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UNIVERSIDADE DO SUL E SUDESTE DO PARAacute
INSTITUTO DE CIENCIAS HUMANAS
FACULDADE DE EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO
CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO
(TURMA 2009)
Marcelle Moreira Ribeiro
Valorizando o Local Um estudo sobre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais na praacutetica docente de
professores da escola Nossa Senhora de Guadalupe de Abaetetuba-Paraacute
Marabaacute- PA
2015
MARCELLE MOREIRA RIBEIRO
Valorizando o Local Um estudo sobre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais na praacutetica docente de
professores da escola Nossa Senhora de Guadalupe de Abaetetuba-Paraacute
Versatildeo Final do Trabalho de Conclusatildeo de Curso
apresentado agrave Faculdade de Educaccedilatildeo do Campo
(Fecampo) como requisito para a obtenccedilatildeo do
grau em Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo
com habilitaccedilatildeo em Ciecircncias Humanas e Sociais
da Universidade Federal do Sul e Sudeste do
Paraacute (UNIFESSPA) sob a orientaccedilatildeo da Prof
Ms Haroldo de Sousa
Marabaacute- PA
2015
MARCELLE MOREIRA RIBEIRO
Valorizando o Local
Um estudo sobre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais na praacutetica docente de
professores da escola Nossa Senhora de Guadalupe de Abaetetuba-Paraacute
Data da Defesa 22102015
Conceito _______________
Banca Examinadora
_______________________________________________________
Haroldo Souza Prof Msc
FECAMPOUNIFESSPA
Orientador
Maura Pereira dos Anjos Profa Msc
FECAMPOUNIFESSPA
Examinadora Interna
Maria Ceacutelia Vieira ProfaMsc
FECAMPOUNIFESSPA
Examinadora Interna
Marabaacute-PA
2015
Dedico este trabalho agrave Maria da Conceiccedilatildeo Correa
Moreira (minha Matildee)
Agradecimentos
Agradeccedilo primeiramente a Deus ser este que representa minha forccedila
espiritual a vontade de superar e seguir em minha jornada pois durante meu percurso
para chegar ateacute aqui
A Alessandra Nery que abriu as portas da cidade de Marabaacute para que
pudesse conhecer Yara Alves e a Famiacutelia Nascimento que ateacute hoje compartilhamos o
mesmo teto e encontramos forccedilas para continuar longe de nossas famiacutelias durante as
feacuterias para estudar e nos adotando como parte da sua Dona Deuza Dona Dilza Seu
Ferdinando Frederico Vincci Fernanda Nascimento (nossa matildee natildeo soacute no periacuteodo
intervalar) Sabrina Nascimento e outros
As novas amizades construiacutedas na corporaccedilatildeo de Bombeiros que me
ensinaram durante as comemoraccedilotildees o respeito para com o proacuteximo agradeccedilo
profundamente pelo tempo passado com vocecircs
A Adriana Silva Neuza Rodrigues Ruth e Raquel que me acolheram em
suas casas e estimularam a prosseguir com os estudos nas horas difiacuteceis
Agrave minha matildee (Maria da conceiccedilatildeo Correa Moreira) que desde quando nasci
assumiu a total responsabilidade de me criar e educar repassando os ensinamentos de
lealdade e sinceridade sem ajuda de outros meios a natildeo ser atraveacutes do seu trabalho de
sol a sol para que eu e meu irmatildeo pudeacutessemos chegar a concluir um ensino superior
A Dielly da Silva Castro amp Francisco Moreira Ribeiro Neto que me
ajudaram na organizaccedilatildeo e correccedilatildeo desse TCC para que eu pudesse concluir este
trabalho a tempo me dando forccedila e puxotildees de orelha para termina-lo
A meu noivo (Jonnes Matos Silva) que trabalhava durante a semana e nos
fins de semana natildeo media esforccedilos para poder me ajudar na coleta de dados e me dando
forccedilas nos momentos de perdas que influenciaram totalmente em minha vida cotidiana
Obrigada meu Deus por colocar essa pessoa em meu caminho e que possamos seguir ateacute
o fim de nossas vidas Obrigada
As minhas amigas Marcia Cardoso e Gil Carvalho por estarmos juntas nas
alegrias e tristezas como na perda de nossa amiga Renata Kelly Paes (In Memoacuteria) a
qual tinha planos de terminar nosso curso de graduaccedilatildeo juntas e dai ficarmos ricas (nas
brincadeiras) Obrigada meninas pela forccedila
A minha famiacutelia e as historias das Matriarcas que constituiacuteram nossos
saberes ensinamentos e aprendizados leais pois elas serviram de alicerces a nossa
coragem para seguirmos em nosso caminho
Aos Professores que formaram uma luta em prol dos povos que vivem a
margem da sociedade brasileira e que juntos a autores de diversas teorias nos
proporcionaram olhares diferentes e criacuteticos do mundo em que vivemos desde o inicio
de nossa descoberta
E a todos nossos clientes que sempre oram para que umas de minhas guerras
cheguem ao fim por ser nossos fieis colaboradores em nosso trabalho tatildeo leal e
honesto
Enfim a todos aqueles que participaram de minha formaccedilatildeo acadecircmica no
Curso de Licenciatura Plena em Educaccedilatildeo do Campo sendo este um movimento do
qual me dediquei e abracei a causa por grupos do campo como quilombolas sem terra e
ribeirinhos
Obrigada a todos
Sumaacuterio
RESUMO 08
ABSTRACT 09
LISTA DE IMAGENS 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
Capitulo 1
A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha 16
Capitulo 2
De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe 20
Capitulo 3
Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais 26
Capitulo 4
(Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo 31
Consideraccedilotildees Finais 36
Referecircncias 38
Outras referecircncias 40
Resumo
Este Trabalho analisa as praacuteticas de professores do Sistema de Organizaccedilatildeo Modular de
Ensino (SOME) da escola de Ensino Fundamental e Meacutedio Nossa Senhora de
Guadalupe localizada no Rio Tucumanduba municiacutepio de Abaetetuba Para tanto
utilizou-se autores das aacutereas da Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo do Campo e Ciecircncias Sociais
assim como entrevistas informais realizadas com os professores dessa escola
mostrando como eles desenvolvem seus curriacuteculos e processos educativos dentro da sala
de aula e se eles valorizam esses saberes Os resultados revelam preocupaccedilotildees enquanto
investigaccedilatildeo de educadores que trabalham durante anos em comunidades tradicionais
aqui apresentado na regiatildeo ribeirinha escola que trabalha desde o ensino fundamental
menor por tempo integral e o ensino meacutedio funciona em um sistema de rotatividade de
educadores integrados aos SOME que por sua vez durante conversas e entrevistas
justificados na falta de tempo pois durante sessenta dias tem que fechar a disciplina
assim natildeo restaria momentos de interaccedilatildeo com a comunidade e alunos e assim preparar
aulas que aproximemos o livro didaacutetico com a realidade do local
Palavras-Chave Rio Tucumanduba Comunidade de Guadalupe Educaccedilatildeo do Campo
Conhecimento cientiacutefico Saberes locais
Abstract
This work examines the practices of teachers Modular Teaching Organization System
(SOME) of the Elementary School and Middle School Our Lady of Guadalupe located
in Rio Tucumanduba municipality of Abaetetuba To this end we used authors of the
areas of Education education field and social sciences as well as informal interviews
with teachers of this school showing how they develop their curricula and educational
processes in the classroom and whether they value these knowledge The results reveal
concerns as research educators working for years in traditional communities presented
here on the seashore school working from the smallest elementary school full-time and
high school works on a rotation system of integrated educators to SOME which in turn
during conversations and justified interviews the lack of time because for sixty days
have to close the discipline so there would be moments of interaction with the
community and students and thus prepare lessons we approach the textbook with the
reality of the place
Keywords Rio Tucumanduba Community of Guadalupe Rural Education Scientific
knowledge and local Knowledge
Lista de Imagens
Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba (p 21)
Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe (p 22)
Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe (p 23)
Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe (p 26)
Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe (p 27)
11
Introduccedilatildeo
Quando o curso de Educaccedilatildeo do Campo foi lanccedilado pela primeira vez no
edital da entatildeo Universidade Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute hoje
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute logo me chamou atenccedilatildeo por ser um
curso ldquonovordquo no Estado do Paraacute uma vez que jaacute vinha sendo trilhado em outras
universidades a exemplo da Universidade santa Catarina (UFSC) Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Universidade de Brasiacutelia (UNB) Aleacutem disso me
chamava atenccedilatildeo tambeacutem o fato de o curso ser voltado para a aacuterea do campo que se
inserem povos ribeirinhos quilombolas e indiacutegenas Um curso preocupado com esses
grupos sociais especiacuteficos com a valorizaccedilatildeo de seus costumes saberes e dizeres e
demandas imanentes do campo
Nesse interim ao iniciar o curso em Educaccedilatildeo do Campo na Universidade
Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute 2009 fui estranhando e ao mesmo tempo me
identificando com leituras temaacuteticas e objetivos do curso Entre estranhamento
construccedilatildeo e (des) construccedilotildees o curso se mostrou muito frutiacutefero em informaccedilotildees que
me instigavam o olhar Tratava-se de um curso intervalar ou em regime de alternacircncia
pedagoacutegica realizado nos meses de janeiro-fevereiro e junho e agosto pela manhatilde e
tarde nesses meses
Como moradora do Municiacutepio de Abaetetuba a ideia que eu tinha de campo
diferia das ideias abordadas nas primeiras aulas Logo percebi como o curso estava
voltado para o contexto que marcava a regiatildeo de Marabaacute os conflitos por terra os
atores sociais integrantes do Movimento Sem Terra fazendeiros
Todos os demais alunos da turma faziam parte desse contexto estavam de
alguma forma ligados ao Movimento Sem Terra A imagem que eu possuiacutea do
movimento era totalmente deturpada formada pela miacutedia ideias do senso comum que
reforccedilavam a ideia do movimento como um grupo de pessoas que queriam o direito de
se apropriar de algo que natildeo lhes pertencia pessoas que natildeo precisavam de terras
Por conta disso nesse primeiro momento de 2009 o curso para mim natildeo
durou quinze dias durante o mecircs de julho pois resolvi deixar a Universidade natildeo soacute
por problemas pessoais mas sim por esse embate de ideias que naquele momento
quebrara as minhas expectativas em relaccedilatildeo ao curso Minha matildee estava abrindo uma
loja de confecccedilotildees eu e meu irmatildeo ajudaacutevamos na organizaccedilatildeo Com o passar do
tempo quando os negoacutecios jaacute estavam organizados resolvi voltar para a Universidade
12
na turma de 2010 que continham novos companheiros que me esclareceram e
esclarecem ateacute hoje minhas duacutevidas sobre Movimentos Sociais Organizados do
Campo
Quando reiniciei as aulas na ocasiatildeo do seminaacuterio de apresentaccedilatildeo de
Educaccedilatildeo do Campo estavam presentes lideranccedilas como Charles Trocate dos
Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e vaacuterias outras entidades
civis organizadas fazendo um interessante apanhado das lutas sociais e confrontos que
serviram de alicerce para poliacuteticas puacuteblicas e por uma Educaccedilatildeo dono Campo
valorizada e pensada para e pelos povos do campo
Durante o seminaacuterio Charles Trocate comentou sobre o iniacutecio o dos MTS
seus objetivos lutas perdas e conquistas De como eacute importante grupos se definirem e
se identificarem para que possam lutar por seus direitos montar estrateacutegias de
discussotildees com o governo para que este veja de onde a massa popular se afirma de
onde fala e que poliacuteticas puacuteblicas sejam efetivadas
O seminaacuterio me permitiu compreender que o Curso de Educaccedilatildeo do Campo
junto aos Movimentos Sociais eacute uma entre outras conquistas pois os filhos de
camponeses ribeirinho quilombolas e povos indiacutegenas estatildeo entrando nas
Universidades e se graduando se especializando para poder se expandir e mostrar que
eles (re)existir com seu modo e sua tradiccedilatildeo e juntos compartilhar conhecimentos
Nesses uacuteltimos quatro anos (2010-2014) de conhecimentos trocas de
experiecircncias e ensinamentos neste curso junto a professores vindos de diferentes
localidades e que natildeo nos deixavam com duacutevidas durante as disciplinas pois seus
compromissos como docentes e a luta por uma mesma causa (educaccedilatildeo do campo)
nos tornavam a cada aula defensores compromissados com a educaccedilatildeo do campo
proporcionando ao mesmo tempo teorias que nos faziam criticar os modelos sobre os
quais ciecircncias satildeo ensinada nas salas de aula
Aleacutem disso eacute importante ressaltar que por ser oriunda de AbaetetubaParaacute
aproximadamente a quatrocentos e cinquenta e seis quilocircmetros da cidade de Marabaacute
onde cursei Educaccedilatildeo do Campo trazia comigo um diferencial pois abordava em
meus trabalhos minhas experiecircncias do campesinato de minha localidade o que para a
realidade onde a maioria dos discentes eram da regiatildeo de Marabaacute era totalmente novo
assim como fora no inicio para mim
Tudo aquilo que eu mostrava durante as apresentaccedilotildees dos Trabalhos de
Campo do Tempo-Comunidade por ser desconhecido ficava mais interessante e nessas
13
trocas de conhecimentos passaacutevamos a perceber outras regiotildees tatildeo pertinho de noacutes e
juntos misturaacutevamos nossas crenccedilas costumes tradiccedilotildees mitos e histoacuterias essas
contadas na sala da diversidade cultural
O Curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz novos pressupostos
de educaccedilatildeo com uma formaccedilatildeo de sujeitos diferenciados possibilita que o educador
do campo e alunos realizem a troca de conhecimento e adequem esse processo de
forma mais agradaacutevel para ambos
De acordo com CORDEIRO REIS amp HAGE (2011) a Pedagogia da
Alternacircncia eacute uma estrateacutegia bem pensada que articula espaccedilos educativos concebe
que a educaccedilatildeo pode se realizar tanto em sala de aula quanto nos outros espaccedilos que
compotildeem o conviacutevio social dos alunos Os educandos do campo podem assim ter
acesso agrave escola sem ter que abandonar o trabalho sem deixar de lado o aprendizado
proveniente da vida na sua comunidade
Desta forma o que propotildee esta praacutetica pedagoacutegica eacute que o educando possa
refletir sobre sua proacutepria realidade seja capaz de aplicar os conhecimentos cientiacuteficos
que apreende no espaccedilo formal de educaccedilatildeo em seu cotidiano
O curso de Educaccedilatildeo do campo faz uso estrateacutegico dessa metodologia pois
se encontra dividido em dois periacuteodos especiacuteficos o primeiro chamado Tempo-
Universidade ocorre em janeiro-fevereiro e julho e Agosto neste periacuteodo os alunos de
diferentes localidades juntos em sala preparam momentos de trocas experiecircncias e de
conhecimentos durante seminaacuterios debates rodas de conversas
Ocorre todo um aprendizado teoacuterico de autores das aacutereas de sociologia filosofia
histoacuteria geografia e de educadores do campo No Tempo-Universidade aprendemos o
modo como conversar com a comunidade para obter as informaccedilotildees e conhecimentos
necessaacuterios para serem repassados em nosso acircmbito familiar e educacional deixando em
cada um algo que os toquem socialmente
O segundo periacuteodo ocorre nos meses que estamos fora da Universidade eacute
denominado de Tempo-Comunidade (T-C) Durante esse tempo colocamos em praacutetica
tudo o que aprendemos na academia cientifica em comunidades ribeirinhas
quilombolas indiacutegenas e outras
Durante os trabalhos de Campo no periacuteodo Tempo-Comunidade para pocircr
em praacutetica o que aprendemos em sala de aula presenciei por diversas vezes o modo
como os professores do Sistema de Organizaccedilatildeo de Ensino Modular (SOME)
professores esses que se movimentam de comunidade em comunidade ministravam
14
suas aulas durante dois meses em cada escola trazendo estilos de conhecimentos
(saberes cientiacuteficos) que aprenderam nas universidades que por vezes natildeo condiziam
com as realidades da comunidade ribeirinha que eu fazia minha praacutetica de ensino
Tendo por base os nossos conhecimentos cotidianos que constroem nossas
identidades cada educando escolheu um local para o desenvolvimento do respectivo
Trabalho de Campo partindo de uma das primeiras aulas ministradas pela professora
Dra Idelma Santiago sobre Aacutervores Genealoacutegicas no Tempo Universidade na qual
fizemos uma investigaccedilatildeo metodoloacutegica a fim de reconhecermos os saberes do lugar
de onde viemos
Escolhi entatildeo uma dentre as setenta e duas Ilhas ribeirinhas de Abaetetuba
situada no Rio TucumandubandashMeacutedio sendo este um dos afluentes do Rio Paraacute da
cidade de Abaetetuba O interesse pelo tema da educaccedilatildeo em educaccedilatildeo do campo
surgiu ainda na graduaccedilatildeo durante palestras estudos debates seminaacuterios para lutar
pelo reconhecimento de uma forma de ensinar dos Educadores do Campo no Campo
para a construccedilatildeo de Saberes e Dizeres na regiatildeo ribeirinha ou no lugar em que ela
aconteccedila
Atraveacutes de observaccedilotildees dos trabalhos de campo e do Tempo-comunidade
realizados durante as disciplinas do Tempo Universidade me despertou o interesse em
aprofundar meus conhecimentos nessa aacuterea levando-me para uma discussatildeo teoacuterica e
praacutetica da qual minha preocupaccedilatildeo ocorre ateacute os dias de hoje pois professores que
tiveram uma educaccedilatildeo bastante cartesiana e urbana levam para as comunidades
ribeirinhas os conhecimentos que aprenderam nas Universidades como modelos isto
eacute servem para explicar a realidade em qualquer contexto seja na cidade urbanizada
seja nos interiores ribeirinhos natildeo se atentando para a valorizaccedilatildeo do conhecimento
local
A ecircnfase principal deste Trabalho de Conclusatildeo do Curso (TCC) reside em
evidenciar como os professores ministram suas aulas nas regiotildees ribeirinhas se
incorporam ou natildeo os conhecimentos do cotidiano de seus alunos para explicar as
disciplinas e com isso valorizar os conhecimentos locais como meio de explicaccedilatildeo da
realidade
Para tanto se utilizaraacute de um meacutetodo nas ciecircncias humanas a observaccedilatildeo
participante aleacutem de entrevistas formais e conversas informais com os professores da
escola Nossa Senhora de Guadalupe
15
Assim sendo este trabalho estaacute estruturado da seguinte forma no capiacutetulo 1
intitulado A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha busca-se mostrar um
pouco do surgimento da Educaccedilatildeo do Campo no contexto nacional
O capiacutetulo 2 denominado De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe localiza a
comunidade e aborda a experiecircncia de inserccedilatildeo no loacutecus fazendo uso de imagens para
melhor ambientar o leitor
No capiacutetulo 3 chamado Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais
objetiva descrever como a articulaccedilatildeo entre diferentes conhecimentos no cotidiano da
sala de aula
No capitulo 4 nomeado (Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo
do Campo procura-se relacionar como os conhecimentos cientiacuteficos de um lado e os
conhecimentos tradicionais de outro se datildeo ou deveriam se dar nas aulas
Nas Consideraccedilotildees Finais tenta-se evidenciar um pouco como este
trabalho pode contribuir para outras anaacutelises similares com outros recortes empiacutericos em
trabalhos posteriores
16
Capitulo 1
A Educaccedilatildeo do Campo em uma comunidade Ribeirinha
A Educaccedilatildeo do Campo surgiu no seacuteculo passado e colocava em evidencia os
processos de exclusatildeo social poliacutetica econocircmica e cultural que os ldquopovosrdquo ou
ldquocomunidadesrdquo tradicionais vinham e ainda vem sofrendo em diversas regiotildees do Paiacutes
O curso vem trazendo esse olhar multifacetado da realidade do campo
como por exemplo na exploraccedilatildeo e escravizaccedilatildeo de populaccedilotildees indiacutegenas e africanos e
suas vaacuterias etnias em nosso paiacutes desde seu descobrimento assim como suas
consequecircncias nos dias atuais que formavamformam as realidades dos sujeitos por
vezes antagocircnicas da qual Maria Antocircnia de Souza (2010) aponta que
A educaccedilatildeo do Campo surge como novo paradigma para pensar os sujeitos
do campo valorizando seus trabalhos trabalhadores suas particularidades
contradiccedilotildees e organizaccedilatildeo cultural como praacutexis Ela se coloca contra o
paradigma da educaccedilatildeo rural ou seja aquela que esta vinculada aos
interesses do governo como agronegoacutecio do capitalismo agraacuterio e ao
fortalecimento das poliacuteticas do esvaziamento dos sujeitos do campo
(SOUZA 2010)
Isso porque atraveacutes de propagandas ou raacutedios bancos financiadores e outros
meios mostram os investimentos e avanccedilos no campo (elite empresarial) cuja realidade
concreta desses sujeitos vem se tornando mais conhecida por meio de pressotildees de
movimentos sociais organizados na luta por uma educaccedilatildeo de qualidade para os
trabalhadores do campo como nos diz Maria Isabel Pinheiro (2011) para quem
antagonicamente
Inovaram no maquinaacuterio no aumento da produccedilatildeo de gratildeo nos agrotoacutexicos
alteraccedilotildees dos genes das sementes para exportaccedilatildeo em larga escala Mas os
que tem usufruiacutedo desses avanccedilos satildeo pequenos grupos de latifundiaacuterios
empresaacuterios banqueiros e poliacuteticos nacionais e internacionais enquanto a
outros eacute negado o acesso a terra para sobreviver e garantir o sustento de
outros brasileiros (PINHEIRO 2011)
Dessa forma eacute que os Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST) ONGS educadores educando e sociedade civil se articularam e se articulam haacute
tempos lutando e pressionando o governo Federal Estadual e Municipal e em prol de
poliacuteticas puacuteblicas para criar alternativas de permanecircncia dos jovens e trabalhadores do
campo no campo atraveacutes de financiamentos assistecircncia teacutecnica educaccedilatildeo entre outros
Isso vem ocorrendo com a preocupaccedilatildeo de que se valorize os conhecimentos
locais e se planeje o modo mais adequado para uma educaccedilatildeo de qualidade para que
esses jovens possam se qualificar adquirindo saber cientiacutefico e ao mesmo tempo a
17
partir da valorizaccedilatildeo de seu lugar como espaccedilo de lutas e resistecircncias para o
reconhecimento de suas comunidades reelaborar
Conforme nos aponta Fernandes (2005) o campo eacute formado por diversos
territoacuterios que aborda todas as espeacutecies de relaccedilotildees humanas O campo requer demandas
distintas cada territoacuterio que forma o campo eacute dotado de particularidades desta categoria
emergem diversas relaccedilotildees Por isso a educaccedilatildeo no campo deve ser pensada
essencialmente dentro de cada contexto caso seja pensada fora dele natildeo eacute educaccedilatildeo
torna-se dominaccedilatildeo
Ainda em diaacutelogo com o autor temos que a educaccedilatildeo no campo surge no
sentido de tornar o indiviacuteduo ocupante dos territoacuterios do campo protagonista do
processo de construccedilatildeo de seu territoacuterio considerando as especificidades deste
Dessa forma autores como Roseli Caldart cuja produccedilatildeo versa sobre
movimentos sociais do campo educaccedilatildeo escola pedagogia do movimento e Bernardo
Manccedilano Fernandes (2008) que aborda principalmente teorias dos territoacuterios
paradigmas da questatildeo agraacuteria e do capitalismo agraacuterio reforma agraacuteria
desenvolvimento territorial Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
tem sido inspiraccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para os novos pesquisadores da Educaccedilatildeo do
Campo como ressalta Fernandes (2008)
No movimento de debate e contestaccedilatildeo da politica e da educaccedilatildeo rural
empreendido pelos movimentos sociais do campo emergem uma nova
concepccedilatildeo de educaccedilatildeo denominada Educaccedilatildeo do Campo (FERNANDES
2008)
No campo mais especiacutefico essas lutas e o conceito de educaccedilatildeo do campo se
fortaleceu e ganhou destaque a partir da I Conferencia Nacional por uma Educaccedilatildeo
Baacutesica do Campo realizada no ano de 1998 a partir dela foram elaborados trabalhos e
coletacircneas versando sobre Educaccedilatildeo do Campo que vieram relatar o processo de sua
construccedilatildeo e fortalecer as demandas por politicas publicas em vaacuterios aspectos da vida
no campo
Nesse mesmo contexto eacute verificada uma grande necessidade em se ter
profissional de educaccedilatildeo especiacutefica para as aacutereas do campo isto eacute profissionais que
possuiacutessem formaccedilatildeo especiacutefica (licenciatura) poacutes-graduaccedilotildees eou aperfeiccediloamentos
na aacuterea da educaccedilatildeo do campo
Para isso foram lanccediladas poliacuteticas quanto agrave educaccedilatildeo formal para
professores como nas licenciaturas em Educaccedilatildeo do Campo seja nas Universidades
Federais (UFS) seja por meio da Formaccedilatildeo continuada Plano Nacional de Formaccedilatildeo de
18
Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica (PARFOR) aleacutem de diversificaccedilatildeo das experiecircncias
educativas no campo a exemplo das Casas Familiares Rurais a construccedilatildeo da Escola
Famiacutelia Agriacutecola (EFA) Escolas Itinerantes que ajudam na ampliaccedilatildeo do conhecimento
e ao direito de comunidades ribeirinhas como a de Guadalupe em Abaetetuba a terem
educaccedilatildeo de qualidade e que valorize os conhecimentos locais como salienta Roseli
Caldart (2008)
A Educaccedilatildeo do Campo natildeo se conduz ao debate da escola da formaccedilatildeo
formal ou das propostas pedagoacutegicas A materialidade educativa de origem
da educaccedilatildeo do campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos
da produccedilatildeo e das lutas sociais do campo (CALDART 2008)
A educaccedilatildeo do Campo pretende ir aleacutem das fronteiras educacionais que
antagonizam os curriacuteculos entre cidade e campo como ressalta a Lei de Diretrizes e
Base da Educaccedilatildeo Nacional (1996) ldquoque a oferta da educaccedilatildeo baacutesica agrave populaccedilatildeo rural
natildeo eacute a mesma compreensatildeo dos movimentos sociais e da academia cientiacutefica em
relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do campordquo pois ela (LDB) se volta agrave lapidaccedilatildeo de matildeo de obra
visando o mercado de trabalho sendo isso uma de suas bases e objetivos que buscam
preparar os jovens para o mercado de trabalho seja este no ensino fundamental meacutedio
teacutecnico ou superior como uma preparaccedilatildeo de grande ldquovalorizaccedilatildeordquo
E a educaccedilatildeo do campo traz uma proposta que trabalha com a realidade de
trabalhadores e trabalhadoras do campo relacionada ao trabalho que eles desenvolve no
campo pois precisa-se perceber que ele possui uma caracteriacutestica proacutepria que o
diferencia da sociedade urbana as quais devem ser planejadas pelos educadores da
educaccedilatildeo considerando o meio de onde se fala fazer com que esses sujeitos se
identifique e lute pelos seus direitos enquanto uma sociedade pensada com sua
participaccedilatildeo nos processos educacionais vinculada a sua cultura e necessidades humanas
e sociais
A Educaccedilatildeo do Campo propotildee por isso para as aacutereas ribeirinhas como para
pescadores agricultores e artesatildeos que atraveacutes das organizaccedilotildees possam reivindicar
melhorias e ampliaccedilatildeo na aacuterea escolar infraestrutura para que o ensino chegue ateacute eles
de forma a valorizar os conhecimentos de seus cotidianos e natildeo que eles saiam ou
abandonem seus costumes
Sabemos que a categoria campo natildeo eacute uma categoria homogecircnea ela
engloba diversos grupos sociais que habitam regiotildees geograficamente distintas entatildeo
natildeo podemos pensar em Educaccedilatildeo no Campo sem saber de qual campo estamos falando
19
Essa localidade do qual falo eacute o contexto habitado pelas comunidades das margens do
rio tucumanduba
Nessas localidades o meio impotildee sua dinacircmica agrave vida social e isso
aprofunda a relaccedilatildeo do homem com a natureza ldquoo imaginaacuterio eacute rico e o ribeirinho faz
uso desse imaginaacuterio para explicar fenocircmenos da naturezardquo (LOUREIRO 1995)
Por isso a educaccedilatildeo do campo e curriacuteculo escolar deve estar voltados para
as especificidades do contexto camporibeirinho no caso deste trabalho realizando as
atividades de acordo com o local onde o curriacuteculo deve ser construiacutedo levando em
consideraccedilatildeo aspectos da cultura e da dinacircmica local festividades imaginaacuterios e ateacute as
proacuteprias condiccedilotildees impostas pelo meio Valorizando conhecimentos locais para que os
alunos se situem no fazer escolar e contribua para que saberes e tradiccedilotildees se
reproduzam e se recriem na comunidade seja no vieacutes da tradiccedilatildeo oral seja no vieacutes da
educaccedilatildeo formal ou informal
Dessa forma passamos a perceber a produccedilatildeo cultural social e econocircmica do
local sendo importante para a construccedilatildeo de uma identidade reconhecida seja ela em
acircmbito nacional ou internacional de respeito e valorizaccedilatildeo da pessoa humana ajudando
assim a (re)orientar aqueles que cheguem nessas escolas e nas comunidades ribeirinhas
Assim quando se fala em educaccedilatildeo do campo fala-se em reforma agraacuteria
de construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de biodiversidade de debates sobre cultura
politicas puacuteblicas sendo preciso o tempo todo fazer e refazer as leituras poliacutetico-
pedagoacutegicas econocircmicas e culturais a partir dessas comunidades e das contradiccedilotildees que
nelas estatildeo postas dentro da loacutegica neoliberal que deve ser criticada se queremos uma
Educaccedilatildeo do Campo que efetive ao que se propotildee
20
Capitulo 2
De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe
O Rio Tucumanduba estaacute localizado no municiacutepio de Abaetetuba1 cidade a
duas horas de Beleacutem sendo ambas do Estado do Paraacute Estaacute dividido em Baixo Alto e
Meacutedio Tucumanduba sendo que cada um desses cursos do rio se organizam em torno
de uma comunidade que possuem escolas e igrejas (catoacutelicas ou evangeacutelicas) A
localidade e escola escolhidas para esta pesquisa se situa no rio Tucumanduba meacutedio
Durante as idas para a comunidade para realizar as praacuteticas docentes em
educaccedilatildeo do campo compartilhar e receber saberes da comunidade ribeirinha entre
alunos professores pais parentes e amigos se observa muita simplicidade em cada um
com seus modos de vivecircncia como se movimentam nas canoas andam ou correm no
ldquomiritizerordquo 2 ou como caminham tatildeo firmemente nas pontes e que agrave noite sentam na
ldquocabeccedila da ponterdquo como dizem os moradores locais
Para compartilharem os saberes dos mais velhos da comunidade de suas
tradiccedilotildees suas regras e modos de vivecircncia na ldquocalmariardquo em um lugar de vaacuterzea
contos histoacuterias com exuberante imensidatildeo de aacutegua aacutervores e animais que leva e traz
conhecimentos entre os rios e mareacutes de comunidades a comunidades assim como agraves
cidades em que os moradores circulam (vendem seu produtos como o accedilaiacute) como em
Abaetetuba Beleacutem e outras cidades
O trajeto das ldquofreteirasrdquo3 que sai das comunidades ribeirinhas ateacute a cidade
de Abaetetuba eacute feito de porto em porto buscando passageiros por volta das quatro
horas da manhatilde As ldquofreteirasrdquo transportam aleacutem de pessoas que vatildeo para fazer vendas
de seus produtos (accedilaiacute peixe farinha e outros) produtos trazidos da cidade e pessoas
(crianccedilas jovens e velhos) que procuram hospitais ou cliacutenicas entre outros
Chegando ao porto ou trapiche de Abaetetuba( imagem nordm 01) por volta das
seis horas da manhatilde os passageiros ou vem conversando ou dormindo no barco ateacute
1 Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio de
Abaetetuba possui uma populaccedilatildeo de 141054 habitantes sendo que 82950 vivem na cidade e 58104
vivem na zona ruralcampo nas inuacutemeras colocircnias rios igarapeacutes e ilhas A populaccedilatildeo ribeirinha em
especial eacute muito grande e satildeo isentos de seguranccedila serviccedilos baacutesico de sauacutede aacutereas de lazer entre outros
dependendo exclusivamente da cidade 2 ldquoMiritizerordquo tronco de aacutervore geralmente que eacute colocada como uma espeacutecie de ponte entre a terra e o
rio 3 ldquoFreteirasrdquo barcos ou embarcaccedilotildees de grande meacutedio ou pequeno porte que transportam moradores dos
rios ateacute agraves cidades no caso deste trabalho para Abaetetuba
21
chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove
horas da manhatilde
Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba
Fonte Google Imagens2015
Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para
regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o
tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de
gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto
ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu
destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas
com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de
transporte para esse local o hidroviaacuterio
Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava
em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das
aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares
observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas
baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que
atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo
22
Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que
estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio
(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por
virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha
famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como
algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta
pesquisa
De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos
que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios
de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que
satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em
um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem
natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute
integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense
o ribeirinho
Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia
enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de
dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola
23
Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem
nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso
passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja
Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de
Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como
Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os
alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir
Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas
denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf
Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um
passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local
Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e
Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade
de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental
Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino
satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de
Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo
anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo
O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele
vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo
24
do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de
conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de
recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia
de cursar o ensino meacutedio
Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de
rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com
carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura
saberes e processos histoacutericos
Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado
dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos
com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e
permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade
identidade e saberes locais debatidos em sala de aula
Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se
levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se
dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a
complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com
que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo
o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na
zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas
movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se
compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas
A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado
estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$
600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno
professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente
de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor
Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada
moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito
educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas
delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola
informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que
hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado
25
uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo
voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4
O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de
ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em
formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para
os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e
ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas
diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual
Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de
accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas
famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou
aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha
conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador
associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs
durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de
paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada
regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos
durante esse periacuteodo
Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de
comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo
na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da
quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico
4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da
Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA
26
Capitulo 3
Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais
Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco
da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de
Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema
de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em
relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos
possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de
educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo
Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo
as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro
do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como
organizam os conteuacutedos
Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam
meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo
do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do
27
campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso
somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta
pesquisa
Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes
localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como
Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros
Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os
coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra
localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)
Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz
parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba
com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo
ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois
passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo
ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas
e continua
Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos
dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar
seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
28
Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter
viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a
necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que
o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas
aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua
Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo
dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles
exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural
poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida
cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas
comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios
primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e
acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social
dentro de sua comunidade
A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz
conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de
idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos
artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de
idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns
momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e
adultos
Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo
entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo
aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo
dessa comunidade
Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante
no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o
sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em
qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes
culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade
5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades
segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do
presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo
29
Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o
trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu
dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta
Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o
entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e
conferem sentido agrave sua existecircnciardquo
Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu
acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana
desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito
antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os
mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e
chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola
Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo
comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem
outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno
quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute
patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo
apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater
o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7
estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo
da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe
atrasa a chegada
Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees
podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo
do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo
sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)
legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento
promovendo a Pedagogia da Alternacircncia
Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se
estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se
tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento
6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo
7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que
navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente
30
alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas
experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de
aprendizagens a partir desse movimento
Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador
do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes
agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma
troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais
Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)
interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os
modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam
desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso
levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida
em comunidade
O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por
exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas
e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de
aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao
ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia
Andrade (1993)
Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades
agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido
os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem
no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a
educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud
ANDRADE 1993)
Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de
experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa
diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da
pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos
pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais
legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes
semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e
elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural
8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore
apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto
das aacutervores
31
Capitulo 4
(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo
A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a
base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um
novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem
na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e
que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar
pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa
histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade
Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que
traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave
permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes
valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos
organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida
As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que
sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os
professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona
pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho
pedagoacutegico
Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola
da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de
educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e
das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)
Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o
grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se
trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees
sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua
particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos
sociais e da cultura como praacutexis
Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de
profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que
eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas
32
dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo
em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias
indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas
lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades
ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de
trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a
educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a
isto que ela se propotildee
E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando
estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas
histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e
se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo
Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as
escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas
recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de
2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam
ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os
alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de
chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no
processo de ensino- aprendizagem
Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo
natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse
em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e
meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam
durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua
trajetoacuteria
O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser
humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as
comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da
histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de
conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos
alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de
forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo
esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes
33
Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos
educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de
descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar
democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica
e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos
ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do
conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como
um criacutetico- dialeacutetico
De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de
apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros
fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e
suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que
passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o
conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico
despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos
O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de
conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do
campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo
praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social
direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora
Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de
ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da
cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de
educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na
cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias
Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do
Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de
mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem
curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)
Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia
profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino
possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo
aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta
(FREIRE 2003)
34
Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam
realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos
livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se
afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)
A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do
conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica
tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu
desmascaramento (FREIRE 2003)
Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de
dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo
precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo
diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do
aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos
negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos
Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro
preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se
antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio
com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na
formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde
emerge esse profissional
Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a
valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de
nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador
existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo
humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo
O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a
desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do
discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-
existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e
poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)
Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na
educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a
comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue
persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar
35
traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia
essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os
educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos
troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que
se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se
preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da
perseveranccedilardquo
O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que
devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates
mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa
cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na
historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em
possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)
Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e
aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o
pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos
seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos
desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser
livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire
(2001)
E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza
(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade
(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes
(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades
accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo
(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute
possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar
social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de
cultura de educaccedilatildeordquo
36
Consideraccedilotildees Finais
A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo
simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no
e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo
Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na
busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos
cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem
desenvolvido em um contexto ribeirinho
Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o
propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as
demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do
Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu
histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar
Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir
articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar
em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas
educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o
professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes
desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que
possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem
A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar
os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja
percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo
educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas
verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto
profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a
educaccedilatildeo do campo
A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos
professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte
no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria
Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores
comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo
conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo
37
encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da
comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo
Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os
processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees
para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo
soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos
curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos
inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do
Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo
acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees
38
Referecircncias
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Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio
(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da
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Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014
RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da
comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02
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do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011
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Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase
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Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar
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Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha
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MARCELLE MOREIRA RIBEIRO
Valorizando o Local Um estudo sobre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais na praacutetica docente de
professores da escola Nossa Senhora de Guadalupe de Abaetetuba-Paraacute
Versatildeo Final do Trabalho de Conclusatildeo de Curso
apresentado agrave Faculdade de Educaccedilatildeo do Campo
(Fecampo) como requisito para a obtenccedilatildeo do
grau em Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo
com habilitaccedilatildeo em Ciecircncias Humanas e Sociais
da Universidade Federal do Sul e Sudeste do
Paraacute (UNIFESSPA) sob a orientaccedilatildeo da Prof
Ms Haroldo de Sousa
Marabaacute- PA
2015
MARCELLE MOREIRA RIBEIRO
Valorizando o Local
Um estudo sobre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais na praacutetica docente de
professores da escola Nossa Senhora de Guadalupe de Abaetetuba-Paraacute
Data da Defesa 22102015
Conceito _______________
Banca Examinadora
_______________________________________________________
Haroldo Souza Prof Msc
FECAMPOUNIFESSPA
Orientador
Maura Pereira dos Anjos Profa Msc
FECAMPOUNIFESSPA
Examinadora Interna
Maria Ceacutelia Vieira ProfaMsc
FECAMPOUNIFESSPA
Examinadora Interna
Marabaacute-PA
2015
Dedico este trabalho agrave Maria da Conceiccedilatildeo Correa
Moreira (minha Matildee)
Agradecimentos
Agradeccedilo primeiramente a Deus ser este que representa minha forccedila
espiritual a vontade de superar e seguir em minha jornada pois durante meu percurso
para chegar ateacute aqui
A Alessandra Nery que abriu as portas da cidade de Marabaacute para que
pudesse conhecer Yara Alves e a Famiacutelia Nascimento que ateacute hoje compartilhamos o
mesmo teto e encontramos forccedilas para continuar longe de nossas famiacutelias durante as
feacuterias para estudar e nos adotando como parte da sua Dona Deuza Dona Dilza Seu
Ferdinando Frederico Vincci Fernanda Nascimento (nossa matildee natildeo soacute no periacuteodo
intervalar) Sabrina Nascimento e outros
As novas amizades construiacutedas na corporaccedilatildeo de Bombeiros que me
ensinaram durante as comemoraccedilotildees o respeito para com o proacuteximo agradeccedilo
profundamente pelo tempo passado com vocecircs
A Adriana Silva Neuza Rodrigues Ruth e Raquel que me acolheram em
suas casas e estimularam a prosseguir com os estudos nas horas difiacuteceis
Agrave minha matildee (Maria da conceiccedilatildeo Correa Moreira) que desde quando nasci
assumiu a total responsabilidade de me criar e educar repassando os ensinamentos de
lealdade e sinceridade sem ajuda de outros meios a natildeo ser atraveacutes do seu trabalho de
sol a sol para que eu e meu irmatildeo pudeacutessemos chegar a concluir um ensino superior
A Dielly da Silva Castro amp Francisco Moreira Ribeiro Neto que me
ajudaram na organizaccedilatildeo e correccedilatildeo desse TCC para que eu pudesse concluir este
trabalho a tempo me dando forccedila e puxotildees de orelha para termina-lo
A meu noivo (Jonnes Matos Silva) que trabalhava durante a semana e nos
fins de semana natildeo media esforccedilos para poder me ajudar na coleta de dados e me dando
forccedilas nos momentos de perdas que influenciaram totalmente em minha vida cotidiana
Obrigada meu Deus por colocar essa pessoa em meu caminho e que possamos seguir ateacute
o fim de nossas vidas Obrigada
As minhas amigas Marcia Cardoso e Gil Carvalho por estarmos juntas nas
alegrias e tristezas como na perda de nossa amiga Renata Kelly Paes (In Memoacuteria) a
qual tinha planos de terminar nosso curso de graduaccedilatildeo juntas e dai ficarmos ricas (nas
brincadeiras) Obrigada meninas pela forccedila
A minha famiacutelia e as historias das Matriarcas que constituiacuteram nossos
saberes ensinamentos e aprendizados leais pois elas serviram de alicerces a nossa
coragem para seguirmos em nosso caminho
Aos Professores que formaram uma luta em prol dos povos que vivem a
margem da sociedade brasileira e que juntos a autores de diversas teorias nos
proporcionaram olhares diferentes e criacuteticos do mundo em que vivemos desde o inicio
de nossa descoberta
E a todos nossos clientes que sempre oram para que umas de minhas guerras
cheguem ao fim por ser nossos fieis colaboradores em nosso trabalho tatildeo leal e
honesto
Enfim a todos aqueles que participaram de minha formaccedilatildeo acadecircmica no
Curso de Licenciatura Plena em Educaccedilatildeo do Campo sendo este um movimento do
qual me dediquei e abracei a causa por grupos do campo como quilombolas sem terra e
ribeirinhos
Obrigada a todos
Sumaacuterio
RESUMO 08
ABSTRACT 09
LISTA DE IMAGENS 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
Capitulo 1
A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha 16
Capitulo 2
De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe 20
Capitulo 3
Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais 26
Capitulo 4
(Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo 31
Consideraccedilotildees Finais 36
Referecircncias 38
Outras referecircncias 40
Resumo
Este Trabalho analisa as praacuteticas de professores do Sistema de Organizaccedilatildeo Modular de
Ensino (SOME) da escola de Ensino Fundamental e Meacutedio Nossa Senhora de
Guadalupe localizada no Rio Tucumanduba municiacutepio de Abaetetuba Para tanto
utilizou-se autores das aacutereas da Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo do Campo e Ciecircncias Sociais
assim como entrevistas informais realizadas com os professores dessa escola
mostrando como eles desenvolvem seus curriacuteculos e processos educativos dentro da sala
de aula e se eles valorizam esses saberes Os resultados revelam preocupaccedilotildees enquanto
investigaccedilatildeo de educadores que trabalham durante anos em comunidades tradicionais
aqui apresentado na regiatildeo ribeirinha escola que trabalha desde o ensino fundamental
menor por tempo integral e o ensino meacutedio funciona em um sistema de rotatividade de
educadores integrados aos SOME que por sua vez durante conversas e entrevistas
justificados na falta de tempo pois durante sessenta dias tem que fechar a disciplina
assim natildeo restaria momentos de interaccedilatildeo com a comunidade e alunos e assim preparar
aulas que aproximemos o livro didaacutetico com a realidade do local
Palavras-Chave Rio Tucumanduba Comunidade de Guadalupe Educaccedilatildeo do Campo
Conhecimento cientiacutefico Saberes locais
Abstract
This work examines the practices of teachers Modular Teaching Organization System
(SOME) of the Elementary School and Middle School Our Lady of Guadalupe located
in Rio Tucumanduba municipality of Abaetetuba To this end we used authors of the
areas of Education education field and social sciences as well as informal interviews
with teachers of this school showing how they develop their curricula and educational
processes in the classroom and whether they value these knowledge The results reveal
concerns as research educators working for years in traditional communities presented
here on the seashore school working from the smallest elementary school full-time and
high school works on a rotation system of integrated educators to SOME which in turn
during conversations and justified interviews the lack of time because for sixty days
have to close the discipline so there would be moments of interaction with the
community and students and thus prepare lessons we approach the textbook with the
reality of the place
Keywords Rio Tucumanduba Community of Guadalupe Rural Education Scientific
knowledge and local Knowledge
Lista de Imagens
Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba (p 21)
Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe (p 22)
Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe (p 23)
Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe (p 26)
Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe (p 27)
11
Introduccedilatildeo
Quando o curso de Educaccedilatildeo do Campo foi lanccedilado pela primeira vez no
edital da entatildeo Universidade Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute hoje
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute logo me chamou atenccedilatildeo por ser um
curso ldquonovordquo no Estado do Paraacute uma vez que jaacute vinha sendo trilhado em outras
universidades a exemplo da Universidade santa Catarina (UFSC) Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Universidade de Brasiacutelia (UNB) Aleacutem disso me
chamava atenccedilatildeo tambeacutem o fato de o curso ser voltado para a aacuterea do campo que se
inserem povos ribeirinhos quilombolas e indiacutegenas Um curso preocupado com esses
grupos sociais especiacuteficos com a valorizaccedilatildeo de seus costumes saberes e dizeres e
demandas imanentes do campo
Nesse interim ao iniciar o curso em Educaccedilatildeo do Campo na Universidade
Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute 2009 fui estranhando e ao mesmo tempo me
identificando com leituras temaacuteticas e objetivos do curso Entre estranhamento
construccedilatildeo e (des) construccedilotildees o curso se mostrou muito frutiacutefero em informaccedilotildees que
me instigavam o olhar Tratava-se de um curso intervalar ou em regime de alternacircncia
pedagoacutegica realizado nos meses de janeiro-fevereiro e junho e agosto pela manhatilde e
tarde nesses meses
Como moradora do Municiacutepio de Abaetetuba a ideia que eu tinha de campo
diferia das ideias abordadas nas primeiras aulas Logo percebi como o curso estava
voltado para o contexto que marcava a regiatildeo de Marabaacute os conflitos por terra os
atores sociais integrantes do Movimento Sem Terra fazendeiros
Todos os demais alunos da turma faziam parte desse contexto estavam de
alguma forma ligados ao Movimento Sem Terra A imagem que eu possuiacutea do
movimento era totalmente deturpada formada pela miacutedia ideias do senso comum que
reforccedilavam a ideia do movimento como um grupo de pessoas que queriam o direito de
se apropriar de algo que natildeo lhes pertencia pessoas que natildeo precisavam de terras
Por conta disso nesse primeiro momento de 2009 o curso para mim natildeo
durou quinze dias durante o mecircs de julho pois resolvi deixar a Universidade natildeo soacute
por problemas pessoais mas sim por esse embate de ideias que naquele momento
quebrara as minhas expectativas em relaccedilatildeo ao curso Minha matildee estava abrindo uma
loja de confecccedilotildees eu e meu irmatildeo ajudaacutevamos na organizaccedilatildeo Com o passar do
tempo quando os negoacutecios jaacute estavam organizados resolvi voltar para a Universidade
12
na turma de 2010 que continham novos companheiros que me esclareceram e
esclarecem ateacute hoje minhas duacutevidas sobre Movimentos Sociais Organizados do
Campo
Quando reiniciei as aulas na ocasiatildeo do seminaacuterio de apresentaccedilatildeo de
Educaccedilatildeo do Campo estavam presentes lideranccedilas como Charles Trocate dos
Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e vaacuterias outras entidades
civis organizadas fazendo um interessante apanhado das lutas sociais e confrontos que
serviram de alicerce para poliacuteticas puacuteblicas e por uma Educaccedilatildeo dono Campo
valorizada e pensada para e pelos povos do campo
Durante o seminaacuterio Charles Trocate comentou sobre o iniacutecio o dos MTS
seus objetivos lutas perdas e conquistas De como eacute importante grupos se definirem e
se identificarem para que possam lutar por seus direitos montar estrateacutegias de
discussotildees com o governo para que este veja de onde a massa popular se afirma de
onde fala e que poliacuteticas puacuteblicas sejam efetivadas
O seminaacuterio me permitiu compreender que o Curso de Educaccedilatildeo do Campo
junto aos Movimentos Sociais eacute uma entre outras conquistas pois os filhos de
camponeses ribeirinho quilombolas e povos indiacutegenas estatildeo entrando nas
Universidades e se graduando se especializando para poder se expandir e mostrar que
eles (re)existir com seu modo e sua tradiccedilatildeo e juntos compartilhar conhecimentos
Nesses uacuteltimos quatro anos (2010-2014) de conhecimentos trocas de
experiecircncias e ensinamentos neste curso junto a professores vindos de diferentes
localidades e que natildeo nos deixavam com duacutevidas durante as disciplinas pois seus
compromissos como docentes e a luta por uma mesma causa (educaccedilatildeo do campo)
nos tornavam a cada aula defensores compromissados com a educaccedilatildeo do campo
proporcionando ao mesmo tempo teorias que nos faziam criticar os modelos sobre os
quais ciecircncias satildeo ensinada nas salas de aula
Aleacutem disso eacute importante ressaltar que por ser oriunda de AbaetetubaParaacute
aproximadamente a quatrocentos e cinquenta e seis quilocircmetros da cidade de Marabaacute
onde cursei Educaccedilatildeo do Campo trazia comigo um diferencial pois abordava em
meus trabalhos minhas experiecircncias do campesinato de minha localidade o que para a
realidade onde a maioria dos discentes eram da regiatildeo de Marabaacute era totalmente novo
assim como fora no inicio para mim
Tudo aquilo que eu mostrava durante as apresentaccedilotildees dos Trabalhos de
Campo do Tempo-Comunidade por ser desconhecido ficava mais interessante e nessas
13
trocas de conhecimentos passaacutevamos a perceber outras regiotildees tatildeo pertinho de noacutes e
juntos misturaacutevamos nossas crenccedilas costumes tradiccedilotildees mitos e histoacuterias essas
contadas na sala da diversidade cultural
O Curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz novos pressupostos
de educaccedilatildeo com uma formaccedilatildeo de sujeitos diferenciados possibilita que o educador
do campo e alunos realizem a troca de conhecimento e adequem esse processo de
forma mais agradaacutevel para ambos
De acordo com CORDEIRO REIS amp HAGE (2011) a Pedagogia da
Alternacircncia eacute uma estrateacutegia bem pensada que articula espaccedilos educativos concebe
que a educaccedilatildeo pode se realizar tanto em sala de aula quanto nos outros espaccedilos que
compotildeem o conviacutevio social dos alunos Os educandos do campo podem assim ter
acesso agrave escola sem ter que abandonar o trabalho sem deixar de lado o aprendizado
proveniente da vida na sua comunidade
Desta forma o que propotildee esta praacutetica pedagoacutegica eacute que o educando possa
refletir sobre sua proacutepria realidade seja capaz de aplicar os conhecimentos cientiacuteficos
que apreende no espaccedilo formal de educaccedilatildeo em seu cotidiano
O curso de Educaccedilatildeo do campo faz uso estrateacutegico dessa metodologia pois
se encontra dividido em dois periacuteodos especiacuteficos o primeiro chamado Tempo-
Universidade ocorre em janeiro-fevereiro e julho e Agosto neste periacuteodo os alunos de
diferentes localidades juntos em sala preparam momentos de trocas experiecircncias e de
conhecimentos durante seminaacuterios debates rodas de conversas
Ocorre todo um aprendizado teoacuterico de autores das aacutereas de sociologia filosofia
histoacuteria geografia e de educadores do campo No Tempo-Universidade aprendemos o
modo como conversar com a comunidade para obter as informaccedilotildees e conhecimentos
necessaacuterios para serem repassados em nosso acircmbito familiar e educacional deixando em
cada um algo que os toquem socialmente
O segundo periacuteodo ocorre nos meses que estamos fora da Universidade eacute
denominado de Tempo-Comunidade (T-C) Durante esse tempo colocamos em praacutetica
tudo o que aprendemos na academia cientifica em comunidades ribeirinhas
quilombolas indiacutegenas e outras
Durante os trabalhos de Campo no periacuteodo Tempo-Comunidade para pocircr
em praacutetica o que aprendemos em sala de aula presenciei por diversas vezes o modo
como os professores do Sistema de Organizaccedilatildeo de Ensino Modular (SOME)
professores esses que se movimentam de comunidade em comunidade ministravam
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suas aulas durante dois meses em cada escola trazendo estilos de conhecimentos
(saberes cientiacuteficos) que aprenderam nas universidades que por vezes natildeo condiziam
com as realidades da comunidade ribeirinha que eu fazia minha praacutetica de ensino
Tendo por base os nossos conhecimentos cotidianos que constroem nossas
identidades cada educando escolheu um local para o desenvolvimento do respectivo
Trabalho de Campo partindo de uma das primeiras aulas ministradas pela professora
Dra Idelma Santiago sobre Aacutervores Genealoacutegicas no Tempo Universidade na qual
fizemos uma investigaccedilatildeo metodoloacutegica a fim de reconhecermos os saberes do lugar
de onde viemos
Escolhi entatildeo uma dentre as setenta e duas Ilhas ribeirinhas de Abaetetuba
situada no Rio TucumandubandashMeacutedio sendo este um dos afluentes do Rio Paraacute da
cidade de Abaetetuba O interesse pelo tema da educaccedilatildeo em educaccedilatildeo do campo
surgiu ainda na graduaccedilatildeo durante palestras estudos debates seminaacuterios para lutar
pelo reconhecimento de uma forma de ensinar dos Educadores do Campo no Campo
para a construccedilatildeo de Saberes e Dizeres na regiatildeo ribeirinha ou no lugar em que ela
aconteccedila
Atraveacutes de observaccedilotildees dos trabalhos de campo e do Tempo-comunidade
realizados durante as disciplinas do Tempo Universidade me despertou o interesse em
aprofundar meus conhecimentos nessa aacuterea levando-me para uma discussatildeo teoacuterica e
praacutetica da qual minha preocupaccedilatildeo ocorre ateacute os dias de hoje pois professores que
tiveram uma educaccedilatildeo bastante cartesiana e urbana levam para as comunidades
ribeirinhas os conhecimentos que aprenderam nas Universidades como modelos isto
eacute servem para explicar a realidade em qualquer contexto seja na cidade urbanizada
seja nos interiores ribeirinhos natildeo se atentando para a valorizaccedilatildeo do conhecimento
local
A ecircnfase principal deste Trabalho de Conclusatildeo do Curso (TCC) reside em
evidenciar como os professores ministram suas aulas nas regiotildees ribeirinhas se
incorporam ou natildeo os conhecimentos do cotidiano de seus alunos para explicar as
disciplinas e com isso valorizar os conhecimentos locais como meio de explicaccedilatildeo da
realidade
Para tanto se utilizaraacute de um meacutetodo nas ciecircncias humanas a observaccedilatildeo
participante aleacutem de entrevistas formais e conversas informais com os professores da
escola Nossa Senhora de Guadalupe
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Assim sendo este trabalho estaacute estruturado da seguinte forma no capiacutetulo 1
intitulado A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha busca-se mostrar um
pouco do surgimento da Educaccedilatildeo do Campo no contexto nacional
O capiacutetulo 2 denominado De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe localiza a
comunidade e aborda a experiecircncia de inserccedilatildeo no loacutecus fazendo uso de imagens para
melhor ambientar o leitor
No capiacutetulo 3 chamado Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais
objetiva descrever como a articulaccedilatildeo entre diferentes conhecimentos no cotidiano da
sala de aula
No capitulo 4 nomeado (Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo
do Campo procura-se relacionar como os conhecimentos cientiacuteficos de um lado e os
conhecimentos tradicionais de outro se datildeo ou deveriam se dar nas aulas
Nas Consideraccedilotildees Finais tenta-se evidenciar um pouco como este
trabalho pode contribuir para outras anaacutelises similares com outros recortes empiacutericos em
trabalhos posteriores
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Capitulo 1
A Educaccedilatildeo do Campo em uma comunidade Ribeirinha
A Educaccedilatildeo do Campo surgiu no seacuteculo passado e colocava em evidencia os
processos de exclusatildeo social poliacutetica econocircmica e cultural que os ldquopovosrdquo ou
ldquocomunidadesrdquo tradicionais vinham e ainda vem sofrendo em diversas regiotildees do Paiacutes
O curso vem trazendo esse olhar multifacetado da realidade do campo
como por exemplo na exploraccedilatildeo e escravizaccedilatildeo de populaccedilotildees indiacutegenas e africanos e
suas vaacuterias etnias em nosso paiacutes desde seu descobrimento assim como suas
consequecircncias nos dias atuais que formavamformam as realidades dos sujeitos por
vezes antagocircnicas da qual Maria Antocircnia de Souza (2010) aponta que
A educaccedilatildeo do Campo surge como novo paradigma para pensar os sujeitos
do campo valorizando seus trabalhos trabalhadores suas particularidades
contradiccedilotildees e organizaccedilatildeo cultural como praacutexis Ela se coloca contra o
paradigma da educaccedilatildeo rural ou seja aquela que esta vinculada aos
interesses do governo como agronegoacutecio do capitalismo agraacuterio e ao
fortalecimento das poliacuteticas do esvaziamento dos sujeitos do campo
(SOUZA 2010)
Isso porque atraveacutes de propagandas ou raacutedios bancos financiadores e outros
meios mostram os investimentos e avanccedilos no campo (elite empresarial) cuja realidade
concreta desses sujeitos vem se tornando mais conhecida por meio de pressotildees de
movimentos sociais organizados na luta por uma educaccedilatildeo de qualidade para os
trabalhadores do campo como nos diz Maria Isabel Pinheiro (2011) para quem
antagonicamente
Inovaram no maquinaacuterio no aumento da produccedilatildeo de gratildeo nos agrotoacutexicos
alteraccedilotildees dos genes das sementes para exportaccedilatildeo em larga escala Mas os
que tem usufruiacutedo desses avanccedilos satildeo pequenos grupos de latifundiaacuterios
empresaacuterios banqueiros e poliacuteticos nacionais e internacionais enquanto a
outros eacute negado o acesso a terra para sobreviver e garantir o sustento de
outros brasileiros (PINHEIRO 2011)
Dessa forma eacute que os Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST) ONGS educadores educando e sociedade civil se articularam e se articulam haacute
tempos lutando e pressionando o governo Federal Estadual e Municipal e em prol de
poliacuteticas puacuteblicas para criar alternativas de permanecircncia dos jovens e trabalhadores do
campo no campo atraveacutes de financiamentos assistecircncia teacutecnica educaccedilatildeo entre outros
Isso vem ocorrendo com a preocupaccedilatildeo de que se valorize os conhecimentos
locais e se planeje o modo mais adequado para uma educaccedilatildeo de qualidade para que
esses jovens possam se qualificar adquirindo saber cientiacutefico e ao mesmo tempo a
17
partir da valorizaccedilatildeo de seu lugar como espaccedilo de lutas e resistecircncias para o
reconhecimento de suas comunidades reelaborar
Conforme nos aponta Fernandes (2005) o campo eacute formado por diversos
territoacuterios que aborda todas as espeacutecies de relaccedilotildees humanas O campo requer demandas
distintas cada territoacuterio que forma o campo eacute dotado de particularidades desta categoria
emergem diversas relaccedilotildees Por isso a educaccedilatildeo no campo deve ser pensada
essencialmente dentro de cada contexto caso seja pensada fora dele natildeo eacute educaccedilatildeo
torna-se dominaccedilatildeo
Ainda em diaacutelogo com o autor temos que a educaccedilatildeo no campo surge no
sentido de tornar o indiviacuteduo ocupante dos territoacuterios do campo protagonista do
processo de construccedilatildeo de seu territoacuterio considerando as especificidades deste
Dessa forma autores como Roseli Caldart cuja produccedilatildeo versa sobre
movimentos sociais do campo educaccedilatildeo escola pedagogia do movimento e Bernardo
Manccedilano Fernandes (2008) que aborda principalmente teorias dos territoacuterios
paradigmas da questatildeo agraacuteria e do capitalismo agraacuterio reforma agraacuteria
desenvolvimento territorial Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
tem sido inspiraccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para os novos pesquisadores da Educaccedilatildeo do
Campo como ressalta Fernandes (2008)
No movimento de debate e contestaccedilatildeo da politica e da educaccedilatildeo rural
empreendido pelos movimentos sociais do campo emergem uma nova
concepccedilatildeo de educaccedilatildeo denominada Educaccedilatildeo do Campo (FERNANDES
2008)
No campo mais especiacutefico essas lutas e o conceito de educaccedilatildeo do campo se
fortaleceu e ganhou destaque a partir da I Conferencia Nacional por uma Educaccedilatildeo
Baacutesica do Campo realizada no ano de 1998 a partir dela foram elaborados trabalhos e
coletacircneas versando sobre Educaccedilatildeo do Campo que vieram relatar o processo de sua
construccedilatildeo e fortalecer as demandas por politicas publicas em vaacuterios aspectos da vida
no campo
Nesse mesmo contexto eacute verificada uma grande necessidade em se ter
profissional de educaccedilatildeo especiacutefica para as aacutereas do campo isto eacute profissionais que
possuiacutessem formaccedilatildeo especiacutefica (licenciatura) poacutes-graduaccedilotildees eou aperfeiccediloamentos
na aacuterea da educaccedilatildeo do campo
Para isso foram lanccediladas poliacuteticas quanto agrave educaccedilatildeo formal para
professores como nas licenciaturas em Educaccedilatildeo do Campo seja nas Universidades
Federais (UFS) seja por meio da Formaccedilatildeo continuada Plano Nacional de Formaccedilatildeo de
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Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica (PARFOR) aleacutem de diversificaccedilatildeo das experiecircncias
educativas no campo a exemplo das Casas Familiares Rurais a construccedilatildeo da Escola
Famiacutelia Agriacutecola (EFA) Escolas Itinerantes que ajudam na ampliaccedilatildeo do conhecimento
e ao direito de comunidades ribeirinhas como a de Guadalupe em Abaetetuba a terem
educaccedilatildeo de qualidade e que valorize os conhecimentos locais como salienta Roseli
Caldart (2008)
A Educaccedilatildeo do Campo natildeo se conduz ao debate da escola da formaccedilatildeo
formal ou das propostas pedagoacutegicas A materialidade educativa de origem
da educaccedilatildeo do campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos
da produccedilatildeo e das lutas sociais do campo (CALDART 2008)
A educaccedilatildeo do Campo pretende ir aleacutem das fronteiras educacionais que
antagonizam os curriacuteculos entre cidade e campo como ressalta a Lei de Diretrizes e
Base da Educaccedilatildeo Nacional (1996) ldquoque a oferta da educaccedilatildeo baacutesica agrave populaccedilatildeo rural
natildeo eacute a mesma compreensatildeo dos movimentos sociais e da academia cientiacutefica em
relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do campordquo pois ela (LDB) se volta agrave lapidaccedilatildeo de matildeo de obra
visando o mercado de trabalho sendo isso uma de suas bases e objetivos que buscam
preparar os jovens para o mercado de trabalho seja este no ensino fundamental meacutedio
teacutecnico ou superior como uma preparaccedilatildeo de grande ldquovalorizaccedilatildeordquo
E a educaccedilatildeo do campo traz uma proposta que trabalha com a realidade de
trabalhadores e trabalhadoras do campo relacionada ao trabalho que eles desenvolve no
campo pois precisa-se perceber que ele possui uma caracteriacutestica proacutepria que o
diferencia da sociedade urbana as quais devem ser planejadas pelos educadores da
educaccedilatildeo considerando o meio de onde se fala fazer com que esses sujeitos se
identifique e lute pelos seus direitos enquanto uma sociedade pensada com sua
participaccedilatildeo nos processos educacionais vinculada a sua cultura e necessidades humanas
e sociais
A Educaccedilatildeo do Campo propotildee por isso para as aacutereas ribeirinhas como para
pescadores agricultores e artesatildeos que atraveacutes das organizaccedilotildees possam reivindicar
melhorias e ampliaccedilatildeo na aacuterea escolar infraestrutura para que o ensino chegue ateacute eles
de forma a valorizar os conhecimentos de seus cotidianos e natildeo que eles saiam ou
abandonem seus costumes
Sabemos que a categoria campo natildeo eacute uma categoria homogecircnea ela
engloba diversos grupos sociais que habitam regiotildees geograficamente distintas entatildeo
natildeo podemos pensar em Educaccedilatildeo no Campo sem saber de qual campo estamos falando
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Essa localidade do qual falo eacute o contexto habitado pelas comunidades das margens do
rio tucumanduba
Nessas localidades o meio impotildee sua dinacircmica agrave vida social e isso
aprofunda a relaccedilatildeo do homem com a natureza ldquoo imaginaacuterio eacute rico e o ribeirinho faz
uso desse imaginaacuterio para explicar fenocircmenos da naturezardquo (LOUREIRO 1995)
Por isso a educaccedilatildeo do campo e curriacuteculo escolar deve estar voltados para
as especificidades do contexto camporibeirinho no caso deste trabalho realizando as
atividades de acordo com o local onde o curriacuteculo deve ser construiacutedo levando em
consideraccedilatildeo aspectos da cultura e da dinacircmica local festividades imaginaacuterios e ateacute as
proacuteprias condiccedilotildees impostas pelo meio Valorizando conhecimentos locais para que os
alunos se situem no fazer escolar e contribua para que saberes e tradiccedilotildees se
reproduzam e se recriem na comunidade seja no vieacutes da tradiccedilatildeo oral seja no vieacutes da
educaccedilatildeo formal ou informal
Dessa forma passamos a perceber a produccedilatildeo cultural social e econocircmica do
local sendo importante para a construccedilatildeo de uma identidade reconhecida seja ela em
acircmbito nacional ou internacional de respeito e valorizaccedilatildeo da pessoa humana ajudando
assim a (re)orientar aqueles que cheguem nessas escolas e nas comunidades ribeirinhas
Assim quando se fala em educaccedilatildeo do campo fala-se em reforma agraacuteria
de construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de biodiversidade de debates sobre cultura
politicas puacuteblicas sendo preciso o tempo todo fazer e refazer as leituras poliacutetico-
pedagoacutegicas econocircmicas e culturais a partir dessas comunidades e das contradiccedilotildees que
nelas estatildeo postas dentro da loacutegica neoliberal que deve ser criticada se queremos uma
Educaccedilatildeo do Campo que efetive ao que se propotildee
20
Capitulo 2
De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe
O Rio Tucumanduba estaacute localizado no municiacutepio de Abaetetuba1 cidade a
duas horas de Beleacutem sendo ambas do Estado do Paraacute Estaacute dividido em Baixo Alto e
Meacutedio Tucumanduba sendo que cada um desses cursos do rio se organizam em torno
de uma comunidade que possuem escolas e igrejas (catoacutelicas ou evangeacutelicas) A
localidade e escola escolhidas para esta pesquisa se situa no rio Tucumanduba meacutedio
Durante as idas para a comunidade para realizar as praacuteticas docentes em
educaccedilatildeo do campo compartilhar e receber saberes da comunidade ribeirinha entre
alunos professores pais parentes e amigos se observa muita simplicidade em cada um
com seus modos de vivecircncia como se movimentam nas canoas andam ou correm no
ldquomiritizerordquo 2 ou como caminham tatildeo firmemente nas pontes e que agrave noite sentam na
ldquocabeccedila da ponterdquo como dizem os moradores locais
Para compartilharem os saberes dos mais velhos da comunidade de suas
tradiccedilotildees suas regras e modos de vivecircncia na ldquocalmariardquo em um lugar de vaacuterzea
contos histoacuterias com exuberante imensidatildeo de aacutegua aacutervores e animais que leva e traz
conhecimentos entre os rios e mareacutes de comunidades a comunidades assim como agraves
cidades em que os moradores circulam (vendem seu produtos como o accedilaiacute) como em
Abaetetuba Beleacutem e outras cidades
O trajeto das ldquofreteirasrdquo3 que sai das comunidades ribeirinhas ateacute a cidade
de Abaetetuba eacute feito de porto em porto buscando passageiros por volta das quatro
horas da manhatilde As ldquofreteirasrdquo transportam aleacutem de pessoas que vatildeo para fazer vendas
de seus produtos (accedilaiacute peixe farinha e outros) produtos trazidos da cidade e pessoas
(crianccedilas jovens e velhos) que procuram hospitais ou cliacutenicas entre outros
Chegando ao porto ou trapiche de Abaetetuba( imagem nordm 01) por volta das
seis horas da manhatilde os passageiros ou vem conversando ou dormindo no barco ateacute
1 Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio de
Abaetetuba possui uma populaccedilatildeo de 141054 habitantes sendo que 82950 vivem na cidade e 58104
vivem na zona ruralcampo nas inuacutemeras colocircnias rios igarapeacutes e ilhas A populaccedilatildeo ribeirinha em
especial eacute muito grande e satildeo isentos de seguranccedila serviccedilos baacutesico de sauacutede aacutereas de lazer entre outros
dependendo exclusivamente da cidade 2 ldquoMiritizerordquo tronco de aacutervore geralmente que eacute colocada como uma espeacutecie de ponte entre a terra e o
rio 3 ldquoFreteirasrdquo barcos ou embarcaccedilotildees de grande meacutedio ou pequeno porte que transportam moradores dos
rios ateacute agraves cidades no caso deste trabalho para Abaetetuba
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chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove
horas da manhatilde
Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba
Fonte Google Imagens2015
Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para
regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o
tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de
gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto
ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu
destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas
com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de
transporte para esse local o hidroviaacuterio
Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava
em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das
aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares
observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas
baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que
atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo
22
Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que
estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio
(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por
virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha
famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como
algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta
pesquisa
De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos
que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios
de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que
satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em
um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem
natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute
integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense
o ribeirinho
Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia
enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de
dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola
23
Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem
nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso
passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja
Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de
Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como
Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os
alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir
Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas
denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf
Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um
passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local
Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e
Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade
de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental
Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino
satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de
Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo
anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo
O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele
vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo
24
do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de
conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de
recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia
de cursar o ensino meacutedio
Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de
rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com
carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura
saberes e processos histoacutericos
Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado
dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos
com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e
permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade
identidade e saberes locais debatidos em sala de aula
Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se
levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se
dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a
complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com
que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo
o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na
zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas
movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se
compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas
A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado
estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$
600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno
professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente
de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor
Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada
moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito
educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas
delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola
informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que
hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado
25
uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo
voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4
O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de
ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em
formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para
os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e
ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas
diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual
Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de
accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas
famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou
aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha
conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador
associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs
durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de
paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada
regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos
durante esse periacuteodo
Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de
comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo
na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da
quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico
4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da
Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA
26
Capitulo 3
Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais
Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco
da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de
Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema
de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em
relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos
possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de
educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo
Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo
as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro
do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como
organizam os conteuacutedos
Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam
meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo
do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do
27
campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso
somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta
pesquisa
Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes
localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como
Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros
Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os
coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra
localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)
Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz
parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba
com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo
ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois
passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo
ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas
e continua
Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos
dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar
seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
28
Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter
viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a
necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que
o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas
aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua
Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo
dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles
exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural
poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida
cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas
comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios
primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e
acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social
dentro de sua comunidade
A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz
conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de
idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos
artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de
idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns
momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e
adultos
Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo
entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo
aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo
dessa comunidade
Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante
no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o
sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em
qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes
culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade
5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades
segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do
presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo
29
Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o
trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu
dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta
Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o
entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e
conferem sentido agrave sua existecircnciardquo
Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu
acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana
desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito
antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os
mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e
chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola
Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo
comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem
outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno
quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute
patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo
apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater
o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7
estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo
da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe
atrasa a chegada
Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees
podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo
do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo
sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)
legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento
promovendo a Pedagogia da Alternacircncia
Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se
estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se
tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento
6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo
7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que
navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente
30
alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas
experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de
aprendizagens a partir desse movimento
Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador
do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes
agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma
troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais
Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)
interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os
modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam
desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso
levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida
em comunidade
O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por
exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas
e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de
aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao
ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia
Andrade (1993)
Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades
agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido
os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem
no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a
educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud
ANDRADE 1993)
Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de
experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa
diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da
pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos
pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais
legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes
semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e
elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural
8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore
apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto
das aacutervores
31
Capitulo 4
(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo
A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a
base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um
novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem
na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e
que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar
pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa
histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade
Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que
traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave
permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes
valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos
organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida
As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que
sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os
professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona
pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho
pedagoacutegico
Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola
da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de
educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e
das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)
Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o
grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se
trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees
sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua
particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos
sociais e da cultura como praacutexis
Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de
profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que
eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas
32
dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo
em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias
indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas
lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades
ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de
trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a
educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a
isto que ela se propotildee
E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando
estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas
histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e
se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo
Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as
escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas
recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de
2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam
ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os
alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de
chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no
processo de ensino- aprendizagem
Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo
natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse
em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e
meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam
durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua
trajetoacuteria
O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser
humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as
comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da
histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de
conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos
alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de
forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo
esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes
33
Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos
educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de
descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar
democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica
e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos
ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do
conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como
um criacutetico- dialeacutetico
De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de
apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros
fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e
suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que
passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o
conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico
despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos
O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de
conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do
campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo
praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social
direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora
Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de
ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da
cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de
educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na
cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias
Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do
Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de
mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem
curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)
Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia
profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino
possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo
aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta
(FREIRE 2003)
34
Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam
realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos
livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se
afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)
A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do
conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica
tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu
desmascaramento (FREIRE 2003)
Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de
dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo
precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo
diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do
aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos
negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos
Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro
preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se
antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio
com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na
formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde
emerge esse profissional
Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a
valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de
nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador
existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo
humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo
O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a
desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do
discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-
existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e
poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)
Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na
educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a
comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue
persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar
35
traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia
essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os
educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos
troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que
se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se
preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da
perseveranccedilardquo
O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que
devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates
mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa
cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na
historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em
possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)
Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e
aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o
pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos
seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos
desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser
livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire
(2001)
E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza
(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade
(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes
(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades
accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo
(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute
possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar
social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de
cultura de educaccedilatildeordquo
36
Consideraccedilotildees Finais
A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo
simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no
e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo
Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na
busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos
cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem
desenvolvido em um contexto ribeirinho
Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o
propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as
demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do
Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu
histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar
Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir
articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar
em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas
educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o
professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes
desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que
possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem
A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar
os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja
percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo
educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas
verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto
profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a
educaccedilatildeo do campo
A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos
professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte
no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria
Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores
comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo
conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo
37
encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da
comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo
Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os
processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees
para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo
soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos
curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos
inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do
Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo
acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees
38
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MARCELLE MOREIRA RIBEIRO
Valorizando o Local
Um estudo sobre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais na praacutetica docente de
professores da escola Nossa Senhora de Guadalupe de Abaetetuba-Paraacute
Data da Defesa 22102015
Conceito _______________
Banca Examinadora
_______________________________________________________
Haroldo Souza Prof Msc
FECAMPOUNIFESSPA
Orientador
Maura Pereira dos Anjos Profa Msc
FECAMPOUNIFESSPA
Examinadora Interna
Maria Ceacutelia Vieira ProfaMsc
FECAMPOUNIFESSPA
Examinadora Interna
Marabaacute-PA
2015
Dedico este trabalho agrave Maria da Conceiccedilatildeo Correa
Moreira (minha Matildee)
Agradecimentos
Agradeccedilo primeiramente a Deus ser este que representa minha forccedila
espiritual a vontade de superar e seguir em minha jornada pois durante meu percurso
para chegar ateacute aqui
A Alessandra Nery que abriu as portas da cidade de Marabaacute para que
pudesse conhecer Yara Alves e a Famiacutelia Nascimento que ateacute hoje compartilhamos o
mesmo teto e encontramos forccedilas para continuar longe de nossas famiacutelias durante as
feacuterias para estudar e nos adotando como parte da sua Dona Deuza Dona Dilza Seu
Ferdinando Frederico Vincci Fernanda Nascimento (nossa matildee natildeo soacute no periacuteodo
intervalar) Sabrina Nascimento e outros
As novas amizades construiacutedas na corporaccedilatildeo de Bombeiros que me
ensinaram durante as comemoraccedilotildees o respeito para com o proacuteximo agradeccedilo
profundamente pelo tempo passado com vocecircs
A Adriana Silva Neuza Rodrigues Ruth e Raquel que me acolheram em
suas casas e estimularam a prosseguir com os estudos nas horas difiacuteceis
Agrave minha matildee (Maria da conceiccedilatildeo Correa Moreira) que desde quando nasci
assumiu a total responsabilidade de me criar e educar repassando os ensinamentos de
lealdade e sinceridade sem ajuda de outros meios a natildeo ser atraveacutes do seu trabalho de
sol a sol para que eu e meu irmatildeo pudeacutessemos chegar a concluir um ensino superior
A Dielly da Silva Castro amp Francisco Moreira Ribeiro Neto que me
ajudaram na organizaccedilatildeo e correccedilatildeo desse TCC para que eu pudesse concluir este
trabalho a tempo me dando forccedila e puxotildees de orelha para termina-lo
A meu noivo (Jonnes Matos Silva) que trabalhava durante a semana e nos
fins de semana natildeo media esforccedilos para poder me ajudar na coleta de dados e me dando
forccedilas nos momentos de perdas que influenciaram totalmente em minha vida cotidiana
Obrigada meu Deus por colocar essa pessoa em meu caminho e que possamos seguir ateacute
o fim de nossas vidas Obrigada
As minhas amigas Marcia Cardoso e Gil Carvalho por estarmos juntas nas
alegrias e tristezas como na perda de nossa amiga Renata Kelly Paes (In Memoacuteria) a
qual tinha planos de terminar nosso curso de graduaccedilatildeo juntas e dai ficarmos ricas (nas
brincadeiras) Obrigada meninas pela forccedila
A minha famiacutelia e as historias das Matriarcas que constituiacuteram nossos
saberes ensinamentos e aprendizados leais pois elas serviram de alicerces a nossa
coragem para seguirmos em nosso caminho
Aos Professores que formaram uma luta em prol dos povos que vivem a
margem da sociedade brasileira e que juntos a autores de diversas teorias nos
proporcionaram olhares diferentes e criacuteticos do mundo em que vivemos desde o inicio
de nossa descoberta
E a todos nossos clientes que sempre oram para que umas de minhas guerras
cheguem ao fim por ser nossos fieis colaboradores em nosso trabalho tatildeo leal e
honesto
Enfim a todos aqueles que participaram de minha formaccedilatildeo acadecircmica no
Curso de Licenciatura Plena em Educaccedilatildeo do Campo sendo este um movimento do
qual me dediquei e abracei a causa por grupos do campo como quilombolas sem terra e
ribeirinhos
Obrigada a todos
Sumaacuterio
RESUMO 08
ABSTRACT 09
LISTA DE IMAGENS 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
Capitulo 1
A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha 16
Capitulo 2
De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe 20
Capitulo 3
Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais 26
Capitulo 4
(Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo 31
Consideraccedilotildees Finais 36
Referecircncias 38
Outras referecircncias 40
Resumo
Este Trabalho analisa as praacuteticas de professores do Sistema de Organizaccedilatildeo Modular de
Ensino (SOME) da escola de Ensino Fundamental e Meacutedio Nossa Senhora de
Guadalupe localizada no Rio Tucumanduba municiacutepio de Abaetetuba Para tanto
utilizou-se autores das aacutereas da Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo do Campo e Ciecircncias Sociais
assim como entrevistas informais realizadas com os professores dessa escola
mostrando como eles desenvolvem seus curriacuteculos e processos educativos dentro da sala
de aula e se eles valorizam esses saberes Os resultados revelam preocupaccedilotildees enquanto
investigaccedilatildeo de educadores que trabalham durante anos em comunidades tradicionais
aqui apresentado na regiatildeo ribeirinha escola que trabalha desde o ensino fundamental
menor por tempo integral e o ensino meacutedio funciona em um sistema de rotatividade de
educadores integrados aos SOME que por sua vez durante conversas e entrevistas
justificados na falta de tempo pois durante sessenta dias tem que fechar a disciplina
assim natildeo restaria momentos de interaccedilatildeo com a comunidade e alunos e assim preparar
aulas que aproximemos o livro didaacutetico com a realidade do local
Palavras-Chave Rio Tucumanduba Comunidade de Guadalupe Educaccedilatildeo do Campo
Conhecimento cientiacutefico Saberes locais
Abstract
This work examines the practices of teachers Modular Teaching Organization System
(SOME) of the Elementary School and Middle School Our Lady of Guadalupe located
in Rio Tucumanduba municipality of Abaetetuba To this end we used authors of the
areas of Education education field and social sciences as well as informal interviews
with teachers of this school showing how they develop their curricula and educational
processes in the classroom and whether they value these knowledge The results reveal
concerns as research educators working for years in traditional communities presented
here on the seashore school working from the smallest elementary school full-time and
high school works on a rotation system of integrated educators to SOME which in turn
during conversations and justified interviews the lack of time because for sixty days
have to close the discipline so there would be moments of interaction with the
community and students and thus prepare lessons we approach the textbook with the
reality of the place
Keywords Rio Tucumanduba Community of Guadalupe Rural Education Scientific
knowledge and local Knowledge
Lista de Imagens
Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba (p 21)
Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe (p 22)
Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe (p 23)
Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe (p 26)
Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe (p 27)
11
Introduccedilatildeo
Quando o curso de Educaccedilatildeo do Campo foi lanccedilado pela primeira vez no
edital da entatildeo Universidade Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute hoje
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute logo me chamou atenccedilatildeo por ser um
curso ldquonovordquo no Estado do Paraacute uma vez que jaacute vinha sendo trilhado em outras
universidades a exemplo da Universidade santa Catarina (UFSC) Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Universidade de Brasiacutelia (UNB) Aleacutem disso me
chamava atenccedilatildeo tambeacutem o fato de o curso ser voltado para a aacuterea do campo que se
inserem povos ribeirinhos quilombolas e indiacutegenas Um curso preocupado com esses
grupos sociais especiacuteficos com a valorizaccedilatildeo de seus costumes saberes e dizeres e
demandas imanentes do campo
Nesse interim ao iniciar o curso em Educaccedilatildeo do Campo na Universidade
Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute 2009 fui estranhando e ao mesmo tempo me
identificando com leituras temaacuteticas e objetivos do curso Entre estranhamento
construccedilatildeo e (des) construccedilotildees o curso se mostrou muito frutiacutefero em informaccedilotildees que
me instigavam o olhar Tratava-se de um curso intervalar ou em regime de alternacircncia
pedagoacutegica realizado nos meses de janeiro-fevereiro e junho e agosto pela manhatilde e
tarde nesses meses
Como moradora do Municiacutepio de Abaetetuba a ideia que eu tinha de campo
diferia das ideias abordadas nas primeiras aulas Logo percebi como o curso estava
voltado para o contexto que marcava a regiatildeo de Marabaacute os conflitos por terra os
atores sociais integrantes do Movimento Sem Terra fazendeiros
Todos os demais alunos da turma faziam parte desse contexto estavam de
alguma forma ligados ao Movimento Sem Terra A imagem que eu possuiacutea do
movimento era totalmente deturpada formada pela miacutedia ideias do senso comum que
reforccedilavam a ideia do movimento como um grupo de pessoas que queriam o direito de
se apropriar de algo que natildeo lhes pertencia pessoas que natildeo precisavam de terras
Por conta disso nesse primeiro momento de 2009 o curso para mim natildeo
durou quinze dias durante o mecircs de julho pois resolvi deixar a Universidade natildeo soacute
por problemas pessoais mas sim por esse embate de ideias que naquele momento
quebrara as minhas expectativas em relaccedilatildeo ao curso Minha matildee estava abrindo uma
loja de confecccedilotildees eu e meu irmatildeo ajudaacutevamos na organizaccedilatildeo Com o passar do
tempo quando os negoacutecios jaacute estavam organizados resolvi voltar para a Universidade
12
na turma de 2010 que continham novos companheiros que me esclareceram e
esclarecem ateacute hoje minhas duacutevidas sobre Movimentos Sociais Organizados do
Campo
Quando reiniciei as aulas na ocasiatildeo do seminaacuterio de apresentaccedilatildeo de
Educaccedilatildeo do Campo estavam presentes lideranccedilas como Charles Trocate dos
Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e vaacuterias outras entidades
civis organizadas fazendo um interessante apanhado das lutas sociais e confrontos que
serviram de alicerce para poliacuteticas puacuteblicas e por uma Educaccedilatildeo dono Campo
valorizada e pensada para e pelos povos do campo
Durante o seminaacuterio Charles Trocate comentou sobre o iniacutecio o dos MTS
seus objetivos lutas perdas e conquistas De como eacute importante grupos se definirem e
se identificarem para que possam lutar por seus direitos montar estrateacutegias de
discussotildees com o governo para que este veja de onde a massa popular se afirma de
onde fala e que poliacuteticas puacuteblicas sejam efetivadas
O seminaacuterio me permitiu compreender que o Curso de Educaccedilatildeo do Campo
junto aos Movimentos Sociais eacute uma entre outras conquistas pois os filhos de
camponeses ribeirinho quilombolas e povos indiacutegenas estatildeo entrando nas
Universidades e se graduando se especializando para poder se expandir e mostrar que
eles (re)existir com seu modo e sua tradiccedilatildeo e juntos compartilhar conhecimentos
Nesses uacuteltimos quatro anos (2010-2014) de conhecimentos trocas de
experiecircncias e ensinamentos neste curso junto a professores vindos de diferentes
localidades e que natildeo nos deixavam com duacutevidas durante as disciplinas pois seus
compromissos como docentes e a luta por uma mesma causa (educaccedilatildeo do campo)
nos tornavam a cada aula defensores compromissados com a educaccedilatildeo do campo
proporcionando ao mesmo tempo teorias que nos faziam criticar os modelos sobre os
quais ciecircncias satildeo ensinada nas salas de aula
Aleacutem disso eacute importante ressaltar que por ser oriunda de AbaetetubaParaacute
aproximadamente a quatrocentos e cinquenta e seis quilocircmetros da cidade de Marabaacute
onde cursei Educaccedilatildeo do Campo trazia comigo um diferencial pois abordava em
meus trabalhos minhas experiecircncias do campesinato de minha localidade o que para a
realidade onde a maioria dos discentes eram da regiatildeo de Marabaacute era totalmente novo
assim como fora no inicio para mim
Tudo aquilo que eu mostrava durante as apresentaccedilotildees dos Trabalhos de
Campo do Tempo-Comunidade por ser desconhecido ficava mais interessante e nessas
13
trocas de conhecimentos passaacutevamos a perceber outras regiotildees tatildeo pertinho de noacutes e
juntos misturaacutevamos nossas crenccedilas costumes tradiccedilotildees mitos e histoacuterias essas
contadas na sala da diversidade cultural
O Curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz novos pressupostos
de educaccedilatildeo com uma formaccedilatildeo de sujeitos diferenciados possibilita que o educador
do campo e alunos realizem a troca de conhecimento e adequem esse processo de
forma mais agradaacutevel para ambos
De acordo com CORDEIRO REIS amp HAGE (2011) a Pedagogia da
Alternacircncia eacute uma estrateacutegia bem pensada que articula espaccedilos educativos concebe
que a educaccedilatildeo pode se realizar tanto em sala de aula quanto nos outros espaccedilos que
compotildeem o conviacutevio social dos alunos Os educandos do campo podem assim ter
acesso agrave escola sem ter que abandonar o trabalho sem deixar de lado o aprendizado
proveniente da vida na sua comunidade
Desta forma o que propotildee esta praacutetica pedagoacutegica eacute que o educando possa
refletir sobre sua proacutepria realidade seja capaz de aplicar os conhecimentos cientiacuteficos
que apreende no espaccedilo formal de educaccedilatildeo em seu cotidiano
O curso de Educaccedilatildeo do campo faz uso estrateacutegico dessa metodologia pois
se encontra dividido em dois periacuteodos especiacuteficos o primeiro chamado Tempo-
Universidade ocorre em janeiro-fevereiro e julho e Agosto neste periacuteodo os alunos de
diferentes localidades juntos em sala preparam momentos de trocas experiecircncias e de
conhecimentos durante seminaacuterios debates rodas de conversas
Ocorre todo um aprendizado teoacuterico de autores das aacutereas de sociologia filosofia
histoacuteria geografia e de educadores do campo No Tempo-Universidade aprendemos o
modo como conversar com a comunidade para obter as informaccedilotildees e conhecimentos
necessaacuterios para serem repassados em nosso acircmbito familiar e educacional deixando em
cada um algo que os toquem socialmente
O segundo periacuteodo ocorre nos meses que estamos fora da Universidade eacute
denominado de Tempo-Comunidade (T-C) Durante esse tempo colocamos em praacutetica
tudo o que aprendemos na academia cientifica em comunidades ribeirinhas
quilombolas indiacutegenas e outras
Durante os trabalhos de Campo no periacuteodo Tempo-Comunidade para pocircr
em praacutetica o que aprendemos em sala de aula presenciei por diversas vezes o modo
como os professores do Sistema de Organizaccedilatildeo de Ensino Modular (SOME)
professores esses que se movimentam de comunidade em comunidade ministravam
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suas aulas durante dois meses em cada escola trazendo estilos de conhecimentos
(saberes cientiacuteficos) que aprenderam nas universidades que por vezes natildeo condiziam
com as realidades da comunidade ribeirinha que eu fazia minha praacutetica de ensino
Tendo por base os nossos conhecimentos cotidianos que constroem nossas
identidades cada educando escolheu um local para o desenvolvimento do respectivo
Trabalho de Campo partindo de uma das primeiras aulas ministradas pela professora
Dra Idelma Santiago sobre Aacutervores Genealoacutegicas no Tempo Universidade na qual
fizemos uma investigaccedilatildeo metodoloacutegica a fim de reconhecermos os saberes do lugar
de onde viemos
Escolhi entatildeo uma dentre as setenta e duas Ilhas ribeirinhas de Abaetetuba
situada no Rio TucumandubandashMeacutedio sendo este um dos afluentes do Rio Paraacute da
cidade de Abaetetuba O interesse pelo tema da educaccedilatildeo em educaccedilatildeo do campo
surgiu ainda na graduaccedilatildeo durante palestras estudos debates seminaacuterios para lutar
pelo reconhecimento de uma forma de ensinar dos Educadores do Campo no Campo
para a construccedilatildeo de Saberes e Dizeres na regiatildeo ribeirinha ou no lugar em que ela
aconteccedila
Atraveacutes de observaccedilotildees dos trabalhos de campo e do Tempo-comunidade
realizados durante as disciplinas do Tempo Universidade me despertou o interesse em
aprofundar meus conhecimentos nessa aacuterea levando-me para uma discussatildeo teoacuterica e
praacutetica da qual minha preocupaccedilatildeo ocorre ateacute os dias de hoje pois professores que
tiveram uma educaccedilatildeo bastante cartesiana e urbana levam para as comunidades
ribeirinhas os conhecimentos que aprenderam nas Universidades como modelos isto
eacute servem para explicar a realidade em qualquer contexto seja na cidade urbanizada
seja nos interiores ribeirinhos natildeo se atentando para a valorizaccedilatildeo do conhecimento
local
A ecircnfase principal deste Trabalho de Conclusatildeo do Curso (TCC) reside em
evidenciar como os professores ministram suas aulas nas regiotildees ribeirinhas se
incorporam ou natildeo os conhecimentos do cotidiano de seus alunos para explicar as
disciplinas e com isso valorizar os conhecimentos locais como meio de explicaccedilatildeo da
realidade
Para tanto se utilizaraacute de um meacutetodo nas ciecircncias humanas a observaccedilatildeo
participante aleacutem de entrevistas formais e conversas informais com os professores da
escola Nossa Senhora de Guadalupe
15
Assim sendo este trabalho estaacute estruturado da seguinte forma no capiacutetulo 1
intitulado A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha busca-se mostrar um
pouco do surgimento da Educaccedilatildeo do Campo no contexto nacional
O capiacutetulo 2 denominado De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe localiza a
comunidade e aborda a experiecircncia de inserccedilatildeo no loacutecus fazendo uso de imagens para
melhor ambientar o leitor
No capiacutetulo 3 chamado Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais
objetiva descrever como a articulaccedilatildeo entre diferentes conhecimentos no cotidiano da
sala de aula
No capitulo 4 nomeado (Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo
do Campo procura-se relacionar como os conhecimentos cientiacuteficos de um lado e os
conhecimentos tradicionais de outro se datildeo ou deveriam se dar nas aulas
Nas Consideraccedilotildees Finais tenta-se evidenciar um pouco como este
trabalho pode contribuir para outras anaacutelises similares com outros recortes empiacutericos em
trabalhos posteriores
16
Capitulo 1
A Educaccedilatildeo do Campo em uma comunidade Ribeirinha
A Educaccedilatildeo do Campo surgiu no seacuteculo passado e colocava em evidencia os
processos de exclusatildeo social poliacutetica econocircmica e cultural que os ldquopovosrdquo ou
ldquocomunidadesrdquo tradicionais vinham e ainda vem sofrendo em diversas regiotildees do Paiacutes
O curso vem trazendo esse olhar multifacetado da realidade do campo
como por exemplo na exploraccedilatildeo e escravizaccedilatildeo de populaccedilotildees indiacutegenas e africanos e
suas vaacuterias etnias em nosso paiacutes desde seu descobrimento assim como suas
consequecircncias nos dias atuais que formavamformam as realidades dos sujeitos por
vezes antagocircnicas da qual Maria Antocircnia de Souza (2010) aponta que
A educaccedilatildeo do Campo surge como novo paradigma para pensar os sujeitos
do campo valorizando seus trabalhos trabalhadores suas particularidades
contradiccedilotildees e organizaccedilatildeo cultural como praacutexis Ela se coloca contra o
paradigma da educaccedilatildeo rural ou seja aquela que esta vinculada aos
interesses do governo como agronegoacutecio do capitalismo agraacuterio e ao
fortalecimento das poliacuteticas do esvaziamento dos sujeitos do campo
(SOUZA 2010)
Isso porque atraveacutes de propagandas ou raacutedios bancos financiadores e outros
meios mostram os investimentos e avanccedilos no campo (elite empresarial) cuja realidade
concreta desses sujeitos vem se tornando mais conhecida por meio de pressotildees de
movimentos sociais organizados na luta por uma educaccedilatildeo de qualidade para os
trabalhadores do campo como nos diz Maria Isabel Pinheiro (2011) para quem
antagonicamente
Inovaram no maquinaacuterio no aumento da produccedilatildeo de gratildeo nos agrotoacutexicos
alteraccedilotildees dos genes das sementes para exportaccedilatildeo em larga escala Mas os
que tem usufruiacutedo desses avanccedilos satildeo pequenos grupos de latifundiaacuterios
empresaacuterios banqueiros e poliacuteticos nacionais e internacionais enquanto a
outros eacute negado o acesso a terra para sobreviver e garantir o sustento de
outros brasileiros (PINHEIRO 2011)
Dessa forma eacute que os Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST) ONGS educadores educando e sociedade civil se articularam e se articulam haacute
tempos lutando e pressionando o governo Federal Estadual e Municipal e em prol de
poliacuteticas puacuteblicas para criar alternativas de permanecircncia dos jovens e trabalhadores do
campo no campo atraveacutes de financiamentos assistecircncia teacutecnica educaccedilatildeo entre outros
Isso vem ocorrendo com a preocupaccedilatildeo de que se valorize os conhecimentos
locais e se planeje o modo mais adequado para uma educaccedilatildeo de qualidade para que
esses jovens possam se qualificar adquirindo saber cientiacutefico e ao mesmo tempo a
17
partir da valorizaccedilatildeo de seu lugar como espaccedilo de lutas e resistecircncias para o
reconhecimento de suas comunidades reelaborar
Conforme nos aponta Fernandes (2005) o campo eacute formado por diversos
territoacuterios que aborda todas as espeacutecies de relaccedilotildees humanas O campo requer demandas
distintas cada territoacuterio que forma o campo eacute dotado de particularidades desta categoria
emergem diversas relaccedilotildees Por isso a educaccedilatildeo no campo deve ser pensada
essencialmente dentro de cada contexto caso seja pensada fora dele natildeo eacute educaccedilatildeo
torna-se dominaccedilatildeo
Ainda em diaacutelogo com o autor temos que a educaccedilatildeo no campo surge no
sentido de tornar o indiviacuteduo ocupante dos territoacuterios do campo protagonista do
processo de construccedilatildeo de seu territoacuterio considerando as especificidades deste
Dessa forma autores como Roseli Caldart cuja produccedilatildeo versa sobre
movimentos sociais do campo educaccedilatildeo escola pedagogia do movimento e Bernardo
Manccedilano Fernandes (2008) que aborda principalmente teorias dos territoacuterios
paradigmas da questatildeo agraacuteria e do capitalismo agraacuterio reforma agraacuteria
desenvolvimento territorial Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
tem sido inspiraccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para os novos pesquisadores da Educaccedilatildeo do
Campo como ressalta Fernandes (2008)
No movimento de debate e contestaccedilatildeo da politica e da educaccedilatildeo rural
empreendido pelos movimentos sociais do campo emergem uma nova
concepccedilatildeo de educaccedilatildeo denominada Educaccedilatildeo do Campo (FERNANDES
2008)
No campo mais especiacutefico essas lutas e o conceito de educaccedilatildeo do campo se
fortaleceu e ganhou destaque a partir da I Conferencia Nacional por uma Educaccedilatildeo
Baacutesica do Campo realizada no ano de 1998 a partir dela foram elaborados trabalhos e
coletacircneas versando sobre Educaccedilatildeo do Campo que vieram relatar o processo de sua
construccedilatildeo e fortalecer as demandas por politicas publicas em vaacuterios aspectos da vida
no campo
Nesse mesmo contexto eacute verificada uma grande necessidade em se ter
profissional de educaccedilatildeo especiacutefica para as aacutereas do campo isto eacute profissionais que
possuiacutessem formaccedilatildeo especiacutefica (licenciatura) poacutes-graduaccedilotildees eou aperfeiccediloamentos
na aacuterea da educaccedilatildeo do campo
Para isso foram lanccediladas poliacuteticas quanto agrave educaccedilatildeo formal para
professores como nas licenciaturas em Educaccedilatildeo do Campo seja nas Universidades
Federais (UFS) seja por meio da Formaccedilatildeo continuada Plano Nacional de Formaccedilatildeo de
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Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica (PARFOR) aleacutem de diversificaccedilatildeo das experiecircncias
educativas no campo a exemplo das Casas Familiares Rurais a construccedilatildeo da Escola
Famiacutelia Agriacutecola (EFA) Escolas Itinerantes que ajudam na ampliaccedilatildeo do conhecimento
e ao direito de comunidades ribeirinhas como a de Guadalupe em Abaetetuba a terem
educaccedilatildeo de qualidade e que valorize os conhecimentos locais como salienta Roseli
Caldart (2008)
A Educaccedilatildeo do Campo natildeo se conduz ao debate da escola da formaccedilatildeo
formal ou das propostas pedagoacutegicas A materialidade educativa de origem
da educaccedilatildeo do campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos
da produccedilatildeo e das lutas sociais do campo (CALDART 2008)
A educaccedilatildeo do Campo pretende ir aleacutem das fronteiras educacionais que
antagonizam os curriacuteculos entre cidade e campo como ressalta a Lei de Diretrizes e
Base da Educaccedilatildeo Nacional (1996) ldquoque a oferta da educaccedilatildeo baacutesica agrave populaccedilatildeo rural
natildeo eacute a mesma compreensatildeo dos movimentos sociais e da academia cientiacutefica em
relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do campordquo pois ela (LDB) se volta agrave lapidaccedilatildeo de matildeo de obra
visando o mercado de trabalho sendo isso uma de suas bases e objetivos que buscam
preparar os jovens para o mercado de trabalho seja este no ensino fundamental meacutedio
teacutecnico ou superior como uma preparaccedilatildeo de grande ldquovalorizaccedilatildeordquo
E a educaccedilatildeo do campo traz uma proposta que trabalha com a realidade de
trabalhadores e trabalhadoras do campo relacionada ao trabalho que eles desenvolve no
campo pois precisa-se perceber que ele possui uma caracteriacutestica proacutepria que o
diferencia da sociedade urbana as quais devem ser planejadas pelos educadores da
educaccedilatildeo considerando o meio de onde se fala fazer com que esses sujeitos se
identifique e lute pelos seus direitos enquanto uma sociedade pensada com sua
participaccedilatildeo nos processos educacionais vinculada a sua cultura e necessidades humanas
e sociais
A Educaccedilatildeo do Campo propotildee por isso para as aacutereas ribeirinhas como para
pescadores agricultores e artesatildeos que atraveacutes das organizaccedilotildees possam reivindicar
melhorias e ampliaccedilatildeo na aacuterea escolar infraestrutura para que o ensino chegue ateacute eles
de forma a valorizar os conhecimentos de seus cotidianos e natildeo que eles saiam ou
abandonem seus costumes
Sabemos que a categoria campo natildeo eacute uma categoria homogecircnea ela
engloba diversos grupos sociais que habitam regiotildees geograficamente distintas entatildeo
natildeo podemos pensar em Educaccedilatildeo no Campo sem saber de qual campo estamos falando
19
Essa localidade do qual falo eacute o contexto habitado pelas comunidades das margens do
rio tucumanduba
Nessas localidades o meio impotildee sua dinacircmica agrave vida social e isso
aprofunda a relaccedilatildeo do homem com a natureza ldquoo imaginaacuterio eacute rico e o ribeirinho faz
uso desse imaginaacuterio para explicar fenocircmenos da naturezardquo (LOUREIRO 1995)
Por isso a educaccedilatildeo do campo e curriacuteculo escolar deve estar voltados para
as especificidades do contexto camporibeirinho no caso deste trabalho realizando as
atividades de acordo com o local onde o curriacuteculo deve ser construiacutedo levando em
consideraccedilatildeo aspectos da cultura e da dinacircmica local festividades imaginaacuterios e ateacute as
proacuteprias condiccedilotildees impostas pelo meio Valorizando conhecimentos locais para que os
alunos se situem no fazer escolar e contribua para que saberes e tradiccedilotildees se
reproduzam e se recriem na comunidade seja no vieacutes da tradiccedilatildeo oral seja no vieacutes da
educaccedilatildeo formal ou informal
Dessa forma passamos a perceber a produccedilatildeo cultural social e econocircmica do
local sendo importante para a construccedilatildeo de uma identidade reconhecida seja ela em
acircmbito nacional ou internacional de respeito e valorizaccedilatildeo da pessoa humana ajudando
assim a (re)orientar aqueles que cheguem nessas escolas e nas comunidades ribeirinhas
Assim quando se fala em educaccedilatildeo do campo fala-se em reforma agraacuteria
de construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de biodiversidade de debates sobre cultura
politicas puacuteblicas sendo preciso o tempo todo fazer e refazer as leituras poliacutetico-
pedagoacutegicas econocircmicas e culturais a partir dessas comunidades e das contradiccedilotildees que
nelas estatildeo postas dentro da loacutegica neoliberal que deve ser criticada se queremos uma
Educaccedilatildeo do Campo que efetive ao que se propotildee
20
Capitulo 2
De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe
O Rio Tucumanduba estaacute localizado no municiacutepio de Abaetetuba1 cidade a
duas horas de Beleacutem sendo ambas do Estado do Paraacute Estaacute dividido em Baixo Alto e
Meacutedio Tucumanduba sendo que cada um desses cursos do rio se organizam em torno
de uma comunidade que possuem escolas e igrejas (catoacutelicas ou evangeacutelicas) A
localidade e escola escolhidas para esta pesquisa se situa no rio Tucumanduba meacutedio
Durante as idas para a comunidade para realizar as praacuteticas docentes em
educaccedilatildeo do campo compartilhar e receber saberes da comunidade ribeirinha entre
alunos professores pais parentes e amigos se observa muita simplicidade em cada um
com seus modos de vivecircncia como se movimentam nas canoas andam ou correm no
ldquomiritizerordquo 2 ou como caminham tatildeo firmemente nas pontes e que agrave noite sentam na
ldquocabeccedila da ponterdquo como dizem os moradores locais
Para compartilharem os saberes dos mais velhos da comunidade de suas
tradiccedilotildees suas regras e modos de vivecircncia na ldquocalmariardquo em um lugar de vaacuterzea
contos histoacuterias com exuberante imensidatildeo de aacutegua aacutervores e animais que leva e traz
conhecimentos entre os rios e mareacutes de comunidades a comunidades assim como agraves
cidades em que os moradores circulam (vendem seu produtos como o accedilaiacute) como em
Abaetetuba Beleacutem e outras cidades
O trajeto das ldquofreteirasrdquo3 que sai das comunidades ribeirinhas ateacute a cidade
de Abaetetuba eacute feito de porto em porto buscando passageiros por volta das quatro
horas da manhatilde As ldquofreteirasrdquo transportam aleacutem de pessoas que vatildeo para fazer vendas
de seus produtos (accedilaiacute peixe farinha e outros) produtos trazidos da cidade e pessoas
(crianccedilas jovens e velhos) que procuram hospitais ou cliacutenicas entre outros
Chegando ao porto ou trapiche de Abaetetuba( imagem nordm 01) por volta das
seis horas da manhatilde os passageiros ou vem conversando ou dormindo no barco ateacute
1 Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio de
Abaetetuba possui uma populaccedilatildeo de 141054 habitantes sendo que 82950 vivem na cidade e 58104
vivem na zona ruralcampo nas inuacutemeras colocircnias rios igarapeacutes e ilhas A populaccedilatildeo ribeirinha em
especial eacute muito grande e satildeo isentos de seguranccedila serviccedilos baacutesico de sauacutede aacutereas de lazer entre outros
dependendo exclusivamente da cidade 2 ldquoMiritizerordquo tronco de aacutervore geralmente que eacute colocada como uma espeacutecie de ponte entre a terra e o
rio 3 ldquoFreteirasrdquo barcos ou embarcaccedilotildees de grande meacutedio ou pequeno porte que transportam moradores dos
rios ateacute agraves cidades no caso deste trabalho para Abaetetuba
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chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove
horas da manhatilde
Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba
Fonte Google Imagens2015
Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para
regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o
tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de
gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto
ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu
destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas
com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de
transporte para esse local o hidroviaacuterio
Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava
em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das
aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares
observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas
baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que
atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo
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Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que
estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio
(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por
virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha
famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como
algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta
pesquisa
De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos
que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios
de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que
satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em
um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem
natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute
integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense
o ribeirinho
Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia
enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de
dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola
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Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem
nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso
passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja
Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de
Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como
Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os
alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir
Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas
denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf
Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um
passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local
Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e
Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade
de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental
Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino
satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de
Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo
anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo
O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele
vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo
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do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de
conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de
recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia
de cursar o ensino meacutedio
Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de
rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com
carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura
saberes e processos histoacutericos
Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado
dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos
com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e
permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade
identidade e saberes locais debatidos em sala de aula
Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se
levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se
dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a
complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com
que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo
o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na
zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas
movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se
compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas
A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado
estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$
600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno
professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente
de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor
Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada
moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito
educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas
delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola
informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que
hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado
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uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo
voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4
O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de
ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em
formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para
os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e
ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas
diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual
Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de
accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas
famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou
aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha
conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador
associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs
durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de
paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada
regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos
durante esse periacuteodo
Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de
comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo
na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da
quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico
4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da
Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA
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Capitulo 3
Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais
Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco
da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de
Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema
de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em
relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos
possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de
educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo
Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo
as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro
do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como
organizam os conteuacutedos
Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam
meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo
do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do
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campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso
somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta
pesquisa
Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes
localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como
Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros
Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os
coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra
localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)
Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz
parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba
com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo
ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois
passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo
ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas
e continua
Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos
dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar
seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
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Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter
viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a
necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que
o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas
aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua
Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo
dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles
exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural
poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida
cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas
comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios
primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e
acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social
dentro de sua comunidade
A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz
conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de
idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos
artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de
idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns
momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e
adultos
Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo
entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo
aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo
dessa comunidade
Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante
no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o
sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em
qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes
culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade
5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades
segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do
presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo
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Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o
trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu
dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta
Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o
entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e
conferem sentido agrave sua existecircnciardquo
Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu
acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana
desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito
antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os
mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e
chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola
Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo
comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem
outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno
quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute
patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo
apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater
o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7
estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo
da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe
atrasa a chegada
Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees
podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo
do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo
sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)
legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento
promovendo a Pedagogia da Alternacircncia
Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se
estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se
tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento
6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo
7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que
navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente
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alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas
experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de
aprendizagens a partir desse movimento
Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador
do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes
agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma
troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais
Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)
interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os
modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam
desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso
levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida
em comunidade
O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por
exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas
e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de
aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao
ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia
Andrade (1993)
Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades
agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido
os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem
no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a
educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud
ANDRADE 1993)
Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de
experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa
diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da
pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos
pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais
legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes
semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e
elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural
8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore
apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto
das aacutervores
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Capitulo 4
(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo
A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a
base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um
novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem
na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e
que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar
pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa
histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade
Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que
traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave
permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes
valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos
organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida
As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que
sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os
professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona
pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho
pedagoacutegico
Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola
da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de
educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e
das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)
Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o
grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se
trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees
sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua
particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos
sociais e da cultura como praacutexis
Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de
profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que
eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas
32
dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo
em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias
indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas
lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades
ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de
trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a
educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a
isto que ela se propotildee
E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando
estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas
histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e
se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo
Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as
escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas
recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de
2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam
ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os
alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de
chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no
processo de ensino- aprendizagem
Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo
natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse
em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e
meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam
durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua
trajetoacuteria
O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser
humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as
comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da
histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de
conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos
alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de
forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo
esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes
33
Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos
educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de
descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar
democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica
e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos
ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do
conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como
um criacutetico- dialeacutetico
De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de
apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros
fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e
suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que
passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o
conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico
despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos
O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de
conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do
campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo
praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social
direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora
Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de
ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da
cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de
educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na
cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias
Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do
Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de
mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem
curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)
Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia
profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino
possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo
aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta
(FREIRE 2003)
34
Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam
realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos
livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se
afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)
A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do
conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica
tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu
desmascaramento (FREIRE 2003)
Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de
dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo
precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo
diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do
aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos
negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos
Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro
preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se
antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio
com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na
formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde
emerge esse profissional
Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a
valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de
nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador
existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo
humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo
O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a
desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do
discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-
existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e
poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)
Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na
educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a
comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue
persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar
35
traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia
essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os
educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos
troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que
se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se
preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da
perseveranccedilardquo
O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que
devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates
mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa
cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na
historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em
possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)
Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e
aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o
pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos
seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos
desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser
livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire
(2001)
E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza
(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade
(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes
(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades
accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo
(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute
possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar
social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de
cultura de educaccedilatildeordquo
36
Consideraccedilotildees Finais
A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo
simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no
e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo
Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na
busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos
cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem
desenvolvido em um contexto ribeirinho
Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o
propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as
demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do
Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu
histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar
Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir
articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar
em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas
educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o
professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes
desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que
possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem
A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar
os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja
percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo
educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas
verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto
profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a
educaccedilatildeo do campo
A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos
professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte
no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria
Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores
comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo
conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo
37
encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da
comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo
Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os
processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees
para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo
soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos
curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos
inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do
Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo
acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees
38
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ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015
Dedico este trabalho agrave Maria da Conceiccedilatildeo Correa
Moreira (minha Matildee)
Agradecimentos
Agradeccedilo primeiramente a Deus ser este que representa minha forccedila
espiritual a vontade de superar e seguir em minha jornada pois durante meu percurso
para chegar ateacute aqui
A Alessandra Nery que abriu as portas da cidade de Marabaacute para que
pudesse conhecer Yara Alves e a Famiacutelia Nascimento que ateacute hoje compartilhamos o
mesmo teto e encontramos forccedilas para continuar longe de nossas famiacutelias durante as
feacuterias para estudar e nos adotando como parte da sua Dona Deuza Dona Dilza Seu
Ferdinando Frederico Vincci Fernanda Nascimento (nossa matildee natildeo soacute no periacuteodo
intervalar) Sabrina Nascimento e outros
As novas amizades construiacutedas na corporaccedilatildeo de Bombeiros que me
ensinaram durante as comemoraccedilotildees o respeito para com o proacuteximo agradeccedilo
profundamente pelo tempo passado com vocecircs
A Adriana Silva Neuza Rodrigues Ruth e Raquel que me acolheram em
suas casas e estimularam a prosseguir com os estudos nas horas difiacuteceis
Agrave minha matildee (Maria da conceiccedilatildeo Correa Moreira) que desde quando nasci
assumiu a total responsabilidade de me criar e educar repassando os ensinamentos de
lealdade e sinceridade sem ajuda de outros meios a natildeo ser atraveacutes do seu trabalho de
sol a sol para que eu e meu irmatildeo pudeacutessemos chegar a concluir um ensino superior
A Dielly da Silva Castro amp Francisco Moreira Ribeiro Neto que me
ajudaram na organizaccedilatildeo e correccedilatildeo desse TCC para que eu pudesse concluir este
trabalho a tempo me dando forccedila e puxotildees de orelha para termina-lo
A meu noivo (Jonnes Matos Silva) que trabalhava durante a semana e nos
fins de semana natildeo media esforccedilos para poder me ajudar na coleta de dados e me dando
forccedilas nos momentos de perdas que influenciaram totalmente em minha vida cotidiana
Obrigada meu Deus por colocar essa pessoa em meu caminho e que possamos seguir ateacute
o fim de nossas vidas Obrigada
As minhas amigas Marcia Cardoso e Gil Carvalho por estarmos juntas nas
alegrias e tristezas como na perda de nossa amiga Renata Kelly Paes (In Memoacuteria) a
qual tinha planos de terminar nosso curso de graduaccedilatildeo juntas e dai ficarmos ricas (nas
brincadeiras) Obrigada meninas pela forccedila
A minha famiacutelia e as historias das Matriarcas que constituiacuteram nossos
saberes ensinamentos e aprendizados leais pois elas serviram de alicerces a nossa
coragem para seguirmos em nosso caminho
Aos Professores que formaram uma luta em prol dos povos que vivem a
margem da sociedade brasileira e que juntos a autores de diversas teorias nos
proporcionaram olhares diferentes e criacuteticos do mundo em que vivemos desde o inicio
de nossa descoberta
E a todos nossos clientes que sempre oram para que umas de minhas guerras
cheguem ao fim por ser nossos fieis colaboradores em nosso trabalho tatildeo leal e
honesto
Enfim a todos aqueles que participaram de minha formaccedilatildeo acadecircmica no
Curso de Licenciatura Plena em Educaccedilatildeo do Campo sendo este um movimento do
qual me dediquei e abracei a causa por grupos do campo como quilombolas sem terra e
ribeirinhos
Obrigada a todos
Sumaacuterio
RESUMO 08
ABSTRACT 09
LISTA DE IMAGENS 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
Capitulo 1
A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha 16
Capitulo 2
De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe 20
Capitulo 3
Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais 26
Capitulo 4
(Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo 31
Consideraccedilotildees Finais 36
Referecircncias 38
Outras referecircncias 40
Resumo
Este Trabalho analisa as praacuteticas de professores do Sistema de Organizaccedilatildeo Modular de
Ensino (SOME) da escola de Ensino Fundamental e Meacutedio Nossa Senhora de
Guadalupe localizada no Rio Tucumanduba municiacutepio de Abaetetuba Para tanto
utilizou-se autores das aacutereas da Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo do Campo e Ciecircncias Sociais
assim como entrevistas informais realizadas com os professores dessa escola
mostrando como eles desenvolvem seus curriacuteculos e processos educativos dentro da sala
de aula e se eles valorizam esses saberes Os resultados revelam preocupaccedilotildees enquanto
investigaccedilatildeo de educadores que trabalham durante anos em comunidades tradicionais
aqui apresentado na regiatildeo ribeirinha escola que trabalha desde o ensino fundamental
menor por tempo integral e o ensino meacutedio funciona em um sistema de rotatividade de
educadores integrados aos SOME que por sua vez durante conversas e entrevistas
justificados na falta de tempo pois durante sessenta dias tem que fechar a disciplina
assim natildeo restaria momentos de interaccedilatildeo com a comunidade e alunos e assim preparar
aulas que aproximemos o livro didaacutetico com a realidade do local
Palavras-Chave Rio Tucumanduba Comunidade de Guadalupe Educaccedilatildeo do Campo
Conhecimento cientiacutefico Saberes locais
Abstract
This work examines the practices of teachers Modular Teaching Organization System
(SOME) of the Elementary School and Middle School Our Lady of Guadalupe located
in Rio Tucumanduba municipality of Abaetetuba To this end we used authors of the
areas of Education education field and social sciences as well as informal interviews
with teachers of this school showing how they develop their curricula and educational
processes in the classroom and whether they value these knowledge The results reveal
concerns as research educators working for years in traditional communities presented
here on the seashore school working from the smallest elementary school full-time and
high school works on a rotation system of integrated educators to SOME which in turn
during conversations and justified interviews the lack of time because for sixty days
have to close the discipline so there would be moments of interaction with the
community and students and thus prepare lessons we approach the textbook with the
reality of the place
Keywords Rio Tucumanduba Community of Guadalupe Rural Education Scientific
knowledge and local Knowledge
Lista de Imagens
Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba (p 21)
Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe (p 22)
Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe (p 23)
Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe (p 26)
Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe (p 27)
11
Introduccedilatildeo
Quando o curso de Educaccedilatildeo do Campo foi lanccedilado pela primeira vez no
edital da entatildeo Universidade Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute hoje
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute logo me chamou atenccedilatildeo por ser um
curso ldquonovordquo no Estado do Paraacute uma vez que jaacute vinha sendo trilhado em outras
universidades a exemplo da Universidade santa Catarina (UFSC) Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Universidade de Brasiacutelia (UNB) Aleacutem disso me
chamava atenccedilatildeo tambeacutem o fato de o curso ser voltado para a aacuterea do campo que se
inserem povos ribeirinhos quilombolas e indiacutegenas Um curso preocupado com esses
grupos sociais especiacuteficos com a valorizaccedilatildeo de seus costumes saberes e dizeres e
demandas imanentes do campo
Nesse interim ao iniciar o curso em Educaccedilatildeo do Campo na Universidade
Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute 2009 fui estranhando e ao mesmo tempo me
identificando com leituras temaacuteticas e objetivos do curso Entre estranhamento
construccedilatildeo e (des) construccedilotildees o curso se mostrou muito frutiacutefero em informaccedilotildees que
me instigavam o olhar Tratava-se de um curso intervalar ou em regime de alternacircncia
pedagoacutegica realizado nos meses de janeiro-fevereiro e junho e agosto pela manhatilde e
tarde nesses meses
Como moradora do Municiacutepio de Abaetetuba a ideia que eu tinha de campo
diferia das ideias abordadas nas primeiras aulas Logo percebi como o curso estava
voltado para o contexto que marcava a regiatildeo de Marabaacute os conflitos por terra os
atores sociais integrantes do Movimento Sem Terra fazendeiros
Todos os demais alunos da turma faziam parte desse contexto estavam de
alguma forma ligados ao Movimento Sem Terra A imagem que eu possuiacutea do
movimento era totalmente deturpada formada pela miacutedia ideias do senso comum que
reforccedilavam a ideia do movimento como um grupo de pessoas que queriam o direito de
se apropriar de algo que natildeo lhes pertencia pessoas que natildeo precisavam de terras
Por conta disso nesse primeiro momento de 2009 o curso para mim natildeo
durou quinze dias durante o mecircs de julho pois resolvi deixar a Universidade natildeo soacute
por problemas pessoais mas sim por esse embate de ideias que naquele momento
quebrara as minhas expectativas em relaccedilatildeo ao curso Minha matildee estava abrindo uma
loja de confecccedilotildees eu e meu irmatildeo ajudaacutevamos na organizaccedilatildeo Com o passar do
tempo quando os negoacutecios jaacute estavam organizados resolvi voltar para a Universidade
12
na turma de 2010 que continham novos companheiros que me esclareceram e
esclarecem ateacute hoje minhas duacutevidas sobre Movimentos Sociais Organizados do
Campo
Quando reiniciei as aulas na ocasiatildeo do seminaacuterio de apresentaccedilatildeo de
Educaccedilatildeo do Campo estavam presentes lideranccedilas como Charles Trocate dos
Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e vaacuterias outras entidades
civis organizadas fazendo um interessante apanhado das lutas sociais e confrontos que
serviram de alicerce para poliacuteticas puacuteblicas e por uma Educaccedilatildeo dono Campo
valorizada e pensada para e pelos povos do campo
Durante o seminaacuterio Charles Trocate comentou sobre o iniacutecio o dos MTS
seus objetivos lutas perdas e conquistas De como eacute importante grupos se definirem e
se identificarem para que possam lutar por seus direitos montar estrateacutegias de
discussotildees com o governo para que este veja de onde a massa popular se afirma de
onde fala e que poliacuteticas puacuteblicas sejam efetivadas
O seminaacuterio me permitiu compreender que o Curso de Educaccedilatildeo do Campo
junto aos Movimentos Sociais eacute uma entre outras conquistas pois os filhos de
camponeses ribeirinho quilombolas e povos indiacutegenas estatildeo entrando nas
Universidades e se graduando se especializando para poder se expandir e mostrar que
eles (re)existir com seu modo e sua tradiccedilatildeo e juntos compartilhar conhecimentos
Nesses uacuteltimos quatro anos (2010-2014) de conhecimentos trocas de
experiecircncias e ensinamentos neste curso junto a professores vindos de diferentes
localidades e que natildeo nos deixavam com duacutevidas durante as disciplinas pois seus
compromissos como docentes e a luta por uma mesma causa (educaccedilatildeo do campo)
nos tornavam a cada aula defensores compromissados com a educaccedilatildeo do campo
proporcionando ao mesmo tempo teorias que nos faziam criticar os modelos sobre os
quais ciecircncias satildeo ensinada nas salas de aula
Aleacutem disso eacute importante ressaltar que por ser oriunda de AbaetetubaParaacute
aproximadamente a quatrocentos e cinquenta e seis quilocircmetros da cidade de Marabaacute
onde cursei Educaccedilatildeo do Campo trazia comigo um diferencial pois abordava em
meus trabalhos minhas experiecircncias do campesinato de minha localidade o que para a
realidade onde a maioria dos discentes eram da regiatildeo de Marabaacute era totalmente novo
assim como fora no inicio para mim
Tudo aquilo que eu mostrava durante as apresentaccedilotildees dos Trabalhos de
Campo do Tempo-Comunidade por ser desconhecido ficava mais interessante e nessas
13
trocas de conhecimentos passaacutevamos a perceber outras regiotildees tatildeo pertinho de noacutes e
juntos misturaacutevamos nossas crenccedilas costumes tradiccedilotildees mitos e histoacuterias essas
contadas na sala da diversidade cultural
O Curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz novos pressupostos
de educaccedilatildeo com uma formaccedilatildeo de sujeitos diferenciados possibilita que o educador
do campo e alunos realizem a troca de conhecimento e adequem esse processo de
forma mais agradaacutevel para ambos
De acordo com CORDEIRO REIS amp HAGE (2011) a Pedagogia da
Alternacircncia eacute uma estrateacutegia bem pensada que articula espaccedilos educativos concebe
que a educaccedilatildeo pode se realizar tanto em sala de aula quanto nos outros espaccedilos que
compotildeem o conviacutevio social dos alunos Os educandos do campo podem assim ter
acesso agrave escola sem ter que abandonar o trabalho sem deixar de lado o aprendizado
proveniente da vida na sua comunidade
Desta forma o que propotildee esta praacutetica pedagoacutegica eacute que o educando possa
refletir sobre sua proacutepria realidade seja capaz de aplicar os conhecimentos cientiacuteficos
que apreende no espaccedilo formal de educaccedilatildeo em seu cotidiano
O curso de Educaccedilatildeo do campo faz uso estrateacutegico dessa metodologia pois
se encontra dividido em dois periacuteodos especiacuteficos o primeiro chamado Tempo-
Universidade ocorre em janeiro-fevereiro e julho e Agosto neste periacuteodo os alunos de
diferentes localidades juntos em sala preparam momentos de trocas experiecircncias e de
conhecimentos durante seminaacuterios debates rodas de conversas
Ocorre todo um aprendizado teoacuterico de autores das aacutereas de sociologia filosofia
histoacuteria geografia e de educadores do campo No Tempo-Universidade aprendemos o
modo como conversar com a comunidade para obter as informaccedilotildees e conhecimentos
necessaacuterios para serem repassados em nosso acircmbito familiar e educacional deixando em
cada um algo que os toquem socialmente
O segundo periacuteodo ocorre nos meses que estamos fora da Universidade eacute
denominado de Tempo-Comunidade (T-C) Durante esse tempo colocamos em praacutetica
tudo o que aprendemos na academia cientifica em comunidades ribeirinhas
quilombolas indiacutegenas e outras
Durante os trabalhos de Campo no periacuteodo Tempo-Comunidade para pocircr
em praacutetica o que aprendemos em sala de aula presenciei por diversas vezes o modo
como os professores do Sistema de Organizaccedilatildeo de Ensino Modular (SOME)
professores esses que se movimentam de comunidade em comunidade ministravam
14
suas aulas durante dois meses em cada escola trazendo estilos de conhecimentos
(saberes cientiacuteficos) que aprenderam nas universidades que por vezes natildeo condiziam
com as realidades da comunidade ribeirinha que eu fazia minha praacutetica de ensino
Tendo por base os nossos conhecimentos cotidianos que constroem nossas
identidades cada educando escolheu um local para o desenvolvimento do respectivo
Trabalho de Campo partindo de uma das primeiras aulas ministradas pela professora
Dra Idelma Santiago sobre Aacutervores Genealoacutegicas no Tempo Universidade na qual
fizemos uma investigaccedilatildeo metodoloacutegica a fim de reconhecermos os saberes do lugar
de onde viemos
Escolhi entatildeo uma dentre as setenta e duas Ilhas ribeirinhas de Abaetetuba
situada no Rio TucumandubandashMeacutedio sendo este um dos afluentes do Rio Paraacute da
cidade de Abaetetuba O interesse pelo tema da educaccedilatildeo em educaccedilatildeo do campo
surgiu ainda na graduaccedilatildeo durante palestras estudos debates seminaacuterios para lutar
pelo reconhecimento de uma forma de ensinar dos Educadores do Campo no Campo
para a construccedilatildeo de Saberes e Dizeres na regiatildeo ribeirinha ou no lugar em que ela
aconteccedila
Atraveacutes de observaccedilotildees dos trabalhos de campo e do Tempo-comunidade
realizados durante as disciplinas do Tempo Universidade me despertou o interesse em
aprofundar meus conhecimentos nessa aacuterea levando-me para uma discussatildeo teoacuterica e
praacutetica da qual minha preocupaccedilatildeo ocorre ateacute os dias de hoje pois professores que
tiveram uma educaccedilatildeo bastante cartesiana e urbana levam para as comunidades
ribeirinhas os conhecimentos que aprenderam nas Universidades como modelos isto
eacute servem para explicar a realidade em qualquer contexto seja na cidade urbanizada
seja nos interiores ribeirinhos natildeo se atentando para a valorizaccedilatildeo do conhecimento
local
A ecircnfase principal deste Trabalho de Conclusatildeo do Curso (TCC) reside em
evidenciar como os professores ministram suas aulas nas regiotildees ribeirinhas se
incorporam ou natildeo os conhecimentos do cotidiano de seus alunos para explicar as
disciplinas e com isso valorizar os conhecimentos locais como meio de explicaccedilatildeo da
realidade
Para tanto se utilizaraacute de um meacutetodo nas ciecircncias humanas a observaccedilatildeo
participante aleacutem de entrevistas formais e conversas informais com os professores da
escola Nossa Senhora de Guadalupe
15
Assim sendo este trabalho estaacute estruturado da seguinte forma no capiacutetulo 1
intitulado A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha busca-se mostrar um
pouco do surgimento da Educaccedilatildeo do Campo no contexto nacional
O capiacutetulo 2 denominado De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe localiza a
comunidade e aborda a experiecircncia de inserccedilatildeo no loacutecus fazendo uso de imagens para
melhor ambientar o leitor
No capiacutetulo 3 chamado Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais
objetiva descrever como a articulaccedilatildeo entre diferentes conhecimentos no cotidiano da
sala de aula
No capitulo 4 nomeado (Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo
do Campo procura-se relacionar como os conhecimentos cientiacuteficos de um lado e os
conhecimentos tradicionais de outro se datildeo ou deveriam se dar nas aulas
Nas Consideraccedilotildees Finais tenta-se evidenciar um pouco como este
trabalho pode contribuir para outras anaacutelises similares com outros recortes empiacutericos em
trabalhos posteriores
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Capitulo 1
A Educaccedilatildeo do Campo em uma comunidade Ribeirinha
A Educaccedilatildeo do Campo surgiu no seacuteculo passado e colocava em evidencia os
processos de exclusatildeo social poliacutetica econocircmica e cultural que os ldquopovosrdquo ou
ldquocomunidadesrdquo tradicionais vinham e ainda vem sofrendo em diversas regiotildees do Paiacutes
O curso vem trazendo esse olhar multifacetado da realidade do campo
como por exemplo na exploraccedilatildeo e escravizaccedilatildeo de populaccedilotildees indiacutegenas e africanos e
suas vaacuterias etnias em nosso paiacutes desde seu descobrimento assim como suas
consequecircncias nos dias atuais que formavamformam as realidades dos sujeitos por
vezes antagocircnicas da qual Maria Antocircnia de Souza (2010) aponta que
A educaccedilatildeo do Campo surge como novo paradigma para pensar os sujeitos
do campo valorizando seus trabalhos trabalhadores suas particularidades
contradiccedilotildees e organizaccedilatildeo cultural como praacutexis Ela se coloca contra o
paradigma da educaccedilatildeo rural ou seja aquela que esta vinculada aos
interesses do governo como agronegoacutecio do capitalismo agraacuterio e ao
fortalecimento das poliacuteticas do esvaziamento dos sujeitos do campo
(SOUZA 2010)
Isso porque atraveacutes de propagandas ou raacutedios bancos financiadores e outros
meios mostram os investimentos e avanccedilos no campo (elite empresarial) cuja realidade
concreta desses sujeitos vem se tornando mais conhecida por meio de pressotildees de
movimentos sociais organizados na luta por uma educaccedilatildeo de qualidade para os
trabalhadores do campo como nos diz Maria Isabel Pinheiro (2011) para quem
antagonicamente
Inovaram no maquinaacuterio no aumento da produccedilatildeo de gratildeo nos agrotoacutexicos
alteraccedilotildees dos genes das sementes para exportaccedilatildeo em larga escala Mas os
que tem usufruiacutedo desses avanccedilos satildeo pequenos grupos de latifundiaacuterios
empresaacuterios banqueiros e poliacuteticos nacionais e internacionais enquanto a
outros eacute negado o acesso a terra para sobreviver e garantir o sustento de
outros brasileiros (PINHEIRO 2011)
Dessa forma eacute que os Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST) ONGS educadores educando e sociedade civil se articularam e se articulam haacute
tempos lutando e pressionando o governo Federal Estadual e Municipal e em prol de
poliacuteticas puacuteblicas para criar alternativas de permanecircncia dos jovens e trabalhadores do
campo no campo atraveacutes de financiamentos assistecircncia teacutecnica educaccedilatildeo entre outros
Isso vem ocorrendo com a preocupaccedilatildeo de que se valorize os conhecimentos
locais e se planeje o modo mais adequado para uma educaccedilatildeo de qualidade para que
esses jovens possam se qualificar adquirindo saber cientiacutefico e ao mesmo tempo a
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partir da valorizaccedilatildeo de seu lugar como espaccedilo de lutas e resistecircncias para o
reconhecimento de suas comunidades reelaborar
Conforme nos aponta Fernandes (2005) o campo eacute formado por diversos
territoacuterios que aborda todas as espeacutecies de relaccedilotildees humanas O campo requer demandas
distintas cada territoacuterio que forma o campo eacute dotado de particularidades desta categoria
emergem diversas relaccedilotildees Por isso a educaccedilatildeo no campo deve ser pensada
essencialmente dentro de cada contexto caso seja pensada fora dele natildeo eacute educaccedilatildeo
torna-se dominaccedilatildeo
Ainda em diaacutelogo com o autor temos que a educaccedilatildeo no campo surge no
sentido de tornar o indiviacuteduo ocupante dos territoacuterios do campo protagonista do
processo de construccedilatildeo de seu territoacuterio considerando as especificidades deste
Dessa forma autores como Roseli Caldart cuja produccedilatildeo versa sobre
movimentos sociais do campo educaccedilatildeo escola pedagogia do movimento e Bernardo
Manccedilano Fernandes (2008) que aborda principalmente teorias dos territoacuterios
paradigmas da questatildeo agraacuteria e do capitalismo agraacuterio reforma agraacuteria
desenvolvimento territorial Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
tem sido inspiraccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para os novos pesquisadores da Educaccedilatildeo do
Campo como ressalta Fernandes (2008)
No movimento de debate e contestaccedilatildeo da politica e da educaccedilatildeo rural
empreendido pelos movimentos sociais do campo emergem uma nova
concepccedilatildeo de educaccedilatildeo denominada Educaccedilatildeo do Campo (FERNANDES
2008)
No campo mais especiacutefico essas lutas e o conceito de educaccedilatildeo do campo se
fortaleceu e ganhou destaque a partir da I Conferencia Nacional por uma Educaccedilatildeo
Baacutesica do Campo realizada no ano de 1998 a partir dela foram elaborados trabalhos e
coletacircneas versando sobre Educaccedilatildeo do Campo que vieram relatar o processo de sua
construccedilatildeo e fortalecer as demandas por politicas publicas em vaacuterios aspectos da vida
no campo
Nesse mesmo contexto eacute verificada uma grande necessidade em se ter
profissional de educaccedilatildeo especiacutefica para as aacutereas do campo isto eacute profissionais que
possuiacutessem formaccedilatildeo especiacutefica (licenciatura) poacutes-graduaccedilotildees eou aperfeiccediloamentos
na aacuterea da educaccedilatildeo do campo
Para isso foram lanccediladas poliacuteticas quanto agrave educaccedilatildeo formal para
professores como nas licenciaturas em Educaccedilatildeo do Campo seja nas Universidades
Federais (UFS) seja por meio da Formaccedilatildeo continuada Plano Nacional de Formaccedilatildeo de
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Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica (PARFOR) aleacutem de diversificaccedilatildeo das experiecircncias
educativas no campo a exemplo das Casas Familiares Rurais a construccedilatildeo da Escola
Famiacutelia Agriacutecola (EFA) Escolas Itinerantes que ajudam na ampliaccedilatildeo do conhecimento
e ao direito de comunidades ribeirinhas como a de Guadalupe em Abaetetuba a terem
educaccedilatildeo de qualidade e que valorize os conhecimentos locais como salienta Roseli
Caldart (2008)
A Educaccedilatildeo do Campo natildeo se conduz ao debate da escola da formaccedilatildeo
formal ou das propostas pedagoacutegicas A materialidade educativa de origem
da educaccedilatildeo do campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos
da produccedilatildeo e das lutas sociais do campo (CALDART 2008)
A educaccedilatildeo do Campo pretende ir aleacutem das fronteiras educacionais que
antagonizam os curriacuteculos entre cidade e campo como ressalta a Lei de Diretrizes e
Base da Educaccedilatildeo Nacional (1996) ldquoque a oferta da educaccedilatildeo baacutesica agrave populaccedilatildeo rural
natildeo eacute a mesma compreensatildeo dos movimentos sociais e da academia cientiacutefica em
relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do campordquo pois ela (LDB) se volta agrave lapidaccedilatildeo de matildeo de obra
visando o mercado de trabalho sendo isso uma de suas bases e objetivos que buscam
preparar os jovens para o mercado de trabalho seja este no ensino fundamental meacutedio
teacutecnico ou superior como uma preparaccedilatildeo de grande ldquovalorizaccedilatildeordquo
E a educaccedilatildeo do campo traz uma proposta que trabalha com a realidade de
trabalhadores e trabalhadoras do campo relacionada ao trabalho que eles desenvolve no
campo pois precisa-se perceber que ele possui uma caracteriacutestica proacutepria que o
diferencia da sociedade urbana as quais devem ser planejadas pelos educadores da
educaccedilatildeo considerando o meio de onde se fala fazer com que esses sujeitos se
identifique e lute pelos seus direitos enquanto uma sociedade pensada com sua
participaccedilatildeo nos processos educacionais vinculada a sua cultura e necessidades humanas
e sociais
A Educaccedilatildeo do Campo propotildee por isso para as aacutereas ribeirinhas como para
pescadores agricultores e artesatildeos que atraveacutes das organizaccedilotildees possam reivindicar
melhorias e ampliaccedilatildeo na aacuterea escolar infraestrutura para que o ensino chegue ateacute eles
de forma a valorizar os conhecimentos de seus cotidianos e natildeo que eles saiam ou
abandonem seus costumes
Sabemos que a categoria campo natildeo eacute uma categoria homogecircnea ela
engloba diversos grupos sociais que habitam regiotildees geograficamente distintas entatildeo
natildeo podemos pensar em Educaccedilatildeo no Campo sem saber de qual campo estamos falando
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Essa localidade do qual falo eacute o contexto habitado pelas comunidades das margens do
rio tucumanduba
Nessas localidades o meio impotildee sua dinacircmica agrave vida social e isso
aprofunda a relaccedilatildeo do homem com a natureza ldquoo imaginaacuterio eacute rico e o ribeirinho faz
uso desse imaginaacuterio para explicar fenocircmenos da naturezardquo (LOUREIRO 1995)
Por isso a educaccedilatildeo do campo e curriacuteculo escolar deve estar voltados para
as especificidades do contexto camporibeirinho no caso deste trabalho realizando as
atividades de acordo com o local onde o curriacuteculo deve ser construiacutedo levando em
consideraccedilatildeo aspectos da cultura e da dinacircmica local festividades imaginaacuterios e ateacute as
proacuteprias condiccedilotildees impostas pelo meio Valorizando conhecimentos locais para que os
alunos se situem no fazer escolar e contribua para que saberes e tradiccedilotildees se
reproduzam e se recriem na comunidade seja no vieacutes da tradiccedilatildeo oral seja no vieacutes da
educaccedilatildeo formal ou informal
Dessa forma passamos a perceber a produccedilatildeo cultural social e econocircmica do
local sendo importante para a construccedilatildeo de uma identidade reconhecida seja ela em
acircmbito nacional ou internacional de respeito e valorizaccedilatildeo da pessoa humana ajudando
assim a (re)orientar aqueles que cheguem nessas escolas e nas comunidades ribeirinhas
Assim quando se fala em educaccedilatildeo do campo fala-se em reforma agraacuteria
de construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de biodiversidade de debates sobre cultura
politicas puacuteblicas sendo preciso o tempo todo fazer e refazer as leituras poliacutetico-
pedagoacutegicas econocircmicas e culturais a partir dessas comunidades e das contradiccedilotildees que
nelas estatildeo postas dentro da loacutegica neoliberal que deve ser criticada se queremos uma
Educaccedilatildeo do Campo que efetive ao que se propotildee
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Capitulo 2
De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe
O Rio Tucumanduba estaacute localizado no municiacutepio de Abaetetuba1 cidade a
duas horas de Beleacutem sendo ambas do Estado do Paraacute Estaacute dividido em Baixo Alto e
Meacutedio Tucumanduba sendo que cada um desses cursos do rio se organizam em torno
de uma comunidade que possuem escolas e igrejas (catoacutelicas ou evangeacutelicas) A
localidade e escola escolhidas para esta pesquisa se situa no rio Tucumanduba meacutedio
Durante as idas para a comunidade para realizar as praacuteticas docentes em
educaccedilatildeo do campo compartilhar e receber saberes da comunidade ribeirinha entre
alunos professores pais parentes e amigos se observa muita simplicidade em cada um
com seus modos de vivecircncia como se movimentam nas canoas andam ou correm no
ldquomiritizerordquo 2 ou como caminham tatildeo firmemente nas pontes e que agrave noite sentam na
ldquocabeccedila da ponterdquo como dizem os moradores locais
Para compartilharem os saberes dos mais velhos da comunidade de suas
tradiccedilotildees suas regras e modos de vivecircncia na ldquocalmariardquo em um lugar de vaacuterzea
contos histoacuterias com exuberante imensidatildeo de aacutegua aacutervores e animais que leva e traz
conhecimentos entre os rios e mareacutes de comunidades a comunidades assim como agraves
cidades em que os moradores circulam (vendem seu produtos como o accedilaiacute) como em
Abaetetuba Beleacutem e outras cidades
O trajeto das ldquofreteirasrdquo3 que sai das comunidades ribeirinhas ateacute a cidade
de Abaetetuba eacute feito de porto em porto buscando passageiros por volta das quatro
horas da manhatilde As ldquofreteirasrdquo transportam aleacutem de pessoas que vatildeo para fazer vendas
de seus produtos (accedilaiacute peixe farinha e outros) produtos trazidos da cidade e pessoas
(crianccedilas jovens e velhos) que procuram hospitais ou cliacutenicas entre outros
Chegando ao porto ou trapiche de Abaetetuba( imagem nordm 01) por volta das
seis horas da manhatilde os passageiros ou vem conversando ou dormindo no barco ateacute
1 Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio de
Abaetetuba possui uma populaccedilatildeo de 141054 habitantes sendo que 82950 vivem na cidade e 58104
vivem na zona ruralcampo nas inuacutemeras colocircnias rios igarapeacutes e ilhas A populaccedilatildeo ribeirinha em
especial eacute muito grande e satildeo isentos de seguranccedila serviccedilos baacutesico de sauacutede aacutereas de lazer entre outros
dependendo exclusivamente da cidade 2 ldquoMiritizerordquo tronco de aacutervore geralmente que eacute colocada como uma espeacutecie de ponte entre a terra e o
rio 3 ldquoFreteirasrdquo barcos ou embarcaccedilotildees de grande meacutedio ou pequeno porte que transportam moradores dos
rios ateacute agraves cidades no caso deste trabalho para Abaetetuba
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chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove
horas da manhatilde
Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba
Fonte Google Imagens2015
Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para
regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o
tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de
gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto
ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu
destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas
com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de
transporte para esse local o hidroviaacuterio
Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava
em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das
aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares
observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas
baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que
atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo
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Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que
estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio
(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por
virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha
famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como
algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta
pesquisa
De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos
que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios
de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que
satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em
um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem
natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute
integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense
o ribeirinho
Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia
enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de
dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola
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Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem
nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso
passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja
Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de
Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como
Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os
alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir
Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas
denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf
Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um
passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local
Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e
Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade
de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental
Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino
satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de
Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo
anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo
O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele
vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo
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do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de
conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de
recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia
de cursar o ensino meacutedio
Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de
rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com
carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura
saberes e processos histoacutericos
Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado
dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos
com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e
permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade
identidade e saberes locais debatidos em sala de aula
Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se
levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se
dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a
complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com
que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo
o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na
zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas
movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se
compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas
A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado
estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$
600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno
professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente
de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor
Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada
moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito
educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas
delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola
informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que
hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado
25
uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo
voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4
O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de
ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em
formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para
os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e
ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas
diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual
Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de
accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas
famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou
aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha
conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador
associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs
durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de
paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada
regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos
durante esse periacuteodo
Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de
comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo
na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da
quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico
4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da
Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA
26
Capitulo 3
Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais
Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco
da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de
Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema
de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em
relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos
possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de
educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo
Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo
as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro
do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como
organizam os conteuacutedos
Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam
meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo
do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do
27
campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso
somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta
pesquisa
Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes
localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como
Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros
Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os
coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra
localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)
Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz
parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba
com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo
ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois
passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo
ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas
e continua
Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos
dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar
seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
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Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter
viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a
necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que
o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas
aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua
Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo
dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles
exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural
poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida
cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas
comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios
primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e
acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social
dentro de sua comunidade
A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz
conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de
idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos
artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de
idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns
momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e
adultos
Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo
entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo
aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo
dessa comunidade
Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante
no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o
sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em
qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes
culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade
5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades
segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do
presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo
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Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o
trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu
dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta
Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o
entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e
conferem sentido agrave sua existecircnciardquo
Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu
acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana
desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito
antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os
mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e
chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola
Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo
comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem
outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno
quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute
patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo
apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater
o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7
estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo
da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe
atrasa a chegada
Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees
podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo
do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo
sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)
legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento
promovendo a Pedagogia da Alternacircncia
Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se
estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se
tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento
6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo
7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que
navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente
30
alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas
experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de
aprendizagens a partir desse movimento
Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador
do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes
agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma
troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais
Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)
interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os
modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam
desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso
levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida
em comunidade
O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por
exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas
e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de
aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao
ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia
Andrade (1993)
Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades
agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido
os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem
no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a
educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud
ANDRADE 1993)
Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de
experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa
diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da
pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos
pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais
legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes
semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e
elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural
8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore
apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto
das aacutervores
31
Capitulo 4
(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo
A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a
base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um
novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem
na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e
que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar
pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa
histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade
Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que
traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave
permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes
valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos
organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida
As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que
sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os
professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona
pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho
pedagoacutegico
Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola
da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de
educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e
das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)
Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o
grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se
trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees
sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua
particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos
sociais e da cultura como praacutexis
Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de
profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que
eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas
32
dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo
em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias
indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas
lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades
ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de
trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a
educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a
isto que ela se propotildee
E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando
estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas
histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e
se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo
Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as
escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas
recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de
2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam
ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os
alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de
chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no
processo de ensino- aprendizagem
Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo
natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse
em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e
meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam
durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua
trajetoacuteria
O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser
humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as
comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da
histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de
conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos
alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de
forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo
esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes
33
Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos
educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de
descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar
democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica
e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos
ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do
conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como
um criacutetico- dialeacutetico
De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de
apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros
fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e
suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que
passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o
conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico
despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos
O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de
conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do
campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo
praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social
direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora
Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de
ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da
cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de
educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na
cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias
Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do
Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de
mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem
curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)
Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia
profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino
possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo
aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta
(FREIRE 2003)
34
Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam
realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos
livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se
afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)
A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do
conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica
tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu
desmascaramento (FREIRE 2003)
Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de
dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo
precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo
diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do
aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos
negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos
Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro
preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se
antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio
com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na
formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde
emerge esse profissional
Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a
valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de
nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador
existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo
humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo
O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a
desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do
discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-
existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e
poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)
Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na
educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a
comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue
persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar
35
traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia
essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os
educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos
troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que
se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se
preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da
perseveranccedilardquo
O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que
devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates
mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa
cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na
historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em
possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)
Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e
aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o
pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos
seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos
desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser
livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire
(2001)
E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza
(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade
(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes
(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades
accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo
(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute
possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar
social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de
cultura de educaccedilatildeordquo
36
Consideraccedilotildees Finais
A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo
simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no
e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo
Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na
busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos
cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem
desenvolvido em um contexto ribeirinho
Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o
propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as
demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do
Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu
histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar
Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir
articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar
em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas
educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o
professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes
desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que
possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem
A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar
os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja
percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo
educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas
verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto
profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a
educaccedilatildeo do campo
A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos
professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte
no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria
Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores
comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo
conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo
37
encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da
comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo
Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os
processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees
para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo
soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos
curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos
inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do
Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo
acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees
38
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Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase
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Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008
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Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar
lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb
ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015
Agradecimentos
Agradeccedilo primeiramente a Deus ser este que representa minha forccedila
espiritual a vontade de superar e seguir em minha jornada pois durante meu percurso
para chegar ateacute aqui
A Alessandra Nery que abriu as portas da cidade de Marabaacute para que
pudesse conhecer Yara Alves e a Famiacutelia Nascimento que ateacute hoje compartilhamos o
mesmo teto e encontramos forccedilas para continuar longe de nossas famiacutelias durante as
feacuterias para estudar e nos adotando como parte da sua Dona Deuza Dona Dilza Seu
Ferdinando Frederico Vincci Fernanda Nascimento (nossa matildee natildeo soacute no periacuteodo
intervalar) Sabrina Nascimento e outros
As novas amizades construiacutedas na corporaccedilatildeo de Bombeiros que me
ensinaram durante as comemoraccedilotildees o respeito para com o proacuteximo agradeccedilo
profundamente pelo tempo passado com vocecircs
A Adriana Silva Neuza Rodrigues Ruth e Raquel que me acolheram em
suas casas e estimularam a prosseguir com os estudos nas horas difiacuteceis
Agrave minha matildee (Maria da conceiccedilatildeo Correa Moreira) que desde quando nasci
assumiu a total responsabilidade de me criar e educar repassando os ensinamentos de
lealdade e sinceridade sem ajuda de outros meios a natildeo ser atraveacutes do seu trabalho de
sol a sol para que eu e meu irmatildeo pudeacutessemos chegar a concluir um ensino superior
A Dielly da Silva Castro amp Francisco Moreira Ribeiro Neto que me
ajudaram na organizaccedilatildeo e correccedilatildeo desse TCC para que eu pudesse concluir este
trabalho a tempo me dando forccedila e puxotildees de orelha para termina-lo
A meu noivo (Jonnes Matos Silva) que trabalhava durante a semana e nos
fins de semana natildeo media esforccedilos para poder me ajudar na coleta de dados e me dando
forccedilas nos momentos de perdas que influenciaram totalmente em minha vida cotidiana
Obrigada meu Deus por colocar essa pessoa em meu caminho e que possamos seguir ateacute
o fim de nossas vidas Obrigada
As minhas amigas Marcia Cardoso e Gil Carvalho por estarmos juntas nas
alegrias e tristezas como na perda de nossa amiga Renata Kelly Paes (In Memoacuteria) a
qual tinha planos de terminar nosso curso de graduaccedilatildeo juntas e dai ficarmos ricas (nas
brincadeiras) Obrigada meninas pela forccedila
A minha famiacutelia e as historias das Matriarcas que constituiacuteram nossos
saberes ensinamentos e aprendizados leais pois elas serviram de alicerces a nossa
coragem para seguirmos em nosso caminho
Aos Professores que formaram uma luta em prol dos povos que vivem a
margem da sociedade brasileira e que juntos a autores de diversas teorias nos
proporcionaram olhares diferentes e criacuteticos do mundo em que vivemos desde o inicio
de nossa descoberta
E a todos nossos clientes que sempre oram para que umas de minhas guerras
cheguem ao fim por ser nossos fieis colaboradores em nosso trabalho tatildeo leal e
honesto
Enfim a todos aqueles que participaram de minha formaccedilatildeo acadecircmica no
Curso de Licenciatura Plena em Educaccedilatildeo do Campo sendo este um movimento do
qual me dediquei e abracei a causa por grupos do campo como quilombolas sem terra e
ribeirinhos
Obrigada a todos
Sumaacuterio
RESUMO 08
ABSTRACT 09
LISTA DE IMAGENS 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
Capitulo 1
A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha 16
Capitulo 2
De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe 20
Capitulo 3
Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais 26
Capitulo 4
(Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo 31
Consideraccedilotildees Finais 36
Referecircncias 38
Outras referecircncias 40
Resumo
Este Trabalho analisa as praacuteticas de professores do Sistema de Organizaccedilatildeo Modular de
Ensino (SOME) da escola de Ensino Fundamental e Meacutedio Nossa Senhora de
Guadalupe localizada no Rio Tucumanduba municiacutepio de Abaetetuba Para tanto
utilizou-se autores das aacutereas da Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo do Campo e Ciecircncias Sociais
assim como entrevistas informais realizadas com os professores dessa escola
mostrando como eles desenvolvem seus curriacuteculos e processos educativos dentro da sala
de aula e se eles valorizam esses saberes Os resultados revelam preocupaccedilotildees enquanto
investigaccedilatildeo de educadores que trabalham durante anos em comunidades tradicionais
aqui apresentado na regiatildeo ribeirinha escola que trabalha desde o ensino fundamental
menor por tempo integral e o ensino meacutedio funciona em um sistema de rotatividade de
educadores integrados aos SOME que por sua vez durante conversas e entrevistas
justificados na falta de tempo pois durante sessenta dias tem que fechar a disciplina
assim natildeo restaria momentos de interaccedilatildeo com a comunidade e alunos e assim preparar
aulas que aproximemos o livro didaacutetico com a realidade do local
Palavras-Chave Rio Tucumanduba Comunidade de Guadalupe Educaccedilatildeo do Campo
Conhecimento cientiacutefico Saberes locais
Abstract
This work examines the practices of teachers Modular Teaching Organization System
(SOME) of the Elementary School and Middle School Our Lady of Guadalupe located
in Rio Tucumanduba municipality of Abaetetuba To this end we used authors of the
areas of Education education field and social sciences as well as informal interviews
with teachers of this school showing how they develop their curricula and educational
processes in the classroom and whether they value these knowledge The results reveal
concerns as research educators working for years in traditional communities presented
here on the seashore school working from the smallest elementary school full-time and
high school works on a rotation system of integrated educators to SOME which in turn
during conversations and justified interviews the lack of time because for sixty days
have to close the discipline so there would be moments of interaction with the
community and students and thus prepare lessons we approach the textbook with the
reality of the place
Keywords Rio Tucumanduba Community of Guadalupe Rural Education Scientific
knowledge and local Knowledge
Lista de Imagens
Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba (p 21)
Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe (p 22)
Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe (p 23)
Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe (p 26)
Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe (p 27)
11
Introduccedilatildeo
Quando o curso de Educaccedilatildeo do Campo foi lanccedilado pela primeira vez no
edital da entatildeo Universidade Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute hoje
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute logo me chamou atenccedilatildeo por ser um
curso ldquonovordquo no Estado do Paraacute uma vez que jaacute vinha sendo trilhado em outras
universidades a exemplo da Universidade santa Catarina (UFSC) Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Universidade de Brasiacutelia (UNB) Aleacutem disso me
chamava atenccedilatildeo tambeacutem o fato de o curso ser voltado para a aacuterea do campo que se
inserem povos ribeirinhos quilombolas e indiacutegenas Um curso preocupado com esses
grupos sociais especiacuteficos com a valorizaccedilatildeo de seus costumes saberes e dizeres e
demandas imanentes do campo
Nesse interim ao iniciar o curso em Educaccedilatildeo do Campo na Universidade
Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute 2009 fui estranhando e ao mesmo tempo me
identificando com leituras temaacuteticas e objetivos do curso Entre estranhamento
construccedilatildeo e (des) construccedilotildees o curso se mostrou muito frutiacutefero em informaccedilotildees que
me instigavam o olhar Tratava-se de um curso intervalar ou em regime de alternacircncia
pedagoacutegica realizado nos meses de janeiro-fevereiro e junho e agosto pela manhatilde e
tarde nesses meses
Como moradora do Municiacutepio de Abaetetuba a ideia que eu tinha de campo
diferia das ideias abordadas nas primeiras aulas Logo percebi como o curso estava
voltado para o contexto que marcava a regiatildeo de Marabaacute os conflitos por terra os
atores sociais integrantes do Movimento Sem Terra fazendeiros
Todos os demais alunos da turma faziam parte desse contexto estavam de
alguma forma ligados ao Movimento Sem Terra A imagem que eu possuiacutea do
movimento era totalmente deturpada formada pela miacutedia ideias do senso comum que
reforccedilavam a ideia do movimento como um grupo de pessoas que queriam o direito de
se apropriar de algo que natildeo lhes pertencia pessoas que natildeo precisavam de terras
Por conta disso nesse primeiro momento de 2009 o curso para mim natildeo
durou quinze dias durante o mecircs de julho pois resolvi deixar a Universidade natildeo soacute
por problemas pessoais mas sim por esse embate de ideias que naquele momento
quebrara as minhas expectativas em relaccedilatildeo ao curso Minha matildee estava abrindo uma
loja de confecccedilotildees eu e meu irmatildeo ajudaacutevamos na organizaccedilatildeo Com o passar do
tempo quando os negoacutecios jaacute estavam organizados resolvi voltar para a Universidade
12
na turma de 2010 que continham novos companheiros que me esclareceram e
esclarecem ateacute hoje minhas duacutevidas sobre Movimentos Sociais Organizados do
Campo
Quando reiniciei as aulas na ocasiatildeo do seminaacuterio de apresentaccedilatildeo de
Educaccedilatildeo do Campo estavam presentes lideranccedilas como Charles Trocate dos
Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e vaacuterias outras entidades
civis organizadas fazendo um interessante apanhado das lutas sociais e confrontos que
serviram de alicerce para poliacuteticas puacuteblicas e por uma Educaccedilatildeo dono Campo
valorizada e pensada para e pelos povos do campo
Durante o seminaacuterio Charles Trocate comentou sobre o iniacutecio o dos MTS
seus objetivos lutas perdas e conquistas De como eacute importante grupos se definirem e
se identificarem para que possam lutar por seus direitos montar estrateacutegias de
discussotildees com o governo para que este veja de onde a massa popular se afirma de
onde fala e que poliacuteticas puacuteblicas sejam efetivadas
O seminaacuterio me permitiu compreender que o Curso de Educaccedilatildeo do Campo
junto aos Movimentos Sociais eacute uma entre outras conquistas pois os filhos de
camponeses ribeirinho quilombolas e povos indiacutegenas estatildeo entrando nas
Universidades e se graduando se especializando para poder se expandir e mostrar que
eles (re)existir com seu modo e sua tradiccedilatildeo e juntos compartilhar conhecimentos
Nesses uacuteltimos quatro anos (2010-2014) de conhecimentos trocas de
experiecircncias e ensinamentos neste curso junto a professores vindos de diferentes
localidades e que natildeo nos deixavam com duacutevidas durante as disciplinas pois seus
compromissos como docentes e a luta por uma mesma causa (educaccedilatildeo do campo)
nos tornavam a cada aula defensores compromissados com a educaccedilatildeo do campo
proporcionando ao mesmo tempo teorias que nos faziam criticar os modelos sobre os
quais ciecircncias satildeo ensinada nas salas de aula
Aleacutem disso eacute importante ressaltar que por ser oriunda de AbaetetubaParaacute
aproximadamente a quatrocentos e cinquenta e seis quilocircmetros da cidade de Marabaacute
onde cursei Educaccedilatildeo do Campo trazia comigo um diferencial pois abordava em
meus trabalhos minhas experiecircncias do campesinato de minha localidade o que para a
realidade onde a maioria dos discentes eram da regiatildeo de Marabaacute era totalmente novo
assim como fora no inicio para mim
Tudo aquilo que eu mostrava durante as apresentaccedilotildees dos Trabalhos de
Campo do Tempo-Comunidade por ser desconhecido ficava mais interessante e nessas
13
trocas de conhecimentos passaacutevamos a perceber outras regiotildees tatildeo pertinho de noacutes e
juntos misturaacutevamos nossas crenccedilas costumes tradiccedilotildees mitos e histoacuterias essas
contadas na sala da diversidade cultural
O Curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz novos pressupostos
de educaccedilatildeo com uma formaccedilatildeo de sujeitos diferenciados possibilita que o educador
do campo e alunos realizem a troca de conhecimento e adequem esse processo de
forma mais agradaacutevel para ambos
De acordo com CORDEIRO REIS amp HAGE (2011) a Pedagogia da
Alternacircncia eacute uma estrateacutegia bem pensada que articula espaccedilos educativos concebe
que a educaccedilatildeo pode se realizar tanto em sala de aula quanto nos outros espaccedilos que
compotildeem o conviacutevio social dos alunos Os educandos do campo podem assim ter
acesso agrave escola sem ter que abandonar o trabalho sem deixar de lado o aprendizado
proveniente da vida na sua comunidade
Desta forma o que propotildee esta praacutetica pedagoacutegica eacute que o educando possa
refletir sobre sua proacutepria realidade seja capaz de aplicar os conhecimentos cientiacuteficos
que apreende no espaccedilo formal de educaccedilatildeo em seu cotidiano
O curso de Educaccedilatildeo do campo faz uso estrateacutegico dessa metodologia pois
se encontra dividido em dois periacuteodos especiacuteficos o primeiro chamado Tempo-
Universidade ocorre em janeiro-fevereiro e julho e Agosto neste periacuteodo os alunos de
diferentes localidades juntos em sala preparam momentos de trocas experiecircncias e de
conhecimentos durante seminaacuterios debates rodas de conversas
Ocorre todo um aprendizado teoacuterico de autores das aacutereas de sociologia filosofia
histoacuteria geografia e de educadores do campo No Tempo-Universidade aprendemos o
modo como conversar com a comunidade para obter as informaccedilotildees e conhecimentos
necessaacuterios para serem repassados em nosso acircmbito familiar e educacional deixando em
cada um algo que os toquem socialmente
O segundo periacuteodo ocorre nos meses que estamos fora da Universidade eacute
denominado de Tempo-Comunidade (T-C) Durante esse tempo colocamos em praacutetica
tudo o que aprendemos na academia cientifica em comunidades ribeirinhas
quilombolas indiacutegenas e outras
Durante os trabalhos de Campo no periacuteodo Tempo-Comunidade para pocircr
em praacutetica o que aprendemos em sala de aula presenciei por diversas vezes o modo
como os professores do Sistema de Organizaccedilatildeo de Ensino Modular (SOME)
professores esses que se movimentam de comunidade em comunidade ministravam
14
suas aulas durante dois meses em cada escola trazendo estilos de conhecimentos
(saberes cientiacuteficos) que aprenderam nas universidades que por vezes natildeo condiziam
com as realidades da comunidade ribeirinha que eu fazia minha praacutetica de ensino
Tendo por base os nossos conhecimentos cotidianos que constroem nossas
identidades cada educando escolheu um local para o desenvolvimento do respectivo
Trabalho de Campo partindo de uma das primeiras aulas ministradas pela professora
Dra Idelma Santiago sobre Aacutervores Genealoacutegicas no Tempo Universidade na qual
fizemos uma investigaccedilatildeo metodoloacutegica a fim de reconhecermos os saberes do lugar
de onde viemos
Escolhi entatildeo uma dentre as setenta e duas Ilhas ribeirinhas de Abaetetuba
situada no Rio TucumandubandashMeacutedio sendo este um dos afluentes do Rio Paraacute da
cidade de Abaetetuba O interesse pelo tema da educaccedilatildeo em educaccedilatildeo do campo
surgiu ainda na graduaccedilatildeo durante palestras estudos debates seminaacuterios para lutar
pelo reconhecimento de uma forma de ensinar dos Educadores do Campo no Campo
para a construccedilatildeo de Saberes e Dizeres na regiatildeo ribeirinha ou no lugar em que ela
aconteccedila
Atraveacutes de observaccedilotildees dos trabalhos de campo e do Tempo-comunidade
realizados durante as disciplinas do Tempo Universidade me despertou o interesse em
aprofundar meus conhecimentos nessa aacuterea levando-me para uma discussatildeo teoacuterica e
praacutetica da qual minha preocupaccedilatildeo ocorre ateacute os dias de hoje pois professores que
tiveram uma educaccedilatildeo bastante cartesiana e urbana levam para as comunidades
ribeirinhas os conhecimentos que aprenderam nas Universidades como modelos isto
eacute servem para explicar a realidade em qualquer contexto seja na cidade urbanizada
seja nos interiores ribeirinhos natildeo se atentando para a valorizaccedilatildeo do conhecimento
local
A ecircnfase principal deste Trabalho de Conclusatildeo do Curso (TCC) reside em
evidenciar como os professores ministram suas aulas nas regiotildees ribeirinhas se
incorporam ou natildeo os conhecimentos do cotidiano de seus alunos para explicar as
disciplinas e com isso valorizar os conhecimentos locais como meio de explicaccedilatildeo da
realidade
Para tanto se utilizaraacute de um meacutetodo nas ciecircncias humanas a observaccedilatildeo
participante aleacutem de entrevistas formais e conversas informais com os professores da
escola Nossa Senhora de Guadalupe
15
Assim sendo este trabalho estaacute estruturado da seguinte forma no capiacutetulo 1
intitulado A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha busca-se mostrar um
pouco do surgimento da Educaccedilatildeo do Campo no contexto nacional
O capiacutetulo 2 denominado De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe localiza a
comunidade e aborda a experiecircncia de inserccedilatildeo no loacutecus fazendo uso de imagens para
melhor ambientar o leitor
No capiacutetulo 3 chamado Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais
objetiva descrever como a articulaccedilatildeo entre diferentes conhecimentos no cotidiano da
sala de aula
No capitulo 4 nomeado (Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo
do Campo procura-se relacionar como os conhecimentos cientiacuteficos de um lado e os
conhecimentos tradicionais de outro se datildeo ou deveriam se dar nas aulas
Nas Consideraccedilotildees Finais tenta-se evidenciar um pouco como este
trabalho pode contribuir para outras anaacutelises similares com outros recortes empiacutericos em
trabalhos posteriores
16
Capitulo 1
A Educaccedilatildeo do Campo em uma comunidade Ribeirinha
A Educaccedilatildeo do Campo surgiu no seacuteculo passado e colocava em evidencia os
processos de exclusatildeo social poliacutetica econocircmica e cultural que os ldquopovosrdquo ou
ldquocomunidadesrdquo tradicionais vinham e ainda vem sofrendo em diversas regiotildees do Paiacutes
O curso vem trazendo esse olhar multifacetado da realidade do campo
como por exemplo na exploraccedilatildeo e escravizaccedilatildeo de populaccedilotildees indiacutegenas e africanos e
suas vaacuterias etnias em nosso paiacutes desde seu descobrimento assim como suas
consequecircncias nos dias atuais que formavamformam as realidades dos sujeitos por
vezes antagocircnicas da qual Maria Antocircnia de Souza (2010) aponta que
A educaccedilatildeo do Campo surge como novo paradigma para pensar os sujeitos
do campo valorizando seus trabalhos trabalhadores suas particularidades
contradiccedilotildees e organizaccedilatildeo cultural como praacutexis Ela se coloca contra o
paradigma da educaccedilatildeo rural ou seja aquela que esta vinculada aos
interesses do governo como agronegoacutecio do capitalismo agraacuterio e ao
fortalecimento das poliacuteticas do esvaziamento dos sujeitos do campo
(SOUZA 2010)
Isso porque atraveacutes de propagandas ou raacutedios bancos financiadores e outros
meios mostram os investimentos e avanccedilos no campo (elite empresarial) cuja realidade
concreta desses sujeitos vem se tornando mais conhecida por meio de pressotildees de
movimentos sociais organizados na luta por uma educaccedilatildeo de qualidade para os
trabalhadores do campo como nos diz Maria Isabel Pinheiro (2011) para quem
antagonicamente
Inovaram no maquinaacuterio no aumento da produccedilatildeo de gratildeo nos agrotoacutexicos
alteraccedilotildees dos genes das sementes para exportaccedilatildeo em larga escala Mas os
que tem usufruiacutedo desses avanccedilos satildeo pequenos grupos de latifundiaacuterios
empresaacuterios banqueiros e poliacuteticos nacionais e internacionais enquanto a
outros eacute negado o acesso a terra para sobreviver e garantir o sustento de
outros brasileiros (PINHEIRO 2011)
Dessa forma eacute que os Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST) ONGS educadores educando e sociedade civil se articularam e se articulam haacute
tempos lutando e pressionando o governo Federal Estadual e Municipal e em prol de
poliacuteticas puacuteblicas para criar alternativas de permanecircncia dos jovens e trabalhadores do
campo no campo atraveacutes de financiamentos assistecircncia teacutecnica educaccedilatildeo entre outros
Isso vem ocorrendo com a preocupaccedilatildeo de que se valorize os conhecimentos
locais e se planeje o modo mais adequado para uma educaccedilatildeo de qualidade para que
esses jovens possam se qualificar adquirindo saber cientiacutefico e ao mesmo tempo a
17
partir da valorizaccedilatildeo de seu lugar como espaccedilo de lutas e resistecircncias para o
reconhecimento de suas comunidades reelaborar
Conforme nos aponta Fernandes (2005) o campo eacute formado por diversos
territoacuterios que aborda todas as espeacutecies de relaccedilotildees humanas O campo requer demandas
distintas cada territoacuterio que forma o campo eacute dotado de particularidades desta categoria
emergem diversas relaccedilotildees Por isso a educaccedilatildeo no campo deve ser pensada
essencialmente dentro de cada contexto caso seja pensada fora dele natildeo eacute educaccedilatildeo
torna-se dominaccedilatildeo
Ainda em diaacutelogo com o autor temos que a educaccedilatildeo no campo surge no
sentido de tornar o indiviacuteduo ocupante dos territoacuterios do campo protagonista do
processo de construccedilatildeo de seu territoacuterio considerando as especificidades deste
Dessa forma autores como Roseli Caldart cuja produccedilatildeo versa sobre
movimentos sociais do campo educaccedilatildeo escola pedagogia do movimento e Bernardo
Manccedilano Fernandes (2008) que aborda principalmente teorias dos territoacuterios
paradigmas da questatildeo agraacuteria e do capitalismo agraacuterio reforma agraacuteria
desenvolvimento territorial Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
tem sido inspiraccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para os novos pesquisadores da Educaccedilatildeo do
Campo como ressalta Fernandes (2008)
No movimento de debate e contestaccedilatildeo da politica e da educaccedilatildeo rural
empreendido pelos movimentos sociais do campo emergem uma nova
concepccedilatildeo de educaccedilatildeo denominada Educaccedilatildeo do Campo (FERNANDES
2008)
No campo mais especiacutefico essas lutas e o conceito de educaccedilatildeo do campo se
fortaleceu e ganhou destaque a partir da I Conferencia Nacional por uma Educaccedilatildeo
Baacutesica do Campo realizada no ano de 1998 a partir dela foram elaborados trabalhos e
coletacircneas versando sobre Educaccedilatildeo do Campo que vieram relatar o processo de sua
construccedilatildeo e fortalecer as demandas por politicas publicas em vaacuterios aspectos da vida
no campo
Nesse mesmo contexto eacute verificada uma grande necessidade em se ter
profissional de educaccedilatildeo especiacutefica para as aacutereas do campo isto eacute profissionais que
possuiacutessem formaccedilatildeo especiacutefica (licenciatura) poacutes-graduaccedilotildees eou aperfeiccediloamentos
na aacuterea da educaccedilatildeo do campo
Para isso foram lanccediladas poliacuteticas quanto agrave educaccedilatildeo formal para
professores como nas licenciaturas em Educaccedilatildeo do Campo seja nas Universidades
Federais (UFS) seja por meio da Formaccedilatildeo continuada Plano Nacional de Formaccedilatildeo de
18
Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica (PARFOR) aleacutem de diversificaccedilatildeo das experiecircncias
educativas no campo a exemplo das Casas Familiares Rurais a construccedilatildeo da Escola
Famiacutelia Agriacutecola (EFA) Escolas Itinerantes que ajudam na ampliaccedilatildeo do conhecimento
e ao direito de comunidades ribeirinhas como a de Guadalupe em Abaetetuba a terem
educaccedilatildeo de qualidade e que valorize os conhecimentos locais como salienta Roseli
Caldart (2008)
A Educaccedilatildeo do Campo natildeo se conduz ao debate da escola da formaccedilatildeo
formal ou das propostas pedagoacutegicas A materialidade educativa de origem
da educaccedilatildeo do campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos
da produccedilatildeo e das lutas sociais do campo (CALDART 2008)
A educaccedilatildeo do Campo pretende ir aleacutem das fronteiras educacionais que
antagonizam os curriacuteculos entre cidade e campo como ressalta a Lei de Diretrizes e
Base da Educaccedilatildeo Nacional (1996) ldquoque a oferta da educaccedilatildeo baacutesica agrave populaccedilatildeo rural
natildeo eacute a mesma compreensatildeo dos movimentos sociais e da academia cientiacutefica em
relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do campordquo pois ela (LDB) se volta agrave lapidaccedilatildeo de matildeo de obra
visando o mercado de trabalho sendo isso uma de suas bases e objetivos que buscam
preparar os jovens para o mercado de trabalho seja este no ensino fundamental meacutedio
teacutecnico ou superior como uma preparaccedilatildeo de grande ldquovalorizaccedilatildeordquo
E a educaccedilatildeo do campo traz uma proposta que trabalha com a realidade de
trabalhadores e trabalhadoras do campo relacionada ao trabalho que eles desenvolve no
campo pois precisa-se perceber que ele possui uma caracteriacutestica proacutepria que o
diferencia da sociedade urbana as quais devem ser planejadas pelos educadores da
educaccedilatildeo considerando o meio de onde se fala fazer com que esses sujeitos se
identifique e lute pelos seus direitos enquanto uma sociedade pensada com sua
participaccedilatildeo nos processos educacionais vinculada a sua cultura e necessidades humanas
e sociais
A Educaccedilatildeo do Campo propotildee por isso para as aacutereas ribeirinhas como para
pescadores agricultores e artesatildeos que atraveacutes das organizaccedilotildees possam reivindicar
melhorias e ampliaccedilatildeo na aacuterea escolar infraestrutura para que o ensino chegue ateacute eles
de forma a valorizar os conhecimentos de seus cotidianos e natildeo que eles saiam ou
abandonem seus costumes
Sabemos que a categoria campo natildeo eacute uma categoria homogecircnea ela
engloba diversos grupos sociais que habitam regiotildees geograficamente distintas entatildeo
natildeo podemos pensar em Educaccedilatildeo no Campo sem saber de qual campo estamos falando
19
Essa localidade do qual falo eacute o contexto habitado pelas comunidades das margens do
rio tucumanduba
Nessas localidades o meio impotildee sua dinacircmica agrave vida social e isso
aprofunda a relaccedilatildeo do homem com a natureza ldquoo imaginaacuterio eacute rico e o ribeirinho faz
uso desse imaginaacuterio para explicar fenocircmenos da naturezardquo (LOUREIRO 1995)
Por isso a educaccedilatildeo do campo e curriacuteculo escolar deve estar voltados para
as especificidades do contexto camporibeirinho no caso deste trabalho realizando as
atividades de acordo com o local onde o curriacuteculo deve ser construiacutedo levando em
consideraccedilatildeo aspectos da cultura e da dinacircmica local festividades imaginaacuterios e ateacute as
proacuteprias condiccedilotildees impostas pelo meio Valorizando conhecimentos locais para que os
alunos se situem no fazer escolar e contribua para que saberes e tradiccedilotildees se
reproduzam e se recriem na comunidade seja no vieacutes da tradiccedilatildeo oral seja no vieacutes da
educaccedilatildeo formal ou informal
Dessa forma passamos a perceber a produccedilatildeo cultural social e econocircmica do
local sendo importante para a construccedilatildeo de uma identidade reconhecida seja ela em
acircmbito nacional ou internacional de respeito e valorizaccedilatildeo da pessoa humana ajudando
assim a (re)orientar aqueles que cheguem nessas escolas e nas comunidades ribeirinhas
Assim quando se fala em educaccedilatildeo do campo fala-se em reforma agraacuteria
de construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de biodiversidade de debates sobre cultura
politicas puacuteblicas sendo preciso o tempo todo fazer e refazer as leituras poliacutetico-
pedagoacutegicas econocircmicas e culturais a partir dessas comunidades e das contradiccedilotildees que
nelas estatildeo postas dentro da loacutegica neoliberal que deve ser criticada se queremos uma
Educaccedilatildeo do Campo que efetive ao que se propotildee
20
Capitulo 2
De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe
O Rio Tucumanduba estaacute localizado no municiacutepio de Abaetetuba1 cidade a
duas horas de Beleacutem sendo ambas do Estado do Paraacute Estaacute dividido em Baixo Alto e
Meacutedio Tucumanduba sendo que cada um desses cursos do rio se organizam em torno
de uma comunidade que possuem escolas e igrejas (catoacutelicas ou evangeacutelicas) A
localidade e escola escolhidas para esta pesquisa se situa no rio Tucumanduba meacutedio
Durante as idas para a comunidade para realizar as praacuteticas docentes em
educaccedilatildeo do campo compartilhar e receber saberes da comunidade ribeirinha entre
alunos professores pais parentes e amigos se observa muita simplicidade em cada um
com seus modos de vivecircncia como se movimentam nas canoas andam ou correm no
ldquomiritizerordquo 2 ou como caminham tatildeo firmemente nas pontes e que agrave noite sentam na
ldquocabeccedila da ponterdquo como dizem os moradores locais
Para compartilharem os saberes dos mais velhos da comunidade de suas
tradiccedilotildees suas regras e modos de vivecircncia na ldquocalmariardquo em um lugar de vaacuterzea
contos histoacuterias com exuberante imensidatildeo de aacutegua aacutervores e animais que leva e traz
conhecimentos entre os rios e mareacutes de comunidades a comunidades assim como agraves
cidades em que os moradores circulam (vendem seu produtos como o accedilaiacute) como em
Abaetetuba Beleacutem e outras cidades
O trajeto das ldquofreteirasrdquo3 que sai das comunidades ribeirinhas ateacute a cidade
de Abaetetuba eacute feito de porto em porto buscando passageiros por volta das quatro
horas da manhatilde As ldquofreteirasrdquo transportam aleacutem de pessoas que vatildeo para fazer vendas
de seus produtos (accedilaiacute peixe farinha e outros) produtos trazidos da cidade e pessoas
(crianccedilas jovens e velhos) que procuram hospitais ou cliacutenicas entre outros
Chegando ao porto ou trapiche de Abaetetuba( imagem nordm 01) por volta das
seis horas da manhatilde os passageiros ou vem conversando ou dormindo no barco ateacute
1 Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio de
Abaetetuba possui uma populaccedilatildeo de 141054 habitantes sendo que 82950 vivem na cidade e 58104
vivem na zona ruralcampo nas inuacutemeras colocircnias rios igarapeacutes e ilhas A populaccedilatildeo ribeirinha em
especial eacute muito grande e satildeo isentos de seguranccedila serviccedilos baacutesico de sauacutede aacutereas de lazer entre outros
dependendo exclusivamente da cidade 2 ldquoMiritizerordquo tronco de aacutervore geralmente que eacute colocada como uma espeacutecie de ponte entre a terra e o
rio 3 ldquoFreteirasrdquo barcos ou embarcaccedilotildees de grande meacutedio ou pequeno porte que transportam moradores dos
rios ateacute agraves cidades no caso deste trabalho para Abaetetuba
21
chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove
horas da manhatilde
Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba
Fonte Google Imagens2015
Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para
regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o
tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de
gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto
ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu
destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas
com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de
transporte para esse local o hidroviaacuterio
Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava
em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das
aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares
observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas
baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que
atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo
22
Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que
estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio
(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por
virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha
famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como
algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta
pesquisa
De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos
que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios
de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que
satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em
um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem
natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute
integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense
o ribeirinho
Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia
enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de
dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola
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Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem
nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso
passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja
Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de
Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como
Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os
alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir
Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas
denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf
Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um
passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local
Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e
Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade
de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental
Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino
satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de
Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo
anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo
O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele
vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo
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do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de
conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de
recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia
de cursar o ensino meacutedio
Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de
rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com
carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura
saberes e processos histoacutericos
Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado
dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos
com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e
permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade
identidade e saberes locais debatidos em sala de aula
Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se
levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se
dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a
complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com
que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo
o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na
zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas
movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se
compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas
A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado
estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$
600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno
professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente
de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor
Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada
moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito
educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas
delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola
informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que
hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado
25
uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo
voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4
O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de
ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em
formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para
os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e
ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas
diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual
Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de
accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas
famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou
aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha
conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador
associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs
durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de
paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada
regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos
durante esse periacuteodo
Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de
comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo
na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da
quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico
4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da
Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA
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Capitulo 3
Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais
Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco
da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de
Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema
de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em
relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos
possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de
educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo
Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo
as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro
do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como
organizam os conteuacutedos
Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam
meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo
do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do
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campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso
somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta
pesquisa
Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes
localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como
Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros
Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os
coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra
localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)
Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz
parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba
com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo
ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois
passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo
ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas
e continua
Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos
dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar
seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
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Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter
viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a
necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que
o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas
aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua
Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo
dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles
exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural
poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida
cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas
comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios
primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e
acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social
dentro de sua comunidade
A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz
conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de
idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos
artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de
idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns
momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e
adultos
Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo
entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo
aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo
dessa comunidade
Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante
no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o
sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em
qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes
culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade
5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades
segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do
presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo
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Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o
trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu
dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta
Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o
entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e
conferem sentido agrave sua existecircnciardquo
Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu
acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana
desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito
antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os
mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e
chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola
Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo
comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem
outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno
quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute
patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo
apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater
o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7
estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo
da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe
atrasa a chegada
Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees
podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo
do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo
sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)
legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento
promovendo a Pedagogia da Alternacircncia
Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se
estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se
tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento
6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo
7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que
navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente
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alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas
experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de
aprendizagens a partir desse movimento
Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador
do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes
agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma
troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais
Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)
interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os
modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam
desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso
levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida
em comunidade
O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por
exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas
e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de
aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao
ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia
Andrade (1993)
Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades
agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido
os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem
no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a
educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud
ANDRADE 1993)
Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de
experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa
diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da
pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos
pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais
legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes
semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e
elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural
8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore
apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto
das aacutervores
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Capitulo 4
(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo
A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a
base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um
novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem
na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e
que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar
pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa
histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade
Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que
traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave
permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes
valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos
organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida
As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que
sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os
professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona
pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho
pedagoacutegico
Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola
da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de
educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e
das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)
Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o
grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se
trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees
sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua
particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos
sociais e da cultura como praacutexis
Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de
profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que
eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas
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dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo
em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias
indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas
lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades
ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de
trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a
educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a
isto que ela se propotildee
E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando
estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas
histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e
se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo
Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as
escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas
recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de
2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam
ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os
alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de
chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no
processo de ensino- aprendizagem
Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo
natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse
em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e
meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam
durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua
trajetoacuteria
O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser
humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as
comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da
histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de
conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos
alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de
forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo
esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes
33
Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos
educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de
descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar
democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica
e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos
ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do
conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como
um criacutetico- dialeacutetico
De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de
apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros
fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e
suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que
passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o
conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico
despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos
O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de
conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do
campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo
praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social
direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora
Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de
ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da
cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de
educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na
cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias
Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do
Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de
mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem
curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)
Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia
profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino
possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo
aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta
(FREIRE 2003)
34
Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam
realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos
livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se
afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)
A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do
conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica
tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu
desmascaramento (FREIRE 2003)
Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de
dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo
precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo
diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do
aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos
negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos
Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro
preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se
antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio
com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na
formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde
emerge esse profissional
Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a
valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de
nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador
existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo
humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo
O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a
desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do
discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-
existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e
poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)
Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na
educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a
comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue
persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar
35
traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia
essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os
educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos
troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que
se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se
preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da
perseveranccedilardquo
O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que
devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates
mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa
cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na
historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em
possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)
Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e
aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o
pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos
seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos
desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser
livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire
(2001)
E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza
(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade
(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes
(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades
accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo
(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute
possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar
social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de
cultura de educaccedilatildeordquo
36
Consideraccedilotildees Finais
A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo
simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no
e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo
Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na
busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos
cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem
desenvolvido em um contexto ribeirinho
Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o
propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as
demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do
Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu
histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar
Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir
articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar
em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas
educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o
professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes
desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que
possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem
A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar
os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja
percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo
educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas
verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto
profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a
educaccedilatildeo do campo
A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos
professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte
no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria
Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores
comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo
conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo
37
encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da
comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo
Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os
processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees
para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo
soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos
curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos
inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do
Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo
acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees
38
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Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio
(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da
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Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014
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RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio
Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase
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Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar
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ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015
A minha famiacutelia e as historias das Matriarcas que constituiacuteram nossos
saberes ensinamentos e aprendizados leais pois elas serviram de alicerces a nossa
coragem para seguirmos em nosso caminho
Aos Professores que formaram uma luta em prol dos povos que vivem a
margem da sociedade brasileira e que juntos a autores de diversas teorias nos
proporcionaram olhares diferentes e criacuteticos do mundo em que vivemos desde o inicio
de nossa descoberta
E a todos nossos clientes que sempre oram para que umas de minhas guerras
cheguem ao fim por ser nossos fieis colaboradores em nosso trabalho tatildeo leal e
honesto
Enfim a todos aqueles que participaram de minha formaccedilatildeo acadecircmica no
Curso de Licenciatura Plena em Educaccedilatildeo do Campo sendo este um movimento do
qual me dediquei e abracei a causa por grupos do campo como quilombolas sem terra e
ribeirinhos
Obrigada a todos
Sumaacuterio
RESUMO 08
ABSTRACT 09
LISTA DE IMAGENS 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
Capitulo 1
A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha 16
Capitulo 2
De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe 20
Capitulo 3
Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais 26
Capitulo 4
(Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo 31
Consideraccedilotildees Finais 36
Referecircncias 38
Outras referecircncias 40
Resumo
Este Trabalho analisa as praacuteticas de professores do Sistema de Organizaccedilatildeo Modular de
Ensino (SOME) da escola de Ensino Fundamental e Meacutedio Nossa Senhora de
Guadalupe localizada no Rio Tucumanduba municiacutepio de Abaetetuba Para tanto
utilizou-se autores das aacutereas da Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo do Campo e Ciecircncias Sociais
assim como entrevistas informais realizadas com os professores dessa escola
mostrando como eles desenvolvem seus curriacuteculos e processos educativos dentro da sala
de aula e se eles valorizam esses saberes Os resultados revelam preocupaccedilotildees enquanto
investigaccedilatildeo de educadores que trabalham durante anos em comunidades tradicionais
aqui apresentado na regiatildeo ribeirinha escola que trabalha desde o ensino fundamental
menor por tempo integral e o ensino meacutedio funciona em um sistema de rotatividade de
educadores integrados aos SOME que por sua vez durante conversas e entrevistas
justificados na falta de tempo pois durante sessenta dias tem que fechar a disciplina
assim natildeo restaria momentos de interaccedilatildeo com a comunidade e alunos e assim preparar
aulas que aproximemos o livro didaacutetico com a realidade do local
Palavras-Chave Rio Tucumanduba Comunidade de Guadalupe Educaccedilatildeo do Campo
Conhecimento cientiacutefico Saberes locais
Abstract
This work examines the practices of teachers Modular Teaching Organization System
(SOME) of the Elementary School and Middle School Our Lady of Guadalupe located
in Rio Tucumanduba municipality of Abaetetuba To this end we used authors of the
areas of Education education field and social sciences as well as informal interviews
with teachers of this school showing how they develop their curricula and educational
processes in the classroom and whether they value these knowledge The results reveal
concerns as research educators working for years in traditional communities presented
here on the seashore school working from the smallest elementary school full-time and
high school works on a rotation system of integrated educators to SOME which in turn
during conversations and justified interviews the lack of time because for sixty days
have to close the discipline so there would be moments of interaction with the
community and students and thus prepare lessons we approach the textbook with the
reality of the place
Keywords Rio Tucumanduba Community of Guadalupe Rural Education Scientific
knowledge and local Knowledge
Lista de Imagens
Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba (p 21)
Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe (p 22)
Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe (p 23)
Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe (p 26)
Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe (p 27)
11
Introduccedilatildeo
Quando o curso de Educaccedilatildeo do Campo foi lanccedilado pela primeira vez no
edital da entatildeo Universidade Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute hoje
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute logo me chamou atenccedilatildeo por ser um
curso ldquonovordquo no Estado do Paraacute uma vez que jaacute vinha sendo trilhado em outras
universidades a exemplo da Universidade santa Catarina (UFSC) Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Universidade de Brasiacutelia (UNB) Aleacutem disso me
chamava atenccedilatildeo tambeacutem o fato de o curso ser voltado para a aacuterea do campo que se
inserem povos ribeirinhos quilombolas e indiacutegenas Um curso preocupado com esses
grupos sociais especiacuteficos com a valorizaccedilatildeo de seus costumes saberes e dizeres e
demandas imanentes do campo
Nesse interim ao iniciar o curso em Educaccedilatildeo do Campo na Universidade
Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute 2009 fui estranhando e ao mesmo tempo me
identificando com leituras temaacuteticas e objetivos do curso Entre estranhamento
construccedilatildeo e (des) construccedilotildees o curso se mostrou muito frutiacutefero em informaccedilotildees que
me instigavam o olhar Tratava-se de um curso intervalar ou em regime de alternacircncia
pedagoacutegica realizado nos meses de janeiro-fevereiro e junho e agosto pela manhatilde e
tarde nesses meses
Como moradora do Municiacutepio de Abaetetuba a ideia que eu tinha de campo
diferia das ideias abordadas nas primeiras aulas Logo percebi como o curso estava
voltado para o contexto que marcava a regiatildeo de Marabaacute os conflitos por terra os
atores sociais integrantes do Movimento Sem Terra fazendeiros
Todos os demais alunos da turma faziam parte desse contexto estavam de
alguma forma ligados ao Movimento Sem Terra A imagem que eu possuiacutea do
movimento era totalmente deturpada formada pela miacutedia ideias do senso comum que
reforccedilavam a ideia do movimento como um grupo de pessoas que queriam o direito de
se apropriar de algo que natildeo lhes pertencia pessoas que natildeo precisavam de terras
Por conta disso nesse primeiro momento de 2009 o curso para mim natildeo
durou quinze dias durante o mecircs de julho pois resolvi deixar a Universidade natildeo soacute
por problemas pessoais mas sim por esse embate de ideias que naquele momento
quebrara as minhas expectativas em relaccedilatildeo ao curso Minha matildee estava abrindo uma
loja de confecccedilotildees eu e meu irmatildeo ajudaacutevamos na organizaccedilatildeo Com o passar do
tempo quando os negoacutecios jaacute estavam organizados resolvi voltar para a Universidade
12
na turma de 2010 que continham novos companheiros que me esclareceram e
esclarecem ateacute hoje minhas duacutevidas sobre Movimentos Sociais Organizados do
Campo
Quando reiniciei as aulas na ocasiatildeo do seminaacuterio de apresentaccedilatildeo de
Educaccedilatildeo do Campo estavam presentes lideranccedilas como Charles Trocate dos
Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e vaacuterias outras entidades
civis organizadas fazendo um interessante apanhado das lutas sociais e confrontos que
serviram de alicerce para poliacuteticas puacuteblicas e por uma Educaccedilatildeo dono Campo
valorizada e pensada para e pelos povos do campo
Durante o seminaacuterio Charles Trocate comentou sobre o iniacutecio o dos MTS
seus objetivos lutas perdas e conquistas De como eacute importante grupos se definirem e
se identificarem para que possam lutar por seus direitos montar estrateacutegias de
discussotildees com o governo para que este veja de onde a massa popular se afirma de
onde fala e que poliacuteticas puacuteblicas sejam efetivadas
O seminaacuterio me permitiu compreender que o Curso de Educaccedilatildeo do Campo
junto aos Movimentos Sociais eacute uma entre outras conquistas pois os filhos de
camponeses ribeirinho quilombolas e povos indiacutegenas estatildeo entrando nas
Universidades e se graduando se especializando para poder se expandir e mostrar que
eles (re)existir com seu modo e sua tradiccedilatildeo e juntos compartilhar conhecimentos
Nesses uacuteltimos quatro anos (2010-2014) de conhecimentos trocas de
experiecircncias e ensinamentos neste curso junto a professores vindos de diferentes
localidades e que natildeo nos deixavam com duacutevidas durante as disciplinas pois seus
compromissos como docentes e a luta por uma mesma causa (educaccedilatildeo do campo)
nos tornavam a cada aula defensores compromissados com a educaccedilatildeo do campo
proporcionando ao mesmo tempo teorias que nos faziam criticar os modelos sobre os
quais ciecircncias satildeo ensinada nas salas de aula
Aleacutem disso eacute importante ressaltar que por ser oriunda de AbaetetubaParaacute
aproximadamente a quatrocentos e cinquenta e seis quilocircmetros da cidade de Marabaacute
onde cursei Educaccedilatildeo do Campo trazia comigo um diferencial pois abordava em
meus trabalhos minhas experiecircncias do campesinato de minha localidade o que para a
realidade onde a maioria dos discentes eram da regiatildeo de Marabaacute era totalmente novo
assim como fora no inicio para mim
Tudo aquilo que eu mostrava durante as apresentaccedilotildees dos Trabalhos de
Campo do Tempo-Comunidade por ser desconhecido ficava mais interessante e nessas
13
trocas de conhecimentos passaacutevamos a perceber outras regiotildees tatildeo pertinho de noacutes e
juntos misturaacutevamos nossas crenccedilas costumes tradiccedilotildees mitos e histoacuterias essas
contadas na sala da diversidade cultural
O Curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz novos pressupostos
de educaccedilatildeo com uma formaccedilatildeo de sujeitos diferenciados possibilita que o educador
do campo e alunos realizem a troca de conhecimento e adequem esse processo de
forma mais agradaacutevel para ambos
De acordo com CORDEIRO REIS amp HAGE (2011) a Pedagogia da
Alternacircncia eacute uma estrateacutegia bem pensada que articula espaccedilos educativos concebe
que a educaccedilatildeo pode se realizar tanto em sala de aula quanto nos outros espaccedilos que
compotildeem o conviacutevio social dos alunos Os educandos do campo podem assim ter
acesso agrave escola sem ter que abandonar o trabalho sem deixar de lado o aprendizado
proveniente da vida na sua comunidade
Desta forma o que propotildee esta praacutetica pedagoacutegica eacute que o educando possa
refletir sobre sua proacutepria realidade seja capaz de aplicar os conhecimentos cientiacuteficos
que apreende no espaccedilo formal de educaccedilatildeo em seu cotidiano
O curso de Educaccedilatildeo do campo faz uso estrateacutegico dessa metodologia pois
se encontra dividido em dois periacuteodos especiacuteficos o primeiro chamado Tempo-
Universidade ocorre em janeiro-fevereiro e julho e Agosto neste periacuteodo os alunos de
diferentes localidades juntos em sala preparam momentos de trocas experiecircncias e de
conhecimentos durante seminaacuterios debates rodas de conversas
Ocorre todo um aprendizado teoacuterico de autores das aacutereas de sociologia filosofia
histoacuteria geografia e de educadores do campo No Tempo-Universidade aprendemos o
modo como conversar com a comunidade para obter as informaccedilotildees e conhecimentos
necessaacuterios para serem repassados em nosso acircmbito familiar e educacional deixando em
cada um algo que os toquem socialmente
O segundo periacuteodo ocorre nos meses que estamos fora da Universidade eacute
denominado de Tempo-Comunidade (T-C) Durante esse tempo colocamos em praacutetica
tudo o que aprendemos na academia cientifica em comunidades ribeirinhas
quilombolas indiacutegenas e outras
Durante os trabalhos de Campo no periacuteodo Tempo-Comunidade para pocircr
em praacutetica o que aprendemos em sala de aula presenciei por diversas vezes o modo
como os professores do Sistema de Organizaccedilatildeo de Ensino Modular (SOME)
professores esses que se movimentam de comunidade em comunidade ministravam
14
suas aulas durante dois meses em cada escola trazendo estilos de conhecimentos
(saberes cientiacuteficos) que aprenderam nas universidades que por vezes natildeo condiziam
com as realidades da comunidade ribeirinha que eu fazia minha praacutetica de ensino
Tendo por base os nossos conhecimentos cotidianos que constroem nossas
identidades cada educando escolheu um local para o desenvolvimento do respectivo
Trabalho de Campo partindo de uma das primeiras aulas ministradas pela professora
Dra Idelma Santiago sobre Aacutervores Genealoacutegicas no Tempo Universidade na qual
fizemos uma investigaccedilatildeo metodoloacutegica a fim de reconhecermos os saberes do lugar
de onde viemos
Escolhi entatildeo uma dentre as setenta e duas Ilhas ribeirinhas de Abaetetuba
situada no Rio TucumandubandashMeacutedio sendo este um dos afluentes do Rio Paraacute da
cidade de Abaetetuba O interesse pelo tema da educaccedilatildeo em educaccedilatildeo do campo
surgiu ainda na graduaccedilatildeo durante palestras estudos debates seminaacuterios para lutar
pelo reconhecimento de uma forma de ensinar dos Educadores do Campo no Campo
para a construccedilatildeo de Saberes e Dizeres na regiatildeo ribeirinha ou no lugar em que ela
aconteccedila
Atraveacutes de observaccedilotildees dos trabalhos de campo e do Tempo-comunidade
realizados durante as disciplinas do Tempo Universidade me despertou o interesse em
aprofundar meus conhecimentos nessa aacuterea levando-me para uma discussatildeo teoacuterica e
praacutetica da qual minha preocupaccedilatildeo ocorre ateacute os dias de hoje pois professores que
tiveram uma educaccedilatildeo bastante cartesiana e urbana levam para as comunidades
ribeirinhas os conhecimentos que aprenderam nas Universidades como modelos isto
eacute servem para explicar a realidade em qualquer contexto seja na cidade urbanizada
seja nos interiores ribeirinhos natildeo se atentando para a valorizaccedilatildeo do conhecimento
local
A ecircnfase principal deste Trabalho de Conclusatildeo do Curso (TCC) reside em
evidenciar como os professores ministram suas aulas nas regiotildees ribeirinhas se
incorporam ou natildeo os conhecimentos do cotidiano de seus alunos para explicar as
disciplinas e com isso valorizar os conhecimentos locais como meio de explicaccedilatildeo da
realidade
Para tanto se utilizaraacute de um meacutetodo nas ciecircncias humanas a observaccedilatildeo
participante aleacutem de entrevistas formais e conversas informais com os professores da
escola Nossa Senhora de Guadalupe
15
Assim sendo este trabalho estaacute estruturado da seguinte forma no capiacutetulo 1
intitulado A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha busca-se mostrar um
pouco do surgimento da Educaccedilatildeo do Campo no contexto nacional
O capiacutetulo 2 denominado De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe localiza a
comunidade e aborda a experiecircncia de inserccedilatildeo no loacutecus fazendo uso de imagens para
melhor ambientar o leitor
No capiacutetulo 3 chamado Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais
objetiva descrever como a articulaccedilatildeo entre diferentes conhecimentos no cotidiano da
sala de aula
No capitulo 4 nomeado (Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo
do Campo procura-se relacionar como os conhecimentos cientiacuteficos de um lado e os
conhecimentos tradicionais de outro se datildeo ou deveriam se dar nas aulas
Nas Consideraccedilotildees Finais tenta-se evidenciar um pouco como este
trabalho pode contribuir para outras anaacutelises similares com outros recortes empiacutericos em
trabalhos posteriores
16
Capitulo 1
A Educaccedilatildeo do Campo em uma comunidade Ribeirinha
A Educaccedilatildeo do Campo surgiu no seacuteculo passado e colocava em evidencia os
processos de exclusatildeo social poliacutetica econocircmica e cultural que os ldquopovosrdquo ou
ldquocomunidadesrdquo tradicionais vinham e ainda vem sofrendo em diversas regiotildees do Paiacutes
O curso vem trazendo esse olhar multifacetado da realidade do campo
como por exemplo na exploraccedilatildeo e escravizaccedilatildeo de populaccedilotildees indiacutegenas e africanos e
suas vaacuterias etnias em nosso paiacutes desde seu descobrimento assim como suas
consequecircncias nos dias atuais que formavamformam as realidades dos sujeitos por
vezes antagocircnicas da qual Maria Antocircnia de Souza (2010) aponta que
A educaccedilatildeo do Campo surge como novo paradigma para pensar os sujeitos
do campo valorizando seus trabalhos trabalhadores suas particularidades
contradiccedilotildees e organizaccedilatildeo cultural como praacutexis Ela se coloca contra o
paradigma da educaccedilatildeo rural ou seja aquela que esta vinculada aos
interesses do governo como agronegoacutecio do capitalismo agraacuterio e ao
fortalecimento das poliacuteticas do esvaziamento dos sujeitos do campo
(SOUZA 2010)
Isso porque atraveacutes de propagandas ou raacutedios bancos financiadores e outros
meios mostram os investimentos e avanccedilos no campo (elite empresarial) cuja realidade
concreta desses sujeitos vem se tornando mais conhecida por meio de pressotildees de
movimentos sociais organizados na luta por uma educaccedilatildeo de qualidade para os
trabalhadores do campo como nos diz Maria Isabel Pinheiro (2011) para quem
antagonicamente
Inovaram no maquinaacuterio no aumento da produccedilatildeo de gratildeo nos agrotoacutexicos
alteraccedilotildees dos genes das sementes para exportaccedilatildeo em larga escala Mas os
que tem usufruiacutedo desses avanccedilos satildeo pequenos grupos de latifundiaacuterios
empresaacuterios banqueiros e poliacuteticos nacionais e internacionais enquanto a
outros eacute negado o acesso a terra para sobreviver e garantir o sustento de
outros brasileiros (PINHEIRO 2011)
Dessa forma eacute que os Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST) ONGS educadores educando e sociedade civil se articularam e se articulam haacute
tempos lutando e pressionando o governo Federal Estadual e Municipal e em prol de
poliacuteticas puacuteblicas para criar alternativas de permanecircncia dos jovens e trabalhadores do
campo no campo atraveacutes de financiamentos assistecircncia teacutecnica educaccedilatildeo entre outros
Isso vem ocorrendo com a preocupaccedilatildeo de que se valorize os conhecimentos
locais e se planeje o modo mais adequado para uma educaccedilatildeo de qualidade para que
esses jovens possam se qualificar adquirindo saber cientiacutefico e ao mesmo tempo a
17
partir da valorizaccedilatildeo de seu lugar como espaccedilo de lutas e resistecircncias para o
reconhecimento de suas comunidades reelaborar
Conforme nos aponta Fernandes (2005) o campo eacute formado por diversos
territoacuterios que aborda todas as espeacutecies de relaccedilotildees humanas O campo requer demandas
distintas cada territoacuterio que forma o campo eacute dotado de particularidades desta categoria
emergem diversas relaccedilotildees Por isso a educaccedilatildeo no campo deve ser pensada
essencialmente dentro de cada contexto caso seja pensada fora dele natildeo eacute educaccedilatildeo
torna-se dominaccedilatildeo
Ainda em diaacutelogo com o autor temos que a educaccedilatildeo no campo surge no
sentido de tornar o indiviacuteduo ocupante dos territoacuterios do campo protagonista do
processo de construccedilatildeo de seu territoacuterio considerando as especificidades deste
Dessa forma autores como Roseli Caldart cuja produccedilatildeo versa sobre
movimentos sociais do campo educaccedilatildeo escola pedagogia do movimento e Bernardo
Manccedilano Fernandes (2008) que aborda principalmente teorias dos territoacuterios
paradigmas da questatildeo agraacuteria e do capitalismo agraacuterio reforma agraacuteria
desenvolvimento territorial Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
tem sido inspiraccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para os novos pesquisadores da Educaccedilatildeo do
Campo como ressalta Fernandes (2008)
No movimento de debate e contestaccedilatildeo da politica e da educaccedilatildeo rural
empreendido pelos movimentos sociais do campo emergem uma nova
concepccedilatildeo de educaccedilatildeo denominada Educaccedilatildeo do Campo (FERNANDES
2008)
No campo mais especiacutefico essas lutas e o conceito de educaccedilatildeo do campo se
fortaleceu e ganhou destaque a partir da I Conferencia Nacional por uma Educaccedilatildeo
Baacutesica do Campo realizada no ano de 1998 a partir dela foram elaborados trabalhos e
coletacircneas versando sobre Educaccedilatildeo do Campo que vieram relatar o processo de sua
construccedilatildeo e fortalecer as demandas por politicas publicas em vaacuterios aspectos da vida
no campo
Nesse mesmo contexto eacute verificada uma grande necessidade em se ter
profissional de educaccedilatildeo especiacutefica para as aacutereas do campo isto eacute profissionais que
possuiacutessem formaccedilatildeo especiacutefica (licenciatura) poacutes-graduaccedilotildees eou aperfeiccediloamentos
na aacuterea da educaccedilatildeo do campo
Para isso foram lanccediladas poliacuteticas quanto agrave educaccedilatildeo formal para
professores como nas licenciaturas em Educaccedilatildeo do Campo seja nas Universidades
Federais (UFS) seja por meio da Formaccedilatildeo continuada Plano Nacional de Formaccedilatildeo de
18
Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica (PARFOR) aleacutem de diversificaccedilatildeo das experiecircncias
educativas no campo a exemplo das Casas Familiares Rurais a construccedilatildeo da Escola
Famiacutelia Agriacutecola (EFA) Escolas Itinerantes que ajudam na ampliaccedilatildeo do conhecimento
e ao direito de comunidades ribeirinhas como a de Guadalupe em Abaetetuba a terem
educaccedilatildeo de qualidade e que valorize os conhecimentos locais como salienta Roseli
Caldart (2008)
A Educaccedilatildeo do Campo natildeo se conduz ao debate da escola da formaccedilatildeo
formal ou das propostas pedagoacutegicas A materialidade educativa de origem
da educaccedilatildeo do campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos
da produccedilatildeo e das lutas sociais do campo (CALDART 2008)
A educaccedilatildeo do Campo pretende ir aleacutem das fronteiras educacionais que
antagonizam os curriacuteculos entre cidade e campo como ressalta a Lei de Diretrizes e
Base da Educaccedilatildeo Nacional (1996) ldquoque a oferta da educaccedilatildeo baacutesica agrave populaccedilatildeo rural
natildeo eacute a mesma compreensatildeo dos movimentos sociais e da academia cientiacutefica em
relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do campordquo pois ela (LDB) se volta agrave lapidaccedilatildeo de matildeo de obra
visando o mercado de trabalho sendo isso uma de suas bases e objetivos que buscam
preparar os jovens para o mercado de trabalho seja este no ensino fundamental meacutedio
teacutecnico ou superior como uma preparaccedilatildeo de grande ldquovalorizaccedilatildeordquo
E a educaccedilatildeo do campo traz uma proposta que trabalha com a realidade de
trabalhadores e trabalhadoras do campo relacionada ao trabalho que eles desenvolve no
campo pois precisa-se perceber que ele possui uma caracteriacutestica proacutepria que o
diferencia da sociedade urbana as quais devem ser planejadas pelos educadores da
educaccedilatildeo considerando o meio de onde se fala fazer com que esses sujeitos se
identifique e lute pelos seus direitos enquanto uma sociedade pensada com sua
participaccedilatildeo nos processos educacionais vinculada a sua cultura e necessidades humanas
e sociais
A Educaccedilatildeo do Campo propotildee por isso para as aacutereas ribeirinhas como para
pescadores agricultores e artesatildeos que atraveacutes das organizaccedilotildees possam reivindicar
melhorias e ampliaccedilatildeo na aacuterea escolar infraestrutura para que o ensino chegue ateacute eles
de forma a valorizar os conhecimentos de seus cotidianos e natildeo que eles saiam ou
abandonem seus costumes
Sabemos que a categoria campo natildeo eacute uma categoria homogecircnea ela
engloba diversos grupos sociais que habitam regiotildees geograficamente distintas entatildeo
natildeo podemos pensar em Educaccedilatildeo no Campo sem saber de qual campo estamos falando
19
Essa localidade do qual falo eacute o contexto habitado pelas comunidades das margens do
rio tucumanduba
Nessas localidades o meio impotildee sua dinacircmica agrave vida social e isso
aprofunda a relaccedilatildeo do homem com a natureza ldquoo imaginaacuterio eacute rico e o ribeirinho faz
uso desse imaginaacuterio para explicar fenocircmenos da naturezardquo (LOUREIRO 1995)
Por isso a educaccedilatildeo do campo e curriacuteculo escolar deve estar voltados para
as especificidades do contexto camporibeirinho no caso deste trabalho realizando as
atividades de acordo com o local onde o curriacuteculo deve ser construiacutedo levando em
consideraccedilatildeo aspectos da cultura e da dinacircmica local festividades imaginaacuterios e ateacute as
proacuteprias condiccedilotildees impostas pelo meio Valorizando conhecimentos locais para que os
alunos se situem no fazer escolar e contribua para que saberes e tradiccedilotildees se
reproduzam e se recriem na comunidade seja no vieacutes da tradiccedilatildeo oral seja no vieacutes da
educaccedilatildeo formal ou informal
Dessa forma passamos a perceber a produccedilatildeo cultural social e econocircmica do
local sendo importante para a construccedilatildeo de uma identidade reconhecida seja ela em
acircmbito nacional ou internacional de respeito e valorizaccedilatildeo da pessoa humana ajudando
assim a (re)orientar aqueles que cheguem nessas escolas e nas comunidades ribeirinhas
Assim quando se fala em educaccedilatildeo do campo fala-se em reforma agraacuteria
de construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de biodiversidade de debates sobre cultura
politicas puacuteblicas sendo preciso o tempo todo fazer e refazer as leituras poliacutetico-
pedagoacutegicas econocircmicas e culturais a partir dessas comunidades e das contradiccedilotildees que
nelas estatildeo postas dentro da loacutegica neoliberal que deve ser criticada se queremos uma
Educaccedilatildeo do Campo que efetive ao que se propotildee
20
Capitulo 2
De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe
O Rio Tucumanduba estaacute localizado no municiacutepio de Abaetetuba1 cidade a
duas horas de Beleacutem sendo ambas do Estado do Paraacute Estaacute dividido em Baixo Alto e
Meacutedio Tucumanduba sendo que cada um desses cursos do rio se organizam em torno
de uma comunidade que possuem escolas e igrejas (catoacutelicas ou evangeacutelicas) A
localidade e escola escolhidas para esta pesquisa se situa no rio Tucumanduba meacutedio
Durante as idas para a comunidade para realizar as praacuteticas docentes em
educaccedilatildeo do campo compartilhar e receber saberes da comunidade ribeirinha entre
alunos professores pais parentes e amigos se observa muita simplicidade em cada um
com seus modos de vivecircncia como se movimentam nas canoas andam ou correm no
ldquomiritizerordquo 2 ou como caminham tatildeo firmemente nas pontes e que agrave noite sentam na
ldquocabeccedila da ponterdquo como dizem os moradores locais
Para compartilharem os saberes dos mais velhos da comunidade de suas
tradiccedilotildees suas regras e modos de vivecircncia na ldquocalmariardquo em um lugar de vaacuterzea
contos histoacuterias com exuberante imensidatildeo de aacutegua aacutervores e animais que leva e traz
conhecimentos entre os rios e mareacutes de comunidades a comunidades assim como agraves
cidades em que os moradores circulam (vendem seu produtos como o accedilaiacute) como em
Abaetetuba Beleacutem e outras cidades
O trajeto das ldquofreteirasrdquo3 que sai das comunidades ribeirinhas ateacute a cidade
de Abaetetuba eacute feito de porto em porto buscando passageiros por volta das quatro
horas da manhatilde As ldquofreteirasrdquo transportam aleacutem de pessoas que vatildeo para fazer vendas
de seus produtos (accedilaiacute peixe farinha e outros) produtos trazidos da cidade e pessoas
(crianccedilas jovens e velhos) que procuram hospitais ou cliacutenicas entre outros
Chegando ao porto ou trapiche de Abaetetuba( imagem nordm 01) por volta das
seis horas da manhatilde os passageiros ou vem conversando ou dormindo no barco ateacute
1 Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio de
Abaetetuba possui uma populaccedilatildeo de 141054 habitantes sendo que 82950 vivem na cidade e 58104
vivem na zona ruralcampo nas inuacutemeras colocircnias rios igarapeacutes e ilhas A populaccedilatildeo ribeirinha em
especial eacute muito grande e satildeo isentos de seguranccedila serviccedilos baacutesico de sauacutede aacutereas de lazer entre outros
dependendo exclusivamente da cidade 2 ldquoMiritizerordquo tronco de aacutervore geralmente que eacute colocada como uma espeacutecie de ponte entre a terra e o
rio 3 ldquoFreteirasrdquo barcos ou embarcaccedilotildees de grande meacutedio ou pequeno porte que transportam moradores dos
rios ateacute agraves cidades no caso deste trabalho para Abaetetuba
21
chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove
horas da manhatilde
Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba
Fonte Google Imagens2015
Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para
regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o
tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de
gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto
ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu
destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas
com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de
transporte para esse local o hidroviaacuterio
Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava
em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das
aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares
observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas
baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que
atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo
22
Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que
estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio
(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por
virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha
famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como
algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta
pesquisa
De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos
que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios
de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que
satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em
um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem
natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute
integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense
o ribeirinho
Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia
enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de
dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola
23
Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem
nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso
passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja
Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de
Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como
Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os
alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir
Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas
denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf
Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um
passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local
Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e
Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade
de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental
Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino
satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de
Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo
anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo
O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele
vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo
24
do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de
conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de
recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia
de cursar o ensino meacutedio
Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de
rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com
carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura
saberes e processos histoacutericos
Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado
dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos
com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e
permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade
identidade e saberes locais debatidos em sala de aula
Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se
levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se
dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a
complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com
que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo
o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na
zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas
movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se
compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas
A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado
estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$
600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno
professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente
de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor
Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada
moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito
educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas
delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola
informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que
hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado
25
uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo
voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4
O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de
ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em
formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para
os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e
ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas
diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual
Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de
accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas
famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou
aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha
conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador
associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs
durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de
paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada
regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos
durante esse periacuteodo
Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de
comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo
na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da
quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico
4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da
Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA
26
Capitulo 3
Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais
Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco
da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de
Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema
de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em
relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos
possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de
educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo
Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo
as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro
do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como
organizam os conteuacutedos
Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam
meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo
do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do
27
campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso
somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta
pesquisa
Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes
localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como
Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros
Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os
coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra
localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)
Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz
parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba
com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo
ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois
passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo
ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas
e continua
Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos
dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar
seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
28
Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter
viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a
necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que
o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas
aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua
Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo
dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles
exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural
poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida
cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas
comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios
primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e
acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social
dentro de sua comunidade
A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz
conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de
idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos
artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de
idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns
momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e
adultos
Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo
entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo
aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo
dessa comunidade
Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante
no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o
sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em
qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes
culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade
5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades
segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do
presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo
29
Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o
trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu
dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta
Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o
entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e
conferem sentido agrave sua existecircnciardquo
Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu
acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana
desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito
antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os
mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e
chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola
Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo
comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem
outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno
quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute
patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo
apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater
o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7
estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo
da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe
atrasa a chegada
Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees
podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo
do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo
sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)
legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento
promovendo a Pedagogia da Alternacircncia
Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se
estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se
tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento
6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo
7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que
navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente
30
alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas
experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de
aprendizagens a partir desse movimento
Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador
do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes
agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma
troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais
Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)
interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os
modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam
desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso
levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida
em comunidade
O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por
exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas
e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de
aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao
ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia
Andrade (1993)
Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades
agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido
os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem
no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a
educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud
ANDRADE 1993)
Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de
experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa
diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da
pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos
pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais
legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes
semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e
elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural
8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore
apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto
das aacutervores
31
Capitulo 4
(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo
A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a
base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um
novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem
na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e
que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar
pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa
histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade
Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que
traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave
permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes
valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos
organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida
As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que
sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os
professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona
pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho
pedagoacutegico
Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola
da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de
educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e
das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)
Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o
grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se
trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees
sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua
particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos
sociais e da cultura como praacutexis
Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de
profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que
eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas
32
dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo
em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias
indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas
lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades
ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de
trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a
educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a
isto que ela se propotildee
E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando
estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas
histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e
se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo
Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as
escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas
recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de
2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam
ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os
alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de
chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no
processo de ensino- aprendizagem
Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo
natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse
em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e
meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam
durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua
trajetoacuteria
O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser
humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as
comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da
histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de
conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos
alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de
forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo
esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes
33
Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos
educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de
descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar
democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica
e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos
ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do
conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como
um criacutetico- dialeacutetico
De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de
apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros
fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e
suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que
passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o
conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico
despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos
O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de
conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do
campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo
praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social
direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora
Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de
ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da
cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de
educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na
cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias
Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do
Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de
mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem
curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)
Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia
profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino
possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo
aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta
(FREIRE 2003)
34
Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam
realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos
livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se
afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)
A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do
conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica
tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu
desmascaramento (FREIRE 2003)
Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de
dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo
precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo
diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do
aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos
negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos
Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro
preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se
antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio
com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na
formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde
emerge esse profissional
Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a
valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de
nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador
existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo
humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo
O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a
desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do
discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-
existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e
poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)
Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na
educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a
comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue
persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar
35
traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia
essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os
educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos
troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que
se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se
preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da
perseveranccedilardquo
O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que
devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates
mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa
cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na
historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em
possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)
Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e
aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o
pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos
seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos
desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser
livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire
(2001)
E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza
(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade
(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes
(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades
accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo
(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute
possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar
social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de
cultura de educaccedilatildeordquo
36
Consideraccedilotildees Finais
A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo
simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no
e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo
Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na
busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos
cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem
desenvolvido em um contexto ribeirinho
Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o
propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as
demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do
Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu
histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar
Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir
articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar
em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas
educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o
professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes
desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que
possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem
A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar
os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja
percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo
educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas
verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto
profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a
educaccedilatildeo do campo
A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos
professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte
no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria
Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores
comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo
conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo
37
encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da
comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo
Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os
processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees
para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo
soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos
curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos
inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do
Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo
acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees
38
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Sumaacuterio
RESUMO 08
ABSTRACT 09
LISTA DE IMAGENS 10
INTRODUCcedilAtildeO 11
Capitulo 1
A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha 16
Capitulo 2
De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe 20
Capitulo 3
Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais 26
Capitulo 4
(Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo 31
Consideraccedilotildees Finais 36
Referecircncias 38
Outras referecircncias 40
Resumo
Este Trabalho analisa as praacuteticas de professores do Sistema de Organizaccedilatildeo Modular de
Ensino (SOME) da escola de Ensino Fundamental e Meacutedio Nossa Senhora de
Guadalupe localizada no Rio Tucumanduba municiacutepio de Abaetetuba Para tanto
utilizou-se autores das aacutereas da Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo do Campo e Ciecircncias Sociais
assim como entrevistas informais realizadas com os professores dessa escola
mostrando como eles desenvolvem seus curriacuteculos e processos educativos dentro da sala
de aula e se eles valorizam esses saberes Os resultados revelam preocupaccedilotildees enquanto
investigaccedilatildeo de educadores que trabalham durante anos em comunidades tradicionais
aqui apresentado na regiatildeo ribeirinha escola que trabalha desde o ensino fundamental
menor por tempo integral e o ensino meacutedio funciona em um sistema de rotatividade de
educadores integrados aos SOME que por sua vez durante conversas e entrevistas
justificados na falta de tempo pois durante sessenta dias tem que fechar a disciplina
assim natildeo restaria momentos de interaccedilatildeo com a comunidade e alunos e assim preparar
aulas que aproximemos o livro didaacutetico com a realidade do local
Palavras-Chave Rio Tucumanduba Comunidade de Guadalupe Educaccedilatildeo do Campo
Conhecimento cientiacutefico Saberes locais
Abstract
This work examines the practices of teachers Modular Teaching Organization System
(SOME) of the Elementary School and Middle School Our Lady of Guadalupe located
in Rio Tucumanduba municipality of Abaetetuba To this end we used authors of the
areas of Education education field and social sciences as well as informal interviews
with teachers of this school showing how they develop their curricula and educational
processes in the classroom and whether they value these knowledge The results reveal
concerns as research educators working for years in traditional communities presented
here on the seashore school working from the smallest elementary school full-time and
high school works on a rotation system of integrated educators to SOME which in turn
during conversations and justified interviews the lack of time because for sixty days
have to close the discipline so there would be moments of interaction with the
community and students and thus prepare lessons we approach the textbook with the
reality of the place
Keywords Rio Tucumanduba Community of Guadalupe Rural Education Scientific
knowledge and local Knowledge
Lista de Imagens
Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba (p 21)
Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe (p 22)
Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe (p 23)
Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe (p 26)
Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe (p 27)
11
Introduccedilatildeo
Quando o curso de Educaccedilatildeo do Campo foi lanccedilado pela primeira vez no
edital da entatildeo Universidade Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute hoje
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute logo me chamou atenccedilatildeo por ser um
curso ldquonovordquo no Estado do Paraacute uma vez que jaacute vinha sendo trilhado em outras
universidades a exemplo da Universidade santa Catarina (UFSC) Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Universidade de Brasiacutelia (UNB) Aleacutem disso me
chamava atenccedilatildeo tambeacutem o fato de o curso ser voltado para a aacuterea do campo que se
inserem povos ribeirinhos quilombolas e indiacutegenas Um curso preocupado com esses
grupos sociais especiacuteficos com a valorizaccedilatildeo de seus costumes saberes e dizeres e
demandas imanentes do campo
Nesse interim ao iniciar o curso em Educaccedilatildeo do Campo na Universidade
Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute 2009 fui estranhando e ao mesmo tempo me
identificando com leituras temaacuteticas e objetivos do curso Entre estranhamento
construccedilatildeo e (des) construccedilotildees o curso se mostrou muito frutiacutefero em informaccedilotildees que
me instigavam o olhar Tratava-se de um curso intervalar ou em regime de alternacircncia
pedagoacutegica realizado nos meses de janeiro-fevereiro e junho e agosto pela manhatilde e
tarde nesses meses
Como moradora do Municiacutepio de Abaetetuba a ideia que eu tinha de campo
diferia das ideias abordadas nas primeiras aulas Logo percebi como o curso estava
voltado para o contexto que marcava a regiatildeo de Marabaacute os conflitos por terra os
atores sociais integrantes do Movimento Sem Terra fazendeiros
Todos os demais alunos da turma faziam parte desse contexto estavam de
alguma forma ligados ao Movimento Sem Terra A imagem que eu possuiacutea do
movimento era totalmente deturpada formada pela miacutedia ideias do senso comum que
reforccedilavam a ideia do movimento como um grupo de pessoas que queriam o direito de
se apropriar de algo que natildeo lhes pertencia pessoas que natildeo precisavam de terras
Por conta disso nesse primeiro momento de 2009 o curso para mim natildeo
durou quinze dias durante o mecircs de julho pois resolvi deixar a Universidade natildeo soacute
por problemas pessoais mas sim por esse embate de ideias que naquele momento
quebrara as minhas expectativas em relaccedilatildeo ao curso Minha matildee estava abrindo uma
loja de confecccedilotildees eu e meu irmatildeo ajudaacutevamos na organizaccedilatildeo Com o passar do
tempo quando os negoacutecios jaacute estavam organizados resolvi voltar para a Universidade
12
na turma de 2010 que continham novos companheiros que me esclareceram e
esclarecem ateacute hoje minhas duacutevidas sobre Movimentos Sociais Organizados do
Campo
Quando reiniciei as aulas na ocasiatildeo do seminaacuterio de apresentaccedilatildeo de
Educaccedilatildeo do Campo estavam presentes lideranccedilas como Charles Trocate dos
Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e vaacuterias outras entidades
civis organizadas fazendo um interessante apanhado das lutas sociais e confrontos que
serviram de alicerce para poliacuteticas puacuteblicas e por uma Educaccedilatildeo dono Campo
valorizada e pensada para e pelos povos do campo
Durante o seminaacuterio Charles Trocate comentou sobre o iniacutecio o dos MTS
seus objetivos lutas perdas e conquistas De como eacute importante grupos se definirem e
se identificarem para que possam lutar por seus direitos montar estrateacutegias de
discussotildees com o governo para que este veja de onde a massa popular se afirma de
onde fala e que poliacuteticas puacuteblicas sejam efetivadas
O seminaacuterio me permitiu compreender que o Curso de Educaccedilatildeo do Campo
junto aos Movimentos Sociais eacute uma entre outras conquistas pois os filhos de
camponeses ribeirinho quilombolas e povos indiacutegenas estatildeo entrando nas
Universidades e se graduando se especializando para poder se expandir e mostrar que
eles (re)existir com seu modo e sua tradiccedilatildeo e juntos compartilhar conhecimentos
Nesses uacuteltimos quatro anos (2010-2014) de conhecimentos trocas de
experiecircncias e ensinamentos neste curso junto a professores vindos de diferentes
localidades e que natildeo nos deixavam com duacutevidas durante as disciplinas pois seus
compromissos como docentes e a luta por uma mesma causa (educaccedilatildeo do campo)
nos tornavam a cada aula defensores compromissados com a educaccedilatildeo do campo
proporcionando ao mesmo tempo teorias que nos faziam criticar os modelos sobre os
quais ciecircncias satildeo ensinada nas salas de aula
Aleacutem disso eacute importante ressaltar que por ser oriunda de AbaetetubaParaacute
aproximadamente a quatrocentos e cinquenta e seis quilocircmetros da cidade de Marabaacute
onde cursei Educaccedilatildeo do Campo trazia comigo um diferencial pois abordava em
meus trabalhos minhas experiecircncias do campesinato de minha localidade o que para a
realidade onde a maioria dos discentes eram da regiatildeo de Marabaacute era totalmente novo
assim como fora no inicio para mim
Tudo aquilo que eu mostrava durante as apresentaccedilotildees dos Trabalhos de
Campo do Tempo-Comunidade por ser desconhecido ficava mais interessante e nessas
13
trocas de conhecimentos passaacutevamos a perceber outras regiotildees tatildeo pertinho de noacutes e
juntos misturaacutevamos nossas crenccedilas costumes tradiccedilotildees mitos e histoacuterias essas
contadas na sala da diversidade cultural
O Curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz novos pressupostos
de educaccedilatildeo com uma formaccedilatildeo de sujeitos diferenciados possibilita que o educador
do campo e alunos realizem a troca de conhecimento e adequem esse processo de
forma mais agradaacutevel para ambos
De acordo com CORDEIRO REIS amp HAGE (2011) a Pedagogia da
Alternacircncia eacute uma estrateacutegia bem pensada que articula espaccedilos educativos concebe
que a educaccedilatildeo pode se realizar tanto em sala de aula quanto nos outros espaccedilos que
compotildeem o conviacutevio social dos alunos Os educandos do campo podem assim ter
acesso agrave escola sem ter que abandonar o trabalho sem deixar de lado o aprendizado
proveniente da vida na sua comunidade
Desta forma o que propotildee esta praacutetica pedagoacutegica eacute que o educando possa
refletir sobre sua proacutepria realidade seja capaz de aplicar os conhecimentos cientiacuteficos
que apreende no espaccedilo formal de educaccedilatildeo em seu cotidiano
O curso de Educaccedilatildeo do campo faz uso estrateacutegico dessa metodologia pois
se encontra dividido em dois periacuteodos especiacuteficos o primeiro chamado Tempo-
Universidade ocorre em janeiro-fevereiro e julho e Agosto neste periacuteodo os alunos de
diferentes localidades juntos em sala preparam momentos de trocas experiecircncias e de
conhecimentos durante seminaacuterios debates rodas de conversas
Ocorre todo um aprendizado teoacuterico de autores das aacutereas de sociologia filosofia
histoacuteria geografia e de educadores do campo No Tempo-Universidade aprendemos o
modo como conversar com a comunidade para obter as informaccedilotildees e conhecimentos
necessaacuterios para serem repassados em nosso acircmbito familiar e educacional deixando em
cada um algo que os toquem socialmente
O segundo periacuteodo ocorre nos meses que estamos fora da Universidade eacute
denominado de Tempo-Comunidade (T-C) Durante esse tempo colocamos em praacutetica
tudo o que aprendemos na academia cientifica em comunidades ribeirinhas
quilombolas indiacutegenas e outras
Durante os trabalhos de Campo no periacuteodo Tempo-Comunidade para pocircr
em praacutetica o que aprendemos em sala de aula presenciei por diversas vezes o modo
como os professores do Sistema de Organizaccedilatildeo de Ensino Modular (SOME)
professores esses que se movimentam de comunidade em comunidade ministravam
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suas aulas durante dois meses em cada escola trazendo estilos de conhecimentos
(saberes cientiacuteficos) que aprenderam nas universidades que por vezes natildeo condiziam
com as realidades da comunidade ribeirinha que eu fazia minha praacutetica de ensino
Tendo por base os nossos conhecimentos cotidianos que constroem nossas
identidades cada educando escolheu um local para o desenvolvimento do respectivo
Trabalho de Campo partindo de uma das primeiras aulas ministradas pela professora
Dra Idelma Santiago sobre Aacutervores Genealoacutegicas no Tempo Universidade na qual
fizemos uma investigaccedilatildeo metodoloacutegica a fim de reconhecermos os saberes do lugar
de onde viemos
Escolhi entatildeo uma dentre as setenta e duas Ilhas ribeirinhas de Abaetetuba
situada no Rio TucumandubandashMeacutedio sendo este um dos afluentes do Rio Paraacute da
cidade de Abaetetuba O interesse pelo tema da educaccedilatildeo em educaccedilatildeo do campo
surgiu ainda na graduaccedilatildeo durante palestras estudos debates seminaacuterios para lutar
pelo reconhecimento de uma forma de ensinar dos Educadores do Campo no Campo
para a construccedilatildeo de Saberes e Dizeres na regiatildeo ribeirinha ou no lugar em que ela
aconteccedila
Atraveacutes de observaccedilotildees dos trabalhos de campo e do Tempo-comunidade
realizados durante as disciplinas do Tempo Universidade me despertou o interesse em
aprofundar meus conhecimentos nessa aacuterea levando-me para uma discussatildeo teoacuterica e
praacutetica da qual minha preocupaccedilatildeo ocorre ateacute os dias de hoje pois professores que
tiveram uma educaccedilatildeo bastante cartesiana e urbana levam para as comunidades
ribeirinhas os conhecimentos que aprenderam nas Universidades como modelos isto
eacute servem para explicar a realidade em qualquer contexto seja na cidade urbanizada
seja nos interiores ribeirinhos natildeo se atentando para a valorizaccedilatildeo do conhecimento
local
A ecircnfase principal deste Trabalho de Conclusatildeo do Curso (TCC) reside em
evidenciar como os professores ministram suas aulas nas regiotildees ribeirinhas se
incorporam ou natildeo os conhecimentos do cotidiano de seus alunos para explicar as
disciplinas e com isso valorizar os conhecimentos locais como meio de explicaccedilatildeo da
realidade
Para tanto se utilizaraacute de um meacutetodo nas ciecircncias humanas a observaccedilatildeo
participante aleacutem de entrevistas formais e conversas informais com os professores da
escola Nossa Senhora de Guadalupe
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Assim sendo este trabalho estaacute estruturado da seguinte forma no capiacutetulo 1
intitulado A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha busca-se mostrar um
pouco do surgimento da Educaccedilatildeo do Campo no contexto nacional
O capiacutetulo 2 denominado De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe localiza a
comunidade e aborda a experiecircncia de inserccedilatildeo no loacutecus fazendo uso de imagens para
melhor ambientar o leitor
No capiacutetulo 3 chamado Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais
objetiva descrever como a articulaccedilatildeo entre diferentes conhecimentos no cotidiano da
sala de aula
No capitulo 4 nomeado (Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo
do Campo procura-se relacionar como os conhecimentos cientiacuteficos de um lado e os
conhecimentos tradicionais de outro se datildeo ou deveriam se dar nas aulas
Nas Consideraccedilotildees Finais tenta-se evidenciar um pouco como este
trabalho pode contribuir para outras anaacutelises similares com outros recortes empiacutericos em
trabalhos posteriores
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Capitulo 1
A Educaccedilatildeo do Campo em uma comunidade Ribeirinha
A Educaccedilatildeo do Campo surgiu no seacuteculo passado e colocava em evidencia os
processos de exclusatildeo social poliacutetica econocircmica e cultural que os ldquopovosrdquo ou
ldquocomunidadesrdquo tradicionais vinham e ainda vem sofrendo em diversas regiotildees do Paiacutes
O curso vem trazendo esse olhar multifacetado da realidade do campo
como por exemplo na exploraccedilatildeo e escravizaccedilatildeo de populaccedilotildees indiacutegenas e africanos e
suas vaacuterias etnias em nosso paiacutes desde seu descobrimento assim como suas
consequecircncias nos dias atuais que formavamformam as realidades dos sujeitos por
vezes antagocircnicas da qual Maria Antocircnia de Souza (2010) aponta que
A educaccedilatildeo do Campo surge como novo paradigma para pensar os sujeitos
do campo valorizando seus trabalhos trabalhadores suas particularidades
contradiccedilotildees e organizaccedilatildeo cultural como praacutexis Ela se coloca contra o
paradigma da educaccedilatildeo rural ou seja aquela que esta vinculada aos
interesses do governo como agronegoacutecio do capitalismo agraacuterio e ao
fortalecimento das poliacuteticas do esvaziamento dos sujeitos do campo
(SOUZA 2010)
Isso porque atraveacutes de propagandas ou raacutedios bancos financiadores e outros
meios mostram os investimentos e avanccedilos no campo (elite empresarial) cuja realidade
concreta desses sujeitos vem se tornando mais conhecida por meio de pressotildees de
movimentos sociais organizados na luta por uma educaccedilatildeo de qualidade para os
trabalhadores do campo como nos diz Maria Isabel Pinheiro (2011) para quem
antagonicamente
Inovaram no maquinaacuterio no aumento da produccedilatildeo de gratildeo nos agrotoacutexicos
alteraccedilotildees dos genes das sementes para exportaccedilatildeo em larga escala Mas os
que tem usufruiacutedo desses avanccedilos satildeo pequenos grupos de latifundiaacuterios
empresaacuterios banqueiros e poliacuteticos nacionais e internacionais enquanto a
outros eacute negado o acesso a terra para sobreviver e garantir o sustento de
outros brasileiros (PINHEIRO 2011)
Dessa forma eacute que os Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST) ONGS educadores educando e sociedade civil se articularam e se articulam haacute
tempos lutando e pressionando o governo Federal Estadual e Municipal e em prol de
poliacuteticas puacuteblicas para criar alternativas de permanecircncia dos jovens e trabalhadores do
campo no campo atraveacutes de financiamentos assistecircncia teacutecnica educaccedilatildeo entre outros
Isso vem ocorrendo com a preocupaccedilatildeo de que se valorize os conhecimentos
locais e se planeje o modo mais adequado para uma educaccedilatildeo de qualidade para que
esses jovens possam se qualificar adquirindo saber cientiacutefico e ao mesmo tempo a
17
partir da valorizaccedilatildeo de seu lugar como espaccedilo de lutas e resistecircncias para o
reconhecimento de suas comunidades reelaborar
Conforme nos aponta Fernandes (2005) o campo eacute formado por diversos
territoacuterios que aborda todas as espeacutecies de relaccedilotildees humanas O campo requer demandas
distintas cada territoacuterio que forma o campo eacute dotado de particularidades desta categoria
emergem diversas relaccedilotildees Por isso a educaccedilatildeo no campo deve ser pensada
essencialmente dentro de cada contexto caso seja pensada fora dele natildeo eacute educaccedilatildeo
torna-se dominaccedilatildeo
Ainda em diaacutelogo com o autor temos que a educaccedilatildeo no campo surge no
sentido de tornar o indiviacuteduo ocupante dos territoacuterios do campo protagonista do
processo de construccedilatildeo de seu territoacuterio considerando as especificidades deste
Dessa forma autores como Roseli Caldart cuja produccedilatildeo versa sobre
movimentos sociais do campo educaccedilatildeo escola pedagogia do movimento e Bernardo
Manccedilano Fernandes (2008) que aborda principalmente teorias dos territoacuterios
paradigmas da questatildeo agraacuteria e do capitalismo agraacuterio reforma agraacuteria
desenvolvimento territorial Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
tem sido inspiraccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para os novos pesquisadores da Educaccedilatildeo do
Campo como ressalta Fernandes (2008)
No movimento de debate e contestaccedilatildeo da politica e da educaccedilatildeo rural
empreendido pelos movimentos sociais do campo emergem uma nova
concepccedilatildeo de educaccedilatildeo denominada Educaccedilatildeo do Campo (FERNANDES
2008)
No campo mais especiacutefico essas lutas e o conceito de educaccedilatildeo do campo se
fortaleceu e ganhou destaque a partir da I Conferencia Nacional por uma Educaccedilatildeo
Baacutesica do Campo realizada no ano de 1998 a partir dela foram elaborados trabalhos e
coletacircneas versando sobre Educaccedilatildeo do Campo que vieram relatar o processo de sua
construccedilatildeo e fortalecer as demandas por politicas publicas em vaacuterios aspectos da vida
no campo
Nesse mesmo contexto eacute verificada uma grande necessidade em se ter
profissional de educaccedilatildeo especiacutefica para as aacutereas do campo isto eacute profissionais que
possuiacutessem formaccedilatildeo especiacutefica (licenciatura) poacutes-graduaccedilotildees eou aperfeiccediloamentos
na aacuterea da educaccedilatildeo do campo
Para isso foram lanccediladas poliacuteticas quanto agrave educaccedilatildeo formal para
professores como nas licenciaturas em Educaccedilatildeo do Campo seja nas Universidades
Federais (UFS) seja por meio da Formaccedilatildeo continuada Plano Nacional de Formaccedilatildeo de
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Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica (PARFOR) aleacutem de diversificaccedilatildeo das experiecircncias
educativas no campo a exemplo das Casas Familiares Rurais a construccedilatildeo da Escola
Famiacutelia Agriacutecola (EFA) Escolas Itinerantes que ajudam na ampliaccedilatildeo do conhecimento
e ao direito de comunidades ribeirinhas como a de Guadalupe em Abaetetuba a terem
educaccedilatildeo de qualidade e que valorize os conhecimentos locais como salienta Roseli
Caldart (2008)
A Educaccedilatildeo do Campo natildeo se conduz ao debate da escola da formaccedilatildeo
formal ou das propostas pedagoacutegicas A materialidade educativa de origem
da educaccedilatildeo do campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos
da produccedilatildeo e das lutas sociais do campo (CALDART 2008)
A educaccedilatildeo do Campo pretende ir aleacutem das fronteiras educacionais que
antagonizam os curriacuteculos entre cidade e campo como ressalta a Lei de Diretrizes e
Base da Educaccedilatildeo Nacional (1996) ldquoque a oferta da educaccedilatildeo baacutesica agrave populaccedilatildeo rural
natildeo eacute a mesma compreensatildeo dos movimentos sociais e da academia cientiacutefica em
relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do campordquo pois ela (LDB) se volta agrave lapidaccedilatildeo de matildeo de obra
visando o mercado de trabalho sendo isso uma de suas bases e objetivos que buscam
preparar os jovens para o mercado de trabalho seja este no ensino fundamental meacutedio
teacutecnico ou superior como uma preparaccedilatildeo de grande ldquovalorizaccedilatildeordquo
E a educaccedilatildeo do campo traz uma proposta que trabalha com a realidade de
trabalhadores e trabalhadoras do campo relacionada ao trabalho que eles desenvolve no
campo pois precisa-se perceber que ele possui uma caracteriacutestica proacutepria que o
diferencia da sociedade urbana as quais devem ser planejadas pelos educadores da
educaccedilatildeo considerando o meio de onde se fala fazer com que esses sujeitos se
identifique e lute pelos seus direitos enquanto uma sociedade pensada com sua
participaccedilatildeo nos processos educacionais vinculada a sua cultura e necessidades humanas
e sociais
A Educaccedilatildeo do Campo propotildee por isso para as aacutereas ribeirinhas como para
pescadores agricultores e artesatildeos que atraveacutes das organizaccedilotildees possam reivindicar
melhorias e ampliaccedilatildeo na aacuterea escolar infraestrutura para que o ensino chegue ateacute eles
de forma a valorizar os conhecimentos de seus cotidianos e natildeo que eles saiam ou
abandonem seus costumes
Sabemos que a categoria campo natildeo eacute uma categoria homogecircnea ela
engloba diversos grupos sociais que habitam regiotildees geograficamente distintas entatildeo
natildeo podemos pensar em Educaccedilatildeo no Campo sem saber de qual campo estamos falando
19
Essa localidade do qual falo eacute o contexto habitado pelas comunidades das margens do
rio tucumanduba
Nessas localidades o meio impotildee sua dinacircmica agrave vida social e isso
aprofunda a relaccedilatildeo do homem com a natureza ldquoo imaginaacuterio eacute rico e o ribeirinho faz
uso desse imaginaacuterio para explicar fenocircmenos da naturezardquo (LOUREIRO 1995)
Por isso a educaccedilatildeo do campo e curriacuteculo escolar deve estar voltados para
as especificidades do contexto camporibeirinho no caso deste trabalho realizando as
atividades de acordo com o local onde o curriacuteculo deve ser construiacutedo levando em
consideraccedilatildeo aspectos da cultura e da dinacircmica local festividades imaginaacuterios e ateacute as
proacuteprias condiccedilotildees impostas pelo meio Valorizando conhecimentos locais para que os
alunos se situem no fazer escolar e contribua para que saberes e tradiccedilotildees se
reproduzam e se recriem na comunidade seja no vieacutes da tradiccedilatildeo oral seja no vieacutes da
educaccedilatildeo formal ou informal
Dessa forma passamos a perceber a produccedilatildeo cultural social e econocircmica do
local sendo importante para a construccedilatildeo de uma identidade reconhecida seja ela em
acircmbito nacional ou internacional de respeito e valorizaccedilatildeo da pessoa humana ajudando
assim a (re)orientar aqueles que cheguem nessas escolas e nas comunidades ribeirinhas
Assim quando se fala em educaccedilatildeo do campo fala-se em reforma agraacuteria
de construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de biodiversidade de debates sobre cultura
politicas puacuteblicas sendo preciso o tempo todo fazer e refazer as leituras poliacutetico-
pedagoacutegicas econocircmicas e culturais a partir dessas comunidades e das contradiccedilotildees que
nelas estatildeo postas dentro da loacutegica neoliberal que deve ser criticada se queremos uma
Educaccedilatildeo do Campo que efetive ao que se propotildee
20
Capitulo 2
De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe
O Rio Tucumanduba estaacute localizado no municiacutepio de Abaetetuba1 cidade a
duas horas de Beleacutem sendo ambas do Estado do Paraacute Estaacute dividido em Baixo Alto e
Meacutedio Tucumanduba sendo que cada um desses cursos do rio se organizam em torno
de uma comunidade que possuem escolas e igrejas (catoacutelicas ou evangeacutelicas) A
localidade e escola escolhidas para esta pesquisa se situa no rio Tucumanduba meacutedio
Durante as idas para a comunidade para realizar as praacuteticas docentes em
educaccedilatildeo do campo compartilhar e receber saberes da comunidade ribeirinha entre
alunos professores pais parentes e amigos se observa muita simplicidade em cada um
com seus modos de vivecircncia como se movimentam nas canoas andam ou correm no
ldquomiritizerordquo 2 ou como caminham tatildeo firmemente nas pontes e que agrave noite sentam na
ldquocabeccedila da ponterdquo como dizem os moradores locais
Para compartilharem os saberes dos mais velhos da comunidade de suas
tradiccedilotildees suas regras e modos de vivecircncia na ldquocalmariardquo em um lugar de vaacuterzea
contos histoacuterias com exuberante imensidatildeo de aacutegua aacutervores e animais que leva e traz
conhecimentos entre os rios e mareacutes de comunidades a comunidades assim como agraves
cidades em que os moradores circulam (vendem seu produtos como o accedilaiacute) como em
Abaetetuba Beleacutem e outras cidades
O trajeto das ldquofreteirasrdquo3 que sai das comunidades ribeirinhas ateacute a cidade
de Abaetetuba eacute feito de porto em porto buscando passageiros por volta das quatro
horas da manhatilde As ldquofreteirasrdquo transportam aleacutem de pessoas que vatildeo para fazer vendas
de seus produtos (accedilaiacute peixe farinha e outros) produtos trazidos da cidade e pessoas
(crianccedilas jovens e velhos) que procuram hospitais ou cliacutenicas entre outros
Chegando ao porto ou trapiche de Abaetetuba( imagem nordm 01) por volta das
seis horas da manhatilde os passageiros ou vem conversando ou dormindo no barco ateacute
1 Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio de
Abaetetuba possui uma populaccedilatildeo de 141054 habitantes sendo que 82950 vivem na cidade e 58104
vivem na zona ruralcampo nas inuacutemeras colocircnias rios igarapeacutes e ilhas A populaccedilatildeo ribeirinha em
especial eacute muito grande e satildeo isentos de seguranccedila serviccedilos baacutesico de sauacutede aacutereas de lazer entre outros
dependendo exclusivamente da cidade 2 ldquoMiritizerordquo tronco de aacutervore geralmente que eacute colocada como uma espeacutecie de ponte entre a terra e o
rio 3 ldquoFreteirasrdquo barcos ou embarcaccedilotildees de grande meacutedio ou pequeno porte que transportam moradores dos
rios ateacute agraves cidades no caso deste trabalho para Abaetetuba
21
chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove
horas da manhatilde
Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba
Fonte Google Imagens2015
Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para
regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o
tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de
gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto
ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu
destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas
com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de
transporte para esse local o hidroviaacuterio
Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava
em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das
aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares
observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas
baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que
atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo
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Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que
estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio
(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por
virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha
famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como
algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta
pesquisa
De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos
que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios
de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que
satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em
um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem
natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute
integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense
o ribeirinho
Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia
enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de
dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola
23
Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem
nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso
passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja
Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de
Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como
Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os
alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir
Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas
denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf
Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um
passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local
Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e
Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade
de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental
Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino
satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de
Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo
anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo
O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele
vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo
24
do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de
conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de
recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia
de cursar o ensino meacutedio
Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de
rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com
carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura
saberes e processos histoacutericos
Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado
dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos
com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e
permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade
identidade e saberes locais debatidos em sala de aula
Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se
levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se
dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a
complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com
que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo
o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na
zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas
movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se
compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas
A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado
estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$
600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno
professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente
de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor
Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada
moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito
educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas
delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola
informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que
hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado
25
uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo
voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4
O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de
ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em
formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para
os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e
ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas
diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual
Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de
accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas
famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou
aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha
conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador
associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs
durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de
paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada
regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos
durante esse periacuteodo
Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de
comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo
na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da
quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico
4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da
Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA
26
Capitulo 3
Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais
Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco
da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de
Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema
de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em
relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos
possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de
educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo
Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo
as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro
do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como
organizam os conteuacutedos
Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam
meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo
do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do
27
campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso
somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta
pesquisa
Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes
localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como
Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros
Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os
coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra
localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)
Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz
parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba
com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo
ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois
passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo
ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas
e continua
Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos
dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar
seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
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Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter
viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a
necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que
o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas
aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua
Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo
dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles
exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural
poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida
cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas
comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios
primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e
acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social
dentro de sua comunidade
A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz
conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de
idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos
artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de
idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns
momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e
adultos
Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo
entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo
aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo
dessa comunidade
Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante
no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o
sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em
qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes
culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade
5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades
segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do
presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo
29
Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o
trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu
dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta
Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o
entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e
conferem sentido agrave sua existecircnciardquo
Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu
acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana
desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito
antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os
mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e
chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola
Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo
comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem
outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno
quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute
patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo
apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater
o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7
estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo
da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe
atrasa a chegada
Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees
podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo
do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo
sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)
legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento
promovendo a Pedagogia da Alternacircncia
Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se
estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se
tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento
6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo
7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que
navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente
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alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas
experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de
aprendizagens a partir desse movimento
Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador
do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes
agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma
troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais
Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)
interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os
modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam
desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso
levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida
em comunidade
O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por
exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas
e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de
aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao
ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia
Andrade (1993)
Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades
agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido
os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem
no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a
educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud
ANDRADE 1993)
Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de
experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa
diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da
pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos
pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais
legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes
semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e
elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural
8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore
apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto
das aacutervores
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Capitulo 4
(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo
A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a
base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um
novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem
na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e
que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar
pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa
histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade
Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que
traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave
permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes
valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos
organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida
As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que
sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os
professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona
pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho
pedagoacutegico
Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola
da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de
educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e
das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)
Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o
grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se
trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees
sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua
particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos
sociais e da cultura como praacutexis
Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de
profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que
eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas
32
dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo
em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias
indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas
lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades
ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de
trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a
educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a
isto que ela se propotildee
E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando
estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas
histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e
se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo
Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as
escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas
recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de
2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam
ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os
alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de
chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no
processo de ensino- aprendizagem
Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo
natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse
em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e
meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam
durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua
trajetoacuteria
O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser
humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as
comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da
histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de
conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos
alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de
forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo
esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes
33
Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos
educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de
descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar
democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica
e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos
ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do
conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como
um criacutetico- dialeacutetico
De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de
apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros
fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e
suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que
passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o
conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico
despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos
O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de
conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do
campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo
praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social
direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora
Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de
ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da
cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de
educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na
cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias
Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do
Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de
mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem
curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)
Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia
profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino
possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo
aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta
(FREIRE 2003)
34
Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam
realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos
livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se
afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)
A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do
conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica
tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu
desmascaramento (FREIRE 2003)
Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de
dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo
precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo
diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do
aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos
negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos
Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro
preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se
antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio
com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na
formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde
emerge esse profissional
Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a
valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de
nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador
existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo
humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo
O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a
desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do
discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-
existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e
poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)
Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na
educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a
comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue
persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar
35
traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia
essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os
educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos
troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que
se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se
preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da
perseveranccedilardquo
O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que
devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates
mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa
cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na
historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em
possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)
Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e
aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o
pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos
seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos
desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser
livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire
(2001)
E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza
(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade
(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes
(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades
accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo
(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute
possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar
social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de
cultura de educaccedilatildeordquo
36
Consideraccedilotildees Finais
A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo
simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no
e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo
Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na
busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos
cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem
desenvolvido em um contexto ribeirinho
Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o
propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as
demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do
Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu
histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar
Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir
articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar
em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas
educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o
professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes
desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que
possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem
A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar
os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja
percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo
educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas
verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto
profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a
educaccedilatildeo do campo
A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos
professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte
no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria
Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores
comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo
conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo
37
encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da
comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo
Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os
processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees
para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo
soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos
curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos
inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do
Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo
acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees
38
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Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008
SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso
saber Educaccedilatildeo de jovens e adultos Recife Bagaccedilo 2000
SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e movimento sociais do campo a produccedilatildeo do
conhecimento no periacuteodo de 1987 a 2007 Curitiba Ed UFPR 2010
VELHO Gilberto Famiacutelia e Subjetividade In ALMEIDA A Mde CARNEIRO MJ
PAULA SG (Org) Pensando a Famiacutelia no Brasil Rio de Janeiro Espaccedilos e Tempo
Editora da UFRJ 1987
40
Outras referecircncias
Sobre normas teacutecnicas da ABNT (citaccedilotildees e referecircncias bibliograacuteficas) consultar
lthttpwwwleffaprobrtextosabnthtmgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015
Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150010ampsearch=para|abaet
etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015
Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar
lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015
Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar
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setembro de 2015
Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba
lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-
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Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha
lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-
rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015
Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar
lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb
ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015
Resumo
Este Trabalho analisa as praacuteticas de professores do Sistema de Organizaccedilatildeo Modular de
Ensino (SOME) da escola de Ensino Fundamental e Meacutedio Nossa Senhora de
Guadalupe localizada no Rio Tucumanduba municiacutepio de Abaetetuba Para tanto
utilizou-se autores das aacutereas da Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo do Campo e Ciecircncias Sociais
assim como entrevistas informais realizadas com os professores dessa escola
mostrando como eles desenvolvem seus curriacuteculos e processos educativos dentro da sala
de aula e se eles valorizam esses saberes Os resultados revelam preocupaccedilotildees enquanto
investigaccedilatildeo de educadores que trabalham durante anos em comunidades tradicionais
aqui apresentado na regiatildeo ribeirinha escola que trabalha desde o ensino fundamental
menor por tempo integral e o ensino meacutedio funciona em um sistema de rotatividade de
educadores integrados aos SOME que por sua vez durante conversas e entrevistas
justificados na falta de tempo pois durante sessenta dias tem que fechar a disciplina
assim natildeo restaria momentos de interaccedilatildeo com a comunidade e alunos e assim preparar
aulas que aproximemos o livro didaacutetico com a realidade do local
Palavras-Chave Rio Tucumanduba Comunidade de Guadalupe Educaccedilatildeo do Campo
Conhecimento cientiacutefico Saberes locais
Abstract
This work examines the practices of teachers Modular Teaching Organization System
(SOME) of the Elementary School and Middle School Our Lady of Guadalupe located
in Rio Tucumanduba municipality of Abaetetuba To this end we used authors of the
areas of Education education field and social sciences as well as informal interviews
with teachers of this school showing how they develop their curricula and educational
processes in the classroom and whether they value these knowledge The results reveal
concerns as research educators working for years in traditional communities presented
here on the seashore school working from the smallest elementary school full-time and
high school works on a rotation system of integrated educators to SOME which in turn
during conversations and justified interviews the lack of time because for sixty days
have to close the discipline so there would be moments of interaction with the
community and students and thus prepare lessons we approach the textbook with the
reality of the place
Keywords Rio Tucumanduba Community of Guadalupe Rural Education Scientific
knowledge and local Knowledge
Lista de Imagens
Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba (p 21)
Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe (p 22)
Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe (p 23)
Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe (p 26)
Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe (p 27)
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Introduccedilatildeo
Quando o curso de Educaccedilatildeo do Campo foi lanccedilado pela primeira vez no
edital da entatildeo Universidade Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute hoje
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute logo me chamou atenccedilatildeo por ser um
curso ldquonovordquo no Estado do Paraacute uma vez que jaacute vinha sendo trilhado em outras
universidades a exemplo da Universidade santa Catarina (UFSC) Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Universidade de Brasiacutelia (UNB) Aleacutem disso me
chamava atenccedilatildeo tambeacutem o fato de o curso ser voltado para a aacuterea do campo que se
inserem povos ribeirinhos quilombolas e indiacutegenas Um curso preocupado com esses
grupos sociais especiacuteficos com a valorizaccedilatildeo de seus costumes saberes e dizeres e
demandas imanentes do campo
Nesse interim ao iniciar o curso em Educaccedilatildeo do Campo na Universidade
Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute 2009 fui estranhando e ao mesmo tempo me
identificando com leituras temaacuteticas e objetivos do curso Entre estranhamento
construccedilatildeo e (des) construccedilotildees o curso se mostrou muito frutiacutefero em informaccedilotildees que
me instigavam o olhar Tratava-se de um curso intervalar ou em regime de alternacircncia
pedagoacutegica realizado nos meses de janeiro-fevereiro e junho e agosto pela manhatilde e
tarde nesses meses
Como moradora do Municiacutepio de Abaetetuba a ideia que eu tinha de campo
diferia das ideias abordadas nas primeiras aulas Logo percebi como o curso estava
voltado para o contexto que marcava a regiatildeo de Marabaacute os conflitos por terra os
atores sociais integrantes do Movimento Sem Terra fazendeiros
Todos os demais alunos da turma faziam parte desse contexto estavam de
alguma forma ligados ao Movimento Sem Terra A imagem que eu possuiacutea do
movimento era totalmente deturpada formada pela miacutedia ideias do senso comum que
reforccedilavam a ideia do movimento como um grupo de pessoas que queriam o direito de
se apropriar de algo que natildeo lhes pertencia pessoas que natildeo precisavam de terras
Por conta disso nesse primeiro momento de 2009 o curso para mim natildeo
durou quinze dias durante o mecircs de julho pois resolvi deixar a Universidade natildeo soacute
por problemas pessoais mas sim por esse embate de ideias que naquele momento
quebrara as minhas expectativas em relaccedilatildeo ao curso Minha matildee estava abrindo uma
loja de confecccedilotildees eu e meu irmatildeo ajudaacutevamos na organizaccedilatildeo Com o passar do
tempo quando os negoacutecios jaacute estavam organizados resolvi voltar para a Universidade
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na turma de 2010 que continham novos companheiros que me esclareceram e
esclarecem ateacute hoje minhas duacutevidas sobre Movimentos Sociais Organizados do
Campo
Quando reiniciei as aulas na ocasiatildeo do seminaacuterio de apresentaccedilatildeo de
Educaccedilatildeo do Campo estavam presentes lideranccedilas como Charles Trocate dos
Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e vaacuterias outras entidades
civis organizadas fazendo um interessante apanhado das lutas sociais e confrontos que
serviram de alicerce para poliacuteticas puacuteblicas e por uma Educaccedilatildeo dono Campo
valorizada e pensada para e pelos povos do campo
Durante o seminaacuterio Charles Trocate comentou sobre o iniacutecio o dos MTS
seus objetivos lutas perdas e conquistas De como eacute importante grupos se definirem e
se identificarem para que possam lutar por seus direitos montar estrateacutegias de
discussotildees com o governo para que este veja de onde a massa popular se afirma de
onde fala e que poliacuteticas puacuteblicas sejam efetivadas
O seminaacuterio me permitiu compreender que o Curso de Educaccedilatildeo do Campo
junto aos Movimentos Sociais eacute uma entre outras conquistas pois os filhos de
camponeses ribeirinho quilombolas e povos indiacutegenas estatildeo entrando nas
Universidades e se graduando se especializando para poder se expandir e mostrar que
eles (re)existir com seu modo e sua tradiccedilatildeo e juntos compartilhar conhecimentos
Nesses uacuteltimos quatro anos (2010-2014) de conhecimentos trocas de
experiecircncias e ensinamentos neste curso junto a professores vindos de diferentes
localidades e que natildeo nos deixavam com duacutevidas durante as disciplinas pois seus
compromissos como docentes e a luta por uma mesma causa (educaccedilatildeo do campo)
nos tornavam a cada aula defensores compromissados com a educaccedilatildeo do campo
proporcionando ao mesmo tempo teorias que nos faziam criticar os modelos sobre os
quais ciecircncias satildeo ensinada nas salas de aula
Aleacutem disso eacute importante ressaltar que por ser oriunda de AbaetetubaParaacute
aproximadamente a quatrocentos e cinquenta e seis quilocircmetros da cidade de Marabaacute
onde cursei Educaccedilatildeo do Campo trazia comigo um diferencial pois abordava em
meus trabalhos minhas experiecircncias do campesinato de minha localidade o que para a
realidade onde a maioria dos discentes eram da regiatildeo de Marabaacute era totalmente novo
assim como fora no inicio para mim
Tudo aquilo que eu mostrava durante as apresentaccedilotildees dos Trabalhos de
Campo do Tempo-Comunidade por ser desconhecido ficava mais interessante e nessas
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trocas de conhecimentos passaacutevamos a perceber outras regiotildees tatildeo pertinho de noacutes e
juntos misturaacutevamos nossas crenccedilas costumes tradiccedilotildees mitos e histoacuterias essas
contadas na sala da diversidade cultural
O Curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz novos pressupostos
de educaccedilatildeo com uma formaccedilatildeo de sujeitos diferenciados possibilita que o educador
do campo e alunos realizem a troca de conhecimento e adequem esse processo de
forma mais agradaacutevel para ambos
De acordo com CORDEIRO REIS amp HAGE (2011) a Pedagogia da
Alternacircncia eacute uma estrateacutegia bem pensada que articula espaccedilos educativos concebe
que a educaccedilatildeo pode se realizar tanto em sala de aula quanto nos outros espaccedilos que
compotildeem o conviacutevio social dos alunos Os educandos do campo podem assim ter
acesso agrave escola sem ter que abandonar o trabalho sem deixar de lado o aprendizado
proveniente da vida na sua comunidade
Desta forma o que propotildee esta praacutetica pedagoacutegica eacute que o educando possa
refletir sobre sua proacutepria realidade seja capaz de aplicar os conhecimentos cientiacuteficos
que apreende no espaccedilo formal de educaccedilatildeo em seu cotidiano
O curso de Educaccedilatildeo do campo faz uso estrateacutegico dessa metodologia pois
se encontra dividido em dois periacuteodos especiacuteficos o primeiro chamado Tempo-
Universidade ocorre em janeiro-fevereiro e julho e Agosto neste periacuteodo os alunos de
diferentes localidades juntos em sala preparam momentos de trocas experiecircncias e de
conhecimentos durante seminaacuterios debates rodas de conversas
Ocorre todo um aprendizado teoacuterico de autores das aacutereas de sociologia filosofia
histoacuteria geografia e de educadores do campo No Tempo-Universidade aprendemos o
modo como conversar com a comunidade para obter as informaccedilotildees e conhecimentos
necessaacuterios para serem repassados em nosso acircmbito familiar e educacional deixando em
cada um algo que os toquem socialmente
O segundo periacuteodo ocorre nos meses que estamos fora da Universidade eacute
denominado de Tempo-Comunidade (T-C) Durante esse tempo colocamos em praacutetica
tudo o que aprendemos na academia cientifica em comunidades ribeirinhas
quilombolas indiacutegenas e outras
Durante os trabalhos de Campo no periacuteodo Tempo-Comunidade para pocircr
em praacutetica o que aprendemos em sala de aula presenciei por diversas vezes o modo
como os professores do Sistema de Organizaccedilatildeo de Ensino Modular (SOME)
professores esses que se movimentam de comunidade em comunidade ministravam
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suas aulas durante dois meses em cada escola trazendo estilos de conhecimentos
(saberes cientiacuteficos) que aprenderam nas universidades que por vezes natildeo condiziam
com as realidades da comunidade ribeirinha que eu fazia minha praacutetica de ensino
Tendo por base os nossos conhecimentos cotidianos que constroem nossas
identidades cada educando escolheu um local para o desenvolvimento do respectivo
Trabalho de Campo partindo de uma das primeiras aulas ministradas pela professora
Dra Idelma Santiago sobre Aacutervores Genealoacutegicas no Tempo Universidade na qual
fizemos uma investigaccedilatildeo metodoloacutegica a fim de reconhecermos os saberes do lugar
de onde viemos
Escolhi entatildeo uma dentre as setenta e duas Ilhas ribeirinhas de Abaetetuba
situada no Rio TucumandubandashMeacutedio sendo este um dos afluentes do Rio Paraacute da
cidade de Abaetetuba O interesse pelo tema da educaccedilatildeo em educaccedilatildeo do campo
surgiu ainda na graduaccedilatildeo durante palestras estudos debates seminaacuterios para lutar
pelo reconhecimento de uma forma de ensinar dos Educadores do Campo no Campo
para a construccedilatildeo de Saberes e Dizeres na regiatildeo ribeirinha ou no lugar em que ela
aconteccedila
Atraveacutes de observaccedilotildees dos trabalhos de campo e do Tempo-comunidade
realizados durante as disciplinas do Tempo Universidade me despertou o interesse em
aprofundar meus conhecimentos nessa aacuterea levando-me para uma discussatildeo teoacuterica e
praacutetica da qual minha preocupaccedilatildeo ocorre ateacute os dias de hoje pois professores que
tiveram uma educaccedilatildeo bastante cartesiana e urbana levam para as comunidades
ribeirinhas os conhecimentos que aprenderam nas Universidades como modelos isto
eacute servem para explicar a realidade em qualquer contexto seja na cidade urbanizada
seja nos interiores ribeirinhos natildeo se atentando para a valorizaccedilatildeo do conhecimento
local
A ecircnfase principal deste Trabalho de Conclusatildeo do Curso (TCC) reside em
evidenciar como os professores ministram suas aulas nas regiotildees ribeirinhas se
incorporam ou natildeo os conhecimentos do cotidiano de seus alunos para explicar as
disciplinas e com isso valorizar os conhecimentos locais como meio de explicaccedilatildeo da
realidade
Para tanto se utilizaraacute de um meacutetodo nas ciecircncias humanas a observaccedilatildeo
participante aleacutem de entrevistas formais e conversas informais com os professores da
escola Nossa Senhora de Guadalupe
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Assim sendo este trabalho estaacute estruturado da seguinte forma no capiacutetulo 1
intitulado A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha busca-se mostrar um
pouco do surgimento da Educaccedilatildeo do Campo no contexto nacional
O capiacutetulo 2 denominado De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe localiza a
comunidade e aborda a experiecircncia de inserccedilatildeo no loacutecus fazendo uso de imagens para
melhor ambientar o leitor
No capiacutetulo 3 chamado Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais
objetiva descrever como a articulaccedilatildeo entre diferentes conhecimentos no cotidiano da
sala de aula
No capitulo 4 nomeado (Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo
do Campo procura-se relacionar como os conhecimentos cientiacuteficos de um lado e os
conhecimentos tradicionais de outro se datildeo ou deveriam se dar nas aulas
Nas Consideraccedilotildees Finais tenta-se evidenciar um pouco como este
trabalho pode contribuir para outras anaacutelises similares com outros recortes empiacutericos em
trabalhos posteriores
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Capitulo 1
A Educaccedilatildeo do Campo em uma comunidade Ribeirinha
A Educaccedilatildeo do Campo surgiu no seacuteculo passado e colocava em evidencia os
processos de exclusatildeo social poliacutetica econocircmica e cultural que os ldquopovosrdquo ou
ldquocomunidadesrdquo tradicionais vinham e ainda vem sofrendo em diversas regiotildees do Paiacutes
O curso vem trazendo esse olhar multifacetado da realidade do campo
como por exemplo na exploraccedilatildeo e escravizaccedilatildeo de populaccedilotildees indiacutegenas e africanos e
suas vaacuterias etnias em nosso paiacutes desde seu descobrimento assim como suas
consequecircncias nos dias atuais que formavamformam as realidades dos sujeitos por
vezes antagocircnicas da qual Maria Antocircnia de Souza (2010) aponta que
A educaccedilatildeo do Campo surge como novo paradigma para pensar os sujeitos
do campo valorizando seus trabalhos trabalhadores suas particularidades
contradiccedilotildees e organizaccedilatildeo cultural como praacutexis Ela se coloca contra o
paradigma da educaccedilatildeo rural ou seja aquela que esta vinculada aos
interesses do governo como agronegoacutecio do capitalismo agraacuterio e ao
fortalecimento das poliacuteticas do esvaziamento dos sujeitos do campo
(SOUZA 2010)
Isso porque atraveacutes de propagandas ou raacutedios bancos financiadores e outros
meios mostram os investimentos e avanccedilos no campo (elite empresarial) cuja realidade
concreta desses sujeitos vem se tornando mais conhecida por meio de pressotildees de
movimentos sociais organizados na luta por uma educaccedilatildeo de qualidade para os
trabalhadores do campo como nos diz Maria Isabel Pinheiro (2011) para quem
antagonicamente
Inovaram no maquinaacuterio no aumento da produccedilatildeo de gratildeo nos agrotoacutexicos
alteraccedilotildees dos genes das sementes para exportaccedilatildeo em larga escala Mas os
que tem usufruiacutedo desses avanccedilos satildeo pequenos grupos de latifundiaacuterios
empresaacuterios banqueiros e poliacuteticos nacionais e internacionais enquanto a
outros eacute negado o acesso a terra para sobreviver e garantir o sustento de
outros brasileiros (PINHEIRO 2011)
Dessa forma eacute que os Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST) ONGS educadores educando e sociedade civil se articularam e se articulam haacute
tempos lutando e pressionando o governo Federal Estadual e Municipal e em prol de
poliacuteticas puacuteblicas para criar alternativas de permanecircncia dos jovens e trabalhadores do
campo no campo atraveacutes de financiamentos assistecircncia teacutecnica educaccedilatildeo entre outros
Isso vem ocorrendo com a preocupaccedilatildeo de que se valorize os conhecimentos
locais e se planeje o modo mais adequado para uma educaccedilatildeo de qualidade para que
esses jovens possam se qualificar adquirindo saber cientiacutefico e ao mesmo tempo a
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partir da valorizaccedilatildeo de seu lugar como espaccedilo de lutas e resistecircncias para o
reconhecimento de suas comunidades reelaborar
Conforme nos aponta Fernandes (2005) o campo eacute formado por diversos
territoacuterios que aborda todas as espeacutecies de relaccedilotildees humanas O campo requer demandas
distintas cada territoacuterio que forma o campo eacute dotado de particularidades desta categoria
emergem diversas relaccedilotildees Por isso a educaccedilatildeo no campo deve ser pensada
essencialmente dentro de cada contexto caso seja pensada fora dele natildeo eacute educaccedilatildeo
torna-se dominaccedilatildeo
Ainda em diaacutelogo com o autor temos que a educaccedilatildeo no campo surge no
sentido de tornar o indiviacuteduo ocupante dos territoacuterios do campo protagonista do
processo de construccedilatildeo de seu territoacuterio considerando as especificidades deste
Dessa forma autores como Roseli Caldart cuja produccedilatildeo versa sobre
movimentos sociais do campo educaccedilatildeo escola pedagogia do movimento e Bernardo
Manccedilano Fernandes (2008) que aborda principalmente teorias dos territoacuterios
paradigmas da questatildeo agraacuteria e do capitalismo agraacuterio reforma agraacuteria
desenvolvimento territorial Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
tem sido inspiraccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para os novos pesquisadores da Educaccedilatildeo do
Campo como ressalta Fernandes (2008)
No movimento de debate e contestaccedilatildeo da politica e da educaccedilatildeo rural
empreendido pelos movimentos sociais do campo emergem uma nova
concepccedilatildeo de educaccedilatildeo denominada Educaccedilatildeo do Campo (FERNANDES
2008)
No campo mais especiacutefico essas lutas e o conceito de educaccedilatildeo do campo se
fortaleceu e ganhou destaque a partir da I Conferencia Nacional por uma Educaccedilatildeo
Baacutesica do Campo realizada no ano de 1998 a partir dela foram elaborados trabalhos e
coletacircneas versando sobre Educaccedilatildeo do Campo que vieram relatar o processo de sua
construccedilatildeo e fortalecer as demandas por politicas publicas em vaacuterios aspectos da vida
no campo
Nesse mesmo contexto eacute verificada uma grande necessidade em se ter
profissional de educaccedilatildeo especiacutefica para as aacutereas do campo isto eacute profissionais que
possuiacutessem formaccedilatildeo especiacutefica (licenciatura) poacutes-graduaccedilotildees eou aperfeiccediloamentos
na aacuterea da educaccedilatildeo do campo
Para isso foram lanccediladas poliacuteticas quanto agrave educaccedilatildeo formal para
professores como nas licenciaturas em Educaccedilatildeo do Campo seja nas Universidades
Federais (UFS) seja por meio da Formaccedilatildeo continuada Plano Nacional de Formaccedilatildeo de
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Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica (PARFOR) aleacutem de diversificaccedilatildeo das experiecircncias
educativas no campo a exemplo das Casas Familiares Rurais a construccedilatildeo da Escola
Famiacutelia Agriacutecola (EFA) Escolas Itinerantes que ajudam na ampliaccedilatildeo do conhecimento
e ao direito de comunidades ribeirinhas como a de Guadalupe em Abaetetuba a terem
educaccedilatildeo de qualidade e que valorize os conhecimentos locais como salienta Roseli
Caldart (2008)
A Educaccedilatildeo do Campo natildeo se conduz ao debate da escola da formaccedilatildeo
formal ou das propostas pedagoacutegicas A materialidade educativa de origem
da educaccedilatildeo do campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos
da produccedilatildeo e das lutas sociais do campo (CALDART 2008)
A educaccedilatildeo do Campo pretende ir aleacutem das fronteiras educacionais que
antagonizam os curriacuteculos entre cidade e campo como ressalta a Lei de Diretrizes e
Base da Educaccedilatildeo Nacional (1996) ldquoque a oferta da educaccedilatildeo baacutesica agrave populaccedilatildeo rural
natildeo eacute a mesma compreensatildeo dos movimentos sociais e da academia cientiacutefica em
relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do campordquo pois ela (LDB) se volta agrave lapidaccedilatildeo de matildeo de obra
visando o mercado de trabalho sendo isso uma de suas bases e objetivos que buscam
preparar os jovens para o mercado de trabalho seja este no ensino fundamental meacutedio
teacutecnico ou superior como uma preparaccedilatildeo de grande ldquovalorizaccedilatildeordquo
E a educaccedilatildeo do campo traz uma proposta que trabalha com a realidade de
trabalhadores e trabalhadoras do campo relacionada ao trabalho que eles desenvolve no
campo pois precisa-se perceber que ele possui uma caracteriacutestica proacutepria que o
diferencia da sociedade urbana as quais devem ser planejadas pelos educadores da
educaccedilatildeo considerando o meio de onde se fala fazer com que esses sujeitos se
identifique e lute pelos seus direitos enquanto uma sociedade pensada com sua
participaccedilatildeo nos processos educacionais vinculada a sua cultura e necessidades humanas
e sociais
A Educaccedilatildeo do Campo propotildee por isso para as aacutereas ribeirinhas como para
pescadores agricultores e artesatildeos que atraveacutes das organizaccedilotildees possam reivindicar
melhorias e ampliaccedilatildeo na aacuterea escolar infraestrutura para que o ensino chegue ateacute eles
de forma a valorizar os conhecimentos de seus cotidianos e natildeo que eles saiam ou
abandonem seus costumes
Sabemos que a categoria campo natildeo eacute uma categoria homogecircnea ela
engloba diversos grupos sociais que habitam regiotildees geograficamente distintas entatildeo
natildeo podemos pensar em Educaccedilatildeo no Campo sem saber de qual campo estamos falando
19
Essa localidade do qual falo eacute o contexto habitado pelas comunidades das margens do
rio tucumanduba
Nessas localidades o meio impotildee sua dinacircmica agrave vida social e isso
aprofunda a relaccedilatildeo do homem com a natureza ldquoo imaginaacuterio eacute rico e o ribeirinho faz
uso desse imaginaacuterio para explicar fenocircmenos da naturezardquo (LOUREIRO 1995)
Por isso a educaccedilatildeo do campo e curriacuteculo escolar deve estar voltados para
as especificidades do contexto camporibeirinho no caso deste trabalho realizando as
atividades de acordo com o local onde o curriacuteculo deve ser construiacutedo levando em
consideraccedilatildeo aspectos da cultura e da dinacircmica local festividades imaginaacuterios e ateacute as
proacuteprias condiccedilotildees impostas pelo meio Valorizando conhecimentos locais para que os
alunos se situem no fazer escolar e contribua para que saberes e tradiccedilotildees se
reproduzam e se recriem na comunidade seja no vieacutes da tradiccedilatildeo oral seja no vieacutes da
educaccedilatildeo formal ou informal
Dessa forma passamos a perceber a produccedilatildeo cultural social e econocircmica do
local sendo importante para a construccedilatildeo de uma identidade reconhecida seja ela em
acircmbito nacional ou internacional de respeito e valorizaccedilatildeo da pessoa humana ajudando
assim a (re)orientar aqueles que cheguem nessas escolas e nas comunidades ribeirinhas
Assim quando se fala em educaccedilatildeo do campo fala-se em reforma agraacuteria
de construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de biodiversidade de debates sobre cultura
politicas puacuteblicas sendo preciso o tempo todo fazer e refazer as leituras poliacutetico-
pedagoacutegicas econocircmicas e culturais a partir dessas comunidades e das contradiccedilotildees que
nelas estatildeo postas dentro da loacutegica neoliberal que deve ser criticada se queremos uma
Educaccedilatildeo do Campo que efetive ao que se propotildee
20
Capitulo 2
De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe
O Rio Tucumanduba estaacute localizado no municiacutepio de Abaetetuba1 cidade a
duas horas de Beleacutem sendo ambas do Estado do Paraacute Estaacute dividido em Baixo Alto e
Meacutedio Tucumanduba sendo que cada um desses cursos do rio se organizam em torno
de uma comunidade que possuem escolas e igrejas (catoacutelicas ou evangeacutelicas) A
localidade e escola escolhidas para esta pesquisa se situa no rio Tucumanduba meacutedio
Durante as idas para a comunidade para realizar as praacuteticas docentes em
educaccedilatildeo do campo compartilhar e receber saberes da comunidade ribeirinha entre
alunos professores pais parentes e amigos se observa muita simplicidade em cada um
com seus modos de vivecircncia como se movimentam nas canoas andam ou correm no
ldquomiritizerordquo 2 ou como caminham tatildeo firmemente nas pontes e que agrave noite sentam na
ldquocabeccedila da ponterdquo como dizem os moradores locais
Para compartilharem os saberes dos mais velhos da comunidade de suas
tradiccedilotildees suas regras e modos de vivecircncia na ldquocalmariardquo em um lugar de vaacuterzea
contos histoacuterias com exuberante imensidatildeo de aacutegua aacutervores e animais que leva e traz
conhecimentos entre os rios e mareacutes de comunidades a comunidades assim como agraves
cidades em que os moradores circulam (vendem seu produtos como o accedilaiacute) como em
Abaetetuba Beleacutem e outras cidades
O trajeto das ldquofreteirasrdquo3 que sai das comunidades ribeirinhas ateacute a cidade
de Abaetetuba eacute feito de porto em porto buscando passageiros por volta das quatro
horas da manhatilde As ldquofreteirasrdquo transportam aleacutem de pessoas que vatildeo para fazer vendas
de seus produtos (accedilaiacute peixe farinha e outros) produtos trazidos da cidade e pessoas
(crianccedilas jovens e velhos) que procuram hospitais ou cliacutenicas entre outros
Chegando ao porto ou trapiche de Abaetetuba( imagem nordm 01) por volta das
seis horas da manhatilde os passageiros ou vem conversando ou dormindo no barco ateacute
1 Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio de
Abaetetuba possui uma populaccedilatildeo de 141054 habitantes sendo que 82950 vivem na cidade e 58104
vivem na zona ruralcampo nas inuacutemeras colocircnias rios igarapeacutes e ilhas A populaccedilatildeo ribeirinha em
especial eacute muito grande e satildeo isentos de seguranccedila serviccedilos baacutesico de sauacutede aacutereas de lazer entre outros
dependendo exclusivamente da cidade 2 ldquoMiritizerordquo tronco de aacutervore geralmente que eacute colocada como uma espeacutecie de ponte entre a terra e o
rio 3 ldquoFreteirasrdquo barcos ou embarcaccedilotildees de grande meacutedio ou pequeno porte que transportam moradores dos
rios ateacute agraves cidades no caso deste trabalho para Abaetetuba
21
chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove
horas da manhatilde
Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba
Fonte Google Imagens2015
Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para
regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o
tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de
gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto
ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu
destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas
com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de
transporte para esse local o hidroviaacuterio
Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava
em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das
aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares
observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas
baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que
atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo
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Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que
estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio
(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por
virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha
famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como
algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta
pesquisa
De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos
que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios
de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que
satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em
um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem
natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute
integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense
o ribeirinho
Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia
enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de
dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola
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Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem
nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso
passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja
Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de
Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como
Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os
alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir
Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas
denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf
Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um
passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local
Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e
Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade
de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental
Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino
satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de
Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo
anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo
O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele
vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo
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do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de
conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de
recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia
de cursar o ensino meacutedio
Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de
rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com
carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura
saberes e processos histoacutericos
Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado
dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos
com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e
permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade
identidade e saberes locais debatidos em sala de aula
Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se
levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se
dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a
complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com
que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo
o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na
zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas
movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se
compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas
A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado
estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$
600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno
professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente
de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor
Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada
moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito
educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas
delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola
informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que
hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado
25
uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo
voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4
O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de
ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em
formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para
os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e
ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas
diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual
Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de
accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas
famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou
aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha
conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador
associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs
durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de
paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada
regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos
durante esse periacuteodo
Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de
comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo
na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da
quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico
4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da
Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA
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Capitulo 3
Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais
Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco
da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de
Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema
de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em
relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos
possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de
educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo
Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo
as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro
do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como
organizam os conteuacutedos
Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam
meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo
do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do
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campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso
somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta
pesquisa
Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes
localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como
Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros
Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os
coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra
localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)
Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz
parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba
com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo
ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois
passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo
ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas
e continua
Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos
dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar
seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
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Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter
viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a
necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que
o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas
aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua
Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo
dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles
exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural
poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida
cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas
comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios
primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e
acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social
dentro de sua comunidade
A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz
conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de
idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos
artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de
idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns
momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e
adultos
Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo
entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo
aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo
dessa comunidade
Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante
no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o
sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em
qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes
culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade
5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades
segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do
presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo
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Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o
trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu
dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta
Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o
entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e
conferem sentido agrave sua existecircnciardquo
Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu
acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana
desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito
antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os
mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e
chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola
Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo
comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem
outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno
quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute
patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo
apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater
o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7
estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo
da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe
atrasa a chegada
Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees
podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo
do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo
sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)
legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento
promovendo a Pedagogia da Alternacircncia
Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se
estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se
tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento
6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo
7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que
navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente
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alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas
experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de
aprendizagens a partir desse movimento
Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador
do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes
agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma
troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais
Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)
interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os
modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam
desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso
levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida
em comunidade
O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por
exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas
e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de
aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao
ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia
Andrade (1993)
Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades
agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido
os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem
no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a
educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud
ANDRADE 1993)
Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de
experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa
diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da
pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos
pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais
legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes
semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e
elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural
8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore
apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto
das aacutervores
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Capitulo 4
(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo
A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a
base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um
novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem
na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e
que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar
pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa
histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade
Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que
traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave
permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes
valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos
organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida
As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que
sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os
professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona
pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho
pedagoacutegico
Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola
da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de
educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e
das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)
Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o
grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se
trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees
sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua
particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos
sociais e da cultura como praacutexis
Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de
profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que
eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas
32
dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo
em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias
indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas
lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades
ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de
trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a
educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a
isto que ela se propotildee
E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando
estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas
histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e
se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo
Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as
escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas
recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de
2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam
ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os
alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de
chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no
processo de ensino- aprendizagem
Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo
natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse
em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e
meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam
durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua
trajetoacuteria
O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser
humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as
comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da
histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de
conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos
alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de
forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo
esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes
33
Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos
educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de
descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar
democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica
e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos
ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do
conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como
um criacutetico- dialeacutetico
De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de
apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros
fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e
suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que
passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o
conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico
despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos
O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de
conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do
campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo
praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social
direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora
Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de
ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da
cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de
educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na
cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias
Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do
Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de
mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem
curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)
Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia
profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino
possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo
aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta
(FREIRE 2003)
34
Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam
realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos
livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se
afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)
A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do
conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica
tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu
desmascaramento (FREIRE 2003)
Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de
dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo
precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo
diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do
aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos
negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos
Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro
preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se
antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio
com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na
formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde
emerge esse profissional
Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a
valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de
nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador
existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo
humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo
O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a
desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do
discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-
existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e
poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)
Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na
educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a
comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue
persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar
35
traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia
essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os
educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos
troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que
se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se
preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da
perseveranccedilardquo
O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que
devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates
mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa
cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na
historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em
possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)
Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e
aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o
pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos
seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos
desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser
livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire
(2001)
E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza
(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade
(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes
(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades
accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo
(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute
possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar
social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de
cultura de educaccedilatildeordquo
36
Consideraccedilotildees Finais
A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo
simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no
e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo
Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na
busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos
cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem
desenvolvido em um contexto ribeirinho
Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o
propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as
demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do
Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu
histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar
Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir
articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar
em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas
educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o
professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes
desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que
possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem
A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar
os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja
percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo
educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas
verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto
profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a
educaccedilatildeo do campo
A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos
professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte
no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria
Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores
comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo
conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo
37
encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da
comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo
Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os
processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees
para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo
soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos
curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos
inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do
Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo
acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees
38
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Abstract
This work examines the practices of teachers Modular Teaching Organization System
(SOME) of the Elementary School and Middle School Our Lady of Guadalupe located
in Rio Tucumanduba municipality of Abaetetuba To this end we used authors of the
areas of Education education field and social sciences as well as informal interviews
with teachers of this school showing how they develop their curricula and educational
processes in the classroom and whether they value these knowledge The results reveal
concerns as research educators working for years in traditional communities presented
here on the seashore school working from the smallest elementary school full-time and
high school works on a rotation system of integrated educators to SOME which in turn
during conversations and justified interviews the lack of time because for sixty days
have to close the discipline so there would be moments of interaction with the
community and students and thus prepare lessons we approach the textbook with the
reality of the place
Keywords Rio Tucumanduba Community of Guadalupe Rural Education Scientific
knowledge and local Knowledge
Lista de Imagens
Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba (p 21)
Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe (p 22)
Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe (p 23)
Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe (p 26)
Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe (p 27)
11
Introduccedilatildeo
Quando o curso de Educaccedilatildeo do Campo foi lanccedilado pela primeira vez no
edital da entatildeo Universidade Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute hoje
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute logo me chamou atenccedilatildeo por ser um
curso ldquonovordquo no Estado do Paraacute uma vez que jaacute vinha sendo trilhado em outras
universidades a exemplo da Universidade santa Catarina (UFSC) Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Universidade de Brasiacutelia (UNB) Aleacutem disso me
chamava atenccedilatildeo tambeacutem o fato de o curso ser voltado para a aacuterea do campo que se
inserem povos ribeirinhos quilombolas e indiacutegenas Um curso preocupado com esses
grupos sociais especiacuteficos com a valorizaccedilatildeo de seus costumes saberes e dizeres e
demandas imanentes do campo
Nesse interim ao iniciar o curso em Educaccedilatildeo do Campo na Universidade
Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute 2009 fui estranhando e ao mesmo tempo me
identificando com leituras temaacuteticas e objetivos do curso Entre estranhamento
construccedilatildeo e (des) construccedilotildees o curso se mostrou muito frutiacutefero em informaccedilotildees que
me instigavam o olhar Tratava-se de um curso intervalar ou em regime de alternacircncia
pedagoacutegica realizado nos meses de janeiro-fevereiro e junho e agosto pela manhatilde e
tarde nesses meses
Como moradora do Municiacutepio de Abaetetuba a ideia que eu tinha de campo
diferia das ideias abordadas nas primeiras aulas Logo percebi como o curso estava
voltado para o contexto que marcava a regiatildeo de Marabaacute os conflitos por terra os
atores sociais integrantes do Movimento Sem Terra fazendeiros
Todos os demais alunos da turma faziam parte desse contexto estavam de
alguma forma ligados ao Movimento Sem Terra A imagem que eu possuiacutea do
movimento era totalmente deturpada formada pela miacutedia ideias do senso comum que
reforccedilavam a ideia do movimento como um grupo de pessoas que queriam o direito de
se apropriar de algo que natildeo lhes pertencia pessoas que natildeo precisavam de terras
Por conta disso nesse primeiro momento de 2009 o curso para mim natildeo
durou quinze dias durante o mecircs de julho pois resolvi deixar a Universidade natildeo soacute
por problemas pessoais mas sim por esse embate de ideias que naquele momento
quebrara as minhas expectativas em relaccedilatildeo ao curso Minha matildee estava abrindo uma
loja de confecccedilotildees eu e meu irmatildeo ajudaacutevamos na organizaccedilatildeo Com o passar do
tempo quando os negoacutecios jaacute estavam organizados resolvi voltar para a Universidade
12
na turma de 2010 que continham novos companheiros que me esclareceram e
esclarecem ateacute hoje minhas duacutevidas sobre Movimentos Sociais Organizados do
Campo
Quando reiniciei as aulas na ocasiatildeo do seminaacuterio de apresentaccedilatildeo de
Educaccedilatildeo do Campo estavam presentes lideranccedilas como Charles Trocate dos
Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e vaacuterias outras entidades
civis organizadas fazendo um interessante apanhado das lutas sociais e confrontos que
serviram de alicerce para poliacuteticas puacuteblicas e por uma Educaccedilatildeo dono Campo
valorizada e pensada para e pelos povos do campo
Durante o seminaacuterio Charles Trocate comentou sobre o iniacutecio o dos MTS
seus objetivos lutas perdas e conquistas De como eacute importante grupos se definirem e
se identificarem para que possam lutar por seus direitos montar estrateacutegias de
discussotildees com o governo para que este veja de onde a massa popular se afirma de
onde fala e que poliacuteticas puacuteblicas sejam efetivadas
O seminaacuterio me permitiu compreender que o Curso de Educaccedilatildeo do Campo
junto aos Movimentos Sociais eacute uma entre outras conquistas pois os filhos de
camponeses ribeirinho quilombolas e povos indiacutegenas estatildeo entrando nas
Universidades e se graduando se especializando para poder se expandir e mostrar que
eles (re)existir com seu modo e sua tradiccedilatildeo e juntos compartilhar conhecimentos
Nesses uacuteltimos quatro anos (2010-2014) de conhecimentos trocas de
experiecircncias e ensinamentos neste curso junto a professores vindos de diferentes
localidades e que natildeo nos deixavam com duacutevidas durante as disciplinas pois seus
compromissos como docentes e a luta por uma mesma causa (educaccedilatildeo do campo)
nos tornavam a cada aula defensores compromissados com a educaccedilatildeo do campo
proporcionando ao mesmo tempo teorias que nos faziam criticar os modelos sobre os
quais ciecircncias satildeo ensinada nas salas de aula
Aleacutem disso eacute importante ressaltar que por ser oriunda de AbaetetubaParaacute
aproximadamente a quatrocentos e cinquenta e seis quilocircmetros da cidade de Marabaacute
onde cursei Educaccedilatildeo do Campo trazia comigo um diferencial pois abordava em
meus trabalhos minhas experiecircncias do campesinato de minha localidade o que para a
realidade onde a maioria dos discentes eram da regiatildeo de Marabaacute era totalmente novo
assim como fora no inicio para mim
Tudo aquilo que eu mostrava durante as apresentaccedilotildees dos Trabalhos de
Campo do Tempo-Comunidade por ser desconhecido ficava mais interessante e nessas
13
trocas de conhecimentos passaacutevamos a perceber outras regiotildees tatildeo pertinho de noacutes e
juntos misturaacutevamos nossas crenccedilas costumes tradiccedilotildees mitos e histoacuterias essas
contadas na sala da diversidade cultural
O Curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz novos pressupostos
de educaccedilatildeo com uma formaccedilatildeo de sujeitos diferenciados possibilita que o educador
do campo e alunos realizem a troca de conhecimento e adequem esse processo de
forma mais agradaacutevel para ambos
De acordo com CORDEIRO REIS amp HAGE (2011) a Pedagogia da
Alternacircncia eacute uma estrateacutegia bem pensada que articula espaccedilos educativos concebe
que a educaccedilatildeo pode se realizar tanto em sala de aula quanto nos outros espaccedilos que
compotildeem o conviacutevio social dos alunos Os educandos do campo podem assim ter
acesso agrave escola sem ter que abandonar o trabalho sem deixar de lado o aprendizado
proveniente da vida na sua comunidade
Desta forma o que propotildee esta praacutetica pedagoacutegica eacute que o educando possa
refletir sobre sua proacutepria realidade seja capaz de aplicar os conhecimentos cientiacuteficos
que apreende no espaccedilo formal de educaccedilatildeo em seu cotidiano
O curso de Educaccedilatildeo do campo faz uso estrateacutegico dessa metodologia pois
se encontra dividido em dois periacuteodos especiacuteficos o primeiro chamado Tempo-
Universidade ocorre em janeiro-fevereiro e julho e Agosto neste periacuteodo os alunos de
diferentes localidades juntos em sala preparam momentos de trocas experiecircncias e de
conhecimentos durante seminaacuterios debates rodas de conversas
Ocorre todo um aprendizado teoacuterico de autores das aacutereas de sociologia filosofia
histoacuteria geografia e de educadores do campo No Tempo-Universidade aprendemos o
modo como conversar com a comunidade para obter as informaccedilotildees e conhecimentos
necessaacuterios para serem repassados em nosso acircmbito familiar e educacional deixando em
cada um algo que os toquem socialmente
O segundo periacuteodo ocorre nos meses que estamos fora da Universidade eacute
denominado de Tempo-Comunidade (T-C) Durante esse tempo colocamos em praacutetica
tudo o que aprendemos na academia cientifica em comunidades ribeirinhas
quilombolas indiacutegenas e outras
Durante os trabalhos de Campo no periacuteodo Tempo-Comunidade para pocircr
em praacutetica o que aprendemos em sala de aula presenciei por diversas vezes o modo
como os professores do Sistema de Organizaccedilatildeo de Ensino Modular (SOME)
professores esses que se movimentam de comunidade em comunidade ministravam
14
suas aulas durante dois meses em cada escola trazendo estilos de conhecimentos
(saberes cientiacuteficos) que aprenderam nas universidades que por vezes natildeo condiziam
com as realidades da comunidade ribeirinha que eu fazia minha praacutetica de ensino
Tendo por base os nossos conhecimentos cotidianos que constroem nossas
identidades cada educando escolheu um local para o desenvolvimento do respectivo
Trabalho de Campo partindo de uma das primeiras aulas ministradas pela professora
Dra Idelma Santiago sobre Aacutervores Genealoacutegicas no Tempo Universidade na qual
fizemos uma investigaccedilatildeo metodoloacutegica a fim de reconhecermos os saberes do lugar
de onde viemos
Escolhi entatildeo uma dentre as setenta e duas Ilhas ribeirinhas de Abaetetuba
situada no Rio TucumandubandashMeacutedio sendo este um dos afluentes do Rio Paraacute da
cidade de Abaetetuba O interesse pelo tema da educaccedilatildeo em educaccedilatildeo do campo
surgiu ainda na graduaccedilatildeo durante palestras estudos debates seminaacuterios para lutar
pelo reconhecimento de uma forma de ensinar dos Educadores do Campo no Campo
para a construccedilatildeo de Saberes e Dizeres na regiatildeo ribeirinha ou no lugar em que ela
aconteccedila
Atraveacutes de observaccedilotildees dos trabalhos de campo e do Tempo-comunidade
realizados durante as disciplinas do Tempo Universidade me despertou o interesse em
aprofundar meus conhecimentos nessa aacuterea levando-me para uma discussatildeo teoacuterica e
praacutetica da qual minha preocupaccedilatildeo ocorre ateacute os dias de hoje pois professores que
tiveram uma educaccedilatildeo bastante cartesiana e urbana levam para as comunidades
ribeirinhas os conhecimentos que aprenderam nas Universidades como modelos isto
eacute servem para explicar a realidade em qualquer contexto seja na cidade urbanizada
seja nos interiores ribeirinhos natildeo se atentando para a valorizaccedilatildeo do conhecimento
local
A ecircnfase principal deste Trabalho de Conclusatildeo do Curso (TCC) reside em
evidenciar como os professores ministram suas aulas nas regiotildees ribeirinhas se
incorporam ou natildeo os conhecimentos do cotidiano de seus alunos para explicar as
disciplinas e com isso valorizar os conhecimentos locais como meio de explicaccedilatildeo da
realidade
Para tanto se utilizaraacute de um meacutetodo nas ciecircncias humanas a observaccedilatildeo
participante aleacutem de entrevistas formais e conversas informais com os professores da
escola Nossa Senhora de Guadalupe
15
Assim sendo este trabalho estaacute estruturado da seguinte forma no capiacutetulo 1
intitulado A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha busca-se mostrar um
pouco do surgimento da Educaccedilatildeo do Campo no contexto nacional
O capiacutetulo 2 denominado De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe localiza a
comunidade e aborda a experiecircncia de inserccedilatildeo no loacutecus fazendo uso de imagens para
melhor ambientar o leitor
No capiacutetulo 3 chamado Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais
objetiva descrever como a articulaccedilatildeo entre diferentes conhecimentos no cotidiano da
sala de aula
No capitulo 4 nomeado (Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo
do Campo procura-se relacionar como os conhecimentos cientiacuteficos de um lado e os
conhecimentos tradicionais de outro se datildeo ou deveriam se dar nas aulas
Nas Consideraccedilotildees Finais tenta-se evidenciar um pouco como este
trabalho pode contribuir para outras anaacutelises similares com outros recortes empiacutericos em
trabalhos posteriores
16
Capitulo 1
A Educaccedilatildeo do Campo em uma comunidade Ribeirinha
A Educaccedilatildeo do Campo surgiu no seacuteculo passado e colocava em evidencia os
processos de exclusatildeo social poliacutetica econocircmica e cultural que os ldquopovosrdquo ou
ldquocomunidadesrdquo tradicionais vinham e ainda vem sofrendo em diversas regiotildees do Paiacutes
O curso vem trazendo esse olhar multifacetado da realidade do campo
como por exemplo na exploraccedilatildeo e escravizaccedilatildeo de populaccedilotildees indiacutegenas e africanos e
suas vaacuterias etnias em nosso paiacutes desde seu descobrimento assim como suas
consequecircncias nos dias atuais que formavamformam as realidades dos sujeitos por
vezes antagocircnicas da qual Maria Antocircnia de Souza (2010) aponta que
A educaccedilatildeo do Campo surge como novo paradigma para pensar os sujeitos
do campo valorizando seus trabalhos trabalhadores suas particularidades
contradiccedilotildees e organizaccedilatildeo cultural como praacutexis Ela se coloca contra o
paradigma da educaccedilatildeo rural ou seja aquela que esta vinculada aos
interesses do governo como agronegoacutecio do capitalismo agraacuterio e ao
fortalecimento das poliacuteticas do esvaziamento dos sujeitos do campo
(SOUZA 2010)
Isso porque atraveacutes de propagandas ou raacutedios bancos financiadores e outros
meios mostram os investimentos e avanccedilos no campo (elite empresarial) cuja realidade
concreta desses sujeitos vem se tornando mais conhecida por meio de pressotildees de
movimentos sociais organizados na luta por uma educaccedilatildeo de qualidade para os
trabalhadores do campo como nos diz Maria Isabel Pinheiro (2011) para quem
antagonicamente
Inovaram no maquinaacuterio no aumento da produccedilatildeo de gratildeo nos agrotoacutexicos
alteraccedilotildees dos genes das sementes para exportaccedilatildeo em larga escala Mas os
que tem usufruiacutedo desses avanccedilos satildeo pequenos grupos de latifundiaacuterios
empresaacuterios banqueiros e poliacuteticos nacionais e internacionais enquanto a
outros eacute negado o acesso a terra para sobreviver e garantir o sustento de
outros brasileiros (PINHEIRO 2011)
Dessa forma eacute que os Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST) ONGS educadores educando e sociedade civil se articularam e se articulam haacute
tempos lutando e pressionando o governo Federal Estadual e Municipal e em prol de
poliacuteticas puacuteblicas para criar alternativas de permanecircncia dos jovens e trabalhadores do
campo no campo atraveacutes de financiamentos assistecircncia teacutecnica educaccedilatildeo entre outros
Isso vem ocorrendo com a preocupaccedilatildeo de que se valorize os conhecimentos
locais e se planeje o modo mais adequado para uma educaccedilatildeo de qualidade para que
esses jovens possam se qualificar adquirindo saber cientiacutefico e ao mesmo tempo a
17
partir da valorizaccedilatildeo de seu lugar como espaccedilo de lutas e resistecircncias para o
reconhecimento de suas comunidades reelaborar
Conforme nos aponta Fernandes (2005) o campo eacute formado por diversos
territoacuterios que aborda todas as espeacutecies de relaccedilotildees humanas O campo requer demandas
distintas cada territoacuterio que forma o campo eacute dotado de particularidades desta categoria
emergem diversas relaccedilotildees Por isso a educaccedilatildeo no campo deve ser pensada
essencialmente dentro de cada contexto caso seja pensada fora dele natildeo eacute educaccedilatildeo
torna-se dominaccedilatildeo
Ainda em diaacutelogo com o autor temos que a educaccedilatildeo no campo surge no
sentido de tornar o indiviacuteduo ocupante dos territoacuterios do campo protagonista do
processo de construccedilatildeo de seu territoacuterio considerando as especificidades deste
Dessa forma autores como Roseli Caldart cuja produccedilatildeo versa sobre
movimentos sociais do campo educaccedilatildeo escola pedagogia do movimento e Bernardo
Manccedilano Fernandes (2008) que aborda principalmente teorias dos territoacuterios
paradigmas da questatildeo agraacuteria e do capitalismo agraacuterio reforma agraacuteria
desenvolvimento territorial Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
tem sido inspiraccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para os novos pesquisadores da Educaccedilatildeo do
Campo como ressalta Fernandes (2008)
No movimento de debate e contestaccedilatildeo da politica e da educaccedilatildeo rural
empreendido pelos movimentos sociais do campo emergem uma nova
concepccedilatildeo de educaccedilatildeo denominada Educaccedilatildeo do Campo (FERNANDES
2008)
No campo mais especiacutefico essas lutas e o conceito de educaccedilatildeo do campo se
fortaleceu e ganhou destaque a partir da I Conferencia Nacional por uma Educaccedilatildeo
Baacutesica do Campo realizada no ano de 1998 a partir dela foram elaborados trabalhos e
coletacircneas versando sobre Educaccedilatildeo do Campo que vieram relatar o processo de sua
construccedilatildeo e fortalecer as demandas por politicas publicas em vaacuterios aspectos da vida
no campo
Nesse mesmo contexto eacute verificada uma grande necessidade em se ter
profissional de educaccedilatildeo especiacutefica para as aacutereas do campo isto eacute profissionais que
possuiacutessem formaccedilatildeo especiacutefica (licenciatura) poacutes-graduaccedilotildees eou aperfeiccediloamentos
na aacuterea da educaccedilatildeo do campo
Para isso foram lanccediladas poliacuteticas quanto agrave educaccedilatildeo formal para
professores como nas licenciaturas em Educaccedilatildeo do Campo seja nas Universidades
Federais (UFS) seja por meio da Formaccedilatildeo continuada Plano Nacional de Formaccedilatildeo de
18
Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica (PARFOR) aleacutem de diversificaccedilatildeo das experiecircncias
educativas no campo a exemplo das Casas Familiares Rurais a construccedilatildeo da Escola
Famiacutelia Agriacutecola (EFA) Escolas Itinerantes que ajudam na ampliaccedilatildeo do conhecimento
e ao direito de comunidades ribeirinhas como a de Guadalupe em Abaetetuba a terem
educaccedilatildeo de qualidade e que valorize os conhecimentos locais como salienta Roseli
Caldart (2008)
A Educaccedilatildeo do Campo natildeo se conduz ao debate da escola da formaccedilatildeo
formal ou das propostas pedagoacutegicas A materialidade educativa de origem
da educaccedilatildeo do campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos
da produccedilatildeo e das lutas sociais do campo (CALDART 2008)
A educaccedilatildeo do Campo pretende ir aleacutem das fronteiras educacionais que
antagonizam os curriacuteculos entre cidade e campo como ressalta a Lei de Diretrizes e
Base da Educaccedilatildeo Nacional (1996) ldquoque a oferta da educaccedilatildeo baacutesica agrave populaccedilatildeo rural
natildeo eacute a mesma compreensatildeo dos movimentos sociais e da academia cientiacutefica em
relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do campordquo pois ela (LDB) se volta agrave lapidaccedilatildeo de matildeo de obra
visando o mercado de trabalho sendo isso uma de suas bases e objetivos que buscam
preparar os jovens para o mercado de trabalho seja este no ensino fundamental meacutedio
teacutecnico ou superior como uma preparaccedilatildeo de grande ldquovalorizaccedilatildeordquo
E a educaccedilatildeo do campo traz uma proposta que trabalha com a realidade de
trabalhadores e trabalhadoras do campo relacionada ao trabalho que eles desenvolve no
campo pois precisa-se perceber que ele possui uma caracteriacutestica proacutepria que o
diferencia da sociedade urbana as quais devem ser planejadas pelos educadores da
educaccedilatildeo considerando o meio de onde se fala fazer com que esses sujeitos se
identifique e lute pelos seus direitos enquanto uma sociedade pensada com sua
participaccedilatildeo nos processos educacionais vinculada a sua cultura e necessidades humanas
e sociais
A Educaccedilatildeo do Campo propotildee por isso para as aacutereas ribeirinhas como para
pescadores agricultores e artesatildeos que atraveacutes das organizaccedilotildees possam reivindicar
melhorias e ampliaccedilatildeo na aacuterea escolar infraestrutura para que o ensino chegue ateacute eles
de forma a valorizar os conhecimentos de seus cotidianos e natildeo que eles saiam ou
abandonem seus costumes
Sabemos que a categoria campo natildeo eacute uma categoria homogecircnea ela
engloba diversos grupos sociais que habitam regiotildees geograficamente distintas entatildeo
natildeo podemos pensar em Educaccedilatildeo no Campo sem saber de qual campo estamos falando
19
Essa localidade do qual falo eacute o contexto habitado pelas comunidades das margens do
rio tucumanduba
Nessas localidades o meio impotildee sua dinacircmica agrave vida social e isso
aprofunda a relaccedilatildeo do homem com a natureza ldquoo imaginaacuterio eacute rico e o ribeirinho faz
uso desse imaginaacuterio para explicar fenocircmenos da naturezardquo (LOUREIRO 1995)
Por isso a educaccedilatildeo do campo e curriacuteculo escolar deve estar voltados para
as especificidades do contexto camporibeirinho no caso deste trabalho realizando as
atividades de acordo com o local onde o curriacuteculo deve ser construiacutedo levando em
consideraccedilatildeo aspectos da cultura e da dinacircmica local festividades imaginaacuterios e ateacute as
proacuteprias condiccedilotildees impostas pelo meio Valorizando conhecimentos locais para que os
alunos se situem no fazer escolar e contribua para que saberes e tradiccedilotildees se
reproduzam e se recriem na comunidade seja no vieacutes da tradiccedilatildeo oral seja no vieacutes da
educaccedilatildeo formal ou informal
Dessa forma passamos a perceber a produccedilatildeo cultural social e econocircmica do
local sendo importante para a construccedilatildeo de uma identidade reconhecida seja ela em
acircmbito nacional ou internacional de respeito e valorizaccedilatildeo da pessoa humana ajudando
assim a (re)orientar aqueles que cheguem nessas escolas e nas comunidades ribeirinhas
Assim quando se fala em educaccedilatildeo do campo fala-se em reforma agraacuteria
de construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de biodiversidade de debates sobre cultura
politicas puacuteblicas sendo preciso o tempo todo fazer e refazer as leituras poliacutetico-
pedagoacutegicas econocircmicas e culturais a partir dessas comunidades e das contradiccedilotildees que
nelas estatildeo postas dentro da loacutegica neoliberal que deve ser criticada se queremos uma
Educaccedilatildeo do Campo que efetive ao que se propotildee
20
Capitulo 2
De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe
O Rio Tucumanduba estaacute localizado no municiacutepio de Abaetetuba1 cidade a
duas horas de Beleacutem sendo ambas do Estado do Paraacute Estaacute dividido em Baixo Alto e
Meacutedio Tucumanduba sendo que cada um desses cursos do rio se organizam em torno
de uma comunidade que possuem escolas e igrejas (catoacutelicas ou evangeacutelicas) A
localidade e escola escolhidas para esta pesquisa se situa no rio Tucumanduba meacutedio
Durante as idas para a comunidade para realizar as praacuteticas docentes em
educaccedilatildeo do campo compartilhar e receber saberes da comunidade ribeirinha entre
alunos professores pais parentes e amigos se observa muita simplicidade em cada um
com seus modos de vivecircncia como se movimentam nas canoas andam ou correm no
ldquomiritizerordquo 2 ou como caminham tatildeo firmemente nas pontes e que agrave noite sentam na
ldquocabeccedila da ponterdquo como dizem os moradores locais
Para compartilharem os saberes dos mais velhos da comunidade de suas
tradiccedilotildees suas regras e modos de vivecircncia na ldquocalmariardquo em um lugar de vaacuterzea
contos histoacuterias com exuberante imensidatildeo de aacutegua aacutervores e animais que leva e traz
conhecimentos entre os rios e mareacutes de comunidades a comunidades assim como agraves
cidades em que os moradores circulam (vendem seu produtos como o accedilaiacute) como em
Abaetetuba Beleacutem e outras cidades
O trajeto das ldquofreteirasrdquo3 que sai das comunidades ribeirinhas ateacute a cidade
de Abaetetuba eacute feito de porto em porto buscando passageiros por volta das quatro
horas da manhatilde As ldquofreteirasrdquo transportam aleacutem de pessoas que vatildeo para fazer vendas
de seus produtos (accedilaiacute peixe farinha e outros) produtos trazidos da cidade e pessoas
(crianccedilas jovens e velhos) que procuram hospitais ou cliacutenicas entre outros
Chegando ao porto ou trapiche de Abaetetuba( imagem nordm 01) por volta das
seis horas da manhatilde os passageiros ou vem conversando ou dormindo no barco ateacute
1 Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio de
Abaetetuba possui uma populaccedilatildeo de 141054 habitantes sendo que 82950 vivem na cidade e 58104
vivem na zona ruralcampo nas inuacutemeras colocircnias rios igarapeacutes e ilhas A populaccedilatildeo ribeirinha em
especial eacute muito grande e satildeo isentos de seguranccedila serviccedilos baacutesico de sauacutede aacutereas de lazer entre outros
dependendo exclusivamente da cidade 2 ldquoMiritizerordquo tronco de aacutervore geralmente que eacute colocada como uma espeacutecie de ponte entre a terra e o
rio 3 ldquoFreteirasrdquo barcos ou embarcaccedilotildees de grande meacutedio ou pequeno porte que transportam moradores dos
rios ateacute agraves cidades no caso deste trabalho para Abaetetuba
21
chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove
horas da manhatilde
Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba
Fonte Google Imagens2015
Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para
regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o
tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de
gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto
ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu
destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas
com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de
transporte para esse local o hidroviaacuterio
Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava
em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das
aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares
observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas
baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que
atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo
22
Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que
estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio
(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por
virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha
famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como
algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta
pesquisa
De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos
que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios
de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que
satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em
um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem
natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute
integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense
o ribeirinho
Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia
enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de
dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola
23
Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem
nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso
passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja
Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de
Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como
Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os
alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir
Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas
denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf
Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um
passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local
Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e
Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade
de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental
Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino
satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de
Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo
anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo
O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele
vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo
24
do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de
conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de
recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia
de cursar o ensino meacutedio
Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de
rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com
carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura
saberes e processos histoacutericos
Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado
dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos
com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e
permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade
identidade e saberes locais debatidos em sala de aula
Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se
levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se
dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a
complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com
que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo
o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na
zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas
movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se
compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas
A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado
estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$
600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno
professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente
de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor
Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada
moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito
educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas
delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola
informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que
hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado
25
uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo
voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4
O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de
ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em
formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para
os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e
ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas
diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual
Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de
accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas
famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou
aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha
conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador
associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs
durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de
paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada
regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos
durante esse periacuteodo
Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de
comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo
na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da
quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico
4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da
Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA
26
Capitulo 3
Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais
Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco
da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de
Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema
de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em
relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos
possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de
educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo
Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo
as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro
do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como
organizam os conteuacutedos
Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam
meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo
do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do
27
campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso
somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta
pesquisa
Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes
localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como
Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros
Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os
coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra
localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)
Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz
parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba
com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo
ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois
passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo
ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas
e continua
Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos
dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar
seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
28
Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter
viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a
necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que
o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas
aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua
Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo
dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles
exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural
poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida
cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas
comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios
primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e
acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social
dentro de sua comunidade
A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz
conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de
idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos
artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de
idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns
momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e
adultos
Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo
entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo
aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo
dessa comunidade
Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante
no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o
sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em
qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes
culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade
5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades
segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do
presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo
29
Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o
trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu
dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta
Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o
entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e
conferem sentido agrave sua existecircnciardquo
Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu
acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana
desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito
antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os
mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e
chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola
Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo
comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem
outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno
quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute
patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo
apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater
o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7
estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo
da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe
atrasa a chegada
Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees
podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo
do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo
sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)
legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento
promovendo a Pedagogia da Alternacircncia
Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se
estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se
tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento
6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo
7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que
navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente
30
alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas
experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de
aprendizagens a partir desse movimento
Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador
do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes
agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma
troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais
Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)
interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os
modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam
desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso
levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida
em comunidade
O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por
exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas
e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de
aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao
ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia
Andrade (1993)
Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades
agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido
os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem
no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a
educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud
ANDRADE 1993)
Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de
experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa
diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da
pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos
pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais
legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes
semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e
elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural
8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore
apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto
das aacutervores
31
Capitulo 4
(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo
A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a
base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um
novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem
na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e
que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar
pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa
histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade
Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que
traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave
permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes
valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos
organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida
As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que
sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os
professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona
pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho
pedagoacutegico
Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola
da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de
educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e
das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)
Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o
grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se
trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees
sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua
particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos
sociais e da cultura como praacutexis
Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de
profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que
eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas
32
dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo
em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias
indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas
lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades
ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de
trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a
educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a
isto que ela se propotildee
E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando
estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas
histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e
se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo
Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as
escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas
recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de
2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam
ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os
alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de
chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no
processo de ensino- aprendizagem
Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo
natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse
em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e
meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam
durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua
trajetoacuteria
O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser
humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as
comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da
histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de
conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos
alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de
forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo
esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes
33
Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos
educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de
descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar
democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica
e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos
ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do
conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como
um criacutetico- dialeacutetico
De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de
apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros
fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e
suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que
passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o
conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico
despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos
O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de
conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do
campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo
praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social
direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora
Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de
ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da
cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de
educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na
cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias
Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do
Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de
mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem
curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)
Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia
profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino
possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo
aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta
(FREIRE 2003)
34
Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam
realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos
livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se
afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)
A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do
conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica
tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu
desmascaramento (FREIRE 2003)
Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de
dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo
precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo
diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do
aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos
negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos
Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro
preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se
antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio
com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na
formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde
emerge esse profissional
Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a
valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de
nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador
existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo
humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo
O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a
desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do
discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-
existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e
poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)
Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na
educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a
comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue
persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar
35
traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia
essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os
educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos
troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que
se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se
preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da
perseveranccedilardquo
O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que
devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates
mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa
cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na
historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em
possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)
Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e
aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o
pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos
seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos
desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser
livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire
(2001)
E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza
(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade
(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes
(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades
accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo
(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute
possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar
social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de
cultura de educaccedilatildeordquo
36
Consideraccedilotildees Finais
A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo
simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no
e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo
Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na
busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos
cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem
desenvolvido em um contexto ribeirinho
Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o
propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as
demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do
Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu
histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar
Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir
articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar
em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas
educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o
professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes
desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que
possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem
A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar
os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja
percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo
educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas
verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto
profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a
educaccedilatildeo do campo
A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos
professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte
no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria
Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores
comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo
conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo
37
encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da
comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo
Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os
processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees
para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo
soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos
curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos
inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do
Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo
acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees
38
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Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar
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ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015
Lista de Imagens
Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba (p 21)
Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe (p 22)
Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe (p 23)
Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe (p 26)
Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe (p 27)
11
Introduccedilatildeo
Quando o curso de Educaccedilatildeo do Campo foi lanccedilado pela primeira vez no
edital da entatildeo Universidade Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute hoje
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute logo me chamou atenccedilatildeo por ser um
curso ldquonovordquo no Estado do Paraacute uma vez que jaacute vinha sendo trilhado em outras
universidades a exemplo da Universidade santa Catarina (UFSC) Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Universidade de Brasiacutelia (UNB) Aleacutem disso me
chamava atenccedilatildeo tambeacutem o fato de o curso ser voltado para a aacuterea do campo que se
inserem povos ribeirinhos quilombolas e indiacutegenas Um curso preocupado com esses
grupos sociais especiacuteficos com a valorizaccedilatildeo de seus costumes saberes e dizeres e
demandas imanentes do campo
Nesse interim ao iniciar o curso em Educaccedilatildeo do Campo na Universidade
Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute 2009 fui estranhando e ao mesmo tempo me
identificando com leituras temaacuteticas e objetivos do curso Entre estranhamento
construccedilatildeo e (des) construccedilotildees o curso se mostrou muito frutiacutefero em informaccedilotildees que
me instigavam o olhar Tratava-se de um curso intervalar ou em regime de alternacircncia
pedagoacutegica realizado nos meses de janeiro-fevereiro e junho e agosto pela manhatilde e
tarde nesses meses
Como moradora do Municiacutepio de Abaetetuba a ideia que eu tinha de campo
diferia das ideias abordadas nas primeiras aulas Logo percebi como o curso estava
voltado para o contexto que marcava a regiatildeo de Marabaacute os conflitos por terra os
atores sociais integrantes do Movimento Sem Terra fazendeiros
Todos os demais alunos da turma faziam parte desse contexto estavam de
alguma forma ligados ao Movimento Sem Terra A imagem que eu possuiacutea do
movimento era totalmente deturpada formada pela miacutedia ideias do senso comum que
reforccedilavam a ideia do movimento como um grupo de pessoas que queriam o direito de
se apropriar de algo que natildeo lhes pertencia pessoas que natildeo precisavam de terras
Por conta disso nesse primeiro momento de 2009 o curso para mim natildeo
durou quinze dias durante o mecircs de julho pois resolvi deixar a Universidade natildeo soacute
por problemas pessoais mas sim por esse embate de ideias que naquele momento
quebrara as minhas expectativas em relaccedilatildeo ao curso Minha matildee estava abrindo uma
loja de confecccedilotildees eu e meu irmatildeo ajudaacutevamos na organizaccedilatildeo Com o passar do
tempo quando os negoacutecios jaacute estavam organizados resolvi voltar para a Universidade
12
na turma de 2010 que continham novos companheiros que me esclareceram e
esclarecem ateacute hoje minhas duacutevidas sobre Movimentos Sociais Organizados do
Campo
Quando reiniciei as aulas na ocasiatildeo do seminaacuterio de apresentaccedilatildeo de
Educaccedilatildeo do Campo estavam presentes lideranccedilas como Charles Trocate dos
Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e vaacuterias outras entidades
civis organizadas fazendo um interessante apanhado das lutas sociais e confrontos que
serviram de alicerce para poliacuteticas puacuteblicas e por uma Educaccedilatildeo dono Campo
valorizada e pensada para e pelos povos do campo
Durante o seminaacuterio Charles Trocate comentou sobre o iniacutecio o dos MTS
seus objetivos lutas perdas e conquistas De como eacute importante grupos se definirem e
se identificarem para que possam lutar por seus direitos montar estrateacutegias de
discussotildees com o governo para que este veja de onde a massa popular se afirma de
onde fala e que poliacuteticas puacuteblicas sejam efetivadas
O seminaacuterio me permitiu compreender que o Curso de Educaccedilatildeo do Campo
junto aos Movimentos Sociais eacute uma entre outras conquistas pois os filhos de
camponeses ribeirinho quilombolas e povos indiacutegenas estatildeo entrando nas
Universidades e se graduando se especializando para poder se expandir e mostrar que
eles (re)existir com seu modo e sua tradiccedilatildeo e juntos compartilhar conhecimentos
Nesses uacuteltimos quatro anos (2010-2014) de conhecimentos trocas de
experiecircncias e ensinamentos neste curso junto a professores vindos de diferentes
localidades e que natildeo nos deixavam com duacutevidas durante as disciplinas pois seus
compromissos como docentes e a luta por uma mesma causa (educaccedilatildeo do campo)
nos tornavam a cada aula defensores compromissados com a educaccedilatildeo do campo
proporcionando ao mesmo tempo teorias que nos faziam criticar os modelos sobre os
quais ciecircncias satildeo ensinada nas salas de aula
Aleacutem disso eacute importante ressaltar que por ser oriunda de AbaetetubaParaacute
aproximadamente a quatrocentos e cinquenta e seis quilocircmetros da cidade de Marabaacute
onde cursei Educaccedilatildeo do Campo trazia comigo um diferencial pois abordava em
meus trabalhos minhas experiecircncias do campesinato de minha localidade o que para a
realidade onde a maioria dos discentes eram da regiatildeo de Marabaacute era totalmente novo
assim como fora no inicio para mim
Tudo aquilo que eu mostrava durante as apresentaccedilotildees dos Trabalhos de
Campo do Tempo-Comunidade por ser desconhecido ficava mais interessante e nessas
13
trocas de conhecimentos passaacutevamos a perceber outras regiotildees tatildeo pertinho de noacutes e
juntos misturaacutevamos nossas crenccedilas costumes tradiccedilotildees mitos e histoacuterias essas
contadas na sala da diversidade cultural
O Curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz novos pressupostos
de educaccedilatildeo com uma formaccedilatildeo de sujeitos diferenciados possibilita que o educador
do campo e alunos realizem a troca de conhecimento e adequem esse processo de
forma mais agradaacutevel para ambos
De acordo com CORDEIRO REIS amp HAGE (2011) a Pedagogia da
Alternacircncia eacute uma estrateacutegia bem pensada que articula espaccedilos educativos concebe
que a educaccedilatildeo pode se realizar tanto em sala de aula quanto nos outros espaccedilos que
compotildeem o conviacutevio social dos alunos Os educandos do campo podem assim ter
acesso agrave escola sem ter que abandonar o trabalho sem deixar de lado o aprendizado
proveniente da vida na sua comunidade
Desta forma o que propotildee esta praacutetica pedagoacutegica eacute que o educando possa
refletir sobre sua proacutepria realidade seja capaz de aplicar os conhecimentos cientiacuteficos
que apreende no espaccedilo formal de educaccedilatildeo em seu cotidiano
O curso de Educaccedilatildeo do campo faz uso estrateacutegico dessa metodologia pois
se encontra dividido em dois periacuteodos especiacuteficos o primeiro chamado Tempo-
Universidade ocorre em janeiro-fevereiro e julho e Agosto neste periacuteodo os alunos de
diferentes localidades juntos em sala preparam momentos de trocas experiecircncias e de
conhecimentos durante seminaacuterios debates rodas de conversas
Ocorre todo um aprendizado teoacuterico de autores das aacutereas de sociologia filosofia
histoacuteria geografia e de educadores do campo No Tempo-Universidade aprendemos o
modo como conversar com a comunidade para obter as informaccedilotildees e conhecimentos
necessaacuterios para serem repassados em nosso acircmbito familiar e educacional deixando em
cada um algo que os toquem socialmente
O segundo periacuteodo ocorre nos meses que estamos fora da Universidade eacute
denominado de Tempo-Comunidade (T-C) Durante esse tempo colocamos em praacutetica
tudo o que aprendemos na academia cientifica em comunidades ribeirinhas
quilombolas indiacutegenas e outras
Durante os trabalhos de Campo no periacuteodo Tempo-Comunidade para pocircr
em praacutetica o que aprendemos em sala de aula presenciei por diversas vezes o modo
como os professores do Sistema de Organizaccedilatildeo de Ensino Modular (SOME)
professores esses que se movimentam de comunidade em comunidade ministravam
14
suas aulas durante dois meses em cada escola trazendo estilos de conhecimentos
(saberes cientiacuteficos) que aprenderam nas universidades que por vezes natildeo condiziam
com as realidades da comunidade ribeirinha que eu fazia minha praacutetica de ensino
Tendo por base os nossos conhecimentos cotidianos que constroem nossas
identidades cada educando escolheu um local para o desenvolvimento do respectivo
Trabalho de Campo partindo de uma das primeiras aulas ministradas pela professora
Dra Idelma Santiago sobre Aacutervores Genealoacutegicas no Tempo Universidade na qual
fizemos uma investigaccedilatildeo metodoloacutegica a fim de reconhecermos os saberes do lugar
de onde viemos
Escolhi entatildeo uma dentre as setenta e duas Ilhas ribeirinhas de Abaetetuba
situada no Rio TucumandubandashMeacutedio sendo este um dos afluentes do Rio Paraacute da
cidade de Abaetetuba O interesse pelo tema da educaccedilatildeo em educaccedilatildeo do campo
surgiu ainda na graduaccedilatildeo durante palestras estudos debates seminaacuterios para lutar
pelo reconhecimento de uma forma de ensinar dos Educadores do Campo no Campo
para a construccedilatildeo de Saberes e Dizeres na regiatildeo ribeirinha ou no lugar em que ela
aconteccedila
Atraveacutes de observaccedilotildees dos trabalhos de campo e do Tempo-comunidade
realizados durante as disciplinas do Tempo Universidade me despertou o interesse em
aprofundar meus conhecimentos nessa aacuterea levando-me para uma discussatildeo teoacuterica e
praacutetica da qual minha preocupaccedilatildeo ocorre ateacute os dias de hoje pois professores que
tiveram uma educaccedilatildeo bastante cartesiana e urbana levam para as comunidades
ribeirinhas os conhecimentos que aprenderam nas Universidades como modelos isto
eacute servem para explicar a realidade em qualquer contexto seja na cidade urbanizada
seja nos interiores ribeirinhos natildeo se atentando para a valorizaccedilatildeo do conhecimento
local
A ecircnfase principal deste Trabalho de Conclusatildeo do Curso (TCC) reside em
evidenciar como os professores ministram suas aulas nas regiotildees ribeirinhas se
incorporam ou natildeo os conhecimentos do cotidiano de seus alunos para explicar as
disciplinas e com isso valorizar os conhecimentos locais como meio de explicaccedilatildeo da
realidade
Para tanto se utilizaraacute de um meacutetodo nas ciecircncias humanas a observaccedilatildeo
participante aleacutem de entrevistas formais e conversas informais com os professores da
escola Nossa Senhora de Guadalupe
15
Assim sendo este trabalho estaacute estruturado da seguinte forma no capiacutetulo 1
intitulado A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha busca-se mostrar um
pouco do surgimento da Educaccedilatildeo do Campo no contexto nacional
O capiacutetulo 2 denominado De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe localiza a
comunidade e aborda a experiecircncia de inserccedilatildeo no loacutecus fazendo uso de imagens para
melhor ambientar o leitor
No capiacutetulo 3 chamado Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais
objetiva descrever como a articulaccedilatildeo entre diferentes conhecimentos no cotidiano da
sala de aula
No capitulo 4 nomeado (Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo
do Campo procura-se relacionar como os conhecimentos cientiacuteficos de um lado e os
conhecimentos tradicionais de outro se datildeo ou deveriam se dar nas aulas
Nas Consideraccedilotildees Finais tenta-se evidenciar um pouco como este
trabalho pode contribuir para outras anaacutelises similares com outros recortes empiacutericos em
trabalhos posteriores
16
Capitulo 1
A Educaccedilatildeo do Campo em uma comunidade Ribeirinha
A Educaccedilatildeo do Campo surgiu no seacuteculo passado e colocava em evidencia os
processos de exclusatildeo social poliacutetica econocircmica e cultural que os ldquopovosrdquo ou
ldquocomunidadesrdquo tradicionais vinham e ainda vem sofrendo em diversas regiotildees do Paiacutes
O curso vem trazendo esse olhar multifacetado da realidade do campo
como por exemplo na exploraccedilatildeo e escravizaccedilatildeo de populaccedilotildees indiacutegenas e africanos e
suas vaacuterias etnias em nosso paiacutes desde seu descobrimento assim como suas
consequecircncias nos dias atuais que formavamformam as realidades dos sujeitos por
vezes antagocircnicas da qual Maria Antocircnia de Souza (2010) aponta que
A educaccedilatildeo do Campo surge como novo paradigma para pensar os sujeitos
do campo valorizando seus trabalhos trabalhadores suas particularidades
contradiccedilotildees e organizaccedilatildeo cultural como praacutexis Ela se coloca contra o
paradigma da educaccedilatildeo rural ou seja aquela que esta vinculada aos
interesses do governo como agronegoacutecio do capitalismo agraacuterio e ao
fortalecimento das poliacuteticas do esvaziamento dos sujeitos do campo
(SOUZA 2010)
Isso porque atraveacutes de propagandas ou raacutedios bancos financiadores e outros
meios mostram os investimentos e avanccedilos no campo (elite empresarial) cuja realidade
concreta desses sujeitos vem se tornando mais conhecida por meio de pressotildees de
movimentos sociais organizados na luta por uma educaccedilatildeo de qualidade para os
trabalhadores do campo como nos diz Maria Isabel Pinheiro (2011) para quem
antagonicamente
Inovaram no maquinaacuterio no aumento da produccedilatildeo de gratildeo nos agrotoacutexicos
alteraccedilotildees dos genes das sementes para exportaccedilatildeo em larga escala Mas os
que tem usufruiacutedo desses avanccedilos satildeo pequenos grupos de latifundiaacuterios
empresaacuterios banqueiros e poliacuteticos nacionais e internacionais enquanto a
outros eacute negado o acesso a terra para sobreviver e garantir o sustento de
outros brasileiros (PINHEIRO 2011)
Dessa forma eacute que os Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST) ONGS educadores educando e sociedade civil se articularam e se articulam haacute
tempos lutando e pressionando o governo Federal Estadual e Municipal e em prol de
poliacuteticas puacuteblicas para criar alternativas de permanecircncia dos jovens e trabalhadores do
campo no campo atraveacutes de financiamentos assistecircncia teacutecnica educaccedilatildeo entre outros
Isso vem ocorrendo com a preocupaccedilatildeo de que se valorize os conhecimentos
locais e se planeje o modo mais adequado para uma educaccedilatildeo de qualidade para que
esses jovens possam se qualificar adquirindo saber cientiacutefico e ao mesmo tempo a
17
partir da valorizaccedilatildeo de seu lugar como espaccedilo de lutas e resistecircncias para o
reconhecimento de suas comunidades reelaborar
Conforme nos aponta Fernandes (2005) o campo eacute formado por diversos
territoacuterios que aborda todas as espeacutecies de relaccedilotildees humanas O campo requer demandas
distintas cada territoacuterio que forma o campo eacute dotado de particularidades desta categoria
emergem diversas relaccedilotildees Por isso a educaccedilatildeo no campo deve ser pensada
essencialmente dentro de cada contexto caso seja pensada fora dele natildeo eacute educaccedilatildeo
torna-se dominaccedilatildeo
Ainda em diaacutelogo com o autor temos que a educaccedilatildeo no campo surge no
sentido de tornar o indiviacuteduo ocupante dos territoacuterios do campo protagonista do
processo de construccedilatildeo de seu territoacuterio considerando as especificidades deste
Dessa forma autores como Roseli Caldart cuja produccedilatildeo versa sobre
movimentos sociais do campo educaccedilatildeo escola pedagogia do movimento e Bernardo
Manccedilano Fernandes (2008) que aborda principalmente teorias dos territoacuterios
paradigmas da questatildeo agraacuteria e do capitalismo agraacuterio reforma agraacuteria
desenvolvimento territorial Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
tem sido inspiraccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para os novos pesquisadores da Educaccedilatildeo do
Campo como ressalta Fernandes (2008)
No movimento de debate e contestaccedilatildeo da politica e da educaccedilatildeo rural
empreendido pelos movimentos sociais do campo emergem uma nova
concepccedilatildeo de educaccedilatildeo denominada Educaccedilatildeo do Campo (FERNANDES
2008)
No campo mais especiacutefico essas lutas e o conceito de educaccedilatildeo do campo se
fortaleceu e ganhou destaque a partir da I Conferencia Nacional por uma Educaccedilatildeo
Baacutesica do Campo realizada no ano de 1998 a partir dela foram elaborados trabalhos e
coletacircneas versando sobre Educaccedilatildeo do Campo que vieram relatar o processo de sua
construccedilatildeo e fortalecer as demandas por politicas publicas em vaacuterios aspectos da vida
no campo
Nesse mesmo contexto eacute verificada uma grande necessidade em se ter
profissional de educaccedilatildeo especiacutefica para as aacutereas do campo isto eacute profissionais que
possuiacutessem formaccedilatildeo especiacutefica (licenciatura) poacutes-graduaccedilotildees eou aperfeiccediloamentos
na aacuterea da educaccedilatildeo do campo
Para isso foram lanccediladas poliacuteticas quanto agrave educaccedilatildeo formal para
professores como nas licenciaturas em Educaccedilatildeo do Campo seja nas Universidades
Federais (UFS) seja por meio da Formaccedilatildeo continuada Plano Nacional de Formaccedilatildeo de
18
Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica (PARFOR) aleacutem de diversificaccedilatildeo das experiecircncias
educativas no campo a exemplo das Casas Familiares Rurais a construccedilatildeo da Escola
Famiacutelia Agriacutecola (EFA) Escolas Itinerantes que ajudam na ampliaccedilatildeo do conhecimento
e ao direito de comunidades ribeirinhas como a de Guadalupe em Abaetetuba a terem
educaccedilatildeo de qualidade e que valorize os conhecimentos locais como salienta Roseli
Caldart (2008)
A Educaccedilatildeo do Campo natildeo se conduz ao debate da escola da formaccedilatildeo
formal ou das propostas pedagoacutegicas A materialidade educativa de origem
da educaccedilatildeo do campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos
da produccedilatildeo e das lutas sociais do campo (CALDART 2008)
A educaccedilatildeo do Campo pretende ir aleacutem das fronteiras educacionais que
antagonizam os curriacuteculos entre cidade e campo como ressalta a Lei de Diretrizes e
Base da Educaccedilatildeo Nacional (1996) ldquoque a oferta da educaccedilatildeo baacutesica agrave populaccedilatildeo rural
natildeo eacute a mesma compreensatildeo dos movimentos sociais e da academia cientiacutefica em
relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do campordquo pois ela (LDB) se volta agrave lapidaccedilatildeo de matildeo de obra
visando o mercado de trabalho sendo isso uma de suas bases e objetivos que buscam
preparar os jovens para o mercado de trabalho seja este no ensino fundamental meacutedio
teacutecnico ou superior como uma preparaccedilatildeo de grande ldquovalorizaccedilatildeordquo
E a educaccedilatildeo do campo traz uma proposta que trabalha com a realidade de
trabalhadores e trabalhadoras do campo relacionada ao trabalho que eles desenvolve no
campo pois precisa-se perceber que ele possui uma caracteriacutestica proacutepria que o
diferencia da sociedade urbana as quais devem ser planejadas pelos educadores da
educaccedilatildeo considerando o meio de onde se fala fazer com que esses sujeitos se
identifique e lute pelos seus direitos enquanto uma sociedade pensada com sua
participaccedilatildeo nos processos educacionais vinculada a sua cultura e necessidades humanas
e sociais
A Educaccedilatildeo do Campo propotildee por isso para as aacutereas ribeirinhas como para
pescadores agricultores e artesatildeos que atraveacutes das organizaccedilotildees possam reivindicar
melhorias e ampliaccedilatildeo na aacuterea escolar infraestrutura para que o ensino chegue ateacute eles
de forma a valorizar os conhecimentos de seus cotidianos e natildeo que eles saiam ou
abandonem seus costumes
Sabemos que a categoria campo natildeo eacute uma categoria homogecircnea ela
engloba diversos grupos sociais que habitam regiotildees geograficamente distintas entatildeo
natildeo podemos pensar em Educaccedilatildeo no Campo sem saber de qual campo estamos falando
19
Essa localidade do qual falo eacute o contexto habitado pelas comunidades das margens do
rio tucumanduba
Nessas localidades o meio impotildee sua dinacircmica agrave vida social e isso
aprofunda a relaccedilatildeo do homem com a natureza ldquoo imaginaacuterio eacute rico e o ribeirinho faz
uso desse imaginaacuterio para explicar fenocircmenos da naturezardquo (LOUREIRO 1995)
Por isso a educaccedilatildeo do campo e curriacuteculo escolar deve estar voltados para
as especificidades do contexto camporibeirinho no caso deste trabalho realizando as
atividades de acordo com o local onde o curriacuteculo deve ser construiacutedo levando em
consideraccedilatildeo aspectos da cultura e da dinacircmica local festividades imaginaacuterios e ateacute as
proacuteprias condiccedilotildees impostas pelo meio Valorizando conhecimentos locais para que os
alunos se situem no fazer escolar e contribua para que saberes e tradiccedilotildees se
reproduzam e se recriem na comunidade seja no vieacutes da tradiccedilatildeo oral seja no vieacutes da
educaccedilatildeo formal ou informal
Dessa forma passamos a perceber a produccedilatildeo cultural social e econocircmica do
local sendo importante para a construccedilatildeo de uma identidade reconhecida seja ela em
acircmbito nacional ou internacional de respeito e valorizaccedilatildeo da pessoa humana ajudando
assim a (re)orientar aqueles que cheguem nessas escolas e nas comunidades ribeirinhas
Assim quando se fala em educaccedilatildeo do campo fala-se em reforma agraacuteria
de construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de biodiversidade de debates sobre cultura
politicas puacuteblicas sendo preciso o tempo todo fazer e refazer as leituras poliacutetico-
pedagoacutegicas econocircmicas e culturais a partir dessas comunidades e das contradiccedilotildees que
nelas estatildeo postas dentro da loacutegica neoliberal que deve ser criticada se queremos uma
Educaccedilatildeo do Campo que efetive ao que se propotildee
20
Capitulo 2
De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe
O Rio Tucumanduba estaacute localizado no municiacutepio de Abaetetuba1 cidade a
duas horas de Beleacutem sendo ambas do Estado do Paraacute Estaacute dividido em Baixo Alto e
Meacutedio Tucumanduba sendo que cada um desses cursos do rio se organizam em torno
de uma comunidade que possuem escolas e igrejas (catoacutelicas ou evangeacutelicas) A
localidade e escola escolhidas para esta pesquisa se situa no rio Tucumanduba meacutedio
Durante as idas para a comunidade para realizar as praacuteticas docentes em
educaccedilatildeo do campo compartilhar e receber saberes da comunidade ribeirinha entre
alunos professores pais parentes e amigos se observa muita simplicidade em cada um
com seus modos de vivecircncia como se movimentam nas canoas andam ou correm no
ldquomiritizerordquo 2 ou como caminham tatildeo firmemente nas pontes e que agrave noite sentam na
ldquocabeccedila da ponterdquo como dizem os moradores locais
Para compartilharem os saberes dos mais velhos da comunidade de suas
tradiccedilotildees suas regras e modos de vivecircncia na ldquocalmariardquo em um lugar de vaacuterzea
contos histoacuterias com exuberante imensidatildeo de aacutegua aacutervores e animais que leva e traz
conhecimentos entre os rios e mareacutes de comunidades a comunidades assim como agraves
cidades em que os moradores circulam (vendem seu produtos como o accedilaiacute) como em
Abaetetuba Beleacutem e outras cidades
O trajeto das ldquofreteirasrdquo3 que sai das comunidades ribeirinhas ateacute a cidade
de Abaetetuba eacute feito de porto em porto buscando passageiros por volta das quatro
horas da manhatilde As ldquofreteirasrdquo transportam aleacutem de pessoas que vatildeo para fazer vendas
de seus produtos (accedilaiacute peixe farinha e outros) produtos trazidos da cidade e pessoas
(crianccedilas jovens e velhos) que procuram hospitais ou cliacutenicas entre outros
Chegando ao porto ou trapiche de Abaetetuba( imagem nordm 01) por volta das
seis horas da manhatilde os passageiros ou vem conversando ou dormindo no barco ateacute
1 Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio de
Abaetetuba possui uma populaccedilatildeo de 141054 habitantes sendo que 82950 vivem na cidade e 58104
vivem na zona ruralcampo nas inuacutemeras colocircnias rios igarapeacutes e ilhas A populaccedilatildeo ribeirinha em
especial eacute muito grande e satildeo isentos de seguranccedila serviccedilos baacutesico de sauacutede aacutereas de lazer entre outros
dependendo exclusivamente da cidade 2 ldquoMiritizerordquo tronco de aacutervore geralmente que eacute colocada como uma espeacutecie de ponte entre a terra e o
rio 3 ldquoFreteirasrdquo barcos ou embarcaccedilotildees de grande meacutedio ou pequeno porte que transportam moradores dos
rios ateacute agraves cidades no caso deste trabalho para Abaetetuba
21
chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove
horas da manhatilde
Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba
Fonte Google Imagens2015
Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para
regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o
tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de
gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto
ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu
destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas
com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de
transporte para esse local o hidroviaacuterio
Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava
em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das
aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares
observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas
baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que
atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo
22
Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que
estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio
(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por
virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha
famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como
algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta
pesquisa
De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos
que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios
de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que
satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em
um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem
natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute
integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense
o ribeirinho
Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia
enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de
dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola
23
Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem
nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso
passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja
Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de
Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como
Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os
alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir
Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas
denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf
Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um
passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local
Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e
Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade
de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental
Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino
satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de
Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo
anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo
O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele
vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo
24
do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de
conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de
recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia
de cursar o ensino meacutedio
Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de
rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com
carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura
saberes e processos histoacutericos
Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado
dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos
com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e
permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade
identidade e saberes locais debatidos em sala de aula
Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se
levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se
dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a
complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com
que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo
o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na
zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas
movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se
compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas
A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado
estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$
600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno
professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente
de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor
Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada
moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito
educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas
delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola
informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que
hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado
25
uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo
voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4
O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de
ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em
formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para
os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e
ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas
diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual
Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de
accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas
famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou
aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha
conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador
associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs
durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de
paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada
regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos
durante esse periacuteodo
Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de
comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo
na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da
quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico
4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da
Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA
26
Capitulo 3
Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais
Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco
da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de
Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema
de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em
relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos
possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de
educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo
Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo
as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro
do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como
organizam os conteuacutedos
Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam
meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo
do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do
27
campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso
somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta
pesquisa
Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes
localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como
Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros
Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os
coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra
localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)
Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz
parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba
com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo
ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois
passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo
ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas
e continua
Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos
dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar
seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
28
Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter
viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a
necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que
o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas
aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua
Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo
dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles
exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural
poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida
cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas
comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios
primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e
acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social
dentro de sua comunidade
A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz
conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de
idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos
artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de
idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns
momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e
adultos
Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo
entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo
aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo
dessa comunidade
Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante
no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o
sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em
qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes
culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade
5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades
segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do
presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo
29
Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o
trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu
dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta
Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o
entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e
conferem sentido agrave sua existecircnciardquo
Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu
acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana
desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito
antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os
mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e
chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola
Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo
comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem
outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno
quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute
patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo
apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater
o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7
estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo
da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe
atrasa a chegada
Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees
podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo
do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo
sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)
legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento
promovendo a Pedagogia da Alternacircncia
Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se
estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se
tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento
6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo
7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que
navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente
30
alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas
experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de
aprendizagens a partir desse movimento
Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador
do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes
agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma
troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais
Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)
interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os
modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam
desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso
levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida
em comunidade
O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por
exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas
e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de
aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao
ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia
Andrade (1993)
Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades
agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido
os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem
no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a
educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud
ANDRADE 1993)
Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de
experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa
diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da
pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos
pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais
legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes
semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e
elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural
8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore
apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto
das aacutervores
31
Capitulo 4
(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo
A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a
base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um
novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem
na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e
que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar
pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa
histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade
Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que
traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave
permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes
valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos
organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida
As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que
sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os
professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona
pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho
pedagoacutegico
Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola
da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de
educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e
das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)
Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o
grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se
trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees
sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua
particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos
sociais e da cultura como praacutexis
Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de
profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que
eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas
32
dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo
em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias
indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas
lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades
ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de
trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a
educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a
isto que ela se propotildee
E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando
estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas
histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e
se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo
Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as
escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas
recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de
2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam
ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os
alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de
chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no
processo de ensino- aprendizagem
Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo
natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse
em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e
meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam
durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua
trajetoacuteria
O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser
humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as
comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da
histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de
conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos
alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de
forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo
esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes
33
Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos
educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de
descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar
democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica
e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos
ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do
conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como
um criacutetico- dialeacutetico
De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de
apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros
fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e
suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que
passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o
conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico
despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos
O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de
conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do
campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo
praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social
direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora
Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de
ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da
cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de
educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na
cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias
Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do
Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de
mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem
curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)
Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia
profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino
possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo
aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta
(FREIRE 2003)
34
Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam
realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos
livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se
afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)
A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do
conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica
tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu
desmascaramento (FREIRE 2003)
Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de
dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo
precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo
diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do
aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos
negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos
Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro
preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se
antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio
com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na
formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde
emerge esse profissional
Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a
valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de
nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador
existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo
humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo
O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a
desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do
discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-
existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e
poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)
Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na
educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a
comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue
persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar
35
traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia
essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os
educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos
troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que
se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se
preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da
perseveranccedilardquo
O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que
devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates
mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa
cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na
historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em
possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)
Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e
aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o
pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos
seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos
desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser
livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire
(2001)
E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza
(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade
(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes
(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades
accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo
(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute
possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar
social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de
cultura de educaccedilatildeordquo
36
Consideraccedilotildees Finais
A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo
simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no
e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo
Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na
busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos
cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem
desenvolvido em um contexto ribeirinho
Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o
propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as
demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do
Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu
histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar
Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir
articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar
em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas
educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o
professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes
desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que
possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem
A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar
os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja
percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo
educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas
verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto
profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a
educaccedilatildeo do campo
A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos
professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte
no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria
Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores
comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo
conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo
37
encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da
comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo
Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os
processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees
para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo
soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos
curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos
inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do
Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo
acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees
38
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Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008
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Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar
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11
Introduccedilatildeo
Quando o curso de Educaccedilatildeo do Campo foi lanccedilado pela primeira vez no
edital da entatildeo Universidade Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute hoje
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute logo me chamou atenccedilatildeo por ser um
curso ldquonovordquo no Estado do Paraacute uma vez que jaacute vinha sendo trilhado em outras
universidades a exemplo da Universidade santa Catarina (UFSC) Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) Universidade de Brasiacutelia (UNB) Aleacutem disso me
chamava atenccedilatildeo tambeacutem o fato de o curso ser voltado para a aacuterea do campo que se
inserem povos ribeirinhos quilombolas e indiacutegenas Um curso preocupado com esses
grupos sociais especiacuteficos com a valorizaccedilatildeo de seus costumes saberes e dizeres e
demandas imanentes do campo
Nesse interim ao iniciar o curso em Educaccedilatildeo do Campo na Universidade
Federal do Paraacute (UFPA) Campus Marabaacute 2009 fui estranhando e ao mesmo tempo me
identificando com leituras temaacuteticas e objetivos do curso Entre estranhamento
construccedilatildeo e (des) construccedilotildees o curso se mostrou muito frutiacutefero em informaccedilotildees que
me instigavam o olhar Tratava-se de um curso intervalar ou em regime de alternacircncia
pedagoacutegica realizado nos meses de janeiro-fevereiro e junho e agosto pela manhatilde e
tarde nesses meses
Como moradora do Municiacutepio de Abaetetuba a ideia que eu tinha de campo
diferia das ideias abordadas nas primeiras aulas Logo percebi como o curso estava
voltado para o contexto que marcava a regiatildeo de Marabaacute os conflitos por terra os
atores sociais integrantes do Movimento Sem Terra fazendeiros
Todos os demais alunos da turma faziam parte desse contexto estavam de
alguma forma ligados ao Movimento Sem Terra A imagem que eu possuiacutea do
movimento era totalmente deturpada formada pela miacutedia ideias do senso comum que
reforccedilavam a ideia do movimento como um grupo de pessoas que queriam o direito de
se apropriar de algo que natildeo lhes pertencia pessoas que natildeo precisavam de terras
Por conta disso nesse primeiro momento de 2009 o curso para mim natildeo
durou quinze dias durante o mecircs de julho pois resolvi deixar a Universidade natildeo soacute
por problemas pessoais mas sim por esse embate de ideias que naquele momento
quebrara as minhas expectativas em relaccedilatildeo ao curso Minha matildee estava abrindo uma
loja de confecccedilotildees eu e meu irmatildeo ajudaacutevamos na organizaccedilatildeo Com o passar do
tempo quando os negoacutecios jaacute estavam organizados resolvi voltar para a Universidade
12
na turma de 2010 que continham novos companheiros que me esclareceram e
esclarecem ateacute hoje minhas duacutevidas sobre Movimentos Sociais Organizados do
Campo
Quando reiniciei as aulas na ocasiatildeo do seminaacuterio de apresentaccedilatildeo de
Educaccedilatildeo do Campo estavam presentes lideranccedilas como Charles Trocate dos
Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e vaacuterias outras entidades
civis organizadas fazendo um interessante apanhado das lutas sociais e confrontos que
serviram de alicerce para poliacuteticas puacuteblicas e por uma Educaccedilatildeo dono Campo
valorizada e pensada para e pelos povos do campo
Durante o seminaacuterio Charles Trocate comentou sobre o iniacutecio o dos MTS
seus objetivos lutas perdas e conquistas De como eacute importante grupos se definirem e
se identificarem para que possam lutar por seus direitos montar estrateacutegias de
discussotildees com o governo para que este veja de onde a massa popular se afirma de
onde fala e que poliacuteticas puacuteblicas sejam efetivadas
O seminaacuterio me permitiu compreender que o Curso de Educaccedilatildeo do Campo
junto aos Movimentos Sociais eacute uma entre outras conquistas pois os filhos de
camponeses ribeirinho quilombolas e povos indiacutegenas estatildeo entrando nas
Universidades e se graduando se especializando para poder se expandir e mostrar que
eles (re)existir com seu modo e sua tradiccedilatildeo e juntos compartilhar conhecimentos
Nesses uacuteltimos quatro anos (2010-2014) de conhecimentos trocas de
experiecircncias e ensinamentos neste curso junto a professores vindos de diferentes
localidades e que natildeo nos deixavam com duacutevidas durante as disciplinas pois seus
compromissos como docentes e a luta por uma mesma causa (educaccedilatildeo do campo)
nos tornavam a cada aula defensores compromissados com a educaccedilatildeo do campo
proporcionando ao mesmo tempo teorias que nos faziam criticar os modelos sobre os
quais ciecircncias satildeo ensinada nas salas de aula
Aleacutem disso eacute importante ressaltar que por ser oriunda de AbaetetubaParaacute
aproximadamente a quatrocentos e cinquenta e seis quilocircmetros da cidade de Marabaacute
onde cursei Educaccedilatildeo do Campo trazia comigo um diferencial pois abordava em
meus trabalhos minhas experiecircncias do campesinato de minha localidade o que para a
realidade onde a maioria dos discentes eram da regiatildeo de Marabaacute era totalmente novo
assim como fora no inicio para mim
Tudo aquilo que eu mostrava durante as apresentaccedilotildees dos Trabalhos de
Campo do Tempo-Comunidade por ser desconhecido ficava mais interessante e nessas
13
trocas de conhecimentos passaacutevamos a perceber outras regiotildees tatildeo pertinho de noacutes e
juntos misturaacutevamos nossas crenccedilas costumes tradiccedilotildees mitos e histoacuterias essas
contadas na sala da diversidade cultural
O Curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz novos pressupostos
de educaccedilatildeo com uma formaccedilatildeo de sujeitos diferenciados possibilita que o educador
do campo e alunos realizem a troca de conhecimento e adequem esse processo de
forma mais agradaacutevel para ambos
De acordo com CORDEIRO REIS amp HAGE (2011) a Pedagogia da
Alternacircncia eacute uma estrateacutegia bem pensada que articula espaccedilos educativos concebe
que a educaccedilatildeo pode se realizar tanto em sala de aula quanto nos outros espaccedilos que
compotildeem o conviacutevio social dos alunos Os educandos do campo podem assim ter
acesso agrave escola sem ter que abandonar o trabalho sem deixar de lado o aprendizado
proveniente da vida na sua comunidade
Desta forma o que propotildee esta praacutetica pedagoacutegica eacute que o educando possa
refletir sobre sua proacutepria realidade seja capaz de aplicar os conhecimentos cientiacuteficos
que apreende no espaccedilo formal de educaccedilatildeo em seu cotidiano
O curso de Educaccedilatildeo do campo faz uso estrateacutegico dessa metodologia pois
se encontra dividido em dois periacuteodos especiacuteficos o primeiro chamado Tempo-
Universidade ocorre em janeiro-fevereiro e julho e Agosto neste periacuteodo os alunos de
diferentes localidades juntos em sala preparam momentos de trocas experiecircncias e de
conhecimentos durante seminaacuterios debates rodas de conversas
Ocorre todo um aprendizado teoacuterico de autores das aacutereas de sociologia filosofia
histoacuteria geografia e de educadores do campo No Tempo-Universidade aprendemos o
modo como conversar com a comunidade para obter as informaccedilotildees e conhecimentos
necessaacuterios para serem repassados em nosso acircmbito familiar e educacional deixando em
cada um algo que os toquem socialmente
O segundo periacuteodo ocorre nos meses que estamos fora da Universidade eacute
denominado de Tempo-Comunidade (T-C) Durante esse tempo colocamos em praacutetica
tudo o que aprendemos na academia cientifica em comunidades ribeirinhas
quilombolas indiacutegenas e outras
Durante os trabalhos de Campo no periacuteodo Tempo-Comunidade para pocircr
em praacutetica o que aprendemos em sala de aula presenciei por diversas vezes o modo
como os professores do Sistema de Organizaccedilatildeo de Ensino Modular (SOME)
professores esses que se movimentam de comunidade em comunidade ministravam
14
suas aulas durante dois meses em cada escola trazendo estilos de conhecimentos
(saberes cientiacuteficos) que aprenderam nas universidades que por vezes natildeo condiziam
com as realidades da comunidade ribeirinha que eu fazia minha praacutetica de ensino
Tendo por base os nossos conhecimentos cotidianos que constroem nossas
identidades cada educando escolheu um local para o desenvolvimento do respectivo
Trabalho de Campo partindo de uma das primeiras aulas ministradas pela professora
Dra Idelma Santiago sobre Aacutervores Genealoacutegicas no Tempo Universidade na qual
fizemos uma investigaccedilatildeo metodoloacutegica a fim de reconhecermos os saberes do lugar
de onde viemos
Escolhi entatildeo uma dentre as setenta e duas Ilhas ribeirinhas de Abaetetuba
situada no Rio TucumandubandashMeacutedio sendo este um dos afluentes do Rio Paraacute da
cidade de Abaetetuba O interesse pelo tema da educaccedilatildeo em educaccedilatildeo do campo
surgiu ainda na graduaccedilatildeo durante palestras estudos debates seminaacuterios para lutar
pelo reconhecimento de uma forma de ensinar dos Educadores do Campo no Campo
para a construccedilatildeo de Saberes e Dizeres na regiatildeo ribeirinha ou no lugar em que ela
aconteccedila
Atraveacutes de observaccedilotildees dos trabalhos de campo e do Tempo-comunidade
realizados durante as disciplinas do Tempo Universidade me despertou o interesse em
aprofundar meus conhecimentos nessa aacuterea levando-me para uma discussatildeo teoacuterica e
praacutetica da qual minha preocupaccedilatildeo ocorre ateacute os dias de hoje pois professores que
tiveram uma educaccedilatildeo bastante cartesiana e urbana levam para as comunidades
ribeirinhas os conhecimentos que aprenderam nas Universidades como modelos isto
eacute servem para explicar a realidade em qualquer contexto seja na cidade urbanizada
seja nos interiores ribeirinhos natildeo se atentando para a valorizaccedilatildeo do conhecimento
local
A ecircnfase principal deste Trabalho de Conclusatildeo do Curso (TCC) reside em
evidenciar como os professores ministram suas aulas nas regiotildees ribeirinhas se
incorporam ou natildeo os conhecimentos do cotidiano de seus alunos para explicar as
disciplinas e com isso valorizar os conhecimentos locais como meio de explicaccedilatildeo da
realidade
Para tanto se utilizaraacute de um meacutetodo nas ciecircncias humanas a observaccedilatildeo
participante aleacutem de entrevistas formais e conversas informais com os professores da
escola Nossa Senhora de Guadalupe
15
Assim sendo este trabalho estaacute estruturado da seguinte forma no capiacutetulo 1
intitulado A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha busca-se mostrar um
pouco do surgimento da Educaccedilatildeo do Campo no contexto nacional
O capiacutetulo 2 denominado De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe localiza a
comunidade e aborda a experiecircncia de inserccedilatildeo no loacutecus fazendo uso de imagens para
melhor ambientar o leitor
No capiacutetulo 3 chamado Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais
objetiva descrever como a articulaccedilatildeo entre diferentes conhecimentos no cotidiano da
sala de aula
No capitulo 4 nomeado (Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo
do Campo procura-se relacionar como os conhecimentos cientiacuteficos de um lado e os
conhecimentos tradicionais de outro se datildeo ou deveriam se dar nas aulas
Nas Consideraccedilotildees Finais tenta-se evidenciar um pouco como este
trabalho pode contribuir para outras anaacutelises similares com outros recortes empiacutericos em
trabalhos posteriores
16
Capitulo 1
A Educaccedilatildeo do Campo em uma comunidade Ribeirinha
A Educaccedilatildeo do Campo surgiu no seacuteculo passado e colocava em evidencia os
processos de exclusatildeo social poliacutetica econocircmica e cultural que os ldquopovosrdquo ou
ldquocomunidadesrdquo tradicionais vinham e ainda vem sofrendo em diversas regiotildees do Paiacutes
O curso vem trazendo esse olhar multifacetado da realidade do campo
como por exemplo na exploraccedilatildeo e escravizaccedilatildeo de populaccedilotildees indiacutegenas e africanos e
suas vaacuterias etnias em nosso paiacutes desde seu descobrimento assim como suas
consequecircncias nos dias atuais que formavamformam as realidades dos sujeitos por
vezes antagocircnicas da qual Maria Antocircnia de Souza (2010) aponta que
A educaccedilatildeo do Campo surge como novo paradigma para pensar os sujeitos
do campo valorizando seus trabalhos trabalhadores suas particularidades
contradiccedilotildees e organizaccedilatildeo cultural como praacutexis Ela se coloca contra o
paradigma da educaccedilatildeo rural ou seja aquela que esta vinculada aos
interesses do governo como agronegoacutecio do capitalismo agraacuterio e ao
fortalecimento das poliacuteticas do esvaziamento dos sujeitos do campo
(SOUZA 2010)
Isso porque atraveacutes de propagandas ou raacutedios bancos financiadores e outros
meios mostram os investimentos e avanccedilos no campo (elite empresarial) cuja realidade
concreta desses sujeitos vem se tornando mais conhecida por meio de pressotildees de
movimentos sociais organizados na luta por uma educaccedilatildeo de qualidade para os
trabalhadores do campo como nos diz Maria Isabel Pinheiro (2011) para quem
antagonicamente
Inovaram no maquinaacuterio no aumento da produccedilatildeo de gratildeo nos agrotoacutexicos
alteraccedilotildees dos genes das sementes para exportaccedilatildeo em larga escala Mas os
que tem usufruiacutedo desses avanccedilos satildeo pequenos grupos de latifundiaacuterios
empresaacuterios banqueiros e poliacuteticos nacionais e internacionais enquanto a
outros eacute negado o acesso a terra para sobreviver e garantir o sustento de
outros brasileiros (PINHEIRO 2011)
Dessa forma eacute que os Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST) ONGS educadores educando e sociedade civil se articularam e se articulam haacute
tempos lutando e pressionando o governo Federal Estadual e Municipal e em prol de
poliacuteticas puacuteblicas para criar alternativas de permanecircncia dos jovens e trabalhadores do
campo no campo atraveacutes de financiamentos assistecircncia teacutecnica educaccedilatildeo entre outros
Isso vem ocorrendo com a preocupaccedilatildeo de que se valorize os conhecimentos
locais e se planeje o modo mais adequado para uma educaccedilatildeo de qualidade para que
esses jovens possam se qualificar adquirindo saber cientiacutefico e ao mesmo tempo a
17
partir da valorizaccedilatildeo de seu lugar como espaccedilo de lutas e resistecircncias para o
reconhecimento de suas comunidades reelaborar
Conforme nos aponta Fernandes (2005) o campo eacute formado por diversos
territoacuterios que aborda todas as espeacutecies de relaccedilotildees humanas O campo requer demandas
distintas cada territoacuterio que forma o campo eacute dotado de particularidades desta categoria
emergem diversas relaccedilotildees Por isso a educaccedilatildeo no campo deve ser pensada
essencialmente dentro de cada contexto caso seja pensada fora dele natildeo eacute educaccedilatildeo
torna-se dominaccedilatildeo
Ainda em diaacutelogo com o autor temos que a educaccedilatildeo no campo surge no
sentido de tornar o indiviacuteduo ocupante dos territoacuterios do campo protagonista do
processo de construccedilatildeo de seu territoacuterio considerando as especificidades deste
Dessa forma autores como Roseli Caldart cuja produccedilatildeo versa sobre
movimentos sociais do campo educaccedilatildeo escola pedagogia do movimento e Bernardo
Manccedilano Fernandes (2008) que aborda principalmente teorias dos territoacuterios
paradigmas da questatildeo agraacuteria e do capitalismo agraacuterio reforma agraacuteria
desenvolvimento territorial Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
tem sido inspiraccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para os novos pesquisadores da Educaccedilatildeo do
Campo como ressalta Fernandes (2008)
No movimento de debate e contestaccedilatildeo da politica e da educaccedilatildeo rural
empreendido pelos movimentos sociais do campo emergem uma nova
concepccedilatildeo de educaccedilatildeo denominada Educaccedilatildeo do Campo (FERNANDES
2008)
No campo mais especiacutefico essas lutas e o conceito de educaccedilatildeo do campo se
fortaleceu e ganhou destaque a partir da I Conferencia Nacional por uma Educaccedilatildeo
Baacutesica do Campo realizada no ano de 1998 a partir dela foram elaborados trabalhos e
coletacircneas versando sobre Educaccedilatildeo do Campo que vieram relatar o processo de sua
construccedilatildeo e fortalecer as demandas por politicas publicas em vaacuterios aspectos da vida
no campo
Nesse mesmo contexto eacute verificada uma grande necessidade em se ter
profissional de educaccedilatildeo especiacutefica para as aacutereas do campo isto eacute profissionais que
possuiacutessem formaccedilatildeo especiacutefica (licenciatura) poacutes-graduaccedilotildees eou aperfeiccediloamentos
na aacuterea da educaccedilatildeo do campo
Para isso foram lanccediladas poliacuteticas quanto agrave educaccedilatildeo formal para
professores como nas licenciaturas em Educaccedilatildeo do Campo seja nas Universidades
Federais (UFS) seja por meio da Formaccedilatildeo continuada Plano Nacional de Formaccedilatildeo de
18
Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica (PARFOR) aleacutem de diversificaccedilatildeo das experiecircncias
educativas no campo a exemplo das Casas Familiares Rurais a construccedilatildeo da Escola
Famiacutelia Agriacutecola (EFA) Escolas Itinerantes que ajudam na ampliaccedilatildeo do conhecimento
e ao direito de comunidades ribeirinhas como a de Guadalupe em Abaetetuba a terem
educaccedilatildeo de qualidade e que valorize os conhecimentos locais como salienta Roseli
Caldart (2008)
A Educaccedilatildeo do Campo natildeo se conduz ao debate da escola da formaccedilatildeo
formal ou das propostas pedagoacutegicas A materialidade educativa de origem
da educaccedilatildeo do campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos
da produccedilatildeo e das lutas sociais do campo (CALDART 2008)
A educaccedilatildeo do Campo pretende ir aleacutem das fronteiras educacionais que
antagonizam os curriacuteculos entre cidade e campo como ressalta a Lei de Diretrizes e
Base da Educaccedilatildeo Nacional (1996) ldquoque a oferta da educaccedilatildeo baacutesica agrave populaccedilatildeo rural
natildeo eacute a mesma compreensatildeo dos movimentos sociais e da academia cientiacutefica em
relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do campordquo pois ela (LDB) se volta agrave lapidaccedilatildeo de matildeo de obra
visando o mercado de trabalho sendo isso uma de suas bases e objetivos que buscam
preparar os jovens para o mercado de trabalho seja este no ensino fundamental meacutedio
teacutecnico ou superior como uma preparaccedilatildeo de grande ldquovalorizaccedilatildeordquo
E a educaccedilatildeo do campo traz uma proposta que trabalha com a realidade de
trabalhadores e trabalhadoras do campo relacionada ao trabalho que eles desenvolve no
campo pois precisa-se perceber que ele possui uma caracteriacutestica proacutepria que o
diferencia da sociedade urbana as quais devem ser planejadas pelos educadores da
educaccedilatildeo considerando o meio de onde se fala fazer com que esses sujeitos se
identifique e lute pelos seus direitos enquanto uma sociedade pensada com sua
participaccedilatildeo nos processos educacionais vinculada a sua cultura e necessidades humanas
e sociais
A Educaccedilatildeo do Campo propotildee por isso para as aacutereas ribeirinhas como para
pescadores agricultores e artesatildeos que atraveacutes das organizaccedilotildees possam reivindicar
melhorias e ampliaccedilatildeo na aacuterea escolar infraestrutura para que o ensino chegue ateacute eles
de forma a valorizar os conhecimentos de seus cotidianos e natildeo que eles saiam ou
abandonem seus costumes
Sabemos que a categoria campo natildeo eacute uma categoria homogecircnea ela
engloba diversos grupos sociais que habitam regiotildees geograficamente distintas entatildeo
natildeo podemos pensar em Educaccedilatildeo no Campo sem saber de qual campo estamos falando
19
Essa localidade do qual falo eacute o contexto habitado pelas comunidades das margens do
rio tucumanduba
Nessas localidades o meio impotildee sua dinacircmica agrave vida social e isso
aprofunda a relaccedilatildeo do homem com a natureza ldquoo imaginaacuterio eacute rico e o ribeirinho faz
uso desse imaginaacuterio para explicar fenocircmenos da naturezardquo (LOUREIRO 1995)
Por isso a educaccedilatildeo do campo e curriacuteculo escolar deve estar voltados para
as especificidades do contexto camporibeirinho no caso deste trabalho realizando as
atividades de acordo com o local onde o curriacuteculo deve ser construiacutedo levando em
consideraccedilatildeo aspectos da cultura e da dinacircmica local festividades imaginaacuterios e ateacute as
proacuteprias condiccedilotildees impostas pelo meio Valorizando conhecimentos locais para que os
alunos se situem no fazer escolar e contribua para que saberes e tradiccedilotildees se
reproduzam e se recriem na comunidade seja no vieacutes da tradiccedilatildeo oral seja no vieacutes da
educaccedilatildeo formal ou informal
Dessa forma passamos a perceber a produccedilatildeo cultural social e econocircmica do
local sendo importante para a construccedilatildeo de uma identidade reconhecida seja ela em
acircmbito nacional ou internacional de respeito e valorizaccedilatildeo da pessoa humana ajudando
assim a (re)orientar aqueles que cheguem nessas escolas e nas comunidades ribeirinhas
Assim quando se fala em educaccedilatildeo do campo fala-se em reforma agraacuteria
de construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de biodiversidade de debates sobre cultura
politicas puacuteblicas sendo preciso o tempo todo fazer e refazer as leituras poliacutetico-
pedagoacutegicas econocircmicas e culturais a partir dessas comunidades e das contradiccedilotildees que
nelas estatildeo postas dentro da loacutegica neoliberal que deve ser criticada se queremos uma
Educaccedilatildeo do Campo que efetive ao que se propotildee
20
Capitulo 2
De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe
O Rio Tucumanduba estaacute localizado no municiacutepio de Abaetetuba1 cidade a
duas horas de Beleacutem sendo ambas do Estado do Paraacute Estaacute dividido em Baixo Alto e
Meacutedio Tucumanduba sendo que cada um desses cursos do rio se organizam em torno
de uma comunidade que possuem escolas e igrejas (catoacutelicas ou evangeacutelicas) A
localidade e escola escolhidas para esta pesquisa se situa no rio Tucumanduba meacutedio
Durante as idas para a comunidade para realizar as praacuteticas docentes em
educaccedilatildeo do campo compartilhar e receber saberes da comunidade ribeirinha entre
alunos professores pais parentes e amigos se observa muita simplicidade em cada um
com seus modos de vivecircncia como se movimentam nas canoas andam ou correm no
ldquomiritizerordquo 2 ou como caminham tatildeo firmemente nas pontes e que agrave noite sentam na
ldquocabeccedila da ponterdquo como dizem os moradores locais
Para compartilharem os saberes dos mais velhos da comunidade de suas
tradiccedilotildees suas regras e modos de vivecircncia na ldquocalmariardquo em um lugar de vaacuterzea
contos histoacuterias com exuberante imensidatildeo de aacutegua aacutervores e animais que leva e traz
conhecimentos entre os rios e mareacutes de comunidades a comunidades assim como agraves
cidades em que os moradores circulam (vendem seu produtos como o accedilaiacute) como em
Abaetetuba Beleacutem e outras cidades
O trajeto das ldquofreteirasrdquo3 que sai das comunidades ribeirinhas ateacute a cidade
de Abaetetuba eacute feito de porto em porto buscando passageiros por volta das quatro
horas da manhatilde As ldquofreteirasrdquo transportam aleacutem de pessoas que vatildeo para fazer vendas
de seus produtos (accedilaiacute peixe farinha e outros) produtos trazidos da cidade e pessoas
(crianccedilas jovens e velhos) que procuram hospitais ou cliacutenicas entre outros
Chegando ao porto ou trapiche de Abaetetuba( imagem nordm 01) por volta das
seis horas da manhatilde os passageiros ou vem conversando ou dormindo no barco ateacute
1 Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio de
Abaetetuba possui uma populaccedilatildeo de 141054 habitantes sendo que 82950 vivem na cidade e 58104
vivem na zona ruralcampo nas inuacutemeras colocircnias rios igarapeacutes e ilhas A populaccedilatildeo ribeirinha em
especial eacute muito grande e satildeo isentos de seguranccedila serviccedilos baacutesico de sauacutede aacutereas de lazer entre outros
dependendo exclusivamente da cidade 2 ldquoMiritizerordquo tronco de aacutervore geralmente que eacute colocada como uma espeacutecie de ponte entre a terra e o
rio 3 ldquoFreteirasrdquo barcos ou embarcaccedilotildees de grande meacutedio ou pequeno porte que transportam moradores dos
rios ateacute agraves cidades no caso deste trabalho para Abaetetuba
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chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove
horas da manhatilde
Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba
Fonte Google Imagens2015
Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para
regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o
tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de
gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto
ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu
destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas
com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de
transporte para esse local o hidroviaacuterio
Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava
em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das
aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares
observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas
baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que
atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo
22
Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que
estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio
(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por
virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha
famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como
algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta
pesquisa
De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos
que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios
de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que
satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em
um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem
natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute
integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense
o ribeirinho
Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia
enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de
dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola
23
Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem
nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso
passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja
Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de
Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como
Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os
alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir
Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas
denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf
Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um
passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local
Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e
Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade
de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental
Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino
satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de
Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo
anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo
O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele
vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo
24
do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de
conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de
recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia
de cursar o ensino meacutedio
Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de
rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com
carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura
saberes e processos histoacutericos
Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado
dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos
com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e
permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade
identidade e saberes locais debatidos em sala de aula
Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se
levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se
dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a
complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com
que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo
o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na
zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas
movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se
compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas
A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado
estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$
600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno
professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente
de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor
Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada
moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito
educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas
delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola
informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que
hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado
25
uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo
voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4
O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de
ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em
formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para
os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e
ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas
diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual
Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de
accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas
famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou
aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha
conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador
associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs
durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de
paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada
regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos
durante esse periacuteodo
Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de
comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo
na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da
quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico
4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da
Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA
26
Capitulo 3
Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais
Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco
da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de
Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema
de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em
relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos
possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de
educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo
Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo
as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro
do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como
organizam os conteuacutedos
Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam
meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo
do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do
27
campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso
somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta
pesquisa
Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes
localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como
Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros
Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os
coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra
localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)
Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz
parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba
com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo
ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois
passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo
ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas
e continua
Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos
dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar
seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
28
Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter
viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a
necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que
o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas
aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua
Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo
dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles
exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural
poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida
cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas
comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios
primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e
acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social
dentro de sua comunidade
A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz
conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de
idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos
artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de
idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns
momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e
adultos
Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo
entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo
aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo
dessa comunidade
Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante
no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o
sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em
qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes
culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade
5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades
segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do
presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo
29
Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o
trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu
dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta
Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o
entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e
conferem sentido agrave sua existecircnciardquo
Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu
acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana
desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito
antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os
mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e
chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola
Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo
comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem
outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno
quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute
patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo
apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater
o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7
estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo
da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe
atrasa a chegada
Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees
podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo
do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo
sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)
legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento
promovendo a Pedagogia da Alternacircncia
Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se
estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se
tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento
6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo
7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que
navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente
30
alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas
experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de
aprendizagens a partir desse movimento
Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador
do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes
agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma
troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais
Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)
interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os
modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam
desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso
levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida
em comunidade
O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por
exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas
e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de
aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao
ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia
Andrade (1993)
Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades
agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido
os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem
no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a
educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud
ANDRADE 1993)
Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de
experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa
diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da
pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos
pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais
legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes
semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e
elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural
8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore
apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto
das aacutervores
31
Capitulo 4
(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo
A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a
base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um
novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem
na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e
que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar
pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa
histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade
Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que
traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave
permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes
valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos
organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida
As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que
sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os
professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona
pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho
pedagoacutegico
Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola
da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de
educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e
das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)
Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o
grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se
trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees
sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua
particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos
sociais e da cultura como praacutexis
Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de
profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que
eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas
32
dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo
em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias
indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas
lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades
ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de
trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a
educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a
isto que ela se propotildee
E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando
estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas
histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e
se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo
Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as
escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas
recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de
2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam
ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os
alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de
chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no
processo de ensino- aprendizagem
Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo
natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse
em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e
meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam
durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua
trajetoacuteria
O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser
humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as
comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da
histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de
conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos
alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de
forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo
esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes
33
Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos
educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de
descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar
democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica
e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos
ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do
conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como
um criacutetico- dialeacutetico
De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de
apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros
fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e
suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que
passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o
conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico
despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos
O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de
conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do
campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo
praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social
direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora
Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de
ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da
cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de
educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na
cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias
Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do
Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de
mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem
curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)
Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia
profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino
possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo
aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta
(FREIRE 2003)
34
Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam
realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos
livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se
afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)
A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do
conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica
tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu
desmascaramento (FREIRE 2003)
Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de
dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo
precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo
diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do
aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos
negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos
Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro
preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se
antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio
com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na
formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde
emerge esse profissional
Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a
valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de
nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador
existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo
humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo
O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a
desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do
discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-
existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e
poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)
Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na
educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a
comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue
persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar
35
traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia
essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os
educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos
troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que
se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se
preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da
perseveranccedilardquo
O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que
devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates
mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa
cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na
historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em
possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)
Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e
aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o
pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos
seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos
desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser
livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire
(2001)
E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza
(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade
(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes
(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades
accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo
(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute
possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar
social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de
cultura de educaccedilatildeordquo
36
Consideraccedilotildees Finais
A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo
simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no
e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo
Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na
busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos
cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem
desenvolvido em um contexto ribeirinho
Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o
propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as
demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do
Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu
histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar
Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir
articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar
em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas
educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o
professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes
desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que
possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem
A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar
os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja
percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo
educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas
verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto
profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a
educaccedilatildeo do campo
A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos
professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte
no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria
Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores
comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo
conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo
37
encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da
comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo
Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os
processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees
para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo
soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos
curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos
inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do
Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo
acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees
38
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Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013
RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa
Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio
(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da
turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e
Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014
RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da
comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02
f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias
Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal
do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011
RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio
Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase
em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo
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sociais e a escola do campo In Cidadania organizaccedilatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas
Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008
SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso
saber Educaccedilatildeo de jovens e adultos Recife Bagaccedilo 2000
SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e movimento sociais do campo a produccedilatildeo do
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Editora da UFRJ 1987
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Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar
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etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015
Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar
lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015
Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar
lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a
setembro de 2015
Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba
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Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha
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Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar
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12
na turma de 2010 que continham novos companheiros que me esclareceram e
esclarecem ateacute hoje minhas duacutevidas sobre Movimentos Sociais Organizados do
Campo
Quando reiniciei as aulas na ocasiatildeo do seminaacuterio de apresentaccedilatildeo de
Educaccedilatildeo do Campo estavam presentes lideranccedilas como Charles Trocate dos
Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e vaacuterias outras entidades
civis organizadas fazendo um interessante apanhado das lutas sociais e confrontos que
serviram de alicerce para poliacuteticas puacuteblicas e por uma Educaccedilatildeo dono Campo
valorizada e pensada para e pelos povos do campo
Durante o seminaacuterio Charles Trocate comentou sobre o iniacutecio o dos MTS
seus objetivos lutas perdas e conquistas De como eacute importante grupos se definirem e
se identificarem para que possam lutar por seus direitos montar estrateacutegias de
discussotildees com o governo para que este veja de onde a massa popular se afirma de
onde fala e que poliacuteticas puacuteblicas sejam efetivadas
O seminaacuterio me permitiu compreender que o Curso de Educaccedilatildeo do Campo
junto aos Movimentos Sociais eacute uma entre outras conquistas pois os filhos de
camponeses ribeirinho quilombolas e povos indiacutegenas estatildeo entrando nas
Universidades e se graduando se especializando para poder se expandir e mostrar que
eles (re)existir com seu modo e sua tradiccedilatildeo e juntos compartilhar conhecimentos
Nesses uacuteltimos quatro anos (2010-2014) de conhecimentos trocas de
experiecircncias e ensinamentos neste curso junto a professores vindos de diferentes
localidades e que natildeo nos deixavam com duacutevidas durante as disciplinas pois seus
compromissos como docentes e a luta por uma mesma causa (educaccedilatildeo do campo)
nos tornavam a cada aula defensores compromissados com a educaccedilatildeo do campo
proporcionando ao mesmo tempo teorias que nos faziam criticar os modelos sobre os
quais ciecircncias satildeo ensinada nas salas de aula
Aleacutem disso eacute importante ressaltar que por ser oriunda de AbaetetubaParaacute
aproximadamente a quatrocentos e cinquenta e seis quilocircmetros da cidade de Marabaacute
onde cursei Educaccedilatildeo do Campo trazia comigo um diferencial pois abordava em
meus trabalhos minhas experiecircncias do campesinato de minha localidade o que para a
realidade onde a maioria dos discentes eram da regiatildeo de Marabaacute era totalmente novo
assim como fora no inicio para mim
Tudo aquilo que eu mostrava durante as apresentaccedilotildees dos Trabalhos de
Campo do Tempo-Comunidade por ser desconhecido ficava mais interessante e nessas
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trocas de conhecimentos passaacutevamos a perceber outras regiotildees tatildeo pertinho de noacutes e
juntos misturaacutevamos nossas crenccedilas costumes tradiccedilotildees mitos e histoacuterias essas
contadas na sala da diversidade cultural
O Curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz novos pressupostos
de educaccedilatildeo com uma formaccedilatildeo de sujeitos diferenciados possibilita que o educador
do campo e alunos realizem a troca de conhecimento e adequem esse processo de
forma mais agradaacutevel para ambos
De acordo com CORDEIRO REIS amp HAGE (2011) a Pedagogia da
Alternacircncia eacute uma estrateacutegia bem pensada que articula espaccedilos educativos concebe
que a educaccedilatildeo pode se realizar tanto em sala de aula quanto nos outros espaccedilos que
compotildeem o conviacutevio social dos alunos Os educandos do campo podem assim ter
acesso agrave escola sem ter que abandonar o trabalho sem deixar de lado o aprendizado
proveniente da vida na sua comunidade
Desta forma o que propotildee esta praacutetica pedagoacutegica eacute que o educando possa
refletir sobre sua proacutepria realidade seja capaz de aplicar os conhecimentos cientiacuteficos
que apreende no espaccedilo formal de educaccedilatildeo em seu cotidiano
O curso de Educaccedilatildeo do campo faz uso estrateacutegico dessa metodologia pois
se encontra dividido em dois periacuteodos especiacuteficos o primeiro chamado Tempo-
Universidade ocorre em janeiro-fevereiro e julho e Agosto neste periacuteodo os alunos de
diferentes localidades juntos em sala preparam momentos de trocas experiecircncias e de
conhecimentos durante seminaacuterios debates rodas de conversas
Ocorre todo um aprendizado teoacuterico de autores das aacutereas de sociologia filosofia
histoacuteria geografia e de educadores do campo No Tempo-Universidade aprendemos o
modo como conversar com a comunidade para obter as informaccedilotildees e conhecimentos
necessaacuterios para serem repassados em nosso acircmbito familiar e educacional deixando em
cada um algo que os toquem socialmente
O segundo periacuteodo ocorre nos meses que estamos fora da Universidade eacute
denominado de Tempo-Comunidade (T-C) Durante esse tempo colocamos em praacutetica
tudo o que aprendemos na academia cientifica em comunidades ribeirinhas
quilombolas indiacutegenas e outras
Durante os trabalhos de Campo no periacuteodo Tempo-Comunidade para pocircr
em praacutetica o que aprendemos em sala de aula presenciei por diversas vezes o modo
como os professores do Sistema de Organizaccedilatildeo de Ensino Modular (SOME)
professores esses que se movimentam de comunidade em comunidade ministravam
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suas aulas durante dois meses em cada escola trazendo estilos de conhecimentos
(saberes cientiacuteficos) que aprenderam nas universidades que por vezes natildeo condiziam
com as realidades da comunidade ribeirinha que eu fazia minha praacutetica de ensino
Tendo por base os nossos conhecimentos cotidianos que constroem nossas
identidades cada educando escolheu um local para o desenvolvimento do respectivo
Trabalho de Campo partindo de uma das primeiras aulas ministradas pela professora
Dra Idelma Santiago sobre Aacutervores Genealoacutegicas no Tempo Universidade na qual
fizemos uma investigaccedilatildeo metodoloacutegica a fim de reconhecermos os saberes do lugar
de onde viemos
Escolhi entatildeo uma dentre as setenta e duas Ilhas ribeirinhas de Abaetetuba
situada no Rio TucumandubandashMeacutedio sendo este um dos afluentes do Rio Paraacute da
cidade de Abaetetuba O interesse pelo tema da educaccedilatildeo em educaccedilatildeo do campo
surgiu ainda na graduaccedilatildeo durante palestras estudos debates seminaacuterios para lutar
pelo reconhecimento de uma forma de ensinar dos Educadores do Campo no Campo
para a construccedilatildeo de Saberes e Dizeres na regiatildeo ribeirinha ou no lugar em que ela
aconteccedila
Atraveacutes de observaccedilotildees dos trabalhos de campo e do Tempo-comunidade
realizados durante as disciplinas do Tempo Universidade me despertou o interesse em
aprofundar meus conhecimentos nessa aacuterea levando-me para uma discussatildeo teoacuterica e
praacutetica da qual minha preocupaccedilatildeo ocorre ateacute os dias de hoje pois professores que
tiveram uma educaccedilatildeo bastante cartesiana e urbana levam para as comunidades
ribeirinhas os conhecimentos que aprenderam nas Universidades como modelos isto
eacute servem para explicar a realidade em qualquer contexto seja na cidade urbanizada
seja nos interiores ribeirinhos natildeo se atentando para a valorizaccedilatildeo do conhecimento
local
A ecircnfase principal deste Trabalho de Conclusatildeo do Curso (TCC) reside em
evidenciar como os professores ministram suas aulas nas regiotildees ribeirinhas se
incorporam ou natildeo os conhecimentos do cotidiano de seus alunos para explicar as
disciplinas e com isso valorizar os conhecimentos locais como meio de explicaccedilatildeo da
realidade
Para tanto se utilizaraacute de um meacutetodo nas ciecircncias humanas a observaccedilatildeo
participante aleacutem de entrevistas formais e conversas informais com os professores da
escola Nossa Senhora de Guadalupe
15
Assim sendo este trabalho estaacute estruturado da seguinte forma no capiacutetulo 1
intitulado A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha busca-se mostrar um
pouco do surgimento da Educaccedilatildeo do Campo no contexto nacional
O capiacutetulo 2 denominado De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe localiza a
comunidade e aborda a experiecircncia de inserccedilatildeo no loacutecus fazendo uso de imagens para
melhor ambientar o leitor
No capiacutetulo 3 chamado Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais
objetiva descrever como a articulaccedilatildeo entre diferentes conhecimentos no cotidiano da
sala de aula
No capitulo 4 nomeado (Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo
do Campo procura-se relacionar como os conhecimentos cientiacuteficos de um lado e os
conhecimentos tradicionais de outro se datildeo ou deveriam se dar nas aulas
Nas Consideraccedilotildees Finais tenta-se evidenciar um pouco como este
trabalho pode contribuir para outras anaacutelises similares com outros recortes empiacutericos em
trabalhos posteriores
16
Capitulo 1
A Educaccedilatildeo do Campo em uma comunidade Ribeirinha
A Educaccedilatildeo do Campo surgiu no seacuteculo passado e colocava em evidencia os
processos de exclusatildeo social poliacutetica econocircmica e cultural que os ldquopovosrdquo ou
ldquocomunidadesrdquo tradicionais vinham e ainda vem sofrendo em diversas regiotildees do Paiacutes
O curso vem trazendo esse olhar multifacetado da realidade do campo
como por exemplo na exploraccedilatildeo e escravizaccedilatildeo de populaccedilotildees indiacutegenas e africanos e
suas vaacuterias etnias em nosso paiacutes desde seu descobrimento assim como suas
consequecircncias nos dias atuais que formavamformam as realidades dos sujeitos por
vezes antagocircnicas da qual Maria Antocircnia de Souza (2010) aponta que
A educaccedilatildeo do Campo surge como novo paradigma para pensar os sujeitos
do campo valorizando seus trabalhos trabalhadores suas particularidades
contradiccedilotildees e organizaccedilatildeo cultural como praacutexis Ela se coloca contra o
paradigma da educaccedilatildeo rural ou seja aquela que esta vinculada aos
interesses do governo como agronegoacutecio do capitalismo agraacuterio e ao
fortalecimento das poliacuteticas do esvaziamento dos sujeitos do campo
(SOUZA 2010)
Isso porque atraveacutes de propagandas ou raacutedios bancos financiadores e outros
meios mostram os investimentos e avanccedilos no campo (elite empresarial) cuja realidade
concreta desses sujeitos vem se tornando mais conhecida por meio de pressotildees de
movimentos sociais organizados na luta por uma educaccedilatildeo de qualidade para os
trabalhadores do campo como nos diz Maria Isabel Pinheiro (2011) para quem
antagonicamente
Inovaram no maquinaacuterio no aumento da produccedilatildeo de gratildeo nos agrotoacutexicos
alteraccedilotildees dos genes das sementes para exportaccedilatildeo em larga escala Mas os
que tem usufruiacutedo desses avanccedilos satildeo pequenos grupos de latifundiaacuterios
empresaacuterios banqueiros e poliacuteticos nacionais e internacionais enquanto a
outros eacute negado o acesso a terra para sobreviver e garantir o sustento de
outros brasileiros (PINHEIRO 2011)
Dessa forma eacute que os Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST) ONGS educadores educando e sociedade civil se articularam e se articulam haacute
tempos lutando e pressionando o governo Federal Estadual e Municipal e em prol de
poliacuteticas puacuteblicas para criar alternativas de permanecircncia dos jovens e trabalhadores do
campo no campo atraveacutes de financiamentos assistecircncia teacutecnica educaccedilatildeo entre outros
Isso vem ocorrendo com a preocupaccedilatildeo de que se valorize os conhecimentos
locais e se planeje o modo mais adequado para uma educaccedilatildeo de qualidade para que
esses jovens possam se qualificar adquirindo saber cientiacutefico e ao mesmo tempo a
17
partir da valorizaccedilatildeo de seu lugar como espaccedilo de lutas e resistecircncias para o
reconhecimento de suas comunidades reelaborar
Conforme nos aponta Fernandes (2005) o campo eacute formado por diversos
territoacuterios que aborda todas as espeacutecies de relaccedilotildees humanas O campo requer demandas
distintas cada territoacuterio que forma o campo eacute dotado de particularidades desta categoria
emergem diversas relaccedilotildees Por isso a educaccedilatildeo no campo deve ser pensada
essencialmente dentro de cada contexto caso seja pensada fora dele natildeo eacute educaccedilatildeo
torna-se dominaccedilatildeo
Ainda em diaacutelogo com o autor temos que a educaccedilatildeo no campo surge no
sentido de tornar o indiviacuteduo ocupante dos territoacuterios do campo protagonista do
processo de construccedilatildeo de seu territoacuterio considerando as especificidades deste
Dessa forma autores como Roseli Caldart cuja produccedilatildeo versa sobre
movimentos sociais do campo educaccedilatildeo escola pedagogia do movimento e Bernardo
Manccedilano Fernandes (2008) que aborda principalmente teorias dos territoacuterios
paradigmas da questatildeo agraacuteria e do capitalismo agraacuterio reforma agraacuteria
desenvolvimento territorial Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
tem sido inspiraccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para os novos pesquisadores da Educaccedilatildeo do
Campo como ressalta Fernandes (2008)
No movimento de debate e contestaccedilatildeo da politica e da educaccedilatildeo rural
empreendido pelos movimentos sociais do campo emergem uma nova
concepccedilatildeo de educaccedilatildeo denominada Educaccedilatildeo do Campo (FERNANDES
2008)
No campo mais especiacutefico essas lutas e o conceito de educaccedilatildeo do campo se
fortaleceu e ganhou destaque a partir da I Conferencia Nacional por uma Educaccedilatildeo
Baacutesica do Campo realizada no ano de 1998 a partir dela foram elaborados trabalhos e
coletacircneas versando sobre Educaccedilatildeo do Campo que vieram relatar o processo de sua
construccedilatildeo e fortalecer as demandas por politicas publicas em vaacuterios aspectos da vida
no campo
Nesse mesmo contexto eacute verificada uma grande necessidade em se ter
profissional de educaccedilatildeo especiacutefica para as aacutereas do campo isto eacute profissionais que
possuiacutessem formaccedilatildeo especiacutefica (licenciatura) poacutes-graduaccedilotildees eou aperfeiccediloamentos
na aacuterea da educaccedilatildeo do campo
Para isso foram lanccediladas poliacuteticas quanto agrave educaccedilatildeo formal para
professores como nas licenciaturas em Educaccedilatildeo do Campo seja nas Universidades
Federais (UFS) seja por meio da Formaccedilatildeo continuada Plano Nacional de Formaccedilatildeo de
18
Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica (PARFOR) aleacutem de diversificaccedilatildeo das experiecircncias
educativas no campo a exemplo das Casas Familiares Rurais a construccedilatildeo da Escola
Famiacutelia Agriacutecola (EFA) Escolas Itinerantes que ajudam na ampliaccedilatildeo do conhecimento
e ao direito de comunidades ribeirinhas como a de Guadalupe em Abaetetuba a terem
educaccedilatildeo de qualidade e que valorize os conhecimentos locais como salienta Roseli
Caldart (2008)
A Educaccedilatildeo do Campo natildeo se conduz ao debate da escola da formaccedilatildeo
formal ou das propostas pedagoacutegicas A materialidade educativa de origem
da educaccedilatildeo do campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos
da produccedilatildeo e das lutas sociais do campo (CALDART 2008)
A educaccedilatildeo do Campo pretende ir aleacutem das fronteiras educacionais que
antagonizam os curriacuteculos entre cidade e campo como ressalta a Lei de Diretrizes e
Base da Educaccedilatildeo Nacional (1996) ldquoque a oferta da educaccedilatildeo baacutesica agrave populaccedilatildeo rural
natildeo eacute a mesma compreensatildeo dos movimentos sociais e da academia cientiacutefica em
relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do campordquo pois ela (LDB) se volta agrave lapidaccedilatildeo de matildeo de obra
visando o mercado de trabalho sendo isso uma de suas bases e objetivos que buscam
preparar os jovens para o mercado de trabalho seja este no ensino fundamental meacutedio
teacutecnico ou superior como uma preparaccedilatildeo de grande ldquovalorizaccedilatildeordquo
E a educaccedilatildeo do campo traz uma proposta que trabalha com a realidade de
trabalhadores e trabalhadoras do campo relacionada ao trabalho que eles desenvolve no
campo pois precisa-se perceber que ele possui uma caracteriacutestica proacutepria que o
diferencia da sociedade urbana as quais devem ser planejadas pelos educadores da
educaccedilatildeo considerando o meio de onde se fala fazer com que esses sujeitos se
identifique e lute pelos seus direitos enquanto uma sociedade pensada com sua
participaccedilatildeo nos processos educacionais vinculada a sua cultura e necessidades humanas
e sociais
A Educaccedilatildeo do Campo propotildee por isso para as aacutereas ribeirinhas como para
pescadores agricultores e artesatildeos que atraveacutes das organizaccedilotildees possam reivindicar
melhorias e ampliaccedilatildeo na aacuterea escolar infraestrutura para que o ensino chegue ateacute eles
de forma a valorizar os conhecimentos de seus cotidianos e natildeo que eles saiam ou
abandonem seus costumes
Sabemos que a categoria campo natildeo eacute uma categoria homogecircnea ela
engloba diversos grupos sociais que habitam regiotildees geograficamente distintas entatildeo
natildeo podemos pensar em Educaccedilatildeo no Campo sem saber de qual campo estamos falando
19
Essa localidade do qual falo eacute o contexto habitado pelas comunidades das margens do
rio tucumanduba
Nessas localidades o meio impotildee sua dinacircmica agrave vida social e isso
aprofunda a relaccedilatildeo do homem com a natureza ldquoo imaginaacuterio eacute rico e o ribeirinho faz
uso desse imaginaacuterio para explicar fenocircmenos da naturezardquo (LOUREIRO 1995)
Por isso a educaccedilatildeo do campo e curriacuteculo escolar deve estar voltados para
as especificidades do contexto camporibeirinho no caso deste trabalho realizando as
atividades de acordo com o local onde o curriacuteculo deve ser construiacutedo levando em
consideraccedilatildeo aspectos da cultura e da dinacircmica local festividades imaginaacuterios e ateacute as
proacuteprias condiccedilotildees impostas pelo meio Valorizando conhecimentos locais para que os
alunos se situem no fazer escolar e contribua para que saberes e tradiccedilotildees se
reproduzam e se recriem na comunidade seja no vieacutes da tradiccedilatildeo oral seja no vieacutes da
educaccedilatildeo formal ou informal
Dessa forma passamos a perceber a produccedilatildeo cultural social e econocircmica do
local sendo importante para a construccedilatildeo de uma identidade reconhecida seja ela em
acircmbito nacional ou internacional de respeito e valorizaccedilatildeo da pessoa humana ajudando
assim a (re)orientar aqueles que cheguem nessas escolas e nas comunidades ribeirinhas
Assim quando se fala em educaccedilatildeo do campo fala-se em reforma agraacuteria
de construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de biodiversidade de debates sobre cultura
politicas puacuteblicas sendo preciso o tempo todo fazer e refazer as leituras poliacutetico-
pedagoacutegicas econocircmicas e culturais a partir dessas comunidades e das contradiccedilotildees que
nelas estatildeo postas dentro da loacutegica neoliberal que deve ser criticada se queremos uma
Educaccedilatildeo do Campo que efetive ao que se propotildee
20
Capitulo 2
De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe
O Rio Tucumanduba estaacute localizado no municiacutepio de Abaetetuba1 cidade a
duas horas de Beleacutem sendo ambas do Estado do Paraacute Estaacute dividido em Baixo Alto e
Meacutedio Tucumanduba sendo que cada um desses cursos do rio se organizam em torno
de uma comunidade que possuem escolas e igrejas (catoacutelicas ou evangeacutelicas) A
localidade e escola escolhidas para esta pesquisa se situa no rio Tucumanduba meacutedio
Durante as idas para a comunidade para realizar as praacuteticas docentes em
educaccedilatildeo do campo compartilhar e receber saberes da comunidade ribeirinha entre
alunos professores pais parentes e amigos se observa muita simplicidade em cada um
com seus modos de vivecircncia como se movimentam nas canoas andam ou correm no
ldquomiritizerordquo 2 ou como caminham tatildeo firmemente nas pontes e que agrave noite sentam na
ldquocabeccedila da ponterdquo como dizem os moradores locais
Para compartilharem os saberes dos mais velhos da comunidade de suas
tradiccedilotildees suas regras e modos de vivecircncia na ldquocalmariardquo em um lugar de vaacuterzea
contos histoacuterias com exuberante imensidatildeo de aacutegua aacutervores e animais que leva e traz
conhecimentos entre os rios e mareacutes de comunidades a comunidades assim como agraves
cidades em que os moradores circulam (vendem seu produtos como o accedilaiacute) como em
Abaetetuba Beleacutem e outras cidades
O trajeto das ldquofreteirasrdquo3 que sai das comunidades ribeirinhas ateacute a cidade
de Abaetetuba eacute feito de porto em porto buscando passageiros por volta das quatro
horas da manhatilde As ldquofreteirasrdquo transportam aleacutem de pessoas que vatildeo para fazer vendas
de seus produtos (accedilaiacute peixe farinha e outros) produtos trazidos da cidade e pessoas
(crianccedilas jovens e velhos) que procuram hospitais ou cliacutenicas entre outros
Chegando ao porto ou trapiche de Abaetetuba( imagem nordm 01) por volta das
seis horas da manhatilde os passageiros ou vem conversando ou dormindo no barco ateacute
1 Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio de
Abaetetuba possui uma populaccedilatildeo de 141054 habitantes sendo que 82950 vivem na cidade e 58104
vivem na zona ruralcampo nas inuacutemeras colocircnias rios igarapeacutes e ilhas A populaccedilatildeo ribeirinha em
especial eacute muito grande e satildeo isentos de seguranccedila serviccedilos baacutesico de sauacutede aacutereas de lazer entre outros
dependendo exclusivamente da cidade 2 ldquoMiritizerordquo tronco de aacutervore geralmente que eacute colocada como uma espeacutecie de ponte entre a terra e o
rio 3 ldquoFreteirasrdquo barcos ou embarcaccedilotildees de grande meacutedio ou pequeno porte que transportam moradores dos
rios ateacute agraves cidades no caso deste trabalho para Abaetetuba
21
chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove
horas da manhatilde
Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba
Fonte Google Imagens2015
Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para
regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o
tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de
gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto
ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu
destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas
com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de
transporte para esse local o hidroviaacuterio
Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava
em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das
aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares
observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas
baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que
atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo
22
Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que
estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio
(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por
virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha
famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como
algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta
pesquisa
De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos
que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios
de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que
satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em
um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem
natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute
integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense
o ribeirinho
Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia
enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de
dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola
23
Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem
nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso
passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja
Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de
Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como
Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os
alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir
Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas
denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf
Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um
passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local
Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e
Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade
de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental
Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino
satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de
Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo
anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo
O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele
vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo
24
do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de
conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de
recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia
de cursar o ensino meacutedio
Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de
rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com
carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura
saberes e processos histoacutericos
Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado
dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos
com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e
permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade
identidade e saberes locais debatidos em sala de aula
Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se
levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se
dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a
complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com
que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo
o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na
zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas
movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se
compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas
A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado
estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$
600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno
professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente
de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor
Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada
moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito
educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas
delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola
informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que
hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado
25
uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo
voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4
O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de
ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em
formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para
os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e
ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas
diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual
Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de
accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas
famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou
aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha
conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador
associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs
durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de
paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada
regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos
durante esse periacuteodo
Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de
comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo
na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da
quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico
4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da
Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA
26
Capitulo 3
Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais
Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco
da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de
Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema
de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em
relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos
possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de
educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo
Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo
as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro
do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como
organizam os conteuacutedos
Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam
meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo
do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do
27
campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso
somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta
pesquisa
Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes
localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como
Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros
Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os
coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra
localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)
Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz
parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba
com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo
ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois
passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo
ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas
e continua
Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos
dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar
seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
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Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter
viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a
necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que
o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas
aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua
Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo
dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles
exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural
poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida
cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas
comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios
primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e
acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social
dentro de sua comunidade
A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz
conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de
idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos
artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de
idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns
momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e
adultos
Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo
entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo
aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo
dessa comunidade
Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante
no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o
sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em
qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes
culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade
5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades
segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do
presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo
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Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o
trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu
dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta
Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o
entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e
conferem sentido agrave sua existecircnciardquo
Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu
acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana
desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito
antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os
mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e
chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola
Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo
comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem
outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno
quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute
patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo
apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater
o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7
estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo
da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe
atrasa a chegada
Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees
podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo
do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo
sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)
legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento
promovendo a Pedagogia da Alternacircncia
Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se
estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se
tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento
6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo
7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que
navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente
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alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas
experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de
aprendizagens a partir desse movimento
Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador
do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes
agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma
troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais
Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)
interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os
modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam
desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso
levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida
em comunidade
O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por
exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas
e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de
aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao
ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia
Andrade (1993)
Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades
agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido
os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem
no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a
educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud
ANDRADE 1993)
Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de
experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa
diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da
pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos
pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais
legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes
semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e
elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural
8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore
apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto
das aacutervores
31
Capitulo 4
(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo
A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a
base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um
novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem
na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e
que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar
pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa
histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade
Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que
traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave
permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes
valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos
organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida
As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que
sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os
professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona
pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho
pedagoacutegico
Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola
da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de
educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e
das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)
Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o
grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se
trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees
sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua
particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos
sociais e da cultura como praacutexis
Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de
profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que
eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas
32
dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo
em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias
indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas
lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades
ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de
trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a
educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a
isto que ela se propotildee
E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando
estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas
histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e
se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo
Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as
escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas
recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de
2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam
ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os
alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de
chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no
processo de ensino- aprendizagem
Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo
natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse
em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e
meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam
durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua
trajetoacuteria
O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser
humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as
comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da
histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de
conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos
alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de
forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo
esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes
33
Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos
educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de
descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar
democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica
e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos
ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do
conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como
um criacutetico- dialeacutetico
De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de
apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros
fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e
suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que
passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o
conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico
despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos
O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de
conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do
campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo
praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social
direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora
Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de
ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da
cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de
educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na
cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias
Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do
Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de
mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem
curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)
Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia
profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino
possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo
aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta
(FREIRE 2003)
34
Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam
realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos
livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se
afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)
A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do
conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica
tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu
desmascaramento (FREIRE 2003)
Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de
dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo
precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo
diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do
aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos
negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos
Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro
preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se
antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio
com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na
formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde
emerge esse profissional
Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a
valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de
nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador
existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo
humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo
O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a
desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do
discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-
existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e
poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)
Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na
educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a
comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue
persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar
35
traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia
essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os
educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos
troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que
se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se
preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da
perseveranccedilardquo
O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que
devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates
mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa
cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na
historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em
possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)
Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e
aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o
pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos
seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos
desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser
livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire
(2001)
E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza
(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade
(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes
(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades
accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo
(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute
possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar
social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de
cultura de educaccedilatildeordquo
36
Consideraccedilotildees Finais
A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo
simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no
e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo
Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na
busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos
cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem
desenvolvido em um contexto ribeirinho
Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o
propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as
demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do
Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu
histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar
Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir
articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar
em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas
educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o
professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes
desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que
possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem
A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar
os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja
percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo
educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas
verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto
profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a
educaccedilatildeo do campo
A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos
professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte
no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria
Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores
comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo
conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo
37
encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da
comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo
Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os
processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees
para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo
soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos
curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos
inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do
Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo
acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees
38
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13
trocas de conhecimentos passaacutevamos a perceber outras regiotildees tatildeo pertinho de noacutes e
juntos misturaacutevamos nossas crenccedilas costumes tradiccedilotildees mitos e histoacuterias essas
contadas na sala da diversidade cultural
O Curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz novos pressupostos
de educaccedilatildeo com uma formaccedilatildeo de sujeitos diferenciados possibilita que o educador
do campo e alunos realizem a troca de conhecimento e adequem esse processo de
forma mais agradaacutevel para ambos
De acordo com CORDEIRO REIS amp HAGE (2011) a Pedagogia da
Alternacircncia eacute uma estrateacutegia bem pensada que articula espaccedilos educativos concebe
que a educaccedilatildeo pode se realizar tanto em sala de aula quanto nos outros espaccedilos que
compotildeem o conviacutevio social dos alunos Os educandos do campo podem assim ter
acesso agrave escola sem ter que abandonar o trabalho sem deixar de lado o aprendizado
proveniente da vida na sua comunidade
Desta forma o que propotildee esta praacutetica pedagoacutegica eacute que o educando possa
refletir sobre sua proacutepria realidade seja capaz de aplicar os conhecimentos cientiacuteficos
que apreende no espaccedilo formal de educaccedilatildeo em seu cotidiano
O curso de Educaccedilatildeo do campo faz uso estrateacutegico dessa metodologia pois
se encontra dividido em dois periacuteodos especiacuteficos o primeiro chamado Tempo-
Universidade ocorre em janeiro-fevereiro e julho e Agosto neste periacuteodo os alunos de
diferentes localidades juntos em sala preparam momentos de trocas experiecircncias e de
conhecimentos durante seminaacuterios debates rodas de conversas
Ocorre todo um aprendizado teoacuterico de autores das aacutereas de sociologia filosofia
histoacuteria geografia e de educadores do campo No Tempo-Universidade aprendemos o
modo como conversar com a comunidade para obter as informaccedilotildees e conhecimentos
necessaacuterios para serem repassados em nosso acircmbito familiar e educacional deixando em
cada um algo que os toquem socialmente
O segundo periacuteodo ocorre nos meses que estamos fora da Universidade eacute
denominado de Tempo-Comunidade (T-C) Durante esse tempo colocamos em praacutetica
tudo o que aprendemos na academia cientifica em comunidades ribeirinhas
quilombolas indiacutegenas e outras
Durante os trabalhos de Campo no periacuteodo Tempo-Comunidade para pocircr
em praacutetica o que aprendemos em sala de aula presenciei por diversas vezes o modo
como os professores do Sistema de Organizaccedilatildeo de Ensino Modular (SOME)
professores esses que se movimentam de comunidade em comunidade ministravam
14
suas aulas durante dois meses em cada escola trazendo estilos de conhecimentos
(saberes cientiacuteficos) que aprenderam nas universidades que por vezes natildeo condiziam
com as realidades da comunidade ribeirinha que eu fazia minha praacutetica de ensino
Tendo por base os nossos conhecimentos cotidianos que constroem nossas
identidades cada educando escolheu um local para o desenvolvimento do respectivo
Trabalho de Campo partindo de uma das primeiras aulas ministradas pela professora
Dra Idelma Santiago sobre Aacutervores Genealoacutegicas no Tempo Universidade na qual
fizemos uma investigaccedilatildeo metodoloacutegica a fim de reconhecermos os saberes do lugar
de onde viemos
Escolhi entatildeo uma dentre as setenta e duas Ilhas ribeirinhas de Abaetetuba
situada no Rio TucumandubandashMeacutedio sendo este um dos afluentes do Rio Paraacute da
cidade de Abaetetuba O interesse pelo tema da educaccedilatildeo em educaccedilatildeo do campo
surgiu ainda na graduaccedilatildeo durante palestras estudos debates seminaacuterios para lutar
pelo reconhecimento de uma forma de ensinar dos Educadores do Campo no Campo
para a construccedilatildeo de Saberes e Dizeres na regiatildeo ribeirinha ou no lugar em que ela
aconteccedila
Atraveacutes de observaccedilotildees dos trabalhos de campo e do Tempo-comunidade
realizados durante as disciplinas do Tempo Universidade me despertou o interesse em
aprofundar meus conhecimentos nessa aacuterea levando-me para uma discussatildeo teoacuterica e
praacutetica da qual minha preocupaccedilatildeo ocorre ateacute os dias de hoje pois professores que
tiveram uma educaccedilatildeo bastante cartesiana e urbana levam para as comunidades
ribeirinhas os conhecimentos que aprenderam nas Universidades como modelos isto
eacute servem para explicar a realidade em qualquer contexto seja na cidade urbanizada
seja nos interiores ribeirinhos natildeo se atentando para a valorizaccedilatildeo do conhecimento
local
A ecircnfase principal deste Trabalho de Conclusatildeo do Curso (TCC) reside em
evidenciar como os professores ministram suas aulas nas regiotildees ribeirinhas se
incorporam ou natildeo os conhecimentos do cotidiano de seus alunos para explicar as
disciplinas e com isso valorizar os conhecimentos locais como meio de explicaccedilatildeo da
realidade
Para tanto se utilizaraacute de um meacutetodo nas ciecircncias humanas a observaccedilatildeo
participante aleacutem de entrevistas formais e conversas informais com os professores da
escola Nossa Senhora de Guadalupe
15
Assim sendo este trabalho estaacute estruturado da seguinte forma no capiacutetulo 1
intitulado A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha busca-se mostrar um
pouco do surgimento da Educaccedilatildeo do Campo no contexto nacional
O capiacutetulo 2 denominado De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe localiza a
comunidade e aborda a experiecircncia de inserccedilatildeo no loacutecus fazendo uso de imagens para
melhor ambientar o leitor
No capiacutetulo 3 chamado Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais
objetiva descrever como a articulaccedilatildeo entre diferentes conhecimentos no cotidiano da
sala de aula
No capitulo 4 nomeado (Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo
do Campo procura-se relacionar como os conhecimentos cientiacuteficos de um lado e os
conhecimentos tradicionais de outro se datildeo ou deveriam se dar nas aulas
Nas Consideraccedilotildees Finais tenta-se evidenciar um pouco como este
trabalho pode contribuir para outras anaacutelises similares com outros recortes empiacutericos em
trabalhos posteriores
16
Capitulo 1
A Educaccedilatildeo do Campo em uma comunidade Ribeirinha
A Educaccedilatildeo do Campo surgiu no seacuteculo passado e colocava em evidencia os
processos de exclusatildeo social poliacutetica econocircmica e cultural que os ldquopovosrdquo ou
ldquocomunidadesrdquo tradicionais vinham e ainda vem sofrendo em diversas regiotildees do Paiacutes
O curso vem trazendo esse olhar multifacetado da realidade do campo
como por exemplo na exploraccedilatildeo e escravizaccedilatildeo de populaccedilotildees indiacutegenas e africanos e
suas vaacuterias etnias em nosso paiacutes desde seu descobrimento assim como suas
consequecircncias nos dias atuais que formavamformam as realidades dos sujeitos por
vezes antagocircnicas da qual Maria Antocircnia de Souza (2010) aponta que
A educaccedilatildeo do Campo surge como novo paradigma para pensar os sujeitos
do campo valorizando seus trabalhos trabalhadores suas particularidades
contradiccedilotildees e organizaccedilatildeo cultural como praacutexis Ela se coloca contra o
paradigma da educaccedilatildeo rural ou seja aquela que esta vinculada aos
interesses do governo como agronegoacutecio do capitalismo agraacuterio e ao
fortalecimento das poliacuteticas do esvaziamento dos sujeitos do campo
(SOUZA 2010)
Isso porque atraveacutes de propagandas ou raacutedios bancos financiadores e outros
meios mostram os investimentos e avanccedilos no campo (elite empresarial) cuja realidade
concreta desses sujeitos vem se tornando mais conhecida por meio de pressotildees de
movimentos sociais organizados na luta por uma educaccedilatildeo de qualidade para os
trabalhadores do campo como nos diz Maria Isabel Pinheiro (2011) para quem
antagonicamente
Inovaram no maquinaacuterio no aumento da produccedilatildeo de gratildeo nos agrotoacutexicos
alteraccedilotildees dos genes das sementes para exportaccedilatildeo em larga escala Mas os
que tem usufruiacutedo desses avanccedilos satildeo pequenos grupos de latifundiaacuterios
empresaacuterios banqueiros e poliacuteticos nacionais e internacionais enquanto a
outros eacute negado o acesso a terra para sobreviver e garantir o sustento de
outros brasileiros (PINHEIRO 2011)
Dessa forma eacute que os Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST) ONGS educadores educando e sociedade civil se articularam e se articulam haacute
tempos lutando e pressionando o governo Federal Estadual e Municipal e em prol de
poliacuteticas puacuteblicas para criar alternativas de permanecircncia dos jovens e trabalhadores do
campo no campo atraveacutes de financiamentos assistecircncia teacutecnica educaccedilatildeo entre outros
Isso vem ocorrendo com a preocupaccedilatildeo de que se valorize os conhecimentos
locais e se planeje o modo mais adequado para uma educaccedilatildeo de qualidade para que
esses jovens possam se qualificar adquirindo saber cientiacutefico e ao mesmo tempo a
17
partir da valorizaccedilatildeo de seu lugar como espaccedilo de lutas e resistecircncias para o
reconhecimento de suas comunidades reelaborar
Conforme nos aponta Fernandes (2005) o campo eacute formado por diversos
territoacuterios que aborda todas as espeacutecies de relaccedilotildees humanas O campo requer demandas
distintas cada territoacuterio que forma o campo eacute dotado de particularidades desta categoria
emergem diversas relaccedilotildees Por isso a educaccedilatildeo no campo deve ser pensada
essencialmente dentro de cada contexto caso seja pensada fora dele natildeo eacute educaccedilatildeo
torna-se dominaccedilatildeo
Ainda em diaacutelogo com o autor temos que a educaccedilatildeo no campo surge no
sentido de tornar o indiviacuteduo ocupante dos territoacuterios do campo protagonista do
processo de construccedilatildeo de seu territoacuterio considerando as especificidades deste
Dessa forma autores como Roseli Caldart cuja produccedilatildeo versa sobre
movimentos sociais do campo educaccedilatildeo escola pedagogia do movimento e Bernardo
Manccedilano Fernandes (2008) que aborda principalmente teorias dos territoacuterios
paradigmas da questatildeo agraacuteria e do capitalismo agraacuterio reforma agraacuteria
desenvolvimento territorial Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
tem sido inspiraccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para os novos pesquisadores da Educaccedilatildeo do
Campo como ressalta Fernandes (2008)
No movimento de debate e contestaccedilatildeo da politica e da educaccedilatildeo rural
empreendido pelos movimentos sociais do campo emergem uma nova
concepccedilatildeo de educaccedilatildeo denominada Educaccedilatildeo do Campo (FERNANDES
2008)
No campo mais especiacutefico essas lutas e o conceito de educaccedilatildeo do campo se
fortaleceu e ganhou destaque a partir da I Conferencia Nacional por uma Educaccedilatildeo
Baacutesica do Campo realizada no ano de 1998 a partir dela foram elaborados trabalhos e
coletacircneas versando sobre Educaccedilatildeo do Campo que vieram relatar o processo de sua
construccedilatildeo e fortalecer as demandas por politicas publicas em vaacuterios aspectos da vida
no campo
Nesse mesmo contexto eacute verificada uma grande necessidade em se ter
profissional de educaccedilatildeo especiacutefica para as aacutereas do campo isto eacute profissionais que
possuiacutessem formaccedilatildeo especiacutefica (licenciatura) poacutes-graduaccedilotildees eou aperfeiccediloamentos
na aacuterea da educaccedilatildeo do campo
Para isso foram lanccediladas poliacuteticas quanto agrave educaccedilatildeo formal para
professores como nas licenciaturas em Educaccedilatildeo do Campo seja nas Universidades
Federais (UFS) seja por meio da Formaccedilatildeo continuada Plano Nacional de Formaccedilatildeo de
18
Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica (PARFOR) aleacutem de diversificaccedilatildeo das experiecircncias
educativas no campo a exemplo das Casas Familiares Rurais a construccedilatildeo da Escola
Famiacutelia Agriacutecola (EFA) Escolas Itinerantes que ajudam na ampliaccedilatildeo do conhecimento
e ao direito de comunidades ribeirinhas como a de Guadalupe em Abaetetuba a terem
educaccedilatildeo de qualidade e que valorize os conhecimentos locais como salienta Roseli
Caldart (2008)
A Educaccedilatildeo do Campo natildeo se conduz ao debate da escola da formaccedilatildeo
formal ou das propostas pedagoacutegicas A materialidade educativa de origem
da educaccedilatildeo do campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos
da produccedilatildeo e das lutas sociais do campo (CALDART 2008)
A educaccedilatildeo do Campo pretende ir aleacutem das fronteiras educacionais que
antagonizam os curriacuteculos entre cidade e campo como ressalta a Lei de Diretrizes e
Base da Educaccedilatildeo Nacional (1996) ldquoque a oferta da educaccedilatildeo baacutesica agrave populaccedilatildeo rural
natildeo eacute a mesma compreensatildeo dos movimentos sociais e da academia cientiacutefica em
relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do campordquo pois ela (LDB) se volta agrave lapidaccedilatildeo de matildeo de obra
visando o mercado de trabalho sendo isso uma de suas bases e objetivos que buscam
preparar os jovens para o mercado de trabalho seja este no ensino fundamental meacutedio
teacutecnico ou superior como uma preparaccedilatildeo de grande ldquovalorizaccedilatildeordquo
E a educaccedilatildeo do campo traz uma proposta que trabalha com a realidade de
trabalhadores e trabalhadoras do campo relacionada ao trabalho que eles desenvolve no
campo pois precisa-se perceber que ele possui uma caracteriacutestica proacutepria que o
diferencia da sociedade urbana as quais devem ser planejadas pelos educadores da
educaccedilatildeo considerando o meio de onde se fala fazer com que esses sujeitos se
identifique e lute pelos seus direitos enquanto uma sociedade pensada com sua
participaccedilatildeo nos processos educacionais vinculada a sua cultura e necessidades humanas
e sociais
A Educaccedilatildeo do Campo propotildee por isso para as aacutereas ribeirinhas como para
pescadores agricultores e artesatildeos que atraveacutes das organizaccedilotildees possam reivindicar
melhorias e ampliaccedilatildeo na aacuterea escolar infraestrutura para que o ensino chegue ateacute eles
de forma a valorizar os conhecimentos de seus cotidianos e natildeo que eles saiam ou
abandonem seus costumes
Sabemos que a categoria campo natildeo eacute uma categoria homogecircnea ela
engloba diversos grupos sociais que habitam regiotildees geograficamente distintas entatildeo
natildeo podemos pensar em Educaccedilatildeo no Campo sem saber de qual campo estamos falando
19
Essa localidade do qual falo eacute o contexto habitado pelas comunidades das margens do
rio tucumanduba
Nessas localidades o meio impotildee sua dinacircmica agrave vida social e isso
aprofunda a relaccedilatildeo do homem com a natureza ldquoo imaginaacuterio eacute rico e o ribeirinho faz
uso desse imaginaacuterio para explicar fenocircmenos da naturezardquo (LOUREIRO 1995)
Por isso a educaccedilatildeo do campo e curriacuteculo escolar deve estar voltados para
as especificidades do contexto camporibeirinho no caso deste trabalho realizando as
atividades de acordo com o local onde o curriacuteculo deve ser construiacutedo levando em
consideraccedilatildeo aspectos da cultura e da dinacircmica local festividades imaginaacuterios e ateacute as
proacuteprias condiccedilotildees impostas pelo meio Valorizando conhecimentos locais para que os
alunos se situem no fazer escolar e contribua para que saberes e tradiccedilotildees se
reproduzam e se recriem na comunidade seja no vieacutes da tradiccedilatildeo oral seja no vieacutes da
educaccedilatildeo formal ou informal
Dessa forma passamos a perceber a produccedilatildeo cultural social e econocircmica do
local sendo importante para a construccedilatildeo de uma identidade reconhecida seja ela em
acircmbito nacional ou internacional de respeito e valorizaccedilatildeo da pessoa humana ajudando
assim a (re)orientar aqueles que cheguem nessas escolas e nas comunidades ribeirinhas
Assim quando se fala em educaccedilatildeo do campo fala-se em reforma agraacuteria
de construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de biodiversidade de debates sobre cultura
politicas puacuteblicas sendo preciso o tempo todo fazer e refazer as leituras poliacutetico-
pedagoacutegicas econocircmicas e culturais a partir dessas comunidades e das contradiccedilotildees que
nelas estatildeo postas dentro da loacutegica neoliberal que deve ser criticada se queremos uma
Educaccedilatildeo do Campo que efetive ao que se propotildee
20
Capitulo 2
De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe
O Rio Tucumanduba estaacute localizado no municiacutepio de Abaetetuba1 cidade a
duas horas de Beleacutem sendo ambas do Estado do Paraacute Estaacute dividido em Baixo Alto e
Meacutedio Tucumanduba sendo que cada um desses cursos do rio se organizam em torno
de uma comunidade que possuem escolas e igrejas (catoacutelicas ou evangeacutelicas) A
localidade e escola escolhidas para esta pesquisa se situa no rio Tucumanduba meacutedio
Durante as idas para a comunidade para realizar as praacuteticas docentes em
educaccedilatildeo do campo compartilhar e receber saberes da comunidade ribeirinha entre
alunos professores pais parentes e amigos se observa muita simplicidade em cada um
com seus modos de vivecircncia como se movimentam nas canoas andam ou correm no
ldquomiritizerordquo 2 ou como caminham tatildeo firmemente nas pontes e que agrave noite sentam na
ldquocabeccedila da ponterdquo como dizem os moradores locais
Para compartilharem os saberes dos mais velhos da comunidade de suas
tradiccedilotildees suas regras e modos de vivecircncia na ldquocalmariardquo em um lugar de vaacuterzea
contos histoacuterias com exuberante imensidatildeo de aacutegua aacutervores e animais que leva e traz
conhecimentos entre os rios e mareacutes de comunidades a comunidades assim como agraves
cidades em que os moradores circulam (vendem seu produtos como o accedilaiacute) como em
Abaetetuba Beleacutem e outras cidades
O trajeto das ldquofreteirasrdquo3 que sai das comunidades ribeirinhas ateacute a cidade
de Abaetetuba eacute feito de porto em porto buscando passageiros por volta das quatro
horas da manhatilde As ldquofreteirasrdquo transportam aleacutem de pessoas que vatildeo para fazer vendas
de seus produtos (accedilaiacute peixe farinha e outros) produtos trazidos da cidade e pessoas
(crianccedilas jovens e velhos) que procuram hospitais ou cliacutenicas entre outros
Chegando ao porto ou trapiche de Abaetetuba( imagem nordm 01) por volta das
seis horas da manhatilde os passageiros ou vem conversando ou dormindo no barco ateacute
1 Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio de
Abaetetuba possui uma populaccedilatildeo de 141054 habitantes sendo que 82950 vivem na cidade e 58104
vivem na zona ruralcampo nas inuacutemeras colocircnias rios igarapeacutes e ilhas A populaccedilatildeo ribeirinha em
especial eacute muito grande e satildeo isentos de seguranccedila serviccedilos baacutesico de sauacutede aacutereas de lazer entre outros
dependendo exclusivamente da cidade 2 ldquoMiritizerordquo tronco de aacutervore geralmente que eacute colocada como uma espeacutecie de ponte entre a terra e o
rio 3 ldquoFreteirasrdquo barcos ou embarcaccedilotildees de grande meacutedio ou pequeno porte que transportam moradores dos
rios ateacute agraves cidades no caso deste trabalho para Abaetetuba
21
chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove
horas da manhatilde
Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba
Fonte Google Imagens2015
Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para
regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o
tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de
gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto
ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu
destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas
com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de
transporte para esse local o hidroviaacuterio
Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava
em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das
aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares
observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas
baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que
atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo
22
Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que
estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio
(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por
virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha
famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como
algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta
pesquisa
De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos
que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios
de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que
satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em
um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem
natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute
integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense
o ribeirinho
Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia
enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de
dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola
23
Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem
nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso
passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja
Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de
Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como
Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os
alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir
Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas
denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf
Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um
passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local
Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e
Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade
de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental
Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino
satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de
Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo
anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo
O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele
vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo
24
do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de
conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de
recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia
de cursar o ensino meacutedio
Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de
rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com
carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura
saberes e processos histoacutericos
Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado
dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos
com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e
permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade
identidade e saberes locais debatidos em sala de aula
Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se
levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se
dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a
complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com
que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo
o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na
zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas
movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se
compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas
A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado
estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$
600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno
professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente
de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor
Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada
moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito
educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas
delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola
informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que
hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado
25
uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo
voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4
O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de
ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em
formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para
os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e
ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas
diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual
Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de
accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas
famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou
aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha
conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador
associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs
durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de
paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada
regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos
durante esse periacuteodo
Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de
comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo
na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da
quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico
4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da
Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA
26
Capitulo 3
Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais
Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco
da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de
Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema
de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em
relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos
possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de
educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo
Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo
as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro
do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como
organizam os conteuacutedos
Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam
meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo
do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do
27
campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso
somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta
pesquisa
Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes
localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como
Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros
Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os
coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra
localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)
Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz
parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba
com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo
ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois
passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo
ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas
e continua
Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos
dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar
seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
28
Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter
viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a
necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que
o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas
aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua
Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo
dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles
exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural
poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida
cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas
comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios
primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e
acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social
dentro de sua comunidade
A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz
conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de
idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos
artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de
idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns
momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e
adultos
Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo
entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo
aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo
dessa comunidade
Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante
no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o
sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em
qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes
culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade
5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades
segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do
presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo
29
Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o
trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu
dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta
Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o
entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e
conferem sentido agrave sua existecircnciardquo
Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu
acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana
desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito
antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os
mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e
chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola
Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo
comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem
outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno
quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute
patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo
apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater
o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7
estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo
da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe
atrasa a chegada
Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees
podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo
do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo
sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)
legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento
promovendo a Pedagogia da Alternacircncia
Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se
estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se
tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento
6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo
7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que
navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente
30
alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas
experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de
aprendizagens a partir desse movimento
Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador
do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes
agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma
troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais
Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)
interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os
modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam
desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso
levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida
em comunidade
O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por
exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas
e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de
aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao
ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia
Andrade (1993)
Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades
agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido
os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem
no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a
educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud
ANDRADE 1993)
Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de
experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa
diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da
pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos
pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais
legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes
semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e
elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural
8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore
apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto
das aacutervores
31
Capitulo 4
(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo
A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a
base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um
novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem
na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e
que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar
pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa
histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade
Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que
traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave
permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes
valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos
organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida
As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que
sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os
professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona
pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho
pedagoacutegico
Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola
da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de
educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e
das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)
Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o
grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se
trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees
sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua
particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos
sociais e da cultura como praacutexis
Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de
profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que
eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas
32
dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo
em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias
indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas
lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades
ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de
trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a
educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a
isto que ela se propotildee
E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando
estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas
histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e
se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo
Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as
escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas
recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de
2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam
ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os
alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de
chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no
processo de ensino- aprendizagem
Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo
natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse
em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e
meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam
durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua
trajetoacuteria
O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser
humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as
comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da
histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de
conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos
alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de
forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo
esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes
33
Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos
educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de
descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar
democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica
e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos
ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do
conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como
um criacutetico- dialeacutetico
De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de
apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros
fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e
suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que
passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o
conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico
despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos
O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de
conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do
campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo
praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social
direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora
Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de
ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da
cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de
educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na
cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias
Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do
Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de
mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem
curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)
Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia
profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino
possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo
aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta
(FREIRE 2003)
34
Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam
realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos
livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se
afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)
A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do
conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica
tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu
desmascaramento (FREIRE 2003)
Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de
dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo
precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo
diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do
aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos
negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos
Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro
preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se
antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio
com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na
formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde
emerge esse profissional
Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a
valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de
nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador
existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo
humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo
O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a
desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do
discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-
existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e
poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)
Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na
educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a
comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue
persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar
35
traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia
essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os
educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos
troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que
se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se
preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da
perseveranccedilardquo
O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que
devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates
mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa
cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na
historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em
possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)
Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e
aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o
pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos
seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos
desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser
livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire
(2001)
E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza
(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade
(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes
(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades
accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo
(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute
possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar
social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de
cultura de educaccedilatildeordquo
36
Consideraccedilotildees Finais
A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo
simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no
e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo
Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na
busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos
cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem
desenvolvido em um contexto ribeirinho
Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o
propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as
demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do
Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu
histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar
Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir
articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar
em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas
educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o
professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes
desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que
possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem
A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar
os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja
percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo
educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas
verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto
profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a
educaccedilatildeo do campo
A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos
professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte
no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria
Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores
comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo
conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo
37
encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da
comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo
Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os
processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees
para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo
soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos
curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos
inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do
Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo
acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees
38
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14
suas aulas durante dois meses em cada escola trazendo estilos de conhecimentos
(saberes cientiacuteficos) que aprenderam nas universidades que por vezes natildeo condiziam
com as realidades da comunidade ribeirinha que eu fazia minha praacutetica de ensino
Tendo por base os nossos conhecimentos cotidianos que constroem nossas
identidades cada educando escolheu um local para o desenvolvimento do respectivo
Trabalho de Campo partindo de uma das primeiras aulas ministradas pela professora
Dra Idelma Santiago sobre Aacutervores Genealoacutegicas no Tempo Universidade na qual
fizemos uma investigaccedilatildeo metodoloacutegica a fim de reconhecermos os saberes do lugar
de onde viemos
Escolhi entatildeo uma dentre as setenta e duas Ilhas ribeirinhas de Abaetetuba
situada no Rio TucumandubandashMeacutedio sendo este um dos afluentes do Rio Paraacute da
cidade de Abaetetuba O interesse pelo tema da educaccedilatildeo em educaccedilatildeo do campo
surgiu ainda na graduaccedilatildeo durante palestras estudos debates seminaacuterios para lutar
pelo reconhecimento de uma forma de ensinar dos Educadores do Campo no Campo
para a construccedilatildeo de Saberes e Dizeres na regiatildeo ribeirinha ou no lugar em que ela
aconteccedila
Atraveacutes de observaccedilotildees dos trabalhos de campo e do Tempo-comunidade
realizados durante as disciplinas do Tempo Universidade me despertou o interesse em
aprofundar meus conhecimentos nessa aacuterea levando-me para uma discussatildeo teoacuterica e
praacutetica da qual minha preocupaccedilatildeo ocorre ateacute os dias de hoje pois professores que
tiveram uma educaccedilatildeo bastante cartesiana e urbana levam para as comunidades
ribeirinhas os conhecimentos que aprenderam nas Universidades como modelos isto
eacute servem para explicar a realidade em qualquer contexto seja na cidade urbanizada
seja nos interiores ribeirinhos natildeo se atentando para a valorizaccedilatildeo do conhecimento
local
A ecircnfase principal deste Trabalho de Conclusatildeo do Curso (TCC) reside em
evidenciar como os professores ministram suas aulas nas regiotildees ribeirinhas se
incorporam ou natildeo os conhecimentos do cotidiano de seus alunos para explicar as
disciplinas e com isso valorizar os conhecimentos locais como meio de explicaccedilatildeo da
realidade
Para tanto se utilizaraacute de um meacutetodo nas ciecircncias humanas a observaccedilatildeo
participante aleacutem de entrevistas formais e conversas informais com os professores da
escola Nossa Senhora de Guadalupe
15
Assim sendo este trabalho estaacute estruturado da seguinte forma no capiacutetulo 1
intitulado A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha busca-se mostrar um
pouco do surgimento da Educaccedilatildeo do Campo no contexto nacional
O capiacutetulo 2 denominado De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe localiza a
comunidade e aborda a experiecircncia de inserccedilatildeo no loacutecus fazendo uso de imagens para
melhor ambientar o leitor
No capiacutetulo 3 chamado Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais
objetiva descrever como a articulaccedilatildeo entre diferentes conhecimentos no cotidiano da
sala de aula
No capitulo 4 nomeado (Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo
do Campo procura-se relacionar como os conhecimentos cientiacuteficos de um lado e os
conhecimentos tradicionais de outro se datildeo ou deveriam se dar nas aulas
Nas Consideraccedilotildees Finais tenta-se evidenciar um pouco como este
trabalho pode contribuir para outras anaacutelises similares com outros recortes empiacutericos em
trabalhos posteriores
16
Capitulo 1
A Educaccedilatildeo do Campo em uma comunidade Ribeirinha
A Educaccedilatildeo do Campo surgiu no seacuteculo passado e colocava em evidencia os
processos de exclusatildeo social poliacutetica econocircmica e cultural que os ldquopovosrdquo ou
ldquocomunidadesrdquo tradicionais vinham e ainda vem sofrendo em diversas regiotildees do Paiacutes
O curso vem trazendo esse olhar multifacetado da realidade do campo
como por exemplo na exploraccedilatildeo e escravizaccedilatildeo de populaccedilotildees indiacutegenas e africanos e
suas vaacuterias etnias em nosso paiacutes desde seu descobrimento assim como suas
consequecircncias nos dias atuais que formavamformam as realidades dos sujeitos por
vezes antagocircnicas da qual Maria Antocircnia de Souza (2010) aponta que
A educaccedilatildeo do Campo surge como novo paradigma para pensar os sujeitos
do campo valorizando seus trabalhos trabalhadores suas particularidades
contradiccedilotildees e organizaccedilatildeo cultural como praacutexis Ela se coloca contra o
paradigma da educaccedilatildeo rural ou seja aquela que esta vinculada aos
interesses do governo como agronegoacutecio do capitalismo agraacuterio e ao
fortalecimento das poliacuteticas do esvaziamento dos sujeitos do campo
(SOUZA 2010)
Isso porque atraveacutes de propagandas ou raacutedios bancos financiadores e outros
meios mostram os investimentos e avanccedilos no campo (elite empresarial) cuja realidade
concreta desses sujeitos vem se tornando mais conhecida por meio de pressotildees de
movimentos sociais organizados na luta por uma educaccedilatildeo de qualidade para os
trabalhadores do campo como nos diz Maria Isabel Pinheiro (2011) para quem
antagonicamente
Inovaram no maquinaacuterio no aumento da produccedilatildeo de gratildeo nos agrotoacutexicos
alteraccedilotildees dos genes das sementes para exportaccedilatildeo em larga escala Mas os
que tem usufruiacutedo desses avanccedilos satildeo pequenos grupos de latifundiaacuterios
empresaacuterios banqueiros e poliacuteticos nacionais e internacionais enquanto a
outros eacute negado o acesso a terra para sobreviver e garantir o sustento de
outros brasileiros (PINHEIRO 2011)
Dessa forma eacute que os Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST) ONGS educadores educando e sociedade civil se articularam e se articulam haacute
tempos lutando e pressionando o governo Federal Estadual e Municipal e em prol de
poliacuteticas puacuteblicas para criar alternativas de permanecircncia dos jovens e trabalhadores do
campo no campo atraveacutes de financiamentos assistecircncia teacutecnica educaccedilatildeo entre outros
Isso vem ocorrendo com a preocupaccedilatildeo de que se valorize os conhecimentos
locais e se planeje o modo mais adequado para uma educaccedilatildeo de qualidade para que
esses jovens possam se qualificar adquirindo saber cientiacutefico e ao mesmo tempo a
17
partir da valorizaccedilatildeo de seu lugar como espaccedilo de lutas e resistecircncias para o
reconhecimento de suas comunidades reelaborar
Conforme nos aponta Fernandes (2005) o campo eacute formado por diversos
territoacuterios que aborda todas as espeacutecies de relaccedilotildees humanas O campo requer demandas
distintas cada territoacuterio que forma o campo eacute dotado de particularidades desta categoria
emergem diversas relaccedilotildees Por isso a educaccedilatildeo no campo deve ser pensada
essencialmente dentro de cada contexto caso seja pensada fora dele natildeo eacute educaccedilatildeo
torna-se dominaccedilatildeo
Ainda em diaacutelogo com o autor temos que a educaccedilatildeo no campo surge no
sentido de tornar o indiviacuteduo ocupante dos territoacuterios do campo protagonista do
processo de construccedilatildeo de seu territoacuterio considerando as especificidades deste
Dessa forma autores como Roseli Caldart cuja produccedilatildeo versa sobre
movimentos sociais do campo educaccedilatildeo escola pedagogia do movimento e Bernardo
Manccedilano Fernandes (2008) que aborda principalmente teorias dos territoacuterios
paradigmas da questatildeo agraacuteria e do capitalismo agraacuterio reforma agraacuteria
desenvolvimento territorial Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
tem sido inspiraccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para os novos pesquisadores da Educaccedilatildeo do
Campo como ressalta Fernandes (2008)
No movimento de debate e contestaccedilatildeo da politica e da educaccedilatildeo rural
empreendido pelos movimentos sociais do campo emergem uma nova
concepccedilatildeo de educaccedilatildeo denominada Educaccedilatildeo do Campo (FERNANDES
2008)
No campo mais especiacutefico essas lutas e o conceito de educaccedilatildeo do campo se
fortaleceu e ganhou destaque a partir da I Conferencia Nacional por uma Educaccedilatildeo
Baacutesica do Campo realizada no ano de 1998 a partir dela foram elaborados trabalhos e
coletacircneas versando sobre Educaccedilatildeo do Campo que vieram relatar o processo de sua
construccedilatildeo e fortalecer as demandas por politicas publicas em vaacuterios aspectos da vida
no campo
Nesse mesmo contexto eacute verificada uma grande necessidade em se ter
profissional de educaccedilatildeo especiacutefica para as aacutereas do campo isto eacute profissionais que
possuiacutessem formaccedilatildeo especiacutefica (licenciatura) poacutes-graduaccedilotildees eou aperfeiccediloamentos
na aacuterea da educaccedilatildeo do campo
Para isso foram lanccediladas poliacuteticas quanto agrave educaccedilatildeo formal para
professores como nas licenciaturas em Educaccedilatildeo do Campo seja nas Universidades
Federais (UFS) seja por meio da Formaccedilatildeo continuada Plano Nacional de Formaccedilatildeo de
18
Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica (PARFOR) aleacutem de diversificaccedilatildeo das experiecircncias
educativas no campo a exemplo das Casas Familiares Rurais a construccedilatildeo da Escola
Famiacutelia Agriacutecola (EFA) Escolas Itinerantes que ajudam na ampliaccedilatildeo do conhecimento
e ao direito de comunidades ribeirinhas como a de Guadalupe em Abaetetuba a terem
educaccedilatildeo de qualidade e que valorize os conhecimentos locais como salienta Roseli
Caldart (2008)
A Educaccedilatildeo do Campo natildeo se conduz ao debate da escola da formaccedilatildeo
formal ou das propostas pedagoacutegicas A materialidade educativa de origem
da educaccedilatildeo do campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos
da produccedilatildeo e das lutas sociais do campo (CALDART 2008)
A educaccedilatildeo do Campo pretende ir aleacutem das fronteiras educacionais que
antagonizam os curriacuteculos entre cidade e campo como ressalta a Lei de Diretrizes e
Base da Educaccedilatildeo Nacional (1996) ldquoque a oferta da educaccedilatildeo baacutesica agrave populaccedilatildeo rural
natildeo eacute a mesma compreensatildeo dos movimentos sociais e da academia cientiacutefica em
relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do campordquo pois ela (LDB) se volta agrave lapidaccedilatildeo de matildeo de obra
visando o mercado de trabalho sendo isso uma de suas bases e objetivos que buscam
preparar os jovens para o mercado de trabalho seja este no ensino fundamental meacutedio
teacutecnico ou superior como uma preparaccedilatildeo de grande ldquovalorizaccedilatildeordquo
E a educaccedilatildeo do campo traz uma proposta que trabalha com a realidade de
trabalhadores e trabalhadoras do campo relacionada ao trabalho que eles desenvolve no
campo pois precisa-se perceber que ele possui uma caracteriacutestica proacutepria que o
diferencia da sociedade urbana as quais devem ser planejadas pelos educadores da
educaccedilatildeo considerando o meio de onde se fala fazer com que esses sujeitos se
identifique e lute pelos seus direitos enquanto uma sociedade pensada com sua
participaccedilatildeo nos processos educacionais vinculada a sua cultura e necessidades humanas
e sociais
A Educaccedilatildeo do Campo propotildee por isso para as aacutereas ribeirinhas como para
pescadores agricultores e artesatildeos que atraveacutes das organizaccedilotildees possam reivindicar
melhorias e ampliaccedilatildeo na aacuterea escolar infraestrutura para que o ensino chegue ateacute eles
de forma a valorizar os conhecimentos de seus cotidianos e natildeo que eles saiam ou
abandonem seus costumes
Sabemos que a categoria campo natildeo eacute uma categoria homogecircnea ela
engloba diversos grupos sociais que habitam regiotildees geograficamente distintas entatildeo
natildeo podemos pensar em Educaccedilatildeo no Campo sem saber de qual campo estamos falando
19
Essa localidade do qual falo eacute o contexto habitado pelas comunidades das margens do
rio tucumanduba
Nessas localidades o meio impotildee sua dinacircmica agrave vida social e isso
aprofunda a relaccedilatildeo do homem com a natureza ldquoo imaginaacuterio eacute rico e o ribeirinho faz
uso desse imaginaacuterio para explicar fenocircmenos da naturezardquo (LOUREIRO 1995)
Por isso a educaccedilatildeo do campo e curriacuteculo escolar deve estar voltados para
as especificidades do contexto camporibeirinho no caso deste trabalho realizando as
atividades de acordo com o local onde o curriacuteculo deve ser construiacutedo levando em
consideraccedilatildeo aspectos da cultura e da dinacircmica local festividades imaginaacuterios e ateacute as
proacuteprias condiccedilotildees impostas pelo meio Valorizando conhecimentos locais para que os
alunos se situem no fazer escolar e contribua para que saberes e tradiccedilotildees se
reproduzam e se recriem na comunidade seja no vieacutes da tradiccedilatildeo oral seja no vieacutes da
educaccedilatildeo formal ou informal
Dessa forma passamos a perceber a produccedilatildeo cultural social e econocircmica do
local sendo importante para a construccedilatildeo de uma identidade reconhecida seja ela em
acircmbito nacional ou internacional de respeito e valorizaccedilatildeo da pessoa humana ajudando
assim a (re)orientar aqueles que cheguem nessas escolas e nas comunidades ribeirinhas
Assim quando se fala em educaccedilatildeo do campo fala-se em reforma agraacuteria
de construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de biodiversidade de debates sobre cultura
politicas puacuteblicas sendo preciso o tempo todo fazer e refazer as leituras poliacutetico-
pedagoacutegicas econocircmicas e culturais a partir dessas comunidades e das contradiccedilotildees que
nelas estatildeo postas dentro da loacutegica neoliberal que deve ser criticada se queremos uma
Educaccedilatildeo do Campo que efetive ao que se propotildee
20
Capitulo 2
De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe
O Rio Tucumanduba estaacute localizado no municiacutepio de Abaetetuba1 cidade a
duas horas de Beleacutem sendo ambas do Estado do Paraacute Estaacute dividido em Baixo Alto e
Meacutedio Tucumanduba sendo que cada um desses cursos do rio se organizam em torno
de uma comunidade que possuem escolas e igrejas (catoacutelicas ou evangeacutelicas) A
localidade e escola escolhidas para esta pesquisa se situa no rio Tucumanduba meacutedio
Durante as idas para a comunidade para realizar as praacuteticas docentes em
educaccedilatildeo do campo compartilhar e receber saberes da comunidade ribeirinha entre
alunos professores pais parentes e amigos se observa muita simplicidade em cada um
com seus modos de vivecircncia como se movimentam nas canoas andam ou correm no
ldquomiritizerordquo 2 ou como caminham tatildeo firmemente nas pontes e que agrave noite sentam na
ldquocabeccedila da ponterdquo como dizem os moradores locais
Para compartilharem os saberes dos mais velhos da comunidade de suas
tradiccedilotildees suas regras e modos de vivecircncia na ldquocalmariardquo em um lugar de vaacuterzea
contos histoacuterias com exuberante imensidatildeo de aacutegua aacutervores e animais que leva e traz
conhecimentos entre os rios e mareacutes de comunidades a comunidades assim como agraves
cidades em que os moradores circulam (vendem seu produtos como o accedilaiacute) como em
Abaetetuba Beleacutem e outras cidades
O trajeto das ldquofreteirasrdquo3 que sai das comunidades ribeirinhas ateacute a cidade
de Abaetetuba eacute feito de porto em porto buscando passageiros por volta das quatro
horas da manhatilde As ldquofreteirasrdquo transportam aleacutem de pessoas que vatildeo para fazer vendas
de seus produtos (accedilaiacute peixe farinha e outros) produtos trazidos da cidade e pessoas
(crianccedilas jovens e velhos) que procuram hospitais ou cliacutenicas entre outros
Chegando ao porto ou trapiche de Abaetetuba( imagem nordm 01) por volta das
seis horas da manhatilde os passageiros ou vem conversando ou dormindo no barco ateacute
1 Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio de
Abaetetuba possui uma populaccedilatildeo de 141054 habitantes sendo que 82950 vivem na cidade e 58104
vivem na zona ruralcampo nas inuacutemeras colocircnias rios igarapeacutes e ilhas A populaccedilatildeo ribeirinha em
especial eacute muito grande e satildeo isentos de seguranccedila serviccedilos baacutesico de sauacutede aacutereas de lazer entre outros
dependendo exclusivamente da cidade 2 ldquoMiritizerordquo tronco de aacutervore geralmente que eacute colocada como uma espeacutecie de ponte entre a terra e o
rio 3 ldquoFreteirasrdquo barcos ou embarcaccedilotildees de grande meacutedio ou pequeno porte que transportam moradores dos
rios ateacute agraves cidades no caso deste trabalho para Abaetetuba
21
chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove
horas da manhatilde
Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba
Fonte Google Imagens2015
Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para
regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o
tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de
gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto
ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu
destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas
com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de
transporte para esse local o hidroviaacuterio
Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava
em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das
aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares
observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas
baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que
atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo
22
Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que
estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio
(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por
virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha
famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como
algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta
pesquisa
De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos
que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios
de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que
satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em
um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem
natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute
integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense
o ribeirinho
Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia
enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de
dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola
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Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem
nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso
passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja
Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de
Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como
Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os
alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir
Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas
denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf
Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um
passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local
Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e
Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade
de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental
Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino
satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de
Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo
anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo
O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele
vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo
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do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de
conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de
recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia
de cursar o ensino meacutedio
Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de
rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com
carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura
saberes e processos histoacutericos
Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado
dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos
com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e
permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade
identidade e saberes locais debatidos em sala de aula
Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se
levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se
dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a
complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com
que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo
o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na
zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas
movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se
compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas
A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado
estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$
600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno
professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente
de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor
Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada
moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito
educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas
delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola
informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que
hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado
25
uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo
voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4
O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de
ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em
formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para
os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e
ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas
diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual
Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de
accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas
famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou
aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha
conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador
associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs
durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de
paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada
regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos
durante esse periacuteodo
Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de
comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo
na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da
quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico
4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da
Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA
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Capitulo 3
Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais
Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco
da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de
Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema
de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em
relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos
possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de
educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo
Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo
as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro
do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como
organizam os conteuacutedos
Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam
meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo
do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do
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campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso
somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta
pesquisa
Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes
localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como
Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros
Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os
coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra
localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)
Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz
parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba
com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo
ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois
passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo
ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas
e continua
Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos
dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar
seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
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Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter
viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a
necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que
o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas
aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua
Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo
dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles
exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural
poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida
cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas
comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios
primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e
acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social
dentro de sua comunidade
A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz
conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de
idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos
artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de
idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns
momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e
adultos
Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo
entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo
aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo
dessa comunidade
Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante
no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o
sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em
qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes
culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade
5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades
segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do
presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo
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Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o
trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu
dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta
Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o
entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e
conferem sentido agrave sua existecircnciardquo
Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu
acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana
desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito
antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os
mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e
chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola
Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo
comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem
outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno
quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute
patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo
apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater
o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7
estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo
da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe
atrasa a chegada
Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees
podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo
do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo
sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)
legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento
promovendo a Pedagogia da Alternacircncia
Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se
estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se
tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento
6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo
7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que
navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente
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alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas
experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de
aprendizagens a partir desse movimento
Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador
do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes
agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma
troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais
Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)
interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os
modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam
desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso
levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida
em comunidade
O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por
exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas
e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de
aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao
ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia
Andrade (1993)
Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades
agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido
os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem
no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a
educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud
ANDRADE 1993)
Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de
experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa
diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da
pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos
pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais
legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes
semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e
elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural
8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore
apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto
das aacutervores
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Capitulo 4
(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo
A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a
base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um
novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem
na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e
que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar
pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa
histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade
Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que
traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave
permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes
valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos
organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida
As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que
sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os
professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona
pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho
pedagoacutegico
Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola
da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de
educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e
das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)
Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o
grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se
trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees
sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua
particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos
sociais e da cultura como praacutexis
Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de
profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que
eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas
32
dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo
em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias
indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas
lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades
ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de
trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a
educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a
isto que ela se propotildee
E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando
estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas
histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e
se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo
Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as
escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas
recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de
2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam
ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os
alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de
chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no
processo de ensino- aprendizagem
Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo
natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse
em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e
meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam
durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua
trajetoacuteria
O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser
humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as
comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da
histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de
conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos
alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de
forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo
esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes
33
Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos
educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de
descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar
democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica
e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos
ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do
conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como
um criacutetico- dialeacutetico
De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de
apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros
fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e
suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que
passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o
conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico
despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos
O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de
conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do
campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo
praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social
direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora
Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de
ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da
cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de
educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na
cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias
Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do
Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de
mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem
curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)
Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia
profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino
possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo
aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta
(FREIRE 2003)
34
Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam
realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos
livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se
afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)
A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do
conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica
tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu
desmascaramento (FREIRE 2003)
Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de
dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo
precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo
diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do
aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos
negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos
Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro
preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se
antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio
com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na
formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde
emerge esse profissional
Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a
valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de
nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador
existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo
humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo
O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a
desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do
discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-
existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e
poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)
Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na
educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a
comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue
persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar
35
traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia
essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os
educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos
troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que
se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se
preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da
perseveranccedilardquo
O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que
devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates
mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa
cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na
historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em
possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)
Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e
aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o
pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos
seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos
desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser
livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire
(2001)
E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza
(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade
(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes
(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades
accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo
(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute
possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar
social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de
cultura de educaccedilatildeordquo
36
Consideraccedilotildees Finais
A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo
simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no
e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo
Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na
busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos
cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem
desenvolvido em um contexto ribeirinho
Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o
propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as
demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do
Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu
histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar
Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir
articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar
em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas
educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o
professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes
desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que
possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem
A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar
os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja
percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo
educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas
verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto
profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a
educaccedilatildeo do campo
A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos
professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte
no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria
Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores
comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo
conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo
37
encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da
comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo
Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os
processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees
para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo
soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos
curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos
inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do
Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo
acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees
38
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15
Assim sendo este trabalho estaacute estruturado da seguinte forma no capiacutetulo 1
intitulado A Educaccedilatildeo escolar em uma comunidade ribeirinha busca-se mostrar um
pouco do surgimento da Educaccedilatildeo do Campo no contexto nacional
O capiacutetulo 2 denominado De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe localiza a
comunidade e aborda a experiecircncia de inserccedilatildeo no loacutecus fazendo uso de imagens para
melhor ambientar o leitor
No capiacutetulo 3 chamado Entre conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais
objetiva descrever como a articulaccedilatildeo entre diferentes conhecimentos no cotidiano da
sala de aula
No capitulo 4 nomeado (Re)Pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo
do Campo procura-se relacionar como os conhecimentos cientiacuteficos de um lado e os
conhecimentos tradicionais de outro se datildeo ou deveriam se dar nas aulas
Nas Consideraccedilotildees Finais tenta-se evidenciar um pouco como este
trabalho pode contribuir para outras anaacutelises similares com outros recortes empiacutericos em
trabalhos posteriores
16
Capitulo 1
A Educaccedilatildeo do Campo em uma comunidade Ribeirinha
A Educaccedilatildeo do Campo surgiu no seacuteculo passado e colocava em evidencia os
processos de exclusatildeo social poliacutetica econocircmica e cultural que os ldquopovosrdquo ou
ldquocomunidadesrdquo tradicionais vinham e ainda vem sofrendo em diversas regiotildees do Paiacutes
O curso vem trazendo esse olhar multifacetado da realidade do campo
como por exemplo na exploraccedilatildeo e escravizaccedilatildeo de populaccedilotildees indiacutegenas e africanos e
suas vaacuterias etnias em nosso paiacutes desde seu descobrimento assim como suas
consequecircncias nos dias atuais que formavamformam as realidades dos sujeitos por
vezes antagocircnicas da qual Maria Antocircnia de Souza (2010) aponta que
A educaccedilatildeo do Campo surge como novo paradigma para pensar os sujeitos
do campo valorizando seus trabalhos trabalhadores suas particularidades
contradiccedilotildees e organizaccedilatildeo cultural como praacutexis Ela se coloca contra o
paradigma da educaccedilatildeo rural ou seja aquela que esta vinculada aos
interesses do governo como agronegoacutecio do capitalismo agraacuterio e ao
fortalecimento das poliacuteticas do esvaziamento dos sujeitos do campo
(SOUZA 2010)
Isso porque atraveacutes de propagandas ou raacutedios bancos financiadores e outros
meios mostram os investimentos e avanccedilos no campo (elite empresarial) cuja realidade
concreta desses sujeitos vem se tornando mais conhecida por meio de pressotildees de
movimentos sociais organizados na luta por uma educaccedilatildeo de qualidade para os
trabalhadores do campo como nos diz Maria Isabel Pinheiro (2011) para quem
antagonicamente
Inovaram no maquinaacuterio no aumento da produccedilatildeo de gratildeo nos agrotoacutexicos
alteraccedilotildees dos genes das sementes para exportaccedilatildeo em larga escala Mas os
que tem usufruiacutedo desses avanccedilos satildeo pequenos grupos de latifundiaacuterios
empresaacuterios banqueiros e poliacuteticos nacionais e internacionais enquanto a
outros eacute negado o acesso a terra para sobreviver e garantir o sustento de
outros brasileiros (PINHEIRO 2011)
Dessa forma eacute que os Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST) ONGS educadores educando e sociedade civil se articularam e se articulam haacute
tempos lutando e pressionando o governo Federal Estadual e Municipal e em prol de
poliacuteticas puacuteblicas para criar alternativas de permanecircncia dos jovens e trabalhadores do
campo no campo atraveacutes de financiamentos assistecircncia teacutecnica educaccedilatildeo entre outros
Isso vem ocorrendo com a preocupaccedilatildeo de que se valorize os conhecimentos
locais e se planeje o modo mais adequado para uma educaccedilatildeo de qualidade para que
esses jovens possam se qualificar adquirindo saber cientiacutefico e ao mesmo tempo a
17
partir da valorizaccedilatildeo de seu lugar como espaccedilo de lutas e resistecircncias para o
reconhecimento de suas comunidades reelaborar
Conforme nos aponta Fernandes (2005) o campo eacute formado por diversos
territoacuterios que aborda todas as espeacutecies de relaccedilotildees humanas O campo requer demandas
distintas cada territoacuterio que forma o campo eacute dotado de particularidades desta categoria
emergem diversas relaccedilotildees Por isso a educaccedilatildeo no campo deve ser pensada
essencialmente dentro de cada contexto caso seja pensada fora dele natildeo eacute educaccedilatildeo
torna-se dominaccedilatildeo
Ainda em diaacutelogo com o autor temos que a educaccedilatildeo no campo surge no
sentido de tornar o indiviacuteduo ocupante dos territoacuterios do campo protagonista do
processo de construccedilatildeo de seu territoacuterio considerando as especificidades deste
Dessa forma autores como Roseli Caldart cuja produccedilatildeo versa sobre
movimentos sociais do campo educaccedilatildeo escola pedagogia do movimento e Bernardo
Manccedilano Fernandes (2008) que aborda principalmente teorias dos territoacuterios
paradigmas da questatildeo agraacuteria e do capitalismo agraacuterio reforma agraacuteria
desenvolvimento territorial Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
tem sido inspiraccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para os novos pesquisadores da Educaccedilatildeo do
Campo como ressalta Fernandes (2008)
No movimento de debate e contestaccedilatildeo da politica e da educaccedilatildeo rural
empreendido pelos movimentos sociais do campo emergem uma nova
concepccedilatildeo de educaccedilatildeo denominada Educaccedilatildeo do Campo (FERNANDES
2008)
No campo mais especiacutefico essas lutas e o conceito de educaccedilatildeo do campo se
fortaleceu e ganhou destaque a partir da I Conferencia Nacional por uma Educaccedilatildeo
Baacutesica do Campo realizada no ano de 1998 a partir dela foram elaborados trabalhos e
coletacircneas versando sobre Educaccedilatildeo do Campo que vieram relatar o processo de sua
construccedilatildeo e fortalecer as demandas por politicas publicas em vaacuterios aspectos da vida
no campo
Nesse mesmo contexto eacute verificada uma grande necessidade em se ter
profissional de educaccedilatildeo especiacutefica para as aacutereas do campo isto eacute profissionais que
possuiacutessem formaccedilatildeo especiacutefica (licenciatura) poacutes-graduaccedilotildees eou aperfeiccediloamentos
na aacuterea da educaccedilatildeo do campo
Para isso foram lanccediladas poliacuteticas quanto agrave educaccedilatildeo formal para
professores como nas licenciaturas em Educaccedilatildeo do Campo seja nas Universidades
Federais (UFS) seja por meio da Formaccedilatildeo continuada Plano Nacional de Formaccedilatildeo de
18
Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica (PARFOR) aleacutem de diversificaccedilatildeo das experiecircncias
educativas no campo a exemplo das Casas Familiares Rurais a construccedilatildeo da Escola
Famiacutelia Agriacutecola (EFA) Escolas Itinerantes que ajudam na ampliaccedilatildeo do conhecimento
e ao direito de comunidades ribeirinhas como a de Guadalupe em Abaetetuba a terem
educaccedilatildeo de qualidade e que valorize os conhecimentos locais como salienta Roseli
Caldart (2008)
A Educaccedilatildeo do Campo natildeo se conduz ao debate da escola da formaccedilatildeo
formal ou das propostas pedagoacutegicas A materialidade educativa de origem
da educaccedilatildeo do campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos
da produccedilatildeo e das lutas sociais do campo (CALDART 2008)
A educaccedilatildeo do Campo pretende ir aleacutem das fronteiras educacionais que
antagonizam os curriacuteculos entre cidade e campo como ressalta a Lei de Diretrizes e
Base da Educaccedilatildeo Nacional (1996) ldquoque a oferta da educaccedilatildeo baacutesica agrave populaccedilatildeo rural
natildeo eacute a mesma compreensatildeo dos movimentos sociais e da academia cientiacutefica em
relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do campordquo pois ela (LDB) se volta agrave lapidaccedilatildeo de matildeo de obra
visando o mercado de trabalho sendo isso uma de suas bases e objetivos que buscam
preparar os jovens para o mercado de trabalho seja este no ensino fundamental meacutedio
teacutecnico ou superior como uma preparaccedilatildeo de grande ldquovalorizaccedilatildeordquo
E a educaccedilatildeo do campo traz uma proposta que trabalha com a realidade de
trabalhadores e trabalhadoras do campo relacionada ao trabalho que eles desenvolve no
campo pois precisa-se perceber que ele possui uma caracteriacutestica proacutepria que o
diferencia da sociedade urbana as quais devem ser planejadas pelos educadores da
educaccedilatildeo considerando o meio de onde se fala fazer com que esses sujeitos se
identifique e lute pelos seus direitos enquanto uma sociedade pensada com sua
participaccedilatildeo nos processos educacionais vinculada a sua cultura e necessidades humanas
e sociais
A Educaccedilatildeo do Campo propotildee por isso para as aacutereas ribeirinhas como para
pescadores agricultores e artesatildeos que atraveacutes das organizaccedilotildees possam reivindicar
melhorias e ampliaccedilatildeo na aacuterea escolar infraestrutura para que o ensino chegue ateacute eles
de forma a valorizar os conhecimentos de seus cotidianos e natildeo que eles saiam ou
abandonem seus costumes
Sabemos que a categoria campo natildeo eacute uma categoria homogecircnea ela
engloba diversos grupos sociais que habitam regiotildees geograficamente distintas entatildeo
natildeo podemos pensar em Educaccedilatildeo no Campo sem saber de qual campo estamos falando
19
Essa localidade do qual falo eacute o contexto habitado pelas comunidades das margens do
rio tucumanduba
Nessas localidades o meio impotildee sua dinacircmica agrave vida social e isso
aprofunda a relaccedilatildeo do homem com a natureza ldquoo imaginaacuterio eacute rico e o ribeirinho faz
uso desse imaginaacuterio para explicar fenocircmenos da naturezardquo (LOUREIRO 1995)
Por isso a educaccedilatildeo do campo e curriacuteculo escolar deve estar voltados para
as especificidades do contexto camporibeirinho no caso deste trabalho realizando as
atividades de acordo com o local onde o curriacuteculo deve ser construiacutedo levando em
consideraccedilatildeo aspectos da cultura e da dinacircmica local festividades imaginaacuterios e ateacute as
proacuteprias condiccedilotildees impostas pelo meio Valorizando conhecimentos locais para que os
alunos se situem no fazer escolar e contribua para que saberes e tradiccedilotildees se
reproduzam e se recriem na comunidade seja no vieacutes da tradiccedilatildeo oral seja no vieacutes da
educaccedilatildeo formal ou informal
Dessa forma passamos a perceber a produccedilatildeo cultural social e econocircmica do
local sendo importante para a construccedilatildeo de uma identidade reconhecida seja ela em
acircmbito nacional ou internacional de respeito e valorizaccedilatildeo da pessoa humana ajudando
assim a (re)orientar aqueles que cheguem nessas escolas e nas comunidades ribeirinhas
Assim quando se fala em educaccedilatildeo do campo fala-se em reforma agraacuteria
de construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de biodiversidade de debates sobre cultura
politicas puacuteblicas sendo preciso o tempo todo fazer e refazer as leituras poliacutetico-
pedagoacutegicas econocircmicas e culturais a partir dessas comunidades e das contradiccedilotildees que
nelas estatildeo postas dentro da loacutegica neoliberal que deve ser criticada se queremos uma
Educaccedilatildeo do Campo que efetive ao que se propotildee
20
Capitulo 2
De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe
O Rio Tucumanduba estaacute localizado no municiacutepio de Abaetetuba1 cidade a
duas horas de Beleacutem sendo ambas do Estado do Paraacute Estaacute dividido em Baixo Alto e
Meacutedio Tucumanduba sendo que cada um desses cursos do rio se organizam em torno
de uma comunidade que possuem escolas e igrejas (catoacutelicas ou evangeacutelicas) A
localidade e escola escolhidas para esta pesquisa se situa no rio Tucumanduba meacutedio
Durante as idas para a comunidade para realizar as praacuteticas docentes em
educaccedilatildeo do campo compartilhar e receber saberes da comunidade ribeirinha entre
alunos professores pais parentes e amigos se observa muita simplicidade em cada um
com seus modos de vivecircncia como se movimentam nas canoas andam ou correm no
ldquomiritizerordquo 2 ou como caminham tatildeo firmemente nas pontes e que agrave noite sentam na
ldquocabeccedila da ponterdquo como dizem os moradores locais
Para compartilharem os saberes dos mais velhos da comunidade de suas
tradiccedilotildees suas regras e modos de vivecircncia na ldquocalmariardquo em um lugar de vaacuterzea
contos histoacuterias com exuberante imensidatildeo de aacutegua aacutervores e animais que leva e traz
conhecimentos entre os rios e mareacutes de comunidades a comunidades assim como agraves
cidades em que os moradores circulam (vendem seu produtos como o accedilaiacute) como em
Abaetetuba Beleacutem e outras cidades
O trajeto das ldquofreteirasrdquo3 que sai das comunidades ribeirinhas ateacute a cidade
de Abaetetuba eacute feito de porto em porto buscando passageiros por volta das quatro
horas da manhatilde As ldquofreteirasrdquo transportam aleacutem de pessoas que vatildeo para fazer vendas
de seus produtos (accedilaiacute peixe farinha e outros) produtos trazidos da cidade e pessoas
(crianccedilas jovens e velhos) que procuram hospitais ou cliacutenicas entre outros
Chegando ao porto ou trapiche de Abaetetuba( imagem nordm 01) por volta das
seis horas da manhatilde os passageiros ou vem conversando ou dormindo no barco ateacute
1 Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio de
Abaetetuba possui uma populaccedilatildeo de 141054 habitantes sendo que 82950 vivem na cidade e 58104
vivem na zona ruralcampo nas inuacutemeras colocircnias rios igarapeacutes e ilhas A populaccedilatildeo ribeirinha em
especial eacute muito grande e satildeo isentos de seguranccedila serviccedilos baacutesico de sauacutede aacutereas de lazer entre outros
dependendo exclusivamente da cidade 2 ldquoMiritizerordquo tronco de aacutervore geralmente que eacute colocada como uma espeacutecie de ponte entre a terra e o
rio 3 ldquoFreteirasrdquo barcos ou embarcaccedilotildees de grande meacutedio ou pequeno porte que transportam moradores dos
rios ateacute agraves cidades no caso deste trabalho para Abaetetuba
21
chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove
horas da manhatilde
Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba
Fonte Google Imagens2015
Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para
regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o
tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de
gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto
ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu
destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas
com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de
transporte para esse local o hidroviaacuterio
Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava
em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das
aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares
observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas
baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que
atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo
22
Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que
estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio
(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por
virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha
famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como
algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta
pesquisa
De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos
que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios
de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que
satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em
um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem
natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute
integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense
o ribeirinho
Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia
enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de
dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola
23
Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem
nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso
passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja
Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de
Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como
Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os
alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir
Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas
denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf
Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um
passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local
Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e
Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade
de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental
Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino
satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de
Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo
anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo
O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele
vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo
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do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de
conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de
recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia
de cursar o ensino meacutedio
Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de
rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com
carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura
saberes e processos histoacutericos
Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado
dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos
com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e
permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade
identidade e saberes locais debatidos em sala de aula
Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se
levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se
dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a
complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com
que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo
o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na
zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas
movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se
compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas
A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado
estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$
600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno
professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente
de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor
Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada
moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito
educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas
delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola
informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que
hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado
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uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo
voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4
O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de
ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em
formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para
os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e
ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas
diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual
Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de
accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas
famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou
aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha
conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador
associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs
durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de
paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada
regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos
durante esse periacuteodo
Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de
comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo
na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da
quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico
4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da
Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA
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Capitulo 3
Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais
Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco
da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de
Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema
de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em
relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos
possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de
educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo
Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo
as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro
do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como
organizam os conteuacutedos
Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam
meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo
do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do
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campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso
somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta
pesquisa
Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes
localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como
Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros
Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os
coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra
localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)
Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz
parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba
com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo
ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois
passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo
ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas
e continua
Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos
dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar
seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
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Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter
viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a
necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que
o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas
aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua
Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo
dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles
exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural
poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida
cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas
comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios
primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e
acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social
dentro de sua comunidade
A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz
conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de
idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos
artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de
idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns
momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e
adultos
Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo
entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo
aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo
dessa comunidade
Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante
no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o
sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em
qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes
culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade
5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades
segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do
presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo
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Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o
trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu
dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta
Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o
entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e
conferem sentido agrave sua existecircnciardquo
Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu
acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana
desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito
antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os
mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e
chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola
Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo
comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem
outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno
quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute
patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo
apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater
o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7
estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo
da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe
atrasa a chegada
Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees
podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo
do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo
sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)
legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento
promovendo a Pedagogia da Alternacircncia
Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se
estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se
tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento
6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo
7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que
navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente
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alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas
experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de
aprendizagens a partir desse movimento
Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador
do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes
agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma
troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais
Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)
interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os
modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam
desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso
levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida
em comunidade
O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por
exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas
e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de
aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao
ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia
Andrade (1993)
Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades
agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido
os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem
no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a
educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud
ANDRADE 1993)
Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de
experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa
diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da
pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos
pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais
legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes
semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e
elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural
8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore
apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto
das aacutervores
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Capitulo 4
(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo
A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a
base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um
novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem
na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e
que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar
pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa
histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade
Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que
traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave
permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes
valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos
organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida
As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que
sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os
professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona
pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho
pedagoacutegico
Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola
da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de
educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e
das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)
Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o
grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se
trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees
sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua
particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos
sociais e da cultura como praacutexis
Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de
profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que
eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas
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dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo
em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias
indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas
lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades
ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de
trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a
educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a
isto que ela se propotildee
E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando
estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas
histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e
se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo
Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as
escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas
recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de
2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam
ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os
alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de
chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no
processo de ensino- aprendizagem
Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo
natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse
em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e
meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam
durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua
trajetoacuteria
O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser
humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as
comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da
histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de
conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos
alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de
forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo
esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes
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Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos
educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de
descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar
democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica
e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos
ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do
conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como
um criacutetico- dialeacutetico
De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de
apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros
fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e
suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que
passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o
conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico
despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos
O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de
conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do
campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo
praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social
direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora
Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de
ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da
cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de
educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na
cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias
Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do
Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de
mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem
curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)
Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia
profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino
possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo
aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta
(FREIRE 2003)
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Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam
realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos
livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se
afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)
A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do
conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica
tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu
desmascaramento (FREIRE 2003)
Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de
dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo
precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo
diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do
aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos
negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos
Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro
preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se
antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio
com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na
formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde
emerge esse profissional
Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a
valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de
nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador
existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo
humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo
O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a
desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do
discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-
existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e
poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)
Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na
educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a
comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue
persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar
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traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia
essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os
educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos
troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que
se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se
preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da
perseveranccedilardquo
O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que
devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates
mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa
cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na
historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em
possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)
Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e
aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o
pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos
seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos
desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser
livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire
(2001)
E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza
(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade
(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes
(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades
accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo
(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute
possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar
social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de
cultura de educaccedilatildeordquo
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Consideraccedilotildees Finais
A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo
simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no
e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo
Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na
busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos
cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem
desenvolvido em um contexto ribeirinho
Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o
propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as
demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do
Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu
histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar
Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir
articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar
em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas
educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o
professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes
desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que
possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem
A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar
os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja
percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo
educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas
verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto
profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a
educaccedilatildeo do campo
A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos
professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte
no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria
Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores
comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo
conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo
37
encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da
comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo
Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os
processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees
para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo
soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos
curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos
inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do
Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo
acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees
38
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16
Capitulo 1
A Educaccedilatildeo do Campo em uma comunidade Ribeirinha
A Educaccedilatildeo do Campo surgiu no seacuteculo passado e colocava em evidencia os
processos de exclusatildeo social poliacutetica econocircmica e cultural que os ldquopovosrdquo ou
ldquocomunidadesrdquo tradicionais vinham e ainda vem sofrendo em diversas regiotildees do Paiacutes
O curso vem trazendo esse olhar multifacetado da realidade do campo
como por exemplo na exploraccedilatildeo e escravizaccedilatildeo de populaccedilotildees indiacutegenas e africanos e
suas vaacuterias etnias em nosso paiacutes desde seu descobrimento assim como suas
consequecircncias nos dias atuais que formavamformam as realidades dos sujeitos por
vezes antagocircnicas da qual Maria Antocircnia de Souza (2010) aponta que
A educaccedilatildeo do Campo surge como novo paradigma para pensar os sujeitos
do campo valorizando seus trabalhos trabalhadores suas particularidades
contradiccedilotildees e organizaccedilatildeo cultural como praacutexis Ela se coloca contra o
paradigma da educaccedilatildeo rural ou seja aquela que esta vinculada aos
interesses do governo como agronegoacutecio do capitalismo agraacuterio e ao
fortalecimento das poliacuteticas do esvaziamento dos sujeitos do campo
(SOUZA 2010)
Isso porque atraveacutes de propagandas ou raacutedios bancos financiadores e outros
meios mostram os investimentos e avanccedilos no campo (elite empresarial) cuja realidade
concreta desses sujeitos vem se tornando mais conhecida por meio de pressotildees de
movimentos sociais organizados na luta por uma educaccedilatildeo de qualidade para os
trabalhadores do campo como nos diz Maria Isabel Pinheiro (2011) para quem
antagonicamente
Inovaram no maquinaacuterio no aumento da produccedilatildeo de gratildeo nos agrotoacutexicos
alteraccedilotildees dos genes das sementes para exportaccedilatildeo em larga escala Mas os
que tem usufruiacutedo desses avanccedilos satildeo pequenos grupos de latifundiaacuterios
empresaacuterios banqueiros e poliacuteticos nacionais e internacionais enquanto a
outros eacute negado o acesso a terra para sobreviver e garantir o sustento de
outros brasileiros (PINHEIRO 2011)
Dessa forma eacute que os Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST) ONGS educadores educando e sociedade civil se articularam e se articulam haacute
tempos lutando e pressionando o governo Federal Estadual e Municipal e em prol de
poliacuteticas puacuteblicas para criar alternativas de permanecircncia dos jovens e trabalhadores do
campo no campo atraveacutes de financiamentos assistecircncia teacutecnica educaccedilatildeo entre outros
Isso vem ocorrendo com a preocupaccedilatildeo de que se valorize os conhecimentos
locais e se planeje o modo mais adequado para uma educaccedilatildeo de qualidade para que
esses jovens possam se qualificar adquirindo saber cientiacutefico e ao mesmo tempo a
17
partir da valorizaccedilatildeo de seu lugar como espaccedilo de lutas e resistecircncias para o
reconhecimento de suas comunidades reelaborar
Conforme nos aponta Fernandes (2005) o campo eacute formado por diversos
territoacuterios que aborda todas as espeacutecies de relaccedilotildees humanas O campo requer demandas
distintas cada territoacuterio que forma o campo eacute dotado de particularidades desta categoria
emergem diversas relaccedilotildees Por isso a educaccedilatildeo no campo deve ser pensada
essencialmente dentro de cada contexto caso seja pensada fora dele natildeo eacute educaccedilatildeo
torna-se dominaccedilatildeo
Ainda em diaacutelogo com o autor temos que a educaccedilatildeo no campo surge no
sentido de tornar o indiviacuteduo ocupante dos territoacuterios do campo protagonista do
processo de construccedilatildeo de seu territoacuterio considerando as especificidades deste
Dessa forma autores como Roseli Caldart cuja produccedilatildeo versa sobre
movimentos sociais do campo educaccedilatildeo escola pedagogia do movimento e Bernardo
Manccedilano Fernandes (2008) que aborda principalmente teorias dos territoacuterios
paradigmas da questatildeo agraacuteria e do capitalismo agraacuterio reforma agraacuteria
desenvolvimento territorial Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
tem sido inspiraccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para os novos pesquisadores da Educaccedilatildeo do
Campo como ressalta Fernandes (2008)
No movimento de debate e contestaccedilatildeo da politica e da educaccedilatildeo rural
empreendido pelos movimentos sociais do campo emergem uma nova
concepccedilatildeo de educaccedilatildeo denominada Educaccedilatildeo do Campo (FERNANDES
2008)
No campo mais especiacutefico essas lutas e o conceito de educaccedilatildeo do campo se
fortaleceu e ganhou destaque a partir da I Conferencia Nacional por uma Educaccedilatildeo
Baacutesica do Campo realizada no ano de 1998 a partir dela foram elaborados trabalhos e
coletacircneas versando sobre Educaccedilatildeo do Campo que vieram relatar o processo de sua
construccedilatildeo e fortalecer as demandas por politicas publicas em vaacuterios aspectos da vida
no campo
Nesse mesmo contexto eacute verificada uma grande necessidade em se ter
profissional de educaccedilatildeo especiacutefica para as aacutereas do campo isto eacute profissionais que
possuiacutessem formaccedilatildeo especiacutefica (licenciatura) poacutes-graduaccedilotildees eou aperfeiccediloamentos
na aacuterea da educaccedilatildeo do campo
Para isso foram lanccediladas poliacuteticas quanto agrave educaccedilatildeo formal para
professores como nas licenciaturas em Educaccedilatildeo do Campo seja nas Universidades
Federais (UFS) seja por meio da Formaccedilatildeo continuada Plano Nacional de Formaccedilatildeo de
18
Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica (PARFOR) aleacutem de diversificaccedilatildeo das experiecircncias
educativas no campo a exemplo das Casas Familiares Rurais a construccedilatildeo da Escola
Famiacutelia Agriacutecola (EFA) Escolas Itinerantes que ajudam na ampliaccedilatildeo do conhecimento
e ao direito de comunidades ribeirinhas como a de Guadalupe em Abaetetuba a terem
educaccedilatildeo de qualidade e que valorize os conhecimentos locais como salienta Roseli
Caldart (2008)
A Educaccedilatildeo do Campo natildeo se conduz ao debate da escola da formaccedilatildeo
formal ou das propostas pedagoacutegicas A materialidade educativa de origem
da educaccedilatildeo do campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos
da produccedilatildeo e das lutas sociais do campo (CALDART 2008)
A educaccedilatildeo do Campo pretende ir aleacutem das fronteiras educacionais que
antagonizam os curriacuteculos entre cidade e campo como ressalta a Lei de Diretrizes e
Base da Educaccedilatildeo Nacional (1996) ldquoque a oferta da educaccedilatildeo baacutesica agrave populaccedilatildeo rural
natildeo eacute a mesma compreensatildeo dos movimentos sociais e da academia cientiacutefica em
relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do campordquo pois ela (LDB) se volta agrave lapidaccedilatildeo de matildeo de obra
visando o mercado de trabalho sendo isso uma de suas bases e objetivos que buscam
preparar os jovens para o mercado de trabalho seja este no ensino fundamental meacutedio
teacutecnico ou superior como uma preparaccedilatildeo de grande ldquovalorizaccedilatildeordquo
E a educaccedilatildeo do campo traz uma proposta que trabalha com a realidade de
trabalhadores e trabalhadoras do campo relacionada ao trabalho que eles desenvolve no
campo pois precisa-se perceber que ele possui uma caracteriacutestica proacutepria que o
diferencia da sociedade urbana as quais devem ser planejadas pelos educadores da
educaccedilatildeo considerando o meio de onde se fala fazer com que esses sujeitos se
identifique e lute pelos seus direitos enquanto uma sociedade pensada com sua
participaccedilatildeo nos processos educacionais vinculada a sua cultura e necessidades humanas
e sociais
A Educaccedilatildeo do Campo propotildee por isso para as aacutereas ribeirinhas como para
pescadores agricultores e artesatildeos que atraveacutes das organizaccedilotildees possam reivindicar
melhorias e ampliaccedilatildeo na aacuterea escolar infraestrutura para que o ensino chegue ateacute eles
de forma a valorizar os conhecimentos de seus cotidianos e natildeo que eles saiam ou
abandonem seus costumes
Sabemos que a categoria campo natildeo eacute uma categoria homogecircnea ela
engloba diversos grupos sociais que habitam regiotildees geograficamente distintas entatildeo
natildeo podemos pensar em Educaccedilatildeo no Campo sem saber de qual campo estamos falando
19
Essa localidade do qual falo eacute o contexto habitado pelas comunidades das margens do
rio tucumanduba
Nessas localidades o meio impotildee sua dinacircmica agrave vida social e isso
aprofunda a relaccedilatildeo do homem com a natureza ldquoo imaginaacuterio eacute rico e o ribeirinho faz
uso desse imaginaacuterio para explicar fenocircmenos da naturezardquo (LOUREIRO 1995)
Por isso a educaccedilatildeo do campo e curriacuteculo escolar deve estar voltados para
as especificidades do contexto camporibeirinho no caso deste trabalho realizando as
atividades de acordo com o local onde o curriacuteculo deve ser construiacutedo levando em
consideraccedilatildeo aspectos da cultura e da dinacircmica local festividades imaginaacuterios e ateacute as
proacuteprias condiccedilotildees impostas pelo meio Valorizando conhecimentos locais para que os
alunos se situem no fazer escolar e contribua para que saberes e tradiccedilotildees se
reproduzam e se recriem na comunidade seja no vieacutes da tradiccedilatildeo oral seja no vieacutes da
educaccedilatildeo formal ou informal
Dessa forma passamos a perceber a produccedilatildeo cultural social e econocircmica do
local sendo importante para a construccedilatildeo de uma identidade reconhecida seja ela em
acircmbito nacional ou internacional de respeito e valorizaccedilatildeo da pessoa humana ajudando
assim a (re)orientar aqueles que cheguem nessas escolas e nas comunidades ribeirinhas
Assim quando se fala em educaccedilatildeo do campo fala-se em reforma agraacuteria
de construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de biodiversidade de debates sobre cultura
politicas puacuteblicas sendo preciso o tempo todo fazer e refazer as leituras poliacutetico-
pedagoacutegicas econocircmicas e culturais a partir dessas comunidades e das contradiccedilotildees que
nelas estatildeo postas dentro da loacutegica neoliberal que deve ser criticada se queremos uma
Educaccedilatildeo do Campo que efetive ao que se propotildee
20
Capitulo 2
De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe
O Rio Tucumanduba estaacute localizado no municiacutepio de Abaetetuba1 cidade a
duas horas de Beleacutem sendo ambas do Estado do Paraacute Estaacute dividido em Baixo Alto e
Meacutedio Tucumanduba sendo que cada um desses cursos do rio se organizam em torno
de uma comunidade que possuem escolas e igrejas (catoacutelicas ou evangeacutelicas) A
localidade e escola escolhidas para esta pesquisa se situa no rio Tucumanduba meacutedio
Durante as idas para a comunidade para realizar as praacuteticas docentes em
educaccedilatildeo do campo compartilhar e receber saberes da comunidade ribeirinha entre
alunos professores pais parentes e amigos se observa muita simplicidade em cada um
com seus modos de vivecircncia como se movimentam nas canoas andam ou correm no
ldquomiritizerordquo 2 ou como caminham tatildeo firmemente nas pontes e que agrave noite sentam na
ldquocabeccedila da ponterdquo como dizem os moradores locais
Para compartilharem os saberes dos mais velhos da comunidade de suas
tradiccedilotildees suas regras e modos de vivecircncia na ldquocalmariardquo em um lugar de vaacuterzea
contos histoacuterias com exuberante imensidatildeo de aacutegua aacutervores e animais que leva e traz
conhecimentos entre os rios e mareacutes de comunidades a comunidades assim como agraves
cidades em que os moradores circulam (vendem seu produtos como o accedilaiacute) como em
Abaetetuba Beleacutem e outras cidades
O trajeto das ldquofreteirasrdquo3 que sai das comunidades ribeirinhas ateacute a cidade
de Abaetetuba eacute feito de porto em porto buscando passageiros por volta das quatro
horas da manhatilde As ldquofreteirasrdquo transportam aleacutem de pessoas que vatildeo para fazer vendas
de seus produtos (accedilaiacute peixe farinha e outros) produtos trazidos da cidade e pessoas
(crianccedilas jovens e velhos) que procuram hospitais ou cliacutenicas entre outros
Chegando ao porto ou trapiche de Abaetetuba( imagem nordm 01) por volta das
seis horas da manhatilde os passageiros ou vem conversando ou dormindo no barco ateacute
1 Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio de
Abaetetuba possui uma populaccedilatildeo de 141054 habitantes sendo que 82950 vivem na cidade e 58104
vivem na zona ruralcampo nas inuacutemeras colocircnias rios igarapeacutes e ilhas A populaccedilatildeo ribeirinha em
especial eacute muito grande e satildeo isentos de seguranccedila serviccedilos baacutesico de sauacutede aacutereas de lazer entre outros
dependendo exclusivamente da cidade 2 ldquoMiritizerordquo tronco de aacutervore geralmente que eacute colocada como uma espeacutecie de ponte entre a terra e o
rio 3 ldquoFreteirasrdquo barcos ou embarcaccedilotildees de grande meacutedio ou pequeno porte que transportam moradores dos
rios ateacute agraves cidades no caso deste trabalho para Abaetetuba
21
chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove
horas da manhatilde
Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba
Fonte Google Imagens2015
Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para
regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o
tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de
gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto
ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu
destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas
com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de
transporte para esse local o hidroviaacuterio
Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava
em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das
aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares
observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas
baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que
atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo
22
Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que
estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio
(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por
virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha
famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como
algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta
pesquisa
De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos
que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios
de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que
satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em
um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem
natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute
integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense
o ribeirinho
Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia
enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de
dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola
23
Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem
nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso
passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja
Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de
Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como
Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os
alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir
Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas
denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf
Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um
passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local
Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e
Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade
de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental
Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino
satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de
Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo
anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo
O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele
vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo
24
do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de
conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de
recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia
de cursar o ensino meacutedio
Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de
rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com
carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura
saberes e processos histoacutericos
Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado
dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos
com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e
permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade
identidade e saberes locais debatidos em sala de aula
Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se
levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se
dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a
complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com
que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo
o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na
zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas
movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se
compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas
A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado
estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$
600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno
professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente
de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor
Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada
moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito
educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas
delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola
informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que
hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado
25
uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo
voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4
O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de
ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em
formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para
os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e
ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas
diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual
Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de
accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas
famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou
aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha
conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador
associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs
durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de
paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada
regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos
durante esse periacuteodo
Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de
comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo
na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da
quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico
4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da
Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA
26
Capitulo 3
Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais
Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco
da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de
Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema
de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em
relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos
possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de
educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo
Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo
as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro
do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como
organizam os conteuacutedos
Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam
meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo
do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do
27
campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso
somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta
pesquisa
Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes
localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como
Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros
Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os
coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra
localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)
Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz
parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba
com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo
ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois
passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo
ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas
e continua
Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos
dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar
seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
28
Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter
viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a
necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que
o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas
aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua
Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo
dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles
exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural
poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida
cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas
comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios
primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e
acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social
dentro de sua comunidade
A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz
conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de
idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos
artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de
idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns
momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e
adultos
Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo
entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo
aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo
dessa comunidade
Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante
no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o
sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em
qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes
culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade
5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades
segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do
presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo
29
Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o
trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu
dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta
Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o
entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e
conferem sentido agrave sua existecircnciardquo
Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu
acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana
desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito
antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os
mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e
chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola
Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo
comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem
outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno
quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute
patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo
apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater
o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7
estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo
da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe
atrasa a chegada
Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees
podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo
do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo
sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)
legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento
promovendo a Pedagogia da Alternacircncia
Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se
estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se
tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento
6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo
7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que
navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente
30
alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas
experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de
aprendizagens a partir desse movimento
Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador
do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes
agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma
troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais
Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)
interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os
modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam
desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso
levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida
em comunidade
O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por
exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas
e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de
aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao
ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia
Andrade (1993)
Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades
agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido
os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem
no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a
educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud
ANDRADE 1993)
Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de
experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa
diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da
pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos
pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais
legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes
semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e
elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural
8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore
apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto
das aacutervores
31
Capitulo 4
(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo
A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a
base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um
novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem
na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e
que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar
pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa
histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade
Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que
traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave
permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes
valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos
organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida
As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que
sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os
professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona
pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho
pedagoacutegico
Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola
da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de
educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e
das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)
Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o
grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se
trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees
sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua
particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos
sociais e da cultura como praacutexis
Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de
profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que
eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas
32
dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo
em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias
indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas
lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades
ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de
trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a
educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a
isto que ela se propotildee
E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando
estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas
histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e
se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo
Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as
escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas
recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de
2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam
ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os
alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de
chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no
processo de ensino- aprendizagem
Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo
natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse
em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e
meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam
durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua
trajetoacuteria
O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser
humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as
comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da
histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de
conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos
alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de
forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo
esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes
33
Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos
educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de
descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar
democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica
e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos
ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do
conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como
um criacutetico- dialeacutetico
De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de
apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros
fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e
suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que
passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o
conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico
despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos
O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de
conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do
campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo
praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social
direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora
Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de
ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da
cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de
educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na
cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias
Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do
Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de
mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem
curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)
Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia
profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino
possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo
aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta
(FREIRE 2003)
34
Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam
realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos
livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se
afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)
A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do
conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica
tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu
desmascaramento (FREIRE 2003)
Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de
dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo
precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo
diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do
aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos
negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos
Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro
preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se
antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio
com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na
formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde
emerge esse profissional
Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a
valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de
nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador
existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo
humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo
O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a
desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do
discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-
existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e
poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)
Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na
educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a
comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue
persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar
35
traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia
essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os
educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos
troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que
se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se
preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da
perseveranccedilardquo
O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que
devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates
mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa
cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na
historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em
possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)
Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e
aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o
pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos
seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos
desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser
livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire
(2001)
E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza
(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade
(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes
(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades
accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo
(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute
possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar
social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de
cultura de educaccedilatildeordquo
36
Consideraccedilotildees Finais
A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo
simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no
e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo
Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na
busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos
cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem
desenvolvido em um contexto ribeirinho
Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o
propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as
demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do
Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu
histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar
Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir
articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar
em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas
educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o
professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes
desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que
possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem
A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar
os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja
percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo
educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas
verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto
profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a
educaccedilatildeo do campo
A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos
professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte
no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria
Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores
comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo
conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo
37
encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da
comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo
Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os
processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees
para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo
soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos
curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos
inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do
Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo
acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees
38
Referecircncias
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assentados rurais do Estado de Satildeo Paulo In SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e
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17
partir da valorizaccedilatildeo de seu lugar como espaccedilo de lutas e resistecircncias para o
reconhecimento de suas comunidades reelaborar
Conforme nos aponta Fernandes (2005) o campo eacute formado por diversos
territoacuterios que aborda todas as espeacutecies de relaccedilotildees humanas O campo requer demandas
distintas cada territoacuterio que forma o campo eacute dotado de particularidades desta categoria
emergem diversas relaccedilotildees Por isso a educaccedilatildeo no campo deve ser pensada
essencialmente dentro de cada contexto caso seja pensada fora dele natildeo eacute educaccedilatildeo
torna-se dominaccedilatildeo
Ainda em diaacutelogo com o autor temos que a educaccedilatildeo no campo surge no
sentido de tornar o indiviacuteduo ocupante dos territoacuterios do campo protagonista do
processo de construccedilatildeo de seu territoacuterio considerando as especificidades deste
Dessa forma autores como Roseli Caldart cuja produccedilatildeo versa sobre
movimentos sociais do campo educaccedilatildeo escola pedagogia do movimento e Bernardo
Manccedilano Fernandes (2008) que aborda principalmente teorias dos territoacuterios
paradigmas da questatildeo agraacuteria e do capitalismo agraacuterio reforma agraacuteria
desenvolvimento territorial Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
tem sido inspiraccedilotildees teoacutericas e praacuteticas para os novos pesquisadores da Educaccedilatildeo do
Campo como ressalta Fernandes (2008)
No movimento de debate e contestaccedilatildeo da politica e da educaccedilatildeo rural
empreendido pelos movimentos sociais do campo emergem uma nova
concepccedilatildeo de educaccedilatildeo denominada Educaccedilatildeo do Campo (FERNANDES
2008)
No campo mais especiacutefico essas lutas e o conceito de educaccedilatildeo do campo se
fortaleceu e ganhou destaque a partir da I Conferencia Nacional por uma Educaccedilatildeo
Baacutesica do Campo realizada no ano de 1998 a partir dela foram elaborados trabalhos e
coletacircneas versando sobre Educaccedilatildeo do Campo que vieram relatar o processo de sua
construccedilatildeo e fortalecer as demandas por politicas publicas em vaacuterios aspectos da vida
no campo
Nesse mesmo contexto eacute verificada uma grande necessidade em se ter
profissional de educaccedilatildeo especiacutefica para as aacutereas do campo isto eacute profissionais que
possuiacutessem formaccedilatildeo especiacutefica (licenciatura) poacutes-graduaccedilotildees eou aperfeiccediloamentos
na aacuterea da educaccedilatildeo do campo
Para isso foram lanccediladas poliacuteticas quanto agrave educaccedilatildeo formal para
professores como nas licenciaturas em Educaccedilatildeo do Campo seja nas Universidades
Federais (UFS) seja por meio da Formaccedilatildeo continuada Plano Nacional de Formaccedilatildeo de
18
Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica (PARFOR) aleacutem de diversificaccedilatildeo das experiecircncias
educativas no campo a exemplo das Casas Familiares Rurais a construccedilatildeo da Escola
Famiacutelia Agriacutecola (EFA) Escolas Itinerantes que ajudam na ampliaccedilatildeo do conhecimento
e ao direito de comunidades ribeirinhas como a de Guadalupe em Abaetetuba a terem
educaccedilatildeo de qualidade e que valorize os conhecimentos locais como salienta Roseli
Caldart (2008)
A Educaccedilatildeo do Campo natildeo se conduz ao debate da escola da formaccedilatildeo
formal ou das propostas pedagoacutegicas A materialidade educativa de origem
da educaccedilatildeo do campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos
da produccedilatildeo e das lutas sociais do campo (CALDART 2008)
A educaccedilatildeo do Campo pretende ir aleacutem das fronteiras educacionais que
antagonizam os curriacuteculos entre cidade e campo como ressalta a Lei de Diretrizes e
Base da Educaccedilatildeo Nacional (1996) ldquoque a oferta da educaccedilatildeo baacutesica agrave populaccedilatildeo rural
natildeo eacute a mesma compreensatildeo dos movimentos sociais e da academia cientiacutefica em
relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do campordquo pois ela (LDB) se volta agrave lapidaccedilatildeo de matildeo de obra
visando o mercado de trabalho sendo isso uma de suas bases e objetivos que buscam
preparar os jovens para o mercado de trabalho seja este no ensino fundamental meacutedio
teacutecnico ou superior como uma preparaccedilatildeo de grande ldquovalorizaccedilatildeordquo
E a educaccedilatildeo do campo traz uma proposta que trabalha com a realidade de
trabalhadores e trabalhadoras do campo relacionada ao trabalho que eles desenvolve no
campo pois precisa-se perceber que ele possui uma caracteriacutestica proacutepria que o
diferencia da sociedade urbana as quais devem ser planejadas pelos educadores da
educaccedilatildeo considerando o meio de onde se fala fazer com que esses sujeitos se
identifique e lute pelos seus direitos enquanto uma sociedade pensada com sua
participaccedilatildeo nos processos educacionais vinculada a sua cultura e necessidades humanas
e sociais
A Educaccedilatildeo do Campo propotildee por isso para as aacutereas ribeirinhas como para
pescadores agricultores e artesatildeos que atraveacutes das organizaccedilotildees possam reivindicar
melhorias e ampliaccedilatildeo na aacuterea escolar infraestrutura para que o ensino chegue ateacute eles
de forma a valorizar os conhecimentos de seus cotidianos e natildeo que eles saiam ou
abandonem seus costumes
Sabemos que a categoria campo natildeo eacute uma categoria homogecircnea ela
engloba diversos grupos sociais que habitam regiotildees geograficamente distintas entatildeo
natildeo podemos pensar em Educaccedilatildeo no Campo sem saber de qual campo estamos falando
19
Essa localidade do qual falo eacute o contexto habitado pelas comunidades das margens do
rio tucumanduba
Nessas localidades o meio impotildee sua dinacircmica agrave vida social e isso
aprofunda a relaccedilatildeo do homem com a natureza ldquoo imaginaacuterio eacute rico e o ribeirinho faz
uso desse imaginaacuterio para explicar fenocircmenos da naturezardquo (LOUREIRO 1995)
Por isso a educaccedilatildeo do campo e curriacuteculo escolar deve estar voltados para
as especificidades do contexto camporibeirinho no caso deste trabalho realizando as
atividades de acordo com o local onde o curriacuteculo deve ser construiacutedo levando em
consideraccedilatildeo aspectos da cultura e da dinacircmica local festividades imaginaacuterios e ateacute as
proacuteprias condiccedilotildees impostas pelo meio Valorizando conhecimentos locais para que os
alunos se situem no fazer escolar e contribua para que saberes e tradiccedilotildees se
reproduzam e se recriem na comunidade seja no vieacutes da tradiccedilatildeo oral seja no vieacutes da
educaccedilatildeo formal ou informal
Dessa forma passamos a perceber a produccedilatildeo cultural social e econocircmica do
local sendo importante para a construccedilatildeo de uma identidade reconhecida seja ela em
acircmbito nacional ou internacional de respeito e valorizaccedilatildeo da pessoa humana ajudando
assim a (re)orientar aqueles que cheguem nessas escolas e nas comunidades ribeirinhas
Assim quando se fala em educaccedilatildeo do campo fala-se em reforma agraacuteria
de construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de biodiversidade de debates sobre cultura
politicas puacuteblicas sendo preciso o tempo todo fazer e refazer as leituras poliacutetico-
pedagoacutegicas econocircmicas e culturais a partir dessas comunidades e das contradiccedilotildees que
nelas estatildeo postas dentro da loacutegica neoliberal que deve ser criticada se queremos uma
Educaccedilatildeo do Campo que efetive ao que se propotildee
20
Capitulo 2
De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe
O Rio Tucumanduba estaacute localizado no municiacutepio de Abaetetuba1 cidade a
duas horas de Beleacutem sendo ambas do Estado do Paraacute Estaacute dividido em Baixo Alto e
Meacutedio Tucumanduba sendo que cada um desses cursos do rio se organizam em torno
de uma comunidade que possuem escolas e igrejas (catoacutelicas ou evangeacutelicas) A
localidade e escola escolhidas para esta pesquisa se situa no rio Tucumanduba meacutedio
Durante as idas para a comunidade para realizar as praacuteticas docentes em
educaccedilatildeo do campo compartilhar e receber saberes da comunidade ribeirinha entre
alunos professores pais parentes e amigos se observa muita simplicidade em cada um
com seus modos de vivecircncia como se movimentam nas canoas andam ou correm no
ldquomiritizerordquo 2 ou como caminham tatildeo firmemente nas pontes e que agrave noite sentam na
ldquocabeccedila da ponterdquo como dizem os moradores locais
Para compartilharem os saberes dos mais velhos da comunidade de suas
tradiccedilotildees suas regras e modos de vivecircncia na ldquocalmariardquo em um lugar de vaacuterzea
contos histoacuterias com exuberante imensidatildeo de aacutegua aacutervores e animais que leva e traz
conhecimentos entre os rios e mareacutes de comunidades a comunidades assim como agraves
cidades em que os moradores circulam (vendem seu produtos como o accedilaiacute) como em
Abaetetuba Beleacutem e outras cidades
O trajeto das ldquofreteirasrdquo3 que sai das comunidades ribeirinhas ateacute a cidade
de Abaetetuba eacute feito de porto em porto buscando passageiros por volta das quatro
horas da manhatilde As ldquofreteirasrdquo transportam aleacutem de pessoas que vatildeo para fazer vendas
de seus produtos (accedilaiacute peixe farinha e outros) produtos trazidos da cidade e pessoas
(crianccedilas jovens e velhos) que procuram hospitais ou cliacutenicas entre outros
Chegando ao porto ou trapiche de Abaetetuba( imagem nordm 01) por volta das
seis horas da manhatilde os passageiros ou vem conversando ou dormindo no barco ateacute
1 Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio de
Abaetetuba possui uma populaccedilatildeo de 141054 habitantes sendo que 82950 vivem na cidade e 58104
vivem na zona ruralcampo nas inuacutemeras colocircnias rios igarapeacutes e ilhas A populaccedilatildeo ribeirinha em
especial eacute muito grande e satildeo isentos de seguranccedila serviccedilos baacutesico de sauacutede aacutereas de lazer entre outros
dependendo exclusivamente da cidade 2 ldquoMiritizerordquo tronco de aacutervore geralmente que eacute colocada como uma espeacutecie de ponte entre a terra e o
rio 3 ldquoFreteirasrdquo barcos ou embarcaccedilotildees de grande meacutedio ou pequeno porte que transportam moradores dos
rios ateacute agraves cidades no caso deste trabalho para Abaetetuba
21
chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove
horas da manhatilde
Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba
Fonte Google Imagens2015
Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para
regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o
tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de
gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto
ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu
destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas
com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de
transporte para esse local o hidroviaacuterio
Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava
em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das
aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares
observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas
baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que
atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo
22
Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que
estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio
(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por
virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha
famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como
algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta
pesquisa
De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos
que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios
de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que
satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em
um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem
natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute
integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense
o ribeirinho
Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia
enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de
dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola
23
Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem
nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso
passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja
Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de
Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como
Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os
alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir
Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas
denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf
Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um
passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local
Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e
Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade
de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental
Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino
satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de
Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo
anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo
O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele
vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo
24
do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de
conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de
recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia
de cursar o ensino meacutedio
Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de
rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com
carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura
saberes e processos histoacutericos
Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado
dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos
com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e
permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade
identidade e saberes locais debatidos em sala de aula
Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se
levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se
dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a
complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com
que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo
o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na
zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas
movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se
compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas
A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado
estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$
600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno
professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente
de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor
Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada
moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito
educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas
delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola
informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que
hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado
25
uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo
voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4
O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de
ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em
formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para
os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e
ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas
diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual
Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de
accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas
famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou
aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha
conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador
associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs
durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de
paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada
regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos
durante esse periacuteodo
Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de
comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo
na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da
quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico
4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da
Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA
26
Capitulo 3
Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais
Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco
da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de
Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema
de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em
relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos
possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de
educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo
Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo
as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro
do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como
organizam os conteuacutedos
Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam
meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo
do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do
27
campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso
somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta
pesquisa
Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes
localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como
Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros
Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os
coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra
localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)
Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz
parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba
com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo
ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois
passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo
ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas
e continua
Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos
dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar
seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
28
Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter
viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a
necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que
o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas
aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua
Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo
dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles
exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural
poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida
cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas
comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios
primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e
acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social
dentro de sua comunidade
A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz
conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de
idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos
artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de
idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns
momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e
adultos
Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo
entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo
aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo
dessa comunidade
Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante
no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o
sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em
qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes
culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade
5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades
segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do
presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo
29
Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o
trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu
dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta
Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o
entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e
conferem sentido agrave sua existecircnciardquo
Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu
acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana
desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito
antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os
mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e
chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola
Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo
comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem
outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno
quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute
patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo
apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater
o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7
estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo
da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe
atrasa a chegada
Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees
podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo
do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo
sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)
legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento
promovendo a Pedagogia da Alternacircncia
Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se
estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se
tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento
6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo
7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que
navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente
30
alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas
experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de
aprendizagens a partir desse movimento
Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador
do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes
agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma
troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais
Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)
interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os
modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam
desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso
levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida
em comunidade
O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por
exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas
e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de
aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao
ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia
Andrade (1993)
Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades
agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido
os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem
no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a
educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud
ANDRADE 1993)
Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de
experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa
diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da
pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos
pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais
legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes
semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e
elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural
8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore
apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto
das aacutervores
31
Capitulo 4
(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo
A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a
base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um
novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem
na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e
que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar
pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa
histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade
Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que
traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave
permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes
valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos
organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida
As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que
sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os
professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona
pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho
pedagoacutegico
Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola
da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de
educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e
das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)
Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o
grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se
trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees
sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua
particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos
sociais e da cultura como praacutexis
Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de
profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que
eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas
32
dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo
em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias
indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas
lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades
ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de
trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a
educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a
isto que ela se propotildee
E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando
estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas
histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e
se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo
Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as
escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas
recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de
2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam
ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os
alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de
chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no
processo de ensino- aprendizagem
Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo
natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse
em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e
meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam
durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua
trajetoacuteria
O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser
humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as
comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da
histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de
conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos
alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de
forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo
esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes
33
Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos
educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de
descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar
democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica
e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos
ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do
conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como
um criacutetico- dialeacutetico
De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de
apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros
fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e
suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que
passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o
conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico
despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos
O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de
conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do
campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo
praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social
direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora
Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de
ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da
cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de
educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na
cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias
Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do
Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de
mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem
curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)
Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia
profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino
possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo
aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta
(FREIRE 2003)
34
Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam
realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos
livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se
afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)
A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do
conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica
tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu
desmascaramento (FREIRE 2003)
Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de
dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo
precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo
diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do
aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos
negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos
Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro
preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se
antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio
com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na
formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde
emerge esse profissional
Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a
valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de
nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador
existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo
humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo
O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a
desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do
discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-
existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e
poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)
Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na
educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a
comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue
persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar
35
traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia
essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os
educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos
troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que
se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se
preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da
perseveranccedilardquo
O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que
devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates
mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa
cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na
historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em
possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)
Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e
aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o
pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos
seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos
desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser
livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire
(2001)
E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza
(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade
(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes
(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades
accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo
(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute
possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar
social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de
cultura de educaccedilatildeordquo
36
Consideraccedilotildees Finais
A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo
simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no
e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo
Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na
busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos
cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem
desenvolvido em um contexto ribeirinho
Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o
propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as
demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do
Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu
histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar
Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir
articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar
em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas
educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o
professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes
desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que
possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem
A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar
os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja
percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo
educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas
verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto
profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a
educaccedilatildeo do campo
A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos
professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte
no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria
Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores
comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo
conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo
37
encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da
comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo
Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os
processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees
para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo
soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos
curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos
inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do
Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo
acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees
38
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ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015
18
Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica (PARFOR) aleacutem de diversificaccedilatildeo das experiecircncias
educativas no campo a exemplo das Casas Familiares Rurais a construccedilatildeo da Escola
Famiacutelia Agriacutecola (EFA) Escolas Itinerantes que ajudam na ampliaccedilatildeo do conhecimento
e ao direito de comunidades ribeirinhas como a de Guadalupe em Abaetetuba a terem
educaccedilatildeo de qualidade e que valorize os conhecimentos locais como salienta Roseli
Caldart (2008)
A Educaccedilatildeo do Campo natildeo se conduz ao debate da escola da formaccedilatildeo
formal ou das propostas pedagoacutegicas A materialidade educativa de origem
da educaccedilatildeo do campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos
da produccedilatildeo e das lutas sociais do campo (CALDART 2008)
A educaccedilatildeo do Campo pretende ir aleacutem das fronteiras educacionais que
antagonizam os curriacuteculos entre cidade e campo como ressalta a Lei de Diretrizes e
Base da Educaccedilatildeo Nacional (1996) ldquoque a oferta da educaccedilatildeo baacutesica agrave populaccedilatildeo rural
natildeo eacute a mesma compreensatildeo dos movimentos sociais e da academia cientiacutefica em
relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo do campordquo pois ela (LDB) se volta agrave lapidaccedilatildeo de matildeo de obra
visando o mercado de trabalho sendo isso uma de suas bases e objetivos que buscam
preparar os jovens para o mercado de trabalho seja este no ensino fundamental meacutedio
teacutecnico ou superior como uma preparaccedilatildeo de grande ldquovalorizaccedilatildeordquo
E a educaccedilatildeo do campo traz uma proposta que trabalha com a realidade de
trabalhadores e trabalhadoras do campo relacionada ao trabalho que eles desenvolve no
campo pois precisa-se perceber que ele possui uma caracteriacutestica proacutepria que o
diferencia da sociedade urbana as quais devem ser planejadas pelos educadores da
educaccedilatildeo considerando o meio de onde se fala fazer com que esses sujeitos se
identifique e lute pelos seus direitos enquanto uma sociedade pensada com sua
participaccedilatildeo nos processos educacionais vinculada a sua cultura e necessidades humanas
e sociais
A Educaccedilatildeo do Campo propotildee por isso para as aacutereas ribeirinhas como para
pescadores agricultores e artesatildeos que atraveacutes das organizaccedilotildees possam reivindicar
melhorias e ampliaccedilatildeo na aacuterea escolar infraestrutura para que o ensino chegue ateacute eles
de forma a valorizar os conhecimentos de seus cotidianos e natildeo que eles saiam ou
abandonem seus costumes
Sabemos que a categoria campo natildeo eacute uma categoria homogecircnea ela
engloba diversos grupos sociais que habitam regiotildees geograficamente distintas entatildeo
natildeo podemos pensar em Educaccedilatildeo no Campo sem saber de qual campo estamos falando
19
Essa localidade do qual falo eacute o contexto habitado pelas comunidades das margens do
rio tucumanduba
Nessas localidades o meio impotildee sua dinacircmica agrave vida social e isso
aprofunda a relaccedilatildeo do homem com a natureza ldquoo imaginaacuterio eacute rico e o ribeirinho faz
uso desse imaginaacuterio para explicar fenocircmenos da naturezardquo (LOUREIRO 1995)
Por isso a educaccedilatildeo do campo e curriacuteculo escolar deve estar voltados para
as especificidades do contexto camporibeirinho no caso deste trabalho realizando as
atividades de acordo com o local onde o curriacuteculo deve ser construiacutedo levando em
consideraccedilatildeo aspectos da cultura e da dinacircmica local festividades imaginaacuterios e ateacute as
proacuteprias condiccedilotildees impostas pelo meio Valorizando conhecimentos locais para que os
alunos se situem no fazer escolar e contribua para que saberes e tradiccedilotildees se
reproduzam e se recriem na comunidade seja no vieacutes da tradiccedilatildeo oral seja no vieacutes da
educaccedilatildeo formal ou informal
Dessa forma passamos a perceber a produccedilatildeo cultural social e econocircmica do
local sendo importante para a construccedilatildeo de uma identidade reconhecida seja ela em
acircmbito nacional ou internacional de respeito e valorizaccedilatildeo da pessoa humana ajudando
assim a (re)orientar aqueles que cheguem nessas escolas e nas comunidades ribeirinhas
Assim quando se fala em educaccedilatildeo do campo fala-se em reforma agraacuteria
de construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de biodiversidade de debates sobre cultura
politicas puacuteblicas sendo preciso o tempo todo fazer e refazer as leituras poliacutetico-
pedagoacutegicas econocircmicas e culturais a partir dessas comunidades e das contradiccedilotildees que
nelas estatildeo postas dentro da loacutegica neoliberal que deve ser criticada se queremos uma
Educaccedilatildeo do Campo que efetive ao que se propotildee
20
Capitulo 2
De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe
O Rio Tucumanduba estaacute localizado no municiacutepio de Abaetetuba1 cidade a
duas horas de Beleacutem sendo ambas do Estado do Paraacute Estaacute dividido em Baixo Alto e
Meacutedio Tucumanduba sendo que cada um desses cursos do rio se organizam em torno
de uma comunidade que possuem escolas e igrejas (catoacutelicas ou evangeacutelicas) A
localidade e escola escolhidas para esta pesquisa se situa no rio Tucumanduba meacutedio
Durante as idas para a comunidade para realizar as praacuteticas docentes em
educaccedilatildeo do campo compartilhar e receber saberes da comunidade ribeirinha entre
alunos professores pais parentes e amigos se observa muita simplicidade em cada um
com seus modos de vivecircncia como se movimentam nas canoas andam ou correm no
ldquomiritizerordquo 2 ou como caminham tatildeo firmemente nas pontes e que agrave noite sentam na
ldquocabeccedila da ponterdquo como dizem os moradores locais
Para compartilharem os saberes dos mais velhos da comunidade de suas
tradiccedilotildees suas regras e modos de vivecircncia na ldquocalmariardquo em um lugar de vaacuterzea
contos histoacuterias com exuberante imensidatildeo de aacutegua aacutervores e animais que leva e traz
conhecimentos entre os rios e mareacutes de comunidades a comunidades assim como agraves
cidades em que os moradores circulam (vendem seu produtos como o accedilaiacute) como em
Abaetetuba Beleacutem e outras cidades
O trajeto das ldquofreteirasrdquo3 que sai das comunidades ribeirinhas ateacute a cidade
de Abaetetuba eacute feito de porto em porto buscando passageiros por volta das quatro
horas da manhatilde As ldquofreteirasrdquo transportam aleacutem de pessoas que vatildeo para fazer vendas
de seus produtos (accedilaiacute peixe farinha e outros) produtos trazidos da cidade e pessoas
(crianccedilas jovens e velhos) que procuram hospitais ou cliacutenicas entre outros
Chegando ao porto ou trapiche de Abaetetuba( imagem nordm 01) por volta das
seis horas da manhatilde os passageiros ou vem conversando ou dormindo no barco ateacute
1 Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio de
Abaetetuba possui uma populaccedilatildeo de 141054 habitantes sendo que 82950 vivem na cidade e 58104
vivem na zona ruralcampo nas inuacutemeras colocircnias rios igarapeacutes e ilhas A populaccedilatildeo ribeirinha em
especial eacute muito grande e satildeo isentos de seguranccedila serviccedilos baacutesico de sauacutede aacutereas de lazer entre outros
dependendo exclusivamente da cidade 2 ldquoMiritizerordquo tronco de aacutervore geralmente que eacute colocada como uma espeacutecie de ponte entre a terra e o
rio 3 ldquoFreteirasrdquo barcos ou embarcaccedilotildees de grande meacutedio ou pequeno porte que transportam moradores dos
rios ateacute agraves cidades no caso deste trabalho para Abaetetuba
21
chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove
horas da manhatilde
Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba
Fonte Google Imagens2015
Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para
regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o
tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de
gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto
ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu
destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas
com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de
transporte para esse local o hidroviaacuterio
Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava
em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das
aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares
observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas
baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que
atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo
22
Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que
estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio
(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por
virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha
famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como
algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta
pesquisa
De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos
que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios
de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que
satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em
um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem
natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute
integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense
o ribeirinho
Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia
enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de
dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola
23
Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem
nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso
passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja
Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de
Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como
Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os
alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir
Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas
denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf
Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um
passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local
Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e
Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade
de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental
Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino
satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de
Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo
anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo
O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele
vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo
24
do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de
conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de
recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia
de cursar o ensino meacutedio
Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de
rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com
carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura
saberes e processos histoacutericos
Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado
dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos
com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e
permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade
identidade e saberes locais debatidos em sala de aula
Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se
levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se
dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a
complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com
que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo
o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na
zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas
movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se
compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas
A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado
estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$
600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno
professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente
de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor
Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada
moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito
educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas
delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola
informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que
hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado
25
uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo
voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4
O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de
ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em
formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para
os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e
ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas
diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual
Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de
accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas
famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou
aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha
conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador
associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs
durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de
paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada
regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos
durante esse periacuteodo
Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de
comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo
na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da
quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico
4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da
Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA
26
Capitulo 3
Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais
Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco
da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de
Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema
de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em
relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos
possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de
educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo
Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo
as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro
do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como
organizam os conteuacutedos
Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam
meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo
do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do
27
campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso
somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta
pesquisa
Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes
localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como
Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros
Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os
coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra
localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)
Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz
parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba
com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo
ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois
passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo
ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas
e continua
Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos
dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar
seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
28
Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter
viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a
necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que
o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas
aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua
Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo
dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles
exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural
poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida
cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas
comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios
primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e
acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social
dentro de sua comunidade
A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz
conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de
idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos
artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de
idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns
momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e
adultos
Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo
entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo
aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo
dessa comunidade
Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante
no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o
sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em
qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes
culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade
5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades
segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do
presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo
29
Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o
trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu
dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta
Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o
entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e
conferem sentido agrave sua existecircnciardquo
Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu
acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana
desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito
antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os
mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e
chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola
Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo
comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem
outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno
quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute
patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo
apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater
o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7
estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo
da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe
atrasa a chegada
Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees
podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo
do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo
sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)
legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento
promovendo a Pedagogia da Alternacircncia
Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se
estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se
tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento
6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo
7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que
navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente
30
alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas
experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de
aprendizagens a partir desse movimento
Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador
do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes
agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma
troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais
Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)
interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os
modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam
desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso
levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida
em comunidade
O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por
exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas
e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de
aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao
ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia
Andrade (1993)
Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades
agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido
os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem
no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a
educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud
ANDRADE 1993)
Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de
experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa
diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da
pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos
pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais
legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes
semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e
elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural
8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore
apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto
das aacutervores
31
Capitulo 4
(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo
A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a
base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um
novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem
na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e
que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar
pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa
histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade
Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que
traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave
permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes
valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos
organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida
As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que
sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os
professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona
pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho
pedagoacutegico
Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola
da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de
educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e
das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)
Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o
grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se
trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees
sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua
particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos
sociais e da cultura como praacutexis
Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de
profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que
eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas
32
dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo
em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias
indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas
lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades
ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de
trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a
educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a
isto que ela se propotildee
E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando
estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas
histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e
se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo
Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as
escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas
recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de
2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam
ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os
alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de
chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no
processo de ensino- aprendizagem
Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo
natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse
em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e
meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam
durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua
trajetoacuteria
O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser
humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as
comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da
histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de
conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos
alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de
forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo
esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes
33
Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos
educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de
descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar
democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica
e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos
ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do
conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como
um criacutetico- dialeacutetico
De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de
apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros
fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e
suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que
passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o
conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico
despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos
O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de
conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do
campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo
praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social
direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora
Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de
ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da
cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de
educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na
cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias
Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do
Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de
mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem
curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)
Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia
profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino
possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo
aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta
(FREIRE 2003)
34
Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam
realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos
livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se
afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)
A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do
conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica
tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu
desmascaramento (FREIRE 2003)
Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de
dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo
precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo
diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do
aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos
negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos
Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro
preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se
antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio
com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na
formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde
emerge esse profissional
Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a
valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de
nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador
existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo
humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo
O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a
desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do
discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-
existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e
poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)
Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na
educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a
comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue
persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar
35
traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia
essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os
educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos
troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que
se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se
preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da
perseveranccedilardquo
O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que
devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates
mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa
cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na
historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em
possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)
Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e
aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o
pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos
seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos
desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser
livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire
(2001)
E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza
(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade
(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes
(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades
accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo
(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute
possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar
social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de
cultura de educaccedilatildeordquo
36
Consideraccedilotildees Finais
A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo
simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no
e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo
Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na
busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos
cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem
desenvolvido em um contexto ribeirinho
Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o
propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as
demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do
Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu
histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar
Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir
articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar
em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas
educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o
professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes
desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que
possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem
A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar
os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja
percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo
educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas
verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto
profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a
educaccedilatildeo do campo
A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos
professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte
no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria
Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores
comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo
conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo
37
encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da
comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo
Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os
processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees
para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo
soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos
curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos
inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do
Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo
acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees
38
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19
Essa localidade do qual falo eacute o contexto habitado pelas comunidades das margens do
rio tucumanduba
Nessas localidades o meio impotildee sua dinacircmica agrave vida social e isso
aprofunda a relaccedilatildeo do homem com a natureza ldquoo imaginaacuterio eacute rico e o ribeirinho faz
uso desse imaginaacuterio para explicar fenocircmenos da naturezardquo (LOUREIRO 1995)
Por isso a educaccedilatildeo do campo e curriacuteculo escolar deve estar voltados para
as especificidades do contexto camporibeirinho no caso deste trabalho realizando as
atividades de acordo com o local onde o curriacuteculo deve ser construiacutedo levando em
consideraccedilatildeo aspectos da cultura e da dinacircmica local festividades imaginaacuterios e ateacute as
proacuteprias condiccedilotildees impostas pelo meio Valorizando conhecimentos locais para que os
alunos se situem no fazer escolar e contribua para que saberes e tradiccedilotildees se
reproduzam e se recriem na comunidade seja no vieacutes da tradiccedilatildeo oral seja no vieacutes da
educaccedilatildeo formal ou informal
Dessa forma passamos a perceber a produccedilatildeo cultural social e econocircmica do
local sendo importante para a construccedilatildeo de uma identidade reconhecida seja ela em
acircmbito nacional ou internacional de respeito e valorizaccedilatildeo da pessoa humana ajudando
assim a (re)orientar aqueles que cheguem nessas escolas e nas comunidades ribeirinhas
Assim quando se fala em educaccedilatildeo do campo fala-se em reforma agraacuteria
de construccedilatildeo de uma nova concepccedilatildeo de biodiversidade de debates sobre cultura
politicas puacuteblicas sendo preciso o tempo todo fazer e refazer as leituras poliacutetico-
pedagoacutegicas econocircmicas e culturais a partir dessas comunidades e das contradiccedilotildees que
nelas estatildeo postas dentro da loacutegica neoliberal que deve ser criticada se queremos uma
Educaccedilatildeo do Campo que efetive ao que se propotildee
20
Capitulo 2
De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe
O Rio Tucumanduba estaacute localizado no municiacutepio de Abaetetuba1 cidade a
duas horas de Beleacutem sendo ambas do Estado do Paraacute Estaacute dividido em Baixo Alto e
Meacutedio Tucumanduba sendo que cada um desses cursos do rio se organizam em torno
de uma comunidade que possuem escolas e igrejas (catoacutelicas ou evangeacutelicas) A
localidade e escola escolhidas para esta pesquisa se situa no rio Tucumanduba meacutedio
Durante as idas para a comunidade para realizar as praacuteticas docentes em
educaccedilatildeo do campo compartilhar e receber saberes da comunidade ribeirinha entre
alunos professores pais parentes e amigos se observa muita simplicidade em cada um
com seus modos de vivecircncia como se movimentam nas canoas andam ou correm no
ldquomiritizerordquo 2 ou como caminham tatildeo firmemente nas pontes e que agrave noite sentam na
ldquocabeccedila da ponterdquo como dizem os moradores locais
Para compartilharem os saberes dos mais velhos da comunidade de suas
tradiccedilotildees suas regras e modos de vivecircncia na ldquocalmariardquo em um lugar de vaacuterzea
contos histoacuterias com exuberante imensidatildeo de aacutegua aacutervores e animais que leva e traz
conhecimentos entre os rios e mareacutes de comunidades a comunidades assim como agraves
cidades em que os moradores circulam (vendem seu produtos como o accedilaiacute) como em
Abaetetuba Beleacutem e outras cidades
O trajeto das ldquofreteirasrdquo3 que sai das comunidades ribeirinhas ateacute a cidade
de Abaetetuba eacute feito de porto em porto buscando passageiros por volta das quatro
horas da manhatilde As ldquofreteirasrdquo transportam aleacutem de pessoas que vatildeo para fazer vendas
de seus produtos (accedilaiacute peixe farinha e outros) produtos trazidos da cidade e pessoas
(crianccedilas jovens e velhos) que procuram hospitais ou cliacutenicas entre outros
Chegando ao porto ou trapiche de Abaetetuba( imagem nordm 01) por volta das
seis horas da manhatilde os passageiros ou vem conversando ou dormindo no barco ateacute
1 Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio de
Abaetetuba possui uma populaccedilatildeo de 141054 habitantes sendo que 82950 vivem na cidade e 58104
vivem na zona ruralcampo nas inuacutemeras colocircnias rios igarapeacutes e ilhas A populaccedilatildeo ribeirinha em
especial eacute muito grande e satildeo isentos de seguranccedila serviccedilos baacutesico de sauacutede aacutereas de lazer entre outros
dependendo exclusivamente da cidade 2 ldquoMiritizerordquo tronco de aacutervore geralmente que eacute colocada como uma espeacutecie de ponte entre a terra e o
rio 3 ldquoFreteirasrdquo barcos ou embarcaccedilotildees de grande meacutedio ou pequeno porte que transportam moradores dos
rios ateacute agraves cidades no caso deste trabalho para Abaetetuba
21
chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove
horas da manhatilde
Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba
Fonte Google Imagens2015
Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para
regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o
tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de
gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto
ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu
destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas
com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de
transporte para esse local o hidroviaacuterio
Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava
em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das
aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares
observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas
baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que
atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo
22
Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que
estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio
(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por
virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha
famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como
algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta
pesquisa
De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos
que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios
de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que
satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em
um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem
natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute
integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense
o ribeirinho
Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia
enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de
dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola
23
Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem
nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso
passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja
Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de
Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como
Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os
alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir
Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas
denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf
Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um
passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local
Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e
Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade
de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental
Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino
satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de
Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo
anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo
O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele
vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo
24
do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de
conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de
recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia
de cursar o ensino meacutedio
Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de
rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com
carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura
saberes e processos histoacutericos
Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado
dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos
com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e
permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade
identidade e saberes locais debatidos em sala de aula
Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se
levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se
dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a
complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com
que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo
o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na
zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas
movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se
compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas
A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado
estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$
600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno
professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente
de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor
Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada
moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito
educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas
delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola
informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que
hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado
25
uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo
voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4
O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de
ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em
formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para
os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e
ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas
diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual
Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de
accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas
famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou
aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha
conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador
associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs
durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de
paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada
regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos
durante esse periacuteodo
Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de
comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo
na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da
quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico
4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da
Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA
26
Capitulo 3
Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais
Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco
da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de
Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema
de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em
relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos
possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de
educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo
Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo
as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro
do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como
organizam os conteuacutedos
Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam
meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo
do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do
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campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso
somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta
pesquisa
Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes
localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como
Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros
Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os
coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra
localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)
Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz
parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba
com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo
ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois
passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo
ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas
e continua
Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos
dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar
seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
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Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter
viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a
necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que
o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas
aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua
Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo
dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles
exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural
poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida
cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas
comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios
primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e
acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social
dentro de sua comunidade
A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz
conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de
idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos
artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de
idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns
momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e
adultos
Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo
entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo
aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo
dessa comunidade
Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante
no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o
sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em
qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes
culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade
5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades
segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do
presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo
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Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o
trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu
dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta
Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o
entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e
conferem sentido agrave sua existecircnciardquo
Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu
acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana
desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito
antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os
mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e
chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola
Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo
comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem
outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno
quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute
patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo
apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater
o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7
estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo
da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe
atrasa a chegada
Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees
podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo
do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo
sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)
legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento
promovendo a Pedagogia da Alternacircncia
Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se
estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se
tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento
6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo
7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que
navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente
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alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas
experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de
aprendizagens a partir desse movimento
Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador
do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes
agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma
troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais
Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)
interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os
modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam
desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso
levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida
em comunidade
O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por
exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas
e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de
aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao
ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia
Andrade (1993)
Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades
agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido
os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem
no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a
educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud
ANDRADE 1993)
Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de
experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa
diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da
pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos
pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais
legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes
semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e
elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural
8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore
apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto
das aacutervores
31
Capitulo 4
(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo
A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a
base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um
novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem
na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e
que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar
pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa
histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade
Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que
traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave
permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes
valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos
organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida
As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que
sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os
professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona
pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho
pedagoacutegico
Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola
da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de
educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e
das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)
Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o
grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se
trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees
sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua
particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos
sociais e da cultura como praacutexis
Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de
profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que
eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas
32
dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo
em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias
indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas
lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades
ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de
trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a
educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a
isto que ela se propotildee
E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando
estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas
histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e
se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo
Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as
escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas
recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de
2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam
ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os
alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de
chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no
processo de ensino- aprendizagem
Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo
natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse
em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e
meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam
durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua
trajetoacuteria
O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser
humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as
comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da
histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de
conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos
alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de
forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo
esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes
33
Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos
educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de
descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar
democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica
e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos
ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do
conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como
um criacutetico- dialeacutetico
De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de
apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros
fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e
suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que
passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o
conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico
despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos
O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de
conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do
campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo
praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social
direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora
Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de
ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da
cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de
educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na
cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias
Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do
Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de
mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem
curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)
Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia
profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino
possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo
aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta
(FREIRE 2003)
34
Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam
realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos
livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se
afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)
A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do
conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica
tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu
desmascaramento (FREIRE 2003)
Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de
dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo
precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo
diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do
aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos
negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos
Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro
preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se
antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio
com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na
formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde
emerge esse profissional
Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a
valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de
nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador
existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo
humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo
O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a
desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do
discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-
existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e
poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)
Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na
educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a
comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue
persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar
35
traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia
essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os
educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos
troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que
se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se
preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da
perseveranccedilardquo
O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que
devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates
mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa
cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na
historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em
possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)
Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e
aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o
pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos
seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos
desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser
livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire
(2001)
E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza
(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade
(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes
(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades
accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo
(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute
possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar
social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de
cultura de educaccedilatildeordquo
36
Consideraccedilotildees Finais
A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo
simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no
e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo
Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na
busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos
cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem
desenvolvido em um contexto ribeirinho
Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o
propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as
demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do
Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu
histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar
Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir
articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar
em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas
educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o
professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes
desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que
possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem
A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar
os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja
percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo
educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas
verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto
profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a
educaccedilatildeo do campo
A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos
professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte
no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria
Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores
comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo
conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo
37
encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da
comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo
Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os
processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees
para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo
soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos
curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos
inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do
Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo
acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees
38
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20
Capitulo 2
De Abaeteacute a Nossa Senhora de Guadalupe
O Rio Tucumanduba estaacute localizado no municiacutepio de Abaetetuba1 cidade a
duas horas de Beleacutem sendo ambas do Estado do Paraacute Estaacute dividido em Baixo Alto e
Meacutedio Tucumanduba sendo que cada um desses cursos do rio se organizam em torno
de uma comunidade que possuem escolas e igrejas (catoacutelicas ou evangeacutelicas) A
localidade e escola escolhidas para esta pesquisa se situa no rio Tucumanduba meacutedio
Durante as idas para a comunidade para realizar as praacuteticas docentes em
educaccedilatildeo do campo compartilhar e receber saberes da comunidade ribeirinha entre
alunos professores pais parentes e amigos se observa muita simplicidade em cada um
com seus modos de vivecircncia como se movimentam nas canoas andam ou correm no
ldquomiritizerordquo 2 ou como caminham tatildeo firmemente nas pontes e que agrave noite sentam na
ldquocabeccedila da ponterdquo como dizem os moradores locais
Para compartilharem os saberes dos mais velhos da comunidade de suas
tradiccedilotildees suas regras e modos de vivecircncia na ldquocalmariardquo em um lugar de vaacuterzea
contos histoacuterias com exuberante imensidatildeo de aacutegua aacutervores e animais que leva e traz
conhecimentos entre os rios e mareacutes de comunidades a comunidades assim como agraves
cidades em que os moradores circulam (vendem seu produtos como o accedilaiacute) como em
Abaetetuba Beleacutem e outras cidades
O trajeto das ldquofreteirasrdquo3 que sai das comunidades ribeirinhas ateacute a cidade
de Abaetetuba eacute feito de porto em porto buscando passageiros por volta das quatro
horas da manhatilde As ldquofreteirasrdquo transportam aleacutem de pessoas que vatildeo para fazer vendas
de seus produtos (accedilaiacute peixe farinha e outros) produtos trazidos da cidade e pessoas
(crianccedilas jovens e velhos) que procuram hospitais ou cliacutenicas entre outros
Chegando ao porto ou trapiche de Abaetetuba( imagem nordm 01) por volta das
seis horas da manhatilde os passageiros ou vem conversando ou dormindo no barco ateacute
1 Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio de
Abaetetuba possui uma populaccedilatildeo de 141054 habitantes sendo que 82950 vivem na cidade e 58104
vivem na zona ruralcampo nas inuacutemeras colocircnias rios igarapeacutes e ilhas A populaccedilatildeo ribeirinha em
especial eacute muito grande e satildeo isentos de seguranccedila serviccedilos baacutesico de sauacutede aacutereas de lazer entre outros
dependendo exclusivamente da cidade 2 ldquoMiritizerordquo tronco de aacutervore geralmente que eacute colocada como uma espeacutecie de ponte entre a terra e o
rio 3 ldquoFreteirasrdquo barcos ou embarcaccedilotildees de grande meacutedio ou pequeno porte que transportam moradores dos
rios ateacute agraves cidades no caso deste trabalho para Abaetetuba
21
chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove
horas da manhatilde
Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba
Fonte Google Imagens2015
Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para
regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o
tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de
gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto
ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu
destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas
com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de
transporte para esse local o hidroviaacuterio
Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava
em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das
aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares
observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas
baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que
atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo
22
Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que
estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio
(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por
virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha
famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como
algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta
pesquisa
De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos
que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios
de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que
satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em
um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem
natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute
integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense
o ribeirinho
Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia
enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de
dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola
23
Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem
nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso
passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja
Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de
Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como
Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os
alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir
Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas
denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf
Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um
passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local
Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e
Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade
de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental
Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino
satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de
Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo
anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo
O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele
vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo
24
do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de
conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de
recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia
de cursar o ensino meacutedio
Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de
rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com
carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura
saberes e processos histoacutericos
Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado
dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos
com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e
permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade
identidade e saberes locais debatidos em sala de aula
Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se
levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se
dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a
complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com
que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo
o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na
zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas
movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se
compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas
A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado
estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$
600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno
professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente
de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor
Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada
moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito
educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas
delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola
informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que
hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado
25
uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo
voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4
O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de
ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em
formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para
os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e
ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas
diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual
Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de
accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas
famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou
aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha
conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador
associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs
durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de
paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada
regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos
durante esse periacuteodo
Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de
comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo
na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da
quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico
4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da
Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA
26
Capitulo 3
Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais
Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco
da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de
Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema
de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em
relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos
possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de
educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo
Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo
as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro
do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como
organizam os conteuacutedos
Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam
meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo
do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do
27
campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso
somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta
pesquisa
Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes
localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como
Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros
Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os
coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra
localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)
Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz
parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba
com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo
ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois
passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo
ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas
e continua
Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos
dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar
seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
28
Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter
viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a
necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que
o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas
aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua
Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo
dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles
exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural
poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida
cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas
comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios
primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e
acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social
dentro de sua comunidade
A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz
conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de
idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos
artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de
idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns
momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e
adultos
Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo
entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo
aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo
dessa comunidade
Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante
no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o
sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em
qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes
culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade
5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades
segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do
presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo
29
Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o
trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu
dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta
Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o
entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e
conferem sentido agrave sua existecircnciardquo
Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu
acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana
desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito
antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os
mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e
chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola
Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo
comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem
outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno
quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute
patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo
apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater
o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7
estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo
da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe
atrasa a chegada
Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees
podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo
do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo
sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)
legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento
promovendo a Pedagogia da Alternacircncia
Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se
estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se
tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento
6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo
7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que
navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente
30
alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas
experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de
aprendizagens a partir desse movimento
Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador
do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes
agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma
troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais
Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)
interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os
modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam
desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso
levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida
em comunidade
O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por
exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas
e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de
aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao
ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia
Andrade (1993)
Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades
agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido
os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem
no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a
educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud
ANDRADE 1993)
Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de
experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa
diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da
pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos
pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais
legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes
semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e
elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural
8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore
apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto
das aacutervores
31
Capitulo 4
(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo
A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a
base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um
novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem
na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e
que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar
pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa
histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade
Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que
traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave
permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes
valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos
organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida
As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que
sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os
professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona
pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho
pedagoacutegico
Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola
da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de
educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e
das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)
Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o
grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se
trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees
sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua
particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos
sociais e da cultura como praacutexis
Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de
profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que
eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas
32
dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo
em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias
indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas
lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades
ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de
trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a
educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a
isto que ela se propotildee
E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando
estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas
histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e
se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo
Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as
escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas
recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de
2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam
ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os
alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de
chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no
processo de ensino- aprendizagem
Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo
natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse
em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e
meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam
durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua
trajetoacuteria
O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser
humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as
comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da
histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de
conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos
alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de
forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo
esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes
33
Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos
educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de
descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar
democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica
e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos
ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do
conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como
um criacutetico- dialeacutetico
De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de
apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros
fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e
suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que
passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o
conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico
despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos
O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de
conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do
campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo
praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social
direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora
Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de
ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da
cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de
educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na
cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias
Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do
Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de
mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem
curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)
Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia
profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino
possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo
aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta
(FREIRE 2003)
34
Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam
realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos
livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se
afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)
A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do
conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica
tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu
desmascaramento (FREIRE 2003)
Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de
dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo
precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo
diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do
aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos
negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos
Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro
preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se
antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio
com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na
formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde
emerge esse profissional
Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a
valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de
nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador
existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo
humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo
O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a
desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do
discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-
existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e
poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)
Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na
educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a
comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue
persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar
35
traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia
essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os
educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos
troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que
se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se
preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da
perseveranccedilardquo
O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que
devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates
mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa
cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na
historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em
possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)
Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e
aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o
pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos
seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos
desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser
livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire
(2001)
E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza
(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade
(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes
(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades
accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo
(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute
possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar
social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de
cultura de educaccedilatildeordquo
36
Consideraccedilotildees Finais
A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo
simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no
e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo
Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na
busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos
cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem
desenvolvido em um contexto ribeirinho
Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o
propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as
demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do
Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu
histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar
Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir
articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar
em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas
educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o
professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes
desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que
possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem
A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar
os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja
percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo
educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas
verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto
profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a
educaccedilatildeo do campo
A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos
professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte
no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria
Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores
comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo
conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo
37
encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da
comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo
Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os
processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees
para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo
soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos
curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos
inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do
Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo
acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees
38
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Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar
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ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015
21
chegarem agrave cidade para ir ao comercio que costumam abrir por volta das oito e nove
horas da manhatilde
Imagem 1 Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba
Fonte Google Imagens2015
Depois de tudo feito na cidade os passageiros retornam ao porto para
regressarem agraves comunidades pois o tempo da cidade parece correr mais raacutepido que o
tempo das mareacutes O embarque eacute feito no trapiche da cidade de Abaetetuba no posto de
gasolina chamado de Texaco Duas das embarcaccedilotildees em meios a tantas fazem o trajeto
ateacute a comunidade do rio Tucumanduba Meacutedio passando por vaacuterias outras ateacute o meu
destino final Saindo por volta das onze horas e chegando por volta das quatorze horas
com vaacuterias paradas pelos vaacuterios rios furos e igarapeacutes sendo este o uacutenico meio de
transporte para esse local o hidroviaacuterio
Na saiacuteda quando me distanciava do trapiche da cidade logo me acomodava
em cima do barco para fotografar tudo aquilo que marcava a paisagem dos povos das
aacuteguas e que atraveacutes delas pudessem se envolver com os sujeitos e seus lugares
observando os saberes e fazeres entre os braccedilos de rios e aacutervores florestas vaacuterzeas
baias praias ilhas com seu realismo maravilhoso (contos da cobra grande) que
atravessamos ateacute chegar agrave comunidade como na imagem baixo
22
Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que
estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio
(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por
virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha
famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como
algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta
pesquisa
De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos
que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios
de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que
satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em
um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem
natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute
integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense
o ribeirinho
Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia
enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de
dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola
23
Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem
nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso
passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja
Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de
Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como
Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os
alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir
Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas
denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf
Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um
passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local
Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e
Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade
de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental
Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino
satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de
Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo
anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo
O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele
vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo
24
do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de
conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de
recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia
de cursar o ensino meacutedio
Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de
rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com
carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura
saberes e processos histoacutericos
Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado
dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos
com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e
permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade
identidade e saberes locais debatidos em sala de aula
Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se
levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se
dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a
complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com
que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo
o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na
zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas
movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se
compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas
A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado
estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$
600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno
professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente
de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor
Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada
moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito
educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas
delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola
informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que
hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado
25
uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo
voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4
O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de
ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em
formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para
os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e
ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas
diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual
Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de
accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas
famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou
aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha
conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador
associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs
durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de
paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada
regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos
durante esse periacuteodo
Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de
comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo
na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da
quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico
4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da
Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA
26
Capitulo 3
Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais
Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco
da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de
Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema
de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em
relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos
possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de
educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo
Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo
as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro
do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como
organizam os conteuacutedos
Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam
meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo
do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do
27
campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso
somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta
pesquisa
Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes
localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como
Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros
Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os
coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra
localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)
Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz
parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba
com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo
ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois
passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo
ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas
e continua
Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos
dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar
seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
28
Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter
viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a
necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que
o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas
aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua
Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo
dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles
exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural
poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida
cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas
comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios
primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e
acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social
dentro de sua comunidade
A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz
conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de
idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos
artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de
idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns
momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e
adultos
Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo
entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo
aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo
dessa comunidade
Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante
no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o
sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em
qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes
culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade
5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades
segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do
presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo
29
Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o
trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu
dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta
Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o
entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e
conferem sentido agrave sua existecircnciardquo
Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu
acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana
desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito
antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os
mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e
chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola
Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo
comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem
outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno
quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute
patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo
apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater
o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7
estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo
da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe
atrasa a chegada
Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees
podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo
do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo
sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)
legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento
promovendo a Pedagogia da Alternacircncia
Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se
estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se
tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento
6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo
7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que
navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente
30
alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas
experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de
aprendizagens a partir desse movimento
Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador
do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes
agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma
troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais
Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)
interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os
modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam
desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso
levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida
em comunidade
O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por
exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas
e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de
aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao
ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia
Andrade (1993)
Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades
agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido
os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem
no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a
educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud
ANDRADE 1993)
Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de
experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa
diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da
pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos
pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais
legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes
semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e
elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural
8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore
apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto
das aacutervores
31
Capitulo 4
(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo
A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a
base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um
novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem
na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e
que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar
pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa
histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade
Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que
traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave
permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes
valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos
organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida
As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que
sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os
professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona
pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho
pedagoacutegico
Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola
da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de
educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e
das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)
Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o
grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se
trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees
sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua
particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos
sociais e da cultura como praacutexis
Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de
profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que
eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas
32
dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo
em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias
indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas
lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades
ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de
trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a
educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a
isto que ela se propotildee
E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando
estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas
histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e
se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo
Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as
escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas
recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de
2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam
ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os
alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de
chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no
processo de ensino- aprendizagem
Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo
natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse
em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e
meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam
durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua
trajetoacuteria
O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser
humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as
comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da
histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de
conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos
alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de
forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo
esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes
33
Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos
educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de
descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar
democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica
e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos
ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do
conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como
um criacutetico- dialeacutetico
De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de
apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros
fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e
suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que
passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o
conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico
despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos
O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de
conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do
campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo
praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social
direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora
Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de
ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da
cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de
educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na
cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias
Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do
Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de
mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem
curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)
Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia
profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino
possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo
aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta
(FREIRE 2003)
34
Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam
realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos
livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se
afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)
A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do
conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica
tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu
desmascaramento (FREIRE 2003)
Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de
dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo
precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo
diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do
aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos
negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos
Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro
preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se
antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio
com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na
formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde
emerge esse profissional
Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a
valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de
nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador
existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo
humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo
O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a
desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do
discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-
existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e
poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)
Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na
educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a
comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue
persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar
35
traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia
essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os
educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos
troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que
se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se
preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da
perseveranccedilardquo
O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que
devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates
mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa
cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na
historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em
possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)
Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e
aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o
pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos
seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos
desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser
livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire
(2001)
E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza
(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade
(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes
(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades
accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo
(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute
possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar
social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de
cultura de educaccedilatildeordquo
36
Consideraccedilotildees Finais
A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo
simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no
e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo
Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na
busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos
cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem
desenvolvido em um contexto ribeirinho
Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o
propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as
demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do
Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu
histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar
Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir
articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar
em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas
educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o
professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes
desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que
possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem
A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar
os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja
percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo
educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas
verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto
profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a
educaccedilatildeo do campo
A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos
professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte
no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria
Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores
comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo
conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo
37
encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da
comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo
Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os
processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees
para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo
soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos
curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos
inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do
Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo
acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees
38
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22
Imagem 2 Braccedilos de rios proacuteximos a Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Entre as conversas com os passageiros professores moradores e alunos que
estudavam em Abaetetuba uma das primeiras perguntas que me faziam era a qual siacutetio
(comunidade) ou famiacutelia eu pertencia como a maioria se conhece isso acabava por
virar uma grande roda de conversa buscando lembranccedilas do passado em que minha
famiacutelia passava fins de semana ou mesmo semanas inteiras no sitio para conversar como
algueacutem que pertence agravequele lugar mesmo que temporariamente para fazer esta
pesquisa
De pontes em pontes eram deixados passageiros com ajuda de conhecidos
que desembarcavam suas compras crianccedilas jovens e adultos em todos os braccedilos de rios
de suas casas embarcando em outras canoas a remo ou em ldquorabudosrdquo ou ldquorabetasrdquo (que
satildeo canoas com um pequeno motor muitas operadas por crianccedilas e adolescentes) em
um equiliacutebrio entre barco peso das compras corpos e mareacutes de impressionar a quem
natildeo estava habitado com esse visatildeo a intimidade do homem com a natureza eacute
integrante dela o vento e a maresia natildeo o assustam pura imagem amazocircnica paraense
o ribeirinho
Chegando agrave casa de minha tia (Maria Joseacute Maueacutes) que me acolhia
enquanto estava realizando as praacuteticas de ensino na escola bem como o levantamento de
dados pude obter as primeiras informaccedilotildees acerca do funcionamento da escola
23
Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem
nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso
passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja
Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de
Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como
Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os
alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir
Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas
denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf
Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um
passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local
Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e
Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade
de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental
Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino
satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de
Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo
anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo
O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele
vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo
24
do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de
conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de
recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia
de cursar o ensino meacutedio
Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de
rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com
carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura
saberes e processos histoacutericos
Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado
dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos
com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e
permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade
identidade e saberes locais debatidos em sala de aula
Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se
levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se
dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a
complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com
que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo
o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na
zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas
movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se
compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas
A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado
estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$
600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno
professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente
de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor
Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada
moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito
educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas
delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola
informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que
hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado
25
uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo
voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4
O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de
ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em
formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para
os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e
ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas
diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual
Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de
accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas
famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou
aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha
conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador
associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs
durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de
paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada
regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos
durante esse periacuteodo
Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de
comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo
na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da
quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico
4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da
Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA
26
Capitulo 3
Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais
Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco
da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de
Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema
de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em
relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos
possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de
educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo
Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo
as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro
do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como
organizam os conteuacutedos
Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam
meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo
do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do
27
campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso
somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta
pesquisa
Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes
localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como
Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros
Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os
coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra
localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)
Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz
parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba
com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo
ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois
passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo
ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas
e continua
Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos
dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar
seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
28
Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter
viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a
necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que
o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas
aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua
Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo
dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles
exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural
poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida
cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas
comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios
primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e
acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social
dentro de sua comunidade
A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz
conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de
idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos
artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de
idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns
momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e
adultos
Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo
entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo
aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo
dessa comunidade
Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante
no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o
sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em
qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes
culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade
5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades
segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do
presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo
29
Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o
trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu
dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta
Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o
entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e
conferem sentido agrave sua existecircnciardquo
Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu
acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana
desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito
antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os
mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e
chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola
Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo
comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem
outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno
quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute
patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo
apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater
o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7
estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo
da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe
atrasa a chegada
Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees
podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo
do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo
sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)
legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento
promovendo a Pedagogia da Alternacircncia
Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se
estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se
tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento
6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo
7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que
navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente
30
alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas
experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de
aprendizagens a partir desse movimento
Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador
do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes
agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma
troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais
Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)
interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os
modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam
desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso
levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida
em comunidade
O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por
exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas
e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de
aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao
ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia
Andrade (1993)
Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades
agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido
os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem
no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a
educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud
ANDRADE 1993)
Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de
experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa
diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da
pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos
pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais
legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes
semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e
elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural
8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore
apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto
das aacutervores
31
Capitulo 4
(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo
A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a
base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um
novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem
na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e
que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar
pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa
histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade
Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que
traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave
permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes
valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos
organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida
As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que
sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os
professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona
pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho
pedagoacutegico
Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola
da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de
educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e
das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)
Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o
grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se
trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees
sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua
particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos
sociais e da cultura como praacutexis
Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de
profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que
eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas
32
dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo
em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias
indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas
lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades
ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de
trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a
educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a
isto que ela se propotildee
E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando
estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas
histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e
se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo
Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as
escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas
recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de
2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam
ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os
alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de
chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no
processo de ensino- aprendizagem
Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo
natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse
em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e
meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam
durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua
trajetoacuteria
O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser
humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as
comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da
histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de
conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos
alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de
forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo
esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes
33
Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos
educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de
descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar
democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica
e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos
ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do
conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como
um criacutetico- dialeacutetico
De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de
apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros
fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e
suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que
passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o
conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico
despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos
O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de
conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do
campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo
praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social
direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora
Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de
ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da
cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de
educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na
cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias
Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do
Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de
mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem
curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)
Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia
profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino
possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo
aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta
(FREIRE 2003)
34
Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam
realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos
livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se
afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)
A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do
conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica
tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu
desmascaramento (FREIRE 2003)
Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de
dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo
precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo
diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do
aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos
negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos
Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro
preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se
antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio
com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na
formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde
emerge esse profissional
Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a
valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de
nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador
existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo
humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo
O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a
desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do
discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-
existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e
poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)
Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na
educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a
comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue
persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar
35
traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia
essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os
educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos
troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que
se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se
preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da
perseveranccedilardquo
O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que
devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates
mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa
cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na
historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em
possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)
Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e
aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o
pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos
seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos
desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser
livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire
(2001)
E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza
(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade
(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes
(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades
accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo
(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute
possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar
social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de
cultura de educaccedilatildeordquo
36
Consideraccedilotildees Finais
A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo
simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no
e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo
Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na
busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos
cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem
desenvolvido em um contexto ribeirinho
Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o
propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as
demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do
Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu
histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar
Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir
articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar
em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas
educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o
professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes
desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que
possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem
A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar
os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja
percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo
educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas
verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto
profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a
educaccedilatildeo do campo
A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos
professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte
no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria
Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores
comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo
conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo
37
encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da
comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo
Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os
processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees
para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo
soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos
curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos
inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do
Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo
acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees
38
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23
Para chegar agrave escola seguiacuteamos para o local da igreja e barracatildeo( imagem
nordm 03) abaixo isso porque da casa de minha tia para se chegar agrave escola era preciso
passar por eles para quem natildeo vai de barcocanoa pois a escola fica proacutexima agrave igreja
Imagem 3 Igreja e Barracatildeo de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Depois de passarmos pela igreja chegaacutevamos agrave escola de Nossa Senhora de
Guadalupe imagem a frente na escola professores vindos de outras cidades como
Beleacutem Abaetetuba ou de outras regiotildees como Ilha do Capim lecionavam para os
alunos dessa comunidade como se veraacute a seguir
Na comunidade haacute a presenccedila de uma escola e uma igreja catoacutelica ambas
denominadas NordfSordfdoGuadalupe sendo que o terreno foi fruto de doaccedilatildeo da Sordf
Benedita Maueacutes ( in memoacuteria) mas conhecida como Tia Ita que foi a base para um
passo na educaccedilatildeo e o fortalecimento do catolicismo no local
Construiacuteda no dia 10071997 a Escola Municipal de Ensino Fundamental e
Meacutedio Nossa Senhora Do Guadalupe instalada no Rio Tucumanduba Meacutedio na cidade
de Abaetetuba- Paraacute A oferta para o Ensino Fundamental Menor e Ensino Fundamental
Maior satildeo de 14 a 27 alunos por turma organizados por seacuteries e sua forma de ensino
satildeo presenciais os professores satildeo contratados ou efetivos pela Prefeitura Municipal de
Abaetetuba Os documentos do Ensino Infantil seguem para Abaetetuba onde satildeo
anexados a Escola Luis Varela sendo organizados e enviados a Secretaacuteria de Educaccedilatildeo
O Ensino Meacutedio eacute ofertado atraveacutes do Sistema Modular de Ensino (SOME) ele
vem se ampliando significativamente no Estado do Paraacute junto a Secretaria de Educaccedilatildeo
24
do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de
conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de
recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia
de cursar o ensino meacutedio
Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de
rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com
carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura
saberes e processos histoacutericos
Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado
dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos
com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e
permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade
identidade e saberes locais debatidos em sala de aula
Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se
levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se
dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a
complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com
que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo
o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na
zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas
movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se
compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas
A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado
estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$
600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno
professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente
de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor
Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada
moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito
educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas
delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola
informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que
hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado
25
uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo
voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4
O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de
ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em
formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para
os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e
ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas
diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual
Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de
accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas
famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou
aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha
conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador
associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs
durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de
paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada
regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos
durante esse periacuteodo
Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de
comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo
na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da
quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico
4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da
Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA
26
Capitulo 3
Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais
Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco
da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de
Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema
de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em
relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos
possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de
educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo
Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo
as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro
do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como
organizam os conteuacutedos
Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam
meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo
do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do
27
campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso
somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta
pesquisa
Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes
localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como
Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros
Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os
coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra
localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)
Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz
parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba
com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo
ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois
passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo
ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas
e continua
Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos
dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar
seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
28
Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter
viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a
necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que
o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas
aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua
Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo
dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles
exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural
poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida
cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas
comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios
primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e
acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social
dentro de sua comunidade
A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz
conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de
idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos
artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de
idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns
momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e
adultos
Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo
entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo
aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo
dessa comunidade
Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante
no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o
sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em
qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes
culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade
5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades
segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do
presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo
29
Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o
trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu
dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta
Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o
entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e
conferem sentido agrave sua existecircnciardquo
Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu
acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana
desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito
antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os
mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e
chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola
Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo
comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem
outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno
quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute
patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo
apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater
o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7
estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo
da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe
atrasa a chegada
Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees
podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo
do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo
sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)
legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento
promovendo a Pedagogia da Alternacircncia
Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se
estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se
tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento
6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo
7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que
navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente
30
alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas
experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de
aprendizagens a partir desse movimento
Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador
do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes
agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma
troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais
Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)
interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os
modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam
desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso
levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida
em comunidade
O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por
exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas
e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de
aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao
ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia
Andrade (1993)
Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades
agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido
os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem
no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a
educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud
ANDRADE 1993)
Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de
experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa
diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da
pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos
pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais
legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes
semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e
elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural
8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore
apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto
das aacutervores
31
Capitulo 4
(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo
A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a
base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um
novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem
na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e
que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar
pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa
histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade
Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que
traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave
permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes
valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos
organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida
As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que
sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os
professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona
pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho
pedagoacutegico
Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola
da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de
educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e
das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)
Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o
grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se
trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees
sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua
particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos
sociais e da cultura como praacutexis
Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de
profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que
eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas
32
dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo
em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias
indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas
lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades
ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de
trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a
educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a
isto que ela se propotildee
E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando
estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas
histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e
se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo
Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as
escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas
recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de
2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam
ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os
alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de
chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no
processo de ensino- aprendizagem
Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo
natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse
em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e
meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam
durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua
trajetoacuteria
O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser
humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as
comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da
histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de
conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos
alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de
forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo
esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes
33
Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos
educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de
descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar
democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica
e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos
ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do
conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como
um criacutetico- dialeacutetico
De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de
apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros
fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e
suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que
passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o
conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico
despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos
O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de
conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do
campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo
praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social
direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora
Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de
ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da
cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de
educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na
cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias
Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do
Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de
mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem
curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)
Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia
profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino
possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo
aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta
(FREIRE 2003)
34
Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam
realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos
livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se
afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)
A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do
conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica
tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu
desmascaramento (FREIRE 2003)
Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de
dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo
precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo
diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do
aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos
negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos
Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro
preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se
antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio
com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na
formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde
emerge esse profissional
Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a
valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de
nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador
existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo
humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo
O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a
desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do
discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-
existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e
poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)
Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na
educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a
comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue
persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar
35
traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia
essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os
educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos
troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que
se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se
preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da
perseveranccedilardquo
O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que
devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates
mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa
cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na
historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em
possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)
Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e
aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o
pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos
seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos
desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser
livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire
(2001)
E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza
(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade
(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes
(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades
accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo
(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute
possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar
social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de
cultura de educaccedilatildeordquo
36
Consideraccedilotildees Finais
A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo
simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no
e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo
Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na
busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos
cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem
desenvolvido em um contexto ribeirinho
Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o
propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as
demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do
Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu
histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar
Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir
articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar
em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas
educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o
professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes
desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que
possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem
A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar
os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja
percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo
educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas
verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto
profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a
educaccedilatildeo do campo
A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos
professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte
no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria
Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores
comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo
conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo
37
encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da
comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo
Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os
processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees
para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo
soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos
curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos
inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do
Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo
acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees
38
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setembro de 2015
Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba
lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-
abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015
Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha
lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-
rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015
Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar
lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb
ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015
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do Estado (SEDUC) atende principalmente o puacuteblico jovem- adulto em busca de
conclusatildeo de Educaccedilatildeo Baacutesica que natildeo deseja sair de sua localidade ou natildeo dispotildee de
recursos financeiros para seguir com seus estudos pois essa ainda eacute a uacutenica estrateacutegia
de cursar o ensino meacutedio
Os professores que fazem parte desse projeto estadual em processo de
rotatividadeprecisam levar em conta a realidade do campo ribeirinho com
carateriacutesticas especifica e particulares construiacutedos dentro de uma determinada cultura
saberes e processos histoacutericos
Trata-se de um projeto que insere professores efetivos ou contratados do Estado
dentre uma combinaccedilatildeo entre a rede municipal e estadual em ceder salas ou espaccedilos
com objetivo de trabalhar com e para os sujeitos do campo para que jovens estude e
permaneccedila em sua comunidade trabalhando e refletindo os princiacutepios da diversidade
identidade e saberes locais debatidos em sala de aula
Trata- se de uma organizaccedilatildeo com objetivos entre municiacutepio e estado em se
levar o ensino meacutedio para localidades do campo seja ele no meio rural ou ribeirinho se
dispondo do sistema regular de ensino pois o pequeno nuacutemero de alunos e a
complexidade geograacutefica de comunidades no extenso territoacuterio paraense dificulta com
que o ensino se regule o Paraacute eacute o segundo maior estado do Brasil e Abaetetuba segundo
o IBGE 2010 uma populaccedilatildeo de 141100 (2010) sendo que 58102 (2010) residem na
zona rural e ribeirinha satildeo mais de setenta ilhas na cidade de Abaetetuba e nelas
movimentamndashse educadores do SOME levando seus conhecimentos para se
compartilhar e absorver os conhecimentos dessas comunidades ribeirinhas
A Escola de Nordf Sordf de Guadalupe funciona em um preacutedio totalmente legalizado
estando incluiacuteda no Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) no valor de R$
600000 reais por ano sendo distribuiacutedos de acordo com as necessidades dos aluno
professores e da proacutepria escola (materiais e reformas) Possui uma estrutura permanente
de concreto coberto com telha lajotado e sua fonte de energia movida a motor
Os que fazem parte do Some varia entre seis a sete professores a cada
moacutedulo e fazem parte do quadro escolar da escola Nordf Sordf de Guadalupe aleacutem deles oito
educadores satildeo efetivos no Ensino Fundamental e residem nas localidades ou proacuteximas
delas satildeo estes que fizeram parte das primeiras construccedilotildees de saberes da escola
informal atraveacutes do aprendizado do multisseriado que se iniciou em suas casas e que
hoje seus filhos e netos tem a oportunidade de ter um espaccedilo confortaacutevel e estruturado
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uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo
voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4
O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de
ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em
formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para
os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e
ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas
diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual
Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de
accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas
famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou
aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha
conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador
associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs
durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de
paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada
regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos
durante esse periacuteodo
Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de
comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo
na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da
quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico
4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da
Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA
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Capitulo 3
Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais
Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco
da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de
Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema
de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em
relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos
possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de
educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo
Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo
as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro
do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como
organizam os conteuacutedos
Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam
meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo
do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do
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campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso
somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta
pesquisa
Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes
localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como
Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros
Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os
coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra
localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)
Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz
parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba
com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo
ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois
passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo
ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas
e continua
Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos
dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar
seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
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Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter
viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a
necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que
o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas
aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua
Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo
dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles
exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural
poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida
cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas
comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios
primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e
acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social
dentro de sua comunidade
A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz
conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de
idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos
artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de
idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns
momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e
adultos
Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo
entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo
aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo
dessa comunidade
Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante
no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o
sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em
qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes
culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade
5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades
segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do
presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo
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Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o
trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu
dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta
Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o
entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e
conferem sentido agrave sua existecircnciardquo
Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu
acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana
desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito
antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os
mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e
chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola
Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo
comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem
outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno
quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute
patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo
apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater
o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7
estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo
da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe
atrasa a chegada
Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees
podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo
do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo
sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)
legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento
promovendo a Pedagogia da Alternacircncia
Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se
estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se
tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento
6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo
7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que
navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente
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alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas
experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de
aprendizagens a partir desse movimento
Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador
do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes
agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma
troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais
Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)
interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os
modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam
desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso
levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida
em comunidade
O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por
exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas
e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de
aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao
ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia
Andrade (1993)
Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades
agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido
os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem
no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a
educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud
ANDRADE 1993)
Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de
experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa
diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da
pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos
pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais
legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes
semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e
elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural
8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore
apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto
das aacutervores
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Capitulo 4
(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo
A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a
base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um
novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem
na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e
que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar
pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa
histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade
Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que
traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave
permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes
valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos
organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida
As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que
sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os
professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona
pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho
pedagoacutegico
Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola
da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de
educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e
das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)
Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o
grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se
trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees
sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua
particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos
sociais e da cultura como praacutexis
Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de
profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que
eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas
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dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo
em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias
indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas
lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades
ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de
trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a
educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a
isto que ela se propotildee
E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando
estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas
histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e
se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo
Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as
escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas
recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de
2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam
ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os
alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de
chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no
processo de ensino- aprendizagem
Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo
natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse
em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e
meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam
durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua
trajetoacuteria
O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser
humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as
comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da
histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de
conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos
alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de
forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo
esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes
33
Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos
educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de
descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar
democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica
e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos
ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do
conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como
um criacutetico- dialeacutetico
De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de
apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros
fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e
suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que
passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o
conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico
despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos
O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de
conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do
campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo
praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social
direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora
Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de
ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da
cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de
educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na
cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias
Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do
Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de
mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem
curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)
Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia
profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino
possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo
aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta
(FREIRE 2003)
34
Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam
realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos
livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se
afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)
A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do
conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica
tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu
desmascaramento (FREIRE 2003)
Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de
dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo
precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo
diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do
aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos
negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos
Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro
preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se
antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio
com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na
formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde
emerge esse profissional
Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a
valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de
nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador
existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo
humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo
O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a
desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do
discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-
existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e
poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)
Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na
educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a
comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue
persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar
35
traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia
essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os
educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos
troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que
se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se
preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da
perseveranccedilardquo
O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que
devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates
mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa
cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na
historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em
possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)
Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e
aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o
pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos
seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos
desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser
livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire
(2001)
E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza
(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade
(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes
(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades
accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo
(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute
possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar
social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de
cultura de educaccedilatildeordquo
36
Consideraccedilotildees Finais
A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo
simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no
e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo
Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na
busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos
cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem
desenvolvido em um contexto ribeirinho
Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o
propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as
demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do
Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu
histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar
Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir
articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar
em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas
educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o
professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes
desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que
possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem
A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar
os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja
percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo
educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas
verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto
profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a
educaccedilatildeo do campo
A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos
professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte
no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria
Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores
comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo
conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo
37
encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da
comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo
Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os
processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees
para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo
soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos
curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos
inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do
Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo
acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees
38
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25
uma melhora na educaccedilatildeo E estes conhecem de perto as necessidades de uma educaccedilatildeo
voltada para o campo valorizando o saber dos ribeirinhos4
O funcionamento do Some implica em organizar definir as metodologias de
ensino de trabalho temas e de projeto para dialogar com as comunidades para em
formas de organizaccedilotildees onde conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais se misture para
os planos de ensino- aprendizagem permitindo (re)conhecer o potencial da regiatildeo e
ainda uma proposta que revele as identidades e subjetividades dos sujeitos e suas
diferentes cultura provocando seu imaginaacuterio sobre a realidade local e atual
Os moradores do Rio Tucumanduba- Meacutedio vivem da agricultura plantio de
accedilaiacute artesanato confecccedilatildeo de ldquopaneirosrdquo da caccedila e do pescado e grande parte dessas
famiacutelias satildeo cadastradas em programas do governo como bolsa famiacutelia ou
aposentadoria Durante o periacuteodo de novembro a fevereiro em que a pesca fecha
conhecido como a Piracema periacuteodo de reproduccedilatildeo dos peixes cada pescador
associado na Colocircnia dos Pescadores recebe uma quantia de um salaacuterio miacutenimo por mecircs
durante a temporada eacute um benefiacutecio do Governo ao pescador durante o periacuteodo de
paralizaccedilatildeo da pesca para a preservaccedilatildeo de espeacutecie que varia de acordo com a cada
regiatildeo conhecido como Seguro Pesca para poder manter sua famiacutelia com alimentos
durante esse periacuteodo
Por tudo isso esses satildeo os pequenos e grandes gestos de abraccedilar a causa e de
comprometimento com o local e principalmente com os povos ribeirinhos se inserindo
na comunidade e vivecirc-la um dos primeiros passos em que o educador do campo da
quando decide compartilhar seu conhecimento acadecircmico
4 Dados retirados do 2deg Trabalho de Campo Marcelle Moreira Ribeiro 2011 Caraterizaccedilatildeo Geral da
Comunidade e Escola da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA
26
Capitulo 3
Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais
Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco
da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de
Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema
de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em
relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos
possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de
educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo
Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo
as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro
do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como
organizam os conteuacutedos
Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam
meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo
do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do
27
campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso
somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta
pesquisa
Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes
localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como
Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros
Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os
coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra
localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)
Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz
parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba
com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo
ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois
passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo
ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas
e continua
Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos
dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar
seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
28
Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter
viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a
necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que
o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas
aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua
Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo
dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles
exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural
poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida
cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas
comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios
primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e
acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social
dentro de sua comunidade
A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz
conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de
idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos
artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de
idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns
momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e
adultos
Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo
entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo
aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo
dessa comunidade
Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante
no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o
sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em
qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes
culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade
5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades
segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do
presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo
29
Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o
trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu
dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta
Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o
entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e
conferem sentido agrave sua existecircnciardquo
Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu
acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana
desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito
antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os
mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e
chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola
Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo
comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem
outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno
quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute
patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo
apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater
o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7
estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo
da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe
atrasa a chegada
Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees
podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo
do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo
sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)
legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento
promovendo a Pedagogia da Alternacircncia
Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se
estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se
tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento
6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo
7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que
navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente
30
alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas
experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de
aprendizagens a partir desse movimento
Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador
do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes
agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma
troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais
Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)
interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os
modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam
desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso
levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida
em comunidade
O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por
exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas
e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de
aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao
ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia
Andrade (1993)
Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades
agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido
os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem
no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a
educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud
ANDRADE 1993)
Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de
experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa
diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da
pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos
pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais
legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes
semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e
elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural
8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore
apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto
das aacutervores
31
Capitulo 4
(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo
A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a
base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um
novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem
na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e
que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar
pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa
histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade
Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que
traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave
permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes
valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos
organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida
As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que
sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os
professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona
pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho
pedagoacutegico
Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola
da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de
educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e
das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)
Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o
grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se
trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees
sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua
particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos
sociais e da cultura como praacutexis
Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de
profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que
eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas
32
dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo
em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias
indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas
lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades
ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de
trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a
educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a
isto que ela se propotildee
E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando
estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas
histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e
se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo
Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as
escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas
recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de
2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam
ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os
alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de
chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no
processo de ensino- aprendizagem
Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo
natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse
em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e
meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam
durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua
trajetoacuteria
O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser
humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as
comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da
histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de
conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos
alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de
forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo
esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes
33
Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos
educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de
descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar
democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica
e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos
ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do
conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como
um criacutetico- dialeacutetico
De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de
apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros
fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e
suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que
passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o
conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico
despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos
O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de
conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do
campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo
praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social
direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora
Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de
ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da
cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de
educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na
cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias
Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do
Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de
mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem
curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)
Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia
profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino
possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo
aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta
(FREIRE 2003)
34
Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam
realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos
livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se
afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)
A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do
conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica
tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu
desmascaramento (FREIRE 2003)
Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de
dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo
precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo
diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do
aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos
negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos
Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro
preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se
antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio
com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na
formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde
emerge esse profissional
Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a
valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de
nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador
existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo
humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo
O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a
desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do
discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-
existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e
poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)
Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na
educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a
comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue
persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar
35
traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia
essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os
educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos
troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que
se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se
preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da
perseveranccedilardquo
O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que
devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates
mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa
cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na
historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em
possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)
Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e
aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o
pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos
seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos
desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser
livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire
(2001)
E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza
(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade
(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes
(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades
accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo
(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute
possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar
social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de
cultura de educaccedilatildeordquo
36
Consideraccedilotildees Finais
A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo
simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no
e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo
Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na
busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos
cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem
desenvolvido em um contexto ribeirinho
Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o
propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as
demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do
Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu
histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar
Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir
articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar
em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas
educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o
professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes
desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que
possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem
A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar
os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja
percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo
educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas
verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto
profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a
educaccedilatildeo do campo
A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos
professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte
no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria
Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores
comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo
conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo
37
encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da
comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo
Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os
processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees
para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo
soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos
curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos
inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do
Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo
acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees
38
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26
Capitulo 3
Entre Conhecimentos cientiacuteficos e Saberes locais
Como dito anteriormente o foco central desta pesquisa eacute analisar um pouco
da praacutetica que professores da rede estadual exercem junto ao corpo discente da escola de
Nossa Senhora de Guadalupe professores estes concursados ou contratados via Sistema
de Organizaccedilatildeo Ensino Modular (SOME) evidenciar se de alguma forma eles fazem em
relaccedilatildeo ao cotidiano do ribeirinho de modo que esses saberes culturais desses sujeitos
possam atuar pedagogicamente junto ao curriacuteculo escolar imposto pela secretaria de
educaccedilatildeo priorizando um modelo eurocecircntrico e urbano para as escolas do campo
Na escola de Nossa Senhora de Guadalupe como ilustra a imagem abaixo
as entrevistas se deram com duas professoras que estavam na comunidade em novembro
do ano passado (2014) elas se dispuseram a falar um pouco sobre suas aulas e como
organizam os conteuacutedos
Imagem 4 Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Alguns professores que atuavam no ensino meacutedio (imagem nordm 05) pareciam
meios desconfiados depois de minha apresentaccedilatildeo como futura professora de educaccedilatildeo
do campo pois entre um e outro momento brincavam dizendo que os educadores do
27
campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso
somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta
pesquisa
Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes
localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como
Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros
Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os
coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra
localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)
Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz
parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba
com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo
ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois
passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo
ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas
e continua
Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos
dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar
seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
28
Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter
viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a
necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que
o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas
aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua
Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo
dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles
exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural
poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida
cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas
comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios
primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e
acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social
dentro de sua comunidade
A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz
conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de
idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos
artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de
idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns
momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e
adultos
Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo
entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo
aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo
dessa comunidade
Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante
no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o
sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em
qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes
culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade
5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades
segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do
presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo
29
Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o
trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu
dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta
Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o
entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e
conferem sentido agrave sua existecircnciardquo
Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu
acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana
desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito
antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os
mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e
chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola
Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo
comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem
outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno
quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute
patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo
apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater
o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7
estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo
da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe
atrasa a chegada
Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees
podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo
do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo
sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)
legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento
promovendo a Pedagogia da Alternacircncia
Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se
estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se
tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento
6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo
7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que
navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente
30
alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas
experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de
aprendizagens a partir desse movimento
Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador
do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes
agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma
troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais
Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)
interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os
modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam
desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso
levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida
em comunidade
O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por
exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas
e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de
aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao
ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia
Andrade (1993)
Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades
agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido
os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem
no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a
educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud
ANDRADE 1993)
Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de
experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa
diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da
pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos
pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais
legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes
semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e
elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural
8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore
apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto
das aacutervores
31
Capitulo 4
(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo
A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a
base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um
novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem
na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e
que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar
pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa
histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade
Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que
traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave
permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes
valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos
organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida
As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que
sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os
professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona
pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho
pedagoacutegico
Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola
da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de
educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e
das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)
Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o
grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se
trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees
sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua
particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos
sociais e da cultura como praacutexis
Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de
profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que
eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas
32
dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo
em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias
indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas
lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades
ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de
trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a
educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a
isto que ela se propotildee
E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando
estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas
histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e
se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo
Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as
escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas
recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de
2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam
ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os
alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de
chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no
processo de ensino- aprendizagem
Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo
natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse
em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e
meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam
durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua
trajetoacuteria
O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser
humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as
comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da
histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de
conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos
alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de
forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo
esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes
33
Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos
educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de
descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar
democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica
e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos
ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do
conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como
um criacutetico- dialeacutetico
De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de
apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros
fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e
suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que
passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o
conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico
despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos
O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de
conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do
campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo
praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social
direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora
Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de
ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da
cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de
educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na
cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias
Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do
Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de
mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem
curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)
Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia
profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino
possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo
aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta
(FREIRE 2003)
34
Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam
realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos
livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se
afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)
A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do
conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica
tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu
desmascaramento (FREIRE 2003)
Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de
dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo
precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo
diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do
aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos
negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos
Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro
preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se
antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio
com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na
formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde
emerge esse profissional
Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a
valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de
nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador
existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo
humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo
O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a
desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do
discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-
existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e
poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)
Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na
educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a
comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue
persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar
35
traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia
essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os
educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos
troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que
se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se
preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da
perseveranccedilardquo
O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que
devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates
mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa
cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na
historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em
possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)
Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e
aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o
pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos
seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos
desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser
livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire
(2001)
E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza
(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade
(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes
(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades
accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo
(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute
possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar
social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de
cultura de educaccedilatildeordquo
36
Consideraccedilotildees Finais
A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo
simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no
e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo
Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na
busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos
cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem
desenvolvido em um contexto ribeirinho
Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o
propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as
demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do
Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu
histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar
Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir
articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar
em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas
educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o
professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes
desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que
possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem
A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar
os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja
percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo
educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas
verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto
profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a
educaccedilatildeo do campo
A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos
professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte
no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria
Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores
comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo
conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo
37
encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da
comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo
Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os
processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees
para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo
soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos
curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos
inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do
Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo
acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees
38
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27
campo estariam chegando para ocupar os lugares deles no Ensino Modular Por isso
somente seraacute mencionada as falas das professoras que se dispuseram a colabora nesta
pesquisa
Imagem 5 Momento de aula na Escola de Nossa Senhora de Guadalupe
Fonte Retirada pela pesquisadora em 2015
Os professores inseridos no Programa do SOME distribuiacutedos em diferentes
localidades ribeirinhas vem de um histoacuterico de licenciatura em aacutereas distintas como
Histoacuteria Geografia Matemaacutetica Letras (liacutengua portuguesa espanhol inglecircs) e outros
Segundo os professores eles ldquose baseiam no curriacuteculo que a escola os
coloca pois tem que fechar o moacutedulo dentro de sessenta dias para poder ir para outra
localidaderdquo (Entrevista cedida em novembro de 2014)
Uma das entrevistadas eacute uma professora de Liacutengua Portuguesa que faz
parte do Sistema Modular eacute ex-moradora da Ilha do Capim e reside hoje em Abaetetuba
com sua famiacutelia (marido e filha) que segundo a mesma como jaacute foi aluna da regiatildeo
ribeirinha ldquosabe como conciliar o saber acadecircmico (cientifico) com o saber localrdquo pois
passou e passa pelas mesmas necessidades que a educaccedilatildeo dessa regiatildeo vem sofrendo
ldquoprecisando de mais poliacuteticas puacuteblicas para essas comunidadesrdquo que ainda satildeo poucas
e continua
Satildeo poucas as famiacutelias que tem condiccedilotildees financeiras para manter os estudos
dos filhos na cidade e ter a sorte de voltar a sua origem para compartilhar
seus ensinamentos mesmo com toda dificuldade que o local apresenta
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
28
Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter
viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a
necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que
o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas
aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua
Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo
dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles
exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural
poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida
cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas
comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios
primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e
acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social
dentro de sua comunidade
A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz
conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de
idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos
artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de
idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns
momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e
adultos
Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo
entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo
aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo
dessa comunidade
Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante
no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o
sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em
qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes
culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade
5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades
segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do
presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo
29
Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o
trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu
dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta
Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o
entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e
conferem sentido agrave sua existecircnciardquo
Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu
acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana
desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito
antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os
mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e
chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola
Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo
comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem
outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno
quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute
patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo
apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater
o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7
estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo
da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe
atrasa a chegada
Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees
podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo
do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo
sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)
legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento
promovendo a Pedagogia da Alternacircncia
Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se
estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se
tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento
6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo
7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que
navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente
30
alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas
experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de
aprendizagens a partir desse movimento
Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador
do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes
agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma
troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais
Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)
interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os
modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam
desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso
levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida
em comunidade
O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por
exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas
e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de
aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao
ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia
Andrade (1993)
Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades
agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido
os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem
no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a
educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud
ANDRADE 1993)
Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de
experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa
diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da
pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos
pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais
legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes
semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e
elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural
8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore
apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto
das aacutervores
31
Capitulo 4
(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo
A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a
base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um
novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem
na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e
que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar
pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa
histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade
Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que
traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave
permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes
valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos
organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida
As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que
sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os
professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona
pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho
pedagoacutegico
Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola
da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de
educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e
das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)
Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o
grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se
trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees
sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua
particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos
sociais e da cultura como praacutexis
Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de
profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que
eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas
32
dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo
em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias
indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas
lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades
ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de
trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a
educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a
isto que ela se propotildee
E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando
estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas
histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e
se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo
Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as
escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas
recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de
2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam
ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os
alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de
chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no
processo de ensino- aprendizagem
Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo
natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse
em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e
meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam
durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua
trajetoacuteria
O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser
humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as
comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da
histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de
conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos
alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de
forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo
esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes
33
Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos
educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de
descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar
democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica
e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos
ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do
conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como
um criacutetico- dialeacutetico
De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de
apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros
fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e
suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que
passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o
conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico
despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos
O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de
conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do
campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo
praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social
direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora
Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de
ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da
cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de
educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na
cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias
Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do
Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de
mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem
curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)
Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia
profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino
possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo
aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta
(FREIRE 2003)
34
Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam
realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos
livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se
afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)
A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do
conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica
tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu
desmascaramento (FREIRE 2003)
Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de
dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo
precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo
diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do
aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos
negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos
Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro
preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se
antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio
com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na
formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde
emerge esse profissional
Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a
valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de
nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador
existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo
humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo
O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a
desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do
discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-
existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e
poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)
Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na
educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a
comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue
persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar
35
traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia
essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os
educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos
troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que
se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se
preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da
perseveranccedilardquo
O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que
devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates
mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa
cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na
historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em
possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)
Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e
aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o
pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos
seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos
desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser
livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire
(2001)
E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza
(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade
(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes
(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades
accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo
(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute
possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar
social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de
cultura de educaccedilatildeordquo
36
Consideraccedilotildees Finais
A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo
simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no
e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo
Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na
busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos
cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem
desenvolvido em um contexto ribeirinho
Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o
propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as
demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do
Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu
histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar
Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir
articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar
em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas
educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o
professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes
desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que
possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem
A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar
os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja
percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo
educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas
verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto
profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a
educaccedilatildeo do campo
A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos
professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte
no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria
Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores
comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo
conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo
37
encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da
comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo
Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os
processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees
para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo
soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos
curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos
inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do
Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo
acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees
38
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28
Outra entrevistada eacute professora da disciplina de Fiacutesica dizendo ela natildeo ter
viacutenculo familiar (parental) com a regiatildeo ribeirinha em que trabalha mas ldquovejo a
necessidade que cada aluno tem em um momento de compartilhar saberes e modos que
o livro didaacutetico traz para a sala de aulardquo Ela se mobiliza tentando de vaacuterias formas
aproximar os conhecimentos do dia a dia desses adolescentes e continua
Sei que nessa idade da adolescecircncia eacute meio complicado apreender a atenccedilatildeo
dos alunos e a uacutenica forma que ela consegue eacute conciliar o trabalhado que eles
exercem no acircmbito familiar trazendo e se misturando com os livros didaacuteticos
(Entrevista cedida em novembro de 2014)
Esses questionamentos serviram de base para traccedilar o caminho cultural
poliacutetico econocircmico dentro da educaccedilatildeo pois a partir deles podemos analisar a vida
cotidiana que envolve a experiecircncia de saberes da realidade subjetiva das pessoas
comuns uma famiacutelia ribeirinha por exemplo composto de pai matildee irmatildeos tios
primos ou parentes que satildeo indiviacuteduos que compartilham dessa mesma definiccedilatildeo e
acabam construindo uma realidade e unindo as subjetividades formando essa accedilatildeo social
dentro de sua comunidade
A construccedilatildeo cotidiana desses alunos em seu meio familiar ainda se faz
conforme o sexogecircnero por exemplo as meninas comeccedilam desde seus sete anos de
idade a ter a responsabilidade de cuidar de seus irmatildeos menores afazeres domeacutesticos
artesanatos e como trabalho externo pescar camaratildeo e os meninos aos seis anos de
idade comeccedilam a acompanhar seus pais na caccedila pesca e ao cultivo do accedilaiacute e em alguns
momentos o trabalho acaba se misturando entre crianccedilas jovens (adolescentes) e
adultos
Esses satildeo os primeiros pontos de referecircncia da divisatildeo de trabalho pelo sexo
entre os indiviacuteduos da comunidade de Nordf Sordfde Guadalupe lugares este onde iratildeo
aprender os conhecimentos repassados de pais para os filhos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo
dessa comunidade
Gilberto Velho (1987)5 discute que a famiacutelia assume um papel importante
no processo de ldquosocializaccedilatildeo de subjetividadesrdquo pois essa distribuiccedilatildeo tambeacutem eacute o
sustento da organizaccedilatildeo social do grupo sendo que essa organizaccedilatildeo eacute identificada em
qualquer acircmbito da sociedade assumindo responsabilidades diferentes em diferentes
culturas e locais para reproduzir a vida em cada sociedade
5 Gilberto Velho eacute um autor que trabalha com questotildees relacionadas com o urbanismo em sociedades
segmentadas mas que servem como modelo para se pensar questotildees entre os ideais de modernidade do
presente em contraste ou natildeo com as concepccedilotildees dos claacutessicos da Sociologia em questatildeo
29
Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o
trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu
dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta
Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o
entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e
conferem sentido agrave sua existecircnciardquo
Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu
acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana
desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito
antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os
mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e
chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola
Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo
comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem
outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno
quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute
patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo
apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater
o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7
estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo
da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe
atrasa a chegada
Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees
podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo
do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo
sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)
legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento
promovendo a Pedagogia da Alternacircncia
Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se
estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se
tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento
6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo
7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que
navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente
30
alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas
experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de
aprendizagens a partir desse movimento
Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador
do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes
agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma
troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais
Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)
interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os
modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam
desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso
levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida
em comunidade
O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por
exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas
e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de
aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao
ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia
Andrade (1993)
Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades
agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido
os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem
no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a
educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud
ANDRADE 1993)
Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de
experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa
diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da
pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos
pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais
legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes
semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e
elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural
8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore
apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto
das aacutervores
31
Capitulo 4
(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo
A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a
base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um
novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem
na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e
que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar
pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa
histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade
Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que
traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave
permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes
valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos
organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida
As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que
sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os
professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona
pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho
pedagoacutegico
Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola
da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de
educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e
das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)
Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o
grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se
trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees
sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua
particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos
sociais e da cultura como praacutexis
Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de
profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que
eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas
32
dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo
em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias
indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas
lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades
ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de
trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a
educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a
isto que ela se propotildee
E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando
estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas
histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e
se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo
Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as
escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas
recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de
2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam
ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os
alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de
chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no
processo de ensino- aprendizagem
Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo
natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse
em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e
meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam
durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua
trajetoacuteria
O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser
humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as
comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da
histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de
conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos
alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de
forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo
esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes
33
Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos
educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de
descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar
democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica
e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos
ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do
conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como
um criacutetico- dialeacutetico
De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de
apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros
fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e
suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que
passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o
conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico
despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos
O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de
conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do
campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo
praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social
direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora
Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de
ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da
cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de
educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na
cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias
Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do
Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de
mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem
curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)
Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia
profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino
possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo
aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta
(FREIRE 2003)
34
Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam
realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos
livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se
afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)
A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do
conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica
tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu
desmascaramento (FREIRE 2003)
Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de
dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo
precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo
diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do
aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos
negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos
Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro
preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se
antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio
com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na
formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde
emerge esse profissional
Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a
valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de
nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador
existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo
humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo
O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a
desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do
discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-
existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e
poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)
Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na
educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a
comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue
persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar
35
traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia
essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os
educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos
troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que
se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se
preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da
perseveranccedilardquo
O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que
devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates
mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa
cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na
historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em
possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)
Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e
aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o
pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos
seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos
desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser
livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire
(2001)
E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza
(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade
(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes
(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades
accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo
(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute
possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar
social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de
cultura de educaccedilatildeordquo
36
Consideraccedilotildees Finais
A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo
simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no
e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo
Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na
busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos
cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem
desenvolvido em um contexto ribeirinho
Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o
propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as
demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do
Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu
histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar
Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir
articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar
em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas
educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o
professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes
desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que
possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem
A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar
os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja
percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo
educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas
verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto
profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a
educaccedilatildeo do campo
A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos
professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte
no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria
Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores
comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo
conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo
37
encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da
comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo
Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os
processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees
para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo
soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos
curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos
inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do
Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo
acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees
38
Referecircncias
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Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014
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do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011
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Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase
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Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010
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Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
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29
Esses autores nos ajudam a compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre o
trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula o que eles fazem ou pensam no seu
dia a dia reflete na expectativa que eles mesmos constroem de si mesmos como ressalta
Berger amp Lukmann (1988) ldquoO conhecimento da vida diaacuteria corresponde o
entendimento de como as pessoas interpretam a realidade em que estatildeo inseridas e
conferem sentido agrave sua existecircnciardquo
Sobre esse tipo de trabalho em que os alunos exercem desde cedo em seu
acircmbito familiar os professores sabem ou deveriam saber como eacute a vida cotidiana
desses alunos antes de irem para a escola pois existe todo um processo cultural muito
antes desses alunos chegarem agrave sala de aula acordando de madrugada junto com os
mais velhos da casa realizando seus afazeres seja ele domeacutestico ou no mato roccedilando e
chegando no horaacuterio ou atrasado para se arrumarem e seguir para a escola
Existe um ou outro aluno que ultrapassa o horaacuterio de entrada sendo logo
comunicado ao responsaacutevel comparecer na escola Os atrasos quando natildeo possuem
outro motivo geralmente satildeo pelos ldquoafazeresrdquo de casa como disse a matildee de um aluno
quando vai levar o pai e os amigos no accedilaizal6 tem que voltar ateacute em casa pegar cafeacute
patildeo farinha comida pois passaratildeo o dia e tarde plantando caccedilando e ou fazendo
apanhando accedilaiacute no accedilaizal e ao mesmo tempo o menino jaacute leva o accedilaiacute para a matildee bater
o fruto na maacutequina proacutepria para o consumo da famiacutelia Enquanto isso o ldquorabeteirordquo7
estaacute passando no rio pegando os alunos e levaacute-los ateacute a escola depois de pronto jaacute natildeo
da mais tempo de pegaacute-lo entatildeo precisa ir a remo ou a motor para escola o que lhe
atrasa a chegada
Pois esses saberes culturais que o sujeito ribeirinho traz em suas accedilotildees
podem servir de interrogaccedilotildees a Professores que atuam nessas aacutereas como a construccedilatildeo
do cotidiano e os trabalhados que eles exercem antes de iniciar suas aulas conhecendo
sua histoacuterias seus saberes e fazeres domeacutesticos (meninas) e pescaria floresta (meninos)
legitimar esses saberes como mediaccedilatildeo e usaacute-las nas diversas aacutereas de conhecimento
promovendo a Pedagogia da Alternacircncia
Como ressalta Jean Claude (2007) este sujeito do campo ao tornar- se
estudante na proposta metodoloacutegica da pedagogia da Alternacircncia caracteriza- se
tambeacutem como sujeito alternante Ou seja pertencente e envolvido no movimento
6 ldquoAccedilaizalrdquo Local onde se planta o accedilaiacute para cultivo e posterior venda e consumo
7 ldquoRabeteirordquo Individuo que pilota o barco neste caso a ldquorabetardquo que eacute uma embarcaccedilatildeo pequena que
navega mais raacutepido que outros barcos pois eacute menor e seu motor mais potente
30
alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas
experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de
aprendizagens a partir desse movimento
Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador
do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes
agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma
troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais
Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)
interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os
modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam
desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso
levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida
em comunidade
O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por
exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas
e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de
aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao
ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia
Andrade (1993)
Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades
agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido
os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem
no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a
educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud
ANDRADE 1993)
Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de
experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa
diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da
pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos
pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais
legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes
semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e
elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural
8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore
apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto
das aacutervores
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Capitulo 4
(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo
A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a
base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um
novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem
na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e
que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar
pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa
histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade
Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que
traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave
permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes
valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos
organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida
As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que
sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os
professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona
pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho
pedagoacutegico
Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola
da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de
educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e
das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)
Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o
grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se
trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees
sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua
particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos
sociais e da cultura como praacutexis
Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de
profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que
eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas
32
dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo
em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias
indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas
lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades
ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de
trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a
educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a
isto que ela se propotildee
E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando
estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas
histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e
se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo
Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as
escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas
recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de
2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam
ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os
alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de
chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no
processo de ensino- aprendizagem
Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo
natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse
em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e
meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam
durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua
trajetoacuteria
O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser
humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as
comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da
histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de
conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos
alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de
forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo
esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes
33
Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos
educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de
descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar
democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica
e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos
ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do
conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como
um criacutetico- dialeacutetico
De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de
apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros
fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e
suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que
passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o
conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico
despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos
O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de
conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do
campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo
praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social
direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora
Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de
ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da
cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de
educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na
cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias
Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do
Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de
mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem
curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)
Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia
profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino
possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo
aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta
(FREIRE 2003)
34
Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam
realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos
livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se
afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)
A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do
conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica
tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu
desmascaramento (FREIRE 2003)
Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de
dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo
precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo
diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do
aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos
negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos
Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro
preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se
antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio
com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na
formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde
emerge esse profissional
Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a
valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de
nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador
existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo
humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo
O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a
desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do
discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-
existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e
poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)
Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na
educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a
comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue
persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar
35
traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia
essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os
educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos
troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que
se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se
preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da
perseveranccedilardquo
O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que
devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates
mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa
cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na
historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em
possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)
Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e
aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o
pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos
seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos
desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser
livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire
(2001)
E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza
(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade
(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes
(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades
accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo
(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute
possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar
social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de
cultura de educaccedilatildeordquo
36
Consideraccedilotildees Finais
A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo
simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no
e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo
Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na
busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos
cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem
desenvolvido em um contexto ribeirinho
Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o
propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as
demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do
Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu
histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar
Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir
articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar
em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas
educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o
professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes
desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que
possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem
A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar
os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja
percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo
educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas
verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto
profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a
educaccedilatildeo do campo
A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos
professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte
no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria
Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores
comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo
conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo
37
encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da
comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo
Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os
processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees
para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo
soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos
curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos
inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do
Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo
acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees
38
Referecircncias
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Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014
RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da
comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02
f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias
Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal
do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011
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Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase
em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010
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Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar
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Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar
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30
alternado da Pedagogia da Alternacircncia caracteriza-se como sujeito que nas
experiecircncias nas complexidades das relaccedilotildees e situaccedilotildees amplia as possibilidades de
aprendizagens a partir desse movimento
Assim esse movimento de Pedagogia da Alternacircncia aproxima o educador
do educando ganhando confianccedila dando liberdade ao conhecimento local e sejam estes
agregador das experiecircncias culturais das comunidades do campo corroborando uma
troca interativa entre conhecimento cientifico junto aos saberes locais
Desse modo muitos professores reclamam mas natildeo podem (e natildeo devem)
interferir no acircmbito estrutural de organizaccedilatildeo da famiacutelia ribeirinha pois esses satildeo os
modos e costumes que essa comunidade se expressa modos esses que aprenderam
desde cedo com seus pais tios e avoacutes sobre os quais se estruturam suas relaccedilotildees Isso
levando em consideraccedilatildeo tambeacutem o meio natural (rios e matas) que organizam a vida
em comunidade
O modo que os saberes locais como a construccedilatildeo e uso da ldquopeconhardquo 8 por
exemplo usado pelos ribeirinhos ateacute a venda do accedilaiacute na cidade podem ajudar crianccedilas
e adolescentes a se interdisciplinarizar nos conteuacutedos escolares sendo estes formas de
aprendizagem do seu local para o mundo Dessa forma daacute apoio e seguranccedila ao
ribeirinho para se emanciparem-se onde quer que estejam pois como diz Marcia
Andrade (1993)
Esta questatildeo natildeo estaacute vinculada tatildeo somente agrave preparaccedilatildeo para as atividades
agraacuterias mas passa tambeacutem pela valorizaccedilatildeo do trabalho rural Neste sentido
os trabalhadores demonstram claramente o desejo da permanecircncia do jovem
no campo exercendo ateacute profissotildees de alto niacutevel de especializaccedilatildeo e a
educaccedilatildeo como meio de instrumentalizaacute-lo (Maria do Socorro 2010 apud
ANDRADE 1993)
Essa concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo refere- se agrave multiplicidade de
experiecircncias educativas desenvolvidas em diferentes espaccedilos e sujeitos e essa
diversidade de sujeitos espalhados pelo Brasil seja ela nos espaccedilos da floresta da
pecuaacuteria do cultivo dos trabalhadores rurais sem terra camponeses da agricultura dos
pescadores seja eles indiacutegenas ribeirinhos quilombolas movimentos sociais
legitimados ou em processos estando esses em diferentes regiotildees mas com raiacutezes
semelhantes Reivindicando seus direitos civis coletivos por poliacuteticas educacionais e
elaboraccedilatildeo de diversas praacuteticas educativas em suas diferentes esferas cultural
8 ldquoPeconhardquo Eacute um laccedilo de corda ou de pedaccedilo de saco de fibra de embira em que os trepadores de aacutervore
apoiam os peacutes de encontro ao caule para subirem com a forccedila de suas pernas e braccedilos ateacute ao accedilaiacute no alto
das aacutervores
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Capitulo 4
(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo
A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a
base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um
novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem
na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e
que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar
pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa
histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade
Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que
traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave
permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes
valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos
organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida
As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que
sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os
professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona
pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho
pedagoacutegico
Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola
da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de
educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e
das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)
Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o
grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se
trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees
sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua
particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos
sociais e da cultura como praacutexis
Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de
profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que
eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas
32
dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo
em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias
indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas
lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades
ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de
trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a
educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a
isto que ela se propotildee
E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando
estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas
histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e
se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo
Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as
escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas
recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de
2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam
ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os
alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de
chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no
processo de ensino- aprendizagem
Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo
natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse
em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e
meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam
durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua
trajetoacuteria
O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser
humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as
comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da
histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de
conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos
alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de
forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo
esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes
33
Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos
educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de
descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar
democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica
e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos
ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do
conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como
um criacutetico- dialeacutetico
De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de
apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros
fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e
suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que
passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o
conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico
despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos
O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de
conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do
campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo
praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social
direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora
Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de
ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da
cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de
educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na
cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias
Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do
Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de
mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem
curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)
Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia
profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino
possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo
aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta
(FREIRE 2003)
34
Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam
realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos
livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se
afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)
A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do
conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica
tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu
desmascaramento (FREIRE 2003)
Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de
dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo
precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo
diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do
aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos
negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos
Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro
preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se
antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio
com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na
formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde
emerge esse profissional
Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a
valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de
nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador
existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo
humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo
O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a
desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do
discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-
existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e
poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)
Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na
educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a
comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue
persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar
35
traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia
essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os
educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos
troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que
se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se
preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da
perseveranccedilardquo
O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que
devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates
mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa
cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na
historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em
possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)
Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e
aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o
pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos
seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos
desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser
livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire
(2001)
E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza
(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade
(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes
(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades
accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo
(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute
possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar
social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de
cultura de educaccedilatildeordquo
36
Consideraccedilotildees Finais
A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo
simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no
e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo
Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na
busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos
cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem
desenvolvido em um contexto ribeirinho
Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o
propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as
demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do
Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu
histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar
Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir
articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar
em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas
educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o
professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes
desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que
possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem
A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar
os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja
percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo
educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas
verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto
profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a
educaccedilatildeo do campo
A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos
professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte
no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria
Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores
comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo
conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo
37
encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da
comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo
Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os
processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees
para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo
soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos
curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos
inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do
Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo
acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees
38
Referecircncias
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39
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Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013
RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa
Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio
(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da
turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e
Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014
RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da
comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02
f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias
Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal
do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011
RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio
Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase
em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010
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sociais e a escola do campo In Cidadania organizaccedilatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas
Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
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40
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etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015
Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar
lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015
Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar
lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a
setembro de 2015
Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba
lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-
abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015
Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha
lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-
rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015
Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar
lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb
ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015
31
Capitulo 4
(Re) pensando as praacuteticas de ensino em Educaccedilatildeo do Campo
A valorizaccedilatildeo do saber local dos sujeitos do campo ribeirinho e outros eacute a
base principal que a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo traz em sua trajetoacuteria um
novo paradigma que professores das Universidades Nacionais e Internacionais seguem
na defesa da educaccedilatildeo para tentar mostrar o caminho das realidades que eles acreditam e
que possa mudar o mundo e a emancipaccedilatildeo humana e tendo sua liberdade para lutar
pelos seus direitos dando o poder do conhecimento do mundo real por meio da nossa
histoacuteria enquanto constituidora de nossa organizaccedilatildeo social no campo e na cidade
Dentre esses contextos de Educaccedilatildeo do Campo surgem vaacuterios aspectos que
traduzem quanto agrave educaccedilatildeo formal a reivindicaccedilatildeo dos movimentos sociais quanto agrave
permanecircncia das escolas no campo e demandas quanto aos conteuacutedos e que estes
valorizem a cultura dos povos do campo e que faccedilam ampliar os conhecimentos
organizados cotidianamente pela populaccedilatildeo em sua experiecircncia de vida
As lutas seguem em prol da oferta de uma educaccedilatildeo de qualidade para que
sejam desenvolvidas nas localidades principalmente as mais distantes sem que os
professores passem por esse processo de rotatividade e a educaccedilatildeo do campo seleciona
pessoas dessas localidades que possibilite sua formaccedilatildeo e inserccedilatildeo no trabalho
pedagoacutegico
Roseli Caldart diz que educaccedilatildeo do campo natildeo se reduz ao debate da escola
da educaccedilatildeo formal ou das propostas pedagoacutegicas mas sim ldquoa materialidade de
educaccedilatildeo do Campo estaacute nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produccedilatildeo e
das lutas sociais do campordquo Caldart (2008)
Continua a autora para uma questatildeo de fundo epistemoloacutegico em que o
grande desafio da educaccedilatildeo do campo e educadores junto aos educandos eacute quando se
trata que a construccedilatildeo do conhecimento eacute o da valorizaccedilatildeo das relaccedilotildees e contradiccedilotildees
sociais em que fazem emergir a Educaccedilatildeo do Campo em sua relaccedilatildeo com sua
particularidade (repleta de contradiccedilotildees) de praacutetica social da histoacuteria dos sujeitos
sociais e da cultura como praacutexis
Dessa forma eacute que a Educaccedilatildeo do Campo reafirma a necessidade de
profissionais que possam trabalhar com profundidade nos curriacuteculos escolares para que
eles conheccedilam as especificidades das culturas locais nos quais iratildeo lecionar sejam elas
32
dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo
em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias
indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas
lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades
ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de
trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a
educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a
isto que ela se propotildee
E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando
estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas
histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e
se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo
Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as
escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas
recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de
2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam
ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os
alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de
chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no
processo de ensino- aprendizagem
Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo
natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse
em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e
meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam
durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua
trajetoacuteria
O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser
humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as
comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da
histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de
conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos
alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de
forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo
esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes
33
Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos
educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de
descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar
democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica
e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos
ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do
conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como
um criacutetico- dialeacutetico
De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de
apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros
fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e
suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que
passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o
conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico
despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos
O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de
conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do
campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo
praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social
direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora
Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de
ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da
cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de
educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na
cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias
Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do
Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de
mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem
curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)
Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia
profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino
possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo
aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta
(FREIRE 2003)
34
Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam
realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos
livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se
afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)
A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do
conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica
tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu
desmascaramento (FREIRE 2003)
Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de
dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo
precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo
diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do
aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos
negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos
Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro
preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se
antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio
com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na
formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde
emerge esse profissional
Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a
valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de
nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador
existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo
humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo
O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a
desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do
discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-
existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e
poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)
Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na
educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a
comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue
persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar
35
traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia
essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os
educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos
troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que
se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se
preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da
perseveranccedilardquo
O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que
devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates
mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa
cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na
historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em
possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)
Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e
aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o
pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos
seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos
desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser
livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire
(2001)
E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza
(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade
(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes
(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades
accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo
(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute
possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar
social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de
cultura de educaccedilatildeordquo
36
Consideraccedilotildees Finais
A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo
simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no
e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo
Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na
busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos
cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem
desenvolvido em um contexto ribeirinho
Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o
propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as
demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do
Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu
histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar
Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir
articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar
em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas
educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o
professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes
desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que
possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem
A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar
os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja
percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo
educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas
verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto
profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a
educaccedilatildeo do campo
A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos
professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte
no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria
Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores
comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo
conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo
37
encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da
comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo
Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os
processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees
para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo
soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos
curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos
inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do
Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo
acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees
38
Referecircncias
ANDRADE Maacutercia Regina de Oliveira O destino incerto da educaccedilatildeo entre os
assentados rurais do Estado de Satildeo Paulo In SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e
movimento sociais do campo a produccedilatildeo do conhecimento no periacuteodo de 1987 a
2007 Curitiba Ed UFPR 2010
BERGER Peter amp LUKMANN Thomas A Construccedilatildeo Social da Realidade
Petroacutepolis Vozes 1988
BOURDIEU Pierre Escritos de Educaccedilatildeo 10 ed Petroacutepolis-Rio de Janeiro Editoras
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Pedagogia da Alternancia e seus desafios para assegurar a formaccedilatildeo humana dos
sujeitos e a sustentabilidade do campo Em aberto Brasiacutelia v24 n85 p 115-125
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FERNANDES Bernardo Manccedilano [et al] Educaccedilatildeo do campo campo-politicas
puacuteblicas e educaccedilatildeo Clarice Aparecida dos Santos (Org) Brasiacutelia Incra MDA 2008
FREIRE Paulo Pedagogia da Esperanccedila 10deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2003
FREIRE Paulo Pedagogia do Oprimido 50deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2001
GONSALVES Naacutedia G amp GONSALVES Sandro A Pierre Bourdieu educaccedilatildeo para
aleacutem da reproduccedilatildeo Petroacutepolis Rio de Janeiro Vozes 2010
GIMONET Jean Claude Praticar e compreender a Pedagogia da Alternacircncia dos
CEFFAS Petroacutepolis Rio de JaneiroVozes 2007
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de 20 de dezembro de 1996
LOUREIRO Joatildeo de Jesus Paes Cultura Amazocircnica uma poeacutetica do imaginaacuterio
Beleacutem Cejup 1994
MOLINA Castagna Monica (Org) Educaccedilatildeo do Campo e Pesquisa II questotildees para
reflexotildees Brasiacutelia MDA MEC 2010
MACHADOLuciliaRdeSPoliteacutecnicaescola unitaacuteria e trabalhoSatildeo Paulo Cortez
Autores Associados1991
39
PINHEIRO Maria Isabel Moura A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo no cenaacuterio das
politicas publica da sociedade brasileira Consultar lthttpbrmonografiascom
trablhos 915educacao-campo-politicaseducacao-campo-politicasshtmlgt Site visitado
em abril de 2015
RIBEIRO Marcelle Moreira As concepccedilotildees de ldquotrabalhordquo para alunos da escola
Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2013 08 f Relatoacuterio
(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da
turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e
Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013
RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa
Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio
(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da
turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e
Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014
RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da
comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02
f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias
Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal
do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011
RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio
Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase
em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010
SILVA Maria do Socorro Da Raiz a Flor produccedilatildeo pedagoacutegica dos movimentos
sociais e a escola do campo In Cidadania organizaccedilatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas
Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008
SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso
saber Educaccedilatildeo de jovens e adultos Recife Bagaccedilo 2000
SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e movimento sociais do campo a produccedilatildeo do
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VELHO Gilberto Famiacutelia e Subjetividade In ALMEIDA A Mde CARNEIRO MJ
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Editora da UFRJ 1987
40
Outras referecircncias
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Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar
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Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar
lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015
Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar
lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a
setembro de 2015
Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba
lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-
abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015
Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha
lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-
rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015
Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar
lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb
ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015
32
dependendo de cada local como exemplo na cidade com crianccedilas e jovens que estatildeo
em constantes mudanccedilas em comunidades quilombolas com povos eacutetnicos aldeias
indiacutegenas nos seu ritos tradiccedilotildees e ou assentamentos onde eacute preciso reconhecer suas
lutas longas caminhadas intermediaccedilotildees miacutesticas perdas e vitoacuterias e as comunidades
ribeirinhas conhecendo desde a agricultura do accedilaiacute ateacute a organizaccedilatildeo social local de
trabalho trazendo esses saberes locais para sala de aula tornando-se mais coerente a
educaccedilatildeo do campo e seus objetivos de planejamento nos espaccedilos do campo jaacute que eacute a
isto que ela se propotildee
E esses processos de produccedilatildeo circulaccedilatildeo e de consumo que quando
estudados pelo educador do campo auxiliam na compreensatildeo dos alunos sobre suas
histoacuterias lutas o modo de (re) existecircncia de cada grupo para se reconhecer se afirmar e
se identificar pelas a suas especificidades dependendo do local em que estes estatildeo
Na regiatildeo ribeirinha por exemplo os recursos e financiamentos que as
escolas recebem satildeo muitos poucos comparada ao nuacutemero de alunos em que elas
recebem no total de cento e oitenta (180) alunos ao ano( dados retirados do TC de
2011) a regiatildeo natildeo tem energia eleacutetrica disponiacutevel pois equipamentos que poderiam
ajudar em localizaccedilotildees em imagens ou pesquisas natildeo estatildeo como prioridades para os
alunos que trabalham e vivem em regiotildees onde a acessibilidade geograacutefica impede de
chegar esses meios de se explorar o mundo que poderiam servir como auxilio no
processo de ensino- aprendizagem
Nesse sentido os conteuacutedos colocados pela escola ao educador do campo
natildeo se restringem ao que o livro didaacutetico lhes coloca pronto e acabado momento esse
em que o educador do campo junto aos conteuacutedos curriculares debates discussotildees e
meacutetodos de melhor compreensatildeo estuados por eles nas universidades se mesclam
durante a troca de conhecimentos utilizada nas habilidades em que cada ser traz em sua
trajetoacuteria
O modo de ensinar natildeo estaacute escrito em livros mas sim nas relaccedilotildees do ser
humano com o outro com a natureza e com o mundo no perceber de como as
comunidades ribeirinhas se organizam pois ensinar eacute preciso saber escutar saber da
histoacuteria que cada um tem a compartilhar para que desperte um momento de
conhecimento entre o educador e educando e assim provoque reaccedilotildees que estimule nos
alunos o desejo de perguntar debater de se posicionar para que eles possam dialogar de
forma em que os assuntos fluam facilmente de acordo com as discursotildees em questatildeo
esclarecendo duacutevidas surgidas de ambas as partes
33
Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos
educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de
descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar
democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica
e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos
ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do
conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como
um criacutetico- dialeacutetico
De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de
apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros
fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e
suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que
passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o
conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico
despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos
O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de
conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do
campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo
praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social
direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora
Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de
ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da
cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de
educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na
cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias
Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do
Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de
mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem
curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)
Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia
profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino
possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo
aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta
(FREIRE 2003)
34
Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam
realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos
livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se
afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)
A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do
conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica
tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu
desmascaramento (FREIRE 2003)
Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de
dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo
precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo
diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do
aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos
negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos
Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro
preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se
antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio
com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na
formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde
emerge esse profissional
Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a
valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de
nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador
existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo
humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo
O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a
desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do
discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-
existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e
poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)
Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na
educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a
comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue
persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar
35
traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia
essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os
educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos
troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que
se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se
preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da
perseveranccedilardquo
O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que
devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates
mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa
cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na
historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em
possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)
Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e
aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o
pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos
seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos
desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser
livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire
(2001)
E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza
(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade
(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes
(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades
accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo
(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute
possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar
social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de
cultura de educaccedilatildeordquo
36
Consideraccedilotildees Finais
A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo
simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no
e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo
Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na
busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos
cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem
desenvolvido em um contexto ribeirinho
Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o
propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as
demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do
Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu
histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar
Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir
articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar
em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas
educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o
professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes
desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que
possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem
A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar
os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja
percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo
educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas
verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto
profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a
educaccedilatildeo do campo
A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos
professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte
no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria
Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores
comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo
conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo
37
encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da
comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo
Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os
processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees
para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo
soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos
curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos
inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do
Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo
acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees
38
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FREIRE Paulo Pedagogia da Esperanccedila 10deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2003
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GONSALVES Naacutedia G amp GONSALVES Sandro A Pierre Bourdieu educaccedilatildeo para
aleacutem da reproduccedilatildeo Petroacutepolis Rio de Janeiro Vozes 2010
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CEFFAS Petroacutepolis Rio de JaneiroVozes 2007
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de 20 de dezembro de 1996
LOUREIRO Joatildeo de Jesus Paes Cultura Amazocircnica uma poeacutetica do imaginaacuterio
Beleacutem Cejup 1994
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Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2013 08 f Relatoacuterio
(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da
turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e
Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013
RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa
Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio
(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da
turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e
Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014
RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da
comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02
f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias
Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal
do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011
RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio
Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase
em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010
SILVA Maria do Socorro Da Raiz a Flor produccedilatildeo pedagoacutegica dos movimentos
sociais e a escola do campo In Cidadania organizaccedilatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas
Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008
SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso
saber Educaccedilatildeo de jovens e adultos Recife Bagaccedilo 2000
SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e movimento sociais do campo a produccedilatildeo do
conhecimento no periacuteodo de 1987 a 2007 Curitiba Ed UFPR 2010
VELHO Gilberto Famiacutelia e Subjetividade In ALMEIDA A Mde CARNEIRO MJ
PAULA SG (Org) Pensando a Famiacutelia no Brasil Rio de Janeiro Espaccedilos e Tempo
Editora da UFRJ 1987
40
Outras referecircncias
Sobre normas teacutecnicas da ABNT (citaccedilotildees e referecircncias bibliograacuteficas) consultar
lthttpwwwleffaprobrtextosabnthtmgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015
Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150010ampsearch=para|abaet
etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015
Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar
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Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar
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setembro de 2015
Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba
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abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015
Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha
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rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015
Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar
lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb
ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015
33
Durante os trabalhos de Campo no TC nas observaccedilotildees a interaccedilatildeo dos
educadores do Some com alunos na accedilatildeo pedagoacutegica revelou- se em momentos de
descontextualizaccedilatildeo agrave realidade dos alunos pois a escola deveria ser um lugar
democraacutetico pois se revela nesses momentos uma estrutura de organizaccedilatildeo hieraacuterquica
e uma direccedilatildeo curricular que pode influenciar em condutas e relaccedilotildees sociais dos
ribeirinhos Com base nas observaccedilotildees nos interesses que orientam a produccedilatildeo do
conhecimento do educador podemos comparaacute-los o conhecimento cientiacutefico dele como
um criacutetico- dialeacutetico
De acordo com Machado (1991) o enfoque criacutetico- dialeacutetico trata de
apreender o homem em seu trajeto histoacuterico e em suas inter- relaccedilotildees com outros
fenocircmenosldquo Busca compreender os processos de transformaccedilatildeo suas contradiccedilotildees e
suas potencialidadesrdquo Para este enfoque todo ser humano a partir do momento em que
passa a se (re)conhecer e conhecer o mundo no qual vive passa a se transformar e o
conhecimento passa a ter sentido quando as alienaccedilotildees se revelam e seu senso criacutetico
despertando os campos sociais econocircmicos e poliacuteticos
O campo eacute um lugar de educaccedilatildeo e de vida com reconstruccedilatildeo de
conhecimentos e seu curriacuteculo ribeirinho poderia ser construiacutedos juntos aos sujeitos do
campo considerar o modo de vivecircncia dos ribeirinhos e como seus ldquoafazeresrdquo satildeo
praticados em seu processo de formaccedilatildeo produzindo conhecimento com a funccedilatildeo social
direcionada a transformaccedilatildeo de sociedade emancipadora
Na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe tem-se uma educaccedilatildeo de
ensino modular onde os professores tem uma grande rotatividade entre as ilhas da
cidade de Abaetetuba e os alunos por sua vez tem que adaptar- se a esse modo de
educaccedilatildeo baacutesica ofertada pelo Estado ou caso tenham condiccedilotildees financeiras estudam na
cidade de Abaetetuba em um movimento de ida e vinda todos os dias
Nas escolas da regiatildeo ribeirinha em especial na escola de Nordf Sordf do
Guadalupe os alunos que estatildeo em processo de (re)conhecimento e curiosidades de
mundo sobre o (des)conhecido pois o que eacute desconhecido eacute interessante sendo tambeacutem
curioso como exemplifica Paulo Freire (2003)
Ensinar eacute uma especificidade humana exige seguranccedila competecircncia
profissional e generosidade dessa forma com poucas ferramentas de ensino
possa deixar uma experiecircncia em cada aluno pois essa experiecircncia eacute tudo
aquilo que nos toca que marca e que lembramos quando algueacutem a comenta
(FREIRE 2003)
34
Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam
realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos
livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se
afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)
A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do
conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica
tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu
desmascaramento (FREIRE 2003)
Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de
dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo
precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo
diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do
aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos
negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos
Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro
preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se
antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio
com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na
formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde
emerge esse profissional
Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a
valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de
nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador
existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo
humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo
O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a
desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do
discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-
existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e
poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)
Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na
educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a
comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue
persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar
35
traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia
essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os
educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos
troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que
se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se
preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da
perseveranccedilardquo
O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que
devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates
mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa
cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na
historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em
possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)
Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e
aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o
pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos
seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos
desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser
livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire
(2001)
E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza
(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade
(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes
(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades
accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo
(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute
possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar
social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de
cultura de educaccedilatildeordquo
36
Consideraccedilotildees Finais
A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo
simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no
e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo
Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na
busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos
cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem
desenvolvido em um contexto ribeirinho
Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o
propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as
demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do
Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu
histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar
Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir
articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar
em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas
educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o
professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes
desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que
possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem
A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar
os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja
percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo
educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas
verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto
profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a
educaccedilatildeo do campo
A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos
professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte
no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria
Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores
comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo
conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo
37
encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da
comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo
Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os
processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees
para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo
soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos
curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos
inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do
Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo
acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees
38
Referecircncias
ANDRADE Maacutercia Regina de Oliveira O destino incerto da educaccedilatildeo entre os
assentados rurais do Estado de Satildeo Paulo In SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e
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BERGER Peter amp LUKMANN Thomas A Construccedilatildeo Social da Realidade
Petroacutepolis Vozes 1988
BOURDIEU Pierre Escritos de Educaccedilatildeo 10 ed Petroacutepolis-Rio de Janeiro Editoras
Vozes 2008
CALDART Roseli Salete Educaccedilatildeo do campo notas de uma anaacutelise do percurso
Trab Educ Sauacutede Rio de Janeiro v 7 n 1 p 35-64 marjun 2009
CORDEIRO Georgina NK REIS Neila da Silva HAGE Salomatildeo Mufarrej
Pedagogia da Alternancia e seus desafios para assegurar a formaccedilatildeo humana dos
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FERNANDES Bernardo Manccedilano [et al] Educaccedilatildeo do campo campo-politicas
puacuteblicas e educaccedilatildeo Clarice Aparecida dos Santos (Org) Brasiacutelia Incra MDA 2008
FREIRE Paulo Pedagogia da Esperanccedila 10deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2003
FREIRE Paulo Pedagogia do Oprimido 50deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2001
GONSALVES Naacutedia G amp GONSALVES Sandro A Pierre Bourdieu educaccedilatildeo para
aleacutem da reproduccedilatildeo Petroacutepolis Rio de Janeiro Vozes 2010
GIMONET Jean Claude Praticar e compreender a Pedagogia da Alternacircncia dos
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LOUREIRO Joatildeo de Jesus Paes Cultura Amazocircnica uma poeacutetica do imaginaacuterio
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reflexotildees Brasiacutelia MDA MEC 2010
MACHADOLuciliaRdeSPoliteacutecnicaescola unitaacuteria e trabalhoSatildeo Paulo Cortez
Autores Associados1991
39
PINHEIRO Maria Isabel Moura A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo no cenaacuterio das
politicas publica da sociedade brasileira Consultar lthttpbrmonografiascom
trablhos 915educacao-campo-politicaseducacao-campo-politicasshtmlgt Site visitado
em abril de 2015
RIBEIRO Marcelle Moreira As concepccedilotildees de ldquotrabalhordquo para alunos da escola
Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2013 08 f Relatoacuterio
(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da
turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e
Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013
RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa
Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio
(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da
turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e
Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014
RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da
comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02
f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias
Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal
do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011
RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio
Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase
em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010
SILVA Maria do Socorro Da Raiz a Flor produccedilatildeo pedagoacutegica dos movimentos
sociais e a escola do campo In Cidadania organizaccedilatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas
Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008
SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso
saber Educaccedilatildeo de jovens e adultos Recife Bagaccedilo 2000
SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e movimento sociais do campo a produccedilatildeo do
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VELHO Gilberto Famiacutelia e Subjetividade In ALMEIDA A Mde CARNEIRO MJ
PAULA SG (Org) Pensando a Famiacutelia no Brasil Rio de Janeiro Espaccedilos e Tempo
Editora da UFRJ 1987
40
Outras referecircncias
Sobre normas teacutecnicas da ABNT (citaccedilotildees e referecircncias bibliograacuteficas) consultar
lthttpwwwleffaprobrtextosabnthtmgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015
Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar
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etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015
Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar
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Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar
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Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba
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abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015
Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha
lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-
rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015
Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar
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ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015
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Os conteuacutedos dos livros didaacuteticos em grande parte natildeo valorizam
realidade local pois o modo de dominaccedilatildeo ainda persiste dentro da sala de aula nos
livros didaacuteticos sendo que os alunos precisam abrir os olhos para enxergar quem satildeo se
afirmando enquanto seres de ideias e de direitos como diz Freire (2003)
A educaccedilatildeo eacute uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Intervenccedilatildeo que aleacutem do
conhecimento dos conteuacutedos bem ou mal ensinados eou aprendidos implica
tanto o esforccedilo de reproduccedilatildeo da ideologia dominante quanto ao seu
desmascaramento (FREIRE 2003)
Pois educar vai muito aleacutem do cumprimento curricular eacute um ato de
dedicaccedilatildeo ao desenvolvimento global dos educandos e a partir dessa concepccedilatildeo
precisa-se fazer uma anaacutelise ou reavaliaccedilatildeo de educadores que trabalham nessa regiatildeo
diante dos valores como eacutetica moral e costumes que iratildeo intervir na formaccedilatildeo do
aluno assim nossa meta eacute descobrir em nossos alunos maneiras de despertar elementos
negativos e positivos proporcionando confianccedila e harmonia entre ambos
Por isso que o educador de hoje tem que estaacute voltado para o futuro
preparando seus alunos para as transformaccedilotildees do local em que vive preparando-se
antes de entrar nas comunidades ribeirinhas articular os conteuacutedos com o imaginaacuterio
com os saberes identidades e representaccedilotildees para contribuir e atribuir sentidos na
formaccedilatildeo dos jovens ribeirinhos de forma a ser considerar o perfil e o contexto de onde
emerge esse profissional
Aleacutem disso autores como Paulo Freire (2001) comprometidos com a
valorizaccedilatildeo do conhecimento do aluno (familiar e social) como arquitetura primeira de
nossas experiecircncias diz que natildeo pensa ideias pensa a existecircncia E tambeacutem o educador
existecircncia seu pensamento numa pedagogia em que o esforccedilo totalizador da ldquopraacutexisrdquo
humana busca na interioridade desta totalizar como ldquopratica da liberdaderdquo
O meacutetodo desse autor natildeo ensina a repetir palavras natildeo se restringe a
desenvolver a capacidade de pensaacute-las segundo as exigecircncias de suas loacutegicas do
discurso abstrato ela simplesmente coloca o alfabetizando ldquoem condiccedilotildees de poder re-
existecircnciar criticamente as palavras de mundo para na oportunidade devida saber e
poder dizer sua palavrardquo Freire (2001)
Em Pedagogia do oprimido (2001) como criacutetica a educaccedilatildeo usada ateacute na
educaccedilatildeo formal seja ela a meu ver na cidade ou no campo tem como base a
comparaccedilatildeo entre o opressor como sujeito que narra conta disserta e consegue
persuadir o educando que eacute o oprimido e que deve repetir memorizar e se comunicar
35
traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia
essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os
educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos
troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que
se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se
preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da
perseveranccedilardquo
O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que
devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates
mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa
cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na
historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em
possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)
Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e
aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o
pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos
seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos
desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser
livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire
(2001)
E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza
(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade
(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes
(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades
accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo
(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute
possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar
social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de
cultura de educaccedilatildeordquo
36
Consideraccedilotildees Finais
A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo
simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no
e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo
Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na
busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos
cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem
desenvolvido em um contexto ribeirinho
Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o
propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as
demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do
Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu
histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar
Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir
articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar
em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas
educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o
professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes
desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que
possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem
A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar
os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja
percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo
educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas
verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto
profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a
educaccedilatildeo do campo
A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos
professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte
no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria
Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores
comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo
conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo
37
encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da
comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo
Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os
processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees
para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo
soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos
curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos
inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do
Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo
acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees
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Referecircncias
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assentados rurais do Estado de Satildeo Paulo In SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e
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2007 Curitiba Ed UFPR 2010
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puacuteblicas e educaccedilatildeo Clarice Aparecida dos Santos (Org) Brasiacutelia Incra MDA 2008
FREIRE Paulo Pedagogia da Esperanccedila 10deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2003
FREIRE Paulo Pedagogia do Oprimido 50deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2001
GONSALVES Naacutedia G amp GONSALVES Sandro A Pierre Bourdieu educaccedilatildeo para
aleacutem da reproduccedilatildeo Petroacutepolis Rio de Janeiro Vozes 2010
GIMONET Jean Claude Praticar e compreender a Pedagogia da Alternacircncia dos
CEFFAS Petroacutepolis Rio de JaneiroVozes 2007
LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCACcedilAtildeO NACIONAL (LDB) Lei Ndeg 9394
de 20 de dezembro de 1996
LOUREIRO Joatildeo de Jesus Paes Cultura Amazocircnica uma poeacutetica do imaginaacuterio
Beleacutem Cejup 1994
MOLINA Castagna Monica (Org) Educaccedilatildeo do Campo e Pesquisa II questotildees para
reflexotildees Brasiacutelia MDA MEC 2010
MACHADOLuciliaRdeSPoliteacutecnicaescola unitaacuteria e trabalhoSatildeo Paulo Cortez
Autores Associados1991
39
PINHEIRO Maria Isabel Moura A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo no cenaacuterio das
politicas publica da sociedade brasileira Consultar lthttpbrmonografiascom
trablhos 915educacao-campo-politicaseducacao-campo-politicasshtmlgt Site visitado
em abril de 2015
RIBEIRO Marcelle Moreira As concepccedilotildees de ldquotrabalhordquo para alunos da escola
Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2013 08 f Relatoacuterio
(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da
turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e
Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013
RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa
Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio
(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da
turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e
Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014
RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da
comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02
f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias
Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal
do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011
RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio
Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase
em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010
SILVA Maria do Socorro Da Raiz a Flor produccedilatildeo pedagoacutegica dos movimentos
sociais e a escola do campo In Cidadania organizaccedilatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas
Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008
SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso
saber Educaccedilatildeo de jovens e adultos Recife Bagaccedilo 2000
SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e movimento sociais do campo a produccedilatildeo do
conhecimento no periacuteodo de 1987 a 2007 Curitiba Ed UFPR 2010
VELHO Gilberto Famiacutelia e Subjetividade In ALMEIDA A Mde CARNEIRO MJ
PAULA SG (Org) Pensando a Famiacutelia no Brasil Rio de Janeiro Espaccedilos e Tempo
Editora da UFRJ 1987
40
Outras referecircncias
Sobre normas teacutecnicas da ABNT (citaccedilotildees e referecircncias bibliograacuteficas) consultar
lthttpwwwleffaprobrtextosabnthtmgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015
Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150010ampsearch=para|abaet
etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015
Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar
lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015
Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar
lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a
setembro de 2015
Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba
lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-
abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015
Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha
lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-
rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015
Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar
lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb
ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015
35
traveacutes desses conhecimentos mecacircnicos repassados pelo opressor Ele nos evidencia
essa educaccedilatildeo que se daacute para tentar libertar e humanizar a sociedade e fazer com que os
educadores tornem-se mais companheiros dos educandos fazendo com que ambos
troquem ideias experiecircncias e conhecimentos em diferentes aacutereas dos saberes para que
se possa chegar a uma democracia onde ambos se educam num processo ontoloacutegico (se
preocupar com o ser) como nos ressalta Freire (2001) sobre o ldquoaprendizado da
perseveranccedilardquo
O aprendizado de outra virtude se impotildee a perseveranccedila tenacidade com que
devemos lutar por nosso sonho Natildeo podemos desistir nos primeiros embates
mas a partir deles aprender como errar menos Na existecircncia de uma pessoa
cinco dez vinte anos representam alguma coisa agraves vezes muito Mas natildeo na
historia de uma naccedilatildeo Temos que transformar as dificuldades em
possibilidades Sermos pacientemente impacientes (FREIRE 2001)
Outra autora importante para esta discussatildeo sobre ensinamento e
aprendizagem nas escolas do campo eacute Maria do Socorro Silva (2008) que seguindo o
pensamento de Freire ressalta que a educaccedilatildeo como contribuiccedilatildeo agrave humanizaccedilatildeo dos
seres humanos que nascem inconclusos inacabados tornando humanos ou nos
desumanizando no decorrer de nossas vidas porque ldquoningueacutem tem liberdade para ser
livre pelo contraacuterio luta por ela precisamente porque natildeo a temrdquo como diria Freire
(2001)
E seguindo essa concepccedilatildeo resgata a definiccedilatildeo de Joatildeo Francisco Souza
(2000) para quem ldquoO EU (identidade) de cada ser humano se constroacutei na coletividade
(NOacuteS)rdquo A humanizaccedilatildeo implica entatildeo na construccedilatildeo de ideias pensamentos artes
(PENSAR) afetos vontades paixotildees (EMOCIONAR-SE) bem como nas atividades
accedilotildees praacuteticas e experiecircncias (FAZER) no interior das relaccedilotildees ldquosociaisrdquo e ldquonaturaisrdquo
(MEIO NATURAL E SOCIAL) como complementa Roseli Caldart (2008) ldquoNatildeo eacute
possiacutevel pensar um projeto de paiacutes naccedilatildeo sem pensar um projeto de campo um lugar
social para seus sujeitos concretos para seus processos produtivos de trabalho de
cultura de educaccedilatildeordquo
36
Consideraccedilotildees Finais
A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo
simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no
e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo
Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na
busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos
cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem
desenvolvido em um contexto ribeirinho
Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o
propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as
demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do
Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu
histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar
Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir
articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar
em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas
educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o
professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes
desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que
possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem
A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar
os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja
percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo
educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas
verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto
profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a
educaccedilatildeo do campo
A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos
professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte
no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria
Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores
comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo
conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo
37
encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da
comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo
Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os
processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees
para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo
soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos
curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos
inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do
Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo
acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees
38
Referecircncias
ANDRADE Maacutercia Regina de Oliveira O destino incerto da educaccedilatildeo entre os
assentados rurais do Estado de Satildeo Paulo In SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e
movimento sociais do campo a produccedilatildeo do conhecimento no periacuteodo de 1987 a
2007 Curitiba Ed UFPR 2010
BERGER Peter amp LUKMANN Thomas A Construccedilatildeo Social da Realidade
Petroacutepolis Vozes 1988
BOURDIEU Pierre Escritos de Educaccedilatildeo 10 ed Petroacutepolis-Rio de Janeiro Editoras
Vozes 2008
CALDART Roseli Salete Educaccedilatildeo do campo notas de uma anaacutelise do percurso
Trab Educ Sauacutede Rio de Janeiro v 7 n 1 p 35-64 marjun 2009
CORDEIRO Georgina NK REIS Neila da Silva HAGE Salomatildeo Mufarrej
Pedagogia da Alternancia e seus desafios para assegurar a formaccedilatildeo humana dos
sujeitos e a sustentabilidade do campo Em aberto Brasiacutelia v24 n85 p 115-125
2011
FERNANDES Bernardo Manccedilano [et al] Educaccedilatildeo do campo campo-politicas
puacuteblicas e educaccedilatildeo Clarice Aparecida dos Santos (Org) Brasiacutelia Incra MDA 2008
FREIRE Paulo Pedagogia da Esperanccedila 10deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2003
FREIRE Paulo Pedagogia do Oprimido 50deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2001
GONSALVES Naacutedia G amp GONSALVES Sandro A Pierre Bourdieu educaccedilatildeo para
aleacutem da reproduccedilatildeo Petroacutepolis Rio de Janeiro Vozes 2010
GIMONET Jean Claude Praticar e compreender a Pedagogia da Alternacircncia dos
CEFFAS Petroacutepolis Rio de JaneiroVozes 2007
LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCACcedilAtildeO NACIONAL (LDB) Lei Ndeg 9394
de 20 de dezembro de 1996
LOUREIRO Joatildeo de Jesus Paes Cultura Amazocircnica uma poeacutetica do imaginaacuterio
Beleacutem Cejup 1994
MOLINA Castagna Monica (Org) Educaccedilatildeo do Campo e Pesquisa II questotildees para
reflexotildees Brasiacutelia MDA MEC 2010
MACHADOLuciliaRdeSPoliteacutecnicaescola unitaacuteria e trabalhoSatildeo Paulo Cortez
Autores Associados1991
39
PINHEIRO Maria Isabel Moura A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo no cenaacuterio das
politicas publica da sociedade brasileira Consultar lthttpbrmonografiascom
trablhos 915educacao-campo-politicaseducacao-campo-politicasshtmlgt Site visitado
em abril de 2015
RIBEIRO Marcelle Moreira As concepccedilotildees de ldquotrabalhordquo para alunos da escola
Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2013 08 f Relatoacuterio
(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da
turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e
Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013
RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa
Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio
(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da
turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e
Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014
RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da
comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02
f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias
Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal
do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011
RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio
Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase
em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010
SILVA Maria do Socorro Da Raiz a Flor produccedilatildeo pedagoacutegica dos movimentos
sociais e a escola do campo In Cidadania organizaccedilatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas
Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008
SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso
saber Educaccedilatildeo de jovens e adultos Recife Bagaccedilo 2000
SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e movimento sociais do campo a produccedilatildeo do
conhecimento no periacuteodo de 1987 a 2007 Curitiba Ed UFPR 2010
VELHO Gilberto Famiacutelia e Subjetividade In ALMEIDA A Mde CARNEIRO MJ
PAULA SG (Org) Pensando a Famiacutelia no Brasil Rio de Janeiro Espaccedilos e Tempo
Editora da UFRJ 1987
40
Outras referecircncias
Sobre normas teacutecnicas da ABNT (citaccedilotildees e referecircncias bibliograacuteficas) consultar
lthttpwwwleffaprobrtextosabnthtmgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015
Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150010ampsearch=para|abaet
etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015
Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar
lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015
Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar
lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a
setembro de 2015
Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba
lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-
abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015
Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha
lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-
rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015
Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar
lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb
ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015
36
Consideraccedilotildees Finais
A categoria campo encerra uma pluralidade de significados que natildeo satildeo
simples muito menos homogecircnea como apontado neste trabalho Pensar em Educaccedilatildeo no
e do campo eacute pensar em qual campo estamos nos referindo
Esse trabalho de conclusatildeo de curso (TCC) significa um primeiro passo na
busca de elementos que nos possibilitem compreender como os conhecimentos
cientiacuteficos e os saberes locais satildeo articulados no processo ensinoaprendizagem
desenvolvido em um contexto ribeirinho
Buscou-se aqui atentar para as peculiaridades desse contexto com o
propoacutesito de evidenciar a necessidade de uma educaccedilatildeo escolar disposta a lidar com o as
demandas locais que emergem Com efeito a existecircncia do curso de Educaccedilatildeo do
Campo eacute um avanccedilo agrave medida que prioriza que seus ingressantes possuam em seu
histoacuterico uma aproximaccedilatildeo com a realidade na qual iratildeo atuar
Torna-se difiacutecil para professores que vem de outro contexto conseguir
articular os saberes dos alunos com os conhecimentos cientiacuteficos que precisam trabalhar
em sala de aula dificulta tambeacutem o fato dessas comunidades serem atendidas
educacionalmente pelos sistemas modular visto anteriormente no qual esse insere o
professor na localidade Dessa forma os professores que estatildeo em sala de aula por vezes
desconhecem aspectos importantes do cotidiano de seus alunos aspectos esses que
possibilitariam resultados positivos no processo ensino aprendizagem
A educaccedilatildeo de forma eficaz se faz quando o educando consegue relacionar
os conhecimentos adquiridos nesse processo com a sua realidade concreta ou seja
percebe seus usos pois este eacute um viacutenculo necessaacuterio a ser feito em qualquer processo
educacional Como professores temos a necessidade de repensarmos nossas praacuteticas
verificando a todo o momento sua eficaacutecia sendo possiacutevel avanccedilar enquanto
profissionais comprometidos com o desenvolvimento de nossos alunos e com a
educaccedilatildeo do campo
A forma de organizaccedilatildeo do SOME se daacute no processo de rotatividade dos
professores passam de um a dois meses em cada localidade ribeirinha talvez dificulte
no processo de convivecircncia e conhecimento com alunos e da comunidade A proacutepria
Escola de Nossa Senhora de Guadalupe eacute exemplo disso onde os professores
comentam sobre o tempo que eacute pouco e corrido sendo talvez uma das causas de natildeo
conhecerem a fundo cada aluno suas necessidades educacionais e costumes locais natildeo
37
encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da
comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo
Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os
processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees
para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo
soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos
curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos
inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do
Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo
acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees
38
Referecircncias
ANDRADE Maacutercia Regina de Oliveira O destino incerto da educaccedilatildeo entre os
assentados rurais do Estado de Satildeo Paulo In SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e
movimento sociais do campo a produccedilatildeo do conhecimento no periacuteodo de 1987 a
2007 Curitiba Ed UFPR 2010
BERGER Peter amp LUKMANN Thomas A Construccedilatildeo Social da Realidade
Petroacutepolis Vozes 1988
BOURDIEU Pierre Escritos de Educaccedilatildeo 10 ed Petroacutepolis-Rio de Janeiro Editoras
Vozes 2008
CALDART Roseli Salete Educaccedilatildeo do campo notas de uma anaacutelise do percurso
Trab Educ Sauacutede Rio de Janeiro v 7 n 1 p 35-64 marjun 2009
CORDEIRO Georgina NK REIS Neila da Silva HAGE Salomatildeo Mufarrej
Pedagogia da Alternancia e seus desafios para assegurar a formaccedilatildeo humana dos
sujeitos e a sustentabilidade do campo Em aberto Brasiacutelia v24 n85 p 115-125
2011
FERNANDES Bernardo Manccedilano [et al] Educaccedilatildeo do campo campo-politicas
puacuteblicas e educaccedilatildeo Clarice Aparecida dos Santos (Org) Brasiacutelia Incra MDA 2008
FREIRE Paulo Pedagogia da Esperanccedila 10deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2003
FREIRE Paulo Pedagogia do Oprimido 50deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2001
GONSALVES Naacutedia G amp GONSALVES Sandro A Pierre Bourdieu educaccedilatildeo para
aleacutem da reproduccedilatildeo Petroacutepolis Rio de Janeiro Vozes 2010
GIMONET Jean Claude Praticar e compreender a Pedagogia da Alternacircncia dos
CEFFAS Petroacutepolis Rio de JaneiroVozes 2007
LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCACcedilAtildeO NACIONAL (LDB) Lei Ndeg 9394
de 20 de dezembro de 1996
LOUREIRO Joatildeo de Jesus Paes Cultura Amazocircnica uma poeacutetica do imaginaacuterio
Beleacutem Cejup 1994
MOLINA Castagna Monica (Org) Educaccedilatildeo do Campo e Pesquisa II questotildees para
reflexotildees Brasiacutelia MDA MEC 2010
MACHADOLuciliaRdeSPoliteacutecnicaescola unitaacuteria e trabalhoSatildeo Paulo Cortez
Autores Associados1991
39
PINHEIRO Maria Isabel Moura A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo no cenaacuterio das
politicas publica da sociedade brasileira Consultar lthttpbrmonografiascom
trablhos 915educacao-campo-politicaseducacao-campo-politicasshtmlgt Site visitado
em abril de 2015
RIBEIRO Marcelle Moreira As concepccedilotildees de ldquotrabalhordquo para alunos da escola
Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2013 08 f Relatoacuterio
(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da
turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e
Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013
RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa
Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio
(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da
turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e
Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014
RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da
comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02
f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias
Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal
do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011
RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio
Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase
em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010
SILVA Maria do Socorro Da Raiz a Flor produccedilatildeo pedagoacutegica dos movimentos
sociais e a escola do campo In Cidadania organizaccedilatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas
Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008
SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso
saber Educaccedilatildeo de jovens e adultos Recife Bagaccedilo 2000
SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e movimento sociais do campo a produccedilatildeo do
conhecimento no periacuteodo de 1987 a 2007 Curitiba Ed UFPR 2010
VELHO Gilberto Famiacutelia e Subjetividade In ALMEIDA A Mde CARNEIRO MJ
PAULA SG (Org) Pensando a Famiacutelia no Brasil Rio de Janeiro Espaccedilos e Tempo
Editora da UFRJ 1987
40
Outras referecircncias
Sobre normas teacutecnicas da ABNT (citaccedilotildees e referecircncias bibliograacuteficas) consultar
lthttpwwwleffaprobrtextosabnthtmgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015
Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150010ampsearch=para|abaet
etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015
Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar
lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015
Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar
lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a
setembro de 2015
Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba
lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-
abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015
Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha
lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-
rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015
Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar
lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb
ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015
37
encontrando tempo para melhor adequar suas aulas conforme a realidade local da
comunidade e efetivamente fazer um educaccedilatildeo que seja do campo
Por tudo isso esse trabalho natildeo traz resultados prontos e acabados sobre os
processos de conhecimentos cientiacuteficos e saberes locais mas sim algumas questotildees
para serem discutidas e analisadas para que possamos nos identificar e nos afirmar natildeo
soacute como licenciados em Educaccedilatildeo do Campo mas sim podermos questionar nossos
curriacuteculos de curso superior assim como nossas praticas de aula em que somos
inseridos apoacutes o termino do curso para fazer com mais efetividade uma Educaccedilatildeo do
Campo (ribeirinha quilombola sem terras e outros) e natildeo apenas uma (re)produccedilatildeo
acadecircmica da cidade para essas populaccedilotildees
38
Referecircncias
ANDRADE Maacutercia Regina de Oliveira O destino incerto da educaccedilatildeo entre os
assentados rurais do Estado de Satildeo Paulo In SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e
movimento sociais do campo a produccedilatildeo do conhecimento no periacuteodo de 1987 a
2007 Curitiba Ed UFPR 2010
BERGER Peter amp LUKMANN Thomas A Construccedilatildeo Social da Realidade
Petroacutepolis Vozes 1988
BOURDIEU Pierre Escritos de Educaccedilatildeo 10 ed Petroacutepolis-Rio de Janeiro Editoras
Vozes 2008
CALDART Roseli Salete Educaccedilatildeo do campo notas de uma anaacutelise do percurso
Trab Educ Sauacutede Rio de Janeiro v 7 n 1 p 35-64 marjun 2009
CORDEIRO Georgina NK REIS Neila da Silva HAGE Salomatildeo Mufarrej
Pedagogia da Alternancia e seus desafios para assegurar a formaccedilatildeo humana dos
sujeitos e a sustentabilidade do campo Em aberto Brasiacutelia v24 n85 p 115-125
2011
FERNANDES Bernardo Manccedilano [et al] Educaccedilatildeo do campo campo-politicas
puacuteblicas e educaccedilatildeo Clarice Aparecida dos Santos (Org) Brasiacutelia Incra MDA 2008
FREIRE Paulo Pedagogia da Esperanccedila 10deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2003
FREIRE Paulo Pedagogia do Oprimido 50deg ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2001
GONSALVES Naacutedia G amp GONSALVES Sandro A Pierre Bourdieu educaccedilatildeo para
aleacutem da reproduccedilatildeo Petroacutepolis Rio de Janeiro Vozes 2010
GIMONET Jean Claude Praticar e compreender a Pedagogia da Alternacircncia dos
CEFFAS Petroacutepolis Rio de JaneiroVozes 2007
LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCACcedilAtildeO NACIONAL (LDB) Lei Ndeg 9394
de 20 de dezembro de 1996
LOUREIRO Joatildeo de Jesus Paes Cultura Amazocircnica uma poeacutetica do imaginaacuterio
Beleacutem Cejup 1994
MOLINA Castagna Monica (Org) Educaccedilatildeo do Campo e Pesquisa II questotildees para
reflexotildees Brasiacutelia MDA MEC 2010
MACHADOLuciliaRdeSPoliteacutecnicaescola unitaacuteria e trabalhoSatildeo Paulo Cortez
Autores Associados1991
39
PINHEIRO Maria Isabel Moura A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo no cenaacuterio das
politicas publica da sociedade brasileira Consultar lthttpbrmonografiascom
trablhos 915educacao-campo-politicaseducacao-campo-politicasshtmlgt Site visitado
em abril de 2015
RIBEIRO Marcelle Moreira As concepccedilotildees de ldquotrabalhordquo para alunos da escola
Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2013 08 f Relatoacuterio
(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da
turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e
Sudeste do Paraacute Marabaacute 2013
RIBEIRO Marcelle Moreira Trabelho e Juventude entre os alunos da escola Nossa
Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2014 07 f Relatoacuterio
(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da
turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal do Sul e
Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014
RIBEIRO Marcelle Moreira Caraterizaccedilatildeo Geral da Comunidade e Escola da
comunidade Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2011 02
f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias
Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal
do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011
RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio
Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase
em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010
SILVA Maria do Socorro Da Raiz a Flor produccedilatildeo pedagoacutegica dos movimentos
sociais e a escola do campo In Cidadania organizaccedilatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas
Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008
SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso
saber Educaccedilatildeo de jovens e adultos Recife Bagaccedilo 2000
SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e movimento sociais do campo a produccedilatildeo do
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PAULA SG (Org) Pensando a Famiacutelia no Brasil Rio de Janeiro Espaccedilos e Tempo
Editora da UFRJ 1987
40
Outras referecircncias
Sobre normas teacutecnicas da ABNT (citaccedilotildees e referecircncias bibliograacuteficas) consultar
lthttpwwwleffaprobrtextosabnthtmgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015
Sobre Dados populacionais de Abaetetuba consultar
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150010ampsearch=para|abaet
etubagt Site visitado de janeiro a setembro de 2015
Sobre Dicionaacuterio de Sinocircnimos Online consultar
lthttpwwwsinonimoscombrgt Site visitado de janeiro a setembro de 2015
Sobre manual de normas para Elaboraccedilatildeo de Projetos e Monografias consultar
lt httpfioedubrmanualtcccomodulo_20Principalhtmlgt Site visitado de janeiro a
setembro de 2015
Sobre historia dos Rios de Abaetetuba consultar Blog do Riba
lthttpribaprasempreblogspotcombr201008parabens-abaetetuba-nos-te-
abracamoshtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015
Sobre a histoacuteria do Rio Tucumanduba consultar Blog do Ademir Rocha
lthttpademirhelenorochablogspotcombr201309rio-tucumanduba-e-outros-rios-
rios-dehtmlgt Site visitado de marccedilo a setembro de 2015
Sobre imagens do Trapiche do municiacutepio de Abaetetuba consultar
lthttpswwwgooglecombrsearchq=trapiche+de+abaetetubaampespv=2ampbiw=1280ampb
ih=675ampsourcegt Site visitado de fevereiro a setembro de 2015
38
Referecircncias
ANDRADE Maacutercia Regina de Oliveira O destino incerto da educaccedilatildeo entre os
assentados rurais do Estado de Satildeo Paulo In SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e
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PINHEIRO Maria Isabel Moura A concepccedilatildeo de educaccedilatildeo do campo no cenaacuterio das
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RIBEIRO Marcelle Moreira As concepccedilotildees de ldquotrabalhordquo para alunos da escola
Nossa Senhora de Guadalupe no interior de Abaetetuba-PA 2013 08 f Relatoacuterio
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(Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias Humanas da
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Sudeste do Paraacute Marabaacute 2014
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f Relatoacuterio (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase em Ciecircncias
Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade Federal
do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2011
RIBEIRO Marcelle Moreira Abaetetuba a Histoacuteria da Comunidade Rio
Tucumanduba2010 01 f (Trabalho docente do curso de Educaccedilatildeo do Campo-Ecircnfase
em Ciecircncias Humanas da turma de 2010) Instituto de Ciecircncias da Educaccedilatildeo
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Paraacute Marabaacute 2010
SILVA Maria do Socorro Da Raiz a Flor produccedilatildeo pedagoacutegica dos movimentos
sociais e a escola do campo In Cidadania organizaccedilatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas
Caderno Pedagoacutegico Educandas e Educandos Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade 2008
SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo Escolar nosso fazer maior des(a)fia o nosso
saber Educaccedilatildeo de jovens e adultos Recife Bagaccedilo 2000
SOUZA Maria Antocircnia de Educaccedilatildeo e movimento sociais do campo a produccedilatildeo do
conhecimento no periacuteodo de 1987 a 2007 Curitiba Ed UFPR 2010
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PAULA SG (Org) Pensando a Famiacutelia no Brasil Rio de Janeiro Espaccedilos e Tempo
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Outras referecircncias
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