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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA
CURSO DE DOUTORADO EM SAÚDE COLETIVA
DIEGO BONFADA
GASTO COM A INTERNAÇÃO DE IDOSOS EM UNIDADES DE TERAPIA
INTENSIVA
NATAL-RN
2015
1
DIEGO BONFADA
GASTO COM A INTERNAÇÃO DE IDOSOS EM UNIDADES DE TERAPIA
INTENSIVA
Tese de doutorado desenvolvida no Programa de Pós-
Graduação em Saúde Coletiva, da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte (UFRN), e na Agència de
Qualitat i Avaluació Sanitàries de Catalunya, Barcelona,
Espanha. Trata-se de um requisito parcial para obtenção
de título de doutor.
Área de concentração: Saúde Coletiva.
Orientador: Doutor Kenio Costa de Lima.
NATAL-RN
2015
2
DIEGO BONFADA
Bonfada, Diego.
Gasto com a internação de idosos em unidades de terapia intensiva / Diego
Bonfada. – Natal, RN, 2015.
106 f.: il.
Orientador: Prof. Dr. Kenio Costa Lima.
Tese (Doutorado em Saúde Coletiva) – Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. Centro de Ciências da Saúde. Departamento de Odontologia. Programa de
Pós-Graduação em Saúde Coletiva.
Catalogação na Fonte. UFRN/ Departamento de Odontologia
Biblioteca Setorial de Odontologia “Profº Alberto Moreira Campos”.
3
GASTO COM A INTERNAÇÃO DE IDOSOS EM UNIDADES DE TERAPIA
INTENSIVA
Tese de doutorado desenvolvida no Programa de Pós-
graduação em Saúde Coletiva, da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte (UFRN), e na Agència de
Qualitat i Avaluació Sanitàries de Catalunya, Barcelona,
Espanha. Trata-se de um requisito parcial para obtenção
de título de doutor.
Tese aprovada em: 29/09/2015
________________________________________________________________
Prof. Dr. Kenio Costa de Lima
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Orientador
________________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Maria Ângela Fernandes Ferreira
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Membro Interno
________________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Valéria Rodrigues Leite
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Membro Externo ao Programa
___________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Renato Peixoto Veras
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Membro Externo à Instituição
________________________________________________________________
Prof. Dr. Paulo Roberto Borges de Souza Júnior
Fundação Osvaldo Cruz- ENSP
Membro Externo à Instituição
Natal-RN
2015
4
DEDICATÓRIA
Desde pequeno percebi que as pessoas admiravam-se e ressaltavam a semelhança
física que eu tinha com meu pai. Inclusive, ao ouvir essas comparações, me sentia
envaidecido, pois, como para maioria dos garotos, a figura paterna para mim confundia-se
com a dos meus herois favoritos, com todo esplendor dos seus atos de bravura, perseverança
e lealdade. Como consequência de tanta admiração, ou talvez por mero mimetismo, minha
personalidade também foi se tornando cada vez mais parecida com a dele, o que em princípio
só estreitava os laços de amor e empatia entre pai e filho.
Com você, José Breno Cavalcante Bonfada, aprendi, entre outras coisas, que
devemos lutar com garra e determinação por tudo aquilo que acreditamos ser correto e justo,
mesmo que isso traga descontentamento para alguns. Ironicamente esse traço de
personalidade partilhada por nós, associada com as distintas visões de mundo, inerentes às
nossas gerações e experiências de vida de cada um, foram as bases para o desgaste da nossa
relação, culminando em um afastamento que perdurou por alguns anos. Era muito doloroso
para mim ir a sua casa, apertar friamente sua mão e partilhar uma refeição, trocando poucas
palavras sobre assuntos corriqueiros e fúteis. Pai e filho sedentos de um abraço longo e
fraternal, mas que optavam por manter a frieza, em um jogo de queda de braços vazio,
rancoroso e que no fundo sabíamos que terminaria sem nenhum vencedor.
O tempo foi aos poucos cicatrizando os danos causados pela indiferença e, como
Deus tem planos para todos, conseguimos amadurecer, perdoar-nos mutuamente e finalmente
aproximar dois corações feridos em um abraço meio desajeitado e envergonhado, típico de
dois homens que não costumam dar o braço a torcer e têm dificuldade de expressar seus
sentimentos. Obviamente não houve longos diálogos sobre o passado ou pedidos de perdão
emocionadas. Isso não combinava com a gente. Também não precisávamos disso. Eu
simplesmente carecia do meu pai e você do seu filho.
Com a reaproximação, veio a nossa viagem ao Rio Grande do Sul e os dias juntos
foram aos poucos evidenciando novamente todas as nossas semelhanças. Ficou claro naquele
momento que a distância não foi capaz de apagar os nossos sentimentos e pela primeira vez
vimos um ao outro para além do pai e do filho. Parecíamos melhores amigos, dois adultos
que há tempos não se encontravam e que estavam vivendo momentos de alegria e diversão
juntos. A todo momento questionava-me como duas pessoas com tanto em comum puderam
manter-se em uma relação fria por tão longo tempo? Quanta coisa tínhamos perdido devido
5
a desavenças tão frívolas? Todavia, a sensação ruim por ter deixado de partilhar alegrias e
tristezas com você era consolada pela ideia de que ainda tínhamos muito a usufruir pela
frente.
Infelizmente eu estava enganado. Nós seres humanos esquecemos da condição
efêmera da vida, especialmente quando estamos inebriados em seus prazeres. Apenas, uma
semana após nosso regresso, te perdi de novo e dessa vez foi para sempre. No dia 20 de
fevereiro de 2011, um mês e meio depois da nossa reconciliação, alguém tomado pela
ganância achou plausível a ideia de que sua vida valia menos que uma pulseira e a extirpou
de maneira covarde, fria e gratuita em um latrocínio. Por muito tempo amparei minha dor na
esperança e no desejo de justiça, mas o descaso nas investigações mostrou-me que meu pai
era só mais um dos milhares de brasileiros anônimos que são assassinados pelas ruas e que
depois de anos de trabalho duro passam a ser apenas a prova estatística da impunidade no
Brasil. Foi devastador chegar à conclusão de que algumas vítimas da violência são vistas
pelo Estado como “só mais um Silva”, que não pertence à imprensa, a famílias tradicionais
ou ao grupo das autoridades políticas e judiciais do país.
Não é fácil, mas gosto de imaginar que está em paz meu amado pai, pois foste um bom
homem, cumpriu sua missão e ajudou muita gente ao longo da vida. Sei disso porque até hoje
encontro estranhos pelas ruas que me abraçam e choram ao te reconhecer em mim, fazendo
questão de relatar alguma dificuldade vivida e o quanto você foi importante em tais
momentos. Confesso que esse tipo de situação traz à tona saudade e muito sofrimento, mas,
ao mesmo tempo, mesmo que por um breve momento, volto a ser como aquele garotinho que
vivia pleno de orgulho do seu pai, do seu grande heroi.
Dedico essa tese a sua memória Jose Breno Cavalcante Bonfada, pois um trabalho
árduo como esse não se faz sem compromisso, força de vontade, determinação, honestidade,
coragem e perseverança, valores que aprendi com você. O seu modo de educar me fez forte,
mas nossos últimos momentos juntos me mostraram o valor da sensibilidade, cumplicidade e
do perdão. Talvez esteja orgulhoso de mim agora e, da mesma maneira, talvez não seja tarde
demais para te dizer algo. Uma frase simples que tive vontade de falar durante nosso último
encontro, mas não o fiz por causa de uma estúpida timidez: Te amo meu Pai, fica com Deus!
6
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por ter me guiado nessa trajetória, abrindo as portas certas, no
momento certo, conduzindo-me desde o ingresso até a conclusão do doutorado em saúde
coletiva. Agradeço a Deus inclusive por ter me impedido de seguir outros caminhos, pois hoje
tenho consciência de que na nossa condição humana nem sempre sabemos o que nos fará
realmente felizes. O que alguns chamam de destino ou sorte, eu atribuo a intercessão divina.
Nunca gostei da ideia de que somos incompletos e de que necessitamos de um
companheiro(a) para atingir a plenitude do que é definido como ser humano. Ter a
responsabilidade de completar uma pessoa significa despojar-se daquilo que ela porventura
considere excedente. Significa abdicar de uma parte de nós em prol do que o outro necessita.
Portanto, ser a “metade da laranja de alguém” nos impede de desfrutar da nossa completude
e do maravilhoso processo de transforma-se constante e livremente em algo novo. Contudo,
em alguns casos, a vida pode tornar-se mais doce quando optamos por partilhá-la com
alguém especial. Alguém que não tem a pretensão de te completar ou preencher suas
próprias lacunas por meio de um relacionamento. Apenas dois seres independentes que se
apoiam, erram, perdoam e amam. E na junção desses dois corações percebe-se que as
alegrias são mais intensas e o apoio mútuo ajuda a catalisar os percalços e dificuldades da
vida. Por ter decidido juntar as mãos comigo e caminhar ao meu lado agradeço-te Andiara
Brito. Sinta-se como parte dessa vitória.
Kenio Lima, agradeço pelas inúmeras oportunidades profissionais obtidas por meio
do seu intermédio, pelo respeito com que me trataste, pela confiança que depositou em mim e
pelo compromisso que sempre demonstrou enquanto professor e orientador deste trabalho.
Contudo, durante esses anos de convivência, você não foi somente um educador exemplar, foi
também um amigo e um tutor para vida. Dessa forma, agradeço também pelos conselhos,
pelos momentos de descontração, pelos nossos cafés, pelas discussões filosóficas e sobretudo
pela amizade, a qual tenho certeza que não se encerra aqui. Te considero um raro exemplo
de coerência acadêmica, pois, ao contrário de muitos, você preza por exercitar na prática
aquilo que defende nos seus discursos.
Aqui no Estado a nossa família Bonfada é representada por um pequeno grupo de
pessoas que passou por momentos difíceis, principalmente devido à tragédia que nos atingiu.
Mesmo sendo poucos, raramente me senti sozinho e as dificuldades que passamos nos tornou
mais resistentes e renovou a certeza de que podemos e devemos lutar pela nossa união. Adão
7
e Paula, obrigado pela amor e hospitalidade. Lucas meu “irmãozão”, obrigado pelo
carinho, pela inocência e pelo amor incondicional, que as vezes penso não merecer. Bruna,
temos muito o que aprender um com o outro, pois não quero deixar de ver em você aquela
garotinha que vi crescer e que em sua primeira carta me fez juras de amor eterno. Vera,
obrigado por ter me dado dois irmãos maravilhosos e que Deus ilumine seus passos.
Rodolfo Lopes, Rui Júnior e Deivson Wendell, vocês estiveram presente desde o
início da minha jornada acadêmica e mesmo com os diversos compromissos cotidianos,
nunca deixaram de reservar um tempo para vivermos novos momentos juntos e recordarmos
os passos que trilhamos nesses quase 15 anos de amizade. Quando nos conhecemos éramos
jovens estudantes cheios de sonhos e junto com vocês eu completei a transição para idade
adulta, solidificando princípios éticos e traços de minha personalidade. Por isso, sempre
considero que existe um pouco de vocês em cada uma das minhas vitórias. Obrigado caças!
Espero continuar aprendendo com a sabedoria e com o exemplo de vida de cada um de
vocês.
Além de conhecimento e crescimento profissional, o doutorado em saúde coletiva da
UFRN me trouxe de bônus a amizade de pessoas maravilhosas que compõem o quadro de
estudantes, professores e técnicos administrativos do PPGSCOL. De maneira especial
agradeço a: Marquiony Marques, Tamires Oliveira, Isabelle Ribeiro, Larissa Praça, Laura
Camila, Marcos Felipe, Angélica Medeiros, Hipólito Magalhães, André Lima, Leandro
Pernambuco, Wilton Medeiros, Natália Cabral, Javier Roig, Lucas Soares, Dyego Souza,
Ângelo Roncalli, Maria Ângela, Luiz Noro e Jacileide Guimarães.
Agradeço também a CAPES pela bolsa de estudos que, juntamente com a AQuAS e a
professora Anna García Altès, oportunizaram a realização de estágio doutoral na cidade de
Barcelona, Espanha. De forma especial, também digo muito meu muito obrigado a UERN e
a todos os meus colegas professores do Departamento de Enfermagem de Caicó, pois sem a
contribuição de todos eles esse sonho não seria viável.
8
EPÍGRAFE
Caros leitores, não sei bem se o que eu escrevo agora é uma epígrafe ou um desabafo,
uma ode ou um lamento, linhas abstratas ou horizonte concreto. Não sei ao certo para quem
escrevo, se para mim mesmo, para vocês que são pessoas ou para uma legião de humanoides
amorfos. Sei, apenas, que quero exteriorizar minha inquietude para com a vida dos que anos
já viveram, dos rotulados de “velhos”, dos descartados, daqueles que vivem em uma “câmara
de gás” piedoso e hedonista.
Para mim, pensar na temática das pessoas idosas é romper com preceitos cristalizados
da eterna juventude, é imergir em dores – físicas, mas, sobretudo da alma. É lidar com um
porvir de incertezas, medos, anseios, solidão e finitude. É compreender que a morte, nunca
discutida, velada, é real e se torna o principal desfecho daquela vida. Vida que pode ter sido
bem vivida, bandida, tolhida ou perdida, mas sim, vida que tem que ser compreendida, não
adjetivada, não mortificada. E por falar em morte, tema que permeia esse trabalho, aflora uma
necessidade diária de entendimento, não como punição, perda ou outros sentimentos
difundidos pelas castas não pagãs, mas morte como “a limpeza da vida”, uma transição
necessária e inexorável.
E por que falar de morte se estamos tratando de pessoas idosas? Elas, inevitavelmente,
morrem mais? Sem sombra de dúvida, sim! Dados do Sistema de Mortalidade do período de
2001 a 2014 revelam que dentre as mortes registradas naquele sistema de informação, quase
70% foram de pessoas idosas. Logo, falar de pessoas idosas é refletir sobre o binômio vida-
morte. E nessa reflexão cabe uma miríade de possibilidades, de modos de abordagem, de
teorias. Quero romper com tudo isso e propor uma discussão realística, centrada na própria
pessoa idosa, sem lacres conceituais tais quais os tão obsoletos e inoportunos “maior idade”,
“feliz idade”, “melhor idade”, “terceira idade”, dentre tantos outros.
A idade a mais dos seres HUMANOS idosos clama por uma reflexão sobre os
cuidados a eles dispendidos, cuidados estes que deveriam ser prestados por pessoas
capacitadas para esse fim. Esse, talvez, seja o primeiro grande gargalo no cuidado à vida das
pessoas idosas, o mais absoluto despreparo de profissionais de saúde, familiares, amigos,
sociedades e instituições para exercerem o direito-dever de cuidar. Tal cuidado não deve ser
pautado na caridade, solidariedade efêmera ou benevolência cristã. O cuidado à vida das
pessoas idosas deve ser fundamentado no conhecimento do ser que envelheceu e que
envelhece dia após dia. Cuidar de um ser idoso é empilhar fragilidades, abrir portas
9
rotineiramente fechadas, clausuras mentais, mas nunca perder de vista algo fundamental ao
cuidado, o ter habilidades e competências para isto, e aqui eu incluo a afetividade como
premissa básica. E como desenvolvê-las se estamos repletos de amarras, ideias pré-
concebidas, se (con)vivemos com os seres idosos, mas não os compreendemos?
Esbarramos, portanto, no que denomino de segundo grande gargalo no cuidado à vida
das pessoas idosas, o fato de acharmos que por se tratar de idosos (pessoas que já “viveram”
muito), tudo pode, uma vez que irão morrer mesmo! É como se o cuidado nosso prestado no
dia a dia fosse a constatação mais óbvia de sessões diárias dos “dias de arremesso no poço de
piche” (de onde ninguém sai). E aqui se descortina a principal temática deste trabalho, o tênue
limite entre o cuidar de alguém capaz de retornar à sociedade nefasta, centrada na venda de
sua força de produção, e o cuidar como forma de não mais investir na vida e sim na morte
digna e com conforto. Cabe, ainda, a compreensão que, sob a ótica da Saúde Pública, gastar
quantias colossais para salvar uma vida é contraproducente, erro de gestão e um tiro no pé,
uma vez que centenas de outras pessoas recuperáveis estão à espera daqueles recursos. Logo,
como ser equânime sem ser um “Dr. Morte”? Como ser socialmente justo sem ser um “Dr.
Morte”? Como ser ético sem “queimar na fogueira do inferno”?
Além do conflito social, ético e moral, paira um conflito de interesses. A quem
interessa manter a vida de um idoso ou de qualquer ser humano, cuja capacidade de retorno à
vida é nula. Aos familiares em seu exercício de egoísmo e, em muitos casos, em sua vil
capacidade de expropriação? Ao capital e seus seguidores perversos que veem ali uma
maneira de extorquir a saúde pública e privada? Às inúmeras facções “divinas” que colhem e
recolhem “benesses” de seus dizimistas vivos e emocionalmente comprometidos? E em que
terreno se dá tais conflitos? Nos parcos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), o
terceiro gargalo. Leitos de UTI são necessários, mas muito mais necessário é a reorganização
da rede de atenção à vida da pessoa idosa, com criação, inclusive, de unidades de cuidados
paliativos, a fim de prover dignidade à morte de muitos dos idosos.
Todos esses questionamentos, inclusive o papel da própria unidade de terapia intensiva
com todo seu arsenal tecnológico duro, são revisitados nesse trabalho que, além de ser
instigante, mexe em várias feridas, dolorosas e que insistem em não cicatrizar. Trata-se,
portanto, de um trabalho de limites, da vida, da morte, do investimento, do (des) investimento,
da ética médica e da ética cristã, da moralidade e da imoralidade, do que é tangível e da
consciência do inalcançável. Convido-os, portanto, ao deleite e à reflexão crítica.
Kenio Costa Lima
10
RESUMO
Introdução: O envelhecimento populacional no Brasil ressalta a necessidade de discutir o
gerenciamento adequado do orçamento destinado à saúde, em especial nos setores de alta
complexidade, onde coexistem procedimentos onerosos, recursos limitados e necessidade de
contenção de despesas, mesmo diante de uma demanda crescente e diretamente proporcional
ao aumento do número de idosos. Objetivo: Desta forma, esta pesquisa tem como objetivo
geral analisar os gastos decorrentes da internação de idosos em Unidades de Terapia Intensiva
(UTI) e seus fatores associados. Métodos: Trata-se de um estudo seccional, de abordagem
quantitativa e com caráter descritivo-exploratório. Os dados foram coletados em prontuários
de idosos internados em UTI em Natal-RN, entre primeiro de novembro de 2013 e 31 de
janeiro de 2014. As variáveis coletadas relacionam-se ao perfil sócio demográfico, quadro de
morbidade e caracterização da internação. A variável dependente foi categorizada pelo quartil
75, em alto e baixo gasto de internação e submetida ao teste de Qui-quadrado com as
variáveis independentes da pesquisa. As associações que apresentaram p<0,20 na análise
bivariada foram submetidas à técnica da regressão logística múltipla. Optou-se pela
construção de três modelos de regressão a partir do algoritmo supracitado: um chamado de
modelo de regressão geral, composto por todas as 493 internações do estudo, outro somente
para os 181 indivíduos internados no Sistema Único de Saúde (SUS) e um terceiro referente
aos 312 casos provenientes da rede de assistência privada. Resultados: No modelo de
regressão geral, as variáveis doenças respiratória, instituição privada, paciente desorientado e
acidente vascular cerebral prévio foram associadas à maior probabilidade de alto gasto na
internação em UTI. Por sua vez, nas internações do SUS, essa probabilidade foi associada à
paciente desorientado, com 80 anos ou mais, com Sepse e Internação por motivo clínico. Já
nos casos provenientes da rede privada, o alto gasto foi associado à doença respiratória,
ventilação mecânica, internação por motivo clínico e aos pacientes desorientados. Conclusão:
O aumento dos gastos com a internação de idosos em terapia intensiva depende das condições
clinicas dos indivíduos. Isso evidência a importância de evitar internações decorrentes de
agravos sensíveis à atenção primária, por meio da prevenção a saúde e garantia de assistência
integral ao idoso. Além disso, a obtenção de modelos explicativos distintos, segundo a esfera
administrativa do hospital, demonstra a importância da organização dos serviços de saúde na
composição dos gastos da internação de idosos. Outro destaque foi a necessidade de melhorar
o financiamento em saúde em termos quantitativos e qualitativos, usando de maneira racional
os recursos disponíveis e evitando internações desnecessárias de idosos inseridos nos
extremos de gravidade. Diante da carência de toda ordem de recursos, internar em UTI um
idoso em condições não críticas ou em estado terminal pode comprometer a qualidade dos
serviços prestados àqueles que realmente necessitam de cuidado intensivo.
Palavras-chave: Saúde Coletiva. Economia da Saúde. Alocação de Recursos. Saúde do
Idoso. Unidade de Terapia Intensiva.
11
ABSTRACT
Introduction: Population aging in Brazil underscores the need to discuss the proper
management of the budget allocated in health field, especially in the sectors of high
complexity, where coexist costly procedures, limited resources and the need for cost
containment. In the other hand, demand is growing in a way directly proportional to the
increase in the number of elderly in country. Objective: In this way, this research had as main
objective to analyze the costs resulting from the admission of elderly in intensive care units
(ICU) and its associated factors. Methods: This is a cross-sectional study with a quantitative
approach and featured as a descriptive and exploratory research. Data were collected from
medical records of elderly hospitalized in ICU from a brazilian city called Natal-RN, between
november first, 2013 and january, 31 of 2014. The variables collected relate to the socio
demographic profile, morbidity framework and characterization of hospitalization. The
dependent variable was categorized by quartile 75 in high and low expense of hospitalization
and submitted to chi-square test with the independent variables of the survey. Associations
with p value <0.20 in the bivariate analysis were submitted to the technique of multiple
logistic regression. We opted for the construction of three regression models from the above
algorithm: general regression model, composed by all 493 hospitalizations in the study, other
made with 181 individuals admitted in health public system (SUS) and a third one related to
312 cases from private service in health area. Results: In the general regression model, the
variables respiratory diseases, hospitalizations in the private system, disoriented patient and
previous stroke were associated with greater probability of high spending in the ICU. In the
other hand, in SUS kind of hospitalizations, this probability was associated with disoriented
patient, 80 years old or more, sepsis and admission for clinical reason. In the cases from the
private network health, the high expenditure was associated with respiratory disease,
mechanical ventilation, hospitalization for clinical reason and disoriented patients.
Conclusion: The increased expenditure on hospitalization of elderly in intensive care depends
on the clinical conditions of individuals. This highlights the importance of avoiding
hospitalizations due to diseases sensitive to primary care by health preventive actions and
providing comprehensive care to the elderly. In addition, obtaining different explanatory
models, according to kind hospital funding, demonstrates the importance of the organization
in health services related to composition of costs of hospitalization among the elderly.
Another question founded was the need that to improve the funding, we must use rationally
the available resources by avoiding unnecessary hospitalizations of elderly people in the
extremes of severity. On this kind of precarious funding, ICU hospitalization of elderly non-
critical or in a terminal state can compromise the quality of services provided to those who
really need intensive care.
Key words: Public Health. Health Economics. Health of the Elderly. Intensive Care Units.
Resource Allocation.
12
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Número de leitos de UTI adulto por Região do Brasil, Natal-RN, 2014. 33
Figura 2 Histograma representando a variável gastos com a internação de
idosos em UTI em Natal-RN.................................................................
55
Figura 3 Box Plot da variável gastos com a internação de idosos em UTI. Natal-
RN................................................................................................
56
Figura 4 Variáveis excluídas da análise bivariada e múltipla devido à baixa
frequência.................................................................................................
57
Figura 5 Variáveis excluídas da análise bivariada e múltipla devido à baixa
frequência nas internações do SUS..........................................................
62
Figura 6 Variáveis excluídas da análise bivariada e múltipla devido à baixa
frequência nas internações na rede privada.............................................
65
13
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Quadro resumo das variáveis do estudo................................................. 48
Quadro 2 Classificação dos leitos de UTI participantes do estudo........................ 50
Quadro 3 Divisão interquartílica da variável Gasto com a internação de idosos
em UTI..................................................................................................
56
14
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Análise descritiva das variáveis sócio demográficas e relativas à
internação....................................................................................................
53
Tabela 2 Análise descritiva das variáveis quantitativas do estudo............................ 54
Tabela 3 Análise das variáveis quantitativas do estudo, tendo em vista as
internações provenientes do SUS e da Rede
Privada........................................................................................................
54
Tabela 4 Variáveis excluídas da análise múltipla por apresentarem p>0,20 em
teste de Qui-quadrado com a variável dependente custo de
internação..................................................................................................
58
Tabela 5 Variáveis selecionadas para a análise de regressão logística múltipla....... 59
Tabela 6 Modelo de Regressão Logística Múltiplo................................................... 60
Tabela 7 Variáveis excluídas da análise múltipla por apresentarem p>0,20 em
teste de Qui-quadrado com a variável dependente custo de internação no
SUS.............................................................................................................
62
Tabela 8 Variáveis selecionadas para a análise de regressão logística múltipla das
internações no SUS.....................................................................................
63
Tabela 9 Modelo de Regressão Logística Múltiplo das internações SUS................. 64
Tabela 10 Variáveis excluídas da análise múltipla por apresentarem p>0,20 em
teste de Qui-quadrado com a variável dependente custo de internação na
rede privada.................................................................................................
66
Tabela 11 Variáveis selecionadas para a análise de regressão logística múltipla das
internações na rede privada.........................................................................
67
Tabela 12 Modelo de Regressão Logística Múltiplo das internações na rede
Privada........................................................................................................
68
Tabela 13
Síntese dos três modelos de regressão construídos, Natal-RN, 2014.........
68
15
LISTA DE SIGLAS
ANS- Agência Nacional de Saúde Suplementar.
AVC- Acidente Vascular Cerebral.
CCIH- Comissão de Controle de Infecção Hospitalar.
CONASS- Conselho Nacional de Secretários de Saúde.
CF- Constituição Federal.
CIB- Comissões Intergestoras Bipartite.
CIT- Comissão Intergestora Tripartite.
DATASUS- Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde.
DAOP- Doença Arterial Obstrutiva Periférica.
DPOC- Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica.
DRU- Desvinculação de Receitas da União.
EAP- Edema Agudo de Pulmão.
FAEC- Fundo de Ações Estratégicas e Compensações.
FPE- Fundo de Participação dos Estados.
IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
ICC- Insuficiência Cardíaca Congestiva.
MS- Ministério da Saúde.
OSS- Orçamento da seguridade Social.
PCR- Parada Cardiorrespiratória.
PIB- Produto Interno Bruto.
PPI- Programação Pactuada Integrada.
IAM- Infarto Agudo do Miocárdio.
IRA- Insuficiência Respiratória Aguda.
SIGTAP- Sistema de Gerenciamento da Tabela de Procedimentos, Medicamentos, Órteses,
Próteses e Materiais Especiais do SUS.
16
SUS – Sistema Único de Saúde.
UTI- Unidade de Terapia Intensiva.
17
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO............................................................................................. 18
2
2.1
2.2
2.3
2.4
REVISÃO DE LITERATURA................................................................... POLÍTICA DE FINANCIAMENTO DA SAÚDE NO BRASIL...................
TERAPIA INTENSIVA: HISTÓRICO, DEFINIÇÕES E A REALIDADE
BRASILEIRA..................................................................................................
TERAPIA INTENSIVA E A ATENÇÃO À SAÚDE DO IDOSO................
INDICAÇÃO DE INTERNAÇÃO DO IDOSO EM UTI: ASPECTOS
ÉTICOS, HUMANOS E GERENCIAIS.........................................................
22
22
30
35
40
3
3.1
3.2
4
4.1
4.2
4.3
4.4
4.5
4.6
4.7
OBJETIVOS..................................................................................................
OBJETIVO GERAL........................................................................................
OBJETIVOS ESPECÍFICOS..........................................................................
METODOLOGIA..........................................................................................
ASPECTOS ÉTICOS......................................................................................
DESENHO DO ESTUDO...............................................................................
VARIÁVEIS...................................................................................................
HIPÓTESES....................................................................................................
LOCAL E PARTICIPANTES DO ESTUDO.................................................
COLETA DE DADOS....................................................................................
ANÁLISE DE DADOS...................................................................................
46
46
46
47
47
47
47
49
49
51
51
5
5.1
5.2
5.3
5.4
6
7
RESULTADOS..............................................................................................
ANÁLISE DESCRITIVA...............................................................................
ANALISE BIVARIADA E REGRESSÃO LOGÍSTICA DA AMOSTRA
TOTAL............................................................................................................
ANÁLISE BIVARIADA E REGRESSÃO DAS INTERNAÇÕES DO SUS
ANÁLISE BIVARIADA E REGRESSÃO DAS INTERNAÇÕES DA
REDE PRIVADA............................................................................................
DISCUSSÃO..................................................................................................
CONCLUSÕES..............................................................................................
REFERÊNCIAS............................................................................................
APÊNDICE A – Instrumento de coleta de dados...........................................
ANEXO A- Critérios para Classificação dos tipos de leito de UTI................
ANEXO B- Parecer ético................................................................................
53
53
55
60
65
69
88
91
99
101
105
18
1 INTRODUÇÃO
A atual dinâmica da construção e divulgação do conhecimento tem propiciado uma
transformação nos saberes e o surgimento constante de conceitos inovadores nos mais
diversos setores. Desta feita, a intensificação da produção científica e a alta capacidade de
processamento e armazenamento de informações são a base da revolução tecnológica
vivenciada pela sociedade contemporânea, em especial na área da saúde. A incorporação
tecnológica nos serviços de saúde de alta complexidade, a descoberta de medidas efetivas
para a prevenção e tratamento de doenças infectocontagiosas, o controle clínico de doenças
crônicas não transmissíveis, o aumento no grau de instrução e a ampliação dos serviços de
atenção básica em saúde são fatores comumente associados ao avanço da expectativa de vida
da população.
O cenário descrito acima, por sua vez, tem impacto na estrutura e na dinâmica etárias
da população, que vivencia de forma mais acentuada o envelhecimento populacional, como é
o caso da maioria dos países desenvolvidos e/ou em desenvolvimento. Prognósticos apontam
que no Brasil, por exemplo, o percentual de cidadãos com mais de 60 anos deve chegar aos
14% da população em 2025 e aos 18% em 2050 (SILVA et al, 2009, p.263). Essas projeções
destacam que o país estará em sexto lugar no mundo em relação ao número de indivíduos
nessa faixa etária (SANTOS, 2007, p. 23).
Apesar dos avanços econômicos e sociais conquistados pelo Brasil nas últimas
décadas, um dos grandes desafios para o país é encontrar mecanismos para diminuir as
desigualdades sociais e regionais que imperam no território nacional. O processo de
envelhecimento da população brasileira reflete essa dessemelhança e responde ao grau de
desenvolvimento econômico de cada local. Dados de 2012 demonstram que a proporção de
idosos no país atingiu a marca de 10,7%. No entanto, a porcentagem de idosos é diferente nas
regiões do país: a região Norte possui 6,8% de idosos, no Centro-Oeste esse percentual é de
8,8%, o Nordeste apresenta 10,3% de indivíduos com mais de 60 anos, o Sudeste possui
11,8% e a região mais envelhecida é o Sul com 12% de idosos em sua população.
(DATASUS, 2014). Comparações entre estados também refletem essa desigualdade. Por
exemplo, o Rio de Janeiro tem um percentual de 15,4% de idosos, enquanto que o Amapá tem
apenas 6,1% de pessoas com 60 anos ou mais (PARREIRA, 2010, p.544).
Contudo, em todas as unidades da federação, o processo de envelhecimento
populacional tem se consolidado e trazido demandas sociais e econômicas tipicamente
associadas a esse evento. Uma dessas demandas é por investimentos nos serviços de saúde,
19
pois o aumento do número de pessoas com 60 anos ou mais implica a necessidade de mais
leitos, de programas específicos para os idosos, incorporação tecnológica e capacitação
profissional (DWYER, MATTA, PEPE, 2008, p.1640). Isso está relacionado ao fato desses
indivíduos serem portadores de três enfermidades crônicas em média, o que aumenta em 20%
a probabilidade de necessitarem de internação hospitalar em relação à população adulta,
prolonga o tempo médio de permanência no hospital e eleva o índice de reinternação. Uma
das questões preocupantes nesse contexto é que expostos a mais riscos e sem o amparo
adequado do serviço de saúde, o idoso frequentemente acumula sequelas e incapacidades,
comprometendo sua autonomia e, consequentemente, sua qualidade de vida (BERZINS,
BORGES, 2012, p. 30).
A perda da independência do idoso sobre seu corpo e a incapacidade funcional
relacionada à impossibilidade de realizar suas tarefas diárias impõe ao Estado, famílias e
sociedades uma série de adversidades e desafios: necessidade de contratação e formação de
cuidadores especializados; ampliação de vagas nas instituições para idosos totalmente
dependentes; aumento da demanda por serviços de reabilitação e ampliação dos gastos
familiares devido à necessidade de custear os cuidados ou a terapêutica de agravos. Além
disso é comum ocorrer diminuição de renda, uma vez que, é considerável o número de idosos
aposentados que participam ativamente no mercado de trabalho, sendo muitas vezes, os
principais responsáveis financeiros por seus lares.
Aliás, as mudanças demográficas relativas ao aumento da população idosa estão
trazendo inúmeras consequências sociais e econômicas até certo ponto previsíveis, mas que os
estados brasileiros ainda não estão plenamente preparados para enfrentá-las (CARBONI,
REPPETTO, 2007, p.257). Afinal, no Brasil o aumento do número de idosos aconteceu de
forma abrupta, ao contrário dos países desenvolvidos, onde o envelhecimento populacional
consolidou-se de forma gradativa, o que explica parte das dificuldades encontradas pelo país
em arcar com os investimentos sociais necessários à saúde desse segmento populacional
(LIMA, CAMPOS, 2011, p. 660).
Existem políticas públicas brasileiras que têm como foco o idoso e sua família. No
entanto, a implantação de suas diretrizes na prática esbarra na falta de recursos, carência de
instrumentos que possam aferir a qualidade de vida do idoso, dificuldades no
desenvolvimento de pesquisas na área e precária capacitação dos recursos humanos. Diante
disso, o desenvolvimento de pesquisas sobre a temática da saúde do idoso torna-se um desafio
emblemático para a efetivação do Estatuto do Idoso e da Política Nacional de Saúde da Pessoa
Idosa.
20
Estudos de revisão sistemática de literatura, realizado nas bases de dados em saúde,
demonstram que as pesquisas sobre a pessoa idosa se voltam de forma enfática para as
temáticas das doenças crônicas, das síndromes geriátricas, educação e da prevenção do
envelhecimento em seu aspecto biológico (PRADO, SAYD, 2004, p.765). Portanto, existe
carência na produção de conhecimentos que procurem compreender os fatores que permeiam
o envelhecimento populacional e o aumento de gastos e demandas em saúde. Isso
circunscreve uma lacuna no campo das pesquisas geriátricas que implica uma fragilidade para
a assistência, pois as necessidades de saúde de um grupo populacional relacionam-se
diretamente com suas características sociais, demográficas, econômicas e aos quadros de
morbidade e de mortalidade dos indivíduos (BARBOSA, KALINKE, 2009, p.56).
As características sociais e demográficas da população idosa também são cruciais para
o desenvolvimento de estudos na área de Geriatria/Gerontologia, uma vez que a análise desse
quadro de variáveis pode revelar discussões importantes, especialmente no que se refere à
efetividade de tratamentos, planejamento estratégico e prevenção de agravos. Por sua vez, a
avaliação de variáveis econômico-financeiras relacionadas com o fenômeno do
envelhecimento, também são importantes, pois estão associadas à dinâmica familiar dos
idosos, à economia dos seus lares, às demandas geradas para a rede de serviços de saúde e à
capacidade financeira do Estado e empresas de responder a tais necessidades. O interesse por
dados de mortalidade e morbidade justifica-se pela oportunidade de conhecimento dos fatores
de risco especificamente relacionados ao processo saúde/doença dos idoso, tornando-se uma
importante ferramenta de gestão de recursos (MARCHESE, SCATENA, IGNOTTI, 2008, p.
658).
Sabendo que os idosos internados em UTI apresentam quadros clínicos graves e que
este setor é oneroso para Saúde Pública e no espaço da rede privada, destacam-se alguns
questionamentos norteadores dessa pesquisa: Qual o perfil dos idosos internados em UTI?
Quais são os principais agravos que levam à internação de idosos em UTI? Quais
características sociodemográficas e clínicas têm relevância sobre o gasto com a internação de
um idoso em UTI? Qual o tempo médio de internação do idoso na UTI? Quais os índices de
alta ou óbito para os idosos internados em UTI?
Sob o mote dessas questões, o objeto de estudo desta pesquisa materializa-se no
espaço dos determinantes das condições de saúde/vida dos idosos, como também no âmbito
do conhecimento das múltiplas facetas da velhice e do processo de envelhecer em Natal,
capital do Rio Grande do Norte. Dados demográficos do último censo realizado em 2010,
apontaram que Natal-RN é uma cidade com população com mais de 10% de idosos em sua
21
população, onde a baixa cobertura oferecida pelos serviços de atenção básica em saúde,
contrasta com o crescimento de uma população idosa carente e com dificuldade de acesso aos
serviços em todos os seus níveis de complexidade (IBGE, 2010, p.67).
Toda assistência hospitalar é considerada de alta complexidade para o SUS, todavia
esta pesquisa opta pela utilização da UTI como lócus específico do trabalho. Essa escolha
responde a algumas peculiaridades impactantes para as características metodológicas do
estudo, quais sejam: a maior quantidade de informações disponíveis nos prontuários dos
pacientes em relação aos outros setores do hospital; ser o espaço responsável pelo
atendimento dos casos graves de doenças crônicas que comumente acometem os idosos e por
ser um dos setores mais onerosos para se manter um paciente, pois seu funcionamento
depende de equipamentos, insumos e mão de obra especializados.
A pesquisa trata de uma temática inédita para no estado e, mesmo tendo como
referência o cenário nacional, existe carência na produção desse tipo de conhecimento. Assim,
mais que revelar um diagnóstico sobre o impacto econômico decorrente da internação dos
idosos em UTI, o estudo colocou em evidência alguns elementos inerentes à discussão sobre a
avaliação, o planejamento de ações e o investimento necessário ás propostas contidas nas
políticas no setor saúde, frente aos desafios do envelhecimento populacional.
Ao buscar a relação entre o perfil demográfico, de morbidade e de mortalidade dos
idosos com o alto gasto decorrente de internação em UTI, o estudo também refletiu sobre
questões fundamentais ao processo de gerenciamento de recursos em saúde tais como: a
indicação de internação de idosos em UTI; as características da terapia intensiva no setor
público e no segmento privado; a classificação de gravidade dos idosos candidatos a
internação em UTI; a importância da identificação da terminalidade dos pacientes e da
prestação de cuidados paliativos fora da UTI; gasto com internação de idosos em UTI e seus
impactos nos orçamentos domésticos, empresariais e públicos; e as discussão das variáveis
associadas ao alto gastos da internações de idosos em terapia intensiva.
As peculiaridades próprias do desenho dessa pesquisa sustentam-se na construção e
democratização de conhecimento voltado para as necessidades sociais. Nesse ínterim,
acredita-se que este trabalho se insere em um contexto maior, no qual se encontra um desfio
grandioso e necessário à Saúde Coletiva e do idoso no Brasil: colaborar nas discussões
orçamentárias para que a alocação dos recursos em saúde parta da crítica sobre a realidade
social e epidemiológica, para enfim materializar-se em ações de saúde condizentes com uma
sociedade ética e justa, especialmente no que se refere a qualidade de vida para o idoso
brasileiro.
22
2 REVISÃO DE LITERATURA
O referencial teórico dessa pesquisa lança-se ao desafio de circunscrever um objeto de
estudo complexo e multifacetado, que envolve questões singulares aos diversos espaços de
atenção à saúde do idoso, passa pela discussão da organização e gestão destes serviços e
chega até a apreciação de aspectos políticos, tributários, legais, orçamentários e éticos, no que
se refere à realidade do financiamento da saúde no Brasil.
Nos tópicos subsequentes, apresenta-se considerações sobre a constitucionalização do
SUS enquanto política de saúde do Brasil. O foco da análise são as propostas e modificações
implantadas na legislação ao longo dos anos e que tiveram impactos relevantes sobre no
campo do financiamento da saúde no país. Em um segundo momento, o texto disserta sobre
momentos históricos que determinaram o surgimento das primeiras UTI’s, volta-se para
alguns aspectos conceituais da área e traz um panorama sobre os serviços de terapia intensiva
no Brasil, enfatizando aspectos técnicos da sua inserção nas políticas de saúde, seu
financiamento e a relação entre o setor intensivista público e privado.
Então, a discussão teórica estreita-se para a interface entre o envelhecimento
populacional no Brasil e os desafios trazidos para o setor de terapia intensiva. Destacam-se os
direitos e as condições de saúde dos idosos brasileiros como pedra angular para implantação
de serviços de cuidados intensivos resolutivos no que se refere, especificamente, a esse
segmento populacional. Por fim, são apresentadas algumas considerações sobre os critérios
utilizados para internação em UTI, com foco nas questões da terminalidade da vida, da gestão
à otimização de recursos disponíveis e nos aspectos éticos e econômicos envolvidos nesse
contexto.
2.1 POLÍTICA DE FINANCIAMENTO DA SAÚDE NO BRASIL
Até o a consolidação do processo da constituinte brasileira na década de 1980, o país
tinha um sistema de saúde segmentado e excludente, pois era negada a assistência pública de
saúde a uma parcela da população. Por sua vez, as instâncias governamentais em toda
federação disputavam os poucos recursos destinados ao Ministério da Saúde (MS). Estados e
municípios se viam reféns de fontes de recursos esporádicas como caridade, serviços
prestados por entidades religiosas ou filantrópicas. Diante dessa realidade, os recursos
escassos priorizavam o campo da vigilância em saúde e o controle de doenças transmissíveis.
Piola et al (2014, p.9), complementarmente destaca que:
23
Até 1988, o MS participava com menos de 20% dos recursos federais
destinados ao financiamento da saúde no país. A maior parte dos recursos
era proveniente da seguridade social – mais de 80% estavam vinculados ao
INAMPS/Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS). Além
disso, em torno de 70% dos recursos públicos estavam centralizados no
governo federal.
Contudo, essa realidade foi transformada significativamente a partir da aprovação da
Constituição Federal de 1988 (CF/1988), onde a saúde foi inscrita como direito de todos e
dever do Estado. Segundo o artigo 193 da Constituição, o direito à saúde deve ser garantido
mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação (BRASIL, 2010).
A Constituição brasileira é fruto de um processo de discussão que envolveu os mais
diversos segmentos sociais engajados na luta pelo fim da ditadura militar, eleições diretas
para presidente e instalação de um regime democrático pleno no Brasil. Os idosos, na figura
de aposentados e pensionistas, também estiveram presentes na Assembleia Nacional
Constituinte, lutando pela conquista de direitos específicos do segmento, juntamente com
representantes de diversos movimentos populares e classes sociais (BERZINS, BORGES,
2012, p.160).
Na área da saúde, toda essa discussão política/conceitual, permeada pelo interesse de
contemplar as necessidades sociais, foi a pedra angular para a construção do SUS, sistema de
saúde que se propõe a prestar assistência universal, integral e equânime para a população
brasileira. Logicamente, uma mudança dessa magnitude requer o estabelecimento de bases
constitucionais que possam nortear e garantir a estratégia de financiamento adequado para
toda a rede a ser criada e posta em operação. Todavia, a grande ruptura proposta pela
constituição de 1988 no campo da saúde foi a desconstrução da ideia meritocrática, que
permeou a seguridade social no Brasil até então, em um movimento de valorização e proteção
de todo cidadão brasileiro.
A proposição de um sistema de saúde de cobertura universal para todo Brasil, diante
de uma enorme demanda reprimida por um longo período de políticas públicas excludentes,
aliado a um cenário de forte pobreza e concentração de renda e poder, reforçou a necessidade
de discussão sobre a questão do financiamento das ações e dos serviços de saúde ofertados
pelo Estado. Em realidade, o desafio não se limitou ao aumento de aporte de recursos para a
saúde, uma vez que a descentralização, aumento da participação dos Estados e Municípios no
24
planejamento e execução das políticas de saúde, ainda precisava ser concretizado de uma
maneira eficaz.
No que se refere à seguridade social, a CF/1988 estabeleceu que seu financiamento
deve ser executado por meio de recursos oriundos da União, dos Unidades Federativas, do
Distrito Federal, dos Municípios e de contribuições sociais. Na instância federal esse
montante deveria ser dividido entre previdência, assistência social, seguro desemprego e
saúde, garantindo uma vinculação de 30% do Orçamento da Seguridade Social (OSS) para
ações e serviços de saúde, independente do impacto orçamentário causado pelo seguro
desemprego (CONASS, 2011a, p. 21).
Contudo, na prática, esse percentual que deveria ser aplicado na área da saúde nunca
foi executado. Um dos responsáveis por isso é a Desvinculação de Receitas da União (DRU),
criado em 1994, com o nome de Fundo Social de Emergência, sob o argumento da
necessidade de ajuste fiscal. Em essência, a DRU é um mecanismo criado para que o governo
federal tenha a liberdade de retirar até 20% do OSS para pagamento de juros da dívida pública
e demais medidas vinculadas ao mercado financeiro. Esses cortes atingem diretamente o
financiamento de toda a seguridade social, o valor do Fundo de Participação dos Estados
(FPE) e o do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) (Ugá et al., 2012, p. 34).
Entretanto, como a DRU não incide sobre a previdência, responsável por cerca da
metade do OSS, os maiores danos financeiros ocorrem principalmente sobre o montante
destinados à saúde pública. Nesse sentido, o dinheiro que constitucionalmente deveria ser
aplicado no SUS está sendo usado como garantia de superávit primário da economia
brasileira, conforme interesses de instituições e representantes do mercado financeiro,
engajados unicamente com a especulação e com os lucros individuais. Mendes (2012, p.109 e
126) destaca que:
Entre 2005 e 2010 foi retirado da seguridade social cerca de R$ 230 bilhões
para pagamentos de juros da dívida pública, por meio da DRU (...) e somente
em 2010 as despesas com o pagamento de juros da dívida pública brasileira
foram de R$ 185 bilhões, valor correspondente a três vezes os gastos com o
Ministério da Saúde no mesmo ano.
Parte desse montante, em tese, poderia e deveria financiar ações e serviços de saúde
para toda a população. No entanto, uma questão que merece reflexão nesse contexto é que no
Brasil, ao contrário de outros países que também regulamentaram sistemas de saúde universal,
os novos direitos socais inseridos na CF/1988 foram criados em um momento em que vivia-se
em um cenário de instabilidade econômico-financeira e hiperinflação, associadas à extrema
25
desigualdade social. Nesse contexto, a necessidade de obedecer aos princípios constitucionais
e a carência de recursos gerou uma série de disputas internas por maiores orçamentos entre
áreas sociais distintas como saúde, previdência, educação, segurança pública, dentre outras.
(GOMES, 2014, p.7).
Esta disputa por recursos perdura até a atualidade e estende-se entre as diversas
instâncias da saúde pública brasileira, pois os cortes sistemáticos no orçamento da União para
a área não são condizentes com os princípios e diretrizes do SUS. Assim, os Estados e
Municípios, legítimos executores das ações e responsáveis pelos serviços de saúde pública,
veem-se sobrecarregados e sem alternativas para aplicação de receitas extras na área,
resultando no progressivo subfinanciamento e precarização dos serviços públicos de saúde no
Brasil (MENDES, 2012, p. 129).
Levando-se em conta o período entre 1988 e 2012, os gastos públicos da União na
saúde reduziram de 70% para 20% do orçamento total da área, levando a uma gradativa
oneração para Estados e Municípios (FIOCRUZ, 2013, p. 49). Portanto, não adianta pensar
que reformas pontuais, ajustes no orçamento ou liberação de verbas de forma emergencial,
mediante solicitação direta dos estados e municípios ou via decretação de estado de
calamidade pública podem resolver a carência de recursos do SUS. Também não faz sentido
pensar que o problema é unicamente de gestão e que com planejamento estratégico os
percalços podem ser resolvidos. É necessário pensar numa solução que englobe uma reforma
tributária justa, redefinição de orçamento da saúde e gestão eficiente para que o Estado possa
oferecer um sistema de saúde digno para a população brasileira. Contudo, percebe-se que as
condutas sistematicamente tomadas pelos diversos governos desde a aprovação da CF/1988
têm se direcionado, paulatinamente, para a redução dos direitos e destituição do papel do
Estado nas questões sociais mais onerosas, como, por exemplo, previdência e saúde,
incentivando a ampliação da iniciativa privada em tais setores.
Prova de que medidas pontuais e desarticuladas são incapazes de mudar o cenário do
financiamento da saúde no Brasil, foi a criação da Contribuição Provisória sobre a
Movimentação Financeira (CPMF) em 1996. A criação do novo imposto, cuja arrecadação
deveria ser passada diretamente para o Fundo Nacional de Saúde (FNS) com o intuito de
financiar ações e serviços de saúde, constituiu um aumento absoluto no aporte de recursos
para o setor. No entanto, como esse valor também sofria a taxação da DRU, ao longo dos anos
os dividendos arrecadados tornaram-se mais relevantes para o poder executivo do que para o
incremento de qualidade no sistema de saúde brasileiro. Além disso, o decréscimo da
arrecadação, sobretudo daqueles dividendos proveniente da Contribuição para Financiamento
26
da Seguridade Social (COFINS) e da Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSSL),
mantiveram o orçamento em saúde praticamente estável. Esse cenário foi decisivo para que a
oposição, juntamente com alguns membros da base do governo no congresso, optasse pelo
fim da CPMF em 2007 (GOMES, 2014, p.9).
Pode-se perceber que, mesmo após 26 anos de existência, os embates puramente
político partidários no congresso, a influência do mercado financeiro e a pressão do setor
privado, ávido por mais lucros e nichos de mercado, têm levado o SUS a enfrentar uma
carência de recursos que beira a própria insustentabilidade do sistema. Basta analisar os dados
de Soares e Santos (2014, p.25), onde é demonstrado que no ano de 2011, o Brasil gastou
4,1% do Produto Interno Bruto (PIB) com o orçamento público em saúde, o que destoa da
realidade dos demais países que também propõem um sistema de acesso universal. Por
exemplo, no mesmo ano de 2011 a França destinou 8,9% do PIB para a saúde, o Reino Unido
7,7% e a Espanha 7,0%, mesmo em um cenário de recessão econômica mundial.
Vista como uma tentativa de mudar essa realidade, a Emenda Constitucional 29 (EC-
29), agora sob a denominação de Lei Complementar 141/12, estabelece o percentual de
recursos que devem ser destinados pela União, Estados e Municípios para o financiamento da
saúde pública. Ficou definido que os municípios deveriam aplicar, no mínimo, 12% dos
recursos próprios em saúde, os estados 15% e a União acrescentaria o percentual de
investimentos do ano anterior acrescido da variação PIB nominal (BRASIL, 2012a).
Não há dúvidas que a Lei Complementar 141/12, implantada trouxe melhorias e
definições mais claras sobre a participação da União, Estados e Municípios no montante de
investimentos destinados à saúde pública. Todavia, ela não interrompeu a diminuição gradual
da participação relativa do governo federal no financiamento do SUS e aquilo que deveria ser
o valor mínimo a ser aplicado na saúde foi concretizado como limite máximo de
investimentos para o setor em todas as instâncias do governo. Essa prática, associada com o
ostensivo processo de descentralização do sistema de saúde, corroborou ainda mais para a
carência de recursos e sobrecarga orçamentária sobre estados e municípios. (PIOLA et al,
2014, p.23).
Contraditoriamente, apesar da diminuição na sua participação no custeio dos gastos
em saúde, a União continua a deliberar sobre políticas, ações e prioridades na atenção à saúde
em todo território nacional, por meio da liberação condicionada de recursos para as instâncias
menores. Assim, mesmo tendo como princípio a descentralização, algumas ações e políticas
de saúde ainda são verticalizadas no SUS, pois a união tem investido em metas que não levam
em consideração as necessidades locais de saúde, mas sim representam a imposição de
27
políticas do governo federal às unidades federativas. Além disso, não existem contrapartidas
federais que possam amenizar a situação precária vivenciada pelos municípios de médio e
pequeno porte, que ainda representam a maioria das cidades brasileiras. Leite, Lima e
Vasconcelos ratificam o exposto e acrescentam:
No que se referem à gestão, as secretarias municipais de saúde, apesar de
estarem amparadas pelos instrumentos de planejamento, na maioria das
vezes, apresentam-se como simples prestadoras de serviços. Os instrumentos
de planejamento são insuficientes, uma vez que, quando existem, apontam
basicamente os objetivos e metas, focado nas exigências normativas, e não
retrata a realidade local (LEITE, LIMA, VASCONCELOS, 2012, p. 1852).
Assim, o custeio das ações de baixa e média complexidade permanece seriamente
comprometido nas unidades mais pobres da federação, onde os novos investimentos em
infraestrutura, tecnologia, melhoria de condições de trabalho e ampliação da rede assistencial
tornam-se praticamente inviáveis. No que se refere à alta complexidade, reconhecidamente
um nível de assistência oneroso, devido à necessidade de incorporação dos mais diversos
tipos de tecnologias leves e duras, esta realidade se impõe de maneira ainda mais preocupante.
Em realidade, na maioria das vezes, municípios pequenos e médios, sem orçamento
para gerenciar hospitais próprios, enviam os enfermos mais graves para as grandes cidades,
mesmo sem ter em vista o limite de atendimentos estabelecido nas reuniões das Comissões
Intergestoras Bipartites (CIB), o que gera superlotação e queda na qualidade na assistência em
hospitais polo de referência regional. Trata-se, portanto, de uma reação em cadeia que se
inicia com a oferta insuficiente de serviços na baixa complexidade e tem como reflexo a
superlotação na alta complexidade dos grandes municípios, gestores legais das maiores
instituições hospitalares da esfera pública.
A Lei Complementar 141/12 também não destacou critérios estritos que pudessem
definir o que de fato são gastos e/ou investimentos na área da saúde, ou seja, a lei apontou os
percentuais mínimos a serem investidos por cada esfera na área, mas não definiu de maneira
precisa onde os gestores do SUS podem investir o dinheiro do orçamento da saúde (PIOLA et
al, 2014, p.36). Mesmo diante da existência de alguns parâmetros que especificam aquilo que
pode ser considerado gasto com o SUS, todas as instâncias têm utilizado as brechas na lei
como estratégia para cumprir com suas metas orçamentárias, incluindo indevidamente como
gastos em saúde despesas relativas à moradia, por exemplo (MENDES, 2012, p. 132). Desta
forma, a imprecisão do conceito de gasto em saúde permitiu que fossem encontrados
subterfúgios para fugir do cumprimento efetivo da emenda constitucional 29.
28
Outro ponto crítico da legislação do SUS que ainda precisa ser discutida é a relação
entre o setor público e o privado. A Constituição normatiza que a rede privada deve ser
complementar aos serviços públicos, porém o que se pode perceber na prática é que ambos os
setores oferecem o mesmo tipo de serviço, especialmente na média e na alta complexidade.
Isto, na verdade, caracteriza uma cobertura denominada de duplicada, que é associada ao
aumento da iniquidade na relação oferta e demanda, não diminui a pressão por procedimentos
onerosos no sistema público, não preserva os princípios do SUS, não favorece a melhoria da
saúde da população, além de piorar o subfinanciamento público, por facilitar o fluxo de
pacientes nas duas redes de maneira simultânea (SANTOS, 2011, p. 2747).
Soma-se a isso o fato de algumas decisões governamentais serem voltadas ao
incentivo direto e indireto ao mercado privado em saúde. Tais ações estão materializadas em
concessão de subsídio fiscal às empresas da área, que somente em 2011 chegou à casa dos R$
13,5 bilhões; abatimento de imposto de renda de pessoa física relativos a gastos com
pagamentos de planos de saúde ou mesmo cirurgias estéticas; e oferta de planos de saúde
privados para o funcionalismo público (MENDES, 2012, p. 134).
Por meio destas e outras medidas, o Estado abre mão de parte de sua arrecadação com
vistas ao privilégio da parcela da população que pode pagar pela prestação de serviços
privados em saúde, assim como para o benefício financeiro de empresas e planos de saúde no
país. Nesse contexto, a principal prejudicada é a assistência pública em todos os níveis de
complexidade, que diante da carência de recursos padece e tem sua efetividade comprometida
quanto a melhoria dos determinantes da saúde.
É preciso ficar claro que os argumentos supracitados não constituem uma defesa de
um sistema de saúde unicamente público no Brasil, mas sim ratificam a importância do
compromisso estatal com um financiamento público condizente com a constituição, o que
necessariamente, perpassa a discussão da relação público-privado na área da saúde. Assim,
todo incentivo estatal ao setor privado deveria ser avaliado segundo sua efetividade e
capacidade de gerar impactos concretos na saúde da população como um todo.
Ao fim, depois de todos os cortes e contingenciamento dos recursos, o dinheiro
destinado ao financiamento da baixa, média e da alta complexidade no SUS precisa ser
transferido para os prestadores dos serviços. Isto é posto em prática por meio de dois
processos normativos distintos: parte dos recursos Federais são transferidos diretamente do
Fundo Nacional de Saúde para os Estados e Municípios, conforme a Programação Pactuada
Integrada (PPI) e preenchimento de requisitos especificados nas Leis Orgânicas de Saúde
(LOAS); o outro componente trata-se do pagamento pelos procedimentos prestados no setor
29
de média e alta complexidade e são financiadas por meio do Fundo de Ações Estratégicas e
Compensações (FAEC). O pagamento aos prestadores do serviço público é feito de maneira
gradativa, conforme cronograma e normatização pactuado na Comissão Intergestora Tripartite
(CIT) (CONASS, 2011a, p.109).
No que se refere ao financiamento do setor privado, além dos incentivos mencionados,
os recursos são garantidos mediante o gasto direto de famílias ou empresas no segmento. Os
preços praticados pelas empresas da área são fruto da realidade do mercado, negociação e
fiscalização por parte de agências reguladoras diretamente vinculadas ao Ministério da Saúde.
Aliás, estas agências reguladoras precisam estar especialmente atentas, pois no Brasil existe
pouca competição entre as empresas privadas prestadoras de serviços de saúde e dificilmente
se observam propagandas com anúncio de valores. Em caso de hospitalização, por exemplo,
na maioria das vezes, o paciente desconhece totalmente o preço final de todo o tratamento
(CONASS, 2011a. p. 41).
Portanto, é necessário que o consumidor de serviços privados em saúde seja mais bem
assistido pelas agências reguladoras quanto à sua seguridade financeira. Para que se tenha
ideia do problema em destaque, a Fiocruz (2013, p.27) mostra que esse tipo de gasto privado
direto do bolso do consumidor compromete em média 7,2% do orçamento das famílias
brasileiras, ficando abaixo somente do dispêndio com habitação, alimentação e transporte. Os
mesmos dados mostram que esses pagamentos se direcionam principalmente para compra de
medicamentos, consultas, exames e internações.
Diante do exposto, percebe-se que diversas questões estão associadas ao
financiamento da área da saúde no Brasil, destacadamente a necessidade de maior
participação do Governo Federal nos repasses feitos para Estados e Municípios, a criação de
mecanismos que garantam o caráter complementar da rede privada, repensar subsídios
públicos dados à iniciativa privada em saúde e garantir a efetiva descentralização de
planejamento e gestão em saúde. É notório que esses apontamentos se desdobram em
questões complexas de origens tributárias, constitucionais, jurídicas, administrativas e
políticas. Contudo, sem trilhar esse caminho de maneira coerente, pensando nessa complexa e
multifacetada rede causal, o financiamento da saúde no Brasil não sofrerá mudanças que
impliquem ganhos reais em saúde para a saúde dos brasileiros.
Um dos problemas mais críticos para o financiamento da saúde no Brasil é a
manutenção e ampliação dos setores de alta complexidade. As mudanças no perfil etário e
epidemiológico da população, a demanda reprimida na atenção básica e a necessidade
tecnológica e de mão de obra qualificada tornam a prestação de cuidados intensivos um dos
30
grandes desafios para o sistema de saúde brasileiro. Esse tema é discutido nos próximos
tópicos desse trabalho.
2.2 A TERAPIA INTENSIVA: HISTÓRICO, DEFINIÇÕES E A REALIDADE
BRASILEIRA
Em 1854, durante a Guerra da Crimeia, a enfermeira inglesa Florence Nightingale,
considerada a responsável pela institucionalização da enfermagem moderna, organizou a
primeira unidade de cuidados voltada exclusivamente para pacientes em estado grave. Com
medidas simples de isolamento, cuidado ininterrupto e controle de higiene, Florence e 38
colaboradoras conseguiram reduzir em 20 vezes a mortalidade dos soldados hospitalizados
com ferimentos graves. No entanto, a origem das UTI’s modernas deu-se somente em 1923
nos Estados Unidos, quando o médico Walter Dandy criou a primeira unidade de cuidados
intensivos na cidade de Baltimore. O setor era composto por 3 leitos destinados
exclusivamente ao pós-operatório de neurocirurgias, contava com enfermeiras treinadas para
prestação de cuidados intensivos e era chamada simplesmente de sala de recuperação
(MENEZES, 2014, p. 27).
Porém, outro médico chamado de Peter Safar é considerado o primeiro profissional
intensivista, pois entre outras contribuições no campo da urgência e emergência, ele foi
responsável pela fundação, no ano de 1962, do primeiro setor hospitalar denominado de UTI,
também na cidade americana de Baltimore. Além disso, o Dr. Peter Safar criou e ofertou a
primeira disciplina sobre cuidados críticos em um curso de Medicina na Universidade de
Pittsburg, projetou as primeiras ambulâncias de suporte intensivo e foi um dos fundadores da
Society of Critical Care Medicine, primeira sociedade médica voltada ao debate sobre
tratamento intensivo (SOBRATI, 2014, p.2).
Por sua vez, na Europa, o alemão Martin Kirschner concebeu e construiu em 1930
uma unidade de recuperação pós-cirúrgica de cuidados intensivos na Universidade Alemã de
Tübingen. Após o início da Segunda Guerra Mundial, a ideia de Martin foi a base para a
instalação de unidades de tratamento de choque, equipadas com pessoal especializado, com o
objetivo de tratar os militares gravemente feridos. Outro passo importante para o
desenvolvimento das UTI’s aconteceu durante a epidemia de poliomielite em 1950. O médico
dinamarquês Bjorn Aege Ibsen ao ver os pacientes sem condições de respirar
espontaneamente, devido a paralisia respiratória causada pela doença viral, instituiu a
ventilação mecânica por pressão positiva em unidades respiratórias especializadas e, dessa
31
maneira, reduziu a taxa de mortalidade da poliomielite de 90% para cerca de 25% dos casos
(MENESES, 2014, p.29).
No Brasil, a primeira UTI surgiu no final da década de 1960 no Hospital das Clínicas
da Universidade de São Paulo. Tratava-se de um setor isolado das demais alas, onde os
pacientes eram acompanhados ininterruptamente por médicos residentes e enfermeiros
próprios do setor. Contudo, somente em 1972, o hospital Sírio Libanês fundou a primeira UTI
com área física especificamente planejada para prestação de cuidado intensivo e que contava
com uma equipe de trabalho preparada para assistência especializada em casos graves. Assim,
a instituição foi pioneira na sistematização do tratamento intensivo e tornou-se um marco
referencial para criação de outras UTI’s no país, como a do Hospital de Messejana no Ceará, a
do hospital Getúlio Vargas em Pernambuco, a do Hospital Universitário Onofre Lopes no Rio
Grande do Norte, só para citar exemplos mais próximos (VIANA, 2011, p.22).
O rápido processo de expansão das UTI’s pelo Brasil já se encontrava bem
consolidado em 1975, quando apontou-se a necessidade de regulamentar oficialmente os pré-
requisitos das instalações físicas, dos profissionais, dos equipamentos e das rotinas próprias
para ao cuidado intensivo. Por fim, na década de 1980, foram criadas as entidades
representativas dos profissionais intensivistas, que atualmente são protagonistas em lutas por
condições de trabalho, produção científica e qualificação técnica na área (VIANA, 2011,
p.24)
As instituições hospitalares, espaços onde as UTI’s estão inseridas, usualmente são
classificados segundo dois aspectos: quanto à natureza da assistência e quanto à sua
capacidade ocupacional. De acordo com o primeiro critério, os hospitais podem ser Gerais,
quando voltados ao atendimento de diversos serviços médicos; e Especializados, quando
reservados a prestação de cuidados voltados aos indivíduos com doenças ou agravos
específicos, como o câncer por exemplo. Já quanto a sua capacidade ocupacional, os hospitais
são denominados de pequeno porte, quando possuem entre 25 e 49 leitos; de médio porte,
quando tem entre 50 e 149 leitos; de grande porte, que dispõem de 150 a 500 leitos; e os
extras ou especiais que possuem mais de 500 leitos (GUERRA, 2013, p. 53).
No que se refere especificamente às UTI’s, sob o ponto de vista operacional e
financeiro, elas são classificadas no Brasil, segundo uma ordem crescente de complexidade,
em leito de terapia intensiva do tipo I, II e III. O grau de incorporação tecnológica, a
especialização dos recursos humanos e as características da sua área física são os critérios
gerais utilizados pelo Ministério da Saúde para definição dessa hierarquização dos leitos de
32
UTI (Ver ANEXO A). Por outro lado, todos os leitos de UTI no país têm por base a seguinte
definição:
Unidades hospitalares destinadas ao atendimento de pacientes graves ou de
risco que dispõem de assistência médica e de enfermagem ininterruptas, com
equipamentos específicos próprios, recursos humanos especializados e que
tenham acesso a outras tecnologias destinadas ao diagnóstico e terapêutica
(BRASIL, 1998, p.2).
Vale destacar que essa é a definição adotada oficialmente no Brasil pelo Ministério da
Saúde e, apesar do certo consenso internacional a respeito do conceito de paciente grave e de
sua prioridade para ocupação de leitos de cuidado intensivo, países têm critérios diferentes
para caracterizar o leito de UTI. Tais critérios, na maioria das vezes, padecem de razões
técnicas e estão permeadas de questões financeiras, profissionais e principalmente políticas
(RHODES; MORENO, 2012, p.323). Isso permite que governos possam mascarar a realidade
sobre o número de leitos disponíveis em um país e, a rigor, estudos que se dediquem a
estabelecer comparações entre diferentes nações quanto à cobertura e ao acesso a leitos de
UTI, devem ser precedidos de uma discussão conceitual mais ampla, deixando claro o
conceito de leito de cuidado intensivo adotado.
Contudo, nem mesmo manobras políticas utilizadas para mascarar o número real de
leitos intensivos têm conseguido reduzir sua escassez em todo o mundo. Essa realidade é
ainda mais presente nos países pobres, onde ainda é difícil atender a demanda de pacientes
elegíveis como grave ou em risco, mas que tenham reais probabilidades de recuperação de
seus quadros clínicos, condições estas rotineiramente utilizadas pelos médicos ao optar pela
internação em UTI (CALDEIRA et al, 2010. p. 528).
No Brasil, tem-se um total de 26.378 leitos de UTI adulto distribuídos em todo
território nacional. Segundo legislação federal, este tipo de leito é destinado à assistência de
pacientes com idade superior a 14 ou 18 anos, sendo este limite definido concretamente de
acordo com as rotinas de cada instituição (BRASIL, 2010, p. 2). Sendo assim, ao fazer a
fração representativa do número de indivíduos de uma região sobre a quantidade de leitos de
UTI adulto disponíveis, convencionou-se o denominador como o conjunto de indivíduos com
16 anos ou mais.
Realizando estes cálculos com os dados disponíveis no DATASUS tem-se: a região
Sudeste tem 4,01 habitantes/leito; o Centro-Oeste tem 4,42 habitantes/leito; o Sul tem 4,91
habitantes/leito; o Nordeste apresenta 7,08 habitantes/leito; e a região Norte tem 8,12
habitantes/leito. Portanto, a região Sudeste tem o maior número absoluto de leitos de UTI
33
adulto e também a melhor distribuição per capita, enquanto a região norte tem o menor
número de leitos de UTI adulto e a pior razão de habitantes/leito. Por sua vez, a região
Nordeste tem o segundo maior número de leitos voltados ao cuidado intensivo de adultos,
mas apresenta a segunda pior relação entre número de habitantes para cada leito disponível.
Observa-se o número de leitos por região na Figura 1.
Figura 1- Número de leitos de UTI adulto por Região do Brasil
Fonte: Gráfico elaborado através de consulta ao DATA-SUS em outubro de 2014
Um dos fatores que mais pesam contra a ampliação e interiorização dos leitos de UTI
no Brasil é a necessidade de grande investimento inicial para sua implantação. No entanto, é
necessário que o governo federal e os estaduais empreendam esforços, juntamente com os
diversos colegiados de controle social regulamentados pelo SUS, na tentativa de construir
mecanismos que possam amenizar as desigualdades regionais quanto à oferta de terapia
intensiva à população. Além de uma questão de justiça social e humanização, ofertar serviços
de qualidade nos estados de origem dos pacientes pode ser uma importante ferramenta de
gestão, capaz de amenizar a demanda enfrentada pelos hospitais dos grandes centros de
referência, que recebem pacientes provenientes de várias localidades e, muitas vezes,
comprometem a qualidade do serviço prestado em prol da necessidade de atender a todos.
Esse desafio também engloba a garantia de financiamento adequado para a
manutenção dos leitos existentes e dos que possam ser criados. O financiamento das
internações em UTI tem como norte a contabilização do número de dias que o paciente
permanece no setor, a chamada diária de UTI. O valor dessas diárias, teoricamente deve
custear a manutenção do paciente no setor, uma vez que é responsável pelo pagamento de um
largo aspecto de ações e procedimentos executados durante a internação. Segundo
34
determinação do Ministério da Saúde, no valor das diárias de UTI está incluída a utilização de
toda a aparelhagem própria para terapia intensiva, medicação, equipes técnicas e
monitorização do paciente em um período de 24 horas. O valor em questão contempla ainda
os gastos que possam ser gerados por eventos secundários, ocorridos após a admissão na
unidade, tais como: tratamento de epilepsia, tratamento psiquiátrico, qualquer tipo de cuidado
prolongado, procedimentos odontológicos, complicações de queimaduras e cuidados de
urgência em geral (BRASIL, 2012c, p. 84).
Por sua vez, a diária paga pelo SUS a instituições públicas e privadas tem valor
crescente segundo o critério de classificação dos leitos de UTI descrito anteriormente. Assim,
a UTI do tipo III recebe um maior valor por dia de internação em relação às dos Tipos I e II.
Atualmente, as quantias pagas pelo SUS por essas diárias estão expressas em sua Tabela
Unificada com os seguintes valores: R$ 139,00 para leitos do Tipo I; para UTI do Tipo II é
pago R$ 478,72; e por fim, para UTI III o valor da diária é R$ 508,63 (DATASUS, 2014).
Cada leito de UTI cadastrado no SUS gera, no máximo, o número de diárias referente
à quantidade de dias do mês corrente, independente do paciente que tenha ocupado o leito ou
o seu destino para alta, óbito ou transferência. Assim, a capacidade instalada de uma UTI, em
uma determinada região e em um período de tempo, corresponde ao número de leitos ativos,
multiplicados pela quantidade de dias do período escolhido. Esse conceito é utilizado pelos
gestores para evitar fraudes ou o pagamento indevido de diárias para os prestadores de
serviço. Por exemplo, em um mês de 30 dias em uma cidade com 6 leitos de UTI, é
impossível que o número de diárias faturadas ultrapasse a capacidade instalada de 180 diárias,
independentemente do tempo de permanência dos pacientes nos leitos de UTI (BRASIL,
2012, p. 23).
O pagamento de internações em UTI privada obedece a critérios bem mais simples.
Quando feito por planos de saúde, os valores são firmados em contratos entre as duas pessoas
jurídicas, e quando feito pela pessoa física do consumidor ou representante, o montante a ser
pago está relacionado às regras de mercado e negociação direta. Nesses casos, os cálculos dos
valores finais da internação em UTI, como acontece no SUS, também têm como base o tipo
de leito e o número de diárias no setor. No entanto, estas não contemplam inúmeros
procedimentos, equipamentos, profissionais e insumos que são cobrados à parte. Devido a
essa cobrança dupla para diárias e serviços, a iniciativa privada geralmente tem preços mais
elevados quando comparadas às internações do SUS, garantindo financiamento e lucro para os
empresários do setor hospitalar.
35
Assim como em toda alta complexidade, o SUS também compra serviços de UTI
provenientes da rede privada em saúde. Os empresários da área hospitalar sabem que a grande
demanda proveniente do SUS garante uma base sólida para a manutenção de uma taxa de
ocupação constante de parte dos seus leitos e, consequentemente, consolidação de um
orçamento sustentável, independentemente do número de internações privadas existentes em
determinado período.
Em contrapartida, a necessidade urgente de leitos, o alto investimento inicial e o
tempo necessário para abertura de uma UTI própria forçam o SUS a pagar pela internação na
rede privada e agravam o problema da falta de recursos nos hospitais públicos. Além disso, as
UTI’s privadas tendem a oferecer majoritariamente os serviços mais lucrativos e com menor
relação custo/lucro, forçando os pacientes a recorrerem ao SUS quando necessitam de
procedimentos onerosos. E ao Estado, impõem uma demanda concentrada em setores que
costumeiramente demandam mais recursos e investimentos, o que explica em parte as longas
filas de espera do SUS para determinados procedimentos.
Essa realidade é especialmente cruel com segmentos populacionais mais sensíveis
quando se trata de cuidado intensivo, como idosos e crianças, por exemplo. Na seção seguinte
será discutida a relação entre a terapia intensiva, o envelhecimento populacional e a
necessidade de prestação de cuidados especificamente voltados para os idosos em estado
grave e em risco.
2.3 TERAPIA INTENSIVA E A ATENÇÃO À SAÚDE DO IDOSO
Em geral, os países em desenvolvimento têm vivenciado alterações demográficas
importantes ocasionadas pelo aumento da expectativa de vida ao nascer. Uma das
consequências desse processo é o crescimento da demanda por terapia intensiva, pois o
envelhecimento populacional favorece uma maior prevalência das doenças crônicas, mais
suscetíveis a complicações graves e agudas. Por outro lado, nos países desenvolvidos da
América do Norte e Europa, o cenário de transformação demográfica e transição
epidemiológica já está concretizado e, cada Estado, em maior ou menor grau de efetividade,
tem enfrentado o aumento de demanda na atenção à saúde do idoso com algumas estratégias
comuns e outras especificamente pensadas para as realidades nacionais (RHODES;
MORENO, 2012, p. 322).
No Brasil, a transição demográfica também vem sendo acompanhada por uma
alteração no perfil epidemiológico dos próprios idosos, que foi associada à necessidade de um
aumento de 7,8 bilhões de reais das receitas federais em saúde somente no ano de 2010. Esta
36
realidade é incompatível com o lento incremento anual dos recursos aplicados pela União em
saúde, calculado com base no aumento do PIB. Trata-se de uma situação preocupante, pois
cabe ao Ministério da Saúde o planejamento e implementação de melhorias em longo prazo,
tendo em vista o cenário de aumento da população idosa e da prevalência de doenças
crônicas. Em suma, é preciso que a União paute a construção de políticas públicas
intersetoriais que garantam a promoção, prevenção, tratamento e reabilitação da saúde, tendo
em conta a necessidade dos diferentes grupos etários e com vistas ao enfrentamento dos
determinantes sociais inerentes ao processo saúde/doença de cada um deles (FIOCRUZ, 2013,
p. 37).
Contudo, conforme apresentado na seção anterior, desde sua criação, o SUS enfrenta
graves problemas de financiamento que limitam significativamente a implantação de um
sistema público de saúde de acesso universal e promotor de melhorias nas condições de saúde
da população e, conforme destaca Berzins e Borges (2014, p.7), “Sem financiamento não há
possibilidade de implantar novas políticas públicas e melhorias nas vidas dos idosos
brasileiros”. Contudo, a recente crise financeira e a consequente pressão política interna e
externa por ajustes orçamentários colocam diversos segmentos como saúde, educação e
segurança em uma disputa por recursos, onde na maioria das vezes, é difícil eleger qual setor
é mais importante ou necessita de mais investimentos.
A fragilidade social enfrentada pela maioria dos idosos no Brasil, materializada pela
baixa renda, precárias condições de moradia e alimentação, contrasta com o déficit de
investimento em saúde pública para esta população e ameaça de maneira direta sua inclusão
social. Além disso, serviços de saúde com baixo financiamento e qualidade constituem-se em
maior mortalidade, diminuição da capacidade funcional de forma prematura e, portanto,
podem ser considerados como iatrogenia e negligência por parte do estado, no que tange à
saúde do idoso, especialmente em casos graves que requerem internação imediata em UTI.
Como o combate à pobreza e à miséria tem sido uma das preocupações centrais do Governo
Federal desde o início de Século XXI, vê-se nessa prática uma contradição, pois:
O sistema de saúde constitui um poderoso determinante intermediário na
cadeia da produção social da saúde, especialmente pelo acesso universal, que
permite tratar diretamente as diferenças de exposição e vulnerabilidades,
evitando que os indivíduos, especialmente os idosos com doenças crônicas,
sejam forçados à pobreza pelos altos custos dos cuidados de saúde (GEIB,
2012, p. 129).
37
A ausência de ações sistemáticas voltadas especificamente para idosos aumenta a
incidência de fragilidade e vulnerabilidade social nessa faixa etária da população. Além disso,
o quadro epidemiológico e clínico peculiar dos idosos também são um desafio para os
serviços de alta complexidade prestados em terapia intensiva. Aliás, a maioria das condições
crônicas comuns nessa faixa etária atinge diretamente o nível de resolutividade possível
dentro de qualquer nível de atenção à saúde, pelo menos se o serviço estiver orientado para o
objetivo da clínica tradicional, ou seja, para a cura de enfermidades.
Diante da análise desses desafios, pode-se concluir que o envelhecimento populacional
leva ao aumento da prevalência de agravos crônicos que, caso não recebam a devida atenção
por parte de programas de prevenção e promoção da saúde, poderão impactar negativamente a
qualidade de vida dos sujeitos e aumentar os custos em nível de alta complexidade
(GUERRA, 2013, p. 32). Essa reflexão revela a necessidade de repensar a oferta e
organização de serviços de saúde voltados à população idosa no Brasil. Por mais que seja
difícil medir necessidades de saúde ou de cuidados para além do nível individual, é possível
pensar em políticas públicas mais inclusivas, abrangentes e voltadas para esse grupo
populacional em risco.
Apesar disso, somente em 1998, dois anos após a publicação do Estatuto do Idoso,
surgem as primeiras ações efetivamente implantadas no SUS, com vistas à melhoria do
atendimento ao idoso em particular. Trata-se das Portarias GM/MS 2413 e 2416, que
acrescentaram, respectivamente, o regime de internação hospital-dia geriátrico e o da internação
domiciliar com suporte de equipe hospitalar na tabela SIH/SUS. Um ano depois, em 1999, outra
portaria, a GM/MS 830 foi sancionada e estabeleceu a cobrança de diária de acompanhante para
paciente idoso internado em hospitais do SUS (BERZINS; BORGES, 2012, p. 166).
Em 2006, foi publicado pelo Ministério da Saúde o Pacto pela Vida que, dentre outras
metas, tem o intuito de promover o envelhecimento ativo e saudável, assegurar a atenção
integrada e intersetorial à pessoa idosa e garantir o provimento de recursos capazes de
assegurar a qualidade da assistência prestada aos idosos no Brasil, especialmente em nível de
atenção básica (BRASIL, 2006, p.10). Porém, no que se refere à atenção de alta complexidade
voltada ao idoso, o Pacto pela Vida aponta somente uma ação estratégica, que versa sobre a
avaliação geriátrica global a ser realizada pela equipe multidisciplinar em idosos internados.
Isso é incoerente e insuficiente do ponto de vista operacional e financeiro, uma vez
que a UTI e Centro cirúrgico são uma das áreas mais caras em um hospital, tanto devido à sua
incorporação tecnológica quanto pela gravidade dos casos que comumente apresentam-se em
tais setores, e ambos não foram comtemplados no Pacto pela Vida com diretrizes e
38
perspectivas de ações concretas, visando incremento de qualidade ou eficiência nos serviços
prestados.
Assim sendo, o Pacto pela Vida deveria minimamente discutir a atuação integral das
equipes de UTI, perante quadros clínicos que são comumente associados à morte ou
incapacidade funcional de idoso, tais como as síndromes demenciais, iatrogenia,
incontinência, pneumonias, quedas, depressão e imobilidade no leito. Tais quadros geralmente
já se apresentam como desfio no ato da internação ou concretizam-se como decorrentes dela
e, rotineiramente, comprometem de maneira permanente ou temporária a autonomia e
qualidade de vida do idoso. Não se trataria somente da defesa da construção de protocolos
para assistência a esses agravos, mas sim da necessidade de apontar diretrizes políticas e
conceituais que possam auxiliar o profissional na busca por uma atenção integral, resolutiva e
sistematização de suas ações cotidianas na UTI.
Pensar em um trabalho integral e resolutivo voltado para pessoa idosa internada na
terapia intensiva tem importância significativa na atual conjuntura das políticas e serviços de
saúde no Brasil. Todavia, não são estes os únicos desafios apresentados, pois quando se trata
de resolutividade, eficiência e qualidade da assistência em UTI fala-se também de integração
de redes e serviços, continuidade do cuidado, trabalho multiprofissional, diálogo adequado
entre todos os agentes e entre eles e o paciente, humanização e gestão assistencial e
administrativa sólida.
Por sua vez, faz-se necessário também construir instrumentos que possam avaliar de
maneira contínua a assistência prestada aos idosos no espaço da terapia intensiva. Cada
instrumento de avaliação precisa ser pensado em seu lócus, levando em conta as capacidades
técnicas, profissionais e o nível de desafio proposto por cada ação da equipe. Além disso, as
noções de eficiência e eficácia devem estar presentes em todo e qualquer instrumento de
avaliação. Afinal, não se pode fazer qualquer avaliação de serviços em terapia intensiva sem
ter como um dos parâmetros o custo/efetividade (VIACAVA et al, 2012, p. 924).
Destacada a importância da reorganização da assistência à saúde do idoso nas UTI’s
públicas, onde minimamente existem práticas formais estabelecidas pelas políticas de saúde,
pode-se dizer que existe uma situação mais urgente ainda no setor dos planos de saúde e
hospitais privados. Neste espaço, o controle acontece restritamente sob a ótica financeira,
onde pacientes ou prestadores de serviços são categorizados por preferenciais, segundo suas
capacidades de pagar por procedimentos caros e com efetividade ainda questionável para
determinados quadros clínicos.
39
Portanto, trata-se de um sistema totalmente aberto para disponibilizar terapêutica e
exames diagnósticos e, graças aos subsídios conferido por meio de renúncias fiscais e
contratação de leitos pelo SUS, o sistema privado de UTI gera ainda mais pressão no próprio
financiamento público. Ou seja, a disponibilidade de oferta não regulada no sistema privado,
caracterizada pela multiplicação dos atos diagnósticos e terapêuticos, é vantajosa para os
prestadores dos serviços, mas, muitas vezes, não traz benefícios reais para os pacientes
internados ou para a saúde da população em geral (FIOCRUZ, 2013, p.152).
Além de imperfeito pela sua falta de regulamentação, o sistema privado é igualmente
perverso com os usuários idosos. Em um passado recente, os planos de saúde eram relutantes
em aceitar ou manter pacientes idosos e doentes crônicos em geral. Com a regulação imposta
pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), essa prática foi condenada, mas
surgiram outras formas mais sutis de exclusão, como, por exemplo, a imposição de carências
para pacientes crônicos, aumentos de mensalidades por mudança de faixa etária e a
antecipação da data de reajuste, sob a alegação de potencialização da sinistralidade
(CONASS, 2011a, p.42).
Como se pode perceber ao longo dessa discussão, o setor público e o privado não estão
plenamente preparados para promover transformações necessárias na assistência prestada à
saúde de alta complexidade e, mais especificamente, em terapia intensiva voltada para os
idosos. Faltam mecanismos de regulamentação jurídica, aporte financeiro e condutas
profissionais que possam de fato minimizar o sofrimento, a iatrogenia e a incapacidade
funcional promovidas durante a internação e após a alta do paciente. Nesse cenário, é preciso
investir na qualificação do profissional intensivista, na ampliação da rede pública de leitos de
UTI e na fiscalização contra eventuais abusos patrimoniais ou assistenciais que tenha como
vítima o idoso e/ou sua família.
É igualmente importante financiar a ampliação da rede assistencial do SUS, pois a UTI
está inserida em primeira instância em um Hospital, em segunda, em uma rede de serviços e
em última instância em uma política de saúde nacional. Nesse contexto, medidas importantes
podem ser tomadas em baixa e média complexidade, com impacto na redução da demanda,
sobretudo do número de idosos admitidos em UTI devido ao agravamento de doenças
crônicas controláveis por medicamentos e por promoção de mudanças nos seus estilos de
vida.
Assim, a construção de redes de atenção à saúde do idoso, que possam gerenciar
diversas linhas de cuidado e monitorar necessidades de saúde de maneira integral e
multiprofissional, desde a entrada dos idosos nos serviços de saúde, até a prestação de
40
cuidados paliativos à pessoa idosa em estado terminal, é fundamental no sistema de saúde do
Brasil diante do seu envelhecimento populacional. Esse tipo de estratégia hierárquica de
atenção à saúde do idoso vem sendo apontado por diversos pesquisadores como vantajosa,
tanto para os sistemas de saúde como para os idosos e seus familiares, apesar de ainda ser
incipiente na realidade brasileira (VERAS et al, 2014, p.363).
Além disso, é preciso perceber o setor saúde em sua articulação com o
desenvolvimento social e a educação. Os diferentes níveis de desenvolvimento do sistema
educacional e social nos estados também explicam porque envelhecer com qualidade de vida
no Brasil não tem sido um privilégio para todos. Nesse sentido, é preciso pensar também na
construção de competências especificamente voltadas para o trabalho junto ao idoso e
intensificar o engajamento político com as causas inerentes a esse grupo populacional, tanto
na educação básica, como durante a formação/capacitação profissional. A incorporação de
valores sobre o processo de envelhecimento no âmbito educativo é um elemento central para a
promoção de cidadania, inclusão e justiça social para com as pessoas com 60 anos ou mais
(MOTTA, AGUIAR, 2007, p.371).
Na seção seguinte apresenta-se uma análise igualmente importante, que versa sobre a
gestão correta dos recursos financeiros, físicos e humanos dos serviços de terapia intensiva,
em aumento cenário de aumento do número de idosos que necessitam do setor.
2.4 INDICAÇÃO DE INTERNAÇÃO DO IDOSO EM UTI: ASPECTOS ÉTICOS,
HUMANOS E GERENCIAIS
Ao longo desse texto foi demonstrada a necessidade de maior oferta e incremento de
qualidade da assistência voltada aos idosos internados em UTI’s no Brasil. A situação torna-
se ainda mais preocupante tendo em vista as projeções estatísticas, que apontam um aumento
da população idosa dos atuais 11% para cerca de 25% dos indivíduos nos próximos 30 anos.
A preocupação é plausível, visto que, no Brasil, 52% das internações em terapia intensiva são
de pacientes idosos, que, por sua vez, consomem 60% das diárias disponíveis para UTI adulto
e sua mortalidade no setor chega a atingir 62% dos casos (PEDROSA, 2014, p. 15).
Contudo, adotando um discurso otimista, pode-se dizer que o país ainda tem tempo de
adaptar-se às mudanças que irão se instalar em médio e longo prazo, caso mude a postura
conservadora que tem adotado diante dessa questão. Mesmo assim, ainda resta uma pergunta
a ser respondida: o que pode ser feito em curto prazo para melhorar o fosso entre demanda e
oferta por terapia intensiva no Brasil diante do envelhecimento populacional? A otimização e
o uso adequado dos recursos existentes parece ser a resposta ao imbróglio, mas efetivar isso
41
na rotina dos serviços de saúde não é tão simples. Nesse contexto, onde a indicação de
internação em UTI é o mote central, é necessário refletir sobre o conceito de idoso em estado
grave, o significado de risco de morte ou incapacidade permanente, bem como a ideia de
chance real de sobrevivência potencializada por meio da internação da pessoa idosa na terapia
intensiva.
Legalmente, cabe ao médico a decisão de internar ou não um paciente em UTI e,
portanto, espera-se que este profissional seja capaz de fazer a classificação de pacientes
graves segundo faixa etária, observando a disponibilidade de serviços de cuidado paliativos,
que possam oferecer uma morte digna para os pacientes terminais. Assim, nesse processo de
decisão, que envolve internar ou não um paciente idoso em UTI, está implícito a
responsabilidade social de usar os recursos disponíveis somente com os pacientes que
possuem uma chance real de sobrevivência, sem que isso implique em negligência quanto aos
preceitos de uma assistência humanizada e ininterrupta até o fim da vida. Identificar os
pacientes que têm mais chances de sobreviver durante a internação em UTI, significa, em
última instância, definir estratégias mais coerentes com o prognóstico de cada caso e melhorar
a eficiência de condutas adotadas no tratamento intensivo e de toda a rede assistencial
(HISSA; HISSA; ARAÚJO, 2013, p. 22).
No entanto, a definição desse limiar entre paciente idoso grave e terminal é
notoriamente mais difícil, quando comparada com os demais membros da população adulta,
principalmente quando se trata de um idoso longevo, com idade superior a 80 anos e que,
usualmente, acumula uma série de agravos e incapacitações importantes. A necessidade de
fazer essa classificação coloca o médico em um dilema ético importante, presente inclusive no
seu código de Deontologia. Nos Princípios fundamentais, inciso XXII tem-se: “Nas situações
clínicas irreversíveis e terminais, o médico evitará a realização de procedimentos diagnósticos
e terapêuticos desnecessários e propiciará aos pacientes sob sua atenção todos os cuidados
paliativos apropriados” (CREMERJ, 2012, p. 12). Por outro lado, o Capítulo V, Art. 32
complementa que é vedado ao médico “Deixar de usar todos os meios disponíveis de
diagnóstico e tratamento, cientificamente reconhecidos e a seu alcance, em favor do paciente”
(CREMERJ, 2012, p. 17). Essa preocupação fica explícita na fala de um médico intensivista
apresentada no trabalho de Pedrosa (2014, p.26):
Os idosos vêm por indicação dos médicos que os atendem no pronto socorro
e caem em nossas mãos para cuidarmos de pneumonias aspirativas de
pacientes com Parkinson em estágio avançado, que nunca foram orientados
por fonoaudiólogo ou nutricionista, sepse por úlceras de pressão, de
42
pacientes acamados devido a quadros demenciais, institucionalizados em
casas de repouso de qualidade duvidosa. Enfim, situações resultantes de uma
má medicina que aportam as nossas UTI’s como se fôssemos capazes de
reacender uma vela que se extinguiu por falta de pavio, de dar “qualidade de
vida” a quem está evidentemente morrendo.
Percebe-se que a definição do paciente idoso como grave ou terminal é crucial para a
tomada da decisão correta, ética e legal quanto à sua internação em um leito de terapia
intensiva. De fato, uma decisão revestida de tamanha importância não pode ser pautada em
elementos meramente subjetivos ou mesmo empíricos dos profissionais, sob o risco de se
cometer falta grave contra a vida humana, seja pela ocupação de leitos de forma
desnecessária, evitando o acesso de pacientes que realmente necessitam de UTI, seja pela
negligência de considerar terminal um caso em que a recuperação é plausível.
Em realidade, a dificuldade para o estabelecimento de critérios de internação de idosos
em UTI remota dilemas educativos, éticos, legais, religiosos, culturais e sociais que não são
sistematicamente inseridos durante a formação dos profissionais de saúde. Na maioria das
vezes, durante a academia, os estudantes são cativados à discussão tecnicista sobre os meios
de prolongar a vida, onde superficialmente levantam-se questões bioéticas a respeito da
terminalidade e finitude de maneira pontual e fragmentada do currículo do curso. Aliás, a
ausência da discussão sobre as questões da Tanatologia estende-se por todo o sistema de
educação formal, informal e familiar, especialmente na sociedade acidental, onde não se
costuma debater sobre a ideia da finitude, o que intensifica as angústias dos indivíduos diante
da morte iminente (POLETTO; SANTINA; BETTINELLI, 2012, p.52).
Outro agravante é que, durante muito tempo, o diagnóstico de morte foi uma questão
simples, determinada pela parada cardiorrespiratória do paciente. Somente com o surgimento
das UTI’s em meados do século passado e com a evolução tecnológica da área médica é que
foram criados equipamentos e insumos capazes de manter coração e respiração operantes por
meios artificiais durante períodos consideráveis, o que permite que profissionais de saúde
prolonguem o sofrimento de uma pessoa e engajem-se na manutenção da vida quando a morte
já é uma realidade. Tais atos têm consequências devastadoras para a pessoa idosa e para a
rede de saúde, pois são insustentáveis do ponto de vista financeiro, qualquer que seja o
responsável pelo pagamento da conta hospitalar.
Como uma ação inovadora, alguns hospitais têm adotado uma estratégia interessante
diante da necessidade de decidir sobre quando a internação de idosos na UTI está
concretizando-se como prolongamento desnecessário da vida. A iniciativa consiste em criar
43
comitês de ética multidisciplinares responsáveis pela discussão dos casos, que favorecem o
surgimento de questionamentos e propostas oriundas de múltiplos olhares e evita o
estabelecimento de decisões de caráter simplistas, sob responsabilidade de um único
profissional. Toda a discussão dos casos é feita com base em dados clínicos, aspectos legais e
nos princípios norteadores da Bioética (POLETTO; SANTINA; BETTINELLI, 2012, p.52).
A solução encontrada por estas instituições precisa ter seu pioneirismo e sua
relevância enaltecida. Contudo, o paciente idoso e a sua família precisam inserir-se nessa
discussão e, acima de tudo, participar ativamente em decisões inerentes ao seu tratamento.
Além disso, é preciso reconhecer que em muitos hospitais, é impossível oferecer conforto,
sedação efetiva para dor e outros cuidados paliativos fora do espaço da UTI devido a
precariedade das clínicas médicas e cirúrgicas. Em alguns hospitais esses setores dispõem de
uma pequena equipe de enfermagem, não contam com outras categorias profissionais e
mesmo com médico durante as 24 horas, o que dificulta a mudança imediata de uma conduta
terapêutica diante de um quadro mais contundente.
Nesse cenário, mesmo sem qualquer chance de recuperação, o único espaço com
condições disponíveis para oferecer uma morte digna ao idoso terminal é a UTI, mesmo que
isso signifique a privação de contato familiar, ocupação indevida de leitos e maior dispêndio
de recursos financeiros. Diz-se “ocupação indevida”, pensando exclusivamente na legislação
brasileira, que define UTI como área destinada a pacientes graves com chances de
recuperação, que requerem assistência profissional contínua e uso de tecnologia específica.
Por sua vez, paciente grave é apontado como aquele com comprometimento temporário de
sistemas fisiológicos e perda provisória da capacidade de auto regulação sistémica (BRASIL,
2010, p.2). Ou seja, o paciente idoso em condição de terminalidade não se encaixa em
nenhuma das condições citadas pela legislação, mas, muitas vezes, os médicos os colocam em
tratamento intensivo por pedido da família ou seguindo princípios éticos a respeito da
necessidade de oferecer uma morte digna e mais humana.
Diante da necessidade de contribuir de maneira concreta nas decisões que envolvem a
admissão de pacientes em UTI foram criados alguns sistemas de pontuação, reconhecidos e
validados como Índices de Prognósticos para estimar a gravidade e predizer a mortalidade de
pacientes candidatos a um leito de UTI. Dentre os mais importantes tem-se o Unicamp II, o
Simplified Acute Physiology Score II (SAPS II), o Logistic Organ Dysfunction System
(LODS), o Sepsis Related Organ Failure Assessment (SOFA) e o Acute Physiology and
Chronic Health Evaluation (APACHE II). Todos são sistemas baseados em escores atribuídos
44
de acordo com determinadas características demográficas e indicadores clínicos
(PERDROSA, 2014, p.32)
Entre os escores supracitados, O APACHE e o SOFA foram os índices prognósticos
mais validados no mundo e, portanto, são os mais utilizados nos serviços de saúde como
critério para admissão na UTI. O APACHE é de fácil execução, não utiliza nenhum método
invasivo para obtenção dos dados e contabiliza 15 variáveis preditoras, que somadas
ponderadamente resultam em uma pontuação que varia entre 0 e 71. Quanto maior a soma
atribuída, maior a probabilidade de morte do paciente. As variáveis contidas neste método
são: idade, frequência cardíaca, frequência respiratória, pressão arterial, temperatura,
oxigenação, pH sanguíneo, sódio, potássio, creatinina, hematócrito, leucócitos, nível de
consciência, tipo de internação (clínica, cirúrgica ou de urgência) e doenças crônicas. Por sua
vez, o SOFA descreve quantitativamente o grau de disfunção orgânica ao longo do tempo e
avalia a morbidade dos pacientes. Foi pensado inicialmente para avaliar casos de sepse, mas
estudos de metanálise confirmaram sua validade para qualquer outro diagnóstico. Sua
pontuação precisa ser calculada a cada 24 horas, pois tem por base variáveis muito mutáveis
como índice de oxigenação e uso de fármacos vasoativos, por exemplo (HISSA; HISSA;
ARAUJO, 2013, p.22).
Os escores de prognóstico podem ser instrumentos auxiliares na tomada de decisão
sobre a internação do paciente idoso em UTI, mas sua aplicação seja acompanhada de uma
boa prática clínica, suporte de exames complementares, histórico de saúde dos indivíduos
idosos, senso ético e capacidade de gerenciar os recursos disponíveis na instituição hospitalar
em prol de cada caso em sua singularidade. Contudo, esses escores prognósticos foram
elaborados e validados para população adulta e não têm comprovação científica de sua
sensibilidade e especificidade entre indivíduos idosos, o que pode configurar-se em risco no
momento da classificação de sujeitos com 60 anos ou mais (FLAATTEN, 2014, p.4; MINNE
et al, 2011, p. 73).
Em contrapartida, a capacitação profissional em Geriatria/Gerontologia, o trabalho
multiprofissional e uma boa avaliação clínica podem ser apontados como estratégias seguras e
instrumentos primordiais para a correta utilização dos leitos de UTI disponíveis nas redes
pública e privada de saúde. A prestação de cuidados paliativos para idosos no espaço da
terapia intensiva não é condizente com a gestão correta dos leitos de UTI e com a aplicação
dos recursos destinados ao financiamento hospitalar no Brasil. Dessa maneira, a criação de
serviços voltados especificamente para o cuidado com pacientes terminais, com profissionais
45
e infraestrutura adequados, trata-se de uma medida estratégica que pode impactar a qualidade
da assistência prestada em UTI e aumentar a disponibilidade dos leitos.
Paralelamente, é preciso refletir sobre a reprodução da lógica de consumo que permeia
as relações em um mercado capitalista e seus reflexos sobre a prestação dos serviços de saúde
pois, a utilização de bens, insumos e tecnologia nessa área não suporte um modelo de
prestação de serviço que busca a tecnologia como um bem por si só. Assim, os procedimentos
que não tenham relação de custo/efetividade comprovada para determinados casos clínicos
não devem ser realizados somente pela vontade do paciente ou vendidos pelos prestadores de
serviço como mais eficazes, quando isso não corresponder a realidade. O enfrentamento dessa
questão passa necessariamente pelo ensino medico que permanece sob influência do modelo
Flexneriano, onde se valoriza a cura, a abordagem estritamente biológica e o uso de
tecnologias duras, em detrimento das abordagens preventivas e de promoção da saúde.
46
3 OBJETIVOS
3.1 OBJETIVO GERAL:
Analisar os gastos decorrentes da internação de idosos em UTI e seus fatores
associados.
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
Identificar o perfil sócio demográfico do idoso em UTI e sua associação com os gastos
de internação no setor.
Caracterizar as principais queixas e agravos dos idosos em UTI e sua associação com
os gastos de internação no setor.
Discutir o quadro de comorbidades dos idosos em UTI sua associação com os gastos
de internação no setor.
Constatar o tempo médio de internação do idoso em UTI.
Identificar a proporção entre alta e óbito dos idosos internados nas UTI.
47
4 METODOLOGIA
4.1 ASPECTOS ÉTICOS
Antes da fase de campo e da aplicação dos instrumentos para coleta de dados, o
projeto de pesquisa foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa CEP-HUOL, em
conformidade com as diretrizes da resolução 466/12 que norteia a realização de pesquisas
envolvendo seres humanos no Brasil. Também foi solicitada uma carta de anuência,
objetivando ter a autorização institucional para realização e publicação do estudo, desde que
seja garantido o sigilo e anonimato para os sujeitos envolvidos no estudo. O projeto de
pesquisa foi aprovado pelo CEP-HUOL com CAAE N° 20578913.1.0000.5292 (Ver ANEXO
B). Os pesquisadores comprometeram-se com o uso exclusivamente científico e acadêmico
das informações decorrentes do estudo.
Vale ressaltar que foram tomadas as devidas precauções a fim de evitar danos aos
documentos; ou seja, o pesquisador responsável pela coleta manuseou os documentos em
ambiente reservado, especificamente destinado para isso, não os retirou do local de origem e
não fotografou ou fez cópia de qualquer natureza. Dessa maneira, não foi identificado
qualquer dano ou extravio de prontuário de pacientes durante a coleta.
4.2 DESENHO DO ESTUDO
Para garantir que um trabalho científico tenha qualidade e traga contribuições sociais é
preciso refletir inicialmente sobre as limitações e potencialidades oferecidas pelos diversos
desenhos que uma pesquisa pode assumir, bem como estabelecer previamente as interfaces
entre o objeto do estudo, seu referencial teórico e os instrumentos necessários à garantia da
fidedignidade dos dados coletados (GIL, 2008, p.42). Nesse processo de reflexão inicial,
precisa-se buscar a harmonia entre a metodologia e o fenômeno estudado, como estratégia de
minimizar a fragmentação ocasionada pela submissão do objeto aos métodos científicos.
Nessa perspectiva, esta pesquisa foi delineada como um estudo epidemiológico
individuado, observacional, analítico e do tipo seccional. Além disso, é de abordagem
quantitativa e tem o caráter descritivo-exploratório (ALMEIDA FILHO; BARRETO, 2011, p.
145).
4.3 VARIÁVEIS
A variável dependente do estudo é o gasto decorrente da internação dos idosos em
UTI’s de Natal-RN. Esse dado foi expresso inicialmente por um valor quantitativo, retirado da
48
fatura do prontuário auditada ou do espelho da Autorização de Internação Hospitalar (AIH) de
cada sujeito arrolado para a pesquisa. Esse valor refere-se somente àquilo que foi avaliado
como despesa decorrente da internação do idoso na UTI, sendo desconsiderado
procedimentos cobrados na fatura de internação de outras unidades do Hospital.
Por sua vez, as variáveis independentes estão distribuídas em três grupos: aquelas
voltadas à caracterização dos indivíduos quanto ao perfil sócio demográfico, as referentes ao
quadro mórbido e as voltadas para as características da internação. Essas informações foram
obtidas dos prontuários, mais especificamente dos registros clínicos realizados pela equipe
médica e de enfermagem. Abaixo o quadro resumo das variáveis coletadas para o estudo.
Quadro 1- Quadro resumo das variáveis do estudo. Natal-RN, 2014.
Vale destacar que foram considerados idosos vulneráveis aqueles com diagnóstico
prévio de doenças reconhecidas como causadoras de limitações e incapacidade funcional,
como as síndromes demenciais e outras doenças neurodegenerativas, amputações, pacientes
ESFERAS VARIÁVEIS Unidade de Medida
Sociodemográfica Sexo
Idade
Etnia
Ocupação
Religião
Local de residência
Parceiro
Masculino/Feminino
Anos completos de vida
Branco/Pardo/Negro/Outro
Nome da ocupação
Nome da religião
Bairro e cidade onde mora
Sem união estável/União Estável
Quadro mórbido Diagnósticos
Doenças crônicas diagnosticadas previamente
Idoso vulnerável
Nome da doença/agravo
Comorbidade + Nome da Doença
Sim/Não
Internação Tempo de internação
Responsável pelo pagamento da fatura
Valor da diária da UTI
Tipo de Leito de UTI
Motivo da Internação em UTI
Desfecho da Internação
Gasto total da internação em UTI
Dias completos (24 horas)
SUS/Plano de Saúde
Valor da diária em Reais
Tipo I/II/III
Causa clínica
Recuperação cirúrgica
Alta/Óbito
Valor dos gastos em Reais
49
em hemodiálise, neoplasia terminal e restrição em leito domiciliar (BERZINS; BORGES,
2012, p.170).
A partir das variáveis elencadas acima, foram feitas categorizações, recategorizações e
agrupamentos, resultando em um banco de dados com 132 variáveis no total. Esse número é
composto principalmente pela diversidade de diagnósticos apontados como a razão das
internações, bem como pela variedade doenças crônicas apontadas nas variáveis como
comorbidades.
Durante as análises de dados foram calculadas algumas variáveis de agrupamento, sem
perder as variáveis de origem. Assim, todas as doenças respiratórias apontadas como motivos
da internação foram unidas em uma variável denominada doenças respiratórias. O mesmo foi
feito para doenças cardíacas e doenças vasculares.
4.4 HIPÓTESES
HIPÓTESE NULA: O perfil sócio demográfico, o quadro de morbidade dos pacientes
idosos e as peculiaridades das suas internações não têm relação com o alto custo
gerado pela internação em UTI.
HIPÓTESE ALTERNATIVA: Algumas variáveis do perfil sócio demográfico, do
quadro de morbidade dos pacientes idosos e das peculiaridades das suas internações
estão associados com o aumento dos gastos gerados pela internação em UTI
4.5 LOCAL E PARTICIPANTES DO ESTUDO
A pesquisa foi realizada no município de Natal-RN, mais especificamente nas
instituições hospitalares que dispõem de UTI. No total, a cidade contava com 249 leitos UTI
adulto à época da coleta de dados, distribuídos em 15 instituições públicas e privadas. O
sistema público contava com 117 leitos de UTI: 4 leitos do tipo I, 94 do tipo II e 19 do tipo
III. Por sua vez, o setor privado tinha 75 leitos do tipo I, 57 do tipo II e nenhum do tipo III,
totalizando 132 leitos (CNES, 2014).
Contudo, oito instituições demonstraram interesse e deram anuência para participação
na pesquisa, são elas: Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, que dispunha de 35 leitos
públicos à época da coleta; Hospital Estadual Dr. Ruy Pereira dos Santos, 8 leitos públicos;
Hospital Universitário Onofre Lopes, 19 leitos SUS; Hospital Memorial, 15 leitos SUS;
PROMATER, 20 leitos privados; Hospital Dr. Luiz Antônio, 10 leitos, sendo 4 do SUS e 6
destinados para a rede privada; Hospital PAPI, 8 leitos privados; e o Hospital do Coração, 40
leitos sendo 20 destinados ao SUS e 20 para o setor privado. Portanto, foram coletados dados
50
de 101 leitos do SUS e de 54 privados nesta pesquisa, o que representantou 62% dos leitos de
UTI em Natal-RN no período de coleta. Quanto aos tipos de Leito de UTI pode-se observar
no quadro abaixo que o estudo teve em sua maioria leitos do Tipo II.
Quadro 2 - Classificação dos leitos de UTI participantes do estudo, Natal-RN, 2104
Uma vez apresentadas as instituições e leitos participantes, destaca-se os critérios de
inclusão e exclusão dos sujeitos no estudo. Para ser incluído como sujeito era preciso ter idade
igual ou superior a 60 anos no período da internação e ter sido admitido entre primeiro de
novembro de 2013 e 31 de janeiro de 2014 na UTI das instituições participantes. Foram
excluídos prontuários danificados e ilegíveis, bem como aqueles que constatam alta da UTI
antes de completar 24 horas de internação, pois nesse caso não é permitida a geração da
chamada diária de UTI na AIH, base para a cobrança de despesas tanto no setor público como
no privado. Além disso, 23 prontuários não foram encontrados nos arquivos dos hospitais e
configuraram-se como dados perdidos no recorte temporal do estudo.
Antes do período de coleta de dados propriamente dito, foi feito um estudo piloto com
o intuito de adequar o instrumento de coleta (APÊNDICE A) e avaliar a plausibilidade do
conjunto de variáveis. A importância de realizar um estudo piloto consiste justamente nessa
possibilidade de testar, revisar e aprimorar a coleta de dados por meio da revelação prévia de
pontos fracos e potenciais entraves, com vistas à correção (CANHOTA, 2009, p. 33). O
estudo piloto foi realizado em janeiro de 2014, utilizando dados referentes às internações
ocorridas em novembro de 2013, em uma instituição pública e em uma privada. Esse
exercício foi fundamental para definição do recorte temporal da pesquisa, pois foi um meio de
pensar previamente sobre uma estimativa de casos que fosse consistente em relação aos
INSTITUIÇÕES Tipo I Tipo II Tipo III
Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel __ 35 __
Hospital Estadual Dr. Ruy Pereira __ 8 __
Hospital Universitário Onofre Lopes __ __ 19
Hospital Memorial __ 15 __
Promater 20 __ __
Hospital Dr. Luiz Antônio __ 10 __
PAPI __ 8 __
Hospital do Coração 20 20 __
TOTAL 40 96 19
51
objetivos e métodos do estudo, e ao mesmo tempo torná-lo viável do ponto de vista da sua
operacionalidade.
Os dados provenientes do estudo piloto, realizado no Hospital Dr. Ruy Pereira e no
PAPI, foram inseridos no banco de dados do estudo, pois as análises prévias não demostraram
a necessidade de fazer alterações no conteúdo do instrumento de coleta ou nos procedimentos
previstos para sua aplicação.
4.6 COLETA DE DADOS
Todos os dados foram coletados de forma retrospectiva entre janeiro e agosto de 2014
e a amostra foi composta por 100% dos sujeitos que estiverem em consonância com os
critérios de inclusão e exclusão. Ao todo, foram incluídas e analisadas nessa pesquisa 493
internações de idosos. O período escolhido como recorte temporal do estudo seccional não
implicou nenhum prejuízo para a validade interna da pesquisa, uma vez que a internação de
idosos em UTI's possui alta prevalência e a sua taxa de incidência não tem relação sazonal
comprovada. Tais pré-requisitos são os principais elementos teóricos a serem observados
durante o processo de determinação do recorte temporal em estudos seccionais com foco
orçamentário (BRASIL, 2012b, p. 96).
4.7 ANÁLISE DE DADOS
Os dados captados foram compilados em um banco do Statistical Package for the
Social Sciences (SPSS®) e tratados através do uso da estatística descritiva, gráficos e tabelas
de frequência absoluta e percentual. Tais informações foram apresentadas, discutidas e
analisadas a partir dos constructos do marco conceitual/metodológico da pesquisa e fornecem
inicialmente uma descrição generalizada dos principais elementos relacionados ao objeto de
estudo, tendo em vista o estabelecimentos das diferenças entre o setor público e privado.
A variável dependente foi dicotomizada pelo quartil 75 e os valores acima desse
percentil foram considerados como uma internação com alto gasto. Todas as variáveis
independentes foram submetidas ao teste do qui-quadrado, tendo a variável dependente como
referência, e as que apresentaram significância estatística menor ou igual 0,20 foram pré-
selecionadas para compor o modelo de regressão logística múltipla. Este método é utilizado
justamente quando temos uma variável dependente dicotômica e o objetivo é construir a
estimativa de probabilidade de um desfecho em função de outras variáveis independentes
(HAIR JÚNIOR et. al., 2009, p. 284). Além disso, observou-se que o banco era composto
originalmente por uma variável dependente quantitativa, gasto decorrente da internação dos
52
idosos em UTI, e diversas variáveis independentes dicotômicas. Nesse cenário não é possível
estabelecer a função linear entre variáveis (MEDRONHO, 2009, p. 469).
Contudo, estudos seccionais com desfecho dicotômico costumam priorizar a obtenção
da Razão de Prevalência por meio dos métodos de regressão de Poisson, Cox e log-binomial.
A principal justificativa apresentada é que a odds ratio, obtida pelo método da regressão
logística, superestima os efeitos das variáveis sobre o desfecho, especialmente em eventos de
alta prevalência (COUTINHO et al., 2008, p. 5). Com o intuito de reduzir esse tipo de viés e
evitar as análises superestimadas, obteve-se, por meio de fórmulas estatística, a medida de RP
e de seus intervalos de confiança.
Devido às diferenças entre a tabela de preços praticadas pelo SUS e pelo setor privado,
optou-se por construir três modelos de regressão distintos, porém utilizando o mesmo
processo metodológico descrito acima. Portanto, tem-se um modelo para toda a amostra, um
só para as internações do SUS e um para as do setor privado. O objetivo é identificar e
discutir as diferenças entre os fatores associados ao aumento dos gastos com internação de
idosos em UTI nos diferentes lócus da rede de assistência hospitalar.
Toda técnica ou método possui limitações diante da complexidade envolvida nos
fenômenos sociais, que por essência são dinâmicos e multifacetados. No entanto, acredita-se
que a análise dos dados provenientes do SUS e da rede privada, apreciados separadamente e
em sua totalidade pode contribuir para a percepção do o objeto de estudo sob perspectivas
distintas, permitindo comparações e conclusões importantes do ponto de vista científico e das
contribuições sociais da pesquisa.
53
5 RESULTADOS
5.1 ANÁLISE DESCRITIVA
Na Tabela 1 pode-se observar a caracterização da amostra a partir de algumas
variáveis sócio demográficas e referentes à própria internação dos indivíduos. O objetivo de
apresentar essa tabela é perceber como as variáveis se comportaram em relação às internações
do SUS, da rede privada e da amostra do estudo como um todo.
Tabela 1- Análise descritiva das variáveis sócio demográficas e relativas à internação, Natal-
RN,2014.
VARIÁVEIS
CATEGORIAS
SUS n (%)
REDE PRIVADA n (%)
AMOSTRA CONJUNTA n (%)
Sexo
Masculino
Feminino
93 (51,4)
88 (48,6)
149 (47,8)
163 (52,2)
242 (49,1)
251 (50,9)
Idade Entre 60 e 79 anos
80 anos ou mais
137 (75,7)
44 (24,3)
198 (63,5)
114 (36,5) 335 (68)
158 (32)
Aposentado Sim
Não
Dados Perdidos
39 (21,5)
78 (43,1)
64 (35,4)
15 (4,8)
16 (5,1)
281 (90,1)
54 (11,9)
94 (19,1)
345 (70)
Religião Católico
Evangélico
Dados perdidos
87 (48,1)
21 (11,6)
73 (40,3)
1 (0,3)
3 (1)
308 (98,7)
88 (17,8)
24 (4,9)
381 (77,3)
Raça Branco
Não Brancos
Dados Perdidos
40 (22,1)
83 (45,8)
58 (32,1)
7 (2,2)
3 (1,1)
302 (96,8)
47 (35,3)
86 (64,7)
360 (73)
Parceiro(a) Sem união estável
União Estável
Dados perdidos
98 (54,1)
83 (45,9)
0 (0,0)
55 (17,6)
152 (48,7)
105 (33,7)
152 (30,8)
235 (47,7)
106 (21,5)
Residência Região metropolitana
Interior
117 (64,6)
64 (35,4)
290 (92,9)
22 (7,1)
407 (82,6)
86 (17,4)
Local de
residência
em Natal
Zona Norte
Zona Sul
Zona Leste
Zona Oeste
24 (13,3)
17 (9,4)
29 (16,0)
21 (11,6)
29 (9,3)
130 (41,7)
61 (19,6)
27 (8,7)
53 (10,8)
147 (29,8)
90 (18,2)
48 (9,7)
Tempo de
Internação
1 a 9 dias
10 ou mais dias
135 (74,6)
46 (25,4)
249 (79,8)
63 (20,2) 384 (77,9) 109 (22,1)
Desfecho Alta
Óbito
112 (61,9)
69 (38,1)
247 (79,2)
65 (20,8)
359 (72,8)
134 (27,2)
Tipo de leito I
II
III
0 (0,0)
139 (76,8)
42 (23,2)
110 (22,3)
202 (64,2)
0 (0,0)
110 (22,3)
341 (69,2)
42 (8,5)
54
Pode-se observar que as variáveis aposentado, religião, raça e parceiro tiveram mais
dados perdidos do que válidos. Ao comparar o SUS e a rede privada percebe-se que a maioria
das perdas para essas variáveis estão em prontuários do setor privado. A variável sexo se
comportou praticamente da mesma maneira nos três grupos da tabela e não tiveram diferença
significativa. Por sua vez, foram encontradas diferenças significativas (p<0,05) em teste de
Qui-quadrado realizado para as variáveis idade, tempo de internação, desfecho da internação e
na categoria Zona Sul, quando comparou-se internações públicas e privadas. Portanto, os
pacientes da rede privada possuem mais idosos longevos, provenientes da zona sul e têm
menos mortalidade e menor tempo de internação em relação aos pacientes do SUS.
Nas tabelas abaixo tem-se a análise descritiva das variáveis quantitativa da pesquisa.
A Tabela 2 apresenta os dados do n como um todo e a Tabela 3 estabelece comparações entre
os dados do SUS e do Setor Privado, onde pode-se observar que as variáveis têm diferenças
significativas na média dos valores dos referidos grupos.
Tabela 2- Análise descritiva das variáveis quantitativas do estudo. Natal-RN,2014
VARIÁVEIS N MÉDIA DESVIO
PADRÃO
MÍNIMO MÁXIMO
Idade
493
74,23
9,78
60
101
Tempo de internação
493 7,14 9,41 1 72
Valor da diária de UTI
493 572,94 123,14 302,72 886,00
Gasto da internação em UTI
493 10408,64 16791,11 486,72 120977,17
Tabela 3- Análise das variáveis quantitativas do estudo, tendo em vistas as internações
provenientes do SUS e da Rede Privada. Natal-RN,2014.
VARIÁVEIS CATEGORIA N MÉDIA DESVIO
PADRÃO
p valor
teste-t
IC 95%
Inferior Superior
Idade SUS
Privado
181
312
72,51
75,22
8,98
10,01
0,002 -4,44 -0,98
Tempo de
internação
SUS
Privado
181
312
8,46
6,37
11,06
8,22
0,027 0,23 3,95
Valor da diária de
UTI
SUS
Privado
181
312
485,6
623,58
12,66
129,10
<0,001 -152,51 -123,32
Gasto da internação
em UTI
SUS
Privado
181
312
5.704,00
13.137,95
6.785,30
19.975,67
<0,001 -9.867,95 -4.999,96
55
O gasto total com as 493 internações analisados foi de R$5.131.462,36. Deste valor
R$ 4.099.039,80 são relativas às 312 internações privadas e as 181 internações do SUS
consumiram R$ 1.032.422,56 em gastos. Dessa maneira, pode-se destacar que tanto no grupo
de variáveis categóricas, quanto nas quantitativas, as internações do SUS e da rede privada
possuem diferenças entre si, o que corrobora e justifica a opção pela construção de modelos
de regressão distintos para cada grupo.
5.2 ANALISE BIVARIADA E REGRESSÃO LOGÍSTICA DA AMOSTRA TOTAL
Ao testar a variável dependente quanto à normalidade em sua distribuição, obteve-se
um Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk com p<0,001, desvio padrão maior que a média da
variável, bem como assimetria e curtose maiores que duas vezes seus respectivos erros
padrões. Segundo esses critérios, não se pode admitir a distribuição normal da variável
dependente, o que pode ser confirmado também pela visualização do Histograma apresentado
na Figuras 2 (GONZÁLEZ, VILLEGAS, FAJARDO, 2008, p. 63).
Figura 2- Histograma representando a variável gastos com a internação de idosos em UTI em
Natal-RN
Vale ressaltar, que mesmo após a retirada dos outliers observados na Figura 3, a
condição de normalidade não foi cumprida, segundo os mesmos critérios já destacados. Além
disso, no caso de uma pesquisa com 493 casos e que trata de alto gasto como desfecho, esses
outliers podem ser considerados como representativos da população e, portanto, são
importantes para a discussão.
56
Figura 3- Box Plot da variável gastos com a internação de idosos em UTI. Natal-RN.
Diante do exposto, a variável dependente foi transformada em dicotômica e dividida
pelo quartil 75 em alto e baixo gasto de internação em UTI (Ver Quadro 3) para realização o
teste do qui-quadrado de Pearson entre a variável dependente categorizada e cada uma das
variáveis independentes.
Quadro 3- Divisão interquartílica da variável Gasto com a internação de idosos em
UTI, Natal-RN, 2014. QUARTIL VALOR LIMÍTROFE INFERIOR NÚMERO DE CASOS
25 1.594,20 122 até o valor do quartil 25
50 4.075,05 248 entre o quartil 25 e o 75
75 10.451,73 123 acima do quartil 75
Por sua vez, a diversidade de doenças, agravos e quadros clínicos de pacientes, que
compõem o grupo de variáveis dependentes, fez com que muitos dessas variáveis
apresentassem uma frequência baixa em relação ao n. Isso resultou em quadrantes zerados ou
menores do que 5 casos nas tabelas de contingência, o que inviabiliza e/ou aumenta
sobremaneira os intervalos de confiança dos valores de beta na regressão (HAIR JR et. al,
2009, p.300). Dessa forma, foram excluídas da análise bivariada e múltipla todas as variáveis
57
com frequência menor que 10%. Essas variáveis estão representadas graficamente na Figura
4, que mostra o agravo e sua prevalência.
Figura 4 - Variáveis excluídas da análise bivariada e múltipla devido à baixa frequência entre os
idosos internados em UTI, Natal-RN, 2014
A decisão de retirar as variáveis supracitadas não levou em consideração a
significância dos testes de qui-quadrado, pois mesmo aquelas que apresentaram p<0,20 não
foram incluídas nas análises bivariada e múltipla. Para se ter ideia as variáveis IRA, EAP,
DPOC, Comorbidade hematológica, Bradipneia, Choque e Hemorragia digestiva foram
significativas em sua associação com o desfecho. Por sua vez, as variáveis Acidente Vascular
Cerebral (AVC), Desnutrição, Fratura e Comorbidade infecciosa tiveram um p<0,20 para
Qui-quadrado com o alto gasto de internação em UTI.
58
Tabela 4 - Variáveis excluídas da análise múltipla por apresentarem p>0,20 em teste
de Qui-quadrado com a variável dependente gasto de internação. Natal-RN, 2014.
Na tabela 4 tem-se o grupo de variáveis também excluídas da análise múltipla, mas
por não apresentarem p<0,20 em associação bivariada com a variável dependente. Suas
eliminações nesse nível justificam-se pela fraca associação com a variável dependente no
teste bivariado, uma vez que no modelo múltiplo esses valores tendem a tornarem-se ainda
menos expressivos devido a divisão da variância total da variável dependente.
Portanto, o modelo múltiplo foi construído a partir do stepwise das variáveis
apresentadas na Tabela 5, sendo inseridas primeiro no modelo múltiplo aquelas com maior
significância estatística e/ou maior Razão de Prevalência (RP).
VARIÁVEL BAIXO CUSTO (%) ALTO CUSTO (%) Valor de p
IAM Não
Sim
314 (75,3)
56 (73,7)
103 (24,7)
20 (26,3)
0,76
Angina Não
Sim
325 (74,4)
45 (80,4)
112 (25,6)
11 (24,9)
0,33
Infecção Não
Sim
334 (75,4)
36 (72,0)
109 (24,6)
14 (28,0)
0,60
Hipertensão Não
Sim
253 (75,3)
117 (74,5)
83 (24,7)
40 (25,5)
0,85
Comorbidade Diabetes Não
Sim
187 (74,5)
183 (75,6)
64 (25,5)
59 (24,4)
0,77
Comorbidade Hipertensão Não
Sim
88 (72,1)
282 (76,0)
34 (27,9)
89 (24,0)
0,40
Comorbidade cardíaca Não
Sim
263 (75,6)
107 (73,8)
85 (24,4)
38 (26,2)
0,68
Comorbidade Renal Não
Sim
323 (76,0)
47 (69,1)
102 (24,0)
21 (30,9)
0,22
Doenças crônicas ≥ 3 Não
Sim
237 (76,7)
133 (72,3)
72 (23,3)
51 (27,7)
0,27
História de tabagismo Não
Sim
287 (75,5)
83 (73,5)
93 (24,5)
30 (26,5)
0,65
59
Tabela 5 - Variáveis selecionadas para a análise de regressão logística múltipla. Natal-
RN, 2014. VARIÁVEL BAIXO GASTO
(%)
ALTO GASTO
(%)
RP* IC** 95% Valor
de p Inferior Superior
Pneumonia
Não
Sim
335 (80,3)
35 (46,1)
82 (19,7)
41 (53,9)
2,74 2,01 3,74 <0,001
Sepse
Não
Sim
337 (78,4)
33 (52,3)
93 (21,6)
30 (47,6)
2,20 1,55 3,11 <0,001
Internação por motivo
Clínico
Não
Sim
156 (84,3)
214 (69,5)
29 (15,7)
94 (30,5)
1,94 1,36 2,76 <0,001
Ventilação mecânica
Não
Sim
293 (79,4)
77 (62,1)
76 (20,6)
47 (37,9)
1,84 1,15 2,51 <0,001
Vulnerável
Não
Sim
269 (80,1)
101 (64,3)
67 (19,9)
56 (35,7)
1,79 1,32 2,42 <0,001
Instituição privada
Não
Sim
152 (84,0)
218 (69,9)
62 (17,3)
94 (30,1)
1,88 1,32 2,68 <0,001
Doenças Respiratórias
Não
Sim
292 (82,3)
78 (56,5)
63 (17,7)
60 (43,5)
2,46 1,83 3,31 <0,001
Inconsciente
Não
Sim
296 (80,2)
74 (59,7)
73 (19,8)
50 (40,3)
2,03 1,50 2,75 <0,001
Desorientado
Não
Sim
305 (78,6)
65 (61,9)
83 (21,4)
40 (38,1)
1,78 1,29 2,46 <0,001
Síndrome demencial Não
Sim
334 (77,0)
36 (61,0)
100 (23,00)
23 (39,0)
1,69 1,15 2,49 0,008
ICC***
Não
Sim
340 (76,7)
30 (60,0)
103 (23,3)
20 (40,0)
1,71 1,14 2,56 0,009
80 anos ou mais
Não
Sim
263 (78,5)
107 (67,7)
72 (21,5)
51 (32,3)
1,51 1,10 2,07 0,011
Acamado em domicílio
Não
Sim
316 (77,3)
54 (64,3)
93 (22,7)
30 (35,7)
1,57 1,10 2,24 0,012
AVC prévio
Não
Sim
326 (76,9)
44 (63,8)
98 (23,1)
25 (36,2)
1,57 1,07 2,29 0,020
Comorbidade respiratória
Não
Sim
339 (76,4)
31 (63,3)
105 (23,6)
18 (36,7)
1,55 1,01 2,38 0,045
Doença vascular
Não
Sim
277 (77,2)
93 (69,4)
82 (22,8)
41 (30,6)
1,34 0,97 1,85 0,077
Dislipidemia
Não
Sim
305 (73,8)
65 (81,2)
108 (26,2)
15 (18,8)
0,72 0,45 1,14 0,162
Câncer
Não
Sim
312 (76,3)
58 (69,0)
97 (23,7)
26 (31,0)
1,31 0,90 1,91 0,163
*Razão de Prevalência ** Intervalo de Confiança *** Insuficiência Cardíaca Congestiva
60
Durante a construção do modelo múltiplo foi testada a colinearidade e associações
entre as variáveis independentes candidatas ao modelo final por meio de teste de Qui-
quadrado. Nesse processo, observou-se forte associação entre Pneumonia, sepse, vulnerável,
ventilação mecânica e doenças respiratórias. A última variável ajustou melhor o modelo, o
que foi fundamental para eliminação das colineares e determinou sua permanência no modelo
final. As variáveis Tempo de internação e Valor da diária de UTI são constructos da variável
dependente e, portanto, foram excluídas da análise múltipla por serem responsáveis pela
maior parte da variância do gasto com a internação.
Tabela 6 - Modelo de Regressão Logística Múltiplo. Natal-RN, 2014
O modelo de regressão logística múltipla apresentou um teste de Hosmer e Lemeshow
com valor de p de 0,939. Do ponto de vista estatístico, pelo fato deste teste não ser
significativo (p<0,05) já indica ajuste no modelo. No entanto, quanto mais próximo de 1
melhor é seu ajuste final. Outro critério utilizado para demonstrar a qualidade da modelagem
é a análise de resíduos, onde os valores acima de 2 indicam os casos que não se ajustam aos
preceitos apontados no modelo. O esperado é que o número de casos nessa situação não
ultrapasse 10% do valor da amostra (HAIR JÚNIOR et al., 2009, p. 295). Esse critério ratifica
a validade interna do modelo acima, uma vez que este apresentou 7 casos com resíduos
maiores que o ponto de corte em uma amostra de 493 sujeitos.
5.3 ANÁLISE BIVARIADA E REGRESSÃO DAS INTERNAÇÕES DO SUS
Ao analisar os dados das internações do SUS separadamente, todo o processo feito no
tópico acima foi repetido. A divisão interquartílica demonstrou que o percentil 75 dos gastos
SUS foi de 7.148,96. Portanto, os 43 casos encontrados com faturas auditadas acima desse
valor foram considerados alto gasto para o SUS. Também como no item anterior, todas as
variáveis com frequência inferior a 10% não foram incluídas na análise bivariada e múltipla
VARIÁVEIS
B
S.E.
Wald
Df
Sig.
RP*
95%. I.C RP*
Inferior Superior
Doenças Respiratórias 1,366 0,232 34,552 1 <0,001 2,58 1,83 3,64
Instituição Privada 0,914 0,252 13,131 1 0,001 1,98 1,37 2,86
Desorientado 0,771 0,252 9,337 1 0,002 1,73 1,22 2,46
AVCP 0,571 0,298 3,678 1 0,047 1,50 1,02 2,28
*Razão de Prevalência Ajustada
61
das internações do SUS (Figura 5). As razões que nortearam esse processo decisório já foram
expostas na discussão da análise de regressão acima.
Figura 5 - Variáveis excluídas da análise bivariada e múltipla devido à baixa frequência nas
internações de idosos em UTI no SUS, Natal-RN, 2014.
62
Tabela 7 - Variáveis excluídas da análise múltipla por apresentarem p>0,20 em teste de Qui-
quadrado com a variável dependente gasto de internação no SUS. Natal-RN, 2014.
VARIÁVEL BAIXO GASTO (%) ALTO GASTO (%) Valor de p
IAM Não
Sim
109 (75,2)
29 (80,6)
36 (24,8)
19,4 (7)
0,49
Infecção Não
Sim
119 (77,3)
19 (70,4)
35 (22,7)
8 (29,6)
0,43
Câncer Não
Sim
113 (75,8)
25 (78,1)
36 (24,2)
7 (21,9)
0,78
Doenças crônicas ≥ 3 Não
Sim
93 (78,2)
45 (72,6)
26 (21,8)
17 (27,4)
0,40
Comorbidade Diabetes Não
Sim
70 (76,1)
68 (76,4)
22 (23,9)
21 (23,6)
0,96
Comorbidade Hipertensão Não
Sim
29 (69,0)
109 (78,4)
13 (31,0)
30 (21,6)
0,21
Comorbidade renal Não
Sim
122 (76,7)
16 (72,7)
37 (23,3)
6 (27,3)
0,69
Dislipidemia Não
Sim
116 (75,3)
22 (81,5)
38 (24,7)
5 (18,%)
0,48
História de tabagismo Não
Sim
100 (76,9)
38 (74,5)
30 (23,1)
13 (25,5)
0,73
História de etilismo Não
Sim
117 (75,0)
21 (84,0)
39 (25,0)
4 (16,0)
0,32
Diagnóstico cardíaco Não
Sim
70 (73,7)
68 (79,1)
25 (26,3)
18 (20,9)
0,39
Instituição Privada Não
Sim
78 (74,3)
60 (78,9)
27 (25,7)
16 (21,1)
0,46
63
Tabela 8 - Variáveis selecionadas para a análise de regressão logística múltipla das
internações no SUS. Natal-RN, 2014 VARIÁVEL BAIXO GASTO
(%)
ALTO GASTO
(%)
RP IC 95% Valor
de p Inferior Superior
Doença respiratória
Não
Sim
106 (84,1)
32 (58,2)
20 (15,9)
23 (41,8)
2,63 1,59 4,39 <0,001
Pneumonia
Não
Sim
122 (83,0)
16 (47,1)
25 (17,0)
18 (52,9)
3,11 1,88 5,13 <0,001
80 anos ou mais
Não
Sim
117 (81,8)
21 (55,3)
26 (18,2)
17 (44,7)
2,46 1,47 4,12 0,001
Inconsciente
Não
Sim
98 (83,8)
40 (62,5)
19 (16,2)
24 (37,5)
2,31 1,39 3,85 0,001
Vulnerável
Não
Sim
103 (82,4)
35 (62,5)
22 (17,6)
21 (37,5)
2,13 1,28 3,55 0,004
Acamado em domicílio
Não
Sim
119 (80,4)
19 (57,6)
29 (19,6)
14 (42,4)
2,16 1,25 3,73 0,005
ICC
Não
Sim
129 (79,1)
9 (50,0)
34 (20,9)
9 (50,0)
2,39 1,29 4,44 0,006
Sepse
Não
Sim
120 (80,0)
18 (58,1)
30 (20,0)
13 (41,9)
2,09 1,20 3,63 0,009
Desorientado
Não
Sim
119 (79,9)
19 (59,4)
30 (20,1)
13 (40,6)
2,02 1,16 3,53 0,013
Ventilação Mecânica
Não
Sim
94 (82,5)
44 (65,7)
20 (17,5)
23 (34,3)
1,96 1,17 3,28 0,010
Internação por motivo
clínico
Não
Sim
64 (84,2)
74 (70,5)
12 (15,8)
31 (29,5)
1,87 0,91 3,82 0,032
Hipertensão
Não
Sim
101 (73,2)
37 (86,0)
37 (26,8)
6 (14,0)
0,52 0,25 1,09 0,084
Angina
Não
Sim
120 (74,5)
18 (90,0)
41 (25,5)
2 (10,0)
0,39 0,12 1,30 0,125
Diagnóstico vascular
Não
Sim
103 (79,2)
35 (68,6)
27 (20,8)
16 (31,4)
1,51 0,88 2,58
0,132
Comorbidade cardíaca
Não
Sim
101 (73,7)
37 (84,1)
36 (26,3)
7 (15,9)
0,60 0,29 1,22 0,160
AVCP
Não
Sim
123 (77,8)
15 (65,2)
35 (22,2)
8 (34,8)
1,57 0,81 3,05 0,186
64
O modelo de regressão logística múltipla final para as internações do SUS apresentou
5 variáveis significativas. O teste de Hosmer e Lemeshow apresentou o valor 0,761. Por sua
vez, a análise de resíduos identificou 2 casos valores maiores do que 2. Como já discutido,
esses valores estão condizentes com um modelo ajustado. O modelo final é apresentado na
Tabela 9.
Tabela 9 - Modelo de Regressão Logística Múltiplo das internações SUS. Natal-RN,
2014 VARIÁVEIS
B
S.E.
Wald
Df
Sig.
RP*
95% I.C RP
Inferior Superior
Desorientado 1,269 0,454 7,806 1 0,005 2,35 1,29 4,28
80 anos ou mais 1,026 0,424 5,865 1 0,015 2,10 1,15 3,84
Sepse 1,026 0,472 4,733 1 0,030 2,05 1,07 3,93
Internação por motivo clínico 0,909 0,432 4,439 1 0,035 2,01 1,05 3,86
ICC 0,972 0,559 3,017 1 0,050 1,97 1,01 4,22
*Razão de prevalência ajustada
65
5.4 ANÁLISE BIVARIADA E REGRESSÃO DAS INTERNAÇÕES DA REDE PRIVADA
No caso das internações pagas pela iniciativa privada, o quartil 75 foi representado
pelo valor de 13.761,40 e obteve-se um total de 78 casos considerados de alto gasto por
estarem acima desse valor. Na Figura 6 estão listadas as variáveis excluídas por possuírem
frequência menor que 10% nos dados.
Figura 6 - Variáveis excluídas da análise bivariada e múltipla devido à baixa frequência nas
internações na rede privada, Natal-RN, 2014.
66
Tabela 10 - Variáveis excluídas da análise múltipla por apresentarem p>0,20 em teste
de Qui-quadrado com a variável dependente gasto de internação na rede privada.
VARIÁVEL BAIXO GASTO (%) ALTO GASTO (%) Valor de p
Angina Não
Sim
209 (75,7)
25 (69,4)
67 (24,3)
11 (30,6)
0,41
IAM Não
Sim
205 (74,4)
29 (72,5)
67 (24,6)
11 (27,%
0,69
Hipertensão Não
Sim
148 (74,7)
86 (75,4)
50 (25,3)
28 (24,6)
0,89
Doenças crônicas ≥ 3 Não
Sim
146 (76,8)
88 (72,1)
44 (23,2)
34 (27,9)
0,38
Comorbidade diabetes Não
Sim
120 (75,5)
114 (74,5)
39 (24,5)
39 (25,5)
0,84
Comorbidade hipertensão Não
Sim
56 (70,0)
178 (76,7)
24 (30,0)
54 (23,3)
0,23
Comorbidade cardíaca Não
Sim
160 (75,8)
74 (73,3)
51 (24,2)
27 (26,7)
0,62
Comorbidade respiratória Não
Sim
210 (75,3)
24 (72,7)
69 (24,7)
9 (27,3)
0,75
Comorbidade renal Não
Sim
201 (75,6)
33 (71,7)
65 (24,4)
13 (28,3)
0,58
Dislipidemia Não
Sim
194 (74,9)
40 (75,5)
65 (25,1)
13 (24,5)
0,93
História de tabagismo Não
Sim
187 (74,8)
47 (75,8)
63 (25,2)
15 (24,2)
0,87
80 anos ou mais Não
Sim
161 (76,7)
73 (71,6)
49 (23,3)
29 (28,4)
0,32
Doença Cardíaca Não
Sim
140 (74,9)
94 (75,2)
47 (25,1)
31 (24,8)
0,94
Doença vascular Não
Sim
173 (75,5)
61 (73,5)
56 (24,5)
22 (26,5)
0,71
67
Tabela 11 - Variáveis selecionadas para a análise de regressão logística múltipla das
internações na rede privada. Natal-RN, 2014
VARIÁVEL BAIXO GASTO
(%)
ALTO GASTO
(%)
RP IC 95% Valor
de p Inferior Superior
Pneumonia Não
Sim
216 (80,0)
18 (42,9)
54 (20,0)
24 (57,1)
2,85 1,92 4,25 <0,001
Ventilação mecânica Não
Sim
202 (79,2)
32 (56,1)
53 (20,8)
23 (43,9)
2,11 1,41 3,15 <0,001
Doença respiratória Não
Sim
185 (80,8)
49 (59,0)
44 (19,2)
34 (41,0)
2,13 1,15 3,12 <0,001
Inconsciente Não
Sim
200 (79,4)
34 (56,7)
52 (20,6)
26 (43,3)
2,10 1,41 3,13 <0,001
Vulnerável Não
Sim
170 (80,6)
64 (63,4)
41 (19,4)
37 (36,6)
1,89 1,29 2,75 0,001
Sepse Não
Sim
218 (77,9)
16 (50,0)
62 (22,1)
16 (50,0)
2,26 1,42 3,59 0,001
Internação por motivo
clínico
Não
Sim
93 (85,3)
141 (69,5)
16 (14,7)
62 (30,5)
2,07 1,30 3,30 0,002
Desorientado Não
Sim
187 (78,2)
47 (64,4)
52 (21,8)
26 (35,6)
1,63 1,09 2,44 0,017
AVC prévio Não
Sim
205 (77,1)
29 (63,0)
61 (22,9)
17 (37,0)
1,61 1,02 2,57 0,043
Acamado em domicílio Não
Sim
201 (77,0)
33 (64,7)
60 (23,0)
18 (35,3)
1,53 0,97 2,41 0,063
Síndrome Demencial Não
Sim
205 (76,8)
29 ( 64,4)
62 (23,3)
16 (35,6)
1,53 0,95 2,44 0,077
ICC Não
Sim
214 (76,4)
20 (62,5)
66 (23,6)
12 (37,5)
1,59 0,93 2,70 0,085
Câncer Não
Sim
199 (76,5)
35 (67,3)
61 (23,5)
17 (32,7)
1,39 0,88 2,20 0,161
O modelo de regressão para as internações na rede privada apresentou quatro variáveis
significativas. Teve-se cinco casos com valores de resíduos maiores do que 2 e um Teste de
Hosmer e Lemeshow de 0,82 para um Qui-quadrado de 4,327.
68
Tabela 12 - Modelo de Regressão Logística Múltiplo das internações na rede Privadaa. Natal-
RN, 2014 VARIÁVEIS NA EQUAÇÃO
B
S.E.
Wald
Df
Sig.
RP*
95% I.C. para RP
Inferior Superior
Doença respiratória 0,732 0,306 5,728 1 0,017 2,48 1,48 5,24
Ventilação mecânica 1,160 0,341 11,555 1 0,001 2,33 1,43 3,78
Internação por motivo clínico 0,724 0,332 4,748 1 0,029 1,81 1,06 3,09
Desorientado 0,801 0,314 6,488 1 0,011 1,81 1,15 2,84
a. Modelo ajustado por idosos com 3 comorbidades crônicas ou mais.
*Razão de Prevalência Ajustada.
Na tabela 13 apresenta-se uma síntese dos três modelos de regressão construídos, onde
pode-se observar as variáveis presentes em cada modelo, suas razões de prevalência e seus
intervalos de confiança.
Tabela 13 – Síntese dos três modelos de regressão construídos, Natal-RN, 2014.
MODELOS DE REGRESSÃO
TIPOS DE
INTERNAÇÃO
VARIÁVEIS NA EQUAÇÃO
RP I.C. 95% para RP
Inferior Superior
SUS Desorientado
80 anos ou mais
Sepse
Internação por motivo clínico
ICC
2,35
2,10
2,05
2,01
1,97
1,29
1,15
1,07
1,05
1,01
4,28
3,84
3,93
3,86
4,22
REDE
PRIVADA*
Doença respiratória
Ventilação mecânica
Internação por motivo clínico
Desorientado
2,48
2,33
1,81
1,81
1,48
1,43
1,06
1,15
5,24
3,78
3,09
2,84
AMOSTRA
TOTAL
Doenças respiratória
Instituição Privada
Desorientado
AVCP
2,58
1,98
1,73
1,50
1,83
1,37
1,22
1,02
3,64
2,86
2,46
2,28
*Modelo ajustado pela variável 3 ou mais doenças crônicas
69
6 DISCUSSÃO
Os diagnósticos mais frequentes entre os idosos internados em terapia intensiva foram
decorrentes de agravos relacionados aos sistemas circulatório e respiratório, além das crises
hipertensivas. Por sua vez, o rebaixamento do nível de consciência e a necessidade de
ventilação mecânica destacaram-se como principais justificativas para internação em UTI.
Quanto ao quadro de comorbidades, vale destacar que 37,3% dos idosos tinham 3 ou mais
doenças crônicas no momento da admissão, dentre essas mais comuns foram a hipertensão, a
diabetes e os problemas cardíacos. Nogueira et al (2012, p.60); Oliveira et al (2010, p. 250) e
Fuchs et al (2012, p.1660) encontraram em seus estudos semelhantes perfis clínicos de idosos
internados em UTI, com alta prevalência de agravos respiratórias e cardiovasculares entre as
causas de internação e elevado percentual de doenças crônicas secundárias ao diagnóstico
principal.
O aumento da prevalência de doenças crônicas não transmissíveis, especialmente as
cardíacas, respiratórias e vasculares, é associado ao processo de envelhecimento humano e
populacional. Essa é uma informação de domínio comum, amplamente divulgada e
reconhecida no meio acadêmico/científico. O que chama atenção nos dados apresentados é
que mesmo diante desse conhecimento o serviço de atenção à saúde não tem conseguido
evitar que os idosos tenham complicações decorrentes de agravos perfeitamente passíveis de
controle, como a maioria dos casos de hipertensão e diabetes. Isso demonstra que, pelo menos
em longo prazo, a lógica de atender a demanda livre por serviços de saúde, prática ainda
predominante em serviços públicos e privados, onde o foco é a realização de consultas e
exames médicos pontuais, não tem um grande impacto sobre a promoção e prevenção a saúde
do idoso.
Percebe-se que atingir melhores condições de saúde para esses indivíduos e reduzir os
gastos públicos e privados com a internação de idosos em UTI são questões que dependem da
implantação de uma proposta de gerenciamento de cuidado ao idoso nos serviços de média e
baixa complexidade em saúde. Assim, as estratégias de promoção e prevenção a saúde dos
idosos precisam ser pensadas dentro de um programa amplo, organizado em níveis
hierárquico, com garantia de assistência multiprofissional e com ações pensadas a partir das
necessidades de cada indivíduo (VERAS et al, 2014, p.357). A título de exemplo, ressalta-se
que a vacinação, o cuidado pré-natal e puerperal, as consultas de avaliação do crescimento e
desenvolvimento infantil e a realização de exames como os testes do pezinho, orelhinha e
olhinho tem conseguido reduzir a mortalidade infantil nas últimas duas décadas no Brasil.
70
Apesar das diferenças entre as faixas etárias, o exemplo citado demostra que a
articulação de serviços e a proposta de sistematização da assistência prestadas em diversos
níveis de complexidade têm potencial para melhorar a qualidade de vida e condições de saúde
dos idosos brasileiros e, consequentemente, reduzir as internações hospitalares, especialmente
aquelas decorrentes de agravos sensíveis à atenção primária.
A construção de um perfil referente às características sociais e demográficas dos
idosos internados em terapia intensiva ficou comprometida nesse estudo devido ao grande
número de perdas de informações causada pela falta de preenchimento desse tipo de variáveis
nos prontuários analisados. A falta de preenchimento e a confiabilidade das informações dos
registros primários em saúde também compromete as informações de dados secundários no
Brasil. Aliás, em todas as etapas da produção de informações em saúde no país existem erros
que podem afetar a qualidade das informações provenientes das bases dados de saúde
(CORREIA et al, 2014, p. 468).
Os profissionais de saúde, gestores e técnicos administrativos no setor constroem por
meio de seus registros importantes fontes de informações e precisam compreender esse papel
para além de uma atividade burocrática, secundária às suas funções principais. É necessário
mais compromisso com os registros em saúde, pois eles podem auxiliar na revelação de novas
demandas, alocação correta de recursos e no planejamento estratégico do setor. Vale ressaltar
que a incorporação de estratégias de ensino que promovam essa discussão durante a formação
em saúde e a consolidação de espaços para capacitação dos profissionais são dois exemplos
de como as universidades, em parceria com os serviços de saúde, poderiam contribuir nessa
questão.
Por meio da análise inicial dos dados, foi possível perceber que na rede privada de
hospitais houve um maior número de internações de idosos longevos, aqueles que possuem 80
anos ou mais. Estes representam 36,5% das internações privadas, enquanto que no SUS esse
segmento etário foi responsável por 24,3% dos casos. Quanto ao local de residência em
Natal/RN, observou-se que 41,7% dos sujeitos internados em UTI de hospitais particulares
eram procedentes de bairros da Zona Sul, enquanto que nas internações da rede pública 9,4%
dos idosos residiam nessa área. Cabe aqui a explicação de que Natal/RN é dividida em quatro
grandes regiões. Ao analisar a renda mensal média por domicilio nessas áreas, constata-se que
as regiões Norte e Oeste da cidade possuem média mensal de rendimentos inferior a 3 salários
mínimos, enquanto que na Zona Sul o ganho médio por residência é de 11,6 salários mínimos
(SMS/NATAL, 2011, p.29).
71
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilio (PNAD) constatou dados semelhantes
aos citados acima. Entre os anos de 1998 e 2008 percebeu-se que os idosos com menores
rendimentos apresentaram maiores necessidades de cuidados médicos, contudo esses
indivíduos utilizaram menos os serviços de saúde quando comparado aos idosos de alta renda
(ALMEIDA, 2015, p.49). Portanto, fica claro que a pobreza ainda é um elemento importante
no contexto dos determinantes sociais da saúde do idoso no Brasil, sendo de responsabilidade
do Estado intensificar a criação de políticas de proteção e inclusão social desses indivíduos.
Outros dados que se destacam na comparação entre as redes de serviços de saúde
estudadas é que em 25,4% dos casos de internações de idosos em UTI do SUS o tempo de
internação foi de 10 dias ou mais, enquanto que na rede privada essa porcentagem foi de
20,2%. Igualmente, o percentual de mortalidade foi maior na rede pública, onde 38,1% das
internações de idosos resultaram em morte, enquanto nos hospitais privados os casos de morte
representaram 20,8% do total de internações em UTI.
Portanto, os pacientes da rede privada possuem mais idosos longevos, provenientes da
zona sul, menor tempo de internação e têm menos mortalidade em relação aos pacientes do
SUS. Ao observar os valores da idade dos pacientes e tempo de internação em UTI como
variáveis quantitativas, também se identificam diferenças significativas (p<0,05) entre os
grupos de internações públicas e privadas. A rede privada de UTI’s teve uma maior média de
idade frente ao SUS, bem como um menor tempo de internação médio. Os valores também
foram discrepantes no que se refere à comparação das quantias cobradas pelas diárias de UTI,
bem como os relativos ao gasto total da internação. Esses resultados são semelhantes aos
encontrados em outros estudos realizados no setor de terapia intensiva (NOGUEIRA et al,
2012, p. 63; ARAÚJO et al, 2013, p.34; FUCHS et al, 2014, 934).
O fato dos idosos residentes nas áreas mais nobres de Natal serem mais comumente
encontrados entre os indivíduos internados na rede privada de UTI, conforme destacado
acima, pode ser associado do ponto de vista teórico explicativo ao perfil socioeconômico dos
sujeitos de pesquisa, pois o consumo de serviços particulares de saúde em alta complexidade
no Brasil é um importante indicador do poder aquisitivo dos cidadãos. Na prática, essa
diferença de renda manifesta-se em distintas formas de adoecer e morrer na população e tem
impacto inclusive sobre alguns determinantes do processo saúde/doença, especialmente
quando se trata do acesso aos serviços de saúde de alta complexidade nos casos de
necessidade extrema, inclusive envolvendo risco de morte (COSTA; MATOS, 2009, p.391;
TAREQUE; BEGUM; SAITO, 2014, p. 1).
72
Por sua vez, essa dificuldade de acesso aos serviços de assistência a pacientes graves
se coaduna com o maior número de idosos longevos encontrados nas internações em UTI’s de
hospitais privados em Natal/RN, pois isso pode estar associado à mortalidade precoce dos
idosos mais pobres e SUS dependentes. Nos dados desse estudo, 56,5% dos idosos internados
em UTI dos SUS morrem até os 69 anos e no sistema privado 56,9% dos óbitos de internação
em terapia intensiva são de indivíduos com 80 anos ou mais.
Costa et al (2012, p.102) corroboram com a assertiva e acrescentam que no caso dos
idosos no Brasil, observa-se entre aqueles que possuem baixa renda domiciliar uma pior
percepção da própria saúde, pior capacidade funcional, menor acesso aos serviços de saúde e
uma maior taxa de mortalidade entre idosos com até 79 anos. No Rio Grande do Norte, o
estudo de Oliveira (2014, p.45) aponta um padrão semelhante, identificando que 69,1% dos
idosos morrem na faixa etária entre 60 e 79 e que os indivíduos de classes sociais mais baixas,
geralmente usuários exclusivos do SUS, estão mais vulneráveis à mortalidade precoce.
Uma explicação plausível é que os idosos com maior poder aquisitivo procuram os
serviços de saúde com mais frequência e têm mais acesso a ações preventivas (ALMEIDA,
2015, p.48). Devido a própria lógica mercadológica dos hospitais privados, o acesso aos
serviços de terapia intensiva também é favorecido para os usuários de maior renda, enquanto
que no SUS perdura o pequeno número de leitos disponíveis, mesmo diante de uma
significativa demanda reprimida.
Para se ter ideia da carência de leitos de UTI para usuários exclusivos do SUS, os
33,1% da população de Natal/RN que possuem planos de saúde têm a sua disposição 132
leitos privados de UTI, somados aos 117 do SUS, aos quais também têm direitos de uso, ante
um sistema de saúde pública com acesso universal. Por sua vez, os 66,9% não contratantes de
nenhum plano de saúde no município só dispõem dos 117 leitos de UTI do SUS, a não ser que
tenham recursos financeiros disponíveis para pagar aos hospitais pela sua internação
(CONASS, 2011b, p.73). Vale ressaltar que essa forma de pagamento direto aos prestadores
de serviços de terapia intensiva só ocorreu em 1 caso dos 493 coletados para esse estudo, o
que permite inferir sobre a eventualidade dessa situação.
Ao analisar esses dados no contexto histórico da evolução do setor de assistência
hospitalar no Brasil, no âmbito público e privado, constata-se que o SUS não acompanhou o
crescimento da demanda por áreas mais especializadas e tecnológicas como o da terapia
intensiva, por exemplo. Assim, houve a criação de um nicho de mercado para o setor privado
que, por sua vez, dispõe-se a arcar com o investimento necessário à abertura de novos leitos e
a acolher os pacientes que podiam pagar por uma assistência diferenciada. Esse processo
73
consolida-se em uma expansão cada vez maior do número de leitos de UTI privadas
disponíveis no Brasil, onde somente aqueles que podem pagar tem assistência garantida
(NOGUEIRA et al, 2012, p.60).
Dessa maneira, a discussão demonstra que, em geral, o idoso de baixa renda não é
internado em serviços privados de saúde, mesmo diante de uma emergência médica, como é o
caso da necessidade de um leito de UTI. Mesmo que seja possível fazer um esforço financeiro
para conseguir a internação, os danos familiares podem ser graves, uma vez que o impacto
dos gastos diretos em saúde, seja por meio de pagamento às operadoras de planos de saúde ou
aos prestadores de serviços hospitalares, tem importante correlação com o maior
empobrecimento no Brasil, principalmente devido ao déficit que tais gastos podem gerar no
orçamento doméstico (BOING et al, 2014, p. 797; NOGUEIRA et al, 2012, p.64; VERAS et
al, 2007, p. 5).
Além do aspecto da quantidade de leitos e do acesso, a análise dos resultados do
estudo de Nogueira et al (2012, p. 62) pode indicar que as UTI’s privadas têm melhor
eficiência entre as instituições analisadas nessa pesquisa, pois, conforme já apresentado, no
SUS a mortalidade e o tempo de internação dos idosos em UTI foram maiores do que os na
rede privada de assistência. A inferência a priori é considerada plausível, uma vez que dados
relacionados ao tempo de internação e a mortalidade de idosos em leitos hospitalares podem
ser considerados como indicadores de eficiência dos serviços prestados, desde que se
considerem as características dos pacientes e o nível de complexidade de cada setor
(VIACAVA et al. 2012, p.924; JUNQUEIRA; DUARTE, 2013, p.29; TIMMERS et al, 2014,
p. 77).
No caso desta pesquisa, mesmo que se tenha trabalhado com um determinado grupo
etário, em um mesmo nível de complexidade e setor hospitalar, não é prudente proceder com
uma avaliação de eficiência somente a partir da observação das variáveis mortalidade e tempo
de internação. Neste caso, o problema está em assumir a homogeneidade das condições de
saúde dos idosos usuários da rede privada e do SUS. Encontrou-se indícios da disparidade
entre esses dois grupos na literatura, mais especificamente no estudo de Costa e Matos (2009,
p. 397), onde foi destacado que: no sistema de saúde suplementar, 67% dos idosos realizaram
mamografia em intervalos de 2 anos, 56% avaliaram sua própria saúde como boa e somente
13% não fizeram uma consulta médica no último ano. Por sua vez, entre os idosos usuários
exclusivos do SUS, foi observado que 64% dos indivíduos nunca realizaram uma
mamografia, 39% avaliaram sua condição de saúde como Boa e 26% não tiveram acesso a
nenhuma consulta médica no último ano.
74
Com o proposito de identificar essa associação entre classes sociais e estado de saúde
dos idosos selecionou-se variáveis representativas do grau de debilidade da saúde dos sujeitos
de pesquisa no momento da internação em UTI públicas e privadas, foram elas: Síndrome
demencial diagnosticada, indivíduo com três ou mais doenças crônicas, sujeitos classificados
como vulneráveis pelos profissionais, acamados em domicilio antes da internação e existência
de sequelas de um AVC prévio. Comparando a presença desses agravos no grupo de pacientes
do SUS e no sistema privado, somente foi possível perceber diferença estatística significativa
nas síndromes demenciais. Inclusive, o setor privado apresentou uma maior frequência de
idosos com esse diagnóstico, 14,4% contra 7,8% no SUS.
Contudo, é preciso destacar que a mortalidade dos pacientes do SUS está concentrada
entre os idosos mais jovens, conforme já apresentado, e a prevalência das variáveis que
indicam vulnerabilidade e/ou fragilidade é maior em idosos longevos, usuários predominantes
do sistema privado de UTI. Assim, pode-se inferir que as condições de vida e falta de acesso
aos serviços de saúde têm impacto maior sobre a gravidade dos casos e sobre o risco de vida
iminente do que sobre o grau de vulnerabilidade dos sujeitos que necessitam de terapia
intensiva. Ou seja, na prática, esses determinantes sociais constroem características distintas
nos usuários, onde os idosos do sistema privado têm mais idade e são mais vulneráveis/frágeis
ao internarem-se em UTI, enquanto os usuários do SUS são mais jovens e apresentam casos
mais graves, onde a frequência de mortalidade é maior.
É exatamente essa diferença entre os dois grupos impossibilita uma comparação de
eficácia das duas redes de terapia intensiva somente com base nas informações de mortalidade
e tempo de internação. Além disso, é necessário ter cautela ao fazer análise de eficiência
usando estas variáveis, já que o de tempo de internação e o óbito na UTI mostram-se como
fatores fortemente associados entre si em diversos estudos e, portanto, em muitos casos,
podem ser tomadas como um mesmo indicador de efetividade (PERES et al, 2012, p.106;
JUNQUEIRA; DUARTE, 2013, p.38; LOPES et al, 2012, p.12).
De toda maneira, ao observar que entre os idosos internados em UTI 12% têm
síndrome demencial, 37,3% possui três ou mais doenças crônicas, 31,8% foram avaliados
como vulneráveis pelos profissionais, 17% são acamados em seus domicílios e 14% têm
alguma sequela de um AVC prévio constata-se uma realidade preocupante, sobretudo do
ponto de vista dos gastos em saúde em curto, médio e longo prazo. Pois, a hospitalização de
um idoso debilitado está associada com maior índice de infecções, isolamento social e
iatrogenias devido a tais condição de saúde complexas e quadros de múltiplas morbidades
75
(SOUZA-MUÑOZ et al, 2013, p. 586; POLETTO; SANTINA; BETTINELLIA, 2012, p.49;
OLIVEIRA et al, 2010, p 251; GARIN, et al, 2014, p.2).
Desta feita, a ampliação da rede assistencial, visando melhorar o acesso aos serviços
de terapia intensiva, bem como aos serviços de baixa e média complexidade, responsáveis
diretos pela promoção e prevenção em saúde, podem melhorar sobremaneira o prognóstico e
as condições clínicas dos idosos que necessitam de terapia intensiva, bem como reduzir os
gastos referentes à internação em UTI. Nesse cenário, onde a prevenção ganha destaque,
sobressai-se a necessidade da criação de uma rede hierarquizada de serviços de atenção à
saúde do idoso, com linhas de cuidado voltadas à prestação de serviços de prevenção e
promoção à saúde. Além disso, é crucial estruturar os mecanismos de contra referência, para
que os idosos que recebam alta da UTI não tenham seus casos agravados pela falta de
continuidade da assistência, o que pode levar a reinternação. Corroborando as assertivas,
Berzins e Borges (2012, p.173) destacam:
Uma política mais afirmativa para redução das internações, permanência e
utilização dos leitos hospitalares pela população idosa, requer a implantação
de centros-dia de cuidados, que se constituem em uma forma intermediária
de assistência à saúde situada entre a internação hospitalar e a assistência
domiciliar, podendo também ser complementar a esta.
Em contrapartida, Buja, et al (2014, p.9) destacam que os mecanismos de promoção da
saúde, prevenção de agravos agudos e gerenciamento de condições crônicas na atenção
primária e secundária têm maior efetividade em idosos mais jovens e robustos. Para os idosos
longevos, os autores ressaltam a necessidade de desenvolvimento de novos estudos que
comprovem e desenvolvam novas estratégias de intervenção efetivas para a rede básica de
saúde voltadas para indivíduos com 80 anos ou mais. De toda maneira, a redução dos gastos
com a internação de idosos em UTI envolve também a produção de conhecimento necessários
ao manejo de casos clínicos, previsão de sinistralidade, identificação da gravidade dos casos e
promoção de uma assistência integral e ininterrupta antes, durante e depois da internação.
Esse conhecimento é peça chave para a gestão de recursos e para diminuir internação
causadas por complicações de agravos que podem ser controlados fora do espaço hospitalar.
Outras variáveis quantitativas que compõem a análise descritiva desta pesquisa são os
valores cobrados pelas diárias de UTI e o gasto total com a internação dos idosos. Observou-
se que, nesse aspecto, também existem valores diferentes na comparação entre o SUS e o
financiamento privado da internação em terapia intensiva. Existem dois elementos a
76
considerar-se ao observar essas diferenças de valores, a margem de lucro das instituições
privadas e o subfinanciamento do setor hospitalar no SUS.
O lucro empresarial foi uma variável que não se teve acesso junto às instituições
pesquisadas, afinal trata-se de uma informação chave para a negociação das quantias a serem
pagas por usuários e por cada um dos planos de saúde credenciados na empresa, tampouco
foram encontrados relatos consistentes na literatura a esse respeito que pudessem respaldar a
discussão desse dado. Por sua vez, os valores das diárias de UTI no sistema público de saúde
constam no Sistema de Gerenciamento da Tabela de Procedimentos, Medicamentos, Órteses,
Próteses e Materiais Especiais do SUS (SIGTAP) e o valor total da internação segue
normatização já específica na revisão de literatura desta tese.
Desta feita, a comparação direta dos gastos em UTI entre as instituições participantes
não é um bom parâmetro de discussão. Para isso, a obtenção do custo total decorrente da
prestação do serviço seria mais fidedigna, pois o lucro seria abatido dos valores cobrados e a
comparação teria concisão teórica plausível, dependendo somente de fatores como gravidade
dos casos e nível de complexidade dos procedimentos realizados junto aos idosos.
Contudo, o fato dos nossos dados terem apontado que o gasto médio total das
internações do SUS foi menor que a metade da média dos valores cobrados pelas instituições
privadas encontra respaldo em estudos de custo, que têm destacado o subfinanciamento do
SUS, por meio dos preços praticados pela SIGTAP. Essas análises revelam que os
pagamentos realizados pelo SUS cobrem apenas 33,89% dos custos referentes aos serviços
prestados em hospitais, além de não considerarem as diferenças regionais no que tange os
custos de produção no Brasil (LUCAREVSCHI; ESCOBAR; GRISI, 102, p.744;
CARNEIRO, 2014, p.90).
Aliás, o financiamento da saúde pública no Brasil está repleto de incoerências
administrativas fruto de conflitos políticos, embates entre setores empresariais e contradições
ideológicas. A principal destas é a proposta de um sistema de saúde de acesso universal,
pautada na ideia da saúde enquanto princípio de cidadania que deve ser preservado pelo
estado e garantido a todos, associada com a vigência da lógica de um Estado neoliberal,
disposto a conter gastos públicos e incentivar a livre concorrência da iniciativa privada. Dessa
maneira, pode-se afirmar que o subfinanciamento do SUS faz parte de uma política
econômica adotada pelo governo federal desde a década de 1990 e que, em grande parte, é
responsável pelas iniquidades observadas na prestação de serviços públicos de saúde
(MENDES, 2014, p.1193).
77
Apesar da forte influência das questões macroeconômicas sobre a realidade da saúde
no Brasil, parte dos problemas encontrados nos serviços hospitalares também podem ser
atribuídos a falhas nos processos de gestão das unidades, nas práticas profissionais e na
dificuldade de articulação entre os serviços que compõem a rede de atenção à saúde. Do
mesmo modo, esse processo compromete o uso correto dos poucos recursos disponíveis, o
que prejudica ainda mais a prestação de serviços de saúde de qualidade para a população,
independente do grupo etário a que pertençam. No caso do objeto de estudo dessa pesquisa,
percebe-se que a ausência de uma rede resolutiva de atenção à saúde do idoso, associada a
fatores clínicos, sociais e demográficos típicos desse grupo populacional, são determinantes
para o aumento dos gastos de internação desses indivíduos em UTI.
Diante disso, parte-se para a discussão desses fatores que foram associados ao alto
gasto de internação de idosos em UTI durante a análise múltipla da pesquisa. O modelo de
regressão logística para os dados de UTI’s do SUS mostrou que os pacientes de alto gasto de
internação deram entrada no setor desorientados, tinham 80 anos ou mais, apresentaram sepse,
internaram-se por motivo clínico ou tiveram diagnóstico de Insuficiência Cardíaca Congestiva
(ICC). Na rede privada de assistência os pacientes idosos com maior gasto foram
diagnosticados com doença respiratória, necessitaram de ventilação mecânica, internação por
motivo clínico ou estavam desorientados na admissão. Por fim, para a modelagem da amostra
total as variáveis doença respiratória, instituição privada, desorientado e AVC prévio foram
associadas ao alto gasto da internação.
Os dados da análise descritiva e bivariada demostraram que a internação de idosos em
UTI do setor privado tiveram maiores gastos quando comparados aos pacientes do SUS.
Durante a análise múltipla, o modelo de regressão feito com os dados de todas as internações
analisadas nesta pesquisa demonstrou que a internação na rede privada permaneceu associada
ao alto gasto com internação de idosos em UTI, independentemente dos efeitos das outras
variáveis. Assim, ao ser admitido em centros de terapia intensiva privados, os idosos tiveram
uma prevalência 98% maior de alto gasto de internação em relação à rede pública,
independente da gravidade dos seus casos, comorbidades ou variáveis sociodemográficas.
Tanto o lucro das instituições privadas quanto a defasagem da SIGTAP são inseridas como
elementos explicativos nesse contexto, conforme já discutido.
Por sua vez, a desorientação completa ou parcial no momento admissão do idoso foi
associada ao maior gasto nas internações do SUS, nas acontecidas na rede privado e na
amostra total. A importância da variável para o fenômeno estudado também é confirmada por
outros estudos e por alguns dos principais instrumentos utilizados para avaliar os prognósticos
78
de uma internação em terapia intensiva, tais como o APACHE, o SOFA e o LODS, que usam
a variável como critério em seus escores (PERDROSA, 2014, p.32; HISSA; HISSA;
ARAUJO, 2013, p.22).
Dessa forma, a desorientação de pacientes idosos internados é um desafio para toda
equipe de profissionais de saúde em um hospital. Em lugar primeiro porque trata-se de um
evento comum, de alta prevalência com o qual muitos profissionais não estão qualificados
para promover cuidado especializado. Além disso, o quadro de desorientação em idosos torna
o trabalho mais desgastante para a equipe, requer manejo diferenciado durante o tratamento e
comumente a assistência desses pacientes requer um maior número de profissionais
disponíveis. Esse tipo de abordagem não genérica e de caráter multidisciplinar é a grande
responsável pelo aumento dos gastos com a internação de pacientes idosos em estado de
desorientação (FONTONI, OLIVEIRA, KANETA, 2014, p. 816).
Cabe a ressalva de que a detecção precoce de enfermidades crônicas é uma ferramenta
importante no âmbito dos serviços de atenção à saúde do idoso, no que se refere a diminuição
de complicações dos agravos crônicos. Desta maneira, os profissionais intensivistas precisam
estar atentos para o diagnóstico diferencial entre déficit cognitivo crônico e desorientação
transitória, por vezes, decorrente de uma patologia secundária ou situação de extremo
estresse, como é o caso da admissão em UTI. Diferenciar precocemente esses estados de
saúde tem impacto no exercício da autonomia do idoso, tornando-o menos vulnerável e
diminuindo as chances de desenvolvimento de limitações funcionais permanentes.
Estudos evidenciam que além das intercorrências clinico individuais para a saúde do
idoso, a demora no diagnóstico de demência também tem reflexos no âmbito dos gastos em
saúde, uma vez que, as síndromes demenciais têm aumentado a necessidade de recursos em
saúde e chegam a comprometer até 80% da renda familiar quando o diagnóstico é tardio
(GUTIERREZ, et al, 2014, p. 4480-4482; VERAS et al, 2007, p. 11; FREITAS; SCHRAMM,
2009, p.434). A articulação entre a UTI e os serviços de média e baixa complexidade pode
contribuir nesse contexto por tratar-se de uma estratégia de ruptura com o modelo medico
centrado e que ainda não avançou o suficiente na articulação entre os diversos níveis
hierárquicos que compõem a rede de atenção à saúde no Brasil.
As prevalências de síndrome demencial, exacerbações agudas de agravos crônicos,
fragilidade, necessidade de cuidados domiciliares, internação em UTI e de mortalidade
decorrente deste evento são significativamente maiores em pessoas com idade igual ou
superior a 80 anos, em relação aos idosos entre 60 e 79 anos. Nesse sentido, é razoável
perceber a idade avançada como uma das variáveis que responsáveis pelo aumento do tempo
79
de internação e, consequentemente dos gastos em terapia intensiva (FREITAS; SCHRAMM,
2009, p.434; VELASCO; DALCOMUNE; LEITÃO, 2015, p. 528; FUCHS et al, 2012, p.
1660). De fato, a idade igual ou superior a 80 anos também foi associada ao alto gasto de
internação em UTI nesse estudo, contudo, isso ocorreu somente nas instituições públicas de
saúde. A ocorrência dessa variável não ser significativa para o sistema privado demonstra a
coerência do Estatuto do Idoso, que em seu artigo 15, veta a cobrança diferenciada por planos
de saúde, com base exclusivamente no critério da idade dos seus clientes (BRASIL, 2003).
Todavia, o CONASS (2011a, p.42) destaca que as operadoras de planos de saúde
continuam a fazer esse tipo reajuste baseado na mudança de faixa etária, alegando o uso de
outros critérios clínicos e do risco de sinistralidade. Outros estudos, contudo, inclusive um
promovido pelo próprio colegiado citado acima, reconhecem que a taxa de internação
hospitalar entre idosos longevos é maior, o que demonstra a necessidade de realização de mais
pesquisas, de preferência com desenhos longitudinais, que possam dimensionar o real efeito
independente da idade avançada sobre o alto gasto de internação (CONASS 2011b, p.35;
VELASCO; DALCOMUNE; LEITÃO, 2015, p. 528).
Dessa forma, é preciso intensificar a discussão a respeito dos efeitos da idade
avançada sobre a saúde individual, bem como da eficácia de ações preventivas para a
qualidade de vida dentro desse segmento etário. A realidade apresenta-se como uma demanda
urgente, uma vez que no Brasil e no mundo o número de idosos longevos tem aumentado
mais do que a população pertencente a faixa entre 60 e 79 anos. A principal preocupação é
que esses indivíduos apresentam características morfofisiológicas, psicológicas e
socioeconômicas diferenciadas dos demais idosos que, agregado ao fato de se conhecer pouco
acerca das condições de saúde desses sujeitos, pode ter impacto significativo sobre a
qualidade de vida e sobre os investimentos necessários às demandas de saúde dos idosos
longevos, especialmente em setores de alta complexidade como a UTI (RIBEIRO, 2015, p.
90).
O tipo de internação, classificada como clínica ou cirúrgica, também foi associada ao
alto gasto, tanto no modelo de regressão múltiplo do SUS quanto no construído para o sistema
privado. Nesses casos, os pacientes que foram hospitalizados devido aos agravos clínicos
tiveram um maior gasto por internação em UTI. O estudo de Fuchs et al (2012, p. 1657)
destaca que a internação clínica de idosos em UTI é associada à maior gravidade,
sinistralidade e custos, quando comparada às intervenções cirúrgicas.
No entanto, para obter-se medidas mais precisas sobre esse dado é necessário trabalhar
com duas potenciais variáveis de confusão. Em primeiro lugar seria importante comparar as
80
internações clínicas com as cirurgias de urgência e as cirúrgicas eletivas, separadamente. A
hipótese lançada é que intervenções agudas e inesperadas podem explicar o maior uso de
recursos em UTI, independente de do tipo de internação, uma vez que as cirurgias eletivas
costumam ser antecedidas por avaliações de risco que contemplam aspectos sanguíneos,
cardiovasculares e respiratórios que permitem um planejamento prévio, o que não se pode
fazer em cirurgias de emergência e nas internações clinicas. Por fim, seria importante pensar o
gasto da internação como um todo, inclusive os referentes ao centro cirúrgico, para então
definir se os idosos que passam por procedimentos cirúrgicos têm menor custo total de
hospitalização que aqueles que não necessitaram de cirurgia.
Nessa última situação, encontra-se na literatura resultados semelhantes aos aqui
apresentados. Uma pesquisa realizada com 22.710 idosos constatou que pacientes que foram
submetidos a intervenção cirúrgica permaneceram menos dias em terapia intensiva e
apresentaram um custo menor de hospitalização frente aqueles que se internaram por razões
clínicas (ADAMNS, et al, 2013, p. 660). Em outro estudo, Fernandes et al (2011, p.414)
destaca que entre os pacientes cirúrgicos, com 60 anos ou mais e vítimas de fratura de fêmur
os gastos referentes a recuperação clínica foram superiores ao custo do próprio procedimento
cirúrgico.
Em realidade, há uma vasta produção científica sobre quedas, fraturas e cirurgias
ortopédicas ou gerais em idosos devido sua prevalência e importância epidemiológica.
Contudo, os resultados desse estudo demonstram que, em relação aos gastos com a internação
e a mortalidade de idosos em UTI, os agravos clínicos precisam ter mais foco no campo dos
estudos geriátricos. A título de representação da afirmativa, destaca-se que 62,5% das
internações de idosos em terapia intensiva foram causadas por condições clinicas. No SUS,
47,6% dos pacientes clínicos foram a óbito enquanto que 25% dos pacientes cirúrgicos
morreram. O mesmo padrão é observado no setor privado, onde a mortalidade dos pacientes
clínicos foi de 27,6% e de 8,3% dentre pacientes submetidos a cirurgia. Essas diferenças
foram significativas em tente de associação estatística (Qui-quadrado).
Em relação ao quadro de morbidade, a sepse destacou-se como um fator associado às
internações mais caras no sistema público de saúde. Este agravo quando acomete indivíduos
idosos gera repercussões diretas e indiretas sobre os gastos em terapia intensiva, pois é
responsável pelo aumento do tempo de permanência no setor e favorece o aparecimento de
complicações clínicas secundárias (IZAIAS et al, 2014, p. 3399). Para se ter ideia, em valores
ajustados para o ano de 2010, o custo da internação para pacientes acometidos por sepse foi
em média 32 mil dólares mais caro que os pacientes que não evoluíram para um quadro de
81
infeção generalizada, além do agravo aumentar 2,7 vezes o risco de óbito (GEIGER et al,
2014, p.318).
Tanto em relação aos gastos decorrente de internação, como em relação à diminuição
da mortalidade ligada à sepse em idosos, são fundamentais o diagnóstico e o provimento de
cuidados intensivos de maneira precoce. Isso foi constatado na pesquisa de Champunot et al.
(2014, p.107) que identificou a internação imediata em UTI como um fator de efetividade e
eficácia do tratamento dos pacientes com sepse. Nesse caso, uma abordagem terapêutica
tradicional realizada em clínica médica compromete a qualidade dos cuidados intensivos e
aumenta o risco de morte dos pacientes.
Além disso, é importante destacar que mesmo com políticas e normatização voltadas
ao controle de infecções no Brasil, a sepse apresentou uma frequência de 17,1% nas
internações de idosos em UTI dos SUS, além de ser associada a altos gastos. Dessa maneira, é
preciso avançar na construção de protocolos clínicos e medicamentosos para manejo das
infeções localizadas, evitando sua disseminação pelo corpo. Nesse processo, a Comissão de
Controle de Infeção Hospitalar (CCIH) tem que assumir seu protagonismo, buscando
principalmente sua autonomia administrativa/operacional, por vezes tolhida justamente sob o
argumento da contenção de gastos.
Os profissionais de saúde, por sua vez, precisam estar capacitados para assumir sua
parcela de responsabilidade no processo de trabalho individual e coletivo, no que se refere ao
controle e tratamento de sepse e das infecções. Questões como técnicas de esterilização de
matérias, descontaminação de ambientes, desinfecção, assepsia, uso de leitos de isolamento
em UTI e a correta prescrição, preparação, administração e descarte de antibióticos são
fundamentais para combater problemas relacionados a sepse e os altos gastos decorrentes de
seu tratamento. Fernàndez, et al (2014, p.159) ratifica o protagonismo dos profissionais de
saúde nesse cenário destacando que o agravamento das infecções e surgimento das sepses são
decorrentes, principalmente da falta de regulação e do uso indiscriminado de antibióticos
durante a internação hospitalar.
Uma outra variável presente no modelo múltiplo de análise deste trabalho foram as
doenças do trato respiratório. A relação entre doenças respiratórias e saúde do idoso é um
tema constante em revistas científicas especializadas, tanto em nível nacional como
internacional. Tamanha atenção é justificada pela importância clínica, epidemiológica e
econômica desse grupo de agravos. Na Europa, por exemplo, os gastos com doenças
respiratórias são estimados em EUR 10,1 bilhões ao ano, mais da metade desse valor, EUR
5,7 bilhões são dispendidos com a internação hospitalar. Nesse cenário, os idosos representam
82
41% dos acometidos e são responsáveis por 73% da parcela total de gastos (TICHOPAD et al,
2013, p. 6). Trata-se de uma alta quantia de recursos que trazem prejuízos aos Estados, à
sociedade, aos pacientes e as suas famílias, visto que os custos com as doenças respiratórias
podem estender-se até 24 meses após internação, com uma média individual de gastos de
$28.638 mil dólares, valores corrigidos tendo como base o ano de 2010. (ZHOU et al, 2013,
p.5; RYAN et al, 2013, p. 7).
A frequência de agravos respiratórios nas 493 internações de idosos que compuseram
este estudo foi de 28% e, como nos estudos supracitados, esse diagnóstico também foi
considerada como preditor para alto gasto nas internações, tanto na amostra total como no
modelo de regressão do sistema privado. A alta frequência dos agravos também é condizente
com dados encontrados no Rio Grande do Norte, os quais ratificam que houve um aumento de
53% das internações por doenças respiratórias entre os anos de 2006 e 2009, sendo a mais
prevalente delas a pneumonia infecciosa, que responde por 32% do total de casos CONASS,
2011b, p.33).
O percentual das pneumonias infecciosas foi ainda maior nos dados coletados para
essa pesquisa, atingindo 55,1% do total de casos de agravos respiratórios entre idosos
internados em UTI. A contradição é que essa tendência de crescimento de acontece mesmo
diante da vacinação sistemática de idosos e grupos mais suscetíveis à gripe e às pneumonias,
promovida pelo governo federal em todo país desde o ano de 1999 e que tem vacinado 85%
dos idosos potiguares anualmente (BERZINS; BORGES, 2012, p.166; DATASUS, 2015).
Como a prevalência das infecções respiratórias está aumentando entre os idosos, mesmo
diante de uma boa cobertura vacinal, poder-se-ia questionar a eficiência da vacina. Todavia,
há indicativos de que a vacinação contra influenza está associada com redução de
mortalidade, com menores índices de admissão em UTI e com a diminuição dos custos de
hospitalização (WANG et al, 2013, p.724; DAUFENBACH et al, 2014, p.19).
Com uma boa cobertura e eficácia reconhecida da vacina, pode-se dizer que a redução
dos gastos referentes à internação de idosos em UTI devido a causas respiratórias infecciosas,
deve envolver medidas que vão além da vacinação contra gripe e pneumonias. É preciso
efetivar estratégias de atenção primária mais abrangentes e focadas nos grupos de maior risco,
como por exemplo os idosos mais longevos e/ou os que se encontram acamados. Sob essas
condições, parcela significativa dos indivíduos têm fraqueza muscular, tosse ineficiente e
função ciliar comprometida, favorecendo o acúmulo de secreção nas vias áreas e o
aparecimento de infecções no trato respiratório (OLIVEIRA, 2014, p.79). Igualmente
importante é o diagnóstico precoce das infecções e o provimento das medidas terapêuticas
83
adequadas para o controle das doenças infecciosas do trato respiratório, especialmente entre
os indivíduos com mais de 60 anos.
Uma possível complicação para os agravos respiratórias e cardíacos, muitos comuns
entre as internações em UTI é a necessidade de ventilação mecânica. De fato, o suporte
ventilatório é uma das principais justificativas para permanência dos pacientes em tratamento
intensivo, na medida em que a prática necessita de equipamentos específicos e de
profissionais de saúde capacitados para prestar cuidado aos indivíduos que não conseguem
respirar espontaneamente. As admissões em UTI que envolvem a intubação de pacientes são
associadas com os mais altos custos, maior tempo de permanência no setor, incremento nos
números de óbito e à necessidade de gerenciamento clínico, voltado a prevenção de iatrogenia
ou do desenvolvimento de complicações clínicas secundárias (DALAL, et al, 2010, p.598).
Entre os idosos em UTI’s da rede privada, 17,6% dos indivíduos apresentavam
necessidade de suporte avançado de vida com auxílio de ventilação mecânica, no momento da
admissão no setor de terapia intensiva e esses casos foram associadas a maiores gastos de
internação. A literatura científica corrobora esses achados e destaca a ventilação mecânica
enquanto fator de maior tempo de internação e menor relação de custo efetividade em UTI,
tendo em conta os segmentos etários de idade igual ou superior a 60 anos (FUCHS et al,
2012, p. 1657; PUCHADES et al, 2015, p.53; DALAL et al, 2010, p.596; LOSS et al, 2015,
p.33).
A associação da ventilação mecânica com maiores gastos somente na rede privada de
terapia intensiva pode encontrar elementos explicativos na forma como as despesas são
compostas. Nas internações do SUS, onde a ventilação mecânica foi associada ao alto gasto
somente em nível bivariado, fatura-se a internação conforme o número de diárias de UTI e o
valor cobrado contempla as despesas com a maioria dos procedimentos realizados no setor,
inclusive com a própria ventilação mecânica.
Por sua vez, na iniciativa privada cobra-se pelas diárias de UTI de maneira similar e,
suplementarmente, por taxas relativas ao uso dos equipamentos de ventilação artificial,
quantias referentes ao volume de oxigênio e ar comprimido utilizados ao longo do tempo e as
despesas relativas a necessidade de procedimentos especializados, como fisioterapia
respiratória e avaliação de pneumologista, por exemplo. A sobreposição dos valores cobrados
pelos elementos envolvidos com o cuidado com pacientes em ventilação mecânica encarece a
internação dos idosos em UTI privada.
Contudo, não é a forma de faturamento da ventilação mecânica a única responsável
pelo aumento dos gastos de internação dos idosos com essa necessidade. Diversos agravantes
84
clínicos como sepse, maior probabilidade de infecção respiratória, os riscos envolvidos
durante o manejo do paciente e dos equipamentos e as iatrogenias elevam a probabilidade da
dependência prolongada de suporte ventilatório mecânico e isso implica maior tempo de
internação no setor de terapia intensiva e maior gasto por paciente (LOSS et al, 2015, p.33).
Dentre o grupo das enfermidades cardíacas, a ICC demonstrou-se uma variável
significativa na análise de altos gastos de internação com idosos na rede pública de saúde. De
fato, trata-se de uma condição clínica importante do ponto de vista epidemiológico,
especialmente nos países em desenvolvimento, onde cerca de 2% dos adultos e mais de 10%
dos idosos têm diagnóstico confirmado da doença (MURRAY et al, 2012, p.850). Em outros
estudos, também foi constatado que a hospitalização por ICC está associada com maior tempo
de internação e uso de volumosos recursos financeiros. No Reino Unido, estima-se que 2% de
todo o orçamento para saúde é utilizado com o tratamento dos acometidos pelo agravo. Por
sua vez, no Estados Unidos os gastos diretos e indiretos com ICC chegam a $35 bilhões por
ano (PUCHADES et al, 2015, p.52; NEUBAUER, 2007, p.1140).
Segundo pesquisas de desenho longitudinal, a ICC poder ser caracterizada como uma
condição crônica, sensível à atenção básica em saúde e com altos índices de mortalidade e
internação hospitalar, considerando um período de seguimento de 10 anos. Nesse sentido, a
prevenção primária do agravo pode diminuir os casos de internações de pacientes idosos
devido a complicações decorrentes de ICC, enquanto que o tratamento hospitalar adequado,
associado com acompanhamento clínico após a alta, podem reduzir em até 50% os gastos com
reinternação devido à doença (HARINDRA et al, 2011, p.920; MURRAY, et al, 2012, p.866;
STAUFFER et al, 2011, 1238).
Apesar da frequência considerável dos outros agravos cardíacos nesse estudo, 42,8%
dos idosos tiveram sua internação como consequência de alguma doença no coração, somente
a ICC foi relacionado ao alto gasto de internação dos indivíduos em UTI no modelo múltiplo
de análise. No entanto, as doenças cardíacas em geral são responsáveis por 30% de todas as
mortes decorrentes de condições crônicas não transmissíveis no Brasil e sua importância para
os gastos em saúde, tanto no setor público como no privado, não pode ser negligenciada
(MALTA, 2014, p.602). Dessa maneira, mesmo não sendo associadas ao alto gasto de
internação em nível individual por esse estudo, ressalta-se que os agravos cardíacos precisam
fazer parte de qualquer discussão sobre previsões orçamentárias e planejamento de ações
custo efetivas voltadas a qualidade de vida dos idosos no Brasil.
Fenômeno semelhantes aos agravos cardíacos aconteceu com as variáveis relativas a
comorbidades e/ou condições crônicas secundárias, que mesmo com alta frequência entre os
85
idosos, perderam sua significância estatística na relação múltipla com os altos gastos de
internação. Contudo, na análise de regressão da amostra total, o fato do paciente ter alguma
limitação funcional decorrente de um AVC prévio foi associado ao desfecho do estudo. Isso
demonstra que a capacidade funcional e a autonomia do idoso podem ser mais importantes
que a morbidade, pois se relacionam diretamente à qualidade de vida, à mortalidade e aos
gastos em saúde, questões estas que tem efeito de longa durabilidade e extrapolam o período
de internação em UTI em até um ano (GUTIERREZ, et al, 2014, p.4481; PUCHADES et al,
2015, p.52).
O AVC é a segunda causa de morte em todo o mundo e a previsão é que a doença se
mantenha nesse patamar até o ano de 2030. No Brasil este agravo levou a internação de
165.899 pessoas em UTI, com custos que ultrapassaram R$ 163 milhões de reais no ano de
2012 (CANUTO, NOGUEIRA, 2015, p.2562). Trata-se de um agravo oneroso para os
hospitais no Brasil e que comumente deixa sequelas que repercutem na qualidade de vida,
funcionalidade e sobrevida dos idosos. Aliás, as sequelas de uma AVC, mesmo não sendo
identificadas pelos profissionais como o principal motivo da internação, contribuem para o
agravamento do quadro clínico de idosos ao longo do tempo, resultando na fragilização
progressiva de sua saúde que, por sua vez, leva a necessidade de maior dispêndio de recursos
terapêuticos e financeiros. Além disso, algumas limitações físicas e cognitivas em idosos são
relacionados a custos indiretos em saúde devido a sua capacidade de afetar a vida social do
idoso e da sua família. Geib (2012, p. 129) ratifica:
Para muitas pessoas, em especial as idosas, as redes constituem o único
recurso disponível para aliviar as cargas da vida cotidiana e aquelas que
provêm da enfermidade. Entretanto, o idoso estando debilitado tende a
enfraquecer a interação e os contatos afetivos e a colocar em risco o apoio
social recebido, que se sustenta numa relação de reciprocidade. Dessa forma,
as doenças e incapacidades do idoso podem contribuir para o isolamento
social por limitar a sua participação na comunidade.
Portanto, as limitações causadas pelas sequelas de um AVC extrapolam as condições
físicas e debilitam a qualidade de vida do idoso, saúde mental, interação social e economia
domestica. Esses elementos em conjunto contribuem para os casos de reinternação em UTI e,
sob esta situação, sua condição de vulnerabilidade tem impacto sobre o aumento dos gastos
com a internação, sobre efetividade do tratamento e sobre as chances de sobreviver à
internação em terapia intensiva. Nesse sentido, é preciso focar na criação de estratégias
especificamente voltadas para reabilitação do idoso após um AVC. A construção de centros
86
de reabilitação para pacientes vítimas da doença poderia ser um elemento decisivo, já que, na
maioria das vezes, os indivíduos não recebem tratamento adequado após a alta hospitalar ou
simplesmente abandonam a terapêutica.
Durante a discussão já foi destacado a importância dos escores prognósticos enquanto
alternativas para a classificação da gravidade dos casos de idosos candidatos à internação em
UTI. De fato, eles são ferramentas importantes na identificação de pacientes terminais e para
a correta gestão dos recursos físicos e financeiros disponíveis em nível de terapia intensiva.
Todavia, O SOFA e o SAPS, instrumentos amplamente utilizados na prática clínica, não se
mostraram capazes de distinguir os idosos frágeis ou aqueles com incapacidades funcionais
importantes. Trata-se de um assunto que precisa ser melhor estudado porque a fragilidade e a
capacidade funcional são indicadores de gravidade e, sendo assim, devem ser consideradas
tanto ao admitir o paciente em UTI, quanto no momento de tomar a decisão de interromper a
prestação de cuidados intensivos (MAGUET et al, 2014, p. 685; MINNE et al, 2011, p. 68).
Aliás, de maneira geral, as ferramentas utilizadas para mensuração de gravidade dos
pacientes em ambiente hospitalar podem estar obsoletas no que se refere à sua aplicação junto
aos idosos. O problema é que tais instrumentos foram elaborados para o público adulto e
ainda não há evidências conclusivas, do ponto de vista científico, a respeito da sua
sensibilidade e especificidade em indivíduos com 60 anos ou mais. Assim, é necessário
intensificar esforços para a construção e validação de escores de risco condizentes com os
interesses dos idosos, mas que não percam de vista a sustentabilidade dos serviços de saúde,
uma vez que para os sujeitos inseridos nos extremos de gravidade, a terapia intensiva não
oferece melhor custo/efetividade quando comparada à assistência hospitalar convencional
(FLAATTEN, 2014, p.4; MINNE et al, 2011, p. 73).
A carência de instrumentos de classificação de risco, especificamente atrelados às
peculiaridades e necessidades dos idosos em terapia intensiva, tem reflexos palpáveis na
gestão e aplicação dos recursos em saúde, tamanha sua importância clínica, gerencial e
econômica. A mais palpável delas é que o crescimento dos gastos públicos e privados com a
internação de idosos está concentrado justamente em despesas referentes ao período final da
vida desses indivíduos. Além disso, a utilização de alta tecnologia e oferta de leitos de UTI
para prolongar a vida de pacientes terminais têm sido mais dispendiosas do ponto de vista
financeiro do que a assistência prestada aos idosos que sobrevivem à internação em terapia
intensiva (RODRIGUES; AFONSO, 2012, p.491; CALDEIRA et al, 2010, p.530).
É preciso reconhecer que a alocação adequada dos recursos é uma responsabilidade
inerente ao processo de trabalho em saúde e envolve a vida e a morte de sujeitos em
87
tratamento intensivo. Portanto, não internar em uma UTI um paciente corretamente
classificado como terminal, desde que garantido o acesso a cuidados paliativos que
proporcionem uma morte digna, reflete uma postura ética, legal e moralmente válida,
sobretudo na sociedade brasileira, onde a utilização de uma grande quantidade de recursos
sem que haja chances de benefícios reais, pode ser considerada como desperdício, injustiça
social e um risco à manutenção de um sistema de saúde gratuito e de acesso universal no país
(FREITAS; SCHRAMM, 2009, p.433).
A sustentabilidade financeira do atual sistema de saúde no Brasil depende de maiores
investimentos públicos na área, mas a gestão dos recursos disponíveis precisa ser igualmente
discutida em todos os níveis da administração direta, desde a esfera federal passando pelo
espaço dos próprios prestadores de serviços de saúde e chegando até os processos de trabalho
das diferentes categorias de profissionais no setor.
Nesse sentido, a formação dos profissionais de saúde precisa dar mais ênfase às
competências relacionadas à gerencia dos recursos e dos serviços de saúde em seus currículos
e projetos pedagógicos. Afinal, o saber/fazer na área de gestão pode auxiliar os profissionais
na avaliação de suas próprias práticas individuais, no reconhecimento das limitações e
potencialidades presentes na rede de assistência à saúde, na identificação dos recursos
humanos e materiais disponíveis no serviço de saúde onde trabalha, na organização do
trabalho coletivo em saúde e na alocação coerente dos recursos em prol do atendimento das
demandas individuais, sem que isso implique qualquer prejuízo às necessidades coletivas
88
7 CONCLUSÕES
A construção de um perfil do quadro sócio demográfico dos idosos internados em
terapia intensiva ficou comprometida devido ao número de perdas de informações causada
pela falta de preenchimento desse tipo de variáveis nos prontuários analisados. Contudo, foi
possível observar que os pacientes residentes nos bairros com melhores indicadores sociais e
econômicos procuraram mais os serviços privados, quando comparados com os idosos que
moram em comunidades mais carentes da cidade de Natal/RN. Os altos preços cobrados pelas
operadoras de planos de saúde e/ou por hospitais tem relação com esses padrões distinto de
acesso aos serviços de terapia intensiva dos idosos pertencentes a classes sociais diferentes.
Diversos agravos foram identificados como motivos para a internação dos idosos em
UTI, porém os diagnósticos mais frequentes foram de doenças do aparelho circulatório, do
sistema cardiorrespiratório e as crises hipertensivas. Em relação ao quadro sindrômico, o
rebaixamento do nível de consciência e a necessidade de ventilação mecânica destacaram-se
como causas frequentes para internação no setor. A maioria dos sujeitos apresentava alguma
doença crônica diagnosticada previamente, sendo que mais de um terço deles tinham 3 ou
mais comorbidades no momento da internação. Entre as doenças crônicas não ligadas
diretamente com o motivo da internação, as mais comuns foram diabetes, hipertensão e
problemas cardíacos.
Estes perfis de morbidade relacionam-se a distintos parâmetros de internação, pois no
sistema privado de saúde identificou-se um menor tempo de permanência dos pacientes em
UTI, associada com menos óbitos em comparação com as internações no sistema público.
Como não foi possível admitir homogeneidade nos perfis de morbidade e gravidade dos
pacientes não se utilizou essas variáveis como marcadores da eficiência dos serviços.
Contudo, foi possível compreender a diferença de mortalidade e no tempo de internação nas
duas redes como reflexo do acesso mais fácil aos serviços de saúde por parte dos usuários do
sistema privado. Assim, visualizou-se a ampliação da rede pública de saúde, inclusive dos
serviços de baixa e média complexidade, como elementos importantes para a melhoria do
prognóstico e das condições clínicas dos idosos que necessitam de terapia intensiva no SUS.
Os altos gastos resultantes da terapia intensivos de idosos foram associados aos seus
quadros diagnósticos, às suas comorbidades, às características e ao tipo de internação em UTI,
o que confirmou a hipótese alternativa dessa pesquisa. Deve-se ressaltar que se obteve
modelos de regressão múltipla distintos para as internações do SUS e para as dos serviços
89
privados de saúde. Isso reforça a tese de que as condições clínicas dos pacientes e a própria
dinâmica da prestação do serviço hospitalar na rede pública e privada de saúde têm impacto
nos gastos de internação em UTI. Portanto, para análises de modelos explicativos que
envolvam custos/gastos, morbidade ou mortalidade decorrentes de internações hospitalares é
prudente observar a esfera administrativa a que pertence cada uma das instituições envolvidas.
A discussão sobre gastos com a internação de idosos em estado terminal foi um tema
transversal e aplicável a qualquer um dos modelos explicativos ou variáveis apresentadas
neste estudo. A classificação dos pacientes quanto a gravidade de seus casos foi apontada
como uma premissa da internação em UTI, uma vez que, para os casos clínicos mais simples
e para os idosos em estado terminal, os dois extremos da avaliação de risco, a prestação de
cuidados intensivos não é vantajosa na sua relação de custo/benefício. Assim, a opção pela
prestação de cuidados paliativos para idosos em estado terminal reflete uma postura ética e
moralmente válida, uma vez que: representa os interesses coletivos, não prolonga o
sofrimento do paciente de maneira descabida, evita desperdício dos recursos disponíveis e
zela pela sustentabilidade financeira de um sistema público de saúde de acesso Universal.
Contudo, percebeu-se que os instrumentos prognósticos utilizados para classificar
objetivamente a gravidade dos pacientes não foram validados para serem empregados com os
idosos, tampouco existem ferramentas robustas e especificamente criadas para este fim. Deste
modo, compreende-se que os pesquisadores da área do geriatria e gerontologia precisam
direcionar esforços para responder a este problema que tem repercussões concretas na
realidade dos serviços e dos processos de trabalho em saúde.
Nesse cenário, os profissionais de saúde despontam como protagonistas da alocação
racional dos recursos de alta complexidade, pois, em primeira instância, são os executores das
ações no cotidiano do serviço de saúde. Em outras palavras, são eles que decidem, segundo
seu conhecimento e dentro de suas competências profissionais, a maneira como os recursos
disponíveis vão ser utilizados com cada paciente em particular. Desta feita, ficou evidente que
os espaços de capacitação e a de formação em saúde são fundamentais para a construção de
conhecimentos voltados ao gerenciamento clínico dos casos, sem perder de vista a relação
custo/efetividade e alocação correta dos recursos disponíveis. Não se negou a influência dos
fatores econômicos, políticos e mercadológicos para o financiamento da saúde no Brasil,
porém foi destacado que a transformação dessa realidade também envolve a gestão das
instituições de saúde e o esforço dos profissionais da área.
Como a coleta de dados foi realizada em prontuários de forma retrospectiva, os dados
clínicos dos pacientes foram diagnosticados por profissionais de saúde não calibrados para os
90
propósitos deste estudo, o que pode resultar em viés de informação decorrentes de possíveis
falhas durante a mensuração das variáveis. No entanto, os prontuários dos idosos foram
analisados somente depois de passados pela auditoria final, ou seja, foi possível acompanhar
os registros das informações da internação do paciente desde o início do evento até o seu
desfecho final. Dessa forma, os diagnósticos e comorbidades feitos inicialmente puderam ser
ratificados ou corrigidos por diversos profissionais intensivistas, sob o suporte de diferentes
exames complementares, reduzindo a fonte de possíveis erros.
As pesquisas sobre custos/gastos no universo dos serviços de saúde no Brasil ainda
são incipientes, principalmente ao considerar a importância estratégica da temática para
justificar o aumento dos investimentos públicos na área ou mesmo para promover o uso eficaz
dos recursos já disponíveis. Os estudos de desenho longitudinal com seguimento duradouro
podem contribuir nesse processo devido sua capacidade de identificar o perfil dos pacientes
economicamente onerosos e testar estratégias que possam melhorar as condições de saúde
desses indivíduos, diminuindo o custo decorrente de complicações de agravos que podem ser
prevenidos. Da mesma maneira, os estudos descritivos podem demonstrar alguns agravos que
individualmente não são custosos aos serviços, mas que devido sua alta prevalência na
população implicam um dispêndio financeiro considerável na esfera coletiva.
De fato, em um momento onde o Brasil vivencia uma transição demográfica que se
materializa em transição epidemiológica, o campo da economia da saúde tem muito a
contribuir. A construção de um sistema de saúde digno e que contemple as necessidades de
toda população envolve necessariamente interesse político, mudanças na legislação e um
aporte maior de investimento para a área. Contudo, essa transformação também deve
acontecer na realidade singular dos serviços de saúde por meio da produção de conhecimento
e do controle social, enquanto ferramentas necessárias às melhorias na gestão dos recursos de
saúde.
91
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99
APÊNDICE A– Instrumento de coleta de dados
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA
CURSO DE DOUTORADO EM SAÚDE COLETIVA
ROTEIRO NORTEADOR DA COLETA DE DADOS
1. CARACTERIZAÇÃO SOCIO-DEMOGRÁFICA
a) Sexo:
Masculino
Feminino
b) Idade:______________________________________________________
c) Etnia:
Branco
Negro
Outro
d) Ocupação:___________________________________________________
2. CARACTERIZAÇÃO DE MORBIDADE
a) Diagnóstico ou hipótese diagnóstica :______________________________
b) Sinais/sintomas:________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_________________________________________________________
c) Comorbidades:_________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
___________________________________________________________
d) Condições de fragilidade ante da internação: Não ( ) Sim ( )
3. CARACTERIZAÇÃO DA INTERNAÇÃO
a) Tempo de internação em dias _____________________________
100
b) Fonte pagadora:
SUS
Plano de saúde Qual? __________________
Privado
c) Valor da diária:_____________________________________________
d) Tipo de Leito de UTI:
Tipo I
Tipo II
Tipo III
e) Destinação:
Alta
Óbito
Transferência
f) Gasto total da internação em UTI:__________________________________
101
ANEXO A- Critérios para Classificação dos tipos de leito de UTI
MINISTÉRIO DA SAÚDE
GABINETE DO MINISTRO
PORTARIA Nº 3.432, DE 12 DE AGOSTO DE 1998
DO 154, de 13/8/98
O Ministro de Estado da Saúde, no uso de suas atribuições legais,
considerando:
a importância na assistência das unidade que realizam tratamento intensivo nos
hospitais do país e a necessidade de estabelecer critérios de classificação entre as Unidades de
Tratamento Intensivo, de acordo com a incorporação de tecnologia, a especialização dos
recurso humanos e área física disponível, resolve:
Art. 1º - Estabelecer critérios de classificação entre as diferentes Unidades de
Tratamento Intensivo – UTI.
Art. 2º - Para as finalidades desta Portaria, as Unidades de Tratamento
Intensivo serão classificadas em tipo I, II e III.
§1º - As unidades atualmente cadastradas pelo SUS, a partir da vigência desta
Portaria, serão classificadas como tipo I.
§2º As unidades que comprovarem o cumprimento das especificações do anexo
desta Portaria, poderão ser credenciadas pelo gestor nos tipos II ou III, de acordo com a
necessidade de assistência da localidade onde estão inseridas.
Art. 3º - A partir da data de publicação desta Portaria, serão cadastradas
somente unidades do tipo II ou III.
Art. 4º Fica revogada a Portaria GM/MS nº 2918, de 9 de junho de 1998,
publicada no DOU nº 111, de 15 de junho de 1998, e as demais disposições em contrário.
Art. 5º - Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.
1. Disposições Gerais:
1.1 As Unidades de Tratamento Intensivo devem atender às disposições da
Portaria GM/MS/ nº 1884, de 11 de novembro de 1994, publicada no D.O nº 237, de 15 de
dezembro de 1994.
1.2 São unidades hospitalares destinadas ao atendimento de pacientes
graves ou de risco que dispõem de assistência médica e de enfermagem ininterruptas, com
equipamentos específicos próprios, recursos humanos especializados e que tenham acesso a
outras tecnologias destinadas a diagnóstico e terapêutica.
1.3 Estas unidades podem atender grupos etários específicos, a saber:
Neonatal- atendem pacientes de 0 a 28 dias;
Pediátrico – atendem pacientes de 28 dias a 14 ou 18 anos de acordo com as
rotinas hospitalares internas;
Adulto – atendem pacientes maiores de 14 ou 18 anos de acordo com as rotinas
hospitalares internas;
Especializada- voltadas para pacientes atendidos por determinada especialidade ou
pertencentes a grupo específico de doenças.
1.4 – Todo hospital de nível terciário, com capacidade instalada igual ou
superior a 100 leitos, deve dispor de leitos de tratamento intensivo correspondente a no
mínimo 6% dos leitos totais.
1.5 Todo hospital que atenda gestante de alto risco deve dispor de leitos de
tratamento intensivo adulto e neonatal.
2 – Das Unidades de Tratamento Intensivo do tipo II;
102
2.1 Deve contar com equipe básica composta por:
- Um responsável técnico com título de especialista em medicina intensiva ou com
habilitação em medicina intensiva pediátrica;
- Um médico diarista com título de especialista em medicina intensiva ou com
habilitação em medicina intensiva pediátrica para cada dez leitos ou fração, nos turnos da
manhã e da tarde;
- Um médico plantonista exclusivo para até dez pacientes ou fração;
- Um enfermeiro coordenador, exclusivo da unidade, responsável pela área de
enfermagem;
- Um enfermeiro, exclusivo da unidade, para cada dez leitos ou fração, por turno
de trabalho;
- Um fisoterapêuta para cada dez leitos ou fração no turno da manhã e da tarde;
- Um auxiliar ou técnico de enfermagem para cada dois leitos ou fração, por turno
de trabalho;
- Um funcionário exclusivo responsável pelo serviço de limpeza;
- Acesso a cirurgião geral (ou pediátrico), torácico, cardiovascular, neurocirugião e
ortopedista;
2.2. O hospital deve contar com:
- Laboratório de análises clínicas disponível na 24 horas do dia;
- Agência transfusional disponível nas 24 horas do dia;
- Hemogasômetro;
- Ultra-sonógrafo;
- Eco-doppler-cardiógrafo;
- Laboratório de microbiologia;
- Terapia renal substitutiva;
- Aparelho de raios-x móvel;
- Serviço de Nutrição Parenteral e enteral;
- Serviço Social;
- Serviço de Psicologia;
2 .3 O hospital deve contar com acesso a:
- Estudo hemodinâmico;
- Angiografia seletiva;
- Endoscopia digestiva;
- Fibrobroncoscopia ;
- Eletroencefalografia;
2.4 Materiais e Equipamentos necessários:
- Cama de Fawler, com grandes laterais e rodízio, uma por paciente;
- Monitor de beira de leito com visoscópio, um para cada leito;
- Carro ressuscitador com monitor, desfibrilador, cardioversor e material para
intubação endotraqueal, dois para cada dez leitos ou fração;
- Ventilador pulmonar com misturador tipo blender, um para cada dois leitos,
devendo um terço dos mesmos ser do tipo microprocessado;
- Oxímetro de pulso, um para cada dois leitos;
- Bomba de infusão, duas bombas por leito;
- Conjunto de nebulização, em máscara, um para cada leito;
- Conjunto padronizado de beira de leito contendo: termômetro (eletrônico,
portátil, no caso de UTI neonatal), esfignomanômetro, estetoscópio, ambu com máscara
(ressuscitador manual) , um para cada leito;
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- Bandejas para procedimentos de: diálise peritoneal, drenagem torácica,
toracotomia, punção pericárdica, curativos, flebotomia, acesso venoso profundo, punção
lombar, sondagem vesical e traqueostomia;
- Monitor de pressão invasiva;
- Marcapasso cardíaco externo, eletrodos e gerador na unidade;
- Eletrocardiógrafo portátil, dois de uso exclusivo da unidade;
- Maca para transporte com cilindro de oxigênio, régua tripla com saída para
ventilador pulmonar para transporte;
- Máscaras com venturi que permita diferentes concentrações de gases;
- Aspirador portátil;
- Negatoscópio;
- Oftalmoscópio;
- Otoscópio;
Pontos de oxigênio e ar comprimido medicinal com válvulas reguladoras de
pressão e pontos de vácuo para cada leito;
- Cilindro de oxigênio e ar comprimido, disponíveis no hospital;
- Conjunto CPAP nasal mais umidificador aquecido, um para cada quatro leitos,
no caso de UTI neonatal, um para cada dois leitos;
- Capacete para oxigenoterapia para UTI pediátrica e neonatal;
- Fototerapia, um para cada três leitos de UTI neonatal;
- Incubadora com parede dupla, uma para dez leitos na UTI neonatal;
- Balança eletrônica , uma para cada dez leitos na UTI neonatal;
2.5 Humanização:
- Climatização;
- Iluminação natural;
- Divisórias entre os leitos;
- Relógios visíveis para todos os leitos;
- Garantia de visitas diárias dos familiares, à beira do leito;
- Garantia de informações da evolução diária dos pacientes aos familiares por
meio de boletins.
3. As unidades de Tratamento Intensivo do tipo III, devem, além dos requisitos
exigidos para as UTI tipo II, contar com:
3.1 Espaço mínimo individual por leito de 9 m² , sendo para UTI Neonatal o
espaço de 6 m², por leitos;
3.2 Avaliação através do APACHE II se for UTI Adulto, o PRISM II se UTI
Pediátrica e o PSI modificado se UTI Neonatal.
3.3 Além da equipe básica exigida pela a UTI tipo II, devem constar com:
- Um médico plantonista para cada dez pacientes, sendo que pelo menos metade
da equipe deve ter título de especialista em medicina intensiva reconhecido pela Associação
de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB);
- Enfermeiro exclusivo da unidade para cada cinco leitos por turno de trabalho;
- Fisioterapêuta exclusivo da UTI;
- Acesso a serviço de reabilitação.
3.4 Além dos requisitos exigidos para as UTI tipo II, o hospital deve possuir
condições de realizar os exames de:
- Tomografia axial computadorizada;
- Anatomia patológica;
- Estudo hemodinâmico;
- Angiografia seletiva;
- Fibrobroncoscopia;
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- Ultra-sonografia portátil.
3.5 Além dos materiais e equipamentos necessários para as UTI do tipo II, o
hospital deve contar com:
- Metade dos ventiladores do tipo microprocessado, ou um terço, no caso de UTI
neonatal;
- Monitor de pressão invasiva, um para cada cinco leitos;
- Equipamento para ventilação pulmonar não invasiva;
- Capnógrafo;
- Equipamento para fototerapia para UTI Neonatal, um para cada dois leitos;
- Marcapasso transcutâneo.
Ministro da saúde JOSÉ SERRA
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ANEXO B- Parecer ético
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