13
UNIVERSIDADE POMPEU FABRA INSTITUTO UNIVERSITÁRIO DE CULTURA MÁSTER EM ESTUDOS COMPARADOS DE LITERATURA, ARTE E PENSAMENTO 30765-1 – Arte, Literatura y Filosofía Prof. Rafael Argullol Murgadas Aluna: Mariana Martins Pasini Data de entrega: 27.mar.2015 [email protected] TRABALHO FINAL DE DISCIPLINA O pacto demoníaco em “Fausto”, de J. W. Goethe, e em “Grande Sertão Veredas”, de J. Guimarães Rosa

UNIVERSIDADE POMPEU FABRA INSTITUTO … · UNIVERSIDADE POMPEU FABRA INSTITUTO UNIVERSITÁRIO DE CULTURA MÁSTER EM ESTUDOS COMPARADOS DE LITERATURA, ARTE E PENSAMENTO 30765-1 –

Embed Size (px)

Citation preview

UNIVERSIDADE POMPEU FABRA INSTITUTO UNIVERSITÁRIO DE CULTURA

MÁSTER EM ESTUDOS COMPARADOS DE LITERATURA, ARTE E PENSAMENTO

30765-1 – Arte, Literatura y Filosofía Prof. Rafael Argullol Murgadas

Aluna: Mariana Martins Pasini Data de entrega: 27.mar.2015

[email protected]

TRABALHO FINAL DE DISCIPLINA

O pacto demoníaco

em “Fausto”, de J. W.

Goethe, e em

“Grande Sertão

Veredas”, de J.

Guimarães Rosa

Introdução

O objetivo deste trabalho é analisar algumas diferenças e semelhanças entre as obras

“Fausto”, de J. W. Goethe, e “Grande Sertão: Veredas”, de J. Guimarães Rosa. O foco desta

análise ocorrerá, mais especificamente, na forma como cada autor utiliza a realização de um

pacto demoníaco dentro de sua obra.

Para realizarmos tal objetivo, dividimos o trabalho em algumas partes. Primeiramente,

precisamos apresentar brevemente alguns aspectos sobre a obra de Guimarães Rosa.

Centraremos as explicações apenas nesse livro pois ele não foi objeto de uma discussão tão

extensiva quando a obra de Goethe na disciplina à qual este trabalho está destinado e porque

o espaço de que dispomos é limitado. Depois disso, vamos enumerar algumas semelhanças e

diferenças entre os livros, dando especial atenção ao pacto demoníaco de cada um. Ao final,

vamos apresentar algumas conclusões possíveis.

“Grande Sertão: Veredas”, um monólogo reflexivo no interior do Brasil

“Grande Sertão: Veredas” foi escrito por João Guimarães Rosa (Cordisburgo, Minas

Gerais, 27 de junho de 1908 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 19 de novembro de 1967), que foi

médico, escritor e diplomata. Publicada pela primeira vez em 1956 no Brasil, a obra está quase

destinada mais a ser “ouvida” do que “lida”, com características poéticas muito destacadas

através dos jogos de palavras e significados que Guimarães Rosa empreende ao longo de suas

páginas. O próprio autor (ROSA, 2003, p. 115), em carta citada por Adriana Rodrigues Machado

(2008, p. 1)1, admite que o livro é “tanto um romance, quanto um poema grande, também”2. O

texto está muito próximo da oralidade e da tradição das narrativas orais, com recuos e avanços

próprios de histórias deste tipo (DURÃES, 1999, p. 146).

Trata-se de um livro muito complexo sobre o universo do Sertão, uma área central do

Brasil caracterizada por um clima bastante quente e árido, vegetação de pequeno porte,

bastante pobreza e uma riquíssima cultura local. Qualquer tentativa de esgotar todas as

possibilidades de interpretação desse livro é uma tarefa fadada ao fracasso, e ressaltamos que

essa não é nossa intenção aqui; ainda que estejamos focados apenas no aspecto do pacto

demoníaco, mesmo um único enfoque do livro não cessa de gerar novas interpretações.

“Grande Sertão: Veredas” está estruturado na forma de um grande monólogo, sem

capítulos ou intertítulos, que transcreve as falas do ex-jagunço3 Riobaldo a um interlocutor que

o ouve – o próprio leitor. Na descrição de Francieli Rossi (2011, p. 85), o diálogo entre o

interlocutor e Riobaldo “é apenas pressuposto e contido dentro do monólogo – iniciado e

nunca fechado pelo gráfico do texto, um travessão”. Não sabemos as características ou mesmo

as respostas e intervenções feitas por este interlocutor a não ser pelas reações que elas

causam no protagonista. Sabemos que se trata de um homem culto de origem urbana

(DURÃES, 1999, p. 144) e que,

1 As referencias bibliográficas deste trabalho foram realizadas de acordo com a Associação Brasileira de

Normas Técnicas (www.abnt.org.br). 2 ROSA, João Guimarães. Correspondência com seu tradutor alemão Curt Meyer-Clason (1958-1967).

Edição, org. e notas Maria Apparecida Faria Marcondes. Tradução José Paschoal. Rio de Janeiro: Nova Fronteira: Academia Brasileira de Letras; Belo Horizonte, MG: Ed. Da UFMG, 2003. Citado por ROSSI, 2011. 3 No Brasil, um jagunço é uma pessoa que protege e garante a segurança de lideranças políticas locais

principalmente da região Nordeste do Brasil. Ou seja, esse indivíduo faz parte de organizações paramilitares que correm em paralelo ao poder oficial nessas regiões.

“Anônima, essa pessoa veio de fora do sertão, procurando pelo ex-jagunço e dispondo-se a extrair dele a história de sua vida. [...] chegou de longe, da cidade, de jipe. Veio conhecê-lo e estimulá-lo a falar sobre as suas experiências. Usa óculos, tem o título de doutor e toma notas numa caderneta, incessantemente.” (ROSSI, 2011, p. 85).

O tema principal é a própria vida do protagonista, mas aqui e ali aparecem histórias de

outras pessoas. Durante boa parte de sua vida, Riobaldo encarnou um poder paralelo ao poder

oficial e legal da região do Sertão. Em outras palavras, ele foi uma espécie de bandido. Seu

melhor amigo e também grande amor é Reinaldo, ou Diadorim, um dos personagens mais

complexos de “Grande Sertão: Veredas”: Riobaldo sempre nutriu sentimentos difíceis de

interpretar em relação a ele, e só no final fica claro que Diadorim era na verdade uma mulher

disfarçada de homem.

Sem uma ordem cronológica definida, Riobaldo descreve passagens da sua vida de

forma espontânea, movido pelos sentimentos que o relato desperta, aproveitando também

para tecer algumas conclusões filosóficas. O resultado final é uma espécie de colcha de

retalhos formada por diversas passagens da vida do protagonista.

“O senhor sabe?: não acerto no contar, porque estou remexendo o vivido longe alto, com pouco caroço, querendo esquentar, demear, de feito, meu coração, naquelas lembranças. Ou quero enfiar a idéia, achar o rumozinho forte das coisas, caminho do que houve e do que não houve. Às vezes não é fácil. Fé que não é.” (ROSA, 1994, p. 242)

O próprio Riobaldo admite que seu relato tem falhas:

“Contar é muito, muito dificultoso. Não pelos anos que se já passaram. Mas pela astúcia que têm certas coisas passadas – de fazer balancê, de se remexerem dos lugares. O que eu falei foi exato? Foi. Mas teria sido? Agora, acho que nem não. São tantas horas de pessoas, tantas coisas em tantos tempos, tudo miúdo recruzado.” (ROSA, 1994, p. 253-254)

Para Fani Schiffer Durães (1999, p. 149), a narrativa é “o lugar onde ele vive suas

contradições e ao mesmo tempo produz novas”. Esta narrativa tem uma estrutura dinâmica,

que mistura presente e passado. Através de suas lembranças, que são para Durães (1999, p.

153) “uma espécie de meta-reflexão”, Riobaldo encontra uma posição mais distante em

relação à sua própria vida e pode então refletir sobre ela. “[...] Ele torna-se o ator e o

espectador ao mesmo tempo” (DURÃES, 1999, p. 153). Em nenhum momento da obra, porém,

o protagonista coloca suas opiniões de modo absoluto:

“Riobaldo [...] nunca se declara dono unipessoal da verdade acabada, opondo-se desta maneira à ingênua pretensão daqueles que pensam saber alguma coisa. Suas opiniões ficam sempre em aberto. Ele não pretende pregar uma moral com fins pedagógicos; ao contrario, ele questiona os posicionamentos sobre a vida e principalmente sobre a existência do mal. Toda sua vida se define então como uma realidade ambivalente, repleta de contradições, em que os princípios do bem e do mal constituem um todo complexo.” (DURÃES, 1999, p. 262)

O ponto alto da história da vida – e da narrativa – de Riobaldo é quando ele aceita

fazer um pacto com o diabo para derrotar Hermógenes, seu grande inimigo. Nessa ação, é

incentivado por Diadorim, já que o vilão matou o pai deste último. Havia um boato de que

Hermógenes tinha o corpo fechado, ou seja, não poderia ser ferido e sangrar em combate, o

que levou Riobaldo a concluir que só uma pessoa que tivesse o corpo fechado também poderia

derrotá-lo. É essa a ideia central de Riobaldo ao recorrer ao pacto: pedir ao Diabo que feche

seu corpo para ter qualquer chance de vitória frente a Hermógenes. Até o final da obra,

descobrimos dois fatos: Hermogenes é derrotado e Diadorim morre como consequência do

combate. O que não sabemos com certeza é também a grande dúvida de Riobaldo: o Diabo

existe mesmo?

Ao longo de todo o “livro-monólogo”, essa é a dúvida e o fardo que Riobaldo quer

expurgar de si. O protagonista precisa saber disso para entender sua real parcela de culpa nos

eventos que levaram à morte de Diadorim. Logo no começo da obra, ele expõe algumas ideias

para as quais precisa de confirmação, ainda que não se demonstre muito certo delas:

“Explico ao senhor: o diabo vige dentro do homem, os crespos do homem – ou é o homem arruinado, ou o homem dos avessos. Solto, por si, cidadão, é que não tem diabo nenhum. Nenhum! – é o que digo. O senhor aprova? Me declare tudo, franco – é alta mercê que me faz: e pedir posso, encarecido. Este caso – por estúrdio que me vejam – é de minha certa importância. Tomara não fosse... Mas, não diga que o senhor, assisado e instruído, que acredita na pessoa dele?! Não? Lhe agradeço! Sua alta opinião compõe minha valia. Já sabia, esperava por ela-já o campo! Ah, a gente, na velhice, carece de ter sua aragem de descanso. Lhe agradeço. Tem diabo nenhum. Nem espírito. Nunca vi. Alguém devia de ver, então era eu mesmo, este vosso servidor. Fosse lhe contar... Bem, o diabo regula seu estado preto, nas criaturas, nas mulheres, nos homens. Até: nas crianças – eu digo. Pois não é ditado: ‘menino – trem do diabo’? E nos usos, nas plantas, nas águas, na terra, no vento... Estrumes. ... O diabo na rua, no meio do redemunho...” (ROSA, 1994, p. 7)

A descrição do pacto em si também é cheia de ambiguidades e incertezas. O então

jagunço caminha até uma encruzilhada de caminhos em um lugar chamado Veredas-Mortas,

refletindo sobre o que realmente estava buscando: “E, o que era que eu queria? Ah, acho que

não queria mesmo nada, de tanto que eu queria só tudo. Uma coisa, a coisa, esta coisa: eu

somente queria era – ficar sendo!” (ROSA, 1994, p. 599). Riobaldo grita no meio da escuridão

para chamar a atenção do Diabo, que não aparece para confirmar o acordo:

“Sapateei, então me assustando de que nem gota de nada sucedia, e a hora em vão passava. Então, ele não queria existir? Existisse. Viesse! Chegasse, para o desenlace desse passo. Digo direi, de verdade: eu estava bêbado de meu. Ah, esta vida, às não-vezes, é terrível bonita, horrorosamente, esta vida é grande. Remordi o ar:

– ‘Lúcifer! Lúcifer!...’ – aí eu bramei, desengolindo. Não. Nada. O que a noite tem é o vozeio dum ser-só – que principia feito grilos e

estalinhos, e o sapo-cachorro, tão arranhão. E que termina num queixume borbulhado tremido, de passarinho ninhante mal-acordado dum totalzinho sono.

– ‘Lúcifer! Satanás!...’ Só outro silêncio. O senhor sabe o que o silêncio é? É a gente mesmo, demais. – ‘Ei, Lúcifer! Satanás, dos meus Infernos!’ Voz minha se estragasse, em mim tudo era cordas e cobras. E foi aí. Foi. Ele não

existe, e não apareceu nem respondeu – que é um falso imaginado. Mas eu supri que ele tinha me ouvido. Me ouviu, a conforme a ciência da noite e o envir de espaços, que medeia. Como que adquirisse minhas palavras todas; fechou o arrocho do assunto.” (ROSA, 1994, p. 601-602)

Para Francieli Rossi (2011, p. 86), Riobaldo “imagina que aquele forasteiro, intitulado

de doutor, poderá ajudá-lo a compreender até que ponto o homem pode aliar-se as forças

sobrenaturais para alcançar um determinado propósito”. Já para Durães (1999, p. 144-5), ao

contar sua vida para um interlocutor, Riobaldo “abandona sua solidão e compartilha com o

ouvinte/leitor suas experiências, dúvidas e incertezas diante da experiência humana”; sua

narrativa é uma “tentativa de libertação de suas reflexões”.

Semelhanças

Começamos agora a enumerar as semelhanças entre as duas obras a partir de uma das

mais óbvias: a insatisfação que acomete tanto Fausto quanto Riobaldo. Poderíamos dizer que

ambos têm uma personalidade fáustica4, um quê questionador e intelectual que os estimula a

ir mais além do que a realidade lhes oferece. Nas palavras de Fani Schiffer Durães (1999, p.

19),

“Ultrapassar limites é o desejo fáustico que impulsiona ambos em seu processo de desenvolvimento humano: Fausto esforça-se por agir e modificar seu mundo. Riobaldo conta e reconta sua história. O contar a ‘matéria vertente’, num movimento dialético de narrar o vivido e viver o narrado, nada mais é do que a tentativa de colocar seu mundo em questão, para o qual ele não encontra respostas definitivas. Fausto vive enquanto se esforça, Riobaldo questiona enquanto conta.”

Tanto um como o outro são mais inteligentes do que a média das pessoas que o

cercam, apesar de que no doutor alemão essa diferença é mais acentuada.

“O protagonista de Guimarães Rosa é o homem curioso, que assim como o herói de Goethe, admira-se diante de seu mundo. Esta admiração manifesta-se como indignação contra qualquer lei de imitação, como esperança em projetos para o futuro [...]. As diferenças culturais entre Fausto e Riobaldo não impedem que também Riobaldo lute e modifique seu mundo.” (DURÃES, 1999, p. 135)

Podemos notar essa curiosidade e o desejo de conhecimento de Riobaldo nesse

trecho:

“Invejo é a instrução que o senhor tem. Eu queria decifrar as coisas que são importantes. E estou contando não é uma vida de sertanejo, seja se for jagunço, mas a matéria vertente. Queria entender do medo e da coragem, e da gã que empurra a gente para fazer tantos atos, dar corpo ao suceder. O que induz a gente para más ações estranhas é que a gente está pertinho do que é nosso, por direito, e não sabe, não sabe, não sabe!” (ROSA, 1994, p. 134)

É da virtude da inteligência que advém o fardo da insatisfação. Durães (1999, p. 159)

descreve o ser fáustico como “eternamente insatisfeito”, destacando ainda que Riobaldo “lê

muito, principalmente histórias de ensinamentos dos santos e gosta de dar conselhos aos

companheiros [...] Mas sente-se insatisfeito consigo mesmo e admite isso” (DURÃES, 1999, p.

137), e que tanto ele quanto Fausto não encontram satisfação mesmo após as conquistas que

obtiveram em suas vidas. Diante de um “incomensurável cosmo”, eles sentem uma enorme

4 “O adjetivo ‘fáustico’, derivando modernamente de Goethe, caracteriza a necessidade de um esforço

humano como fator de libertação”, define Leonardo Vieira de Almeida (2006, p. 11).

angústia (DURÃES, 1999, p. 138). Ambos também sentem-se fascinados pelo mistério da vida,

mas também têm medo do que é desconhecido (DURÃES, 1999, p. 138). Esse medo, porém,

não é de todo negativo:

“Apesar de Fausto e Riobaldo terem o sentimento de medo em momentos e situações muito diferentes em suas vidas, este medo é o impulso para a concretização de seus anseios, os quais os atraem para distâncias ilimitadas na tentativa de abranger o segredo cósmico de suas vidas. Desta maneira o medo é então visto como algo positivo. [...] O medo provoca [...] a coragem de se penetrar naquilo que é assombroso.” (DURÃES, 1999, p. 141-142)

Aqui aparece uma das grandes confluências entre as obras, se não a maior: a

incapacidade de ambos protagonistas em sentirem-se saciados e absorver o momento

presente.

“Fausto procura constantemente a apreensão do momento pleno em todos os momentos de sua vida. Ele age e realiza feitos. No entanto, cada desejo realizado desperta nele um sonho novo, um impulso de ir mais além. [...] Assim como Fausto, Riobaldo também se esforça por um objetivo concreto: Riobaldo procura apreender a ‘matéria vertente’ através de sua narrativa. [...] quanto mais Riobaldo questiona, mais incerto e angustiado ele fica, provocando assim novas perguntas, as quais não lhe permitem parar o fluxo da narrativa. [...] Na procura de alargar os limites de seu próprio eu, ao narrar, o protagonista age. Assim como para Fausto, o mundo deve ser para Riobaldo mais do que somente ‘um espetáculo’

5.” (DURÃES, 1999, p. 159-160)

É a partir de sua narrativa que Riobaldo sente a angústia de nunca alcançar alguma

satisfação através do pleno entendimento sobre o significado dos acontecimentos de sua vida.

Não existe, como ressalta Durães (1999, p. 161), nem para o protagonista de “Grande Sertão”

nem para o de “Fausto” o “deitar-se num leito de delícias”6.

“Aqui entra o aspecto trágico da alma fáustica: à procura de apreensão da matéria vertente e do momento pleno, como expressões mais altas do ‘ser pleno’, Riobaldo e Fausto não conseguem saciar suas ansiedades, pois o momento pleno é fugaz, movediço, passageiro, ou seja, é aquilo que está além, uma ‘utopia futura’. [...] Riobaldo, assim como Fausto, é o homem questionador, que quer apreender a vida em toda sua intensidade, não no sentido de riqueza material, mas de realizações e de conhecimento de si mesmo.” (DURÃES, 1999, p. 161-163)

Daí vêm algumas das mais importantes características presente nas duas obras: a

ambiguidade entre Bem e Mal, a dificuldade de traçar fronteiras claras entre esses valores. Ao

entrar em contato com cada uma das obras e refletir sobre as ações de cada protagonista, o

leitor pode se perguntar: vale a pena fazer um mal, ter uma atitude ruim (tanto vender a

própria alma, como no caso de Fausto e no de Riobaldo, quanto matar outra pessoa, como no

caso do ex-jagunço), em prol de um bem maior (obter mais conhecimento para ajudar o

mundo ou extirpar um outro mal do mundo – representado por Hermógenes)? Nas palavras de

Rossi (2011, p. 91):

5 GOETHE, Johann Wolfgang Von. Faust. Edição de Erich Trunz: Goethe: Faust. Der Tragödie erster und

zweiter Teil. Urfaust. München: C.H. Beck, 1986,p. 454. Citado por DURÃES, 1999. 6 Idem, ibidem, bisibidem, p. 1692. Citado por DURÃES, 1999.

“Nessa construção antagônica, bem/mal; Deus/diabo; dor/alegria a narrativa vai construindo a ambiguidade em torno dos fatos. Riobaldo por amor a Diadorim alia-se ao mal para conseguir cumprir sua vingança e ao mesmo tempo realizar o sonho da jovem (vingar a morte do pai – Joca Ramiro). Para o protagonista a associação com o demo não representaria a maldade, mas o bem pela coletividade, no caso o bem para o bando que ele liderava. Entretanto, o final que deveria ser feliz para o narrador, pois Hermógenes é assassinato, também se constitui como doloroso, já que sua amada também morre.”

Também poderíamos assinalar uma outra semelhança que une as duas obras: ao

recorrer a forças místicas superiores, ambos protagonistas admitem que não conseguem

atingir seus objetivos individualmente, como homens frágeis e reduzidos que são.

Futuramente veremos que na obra de Guimarães Rosa a incapacidade humana chega a ser, de

alguma forma, questionada (ou seja, apresenta-se a ideia de que o homem Riobaldo é capaz

de alcançar seus objetivos através das próprias capacidades, sem a ajuda de um demônio

exterior a si). Mas é notável que os protagonistas das duas obras recorram pelo menos a uma

ideia de uma entidade superior como ajudante no caminho para atingir suas metas.

Diferenças

A tarefa de enumerar em que pontos as duas obras se distanciam é um pouco mais

fácil do que a de citar suas semelhanças, já que os primeiros são mais abundantes.

A primeira e mais aparente diferença entre “Fausto” e “Grande Sertão: Veredas” é que

a obra alemã é uma peça teatral, enquanto a segunda, como vimos, tem a estrutura de um

“romance-monólogo”.

Daí advém outra diferença entre os livros: devido a essa estrutura da obra brasileira,

podemos entrar mais em contato com os pensamentos e sentimentos do protagonista, já que

é ele que nos fala diretamente, enquanto o doutor alemão tem suas falas “transcritas” por

Goethe, e “divide” o espaço das páginas com o que os outros personagens têm a dizer. Em

“Fausto”, só temos contato com o pensamento do personagem-título quando ele os diz em voz

alta. Em “Grande Sertão”, o ouvinte/leitor penetra no mundo exterior e interior de Riobaldo “e

tem acesso a suas dúvidas” (DURÃES, 1999, p. 145). Uma das consequências disso é que o

discurso em “Grande Sertão” é “contaminado” com as ideias de seu protagonista, ou seja,

apenas por intermédio de sua narrativa sabemos o que aconteceu, só entramos em contato

com o seu ponto de vista, não o de outros personagens, como Diadorim ou mesmo

Hermógenes. Os caminhos tortos e enigmáticos da memória são o que conduzem sua

narrativa, e não um relato objetivo e imparcial dos fatos. Por outro lado, em “Fausto”, é

Goethe quem filtra os acontecimentos, que são por sua vez narrados conforme acontecem, e

não ao sabor das recordações “contaminadas” de um de seus personagens.

Outra diferença que poderíamos destacar é que na obra brasileira é o protagonista que

procura o diabo, enquanto no livro de Goethe é Mefistófeles quem vai atrás de Fausto

propondo-lhe o pacto.

Além disso, apesar de tanto Fausto quanto Riobaldo possuírem uma enorme sede de

conhecimento e curiosidade pelo mundo, como vimos anteriormente, os motivos de cada um

para realizar o pacto demoníaco são diferentes: o primeiro deseja saciar essa sede, aumentar

sua sabedoria; enquanto o segundo tem um desejo mais “corpóreo”, ligado a aspectos mais

violentos mas também (talvez) mais nobres, o de ajudar os outros ao seu redor, já que tanto

Diadorim quanto os outros cangaceiros se beneficiariam com a morte de Hermógenes. Como

define Leonardo Vieira de Almeida (2006, p. 12):

“O importante a se observar é que Riobaldo não procura, como o Fausto alemão, a totalidade do conhecimento, pautado numa cultura erudita. O sentido trágico de sua busca, segundo uma ‘ideologia fáustica’, decorre de organizar o caos do universo do sertão, onde os opostos habitam o mesmo espaço.”

Sobre o pacto demoníaco nas obras

Agora que já estabelecemos as principais diferenças e semelhanças entre as duas

obras de forma mais geral, vamos focar a enumeração delas em um único aspecto: o pacto

demoníaco que ocorre em cada livro. Em outras palavras, nesta parte do trabalho vamos expor

as aproximações e distanciamentos entre “Grande Sertão: Veredas” e “Fausto” apenas no que

tange o acordo com o diabo.

Uma das maiores diferenças entre os dois livros é a própria existência do pacto

demoníaco em cada uma delas. Em “Fausto”, essa existência não é questionada: o contrato

entre Mefistófeles e o doutor alemão é o que motiva e concentra todas as ações da peça. Já

em “Grande Sertão”, o protagonista questiona se o pacto realmente aconteceu questionando

a existência do Diabo – ou seja, não fica claro se realmente houve um acordo entre Riobaldo e

o Demônio. É interessante notar que, na obra brasileira, o demônio não possui um único nome

como Mefistófeles; ao contrário, é alvo de diferentes referências, muitas delas ligadas a

elementos da natureza, como se vê na seguinte passagem:

“O Arrenegado, o Cão, o Cramulhão, o Indivíduo, o Galhardo, o Pé-de-Pato, o Sujo, o Homem, o Tisnado, o Coxo, o Temba, o Azarape, o Coisa-Ruim, o Mafarro, o Pé-Preto, o Canho, o Duba-Dubá, o Rapaz, o Tristonho, o Não-sei-que-diga, O-que-nunca-se-ri, o Sem-Gracejos...” (ROSA, 1994, p. 48).

Em nenhuma ocasião o diabo de Guimarães Rosa se corporifica, toma uma forma

definida (humana ou mesmo animal), externa ao próprio Riobaldo. Daí surge a dúvida do ex-

jagunço sobre a efetivação do pacto e também uma possibilidade: o diabo pode estar dentro

do próprio homem. Leonardo Vieira de Almeida tem uma interessante interpretação sobre o

episódio, assinalando em sua explicação o fato de que, com o objetivo de encontrar-se com o

demônio, Riobaldo se dirige a um lugar ermo, escuro e vazio, onde no final acaba

encontrando-se consigo próprio, já que é o único ser vivo de cuja existência se dá conta nesse

lugar tão abandonado e isolado do mundo. As escolhas gramaticais de Guimarães Rosa no

trecho, sobretudo do pronome “eu”, reforçam esse momento de encontro consigo mesmo na

visão do estudioso:

“A reiteração do pronome da primeira pessoa se apresenta como um recurso contrapontístico de que se serve o autor: no momento do encontro com o diabo há o reforço da personalidade de Riobaldo, que, afirmando-se continuamente, vai procurando se fortalecer contra a potência do mal. Mas observa-se também, na medida em que há uma predominância da palavra ‘eu’, a rarefação progressiva dos elementos da natureza. O espaço pelo qual Riobaldo se desloca se caracteriza pela aridez, pelo vazio quase total, caráter próprio de um ermo. [...] É num lugar ocupado pela noite e pelo silêncio (só interrompido pelos sons de alguns animais) que Riobaldo, em completa solidão, tenta se afirmar pela recorrência à palavra, ao pronome pessoal eu. Enquanto as formas que o envolvem se desfazem em sombras, o personagem aguarda o encontro

com o diabo, que não deixa de ser o outro, o ‘Ele’. Mas a entidade maligna, esse outro, seria uma realidade corpórea, mal encarnado, ou os próprios ‘crespos’ do Tatarana

7?”

(ALMEIDA, 2006, p. 13-14)

Na visão de Almeida, a ausência de algum outro ser no momento em que se consolida

a vontade e o compromisso de Riobaldo em enfrentar Hermógenes corrobora a ideia de que o

pacto selado pelo protagonista de “Grande Sertão: Veredas” é consigo mesmo. Assim, a força

e a coragem para levar a cabo suas intenções não partem de nenhum ente superior místico,

mas do próprio Riobaldo.

“De fato, o Tatarana se dirige ao lugar do pacto para firmar um acordo com o maligno e executar o bem, ou seja, através do demônio vencer os Judas

8 e consumar o possível

amor erótico com Diadorim. No entanto, [...] as fronteiras entre bem e mal permanecem sem delimitação. O demônio age por intermédio de Deus, como pode ser observado na história de Jó, no prólogo do céu, motivo também presente em Goethe? Ou o demo, a afirmação de uma potência maligna parte do próprio íntimo de Riobaldo? Afinal, recorrendo inúmeras vezes ao pronome ‘eu’ no momento das Veredas-Mortas, o personagem salienta uma outra possível interpretação para o pacto: o encontro pode ser entendido como uma tentativa de fortalecer a si próprio, sendo o demo apenas os ‘crespos’ do Tatarana.” (ALMEIDA, 2006, p. 16)

Há, porém, nas duas obras, sinais de que o pacto efetivamente existiu. Em “Fausto”, o

protagonista adquire de fato mais conhecimento. Em “Grande Sertão: Veredas”, Riobaldo sai

transformado após o episódio nas Veredas-Mortas, fica mais altivo e destemido e vira chefe

dos jagunços, porém o mais óbvio dos sinais de confirmação do pacto é que Riobaldo

consegue derrotar seu grande inimigo, e o mais terrível é a morte de Diadorim como

consequência dessa vitória. A morte do grande amor de Riobaldo pode ser interpretada como

uma forma de cobrança em troca da derrota de Hermógenes. Segundo Adriana Rodrigues

Machado (2008, p. 8), “Podemos pensar, a partir da morte de Diadorim, que o preço cobrado

pelo pacto é pago com a entrega da alma de Riobaldo, projetada no amigo, por meio da sua

anima”. A palavra final da citação da autora é referência à “concepção junguiana de Alma, que

se divide em anima e animus, [...] entendendo-os como pólos opostos que se complementam,

que transcendem a dualidade” (MACHADO, 2008, p. 8). Portanto, tanto Riobaldo como Fausto

sofrem a dor de não poder concretizar o amor que sentem por uma mulher (no caso do doutor

alemão, a personagem Gretchen).

Em “Grande Sertão: Veredas”, da incerteza sobre a existência do pacto advém uma

outra incerteza: o julgamento sobre as escolhas de Riobaldo, diferentemente do que acontece

na obra de Goethe.

“Ao contrário, no entanto, do Fausto de Goethe, não se dá o pacto assinado com sangue, também não aparece a figura personificada do diabo, o ‘servo’ acompanhante de Riobaldo pela vida. Também a problemática – redenção ou condenação – ganha uma nova perspectiva na obra de Guimarães Rosa. Ao contrário do Fausto da Renascença e do Fausto de Goethe, Riobaldo não é condenado ao inferno e sua alma também não será salva aos céus. O protagonista brasileiro permanece vivo na terra, onde continua

7 Tatarana é o apelido de Riobaldo no bando de jagunços do qual fazia parte. A explicação para o

codinome vem neste trecho: “E pois, conforme dizia, por meu tiro me respeitavam, quiseram pôr apelido em mim: primeiro, Cerzidor, depois Tatarana, lagarta-de-fogo.” (ROSA, 1994, p. 223) 8 O bando de Hermógenes.

com seus eternos questionamentos. Não existe para Riobaldo a morte e nem um julgamento decisivo. Ao contrário, em ‘Grande Sertão: Veredas’ fica em aberto se o protagonista agiu ‘certo’ ou ‘errado’. E assim como Riobaldo, também o leitor/intérprete fica na eterna dúvida, mas ao mesmo tempo com esperanças de encontrar as respostas para as perguntas que permanecem em aberto.” (DURÃES, 1999, p. 235-236)

Para Durães, há um aspecto transcendental na realização do pacto, que não

encontramos no “Fausto” de Goethe. Ressaltando que o mito do pacto é um “enigma

misterioso”, com um sentido “múltiplo e difuso” (DURÃES, 1999, p. 266), a autora nota que

lugar escolhido para realizá-lo é onde o ex-jagunço se encontra num “estado de larva” para

então em seguida “assumir-se na plenitude de seu ser” (DURÃES, 1999, p. 268). Após o

suposto pacto, para o qual Riobaldo não obtém confirmação, ele acaba encontrando o Bem e o

Mal dentro de si próprio:

“Na verdade, Riobaldo não quer somente vencer o Hermógenes, ele quer ‘ficar sendo’9.

[...] Este ‘ficar sendo’, num momento de absoluta solidão nas Veredas-Mortas, é o caminho para a descoberta do universo que é na realidade a descoberta de si mesmo: somente na solidão o homem pode encontrar-se a si próprio. O ‘ficar sendo’ compreende os mais profundos mistérios da alma humana, ou seja, a natureza dupla do ser, a qual, em sua totalidade dialética, oscila entre o divino e o diabólico. [...] Na cena das Veredas-Mortas dá-se um tipo de renascimento de Riobaldo para o ‘humano’ que existe nele. Através do pacto, o protagonista não ultrapassa os limites de sua condição humana, ao contrário, esta é intensificada. Mas a totalidade da vida se deixa abranger somente em suas leis contraditórias: tanto o demoníaco como o divino não significam para Riobaldo um problema de transcendência, no sentido filosófico-teológico de forças sobrenaturais, mas ao contrario, Deus e o diabo coexistem na dialética da condição humana, sem, no entanto, se misturarem” (DURÃES, 1999, p. 270, grifos da autora)

Conclusões

Uma das características mais fortes de “Grande Sertão: Veredas” é também típica da

literatura moderna do século XX: a falta de certezas. Os autores das obras nunca oferecem

uma resposta fácil, objetiva e única aos questionamentos do leitor; há sempre uma dúvida no

ar, a possibilidade de que nada seja realmente verdade (dentro da realidade da obra). Além da

realização ou não do pacto demoníaco, poderíamos questionar: Gregor Samsa realmente vira

uma barata em “Metamorfose”? Capitu realmente trai Bentinho em “Dom Casmurro”? Nunca

fica claro, e o leitor precisa lidar com essas ambiguidades e incertezas como parte da obra que

busca decifrar. Em “Grande Sertão”, a própria forma como o texto é estruturado permite essa

“sensação” ao leitor:

“O próprio protagonista organiza seu discurso, o qual não termina nunca, pois sua tentativa de abranger a vida em sua plenitude não se concretiza. Nunca é alcançada uma verdade plena, ao contrário, tudo aparece em sua relatividade. Assim, no sertão de Riobaldo não são fornecidas explicações ou definições. As estórias exemplares não possuem significados fechados e, assim, abrem os caminhos para a apreensão da vida.” (DURÃES, 1999, p. 155)

Apesar dessas características modernas, não é possível pensar a obra de Guimarães

Rosa num universo separado da tradição literária que a precede. Afinal de contas, como vimos,

9 Como apontamos anteriormente, Riobaldo usa essa expressão antes de realizar o suposto pacto

demoníaco.

há inúmeros pontos de confluência entre a obra de Goethe e a obra brasileira – e não só essas

semelhanças ocorrem em um número considerável, como também ocorrem em aspectos

centrais de cada um dos livros. Poderíamos considerar que a obra mais recente é tributária da

mais nova, pois modifica a tradição estabelecida por ela.

“A crença ingênua em um diabo de carne e osso, que aparece numa encruzilhada, é aqui transformada em considerações filosóficas, em que o homem se encontra entre os opostos bem/mal, vida/morte, existência/não existência, verdade/mentira, Deus/Diabo. Através da procura de verdades, Riobaldo provoca reflexões (no ouvinte/leitor e nele mesmo). As reflexões não levam, no entanto, a esclarecimentos; muito pelo contrário, provocam polêmicas e o desdobramento da verdade. Justamente aqui está o objetivo do autor. Ele provoca uma luta contra o pensamento unilateral ao colocar lado a lado diversas escolas ideológicas, filosóficas e religiosas.” (DURÃES, 1999, p. 258)

Durães sugere que, ao optar por não deixar clara a realização do pacto demoníaco e

escolher um final ambíguo para seu personagem (que atingiu seu objetivo de derrotar

Hermógenes, mas perdeu Diadorim), Guimarães Rosa acaba por subverter a tradição literária.

A estudiosa aponta para a ocorrência de “uma profanação, ironização e acima de tudo uma

renovação do mito de Fausto” (DURÃES, 1999, p. 236) na obra brasileira.

“Diferente do livro de Fausto da Renascença e do Fausto de Goethe, o diabo aparece na obra de Guimarães Rosa não mais em sua forma personificada de espírito do mal, mas como um eterno questionamento: o demoníaco é um produto da interpretação humana, por isso ele é ambíguo! A problemática se consuma aqui em nível da linguagem, a qual em ‘Grande Sertão Veredas’ tem um caráter mágico. O diabo, assim como o próprio sertão, esconde-se atrás das máscaras da linguagem.” (DURÃES, 1999, p. 255)

No fim, como assinala a autora, “Se o pacto realmente existiu ou não, isto depende da

interpretação de cada um” (DURÃES, 1999, p. 257).

Nossa conclusão aqui não é no sentido de que as semelhanças superam as diferenças

entre as duas obras – como vimos, as últimas são mais abundantes. Porém, considerando as

aproximações entre Guimarães e Goethe, não podemos deixar de notar uma intrínseca relação

entre elas, com a obra mais recente aproveitando-se de algumas características da mais antiga,

subvertendo-as, reutilizando-as, e adaptando-as a uma realidade moderna, ambígua, incerta e

sem respostas fáceis. Poderíamos até arriscar a afirmação de que “Grande Sertão: Veredas”

vem na esteira não só do “Fausto” de Goethe, como também na do “Doctor Faustus” de

Thomas Mann, no sentido de que cada vez mais o diabo (ou o “Mal”) vem se internalizando no

próprio homem.

Ao final, apesar de alguns pontos em que se separam, as duas obras apresentam

características que as conectam e as inserem, uma após a outra, num contexto de construção

de uma tradição literária (mais especificamente no caso de “Fausto”) e em seguida, de

reorganização e reconstrução dessa tradição (no caso de “Grande Sertão”).

Bibliografia

ALMEIDA, Leonardo Vieira de. O Pacto nas Veredas-Mortas: Realidade Poética e Esforço de

Interpretação. Revista Graphos, João Pessoa, p.11-25, 2006. Disponível em:

<http://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/graphos/article/view/9558/5205>. Acesso em 17

jan. 2015.

DURÃES, Fani Schiffer. O mito de Fausto em “Grande Sertão: Veredas”. Rio de Janeiro:

Academia Brasileira de Letras, 1999.

MACHADO, Adriana Rodrigues. O mito do pacto em Grande Sertão: Veredas. Nau Literária:

Revista eletrônica de crítica e teoria de literaturas, Porto Alegre, v. 04, n. 02, p.1-11,

julho/dezembro 2008. Disponível em:

<www.seer.ufrgs.br/NauLiteraria/article/download/5974/4537>. Acesso em 10 nov. 2014.

ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.

ROSSI, Francieli Santos. Considerações do Pacto Fáustico em “Grande Sertão: Veredas”.

Revista Magistro: Revista do Programa de Pós-Graduação em Letras e Ciências Humanas –

UNIGRANRIO, Duque de Caxias, v. 2, n. 1, p.84-101, mês desconhecido, 2011. Disponível em:

<http://publicacoes.unigranrio.edu.br/index.php/magistro/article/viewFile/1426/761>. Acesso

em: 09 nov. 2014.

Fontes consultadas na internet

Guimarães Rosa na Wikipedia – http://pt.wikipedia.org/wiki/Guimar%C3%A3es_Rosa –

consultado em 01 fev. 2015, 23:33