de "Sonetos", livro póstumo publicado por um grupo de amigos que coligiu vários
poemas dispersos pela imprensa local moçambicana, Rui de Noronha é considerado
um poeta de transição, percursor de uma poesia moçambicana em ruptura com o
passado. Continuam ainda hoje inéditos vários poemas seus, escritos num período em
que a censura impedia a utilização poética da temática de raiz africana ou de cariz
social.
Texto poético de Rui de Noronha
LUA NOVA
“Quenguêlêquêze!...
“Quenguêlêquêze!...
(Lua Nova)
Surgia a lua nova,
E a grande nova]
—
Quenguêlêquêze!...—
ia de boca em boca
Traçando os rostos de
expressões estranhas,
Atravessando o
bosque, aldeias e
montanhas,
Numa alegria enorme,
uma alegria louca,
Loucamente,
Perturbadoramente...
Danças fantásticas
Punham nos corpos
vibrações elásticas,
Febris,
Ondeando ventres,
troncos nus, quadris...
E ao som de palmas
Os homens,
cabriolando,
Iam cantando
Medos de estranhas
vingativas almas,
Guerras antigas
Com destemidas impias
inimigas
— Obscenidades
claras, descaradas,
Que as mulheres
ouviam com risadas
Ateando mais e mais
O rítmico calor das
danças sensuais.
“Quenguêlêquêze!...
Quenguêlêquêze!...”
Uma mulher de vez em
quando vinha,
Coleava a espinha,
Gingava as ancas
voluptuosamente,
E diante do homem,
frente a frente,
Punham-se os dois a
simular segredos...
— Nos arvoredos
Ia um murmúrio eólico
Que dava à cena, à luz
da lua, um que
diabólico...
“Quêze!Quenguêlêqu
êze!...”
... Entanto uma mulher
saíra sorrateira
Com outra mais
velhinha;
Dirigiu-se na sombra à
montureira,
Com uma criancinha.
Fazia escuro e havia
Ali um cheiro estranho
A cinzas ensopadas,
Sobras de peixe e fezes
de rebanho
Misturadas...O vento,
perpassando a cerca de
caniço,
Trazia para fora o ar
abafadiço,
Um ar de podridão...
E as mulheres
entravam com um tição:
E enquanto a mais
idosa
Pegava na criança e a
mostrava à lua
Dizendo-lhe: “Olha, é a
lua”,
A outra, erguendo a
mão,
Lançou direito à lua a
acha luminosa.
— O estrepitar de
palmas foi morrendo...
E a lua foi crescendo...
foi crescendo...
Lentamente...
Como se fora em
brando e afogado leito
Deitaram a criança,
revolando-a,
Ali na imunda podridão,
no escuro,
Lhe deu o peito...
Então, o pai chegou,
Cercou-a de desvelos,
De manso a conduziu
p´los cotovelos,
Tomou-a nos seus
braços e cantou
Esta canção ardente:
“Meu filho, eu estou
contente!
Agora já na temo que
ninguém
Mofe de ti na rua,
E diga, quando errares,
que tua mãe
Te não mostrou a lua!
Agora tens abertos os
ouvidos
Para tudo
compreender;
Teu peito afoitará,
impávido, os rugidos
Das feras, sem tremer...
Meu filho, estou
contente!
Tu és agora um ser
inteligente,
E assim hás-de crescer,
hás-de ser homem forte
Até que já cansado
Um dia muito velho
De filhos, rodeado,
Sentido já dobrar–se o
teu joelho
Virá buscar-te a Morte...
Meu filho, eu estou
contente!
Agora, sim, sou pai!...”
Na aldeia, lentamente,
O estrepitar das palmas
foi morrendo...
E a lua foi crescendo...
— Crescendo
Como um ai...
Noémia de Sousa
Nascimento
Escritora moçambicana, Carolina Noémia Abranches de Sousa Soares nasceu a 20 de
Setembro de 1926, em Catembe, Moçambique, em 1926 e faleceu em Cascais,
Portugal, em 2002. Poeta, jornalista de agências de notícias internacionais viajou por
toda a África durante as lutas pela independência de vários países. Só publicou
tardiamente seu livro de poesias Sangue Negro, em 2001.
Carreira
O seu trabalho poético continua por publicar em livro. Poetiza que, numa espécie de
postura predestinada, desembaraçando-se das normas tradicionais europeias, de
1949 a 1952 escreve dezenas de poemas, estando muitos deles dispersos pela
imprensa moçambicana e estrangeira.
Noémia de Sousa estudou no Brasil e começou a publicar em O Brado Africano.
Entre 1951 e 1964 viveu em Lisboa, onde trabalhou como tradutora, mas, em
consequência da sua posição política de oposição ao Estado Novo teve de exilar-se
em Paris, onde trabalhou no consulado de Marrocos.
Começa nesta altura a adoptar o pseudónimo de Vera Micaia.
Com apenas 22 anos de idade, surge na senda literária moçambicana num impulso
encantatório, gritando o seu verbo impetuoso, objectivo e generoso, vincado (bem
fundo) na alma do seu povo, da sua cultura, da sua consciência social, revelando um
talento invulgar e uma coragem impressionante.
Noémia de Sousa estudou no Brasil e começou a publicar em O Brado Africano.
Mestiça, revela ser marcada por uma profunda experiência, em grande parte por via
dessa mesma circunstância de ser mestiça.
A sua poesia, desde logo, se mostrou "cheia" da "certeza radiosa" de uma esperança,
a esperança dos humilhados, que é sempre a da sua libertação.
Toda a sua produção é marcada pela presença constante das raízes profundamente
africanas, abrindo os caminhos da exaltação da Mãe-África, da glorificação dos
valores africanos, do protesto e da denúncia.
Poesia de forte impacto social, acusatória, a sua linguagem recorre estilisticamente à
ressonância verbal, ao encadeamento de significantes sonoros ásperos, à utilização
de palavras que transportam o "grito inchado" de esperança.
Noémia de Sousa, como autêntica pioneira da Literatura Moçambicana (como assim
sempre foi considerada) preconiza - no seu percurso literário - a revolução como único
meio de modificar as estruturas sociais que assolam a terra moçambicana.
Sempre, e desde muito cedo, pretendeu que o seu povo avançasse uno, em colectivo,
em direcção a um futuro que alterasse os eixos em que se fundamentava a atitude do
homem, mas sem nunca fazer a apologia da desumanização. Afirma-se, acima de
tudo, africana e aposta fortemente na divulgação dos valores culturais moçambicanos.
As propostas essenciais da sua expressão literária vão do desencanto quotidiano, de
uma certa amargura, de uma certa raiva, até ao grito dorido, até ao orgulho racial, até
ao protesto altivo que contém a pulsão danada contra cinco séculos de humilhação.
Temática de Noémia de Sousa
A grande base do texto de Noémia de Sousa está centrada na eterna dicotomia
"nós/outros" - "nós", os perfeitamente africanos; os "outros", as gentes estranhas, os
que chegaram a África, os colonizadores. Assim, estes são, sem dúvida, os dois
grandes temas da poesia de Noémia de Sousa: se por um lado temos a contínua
denúncia da total incompreensão por parte do colonizador, que apenas capta a
superficialidade dos rituais, não compreendendo o âmago de África, demonstrando,
desta forma, uma visão plenamente distorcida, por outro lado lança-nos em poemas
de elogio aberto à raça negra, gritando bem alto e de forma plenamente perceptível
que a presença do colonizador em África é sinónimo de força que apenas veio
denegrir a imagem daquela terra.
Noémia de Sousa fala do orgulho de pertencer a África por parte dos africanos. E por
esse mesmo motivo vem afirmar que terão obrigatoriamente de ser os filhos a cantar
essa sua mãe-terra (que tanto amam e sentem) - e cantar África tinha forçosamente
que ser entendido por oposição à maneira de cantar do colonizador.
Nos seus poemas, o "eu" de Noémia de Sousa é entendido como um "colectivo", um
povo inteiro que quer ter palavra - o povo moçambicano. Desta forma, a poetiza
assume-se como porta-voz daquele povo que é o seu e, dirigindo-se à terra-mãe que
os acolhe e protege, ora canta a sua vida, ora lhe pede perdão pela alienação
demonstrada ao longo de tanto tempo, ora (mesmo) lhe promete a rápida e definitiva
devolução do seu direito a uma vida própria, autêntica.
Apesar de breve, porém prolífera, passagem de Noémia de Sousa pelo panorama da
literatura moçambicana, a qualidade dos seus textos não deixou, jamais, de ser
reconhecida e admirada.
Textos poéticos de Noémia de SousaA MINHA DOR
Dói
a mesmíssima angústia
nas almas dos nossos corpos
perto e à distância.
E o preto que gritou
é a dor que se não vendeu
nem na hora do sol perdido
nos muros da cadeia.
AFORISMO
Havia uma formiga
compartilhando comigo o isolamento
e comendo juntos.
Estávamos iguais
com duas diferenças:
Não era interrogada
e por descuido podiam pisá-la.
Mas aos dois intencionalmente
podiam pôr-nos de rastos
mas não podiam
ajoelhar-nos.
GRÃO D´AREIA
Um só ínfimo grão de ‘areia
nunca imaginei
pesar tanto...
eu depondo
no clássico ritual
sobre o nosso adeus
constrangidos torrões
à mancheias.
EM VEZ DE LÁGRIMAS
Só um choro em seco
põe no vértice da minha dor
o mais intenso
auge do luto.
INFELIZMENTE JAMAIS
No instintivo temor das ruas
Maria hesitava nos passeios
até não pressentir
o mais fugaz
presságio.
Contorno de sombra
à berma de uma além – asfalto
fatal presságio da rua
infelizmente já não
a intimida.
Cumprido o funesto prenúncio
já atravessava uma avenida
infortunadamente já nenhum risco
intimida o espírito
de Maria.
Doentiamente eu amaria ver
Maria ainda amedrontada
e nunca como depois
em que já nada a intimida.
Rui Nogar
Nascimento
Escritor e político moçambicano, Rui Nogar, pseudónimo de Francisco Rui Moniz
Barreto, nasceu a 2 de Fevereiro de 1935, em Lourenço Marques (actual Maputo),
Moçambique.
Após a morte do pai, abandonou os estudos secundários, a fim de prover ao sustento
da família. Considerava-se um autodidacta, cuja formação devia tanto ao exemplo dos
pais como ao de professores, exilados políticos portugueses, que o alertaram para as
questões sociais e a necessidade de as problematizar no contexto colonial.
Carreira
Poeta, contista, declamador, Rui Nogar colaborou em publicações de imprensa, como
Itinerário, O Brado Africano, A Voz de Moçambique, Caliban e África. A sua obra está
incluída em várias antologias nacionais e estrangeiras, como Poetas Moçambicanos
(1960), Resistência Africana (1975) e No Ritmo dos Tantãs (1991).
Rui Nogar morreu em Lisboa, em 1994.
Viveu de perto desigualdades e injustiças, quer no subúrbio laurentino, que «conhecia
como os seus dedos», quer no seu percurso profissional: trabalhou junto dos
carregadores do cais e como praticante de escriturário nos Caminhos de Ferro de
Moçambique, funções que só não foram mais humildes porque, como disse, «era
impossível ser servente. Na altura só os havia de raça negra». Posteriormente, foi
copywriter, contabilista e redactor em diversos títulos da imprensa, como a Tribuna ou
O Brado Africano.
Com Craveirinha, participou nas actividades da Associação Africana, aí se
notabilizando como declamador. Foi, aliás, na sequência de uma das sessões culturais
dinamizadas naquela associação, em 1953, que a polícia política o deteve pela
primeira vez. Os seus poemas mais antigos datam de 1954-55 e surgem em O Brado
Africano e no Itinerário. Nessa época, reconhecia «ser mais provocador de vocações
do que ser ele próprio vocacionado», mas acabou por assumir a escrita como um
instrumento de expressão do seu «mundo interior», o que, nas suas palavras,
significava tudo «aquilo que nós achávamos justo», tudo o que «pensávamos
realmente não poder continuar a acontecer à nossa volta».
Temática
Combatente da FRELIMO
A coerência com que pautou a sua postura levou-o a ingressar na FRELIMO, em
1964. Incumbido da organização da região político-militar do sul do Save, acabou por
ser novamente detido, em Janeiro de 1965. Julgado com Craveirinha, Luís Honwana,
Malangatana Valente e outros, foi libertado da Cadeia Central da Machava a 28 de
Maio de 1968. Deste período de detenção datam muitos dos poemas que reuniu no
seu único livro, Silêncio Escancarado, dado à estampa em 1982.
No período de transição, empenhou-se na preparação da independência, encarregue
de organizar os grupos dinamizadores em Lourenço Marques. Depois, além de
deputado à Assembleia Popular, assumiu outros cargos oficiais, tendo sido o primeiro
secretário-geral da Associação de Escritores Moçambicanos e, a partir de 1987, vice-
presidente da Assembleia Geral da mesma associação.
Muitos dos seus textos mantêm-se esquecidos e dispersos, como são o caso do conto
«Fabião», de 1958, ou do poema narrativo «Nove Hora», dramatizado pelo Grupo
Mutumbela Gogo, num espectáculo estreado a 27 de Março de 1989, no Teatro
Avenida, em Maputo.
Os poemas de Rui Nogar representam, sobretudo, a vivência de um homem mais
preocupado com os «outros homens da sua época» do que com a imortalidade
literária. De facto, o poeta privilegiou, de igual modo, a acção político-social e a
actividade poética: a consciência crítica dos problemas conjunturais da sociedade
moçambicana conduziu-o à assunção da escrita como meio de expressão das suas
inquietações, motivadas pela solidariedade e desejo de intervir em defesa da condição
humana. Semelhante posicionamento norteou o seu trajecto biográfico e literário,
balizado no enraizamento no «caniço», quer dizer, no subúrbio de Lourenço Marques,
na preocupação com o homem, nas memórias da luta anticolonial e na convicção nos
ideais do socialismo.
Regida embora pelo comprometimento ideológico e político, a criação poética de Rui
Nogar não se limita a representar literalmente a realidade, nem se aglutina apenas em
torno da indignação, da denúncia ou da defesa da acção militante. Enunciados
também na primeira pessoa do singular, os poemas encontram no real os pretextos
para desvendar o íntimo de um sujeito que, exprimindo-se, constrói uma poesia onde
têm lugar quer a militância quer a afeição à terra e ao homem moçambicanos, o amor
ou a reflexão sobre o poema e a própria palavra.
Deste modo, os textos de Rui Nogar tanto se ligam ao sistema literário, por neles se
manifestar a preocupação estética de «fazer» poesia, como se aproximam do
documento, já que também evidenciam funções pragmáticas, relacionando-o com o
contexto de luta pela independência ou de construção de «uma bela pátria socialista/
onde caberão todas as rimas/ que uma a uma rimarão/ com os povos do mundo
inteiro/ em busca da liberdade
Textos poético de Rui de NogarNA ZONA DO INIMIGO
As instruções foram bem precisas
Todos nós as compreendemos
camaradas
“Permanecer no interior do país
cumprindo tarefas que vos daremos
guardar o santo e senha
que de Dar-es-Salam vos irá
revelar a cada um
as fronteiras da humilhação
e depois a luta e a conquista
de novas zonas libertadas”
As instruções foram bem precisas
todos nós as compreendemos
camaradas
E aguardaremos ansiosamente
o mensageiro que já tardava
XICUEMBO
Eu bebeu suruma
dos teus ólho Ana Maria
eu bebeu suruma
e ficou mesmo maluco
agora eu quero dormir quer comer
mas não pode mais dormir
não pode mais comer
suruma dos teus olhos Ana Maria
matou sossego no meu coração
Oh matou sossego no meu coração
Eu bebeu suruma oh suruma suruma
dos teus ólho Ana Maria
com meu todo vontade
com meu todo coração
e agora Ana Maria minhamor
eu não pode mais viver
eu não pode mais saber
que meu Ana Maria minhamor
é mulher de todo gente
é mulher de todo gente
todo gente todo gente
menos meu minhamor.
Conclusão No presente trabalho abordei os assuntos sobre as poesias, vida e obra Rui de
Noronha, Noémia de Sousa e Rui Nogar.
António Rui de Noronha em Lourenço Marques, actual Maputo, Moçambique a 28 de
Outubro de 1909. Rui de Noronha colaborou na imprensa escrita de Moçambique,
notadamente em O Brado Africano, com apenas 17 anos de idade. Morreu no hospital
da capital de Moçambique, com 34 anos, no dia 25 de Dezembro de 1943.
Autor de "Sonetos", livro póstumo publicado por um grupo de amigos que coligiu vários
poemas dispersos pela imprensa local moçambicana, Rui de Noronha é considerado
um poeta de transição, percursor de uma poesia moçambicana em ruptura com o
passado, a ”Lua Nova” foi a poesia mais destacada deste autor.
Carolina Noémia Abranches de Sousa Soares nasceu a 20 de Setembro de 1926, em
Catembe, Moçambique, em 1926 e faleceu em Cascais, Portugal, em 2002.
Noémia de Sousa fala do orgulho de pertencer a África por parte dos africanos. E por
esse mesmo motivo vem afirmar que terão obrigatoriamente de ser os filhos a cantar
essa sua mãe-terra (que tanto amam e sentem) - e cantar África tinha forçosamente
que ser entendido por oposição à maneira de cantar do colonizador.
São destacados os seguintes poemas de Noémia de Sousa: minha dor, aforismo, em
vez de lagrimas, infelizmente jamais, etc.
Rui Nogar, pseudónimo de Francisco Rui Moniz Barreto, nasceu a 2 de Fevereiro de
1935, em Lourenço Marques (actual Maputo), Moçambique.
Datam muitos dos poemas que reuniu no seu único livro, Silêncio Escancarado, dado
à estampa em 1982.
Os poemas de Rui Nogar representam, sobretudo, a vivência de um homem mais
preocupado com os «outros homens da sua época» do que com a imortalidade
literária.
Referência bibliográfica.
Sonetos (1946), editado pela tipografia Minerva Central.
Os Meus Versos, Texto Editores, 2006 (Organização, Notas e Comentários de
Fátima Mendonça)
Ao mata-bicho: Textos publicados no semanário «O Brado Africano» Pesquisa
e Organização de António Sopa, Calane da Silva e Olga Iglésias Neves.
Maputo, Texto Editores, 2007
Rui Nogar. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult.
2013-07-22].
Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/$rui-nogar>.
Revista Rubra nº 6 » Rui Nogar, poeta guerrilheiro