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~ 1 ~ Adriano Cézar de Oliveira VIDA DE FRANCISCO Afrescos de Giotto di Bondone

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Adriano Cézar de Oliveira

VIDA DE

FRANCISCO Afrescos de Giotto di Bondone

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VIDA DE

FRANCISCO Afrescos de Giotto di Bondone

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© Blog Ecos de Mística

Adriano Cézar de Oliveira

Outubro de 2018

Todos os direitos reservados

Diagramação e Capa: Adriano Cézar de Oliveira

Ilustração da Capa: Sermão dos Pássaros – Giotto di Bondone –

Basílica de São Francisco – Assis/Itália

Oliveira, Adriano Cézar O48v Vida de Francisco. Afrescos de Giotto di Bondone. /Adriano Cézar de Oliveira. Blog Ecos de Mística, 2018. 91f.

1. São Francisco de Assis. 2. Giotto di Bondone. 3. Espiritualidade Franciscana. I. Oliveira, Adriano Cézar. II. Título CDU: 271.3

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Como estrela da manhã a despontar por entre nuvens, Francisco,

resplandecendo pela claridade da vida e pelos fulgores da doutrina,

com a sua refulgente irradiação encaminhou para a luz os que viviam

nas trevas e nas sombras da morte; ou como um arco-íris engalanando

as nuvens e testemunhando a aliança do Senhor, anunciou aos

homens a boa nova da paz e da salvação, ele que, como arauto da

verdadeira paz, foi por Deus chamado, à imitação do Precursor, a

preparar no deserto deste mundo o caminho da altíssima pobreza e a

pregar a penitência tanto pelo exemplo como pela palavra.

Do Prólogo da Legenda Maior de São Boaventura

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INTRODUÇÃO

Os Afrescos de Giotto di Bondone

na Basílica de São Francisco

Dois anos após a morte de Francisco de Assis, no dia 16 de

julho de 1228, o bem-aventurado foi canonizado pelo Papa Gregório

IX através da Bula “Mira circa nos”. No dia seguinte à sua

canonização foi lançada a primeira pedra da Basílica Menor em

Assis. Esta Basílica possui duas Igrejas superpostas, a Maior e a

Menor.1

Passados dois anos de sua morte o corpo do santo de Assis

foi levado em segredo para a cripta da Basílica Menor, mesmo

inacabada, por medo de saques dos “buscadores de relíquias”. O

1 Cf. MAGRO, Pascual. Basílica de San Francisco em su fomación y em su significado

histórico. Disponível em http://www.franciscanos.org/santuarios/magro.htm.

Também URIBE, Fernando. Basílica y tumba de San Francisco. Disponível em

http://www.franciscanos.org/santuarios/uribe2.htm.

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início da construção da Basílica Maior se deu por volta de 1239 e

ambas foram dedicadas em 1253 pelo Papa Inocêncio IV.

A Basílica Maior é decorada com afrescos de Giotto di

Bondone, cerca de 28 obras são de sua autoria e retratam as principais

passagens da vida de São Francisco escritas por São Boaventura na

Legenda Maior.

A parte superior da nave é decorada por mestres romanos e

toscanos, e entre eles destaca-se o jovem Giotto, na parte inferior,

cuja personalidade forte e capacidade inovadora, expressa com seu

grande talento, o que lhe valeu a incomparável honra de poder

contar sobre essas paredes a admirável vida do Poverello de Assis,

tomando como guia São Boaventura, autor da vida do Santo. Giotto

reproduz nesses murais, com plasticidade viva e vigorosa, os

maiores acontecimentos da vida do Santo com uma naturalidade e

uma carga de humanidade que se mostra límpida e serena em cada

uma das cenas como se ele próprio tivesse sido ator ou como se

estivesse presente.2

2 Cf. BELLUCCI, Gualiero. Basílica de San Francisco. Disponível em

http://www.franciscanos.org/santuarios/bellucci2.htm. Acesso em 24 de setembro de

2018. Tradução nossa.

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A Legenda Maior de São Boaventura é uma das legendas que

descrevem a Vida de São Francisco, terminada em 1263, e

considerada a partir de 1266, o relato oficial da vida do santo. Para

melhor entendermos a relação da Legenda Maior com os Afrescos de

Giotto é importante fazermos uma menção ao uso destes textos

hagiográficos na Idade Média e em toda Cristandade Medieval.

Michel de Certeau, em referência ao uso de tais textos no medievo,

afirma:

A vida dos santos traz à comunidade um elemento festivo. Ela se

situa do lado do descanso e do lazer. Corresponde a um "tempo

livre", lugar posto à parte, abertura "espiritual" e contemplativa.

Não se encontrado lado da instrução, da norma pedagógica, do

dogma. Ela "diverte". Diferentemente dos textos nos quais é

necessário acreditar ou praticar, ela oscila entre o crível e o incrível,

propõe o que é lícito pensar ou fazer. Sob estes dois aspectos cria,

fora do tempo e da regra, um espaço de "vacância" e de

possibilidades novas. O uso da hagiografia corresponde ao seu

conteúdo. Na leitura, é o lazer distinto do trabalho. Para ser lida

durante as refeições, ou quando os monges se recreiam. Durante o

ano, intervém nos dias de festa. É contada nos lugares de

peregrinação e ouvida nas horas livres. Sob estes diversos aspectos,

o texto corta o rigor do tempo com o imaginário; reintroduz o

respectivo e o cíclico na linearidade do trabalho. Mostrando como,

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através de um santo (uma exceção), a história está aberta ao "poder

de Deus", cria um lugar onde o mesmo e o lazer se encontram. Este

lugar excepcional abre, para cada leitor, a possibilidade de um

sentido que é ao mesmo tempo o alhures e o imutável. O

extraordinário e o possível se apoiam um no outro para construir

uma ficção posta aqui a serviço do exemplar. Esta combinação, sob

a forma de um relato, representa uma função de "gratuidade" que

se encontra igualmente no texto e no seu uso. É uma poética do

sentido. Não é redutível a uma exatidão dos fatos ou da doutrina

sem destruir o próprio gênero que enuncia. Sob as aparências de

uma exceção e de um desvio (quer dizer, pela metáfora de um caso

particular), o discurso cria uma liberdade com relação ao tempo

cotidiano, coletivo ou individual, mas constitui um não-lugar.3

Giotto di Bondone foi um pintor e arquiteto italiano cuja arte

inovadora foi considerada o elo entre a pintura medieval e bizantina

e a pintura renascentista. Sua pintura apresenta os primeiros traços

da pintura de perspectiva na Europa, além de ser marcada pela

identificação dos santos com seres humanos de aparência comum,

dando-lhes um ar mais humanizado e próximo das pessoas

3 CERTEAU, Michel de. “Uma variante: a edificação hagiográfica”, In: A Escrita da história.

Tradução de Maria de Lourdes Menezes. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982, 270-

271.

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antecipando a visão humanista do Renascimento. As pinturas de

Giotto estão espalhadas por toda a Itália.

Na Basílica Maior de São Francisco os afrescos de Giotto

estão na parte inferior da nave formamdo o ciclo da vida de São

Francisco, com um total de 28 cenas. Quase todas são fruto de sua

inspiração e do trabalho de seus colaboradores. Os cinco últimos

afrescos são atribuídos ao "Mestre de Santa Cecília", dada a sua

semelhança com a vida de Santa Cecília, que está no Museu do Uffizi

de Florença.

Veremos cada um dos 28 afrescos de Giotto4 retratando o

ciclo da vida de São Francisco de Assis e sua correspondência textual

na Legenda Maior, de São Boaventura.

Boa apreciação!

4 Afrescos disponíveis em http://www.franciscanos.org/buenaventura/menu.html no número correspondente ao afresco.

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AFRESCO 1

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A cena retrata um homem simples estendendo sua capa aos pés de

Francisco. Podemos observar no afresco dois grupos de pessoas e

dois conjuntos arquitetônicos separados por uma representação do

templo de Minerva, o qual demarca a cena principal do quadro.

Nota-se a harmoniosa distribuição dos personagens e edifícios.

A passagem orientadora da composição da cena é a Legenda Maior 1,

1.

Vivia na cidade de Assis um homem chamado Francisco, de abençoada

memória, a quem Deus em sua bondade e misericórdia antecipara a

abundância de sua graça, salvando-o dos perigos da vida presente e

derramando sobre ele os dons de sua graça celestial. Em sua juventude,

viveu Francisco no meio dos filhos deste mundo e como eles foi educado.

Depois de aprender a ler e a escrever, recebeu um emprego rendoso no

comércio. Mas, com o auxílio divino, jamais se deixou levar pelo ardor das

paixões que dominavam os jovens de sua companhia. Embora fosse inclinado

a vida dissipada, nunca cedeu a tentação. Vivia num ambiente marcado pela

cobiça desenfreada dos comerciantes, mas ele mesmo, embora gostasse de

obter seus lucros, jamais se prendeu desesperadamente ao dinheiro e as

riquezas.

O Senhor incutia em seu coração um sentimento de piedade que o tomava

generoso com os pobres. Este sentimento foi crescendo em seu coração e

impregnou-o de tanta bondade que ele decidiu, como ouvinte atento que era

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do Evangelho, ser generoso com quem lhe pedisse esmola, sobretudo a quem

pedisse por amor de Deus. No entanto, um dia, estando muito ocupado em

negócios, despediu de mãos vazias um pobre que lhe pedia uma esmola por

amor de Deus. Caindo em si, correu atrás do homem, deu-lhe uma rica

esmola e prometeu ao Senhor nunca mais recusar, sendo-lhe possível, o que

quer que lhe pedissem por amor de Deus. Observou esse propósito até a

morte com uma caridade incansável e que lhe granjeou sempre mais a graça

e o amor de Deus. Mais tarde, já como perfeito imitador de Cristo, dizia que

durante sua vida mundana ele não podia ouvir estas palavras: "amor de

Deus" sem ficar comovido.

Mansidão, gentileza, paciência, afabilidade mais que humana, liberalidade

que ultrapassava seus recursos eram sinais de sua natureza privilegiada que

anunciavam já uma efusão mais abundante ainda da graça divina nele. De

fato, um cidadão de Assis, homem simples do povo, que parecia inspirado

por Deus, tirou o manto ao encontrar Francisco em Assis e estendeu-o sob

os pés do jovem afirmando que um dia ele seria digno do maior respeito, que

em breve realizaria grandes feitos e mereceria dessa forma a veneração de

todos os fiéis.

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AFRESCO 2

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A cena retrata Francisco estendendo sua capa a um cavaleiro pobre.

O jovem Francisco está no centro desta cena de rico colorido. As

figuras do cavalo e do cavaleiro equilibram o conjunto. Nas duas

colinas do fundo pode-se ver simbolizadas a cidade terrena na

esquerda, possível referência à cidade de Assis; e a cidade celeste na

direita, onde temos passível referência a Abadia de Monte Subásio.

As linhas oblíquas das colinas confluem sobre a figura de Francisco.

A passagem orientadora da composição da cena é a Legenda Maior 1,

2.

Por essa época, Francisco ainda ignorava os planos de Deus a seu respeito,

pois não havia aprendido a contemplação das coisas do alto, levado que era

sempre em direção as coisas externas por ordem de seu pai, nem havia

adquirido ainda o gosto pelas coisas de Deus, atraído para as coisas

inferiores pela corrupção que todos nós temos desde o berço. Mas "o

sofrimento permite a uma alma compreender muitas coisas; a mão do Senhor

pesou sobre ele, e a direita do Altíssimo o transformou" (Is 28,19; Ez 1,3; Sl

76,11), sujeitando-lhe o corpo a uma longa enfermidade para preparar sua

alma a receber o Espirito Santo. Havendo recuperado suas energias, já se

vestia de novo com elegância. Certo dia encontrou um cavaleiro, nobre de

nascimento, mas pobre e mal vestido; ficou com pena daquele homem, desfez-

se imediatamente de suas vestes e deu-as a ele, poupando assim, num duplo

gesto de caridade, ao cavaleiro a vergonha e ao pobre a miséria.

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AFRESCO 3

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A cena retrata o sonho com o palácio com armas, onde vemos em

contraposição dois grandes volumes, um sem maiores adornos que

ressalta as figuras de Cristo e Francisco, e outro que representa um

grande palácio gótico ricamente adornado.

A passagem orientadora da composição da cena é a Legenda Maior 1,

3.

Naquela noite, enquanto dormia, Deus em sua bondade mostrou-lhe em

visão magnífica um grande palácio de armas que levavam a cruz de Cristo

marcada nos brasões. Mostrava-lhe assim que a gentileza que ele praticara

com o pobre cavaleiro por amor ao Grande Rei seria recompensada de modo

incomparável. Perguntou Francisco para quem era tudo aquilo. E uma voz

do céu lhe respondeu: "Para ti e teus soldados". Ainda não tinha experiência

em interpretar os divinos mistérios e ignorava a arte de ir além das

aparências visíveis até as realidades invisíveis. Por isso estava convencido,

ao acordar, que essa estranha visão lhe garantia um imenso sucesso para o

futuro. Entregue a essa Ilusão, decide alistar-se no exército de um conde,

grande senhor da Apúlia, na esperança de conquistar, sob suas ordens, essa

glória militar que lhe prometia aquela visão.

Põe-se a caminho e chega a cidade seguinte. Durante a noite ouve o Senhor

lhe dizer em tom familiar: "Francisco, quem pode fazer mais por ti: O senhor

ou o servo, o rico ou o pobre?" Francisco responde que é o senhor e o rico,

evidentemente. E o Senhor lhe retruca: "Por que então deixas o Senhor para

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te dedicares ao servo? Por que escolhes um pobre em vez de Deus que é

infinitamente rico?" "Senhor, responde Francisco, que quereis que eu faça?"

E Deus lhe disse: "Volta para tua terra, pois a visão que tiveste prefigura

um acontecimento totalmente espiritual que se realizar não da maneira

como o homem propõe, mas assim como Deus dispõe". De manhã, Francisco

tratou de voltar para Assis. Estava sobremodo alegre e o futuro não lhe dava

preocupação; era já um modelo de obediência e aguardou a vontade de Deus.

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AFRESCO 4

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A cena retrata Francisco que escuta o Crucifixo de São Damião.

Temos a idealização da Igreja de São Damião segundo um artifício

pictórico, não carente de simbolismo, que permite ver seu exterior e

seu interior em estado de abandono e destruição. A parte ocupada

pelo Crucifixo é a mais pobre e descomposta.

A passagem orientadora da composição da cena é a Legenda Maior 2,

1.

O próprio Cristo era o único guia de Francisco em todo esse tempo. Em sua

bondade, interveio mais uma vez com a suave influência de sua graça.

Francisco saiu um dia da cidade para meditar. Ao passar pela igreja de São

Damião, que estava prestes a ruir de tão velha, sentiu-se atraído a entrar e

rezar. De joelhos diante do Crucificado, sentiu-se confortado imensamente

em seu espírito e seus olhos se encheram de lágrimas ao contemplar a cruz.

Subitamente, ouviu uma voz que vinha da cruz e lhe falou por três vezes:

"Francisco, vai e restaura a minha casa. Vês que ela está em ruínas.

Francisco encontrava-se sozinho na igreja e ficou amedrontado ao ouvir

aquela voz, mas a força de sua mensagem penetrou profundamente em seu

coração e ele, delirando, caiu em êxtase. Por fim voltou a si e tratou de pôr

em execução a ordem recebida. Concentrou todas as forças na restauração

daquela igreja material. Mas a igreja a que a visão se referia era aquela que

"Cristo resgatara com o próprio sangue" (At 20,28). O Espírito Santo mais

tarde lho revelou e ele o ensinou a seus Irmãos.

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Levanta-se então, faz o sinal-da-cruz para ter coragem, pega na loja do pai

alguns fardos de tecido, vai a galope até Foligno, vende sua mercadoria

juntamente com o cavalo que lhe servira de montaria. Volta a Assis, entra

na igreja que se propusera restaurar. Encontra aí o pobre sacerdote capelão

e saúda-o respeitosamente, oferece seu dinheiro para restaurar a igreja e

distribuir aos pobres, pede-lhe enfim humildemente a permissão de viver

algum tempo ao seu lado. O capelão concorda em dar-lhe pousada, mas

temendo a família recusa aceitar o dinheiro. Em seu total desinteresse pelo

dinheiro, Francisco atira-o a um canto da janela com tanto desprezo como se

fosse poeira.

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AFRESCO 5

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A cena retrata Francisco renunciando a herança paterna. Os dois

grupos de edifícios do fundo organizam a cena em primeiro plano,

cena cheia de dramatismo em que há dois grupos de pessoas. A cena

que acontece entre Pedro de Bernardone e seu filho Francisco aparece

separada por um espaço vazio. Do lado direito se agrupam os

eclesiásticos, e do lado esquerdo, os civis. Nota-se a expressão dos

rostos, o contraste entre a atitude de Pedro e a de Francisco, assim

como o equilíbrio das ações entre o amigo que segura Pedro

Bernardone e o bispo que cobre a Francisco.

A passagem orientadora da composição da cena é a Legenda Maior 2,

4.

Não contente com ter recuperado seu dinheiro, tratou de fazer com que

Francisco fosse levado até ao bispo da diocese, onde ele deveria renunciar a

toda a sua herança e devolver-lhe tudo que tinha. No seu autêntico amor a

pobreza, Francisco nada opunha a essa cerimônia e se apresenta de boa mente

diante do bispo e, sem esperar um minuto nem hesitar de qualquer forma,

sem aguardar qualquer ordem nem pedir qualquer explicação, tira

imediatamente todas as suas vestes e as entrega ao pai. Todos viram então

que, sob as vestes finas, o homem de Deus levava um cilicio. Despiu mesmo

os calções, em seu fervor e entusiasmo, e ficou nu diante de todos. Então

disse ao pai: "Até agora chamei-te meu pai, mas de agora em diante posso

dizer sem qualquer reserva:

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'Pai nosso que estais no céu', pois foi a ele que confiei meu tesouro e nele

depositei minha fé". O bispo, que era um homem santo e muito digno,

chorava de admiração ao ver os excessos a que o levava seu amor a Deus;

levantou-se, abraçou-o e envolveu-o no seu manto, ordenando que

trouxessem alguma roupa para cobri-lo. Deram-lhe um pobre manto que

pertencia a um dos camponeses a serviço do bispo; Francisco o recebeu

agradecido e, depois, havendo encontrado um pedaço de giz no caminho,

traçou uma cruz sobre o manto. Muito expressiva era semelhante veste neste

homem crucificado, neste pobre seminu. Dessa forma, o servo do Grande Rei

foi deixado nu para seguir as pegadas de seu Senhor atado nu a cruz e foi

assim também que ele adotou essa cruz como emblema, a fim de confiar sua

alma ao madeiro que nos salvou e por meio dele escapar São e salvo do

naufrágio do mundo.

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AFRESCO 6

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A cena retrata o sonho do Papa Inocêncio III, em Latrão. Há contraste

entre as cenas da direita e da esquerda. Na direta temos o pontífice

que dorme tranquilamente embaixo de um imenso baldaquino,

rodeado de um rico cortinado, e vigiado por dois anciãos, um deles

também dorme. Na esquerda, temos o predomínio das linhas

oblíquas, ambiente de movimento, uma bonita torre a ponto de cair

e Francisco segurando fortemente o edifício, como uma pilastra,

sustentando com os ombros o edifício e olhando confiantemente para

as alturas.

A passagem orientadora da composição da cena é a Legenda Maior 3,

10.

O servo de Deus entregou-se imediatamente a oração fervorosa e com suas

humildes súplicas obteve do Senhor que lhe revelasse o que deveria falar ao

Pontífice e que este sentisse em seu íntimo os efeitos da inspiração divina.

Como Deus lhe havia sugerido, contou ao Pontífice a par bola de um rei

muito rico que, feliz, desposara uma bela senhora pobre e dela tivera vá rios

filhos com a mesma fisionomia do rei, pai deles, e que por isso foram educados

em seu palácio. E acrescentou à guisa de explicação: "Não há nada a temer

que morram de fome os filhos e herdeiros do Rei dos céus, os quais, nascidos

por virtude do Espírito Santo, a imagem de Cristo Rei, de uma Mãe pobre,

serão gerados pelo espírito da pobreza numa religião sumamente pobre. Pois

se o Rei dos céus promete a seus seguidores a posse de um reino eterno,

quanto mais seguros podemos estar de que lhes dar também todas aquelas

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coisas que comumente não nega nem aos bons nem aos maus!" O Vigário

de Cristo ouvira com muito interesse a parábola e sua explicação; estava

maravilhado e já não duvidava de que Cristo havia falado pela boca deste

homem. Tivera, ali, pouco tempo antes uma visão em que o Espírito de Deus

lhe mostrara a missão a que Francisco estava destinado. De fato, vira em

sonho a basílica do Latrão prestes a ruir e um homem pobrezinho, pequeno

e de aspecto desprezível, a sustinha com os ombros para não cair.

E concluiu o Pontífice: "Este é, na verdade, aquele que com seu exemplo e

doutrina há de sustentar a santa Igreja de Deus". Por essa razão anuiu

benignamente ao pedido do santo, e daí em diante o teve sempre em grande

estima. Concedeu-lhe, pois, o que pedia, prometendo-lhe conceder muito

mais para o futuro. Aprovou também a Regra e deu-lhe a missão de ir por

todo o mundo pregar a penitência. Mandou igualmente impor tonsuras em

todos os leigos companheiros de Francisco para lhes permitir pregar a

palavra de Deus sem empecilhos.

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AFRESCO 7

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A cena retrata o Papa Inocêncio III aprovando a Regra. Dois grupos

de pessoas se encontram frente a frente, o grupo da direta está em

um plano um pouco mais elevado. As mitras harmonizam com as

tonsuras. Há relação entre ambos os grupos. Os olhares confluem

todos para a cena central: a benção de Inocêncio III e a doação da

Regra. O ambiente arquitetônico é marcado por três grandes arcos

suspensos o que pode sugerir algum simbolismo.

A passagem orientadora da composição da cena é a Legenda Maior 3,

10.

O servo de Deus entregou-se imediatamente a oração fervorosa e com suas

humildes súplicas obteve do Senhor que lhe revelasse o que deveria falar ao

Pontífice e que este sentisse em seu íntimo os efeitos da inspiração divina.

Como Deus lhe havia sugerido, contou ao Pontífice a par bola de um rei

muito rico que, feliz, desposara uma bela senhora pobre e dela tivera vá rios

filhos com a mesma fisionomia do rei, pai deles, e que por isso foram educados

em seu palácio. E acrescentou à guisa de explicação: "Não há nada a temer

que morram de fome os filhos e herdeiros do Rei dos céus, os quais, nascidos

por virtude do Espírito Santo, a imagem de Cristo Rei, de uma Mãe pobre,

serão gerados pelo espírito da pobreza numa religião sumamente pobre. Pois

se o Rei dos céus promete a seus seguidores a posse de um reino eterno,

quanto mais seguros podemos estar de que lhes dar também todas aquelas

coisas que comumente não nega nem aos bons nem aos maus!" O Vigário

de Cristo ouvira com muito interesse a parábola e sua explicação; estava

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maravilhado e já não duvidava de que Cristo havia falado pela boca deste

homem. Tivera, ali, pouco tempo antes uma visão em que o Espírito de Deus

lhe mostrara a missão a que Francisco estava destinado. De fato, vira em

sonho a basílica do Latrão prestes a ruir e um homem pobrezinho, pequeno

e de aspecto desprezível, a sustinha com os ombros para não cair.

E concluiu o Pontífice: "Este é, na verdade, aquele que com seu exemplo e

doutrina há de sustentar a santa Igreja de Deus". Por essa razão anuiu

benignamente ao pedido do santo, e daí em diante o teve sempre em grande

estima. Concedeu-lhe, pois, o que pedia, prometendo-lhe conceder muito

mais para o futuro. Aprovou também a Regra e deu-lhe a missão de ir por

todo o mundo pregar a penitência. Mandou igualmente impor tonsuras em

todos os leigos companheiros de Francisco para lhes permitir pregar a

palavra de Deus sem empecilhos.

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AFRESCO 8

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A cena retrata Francisco, como um novo Elias, aparecendo sobre um

carro de fogo. Temos a representação de duas cenas paralelas, no alto

um edifício que evoca o estábulo de Rivotorto e oferece uma boa

harmonia entre as colunas e os grupos de frades, abaixo.

A passagem orientadora da composição da cena é a Legenda Maior 4,

4.

Durante o tempo em que os Irmãos moravam nesse lugar, foi o santo ...

cidade de Assis num sábado para no domingo fazer o sermão costumeiro na

catedral. Enquanto passava a noite em oração, conforme seu hábito, num

tugúrio situado no jardim dos cônegos, longe de seus filhos, eis que por volta

da meia-noite alguns Irmãos dormiam, outros ainda oravam - um carro de

fogo de maravilhoso esplendor encimado por um globo resplandecente,

semelhante ao sol, que iluminava a noite, entrou pela porta da cabana e fez

três voltas. Os que vigiavam ficaram estupefatos e os que dormiam

acordaram apavorados; seus corações se iluminaram mais que seus corpos,

embora a essa luz admirável pudessem ler ...s claras a consciência de cada

um; eram capazes de penetrar os sentimentos uns dos outros, e acreditavam

unanimemente que era o Pai que, embora ausente de corpo, se encontrava

presente em espírito, aparecendo-lhes sob essa imagem, fulgurante e

abrasado de amor. Também tinham plena certeza de que o Senhor lhes queria

mostrar por esse carro de fogo resplendente que eles seguiam, como

verdadeiros israelitas, o novo Elias estabelecido por Deus para ser "o carro

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e o condutor" (cf. 4Rs 2,12) dos homens do Espírito. Devemos crer que

Deus, pela oração de Francisco, abriu os olhos desses homens simples para

que contemplassem suas grandezas, como outrora havia aberto os olhos do

servo de Eliseu para que visse "a montanha coberta de carros de fogo e de

cavalos que rodeavam o profeta" (cf. 4Rs 6,17). Ao voltar o santo homem

para junto de seus Irmãos, penetrou os segredos de suas consciências,

reanimou-lhes a coragem falando-lhes da visão extraordinária que haviam

tido e fez-lhes numerosas predições com relação aos progressos da Ordem.

Ao ouvi-lo expor assim tantas coisas fora do alcance de uma inteligência

humana, compreenderam os Irmãos claramente que o Espírito do Senhor

estava sobre seu servo Francisco com tal plenitude que para eles a escolha

mais acertada era seguir sua vida e doutrina.

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AFRESCO 9

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A cena retrata a visão dos tronos celestes. Um anjo aponta para Frei

Pacífico e mostra o objeto das visões, os cinco tronos celestes dos

quais um é reservado para São Francisco. O ambiente é demarcado

pela Igreja de Bovara e as asas do anjo.

A passagem orientadora da composição da cena é a Legenda Maior 6,

6.

Preferindo a pobreza para si e seus Irmãos acima de qualquer honra deste

mundo, Deus que ama os humildes julgou-o digno de maior honra. Esse fato

foi revelado a um dos Irmãos, homem virtuoso e santo, numa visão que teve

do céu. Estava viajando com Francisco, quando entraram numa igreja

abandonada, onde oraram com todo fervor. Este Irmão teve então uma

visão em que via uma multidão de tronos no céu, um dos quais era radiante

de glória e adornado de pedras preciosas e era o mais elevado de todos. Estava

maravilhado com tanto esplendor e se perguntava a quem ele caberia. Ouviu

então uma voz que lhe dizia: "Esse trono pertenceu a um dos anjos caídos.

Agora está reservado ao humilde Francisco". Ao voltar a si do êxtase, o

Irmão seguiu o santo que estava saindo da igreja. Retomaram o caminho e

continuaram conversando sobre Deus. O Irmão recordou-se então da visão e

discretamente perguntou a Francisco o que achava de si mesmo. Respondeu

o humilde servo de Cristo: "Reconheço que sou o maior pecador do mundo".

Replicou-lhe o Irmão que ele não podia fazer semelhante afirmação em

consciência tranquila, nem mesmo pensar assim. Francisco continuou: "Se

Cristo houvesse tratado ao maior celerado dos homens com a mesma

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misericórdia e bondade com que me tem tratado, tenho certeza que ele seria

muito mais reconhecido a Deus do que eu". Ao ouvir palavras de tanta

humildade, o Irmão teve a confirmação de que a sua visão era verdadeira,

sabendo perfeitamente que, ao mundo o santo Evangelho, o verdadeiro

humilde ser exaltado ao trono de glória de que o soberbo é excluído.

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AFRESCO 10

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A cena retrata Francisco expulsando os demônios da cidade de

Arezzo. Dois ambientes desiguais e contrastantes demarcam a

composição. Na esquerda temos a abside de um grande templo

gótico e na direita temos uma cidade minada pela divisão e o ódio

simbolizada pelos demônios na parte superior. Os personagens estão

na parte inferir da composição onde vemos Frei Silvestre

energicamente, ao centro, fazendo exorcismo e Francisco atrás,

humildemente ajoelhado, em atitude de oração.

A passagem orientadora da composição da cena é a Legenda Maior 6,

9.

Em outra ocasião chegou Francisco a Arezzo e encontrou toda a cidade num

grande tumulto provocado pelas lutas de facções políticas à beira da

destruição. Encontrou hospedagem numa aldeia fora das muralhas da

cidade e pode ver os demônios que perturbavam os cidadãos e os excitavam

a mutua matança. Resolvido a banir para longe aquelas sediciosas forças

infernais, enviou para diante de si, como núncio ou embaixador, ao bem-

aventurado Irmão Silvestre, homem de columbina simplicidade, dizendo:

"Vai, meu filho, as portas da cidade e da parte de Deus onipotente e em

virtude da santa obediência, ordena a esses demônios que saiam

imediatamente". Obediente como era, cumpriu imediatamente o que lhe

mandava o santo. Aproximou-se das portas da cidade, cantando um hino de

louvor a Deus, e clamou em altos brados: "Em nome do Deus onipotente e

por ordem de seu servo Francisco, ide-vos embora, todos vós, espíritos

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infernais!" Logo a cidade ficou pacificada e se tranquilizaram seus

moradores respeitando os mútuos direitos. Assim, banida para longe dali a

soberba furiosa dos demônios que haviam cercado a cidade e sobrevindo a

sabedoria de um pobrezinho, quer dizer, a profunda humildade de Francisco,

refez-se a paz ficando a cidade libertada, pois com a extraordinária virtude

de sua obediência Francisco merecera alcançar sobre aqueles espíritos

rebeldes e dispostos a todo domínio, que pôde reprimir suas diabólicas fúrias

e pôr em fuga sua danosa violência.

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AFRESCO 11

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A cena retrata Francisco diante do sultão do Egito, Malek al Kamil. É

um episódio de grande dramatismo composto por três grupos de

pessoas dispostas com grande equilíbrio. Nota-se a relação entre o

sultão que aponta com sua mão direita e a atitude segura de

Francisco que também aponta com sua mão direita, assim como o

retraimento dos sacerdotes maometanos e o gesto de desprezo do

irmão Iluminato. Os edifícios harmonizam a cena.

A passagem orientadora da composição da cena é a Legenda Maior 9,

8.

Tomou, pois, consigo um companheiro chamado Iluminado, homem de

inteligência e coragem. E havendo começado a caminhar, saíram-lhes ao

encontro duas mansas ovelhinhas, a vista das quais, cheio de alegria, disse a

seu companheiro: "Confiemos no Senhor, Irmão, porque em nós se realizam

hoje as palavras do Evangelho: 'Eis que vos envio como ovelhas entre lobos'"

(Mt 10,16). E tendo-se adiantado, encontraram as sentinelas sarracenas

que, quais lobos vorazes contra ovelhas, capturaram os servos de Deus e,

ameaçando-os de morte, maltrataram-nos com crueldade e desprezo, os

cobriram de injúrias e violências e os algemaram. Por fim, depois de havê-

los afligido e atormentado de mil maneiras, a divina Providência fez com que

os levassem a presença do Sultão, realizando-se desse modo as fervorosas

aspirações de Francisco. Colocados em sua presença, perguntou-lhes aquele

bárbaro príncipe quem os havia enviado, a que vinham e como tinham

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conseguido chegar a seu acampamento. Ao que respondeu o servo de Deus

com intrepidez que sua missão não procedia de nenhum homem, mas de

Deus altíssimo que o enviava para ensinar a ele e a todo o seu povo os

caminhos da salvação e para pregar-lhes as verdades de vida contidas no

Evangelho. Com tanta constância e clareza em sua mente, com tanta virtude

na expressão e com tão inflamado zelo pregou ao Sultão a existência de um

só Deus em três pessoas e a de um Jesus Cristo, Salvador de todos os homens,

que claramente se viu realizar-se em Francisco as palavras do Evangelho:

"Porei em vossos lábios palavras tão cheias de sabedoria, que a elas não

poder resistir nenhum de vossos adversários" (Lc 21,15). Admirado o

Sultão ao ver o espírito e o fervor do ser fico Pai, não apenas o ouvia com

grande satisfação, mas até insistiu com repetidas súplicas que permanecesse

algum tempo com ele. Mas o servo de Deus, iluminado pela força do alto,

logo lhe respondeu dizendo: "Se me prometeres que tu e os teus vos

convertereis a Cristo, permanecerei de muito bom grado entre vós. Mas se

duvidas em abandonar a lei impura de Maomé pela fé santíssima de Cristo,

ordena Imediatamente que se faça uma grande fogueira e teus sacerdotes e

eu nos lançaremos ao fogo, a ver se deste modo compreendes a necessidade

de abraçar a fé sagrada que te anuncio". A essa proposta, replicou sem

demora o Sultão: "Não creio que haja entre meus sacerdotes um só que, para

defender sua doutrina, se atreva a lançar-se ao fogo nem esteja disposto a

sofrer o menor tormento". E sobrava-lhe razão para dizer isso, pois vira que

um de seus falsos sacerdotes, desaparecera, mal ouviu as primeiras palavras

do santo. Este acrescentou, dirigindo-se ao Sultão: "Se em teu nome e em

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nome de teu povo me prometes abraçar a religião de Cristo, com a condição

que eu saia ileso da fogueira, estou disposto a entrar eu sozinho nela. Se o

fogo me consumir entre suas chamas, atribua-se isso a meus pecados; mas

se, como espero, a virtude divina me conservar ileso, reconhecereis a 'Cristo,

virtude e sabedoria de Deus' (cf. 1Cor 1,24) e único Salvador de todos os

homens". A essa proposta respondeu o Sultão que não podia aceitar esse

contrato aleatório, pois temia uma sublevação popular. Mas ofereceu-lhe

numerosos e ricos presentes que o homem de Deus desprezou como lama.

Não era das riquezas do mundo que ele estava em busca, mas da salvação

das almas. O Sultão ficou ainda mais admirado ao verificar um desprezo tão

grande pelos bens deste mundo. Não obstante sua recusa ou talvez seu receio

de passar à fé cristã, rogou ao servo de Deus que levasse todos aqueles

presentes e os distribuísse aos cristãos pobres e as igrejas. Mas o santo que

tinha horror de carregar dinheiro e não via na alma do Sultão raízes

profundas da fé verdadeira, recusou-se terminantemente a aceitar sua oferta.

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AFRESCO 12

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A cena retrata o êxtase de São Francisco onde a figura do santo, com

os braços abertos, ocupa o centro. As figuras juntas na parte inferior

esquerda acentua melhor a aparição do Senhor na parte direita e

garantem a harmonia da composição. Ao fundo temos um grande

prédio e no canto direito a figura de um monte e uma árvore,

simbolizando a oração e a vida que nasce da presença do Senhor.

A passagem orientadora da composição da cena é a Legenda Maior 10,

4.

E o homem de Deus, estando só e em paz, fazia ecoar os bosques com seus

gemidos, regava o chão com suas lágrimas, batia no peito e como se sentisse

oculto, bem abrigado na câmara mais secreta do palácio, falava ao seu

Senhor, respondia a seu Juiz, suplicava ao Pai, entretinha-se com o Amigo.

Muitas vezes seus Irmãos que o observavam piamente ouviram-no

interceder com repetidas súplicas diante da divina clemência em favor dos

pecadores e chorar em altas vozes como se estivesse presenciando a dolorosa

paixão do Senhor. Uma noite também o viram na solidão orar com os braços

estendidos em forma de cruz, estando seu corpo elevado da terra e envolto

numa nuvem resplandecente, como se essa luz viesse a ser testemunha da

admirável claridade de que gozava então Francisco em sua mente. Aí

também, como atestam provas seguras, lhe eram revelados os mistérios

ocultos da sabedoria divina que ele não divulgava externamente a não ser na

medida em que era impelido a isso por amor a Cristo ou pelo bem que

poderiam proporcionar aos outros. Dizia a respeito: "Às vezes se perde um

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tesouro inestimável por uma vantagem medíocre, e é culpa nossa se Aquele

que no-lo deu já não se mostra tão generoso". Ao voltar de suas orações, que

o transformavam quase num outro homem, punha toda atenção em

comportar-se em conformidade com os demais, para não acontecer que o

vento do aplauso lhe roubasse de sua alma os favores divinos que ele deixasse

transparecer externamente. Ao ser surpreendido publicamente por uma

visita do Senhor, ocultava-se de qualquer forma aos olhares das pessoas

presentes a fim de nada desvendar dos favores do Esposo. Ao orar em

companhia dos Irmãos, evitava com sumo cuidado as exclamações, os

gemidos, os suspiros e movimentos externos, já porque em tudo isso amava

o segredo, já também porque, voltando a entrar prontamente em si mesmo,

ficava absorto novamente em Deus. Costumava dizer aos da sua intimidade:

"Quando um servo de Deus, entregue a oração, é visitado pelo Senhor, deve

dizer-lhe: 'Esta consolação, Senhor, a enviastes do céu a um pecador e

indigno; eu a confio a vossos amorosos cuidados, pois do contrário me

consideraria um ladrão de vossos divinos tesouros'. E ao terminar a oração,

de tal modo se deve julgar pobre e pecador, como se nenhuma nova graça

houvesse recebido".

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AFRESCO 13

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A cena retrata a noite do Nascimento de Jesus encenada em Greccio,

a famosa cena do Presépio. O artista traz o episódio no presbitério de

uma Igreja e na cena são destacados os elementos principais, o

ambão do Evangelho, o púlpito da pregação, o altar da celebração e,

ao centro, Francisco vestido de diácono tomando em seus braços o

Menino de Belém. A cena ganha vitalidade com a presença da

multidão e os quatro frades que cantam.

A passagem orientadora da composição da cena é a Legenda Maior 10,

7.

Três anos antes de sua morte, resolveu celebrar com a maior solenidade

possível, perto de Greccio, a memória da Natividade do Menino Jesus, a fim

de aumentar a devoção dos habitantes. Mas para que ninguém pudesse

tachar esta festa de ridícula novidade, pediu e obteve do Sumo Pontífice

licença para celebrá-la. Francisco mandou, pois, preparar um presépio e

trazer muito feno, juntamente com um burrinho e um boi, dispondo tudo

ordenadamente; reuniram-se os Irmãos chamados dos diversos lugares;

acorreu o povo, ressoaram vozes de júbilo por toda parte e a multidão de

luzes e archotes resplandecentes juntamente com os cânticos sonoros que

brotavam dos peitos simples e piedosos transformaram aquela noite num dia

claro, esplêndido e festivo. E Francisco lá estava diante do rústico presépio

em êxtase, banhado de lágrimas e cheio de gozo celestial. Principiou então a

missa solene, na qual Francisco, que oficiava como diácono, cantou o

Evangelho. Pregou em seguida ao povo e falou-lhe do nascimento do Rei

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pobre a quem ele chamava com ternura e amor de Menino de Belém. Havia

entre os assistentes um soldado muito piedoso e leal que, movido por seu

amor a Cristo, renunciou a milícia secular e se uniu estreitamente ao servo

de Deus. Chamava-se João de Greccio, que afirmou ter visto no presépio,

reclinado e dormindo, um menino extremamente lindo, ao qual tomou entre

seus braços o bem-aventurado Francisco, como se quisesse despertá-lo

suavemente do sono. Que esta visão do piedoso soldado é totalmente certa

garante-o não só a santidade de quem a teve, como também sua veracidade e

a evidenciam os milagres que a seguir se realizaram; pois o exemplo de

Francisco, mesmo considerado do ponto de vista humano, tem poder para

excitar a fé de Cristo nos corações mais frios. E aquele feno do presépio,

cuidadosamente conservado, foi remédio eficaz para curar milagrosamente

os animais enfermos e como antídoto contra outras muitas classes de peste.

Deus glorificava em tudo o seu servo e provava pelos milagres evidentes o

poder de suas preces e de sua santidade.

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AFRESCO 14

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A cena retrata o milagre da fonte. Duas imensas rochas secas com

árvores raquíticas cercam a figura de Francisco em atitude de oração.

Nota-se a avidez do campesino com as pupilas dilatadas e suas

pernas esticadas pelo esforço. Os frades da esquerda, que se

maravilham com o ocorrido, completam o episódio.

A passagem orientadora da composição da cena é a Legenda Maior 7,

12.

Certa ocasião, querendo o homem de Deus transferir-se a um eremitério para

se dedicar mais livremente a contemplação, e como estava enfermo, pediu a

um pobre que o transportasse em seu burro. No calor do verão, o homem

seguia a pé o servo de Deus montanha acima. Cansado do percurso multo

longo e difícil e forçado pela sede, a um certo ponto começou a gritar ao santo:

"Morro de sede se não encontrar um pouco d'água imediatamente!" No

mesmo instante, Francisco apeou do burro e prostrado de joelhos em terra,

levantou as mãos ao céu, não deixando de rezar fervorosamente até conhecer

que o Senhor ouvira sua oração. Concluída a oração, disse afavelmente ao

homem: "Vai até aquela pedra, Irmão, e ali vai encontrar água fresca e

abundante, que neste momento Cristo, em sua misericórdia, fez jorrar da

pedra para ti'. Estupenda comiseração de Deus, que com tanta facilidade se

inclina aos desejos de seus servos! O homem sedento pôde beber de uma água

nascida da rocha pela virtude de um santo em oração e foi um rochedo bem

duro que lhe forneceu com que matar a sede. Não existia nenhum fio d'água

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anteriormente nesse local. E por mais que se procurasse, não se encontrou

resquício sequer de água naquele lugar.

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AFRESCO 15

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A cena retrata o sermão dos pássaros. Poderíamos dizer que o centro

deste quadro é o diálogo, esse espaço vazio de mútua atração em que

se vê Francisco um pouco inclinado conversando entusiasmado com

os pássaros, todos voltados a ele, escutando atentos. A cena é de rara

beleza e sensibilidade mostrando a comunhão de Francisco com

todas as criaturas e sua integração ao cosmo.

A passagem orientadora da composição da cena é a Legenda Maior 12,

3.

Aproximando-se de Bevagna, viu um pequeno bosque onde se haviam

reunido passarinhos de toda espécie em grandes bandos. Correu

imediatamente para lá e saudou-os como se fossem dotados de razão.

Pararam todos para olhá-lo; os que estavam nas árvores se inclinavam e

avançavam as cabeças, olhando de modo extraordinário. Adiantou-se para

o meio deles, pediu-lhes mansamente que ouvissem a palavra de Deus e lhes

disse: "Irmãos passarinhos, vós tendes muito motivo para bendizer vosso

Deus e Criador que vos vestiu de tão ricas plumas e vos deu asas para voar;

vos determinou para morada a região pura dos ares e cuida de vós, sem que

preciseis vos inquietar com nada". Esse discurso provocou entre os

passarinhos alegres manifestações: esticavam o pescoço, desdobravam as

asas, abriam o bico e olhavam atentamente para Francisco. E o santo ia e

vinha no meio deles, a alma delirando de fervor; roçava-lhes a túnica,

nenhum, porém se afastava. Por fim, traçou o sinal da cruz sobre eles, e os

passarinhos, com sua permissão e sua bênção, voaram todos ao mesmo

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tempo. Os companheiros de missão olhavam aquele espetáculo. Ao voltar

para junto deles, o homem simples e puro que era Francisco acusava-se de

negligência por não haver até então pregado as aves.

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A cena retrata Francisco que pressente a morte do cavaleiro da

cidade de Celano. A figura do cavaleiro de Celano, presente no

ângulo inferior direito, é o personagem central de toda a

dramaticidade da cena. Observa-se como todos os gestos e olhares

orientam-se para o mesmo lado.

A passagem orientadora da composição da cena é a Legenda Maior 11,

4.

Em outra ocasião, após voltar dos países de além-mar, veio a Celano pregar

e um cavaleiro que lhe tinha muita devoção convidou-o a sua mesa, com

muita insistência. Aceitou o convite e toda a família ficou muito contente

com a chegada de seus hóspedes, os pobres. Antes de sentar-se à mesa, o

santo, como de costume, rezou e louvou a Deus, de pé, olhos voltados para o

céu, mas quando terminou, chamou a parte aquele cavaleiro generoso e lhe

disse: "Irmão hóspede, eis-me aqui vencido por teus rogos: entrei em tua casa

para comer; agora, porém, escuta e põe logo em prática meus conselhos,

porque não aqui mas em outro local muito em breve há s de comer. Faze,

portanto, agora uma boa confissão de teus pecados, acompanhada de uma

verdadeira dor de tuas culpas e não deixes de manifestar tudo o que for

matéria do sacramento. Deves saber que o Senhor te recompensar hoje

mesmo a devoção com que convidaste e recebeste a seus pobres". O homem

obedeceu imediatamente a estas palavras do santo, confessou todos os seus

pecados ao Irmão que o acompanhava e após "haver posto ordem em sua

casa", estava preparado da melhor forma possível a receber a morte. Enfim,

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sentaram-se todos a' mesa e os convivas começaram a comer, quando, de

repente, o cavaleiro morreu, levado por uma morte repentina, como havia

predito o homem de Deus. Tão generosa hospitalidade lhe merecera a

recompensa prometida pelo Verbo que é a Verdade: "Aquele que recebe um

profeta receber uma recompensa de profeta" (cf. Mt 10,41). A predição do

santo lhe valeu a preparação para uma morte súbita e fortalecido com as

armas da penitência, conseguiu escapar a condenação eterna e entrar na

pátria celeste.

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A cena retrata Francisco pregando diante do papa Honório III. Três

arcos góticos ricamente decorados enquadram a cena, na qual a

figura do pontífice predomina com sua atitude de profunda atenção

às palavras de Francisco. Dois grupos, de três pessoas cada, cercam

o papa. Observe as várias expressões. A figura do frade sentado aos

pés de Francisco quebra a monotonia da composição.

A passagem orientadora da composição da cena é a Legenda Maior 12,

7.

O Espírito do Senhor, que ungira a Francisco e o enviara, e o próprio Cristo,

virtude e sabedoria do Pai (1Cor 1,24), haviam derramado tão copiosamente

seus dons sobre ele, que podia comunicar por sua palavra a doutrina

autêntica de ambos e desenvolver seu poder em milagres estupendos. Sua

palavra era um fogo ardente que penetrava até ao fundo dos corações e enchia

de admiração a todos os ouvintes, pois não exibia as galas de uma eloquência

mundana, mas apenas espalhava o bom odor de verdades reveladas por Deus.

Sucedeu certo dia, com efeito, que devendo pregar diante do próprio papa e

dos cardeais, por encargo do bispo de Óstia, compôs um sermão, que

aprendeu cuidadosamente de cor. Mas ao chegar o momento de se apresentar

de pé diante da assembleia para pronunciar o discurso, esqueceu-o

completamente e não pôde dizer uma palavra sequer do que escrevera.

Confessou então o santo com a maior humildade o que lhe sucedia. Recolheu-

se uns breves momentos para implorar as luzes do Espírito Santo e começou

a expressar-se com tanta fluência, com raciocínios tão eficazes, que moveu a

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compunção as ilustres pessoas que o ouviam, mostrando-se bem as claras

que não era ele, mas o Espírito Santo, quem falava por sua boca.

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AFRESCO 18

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A cena retrata a aparição de Francisco durante o capítulo de Arles. A

simplicidade dos frades que se sentam diante de Santo Antônio,

bastante eloquente em sua pregação, contrasta com a visão de

Francisco, que com mãos estendidas abençoa os irmãos.

A passagem orientadora da composição da cena é a Legenda Maior 4,

10.

Com o passar dos anos e crescendo o número dos Irmãos, o solicito pastor

começou a reuni-los no local chamado Santa Maria da Porciúncula para os

capítulos geral, a fim de repartir entre eles, por sorte, a terra ou propriedade

de sua pobreza e dar a cada qual a porção que a obediência determinasse.

Mais de cinco mil Irmãos aí se reuniram e faltava tudo nesse lugar. Mas

Deus, em sua bondade, veio-lhes em socorro, concedendo-lhes o suficiente

para as forças do corpo e a alegria do espírito. Aos capítulos provinciais

Francisco não podia assistir pessoalmente, mas a sua presença era marcada

por diretivas solícitas, oração continua e com sua bênção eficaz. E as vezes

mesmo, por virtude do poder de Deus, ele aparecia visivelmente. Um dia,

por exemplo, quando o glorioso confessor de Cristo, Antônio, estava

pregando aos Irmãos no capítulos de Arles acerca do título da cruz: "Jesus

Nazareno, Rei dos Judeus", certo religioso de virtude comprovada, de nome

Monaldo, movido por instinto interior e divino, dirigiu os olhos para a porta

da sala onde se celebrava o capítulos, e cheio de admiração viu ali, com os

olhos corporais, o ser fico Pai, que, elevado no ar e. de mãos estendidas em

forma de cruz, abençoava seus religiosos. Todos experimentaram naquela

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ocasião tanta e tão extraordinária consolação de espírito, que em seu interior

não lhes foi possível duvidar da real presença do ser fico Pai, confirmando-

se depois nesta crença não só pelos sinais evidentes que haviam observado,

como também pelo testemunho que verbalmente lhes deu o próprio santo.

Devemos admitir que a mesma força onipotente de Deus que permitiu

outrora ao santo bispo Ambrósio assistir aos funerais do glorioso Martinho,

para que venerasse com piedoso afeto aquele santo pontífice, essa mesma

providência quis igualmente que seu servo Francisco estivesse presente a

pregação de Santo Antônio, grande arauto do Evangelho, para que aprovasse

a verdade daquela doutrina, sobretudo no que se refere a cruz de Cristo, cujo

ministro e embaixador fora constituído.

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AFRESCO 19

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A cena retrata Francisco recebendo os estigmas. A atitude de

Francisco, no centro, e a de Frei Leão, no canto inferior, dão uma

grande serenidade à cena; as duas capelas equilibram o todo, assim

como a luminosidade dos Serafins e a iluminação da rocha.

A passagem orientadora da composição da cena é a Legenda Maior 13,

3.

Assim transportado em Deus pelo desejo de ser fico ardor e transformado,

por compaixão, naquele que, em seu excesso de amor, quis ser crucificado,

rezava um dia num lado do monte, estando próxima a festa da Exaltação da

Santa Cruz; e eis que ele viu descer do alto do céu um serafim de seis asas

brilhantes como fogo. Num rápido voo chegou ele ao lugar onde estava o

homem de Deus, e apareceu então um personagem entre as asas: era um

homem crucificado, com as mãos e os pés estendidos e presos a uma cruz.

Duas asas se erguiam por cima de sua cabeça, duas outras desdobradas para

o voo e as duas outras cobriam-lhe o corpo. Essa aparição fez Francisco

mergulhar num profundo êxtase, enquanto em seu coração sentia um gozo

extraordinário mesclado com certa dor. Porque, em primeiro lugar, via-se

inundado de alegria com aquele admirável espetáculo, no qual se gloriava de

contemplar a Cristo sob a forma de um serafim, mas ao mesmo tempo a vista

da cruz atravessava sua alma com a espada de uma dor compassiva. Era

grande sua admiração diante de semelhante visão, pois não ignorava que os

sofrimentos da paixão eram incompatíveis com a imortalidade dos espíritos

celestes. Veio então a conhecer por revelação divina que essa visão lhe havia

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sido providencialmente apresentada para que, como amante de Cristo,

compreendesse que devia transformar-se totalmente nele, não tanto pelo

martírio corporal quanto pelas chamas de amor de seu espírito. Ao

desaparecer aquela visão, deixou no coração de Francisco um ardor

admirável e imprimiu em seu corpo uma imagem não menos maravilhosa,

pois no mesmo instante começaram a aparecer em suas mãos e pés os sinais

dos cravos, iguais em tudo ao que antes havia visto na imagem do serafim

crucificado. E assim era na verdade, porque suas mãos e pés estavam

atravessados no meio por grossos cravos, cuja cabeça aparecia na parte

interior das mãos e superior dos pés. ficando as pontas aparecendo do outro

lado. A cabeça dos cravos era redonda e negra; as pontas, bastante longas e

afiadas e com evidentes sinais de haver sido retorcidas, resultando daí que

os cravos sobressaiam do resto da carne. De igual modo, no lado direito do

corpo do santo aparecia, como formada por uma lança, uma cicatriz

vermelha, da qual brotava as vezes tanto sangue que chegava a umedecer a

túnica e as roupas internas.

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AFRESCO 20

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A cena retrata a Morte e Funerais de Francisco. A cena dividida em

três partes: a inferior, mais horizontal, centrada em Francisco que se

encontra em uma maca; o meio, vertical, formado pela solene

procissão de seus funerais; o superior, de grande movimento,

representa Francisco levado pelos anjos ao céu.

A passagem orientadora da composição da cena é a Legenda Maior 14,

6.

Cumpridos enfim todos os desígnios de Deus em Francisco, sua alma

santíssima livrou-se da carne para ser absorvida no abismo da claridade de

Deus, e dormiu tranquilamente no Senhor. Um de seus Irmãos e discípulos

viu sua alma subindo para o céu na forma de uma estrela esplêndida levada

por uma branca nuvem por cima de imensa extensão de água, alma

refulgente nos esplendores de sua sublime santidade e transbordante das

riquezas da graça e da sabedoria do céu, que valeram ao santo penetrar na

mansão de luz e de paz, onde ele goza agora do repouso eterno. Na Terra di

Lavoro, Frei Agostinho, homem de grande santidade, que então era ministro

dos Irmãos, encontrando-se próximo a morte e havendo perdido muito antes

o uso da fala, recobrou-a subitamente e começou de repente a clamar:

"Espera-me, Pai, espera-me um pouco; quero unir-me a ti!" Cheios de

admiração, perguntaram-lhe os Irmãos a quem dirigia estas palavras, e ele

respondeu: "Então não vedes nosso Pai Francisco que parte para o céu?" No

mesmo instante, sua alma santa, deixando a carne, partia ao encalço do Pai

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santíssimo. O bispo de Assis encontrava-se então em peregrinação ao

santuário de São Miguel no monte Gargano. Apareceu-lhe o bem-

aventurado Francisco na mesma noite de sua morte e lhe disse: "Deixo o

mundo e parto para o céu". Ao levantar-se o bispo na manhã seguinte,

referiu aos companheiros o que lhe havia acontecido em sonho, e ao regressar

a sua cidade de Assis, feitas as verificações oportunas prévias, ficou sabendo

com certeza que o santo tinha deixado o mundo no momento em que lhe veio

pessoalmente anunciar a notícia. As cotovias, tão amantes da luz e tão

inimigas das trevas noturnas, aproximaram-se em grande número, pondo-

se no lugar em que o santo acabava de exalar o último suspiro, já quando a

noite caía. e em alegres revoadas, pareciam querer dar um testemunho tão

espontâneo quanto evidente da glória daquele que tantas vezes as havia

convidado a cantar os louvores do Criador.

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A cena retrata a visão do irmão Agostinho e do Bispo de Assis. Duas

cenas justapostas sem relação histórica ou pictórica. O da esquerda é

rico pelo seu expressionismo.

A passagem orientadora da composição da cena é a Legenda Maior 14,

6.

Cumpridos enfim todos os desígnios de Deus em Francisco, sua alma

santíssima livrou-se da carne para ser absorvida no abismo da claridade de

Deus, e dormiu tranquilamente no Senhor. Um de seus Irmãos e discípulos

viu sua alma subindo para o céu na forma de uma estrela esplêndida levada

por uma branca nuvem por cima de imensa extensão de água, alma

refulgente nos esplendores de sua sublime santidade e transbordante das

riquezas da graça e da sabedoria do céu, que valeram ao santo penetrar na

mansão de luz e de paz, onde ele goza agora do repouso eterno. Na Terra di

Lavoro, Frei Agostinho, homem de grande santidade, que então era ministro

dos Irmãos, encontrando-se próximo a morte e havendo perdido muito antes

o uso da fala, recobrou-a subitamente e começou de repente a clamar:

"Espera-me, Pai, espera-me um pouco; quero unir-me a ti!" Cheios de

admiração, perguntaram-lhe os Irmãos a quem dirigia estas palavras, e ele

respondeu: "Então não vedes nosso Pai Francisco que parte para o céu?" No

mesmo instante, sua alma santa, deixando a carne, partia ao encalço do Pai

santíssimo. O bispo de Assis encontrava-se então em peregrinação ao

santuário de São Miguel no monte Gargano. Apareceu-lhe o bem-

aventurado Francisco na mesma noite de sua morte e lhe disse: "Deixo o

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mundo e parto para o céu". Ao levantar-se o bispo na manhã seguinte,

referiu aos companheiros o que lhe havia acontecido em sonho, e ao regressar

a sua cidade de Assis, feitas as verificações oportunas prévias, ficou sabendo

com certeza que o santo tinha deixado o mundo no momento em que lhe veio

pessoalmente anunciar a notícia. As cotovias, tão amantes da luz e tão

inimigas das trevas noturnas, aproximaram-se em grande número, pondo-

se no lugar em que o santo acabava de exalar o último suspiro, já quando a

noite caía. e em alegres revoadas, pareciam querer dar um testemunho tão

espontâneo quanto evidente da glória daquele que tantas vezes as havia

convidado a cantar os louvores do Criador.

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A cena retrata o cavaleiro Jerônimo verificando os estigmas de

Francisco. A parte principal da pintura, com múltiplos caracteres, é

interessante por causa da expressão dramática e piedosa dos rostos.

A passagem orientadora da composição da cena é a Legenda Maior 15,

4.

Logo que ficou público o passamento do bem-aventurado Pai e se divulgou

a fama dos milagres que o acompanharam, o povo acorreu em grande número

ao lugar onde jazia o santo, para contemplar com os próprios olhos aquele

portento, dissipando-se assim toda dúvida da inteligência e transformando-

se em gozo o pesar que a morte lhes havia causado. Muitos cidadãos de Assis

puderam examinar com seus próprios olhos as sagradas chagas e nelas

imprimir o ósculo de seu amor. Um desses cidadãos, cavaleiro instruído e

prudente, chamado Jerônimo, homem muito famoso, duvidando da realidade

das sagradas chagas e mostrando-se muito incrédulo, como Tomé, com

maior resolução e atrevimento que os demais, começou a tocar, diante dos

Irmãos e de seus concidadãos, as mãos e os cravos do santo, e a tocar com

suas próprias mãos os pés e a chaga do lado direito, como se quisesse com

aquele toque nas verdadeiras marcas das chagas de Cristo arrancar de seu

coração e de todos os presentes as raízes mais profundas de qualquer dúvida

ou ansiedade. Esse homem tornou-se a seguir uma das testemunhas mais

convictas de uma verdade que ele havia adquirido de modo tão irrefragável,

dando testemunho da verdade e jurando sobre os santos Evangelhos.

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A cena retrata a dor de Clara e as irmãs de São Damião. Dois grupos

de pessoas, no centro das quais é a figura reclinada de Francisco.

Observe a piedade e a dor nos rostos das freiras e das pessoas ao

redor, que dão à pintura um realismo acentuado. A pequena igreja

de São Damião é idealizada como uma catedral de magnífica

arquitetura. Talvez o pintor quisesse representar a basílica de Santa

Clara?

A passagem orientadora da composição da cena é a Legenda Maior 15,

5.

Também os Irmãos haviam sido chamados ao passamento do Pai: juntaram-

se a multidão e na noite que seguiu a morte do bem-aventurado confessor de

Cristo tantos louvores se deram a Deus, que parecia mais uma liturgia

celebrada entre os anjos do que uma vigília funerária. De manhã cedo a

multidão, munida de ramos e velas, trasladou o sagrado corpo a cidade de

Assis, e ao passar em frente da igreja de São Damião, onde morava então,

com outras Irmãs, a gloriosa virgem Clara, que já goza triunfante no céu,

pararam um pouco para proporcionar àquelas sagradas virgens

oportunidade de ver e beijar o venerável corpo, adornado de preciosas e

celestiais pérolas. Chegados, por fim, a cidade, depositaram, cheios de júbilo

e com grande reverência, na Igreja de São Jorge, o precioso tesouro que

levavam. E isso fizeram em atenção ao fato de que, naquele mesmo lugar,

Francisco havia aprendido, em criança, as primeiras letras; aí pregou depois

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pela primeira vez e aí por fim encontrou, depois de morto, o primeiro lugar

de seu descanso.

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A cena retrata a canonização de São Francisco. Apenas alguns

fragmentos podem ser vistos. De grande interesse, a expressão dos

rostos das mulheres no canto inferior direito.

A passagem orientadora da composição da cena é a Legenda Maior 15,

7.

O pastor da Igreja que nenhuma dúvida tinha sobre sua admirável

santidade, depois de todos os milagres a ele referidos desde a morte do santo

e de todos aqueles prodígios de que fora testemunha durante a vida, tendo

visto com seus olhos e tocado com suas mãos, por assim dizer, esses fatos,

não duvidando da glória que o Senhor já lhe reservara no céu, decidiu, para

pautar sua conduta com a de Cristo de quem ele era vigário, glorificá-lo

também na terra propondo-o a veneração de todos. A fim de dar ao mundo

inteiro plena certeza sobre a glorificação do santo, mandou examinar pelos

cardeais menos favoráveis a causa todos os milagres relatados e atestados

por testemunhas fidedignas: foram cuidadosamente verificados, reconhecido

seu valor, e uma vez obtida a unanimidade de julgamento e aprovação entre

todos os seus Irmãos e de todos os prelados presentes a Cúria, o papa decidiu

canonizar Francisco. Foi pessoalmente a Assis no ano de 1228 da encarnação

do Senhor e, no dia 16 de julho, que era um domingo, durante solenidades

que seria por demais longo descrever aqui, inscreveu o bem-aventurado Pai

no rol dos santos.

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A cena retrata Francisco aparece ao papa Gregório IX. Conjunto de

cortinas que enquadram uma cena em que a calma e a sonolência que

rodeiam o pontífice são percebidas. No centro de tudo domina a

figura de Francisco, que toma a mão do Papa e aponta para o seu

lado.

A passagem orientadora da composição da cena é a Legenda Maior,

Milagres, 1, 2.

A fim de afastar qualquer sombra de dúvida e comprovar a autenticidade

desse milagre estupendo e inconteste, aí estão não só os testemunhos

absolutamente dignos de fé daqueles que viram e tocaram as chagas do santo,

mas também as admiráveis aparições e prodígios, ocorridos depois da sua

morte. O Papa Gregório IX, de feliz memória, a quem o santo profetizara a

eleição a cátedra de São Pedro, nutria em seu coração, antes de canonizar ao

porta-estandarte da cruz, algumas dúvidas a respeito da chaga do lado. Uma

noite, porém, como ele mesmo referia entre lágrimas, apareceu-me em sonhos

o bem-aventurado Francisco, mostrando na fisionomia certa amargura e

repreendendo-o por causa da dúvida que alimentava em seu coração,

levantou o braço direito, descobriu a chaga e pediu-lhe que chegasse com

uma taça para nela receber o sangue que dela brotava. O papa aproximou da

chaga a taça, a qual parecia encher-se até as bordas de sangue que corria em

abundância. Desde então nutriu tal devoção a esse extraordinário milagre e

sentiu tanto zelo por ele, que de nenhum modo podia consentir que alguém

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se atrevesse a impugnar com temer ria ousadia aquelas chagas benditas sem

repreendê-lo com grande severidade.

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A cena retrata cura de um homem chamado João. Dois grupos de

pessoas que aparentemente não têm um centro comum de atenção; a

presença de Francisco e dos anjos não é percebida pelas duas

mulheres ou pelo médico.

A passagem orientadora da composição da cena é a Legenda Maior 6,

7; Milagres, 1,5.

Aconteceu também na cidade de Lérida, na Catalunha, que certo homem

chamado João, muito devoto de São Francisco, andava por um caminho ao

anoitecer, quando lhe saíram ao encontro uns homens com intenção de matá-

lo, não precisamente a ele, que não tinha inimigos, mas a um outro que lhe

era muito parecido e costumava andar em sua companhia. Aproximando-se

um dos homens que estavam ocultos, pensando ser seu inimigo, causou-lhe

tão graves ferimentos, que o deixou sem esperança alguma de recuperar a

saúde, pois ao primeiro golpe que lhe deu, quase lhe cortou o braço a altura

do ombro, e o outro golpe lhe causou tão profunda ferida no peito, que o ar

que por ali escapava bastou para apagar a luz de seis velas que ardiam

juntas. Os médicos estavam convencidos de que ele não poderia salvar-se

porque, tendo gangrenado, a ferida exalava um mau cheiro tão intolerável,

que a própria esposa mal aguentava. Nem havia remédio humano que

pudesse aliviar-lhe a dor. Então recorreu a São Francisco pedindo sua

intercessão tão fervorosamente quanto pôde. E mesmo quando atacado,

recomendara-se a ele e a Santíssima Virgem. Enquanto estava deitado

sozinho em seu leito de dor, perfeitamente consciente e repetindo o nome de

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Francisco continuamente, entrou pela janela um homem vestido do hábito

franciscano e se pôs a seu lado. Assim lhe pareceu. A visão lhe falou,

chamando-o pelo nome: "Tiveste confiança em mim e por isso Deus te há de

curar". quando o homem lhe perguntou quem era ele, disse que era Francisco

e logo se inclinou para ele e desatou-lhe as feridas. Em seguida, parecia untá-

las com unguento. Logo que sentiu o suave contato daquelas mãos, que por

virtude das chagas do Senhor tinham força para restituir a saúde,

desapareceu a gangrena, sua carne ficou sã e cicatrizaram-se as feridas,

voltando ao estado de perfeita saúde de que anteriormente gozava. Depois

disso desapareceu São Francisco. Ao perceber que tinha sido curado, João

chamou a esposa e prorrompeu alegre em louvores a Deus e a seu santo servo

Francisco. Ela veio correndo e ao ver de pé seu marido, que supunha ter que

enterrar no dia seguinte, ficou amedrontada, e com seus clamores chamou a

atenção de toda a vizinhança. Quando as pessoas da família chegaram,

tentaram reconduzir João para a cama, pensando que estivesse louco, mas

ele não quis ouvir a ninguém; procurando explicar-lhes que estava curado.

Tão grande foi o pavor que os dominou, que ficaram como fora de si,

parecendo-lhes estar vendo um fantasma, pois aquele a quem há pouco

haviam contemplado cheio de chagas e mais ou menos já corrompido,

apresentava-se a eles agora alegre e completamente restabelecido. "Não

temais", disse-lhes. "Não penseis que estais vendo fantasma. São Francisco

acaba de sair daqui e foi ele quem curou todas as minhas chagas com o

contato de suas santas mãos". Divulgada a fama desse milagre, reuniu-se

todo o povoado e, reconhecendo nesse estupendo prodígio a virtude das

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santas chagas de Francisco, ficaram todos cheios de admiração e alegria e

com grandes manifestações aclamavam e bendiziam o porta-estandarte de

Cristo. Francisco levou os estigmas de Cristo, que por nós morreu em sua

grande misericórdia e ressuscitou milagrosamente dos mortos e pelo poder

de suas chagas curou o gênero humano que tinha sido ferido e estava

semimorto. Era justo, portanto, que aquele que morrera para este mundo e

vivia com Cristo curasse um homem ferido aparecendo-lhe milagrosamente

e tocando-o com suas mãos.

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A cena retrata uma mulher que ressuscita para confessar. Figuras

mais estilizadas e um pouco hieráticas. No canto superior, Francisco

orando.

A passagem orientadora da composição da cena é a Legenda Maior,

Milagres 2, 1; 3 Cel 40.

Em monte Marano, perto de Benevento, morrera uma senhora muito devota

de São Francisco. A noite veio o clero celebrar-lhe as exéquias e cantar o

ofício dos mortos, quando, de repente, a vista de todos os presentes, levantou-

se a senhora do leito e chamou um dos sacerdotes, que era seu padrinho, e

disse-lhe: "Padre, desejo confessar-me: ouve os meus pecados. Depois de

minha morte devia ser encerrada num cárcere tenebroso, porque nunca

havia confessado o pecado que te vou contar; mas tendo o bem-aventurado

Francisco orado por mim, pois eu era muito devota dele em vida, me foi

concedido que a alma voltasse a unir-se ao corpo, a fim de que, manifestado

em confissão o pecado, mereça eu alcançar a vida eterna; e por isso, depois

de confessar minha falta a vista de todos vós, irei ao descanso prometido". O

sacerdote amedrontado recebeu a confissão contrita daquela senhora, que,

depois de absolvida, estendeu-se novamente em seu leito e adormeceu na paz

do Senhor.

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A cena retrata Pedro de Alife que recupera a liberdade. Cenografia

de torres que definem o lançamento de Pedro.

A passagem orientadora da composição da cena é a Legenda Maior,

Milagres 5, 4; 3 Cel 93.

Quando o Papa Gregório IX pontificava, certo homem chamado Pedro,

natural da cidade de Alife, acusado de heresia, foi preso em Roma por ordem

do papa e levado ao bispo de Tivoli para ser custodiado. Recebeu-o o bispo e,

para não perder o bispado, mandou pôr-lhe cadeias e prendeu-o num cárcere

escuro para não escapar, dando-lhe um pouco de pão e um pouco d'água para

sobreviver. Vendo-se o prisioneiro em situação tão penosa, começou a

invocar entre lágrimas e suspiros a proteção de São Francisco para que o

socorresse, tanto mais porque ouvira que era a véspera da festa do santo. E

como a pureza de sua fé vencera a contumácia de seus erros e se unira a

Francisco com todas as veras de sua alma, mereceu ser ouvido por Deus

pelos méritos de seu advogado Francisco. Efetivamente, aproximando-se a

noite da festa, e quando a luz do crepúsculo começava a desvanecer-se,

apareceu ao prisioneiro no cárcere o ser fico Patriarca com semblante

misericordioso, chamou-o por seu próprio nome e mandou-lhe que se

levantasse imediatamente. Atemorizado, perguntou quem era, e a aparição

lhe disse que era Francisco. Percebendo que estava livre das cadeias e que as

portas do cárcere estavam abertas para sair, ficou tão perturbado, que não

conseguia acertar o caminho de saída, e dando gritos diante da porta, fez

correr os guardas que, as pressas, foram participar ao bispo que o preso

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estava livre das cadeias. Logo chegou a notícia aos ouvidos do bispo, o qual,

movido por sua devoção, foi até ao cárcere e, inteirado do acontecido, só teve

que reconhecer a mão de Deus, adorando-o com ação de graças pelo prodígio.

As cadeias que haviam prendido aquele homem foram apresentadas ao

Senhor Papa e aos cardeais que, vendo o sucedido, ficaram muito admirados

e deram graças ao Senhor.

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