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USO DE POLEIROS ARTIFICIAIS PARA COMPLEMENTAR MEDIDAS CONSERVACIONISTAS DO PROJETO DE REABILITAÇÃO DE ÁREAS DE EMPRÉSTIMO NA AMAZÔNIA, TUCURUÍ-PA Cortines, E. 1 ; Tienne, L. 2 ; Bianquini, L.A. 3 ; Morokawa, M.J. 3 ; Barboza, R.S. 2 Valcarcel, R. 4 ; Zandonadi, J.E. 5 1- Biólogo formada pela UFRRJ 2- Engenheiro Florestal, Mestrando em Ciências Ambientais e Florestais UFRRJ 3- Discente em engenharia florestal UFRRJ 4- Prof. Adjunto IV da UFRRJ 5- Engenheiro Florestal, ELETRONORTE, Tucuruí, PA. RESUMO A recuperação funcional de ecossistemas degradados depende diretamente da interação fauna-flora para acelerar o processo de recobrimento da cobertura florestal nas áreas a serem recuperadas. Áreas intensamente modificadas, sem capacidade de resiliência demandam ações conservacionistas diversas, sendo que abrigos artificiais podem auxiliar na construção dos ecossistemas e de sua biodiversidade. A área de estudo foi degradada no ano de 1978 para as obras da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, Pa, ficando sem uso por 20 anos. Em 1998 deu- se o início da implantação do Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD) da ELETRONORTE, onde abrigos artificiais para fauna alada (poleiros) funcionaram como abrigo contra predadores da avifauna e atratores de fauna dispersora de propágulos. Foram encontradas 29 espécies de 26 gêneros, pertencentes a 12 famílias botânicas. As espécies arbóreas (4) foram representadas por 8 indivíduos e as 17 herbáceas, por gramíneas (4) e por trepadeiras (4). Palavras chave: Reabilitação, poleiros artificiais, regeneração natural. RESUMEN La recuperación funcional de los ecosistemas degradados depende directamente de la interación fauna-flora para acelerar el proceso de recubrimento de la cobertura forestal en areas a serem recuperadas. Áreas intensamente modificadas sin capacidad de resiliencia demandam acciones conservacionistas diversas, siendo que los abrigos artificiales puedem auxiliar la construcción de ecossistemas y su biodiversidade. El area de estudio fue degradada em el año de 1978 para las obras de la Usina Hidrelétrica de Tucuruí-Pa, quedando sin uso por 20 años. En el año de 1998 se inició la implantación del Plan de Recuperación de Areas Degradadas de la ELETRNORTE, donde los abrigos artificiales para fauna alada (poleros) funcionam como abrigo contra predadores de la avifauna y atractores de fauna dispersora de propagulos. Fueran encontrados 29 especies de 26 generos,

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USO DE POLEIROS ARTIFICIAIS PARA COMPLEMENTAR MEDIDAS CONSERVACIONISTAS DO PROJETO DE REABILITAÇÃO DE ÁREAS DE EMPRÉSTIMO NA

AMAZÔNIA, TUCURUÍ-PA

Cortines, E.1; Tienne, L.2; Bianquini, L.A.3; Morokawa, M.J.3; Barboza, R.S.2

Valcarcel, R.4; Zandonadi, J.E.5

1- Biólogo formada pela UFRRJ 2- Engenheiro Florestal, Mestrando em Ciências Ambientais e Florestais UFRRJ 3- Discente em engenharia florestal UFRRJ 4- Prof. Adjunto IV da UFRRJ 5- Engenheiro Florestal, ELETRONORTE, Tucuruí, PA. RESUMO A recuperação funcional de ecossistemas degradados depende diretamente da interação fauna-flora para acelerar o processo de recobrimento da cobertura florestal nas áreas a serem recuperadas. Áreas intensamente modificadas, sem capacidade de resiliência demandam ações conservacionistas diversas, sendo que abrigos artificiais podem auxiliar na construção dos ecossistemas e de sua biodiversidade. A área de estudo foi degradada no ano de 1978 para as obras da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, Pa, ficando sem uso por 20 anos. Em 1998 deu-se o início da implantação do Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD) da ELETRONORTE, onde abrigos artificiais para fauna alada (poleiros) funcionaram como abrigo contra predadores da avifauna e atratores de fauna dispersora de propágulos. Foram encontradas 29 espécies de 26 gêneros, pertencentes a 12 famílias botânicas. As espécies arbóreas (4) foram representadas por 8 indivíduos e as 17 herbáceas, por gramíneas (4) e por trepadeiras (4). Palavras chave: Reabilitação, poleiros artificiais, regeneração natural. RESUMEN

La recuperación funcional de los ecosistemas degradados depende directamente de la interación fauna-flora para acelerar el proceso de recubrimento de la cobertura forestal en areas a serem recuperadas. Áreas intensamente modificadas sin capacidad de resiliencia demandam acciones conservacionistas diversas, siendo que los abrigos artificiales puedem auxiliar la construcción de ecossistemas y su biodiversidade. El area de estudio fue degradada em el año de 1978 para las obras de la Usina Hidrelétrica de Tucuruí-Pa, quedando sin uso por 20 años. En el año de 1998 se inició la implantación del Plan de Recuperación de Areas Degradadas de la ELETRNORTE, donde los abrigos artificiales para fauna alada (poleros) funcionam como abrigo contra predadores de la avifauna y atractores de fauna dispersora de propagulos. Fueran encontrados 29 especies de 26 generos,

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pertencentes la 12 familias botanica. Las especies arboreas (4) fueran representadas por 8 individuos, 17 herbaceas por 4 gramineas e 4 trepaderas. Palavras chave: Reabilitação, poleros artificiales, regeneração natural. INTRODUÇÃO Uma área degradada é caracterizada pela supressão da vegetação nativa e fauna, retirada da camada fértil, alterações profundas nos ecossistemas, afetando inclusive o regime hídrico das bacias hidrográficas (MINTER, 1990).

Intervenções estratégicas nestas áreas podem acelerar a regeneração e permitir a sucessão vegetal, contribuindo para a manutenção da biodiversidade (MIRITI, 1998).

A manipulação da complexidade estrutural dos ambientes degradados pode atrair vetores dispersores de sementes, notadamente os animais que passam a encontrar nichos ecológicos nestas áreas, além de não se tornarem presas fáceis dos predadores.

Os poleiros artificiais podem ter um importante papel na entrada das espécies, pois servem de locais estratégicos para pouso entre fragmentos e de esconderijo no caso da ave ser atacada por um predador em grandes extensões sem proteção natural. Muitos animais relutam em freqüentar áreas amplas, justamente por ficarem mais expostas aos predadores (MIRITI, 1998). A indução da dispersão e recrutamento de sementes realizadas pelos abrigos de fauna aceleram a sucessão vegetal e contribuem para a revegetação das áreas degradadas (MELO, 1997; GRIFFITH et al., 1996).

O aumento da chuva de sementes, no entanto, não garante a germinação e estabelecimento das espécies no campo, principalmente devido a alta competição com gramíneas agressivas (NEPSTAD et al, 1991) e predação de sementes por insetos e mamíferos (NEPSTAD et al, 1991; MOUTINHO, 1998), baixas condições de umidade, temperaturas extremas e compactação do solo (BUSCHBACHER, 1988 apud MIRITI, 1998).

A dispersão de sementes envolve os procedimentos que passam desde a separação das sementes da planta-mãe, passando pelos intermediários até sua destinação final. Esses intermediários podem ser o vento (anemocoria), a água da chuva ou um curso hídrico (hidrocoria), conduzidas por animais (zoocoria), ou simplesmente destacada da planta através da força da gravidade (autocoria). Estas sementes poderão permanecer no solo por um longo período, formando o banco de sementes (DARIO, 2004).

O baixo número de espécies anemocóricas em florestas neotropicais, sugere que programas de reflorestamento que procuram estimular a atividade de animais podem ser produtivos, especialmente em áreas amplas e distantes da floresta (MIRITI, 1998).

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A dispersão é um dos fatores determinantes na distribuição geográfica das plantas, permitem a movimentação e o intercâmbio de material genético dentro e fora das populações, acelerando os processos de sucessão ecológica das florestas tropicais, já que a dispersão de sementes por agentes bióticos é o principal meio de chegada de sementes às áreas perturbadas, principalmente daquelas espécies consideradas climáxicas e de sub-bosque. Desta forma, é de fundamental importância a ação da fauna consumidora de frutos como agentes de dispersão durante a dinâmica da vegetação (REIS, 2003; INGLE, 2003; DARIO, 2004). Dentre as inúmeras vantagens da dispersão zoocórica, está o distanciamento das sementes dos arredores da planta-mãe.

A utilização de poleiros artificiais como estratégia facilitadora da sucessão, permite o encurtamento das distâncias e torna a composição florística semelhante a das áreas adjacentes (MCCLANAHAN e WOLFE, 1987; MELLO, 1997). Os processos de recuperação que utilizam interações fauna-flora procuram facilitar a recuperação, acelerando o processo de recobrimento. Os animais têm um papel ecológico a cumprir, pois trazem sementes de diferentes locais, aportam matéria orgânica, aumentam a biodiversidade local, propiciam estabilidade aos processos ecológicos e conferem auto-sustentabilidade as atividades de recuperação de áreas degradadas (VALCARCEL, 2000).

Alterações no hábitat afetam a fauna em sua diversidade e funcionalidade. Elas encontram-se relacionadas as magnitudes das alterações dos ecossistemas. Reduções de superfícies de ecossistemas acarretam diminuição exponencial do número de espécies e afetam a dinâmica das populações de plantas e animais, podendo comprometer a regeneração natural e, conseqüentemente, a sustentabilidade deste ambiente (DARIO, 2004).

Alguns estudos analisaram os tipos e quantidades de sementes depositadas em baixo dos poleiros em pastagens abandonadas (MELO, 1997; MIRITI, 1998; HOLL, 1998), áreas de deslizamento (SHIELS & WALKER, 2003) ou clareiras (CAVASSANI et al, 2003)

O presente trabalho objetivou avaliar a eficiência do uso de poleiros artificiais como estratégia para aumentar a regeneração natural em áreas de empréstimo na Amazônia.

METODOLOGIA

A área de estudo localiza-se no município de Tucuruí (Latitude 03045'03"S e Longitude 49040'03"W) Estado do Pará. A região apresenta precipitação média anual de 2.400 mm/ano, distribuído em 3-4 meses do ano, gerando eventos torrenciais. A integração das variáveis ambientais origina a transição entre domínios ecológicos: Floresta Pluvial Tropical e Cerradão, onde a irregularidade da distribuição das chuvas é compensada em alguns locais pelas excelentes condições de armazenamento e administração de água nos solos, que são

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predominantemente bem estruturados (CONSÓRCIO ENGEVIX-THEMAG, 1998).

O clima é classificado como tropical úmido (AmW), segundo a classificação de Koppen, caracterizando-se por apresentar elevados índices pluviométricos.

Os solos existentes na região da UHE Tucuruí são ácidos e apresentam baixa fertilidade natural (pobres em nutrientes). Os principais tipos de solos são os Podzólicos Vermelho-Amarelos (predominantes), Latossolos Vermelho-Amarelos e Latossolos Amarelos. Os Podzólicos Vermelho-Amarelo localizam-se, principalmente, na margem esquerda do reservatório, ocupando mais de 60% da área de influência do mesmo. Os Latossolos Vermelho-Amarelos e Amarelos representam cerca de 25% da área e localizam-se, principalmente, na margem direita do reservatório. Caracterização dos poleiros

Os poleiros (09) apresentam altura média de 4 m, ocupam 4 m2 de área e foram estrategicamente dispostos nas áreas de empréstimo entre fragmentos de florestas remanescentes e no início do PRAD. no ano de 2000, de forma concomitante aos inícios dos plantios, onde se priorizou a forração das cavas com espécies de grande capacidade de produção de matéria orgânica.

Os poleiros foram confeccionados com madeira local, constituído de aparas de serrarias locais, palha de sapê e bambu. A haste principal de madeira recebeu caixonete de 0,5 x 1,0m onde as laterais encontram-se abertas, e encontra-se coberta com palha de sapê, contendo em seu interior uma bandeja para víveres (grãos) para atração da ornitofauna. Para garantir que os víveres não fossem comidos por outros animais, assim como para oferecer proteção dos predadores como, répteis e mamíferos, foi colocado na parte inferior da haste principal um cone de alumínio, evitando a subida indesejável destes outros animais. Os bambus e galhos foram colocados na parte lateral do abrigo servindo para ampliar a área de pouso, como proteção aos gaviões (Falconideos) assim como para camuflar os usuários (Figura 01).

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Figura 01. Abrigo de fauna alada. Fonte: CONSÓRCIO ENGEVIX-THEMAG , 1998. Implantação do experimento

Os abrigos foram implantados concomitantemente aos plantios do

PRAD (Figura 02). Eles tiveram a proposta de aumentar as visitações dos pássaros à área e proporcionar-lhes abrigos contra predadores. No início do projeto de recuperação o substrato da área era completamente nu e desfavorável ao desenvolvimento das mudas e ao surgimento de vegetação nativa espontânea. A implantação dos poleiros, dentre outras medidas (CONSÓRCIO ENGEVIX-THEMAG, 1998), veio então como forma de catalisar os processos de regeneração natural já que os pássaros são responsáveis pela dispersão de várias espécies tropicais (MCCLANAHAN e WOLFE 1987). Os poleiros foram colocados de maneira a proporcionar pontos estratégicos de descanso e fuga para os pássaros que arriscassem atravessar áreas descampadas com distâncias que variavam de 300 a 1200m, tendo cada um deles, diferentes distâncias da fonte natural de propágulo.

Durante os anos 1978-1998 não houve nenhuma regeneração espontânea nas áreas de empréstimo (CONSÓRCIO ENGEVIX-THEMAG, 1998), fato este que não contribuiu para a dispersão de sementes, uma vez que a ornitofauna local se restringia a pássaros de fragmentos florestais contíguos as áreas de empréstimo. Eles não coabitam ecossistemas degradados e até mesmo os pássaros com hábitos por ambientes de pastagens, não entravam na região, pois no local não havia condições mínima de sobrevivência, além de serem presas fáceis dos gaviões, que usam como poleiros as árvores secas dos fragmentos do entorno.

Estes abrigos encontram-se abandonados e já cumpriram seus papéis. Hoje, seus efeitos encontram-se misturados aos dos plantios das mudas, que com seu desenvolvimento passou a funcionar como poleiros naturais e fontes alimentares mais atraentes para a avifauna (Figura 03). O monitoramento da regeneração sob os abrigos não foi acompanhado desde o início da implantação, sendo realizado apenas um levantamento em abril de 2005 no poleiro 07 da Área de Empréstimo AE-2, que foi escolhido por ser o poleiro que apresentava a menor influência do plantio, dado não haver sido plantado espécies a 20m do poleiro, podendo-se assim observar melhor se ainda há algum efeito dos poleiros mesmo após 20 anos de abandono.

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A reabilitação de uma área degradada deve propiciar condições

para que ela desenvolva quase todos os processos ecológicos de uma vegetação secundária nativa como: aspectos hidrológicos, erosivos, edafológicos, florísticos, abrigos e nichos ecológicos para várias espécies, ciclagem de nutrientes e biodiversidade. Segundo SILVA (1996), a utilização da colonização espontânea de espécies vegetais, como variável de amostragem para indicar o nível de reabilitação de ambientes degradados é recomendada e reflete o grau de acerto das medidas implantadas. A regeneração espontânea de espécies pode nos indicar se há uma geração de propriedades emergentes que facilitem a substituição de espécies ao longo do tempo e dos estágios serais, pois com o surgimento de novas espécies altera-se as condições de luz, temperatura, matéria orgânica e disponibilidade de água propiciando o surgimento de novas espécies (SILVA, 2003). Amostragem

A regeneração espontânea foi realizada pelo método fitossociológicos de Pontos e/ou intercessões (MANTOVANI, 1990), sendo o poleiro o ponto central. Foram amostradas 8 linhas seguindo pontos cardinais até atingir 6 m de distância. A cada 0,5m foram levantada as espécies tocadas e altura da planta, calculando-se os parâmetros fitossociológicos. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram encontrados ao redor do poleiro, 26 gêneros de 29 espécies pertencentes a 12 famílias de espécies que conseguiram germinar. As plantas mais representativas foram espécies de porte herbáceo (Gráfico 01).

Figura 02: Implantação dos abrigos junto com plantio de espécies

Figura 03: Abrigos atualmente com plantio sobrepondo seus efeitos.

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PORTE DA VEGETAÇÂO AMOSTRADA

Gramínea

Trepadeira Arbóreo

Herbáceo

Arbóreo Herbáceo Gramínea Trepadeira

Gráfico 01: Estrutura da vegetação amostrada sob influência do abrigo de fauna alada, durante a estação chuvosa, Tucuruí, PA.

As espécies arbóreas (Myrtaceae, Zanthoxilum rhoifolium,

Leucaena leucocephala e Aciotis purpurascens) evidenciam que mesmo estando abandonados, os poleiros proporcionam a chegada de propágulos de área nativa, favorecendo os processos regenerativos de recobrimento florestal da área. Estes indivíduos arbóreos, no entanto, ainda apresentam tamanho reduzido (6-86 cm) e não se têm garantia de sobrevivência na estação seca (maio-agosto) já que a medição foi realizada no mês de março quando as chuvas eram intensas, favorecendo as condições germinativas. SHIELS & WALKER (2003) encontraram uma variação sazonal na ocorrência de propágulos, sendo esta, maior na época das chuvas.

O Capim Rabo de Burro (Andropogon bicornis) apresentou densidade relativa de 34,40 % sendo o mais abundante, seguida da Puerária (79 %), Mucuna (27 %) e Xique-xique, Guanxuma e Sp5 (19 % cada). As espécies arbóreas tiveram as seguintes densidades, Zanthoxilum rhoifolium e Myrtacea com 0,68 % cada, Aciotis purpurascens com 0,23 % e Leucaena leucocephala com 0,45 %.

A distância mínima da fonte de propágulo para o abrigo é de 112m na direção Sul, sendo esta a principal origem dos dispersores de sementes. As aves geralmente vêm da fonte de propágulo, pousam no abrigo, traçam sua estratégia de forrageamento para então arriscarem-se nas áreas descampadas. Este efeito pode ser evidenciado pelo fato das regenerações de arbóreas dispersas por zoocoria sob o abrigo estarem localizadas na direção oposta ao fragmento e concordante com a da área degradada (direção Nordeste e Leste).

O fato da maioria das espécies encontradas serem herbáceas e trepadeiras constituem um resultado positivo para o processo de reabilitação das áreas de empréstimo, pois as mesmas permaneceram por 20 anos sem nenhuma cobertura vegetal. Este fato precisa ser melhor observado, pois como a região apresentava tendência de degradação no passado recente, qualquer expectativa de regeneração era automaticamente minimizada pelo intenso geodinamismo dos processos erosivos, fazendo com que ao redor das plantas se observa-se várias

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estruturas provenientes do efeito de entramamento das raízes, até que com as mortes das plantas, elas sucumbiam junto com os sedimentos para os mananciais da região.

Mesmo diante de todas as condições desfavoráveis à germinação e desenvolvimento de espécies florestais, por se tratar de uma área de empréstimo, os poleiros foram de grande utilidade no início da implantação do PRAD por aumentar a freqüência de visitação à área permitindo maiores interações entre fauna-flora, o que favorece a dinâmica sucessional em áreas em recuperação. Porém novos estudos são necessários para entender a dinâmica dos poleiros neste processo e sua influência real no estabelecimento de espécies no campo. CONCLUSÕES

• O Abrigo de fauna é importante no aumento de interações fauna-flora e conseqüente chegada de propágulos às áreas de empréstimo. • A presença da fauna dispersora de sementes acelera os processos de

recuperação. • Os poleiros por si só não garantem o estabelecimento e recrutamento de

mudas no campo. • Mais estudos devem ser desenvolvidos para esclarecer a dinâmica da

regeneração sob poleiros.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao CNPq pela Bolsa de Apoio a Pesquisa concedida ao

Laboratório de Manejo de Bacias Hidrográficas/UFRuralR, a CAPES, aos técnicos das Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A, ao mateiro Vavá pelas valiosas identificações das espécies no campo, ao motorista Gabriel pela pontualidade e prestatividade, ao barqueiro Nonato e a todos que de alguma forma auxiliaram no desenvolvimento e execução deste trabalho. BIBLIOGRAFIA CAVASSANI, A.; GATTI, G.; LORENZETTO, A.; MOCOCHINSKI, A.; PUTINI, F. & SCHEER, M. Teste de efetividade de poleiros artificiais como facilitadores da dispersão de sementes pela avifauna de uma clareira. Anais ...VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003.p.197-199.

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