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VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NA FITOINDÚSTRIA NO AMAZONAS Dimas José Lasmar TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO. Aprovada por: _____________________________________________ Prof. Anne-Marie Maculan, Ph.D _____________________________________________ Prof. Antônio José Junqueira Botelho, Ph.D. _____________________________________________ Prof. José Manoel Carvalho de Mello, Ph.D. _____________________________________________ . Prof. José Vitor Martins Bontempo, D.Sc _____________________________________________ Prof. John Wilkson, Ph.D. _____________________________________________ Prof. Léo Fernando Castelhano Bruno, Ph.D. RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL MAIO DE 2005

VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

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Page 1: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E INOVAÇÃO

TECNOLÓGICA NA FITOINDÚSTRIA NO AMAZONAS

Dimas José Lasmar

TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS

PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS

PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA

DE PRODUÇÃO.

Aprovada por:

_____________________________________________

Prof. Anne-Marie Maculan, Ph.D

_____________________________________________

Prof. Antônio José Junqueira Botelho, Ph.D.

_____________________________________________

Prof. José Manoel Carvalho de Mello, Ph.D.

_____________________________________________

. Prof. José Vitor Martins Bontempo, D.Sc

_____________________________________________

Prof. John Wilkson, Ph.D.

_____________________________________________

Prof. Léo Fernando Castelhano Bruno, Ph.D.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

MAIO DE 2005

Page 2: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

ii

LASMAR, DIMAS JOSÉ

Valorização da biodiversidade: capacitação

e inovação tecnológica na fitoindústria no

Amazonas. Rio de Janeiro: UFRJ – COPPE

[Rio de Janeiro] 2005.

XV, 228 p. (COPPE/UFRJ, D.Sc.,

Engenharia de Produção, 2005).

Tese-Universidade Federal do Rio de

Janeiro – COPPE, 2005.

1. Biodiversidade

2. Capacitação tecnológica

3. Atividades inovadoras

I. COPPE/UFRJ II. Título (série)

Page 3: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

iii

DEDICATÓRIA

“Para minha linda flor Yasmin, que veio a este

mundo enquanto eu me debruçava com os

desafios da pesquisa, por ter sido sempre

vigilante durante longas noites inesquecíveis

com seu melodioso choro, que eu nunca distingui

se era fome ou um aviso para me manter alerta”.

Page 4: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

iv

AGRADECIMENTOS

À minha querida orientadora, professora Anne-Marie Maculan, pela competência,

experiência de vida, atenção, paciência, incentivo e sábios conselhos.

À Superintendência da Zona Franca de Manaus – SUFRAMA, que investiu recursos

públicos no programa de doutoramento do qual sou um dos beneficiados.

À Coordenação e professores do Programa de Pós-Graduação em Engenharia - COPPE da

Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ e Coordenação do Programa de Pós-

Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Amazonas, pela seriedade e

competência com que conduziram o Curso de Doutorado em Engenharia de Produção.

À Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica – FUCAPI, na pessoa da

Dra. Isa Assef, diretora presidente, que tem apoiado seus funcionários a se capacitarem,

como parte da missão de apoio ao desenvolvimento do Estado do Amazonas.

Aos empresários, representantes das empresas pesquisadas, técnicos de órgãos do governo

e pesquisadores, pela acolhida e informações concedidas.

Ao meu sobrinho Ricardo que tanto me ajudou na tabulação e organização dos dados,

refazendo-as pacientemente e por diversas vezes quando necessário.

Às minhas irmãs por terem cuidado dos nossos pais. E à minha esposa Monique que se

encarregou da doce tarefa de cuidar da nossa filha Yasmin.

Aos colegas do curso, com quem tive o imenso prazer de conviver, trocar experiências e,

sobretudo, aprender, em especial aos amigos Niomar e Guajarino sem a ajuda dos quais

minha missão de concluir o doutoramento teria sido muito mais árdua.

Aos amigos da Suframa, principalmente ao José Lopo, Raimundo Sampaio e Antônio

Botelho, pelo auxílio na interpretação dos dados do Pólo Industrial de Manaus - PIM.

Aos colegas da Fucapi e a todas as pessoas e amigos, cuja lista é extensa, que tanto me

ajudaram com os mais variados tipos de contribuição para que eu pudesse, enfim, concluir

esta pesquisa.

Page 5: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

v

Resumo da Tese apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários para a

obtenção do grau de Doutor em Ciências (D.Sc.).

VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E INOVAÇÃO

TECNOLÓGICA NA FITOIDÚSTRIA NO AMAZONAS

Dimas José Lasmar

Maio / 2005

Orientadora: Anne-Marie Maculan

Programa: Engenharia de Produção

Este estudo pretende apresentar alguns elementos sobre o processo de

aprendizagem, capacitação e inovação tecnológica na Fitoindústria no Amazonas. Mais

recentemente ressurgiu o debate sobre a perspectiva de valorização dos recursos da

biodiversidade baseada em conhecimentos, em substituição ao modo arcaico de

extrativismo e de comercialização das espécies in natura. As empresas que utilizam

matéria-prima de origem da floresta na fabricação de seus produtos, embora atuando em um

ambiente bastante complexo, vêm buscando adicionar progressivamente valor a esses

recursos, indicando ainda um dos caminhos possíveis para o desenvolvimento regional.

Essas empresas, todavia, para se tornarem competitivas, necessitam investir em novas

tecnologias, acumular novas competências e modernizar suas práticas gerenciais,

organizacionais, produtivas e de comercialização. Com o objetivo de avaliar a dinâmica de

modernização da Fitoindústria, foi realizada uma pesquisa, mediante a aplicação de um

questionário submetido às empresas, assim como entrevistas com pesquisadores, técnicos e

especialistas sobre a exploração dos recursos da biodiversidade, políticas públicas e infra-

estrutura. A metodologia seguiu uma abordagem qualitativa, a partir da freqüência das

respostas sobre os diversos indicadores do questionário apreciado pelas empresas. Os

resultados da pesquisa indicam que a maioria das empresas adotam práticas gerenciais, de

modernização organizacional e realizam atividades de pesquisa e desenvolvimento pouco

avançadas, porém estão buscando alcançar níveis mais elevados de capacitação tecnológica.

Page 6: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

vi

Abstract of Thesis presented to UFRJ / COPPE as a partial fulfillment of the requirements

for the degree of Doctor of Science (D.Sc.).

BIODIVERSITY VALORIZATION: TECHNOLOGICAL AND INNOVATION

CAPABILITIES IN AMAZON PHYTOINDUSTRY

Dimas José Lasmar

May/2005

Advisor: Anne-Marie Maculan

Department: Production Engineering

The objective of this research is to present some indicators concerning learning,

capabilities accumulation and technological innovation in Amazon Phytoindustry. Recently

the discussion upon the perspective of biodiversity valorization based on knowledge rose

again, in order to replace an archaic way of extracting and commercializing natural

resources. The enterprises which use raw material from jungle in their products

manufacture are progressively seeking add value to those resources, also pointing to an able

way of regional development, although functioning in a much complex environment.

However, these enterprises to become competitive need invest in new technologies,

accumulate new capabilities, and modernize its managerial, organizational, productive, and

commercialization practices. With the purpose of evaluating the dynamism of

Phytoindustry a research was accomplished through a questionary submitted for

enterprises appreciation, interview with researchers and specialists regarding to biodiversity

exploration, public policies and infrastructure. The methodology followed up a qualitative

approach based on the answers frequency upon various indicators comprised into the

questionary appreciated by the enterprises. The investigation results show that most

enterprises adopt low advanced managerial, organizational and P&D practices, though they

are seeking to reach higher level capabilities.

Page 7: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

vii

SUMÁRIO ANALÍTICO

I. INTRODUÇÃO........................................................................................................................ 1

I.1 ESTRUTURA E ESCOPO DA PESQUISA........................................................................................... 1

I.2. BREVE HISTÓRICO DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E INDUSTRIALIZAÇÃO DO AMAZONAS 3

I.3. REPENSANDO A EXPLORAÇÃO AUTO-SUSTENTÁVEL DA BIODIVERSIDADE E A ORGANIZAÇÃO

DA FITOINDÚSTRIA .................................................................................................................. 6

I.4. DEFINIÇÃO DO PROBLEMA, HIPÓTESE E OBJETIVOS DA PESQUISA........................................... 11

I.5. RELEVÂNCIA DA PESQUISA ..................................................................................................... 12

II. CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA..................................................................... 14

II.1. AS IMPLICAÇÕES DA LEGISLAÇÃO NAS ATIVIDADES DA FITOINDÚSTRIA .............................. 15

II.2. DIFICULDADES DE GOVERNANÇA DOS ATORES PARA A EXPLORAÇÃO DA

BIODIVERSIDADE .................................................................................................................. 20

II.3. MERCADO DE PRDUTOS NATURAIS E DE MATÉRIA-PRIMA DE ORGIEM DA FLORESTA

AMAZÔNICA ......................................................................................................................... 24

II.4. OS DESAFIOS TECNOLÓGICOS DA FITOINDÚSTRIA .................................................................. 36

II.5. OS DESAFIOS PARA A CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA DAS EMPRESAS .................................... 61

III. REFERENCIAL TEÓRICO.............................................................................................. 70

III.1. APRENDIZADO, CAPACITAÇÃO E INOVAÇÃO TECNOLÓGICA ................................................. 70

III.2. CONCEITOS BÁSICOS PARA A PESQUISA................................................................................. 84

IV. METODOLOGIA DA PESQUISA.................................................................................... 87

IV.1. REFERÊNCIAS PARA A SELEÇÃO DE INDICADORES ................................................................. 88

IV.2. QUESTÕES METODOLÓGICAS PARA A REALIZAÇÃO DA PESQUISA......................................... 92

IV.3. AMOSTRA E COLETA, TRATAMENTO E APRESENTAÇÃO DOS DADOS .................................... 93

V. RESULTADOS DA PESQUISA.......................................................................................... 99

V.1. INDICADORES DE CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA ................................................................... 100

V.2. ILUSTRAÇÃO GRÁFICA DA TRAJETÓRIA DOS PRINCIPAIS FATORES ....................................... 144

V.3. ILUSTRAÇÃO GRÁFICA DA TRAJETÓRIA DOS FATORES DE MAIOR VARIAÇÃO EM IMPORTÂNCIA

RELATIVA............................................................................................................................ 153

V.4. CARACTERÍSTICAS DAS EMPRESAS EXPORTADORAS............................................................. 160

V.5. NÍVEL E TRAJETÓRIA DA CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA DA FITOINDÚSTRIA E SUBSETORES. 163

VI. INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS E CONCLUSÕES..................................... 167

Page 8: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

viii

VI.1. INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS MAIS RELEVANTES ...................................................... 167

VI.2. PRINCIPAIS CONCLUSÕES .................................................................................................... 184

VII. RECOMENDAÇÕES ..................................................................................................... 191

VII.1. ESTUDOS COMPLEMENTARES À PESQUISA ......................................................................... 191

VII.2. ESTRATÉGIAS PARA AS EMPRESAS ..................................................................................... 192

VII.3. DIGRESSÕES SOBRE POLÍTICAS PÚBLICAS.......................................................................... 194

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................... 196

ANEXO 1 - QUESTIONÁRIO DE INDICADORES SUBMETIDO ÀS EMPRESAS PESQUISADAS.............. 205

ANEXO 2 - QUESTIONÁRIO SUBMETIDO AOS TÉCNICOS DO GOVERNO, ESPECIALISTAS E

PESQUISADORES................................................................................................................... 211

ANEXO 3 - EMPRESAS PESQUISADAS.......................................................................................... 212

ANEXO 4 - TÉCNICOS DO GOVERNO, ESPECIALISTAS E PESQUISADORES ENTREVISTADOS........... 213

ANEXO 5 - GLOSSÁRIO DAS ESPÉCIES DA FLORESTA EMPREGADAS COMO MATÉRIA-PRIMA........214

Page 9: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

ix

FIGURAS

FIGURA 1 - ATORES QUE INTERFEREM NA EXPLORAÇÃO DOS RECURSOS DA FLORESTA

AMAZÔNICA........................................................................................................................... 20

FIGURA 2 - CADEIA PRODUTIVA BÁSICA DA MATÉRIA-PRIMA......................................................... 35

FIGURA 3 - CADEIA DE PRODUÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DA MATÉRIA-PRIMA....................................... 53

FIGURA 4 - MINI USINA DE PRODUÇÃO DE ÓLEO BRUTO ................................................................ 57

FIGURA 5 - EXTRAÇÃO DO ÓLEO BRUTO ........................................................................................ 58

FIGURA 6 - FLUXO PARA CREDENCIAMENTO.................................................................................. 64

FIGURA 7 - ÓLEO ESSENCIAL ......................................................................................................... 65

FIGURA 8 - SEMENTES, FRUTAS E PARTES COMESTÍVEIS DE PLANTAS REGIONAIS........................... 66

FIGURA 9 - CONCENTRADO DE BEBIDA NÃO ALCOÓLICA ............................................................... 66

FIGURA 10 - ETAPAS DO PROCESSAMENTO DE UM FITOTERÁPICO .................................................. 67

FIGURA 11 - ETAPAS PARA ALCANÇAR VANTAGEM COMPETITIVA ................................................. 77

FIGURA 12 - ACUMULAÇÃO TECNOLÓGICA (APRENDIZADO).......................................................... 81

FIGURA 13 - ESTRUTURA DOS NÍVEIS DE ATIVIDADES INOVADORAS .............................................. 89

FIGURA 14 - FABRICAÇÃO DE ÓLEO REFINADO ............................................................................ 142

FIGURA 15 - TRAJETÓRIA DA CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA......................................................... 166

Page 10: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

x

GRÁFICOS

GRÁFICO 1 - VENDAS POR SUBSETOR DA FITOINDÚSTRIA ............................................................ 106 GRÁFICO 2 - VENDAS DA FITOINDÚSTRIA POR REGIÃO................................................................. 106 GRÁFICO 3 - EXPORTAÇÕES DA FITOINDÚSTRIA .......................................................................... 107 GRÁFICO 4 - MÃO-DE-OBRA DIRETA............................................................................................ 109 GRÁFICO 5 - GERAÇÃO DE EMPREGOS INDIRETOS........................................................................ 110 GRÁFICO 6 - FATORES DE ATRATIVIDADE LOCACIONAL............................................................... 145 GRÁFICO 7 - MODERNIZAÇÃO GERENCIAL E ORGANIZACIONAL DO PROJETO ............................... 145

GRÁFICO 8 - CERTIFICAÇÃO PARA A MELHORIA DA QUALIDADE E ATENDIMENTO À LEGISLAÇÃO 146 GRÁFICO 9 - GESTÃO DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS................................................................ 146 GRÁFICO 10 - ORGANIZAÇÃO DO PROCESSO DE PRODUÇÃO......................................................... 147 GRÁFICO 11 - DESENVOLVIMENTO DE NOVOS PRODUTOS............................................................ 147 GRÁFICO 12 - CONTROLE DE QUALIDADE ................................................................................... 148 GRÁFICO 13 - ATIVIDADES DE BIOTECNOLOGIA........................................................................... 148 GRÁFICO 14 - FONTES INTERNAS DE APRENDIZAGEM .................................................................. 149 GRÁFICO 15 - FONTES EXTERNAS DE APRENDIZAGEM ................................................................. 149 GRÁFICO 16 - CARÊNCIA DE PESSOAL QUALIFICADO POR ATIVIDADE .......................................... 150 GRÁFICO 17 - LIMITAÇÕES DE INFRA-ESTRUTURA FÍSICA ............................................................ 150 GRÁFICO 18 - DIFICULDADES DE COOPERAÇÃO ........................................................................... 151 GRÁFICO 19 - DIFICULDADES PARA A AQUISIÇÃO DE MATÉRIA-PRIMA DA FLORA........................ 151 GRÁFICO 20 - DIFICULDADES AMBIENTAIS .................................................................................. 152 GRÁFICO 21 - ESTRATÉGIAS DAS EMPRESAS................................................................................ 152 GRÁFICO 22 - FATORES DE ATRATIVIDADE LOCACIONAL ............................................................ 154 GRÁFICO 23 - GERENCIAMENTO DO PROJETO E MODERNIZAÇÃO ORGANIZACIONAL.................... 154 GRÁFICO 24 - CERTIFICAÇÕES PARA ATENDER A QUALIDADE E A LEGISLAÇÃO ........................... 155 GRÁFICO 25 - GESTÃO DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS.............................................................. 156 GRÁFICO 26 - ATIVIDADES DE BIOTECNOLOGIA........................................................................... 156 GRÁFICO 27 - FONTES EXTERNAS DE APRENDIZAGEM ................................................................. 157 GRÁFICO 28 - DIFICULDADES PARA O USO DA MATÉRIA-PRIMA DA FLORA .................................. 158 GRÁFICO 29 - OUTRAS DIFICULDADES PARA UTILIZAR RECURSOS DA FLORA............................... 158 GRÁFICO 30 - PRINCIPAIS ESTRATÉGIAS DA FITOINDÚSTRIA E SUBSETORES ................................ 159 GRÁFICO 31 - COMPRAS TOTAIS DA FITOINDÚSTRIA POR REGIÃO ................................................ 185 GRÁFICO 32 - COMPRAS LOCAIS EM RELAÇÃO AO TOTAL DE COMPRAS POR INDÚSTRIA .............. 185

Page 11: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

xi

TABELAS

TABELA 1 - NÍVEL DE VENDAS E EMPREGOS DO PIM ........................................................................ 5 TABELA 2 - PRODUÇÃO E VENDA ANUAL DE ESPÉCIES EMPREGADAS COMO MATÉRIA-PRIMA POR

SAFRA........................................................................................................................... 29 TABELA 3 -PRODUÇÃO E VENDA ANUAL DE ESPÉCIES EMPREGADAS COMO MATÉRIA-PRIMA......... 29 TABELA 4 - EXPORTAÇÃO DE PRODUTOS DA FLORESTA AMAZÔNICA............................................. 33 TABELA 5 - CARACTERÍSTICAS DA FITOINDÚSTRIA E SUBSETORES ................................................ 98 TABELA 6 - FORMAÇÃO ACADÊMICA E PROFISSIONAL DOS DIRIGENTES ...................................... 101

TABELA 7 - EMPRESAS FABRICANTES DE INSUMOS E BENS FINAIS POR ORIGEM DO CAPITAL ....... 102 TABELA 8 - INSUMOS POR SEGMENTO DE MERCADO .................................................................... 102 TABELA 9 - BENS FINAIS POR SEGMENTO DE MERCADO .............................................................. 103 TABELA 10 - FATORES DE ATRATIVIDADE LOCACIONAL ............................................................. 104 TABELA 11- MATÉRIA-PRIMA DA FLORA AMAZÔNICA ................................................................. 108 TABELA 12 - FATORES E ATIVIDADES DE MODERNIZAÇÃO ORGANIZACIONAL ............................. 111 TABELA 13 - CERTIFICAÇÃO PARA ATESTAR A QUALIDADE ......................................................... 112 TABELA 14 - GESTÃO DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS ............................................................... 114 TABELA 15 - GESTÃO DO PROCESSO PRODUTIVO ......................................................................... 115 TABELA 16 - DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO........................................................................... 116 TABELA 17 - ATIVIDADES DE BIOTECNOLOGIA ............................................................................ 120 TABELA 18 - FONTES INTERNAS DE INFORMAÇÃO E APRENDIZAGEM .......................................... 121 TABELA 19 - CONTROLE DE QUALIDADE...................................................................................... 122 TABELA 20 - FONTES EXTERNAS DIVERSAS DE INFORMAÇÃO E DE APRENDIZAGEM .................... 124 TABELA 21 - NECESSIDADE DE PESSOAL QUALIFICADO POR TIPO DE ATIVIDADE ......................... 126 TABELA 22 - DIFICULDADES DE INFRA-ESTRUTURA DE P&D E PRODUÇÃO.................................. 127 TABELA 23 - DIFICULDADES DE COOPERAÇÃO COM INSTITUTOS DE P&D E EMPRESAS ............... 129 TABELA 24 - LIMITAÇÕES DE ATIVIDADES COM A MATÉRIA-PRIMA ............................................ 132 TABELA 25 - ANÁLISES LABORATORIAIS PARA O CONTROLE DE QUALIDADE E P&D .................. 134 TABELA 26 - DIFICULDADES DE ACESSO AO MERCADO PARA O PRODUTO FINAL.......................... 136 TABELA 27 - OUTRAS DIFICULDADE DA FITOINDÚSTRIA.............................................................. 137 TABELA 28 - ESTRATÉGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO DA FITOINDÚSTRIA ............................... 140 TABELA 29 - POTENCIAIS EXPORTADORES, EXPORTADORES DE CAPITAL LOCAL E EXPORTADORES DE CAPITAL ESTRANGEIRO ......................................................... 160 TABELA 30 - NÍVEL DE CAPACITADADE PRODUTIVA E TECNOLÓGICA DA FITOINDÚSTRIA............ 163

Page 12: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

xii

QUADROS

QUADRO 1 - COMPLEXIDADE DAS ATIVIDADES DE PESQUISA E TECNOLÓGICA............................... 49

QUADRO 2 - VANTAGENS ATRIBUÍDAS À FITOINDÚSTRIA COMPARATIVAMENTE AO PIM .............. 68

QUADRO 3 - PRINCIPAIS ELEMENTOS QUE CARACTERIZAM A PROBLEMÁTICA ............................... 69

QUADRO 4 - COMPETÊNCIAS DE PRODUÇÃO E COMPETÊNCIAS TECNOLÓGICAS ............................. 83

QUADRO 5 - NÍVEIS DE CAPACIDADE TECNOLÓGICA DA FITOINDÚSTRIA ....................................... 91

QUADRO 6 - QUATRO QUESTÕES METODOLÓGICAS PARA A PESQUISA............................................ 94

QUADRO 7 - VANTAGENS HIPOTÉTICAS DA FITOINDÚSTRIA SOBRE O PIM................................ 184

QUADRO 8 - NOVAS EMPRESAS DE BIOTECNOLOGIA (NEBS) VS. EMPRESAS............................... 187

Page 13: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

xiii

GLOSSÁRIO

ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária APLs - Arranjos Produtivos Locais ATPF - Autorização para Transporte de Produto Florestal BIAMAZÔNIA - Associação Brasileira para o Uso Sustentável da Amazônia CBA - Centro de Biotecnologia da Amazônia CGEN - Conselho de Gestão do Patrimônio Genético CIDE - Centro de Incubação e Desenvolvimento Empresarial CITES - Comércio Internacional de Espécies da Floresta e da Fauna Selvagem em Perigo de Extinção COIAB - Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária FAPEAM - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas FLO - Fairtrade Labelling Organizations International FSC - Florest Stewardship Council FUCAPI - Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica HEMOAM - Instituto de Hemodiálise do Estado do Amazonas IBD - Instituto Biodinâmico IDAM - Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Estado do Amazonas IMT - Instituto de Medicina Tropical do Estado do Amazonas INPA - Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia INPI - Instituto Nacional de Propriedade Industrial MCT - Ministério da Ciência e Tecnologia MDIC - Ministério de Indústria e Comércio Exterior NEBs - Novas Empresas de Biotecnologia OCB - Unidade do Amazonas das Organizações das Cooperativas do Brasil PAP - Programa de Apoio à Pesquisa PIM - Pólo Industrial de Manaus PINTEC - Pesquisa Industrial Inovação Tecnológica PITCE - Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior

Page 14: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

xiv

PNSQV - Plano Nacional de Segurança e Qualidade dos Produtos de Origem Vegetal

PPB - Processo Produtivo Básico PROBEM - Programa Brasileiro de Ecologia Molecular para o Uso Sustentável da Biodiversidade da Amazônia PROGEX - Programa de Apoio Tecnológico à Exportação PTU - Programa do Trópico Úmido RESEX - Reserva Extrativista RHAE - Programa de Recursos Humanos nas Áreas Estratégicas SDR - Agência de Floresta da Secretaria de Desenvolvimento Social SEBRAE - Serviço de Apoio à Pequena e Média Empresa SECT - Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado do Amazonas SUFRAMA - Superintendência da Zona Franca de Manaus UEA - Universidade Estadual do Amazonas UFPA - Universidade Federal do Pará UFAM - Universidade Federal do Amazonas UNCTAD - Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento UTAM - Instituto Tecnológico do Estado do Amazonas ZFM - Zona Franca de Manaus

Page 15: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

1

I. INTRODUÇÃO

Este estudo de pesquisa busca identificar o nível atual e as perspectivas de capacitação

tecnológica das empresas instaladas em Manaus, capital do Amazonas, que integram o setor

da fitoindústria, assim denominado por utilizarem na fabricação de seus produtos a matéria-

prima de origem da floresta amazônica.

Com esse objetivo são analisados aspectos gerenciais, organizacionais, produtivos,

mercadológicos e estratégicos dessas empresas. Destacam-se os fatores e atividades,

considerados fundamentais para o processo de aprendizagem, de capacitação e de inovação

tecnológica. É examinada, também, nesse contexto, a interação dessas empresas com o

ambiente institucional e os efeitos dos fatores macroambientais.

Para examinar o impacto desses fatores sobre as empresas, foram reunidos dados e

informações que caracterizam a cadeia produtiva da fitoindústria. Buscou-se enfatizar

aqueles referentes às principais atividades que envolvem a produção, manejo,

transformação e comercialização da matéria-prima de origem da floresta.

Todos esses elementos contribuem para facilitar a compreensão do conjunto de atividades

empreendido por esse setor, permitindo estabelecer uma base de reflexão a partir das

empresas.

I.1 ESTRUTURA E ESCOPO DA PESQUISA

O Capítulo I. Introdução apresenta, além da estrutura e escopo da pesquisa, um breve

histórico do desenvolvimento econômico e industrialização do Amazonas, aborda ainda a

exploração auto-sustentável da biodiversidade e o surgimento da fitoindústria. É formulada

a pergunta que a pesquisa se propõe a responder, também introduz a hipótese, os objetivos

da pesquisa e a relevância da pesquisa.

O capítulo II. Contextualização do problema examina cinco temas considerados

importantes para o desempenho da fitoindústria: 1. as implicações da legislação que afetam

a atividade produtiva que emprega os recursos da biodiversidade, em particular os extraídos

da floresta amazônica, 2. a dificuldade de governança dos principais atores que interferem

Page 16: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

2

na exploração desses recursos, 3. o mercado de produção de matéria-prima de origem da

floresta e de produtos naturais, 4. os desafios tecnológicos na cadeia produtiva para a

valorização dos recursos e de produtos naturais, e 5. os desafios para a capacitação

tecnológica das empresas.

O capítulo III. Referencial teórico analisa os seguintes temas: a inovação como elemento

essencial à competitividade das empresas, a adequação de Sistemas de Inovação para a

realidade de regiões em desenvolvimento como a Amazônia, estratégias para a inovação,

aprendizagem e capacitação tecnológica e os conceitos básicos que fundamentam os

objetivos da pesquisa, buscando destacar as atividades inovadoras e a gestão dessas

atividades.

O capítulo IV. metodologia da pesquisa define os parâmetros e busca destacar a

importância da pesquisa qualitativa, pela predominância de variáveis intangíveis e da

riqueza de detalhes para a melhor compreensão dos fatores que determinam o desempenho

da fitoindústria.

O capítulo V. Resultados da pesquisa apresenta os dados consolidados dos fatores

analisados que caracterizam o processo, o nível e trajetória da capacitação tecnológica da

fitoindústria e subsetores. Os dados estão assim organizados: indicadores de capacitação

tecnológica, ilustração gráfica da trajetória do fator de maior importância relativa para a

capacitação tecnológica, ilustração gráfica da trajetória dos fatores de maior variação em

importância relativa, as características das empresas exportadoras, o nível e trajetória da

capacitação tecnológica da fitoindústria e subsetores.

O capítulo VI. conclusões busca destacar os principais resultados da pesquisa e os compara

com características de outros setores considerados importantes para o desenvolvimento

regional.

O capítulo VII. recomendações apresenta algumas proposições de estudos complementares

à pesquisa, de políticas públicas para estimular o desenvolvimento da fitoindústria e de

estratégias de gestão das atividades inovadoras para a capacitação tecnológica das

empresas.

Page 17: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

3

I.2. BREVE HISTÓRICO DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E

INDUSTRIALIZAÇÃO DO AMAZONAS

A partir dos anos 90 do século XX ressurgiu o debate sobre a importância dos recursos da

biodiversidade, porém desta vez como fonte de bioprospecção. Assim, o paradigma tecno-

econômico do uso intensivo de recursos naturais no Amazonas, de outrora, passou a ser

substituído por outro mais recente baseado em informação, ciência e tecnologia, com

aplicação no processo produtivo das empresas.

Tradicionalmente, a economia do estado do Amazonas1 foi sustentada, desde sua criação

pelos portugueses em 1755, pela comercialização de produtos in natura, até o surgimento

em 19672 do projeto Zona Franca de Manaus - ZFM3, hoje denominado de PIM.

Os objetivos do projeto eram de criar no interior da Amazônia um centro comercial,

industrial e agropecuário, levando-se em consideração também aspectos geopolíticos,

definidos pelo governo militar, de ocupação dos espaços amazônicos. O projeto foi

aprovado com vigência inicial de 30 anos e prorrogado mais recentemente até 2023.

Desde o início de sua ocupação pelos portugueses, a história econômica da Amazônia foi

marcada por ciclos de prosperidade intercalados com períodos de estagnação, declínio ou

de crescimento lento das atividades produtivas, até a implementação do projeto ZFM na

versão mais moderna a partir de 1967.

Uma das características da economia amazônica tem sido o isolamento da região em

relação aos centros mais habitados do país, resultando sempre em elevados custos de

transporte para os produtos industrializados. Esses custos também têm sido elevados

mesmo para os produtos in natura, cuja maior parte e de maior valor tem-se destinado ao

mercado externo.

O extrativismo florestal, que constituiu a base econômica da região até o surgimento da

ZFM, sempre obedeceu a períodos de sazonalidade das espécies e enchentes dos rios

1 À época batizado de Capitania de São José do Rio Negro. 2 Nesse ano a área da ZFM foi ampliada de 200 hectares para 10.000 km2 coincidindo com o território

ocupado pelo município de Manaus e também foram ampliados os incentivos fiscais. 3 Esse projeto foi aprovado no Congresso Nacional em 1957 e regulamentado em 1960, estabelecendo uma

área de livre comércio de importação, em um perímetro na cidade de Manaus.

Page 18: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

4

amazônicos, ou em conseqüência das flutuações dos preços no mercado internacional. A

economia após a criação do estado do Amazonas foi baseada na exploração de produtos

florestais e especiarias – estas chamadas de drogas do sertão -, sustentando a frágil

economia do estado até o advento do ciclo da borracha, exatamente um século depois.

Os povoados amazônicos, muitos deles ainda hoje mantendo as características originais de

ribeirinhos, surgiram pela necessidade de se criar núcleos de apoio à colonização

portuguesa na exploração dos recursos da floresta, incluindo posteriormente a exploração

da borracha. O crescimento demográfico crescia ou diminuía proporcionalmente ao

crescimento ou diminuição da exploração extrativista.

A abertura do rio Amazonas à navegação estrangeira em 1866, principalmente, estimulou o

ingresso de investimento inglês que foi fundamental para o financiamento da produção da

borracha que, no auge de sua exploração, chegou a ser juntamente com o café um dos

principais produtos de exportação brasileira, passando a declinar a partir de 1912. Nesse

período, outros produtos de origem extrativista como a castanha-do-Brasil (ou castanha-do-

Pará como é mais conhecida na região), óleo de pau-rosa, bálsamo de copaíba etc. também

auxiliavam a economia do estado e a balança de divisas de exportações do país.

O extrativismo da Amazônia historicamente estabeleceu mais ligações com o comércio

internacional e agora surge a perspectiva de também criar vínculos com o setor industrial

local. Isto é conseqüência, nas últimas décadas, de movimentos com tendência para a

exploração de produtos do chamado “mercado verde e produtos naturais” que tem

despertado a atenção sobre a diversidade genética natural da Amazônia, cujas propriedades

e uso, para grande parte delas, já são bem conhecidos das comunidades locais.

Com espécies levadas da Amazônia, os seringais da Malásia provocaram a queda do preço

da borracha no mercado internacional, conduzindo o Estado do Amazonas a um longo

período de depressão econômica, a partir de 1912, agravada ainda pela primeira guerra e

posteriormente pela recessão mundial, pós 1929.

As possibilidades e limites do crescimento econômico regional ficaram sempre restritos a

medidas de governo, às oscilações de mercado, à demanda de produtos naturais e às

condições bastante adversas do locus de produção na Amazônia. Os poucos investimentos

nunca tiveram efeito multiplicador para o conjunto da economia. O aporte em infra-

Page 19: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

5

estrutura sempre foi pouco significativo e geralmente se circunscrevia às necessidades mais

imediatas do modelo extrativo-exportador (SALAZAR, 2004, p. 224).

Surgiu assim o projeto Zona Franca de Manaus, permeado de ações voluntarista e

intervencionista do governo federal, cuja finalidade era a de criar um centro industrial,

comercial e agropecuário, dotados de condições econômicas que permitissem o

desenvolvimento da Amazônia Ocidental, constituída pelos Estados do Amazonas, Acre,

Roraima e Rondônia.

O projeto redirecionou a economia do Estado para a industrialização, com os incentivos

beneficiando diretamente a produção. Houve o início de um processo de deslocamento de

atividades manufatureiras para Manaus de empresas nacionais da região Sudeste do país e,

principalmente, por empresas transnacionais criando novas filiais. O resultado é hoje um

parque industrial dos mais modernos do país, com capacidade de competir com seus

produtos em diversos mercados, apresentando anualmente taxas crescentes de exportação,

embora o projeto original visasse atender tão somente o mercado interno.

Hoje são aproximadamente 350 indústrias instaladas no PIM, a maioria é de filiais de

empresas multinacionais de diversos países. Apesar da variação cambial, o faturamento

médio do PIM tem se mantido em torno dos 10 bilhões de dólares nos últimos anos,

atingindo aproximadamente 13 bilhões de dólares em 2004. O nível de emprego direto, que

vinha caindo, reverteu essa tendência nos últimos anos, chegando a cerca de 97.000 postos

de trabalho em 2004, resultado do crescimento industrial, quando já havia alcançado cerca

de 80.000 em 1992. Dados históricos de vendas, exportação e importação (US$ 1.000,00) e

nível de emprego são apresentados na tabela 1.

Tabela 1 - Nível de vendas e empregos do PIM

Anos Vendas (A)

Exportação (B)

Importação (C)

Saldo (B-C)

Emprego (D)

1999 9.109.991 375.653 2.141.135 -1.765.482 38.583 2000 11.843.213 741.626 3.025.474 -2.283.848 42.892 2001 10.218.361 829.042 2.701.678 -1.872.636 48.470 2002 10.006.762 1.025.653 2.581.573 -1.555.920 51.137 2003 11.146.683 1.224.940 3.223.339 -1.998.399 57.159

Fonte: http://www.suframa.gov.br.

Page 20: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

6

I.3. REPENSANDO A EXPLORAÇÃO AUTO-SUSTENTÁVEL DA

BIODIVERSIDADE E O SURGIMENTO DA FITOINDÚSTRIA

O termo “fitoindústria” foi extraído do documento de proposta de pesquisa denominado de

“Desenvolvimento de dois produtos fitoterápicos e um fitocosmético a partir de espécies

amazônicas”, coordenado pelo Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia – INPA em

2003. O termo foi adaptado neste estudo para simplificar e caracterizar um setor constituído

de empresas dos diversos segmentos econômicos que utilizam recursos da floresta na

fabricação de seus produtos.

A maior abertura do mercado nacional, ocorrida nos anos 90 do século passado, fez surgir a

necessidade de repensar a dinâmica do desenvolvimento econômico da região. As

atividades extrativistas foram então reconsideradas a partir da perspectiva do

desenvolvimento sustentável e da possibilidade de desenvolver tecnologias no âmbito de

projetos regionais, para a valorização dos recursos da biodiversidade. Um discurso mais

ecologista passou, assim, a merecer mais atenção.

A Convenção da Biodiversidade Biológica (1992, p. 9) adotou a seguinte definição para a

biodiversidade: “é a variabilidade de organismos vivos de todas as origens e os complexos

ecológicos de que fazem parte, compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies,

entre espécies e de ecossistemas”.

O desenvolvimento sustentável procura melhorar a saúde pública e a qualidade de vida para

todos os residentes, limitando os desperdícios, prevenindo poluição, maximizando a

conservação, promovendo a eficiência, e desenvolvendo os recursos locais para revitalizar a

economia local, que não afete a geração corrente e a geração futura (BEBBINGTON, 2001,

p.136, AGUIRRE, 2002, p.103). Segundo Clement (2003, p.24), não existe hoje, todavia,

um acervo de conhecimentos científicos e tecnológicos que possibilitem atender as metas

para um desenvolvimento sustentável na Amazônia.

Um conjunto de stakeholders (clientes, empregados etc.) das companhias, a sociedade e o

governo estão atentos para a insustentabilidade ambiental das atividades das empresas

devido à escassez de recursos naturais e o contínuo crescimento do consumo de recursos. O

fato é que os custos associados com o gerenciamento ambiental e, em particular, o consumo

Page 21: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

7

de recursos naturais (água, matéria-prima natural etc.) e o desperdício continuam crescentes

(NOCI & VERGANTI, 1999, p. 3).

Todavia, a ampliação de novos mercados e o crescimento populacional no mundo têm

apontado para a necessidade de fabricação de novos produtos, cuja matéria-prima natural

torna-se essencial. Emerge a necessidade, portanto, da busca de soluções para a exploração

auto-sustentável de recursos naturais e biogenéticos, com o avanço das fronteiras que são

cada vez maiores. As políticas públicas e os discursos sobre a necessidade da exploração

racional e sustentável da biodiversidade podem ser interpretados por diversas ações.

No Programa de Biotecnologia e Recursos Genéticos, consta que por ser “detentor da maior

diversidade biológica do planeta, o Brasil ainda não utiliza satisfatoriamente o imenso

potencial econômico de sua biodiversidade e dos seus produtos e aplicações em inúmeros

segmentos industriais” (SILVEIRA, 2001, p. 6).

O MCT no “Livro Branco - Ciência Tecnologia e Inovação” (2002, p. 4) apresentou como

uma de suas metas: “fortalecer ações de pesquisa que valorizem a biodiversidade e

contribuam perante a sociedade brasileira e a comunidade internacional para o

desenvolvimento sustentável dos ecossistemas brasileiros...”.

O mesmo Ministério, para estimular atividades em P&D e no esforço em aderir à

“Iniciativa Biotrade”, implementada pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e

Desenvolvimento – UNCTAD, adotou para o período 1999-2002 em caráter multi-

institucional o Programa Brasileiro de Ecologia Molecular para o Uso Sustentável da

Biodiversidade da Amazônia – PROBEM.

O Programa tinha como objetivos principais: (a) pesquisar e desenvolver recursos da

biodiversidade, passando pelas fases de coleta de amostras até preparo de extratos; e (b)

determinar as propriedades desses recursos. Porém, antes já havia sido criada em 1997 a

Associação Brasileira para o Uso Sustentável da Amazônia - BIOAMAZÔNIA,

credenciada pelo governo federal como uma Organização Social, para ser uma instituição

dinâmica e dar suporte à implantação do PROBEM/Amazônia que incentivou a criação do

Centro de Biotecnologia da Amazônia – CBA que está na sua fase inicial de implantação.

O Programa de Biotecnologia e Recursos Genéticos – GENOMA do MCT está calcado na

premissa da não-utilização satisfatória do imenso potencial econômico da biodiversidade e

Page 22: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

8

dos seus produtos em inúmeros segmentos industriais. O programa Biodiversidade em

Recursos Genéticos (BIOVIDA) do Ministério do Meio Ambiente - MMA tem como

objetivos: promover o conhecimento, a conservação, o uso sustentável da biodiversidade e

dos recursos genéticos bem como a repartição justa e eqüitativa dos benefícios derivados da

sua utilização.

No final de 2003, para ampliar o acesso da população aos medicamentos e reduzir um

déficit comercial, o setor de fármacos – que tem no conhecimento tradicional uma valiosa

fonte - e medicamentos foi escolhido como uma das quatro áreas estratégicas da Política

Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE)4 (FINEP, 2004, p.1).

Os chamados “conhecimentos tradicionais” resultam da experiência adquirida por índios,

seringueiros, ribeirinhos e fazendeiros sobre as espécies nas áreas em que vivem. O

conhecimento de índios e seringueiros facilita a procura de cientistas e empresários por

moléculas na floresta empenhados em descobrir fontes de matéria-prima genética.

Projetos de bioprospecção estão sendo conduzidos, obedecendo ao acordo para o acesso e

provisão de benefícios, conforme a Convenção da Biodiversidade – CBD, em inúmeros

países no mundo incluindo Argentina, Austrália, Bermudas, Camarões, Chile, China, Costa

Rica, Índia, Indonésia, Jamaica, Malásia, México, Nigéria, África do Sul e Suriname

(ARTUSO, 2002, p. 1359).

Sem desprezar a importância da bioprospecção, da biotecnologia ou da nanotecnologia, são

de igual valor diversas outras atividades tecnológicas na cadeia produtiva da fitoindústria.

Este é o desafio: como aproveitar a vocação regional na exploração dos recursos naturais,

incorporando tecnologia e agregando valor aos produtos?

A cadeia produtiva refere-se a um conjunto de etapas consecutivas pelas quais passam e

vão sendo transformados e transferidos os diversos insumos, em ciclos de produção,

distribuição e comercialização de bens e serviços. Implica em divisão de trabalho, na qual

cada agente ou conjunto de agentes realiza etapas distintas do processo produtivo

(CASSIOLATO et al., 2003, p.5).

4 As outras áreas prioritárias são as de semicondutores, software e bens de capital.

Page 23: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

9

Além das tecnologias avançadas, a fitoindústria emprega tecnologias de diferentes níveis de

complexidade para a seleção, colheita, classificação, conservação, transporte, controle de

qualidade, produção e distribuição, visando atender o mercado de consumo final que

costuma ser muito exigente em matéria de qualidade e apresentação.

Nesse contexto a biodiversidade pode ser considerada como uma fonte de recursos para o

desenvolvimento econômico da região amazônica? Quais são as condições para que as

empresas valorizem os recursos da floresta, possam efetivamente crescer e inovar?

Os recursos da biodiversidade são considerados fontes importantes de matéria-prima para o

desenvolvimento regional, podendo servir de complemento ou alternativa ao arquétipo de

desenvolvimento do projeto Zona Franca de Manaus. Muito embora esse modelo tenha

produzido riquezas e outros benefícios, não foi coerentemente instrumentalizado para

estender esses benefícios ao interior do Estado (SALAZAR, 2004, p. 245). Entre as

distorções atribuídas ao modelo constam:

A economia do Amazonas tornou-se extremamente dependente da sua atividade

industrial, representando aproximadamente 40% do seu PIB;

O projeto tem prazo até 2023, para encerrar a concessão dos incentivos fiscais, exigindo

atenção permanente no Legislativo em Brasília para sua prorrogação;

A atividade industrial na capital estimulou o êxodo do interior pela busca de melhores

perspectivas oferecidas pela indústria, concentrando a população em Manaus com

1.527.314 de um total de 3.031.68 da população do estado (IBGE, 2003);

A balança de divisas apresenta déficit considerado ainda elevado (ver tabela 1);

O tipo de indústria estimulou a compra de insumos no restante do país, principalmente

de São Paulo e do exterior;

Com o aumento da arrecadação tributária, em função do crescimento do PIM, o Estado

tornou-se arrecadador de impostos e pouco investidor em ciência e tecnologia.

Concomitantemente à abertura da economia brasileira no início dos anos 90, alguns

esforços para incentivar a produção com recursos regionais passaram a ser considerados.

Todavia, algumas experiências no passado não lograram o sucesso esperado. Novamente

em 2002, o governo do Estado retomou o discurso para usar os recursos naturais como

Page 24: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

10

fonte de desenvolvimento, implantando o Programa de Desenvolvimento Sustentável e

Zona Franca Verde. A proposta central é desenvolver e produzir produtos florestais não

madeireiros por serem estes associados à imagem de destruição da floresta, a partir de

sistemas de produção florestal, pesqueira e agropecuária.

O extrativismo perde, assim, seu caráter de atividade arcaica para ressurgir como uma

atividade que garante a conservação da biodiversidade e que forma uma base para o

desenvolvimento da biotecnologia. A Amazônia torna-se, novamente, um reservatório

quase infinito de bancos de dados genéticos. O extrativismo é redescoberto como uma

atividade não predatória, uma possível via de valorização econômica da Amazônia

(EMPERAIRE, 2000, p.1).

Mais recentemente filiais de multinacionais e laboratórios estrangeiros vêm demonstrando

cada vez mais interesse em se instalar no PIM para explorar os recursos regionais,

particularmente da biodiversidade. Isto fica evidenciado pelas crescentes consultas à

Suframa.

Vários projetos de P&D na região, envolvendo os recursos da biodiversidade, já vêm sendo

estruturados ou já estão em execução. Uma infra-estrutura de instituições de P&D para dar

suporte à atividade produtiva começa a se formar com a construção do Centro de

Biotecnologia da Amazônia – CBA.

Diante desse panorama, é sempre conveniente ressaltar a pressão de governos estrangeiros,

de ONGS e organizações indígenas, e a dimensão das reservas florestais e ecológicas hoje

demarcadas, sempre que se debate políticas de desenvolvimento com base na exploração de

recursos da biodiversidade. A Conferência das Nações Unidas para o Comércio e

Desenvolvimento (Unctad) já manifestou sua preocupação com essas questões e já prevê a

destinação de recursos da ONU para o incentivo do bionegócio na região, que deverão ser

compartilhados entre as comunidades da bacia amazônica e as instituições científicas.

Há a compreensão, entretanto, de que o desenvolvimento da Amazônia depende da forma

como serão administradas suas potencialidades. Depende, sobretudo, de como deverão ser

consideradas questões tais como desenvolvimento sustentável, equilíbrio ecológico,

melhoria da qualidade de vida da população, crescimento econômico, modernização,

avanço tecnológico e sua integração à economia nacional e mundial.

Page 25: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

11

I.4. DEFINIÇÃO DO PROBLEMA, HIPÓTESE E OBJETIVOS DA PESQUISA

I.4.1. Formulação do problema e hipótese

I.4.1.1. Formulação do Problema

Como as empresas estão adquirindo capacitação tecnológica e adicionando valor aos

recursos da floresta amazônica?

I.4.1.2. Hipótese

A capacitação tecnológica da fitoindústria depende da adoção de tecnologias com graus

diferenciados de complexidade e da gestão das atividades na cadeia produtiva.

I.4.2. Objetivos da pesquisa

I.4.2.1. Objetivos Gerais

Examinar o processo de aprendizagem e de capacitação tecnológica das empresas que

empregam recursos da floresta amazônica na fabricação de seus produtos.

I.4.2.2. Objetivos Específicos

Identificar os principais fatores que contribuem e restringem as atividades para o

processo de aprendizagem, capacitação e inovação tecnológica das empresas;

Comparar as características: (a) das empresas exportadoras; (b) das empresas da

fitoindústria com as Novas Empresas de Biotecnologia; e (c) da fitoindústria com o

Pólo Industrial de Manaus – PIM;

Avaliar o nível atual e a tendência da trajetória da capacitação tecnológica da

fitoindústria.

Page 26: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

12

I.5 RELEVÂNCIA DA PESQUISA

I.5.1. Escassez de estudos sobre o uso dos recursos da biodiversidade da Amazônia

São escassos os estudos realizados sobre a exploração econômica, o desenvolvimento

científico e tecnológico com aplicação industrial dos recursos da biodiversidade amazônica.

Este trabalho de pesquisa pretende apresentar alguns elementos de resposta para essas

questões, a partir da análise do processo de aprendizagem, da capacitação e de inovação

tecnológica das empresas que utilizam em seus produtos recursos naturais da floresta

amazônica como matéria-prima.

I.5.2. Adoção de políticas públicas e privadas de desenvolvimento regional

A urgência em aprofundar os estudos sobre a exploração da biodiversidade da Amazônia

deve-se a alguns relevantes fatores:

O primeiro é a explosão populacional no mundo que está degradando o meio ambiente com

taxas aceleradas, crescendo a importância da preservação dos recursos da biodiversidade da

Amazônia.

O segundo é que a ciência está descobrindo novas aplicações, e por isso demandando mais

recursos da diversidade biológica, embora com o desenvolvimento de produtos que podem

reduzir o sofrimento humano e de tecnologias capazes de contribuir para evitar os danos

ambientais.

O terceiro é que muitas espécies da biodiversidade da Amazônia estão sendo

irremediavelmente perdidas pela destruição de seu habitat natural.

O estudo deverá contribuir para melhor compreensão do ambiente que envolve diversos

atores e fatores, com níveis diferentes de complexidade em que a fitoindústria tem de se

harmonizar. Permitirá examinar a combinação de vários elementos tais como a criação de

uma plataforma tecnológica endógena, a necessidade de internacionalização, mudanças na

operação do dia-a-dia e no relacionamento das empresas com seus parceiros, governos e

pesquisadores.

Page 27: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

13

A compreensão da relação e influência desses agentes nesse ambiente deverá contribuir

para a adoção de políticas públicas dirigidas ao desenvolvimento regional e para as

estratégias das empresas no uso auto-sustentável dos recursos naturais.

I.5.3. Contribuição científica e metodológica

Este estudo poderá oferecer alguma contribuição cientifica e metodológica com base nos

seguintes argumentos:

o É escassa a literatura que trata de fluxos de aprendizagem, acumulação de

competências e inovação tecnológica em regiões em desenvolvimento,

particularmente na Amazônia que abordem atividades industriais sustentadas pelos

recursos de origem da biodiversidade;

o Foram adaptados modelos teóricos, concebidos para estudos dessas questões em

regiões desenvolvidas e em desenvolvimento, e a adequação para a realidade do

Amazonas de indicadores considerados nos estudos que tratam de capacitação e

inovação tecnológica nos países desenvolvidos, nos países do continente americano

e em particular o Brasil.

Page 28: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

14

II. CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA

Neste capítulo serão examinados os fatores macroambientais que afetam as atividades da

fitoindústria: 1. as implicações da legislação nas atividades da fitoindústria; 2. dificuldades

para harmonizar os interesses dos principais atores que interferem na exploração dos

recursos da floresta; 3. mercados de produtos naturais e de matéria-prima; 4. os riscos

inerentes à exploração da biodiversidade; 5. os desafios tecnológicos da cadeia produtiva

da fitoindústria; e 6. os desafios para a capacitação tecnológica das empresas.

Legislação - será examinado o conjunto de leis que tratam de recursos vegetais, saúde e

alimento, ressaltando os aspectos fito-sanitários, de biossegurança e de acesso à

biodiversidade; análise da legislação da Zona Franca de Manaus, em particular uma de

suas partes integrantes: o Processo Produtivo Básico – PPB;

Governança dos agentes sociais e econômicos – serão identificados e caracterizados os

principais agentes locais que influenciam nas decisões e meios de exploração dos

recursos da floresta;

Mercado – serão analisados os elementos que caracterizam o mercado de produtos

naturais e de produção de matéria-prima da origem da floresta;

Os desafios tecnológicos da fitoindústria – serão estudos os mecanismos de aplicação

da biotecnologia para a produção e transformação dos recursos da biodiversidade, com

base no “estado da arte”. A bioprospecção será um desses instrumentos analisados,

como meio para identificar os recursos genéticos, bem como as diversas tecnologias

consideradas essenciais às atividades da cadeia produtiva, ressaltando os riscos de

exploração da biodiversidade;

Os desafios para a capacitação tecnológicos da empresas – serão analisados os

principais aspectos gerenciais, organizacionais, estratégicos e de capacitação

tecnológica que caracterizam as empresas da fitoindústria.

Page 29: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

15

II.1. AS IMPLICAÇÕES DA LEGISLAÇÃO NAS ATIVIDADES DA

FITOINDÚSTRIA

O ordenamento jurídico desde 1988 da Constituição Federal5 prevê a necessidade de

assegurar a efetividade do direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado:

“preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético”. Considera também que6, “a Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais".

A legislação ambiental, ao generalizar indiscriminadamente e determinar que somente 20%

da área das propriedades amazônicas sejam utilizadas para atividades produtivas, cerceou

ao mesmo tempo a possibilidade de desenvolvimento sustentável, impedindo que através

do conhecimento científico, da tecnologia e da criatividade possam ser adotados modelos

corretos de produção, inclusive para sistemas de manejo em áreas degradadas (SALAZAR,

2004, p.175).

Apesar dessas restrições, empresas continuam a produzir, principalmente em Manaus, e

outras também desejam explorar os recursos da biodiversidade no Amazonas, como fonte

de matéria-prima. Porém, para que produzam legalmente devem observar, particularmente,

a legislação que trata do acesso e uso de recursos vegetais e de produtos que podem afetar a

saúde humana. São também afetadas pela legislação de incentivos fiscais do projeto Zona

Franca de Manaus. Alguns aspectos dessa legislação merecem ser examinadas:

O transporte de produtos florestais de origem nativa é permitido mediante a obtenção da

Autorização para Transporte de Produto Florestal (ATPF), emitida pelo IBAMA, para o

desmate ou plano de manejo aprovado, e o Regime Especial de Transporte (RET).

Para o comércio internacional, o controle e o monitoramento do comércio das espécies da

fauna e floresta ameaçadas de extinção são realizados pela Convenção Internacional sobre o

Comércio Internacional de Espécies da Floresta e da Fauna Selvagem em Perigo de

Extinção – CITES. A permissão é concedida se proveniente de propagação artificial ou 5 Art. 225, parágrafo 1o, inciso II; 6 Nos termos no parágrafo 4o;

Page 30: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

16

oriunda de plano de manejo. Essa comercialização é autorizada mediante emissão da

Licença de Exportação pelo IBAMA.

O acordo Trade Related Intellectual Property Rights (TRIPs) no âmbito da Organização

Mundial do Comércio (OMC) é altamente abrangente no que se refere ao reconhecimento

de direitos de propriedade intelectual nas áreas biológica e biotecnológica associado à

biodiversidade. Isto pode levar à diminuição do fluxo e intercâmbio de material genético,

afetando áreas estratégicas, como a de medicamentos e segurança alimentar, sobretudo

quando se trata do patenteamento de plantas (ALBAGLI, 1998, p. 10).

Há alguns temores para pesquisar novas drogas com base nas plantas. Em geral se acredita

que os produtos naturais não podem ser patenteados com o mesmo grau de segurança que

componentes sintéticos (FARNWOTH, apud WILSON, 1989, p. 83).

A lei internacional de patentes que protege novas descobertas farmacêuticas foi

reconhecida internamente em 1996. Porém, já a partir de 1995, as empresas farmacêuticas

brasileiras foram obrigadas a documentar a eficácia farmacêutica e a segurança, e antever a

toxicologia dos remédios fitoterápicos da mesma forma como o fazem com qualquer outro

produto farmacêutico. Essas medidas têm levado as melhores empresas farmacêuticas no

país a começarem a investir na legitimação de remédios derivados de plantas.

O valor dos conhecimentos tradicionais e dos recursos da biodiversidade hoje passa a ser

propriedade de quem desenvolve os produtos e os lança no mercado. Com a entrada em

vigor da nova Lei de Propriedade Intelectual7, no 9.279 de 1996, o Brasil passou a

concordar com as regras de padrões internacionais.

A Lei de Proteção de Cultivares, n° 9.456, de 1997 é compatível com o convênio

internacional que rege a matéria, a Union pour la Protéction des Obténcions Végétales -

UPOV. A Lei brasileira protege material de propagação das plantas, ou seja, plantas e parte

delas (sementes, bulbos e outros). Não protege o processo e o produto final: flores, frutos,

raízes, etc. (FERNANDES, 2002, p. 118).

Os fitoterápicos, nos casos em que requerem prescrição médica, exigem a comprovação

científica da segurança, de uso e da eficácia terapêutica dos produtos, o que implica a

7 A lei que Regula Direitos e Obrigações Relativos à Propriedade Industrial no Brasil é a Lei no 9.279 de 14.05.96.

Page 31: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

17

realização de ensaios clínicos análogos aos dos produtos farmacêuticos tradicionais

(FAJNZYLBER, 2002, p. 14). O ambiente regulatório dos fitoterápicos varia muito de país

para país. Na Europa e no Japão são regulados com padrões estabelecidos para a

manufatura e para a matéria-prima e integrados aos sistemas de saúde. Os EUA estão em

processo de regulamentação há vários anos e ainda estão tentando uma via de acesso ao

sistema de saúde (FERNANDES, 2002, p. 81).

A Lei nº 10.742 de 2003 dispõe sobre a vigilância sanitária a que ficam sujeitos os

medicamentos, as drogas, os insumos farmacêuticos e correlatos, cosméticos, saneantes e

outros produtos. A vigilância sanitária é o Sistema de avaliação e controle de qualidade dos

produtos e procedimentos de consumo humano do Ministério da Saúde que visa identificar

problemas que possam causar danos à saúde da população e tem como missão proteger e

promover a saúde da população garantindo a segurança sanitária de produtos e serviços e

participando da construção de seu acesso.

A ANVISA regulamentou a concentração dos princípios ativos dos fitoterápicos, através da

Resolução RDC no 48, de 16.03.2004, que dispõe sobre o registro de medicamentos

fitoterápicos, para padronizar e assegurar a pureza e a reprodutibilidade da produção, que

são análises que afetam tanto as pequenas empresas quanto as grandes. Produtos in natura,

entretanto, tais como chás e folhas deixam de ser regulamentados e não mais serão

fiscalizados pela ANVISA. Até agora, apenas 3 plantas brasileiras foram registradas na

ANVISA, uma das quais é o guaraná do Amazonas, mas que foi registrado por empresa que

não é da Amazônia. A fitoterapia é utilizada por grande parte da população do Amazonas

que até recentemente não era sujeita à regulação.

Para se conseguir a liberação de medicamentos baseados em ervas que não as catalogadas,

os fabricantes terão de seguir normas rigorosas de qualidade e apresentar ensaios clínicos

ou trabalhos publicados em fontes bibliográficas confiáveis, modelo parecido com o

europeu.

A legislação americana para cosméticos é bem mais branda que a dos medicamentos. Na

Europa, entretanto, a legislação de cosméticos é bastante rígida, justificando o menor

número de documentos de patente no EPO - European Patent Office (FERNANDES, 2002,

p. 132).

Page 32: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

18

O Ministério da Agricultura criou Instruções Normativas, tentando adequar os exportadores

brasileiros às exigências de países importadores da castanha-do-Brasil. Seguindo a Lei

9.712 de 1998 e ações previstas no Plano Nacional de Segurança e Qualidade dos Produtos

de Origem Vegetal – PNSQV, que foi publicado em 11/09/2003, pretende-se emitir

certificado que assegure, dentre outros, a qualidade e a sistematização da rastreabilidade

das diversas etapas ao longo dessa Cadeia Produtiva da castanha. O IBAMA classifica

como produtor quem cultiva e produz a matéria-prima associada à biodiversidade e como

fabricante aquele que a utiliza na fabricação de bens finais.

A Medida Provisória no 2.186-16 de 23/08/2001, conhecida como Lei da Biodiversidade,

dispõe sobre os recursos da floresta, uma vez que se tentou disciplinar os bens, direitos e

obrigações: a) acesso a componente do patrimônio genético existente no território

brasileiro...; b) conhecimento tradicional associado ao patrimônio genético e relevante à

conservação da diversidade biológica à sua integridade no País, e à utilização de seus

componentes; c) repartição justa e eqüitativa dos benefícios derivados de sua exploração; d)

acesso à tecnologia e sua transferência para a conservação e utilização da diversidade

biológica.

Sobre a regulamentação da exploração comercial de plantas medicinais, a legislação

ambiental brasileira estabelece que a exploração de plantas nativas sejam mediante a

aprovação e adoção de planos de manejo sustentável (www.senado.gov.br/legbras/). A

legislação prevê, ainda, que o plano de manejo deve ser fundamentado em estudos técnico-

científicos.

O Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN), do Ministério do Meio Ambiente,

concedeu em 2004 a primeira autorização para que uma empresa privada faça coleta de

material genético da biodiversidade brasileira para fins comerciais. A empresa Extracta

Moléculas Naturais está instalada na Fundação BioRio no Rio de Janeiro e mantém uma

biblioteca química com cerca de 40 mil moléculas e compostos químicos vegetais extraídos

da floresta nacional, que são pesquisados para uso em medicamentos e cosméticos.

A obtenção do material fica condicionada à assinatura de contrato padrão, garantindo a

repartição de eventuais lucros com os proprietários da terra – que podem ser fazendeiro,

governo, ou uma tribo indígena. Cada novo extrato estará sujeito a um contrato

Page 33: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

19

correspondente. Todavia, ainda não foram regulamentadas questões para esses contratos

tais como royalties, sustentabilidade ambiental e transferência de tecnologia para as

reservas extrativistas. Deverão ser levados em consideração para novo projeto de lei laudos

antropológicos, instrumentos considerados essenciais pelo CEGEN.

A lei brasileira estabelece que parcerias entre instituições e empresas com índios e

seringueiros sejam ratificadas antes pelos donos do conhecimento. Na maioria das vezes o

uso do conhecimento popular de uma espécie abrange uma região inteira e pode atravessar

fronteiras entre países. Como assegurar que um contrato depois de assinado impeça que

outras comunidades reivindiquem os mesmos direitos?

O projeto de Lei de Biossegurança, aprovada em 06/03/2005 dispõe sobre a política

nacional de biossegurança e estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização

de organismos geneticamente modificados – OGMs deverá ter impacto nos meios de

produção de matéria-prima da floresta.

E por atuarem no Pólo Industrial de Manaus as empresas podem ficar sujeitas a regras

estabelecidas no Processo Produtivo Básico – PPB para a fabricação de seus produtos, sob

a supervisão da Superintendência da Zona Franca de Manaus, que é uma autarquia

subordinada ao Ministério da Indústria e Comércio Exterior. O Processo Produtivo Básico

- PPB para o segmento de cosméticos já foi regulamentado, pelo Decreto no 783 de

25.03.1993 e Portaria aprovada em 13.08.2002.

O PPB prevê o seguinte: “ficam estabelecidas as participações quantitativas mínimas de

utilização de matérias-primas oriundas da fauna e floresta regionais a serem empregadas em

produtos de perfumaria ou de toucador, preparados e preparações cosméticas, em

conformidade com o Processo Produtivo Básico”8. Na prática a percepção é a de que o

PPB para cosméticos dificulta a produção para as empresas locais, privilegiando as

empresas que estão fora do Estado, desestimulando a interiorização da produção e

restringindo a comercialização para o mercado nacional, restando a opção de exportação.

8 Anexo X ao decreto no 783, de 25 de março de 1993.

Page 34: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

20

II.2. DIFICULDADES DE GOVERNANÇA DOS ATORES PARA A

EXPLORAÇÃO DA BIODIVERSIDADE

A exploração dos recursos da biodiversidade na Amazônia tem sido influenciada por

diversos atores, de difícil harmonia pelos interesses muitas vezes conflitantes, sendo os

mais representativos: 1. Institutos de P&D, 2. organizações governamentais de fomento, 3.

organizações indígenas (ONGs) e 4. empresas industriais.

Genericamente, o conceito de governança refere-se às diversas formas pelas quais

indivíduos e organizações (públicas e privadas) gerenciam seus problemas comuns,

acomodando interesses conflitantes ou diferenciados e realizando ações cooperativas. Diz

respeito não só a instituições e regimes formais de coordenação e autoridade, mas também

a sistemas informais (CASSIOLATO et al., 2003 p. 14). A governança local é considerada

hoje como a chave determinante do resultado das estratégias de desenvolvimento

econômico e ações para melhorar a qualidade de vida (OECD, 2004, p.4).

As instituições incluem normas, rotinas, hábitos comuns, práticas estabelecidas,

regulamentações, leis, padrões e assim por diante, que moldam a cognição de agentes e

afetam a interação entre agentes (MALERBA, 2002, p.11). A figura 1 ilustra a conexão dos

atores com os recursos da biodiversidade, notadamente com os recursos da floresta, por

serem evidenciados neste estudo.

Figura 1 - Atores que interferem na exploração dos recursos da floresta amazônica

Fonte: própria

Empresas

ONGs

Governo

Institutos de P&D

Exploração da Floresta

Page 35: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

21

II.2.1. Institutos de P&D

As principais instituições locais de P&D que exercem algum tipo de interferência na

exploração dos recursos naturais da floresta amazônica como fonte de matéria-prima são:

INPA, UFAM, EMBRAPA e está em fase de implantação o CBA.

O Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia – INPA, subordinado ao Ministério de

Ciência e Tecnologia (MCT), é a principal instituição de pesquisa local. A Universidade

Federal do Amazonas – UFAM, Universidade Estadual do Amazonas - UEA e a Empresa

Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA são as outras importantes instituições no

Amazonas que desenvolvem atividades de P&D empregando recursos da floresta. Embora

São Paulo possua o maior número de grupos de estudos de plantas medicinais do país, no

Amazonas essa atividade já é desenvolvida pelo INPA, UFAM e EMBRAPA.

Está em construção o Centro de Biotecnologia da Amazônia – CBA com o apoio dos

Ministérios do Meio Ambiente, Ministério de Ciência e Tecnologia e Ministérios de

Indústria e Comércio Exterior. O CBA deverá comandar uma Rede Nacional de

Laboratórios, apoiada por uma Rede de Fornecedores da Biodiversidade, principalmente

pelas comunidades locais e ser o centro de análises químicas para a indústria farmacêutica e

cosmética da região com exames de toxicologia, farmacologia e de determinação dos

princípios ativos. O Centro deverá desenvolver algumas das atividades similares as do

Instituto Nacional de Biodiversidade - INbio da Costa Rica, uma instituição dedicada ao

inventário, à conservação e ao uso sustentável da biodiversidade daquele país.

O CBA deverá ter no futuro 25 laboratórios, dos quais 12 estão em fase final de

implantação. O projeto prevê a instalação de conjuntos de laboratórios básicos

contemplando as seguintes áreas: origem vegetal, origem animal, microorganismos e

central analítica. Também deverá dispor de projetos básicos: uma central de produção de

extratos, uma incubadora de empresas e uma planta de processos industriais.

No que se refere à pesquisa, o CBA deverá privilegiar aquelas que beneficiem a população

de modo geral e empresas do setor produtivo. Pesquisadores de diversas partes do mundo já

manifestaram interesse em integrar-se à equipe de pesquisadores do CBA quando este

estiver operando. Porém, a contratação e alocação desses pesquisadores deverão ocorrer

Page 36: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

22

após a definição do modelo de gestão do Centro, que se encontra em fase de elaboração,

compatíveis com os objetivos dos projetos.

O objetivo principal do Centro é desenvolver atividades de biotecnologia. Para dispor do

mínimo de capacidade nas atividades de inovação em biotecnologia os projetos serão

organizados e integrados em redes e consórcios para a redução de custos e integração,

devido à necessidade de capital e competência existentes nos diversos lugares. O Amazonas

poderá criar competência local para participar do esforço nacional de desenvolvimento da

biotecnologia?

II.2.2. Organizações governamentais de fomento

As principais instituições locais de fomento que apóiam ou desenvolvem atividades

produtivas empregando recursos da biodiversidade são: Superintendência da Zona Franca

de Manaus – Suframa, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas –

FAPEAM, Agência de Floresta e Negócios Sustentáveis do Amazonas, que é um órgão da

Secretaria de Desenvolvimento Social – SDR, e o SEBRAE-Am.

A Superintendência da Zona Franca de Manaus - Suframa é um órgão do governo federal,

subordinado ao Ministério de Indústria e Comércio Exterior - MDIC, responsável pela

administração de incentivos fiscais federais do projeto Zona Franca de Manaus, concedidos

às empresas. A Suframa também financia projetos para os Estados da Amazônia Ocidental

e é quem está financiando a construção do Centro de Biotecnologia do Amazonas – CBA,

em fase de implantação em Manaus-Am.

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas - FAPEAM é um órgão

subordinado à Secretaria de Ciência e Tecnologia - SECT do governo estadual, implantada

em 2003, que administra os fundos para financiamento de pesquisa.

A Agência de Floresta e Negócios Sustentáveis do Amazonas é um órgão da Secretaria de

Desenvolvimento Social - SDR do Governo do Estado do Amazonas, que passa a ter um

papel mais ativo na transferência de tecnologia e organização das comunidades produtoras

de matéria-prima de origem da floresta.

O SEBRAE-Am e a Unidade das Organizações das Cooperativas do Brasil - OCB do

Amazonas são instituições não governamentais também envolvidas no apoio à exploração e

Page 37: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

23

produção de matéria-prima a partir de recursos de origem da floresta. O Centro de

Incubação e Desenvolvimento Empresarial – CIDE é uma Incubadora multisetorial que

conta com o apoio de várias instituições do Amazonas9 e que dispõe de 10 projetos de

empresas para desenvolver pesquisas e novos produtos com recursos naturais da região.

II.2.3. Organizações Indígenas (ONGs)

Existem várias Organizações Não Governamentais – ONGs que vêm exercendo bastante

influência nos debates que tratam da exploração dos recursos naturais do Amazonas.

Entretanto, as organizações indígenas são as que mais se destacam.

A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira – COIAB, com sede

em Manaus, foi criada em 1989, para fortalecer regionalmente o movimento indígena na

luta política para fazer valer os direitos assinalados na Constituição Federal. Está vinculada

a 75 organizações que representam 165 povos que habitam os estados amazônicos. Com

população estimada em 204.000 habitantes, representando 60% da população indígena do

Brasil (http://www.coiab.com.br/yakino.php).

A Associação de Produção e Cultura Indígena - Yakinõ foi criada como um braço

executivo da COIAB, com sede em Manaus (AM), fundada em 2002. Tem defendido e

promovido a forma tradicional de uso e conservação das terras indígenas. No momento são

42 comunidades envolvidas no Alto Solimões, Baixo Madeira, Alto Madeira e Rio Negro,

atingindo cerca de 2.000 pessoas. Comunidades tradicionais como essas são detentoras de

conhecimentos tradicionais e fornecedoras de espécies utilizadas como matéria-prima pela

fitoindústria (http://www.coiab.com.br/yakino.php).

II.2.4. Empresas industriais

As empresas são aquelas que integram a fitoindústria, atuando nos segmentos de fármacos,

cosméticos e alimentos, foco central deste estudo. Informações mais detalhadas das

empresas são apresentadas no item II.4.3.

9 Além da Associação Brasileira para o Uso Sustentável da Amazônia - BIOAMAZÔNIA, também apoiaram

a implantação do CIDE a Superintendência da Zona Franca de Manaus - Suframa; Fucapi - Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica; Universidade Federal do Amazonas - UFAM, Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia - INPA, Unidade de Serviço de Apoio à Pequena e Média Empresa – Sebrae-AM; etc.

Page 38: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

24

II.3. MERCADO DE PRODUTOS NATURAIS E DE MATÉRIA-PRIMA DE

ORIGEM DA FLORESTA AMAZÔNICA

A variedade de espécies de plantas existentes nos ecossistemas brasileiros é uma fonte

biológica inestimável, constituída de genes, moléculas e microorganismos. Esses recursos

têm crescido em importância como matéria-prima para atividades biotecnológicas com

aplicação na indústria farmacêutica, agronegócio, química industrial, cosmética, medicina

botânica, horticultura etc.

O segmento de alimentos e o segmento de energia também apresentam grande potencial.

Este último de certa forma é até ilimitado. A produção de petróleo deverá sofrer restrições

cada vez maiores, tendendo a criar espaço para o desenvolvimento do biodiesel, embora

ainda hoje inviável economicamente, pela inexistência de cultivo e oferta das quantidades

necessárias das espécies nativas.

Os recursos naturais da biodiversidade amazônica, com destaque para os de origem da

floresta, podem ter diversas aplicações tais como: (a) a castanha-do-Brasil e o guaraná

podem ser empregados principalmente na indústria de alimentos; (b) o óleo fixo, extraído

de espécies como o buriti e a copaíba, é empregado na indústria de fitocosméticos e

fitofármacos; (c) o óleo essencial extraído de espécies como o pau-rosa é empregado na

indústria de cosméticos, perfumaria e fragrâncias em geral; (d) substâncias isoladas como a

cafeína e pilocarpina extraídas de diversas espécies são empregadas nos segmentos

farmacêutico e cosmético.

A título de exemplo do potencial da biodiversidade, o estudo “Subsídios Para Política

Pública de Biotecnologia para o Estado do Amazonas” (2002, p. 8) considera que os

recursos biogenéticos da floresta amazônica são constituídos de plantas medicinais,

aromáticas, alimentícias, toxinas, corantes, oleaginosas e fibrosas que podem ser usados

para a produção de fármacos, fitoterápicos, alimentos, cosméticos, e várias outras

aplicações.

O estudo afirma ainda que apenas cerca de 3.000 plantas foram identificadas pela medicina

popular e que a grande maioria delas ainda não foi submetida a processos de avaliação

química, toxicológica e farmacológica indispensáveis para transformá-las em produtos

Page 39: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

25

comercializáveis. Das 120 plantas que poderiam ter aplicação quase imediata no mercado

de cosméticos, somente 20 estão sendo efetivamente usadas.

A biodiversidade também tem futuro promissor como fonte de recursos para o

desenvolvimento da biotecnologia pelas seguintes razões: (a) a descoberta de drogas

naturais volta a ter forte apelo, depois de ter sido negligenciada desde o advento da

combinação de técnicas da química com a biologia molecular; (b) vários dos medicamentos

mais vendidos no mundo são derivados de produtos naturais. A origem desses produtos

naturais é de plantas, bactérias, fungos, etc., ratificando a importância atribuída às fontes

biológicas da biodiversidade amazônica.

A exploração da biodiversidade demanda uma estratégia de articulação com bancos de

germoplasma e de microorganismos, gerando uma demanda crescente para serviços

biotecnológicos, que pode ser uma das grandes avenidas de expansão da biotecnologia no

país (SILVEIRA et al., 2001, p. 35). E a farmacogenômica usufruirá da evolução

direcionada e da recombinação gênica in vitro, na busca de novos medicamentos,

nutracêuticos e cosmecêuticos. São características da análise genética contemporânea, a

industrialização, a automação e informatização (MACHADO, 2001, p. 2).

Apesar desse potencial, as atividades para desenvolver a biotecnologia no país com

recursos da biodiversidade ainda são pouco exploradas. A coleta, identificação e o

monitoramento da diversidade biogenética são limitadas. Esta limitação é ainda mais

acentuada na região Norte, Nordeste e Centro-Oeste onde se concentram os ecossistemas

pertencentes aos biomas Floresta Amazônica, Cerrados e Pantanal, altamente diversos e

ainda inexplorados.

Alguns dos dados apresentados a seguir foram extraídos de publicações10 de grande

circulação no país:

O Brasil está em primeiro lugar com 23% do total de espécies do planeta. A Suíça tem

apenas uma planta “endêmica” – que só existe naquele país -, a Alemanha possui 19, o

México 3.000, enquanto o Brasil possui 20.000 apenas na Amazônia;

10 Embora não se possa assegurar a confiabilidade dos dados, grande parte deles foi obtida das seguintes

publicações: revista Exame (no 35, maio de 2001), (Revista Exame no 20, 2003), (Revista Exame, no 37, 2003), (Revista Época, fevereiro de 2004).

Page 40: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

26

Dos 119 princípios ativos usados em remédios, 74% foram revelados pela medicina

botânica. Entre eles estão a penicilina, a morfina e o ácido acetilsalicílico.

O pouco conhecimento da população e a pouca pesquisa sobre plantas medicinais da

biodiversidade brasileira limitam o uso e a exportação de muitas espécies;

Os medicamentos fitoterápicos movimentam cerca de US$ 60 bilhões por ano no

mundo e R$ 1 bilhão no Brasil; dos 206 fitoterápicos registrados no país em 2003, 89%

eram feitos com plantas européias; dos medicamentos, as ervas são a base de mais de

um terço dos remédios disponíveis; de todos os medicamentos, 39% têm origem vegetal

e 6% são fitoterápicos. O Brasil participa com menos de 2% do consumo mundial de

medicamentos;

Em alguns países como França e Alemanha, o consumo de fitoterápico já rivaliza com o

de medicamentos convencionais; o mercado mundial para bioativos da Amazônia já é

estimado em U$ 500 milhões ao ano atualmente;

Estima-se que a demanda mundial por extratos de plantas, que vem crescendo a taxas

elevadas, já tenha superado os 2 bilhões de dólares ao ano. De cada 10 ativos presentes

nos 15 principais produtos de tratamento de pele vendido no mundo, cinco são à base de

planta.

São considerados fitoterápicos os medicamentos farmacêuticos feitos com a planta inteira,

sem manipulação química. É caracterizado pelo conhecimento da eficácia e dos riscos de

seu uso, assim como pela reprodutibilidade e constância de sua qualidade. É raro encontrar

um fitoterápico que não faça alusão ao conhecimento tradicional. Os fitoterápicos são feitos

com extratos concentrados de plantas, enquanto os medicamentos alopáticos, mesmo

aqueles à base de ervas, são fabricados com substâncias isoladas.

Os fitofármacos são remédios feitos com princípios ativos retirados de plantas. Os semi-

sintéticos são aqueles em que o princípio ativo é retirado da planta, isolado e embalado. Um

fitofármaco é uma substância nova, ou já conhecida, com estrutura quimicamente definida e

com atividade farmacológica determinada.

Para o segmento “natural” da indústria de cosméticos e produtos de higiene pessoal embora

seja bastante difícil de ser caracterizado, estima-se um crescimento de mercado a taxa anual

Page 41: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

27

de 8 a 25%. Em 2000, foram negociados US$ 700 milhões e a previsão é de US$ 1 bilhão

ao ano para os próximos 10 anos no país (HERBARIUM, 2002). Cosméticos e produtos de

higiene pessoal nos mercados de luxo e o de massa cada vez mais aumentam a utilização de

substâncias naturais em suas formulações.

Uma demanda por produtos cosméticos e de higiene pessoal mais sofisticados, que

apresentem efeito biológico como produtos terapêuticos está crescendo no mundo,

chamados de cosmecêuticos. Muitas substâncias presentes nos produtos cosméticos e de

higiene pessoal foram derivadas do uso tradicional. A indústria de fármacos a partir de

plantas medicinais vem apresentando um rápido crescimento mundial, com taxa entre 10 a

20% ao ano em muitos países.

A produção industrializada de polpas, doces, balas e chocolates, com a diversidade de

frutas da Amazônia, tem criado um número significativo de micro e pequenas empresas e a

conseqüente geração de empregos. Esses segmentos têm crescido a taxas bastante elevadas

nos últimos anos, muito embora atendendo até agora o mercado local e regional, porém

com perspectiva de expansão para o mercado nacional e até para o externo.

A demanda crescente por produtos naturais no país, seguindo a tendência mundial, tem

atraído investimentos de filiais de grandes laboratórios estrangeiros, podendo representar

uma ameaça para a pequena indústria local e brasileira que podem não ter como competir.

O interesse por produtos naturais e fitoterápicos, entretanto, fabricados por filiais de

grandes laboratórios estrangeiros ou por pequenas indústrias brasileiras deverá incentivar a

pesquisa e estimular o surgimento de novos especialistas no país, ampliando o

conhecimento sobre as plantas brasileiras e o uso correto da fitoterapia.

Pelo domínio e a participação dos grandes laboratórios farmacêuticos multinacionais em

atividade no mercado brasileiro, os fitoterápicos, por enquanto, têm apenas uma pequena

representatividade nas vendas totais, existindo assim um mercado em potencial que poderá

ser explorado pelas empresas de capital nacional e local.

O “preço justo”, um conceito ainda pouco conhecido, pode facilitar o acesso ao mercado

internacional de produtos de origem natural. “A prioridade do Mercado Justo é um

comércio que combine o social com o econômico, facilitando a colocação desses produtos

Page 42: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

28

certificados nos mercados dos países desenvolvidos, com o menor envolvimento de

intermediários, e proporcionando o maior retorno econômico para seus produtores”.

Entre os produtos comercializados via “Mercado Justo”, encontra-se o guaraná dos Sateré-

Mawé da área indígena do Andirá-Maraú, no município de Parintins-Am, considerado um

santuário ecológico e cultural do guaraná e banco genético natural do mundo inteiro do

guaraná nativo. O guaraná dessa Comunidade Indígena é comercializado hoje para diversos

países tais como EUA, Alemanha, Japão, França, Itália e Suíça pela empresa Agrorisa que

utiliza as facilidades criadas pelo “Mercado Justo”.

A comercialização de produtos de origem natural tem levado a exigências cada vez maiores

dos países importadores tais como a comprovação de qualidade e boas práticas de

fabricação e de procedência, ou origem, mesmo os in natura. Alguns importantes países da

Europa, por exemplo, passaram a exigir recentemente o limite máximo de contaminação da

castanha-do-Brasil (ou do Pará) com aflotoxinas de 4 ppb (parte por bilhão). Para alguns

países o limite é zero.

A indicação de procedência é “toda denominação, expressão ou signo que indique que um

produto ou serviço procede de um país, região ou lugar específico”. “A denominação de

origem é aquela expressão que identifica um produto originário de um país, de uma região

ou localidade geográfica, quando a qualidade desse produto se deve exclusiva ou

fundamentalmente à sua origem geográfica, incluídos os fatores naturais e humanos”.

São cada vez maiores as pressões sociais e de mercado, que ficam expressas quando são

exigidos certificados de origem orgânica, de comércio seguro, de fontes ambientalmente

seguras e de divisão de benefícios no caso de serem extraídas de comunidades e com o

aproveitamento de conhecimento tradicional. Ressalte-se, entretanto, que o “mercado de

produtos naturais foi construído sobre uma imagem de valorização da floresta e do saber

tradicional dos grupos indígenas” (FERREIRA, 2000, p. 177).

Com a crescente demanda de matéria-prima da floresta para aplicação industrial, tanto da

fitoindústria quanto do mercado nacional e principalmente o internacional, algumas

questões passaram a adquirir maior relevância. Destacam-se o desenvolvimento

sustentável, a escala de produção, oferta, logística de transporte, sazonalidade, identificação

de origem, preservação ambiental, preço, cooperação com os fornecedores, a valoração e

Page 43: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

29

valorização dos recursos da biodiversidade e a necessidade de estabelecer os limites de sua

exploração para a produção auto-sustentável de matéria-prima.

Em contraste, seis categorias distintas de valor podem ser simultaneamente geradas a partir

da conservação da biodiversidade: existência, ecoturismo, serviços ambientais, agricultura

sustentável, extrativismo e bioprospecção. Dificilmente qualquer um dos seis, todavia, será

suficiente para justificar os custos de oportunidade de atividades aparentemente mais

lucrativas que exterminariam a diversidade biológica (VOGEL, 1997, p. 2).

Os dados disponíveis de produção e venda de algumas espécies empregadas como matéria-

prima pela fitoindústria são apresentados nas tabelas 2 e 3.

Tabela 2 - Produção e venda anual de espécies empregadas como matéria-prima por safra

Fonte: Relatório de Atividades do IDAM, (2003, seção 12.1), órgão do governo do Amazonas.

Tabela 3 - Produção e venda anual de espécies empregadas como matéria-prima

Fonte: arquivo eletrônico fornecido pelo IDAM (2004)

Algumas empresas do segmento de fitoterápicos e fitocosméticos utilizam a maior parte da

matéria-prima natural que é adquirida de outros estados e procedentes do exterior, apesar

do grande potencial regional. A produção de plantas medicinais para medicamentos não é

ainda uma atividade desenvolvida na região, assim como a produção de matéria-prima para

outros segmentos econômicos. Destaca-se que grande parte das plantas medicinais também

pode ser empregada como conservantes naturais.

Produto Unidade 2000/2001 2001/2002 2002/2003 2003/2004

Cupuaçu Fruto/ tonelada de

polpa

6.060.9/ 1.006

9.096/ 2.766

19.397/ 1.869

16.869/ 3.914

Pupunha tonelada de palmito/

cacho

508/ 3.600.000

508/ 4.607.000

947/ 5.061.000

902/ 5.479.000

Guaraná tonelada 435,5 480 498 743

Produto Unidade 2001 2002 2003 Urucum tonelada 20 6.4 6 Açaí mil cachos 290 502 1.001 Cana-de-Açucar

tonelada 1.208 1.356 227

Page 44: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

30

Já existe razoável literatura sobre algumas espécies de plantas com potencial para aplicação

no segmento farmacêutico, e de outras espécies mais conhecidas empregadas por outros

segmentos econômicos da fitoindústria. O que não se sabe devidamente é a distribuição

espacial delas, como elas se proliferam na floresta e como lidar com elas.

O projeto “Fito” do programa de plataformas tecnológicas e de arranjos produtivos locais

do MCT, que envolve as seguintes instituições: INPA, UFAM, SECT e a empresa Pronatus,

para o qual a FUCAPI é a proponente, tem o objetivo de solucionar gargalos de validação

botânica, química e biológica para fins de industrialização de espécies da floresta com fins

de registro na ANVISA. Vários municípios no interior do Estado foram selecionados como

potenciais produtores de plantas medicinais: Atalaia do Norte, Tabatinga, Benjamin

Constant, Manaquiri, Rio Preto da Eva, Itacoatiara, Silves, Barreirinha e Parintins

(FOLHADELA & TRINDADE, p. 53). O projeto define gargalo como “restrições que,

solucionadas, causam um salto ou melhoria nas atividades do arranjo”.

Em 2003, o SEBRAE-AM ao analisar a aquisição da matéria-prima por essas empresas

concluiu que não havia identificação de procedência, constatando ainda pouco uso das

plantas regionais e elevado índice de contaminação em seu manejo, comprometendo a

qualidade final do produto. Aquela organização iniciou um programa denominado de Pró-

Várzea que tem como objetivo inicial organizar a produção de matéria-prima para

fitoterápicos, formar lideranças e empreendedores nas comunidades.

Estima-se que menos de 10% dos insumos empregados nos fitofármacos e fitocosméticos

pela fitoindústria são de origem regional, cuja maioria é procedente do Sul/Sudeste. Mesmo

as espécies amazônicas são beneficiadas naquelas regiões e depois retornam para aplicação

no processo produtivo das empresas locais.

Algumas das espécies mais utilizadas pela fitoindústria são o açaí, cupuaçu e camu-camu

para a extração de polpa. O guaraná para a produção de concentrados empregados na

produção de refrigerantes; a cana-de-açúcar para a produção de açúcar industrial; o urucum

que é bastante empregado em cosméticos; a pupunha que é empregada principalmente na

fabricação do palmito e ração animal. Uma empresa nos EUA iniciou experiência com o

açaí para a produção de suco e o guaraná será o próximo a ser testado11, indicando o

11 Revista Exame, Seção Primeiro Lugar, p. 12, ano 39, no 5, 16/03/2005.

Page 45: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

31

interesse crescente por espécies da Amazônia. O Cupulate, produto resultante de pesquisas

do INPA e EMBRAPA com o cupuaçu, está sendo testado naquele mercado como

suplemento à merenda escolar.

Algumas das principais plantas e raízes da floresta amazônica usadas pela medicina popular

são a andiroba, carapanaúba, copaíba, cipó-tuíra, guaraná em pó e pau-d´arco. Não se sabe,

todavia como utilizar a maioria dessas espécies e milhares de outras existentes para a

fabricação de bens de consumo e produtos farmacêuticos.

Como garantir que a matéria-prima da fitoindústria seja obtida com sustentabilidade? O

conceito de sustentabilidade é baseado na definição da Comissão Mundial sobre o

Ambiente e o Desenvolvimento: “atender às necessidades da geração atual sem

comprometer a habilidade de gerações futuras em atender às suas necessidades”. Partindo

do pressuposto de que o desenvolvimento sustentável da Amazônia exigirá que a floresta

seja mantida de pé e funcionando, não sabemos, porém, como fazer isto e gerar o

crescimento econômico (CLEMENT, 2003, p. 24).

Para quem não conhece e não lida no dia-a-dia com a floresta, o extrativismo parece ser

uma prática predatória. Entretanto, para quem convive diariamente com a floresta

amazônica e para seus estudiosos o extrativismo é considerado viável. O que se torna

fundamental é identificar a melhor opção ou combinação entre extrativismo e cultivo,

ancorados em estudos científicos.

A análise dos gargalos para a produção de fitoterápicos no país permitiu observar que os

produtores de plantas medicinais não estão organizados e não mantêm um controle botânico

adequado de qualidade, podendo esbarrar na tendência para se adotar nos mercados dos

países desenvolvidos o chamado “selo verde12” (SANT’ANA, 2002, p. 165). Outro gargalo

é o caso de exclusividade estabelecida entre algumas comunidades e ONGs (LESCURE,

2000, p. 191), o que pode limitar o acesso das empresas à matéria-prima de melhor

qualidade.

Apenas o extrativismo, que tem sido a principal forma de gerar produtos naturais, não pode

garantir a produção de matéria-prima em quantidades suficientes para atender a demanda

12 A Empresa Natura criou o “Programa de Certificação de Ativos” da biodiversidade brasileira, que são utilizados nos produtos da empresa (Gazeta mercantil, Natura Avança na biodiversidade C2, 29.04.03).

Page 46: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

32

crescente, face à fraca densidade das espécies encontradas e exploradas em seu habitat. O

cultivo pode implicar em impacto na floresta e a sua substituição por ecossistemas

simplificados e frágeis sob diversos aspectos: erosão genética, degradação dos solos,

problemas fito-sanitários, a perda irremediável de espécies substituídas e a monocultura

intensiva (BAHRI, 2000, p.191, SHIVA, 2001, p. 16). Observa-se, como exemplo, o

contínuo crescimento de áreas ocupadas na Amazônia para a produção de soja.

Um grupo brasileiro iniciou um projeto em Maués ocupando uma área de 2.700 hectares

para a produção de mudas do guaraná, resistentes a pragas, distribuídas aos agricultores da

região, para recuperar os guaranazais daquele Município. De outro, uma Usina coligada a

uma empresa de capital estrangeiro iniciou projeto para plantio, colheita e beneficiamento

do guaraná que pode reduzir a praga e aumentar a produtividade, cuja meta é à auto-

suficiência em 2005. São exemplos de produção de espécies empregadas como matéria-

prima pela fitoindústria em grande escala.

Não é uma restrição à produção de culturas para a exportação ou de matéria-prima para a

fitoindústria, mas considerar a hipótese de práticas de cultivo que podem eliminar espécies

nativas representa ameaça à vida e à própria sobrevivência de habitantes nativos que

dependem dos recursos da floresta. O desaparecimento de espécies está relacionado com a

extinção de inúmeras outras espécies, através de redes de alimentos e cadeia alimentar

sobre os quais a humanidade ainda é totalmente ignorante (SHIVA, 2001, p. 14).

A produção e comercialização de espécies na Amazônia ainda seguem práticas pouco

usuais no mundo moderno. Por um legado cultural13, ainda é comum a relação de

exclusividade na venda de produtos extraídos da floresta para um único comprador. A

castanha-do-Brasil, empregada na produção de alimentos e óleo para cosméticos, por

exemplo, historicamente tem sido vendida por grande parte de seus coletores às grandes

Usinas da região. Essa relação de exclusividade, na maioria das vezes, limita a venda por

um preço artificialmente baixo.

Acima de 90% da produção brasileira da castanha é vendida para o exterior, sendo o

Amazonas o maior produtor e o segundo maior exportador, depois do Estado do Pará.

13 É comum na região amazônica a figura do regatão, embora o número venha diminuindo com o passar do tempo, estabelecer para seus fornecedores de produtos da floresta exclusividade de fornecimento.

Page 47: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

33

Usinas do Pará compram no Amazonas grande parte da castanha que é exportada daquele

estado.

O país exportou aproximadamente 10,5 toneladas da castanha em 2001 e em 2003 cerca de

4 toneladas, mas está perdendo espaço para a Bolívia no mercado internacional. Uma das

alegações das usinas da Amazônia para a queda nas exportações é a de que as usinas

bolivianas recebem elevados incentivos fiscais e suporte tecnológico do governo. Porém, as

usinas bolivianas têm demonstrado competência empreendedora, chegando a compartilhar

os benefícios com os coletores, cujas práticas ainda não são adotadas pelas usinas do

Amazonas.

As usinas bolivianas já atendem a exigências fito-sanitárias dos países importadores,

tornando-se os principais exportadores da castanha com cerca de 12,5 toneladas/ano.

Grande parte é adquirida de coletores em áreas brasileiras, principalmente no estado do

Acre, pagando um preço mais elevado que o pago pelas usinas brasileiras

(http://www.pagina20.com.br/, 18.03.2004).

O óleo de copaíba, principalmente, para aplicação farmacêutica, e o óleo de pau-rosa para

aplicação em cosméticos são subprodutos de grande procura por estrangeiros. Embora não

tenham sido identificados dados oficiais, estima-se que saiam do estado do Amazonas

aproximadamente 300 t/ano de copaíba, principalmente para o exterior. Na tabela 4 são

apresentados alguns dados de valores com a exportação de produtos da floresta, embora

ainda não sejam facilmente acessíveis ao público.

Tabela 4 - Exportação de produtos da floresta amazônica

Produto 2002 US$ 1,00

2003 US$ 1,00

2004* US$ 1,00

Países importadores

Bálsamo/Óleo de Copaíba

448.962 96.562 126.782 Alemanha/EUA/França/Japão

Guaraná em Pó 243.697 314.527 227.410 EUA/França/Itália/Portugal/ Alemanha/Holanda/Suíça

Óleo essencial de pau-rosa

480.516 621.712 135.879 Alemanha/Bélgica/Espanha/EUA/França/Inglaterra

* Estimativa com base nas vendas até outubro de 2004; Fonte: Ministério da Agricultura - Posto de Manaus.

O guaraná do Amazonas é uma das espécies de grande aceitação no país e no exterior, que

responde por cerca de 25% do mercado de refrigerantes no Brasil. Diversas indústrias

Page 48: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

34

nacionais e estrangeiras se interessam pela compra do extrato e do resíduo da semente do

guaraná para aplicação, também, na indústria de cosméticos.

A andiroba, além de servir para fármacos, é uma das principais espécies utilizadas na

fabricação de cosméticos. Entretanto, outras espécies tais como o murumuru, que já vêm

sendo utilizado, o urucuri e o babaçu apresentam também grande potencial para a

fabricação de óleo que é empregado na fabricação de cosméticos. Em um novo projeto a ser

implantado pela UFAM para a produção de biodiesel, o urucuri e o babaçu deverão ser as

principais espécies utilizadas. Apenas no município de Barreirinha, o babaçu que também

pode ser domesticado apresenta um potencial de 75.000 t. Qualitativamente já se conhece o

potencial de oleaginosas nas diversas localidades da Amazônia, mas não se sabe o potencial

quantitativo.

No entanto, “apesar de toda a diversidade da floresta amazônica, das cerca de 149 espécies

medicinais comercializadas no mercado de Manaus, ou feiras, apenas cerca de 56 são de

origem amazônica. No segmento farmacêutico, somente 18 dos 86 produtos levantados são

à base de plantas amazônicas ou são incluídas em suas fórmulas. Dos produtos vendidos em

Manaus, mas produzidos nas regiões Sul e Sudeste do país, a farmacopéia amazônica se

reduz a apenas 9 plantas. Destacam-se as espécies cultivadas principalmente pelas

sociedades indígenas: guaraná, sacaca, urucum e pupunha” (FERREIRA, 2002, p. 177).

Adicionalmente às restrições de informação e pesquisa, as longas distâncias pela extensa

dimensão geográfica da Amazônia, o precário sistema de transporte, a dificuldade de

navegabilidade em alguns rios em certos períodos do ano e a sazonalidade das espécies são

alguns dos problemas enfrentados para assegurar o fornecimento da matéria-prima, e

permitir que as empresas planejem e garantam o volume programado de produção.

As principais espécies são coletadas na floresta principalmente pelas comunidades

tradicionais. Essa matéria-prima segue, geralmente, um percurso que envolve diversos

intermediários na cadeia produtiva, desde o local de produção até chegar ao consumidor

final.

Um exemplo da trajetória mais usual da matéria-prima é apresentado no fluxograma da

figura 2, desde a coleta ou extração pelos produtores nos municípios do Estado, até o

Page 49: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

35

ingresso na fábrica em Manaus. Ressalta-se que a armazenagem e transporte são efetuados

em ambientes inadequados, sobretudo pelos intermediários.

Figura 2 - Cadeia produtiva básica da matéria-prima

1 2 3 4 5 6 7

Fonte: própria

A fixação de preço da matéria-prima não é uma tarefa fácil, pois existem várias

interpretações quanto a finalidade da biodiversidade. Estados e regiões dentro dos estados

enfrentam prioridades conflitantes na identificação dos caminhos do desenvolvimento. A

conservação da biodiversidade é de baixa prioridade simplesmente porque existem

problemas de mensuração e de valoração (OECD, 2002, p.2).

Como e com que valores remunerar o conhecimento tradicional e a imagem dos índios que

participem das campanhas publicitárias? “A semente de muirapuama conhecido como o

viagra brasileiro por custar cerca de R$ 300,00/Kg”14 tem um preço justo? Ninguém ainda

sabe quanto vale esse conhecimento tampouco a imagem dos índios e como remunerá-los.

A inexistência de preço regulador e a pouca intensidade da força do livre mercado têm

contribuído para a disparidade de preços entre as diferentes regiões. Em 2003 no município

de Manicoré, a lata da castanha foi vendida a R$ 15,00, enquanto em outros municípios

como Fonte Boa foi vendida a R$ 4,00. Outros fatores também influenciam a fixação de

preço tais como o nível de desenvolvimento do município, a organização da comunidade, a

qualidade do produto e a sazonalidade.

Em resumo, a produção de matéria-prima com espécies da floresta é bastante desorganizada

no Estado. Não há padronização de qualidade e as condições do pequeno produtor são

bastante adversas, agravadas pela inexistência de cooperativismo. O preço da matéria-prima

varia bastante de um lugar para outro em função de diversos fatores e faltam as condições

necessárias para a produção, comercialização e distribuição.

14 Revista Exame: Ano 37, no 5; 12/03/2003.

Mercado Fábrica

Coleta Armazenagem Transporte Intermediário Transporte

Page 50: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

36

II.4. OS DESAFIOS TECNOLÓGICOS DA FITOINDÚSTRIA

Nesta seção serão examinados os seguintes temas: 1. a biotecnologia como o estado da arte

para valorizar os recursos da floresta; 2. a relevância da biotecnologia para a fitoindústria 3.

as diversas tecnologias empregadas na cadeia produtiva da fitoindústria.

II.4.1. A biotecnologia como estado da arte para valorizar os recursos da floresta

A biotecnologia tem sido defendida por vários segmentos da sociedade brasileira e local

como essencial e estratégica à valorização dos recursos da biodiversidade amazônica, cujas

principais ações de políticas públicas estão descritas na seção I.3.

Por essa razão, buscou-se através de pesquisa da literatura publicada identificar os fatores

considerados fundamentais ao desenvolvimento da biotecnologia nos diversos países. A

partir desse diagnóstico, tentar estabelecer algumas comparações com o seu

desenvolvimento no país e as perspectivas de desenvolvimento no Amazonas.

Pela Convenção da Biodiversidade (1992, p. 9) “a biotecnologia pode ser entendida como a

aplicação tecnológica que utiliza sistemas biológicos, organismos vivos, ou derivados, para

fabricar ou modificar produtos ou processos destinados à utilização específica; emprego de

processos biológicos à produção de materiais e substâncias para uso industrial, medicinal,

farmacêutico, de cosméticos, alimentício etc”.

No início da década de 70 do século XX, a partir do desenvolvimento da técnica do DNA

recombinante, que permitiu a transferência de material genético entre organismos vivos

através de meios bioquímicos, passaram a existir dois conceitos de biotecnologia: a

tradicional e a moderna. A biotecnologia pode ser classificada em três fases distintas

(OAKEY et al. 1990):

A primeira geração (7000 A.C.) caracterizou-se pelo uso da fermentação para produzir

bebidas, alimentos e combustível. Tais práticas foram essencialmente empíricas e de

pequena escala.

A segunda geração (anos de 1940), após a segunda guerra, caracterizou-se pela primeira

organização de matéria-prima para a ciência e processo produtivo, escala de produção e

o processo de fermentação para a fabricação de antibióticos e foi baseada na aplicação

integrada da microbiologia industrial.

Page 51: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

37

A terceira geração (a partir dos anos de 1970) inclui a potencial aplicação de todo

processo de biotecnologia existente, e novos produtos e processos. Passou a ser

associada a técnicas de engenharia genética.

Esses autores ao compararem o nascimento da indústria de biotecnologia com a indústria de

semicondutores observaram que a produção de alta tecnologia considera a “matéria-prima”

como um tipo acabado ou semi-acabado. Na biotecnologia, ao contrário, é a tecnologia

incorporada que representa um alto valor agregado.

Assim, a biotecnologia clássica é entendida como a utilização para fins industriais de

propriedades de organismos existentes na natureza, enquanto a biotecnologia moderna

(engenharia genética) passa a ser definida como a utilização de seres vivos modificados

artificialmente e manipulados através de técnicas laboratoriais e industriais específicas.

Em alguns casos são usadas propriedades desses seres vivos encontrados na biodiversidade,

empregando a biotecnologia clássica ou tradicional. Em outros casos os organismos são

geneticamente modificados para produzir substâncias específicas, empregando a moderna

biotecnologia. Esta considera que os produtos e serviços exigem um nível de conteúdo

científico e tecnológico mais elevado, na fronteira da ciência e tecnologia.

Alguns marcos históricos podem auxiliar na compreensão do desenvolvimento da

biotecnologia até a biotecnologia contemporânea, ou moderna (VIANA, 1991):

A produção de antibióticos, a partir da década de 1940, consagrou a biotecnologia com

os avanços na microbiologia industrial, resultando no melhoramento genético de

microorganismos e de aperfeiçoamentos em processos e projetos. Em 1944, constatou-

se que os genes eram constituídos de DNA seguindo-se pesquisas sobre sua auto-

reprodução.

Com a possibilidade de se obter a divisão celular contínua e a regeneração do vegetal a

partir da cultura “in vitro” de tecidos, ampliaram-se as fronteiras da aplicação da

biotecnologia na agricultura visando o melhoramento e a seleção de espécies. Em 1957,

obteve-se a regeneração de tecidos do tabaco.

Page 52: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

38

Em 1970 obteve-se o primeiro sucesso na fusão de protoplastos de espécies vegetais

diferentes. Os anticorpos monoclonais foram gerados, inicialmente, em 1975, a partir da

fusão de células animais e do cultivo do híbrido resultante.

Assim, tiveram início as técnicas biológicas avançadas, ou a moderna biotecnologia, que

são caracterizadas pela possibilidade de manipulação direta do código genético. Essas

técnicas se referem ao DNA recombinante (ou engenharia genética), fusão celular de

tecidos animais, cultura de tecidos vegetais e os bioprocessos de cultivo dos agentes

biológicos recombinados.

A biotecnologia é reconhecida como uma das tecnologias-capacitadoras para o século 21,

face as suas características de inovação radical frente a problemas globais (doenças,

nutrição e poluição ambiental) (CANHOS et al., 2002, p. 4). Genética e Informática

descobrem-se complementares e afins em natureza, além de multiplicadoras quando

associadas tecnologicamente (MACHADO, 2001, p.1).

Alguns componentes da mudança de paradigma em biotecnologia requerem especial

atenção: sistemática e ecologia microbiana, bioinformática e informática para

biodiversidade e genômica. Ocorre hoje uma migração do in vitro para in silico

(bioprospecção por data mining), onde, a partir de uma base de informação, se desenham

estratégias para a seleção e triagem in vivo (CANHOS et al., 2002, p. 5).

O desenvolvimento da biotecnologia sugere a existência de quatro “ambientes de seleção”:

(a) técnico-econômico; (b) científico-econômico (estaria incluída neste conjunto a maior

parte das pequenas empresas especializadas em biotecnologia próximas às universidades);

(c) básico-científico (instituições acadêmicas propriamente ditas); (d) tecno-governamental

(programas de governo) (SILVEIRA, 2001, p. 5).

A indústria de biotecnologia, que não existe oficialmente, é um setor emergente que

compreende um número de produtos e serviços heterogêneos, geralmente com elevada

especificação técnica (OAKEY et al. 1990). Nesse setor há dois tipos de empresas: (a) a

que desenvolve pequenos projetos e foca nichos de mercado, com limitado investimento em

pesquisa, e vende tanto produtos como serviços; e (b) a que desenvolve pesquisa intensiva e

foca um grande mercado interno e externo, e é apoiada em suas pesquisas e projetos de

inovação (MANGEMATIN et al., 2003, p. 624).

Page 53: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

39

O surgimento da biotecnologia comercial, na forma como é conhecida hoje, ocorreu nos

EUA no final da década de 70 e início dos anos 80 do século XX, com a formação de

pequenas companhias de biotecnologia, as Novas Empresas de Biotecnologia – NEBs.

Alguns fatores determinantes para o surgimento das NEBs foram o apoio do governo, uma

forte participação do capital de risco e a cooperação entre as empresas e institutos de

pesquisa, além do background industrial competitivo (ACHARYA, 1999, p. 34).

Algumas das características desse setor são: atividades de pesquisa intensiva realizadas

pelas PMEs, que estão localizadas perto da fonte de conhecimento e das principais

universidades, mesmo não sendo spin-off destas; a maioria dos fundadores de empresas

dessa indústria tem elevado conhecimento científico, um PhD e são membros de rede

científica (MANGEMATIN, 2003, p. 622). Os investimentos feitos pelas instituições

públicas ou privadas em P&D são fundamentais para a viabilidade econômica do processo

de inovação nessa indústria e o marketing para a divulgação (MACHADO, 2001, p. 1).

Em países onde a moderna biotecnologia logrou sucesso, alguns fatores têm sido

determinantes, mesmo em graus diferenciados, para a capacitação tecnológica das NEBs,

de acordo com as características de cada país e da disponibilidade dos recursos. Esses

fatores estão associados ou são influenciados pelos recursos humanos, fontes de

financiamento, infra-estrutura de P&D, mercado, cooperação e apoio do governo.

A formação de pessoal qualificado para gerir negócios em biotecnologia tem sido uma das

ênfases de alguns países. A Alemanha tem estimulado o empreendedorismo para encorajar

jovens cientistas a comercializarem suas idéias (MOMMA, 1999, p. 273, MULLER, 2002,

p. 288). No Canadá, houve avanços na formação de pessoal com habilidade para reconhecer

a aplicação comercial dessa tecnologia, habilidade gerencial para empresas do setor e

especializado em pesquisa (HALL, 2002, p. 242).

O aporte financeiro dos governos tem sido uma das características do desenvolvimento da

biotecnologia. Na Europa e Japão, onde as novas empresas de biotecnologia surgiram mais

tardiamente, o governo agiu com freqüência com o apoio financeiro em forma de

empréstimo e garantias, ou para estimular a cooperação entre a pesquisa e produção

(FRASMAN & TANAKA, 1995, p. 15). Os EUA tradicionalmente têm destinado fundos

federais para o desenvolvimento de P&D especialmente as modernas tecnologias-chave

Page 54: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

40

como a biotecnologia.

Infra-estrutura tais como os laboratórios de pesquisa e universidades públicas também

integraram o modelo de desenvolvimento do setor de biotecnologia nos EUA e países

europeus (DIAZ et al, 2002, p. 33).

Em países em desenvolvimento a carência não é apenas de infra-estrutura de laboratórios e

universidades para as atividades de P&D dirigidas ao desenvolvimento da biotecnologia,

mas também um estoque de pesquisa que dê sustentação ao seu desenvolvimento. Na Índia,

por exemplo, os plantadores de cardamo, uma planta tradicional daquele país, tiveram que

abandonar sua plantação porque não existia pesquisa ou tecnologia apropriada para

combater a praga que contaminou essa espécie, até que um programa nacional buscasse

uma solução (MEHRA, 2001, p. 18).

A proximidade e o intercâmbio com institutos de pesquisa e universidades têm facilitado a

cooperação entre o setor privado, principalmente envolvendo as pequenas empresas,

levando os EUA à liderança no setor. As grandes empresas têm desenvolvido tipos de joint-

venture colaborativo com as empresas start-up, criando janelas de oportunidades

tecnológicas.

Umas das principais características da formação dos mercados da moderna biotecnologia

são os contratos de cooperação, seja para pesquisa, para desenvolvimento, seja para

financiamento, comercialização, licenciamento e marketing. Isto ocorre em razão de uma

permanente incerteza que permeia as atividades de pesquisa e produção em biotecnologia

(SALLES, 2001, p. 7).

No Japão, a colaboração informal entre empresas e universidades tem sido uma prática de

intercâmbio tecnológico ao longo dos anos. O governo está estimulando o desenvolvimento

comercial da biotecnologia, coordenando interações entre representantes da indústria,

universidade e governo (FRASMAN & TANAKA, 1995 p. 14). No Reino Unido também

tem sido estimulada a união dos setores público e privado para a pesquisa básica e aplicada

(OAKEY, 1990).

O relacionamento das NEBs com grandes empresas no Canadá tem permitido a

concentração das primeiras nas atividades de P&D (HALL, 2002, p. 233). Isto tem

caracterizado a existência de “ativos complementares” relacionando atividades de P&D e

Page 55: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

41

marketing. Uma das vantagens da colaboração entre empresas é permitir a transferência de

pesquisas avançadas das PMEs para as grandes, e o acesso à estrutura das grandes que têm

capacidade para envolver-se em todos os níveis do processo de inovação: pesquisa básica,

desenvolvimento de produto, e comercialização.

O apoio dos governos e suas políticas públicas nos países desenvolvidos têm dado uma

contribuição decisiva para estimular atividades de inovação na área de biotecnologia. As

políticas nacionais têm privilegiado, sobretudo, pesquisas conjuntas entre as empresas, os

institutos e laboratórios de pesquisa, a formação, capacitação e mobilização de recursos

humanos qualificados, a criação de mecanismos de regulação e legislação, e de fundos de

financiamento.

Nos países em industrialização, todavia, a combinação de baixa competência dos recursos

humanos e de poucos investimentos em P&D na área de biotecnologia é considerada a

desvantagem frente aos países industrializados. O Brasil, porém, sempre demonstrou um

grande potencial para a biotecnologia, a exemplo do Programa Genoma em que foi o

primeiro país do terceiro mundo a dominar a tecnologia do sequenciamento genético. O que

falta, então, para o país atingir nesse campo o nível dos países industrializados?

Até a década de 90 do século XX, praticamente não houve mudanças significativas no

contexto de interação entre os diferentes agentes da inovação em biotecnologia e uma nova

perspectiva para o Brasil. Entretanto, o sucesso do Projeto Genoma Xylella15 de 1997,

trouxe uma dinâmica da moderna biotecnologia, que tem se apoiado principalmente nos

conhecimentos dos institutos e centros públicos de pesquisa e das universidades, que

passam a conformar assim o nó das redes de inovação. Um dos principais avanços em 2000

foi a implementação da Rede Genoma, de âmbito nacional (SALLES, 2001:15).

Ao mesmo tempo em que o país avançou na capacitação tecnológica em algumas áreas da

biotecnologia, por ter deixado de investir e continuar algumas pesquisas importantes perdeu

parte dessas conquistas. O melhoramento de plantas, por exemplo, foi por muitas décadas

um campo disciplinar no qual o Brasil possuía uma forte excelência científica e

15 A Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) lançou um programa de pesquisa

genômica com o objetivo de seqüenciar o genoma completo da bactéria fitopatogênica Xyllela fastidiosa, o agente causal da clorose variegada do citrus, doença que afeta 30% dos laranjais paulistas, causando danos estimados em US$ 50 milhões/ano.

Page 56: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

42

tecnológica, perdendo posteriormente essa condição, devido principalmente à deficiência e,

especialmente, pela pouca requalificação de recursos humanos (BATALHA, 2001, p. 8).

Em 1987, o MCT lançou o Programa de Recursos Humanos nas Áreas Estratégicas –

RHAE, que tinha por diretrizes básicas a formação de profissionais em áreas estratégicas

como a biotecnologia e a atuação institucional junto a empresas, universidades e centros de

pesquisa, buscando elevar sua competência em algumas áreas de interesse. No setor

farmacêutico, todavia, os avanços não foram tão significativos.

As empresas no mercado brasileiro de fitoterápicos, por falta de recursos para P&D, pelos

recursos humanos limitados e dificuldades na cadeia de suprimento, dentre outros, não

tiveram condições de desenvolver a produção de fármacos, limitando-se à condição de

copiadoras (SANT’ANA, 2002, p. 160).

Até as primeiras décadas do século XX toda a produção farmacêutica se originava de

pequenos estabelecimentos de origem familiar, dedicados à produção de medicamentos a

partir de extratos vegetais e manufatura de produtos de origem mineral. A indústria

farmacêutica brasileira que até 1945 era considerada forte, amparada na riqueza da floresta

e fauna farmacologicamente exótica do Brasil, não acreditou na tecnologia química, não

investiu em P&D no setor e não resistiu à pressão do mercado (SCT/PR, 1991).

Hoje existem no país grandes empresas farmacêuticas, cuja maior parte de suas vendas

concentra-se em produtos sintéticos e apenas uma pequena parcela é de origem vegetal,

cujos princípios ativos são obtidos por extração (fitofármacos). De outro lado estão os

laboratórios menores, com produção dirigida para medicamentos de origem vegetal, entre

os quais, possivelmente, seja maior a participação de fitoterápicos em relação a

fitofármacos (FERNANDES, 2002, p. 92).

As grandes empresas, de modo geral, encaram os segmentos de fitofármacos e fitoterápicos

como marginais, concentrando-se principalmente na produção de sintéticos. Imagina-se que

a obtenção de fármacos a partir de plantas é ponto a ser explorado pela indústria nacional.

As inovações incrementais em biotecnologia são fundamentais nos primeiros estágios do

avanço tecnológico, porém as radicais, que constituem a principal fonte de riquezas e que o

país ainda não possui, exigem uma participação ativa dos inventores. Isso exige

Page 57: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

43

conhecimento em áreas como biologia molecular, química estrutural, bioquímica e

farmacologia, por exemplo, (FINEP, 2004, p. 3).

E no Amazonas que estratégias estão sendo pensadas para valorizar seus recursos naturais e

biogenéticos com o suporte da biotecnologia? Que importância têm exercido para essas

estratégias os fatores considerados essenciais ao desenvolvimento da biotecnologia em

países industrializados?

II.4.2. A relevância da biotecnologia para a fitoindústria

A fitoindústria, para a capacitação tecnológica e valorização dos recursos da floresta,

considera importante o desenvolvimento de atividades em biotecnologia, ou pretende ser

usuária desse tipo de tecnologia?

A bioprospecção é apontada como uma das opções à valorização da biodiversidade. A

bioprospecção é a exploração da diversidade biológica por recursos genéticos e

bioquímicos de valor comercial e que, eventualmente, pode fazer uso do conhecimento de

comunidades indígenas ou tradicionais. Inclui setores como fitomedicamentos, agricultura,

cosméticos, alimentação e bebidas (SANT’ANA, 2002, p.p.5, 65 e 67).

Os recursos genéticos envolvem a variabilidade de espécies de plantas, animais e

microrganismos integrantes da biodiversidade, de interesse sócio-econômico atual e

potencial para utilização em programas de melhoramento genético, de pesquisas na área

farmacêutica e em diversas outras atividades dentro da biotecnologia e áreas afins. A

Convenção da Biodiversidade (1992, p. 9) considera a diversidade genética como o

somatório da informação genética existente nos organismos que constituem a floresta, a

fauna e a microbiota que, se adequadamente identificada e capturada, passa a constituir os

recursos genéticos, fonte da variação genética disponível ou variabilidade genética.

Como a biodiversidade pode interagir com a biotecnologia? A biodiversidade sustenta as

atividades do setor primário e é considerada estratégica para a indústria de biotecnologia.

Por seu lado, a biotecnologia pode auxiliar no estudo, na conservação e no uso da

biodiversidade, assegurar o manejo sustentável do meio ambiente, disponibilizar maior

quantidade e qualidade de diversos produtos.

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44

A bioprospecção em países em desenvolvimento deve ser implementada em escala

comercial como tecnologia baseada em negócios que adiciona valor aos recursos naturais e

renda à população tradicional, com incentivos para a conservação dos recursos da

biodiversidade (WEISS, 1998, p. 481). Isto exige adicionar valor nos elos cadeia produtiva.

O valor da cadeia produtiva descreve a completa extensão de atividades que são requeridas

para tornar a concepção de um produto ou serviço, através de diferentes fases da produção

(envolvendo a combinação de transformação física e o ingresso de vários fornecedores de

serviços), entrega para consumidores finais e, finalmente, disponibilidade após o uso

(KAPLINSKY & MORRIS, 2002, p. 4).

A bioprospecção tem recebido uma atenção especial na mídia como um meio de financiar a

preservação dos habitats. Dos seis valores que podem ser gerados a curto prazo, a

bioprospecção, entretanto, ocupa o último lugar: existência, ecoturismo, serviços

ambientais, agricultura sustentável, extrativismo e bioprospecção (VOGEL, 1997, p. 6):

“Espera-se um baixo retorno por uma razão bastante simples: muitos dos compostos químicos de interesse para as firmas de biotecnologia não existem em apenas um país ou mesmo em uma espécie, mas estão difundidos tanto através de fronteiras como de espécies. Este prognóstico econômico foi confirmado também pela experiência. Uma guerra de preço vem surgindo entre países provedores à medida que cada um oferece sua diversidade biológica a preços cada vez mais baixos”.

Na sua forma moderna, a bioprospecção envolve a aplicação de tecnologias avançadas para

o desenvolvimento de novos produtos farmacêuticos, agroquímicos, cosméticos,

fragrâncias, enzimas industriais, e outros produtos para a biotecnologia (ARTUSO, 2002, p.

1355). Nos últimos 20 anos os investimentos em bioprospecção, embora com a produção de

poucos remédios, fomentou a pesquisa em duas áreas no país: padronização da planta para

o uso in natura e legitimação de sua eficácia medicinal e segurança, resultando em boa

infra-estrutura para P&D (LAPA, 2003). Como a bioprospecção pode ser mais bem

empregada na busca de recursos genéticos na biodiversidade da Amazônia?

Muito embora a EMBRAPA e principalmente o INPA, que é a mais destacada instituição

de pesquisa local, disponham de um significativo acervo, não têm desenvolvido pesquisas

em cooperação com o setor produtivo local, para o aproveitamento dos recursos da floresta

como matéria-prima. Apesar dos avanços como a pesquisa desenvolvida pela UFAM para

Page 59: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

45

melhorar o controle de qualidade da castanha, diminuindo a contaminação por aflotoxina,

são poucas as pesquisas aplicadas ao agronegócio e bionegócio no Amazonas.

Todavia, mais recentemente o Amazonas integrou-se ao Projeto Genoma Brasileiro,

implementado pelo MCT através do CNPq, que deverá seqüenciar o microorganismo

Chromobacterium violaceum, que é uma rede constituída por 26 laboratórios e de três

projetos de suporte a Coleções de Culturas Microbianas e de Células Humanas.

Foram criados também nesses últimos anos cursos stricto sensu na área de biotecnologia no

Amazonas, motivados pela perspectiva do uso dos recursos biogenéticos da região como

matéria-prima, contando com o apoio financeiro da Suframa. O Programa planeja oferecer

os seguintes cursos: Bioquímica e Biofísica, Biologia Molecular, Engenharia Genética

Básica, Engenharia Genética Avançada, Uso de Marcadores Moleculares em Análise e

Melhoramento Genético, Bioinformática; Engenharia Metabólica, Bioética e

Biossegurança, Propriedade Intelectual na Era Genômica.

Estão em desenvolvimento ainda novos sistemas vetores X hospedeiros para engenharia

genética e novos genes de valor biotecnológico (Rede da Amazônia Legal de Pesquisas

Genômicas - REALGENE).

Outro projeto, o Proteoma (genoma da proteína), com o mesmo nível de importância, foi

criado em Manaus no início de 2004, devendo beneficiar a bioindústria. Parte do

financiamento provém da Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia - SECT e a outra

parte do MCT. A rede Proteoma Nacional do MCT trabalha com a seguinte estrutura: os

laboratórios centrais que oferecem melhores condições de pesquisa, os laboratórios

associados e os laboratórios de usuários.

O Amazonas possui 3 laboratórios associados e 3 usuários. Embora se reconheça o esforço

com esse projeto para o desenvolvimento de atividades de pesquisa em biotecnologia no

Amazonas, como estratégia de um projeto nacional, não há indícios, todavia, de conexão

com as atividades das empresas da fitoindústria. Como elas, então, poderão participar e se

beneficiar de projetos dessa natureza?

O estudo de Plataformas Tecnológicas para o Amazonas (2002, p. 9), financiado pelo

MCT, identificou os seguintes gargalos nos subsetores de fitofármacos e fitocosméticos

para o uso da matéria-prima vegetal relacionados a atividades de biotecnologia ou afins à

Page 60: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

46

Farmacologia, Toxicologia e Microbiologia: atividade antidiabética, DL50, toxicidade sub-

aguda, toxicidade crônica, exposição a músculo liso, exposição a músculo estriado, “Open

field”, pressão arterial, coração, atividade antiinflamatória, ação fertilizante.

As Plataformas Tecnológicas envolvem parceiros institucionais do governo, comunidade

científica, setor privado e comunidades da sociedade civil para a identificação de gargalos

tecnológicos, sócio-econômicos e institucionais para a formulação de projetos cooperativos

para sua superação. Neste caso, empresas da fitoindústria foram envolvidas.

A partir da seleção de 3 plantas, para pesquisa, validação e aplicação na fabricação de

produtos nos APLs de fitofármacos e ficosméticos, foram definidos estudos de botânica,

fitoquímica e farmacologia, toxicologia e microbiologia. As etapas previstas são: (a)

botânica: revisão bibliográfica, inventário botânico, descrição macroscópica, distribuição

geográfica; e (b) fitoquímica para padronização: qualitativa e quantitativa dos princípios

ativos ou marcadores, físico-química, metodologia analítica, formação de um banco de

padrões, determinação de contaminantes (principalmente metais pesados) (SEDEC, p. 8).

Estimas-se que o desenvolvimento de um bom fitoterápico pode custar entre R$ 1 milhão e

R$ 150 milhões, sendo possível converter em menos de dois anos plantas em fitoterápicos

padronizados. O custo médio de P&D de um medicamento, porém é estimado em US$ 360

milhões por produto, podendo levar de sete a quinze anos, mas quando é originado de

plantas medicinais pode cair para cerca de US$ 70 milhões (SANT’ANA (2002, p. 67).

O melhoramento genético através da pesquisa e o cultivo in situ são caminhos que deverão

contribuir para a preservação e reprodução de espécies de melhor qualidade, sem

comprometer o equilíbrio ecológico. Mas, até que ponto as empresas estariam dispostas a

se envolver e apoiar esse tipo de atividade? Qual seria o interesse delas em implementar,

por exemplo, plano de plantio e manejo?

II.4.3. As diversas tecnologias empregadas na cadeia produtiva da fitoindústria

As tecnologias implícitas em todas as fases da cadeia produtiva de produtos primários

podem se equivaler à alta tecnologia como as adotadas por países desenvolvidos, embora se

admita que a biotecnologia, por aplicar modernas técnicas de pesquisa, pode valorizar mais

os recursos da floresta. Tecnologias de menor complexidade, todavia, também podem, no

conjunto, agregar significativo valor.

Page 61: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

47

Pouco se avançou no desenvolvimento científico e tecnológico para a exploração

econômica dos recursos da flora amazônica na fabricação de produtos de alto valor

agregado. O estudo de Plataformas Tecnológicas do Estado do Amazonas (2002, pp. 4 e

5), além dos gargalos pertinentes à biotecnologia, identificou outros gargalos que afetam os

segmentos de fitoterápicos e fitocosméticos no uso desses recursos:

obtenção da matéria-prima: legislação ambiental, certificação das matérias-primas,

identificação botânica, identificação fitoquímica, controle de qualidade;

processamento da matéria-prima: identificação físico-química de insumo, pesquisa

fitoquímica de marcadores, processo industrial na produção de matéria-prima, testes

para validação e registro do insumo vegetal junto aos órgãos sanitários;

processamento do produto-acabado: capacitação de pessoal em formulações de

fitoterápicos e fitocosméticos, controle de qualidade do produto acabado, capacitação

de pessoal em “design”, embalagens e rótulos, e patentes;

mercado: selo de qualidade ambiental e social vinculado ao Amazonas.

Na proposta de Ação para a Dinâmica dos Arranjos Produtivos Locais (APLs16) dirigido ao

Amazonas, nos segmentos de fitoterápicos e fitocosméticos, no item sobre capacitação

inovadora e tecnológica, recomenda-se verificar como se dá a absorção e geração de novas

tecnologias localmente, sugerindo avaliar alguns fatores:

internos às empresas: departamento de P&D, laboratórios, etc; internos ao Arranjo:

centros de pesquisa, universidades, centros tecnológicos, etc;

externos ao Arranjo: licenciamento, assistência técnica; aquisição de máquinas e

equipamentos: incorporação de tecnologia através de aquisição e máquinas e

equipamentos; participação em feiras e congressos: nacionais/internacionais; outras

formas de aprendizado e inovação: reuniões informais, troca de informações,

capacitação e formação de RH, etc.

Grande parte das atividades tecnológicas não tem alcançado o resultado desejado nas ações

de pesquisadores e empreendedores de negócios na região e as causas são várias. Na cadeia

de fitoterápicos, por exemplo, todas as etapas: coleta, identificação, extração, padronização 16 Documento para sistematizar o processo de seleção de Arranjos Produtivos Locais (FINEP, 2002, P. 7).

Page 62: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

48

e desenvolvimento de novos produtos exigem diversas atividades de P&D e de tecnologias

com variados graus de complexidade.

Para alcançar resultados satisfatórios nas atividades de P&D com os recursos da flora é

necessária a desconcentração de programas de formação de pessoal do Sul e Sudeste para

criar mecanismos de cooperação interinstitucional (BATALHA, 2001, p. 78). Devem ser

combinadas de forma equilibrada, a pesquisa científica, desenvolvimento, validação,

transferência de tecnologias e marketing, bem como estudos de cadeias produtivas de

agronegócios e bionegócios com os recursos da floresta amazônica.

O quadro 1 apresenta na coluna A uma classificação das atividades de biotecnologia

indicando o volume de investimentos necessários, compatíveis com o correspondente nível

de complexidade da pesquisa e da tecnologia (MCT, 2002). Observa-se que quanto mais

complexas são essas atividades, maiores devem ser os investimentos necessários para

implementá-las, porém tanto maior será o valor agregado.

A mesma classificação é feita na coluna B para outras atividades tecnológicas que

envolvem o uso dos recursos da flora amazônica na cadeia produtiva da fitoindústria. Como

na coluna A, a coluna B mostra que há diversos níveis de complexidade para a pesquisa e

desenvolvimento tecnológico necessários, além de atividades em biotecnologia,

compatíveis também com os níveis de investimentos para agregar valor às espécies.

Page 63: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

49

Quadro 1 - Complexidade das atividades de P&D na cadeia produtiva

Categorias Atividades de Biotecnologia (A)

Tecnologias para a Fitoindústria (B)

Alta Complexidade

Utilização de técnicas sofisticadas de base molecular, exigindo investimentos elevados e altos custos operacionais e de manutenção. Produtos de alto valor agregado.

Utilização de técnicas sofisticadas tais como testes clínicos, cristalização, conversão química, high throughput screening.

Complexidade Intermediária

Utilização de tecnologias menos complexas, como, por exemplo, as técnicas de fermentação, preparados enzimáticos, cultura de tecidos, dentre outras, exigindo investimentos moderados, embora o controle operacional possa ser sofisticado. Produtos de valor agregado intermediário.

Utilização de tecnologias menos complexas tais como técnicas de plantio e manejo, identificação botânica, identificação e padronização qualitativa e quantitativa dos princípios ativos ou marcadores, padronização físico-química, padronização da metodologia analítica, pasteurização.

Baixa Complexidade

Utilização de tecnologias simples como, por exemplo, a produção de biogás, proteínas microbianas, fermentações mistas ou naturais, exigindo baixos investimentos e controle operacional simples. Produtos de baixo valor agregado.

Utilização de tecnologias simples como secagem, separação de semente, extração do óleo vegetal, armazenamento, transporte, refrigeração, desidratação, maceração, centrifugação, filtração, ajuste de PH.

Fonte: Adaptado de Burril & G. Steven (1999, Life size into the Millenium In Programas de Ciência e Tecnologia do MCT, 2002).

Nem sempre o maior valor agregado, todavia, é conseqüência de elevados investimentos

em P&D. Um projeto da UFAM, para reduzir a contaminação por aflotoxina da castanha-

do-Brasil, mesmo in natura, desenvolveu tecnologia de baixo custo. A pressão de países

importadores, principalmente da Comunidade Européia que restringiu a compra da castanha

sob a alegação de elevado índice de contaminação, que ocorre principalmente no local de

coleta na floresta, levou a UFAM a pesquisar e encontrar uma solução tecnológica para

reduzi-la a níveis toleráveis.

Entretanto, como não há ainda estudos complementares e completos nas etapas posteriores

da cadeia: no transporte e beneficiamento nas Usinas, não é possível determinar se o

controle no local da coleta é suficiente para se evitar a contaminação nas etapas posteriores.

Na maioria das vezes a matéria-prima é transportada em recipientes inadequados, causando

contaminação por resíduos como fertilizantes e lubrificantes. Uma prática comum também

Page 64: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

50

é a mistura com produtos mais baratos. Por exemplo, o óleo da copaíba que é comprado

atualmente por cerca de R$ 7,00 o litro pode ser misturado com produtos de menor preço

como a soja, cuja identificação só é possível mediante análises de laboratório.

Os produtos fitoterápicos podem sofrer adulteração ou contaminação, cujo primeiro estágio

na produção de um produto comercial desse segmento é a correta identificação da planta.

Mais de 10% dos produtos fitoterápicos no mercado mundial contêm ervas não

identificadas e pelo menos outros 20% contêm ervas ou extratos adulterados (LEUNG,

1997 apud FERNANDE, 2002, p. 38).

Fabricantes de fitoterápicos nos EUA e países europeus raramente conduzem pesquisa de

campo ou em laboratório no desenvolvimento de novos produtos. As empresas preferem

focar suas atividades em novas aplicações para as espécies conhecidas, evitando pesquisa

que impliquem em controvérsias. Grandes empresas estimam que o custo para o

desenvolvimento de um produto comercial com novas espécies é de US$ 8,91 milhões, que

são importantes para diferenciação de mercado (FERNANDES, 2002, p. 37).

Um outro problema associado ao plano de manejo é que não existe ainda pesquisa científica

indicando, para a maioria das espécies, as quantidades a serem preservadas. Algumas

experiências isoladas, todavia, de plantio de plantas medicinais para aplicação em fármacos

começam a florescer no Amazonas.

No esforço de criar a oferta de matéria-prima em quantidade e qualidade para atender a

demanda e fortalecer a fitoindústria, particularmente do setor farmacêutico, o MCT, através

do Programa de Plataformas Tecnológicas, está apoiando no Amazonas o estudo com 3

plantas selecionadas, de um total de 11 pré-selecionadas, com mais possibilidade de serem

validadas, cujo projeto é coordenado pelo INPA.

Duas plantas são para atender o segmento de Fitoterápicos: Muirapuama – Ptychopetalum

olacoides Benth e Chichuá – Maytenus guianensis Klot e uma para atender o segmento de

Fitocosméticos: Crajiru – Arrabidaea chica. Nesse projeto há o envolvimento de uma

empresa produtiva, da Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica –

FUCAPI e do Instituto de Nacional de Pesquisa da Amazônia – INPA.

Page 65: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

51

II.4.4. Comunidades: fontes de conhecimento e recipiente de capacitação tecnológica

para produção de matéria-prima

Grande parte do território da Amazônia Ocidental é constituída de áreas indígenas, reservas

florestais e ecológicas. É nesse espaço geográfico e também em áreas ocupadas por

comunidades não tradicionais que se encontra parte significativa em diversidade e

quantidade a matéria-prima natural extraída e utilizada pela fitoindústria. O extrativismo

não representa apenas uma questão econômica para os índios e comunidades da Amazônia,

mas tornou-se também, uma questão política e fundiária.

Reservas Extrativistas (RESEX) Indígenas começam a florescer na Amazônia para a

produção de matéria-prima, como por exemplo, a Reserva de Desenvolvimento Sustentável

Iratapuru: Laranjal do Jarí, no Amapá: (a) Castanha-do-Brasil – xampus, hidratantes e

sabonetes; Copaíba – aromatizantes de ambientes; (b)) Reserva Extrativista Médio Juruá:

Carauari, no Amazonas: Andiroba – sabonetes, cremes e xampus; e (c) Assentamento de

pequenos agricultores: Nova Califórnia, na divisa entre o Acre e Rondônia: Cupuaçu:

hidratantes.

Na Convenção sobre Biodiversidade (1992, p. 12), foi definida que a Comunidade

Tradicional “é o grupo humano, incluindo remanescentes de comunidades de quilombos,

distinto por suas condições culturais, que se organiza, tradicionalmente, por gerações

sucessivas e costumes próprios, e que conserva suas instituições sociais e econômicas”.

As comunidades tradicionais podem ter um ótimo conhecimento das plantas úteis e de

práticas sobre manejo dos ecossistemas, todavia, permanecem vagos, tanto por razões

históricas quanto ecológicas. Considerar o extrativismo no âmbito de condutas sociais, e de

práticas de manejo, compatíveis com a idéia de desenvolvimento sustentável, representa um

verdadeiro desafio em face do contexto local freqüentemente desfavorável (PINTON &

AUBERTIN, 2000, p. 51). Apesar das comunidades tradicionais da Amazônia

reconhecidamente possuírem um imenso conhecimento sobre o uso dos recursos naturais,

existe em contraposição um grande atraso em termos de pesquisa e de conhecimento

científico sobre as espécies da flora.

Para possibilitar a exploração dessas espécies, com fins de industrialização ou mesmo de

pesquisa, é necessário considerar a sustentabilidade ética que consiga aliar a expectativa de

Page 66: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

52

ganhos econômicos às respectivas demandas sociais e ambientais envolvidas. Não se pode

ignorar a necessidade de integração do homem da região respeitando suas características

etnoculturais. Um exemplo, embora aparentemente de pouca importância, mas ilustrativo, é

o completo desconhecimento desses indivíduos dos padrões que se subordinam à atividade

industrial tais como planejamento, prazo e qualidade.

Ter os nativos como parceiros pode resultar em um forte apelo de marketing, com a

exploração da imagem, sobretudo nos mercados internacionais, e representar barreira

invisível à entrada dos concorrentes. Os laços com as comunidades é uma forma de

conseguir, também, exclusividade dos recursos oferecidos pela natureza e em muitos casos

do conhecimento tradicional.

Alguns exemplos de parceria formais entre a iniciativa privada e as comunidades

tradicionais são: (a) Guarani – Kaiowá e Aveda Corporation; (b) Yawanawá - Katukina e

Aveda Corporation; (c) Kayapó e The Body Shop; (d) Uru-Eu-Wau-Wau e Hoescht, Merck

Co; (e) Guajajara e Merck Co; (f) Universidade Federal do Ceará - UFCE e Tom’s of

Maine; (g) Instituto Pró Natura e parceiros internacionais; e (h) Raintree Nutrition Inc. com

reservas extrativistas (FERNANDES, 2002, p 28).

As organizações indígenas brasileiras legalmente constituídas têm autonomia para procurar

alternativas econômicas e melhoria da qualidade de vida das comunidades. São as relações

com as comunidades, as informais principalmente, que facilitam o suprimento da maior

parte da matéria-prima de origem da floresta para a fitoindústria.

Foi baseado no conhecimento dos índios Saterê Mawé da região do município de Maués-

Am, que se descobriu o poder energético da fruta do guaraná. Até os anos de 1980 o

Amazonas liderava a produção brasileira do guaraná que depois foi assumida pelo Estado

da Bahia, apresentando maior produtividade embora o tipo produzido no Amazonas

obtenha maior valor de mercado.

O trabalho de identificação de novos produtos para subsetores como o farmacêutico e

cosmético passou a receber significativo impulso a partir da etnobioprospecção, ou seja, da

tradução dos usos que as comunidades tradicionais fazem dos recursos biológicos, embora

o número de empresas em nível mundial seja ainda pequeno. Este método consiste em um

Page 67: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

53

estudo onde são identificados usos tradicionais de plantas utilizadas (FERNANDES, 2002,

p. 42).

Estima-se que essa contribuição dos povos tradicionais pode reduzir em até cerca de 50%

os custos da bioprospecção. O conhecimento tradicional deixa de ter o mesmo valor

relativo que representa para a pesquisa de um fitoterápico, se empregado na pesquisa de

fitofármacos que exige a síntese dos princípios ativos. A pesquisa de um produto

farmacêutico para a fabricação em grande escala, para atender o mercado mundial, pode

consumir investimentos que representam muitos milhões de dólares.

O conhecimento tradicional é utilizado por várias empresas no mundo, principalmente do

segmento de fitoterápicos, como um importante complemento aos testes científicos e é

muito consultado para a confirmação de resultados de pesquisa produzidos em laboratórios,

incluindo testes de segurança e eficácia. Quase toda empresa de fitoterápico faz uso do

conhecimento tradicional documentado, associado de alguma forma às espécies.

O próximo fluxograma mostra um exemplo onde já são realizadas algumas etapas de

transformação na cadeia produtiva da matéria-prima por comunidades tradicionais, até o

ingresso na planta fabril para a produção de óleo aplicado em cosméticos.

Figura 3 - Cadeia de produção e distribuição da matéria-prima

1 2 3 4 5 6 7 8

Fonte: própria

É mais racional agregar valor no lócus de produção das espécies, mesmo empregando

métodos artesanais, do que transportar a matéria-prima in natura para a unidade fabril

instalada em Manaus. Com a extração por processo mecanizado nas comunidades é

possível a produção acima de 40% do que por processo artesanal.

Uma parte do processo de extração do óleo bruto, e quem sabe do óleo refinado no futuro,

assim como o tratamento de plantas medicinais, e de frutos pode ser realizada pelas

próprias comunidades, preferencialmente através de cooperativas. São atividades essenciais

Coleta Matéria-prima Fermentação Secagem Preparação

Ensacamento Transporte Fábrica

Page 68: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

54

para acumular competências e organizar a produção de matéria-prima para a fitoindústria,

oferecendo às comunidades a perspectiva de ultrapassarem o estágio de meros coletores.

Algumas comunidades – foram identificadas pelo censo de 2002 do IBGE

aproximadamente 4.600 no Amazonas - já iniciaram experiências de cooperação com

empresas e instituições como a Agência de Floresta do Governo do Estado, Organização de

Cooperativas do Brasil - OCB, Universidade Federal do Amazonas - UFAM, Instituto de

Pesquisa da Amazônia - INPA e Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas

Empresas - SEBRAE-Am.

Todavia, esses diferentes projetos, que têm basicamente os mesmos objetivos – produção

de insumos industriais - são implementados em sua maioria isoladamente com pouca

conexão um com outro, deixando a impressão de que falta coordenação para centralizar as

ações, economizar recursos e unir competências. Esses projetos visam também desenvolver

novas tecnologias, diminuir os custos de fabricação, reduzir ou eliminar os intermediários

na cadeia produtiva e agregar valor à matéria-prima em benefício das comunidades.

Casos assim exigem um papel de “governança”, podendo a coordenação ser implementada

por usuários (cadeia de mercadoria orientada para usuário) ou por produtores que

desempenham um papel chave (cadeia de mercadoria orientada para produtor)

(KAPLINSKY & MORRIS, 2002, p. 22). Entretanto, a coordenação é mais difícil de ser

exercida por empresas e instituições privadas, principalmente pelo receio de integrarem

redes, pois existe a preocupação sobre os custos e quem se apropria dos benefícios

(STABER, 2001, p. 549).

A vasta literatura discute a difusão do conhecimento como conseqüência da proximidade

entre as firmas, universidades e serviços que são essenciais para o processo da inovação.

Isto é especialmente verdadeiro para áreas urbanas nas quais a concentração de indivíduos,

ocupação, instalações industriais e comunicação aceleram o fluxo de informação que

conduzem à inovação (OERLEMANS et al., 2001, p. 2). É possível acelerar o processo de

inovação nas distantes comunidades da Amazônia?

A UFAM está desenvolvendo um projeto em parceria com algumas comunidades no

município de Carauari para a produção de óleo bruto, inicialmente destinado ao setor de

cosméticos. Essa produção, realizada por mais de 40 comunidades com cerca de 350

Page 69: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

55

famílias, ocorre no período de safra que se estende de fevereiro a novembro. O projeto

conta com aporte financeiro da empresa Cognis, de capital estrangeiro, instalada em São

Paulo, que assegura a compra da quantidade produzida do produto, complementando com o

refino e distribuição.

O planejamento do projeto teve início em 1997 com o PTU – Programa do Trópico Úmido

e começou a ser implementado em 1998 para estudar a energia alternativa com

sustentabilidade econômica, ambiental e social no médio Juruá, na primeira reserva

extrativista (RESEX) no Amazonas. O objetivo do projeto era produzir energia baseada nos

óleos vegetais, agregando valor aos produtos florestais e valorizar a biodiversidade.

A visão de empresas do segmento de cosméticos, principalmente as instaladas fora do

estado, que identificaram um grande potencial econômico para o aproveitamento de

sementes oleaginosas como a andiroba, antes desperdiçadas ao se deteriorarem ao relento

nas diversas áreas onde brotavam na região amazônica, motivaram a UFAM a repensar o

projeto de produção de biodiesel.

Esse projeto passou a ser considerado secundário, tendo em vista que os ganhos

econômicos das comunidades com a venda do óleo como matéria-prima para indústria

cosmética é suficiente para adquirir combustível convencional e ainda sobra para adquirir

outros bens. Futuramente o óleo produzido poderá atender da mesma forma o segmento de

fármacos e outros segmentos econômicos. Os subprodutos ou resíduos do óleo fabricado

podem ser também empregados na criação de animais pelas comunidades.

A Agência de Floresta, criada pelo atual Governo do Estado, iniciou um projeto com o

objetivo de capacitar comunidades para produzir, analogamente ao projeto da UFAM, o

óleo vegetal a ser empregado na fabricação de cosméticos, alimentos e fármacos. As

regiões do Purus, Alto Solimões, Juruá, e Madeira são consideradas pela Agência fontes

potenciais de oleaginosas, para as quais há a necessidade de realizar estudos que permitam

dimensionar a capacidade de produção e para onde deverá ser estendido o projeto no futuro.

Deverá essa Agência, em outro projeto que conta com o suporte técnico da UFAM,

beneficiar cerca de 12 comunidades integrantes da “Associação da Comunidade do

Sardinha”, no município de Lábrea. Futuramente, para facilitar e auxiliar a implementação

do projeto deverá ser envolvida representação indígena.

Page 70: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

56

A estratégia da Agência é instalar as Miniusinas em locais eqüidistantes à maioria das

comunidades adjacentes, para utilizar sua capacidade máxima de produção. Na medida em

que seja explorado o limite de capacidade produtiva, a Miniusina deverá ser transferida

para iniciar a produção em outras comunidades, sendo substituída por uma Miniusina de

maior capacidade na localidade onde estava instalada.

No município de Manicoré, a Agência está criando uma Cooperativa envolvendo 22

Associações para instalar uma dessas Miniusinas e beneficiar a castanha. Isto permitirá sua

comercialização diretamente ao consumidor, cuja experiência pode ser disseminada com

outras comunidades extrativistas, tradicionais ou não. A perspectiva é de reduzir o preço de

comercialização, reduzir os intermediários, a exemplo de experiência similar já em prática

no Estado do Acre.

A Agência também iniciou um projeto piloto na “Comunidade do Roque” no município de

Carauari para a extração do óleo de andiroba, cuja principal aplicação é a produção de

fármacos, que no ano de 2004 servirá como experiência e, se bem sucedida, permitirá que

seja levada para outras comunidades. A primeira experiência já permitiu produzir

aproximadamente 6 toneladas em 2004. Mais de 95% das comunidades do entorno da

Reserva estão sendo atendidas pelo projeto da UFAM e da Agência de Floresta. A Agência

coordenou um trabalho de mapeamento das potencialidades dos recursos da floresta

apresentado na 1a Conferência das Populações Tradicionais, realizada em 2004

(www.florestas.am.gov.br).

No mesmo município está sendo implantado um outro projeto piloto coordenado pela

Organização das Cooperativas do Brasil - OCB, contando com o envolvimento de

pesquisadores da UFAM, que pretende estimular no Amazonas o cooperativismo de crédito

para a agroindústria e extrair, inicialmente, o óleo da castanha-do-Brasil. A instalação de

uma Miniusina tem como objetivo principal transformá-la em insumos para a fabricação de

alimentos e eliminar intermediários, aproximando as comunidades dos consumidores.

A primeira experiência do projeto será produzir “barras de cereal”, resultado de uma

pesquisa acadêmica da UFAM, desenvolvida como parte do Programa Plataformas

Tecnológicas do MCT, cuja renda se estima ser superior em até 12 vezes que a obtida hoje

com a venda da castanha in natura. Esse projeto envolve instituições de fomento, de

Page 71: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

57

tecnologia e de P&D: UFAM, FUCAPI e a Secretaria de Produção Rural do governo do

estado. A aprovação desses projetos é condicionada à apresentação de um Plano de

Negócio elaborado pelo SEBRAE-Am.

A OCB também pretende instalar pequenas Miniusinas para a produção de óleo bruto,

inicialmente com a castanha-do-Brasil, em uma comunidade eqüidistante de diversas outras

comunidades. A OCB do Amazonas optou pela instalação de Miniusinas em locais

estratégicos, baseando-se na experiência mal sucedida, por falta de estudo de viabilidade

técnico-econômica, ocorrida com a implantação de uma grande usina no Estado do Acre

para processar essa espécie com recursos financeiros da Suframa.

O projeto de Miniusina configura-se como uma rede, permitindo que a matéria-prima seja

levada das comunidades por um transporte específico e conduzida até à unidade produtiva

na comunidade central, como mostra a ilustração da figura 4. Esse projeto se assemelha ao

projeto da UFAM e ao projeto da Agência de Floresta.

A metáfora de redes captura algumas características essenciais de relacionamento de

usuário-fornecedor, de aglomeração regional etc. Os benefícios futuros de uma rede são a

criação de sinergia de conhecimento através da interação, acumulação tecnológica

dinâmica, aprendizado social e aspectos de redes laterais de inovadores (DEBRESSON,

1999, p.363 e 366).

Figura 4 - Miniusina de produção de óleo bruto

Fonte: própria

Na hipótese de uma Miniusina apresentar algum defeito técnico, a produção de óleo não

deverá ser interrompida, pois haverá outra unidade operando nas adjacências com outras

Miniusina

Comunidades

Page 72: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

58

comunidades, embora localizada um pouco mais distante, que pode ser utilizada

emergencialmente, atendendo aos dois grupos de comunidades. Além da castanha, várias

outras espécies pouco conhecidas estão sendo testadas para a produção de óleo.

Algumas empresas do mercado nacional já manifestaram interesse em adquirir o óleo

produzido para ser empregado na fabricação de produtos de exportação. Entretanto, a

capacidade de produção instalada não pode atender ainda o volume demandado e a

qualidade é considerada baixa. A UFAM não atendeu a quantidade demandada pela

empresa Cognis em 2004, que esperava receber 100 toneladas, recebendo apenas cerca de

15 toneladas, mesmo já tendo antecipado o pagamento em troca da garantia do

fornecimento do óleo produzido.

Um exemplo da produção do óleo bruto pode ser observado no fluxograma da figura 5, que

ilustra as fases posteriores ao recebimento da matéria-prima das diversas comunidades,

conforme o descrito na figura 4 – Miniusina de produção de óleo bruto. As etapas de 1 a 3,

em muitos casos, já são realizadas pelas comunidades fornecedoras de matéria-prima.

Figura 5 - Extração do óleo bruto

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13

Fonte: própria

No projeto da Agência de Floresta é empregada a técnica de extração por condensação para

a obtenção do óleo bruto e a pretensão é evoluir para a extração de óleo refinado. O

objetivo desse projeto é transferir gradativamente tecnologias mais complexas às

comunidades, que são os principais e potenciais fornecedores, agregando mais valor à

matéria-prima antes do produto beneficiado ser vendido para a indústria. Em uma etapa

Filtragem Extração do óleo bruto

Armazenagem

Transporte Lavagem Secagem ao sol

Seleção da semente

Pré-secagem

Secador Desidratação Triturador Aquecedor Tanque decantado

Page 73: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

59

posterior, a Agência pretende estimular a aproximação das comunidades com as empresas

para que cooperem entre si e encontrem soluções tecnológicas em conjunto.

Entretanto, é igualmente fundamental a adoção de tecnologias mais simples, como a

construção em cada comunidade de um tablado com cobertura móvel, como é feito para o

cacau, visto que no período de cheia do rio em muitas comunidades fica reduzido o espaço

de secagem e armazenagem da semente para a extração do óleo.

Três projetos experimentais com fitoterápicos foram criados pelo SEBRAE: um no

município de Manaquiri e outro no município de Barreirinha. Este é o maior e mais

avançado, porque tem o apoio da prefeitura local e indica ter mais chances de sucesso. No

município de Manaquiri será implantada uma pequena fábrica, ou Miniusina para a

extração de óleo. Em Barreirinha, a prefeitura pretende implantar uma Biofarma para a

produção de matéria-prima de melhor qualidade e atender a fitoindústria. Um terceiro

projeto e mais recente está sendo implantado na rota do gasoduto Coari17-Manaus.

O SEBRAE começou um trabalho de capacitação tecnológica nas comunidades. O objetivo

é que elas dominem técnicas de plantio, manejo, coleta e armazenagem e de combinação

das plantas. Para prover o suporte técnico necessário, foram contratados consultores

especializados, contando ainda com o apoio da EMBRAPA, da prefeitura local e de

pesquisadores do INPA. O SEBRAE espera contar no futuro com a participação da Agência

de Floresta em um projeto a ser implantado na região do Alto Solimões.

Além dos 2 municípios, o SEBRAE pretende apoiar em outros municípios do estado a

formação de grupos para a produção de fitoterápicos, organizados em cooperativas ou

associações e que futuramente atendam a fitoindústria, além da demanda local. Em Manaus

existem 8 grupos diferentes assistidos pelo SEBRAE para o desenvolvimento de

fitoterápicos.

Como as empresas estão considerando o papel das comunidades de potenciais fornecedores

e virtuais competidores? Elas estão dispostas, também, a garantir os instrumentos para a

capacitação tecnológica dessas comunidades?

17 No município de Coari estão sendo extraídos gás e petróleo pela Petrobrás.

Page 74: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

60

II.4.5. Riscos para a exploração dos recursos da floresta amazônica

Há sempre o risco da transformação da floresta em produtos madeireiros em cujo setor

existem inúmeras espécies ameaçadas. Um problema global a ser analisado é a rápida

aceleração da perda de plantas e espécies animais, acompanhada do aumento populacional

e da demanda motivada pelo desenvolvimento econômico.

Pesquisas in vitro surgem como alternativa, pois possibilitam a economia de espaço e

reduzem o risco de manter espécies em coleções a campo (in vivo), as quais estão sujeitas

aos estresses bióticos (pragas e doenças) e as intempéries climáticas. Todavia, o avanço da

nanotecnologia, que facilita a integração da biotecnologia à microinformática e à

microeletrônica, pode permitir o conhecimento biológico dos ecossistemas, integrando-os a

sistemas biológicos artificiais de laboratórios nos países desenvolvidos.

Empresas privadas também têm feito acordos com países que dispõem de recursos naturais,

instituições locais, e pessoal habilitado para dividirem os ganhos com patentes (RIFKIN,

1999, p. 54). A engenharia genética que deverá ser crescentemente explorada, além dos

benefícios, pode trazer algum risco impossível de predizer e de reverter, pois pode acelerar

a expansão de monoculturas e a destruição da agrobiodiversidade (SHIVA, 2001, p. 56).

Não há consenso no meio científico sobre a importância da bioprospecção. Para Clement

(2003, p. 28), a era da bioprospecção nas florestas tropicais pode estar se encerrando ainda

em sua fase nascedoura por duas razões: primeiro, os compostos bioativos podem ser

encontrados em todo o mundo e segundo, a ciência genômica pode criar compostos

bioativos altamente específicos. A tendência das ações públicas em focar mais o

desenvolvimento da biotecnologia pode ignorar outras tecnologias menos complexas,

porém de igual importância para a cadeia produtiva e cadeia de valor na fitoindústria.

A biopirataria na Amazônia tem-se tornado cada vez mais freqüente. Um caso mais recente

e de grande repercussão foi a patente do cupuaçu obtida por uma empresa japonesa, fruto

típico da Amazônia, nos mercados americano, europeu e japonês. Foi necessária a

intervenção do governo brasileiro que ingressou na justiça do Japão para reaver o direito de

propriedade da espécie, baseado num dispositivo legal comum a todos os países membros

da Organização Mundial do Comércio (OMC). Com a biopirataria tem aumentado a

desconfiança das comunidades tradicionais sobre a seriedade do trabalho de pesquisadores.

Page 75: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

61

II.5. OS DESAFIOS PARA A CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA DAS EMPRESAS

A pesquisa tem como um dos focos principais examinar as atividades desenvolvidas pelas

empresas para avaliar sua capacitação tecnológica e da cadeia produtiva da fitoindústria.

Nesta seção serão analisadas as seguintes questões: (a) caracterização das empresas e da

fitoindústria; (b) o esforço para o desenvolvimento de atividades inovadoras.

II.5.1. caracterização das empresas e fitoindústria

As empresas da fitoindústria atuam principalmente nos segmentos de fitoterápicos,

fitocosméticos, concentrados para bebidas não alcoólicas, balas, chocolates, polpa de frutas

e insumos para fitoterápicos, fitocosméticos e alimentos. São constituídas de capital local e

de capital estrangeiro.

No segmento de fitoterápicos, alguns dos principais produtos fabricados são: encapsulados

de plantas, xaropes, mel composto com plantas medicinais, vitaminas e gel. No segmento

de cosméticos são fabricados: água de colônia, sachê, xampu, preparado para banho, loção,

bronzeador, creme para pele etc. Os concentrados para bebidas não alcoólicas são

refrigerantes, sucos, chá etc. As balas, chocolates e polpas de frutas são produzidos à base

de frutas regionais. Os insumos são: extratos secos de plantas e ervas, sementes e óleo fixo

e essencial, extratos vegetais para complementos alimentares.

As empresas caracterizam-se como microempresas artesanais, micro e pequenas indústrias

e empresas estruturadas, com base na classificação de Sant’Ana (2002, p. 240) abaixo.

Ressalta-se que as empresas artesanais não foram incluídas na pesquisa, apenas as micro e

pequenas empresas e empresas estruturadas.

Empresas artesanais – pequenos produtores que se baseiam na tradição, incluídas as

farmácias de manipulação e assemelhados, com mínima capacidade de investimento na

produção, no desenvolvimento de tecnologia e na pesquisa.

Micro e pequenas empresas – As micro empresas são de até 10 empregados, as pequenas

com mais de 10 e até 50 empregados. São empresas industriais com capacidade variada de

investimento na produção, no desenvolvimento de tecnologia e de investimento de

pesquisa.

Empresas estruturadas – São caracterizadas por serem predominantemente de médio e

Page 76: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

62

grande porte. As médias têm mais de 50 e até 100 empregados, as grandes têm mais de 100

empregados. No geral, apresentam maior capacidade dos que as micro e pequenas empresas

para investimento na produção e na pesquisa.

II.5.2. Esforço de modernização das empresas

Algumas das características comuns às empresas inovadoras e competitivas são: localização

da planta próxima dos fornecedores, de consumidores ou de infra-estrutura de instituições

de P&D; modernização de técnicas gerenciais e organizacionais; tecnologias avançadas de

processo e/ou produto; fabricação de produtos de qualidade; suporte a cliente; sistema de

distribuição eficiente; fontes razoáveis de financiamento; intensas atividades de P&D;

pessoal qualificado etc.

Para sobreviverem e prosperar as firmas necessitam de: (a) financiamento adequado; (b)

rede de apoio de serviços de negócios: técnico, legal, financeiro, maketing; e (c) adequada

infra-estrutura física (MALIZIA & FESER, 2000, p. 201).

A localização da planta fabril costuma ser determinada por alguns dos fatores que

costumam atrair investimentos: proximidade com o mercado consumidor, com a fonte de

matéria-prima, ou com a boa infra-estrutura de instituições tecnológicas, de pesquisa e

ensino; disponibilidade de mão-de-obra especializada; disponibilidade de energia e

transporte; concessão de incentivos fiscais dentre outros.

Um número razoável de autores tem enfatizado também a importância da proximidade

geográfica para o relacionamento das firmas (SCHMITZ, 1999, p.1629). A tendência das

firmas de se localizarem perto uma das outras parece fácil explicar nos mercados onde os

transportes de matéria-prima ou o resultado da produção vincula custo substancial - em tais

casos, a economia básica de produção e distribuição determina a localização da atividade da

indústria (STUART & SORENSON, 2002).

As empresas da fitoindústria, todavia, por estarem implantadas em sua maioria em Manaus,

capital do Amazonas, encontram-se distantes dos principais mercados consumidores para

os seus produtos tanto o interno quanto o externo. Embora mais próximas que empresas de

fora do Estado, também se encontram distantes, ou com dificuldades de acesso ao lócus de

extração e produção da matéria-prima da floresta.

Page 77: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

63

Praticamente inexiste ligação por estrada do Amazonas para os grandes centros do país e

menos ainda entre seus municípios. Tem acesso para o Oceano Pacífico via Venezuela. Os

principais meios de transporte são o aéreo para fora do estado e o fluvial dentro do estado.

Grande parte da energia fornecida para a cidade de Manaus é de termoelétricas. Tanto o

custo de transporte quanto o de energia são considerados elevados pelas empresas. Para

compensar esses custos, são concedidos incentivos fiscais com base no projeto Zona Franca

de Manaus às empresas que se instalam no Pólo Industrial de Manaus – PIM.

Além das grandes distâncias dentro do próprio Estado, da difícil navegabilidade em alguns

períodos do ano face à vazante dos rios amazônicos, torna-se difícil o acesso e o

escoamento da matéria-prima utilizada pela fitoindústria. Que fatores, então, justificariam a

instalação de empresas em Manaus e quais as dificuldades de acesso à matéria-prima?

A modernização de técnicas gerenciais e organizacionais dessas empresas depende de duas

atividades básicas: (a) da transformação dos recursos e (b) da transação dos recursos. Os

recursos podem ser físicos: matéria-prima, insumos, máquinas, equipamentos, financeiros,

humanos etc; e intangíveis que são o conhecimento e o aprendizado adquiridos.

As atividades de transformação são desempenhadas pelas empresas combinando os

recursos físicos e não físicos, conectadas pelas atividades de transação desses recursos entre

as empresas e entre as empresas com outros agentes no ambiente da fitoindústria ou ainda

fora dele. Nas conexões e implementação de suas atividades, a heterogeneidade e a

mobilização de recursos são consideradas algumas de suas características.

O ambiente tecnológico ou a demanda definem a natureza dos problemas que as firmas têm

de resolver em suas atividades de produção, nas atividades inovadoras, nos tipos de

incentivos e restrições específicos para os diferentes comportamentos e organizações

(MALERBA, 2002, p. 8). A modernização exige que as empresas melhorem suas técnicas

gerenciais, organizacionais, de infra-estrutura de tecnologia da informação, o

relacionamento e atendimento a clientes e fornecedores e combinem de forma eficiente seus

recursos internos.

As empresas da fitoindústria são afetadas por um conjunto variado de leis e

regulamentações que as obrigam a obter certificações que comprovem o cumprimento de

diversas exigências formais e implícitas. A emissão dessas certificações, em geral, está sob

Page 78: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

64

a jurisdição de um dos Ministérios: Saúde, Agricultura, Pecuária e Abastecimento e do

Meio Ambiente. Muitas vezes a competência e responsabilidade não são bem estabelecidas

para o cumprimento e atuação de cada um desses Ministérios e de seus respectivos órgãos,

ou não são bem compreendidas pelas empresas.

Para ilustrar, o fluxograma da figura 6 mostra como surge a necessidade e como é obtida a

certificação. Basicamente a necessidade surge a partir da pressão exercida pelo mercado

sobre questões relacionadas ao acesso aos recursos da biodiversidade, à biossegurança e à

qualidade do produto, configuradas em normas e regulamentos para os quais as empresas

devem se adequar.

Figura 6 - Fluxo para credenciamento

Fonte: Adaptado do modelo de certificação do Sistema de Avaliação da Conformidade de

Material Biológico (MCT, 2002, p. 45, disponível em www.mct.gov.br).

Várias são as instituições autorizadas por um desses Ministérios para a emissão de

certificações. Algumas instituições estrangeiras, respeitadas internacionalmente, também

credenciam certificadoras no país que emitem certificados em nome delas, respaldando as

transações internacionais.

Como exemplos, a certificação emitida pela Forest Stewardship Council (FSC) para

produtos florestais, que é reconhecida internacionalmente, é exigida por alguns países

importadores de produtos naturais; a liga “Fairtrade Labelling Organizations International

(FLO)”, uma entidade sediada na Alemanha, concede um selo de qualidade para a

comercialização de produtos naturais via “mercado justo”; a Certificação Orgânica para

produtos naturais, pode ser emitida no Brasil pelo Instituto Biodinâmico – IBD. Assim, que

Empresa

Organismo de

Certificação Normas

Mercado

Regulamentos Certificado

Page 79: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

65

certificações são mais necessárias para facilitar as atividades desenvolvidas pelas

empresas?

A organização da produção implica, para muitas empresas, em lidar com diferentes tipos de

matéria-prima, de tecnologias e produtos dos diversos segmentos econômicos da

fitoindústria. O fluxograma da figura 7 mostra as etapas no processo produtivo para a

extração do óleo essencial empregado na produção de bens nos diversos segmentos

econômicos.

Figura 7 - Óleo essencial 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Fonte: própria

As atividades de pesagem, decantação, centrifugação, filtragem, ajuste de PH, separação de

cascas ou sementes e refrigeração da matéria-prima são consideradas tecnologias básicas ou

simples que são praticadas pela maioria das empresas. Entretanto, existem outras atividades

consideradas de maior complexidade.

A seleção da matéria-prima realizada no controle de qualidade, etapa 3 na figura 7, após o

recebimento e pesagem, é uma tarefa essencial que depende, por falta de padronização

oficial, do conhecimento tácito do selecionador para a escolha das melhores espécies, sendo

uma das fases mais importantes no controle de qualidade do processo produtivo.

O processo de secagem do vegetal, etapa 4, ao ser escolhido o método a ser adotado, passa

a ser uma operação de rotina. Entretanto, a secagem feita principalmente para óleos

essenciais exige que a empresa adote um tipo de tecnologia para cada processo: secagem ao

ar livre, estufa, ou banco de gelo.

Recebimento Pesagem Controle de qualidade

Secagem do vegetal

Moagem

Extração do óleo

Decantação Separação Desidratação do óleo

Centrifugação

Filtragem Embalagem

Page 80: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

66

O processo de moagem empregado na etapa 5 tem impacto na produtividade com o maior

aproveitamento da matéria-prima. A produção, por exemplo, de 30% a mais no guaraná,

depende da granolometria do equipamento utilizado.

Para a melhoria dos processos de fabricação das empresas e o aumento de produtividade,

em grande parte dos casos, basta investir em equipamentos mais modernos. As etapas no

processo produtivo na fitoindústria de alguns produtos apresentam semelhanças mesmo

para a fabricação de diferentes produtos e de diferentes segmentos econômicos, como

mostra o fluxograma da figura 8.

Figura 8 - Sementes, frutas e partes comestíveis de plantas regionais

1 2 3 4 5

6 7

Fonte: própria

O processo produtivo para a fabricação de concentrado de bebidas não alcoólicas, com os

insumos extratos aromáticos e açúcar industrializado pode ser representado pelo

fluxograma da figura 9.

Figura 9 - Concentrado de bebida não alcoólica

1 2 3 4 5 6 7

Fonte: própria

Além dos investimentos necessários em recursos humanos e infra-estrutura de laboratórios,

uma das atividades mais importantes de P&D, considerada essencial para elevar o nível de

Recebimento Pesagem Controle de Qualidade

Separação do Casquilho

Moagem

Separação por Grânulo

Embalagem à Vácuo

Enchimento Matéria-Prima Mistura Armazenamento

Concentrado Mistura Armazenamento

Page 81: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

67

capacitação tecnológica das empresas, está subordinada à melhoria da qualidade da

matéria-prima de origem da floresta.

Os recursos das empresas para investimentos são escassos e não existem linhas de

financiamento em condições favoráveis. O problema é que as pequenas empresas

brasileiras não estão familiarizadas e nem existem em abundância agentes financeiros de

capital, especialmente o de risco. O Estudo Parque Nacional de Empresas de Biotecnologia

realizado em Minas Gerais mostra que cerca de 50% das empresas estudadas possuem

algum tipo de financiamento externo, porém apenas 6% são beneficiadas com capital de

risco (MASCARENHAS, 2001).

Existem poucas pesquisas sobre a aplicação industrial das espécies. Sabe-se pelo

conhecimento tradicional acumulado, que a copaíba, por exemplo, conhecida como o

antibiótico da Amazônia, tem ação eficaz como produto cicatrizante. Porém as empresas

fabricantes de fitoterápicos com essa matéria-prima necessitam da comprovação científica,

a fim de que possam receber autorização de fabricação. Um exemplo padrão de fluxograma

com as etapas de processamento produtivo de um fitoterápico é apresentado no fluxograma

10 (BREVOORT, 1998 apud FERNANDE, 2002, p. 54).

Figura 10 - Etapas do processamento de um fitoterápico

A escassa pesquisa com os recursos da flora, para aplicação na atividade produtiva,

dificulta e retarda o desenvolvimento de novos produtos de maior valor agregado. Um

exemplo é a “unha de gato” que é vendida por produtores da região por cerca de US$ 1,00/

kg. Ainda no Brasil, em S. Paulo, é pulverizada para a produção de extrato de onde é

vendida para mercados como o americano entre US$ 3,00 a US$ 5,00/kg. Nos EUA o

extrato da “unha de gato” é encapsulado como fitoterápico e vendido para a Europa por um

valor significativamente superior. Neste caso não é apenas o diferencial de tecnologia e de

gargalo sobre estudos farmacológicos que exigem elevados investimentos, mas também

uma indicação de que as empresas dispõem de capacidade mercadológica bastante limitada.

Erva fresca Erva Seca Tintura Extrato Padronizado

Extrato

1 2 3 4 5

Page 82: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

68

A interação da empresa com o ambiente externo, embora possa absorver algumas

ineficiências, permite o acesso e alguns benefícios possíveis de serem obtidos dependendo

das facilidades de transação com os agentes tais como fornecedores de insumos, outras

empresas do setor, instituições de P&D e de serviços especializados para a mobilização de

recursos.

Pela diversidade de atividades a que são submetidas, como as empresas têm se empenhado

em harmonizar seus interesses com os interesses de diversos atores que influenciam a

exploração dos recursos da floresta? Quais fatores são mais representativos nas dificuldades

enfrentadas e no processo de capacitação tecnológica das empresas?

II.5.3. Comparação das características do PIM e fitoindústria

As vantagens atribuídas à fitoindústria, comparativamente ao Pólo Industrial de Manaus –

PIM, tais como as descritas no quadro abaixo extraídas do estudo Subsídios Para Política

Pública de Biotecnologia para o Estado do Amazonas (SEDEC, 2002, p. 11), são assertivas

que necessitam ser melhor examinadas.

Quadro 2 - Vantagens atribuídas à fitoindústria comparativamente ao PIM

PIM Fitoindústria

É marcantemente importador de insumos e matérias-primas.

Sua principal fonte de matéria-prima são os recursos naturais da biodiversidade do estado.

Por ser eminentemente importador deixa baixíssimo valor agregado no Estado.

Por utilizar recursos naturais existentes no Estado agrega localmente enorme valor aos produtos.

Seu parque industrial se concentra integralmente em Manaus agravando o desnível sócio-econômico em relação ao interior do estado.

Oferece amplas possibilidades de interiorização da produção industrial de base levando desenvolvimento aos demais municípios do estado.

Por concentrar suas atividades em Manaus, provoca um fluxo migratório do interior para a capital.

Opera a reversão do fluxo migratório pelas atividades extrativista e de indústrias de base que são realizadas no interior do Estado.

Fonte: Subsídios Para Política Pública de Biotecnologia para o Estado do Amazonas (SEDEC, 2002, p. 11)

Page 83: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

69

II.5.4. Resumo da problematização da fitoindústria

No quadro 3 são apresentados resumidamente alguns elementos que caracterizam a

problematização da fitoindústria.

Quadro 3 - Principais elementos que caracterizam a problemática

Problematização Caracterísiticas

1. Legislação e regulação

• é bastante diversificada e trata de temas tais como controle fito-sanitário, biossegurança, acesso à biodiversidade, fitoterápicos etc.

• a legislação da Zona Franca de Manaus, em especial o Processo Produtivo Básico – PPB exige quantidades mínimas de utilização de matérias-primas oriundas da fauna e flora regionais consideradas elevadas pelas empresas

2. Dificuldade de governança

• há dificuldades em harmonizar os principais agentes que interferem na exploração dos recursos da floresta: 1. Institutos de P&D, 2. organizações governamentais de fomento, 3. organizações indígenas e ONGs, e 4. empresas industriais.

3. Mercado de matéria-prima

• há abundância de matéria-prima na floresta para aplicação em diversos segmentos: farmacêutico, alimentos, cosméticos, combustível etc, porém existem dificuldades para transformá-la em insumos de valor.

• a fitoindústria enfrenta dificuldades para adquirir a matéria-prima da floresta na quantidade e qualidade desejada, por ser um setor em início de organização.

4. Desafios tecnológicos da fitoindústria

• a bioprospecção e a biotecnologia são apontadas como o “estado da arte” para a valorização da biodiversidade, porém tecnologias de graus diferenciados de complexidade no âmbito do plantio, manejo, armazenagem, produção, transporte etc. são essenciais para o desenvolvimento da cadeia produtiva.

5. Desafios para a capacitação tecnológica das empresas

• a competitividade das empresas depende de como elas combinam seus recursos materiais e intangíveis e adquirem novas competências: gerenciais, organizacionais, estratégicas e como interagem com o ambiente institucional

Fonte: própria

Page 84: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

70

III. REFERENCIAL TEÓRICO

III.1. APRENDIZADO, CAPACITAÇÃO E INOVAÇÃO TECNOLÓGICA

III.1.1. A inovação como base de competitividade das empresas

O aumento da competição tem exigido das empresas ações que sustentem sua capacidade

de sobrevivência. Para criar as condições favoráveis em busca da competitividade, a

inovação surge como novo paradigma e elemento essencial na gestão das empresas,

ilustrando a relação entre as mudanças tecnológicas e o seu crescimento econômico.

A competitividade pode ser considerada como a capacidade da empresa formular e

implementar estratégias concorrenciais que lhe permitam ampliar ou conservar, de forma

duradoura, uma posição sustentável no mercado.

A inovação é considerada o núcleo da “economia baseada no conhecimento”. A mudança

tecnológica resulta de atividades inovativas, incluindo os investimentos em intangíveis tais

como P&D para criar oportunidades de investimentos adicionais na capacidade produtiva.

As firmas inovadoras dispõem de diversas características que podem ser agrupadas em duas

categorias (OECD, 2004, p. 7 e 16):

Habilidade estratégica - visão de longo prazo, habilidade para identificar e participar

das tendências de mercado, habilidade para absorver informações tecnológicas e

econômicas;

Habilidade organizacional – gosto pelo risco, cooperação interna e externa,

envolvimento de toda a firma no processo de mudança e investimento em recursos

humanos.

Competir no mercado mundial exige não apenas que as firmas alcancem benchmark

internacional de eficiência produtiva, mas, principalmente, que realizem melhorias

tecnológicas o tempo todo. Além disso, a capacidade das nações em fomentar e gerenciar

mudanças técnicas é crucial para as firmas sobreviverem e crescer no mercado mundial

(BELL, 1987, apud FRASMAN, 1995, p.101).

A inovação pode aumentar significativamente a competitividade da empresa, melhorando o

desempenho e eficiência não apenas de suas operações produtivas, mas também

Page 85: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

71

organizacionais e de comercialização. A inovação pode elevar a competitividade, mas ela

exige diferentes conjuntos de conhecimentos e habilidades bastante diferentes do modo

convencional da administração de negócios no dia-a-dia (TIDD et al, 1997, p. ix).

A inovação pode ocorrer por Science Push, empurrão da ciência, ou Demand Pull, atração

de demanda. Pode ser Incremental, um aperfeiçoamento pouco intensivo em conhecimento

técnico-científico, ou Radical, que altera o panorama mundial, intensivo em conhecimento

técnico-científico.

As características consideradas fundamentais para o sucesso inovador das firmas industriais

no século passado foram a forte atividade interna de P&D, pesquisa básica, conexões com o

mundo científico externo e com os consumidores. Outros fatores igualmente importantes

foram usar patentes para ganhar proteção e barganhar com competidores; reduzir mais que

os concorrentes o tempo da pesquisa e lançar os produtos no mercado; assumir riscos;

identificar imediatamente mercados potenciais; empreender bastante esforço para envolver,

educar e assistir aos usuários; dispor de forte empreendedorismo para coordenar P&D,

produção e mercado. Entretanto, foram as pequenas firmas a contabilizar as mais

importantes invenções e inovações (FREEMAN, 1997, p. 9).

A decisão das empresas para inovar, como agentes econômicos, visa buscar um melhor

desempenho no mercado, como resposta mais efetiva às pressões dos concorrentes e de

novas demandas dos clientes. A inovação no interior de uma firma está relacionada com as

habilidades de reconhecer, aproveitar as oportunidades e encontrar formas de combinar

eficientemente os fatores em função dessas oportunidades.

As inovações tanto podem ser incorporadas em produtos ou serviços como em processos de

fabricação ou de distribuição, às modalidades de organização de tarefas e assim por diante.

Diversas atividades de pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias menos complexas

podem contribuir com pequenos progressos técnicos que, no conjunto, acabam por

representar avanços significativos de capacitação tecnológica. Esses avanços facilitam ou

criam a base para o desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias, que são fundamentais

no processo de inovação. Podem representar, ainda, um diferencial competitivo e de

aproximação cada vez maior do estado da arte (SÁENS, 2002, p. 73).

Page 86: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

72

As empresas fabricam ou produzem bens similares seguindo métodos de produção

tecnicamente diferentes. Elas inovam na base de uma tecnologia própria, mas imitando

métodos utilizados por outras firmas, incorporando conhecimentos públicos disponíveis,

mas selecionados em função dos objetivos perseguidos.

Os dispositivos físicos existentes incorporam os avanços no desenvolvimento de uma

tecnologia de uma determinada atividade para a solução de problemas. Ao mesmo tempo,

uma parte “desincorporada” da tecnologia consiste da especialização específica,

experiência em tentativas passadas e soluções tecnológicas anteriores, juntamente com o

conhecimento e os avanços do estado da arte (DOSI, 1997).

As empresas da fitoindústria para elevar sua capacidade competitiva deverão considerar a

melhoria e o desenvolvimento de tecnologias na cadeia produtiva em atividades tais como a

extração, plantio, armazenagem, transporte, transformação e distribuição de matéria-prima

e de produtos acabados.

A difusão tecnológica incorpora um processo contínuo de mudança técnica incremental que

modela tecnologias para o uso em variadas situações específicas, modificando-as para

melhorar o desempenho original. A competitividade é uma constante mudança do nível

alcançado e sustentado por taxas de mudança técnica que supera ou pelo menos combina as

taxas geradas em outras regiões (BELL e PAVITT, 1995, p. 76).

III.1.2. Ajustando o conceito de Sistemas de Inovação para regiões em desenvolvimento

O conceito de Sistemas de Inovação permite destacar que a atuação das empresas não é

isolada de outras empresas e organizações, uma vez que está sujeita às restrições do

ambiente institucional. Pode ser definido como um conjunto de instituições distintas que

conjunta e individualmente contribuem para o desenvolvimento e difusão de tecnologias

não apenas em empresas, mas também em instituições de ensino e pesquisa, instituições de

financiamento do governo etc. (FREEMAN, 1997, p. 203).

Os Sistemas de Inovação nos vários países podem ser diferentes, assim como os Sistemas

Regionais (ou locais) para setores (sistemas tecnológicos). Também diferem em seu

desempenho em termos de desenvolvimento tecnológico e difusão (EDQUIST, 1997, p.

19). Vários autores têm argumentado que a “globalização” tem diminuído a importância da

Page 87: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

73

nação-estado e as entidades sub-nacionais tais como províncias, distritos industriais,

cidades, etc. estão se tornando mais importantes (FREEMAN, 2002, p.2).

A abordagem de Sistema de Inovação necessita ser adaptada para a realidade de países em

desenvolvimento aliando-se à abordagem de construção de um Sistema. Quando aplicado

nesses países é importante reconhecer algumas fragilidades como a de ter sido criado para

os países desenvolvidos e ser usado principalmente como um conceito ex-post

(LUNDVALL, 2002, p.p. 14-16).

A literatura reconhece que nas economias emergentes, as empresas são crescentemente

forçadas a manter o foco, além de suas próprias operações, procurando arranjos

colaboradores. O crescimento do número de empresas na fitoindústria com diferentes

características, a diversidade dos serviços tecnológicos e atividades de pesquisa por elas

demandadas, envolvendo os recursos da flora, vêm tornando essa interdependência e

vínculos cada vez mais intensos e necessários. A emergência dessa aglomeração industrial

poderá gerar coletivamente atividades tecnológicas inovadoras.

A Aglomeração Industrial ou clustering industrial significa qualquer forma de organização

industrial ou filière18 apresentando uma concentração espacial de um número de firmas

pertencente a um ramo industrial similar. Freqüentemente, a maioria das firmas em um

cluster industrial realiza pequenas operações de média-escala, embora isto não signifique

que grandes firmas devam ser ignoradas (ALBU, 1997, p. 14).

Para regiões em desenvolvimento como o Amazonas, o conceito de Sistemas Produtivos e

Inovativos Locais pode ser bastante apropriado para esse tipo de abordagem. E o referencial

que permite o estudo do processo inovador é baseado em alguns conceitos fundamentais:

aprendizado, interações, competências, complementaridades, seleção, path-dependencies

etc (LASTRES & CASSIOLATO, 1999, p. 6).

O conceito e a abordagem metodológica de Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos

Locais – ASPLs destacam: (a) o papel central da inovação e do aprendizado interativos,

como fatores de competitividade sustentada; e (b) englobam empresas e outros agentes,

18 O conceito de um filière pode ser entendido como um canal de produção e distribuição, incorporando todas as operações técnicas e econômicas relacionadas, que alimentam bens direta ou indiretamente para um mercado comum.

Page 88: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

74

assim como atividades conexas que caracterizam qualquer sistema de produção

(CASSIOLATO et al., 2003, p. 3).

O termo aglomeração – produtiva, científica, tecnológica e/ou inovadora – tem como

aspecto central a proximidade territorial de agentes econômicos, políticos e sociais

(empresas e outras organizações públicas e privadas). Isto é particularmente significativo

no caso de micro e pequenas empresas para a formação de economias de aglomeração, ou

seja, as vantagens oriundas da proximidade geográfica dos agentes, incluindo acesso a

matérias-primas, equipamentos, mão-de-obra e outros (CASSIOLATO et al., 2003, p. 7).

A abordagem dos Sistemas Tecnológicos ou de Inovação é um dos conceitos que podem

contribuir para melhor compreensão das características da fitoindústria e facilitar a adoção

de medidas para o seu desenvolvimento. Esses Sistemas consistem de redes de competência

e de conhecimento dinâmico, embutidos na infra-estrutura institucional. Essas redes são

conectadas pelos fluxos de informação. A presença do empreendedorismo e suficiente

massa crítica pode transformar a rede em um “bloco de desenvolvimento” inovador que

também depende de competência econômica e infra-estrutura institucional (SENKER,

1999).

Competência econômica, que é crucial para a prosperidade de Sistema de Inovação ou

Tecnológico, pode ser definida como o uso do conhecimento e informação para identificar,

explorar e expandir oportunidades de negócios. Entretanto, os arranjos institucionais

importantes tais como mercados de capital, política fiscal, intervenção pública,

regulamentação do trabalho, produção e distribuição de informação podem afetar o

desempenho do Sistema Tecnológico (SENKER, 1999).

Assim, o conceito de Sistema Setorial de Inovação e Produção considera elementos de

análise apropriados ao estudo de economias em desenvolvimento. Esse tipo de sistema é

definido como um conjunto de novos produtos e de produtos já estabelecidos para uso

específico, e um conjunto de agentes que executam a interação de mercado e não mercado

para a criação, produção e venda desses produtos. Um Sistema Setorial tem uma base de

conhecimento e de demanda potencial relacionada a setores, à convergência de produtos ou

ao surgimento de novas demandas. Em resumo, os elementos básicos de um Sistema

Setorial são (MALERBA, 2002, p.4):

Page 89: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

75

Produtos;

Agentes: firmas e organizações não-firmas (tais como universidades, instituições

financeiras, governo central, autoridades locais), tanto quanto organizações de nível

mais baixo (departamento de P&D) ou de nível mais elevado de agregação (consórcio

de firmas individuais;

Conhecimento e processo de aprendizagem: a base do conhecimento de atividades de

produção e de atividades inovadoras difere através dos setores e afeta fortemente as

atividades inovadoras, a organização e o comportamento das firmas e outros agentes

dentro do setor;

Tecnologias básicas, insumos, demanda, articulações e complementaridades: conexões

e complementaridades na tecnologia, insumos e nível de demanda podem ser estáticos e

dinâmicos. Incluem interdependência entre setores horizontais ou verticais, a

convergência de produtos antes separados ou o surgimento de nova demanda.

Interdependência e complementaridade definem a real fronteira do sistema setorial.

Podem ser em insumos, tecnologia ou no nível de manda e podem referir-se à inovação,

produção ou venda;

Mecanismos de interação na firma e fora da firma: os agentes são envolvidos em

processos de mercado e interações de não mercado;

Processo de competição e seleção;

Instituições: tais como padrões, regulações, trabalho, mercado e assim em diante.

Os sistemas setoriais diferem em tecnologias básicas, insumos e demanda. Uma vasta

literatura sobre tecnologia e mudança tecnológica tem mostrado claramente quanto os

setores diferem em suas tecnologias básicas e como estas tecnologias afetam a natureza,

fronteira e organização dos setores (MALERBA, 2002, p.8)

A capacidade de uma região para mobilizar recursos destinados a atividades de inovação

está associada à disponibilidade orçamentária do governo regional. Um orçamento maior

pode permitir a certa região implementar políticas mais autônomas e mais adequadas as

suas potencialidades (COOK, 1997, p. 481).

Page 90: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

76

Freqüentemente o foco de análise de um Sistema Setorial específico não são

necessariamente as firmas, mas firmas individuais, sub-unidades de firmas (tais como P&D

ou departamento de produção) ou grupos de firmas (tais com consórcio industrial). As

firmas, entretanto, são os atores chave em um Sistema Setorial, incluindo também os

usuários e fornecedores com diferentes tipos de relacionamento com a inovação, produção

ou venda (MALERBA, 2002, p. 8).

III.1.3. Estratégias, aprendizagem e capacitação tecnológica

A estrutura mais usual de gerenciamento de inovação é a desenvolvida por Teece e Pisano.

Ela aborda a capacidade dinâmica da empresa e distingue três elementos de estratégia de

inovação corporativa: (a) posicionamento nacional competitivo; (b) trajetória tecnológica;

(c) processo de gerenciamento e organizacional (apud TIDD et al, 1997, p. 16). Para eles a

capacidade das firmas de se apropriarem dos benefícios dos investimentos em tecnologia

depende de dois fatores: (a) a capacidade para traduzir a vantagem tecnológica em produtos

ou processos viáveis; e (b) a capacidade de defender suas vantagens contra imitadores.

Chakrabarti (1991, p. 245), ao referir-se à estratégia para alcançar a inovação nas empresas

de biotecnologia nos EUA ressalta três componentes importantes: (a) estratégia de

aquisição tecnológica interna; (b) estratégia de aquisição tecnológica externa; e (c)

estratégia mercadológica.

Para esse autor, a estratégia de P&D interna enfatiza: a pesquisa básica e aplicada, melhoria

da qualidade dos produtos, melhoria do processo de fabricação, desenvolvimento de novos

produtos e redução de custos de fabricação. A estratégia de aquisição de tecnologia externa

leva em conta: a cooperação multilateral, cooperação bilateral, contrato de pesquisa,

licenciamento e garantias governamentais. A estratégia mercadológica considera: a

novidade do produto, a entrada em novos mercados, política de preço, política de qualidade

e investimentos em marketing.

Nonaka & Takeuchi (1997, p.1) afirma que o “sucesso das empresas japonesas se deve a

sua capacidade e especialização” na “criação de conhecimento organizacional”. Elas são

peritas em fomentar a inovação de forma contínua, incremental e em espiral. A inovação

contínua, por sua vez, leva a vantagens competitivas. O que é singular é a ligação entre o

seu ambiente externo e o interno.

Page 91: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

77

Os autores afirmam ainda que esse conhecimento acumulado externamente é compartilhado

de forma ampla dentro da organização, armazenado como parte da base de conhecimentos

da empresa e utilizado pelos envolvidos no desenvolvimento de novas tecnologias e

produtos (p. 4 e 5):

Figura 11 - Etapas para alcançar vantagem competitiva

A integração do conhecimento e da tecnologia, além de ser associada à vantagem

competitiva da empresa, também é vista como uma competência organizacional específica.

Para Ariffin & Figueiredo (2003, p. 68), os estudos relevantes para o contexto de países

industrializados onde as competências tecnológicas já foram substancialmente criadas e

acumuladas na indústria têm menor relevância no contexto de países de industrialização

recente ou em desenvolvimento (regiões como a Amazônia). Nesses países e regiões de

industrialização tardia, as competências inovadoras significativas ainda precisam ser

construídas de maneira compreensiva e sistemática.

Competência significa especificamente a forma de reunir conhecimento sobre diferentes

áreas e ter um conteúdo organizacional intrínseco, aglutinar know how de diferentes agentes

para fazer diferentes produtos de diferentes formas (MALERBA, 2002, p. 3).

A dinâmica da capacitação tecnológica da empresa (TEECE & PISANO, 1994 apud TIDD

et al, 1997, p. 63) caracteriza-se por:

Processo interno que facilita o aprendizado, incluindo a capacidade para reconfigurar o

que a firma fez no passado;

Criação do Conhecimento

Inovação Contínua

Vantagem Competitiva

Page 92: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

78

Capacidade para especificar competências dentro de suas atividades, ou aquelas que são

desenvolvidas no Sistema Nacional ou Regional de Inovação;

Trajetória de mudanças que é sempre resultante de uma trilha de dependência.

Para inovar é preciso integrar um conjunto de conhecimentos e de tecnologias, ter a visão

estratégica do mercado e a capacidade de transformar estruturas tradicionais e desempenhar

novas atividades. Ademais, a capacidade de inovar é fortemente influenciada pelo que a

empresa já realizou, por suas competências e aprendizado acumulado.

A contribuição do conhecimento tácito é que o crescimento econômico não está

simplesmente associado com tecnologias incorporadas, mas dependente de ativos

intangíveis e práticas de trabalho baseadas nas experiências individuais, expressa nas ações

humanas, na forma de avaliação, atitudes, pontos de vista, confiança, motivação etc.

(KOSKINEN & VANHARANTA, 2002, p. 57). O conhecimento tácito é um importante

constituinte de insumos tecnológicos e científicos para a inovação.

São seis os diferentes tipos de informação ou fluxo de conhecimento que têm sido

considerados para o “aprendizado” tecnológico: 1. experiência; 2. rotina; 3. sistema de

feedback de desempenho; 4. treinamento; 5. contratação; e 6. pesquisa (BELL & PAVITT,

p. 191).

Os tipos diferentes de processos pelos quais a capacidade tecnológica é adquirida (BELL &

PAVITT, 1995, p. 187, CASSIOLATO et al, 2003, pp. 8-9, ARIFINN & FIGUEIREDO

2003, p.76-77) baseiam-se nas fontes internas e fontes externas:

Fontes internas: freqüentemente se refere ao processo de aquisição de habilidade e

conhecimento que depende ampla ou totalmente da experiência: learning-by-doing,

comercialização e uso (learning-by-using); na busca de novas soluções em suas

unidades de pesquisa e desenvolvimento (learning-by-searching) ou instâncias. A

execução de tarefas de produção no período gera um fluxo de informação e

entendimento que permite a melhoria em períodos subseqüentes.

“Trata-se de processos pelos quais os indivíduos adquirem conhecimento tácito

exercendo diferentes atividades dentro da empresa, por exemplo, participando da rotina

diária e/ou introduzindo melhoria nos processos existentes, na organização da

Page 93: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

79

produção, no equipamento e nos produtos. Tal processo pode ser também através de

atividades de pesquisa em centros de P&D formalmente organizados, de laboratórios

instalados na fábrica e/ou experimentação sistemática nas unidades operacionais”.

Fontes externas: o termo “aprendizado” tem sido usado para se referir muito mais

genericamente à aquisição e aumento de habilidade e conhecimento por qualquer meio.

Isto significa apropriar-se de vários tipos de aprendizado, o processo de compra,

cooperação e interação com fornecedores (de matérias-primas, componentes e

equipamentos), licenciadores, concorrentes, licenciados, clientes, usuários, consultores,

sócios, prestadores de serviços, organismos de apoio, entre outros (learning-by-

interacting and cooperating); e aprendizado por imitação, gerado da reprodução de

inovações introduzidas por outras organizações, a partir de engenharia reversa,

contratação de pessoal especializado, etc. (learning-by-imitating).

“São processos pelos quais os indivíduos adquirem, fora da empresa, conhecimento

tácito e/ou codificado. Pode-se recorrer à importação de know-how, à assistência

técnica e ao treinamento no exterior. Podem envolver a canalização sistemática de

conhecimento externo codificado, o convite a especialistas para proferir palestras etc”.

Arifinn & Figueiredo (2003, p.77) referem-se ainda a outros processos de aprendizagem:

Processos de socialização do conhecimento – através dos quais os indivíduos compartilham

seu conhecimento tácito (modelos mentais e aptidões técnicas). Processos de codificação

do conhecimento - através deles o conhecimento tácito dos indivíduos (ou parte deste saber)

torna-se explícito.

Nesse contexto é destacado o papel do apoio de conhecimentos intermediários, por

exemplo: conhecimento intensivo em transações com fornecedores e cooperação com

institutos de P&D. Se a influência cresce, o papel do conhecimento muda? O que

precisamente contribui para o processo de inovação? O que desempenha um papel

importante na articulação entre o processo no nível de inovação da firma e os Sistemas de

Inovação nos quais essas firmas operam? (SMITS, 2002, p. 871).

Os processos de aprendizagem dependem da variedade de atividades adotadas nas firmas,

na coordenação desse conhecimento interno e a integração com o conhecimento adquirido

de fontes externas (SENKER, 1999). O processo de aprendizagem tecnológica,

Page 94: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

80

especialmente em empresas de economias emergentes, pode ocorrer através de empresas

mãe, clientes, fornecedores, ou parceiros de joint ventures (ARIFINN & FIGUEIREDO,

2003, p.76).

O aprendizado através do mercado indica que o relacionamento entre desenvolvedores e

usuários é mais importante no caso de produtos novos e complexos. O aprendizado através

de alianças tem como objetivo: reduzir custos e riscos de desenvolvimento tecnológico ou a

entrada em novos mercados, alcançar escala econômica na produção, reduzir o tempo de

desenvolvimento e comercializar novos produtos (TIDD et al, 1997, pp. 220-221).

A aquisição de tecnologias tem sido em todas as economias o processo central tanto para

elevar a produtividade quanto a competitividade. Entretanto, poucos casos têm tido sucesso

pela transferência de tecnologia dos países industrializados para os em desenvolvimento. A

eficiência dinâmica sustentada depende fortemente de competências domésticas para

gerenciar mudanças nas tecnologias usadas na produção, que são baseadas em recursos

especializados (tais como mão-de-obra altamente especializada) (BELL e PAVITT, 1995,

pp. 70-71). A mudança técnica assume que a tecnologia toma duas formas: informação

codificada (ou tecnologia desincorporada) e bens de capital (tecnologia incorporada):

E nos países de industrialização tardia a aquisição de capacidades para gerar e gerenciar mudança técnica é influenciada por quatro aspectos: (a) na prática, o processo de “inovação” e “difusão” são difíceis de distinguir; (b) o processo técnico é gerado por ambos: produtores e usuários de tecnologia incorporada ao capital; (c) “learning by doing” isoladamente não manterá firmas importadoras de tecnologia competitivas; (d) há freqüentemente pouca estabilidade tecnológica nos últimos estágios do ciclo de vida do produto.

O processo de mudança tecnológica nos países em desenvolvimento decorre mais pela

aquisição e melhorias de competências tecnológicas do que pela inovação na fronteira do

conhecimento. Este processo consiste essencialmente do aprendizado para usar e melhorar

as tecnologias que já existem nos países de economias mais avançadas (LALL, 2000, p.3).

A acumulação de competências é uma condição necessária para a competitividade. O

conhecimento e habilidades que permitem gerar a mudança técnica estão relativamente

próximos da produção e são freqüentemente desenvolvidos na base da experiência

acumulada de produção, conforme ilustração da figura 12 (BELL & PAVITT, 1995, p. 78).

Page 95: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

81

Figura 12 - Acumulação tecnológica (aprendizado)

Para os autores, a capacidade tecnológica de uma firma é considerada como resultante de

sua força de trabalho, de empregados capacitados, da competência de seus pesquisadores e

engenheiros e das seguintes características: aptidões de sua força de trabalho, estrutura

financeira, estratégia frente ao mercado e aos competidores, alianças com outras firmas,

vínculos com universidades e outras instituições, e em especial a organização interna.

Bell e Pavitt (1995) introduzem uma distinção geral entre capacidade de produção básica e

competências tecnológicas dinâmicas. As capacidades de produção são atributos estáticos.

Conhecer as capacidades de produção de uma firma permite usar instalações existentes de

produção, estabelecer padrões de decisão de investimento, expandir processos

estabelecidos. As competências tecnológicas, por outro lado, são recursos dinâmicos, que

cercam as habilidades, conhecimentos e rotinas envolvidas em gerar e gerenciar mudança

técnica, ao se referirem às atividades de produção, atividades de investimento ou relações

com outras firmas.

As competências de produção e tecnológicas são classificadas por diferentes níveis de

capacidade, conforme o seu grau de complexidade como é ilustrado no quadro 4 (BELL &

PAVIT, 1995, p. 84), adaptado de Lall (1992).

Competência Tecnológica

MudançaTécnica

Capacidadede

Produção

Produção Industrial

Os recursos necessários para gerar e gerenciar mudanças técnicas: 1. conhecimento, habilidade, e experiência; 2. estrutura institucional e interdependências: - com firmas - entre firmas - fora da firma.

1. introdução de tecnologias incorporadas em novos produtos e/ou novas plantas através de maiores investimentos em projetos; 2. adaptação e melhorias incrementais de capacidade de produção existente.

Componentes de dado sistema de produção: - capital fixo - know-how e habilidade operacional da força de trabalho - especificações de produto/projeto - especificações de insumos - organização e procedimentos de produção.

Page 96: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

82

Quadro 4 - Competências de produção e competências tecnológicas

Atividades primárias Investimento Produção

Atividades de Apoio

Competências de Produção Controle e decisão

dos usuários das instalações

Preparação e implementação de projeto

Processo e organização da produção

Desenvolvimento do produto

Articulação Suprimento de bens de capital

Competências básicas de produção; Capacidades para usar técnicas de produção

Assegurar o primeiro contratante; seguro e desembolso financeiro

Preparação e contorno do projeto inicial; construção de obras civis; construção de planta básica.

Operações de rotina e manutenção básica de instalações; melhoria de eficiência

Reprodução de especificações e projeto; rotina de CQ

Aquisição de insumos disponíveis; atuais e novos clientes

Reprodução de itens permanentes de instalações e máquinas

Competências Tecnológicas (capacidades para gerar e gerenciar mudança técnica)

Básico Monitoramento, escolha da tecnologia

Estudo de viabilidade; planejamento; busca de equipamento

Melhoria de Lay-out, planejamento da produção; adaptação menor

Menor adaptação, melhorias incrementais na qualidade do produto

Novas informações de fornecedores, clientes, e instituições locais

Copiar novos tipos e adaptar máquinas.

Intermediário Pesquisa; avaliação e seleção de tecnologia/fontes; gerenciamento total do porjeto

Aquisição de planta; avaliação ambiental; planejamento de projeto e gerenciamento.

Melhoria; licença de novas tecnologias; mudanças organizacionais

Licenciar novas tecnologias de produto; novo projeto incremental de produto

Transferência tecnológica para fornecedores e clientes que eleve eficiência, qualidade e fonte local

Engenharia reversa inovadora incremental e projeto original de planta e maquinário

Avançado Desenvolvimento de novo sistema de produção e componentes

Projeto de processo básico e P&D relacionados

Inovação de processo e P&D relacionados; inovação radical na organização

Inovação de produto e P&D relacionados

Colaboração no desenvolvimento tecnológico

P&D para especificações de projetos de novas plantas e maquinário

Page 97: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

83

III.2. CONCEITOS BÁSICOS PARA A PESQUISA

III.2.1. Sistema de Inovação

Como o estudo trata de empresas que têm em comum a utilização da matéria-prima de

origem da floresta amazônica e a perspectiva de ampliação da “aglomeração industrial”

dessas empresas, o conceito de Sistema Tecnológico é um dos instrumentos de análise

considerados apropriados no auxílio ao estudo do setor da fitoindústria.

A teoria de Sistema Tecnológico difere da estrutura conceitual do Sistema Nacional de

Inovação nos quatro elementos principais (SENKER, 1999):

O foco é específico em áreas tecno-industriais e não em uma visão ampla de todos os

componentes de um Sistema Nacional de Inovação;

As fronteiras são definidas pela tecnologia, não pelas fronteiras geográficas;

O escopo é limitado pelas considerações macroeconômicas. Embora a infra-estrutura

institucional seja considerada como influenciadora da performance do sistema

tecnológico, não é um ponto de foco;

As atenções focam a aplicação do conhecimento e não a geração e difusão de

conhecimento.

Por abordar de forma similar e complementar aos Sistemas Tecnológicos, o conceito de

Sistemas Produtivos e Inovativos Locais apresenta-se bastante útil para abordar, da mesma

forma, questões pertinentes à fitoindústria: “são aqueles em que a interdependência,

articulação e vínculos consistentes resultam em interação, cooperação e aprendizagem, com

potencial de gerar o incremento da capacidade inovadora endógena, da competitividade e

do desenvolvimento local” (LASTRES & CASSIOLATO, 2003, p. 2).

III.2.2. Aprendizado, conhecimento e capacitação tecnológica

A capacitação tecnológica é o processo de aprendizado pelo qual a habilidade e o

conhecimento são adquiridos por indivíduos e organizações (BELL & PAVITT, 1995, p.

12). A capacitação refere-se à acumulação de conhecimentos e habilidades, por indivíduos

e organizações, a partir de processos de aprendizado. A capacitação de empresas permite-

lhes desenvolver e reproduzir padrões produtivos e inovativos mais avançados,

possibilitando o incremento de sua dotação de recursos tangíveis (equipamentos, infra-

Page 98: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

84

estrutura) e intangíveis (conhecimentos, habilidades, competências) e, deste modo, o

aumento de sua competitividade (LASTRES & CASSIOLATO, 2003, p. 9)

O aprendizado tecnológico refere-se a qualquer processo pelo qual os recursos para gerar e

gerenciar a mudança técnica são adquiridos ou fortalecidos. Refere-se à aquisição e à

construção de diferentes tipos de conhecimentos individuais e da organização,

competências e habilidades técnicas adicionais, não se limitando a ter acesso a informações

(BELL e PAVITT, 1995, p. 187). O conhecimento tecnológico é... específico, complexo e

muitas vezes tácito e cumulativo em seu desenvolvimento (PAVITT, 1999 apud

RESEARCH POLICY, 2004, p. 1254).

A tecnologia é um conjunto de conhecimentos, tanto “práticos” quanto “teóricos” (mas

aplicável à prática, mesmo que não necessariamente já aplicados), know-how, métodos,

procedimentos e experiência de sucesso e fracassos e, também, dispositivos e equipamentos

físicos (DOSI, 1997).

O conhecimento tácito abrange um tipo de capacidade ou habilidades capturadas no termo

“know how” e é cognitivo, pois consiste em esquemas, modelos mentais, crenças e

percepções (NONAKA, 1997, p. 8).

De forma geral, pode-se dizer que as capacitações empresariais referem-se a: (a)

capacitação produtiva: geralmente envolve a atualização de produtos e processos. Inclui a

difusão, no âmbito da firma, de procedimentos operacionais que possibilitam incrementar

os níveis de qualidade e produtividade; b) capacitação inovadora: refere-se ao domínio de

conhecimentos e tecnologias que são fundamentais para a introdução de inovações

tecnológicas e organizacionais e para a exploração de novas oportunidades (CASSIOLATO

et al, 2003, p. 9).

III.2.3. Inovação tecnológica e atividades inovadoras

A inovação é restrita ao esforço intencional para gerar benefícios através de novas

mudanças. Estas devem incluir benefícios econômicos, crescimento pessoal, aumento da

satisfação, coerência da melhoria de grupo, melhor comunicação organizacional, tanto

quanto a produtividade e mensurações econômicas que são usualmente levadas em

consideração. Para fins desta pesquisa, o que deve ser considerada é a abordagem

econômica em que “as inovações tecnológicas das firmas freqüentemente incluem

Page 99: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

85

mudanças técnicas tais como novos produtos, processo de produção, a introdução de

tecnologias avançadas de manufatura, assim como a introdução de novos suportes

computacionais” (KOSKINEN & VANHARANTA, 2002, p. 61).

O Manual Frascati considera a inovação como “... a transformação, ou novos sistemas de

produção e sua difusão, comercialização e uso. E também a melhoria substancial de

produtos ou processos já existentes (OCDE, 1994, p. 5)”.

A inovação é um novo produto ou processo para a firma, embora não seja para o mundo ou

mercado. Quando uma empresa produz um novo bem ou serviço, ou utiliza um novo

método ou material, gera uma mudança técnica, podendo-se dizer que ocorreu uma

inovação, sendo mais um processo de longo prazo e não uma única mudança (HOBDAY,

1995, p.p. 47-48). A inovação utiliza-se de recursos, habilidades técnicas e científicas numa

variedade de combinações. Esses recursos e habilidades são importantes no

desenvolvimento de novos produtos e processos (FREEMAN, 1994, 1997, p. 265).

Haja vista que a inovação técnica é definida por economistas como a primeira aplicação

comercial ou produção de novo processo ou produto, resulta que o empreendedorismo é o

elo entre novas idéias e o mercado. “Embora a inovação no sentido econômico seja

concluída somente com a primeira transação comercial envolvendo o novo produto, sistema

de processo, ou dispositivo, o termo também é usado para descrever o processo inteiro”

(FREEMAN, 1994, 1997, p. 201).

A inovação tecnológica não implica necessariamente em um maior avanço tecnológico no

estado da arte (uma inovação radical), inclui também a utilização de contínuas mudanças

de pequena escala no know-how tecnológico (uma melhoria ou inovação incremental)

(ROTHWELL e GARDINER, 1985, apud TIDD et al., 1997, p. 24). As inovações radicais

ocorrem quando surge uma “janela de oportunidade” para a ruptura do paradigma

tecnológico. As inovações menores são aquelas que, mesmo apresentando um efeito

econômico ou social, não representam mudanças significativas sobre o nível tecnológico

existente: melhoria no design, ou no composto de um fitoterápico ou fitocosmético.

As firmas inovadoras, para o Manual de Oslo, são aquelas bem sucedidas em que as

atividades inovadoras resultam em inovações efetivas (1997, p. 39):

Page 100: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

86

A capacidade tecnológica de uma firma é parcialmente inserida pela força de trabalho. Empregados capacitados são o ativo chave para uma firma inovadora (p.22). Define ainda atividades de inovação em produto e processo como sendo “aquelas que abrangem todas as decisões e desenvolvimentos científicos, tecnológicos, organizacionais, financeiros e comerciais que se levam a cabo no interior de uma empresa, incluídos os investimentos em novos conhecimentos”.

O Manual de Bogotá amplia o conceito de Atividades Inovadoras do Manual de Oslo pois

se observam as condições particulares em que se desenvolvem as atividades inovadoras na

região (países da América do Sul e Caribe) e os impactos das mesmas, deslocando o eixo

central de análise da inovação para o esforço tecnológico e a gestão das atividades

inovadoras”, incluindo as atividades inovadoras do Manual de Oslo, abordando questões

tais como (RICYT, 2001, p. 21):

Pesquisa e desenvolvimento – compreende o trabalho criativo empreendido sistematicamente para incrementar o estoque de conhecimentos e o uso deste conhecimento para conceber novas aplicações; Esforço de inovação – inclui o projeto, aquisição de tecnologia incorporada e não incorporada no capital, comercialização e capacitação; Projeto, instalação e maquinaria nova, engenharia industrial e produção em marcha; Aquisição de tecnologia incorporada ao capital – aquisição de máquinas e equipamentos com desempenho tecnológico melhorado (incluindo softwares integrados) vinculados com as inovações implementadas pelas empresas; Aquisição de tecnologia não incorporada ao capital – patentes, inventos não patenteados, licenças, know how, projetos, marcas de fábrica; Modernização organizacional – Refere-se ao esforço que conduz à introdução de mudanças na organização do processo produtivo tendendo a reduzir desperdício de tempo, o tempo de processamento e similares na linha de produção existente; Capacitação – compreende a capacitação no âmbito de tecnologias centrais relacionadas ao processo produtivo.

As Atividades Inovadoras definidas na Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica

(PINTEC) referem-se às “atividades representativas dos esforços da empresa voltados para

a melhoria do seu acervo tecnológico e, conseqüentemente, para o desenvolvimento e

implementação de produtos ou processos tecnologicamente novos ou significativamente

aperfeiçoados” (IBGE, 2003, p. 5).

Para Ariffin e Figueiredo (2003, p. 68), essas atividades recebem várias definições tais

como “tecnologias de processos”, “inovações de processos”, “melhoramentos contínuos ou

incrementais”, “pequenas adaptações” ou “desenvolvimento secundário”.

Page 101: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

87

IV. METODOLOGIA DA PESQUISA

IV.1. REFERÊNCIAS PARA A SELEÇÃO DE INDICADORES

O Manual de Bogotá ressalta que na prática todas as pesquisas de inovação são

incompletas, independentemente do método ou procedimento utilizado (2001, p.72). Parte-

se da idéia de que o problema de medição da inovação na América Latina necessita ampliar

a abordagem estrita de inovação do Manual de Oslo sobre Atividades Inovadoras (2001, pp.

40-41) para uma abordagem também de um conjunto de atividades que inclui aspectos tais

como esforço tecnológico, gestão das atividades inovadoras e acumulação de capacidades

tecnológicas. As premissas são as seguintes:

A substituição de um modelo linear por um complexo tipo “feedback” em que os

elementos intermediários ganham importância frente a P&D;

A importância das atividades de monitoração, avaliação, adoção, adaptação de

tecnologias por parte das unidades produtivas, assim como os requisitos de capacidades

tecnológicas destacam-se para o desenvolvimento dessas atividades;

As peculiaridades assumem a mudança técnica nos países em desenvolvimento,

determinando a natureza difusão/adaptação/incremento da mudança técnica;

O caráter de mudança que tem a geração dessas capacidades e o status de

condicionante/determinante que a mesma adquire, tanto com respeito a atividades

inovadoras como a busca de incrementos na produtividade e eficiência;

A importância dos mecanismos de mudança tais como a modernização organizacional e

a mudança técnica;

O conseqüente caráter de apoio que a atividade inovadora adquire pela mudança técnica

e a importância das condições de mudança da atividade inovadora.

O modelo de Hobday (1997), ilustrado na figura 13, aplicado na avaliação do setor

eletrônico de países da Ásia por Hobday e por Ariffin & Figueiredo na avaliação da

indústria eletrônica do Pólo industrial de Manaus - PIM (2003, p. 67) serviu de referência

na avaliação do nível de capacidade produtiva e tecnológica das empresas da fitoindústria.

Page 102: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

88

Esse modelo é baseado no estudo de Bell e Pavitt que permite examinar o desenvolvimento

de capacitação tecnológica em duas dimensões:

Movimento a partir de atividades de rotina (operação) para atividades com maior nível

de complexidade (ou profundidade tecnológica) ou inovadoras;

Adequar nos níveis o movimento da empresa a partir da manufatura de produtos

simples a produtos mais complexos.

Figura 13 - Estrutura dos níveis de atividades inovadoras 7 Atividades de P&D

6 5 Atividades 4 Inovativas 3 Atividades 2 de 1 Rotina

As empresas não se capacitam necessariamente na seqüência linear e nem começam e

terminam nos mesmos níveis de capacidade tecnológica. As empresas da fitoindústria

possivelmente não apresentam ainda significativos avanços na acumulação de

competências inovadoras básicas, para produzir fluxos de inovação, tornando-se importante

considerar:

A trajetória tecnológica de cada uma, a interação entre elas, com outras empresas e

instituições, e como se deslocam de um nível para outro nas atividades inovadoras; o

processo de aprendizado para a acumulação de conhecimentos, através da aquisição de

habilidades e do aproveitamento das capacidades naturais ou adquiridas.

Como as empresas da fitoindústria possivelmente não realizam P&D complexos que gerem

patentes, conclui-se ser extremamente relevante analisar o processo de capacitação

tecnológica e os avanços para níveis mais elevados de capacidade inovadora, seguindo os

parâmetros do quadro 5. Essas atividades resultam de consulta e testes prévios com 4

empresas representativas de diferente segmentos da fitoindústria, estabelecendo a seguinte

distinção com base no quadro 4:

IndústriaGlobal

Firma

Page 103: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

89

Competência operacional rotineira – Nos níveis 1 e 2, são estabelecidos os parâmetros

para a capacidade de produzir bens com certos níveis de eficiência e certos requisitos de

insumos – competências, conhecimentos e arranjos organizacionais ligados ao uso de

tecnologias existentes;

Competência tecnológica inovadora – Nos níveis de 3 a 6 são estabelecidos os

parâmetros para a capacidade de criar, modificar ou aperfeiçoar produtos, processos e a

organização da produção ou do equipamento. A capacidade de gerar mudanças, que

consistem em conhecimentos, experiências e arranjos organizacionais são ligados à

modificação de tecnologia.

Page 104: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

90

Quadro 5 - Níveis de capacidade tecnológica da fitoindústria Níveis de

CapacidadeGestão de projetos Organização da produção Desenvolvimento

de produto Interação/ Atividades de Apoio

Nível 1 Definição do projeto; escolha da tecnologia; estudo de viabilidade, início de operação.

Operações de rotina e manutenção básica das instalações; lay-out.

Inspeção simples matéria-prima e produto acabado.

Identificação de fornecedores de matéria-prima e de bens de capital.

Nível 2 Controle semi-informatizado administrativo/financeiro.

Processo e controle da produção (PCP); extração; formulações de compostos.

Cópia simples de produto.

Seleção e aquisição da matéria-prima da floresta; subcontratação de análises laboratoriais.

Nível 3 Atendimento a cliente; plano estratégico; certificações básicas; rotulagem; plano de plantio e manejo; registro na ANVISA/COVISA

Linha de produção semi-automatizada; melhoria no processo de armazenagem, extração, purificação e formulação dos compostos.

Laboratório para desenvolvimento de produto; cópia de razoável complexidade de produto.

Treinamento de fornecedores; subcontratação de análises laboratoriais; captar informações: fornecedores, clientes e de P&D; adaptação cópia simples de bens de capital; participar de redes.

Nível 4 Controle informatizado e administrativo/financeiro integrado; registro de patentes de produtos; certificação orgânica; kaizen, just in time.

Linha de produção automatizada; pequenas inovações; biotecnologia tradicional; pasteurização de polpas e frutas secas; CQ de análises físico-química e microbiológica internamente.

Inovação simples de novo produto resultado de novas combinações da matéria-prima

Aprendizado de técnicas de plantio e manejo; aprendizado de análises laboratoriais; projeto de bens de capital; projetos com instituições de P&D de pouca complexidade; parcerias com empresas do setor

Nível 5 Certificações: FSC, cadeia de custódia; joint venture; licenciamento de tecnologia, ingresso de capital de risco.

Inovação incremental no processo produtivo; conversão química, high throughput screening, melhoria genética da matéria-prima da floresta.

Inovação incremental intermediária de novo produto, resultado de P&D.

Pesquisas de grau de complexidade intermediário com instituições de P&D;

Nível 6 Registro de produtos na ANVISA resultantes de P&D da empresa.

Moderna biotecnologia; inovação radical de processo relacionado a P&D.

Inovação radical de novo produto.

Pesquisa avançada com instituições de P&D.

Fonte: Adaptado de Bell e Pavitt (1995)

Page 105: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

91

IV.2. QUESTÕES METODOLÓGICAS PARA A REALIZAÇÃO DA PESQUISA

A pesquisa é de natureza qualitativa e não probabilística, face às características da

predominância de variáveis intangíveis e de difícil mensuração, bem como para atender aos

objetivos da pesquisa de captar informações ricas em detalhes.

“Instrumentos quantitativos requerem questões padronizadas que limitam as respostas em

categorias pré-determinadas (menos extensa e profunda). Têm a vantagem de tornar

possível mensurar as reações de muitos respondentes para um limitado conjunto de

questões, facilitando assim comparações e agregação estatística de dados. Em contraste,

métodos tipicamente qualitativos produzem dados ricos em detalhes sobre um número bem

menor de população e amostra” (PATTON, 2002, p. 227).

Não há regras pra o tamanho da amostra em pesquisa qualitativa. Ela depende do que se

pretende saber, do propósito da pesquisa, do que dá sustentação, do que é útil, do que tem

credibilidade e do que pode ser feito com o tempo e recursos disponíveis. A validade,

significado e reflexões geradas pela pesquisa qualitativa têm mais relação com a riqueza de

informações dos casos selecionados e a capacidade analítica e de observação do

pesquisador do que com o tamanho da amostra (PATTON, 2002, pp. 244-245).

O autor considera ainda a diferença fundamental entre a pesquisa qualitativa e quantitativa:

(a) a lógica da amostra da pesquisa qualitativa consiste em selecionar casos ricos em

informações para estudos com mais profundidade com uma amostra relativamente pequena

(p. 230); (b) métodos quantitativos dependem de uma amostra muito maior e selecionada

aleatoriamente. Não apenas as técnicas para cada amostra, que são diferentes, mas a lógica

de cada abordagem é única porque o propósito de cada estratégia é diferente (p. 480).

Page 106: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

92

IV.3. AMOSTRA E COLETA, TRATAMENTO E APRESENTAÇÃO DOS DADOS

IV.3.1. Amostra e coleta dos dados

Para Patton (2002, p. 342) há várias estratégias diferentes para selecionar casos ricos em

informações, sendo que a lógica de cada estratégia serve a um objetivo em particular. Para

este estudo, a lógica da pesquisa baseou-se em:

“Amostra intensiva, que consiste de casos ricos de informação manifestando

intensamente o fenômeno de interesse”.

“Amostra oportunista ou emergente”, cujo campo de pesquisa às vezes envolve no

espectro de decisão sobre a amostra a de explorar novas oportunidades durante a coleta

de dados. Pode incluir depois que a pesquisa já tenha começado a opção de adicionar na

amostra oportunidades não previstas anteriormente.

A condução da pesquisa de campo baseou-se no confronto de quatro questões

metodológicas: (a) seleção da amostra; (b) natureza dos indicadores e questões para

entrevista; (c) procedimentos para conduzir a aplicação do questionário e entrevista; e (d)

análise dos dados, adaptados com base no modelo de Siegel et al. (2003, p.36) e

considerações das principais características para uma pesquisa qualitativa definidas por

Patton (2002, p. 227, 244 e 245), ordenados no quadro 6.

Quadro 6 - Quatro questões metodológicas para a pesquisa

Seleção da amostra

Natureza dos indicadores e questões da entrevista

Procedimentos para a

condução da pesquisa

Análise dos dados

Amostra conveniente de 3 grupos de empresas por afinidade de produtos.

Questões padronizadas no questionário de indicadores submetido às empresas.

Aplicação do questionário pessoalmente

Tratamento dos dados nos aplicativos: Minitab e excell.

Respondentes: diretores e gerentes.

Questões relevantes com base nas respostas do questionário de indicadores.

Entrevista pessoalmente.

Gravação em fita e transcrição das entrevistas para texto.

Amostra conveniente Perguntas semi- A entrevista Gravação em fita e

Page 107: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

93

Seleção da amostra

Natureza dos indicadores e questões da entrevista

Procedimentos para a

condução da pesquisa

Análise dos dados

de técnicos, pesquisadores e especialistas que não são empregados das empresas.

estruturadas de acordo com o tema; guia geral de entrevista.

levou em consideração também o background do entrevistado.

transcrição das entrevistas para texto.

Amostra intensiva, oportunista e emergente de empresas estruturadas, de capital local e estrangeiro.

Riqueza de detalhes com as entrevistas.

Tabelas e gráficos de dados com freqüências das respostas.

Projeto na Suframa; Plano de Negócio no CIDE; PROGEX; Feira Internacional da Suframa.

Conversão em quantitativas as respostas qualitativas; complemento com informações obtidas nas entrevistas.

Fonte: adaptação de Siegel (2003, p.37) e Patton (2002, p. 227, 244 e 245).

Foram definidos previamente três subsetores da fitoindústria para estudo: fármacos,

cosméticos e alimentos. A seleção das empresas seguiu os seguintes critérios:

Predominantemente micro, pequenas e médias empresas, supostamente organizadas,

com graus diferenciados de capacitação tecnológica e ricas em informação para o

aprofundamento das análises;

Empresas de bens finais dos segmentos fitofármacos e fitocosméticos; empresas

fabricantes de insumos dos segmentos de extratos, óleos e sementes, fornecedores dos

demais subsetores da fitoindústria; e empresas fabricantes de alimentos dos segmentos

de concentrados de bebidas não alcoólicas, balas e chocolates, e polpa de frutas.

Empresas com projetos aprovados na Superintendência da Zona Franca de Manaus -

Suframa, ou com Plano de Negócios aprovado no Centro de Incubação e

Desenvolvimento Empresarial – CIDE, ou integrantes do Programa de Apoio

Page 108: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

94

Tecnológico à Exportação – PROGEX, ou que participaram de exposição na feira

internacional da Suframa realizada em 2004 (ANEXO 2).

A seleção dos entrevistados seguiu os seguintes critérios:

Representantes das empresas respondentes do questionário de indicadores (Anexo 1);

Técnicos do governo, especialistas e pesquisadores sem vínculo empregatício com as

empresas pesquisadas, envolvidos com atividades relevantes abordadas na pesquisa.

Para a orientação estratégica das empresas, alguns indicadores servem de referência: (a)

metas de inovação: produto novo ou melhorado, novos métodos de produção, novos

mercados, novo marketing ou método de venda, novos métodos de distribuição; (b)

sistemas organizacionais inovadores: novos métodos de organização, novos métodos de

gerenciamento; (c) apoio à fronteira inovadora: serviço novo ou melhorado, novos métodos

de financiamento, novas informações tecnológicas (KICKUL & GUNDRY, 2002, p.90).

Nenhum indicador isolado, todavia, consegue refletir a complexidade e amplitude da

atuação de uma instituição e, muito menos, de um sistema de inovação (SÁENZ, 2002, p.

432). Assim, foram selecionados diversos indicadores, no esforço de estabelecer um

espectro da capacitação tecnológica da fitoindústria, baseados no Manual de Bogotá,

Manual de Oslo e da Pesquisa de Inovação Tecnológica – PINTEC. Os indicadores foram

adaptados observando-se as características da fitoindústria, após consulta prévia e testes

com quatro empresas: Pronatus, Amazon Ervas, Pharmakos e Magama.

Para a coleta de dados das empresas, a maioria dos subgrupos de indicadores foi

subdividida em 2 colunas: A e B. A coluna A reflete a situação atual das empresas em

relação à atividade ou fator e a coluna B a provável situação futura, a fim de apresentar

indicativos da possível trajetória do nível de importância desses fatores para as empresas.

O questionário (Anexo 1) foi organizado por assunto com os seguintes subconjuntos de

indicadores: 1. identificação e características das empresas; 2. atividades inovadoras; 3.

fontes de informação e aprendizagem; 4. fatores que afetam a inovação; 5. estratégias para

a capacitação tecnológica e competitividade das empresas:

Identificação e características das empresas: fatores de vantagens locacionais,

formação acadêmica e profissional dos dirigentes, nível de vendas, pessoal empregado,

Page 109: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

95

empresas fabricantes de insumos e bens finais por origem do capital, insumos e bens

finais por segmento de mercado, empresas por segmento de mercado, matéria-prima da

floresta utilizada nos produtos;

Atividades Inovadoras: modernização e gerenciamento do projeto, processo e

organização da produção; desenvolvimento do produto;

Fontes de informação e de aprendizagem: internas e externas;

Fatores que dificultam as atividades de inovação: pessoal, financiamento, infra-

estrutura de produção e P&D, cooperação, mercado de matéria-prima e produto final,

análises laboratoriais e outras restrições;

Estratégias: para o aprendizado, capacitação tecnológica e competitividade da empresa.

O questionário contém 148 questões denominadas de fatores, admitindo 2 respostas

objetivas cada e mais 2 questões admitindo apenas respostas descritivas. As questões do

subitem 1.1 não admitiram a subdivisão em coluna A e coluna B. As questões do subitem

1.2 ao item 5, exceto para os subitens 2.3.1. e 2.3.2 que admitiram apenas respostas

descritivas, foram subdivididas em coluna A e coluna B.

Na coluna A do questionário, foram admitidas as respostas sim ou não e na coluna B uma

das respostas com base na escala Likert: 1- 4, onde: 1 - sem importância, 2 - regular, 3 -

importante e 4 - muito importante.

Os representantes das empresas responderam a perguntas adicionais, esclarecendo ou

fornecendo mais dados sobre o porquê das respostas assinaladas nos questionários de

indicadores (Anexo 1).

Para as entrevistas com técnicos do governo, especialistas e pesquisadores, foi adotada a

“abordagem de guia geral de entrevista” (PATTON, p. 342): conversação informal e

entrevista orientada e padronizada que define um conjunto de questões antes do início da

entrevista, exploradas com cada respondente (Anexo 2). Este guia serve para assegurar que

todos os tópicos mais relevantes sejam tratados. Os entrevistados responderam a questões

gerais entremeadas em três temas principais:

Page 110: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

96

Políticas públicas: Arranjos Produtivos Locais – APLs, atividades industriais e de

pesquisa que merecem apoio; fontes e recursos financeiros para investimento em

atividades de P&D; capacitação de pessoal e áreas prioritárias; legislação; incentivos.

Infra-estrutura de P&D e serviços tecnológicos de apoio à fitoindústria: instituições de

P&D e laboratórios com suas respectivas atividades que poderiam auxiliar a

fitoindústria; especializações necessárias de pessoal para atividades de P&D e prestação

de serviços tecnológicos para a fitoindústria.

Cadeia produtiva da fitoindústria: gargalos e outras dificuldades para a melhoria da

cadeia produtiva; tecnologia de plantio, manejo, armazenagem e transporte; tecnologia

de processo e produto; produção, qualidade e preço da matéria-prima; certificações

necessárias para as empresas; tipo de mão-de-obra especializada e necessária para as

empresas.

IV.3.2. Tratamento e apresentação dos dados

Os dados do questionário respondidos pelas empresas foram tratados no aplicativo Minitab

e excel. Para a tabulação dos dados: da coluna A foram consideradas as respostas “sim”; da

coluna B foram consideradas apenas as respostas de grau 3 - importante ou 4 - muito

importante. As respostas das entrevistas dos representantes das empresas e de técnicos do

governo, especialistas e pesquisadores foram organizadas por assunto nos editores de texto

word e open-office.

A análise dos dados do questionário de indicadores e das entrevistas busca ressaltar os

fatores considerados mais relevantes para a capacitação tecnológica e adoção de estratégias

das empresas, e para a definição de políticas públicas de apoio ao desenvolvimento do

setor.

Na primeira seção, os dados da pesquisa serão apresentados através de tabelas, gráficos e

figuras, indicando, quando possível, os principais fatores, que são baseados nas respectivas

freqüências assinaladas, organizados pelos assuntos abordados no questionário de

indicadores (ANEXO 1).

Na segunda seção, será apresentada em gráficos a trajetória dos principais fatores para a

fitoindústria e seus subsetores. Na terceira seção, será apresentada a trajetória em gráficos

Page 111: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

97

dos fatores com maior variação de importância relativa para a fitoindústria e seus

subsetores. Na quarta seção, serão apresentadas as principais características das empresas

exportadoras. Na quinta seção, serão apresentadas figuras representativas dos níveis e

tendência da trajetória da capacitação tecnológica da fitoindústria e de seus subsetores.

IV.3.3. Empresas e entrevistados na pesquisa

Os dados da pesquisa, realizada entre fevereiro a setembro de 2004, foram obtidos das

seguintes fontes: (a) 16 empresas responderam ao questionário; (b) 15 representantes das

empresas foram entrevistados, adicionalmente, para comentarem as respostas do

questionário consideradas relevantes; e (c) 18 pessoas foram entrevistadas entre técnicos do

governo, especialistas e pesquisadores de diversas organizações, sem vínculo empregatício

com as empresas, com o objetivo de reunir maior riqueza possível de detalhes sobre temas

pertinentes às atividades da fitoindústria.

As empresas que não concordaram em participar da pesquisa, as que não responderam a

consultas feitas e aquelas que responderam o questionário de forma incompleta alegaram

serem sigilosos os dados e informações. Os dados que caracterizam as empresas

pesquisadas e subgrupos, Anexo 2, estão apresentados na tabela 15.

Tabela 5 - Características da fitoindústria e subsetores

Características Bens finais Insumos Alimentos

No de empresas 5 5 6

Capital estrangeiro 1 1 1

Empresas de grande porte - - 1

Subsetores predominantes/

Segmentos industriais

Fitofárma-cos e

fitocosmé-ticos

Extratos, essências,

óleo e sementes

Balas e doces; polpas de fruta e concentrados

de bebidas não alcoólicas

Empregos diretos por empresa

13< x < 40

5< x < 60 7< x < 56 – sem a Recofarma

Page 112: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

98

Ressalta-se que algumas empresas que fabricam produtos em mais de um dos três

subsetores foram classificadas no subsetor onde seus produtos apresentam maior

representatividade nas vendas.

A empresa Recofarma, coligada de um grande grupo transnacional e incluída no subsetor

de alimentos, produz extrato e concentrados de guaraná destinados a bebidas não

alcoólicas. Por ser de grande porte, não terá seus dados computados de compra, venda e

mão-de-obra com os dados das demais empresas. Entretanto, é importante considerá-la,

para análise qualitativa juntamente com as demais empresas pesquisadas, pelos diferentes

graus de capacitação tecnológica que apresentam.

Page 113: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

99

V. RESULTADOS DA PESQUISA

Este capítulo está subdividido nas seguintes seções: 1. indicadores de capacitação

tecnológica; 2. ilustração gráfica da trajetória dos fatores de maior importância relativa para

a capacitação tecnológica; 3. ilustração gráfica da trajetória dos fatores de maior variação

em importância relativa; 4. características das empresas exportadoras; e 5. nível e trajetória

da capacitação tecnológica da fitoindústria e subsetores.

A importância atribuída a cada fator tem como referência as respostas assinaladas como

“sim” na coluna A e 3 - importante ou 4 - muito importante na coluna B do questionário de

indicadores (Anexo 1). Entretanto, na análise dos dados, em alguns casos são ressaltados

adicionalmente aspectos considerados relevantes e ilustrativos para os objetivos de ressaltar

a riqueza de detalhes, que não obtiveram maior freqüência nas respostas das empresas. Os

fatores considerados de maior importância e destacados nos gráficos são aqueles de maior

freqüência na coluna A que representa a situação atual.

Para o cálculo das freqüências da situação futura, coluna B, que são consideradas apenas as

respostas com nível de importância: 3 - importante e 4 - muito importante é possível que

não sejam as mesmas empresas que atribuíram ao fator maior freqüência para a situação

atual, coluna A. Uma empresa pode ter atribuído ao fator recombinação de DNA, por

exemplo, o nível 4 – muito importante para suas atividades futuras e ter respondido como

“não” emprega essa tecnologia, não tem acesso ou não necessita desse fator atualmente,

assinalado na coluna A.

Page 114: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

100

V.1. INDICADORES DE CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA

Nesta seção estão apresentados os dados consolidados do conjunto total de empresas

pesquisadas – fitoindústria - em gráficos e tabelas, seguindo a ordem do questionário de

indicadores como descrito anteriormente na seção IV.2.2: 1. identificação e características

das empresas; 2. atividades inovadoras; 3. fontes de informação e aprendizagem; 4. fatores

que afetam a inovação; 5. estratégias para a capacitação tecnológica e competitividade das

empresas.

A maioria das tabelas está subdividida em coluna A e coluna B. A coluna A apresenta os

dados dos fatores e atividades hoje implementados, praticados ou acessados pelas

empresas. Para simplificar, daqui a diante os fatores e/ou atividades serão denominados

apenas de fatores.

Para as respostas dos indicadores da coluna B (a realizar-se em até 6 anos) foram

computadas apenas aquelas consideradas pelas empresas como 3 - importante e 4 - muito

importante, na escala de Likert, sendo desprezadas as respostas 1 - pouco importante e 2 –

regular. Onde H = número de empresas que responderam ao conjunto de indicadores de um

determinado assunto; n = número de empresas que responderam a um indicador específico;

f % = relação de n/H que indica a freqüência para um fator específico.

No conjunto de indicadores 1. identificação e características das empresas, são analisados

os seguintes fatores: origem e formação acadêmica dos principais dirigentes, empresas por

origem do capital e segmento de mercado, matéria-prima obtida da flora, fatores de

atratividades locacionais, mercado para matéria-prima de origem da flora e de bens finais,

e capacidade de geração de emprego.

No conjunto de indicadores 2. atividades inovadoras, são analisados os principais fatores

relacionados às seguintes questões: modernização organizacional e desenvolvimento de

processo e produto; P&D e atividades de biotecnologia.

No conjunto de indicadores 3. fontes internas de informação e aprendizado, são analisados

os principais fatores nas empresas e no ambiente externo que contribuem para o processo

de aprendizagem e de capacitação tecnológica.

Page 115: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

101

No conjunto de indicadores 4. fatores que afetam a inovação, são analisados os principais

fatores que restringem e limitam o processo de aprendizagem e de capacitação tecnológica.

No conjunto de fatores 5. estratégias para a capacitação tecnológica e competitividade das

empresas, são analisados os fatores que já estão disponíveis ou poderão tornar-se para a

fitoindústria no horizonte de 6 anos, capazes de melhorar o aprendizado, elevar a

capacitação tecnológica e de competitividade.

V.1.1. Identificação e características das empresas

V.1.1.1. Origem e formação acadêmica dos principais dirigentes

A formação acadêmica dos principais dirigentes das empresas é predominante da área de

farmácia, incluindo daqueles que possuem a titulação de mestre. Os dirigentes com maior

titulação são proprietários da empresa e atuam no segmento de fitoterápicos. Os dirigentes

são originários da indústria, na maioria dos casos, e uma parcela menor é de origem da área

acadêmica, conforme os dados da tabela 6.

Tabela 6 - Formação acadêmica e profissional dos dirigentes (H=15)

Titulação (%) Origem

n

%

Área de formação

3o grau

Mestre

Academia 4 26 Farmácia 33% 20% Indústria 9 60 Química 20% 0% Outros 2 13 Agronomia 13% 0% Outros 34% 6%

As áreas de farmácia, química e agronomia representam juntas 66% da formação dos

principais dirigentes, sendo que alguns deles ainda possuem formação em outras áreas. O

restante dos dirigentes tem formação principalmente nas áreas de administração e em outras

áreas das engenharias. Para o subsetor de bens finais, apenas a área de farmácia representa

60% da formação acadêmica dos dirigentes. Alguns dos dirigentes possuem a titulação de

mestre, a maior alcançada por dirigentes das empresas.

V.1.1.2. Empresas por origem do capital e nível de acabamento do produto

O capital das empresas pesquisadas é predominantemente de origem local, sendo a outra

parte de origem estrangeira, conforme mostra a tabela 7, não havendo empresas com capital

Page 116: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

102

de origem de outros Estados do país. Grande parte das empresas fabrica tanto bens finais

quanto insumos, sobretudo as de capital local.

Tabela 7 - Empresas fabricantes de insumos e bens finais por origem do capital (H=16)

Fatores Capital Local

Capital estrangeiro

total %

Insumos e bens finais 05 01 06 38% Insumos 03 01 04 25% Bens finais 05 01 06 38% Total 13 03 16 100%

Alguns exemplos de insumos em fabricação ou que deverão ser fabricados com matéria-

prima da flora são: sementes in natura desidratadas, guaraná em pó, extratos e óleos

vegetais, substância orgânica isolada, frutas e partes comestíveis de plantas regionais,

preparados de substâncias odoríferas para alimentos e bebidas, e corante natural. Exemplos

de bens finais: encapsulados de ervas e de óleos medicinais, preparados de plantas

medicinais em pó, fitoterápicos na forma líquida, corante natural, creme para pele, loção,

xampu, sabonete etc.

Os dados da tabela seguinte mostram a distribuição de fabricantes por tipos de insumos

para aplicação em fármacos, cosméticos e alimentos. Na coluna A está registrado o que já

vem sendo fabricado pela fitoindústria e na coluna B os insumos que deverão apresentar

grau de relevância: 3 - importante e 4 - muito importante para as empresas da fitoindústria.

Tabela 8 - Insumos por segmento de mercado (H=16)

A B n % n % Extrato para alimentos 6 37 7 43 Essências para cosméticos 3 18 3 18 Extrato para fármacos 3 18 3 18 Óleo para cosméticos 2 12 3 18 Óleo para fármacos 2 12 2 12 Extrato para cosméticos 1 6 3 18 Óleo para alimentos 1 6 2 12 Semente 1 6 1 6

Há interesse de algumas empresas fabricantes de insumos ampliarem os tipos ofertados,

pela perspectiva de aumento da demanda pelos fabricantes de bens finais e de

comercialização para o mercado nacional e principalmente o internacional.

Page 117: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

103

Os fabricantes de bens finais, dados apresentados na tabela 9 por segmentos de mercado,

poderão ser atendidos no futuro por uma rede de fornecedores de matéria-prima da flora.

Essa rede deverá ser constituída principalmente de microempresas artesanais e

comunidades de toda a região que começam a emergir de forma mais organizada, cuja

matéria também é abordada na seção II.4.2.3.

Tabela 9 - Bens finais por segmento de mercado (H=16)

A B n % n % Alimentos 8 50% 8 50% Cosméticos 4 25% 4 25% Fármacos 4 25% 4 25%

Não há indícios de que as empresas venham a migrar no futuro do seu principal subsetor

para outro, não obstante algumas de capital local e todas de capital estrangeiro

manifestaram a intenção de atuar, adicionalmente, em outro segmento de mercado.

A empresa Crodamazon, por exemplo, após consolidar seu mercado de produtos à base de

óleo para cosméticos, pretende ingressar na produção de insumos para o segmento

farmacêutico. Com esse objetivo já vem realizando pesquisas em laboratórios do grupo

para identificar bioativos que possam ser empregados no processo industrial. Da mesma

forma a empresa Hisamitsu, que hoje atua apenas no segmento farmacêutico, também

planeja diversificar sua linha de produtos e ingressar no segmento de cosméticos.

Empresas de capital local tais como Amazon Ervas, Pronatus, PRB e Agrorisa também

planejam diversificar e atuar em outros segmentos de mercado. Em alguns casos

desmembrando linhas de produção para criar novas plantas e em outros explorando nichos

de mercado que tendem a ser relevantes tais como os segmentos de nutracêutico e

cosmecêutico.

Essa dinâmica implica na demanda por mais e nova matéria-prima e fornecedores, e mão-

de-obra mais qualificada. Entretanto, novos mercados e concorrentes também deverão ser

considerados. Todavia, é incerto se essa diversificação, em detrimento da especialização,

terá o efeito positivo esperado pelas empresas.

Page 118: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

104

V.1.1.3. Fatores de atratividade locacional para a empresa

A tabela 10 apresenta os principais fatores que atraíram ou motivaram a implantação das

empresas da fitoindústria no Amazonas e a relevância deles no futuro. Destaca-se que baixo

custo e proximidade com instituições de P&D não são fatores que tenham sido

considerados relevantes para a implantação de empresas.

Tabela 10 - Fatores de atratividade locacional (H = 16)

A B Fatores n % n %

Proximidade com a fonte de matéria-prima 13 81% 11 73% Produtos de origem da “Amazônia” 11 68% 12 80% Exploração do conhecimento tradicional 9 56% 6 40% Incentivos fiscais 5 31% 8 50%

A proximidade das empresas, mesmo instaladas em Manaus-Am, com a fonte de matéria-

prima que está espalhada nas diversas localidades do estado, facilita o seu transporte para a

unidade fabril, o acesso e a parceria com as comunidades, que são potenciais fornecedores,

comparativamente a empresas que estão instaladas em regiões mais distantes. As empresas

têm percebido maior interesse do consumidor para seus produtos, principalmente o

estrangeiro, quando associados à origem da Amazônia.

A empresa Hisaimitsu - de capital estrangeiro - implantou-se em Manaus com a crença de

assegurar o fornecimento da borracha produzida com o látex da seringueira, pela tradição

da região. Porém, nenhum fornecedor dessa matéria-prima, por falta de qualidade, foi

homologado até agora. Ironicamente, a empresa importa a borracha da Tailândia, país da

Ásia para cuja região foram levadas e cultivadas espécies da seringueira da Amazônia.

O conhecimento tradicional sobre a aplicação de uma determinada espécie tem influenciado

as empresas, particularmente do segmento de fitoterápicos, na decisão de fabricarem certos

produtos. Pesquisadores, embora reconheçam a importância do conhecimento tradicional,

defendem a necessidade cada vez maior da comprovação científica das espécies para

utilização na indústria, principalmente após a recente regulamentação da lei de uso de

fitoterápicos.

As empresas acreditam que os incentivos fiscais, que ora já são oferecidos pelo projeto

Zona Franca de Manaus, deverão adquirir maior importância como fator de atração e

Page 119: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

105

viabilidade financeira das empresas. Um exemplo de interesse crescente por produtos

naturais da Amazônia é a compra da Brasmazon do Pará pela empresa Beraca, exportadora

de São Paulo. Uma das estratégias previstas por empresas que pretendem se instalar na

Amazônia é o de estabelecer parcerias na forma de joint venture com empresas menores de

capital local.

V.1.1.4. Mercado

a) Bens finais e produtos da floresta

As 15 empresas micro, pequenas e de médio portes - não foi incluída a Recofarma que é de

grande porte - vendem aproximadamente R$ 19.5 milhões de reais por ano. As vendas

médias da fitoindústria para o mercado nacional nos últimos 5 anos foram de

aproximadamente 55%, 24% para o mercado local e de 21% para o mercado externo.

As vendas das empresas de bens finais passaram de cerca de R$ 3.4 milhões em 2000 para

aproximadamente R$ 8,5 milhões em 2004. Para o mercado nacional a média de vendas dos

últimos cinco anos tem sido de aproximadamente 69% e de 31% para o mercado local e

com vendas pontuais e pouco significativas para o exterior. Considerando-se apenas os

segmentos de fitofármacos e fitocosméticos as vendas têm sido maiores,

proporcionalmente, para o mercado local.

As vendas das empresas fabricantes de insumos caíram de cerca de R$ 5.5 milhões em

2000 para aproximadamente R$ 3.5 milhões em 2004, em valores nominais, face à

diminuição nas vendas da castanha-do-Brasil para o mercado externo. Mesmo assim, a

média de vendas nos últimos cinco anos desse subsetor tem sido maior para o exterior com

cerca de 43% do total, 37% para o mercado nacional e 20% para o mercado local.

As vendas das empresas do subsetor alimentos cresceram de aproximadamente R$ 1.1

milhão em 2000 para cerca de R$ 7.5 milhões em 2004. As vendas médias dos últimos

cinco anos foram em torno de 17% para o mercado local e de 83% para o mercado

nacional.O gráfico 1 apresenta o comportamento das vendas por subsetor19.

19 As fontes dos dados são a Suframa e as empresas pesquisadas: 15 micro, pequenas e médias empresas, não sendo incluída a empresa Recofarma.

Page 120: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

106

Gráfico 1 - Vendas por subsetor da fitoindústria

R$ 1.000,00

03.0006.0009.000

12.00015.00018.000

2000 2001 2002 2003 2004* 2006Anos

B. finais Insumos Alimentos

* projeções com base nos dados acumulados no ano até outubro; para o ano de 2006, os dados são baseados nas projeções das empresas.

A venda das empresas do subsetor de insumos, apenas no segmento de óleo vegetal e

essencial, extratos de plantas e sementes, foi de cerca de R$ 550 mil em 2000 e de R$ 1.5

milhão em 2004, com crescimento relativo bastante expressivo, não sendo suficiente,

entretanto, para compensar a queda de venda da castanha. A distribuição das vendas das

empresas pesquisadas por região está apresentada no gráfico 2 (fonte: Suframa e empresas)

Gráfico 2 - Vendas da fitoindústria por região

%

0%20%40%60%80%

2000 2001 2002 2003 2004*Anos

Vendas Locais Vendas NacionaisVendas Exterior

* Projeções para o ano com base nos dados até outubro.

As dificuldades fito-sanitárias impostas por países da comunidade européia à castanha-do-

Brasil, que vinha apresentando elevados índices de contaminação por aflotoxina, conforme

os novos padrões de tolerância estabelecidos provocou a queda das vendas do subsetor de

Page 121: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

107

insumos nos últimos anos. A expectativa das usinas20 que comercializam essa espécie é

reconquistar já a partir de 2005 o mercado externo perdido, invertendo a tendência de

queda nas vendas totais do subsetor de insumos, demonstrado no gráfico anterior, e

exportações conforme gráfico 3.

Gráfico 3 - Exportações da fitoindústria

R$ 1.000,00

02.0004.0006.0008.000

2000 2001 2002 2003 2004* 2006Anos

Com a castanha Sem a castanha

* projeções com base nos dados acumulados no ano até o mês de outubro; para o ano de 2006, os dados são baseados nas projeções das empresas.

A castanha-do-Brasil vem sendo substituída no mercado europeu pela castanha procedente

da Bolívia, cujas usinas se modernizaram em tecnologia e têm cumprido as exigências fito-

sanitárias dos países daquele continente. Enquanto o Brasil vende atualmente

aproximadamente 4 t/ano e já vendeu quantidades bem superiores no passado, a Bolívia já

superou as 11 t/ano, sendo que grande parte da matéria-prima é de origem dos estados da

Amazônia brasileira.

Das 16 empresas pesquisadas, 4 exportam regularmente: 3 de insumos e outra no segmento

de alimentos. Entretanto, quase todas as empresas do segmento de fitoterápicos e

fitocosméticos, e algumas de insumos que hoje não exportam, já efetuaram exportações

eventuais no passado. A empresa Amazon Ervas, por exemplo, fabricante de fitoterápicos e

fitocosméticos, experimentou recentemente a venda para países da Ásia e Índia na

expectativa de manter regularidade nas exportações no futuro.

20 Existem duas Usinas em Manaus que beneficiam e exportam a castanha-do-Brasil, porém apenas uma atendeu ao pedido para participar desta pesquisa.

Page 122: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

108

b) Demanda e produção de matéria-prima da flora empregada na fitoindústria

As principais espécies utilizadas como matéria-prima pela fitondústria estão relacionadas,

pelo nome popular, na tabela 11. No entanto uma diversidade significativa de outras

espécies também é empregada e novas espécies deverão ser demandas no futuro.

Exemplos: guaraná, crajiru, urucum, pau rosa21, babaçu, murumuru, pupunha, tucumã, látex

da seringueira, sacaca, carapanaúba, muirapuama (mirantã), unha de gato, muiraruira, leite

de amapá e camucamu. Não significa dizer, entretanto, que são as espécies com maior

volume e sim as utilizadas por um maior número de empresas. Uma lista mais extensa de

espécies já empregadas e que poderão ser demandas no futuro constam do Anexo 5.

Tabela 11- Matéria-prima da flora amazônica (H=16)

A B Matéria-prima n % n %

Cupuaçu 9 56% 8 50% Castanha-do-Brasil 9 56% 8 50% Buriti 8 50% 7 43% Copaíba 6 37% 8 50%

O subsetor de bens finais utiliza mais crajiru, copaíba, cupuaçu e andiroba; o de insumos

utiliza mais castanha-do-Brasil, cupuaçu, copaíba e guaraná; o de alimentos utiliza mais a

castanha-do-Brasil, buriti, cupuaçu, e guaraná.

À medida que novas tecnologias vão sendo incorporadas na cadeia produtiva, novas

espécies, ou de partes delas, que antes não detinham qualquer valor, passaram a ser

aproveitadas para a fabricação de diversos produtos, reduzindo os custos com a matéria-

prima. Por exemplo, do cupuaçu, passou a ser aproveitada a casca para compostagem e

fertilizante; do cupuaçu e maracujá agora são aproveitadas as sementes para a extração de

óleo que é empregado na fabricação de cosméticos.

A expressiva maioria das espécies da flora, como a castanha-do-Brasil e óleo de pau-rosa, é

vendida ainda em estado in natura, ou com pouco valor agregado, principalmente para o

exterior. Com o aperfeiçoamento da cadeia de produção, atividades de P&D e com a

adoção da bioprospecção deverão agregar mais valor. Porém, são ações cujos resultados de

maior impacto levarão algum tempo para ocorrer.

21 O linalol, substância do pau rosa e empregado na fabricação do perfume francês chanel no 5.

Page 123: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

109

As fontes da matéria-prima da flora são principalmente as selvagens ou naturais: as plantas

medicinais e aromáticas para o segmento de fitoterápicos, o óleo vegetal e essencial para o

de fitocosméticos e os frutos para o de alimentos. No entanto o guaraná já é amplamente

produzido mediante plano de plantio, atendendo, principalmente, o segmento de alimentos.

A tendência é crescer o cultivo porque pode garantir o fornecimento, padronização,

identificação de espécies e elevado nível de manuseio pós-colheita.

V.1.1.5. Capacidade de geração de emprego

Apenas algumas empresas dispõem de dados históricos e organizados sobre a mão-de-obra

empregada. Entretanto, pelos dados fornecidos, estima-se que em 2004 a mão-de-obra com

curso superior tenha sido de 16% e em 2007 poderá alcançar os 21%.

O total de empregos diretos gerados pelas empresas pesquisadas é de cerca de 400 postos

de trabalho. Os dados consolidados de mão-de-obra das empresas pesquisadas por subsetor

estão apresentados no gráfico 4.

Gráfico 4 - Mão-de-obra direta

0

100

200

300

400

2004 2007* Anos

Quantidade

B. Finais Insumos Alimentos

* Estimativa com base nos dados projetados pelas empresas.

Os empregos diretos gerados até o momento pelas empresas, gráfico 4, não têm sido tão

expressivos quanto à geração de empregos indiretos22 apresentados no gráfico 5, criados nas

áreas produtoras de matéria-prima. As empresas que mantêm cadastro, ou por informações

dos fornecedores envolvidos com a produção de matéria-prima estimam que são gerados

atualmente cerca de 7 mil empregos indiretos, principalmente nas comunidades

22 Os dados de mão-de-obra indireta são estimativas das empresas que mantêm relação com as comunidades fornecedoras de matéria-prima.

Page 124: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

110

tradicionais, podendo alcançar cerca de 9.5 mil em 2007. Não são analisados aqui o grau de

formalidade e a renda média gerada por esses empregos.

Gráfico 5 - Geração de empregos indiretos

0

2000

4000

6000

8000

2004 2007* Anos

Quantidade

B. Finais Insumos Alimentos

* Estimativa com base nos dados projetados pelas empresas.

Page 125: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

111

V.1.2. Atividades inovadoras

Nesta seção serão analisados os fatores de gerenciamento do projeto e modernização

organizacional da produção: processo e produto.

V.1.2.1. Modernização organizacional e gerenciamento do projeto

Será apresentado um conjunto de fatores relacionados à modernização organizacional e

gerenciamento do projeto, incluindo certificações necessárias que asseguram a qualidade e

o cumprimento da legislação com impacto nas atividades da fitoindústria.

A maioria das empresas tem know-how para construir planta básica para a fabricação dos

seus produtos. Elas também dispõem de um ou mais sistemas integrados e informatizados:

controle financeiro, controle contábil, folha de pessoal ou estoque, embora a maioria não

tenha todos esses sistemas integrados. Viabilizam também treinamento para seus

fornecedores, em especial para os de matéria-prima da flora, sobre manuseio e qualidade, e

dispõem ainda de flexibilidade para fabricar com exclusividade por encomenda. Os dados

estão apresentados na tabela 12.

Tabela 12 - Fatores e atividades de modernização organizacional (H=15)

Entretanto, apenas minoria adota atualmente técnicas mais modernas de gestão de estoque e

de fabricação, até porque a maioria fabrica em pequena escala. Embora indique crescimento

para o futuro, a prática de elaboração periódica de Plano Estratégico é adotada por poucas

empresas.

São necessárias várias certificações para que as empresas desempenhem suas atividades,

variando consoante o tipo e origem da matéria-prima empregada, segmentos de mercado

A B Fatores e atividades n % n %

Construção de planta básica 15 100% 14 93% Sistemas informatizados: financeiro, folha de pessoal, estoque, seis sigma, etc

12 80% 13 86%

Viabilidade de treinamento para fornecedores

11 73% 11 73%

Fabricação com exclusividade por encomenda

10 66% 9 60%

Sistema de atendimento a cliente 7 46% 10 66% Kaizen, Just-in-time, kanban; 5 33% 5 33% Plano estratégico 3 20% 7 46%

Page 126: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

112

onde as empresas atuam e a natureza do produto que fabricam. As principais certificações

são emitidas ou são de responsabilidade dos Ministérios da Saúde, da Agricultura ou do

Meio Ambiente para delegação e fiscalização. Muitas vezes há dificuldades de

interpretação a qual Ministério compete deliberar sobre determinadas questões.

A tabela 13 mostra que as empresas consideram de elevada importância as certificações de

Boas Práticas de Fabricação, exigidas ou pelo Ministério da Saúde ou da Agricultura. A

certificação emitida pela ANVISA do Ministério da Saúde também é importante para um

número também significativo de empresas. Essas certificações são as mais procuradas pelas

empresas dos segmentos de fármacos e cosméticos. Os fabricantes de insumos têm mais

interesse pela certificação orgânica e de boas práticas de fabricação, enquanto o de

alimentos procura, principalmente, pela de boas práticas de fabricação.

As empresas, por força da legislação que foi regulamentada para a fabricação de

fitoterápicos, agora necessitam obter a certificação emitida pela ANVISA para espécies

ainda não validadas. Estima-se que as empresas devem gastar para obterem essa

certificação, entre R$ 200 mil a R$ 300 mil, cujos recursos são para elas bastante elevados.

Elas esperam que o governo assuma, pelo menos parcialmente, os custos de registro junto à

ANVISA.

Tabela 13 - Certificação para atestar a qualidade (H=15)

A B Tipo de certificação n % n %

Boas Práticas de Fabricação 9 60% 12 80% ANVISA (Ministério da Saúde) 7 46% 7 46% Ministério da Agricultura 5 33% 6 40% Plano de Plantio e Manejo 1 6% 4 26% Cadeia de custódia 2 13% 3 20% Certificação ISO 1 6% 6 40% Certificação Orgânica 1 6% 3 18% FSC (Certificação Florestal) 1 6% 2 12% “Selo verde da Amazônia” 0 0% 4 26%

As empresas que pretendem exportar devem levar em conta a legislação de cada país,

entretanto algumas certificações são aceitas internacionalmente como o Forest Stewardship

Council (FSC) e a adoção da cadeia de custódia que comprove as práticas sustentáveis em

todas as etapas da cadeia produtiva.

Page 127: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

113

O “selo verde da Amazônia” deverá indicar que o produto é fabricado no Amazonas, tem

qualidade, cumpre requisitos sócio-ambientais, de segurança e sustentabilidade. Deverá

servir, também, de estratégia para limitar o uso da marca “Amazônia” por empresas que

não estão instaladas ou que não proporcionam qualquer tipo de contribuição à região.

O CBA pretende criar um selo de qualidade para os produtos de origem da biodiversidade

amazônica que incorpore esses atributos. Todavia, poucas empresas atribuíram significativa

importância e pretensão de adotar o “selo verde da Amazônia”. Algumas das alegações é

que outros selos ou certificações já são tradicionais e aceitos pelo mercado internacinal.

A Crodamazon está preparando-se para obter a rastreabilidade de seus produtos, que visa

identificar os métodos de uso da matéria-prima da floresta e o processo de industrialização

como requisitos para a comprovação do Plano de Cadeia de Custódia. Outras empresas

pretendem adotar a certificação P+L (produção mais limpa) que é um atestado de Boas

Práticas de Fabricação, recomendado pelas Nações Unidas.

A certificação ISO deverá representar maior procura no futuro, em especial a série 9.000 –

Sistema de Gestão da Qualidade e a 14.000 – Sistema de Gestão Ambiental e a NBR ISO/

IEC 17.025 - Requisitos Gerais para Competência de Laboratórios de Ensaios e Calibração,

pelos laboratórios que prestam serviços às empresas. Provavelmente pela natureza da

matéria-prima da flora, que utilizam a força de trabalho das comunidades, há indícios de

que deverão também buscar a SA 8000 (NBR 16001) - Responsabilidade Social.

Outras certificações também são importantes, dependendo da necessidade em particular de

cada uma das empresas. Dentre elas encontram-se a certificação FSC sobre o uso dos

recursos da floresta de padrão internacional; a certificação orgânica que é importante para

assegurar que não são empregados defensivos agrícolas; o plano de plantio e manejo das

espécies que melhoram a qualidade da matéria-prima, a cadeia de custódia que assegura as

boas práticas e sustentabilidade da cadeia produtiva.

Assim, o controle de qualidade das atividades das empresas e de seus produtos, na maioria

dos casos, é comprovado ou assegurado pelas certificações que possuem. Muitas delas

resultam das imposições da legislação ou pela pressão do mercado.

Page 128: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

114

V.1.2.2. Produção: desenvolvimento de processo e produto

A maioria das empresas faz manutenção regular de máquinas e equipamentos. Parte

significativa delas faz cópia simples e adaptações das especificações técnicas de projetos

existentes desses bens de capital para atender necessidades específicas. Algumas empresas

desenvolvem projetos desses bens de capital, conforme dados da tabela 14.

Tabela 14 - Gestão de máquinas e equipamentos (H=15)

A B Atividades n % n %

Manutenção de máquinas e equipamentos 13 86% 11 73%

Cópia simples e adaptação de projetos existentes 10 66% 8 53%

Projeto e desenvolvimento de máquinas e equipamentos 4 26% 6 40%

A prática de copiar, adaptar e desenvolver projetos de máquinas e equipamentos pode ser

considerada de extrema relevância porque, em geral, é feita por fabricantes de insumos que

processam a matéria-prima da flora. 80% das empresas desse subsetor fazem cópia simples

e adaptação de projetos existentes e 40% desenvolvem novos projetos, devendo essa prática

ser mantidas nesses níveis no futuro.

Por exemplo, uma equipe de técnicos da empresa Crodamazon com a colaboração de uma

equipe do laboratório de sua coligada de São Paulo pesquisaram e desenvolveram um

equipamento de desodorização do óleo de cupuaçu, do maracujá e da castanha. Não foi

identificada pela empresa nenhuma experiência anterior e similar de desenvolvimento de

equipamentos para desodorização de produtos inteiramente naturais ou orgânicos.

Um equipamento originalmente empregado na produção de leite em pó, denominado de

spray dry, foi adaptado pela coligada da empresa PRB em Belém para produzir o açaí em

pó e seus derivados, passando a ser utilizado também na unidade de Manaus.

A empresa Agrorisa costuma adaptar equipamentos para processar o guaraná, assim como a

empresa Magama para outras espécies. Esta empresa para transformar a matéria-prima

adapta e projeta bens de capital após avaliar, também, técnicas baseadas no conhecimento

tradicional.

Page 129: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

115

Os dados da tabela 15 mostram atividades das empresas para gerir o processo produtivo,

cabendo um destaque para o fator automação. Embora a maioria considere que o processo

produtivo seja automatizado, na verdade, o que se observa, em grande parte das empresas,

são operações simples semi-automatizadas, sendo o produto em fabricação conduzido

manualmente para outro equipamento. A condição de processo produtivo semi-

automatizada decorre da baixa escala de produção e é mais característico de empresas de

capital local.

Tabela 15 - Gestão do processo produtivo (H=15)

A B Atividade n % n %

Melhoria de lay-out & otimização da produção 13 86% 13 86% Formulações dos compostos para a fabricação dos produtos

13 86% 13 86%

Planejamento de processo e controle da produção 12 80% 12 80% Automação do processo produtivo 10 66% 8 53%

A tecnologia empregada no processo de transformação da matéria-prima pelas empresas é

considerada de domínio público, sem muita complexidade. São realizadas basicamente

algumas operações tais como a transformação física da matéria-prima in natura,

prensagem, desodorização, neutralização, sanitização, aditivação de compostos,

refrigeração e análises laboratoriais para o controle de qualidade. As técnicas empregadas,

por serem pouco complexas, não apresentam diferenças significativas entre os diferentes

subsetores da fitoindústria.

A maioria das empresas, conforme dados na tabela 16, faz pequenas modificações no

produto que já fabrica para adequar à produção ou mercado, realiza cópia de produtos

existentes no mercado e considera que desenvolve novos produtos sem similares no

mercado. 80% das empresas do segmento de bens finais afirmam que praticam esses três

fatores. Do subsetor de insumos, 80% afirmam que desenvolvem novos produtos sem

similares no mercado e 60% desenvolvem cópia de produtos. Do subsetor de alimentos,

60% afirmam que desenvolvem novos produtos sem similares o mercado.

Page 130: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

116

Tabela 16 - Desenvolvimento de produto (H=15)

A B Atividades n % n %

Desenvolvimento de novos produtos sem similares no mercado

11 73% 11 73%

Cópia de produtos existentes no mercado 7 46% 7 46% Pequenas modificações no produto para adequar à produção ou mercado

7 46% 6 40%

V.1.2.3. Gestão das atividades inovadoras

As tecnologias empregadas pelas empresas são similares nos respectivos subsetores e até

entre subsetores para algumas atividades. Entretanto, a diversidade de espécies de flora,

empregadas como matéria-prima, apresenta diferenças físico-químicas e farmacológicas

particulares para os segmentos fitoterápicos e fitocosméticos, e de diversidade de sabores

dos frutos utilizados na fabricação de alimentos.

Várias empresas, principalmente dos segmentos de fitoterápicos e fitocosméticos, iniciaram

suas atividades desenvolvendo produtos a partir do conhecimento tradicional que é ainda

bastante explorado.

Muitas atividades de processo que poderiam ser consideradas simples, a princípio, tornam-

se complexas quando implicam em manejar e beneficiar espécies da flora amazônica,

principalmente pelas limitadas publicações de pesquisa. No início do processo de secagem

da andiroba e a maneira de quebrá-la, para separar a amêndoa da casca, por exemplo, eram

consideradas atividades complexas até que essas técnicas foram dominadas e depois

passaram à condição de triviais.

De forma análoga, a habilidade para a formulação de compostos para fitoterápicos depende

de fatores tais como a prática, sensibilidade e criatividade, que são típicas do conhecimento

tácito acumulado pelo profissional responsável. A importância desse profissional como

selecionador de matéria-prima decorre, sobretudo, das características diferenciadas e

inexistência de parâmetros para a padronização da matéria-prima, associada à falta de um

controle técnico-científico realizado por profissionais como botânicos e afins.

A formulação de compostos para fitoterápicos, combinando espécies de flora amazônica,

baseada no conhecimento tradicional, com espécies já consagradas cientificamente, tem

Page 131: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

117

sido uma prática comum nesse segmento, além da combinação de espécies apenas

regionais. As empresas do subsetor de alimentos, no segmento de concentrados de bebidas

não alcoólicas, baseiam-se, sobretudo, nas propriedades naturais que asseguram a qualidade

da matéria-prima produzida na região. Os fabricantes de balas, chocolates e polpa de frutas

baseiam-se na popularidade e diversidade de sabores dos frutos, muitos deles ainda pouco

conhecidos, mesmo pela maior parte da população local.

A seguir, serão apresentados alguns exemplos das atividades inovadoras tanto no processo

de fabricação quanto no produto e outros exemplos que envolvem material, design de

embalagens, mercado e pesquisa.

O conhecimento tradicional, além de sua contribuição na identificação de espécies

aplicadas na fabricação de certos produtos, tem contribuído para a melhoria de processos

produtivos em atividades que envolvem a transformação das espécies. A empresa Agrorisa

substituiu a técnica que tinha adotado para torrar o guaraná e obter o extrato por outra

resgatada da prática antiga dos índios de torrá-lo em forno de barro, passando assim a ser

reconhecida por esse diferencial de mercado.

O resultado da adoção dessa técnica são as características diferenciadas do extrato obtido

nas propriedades como a cafeína, aroma e sabor. A empresa disseminou essa tecnologia a

todas as comunidades indígenas “saterê maués” que já haviam perdido essa tradição, com

as quais mantém cooperação, valorizando sua imagem junto aos clientes no mercado

externo por usar tecnologia e tradição indígenas. É provável que esse tipo de integração de

um conhecimento tradicional associado à exploração mercadológica venha a ser cada vez

mais valorizada no futuro.

Um produto na linha de cosméticos, fabricado pela empresa Essencial, denominado de

“poupourri amazônico” para aromatizar o ambiente, utiliza material apanhado da floresta:

casca de árvores, sementes, raízes e casca de frutos, também denominado de “apanhado”.

Foi desenvolvido um processo de tratamento que estabiliza e fixa a fragrância característica

dessa mistura. A embalagem desse produto é igualmente fabricada com resíduos da

floresta, assim como as embalagens que servem às empresas Bombons Finos e Oiran

fabricante de balas e chocolates.

Page 132: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

118

A empresa Crodamazon desenvolveu nova tecnologia a partir de um tipo de óleo para

cosméticos que já produz, resultando em outro produto que pode ser solúvel em água.

A empresa Pharmakos desenvolveu pesquisa com a espécie crajiru – não possui o óleo

essencial e, portanto, não apresenta cheiro - baseada no conhecimento tradicional,

comprovando a existência de um princípio ativo antiinflamatório e cicatrizante, resultando

na fabricação de um produto ginecológico que já vem sendo comercializado, mas que

necessita de registro na ANVISA para se adequar à Lei que regulamentou a fabricação de

fitoterápicos.

Um produto à base do jambú para higiene bucal foi desenvolvido pela empresa PRB, que

está negociando a transferência de tecnologia para empresas do setor produtivo. Nas

pesquisas desenvolvidas foram comprovadas que o jambú apresenta potencial para

aplicação em diversos produtos de saúde.

A mesma empresa desenvolveu um outro produto denominado de “bebida sabor café”

empregando o açaí como matéria-prima, que demorou 5 anos para ser desenvolvido. Um

dos fundadores da empresa, ao realizar pesquisa com essa espécie como pesquisador do

INPA, descobriu que um de seus derivados apresentava um cheiro similar ao cheiro do

café, porém sendo 100% orgânico, com cheiro, cor, textura e aparência do café torrado,

mas que não contém a cafeína. Esse produto contém fibras e algumas substâncias que

contribuem para combater o colesterol e toxinas, comprovadas em pesquisas da UFPA e do

INPA.

No projeto para combater a aflotoxina que contamina a castanha-do-Brasil, coordenado

pela UFAM, o hectolitro que era comercializado para o mercado internacional a R$ 12,00

no início da safra 2001/2002, com a introdução de técnicas de estocagem, no final da safra

era vendido a R$ 35,00. Ressalta-se que a usina Ib Sabbá perdeu parte do seu mercado de

castanha para as usinas bolivianas porque não se adequou com pesquisa e tecnologia às

novas barreiras fito-sanitárias impostas pelos países europeus.

As empresas de capital estrangeiro dispõem de melhor infra-estrutura interna de

laboratórios e pessoal qualificado para desenvolverem atividades de P&D do que as de

capital local. As melhores condições para o desenvolvimento dessas atividades são

Page 133: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

119

encontradas, principalmente, nos laboratórios de suas coligadas ou matrizes no exterior.

Elas demonstram maior interesse em obter patentes do que as empresas de capital local.

Apenas mais recentemente as empresas de capital local têm manifestado maior

preocupação com a obtenção de patente. Porém, o principal interesse tem recaído sobre o

registro da marca, embora reconheçam a importância e necessidade de patentearem as

pesquisas e produtos que desenvolvem.

É o caso da empresa PRB que depositou pedido de patenteamento para a marca e produto

da “bebida sabor café”, com o auxílio do escritório da Fucapi. Mesmo caminho poderá ser

seguido por outras empresas como a Pronatus, Essencial e Amazon Ervas que possuem

apenas a patente da marca, mas que pretendem da mesma forma patentear suas pesquisas e

produtos.

Pesquisas feitas pela Crodamazon nos laboratórios do grupo, inicialmente em Campinas e a

parte mais complexa em laboratórios da Europa, comprovaram a função cicatrizante do

óleo produzido com algumas espécies da Amazônia.

Uma pesquisa realizada com o óleo do cupuaçu pela empresa mostrou que essa espécie

pode ser utilizada como aditivo em produtos farmacêuticos. Está em curso uma pesquisa

com o óleo da castanha-do-Brasil que indica ser de qualidade especial para aplicação em

cosméticos. A matriz encarrega-se de providenciar as patentes para pesquisas como essas.

V.1.2.4 Atividades de P&D na área de biotecnologia

A comprovação científica do conhecimento tradicional e procedimentos de screnning,

conforme dados da tabela 17, são as atividades relacionadas à biotecnologia que algumas

empresas consideram como as mais relevantes para o desenvolvimento de novos produtos.

O interesse para a comprovação científica do conhecimento tradicional é ainda maior por

parte dos pesquisadores das instituições locais de pesquisa que lidam com as espécies.

Page 134: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

120

Tabela 17 - Atividades de biotecnologia (H=12)

A B Atividades n % n %

Comprovação científica do conhecimento tradicional

5 41% 7 58%

Procedimentos de screening 4 33% 6 50% Combinações genéticas 2 16% 4 33% Recombinação de DNA 1 8% 4 33% Fermentação 1 8% 1 8% Descoberta do código genético 0 0% 3 25%

Embora sejam os fatores mais relevantes para os fabricantes de bens finais, particularmente

no segmento de fitoterápicos, as atividades da moderna biotecnologia deverão ganhar

importância no futuro com técnicas como a recombinação de DNA.

Combinar o método científico com o conhecimento popular, entretanto, tem sido uma das

atividades de pesquisa preferidas de pesquisadores que lidam com recursos da flora,

método denominado de triangulação. Combinar várias plantas unindo o conhecimento

popular com o conhecimento científico, para a fabricação de um fitoterápico, segue a

mesma lógica da produção de um alopático, que combina várias substâncias com ações

diferentes.

Um exemplo da prática desse método é a combinação de uma planta usada pelo

conhecimento popular, para combater a sinusite, por exemplo, com uma outra planta

validada pelo conhecimento científico que contém óleos essenciais antiinflamatórios. A

combinação das duas plantas para a obtenção de um composto pode ter ação mais eficaz do

que apenas a utilização de uma única planta utilizada pela medicina popular.

O composto de um fitoterápico que projetou a Amazon Ervas no mercado, no início de suas

operações, é uma mistura de copaíba, de flora amazônica, que possui propriedades

antiinflamatórias e cicatrizantes, já popularizada pelo conhecimento tradicional,

complementada com o eucalipto e a própolis, espécies já consagrada de outras regiões. A

empresa está empenhada em registrá-lo como fitoterápico na ANVISA.

Para melhorar a qualidade da matéria-prima e, por conseguinte do produto, as empresas

consideram ser fundamental a melhoria genética das espécies da flora. Novas técnicas de

plantio e manejo podem ser desenvolvidas com o auxílio da biotecnologia moderna a partir,

Page 135: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

121

por exemplo, do mapeamento do genoma ou mesmo do proteoma das espécies, facilitando

assim a adoção de políticas adequadas.

A pesquisa para a melhoria genética das espécies pode tornar-se mais fácil, considerando-se

que grande parte delas já é utilizada ou testada pela população para a cura de doenças, no

consumo como alimento, ou mesmo como cosmético. O camucamu, tucumã e buriti, são

algumas das espécies amplamente utilizadas em produtos desses segmentos.

V.1.3. Fontes de informação e aprendizagem

V.1.3.1. Fontes internas

Das fontes internas, o treinamento é considerado pelas empresas como o principal meio de

aprendizado até hoje. Porém, tanto o treinamento, quanto fatores como as atividades de

P&D e pessoal qualificado deverão apresentar praticamente o mesmo nível de importância

futuramente, com base nos dados apresentados na tabela 18.

Tabela 18 - Fontes internas de informação e aprendizagem (H=15)

A B Fatores n % n %

Treinamento 12 80% 10 66% Pessoal qualificado 10 66% 9 60% Atividades de P&D 9 60% 9 60%

Um funcionário treinado, por exemplo, que desempenhe suas atividades na área de

produção, ao deixar a empresa leva com ele o conhecimento tácito acumulado. Descascar

um tucumã ou selecionar a matéria-prima de qualidade são conhecimentos que muitas

vezes são adquiridos apenas com a experiência.

Pela falta de padronização regulamentada das espécies, é exigido do selecionador um

aprimorado conhecimento tácito. A experiência para selecionar a matéria-prima da flora, na

maioria dos casos, é considerada de extrema importância. Exemplo, pela cor da copaíba se

sabe que ela pode ter aplicação para um determinado tipo de produto: fitoterápico ou

fitocosmético. Um lote mal selecionado de matéria-prima compromete, inevitavelmente, a

qualidade do produto final.

Page 136: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

122

Adicionar os compostos exige treinamento específico e tempo para acumular experiência

de como seguir corretamente os procedimentos estabelecidos, pois qualquer alteração nas

especificações pode comprometer um lote inteiro do produto fabricado.

Para desenvolver atividades de P&D, há uma pré-disposição das empresas, compelidas pela

legislação que trata do uso de recursos naturais e pela necessidade de colocar no mercado

melhores produtos, contratarem pessoal mais qualificado. Todavia, muitas dessas atividades

de que necessitam, mesmo em pequena escala, são desempenhadas por profissionais e

instituições de outras regiões do país mais desenvolvidas como São Paulo.

v.1.3.2 Fontes externas

As análises laboratoriais são as mais variadas, sendo que as microbiológicas, físico-química

e testes pré-clínicos são consideradas as mais importantes para a fitoindústria, cujos dados

apresentados na tabela 19. As análises químicas, analíticas, toxicológica e farmacológicas

são fundamentais para o segmento de fitoterápicos. Parte dessas análises é realizada nos

laboratórios das empresas ou de laboratórios subcontratados principalmente da região

Sudeste. Um dos motivos da variedade de análises deve-se à elevada diversidade de novas

matérias-primas testadas.

Tabela 19 - Controle de qualidade (H=15)

A B Atividades n % n %

Análise microbiológica 14 93% 13 86% Análise físico-química 13 86% 13 86% Teste pré-clinico e clínico 4 26% 7 46%

Não apenas para o controle de qualidade do processo produtivo essas análises são

realizadas, mas também para atividades de desenvolvimento de novos produtos resultantes

de atividades de P&D. Na maioria dos casos, entretanto, são necessárias análises

laboratoriais que a maioria das empresas não tem condições de realizá-las internamente,

transferindo essas atividades para laboratórios locais subcontratados e principalmente para

laboratórios de outros estados. Além de serem laboratórios mais avançados, as análises

realizadas em São Paulo, por exemplo, como conseqüência do elevado volume, tornam os

custos mais baixos do que as realizadas localmente.

Page 137: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

123

As análises nos laboratórios locais em Manaus-Am, pelo que foi constatado, podem ser

feitas em um dos 5 laboratórios, dos quais apenas um pertence a uma organização pública.

Os laboratórios hoje implantados estão buscando criar infra-estrutura para realizar análises

que possam atender a demanda das empresas. Esses laboratórios são: Costa Curta,

Microlab, CQLAB, Água Pura e Nutricon. Uma série de análises, testes e ensaios químicos,

fisísico-químicos e microbiológicos já podem ser realizados por esses laboratórios.

Alguns laboratórios já realizam e outros estão se preparando para adquirir equipamentos

que possam realizar análise de agrotóxicos, metais pesados e para todas as análises

químicas exigidas pela ANVISA e Ministério da Agricultura. Um deles já obteve o

certificado da Reblas, órgão que credencia laboratórios, e está se preparando para se

certificar pela ISO 17.025 junto ao INMETRO, órgão reconhecido internacionalmente

como laboratório que regula as Boas Práticas de Fabricação no país.

Alguns desses laboratórios podem realizar análise físico-química e microbiológica e

capacitar pessoal dos laboratórios das empresas do setor produtivo. Podem executar várias

das análises de um laboratório credenciado, como informativo e consulta, porém sem a

mesma validade ainda. Um deles dispõe de capacidade para desenvolver Análise de Perigos

e Pontos Críticos de Controle (APPCC), além do que é exigido para as empresas obterem a

certificação de boas práticas de fabricação.

Os dados da tabela 20 mostram que conferências, publicações especializadas, feiras e

exposições, fornecedores e consumidores, incluindo os parceiros comerciais, e aquisição de

máquinas e equipamentos mais modernos são outras das principais fontes externas de

aprendizado da fitoindústria.

Page 138: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

124

Tabela 20 - Fontes externas diversas de informação e de aprendizagem (H=15)

A B Fontes n % n %

Conferências, publicações especializadas, feiras, exposições

12 80% 10 66%

Clientes e consumidores 11 73% 11 73% Aquisição de máquinas e equipamentos 10 66% 11 73% Conhecimento tradicional 10 66% 7 46% Cooperação com Institutos de P&De consultores de locais

9 60% 11 73%

Cooperação com comunidades tradicionais 8 53% 7 46% Concorrentes 8 53% 6 40% Cooperação com Institutos de P&D,e consultores de fora

7 46% 7 46%

Cooperação com empresas de fora 6 40% 6 40% Redes de informações 5 33% 7 46% Cooperação com empresas locais 5 33% 5 33% Aquisição de tecnologia: licenças, patentes e “know how”

3 20% 3 20%

Destaca-se que algumas das empresas, mesmo de capital local, têm como prática a

participação em feiras e exposições em outros países, investimentos em máquinas e

equipamentos mais modernos, melhor aproveitamento dos recursos, elevar a produtividade

e fabricar produtos de melhor qualidade.

Além das análises laboratoriais, ressalta-se que para as empresas do segmento de bens

finais consideram os clientes e consumidores, concorrentes e o conhecimento tradicional

como algumas das principais fontes de aprendizagem. Para as análises do segmento de

insumos são a cooperação com comunidades tradicionais, com institutos de P&D e

consultores locais. Para as do segmento de alimentos, a aquisição de máquinas e

equipamentos e clientes e consumidores.

O conhecimento tradicional tem sido considerado como uma das principais fontes de

aprendizagem até agora e auxiliado na escolha de produtos a serem fabricados, bem como

de atividades de P&D a serem desenvolvidas, principalmente para a comprovação científica

dos princípios ativos.

Por exemplo, na área farmacêutica a copaíba é considerada um antibiótico que tem

aplicações antiinflamatórias e cicatrizantes; o muirapuama é uma planta com características

Page 139: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

125

do viagra; e o leite de amapá é aplicado no combate a doenças respiratórias. Essas espécies

têm sido empregadas na fabricação de fitoterápicos para combater diversos tipos de doença,

porém todas necessitam de comprovação científica.

Várias fórmulas têm sido criadas por pesquisadores na região, principalmente para

fitoterápicos, a partir da expressão verbal dos habitantes das diversas comunidades que

vivem nos municípios do interior do estado. A maioria dos pesquisadores que trabalha com

produtos naturais faz apenas os relatos desse conhecimento. Mesmo em publicações em

periódicos científicos, os pesquisadores apenas descrevem como as populações empregam

as espécies para combater certas doenças.

A identificação de um princípio ativo de uma planta de outra região, com função

cicatrizante, por exemplo, tem servido de base e agilizado a formulação de compostos com

plantas da Amazônia, que são utilizadas com a mesma finalidade, mas que dispõem apenas

do conhecimento popular sem a comprovação científica.

Um exemplo de aprendizado com o saber tradicional é a técnica de extração de óleo

vegetal, onde um dos principais segredos tecnológicos está na experiência e prática de

secagem, que varia de espécie para espécie, dominada por algumas comunidades.

Complementarmente, o método mais simples e comum da extração é feito por prensagem,

ou quebra da casca, cuja técnica começa a ser ensinada às comunidades através de projetos

desenvolvidos pela Agência de Floresta do governo do estado, que está associando o saber

popular com outras técnicas científicas.

Contrariamente à perspectiva de diminuição da importância futura do conhecimento

tradicional, como fonte de aprendizagem para o desenvolvimento de produto, a cooperação

com institutos de P&D deverá exercer um papel de maior relevância. Uma das principais

razões da busca por cooperação com os institutos de P&D é atribuída às atividades de P&D

que o CBA deverá desenvolver.

Entretanto, o aprendizado adquirido até agora na cooperação com os institutos de P&D

locais refere-se principalmente às análises laboratoriais que as empresas necessitam realizar

com freqüência. O objetivo é comprovar as boas práticas de fabricação, atestar a qualidade

do produto, ou mesmo obterem a certificação de que precisam, e muito pouco para o

desenvolvimento de P&D. Ademais, a relação da empresa com a instituição de P&D é na

Page 140: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

126

maioria dos casos informal e decorrente do relacionamento particular do dirigente da

empresa com o pesquisador.

O aprendizado através das redes de informações embora indique crescimento no futuro,

hoje é uma fonte para um pequeno número de empresas. As empresas não praticam e

aprendem com a aquisição de tecnologia: licenças, patentes e know how.

V.1.4. Fatores que afetam as atividades inovadoras

V.1.4.1. Escassez de pessoal qualificado

A maior carência de pessoal qualificado da fitoindústria é para a produção, de acordo com

os dados da tabela 21. Todavia, embora ainda em níveis elevados, esse fator tende a ser

menos restritivo no futuro, situando-se mais ou menos no mesmo nível da necessidade de

pessoal para a realização de P&D, formulação de compostos dos produtos da empresa e

para registro de patentes.

Tabela 21 - Necessidade de pessoal qualificado por tipo de atividade (H=15)

A B Fatores n % n %

Produção 10 66% 8 53% P&D 8 53% 8 53% Formulação dos compostos dos Produtos da empresa

7 46% 7 46%

Registro de patentes 6 40% 7 46% A região ainda não dispõe de pessoal qualificado tais como botânicos em quantidade

suficiente para desempenhar certas atividades na cadeia produtiva da fitoindústria,

relacionadas à exploração dos recursos da flora, tampouco as instituições de P&D

disponibilizam seus pesquisadores para desempenharem tarefas que apóiem a atividade

industrial. A maioria das empresas, pela pequena escala de produção, ainda não demanda

muitos profissionais mais qualificados, por representarem para elas elevado custo.

Destaca-se que a necessidade de pessoal para registro de patentes, foi manifestada

principalmente pelas empresas do segmento de alimentos. Mesmo necessitando contratar

mão-de-obra mais especializada, parte das fiotoempresas prefere capacitar pessoal

internamente pelo receio de que algumas competências possam ser copiadas pelos

concorrentes.

Page 141: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

127

v.1.4.2. Limitações de infra-estrutura física

As limitações de infra-estrutura dizem respeito a instalações prediais e de máquinas e

equipamentos, apresentadas na tabela 22, em geral para realizar as atividades produtivas e

de P&D para a obtenção de insumos de qualidade. A maior necessidade desses fatores foi

manifestada pelas empresas fabricantes de bens finais: fármacos e cosméticos.

Tabela 22 - Dificuldades de infra-estrutura de P&D e produção (H=15)

A B Atividades n % n %

Produção 6 40% 6 40% P&D 5 33% 5 33%

Um dos dilemas das empresas atualmente é o montante que devem investir na criação de

infra-estrutura física própria de laboratório e contratar pessoal qualificado para

desempenhar algumas atividades internas de P&D, registrar patentes e formular compostos

para seus produtos.

Embora necessitem de modernos equipamentos para a produção, atividades laboratoriais,

de P&D e de pessoal qualificado, as empresas têm dificuldades orçamentárias. Uma outra

razão igualmente importante é a perspectiva de fortalecimento institucional local para

atividades de P&D e de serviços tecnológicos por elas demandados, que poderão ser

atendidos quando o CBA estiver plenamente implantado.

V.1.4.3. Escassez de fontes de financiamento

Cerca de 53% das empresas têm preferido o auto-financiamento para suas atividades

operacionais e de P&D, por entenderem que é inadequado atualmente o financiamento de

terceiros, face aos elevados encargos financeiros, além das dificuldades burocráticas que

em geral são impostas às empresas de pequeno porte. Todavia cerca de 60% das empresas

acreditam que necessitarão futuramente de financiamento de terceiros e que essa questão

merece ser melhor tratada pelas instituições de fomento.

Algumas das principais necessidades de financiamento são para investimento em

instalações fabris, máquinas e equipamento da produção, atividades laboratoriais e de P&D,

treinamento e melhoria da qualidade da matéria-prima. As empresas de capital local têm

destinado seus investimentos principalmente para ampliar a capacidade de produção e

Page 142: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

128

modernizar o processo produtivo, porém são pouco significativos os investimentos em

pesquisa.

Em geral quem detém o conhecimento não dispõe de recursos financeiros para transformá-

lo em produto. Por outro lado, as empresas de capital local da fitoindústria não dispõem de

recursos para remunerar tanto o pesquisador quanto a instituição de pesquisa, o que

permitiria a transferência desse conhecimento para o setor produtivo.

As empresas de capital estrangeiro, ao contrário, dispõem de recursos próprios, tanto para

investir em modernos equipamentos destinados ao processo produtivo como o acesso à

infra-estrutura moderna de laboratórios em suas matrizes ou coligadas, principalmente no

exterior.

O capital de risco de investidor privado, que tem sido um dos principais instrumentos nos

países desenvolvidos para financiar empresas de base tecnológica ainda não parece ser para

as empresas uma importante fonte de financiamento.

No entanto, outros tipos de financiamento começam a emergir. A análise de toxologia e

farmacologia, que hoje é realizada no Nordeste para as empresas e instituições de P&D

locais, estão sendo experimentadas com três espécies da região, financiadas com recursos

da FINEP para o acúmulo de competência local.

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) criou um fundo

para participar do Programa de Apoio à Pequena Empresa (PAP) da FINEP. Essa Fundação

disponibilizou, inicialmente, R$ 2 milhões e o MCT mais R$ 2 milhões, totalizando R$ 4

milhões para financiar pequenas empresas de base tecnológica sem a obrigação de

ressarcimento.

O valor máximo desse tipo de financiamento é de até R$ 200 mil, sendo R$ 50.000 para

estudos de viabilidade econômica. Na primeira concorrência, foram apresentados pelas

empresas locais em torno de 130 projetos, cuja maioria não poderá ser atendida, face aos

limitados recursos disponíveis, mas é um demonstrativo do interesse das pequenas

empresas produtivas pela pesquisa, seno que parte delas emprega recursos naturais.

Há a expectativa da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado do Amazonas - SECT de

que com a lei de inovação poderá, também, estimular pesquisadores a iniciativas

Page 143: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

129

empresariais criarem empresas de base tecnológica de interesse regional. A SECT está

aguardando, também, a definição do MCT para implantar o programa CRIATEC, que é um

fundo para financiar projetos de pesquisa hoje guardados nas prateleiras das universidades

com potencial de criar empresas de base tecnológica.

O projeto Proteoma (genoma da proteína), que deverá beneficiar a bioindústria, está sendo

criado também em Manaus e deverá dispor de recursos de R$ 400 mil da SECT e de R$

200 mil do MCT. A rede Proteoma Nacional do MCT trabalha com a seguinte estrutura: os

laboratórios centrais, que oferecem melhores condições de pesquisa, os laboratórios

associados e os laboratórios de usuários. O Amazonas dispõe de 3 laboratórios associados e

3 usuários. Essas iniciativas indicam importantes perspectivas para a disponibilidade de

fundos que financiem atividades de pesquisa da fitoindústria.

V.1.4.4. Pouca cooperação para o aprendizado e capacitação tecnológica

As empresas consideram a cooperação com institutos de P&D locais uma de suas principais

fontes de aprendizagem e de capacitação tecnológica e também como uma de suas

principais dificuldades, de acordo com os dados da tabela 23. A pouca interação das

empresas com os institutos de P&D contribui para o lento desenvolvimento da fitoindústria.

Para o subsetor de bens finais, esse fator representa a maior fragilidade comparando com os

tipos de cooperação.

Tabela 23 - Dificuldades de cooperação com institutos de P&D e empresas (H=15)

A B Instituições e empresas n % n %

Institutos de P&D locais 10 66% 9 60% Comunidades tradicionais 5 33% 4 26% Empresas locais 5 33% 3 20%

As principais instituições locais com quem as empresas podem cooperar são o INPA,

UFAM e EMBRAPA que dispõem de infra-estrutura de laboratório e pessoal qualificado

para a realização de atividades de pesquisa com os recursos da flora amazônica. No entanto,

na percepção das empresas, essas instituições não foram concebidas e readequadas para

desenvolverem projetos de pesquisa em cooperação com o setor produtivo.

Há um claro distanciamento entre as empresas e as instituições locais e regionais de P&D.

O Instituto Emílio Goeldi de Belém-PA, por exemplo, que tem longa tradição de pesquisas

Page 144: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

130

com recursos da biodiversidade amazônica, também não mantém qualquer interação com as

empresas pesquisadas.

A expectativa é a de que a plena implantação do CBA deverá fortalecer a infra-estrutura

institucional, facilitando a aproximação com as instituições de P&D da Amazônia para o

apoio à pesquisa e à prestação de serviços tecnológicos às empresas, incluindo outras

instituições da Amazônia.

O CBA é considerado um projeto brasileiro para a Amazônia e seu principal papel será o

de coordenar uma rede de laboratórios associados, de caráter público e privado, de

pesquisadores, institutos, fornecedores e empresas, integrando o conhecimento científico e

tecnológico ao setor produtivo.

As empresas que empregam os recursos naturais deverão ser inicialmente o alvo principal

do CBA para a prestação de serviços, a fim de que alcancem um salto tecnológico. Serão

prestados serviços na área laboratorial começando com análises de toxologia, cujo

laboratório será o primeiro da Amazônia.

A pouca cooperação entre as empresas com as comunidades produtoras de matéria-prima,

particularmente as tradicionais, representa uma barreira ao aprendizado e desenvolvimento

tecnológico principalmente às técnicas de plantio e manejo, de processamento das espécies,

de melhoria de qualidade, produção e regularidade no fornecimento da matéria-prima.

Embora seja uma minoria de empresas que considere uma barreira a cooperação com outras

empresas, percebe-se que pelo distanciamento entre elas, por razões diversas, a maioria não

considera relevantes as atividades que possam ser implementadas conjuntamente.

A maior limitação para a cooperação entre as empresas é a que trata em especial do uso de

recursos compartilhados para a atividade produtiva. Uma das razões é o receio de que

alguns segredos industriais possam ser copiados, caracterizando a falta de confiança.

Atividades consideradas importantes, como os projetos de P&D, poderiam ser executadas

conjuntamente.

A caracterização das matérias-primas, que é extremamente importante para todas as

empresas, requer a organização de um banco de dados em cooperação com os institutos de

P&D locais. A aquisição de máquinas e equipamentos, a garantia e obtenção de

Page 145: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

131

financiamento se tornariam mais fáceis desde que fossem realizados em consórcio pelas

empresas, que poderiam, da mesma maneira, compartilhar a utilização da capacidade

instalada e explorar nichos de mercado como a fabricação de fitoterápicos ou mesmo de

genéricos por demanda do governo.

Algumas empresas, todavia, não descartam possíveis parcerias com outras empresas que

não integram a fitoindústria, na forma de joint venture, e disponham de competência em

algum campo específico, como o de dominar tecnologias mais avançadas para o

desenvolvimento de projetos de P&D com o objetivo de acessarem novos mercados.

V.1.4.5. Barreiras ao acesso à matéria-prima da flora

São basicamente três caminhos explorados pelas empresas para a aquisição da matéria-

prima da flora: a) a compra no mercado livre sem a identificação de procedência; b)

parceria para o fornecimento com as comunidades tradicionais; e c) cultivo próprio. O

principal deles, utilizado pelas empresas, tem sido através do mercado livre por algumas

das seguintes razões:

A primeira é a fragilidade de organização dos fornecedores de matéria-prima, que é ainda

incipiente e precária, para se adequação à demanda das empresas tanto em quantidade

quanto em qualidade. A segunda é que, na percepção de algumas empresas, a compra feita

por intermediários no mercado livre poderá desobrigá-las, a princípio, de cumprirem o

previsto na Medida Provisória conhecida como lei da biodiversidade, quanto ao pagamento

às comunidades sobre o conhecimento tradicional e de outras dificuldades que enfrentam

para o acesso aos recursos da biodiversidade.

Com o crescimento da demanda e a necessidade de melhorar a qualidade da matéria-prima

da flora utilizada pelas empresas, a organização da cadeia de produção torna-se

fundamental para o sucesso da fitoindústria. Todavia, não há dados disponíveis e

organizados da real demanda, nem tampouco de produção da matéria-prima utilizada pela

fitoindústria. O mercado produtor de matéria-prima está em sua fase inicial de organização,

por isso algumas questões da tabela 24 requerem atenção especial por se relacionarem a

restrições ao planejamento de produção das empresas.

Page 146: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

132

Tabela 24 - Limitações de atividades com a matéria-prima (H=15)

A B Fatores n % n %

Escassez 9 60% 7 46% Planejamento e tecnologia de plantio e manejo

8 53% 8 53%

Logística de transporte 7 46% 9 60% Seleção 7 46% 6 40% Ausência de política de preço 4 26% 4 26%

A escassez pode ser conseqüência do aumento de demanda pelas empresas ou pela baixa

produção da safra, há precariedade na adoção de tecnologias de manejo e mais ainda para o

plantio, comprometendo a produção também da matéria-prima e dificuldades em

estabelecer uma logística de transporte dessa matéria-prima da flora.

Um exemplo de como a escassez pode afetar uma empresa é o que ocorreu em 2003 com a

empresa Pharmakos, que enfrentou sérias dificuldades para adquirir o crajiru e não contou

com a colaboração de outras empresas do setor. Hoje a Pharmakos tem um fornecedor

regular que já recebeu orientação técnica sobre secagem e conservação, contornando

parcialmente o problema de fornecimento dessa espécie. Outras empresas, da mesma

forma, têm manifestado preocupação com a escassez desta e de outras espécies.

Outras dificuldades não menos importantes, porém indicadas por um número menor de

empresas são: a seleção da matéria-prima, por ser muito afetada pela baixa qualidade e pela

irregularidade de oferta; disparidade de preços para algumas espécies nas regiões do estado,

o que pode exigir a intervenção do governo para a regulação; outros problemas como a

sazonalidade e o impacto ambiental pela exploração inadequada de algumas espécies.

Ressalta-se que a dificuldade de seleção da matéria-prima, planejamento, tecnologia de

plantio e manejo são sentidas principalmente pelas empresas dos subsetores de bens finais e

de insumos.

A oferta de matéria-prima quando afetada pela sazonalidade, se a quantidade produzida

pela localidade não for muito acentuada, pode ser compensada por outra localidade.

Todavia, na hipótese de um crescimento abrupto de demanda, o estado não teria capacidade

suficiente de produção nem poderia preparar-se em curto espaço de tempo para atendê-la.

Page 147: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

133

A cooperação, envolvendo empresas, órgãos do governo e demais instituições que apóiam

atividades com os recursos da flora, indica que está sendo feito esforço em transferir

tecnologias às comunidades para o plantio, manejo, produção e controle de qualidade.

Embora com poucos resultados obtidos ainda, por serem iniciativas recentes, tem-se

observado uma diferença significativa na qualidade das espécies quando há plano de

manejo.

As comunidades por seu lado dominam certas técnicas, herdadas de gerações, que

associadas às técnicas científicas acabam resultando na melhoria de procedimentos de

plantio e manejo. São técnicas baseadas na vivência e na relação com a floresta, que

também precisam ser consideradas e aprimoradas no auxílio à melhoria da qualidade da

matéria-prima.

A logística de transporte da matéria-prima proveniente da floresta afeta um número

pequeno de empresas, mas que merece ser ressaltada para chamar a atenção do que pode

representar de dificuldade no futuro, na hipótese provável de crescimento de demanda.

Uma carga do município de Boca do Acre, por exemplo, face à longa distância, pode

demorar cerca de 15 dias para chegar em Manaus, tendo como causada usual a dificuldade

de navegação em determinados períodos do ano, face à vazante dos rios que dificulta o

acesso às comunidades fornecedoras.

Mesmo de localidades como o município de Boca do Acre, o prazo de recebimento da

matéria-prima pode variar: 10 dias com o rio cheio e 15 dias com o rio vazante. Durante 6

meses do ano, não há acesso à comunidade de Boa Vista do Ramos, que é um importante

fornecedor. Destaca-se a inexistência de qualquer tipo de seguro em caso de acidente com

os barcos e a conseqüente perda da carga transportada.

Há a deficiência na infra-estrutura portuária de Manaus que é inadequada para receber esse

tipo de matéria-prima. O barco, que é o principal meio de transporte no estado, conduz ao

mesmo tempo tanto passageiro quanto carga, tornando o risco maior de contaminação da

matéria-prima.

A tecnologia, que ainda não é dominada, e a infra-estrutura de produção, que não está

disponível aos produtores, acabam por afetar o beneficiamento e a oferta de matéria-prima

Page 148: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

134

da floresta. É necessário organizar fornecedores que não mantenham vínculo de

exclusividade para possam atender diversas empresas.

O acesso aos recursos da biodiversidade pode representar diferentes impactos ambientais. O

alto impacto pode ser ilustrado com a extração da madeira que necessita de autorização do

IBAMA. O médio impacto pode ser exemplificado com o desenvolvimento de mudas de

plantas para experiências que facilitem a transferência de tecnologia a uma comunidade. O

baixo impacto pode ser entendido pela extração de frutas, resinas e cascas.

Entretanto, para o controle ambiental, a comunidade científica ainda não tem elementos

suficientes que assegurem uma política de manejo adequada, para a grande maioria das

espécies da flora amazônica. Mesmo com a ausência desses dados científicos, algumas

empresas já passaram a adotar alguma política de preservação, como forma de auxiliar a

reprodução natural, embora sem a certeza se as quantidades preservadas são as adequadas.

V.1.4.6. Limitações para as análises laboratoriais

Embora as análises laboratoriais realizadas internamente nas empresas ou em laboratórios

subcontratados possam ser diferentes para as empresas de diferentes subsetores, a atividade

de identificação fiotoquímica de marcadores é considerada pela maioria delas como a

principal fragilidade, conforme dados da tabela 25.

Tabela 25 - Análises laboratoriais para o controle de qualidade e P&D (H=15)

A B Fatores n % n %

Identificação fitoquímica de marcadores 8 53% 8 53% Identificação físico-química 5 33% 4 26% Microbiologia 4 26% 4 26% Testes pré-clínicos e clínicos 3 20% 4 26% Screening 3 20% 3 19% Cristalização 2 13% 3 20%

Algumas análises são específicas e servem para atender a mais de um subsetor da

fitoindústria. As atividades, tais como a identificação fitoquímica de marcadores e os testes

clínicos, são usualmente empregadas para os fitofármacos enquanto a análise

microbiológica é requerida por diversos segmentos.

Page 149: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

135

Quando as empresas fabricantes de fitoterápicos e fitocosméticos, que são de capital local,

começaram suas atividades ainda não havia as exigências que hoje são impostas pela

ANVISA sobre eficácia e segurança. Os testes pré-clínicos e clínicos passaram a ganhar

importância, principalmente para as empresas fabricantes de fitoterápicos, para os quais não

existe ainda infra-estrutura adequada em Manaus.

A dificuldade de realizar localmente as análises farmacológicas e toxicológicas pode

implicar na não comprovação da qualidade, podendo dificultar a comercialização do

produto. Espécies como a andiroba e copaíba, por exemplo, em alguns casos, são

beneficiadas fora do estado e retornam para as empresas como insumos de maior valor.

Apenas as empresas de maior porte ou mais estruturadas até o momento demandam

serviços laboratoriais, principalmente as de capital estrangeiro, embora algumas de capital

local também já comecem a adotar essa prática. Todavia, as empresas menos estruturadas

demandam certas análises apenas quando são exigidas por órgãos de fiscalização.

Muitas vezes, realizar as análises laboratoriais da matéria-prima torna-se difícil, pela

dificuldade de rastrear a procedência das espécies e determinar uma amostra, porque são

misturadas durante o transporte com espécies procedentes de outras comunidades e

localidades.

Processos aplicados hoje na região com cobalto para descontaminar a matéria-prima, por

exemplo, para neutralizar a ação ou exterminar microorganismos e prolongar a vida útil do

produto, é uma prática não aceitável por grande parte dos países importadores de produtos

da fitoindústria que dão preferência a produtos genuinamente naturais. A redução

microbiana com o uso dessas técnicas também representa custo elevado para as empresas,

tornando a prevenção a melhor alternativa.

V.1.4.7. Barreiras de acesso a mercados para os produtos da fitoindústria

Além dos produtos atuais fabricados pelas empresas: fitoterápicos, fitocosméticos,

concentrados para bebidas não alcoólicas, balas e chocolates e polpa de frutas, outros

produtos apresentam um grande potencial. Alguns deles são os bioinseticidas,

biofertilizantes, biorremediação, plantas medicinais, frutas secas, artesanato, conservantes

para aumentar a qualidade de sementes empregadas em artesanatos com um novo processo

de secagem, marchetaria para a produção de resina natural para aumentar a qualidade da

Page 150: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

136

cerâmica, insumos como amido, farinha, serviços tais como a identificação genética,

transgênicos e biomateriais passam a representar mercados potenciais.

A falta de propaganda é um dos fatores que tem dificultado a ampliação e conquista de

novos mercados pelas empresas, além da indisponibilidade de canais de distribuição

adequados para parte delas, conforme dados da tabela 26. A propaganda afeta mais as

empresas dos subsetores de bens finais e de alimentos.

Tabela 26 - Dificuldades de acesso a mercado para o produto final (H=15)

A B Fatores n % n %

Propaganda 10 66% 10 66% Canal de distribuição 8 53% 6 40% Preço 6 40% 6 40% Design e embalagem do produto 5 33% 6 40% Logística de transporte 2 13% 2 13%

Entretanto, a maioria das empresas considera a possibilidade de comercializar seus

produtos para o mercado externo. As de capital local pelo pequeno porte, limitado nível

organizacional e tecnológico e a falta de canais de distribuição adequados enfrentam mais

dificuldades para acessar o mercado externo do que as empresas de capital estrangeiro.

Estas costumam explorar os canais de distribuição e partilhar os mercados das coligadas.

A fixação de preço para os produtos de grande parte das empresas, em especial para os do

segmento de bens finais, cujo principal destino é o mercado interno, fica dependendo do

preço fixado pela concorrência para produtos similares ou substitutos.

De outra parte, não há receptividade de importadores para adicionar um valor intangível na

compra de produtos in natura. Isto auxiliaria na distribuição de benefícios, particularmente

da renda, para os habitantes das regiões produtoras de matéria-prima, que passariam a

participar da economia global. A lógica é ainda tratar recursos naturais incluindo os

biogenéticos como qualquer commodity.

Entretanto, a empresa Agrorisa, pela experiência em comercializar seus produtos via

“mercado justo”, que é um conceito em processo de consolidação, considera possível

adicionar algum valor como contribuição social.

Page 151: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

137

O design e embalagem, sobretudo para produtos finais nos segmentos de fitoterápicos e

principalmente fitocosméticos, quando exigem melhor acabamento, arte e beleza, muitas

vezes não há fornecedor local.

Chama a atenção o fato da logística de transporte para a distribuição dos produtos vendidos

representar menor dificuldade do que a logística de transporte para a matéria-prima

adquirida. A exportação quando realizada diretamente de Manaus somente se torna viável

com a remessa de grandes volumes e via transporte marítimo, enquanto para pequenos

volumes a prática tem sido de utilizar o transporte aéreo.

O sistema de transporte de carga em Manaus ainda não evoluiu para receber pequenos

volumes e efetuar a distribuição para qualquer parte do mundo com custos compatíveis a de

outros centros industriais. A exportação dos pequenos volumes pela Crodamazon para os

EUA, por exemplo, é feita via coligadas que os redistribui para os diferentes destinos.

V.1.4.8. Fatores de dificuldades que afetam as atividades da fitoindústria

Os principais fatores que dificultam a capacitação tecnológica dizem respeito a: pessoal

qualificado, infra-estrutura física, financiamento, cooperação e análises laboratoriais.

Outros fatores têm apresentado, embora em graus diferenciados, algum tipo de dificuldade.

O principal deles é a ausência de apoio do governo, conforme dados apresentados na tabela

27.

Tabela 27 - Outras dificuldade da fitoindústria (H=15)

A B Fatores n % n %

Apoio do governo 14 93% 12 80% Problemas alfandegários/tributários 12 80% 11 73% Coordenação institucional para apoiar o setor 12 80% 10 66% Incentivos fiscais 11 73% 9 60% Falta de base industrial local em setores afins às atividades da empresa 10 66% 10 66%

Implantação de grandes empresas 7 46% 6 40% Legislação 7 46% 6 40% Processo produtivo básico (PPB) para uso de recursos da biodiversidade 5 33% 8 53%

Aprovação nos órgãos sanitários 5 33% 5 33% Impacto ambiental, biopirataria, produtos sintéticos similares 5 33% 5 33%

Tecnologia de processo e produto 3 20% 3 20%

Page 152: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

138

Pela abrangência do que representa o fator apoio do governo, aspectos positivos acabaram

perdendo importância diante dos aspectos considerados negativos pelas empresas. Portanto,

cabem alguns esclarecimentos sobre algumas das interpretações desse fator pelas empresas:

C&T – Com a implantação da FAPEAM, em 2004, vários projetos das empresas foram

contemplados com financiamento. Esse apoio recente à pesquisa passou a ser

considerado de extrema importância pelas empresas. Porém o histórico de apoio do

governo estadual nesse campo, antes da implantação da FAPEAM, é quase

insignificante;

Estratégia de exploração da biodiversidade como base de desenvolvimento regional -

para as empresas, não existe o devido reconhecimento da relevância do potencial desses

recursos, em particular da flora, para desenvolver um tipo de indústria com

características regionais, alternativa ou complementar ao projeto Zona Franca de

Manaus – ZFM;

Aglomeração Industrial – não existe até agora empenho suficiente para criar infra-

estrutura de instalação de empresas como houve para o projeto Zona Franca;

Fundos – não existem fundos especiais para financiar atividades diversas da

fitoindústria em condições razoáveis de pagamento;

Capacitação tecnológica – o governo não tem criado as condições necessárias de

produção e transferência de tecnologia para as atividades realizadas ao longo da cadeia

produtiva, principalmente para a produção de insumos com base na matéria-prima da

flora.

As empresas alegam enfrentar, além dos burocráticos, problemas alfandegários e com a

legislação fito-sanitária de alguns países importadores. Porém, um outro tipo de barreira

começa a surgir. A empresa Agrorisa, por exemplo, de capital regional, que exporta para

diversos países, identificou dificuldades impostas pelo Federal Drugs Administration

(FDA) para exportação aos EUA que receia a prática de “bioterrorismo”.

As obrigações tributárias são consideradas elevadas para grande parte das empresas, que

clamam por uma revisão e a concessão de mais benefícios fiscais concedidos a produtos

que agregam matéria-prima natural da Amazônia.

Page 153: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

139

A ausência de coordenação, seja por parte do setor público seja do setor privado, tem

dificultado a adoção de ações que possam acelerar o desenvolvimento da fitoindústria. Falta

liderança para desempenhar esse papel que, para as empresas, poderia ser melhor exercida

pelo governo, ou quem sabe por ambos.

Os tributos e incentivos fiscais concedidos às empresas apoiadas pelo projeto ZFM são

considerados pela fitoindústria muito mais favoráveis do que os concedidos a empresas que

processam os recursos regionais. Ressalta-se que as empresas do subsetor de insumos não

consideram os incentivos fiscais como uma de suas principais dificuldades.

Considera-se que o Processo Produtivo Básico – PPB aprovado para os fabricantes de

cosméticos torna as empresas locais menos competitivas que as empresas de fora do estado.

Há a preocupação ainda com o PPB que venha a ser criado para os demais segmentos da

fitoindústria. Entretanto o subsetor de alimentos não considerou ser esse fator uma

dificuldade relevante.

Além dos fatores: PPB, tributos e incentivos fiscais, a legislação que regula a fabricação de

fitoterápicos, fitocosméticos e alimentos, biossegurança, meio ambiente e acesso à

biodiversidade têm forte impacto em algumas das empresas. Algumas delas enfrentam

dificuldades para a obtenção e aprovação de seus produtos nos órgãos de vigilância

sanitária similares e nos coordenados pela ANVISA.

A falta de uma base industrial dinâmica em Manaus em áreas afins ou que pudessem criar

sinergia com os segmentos da fitoindústria tem dificultado o desenvolvimento da

fitoindústria. Algumas das atividades produtivas que poderiam contribuir para acelerar esse

desenvolvimento são dos segmentos de química, insumos fabricados com a matéria-prima,

agronegócios, bionegócios, extratos de plantas medicinais, óleo vegetal e essencial.

O impacto ambiental e a biopirataria, embora possam afetar diretamente poucas empresas,

são fatores que ganham um nível de grandeza cada vez maior. À medida que cresce a

demanda por produtos da floresta, ou que extensas áreas são devastadas para servir de

matéria-prima aos mais diversos produtos, os danos ao meio ambiente são inevitáveis.

Espécies como a arraia dos rios da Amazônia e plantas medicinais são submetidas a

análises no exterior com o objetivo de identificar princípios ativos, para onde são enviadas

sob os mais diversos pretextos.

Page 154: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

140

A maioria das empresas não considera que a implantação de grandes empresas concorrentes

seja forte ameaça e que não emprega tecnologias de processo e produto inferiores aos

concorrentes. A vantagem atribuída a concorrentes instalados no Sul/Sudeste do país e

mesmo do exterior é o suporte institucional de P&D e de tecnologia, além do apoio do

governo.

V.1.5. Estratégias para a capacitação tecnológica e competitividade das empresas

As empresas, para a aceleração de capacitação, inovação tecnológica e crescimento, já vêm

adotando ou deverão adotar as estratégias cujos fatores são apresentados na tabela 28. Deve

ser ressaltado que as estratégias variam de importância de empresa para empresa. Uma

empresa pode enfatizar a ampliação do mercado interno, outra o mercado externo e ambas

podem considerar a cooperação como a estratégia fundamental ao processo de aprendizado

e de capacitação tecnológica para impulsionar seus negócios.

Dados das empresas apontaram na Tabela 20 – Fontes externas diversas de informação e

aprendizagem na cooperação com os institutos de P&D locais como uma de suas principais

fontes de aprendizagem e na Tabela 23 – Dificuldades de cooperação com institutos de

P&D e empresas como um dos principais obstáculos. Todavia, esse fator é também

considerado como a principal estratégia para o aprendizado e capacitação tecnológica,

apresentado na tabela 28, similar às estratégias adotadas pelas empresas de tecnologia de

ponta e das que lograram sucesso em biotecnologia em economias avançadas.

Tabela 28 - Estratégias para o desenvolvimento da fitoindústria (H=16)

A B Fatores n % n %

Cooperação com institutos de P&D locais 14 87% 15 93% Associação dos produtos à marca “Amazônia” 12 75% 11 68% Infra-estrutura de produção 12 75% 10 63% Capacitação de pessoal 11 68% 12 75% Ampliação do mercado nacional 10 62% 10 63% Apoio à criação de “selo verde da Amazônia” 7 43% 10 63% Política de plantio e manejo de matéria-prima 7 43% 9 56% Infra-estrutura de laboratório de P&D 7 43% 8 50% Cooperação com as comunidades tradicionais 6 37% 8 50% Uso da biotecnologia tradicional 6 37% 7 43% Exportação 4 25% 11 68% Uso da biotecnologia moderna 3 18% 4 25%

Page 155: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

141

Associar os produtos à marca “Amazônia” reflete a percepção estratégica das empresas de

que isto facilitaria a comercialização de seus produtos, principalmente para o mercado

externo, contrariamente à pouca importância atribuída a esse fator assinalada na Tabela 8,

onde outras certificações indicaram serem mais relevantes.

A implantação do “selo verde da Amazônia” deverá conferir além da qualidade e origem,

transmitir a mensagem de que o produto é fabricado por empresa instalada na região,

restringindo assim o uso indevido da marca por empresas que não atendam a esses

requisitos.

Criar ou melhorar a infra-estrutura de produção é uma das preocupações das empresas.

Todavia destaca-se a importância que vem adquirindo a melhoria ou criação de infra-

estrutura de laboratório interno para as atividades de P&D, exceto para o subsetor de

alimentos. No entanto, as empresas têm a expectativa de que parte importante dessas

atividades possa ser atendida pelo Centro de Biotecnologia do Amazonas – CBA. Algumas

empresas, porém, manifestaram o receio de que a cooperação com instituições de P&D

possa facilitar a cópia de seus projetos.

A capacitação de pessoal é considerada uma importante estratégia das empresas para que

desempenhem atividades produtivas, de pesquisa, melhorem a competitividade e

impulsionem seus negócios. Algumas dessas atividades são: registrar patentes, atender

exigências de controle fito-sanitário, melhorar o design e embalagens dos produtos,

formular compostos para os produtos, selecionar matéria-prima da flora, desempenhar o

controle de qualidade, realizar análises laboratoriais e negociar com compradores

internacionais.

A cooperação com as comunidades locais, principalmente as nativas, é considerada de

extrema importância para o subsetor de bens finais e não é para os demais subsetores. Uma

das razões fundamentais para a necessidade desse tipo de cooperação é que dificilmente a

exploração dos recursos da flora possa ocorrer sem o envolvimento das comunidades, tanto

por questões legais quanto por imposição do mercado consumidor, que busca cada vez mais

clareza sobre as condições de relacionamento entre as empresas e seus fornecedores.

Outros fatores subjacentes a essa cooperação dizem respeito a legislação de acesso à

biodiversidade que prevê o uso, partilha dos benefícios e sustentabilidade; o aprendizado

Page 156: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

142

com o conhecimento tradicional; transferência de etapas do processo produtivo das

empresas para as comunidades; comprovação da cadeia de custódia; garantia de

fornecimento da matéria-prima da flora; eliminação da figura do atravessador.

As empresas Agrorisa, Crodamazon e Essencial já mantêm cooperação com comunidades

tradicionais. A Agrorisa com as comunidades “sateré maué” no município de Maués-Am

para plantio e produção do guaraná, e plantio de pau-rosa e mirantã; a Crodamazon com a

comunidade Abonari, na reserva dos índios atroaris, localizada a cerca de 200 km de

Manaus, para o manejo do buriti, que já recebeu aprovação do IBAMA, cuja experiência

deverá ser levada para outras cerca de 17 comunidades; e a Essencial com a Organização

Indígena da Bacia do Içanã – OIBI para a compra de artesanato indígena.

No projeto da Agrorisa com os “saterés”, que envolve nativos com formação técnica

agrícola, pretende-se a produção do pau-rosa destinado à extração futura da essência a ser

usada em cosméticos e do mirantã para aplicação em produtos farmacêuticos e

complemento alimentar.

Em uma fase posterior do projeto de cooperação com as comunidades, a Crodamazon

pretende transferir para elas as etapas do seu processo de produção de óleo, cuja última

operação é a extração do óleo bruto, Figura 5, até a etapa 12, concentrando-se no

refinamento do óleo utilizado como insumo para a produção de cosméticos, conforme o

fluxograma da figura 14.

Figura 14 - Fabricação de óleo refinado

13 14 15 16 17

Fonte: pesquisa própria

A maioria dessas comunidades, até há pouco tempo, vendia a matéria-prima completamente

in natura, porém algumas hoje já desidratam e extraem o óleo, mesmo que de forma

rudimentar. A empresa Crodamazon já recebe das comunidades as sementes do maracujá e

do cupuaçu com tratamento de fermentação e secagem.

Óleo bruto Filtragem Purificação Filtragem final Óleo refinado

Page 157: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

143

Abstraindo a controvérsia se o tipo de relação é justa para as comunidades, ou que

eventuais efeitos negativos possam emergir, alguns benefícios lhes tem sido levados pelas

empresas tais como a orientação para o associativismo, treinamento para gestão de

negócios, técnicas de plantio e manejo, técnicas de beneficiamento da matéria-prima e de

produção de insumos e aproveitamento de resíduos orgânicos.

Na cadeia produtiva, técnicas de plantio e manejo são consideradas fundamentais,

sobretudo para melhorar a qualidade e produção da matéria-prima. Todavia, a biotecnologia

ainda parece ser importante apenas para um pequeno número de empresas, e principalmente

a tradicional, embora a moderna apresente sinais de crescimento significativo no futuro,

exceto para o subsetor de alimentos que não manifestou ter interesse, pelo menos até agora,

por esse tipo de tecnologia.

Outros fatores tais como a identificação fitoquímica, identificação e padronização físico-

química, pesquisa fitoquímica de marcadores, descrição macroscópica, conversão química,

padronização da metodologia analítica, determinação de contaminantes (principalmente

metais pesados), farmacologia e microbiologia, técnicas de armazenagem e de transporte

demonstram igualmente relevância.

A exportação tende a ganhar importância, tornando-se uma das principais estratégias da

maioria das empresas. Muitos produtos exportados, ainda hoje, com pouco valor agregado.

4 (26%) das empresas exportam atualmente com regularidade, enquanto 11(68%) desejam

exportar futuramente. Outras empresas, com destaque para as de bens finais, já realizaram

exportações eventuais e continuam tentando novas exportações, porém em busca de

mercados com os quais possam manter vínculos duradouros.

Embora seja crescente a pré-disposição para exportar, a maioria das empresas pretende

ampliar sua participação no mercado nacional, principalmente o subsetor de bens finais que

se concentra, ainda no mercado local e em outras regiões da Amazônia. As empresas do

subsetor de insumos são as que mais vislumbram a possibilidade de exportar, uma vez que

o mercado externo é bastante receptivo a produtos naturais da Amazônia e pela variedade

de espécies da região.

Page 158: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

144

V.2. ILUSTRAÇÃO GRÁFICA DA TRAJETÓRIA DOS PRINCIPAIS FATORES

Nesta seção será apresentado em cada gráfico o principal fator e sua trajetória para a

capacitação tecnológica da fitoindústria e subsetores, seguindo a ordem dos assuntos

abordados no questionário de indicadores (Anexo 1). Embora os dados de freqüência dos

subsetores não estejam apresentados em tabelas como os consolidados e apresentados para

a fitoindústria na seção v.1 foram igualmente tratados.

O principal fator para a fitoindústria e para os subsetores foi definido com base na maior

freqüência indicada na coluna A, que reflete a situação atual, mostrando ao mesmo tempo a

freqüência da coluna B, refletindo (futuro), portanto uma indicação da possível trajetória.

Para o cálculo da freqüência da coluna A, foram computadas todas as respostas afirmativas

(sim) e para o cálculo da freqüência da coluna B (futuro), foram computadas apenas as

respostas de grau 3 - importante ou 4 - muito importante, sendo desprezadas as respostas de

grau 1- pouco importante e 2 - regular. A simbologia empregada nos gráficos é a seguinte:

X – Fitoindústria; Y – Subsetor de bens Finas;

W – Subsetor de insumos; Z – Subsetor de alimentos;

Atual – Situação Atual Futuro - Perspectiva futura (<= 6 anos)

V.2.1. Características das empresas e atividades inovadoras

V.2.1.1. Características das empresas

Para o subitem 1.2. do questionário, os principais fatores são: a proximidade com a fonte de

matéria-prima, para a fitoindústria (X) e subsetores de bens finais (Y) e alimentos (Z),

associação a “produtos de origem da Amazônia”, para o subsetor de insumos (W).

Page 159: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

145

Gráfico 6 - Fatores de atratividade locacional

%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Atual Futuro Tempo

X-Proximidade com a matéria-prima Y-Proximidade com a matéria-prima

W-Produtos da “Amazônia” Z-Proximidade com a matéria-prima

V.2.1.2. Atividades inovadoras

Para o subitem do questionário “2.1.a. gerenciamento do projeto”, excluído o fator

construção de planta básica em que todas as empresas afirmaram possuir competência para

atender eventual necessidade de atualizar ou mesmo ampliar o projeto da unidade fabril, os

principais fatores são: sistemas integrados e informatizados, para a fitoindústria (X) e

subsetores de bens finais (Y) e alimentos (Z) e viabilização de treinamento a fornecedores,

para o subsetor de insumos (W).

Gráfico 7 - Modernização gerencial e organizacional do projeto

%

0%20%40%60%80%

100%

Atual Futuro Tempo

X-Sistemas informatizados... Y-Sistemas informatizados...

W-Viabilização de treinamento... Z-Sistemas informatizados..

Page 160: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

146

Para o subitem do questionário “2.1.b. certificações”, o principal fator é a certificação de

boas práticas de fabricação tanto para a modernização organizacional da produção da

fitoindústria (X) quanto de seus subsetores.

Gráfico 8 - Certificação para a melhoria da qualidade e atendimento à legislação

%

0%20%40%60%80%

100%

Atual FuturoTempo

X-Boas práticas.. Y-Boas práticas..W-Boas práticas Z-Boas práticas..

Para o subitem do questionário “2.2.a. gestão de máquinas e equipamentos”, o principal

fator é a manutenção tanto para a fitoindústria (X) quanto para seus subsetores. Para o

subsetor de insumos (W) tanto quanto a manutenção é igualmente importante a cópia

simples e adaptação de projetos de máquinas e equipamentos existentes.

Gráfico 9 - Gestão de máquinas e equipamentos

%

0%20%40%60%80%

100%

Atual FuturoTempo

X-Manutenção Y-ManutençãoW-Manutenção Z-Manutenção

Para o subitem do questionário “2.2.b. organização do processo de produção”, o principal

fator é melhoria de lay-out tanto para a fitoindústria (X) quanto para o subsetor de insumos

Page 161: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

147

(W). Para o subsetor de bens finais (Y) é o fator planejamento e processo de controle da

produção e para o subsetor de alimentos (Z) é o fator formulação de compostos.

Gráfico 10 - Organização do processo de produção

%

0%20%40%60%80%

100%

Atual Futuro Tempo

X-Melhoria de Layout Y-Planej. e P. de C. da Prod.

W-Melhoria de Layout Z-Formulações dos Compostos

Para o subitem do questionário “2.2.c. desenvolvimento de produto”, o principal fator é

desenvolvimento de novos produtos tanto para a fitoindústria (X) quanto para os subsetores

de insumos (W) e alimentos (Z). Para o subsetor de bens finais (Y) o principal fator é a

cópia de produtos existentes.

Gráfico 11 - Desenvolvimento de produtos

%

0%10%20%30%40%50%60%70%80%

Atual FuturoTempo

X-Des. de Novos Produtos Y-Cópia de Prod. Existentes

W-Des. de Novos Produtos Z-Des. de Novos Produtos

Para o subitem do questionário “2.2.d. controle de qualidade”, o principal fator é a análise

microbiológica tanto para a fitoindústria (X) quanto para os subsetor de alimentos (Z). Para

os subsetores de bens finais (Y) e insumos (W) o principal fator é a análise físico-química.

Page 162: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

148

Gráfico 12 - Controle de Qualidade

%

0%20%40%60%80%

100%

Atual FuturoTempo

X-Análise microbiológica Y-Análise físico-química W-Análise físico-química Z-Análise microbiológica

O subitem do questionário “2.3.1 Atividades de pesquisa e patentes” trata de questões

descritivas sobre as atividades inovadoras, conforme abordado na seção V.1.2.3. Inovação

tecnológica das empresas, portanto não sendo possível demonstrar em gráfico.

Para o subitem do questionário “2.3.2. atividades de biotecnologia”, os fatores mais

importantes são: a comprovação científica do conhecimento tradicional, para a fitoindústria

(X) e subsetor de bens finais (Y), o procedimento de screening, para o subsetor de insumos

(W) e a fermentação para o subsetor de alimentos (Z).

Gráfico 13 - Atividades de biotecnologia

%

0%20%40%60%80%

100%

Atual FuturoTempo

X-Comprovação científica... Y-Comprovação científíca..

W-Procedimentos de screening.. Z-Fermentação

V.2.2. Fontes de informação e aprendizado

Para o subitem do questionário “3.a. fontes internas de aprendizagem”, o fator mais

importante é o treinamento tanto para a fitoindústria (X) quanto para os subsetores.

Page 163: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

149

Gráfico 14 - Fontes internas de aprendizagem

%

0%20%40%60%80%

100%

Atual FuturoTempo

X-Treinamento Y-Treinamento

W-Treinamento Z-Treinamento

Para o subitem do questionário “3.b. fontes externas de aprendizagem”, os fatores mais

importantes são: conferências, publicações, feiras e exposições para a fitoindústria (X),

clientes e consumidores, para o subsetor de bens finais (Y), cooperação com institutos de

P&D, para o subsetor de insumos (W), e aquisição de máquinas e equipamentos, para o

subsetor de alimentos (Z). A cooperação com institutos de P&D locais é tão importante

quanto as conferências, publicações, feiras e exposições, para a fitoindústria (X).

Gráfico 15 - Fontes externas de aprendizagem

%

0%20%40%60%80%

100%

Atual FuturoTempo

X-Conferências, publicações.. Y-Clientes e consumidores

W-Cooperação com Institutos L. Z-Aquisição de máquinas..

V.2.3. Fatores que afetam as atividades inovadoras

Para o subitem do questionário “4.a. pessoal qualificado”, a maior carência está relacionada

às atividades produtivas para a fitoindústria (X) e subsetores de insumos (W) e alimentos

(Z), enquanto para o subsetor de bens finais (Y) refere-se às atividades de P&D. A

Page 164: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

150

produção de fitoterápicos, principalmente, deverá exigir cada vez mais pessoal com melhor

formação acadêmica para realizar atividades de pesquisa.

Gráfico 16 - Carência de pessoal qualificado por atividade %

0%20%40%60%80%

100%

Atual FuturoTempo

X-Produção Y-P&D W-Produção Z-Produção

Para o subitem do questionário “4.b. infra-estrutura física”, a maior carência, de forma

análoga ao item anterior, está relacionada à capacidade produtiva para a fitoindústria (X) e

subsetores de insumos (W) e alimentos (Z), enquanto para o subsetor de bens finais (Y)

refere-se à realização de atividades de P&D. As empresas, em especial as fabricantes de

bens finais, têm expressado a intenção de criar melhor infra-estrutura de laboratórios para a

realização de pesquisa.

Gráfico 4 - Limitações de infra-estrutura física

%

0%20%40%60%80%

100%

Atual Futuro Tempo

X-Para produção Y-Para P&DW- Para produção Z- Para produção

O subitem do questionário “4.c. financiamento” não permite demonstração gráfica, porém

foi abordado na seção V.1.4.3. Escassez de fontes de financiamento.

Page 165: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

151

Para o subitem do questionário “4.d. cooperação”, a principal dificuldade tanto para a

fitoindústria (X) quanto para os e subsetores de bens finais (Y), de insumos (W) e alimentos

(Z) é estabelecer cooperação com os institutos de P&D locais.

Gráfico 5 - Dificuldades de cooperação

%

0%20%40%60%80%

100%

Atual FuturoTempo

X-Com Int. de P&D locais Y-Com Int. de P&D locais

W-Com Int. de P&D locais Z-Com Int. de P&D locais

Para o subitem do questionário “4.e.1. matéria-prima”, a escassez é o fator de maior

dificuldade, ou gargalo, tanto para a fitoindústria (X) quanto para os subsetores de bens

finais (Y) e alimentos (Z), enquanto o fator seleção de matéria-prima é para o subsetor de

insumos (W).

Gráfico 19 - Dificuldades para a aquisição de matéria-prima da flora

%

0%20%40%60%80%

100%

Atual FuturoTempo

X-Escassez Y-EscassezW-Seleção Z-Escassez

Para o subitem do questionário “4.g. dificuldades ambientais”, os fatores mais importantes

são: a falta de apoio do governo, para a fitoindústria (X) e subsetores de bens finais (Y) e

Page 166: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

152

alimentos (Z), e a falta de base industrial em atividades afins às desenvolvidas pela

fitoindústria (X), para o subsetor de insumos (W).

Gráfico 20 - Dificuldades ambientais

%

0%20%40%60%80%

100%

Atual FuturoTempo

X-Falta de apoio do Governo Y-Falta de apoio do GovernoW-Falta de base industrial Z-Falta de apoio do Governo

V.2.4. Estratégias para a capacitação tecnológica e desenvolvimento da empresa

Para o item do questionário “5. estratégias da empresa para a capacitação tecnológica e

competitividade”, os principais fatores são: a cooperação com institutos de P&D locais,

para a fitoindústria (X) e subsetores de alimentos (Z) e subsetor de bens finais (Y) e

exportação para o de insumos (W).

Gráfico 21 - Estratégias das empresas

%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Atual FuturoTempo

X-Cooperação com inst. de P&D Y-Cooperação com inst. de P&D

W- Exportação Z-Cooperação com inst. de P&D

Page 167: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

153

V.3. ILUSTRAÇÃO GRÁFICA DA TRAJETÓRIA DOS FATORES DE MAIOR

VARIAÇÃO EM IMPORTÂNCIA RELATIVA

Os gráficos apresentados a seguir mostram a tendência da trajetória dos fatores que deverão

sofrer maior variação de importância relativa para as empresas na comparação entre

situação atual, coluna A, e situação futura, coluna B, para as questões do questionário de

indicadores (Anexo 1).

Para o registro da freqüência da situação futura, coluna B, foram computados apenas os

dados de 3 - importante e 4 - muito importante, sendo desprezados os dados de 1- pouco

importante e 2 – regular. Ressalta-se que para a situação atual é calculada a freqüência das

respostas assinaladas como “sim”.

Cinco empresas, por exemplo, podem ter assinalado como “sim”, na coluna A, que o

conhecimento tradicional foi um dos fatores de atratividade locacional para a instalação de

planta fabril, base de cálculo da freqüência da coluna A. Entretanto, outras 5 diferentes

empresas podem ter considerado relevante: 3 - importante ou 4 - muito importante esse

fator para o futuro como atratividade locacional, resultando, nesse caso, que não há

variação de trajetória do fator.

V.3.1. Fatores de atratividade locacional

Para o subitem do questionário “1.2. fatores de atratividade locacional para a empresa”,

deverá experimentar maior variação crescente o fator incentivo fiscais, tanto para a

fitoindústria (X) quanto para os subsetores de bens finais (Y) e alimentos (Z). Para o

subsetor de insumos (W), não há fator com tendência crescente que seja significativa. É

importante destacar que é comum a reivindicação das empresas por maiores incentivos

fiscais, como fator de atratividade locacional para a construção de planta fabril na Zona

Franca de Manaus.

Deverão experimentar maior variação decrescente: o fator conhecimento tradicional para a

fitoindústria (X) e subsetor de insumos (W), a proximidade com a fonte de matéria-prima

da flora pra o subsetor de bens finais (Y) e a experiência profissional dos dirigentes para o

subsetor de alimentos (Z).

Page 168: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

154

Gráfico 22- Fatores de atratividade locacional

%

0%20%40%60%80%

100%

Atual FuturoTempo

X-Incentivos fiscais Y-Incentivos fiscaisZ-Incentivos fiscais X-Conhecimento tradicionalY-Proximidade da matéria-prima W-Conhecimento tradicionalZ-Experiência profissional

V.3.2. Modernização organizacional

Para o subitem do questionário “2.1.a. modernização gerencial e organizacional”, deverão

experimentar maior variação crescente: plano estratégico, para a fitoindústria (X) e subsetor

de bens finais (Y), e sistema de atendimento a cliente, para o subsetor de alimentos (Z).

Deverão experimentar maior variação decrescente: fabricação com exclusividade, para a

fitoindústria (X) e subsetor de bens finais (Y), e técnicas de gestão de materiais e produção:

just in time, kaizen, kan ban etc., para o subsetor de alimentos (Z).

Gráfico 23 - Gerenciamento do projeto e modernização organizacional

%

0%20%40%60%80%

100%

Atual FuturoTempo

X-Plano Estratégico Y-Plano EstratégicoZ-Sistema de atendimento a cliente X-Fabricação com exclusividadeY-Fabricação com exclusividade Z-Just in time, kan-ban…

Page 169: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

155

Para o subitem do questionário “2.1.b. certificações” deverão experimentar maior variação

crescente: a certificação ISO, para a fitoindústria (X) e subsetor de bens finais (Y), o fator

certificação orgânica, para o subsetor de insumos (W), e o fator boas práticas de fabricação

para o subsetor de alimentos (Z). Nenhuma das certificações necessárias para as empresas

deverá apresentar significativa variação decrescente.

Gráfico 24 - Certificações para atender a qualidade e a legislação

%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Atual FuturoTempo

X-Série ISO Y-Série ISO

W-Certificação Orgânica Z-Boas Práticas de Fabricação

Para o subitem do questionário “2.2. atividades inovadoras de processo e produto”, deverão

apresentar maior variação crescente: o fator projeto e desenvolvimento de máquinas e

equipamentos, para a fitoindústria (X) e para o subsetor de alimentos (Z) e cópia simples e

adaptação de máquinas e equipamentos para o subsetor de bens finais (Y)

Deverão experimentar maior variação decrescente: o fator projeto e desenvolvimento de

máquinas e equipamentos, para o subsetor de bens finais (Y), manutenção de máquinas e e

equipamentos, para a fitoindústria (X) e cópia simples e adaptação de máquinas e

equipamentos, para o subsetor de e alimentos (Z).

Page 170: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

156

Gráfico 25 - Gestão de máquinas e equipamentos

%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Atual FuturoTempo

X-Projeto e desenvolvimento.. Y-Projeto e desenvolvimento..

Z-Projeto e desenvolvimento.. X-Manutenção de máquinas..

Y-Cópia simples e adaptação.. Z-Cópia simples e adaptação…

V.3.3. Atividades em biotecnologia

Para o subitem do questionário “2.3.2. atividades de biotecnologia”, deverão experimentar

maior variação crescente: a recombinação de DNA, para a fitoindústria (X) e subsetores de

bens finais (Y) e de insumos (W) e a comprovação científica do conhecimento tradicional

das espécies da flora, para o subsetor de alimentos (Z). Embora seja relativamente baixa

atualmente, a importância relativa dos fatores de atividades em biotecnologia,

principalmente para o subsetor de bens finais (Y), deverá experimentar crescimento

significativo no futuro.

Gráfico 26 - Atividades de biotecnologia

%

0%20%40%60%80%

Atual FuturoTempo

X-Recombinação de DNA Y-Recombinação de DNA

W-Recombinação de DNA Z-Comprovação científica..

Page 171: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

157

V.3.4. Fontes externas de aprendizagem

Para o subitem do questionário “3.b. fontes externas”, deverão experimentar maior variação

crescente: o fator cooperação com institutos de P&D locais para a fitoindústria (X) e

subsetor de bens finais (Y), a cooperação com institutos de P&D de fora para o subsetor de

alimentos (Z). O subsetor de insumos não deverá experimentar nenhum fator de variação

crescente para (W).

Deverão apresentar maior variação decrescente: o conhecimento tradicional, para a

fitoindústria (X) e subsetor de bens finais (Y) e a cooperação com as comunidades

tradicionais, para o subsetor de insumos (W).

Gráfico 27 - Fontes externas de aprendizagem

%

0%20%40%60%80%

100%

Atual Futuro Tempo

X-Cooperação com institutos Y-Cooperação com institutos Z-Cooperação com institutos X-Conhecimento tradicionalY-Conhecimento tradicional W-Cooperação com comunidades

V.3.5. Dificuldades para o desenvolvimento da fitoindústria e seus subsetores

Para o subitem do questionário “4.e.1. mercado de matéria-prima da flora” deverão

experimentar maior variação crescente: o fator ausência de política de preço, para a

fitoindústria (X), e o fator tecnologia de plantio e manejo para os subsetores de bens finais

(Y) e de insumos (W).

Deverão experimentar maior variação decrescente: o fator escassez, para a fitoindústria (X)

e subsetor alimentos (Z), o fator logística de transporte, para o subsetor de bens finais (Y) e

a seleção de matéria-prima para o subsetor de insumos (W).

Page 172: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

158

Gráfico 28 - Dificuldades para o uso da matéria-prima da flora

%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Atual FuturoTempo

X-Ausência de política de preço Y-Tecnologia de pantio e manejoW-Tecnologia de plantio e manejo X-EscassezY-Logística de transporte W-SeleçãoZ-Escassez

Para o subitem do questionário “4.g. outras dificuldades” deverão experimentar maior

variação crescente: o fator processo produtivo básico – PPB, exigido pela Suframa, para a

fitoindústria (X) e subsetores de bens finais (Y) e insumos (W), e o fator falta de base

industrial em atividades afins às atividades das empresas, para o subsetor de alimentos (Z).

Nesse item não há fatores com tendência de variação decrescente significativa.

Gráfico 29 - Outras dificuldades para utilização de recursos da floresta

%

0%20%40%60%80%

100%

Atual Futuro Tempo

X-PPB Y-PPB

W-PPB Z-Falta de base industrial

Page 173: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

159

V.3.6. Estratégias para o aprendizado e capacitação tecnológica

Para o subitem do questionário “6. Estratégias da empresa para a capacitação tecnológica e

competitividade” deverão experimentar maior variação crescente: a exportação, para a

fitoindústria (X) e subsetor de alimentos (Z), a cooperação com institutos de pesquisa

locais, para o subsetor de bens finais (Y), e o uso da biotecnologia tradicional, para o

subsetor de insumos (W).

Deverão experimentar maior variação decrescente: o fator infra-estrutura de laboratório

para atividades de P&D para a fitoindústria (X) e subsetor de bens finais (Y).

Gráfico 30 - Principais estratégias da fitoindústria e subsetores

%

0%20%40%60%80%

100%

Atual FuturoTempo

X-Exportação Y-Cooperação com institutos…

W-Uso da biotecnologia.. Z-Exportação

X-Infra-estrutura de Lab Y-Infra-estrutura de Lab

Page 174: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

160

V.4. CARACTERÍSTICAS DAS EMPRESAS EXPORTADORAS

Os fatores apresentados na tabela 29 estão subdivididos por empresas que pretendem

exportar (J = 7 empresas): 1 de capital estrangeiro e 6 de capital local, exportadoras de

capital local (K = 2 empresas) e exportadoras de capital estrangeiro (L = 2 empresas). É

assinalada a maior freqüência de alguns dos principais fatores das fitooempresas que

pretendem exportar e das empresas exportadoras de capital local e de capital estrangeiro

como base de análise. Onde A - situação atual e B - situação futura (=<6 anos).

Tabela 29: Empresas exportadoras, exportadores de capital local e exportadores de capital estrangeiro

J K L A B A B A B a) Fatores de vantagens locacionais % % % % % % Produtos de origem da “Amazônia” 71 85 100 100 50 50 b) Fabricantes de bens intermediários Extratos para alimentos 42 42 50 50 50 100 c) Fabricantes de bens finais Alimentos 71 71 0 0 50 50 d) Espécies usadas como matéria-prima Castanha-do-Brasil 57 71 100 100 50 50 e) Certificações Boas práticas de fabricação 57 71 0 50 50 50 f) Gestão de máquinas e equipamentos Cópia simples e adaptação de projetos

existentes 71 57 100 100 0 0

g) Fonte de conhecimento externo Cooperação com comunidades

tradicionais 42 42 100 100 50 50

h) Estratégias Cooperação com institutos de P&D

locais 100 85 50 50 100 100

Para estimular as exportações, as empresas que pretendem exportar e as que já exportam,

além de associarem os produtos à origem da “Amazônia”, consideram essencial estarem

próximas da fonte de matéria-prima. As empresas de capital estrangeiro dispõem de

facilidades para a exportação, pelo acesso a canais de distribuição das coligadas presentes

em diversos países.

Page 175: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

161

Uma alternativa encontrada pela empresa Agrorisa - de capital local - para exportar, foi

incorporar-se aos exportadores de produtos naturais com base no “mercado justo”23. O

objetivo do “mercado justo” é melhorar e fomentar as condições de vida e de trabalho das

famílias produtoras de produtos naturais da África, Ásia e América Latina.

Extratos para atender o segmento de alimentos e em seguida essências para o segmento de

cosméticos são os principais insumos fabricados ou a serem fabricados pelas empresas

exportadoras do subsetor de insumos. Para as empresas que pretendem exportar deverão ter

a preferência os produtos no segmento de alimentos.

Empresas tais como Amazon Ervas, Pronatus e Hisamitsu, classificadas na pesquisa como

fabricantes de bens finais - fitofármacos, fitocosméticos - e empresas de diversos subsetores

que pretendem exportar (coluna J na tabela 29) deverão fabricar tanto produtos - como os

destinados a complemento alimentar - quanto insumos, no segmento de alimentos.

A castanha-do-Brasil é a espécie mais utilizada tanto pelas empresas que pretendem

exportar, coluna J, quanto pelas exportadoras, colunas K e L. Outras espécies consideradas

importantes pelas empresas exportadoras e pelas que desejam exportar são: buriti, cupuaçu,

copaíba, guaraná, andiroba, muirapuama, crajiru e urucum.

Além de boas práticas de fabricação, o registro na ANVISA para as empresas que

pretendem exportar e plano de plantio e manejo, certificação de cadeia de custódia e

certificação orgânica para as empresas de capital estrangeiro exportadoras são as

certificações consideradas mais importantes.

A adoção do selo verde da “Amazônia” deverá representar relevância para as empresas de

capital local, mas não para as de capital estrangeiro. As de capital estrangeiro reconhecem

como mais importantes outros selos ou certificações como o FSC, que já é tradicionalmente

aceito pelo mercado externo.

Para as empresas que já exportam e as que pretendem exportar é preponderante prover

treinamento para a força de trabalho envolvida com a produção e melhoria de qualidade da

matéria-prima da flora.

23 Criado em 1998 na Alemanha com 16 países e o aval da liga FLO, que não comercializa os produtos, mas

concede um selo de qualidade para a comercialização e estimula o plantio ecologicamente correto.

Page 176: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

162

O fator cópia simples e adaptação de projetos existentes de máquinas e equipamentos é

relevante para as empresas exportadoras de capital local, mas não é para as de capital

estrangeiro. Para as que pretendem exportar, deverá ser bastante relevante o fator

desenvolvimento de novos produtos sem similares no mercado, que tem relativa

importância para as empresas que já exportam, tanto as de capital local quanto as de capital

estrangeiro.

Manter a cooperação com as comunidades tradicionais e com os institutos de P&D locais é

preponderante tanto para as empresas que pretendem exportar quanto para as exportadoras.

Page 177: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

163

V.5. NÍVEL E TRAJETÓRIA DA CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA DA

FITOINDÚSTRIA E SUBSETORES

Nesta seção será empreendido esforço para classificar as 15 empresas, excluindo a

Recofarma, por nível de capacidade tecnológica com base nas competências acumuladas:

(a) gerenciamento do projeto; (b) organização da produção; (c) desenvolvimento do

produto; (d) interação/atividades de apoio e ilustração gráfica da trajetória da fitoindústria e

subsetores.

O desenvolvimento tecnológico das empresas, seguindo a escala sugerida no modelo do

quadro 5, até meados do segundo semestre de 2004, pode ser interpretado a partir da análise

dos resultados da pesquisa com as 15 micro, pequenas e média empresas, desenvolvidas até

o presente (2004).

É importante relembrar que as empresas não se capacitam necessariamente na seqüência

linear e nem começam e terminam nos mesmos níveis de capacidade tecnológica. Existem

algumas alternativas para classificar a empresa no nível de capacidade. Por exemplo, a

classificação poderia ser pelo nível mais baixo ou mais elevado de competência acumulada.

A opção neste caso corresponde ao nível mais elevado de competência alcançada pela

empresa nas dimensões das colunas da tabela 30.

Tabela 30 - Nível de capacidade produtiva e tecnológica da fitoindústria

Níveis de Capacidade

Gerenciamento do projeto

Organização da produção

Desenvolvimento do produto

Interação/ atividades de apoio

Nível 1 1 1 0 0 Nível 2 2 1 2 1

Capacidade tecnológica inovadora: gerar e administrar mudanças técnicas

Nível 3 9 8 6 9 Nível 4 2 4 5 5 Nível 5 1 1 2 0

Nível 6 0 0 0 0

Total 15 15 15 15

Fonte: Extraído da pesquisa

Page 178: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

164

Para o gerenciamento do projeto, embora todas as empresas disponham de capacidade para

a instalação de planta básica que amplia ou diversifica as atividades produtivas, 1 (7%)

empresa, porém, do subsetor de alimentos, não ultrapassou ainda o nível 1. Outras 2 (14%)

empresas, sendo 1 do subsetor de insumos e 1 o subsetor de alimentos, não ultrapassaram o

nível 2. O total de 12 (80%) empresas desenvolvem atividades inovadoras entre os níveis 3

e 5, entretanto, 9 (60%) delas situam-se no nível 3. Das 2 (13%) empresas situadas no nível

4, 1 possui certificação orgânica e 1 de sistema de controle administrativo/financeiro

informatizado e integrado. A outra empresa (7%) situada no nível 5 possui certificação

FSC.

Algumas empresas que desenvolvem atividades em níveis mais elevados de capacitação

tecnológica, ainda não desenvolveram certas capacidades em níveis mais baixos:

o Uma empresa embora classificada no nível 4 possui, todavia, sistema informatizado

de controle administrativo/financeiro com pouca integração entre os diferentes

subsistemas e não possui sistema de atendimento a cliente tampouco plano

estratégico formal;

o A empresa que está classificada no nível 5 ainda não possui, entretanto, sistema de

controle administrativo/financeiro informatizado integrado.

Para a organização da produção, apenas 1 (7%) empresa do subsetor de alimentos não

ultrapassou ainda o nível 1. No nível 2, situa-se 1 (7%) empresa do subsetor de alimentos.

13 (87%) das empresas desenvolvem atividades inovadoras entre os níveis 3 e 5, entretanto,

8 (53%) delas situam-se no nível 3. Outras 4 (27%) situam-se no nível 4, sendo que 2

porque possuem linha de produção considerada automatizada e 2 realizam controle de

qualidade internamente no processo produtivo com análises físico-química e

microbiológica, mesmo que empregando tecnologia menos sofisticada. A empresa que está

situada no nível 5 (6%) detém tecnologia para conversão química (refinamento do óleo).

Embora situadas em níveis mais elevados de capacitação tecnológica, ainda não

desenvolveram competências classificadas em níveis mais baixos:

o As 2 empresas situadas no nível 4, que dispõem apenas de um processo produtivo

semi-automatizado, sendo ambas do subsetor de bens finais;

Page 179: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

165

o As 2 empresas situadas no nível 5 que possuem apenas processo produtivo semi-

automatizado, sendo que 1 delas não possui infra-estrutura interna de laboratórios

para realizar o controle de qualidade das análises físico-química e microbiológica.

Para o desenvolvimento de produto, 2 (14%) das empresas, sendo 1 do subsetor insumos e 1

do subsetor de alimentos, limitam-se a realizar cópia simples de produtos já lançados no

mercado, situando-se no nível 2, porém nenhuma está confinada apenas no nível 1. Ao todo

são 13 (87%) empresas que realizam atividades inovadoras entre os níveis 3 e 4, entretanto

6 (40%) delas situam-se no nível 3. As outras 5 (33%), que são do subsetores de bens finais

e alimentos, situam-se no nível 4, pois realizam novas combinações de matéria-prima da

floresta. As 2 (13%) empresas situadas no nível 5 desenvolveram produtos baseados em

atividades de P&D com certa complexidade mesmo que para diferenciar de produtos

similares e existentes no mercado.

Das empresas classificadas em níveis mais elevados e que não adquiriram algumas

competências essenciais nos níveis mais baixos, observa-se que:

o Tanto a empresa situada no nível 4 quanto à situada no nível 5 não possui infra-

estrutura adequada de laboratório para o desenvolvimento e melhoria de produtos.

Para a interação e atividades de apoio, 1 (6%) empresa do subsetor de alimentos não

ultrapassou o nível 2 de capacitação tecnológica. 14 (93%) das empresas realizam

atividades inovadoras entre os níveis 3 e 4, sendo que 9 delas no nível 3 e 5 no nível 4. Das

empresas situadas no nível 4, 2 estão desenvolvendo projetos de pesquisa em cooperação

com instituições de P&D em nível de pouca complexidade, 1 empresa está buscando

aperfeiçoar-se em técnica de plantio e manejo e 2 empresas buscam desenvolver bens de

capital para o processamento da matéria-prima de origem da floresta.

Das empresas classificadas em níveis mais elevados e que não adquiriram algumas

competências essenciais nos níveis mais baixos, observa-se que:

o 1 empresa que está situada no nível 4 não treina seus fornecedores de matéria-

prima;

o Outras 4 empresas situadas no nível 4 não participam de qualquer rede que pudesse

ser considerada como fonte externa para a busca de conhecimento.

Page 180: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

166

Seguindo o modelo do quadro 5 e baseado nos dados da pesquisa, a figura 15 apresenta

indicativos da trajetória da capacitação tecnológica da fitoindústria e subsetores. O

movimento da curva para a direita na base da pirâmide indica progresso na capacidade

produtiva e o movimento na direção do cume da pirâmide indica progresso nas atividades

de P&D.

O grupo de empresas de bens finais: fármacos e cosméticos e de insumos: extratos,

essências, óleo etc. indicam, pelos resultados da pesquisa, que poderão avançar mais

rapidamente em P&D que o grupo de empresas do subsetor de alimentos: concentrados de

bebidas, balas, chocolates e polpa de frutas.

Entretanto, o avanço na capacidade produtiva dessas empresas não deverá apresentar

diferenças significativas entre os diferentes segmentos, embora o subsetor de alimentos se

encaminhe a ser ligeiramente superior que os demais, cuja representação da tendência da

trajetória tecnológica está apresentada na figura 15.

Figura 15 - Trajetória da capacitação tecnológica

2004 2010 2015 Fitoindústria

Bens Finais Insumos Alimentos

Page 181: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

167

VI. INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS E CONCLUSÕES

VI.1. INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS MAIS RELEVANTES

(a) Características da fitoindústria e sua interação com o ambiente externo

O sucesso da fitoindústria dependerá não apenas dos avanços que venham a ocorrer no

interior das empresas, mas em toda sua cadeia produtiva. Dependerá, igualmente, da forma

como é afetada por fatores macro-ambientais tais como a legislação que trata do acesso à

biodiversidade e de incentivos fiscais, dos atores que interferem na exploração da

biodiversidade e mercado de produção da matéria-prima da flora e dos produtos fabricados.

No nível das firmas, o sucesso dependerá de como elas desempenhem a gestão de

atividades inovadoras, do desenvolvimento de tecnologias e de inovações, que sejam

capazes de agregar substancial valor aos recursos da flora. A gestão das atividades

inovadoras diz respeito à utilização dos recursos, da interação da firma com um virtual

Sistema Local de Inovação, da capacidade de ampliação de mercados, das estratégias para

reduzir as barreiras e acelerar o processo de aprendizagem, de capacitação e de inovação

tecnológica.

Algumas das características das empresas estão delineadas pelas seguintes considerações:

(a) as empresas de capital local que fabricam bens finais também produzem seus próprios

insumos; (b) as atuais empresas fabricantes de insumos, em geral, atendem essencialmente

os subsetores de fármacos, cosméticos e alimentos; (c) o subsetor de alimentos é o que

apresenta maior perspectiva de crescimento, influenciado também pelo interesse de

empresas que hoje atuam em outros subsetores da fitoindústria, com grande potencial para

o segmento de nutracêutico; e (d) no subsetor de cosméticos, o segmento de cosmecêuticos

deverá apresentar crescimento significativo.

Os incentivos fiscais, pelo menos os benefícios hoje concedidos com base no modelo Zona

Franca, são considerados fundamentais para a atração de novas empresas e para auxiliar na

competitividade das empresas já implantadas. Porém, cabe a observação de que é recorrente

essa reivindicação das empresas industriais instaladas no Amazonas, atraídas pelo projeto

Zona Franca de Manaus. Entretanto, a proximidade com a fonte de matéria-prima e a

Page 182: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

168

fabricação de produtos associados à origem da “Amazônia” são considerados os principais

fatores de atratividade para a implantação e fabricação de produtos com recursos da flora.

Diversas espécies que não detinham qualquer valor de mercado, e seus subprodutos antes

desperdiçados, afora os tradicionais já utilizados em grande escala tais como o guaraná e a

copaíba, com o crescimento da fitoindústria, da diversificação de segmentos econômicos e

da fabricação de novos produtos passaram a ganhar valor econômico como matéria-prima

para a indústria.

Sementes da andiroba hoje são empregadas na produção de óleo para cosméticos e

fármacos, a semente do cupuaçu também hoje é empregada na fabricação de óleo e de

chocolate, a semente do maracujá na fabricação de óleo para cosméticos, resíduos da

floresta são empregados tanto na fabricação de cosméticos quanto de embalagens.

Algumas espécies são comercializadas na maioria dos casos ainda in natura, tanto para o

mercado interno e principalmente para o mercado externo, com pouco valor agregado, a

exemplo do óleo de pau-rosa, castanha-do-Brasil e da andiroba. Outras espécies como o

guaraná, que é empregado como principal matéria-prima dos concentrados para bebidas,

comercializadas tanto para o mercado interno quanto o externo, já recebem algum tipo de

beneficiamento na cadeia produtiva, resultando na conseqüente agregação de valor.

As empresas, porém, enfrentam dificuldades de acesso à matéria-prima da flora, em face de

fatores tais como logística precária de transporte nos rios da Amazônia, de difícil

navegabilidade em certos períodos do ano, de escassez e para a seleção como decorrência

da baixa qualidade e pela inexistência de planejamento, ou precária tecnologia de plantio e

manejo para sua produção.

Educar o produtor, o atravessador e transportador para que adotem procedimentos e evitem

a contaminação da matéria-prima da floresta, com boas práticas de plantio, manejo e

transporte parece ser uma necessidade básica. A castanha-do-Brasil, açaí, babaçu e pupunha

são espécies, como muitas outras, que exigem essas boas práticas, evitando processos

futuros de descontaminação como o da irradiação. Além dos elevados custos para as

empresas, esses processos comprometem a condição de produto orgânico ou natural criando

barreiras para a exportação.

Page 183: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

169

Na fase atual, o gargalo para a extração do óleo bruto nas comunidades, que é empregado

na fabricação de cosméticos, está na limitada infra-estrutura de equipamentos e de

capacitação de seus habitantes que representam a força de trabalho. Ressalta-se que

trabalhos desenvolvidos por grupos de pessoas com as características das que integram as

comunidades exigem acompanhamento constante e in loco e de assistência técnica. As

limitações de infra-estrutura de máquinas e equipamentos para as atividades produtivas,

além de P&D, e instalações prediais também afetam as atividades das empresas.

A condição atual das comunidades tradicionais, que se apresentam como os principais e

potenciais fornecedores de matéria-prima da floresta para a fitoindústria, poderá não

apresentar a mesma relevância no futuro, se novos fornecedores surgirem no mercado como

há indícios de que isto venha a ocorrer.

Embora ainda em uma fase embrionária, de um lado as pesquisas de mapeamento, apoiadas

nas atividades desenvolvidas nos projetos dos APLs, começam a identificar as áreas de

maior potencialidade para a extração combinada ao cultivo das espécies. De outro,

pequenos empresários e pesquisadores iniciam experiências de plantio planejado para o

atendimento futuro ao provável crescimento de demanda da fitoindústria.

Surgem os primeiros projetos para a produção de matéria-prima com fins industriais, todos

envolvendo as comunidades tradicionais ou ribeirinhas, tanto com a participação das

empresas industriais ou não quanto de outras organizações. Pelas empresas, os projetos da

Recofarma, Crodamazon, Agrororisa, por outras organizações não industriais, os projetos

da UFAM, Agência de Floresta do governo do Estado, da Organização das Cooperativas do

Brasil e do SEBRAE-Am são exemplos de que o mercado de produção de matéria-prima

apresenta sinais de que poderá se organizar.

O projeto da Recofarma destina-se à produção do guaraná e, através de uma coligada, à

produção de açúcar industrial, aplicados na produção de concentrados para bebidas não

alcoólicas. O projeto da Crodamazon de produção de óleo é empregado na fabricação de

cosméticos. O projeto da Agrorisa, de fabricação de insumos de guaraná com tecnologia

diferenciada de torração, destina-se à fabricação de diversos produtos, notadamente para

exportação.

Page 184: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

170

O projeto desenvolvido pela UFAM, para adaptar e instalar equipamentos cedidos pelo

Ministério de Minas e Energia, que conta com o envolvimento da Agência de Floresta do

governo estadual, servindo para a extração do óleo vegetal a ser empregado inicialmente

para a indústria cosmética, poderá futuramente atender a outros subsetores como o

farmacêutico e alimentos.

O projeto da Organização das Cooperativas do Brasil, através da unidade do Amazonas,

pretende produzir óleo para cosméticos e o projeto do SEBRAE-Am deverá produzir

plantas medicinais para fitoterápicos.

Dos recursos humanos empregados pelas empresas, seus dirigentes são egressos da

indústria e em menor número das instituições acadêmicas. Os procedentes da academia são

os que possuem maior titulação – mestrado - principalmente na área de farmácia e atuando

nos segmentos de fitoterápicos e fitocosméticos, sem terem perdido o vínculo com a

atividade acadêmica.

Além de farmácia, que é predominante, outras áreas principais de formação acadêmica

desses dirigentes são a engenharia química e agronomia, indicando a importância em lidar

com a matéria-prima de origem da biodiversidade, além da formação em outras áreas como

administração.

São aproximadamente 27 pessoas em média empregadas no conjunto de micro, pequenas e

médias empresas da fitoindústria, sendo a mesma média para os subsetores de bens finais,

insumos e alimentos. Estima-se em cerca de 470 pessoas a mão-de-obra média indireta

gerada por empresa no lócus de produção da matéria-prima, muito embora de baixa

qualificação, com a predominância do 1o grau incompleto. O subsetor de insumos é o maior

empregador com média aproximada de 1.255 pessoas, por manter relação direta com a

produção de matéria-prima, e o menor é o subsetor de bens finais com 63 pessoas

empregadas.

A força de trabalho da fitoindústria com curso superior completo em 2004 foi estimada em

apenas 16%, com perspectiva de crescimento pouco expressivo para os próximos anos,

exceto nos subsetores de fitoterápicos e fitocosméticos para os quais a taxa do nível de

qualificação deverá crescer um pouco mais rapidamente.

Page 185: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

171

Entretanto, há carência de pessoal qualificado para a realização de atividades no processo

produtivo e de P&D. Os profissionais necessários na região são principalmente botânicos,

farmacêuticos, engenheiros de alimentos e especialistas em cosméticos.

Infra-estrutura para P&D é menos disponível para as empresas de capital local do que para

as de capital estrangeiro. Estas dispõem de mais infra-estrutura interna, nas coligadas e nos

institutos de P&D com os quais as coligadas mantêm cooperação.

Da mesma forma, os recursos financeiros afetam muito mais as empresas de capital local

do que as de capital estrangeiro, visto que estas dispõem de fontes de financiamento do

grupo empresarial ao qual pertencem. A escassez de fontes adequadas, elevados encargos

financeiros e excesso de burocracia são fatores que têm levado as empresas a optarem pelo

autofinanciamento de suas atividades. Todavia, elas não consideram ainda o capital de risco

como uma importante fonte de financiamento.

(b) Modernização gerencial e organizacional das empresas

Como melhoria das atividades gerenciais do projeto, as empresas têm buscado implantar

alguns sistemas informatizados e integrados, tais como folha de pagamento, contabilidade,

controle de estoque etc. Observa-se, todavia, que a maioria das empresas de capital local

dispõe de sistemas informatizados ainda frágeis.

Embora viabilizem treinamento para seus fornecedores, isto ocorre de maneira não

sistematizada e apenas para procedimentos básicos de manuseio, bem como para garantir a

produção e o fornecimento regular de matéria-prima da floresta. A maioria das empresas

não dispõe de gestão estratégica e de sistemas sistematizados de atendimento a cliente.

Cada empresa pode apresentar uma necessidade específica ou de maior relevância dentre as

várias certificações que deve obter, para melhor desempenhar suas atividades operacionais,

embora a certificação de boas práticas de fabricação seja a mais procurada. A certificação

que autoriza o plano de plantio e manejo, por exemplo, pode ser importante para algumas

empresas, enquanto a certificação FSC para outras.

O “selo verde da Amazônia” trata-se de uma idéia, defendida por empresários,

pesquisadores e técnicos do governo, que deverá simbolizar os valores da região. Por este

atributo, o selo deverá ter maior importância do que atestar a qualidade, por exemplo, já

Page 186: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

172

que existem outras certificações reconhecidas pelo mercado, principalmente o externo,

sendo, entretanto, considerado como uma das principais estratégias das empresas nas

atividades que deverão auxiliar no desenvolvimento do setor. A adoção do selo verde da

“Amazônia” indica ser bastante relevante para as empresas de capital local, tanto para as

exportadoras quanto para as que pretendem exportar.

Quando se analisam apenas as empresas que pretendem exportar, novamente a certificação

de boas práticas de fabricação e o registro na ANVISA são as mais necessárias. Para as

empresas exportadoras, as mais relevantes são o plano de plantio e manejo, certificação de

cadeia de custódia e certificação orgânica.

Na gestão organizacional da produção, a expressiva maioria das empresas utiliza processos

produtivos semi-automatizados, com o produto em fabricação conduzido manualmente de

um equipamento para outro. O grau dessa automatização é proporcional ao tamanho da

empresa, ou seja, quanto menor menos automatizada, que é explicada em parte pela

pequena escala de produção.

A tecnologia empregada no processo produtivo pelas empresas é considerada de domínio

público, apresentando certa similaridade nos diferentes subsetores, mesmo nas operações

básicas de menos complexidade para alguns produtos e um pouco mais para outros. Alguns

tipos de produtos nos subsetores de concentrados de bebidas não alcoólicas, de fitoterápicos

e fitocosméticos deverão exigir tecnologias mais complexas em tempo mais curto. De

forma análoga, os segmentos de nutracêuticos e cosmecêuticos, que mostram ter um grande

potencial de crescimento, também deverão empregar tecnologias mais avançadas.

As diferenças no processo produtivo dos diferentes subsetores tornam-se mais evidentes à

medida que cresce a complexidade do produto fabricado. As diferenças mais marcantes e

observadas dizem respeito ao processo de combinação de novas substâncias para a

formulação dos compostos, para os quais as empresas necessitam implementar

significativas melhorias, e pela diversidade de matéria-prima da flora utilizada na

fabricação dos produtos. Essas técnicas acabam sendo preservadas e mantidas como

segredo de fabricação por cada empresa. As empresas menos organizadas necessitam,

ainda, de melhorias de lay-out para a otimização do processo produtivo.

Page 187: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

173

A cópia simples e adaptação de projetos existentes de bens de capital, empregados na

produção, é uma das atividades necessárias para a melhoria do processo produtivo das

empresas, fundamentalmente no subsetor de insumos. Nesse subsetor, também há a

necessidade eventual de desenvolvimento de um novo projeto de bens de capital específico

para o processamento de determinadas espécies empregadas como matéria-prima. As

espécies, na maioria dos casos, têm características diferentes de outras espécies já

conhecidas e cultivadas no resto do país para as quais já foram desenvolvidos bens de

capital.

Os projetos da Agência de Floresta e de biodiesel da UFAM também adaptam e

desenvolvem máquinas e equipamentos para atender o elo inicial da cadeia produtiva, para

o processamento da matéria-prima empregada na extração do óleo vegetal e essencial de

espécies tais como a castanha e a andiroba. Essas atividades de adaptação e

desenvolvimento contam com o suporte tecnológico de uma empresa especializada de São

Paulo.

Para a maioria das empresas, elas desenvolvem novos produtos sem similares no mercado.

No entanto, a maioria realiza cópias e pequenas modificações de produtos já existentes no

mercado e efetua pequenas modificações como a substituição de insumos procedentes de

outras regiões, ou a adição de insumos à base de matéria-prima da floresta com as mesmas

características dos substituídos. Seguindo o método de triangulação, são utilizadas espécies

da flora amazônica ainda sem comprovação científica, mas com características similares às

de espécies de outra origem geográfica que já disponham de comprovação científica,

empregadas na formulação de compostos para a fabricação de fitoterápicos.

A maioria das atividades inovadoras é bastante simples. Essas atividades podem ser

denominadas de inovações menores ou de inovações incrementais de pouco impacto, porém

significativas para elas. Outras, porém, são resultantes de atividades de P&D que têm o

suporte de instituições de pesquisa, laboratórios das empresas ou de coligadas, que podem

ser classificadas de inovações incrementais com impacto mais significativo.

Page 188: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

174

(c) P&D e capacitação tecnológica

Como a prática de atividades de P&D das empresas ainda é de pouca complexidade e

incipiente, não é possível a obtenção de patentes que assegurem à fitoindústria uma posição

destacada no processo de desenvolvimento tecnológico.

O uso da biotecnologia na pesquisa e desenvolvimento de produtos na fitoindústria é uma

possibilidade e necessidade que pode valorizar mais os recursos da flora. No entanto, por

enquanto os procedimentos de screening são as atividades relacionadas à biotecnologia de

maior interesse das empresas.

Para algumas atividades não muito complexas, é possível a obtenção de patentes. Muito

embora os princípios ativos “brutos” de uma planta, por exemplo, não possam ser

patenteados, um composto resultante da combinação de várias plantas para a fabricação de

fitoterápicos pode. A produção de compostos é bastante praticada pelas empresas do

segmento de fitoterápicos. Como essas empresas, outras e de outros subsetores têm

igualmente manifestado o interesse em buscar patentes para suas pesquisas e produtos.

Existe sempre o receio das empresas, todavia, de que a patente possa ser copiada, além dos

custos envolvidos. Porém, no caso de fitoterápicos, não é um processo fácil, visto que

muito do conhecimento é tácito e exclusivo do pesquisador, acumulado por muitos anos de

pesquisa com determinadas espécies da flora.

Pelas exigências impostas pela Resolução que disciplinou a pureza e produção de

fitoterápicos, deverá ser exigida das empresas fabricantes desses produtos uma decisão

importante: acelerar a pesquisa para a comprovação científica das espécies regionais que

utilizam, ou adquirir espécies de outras regiões que já dispõem de comprovação científica

e, portanto, com menor dificuldade para o registro junto à ANVISA.

A transferência para o setor produtivo de tecnologia desenvolvida por um pesquisador,

vinculado a um instituto de pesquisa, em muitos casos é limitada pela inexistência de

recursos financeiros, além da dificuldade de comprovação científica da eficácia da espécie

pesquisada para a finalidade alegada. A “unha de gato”, por exemplo, que é empregada no

tratamento de diversos tipos de doenças na região, cujo conhecimento sobre sua aplicação

já é dominado por pesquisadores, é uma das espécies que poderia ser industrializada.

Page 189: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

175

As principais fontes internas de aprendizagem das empresas referem-se a: (a) pessoal

capacitado; (b) análises laboratoriais; e (c) atividades básicas de P&D. As principais fontes

externas de aprendizagem são: (a) análises laboratoriais; (b) as conferências, publicações

especializadas, feiras e exposições; e (c) clientes e fornecedores.

A busca de pessoal capacitado resulta de treinamento proporcionado aos empregados e da

contratação de pessoal com o nível de qualificação desejada. O aprendizado com as análises

laboratoriais ocorre pela necessidade de atestar a qualidade da matéria-prima e do produto

fabricado. As atividades básicas de P&D resultam dos ensaios e testes para a formulação de

novos compostos e do desenvolvimento de novos produtos.

As análises laboratoriais realizadas nos laboratórios locais e de centros mais avançados

como São Paulo têm sido principalmente: análises microbiológicas, análises físico-

químicas e testes pré-clínicos para o controle de qualidade da matéria-prima e produto

fabricado.

A análise nesses centros mais avançados resulta no aprendizado de técnicas mais modernas

que em muitos casos são assimiladas e passam a ser praticadas internamente pelas

empresas. A identificação fiotoquímica de marcadores é considerada uma das principais

dificuldades que enfrentam as empresas nas atividades de análises laboratoriais.

A participação em feiras e exposições em outros países permite o contato com tecnologias

mais avançadas. O aprendizado com clientes diz respeito não apenas ao consumidor final,

mas a grande contribuição e influência dos distribuidores dos produtos. Eles observam as

características de produtos concorrentes, captam a necessidade dos consumidores e

transferem essas informações para as empresas que são utilizadas no desenvolvimento de

novos produtos.

Os sinais de interdependência cada vez mais fortes entre as empresas e seus fornecedores,

cuja maioria é constituída de comunidades tradicionais, apontam para a necessidade de

produção de matéria-prima da floresta de melhor qualidade, que se não for assim pode

tornar-se uma das ameaças resultando na baixa qualidade dos produtos fabricados.

Essa interdependência deverá exigir a utilização de tecnologias de plantio e manejo com

diferentes níveis de complexidade. Considera-se factível o emprego de técnicas da moderna

biotecnologia para a melhoria genética das espécies, visto que instituições de pesquisa

Page 190: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

176

como o INPA e EMBRAPA possuem conhecimento suficiente nesse campo para oferecer

esses serviços e pelas pesquisas que podem ser desenvolvidas pelas equipes do projeto

Genoma e Proteoma que deverão acumular competências nessa área.

Os fabricantes de bens de capital e principalmente as comunidades tradicionais, que

fornecem a matéria-prima da flora, são os fornecedores que mais contribuem para o

aprendizado das empresas. Porém, não é apenas para as empresas que as comunidades

tradicionais transmitem algum tipo de conhecimento, mas também para os próprios

fabricantes de bens de capital sobre o processamento da matéria-prima.

O fornecedor de equipamentos para os projetos da UFAM, por exemplo, empregados na

produção do óleo bruto para cosmético e biodiesel, consulta previamente os pesquisadores

e as comunidades sobre as características e técnicas empregadas na transformação das

espécies para, então, realizar a adaptação ou desenvolvimento de novo bem de capital.

São diversos os projetos conduzidos por diferentes instituições em cooperação com as

comunidades, que apresentam muitos objetivos comuns, sinalizando a inexistência de

coordenação interinstitucional. Cada projeto, além da instituição promotora, conta com a

participação de uma ou mais das demais instituições de P&D locais, ou de seus

profissionais atuando apenas como consultores, que se envolvem quando o projeto

geralmente já tem sido iniciado.

(d) Agentes da cadeia produtiva e aspectos mercadológicos

As comunidades ocupam vastas áreas onde são encontradas diversas espécies de interesse

do setor produtivo e de pesquisadores, tornando-se agentes de extrema importância na

cadeia produtiva. As obrigações impostas pela legislação de acesso à biodiversidade

também valorizam as comunidades tradicionais, pois determinam a repartição de benefícios

para elas pelo uso do conhecimento tradicional.

Há várias formas de remuneração do conhecimento popular que estão sendo propostas: o

pagamento pelo valor de commodities, como é a prática atual; o pagamento puro e simples

para as comunidades fornecedoras, mediante um percentual sobre o faturamento obtido

com a venda do produto. Porém, existem ainda as pesquisas científicas. Talvez o mais justo

fosse dividir os benefícios entre a comunidade, instituição de pesquisa e governo.

Page 191: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

177

A comprovação científica do conhecimento tradicional tornou-se necessária principalmente

a partir da aprovação da lei de fitoterápicos. Pesquisadores da região amazônica exploram o

conhecimento tradicional associando-o a conhecimentos científicos, adotando o método de

triangulação para a produção de fitoterapicos, que também já vem sendo praticado por

empresas desse segmento.

As empresas igualmente se baseiam no conhecimento tradicional para a escolha da matéria-

prima que é empregada nos diversos produtos fitoterápicos. Esse conhecimento, que não

tem fronteira, é muito explorado na identificação de plantas medicinais, muitas das quais

são consideradas insubstituíveis, sendo bastante utilizadas isoladamente ou em compostos

com outras espécies, como é o caso do eucalipto que é procedente de outras regiões. O

desafiador, porém, é como efetivar a comprovação científica e aplicação industrial para as

milhares de espécies já conhecidas e desconhecidas da flora amazônica.

O conhecimento tácito da força de trabalho com o processo produtivo adquire significativa

relevância, visto que as atividades que envolvem os recursos da biodiversidade ainda

necessitam de referências padronizadas e homologadas. Muitas vezes é exigido desse

empregado, sensibilidade, iniciativa e discernimento para agir e tomar decisões diante de

problemas eventuais, principalmente surgidos pelo uso incorreto da matéria-prima da flora.

Pelas suas características singulares e pela escassez de literatura sobre atividades de P&D

que orientem seu uso, o conhecimento tácito torna-se extremamente importante para a

seleção da matéria-prima e a conseqüente formulação dos compostos, para os diversos

segmentos: fitoterápicos, fitocosméticos, concentrados para bebidas, balas, chocolates etc.

Um aspecto relevante a ser ressaltado é a pouca interação e cooperação com outras

empresas locais do setor, indicando serem até menos intensas do que a interação e

cooperação com empresas de fora do estado. Isto poderá frear a sinergia e a dinâmica

comuns na aglomeração de empresas.

Embora as atividades de cooperação com os institutos de P&D sejam consideradas uma das

principais fontes de aprendizagem, pela pouca pratica são consideradas, por outro lado

umas das principais dificuldades para a capacitação tecnológica das empresas.

As principais estratégias para a gestão das atividades inovadoras e o crescimento dos

negócios das empresas são: (a) a cooperação com institutos de P&D locais; (b) associação

Page 192: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

178

dos produtos à marca “Amazônia”; (c) criação de infra-estrutura de produção e P&D; (d)

estímulo à capacitação de pessoal; e (e) ampliação da participação no mercado nacional e

externo. A comercialização dos produtos das empresas, tanto no mercado interno quanto o

externo, está associada à crença de que produtos da “Amazônia” exercem um apelo

especial.

Em que pese o grande potencial de mercado para os produtos da floresta amazônica, outros

fatores, além da marca “Amazônia”, são essenciais para garantir o acesso a mercados mais

exigentes. Para tanto as empresas necessitam dispor de design adequado, qualidade,

regularidade no fornecimento, a necessidade cada vez maior da comprovação da cadeia de

custódia para os produtos que fabricam e investimento em marketing.

Analogamente, o mercado está compelindo os fabricantes de produtos naturais a alterarem

a forma de apresentação das substâncias no rótulo e requerendo testes e provas de

autenticidade das matérias-primas dos fornecedores. Estes, por sua vez, deverão buscar

embalar os insumos produzidos com matéria-prima da floresta com guias e avisos de uso.

Os escassos investimentos em marketing têm contribuído para dificultar a ampliação e

conquista de novos mercados, afetando mais os subsetores de bens finais e de alimentos.

Mesmo no mercado nacional, onde há o domínio de empresas das regiões Sul e Sudeste,

existe espaço para a ampliação de participação no mercado, dependendo principalmente de

recursos para a divulgação sistemática dos produtos.

As empresas fabricantes de bens finais nos segmentos de cosméticos e fitoterápicos, que

têm a capacidade de adicionar mais valor à matéria-prima da flora, comercializam seus

produtos no mercado nacional, mas principalmente no mercado local e regional, com

exportações pontuais e de pequenas quantidades.

De modo geral, as empresas consideram as dificuldades alfandegárias/tributárias como um

dos principais problemas para o acesso ao mercado externo. Por outro lado, as empresas

não têm se adequado em tecnologia para atender a essas novas exigências, a ponto de

espécies como a castanha-do-Brasil in natura perder mercados drasticamente. Isto deverá

ocorrer igualmente para outros produtos de maior valor agregado, desde que as empresas

não acompanhem as necessidades de atualização tecnológica. Os tipos de matéria-prima

Page 193: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

179

mais utilizados pelas empresas exportadoras e pelas que desejam exportar são: buriti,

cupuaçu, guaraná, muirapuama, crajiru e urucum.

Assim como o Brasil que não faz parte dos países que são os maiores exportadores, embora

seja considerado o país com a maior biodiversidade do mundo, o Amazonas também não

exporta plantas medicinais e aromáticas, embora possua a maior biodiversidade do país.

Uma das características das empresas exportadoras de capital estrangeiro é o de criar infra-

estrutura própria para o desenvolvimento de fornecedores ou para a produção de matéria-

prima da flora que emprega em seus produtos. São as que mais dominam a tecnologia de

distribuição no que diz respeito a normas, procedimentos e especificações sobre condições

de embalagem, de armazenamento (temperatura, umidade e forma de armazenagem), de

transporte e de comercialização.

Empresas de capital estrangeiro como a Recofarma e a Crodamazon têm acesso mais

facilmente ao mercado externo do que as de capital local. A exploração do conceito do

“mercado justo”, entretanto, é um dos instrumentos que podem auxiliar as exportações de

empresa de capital local como tem sido explorado pela Agrorisa.

A empresa Crodamazon, de capital estrangeiro, em 2004 além de consolidar a venda de

óleo vegetal para cosméticos no Brasil, já vendeu para cerca de 19 países, e para alguns

diretamente de Manaus, aproveitando a presença de coligadas do grupo em 37 países. A

Recofarma é considerada como um dos maiores exportadores do Pólo Industrial de Manaus

– PIM e aproveita também a presença do grupo em países importadores. De 4 empresas

hoje que exportam regularmente, outras 7 também têm como estratégia a exportação.

Para as empresas, o desconhecimento do mercado sobre a origem e melhor qualidade da

matéria-prima natural da flora, embora com a dificuldade de comprovação científica,

contribuem para limitar a comercialização de seus produtos. Causa inquietação para

algumas empresas o risco de impacto ambiental pela extração e uso intensivo das espécies,

com a possibilidade de crescimento da biopirataria para fins de pesquisa científica em

centros mais avançados. Recentemente o governo brasileiro obteve no âmbito da OMC o

pedido de anulação de patente de um produto à base de cupuaçu, fruto típico da Amazônia

obtido por uma empresa japonesa.

Page 194: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

180

(e) Barreiras e trajetória dos fatores e atividades para a capacitação tecnológica

São crescentes as restrições fito-sanitárias criadas por países importadores aos produtos que

podem afetar a saúde humana, com impacto nos produtos que empregam matéria-prima da

biodiversidade amazônica. Outro tipo de dificuldade para esses produtos são as barreiras

impostas por países como os EUA, que alegam existir o risco de prática de “bioterrorismo”,

como a que foi experimentada pela Agrorisa quando estudava possibilidade de exportar

para aquele país.

O papel do governo, particularmente o governo estadual e a Suframa como órgão do

governo federal, é considerado bastante limitado no apoio às atividades da fitoindústria. As

empresas atribuem ao governo ter adotado uma atitude muito passiva sobre ações essenciais

para o desenvolvimento da fitoindústria:

o Os produtos com matéria-prima da Amazônia não têm sido divulgados em

campanhas institucionais para o restante do país e para o exterior;

o Os incentivos fiscais são menos favoráveis do que os concedidos para empresas de

de outras regiões e tecnologia que se instalam no PIM;

o Até recentemente não eram financiadas atividade de P&D e continua inexistindo

linhas de financiamento específicas para infra-estrutura predial e bens de capital;

o Até agora não tem sido dada na prática a devida importância aos recursos naturais

como fonte de matéria-prima para o desenvolvimento industrial e de tecnologia

endógena;

o Os produtores de matéria-prima não têm sido apoiados suficientemente no

desenvolvimento, transferência e capacitação tecnológica;

o A falta de coordenação dos projetos importantes faz dispersar as competências

existentes nas diversas instituições, com cada um cuidando do seu próprio projeto.

Para as empresas, o governo poderia auxiliar na divulgação dos produtos da Amazônia com

campanhas na mídia e quando organiza feiras e eventos sobre produtos brasileiros no

exterior. Igualmente, incentivar mais a produção realizada com recursos regionais e a

Suframa readequar os Processos Produtivos Básicos - PPB para estimular a competitividade

da fitoindústria.

Page 195: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

181

A FAPEAM disponibilizou recursos para financiar algumas das atividades de P&D das

empresas apenas a partir de 2004, consideradas ações muito recentes e sem a certeza de

continuidade, embora de efeito bastante positivo até agora. Cerca de 25 projetos de

pesquisa que empregam recursos da biodiversidade, em fase de desenvolvimento, foram

financiados por aquela Fundação sem a obrigação de ressarcimento.

O governo é considerado agente fundamental para a transferência de tecnologias às

comunidades para a produção de matéria-prima que atenda a fitoindústria, mas é

reconhecida sua carência de pessoal técnico qualificado e de outros recursos para prover

essa assistência técnica.

Face à pequena capacitação tecnológica dos produtores de matéria-prima, a figura do

atravessador surge com bastante destaque, sendo considerada prejudicial à organização da

cadeia produtiva e à sustentabilidade ambiental. O atravessador interessa-se apenas pela

compra da matéria-prima in natura, dificultando a capacitação tecnológica dos seus

produtores e a conseqüente maior contribuição na cadeia de valor.

Uma outra característica nociva do atravessador é quando anuncia nos locais de produção a

urgência em adquirir a matéria-prima. Essa atitude leva muitas vezes o extrativista

apressado em realizar o negócio, e por não dominar técnicas de manejo mais adequadas, a

causar danos irreparáveis ao meio ambiente, ao cortar uma árvore nativa de pau-rosa, por

exemplo, para extrair mais rapidamente a essência, que é empregada na fabricação de

cosméticos.

Há uma clara dificuldade de “governança” em harmonizar as atividades de instituições de

pesquisa, de pesquisadores, de órgãos públicos e empresas envolvidas na exploração dos

recursos da biodiversidade. É necessário o esforço das principais lideranças públicas e

privadas para a criação de um ambiente favorável à cooperação institucional.

Os fatores deverão sofrer variação no grau de importância relativa ao acesso,

disponibilidade, ou prática para as empresas com o passar do tempo. A trajetória desses

fatores é analisada a partir da comparação das respostas positivas referentes ao momento

atual (coluna A no questionário de indicadores, Anexo 1) com tão somente as respostas de

nível de importância elevado (3 ou 4 na escala Likert) prenunciadas para o futuro (coluna B

no questionário de indicadores, Anexo 1).

Page 196: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

182

Para o gerenciamento do projeto e modernização organizacional, deverão sofrer maior

variação no nível de importância relativa para as empresas: um plano ou administração

estratégica sistematizada; obtenção da certificação ISO, certificação orgânica e certificação

de boas práticas de fabricação; projeto e desenvolvimento de bens de capital para o

processamento da matéria-prima da flora; atividades de biotecnologia para recombinação

de DNA e comprovação científica da eficácia das espécies da floresta empregadas como

matéria-prima.

As atividades da moderna biotecnologia deverão ser empregadas com mais intensidade com

o passar do tempo no segmento de fitoterápicos. Deverão perder importância relativa,

apenas para o subsetor de alimentos, os seguintes fatores: fabricação com exclusividade e

técnicas de administração de materiais e da produção tais como just-in-time, kan-ban e kai-

zen cópia simples de bens de capital empregados no processo produtivo para as empresas

fabricantes de bens finais.

A cooperação com institutos de P&D locais é o fator de aprendizagem das fontes externas

que indica crescimento de importância relativa futuramente. Entretanto, observa-se que

embora seja baixa, ou quase inexistente hoje, as empresas não consideram como relevante

futuramente a cooperação com outras empresas. Deverão perder importância relativa os

seguintes fatores: conhecimento tradicional para o as empresas fabricantes de bens finais, a

cooperação com as comunidades tradicionais para o subsetor de insumos, e conferências e

publicações para o de alimentos.

O conhecimento tradicional que foi um importante fator de atratividade para a implantação

das empresas hoje em atividade deverá perder importância relativa com o passar do tempo

para a implantação de novas empresas. Uma das explicações é que possivelmente não

manterá o mesmo grau de importância como fonte de conhecimento sobre a utilização das

espécies.

Os fatores que deverão crescer em nível de dificuldade na medida em que a fitoindústria se

desenvolve são: ausência de política de preço e tecnologia de plantio e manejo para as

espécies da flora utilizadas como matéria-prima, o processo produtivo básico – PPB

exigido pela Suframa e a falta de base industrial para atividades afins à fitoindústria.

Page 197: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

183

Em contraposição, deverão perder importância relativa os seguintes fatores: escassez da

matéria-prima para o subsetor de alimentos, logística de transporte da matéria-prima para as

empresas fabricantes de bens finais e a seleção de matéria-prima para o subsetor de

alimentos.

Os fatores que deverão crescer em importância relativa como estratégias para o aprendizado

e capacitação tecnológica da fitoindústria são: exportação, cooperação com institutos de

P&D locais e uso de atividades de biotecnologia. Por outro lado, deverão perder em

importância relativa são os seguintes fatores: necessidade de infra-estrutura de laboratórios

para atividades de P&D para as empresas fabricantes de bens finais.

As definições de políticas públicas em apoio ao desenvolvimento econômico do Amazonas

são avaliadas freqüentemente pelas vantagens e desvantagens em incentivar a produção

industrial baseada na matéria-prima da região, comparativamente aos incentivos concedidos

pelo projeto Zona Franca de Manaus para atração de empresas. E o desenvolvimento da

biotecnologia é visto pelo governo como essencial e estratégico para a exploração e

valorização dos recursos da biodiversidade.

Page 198: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

184

VI.2. PRINCIPAIS CONCLUSÕES

Nesta seção serão examinadas algumas características que distinguem: (a) Fitoindústria e o

Pólo Industrial de Manaus – PIM; e (b) Fitoindústria e Novas Empresas de Biotecnologia

(NEBs).

VI.2.1. Fitoindústria vs. Pólo Industrial de Manaus - PIM

No quadro 7 são descritas algumas das vantagens atribuídas ao desenvolvimento industrial

do Amazonas baseado nos recursos naturais da região frente à indústria do Pólo Industrial

de Manaus – PIM:

Quadro 7 - Vantagens hipotéticas da fitoindústria sobre o PIM

PIM Fintoindústria Importação de insumos e matérias-primas; baixo valor agregado.

Principal fonte: biodiversidade do Estado; alto valor agregado.

Atividades produtivas, população e emprego concentrados em Manaus.

Interiorização da produção; oferta de emprego; e fluxo migratório inverso.

Fonte: Subsídios Para Política Pública de Biotecnologia para o Estado do Amazonas (2002).

Atribui-se às empresas do PIM serem grandes importadoras de matéria-prima, agregando

baixo valor aos produtos fabricados localmente, contribuindo para o saldo negativo na

balança comercial do país - tabela 1 - enquanto as empresas que utilizam a matéria-prima

natural da região hipoteticamente não necessitariam importar.

Das 3 empresas de capital estrangeiro, todavia, 2 são importadoras de insumos do exterior

e, no geral, todas as empresas tanto as de capital local quanto as de capital estrangeiro

adquirem insumos de outras regiões do país. As compras por região estão demonstradas no

gráfico 31.

Page 199: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

185

Gráfico 31- Compras totais da fitoindústria por região

%

0%10%20%30%40%50%60%

2000 2001 2002 2003 2004Anos

Compra Local Compra NacionalCompra do Exterior

Uma comparação das compras de insumos feitas na região em relação à compra total, tanto

pela fitoindústria quanto pelo PIM, mostra que a partir de 2002 a fitoindústria (dados

fornecidos pelas empresas) tem comprado ligeiramente mais, proporcionalmente, do que o

PIM (dados extraídos no site http://www.sufrma.gov.br). O gráfico 32 apresenta dados

históricos do comportamento dessas compras locais, indicando a tendência de equilíbrio

entre ambas as indústrias em um nível aproximado de 30% em relação às compras totais.

Gráfico 32 - Compras locais em relação ao total de compras por indústria

%

0%

10%

20%

30%

40%

2000 2001 2002 2003 2004 Anos

Fitoindustria PIM

Uma das conclusões do estudo Subsídios Para Política Pública de Biotecnologia para o

Estado do Amazonas (2002), sobre as conseqüências do modelo do PIM, destaca a

concentração da população, da atividade produtiva e da geração de empregos em Manaus.

Page 200: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

186

Algumas experiências dos projetos para a produção de matéria-prima, iniciados em

diversos municípios do estado, de certa forma confirmam essa conclusão do estudo. Com

esses projetos observa-se, também, um processo crescente de integração de tecnologias nas

fases iniciais da cadeia produtiva, ilustrada na figura 5, e a perspectiva de geração

significativa de empregos indiretos, com o crescimento das atividades da fitoindústria,

ilustrada no gráfico 6 - geração de empregos indiretos. Há a indicação também da

perspectiva de desconcentração das atividades produtivas de Manaus para os municípios do

estado.

Enquanto a mão-de-obra média direta do conjunto de micro, pequena e média empresas foi

estimada em 27 pessoas em 2004, sendo a mesma média por subsetor, a indireta foi

estimada em 470 pessoas. O maior empregador de mão-de-obra indireta é o subsetor de

insumos porque mantém relação mais direta e intensa com os produtores de matéria-prima,

com média por empresa de 1.255 pessoas e o menor é o de bens finais com 63 pessoas.

Embora um dos principais fatores considerados restritivos para o crescimento mais

acelerado da fitoindústria seja a falta de base industrial local, em setores afins às atividades

desse setor, algumas externalidades positivas podem ser proporcionadas pelo PIM

beneficiando a fitoindústria, através do processo de aglomeração industrial e formação de

clusters etc.

As externalidades relevantes para a formação de cluster envolvem: (a) produção em massa;

(b) disponibilidade de serviços especializados; (c) formação de força de trabalho

especializada e a produção de novas idéias, mas baseadas na acumulação de capital humano

e comunicação face-a-face; e (d) existência de moderna infra-estrutura (MARSHAL

[1890]) apud FUJITA & THISSE, p. 9, 2002). Algumas dessas externalidades que podem

ser proporcionadas pelo PIM são:

o Capacidade gerencial acumulada na atividade industrial;

o Tecnologia de processo relativamente bem desenvolvida;

o Existência de base industrial para a fabricação de alguns produtos tais como

embalagens e diferentes tipos de gases, álcool, extratos aromáticos e açúcar

industrializado;

Page 201: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

187

o Forte vínculo com o mercado externo através das coligadas, cuja maioria das

empresas são filiais de multinacionais, podendo facilitar a criação de importantes

canais de distribuição e exportação de produtos da fitoindústria.

VI.2.2. Novas Empresas de Biotecnologia - NEBs vs. Empresas da Fitoindústria

Conforme mostram os dados da pesquisa, alguns dos principais fatores que têm

caracterizado ou contribuído para o desenvolvimento das Novas Empresas de Biotecnologia

(NEBs) em diversos países são: atividades intensivas realizadas pelas pequenas e médias

empresas localizadas próximo das fontes de conhecimento; disponibilidade de recursos:

humanos capacitados, fontes de financiamento e infra-estrutura de P&D e produção;

cooperação com instituições e empresas para atividades inovadoras; existência de mercado

para os produtos fabricados; apoio do governo e base industrial em atividades afins.

Mesmo atuando em segmentos econômicos diferentes, algumas empresas deverão

demandar ou desenvolver atividades de biotecnologia, que são consideradas estratégicas

para a valorização dos recursos da biodiversidade. Com o decorrer do tempo essas

atividades, principalmente as do segmento de fitofármacos, poderão aproximar-se em nível

de complexidade daquelas desenvolvidas pelas NEBs, cuja comparação dos dois setores é

apresentada no quadro 8.

Quadro 8 - Novas Empresas de Biotecnologia (NEBs) vs. empresas da fitoindústria

NEBs Empresas da Fitoindústria

1.Infra-estrutura e atividades de P&D a) infra-estrutura disponível: nas

instituições, na NEB ou grande empresa parceira;

b) intensiva nas pequenas empresas;

c) localizadas perto da fonte de conhecimento e das principais universidades

a) no geral, precária infra-estrutura para a pesquisa; instituições de P&D não têm tradição em disponibilizar seus laboratórios e suas pesquisas; em fase de implantação a infra-estrutura do CBA;

b) a maioria das empresas é pequena, porém desenvolve poucas atividades de P&D, concentrando-se mais nas análises laboratoriais;

c) iniciativas como a do grupo da Rede Genoma e Proteoma são recentes, mas existe o INPA com um histórico de pesquisa bastante rico, embora sem a tradição de cooperação com o setor produtivo

2. Recursos humanosA maioria dos fundadores tem elevado conhecimento científico,

A maior titulação dos fundadores e dirigentes é a de mestre; são poucos aqueles que já desenvolveram ou

Page 202: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

188

NEBs Empresas da Fitoindústria

um PhD, são membros de rede científica e origem da academia

manifestam interesse em participar de projetos de pesquisa, exceção para os dirigentes de empresas do segmento de fitoterápicos.

3. Fontes de financiamento a) forte participação do capital de

risco;

b) existência de fundos específicos de financiamento

a) não há participação de capital de risco;

b) não existem fundos específicos para apoiar atividades da fitoindústria, exceto recentes iniciativas contempladas por linhas de pesquisa da FAPEAM.

4. Cooperação a) entre as empresas com os

institutos de pesquisa;

b) entre as empresas, para a pesquisa, desenvolvimento, financiamento, comercialização, licenciamento e marketing.

a) é pouco significativa e quando existe é de caráter informal;

b) não há cooperação entre as empresas com esses objetivos, principalmente pela falta de confiança, exceto nas reivindicações junto aos órgãos governamentais.

5. mercado o principalmente subcontratadas

por grandes empresas. o não têm essa prática;

o as de capital estrangeiro dispõem do canal de distribuição das coligadas.

6. Apoio do governo o os investimentos feitos pelas

instituições públicas em P&D foram essenciais.

o acervo rico de pesquisa básica principalmente do INPA e EMBRAPA, mas quase nenhuma aplicação na produção;

o a FAPEAM iniciou esse processo em 2004, mas os investimentos necessários para a biotecnologia são elevados.

7. Base industrial o forte base industrial e atividades

afins à biotecnologia nos países onde se desenvolveu.

o a base industrial do Amazonas é recente, a partir dos anos de 1970, e sem afinidade com a biotecnologia.

Fonte: própria

Page 203: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

189

VI.2.3. Considerações prospectivas sobre a fitoindústria

(a) O papel das comunidades

As comunidades, principalmente as tradicionais, estão se consolidando como os principais

fornecedores de matéria-prima da floresta para a fitoindústria. Há indícios de alteração do

papel dessas comunidades em que torna menos relevante sua principal função - de ser fonte

fornecedora de conhecimento tradicional - para outro de atuar como agente importante na

cadeia produtiva na produção e transformação da matéria-prima.

Entretanto, para a interação das empresas com essas comunidades, é necessário tecer

algumas considerações:

o “não se deve ignorar que as comunidades tradicionais, por se encontrarem

historicamente diante de uma situação de grande precariedade, enfrentam dificuldades

para o exercício de coesão social, interesse coletivo, práticas democráticas, um efetivo

controle dos recursos de suas terras, e também sua afirmação como parceiras na

utilização de longo prazo de recursos da floresta” (EMPERAIRE, 2000).

o a organização das comunidades tem permitido o fortalecimento de laços e interações

entre elas e empresas estruturadas de fora da região, potenciais compradores, mais do

que com as empresas locais.

o a capacitação tecnológica das comunidades permitirá a elas executarem processos cada

vez mais complexos na cadeira produtiva e se tornarem virtuais competidores das

empresas que hoje integram a fitoindústria, para as quais são ainda potenciais e

importantes fornecedores de matéria-prima.

(b) O futuro da fitoindústria

O futuro da fitoindústria está condicionado ao desempenho de suas atividades em harmonia

com a sustentabilidade ambiental, cumprimento da legislação, interação com os habitantes

da região amazônica e com a infra-estrutura institucional. Mas depende, sobretudo, de

aspectos mercadológicos, organizacionais, produtivos, recursos financeiros e humanos, e de

pesquisa e desenvolvimento tecnológico.

O interesse crescente manifestado por grandes laboratórios e empresas, que dispõem de

recursos e tecnologias mais avançadas, para implantarem filiais no ambiente da

Page 204: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

190

fitoindústria indicam o potencial de crescimento desse setor. Parte desse interesse é

decorrente da perspectiva do Centro de Biotecnologia da Amazônia - CBA prover os

serviços de P&D e de tecnologia que venham demandar.

As barreiras que restringem o desenvolvimento da fitoindústria apontam para fatores

diversos. Eles são bastante heterogêneos tais como atender a legislação que trata do uso de

recursos naturais; produção em quantidade e qualidade da matéria-prima da floresta;

diversidade de atores que interferem na exploração desses recursos; desenvolvimento de

atividades tecnológicas avançadas como a biotecnologia e que contemplem, ao mesmo

tempo, outras tecnologias menos complexas, porém de igual importância; e fragilidade do

sistema institucional de P&D.

Todavia, as empresas vêm buscando a modernização gerencial e organizacional para

alcançarem competitividade. Elas estão ampliando suas certificações que comprovam a

qualidade do produto que fabricam e o cumprimento à legislação, reproduzindo novos

padrões produtivos e iniciando um processo de atividades de pesquisa e de

desenvolvimento tecnológico.

O mercado produtor de matéria-prima sinaliza para o início de um processo de organização.

As empresas apresentam estratégias para fortalecer a cooperação com as instituições de

P&D, investir em nova infra-estrutura produtiva e de pesquisa, capacitar sua força de

trabalho, associar seus produtos à marca “Amazônia” e ampliar as vendas para o mercado

externo.

Entretanto, o apoio do governo é considerado fundamental para a consolidação da

fitoindústria. O tratamento que venha receber a fitoindústria comparativamente ao

concedido ao Pólo Industrial de Manaus – PIM, para a construção de um ambiente propício

ao florescimento de um arranjo produtivo e inovativo.

Page 205: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

191

VII. RECOMENDAÇÕES

Neste capítulo serão apresentadas algumas recomendações que podem contribuir para: 1. a

realização de novas pesquisas acadêmicas; 2. facilitar a redefinição das estratégias das

empresas; e 3. contribuir para o governo estabelecer políticas públicas mais orientadas ao

melhor aproveitamento econômico dos recursos da floresta e de outros recursos naturais.

VII.1. ESTUDOS COMPLEMENTARES À PESQUISA

Alguns estudos complementares a esta pesquisa podem auxiliar no diagnóstico mais amplo

das atividades que envolvem a exploração dos recursos da biodiversidade amazônica, com

ênfase no aproveitamento dos bioativos e da diversidade de espécies da floresta, permitindo

ações mais eficazes de apoio ao desenvolvimento da fitoindústria:

Cadeia de valor – Estudar mais detalhadamente as atividades tecnológicas necessárias

na cadeia produtiva que podem auxiliar na agregação de mais valor aos produtos da

fitoindústria;

Novos segmentos industriais - Ampliar os estudos sobre capacitação tecnológica de

outros segmentos industriais tais como o moveleiro, pesqueiro, madeireiro, frutífero etc.

por utilizarem recursos da biodiversidade;

Novos métodos de pesquisa – identificar e adaptar métodos de pesquisa sobre o

processo de aprendizagem, de capacitação, de gestão de atividades e de inovação

tecnológica compatíveis com as peculiaridades da Amazônia.

Page 206: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

192

VII.2. ESTRATÉGIAS PARA AS EMPRESAS

Diversos são os fatores que se destacam tanto por limitarem a capacitação tecnológica da

fitoindústria quanto pela importância para o desenvolvimento desse setor. Como mostraram

os resultados da pesquisa, distinguem-se entre eles os seguintes fatores: financiamento,

coordenação, certificações, cooperação, pessoal capacitado, P&D e exportação.

O financiamento de terceiros, que tem sido um instrumento de grande valor para

impulsionar negócios em diversas economias, não tem sido utilizado para financiar as

atividades da maioria das empresas da fitoindústria, principalmente como decorrência dos

elevados encargos financeiros. A participação do capital de risco que tem sido fundamental

no financiamento de atividades de empresas de base tecnológica e das novas empresas de

biotecnologia nas economias mais desenvolvidas não tem sido explorada pelas empresas da

fitoindústria.

Considerando que as empresas empregam tecnologias, com diferentes graus de

complexidade na valorização dos recursos da biodiversidade, que são essenciais à

organização e desenvolvimento do setor, o capital de risco emerge como importante fonte

de financiamento para acelerar a modernização de suas atividades.

As empresas se ressentem da falta de uma instituição que exerça forte liderança e

desempenhe o papel de indutora dos programas e projetos para o desenvolvimento da

fitoindústria. Passa a ser uma decisão estratégica e significativa das empresas identificarem

e elegerem uma instituição que coordene essas ações.

A modernização organizacional vem se constituindo como uma importante necessidade das

empresas da fitoindústria que pretendem ser competitivas. Para tanto, algumas ações são

consideradas fundamentais tais como incrementar os recursos de tecnologia da informação,

ampliar as certificações, dispor de pessoal capacitado e realizar atividades de P&D.

Dependendo do tipo de empresa, produto que fabrique e respectivo mercado, uma

determinada certificação representará para ela nível mais elevado de importância. Todavia é

certo que quanto mais certificações as empresas conservem em seu poder, que comprovem

a qualidade do produto, as boas práticas de fabricação, a origem da matéria-prima e produto

maiores serão suas chances de ampliarem sua participação no mercado.

Page 207: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

193

Uma das fragilidades apontadas pelas empresas é o insuficiente nível de capacitação de

pessoal para a realização de tarefas no processo produtivo e de atividades de P&D. Elevar o

nível de qualificação da força de trabalho para qualquer que seja a atividade dentro da

empresa, considerando que o nível de qualificação atual é tido como relativamente baixo,

torna essa questão de extrema relevância.

As empresas realizam poucas atividades de P&D, embora atuem em um setor que exige

constante avanço tecnológico em toda a cadeia produtiva. Entretanto, algumas pesquisas

são tidas como prioritárias: melhorar a qualidade das espécies e conseqüentemente da

matéria-prima empregada na fabricação dos produtos, técnicas de manejo, armazenagem,

transporte, processamento da matéria-prima, formulação dos compostos e desenvolvimento

de novos produtos.

A adoção de uma diversidade de tecnologias de menor grau de complexidade, tanto quanto

de tecnologias mais avançadas como a biotecnologia, torna-se necessária para agregar

maior valor aos recursos da biodiversidade.

A relação das empresas com os agentes do ambiente institucional para a transação dos

recursos necessários as suas atividades é um dos fatores que merecem reflexão. A

cooperação com instituições de P&D é considerada como uma das fragilidades pelas

empresas para a capacitação tecnológica, ao mesmo tempo em que é uma das principais

fontes de aprendizagem, merecendo, portanto, maior esforço das empresas em incrementar

esse tipo de interação.

Buscar parceria e cooperação com as comunidades para a produção, melhoria e

regularidade no fornecimento da matéria-prima e, em alguns casos, para melhorar a

imagem da empresa junto ao mercado, é uma das estratégias a serem observadas.

A propensão da maioria das empresas à exportação é um indicador da forte relação que

aproxima os recursos naturais da biodiversidade amazônica com o mercado externo. Isto

suscita a perspectiva de retomada do intenso comércio internacional ocorrida com a

abertura do Rio Amazonas à navegação estrangeira.

Entretanto, nesta nova era da valorização dos recursos naturais através de atividades de

C&T, o que se espera das empresas é que busquem substituir a comercialização de produtos

in natura por outros de maior valor agregado.

Page 208: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

194

VII.3. DIGRESSÕES SOBRE POLÍTICAS PÚBLICAS

A intervenção do governo, mediante a definição de políticas públicas que contemplem

alguns fatores prioritários, é considerada fundamental para incentivar não apenas o

desenvolvimento da fitoindústria, mas também de outros setores que utilizam a

biodiversidade da Amazônia como fonte de matéria-prima.

Diversas dessas questões dizem respeito à legislação que trata dos incentivos fiscais

baseados no processo produtivo básico – PPB administrado pela Suframa, a necessidade de

apoio para o registro de patentes, criação de fundos de financiamento, capacitação de

pessoal e estímulo à exportação. Entretanto, algumas questões se destacam: (a)

aglomeração industrial; (b) Coordenação (c) capacitação tecnológica dos produtores de

matéria-prima; e (d) P&D.

Há a convicção do setor produtivo e de parte dos pesquisadores, técnicos e especialistas

entrevistados de que tanto o governo estadual quanto o federal, este representado pela

Suframa, são essenciais na criação de infra-estrutura necessária que estimule a aglomeração

de empresas que se apóiam nos recursos da biodiversidade.

Essa aglomeração deverá apresentar como conseqüência o ambiente apropriado para a

dinamização da atividade produtiva, intensificação de sinergia e arranjos como o de cluster.

Esses arranjos permitem criar um grau de enraizamento, implicando em articulações e

envolvimento dos diferentes agentes, e combinando os diversos recursos: naturais,

humanos, financeiros e técnico-científicos.

A aglomeração industrial deve ser incentivada não apenas para ser constituída por empresas

que já atuam na fitoindústria, mas também por empresas com tecnologias mais avançadas e

que atuam em outros segmentos importantes para o desenvolvimento de atividades

produtivas baseadas na biodiversidade. Essas atividades estão relacionadas ao agronegócio

e ao bionegócio.

Alguns dos segmentos econômicos, complementares aos que hoje integram a fitoindústria e

considerados essenciais são: artesanato, extrato de plantas medicinais, extrato aromático,

essência, óleo, nutracêutico, cosmecêutico, semente, fruta natural e cristalizada, polpa de

frutas pasteurizada e bioativos.

Page 209: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

195

Cabe ao governo desempenhar um papel mais ativo na coordenação de ações importantes

relacionadas ao melhor aproveitamento econômico dos recursos da biodiversidade tais

como estimular alianças estratégicas entre as empresas e instituições de P&D e fomento

para estimulara a interação, troca de experiência e complementação de competências.

Uma dessas ações importantes é o de estimular a aproximação da indústria do PIM com a

fitoindústria. Considerando o estágio de desenvolvimento do PIM, alguns benefícios podem

emergir tais como a transferência de competências de gestão, acesso aos canais para a

exportação, visto que a maioria das empresas do PIM é de capital estrangeiro, estímulo à

participação das empresas do PIM como agentes financiadores de capital de risco.

Estimular a produção de matéria-prima para a fitoindústria no interior do estado poderá

proporcionar algumas vantagens como estratégia de desenvolvimento regional,

desconcentrando de Manaus a oferta de emprego e a produção. Entretanto, é fundamental o

papel do governo no desenvolvimento e transferência de tecnologias para as atividades das

etapas iniciais da cadeia produtiva com ênfase na extração, armazenamento, produção e

distribuição dessa matéria-prima.

Diversas atividades de P&D são urgentes para a produção e distribuição da matéria-prima:

plantio, coleta, armazenagem, transporte e transformação. Atividades de P&D em

biotecnologia deverão priorizar: (a) Biotecnologia vegetal: cultura de tecidos, plantas

transgênicas, bioinseticidas, conservação in vitro, identificação de cultivares e produção de

alimentos modificados; (b) Área de saúde: desenvolvimento de produtos farmacêuticos e

fitoterápicos; (c) Meio ambiente: preservação da biodiversidade, tratamento e/ou

aproveitamento de resíduos, produção de bioenergia a partir de biomassa; (d)

Bioinformática: desenvolvimento de bases de dados, estudos sobre metodologias de

datamining; (e) Biomateriais: biofarmacêuticos e outros materiais de origem biológica com

seleção por screening.

A valorização dos recursos da biodiversidade dependerá, além das atividades de inovação

tecnológicas em toda a cadeia produtiva, dos projetos de pesquisas básicas e aplicadas com

o apoio, aporte financeiro e disponibilidade de recursos materiais que apenas o governo

poderá oferecer.

Page 210: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

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Page 219: VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E

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Anexo 1 – Questionário submetido às empresas pesquisadas

CPG/FT

UFRJ-COPPE/UFAM

UNIV

ERSIDADE DO AMAZONAS

IN UNIVERSA SCIENTIA VERITAS

Empresa: Respondente Data:

1. Identificação e características das empresas 1.1.Dados da empresa

a) Principais dirigentes A Titulação

i) Origem Área de formação 3o grau Mestre doutor Academia Biologia Indústria Química Outras Farmácia

Botânica Agronomia Outros b) Mão-de-obra A B 1) Direta Qnt. % = > graduado Primeiro ano da Empresa Atual Daqui a 6 anos

2) Indireta Primeiro ano Atual Daqui a 6 anos

c) Vendas $ Vendas $ Primeiro ano 2003 2000 2004 2002 2006 1) Exportação $ Exportação $ Primeiro ano 2003 2000 2004 2002 2006 2) Vendas para o mercado local $ Vendas $ Primeiro ano da Empresa 2003 2000 2004 2002 2006

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1.2.Fatores de atratividade locacional para a empresa Fatores A B

Baixo custo de P&D, produção ou administrativo Exploração do conhecimento tradicional das espécies Incentivos fiscais Produtos de origem da “Amazônia” Proximidade com a fonte de matéria-prima Experiência profissional Outros

1.3. Matéria-prima utilizada pela empresa Espécies A B

Andiroba Babaçu Borracha (látex) Buriti Castanha da Amazônia Copaíba Crajiru Cupuaçu Guaraná Muirapuama Murumuru Pau rosa Pupunha Tucumã Urucum Outros

1.4. Bens intermediários e produtos da biodiversidade Produtos A B

a) Bens intermediários Óleo Bruto Óleo vegetal refinado para cosméticos Óleo vegetal refinado para fármacos Óleo vegetal refinado para alimentos Essências para cosméticos Extratos para Cosméticos Extratos para fármacos Extratos para Alimentos

b)Bens finais Fitocosméticos Fitofármacos Alimentos Outros A– Situação atual da empresa; B–Grau de importância no futuro (próximos 6 anos) (1-pouco importante; 2- regular; 3-importante; 4-muito importante )

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207

2.Atividades Inovadoras

2.1. Modernização gerencial e organizacional a) Gerenciamento do projeto A B Construção de planta básica Sistema de atendimento a cliente Fabricação com exclusividade por encomenda Sistemas integrados informatizados: financeiro, folha de pessoal, estoque

Kaizen, Just-in-time, kanban Viabilização de treinamento a fornecedores Plano Estratégico

b) Certificações Série ISO Certificação Orgânica Selo Orgânico GMP ou BPF FFC Certificação da cadeia de custódia ANVISA Plano de Plantio e Manejo Ministério da Agricultura Selo Verde Local

2.2. Atividades inovadoras de processo e produto a) Gestão de máquinas e equipamentos A B Faz manutenção de máquinas, equipamentos e substituição de peças

Cópia simples e adaptação de especificações de projetos existentes

Projeto e desenvolvimento de máquinas e equipamentos

b) Organização do processo de produção Melhoria de lay-out & otimização da produção; PCP – Planejamento e Processo de controle da produção Automação do processo produtivo Formulações dos compostos para a fabricação dos produtos

c) Desenvolvimento de produto Pequenas modificações no produto para adequar à produção ou mercado

Cópia de produtos existentes no mercado Desenvolvimento de novos produtos sem similares no mercado

d) Controle de qualidade Análise físico-química Análise microbiológica Teste clínico A– Situação atual da empresa; B– Grau de importância no futuro (próximos 6 anos) (1-pouco importante; 2- regular; 3-importante; 4-muito importante )

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2.3. P&D e atividades de biotecnologia

2.3.1. Atividades de pesquisa e patentes Exemplos a) Atividades de Pesquisa

b) patentes

2.3.2. Atividades de biotecnologia – empregando matéria-prima da flora

Atividades A B Atividades A B Comprovação científica do conhecimento tradicional

Combinações genéticas

Fermentação Descoberta do código genético

Mutações genéticas Recombinação de DNA Procedimentos de screening Hibridoma Bioconversão Outros (especifique) Biocatálise A– Atividade para a qual já existe competência local; B– Atividade que será possível realizar nos próximos 10 anos (1-pouco importante; 2- regular; 3-importante; 4-muito importante )

3.Fontes internas e externas de informação e de aprendizado a) Internas A B Atividades internas de P&D Pessoal qualificado Treinamento

b) Externas Aquisição de máquinas e equipamentos Aquisição de tecnologia: licenças, patentes e “know how” Consumidores e Fornecedores Concorrentes Conhecimento tradicional Cooperação com comunidades tradicionais Cooperação com empresas de fora, incluindo coligadas Cooperação com empresas locais Cooperação com Institutos de P&D, e consultores de fora

Cooperação com Institutos de P&D, e consultores locais

Conferências, publicações especializadas, feiras, exposições Redes de informações Outros A– Situação atual da empresa; B– Grau de importância no futuro (próximos 6 anos) (1-pouco importante; 2- regular; 3-importante; 4-muito importante )

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209

4. Fatores que afetam as atividades inovadoras a) Pessoal qualificado A B P&D Produção Registro de patentes Formulação dos compostos dos produtos da empresa

b) Infra-estrutura física Para produção Para P&D

c) Financiamento

d) Cooperação Com Institutos de P&D Locais Com Institutos de P&D de fora Com as Comunidades Tradicionais Com empresas locais Com empresas de fora

e) Mercado e.1. Matéria-prima de origem da flora Logística de transporte Escassez Ausência de política de preço Seleção Planejamento e tecnologia de plantio e coleta

e.2. Produto Logística de transporte Canal de distribuição Design e embalagem do produto Propaganda Preço

f) Análises, Ensaio e Testes (laboratório) Identificação físico-química Identificação fitoquímica de marcadores Microbiologia Conversão química (química fina) Cristalização Screening Testes clínicos Outros

g) Dificuldades ambientais Apoio do Governo Coordenação institucional para apoiar o setor Implantação de grandes empresas concorrentes Incentivos fiscais Problemas alfandegários/tributários

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210

Aprovação nos órgãos sanitários Tecnologia de processo e produto Legislação Impacto ambiental, biopirataria, produtos sintéticos similares Falta de base industrial local em setores afins às atividades da empresa

Processo produtivo básico (PPB) para uso de recursos da biodiversidade

Outros A– Situação atual da empresa; B– Grau de importância no futuro (próximos 6 anos) (1-pouco importante; 2- regular; 3-importante; 4-muito importante )

5. Estratégias da empresa para a capacitação tecnológica e competitividade

Estratégias A B Cooperação com as comunidades tradicionais para homologar fornecedor

Cooperação com Institutos de P&D locais Política de plantio e manejo de matéria-prima Infra-estrutura de produção Infra-estrutura de laboratório de P&D Classificar os produtos como orgânicos Parceria para distribuição do produto Delimitação do escopo de produtos e mercado Capacitação de Pessoal Associação a produtos à marca “Amazônia” Ampliação do mercado nacional Exportação Apoio à criação de selo verde Uso da biotecnologia Tradicional Uso da biotecnologia Moderna Outros A– Situação atual da empresa; B–Grau de importância no futuro (próximos 6 anos) (1-pouco importante; 2- regular; 3-importante; 4-muito importante )

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Anexo 2 - Questionário submetido aos técnicos do governo, especialistas e

pesquisadores

Guia Geral de Entrevista: para utilização e valorização de recursos da flora

1. Políticas públicas e apoio do governo à fitoindústria

Arranjos Produtivos Locais – APLs, atividades industriais e de pesquisa que mereceriam apoio;

Fontes e recursos financeiros para investimento em atividades de P&D;

Capacitação de pessoal e áreas prioritárias;

Legislação;

Incentivos.

2. Infra-estrutura de P&D e serviços tecnológicos de apoio à fitoindústria

Instituições de P&D e respectivas atividades que poderiam auxiliar a fitoindústria;

Laboratórios de análise e atividades que poderiam auxiliar a fitoindústria;

Especializações requeridas de pessoal para atividades de P&D e prestação de serviços tecnológicos para a fitoindústria.

3. Cadeia produtiva e cadeia de valor da fitoindústria

Gargalos e outras dificuldades para a melhoria da cadeia produtiva e cadeia de valor;

Tecnologia de plantio, manejo, armazenagem e transporte;

Tecnologia de processo e produto;

Produção, qualidade e preço da matéria-prima;

Certificações necessárias para as empresas;

Tipo de mão-de-obra especializada e necessária para as empresas.

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Anexo 3 - Empresas pesquisadas

EMPRESA SUBSETOR/LINHA DE PRODUTOS

RESPONDENTE/CARGO

1. Bens Finais Amazon Ervas - Homeopatia da Amazônia Farmácia e Laboratório Ltda.

Bens finais: Fitoterápicos, Fitocosméticos.

Graça Barbosa – Diretora Técnica.

Essencial – Arte em Perfumaria Ltda.

Cosmético: bens intemediários e finais

Fabio Vidal – Gerente de Produção

Hisamitsu Farmacêutica do Brasil Ltda.

Fitofármacos: Adesivo Cutâneo (emplasto)

Hidenobu Yano – Gerente administrativo.

Pharmakos D’Amazônia Ltda

Bens finais: Fitoterápicos, Fitocosméticos.

Schubert Pinto (Msc.) - Proprietário e dirigente.

Pronatus do Amazonas Ltda

Fitoterápicos, Fitocosméticos: bens finais

Evandro Araújo Silva – proprietário e dirigente

2. Insumos Agrorisa Produtos Alimentícios Naturais Ltda.

Alimentos: bens intermediários.

Rivaldo Gonçalves de Araújo – Proprietário e dirigente.

Crodamazon Ltda. Cosmético: óleo refinado George Dantas – Gerente geral. IB SABBÁ Ltda. Alimentos: Castanha

desidratada (Semente) Luis Mirrya – Gerente administrativo

Magama Industrial Ltda. Fitoterápicos e Fitocosméticos: bens intermediários

Daniel Israel do Amaral – Proprietário e dirigente

PRB – Produtos Regionais do Brasil Ltda.

Alimentos: Extrato de açaí e cupuaçu

Antônio Carlos Alencar – Proprietário e dirigente

3. Alimentos Amazônia Indústria e Comércio de Polpas Ltda.

Polpas de Frutas Congeladas Adalberto Gonçalves – Proprietário

Bombons Finos da Amazônia

Alimentos: balas, bombons, geléias.

Jorge Alberto Coelho – Proprietário

Castro & CIA. Ltda. Alimentos: concentrados de guaraná

Paulo Garcia de Souza – Sócio e dirigente

Cupuama – Cupuaçu do Amazonas Ind. Comércio Exportação Ltda.

Polpas de Frutas Alcides Sales – Proprietário e dirigente

Oiram Chocolates Ltda. Alimentos: Bombons de Chocolate Recheados com Frutas Regionais

�délia Fogaça – Proprietária e dirigente

Recofarma Indústria do Amazonas Ltda.

Alimentos: concentrado de guaraná

Jório Veiga/Eraldo Sales – Gerentes

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213

Anexo 4 - Técnicos do governo, especialistas e pesquisadores entrevistados

Nome Instituição ou Atividade Objetivos da Entrevista

Marly Costa (PhD) SECT/FAPEAM

Financiamento de projetos para pesquisa com a biodiversidade

Maria Katherine Oliveira (MsC)

FUCAPI – Fund. Centro de A. P. I. Tecnológica.

Transferência de tecnologia às comunidades tradicionais

Alessandro Trindade FUCAPI – Fund. Centro de A. P. I. Tecnológica.

Arranjos Produtivos Locais de Fitoterápicos

Ismael Tariano Yakinõ – Associação de Produção e Cultura Indígena

Relação das Comunidades com as empresas

José Bonifácio FEPI – Fundação Estadual dos Povos Indígenas

Relação das Comunidades com as empresas

Fernando Tirolli/ Angela Melo (PhD)

C Q LAB – Consultoria e Controle de Qualidade Ltda.

Análises laboratoriais de apoio à fitoindústria

Ariane Pacheco (MsC) Nutricon Análises laboratoriais de apoio à fitoindústria

Vanderléia Teixeira/ Marcionei Oliveira

SEBRAE-AM Arranjo Produtivo Local de Fitoterápicos/Fitocosméticos

Sr. Aguimar Simões (MsC)/ Karina Vilar

Agência de Floresta e Negócios Sustentáveis do Amazonas

Transferência de Tecnologia para as comunidades no interior.

Robert Mouse Empresário e consultor do CBA

Produção e processamento de matéria-prima

Maria Aldenir Brito (MsC)

Ministério da Agricultura Qualidade dos produtos vegetais e Certificações

José Merched Chaar (PhD)

Pesquisador da Univ. Fed. do Amazonas - UFAM e coordenador da Org. das Cooperativas do Brasil (OCB) no Amazonas

Pesquisa com a castanha-do-Brasil para alimentos

Imar Araújo Coordenador do Centro de Biotecnologia do Amazonas – CBA

Organização e atividades do CBA

Spartaco Filho (PhD) Pesquisador da Univ. Fed. do Amazonas -UFAM e membro do CBA.

Atividades de biotecnologia no Amazonas e formação de pessoal

José Castro (PhD) Pesquisador da Univ. Fed. do Amazonas - UFAM

Instalação de Miniusinas para a produção de óleo

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214

Anexo 5 - Glossário de espécies da floresta empregadas como matéria-prima

Nome Popular Nome Científico Açaí Euterpe precatoria Amapá Brosimum parinarioides Acerola Malpighia glabra Andiroba Carapa guianensis Cedro Amargo Cedrella odorata Cabacinha Luffa operculata Cana-de-Açucar Saccharum officinarum Capim-santo Cymbopogon citratus Castanha Bertholletia excelsa Cipó Cabeludo Mikania hirsutissima Copaíba Copaifera officinalis Cuia Crescentia amazônica Cumaru Dipteryx odorata Elixir parigórico Piper hispidum Eucalipto Eucalyptus globulus Imbaúba Cecropia peltata Guaraná Paullinia cupana Goiabeira Psidium guayava Graviola Annona muricata Hortelã Mentha piperita Jatobá Hymenaea courbaril Jucá Caesalpinia férrea Jurubeba Solanum paniculatum Manjerioba Cassia occidentalis Mamão Carica papaya Mangarataia Zinziber officinale Mastruz Chenopodium anbrosioides Mururé Brosimum acutifolium Maracujá Passiflora edulis Mastruço Chenopodium ambrosiodes Melão de São Caetano Momordica charantia Muirapuama Ptychopetalum olacoides Pata de vaca Bauhinia forticata Pau d'Arco Tabebuia impetiginosa Pedra Ume Caá Myrcia salicifolia Puxuri Licaria puchury-major Sacaca Croton cajucara Sucuuba Himatanthus sucuuba Urucum Bixa orellana