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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA CCET INSTITUTO DE QUÍMICA IQ LABORATÓRIO DE TECNOLOGIA DE TENSOATIVOS LTT APLICAÇÃO DE MICROEMULSÃO COMO COLCHÃO LAVADOR DE FLUIDO NÃO AQUOSO Daniela Venâncio Rodrigues Orientador: Prof. Dr. Alcides de Oliveira Wanderley Neto Junho 2016 Natal/RN

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE LABORATÓRIO DE TECNOLOGIA DE … · 2019-01-31 · Orientador: Prof. Dr. Alcides de Oliveira Wanderley Neto. Monografia (graduação)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA – CCET

INSTITUTO DE QUÍMICA – IQ

LABORATÓRIO DE TECNOLOGIA DE TENSOATIVOS – LTT

APLICAÇÃO DE MICROEMULSÃO COMO COLCHÃO LAVADOR DE FLUIDO

NÃO AQUOSO

Daniela Venâncio Rodrigues

Orientador: Prof. Dr. Alcides de Oliveira Wanderley Neto

Junho 2016

Natal/RN

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DANIELA VENÂNCIO RODRIGUES

APLICAÇÃO DE MICROEMULSÃO COMO COLCHÃO LAVADOR DE FLUIDO

NÃO AQUOSO

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao

curso de Química do Petróleo – Bacharelado, da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte,

como parte integrante dos requisitos necessários

para a obtenção do grau de bacharel em Química

do Petróleo.

Orientador: Prof. Dr. Alcides de Oliveira Wanderley Neto

Junho 2016

Natal/RN

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DANIELA VENÂNCIO RODRIGUES

APLICAÇÃO DE MICROEMULSÃO COMO COLCHÃO LAVADOR DE FLUIDO

NÃO AQUOSO

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao

curso de Química do Petróleo – Bacharelado, da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte,

como parte integrante dos requisitos necessários

para a obtenção do grau de bacharel em Química

do Petróleo.

Comissão Examinadora

____________________________________

Prof. Dr. Alcides de Oliveira Wanderley Neto

Orientador – UFRN

____________________________________

Prof. Dr. Júlio Cezar de Oliveira Freitas

Membro – UFRN

____________________________________

Msc. Laís Sibaldo Ribeiro

Membro – UFRN

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Catalogação da Publicação na Fonte

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Instituto de Química - IQ

Rodrigues, Daniela Venâncio.

Aplicação de microemulsão como colchão lavador de fluido não aquoso

/ Daniela Venâncio Rodrigues. - Natal, RN, 2016.

64 f: il.

Orientador: Prof. Dr. Alcides de Oliveira Wanderley Neto.

Monografia (graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte,

Centro de Ciências Exatas e da Terra, Instituto de Química.

1. Poços de petróleo - Cimentação - Monografia. 2. Poços de petróleo -

Perfuração - Monografia. 3. Poços de petróleo – Fluidos de perfuração -

Monografia. 4. Microemulsão - Monografia. 5. Tensoativos - Monografia. I.

Wanderley Neto, Alcides de Oliveira. II. Título.

RN/UFRN/BS – IQ CDU 622.257.1(02)

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AGRADECIMENTOS

À Deus por ter me dado forças para superar os momentos de dificuldade e conseguir

chegar até aqui.

À minha família, especialmente meus pais por todo carinho e apoio durante toda a

minha vida, por me darem força e acreditarem em mim.

Ao meu professor, Alcides Wanderley pela orientação nesse trabalho, pela confiança,

pelos conhecimentos transmitidos e por sempre estar disponível para tirar dúvidas e ajudar.

Ao meu namorado, Max Roger por todo carinho, apoio, paciência e ajuda durante toda

essa trajetória.

Ao meu amigo, José Jacinto Júnior por toda amizade e cumplicidade durante toda a

graduação e por sempre estar ao meu lado me apoiando e ajudando.

As minhas amigas Kássia Larissa, Angélica Albano, Priscila Costa e Hemilly Freire

pela amizade, carinho e apoio.

Ao meu amigo e companheiro de laboratório Victor Diniz por toda ajuda durante os

experimentos, pela parceria, pelos conhecimentos compartilhados, amizade e apoio.

À Laís Sibaldo por toda a ajuda durante os testes de eficiência e por sempre estar

disposta a ajudar nos momentos em que necessitei.

A todos que fazem parte do LTT pela convivência, em especial, Nathália, Andrey,

George, Jéssica, Priscilla, Bernardo e Thamyris, pela ajuda com os equipamentos e quando

precisei.

Aos amigos que ganhei durante a graduação, em especial Ramoni, Anne, Maxwell,

Gullyty, Willame, Gabriela L., Anna Paula, Gabriel e Afonso.

Ao professor Júlio Cezar por disponibilizar o laboratório de cimentos para realização

de pré-testes e pela participação na banca.

Ao LTT, LAMECO, NUPEG e a UFRN pela estrutura para desenvolvimento deste

trabalho.

Ao PRH – PB 222 pelo apoio financeiro.

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A persistência é o caminho do êxito.

Charles Chaplin

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RESUMO

Uma das etapas importantes na busca pelo petróleo é a perfuração. Durante esta etapa são

utilizados fluidos de perfuração que auxiliam na remoção dos fragmentos gerados. Quando o

fluido de perfuração é circulado pelo poço e retorna pelo espaço anular forma uma película

fina de baixa permeabilidade denominada de reboco. Na etapa de cimentação é necessária a

retirada do reboco e do fluido de perfuração para garantir o sucesso da operação, onde para

isso são utilizados fluidos especiais, denominados colchões lavadores e espaçadores. Dessa

forma, este trabalho tem como objetivo a obtenção de um colchão lavador que seja capaz de

solubilizar o reboco formado na parede do poço para melhorar a aderência do cimento na

superfície da rocha através do estudo do comportamento de tensoativos iônicos e não-iônicos

na presença de sais. Foram estudados três tensoativos, um aniônico (SDS), um catiônico

(DAC) e um não-iônico (Ultrol L100) em diferentes fases aquosas, determinando-se suas

regiões de microemulsão. A caracterização desses sistemas foi realizada através do estudo

reológico, medidas de tensão superficial e diâmetro de gotícula. Foi realizado também um

teste de eficiência de remoção do colchão lavador desenvolvido através do método M12

contido no PROCELAB. Os resultados mostraram que o tensoativo que apresentou o melhor

comportamento foi o DAC, que ao ser caracterizado pelo estudo reológico, tensão superficial

e diâmetro de gotícula, apresentou resultados favoráveis para sua aplicação como colchão

lavador. O teste de eficiência de remoção evidenciou que o colchão lavador desenvolvido é

bastante eficiente para a remoção do reboco formado por fluido de perfuração a base de óleo,

chegando a 100% de eficiência.

Palavras-chave: Perfuração, Fluido de perfuração, Reboco, Colchão Lavador, Tensoativos.

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ABSTRACT

One of the most important steps in the search for oil is drilling process. During this step are

uses drilling fluids to assist the removal of the generated fragments. When the drilling fluid is

circulated through the well and returns by the annular space, formed a thin film with low

permeability called filter cake. In the cementation step the removal of the filter cake and the

drilling fluid is required to ensure the success of the operation, where are employed special

fluids for this, denominated mattress washer and spacers. This way, this study aims to obtain

a mattress washer that can solubilize the filter cake formed in the shaft wall to improve the

adhesion of the cement in the rock surface by studying the behavior of anionic and nonionic

surfactants, in the presence of salts. Were studied three surfactants, an anionic (SDS), a

cationic (DAC) and a nonionic (Ultrol L100) in different aqueous phases, determining their

microemulsion regions. The characterization of the systems was performed using the

rheological study and measures of surface tension and droplet diameter. It was also carried

out a test for the removal efficiency from the mattress washer developed by M12 method,

contained in PROCELAB. The results showed that the surfactant who showed the best

performance was DAC, that when was characterized by rheological study, surface tension

and droplet diameter, presented favorable results for their application as mattress washer.

The removal efficiency test showed that the mattress washer developed is quite efficient in the

removal from the oil based drilling fluid, getting efficiency values of 100%.

Keywords: Drilling process, Drilling fluids, Mattress washer, Filter cake, Surfactant.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Esquema da formação do reboco interno e externo............................................. 21

Figura 2 - Estrutura de um tensoativo.................................................................................. 24

Figura 3 - Representação da classificação dos tensoativos.................................................. 25

Figura 4 - Representação da formação dos agregados micelares......................................... 26

Figura 5 - Representação da estrutura das micelas diretas e inversas.................................. 27

Figura 6 - Representação da estrutura da micela camada bicontínua................................... 27

Figura 7 - Classificação dos equilíbrios de Winsor.............................................................. 29

Figura 8 - Fluxograma da síntese do DAC......................................................................... 31

Figura 9 - Representação de um diagrama pseudoternário.................................................. 33

Figura 10 - Equipamento Haake Mars................................................................................... 33

Figura 11 - Representação do funcionamento do tensiômetro.............................................. 34

Figura 12 - Equipamento Zeta Plus....................................................................................... 35

Figura 13 - Esquema da janela de visualização...................................................................... 36

Figura 14 - Estrutura do SDS................................................................................................. 38

Figura 15 - Diagrama pseudoternário do SDS em água destilada......................................... 39

Figura 16 - Diagrama pseudoternário do SDS em NaCl 0,1 mol/L....................................... 39

Figura 17 - Diagrama pseudoternário do SDS em CaCl2 0,1 mol/L..................................... 40

Figura 18 - Diagrama pseudoternário do SDS em NaCl 0,5 mol/L....................................... 40

Figura 19 - Estrutura do Ultrol L100..................................................................................... 41

Figura 20 - Diagrama pseudoternário do Ultrol L100 em água destilada............................. 41

Figura 21 - Diagrama pseudoternário do Ultrol L100 em NaCl 0,1 mol/L........................... 42

Figura 22 - Diagrama pseudoternário do Ultrol L100 em NaCl 0,5 mol/L........................... 42

Figura 23 - Diagrama pseudoternário do Ultrol L100 em CaCl2 0,1 mol/L......................... 43

Figura 24 - Diagrama pseudoternário do Ultrol L100 em CaCl2 0,5 mol/L......................... 43

Figura 25 - Estrutura do DAC.............................................................................................. 44

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Figura 26 - Diagrama pseudoternário do DAC em água destilada....................................... 44

Figura 27 - Diagrama pseudoternário do DAC em NaCl 0,1 mol/L.................................... 45

Figura 28 - Diagrama pseudoternário do DAC em CaCl2 0,1 mol/L.................................... 45

Figura 29 - Diagrama pseudoternário do DAC em NaCl 0,5 mol/L..................................... 46

Figura 30 - Diagrama pseudoternário do DAC em CaCl2 0,5 mol/L.................................... 46

Figura 31 - Pontos selecionados do diagrama pseudoternário do DAC em NaCl 0,1

mol/L.................................................................................................................... 48

Figura 32 - Comportamento reológico dos sistemas estudados............................................. 49

Figura 33 - Viscosidade dos sistemas estudados.................................................................... 51

Figura 34 - Pontos utilizados no teste de eficiência de remoção........................................... 56

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Exemplos de aplicação industrial dos tensoativos............................................. 24

Tabela 2 - Componentes para a formulação dos sistemas microemulsionados.................. 32

Tabela 3 - Composição dos pontos escolhidos do sistema DAC em NaCl 0,1 mol/L........ 48

Tabela 4 - Viscosidade aparente para os sistemas estudados (ɣ = 600 s-1

)......................... 50

Tabela 5 - Valores de tensão superficial para o sistema DAC em NaCl 0,1 mol/L............ 52

Tabela 6 - Valores de diâmetro de gotícula para o sistema DAC em NaCl 0,1 mol/L....... 54

Tabela 7 - Quantidade de quadrados limpos e eficiência de remoção dos pontos

selecionados........................................................................................................ 57

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ɣ Taxa de cisalhamento

°C Graus Celsius

A/O Água em óleo

Alimpa Área limpa

API American Petroleum Institute

C/T Razão cotensoativo/tensoativo

CaCl2 Cloreto de cálcio

cm Centímetros

cm2 Centímetros ao quadrado

CMC Concentração Micelar Crítica

DAC Cloreto de dodecilamônio

DLS Espalhamento Dinâmico de Luz

dyn/cm Dinas por centímetros

FA Fase aquosa

FO Fase oleosa

KCl Cloreto de potássio

LTT Laboratório de Tecnologia de Tensoativos

ME Microemulsão

mL Mililitros

mol/L Mol por litro

NaCl Cloreto de sódio

nm Nanômetro

O/A Óleo em água

Pa Pascal

Pa.s Pascal por segundo

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ppm Partes por milhão

PROCELAB Procedimentos e Métodos de Laboratório destinados à Cimentação de

Poços Petrolíferos

s-1

Segundos a menos um

SDS Dodecil sulfato de sódio

WI Winsor I

WII Winsor II

WIII Winsor III

WIV Winsor IV

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 15

2 OBJETIVOS ................................................................................................................ 17

2.1 OBJETIVO GERAL ...................................................................................................... 17

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................................ 17

3 REFERENCIAL TEÓRICO ...................................................................................... 18

3.1 FLUIDOS DE PERFURAÇÃO .................................................................................... 18

3.1.1 Classificação dos fluidos de perfuração ..................................................................... 19

3.2 FORMAÇÃO DO REBOCO ........................................................................................ 21

3.3 ADERÊNCIA DO CIMENTO ...................................................................................... 22

3.4 COLCHÃO LAVADOR ............................................................................................... 23

3.5 TENSOATIVOS ............................................................................................................ 23

3.5.1 Classificação dos tensoativos ...................................................................................... 24

3.5.1.1 Tensoativos iônicos ...................................................................................................... 25

3.5.1.2 Tensoativos não-iônicos ............................................................................................... 26

3.5.2 Micelização ................................................................................................................... 26

3.6 MICROEMULSÃO ....................................................................................................... 27

3.6.1 Classificação de Winsor .............................................................................................. 28

4. METODOLOGIA ........................................................................................................ 30

4.1 MATERIAIS E REAGENTES ...................................................................................... 30

4.2 METODOLOGIA EXPERIMENTAL .......................................................................... 30

4.2.1 Síntese do cloreto de dodecilamônio (DAC) .............................................................. 30

4.2.2 Determinação da região de microemulsão ................................................................ 32

4.2.3 Caracterizações dos sistemas microemulsionados .................................................... 33

4.2.3.1 Estudo reológico ........................................................................................................... 33

4.2.3.2 Tensão superficial ......................................................................................................... 34

4.2.3.3 Diâmetro de gotícula ..................................................................................................... 35

4.2.4 Teste de eficiência de remoção do colchão lavador .................................................. 36

4.2.4.1 Teste de eficiência de remoção utilizando água e querosene ....................................... 37

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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................ 38

5.1 ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DOS TENSOATIVOS .................................... 38

5.1.1 Análise do comportamento do SDS ............................................................................ 38

5.1.2 Análise do comportamento do Ultrol L100 ............................................................... 41

5.1.3 Análise do comportamento do DAC .......................................................................... 44

5.2 ESCOLHA DO TENSOATIVO .................................................................................... 47

5.3 CARACTERIZAÇÕES ................................................................................................. 49

5.3.1 Estudo reológico ........................................................................................................... 49

5.3.2 Tensão superficial ........................................................................................................ 51

5.3.2.1 Influência da razão C/T e FA ....................................................................................... 53

5.3.2.2 Influência da razão C/T e FO ....................................................................................... 53

5.3.2.3 Influência de FA e FO .................................................................................................. 53

5.3.3 Diâmetro de gotícula ................................................................................................... 53

5.3.3.1 Influência da razão C/T e FA ....................................................................................... 55

5.3.3.2 Influência da razão C/T e FO ....................................................................................... 55

5.3.3.3 Influência de FA e FO .................................................................................................. 55

5.4 CAPACIDADE DE EFICIÊNCIA DE REMOÇÃO DO COLCHÃO LAVADOR ..... 56

5.4.1 Capacidade da eficiência de remoção da água e do querosene ............................... 58

6. CONCLUSÃO .............................................................................................................. 59

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 60

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1 INTRODUÇÃO

Com o passar dos anos a busca frequente por petróleo se tornou cada vez mais

crescente, o que motiva o avanço de pesquisas nessa área a fim de desenvolver

ferramentas que possibilitem uma exploração, perfuração e produção mais rápida,

eficiente e com menores custos.

Uma das etapas utilizadas nessa busca pelo petróleo é a perfuração. Esse

processo consiste em um conjunto de etapas que visam atravessar as formações

geológicas em busca dos hidrocarbonetos presentes (ARANHA, et al, 2015). Durante

esse processo as rochas perfuradas geram fragmentos que precisam ser retirados do

poço para o prosseguimento da operação, para isso são utilizados os fluidos de

perfuração os quais carreiam os fragmentos até a superfície.

O fluido de perfuração é injetado pela coluna de perfuração e retorna pelo

espaço anular formado entre a coluna e a parede do poço. O contato direto desse fluido

com a formação rochosa cria uma película de baixa permeabilidade, denominada de

reboco. Esse reboco é formado pela deposição dos sólidos presentes no fluido quando a

fase contínua penetra nos poros da rocha (FARIAS et al., 2007).

A presença do reboco é importante para consolidar a parede do poço e dar

estabilidade a formação. No entanto, após a perfuração ser concluída é colocado o

revestimento e o espaço entre o tubo de revestimento e o poço será cimentado. Para se

obter uma boa cimentação é necessário garantir que o fluido de perfuração e o reboco

tenham sidos removidos, para isso são injetados fluidos complementares que auxiliam

na limpeza da parede do poço, sendo estes denominados de colchões lavadores e

espaçadores (ALBUQUERQUE e LEAL, 2009).

O uso da tecnologia de tensoativos tem sido crescente nos processos de remoção

do reboco formado por fluidos a base de óleo. Os tensoativos são substâncias naturais

ou sintéticas que possuem como característica uma dupla polaridade, possuindo assim

uma região polar, com afinidade pela água, e uma região apolar, com afinidade pelo

óleo (MITTAL, 1979).

Recentemente também estão sendo desenvolvidos trabalhos envolvendo sistemas

microemulsionados para a utilização em colchões lavadores que objetivam retirar o

reboco formado, devido a capacidade das microemulsões de solubilizarem substâncias

que possuem baixa solubilidade.

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17

Dessa forma, esse trabalho trata da utilização de tensoativos e sistemas

microemulsionados para a formulação de um fluido, denominado colchão lavador, que

consiga remover o reboco formado na parede do poço, e consequentemente, melhorar a

aderência do cimento na formação.

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2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Este trabalho objetiva obter um colchão lavador que seja capaz de solubilizar o

reboco formado na parede do poço para melhorar a aderência do cimento na superfície

da rocha através do estudo do comportamento de tensoativos iônicos e não-iônicos na

presença de sais.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Obter sistemas microemulsionados com a maior região de microemulsão na

presença de água e dos sais NaCl e CaCl2 em diferentes concentrações.

Avaliar qual tensoativo apresenta o melhor desempenho nas diferentes fases

aquosas.

Caracterizar físico-quimicamente os sistemas microemulsionados obtidos com o

tensoativo que apresentou o melhor desempenho através do estudo reológico,

tensão superficial e diâmetro de gotícula.

Analisar a eficiência de remoção do reboco do colchão lavador desenvolvido

através do teste M12, contido no PROCELAB (Procedimentos e Métodos de

Laboratório destinados à Cimentação de Poços Petrolíferos).

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3 REFERENCIAL TEÓRICO

Nesse tópico serão abordados conceitos e temas fundamentais para o

entendimento e desenvolvimento do presente trabalho.

3.1 FLUIDOS DE PERFURAÇÃO

De acordo com o American Petroleum Institute (API) fluido de perfuração é

definido como um fluido circulante que é utilizado na perfuração rotativa para realizar

as funções requeridas pela perfuração (FINK, 2012).

Do ponto de vista físico, os fluidos de perfuração possuem um comportamento

não-newtoniano, ou seja, a relação entre a taxa de cisalhamento e a taxa de deformação

não é constante (MACHADO, 2002). A utilização desses fluidos é de fundamental

importância para assegurar que o processo seja seguro, com maior eficiência e de rápida

execução.

Os fluidos de perfuração devem apresentar algumas características específicas

que facilitam a perfuração, dentre elas pode-se citar (THOMAS et al., 2001):

Ser estável quimicamente;

Estabilizar as paredes do poço, mecânica e quimicamente;

Facilitar a separação dos cascalhos na superfície;

Manter os sólidos em suspensão quando estiver em repouso;

Ser inerte em relação a danos às rochas produtoras;

Aceitar qualquer tratamento, físico e químico;

Ser bombeável;

Apresentar baixo grau de corrosão;

Facilitar as interpretações geológicas do material retirado do poço e

Apresentar custo compatível com a operação.

Além das características citadas, os fluidos de perfuração devem desempenhar

algumas funções importantes para o processo, tais como (DARLEY e GRAY, 1988):

Transportar os detritos de perfuração e permitir sua separação na

superfície;

Resfriar e limpar a broca;

Manter a estabilidade do poço;

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Prevenir o escoamento do fluido para o interior das formações;

Formar um filme de baixa permeabilidade (reboco) nas paredes do poço e

Auxiliar as avaliações sobre os detritos e as formações perfuradas.

3.1.1 Classificação dos fluidos de perfuração

De uma maneira geral os fluidos de perfuração podem ser classificados em três

tipos, fluidos a base de água, fluidos a base de óleo e fluidos a base de ar (DARDIR et

al., 2016).

a) Fluido à base de água

Segundo Caenn e Chillingar (1996), os fluidos à base de água são utilizados na

maioria das operações de perfuração em todo o mundo. Este tipo de fluido tem a água

como sua fase contínua, podendo conter várias substâncias dissolvidas, tais como:

álcalis, sais, tensoativos, polímeros orgânicos, gotas de óleo emulsionado, além de

várias substâncias insolúveis, por exemplo, barita, argila e cascalhos em suspensão

(FINK, 2012).

O fluido a base de água é considerado o melhor fluido de perfuração em termos

ambientais se comparado ao fluido a base de óleo. Este tipo de fluido possui como

componente principal a bentonita, a qual possui a capacidade de formar dispersões

viscoelásticas e tixotrópicas, estas propriedades permitem o carreamento dos cascalhos

gerados pela ação da broca até a superfície através do fluido de perfuração, além de

manter os componentes dos fluidos em suspensão durante a paralisação da perfuração

(DARDIR, 2016).

Os fluidos à base de água, por serem constituídos em sua maioria por água,

possuem um custo de baixo a moderado, já que a água pode ser facilmente encontrada e

podendo ser utilizada a água doce ou salgada (perfuração onshore ou offshore), sendo

esta uma vantagem da utilização deste tipo de fluido (BARRET e EUGENE, 2005).

b) Fluido à base de óleo

Este tipo de fluido tem como fase continua o óleo, sendo geralmente constituído

por hidrocarbonetos líquidos, além da presença de pequenas gotículas de água ou

solução aquosa. Por sempre ter a presença de água, o mesmo deve conter agentes

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21

emulsificantes para a água, por exemplo, agentes dispersantes e de suspensão, além de

barita podem ser adicionado (FINK, 2012).

Os fluidos à base de óleo são utilizados em situações especiais, tais como altas

temperaturas e pressões, formações geológicas hidratáveis, elevadas profundidades e em

formações geológicas salinas (BURKE e VEIL, 1995).

Segundo Duarte (2004) um dos grandes problemas dos fluidos à base de óleo é o

seu descarte no meio ambiente, isso porque sua composição é rica em hidrocarbonetos e

óleos minerais, onde estes compostos tendem a persistir por muitos anos nos meios

marinhos. Além dos problemas ambientais, o fluido à base de óleo possui um custo

mais elevado em comparação ao fluido à base de água, o que faz com que os fluidos à

base de água sejam preferíveis em casos em que a formação aceita a água como fase

dispersante do fluido, ocorrendo assim uma substituição do fluido à base de óleo pelo

fluido à base de água (MELO, 2008).

De acordo com Darley e Gray (1988), os fluidos à base óleo apresentam algumas

vantagens em relação ao seu desempenho em comparação com os fluidos à base de

água, tais como:

Baixa compatibilidade com as formações reativas (sensíveis à água);

Maior estabilidade térmica e estrutural (para perfuração de poços

profundos e com altas temperaturas);

Melhor capacidade de lubrificação da broca da coluna de perfuração e

Menor taxa de corrosão.

c) Fluido à base de ar ou gás

Esse tipo de fluido é constituído por um fluxo de ar ou gás natural, o qual é

injetado no poço a alta velocidade (LUMMUS e AZAR, 1986; DARLEY e GRAY,

1988). A perfuração com ar possui algumas limitações, por exemplo, aplicação em

formações que não produzem grandes quantidades de água e uma limitada tolerância a

sais (FINK, 2012).

Em zonas com perdas de circulação severas e formações produtoras com

pressões muito baixa ou com grande susceptibilidade a danos é recomendado à

utilização desse tipo de fluido que possui baixa densidade (THOMAS et al., 2001). Uma

vantagem desse tipo de fluido em relação aos fluidos líquidos é sua capacidade de

aumentar a taxa de penetração (AMOCO, 1994).

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3.2 FORMAÇÃO DO REBOCO

Os fluidos de perfuração, durante a sua etapa de aplicação, são bombeados

através da coluna de perfuração até o fundo do poço, retornando pelo espaço anular

formado entre a coluna e a parede do poço (SOUZA et al., 2003). O diferencial de

pressão exercido entre o fluido de perfuração e a formação faz com que os sólidos

presentes no fluido sejam pressionados contra a superfície das paredes das camadas

perfuradas. Esse diferencial de pressão origina um processo de filtração, denominado de

invasão, constando de duas etapas: a invasão do filtrado e a retenção das partículas

sólidas, material adensante, restos de cascalhos, que se depositam na parede, formando

o reboco (NERY e MACARI, 2005), sendo este constituído por um reboco interno e um

reboco externo. A Figura 1 mostra um esquema da formação do reboco.

Figura 1 – Esquema da formação do reboco interno e externo

Fonte: KAMEDA, 2007

O reboco interno é formado pelas porções das partículas sólidas presentes no

fluido de perfuração que possuem tamanho menor do que os poros da formação, essas

partículas penetram na rocha durante a perda do fluido tamponando, rapidamente, a

região ao seu redor. Já o reboco externo é formado pelas partículas maiores que

acumulam-se na parede do poço (FERRAZ, 2014).

Caso o reboco não seja formado adequadamente (falta de controle da sua

espessura, por exemplo) pode gerar alguns problemas durante a perfuração, tais como

invasões excessivas de filtrado nas formações geológicas, desmoronamento de

formações hidratáveis, redução do diâmetro do poço, danos às formações aquíferas e

avaliações equivocadas das formações investigadas (PEREIRA, 2003).

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Apesar dos possíveis problemas causados pelo reboco, é essencial a sua presença

na perfuração, pois sua formação de forma controlada contribui para manter a

estabilidade dos poços e reduz o dano à formação (SOUZA et al., 2003).

A remoção do reboco formado nas paredes do poço é importante no momento de

se colocar o poço em operação, para que ocorra o escoamento do petróleo. Onde uma

inadequada remoção do reboco diminui a produtividade do poço (HANSSEN e JIANG,

1999; NASR-EL-DIN et al., 2006, 2007; ALOTAIBI et al.,2007).

3.3 ADERÊNCIA DO CIMENTO

Após a descida de uma coluna de revestimento o espaço anular formado entre o

tubo de revestimento e a parede do poço é preenchido com cimento, a fim de fixar a

tubulação, evitar que haja migração de fluidos entre as zonas permeáveis atravessadas

pelo poço, vedar os espaços formados, proteger contra processos corrosivos e outros

problemas que possam vir a comprometer a qualidade do poço (FREITAS, 2007;

NÓBREGA et al, 2010).

A injeção do cimento no espaço anular do poço ocorre através do bombeio da

pasta de cimento, que passa geralmente por dentro do revestimento. Essa operação é

denominada cimentação primária (ROCHA, 2010). Na cimentação primária, é esperado

que após a pega, a pasta de cimento gere uma aderência mecânica ao revestimento e

isolamento das formações, assim como uma proteção contra a corrosão no revestimento

e cargas dinâmicas decorrentes de operação no seu interior (PAIVA, 2013).

Portanto, a aderência do cimento no revestimento é um fator importante que

pode contribuir para o controle de problemas que possam ocorrer no poço, sendo um

dos mecanismos que mais contribui para essa situação, visto que uma má vedação do

poço, ou seja, uma má aderência da pasta de cimento, pode gerar influxo de fluidos, por

exemplo (FREITAS, 2007).

Como uma forma de limpar a parede do poço e melhorar a aderência da pasta de

cimento são utilizados os colchões lavadores que tem como objetivos remover o reboco

formado, proteger o cimento de possíveis contaminações por aditivos e preparar a

parede do poço para uma melhor aderência do cimento (ALBUQUERQUE e LEAL,

2009).

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3.4 COLCHÃO LAVADOR

Segundo Campos (2001) denomina-se colchão lavador o fluido que é deslocado

à frente da pasta de cimento durante a operação de cimentação, tendo como função

remover o fluido de perfuração e melhorar a aderência cimento-formação e cimento-

revestimento.

Os colchões lavadores são constituídos à base de água ou óleo, contendo

tensoativos e dispersantes, possuindo função predominantemente química e sendo

planejados para afinar e dispersar o fluido de perfuração (PINHEIRO, 2013).

Na etapa de cimentação, apenas o colchão lavador apresenta comportamento

newtoniano. Todos os demais fluidos, como os fluidos de perfuração, colchão espaçador

e pasta de cimento, apresentam comportamento não newtoniano, ou seja, suas

viscosidades variam em função da taxa de deformação (ALBUQUERQUE e LEAL,

2009).

Aranha et al. (2015) estudaram a aplicação de colchão lavador à base de

tensoativos e óleo vegetal para a remoção de fluido de perfuração não aquoso. Esse

estudo tinha como finalidade remover o reboco formado por fluido de perfuração não

aquoso e, consequentemente melhorar a aderência dos sistemas cimento-formação e

cimento-revestimento. Os colchões lavadores foram formulados com óleo vegetal,

solução de tensoativo e fase aquosa, sendo utilizados dois tipos de tensoativos, um

aniônico e um não-iônico, onde a partir disso foram realizados testes de eficiência de

remoção e estudo reológico. Os testes de eficiência mostraram que o colchão lavador a

base de tensoativo aniônico foi o mais eficiente com eficiência de remoção de 98,48%

quando na proporção de 80/120 (80 mL de tensoativo e 120 mL de óleo vegetal).

3.5 TENSOATIVOS

Os tensoativos são moléculas anfifílicas que possuem em sua estrutura duas

regiões de polaridades diferentes, uma polar (cabeça polar) a qual tem afinidade por

água ou solventes polares, e outra apolar (cauda apolar) a qual tem afinidade por

solventes orgânicos ou apolares (PIRES, 2002). A Figura 2 representa a estrutura de

uma molécula de tensoativo:

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Figura 2 – Estrutura de um tensoativo

Fonte: Autor

Devido sua estrutura e propriedades os tensoativos tem a capacidade de reduzir a

tensão superficial e interfacial dos líquidos onde se encontram (VALE, 2009). Podendo

se adsorver nas interfaces líquido-líquido, líquido-gás e sólido-líquido (CURBELO,

2006).

Os tensoativos possuem uma gama de aplicação industrial, como pode ser

observado na Tabela 1 abaixo:

Tabela 1 – Exemplos de aplicação industrial dos tensoativos

Aplicação dos tensoativos

Emulsificante e desemulsificante

Molhante

Solubilizantes

Anti-espumante

Fonte: Vale, 2009

Seu principal objetivo é promover uma conciliação entre compostos que não

possuem afinidade, através da alteração da tensão superficial (NASCIMENTO, 2009).

Tensoativos ou surfactantes possuem a capacidade de modificar algumas

propriedades reacionais que promovem, por consequência, uma melhoria da

sensibilidade e/ou seletividade do sistema, tendo dessa forma uma grande importância

industrial (BARROS NETO, 1996). Em virtude disso, os tensoativos conseguem

solubilizar espécies que possuem baixa solubilidade (PELIZZETTI e PRAMAURO,

1985).

3.5.1 Classificação dos tensoativos

Os tensoativos são classificados de acordo com a presença ou ausência de cargas

na sua porção hidrofílica. Sendo dessa forma, classificados em iônicos e não-iônicos. A

Figura 3 mostra a representação dos tensoativos iônicos e não-iônicos.

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Figura 3 – Representação da classificação dos tensoativos

Fonte: SOUZA, 2013

3.5.1.1 Tensoativos iônicos

Os tensoativos iônicos são caracterizados por formarem íons quando em solução

aquosa, sendo classificados de acordo com o tipo de carga presente. Dessa forma, esses

tensoativos podem ser classificados em:

a) Tensoativos catiônicos: São tensoativos que se ionizam formando cargas

positivas quando estão em solução aquosa. Sendo os principais exemplos desse

grupo os sais quaternários de amônio (SILVA, 2006).

b) Tensoativos aniônicos: São tensoativos que se ionizam formando cargas

negativas quando estão em solução aquosa. Alguns exemplos comuns desse

grupo são os sabões, os amino-compostos, e os compostos sulfatados,

sulfonados e fosfatados (NASCIMENTO, 2009).

c) Tensoativos anfóteros: São tensoativos caracterizados por possuírem na mesma

molécula grupos positivos e negativos, apresentando assim um duplo caráter

iônico. Quando estão em solução aquosa esses compostos podem adquirir

caráter catiônico ou aniônico, dependendo do pH da solução (NASCIMENTO,

2009). Geralmente em pH ácido atuam como tensoativos catiônicos, enquanto

que em pH alcalino atuam como tensoativos aniônicos (SILVA, 2006).

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3.5.1.2 Tensoativos não-iônicos

Os tensoativos não-iônicos são caracterizados por não se ionizarem em solução

aquosa, não apresentando dessa forma cargas. A solubilização desse tipo de tensoativo

se dá em função da presença de grupos funcionais presentes em sua estrutura, os quais

possuem grande afinidade por água, como por exemplo, o óxido de etileno (SILVA,

2006).

3.5.2 Micelização

Os principais usos dos tensoativos vem sendo relacionado com a formação das

micelas, que são ambientes organizados (WEEST e HARWELL, 1992). As micelas são

agregados moleculares, de tamanho coloidal, em equilíbrio com as moléculas a partir

das quais são formadas (DELNUNZLO, 1990).

O processo de micelização ocorre a partir de uma concentração denominada de

concentração micelar crítica (CMC), sendo essa a concentração mínima necessária de

tensoativo para que ocorra a formação das micelas (NASCIMENTO, 2009). Abaixo da

CMC o tensoativo se apresenta predominantemente na forma de monômeros, enquanto

que acima, porém próxima a CMC existe um equilíbrio dinâmico entre monômeros e

micelas (Figura 4) (WEEST e HARWELL, 1992).

Figura 4 – Representação da formação dos agregados micelares

Fonte: LOPES, 2003

As micelas formadas podem ser dos tipos micelas diretas e micelas inversas

(Figura 5). As micelas diretas são estruturas formadas na presença de solventes polares,

onde as moléculas de tensoativo se organizam de modo que sua cabeça polar fica em

contato com o meio polar, enquanto que a sua cauda apolar fica voltada para dentro do

agregado evitando o contado com o solvente. Já as micelas inversas são formadas na

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presença de solventes apolares, onde as caudas hidrofóbicas ficam em contato com o

solvente apolar e a cabeça hidrofílica fica voltada para dentro do agregado (SOARES,

2012).

Figura 5 – Representação da estrutura das micelas diretas e inversas

Fonte: NÓBREGA, 2003

Existem ainda as micelas formadas por quantidades aproximadamente iguais de

água e de óleo, denominadas de camada bicontínua (Figura 6). Este tipo de micela é

constituída por camadas intercaladas de água e de óleo, onde o tensoativo age separando

essas camadas e formando um caminho termodinamicamente estável (MOURA, 2001).

Figura 6 – Representação da estrutura da micela camada bicontínua

Fonte: LASIC, 1998

3.6 MICROEMULSÃO

Segundo Robb (1982), as microemulsões são sistemas dispersos,

termodinamicamente estáveis, transparentes ou translúcidos, monofásicos, formados a

partir de uma aparente solubilização espontânea de dois líquidos, normalmente

imiscíveis, na presença de tensoativo.

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Suas principais características estão relacionadas com sua grande estabilidade,

baixa tensão interfacial e seu alto poder de solubilização de substâncias sejam elas

aquosas ou oleosas (LOPES, 2003).

Para formar uma microemulsão geralmente combina-se de três a cinco

componentes: óleo, água, tensoativo, cotensoativo e eletrólito (ABOOFAZELI et al.,

1993; CONSTANTINIDES et al., 1994; HO et al., 1996; ROSANO, 1974)

Da mesma forma que as emulsões, as microemulsões podem ser do tipo óleo em

água (O/A), ou água em óleo (A/O), existindo ainda as bincontínuas. As microemulsões

O/A são formadas por uma menor quantidade de óleo e um excesso de água, possuindo

uma estrutura semelhante às micelas diretas, ricas em água. Já as microemulsões A/O

são formadas por uma menor quantidade de água e um excesso de óleo, possuindo uma

estrutura semelhante às micelas inversas, ricas em óleo. E as bicontínuas são formadas

por quantidades aproximadamente iguais de óleo e água (SOARES, 2012).

3.6.1 Classificação de Winsor

Winsor (1948) propôs uma classificação para os diferentes equilíbrios existentes

entre a microemulsão e as fases aquosas e oleosas que formam os sistemas multifásicos.

De acordo com esses equilíbrios foram estabelecidos quatro sistemas:

Winsor I (WI): Sistema formado pelo equilíbrio entre a fase microemulsionada e

uma fase oleosa em excesso;

Winsor II (WII): Sistema formado pelo equilíbrio entre a fase microemulsionada

e uma fase aquosa em excesso;

Winsor III (WIII): Sistema formado por um equilíbrio trifásico, onde a fase

microemulsionada está em equilíbrio com a fase aquosa e oleosa em excesso;

Winsor IV (WIV): Sistema monofásico caracterizado por uma única fase de

microemulsão, em escala macroscópica.

A Figura 7 mostra um esquema da classificação de Winsor:

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Figura 7 – Classificação dos equilíbrios de Winsor

Fonte: Autor

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4 METODOLOGIA

Neste capítulo serão apresentados os materiais, reagentes e as metodologias

utilizadas.

4.1 MATERIAIS E REAGENTES

Vidrarias em geral, agitador magnético (Fisatom), barra magnética, espátula,

bomba a vácuo (exipump), papel de filtro, banho termostático, balança analítica (240 A,

Precisa), Tensiômetro (SensaDyne), Zeta Plus (BIC), Reômetro Haake Mars (Thermo

Cientific), Viscosímetro (Fann), Dodecilamina 98% (Acros Organic), solução de ácido

clorídrico 30% em volume, Etanol P.A (Vetec), solução de NaCl 0,1 mol/L e 0,5 mol/L,

solução de CaCl2 0,1 mol/L e 0,5 mol/L, água destilada, Querosene (Líder), n-butanol

P.A (Vetec), fluido de perfuração não aquoso (parafínico).

4.2 METODOLOGIA EXPERIMENTAL

Para realização dos experimentos foram utilizados três tensoativos, um aniônico,

um não-iônico (ambos tensoativos comerciais) e um catiônico (tensoativo sintético).

Dessa forma foi necessário realizar a síntese do tensoativo catiônico (cloreto de

dodecilamônio).

4.2.1 Síntese do cloreto de dodecilamônio (DAC)

O tensoativo foi sintetizado no Laboratório de Tecnologia de Tensoativos (LTT),

o sal de amônio foi obtido reagindo-se ácido clorídrico com dodecilamina, de acordo

com a equação 1.

CH3(CH2)10CH2 – NH2 + HCl → CH3(CH2)10CH2 – NH3+ Cl

- (1)

A síntese do DAC pode ser observada de uma forma simplificada na Figura 8.

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Figura 8 – Fluxograma da síntese do DAC

Fonte: Autor

O procedimento foi realizado com uma adaptação do procedimento descrito por

Wang e Olofsson (1998).

Em um erlenmeyer de 500 mL adicionou-se 16 mL de dodecilamina e 20 mL de

etanol, colocando-se o sistema em agitação, com um agitador magnético. Em seguida

com a ajuda de um suporte colocou-se um funil de separação acima do erlenmeyer e

adicionou-se uma alíquota de 300 mL de solução de ácido clorídrico 30% para que a

solução fosse gotejada no sistema. Após a adição da solução o sistema foi refrigerado

durante aproximadamente um dia.

No dia seguinte realizou-se uma filtração a vácuo, lavando-se o precipitado do

erlenmeyer com água destilada gelada. Após a filtração guardou-se o papel de filtro

contendo o precipitado para posterior recristalização.

Para a realização da recristalização, retirou-se o precipitado do papel de filtro e

solubilizou-se com etanol quente. Após isso filtrou-se a solução em um funil analítico

contendo um pouco de algodão, coletando-se a solução. Terminada a filtração a solução

foi refrigerada por aproximadamente um dia. No dia seguinte realizou-se uma nova

filtração (a vácuo), coletando-se o precipitado em um papel de filtro e guardando-o para

secar.

16 mL de dodecilamina + 20

mL de etanol

Sistema em agitação

Adição de solução de HCl 30 % em

volume Refrigeração

Filtração a vácuo

Secagem do precipitado obtido

Solubilização do precipitado com etanol quente +

filtração

Refrigeração

Filtração a vácuo

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4.2.2 Determinação da região de microemulsão

Para a determinação da região de microemulsão dos tensoativos previamente

escolhidos (SDS, Ultrol L100 e DAC) nos diagramas pseudoternários, foram realizadas

titulações mássicas baseadas na determinação dos pontos de solubilidade máxima da

matéria dos agentes ativos (cotensoativo + tensoativo) nas fases aquosa e oleosa com

uma razão C/T = 2 (DANTAS et al., 2001).

Para a formação dos sistemas microemulsionados foram utilizados os

componentes contidos na Tabela 2.

Tabela 2 – Componentes para a formulação dos sistemas microemulsionados

Tensoativos Cotensoativo Fase oleosa Fase aquosa

SDS n-butanol Querosene Água destilada

Ultrol L100 Solução de NaCl 0,1 mol/L

DAC Solução de NaCl 0,5 mol/L

Solução de CaCl2 0,1 mol/L

Solução de CaCl2 0,5 mol/L

Fonte: Autor

As soluções salinas utilizadas como fase aquosa foram formuladas no

laboratório. Para a produção da solução de NaCl 0,1 mol/L primeiro pesa-se o sal

(massa previamente calculada) e em seguida dilui-se o mesmo com água destilada num

balão volumétrico, homogeneizando a solução. O mesmo procedimento é realizado para

a produção das soluções de NaCl 0,5 mol/L, CaCl2 0,1 mol/L e CaCl2 0,5 mol/L,

mudando-se apenas a massa de sal pesada.

Realizadas as titulações mássicas, os resultados são colocados em um diagrama

pseudoternário, através do programa computacional Origin®, onde é observado o

comportamento dos tensoativos e suas regiões de microemulsão.

Os diagramas peseudoternários são diagramas de fases que auxiliam na

determinação da região de microemulsão, pois facilitam a visualização desta região. São

ditos pseudoternários por serem constituídos por quatro componentes, sendo que dois

desses componentes ocupam um dos vértices do triângulo através de uma razão

constante, geralmente utiliza-se uma razão cotensoativo/tensoativo (C/T) (VALE,

2009). Um exemplo de diagrama pseudoternário está representado na Figura 9.

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Figura 9 – Representação de um diagrama pseudoternário

Fonte: Autor

4.2.3 Caracterizações dos sistemas microemulsionados

Os sistemas microemulsionados foram caracterizados a partir do estudo

reológico, medidas de tensão superficial e diâmetro de gotícula, com o intuito de se

observar as suas propriedades. Os pontos a serem caracterizados foram escolhidos com

base nos diagramas pseudoternários do tensoativo que apresentou melhor desempenho

nas diferentes fases aquosas.

4.2.3.1 Estudo reológico

O estudo reológico foi realizado no equipamento Reômetro Haake Mars, da

Thermo Cientific (Figura 10). O funcionamento desse equipamento baseia-se na rotação

de um sensor, por medida de cisalhamento estacionário e dinâmico, imerso em um

fluido.

Figura 10 – Equipamento Haake Mars

Fonte: Autor

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Para a realização das medidas são necessário cerca de 15 mL do sistema a ser

analisado. A amostra é inserida no cilindro coaxial (Z41), e o sensor é imerso no fluido

para a aplicação da taxa de cisalhamento. Um banho termotástico é ligado ao reômetro

utilizado, com variação de temperatura possível de 0 ºC a 100 °C. Nas medidas a

temperatura utilizada foi 28,4 °C, a uma taxa de cisalhamento variando de 0 até 1000 s-

1, durante 130 segundos.

4.2.3.2 Tensão superficial

As medidas de tensão superficial dos sistemas estudados foram realizadas para

observar a adsorção do tensoativo na superfície, onde para isso utilizou-se o tensiômetro

SensaDyne (Figura 11) através do método de pressão máxima de bolha. Esse método

consiste em imergir dois capilares de diâmetros diferentes em um fluido, o qual será

analisado. Pelos capilares é aplicado um fluxo de gás inerte, geralmente nitrogênio,

formando-se bolhas nas suas extremidades. Dessa forma é medida a pressão máxima de

bolha no capilar, que será transformada em tensão superficial através do programa

computacional SensaDyne Tensiometer Software. As medidas foram realizadas a

temperatura de 25 ºC e os resultados obtidos em dyn/cm (WANDERLEY NETO, 2009;

TEIXEIRA, 2012).

Figura 11 – Representação do funcionamento do tensiômetro

Fonte: WANDERLEY NETO, 2009

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Antes de realizar as medidas de tensão superficial é necessário fazer a calibração

do equipamento, onde para isso primeiro mede-se a tensão da água (tensão alta, 72,1

dyn/cm) e a tensão do álcool etílico (tensão baixa, 22 dyn/cm), ambas a 25 ºC. Em

seguida coloca-se o fluido a ser analisado em um béquer e inicia-se a medida.

4.2.3.3 Diâmetro de gotícula

O diâmetro de gotícula é medido através do equipamento Zeta Plus (Figura 12)

pelo método de Espalhamento Dinâmico de Luz (DLS). A técnica se baseia na

incidência de um feixe de luz sobre a partícula da solução, onde ao atingir a partícula a

luz é espalhada em todas as direções sem perda ou ganho de energia. O espalhamento

dinâmico de luz detecta as flutuações da intensidade de espalhamento devido ao

movimento Browniano das partículas em solução (SOUZA, 2013).

Figura 12 – Equipamento Zeta Plus

Fonte: Autor

A análise é realizada colocando-se a amostra em uma cubeta de quartzo e

inserindo no equipamento para que seja feita a medida. As medidas foram realizadas em

5 corridas de 30 segundos cada, onde a cada corrida é medido um diâmetro de partícula

e ao final das corridas o equipamento faz uma média das medidas, resultando no

diâmetro médio para cada solução.

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4.2.4 Teste de eficiência de remoção do colchão lavador

Esse teste foi baseado no teste M12, contido no PROCELAB (Procedimentos e

Métodos de Laboratório destinados à Cimentação de Poços Petrolíferos), intitulado

“Determinação da eficiência de remoção de colchões para cimentação de poços de

petróleo” (CAMPOS, 2001).

O teste consiste em delimitar uma janela de visualização padronizada com 66

células (em cm) dispostas em 11 colunas e 6 linhas correspondendo a quadriláteros, de

área equivalente a 1 cm2

(CAMPOS, 2001). Essa janela de visualização foi desenhada

por fora do béquer de 250 mL, afastado do fundo 1 cm, como pode ser observado na

Figura 13.

Figura 13 – Esquema da janela de visualização

Fonte: Autor

Para a realização desse teste foi utilizado um fluido de perfuração não aquoso

(parafínico) devido esse tipo de fluido apresentar uma maior dificuldade de remoção.

Primeiro pega-se o fluido de perfuração e coloca-se 4 mL no béquer contendo a

janela de visualização, distribuindo ao longo dessa janela de modo a formar um filme

uniforme de reboco em toda a sua superfície, retirando-se o excesso de fluido.

Verteu-se cuidadosamente 200 mL do colchão lavador, direcionando o fluido

para o lado oposto da janela de visualização para não danificar o filme nela formado.

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Colocou-se o béquer no Viscosímetro Fann e acionou-se o mesmo com uma rotação de

300 rpm durante 20 minutos.

Ao final do teste, realiza-se a contagem dos quadrados limpos na janela de

visualização. A área de remoção do fluido de perfuração (Alimpa) é dada pelo produto do

número de quadrados limpos pela área de um quadrado. Já a eficiência de remoção do

fluido de perfuração é obtida pela razão da área limpa pela área total da janela de

visualização (66 cm2). Assim, a eficiência pode ser escrita conforme a equação 2 e

rearranjada conforme a equação 3 (ARANHA et al, 2015):

(2)

(3)

De uma forma mais simples, a eficiência de remoção em porcentagem pode ser

dada pela equação 4 (ARANHA et al, 2015):

( )

(4)

4.2.4.1 Teste de eficiência de remoção utilizando água e querosene

Foi realizado o mesmo teste de eficiência de remoção utilizando água e

querosene para fins de comparação entre os sistemas estudados, seguindo o mesmo

procedimento descrito no PROCELAB.

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39

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DOS TENSOATIVOS

Os tensoativos utilizados nesse estudo (SDS, Ultrol L100 e DAC) foram

analisados de acordo com o seu comportamento obtido nos sistemas miroemulsionados

nas diferentes fases aquosas, através dos seus diagramas pseudoternários. As soluções

salinas (fase aquosa) foram utilizadas para simular as condições no poço onde há a

presença de salinidade.

5.1.1 Análise do comportamento do SDS

O SDS (Figura 14) é um tensoativo aniônico, ou seja, possui cargas negativas

em sua estrutura, dessa forma preferindo interagir com cargas positivas, o qual possui

mais afinidade. Quando em contato com a solução salina as cargas negativas do SDS

vão se ligar as cargas positivas dos cátions da solução, ocorrendo assim uma maior

interação. Tal fato pode ser notado pela estrutura das soluções salinas, as quais possuem

o mesmo ânion e diferentes cátions, dessa forma, o que vai influenciar no

comportamento do SDS é o cátion da solução.

Figura 14 – Estrutura do SDS

Fonte: Autor

As Figuras 15, 16 e 17 mostram o comportamento do SDS em água destilada,

solução de NaCl 0,1 mol/L e CaCl2 0,1 mol/L, respectivamente, pode-se observar que

nos três casos a região de microemulsão é grande, isso se deve ao fato da baixa

salinidade no meio, no caso das soluções de NaCl 0,1 mol/L e CaCl2 0,1 mol/L e

ausência de salinidade no caso da água destilada, tendo dessa forma uma menor

quantidade de cátions livres para interagir com as cargas do tensoativo.

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40

Figura 15 – Diagrama pseudoternário do SDS em água destilada

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

1000

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Querosene

CT=2 Butanol/SDS

WIV

Água destilada

TURVO

Fonte: Autor

Figura 16 – Diagrama pseudoternário do SDS em NaCl 0,1 mol/L

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100 0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

WIV

NaCl 0,1 mol/L

CT=2 Butanol/SDS

Querosene

TURVO

Fonte: Autor

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41

Figura 17 – Diagrama pseudoternário do SDS em CaCl2 0,1 mol/L

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100 0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

QueroseneCaCl2 0,1 mol/L

CT=2 Butanol/SDS

WIV

TURVO

Fonte: Autor

Quando há um aumento na salinidade do meio a região de microemulsão

diminui, no caso do SDS em solução de NaCl 0,5 mol/L (Figura 18), isso se deve a

maior quantidade de cátions na solução que vão interagir com as cargas negativas do

tensoativo. Dessa forma podemos notar que o SDS se comporta melhor nas soluções

que apresentam menor concentração de sais, visto que com o aumento da salinidade a

região de microemulsão diminui.

Figura 18 – Diagrama pseudoternário do SDS em NaCl 0,5 mol/L

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100 0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Butanol/SDSCT=2

QueroseneNaCl 0,5 mol/L

WIV

TURVO

Fonte: Autor

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42

Já quando colocado em solução salina de CaCl2 0,5 mol/L o SDS não formou

microemulsão, isso ocorre devido a alta salinidade no meio. Essa alta salinidade gera

uma quantidade maior de cátions Ca2+

que se ligam com as cargas negativas do SDS

dificultando sua solubilização, além de formar uma “nuvem eletrônica” que dificulta a

ação do tensoativo.

5.1.2 Análise do comportamento do Ultrol L100

O Ultrol L100 é um tensoativo não-iônico de fórmula C12H25(OCH2CH2)10OH,

e por ser não-iônico sua solubilidade se deve a presença de grupos em sua estrutura já

que ele não se dissocia em água, não formando cargas. Dessa forma a solubilidade do

Ultrol L100 se deve aos grupos etoxilados presentes em sua cadeia (Figura 19), os quais

podem formar ligações de hidrogênio com a água.

Figura 19 – Estrutura do Ultrol L100

Fonte: Autor

O comportamento do Ultrol L100 em meio aquoso pode ser observado na Figura

20, onde nota-se que a região de microemulsão possui um tamanho razoavelmente

grande, devido a solubilidade desse tensoativo em água.

Figura 20 – Diagrama pseudoternário do Ultrol L100 em água destilada

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

1000

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

CT=2

QueroseneÁgua destilada

Butanol/Ultrol L100

WIV

TURVO

Fonte: Autor

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43

Ao analisar o comportamento do Ultrol L100 em presença de salinidade

observou-se que à medida que se aumenta a concentração de sais ocorre uma

diminuição da região de microemulsão, isso ocorre devido à presença de sais diminuir a

hidratação da porção hidrofílica do tensoativo.

Dessa forma, quando é adicionado ao sistema a solução de NaCl 0,1 mol/L

observa-se uma pequena diminuição da região de microemulsão (Figura 21), e quando

há um aumento da concentração da solução para 0,5 mol/L, observa-se uma redução

ainda maior da região de microemulsão (Figura 22).

Figura 21 – Diagrama pseudoternário do Ultrol L100 em NaCl 0,1 mol/L

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100 0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

CT=2

WIV

Butanol/Ultrol L100

QueroseneNaCl 0,1 mol/L

TURVO

Fonte: Autor

Figura 22 – Diagrama pseudoternáriodo Ultrol L100 em NaCl 0,5 mol/L

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

1000

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

NaCl 0,5 mol/L

Butanol/Ultrol L100CT=2

WIV

Querosene

TURVO

Fonte: Autor

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44

Um comportamento similar é observado quando o Ultrol L100 está em contato

com as soluções de CaCl2 0,1 mol/L (Figura 23) e 0,5 mol/L (Figura 24).

Figura 23– Diagrama pseudoternário do Ultrol L100 em CaCl2 0,1 mol/L

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

1000

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

CaCl2 0,1 mol/L Querosene

WIV

CT=2 Butanol/Ultrol L100

TURVO

Fonte: Autor

Figura 24 – Diagrama pseudoternário do Ultrol L100 em CaCl20,5 mol/L

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

1000

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Querosene

Butanol/Ultrol L100CT=2

WIV

CaCl2 0,5 mol/L

TURVO

Fonte: Autor

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45

5.1.3 Análise do comportamento do DAC

O DAC (Figura 25) é um tensoativo catiônico, ou seja, possui cargas positivas,

as quais tem uma maior afinidade por cargas negativas, dessa forma as cargas do DAC

vão interagir com os ânions da solução salina.

Figura 25 – Estrutura do DAC

Fonte: Autor

Analisando os diagramas pode-se notar que o DAC em água (Figura 26) e em

solução salina de NaCl 0,1 mol/L (Figura 27) possui quase a mesma região de

microemulsão, isso se deve ao fato do meio ter pouca salinidade (no caso do NaCl 0,1

mol/L) e nenhuma salinidade (no caso da água destilada), assim não dificultando a ação

do tensoativo e apresentando uma boa região de microemulsão.

Figura 26 – Diagramas pseudoternários do DAC em água destilada

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100 0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

CT=2

Água destilada Querosene

WIV

Butanol/DAC

TURVO

Fonte: Autor

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46

Figura 27 – Diagrama pseudoternários do DAC em NaCl 0,1 mol/L

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

1000

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Butanol/DACCT=2

Querosene

WIV

NaCl 0,1 mo/L

TURVO

Fonte: Autor

Já em solução de CaCl2 0,1 mol/L (Figura 28) a região de microemulsão do

DAC diminui, isso ocorre devido ter mais ânions na solução os quais vão interagir com

os cátions do tensoativo diminuindo seu poder de solubilização.

Figura 28 – Diagrama pseudoternário do DAC em CaCl2 0,1 mol/L

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

1000

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

CT=2

QueroseneCaCl2 0,1 mol/L

WIV

Butanol/DAC

TURVO

Fonte: Autor

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47

O mesmo acontece com as soluções salinas de NaCl 0,5 mol/L (Figura 29) e

CaCl2 0,5 mol/L (Figura 30) uma vez que a concentração da solução aumenta, haverá

mais salinidade no meio e mais ânions o que dificulta a solubilização do tensoativo,

diminuindo assim sua região de microemulsão.

Figura 29 – Diagrama pseudoternário do DAC em NaCl 0,5 mol/L

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

1000

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

NaCl 0,5 mol/L Querosene

CT=2 Butanol/DAC

WIV

TURVO

Fonte: Autor

Figura 30 – Diagrama pseudoternário do DAC em CaCl2 0,5 mol/L

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100 0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

WIV

CaCl2 0,5 mol/L Querosene

Butanol/DACCT=2

TURVO

Fonte: Autor

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48

5.2 ESCOLHA DO TENSOATIVO

A escolha do tensoativo foi feita a partir da análise do comportamento dos

tensoativos estudados nas diferentes fases aquosas. Ao analisar todos os diagramas

pseudoternários dos três tensoativos estudados observou-se que aquele que obteve o

melhor desempenho nas diferentes fases aquosas foi o DAC, pelo fato de apresentar as

melhores regiões de microemulsão.

Como o objetivo deste trabalho é obter um fluido lavador que consiga solubilizar

o reboco formado na parede do poço, é importante o uso de um tensoativo que apresente

grande região de microemulsão, pois assim implicará em uma melhor ação de

solubilização do tensoativo no reboco para que a pasta de cimento tenha uma melhor

aderência na parede do poço.

O uso das diferentes fases aquosas foi uma forma de avaliar como o tensoativo

se comporta em diferentes situações e como essas fases aquosas afetam o tamanho das

suas regiões de microemulsão, entretanto para a formulação do fluido lavador foi

escolhido apenas um sistema contendo o tensoativo em uma única fase aquosa. O

sistema escolhido foi o do DAC em solução de NaCl 0,1 mol/L, pelo fato do cloreto de

sódio ser bastante comum nas formulações dos fluidos de perfuração, e nesta

concentração de cloreto de sódio foi obtido uma boa região de microemulsão.

Escolhido o sistema a ser utilizado selecionou-se pontos dentro da região de

microemulsão do diagrama pseudoternário desse sistema para caracterizá-los e assim

analisar suas propriedades. Os pontos selecionados são mostrados na Figura 31:

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49

Figura 31 – Pontos selecionados do diagrama pseudoternário do DAC em NaCl 0,1 mol/L

Fonte: Autor

Os pontos escolhidos foram numerados de 1 a 15, a Tabela 3 a seguir mostra a

composição de cada um dos pontos do diagrama.

Tabela 3 – Composição dos pontos escolhidos do sistema DAC em NaCl 0,1 mol/L

Ponto Composição

% CT % FO % FA

1 80 10 10

2 70 10 20

3 70 20 10

4 60 10 30

5 60 20 20

6 60 30 10

7 50 10 40

8 50 20 30

9 50 30 20

10 50 40 10

11 40 10 50

12 40 20 40

13 40 30 30

14 40 40 20

15 40 50 10

Fonte: Autor

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50

5.3 CARACTERIZAÇÕES

Após a escolha do tensoativo foi realizada a caracterização deste sistema através

do estudo reológico, medidas de tensão superficial e diâmetro de gotícula.

5.3.1 Estudo reológico

O estudo reológico do colchão lavador utilizado é um parâmetro bastante

importante, pois sabe-se que os colchões lavadores, diferentemente dos fluidos de

perfuração e das pastas de cimento, apresentam comportamento newtoniano, ou seja, a

tensão de cisalhamento é proporcional a taxa de cisalhamento do fluido. O

comportamento reológico dos sistemas pode ser observado na Figura 32. Nota-se que os

colchões lavadores desenvolvidos a partir de microemulsões possuem comportamento

newtoniano, mostrando que estes possuem as características necessárias para sua

aplicação.

Figura 32 – Comportamento reológico dos sistemas estudados

Fonte: Autor

Outra informação que pode ser extraída do estudo reológico é a viscosidade

desse fluido lavador. Observando-se a Tabela 4 é possível perceber que o aumento no

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

4,5

5

0 100 200 300 400 500 600

Ten

são

de

cisa

lham

ento

(P

a)

Taxa de cisalhamento (1/s)

Comportamento reológico Ponto 1

Ponto 2

Ponto 3

Ponto 4

Ponto 5

Ponto 6

Ponto 7

Ponto 8

Ponto 9

Ponto 10

Ponto 11

Ponto 12

Ponto 13

Ponto 14

Ponto 15

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51

percentual da razão C/T e, consequentemente, a diminuição da quantidade de fase

aquosa ou oleosa gera um leve aumento da viscosidade, fenômeno explicado pelo

aumento na quantidade de micelas no meio contínuo, tornando as moléculas de água ou

de óleo menos livres, o que garante o aumento na viscosidade.

Tabela 4 – Viscosidade aparente para os sistemas estudados (ɣ = 600 s-1

)

Ponto Viscosidade aparente (Pa.s)

1 0,006177

2 0,007296

3 0,00508

4 0,005587

5 0,005181

6 0,004031

7 0,005451

8 0,005377

9 0,004488

10 0,004059

11 0,004954

12 0,005278

13 0,004773

14 0,004045

15 0,002854

Fonte: Autor

A Figura 33 mostra o comportamento das viscosidades dos sistemas estudados

em uma taxa de cisalhamento de 0 a 600 s-1

.

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52

Figura 33 – Viscosidade dos sistemas estudados

Fonte: Autor

Observa-se a partir da Figura 33 que os sistemas possuem comportamento de

viscosidade semelhante, isso se deve ao fato desses sistemas possuírem os mesmos

constituintes mudando apenas a proporção de cada um deles. Dependendo dessa

proporção dos constituintes a viscosidade pode ser maior ou menor, como é o caso do

aumento da viscosidade causado pelo aumento no percentual da razão C/T, mencionado

anteriormente.

5.3.2 Tensão superficial

A tensão superficial nos dá uma ideia da adsorção do tensoativo na superfície,

quanto menor essa tensão, maior é a adsorção do tensoativo, devido à facilidade de

espalhamento do líquido na superfície. A Tabela 5 mostra os resultados obtidos para o

sistema estudado.

0

0,002

0,004

0,006

0,008

0,01

0,012

0 100 200 300 400 500 600

Vis

cosi

dad

e (P

a.s)

Taxa de cisalhamento (1/s)

Viscosidade Ponto 1

Ponto 2

Ponto 3

Ponto 4

Ponto 5

Ponto 6

Ponto 7

Ponto 8

Ponto 9

Ponto 10

Ponto 11

Ponto 12

Ponto 13

Ponto 14

Ponto 15

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53

Tabela 5 – Valores de tensão superficial para o sistema DAC em NaCl 0,1 mol/L

Ponto Temperatura (°C) Tensão (Dyn/cm)

1 25,09 25,23

2 25,04 24,97

3 25,03 24,71

4 25,22 24,18

5 25,09 24,07

6 25,09 23,9

7 25 24,14

8 25,18 24,04

9 25,21 23,83

10 25,01 23,73

11 25 24,59

12 25,34 24,56

13 25,12 24,37

14 25,05 24,33

15 25,23 24,2

Fonte: Autor

A partir dos resultados obtidos observa-se que a tensão superficial dos

sistemas varia de 23,73 a 25,23 Dyn/cm, tendo assim uma pequena variação entre os

valores máximos e mínimos.

As tensões obtidas para todos os sistemas são consideradas baixas quando

comparadas a da água (72,1 Dyn/cm), o que é interessante para o objetivo do

trabalho, uma vez que quanto menor essa tensão maior será a interação do sistema

com o fluido de perfuração e, possivelmente, melhor será o processo de limpeza.

Essa baixa tensão também mostra que o sistema tem uma boa ação na superfície que

melhora o espalhamento do líquido e, consequentemente, sua molhabilidade.

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54

5.3.2.1 Influência da razão C/T e FA

Analisando os valores de tensão superficial do sistema mantendo-se a fase

oleosa constante observa-se que o aumento no percentual da razão C/T e diminuição da

fase aquosa faz com que o meio fique saturado de micelas, ocasionando um leve

aumento da tensão superficial.

5.3.2.2 Influência da razão C/T e FO

A partir dos valores de tensão superficial do sistema mantendo-se a fase aquosa

constante observa-se que à medida que aumenta o percentual da razão C/T e diminui a

fase oleosa há um leve aumento da tensão superficial, que pode ser explicado da mesma

forma como no item anterior, onde uma grande quantidade de cotensoativo/tensoativo

vai fazer com que o meio fique saturado de micelas.

5.3.2.3 Influência de FA e FO

Com os valores de tensão superficial do sistema mantendo-se o percentual da

razão C/T constante observa-se que à medida que diminui a fase aquosa e aumenta a

fase oleosa a tensão superficial diminui, isso ocorre porque a tensão superficial do

querosene é menor do que a da solução aquosa de NaCl, devido as interações existentes

nessas moléculas. No caso do NaCl este vai ter interação da água com seus íons, sendo

mais forte que as interações formadas no querosene, que são interações do tipo dipolo

induzido.

5.3.3 Diâmetro de gotícula

O diâmetro de gotícula é um parâmetro que nos fornece o tamanho das micelas

formadas na microemulsão. Os valores obtidos para o sistema estudado são mostrados

na Tabela 6:

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Tabela 6 – Valores de diâmetro de gotícula para o sistema DAC em NaCl 0,1 mol/L

Ponto Diâmetro efetivo (nm) Polidispersão

1 135,8 0,311

2 102,3 0,632

3 99,8 0,632

4 93,4 0,635

5 85,4 0,655

6 102,6 0,630

7 85,2 0,679

8 153,2 0,504

9 111,4 0,665

10 136,9 0,604

11 107,9 0,491

12 118,7 0,406

13 111,5 0,448

14 91,1 0,577

15 158,1 0,596

Fonte: Autor

Com base nos valores obtidos de diâmetro efetivo observa-se que há uma

variação do diâmetro de 85,2 até 158,1 nm, valores que estão dentro da faixa de

microemulsão segundo Damasceno et al. (2011).

Um fator importante nas medidas de diâmetro de gotícula é a polidispersão. Esse

parâmetro nos fornece informações sobre a distribuição das gotículas no sistema,

valores baixos de polidispersão indicam que as gotículas possuem tamanhos

semelhantes, sendo mais homogêneos, enquanto que valores altos indicam que as

gotículas possuem tamanhos variados, sendo mais heterogêneas.

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Analisando os valores de polidispersão obtidos para os sistemas observa-se que

estes possuem uma polidispersão de média a alta, mostrando que as gotículas do sistema

possuem diâmetros variados.

5.3.3.1 Influência da razão C/T e FA

Analisando os valores de diâmetro de gotícula obtidos para os sistemas e

mantendo-se a fase óleo constante observa-se que à medida que o percentual da razão

C/T diminui e a fase aquosa aumenta o diâmetro de gotícula diminui, exceto no ponto

11 onde há um pequeno aumento do diâmetro. Essa diminuição do diâmetro de gotícula

pode ser explicada pelo tipo de micela formada nesses pontos (micela direta). Na micela

direta as cabeças dos tensoativos ficam voltadas para fora em contato com o meio

contínuo que é a água, essas cabeças são consideradas pequenas em relação às caudas

do tensoativo, dessa forma a micela formada possui diâmetro menor que as micelas

inversas.

5.3.3.2 Influência da razão C/T e FO

A partir dos valores de diâmetro de gotícula obtidos para os sistemas e

mantendo-se a fase aquosa constante observa-se que à medida que o percentual da razão

C/T diminui e a fase oleosa aumenta o diâmetro de gotícula aumenta, exceto no ponto 1

onde o valor obtido foi maior que no ponto 3 e 6. Esse aumento no diâmetro de gotícula

pode ser explicado pelo tipo de micela formada nesses pontos (micela inversa). Nas

micelas inversas as caudas dos tensoativos ficam voltadas para fora em contato com a

fase contínua que é o óleo, essas caudas são bastante volumosas o que faz com que

essas micelas possuam um diâmetro maior do que as micelas diretas.

5.3.3.3 Influência de FA e FO

Com base nos valores de diâmetro de gotícula obtidos para os sistemas e

mantendo-se a razão C/T constante observa-se que à medida que ocorre uma mudança

do tipo de micela formada o diâmetro de gotícula varia. Por exemplo, o ponto 4 é

formado por micela direta a qual possui um diâmetro menor do que as micelas inversas,

porém possui diâmetro maior do que a das micelas do tipo camada bicontínua, que é o

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caso do ponto 5. Dessa forma, temos que do ponto 4 para o ponto 5 o diâmetro diminui,

porque passa de uma micela direta para uma micela camada bicontínua, e do ponto 5

para o ponto 6 esse diâmetro aumenta, porque passa de uma micela camada bicontínua

para uma micela inversa, a qual possui maior diâmetro.

5.4 CAPACIDADE DE EFICIÊNCIA DE REMOÇÃO DO COLCHÃO LAVADOR

Para a realização dos testes de eficiência de remoção foram escolhidos sete

pontos entre os quinze utilizados nas caracterizações, pelo fato dos sistemas

apresentarem características físico-químicas semelhantes como foi observado nos

resultados das carcterizações. Os pontos escolhidos são mostrados na Figura 34:

Figura 34 – Pontos utilizados no teste de eficiência de remoção

Fonte: Autor

Utilizando-se da equação 4 é possível obter a porcentagem de remoção do fluido

lavador nos pontos escolhidos de acordo com a quantidade de quadrados limpos na

janela de visualização.

( )

(4)

A quantidade de quadrados limpos de cada ponto e suas respectivas

porcentagens de remoção podem ser observadas na Tabela 7:

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Tabela 7 – Quantidade de quadrados limpos e eficiência de remoção dos pontos selecionados

Ponto Quantidade de

quadrados limpos

Eficiência de

remoção (%)

1 32 48,48

4 66 100

5 66 100

6 57 86,36

11 66 100

13 66 100

15 65 98,48

Fonte: Autor

Analisando os valores de eficiência de remoção dos sistemas observa-se que os

pontos que obtiveram 100% de remoção foram os pontos 4, 5, 11, e 13. Os pontos 4 e

11 são formados por micelas do tipo direta a qual não tem semelhança com o reboco

formado por fluido de perfuração não aquoso, devido este ser apolar e a micela direta

ser polar. Dessa forma não deveria haver a remoção do reboco, porém a presença de

tensoativo no meio na forma de microemulsão baixa a tensão superficial do sistema,

promovendo assim o fenômeno de molhabilidade, fazendo com que o sistema se espalhe

sobre o reboco e consiga solubilizá-lo. Uma vez removido, o reboco é incorporado na

microemulsão, tendo agora uma mistura de micelas e partículas sólidas que ficam em

suspensão.

Já os pontos 5 e 13 são formados por micelas do tipo camada bicontínua que

possuem quantidades iguais de água e de óleo, nesse sistema o meio contínuo é

razoavelmente grande o que faz com que uma parte da água e do óleo que estavam

solvatando o tensoativo consigam interagir com o reboco solubilizando-o. Da mesma

forma que ocorre nos pontos 4 e 11, o reboco é removido e incorporado na

microemulsão, formando uma mistura de tensoativo e partículas em suspensão.

Os pontos 6 e 15 não obtiveram 100% de eficiência, porém tiveram bom

percentual de remoção. Esses pontos são formados por micelas do tipo inversa, as quais

possuem maior quantidade de óleo. O querosene, que é a fase óleo do sistema, por si só

remove o reboco pelo processo simples de solubilização de semelhantes. Quando a

quantidade de querosene é pequena, uma parte dele é usado para solvatar a micela e o

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restante para interagir com o reboco, dessa forma apenas uma parte do reboco é

removido e incorporado na microemulsão.

O ponto em que se obteve a menor eficiência de remoção foi o 1, o qual possui

uma grande quantidade de tensoativo/cotensoativo, possuindo um pequeno meio

contínuo de água e óleo para interagir com o reboco, uma vez que essa água e óleo estão

solvatando o tensoativo. Dessa forma, esse sistema possui uma dificuldade maior de

interagir e solubilizar o reboco.

5.4.1 Capacidade de eficiência de remoção da água e do querosene

Para fins de comparação de eficiência do colchão lavador desenvolvido foi

realizado o mesmo teste com água e com querosene. Foi observado que a água, como

era esperado, não conseguiu remover o fluido de perfuração aderido na parede do

béquer, isso ocorre pelo fato da água não ter afinidade com o fluido de perfuração, uma

vez que a mesma é polar e o fluido apolar. Já no caso do querosene, este conseguiu

remover 100% do fluido de perfuração, devido o mesmo ter afinidade com o fluido

(ambos são apolares). Entretanto, a utilização de querosene como colchão lavador não é

viável pois o mesmo é agressivo ao meio ambiente, podendo causar contaminação dos

aquíferos próximos aos poços perfurados. Dessa forma a utilização dos sistemas

microemulsionados para a formulação do colchão lavador se torna uma alternativa mais

viável, tendo em vista que estes sistemas obtiveram um bom desempenho nos testes de

eficiência.

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6 CONCLUSÃO

Dentre os tensoativos estudados o que se destacou na formação de uma grande

região de microemulsão foi o DAC, pois este apresenta uma cabeça positiva e assim o

íon cloreto não interfere tanto na sua ação interfacial, o que promove uma boa formação

de micelas.

Os valores de viscosidade e o comportamento newtoniano obtido são adequados

para a aplicação dessas microemulsões como colchões lavadores. Foi observado que à

medida que aumenta o percentual da razão C/T ocorre um leve aumento na viscosidade

do sistema devido o aumento de micelas no meio.

Os resultados de tensão superficial estão numa faixa de 23,73 a 25,23 Dyn/cm,

valores considerados satisfatórios quando se trata de sistemas microemulsionados. Um

leve aumento da tensão foi percebido quando aumentou o percentual da razão C/T e

percentual da fase aquosa. No caso do aumento causado pelo percentual da razão C/T o

fenômeno responsável foi a saturação por parte dos tensoativos, enquanto que para o

aumento gerado pelo aumento da fase aquosa a responsável foi a solução aquosa de

NaCl que possui um valor alto de tensão superficial.

Os tamanhos de micelas obtidos estão dentro da faixa de caracterização de

microemulsão, tendo valor mínimo de 85,2 nm e valor máximo de 158,1 nm. Essa

variação se deve ao tipo de micela formada, onde dependendo do tipo de micela se

obtém um valor diferente.

O teste de eficiência de remoção mostrou que o colchão lavador desenvolvido é

bastante eficiente para a remoção do fluido de perfuração não aquoso, visto que foram

obtidos ótimos percentuais de remoção na maioria dos pontos estudados, chegando a

100% de eficiência.

Com a comparação do teste de eficiência de remoção da água e do querosene foi

possível perceber que a utilização de sistemas microemulsionados como colchão

lavador é uma alternativa bastante interessante, pois a água não possui a capacidade de

remover o fluido de perfuração e o querosene, embora consiga remover o fluido de

perfuração, é agressivo ao meio ambiente.

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