60
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS CAROLINE RICCE ESPADA ESTUDO DA SUSCETIBILIDADE À MILTEFOSINA EM ISOLADOS DE Leishmania (Viannia) braziliensis São Paulo 2014

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

CAROLINE RICCE ESPADA

ESTUDO DA SUSCETIBILIDADE À MILTEFOSINA EM ISOLADOS DE

Leishmania (Viannia) braziliensis

São Paulo

2014

Page 2: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

CAROLINE RICCE ESPADA

ESTUDO DA SUSCETIBLIDIDADE À MILTEFOSINA EM ISOLADOS DE

Leishmania (Viannia) braziliensis

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito para a obtenção do grau de Bacharel em Ciências Biológicas.

Orientador de TCC: Prof. Dr. Jan Carlo Morais O. B. Delorenzi

Orientador de Iniciação Científica: Dr. Adriano C. Coelho

São Paulo

2014

Page 3: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

CAROLINE RICCE ESPADA

ESTUDO DA SUSCETIBLIDIDADE À MILTEFOSINA EM ISOLADOS DE

Leishmania (Viannia) braziliensis

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da

Universidade Presbiteriana Mackenzie como

requisito para a obtenção do grau de Bacharel em

Ciências Biológicas.

Aprovada em ___/___/____

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________________

Prof. Dr. Jan Carlo Morais O. B. Delorenzi – Orientador de TCC

Universidade Presbiteriana Mackenzie

__________________________________________________________________

Dr. Adriano Cappellazzo Coelho – Orientador de Iniciação Científica

Universidade de São Paulo

_________________________________________________________________

Profa. Dra. Camila Sacchelli Ramos

Universidade Presbiteriana Mackenzie

Page 4: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer à Universidade Presbiteriana Mackenzie e ao Centro

de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) por me proporcionar um ensino de

qualidade, pela preocupação com a formação social de seus alunos e pelas

vivências que muito me ensinaram. A todos os professores do curso de Ciências

Biológicas e em especial para o meu orientador do Trabalho de Conclusão de Curso

(TCC), Prof. Dr. Jan Carlo Morais O. B. Delorenzi por todo o suporte.

Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo,

mais precisamente ao Departamento de Parasitologia, pelo espaço cedido para a

realização desse trabalho e por todo o suporte que me foi dado.

Ao meu orientador de iniciação científica, Dr. Adriano Cappellazzo Coelho por

todos os ensinamentos, pela paciência infinita, pelo carinho e preocupação com a

minha formação e futuro, além da enorme ajuda para a confecção desse trabalho.

À Profa. Dra. Silvia Reni Bortolin Uliana, por abrir as portas de seu laboratório

para mim e acreditar no meu trabalho. Pela paciência, pelos conselhos e pelo seu

enorme coração.

À Jenicer por ser minha mãe do laboratório, sempre se preocupando comigo

e me ensinando a dar meus primeiros passos. Agradeço também a todos os

membros da nossa equipe: Jordana, agradeço por quebrar meu galho em vários

experimentos, pelas noites de pizza e filme, pelas conversas e conselhos. Cris,

agradeço pelo apoio, por me acalmar dizendo que as coisas dariam “ceeeerrrrrto”.

Ju, obrigada pelas dicas nos experimentos, pelas caronas e pelo carinho.

À FAPESP pelo apoio financeiro.

Aos membros da banca Dr. Adriano Cappellazzo Coelho, Prof. Dr. Jan Carlo

Morais B. O. Delorenzi e Profa. Dra. Camila Sacchelli Ramos por terem aceitado o

convite.

À minha amada mãe, por todo o apoio dado, todos os ensinamentos que me

passou, toda a ajuda que me deu e por em momento algum me deixar desistir dos

meus sonhos.

Page 5: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

Ao meu pai, por me ensinar a seguir sempre pelo caminho certo, por me

lembrar sempre a importância de buscar minha independência e correr atrás dos

meus sonhos.

Agradeço a ambos por me apoiarem sempre e nunca desistirem de mim, por

me guiarem pelo caminho certo me incentivando a ser uma mulher independente e

ao mesmo tempo me dando todo o amor mais sincero deste mundo.

À minha tia Maria Luisa por todo o apoio na minha formação desde pequena e

por me encorajar a seguir os meus sonhos.

Ao meu namorado e melhor amigo Victor Amorim pela paciência e cuidado.

Por ser meu psicólogo, me ajudar sempre e me encorajar frente às complicações.

Ao meu querido e muito amado pipoca que infelizmente nos deixou. Obrigada

por sempre me colocar um sorriso no rosto e por ser a criatura mais amável desse

mundo, que você fique em paz no paraíso dos porquinhos da índia e saiba que eu

jamais vou te esquecer.

Aos meus amigos da graduação, por sempre me fazerem sorrir, por me

ensinarem que é possível conviver com pessoas tão diferentes de maneira

harmônica, respeitando a todos. Pelos conselhos e por toda a ajuda, não sei mesmo

como agradecer, muito obrigada seus lindos. Agradeço em especial à Maísa

Assano, à Mayra Gaspar e à Amanda Alves, pelos conselhos, sobretudo, pelas

risadas, pelo carinho e por estarem sempre por perto quando eu precisei.

Por fim, gostaria de agradecer a todos meus amigos de infância, da faculdade

e do Departamento de Parasitologia do ICB-USP pela ajuda e a toda a minha família

que sempre acreditou em mim, muito obrigada.

Page 6: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

“I am among those who think that science

has great beauty. A scientist in his laboratory

is not only a technician: he is also a child

placed before natural phenomena which

impress him like a fairy tale”.

(Marie Curie)

Page 7: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

RESUMO

Leishmania (Viannia) braziliensis é a principal espécie causadora da

leishmaniose cutânea no Brasil, com cerca de 22 mil novos casos por ano. O

principal fármaco utilizado para a quimioterapia da leishmaniose é o antimoniato de

meglumina que exige administração parenteral e possui alta toxicidade. A miltefosina

é uma alquilfosfocolina de uso oral já utilizada para o tratamento de leishmaniose

visceral na Ásia e na Europa, mas ainda não aprovada para o uso no Brasil. Neste

estudo, foi avaliada a suscetibilidade à miltefosina de 10 isolados clínicos de L. (V.)

braziliensis e de uma cepa referência in vitro. Primeiramente, as espécies dos

isolados clínicos foram identificadas por meio da amplificação da região do

espaçador transcrito interno do DNA ribossomal (ITS) e do gene da Heat Shock

Protein 70 (hsp70) seguida de digestão com a enzima de restrição HaeIII permitindo

deste modo confirmar que se tratavam de isolados de L. (V.) braziliensis.

Posteriormente, foram determinadas as concentrações inibitórias de miltefosina para

as formas promastigotas e amastigotas dos parasitas. Observou-se diferença

significativa na CI50 das formas promastigotas que variaram entre 22,93 e 144,2 µM

de miltefosina. Em amastigotas, as concentrações inibitórias para a miltefosina

variaram entre 0,85 e 4,3 µM. Foi observado ainda que as formas amastigotas são

mais sensíveis que as promastigotas. Estes resultados contribuirão para avaliar o

potencial da miltefosina no tratamento da leishmaniose no Brasil.

Palavras-chave: leishmaniose, Leishmania braziliensis, miltefosina, suscetibilidade

a drogas.

Page 8: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

ABSTRACT

Leishmania (Viannia) braziliensis is the main causative specie of leishmaniasis

in Brazil with about 22,000 new cases per year. First line drug used for leishmaniasis

chemotherapy is meglumine antimoniate, which requires parenteral administration

and is toxic. Miltefosine, an alkylphosphocholine, is an oral drug already in use for

the treatment of visceral leishmaniasis in Asia and Europe, but still not approved for

use in Brazil. In this study, we evaluated the susceptibility to miltefosine of 10 clinical

isolates of L. (V.) braziliensis and of a reference strain in vitro. First, the clinical

isolates species were identified by amplification of internal transcribed spacer of

ribosomal DNA (ITS) and the Heat Shock Protein 70 (hsp70) gene, followed by

digestion with the restriction enzyme HaeIII. It was confirmed that all the isolates

species were L. (V.) braziliensis. Subsequently, we determined the inhibitory

concentrations of miltefosine for promastigotes and amastigotes. A significant

difference between the CI50 in promastigotes form of these isolates was found, which

ranged between 22,93 and 144,2μM for miltefosine. In amastigotes the inhibitory

concentrations for miltefosine ranged between 0,85 and 4,3mM. It was found that the

amastigotes are more susceptible than promastigotes. These findings will contribute

to evaluate miltefosine’s potential for leishmaniasis treatment in Brazil.

Keywords: leishmaniasis, Leishmania braziliensis, miltefosine, drug suceptiblity.

Page 9: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Ciclo biológico da Leishmania sp. Fonte: CDC

http://www.dpd.cdc.gov/dpdx. .................................................................................... 16

Figura 2 - Distribuição geográfica do local de isolamento dos 10 isolados clínicos de

L. (V.) braziliensis obtidos de pacientes com leishmaniose cutânea e da cepa

referência 1975/M2903.............................................................................................. 27

Figura 3 - (A) Representação esquemática da organização genômica das unidades

de repetição do DNAr e a localização dos iniciadores utilizados para a amplificação

do ITS (setas em cinza). SSU e LSU são respectivamente as regiões que codificam

as subunidades maior e menor do ribossomo. (B) Eletroforese em gel de agarose

0,8% do produto amplificado do ITS com os iniciadores IR1 e IR2. Foi utilizado como

marcador de peso molecular o fago λ digerido com HindIII. 1- L. (L.) infantum

chagasi, 2- L. (V.) naifii, 3- L. (V.) lainsoni, 4- L. (L.) amazonensis, 5- L. (V.) shawi, 6-

L. (V.) guyanensis, 7- L. (V.) braziliensis M2903. (C) Eletroforese em gel de agarose

0,8% da digestão do produto amplificado com a enzima de restrição HaeIII. Foi

utilizado como marcador de peso molecular o 100 pb Ladder. 1- L. (L.) infantum

chagasi, 2- L. (L.) amazonensis 2269, 3- L. (V.) braziliensis M2903, 4- L. (V.) shawi,

5- L. (V.) naiffi, 6- L. (V.) lainsoni, 7- L. (V.) guyanensis. ........................................... 35

Figura 4 - (A) Representação esquemática da organização genômica do gene hsp70

e a respectiva localização dos iniciadores utilizados para sua amplificação (setas em

cinza). (B) Eletroforese em gel de agarose 0,8% do produto amplificado do gene

hsp70 com os iniciadores F25 e R1310. Foi utilizado como marcador de peso

molecular o fago λ digerido com HindIII. 1- L. (V.) naiffi, 2- L. (V.) shawi, 3- L. (V.)

guyanensis, 4- L. (V.) braziliensis M2903, 5- L. (L.) infantum chagasi, 6- L. (V.)

lainsoni, 7- L. (L.) amazonensis 2269. A seta laranja indica o fragmento de

aproximadamente 1,2 kb. (C) Eletroforese em gel de agarose 3% da digestão do

produto amplificado do gene hsp70 com a enzima de restrição HaeIII. Foi utilizado

como marcador de peso molecular o 100 pb Ladder. 1- L. (L.) infantum chagasi, 2- L.

(L.) amazonensis 2269, 3- L. (V.) braziliensis M2903, 4- L. (V.) shawi, 5- L. (V.) naiffi,

6- L. (V.) lainsoni, 7- L. (V.) guyanensis. ................................................................... 36

Figura 5 – (A) Eletroforese em gel de agarose 0,8% do produto amplificado do ITS

do DNA ribossomal dos isolados com os iniciadores IR1 e IR2. Foi utilizado como

marcador de peso molecular o fago ʎ digerido com HindIII. A seta verde indica o

Page 10: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

fragmento de 1 kb esperado. (B) Representação esquemática do produto

amplificado contendo os sítios para a enzima de restrição HaeIII. Os produtos

oriundos da digestão estão indicados. (C) Eletroforese em gel de agarose 3% da

digestão do produto amplificado do gene hsp70 dos isolados com a enzima de

restrição HaeIII. Foi utilizado como marcador de peso molecular o 100 pb Ladder.

Legenda: 1- 1975/M2903, 2- LTCP 19446, 3- LTCP 19512, 4- LTCP 16907, 5- LTCP

16012, 6- 2006/PPS, 7- 2006/BES, 8- 2003/IMG, 9- 2006/EFSF, 10- 2005/WSS e 11-

2006/HPV. ................................................................................................................. 37

Figura 6 – (A) Eletroforese em gel de agarose 0,8% do produto amplificado do gene

hsp70 dos isolados com os iniciadores F25 e R1310. Foi utilizado como marcador de

peso molecular o fago λ digerido com HindIII. A seta laranja indica o fragmento de

aproximadamente 1,2 kb esperado. (B) Representação esquemática do produto

amplificado contendo os sítios para a enzima de restrição HaeIII. Os produtos

oriundos da digestão estão indicados. (C) Eletroforese em gel de agarose 3% da

digestão do produto amplificado do gene da hsp70 dos isolados com a enzima de

restrição HaeIII. Foi utilizado como marcador de peso molecular o 100pb Ladder.

Legenda: 1- 1975/M2903, 2- LTCP 19446, 3- LTCP 19512, 4- LTCP 16907, 5- LTCP

16012, 6- 2006/PPS, 7- 2006/BES, 8- 2003/IMG, 9- 2006/EFSF, 10- 2005/WSS e 11-

2006/HPV. ................................................................................................................. 38

Figura 7 – Suscetibilidade à miltefosina de formas promastigotas dos 10 isolados

clínicos e da cepa referência 1975/M2903 utilizados neste estudo. (A) Média dos

valores de CI50. (B) Média dos valores de CI90 determinados pelo teste de MTT. ..... 41

Figura 8 – Suscetibilidade à miltefosina das formas promastigotas dos 10 isolados

clínicos de L. (V.) braziliensis. Os isolados foram agrupados de acordo com a

suscetibilidade ao fármaco (Azul: 20-45 µM), (Verde: 50-99 µM), (Bege: 100-200µM).

O ponto em vermelho representa a cepa referência 1975/M2903 Os grupos são

estatisticamente diferentes quando comparados entre si. *p<0.0001 ANOVA e

Tukey’s “multiple comparison test”. ........................................................................... 42

Figura 9 – Suscetibilidade de macrófagos medulares à miltefosina. Porcentagem de

sobrevivência dos macrófagos medulares em diferentes concentrações de

miltefosina (A). Curva sigmoidal refletindo o decaimento da viabilidade celular

quando há aumento da exposição à miltefosina (B). Média de 3 experimentos

independentes realizados em triplicata. .................................................................... 43

Page 11: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

Figura 10 - Porcentagens de infecção obtidas para os isolados clínicos de L. (V.)

braziliensis. Estão representados a taxa de infecção obtida em dois ou mais

experimentos realizados em duplicata. ..................................................................... 44

Figura 11 – Suscetibilidade à miltefosina de amastigotas intracelulares de

macrófagos tratados com miltefosina. Os macrófagos foram infectados com a cepa

referência 1975/M2903 utilizando uma proporção de 30:1 por 4 horas e então

incubados por 72 horas na presença de concentrações crescentes de miltefosina (A)

0µM; (B) 3µM; (C) 5µM; (D) 10µM; (E) 15µM; (F) 25µM (aumento de 400X). ........... 45

Figura 12 – Suscetibilidade à miltefosina das formas amastigotas intracelulares dos

sete isolados clínicos e da cepa referência 1975/M2903 de L. (V.) braziliensis. (A)

Média dos valores de CI50. (B) Média dos valores de CI90. ....................................... 47

Figura 13 – Suscetibilidade à miltefosina dos isolados clínicos e da cepa referência

de L. (V.) braziliensis. Os valores de CI50 para as formas promastigotas e

amastigotas estão indicados. O ponto em vermelho refere-se ao valor para a cepa

referência. * p<0,0001 Teste t não pareado. ............................................................. 48

LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Suscetibilidade à miltefosina in vitro de diferentes espécies de Leishmania

sp. ............................................................................................................................. 22

Tabela 2 - Porcentagem de cura para isolados clínicos de diferentes espécies de

Leishmania causadores de leishmaniose cutânea após tratamento com a miltefosina.

.................................................................................................................................. 23

Tabela 3 – Dados clínicos dos pacientes infectados com os respectivos isolados de

L. (V.) braziliensis utilizados neste estudo................................................................. 28

Tabela 4- Atividade in vitro da miltefosina contra as formas promastigotas dos

isolados clínicos de L. (V.) braziliensis. ..................................................................... 40

Tabela 5 - Atividade in vitro da miltefosina contra as formas amastigotas

intracelulares dos isolados clínicos de L. (V.) braziliensis. ........................................ 46

Page 12: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

LISTA DE ABREVIATURAS

CC50 Concentração de miltefosina citotóxica 50%

CI50 Concentração de miltefosina que inibe o crescimento em 50%

CI90 Concentração de miltefosina que inibe o crescimento em 90%

CO2 Gás carbônico

DNA Ácido desoxirribonucleico

D.O. Densidade óptica

g Grama

hsp70 Heat Shock Protein 70

IR Índice de resistência

ITS Espaçador transcrito interno

kDNA DNA do cinetoplasto

Kg Kilograma

LM Leishmaniose cutânea

ʎ Lambda

MC Leishmaniose mucocutânea

µM Micromolar

µL Microlitro

mg Miligrama

mL Mililitro

mM Milimolar

M Molar

MTT (3-(4,5-dimetiltiazol-2yl)-2,5-difenil brometo de tetrazolina

ng Nanograma

ND Não determinado

nm Nanômetro

PBS Solução salina tamponada com fosfato

Page 13: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

PCR Reação em cadeia da polimerase

pH Potencial hidrogeniônico

RFLP Fragmento de restrição de comprimento

RNA Ácido ribonucleico

RPM Rotações por minuto

SDS Dodecil sulfato de sódio

U Unidades

UV Ultravioleta

v Volume

21G 21 gauge

Page 14: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 15

1.1 GÊNERO Leishmania sp. E LEISHMANIOSES ................................................ 15

1.2 DIAGNÓSTICO ................................................................................................ 18

1.3 TRATAMENTO ................................................................................................ 19

2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 24

3 MATERIAL E MÉTODOS ...................................................................................... 25

3.1 FÁRMACO ....................................................................................................... 25

3.2 CULTIVO DOS PARASITAS ........................................................................... 25

3.3 IDENTIFICAÇÃO DOS ISOLADOS DE L. (V.) braziliensis ........................... 25

3.3.1 Extração de DNA genômico .................................................................... 25

3.3.2 Reação em cadeia da polimerase (PCR) e digestão com a enzima de

restrição HaeIII .................................................................................................. 28

3.4 ATIVIDADE DA MILTEFOSINA CONTRA FORMAS PROMASTIGOTAS DE

L. (V.) braziliensis IN VITRO ................................................................................ 30

3.5 AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE DA MILTEFOSINA CONTRA AMASTIGOTAS

INTRACELULARES DE L. (V.) braziliensis ......................................................... 30

3.5.1 Obtenção de macrófagos de medula óssea .......................................... 30

3.5.2 Citotoxicidade da miltefosina para macrófagos medulares................. 31

3.5.3 Atividade da miltefosina contra amastigotas intracelulares de L. (V.)

braziliensis ........................................................................................................ 31

3.6 ANÁLISE ESTATÍSTICA ................................................................................. 32

4 RESULTADOS ....................................................................................................... 33

4.1 IDENTIFICAÇÃO DOS ISOLADOS DE L. (V.) braziliensis ........................... 33

4.2 ATIVIDADE DA MILTEFOSINA CONTRA PROMASTIGOTAS DE L. (V.)

braziliensis IN VITRO ........................................................................................... 39

Page 15: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

4.3 AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE DA MILTEFOSINA CONTRA AMASTIGOTAS

INTRACELULARES DOS ISOLADOS CLÍNICOS DE L. (V.) braziliensis .......... 42

4.3.1. Citotoxicidade da miltefosina para macrófagos medulares................ 42

4.3.2. Atividade da miltefosina contra amastigotas intracelulares de L. (V.)

braziliensis ........................................................................................................ 43

5 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 49

6 CONCLUSÕES ...................................................................................................... 54

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 55

Page 16: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

15

1 INTRODUÇÃO

1.1 GÊNERO Leishmania sp. E LEISHMANIOSES

Os parasitos do gênero Leishmania sp. são protozoários flagelados da ordem

Kinetoplastida, família Trypanosomatidae. Essa ordem agrupa organismos que

apresentam cinetoplasto, uma organela característica que contém DNAs circulares

(os maxicírculos e minicírculos) correspondentes ao DNA mitocondrial, também

conhecido como kDNA (NEUBER, 2008; REY, 2008)

As leishmânias são parasitas dimórficos, ou seja, possuem duas formas ao

longo do seu ciclo de vida, promastigota e amastigota (Figura 1). Existem cerca de

20 espécies responsáveis por causar a leishmaniose, subdivididas em dois

subgêneros: Leishmania e Viannia. Os parasitas do subgênero Leishmania

desenvolvem-se dentro do intestino médio e do intestino anterior dos flebotomíneos.

Já os pertencentes ao subgênero Viannia passam por uma fase de desenvolvimento

adicional dentro do intestino grosso (LAINSON; SHAW, 1987; RANGEL; LAINSON,

2009). O protozoário atinge o hospedeiro mamífero por intermédio de um inseto

hematófago, dípteros flebolotomíneos do gênero Phlebotomus sp. na África, Europa

e Ásia e do gênero Lutzomyia sp., nas Américas. Cerca de 70 espécies de

flebotomíneos são vetores da Leishmania (MURRAY et al., 2005). Estes possuem

atividade noturna, são silenciosos e relativamente pequenos (de dois a três

milímetros) o que possibilita que atravessem as telas anti-mosquito colocadas nas

janelas das casas (HEPBURN, 2000).

O ciclo de vida do parasita se inicia quando o inseto fêmea realiza o repasto

sanguíneo em uma pessoa ou animal infectado (Figura 1). A forma amastigota, sem

flagelo externalizado, é ingerida juntamente com o sangue. No intestino do inseto a

forma amastigota se transforma em promastigota, forma com flagelo, adere ao

epitélio e nesse local ocorre uma intensa atividade multiplicadora. O aumento da

população se dá por fissão binária (ASHFORD, 2000; ROBERTS; JANOVY, 2009),

embora, estudos recentes utilizando marcadores de resistência a drogas

evidenciaram a ocorrência de troca de material genético em L. (L.) major e

consequentemente a formação de parasitas híbridos (AKOPYANTS et al., 2009).

Depois de quatro ou cinco dias, os protozoários promastigotas procíclicos (que

possuem capacidade de divisão) migram para o esôfago e se transformam em

Page 17: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

16

promastigotas metacíclicos, forma infectiva para o hospedeiro vertebrado e que

apresenta uma maior motilidade. Ao sugar o sangue, o inseto realiza grande esforço

e após a sucção, a musculatura relaxa causando regurgitação do material aspirado.

Desse modo, o inseto vetor inocula os parasitas na corrente sanguínea do

hospedeiro vertebrado. Os promastigotas metacíclicos são então fagocitados por

células do sistema fagocítico mononuclear, principalmente macrófagos, e dentro dos

vacúolos parasitóforos, onde encontram as condições ideais de pH e temperatura,

se transformam na forma amastigota. Os parasitas dentro do macrófago se dividem

e rompem a célula, liberando novamente os amastigotas na corrente sanguínea.

Estes são novamente fagocitados pelos macrófagos ou ainda podem ser ingeridos

durante o repasto sanguíneo pelo inseto flebotomíneo, recomeçando o ciclo

(BATES, 1994; REY, 2008; ROBERTS; JANOVY, 2009).

Figura 1 - Ciclo biológico da Leishmania sp. Fonte: CDC http://www.dpd.cdc.gov/dpdx.

Page 18: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

17

Há quatro tipos de manifestações clínicas da doença, que estão relacionadas,

dentre outros fatores, com a respectiva espécie causadora (ASHFORD, 2000; REY,

2008):

A forma cutânea caracteriza-se por lesões tegumentares localizadas

que podem vir a ser ulcerosas e são naturalmente curadas, sendo que após a

picada do vetor a doença pode se desenvolver ou não após um período de

incubação de uma a doze semanas (HEPBURN, 2000). No Brasil, 7 espécies são

responsáveis por causar a leishmaniose cutânea sendo as principais espécies: L.

(V.) braziliensis, L. (L.) amazonensis e L. (V.) guyanensis (MURRAY et al., 2005).

A forma mucocutânea consiste em lesões destrutivas nas mucosas

oral, nasal e/ou faríngea. Esta forma de manifestação clínica está principalmente

relacionada com a espécie L. (V.) braziliensis (HEPBURN, 2000).

A forma cutânea difusa aparece normalmente em indivíduos anérgicos

ou cujo sistema imune está muito debilitado e se caracteriza por lesões

disseminadas pelo corpo. Estas lesões são de difícil cura, uma vez que não

cicatrizam sem o auxílio de fármacos e podem reincidir após o tratamento. No Brasil,

esta forma de manifestação clínica está relacionada com L. (L.) amazonensis

(HEPBURN, 2000).

A forma visceral (ou calazar) é a mais severa e é caracterizada pelo

aumento do baço e do fígado devido a um tropismo do parasita para esses órgãos e

para medula óssea podendo levar ao óbito se não tratada (ASHFORD, 2000;

HEPBURN, 2000; DESJEUX, 2004; REY, 2008). No Brasil, a espécie causadora da

leishmaniose visceral é L. (L.) infantum chagasi (MURRAY et al., 2005).

A co-infecção com o vírus HIV pode agravar os quadros da doença

dificultando a cura, uma vez que prejudica a resposta imune do indivíduo, sendo

extremamente preocupante principalmente quando associada à forma visceral da

doença (ASHFORD, 2000; HEPBURN, 2000; DESJEUX, 2004; REY, 2008).

As leishmanioses mostram uma tendência crescente preocupante, com

aproximadamente 1,3 milhões de novos casos e 20 a 30 mil mortes por ano. A

doença é endêmica em 98 países e afeta principalmente regiões mais pobres uma

vez que nesses locais há privação de uma alimentação adequada e alta incidência

Page 19: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

18

de doenças imunossupressoras, o que pode favorecer a baixa imunidade e resultar

consequentemente na manifestação clínica da doença (HEPBURN, 2000;

DESJEUX, 2004; WHO, 2014). Com base em estimativas, aproximadamente 0,7 a

1,2 milhões de casos de leishmaniose cutânea ocorrem a cada ano. Dez países

englobam 70 a 75% desses casos, sendo eles Afeganistão, Argélia, Colômbia,

Brasil, Irã, Síria, Etiópia, Sudão, Costa Rica e Peru. No Brasil, L. (V.) braziliensis é a

principal espécie causadora de leishmaniose cutânea podendo também causar a

forma mucocutânea. Entre os anos de 2003 a 2007, 26 mil casos de leishmaniose

cutânea por ano foram reportados no país (ALVAR et al., 2012; WHO, 2014).

1.2 DIAGNÓSTICO

O diagnóstico da leishmaniose pode ser feito por exames parasitológicos,

imunológicos e moleculares.

Os exames parasitológicos podem ser feitos de forma direta e indireta:

Direta: busca do parasito em material obtido por escarificação, biópsia ou

por aspirados de lesão, medula óssea e baço. Esse método é rápido e de baixo

custo, porém a sua sensibilidade varia com o tempo de evolução da doença

(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2007).

Indireta: isolamento e cultivo do parasito em meios de cultura. Após o

quinto dia pode-se encontrar promastigotas na cultura (MINISTÉRIO DA SAÚDE,

2007).

Os principais exames imunológicos utilizados são:

Teste intradérmico (Intradermoreação de Montenegro): injeção

intradérmica de antígeno de Leishmania sp. Trata-se de um teste de

hipersensibilidade tardia. O resultado é avaliado após 48 horas fazendo-se a

medição do tamanho da reação no local que foi injetado o antígeno. Essa reação

geralmente persiste positiva mesmo após o tratamento ou a cura espontânea da

lesão, desse modo, os resultados devem ser interpretados com cuidado

(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2007).

Page 20: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

19

Testes sorológicos: detecção de anticorpos anti-Leishmania no soro dos

pacientes por meio de ensaio Imunoenzimático e de imunofluorescência indireta.

Devido à reação cruzada com outras doenças, estes testes não devem ser

realizados isoladamente (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2007).

Os métodos moleculares consistem, em geral, no uso da reação em cadeia

da polimerase (PCR) tendo como alvos tanto o DNA genômico como o kDNA

(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2007). A PCR é utilizada majoritariamente para fins de

pesquisa e raramente no diagnóstico, porém, se utilizada juntamente com os demais

testes parasitológicos pode aumentar sua sensibilidade. Por este método, pode-se

identificar inclusive a espécie causadora da doença no paciente, o que auxilia nos

estudos de monitoramento epidemiológico (PEREZ et al., 2007), no entendimento da

manifestação clínica da doença e em possíveis previsões do sucesso ou falha no

tratamento clínico já estes podem estar relacionados com a espécie causadora.

Diferentes alvos de amplificação são utilizados pela técnica de PCR, dentre eles, os

minicírculos do kDNA (SPITHILL; GRUMONT, 1984) o espaçador transcrito interno

do DNA ribossomal (ITS) (CUPOLILLO et al., 1995), o gene META2 (ZAULI-

NASCIMENTO et al., 2010), o gene da glucose 6-fosfato desidrogenase (CASTILHO

et al., 2003), o gene da Heat Shock Protein 70 (hsp70) (MONTALVO et al., 2012),

gene mini-exon (MARFURT et al., 2003), dentre outros.

Estes marcadores têm como característica conter regiões conservadas entre

as espécies, o que possibilita o reconhecimento pelo mesmo iniciador em todas elas,

e regiões polimórficas que irão resultar em um padrão de bandas diferenciado após

a digestão com enzimas de restrição (RFLPs) ou ainda através do sequenciamento

direto do produto amplificado, possibilitando assim a discriminação das diferentes

espécies do parasito.

1.3 TRATAMENTO

Como não há formas de prevenção efetiva para a leishmaniose, o controle é

baseado no tratamento da doença. Os fármacos de primeira escolha para a

leishmaniose cutânea e visceral no Brasil são os antimoniais pentavalentes

Page 21: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

20

(Pentostam® e Glucantime®) introduzidos para o uso em 1945. Sua larga utilização

muitas vezes interrompida, devido as dificuldades oriundas de sua manipulação

parenteral, favorece o aparecimento de casos de resistência adquirida pelo parasita,

devido principalmente ao abandono do tratamento decorrente dos efeitos colaterais

(CROFT et al., 2003a; SUNDAR, 2001). Além disso, diversos efeitos colaterais são

descritos como anorexia, hepatotoxicidade, nefrotoxicidade, mialgias e arritmia

cardíaca (CROFT et al., 2003b). A anfotericina B, fármaco de segunda escolha, é

utilizada caso os antimoniais se mostrem ineficientes. A droga é tóxica podendo

levar a falência renal, e sua administração é parenteral. O desenvolvimento da

composição associada a lipídios diminuiu muito a toxicidade devido à redução da

dose, porém sua formulação é muito cara o que inviabiliza a utilização em áreas

endêmicas, onde há um grande número de pessoas com a doença (HEPBURN,

2000; CROFT et al., 2003b). A pentamidina demonstrou efeito no tratamento da

leishmaniose cutânea, cutânea difusa e visceral, mas sua toxicidade é muito alta,

sendo seu uso indicado apenas para casos refratários ao tratamento com os

antimoniais e a anfotericina B (CROFT et al., 2003b; MURRAY et al., 2005).

A miltefosina, ou hexadecilfosfocolina é uma alquilfosfocolina inicialmente

sintetizada para o tratamento do câncer de mama (DORLO et al., 2012). O fármaco

demonstrou atividade contra tripanossomatídeos (CROFT; ENGEL, 2006) sendo

posteriormente aprovado para o tratamento da leishmaniose visceral na Índia (JHA

et al., 1999). É o único medicamento administrado por via oral para o tratamento das

leishmanioses e é considerado o medicamento de escolha na Índia com elevada

incidência de casos de resistência aos antimoniais para o tratamento da

leishmaniose visceral (JHA et al., 1999; SUNDAR et al., 2002). Em 2004, o fármaco

foi aprovado para uso no tratamento da leishmaniose cutânea na Colômbia após

demostrar eficácia similar quando comparada aos antimoniais pentavalentes (SOTO

et al., 2004). Testes clínicos realizados no Brasil mostraram uma eficácia maior da

miltefosina quando comparada aos antimoniais (MACHADO et al., 2010). A

comprovação da eficácia associada ao uso oral (DORLO et al., 2012) faz da

miltefosina um fármaco potencial, uma vez que não é necessária hospitalização para

sua administração, diminuindo assim os riscos de infecções e possibilitando o

tratamento em regiões mais afastadas dos grandes centros urbanos.

Page 22: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

21

A elevada meia-vida da miltefosina no corpo associada com a variedade na

suscetibilidade das espécies causadoras da leishmaniose (ESCOBAR et al., 2002;

YARDLEY et al., 2005) são questões problemáticas, uma vez que os parasitas não

são completamente eliminados após o tratamento o que pode levar ao surgimento

de parasitas resistentes. O que se observa é que além da diferença de

suscetibilidade in vitro entre as diferentes espécies de Leishmania (Tabela 1), há

uma variação na suscetibilidade em isolados de uma mesma espécie (FERNANDEZ

et al., 2014). Além disso, o sucesso no tratamento varia entre as espécies o que

pode dificultar o estabelecimento de uma droga eficaz em todas as regiões (CROFT;

OLLIARO, 2011). Ensaios envolvendo pacientes da Colômbia e da Guatemala

infectados com L. (V.) braziliensis mostraram que a suscetibilidade do parasita à

miltefosina varia nessas regiões dependendo da espécie e do isolado clínico (SOTO;

BERMAN, 2006). A taxa de cura para infecções por L. (V.) braziliensis mostrou-se

variável em diferentes regiões, sendo de 33% na Guatemala (SOTO; BERMAN,

2006) e 70% na Colômbia (VELEZ et al., 2010). No Brasil apenas dois estudos

foram realizados e mostraram uma eficácia de cerca de 70% para infecções por L.

(V.) braziliensis e L. (V.) guyanensis em pacientes com leishmaniose cutânea

(MACHADO et al., 2010; CHRUSCIAK-TALHARI et al., 2011). Esses dados mostram

uma eficácia menor no tratamento para os casos de leishmaniose tegumentar

quando comparada com a taxa de 95% observada para a leishmaniose visceral na

Índia (JHA et al., 1999). É importante ressaltar ainda que uma redução de eficácia

tem sido observada nos últimos anos para o tratamento da leishmaniose visceral

utilizando a miltefosina (SUNDAR et al., 2012; RIJAL et al., 2013).

A miltefosina ainda não é utilizada em larga escala no Brasil e existe grande

interesse e potencial para a sua aplicação, tanto por representar uma alternativa

para pacientes que não respondem mais ao tratamento com os antimoniais e a

anfotericina B, como pelo fato de ser um fármaco de administração oral. Porém, é

necessário inicialmente um estudo que avalie a suscetibilidade de isolados do Brasil

à miltefosina, permitindo assim avaliar a eficácia do medicamento em regiões

endêmicas no Brasil. Estudos prévios mostraram que L. (V.) braziliensis apresenta

baixa suscetibilidade à miltefosina quando comparada com outras espécies do

parasita (Tabela 1) e que a taxa de cura da leishmaniose cutânea tratada com

miltefosina varia entre diferentes espécies e isolados de diferentes regiões

Page 23: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

22

endêmicas (Tabela 2). Considerando que não existem relatos na literatura sobre a

suscetibilidade à miltefosina de isolados clínicos brasileiros, foi proposto neste

estudo avaliar a suscetibilidade à miltefosina em isolados clínicos de L. (V.)

braziliensis, a principal espécie causadora da leishmaniose cutânea e mucocutânea

no Brasil.

Tabela 1- Suscetibilidade à miltefosina in vitro de diferentes espécies de Leishmania sp.

Espécie Promastigotas Amastigotas Referência

L. (L.) donovani 0,45 µM 4,56 µM (ESCOBAR et al., 2002)

L. (L.) aethiopica 2,76 µM 4,92 µM (ESCOBAR et al., 2002)

L. (L.) tropica 1,74 µM 5,82 µM (ESCOBAR et al., 2002)

L. (L.) mexicana 2,37 µM 6,83 µM (ESCOBAR et al., 2002)

L. (V.) panamensis 1,30 µM 10,63 µM (ESCOBAR et al., 2002)

L. (L.) major 13,10 µM 37,17 µM (ESCOBAR et al., 2002)

L. (V.) lainsoni ND 3,7 µM (YARDLEY et al., 2005)

L. (L.) amazonensis 7,9 µM 9 µM (SANTA-RITA et al., 2004)

L. (V.) braziliensis 109 µM 17 µM (SANCHEZ-CANETE et al., 2009)

L. (V.) guyanensis ND 4,02 µM (MORAIS-TEIXEIRA et al., 2011)

L. (L.) infantum chagasi ND 4,46 µM (MORAIS-TEIXEIRA et al., 2011)

* Suscetibilidade representada pela CI50 em µM – Concentração que inibe o crescimento em 50%. ND = Não

determinado

Page 24: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

23

Tabela 2 - Porcentagem de cura para isolados clínicos de diferentes espécies de Leishmania causadores de leishmaniose cutânea após tratamento com a miltefosina.

País Cura (%) Espécie Referência

Brasil 75% L. (V.) braziliensis (MACHADO et al., 2010)

Guatemala 33% L. (V.) braziliensis (SOTO; BERMAN, 2006)

Colômbia 70% L. (V.) braziliensis (VELEZ et al., 2010)

Colômbia 91% L. (V.) panamensis (SOTO; BERMAN, 2006)

Colômbia 60% L. (V.) panamensis (VELEZ et al., 2010)

Colômbia 92% L. (V.) panamensis (RUBIANO et al., 2012)

Brasil 71,40% L. (V.) guyanensis (CHRUSCIAK-TALHARI et al., 2011)

Colômbia 68% L. (V.) guyanensis (RUBIANO et al., 2012)

Page 25: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

24

2 OBJETIVOS

Considerando o potencial de utilização da miltefosina para o tratamento da

leishmaniose no Brasil e da necessidade de avaliar sua eficácia em isolados clínicos

brasileiros, o objetivo deste trabalho é avaliar a suscetibilidade à miltefosina in vitro

de isolados de pacientes brasileiros infectados por L. (V.) braziliensis, de modo a

investigar sua eficácia e auxiliar na avaliação do potencial desse fármaco para o

tratamento da leishmaniose tegumentar no Brasil. Para tal, os objetivos específicos

são:

- Identificar as espécies dos isolados recebidos no laboratório e selecionar

aqueles identificados como L. (V.) braziliensis.

- Determinar as concentrações inibitórias da miltefosina para promastigotas

dos isolados clínicos de L. (V.) braziliensis.

- Determinar à citotoxicidade de macrófagos medulares de camundongos

BALB/c à miltefosina.

- Determinar as concentrações inibitórias da miltefosina para amastigotas

intracelulares dos isolados clínicos de L. (V.) braziliensis por meio de culturas de

macrófagos infectados por estes mesmos isolados.

Page 26: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

25

3 MATERIAL E MÉTODOS

3.1 FÁRMACO

A Miltefosina foi adquirida da companhia Sigma-Aldrich (St. Louis, MO, EUA)

e as diluições foram feitas utilizando água estéril.

3.2 CULTIVO DOS PARASITAS

As culturas de promastigotas de Leishmania foram cultivadas em meio 199

estéril (Sigma-Aldrich, St. Louis, MO, USA), que foi preparado diluindo-se o pó em

água destilada. Este foi complementado com 40 mM de HEPES, pH 7,4, 0,1 mM de

adenina, 0,005% de hemina, suplementado com 10% de soro fetal bovino (Gibco®)

inativado e estéril, 100 μg/mL de penicilina/estreptomicina e 2% de urina humana

masculina. As culturas foram mantidas em estufa a 25°C e os repiques foram feitos

semanalmente. Os parasitas utilizados foram: a cepa referência de L. (V.)

braziliensis MHOM/BR/1975/M2903; e isolados obtidos de pacientes diagnosticados

com leishmaniose cutânea, sem tratamento anterior com miltefosina, sendo eles:

MHOM/BR/2006/EFSF, MHOM/BR/2005/WSS, MHOM/BR/2003/IMG,

MHOM/BR/2006/BES, provenientes de Goiás; MHOM/BR/2006/HPV proveniente de

Tocantins; MHOM/BR/2006/PPS, LCTP 16012, LCTP 19512, LCTP 16907 e LCTP

19446 provenientes da Bahia. A localização de cada um desses isolados obtidos nos

respectivos Estados brasileiros está indicada no mapa da Figura 2 e as informações

sobre os isolados encontram-se disponíveis na Tabela 3.

3.3 IDENTIFICAÇÃO DOS ISOLADOS DE L. (V.) braziliensis

3.3.1 Extração de DNA genômico

O protocolo utilizado foi aquele descrito por Medina-Acosta e Cross (1993).

Cerca 108 promastigotas de fase logarítmica de crescimento foram transferidos para

tubos cônicos e centrifugados a 3.000 RPM durante dez minutos. O sobrenadante foi

descartado e o sedimento celular foi ressuspenso em 150 μL de TELT (50 mM de

Tris 50 pH 8,0; 62,5 mM de EDTA pH 9,0; 2,5 M de LiCl e 4% de TRITON X-100),

Page 27: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

26

com o objetivo de lisar os parasitas. Após incubação de 5 minutos a temperatura

ambiente, o conteúdo foi transferido para um tubo eppendorff, acrescido de 150 μL

de fenol-clorofórmio (1:1), sendo mantido por 5 minutos a temperatura ambiente. Em

seguida, o lisado foi centrifugado por 10.800 RPM durante 10 minutos para separar

os ácidos nucléicos dos outros componentes celulares. O sobrenadante contendo os

ácidos nucléicos foi transferido para um tubo eppendorff contendo 300 μL de etanol

absoluto, homogeneizado e incubado por 5 minutos a temperatura ambiente. A

mistura foi novamente centrifugada a 10.800 RPM durante 10 minutos. O

sobrenadante foi descartado e o etanol residual foi deixado para evaporar a 42°C. O

DNA genômico foi ressuspenso em 50 μL de TE (10 mM de Tris pH 7,0, 1 mM de

EDTA pH 8,0) contendo RNase (0,2 mg/mL) sendo incubado a 37°C durante 1 hora.

As amostras de DNA genômico foram então mantidas a 4oC.

Alternativamente, foi utilizado a extração de DNA total com o reagente

DNAzol® (Life Technology). Aproximadamente 10 mL de cultura de promastigotas

em fase logarítmica foram transferidos para um tubo cônico e centrifugados a 3.000

RPM durante 10 minutos. O sobrenadante foi descartado e o sedimento celular foi

ressuspenso em 10 mL de PBS 1X (solução salina tamponada com fosfato – 137

mM NaCl; 2,7mM de KCl; 8 mM de Na2HPO4; 1,46 mM de KH2PO4; pH 7,4) 1X e

centrifugado novamente a 3.000 RPM durante dez minutos. O sobrenadante foi

descartado e o sedimento celular ressuspenso em 400 µL de solução de DNAzol®

(Life Technology), homogeneizado e a seguir foi acrescido 400 µL de etanol

absoluto. O DNA foi recolhido do tubo com o auxílio de um aro plástico e lavado em

etanol 70% por duas vezes. O aro foi deixado em um eppendorff até que o etanol

evaporasse e o DNA foi diluído em cerca de 150µL de água Mili Q. A concentração

de DNA gênomico total obtido e sua integridade foram determinadas por

espectrofotometria de luz no aparelho Nanodrop™ (Thermo Scientific).

Page 28: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

27

Figura 2 - Distribuição geográfica do local de isolamento dos 10 isolados clínicos de L. (V.) braziliensis obtidos de pacientes com leishmaniose cutânea e da cepa referência 1975/M2903.

Page 29: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

28

Tabela 3 – Dados clínicos dos pacientes infectados com os respectivos isolados de L. (V.) braziliensis utilizados neste estudo.

Isolado Local de moradia

Idade Forma Clínica

Tratamento Resposta

Terapêutica Tempo de Cura

Tempo de

Lesão

MHOM/BR/1975/2903

- - - - - - -

MHOM/BR/2006/BES

Goiás 41 LC Gluc/Anfo B Cura ND 8 meses

MHOM/BR/2006/ESF

Goiás 44 LC Gluc Cura ND 3 meses

MHOM/BR/2005/WSS

Goiás 22 LC Gluc Não

Retornou ND 8 meses

MHOM/BR/2006/HPV

Tocantins 46 LC Gluc Cura ND 3 meses

MHOM/BR/2006/PPS

Bahia 69 MC Não

Retornou Não

Retornou ND ND

MHOM/BR/2003/IMG

Goiás 43 LC Gluc Cura ND 45 dias

LCTP 16907 Bahia 27 LC Gluc Cura 3 meses ND

LCTP 19512 Bahia 58 LC Gluc Falha ND ND

LCTP 19446 Bahia 28 LC Gluc Cura 3 meses ND

LCTP 16012 Bahia 21 LC Gluc Cura 2 meses ND

*ND: não determinado. Gluc = Glucantime; Anfo B = Anfotericina B convencional. LC = Leishmaniose cutânea;

MC= Leishmaniose mucocutânea.

3.3.2 Reação em cadeia da polimerase (PCR) e digestão com a enzima de

restrição HaeIII

Para cada reação foi utilizado cerca de 100 ng de DNA genômico, 5 ng de

cada oligonucleotídeo (100 ng/mL), 1,5 mM de MgCl2 (25 mM), tampão Taq 1x

(Tampão 10x: 100 mM de Tris-HCl pH 8,8 a 25°C; 500 mM de KCl, 0,8% (v/v)

Nonidet P40), 0,2 mM de cada dNTP (dNTP 10 mM), 1,25 U da enzima Taq DNA

Polimerase (5 U/μL) e água Mili-Q para completar o volume final da reação. Para a

reação de PCR utilizou-se um ciclo inicial de 3 minutos a 95°C para a desnaturação,

seguido de 30 ciclos de amplificação e um ciclo de 15 minutos a 72°C para a

extensão final. As etapas de cada ciclo foram: 30 segundos a 95°C para

desnaturação, 30 segundos a 55°C para a associação do iniciador e um minuto a

Page 30: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

29

72°C para a extensão. A região de amplificação escolhida foi o ITS (espaçador

transcrito interno) localizado entre os genes que codificam as subunidades maior e

menor do RNA ribossomal organizados em tandem, no cromossomo 27 de L. (V.)

braziliensis (Figura 3A). Os iniciadores utilizados foram: IR1: 5’ GTC GTA GGT GAA

CCT GCA GCA GCT GGA TCA TT 3’ e IR2: 5’ GCG GGT AGT CCT GCC AAA CAC

TCA GGT CTG 3’ previamente descritos (CUPOLILLO et al., 1995). Outra região

utilizada para amplificação foi a região codificadora do gene hsp70 (heat-shock

protein 70) localizado no cromossomo 28 de L. (V). braziliensis (Figura 4A), por meio

da utilização dos seguintes iniciadores: F25: 5’ GGA CGC CGG CAC GAT TKC T 3’

e R1310: 5’ CCT GGT TGT TGT TCA GCC ACT C 3’. Nesta segunda reação de

PCR, algumas condições foram modificadas. Foi utilizado um ciclo inicial de 5

minutos a 95°C para a desnaturação seguido de 35 ciclos de amplificação e um ciclo

de 10 minutos a 72°C para a extensão final. As etapas de cada ciclo foram: 40

segundos a 94°C para desnaturação, 1 minuto a 61°C para a associação do

iniciador e 1 minuto a 72°C para a extensão (MONTALVO et al., 2012).

Os produtos amplificados por PCR foram analisados por eletroforese em gel

de agarose 0,8% (UltraPure ™ Agarose - Invitrogen™) acrescido de 0,75 µg/mL de

brometo de etídio (EtBr) em tampão TBE 1x (89 mM de Tris-borato; 2mM de EDTA;

pH entre 8,2 e 8,4). Foi adicionado ao DNA o Loading buffer (0,25% Bromophenol

blue, 0,25% xylene cyanol e 15% ficol 400 diluídos em água). Os marcadores de

peso molecular utilizados foram 100bp DNA Ladder (New England Biolabs®) ou o

fago λ digerido com a enzima HindIII (Invitrogen®). O gel foi fotografado após

exposição a luz UV e analisado com o programa ImageQuant. Os produtos

amplificados por PCR da região do ITS e do gene hsp70 dos respectivos isolados

foram ainda digeridos com a enzima de restrição HaeIII (New England Biolabs®)

conforme as instruções do fabricante e analisados por eletroforese em gel de

agarose 3% (Agarose-1000 - GibcoBRL). Os fragmentos obtidos foram analisados

por meio da comparação com as respectivas sequências disponíveis no GenBank

utilizando o programa Clone Manager 9 que indica a localização dos sítios de HaeIII

nas respectivas sequências de DNA.

Page 31: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

30

3.4 ATIVIDADE DA MILTEFOSINA CONTRA FORMAS PROMASTIGOTAS DE L.

(V.) braziliensis IN VITRO

A atividade da miltefosina contra formas promastigotas dos isolados de L. (V.)

braziliensis foi avaliada utilizando o teste do MTT (3-(4,5- dimetiltiazol-2yl)-2,5-difenil

brometo de tetrazolina). Esse composto, de coloração amarela, é um substrato que

quando na presença de uma enzima mitocondrial sofre reação de redução e forma o

produto formazan, de coloração roxa. A produção do formazan ocorre apenas

quando a célula encontra-se viva (PERES et al., 2008). O protocolo utilizado foi

aquele previamente descrito pelo grupo da Profa. Silvia R. B. Uliana (ZAULI-

NASCIMENTO et al., 2010). Inicialmente os parasitas foram contados em câmara de

Neubauer. Cerca 2x106 promastigotas foram incubados na presença de

concentrações crescentes de miltefosina por 24 horas em estufa a 25°C. Após esse

período adicionou-se 30μL de solução de MTT (5mg/mL) (Sigma-Aldrich, St. Louis,

MO, USA), e após 3 horas, a reação foi interrompida utilizando 50 μL de SDS

(dodecil sulfato de sódio) 20%. A leitura da densidade óptica (D.O.) foi feita por

espectrofotometria no leitor de microplaca POLARstar Omega, BMG Labtech,

medindo-se a absorbância a 595 nm, utilizando-se como referência 690 nm. Os

experimentos foram realizados em triplicada e repetidos independentemente pelo

menos três vezes. A linhagem referência MHOM/BR/1975/M2903 foi utilizada em

todos os experimentos como controle do ensaio. Os valores de CI50 e CI90

(concentração de miltefosina que inibe a viabilidade celular em 50% e 90%

respectivamente) foram determinados a partir de curvas de regressão sigmoide

utilizando o programa GraphPad Prism 6.

3.5 AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE DA MILTEFOSINA CONTRA AMASTIGOTAS

INTRACELULARES DE L. (V.) braziliensis

3.5.1 Obtenção de macrófagos de medula óssea

Para a obtenção de macrófagos de medula óssea foi utilizado o protocolo

previamente descrito por Zamboni e Rabinovitch (2003). Estes foram obtidos a partir

de fêmures de camundongos BALB/c previamente sacrificados em câmara de CO2

que foram removidos e as respectivas epífises cortadas. A seguir, com o auxílio de

Page 32: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

31

uma agulha 21G acoplada a uma seringa foi introduzido na cavidade medular meio

R2020 (60% de Meio RPMI 1640 - Gibco®, 20% de Soro Fetal Bovino e 20% do

sobrenadante de cultura de fibroblastos L929) para remoção das células da medula

óssea. Macrófagos diferenciados foram obtidos a partir da incubação em estufa a

37°C e atmosfera de 5% de CO2 por 7 dias em meio R2020. Após esse período, o

meio R2020 foi removido para remoção dos macrófagos não aderidos e/ou não

diferenciados. Os macrófagos aderidos foram removidos da placa utilizando um “cell

scraper” em presença de PBS, transferidos para um tubo cônico de 15 ml,

centrifugados a 1.500 RPM durante 10 minutos e ressuspensos em meio RPMI. O

número de macrófagos obtido foi determinado utilizando uma câmara de Neubauer.

3.5.2 Citotoxicidade da miltefosina para macrófagos medulares

Os ensaios de citotoxicidade foram realizados em placas de 24 poços.

Utilizou-se 5x106 macrófagos por poço, cultivados em meio RPMI mantidos em

estufa a 37°C e 5% CO2 durante 24 horas (ZAULI-NASCIMENTO et al., 2010). A

seguir, retirou-se o meio RPMI dos poços e lavou-se duas vezes com PBS à 37°C

de modo a retirar os macrófagos que não haviam aderido. Adicionou-se 500 μL de

meio RPMI contendo concentrações crescentes de miltefosina (0, 20, 40, 50, 60, 70,

80 e 160 μM) por 72 horas à 37°C em uma atmosfera de 5% de CO2. Após esse

período, as células foram lavadas duas vezes com PBS a temperatura ambiente. A

cada poço, foi adicionado 200 μL de PBS e 40 μL de solução de MTT (5 mg/mL),

incubando-se novamente a placa por 5 horas à 37°C e 5% de CO2. A reação foi

então interrompida através da adição de 100 μL de SDS 20%. A leitura da densidade

óptica (D.O.) foi feita por espectrofotometria e a CC50 (concentração de miltefosina

citotóxica 50%) foi determinado a partir de curvas de regressão sigmoide utilizando o

programa GraphPad Prism 6.

3.5.3 Atividade da miltefosina contra amastigotas intracelulares de L. (V.)

braziliensis

Macrófagos de medula óssea foram cultivados em placas de 24 poços

contendo previamente lamínulas redondas de vidro de 13 mm de diâmetro estéreis.

Page 33: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

32

Cerca de 3x105 células foram plaqueadas em presença de 300 μL de meio RPMI.

Após incubação por 24 horas em estufa a 37°C e 5% CO2, retirou-se o meio RPMI

dos poços e lavou-se duas vezes com PBS a 37°C de modo a retirar os macrófagos

que não haviam aderido. Os macrófagos foram infectados com formas

promastigotas de L. (V.) braziliensis em fase estacionaria de crescimento numa

proporção de 30:1 (parasitas:macrófago). As infecções foram realizadas por 3 horas

a 33°C em atmosfera contendo 5% de CO2. Após esse período, os poços foram

lavados duas vezes com PBS para a retirada dos parasitas não internalizados, e

então foi adicionado 500 μL de meio RPMI por poço, contendo concentrações

crescentes de miltefosina (0, 0,5, 1,5, 3, 5, 8, 15, 25, 40 μM de miltefosina). Os

macrófagos infectados foram incubados a 33°C contendo 5% de CO2 por 72 horas.

A seguir, os poços foram lavados com PBS, fixados com metanol e corados com o

kit Instant Prov (Newprov) segundo as orientações do fabricante. As lâminas foram

observadas ao microscópio óptico, avaliando 100 macrófagos por lâmina,

identificando os macrófagos infectados e o número de amastigotas por macrófago.

Calculou-se o índice de infecção (porcentagem de macrófagos infectados

multiplicado pela média de amastigotas por macrófago) e os valores de CI50 e CI90

(concentração de miltefosina que inibe a viabilidade celular em 50% e 90%

respectivamente) foram determinados a partir de curvas de regressão sigmoide

utilizando o programa GraphPad Prism 6.

3.6 ANÁLISE ESTATÍSTICA

As análises estatísticas foram realizadas através do programa GraphPad

Prism 6, CA, USA, utilizando os testes ANOVA de uma via e pós-teste de

comparações múltiplas de Tukey. Foi utilizado também, o teste t não pareado. O

valor de P < 0,05 foi considerado estatisticamente significativo.

Page 34: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

33

4 RESULTADOS

4.1 IDENTIFICAÇÃO DOS ISOLADOS DE L. (V.) braziliensis

Os dez isolados clínicos utilizados neste estudo estavam disponíveis no

laboratório da Profa. Silvia R. B. Uliana. Estes isolados previamente identificados

como L. (V.) braziliensis, foram confirmados como pertencentes a esta espécie por

meio da amplificação do espaçador transcrito interno (ITS) localizado no

cromossomo 27 desta espécie e que possui aproximadamente 12 cópias por

genoma haploide organizadas em tandem (Figura 3A) (MARTINEZ-CALVILLO et al.,

2001) e do gene hsp70 que possui 6 cópias organizadas em tandem no

cromossomo 28 de L. (V.) braziliensis (Figura 4A) (RAMIREZ et al., 2011). Os

iniciadores utilizados para o ITS foram o IR1 e IR2 localizados entre o gene que

codifica a subunidade menor e o início do gene que codifica a subunidade maior do

RNAr respectivamente como esquematizado na Figura 3A. Uma vez que o ITS é

variável em tamanho para as diferentes espécies de Leishmania, o resultado obtido

do produto de PCR amplificado foram fragmentos de tamanhos variáveis porém

todos com cerca de 1kb (Figura 3B). O produto amplificado foi digerido com a

enzima de restrição HaeIII e analisado em uma eletroforese em gel de agarose

(Figura 3C). Devido a similaridade no padrão dos fragmentos de restrição do ITS das

espécies do subgênero Viannia (Figura 3C), optou-se por utilizar um segundo

método molecular para a discriminação destas espécies, baseado na amplificação

do gene hsp70 (MONTALVO et al., 2012). O gene hsp70 foi amplificado utilizando os

iniciadores F25 e R1310, localizados na fase aberta de leitura deste gene que possui

aproximadamente 1,9 Kb. Foi possível amplificar o respectivo gene em todas as

espécies de Leishmania analisadas e o resultado obtido foi um fragmento de

aproximadamente 1,2 kb (Figura 4B). A digestão do produto amplificado do gene

hsp70 com a enzima de restrição HaeIII permitiu discriminar as principais espécies

do subgênero Viannia (Figura 4C).

Deste modo, os isolados previamente identificados como L. (V.) braziliensis,

recebidos no laboratório da Profa. Silvia Uliana, provenientes de diferentes regiões

geográficas (Figura 2) foram identificados através da amplificação do ITS e do gene

hsp70 e posterior digestão dos produtos amplificados com a enzima de restrição

HaeIII. Os respectivos produtos amplificados foram analisados em uma eletroforese

em gel de agarose e o produto amplificado foi um fragmento de aproximadamente 1

Page 35: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

34

Kb correspondente ao ITS de todos os isolados e para a cepa referência M2903

(Figura 5A). A digestão dos respectivos produtos amplificados com a enzima de

restrição HaeIII mostrou que todos os isolados apresentaram o mesmo padrão de

restrição (Figura 5C). Estes apresentavam fragmentos de restrição de 625, 159 e

201 pares de base conforme ilustrado na Figura 5B, na qual estão representados os

sítios para a enzima de restrição HaeIII no produto amplificado. Os tamanhos e a

localização dos sítios de restrição foram confirmados por meio da análise de uma

sequência de L. (V.) braziliensis correspondente à região do ITS (GenBank:

JQ061322.1).

A amplificação do gene hsp70 foi possível em todos os isolados e resultou em

um fragmento de aproximadamente 1,2 Kb, conforme representado na Figura 6A. A

digestão do produto de PCR do gene hsp70 com a enzima de restrição HaeIII,

revelou que todos os isolados apresentaram o mesmo padrão de fragmentos quando

comparados com a cepa referência M2903 (Figura 6C). O padrão de restrição do

produto amplificado apresenta os seguintes fragmentos de restrição: 21, 41, 13, 338,

286, 47, 307, 59, 40 e 134 pares de base, conforme análise da sequência de L. (V.)

braziliensis correspondente ao gene hsp70 (GenBank: AF291716.1) (Figura 6B), A

eletroforese em gel de agarose 3% mostrou que apenas os fragmentos maiores que

40 pb eram visíveis no gel (Figura 6C).

Page 36: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

35

Figura 3 - (A) Representação esquemática da organização genômica das unidades de repetição do DNAr e a localização dos iniciadores utilizados para a amplificação do ITS (setas em cinza). SSU e LSU são respectivamente as regiões que codificam as subunidades maior e menor do ribossomo. (B) Eletroforese em gel de agarose 0,8% do produto amplificado do ITS com os iniciadores IR1 e IR2. Foi utilizado como marcador de peso molecular o fago λ digerido com HindIII. 1- L. (L.) infantum chagasi, 2- L. (V.) naifii, 3- L. (V.) lainsoni, 4- L. (L.) amazonensis, 5- L. (V.) shawi, 6- L. (V.) guyanensis, 7- L. (V.) braziliensis M2903. (C) Eletroforese em gel de agarose 0,8% da digestão do produto amplificado com a enzima de restrição HaeIII. Foi utilizado como marcador de peso molecular o 100 pb Ladder. 1- L. (L.) infantum chagasi, 2- L. (L.) amazonensis 2269, 3- L. (V.) braziliensis M2903, 4- L. (V.) shawi, 5- L. (V.) naiffi, 6- L. (V.) lainsoni, 7- L. (V.) guyanensis.

Page 37: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

36

Figura 4 - (A) Representação esquemática da organização genômica do gene hsp70 e a respectiva localização dos iniciadores utilizados para sua amplificação (setas em cinza). (B) Eletroforese em gel de agarose 0,8% do produto amplificado do gene hsp70 com os iniciadores F25 e R1310. Foi utilizado como marcador de peso molecular o fago λ digerido com HindIII. 1- L. (V.) naiffi, 2- L. (V.) shawi, 3- L. (V.) guyanensis, 4- L. (V.) braziliensis M2903, 5- L. (L.) infantum chagasi, 6- L. (V.) lainsoni, 7- L. (L.) amazonensis 2269. A seta laranja indica o fragmento de aproximadamente 1,2 kb. (C) Eletroforese em gel de agarose 3% da digestão do produto amplificado do gene hsp70 com a enzima de restrição HaeIII. Foi utilizado como marcador de peso molecular o 100 pb Ladder. 1- L. (L.) infantum chagasi, 2- L. (L.) amazonensis 2269, 3- L. (V.) braziliensis M2903, 4- L. (V.) shawi, 5- L. (V.) naiffi, 6- L. (V.) lainsoni, 7- L. (V.) guyanensis.

Page 38: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

37

Figura 5 – (A) Eletroforese em gel de agarose 0,8% do produto amplificado do ITS do DNA ribossomal dos isolados com os iniciadores IR1 e IR2. Foi utilizado como marcador de peso molecular o fago ʎ digerido com HindIII. A seta verde indica o fragmento de 1 kb esperado. (B) Representação esquemática do produto amplificado contendo os sítios para a enzima de restrição HaeIII. Os produtos oriundos da digestão estão indicados. (C) Eletroforese em gel de agarose 3% da digestão do produto amplificado do gene hsp70 dos isolados com a enzima de restrição HaeIII. Foi utilizado como marcador de peso molecular o 100 pb Ladder. Legenda: 1- 1975/M2903, 2- LTCP 19446, 3- LTCP 19512, 4- LTCP 16907, 5- LTCP 16012, 6- 2006/PPS, 7- 2006/BES, 8- 2003/IMG, 9- 2006/EFSF, 10- 2005/WSS e 11- 2006/HPV.

Page 39: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

38

Figura 6 – (A) Eletroforese em gel de agarose 0,8% do produto amplificado do gene hsp70 dos isolados com os iniciadores F25 e R1310. Foi utilizado como marcador de peso molecular o fago λ digerido com HindIII. A seta laranja indica o fragmento de aproximadamente 1,2 kb esperado. (B) Representação esquemática do produto amplificado contendo os sítios para a enzima de restrição HaeIII. Os produtos oriundos da digestão estão indicados. (C) Eletroforese em gel de agarose 3% da digestão do produto amplificado do gene da hsp70 dos isolados com a enzima de restrição HaeIII. Foi utilizado como marcador de peso molecular o 100pb Ladder. Legenda: 1- 1975/M2903, 2- LTCP 19446, 3- LTCP 19512, 4- LTCP 16907, 5- LTCP 16012, 6- 2006/PPS, 7- 2006/BES, 8- 2003/IMG, 9- 2006/EFSF, 10- 2005/WSS e 11- 2006/HPV.

Page 40: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

39

4.2 ATIVIDADE DA MILTEFOSINA CONTRA PROMASTIGOTAS DE L. (V.)

braziliensis IN VITRO

A suscetibilidade à miltefosina dos isolados de L. (V.) braziliensis foi

determinada utilizando o método do MTT conforme descrito em Material e Métodos.

Na Tabela 4 são apresentados os valores de CI50 (concentração de miltefosina que

inibe o crescimento dos parasitas em 50%) da cepa referência e dos 10 isolados

clínicos. Os valores de CI50 dos isolados variaram entre 22,93 ± 3,74 μM para o

isolado LCTP 16012 e 144,2 ± 16,08 μM para o isolado 2006/EFSF. A média dos

valores de CI50 dos isolados foi de 65,14 ± 36,21 e o valor de CI50 para a cepa

referência 1975/M2903 foi de 53,48 ± 6,63 μM. Dos 10 isolados avaliados, dois

deles, LCTP 16907 e 2006/EFSF, apresentaram valores de CI50 significativamente

maiores quando comparados com a cepa referência 1975/M2903 (p<0.0001 ANOVA

e Tukey’s “multiple comparison test”) (Figura 7A). Além disso, o isolado 2006/ESFS

também mostrou valor significativamente maior quando comparado com os demais

isolados (p<0.0001 ANOVA e Tukey’s “multiple comparison test”) (Figura 7A). Os

isolados, LCTP 16907 e 2006/EFSF, apresentaram valores de CI50 de 1,9 e 2,7

vezes maiores que a cepa referência 1975/M2903 respectivamente (Tabela 4). Por

outro lado, os isolados LTCP 16012 e LTCP 19512, apresentaram valores

significativamente menores de CI50 quando comparados com a cepa referência

(p<0.0001 ANOVA e Tukey’s “multiple comparison test”) (Figura 7A). Em relação aos

demais isolados, apenas 2006/HPV e 2003/IMG não apresentaram valores de CI50

significativamente diferentes da cepa referência (p<0.0001 ANOVA e Tukey’s

“multiple comparison test”). Baseando-se nesta análise, os isolados foram separados

em grupos de acordo com seu valor de CI50. Estes foram divididos em três grupos:

entre 20 e 49 µM, 50 e 99 µM e o último, entre 100 e 200 µM. Todos os grupos

foram estatisticamente diferentes quando comparados entre si (p<0.0001 ANOVA e

Tukey’s “multiple comparison test”) (Figura 8).

Foi calculada também a CI90 (concentração de miltefosina que inibe o

crescimento dos parasitas em 90%) dos isolados clínicos e sua média foi de 99,14 ±

67,48. O valor para a cepa referência 1975/M2903 foi de 70,12 ± 7,67 (Tabela 4 e

Figura 7B). Os valores variaram entre 30,87 ± 6,39 para o isolado LTCP 16012 e

277,05 ± 16,28 para o isolado 2006/EFSF, sendo a diferença entre estes dois

valores significativa (p<0.0001 ANOVA e Tukey’s “multiple comparison test”).

Page 41: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

40

Tabela 4- Atividade in vitro da miltefosina contra as formas promastigotas dos isolados clínicos de L. (V.) braziliensis.

Isolado CI50 ± S.D. (µM) CI90 ± S.D. (µM) IR CI50

MHOM/BR/1975/2903 53,48 ± 6,63 70,17 ± 7,67 1

MHOM/BR/2006/BES6 62,25 ± 13,54 92,9 ± 13,33 1,16

MHOM/BR/2006/ESF6 144,2 ± 16,08 277,05 ± 16,28 2,69

MHOM/BR/2005/WSS 39,93 ± 4,19 75,88 ±2,97 0,75

MHOM/BR/2006/HPV 65,17 ± 3,74

78,28 ± 2,12 1,22

MHOM/BR/2006/PPS 59,83 ± 4,72

73,64 ± 4,80 1,12

MHOM/BR/2003/IMG 50,99 ± 6,71

76,06 ± 2,85 0,95

LCTP 16907 101,24 ± 5,96

133,6 ± 12,02 1,89

LCTP 19512 26,12 ± 1,58

41,54 ± 2,99 0,45

LCTP 19446 90,43 ± 5,12 140,33 ± 16,42 1,69

LCTP 16012 22,93 ± 3,74 30,87 ± 6,39 0,42

Média de 3 experimentos independentes realizados em triplicata. * O índice de resistência foi calculado dividindo-se o valor médio de CI50 de cada isolado pelo valor médio de CI50 da cepa referência 2903.

Page 42: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

41

19775/M

2903

2006/H

PV

2005/W

SS

2006/P

PS

LC

TP

16907

LC

TP

19512

LC

TP

19446

2003/IM

G

LC

TP

16012

2006/E

FS

F

2006/B

ES

0

5 0

1 0 0

1 5 0

CI 5

0 (

M)

1975/M

2903

2006/H

PV

2005/W

SS

2006/P

PS

LC

TP

16907

LC

TP

19512

LC

TP

19446

2003/IM

G

LC

TP

16012

2006/E

FS

F

2006/B

ES

0

1 0 0

2 0 0

3 0 0

4 0 0

CI 9

0 (

M)

Figura 7 – Suscetibilidade à miltefosina de formas promastigotas dos 10 isolados clínicos e da cepa referência 1975/M2903 utilizados neste estudo. (A) Média dos valores de CI50. (B) Média dos valores de CI90 determinados pelo teste de MTT.

A

B

Page 43: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

42

20-4

9 M

50-9

9 M

100-2

00

M

0

5 0

1 0 0

1 5 0C

I 50 (

M)

*

*

*

Figura 8 – Suscetibilidade à miltefosina das formas promastigotas dos 10 isolados clínicos de L. (V.) braziliensis. Os isolados foram agrupados de acordo com a suscetibilidade ao fármaco (Azul: 20-45 µM), (Verde: 50-99 µM), (Bege: 100-200µM). O ponto em vermelho representa a cepa referência 1975/M2903 Os grupos são estatisticamente diferentes quando comparados entre si. *p<0.0001 ANOVA e Tukey’s “multiple comparison test”.

4.3 AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE DA MILTEFOSINA CONTRA AMASTIGOTAS

INTRACELULARES DOS ISOLADOS CLÍNICOS DE L. (V.) braziliensis

4.3.1. Citotoxicidade da miltefosina para macrófagos medulares

Inicialmente, a citotoxicidade da miltefosina para os macrófagos medulares foi

avaliada de modo a determinar qual a maior concentração a ser utilizada nos testes

in vitro de infecção e tratamento dos macrófagos infectados. Macrófagos derivados

de medula óssea foram incubados em concentrações crescentes de miltefosina e

sua suscetibilidade foi avaliada utilizando o teste do MTT. Foi observado que em

concentrações acima de 40 μM a porcentagem de células viáveis diminui

drasticamente (Figura 9). Estas células apresentaram um CC50 de 46,55 ± 3,86.

Estes achados foram confirmados por microscopia de luz dos macrófagos tratados

Page 44: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

43

com miltefosina e foi observada uma redução significativa na viabilidade e

sobrevivência dos macrófagos a partir de 40 µM (dados não mostrados).

0 510

20

40

80

120

160

0

5 0

1 0 0

1 5 0

2 0 0

M ilte fo s in a (µ M )

% s

ob

re

viv

ên

cia

A

-1 0 1 2 3

0

5 0

1 0 0

1 5 0

2 0 0

% s

ob

re

viv

ên

cia

B

L o g d a c o n c e n tra ç ã o d e m ilte fo s in a (µ M )

Figura 9 – Suscetibilidade de macrófagos medulares à miltefosina. Porcentagem de sobrevivência dos macrófagos medulares em diferentes concentrações de miltefosina (A). Curva sigmoidal refletindo o decaimento da viabilidade celular quando há aumento da exposição à miltefosina (B). Média de 3 experimentos independentes realizados em triplicata.

4.3.2. Atividade da miltefosina contra amastigotas intracelulares de L. (V.)

braziliensis

Para avaliar a atividade da miltefosina em amastigotas intracelulares,

macrófagos medulares foram infectados com formas promastigotas de fase

estacionária de crescimento, de 7 isolados e da cepa referência de L. (V.)

braziliensis e então incubados em concentrações crescentes de miltefosina. A

proporção escolhida para uso nas infecções foi de 30 parasitas por macrófago. Foi

observado que os isolados apresentaram variabilidade nas taxas de infecção que

variaram entre 33 e 77% (Figura 10).

Page 45: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

44

M2903

WS

S-5

PP

S-6

LT

CP

16907

LT

CP

19446

LT

CP

16012

EF

SF

-6

BE

S-6

0

2 0

4 0

6 0

8 0

1 0 0

% i

nfe

ão

Figura 10 - Porcentagens de infecção obtidas para os isolados clínicos de L. (V.) braziliensis. Estão representados a taxa de infecção obtida em dois ou mais experimentos realizados em duplicata.

A atividade da miltefosina contra as formas amastigotas foi determinada pelo

índice de infecção dos isolados clínicos. Na Figura 11, pode-se observar que os

macrófagos infectados tratados com miltefosina apresentaram redução na

porcentagem de infecção e no número de amastigotas por macrófago de maneira

dose dependente. Resultados similares foram observados para os isolados clínicos

avaliados. Pode-se observar ainda, na mesma figura, que na concentração de 25

µM, não haviam mais macrófagos infectados pela cepa referência 1975/M2903. Os

valores de CI50 dos isolados variaram entre 0,84 ± 0,09 e 4,25 ± 0,25 µM (Tabela 5),

sendo significativamente diferentes entre si (p<0.0001 ANOVA e Tukey’s “multiple

comparison test”). O valor de CI50 encontrado para a cepa referência foi de 2,68 ±

0,22 (Tabela 5). A média dos valores de CI50 para as formas amastigotas foi de 2,58

± 1,23. Os resultados obtidos mostraram que os valores de CI50 dos isolados são

significativamente diferentes do valor de CI50 da cepa referência, com exceção do

isolado 2005/WSS (p<0.0001 ANOVA e Tukey’s “multiple comparison test”) (Figura

12A). A média dos valores de CI90 para as formas amastigotas foi de 7,36 ± 3,37 e o

valor para a cepa referência 1975/M2903 foi de 5,13 ± 1,09 (Figura 12B e Tabela 5).

Os valores variam entre 2,02 ± 0,22 (LTCP 16012) e 11,94 ± 0,42 (2006/EFSF)

conforme indicado na Tabela 5.

Page 46: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

45

Além disso, foi observado que os valores de CI50 para as formas amastigotas

da cepa referência e dos demais isolados foram significativamente menores quando

comparado com a CI50 das respectivas formas promastigotas (*p<0,0001Teste t não

pareado) (Figura 13).

Figura 11 – Suscetibilidade à miltefosina de amastigotas intracelulares de macrófagos tratados com miltefosina. Os macrófagos foram infectados com a cepa referência 1975/M2903 utilizando uma proporção de 30:1 por 4 horas e então incubados por 72 horas na presença de concentrações crescentes de miltefosina (A) 0µM; (B) 3µM; (C) 5µM; (D) 10µM; (E) 15µM; (F) 25µM (aumento de 400X).

Page 47: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

46

Tabela 5 - Atividade in vitro da miltefosina contra as formas amastigotas intracelulares dos isolados clínicos de L. (V.) braziliensis.

Isolado Número de

experimentos CI50 ± S.D. (µM) CI90 ± S.D. (µM) IR CI50

A

MHOM/BR/75/2903 9 2,68 ± 022 5,13 ± 1,09 1,00

MHOM/BR/2005/WSS 5 2,75 ± 0,42 6,93 ± 0,27 1,03

MHOM/BR/2006/PPS 3 1,24 ± 0,45 8,16 ± 1,59 0,46

MHOM/BR/2006/BES 2 1,68 ± 0,53 4,80 ± 1,26 0,62

MHOM/BR/2006/EFSF 2 3,47 ± 0,56 11,94 ± 1,12 1,29

LTCP 19446 4 4,25 ± 0,25 8,43 ± 2,10 1,58

LTCP 16907 4 3,34 ± 0,45 11,48 ±0,42 1,24

LTCP 16012 3 0,84 ± 0,09 2,02 ± 0,22 0,32

Média de experimentos independentes realizados em duplicata. A O índice de resistência foi calculado

dividindo-se o valor médio de CI50 de cada isolado pelo valor médio de CI50 da cepa referência M2903.

Page 48: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

47

1975/M

2903

2005/W

SS

2006/P

PS

LT

CP

16907

LT

CP

19446

LT

CP

16012

2006/E

FS

F

2006/B

ES

0

1

2

3

4

5

CI 5

0 (

M)

1975/M

2903

2005/W

SS

2006/P

PS

LT

CP

16907

LT

CP

19446

LT

CP

16012

2006/E

FS

F

2006/B

ES

0

5

1 0

1 5

CI 9

0 (

M)

Figura 12 – Suscetibilidade à miltefosina das formas amastigotas intracelulares dos sete isolados clínicos e da cepa referência 1975/M2903 de L. (V.) braziliensis. (A) Média dos valores de CI50. (B) Média dos valores de CI90.

B

A

Page 49: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

48

P r o m a s t ig o ta s A m a s t ig o ta s

0

5 0

1 0 0

1 5 0

2 0 0C

I 50

(

M)

*

Figura 13 – Suscetibilidade à miltefosina dos isolados clínicos e da cepa referência de L. (V.) braziliensis. Os valores de CI50 para as formas promastigotas e amastigotas estão indicados. O ponto em vermelho refere-se ao valor para a cepa referência. * p<0,0001 Teste t não pareado.

Page 50: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

49

5 DISCUSSÃO

A ausência de vacinas para a leishmaniose faz com que o tratamento da

doença seja seu principal meio de controle. O arsenal terapêutico disponível para o

tratamento da leishmaniose baseia-se em fármacos caros, tóxicos e de aplicação

intravenosa ou intramuscular que inviabilizam o tratamento para o paciente, que

muitas vezes o abandona. Os antimoniais pentavelentes, por exemplo, são fármacos

que foram introduzidos em 1945 e ainda são os fármacos de primeira escolha em

muitas regiões, inclusive no Brasil (CROFT; COOMBS, 2003a). Na Índia, por

exemplo, os antimoniais já se mostram ineficazes para o tratamento da leishmaniose

visceral (SUNDAR, 2001). Desse modo, é essencial a busca por novos fármacos

que sejam mais eficazes e com menos efeitos colaterais para o tratamento da

leishmaniose, reduzindo assim a desistência do tratamento e consequentemente a

potencial geração de cepas resistentes. A miltefosina, um fármaco de uso oral,

poderia ser uma melhor opção para o tratamento no Brasil, já que possibilitaria o

tratamento dos pacientes em casa e de forma indolor. No entanto, não existem

estudos que avaliem a eficácia da miltefosina para isolados brasileiros de L. (V.)

braziliensis, o que levou ao desenvolvimento deste trabalho.

Foram selecionados 10 isolados clínicos de L. (V.) braziliensis de diferentes

regiões geográficas do Brasil que foram previamente identificados e confirmados

como pertencentes a esta espécie do parasito. O método de identificação dos

isolados foi baseado na amplificação por PCR de dois marcadores moleculares

previamente descritos na literatura como capazes de discriminar as principais

espécies do parasito, inclusive aquelas que são endêmicas no Brasil. O método

descrito por Cupolillo et al (1995), consiste na amplificação da região do ITS do DNA

ribossomal seguido da digestão com enzimas de restrição permitindo discriminar as

diferentes espécies de Leishmania devido a presença de polimorfismos nos

fragmentos de restrição. Este método mostrou-se eficaz para diferenciar L. (V.)

braziliensis e L. (L.) amazonensis, principais espécies causadoras da leishmaniose

cutânea no Brasil (LAINSON; SHAW, 1987). No entanto, os padrões de fragmentos

obtidos por este método não foram suficientes para distinguir as espécies

pertencentes ao subgênero Viannia que também são responsáveis por causar a

doença no Brasil. Os padrões de fragmentos foram semelhantes entre as espécies

do subgênero Viannia, necessitando um segundo método para a discriminação

Page 51: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

50

destas espécies. Optou-se então por amplificar o gene hsp70 conforme descrito por

Montalvo et al (2012). Foi possível diferenciar as principais espécies do subgênero

Viannia com uma melhor precisão. Desta forma, estabeleceu-se no laboratório que

para a identificação dos isolados seria necessário o uso de ambos os marcadores

(ITS e hsp70) para a identificação das espécies de Leishmania. Os padrões de

fragmentos obtidos com a enzima de restrição HaeIII apresentaram foram os

mesmos para todos os isolados e para a cepa referência, indicando que os isolados

utilizados neste estudo eram L. (V.) braziliensis.

Estudos prévios já demonstraram que existe variação de suscetibilidade à

miltefosina entre as espécies de Leishmania (ESCOBAR et al., 2002; SANTA-RITA

et al., 2004; YARDLEY et al., 2005; SANCHEZ-CANETE et al., 2009; MORAIS-

TEIXEIRA et al., 2011), o que justifica a importância para que as espécies sejam

previamente identificadas e que garante uma maior chance de eficácia no

tratamento da doença. Uma vez identificados os isolados clínicos como L. (V.)

braziliensis, foi avaliada a suscetibilidade in vitro destes isolados à miltefosina.

Embora ainda não aprovada para o uso no tratamento da leishmaniose no Brasil,

este fármaco tem grande potencial de vir a ser utilizado no tratamento da doença

fazendo-se extremamente necessário avaliar a suscetibilidade de isolados

brasileiros à miltefosina. Inicialmente foi avaliada a suscetibilidade das formas

promastigotas do parasita. Foi observada uma grande variabilidade entre os

isolados, com valores de CI50 que variaram de 22,93 ± 3,74 a 144,2 ± 16,08 µM.

Estes dados mostram uma variação de suscetibilidade das formas promastigotas

maior quando comparados com isolados de L. (V.) braziliensis do Peru que

apresentaram valores de CI50 que variaram entre 54 e 73 µM (YARDLEY et al.,

2005). Obonaga et al (2014) avaliou a suscetibilidade de isolados de L. (V.)

braziliensis antes e depois do tratamento clínico com miltefosina e encontrou valores

de CI50 em promastigotas próximo à média dos isolados avaliados neste trabalho,

sendo o valor médio de CI50 de 56 µM para esses isolados de L.(V) braziliensis. As

formas promastigotas de L. (V.) braziliensis se mostraram pouco sensíveis à

miltefosina, como previamente observado por Yardley et al (2005) e Sanchez-

Canete (2009) quando comparados com outras espécies do subgênero Leishmania

(ESCOBAR et al, 2012; SANTA-RITA et al., 2004). Estudos clínicos mostram taxas

de cura diferentes para L. (V.) braziliensis, 83% na Bolívia e menos de 50% na

Page 52: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

51

Guatemala (SOTO et al., 2007). Estes dados sugerem que isolados de L. (V.)

braziliensis podem apresentar diferenças de sucetibilidade in vitro. Desse modo, a

eficácia do fármaco em uma região não pode ser considerada em outra região

endêmica, mesmo se tratando da mesma espécie (SOTO et al., 2008) sendo

importante avaliar a suscetibilidade dos isolados da região antes da implementação

do fármaco. A separação dos isolados em grupos evidenciou que dentre os isolados

existem isolados mais sensíveis (20-49 µM), menos sensíveis (100-200 µM) e um

grupo intermediário de isolados (50-99 µM). Esta diversidade na suscetibilidade à

miltefosina nos isolados clínicos pode estar relacionada com a grande

heterogeneidade genética intraespecífica de L. (V.) braziliensis (CUPOLILLO et al.,

2003). É importante salientar que os isolados não foram previamente expostos à

miltefosina e que portanto, a baixa suscetibilidade encontrada é intrínseca a alguns

isolados avaliados neste estudo. Além disso, foi observado que os isolados

2006/HPV e LTCP 16012 possuem rápido decaimento da viabilidade celular em

concentrações maiores que a de CI50, atingindo a CI90 com um aumento pequeno da

concentração de miltefosina, enquanto que os isolados 1975/M2903, 2006/BES,

2006/EFSF, 2005/WSS, 2006/PPS, 2003/IMG, LTCP 16907, LTCP 19512 e LTCP

19446 apresentam queda apenas em concentrações mais elevadas. É provável que

essas características devam interferir nos aspectos de suscetibilidade à miltefosina

assim como na geração de parasitos resistentes.

De maneira similar, as formas amastigotas intracelulares dos isolados clínicos

também apresentaram variação na suscetibilidade. Observou-se ainda que a

porcentagem de infecção variou entre 33 e 77% para os isolados estudados. Devido

a este fato, optou-se por utilizar a proporção de infecção de 30:1. Esta proporção é

maior do que a utilizada, por exemplo, por Morais-Teixeira et al (2011), que infectou

macrófagos em uma proporção 10:1. Porém, neste estudo foram utilizados

macrófagos extraídos de peritônio, enquanto que neste trabalho foram utilizados

macrófagos derivados de medula. Sabe-se que existe diferença de infectividade

para diferentes linhagens celulares de macrófagos (ZAULI-NASCIMENTO et al.,

2010) e que podem portanto explicar essas diferenças de infectividade. As formas

amastigotas dos isolados de L. (V.) braziliensis se mostraram mais sensíveis à

miltefosina quando comparadas com as respectivas formas promastigotas. Esta

diferença foi observada por Santa-Rita et al (2000), Azzouz et al (2005) e Obonaga

Page 53: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

52

et al (2014). Segundo Azzouz et al (2005), essa diferença pode ser explicada pelo

fato da miltefosina aumentar a citotoxicidade dos macrófagos contribuindo assim

para a morte do parasita no interior da célula infectada.

A média do valor de CI50 para as formas amastigotas dos isolados foi de 2,58

± 1,23, sendo menor do que o observado para outras espécies de Leishmania

(ESCOBAR et al., 2002; SANTA-RITA et al., 2004; YARDLEY et al., 2005; MORAIS-

TEIXEIRA et al., 2011) e para L. (V.) braziliensis (OBONAGA et al., 2014;

SANCHEZ-CANETE et al., 2009). Interessantemente, foi demonstrado por Obonaga

et al (2014) que apenas concentrações de 32 µM de miltefosina resultava em 100%

de tratamento para os isolados clínicos sensíveis à miltefosina. Por outro lado, os

amastigotas de isolados menos suscetíveis mostraram-se refratários a essa mesma

concentração de miltefosina utilizada (OBONAGA et al., 2014). Diferentemente,

neste estudo foi observado que o tratamento dos macrófagos medulares infectados

com a miltefosina levou a ausência de amastigotas na concentração a partir de 25

µM em todos os isolados clínicos, tanto os mais suscetíveis quanto os menos

suscetíveis. Os resultados obtidos aqui sugerem que existe uma correlação entre a

CI50 das formas promastigotas e das formas amastigotas, porém para se avaliar

corretamente se existe ou não correlação, um número maior de isolados devem ser

avaliados.

Devido aos diversos problemas dos fármacos atualmente utilizados para o

tratamento da leishmaniose, a pesquisa por alternativas mais eficazes é altamente

necessária. O uso parenteral dos fármacos de primeira e segunda escolha no Brasil,

pode resultar em abandono do tratamento pelo paciente. Desse modo, a

possibilidade de utilização de um fármaco oral reduziria esse problema resultando

em uma maior adesão ao tratamento e consequentemente na redução do

desenvolvimento de parasitas resistentes. Os resultados obtidos mostraram que

alguns isolados apresentaram uma resistência intrínseca à miltefosina, sugerindo a

importância de se investigar a suscetibilidade antes de iniciar o tratamento do

paciente com o fármaco. O trabalho pode contribuir desse modo, para a avaliação

da miltefosina como um possível fármaco para o tratamento da leishmaniose

cutânea no Brasil, que poderia ser utilizada como alternativa aos fármacos

Page 54: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

53

atualmente utilizados. Faz-se necessário, no entanto, mais estudos que avaliem um

número maior de isolados clínicos brasileiros.

Por fim, este trabalho é um dos pioneiros a apresentar dados sobre a

suscetibilidade de isolados brasileiros de pacientes com leishmaniose cutânea

causada por L. (V.) braziliensis, levantando novos questionamentos para estudos

futuros, como por exemplo, as bases moleculares da resistência intrínseca à

miltefosina encontrada em isolados clínicos.

Page 55: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

54

6 CONCLUSÕES

Os isolados clínicos foram identificados molecularmente através da

amplificação da região do ITS e do gene hsp70 seguido de digestão com a enzima

de restrição HaeIII. Todos eles foram tipados como L. (V.) braziliensis.

O padrão de restrição com HaeIII do gene hsp70 obtido permitiu diferenciar as

principais espécies do subgênero Viannia.

Os 10 isolados clínicos de L. (V.) braziliensis apresentaram variabilidade na

suscetibilidade à miltefosina.

As formas amastigotas intracelulares são mais suscetíveis à miltefosina que

as respectivas formas promastigotas.

Page 56: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

55

REFERÊNCIAS

AKOPYANTS, N. S.; KIMBLIN, N.; SECUNDINO, N.; PATRICK, R.; PETERS, N.; LAWYER, P.; DOBSON, D. E.; BEVERLEY, S. M.; SACKS, D. L. Demonstration of genetic exchange during cyclical development of Leishmania in the sand fly vector. Science, v. 324, n. 5924, p. 265-268, 2009. ALVAR, J.; VELEZ, I. D.; BERN, C.; HERRERO, M.; DESJEUX, P.; CANO, J.; JANNIN, J.; DEN BOER, M. Leishmaniasis worldwide and global estimates of its incidence. PLoS One, v. 7, n. 5, p. e35671, 2012. ASHFORD, R. W. The leishmaniases as emerging and reemerging zoonoses. Int J Parasitol, v. 30, n. 12-13, p. 1269-1281, 2000.

AZZOUZ, S.; MAACHE, M.; GARCIA, R. G.; OSUNA, A. Leishmanicidal activity of edelfosine, miltefosine and ilmofosine. Basic Clin Pharmacol Toxicol, v. 96, n. 1, p. 60-65, 2005. BATES, P. A. The developmental biology of Leishmania promastigotes. Exp Parasitol, v. 79, n. 2, p. 215-218, 1994. CASTILHO, T. M.; SHAW, J. J.; FLOETER-WINTER, L. M. New PCR assay using glucose-6-phosphate dehydrogenase for identification of Leishmania species. J Clin Microbiol, v. 41, n. 2, p. 540-546, 2003. CHRUSCIAK-TALHARI, A.; DIETZE, R.; CHRUSCIAK TALHARI, C.; DA SILVA, R. M.; GADELHA YAMASHITA, E. P.; DE OLIVEIRA PENNA, G.; LIMA MACHADO, P. R.; TALHARI, S. Randomized controlled clinical trial to access efficacy and safety of miltefosine in the treatment of cutaneous leishmaniasis Caused by Leishmania (Viannia) guyanensis in Manaus, Brazil. The American Journal of Tropical Medicine and Hygienev. 84, n. 2, p. 255-260, 2011.

CROFT, S. L.; COOMBS, G. H. Leishmaniasis- current chemotherapy and recent advances in the search for novel drugs. Trends Parasitol, v. 19, n. 11, p. 502-508, 2003a. CROFT, S. L.; SEIFERT, K.; DUCHENE, M. Antiprotozoal activities of phospholipid analogues. Mol Biochem Parasitol, v. 126, n. 2, p. 165-172, 2003b. CROFT, S. L.; ENGEL, J. Miltefosine--discovery of the antileishmanial activity of phospholipid derivatives. Trans R Soc Trop Med Hyg, v. 100 Suppl 1, n., p. S4-8,

2006. CROFT, S. L.; OLLIARO, P. Leishmaniasis chemotherapy--challenges and opportunities. Clinical Microbiology and Infection, v. 17, n. 10, p. 1478-1483,

2011.

Page 57: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

56

CUPOLILLO, E.; GRIMALDI JUNIOR, G.; MOMEN, H.; BEVERLEY, S. M. Intergenic region typing (IRT): a rapid molecular approach to the characterization and evolution of Leishmania. Mol Biochem Parasitol, v. 73, n. 1-2, p. 145-155, 1995. CUPOLILLO, E.; BRAHIM, L. R.; TOALDO, C. B.; DE OLIVEIRA-NETO, M. P.; DE BRITO, M. E.; FALQUETO, A.; DE FARIAS NAIFF, M.; GRIMALDI, G., JR. Genetic Polymorphism and Molecular Epidemiology of Leishmania (Viannia) braziliensis from Different Hosts and Geographic Areas in Brazil. J Clin Microbiol, v. 41, n. 7, p.

3126-3132, 2003. DESJEUX, P. Leishmaniasis: current situation and new perspectives. Comparative Immunology, Microbiology & Infectious Disease, v. 27, n. 5, p. 305-318, 2004.

DORLO, T. P.; BALASEGARAM, M.; BEIJNEN, J. H.; DE VRIES, P. J. Miltefosine: a review of its pharmacology and therapeutic efficacy in the treatment of leishmaniasis. Journal of Antimicrobial Chemotherapy, v. 67, n. 11, p. 2576-2597, 2012.

ESCOBAR, P.; MATU, S.; MARQUES, C.; CROFT, S. L. Sensitivities of Leishmania species to hexadecylphosphocholine (miltefosine), ET-18-OCH(3) (edelfosine) and amphotericin B. Acta Tropicav. 81, n. 2, p. 151-157, 2002.

FERNANDEZ, O. L.; DIAZ-TORO, Y.; OVALLE, C.; VALDERRAMA, L.; MUVDI, S.; RODRIGUEZ, I.; GOMEZ, M. A.; SARAVIA, N. G. Miltefosine and antimonial drug susceptibility of Leishmania Viannia species and populations in regions of high transmission in Colombia. PLoS Negl Trop Dis, v. 8, n. 5, p. e2871, 2014. HEPBURN, N. C. Cutaneous leishmaniasis. Clinical and Experimental Dermatology, v. 25, n. 5, p. 363-370, 2000.

JHA, T. K.; SUNDAR, S.; THAKUR, C. P.; BACHMANN, P.; KARBWANG, J.; FISCHER, C.; VOSS, A.; BERMAN, J. Miltefosine, an oral agent, for the treatment of Indian visceral leishmaniasis. N Engl J Med, v. 341, n. 24, p. 1795-1800, 1999.

LAINSON, R.; SHAW, J. J. Evolution, classification and geographical distribution. In: The Leishmaniasis in Biology and Medicine. London: Academic Press, 1987. v.1, p.1-120. MACHADO, P. R.; AMPUERO, J.; GUIMARAES, L. H.; VILLASBOAS, L.; ROCHA, A. T.; SCHRIEFER, A.; SOUSA, R. S.; TALHARI, A.; PENNA, G.; CARVALHO, E. M. Miltefosine in the treatment of cutaneous leishmaniasis caused by Leishmania braziliensis in Brazil: a randomized and controlled trial. PLoS Neglected Tropical Diseases, v. 4, n. 12, p. e912, 2010.

MARFURT, J.; NASEREDDIN, A.; NIEDERWIESER, I.; JAFFE, C. L.; BECK, H. P.; FELGER, I. Identification and differentiation of leishmania species in clinical samples by PCR amplification of the miniexon sequence and subsequent restriction fragment length polymorphism analysis. J Clin Microbiol, v. 41, n. 7, p. 3147-3153, 2003.

MARTINEZ-CALVILLO, S.; SUNKIN, S. M.; YAN, S.; FOX, M.; STUART, K.; MYLER, P. J. Genomic organization and functional characterization of the Leishmania major

Page 58: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

57

Friedlin ribosomal RNA gene locus. Mol Biochem Parasitol, v. 116, n. 2, p. 147-157, 2001. MEDINA-ACOSTA, E.; CROSS, G. A. Rapid isolation of DNA from trypanosomatid protozoa using a simple 'mini-prep' procedure. Mol Biochem Parasitol, v. 59, n. 2, p. 327-329, 1993. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual de vigilância da leishmaniose tegumentar americana: secondary title. Brasília: Editora MS, 2007. Disponível em: <http://www.crmv-mt.org.br/images/bt-arise/Artigos/manual_lta_2ed.pdf>. Acesso em: 17 Nov. 2014. MONTALVO, A. M.; FRAGA, J.; MAES, I.; DUJARDIN, J. C.; VAN DER AUWERA, G. Three new sensitive and specific heat-shock protein 70 PCRs for global Leishmania species identification. European Journal of Clinical Microbiology, v. 31, n. 7, p. 1453-1461, 2012. MORAIS-TEIXEIRA, E.; DAMASCENO, Q. S.; GALUPPO, M. K.; ROMANHA, A. J.; RABELLO, A. The in vitro leishmanicidal activity of hexadecylphosphocholine (miltefosine) against four medically relevant Leishmania species of Brazil. Mem Inst Oswaldo Cruz, v. 106, n. 4, p. 475-478, 2011. MURRAY, H. W.; BERMAN, J. D.; DAVIES, C. R.; SARAVIA, N. G. Advances in leishmaniasis. The Lancet, v. 366, n. 9496, p. 1561-1577, 2005.

NEUBER, H. Leishmaniasis. J Dtsch Dermatol Ges, v. 6, n. 9, p. 754-765, 2008.

OBONAGA, R.; FERNANDEZ, O. L.; VALDERRAMA, L.; RUBIANO, L. C.; CASTRO MDEL, M.; BARRERA, M. C.; GOMEZ, M. A.; GORE SARAVIA, N. Treatment failure and miltefosine susceptibility in dermal leishmaniasis caused by Leishmania subgenus Viannia species. Antimicrob Agents Chemother, v. 58, n. 1, p. 144-152, 2014 PERES, L. A. B.; DELFINO, V. D. A.; MOCELIN, A. J.; TUTIDA, L. A.; FAVERO, M. E.; MATSUO, T. Padronização do Teste do MTT em Modelo de Preservação a Frio como Instrumento de Avaliação da Viabilidade Celular Renal. Jornal brasileiro de nefrologia, v. 30, n. 1, p. 48-45, 2008. PEREZ, J. E.; VELAND, N.; ESPINOSA, D.; TORRES, K.; OGUSUKU, E.; LLANOS-CUENTAS, A.; GAMBOA, D.; AREVALO, J. Isolation and molecular identification of Leishmania (Viannia) peruviana from naturally infected Lutzomyia peruensis (Diptera: Psychodidae) in the Peruvian Andes. Mem Inst Oswaldo Cruz, v. 102, n. 5, p. 655-

658, 2007. RAMIREZ, C. A.; REQUENA, J. M.; PUERTA, C. J. Identification of the HSP70-II gene in Leishmania braziliensis HSP70 locus: genomic organization and UTRs characterization. Parasit Vectors, v. 4, n., p. 166, 2011.

Page 59: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

58

RANGEL, E. F.; LAINSON, R. Proven and putative vectors of American cutaneous leishmaniasis in Brazil: aspects of their biology and vectorial competence. Mem Inst Oswaldo Cruz, v. 104, n. 7, p. 937-954, 2009. REY, L. Leishmania e Leishmaníases: Os Parasitos. In: Parasitologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008, p.359-371. RIJAL, S.; OSTYN, B.; URANW, S.; RAI, K.; BHATTARAI, N. R.; DORLO, T. P.; BEIJNEN, J. H.; VANAERSCHOT, M.; DECUYPERE, S.; DHAKAL, S. S.; DAS, M. L.; KARKI, P.; SINGH, R.; BOELAERT, M.; DUJARDIN, J. C. Increasing failure of miltefosine in the treatment of kala-azar in Nepal and the potential role of parasite drug resistance, reinfection, or noncompliance. Clin Infect Dis, v. 56, n. 11, p. 1530-

1538, 2013. ROBERTS, L. S.; JANOVY, J. Kinetoplast: Trypanossomes and their kin. In: Foundations of Parasitology. Nova Iorque: McGraw Hill, 2009, p.77-86.

RUBIANO, L. C.; MIRANDA, M. C.; MUVDI ARENAS, S.; MONTERO, L. M.; RODRIGUEZ-BARRAQUER, I.; GARCERANT, D.; PRAGER, M.; OSORIO, L.; ROJAS, M. X.; PEREZ, M.; NICHOLLS, R. S.; GORE SARAVIA, N. Noninferiority of miltefosine versus meglumine antimoniate for cutaneous leishmaniasis in children. J Infect Dis, v. 205, n. 4, p. 684-692, 2012.

SANCHEZ-CANETE, M. P.; CARVALHO, L.; PEREZ-VICTORIA, F. J.; GAMARRO, F.; CASTANYS, S. Low plasma membrane expression of the miltefosine transport complex renders Leishmania braziliensis refractory to the drug. Antimicrob Agents Chemother, v. 53, n. 4, p. 1305-1313, 2009. SANTA-RITA, R. M.; SANTOS BARBOSA, H.; MEIRELLES, M. N.; DE CASTRO, S. L. Effect of the alkyl-lysophospholipids on the proliferation and differentiation of Trypanosoma cruzi. Acta Trop, v. 75, n. 2, p. 219-228, 2000. SANTA-RITA, R. M.; HENRIQUES-PONS, A.; BARBOSA, H. S.; DE CASTRO, S. L. Effect of the lysophospholipid analogues edelfosine, ilmofosine and miltefosine against Leishmania amazonensis. Journal of Antimicrobial Chemotherapy, v. 54, n. 4, p. 704-710, 2004. SOTO, J.; ARANA, B. A.; TOLEDO, J.; RIZZO, N.; VEGA, J. C.; DIAZ, A.; LUZ, M.; GUTIERREZ, P.; ARBOLEDA, M.; BERMAN, J. D.; JUNGE, K.; ENGEL, J.; SINDERMANN, H. Miltefosine for new world cutaneous leishmaniasis. Clinical Infectious Diseases, v. 38, n. 9, p. 1266-1272, 2004. SOTO, J.; BERMAN, J. Treatment of New World cutaneous leishmaniasis with miltefosine. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine & Hygine, v.

100, p. 34-40, 2006. SOTO, J.; TOLEDO, J.; VALDA, L.; BALDERRAMA, M.; REA, I.; PARRA, R.; ARDILES, J.; SOTO, P.; GOMEZ, A.; MOLLEDA, F.; FUENTELSAZ, C.; ANDERS, G.; SINDERMANN, H.; ENGEL, J.; BERMAN, J. Treatment of Bolivian mucosal leishmaniasis with miltefosine. Clin Infect Dis, v. 44, n. 3, p. 350-356, 2007.

Page 60: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE … · Ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, mais precisamente ao Departamento de Parasitologia,

59

SOTO, J.; REA, J.; BALDERRAMA, M.; TOLEDO, J.; SOTO, P.; VALDA, L.; BERMAN, J. D. Efficacy of miltefosine for Bolivian cutaneous leishmaniasis. Am J Trop Med Hyg, v. 78, n. 2, p. 210-211, 2008.

SPITHILL, T. W.; GRUMONT, R. J. Identification of species, strains and clones of Leishmania by characterization of kinetoplast DNA minicircles. Mol Biochem Parasitol, v. 12, n. 2, p. 217-236, 1984.

SUNDAR, S. Drug resistance in Indian visceral leishmaniasis. Tropical Medicine & International Health, v. 6, n. 11, p. 849-854, 2001. SUNDAR, S.; JHA, T. K.; THAKUR, C. P.; ENGEL, J.; SINDERMANN, H.; FISCHER, C.; JUNGE, K.; BRYCESON, A.; BERMAN, J. Oral miltefosine for Indian visceral leishmaniasis. N Engl J Med, v. 347, n. 22, p. 1739-1746, 2002. SUNDAR, S.; SINGH, A.; RAI, M.; PRAJAPATI, V. K.; SINGH, A. K.; OSTYN, B.; BOELAERT, M.; DUJARDIN, J. C.; CHAKRAVARTY, J. Efficacy of miltefosine in the treatment of visceral leishmaniasis in India after a decade of use. Clin Infect Dis, v. 55, n. 4, p. 543-550, 2012. VELEZ, I.; LOPEZ, L.; SANCHEZ, X.; MESTRA, L.; ROJAS, C.; RODRIGUEZ, E. Efficacy of miltefosine for the treatment of American cutaneous leishmaniasis. Am J Trop Med Hyg, v. 83, n. 2, p. 351-356, 2010.

WHO. Leishmaniasis. 2014. Disponível em:

<http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs375/en/>. Acesso em: 17 Nov. 2014. YARDLEY, V.; CROFT, S. L.; DE DONCKER, S.; DUJARDIN, J. C.; KOIRALA, S.; RIJAL, S.; MIRANDA, C.; LLANOS-CUENTAS, A.; CHAPPUIS, F. The sensitivity of clinical isolates of Leishmania from Peru and Nepal to miltefosine. Am J Trop Med Hyg, v. 73, n. 2, p. 272-275, 2005.

ZAMBONI, D. S.; RABINOVITCH, M. Nitric oxide partially controls Coxiella burnetii phase II infection in mouse primary macrophages. Infect Immun, v. 71, n. 3, p. 1225-1233, 2003. ZAULI-NASCIMENTO, R. C.; MIGUEL, D. C.; YOKOYAMA-YASUNAKA, J. K.; PEREIRA, L. I.; PELLI DE OLIVEIRA, M. A.; RIBEIRO-DIAS, F.; DORTA, M. L.; ULIANA, S. R. In vitro sensitivity of Leishmania (Viannia) braziliensis and Leishmania (Leishmania) amazonensis Brazilian isolates to meglumine antimoniate and amphotericin B. Tropical Medicine & International Health, v. 15, n. 1, p. 68-76,

2010.