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1
UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI
CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIAS – CCT
DEPARTAMENTO DA CONSTRUÇÃO CIVIL
PÓS-GRADUAÇÃO EM GERENCIAMENTO DA CONSTRUÇÃO CIVIL
WANKS FERREIRA BEZERRA BATISTA
GERENCIAMENTO DO SISTEMA DE ABASTECIMENTO D’ÁGUA DA CIDADE DO
CRATO/CE ATRAVÉS DA ANÁLISE DE PERDAS
JUAZEIRO DO NORTE, CEARÁ.
2017
2
WANKS FERREIRA BEZERRA BATISTA
GERENCIAMENTO DO SISTEMA DE ABASTECIMENTO D’ÁGUA DA CIDADE DO
CRATO/CE ATRAVÉS DA ANÁLISE DE PERDAS
Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Especialista em Gerenciamento da Construção Civil pela Universidade Regional do Cariri.
Orientador: Prof. Dr. Renato de Oliveira Fernandes
JUAZEIRO DO NORTE, CEARÁ.
2017
3
WANKS FERREIRA BEZERRA BATISTA
GERENCIAMENTO DO SISTEMA DE ABASTECIMENTO D’ÁGUA DA CIDADE DO
CRATO/CE ATRAVÉS DA ANÁLISE DE PERDAS
Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Pós-
Graduação em Gerenciamento da Construção Civil pela Universidade Regional do
Cariri
Monografia defendida e aprovada, em (___ / ___ / 2017), pela banca examinadora:
_____________________________________________________________
Prof. Dr. Renato de Oliveira Fernandes ( Orientador)
Universidade Regional do Cariri ( URCA)
_____________________________________________________________
Profª. Examinador Interno
Universidade Regional do Cariri ( URCA)
_____________________________________________________________
Prof. Examinador Interno
Universidade Regional do Cariri ( URCA)
4
AGRADECIMENTOS
A Deus por me fortalecer espiritualmente nos momentos difíceis em toda a
jornada acadêmica do curso.
Aos meus pais (Geraldo e Cacenilda) que com todas as dificuldades vividas,
sempre me apoiaram e me proporcinaram todas as condições possíveis para que eu
pudesse chegar até onde cheguei, com fé, determinação e humildade.
A minha namorada Kerolayne Teixeira que sempre me ajudou e com que
compartilho todos os momentos vividos até então.
Ao Professor Renato de Oliveira Fernandes pela orientação, paciência,
atenção e amizade, oferecidos no desenvolvimento desta Monografia.
A todos os professores do curso de Pós-Graduação em Gerenciamento da
Construção Civil, que me proporcionaram sabedoria e lições de vida para o mundo a
fora.
A todos que fazem parte da Sociadade Anônima de Água e Esgoto do Crato -
SAAEC, que contribuiram para a realização dessa pesquisa
A todos os colegas que direta e indiratamente ajudaram na realizacão desse
objetivo, entre eles meus caros amigos de curso Marcelo de Alencar e Hiago
Grangeiro.
5
RESUMO
A diminuição dos volumes de água nos reservatórios em virtude de períodos de
secas dos últimos anos, e dos baixos índices pluviométricos em outros anos,
principalmente na região semiárida, chama a atenção das empresas em buscar
reduzirem suas perdas no fornecimento desse bem precioso. Nesse contexto, o
combate às perdas em sistemas de abastecimento de água busca reduzir o volume
de água não contabilizada, exigindo a adoção de medidas que permitam a redução
destas perdas, conservando-as em um nível aceitável, levando em consideração a
viabilidade técnico-econômica das ações de combate as perdas. No sistema de
fornecimento do Crato que possui atualmente cerca de 270 Km de rede, o volume
não contabilizado chega a ser em média um valor próximo a 1.875.000 m³ ao ano,
ou seja, apresentando uma real necessidade de combate as perdas. Portanto, o
objetivo desse trabalho é analisar e diagnosticar os índices de perdas físicas e
aparentes existentes no Sistema de Abastecimento de Água (SAA) da cidade do
Crato-CE, tomando como parâmetros os dados fornecidos pela empresa, com
destaque nas informações contidas nos relatórios do Sistema Nacional de
Informação de Saneamento (SNIS) dos últimos 04 (quatro) anos. Os resultados
identificaram que a Sociedade Anônima de Água e Esgoto do Crato (SAAEC),
apresenta 22% de hidrometrização da rede de água quando tomados como
referência o número de ligações ativas de água micromedidas em relação a
quantidade do número de ligações ativas de água, sendo, portanto, bem abaixo da
média nacional que é de 91,4%. Já o índice de perda na distribuição chega a 22%
que são considerados bons quando comparado com os valores indicados na
literatura técnica, porém considerados incertos quando relacionado com relatos
descritos pelos técnicos da empresa. O estudo evidenciou que a empresa deixa de
faturar ao ano mais de três milhões de reais fruto dos volumes perdidos e não
contabilizados. Baseado em todos os índices estatísticos de perdas, o trabalho
apresentado aborda os problemas enfrentados na empresa e alerta as companhias
de água dos benefícios com a aplicação de programas de controle e redução de
perdas.
Palavras-Chave: Combate as perdas. SNIS. Índice de perdas. SAAEC
6
ABSTRACT
The decrease of the volumes of water in the reservoirs due to drought periods of
recent years, and low rainfall in other years, mainly in the semiarid region, calls the
attention of companies seeking to reduce their losses in the supply of this precious
commodity. In this context, the fight against losses in water supply systems seeks to
reduce the volume of water not accounted for, requiring the adoption of measures
that allow the reduction of these losses, keeping them at an acceptable level, taking
into consideration the technical and economic viability of actions to combat losses. In
the system of supply of Crato, which currently has around 270 Km of the network, the
volume not accounted for comes to be, on average, a value close to 1.875.000 m³
per year, or, featuring a real need to combat the losses. Therefore, the objective of
this work is to analyze and diagnose the indexes of physical loss and apparent
existing in the Water Supply System (SAA) in the city of Crato-CE, taking as
parameters the data provided by the company, with emphasis on the information
contained in the reports of the National Information System for Sanitation (SNIS)
during the last 04 (four) years. The results identified that the corporation of Water and
Sewage of Crato (SAAEC), presents 22% of hydrometrization of the water network
when taken as reference the number of active connections water measured in
relation to the amount of the number of active connections of water, being, therefore,
well below the national average which is 91.4%. Already the index loss distribution
reaches the 22% that are considered good when compared with the values given in
the technical literature, but considered uncertain in connection with the reports
described by the technicians of the company. The study also highlighted that the
company no longer bill the year more than three million of the actual fruit of the
volumes lost and not accounted for. Based on all the statistical key figures of losses,
the work presented addresses the problems faced in the company, and alert the
water companies of the benefits with the application of control programs and the
reduction of losses.
Keywords: To combat the losses. SNIS. The index of loss. SAAEC
7
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 12
1.1 Objetivos.......................................................................................................... 13
1.1.1 Objetivo geral................................................................................................... 13
1.1.2 Objetivos específicos....................................................................................... 13
1.2 Justificativa..................................................................................................... 13
1.3 Estrutura do trabalho...................................................................................... 14
2 REFERENCIAL TEÓRICO............................................................................... 16
2.1 Os recursos hídricos...................................................................................... 16
2.2 Sistemas de abastecimento de água ........................................................... 17
2.2.1 Partes constituintes ......................................................................................... 17
2.2.1.1 Manancial ........................................................................................................ 17
2.2.1.2 Captação........................................................................................................... 18
2.2.1.3 Adutoras............................................................................................................ 19
2.2.1.4 Estação de tratamento de água (ETA) ............................................................. 20
2.2.1.5 Reservatórios.................................................................................................... 20
2.2.1.6 Estações elevatórias......................................................................................... 21
2.2.1.7 Rede de distribuição......................................................................................... 22
2.3 As perdas em sistemas de abastecimento de água.................................... 23
2.3.1 Conceitos e definições...................................................................................... 23
2.3.2 Origem das perdas físicas e suas causas........................................................ 25
2.3.3 Origem das perdas não físicas e suas causas................................................. 29
2.3.3.1 Cadastro comercial e outros fatores................................................................ 31
2.3.4 Indicadores de perda........................................................................................ 32
2.3.4.1 Indicadores básicos de desempenho.............................................................. 34
3 METODOS DE AVALIAÇÃO DE PERDAS EM SISTEMAS DE
ABASTECIMENTO DE ÁGUA......................................................................... 37
3.1 Definição de avaliação das perdas............................................................... 37
3.2 Principais métodos para avaliação das perdas reais e
aparentes......................................................................................................... 38
4 CONTROLE DAS PERDAS EM SISTEMAS PÚBLICOS DE
ABASTECIMENTO........................................................................................... 43
8
4.1 O combate as perdas...................................................................................... 43
4.2 Estratégias e planos de ações para a diminuição das perdas de
água.................................................................................................................. 46
5 METODOLOGIA............................................................................................... 52
5.1 Área de estudo................................................................................................ 52
5.2 Características do sistema de abastecimento do Crato............................. 54
5.2.1 Mananciais de captação................................................................................... 57
5.2.2 Adução.............................................................................................................. 59
5.2.3 Estação de tratamento de água (ETA) ........................................................... 60
5.2.4 Sistema de reservação.................................................................................... 60
5.3 Diagnósticos dos serviços de água da SAAEC........................................... 62
5.4 Procedimentos para a coleta e avaliação de dados.................................... 63
5.4.1 Volume disponibilizado..................................................................................... 63
5.4.2 Volume utilizado................................................................................................ 64
5.4.3 Perdas reais e aparentes................................................................................ 64
6 RESULTADOS E DISCUSSÕES...................................................................... 65
6.1 Perdas de água na distribuição..................................................................... 65
6.1.1 Volume de água produzido............................................................................... 65
6.1.2 Volume de água (micromedido) e faturado....................................................... 66
6.2 Principais indicadores de perdas................................................................. 67
6.2.1 Índice de perda na distribuição (IPD) ou Água não contabilizada (ANC) ........ 67
6.2.2 Indicador de perdas por ramal (IPR) ................................................................ 68
6.2.3 Indicador de perdas por extensão de rede (IPER) .......................................... 69
6.2.4 Indicador de perda de faturamento (IPF) ou Água não faturada (ANF) ........... 70
6.3 Índices de hidrometrização............................................................................ 70
6.4 Perdas financeiras decorrente...................................................................... 72
6.5 Prováveis soluções no combate das perdas de água................................. 73
7 CONCLUSÃO................................................................................................... 75
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................ 76
9
LISTA DE FIGURA
Figura 1 - Sistema de Abastecimento de Água................................................... 17
Figura 2 - Pontos Frequentes de Vazamentos em Redes de Distribuição.......... 27
Figura 3 - Curvas de erros – Hidrômetros novos: posição normal e posição
inclinada.............................................................................................. 31
Figura 4 - Síntese das ações para o controle e a redução de perdas reais....... 45
Figura 5 - Síntese das ações para o controle e a redução de perdas
aparentes............................................................................................ 46
Figura 6 - Localização da área de estudo em Crato-CE..................................... 53
Figura 7 - Mapa setorizado da rede da SAAEC.................................................. 55
Figura 8 - Distribuição das ligações ativas de água da sede e distritos
operados pela SAAEC em relação às
categorias........................................................................................... 57
Figura 9 - Distribuição das ligações de água da sede e distritos operados pela
SAAEC em relação à hidrometração.................................................. 57
Figura 10- Volume distribuído da SAAEC de acordo com o SNIS....................... 66
Figura 11- Relação do volume micromedido e faturado da SAAEC de acordo
com o SNIS......................................................................................... 66
Figura 12- Dados do volume perdido da SAAEC de acordo com o
SNIS................................................................................................. 67
Figura 13- Índice de perdas percentuais da SAAEC de acordo com o
SNIS................................................................................................. 68
Figura 14- Índice de hidrometrização da SAAEC de acordo com o
SNIS................................................................................................. 71
Figura 15- Relação dos índices de Hidrometrização de acordo com
SNIS................................................................................................. 72
10
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Balanço hídrico- IWA........................................................................ 25
Quadro 2 - Origem e Magnitude das perdas físicas........................................... 26
Quadro 3 - Causas Prováveis de Falhas e Rupturas em Tubulações................ 28
Quadro 4 - Origem e magnitude das perdas não físicas.................................... 29
Quadro 5 - Estratégias e soluções para os problemas de perdas...................... 47
Quadro 6 - Escalonamento das Intervenções..................................................... 50
11
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Índices percentuais de perdas.......................................................... 34
Tabela 2 - Distribuição dos principais mananciais de captação operados pela
SAAEC na sede do Crato e respectivo reservatório que
abastece........................................................................................... 58
Tabela 3 - Distribuição dos principais subsistemas de adução atualmente
operados pela SAAEC...................................................................... 59
Tabela 4 - Características dos principais reservatórios atualmente operados
pela SAAEC na sede do Crato......................................................... 61
Tabela 5 - Dados internos das ligações e economias de água da SAAEC de
acordo com SNIS.............................................................................. 63
Tabela 6 - Dados internos referente aos volumes de agua fornecido pela
SAAEC de acordo com SNIS........................................................... 63
Tabela 7 - Indicador de Perdas por ramal da SAAEC de acordo com o
SNIS................................................................................................. 69
Tabela 8 - Consumo por ligação por dia da SAAEC de acordo com o
SNIS................................................................................................. 69
Tabela 9 - Indicador de perdas por extensão de rede da SAAEC de acordo
com o SNIS....................................................................................... 70
Tabela 10 - Indicador de Perda de Faturamento da SAAEC de acordo com o
SNIS................................................................................................. 70
Tabela 11 - Perdas financeiras da SAAEC de acordo com o
SNIS................................................................................................. 73
12
1 INTRODUÇÃO
Em meio ao longo período de estiagem enfrentado nos últimos anos, a
disponibilidade de recursos hídricos hoje, é de fundamental importância e de
preocupação de todos os setores, sejam eles do poder público, assim como da
própria população em geral.
Ao se perceber essa problemática, a implementação de soluções em
sistemas de abastecimento se tornam cada vez mais necessárias, visto que,
atividades voltadas na prestação de serviços nas manutenções em redes e em todo
o sistema desde a captação até sua destinação final, minimizam em muito os níveis
de perda de água de forma aceitável.
As perdas no fornecimento de água acontecem desde o processo de
captação de água até a distribuição, e são causadas principalmente devido a
operação e manutenção deficientes nas tubulações e inadequada gestão das
companhias de saneamento.
Nessa perspectiva, em todos os sistemas de abastecimentos existem
perdas, não existindo o índice zero da mesma, uma vez que, sempre existirá
tubulações enterradas com vazamento não visíveis, do mesmo modo que haverá
medidores imprecisos e/ou defeituosos. Dessa forma, se busca trabalhar com
valores de perdas aceitáveis, tanto sob o aspecto da preservação dos recursos
como do ponto de vista econômico.
Nos sistemas de abastecimento, as perdas podem ser divididas em duas
modalidades, ou seja, as perdas reais ou físicas e as perdas aparentes.
Teoricamente, sabe-se que as perdas reais são ocasionadas por vazamentos nas
tubulações muitas vezes por ruptura das tubulações, assim como por motivos
operacionais quando se fazem necessários descargas em rede e limpeza em
reservatórios. Já as perdas aparentes são as que não são faturadas pelas
companhias, por erros de medições, fraudes, ligações não hidrômetradas, entre
outros.
Nesse contexto, o estudo a seguir apresenta uma abordagem sobre as
perdas no Sistema de Abastecimento de Água do município de Crato-CE, localizado
na região do Cariri e administrado pela Sociedade Anônima de Água e Esgoto do
Crato (SAAEC). Neste trabalho, serão sugeridas soluções que busquem o controle e
as reduções de perdas no fornecimento de água.
13
1.1 Objetivos
1.1.1 Objetivo geral
Este trabalho busca identificar e analisar os índices de perdas no
fornecimento do sistema de abastecimento de água do SAE do Município de Crato-
CE, além de identificar as principais causas e propor soluções que minimizem essas
perdas.
1.1.2 Objetivos específicos
- Identificar as principais falhas no sistema;
- Analisar as causas principais das perdas no fornecimento;
- Apontar métodos e soluções que reduzam as perdas no sistema;
-Gerar informações para os usuários sobre a necessidade do sustentável dos
recursos hídricos;
1.2 Justificativa
Os Sistemas de Abastecimento de Água de todas as localidades, ao
longo dos tempos vem sofrendo com a problemática de perdas no seu fornecimento,
indicando uma necessidade de estudos e medidas que busquem minimizar através
de ações, esses desperdícios. A utilização de medidas de controle que analisem as
causas dessas perdas, são vantajosos e eficazes, já que, ao se fazer um balanço
dos índices de perdas de abastecimento em uma empresa, o combate as mesmas
serão mais pontuais.
Vários métodos podem ser aplicados, sendo o mais comum, o método do
balanço hídrico que busca identificar e relacionar as perdas reais e aparentes de
acordo com os dados gerenciais da empresa. O presente estudo busca contribuir
com a realização desse estudo em uma SAE na Região do Cariri, através da análise
de perdas por meio de dados do SNIS e de informações coletadas na própria
14
empresa. Na medida em que se identificam os índices de perdas, as ações de
controle são aplicadas. Nesse sentido, este trabalho de conclusão de
especialização, visa dar contribuições para a aplicação desses balanços e métodos
na Região do Cariri, mais precisamente na SAAEC, empresa estudada em questão,
além de gerar informações básicas para subsidiar projetos de engenharia e
contribuir para o conhecimento científico e tecnológico da região.
1.3 Estrutura do trabalho
A estrutura do trabalho foi dividida em oito capítulos, que demonstram as
diferentes etapas do desenvolvimento do mesmo.
Capítulo 1 – É apresentada a introdução aqui desenvolvida.
Capítulo 2 – Referencial Teórico: é apresentado um estudo teórico sobre
os recursos hídricos, mostrando o mecanismo dos sistemas de abastecimentos, as
ocorrências perdas reais e aparentes com seus devidos indicadores de perdas.
Capítulo 3 – Métodos de Avaliação de Perdas em Sistemas de
Abastecimento de Água: destaca a definição de perdas e os principais métodos
utilizados no combate da mesma.
Capítulo 4 – Controle das Perdas em Sistemas Públicos de
Abastecimento: destaca os meios de combate as perdas, demonstrando todas as
medidas de controle e estratégias de plano de ações a serem aplicadas nos
sistemas de abastecimento em geral.
Capítulo 5 – Metodologia: caracteriza os meios para a realização da
pesquisa, assim como a área de estudo a ser pesquisada, explanando o
funcionamento de todos os processos de abastecimento da empresa, e estrutura
gerencial dos agregados de água da mesma, de acordo com o SNIS.
Capítulo 6 – Resultados e Discussões: são apresentados os resultados
iniciais do levantamento das perdas, volumes e índices de desempenho da empresa.
São demonstrados ainda, os índices de perdas, de faturamento, hidrometração e
soluções de combate.
15
Capitulo 7 – Conclusão: são apresentadas as principais conclusões e
sugestões para o combate às perdas de acordo com o levantamento realizado na
empresa.
Capitulo 8 – Referência Bibliográfica: apresenta todas as fontes de
pesquisa utilizadas no estudo.
16
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Os recursos hídricos
A água é um recurso essencial no planeta, é fonte de vida e de
preservação da mesma, sendo indispensável em qualquer atividade que de forma
direta e/ou indiretamente supra as necessidades humanas, seja ela em forma de
consumo, ou como fonte de energia para irrigação e desenvolvimento da indústria.
De acordo com Mota (2003), mesmo que a maior parcela do planeta
esteja coberta por água, apenas uma pequena porcentagem da mesma é utilizável
na grande maioria das atividades. O mesmo exemplifica que os oceanos e mares
constituem 97,2% da água existente na Terra, cobrindo 71% de sua superfície, em
que se destaca que existem ainda as águas presentes na neve, geleiras, no vapor
atmosférico, em profundidades até então inabitáveis, e dessa forma, utilizáveis.
Ressalta-se que um fator preocupante está relacionado ao aumento
considerável de consumo de água pelo mundo. Estima-se que exista um consumo
mundial entre 2.879 a 5.187 km³/ano, para o ano de 2025, o que representa um
crescimento de aproximadamente, 75%, em 30 anos, do volume de água utilizado
em todo o nosso planeta (MESSIAS et al., 2004).
Messias et al., (2004), descreve que o consumo de água vem crescendo
de forma rápida, sendo este, maior até que o crescimento populacional, ou seja, no
século passado, a população mundial cresceu a uma ordem de três vezes o seu
tamanho e o consumo de água ampliou-se em cerca de seis a sete vezes. Desde já,
destaca-se que o maior consumo de água não é para o abastecimento e, sim, para a
irrigação da agricultura.
No Brasil, as fontes de recursos hídricos originadas de água doce, são
umas das maiores do mundo, e mesmo assim, observa-se que a distribuição e uso
da mesma não é aproveitada e usufruída para o bem de todos, visto que muitas
regiões sofrem com a carência da mesma, ainda mais nos dias atuais, onde os
índices de chuvas tem caído, e as reservas sendo diminuídas.
Portanto, é racional pensar que se não houver uma conscientização da
população no uso adequado dos recursos hídricos, assim como de investimentos
das companhias de saneamento quanto à estrutura do sistema de abastecimento
com foco na diminuição das perdas, qualquer ação de combate será em vão.
17
2.2 Sistemas de abastecimento de água
De acordo com a Portaria 2.914/2011 do Ministério da Saúde, entende-se
como sendo um sistema de abastecimento de água, toda instalação composta por
um conjunto de obras civis, materiais e equipamentos, destinados à produção e ao
fornecimento coletivo de água potável, através de redes de distribuição, sob a
responsabilidade do poder público, mesmo que administrada em regime de
concessão ou permissão (BRASIL, 2011).
O sistema de abastecimento é constituído de diversas unidades, sendo
elas: manancial, captação, adutoras de água bruta e tratada, estações de tratamento
de água (ETA), reservatórios de água bruta e tratada, estações elevatórias e a rede
de distribuição. Na figura 1, segue uma pequena representação das etapas desse
sistema.
Figura 1- Sistema de Abastecimento de Água
Fonte:(Girol, 2008).
2.2.1 Partes constituintes
2.2.1.1 Manancial
Para Tsutiya (2001), o manancial é caracterizado por ser um corpo de
18
água superficial ou subterrâneo, ao qual é retirado a água para o abastecimento. O
mesmo precisa fornecer vazão suficiente para abranger a demande de água no
período determinado pelo projeto, e ser considerado satisfatório sob o ponto de vista
sanitário.
Na classificação de Netto et al. (1998), os mananciais podem ser
distribuídos em dois grupos:
Manancial subterrâneo: é todo aquele cuja água provenha dos interstícios do
subsolo, podendo aflorar à superfície (fontes, bicas d’água, etc.) ou ser
recalcada através de conjuntos motor-bomba (poços rasos e profundos,
galerias de infiltração).
Manancial superficial: caracteriza-se por possuir o espelho d’água na
superfície, ou seja, os córregos, rios, lagos, represas, entre outros.
2.2.1.2 Captação
Define-se como um conjunto de obras com a finalidade de retirar a água
do manancial. Nos mananciais superficiais, existem vários tipos de captação cujas
características são ditadas tanto pelo porte e conformação do leito desses
mananciais, associadas à topografia e geologia locais, como pela velocidade,
qualidade e variação do nível de água. Em grande parte dos casos, são empregados
a captação direta, a barragem de nível, o canal de regularização, o canal de
derivação, a torre de tomada, o poço de derivação e o reservatório de regularização
(DACACH, 1979).
Em suas palavras, Tsutiya (2001) destaca que as obras de captação
devem ser projetadas e constituídas de forma que, em qualquer época do ano,
sejam asseguradas condições de fácil entrada de água e, tanto quanto possível, da
melhor qualidade encontrada no manancial em consideração.
Em relação a captação de água subterrânea são mais comumente
utilizados os drenos, galerias filtrantes, poços escavados (rasos) e poços perfurados
(profundos), sendo este último o mais utilizado para o sistema de abastecimento de
água (TSUTIYA, 2001).
19
2.2.1.3 Adutoras
O conceito de adução é definido de acordo com Barros et al. (1995) como
toda tubulação usada para a condução da água do ponto de captação até a ETA, e
da ETA até os reservatórios de distribuição, sem a existência de derivações para
alimentar as canalizações de ruas e ramais prediais.
Para Netto et al. (1998), todas as tubulações principais destinadas a
conduzir água entre as unidades de um sistema público de abastecimento que
antecedem a rede de distribuição são denominadas adutoras. As mesmas interligam
a captação e tomada de água à estação de tratamento de água, e esta aos
reservatórios de um mesmo sistema.
Barros et al. (1995), classifica as adutoras em dois grupos:
a) Quanto à natureza da água transportada
Adutora de água bruta: transporta a água da captação até a Estação de
Tratamento.
Adutora de água tratada: transporta a água da ETA aos reservatórios de
distribuição.
b) Quanto à energia utilizada para a movimentação água
Adutora por gravidade em conduto livre: A água escoa sempre em declive,
mantendo uma superfície livre sob o efeito da pressão atmosférica. Os
condutos podem ser abertos ou fechados, não funcionando com seção plena
(totalmente cheios).
Adutora por gravidade em conduto forçado: A pressão interna
permanentemente superior à pressão atmosférica permite à água mover-se,
quer em sentido descendente quer em sentido ascendente, graças à
existência de uma carga hidráulica.
Adutora por recalque: quando, por exemplo, o local da captação estiver em
um nível inferior, que não possibilite a adução por gravidade, é necessário o
emprego de equipamento de recalque (conjunto moto-bomba e acessórios).
20
O sistema de adução é composto por condutos forçados.
É possível também a utilização de adutoras mistas, recalque, parte por
gravidade (BARROS et al., 1995).
2.2.1.4 Estação de tratamento de água (ETA)
De acordo com Netto et al. (1998), todo sistema público de abastecimento
de água deverá fornecer à comunidade água potável, isto é, água de boa qualidade
para a alimentação humana e outros usos, dos pontos de vista físico, químico,
biológico e bacteriológico. Logo, para isso e em função das características
qualitativas da água fornecida pelos mananciais, procede-se ao tratamento da água
em instalações denominadas estações de tratamento. A análise química e os
exames físico e bacteriológico da água dos mananciais abastecedores, feitos com
frequência, determinarão a necessidade ou não de submeter essa água a processos
corretivos, a fim de garantir a boa qualidade e a segurança higiênica da mesma.
2.2.1.5 Reservatórios
Como o próprio nome já diz, os reservatórios, são estruturas de concreto
ou de outros tipos de materiais, com a finalidade de armazenamento de água,
compensando assim as variações horárias de vazão.
Para Tsutiya (2001), os reservatórios de distribuição de água são
dimensionados para atenderem as condições a seguir:
Funcionar como volantes de distribuição, atendendo à variação horária do
consumo;
Assegurar uma reserva de água para combate a incêndios;
Manter uma reserva para atender a condições de emergência (acidentes,
reparo nas instalações, interrupções da adução e outras);
Manutenção de pressão na rede de distribuição.
Quando levados em consideração a sua configuração e sua posição com
relação à rede de distribuição, podem ser classificados em (TSUTIYA, 2001):
21
Enterrados, semi-enterrados, apoiados ou elevados;
De montante ou de jusante.
Os reservatórios elevados, devido ao seu custo, em geral são associados
a reservatórios apoiados ou enterrados que armazenam a maior parte do volume
necessário (TSUTIYA, 2001).
2.2.1.6 Estações elevatórias
Tsutiya (2005) define estação elevatória como sendo um conjunto de
obras e equipamentos destinados a recalcar água para a unidade seguinte. Em
sistemas de abastecimento de água, geralmente há várias estações elevatórias,
tanto para o recalque de água bruta, como para o recalque de água tratada. Também
é comum a estação elevatória tipo “booster”, que se destina a aumentar a pressão
e/ou vazão em adutoras ou redes de distribuição de água.
Barros et al. (1995), caracteriza as instalações elevatórias típicas como
sendo formadas por:
Casa de Bombas: estrutura própria com finalidade de abrigar os conjuntos
moto-bomba. Necessita de iluminação e ventilação adequadas e ser
suficientemente espaçosa para a instalação e movimentação dos conjuntos
elevatórios, incluindo espaço para a parte elétrica (quadro de comando,
chaves, entre outros);
Bomba: é um aparelho designado à succionar a água retirando-a do
reservatório de sucção e pressurizando-a através de seu rotor, que a
impulsiona para o reservatório ou ponto de recalque. Essas bombas podem
ser classificadas de uma maneira geral em: turbo-bombas ou bombas
hidrodinâmicas (bombas radiais ou centrífugas, as mais usadas para
abastecimento público de água; bombas axiais; bombas diagonais ou de fluxo
misto); e bombas volumétricas, de uso comum na extração de água de
cisterna (bombas de êmbolo ou bombas de cilindro de pistão);
Motor de acionamento: equipamento utilizado para o acionamento da bomba.
O tipo de motor mais utilizado nos sistemas de abastecimento de água é o
22
acionado eletricamente;
Linha de sucção: conjunto de canalizações e peças que vão do poço de
sucção até a entrada da bomba;
Linha de recalque: conjunto de canalizações e peças que vão da saída da
bomba até o reservatório ou ponto de recalque;
Poço de sucção: pequeno tanque (reservatório) de onde a água será
recalcada. Sua capacidade ou volume deve ser estabelecido de maneira a
assegurar a regularidade no trabalho de bombeamento.
2.2.1.7 Rede de distribuição
Barros et al. (1995), caracteriza uma rede de distribuição como sendo a
estrutura do sistema mais integrada à realidade urbana, e a mais dispendiosa. E
constituída de um conjunto de tubulações interligadas instaladas ao longo das vias
públicas ou nos passeios, junto aos edifícios, conduzindo a água aos pontos de
consumo (moradias, escolas, hospitais, escolas, etc.)
Em sua literatura, Porto (2004), define um sistema de distribuição de água
como um conjunto de tubulações, acessórios, reservatórios, bombas etc., que tem a
finalidade de atender, dentro de condições sanitárias, de vazão e pressão
convenientes, a cada um dos diversos pontos de consumo de uma cidade ou setor
de fornecimento.
Dessa forma, dependendo do tipo do problema, o sistema de
abastecimento pode se tornar bastante complexo, não só quanto ao
dimensionamento, mas também quanto a todo o seu processo de operação e
manutenção, partes estas fundamentais no bom funcionamento do sistema (PORTO,
2004).
Barros et al. (1995) define que alguns cuidados devem ser tomados para
garantir uma boa qualidade da água na distribuição, tais como:
O sistema deve ser projetado, construído e operado de forma a manter
pressão mínima em qualquer ponto da rede;
Todos os registros e dispositivos de descarga devem ser projetados e
convenientemente posicionados para permitir manutenção e descarga sem
prejudicar o abastecimento;
23
O sistema dever estar protegido contra poluição externa; durante a execução
da rede e durante os reparos, substituições, remanejamentos e
prolongamentos, devem ser tomados os cuidados necessários para impedir a
ocorrência de contaminação;
A desinfecção das tubulações, por ocasião do assentamento e dos reparos,
deve ser feita com uma solução concentrada de cloro (50 mg de cloro por
litro) durante 24 horas. Após esse período, essa solução é descarregada,
enchendo-se a canalização com água limpa. Toda a operação deve ser
controlada por exames bacteriológicos;
As tubulações de água potável devem ser assentadas em valas situadas a
uma distância mínima de 3,0 m da tubulação de esgoto, para evitar
contaminação;
Em alguns casos, como por exemplo arruamentos pavimentados com grande
largura, pode ser mais vantajoso e econômico situar a rede de água nas
calçadas;
Em boa parte, as juntas das tubulações não resistem a pressões de fora para
dentro (sub-pressões). Em sistemas em que o fornecimento de água não é
contínuo, nas horas em que não houver abastecimento haverá pouca ou
nenhuma pressão na rede, podendo até ser negativa. Nessas ocasiões, há
perigo de penetração ou sucção de água contaminada para dentro da rede.
Assim, as boas condições de operação do sistema, diminuem a possibilidade
de contaminação da rede.
2.3 As perdas em sistemas de abastecimento de água
2.3.1 Conceitos e definições
Tardelli Filho (2016) conceitua que necessariamente, as “perdas”
representam a diferença entre o que se disponibilizou de água tratada à distribuição
(macromedição) e o que se mediu nos hidrômetros dos clientes finais
(micromedição). Dessa forma é comum supor que as perdas são motivadas
excepcionalmente por conta de vazamentos nas tubulações, com a vazão da água
escorrendo pelas vias públicas.
24
Desde já, se a perda fosse apenas essa, seria relativamente simples agir
no seu combate. Todavia existem vazamentos que não afloram à superfície e
também outros fatores, que não têm nada a ver com vazamentos e integram aquela
diferença: os erros ou submedições nos hidrômetros e (macromedidores) e as
fraudes; aqui, portanto, a água é consumida, mas não é contabilizada pela
companhia de água ou operadora (Tardelli Filho, 2016).
Já para Tsutiya (2005), o mesmo exemplifica que a primeira ideia que vem
à mente é a de que perda é toda água tratada que foi produzida e se perdeu no
caminho, não se chegando ao uso final pelos clientes da companhia de saneamento.
Esse pensamento, no entanto, trata a perda como algo físico, um volume de água
perdido em um vazamento, por exemplo.
A concepção de perdas, entretanto, vai mais além do que isso. Para a
perspectiva empresarial, se o produto for entregue e, por alguma ineficiência, não for
faturado, tem-se um volume de produto onde foram incorporados todos os custos
intrínsecos de produção industrial e transporte, mas que não está sendo
contabilizado como receita da companhia, ou seja, é prejuízo, é perda também, só
que de conotação diferente em relação ao caso anterior, sendo mais ligada ao
aspecto comercial do serviço prestado (TSUTIYA, 2005).
Em seus estudos, Silva & Conejo (1999), classificam que as perdas
físicas são ocasionadas de vazamentos no sistema, a qual envolve todos os
processos, ou seja, a captação, a adução de água bruta, o tratamento, a reserva, a
adução de água tratada e a distribuição, além de procedimentos operacionais como
lavagem de filtros e descargas na rede, quando estes provocam consumos
superiores ao estritamente necessário para operação.
Em outras circunstâncias, Silva & Canejo (1999) definem que as perdas
não-físicas se originam de ligações clandestinas ou não cadastradas, hidrômetros
parados ou fraudados e outras. Essas perdas conhecidas habitualmente como
perdas de faturamento, uma vez que seu principal indicador é a relação entre o
volume disponibilizado e o volume faturado.
Segundo Alegre et al. (2006), até meados dos anos 2000, as definições
de caráter simples de perdas em abastecimento não eram entendidas da mesma
maneira no mundo, causando distorções na compreensão e nas comparações entre
os números e indicadores de perdas de cidades, regiões ou países distintos. Dessa
forma, a International Water Association (IWA) propôs uma estruturação na forma de
25
balanço hídrico (quadro 1), que padronizou, de maneira clara e objetiva, os vários
usos da água em um sistema e a identificação dos dois tipos de perda, sendo eles:
As perdas reais, compostas pelos vazamentos nas tubulações e
extravasamentos nos reservatórios (perdas físicas);
As perdas aparentes, compostas pelos erros de medição (submedição nos
hidrômetros), fraudes e falhas no sistema comercial das empresas (perdas
não físicas ou comerciais).
Quadro 1- Balanço hídrico- IWA
VO
LU
ME
PR
OD
UZ
IDO
OU
DIS
PO
NIB
ILIZ
AD
O
CO
NS
UM
OS
AU
TO
RIZ
AD
OS
Consumos autorizados faturados
Consumos medidos faturados (incluindo água exportada)
ÁG
UA
S
FA
TU
RA
DA
S
Consumos não medidos faturados (estimados)
Consumos autorizados
não faturados
Consumos medidos não faturados (usos próprios, caminhões pipa)
ÁG
UA
S N
ÃO
FA
TU
RA
DA
S
Consumos não medidos não faturados (combate a incêndios, suprimento de água em áreas irregulares)
PE
RD
AS
Perdas aparentes
(comerciais)
Consumos não autorizados (fraudes)
Falhas do sistema comercial
Submedição dos hidrômetros
Perdas reais (físicas)
Vazamentos nas adutoras e rede de distribuição
Vazamentos nos ramais prediais
Vazamentos e extravasamentos nos reservatórios setoriais e aquedutos
Fonte: Aspectos relevantes do controle de perdas em sistemas públicos de abastecimento de água (Tardelli Filho, 2016).
2.3.2 Origem das perdas físicas e suas causas
As perdas físicas ou reais, como explanado nos subtítulos acima, são as
perdas de água existente entre todos os processos do sistema de distribuição de
água, ou seja, desde a captação da água bruta, até o seu destino final no cavalete
do consumidor.
Tsutiya (2005) explica que em toda administração é notório que a
diminuição de perdas físicas possibilita a redução dos custos da produção mediante
decréscimo do consumo de energia, de produtos químicos e outros como utilizar as
instalações existentes para aumentar a oferta, sem expansão do sistema produtor.
Analisando múltiplos trabalhos e pesquisas sobre o tema, conclui-se que
26
o combate às perdas implica a redução do volume de água não contabilizada,
exigindo a adoção de medidas que permitam reduzir as perdas físicas e não físicas,
e mantendo-as permanentemente em nível adequado, considerando a viabilidade
técnico-econômica das ações de combate as perdas em relação ao processo
operacional de todo sistema (TSUTIYA, 2005).
No quadro 2 a seguir, são apresentados de forma sucinta e bem
detalhada esquematicamente, as origens e magnitudes das perdas físicas por
subsistema existentes no abastecimento de água.
Quadro 2- Origem e Magnitude das perdas físicas.
PE
RD
AS
FÍS
ICA
S
SUBSISTEMA ORIGEM MAGNITUDE
ADUÇÃO DE ÁGUA BRUTA
Vazamentos nas tubulações Limpeza do poço de sucção
Variável, função do estado das tubulações e da eficiência operacional
TRATAMENTO
Vazamentos estruturais Lavagem de filtros Descarga de lodo
Significativa, função do estado das instalações e da eficiência operacional
RESERVAÇÃO
Vazamentos estruturais Extravasamentos Limpeza
Variável, função do estado das instalações e da eficiência operacional
ADUÇÃO DE ÁGUA TRATADA
Vazamento nas tubulações Limpeza do poço de sucção Descargas
Variável, função do estado das tubulações e da eficiência operacional
DISTRIBUIÇÃO Vazamentos na rede Vazamentos em ramais Descargas
Significativa, função do estado das tubulações e das pressões
Fonte: Tsutiya (2005).
De acordo com Moura et al. (2004), as perdas na distribuição são
provenientes de vazamentos na rede e nos ramais prediais e de descargas. As
perdas físicas que ocorrem nas redes de distribuição, incluindo os ramais prediais,
são muitas vezes elevadas, mas estão dispersas, fazendo com que as ações
27
corretivas sejam complexas, onerosas e de retorno duvidoso, se não forem
realizadas com critérios e controles técnicos rígidos. Portanto, é necessário que
operações de controle de perdas sejam precedidas por criteriosa análise técnica e
econômica.
Dessa forma a magnitude em que consistirá as perdas será de certa
forma mais expressiva quanto pior for o estado das tubulações, levando a princípio
os casos onde houverem pressões elevadas nos encanamentos.
Na figura 2 em questão são demonstrados os percentuais ilustrativos
baseados em experiência da (SANASA) - Sociedade de Abastecimento de Água e
Saneamento S/A, quantos aos vazamentos nas redes de distribuição.
Figura 2- Pontos Frequentes de Vazamentos em Redes de Distribuição
Fonte: Moura et al. (2004).
Portanto, como destacado nos textos anteriores, existem diversos fatores
causadores das perdas físicas, todos possuindo uma origem e suas magnitudes,
dessa forma no quadro 3 abaixo, seguem as principais causas possíveis de falhas e
rupturas nas tubulações em função da fase de desenvolvimento do sistema de
abastecimento.
28
Quadro 3- Causas Prováveis de Falhas e Rupturas em Tubulações
FASE DA FALHA CAUSA DA FALHA CAUSA DA RUPTURA
Planejamento e Projeto
Subdimensionamento Sobrepressão
Ausência de ventosas Subpressão
Cálculo transientes Sub e sobrepressão
Regras de operação Sub e sobrepressão
Setorização Sobrepressão
Treinamento Sub e sobrepressão
Construção
Construtivas
Materiais
Peças
Equipamentos
Treinamento
Operação
Enchimento Sub e sobrepressão
Esvaziamento Subpressão
Manobras Sub e sobrepressão
Ausência de regras Sub e sobrepressão
Treinamento Sub e sobrepressão
Manutenção
Sem prevenção
Mal feita
Treinamento
Interação
operação/usuário
Tempo de resposta
Expansão
Sem projeto Sub e sobrepressão
Sem visão conjunta Sub e sobrepressão
Fonte: Moura et al. (2004).
Moura et al. (2004) destaca que uma boa operação e manutenção permite
que o sistema de abastecimento atenda satisfatoriamente ao cliente e/ou
consumidor. Contudo é relevante que os sistemas de abastecimento em operação
são geralmente muito diferentes daqueles planejados e construídos, tornando-se
tanto mais próximos da realidade quanto maior for a compatibilidade entre o modelo
e a situação real, através, por exemplo, da calibração do modelo simulado com
29
dados do sistema de distribuição real.
2.3.3 Origem das perdas não físicas e suas causas
Em relação as perdas não físicas, as mesmas são correspondentes ao
volume de água que é consumido, porém não é contabilizado pela companhia de
saneamento, principalmente por motivos de erros de medição nos hidrômetros e
demais tipos de medidores, fraudes, ligações clandestinas e falhas no cadastro
comercial. Dessa forma, então, a água é efetivamente consumida, mas não é
faturada. De acordo com a IWA – International Water Association, esse tipo de perda
denomina-se perda aparente ou perda comercial (MOURA et al; 2004).
No quadro 4 a seguir são demonstrados as origens e magnitudes das
perdas aparentes.
Quadro 4- Origem e magnitude das perdas não físicas.
PE
RD
AS
NÃ
O F
ÍSIC
AS
ORIGEM MAGNITUDE
Ligações Clandestinas/Irregulares
Podem ser significativas, dependendo de: Procedimentos cadastrais e de faturamento, manutenção preventiva, adequação de hidrômetros e monitoramento do sistema.
Ligações não hidrometradas
Hidrômetros parados
Hidrômetros que submedem
Ligações inativas reabertas
Erros de leitura
Número de economias errado
Fonte: Tsutiya (2005).
Apenas por meio de controle da medição do volume de água, é que se
torna possível conhecer, diagnosticar, alterar e avaliar as diversas situações
operacionais em um sistema de abastecimento de água.
Para Moura et al. (2004), os grandes fatores de erro nas medições dos
hidrômetros, que geralmente o fazem marcar menos do que efetivamente foi
30
consumido são:
O envelhecimento do hidrômetro;
A qualidade da água distribuída;
A inclinação lateral do hidrômetro;
As características do perfil de consumo dos imóveis, onde dificilmente
ocorrem vazões próximas à nominal do hidrômetro, situando-se na maior
parte das vezes na faixa inferior à vazão “mínima”.
O mesmo destaca ainda que, outro fator responsável pelo aumento das
perdas é a fraude. Com o objetivo de medir apenas uma parcela do consumo efetivo
do imóvel, alguns usuários realizam intervenções nos hidrômetros. Os casos mais
comuns de fraude são:
Rompimento do lacre e inversão do hidrômetro;
Execução de “by pass” no hidrômetro;
Violação do hidrômetro, através de furona cúpula, e colocação de arame para
travar os dispositivos internos do hidrômetro;
Acesso por torneira ou registro após o hidrômetro e inserção de um arame, ou
outros obstáculos, para impedir a rotação da turbina do hidrômetro.
Moura et al. (2004), deixa bem claro que os problemas de erros de
medição ou a não medição, são os principais causadores das perdas aparente, e
que para se ter controle do volume se faz necessários aparelhos de precisão, sendo
o mais comum os hidrômetros.
Na figura 3 isso fica bem claro, uma vez que, os hidrômetros apresentam
uma curva típica de precisão, que varia com a vazão conforme pode ser observado
abaixo. Nota-se que o funcionamento ideal do hidrômetro, com mais ou menos 2%
de erro, é na faixa de vazão próxima à “nominal”, enquanto entre a vazão de
“transição” e a vazão “mínima” há uma medição sobrevalorizada. Abaixo da vazão
mínima, entretanto, há uma substancial queda na precisão, submedindo
extremamente os volumes.
31
Figura 3: Curvas de erros – Hidrômetros novos: posição normal e posição inclinada.
Fonte: Adaptado de Tsutiya (2004)
Outro indicador importante no fator “perdas aparentes” é o processo de
gestão comercial de uma companhia de saneamento, uma vez que, todos os
levantamentos financeiros e econômicos são contabilizados, principalmente no que
diz respeito aos volumes de agua faturado.
No setor da gestão comercial são encontradas várias causas de perdas
aparentes, tais como não-cadastramento das novas ligações em tempo real,
ligações suprimidas que foram reativadas sem conhecimento da companhia,
ligações clandestinas em geral e fraudes (já citado acima). Em todos esses casos a
água é consumida, porém não é faturada (TSUTIYA, 2005).
2.3.3.1 Cadastro comercial e outros fatores
Nas palavras de Tsutuya (2005), o cadastro comercial representa o
registro sistematizado dos consumidores, envolvendo os dados de localização da
ligação, tipo de uso (residencial, comercial, industrial, etc), e demais informações
que permitem a correta caracterização do cliente para apuração do consumo,
aplicação da política tarifária da empresa e emissão da conta.
Tsutuya (2005) explica que às vezes acontece uma ligação de água ser
ativada, mas o seu cadastramento demora meses a ser feito no sistema comercial.
Assim, essa ligação não terá o seu consumo apurado nesse período, constituindo
32
uma perda de faturamento para a companhia.
Outro fator pouco mencionado, porém, não menos importante das perdas
aparentes é que existem casos onde a companhia de saneamento não tem um
sistema de hidrometração completo, ficando as ligações sem hidrômetro com
faturamento fixo mensal. Isso enseja, com certeza, um excedente de consumo,
superior ao valor utilizado para o faturamento, que se constitui também em Perda
Aparente (TSUTIYA, 2005).
2.3.4 Indicadores de perda
Os indicadores de perdas, são ferramentas utilizadas para calcular o nível
de perdas existentes nos sistemas de abastecimento de água, sendo o modelo
característico de instrumento gerencial para as empresas no controle e suporte de
suas decisões de âmbitos econômicos, assim como financeiros. Através desses
indicadores, é possível ter uma linguagem de referência adequada para uma gestão
voltada ao desempenho e ao cumprimento de metas, permitindo a comparação entre
locais e provedores distintos.
Os indicadores de perdas permitem retratar a situação dos volumes
perdidos, além de possibilitar uma comparação nos sistemas de abastecimentos
distintos. Existem diversos indicadores, e eles devem oferecer confiabilidade para o
gerenciamento e planejamento nas ações de redução e controle das perdas
(MIRANDA, 2002).
Segundo Silva & Conejo (1999), nos dados de um indicador de
desempenho, são consideradas informações indispensáveis, todas aquelas que
compõem diretamente o indicador, sem as quais este não pode ser definido, e para o
mesmo as informações indispensáveis ou chave descrevem no Programa Nacional
de Controle ao Desperdício de Água (PNCDA) são:
Volume disponibilizado (VD): Soma algébrica dos volumes produzido,
exportado e importado, disponibilizados para distribuição no sistema de
abastecimento considerado:
Volume produzido (VP): Volume efluente da (s) ETA ou unidade (s) de
tratamento simplificado no sistema de abastecimento considerado;
33
Volume importado (Vim): Volumes de água potável, com qualidade para
pronta distribuição, recebidos de outras áreas de serviço e/ou de outros
agentes produtores;
Volume exportado (VEx): Volumes de água potável, com qualidade para
pronta distribuição, transferidos para outras áreas de serviço e/ou para outros
agentes distribuidores.
Volume utilizado (VU): Soma dos volumes micromedido, estimado,
recuperado, operacional e especial:
Volume micromedido (Vm): Volumes registrados nas ligações providas de
medidores;
Volume estimado (VE): Corresponde à estimativa de consumo a partir dos
volumes micromedidos em áreas com as mesmas características da
estimada, para as mesmas categorias de usuários;
Volume Recuperado (VR): Corresponde à neutralização de ligações
clandestinas e fraudes;
Volume operacional (VO): Volumes utilizados em testes de estanqueidade e
desinfecção das redes (adutora, subadutoras e distribuição); e
Volume especial (VEs): Volumes (preferencialmente medidos) destinados para
corpo de bombeiros, caminhões-pipa, suprimentos sociais (favelas,
chafarizes) e uso próprio nas edificações do prestador de serviços.
Volume faturado (VF): Todos os volumes de água medida, presumida,
estimada, contratada, mínima ou informada, faturadas pelo sistema comercial
do prestador de serviços;
Número de ligações ativas (LA): Providas ou não de hidrômetro, se define à
quantidade de ligações que contribuem para o faturamento mensal;
Número de ligações ativas micromedidas (Lm): Ligações ativas providas de
medidores;
Extensão parcial da rede (EP): Extensão de adutoras, subadutoras e redes de
distribuição, não contabilizado os ramais prediais;
Extensão total da rede (ET): Extensão total de adutoras, subadutoras, redes
de distribuição e ramais prediais; e
Número de dias (ND): Quantidade de dias correspondente aos volumes
trabalhados.
34
2.3.4.1 Indicadores básicos de desempenho
Provenientes das informações-chave, os seguintes indicadores básicos
de desempenho são determinados (SILVA & CONEJO, 1999):
Índice de Perda na Distribuição (IPD) ou Água Não Contabilizada (ANC);
Índice de Perda de Faturamento (IPF) ou Água Não Faturada (ANF);
Índice Linear Bruto de Perda (ILB); e
Índice de Perda por Ligação (IPL).
a) Índice de Perda na Distribuição (IPD) ou Água Não Contabilizada (ANC)
É caracterizado por relacionar o volume disponibilizado ao volume
utilizado (equação 1). A água que é disponibilizada e não utilizada constitui uma
parcela não contabilizada, que incorpora o conjunto das perdas reais e aparentes no
subsistema de distribuição. Estas últimas são em grande parte associadas aos
desvios de medição macro e micro, (SILVA & CONEJO, 1999).
(1)
Tsutiya (2005) apresenta uma proposta preliminar de classificação dos
sistemas de abastecimento de água em relação às perdas, bem como busca dá uma
referência da ordem de grandeza dos números percentuais geralmente encontrados.
O mesmo apresenta na tabela 1 esses índices.
Tabela 1: Índices percentuais de perdas.
Índice total de perdas (%) Classificação do sistema
Menor do que 25 Bom
Entre 25 e 40 Regular
Maior do que 40 Ruim
Fonte: Tsutiya (2005).
35
b) Índice de Perda de Faturamento (IPF) ou Água Não Faturada (ANF)
O índice de perda por faturamento (IPF), expressa a relação entre volume
disponibilizado e volume faturado (equação 2). Constitui visivelmente uma
composição de perdas reais e aparentes que, além daquelas atribuídas a desvios de
medição, incorporam volumes utilizados não cobrados, como o volume especial e o
volume operacional. Por isso, este indicador sempre estará expressando uma
parcela de volumes que não são fisicamente perdidos (SILVA & CONEJO, 1999).
(2)
Ainda sobre as perdas por faturamento, Silva et al. (2004) observaram
que no Brasil os percentuais de água não faturada oscilam entre 25% e 65%. Neste
caso cabe observar que os valores das tarifas de água variam conforme as faixas de
consumo e desta maneira as perdas de faturamento não representam
necessariamente as de volume.
A confiabilidade do volume faturado relaciona-se à proporção de ligações
ativas micromedidas sobre o total de ligações ativas, no conceito de Índice de
Hidrometração (IH) do Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento – SNIS
(SILVA & CONEJO, 1999). Logo abaixo é demonstrada a equação 3 que exemplifica
essa relação.
(3)
c) Índice Linear Bruto de Perda (ILB)
De acordo com Tstuya (2005) o ILB relaciona o volume perdido total com
o comprimento da rede de distribuição de água (equação 4), (também um “fator
escala”) existente no sistema em análise. Esse indicador distribui as perdas ao longo
da extensão da rede, apresentando valores altos quando há uma ocupação urbana
muito elevada.
36
(4)
As perdas demonstradas nesse indicador incorporam perdas reais e
aparentes, uma vez que não se controlam os erros sistemáticos de medição (SILVA
& CONEJO, 1999).
d) Índice de Perda por Ligação (IPL)
Este índice é também um indicador volumétrico de desempenho, com
resultados mais preciso que os percentuais. Relaciona a diferença entre o volume
disponibilizado e volume utilizado ao número de ligações ativas (equação 5), (SILVA
& CONEJO, 1999).
(5)
Em decorrência desse indicador focar as perdas nos ramais, o mesmo
depende muito da densidade de ramais existentes. Desta forma, recomenda-se o
seu uso nos casos em que a densidade de ramais for superior a 20 ramais/Km
(TSUTIYA, 2005).
37
3 MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE PERDAS EM SISTEMAS DE
ABASTECIMENTO DE ÁGUA
3.1 Definição de avaliação das perdas
Silva & Conejo (1999), faz uma síntese da avaliação das perdas ao qual
identifica que a estimativa das perdas de água, em um sistema de abastecimento,
pode ser obtida através da comparação entre o volume de água transferido de um
ponto do sistema, e o volume de água recebido em um ou mais pontos do sistema,
situados na área de influência do ponto de transferência.
A identificação e a separação das perdas físicas de água das não físicas é
tecnicamente possível mediante pesquisa de campo, utilizando a metodologia da
análise de histograma (registros contínuos) de consumo das vazões macromedidas.
Nesse caso, a oferta noturna estabilizada durante a madrugada - abatendo-se os
consumos noturnos contínuos por parte de determinados tipos de usuários do
serviço (fábricas, hospitais e outros) representa, em sua quase totalidade, a perda
física no período pesquisado, decorrente de vazamentos na rede ou ramais prediais
(SILVA & CONEJO, 1999).
De forma geral, e segundo Tsutiya (2005), as perdas podem ser
avaliadas, em geral, medindo-se a vazão (ou volume) no ponto inicial de uma fase e
medindo-se novamente a vazão no ponto final dessa fase: a diferença constitui,
portanto, a perda. Nos sistemas de abastecimento de água, o caso mais
emblemático e mais comum é a determinação das perdas a partir das ETA,
incorporando as eventuais perdas na adução, reserva e distribuição. Nesse caso,
mede-se o volume que sai da ETA em um determinado período de tempo (um mês,
um ano, etc) e compara-se com a soma de todos os volumes legítimos medidos (ou
estimados) na rede de distribuição de água, no período considerado. Em outros
termos, a diferença entre a macromedição (saída da ETA) e a micromedição (pontos
de entrega ao consumidor final, medidos ou estimados) constitui a perda total do
sistema em consideração, não se distinguindo aqui as parcelas que cabem às
Perdas Reais e às Perdas Aparentes (TSUTIYA, 2005).
Na maioria dos casos, em sistemas de abastecimento de água em que o
índice de micromedição seja próximo de 100%, as ligações clandestinas têm pouca
importância, devendo existir eficaz programação permanente de adequação e
38
manutenção preventiva de hidrômetros, combate às fraudes nos micromedidores e
ramais clandestinos, com isso, as perdas mensuráveis tendem a refletir as perdas
físicas de água (SILVA & CONEJO, 1999).
Em relação às perdas físicas na rede distribuidora, os ramais prediais
registram maior quantidade de ocorrências (vazamentos). Isso nem sempre significa,
porém, que esta seja a maior perda em termos de volume. As maiores perdas físicas
na distribuição, em volume, ocorrem por extravasamento de reservatórios ou em
vazamentos nas adutoras de água tratada e nas tubulações da rede de distribuição
(SILVA & CONEJO, 1999).
3.2 Principais métodos para avaliação das perdas reais e aparentes
A quantificação das perdas é uma apuração relativamente fácil de ser
feita, pois é obtida simplesmente pela diferença entre o “volume disponibilizado ao
sistema” e os “volumes autorizados”. Entretanto, o rateio entre Perdas Reais e
Perdas Aparentes é mais complexo, e exige a adoção de diversas hipóteses ou a
realização de vários ensaios em campo (TSUTIYA, 2005).
Os métodos de avaliação de perdas reais, de acordo com Tsutiya (2005)
são:
a) Método do Balanço Hídrico
O método em questão nas palavras Tsutiya (2005), os volumes perdidos
são calculados a partir dos dados da macromedição e da micromedição, e de
estimativas para determinar os valores não-medidos que integram a matriz. São
feitas hipóteses para determinar as Perdas Aparentes (erros de medição, fraudes,
etc) e, por diferença, definem-se as Perdas Reais. Ou seja:
Perdas Reais = VD – VA – Perdas Aparentes
As medidas para a aplicação desse método, segundo Tsutiya (2005) são:
Entrar com o volume anual disponibilizado (macromedição), realizando
eventuais ajustes para corrigir os volumes devido à imprecisão dos
39
macromedidores;
Entrar com os volumes totalizados (base anual) relativos às leituras nos
hidrômetros (micromedição);
Estimar os volumes não-medidos (ligações sem hidrômetro, onde o
faturamento é por taxa fixa, independente do volume utilizado);
Entrar com os volumes não-faturados medidos (usos próprios da companhia
de saneamento, por exemplo);
Estimar os consumos não-faturados, não-medidos (favelas, combate a
incêndios, usos operacionais);
Estimar os erros médios de medição dos hidrômetros e aplicar sobre o
volume micromedido, resultando o volume perdido por submedição;
Estimar o volume perdido nas fraudes e ligações clandestinas (normalmente
através de uma porcentagem do volume total disponibilizado);
Totalizar o volume das Perdas Reais por diferença.
Dessa forma Tsutiya (2005) indica as vantagens desse método
destacando que:
É possível aplica-lo desde um setor de abastecimento (ou mesmo o sistema
de abastecimento global) até pequenos subsetores ou distritos pitométricos;
Os dados da macromedição e da micromedição são geralmente disponíveis
nas companhias de saneamento;
As hipóteses e estimativas requeridas, na maioria das vezes, estão baseadas
em estudos preexistentes ou dados da literatura, sem custos adicionais para a
companhia de saneamento;
É relativamente barato.
A desvantagem mais evidente é a baixa precisão dos números associados
às hipóteses e estimativas, que reflete na quantificação final das Perdas Reais
(TSUTIYA, 2005).
b) Método das Vazões Mínimas Noturnas
40
O alicerce deste método é a variação dos consumos no sistema de
abastecimento de água ao longo do dia. O pico de consumo geralmente se dá entre
11:00 e 14:00 h, e o mínimo consumo normalmente se dá entre 3:00 e 4:00 h. A
vazão correspondente a esse consumo mínimo é denominada “Vazão Mínima
Noturna”, que pode ser medida através do uso de equipamentos de medição de
vazão e pressão, desde que adotados procedimentos adequados de fechamento dos
registros limítrofes do subsetor em análise (TSUTIYA, 2005).
O uso da Vazão Mínima Noturna para a determinação das Perdas Reais é
vantajoso devido ao fato de que, no momento de sua ocorrência, há pouco consumo
e as vazões são estáveis (as caixas d’água domiciliares estão cheias), e uma
parcela significativa do seu valor refere-se às vazões dos vazamentos (TSUTIYA,
2005).
Para a determinação da vazão dos vazamentos é necessário estimar
praticamente todos os componentes dos consumos noturnos, a menos dos grandes
consumidores, onde é possível medir os seus consumos individuais observados
durante os ensaios. Para os consumos residenciais, costuma-se assumir hipóteses
baseadas em medições específicas de consumo e extrapoladas para o conjunto de
consumidores da área envolvida, ou utilizar dados de literatura (TSUTIYA, 2005).
As vazões de vazamentos assim determinadas representam os valores
observados naquela hora do ensaio, onde as pressões do sistema atingem o
máximo. Como a vazão dos vazamentos é bastante influenciada pela pressão, o
valor observado na hora mínima noturna é a vazão máxima diária dos vazamentos
que, se simplesmente multiplicada por 24 h, estaria supervalorizando os volumes
diários perdidos (TSUTIYA, 2005).
Para solucionar esse problema, foi criado o “Fator Noite/Dia”, que é um
número, dado em horas por dia, que multiplicado pela vazão dos vazamentos
(extraída da Vazão Mínima Noturna) resulta no Volume Médio Diário dos
Vazamentos, ou seja, nas Perdas Reais médias do ensaio (TSUTIYA, 2005).
O fator noite dia é determinado a partir de medições de pressão em um
ponto médio representativo do subsetor, utilizando-se, posteriormente, a relação
entre pressão e vazão de vazamentos já descrita acima. O valor do Fator Noite/Dia
pode ser menor que 24 h, que é o caso mais comum, observado em setores sem
nenhuma interferência operacional, ou ser maior que 24 h, como acontece em
subsetores com Válvulas Redutoras de Pressão, que reduzem a pressão durante a
41
madrugada, intervindo, assim, o comportamento da variação das pressões ao longo
do dia. Idealmente, se as tubulações do subsetor fossem tão superdimensionadas
que resultassem perdas de carga nulas, o Fator Noite/Dia seria igual a 24 h
(TSUTIYA, 2005).
Ou seja, o volume perdido em um dia, calculado a partir dos ensaios e
processamentos da Vazão Mínima Noturna em um determinado subsetor, é
(TSUTIYA, 2005):
Volume Diário de Perdas Reais (m3/dia) = FND (h/dia) x Vazão dos Vazamentos
(m3/h)
Esse método também possui suas vantagens que Segundo Tsutiya
(2005), são:
Maior representatividade do valor numérico das Perdas Reais para o subsetor,
retratando a realidade física e operacional da área;
Propicia conhecimento das condições operacionais da área às equipes
técnicas da companhia de saneamento.
Já as desvantagens, são destacadas por Tsutiya (2005), como sendo:
O ensaio é feito em uma área relativamente pequena do setor de
abastecimento, podendo induzir a equívocos se os valores forem
simplesmente extrapolados ao conjunto do setor;
Envolve custos com equipes e equipamentos de medição de vazão e pressão.
Em toda essa análise, Tsutiya (2005), deixa bem claro que a utilização do
método Balanço Hídrico com o método das Vazões Mínimas Noturnas pode ser uma
forma interessante de calibrar as variáveis e hipóteses assumidas, de forma a
buscar resultados mais confiáveis na determinação dos volumes de Perdas Reais.
Destaca-se ainda que as perdas aparentes podem ser obtidas subtraindo-
se as perdas reais do valor da perda total (ARIKAWA, 2005).
As principais formas de se obter as perdas aparentes são:
42
Método do balanço hídrico: é utilizada a matriz do balanço de água. Nesse
caso, admite-se conhecido as perdas reais para se obter as perdas
aparentes.
Estudos e pesquisas específicas: para os macros medidores e micro
medidores são realizados ensaios em bancada ou “in loco” para
determinação de erros de medição. A avaliação dos volumes perdidos devido
a gestão comercial, fraudes e falhas de cadastro, deve-se basear no histórico
do sistema comercial da prestadora de serviço, se as tiver, caso contrário,
poderá utilizar dados de outras empresas.
43
4 CONTROLE DAS PERDAS EM SISTEMAS PÚBLICOS DE ABASTECIMENTO
4.1 O combate as perdas
O controle de perdas de água em sistemas de abastecimento de água
constitui a principal atividade operacional que deve ser desenvolvida por uma
empresa de saneamento básico, pois o seu controle está diretamente relacionado
com a receita e a despesa da empresa. Além disso, se considerarmos que a água
está se tornando um recurso cada mais escasso, devido à poluição dos mananciais
de abastecimento, o controle de perdas torna-se de fundamental importância. (SILVA
et al; 2004)
De acordo com Tardelli Filho (2016) o estopim das perdas reais é,
indubitavelmente, a qualidade da infraestrutura. O mesmo ainda relata que
diferentes fatores podem aumentar os vazamentos, entre os quais, a pressão de
serviço é o mais significativo, seguido da qualidade da manutenção, das condições
de assentamento das tubulações, do tráfego, dentre outros. No caso das perdas
aparentes, as limitações técnico-operacionais dos medidores são preponderantes,
realçadas pela idade de instalação na rede e pelas variações do fluxo d’água neles
(especialmente nas vazões muito reduzidas).
As ações básicas para o combate às perdas reais segundo Tardelli Filho
(2016) são:
Gerenciamento de pressões, em que, no contexto da setorização da rede de
distribuição, se busca operar com pressões de serviço adequadas,
complementando com a utilização de Válvulas Redutoras de Pressão (VRPs)
em áreas mais baixas ou boosters em pontos mais altos da rede;
Controle ativo de vazamentos, que se destina a encontrar os vazamentos não
visíveis nas tubulações por meio de técnicas acústicas de detecção
(contrapõe- se ao “controle passivo”, que repara apenas os vazamentos que
afloram à superfície do terreno);
Reparo dos vazamentos visíveis e não visíveis detectados, com agilidade e
qualidade na execução;
44
Renovação da infraestrutura, substituindo as tubulações (redes e ramais) que
estão com maior incidência de vazamentos.
Seguindo ainda as palavras de Tardelli Filho (2016), para as perdas
aparentes, as principais ações são:
Substituição periódica dos hidrômetros (preventiva) e imediata dos
hidrômetros quebrados (corretiva);
Combate às fraudes, a partir de denúncias, análises de variações atípicas de
consumo ou quaisquer outros indícios ou evidências;
Aprimoramento da gestão comercial das companhias (cadastros e sistemas
comerciais).
Para que o bom funcionamento dessas ações ocorra, é necessário e/ou
se pressupõe:
A existência de cadastros técnicos (redes e ramais) e comerciais atualizados;
A medição dos volumes nos setores e subsetores do sistema (macromedição)
e hidrometração dos consumidores (micromedição);
A compartimentação estanque dos setores de abastecimento e subsetores
(zonas de pressão e Distritos de Medição e Controle – DMCs).
De acordo com a ABES (2013), existem três tipos de vazamentos; e para
cada tipo de vazamento, são definidas algumas ações possíveis para o controle e a
redução de perdas, também esclarecidos na figura 4 logo mais abaixo:
Vazamentos não visíveis, de baixa vazão, não aflorantes e não detectáveis
por métodos acústicos de pesquisa. Nestes casos, deve-se observar a
qualidade da mão de obra e dos materiais utilizados, e, eventualmente,
reduzir a pressão da rede.
Vazamentos não visíveis, não aflorantes, mas detectáveis por métodos
acústicos de pesquisa: nesses casos, além das ações anteriores, deve-se
aumentar a pesquisa de vazamentos.
45
Vazamentos visíveis, aflorantes ou ocorrentes nos cavaletes;
extravazamentos nos reservatórios. Nesses casos, além as ações anteriores,
deve-se também controlar o nível dos reservatórios.
Figura 4 - Síntese das ações para o controle e a redução de perdas reais.
Fonte: TARDELLI FILHO, J. Controle e Redução de Perdas. In TSUTIYA, M. T. Abastecimento de
água. 2006.
Nos estudos da ABES (2013), também, são destacados a síntese das
principais ações para o controle e a redução das perdas aparentes (Figura 5).
Quando se fala no campo da macromedição, as ações adequadas são a instalação
adequada de macromedidores e a calibração dos medidores de vazão. Já no âmbito
da gestão comercial, as ações incluem o controle de ligações inativas e
clandestinas. No que concerne à micromedição, as ações abrangem a instalação
adequada e a substituição periódica dos hidrômetros.
46
Figura 5 - Síntese das ações para o controle e a redução de perdas aparentes.
Fonte: TARDELLI FILHO, J. Controle e Redução de Perdas. In TSUTIYA, M. T. Abastecimento de
água. 2006.
4.2 Estratégias e planos de ações para a diminuição das perdas de água.
De forma geral, a formulação de estratégias para a redução de perdas é
bastante ampla, porém se define a pequenos detalhes, e que se não seguidos à
risca, se torna ineficaz.
Para a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental - ABES
(2013), o problema do elevado nível de perdas preocupa as lideranças de
organizações de saneamento (concessionárias públicas e privadas, autarquias e
departamentos) pelo menos a partir do início dos anos 2000, especialmente por
causa da escassez hídrica que estas organizações enfrentam e pelos altos valores
das perdas, gerando demanda adicional num sistema de abastecimento água já
bastante exigido pelo desenvolvimento urbano das cidades brasileiras.
A iniciativa para implantar qualquer programa, parte do princípio do
conhecimento do problema a enfrentar. Focar o controle de perdas reais em um
setor de abastecimento onde o maior problema são as perdas aparentes é um
47
equívoco típico decorrente de falta de um bom diagnóstico (TSUTIYA, 2005).
A partir do diagnóstico do sistema de abastecimento, da análise das
características físicas de todas as suas unidades, da identificação e quantificação
das perdas físicas e não físicas, da disponibilidade de recursos financeiros próprios
do operador e das alternativas de financiamento (considerar a possibilidade de
contratos de risco com o setor privado) e da disponibilidade e adequação de
recursos humanos e materiais, deve ser efetuada a estruturação do plano de ação
para redução e controle de perdas (CONEJO et al., 1999).
Os aspectos relevantes para um plano de ação e estratégias segundo
Tardelli Filho (2016) parte do princípio de detectar o problema, agir com uma ação
corretiva e/ou preventiva, e dar suporte para que as ações sejam concretizadas. No
quadro 5 a seguir são abordadas as soluções para os problemas de perdas.
Quadro 5 – Estratégias e soluções para os problemas de perdas
Problema Intervenção Corretiva ou
Preventiva Suporte
INFORMAÇÃO-DIAGNÓSTICO-GESTÃO
Cadastros técnico e/ou comercial desatualizados
Atualização cadastral, definição de fluxos e responsabilidades
Plantas cadastrais, croquis, as built, GIS
Setorização inexistente ou precária
Compartimentação piezométrica ou operacional (DMcs)
Cadastro técnico, GIS, modelagem
Falta de estanqueidade Eliminação dos fluxos entre setores ou zonas piezométricas
Cadastro técnico, GIS, ensaios em campo
Macromedição inexistente ou deficiente
Instalação de macromedidores, substituição ou adequação de macromedidores, calibração periódica
Cadastro técnico, ensaios de pitometria
Supervisão inexistente Monitoramento (nível, pressão, vazão) de pontos estratégicos ou críticos da rede
Equipamentos registradores, ensaios pitométricos, telemetria
Inexistência de hidrômetro Instalação de hidrômetro Cadastro Comercial
Informações inexistentes ou desorganizadas
Sistema informatizado e atualizado
Monitoramento, GIS, indicadores
Inexistência de diagnóstico Elaboração de diagnóstico operacional e comercial
Ensaios em campo, análises de dados, balanço hídrico, indicadores
Gestão operacional ou comercial inadequadas
Elaboração de balanços hídricos, sistemas informatizados, relatórios gerenciais, definição de metas
Indicadores, tendências, referenciais comparativos
Continua
48
Quadro 5 – Estratégias e soluções para os problemas de perdas (continuação)
COMBATE ÀS PERDAS REAIS
Pressão alta Setorização, instalação de VRPs
Cadastro técnico, GIS, monitoramento, modelagem
Pressão baixa nos pontos mais elevados
Instalação de boosters (rotação variável)
Cadastro técnico, GIS, monitoramento, modelagem
Grande variação da pressão ao longo do dia
Substituição de redes, instalação de VRPs "inteligentes"
Cadastro técnico, GIS, monitoramento, modelagem
Vazamentos visíveis nas redes
Reparo ágil, redução de pressão, substituição de tubulação
Telefone 195, mapeamento, indicadores, modelagem
Vazamentos visíveis nos ramais
Substituição ágil do ramal, redução de pressão
Telefone 195, mapeamento, indicadores, modelagem
Vazamentos não visíveis nas redes
Pesquisa de vazamentos, reparo, redução de pressão, substituição de tubulação
Mapeamento, indicadores, modelagem
Vazamentos não visíveis nos ramais
Pesquisa de vazamentos, substituição do ramal, redução de pressão
Mapeamento, indicadores, modelagem
Vazamentos inerentes nas redes
Substituição de redes, redução de pressão
Ensaio de campo, modelagem
Vazamentos inerentes nos ramais
Substituição do ramal, diminuição de juntas, redução de pressão
Ensaio de campo
Extravasamento de reservatórios
Controle de nível d’água Monitoramento, telemetria, telecomando
COMBATE ÀS PERDAS APARENTES
Hidrômetro quebrado ou com problemas
Troca corretiva Telefone 195, cadastro comercial
Submedição elevada Troca preventiva otimizada, desinclinação, desenvolvimento tecnológico dos hidrômetros
Gestão comercial, ensaios de bancada, normas
Fraudes e ligações clandestinas
Inspeção e penalização Canal de denúncia, gestão comercial e dos consumos
Falhas do sistema comercial Auditorias, melhorias no sistema, modernização de processos
Gestão comercial
Gestão deficiente dos grandes clientes
Adequação de medidores, troca preventiva mais frequentes
Telemetria, gestão comercial
Fonte: Aspectos relevantes do controle de perdas em sistemas públicos de abastecimento de água (Tardelli Filho, 2016).
Ainda nas palavras de Tardelli Filho (2016), dando continuidade as
estruturações e continuidade das ações, o combate às perdas nas companhias ou
operadoras de água normalmente é estruturado na forma de um programa,
composto por várias ações operacionais e estruturais. Esses programas devem ter
como suporte análises específicas ou diagnósticos que definiram ser aquelas ações,
naqueles lugares e naqueles quantitativos, as que irão proporcionar os melhores
49
resultados na queda dos indicadores de perdas ao longo dos anos, até o horizonte
de planejamento estipulado.
Nos Programas de Controle de Perdas, existe ainda várias dificuldades de
gerenciamento, entre eles, um grande desafio é formular a avaliação dos resultados
decorrentes daquele conjunto de ações proposto. Uma boa maneira de superar essa
dificuldade é, assumindo algumas hipóteses e definindo as metas, fazer o
acompanhamento regular dos resultados e, no fim do ano, após análises técnicas,
efetuar ajustes nas ações ou mesmo reavaliação das metas (TARDELLI FILHO,
2016).
Desses fatos, podem-se extrair as seguintes lições:
O combate às perdas não deve ser uma ação esporádica, pois os eventuais
resultados positivos, se conseguidos em curto prazo, não se manterão;
Os Programas de Controle de Perdas têm, obrigatoriamente, um caráter de
persistência e permanência, com planejamento, execução e gestão
rigorosos.
De certa forma e a princípio, a formatação de um Programa de Controle
de Perdas deve requerer bases tecnológicas, ferramentais e logísticas sofisticadas.
Essa linha de raciocínio parece pressupor, também, que atividades de controle de
perdas dizem respeito apenas às grandes companhias de saneamento. Isso só
desestimula a percepção de que o que se propõe é a adequada operação e a
manutenção dos sistemas de água, o que vale para grandes, médias e pequenas
empresas na prestação de serviços de abastecimento de água à população,
independentemente do ferramental utilizado. Imprescindível, nesse contexto, é
contar com mão de obra treinada e compromissada, além de materiais qualificados,
de forma a garantir a permanência dos resultados, eliminar retrabalhos e evitar
desperdícios de recursos (TARDELLI FILHO, 2016).
Rodrigues da Costa (2013), destaca que a melhor maneira de avançar
nessa melhoria operacional é trabalhar de forma gradual, calibrando os passos e
mudando de patamar à medida que as condições técnicas e econômico-financeiras
assim o permitirem. No quadro 6 a seguir, é demonstrado de forma escalonada e
gradativa, as propostas de ações de combate às perdas em qualquer companhia ou
operadora de água.
50
Quadro 6 – Escalonamento das Intervenções
Ação Mínimo Razoável Desejável
Cadastro Técnico
Plantas cadastrais com a localização das redes de distribuição e outras informações básicas, como diâmetro, extensão, idade e topografia. Informações de campo, como limite de setor, interligações, localização de boosters e VRPs.
Informações básicas confiáveis, com definição dos setores de abastecimento e zonas de pressão. Incluir no processo a sistemática de atualização cadastral para eliminação de inconsistências.
Informações georreferenciadas (GIS) para toda a malha de distribuição, contendo todos os setores de abastecimento, zonas de pressão, DMCs e Distritos de Manobra cadastrados. Correlação do cadastro técnico com sistemas operacionais e de manutenção, propiciando a geração de mapas temáticos e exportação de dados para elaboração de modelos hidráulicos.
Macromedição
Macromedição nos setores de abastecimento (reservatórios, derivação em marcha), com macromedidor dimensionado de acordo com a faixa de vazão e aferido.
Macromedidores instalados nas alças das redes de distribuição, possibilitando o controle da vazão mínima noturna. Implantar programa de aferição sistemática dos macromedidores.
Monitoramento contínuo do sistema de macromedição totalmente telemetrizado. Setores subdivididos em DMCs macromedidos e telemetrizados, propiciando o monitoramento contínuo da vazão. Utilização de cartas de controle (CEP), no monitoramento das vazões.
Gerenciamento de Pressão
Garantia da pressão mínima nos pontos críticos de abastecimento. Instalação de VRPs, possibilitando a equalização de pressão principalmente nos horários de maior consumo.
Instalação de VRPs com controladores eletrônicos que possibilitam a equalização de pressão de acordo com a variação de consumo. Implantar o gerenciamento de pressão em sistemas de bombeamento, por intermédio da utilização de inversores de frequência. Monitoramento dos sistemas de bombeamento, VRPs e pontos críticos.
Implantação de estudos de setorização, para equalização de pressão. Monitoramento e controle de todos os equipamentos (boosters e VRPs) e pontos críticos de abastecimento. Utilização de cartas de controle (CEP), no monitoramento das pressões.
Controle Ativo de Vazamentos
Campanha de pesquisa de vazamentos, com equipe capacitada e engajada. Pesquisas de vazamentos não
Estudo criterioso para a priorização de áreas com utilização de mapas temáticos e vazão mínima noturna.
Utilização de indicadores de performance por áreas de pesquisa- carta de controle. Exigência de
51
visíveis no período noturno.
Tecnologias de pesquisa de vazamentos adequadas a cada situação. Controle de produtividade das equipes de pesquisa.
certificação profissional das equipes de pesquisa. Ação de pesquisa de vazamento conjunta, com a renovação de estrutura e controle de pressão.
Agilidade e Qualidade dos Reparos
Canal de atendimento telefônico para reclamações e comunicação de vazamentos. Prazo para o reparo compatível com a realidade da empresa. Forma de atuação diferenciada por modalidade (ramal - rede).
Central de atendimento telefônico adequadamente dimensionada. Equipes dimensionadas e capacitadas para execução dos vazamentos com qualidade e agilidade. Implantação do registro de falhas, para diminuição de reincidências.
Sistemas informatizados e integrados para acatamento, programação e controle da execução dos vazamentos. Controle tecnológico dos serviços executados. Exigência de certificação profissional para a execução dos serviços.
Gerenciamento da Infraestrutura
Garantia da qualidade dos materiais, ferramentas e equipamentos. Garantia da qualidade da mão de obra e da implantação da infraestrutura. Análise do histórico de problemas e renovação da infraestrutura em pontos críticos.
Execução de testes de estanqueidade no recebimento de novas tubulações ou serviços de manutenção. Implantação de centros de treinamento e capacitação da mão de obra própria ou terceirizada. Implantação de um programa sistemático de substituição ou restauração da infraestrutura existente, c om base em diagnóstico de incidências de rupturas e vazamentos.
Renovação de estrutura que integre as questões de perdas, garantia do abastecimento e da qualidade da água. Utilização de modelos hidráulicos e mapas temáticos na definição dos trechos críticos. Exigência de certificação profissional para a implantação ou substituição de estruturas. Implantação de um programa de gestão de ativos.
Redução de Perdas Aparentes
Cadastro comercial confiável. Hidrometração integral das ligações. Conscientização da população para a questão das fraudes.
Cadastro comercial informatizado. Gestão da hidrometria, com troca periódica dos hidrômetros. Combate às fraudes. Ações junto às prefeituras para a regularização de favelas.
Cadastro comercial informatizado e integrado ao GIS. Telemetria de grandes consumidores. Programa otimizado de substituição de hidrômetros. Intensificação do combate às fraudes. Regularização de ligações em favelas.
Fonte: Aspectos relevantes do controle de perdas em sistemas públicos de abastecimento de água (Tardelli Filho, 2016).
52
5 METODOLOGIA
O presente trabalho foi realizado através de pesquisas exploratórias de
documentos dos serviços de fornecimento de água do sistema de abastecimento do
município do Crato-CE, administrado pela Sociedade Anônima de Água e Esgoto do
Crato- SAAEC. O levantamento de dados teve como base principal as informações
concedidas pela empresa através do Sistema Nacional de Informações sobre
Saneamento- SNIS, referente a coleta de dados do período de 2012 a 2015.
Foi utilizado também os dados operacionais fornecidos pela empresa em
relação a caracterização do sistema de abastecimento em questão, de como
funciona a distribuição, quais as fontes de abastecimento, quais os principais
desafios encontrados pela empresa, entre outros.
Após o levantamento de dados fornecidos pela fornecedora de água em
questão, serão avaliados todas os indicadores do SNIS que proporcionem analisar
os indícios de perdas em todo o sistema de fornecimento.
Com todas essas informações, espera-se poder estimar e demonstrar os
indicadores básicos de desempenho, ou seja, de forma teórica e estatística, explicar
quais as principais causas que levam aos índices de perdas na distribuição, no
faturamento, por ligação, de perda de água bruta, enfim das perdas em todo a
distribuição.
Dessa forma, após identificação das causas, foram propostos medidas e
soluções que proporcionem melhorias no abastecimento e que diminuam os índices
de perda de água, buscando alertar também sobre o uso racional da mesma pelos
usuários.
Enfim, a proposta deste trabalho irá trabalhar com parte do referencial
teórico já descrito, apenas com os recursos fornecidos, uma vez que, devido ao
tempo de estudo, não foi possível a obtenção de todos os dados necessários com a
SAAEC.
5.1 Área de estudo
Fundada em 10 de agosto de 1963, durante a gestão do então prefeito,
Pedro Felício Cavalcanti, através da Lei Municipal n° 651, de 17 de abril de 1963, a
SAAEC, conforme o preconizado à luz de seu Estatuto Social tem por objetivo
53
distribuir água tratada e de qualidade para toda a população cratense, além de ser
responsável pelo saneamento da rede sanitária da cidade.
A empresa foi criada na forma de uma sociedade de economia mista
destinada a planejar, projetar, executar industrialmente os serviços públicos de
abastecimento de água e sistemas de esgotos sanitários no município do Crato. A
SAAEC ainda é responsável pelo abastecimento de água dos distritos de Belmonte,
Campo Alegre, Dom Quintino, Monte Alverne, Bela Vista, Ponta da Serra, Santa Fé e
Santa Rosa
O município do Crato, está localizado na região sul do estado do Ceará
(figura 6), nas coordenadas geográficas, latitude 7º 14’ 03” Sul e longitude 39º 24’
34” Oeste. Possui área equivalente a 1.157,914 km2, altitude de 426,9 m e dista 400
km em linha reta até a capital Fortaleza. Limita-se ao norte com os municípios de
Caririaçu e Farias Brito, ao sul com os municípios de Barbalha e Estado de
Pernambuco, a leste com os municípios de Barbalha, Juazeiro do Norte e Caririaçu,
e a oeste com os municípios de Nova Olinda, Santana do Cariri e Estado de
Pernambuco.
Figura 6- Localização da área de estudo em Crato-CE
Fonte: Adaptada de Wikipédia, (2016)
Atualmente, a SAAEC trabalha recolhendo água das nascentes e poços
existentes em Crato. Ao todo segundo o órgão, são 43 pontos de bombeamento de
54
água. Ainda segundo a mesma, é realizado semanalmente o tratamento e
distribuição de aproximadamente cinco milhões de litros de água, apenas em cinco
dos principais reservatórios da SAAEC.
Através de dados fornecidos pela empresa, a Sociedade mantém um
corpo de funcional de 125 colaboradores, entre diretores e técnicos. Na SAAEC, o
Município é o maior acionista, detendo mais de 99% das ações. Para contribuir com
o bem-estar social e com o desenvolvimento regional, no ano de 2008 foi realizado o
primeiro concurso público para a efetivação de funcionários da SAAEC.
5.2 Características do sistema de abastecimento do Crato
De acordo com a última versão do Plano Municipal de Saneamento
Básico do Crato - PMSB, o sistema de abastecimento existente da SAAEC, explora
somente mananciais subterrâneos como fontes hídricas, através de poços tubulares
ou captações de nascentes d’água.
Através de dados do SNIS 2015, a SAAEC é responsável pelo
abastecimento de 106.943 pessoas residentes e distribuídos em 29 bairros no trecho
urbano (sede), enquanto de modo geral, a empresa abastece cerca de 128.680
habitantes quando inseridos o restante da população que vive nas zonas rurais.
Atualmente a SAAEC não dispõe de um croqui de seu sistema de
abastecimento, sendo o mais recente o mapa da figura 7, resultado dos estudos da
Acquatool (2012), durante o projeto de ampliação do sistema de abastecimento de
agua do Crato.
O sistema de abastecimento de água em Crato possui uma estrutura que
integra o sistema de produção (captação) subterrâneo no atendimento de toda
demanda do município.
A estruturação do sistema baseou-se na topografia da área urbana,
definindo áreas para a implantação de centros de reservação, que situados em
regiões estratégicas atendem a grandes áreas com distribuição por gravidade. Entre
as reservas, existem 04 reservatórios apoiados em zonas elevadas com capacidade
de 1000m³, que juntos são responsáveis por abastecer quase toda sede urbana.
56
Nas regiões próximas dos centros de reservação, e nas mesmas altitudes
dos reservatórios, a distribuição por gravidade não é viável, sendo necessário o
abastecimento através de bombeamento.
Na última coleta realizada pelo SNIS em 2016 tomando por referência o
ano de 2015, a SAAEC apresentava:
Volume produzido ao ano: 9.097,72 x 10³ m³;
Extensão da Rede Distribuidora: 269,50 km;
Número de Ligações totais: 37.356;
Número de Ligações ativas: 32.700;
Quantidade de ligações ativas de água micromedidas: 7.456
Volume de água micromedido no ano: 1.740,78 x 10³ m³
Volume de água consumido ao ano: 7.007,76 x 10m³
Volume de água faturado no ano: 7.007,76 x 10³ m³
Volume micromedido nas economias residenciais ativas de água: 1.564,85 x
10³ m³
Através de dados fornecidos pela empresa em seu balanço mensal de
setembro de 2016, destaca-se a presença de 05 (cinco) categorias principais de
ligações de água, sendo elas: residencial, comercial, pública, industrial e mista.
O número total de economias/ligações de água de acordo com o relatório
de setembro incluindo a sede e distritos operados pela SAAEC é de 39.186 entre
ativas e inativas. Dessas, 95,0% estão incluídas na categoria residencial com 37.223
ligações, melhor visualizado na figura 8. Salienta-se que o número total de
economias ativas é de 34.484, o que representa 88,0% do total de ligações.
Sabendo do total de ligações que gira em torno de 39.186, quando
levados em consideração à hidrometração da sede e distritos operados pela
SAAEC, observa-se um baixo índice de hidrometração no município, com uma
média de 22% ou 8.687 ligações, o que é bastante crítico quando se pensa em
medidas de controle de perdas, assim como de arrecadação da empresa (Figura 9).
Ressalta-se que quando analisados apenas os distritos essa porcentagem diminui
drasticamente, ou seja, quase inexistindo hidrometrização.
57
Figura 8- Distribuição das ligações ativas de água da sede e distritos operados pela SAAEC em relação às categorias.
Fonte: Elaborada pelo autor, 2016
Figura 9- Distribuição das ligações de água da sede e distritos operados pela SAAEC em relação à hidrometração
Fonte: Elaborada pelo autor, 2016
5.2.1 Mananciais de captação
Como já mencionado anteriormente, o Sistema de Abastecimento de
Água (SAA) do município do Crato utiliza somente mananciais subterrâneos como
58
fontes hídricas, por meio de poços tubulares ou nascentes. De acordo com o PMSB
(2013) e baseado pelo Atlas Eletrônico da Secretaria Estadual de Recursos Hídricos-
SRH, existem cerca de 231 pontos de água distribuídos no município, principalmente
compostos por poços tubulares. Segundo dados apurados na SAAEC os principais
mananciais de abastecimento na sede do Crato, são distribuídos em 19 poços
tubulares ativos e 4 nascentes ativas.
Destaca-se que algumas nascentes se encontram em atualização de
licenças de outorgas, e que existem ainda alguns poços que estão desativados e
outros dependendo de ativação. Um dos pontos fracos do sistema de abastecimento
é que não há sistemas de macromedição instalados nos poços nem nas captações
das nascentes.
Na tabela 2 a seguir são demonstrados os principais mananciais da
SAAEC de acordo com o ultimo PMSB do município.
Tabela 2- Distribuição dos principais mananciais de captação operados pela SAAEC na sede do Crato e respectivo reservatório que abastece
Número Poço ou Fonte Reservatório que abastece
1 Poço Batateiras RSE Batateiras
2 Poço São Raimundo 1 RSE São Raimundo 1
3 Poço São Raimundo 2 REL São Raimundo 2
4 Poço Vila Alta 1 RAP Vila Alta
5 Poço Vila Alta 2 RAP Vila Alta
6 Poço Mangueira REL Santa Luzia
7 Poço Conjunto Mirandão REL Conjunto Mirandão
8 Poço Cajueiro RAP Cajueiro
9 Poço Recanto RAP Cajueiro
10 Poço Samuel Araripe RAP Alto da Penha
11 Poço Vila Lobo REL Conjunto Vila Lobos
12 Poço Conjunto Vila Lobos REL Conjunto Vila Lobos
13 Poço Belas Artes REL Belas Artes
14 Poço Muriti RSE Muriti
15 Poço Vila São Bento REL São Bento
16 Poço Conjunto Padre cicero REL Conjunto Padre Cícero
17 Poço São José REL São José
18 Poço Cafundó 1 REDE
19 Poço Sertãozinho RAP Sertãozinho
20 Nascente Granjeiro RSE Granjeiro
21 Nascente Coqueiro 1 RSE Granjeiro
22 Nascente Coqueiro 2 RSE Granjeiro
23 Nascente Batateiras RSE Lameiro
Fonte: PMSB (2013) e SAAEC
59
5.2.2 Adução
De acordo com levantamento feito pela Acquatool (2010) citado no plano
municipal de saneamento do município, o sistema de abastecimento de água do
Crato conta com 23 subsistemas adutores distribuídos em 17 dos 20 setores de
distribuição considerados, que captam águas nas diferentes nascentes e poços
profundos aduzindo a oferta hídrica para os respectivos reservatórios de distribuição.
Desses subsistemas, destacam-se que os setores Cafundó, Floresta e
Salvação, após a captação nos poços a água é injetada diretamente na rede de
abastecimento.
A tabela 3 mostra a relação destes 23 subsistemas adutores, os
reservatórios de destino e os 17 setores associados. A extensão total desses
subsistemas adutores instalados soma 14.736 m (Acquatool, 2010). Ressalta-se que
a SAAEC não informou se houve mudanças e/ou atualizações em relação a esse
último levantamento.
Tabela 3 – Distribuição dos principais subsistemas de adução atualmente operados pela SAAEC.
Número Nome Material Diâmetro
(mm) Setor
Comp. (m)
1 Adutora Nascente
batateiras PVC 150 Belmonte 2.405
2 Adutora Nascente
Coqueiro FERRO
FUNDIDO 250 Parque Grangeiro 1.586
3 Adutora Nascente do
Serrano FERRO
FUNDIDO 200 Belmonte 1.209
4 Adutora Poço Batateiras PVC 200 Batateiras 463
5 Adutora Poço Belas
Artes PVC 50 Belas Artes 60
6 Adutora Poço Cajueiro PVC 150 Cajueiro 496
7 Adutora Poço Conjunto
mirandão PVC 50 Conjunto Mirandão 50
8 Adutora Poço Conjunto
Vila Lobo PVC 50 Vila Lobo 547
9 Adutora Poço Mangueira PVC 150 Santa Luzia 549
10 Adutora Poço Muriti PVC 150 Muriti 661
11 Adutora Poço Padre
Cícero PVC 50
Conjunto Padre cicero
50
12 Adutora Poço Recanto PVC 150 Cajueiro 433
60
13 Adutora Poço Samuel
Araripe PVC 100 Alto da Penha 381
14 Adutora Poço São José PVC 50 São José 101
15 Adutora Poço São
Raimundo 1 PVC 150 São Raimundo 444
16 Adutora Poço São
Raimundo 2 FERRO
FUNDIDO 250 São Raimundo 500
17 Adutora Poço Sertãozinho
PVC 50 Franca Alencar 549
18 Adutora Poço Vila Alta PVC 150/200 Vila Alta 472
19 Adutora Poço Vila Lobo PVC 50 Vila Lobo 28
20 Adutora Poço Vila São
Bento PVC 50 São Bento 154
21 Adutora Reservatório
São Raimundo 2 PVC 150 Escola Polivalente 1.104
22 Adutora Nascente
Grangeiro FERRO
FUNDIDO 200 Parque Grangeiro 1.535
23 Adutora Nascente grangeiro/coqueiro
FERRO FUNDIDO
250 Parque Grangeiro 960
Fonte: Adaptado de Acquatool (2010)
5.2.3 Estação de tratamento de água (ETA)
Atualmente na sede do Crato o sistema abastecimento da SAAEC não
dispõe de estações de tratamento de água, sendo que as águas provenientes dos
mananciais explorados (nascentes e poços) passam por simples desinfecção nos
reservatórios de acumulação, através da adição de cloro hipoclorito de cálcio.
Destaca-se que os processos de dosagem em grande parte são manuais, o que os
torna pouco eficientes e onerosos, requerendo constantemente a intervenção de
operadores.
A única estação de tratamento existente atualmente, se encontra no
Distrito de Dom Quintino por meio composto por um filtro de fluxo ascendente
através de adução do açude da região.
5.2.4 Sistema de reservação
Os principais reservatórios operados pela SAAEC e situados na sede são
61
destacados na tabela 4 abaixo:
Tabela 4 – Características dos principais reservatórios atualmente operados pela SAAEC na sede do Crato.
NÚMERO RESERVATORIOS VOLUME (M³)
1 RSE Batateiras 400
2 RSE São Raimundo 1 400
3 REL São Raimundo 2 50
4 RAP Vila Alta 1.000
5 REL Santa Luzia 50
6 REL Conjunto Mirandão 50
7 RAP Cajueiro 1.000
8 RAP Alto da Penha 1.000
9 RAP Sertãozinho 1.000
10 REL Conjunto Vila Lobos 50
11 REL Belas Artes 10
12 RSE Muriti 500
13 REL São Bento 50
14 REL Conjunto Padre Cícero 50
15 REL Seminário 50
16 REL São José 10
17 RSE Granjeiro 100
18 RSE Lameiro 100
TOTAL 5.870
Fonte: Elaborada pelo autor, 2016
Ao analisar a tabela, destaca-se que a capacidade total de reservação é
de cerca de 5.870 m3, sendo que os principais centros de reservação são os
reservatórios apoiados (RAP) de Vila Alta, Cajueiro, Sertãozinho e Alto da Penha,
todos estes com 1.000 m3 de capacidade. Além destes 04, podem ser destacados
os reservatórios semienterrados (RSE) Batateiras e São Raimundo 1 de 400 m3 de
capacidade e o RSE Muriti de 500 m3.
No Plano Municipal de Saneamento Básico do Crato - PMSB, são
identificados que os reservatórios do Granjeiro e Lameiro, ambos com capacidade
1.500 m3, encontram-se desativados. Uma análise mais detalhada sobre capacidade
62
de oferta e demanda por setor de reservação não pode ser realizada por ausência
de informações da SAAEC.
É importante ressaltar que nenhum dos reservatórios pertencentes à rede
de abastecimento da cidade do Crato possui um sistema de automação que controle
os níveis dos mesmos, o que dificulta um eficaz acompanhamento da capacidade
instantânea do sistema e controle do mesmo.
Além disto, alguns reservatórios não possuem extravasores, o que pode
colocar em risco a população e causar desperdícios diários de metros cúbicos de
agua. A ausência de macromedidores nas saídas dos reservatórios impossibilita a
determinação de suas retiradas reais, o que também dificulta o correto
dimensionamento dos mesmos.
5.3 Diagnósticos dos serviços de água da SAAEC
A pesquisa para o diagnóstico dos serviços de água da empresa, foram
baseados em dados fornecidos pela mesma, no que dizem respeito as coletas e
informações que anualmente a SAAEC informa ao Sistema Nacional de Informações
sobre Saneamento – SNIS.
As informações concedidas para esta pesquisa referem-se aos últimos 04
anos de coletas, sendo a última mais recente alusiva ao ano de 2015 em que o
balanço anual dos serviços de água, foram enviadas e cadastradas no SNIS em
2016.
Dessa forma, analisou-se nesse diagnóstico, apenas os aspectos
importantes da prestação dos serviços a partir das informações e indicadores que
compõem a base de dados do SNIS.
Tais análises correspondem a um esforço de avaliação dos serviços do
sistema de abastecimento de água da SAAEC, no intuito de possibilitar identificar os
índices de perdas e proporcionar ações base para o controle.
Nas tabelas 5 e 6 a seguir, seguem os dados essenciais retirados do
SNIS, para a formulação desse estudo. Destaca-se que como a SAAEC ainda não
possui uma estrutura organizacional completa e precisa de informações de todo o
seu gerenciamento interno, esses resultados e dados aqui informados possuem uma
certa margem de erro, não sendo, portanto, totalmente precisas.
63
Tabela 5 – Dados internos das ligações e economias de água da SAAEC de acordo com SNIS
Ano Base Ligações ativas
de água (un)
Ligações ativas de água
micromedidas (un)
Economias ativas de água
(un)
Economias ativas de água
micromedidas (un)
2012 30.843 5.914 30.910 5.914
2013 32.245 6.560 36.338 6.560
2014 32.680 7.002 37.307 7.002
2015 32.700 7.456 37.356 7.456
Fonte: Elaborada pelo autor, 2016
Tabela 6 – Dados internos referente aos volumes de agua fornecido pela SAAEC de acordo com SNIS
Ano Base Volume de água
produzido (10³ m³/ano)
Volume de água micromedido (10³ m³ /ano)
Volume de água consumido
(10³ m³/ano)
Volume de água faturado (10³ m³/ano)
2012 8.340,00 1.690,00 6.672,00 6.672,00
2013 8.583,00 1.700,00 6.866,39 6.866,39
2014 8.832,74 1.700,00 6.803,66 6.803,66
2015 9.097,72 1.740,78 7.007,76 7.007,76
Fonte: Elaborada pelo autor, 2016
5.4 Procedimentos para a coleta e avaliação de dados
5.4.1 Volume disponibilizado
Para a determinação do volume distribuído pela SAAEC no município do
Crato, foram utilizados os dados fornecidos pela mesma por meio do Sistema
Nacional de Informação sobre Saneamento-SNIS, uma vez que a empresa não
possui medidores de vazão (macromedidores) instalados em suas captações.
O volume disponibilizado nessa pesquisa abrange os valores anuais que
a empresa lança em seus registros de controle.
64
5.4.2 Volume utilizado
Para determinação do volume de água utilizada e/ou consumido em todo
município do Crato, foram analisados os agregados de informações de volumes de
água registrados pela SAAEC junto ao SNIS. Esse montante de volume remete ao
volume consumido não medido e ao medido (hidrometrado).
5.4.3 Perdas reais e aparentes
A avaliação dos vazamentos visíveis e não visíveis, de certa forma no
sistema de abastecimento de agua do Crato, são imprecisas, uma vez que, a
empresa não possui equipamentos como por exemplo o geofone, para a detectar
tais avarias.
A descoberta de vazamentos só é perceptível quando chega a extravasar
e ser visível a olho nu, dessa forma as perdas acabam por serem muito altas.
Em casos de perdas aparentes, a empresa não soube precisar nem
quantificar os casos de fraudes, como ligações clandestinas, já que em seu plantel
não existe funcionário para essa averiguação, dependendo apenas de denúncias
anônimas.
Enfim, essas perdas são estimadas de acordo com o levantamento dos
dados do SNIS cedido pela SAAEC.
Geofone: aparelho utilizado para detectar vazamentos não visíveis
65
6 RESULTADOS E DISCUSSÕES
6.1 Perdas de água na distribuição
Através de dados globais do Diagnóstico dos Serviços de Água e
Esgotos, do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento – SNIS, referente
ao ano de 2014, o cenário brasileiro de perdas de água no setor de saneamento é
bastante problemático.
Em seu último diagnóstico de serviços de água e esgoto, o SNIS (2016),
afirma que a média brasileira de perdas de água é de aproximadamente 37%
(incluindo perdas reais e aparentes), mas em algumas empresas de saneamento
essas perdas tomando como referência o norte e nordeste, chegam a mais de 60%.
Ainda de acordo com esse diagnóstico, no Ceará a CAGECE, responsável por
distribuir água na maioria das cidades do estado, chega a ter 42,40% de perdas.
Já em Crato as perdas na rede de distribuição podem atingir segundo
relatos da empresa, mais de 50%, causados principalmente por problemas nas
tubulações, extravasamento de reservatórios, ligações clandestinas, e
principalmente o pequeno índice de hidrometrização.
A soma de todos esses fatores proporcionam prejuízos imensos ao longo
do ano na empresa, uma vez que, reduz o faturamento da SAAEC e,
consequentemente, sua capacidade de investir e obter financiamentos.
6.1.1 Volume de água produzido
Na figura 10 abaixo, é demonstrado o volume distribuído da SAAEC nos
últimos 04 anos de acordo com informações do SNIS fornecidos pela empresa.
Nele, fica evidente que mesmo com a redução dos recursos hídricos, e
pequeno crescimento na hidrometrização ao longo dos 04 anos, o volume
disponibilizado continua aumentando a cada ano, o que leva a crer, que exista um
aumento na porcentagem de perdas no sistema de abastecimento, já que, esse
volume teria que estar no sentido contrário de crescimento, demostrando assim um
maior controle no combate às perdas.
66
Figura 10- Volume distribuído da SAAEC de acordo com o SNIS
Fonte: Elaborada pelo autor, 2016
6.1.2 Volume de água (micromedido) e faturado
Tomando por referência a tabela 6 acima, o figura 11 a seguir traz os
valores para volume de água micromedido e volume de água faturado ao ano.
Figura 11- Relação do volume micromedido e faturado da SAAEC de acordo com o SNIS
Fonte: Elaborada pelo autor, 2016
67
A tabela indica uma pequena taxa de hidrometrização cerca de 24,96%
em relação ao faturado, já como mostrado na figura 9 acima ao todo a taxa de
hidrometrização, quando levados em contas o número de ligações ativas, representa
22%.
6.2 Principais indicadores de perdas
Os indicadores de perdas, serão determinados com base nos dados
obtidos pela SAAEC conforme já citado acima, onde o estudo se referenciará nos
últimos 04 anos de informações coletadas e repassadas ao Sistema Nacional de
Informações sobre Saneamento.
Ressalta-se que o volume perdido, se baseou na diferença entre o volume
distribuído e o volume consumido de cada ano informado.
6.2.1 Índice de perda na distribuição (IPD) ou água não contabilizada (ANC)
O índice de perdas totais na distribuição da SAAEC, foi obtido através do
indicador percentual de perdas, com base nas informações disponibilizadas pela
companhia por meio do SNIS. O volume anual de perdas e o índice de perdas totais
da empresa estão representados pelas figuras 12 e 13.
Figura 12- Dados do volume perdido da SAAEC de acordo com o SNIS
Fonte: Elaborada pelo autor, 2016
68
Figura 13- Índice de perdas percentuais da SAAEC de acordo com o SNIS
Fonte: Elaborada pelo autor, 2016
Na figura 13, é demonstrado que o índice de perda vem crescendo ao
longo dos anos, o que é preocupante, uma vez que, com o aumento do volume
hidrometrado a cada ano demonstrado na Tabela 6, a tendência era que esses
índices diminuíssem, assim como o volume distribuído.
Desde já, destaca-se que essa média de perdas de acordo com a tabela 1
é considerado bom, com media aproximada de 22%, contudo é controverso, já que,
segundo informações do setor técnico os índices de perdas podem chegar ao dobro
do calculado.
Essa afirmação pode ser explicada devido ao fato do baixo índice de
hidrometrização, ou seja, a contabilização do volume das ligações não
hidrometradas são imprecisas, sendo estas, baseadas por tarifas mínimas e padrão
dos imóveis, acarretando grandes perdas no volume faturado e contabilizado já que
a empresa ainda está em processo de recadastramento do imóveis e revisão de
tarifas.
6.2.2 Indicador de perdas por ramal (IPR)
A tabela 7 abaixo, mostra o número de ligações ativas, o número de dias
por ano e o valor do Indicador de perdas por ramal dos anos em estudo, além de
destacar o volume perdido sendo todos baseado nos dados retirados do SNIS.
Da tabela 7 observa-se que a média do IPR foi de 159,71 L/ramal.dia,
69
com desvio padrão de 15,1 L/ramal.dia. Apenas o ano de 2015 obteve diferença
maior que a do desvio padrão.
Tabela 7- Indicador de Perdas por ramal da SAAEC de acordo com o SNIS
Ano Dias Volume perdido (10³ m³) Lig. Ativas IPR (L/ramal.dia)
2012 366 1.668,00 30.843
147,76
2013 365 1.716,61 32.245
145,85
2014 365 2.029,08 32.680
170,11
2015 365 2.089,96 32.700
175,10
Fonte: Elaborada pelo autor, 2016
Considerando o número de ligações ativas e o volume distribuído, foi
elaborada a tabela 8, onde é visto o volume de água utilizado por ligação por dia (em
L/lig.dia).
Tabela 8- Consumo por ligação por dia da SAAEC de acordo com o SNIS
Ano Dias Volume perdido (10³ m³) Lig. Ativas L./lig.dia
2012 366 8.340,00 30.843
738,80
2013 365 8.583,00 32.245
729,26
2014 365 8.832,74 32.680
740,49
2015 365 9.097,72 32.700
762,24
Fonte: Elaborada pelo autor, 2016
Da tabela percebe-se que em todos os anos o consumo apresenta valores
médios em relação à média que é de 742,70 L/lig.dia
6.2.3 Indicador de perdas por extensão de rede (IPER)
Logo mais na Tabela 9, são demonstrados quantitativos da SAAEC que
dizem respeito a extensão total da rede, o número de dias por ano e o valor do
Indicador de perdas por extensão de rede dos anos em estudo, assim como volume
perdido no ano.
70
Tabela 9 - Indicador de perdas por extensão de rede da SAAEC de acordo com o SNIS
Ano Dias Volume perdido (10³ m³) Extensão da Rede (Km) IPER (m³/Km.dia)
2012 366 1.668,00 223,00
20,44
2013 365 1.716,61 258,95
18,16
2014 365 2.029,08 262,00
21,22
2015 365 2.089,96 269,50
21,25
Fonte: Elaborada pelo autor, 2016
O índice de perda por extensão de rede teve média de 20,27 m³/km.dia,
com desvio padrão de 1,45 m³/km.dia. O ano de 2013 foi o único que ficou com
diferença acima do desvio padrão.
6.2.4 Indicador de perda de faturamento (IPF) ou água não faturada (ANF)
De acordo com os últimos 04 anos de coletas do SNIS, a tabela 10 mostra
o índice de perda de faturamento da SAAEC.
Tabela 10 - Indicador de Perda de Faturamento da SAAEC de acordo com o SNIS
Ano Dias Volume distribuído (10³ m³) Volume faturado (10³ m³) IPF (%)
2012 366 8.340,00 6.672,00
20,00
2013 365 8.583,00 6.866,39
20,00
2014 365 8.832,74 6.803,66
22,97
2015 365 9.097,72 7.007,76
22,97
Fonte: Elaborada pelo autor, 2016
Na tabela percebe-se que a média do IPF foi de 21,49 %, e o desvio
padrão de 1,72%, ou seja, em todos os anos os valores se enquadraram dentro do
desvio, assim como se enquadram dentro do padrão nacional, que segundo Silva et
al. (2004) é entre 25% e 65%.
6.3 Índices de hidrometrização
Em um contexto geral, os sistemas de medição englobam a
71
macromedição (conjunto de medições realizadas no sistema público de
abastecimento de água, desde a captação de água bruta até as extremidades de
jusante da rede de distribuição) e a micromedição (medição do consumo realizada
no ponto de abastecimento de um determinado usuário, independentemente de sua
categoria ou faixa de consumo, compreende a medição permanente do volume de
água consumido e que é registrado periodicamente por meio da indicação propiciada
pelos hidrômetros).
No sistema de abastecimento de água da cidade do Crato, como
abordado anteriormente, não possui macromedidores em seus pontos de captação,
o que dificulta realizar um controle exato das reais perdas de água do volume que é
disponibilizado e do que é faturado e/ou micromedido.
Outro principal causador das perdas é o baixo índice de hidrômetros
instalados nas residências ativas de água. Esse fato faz com que muito volume de
água seja consumido, mas não faturado de forma correta, causando grandes
prejuízos financeiros a empresa, afetando diretamente o seu porte em investimentos
em infraestrutura e melhorias do sistema.
Enfim, segue nas figuras 14 e 15, a representação gráfica dos índices de
hidrometrização da SAAEC e seu crescimento ao longo dos 04 anos de coletas do
SNIS, assim como sua média em comparação com a média na região nordeste e
nacional que hoje é de 91,4% segundo o último levantamento do SNIS de 2014.
Figura 14- Índice de hidrometrização da SAAEC de acordo com o SNIS
Fonte: Elaborada pelo autor, 2016
72
Figura 15- Relação dos índices de Hidrometrização de acordo com SNIS
Fonte: Elaborada pelo autor,2016
Analisando separadamente a figura 14, percebe-se que mesmo que o
volume micromedido anual venha crescendo, demonstrando um crescimento no
número de ligações hidrometradas, o índice pelo contrário vem diminuindo. Esse
fato é ocorrido devido ao aumento do volume disponibilizado, que cresce com
proporção maior que o micromedido.
De toda maneira, os números apresentados são preocupantes, uma vez
que, quando relacionado com a figura 15, a disparidade é enorme, visto que o índice
nacional é maior que 90%, enquanto na região nordeste chega aos seus 86%, já na
cidade do Crato, a média dos últimos anos não chega a 21%.
Logo é oportuno dizer que onde existe o menor índice de hidrometrização,
consequentemente existe os maiores índices de perdas, contribuindo desde já, para
uma maior perda aparente.
6.4 Perdas financeiras decorrente
A utilização dos dados da SAAEC por meio do SNIS, possibilitou
estabelecer ao longo dos 04 anos de análise, uma estimativa de perdas financeiras
da empresa, baseados no volume anual que deixa de ser faturado.
A tabela 11 abaixo, discrimina todos os itens que proporcionam
caracterizar essas perdas.
73
Tabela 11- Perdas financeiras da SAAEC de acordo com o SNIS
Ano
Consumo médio per capita de
água (L/hab.dia)
População
Volume médio
distribuído (m³/ano)
Perdas na distribuição
(%)
Água não tarifada (m³/ano)
Tarifa média
(R$/m³)
Perda financeira anual (R$)
2012 189,55 120.215,00 8.340.000,00 20,00 1.668.000,00 1,746 2.912.328,00
2013 186,80 125.538,00 8.583.000,00 20,00 1.716.610,00 1,746 2.997.201,06
2014 190,14 126.925,00 8.832.740,00 22,97 2.029.080,00 1,746 3.542.773,68
2015 195,06 127.432,00 9.097.720,00 22,97 2.089.960,00 1,746 3.649.070,16
Fonte: Elaborada pelo autor, 2016
Da tabela observa-se que a média anual de perdas no faturamento
chegam a R$ 3.275.343,23, sendo que a cada ano vem aumentando, causando
diminuição do poder econômico da empresa em investimento na infraestrutura.
Para uma empresa que arrecada de acordo com o SNIS, em média de R$
6.857.974,66 anualmente, a perda financeira calculada chega a quase 50% de todo
o arrecadado, impossibilitando a mesma de progredir e alcançar as metas gerenciais
de desenvolvimento e crescimento econômico.
Sem poder utilizar os recursos financeiros em soluções que minimizem os
prejuízos econômicos, a empresa fica à mercê da impotência da valorização da
água, já que, o custo por metro cúbico da água está bastante defasado, não
sofrendo alterações há mais de cinco anos de acordo com informações coletadas no
setor financeiro da SAAEC.
Provavelmente, se houvesse um índice de hidrometrização maior, assim
como, se o valor do metro cúbico fosse mais alto, a população começaria a
economizar água e este índice de perda cairia significativamente
6.5 Prováveis soluções no combate as perdas de água
Diante do que foi até então exposto, observou-se muitas falhas no
Sistema de Abastecimento da cidade do Crato. Essas falhas como demonstrados
causou nos últimos anos de acordo com SNIS grandes perdas financeiras e
principalmente grandes perdas de água em todo o fornecimento gerenciado pela
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empresa.
Dessa forma o estudo das causas das perdas, pela via de ações
estruturais, deve ser antecedido por ações estruturantes, partindo-se de uma
estratégia bem formulada, levando em consideração conceitos de gestão.
De forma resumida as soluções prováveis que já causariam um grande
impacto seriam:
Atualização de cadastro técnico, recadastramento de redes e ramais;
Instalação de macromedidores;
Instalação de hidrômetro;
Manutenção nas redes (troca de tubulações);
Aumento da tarifa de metro cúbico de água;
Gerenciamento comercial e administrativo;
Equipamentos de mapeamento de rede e fraudes.
Enfim, essas ações devem ser reforçadas seguindo um plano de metas
e/ou etapas que sejam praticadas, tomando como base as soluções propostas por
Tardelli Filho (2016), já citados no capitulo 4 desse estudo.
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7 CONCLUSÃO
Este estudo analisou os índices de perdas do sistema de abastecimento
de água da cidade do Crato, e propôs possíveis soluções para minimizar tais perdas.
Os resultados mostraram que através do banco de dados SNIS, os índices de
perdas no sistema de abastecimento apresentaram valores em média de 22%,
sendo levado em consideração o volume distribuído e o consumido/faturado.
Todavia, comparando com a média regional, esse índice de perda não
condiz de fato com a realidade, uma vez que a empresa fornecedora de água do
Crato não possui sistema de macromedição de água, não sendo capaz de poder
estimar todo o volume produzido, assim como também, vai na contramão quando o
assunto é combate às perdas, já que, ainda possui apenas cerca de 22% de
hidrometrização.
Diante do exposto estima-se que as perdas de fato cheguem na casa dos
60%, sendo os principais contribuintes a má qualidade da infraestrutura e da gestão
dos sistemas. As hipóteses para as perdas passam por problemas como: falhas na
detecção de vazamentos; redes de distribuição funcionando com pressões muito
altas; problemas na qualidade da operação dos sistemas; dificuldades no controle
das ligações clandestinas e na aferição/calibração dos hidrômetros; ausência de
programa de monitoramento de perdas; baixo índice de hidrometrização, e etc.
Portanto com todos esses problemas, faltam recursos para empresa
poder investir em infraestrutura do sistema, uma vez que, segundo mostrado em
estudo as perdas financeiras chegam a mais de três milhões em todo o ano. Se
convertido em investimento todo esse capital perdido, qualquer empresa fornecedora
de água, potencializaria sua gestão e seu desenvolvimento sustentável.
As principais recomendações são realizar uma reengenharia na empresa,
revendo o processo de gestão empresarial e operacional do sistema, focando de
forma gradativa o desenvolvimento de ambos os processos. Com o bom
funcionamento desses dois setores, a empresa faturaria mais pela água que é
produzida, otimizando seu uso e evitando seu desperdício, assim como na parte
operacional, as perdas físicas e não físicas, seriam minimizadas pois com uma
equipe eficiente e bem equipada, diminuiria o tempo de ocorrência dos vazamentos,
melhorando a eficiência do combate as perdas.
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8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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