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USO E OCUPAÇÃO DO SOLO E UNIDADES GEOAMBIENTAIS DA BACIA HIDROGRAFICA DO RIBEIRÃO DA LAJE, LOCALIZADO NO MUNICÍPIO DE
CARATINGA, MG
Kleber Ramon Rodrigues. UNEC. [email protected] Mírian de Abreu Albuquerque. UNEC. [email protected]
Carlos Ernesto Gonçalves Reinald Schaefer.UFV. [email protected] Elpídio Inácio Fernandes Filho. UFV. [email protected]
Akenya Freire de Alkimim. UFV. [email protected]
RESUMO
A Região Leste de Minas Gerais guarda remanescentes relativamente conservados da Mata Atlântica, associados a inúmeras nascentes e cursos d’água. Mesmo com a criação da APE (Área de Proteção Especial) do Ribeirão da Laje em 1999, a região ainda vem sofrendo degradação com a ação antropogênica e falta de planejamento. Estudos ambientais multidisciplinares são necessários para subsidiar o planejamento e as decisões a serem tomadas. Este trabalho teve como objetivo principal o mapeamento do uso e ocupação do solo e seus reflexos nos cursos d’água do Ribeirão da Laje. O mapa de localização, do uso e ocupação do solo, e dos geoambientes da Bacia Hidrográfica do Ribeirão da Laje foram confeccionados através da interpretação da carta topográfica do IBGE (1:100.000), fotos áreas da CEMIG em escala 1:30.000 e checagem de campo, com digitalização por meio dos programas Arcinfo/ArcView. A análise fisiográfica permitiu caracterizar as unidades geoambientais, com base principalmente nos aspectos pedo-geomorfológicos.
Palavras-Chaves: Solos, Geoambientes e Bacia Hidrográfica.
ABSTRACT
The east region of Minas Gerais keep remaining relatively conserved of Atlantic Forest associated to several sources and water course. Even with the creation of EPA (Especial Protect Area) of the Ribeirão da Laje in 1999, the region has undergone degradation due to anthropogenic action and lack of planning. Multidisciplinary environmental researches are necessary to subsidize the planning and decisions that need to be taken. This work aims mainly mapping the use and occupation of the soil and its reflected in water courses. Location, use and occupation of the soil and geoenmviroments maps have been created through the interpretation of the IBGE topographic survey (1:100.000) and CEMIG aerial photos (1:10.000) scale and field checking, through the digitalization by using ArcInfo/ArcView programs. To the pedologic study it were open six profiles of the grounds compounding a tipical sequency about gneisscal areas of the east de Minas. Physiographic analyze allowed characterize the geoenvironments units based principally in pedo-geomorphological aspects.
Keywords: Soils, Geoenvironments and Basin.
Introdução
Através de séculos a humanidade foi conquistando espaços, quase sempre à custa da degradação
ambiental, de tal forma que as nações até hoje estão à procura do ponto de equilíbrio entre o
desenvolvimento e as práticas ambientais conservacionistas e preservacionistas.
A perspectiva ecológica começa com uma visão do conjunto, uma compreensão de como as
diversas partes da natureza se integra formando padrões que tendem ao equilíbrio e persistem ao longo
do tempo. Mas, essa perspectiva não pode encarar a terra como dissociada da civilização humana, pois
somos parte integrante do todo, e olhar o ambiente significa, em última análise, olhar para nós
mesmos.
Neste sentido, a análise ambiental visa compatibilizar usos múltiplos, no sentido de harmonizá-los
ao chamado desenvolvimento sustentável, definido como o processo de mudança no qual, a exploração
dos recursos, o direcionamento dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e as
mudanças institucionais, encontram-se dirigidos à satisfação das necessidades das gerações futuras
(TORNISIELO et al, 1995).
Esta atitude, motivada muito mais pela necessidade de racionalizar custos do que de desenvolver
possíveis cuidados com o ambiente reflete, explicitamente, o novo posicionamento de
empreendimentos agrícolas, diante da considerada nova ordem econômica mundial, onde o aumento
sensível da competitividade passa, seguramente, pela redução de custos, sem a qual as empresas
estarão à margem dos mercados.
Assim sendo, é necessário evidenciarmos que a análise ambiental possui a amplitude de ação que
permitirá que o homem transcenda à sua temporalidade, desenvolvendo gestões que subsidiarão a
execução de uma reforma político-econômica, onde os preços refletirão de modo cabal, os custos
ambientais. Somente assim será possível o estabelecimento de prioridades para uma estratégia racional
de sobrevivência em longo prazo.
Portanto, a análise ambiental deve embasar todo e qualquer plano de governo, subsidiando a
definição das linhas de ação dos processos de planejamento das atividades humanas, tais como dos
setores energético, viário, agrícola, urbano e outros, podendo ser considerada um componente da
segurança em todos os segmentos do governo, principalmente no que tange a conservação da
biodiversidade (TORNISIELO et al, 1995).
Nesse sentido, conhecer a capacidade de suporte dos recursos naturais da Bacia Hidrográfica do
Ribeirão da Laje, e reconhecer a importância desses para a continuidade ambiental e sócio-econômica
de Caratinga e região é de fundamental importância para que as futuras gerações não sofram com a
falta dos mesmos. Assim sendo, este trabalho trouxe uma proposta que vem de encontro com a
necessidade de se conhecer a capacidade de suporte dos recursos naturais da Bacia do Ribeirão da
Laje, onde a hipótese central é que o processo de ocupação e uso dos solos na Bacia conduz a
alterações na dinâmica ambiental.
Material e Métodos
1. Localização da Área de Estudo
A Bacia Hidrográfica do Ribeirão da Laje está inserida dentro dos municípios de Santa Bárbara do
Leste, Santa Rita de Minas e Caratinga, MG, na área de proteção especial do Ribeirão da Laje (Figura
1).
Figura 1. Localização da área de estudo.
2. Uso e Ocupação do Solo e Unidades Geoambientais
Para a estratificação do meio físico em unidades geoambientais foram avaliados principalmente os
aspectos pedo-geomorfológicos, assim como o uso da terra (adaptado de BERTRAND, 1968 e 1972;
SOTCHAVA, 1962 e 1977; TRICART & KIEWIETDEJONGE, 1992; SCHAEFER, 1997 e
CHRISTOFOLETTI, 1999). Foram agrupadas sob uma mesma denominação áreas com características
similares em relação aos atributos avaliados, sendo identificadas e descritas as características
ecogeográficas observadas e problemas geoambientais associados. Para isso foi utilizada a carta do
Figura 1.
IBGE em escala 1:100.000, trabalhos de campo e imagem de satélite Landsat em escala 1:50.000 de
1996. Para a digitalização dos mapas de localização da Bacia, de uso e ocupação do solo e unidades
geoambientais, foram utilizados os programas ArcInfo e ArcView do laboratório de geoprocessamento
do departamento de solos da Universidade Federal de Viçosa.
Resultados e Discussão
1. Uso e Ocupação do Solo
O sistema de drenagem local é comandado pelo rio Caratinga, no qual deságua o Ribeirão da Laje,
receptor de todos os tributários compreendidos dentro da área em estudo.
A ocupação humana se espacializa basicamente em função da posição do relevo ao longo dos
cursos d’água. Nas porções altas das encostas e topos predominam culturas de café e pastagens, e nas
planícies, explorações de hortifrutigranjeiros e agricultura de subsistência (Figuras 2, 3 e 4). Desta
forma, a drenagem superficial e subsuperficial natural, possivelmente, podem carrear para os cursos
d’água vários tipos de poluentes orgânicos ou inorgânicos como metais pesados, contidos nos insumos
e agrotóxicos (RODRIGUES et al., 2001).
. Nas porções médias das encostas e em suas bases encontram-se as residências, em áreas
desmatadas, para instalar sítios e benfeitorias, com exposição do solo que acentua o fenômeno erosivo.
A concentração da população ao longo dos córregos contribui para a poluição hídrica com o
lançamento de esgoto doméstico, deposição do lixo às margens dos córregos e os próprios deflúvios
das atividades agrícolas.
A mata ciliar ao longo dos cursos d’água se apresenta muito devastada, restando apenas pequenas
manchas. Em alguns trechos do ribeirão, principalmente onde os vales são amplos, pode-se observar
que este foi completamente drenado (RODRIGUES et al., 2001).
Figura 2 – Uso e ocupação do solo nos mares de morros da região da Bacia do Ribeirão da Laje.
A Bacia do Ribeirão da Laje, originalmente, era ocupada em toda sua extensão pela floresta
ombrófila semidecídua. Esta formação vegetal ocupa as bordas oeste de todo o alinhamento serrano
que bordeja a Costa Atlântica Brasileira no sudeste (CAMPOS et al., 2000). A vegetação original foi
cedendo lugar a diferentes tipos de usos de solos, que além de alterarem a paisagem, causaram
considerável desequilíbrio no ambiente. A ocupação da bacia é marcada por cultivos de café e
pastagens. Outros trechos da área em estudo são ocupados por lavouras temporárias, áreas
desocupadas e sítios urbanos (distrito de Santa Luzia de Caratinga, criado através da lei municipal nº
2.126/93) e sedes rurais.
As lavouras de olerícolas, cultivos temporários de repolho, tomate, cenoura, alface etc, ocupam as
porções planas e baixas do terreno, mais precisamente as várzeas e planícies fluviais com Gleissolos
(Figura 3).
Figura 3 – Cultivo de olerícolas em Gleissolos.
O cultivo de eucalipto é de pouca relevância na região, ocupando porção reduzida da bacia do
ribeirão da Laje. Esse tipo de cultivo está voltado basicamente para produzir lenha que alimenta
secadores de café instalados em fazendas da região.
As lavouras de café são encontradas nas vertentes, muitas vezes em áreas de declividades
acentuadas, nos topos das colinas e nas proximidades dos altos e médios cursos dos afluentes e do
Ribeirão da Laje.
Em vários trechos dos afluentes do Ribeirão da Laje, constata-se a construção de represas de
pequeno e médio porte que são utilizadas para irrigação, piscicultura, dessedentação animal entre
outros usos, alterando a vazão de importantes afluentes, e conseqüentemente a vazão do curso
principal (RODRIGUES et al., 2001).
Na sede do distrito de Santa Luzia, estão localizados dois despolpadores de café de grande porte. O
primeiro destina seus resíduos para um enorme tanque aberto no solo, onde ficam armazenados por
vários meses. O segundo destina seus resíduos para adubação por aspersão em suas lavouras de café.
As características pedológicas, geomorfológicas e o uso e ocupação do solo representam os
principais diferenciadores das unidades geoambientais na Bacia Hidrográfica do Ribeirão da Laje
(RODRIGUES et al., 2001).
Figura 4 – Uso e ocupação do solo da Bacia Hidrográfica do Ribeirão da Laje – MG.
2. Unidades Geoambientais
Foram identificadas em caráter de reconhecimento 10 unidades geoambientais na área estudada (Figura 5).
Figura 5 – Unidades Geoambientais da Bacia Hidrográfica do Ribeirão da Laje – MG.
2.1.Várzeas e Planícies Fluviais com Gleissolos e Olerícolas
São ambientes de sedimentação em fundos de vales, por vezes cultivados com olerícolas. São áreas
localizadas ao longo dos cursos d’água, que experimentam hidromorfismo durante grande parte do
ano. Consistem em áreas de recepção de sedimentos colúvio-aluviais. O ambiente redutor,
estruturalmente controlado, sob a influência de uma precipitação de 1.200 mm/ano, e ambiente de má
drenagem favorecem o predomínio de condições anaeróbicas por um período do ano. Assim, há uma
menor produção de biomassa (restos orgânicos), ocorrendo a formação de gleissolos.
Os Gleissolos são solos minerais, cuja gênese é relacionada ao hidromorfismo. Apresentam
horizonte Glei, iniciando numa profundidade máxima de 50cm a partir da superfície. Sua principal
característica é a forte gleização à qual está sujeito, resultante do regime de saturação de umidade, que
proporciona elevadas condições redutoras ao meio, com encharcamento constante ou periódico. A
textura normalmente é argilosa ou muito argilosa, enquanto a estrutura apresentada é em blocos
angulares e subangulares, às vezes maciça (Figura 6).
Figura 6 – Perfil de um Gleissolo em várzea com cultivo de olerícolas.
Sua drenagem é deficiente, normalmente apresentam-se álicos ou distróficos e com argila de baixa
atividade. Ocorrem em relevo plano e em depressões (Figura 7).
Figura 7 – Várzea com a ocorrência de Gleissolos e cultivo de olerícolas e milho.
É comum encontrar solos gleizados associados a vales suspensos a montante de afloramentos de
diques de diabásio, perpendiculares aos cursos d’água. Estes provocam um represamento da drenagem
devido ao controle de base que exercem, facilitando o acúmulo de materiais e condições de
encharcamento, favorecendo condições redutoras. Essa situação proporciona condições ideais para a
formação de horizontes gleizados, como é o dique que provoca a formação da cachoeira da Laje,
localizada no curso principal do Ribeirão.
Neste geoambiente o principal uso são as olerícolas (alface, couve, beterraba, cebola de folha, entre
outras adaptadas às condições de saturamento sazonal). São áreas de importância ambiental,
representando locais de armazenamento e filtragem de água, funcionando como verdadeiras “caixas
d’água” ao longo do ano.
Os problemas ambientais principais são a ausência de mata ciliar, própria desses ambientes. Sua
conservação nas margens dos rios é importante para sombreamento, preservação de espécies da fauna
aquática, represamento da carga de sedimentos oriundo das partes altas entre outras funções. O
replantio das matas ciliares pode retardar a contaminação dos corpos d’água com agroquímicos usados
nas culturas e resíduos orgânicos, oriundos das residências, estábulos de bovinos, entre outras fontes
(RODRIGUES et al., 2001).
2.2. Várzeas e Planícies Fluviais com Gleissolos e pastagem
Vinculada ao manejo do gado, esta unidade geoambiental difere da descrita anteriormente no
tocante ao tipo de uso e intensidade, ou seja, aos danos ambientais causados como: pisoteio excessivo
com a possibilidade de aumento da compactação diminuição no diâmetro dos poros, dificultando a
infiltração e percolação da água, o que provoca modificações na dinâmica hidrológica do ambiente.
Essa degradação física pode comprometer a função das várzeas em filtrar os agroquímicos usados na
agricultura, oriundos das encostas superiores (Figura 8).
Figura 8 – Várzea com Gleissolos e pastagens.
2.3. Encostas Convexas e Topos com Latossolos e Café
Os chamados latossolos húmicos da região ocorrem como uma variação da classe dos Latossolo
Vermelho Amarelo, por apresentarem características físicas e químicas praticamente semelhantes cuja
diferença consiste no fato de apresentarem um horizonte A denominado de húmico que se caracteriza
por ser muito espesso e pela sua cor escura em função do alto teor de matéria orgânica (Figura 9).
Estes solos apresentam geralmente o caráter álico (% Al> 50%), ou seja, elevadas concentrações de
alumínio na capacidade de troca catiônica (CTC). Essas elevadas concentrações de alumínio são
responsáveis, na região, pela preservação dos elevados teores de matéria orgânica nos horizontes
superficiais desta classe de solo (Figura 10).
Figura 9 – Latossolos Vermelho Amarelo com Horizonte A Húmico, sob o café.
Nesta unidade os problemas ambientais são associados ao desmatamento sem critério e o
estabelecimento da monocultura do café, que utiliza em seu manejo, agroquímicos que podem ser
transportados para os cursos d’água, por meio da erosão, podendo contaminar as águas superficiais e
subsuperficiais (RODRIGUES et al., 2001).
Figura 10 – Latossolos Vermelho Amarelo com Horizonte A Húmico.
Outro problema ambiental importante de ressaltar é que grande parte dos produtos solúveis são
levados pelas primeiras chuvas para os cursos d’água, onde a dinâmica ambiental sugere uma
alcalinização excessiva da água e uma concentração de cálcio, fósforo e magnésio, gerando prejuízos
para a biota aquática. Além do supracitado, é importante ressaltar que o uso indiscriminado de
calcário, nestes solos poderá implicar na mineralização acelerada da matéria orgânica que passa a
liberar o alumínio complexado, causando erosão pela desestruturação dos agregados. Com isso, a
perda ou desaparecimento do horizonte A húmico, de suma importância para a sustentabilidade dos
sistemas produtivos neste geoambiente, poderá ocorrer de forma acentuada, podendo chegar a
inviabilizar a sustentabilidade da sua utilização (RODRIGUES et al., 2001)..
2.4. Encostas Convexas e Topos com Latossolos e pastagem
Nesta unidade geoambiental, que mostra as mesmas características pedo-geomorfológicas da
unidade anterior, o uso atual (pastagem) é o que a diferencia. Sua expansão se deu em detrimento da
floresta nativa, resultando em problemas ambientais, como sobrecarga da capacidade de suporte dos
solos, proporcionado pelo pisoteio do gado que promove a compactação dos horizontes superficiais,
alterando a dinâmica hídrica desses, favorecendo o escoamento superficial acelerado e a erosão, o que
compromete a recarga dos aqüíferos. Outro problema ambiental envolvido no manejo do gado refere-
se aos efluentes liberados, que podem contaminar os recursos hídricos superficiais e subsuperficiais
(Figura 11).
Figura 11 – Paisagem típica de um Latossolo Vermelho Amarelo com Horizonte A Húmico sob pastagem.
2.5. Encostas Convexas e Topos com Latossolos e Matas
Nesta unidade geoambiental pode-se dispensar os comentários sobre as características físico-
químicas desta classe de solos, devido a que já foram debatidas nos tópicos anteriores que se referem a
latossolos vermelho amarelo húmico.
Em relação ao comportamento ambiental esta unidade é favorecida pela presença de cobertura
vegetal (Figura 12).
Esta unidade geoambiental possui suma importância na recarga dos aqüíferos e no controle da
remoção de sedimentos, associado com a elevada contribuição de matéria orgânica a ser decomposta,
que favorecem os elevados teores de carbono orgânico encontrados nos solos. A estrutura granular
forte (pó-de-café), típica dos latossolos, resulta numa porosidade que proporciona uma boa
condutividade hidráulica e uma elevada percolação da água em profundidade que proporciona uma
fonte vital de recarga do lençol freático e dos aqüíferos profundos (RODRIGUES et al., 2001).
Figura 12 – Floresta Ombrófila Semidecidual sobre o Latossolo Vermelho Amarelo com Horizonte A Húmico.
2.6. Encostas Ravinadas com Nitossolos, Cambissolos e Pastagem
Os nitossolos compreendem solos constituídos por material mineral, com horizonte B nítrico
(reluzente) de argila de atividade baixa, textura argilosa ou muito argilosa, estrutura em blocos
subangulares. Estes solos apresentam horizonte B bem expresso em termos de desenvolvimento de
estrutura e cerosidade, mas com inexpressivo gradiente textural. Essa classe não engloba solos com
incremento no teor de argila requerido para o horizonte B textural, sendo a diferenciação de horizontes
menos acentuada que aqueles, com transição do A para o B clara ou gradual e entre suborizontes do B
difusa.
Os cambissolos compreendem solos constituídos por material mineral, com horizonte B incipiente
subjacente a qualquer tipo de horizonte superficial.
Normalmente a textura do horizonte B incipiente (Bi) é franco-arenosa ou mais fina, sendo a
percentagem de argila menor, igual ou pouco maior que a do horizonte A, sem, contudo, satisfazer as
condições para ser enquadrado como horizonte B textural.
Normalmente, são solos rasos com horizonte A fraco, e que apresentam horizonte C inconsolidado,
proveniente de material de origem granito-gnáissico, altamente susceptível à erosão quando exposto.
O uso do solo nesse geoambiente é o da pastagem altamente degradada, decorrente do pisoteio do
gado que contribuíram para o desenvolvimento de ambientes com baixa capacidade de suporte no que
se refere à relação produção/ha.
Os problemas mais comuns são decorrentes do processo acelerado de erosão, que se agrava quando
as ravinas chegam a atingir o horizonte C, normalmente muito mais susceptível à erosão. A erosão
laminar juntamente com a erosão em sulcos e ravinas são responsáveis pelo grande volume de material
erodido, desses locais, que atingem os corpos d’ água assoreando-os e poluindo-os(RODRIGUES et
al., 2001).
2.7. Cristas, Pontões e Encostas Ravinadas com Neossolos, Afloramentos e Café
Esta classe de solo apresenta horizonte A com menos de 40 cm de espessura, assentando-se
diretamente sobre a rocha ou sobre um horizonte C ou Cr ou sobre material com 90% (por Volume),
ou mais, de sua massa constituída por fragmentos de rocha com diâmetro maior que 2mm e que
apresentam um contato lítico dentro de 50cm da superfície do solo. Admite um horizonte B, em início
de formação cuja espessura não satisfaz a qualquer tipo de horizonte B diagnóstico.
Nesta unidade em função da classe de solo se apresentar em gradientes topográficos elevados,
encontra-se pouca exploração, podendo contundo, aparecer algumas plantações de cafezais. Nestes
casos, os neossolos litólicos se apresentam sujeitos a intensa erosão da massa de solo de espessura
delgada (Figura 13).
Figura 13 – Neossolos Litólicos sob Café.
Portanto, o principal problema ambiental que este geoambiente está sujeito é a erosão acelerada
quando utilizados para a cultura cafeeira. Por outro lado, quando na presença de cobertura vegetal
(capoeiras) os problemas ambientais são relativamente inexpressivos.
2.8. Cristas, Pontões e Encostas Ravinadas com Neossolos, Afloramentos e pastagem
Nesta unidade geoambiental pode-se dispensar os comentários sobre as características físico-
químicas desta classe de solos, devido a que já foram debatidas no tópico anterior. Os neossolos, no
sentido estrito, caracterizam-se por serem solos rasos, com horizonte A seguido da rocha. Apresentam
limitações ao manejo do gado, pois a morfologia com gradientes elevados tornam-se um obstáculo ao
mesmo. O manejo do gado quando implementado, gera implicações de ordem negativa como a
impermeabilização do solo, provocando uma mudança no sentido do fluxo da água de vertical para
horizontal, ocasionado o aparecimento de enxurradas, provocado o aparecimento de ravinas e sulcos,
carreando o solo delgado.
2.9. Cristas, Pontões e Encostas Ravinadas com Neossolos, Afloramentos e Matas
Dentro das condições encontradas no ribeirão da Laje esta classe de solos pode apresentar horizonte
A delgado, moderado e húmico. Do ponto de vista químico são solos heterogêneos, com estreita
relação com o material de origem, a não ser aqueles onde existem os horizontes A húmicos, nos quais
sua riqueza depende da presença de uma cobertura vegetal exuberante para fornecer a matéria orgânica
necessária.
Em função de apresentarem-se em condições de relevo com gradiente muito elevado, são pouco
utilizados. Esta unidade geoambiental, por apresentar o uso do solo com matas (floresta ombrófila
semidecídua), os problemas ambientais são relativamente inexpressivos.
2.10. Terraços e Rampas com Argissolos e Pastagem
Esta classe de solos compreende, na Bacia do Ribeirão da Laje, solos minerais não hidromórficos
com horizonte a podendo variar de fraco a proeminente, horizonte b textural (bt) não plíntico, argila de
baixa atividade, cores vermelhas a amarelas e teores de Fe2O3 <11%. A estrutura normalmente é em
blocos subangulares e a textura varia de argilosa a muito argilosa. Normalmente os Argissolos
apresentam gradiente de textura acentuado do horizonte A para o bt, com pouca expressão da
cerosidade. Estes solos são considerados de enriquecimento por acúmulo e manutenção de nutrientes e
umidade provenientes das áreas a montante (Figura 14).
Figura 14 – Argissolos sob Pastagem.
Esta unidade geoambiental apresenta diferenças quanto aos teores de argila encontrados no bt em
relação ao horizonte a que provoca uma impermeabilização do horizonte bt, podendo modificar o
sentido do fluxo de água que percola no solo. Como o uso do solo nesta unidade geoambiental é o
manejo do gado, este altera também o fluxo de água em subsuperfície, dificultando a recarga de
aqüíferos. Outro problema se deve às áreas onde esta classe de solos ocorre, apresentando uma
suscetibilidade à erosão laminar, em cima de horizonte enriquecido com argila (horizonte b textural)
com pouca macroporosidade, provocada pela iluviação da argila. Esse horizonte bt acaba funcionando
como barreira à percolação da água, favorecendo o fluxo superficial da água, que por sua vez favorece
a erosão e arraste de sedimentos para os caudais superficiais, modificando a vazão (RODRIGUES et
al., 2001)..
Conclusões
Foram identificadas e caracterizadas dez unidades geoambientais na Bacia Hidrográfica do Ribeirão
da Laje. Destacam-se as áreas com topos e encostas com Latossolos Vermelho Amarelo com café e
pastagens, e as várzeas com os gleissolos e olerícolas ou pastagem. A intensidade da ação
antropogênica nos geoambientes identificados vem interferindo na capacidade de suporte dos recursos
naturais em inviabilizar e diminuir a qualidade ambiental da área estudada. É, portanto, uma área que
deve ser repensada no que tange o uso e ocupação do solo para que possam ser evitados maiores danos
aos geoambientes identificados. A criação da APE do Ribeirão da Laje pode representar o começo de
medidas práticas de conservação de recursos naturais na micro-bacia.
A profundidade do Horizonte A húmico encontrado nos latossolos da área estudada tem um papel
importantíssimo na economia regional, por ser o suporte para produção cafeeira. Desta forma deve-se
ter o máximo de cuidado no manejo destes, porque os latossolos encontrados na área estudada
apresentam elevadas concentrações de alumínio na capacidade de troca catiônica (CTC). Essas
elevadas concentrações de alumínio são responsáveis, na região, pela preservação dos elevados teores
de matéria orgânica nos horizontes superficiais desta classe de solo. Os maiores teores de nutrientes
nos horizontes superficiais e a pobreza química do manto de intemperismo revelam a extrema
importância dos mecanismos de ciclagem nestes ambientes, onde a matéria orgânica (colóide orgânico
da fração humificada) constitui elemento essencial de resiliência.
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