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Viagens na Minha Terra Almeida Garret

Viagens na minha terra

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Page 1: Viagens na minha terra

Viagens na Minha Terra

Almeida Garret

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Essas minhas interessantes viagens hão de ser uma obra prima, erudita. brilhante, de

pensamentos novos, uma coisa digna do século.

(…) e declaro abertamente ao benévolo leitor a profunda idéia que está oculta debaixo desta

ligeira aparência de uma viagenzinha que parece feita a brincar, e no fim de contas é uma coisa

séria, grave, pensada(…).

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• Gênero: misto – narrativa de viagens e narração novelesca.

• Estrutura: 49 capítulos - introdução explicativa.

• Foco narrativo: primeira pessoa (viagem) e terceira pessoa (digressão principal).

• Enredo: os registros de viagem (Lisboa a Santarém) - a relação entre liberalistas e absolutistas - a história de Carlos e Joaninha.

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• Tempo: a viagem em 1843 – o romance de 1832 a 1834 (período da Guerra Civil).

• Espaço: Santarém – região do Ribatejo e locais visitados pelo viajante.

• Linguagem: clássica, popular, jornalística e dramática.

O diálogo com o leitor - a digressão.

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A digressão

Sou sujeito a estas distrações, a este sonhar acordado. Que lhe hei de eu fazer? Andando,

escrevendo: sonho e ando, sonho e falo, sonho e escrevo.

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A intertextualidade

Desde que entendo, que leio, que admiro Os Lusíadas, enterneço-me, choro, ensoberbeço-me com a maior obra de engenho que apareceu no mundo, desde a Divina Comédia até ao Fausto.

O italiano tinha em fé em Deus, o alemão no cepticismo, o português na sua pátria.

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A busca por um modelo

Já preveni as observações com o texto acima: bem sei quem era Camões e quem sou eu; mas trata-se da entalação, que é a mesma apesar da

diferença dos entalados. o Autor dos Lusíadas viu-se entalado entre as crenças dos seu país e as

brilhantes tradições da poesia clássica que tinha por mestra e modelo.

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“Ainda assim, belas e amáveis leitoras, entendamo-nos; o que eu vou contar não é um

romance, não tem aventuras enredadas, peripécias, situações e incidentes raros; é uma

história simples e singela, sinceramente contada e sem pretensão.”

“Não senhor: a coisa faz-se muito mais facilmente. Eu lhe explico. Todo o drama e todo o romance

precisa de: uma ou duas damas. Um pai. Dois ou três filhos, de dezenove a trinta anos. Um criado

velho. Um monstro, encarregado de fazer as maldades. Vários tratantes, e algumas pessoas

capazes para intermédios.”

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Guerra civil portuguesa

• 1828 – 1834.

• Liberais X Tradicionalistas.

• D.Pedro X D. Miguel.

• Sucessão ao trono português.

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Santarém

•Capital da antiga província do Ribatejo.

•“A mais histórica e monumental das vilas”.

•Símbolo da força dos antigos portugueses.

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As viagens da viagem: Reavaliação inicial da Guerra Civil: livrar o país do governo absolutista.

Reflexão sobre a marcha do progresso social:

Princípio espiritualista X Princípio materialista Absolutismo Liberalismo

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Reflexo

Os interesses econô micos e políticos destruíram o antigo esplendor da natureza – efeito do princípio

materialista.

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A narrativa dentro da narrativa

A histó ria de Carlos e Joaninha

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Como hei de eu então, eu que nesta grave Odisseia das minhas viagens tenho de inserir o mais interessante e misterioso episódio de

amor que ainda foi contado ou cantado, como hei de eu fazê-lo, eu que já não tenho que amar neste mundo senão uma saudade

e uma esperança (…)?

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•O narrador apresenta D. Francisca e Joaninha.•A visita de Frei Dinis (sextas-feiras) > critica o Carlos pela posiç ão política (liberalismo)•O passado de Frei Dinis (armas e letras – magistratura – ordenaç ão franciscana).

Obs: doa o dinheiro a D. Francisca antes de se ordenar.

•A morte dos pais de Carlos e Joaninha.•A partida de Carlos para o exílio (Inglaterra).

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“Joaninha não era bela, talvez nem galante sequer no sentido popular e expressivo que a palavra tem em português, mas era o tipo de gentileza, o ideal da espiritualidade. Naquele rosto, naquele corpo de dezesseis anos, havia por dom natural e por

uma admirável simetria de proporç ões toda a elegância nobre, todo o desembaraç o modesto,

toda a flexibilidade graciosa que a arte, o uso e a conversaç ão da corte e da mais escolhida companhia vêm a dar a algumas raras e

privilegiadas criaturas no mundo.”

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•A conversa de Frei Dinis e D. Francisca > isolamento de 3 dias e a cegueira.

•A invasão das tropas constitucionalistas no vale.•O respeito dos soldados por Joaninha – a “menina dos rouxinó is”.

•Joaninha adormece no campo – observada por Carlos.

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• O encontro e a separaç ão: Joaninha volta escoltada pelos soldados.

• Joaninha escreve a Carlos > cria uma histó ria para a avó .

• O conflito emocional de Carlos: entre Joaninha e Georgina.

• O encontro no fim de tarde: Joaninha pede que Carlos visite D. Francisca.

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Obs: Joaninha repara nos traç os faciais de Carlos: semelhanç a com Frei Dinis.

•As juras de amor e a promessa de um novo encontro.

•Joaninha percebe a tristeza de Carlos: descoberta de uma outra mulher.

Retorna à narrativa da viagem: a chegada à Santarém.

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- Tu não me amas, Carlos.- Não te amo! eu... Santo Deus, eu não

a amo...- Não. Tu amas outra mulher.- Eu! Joana, oh! Se tu soubesses...- Sei tudo.- Não sabes.- Sei: amas outra mulher, outra mulher

que te ama, que tu não podes, que tu não deves abandonar, e que eu...

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A continuaç ão da histó ria:

•Carlos ferido na batalha de Almoster: cuidado por Georgina e Frei Dinis.

•Georgina termina o relacionamento com Carlos e pede que ele fique com Joaninha.

•O encontro de Carlos e Frei Dinis no Convento de São Francisco – o desejo de vinganç a.

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• A chegada de D. Francisca e a revelaç ão da paternidade de Carlos.

• Frei Dinis revela que matou o outro pai de Carlos e também seu tio.

• Carlos finge perdoar o frei e a avó , mas vai embora para É vora.

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O último registro da viagem:

Passeios por Santarém – a cidade em ruínas.

A degradaç ão das construç ões.

A profanaç ão do túmulo de S. Frei Gil.

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O desfecho da histó ria de Carlos e Joaninha

• O retorno do narrador: encontro com Frei Dinis na casa de D. Francisca.

• A carta de Carlos a Joaninha: revelaç ão do passado na Inglaterra:

A paixão pelas 3 irmãs: Laura – Júlia – Georgina.

Confessa-se indigno do amor de Joaninha: a despedida definitiva.

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“É s mulher, e as mulheres não entendem os homens. Sempre o entrevi, hoje sei-o perfeitamente. A mulher não pode nem deve compreender o homem. Triste da que chega a sabê-lo!...

(...)Tu és jovem e inexperiente; a tua alma está

cheia de ilusões doces; vou dissipá-las enquanto se não condensam; que te ofusquem a razão e te deixem para sempre escrava, cega do maior inimigo que temos - o coraç ão.”

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“Quero contar-te a minha histó ria; verás nela o que vale um homem. Sabe que os não há melhores que eu; e tão bons, poucos. Olha o que será o resto!”

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“E não há mais doce nem mais suave entretenimento de espírito do que o flertar com uma elegante e graciosa menina inglesa; com duas é prazer angélico, e com três é divino.

Veio a admiraç ão primeiro. E como as eu admirava todas três. as minhas gentis fascinadoras! E elas conheciam-no, riam, folgavam e estavam encantadas de me encantar. Fizeram nascer os desejos! Julguei-me perdido, e quis fugir.”

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Os destinos finais

•Carlos engordou, enriqueceu e tornou-se barão.

•Joaninha enlouqueceu e morreu.

•Georgina tornou-se abadessa num convento.

•D. Francisca enlouqueceu e torna-se uma espécie de morta-viva.

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A despedida do autor e do Frei Dinis: um balanç o entristecido das posiç ões políticas de liberais e absolutistas.

O autor — Erramos ambos. O frei — Erramos e sem remédio. A sociedade já não é o que foi, não pode tornar a ser o que era: — mas muito menos ainda pode ser o que é. O que há de ser, não sei. Deus proverá.

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A crítica ao Romantismo idealizador

Mas aqui é que me aparece uma incoerência inexplicável. A sociedade é materialista; e a literatura, que é a expressão da sociedade, é toda excessivamente e absurdamente e despropositadamente espiritualista! Sancho rei de fato, Quixote rei de direito.

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O caráter alegó rico das personagens

Carlos: contraditó rio e sem capacidade de amar: sociedade burguesa.

Frei Dinis: Absolutismo conservador.

Joaninha : pureza que não pode existir mais.

D. Francisca : Portugal cego que apenas sofre pelos filhos.