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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE MÚSICA LICENCIATURA EM MÚSICA JAYANNY RAYARA DA SILVA SANTANA LUDICIDADE E EDUCAÇÃO MUSICAL: POSSIBILIDADES E DESAFIOS PARA UMA EDUCAÇÃO MUSICAL INCLUSIVA NATAL RN Jun.2015

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · toys and games having as essence the pleasure, ... ludicidade na educação e na música; Investigar sobre a importância da ludicidade

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

ESCOLA DE MÚSICA

LICENCIATURA EM MÚSICA

JAYANNY RAYARA DA SILVA SANTANA

LUDICIDADE E EDUCAÇÃO MUSICAL: POSSIBILIDADES E DESAFIOS PARA

UMA EDUCAÇÃO MUSICAL INCLUSIVA

NATAL – RN

Jun.2015

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

ESCOLA DE MÚSICA

LICENCIATURA EM MÚSICA

JAYANNY RAYARA DA SILVA SANTANA

LUDICIDADE E EDUCAÇÃO MUSICAL: POSSIBILIDADES E DESAFIOS PARA

UMA EDUCAÇÃO MUSICAL INCLUSIVA

Monografia apresentada ao curso de

Licenciatura Plena em Música da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

– UFRN – como requisito parcial para a

obtenção do Grau de Licenciada em Música.

Orientador: Profa. Ms. Carolina Chaves

Gomes

Coorientador: Prof. Ms. Isaac Samir Cortez de

Melo

NATAL – RN

Jun.2015

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

ESCOLA DE MÚSICA

LICENCIATURA EM MÚSICA

JAYANNY RAYARA DA SILVA SANTANA

LUDICIDADE E EDUCAÇÃO MUSICAL: POSSIBILIDADES E DESAFIOS PARA

UMA EDUCAÇÃO MUSICAL INCLUSIVA

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________

Profa. Ms. Carolina Chaves Gomes

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Orientadora

________________________________________________

Prof. Ms. Isaac Samir Cortez de Melo

Instituto Federal do Rio Grande do Norte - IFRN

Coorientador

__________________________________________________

Prof. Ms. Catarina Shin Lima de Souza

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Avaliadora

DEDICATÓRIA

A minha família,

Pelo apoio, carinho, dedicação e ensinamentos

durante toda minha vida. Obrigada!

AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha orientadora, professora Ms. Carolina Chaves Gomes, pelos

ensinamentos, pelas risadas, momentos de descontração. Pela dedicação na condução de todo

o caminho trilhado;

Agradeço ao meu coorientador, Isaac Samir Cortez de Melo, pela paciência e

competência;

Aos meus pais, Romero de Azevedo Santana e Jarlene Bezerra da Silva, pelas

orientações e conselhos; pelos momentos felizes, apoio e dedicação;

As minhas irmãs, Jannielly Rayake da Silva Santa e Jamilla Rayane Bezerra Santana,

pelas risadas e momentos felizes, pelos conselhos. Por ter me acompanhado durante toda essa

jornada;

À minha tia, Célia Maria da Silva, pelos momentos de distrações e risos;

Ao amigo, Anderson Moreira, pela paciência, compreensão e momentos felizes;

Aos amigos, Thiago Macedo de Santana e Alismar Beatriz da Silva Alves, pelas

risadas e momentos de alegria, pelos conselhos e apoio durante essa caminhada;

Aos colegas do CIART, Jason Desiderio, Júlio César, Érica Andrade, Barbara Mattiuci,

Kalinka Cordeiro, Pamela Thais, Letícia Nascimento, pelos momentos de alegria e das muitas

risadas compartilhadas;

À professora, Ms. Maristela Mosca, pela partilha de conhecimentos;

Às professoras, Dr. Débora Nunes e Ms. Catarina Shin, por terem despertado em mim

o amor pela educação especial;

Aos colegas de graduação, Jaime Gomes e Rosely Soares, por todos os momentos de

alegria e pelas risadas;

A todos os colegas, presentes e ausentes, pelos risos, abraços, e paciência;

Aos professores e pais das crianças que participantes da pesquisa;

E a Deus, por me conduzir sempre para os melhores caminhos;

A todos que me auxiliaram nessa jornada. Obrigada!

EPÍGRAFE

DEFICIÊNCIAS

"Deficiente" é aquele que não consegue modificar sua vida,

aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em

que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino.

"Louco" é quem não procura ser feliz com o que possui.

"Cego" é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de

fome, de miséria, e só tem olhos para seus míseros problemas

e pequenas dores.

"Surdo" é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de

um amigo, ou o apelo de um irmão. Pois está sempre

apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim

do mês.

"Mudo" é aquele que não consegue falar o que sente e se

esconde por trás da máscara da hipocrisia.

"Paralítico" é quem não consegue andar na direção daqueles

que precisam de sua ajuda.

"Diabético" é quem não consegue ser doce.

"Anão" é quem não sabe deixar o amor crescer.

E, finalmente, a pior das deficiências é ser miserável, pois:

"Miseráveis" são todos que não conseguem falar com Deus.

(Renata Arantes Villela)

“Como as aves, as pessoas são diferentes em seus voos, mas iguais no direito de voar.”

(Judite Hertal).

RESUMO

Esta pesquisa tem como tema ludicidade e educação musical: possibilidades e desafios para

uma prática musical inclusiva, ressaltando a realidade pedagógica de um curso de

musicalização infantil da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. Dessa

forma, tem como objetivo discutir a ludicidade na educação musical para uma prática

inclusiva. A pesquisa utilizou como metodologia a abordagem qualitativa, do tipo estudo de

caso, tendo como procedimentos de construção de dados a entrevista e observação

participante. Os resultados deste trabalho demonstraram que a ludicidade na educação musical,

especificando o atendimento aos alunos com necessidades educacionais especiais, tem se

configurado como um elemento de fundamental importância para a educação, visto que

propicia aos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem uma experiência de plenitude na

vivência da prática. Em termos gerais, podemos compreender o lúdico como um elemento que

faz referência aos jogos, brinquedos e brincadeiras tendo como essência o prazer, a alegria e

satisfação. Nesse sentido, a ludicidade difere-se do lúdico por compreender um estado, ou seja,

uma condição do sujeito diante da ação lúdica. Portanto, a ludicidade caracteriza-se como

uma experiência de plenitude propiciada por meio da vivência da prática lúdica. Conclui-se

então que a ludicidade representa um elemento potencial no desenvolvimento das capacidades

do ser, e que os educadores reconhecem esta importância para a educação, mesmo com os

desafios do trabalho pautado na ludicidade.

Palavras-chave: Ludicidade. Espaço lúdico. Educação Inclusiva. Educação Musical. CIART.

ABSTRACT

Keywords: This research theme is playfulness and music education: possibilities and

challenges for inclusive musical practice, highlighting the educational reality of a course of

music to children at the Federal University of Rio Grande do Norte - UFRN. Thus, it aims to

discuss the playfulness in music education for inclusive practice. The study used as

methodology the qualitative approach, the study type of case, with the interview data

construction procedures and participant observation. These results demonstrated that

playfulness in music education, specifying the care of students with special educational needs,

has been set up as a matter of fundamental importance to education, due to the possibility to

those involved in the teaching-learning process a fullness of experience in the practical

experience. In general terms we can understand the playful as an element that refers to games,

toys and games having as essence the pleasure, joy and satisfaction. In this sense, playfulness

differs from the playful to understand a state, ie, a condition of the subject before the playful

action. So the playfulness characterized as a fullness of experience afforded by living the

playful practice. We conclude then that the playfulness is a potential element in developing

the skills of being, and that educators recognize this importance to education, even with the

challenges of work outlined in playfulness.

Keywords: Playfulness. Play area. Inclusive Education. Musical education. CIART.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - O Círculo Mágico de Johan Huizinga .................................................................... 21

Figura 2 - Desenvolvimento Cognitivo segundo Piaget .......................................................... 25

Figura 3 – Concepção de deficiência por períodos históricos ................................................ 37

Figura 4 – Educação Especial enquanto modalidade de ensino .............................................. 40

Figura 5 – Ambiente da sala de aula ....................................................................................... 78

Figura 6 – Ambiente da sala de aula ....................................................................................... 78

LISTA DE ABREVIATURAS

NEE – Necessidades Educacionais Especiais

CIART – Curso de Iniciação Artística

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

RCNEI – Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil

ZDP – Zona de Desenvolvimento Proximal

UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação Ciência e Cultura

UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância

PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

CNE – Conselho Nacional de Educação

MEC – Ministério da Educação e Cultura

CEB - Câmara de Educação Básica

PEI – Plano de Ensino Individualizado

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 11

2. METODOLOGIA ........................................................................................................................... 14

2.1 Técnicas e instrumentos de construção de dados ..................................................................... 16

2.1.1 Instrumentos de coleta de dados .................................................................................. 16

2.1.2 Organização e análise dos dados ................................................................................. 18

3. REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................................................... 19

2.1 Um recorte histórico sobre a ludicidade: Jogos e brincadeiras ................................................ 19

3.1.1 O brincar e o desenvolvimento da criança ................................................................... 23

3.1.2 O lúdico como elemento educacional .......................................................................... 27

3.1.3 O lúdico na música como elemento transformador das relações educacionais ........... 32

3.2 Inclusão de pessoas com necessidades educacionais especiais (NEE) ..................................... 34

3.2.1 Breve histórico da educação especial: da exclusão à inclusão social .......................... 34

3.2.2 Educação inclusiva e a música ..................................................................................... 40

4. MÚSICA E EDUCAÇÃO INCLUSIVA: Uma experiência no Curso de Iniciação Artística -

CIART ................................................................................................................................................... 45

4.1 O contexto ................................................................................................................................ 45

4.2 Os sujeitos ................................................................................................................................ 48

4.3 Os educadores ........................................................................................................................... 52

5. APRESENTAÇÃO E NÁLISE DOS RESULTADOS ................................................................. 54

5.1 Entrevistando os docentes do campo investigado: Compreensões e vivências ........................ 54

5.2 As observações: O cotidiano de ensino .................................................................................... 67

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................... 70

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 73

APÊNDICES ........................................................................................................................................ 76

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1. INTRODUÇÃO

A educação como processo socializador de formação integral do ser, tem nas relações

sociais as bases do seu desenvolvimento. E nessa interação entre os sujeitos socioculturais os

saberes são criados e recriados numa constante troca de conhecimentos. Portanto, a educação

como uma ação de conhecimento deve possibilitar o desenvolvimento das capacidades do ser

em sua plenitude.

Nesse sentido, como afirma Delors (2006), a educação deve fundamentar-se em quatro

pilares do conhecimento: Aprender a conhecer; aprender a fazer; aprender a viver juntos, e

aprender a ser. Tendo como base esses princípios, no qual a aprendizagem se processa a partir

das relações e trocas de experiências, a ludicidade na educação representa a oportunidade de

vivenciar diferentes maneiras de fazer e aprender, o que por sua vez, promove uma

aprendizagem significativa e instigante. Dessa forma, trazer a ludicidade para a sala de aula é

o desafio de uma educação musical inclusiva.

Nesse contexto, as discursões tem se concentrado sobre ludicidade, educação musical

e inclusão. Assim sendo, procurei investigar como a ludicidade tem sido desenvolvida em

propostas de educação musical inclusiva especificamente no Curso de Iniciação Artística –

CIART/UFRN. Portanto, constitui-se como objetivo geral dessa pesquisa discutir a ludicidade

na educação musical para uma prática inclusiva.

Incluir no âmbito da educação significa oportunizar condições de aprendizagem para

TODOS os alunos, é olhar para as necessidades desses alunos, sem excluí-los ou segregá-los.

A educação só será efetivamente inclusiva quando as instituições de ensino souberem lidar

com a heterogeneidade dentro e fora das salas de aula. Assim sendo, inúmeros estudos tem

enfatizado a necessidade de repensar o processo de ensino-aprendizagem com o foco no

atendimento a diversidade. Trazendo essa temática para área de educação musical, podemos

encontrar as mesmas dificuldades, tendo em vista que poucos profissionais encontram-se

capacitados para propor um ensino musical inclusivo. Posto isto, este estudo pretende

responder a seguinte problemática: Como a ludicidade pode beneficiar o aluno com

necessidades educacionais especiais em seu processo de ensino-aprendizagem musical? Dessa

forma, a investigação dessa pesquisa objetivou especificamente: Compreender o conceito de

ludicidade na educação e na música; Investigar sobre a importância da ludicidade para o

desenvolvimento de pessoas com necessidades educacionais especiais; Compreender o

contexto da educação inclusiva na educação musical infantil e no espaço de ensino

investigado; E analisar o espaço lúdico e suas contribuições no processo de desenvolvimento

integral das crianças com necessidades educacionais especiais.

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A escolha da temática se deu em virtude de uma experiência vivenciada durante a

realização do Estágio Supervisionado II – Escola especializada, do curso de Licenciatura em

Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. A partir dessa experiência

em educação musical, pude me apropriar do universo da música para a criança com

necessidades educacionais especiais. E nesse período pude perceber que a ludicidade, como

um fenômeno interno do sujeito, era promovida através das vivências musicais oportunizadas

em sala de aula. Por conseguinte, surgiu a necessidade de analisar os efeitos dessas

experiências lúdicas no processo de aprendizagem desses alunos. Por este motivo, estudar e

investigar essa temática se torna relevante na medida em que traz à tona uma discussão

relevante para o campo de educação musical, dado a necessidade de oportunizar situações de

aprendizagem para que o aluno com necessidade educacionais especiais possa ter o acesso à

educação musical de maneira efetiva.

A metodologia de trabalho parte da abordagem qualitativa. Assim, para um

aprofundamento da pesquisa o procedimento metodológico utilizado foi o estudo de caso, no

qual foram selecionados dois alunos do espaço investigado para análise aprofundada das

questões investigadas nessa pesquisa. Dessa forma, a pesquisa apresenta e analisa concepções

acerca do processo de inclusão no curso de Iniciação Artística – CIART/UFRN.

Finalmente, os resultados apresentados nesse trabalho foram discutidos e organizados

estruturalmente em cinco capítulos, da seguinte forma:

O primeiro capítulo é destinado à apresentação do trabalho, nele discorremos a

respeito dos objetivos; Justificativa, Motivação para a temática e problemática da pesquisa.

O segundo capítulo refere-se à apresentação dos caminhos metodológicos percorridos

na pesquisa. Portanto, universo da pesquisa; Técnicas e instrumentos de construção dos

dados; e a Organização e análise de dados.

O terceiro capítulo discute as bases teóricas que constituíram esse trabalho. Para tanto,

são discutidos o conceito de lúdico e ludicidade, bem como aspectos sobre a educação

especial em uma perspectiva inclusiva, abrangendo temáticas referentes ao contexto histórico-

cultural do jogo; O brincar para a criança; O lúdico como elemento educacional; E o espaço

lúdico na música; Breve histórico da educação especial com foco na educação inclusiva; e a

Inclusão no âmbito da educação musical.

O quarto capítulo trata da apresentação dos dados referentes aos elementos do

contexto de ensino do Curso de Iniciação Artística – CIART/UFRN e apresentação dos

sujeitos da pesquisa (alunos e educadores), no qual discuto aspectos do profissional e sua

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atuação, bem como a caracterização dos dois alunos estudos de caso dessa pesquisa, e o

relacionamento desses alunos com a música.

O quinto capítulo discute os dados referentes aos dois alunos estudos de caso

investigados (Desempenho, participação e relacionamento), bem como as concepções dos

educadores, selecionados para essa pesquisa, acerca do lúdico, música e inclusão e suas

compreensões sobre aspectos relacionados ao espaço investigado - os dados foram colhidos a

partir das observações das aulas e entrevistas.

O último capítulo é destinado à conclusão do trabalho, nele são feitas as considerações

finais a respeito do trabalho, no qual busco evidenciar os aspectos principais dessa pesquisa.

Assim, esta pesquisa apresenta os benefícios de uma educação musical pautada na

ludicidade para o atendimento as necessidades educacionais especiais dos envolvidos no

processo de ensino-aprendizagem. Portanto, são discutidas e analisadas as concepções acerca

do lúdico, música e inclusão para uma compreensão do universo da pesquisa.

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2. METODOLOGIA

A música enquanto ciência humana tem constituído um campo de estudo múltiplo e

diversificado, promovendo investigações que buscam compreender questões das mais

variadas. Desse modo, segundo Figueiredo (2010) a pesquisa em educação musical tem

compreendido dois aspectos fundamentais para o seu desenvolvimento, o primeiro refere-se à

natureza interdisciplinar da educação musical, e o segundo ao estado da arte da pesquisa em

educação musical. Portando, esses dois aspectos configuram-se fundamentais para o

desenvolvimento da pesquisa em educação musical como afirma Figueiredo (2010, p.160):

O pesquisador da área de educação musical deve estar atento à natureza de

sua área de estudos, respeitando e considerando a interface com outras áreas

do conhecimento, assim como deve ter amplo contato com a produção

bibliográfica da área.

Dessa forma, a presente pesquisa foi desenvolvida no âmbito da educação musical

com ênfase na educação inclusiva. Para tanto, objetivou discutir a ludicidade na educação

musical para uma prática inclusiva. Assim sendo, a pesquisa foi realizada através de dois

eventos no Curso de Iniciação Artística – CIART/UFRN, o processo de inclusão de dois

alunos no mesmo ambiente, tendo como intuito analisar os benefícios de uma educação

musical pautada na ludicidade frente à proposta de inclusão desenvolvida pelo espaço. Os

sujeitos da pesquisa foram, portanto, dois professores atuantes no CIART, bem como dois

alunos desse mesmo curso, tratados na pesquisa como estudo de caso. Por conseguinte, o

critério de escolha dos sujeitos refere-se a sua relação com o processo de inclusão do espaço

investigado.

Nessa perspectiva, compreender o processo de inclusão e suas relações de

aplicabilidade em determinado espaço de ensino, necessita uma investigação acerca do campo

de pesquisa, bem como dos sujeitos envolvidos nesse processo. Assim sendo, para esse estudo

optamos pela abordagem qualitativa por valorização das relações entre os sujeitos da pesquisa

e o campo investigativo.

De acordo com Bogdan e Biklen (1994) a abordagem qualitativa de pesquisa apresenta

cinco características básicas que a configuram:

Na investigação qualitativa a fonte direta de dados é o ambiente natural,

constituindo o investigador o instrumento principal;

A investigação qualitativa é descritiva;

Os investigadores qualitativos interessam-se mais pelo processo do que

simplesmente pelos resultados ou produtos;

Os investigadores qualitativos tendem a analisar os seus dados de forma

indutiva;

O significado é de importância vital na abordagem qualitativa.

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Dessa forma, a partir da abordagem qualitativa o fenômeno investigado será descrito

na sua complexidade, tendo o ambiente de ensino como fonte direta dos dados a serem

analisados. Nesse sentido, o estudo caracterizou-se por uma imersão no campo de pesquisa,

no qual objetivou realizar uma investigação minuciosa acerca dos benefícios de uma educação

musical pautada na ludicidade para o processo de inclusão no Curso de Iniciação Artística –

CIART. Para tanto, foram selecionados dois eventos a fim de realizar uma melhor

compreensão do fenômeno em estudo. Assim, o procedimento metodológico utilizado para

essa pesquisa foi o estudo de caso.

Conforme nos diz Bogdan e Biklen (1994, p.89) “O estudo de caso consiste na

observação detalhada de um contexto, ou indivíduo, de uma única fonte de documentos ou de

um acontecimento específico”. Portanto, o estudo de caso se caracteriza pelo estudo

aprofundado de um fenômeno, o que por sua vez, permite ao pesquisador o aprofundamento

sobre o caso em estudo. Assim sendo, Segundo LUDKE et al (1986) os princípios norteadores

desse tipo de metodologia, são:

A busca pela descoberta;

Ênfase pela interpretação em contexto;

Busca pelo retrato da realidade de forma complexa e profunda;

Uso de variedade de fontes de informação;

Revelação da experiência vicária e permissão das generalizações

naturalísticas;

Representação dos diferentes e conflitantes pontos de vista presente na

situação social;

Uso de linguagem simples e forma acessível de dados.

Nessa perspectiva, considerando que os princípios norteadores do estudo de caso se

sobrepõem as características gerais da abordagem qualitativa (LUDKE et al, 1986), pode-se

compreender a relevância em aplicar o estudo de caso para essa pesquisa, visto o

aprofundamento sobre os fatos. Para tanto, como objetivo procedimental metodológico desse

estudo de caso é pertinente à realização da fase exploratória para o desenvolvimento da

pesquisa. Como afirma LUDKE et al (1986, p.22)

A fase exploratória se coloca como fundamental para uma definição mais

precisa do objeto de estudo. É o momento de especificar as questões ou

pontos críticos, de estabelecer os contatos iniciais para entrada no campo, de

localizar os informantes e as fontes de dados necessárias para o estudo.

Portanto, as discursões aqui referidas permitem afirma que o estudo de caso enquanto

procedimento metodológico torna-se pertinente para o desenvolvimento desta pesquisa, visto

que possibilitou o aprofundamento e inteireza sobre o fenômeno estudado.

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2.1 TÉCNICAS E INSTRUMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE DADOS

No que se refere à realização de uma pesquisa científica a construção dos dados,

enquanto investigação qualitativa representa a comprovação dos fatos relacionados ao mundo

empírico da pesquisa, então quando sistematizados e coletados compreendem os elementos

necessários para o aprofundamento acerca do fenômeno que pretendemos estudar. De acordo

com Bogdan e Biklen (1994, p.149) os dados de uma pesquisa constituem:

Os materiais brutos que os investigadores recolhem no mundo que se

encontram a estudar; são os elementos que formam a base da análise, [...], e

incluem materiais que os investigadores registam ativamente, bem como

aquilo que outros criaram e que o investigador encontra.

Portanto, ao realizar um estudo qualitativo o pesquisador poderá recorrer aos mais

variados tipos de dados, dos quais obterá uma quantidade vasta de informações oriundas de

fontes variadas. Para o investigador, essa variedade de informações colhidas em situações

distintas proporcionará uma visão mais ampla do fenômeno estudado.

Dessa forma, utilizamos como estratégias de construção dos dados: Entrevistas

semiestruturadas e observação participante do contexto. Para tanto, a realização do estudo se

deu no universo de investigação do Curso de Iniciação Artística – CIART/UFRN, no qual

levantei dados relevantes para a fundamentação dessa pesquisa.

Para a análise dos dados, colhidos através de técnicas e instrumentos de construção de

dados, o presente estudo buscou descrever as estratégias de ensino observadas no espaço

investigado; identificar o espaço lúdico na música sob uma perspectiva inclusiva; conhecer a

proposta de inclusão desse mesmo espaço, bem como os efeitos dessa proposta no processo

de inclusão de dois alunos do curso.

2.1.1 Instrumentos de coleta de dados:

Os instrumentos específicos utilizados para essa pesquisa foram: Entrevistas

semiestruturadas e observação participante.

Entrevista semiestruturada:

A entrevista é compreendida como uma conversa intencional entre dois ou mais

sujeitos, sendo dirigida por um dos envolvidos nela, e tem como objetivo a obtenção de

informações sobre a outro. Assim sendo, como afirma Bogdan e Biklen (1994, p.134) “a

entrevista é utilizada para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito,

18

permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os

sujeitos interpretam aspectos do mundo”.

Dessa forma, as entrevistas utilizadas nessa pesquisa foram constituídas por um roteiro

flexível para o qual foram elaborados dois tipos de roteiros de entrevistas.

O primeiro roteiro foi elaborado com o intuito de colher informações referente às

experiências dos educadores selecionados para essa pesquisa. Portanto, foram compreendidos

questionamentos relativos às concepções e práticas desses educadores no que se refere à

ludicidade e inclusão na educação musical. Ainda, perfil profissional desses educadores

abrangendo temas como formação e atuação como professores de crianças com necessidades

educacionais especiais, estratégias de ensino para o processo de ensino-aprendizagem dessas

crianças, percepções sobre a proposta de inclusão do espaço investigado, como também

acerca dos dois alunos referidos como sujeitos dessa pesquisa – desempenho, participação e

relacionamento; entre outras.

O segundo roteiro foi elaborado objetivando recolher informações relacionadas aos

dois sujeitos dessa pesquisa, para o qual foram direcionados os estudos de caso. Assim, foram

direcionados questionamentos relacionados à caracterização dos sujeitos, abrangendo aspectos

sobre o diagnóstico, necessidades especiais, perfil histórico-educacional; motivações para a

música, contribuições referentes à música e ludicidade para o aprendizado, entre outras.

Observação participante do contexto de ensino.

Entendendo a observação participante como a interação do pesquisador com o

fenômeno observado, e essa interação como fonte primária para perceber e analisar o

fenômeno. Nesse contexto segundo Mosca (2009, p.72):

A observação não pode ser do exterior, onde o pesquisador se mantém em

posição de distanciamento, mas a partir do envolvimento dele com o grupo

pesquisado, oportunizando uma intimidade que permite ver o que não se

revela nas ações e na verbalização, mas sim na corporeidade do ser.

Dessa forma, as observações nessa pesquisa foram utilizadas para obtenção,

compreensão e análise de informações efetivas do espaço investigado. Assim sendo, foi

possível conhecer o espaço abrangendo aspectos referentes à estrutura física

(materiais/recursos, acessibilidade), caracterização da proposta pedagógica abordada

(estratégias, metodologias e abordagens para o ensino da música) e alunos (desemprenho,

participação e relacionamento).

19

Durante o período de observações encontrava-me como estagiária do espaço

investigado, o que por vez facilitou o contato direto com as informações referentes ao curso.

Nesse momento pude conhecer e compreender efetivamente o contexto do CIART/UFRN,

visto que estava inserida no ambiente interagindo com as crianças e docentes, como também

me apropriando da proposta pedagógico-musical do curso.

2.1.2 Organização e análise dos dados

A análise de dados consiste no processo de organização e investigação dos dados

coletados para a fundamentação da pesquisa. Assim, a análise dos dados tem como objetivo

“organizar e sumariar os dados de tal forma que possibilitem o fornecimento de respostas ao

problema proposto para investigação” (GIL apud TEXEIRA, 2003, p.191). Portanto, refere-se

ao processo de formação do significado dos dados para a pesquisa.

Nessa perspectiva, a análise das entrevistas se deu perante a transcrição textual dos

relatos e depoimentos colhidos com o auxílio de gravação em áudio. Assim sendo, as falas

dos sujeitos entrevistados foram selecionadas conforme os objetivos dessa pesquisa.

A análise das observações foi feita através das anotações de momentos significativos

colhidos durante o desenvolvimento das aulas. Para tanto, foram realizadas anotações

referentes à prática pedagógica no espaço, tratando especificamente sobre inclusão e

ludicidade para posteriormente fazer uma análise a respeito dos temas abordados nessa

pesquisa.

Por fim, a partir dos pressupostos teóricos foi possível escolher os instrumentos e

procedimentos metodológicos que melhor complementaram essa pesquisa, cada qual com seu

grau de relevância. Portanto, promovendo a reflexão sobre o fenômeno na busca por respostas

para os questionamentos norteadores da pesquisa.

20

3. REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 Um recorte histórico sobre a ludicidade: Jogos e brincadeiras

Nas últimas décadas o termo “ludicidade” tem sido bastante abordado em pesquisas

relacionadas à educação e à psicologia, sendo que essas pesquisas têm procurado discutir,

principalmente, a respeito dos benefícios que o uso da ludicidade tem propiciado para o

desenvolvimento integral do sujeito.

Nesse sentido fica evidente a necessidade, primeiramente, de entender o conceito de

ludicidade, como também do brincar e do lúdico para podermos entender como acontece esse

processo de ensino-aprendizagem que utiliza o lúdico como elemento facilitador da

aprendizagem.

Ao longo da história podemos encontrar vários escritos que buscam compreender e

discutir a importância do lúdico nas relações de ensino e aprendizagem, como também no

desenvolvimento humano. A palavra lúdico tem sua origem no latim ludus, que significa jogo,

divertimento, gracejo. Porém, ainda podemos encontrar a palavra relacionada ao termo

brincar, que por sua vez está diretamente relacionada à brincadeira e ao brinquedo.

Nesse sentido, muitas teorias têm abordado o jogo como um fenômeno cultural,

destacando a importância do fator lúdico para a civilização, outras têm relacionado o termo

lúdico à ação de brincar como um fenômeno importante de desenvolvimento e integração

social do sujeito.

Huizinga em seu livro Homo Ludens (2005) trata o jogo como um elemento da cultura,

existente antes mesmo da própria cultura, estando presente desde os primórdios até o

momento atual da nossa civilização.

Considerando a teoria do autor, pode-se concluir que as relações existentes entre jogo

e cultura constituem a base da civilização, o que significa dizer que o jogo é fundamento da

cultura. Isso segundo Huizinga (2005, p. 53) se dá pelo fato da cultura possui um caráter

lúdico, ou seja, “ela se processa segundo as formas e o ambiente do jogo”. Partindo dessa

ideia, o autor define jogo nos seguintes termos:

O jogo é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e

determinados limites de tempo e de espaço, segundo regras livremente

consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si

mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria e de uma

consciência de ser diferente da "vida quotidiana". (HUIZINGA, 2005, p. 33).

Portanto, segundo a teoria de Huizinga (2005) o jogo ocupa um importante papel no

que se refere ao princípio e o desenvolvimento da civilização, pois se faz presente em grande

21

parte das manifestações da cultura humana, como eixo central nas relações sociais. “É no jogo

e pelo jogo que a civilização surge e se desenvolve.” (HUIZINGA, 2005, p.s/n) considerando-

o como fato anterior à cultura. A cultura nesse sentido surge sob a forma de jogo, ou seja, ela

assume uma forma lúdica, pois se “processa segundo as formas e ambiente do jogo”,

transformando-o em fenômeno cultural, preservado na memória e fixado na tradição

(HUIZINGA, 2005, p. 53).

Nesse contexto, considerando as características formais do jogo abordadas pelo autor

que as resume como: “atividade livre, conscientemente tomada como "não-séria" e exterior à

vida habitual, [...], praticada dentro de limites espaciais e temporais próprios, segundo uma

certa ordem e certas regras.” (HUIZINGA, 2005, p. 16), pode-se concluir de maneira geral

que o jogo se trata de uma atividade voluntária, caracterizado pela liberdade exercida na sua

prática. Nesse sentido o autor relaciona a liberdade do jogo à evasão da vida “real”, isso

significa dizer que o jogo está estritamente ligado à representação de alguma coisa, como

exemplo, os jogos infantis, no qual a criança deixa de lado a vida “real” (costumes e regras

cotidianas) para mergulhar em um universo de mistérios e faz de conta, é como se o jogador

ficasse imerso dentro do “círculo mágico” do jogo. Quando o sujeito entra dentro desse

círculo as experiências adquiridas ganham um importante significado na vida cotidiana.

Sendo assim, o “círculo mágico” do jogo mais do que um espaço de diversão, poderá

representar uma ferramenta e um lugar de aprendizagem.

Figura 1: O Círculo Mágico de Johan Huizinga

Fonte: Autor

22

A Figura 1 representada traz a ideia do “círculo mágico” do jogo defendida por

Huizinga em seu livro Homo Ludens (1938). A ideia do “círculo mágico” nos permite

entender como acontece o processo de aprendizagem através do uso das técnicas do jogo. Na

figura podemos observar a existência de um “mundo real” que corresponde a uma realidade

externa distinta da vivenciada dentro do “círculo mágico”. No “mundo real” encontramo-nos

envoltos por uma serie de leis e costumes que acabam por regrar o nosso modo de vida

cotidiano, nesse universo estamos cercados por aflições, incertezas, medos, preocupações,

responsabilidades, etc. Porém, quando entramos dentro desse “círculo mágico”, que consiste o

espaço onde o jogo acontece, as regras da vida cotidiana perdem validade. O “círculo mágico”

passa a representar uma realidade temporária, onde as regras do jogo constituem as leis do

mundo imaginário criado através do jogo. Assim sendo, as experiências vivenciadas dentro

desse mundo imaginário e temporário ganham um novo significado na vida cotidiana dos

sujeitos envolvidos, pois se cria, inconscientemente, uma nova percepção acerca dos assuntos

a serem compreendidos.

Portanto, essa ideia de “círculo mágico” criada por Huizinga nos permite visualizar de

maneira conceitual como o jogo, enquanto elemento lúdico poderá representar uma

importante ferramenta de educação.

Ainda, no que se refere à compreensão do termo lúdico, podemos encontrar várias

teorias que o relacionam a ação de brincar, que por sua vez está estritamente ligado aos

termos brincadeira e brinquedo, distintos do conceito de jogo até aqui abordado.

Segundo Winnicott (1975) o brincar é uma experiência criativa e tem um lugar e um

tempo para acontecer. "é no brincar, e somente no brincar, que o indivíduo, criança ou adulto,

pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral: e é somente sendo criativo que o

indivíduo descobre o eu (self)" (WINNICOTT, 1975, p. 80). Nesse sentido, o autor aborda um

fenômeno do qual denomina “espaço potencial” onde delega ser o fundamento da ação do

brincar. Segundo sua teoria é dentro do “espaço potencial”, entre a subjetividade e sua

expressão objetiva, que surge o que ele denomina de fenômeno transicional, é através do

brincar com objetos transicionais que o sujeito transita da subjetividade para o mundo

objetivo.

Portanto, o brincar caracteriza-se como uma atividade que propicia ao sujeito

expressar-se criativamente, possibilitando o seu desenvolvimento autoexpressivo, no qual se

desenvolve o pensar, conhecer e aprender significativos.

Assim, cabe frisar a importância da ludicidade no processo de ensino e aprendizagem

para um desenvolvimento integral do sujeito, no qual o lúdico assume um papel de

23

fundamental importância nesse processo, pois age como uma ferramenta facilitadora de

aprendizagem, contribuindo para o desenvolvimento cognitivo, físico, psicológico e social dos

sujeitos.

A fim de entender esse universo que envolve a ludicidade como uma ferramenta

facilitadora de aprendizagem, faz-se necessário compreender primeiramente que ele abrange

tanto os jogos quanto as brincadeiras e os brinquedos. Nesse sentindo, Kishimoto (2010)

conceitua os termos jogo, brinquedo e brincadeira, procurando distinguir cada um deles,

atentando para as peculiaridades que os diferenciam.

Segundo Kishimoto (2010, p. 107) o jogo pode ser visto como “o resultado de um

sistema linguístico que funciona dentro de um contexto social”, ou seja, o jogo assume um

caráter sociocultural, o que significa dizer que cada contexto social constrói a sua

representação de jogo, sendo expresso através da linguagem. Ainda segundo a autora o jogo é

caracterizado pela presença de um sistema de regras específicas, como também pelo próprio

objeto.

Com relação ao brinquedo, Kishimoto afirma ser esse um suporte para a brincadeira.

Diferindo do jogo, “o brinquedo supõe uma relação íntima com a criança e, [...], uma

indeterminação quanto ao uso, ou seja, a ausência de um sistema de regras que organizam sua

utilização.” (KISHIMOTO, 2010, p.108). Segundo a autora, o brinquedo ainda estimula a

representação e a expressão de imagens que evocam aspectos da realidade, ou seja, o

brinquedo possui a característica de retratar a realidade, porém modificando-a da sua forma

real, o que significa dizer que o brinquedo poderá representar uma realidade incorporada com

um imaginário pré-existente, é o criador do objeto lúdico.

Já a “brincadeira é a ação que a criança desempenha ao concretizar as regras de um

jogo, ao mergulhar na ação lúdica. Pode-se dizer que é o lúdico em ação.” (KISHIMOTO,

2010, p.111).

Enfim, para reconhecer o papel da ludicidade como um fator que contribui para o

desenvolvimento e para a construção do conhecimento do sujeito, faz-se necessário

compreender primeiramente que esta constitui, segundo Luckesi (2005, p. 03), “um fenômeno

interno do sujeito, que possui manifestações no exterior”, sendo caracterizada como uma

experiência de plenitude possibilitada para aqueles que a vivenciam em seus atos. Assim

sendo, uma atividade para caracterizar-se como lúdica, necessita que o sujeito esteja nela

inteiro e pleno. Por esse motivo as atividades lúdicas podem representar uma importante

ferramenta de auxílio no processo de desenvolvimento integral do sujeito.

24

3.1.1 O brincar e o desenvolvimento da criança

O reconhecimento do brincar como atividade relevante para o desenvolvimento

infantil, tem sido um tema bastante abordado ao longo dos tempos devido às suas

potencialidades em relação ao desenvolvimento, principalmente infantil, em razão das

capacidades proporcionadas pela ação do brincar.

Em virtude da grande complexidade desse termo, adotarei neste trabalho a definição

do brincar abordada por Kishimoto. Nesse sentido, o brincar (brincadeira) será abordado

como uma atividade de ação da criança sobre o brinquedo – objeto de suporte a brincadeira.

Em relação à importância do brincar para o desenvolvimento infantil abordarei os estudos

teóricos da psicologia realizados por Jean Piaget (1896/1980), Lev. S. Vygotsky (1896-1934),

H. Wallon (1879/1962).

O brincar é uma das atividades mais importantes no desenvolvimento da criança,

através dela a mesma desenvolve com naturalidade a expressão, comunicação, socialização e

a descoberta do mundo. Nessa perspectiva pode-se definir o brincar como uma atividade

culturalmente necessária para o desenvolvimento integral infantil, principalmente por

constituir-se como elemento lúdico. O que possibilita à criança permear suas vivências entre a

realidade interna e externa, de modo que venha a socializá-las.

Tomando como ponto de partida o desenvolvimento humano e seus inúmeros

processos construtivos, diferentes estudos abordam o ambiente como sendo o principal

elemento causador desse desenvolvimento. É através da interação com o ambiente que o ser

humano irá construir estruturas mentais e habilidades para colocá-las em funcionamento,

surge então à ideia do construtivismo, ou seja, o ser humano desenvolve-se a partir da sua

interação com o meio.

Segundo Piaget (1971 apud PEREIRA et al, 2006) é nessa perspectiva sócio-

interacionista que as crianças constroem o conhecimento, na interação com o outro e com o

meio. Constituindo assim um trabalho intenso de criação, significação e ressignificação da

realidade.

A teoria de Piaget do desenvolvimento cognitivo é uma teoria de etapas, e parte do

princípio que o desenvolvimento intelectual é construído em uma sequência de estágios

relacionados com a idade da criança. Assim, quatro estágios do desenvolvimento marcarão o

surgimento das estruturas da inteligência, cada qual com as suas particularidades.

O primeiro período compreende o estágio sensório-motor (0 a 2 anos); O segundo

período corresponde o estágio pré-operatório (2 a 7 anos); O terceiro período representa o

25

estágio das operações concretas (7 a 12 anos) e o quarto e último período equivale ao estágio

das operações formais (12 anos em diante).

Estágio Sensório-motor (0 a 2 anos)

• O estágio sensório-motor é o período da "inteligência prática" porque é uma fase do desenvolvimento cognitivo onde a criança não usa a linguagem, emprega apenas as suas ações e percepções;

• É a ação e a percepção que estimulam o desenvolvimento das estruturas mentais.

Estágio Pré-operatório (2 a 7 anos)

•Início do pensamento com linguagem, o jogo simbólico, a imitação diferenciada, a imagem mental e as outras formas de função simbólica;

•É o estágio da representação, a criança pensa um objeto através de outro;

•Introdução ao mundo da moralidade, nesta fase a criança entra no mundo dos valores, das regras, das virtudes e das noções de certo e errado.

Estágio Operatório concreto (7 a 12 anos)

•Este estágio refere aos primórdios da lógica, a criança faz uso da capacidade das operações reversíveis apenas em cima de objetos que ela possa manipular, de situações que ela possa vivenciar ou de lembrar a vivencia, ainda não existe, por assim dizer, a abstração.

•A criança age com a inteligência operacional e é "graças à reversibilidade, que a mente humana emancipa-se do espaço e tempo, isto é, ela pode percorrê-las em todas as direções.

Estágio Operatório formal (12 anos em diante)

•Neste estágio a criança pode versar sobre enunciados verbais, isto é, sobre proposições. O raciocínio hipotético-dedutivo torna-se possível, e, com ele, a constituição de uma lógica 'formal' quer dizer, aplicável a qualquer conteúdo;

•A partir deste estágio, as pessoas não pensam apenas operatoriamente, mas avançam mais e mais em direção a raciocínios formais e abstratos.

Figura 2: Desenvolvimento Cognitivo segundo Piaget

Fonte: Autor

26

A figura acima representa a teoria do desenvolvimento cognitivo proposta por Jean

Piaget e concerne acerca da construção do conhecimento e inteligência, baseado em processos

e etapas vivenciadas pelo homem em períodos sucessivos, desde o seu nascimento até a vida

adulta. Assim sendo, a figura traz o processo de aquisição do conhecimento representada em

quatro estágios por quais os sujeitos perpassam para evoluírem intelectualmente. Segundo

Piaget (1971 apud PEREIRA et al, 2006) essa aquisição do conhecimento acontece por meio

da relação sujeito/objeto, sendo caracterizada como dialética, em consequência dos processos

de assimilação, acomodação e equilibração.

Nessa perspectiva, Piaget (1971 apud PEREIRA et al, 2006) afirma existir uma

associação entre os estágios de desenvolvimento cognitivo e as manifestações lúdicas que

acompanham o desenvolvimento do intelecto, o que significa dizer, que cada estágio do

desenvolvimento está relacionado com algum tipo de atividade lúdica, manifesta ao longo do

desenvolvimento do sujeito. Assim sendo, Piaget (1971 apud PEREIRA et al, 2006) aborda a

brincadeira e o jogo como atividades de fundamental importância para a construção da

inteligência, uma vez que suas manifestações influem estruturas mentais característicos das

fases de desenvolvimento cognitivo. Dessa forma, as estruturas mentais são classificadas em

três modalidades de atividades lúdicas, são elas: Os Jogos de Exercício Sensório-motor; Jogos

Simbólicos e os Jogos de Regras.

Os Jogos de Exercícios – Manifestam-se no estágio sensório-motor e representam o

inicio da atividade lúdica da criança. O que caracteriza esse período são os princípios

funcionais da ação psicomotora por meio da exploração, experimentação, repetição e

movimento.

Os Jogos Simbólicos – Manifestam-se no estágio pré-operatório e representam a

substituição do real pelo simbólico. Nesse período são predominantes as atividades de

assimilação e transformação do real em função dos desejos da criança. É o que se caracteriza

como faz de conta. Neste universo “a criança se auto expressa, realiza seus sonhos e fantasias,

revelando conflitos, medos e angústias, aliviando tensões e frustrações.” (PEREIRA, et al,

2006, p. 17).

Os Jogos de Regra – Manifestam-se a partir da construção da ideia de regra na

criança. Nessa fase a criança desenvolve um raciocínio operatório, ou seja, dá-se início ao

pensamento lógico, manifesto no planejamento das estratégias de jogo. Assim sendo, o

pensamento lógico torna-se determinante no desenvolvimento das estruturas cognitivas da

criança.

27

Para Wallon (1995 apud PEREIRA et al, 2006) o brincar é a atividade própria da

criança, uma vez que possibilita a mesma vivenciar suas experiências de forma lúdica,

promovendo seu desenvolvimento nos planos afetivo, cognitivo e motor. Nesse sentido, o

autor defende a ideia de que o desenvolvimento da criança está relacionado diretamente com a

sua interação com o meio, ou seja, existe uma interação dialética que promove o

desenvolvimento da criança, e essa interação está estritamente ligada às dimensões sociais e

históricas.

Dessa forma, segundo Wallon (1995 apud PEREIRA et al, 2006) o desenvolvimento

cognitivo ocorre por uma sucessão de estágios por qual a criança oscila entre a afetividade e

inteligência. Assim, quatro estágios configuram o desenvolvimento cognitivo, são eles:

Estágio impulsivo-emocional (1º ano); Estágio sensório-motor e projetivo (1 a 3 anos);

Estágio do personalismo (3 a 6 anos) e Estágio categorial (6 anos). Nesse sentido, Wallon

chama a atenção para o fato de o desenvolvimento ser descontínuo, uma vez que ocorrem

rupturas, retrocessos e reviravoltas durante o processo de aquisição do conhecimento.

Assim, o lúdico e a infância estão estritamente relacionados, visto que a ação lúdica

(Jogar/brincar) envolve a criança com o lúdico numa relação dialógica. Portanto, o jogo para a

criança representa um espaço de liberdade para a construção do seu mundo simbólico, porém

uma liberdade regrada, em consequência das suas características, já que todo jogo pressupõe a

utilização de regras explícitas e pré-estabelecidas.

Dessa forma, Wallon (1995 apud PEREIRA et al, 2006) classifica os jogos de acordo

com suas características, sendo eles:

Jogos funcionais: Abrangem movimentos corporais simples e a produção de ruídos

vocais;

Jogos de ficção: São as atividades de interpretação, como por exemplo, brincar de

boneca;

Jogos de aquisição: Compreende a exploração de mundo por parte da criança, e essa

exploração acontece através da observação, escuta e percepção;

Jogos de fabricação: Envolvem o ser criativo da criança, combinando ficção e

aquisição numa atividade de combinar, criar, transformar e reunir novos objetos;

Para Vygotsky (2007), o brincar é uma atividade necessária no processo de construção

da maturação e desenvolvimento da criança, onde são constituídos os significados sociais e

históricos produzidos ao longo da vida. Portanto, segundo o autor, o sujeito se constitui na sua

28

interação com o mundo social e histórico, e essa interação enriquece o mundo subjetivo da

criança, favorecendo assim, a construção do desenvolvimento e identidade infantil.

Nessa perspectiva, a brincadeira torna-se de fundamental importância para o

desenvolvimento infantil, uma vez que possibilita a criança transformar e produzir novos

significados, isso significa dizer que através do brincar a criança desenvolve a sua maturidade,

ou seja, ela aprende a agir cognitivamente.

Nesse sentido, Vygotsky chama a atenção para o fato de a brincadeira constituir uma

esfera potencial na criação das zonas de desenvolvimento proximal (ZDP), definida pelo autor

como:

[...] a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma

determinar através da solução independente de problemas, e o nível de

desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas

sob a orientação de um adulto ou em colaboração com os companheiros mais

capazes (VYGOTSKY, 2007, p. 97).

Portanto, a ZDP configura-se como essencial no processo de aquisição e construção do

intelecto da criança, uma vez que possibilita a ação de competências e habilidades potenciais,

que transitam de uma esfera interpsicológico, por meio do processo de interiorização, para

uma esfera intrapsicológicas. Dessa forma, compreende-se que os potenciais de

desenvolvimento ativados pela ZDP estão subordinados tanto às competências e

conhecimentos particulares quanto aos estabelecidos a partir da interação com o meio social.

Assim sendo, o brincar desempenhará um papel de fundamental importância na

formação do sujeito, visto que sua ação despertará na criança aprendizagens que futuramente

irão se desenvolver e tornar-se parte das funções psicológicas consolidadas do sujeito,

ampliando suas experiências e propiciando um desenvolvimento integral envolvendo aspectos

como: autonomia, cognição, criatividade, criticidade, emoções/afetividade, iniciativa,

linguagem; psicomotricidade e valores.

3.1.2 O lúdico como elemento educacional

O lúdico nas últimas décadas tem sido objeto de interesse de muitos pesquisadores,

sobretudo os relacionados à psicologia e educação. Nesse sentido, as abordagens estão

voltadas, principalmente, acerca da importância do lúdico para criança como instrumento

potencializador de conhecimento e auxiliador do desenvolvimento infantil.

Nessa perspectiva, o lúdico tem sido um grande auxiliador nas práticas pedagógicas

voltadas à educação infantil, essencialmente, por possibilitar a criança interagir com o meio

29

através de suas vivencias internas e externas, propiciando assim, sua inserção cultural. O que

têm concretizado novas experiências na construção do saber, promovendo o desenvolvimento

motor, cognitivo, afetivo e social do sujeito.

Desta forma, considerando as especificidades das crianças e a importância do lúdico e

da ludicidade para elas, evidencio a relevância da escola como um espaço essencial na

partilha e construção do conhecimento, como também do fortalecimento e desenvolvimento

das relações interpessoais. Assim sendo, a escola enquanto instituição formadora deve

proporcionar ao aluno uma educação de qualidade, que venha a suprir com as suas

necessidades e que reconheça a sua bagagem cultural, a fim de promover o desenvolvimento

integral do sujeito. Nesse sentido, o espaço educacional na qualidade de potencializador e

promotor do desenvolvimento, deve propor atividades significativas que venham a contribuir

no despertar dos estímulos e interesses do sujeito. Assim, a utilização das atividades lúdicas

configura-se como uma ferramenta pedagógica de grande valia no despertar das

aprendizagens e aquisição do conhecimento de maneira prazerosa, principalmente, pelo seu

caráter motivador e estimulador da criatividade e livre expressão.

Nesse contexto, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil - RCNEI

(BRASIL, 1998) – instrumento de orientação das práticas pedagógicas - vem discutir a

questão da importância da presença do lúdico nas práticas pedagógicas de educação infantil,

abordando especificamente o brincar da criança como um meio de comunicação que

possibilita a evolução dela para uma fase operativa.

Dentro de uma perspectiva educacional, o brincar da criança poderá se manifestar de

diferentes maneiras e aspectos, sendo a atividade lúdica representada pelas brincadeiras,

brinquedos e jogos.

A brincadeira basicamente se refere à ação de brincar, ao comportamento

espontâneo que resulta de uma atividade não estruturada; o jogo é

compreendido como uma brincadeira que envolve regras; brinquedo é

utilizado para designar o objeto de brincar. A atividade lúdica abrange de

forma mais ampla os conceitos anteriores, sendo utilizada como ferramenta

na área educacional, nas diversas fases do desenvolvimento. (MORAES,

2012, p. 40).

Para Vygotsky (2007) “atividades lúdicas têm por objetivo facilitar o progresso da

personalidade integral, o progresso de cada uma das funções psicológicas intelectuais e

morais” do sujeito. É por meio do lúdico que as crianças desenvolvem e potencializam suas

competências relativas ao aprender a ser, aprender a conviver, aprender a conhecer e aprender

a fazer (os quatro pilares da educação). Nesse sentido, a atividade lúdica caracteriza-se como

uma importante fonte para o conhecimento de mundo por parte da criança. É através da

30

interação com o outro, do contato com objetos e com o meio, explorando-o e vivenciando-o,

que a criança irá desenvolver a sua aprendizagem.

Dessa forma, o brincar representa um grande potencial para educação, aprendizagem e

solução de problemas. Assim sendo, diferentes aspectos constituem os jogos, brinquedos e

brincadeiras na educação infantil, são eles descritos por Teixeira (2010 apud MORAES,

2012):

Aspectos físicos: são os componentes de ordem cognitiva, afetiva e social que

acompanham o ato motor, [...], as crianças, por meio dos jogos, brinquedos e

brincadeiras, exercitam seu corpo como um todo, conhece seus limites,

exploram a realidade e coordenam seus movimentos.

Aspectos emocionais: brincando a criança tem a possibilidade de extravasar

suas emoções, reproduzir situações que lhe foram traumáticas, expressar seus

desejos e suas angústias, assumir diversos papéis, reviver, refazer e reorganizar

situações indesejadas.

Aspectos socioculturais: os brinquedos e as brincadeiras são atividades

culturalmente pertencentes ao ser humano. Para Brougère (2010), a criança

está inserida, desde o seu nascimento, em um contexto social, e seus

comportamentos estão impregnados por essa imersão inevitável.

Nessa perspectiva, a utilização dos jogos, brinquedos e brincadeiras no ambiente

escolar, como aporte didático tem por objetivo estimular o desenvolvimento das habilidades

afetivas, cognitivas, físicas, sociais e motoras do sujeito. Para a criança, as práticas

pedagógicas que utilizam do lúdico como ferramenta para aquisição do conhecimento e

aprendizagens são de fundamental importância para o seu desenvolvimento global, uma vez

que estimulam, impulsionam e motivam a exploração de desafios, imaginação e criatividade

possibilitando assim, descobertas, envolvimento, desenvolvimento, compreensão e

aprendizado.

Friedrich Froebel (1782-1852) importante pedagogo da infância, foi um dos pioneiros

na inclusão do brincar no sistema educativo por acreditar que as crianças deveriam aprender

por meio da experimentação, prática e vivência. Froebel (2010 apud MOAES, 2012, p.49)

defendia a ideia da pedagogia ativa, no qual a ação é a protagonista das práticas educativas.

Segundo o autor a criança se desenvolve através do agir e produzir, dispensando o predomínio

das práticas pedagógicas voltadas para o olhar e escutar.

Portanto, introduzir o lúdico as práticas pedagógicas promove o desenvolvimento e

aprendizagem da criança de maneira prazerosa. Contudo, para que a aprendizagem através do

31

lúdico ocorra de maneira efetiva, o educador enquanto facilitador, mediador, problematizador

e propositor do processo de ensino e aprendizagem do sujeito, precisa ter ciência do

planejamento, como consequência os objetivos precisam estar bem definidos, como também a

organização do espaço físico e a seleção dos materiais. Assim sendo, as práticas lúdicas

deverão oportunizar o desenvolvimento, aprendizagem, conhecimento e a interação, para isso

o educador deve atentar para as limitações e particularidades de cada aluno, considerando

sempre o seu conhecimento prévio para uma atividade lúdica contextualizada e significativa.

Surgem então, debates referentes aos objetivos das práticas lúdicas no ambiente

escolar. Portanto, duas correntes discutem a aplicabilidade das atividades lúdicas no contexto

escolar. A primeira aborda a questão do brincar da criança como uma prática necessariamente

livre e a segunda aborda o brincar da criança como uma prática indispensavelmente

direcionada. Segundo Moyles apud Moraes (2012):

O brincar livre: Refere-se à ação exploratória. A criança se expressa de maneira

livre e desenvolve sua criatividade. O brincar acontece espontaneamente, sem

intervenções quanto aos objetivos. Toda a bagagem teórica e cultural da criança é

considerada. Nesse brincar é desenvolvida a aprendizagem real da criança - o que

ela domina e conhece.

O brincar direcionado: Refere-se à ação dirigida. A criança é levada a um estágio

mais avançado em termos de conhecimento e aprendizagem. O brincar é mediado

pelo educador, nessa ação são estabelecidas metas a serem alcançadas através do

brincar da criança, oportunizando o desenvolvimento em nível potencial – novas

aprendizagens perante orientação.

Nesse sentido, cabe ressaltar a importância de haver um equilíbrio entre a aplicação

das duas práticas relativas ao brincar da criança no contexto escolar. O brincar livre da criança

é relevante em razão do despertar do conhecimento no nível de desenvolvimento real, uma

vez que são revelados os conhecimentos prévios dos sujeitos. Assim, o educador tendo ciência

do desenvolvimento real da criança poderá realizar o planejamento do brincar dirigido,

oportunizando o permear do nível de desenvolvimento real para o potencial. Sendo o

educador enquanto mediador fundamental para o desenvolvimento proximal da criança. É

através do brincar dirigido que a criança irá desenvolver uma aprendizagem significativa,

visto que propicia o domínio do conhecimento e aprendizagem, resultando em

desenvolvimento.

Dessa forma, a atividade lúdica, seja qual for o seu contexto de desenvolvimento,

ocorre de maneira distinta. Segundo Maluf (2009 apud MORAES, 2012) a atividade lúdica

32

pode acontecer de forma solitária e/ou solitária compartilhada, e cooperativa e/ou cooperativa

complexa.

Solitária: o brincar da criança é individual, nesse momento ela vivencia a

exploração do mundo, as formas, as texturas, os sons, as cores, os espaços, as

possibilidades de seu corpo etc. a fim de conhecer e descobrir o seu próprio eu.

Solitária compartilhada: o brincar ainda é individual, porém surge o interesse nas

atividades de outras crianças. É através da observação que a criança demonstra seu

interesse pelo brincar do outro. As atividades nessa fase estão ligadas ao

desenvolvimento psicomotor da criança.

Cooperativa: o brincar da criança passa a ser compartilhado. As atividades agora

são realizadas em conjunto, há predominância do trabalho em grupo. Nessa fase o

brincar refere-se à ordenação dos aspectos corporais com os espaços temporais.

Cooperativa complexa: o brincar está relacionado à ideia de regra. E as atividades

são realizadas em grupo, porém o bom desempenho na atividade depende do

conjunto do grupo. Nessa fase a criança apresenta uma motricidade bem

desenvolvida e brinca de faz de conta, manifestando suas ações numa esfera

imaginativa que combina situações reais com elementos fantasiosos.

Portanto, fica evidente o quanto a prática lúdica no contexto escolar é relevante para o

desenvolvimento das aprendizagens da criança. Sobretudo por configurar-se como um

poderoso instrumento de socialização e fonte de conhecimento, visto que o lúdico (jogo,

brinquedo e brincadeira) constitui-se como fenômeno cultural e social, oportunizando a troca

de experiências entre os envolvidos no processo de aprendizagem. Assim sendo, a escola

enquanto espaço lúdico deve representar um ambiente estimulante e motivador para a

expressividade criativa da criança, propiciando a aquisição do conhecimento mediante o

prazer acompanhado por vivências significativas. Para tanto, a escola precisa dispor de um

espaço receptivo à criança e que se apresente de maneira agradável para o convívio. Nessa

perspectiva, o lúdico enquanto elemento educacional vem ganhando espaço dentro do

contexto escolar, uma vez que sua aplicação no processo de desenvolvimento da criança tem

manifestado eficácia para a formação integral, significativa e prazerosa das crianças.

33

3.1.3 O lúdico na música como elemento transformador das relações educacionais

A música se faz presente na vida do homem desde os primórdios da civilização, seja

por meio do canto, da dança ou do instrumento, a música enquanto linguagem musical tem se

configurado como uma forma de expressão do homem, e assim vem acompanhando todo o

seu percurso histórico fazendo-se presente na cultura dos povos.

Nessa perspectiva, Mosca (2010, p.37) nos fala que a música “faz parte da nossa

história enquanto seres coletivos, culturais e transformadores do mundo”. Com isso, podemos

concluir que a música é parte integral do homem, uma vez que permite a sua comunicação e

expressão a partir da interação com o meio e com o outro, possibilitando a produção de

conhecimento. Logo, vivenciar a música é fator importante na construção do conhecimento,

visto que nos oportuniza viver a música em sua plenitude através da experiência do fazer

musical, na qual o sujeito se faz pleno e íntegro. Para tanto, se faz necessário propiciar

situações de aprendizagem para que a música possa desempenhar o seu papel no

desenvolvimento e expressão do ser em sua plenitude.

No que se refere à educação, ao espaço escolar, a música se faz presente por meio

dessa vivência musical, configurando-se como linguagem expressiva do sujeito em processo

de construção do conhecimento. Dessa maneira, a música enquanto linguagem expressiva

torna-se essencial para a formação do homem, uma vez que favorece o desenvolvimento da

sensibilidade estética e artística, bem como o potencial criativo do sujeito, proporcionando,

portanto o fazer, o apreciar e o interpretar na música. Assim sendo, vivenciar a música

ludicamente possibilita à criança se envolver e participar do fazer musical em um estado de

entrega e inteireza, no qual a experimentação e apropriação se fazem perante a experiência

musical. A música, portanto, deve ser acessível a todos.

Por conseguinte, o papel do educador enquanto mediador do conhecimento se faz

necessário no sentido que, ao interagir com a criança em desenvolvimento, ele estará

estimulando a produção de aberturas nas zonas de desenvolvimento proximal desses sujeitos,

portanto, a distância entre o nível de desenvolvimento real e potencial, e essa interação

propicia a aprendizagem que por sua vez promove o desenvolvimento.

Segundo Vygotsky (1989, p. 101):

(...) um aspecto essencial do aprendizado é o fato de ele criar a zona de

desenvolvimento proximal; ou seja, o aprendizado desperta vários processos

internos de desenvolvimento, que são capazes de operar somente quando a

criança interage com pessoas em seu ambiente e quando em cooperação com

seus companheiros. Uma vez internalizados, esses processos tornam-se parte

das aquisições do desenvolvimento independente da criança .

34

No entanto cabe ressaltar, para que essa aprendizagem venha acontecer de maneira

efetiva deve-se conhecer, reconhecer e respeitar as especificidades de cada aluno,

possibilitando meios desse aluno vencer suas barreiras e limitações no processo do fazer

musical, de forma a favorecer a participação de todos.

Nessa perspectiva, os métodos de educação musical como propostas de ensino

constituem uma fonte para pensar e realizar a prática pedagógico-musical, de modo que venha

atender as necessidades do cotidiano da sala de aula. Como nos diz Penna (2011, p.21). “em

lugar de se prender a um determinado “padrão” musical, faz-se necessário encarar a música

em sua diversidade e dinamismo, pois sendo uma linguagem cultural e historicamente

construída, a música é viva e está em constante movimento”.

Desse modo, uma aula de música na ludicidade torna-se uma ação significativa para a

criança, na medida em que proporciona a articulação entre o novo em confronto com a

realidade, oportunizando situações de autoexpressão e desenvolvimento. Para tanto, é

fundamental que as experiências e vivências culturais das crianças em relação à música sejam

consideradas no fazer musical. Nesse processo, o aspecto social do ser humano estará em

desenvolvimento, isto é, sua interação com o outro, condição necessária para o

desenvolvimento das capacidades do sujeito de forma plena. Portanto, “a vivência musical é

um processo biológico, psicológico, social, afetivo, cultural e espiritual, e deve se manifestar

a partir do prazer, na realização pelo desejo em conhecer, na integração com o outro, na

curiosidade e na criação” (MOSCA, 2006, p.46).

Em linhas gerais, pode-se concluir que a música, devido a suas características

intrínsecas, contribui para o desenvolvimento das estruturas cognitivas, linguísticas e

psicomotoras do sujeito, como também favorece o desenvolvimento de habilidades sociais,

sensoriais, afetivas e musicais. Para Garcia (2005) a contribuição da música no crescimento

geral do educando pode configurar-se como agente de desenvolvimento sensorial e

emocional, como estímulo mental e como forma de sensibilização, além de proporcionar

gratificação e êxito. A autora ressalta que esses aspectos entrelaçados fundem a mente, o

corpo e as emoções numa experiência importante ao desenvolvimento dos processos

cognitivos.

Finalmente, podemos perceber o quanto o ensino da música torna-se importante para o

desenvolvimento como um todo do sujeito, quando trabalhada de maneira correta na

ludicidade, a música é capaz de envolver o sujeito em um estado interno de plenitude no qual

a vivência da experiência propicia a criação e ampliação do conhecimento. Para tanto, deve-se

considerar as particularidades e bagagem cultural da criança, para que dessa maneira a música

35

possa exercer o seu papel de forma efetiva no desenvolvimento das potencialidades da

mesma.

Nesse sentido, a música para a criança com necessidades educacionais especiais

representa um meio de comunicação e expressão auxiliando no desenvolvimento das

capacidades (habilidade e competências) e potencialidades em função dos processos de

criação e aquisição do conhecimento. Assim sendo, a música quando desenvolvida na

ludicidade possibilita a essa criança aprender de maneira ativa e prazerosa, segundo o seu

ritmo e capacidades, propiciando a integração social e emocional por meio das relações e

vivências.

3.2 Inclusão de pessoas com necessidades educacionais especiais

Nesse tópico serão discutidas questões referentes à educação especial, portanto um

breve histórico referente à educação especial desde a antiguidade até a contemporaneidade, no

qual abordo a evolução do conceito referente à deficiência, como também a evolução do

termo com o qual eram tratadas as pessoas com necessidades educacionais especiais. Ainda

trago discussões referentes à educação inclusiva no contexto da educação musical, abordando

as possibilidades e desafios para uma aula de música inclusiva.

3.2.1 Breve Histórico da Educação Especial: da Exclusão à Inclusão Social

O processo de inclusão de pessoas com necessidades educacionais especiais (NEE) no

âmbito da educação vem crescendo e evoluindo gradualmente ao longo do tempo. Assim

sendo, no decorrer da história o atendimento à diversidade tem sido palco de muitas

discussões sociais, seja nas áreas de psicologia, sociologia ou educação, o tema tem

conduzido muitas investigações e pesquisas com a finalidade de minimizar, principalmente, as

marcas referentes às condições de descrédito social vivenciada pelas pessoas com

necessidades educacionais especiais.

Nessa perspectiva, muitos avanços significativos ocorreram referentes à inclusão

social desses sujeitos. Contudo, são emergentes as mudanças no que se refere à legislação e

política educacional para uma prática inclusiva. Para tanto, faz-se necessário, primeiramente,

compreender o contexto histórico relativo à concepção de deficiência, no qual abordarei as

concepções de deficiência nos diferentes períodos históricos até a atualidade, objetivando

compreender o quanto essas ideias foram influentes para a educação e desenvolvimento das

aprendizagens significativas desses sujeitos.

36

A figura acima representa a concepção de deficiência por períodos históricos da nossa

civilização. Na antiguidade registros históricos comprovam o abandono social explícito em

relação à pessoa com necessidades educacionais especiais, não havia qualquer cuidado ou

preocupação referente à educação e inclusão desses cidadãos na sociedade. A idade média

revoluciona a concepção de deficiente de “coisa” para pessoa. Assim, o deficiente passa a ter

o direito à vida, determinado pelo atendimento caritativo de cunho religioso. Porém, ainda

havia privação social e segregação em instituições especializadas. A idade moderna abordava

a concepção de deficiência, diferentemente dos períodos anteriores, como manifestação de

doença, ao invés de segregar, tratar o deficiente. Nesse período iniciava-se o atendimento

educacional ao deficiente. Porém, ainda prevalecia a segregação em instituições

•Período regido pelo pensamento mítico-religioso. Deuses e espíritos traçavam o destino da natureza e do homem. As pessoas com necessidades educacionais especiais eram segregadas e abandonadas, sendo tolerados apenas aqueles que traziam benefícios econômicos ou sociais à pólis. Quanto a educação, essa era privilégio das classes dominantes e servia para o aprimoramento do intelecto (corpo e mente).

ANTIGUIDADE

•Período regido pela influência do cristianismo. Instaurava-se a nova ordem de monoteísmo e dos lemas de amor ao próximo. Nesse sentido, a deficiência era vista como um instrumento de Deus para a reprodução da caridade pelos homens, uma vez que a pessoas com necessidades educacioanis especiais era considerada como carente e merecedora de compaixão, sendo primordialmente segregadas em instituições religiosas, abrigos e manicômios. O deficiênte não recebia nenhum tratamento especializado e a educação continuava sendo um privilégio de poucos. Ainda, a deficiência também poderia ser entendida como uma forma de punição e revelação do anticristo.

Idade

MÉDIA

•Período marcado pelas expansões territoriais e cientifícas. É por meio do desenvolvimento da medicina que surge a desarticulação da concepção de deficiência de possessão demoníaca e obra divina para a ideia de excepcionalidade como manifestação de doença. Nesse sentido, a deficiência é tratada como fruto de fatalidade hereditária e genética. Sendo assim, ao invés de segregar o deficiente é reconhecida a necessidade de tratá-lo. A ideia de educar a população com deficiência era pouco expressiva no início do período. Contudo, aos poucos a ideia de educação especial foi sendo considerada por vários estudiosos (médicos, educadores, filosofos) o que consistiu na criação de métodos e instituições educacionais pensando na educação da pessoa com NEE.

Idade

Moderna

•Período marcado pelo desenvolvimento e consolidação do reigme capitalista. Como consequência um crescimento econômico e demanda por uma sociedade escolarizada e competitiva. Nesse sentido, há um crescimento das instituições especializadas para pessoas com necessidades educacionais especiais, da filantropia ao direito. Como também a proliferação das escolas, surge a obrigatoriedade do ensino e os movimentos sociais pelos direitos humanos, ratificando o direito à educação da pessoa com NEE. Surgem, então, os movimentos de integração e inclusão escolar.

Idade Contemporâna

Figura 3: Concepção de deficiência por períodos históricos.

Fonte: Autor

37

especializadas. O último período constitui a idade contemporânea que corresponde ao nosso

momento histórico atual. Nesse sentido, muitos avanços significativos referentes à concepção

de deficiência foram considerados nesse período. Como exemplo, o crescimento das

Instituições para pessoas com necessidades educacionais especiais; reconhecimento dos

direitos da pessoa com NEE, como também o surgimento de duas correntes filosóficas

referentes aos direitos desses sujeitos em sociedade, o paradigma de inclusão e filosofia da

integração social, ambos contrários ao modelo de segregação.

Portanto, a partir dessa análise histórica, relacionada com mudanças de cunho social,

político, religioso e econômico de cada período, podemos compreender como se deu a

concepção de deficiência defendida atualmente. Assim sendo, me deterei às abordagens

referentes aos paradigmas relacionados à educação da pessoa com deficiência na idade

contemporânea. São eles: Segregação (até 1960); Integração (1970 - 1990) e Inclusão (1990

- atualidade).

Segundo Nunes (2013) o paradigma da segregação tem início no século XX (Idade

Moderna) com o “tratamento” médico das pessoas com necessidades educacionais especiais,

os responsáveis percebem a importância da pedagogia para o “tratamento” desses sujeitos.

Nesse sentido, os médicos, principais responsáveis pela educação dos deficientes, vistoriavam

as escolas regulares através do Serviço Médico-Escolar, separando os alunos ditos “normais”

daqueles que apresentavam alguma “anormalidade”. Assim, esses alunos eram encaminhados

para as classes especiais mantidas em hospitais psiquiátricos e instituições especializadas.

Porém, era notório o descaso do poder público em relação ao investimento no ensino e

serviços especializados para o atendimento desses alunos. Nascem então as instituições

filantrópicas e escolas privadas especializadas no ensino da pessoa com necessidades

educacionais especiais que funcionavam em paralelo as escolas regulares. Portanto, até a

década de 1960 a educação da pessoa com NEE acontecia de maneira precária em sistemas

segregados de ensino.

O paradigma de integração tem início no final da década de 1960, impulsionado

pelos movimentos sociais de direitos humanos, e se estende até as décadas posteriores

(1970/80). Dessa forma, o atendimento educacional na perspectiva da integração acontecia

tanto em ambientes de escolas regulares e especializadas, quanto em contextos hospitalares e

instituições residenciais. Assim sendo, o paradigma de integração passa a ser refletido nas leis

de educação, como é o caso da Lei de Diretrizes e Base (LDB) de 1961 e Constituição Federal

de 1988.

38

No art. 88 da LDB de 1961 (4.024/1961), por exemplo, consta que “a

educação de excepcionais, deve, no que for possível, enquadrar-se no

sistema geral de educação, a fim de integrá-los na comunidade”, [...], a

Constituição Federal de 1988 consagrou a educação como um direito de

todos e garantiu o atendimento educacional especializado aos “portadores de

deficiência”. Conforme expresso no artigo 208, esses educandos deveriam

estudar “preferencialmente” na rede regular de ensino. (NUNES, 2013, p.55)

Contudo, a falta de preparo em atender os alunos com necessidades educacionais

especiais no contexto da escola regular, configurou como um dos principais desafios do

paradigma de integração, uma vez que as “dificuldades em avaliar e conceber a progressão do

aluno de um nível mais limitativo para um nível mais restritivo” (NUNES, 2013, p.56) acabou

por excluí-los do que integrá-los. Portanto, o paradigma de integração propunha ao aluno o

desenvolvimento de habilidades para que pudesse integrar o sistema regular de ensino, o que

significa dizer que o aluno deve se adaptar à escola, que permanece inalterada. Assim sendo, a

Política Nacional de Educação Especial (1994) evidencia o acesso às classes comuns do

ensino regular aos educandos que “[...] possuem condições de acompanhar e desenvolver as

atividades curriculares programadas do ensino comum, no mesmo ritmo que os alunos ditos

normais” (BRASIL, 1994, p.19).

O paradigma de inclusão tem início na década de 1990, frente a um cenário de

descaso e fragilidade da educação. Assim sendo, conferências mundiais foram realizadas para

discutir o momento atual da educação naquele período. Diante disto, em 1994 durante a

Conferência Mundial sobre Necessidades Educacionais Especiais: acesso e qualidade,

promovida pela Organização das Nações Unidas para a Educação Ciência e Cultura -

UNESCO, Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF e Programa das Nações

Unidas para o Desenvolvimento – PNUD, é discutida a questão da inclusão educacional do

aluno com NEE - acesso, ingresso e permanência na escola básica. Sendo produzido um

documento, a Declaração de Salamanca, marco da propagação do paradigma da educação

inclusiva. Nesse documento as escolas regulares passariam a acomodar todas as crianças

independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou

outras. (Declaração de Salamanca, 1994). Enfim, a escola regular passaria a ser um ambiente

acolhedor a todos, tornando-se assim, um espaço de combate ao preconceito e discriminação.

Nesse sentido, no paradigma de inclusão a escola se modifica para atender às

necessidades dos alunos com NEE, o que difere do paradigma de integração, no qual o aluno

se modificava, ao invés da escola. Assim, na proposta de inclusão é objetivado o

desenvolvimento das habilidades acadêmicas do aluno, como também a manutenção dos

39

serviços ofertados pela educação especial de maneira suplementar. Atingindo um público alvo

voltado para alunos com necessidades educacionais especiais mais leves.

No Brasil o paradigma de inclusão é defendido por lei. “A Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional – LDB (Lei nº 9.394/96), que enaltece o papel da escola regular e atribui à

Educação Especial uma função complementar.” (NUNES, 2013, p.67). Nessa perspectiva, a

educação especial ganha título de modalidade educacional e passa a ser ofertada aos alunos

com deficiência em todos os níveis e etapas do ensino, desde a educação infantil até o ensino

superior.

Figura 4: Educação Especial enquanto modalidade de ensino.

Fonte: MEC (BRASIL, 2003).

Portanto, a educação especial enquanto modalidade de ensino que complementa a

educação ofertada pela escola regular, deve perpassar todos os níveis de ensino de forma que

venha atender às necessidades de todos os alunos com necessidades educacionais especiais,

tendo como principal objetivo a permanência do aluno em espaços menos segregados e mais

inclusivos. Essa perspectiva é refletida no art. 59 da LDB “os sistemas de ensino devem

assegurar aos alunos currículo, métodos, recursos e organização específicos para atender às

suas necessidades”. (NUNES, 2013, p.68) dificultando a migração dos estudantes para

espaços mais restritivos.

Nesse contexto, onde a concepção de deficiência perpassa todos os períodos históricos

da nossa civilização, cada qual com suas características particulares referentes às influências

40

de cunho social, político, religioso e econômico de cada período. Faz-se necessário

compreender o perfil do deficiente defendido por lei no Brasil.

Partindo dessa ideia da concepção de deficiência por períodos históricos, conclui-se

que a pessoa com necessidades educacionais especiais passa a ser vista e tratada como tal, a

partir da visão de pessoa como ser pensante, capaz de desenvolver habilidades afetivas,

cognitivas, físicas, sociais e motoras. Assim, ao longo da evolução do conceito a pessoa com

NEE vem sendo referida com diferentes nomenclaturas. Na década de 1960 as pessoas com

necessidades educacionais especiais eram referidas como Excepcionais, em razão da

deficiência ser vista como manifestação de doença, fruto de fatalidades hereditárias ou

congênitas. Na década de 1980, as pessoas com necessidades educacionais especiais passam a

ser referidas como Portadores de Deficiência como consta na Constituição Federal de 1988,

termo usado para “referir-se aos educandos com deficiências sensoriais (auditiva e visual),

deficiências múltiplas, condutas típicas (transtornos de comportamento; autismo) e altas

habilidades.” (NUNES, 2013, p.55).

As mudanças referentes à nomenclatura com a qual são chamadas as pessoas com

NEE persistem conforme a evolução do conceito de deficiência, como consequência há

mudanças também nos paradigmas da educação especial. Após a implantação do paradigma

de inclusão a pessoa com deficiência passa a ser referida como pessoa com Necessidades

Educacionais Especiais (NEE). Assim sendo, conforme a resolução CNE/CEB nº. 02/2001, os

sujeitos que apresentassem alguma das características descritas abaixo se enquadrariam na

qualidade de pessoa com NEE:

I – dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de

desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades

curriculares, compreendidas em dois grupos:

a) aquelas não vinculadas a uma causa orgânica específica;

b) aquelas relacionadas a condições, disfunções, limitações ou deficiências;

II – dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais

alunos, demandando a utilização de linguagens e códigos aplicáveis;

III – altas habilidades/superdotação, grande facilidade de aprendizagem que

os leve a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes

(CNE/CEB/MEC, Resolução nº 2/2001, art. 5.º).

Nessa perspectiva, segundo Glat e Blanco (2007 apud NUNES, 2013, p.69) os sujeitos

referidos com NEE seriam aquelas pessoas classificadas com ritmos de aprendizagens

diferenciados (Lentos/acelerados). E as NEE estariam ligadas ao ambiente de aprendizado não

à deficiência apresentada pelo sujeito.

Atualmente, a nomenclatura utilizada é pessoa com deficiência, termo mais

abrangente e que engloba mais características que as abordadas no termo NEE. Assim,

41

conforme a Organização Mundial de Saúde a deficiência refere-se, portando, a “perda ou

anormalidade de estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica, temporária ou

permanente.” (AMIRALIAN et al, 2000 apud NUNES, 2013, p.69-70). Nesse contexto é

implantada a Política da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, no qual os

serviços de Educação Especial passam a ser restritos aos que apresentam deficiências,

transtornos e altas habilidades.

Enfim, ao longo do tempo muitas mudanças ocorreram no que se refere à concepção e

nomenclatura no tratamento da pessoa com deficiências, transtornos e altas habilidades. Essas

mudanças foram bastante relevantes para inclusão desses sujeitos em sociedade, uma vez que

o deficiente passa a ser visto como cidadão com direitos e deveres iguais a todos os outros

cidadãos, uma conquista de grande valia para esses sujeitos que há tanto tempo foram

estigmatizados, segregados e abandonados socialmente. Contudo, muito ainda precisa ser

mudado, principalmente em relação à educação desses sujeitos que apesar das conquistas

ainda se apresenta de maneira bastante precária, sobretudo pela falta de professores aptos e

qualificados no atendimento das necessidades dos alunos com necessidades educacionais

especiais, como também pela falta de prédios adaptados e recursos satisfatórios para uma

educação verdadeiramente inclusiva.

3.2.2 Educação inclusiva e a música

No Brasil, a proposta implantada atualmente referente à educação da pessoa com

deficiências, transtornos e altas habilidades é a Política da Educação Especial na Perspectiva

da Educação Inclusiva, que consiste na preservação da aprendizagem comum para todos.

Portanto, objetiva assegurar a transversalidade da educação especial nos diferentes níveis,

etapas e modalidades de ensino, proporcionando o atendimento às necessidades educacionais

especiais e a igualdade de condições para o acesso e permanência do aluno com necessidades

educacionais especiais na escola regular de ensino. Transformando a escola em um ambiente

não segregador, propenso ao combate do preconceito e discriminação social. (BRASIL, 2007).

Contudo, a concretização de um ambiente educacional inclusivo necessita de um

sistema educacional consciente das suas obrigações favoráveis à inclusão de todos, sem

restrição. Para tanto, é pertinente ressaltar a relevância de algumas medidas que tornam a

prática da inclusão verdadeiramente inclusiva, tais como: currículos globais e flexíveis;

recursos físicos e pedagógicos adaptáveis às necessidades dos alunos, bem como o

diagnostico das especificidades dos mesmos; equipes multidisciplinares de apoio ao

42

atendimento dos alunos com necessidades educacionais especiais, como também docentes

qualificados para atender os diferentes ritmos de aprendizagem presentes no ambiente da sala

de aula, entre outras. O que implica a reformulação de todo o sistema educacional escolar,

desde a sua estrutura e organização, até a reforma do projeto político pedagógico com a

adaptação dos recursos didáticos, práticas avaliativas, metodologias e estratégias de ensino, de

forma que venha tornar a educação significativamente possível e acessível a todos.

Portanto, como afirma Glat et al (2006, p.345) a Educação Especial enquanto

modalidade de ensino deve constitui-se como um “sistema de suporte permanente e efetivo à

escola, [...], não como um sistema educacional especializado à parte”, uma vez que esse

suporte configura-se de fundamental importância para o atendimento apropriado da

heterogeneidade presente dentro e fora das salas de aula. Logo, a introdução de um sistema

educacional inclusivo constitui tarefa complexa, visto que oferecer um ensino de qualidade e

que atenda a todos, requer a transformação do sistema educacional como um todo.

No entanto, apesar da complexidade que envolve a implantação da educação inclusiva

no sistema regular de ensino, tal medida, quando implantada adequadamente, configura para a

pessoa com necessidades educacionais especiais uma oportunidade de minimizar o estigma da

deficiência construído socioculturalmente. É por meio da socialização e relações de

afetividade construídas entre alunos com necessidades educacionais especiais no ambiente

escolar, como também do desenvolvimento de competências e habilidades acadêmicas que

propiciem a ampliação de capacidades cognitivas, afetivas, motoras e sociais, que a educação

inclusiva vem proporcionar benefícios para o desenvolvimento global da pessoa com NEE.

Como afirma Kebach e Duarte (2008, p.107) incluir significa “propiciar uma educação

voltada para a cooperação, autonomia intelectual, social e aprendizagem ativa”, o que por sua

vez proporciona aprendizagem e desenvolvimento.

Nessa perspectiva, a educação musical enquanto disciplina sistematizada do currículo

escolar possibilita ao sujeito com ou sem deficiência, o enriquecimento e desenvolvimento

humano, uma vez que as práticas e conhecimentos musicais atuam no nível de

desenvolvimento potencial dos alunos impulsionando o desenvolvimento psicointelectual e

musical dos envolvidos. Porém, quando não planejadas ou estruturadas deixam de

impulsionar o desenvolvimento, cabendo ao professor, enquanto mediador dos processos de

ensino-aprendizagem, desenvolver metodologias eficazes no atendimento da diversidade

presente na sala de aula. Para tanto, se faz necessário que o professor conheça as

especificidades de cada aluno, descobrindo as suas necessidades e carências. Possibilitando

assim, o aprendizado e a superação das barreiras e limitações.

43

Desse modo, a educação musical configura-se para a pessoa com deficiência,

transtornos e altas habilidades, um importante meio de comunicação e autoexpressão, uma

vez que permite a experiência do fazer, interpretar e apreciar, o que contribui para uma

aprendizagem e desenvolvimento de maneira ativa e prazerosa. É nesse sentido que ressalto a

importância de desenvolver práticas musicais por meio da vivência plena e significativa

dessas atividades, em virtude dos benefícios psíquicos, cognitivos e motores que a

aprendizagem musical vivenciada poderá proporcionar.

Para Vygotsky (2007) a aprendizagem é um processo ativo, moldado na experiência,

vivência e interiorização do novo. Portanto, cabe ao professor desenvolver práticas musicais

diferenciadas, considerando sempre a bagagem cultural, os interesses e motivações do aluno,

tornando-o sujeito da sua própria aprendizagem, visto que a escola representa um ambiente

propicio para o desenvolvimento das relações interpessoais e intrapessoais.

Assim sendo, ao considerarmos a educação inclusiva e o processo de ensino-

aprendizagem ofertado pela escola regular de ensino à pessoa com necessidades educacionais

especiais, deve-se antes de qualquer coisa, atentar para os conteúdos e conhecimentos

compatíveis com o potencial de aprendizagem desses sujeitos. Como afirma Mantoan apud

Louro (2006, p.29), “não se deter na deficiência em si, mas sim nas possibilidades e

capacidades de aprendizagem que estes deficientes possuem”, promovendo assim, a inclusão.

Portanto, a garantia de uma educação de qualidade para todos está em um ensino que se

adequa às necessidades específicas de cada aluno, oferecendo oportunidades que se adequam

aos potenciais de aprendizagem de todos os sujeitos.

Nessa perspectiva, inúmeros estudos enfatizam a necessidade de repensar o processo

de ensino-aprendizagem, de forma que venha a desenvolver as capacidades mentais de todos

os alunos inseridos no contexto escolar. Para tanto, faz-se necessário que o professor,

enquanto mediador do processo de ensino-aprendizagem busque por alternativas e estratégias

didático-pedagógicas que favoreçam o atendimento às diferenças na sala de aula. Assim sendo,

o lúdico como instrumento pedagógico, tem configurado uma poderosa ferramenta de ensino-

aprendizagem, apresentando resultados muito significativos no que se refere à apropriação e

aquisição de conhecimento, principalmente, dos alunos com deficiência.

No brincar, a criança forma conceitos, cria situações imaginárias, experiencia,

vivencia e desenvolve capacidades motoras, artísticas, criativas, cognitivas e sociais. Portanto,

aprende como ser e agir no mundo, compreendendo a realidade em que está inserida através

da interação com o contexto cultural proporcionado por meio da ludicidade.

44

Dessa forma, o emprego do lúdico no processo de aprendizagem da criança com

deficiência facilita o desenvolvimento do potencial desses sujeitos. Para tanto, cabe ao

professor o papel de planejar as atividades lúdicas de acordo com as necessidades dos seus

alunos, considerando sempre o nível de desenvolvimento e as formas de aprendizagem do

aluno. Com isso, o professor estará desenvolvendo uma prática educativa favorável ao

desenvolvimento do sujeito, proporcionando uma aprendizagem de maneira significativa e

prazerosa, de acordo com as capacidades e necessidades de cada aluno.

Para Vygotsky (1989 apud ZAPPAROLI, 2012, p.27) “é fundamental focar as

potencialidades destes sujeitos e não à reabilitação dos defeitos.” Nesse sentido, as atividades

lúdicas configuram-se como verdadeiras potencializadoras na aquisição do conhecimento,

uma vez que propicia o desenvolvimento das zonas de desenvolvimento proximal do aluno. O

que significa a distância entre o nível de desenvolvimento real – o que a criança é capaz de

fazer sozinha - e o potencial – capacidade de aprender com o auxilio de outras pessoas.

Nessa perspectiva, a música enquanto linguagem expressiva propicia conhecimento

através da vivência plena do fazer musical. É por meio da vivência musical que o aluno com

ou sem deficiência poderá experienciar o fazer, o interpretar e o apreciar artístico,

promovendo situações propicias a troca de experiências nos níveis afetivos, linguísticos,

intelectuais e motores. Portanto, pode-se afirmar que a música é de natureza lúdica, visto que

se processa segundo as formas do jogo, o jogo do fazer musical.

Assim, como afirma Mosca (2009, p.40) “vivenciar a música ludicamente é nos

oportunizarmos à entrega e ao deleite no fazer. Tomamos para nós essa vivência, expandindo

nossa musicalidade, nos expressando pela e na linguagem musical”. Logo, a vivência musical

é lúdica. E caracteriza-se ludicamente porque possibilita a quem vivencia os seus atos a

experiência de plenitude (LUCKESI, 2005).

Em síntese, incluir significa oportunizar condições iguais a todos para uma vida social

com respeito às diferenças. Contudo, essa realidade ainda configura-se distante do nosso

momento atual, diante dos obstáculos impostos socialmente para efetivação da prática

inclusiva. Nesse contexto, a educação inclusiva também se apresenta de maneira insatisfatória

nas escolas de ensino regular, apesar de ser assegurada por lei. Portanto, cabe ao sistema

educacional repensar o ensino que atenda à diversidade das salas de aula. Para isso, algumas

medidas são fundamentais na efetivação da prática inclusiva: “as adaptações de currículo,

procedimentos, materiais, mobiliários e da estrutura dos prédios escolares, [...], pois garantem

as oportunidades de acesso e de aprendizagem” aos alunos com necessidades educacionais

especiais (SOARES, 2006, p.107).

45

Dessa forma, a educação musical como componente curricular obrigatório deferido

por lei (N° 11.769/08), é favorável à inclusão, uma vez que oportuniza situações de

aprendizagem, onde o fazer musical através da vivência lúdica se faz pleno na sua prática.

Promovendo, o desenvolvimento integral do sujeito por meio da apropriação da cultura,

mediante a apreciação, criação, experimentação, interpretação e manipulação da música nas

suas infinitas possibilidades, associado ao prazer e satisfação do fazer musical.

Enfim, a educação é um direito de todos, sem restrição. Portanto, todos possuem a

capacidade de aprender, desde que sejam oferecidas condições e oportunidades para o

desenvolvimento da capacidade de apreensão do conhecimento. Assim, a educação musical

enquanto disciplina curricular da educação básica, também deve ser um direito de todos, visto

que o desenvolvimento da musicalidade é algo intrínseco do sujeito. Por isso a necessidade de

considerar a bagagem cultural do aluno, como também seus interesses e motivações para

tornar a aprendizagem verdadeiramente significativa.

46

4 MÚSICA E EDUCAÇÃO INCLUSIVA: UMA EXPERIÊNCIA NO CURSO DE

INICIAÇÃO ARTÍSTICA – CIART

Nesse capítulo serão apresentados os dados referentes ao espaço de ensino investigado.

São eles: o contexto de ensino e a apresentação dos sujeitos da pesquisa, dois educadores e os

dois estudos de caso da pesquisa.

4.1 O contexto

O Curso de Iniciação Artística (CIART) da Escola de Música da Universidade Federal

do Rio Grande do Norte é um curso voltado para a formação artística inicial dos seus

participantes e fica localizado dentro do prédio da Escola de Música no Campus Universitário

da UFRN. Portanto, caracterizando-se como um espaço de ensino especializado em música,

uma vez que promove a formação específica em música.

Segundo Cunha (2009):

Escolas especializadas de música são instituições educativas subordinadas às

exigências da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN,

Lei n.°9394/96, (BRASIL, 1996) em termos de regulamentação curricular, e

também, [...], estão sob o controle de agências do Estado ou de instituições

religiosas. Elas conferem diplomas reconhecidos pelo Ministério da

Educação, [...], Os professores são profissionais com legitimação de sua

competência docente ligada diretamente a sua formação em Licenciatura,

bacharelado, mestrado ou doutorado em música. (CUNHA, 2009, p. 09-10)

Dessa forma, a escola especializada caracteriza-se como educação de formação

profissional, enquadrando-se especificamente na modalidade de ensino formal devido estar

vinculada diretamente ao Estado ou Instituições religiosas em termos de diretrizes curriculares

e regulamentações institucionais, como também em termos de regimento interno do ambiente,

currículo, cursos, formação, etc. As características que determinam a escola especializada

vêm a definir o ambiente de ensino especializado como, profissionalizante e qualificador de

formação reconhecida pelo Ministério da educação, o que torna a escola especializada como

sendo uma forma específica de instituição escolar.

O CIART é um curso com tradição entre os cursos ofertados pela Escola de Música da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (EMUFRN), o mesmo possui 53 anos de

existência, sendo fundado junto a EMUFRN no ano de 1962, sob a direção da professora

Fátima Brito.

Quando surgiu, o curso tinha como objetivo a formação apenas musical dos alunos,

sendo denominado Curso de Iniciação Musical e tinha a duração de um ano. Porém, ao longo

dos anos muitas mudanças ocorreram na estrutura curricular do curso, ao iniciar pelo nome,

47

agora denominado Curso de Iniciação Artística (CIART), por trabalhar a iniciação musical –

musicalização – como também a iniciação as artes plásticas. Posteriormente foi implantada a

estrutura curricular do curso, a introdução à flauta doce, como também o trabalho com a

expressão corporal. Contudo, as mudanças não ocorreram apenas na estrutura curricular,

houve mudanças tanto no que diz respeito à metodologia de ensino, na qual já foram

trabalhados os métodos de Sá Pereira, Edgar Willems, Murray Schafer e a abordagem Orff

Schulwerk, quanto em relação à estrutura física do curso. Enfim, muitas mudanças ocorreram

até se chegar à atual estrutura do CIART.

Atualmente, o curso é voltado especificamente para a formação musical dos seus

alunos, utilizando as outras linguagens artísticas - teatro, artes plásticas e literatura - como

complemento para a formação musical. O CIART se destaca em termos de qualidade,

excelência e comprometimento com a educação, tendo como missão:

Preparar a criança para que ela adquira uma consciência artística, através das

mais diversas atividades como Prática Coral, Banda Rítmica, Oficina de

Criação Musical, Flauta Doce, Educação Sonora e Apreciação Musical como

também Expressão Corporal e Literatura Infantil de forma que ela não tenha

uma vivência unilateral da arte, mas que trabalhe a sua sensibilidade artística

como um todo e de forma integrada (Projeto - Curso de Iniciação Artística –

CIART - SIGAA).

Como proposta pedagógica o curso objetiva “favorecer o desenvolvimento do gosto

estético e da expressão artística além de promover o gosto e o senso musical do educando e,

ainda, propiciar situações para que as crianças se tornem sensíveis, adaptáveis, produtivas e

felizes, o que, sem dúvida, ocorre quando nos sentimos integrados ao meio físico e humano”

(Projeto - Curso de Iniciação Artística – CIART/UFRN, 2015, p.4). O CIART tem duração de

03 (três) anos, e o ingresso no curso é feito por meio de sorteio, por se tratar de um curso

aberto à comunidade em geral. Atualmente, são ofertadas anualmente 20 vagas, das quais

25% são destinadas a participantes da comunidade interna da UFRN e em geral, 01 vagas por

turma são destinadas a participantes com algum tipo de deficiência ou necessidade

educacional especial.

Hoje, no que se refere à estrutura física, o CIART possui uma boa estrutura para a

realização das atividades, sendo seu espaço totalmente receptivo a criança. Algo bastante

importante para o bom funcionamento do espaço. Para tanto, o curso possui os mais variados

tipos de instrumentos musicais de pequena percussão, percussão e barras, tais como: Maracas,

Tambores, Castanholas, Triângulos, Pratos, Reco-recos, Clavas, Cocos, Chocalhos, Xilofones

(soprano, contralto e baixo), Metalofones (soprano, contralto e baixo), etc. A sala ainda conta

com ambiente climatizado, piano, quadro branco, projetor de multimídia, armários com

48

diversos tipos de materiais extra-musicais e de artes plásticas, mesas, cadeiras, etc. dois

banheiros um feminino e outro masculino, e sala da administração.

O corpo docente do CIART possui em seu quadro um total de 20 (vinte) pessoas,

sendo toda a equipe de professores e monitores formada por profissionais da área de educação

musical, sendo 05 (cinco) professores graduados, dos quais dois cursam doutorado na área de

educação musical e possui mestrado na mesma área, um cursa doutorado na área de educação

e possui mestrado também na área de educação, e os outros dois com mestrado em andamento

na área de educação musical. Em relação aos monitores que atuam no curso, todos são alunos

oriundos do curso de Licenciatura em Música da UFRN, estando em processo de formação.

Nessa perspectiva, o CIART atualmente constitui-se como um campo de formação e atuação

do graduando em Licenciatura em Música, portanto oportunizando situações efetivas de

experiência prático-pedagógico-musical ainda no processo de formação profissional inicial de

futuros docentes em música.

O CIART tem se estabelecido como forte impulsionador das práticas

pedagógico-musicais do Estado e na UFRN, abrangendo seu campo de

atuação aos níveis do ensino, pesquisa e extensão, buscando, sobretudo a

valorização do ensino e aprendizagem da música como elemento essencial

na formação do cidadão e para constituição da sociedade. (Projeto – Curso

de Iniciação Artística – CIART/UFRN, 2015, p. 18).

O corpo discente do CIART possui característica socioeconômica de classe média,

considerando que 70% da clientela são de alunos da Zona Sul da cidade do Natal-RN,

caracterizada por ser uma região mais favorecida socialmente e economicamente. Atualmente,

o curso atende uma média anual de 120 alunos distribuídos entre os turnos matutino e

vespertino. E esses alunos possuem faixa etária entre 06 e 09 anos de idade distribuídos entre

o sexo feminino e masculino.

As aulas oferecidas pelo CIART acontecem nas terças, quartas e quintas-feiras nos

turnos matutino e vespertino, sendo o horário de funcionamento do turno matutino das

08h00min as 11h00min, e o horário de funcionamento do turno vespertino das 14h00min as

17h00min. O curso tem em seu total a duração de 03 (três) anos dos quais são oferecidos três

níveis de ensino, 1º, 2º e 3º ano da iniciação artística, sendo uma turma por turno e duas por

nível de ensino.

No que diz respeito às relações sociais do ambiente escolar do CIART, as mesmas são

bastante afetivas e harmoniosas, existe o cuidado com as necessidades do próximo e o

respeito mútuo entre professores e alunos. Ainda no que se refere às relações sociais, são

realizadas apresentações semestrais de encerramento que socializam as relações entre todos os

49

alunos ingressantes do curso, o que representa um momento de fortalecimento das relações

entre os sujeitos envolvidos no ambiente escolar. Quanto às relações existentes no ambiente

de trabalho, as mesmas são bem agradáveis, é perceptível o nível de respeito existente entre a

equipe pedagógica, como também o nível de envolvimento desses profissionais no processo

de ensino-aprendizagem dos alunos. Para tanto, semanalmente são realizadas reuniões nos

quais são discutidos planejamento, organização e distribuição de tarefas para as aulas do ano

letivo.

4.2 Os sujeitos

Os sujeitos dessa investigação foram selecionados tendo em vista o seu

enquadramento na seleção de alunos com necessidades educacionais especiais do curso de

iniciação artística - CIART. Portanto, para esse estudo os sujeitos selecionados serão

abordados com nome fictício, preservando a identidade real desses alunos. Assim sendo,

utilizarei os nomes, Dórico para o sujeito um e Lídio para o sujeito dois.

A seguir discorro a respeito das características pessoais e histórico musical de cada

sujeito, abordando especificamente suas necessidades e particularidades referentes ao

processo de aprendizagem musical.

Aluno 01: DÓRICO

Dados pessoais e histórico musical

Dórico, é do sexo masculino, tem 10 (dez) anos de idade, e possui necessidades

educacionais especiais, porém sem diagnóstico fechado, sendo declarada por psicólogos e

neurologistas apenas a dificuldade comportamental do aluno.

Dórico começou a apresentar sinais da sua dificuldade comportamental ao completar

um ano de idade. Pequenas ações, atitudes e gestos como, por exemplo, dar um tchau e

mandar um beijo, não eram expressos pelo aluno. Até então visto como algo normal, referente

ao ritmo de desenvolvimento do mesmo. Contudo, essas dificuldades foram aumentando,

tornando-se mais intensas. E a entrada desse aluno na educação infantil com dois anos de

idade representa a descoberta dessa necessidade educacional especial, sendo percebidas

dificuldades em relação à interação do aluno com os colegas de turma. Assim sendo, aos 03

(três) anos de idade, Dórico inicia o tratamento psicológico a fim de minimizar as

dificuldades apresentadas.

No que se refere às especificidades desse aluno, são característicos da sua necessidade

educacional especial a dificuldade de coordenação motora global, comunicação, interação e

50

linguagem. Nesse sentido, são realizados trabalhos paralelos à escola para auxiliar no

desenvolvimento dessas habilidades deficientes no aluno, principalmente, atividades que

auxiliam o desenvolvimento motor como, por exemplo, natação.

Em relação à música, o aluno iniciou seus estudos musicais na escola regular, e

também no CIART. A música sempre foi algo que despertou o interesse do aluno,

principalmente o canto e a percussão.

Sobre a percepção da família

As informações apresentadas a seguir foram colhidas em entrevista com a mãe do

aluno Dórico. Assim sendo, serão abordados música e desenvolvimento infantil, tratando

especificamente a criança com necessidades educacionais especiais.

Nessa perspectiva, a responsável pelo aluno fala que a música foi muito importante

para o desenvolvimento do aluno, contribuindo para que houvesse uma melhora na sua

linguagem, sendo a música para o aluno, segundo o relato da responsável, uma forma de

comunicação e relacionamento com o outro. A música contribuiu também para uma melhora

da sua coordenação motora, por trabalhar com o corpo, influenciando para o conhecimento

corporal da criança, para o desenvolvimento rítmico e até mesmo da leitura e escrita.

Com relação às aulas de música ofertadas pelo CIART, a responsável por Dórico diz

que o curso foi muito importante para o desenvolvimento do aluno, contribuindo para a

questão da socialização, o fato dele fazer parte de um grupo foi muito importante, a questão

da musicalidade, por exemplo, o desenvolvimento rítmico dele aflorou bastante, contribuindo

para que ele adquirisse um conhecimento sobre ritmos diversificados e tipos diferente de

instrumento. Enfim, a responsável por Dórico afirma que “a musicalidade dele aflorou muito

mais e aumentou, ele hoje tem mais ritmo, canta mais músicas, é mais atento, isso aumentou

com o CIART”1 (2015), Em termos gerais, a experiência do curso foi muito significativa,

aflorou e melhorou muita coisa nele, contribuindo muito para o desenvolvimento do aluno.

Contudo, a responsável pelo aluno diz ter ficado um pouco frustrada por ele sair do curso sem

tocar flauta, apontando como motivo talvez uma falta de empenho da equipe em desenvolver

estratégias para o ensino do instrumento.

No que se refere à metodologia do curso para propiciar ao aluno o fazer musical, a

responsável pelo aluno diz ser favorável ao tipo de metodologia desenvolvida no curso, visto

que permite a construção do conhecimento a partir do ritmo do aluno, do que ele pode fazer

1 Para diferenciar as falas de entrevistas das de citação de autores, optei por destacar a fala dos entrevistados em

itálico.

51

momentaneamente. Contudo, a responsável por Dórico faz um comparativo entre os

resultados desse tipo de metodologia no desenvolvimento da aprendizagem musical dos seus

dois filhos alunos do CIART. Assim, ela acredita que para a sua filha a metodologia

desenvolvida pelo CIART funciona bem devido à aluna possuir uma iniciativa frente às

atividades promovidas pelo curso, já para o seu outro filho, Dórico, esse tipo de metodologia

não teve um efeito muito positivo, devido exigir muito a iniciativa do aluno, e Dórico,

segundo sua responsável, apresenta um déficit nessa questão da iniciativa, é algo

característico do aluno, sendo necessário um estimulo externo para que o seu potencial possa

ser explorado. Na minha concepção o lúdico por si só é convidativo, atrai, envolve, instiga,

portanto, propicia ao sujeito vivenciar a música em sua plenitude, e nessa vivência estamos

plenos, inteiros, completos, como afirma Luckesi (2009, p.2) “enquanto estamos participando

verdadeiramente de uma atividade lúdica, não há lugar, na nossa experiência, para qualquer

outra coisa além dessa própria atividade. Não há divisão. Estamos inteiros, plenos, flexíveis,

alegres, saudáveis”. Portanto, acredito que o tipo de metodologia utilizada pelo CIART, de

fazer o aluno vivenciar a música, não prejudica a participação efetiva do aluno na atividade,

pelo contrário, convida-o. Contudo, deve-se atentar para a questão da bagagem cultural do

aluno, uma vez que oportuniza a criança vivenciar experiências internas e externas na

interação com o outro e com o meio, concretizando novas experiências na construção do

conhecimento e tornando o ensino significativo para esse aluno.

Aluno 02: LÍDIO

Dados pessoais e histórico musical

Lídio, é do sexo feminino, tem 10 (dez) anos de idade, e possui necessidade

educacional especial diagnosticada como Síndrome de Down.

Nesse sentido, devido às características perceptíveis da síndrome, desde um mês de

vida que tem sido realizado trabalhos para amenizar as dificuldades inerentes, iniciando pelo

acompanhamento terapêutico realizado na clínica e em casa, seguidos pelo trabalho realizado

com a fonoaudióloga, devido à dificuldade em verbalizar. Assim, ao longo do crescimento e

desenvolvimento as dificuldades foram ficando mais aparentes, principalmente, no que se

refere ao aprendizado escolar. É na escola que as divergências vão aumentando devido o

atraso cognitivo e linguístico característico da Síndrome de Down. Assim sendo, as

especificidades da aluna são caracterizadas pelas dificuldades da linguagem, apresentando

melhoras a partir dos cinco anos de idade, e cognitivas como, por exemplo, percepção lenta e

52

dificuldade de compreensão. Já em relação à sociabilidade e desenvolvimento motor a aluna

não apresenta déficits, devido às terapias e socialização na escola.

No que se refere à música, o interesse tem sido demonstrado desde pequena, Lídio

sempre interagiu bem com os sons musicais, algo fortalecido durante as terapias com música.

A escola também foi um ambiente propício nesse despertar pela música. Logo em seguida, o

relacionamento com a música é intensificado com a entrada da aluna no CIART, sendo

desenvolvidos conhecimentos rítmicos e de canto.

Sobre a percepção da família

Os dados expostos a seguir foram colhidos em entrevista com a mãe da aluna Lídio,

sendo abordas questões referentes à música e desenvolvimento infantil, tratando

especificamente a criança com necessidades educacionais especiais.

Nesse contexto, a responsável pela aluna Lídio diz que a música é muito importante na

vida do ser humano e faz parte da alma, em sua opinião sem música não há vida. Diante disso,

afirma usar a música em diversas situações do dia a dia como um incentivo para aluna, por

acreditar que eleva a alma.

Desse modo, a responsável pela aluna fala sobre as contribuições da música no

desenvolvimento da mesma. Para ela a música foi importante porque beneficiou o

desenvolvimento da linguagem, sendo aperfeiçoada pelo canto, foi importante também porque

contribuiu para a motricidade, desenvolvida através do trabalho corporal e rítmico com os

instrumentos de percussão.

Com relação ao CIART, a responsável por Lídio fala que o curso foi muito importante

para a aluna porque desenvolveu sua musicalidade, ampliando suas potencialidades para a

música. Assim sendo, o curso foi importante porque desenvolveu muitas habilidades em Lídio,

como a musicalização, a oralidade melhorada através do canto, a superação da timidez devido

às apresentações, o medo do palco foi superado por causa dos recitais, e o fato de tirar música

de tudo em consequência do desenvolvimento rítmico. Contudo, a responsável pela aluna

ressalta que o inicio do curso foi bem difícil para Lídio, ela fala que a aluna não demonstrava

interesse em participar, e essa falta de interesse para ela estava relacionada à ausência de

percepção da equipe em olhar para essa criança com necessidades educacionais especiais,

como também a dificuldade apresentada pela aluna em dormir durante a noite, o que

prejudicava a sua vinda para o curso pela manhã, uma vez que Lídio não dormia bem durante

a noite.

53

No que se refere à proposta de ensino desenvolvida no curso, a responsável pela aluna

fala que o tipo de metodologia desenvolvida no CIART favoreceu muito o desenvolvimento

musical da mesma, visto que propicia a vivência dos conteúdos musicais. No geral ela

acredita que o CIART foi muito importante para o desenvolvimento de Lídio, tendo em vista

que a aluna aprendeu muita coisa e continua aprendendo, tanto é verdade que a responsável

por Lídio afirma ao término do curso direcioná-la para outros tipos de atividades musicais

para não perder o vínculo musical criado durante esse período frequentado no CIART.

4.3 Os educadores musicais

Participaram desta pesquisa 02 (dois) professores de música, os quais foram

selecionados criteriosamente a partir da experiência educacional com os dois sujeitos dessa

pesquisa, Dórico e Lídio, no espaço de ensino investigado. Portanto, respeitando o anonimato

da identidade dos educadores, para essa pesquisa foram os professores serão identificados

com nomes fictícios. Desta forma, os participantes foram denominados como, Jônio e

Mixolídio.

A seguir faço, resumidamente, uma caracterização desses profissionais, abordando

especificamente o tempo de docência em educação musical, formação acadêmica e a

experiência educacional com alunos com necessidades educacionais especiais.

Docente 01: JÔNIO

O educador Jônio é do sexo masculino, tem 22 (vinte e dois) anos de idade, e possui

06 (seis) anos de experiência na área de educação musical, iniciados como professor de

prática de violoncelo na igreja Assembleia de Deus Templo Central – Natal/RN. Com relação

à formação acadêmica, Jônio é concluinte do Curso de Licenciatura em Música pela

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, onde cursa também o Técnico em Violoncelo.

No que concerne à experiência com alunos com necessidades educacionais especiais,

Jônio diz ter iniciado essa experiência no seu primeiro contato como educador musical,

enquanto monitor e professor do CIART no ano de 2012. Dessa forma, o educador relata

como mediador do conhecimento, pensar sempre em abordagens que respeite a singularidade

do aluno e considere o que ele pode fazer momentaneamente como algo relevante é

fundamental para o seu processo de ensino-aprendizagem musical, porque isso faz com que o

professor pense em objetivos reais de serem alcançados por esse aluno.

54

Docente 02: MIXOLÍDIO

A educadora Mixolídio (nome fictício) é do sexo feminino, tem 49 (quarenta e nove)

anos de idade, e possui 34 (trinta e quatro) anos de experiência na área de educação musical.

No que se refere à formação acadêmica, Mixolídio é Doutoranda em Educação – Currículo

pela Universidade do Minho (Portugal), possui Mestrado em Educação – Corporeidade e

Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, especialização em

Pedagogia do Movimento pela UFRN, e Licenciada em Pedagogia pela Faculdade

Riopretense de Filosofia, Ciências e Letras – FARFI.

Com relação à experiência com alunos com necessidades educacionais especiais,

Mixolídio relata ter iniciado essa experiência desde os primeiros contatos como educadora

musical, ainda no interior de São Paulo, onde teve alunos com necessidade educacionais

especiais. Assim sendo, em suas experiências a educadora relata sempre ter procurando

diferentes caminhos para que esses alunos pudessem ser incluídos em suas aulas de música.

Em Natal, na Escola Viva, Mixolídio diz que pôde se debruçar em estudos sobre alunos com

necessidades educacionais especiais, suas especificidades e o trabalho pedagógico-musical a

ser desenvolvido com cada um deles, o que foi bastante relevante para a sua formação como

educadora.

55

5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Nesse capítulo serão apresentados os resultados da pesquisa, explanando acerca dos

dados encontrados nas entrevistas com os educadores musicais que atuaram com os alunos

com necessidades educacionais especiais.

Os princípios norteadores dessa investigação foram o lúdico, a música e a inclusão no

processo de ensino-aprendizagem dos alunos com necessidades educacionais especiais. Nesse

contexto, os docentes entrevistados foram indagados a respeito das suas concepções sobre

lúdico, ludicidade e inclusão. Consequentemente, foram direcionadas indagações referentes à

importância do lúdico para as propostas de educação musical em uma perspectiva inclusiva,

como também acerca das possibilidades de aprendizado que tal prática poderá oportunizar aos

sujeitos com necessidades educacionais especiais no cotidiano escolar. Por fim, são

direcionados questionamentos acerca dos alunos com necessidades educacionais especiais

presentes em sala de aula, sobre o desempenho destes alunos nas aulas e sobre seu

relacionamento com o grupo.

5.1 Entrevistando os docentes do campo investigado: compreensões e vivências

Então, a partir da categorização das falas dos professores entrevistados – docentes

esses que estiveram em contato com os sujeitos com necessidades educacionais especiais já

apresentados – segue-se a discussão dos dados a partir dos seguintes tópicos: Concepções

sobre o lúdico e ludicidade; O educador musical e a inclusão no espaço de ensino; O lúdico na

educação musical para uma prática inclusiva; Ludicidade e educação musical: Possibilidades

e desafios na aprendizagem; A inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais

no espaço de ensino investigado.

Concepções sobre lúdico e ludicidade

No que se refere o processo de investigação, buscou-se conhecer as concepções dos

educadores acerca dos conceitos de lúdico e ludicidade relacionados à educação musical.

Portanto, a partir das informações colhidas podemos compreender que para esses educadores

os termos, lúdico e ludicidades, estão relacionados à prática pedagógica no sentido de utilizá-

los como um elemento facilitador no processo de ensino-aprendizagem, tanto no que se

referem às estratégias, metodologias e abordagens favoráveis a um aprendizado significativo

para a criança com necessidades educacionais especiais, quanto em relação ao estado de

plenitude que as atividades lúdicas proporcionam aos envolvidos no processo. Em referência

56

Luckesi (2005) afirma que ao agirmos ludicamente vivenciamos uma experiência plena, ou

seja, a vivência de uma atividade lúdica nos propicia a plenitude da experiência.

Com relação à utilização do lúdico como elemento facilitador da aprendizagem, o

educador Jônio diz entender o lúdico, em um espaço lúdico, como:

Um elemento que favorece o processo de ensino-aprendizagem desse aluno

utilizando diversos recursos, [...], O lúdico, o ato do brincar, o ato de trazer

outros elementos e recursos para fazer com que esse aluno tome

propriedade do conteúdo estudado. [...], o lúdico vem para voltar os olhos

para aquele conteúdo de uma forma especial para trazer esse conteúdo para

a sala de uma forma diferente. Senão, nós faríamos sempre o convencional.

(JÔNIO, 2015).

Ou seja, o professor Jônio explica que o lúdico proporciona novas formas de fazer e de

aprender um determinado conteúdo, o que reforça a afirmação de Piaget (1998) ao dizer que a

atividade lúdica é o berço obrigatório das atividades intelectuais da criança, sendo

indispensável à prática educativa.

Ainda em relação ao lúdico como elemento educacional, a educadora Mixolídio

completa que o lúdico em um espaço de desenvolvimento da ludicidade, está ligado ao prazer

e entrega. Nesse sentido, o espaço lúdico deve, portanto, “promover uma aprendizagem

significativa e instigante, que faça o aluno pensar e sair da sua zona de conforto.”

(MIXOLÍDIO, 2015).

Trazendo essa concepção do lúdico para a educação musical, ambos os educadores

abordam a questão da vivência e do fazer musical na ludicidade, como um fator de

fundamental relevância para o desenvolvimento de um aprendizado significativo. Como nos

fala Mixolídio “a educação musical deve ser banhada de atitudes lúdicas, nas oportunidades

de diferentes vivências, diferentes maneiras de fazer e aprender.” (MIXOLÍDIO, 2015).

Portanto, podemos perceber que ambos os educadores concebem o lúdico, e

consequentemente a ludicidade, como algo que remete ao prazer e à satisfação em um estado

de inteireza e plenitude internas do ser, oportunizadas por meio da vivência lúdica, e que

propicia um aprendizado no qual o sujeito é protagonista da construção do conhecimento.

O educador musical e a inclusão no espaço de ensino

O processo de inclusão tem crescido e evoluído ao da história da humanidade. Assim

sendo, muitas mudanças favoráveis à inclusão das pessoas com necessidades educacionais

especiais foram acontecendo ao longo do tempo, permitindo a esses sujeitos exercer e exigir

os seus direitos como cidadãos de uma sociedade. Nesse contexto, a educação passa a ser um

57

direito de todos, sem exceção. Possibilitando aos sujeitos com necessidades educacionais

especiais o acesso à educação no ensino regular, antes inviabilizado. No entanto, essa

“educação para todos” tem sido tema de várias discussões acerca das condições de ensino

ofertadas a esses sujeitos.

Dessa forma, o CIART enquanto espaço de ensino tem tornado possível o acesso de

crianças com necessidade educacionais especiais à educação musical, já que existe uma

cláusula no documento oficial de execução do projeto que determina algumas vagas

destinadas as crianças com necessidades educacionais especiais, o que permite afirmar que o

projeto é adepto à educação inclusiva. Contudo, cabe a investigação e análise da prática

inclusiva que vem sendo desenvolvida dentro do espaço de ensino dessa pesquisa. Assim

sendo, procurei conhecer a concepção dos educadores entrevistados sobre educação inclusiva,

como também conhecer a proposta de inclusão desenvolvida pelo espaço de ensino

investigado.

A esse respeito o educador Jônio fala que incluir significa promover situações de

aprendizagem focando nas possibilidades desse aluno para que ele possa desenvolver suas

potencialidades de maneira efetiva. Para esse fim, é necessário que toda a equipe pedagógica

da instituição de ensino, desenvolva o seu trabalho de inclusão como ele deve ser feito na sua

essência. Nessa perspectiva, Jônio compreende o CIART como um espaço não totalmente

inclusivo.

Segundo ele:

O CIART é inclusivo em parte, pois se nós formos estudar o discurso da

inclusão e o que é todo o movimento da inclusão, sabe-se que realmente nós

não somos fidedignos ao processo de inclusão em nossas aulas, mas o curso

é tido como um curso inclusivo. (JÔNIO, 2015).

A despeito de manifestar sua compreensão acerca do CIART enquanto espaço

inclusivo, Mixolídio diz:

Penso que a inclusão acontece no CIART de acordo com o que é possível no

momento. Para avançarmos, teríamos que disponibilizar muitas horas de

estudo e compartilhamento entre a equipe, bem como um planejamento que

privilegiasse essas crianças em suas necessidades, com atividades

diferenciadas/adaptadas, com materiais diversos que pudessem atender às

questões motoras, bem como com alternativas metodológicas no ensino do

instrumento (flauta). (MIXOLÍDIO, 2015).

Portanto, segundo Carvalho (2000) para que a educação inclusiva ocorra efetivamente,

é necessário criar condições de aprendizagem que atendam as necessidades e interesses de

cada aluno, garantindo o desenvolvimento de todas as potencialidades. Para tanto, se deve

58

priorizar o respeito e valorização as diferenças e a remoção de todas e quaisquer barreiras que

impeçam a aprendizagem e a participação de todos. É perceptível que vivenciamos o processo

de inclusão com maior intensidade, principalmente no que se refere à educação. Portanto, a

presença de pessoas com necessidades educacionais especiais tem se tornado algo cada vez

mais comum nas instituições de ensino, e tornar essa educação acessível a todos é uma

obrigação.

Nessa perspectiva, entendendo o CIART como um espaço inclusivo. Procurei

investigar o processo de inclusão dentro desse espaço, buscando conhecer a proposta de

inclusão desenvolvida pelo curso.

Segundo o educador Jônio, o curso é adepto ao paradigma de inclusão. Contudo, não

dispõe de um projeto de inclusão.

No CIART, nós não propomos muito essa discussão [referindo-se a

preparação pedagógica para poder trabalhar com alunos com NEE], não que

não seja pauta de nossas reuniões ou de alguns diálogos, mas todos

esporádicos, nunca nos reunimos ou planejamos pensando naquele aluno,

nós não temos um esforço coletivo por parte da equipe em avaliar o aluno X

com deficiência ou o aluno Y, ou nós não reunimos forças da equipe para

pensar em uma estratégia, metodologia ou abordagem que venha a

favorecer o processo de ensino-aprendizagem desse aluno no CIART.

(JÔNIO, 2015).

Para Jônio, o fato do curso não possuir um projeto de inclusão, sendo adepto do

modelo inclusivo, prejudica o desenvolvimento do aluno com necessidades educacionais

especiais dentro desse espaço, uma vez que esse aluno não irá evoluir, nem ter um progresso

como realmente poderia ter. Portanto, destaca a importância em desenvolver uma inclusão

para além da socialização. Segundo Jônio, a socialização é muito importante para esse aluno,

porém ele dispõe de outros espaços para desenvolver a socialização. O CIART enquanto

espaço de ensino deve oferecer para esse aluno uma inclusão no universo da música. Incluir

pedagogicamente falando é pensar em estratégias, metodologias e abordagens que possam

favorecer o desenvolvimento desse aluno.

No que se refere ao processo de inclusão no CIART, a educadora Mixolídio

compartilha da mesma concepção de espaço inclusivo apresentada pelo educador Jônio. Para

a educadora, não existe uma preparação pedagógica promovida pela gestão do curso para

trabalhar com o aluno com necessidades educacionais especiais. Professores e monitores

aprendem esse trabalho na vivência diária com os alunos, na superação das dificuldades, na

busca por soluções diferentes para incluir esse aluno em sala de aula. Dessa forma, Mixolídio

destaca sobre o ser inclusivo, referindo-se a proposta de inclusão, que o incluir “só poderá

59

acontecer quando o aluno não for somente inserido no espaço de trabalho (sala de aula), mas

também tiver suas necessidades atendidas, em recursos, metodologias e materiais

diferenciados.” (MIXOLÍDIO, 2015). Incluir não é somente se fazer junto, mas é o permitir o

aprendizado propondo caminhos para esses alunos, desde o planejamento a execução da aula.

Como nos fala Mittler (2003 apud SOARES, 2006, p. 8), a presença da criança no ambiente

escolar não indica que ela está efetivamente incluída; é necessário, “[...], ajudar todos os

professores a aceitarem a responsabilidade quanto à aprendizagem de todas as crianças nas

suas escolas e prepará-las para ensinarem aquelas crianças que estão atual e correntemente

excluídas das escolas por qualquer razão”.

Assim sendo, segundo a educadora uma boa aula de música, na ludicidade e na

inclusão deveria seguir, no mínimo, os pressupostos de:

Desenvolvimento infantil; contextualização do tema a ser estudado;

preparação do professor e abertura para além do senso comum;

musicalização para o corpo inteiro – sou corpo que faz música; matriz

teórico-metodológica de música, educação musical, educação, psicologia e

inclusão; formação continuada de professores e monitores; matriz

curricular que compreenda a complexidade do ensino da música; vivências

musicais diversificadas, que promovam a apreciação, a reflexão e o fazer

musical (...). (MIXOLÍDIO, 2015).

De forma geral, podemos perceber pelo discurso dos educadores que o processo de

inclusão no CIART, ainda se encontra em processo de desenvolvimento perante a essência da

educação inclusiva em sua totalidade. Contudo, enquanto espaço de ensino especializado em

música, o CIART tem propiciado a criança com necessidades educacionais especiais o contato

com a linguagem musical priorizada pela vivência da atividade, mesmo que muitas vezes não

como desejada pelos educadores, mas oportunizada dentro do possível para o curso.

O lúdico na educação musical para uma prática inclusiva

Ao longo do tempo, o lúdico enquanto elemento de motivação e prazer tem

desempenhado um papel de fundamental importância dentro das práticas educativas. Portanto,

oportunizando situações de total entrega dos envolvidos durante o processo de ensino-

aprendizagem. Nessa perspectiva, a utilização do lúdico como instrumento pedagógico

possibilitará ao sujeito com necessidades educacionais especiais estar ativo em seu meio

sociocultural -, fazendo do lúdico uma ferramenta potencial no processo de inclusão.

No que se refere à educação musical, o lúdico se faz presente quando propiciamos aos

envolvidos no processo de ensino, a oportunidade de vivenciar a música de maneira ativa,

60

entregando-se ao prazer do fazer musical. O que poderá favorecer no sujeito com

necessidades educacionais especiais o desenvolvimento emocional, psíquico, cognitivo e a

integração social. Portanto, a música poderá representar um meio eficaz no rompimento das

barreiras e limitações, como também no despertar das potencialidades.

Nessa perspectiva, busco conhecer a concepção dos educadores entrevistados em

relação aos objetivos e importância do lúdico para o processo de ensino-aprendizagem de

pessoas com necessidades educacionais especiais.

No que concerne à utilização do lúdico na educação musical para uma prática

inclusiva, o educador Jônio fala sobre os seus objetivos em utilizar o elemento lúdico em sala

de aula. Para Jônio, o lúdico é utilizado em suas aulas de música com o objetivo de tornar a

vivência musical real e significativa. Como afirma Dallabona e Mendes (2004) o lúdico na

educação é significativo porque permite um desenvolvimento global e uma visão de mundo

mais real para a criança. Por meio das descobertas e da criatividade propiciada pelas

atividades lúdicas, a criança pode se expressar, analisar, criticar e transformar a realidade.

Assim sendo, o educador Jônio diz faz uso de diversas fontes do conhecimento como, por

exemplo, os mais variados tipos de elementos das linguagens artísticas - artes plásticas, dança,

música e teatro. Segundo o educador utilizar das diversas linguagens do conhecimento dar

sentido ao ensino de música.

É como se fosse uma transdisciplinaridade esse mesmo conteúdo ele

interpassa várias esferas do conhecimento, mas que essas esferas todas

somadas elas vão chegar a um resultado, que é fazer o aluno sentir

realmente a intencionalidade do que eu quero passar para ele. (JÔNIO,

2015).

Para Mixolídio o objetivo do lúdico na educação musical para uma prática inclusiva é

“promover uma aprendizagem significativa e instigante pensando em momentos que

priorizem a vivência musical e a reflexão.” (MIXOLÍDIO, 2015). Nesse sentido, a educadora

ressalta a ideia de que uma aula lúdica se faz perante o respeito às individualidades e

especificidades de cada sujeito dentro do processo de ensino-aprendizagem musical,

permitindo assim, a vivência e a reflexão a partir do vivido. Como nos diz Montessori (2010)

o respeito à individualidade do aluno é condição necessária para uma aprendizagem efetiva,

visto que cada ser é singular em seus interesses e ritmos de aprendizado. Dessa forma,

Mixolídio ressalta que a educação na ludicidade não deve ser encarada como uma estratégia

de ensino, mas como um estado do ser.

Com relação à importância do lúdico para o processo de ensino-aprendizagem das

crianças com necessidades educacionais especiais os educadores têm concepções afins, ambos

61

acreditam que a educação musical na ludicidade propicia um aprendizado significativo e

estimulador para a criança, fazendo-a agente da sua prática.

Para Jônio, o lúdico é importante para a educação porque possibilita a esses sujeitos

uma maior maturação e absorção em relação aos conteúdos estudados, uma vez que para o

aluno o aprendizado passa a fazer mais sentido quando vivenciado de maneira significativa. E

segundo Jônio, essa vivência é cultural porque oportuniza um ensino contextualizado com o

assunto estudado em sala de aula. Como diz Vygotsky (2007) as crianças passam a se

desenvolver de maneira mais intensa, em seus aspectos físicos e psíquicos, por suas relações

sociais e apropriação dos objetos da cultura. Portanto, segundo Jônio a contextualização do

assunto permite ao aluno vivenciar toda a esfera cultural que gira em torno do conteúdo

estudado, e para a criança essa forma de aprendizado vai começar a fazer mais sentido.

Para Mixolídio, o lúdico é importante para a educação porque permite a experiência de

plenitude ao sujeito em desenvolvimento, contribuindo para que esses alunos “possam sentir-

se protagonistas do fazer musical e, a partir de suas possibilidades e maneira de

ver/compreender o mundo musical, possam atribuir significado a esses momentos.”

(MIXOLÍDIO, 2015). Portanto, é nos momentos de vivência musical e reflexão que a

informação se torna conhecimento.

Desse modo, as discussões propostas nesse tópico, nos permite concluir que o lúdico

vem contribuir de maneira significativa para o ensino-aprendizagem de crianças com

necessidades educacionais especiais, uma vez que permite vivenciar o conhecimento em sua

essência, portanto, na plenitude da experiência lúdica. E nessa experiência a criança sente-se

parte daquele espaço, visto que suas capacidades, habilidades e potencialidades são

consideradas cruciais no processo de ensino-aprendizagem.

Ludicidade e educação musical: Possibilidades e desafios na aprendizagem

O acesso à educação musical por muito tempo foi algo restrito, nem todos tinham a

oportunidade de estudar música, seja por falta de aptidão, recursos financeiros ou até mesmo

de condições favoráveis de ensino. O que nos permite entender a educação musical, tão

fundamental para a formação integral do ser humano, como um privilégio para poucos.

Nesse sentido, é pertinente ressaltar que a educação musical como componente

curricular não tem a pretensão de formar músico profissional, e sim “desenvolver a

sensibilidade estética e artística, assim como a imaginação e o potencial criativo” (SOARES,

2006, p.10). Portanto, todos possuem a capacidade de aprender a expressar-se por meio da

62

música. Para tanto, é necessário oportunizar situações propícias à construção do conhecimento

em música, permitindo o acesso de todos à educação.

Portanto, procurei conhecer a concepção dos educadores entrevistados acerca do

processo de inclusão no que se refere às condições e possibilidades promovidas pelos

educadores para o aprendizado musical desses alunos na ludicidade.

Para o educador Jônio o aluno com necessidades educacionais especiais é um ser

singular que tem suas particularidades como qualquer um, contudo necessita de uma atenção

maior devido às especificidades da sua deficiência, que muitas vezes acarreta em um estado

diferenciado desse aluno em sala de aula. E esse estado diferenciado está estritamente

relacionado ao tempo de aprendizagem que esse aluno irá desenvolver na aula.

Nesse sentido, Jônio chama atenção para o fato da deficiência do aluno, ele afirma que

a deficiência não impede o aprendizado musical desse aluno, mas será um agente limitador no

seu processo de ensino-aprendizagem. Cabendo ao professor, juntamente com a família e todo

corpo docente, propiciar situações favoráveis de aprendizado para esse aluno, objetivando

sempre o melhor resultado possível para uma aprendizagem musical significativa. Portanto,

segundo o educador o melhor resultado para o aluno com necessidades educacionais especiais

é aquele que considera as suas especificidades, como afirma Jônio:

O melhor resultado é o que ele conseguir fazer naquele momento, mas

nunca se devem desviar os conteúdos ou fazer propostas perpendiculares as

que já têm sido feitas. A proposta é a mesma, o ensino é o mesmo, são as

respostas que vem pra gente num tempo diferente, e as respostas vêm de

uma maneira particular, numa maneira que só cabe a esse aluno. (JÔNIO,

2015).

Dessa forma, Jônio vê o lúdico como uma ferramenta de grande relevância para o

ensino-aprendizagem musical dos alunos com necessidades educacionais especiais, tendo em

vista principalmente a interação do professor frente ao universo do aluno, uma vez que a

ludicidade permite um alto grau de entrega dos envolvidos no processo de ensino-

aprendizagem. Tal como afirma Bacelar (2009, p.8) “Quando em estado lúdico, o ser humano

está inteiro, ou seja, está vivenciando uma experiência que integra sentimento, pensamento e

ação, de forma plena. Logo, a vivência se dá no corporal, no emocional, mental e no social de

forma integral”.

Portanto, o educador acredita que o lúdico vem para a educação como uma ferramenta

motivadora com fins pedagógicos. E essa motivação tem ligação direta com o atrativo porque

“se adapta melhor à realidade, à faixa etária e à fase de desenvolvimento em que as crianças

estão.” (JÔNIO, 2015). Contudo, o educador chama atenção para a relevância em utilizar a

63

abordagem lúdica voltada para a especificidade da criança com necessidades educacionais

especiais, visto que dessa maneira o seu envolvimento no processo será efetivo.

Para Mixolídio, cada aluno possui uma singularidade, independente de ser um aluno

com necessidades educacionais especiais ou não. Nesse sentido, segundo a educadora cabe ao

professor enquanto mediador do conhecimento “procurar diferentes caminhos/canais de

acesso”, para que possam ser oportunizadas situações de aprendizado para esse aluno.

(MIXOLÍDIO, 2015). Como diz Vygotsky (1991 apud ZAPPAROLI, 2012) uma educação de

qualidade para todos requer um olhar atento às necessidades de cada aluno, porém que esse

olhar seja voltado não para o defeito, e sim para as condições de aprendizagem propostas a

partir do conhecimento das necessidades do aluno.

Nessa perspectiva, Mixolídio ressalta que uma aula lúdica respeita o desenvolvimento

da criança, como também as suas especificidades dentro do contexto de ensino, oportunizando

situações de vivência e reflexão a partir da experiência plena do vivido. Trazendo a ludicidade

para a educação musical, Mixolídio ressalta a importância de proporcionar situações de

aprendizagem que priorizem a vivência musical e a reflexão na construção do conhecimento,

visto que os resultados desse trabalho são:

Alunos que aprendem música, ressignificam seus saberes, sabem questionar

sobre o que veem/ouvem/percebem, adquirem a capacidade de interagir com

a linguagem musical e seus signos próprios, podem articular diferentes

soluções para os desafios propostos e conhecem música. (MIXOLÍDIO,

2015).

Em termos gerais, podemos concluir através das discussões propostas que o processo

de inclusão na educação musical se faz perante as condições de ensino oportunizadas aos

sujeitos envolvidos nesse processo. Para tanto, torna-se pertinente compreender cada aluno

como uno, tendo um olhar atento para as especificidades desses alunos, como também a busca

incessante por estratégias, metodologias e abordagens que propiciem uma prática pedagógica

diferenciada, objetivando sempre o aprendizado do aluno. Nesse sentido, a ludicidade como

um estado interno do ser, promove uma aprendizagem musical significativa e instigante,

tendo como perspectiva um ensino atraente e motivador para a criança com necessidades

educacionais especiais, visto que propicia vivenciar a plenitude da experiência na prática.

64

A inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais no espaço de ensino

investigado

No que se refere à educação, incluir significa oportunizar situações de aprendizagem

que favoreçam o atendimento de todas as necessidades decorrentes das especificidades de

cada aluno presente em sala de aula. Para tanto, as instituições de ensino devem estar

preparadas para atender essa diversidade, sendo necessárias “mudanças nas condutas, nas

instalações, nos mobiliários, nos currículos, permitindo o acesso de todos à escola.”

(SOARES, 2006, p.7).

Nesse sentido, busquei conhecer as especificidades dos alunos Dórico e Lídio, ambos

com necessidades educacionais especiais incluídos no espaço de ensino investigado. Para

tanto, foram levantados dados referentes ao desempenho dos alunos, dificuldades e facilidades

apresentadas durante o processo de ensino-aprendizagem musical e o relacionamento desses

alunos com a turma.

DESEMPENHO

O aluno Dório e o Curso de Iniciação Artística - CIART

No que se refere o processo de ensino-aprendizagem musical do aluno Dórico no

Curso de Iniciação Artística - CIART. O educador Jônio, fala que o seu desempenho está

totalmente ligado a família, ao modo como essa família encara a deficiência do seu filho,

porque quando a família entende que a criança tem uma necessidade especial e tenta de

alguma forma ajudá-la, recorrendo a profissionais que possam minimizar essas limitações,

com certeza essa criança já vem para o espaço de ensino com alguma mudança. Dessa forma,

como professor do aluno Dórico durante os seus três anos de curso, o educador Jônio diz que

pôde perceber a existência de um investimento de tempo, financeiro e um cuidado por parte

da família sobre o aluno. Portanto, o aluno possui uma estrutura com tratamentos intensivos

com fonoaudióloga, terapeuta ocupacional, musicoterapeuta, entre outros profissionais que

têm acompanhado o desenvolvimento do aluno em seu processo de ensino-aprendizagem.

Assim sendo, segundo o educador Jônio, é perceptível o avanço do aluno frente as

suas limitações, considerando as atividades propostas pelo curso. Logo, o aluno demonstrou

maior facilidade perante as atividades desenvolvidas na disciplina de Elementos da Música,

nem sempre na parte escrita, mas em relação à compreensão dos conteúdos; E nas disciplinas

que envolviam o ritmo, como Prática de Conjunto e Oficina de Criação Musical, em razão da

65

sua facilidade em conseguir reproduzir o ritmo, às vezes com uma fragilidade, errando um

pouco, mas para Jônio foi uma das atividades em que o aluno obteve maior êxito. Para

Mixolídio, o desempenho musical do aluno foi satisfatório, dentro das suas possibilidades para

o momento, estando inserido em grande parte dos temas e atividades propostas em sala de

aula.

Já em relação às dificuldades apresentadas pelo aluno durante o seu processo de

ensino-aprendizagem musical, os educadores Jônio e Mixolídio compartilham do mesmo

pensamento quando relatam que o aluno não apresentou um bom desempenho na disciplina de

Prática de Flauta Doce, devido uma dificuldade motora que o aluno apresenta e no controle do

ar, habilidades essenciais para o aprendizado da flauta doce. Portanto, essa deficiência de

habilidades dificultou o manuseio do aluno perante o instrumento, impossibilitando a

digitação e afinação das notas na flauta, tendo como consequência, o impedimento do aluno

em executar melodias no instrumento.

A aluna Lídio e o Curso de Iniciação Artística - CIART

No que diz respeito ao processo de ensino-aprendizagem musical da aluna Lídio no

Curso de Iniciação Artística - CIART. O educador Jônio, fala que desde a sua entrada no

curso em 2012, Lídio apresenta uma defasagem no seu processo de ensino-aprendizagem

musical. E essa defasagem, segundo o educador, não está somente ligada à deficiência da

aluna, mas a toda uma falta de organização familiar que ela apresenta, resultando em uma

falta de rotina. Quando a criança não possui uma rotina é muito difícil para ela conseguir

seguir a própria rotina diária, comum às outras crianças. Segundo Joly (2003, p.2) “os

indivíduos com algum tipo de dificuldade emocional, mental ou de aprendizagem conseguem

se organizar e responder bem às exigências do ambiente quando lhes é assegurado senso de

ordem e uma rotina previsível”. Portanto, para Jônio é perceptível que não existe um trabalho

de autonomia com essa aluna, a criança quando não consegue viver essa autonomia

integralmente, ela não consegue fazer o básico. O que é básico para as outras crianças é um

fator limitante para essa criança. E como relata Jônio, no caso da aluna Lídio, essa falta de

organização familiar, e consequentemente de rotina, tem dificultado bastante o resultado

satisfatório da aluna no curso. Nesse sentido, o auxílio da família torna-se relevante para que a

criança venha apresentar um bom desenvolvimento no processo de ensino-aprendizagem,

visto que o incentivo e motivação para essas crianças são de extrema relevância.

Deste modo, segundo o educador Jônio, a maior dificuldade por parte dos professores

em relação à aluna está ligada ao modo como avaliá-la, uma vez que a mesma não participa

66

integralmente das tarefas propostas em sala de aula, estando presente na aula, porém fazendo

outras coisas não relacionadas às atividades propostas, o que dificulta fazer uma avaliação do

desempenho da aluna no curso. Para a educadora Mixolídio, o desempenho da aluna foi

satisfatório, considerando as suas possibilidades para o momento. Ela conseguiu inserir-se na

maioria dos temas propostos e realizar musicalmente diferentes atividades. Segundo a

educadora, a aluna demonstrou uma maior fragilidade na disciplina de Prática de Flauta doce,

devido à exigência cognitiva necessária a prática do instrumento.

PARTICIPAÇÃO

Com relação à inclusão de crianças com necessidades educacionais especiais nos

espaços de ensino em geral, Mixolídio compartilha conosco a sua visão a respeito do assunto.

Para a educadora, a participação do aluno com necessidades educacionais especiais em sala de

aula está estritamente relacionada à maneira como a inclusão é desenvolvida no espaço de

ensino. Assim sendo, o incluir significa criar condições de aprendizagem para esse aluno

atingir objetivos que sejam possíveis em consequência das suas especificidades. Para tanto,

cabe ressaltar a importância da família incentivando nesse processo. Portanto, como afirma

Carvalho (2009) incluir não significa oferecer uma educação igual para todos, mas acima de

tudo, uma educação que se adeque a cada aluno de acordo com seus interesses e necessidades.

Nesse contexto, considerando o espaço de ensino investigado, a educadora relata que

ambos os alunos apresentaram resultados positivos, demonstrando avanços a partir das suas

possibilidades.

Para o educador Jônio, o aluno Dórico participava bem das aulas de música, sempre

demonstrando interesse e curiosidade frente ao universo da musical, trazendo perguntas e

questionamentos para as aulas. Já em relação à aluna Lídio, o educador fala que a mesma não

participa integralmente das aulas, participando apenas dos momentos em que demonstra

vontade e desejo. Para Jônio, a não participação da aluna em sala de aula está para além da

sua deficiência, é algo que ela já traz consigo. Portanto, é mais uma questão de

disponibilidade e disposição da aluna, do que algo atrelado à deficiência em si, o que tem

prejudicado a sua participação em sala de aula.

67

RELACIONAMENTO

No que concerne ao relacionamento da criança com necessidades educacionais

especiais, segundo Mixolídio é algo comum entre as outras crianças e professores envolvidos

no processo de inclusão, apresentar uma tendência a ignorar ou tratar com excesso de carinho

e cuidados as crianças com necessidades educacionais especiais. Nesse sentido, a educadora

diz que cabe a instituição de ensino como responsável pelo atendimento a diversidade,

propiciar situações de aprendizagem para que essa criança seja incluída, compreendida e

ouvida nesse espaço, o que significa dizer que a participação ativa desse aluno durante o

processo de ensino-aprendizagem fará com que ele torne-se parte essencial do ambiente

escolar. Segundo, Carvalho (2009) o processo educacional inclusivo deve derrubar todas as

barreiras inerentes à educação para garantir o acesso, a permanência e o sucesso de todos os

alunos no ambiente escolar. Para tanto, deve-se repensar as práticas pedagógicas favoráveis à

inclusão da diversidade na escola, através do planejamento de atividades que atendam as

necessidades de todas as crianças, nesse sentido faz-se necessário adaptações de materiais,

mobiliário e adaptações pedagógicas (objetivos, conteúdos, metodologia, atividades e

avaliação).

Desse modo, abordando o caso especificamente do aluno Dórico, a educadora afirma

que o mesmo apresentou aptidões sociais na interação com as outras crianças do curso,

conseguindo, portanto, se colocar em sala de aula e interagir com os temas propostos. Já no

caso da aluna Lídio, a educadora relata existir um comprometimento no processo de

socialização da mesma, em razão da dificuldade que apresenta na sua oralidade, como

também em relação ao seu temperamento difícil. Assim sendo, sempre se fez necessário a

presença de um professor ou monitor próximo a aluna nas atividades, estimulando e

incentivando a sua interação com a turma.

Para o educador Jônio, o relacionamento do aluno Dórico com as outras crianças do

curso se fez de maneira satisfatória, dentro das suas possibilidades, foi perceptível o avanço

do aluno frente à interação social com as outras crianças durante o período que frequentou o

CIART. No que se refere o relacionamento da aluna Lídio no espaço investigado, o educador

relata sentir um isolamento por parte da aluna em relação às outras crianças, vendo esse

isolamento como uma resposta a dificuldade apresentada pela aluna em acompanhar a turma,

como também a sua indisposição em interagir com as outras crianças, mesmo professores e

alunos fazendo o possível para integrá-la. Portanto, não existe uma discriminação porque ela é

deficiente, pelo contrário existe o respeito. A deficiência já não é algo espantoso atualmente

para que seja um limitante no fator de integração.

68

Em linhas gerais, pode-se concluir que o Curso de Iniciação Artística, enquanto espaço

de ensino inclusivo, ainda encontra-se em processo de desenvolvimento perante a essência do

paradigma de inclusão, não existe um projeto específico para o ensino-aprendizagem da

criança com necessidades educacionais especiais no curso. Contudo, o CIART juntamente

com a Escola de Música da UFRN, tem unido forças para torná-lo um espaço inclusivo, uma

vez que o CIART como curso de Extensão da Escola de Música tem constituído campo de

atuação aos níveis de ensino, pesquisa e formação. Nessa perspectiva, o curso tem

estabelecido campo privilegiado para investigação, experimentação, análise e discussão de

aspectos diversos para a área de educação musical.

Portanto, no que se refere à inclusão o CIART tem desenvolvido um trabalho dentro

do que é possível momentaneamente, como evidenciado nesse trabalho em entrevistas com os

responsáveis pelos alunos estudo de caso da pesquisa, o conhecimento tem sido construído

frente às possibilidades dos alunos, e nesse sentido o curso tem desempenhado o seu papel

enquanto promotora do conhecimento. Assim, acredito que o CIART ainda tem muito a

oferecer para as crianças com necessidades educacionais especiais no sentido de oportunizar

situações distintas de aprendizagem para que essa criança possa vir desenvolver e estimular

habilidades favoráveis ao seu desenvolvimento global. Enfim, é notório que o trabalho de

inclusão desenvolvido pelo curso vem crescendo a cada ano, promovendo melhorias frente às

práticas pedagógico-musicais desenvolvidas pelo espaço para atender melhor a criança com

necessidades educacionais especiais. Assim sendo, acredito que o CIART ainda tem muito a

oferecer para a área da educação musical, como também para a área da educação inclusiva.

5.2 As observações: O cotidiano de ensino

O período de observações para essa pesquisa ocorreu durante todo o segundo semestre

de 2014. Para tanto, foram observadas duas aulas por semana nas turmas de 3º ano matutino e

vespertino, objetivando o acompanhamento pedagógico referente aos alunos com

necessidades educacionais especiais das turmas.

Nesse sentido, o período de observações foi muito importante para conhecer as

particularidades musicais e pessoais dos alunos, como também as características da proposta

pedagógico-musical desenvolvida com as turmas. Durante este período foram trabalhadas em

sala de aula atividades que envolveram a percepção auditiva, criação, apreciação e

improvisação musical, como também o conhecimento acerca do canto e ritmo.

Dessa forma, as aulas observadas aconteciam seguindo a mesma estruturação:

primeiro momento atividade de integração, podendo ser uma atividade de relaxamento,

69

improvisação rítmico-corporal, canto etc. Segundo momento era o mais importante da aula,

pois nele que acontecia a aprendizagem referente aos conteúdos musicais, nesse momento

acontecia a vivência musical, portanto, a criança poderia experienciar o fazer, o interpretar e o

apreciar artístico. Por fim, o terceiro e último momento era o final da aula, nele acontecia a

reflexão coletiva perante o vivenciado em sala de aula.

Com relação aos métodos empregados, pude perceber durante as observações que cada

professor realiza seu próprio método de ensino, não existe uma metodologia específica

comum a todas as disciplinas. Assim sendo, diferentes métodos e abordagens são utilizados

de maneira que venham a suprir com as necessidades dos alunos. Algo que para mim, é

essencial para um bom desenvolvimento das aulas, como também para o ensino e

aprendizagem dos alunos. Para tanto, alguns recursos didáticos são utilizados como

auxiliadores deste fazer musical como instrumentos musicais (pequena percussão, percussão,

barras); objetos sonoros; materiais para artes plásticas, livros de literatura infantil, entre

outros. Dessa forma as aulas ganham uma particularidade lúdico-musical devido à associação

do concreto com o abstrato propiciando a vivência musical na ludicidade, o que torna a aula

bem mais atrativa e significativa para a criança com necessidades educacionais especiais.

Durante o período de observações pude perceber vários fatores que foram

fundamentais para o bom desenvolvimento das aulas. Primeiro ponto de destaque é a

comunicabilidade, os professores têm desenvolvido uma boa comunicação com os alunos,

devido à utilização de um vocabulário simples e apropriado para a faixa etária das crianças,

algo de fundamental importância quando tratamos de ensino-aprendizagem, visto que sem

comunicação não há transmissão de informações. O segundo ponto de destaque é a forma de

avaliação adotada pelos professores que consiste em um processo continuo de aprendizagem,

considerando o nível de conhecimento do aluno de forma individualizada, algo de

fundamental importância quando tratamos da criança com necessidades educacionais

especiais, uma vez que respeita a bagagem de conhecimento trazida pelo aluno. Por fim trago

a questão do respeito mútuo entre professores e alunos em sala de aula, existe o respeito ao

tempo de aprendizagem de cada aluno, como também o respeito às regras impostas em sala de

aula. O CIART como um todo, adota como metodologia de trabalho a disciplina dos alunos,

estabelecendo as regras de sociabilidade no espaço de ensino para torná-lo mais harmonioso e

funcional em relação ao bom desenvolvimento das atividades propostas.

No geral, as turmas eram bem participativas, os alunos estavam sempre envolvidos

nas atividades propostas em sala de aula, cabe frisar que essa participação só foi possível em

razão do uso das estratégias de ensino para estimular a participação das crianças nas

70

atividades, principalmente os alunos com necessidades educacionais especiais, devido às

especificidades das deficiências. Assim sendo, as turmas apresentaram um nível de

desenvolvimento muito bom, contemplando níveis de conhecimento distintos, porém que se

igualavam no momento da aula devido à metodologia da vivência musical, promovendo a

participação e favorecendo o compartilhamento de informações enriquecedoras para todos os

envolvidos.

Portanto, através dos dados expostos podemos perceber o quanto a educação musical

quando bem desenvolvida, considerando as particularidades e bagagem cultural do sujeito, é

capaz de desenvolver e estimular habilidades até então fragilizadas. Dessa forma, para uma

prática pedagógica eficaz e de qualidade é primordial que o professor articule tanto saberes

específicos, envolvendo a música, quanto saberes pedagógicos que envolvam conhecimentos

sobre e para a educação, o que por sua vez permite o acesso de todos a um ensino

significativamente inclusivo.

71

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de todas as informações contidas nesse trabalho - fundamentos teóricos, dados

colhidos e resultados apresentados. Ficou evidenciado que a educação inclusiva de um modo

geral, no que se refere à sua aplicação prática, ainda apresenta-se em processo de

desenvolvimento perante a sua essência teórica.

Apesar das discussões referentes à temática e da legislação vigente, não é possível

assegurar uma educação efetivamente inclusiva, visto que as instituições de ensino são as

principais responsáveis por sua execução no cotidiano da escola. Assim sendo, torna-se cada

vez mais comum encontrarmos espaços de ensino inclusivos, mas que não exercem esse papel

na prática. E essas instituições são as que mais prejudicam o acesso e permanência do aluno

com necessidades educacionais especiais na escola. Incluir não significa apenas colocar o

aluno na sala de aula, incluir não é somente socializar. É compreender e valorizar a

diversidade, sugerindo mudanças nas condutas, instalações, mobiliários, currículos. Mais do

que isso, é promover situações de aprendizagem que possibilite o acesso e permanência desse

aluno na escola.

Nesse sentido o CIART enquanto espaço de ensino tem desempenhado o seu papel

como instituição inclusiva dentro das suas possibilidades. Portanto, propiciado situações em

que o conhecimento é construído, bem como oportunizado a socialização entre alunos com e

sem necessidades educacionais especiais com o intuito de minimizar o estigma da deficiência.

Nessa perspectiva, o papel do educador enquanto mediador do conhecimento se faz

necessário no processo de ensino-aprendizagem do aluno com necessidades educacionais

especiais. Cabendo a ele oportunizar situações de aprendizado que permita o desenvolvimento

das capacidades do sujeito, respeitando suas singularidades.

No que se refere o lúdico, uma prática pedagógica pauta na ludicidade configura-se

como uma aula que permite a vivência e a reflexão a partir do vivido. Nesse sentido, a ação

lúdica propicia uma experiência plena para o sujeito, seja brincando, jogando ou agindo

ludicamente, ele estará inteiro e completo nesse momento, e são as próprias atividades lúdicas

que o conduz para esse estado de consciência. Portanto, a ludicidade na educação representa

um instrumento potencial para a construção do conhecimento, uma vez que possibilita um

aprendizado no qual o construir, o interagir e o vivenciar são apreciados.

Trazendo essas concepções para o universo da educação musical, a ludicidade torna-se

um instrumento de fundamental importância para o ensino da música, porque nos oportuniza

vivenciar a música em sua plenitude. E nessa vivência musical experienciamos diferentes

maneiras do fazer, interpretar e apreciar musical. Como completa Mosca (2009, p.46)

72

A vivência musical é um processo biológico, psicológico, social, afetivo,

cultural e espiritual e deve se manifestar a partir do prazer, na realização

pelo desejo em conhecer, na integração com o outro, na curiosidade e na

criação.

Portanto, através das discursões aqui propostas podemos concluir que a ludicidade tem

configurado importante instrumento de aprendizagem na educação musical, uma vez que a

vivência oportuniza o conhecer pelo fazer. E nesse fazer a aprendizagem se processa a partir

das relações e na troca de experiências gerando conhecimento.

Diante destas considerações, o presente estudo veio a reforçar os benefícios e a

importância em propor uma educação musical na ludicidade para uma prática inclusiva. Para

tanto, foram discutidas e analisadas as concepções e práticas pedagógicas dos educadores

musicais do campo investigado, bem como as concepções dos responsáveis pelos os alunos

estudo de caso dessa pesquisa acerca da temática; e as observações participantes que

juntamente com as discussões e análise de dados constituídas para esse estudo, constataram os

benefícios da ludicidade no processo de ensino-aprendizagem dos alunos com necessidades

educacionais especiais, visto que propõe um aprendizado pautado na vivência do aluno com o

seu objeto de estudo, e nessa vivência o aluno se deleita ao fazer musical, o que por sua vez

torna-se mais significativo e atrativo para o sujeito com necessidades educacionais especiais.

No decorrer do trabalho, ficou evidenciado o quanto é restrita a produção científica

que trata sobre a ludicidade na educação musical para uma prática inclusiva. Assim, foram

utilizadas produções científicas que abordavam a ludicidade e inclusão, mas que não

especificava o ensino da música, contudo foram relevantes para a fundamentação desse

trabalho.

Na análise da proposta de inclusão do campo pesquisado, realizado através de

entrevistas com os educadores desse mesmo campo e da observação participante, ficou

demonstrado que o curso é adepto ao modelo de inclusão, porém ainda encontra-se em

processo de desenvolvimento, portanto, não contempla alguns aspectos da proposta inclusiva,

como plano de ensino individualizado – PEI, uma alternativa de trabalho que individualiza e

personaliza processos de ensino para o aluno com necessidades educacionais especiais;

recursos pedagógicos adaptados aos deficientes motores e cognitivos; e preparo da equipe, no

sentido de promover estudos no próprio ambiente de ensino para um melhor desempenho

quanto à prática pedagógica docente para atender de maneira eficaz às necessidades

particulares do aluno. Apesar disso, pude observar que os alunos com necessidades

educacionais especiais se integram bem ao espaço e apresentam um bom desempenho nas

73

aulas, frente suas possibilidades. Em relação às práticas pedagógicas desenvolvidas no

CIART, as mesmas são pautadas na vivência musical, o que permitiu fazer uma análise

precisa a respeito dos benefícios da ludicidade no processo de ensino-aprendizagem dos

alunos com necessidades educacionais especiais. Portanto, as aulas utilizavam de literatura

infantil, instrumentos de pequena percussão e barra, objetos sonoros, canções, dinâmicas de

integração, entre outras.

No geral, pude perceber que a educação musical na ludicidade no CIART, se faz

presente de forma integral, todos os educadores desse espaço utilizam como metodologia de

ensino a vivência musical, algo que tem mostrado resultados positivos no que se refere o

ensino- aprendizado dos alunos com necessidades educacionais especiais.

Por fim, em virtude da amplitude do tema estudado lúdico, educação musical e

inclusão, outros questionamentos surgiram os quais essa pesquisa não contempla em virtude

da delimitação dos objetivos, contudo são questionamentos para futuros trabalhos, tais como:

A proposta pedagógico-musical no CIART; Formação de professores, O processo de

construção do currículo no CIART, As percepções dos pais sobre as práticas pedagógico-

musicais do CIART, entre outras. Enfim, o presente estudo facultou muitos outros

questionamentos acerca dessa temática, e esse foi apenas um dos resultados de muitos outros

trabalhos que poderão surgir a partir dessa pesquisa.

Enfim, com esse estudo pude perceber o quanto necessitamos da reciclagem do

conhecimento. Aprendi muito durante a realização desse estudo, a cada aula observada, a cada

discussão e análise de dados pude adquirir um conhecimento diferente, tanto em relação ao

tema dessa pesquisa quanto em relação à própria prática pedagógica, adquirindo subsídios

para o meu amadurecimento e crescimento como educadora, melhorando assim, o que sentia

deficiente na minha formação enquanto educadora musical.

74

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MOSCA, Maristela de Oliveira. Como se fora brincadeira de roda: a ciranda da ludopoiese

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ZAPPAROLI, Kelem. Estratégias lúdicas da criança com deficiência. Rio de Janeito: Wak

Editora, 2012.

77

APÊNDICE

78

GALERIA DE FOTOS

Curso de Iniciação Artística – CIART/UFRN

Figura 5: Ambiente da sala de aula – CIART

Fonte: Autor

Figura 6: Ambiente da sala de aula – CIART

Fonte: Autor

79

ENTREVISTA ESTRUTURADA COM PROFESSORES/MONITORES DO ESPAÇO

PESQUISADO

Esta entrevista faz parte de uma pesquisa que está sendo realizada pela Universidade

Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, em nível de graduação, na área de concentração

Educação Musical, sob a orientação da profa Ms. Carolina Chaves Gomes (UFRN). Trata-se

de um estudo que pretende discutir o espaço lúdico dentro de experiências em educação

musical que favoreçam a inclusão da pessoa com necessidades educacionais especiais. Dessa

forma, a entrevista realizada almeja levantar dados referentes à inclusão dos alunos Dórico e

Lídio.

Caracterização do profissional

1. Há quantos anos trabalha com educação musical?

2. Qual a sua formação acadêmica?

3. Qual a sua experiência com alunos com NEE?

4. Quais os desafios no trabalho com alunos com NEE?

O Profissional e a inclusão no espaço de ensino

5. Existe uma preparação pedagógica no CIART para o trabalho com alunos com NEE?

(Uma preparação da equipe, em conjunto, uma preparação para o professor poder

trabalhar com esses alunos). Para o caso negativo, você acredita que a falta dessa

preparação prejudica a inclusão do aluno com NEE?

6. O que pensa sobre a inclusão de alunos com NEE no CIART? Em sua opinião a inclusão

acontece?

O Profissional, o lúdico e a inclusão

7 O que você entende sobre lúdico e ludicidade? (relacionando as estratégias, metodologias

e abordagens em educação musical).

8 Ao longo da sua carreira como educador(a) musical, faz parte da sua prática docente

desenvolver atividades lúdicas na sala de aula? Para o caso afirmativo, como esse trabalho

tem sido desenvolvido? Quais os resultados colhidos com o uso desse tipo de trabalho?

(os resultados observados nos alunos) E quais os desafios da prática? (os desafios em

promover uma aula lúdica)

80

9 Qual a sua opinião sobre o lúdico no processo de ensino-aprendizagem na musicalização

Infantil? E qual a importância do uso do lúdico para o ensino-aprendizagem dos alunos

com NEE?

10 Em sua opinião, qual o papel do educador ao utilizar a prática lúdica?

O Profissional e a inclusão dos alunos Dórico e Lídio no CIART

11 Fale um pouco sobre o relacionamento, participação e desempenho dos alunos em sala de

aula. (dificuldades apresentadas durante o processo de aprendizagem musical e onde

demonstrou ter maior facilidade).

12 Quais estratégias, metodologias e abordagens de ensino você utiliza para a inclusão desses

alunos em sala de aulas? E quais consideram relevantes para uma aula de música

verdadeiramente inclusiva?

Observações Finais

13 Gostaria de acrescentar algo?

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ENTREVISTA ESTRUTURADA COM PAIS DOS ALUNOS DO ESPAÇO

PESQUISADO

Esta entrevista faz parte de uma pesquisa que está sendo realizada pela Universidade

Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, em nível de graduação, na área de concentração

Educação Musical, sob a orientação da profa Ms. Carolina Chaves Gomes (UFRN). Trata-se

de um estudo que pretende discutir o espaço lúdico dentro de experiências em educação

musical que favoreçam a inclusão da pessoa com necessidades educacionais especiais. Dessa

forma, a entrevista realizada almeja levantar dados referentes à inclusão dos alunos Dórico e

Lídio.

1. Caracterização do aluno

1.1. Nome (fictício):

1.2. Idade

1.3. Diagnóstico

1.4. Breve histórico

1.5. Características gerais (linguagem, habilidades motoras, habilidades sociais,

comportamento, etc.).

2. As aulas de Música

2.1. Como surgiu o interesse de estudar música?

2.2. O aluno já havia estudado música em algum outro ambiente? Para o caso afirmativo,

como se deu essa experiência?

2.3. Em relação ao Ciart:

2.3.1 O aluno tem apresentado interesse pelas aulas? O que o aluno tem relatado

gostar mais no curso?

2.3.2 O aluno relatou algum incômodo em relação à dinâmica das aulas?

2.4. Em sua opinião a aprendizagem musical é fator importante para o desenvolvimento

social e humano do aluno? Para o caso afirmativo, como as aulas de música, ofertadas

pelo Ciart, influenciaram no desenvolvimento do aluno? Você percebeu alguma

mudança comportamental após a entrada do aluno no curso?

2.5. Em sua opinião o curso tem suprido com suas expectativas iniciais? Para o caso

afirmativo, é possível dizer que o aluno aprendeu música?

Esta versão foi revisada e aprovada pelo(a) orientador(a), sendo aceite, pela

Coordenação de Graduação em Música, como versão final válida para depósito

no Repositório de Monografias da UFRN.

____________________________

Durval da Nóbrega Cesetti

Coordenador de Graduação