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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA MOACIR VIEIRA DA SILVA O TERCIÁRIO E A CENTRALIDADE URBANORREGIONAL DE MOSSORÓ-RN NATAL/RN 2017

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · essas graças com a dignidade de meu trabalho e a firmeza de meu caráter. Agradeço às minhas mães, Noêmia e Alcidene

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA

MOACIR VIEIRA DA SILVA

O TERCIÁRIO E A CENTRALIDADE URBANORREGIONAL DE MOSSORÓ-RN

NATAL/RN

2017

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MOACIR VIEIRA DA SILVA

O TERCIÁRIO E A CENTRALIDADE URBANORREGIONAL DE MOSSORÓ-RN

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), na área de concentração “Dinâmica socioambiental e reestruturação do território” como requisito para a obtenção do título de Mestre em Geografia. Orientadora: Profª Drª Rita de Cássia da Conceição Gomes

NATAL/RN

2017

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Silva, Moacir Vieira da. O terciário e a centralidade urbanorregional de Mossoró-RN /Moacir Vieira da Silva. - 2017. 171f.: il.

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio Grandedo Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programade Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia, 2017. Orientadora: Profª Drª Rita de Cássia da Conceição Gomes.

1. Mossoró (Rio Grande do Norte). 2. Centralidadeurbanorregional. 3. Comércio. 4. Serviços. I. Gomes, Rita deCássia da Conceição. II. Título.

RN/UF/BS-CCHLA CDU 911(813.2)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRNSistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes -CCHLA

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MOACIR VIEIRA DA SILVA

O TERCIÁRIO E A CENTRALIDADE URBANORREGIONAL DE MOSSORÓ-RN

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), na área de concentração “Dinâmica socioambiental e reestruturação do território” como requisito para a obtenção do título de Mestre em Geografia.

Aprovada em: 29/05/2017

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________

Profª Drª Rita de Cássia da Conceição Gomes

Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia da UFRN

Presidente

______________________________________________

Prof. Dr. José Lacerda Alves Felipe

Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia da UFRN

Examinador Interno

______________________________________________

Profª Drª Virgínia Célia Cavalcante de Holanda

Universidade Estadual do Vale do Acaraú

Examinadora externa

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AGRADECIMENTOS

Foram momentos difíceis, nos quais os obstáculos pareciam insuperáveis.

Momentos marcados por lágrimas, ansiedade, medo e receio do que não poderia se

concretizar. Porém, a cada batalha vencida, um sorriso no rosto e o brilho (no olhar)

da satisfação. Mais uma etapa da minha vida acadêmica está se encerrando e ao

final dessa caminhada, gostaria de agradecer primeiramente, a Deus, pela presença

e pela ajuda durante toda essa trajetória. Espero que possa retribuir-Lhe todas

essas graças com a dignidade de meu trabalho e a firmeza de meu caráter.

Agradeço às minhas mães, Noêmia e Alcidene pelos passos apoiados na

infância, os conselhos proferidos na juventude e os ensinamentos de toda a vida.

De maneira especial, também quero agradecer à minha orientadora Rita de

Cássia pelos direcionamentos, os conselhos, as conversas proferidas durante toda a

fase de orientação e construção dessa dissertação, bem como, pelos momentos de

apreensão cognitiva e de ensinamentos.

Carinhosamente, gostaria de agradecer também à minha ex-orientadora e

amiga Josélia Carvalho, pelo carinho, pelas conversas, pelos desabafos, pelo apoio,

pela troca de ideias, pelos diálogos. Enfim, obrigado pelo ombro amigo.

Agradeço à minha família; a todos os colegas da pós-graduação que trilharam

essa intensa jornada comigo; aos companheiros de trabalho (da Escola Estadual

Prof. José de Freitas Nobre), da igreja e da vida, por todo o apoio nessa jornada.

Sou grato aos professores do Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em

Geografia (PPGe/UFRN) pelos ensinamentos proferidos durante toda essa trajetória,

pela dedicação, pela teoria e pela prática; bem como, aos docentes do curso de

Geografia da UERN (Campus Central - Mossoró). Reconheço o mérito daqueles que

me fizeram acreditar que o conhecimento só é útil quando nos torna melhor - não

esquecerei de que preciso ser um eterno aprendiz. Além disso, agradeço de modo

especial ao professor Lacerda e a professora Eugênia Maria pelas colaborações

dadas no momento da qualificação; e aos membros da banca de defesa - professor

Lacerda (novamente) e professora Virginia Holanda - pelas contribuições/sugestões

acadêmicas concedidas no momento final desse trabalho.

Enfim, agradeço a todas as pessoas que contribuíram de forma direta ou não

para a realização desse sonho! Vocês fazem parte dessa história! Muito Obrigado!

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Num mesmo subespaço há uma superposição de redes, que

inclui redes principais e redes afluentes ou tributárias,

constelações de pontos e traçados de linhas. Levando em

conta seu aproveitamento social, registram-se desigualdades

no uso e é diverso o papel dos agentes no processo de

controle e de regulação do seu funcionamento (p. 268).

Milton Santos (Natureza do Espaço)

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RESUMO

Trata-se de um estudo que objetiva compreender o processo de reafirmação da centralidade urbanorregional de Mossoró a partir da década de 1970, tendo como referências a atividade comercial e a prestação de serviços. Esse trabalho adotou como linha de pensamento o método de análise regressivo-progressivo, formulado por Lefebvre; e como procedimentos metodológicos a leitura e a discussão teórica dos conceitos de espaço urbano, região e centralidade (conceitos-chave); a análise de textos históricos e geográficos que explicam e contextualizam a centralidade urbanorregional da cidade de Mossoró; o levantamento, a sistematização e a análise dos dados estatísticos sobre esse centro urbano e sua região de influência; além de pesquisas e de investigações de campo. Está estruturado em três partes principais que versam, respectivamente, sobre: a caracterização socioeconômica e terciária da cidade de Mossoró e de sua região de influência – estabelecida a partir do estudo das Regiões de Influências das Cidades (REGIC, 2008); a conformação histórica e espacial de sua centralidade regional; a discussão das relações e dos processos espaciais que reafirmam essa cidade enquanto um espaço urbano central na região. Constatou-se que Mossoró tem se configurado, do ponto de vista histórico, espacial e funcional, como uma centralidade urbanorregional, atraindo continuamente, e em função de suas atividades econômicas, diversos fluxos para o seu núcleo urbano; Além disso, inferiu-se que, desde a década de 1970, a concentração e a diversidade de atividades de serviços e de comércios encontrados nesse espaço urbano são elementos que reafirmam a centralidade regional dessa cidade, isso porque os fluxos que irradiam desse e para esse centro são impulsionados principalmente em virtude da oferta de atividades terciárias. Palavras-chave: Mossoró. Centralidade urbanorregional. Comércio. Serviços.

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ABSTRACT It is a study that aims to understand the process of reaffirmation of the urban-regional centrality of Mossoró from the 1970s, with reference to commercial activity and the provision of services. This work has adopted as a train thought, the method of regressive-progressive analysis, formulated by Lefebvre; and as methodological procedures, the reading and the theoretical discussion of the concepts of urban space, region and centrality (key concepts); the analysis of historical and geographic texts that explain and contextualize the urban-regional centrality of the city of Mossoró; the collection, systematization and analysis of statistical data on this urban center and its region of influence; as well as research and field investigations. It is structured in three main parts that deal with: socioeconomic and tertiary characterization of the city of Mossoró and its region of influence - established from the study of Regions of Influences of Cities (REGIC, 2008); the historical and spatial conformation of its regional centrality; the discussion of spatial relations and processes that reaffirm this city as a central urban space in the region. It was observed that Mossoró has been configured, from a historical, spatial and functional point of view, as an urban-regional centrality, continuously attracting, and due to its economic activities, various flows to its urban nucleus. In addition, it has been inferred that, since the 1970s, the concentration and diversity of service and business activities found in this urban space are elements that reaffirm the regional centrality of this city, because the flows that flow from this and to this center are mainly driven by the supply of tertiary activities. Keywords: Mossoró. Centrality urban-regional. Trade. Services.

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LISTA DE QUADROS Quadro 01: Síntese do método regressivo-progressivo.................................... 25

Quadro 02: Serviços de saúde ofertados em Mossoró..................................... 47

Quadro 03: Hierarquia dos centros urbanos brasileiros.................................... 52

Quadro 04: Municípios que formam a região de influência de Mossoró........... 54

Quadro 05: Informações gerais sobre a Região de Influência de Mossoró...... 59

Quadro 06: Distribuição dos serviços na Região de Influência de Mossoró..... 61

Quadro 07: Destino dos produtos agroindustriais de Mossoró......................... 90

Quadro 08: Níveis Hierárquicos da Rede Urbana Brasileira............................. 107

Quadro 09: Origem dos fluxos (população flutuante) em Mossoró................... 114

Quadro 10: Pressupostos da Teoria das Localidades Centrais........................ 135

Quadro 11: Princípios da Teoria das Localidades Centrais.............................. 140

LISTA DE TABELAS Tabela 01: Níveis de centralidade com base no comércio e nos serviços........ 34

Tabela 02: Sistema Bancário em Mossoró/RN.................................................. 43

Tabela 03: Número de discentes na Educação Superior (Mossoró, 2012)....... 44

Tabela 04: Níveis de centralidade segundo a oferta de serviços de saúde...... 46

Tabela 05: Distribuição populacional na região de influência de Mossoró........ 56

Tabela 06: Níveis de centralidade educação superior (graduação).................. 66

Tabela 07: Distribuição temporal das agroindústrias em Mossoró.................... 89

LISTA DE MAPAS Mapa 01: Localização do município de Mossoró............................................... 30

Mapa 02: Região de Influência da cidade de Mossoró...................................... 55

Mapa 03: Distribuição populacional na região de influência de Mossoró.......... 58

Mapa 04: Serviços bancários em Mossoró e região.......................................... 64

Mapa 05: Ensino superior em Mossoró e região............................................... 65

Mapa 06: Equipamentos de saúde presentes em Mossoró e região................ 69

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LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 01: População total, urbana e rural de Mossoró – 1940 a 2010.......... 31

Gráfico 02: Distribuição do PIB do Rio Grande do Norte (2012)...................... 32

Gráfico 03: PIB total e por setores da economia de Mossoró – 2003-2013..... 32

Gráfico 04: Evolução no número de estabelecimentos – Mossoró................... 33

Gráfico 05: Distribuição do Sistema Bancário no RN e Mossoró..................... 43

Gráfico 06: Classes de comércio e de serviços na região de Mossoró............ 62

Gráfico 07: Serviços de saúde em Mossoró e região....................................... 68

Gráfico 08: Fases das agroindústrias em Mossoró.......................................... 88

Gráfico 09: Principais produtos exportados de Mossoró, em 2013.................. 103

Gráfico 10: Renda média da população flutuante de Mossoró......................... 116

Gráfico 11: Motivação dos fluxos em direção a Mossoró................................. 117

Gráfico 12: Gastos da população flutuante em Mossoró.................................. 121

Gráfico 13: Frequência mensal da população flutuante em Mossoró............... 121

Gráfico 14: Frequência dos fluxos populacionais em Mossoró........................ 122

Gráfico 15: Frequência das viagens dos taxistas à Mossoró........................... 123

Gráfico 16: Tempo de deslocamento (cidade de origem - Mossoró)................ 125

Gráfico 17: Avaliação dos serviços presentes em Mossoró............................. 128

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LISTA DE FIGURAS Figura 01: Atividade comercial na Rua Coronel Gurgel.................................. 36

Figura 02: Mercado Público Central de Mossoró............................................ 36

Figura 03: Partage Shopping Mossoró........................................................... 37

Figura 04: Espaços de lazer do Partage Shopping Mossoró.......................... 39

Figura 05: Hiper Bompreço e Maxxi Atacado (redes internacionais).............. 40

Figura 06: Hiperqueiroz e Supermercado Rebouças (redes locais)............... 41

Figura 07: Hierarquia dos centros urbanos brasileiros................................... 51

Figura 08: Rede urbana do estado do Rio Grande do Norte.......................... 53

Figura 09: Esboço do “espaço urbano” de Mossoró, em 1772....................... 76

Figura 10: Arraial de Santa Luzia de Mossoró, em 1810................................ 79

Figura 11: Mossoró entre 1860 e 1870 - Década do Expansionismo............. 79

Figura 12: Influência de Mossoró no período de Empório Comercial............. 81

Figura 13: Distribuição espacial dos produtos agroindustriais de Mossoró.... 91

Figura 14: Ponto de apoio dos taxistas de Assú (RN) em Mossoró............... 126

Figura 15: Ponto de apoio dos taxistas da região em Mossoró...................... 126

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CNAE – Classificação Nacional das Atividades Econômicas

DTT – Divisão Territorial do Trabalho

FACENE – Faculdade de Enfermagem Nova Esperança

FEBRABAN – Federação Brasileira de Bancos

FECOMERCIO/RN – Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do RN

FIBGE – Fundação Instituto Brasileiro Geografia e Estatística

FJP – Fundação João Pinheiro

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IFRN – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte

INEP – Instituto Nacional de Estudos e Educacionais

IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

MDIC – Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços

MEC – Ministério da Educação

PEA – População Economicamente Ativa

PIB – Produto Interno Bruto

PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

RAIS – Relação Anual de Informações Sociais

REGIC – Região de Influência das Cidades

RN - Rio Grande do Norte

TLC – Teoria das Localidades Centrais

UCB – Universidade Castelo Branco

UERN – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

UFERSA – Universidade Federal Rural do Semiárido

ULBRA – Universidade Luterana do Brasil

UNIDERP – Universidade Anhanguera

UNIFOR – Universidade de Fortaleza

UNIP – Universidade Paulista

UNIT – Universidade Tiradentes

UNOPAR – Universidade Norte do Paraná

UNP – Universidade Potiguar

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................. 12

1.1 APORTES TEÓRICOS, CONCEITUAIS E ANALÍTICOS............................ 15

1.2 METODOLOGIA E ESTRUTURA DO TRABALHO..................................... 23

2 MOSSORÓ E SUA REGIÃO DE INFLUÊNCIA.......................................... 27

2.1 APRESENTAÇÃO DA CIDADE................................................................... 29

2.2 DESCRIÇÃO DA REGIÃO........................................................................... 48

3 A CONSTRUÇÃO DA CENTRALIDADE URBANORREGIONAL.............. 71

3.1 MANIFESTAÇÕES INICIAIS DA CENTRALIDADE DE MOSSORÓ........... 73

3.2 AS AGROINDÚSTRIAS E A INFLUÊNCIA REGIONAL DE MOSSORÓ.... 86

3.3 O TERCIÁRIO E A REAFIRMAÇÃO DA CENTRALIDADE......................... 97

4 A CENTRALIDADE REGIONAL DE MOSSORÓ REAFIRMADA.............. 109

4.1 O TERCIÁRIO E A DINÂMICA URBANORREGIONAL............................... 112

4.2 UM OLHAR TEÓRICO-EMPÍRICO DA CENTRALIDADE........................... 129

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................... 147

REFERÊNCIAS........................................................................................... 151

APÊNDICES................................................................................................ 161

ANEXOS...................................................................................................... 166

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1 INTRODUÇÃO

A cidade de Mossoró é um centro urbano localizado no sertão nordestino, que

tem se apresentado historicamente como uma área de influência regional. O marco

inicial/temporal desse processo data do ano de 1857, momento em que os navios da

Companhia Pernambucana de Navegação Costeira começaram a ancorar no Porto

Franco, também conhecido como Porto de Mossoró 1 (FELIPE, 2001).

Anteriormente, parcela significativa dos produtos oriundos da região sertaneja

tais como a carne seca, o sal, o algodão e as peles, era escoada através do Porto

de Aracati (Ceará). Com o assoreamento desse espaço portuário e o cessar de suas

atividades, a comercialização e a distribuição dos produtos derivados das economias

tradicionais passaram a ocorrer em Mossoró (FELIPE, 1980; 1982; 1988).

A partir do ano supracitado, Mossoró se projetou como um Empório Comercial

– espaço caracterizado por intensos fluxos comerciais e variedade de produtos –

como um lugar de troca e comercialização dos produtos oriundos das economias do

Sertão e do Litoral; ampliou e intensificou suas relações comerciais/capitalistas com

outros centros urbanos das províncias do Rio Grande do Norte, de Pernambuco, do

Ceará e da Paraíba; e começou a se afirmar como uma área de destaque na região

(FELIPE, 1988).

Entretanto, já nas primeiras décadas do século XX, Mossoró perdeu a sua

posição de Empório, em decorrência da desvalorização dos transportes marítimos e

fluviais frente aos avanços dos transportes rodoviários e ferroviários, ainda

reduzidos nesse espaço. Em resposta a esse insucesso, a burguesia mossoroense,

fazendo uso das heranças (capital) do período de Empório Comercial, começou a

reorganizar o espaço socioeconômico dessa urbe, viabilizando o surgimento das

agroindústrias tradicionais e o fortalecimento da atividade salineira (ibid).

Com a ascensão desse sistema produtivo industrial, Mossoró voltou a exercer

influência na região, reafirmando seu destaque no espaço regional; passou a atrair e

dissipar diversos fluxos para o seu espaço intraurbano, a exemplo dos produtos

agroindustriais exportados para a região centro-sul do Brasil (ROCHA, 2009).

Discutindo sobre a evolução histórica da centralidade regional de Mossoró,

Oliveira (2012) tece os seguintes comentários sobre o contexto econômico citado:

1 Atualmente, essa área pertence ao município de Areia Branca (RN).

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A cidade, com essa expansão do sistema produtivo industrial, se insere na nova divisão territorial e interregional do trabalho nacional, considerando que se torna fornecedora de matérias-primas naturais ou semi-elaboradas para a industrialização que se expandia na região sudeste. Com a emergência de novos sistemas de produção material, mantém-se a condição de centro regional, integrando um novo processo de circulação e produção de mercadorias regionais, além de ampliar seu comércio na região de influência (p. 79-80).

Entre 1960 e 1970, as indústrias do centro-sul do Brasil começaram a fabricar

os produtos oriundos das agroindústrias mossoroenses, limitando e inviabilizando a

produção e o comércio dos mesmos em Mossoró (PINHEIRO, 2007). É importante

ressaltar que nesse mesmo período, a atividade salineira presente em Mossoró foi

alvo de investimentos estrangeiros, fato que proporcionou a modernização dessa

atividade – mecanização da salinicultura (ROCHA, 2009).

A queda das agroindústrias decretou uma crise na economia mossoroense,

todavia, também impôs, a partir da década de 1970, uma nova especialização

econômica a Mossoró, a saber: a cidade deixava de “[...] ser apenas mais um centro

repassador de matéria-prima, para também ser um centro prestador de serviço, que

passa a terceirizar as atividades locais [...]” (PINHEIRO, 2007, p. 114, grifos nossos).

Em outras palavras, a atividade comercial e a prestação de serviços tornavam-se

“motores propulsores” da dinâmica econômica urbana e regional de Mossoró.

A partir do contexto elucidado, emerge a problemática central desse estudo:

Qual a contribuição do processo de expansão da atividade comercial e dos serviços

para a reafirmação da centralidade urbanorregional de Mossoró a partir de 1970?

Com base nesse questionamento, a dissertação ora apresentada tem como objetivo

principal: discutir o processo de reafirmação da centralidade urbanorregional de

Mossoró a partir da década de 1970, tendo como referência a atividade comercial e

a prestação de serviços.

Para além do questionamento principal desse estudo, e pensando o problema

ora exposto por meio de uma análise espaço-temporal, foram levantadas algumas

questões específicas, a saber:

01. Como o comércio e os serviços se apresentam atualmente no contexto espacial

e econômico da cidade de Mossoró? E no contexto da região de influência dessa

cidade, tomando por base a região de influência estabelecida pelo Regic em 2008?

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02. Como a prestação de serviços e a atividade comercial foram, histórica e

espacialmente, estruturando-se como elementos fomentadores da centralidade

urbanorregional de Mossoró?

03. Por que o terciário de Mossoró se apresenta atualmente como um elemento de

destaque na região, ao ponto de atrair diversos fluxos para essa urbe? Como ele

tem influenciado na reafirmação dessa centralidade a partir da década de 1970?

A partir desses questionamentos secundários, estruturaram-se os seguintes

objetivos específicos dessa dissertação:

01. Caracterizar o terciário no espaço urbano e no quadro econômico de Mossoró,

assim como na sua região de influência, focando o comércio e os serviços como

elementos-chave dessas relações;

02. Explicar a influência histórica e espacial do comércio e da prestação de serviços

no processo de configuração da centralidade urbanorregional de Mossoró;

03. Discutir os processos e as relações estabelecidas entre Mossoró e os espaços

circunvizinhos, tomando o comércio e a prestação de serviços dessa cidade como

elementos de análise.

No que se refere ao recorte temporal, destaca-se que esse estudo tem como

marco inicial a década de 1970, pois é a partir desse período, com o declínio das

agroindústrias tradicionais, que essa cidade começa a se configurar como um centro

urbano prestador de serviço (FELIPE, 1988), respondendo a uma demanda intra e

interurbana; e estende-se até o ano de 2016, momento de construção e estruturação

da pesquisa ora apresentada.

Para compreender o processo de reafirmação da centralidade urbanorregional

de Mossoró a partir da década de 1970 e por meio de suas atividades terciárias, foi

necessário construir um embasamento teórico, conceitual e analítico que permitisse

uma leitura geográfica dos processos presentes nesse espaço; que construísse um

mapa teórico-formal que se sobrepusesse à realidade empírico-concreta, explicando

assim, e dentro dos ajustes necessários, a questão central dessa dissertação.

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Assim, como forma de atender a essa necessidade cognitiva, foram eleitos

como elementos teóricos centrais desse estudo: os conceitos de Espaço Urbano,

Região e Centralidade (conceitos-chave); além de Rede e Heterarquia Urbana, e

Divisão Territorial do Trabalho (DTT); foram elencados como elementos do espaço:

os homens, as firmas e as infraestruturas; e listados como categorias de análise:

os pares dialéticos fixos e fluxos, densidade e rarefação; e seletividade espacial.

Sucintamente, apresentar-se-á cada um desses aportes teóricos, conceituais

e analíticos, sempre de forma correlacionada ao objetivo principal dessa dissertação.

1.1 APORTES TEÓRICOS, CONCEITUAIS E ANALÍTICOS

O espaço urbano é um produto social, resultado de um conjunto de processos

(centralização, descentralização, segregação, coesão, inércia e invasão-sucessão)

acumulados historicamente e produzidos por diferentes agentes sociais, tais como:

proprietários dos meios de produção, proprietários fundiários, agentes imobiliários,

Estado e os agentes sociais excluídos (CORRÊA, 1997). Esses agentes atuam

configurando e produzindo esse espaço, criando formas desiguais e campos de

interesses múltiplos (CORRÊA, 2000).

A produção do espaço urbano está relacionada a uma forma, a cidade, não

estando limitado ou reduzido a ela; isto porque, mais que uma localização ou um

arranjo de lugares, o urbano é um modo, um estilo de vida (CAVALCANTI, 2001); é

representado por meio das relações sociais, não se desvinculando de uma forma, de

uma morfologia, de um plano prático-sensível (LEFEBVRE, 2001).

Assim, reforça-se que a cidade, enquanto forma, e o urbano, enquanto

conteúdo são elementos distintos. Porém, essa divergência conceitual não os exclui

ou os separa; pelo contrário, essa materialidade e imaterialidade se interrelacionam,

e são, ao mesmo tempo, interdependentes e contraditórias (LEFEBVRE, 2001); são

complementares, e necessitam um do outro para se reconhecerem. Nas palavras de

Santana (2010, p. 113), o “lugar expressa o urbano e este, por sua vez, incide sobre

o lugar”; ou seja, a cidade “reflete” o urbano, e esse se sobrepõe à cidade.

O processo de produção do espaço urbano se dá de modo desigual entre os

lugares, combinando áreas mais desenvolvidas, dotadas de aparatos técnicos e

funcionalidades urbanas com outras, mais “atrasadas”, carentes de tais elementos.

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Essa reprodução diferenciada do espaço urbano ocorre tanto na escala intra quanto

interurbana, formando um verdadeiro mosaico urbano, com peças díspares. Essas

disparidades espaciais são, conforme aponta Santos (1997), resultados da produção

globalizada e da dinâmica capitalista, que propõe uma unidade entre os espaços,

mas também instigam a diferença entre eles, reforçando-as.

Em seu texto “A cidade como centro de região”, Santos (1959) enfatizou que

as cidades, bem como a sua dinâmica urbana, não podem ser pensadas de forma

isolada, mas sempre a partir de conexões com outros lugares. Isso porque cada

concentração urbana tem uma área de influência, com escalas variáveis, que é

instável e está sujeito também a outros espaços maiores, dentro de uma hierarquia

urbana.

Convergindo com tais ideias, Carlos (1982) frisa que o nível de complexidade

de determinado espaço urbano e de sua área de influência está correlacionado ao

grau de desenvolvimento dos seus processos produtivos, de suas funções; e ainda

explicita que determinada cidade pode “comandar” tanto a produção de sua área

quanto a de outros espaços urbanos, extravasando assim, os seus limites, “[...]

alcançando e subordinando outras áreas, se relacionando com outros espaços [...]

através da divisão espacial do trabalho [...]” (CARLOS, 1982, p. 107).

Um espaço urbano, dependendo do nível de estruturação e organização de

suas diferentes atividades, pode configurar-se como centro de uma região, pois,

conforme assinala Kayser (1975, p. 281), “[...] não há verdadeira região sem centro,

sem núcleo, isto é, sem cidade, por que as regiões vivem por seu centro [...].” Nessa

mesma linha de raciocínio, o referido autor ainda reforça:

A organização, tradução concreta do fenômeno de regionalização, deve assentar-se sobre um eixo, um ‘pólo’, um ‘núcleo’, se assim se quiser dizer, e este, baseado em atividades da população empregada em comércio, bancos, companhias de seguros, hotéis etc, somente tem lugar na cidade. Assim, por mecanismos bem conhecidos, a cidade comanda o espaço que a envolve, encerrando-o em uma rede de relações comerciais, administrativas, sociais, demográficas, políticas, da qual ela ocupa o centro (KAYSER, 1975, p. 281).

Em outras palavras, percebe-se que há uma relação solidária entre a cidade e

a região, uma relação de dependência entre esses espaços (SANTOS, 1959); e que

a cidade e a região se configuram nesse contexto como dois organismos dinâmicos

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e interdependentes, de modo que a realidade urbana não se manifesta de maneira

isolada do seu contexto regional (ROCHEFORT, 1998).

A concepção de região utilizada nesse estudo ultrapassa a ideia de região

natural, compreendida a partir de um quadro físico homogêneo; rompe a concepção

da diferenciação de áreas ou da identidade regional (CORRÊA, 2003); e converge

para o entendimento de que a região pode ser pensada a partir de um espaço

preciso, mas nem por isso imutável ou fixo, que está inscrito dentro de um quadro

espacial cuja organização gira em torno de um centro, de uma cidade dotada de

autonomia, apresentando certa integração funcional em relação à economia global,

sendo em síntese, o resultado de uma “[...] associação de fatores ativos e passivos

de intensidades diferentes, cuja dinâmica própria está na origem dos equilíbrios

internos e da projeção espacial” (KAYSER, 1975, p. 282, grifos nossos).

Neste sentido, a noção de regiões funcionais ou polarizadas foi essencial para

a leitura teórica do problema proposto nesse trabalho dissertativo, porque essa

região é entendida como “[...] uma área polarizada por um determinado centro nos

marcos de uma rede urbana” (SOUZA, 2013, p. 139), e a partir “[...] das múltiplas

relações que circulam e dão forma a um espaço que é internamente diferenciado”

(GOMES, 2000).

A relação entre a cidade e a região induz à reflexão sobre outro conceito

desse trabalho: centralidade. A centralidade é definida pelo encontro, identificação e

coexistência dos elementos que existem no espaço; como uma forma, um espaço

que “chama”, atrai conteúdo (LEFEBVRE, 2006); que concentra e atrai atividades e

pessoas em uma área, polariza um determinado espaço, organizando os fluxos que

o percorrem (SILVA, 2013). Nesse sentido, a centralidade é definida como um

processo, uma imaterialidade, uma “força” de atração que só existe a partir de uma

base física, de um centro (uma cidade, por exemplo), refletindo assim, as ideias de

concentração de bens e serviços e de fluxos.

A centralidade é passível de mudanças, de modo que um espaço central pode

passar por processos de redefinição ou involução, e áreas sem proeminência podem

dar lugar a dinâmicas e processos socioeconômicos que as consolidarão com

centralidades. Essa capacidade de atração (polarização) de um determinado espaço

pode ser redefinida, seja em escalas temporais, longo ou curto prazo; ou espaciais,

áreas de influência maiores ou menores (PEREIRA; FRANÇA; SILVA, 2015).

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A centralidade regional de uma cidade é pensada dentro de uma hierarquia

espacial e urbana. Entretanto, para entender esse arranjo hierarquizado é preciso

considerar que existe uma rede complexa de relações entre os espaços urbanos, de

modo que não existe necessariamente uma sequência ou dependência progressiva

espacial para que essas relações ocorram; é necessário compreender que existem

redes verticais e hierárquicas, nas quais alguns espaços dominam outros; todavia,

existem também redes horizontais, heterárquicas, nas quais espaços com diferentes

níveis podem se relacionar, rompendo essa hierarquia espacial.

Catelan (2013) explicita que a hierarquia urbana continua a existir, entretanto,

é insuficiente para explicar “[...] os conteúdos advindos do aumento das interações

espaciais sob a égide da globalização [...]”; isto porque os encontros das redes se

ampliam tanto em quantidade quanto em complexidade, ocorrendo assim, uma “[...]

maior sinergia entre os papéis de cada cidade na rede urbana, em cada escala

geográfica e na interação entre elas” (p. 80).

Assim, além de uma hierarquia, existe também uma heterarquia urbana. A

heterarquia advém das relações espaciais interescalares na rede urbana, e está

relacionada “[...] à concepção de que o mundo é regido por interações complexas

que ocorrem ao mesmo tempo [...] por meio de uma condição de interdependência

entre níveis de atuação desses agentes e forças [...]” (CATELAN, 2013, p. 79).

Partindo desse entendimento, o conceito de heterarquia urbana foi um dos

elementos teóricos (mesmo sendo um conceito secundário da pesquisa) utilizados

na discussão da centralidade regional de Mossoró, visto que as interrações que

ocorrem com e nesse espaço se dão tanto a partir de relações hierárquicas quanto

por meio de relações interescalares, horizontais.

Para além dos conceitos elucidados, é importante destacar que a “Teoria das

Localidades Centrais”, formulada por Walter Christaller, no ano de 1933, e a releitura

dessa proposta teórica realizada por Corrêa, em 1997, subsidiaram teoricamente a

discussão da problemática de estudo dessa dissertação. Frisa-se que essa teoria

buscou explicar a hierarquia e a regularidade no ordenamento dos centros urbanos a

partir das concentrações de bens e serviços no espaço, rompendo com método

geográfico usual da época – o descritivo e indutivo; e aproximou as leis econômicas

às leis da geografia urbana.

Em sua obra “Espaço e Método”, Santos (2012a) ressalta que o espaço é

considerado como uma totalidade. Todavia, é possível dividi-lo em partes, por meio

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de análises – processo de fragmentação e reconstituição desse todo. Esta divisão

deve ser operacionalizada a partir de uma variedade de critérios, de possibilidades,

dentre as quais estão os elementos do espaço.

O referido autor aponta cinco elementos do espaço, a saber: os homens (na

qualidade de fornecedores de trabalho ou candidatos a isso); o meio ecológico (base

física do trabalho humano); as firmas (cuja função é a produção de bens, serviços e

ideias); as instituições (produtoras de normas, de ordens e legitimações); e as

infraestrututuras (materialização e geografização do trabalho humano); e enfatiza

que esses elementos são intercambiáveis e redutíveis uns aos outros; possuem uma

interdependência funcional, estando em constante interação; e apresentam uma

variabilidade tanto quantitativa quanto qualitativa (SANTOS, 2012a).

Em seu texto “Uma situação geográfica”, Silveira (1999), citando George

(1969), afirma que todos esses elementos agem em conjunto para definir uma

situação geográfica2. Entretanto, ela ressalta também, como base nas ideias de

Beaujeu-Garnier (1971), que é preciso escolher quais desses elementos são

fundamentais na pesquisa, e a partir deles, descobrir a complexidade das relações

existentes em uma situação geográfica (ibid, 1999).

Assim, tomando por base esses apontamentos, e como forma de pensar e

compreender a importância da atividade comercial e dos serviços na conformação

da centralidade urbanorregional de Mossoró, objetivo maior desta dissertação, foram

elencados como elementos espaciais de análise desse trabalho, os homens, as

firmas e as infraestruturas. É importante destacar que para cada elemento escolhido,

foram trabalhadas diferentes vertentes ou aspectos – elucidados a seguir.

O principal aspecto considerado em relação à população foram os fluxos

(movimentos) realizados em direção à urbe mossoroense. Nesse contexto, analisou-

se a origem, a temporalidade, a intensidade e as razões dos deslocamentos que

convergem da região para esse centro urbano. Ainda em relação à população,

realizou-se uma caracterização geral do perfil populacional de Mossoró e da sua

região de influência, bem como uma discussão sobre o papel e/ou importância dos

agentes sociais e econômicos na configuração da centralidade urbanorregional

dessa cidade.

2 Silveira (1999, p. 22) explica: [...] a situação decorreria de um conjunto de forças, isto é, de um

conjunto de eventos geografizados, porque tornados materialidade e norma [...]. Assim, ao longo do tempo, os eventos constroem situações geográficas que podem ser demarcadas em períodos e analisadas na sua coerência.

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Em relação às firmas e às infraestruturas, caracterizadas nessa dissertação

pelos estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços, foram trabalhados os

seguintes aspectos: a concentração de comércios e serviços em Mossoró e na sua

região de influência; a variedade desses estabelecimentos e a renda gerada por

essas atividades; e a espacialização e localização dessas atividades nos contextos

local e regional. É importante destacar que a caracterização desses elementos está

vinculada à descrição da realidade, do que observamos e do que está posto – etapa

desenvolvida na primeira seção desse trabalho.

No processo de investigação de uma problemática espacial existem, além dos

elementos espaciais, as categorias de análise. Elas são ferramentas, instrumentos

teóricos que estão inseridos em uma teoria ou método de análise; são necessárias

para conhecer a realidade fenomênica a partir do conhecimento científico; definem a

natureza de alguma coisa (SANTOS, 2015). Sendo assim, para entender o processo

de conformação e reafirmação da centralidade urbanorregional de Mossoró, foram

elencados como categorias de análise dessa pesquisa: fixos e fluxos3, densidade e

rarefação, além de seletividade espacial.

Entende-se que as atividades terciárias de/em Mossoró se apresentam como

elementos espaciais fixos, que possuem uma base material fixa, mas são dinâmicas,

e que atraem, por meio de seu conteúdo, diversas pessoas, mercadorias e capitais;

ou seja, fluxos para seu centro.

Os fluxos se movem em direção aos espaços dotados de atratividade, que

apresentam funções urbanas mais qualificadas e diversas. Nessa perspectiva,

depreende-se que a centralidade de Mossoró pode ser compreendida a partir da

concentração das funções urbanas que essa cidade possui em relação aos espaços

urbanos circunvizinhos, rarefeitos em sua maioria. Em outras palavras, o uso das

categorias dialéticas densidade e rarefação nos permitiu compreender a influência

de Mossoró a partir de sua densidade espacial e terciária, em relação aos outros

espaços da região, mais rarefeitos.

É importante destacar que a densidade e a rarefação são identificadas por

meio da concentração de coisas, objetos, homens, pelo movimento desses objetos,

3 Milton Santos (2006) esclarece que “[...] os elementos fixos, fixados em cada lugar, permitem ações

que modificam o próprio lugar, fluxos novos ou renovados que recriam as condições ambientais e as condições sociais, e redefinem cada lugar. Os fluxos são um resultado direto ou indireto das ações e atravessam ou se instalam nos fixos, modificando a sua significação e o seu valor, ao mesmo tempo em que, também, se modificam” (p. 38).

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da população, das informações, do dinheiro e das ações em um espaço (SANTOS,

2006); e que, em nossa pesquisa, essas categorias estão diretamente relacionadas

às atividades terciárias (quantidade e diversidade dos estabelecimentos de comércio

e de serviços presentes nos espaços investigados).

Por fim, escolhida como categoria de análise a seletividade espacial. Essa

prática é uma das ações que configuram a organização do espaço; além disso, é um

dos processos que explica, conforme destaca Moreira (2007), a origem dos espaços

cheios e dos espaços vazios, de áreas mais densas e áreas mais rarefeitas.

Sobre essa prática espacial Corrêa (2003, p. 36) expõe:

No processo de organização de seu espaço, o Homem age seletivamente. Decide sobre um determinado lugar segundo este apresente atributos julgados de interesse de acordo com os diversos projetos estabelecidos. A fertilidade do solo, um sítio defensivo, a proximidade da matéria-prima, o acesso ao mercado consumidor ou a presença de um porto, de uma força de trabalho não qualificada e sindicalmente pouco ativa, são alguns dos atributos que podem levar a localizações seletivas.

Nesse sentido, a seletividade espacial, utilizada como categoria de análise

nessa pesquisa, possibilitou a compreensão dos porquês da centralidade regional de

Mossoró, as razões da concentração de equipamentos comerciais e de serviços, e a

relação desses aspectos com a influência dessa cidade na região.

Ao se pensar a conformação da cidade de Mossoró como uma centralidade

urbanorregional, como um espaço central que atrai diversos fluxos, foi necessário

compreender o papel desse centro dentro de uma malha urbana, de um cenário

regional, e inserido em uma divisão espacial do trabalho, do modo produção. Nesse

contexto, a Divisão Territorial do Trabalho (DTT) e a rede urbana foram empregadas

com referências conceituais basilares no desenvolvimento e na construção desse

trabalho dissertativo.

Nessa perspectiva, enfatiza-se que a rede urbana, compreendida como um

conjunto articulado de centros urbanos que se integram em diversas escalas por

meio de fluxos, e a Divisão Territorial do Trabalho – especialização e espacialização

produtiva – formam, conforme destaca Fresca (2010), “[...] um conjunto analítico

pelo qual se pode ter um entendimento do desenvolvimento regional e urbano [...]”,

(p 119); ou seja, pode-se pensar e compreender a dinâmica espacial de determinado

espaço urbano dentro de um cenário regional.

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A rede urbana se apresenta de duas formas em relação à Divisão Territorial

do Trabalho – como um reflexo e uma condição. Como reflexo, a rede urbana traduz

“[...] os arranjos distintos referenciados ao processo de ocupação, à produção

propriamente dita e suas relações sociais, ao nível de renda, aos diferentes níveis

de circulação, atrelados às diferentes interações sócioespaciais.” (FRESCA, 2010, p.

120); já como condição, ela “[...] define os pontos focais da vida de relações e as

vias de tráfego por onde os fluxos diversos são estabelecidos e possibilitam a

criação e transformação constante e desigual de atividades e cidades” (ibid).

A Divisão Territorial do Trabalho está relacionada diretamente à matéria, à

delimitação do espaço, ao seccionamento e a especialização dos lugares; é um

resultado direto da diferenciação interna do espaço, provocada pela expansão do

capital e das relações capitalistas, estando implícito o conceito de Divisão Social do

Trabalho formulado por Marx (FRESCA, 2010).

Entretanto, na discussão desenvolvida nessa dissertação, essa divisão está

relacionada ao terciário. Sendo assim, vincula-se à dinâmica, aos fluídos, aos fluxos.

Mais do que uma especialização/espacialização produtiva das relações de trabalho,

observamos a DTT, nesse trabalho, a partir das possibilidades de relação entre os

diversos lugares.

Observando a dinâmica urbana e regional de Mossoró, e a sua conformação

econômica a partir dos elementos teóricos, conceituais e analíticos apresentados até

o momento, percebe-se que grande parte das riquezas geradas nesse espaço tem

sua origem no setor terciário. Desta forma, acredita-se que a prestação de serviços

e o comércio presentes nesse espaço urbano tem se configurado, historicamente,

como elementos impulsionadores de sua centralidade regional. Isso porque essas

atividades têm atraído, em virtude de sua dinâmica mercantil, constantes fluxos para

o seu centro, ou seja, da região para a cidade de Mossoró.

Expostos os elementos conceituais, teóricos e análiticos dessa dissertação,

apresentar-se-á os procedimentos metodológicos adotados na construção desse

trabalho, bem como a sua estrutura organizacional – as seções da obra.

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1.2 METODOLOGIA E ESTRUTURA DO TRABALHO

Para a estruturação e construção metodológica desse trabalho partiu-se da

ideia de que a centralidade urbanorregional de Mossoró poderia ser compreendida

não apenas pelo viés de padrões, modelos preestabelecidos (concebidos), próprios

da geografia positivista. Mas, pelo estudo e pela análise dos processos sociais,

econômicos e espaciais, dotados de historicidade, de movimentos diacrônicos e

contrariedades. Assim, o caminho investigativo que foi trilhado para dar resposta à

pergunta central desse trabalho e validar a hipótese levantada anteriormente tiveram

dois focos centrais, a saber: o estudo teórico e a análise empírica.

Do ponto de vista teórico, realizou-se a leitura e a discussão dos elementos

conceituais considerados fundamentais para o desenvolvimento da pesquisa, e para

a compreensão da problemática trabalhada. Dentre esses elementos, citam-se os

conceitos de espaço urbano, região, centralidade, divisão territorial do trabalho, rede

e heterarquia urbana, já elucidados anteriormente. Paralelamente, realizou-se uma

leitura histórica e espacial da centralidade urbanorregional de Mossoró a partir de

documentos bibliográficos (histórico, econômico e geográfico) e estatísticos.

Utilizou-se como referências básicas para essa leitura histórica e espacial os

escritos de Felipe (1980; 1981; 1982; 1988; 2001; 2007), Silva (1983), Brito (1987),

Cascudo (2001), Rocha (2009), Pinheiro (2006; 2007) e Oliveira (2012; 2014).

Tratam-se de escritos científicos, que versam sobre a dinâmica urbana de Mossoró,

os seus processos socioespaciais, econômicos e regionais.

Para subsidiar a discussão e a análise proposta, recorreu-se ao levantamento

e sistematização de dados secundários disponíveis sobre a população, a economia,

o comércio e os serviços presentes em Mossoró e em sua região de influência, junto

aos seguintes órgãos e/ou documentos: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE), Regiões de Influência das Cidades (REGIC), Relação Anual de Informações

Sociais (RAIS), Instituto Nacional de Estudos e Educacionais (INPE), Instituto de

Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Ministério da Educação (MEC), Classificação

Nacional das Atividades Econômicas (CNAE) e Federação Brasileira de Bancos

(FEBRABAN). Tais informações foram basilares para a construção de um “cenário

espacial” que possibilitou a análise, a discussão e a compreensão da centralidade

urbana e regional de Mossoró – e sua reafirmação por meio de seu terciário.

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Adotou-se como linha de pensamento ou construção metodológica o método

de análise regressivo-progressivo, formulado por Henry Lefebvre. Esse método

investigativo busca a compreensão da origem do presente, partindo-se sempre do

atual em direção ao passado, “[...] não apenas para explicar o passado, mas,

sobretudo, para esclarecer os processos em curso no presente que apontam para o

futuro” (DUARTE, 2006, online); há um movimento de duplo sentido: o regressivo

(do virtual ao atual, do atual ao passado) e o progressivo (do passado ao atual, e do

atual ao vir a ser, ao virtual) (LEFEBVRE, 1999).

Em seu texto, intitulado “As possibilidades de aplicação do método de análise

regressivo progressivo”, Ortogoza (2010) ressalta que apesar de ser uma alternativa

aos estudos de sociologia rural, esse método se mostrou adaptável para as diversas

áreas das ciências sociais. A referida autora ressalta que esse procedimento busca,

na complexidade da vida cotidiana, a explicação para a sociedade urbana, e nos

remete “[...] a uma reflexão bastante profunda da sociedade urbana, levando-nos ao

entendimento do espaço como um produto e condição das relações sociais de

produção.” (ibid, p. 157-158).

Esse procedimento é composto estruturalmente por três momentos distintos:

o descritivo, o analítico-regressivo e o histórico-genérico. Essas etapas investigam a

dupla complexidade da realidade social: a horizontal, a que ver; a que está posta no

cenário presente, por meio do cotidiano e da paisagem; e a vertical, na qual se

mostram as múltiplas idades e/ou tempos dessa realidade horizontal, que não é

homogênea, mas é preenchida de coexistências e contradições.

Na terceira e última fase desse método, há uma convergência, um reencontro

com o presente, já discutido, elucidado e explicado, sob a luz de uma concepção

teórica, abrindo-se um espaço para a discussão das contradições, dos conflitos, das

condições e possibilidades.

Sobre esse último momento, Martins (1996) reforça:

A volta à superfície fenomênica da realidade social elucida o percebido pelo concebido teoricamente e define as condições e possibilidades do vivido. Nesse momento regressivo-progressivo é possível descobrir que as contradições são históricas e não se reduzem a confrontos de interesses entre diferentes categorias sociais. Ao contrário, na concepção lefebvriana de contradição, os desencontros são também desencontros de tempos e, portanto, de possibilidades (p. 22).

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As etapas e os procedimentos adotados no método de análise regressivo-

progressivo estão sistematizados e expostos no quadro 01:

Quadro 01: Síntese do método regressivo-progressivo.

01. Momento descritivo

a) Observação do objeto de estudo;

b) Descrição do visível ou aparente;

c) Estudo da complexidade horizontal da vida social;

d) Descrição orientada a partir de um “olhar” teórico.

02. Momento analítico-regressivo

a) Análise da realidade estudada ou descrita;

b) Datação da realidade, das relações sociais, em idades;

c) Estudo da complexidade vertical da vida social, como um resgate histórico.

03. Momento histórico-genérico

a) Reencontro com o presente, já descrito e explicado;

b) Análise geral das modificações apontadas a partir de uma perspectiva teórica;

c) Análise das contradições não resolvidas, dos conflitos e das possibilidades.

Fonte: Elaboração nossa (2015), com base em Martins (1996) e Ortigoza (2010).

Com as reflexões teóricas, conceituais e analíticas construídas, e com uma

linha de pensamento metodológico estabelecido, o método regressivo-progressivo,

foram estruturados, a partir de cada objetivo proposto anteriormente, e em paralelo

com o método citado, os seguintes procedimentos metodológicos e seções desse

trabalho, descritas a seguir.

Na primeira seção desta dissertação, intitulada de “Mossoró e sua região de

influência”, realizou-se uma caracterização da “realidade aparente”, do que está

posto sobre a cidade de Mossoró e de sua região de influência (definida pelo REGIC

– 2008). Essa caracterização ou descrição foi realizada por meio do levantamento e

da sistematização de dados socioespaciais e econômicos, como perfil populacional

e econômico; quantificação e qualificação das atividades comerciais e de serviços.

Esses dados foram coletados a partir de órgãos oficiais, já citados nesse trabalho,

objetivando-se construir um panorama do terciário no espaço urbano e no quadro

econômico de Mossoró e na sua região de influência.

A fim de explicar essa “realidade visível”, na segunda seção desse trabalho,

denominado “A construção da centralidade urbanorregional”, discorreu-se sobre

a historicidade e a espacialidade da centralidade urbanorregional de Mossoró,

focando essa discussão nas atividades terciárias, como força motriz desse processo.

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A construção dessa seção foi realizada a partir da leitura e da análise de textos

históricos e geográficos que relatam esse fenômeno, além de documentos oficiais

que versam sobre as regiões das cidades, a saber: o estudo realizado pelo REGIC

(2008) sobre a hierarquia dos centros urbanos no Brasil, desde 1966 até 2007.

Na última seção dessa dissertação, “A centralidade regional de Mossoró

reafirmada”, procurou-se discutir e compreender os processos e as relações que

vêm sendo estabelecidos entre Mossoró e os espaços circunvizinhos a partir das

atividades terciárias presentes nesse centro urbano. Para isso, realizou-se, por meio

de uma pesquisa bibliográfica, uma análise que confrontou a realidade estudada, os

dados e as informações levadas, bem como os recortes teóricos e conceituais

possíveis – cumprindo-se assim a terceira etapa do método de Lefebvre.

Outros dois procedimentos metodológicos foram basilares na construção

dessa última parte do trabalho, a saber: pesquisa de campo realizada junto aos

motoristas e passageiros/clientes que fazem o trajeto “Região-Mossoró”, por meio da

aplicação de formulários – Apêndices A, B e C –, cujo objetivo era identificar,

mapear, quantificar e qualificar os principais fluxos advindos da região para essa

cidade; a leitura e a interpretação das informações sobre a população flutuante de

Mossoró, disponibilizada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo

do Estado do Rio Grande do Norte (FECOMERCIO/RN) para o ano de 2015.

Em síntese, descreveu-se inicialmente a realidade visível, o que já está posto,

construído, estruturado, que são dados que revelam e possibilitam uma explicação

para a centralidade regional de Mossoró. Em seguida, explicou-se sobre a “realidade

construída” ou os processos históricos, econômicos e espaciais que permitiram a

conformação do que está posto. E, por fim, foi proposta uma volta ao presente, à

realidade vivida, de modo que fosse possível compreender, à luz da teoria, a

centralidade regional de Mossoró por meio dos fluxos que circulam e dão evidência

a esse espaço urbano – ou seja, à sua reafirmação como espaço central na região.

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2 MOSSORÓ E SUA REGIÃO DE INFLUÊNCIA

Existem cidades, seja na escala global, nacional, regional ou local, que se

constituem enquanto espaços de destaque; apresentam-se como áreas de atração e

de dispersão de pessoas, mercadorias e capitais. Essas cidades influenciam

espaços urbanos e rurais, mantêm relações de dependência e complementaridade.

Um entrelaçado de “pontos” (enquanto centros urbanos) e relações (enquanto

fluxos) está posto. De um lado, cidades que influenciam, atraem e polarizam, que

têm ou que criam, disponibilidades, possibilidades; do outro lado, espaços que são

“influenciados”, que apresentam necessidades reais ou potenciais. Esses pontos são

e estão conectados pelos movimentos diários, semanais, mensais ou de outros

períodos de tempo, que os unem pelos fluxos materiais e imateriais que convergem

para ou divergem de cada espaço.

Estamos diante de uma rede geográfica, e de modo particular, de uma rede

urbana; ou seja, de “um conjunto de centros urbanos funcionalmente articulados

entre si [...] na qual os vértices ou nós são os diferentes núcleos de povoamento

dotados de funções urbanas [...]” (CORRÊA, 1997, p. 93); ou como Corrêa (1997)

assinala, de um produto sócio-histórico, cuja função é, por meio das relações

sociais, articular a sociedade em uma determinada porção do espaço, possibilitando

a sua existência e a reprodução.

A existência dessa rede depende dos pontos fixos que há no espaço, como

as cidades, por exemplo; das relações, dos fluxos que há entre esses espaços; e,

por fim, de uma sociedade vivendo sobre a lógica do mercado, da (re) produção

capitalista, da gestão território (CORRÊA, 1997; SOUZA, 2005). Nesse contexto, é

importante destacar que as relações estabelecidas e mantidas entre esses espaços

urbanos são reflexos e ratificações da diferenciação hierárquica e da especialização

produtiva desses centros (CORRÊA, 1997).

A rede urbana se apresenta, assim, como resultado do movimento dialético

que produz o espaço, que agrega forças contrárias e simultâneas – de concentração

e dispersão – e que gera áreas com diferentes níveis de desenvolvimento geográfico

(HARVEY, 2015). Explicando essa dialética espacial, Endlich (2006) enfatiza em seu

trabalho sobre o significado das pequenas cidades paranaenses, que a malha ou a

rede urbana brasileira resultou desse movimento antagônico, da combinação de

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forças de dispersão, principalmente, nas pequenas cidades e nas áreas rurais; e

forças de concentração, principalmente, nos grandes polos urbanos e industriais do

país.

Assim, pode-se ressaltar que as diferenças existentes entre as cidades de

uma malha urbana são resultado do modo de produção capitalista; e o valor de cada

centro nessa rede depende dos níveis de desenvolvimento qualitativo e quantitativo

desse modo de produção, e da maneira como eles se combinam (SANTOS, 1977).

O valor do espaço está relacionado, de modo geral, conforme aponta Moraes

e Costa (1987), aos recursos naturais, expressos na sua quantidade, qualidade e

diversidade, bem como ao trabalho humano, acumulado no espaço por meio das

formas e dos conteúdos. No modo de produção capitalista, o valor ou o processo de

valorização do espaço é expresso por meio da relação capital-espaço, na qual a

valorização capitalista do espaço é a valorização do capital. Dessa forma, destaca-

se que “[...] o valor do espaço, em todas as suas formas de manifestação, aparece

frente ao processo de produção [...]” (MORAES; COSTA, 1987, p. 127).

Ao olhar a realidade das cidades que constituem uma rede urbana, percebe-

se que existem diferenças notáveis na paisagem, no cotidiano, nas dinâmicas e no

quadro espacial e econômico desses locais. Essa realidade visível, que se mostra

por meio da paisagem, dos elementos e dos “dados” do espaço, pode ser utilizada

para compreender as relações que são estabelecidas entre esses centros, para

entender determinados processos, dinâmicas e fenômenos espaciais.

Entretanto, vale salientar que esse olhar sobre a realidade aparente, efetivada

por meio da descrição, não explica por si só a existência das coisas, dos processos

e das dinâmicas espaciais, isso porque o espaço geográfico para ser compreendido,

deve ser visto como um produto social, uma condição (CORRÊA, 2000), um produto-

produtor, um suporte das relações sociais e econômicas (LEFEBVRE, 2006), sendo

necessário considerar a historicidade dos processos, dos fenômenos e da dinâmica

da reprodução capitalista, que ocorre de maneira diferenciada no decorrer do tempo

e dos espaços.

Partindo-se dessa linha de pensamento, esta dissertação terá como ponto de

partida a descrição da urbe mossoroense, de sua realidade visível, horizontal, dos

dados que estão dispostos sobre esse espaço e que nos possibilitam entender a sua

centralidade urbanorregional. Reforça-se que essa descrição converge em direção à

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29

primeira etapa do método regressivo-progressivo, apresentada na parte introdutória

desse trabalho.

A centralidade urbana pode ser abordada através de duas escalas territoriais:

a intraurbana, na qual a referência principal é o território da cidade; e a interurbana

ou urbanorregional, tendo como base uma urbe principal em relação a um conjunto

de outros centros urbanos (SPOSITO, 1998). Para entender a centralidade em nível

regional, foco dessa dissertação, é necessário reconhecer a realidade espacial dos

centros urbanos que estão diretamente ligados à cidade principal, e compreender os

elos que os unem.

Assim, além da descrição da urbe mossoroense, apresentar-se-á um quadro

socioespacial e econômico da região que está sobre a influência de Mossoró. Essa

sequência descritiva será construída a partir de um viés teórico, de modo que cada

elemento exposto possa ser um alicerce para o entendimento da posição central da

cidade de Mossoró na referida região.

2.1 APRESENTAÇÃO DA CIDADE

A cidade de Mossoró está localizada na região Nordeste do Brasil, no interior

do estado do Rio Grande do Norte, pertencendo à mesorregião do Oeste Potiguar, e

microrregião homônima; configura-se como a segunda cidade mais importante

economicamente do território norte-rio-grandense, apresentando também a maior

extensão territorial do estado, com uma área de 2.099,333 quilômetros quadrados, o

que equivale aproximadamente a 3,97% da superfície do total do RN.

Mossoró está situada entre duas capitais nordestinas – Natal (RN) e Fortaleza

(CE) –, distanciando-se 278 km e 245 km, respectivamente de ambas; e limita-se, ao

norte, com os municípios de Aracati (estado do Ceará), Grossos e Tibau; ao sul, com

Governador Dix-Spet Rosado e Upanema; ao leste, com Areia Branca, Serra do Mel

e Açu; e ao oeste, com o município de Baraúnas (mapa 01).

Segundo o Censo Demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia

e Estatística (IBGE) em 2010, essa urbe contava com um contigente populacional de

259.815 habitantes, distribuído pelo território numa ordem de 123,76 habitantes por

quilômetros quadrados. Esse valor populacional correspondia a aproximadamente

8,2% da população total do estado do Rio Grande do Norte (3.168.027 habitantes),

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concedendo à Mossoró, a condição de segunda cidade mais populosa do estado,

sendo a capital, Natal, a mais populosa. No ano de 2015, conforme dados do IBGE,

Mossoró já possuía uma população estimada de 288.162 habitantes.

Mapa 01: Localização do município de Mossoró

Fonte: Elaborado por Joábio Costa (2015).

Com base no Censo Demográfico de 2010, mais de 91,3% da população

mossoroense vivia na área urbana desse município (237.241 habitantes). Entretanto,

cabe enfatizar que Mossoró só ganhou essa conformação ou perfil populacional

entre as décadas de 1960 e 1970 (gráfico 01), momento em que essa cidade passou

por uma nova especialização de suas atividades econômicas.

Até as décadas citadas, a economia mossoroense estava diretamente ligada

às atividades tradicionais, tais como a salinicultura rudimentar, a extração de matéria

- prima para as agroindústrias e a pecuária; e grande parte de sua população estava

concentrada no campo, em virtude desse perfil econômico. Com a mecanização da

atividade salineira, o declínio das agroindústrias e a intensificação do comércio e dos

serviços, esse quadro populacional se inverteu: grande parte da população rural saiu

do campo, expulsa pelas novas dinâmicas produtivas e econômicas, e migrou para a

cidade, atraída pela oferta de produtos, trabalho e serviços disponibilizados nesse

centro urbano (FELIPE, 1982).

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31

Gráfico 01: População total, urbana e rural de Mossoró – 1940 a 2010

Fonte: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2015).

A base econômica de Mossoró está ancorada em quatro atividades principais,

a saber: a salinicultura, a exploração do petróleo, a fruticultura irrigada e as

atividades terciárias (comércio e serviços). O desenvolvimento dessas atividades

tem permitido que a cidade de Mossoró se mantenha em destaque no território

norte-rio-grandense, apresentando, historicamente, o segundo maior Produto Interno

Bruto (PIB) do estado, ante o de Natal, que apresenta o primeiro maior PIB do RN.

De acordo com os dados disponibilizados pelo IBGE em 2012, mais de 11%

do PIB do Rio Grande do Norte (R$ 39.543.679 mil reais) eram provenientes desse

município (R$ 4.493.958 mil reais). Essa porcentagem só era inferior ao da cidade

de Natal, com aproximadamente 34% do PIB do estado. Para esse mesmo ano, os

municípios de Natal, Mossoró e Parnamirim concentravam mais da metade (52,5%)

do Produto Interno Bruto do Rio Grande do Norte (gráfico 02).

Ainda sobre esse quadro econômico, é importante destacar que, no ranking

dos dez centros urbanos com maior PIB do estado (Natal, Mossoró, Parnamirim,

Guamaré, São Gonçalo do Amarante, Macau, Caicó, Areia Branca, Macaíba e Açu),

as atividades ligadas ao comércio e à administração pública foram destaques no PIB de

oito deles, com a exceção dos municípios de Guamaré e Macau, que tiveram como foco

econômico a extração de petróleo (TRÊS MUNICÍPIOS... 2014).

0

50000

100000

150000

200000

250000

300000

1940 1950 1960 1970 1980 1991 1996 2000 2007 2010

Populaçã Total

População Urbana

População Rural

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Gráfico 02: Distribuição do PIB do Rio Grande do Norte (2012)

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2015).

Fazendo uma leitura da evolução do Produto Interno Bruto de Mossoró, entre

os anos de 2003 a 2013, percebe-se que as atividades que mais colaboram para

esse quadro econômico estão ligadas ao terciário (gráfico 03). No ano de 2003, por

exemplo, esse setor colaborou com aproximadamente 52% do PIB total de Mossoró;

em 2009, esse percentual foi de aproximadamente 60%; e em 2013, correspondeu a

56% do PIB total desse centro urbano (IBGE, 2015).

Gráfico 03: PIB4 total e por setores da economia de Mossoró – 2003-2013

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2015).

4 Valores em mil reais; *Os dados do Produto Interno Bruto dos Municípios para o período de 1999 a

2011 (série encerrada) têm como referência o ano de 2002. Já os dados de 2013 (série revisada) toma com base a nova referência das Contas Nacionais.

34%

11%

7,5%

47,5%

Natal

Mossoró

Parnamirim

Demais municípios

0

1000000

2000000

3000000

4000000

5000000

6000000

7000000

2003 2005 2007 2009 2011 2013*

PIB TOTAL PIB: Impostos PIB: Agropecuária PIB: Indústrias PIB: Serviços

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Frisa-se que o volume de capital (do PIB) gerado pelo terciário em Mossoró é

resultado direto da densidade e diversidade desse setor. Além de colaborar para a

economia local, esse segmento econômico tem se apresentado, historicamente, e

em virtude de seus atributos, como uma “força motriz” para a dinâmica econômica e

espacial dessa cidade, tanto na escala intraurbana quanto no âmbito regional.

Essa diversidade quantitativa e qualitativa das atividades terciárias na cidade

de Mossoró é facilmente observada através de sua paisagem urbana e dos dados

disponibilizados sobre esse setor. O gráfico 04, por exemplo, ilustra a evolução do

número de estabelecimentos, de acordo com os principais setores econômicos, na

cidade de Mossoró entre os anos de 1985 a 2005.

Gráfico 04: Evolução no número de estabelecimentos – Mossoró

Fonte: Relação Anual das Informações Sociais (RAIS, 2015).

Por meio dessa representação gráfica, percebe-se que houve um crescimento

do número de estabelecimentos em todos os setores da economia. Contudo, as

atividades ligadas ao setor terciário, e de modo especifico, as atividades comerciais,

apresentaram um crescimento exponencial, quando comparadas aos demais ramos

da economia. Exemplificando essa informação, pode-se ressaltar que, no ano de

1985, do número total de estabelecimentos encontrados em Mossoró, 49% estavam

ligados à atividade comercial; já em 1995, esse valor correspondia a 51%; e em

2005, a 52%.

Ressalta-se que esse crescimento das atividades terciárias é uma tendência

mundial que se generalizou ao longo do século XX, acelerando-se principalmente, a

partir de 1960, em decorrência dos avanços da microeletrônica, da reestruturação

industrial e da globalização (SAMBATTI; RISSATO, 2000).

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

1985 1995 2005

Agropecuária Indústria Construção Civil Comércio Serviços

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De acordo com o estudo das “Regiões de Influência das Cidades” 5 (REGIC),

realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano de 2007 e

publicado em 2008, Mossoró é um centro de destaque no território potiguar, no que

se refere às atividades terciárias. Essa pesquisa definiu, com base na quantidade

total de classes de atividades comerciais e de serviços (Classificação Nacional de

Atividades Econômicas - CNAE), o nível de centralidade dos municípios brasileiros,

partindo da ideia de que, quanto maior o número de classes presentes em uma

cidade, maior a sua diversidade e/ou possibilidade de oferta, consequentemente,

maior a sua centralidade. Por meio desse estudo, foram estabelecidos os seguintes

níveis de centralidade em relação ao comércio e aos serviços (tabela 01):

Tabela 01: Níveis de centralidade com base no comércio e nos serviços

Níveis de Centralidade % de Classes do Comércio % de Classes dos Serviços

Máxima 01 100 97,01 – 98,10

Muito Elevada 02 92,01 – 99,99 84,01 – 97,00

Elevada 03 76,01 – 92,00 74,01 – 84,00

Intermediaria 04 50,01 – 76,00 50,01 – 74,00

Baixa 05 27,71 – 50,00 10,61 – 50,00

Muito Baixa 06 1,30 – 27,70 0,60 – 10,60

Fonte: Região de Influência das Cidades (2008) e Cadastro Central de Empresas (2004).

Conforme os dados divulgados por esse estudo, Mossoró possuía 67 classes

de comércio de um total de 72 classes (Anexo A). Esse valor correspondia a mais

de 93% das tipologias totais de comércio existentes (REGIC, 2008). Esse quadro 5 O estudo do Regic é a quarta edição de uma série de pesquisas realizadas pelo IBGE sobre a rede

urbana no Brasil (1972, 1987, 1993, 2007). Esse estudo estabeleceu a classificação hierárquica dos centros urbanos no Brasil, delimitou a área de atuação e polarização dos mesmos, e privilegiou a função de gestão do território, entendendo esse território como “[...] aquela cidade onde se localizam, de um lado, os diversos órgãos do Estado e, de outro, as sedes de empresas cujas decisões afetam direta ou indiretamente um dado espaço que passa a ficar sob o controle da cidade através das empresas sediadas" (CORREA, 1995, p. 83 apud REGIC, 2008, p.131), utilizando-a como elemento definidor dessa hierarquia urbana. É importante reforçar que para identificar e classificar esses centros dentro de uma hierarquia urbana, “[...] foram levantadas informações secundárias e registros administrativos de órgãos federais (Executivo e Judiciário) e de empresas privadas; ou seja, de subordinação administrativa no setor público federal, para definir a gestão federal, e de localização das sedes e filiais de empresas, para estabelecer a gestão empresarial [...]” (IPARDES, 2009, p. 6). Além disso, aponta-se que “[...] foram consideradas informações secundárias correspondentes a equipamentos e serviços – informações sobre conexões aéreas, deslocamentos para internações hospitalares, áreas (continuação) de cobertura das emissoras de televisão, oferta de ensino superior nos níveis de graduação e pós-graduação, diversidade de atividades comerciais e de serviços, instituições financeiras e oferta de serviços bancários, e presença de domínios de internet – capazes de dotar uma cidade de centralidade, complementando a identificação dos centros de gestão do território [...]” (IPARDES, 2009, p. 6).

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classificou a atividade comercial de Mossoró com um nível de centralidade 02,

considerada “muito elevada”, em uma escala que varia de 06, nível de centralidade

“muito baixo”; a 01, nível de centralidade “máxima”.

Essa diversidade comercial da cidade de Mossoró, exposta nos dados sobre

a variedade das classes comerciais (tabela 01), também pode ser observada por

meio de sua paisagem urbana, pois existem nesse espaço, e estão dispostos ao

nosso olhar, desde o comércio tradicional ao moderno, do formal ao informal. As

figuras 01, 02 e 03 ilustram, mesmo que de forma limitada, essa variedade comercial

encontrada na cidade de Mossoró; e permitem que as informações expostas sejam

visualizadas por meio de suas materialidades.

A figura 01 retrata uma das principais ruas comerciais do centro tradicional de

Mossoró, a Rua Coronel Gurgel. Essa via urbana possui uma grande variedade de

estabelecimentos comerciais, desde pequenas e médias lojas que vendem objetos

de pequeno valor comercial, de uso diário e do lar e produtos importados, a grandes

espaços comerciais, de destaque e atuação nacional, tais como as lojas Riachuelo,

Marisa, Insinuante, Rabelo, Maia, entre outros espaços.

A diversidade e a densidade comercial encontrada nessa rua, juntamente com

a facilidade da aquisição de bens e serviços nesse espaço, fazem com que ela seja

frequentada diariamente por um grande contingente populacional, tanto local quanto

regional (SILVA, 2012). Nesse contexto, é importante assinalar que as ruas de

comércio viabilizam a movimentação de pessoas, de capitais, de informações e de

mercadorias. Nelas, ocorre a concentração de pessoas com um objetivo comum:

adquirir mercadorias (COSTA; SILVA, 2015).

Outro espaço que evidencia da diversidade comercial na urbe mossoroense é

a presença do Mercado Manoel Teobaldo dos Santos, também conhecido como

Mercado Público Central (figura 02), localizado no centro comercial tradicional dessa

cidade. Esse mercado foi inaugurado no ano de 1877, e vendia, inicialmente, artigos

alimentícios, tais como carnes, frutas e verduras. Na década de 1980, após reformas

e redefinições de suas atividades comerciais, começou o serem comercializados,

nesse espaço, produtos ligados ao vestuário, calçados, aviamentos, redes, entre

outros produtos (COUTO, 2011).

Esse estabelecimento comercial possui uma área de aproximadamente 2.700

metros quadrados, tendo aproximadamente de 100 boxes (pequenas lojas). Apesar

de ter passado por mudanças estruturais e funcionais ao longo dos anos, esse

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mercado ainda apresenta e guarda uma dinâmica mercantil com traços do comércio

tradicional. Ao passar pelas ruas desse mercado, o grito anunciando as mercadorias

e a negociação “boca a boca” entre os clientes e os vendedores, são marcas desse

lugar e de sua dinâmica, e são exemplos da existência de práticas mercantis de

tempos pretéritos.

Figura 01: Atividade comercial na Rua Coronel Gurgel

Fonte: Jornal de Fato/ Blog Carlos Santos (2015).

Figura 02: Mercado Público Central de Mossoró

Fonte: Memória fotográfica (2012).

A figura 03 representa o Partage Shopping Mossoró. Esse espaço comercial

foi inaugurado no ano de 2007, recebendo o nome de Mossoró West Shopping; em

2013, passou a integrar o grupo Partage, empresa que atua no mercado imobiliário

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nacional desde 1977, e que a partir dos anos 2000, começou a investir no segmento

de shoppings em várias regiões do Brasil. Esse estabelecimento comercial está

localizado no bairro Nova Betânia, área nobre da cidade de Mossoró (com maior

concentração de renda) e nas proximidades da BR 304; ocupa uma área de 80 mil

metros quadrados, sendo 33 mil km² de área construída; conta com 106 lojas, sendo

06 lojas âncoras, dentre elas, as Lojas Renner, Riachuelo, Marisa, Americanas, Le

Biscuit e Jacaúna Decorações 6.

Figura 03: Partage Shopping Mossoró

Fonte: Imagem disponível no site do shopping 6.

A existência desse espaço viabilizou, juntamente com a construção de outros

empreendimentos comerciais (supermercados como o Atacadão e Maxxi Atacado),

de serviços (Universidade Potiguar - UNP) e imobiliários (condomínios fechados, tais

como o Alphaville e o Sunville), o surgimento de uma nova centralidade urbana em

Mossoró (MELO, 20013); possibilitou também a valorização de grande parte da área

do seu entorno, e a configuração de uma nova frente de expansão urbana e do

mercado imobiliário em Mossoró (COUTO, 2011).

Essa dinâmica espacial de expansão imobiliária e comercial está vinculada às

estratégias de reprodução capitalista de valorização fundiária de novas zonas que

não eram funcionalmente urbanas, de uso urbano (ocupadas pela malha urbana);

faz parte de um processo de redefinição da distribuição dos grandes equipamentos

comerciais e de serviços, que permite a construção de novas centralidades urbanas

(SPOSITO, 2010).

6 Informações disponíveis no site do shopping: http://www.partageshoppingmossoro.com.br.

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Esse shopping vem se destacando no cenário urbano e comercial de Mossoró

como uma opção de consumo e lazer, e apresentando-se como um grande centro

de compras da região Oeste do estado, atendendo a uma demanda que vai além do

mercado consumidor local, atraindo fluxos externos.

Sobre essa abrangência espacial, Elias e Pequeno (2010) reforçam que esse

empreendimento comercial tem um alcance interestadual, recebendo um público

mensal estimado em 270 mil pessoas, com perfil econômico variado entre classes

socioeconômicas de baixa, média e alta rendas.

Ressalta-se que os shoppings centers são considerados como uma tendência

para o comércio varejista, uma nova forma de organização dos empreendimentos

imobiliários, de iniciativa privada, que reúne tanto espaços comerciais quanto de

serviços. Eles são lugares de consumo, lazer e sociabilidade, capazes de gerar

representações simbólicas (ou estilos) sob um modo de vida urbano e capitalista

(PINTAUDI, 1992; SHOPPING... 1994).

Tomando por base essa concepção teórica e a realidade observada, destaca-

se que a inserção desse shopping em Mossoró gerou novos hábitos e rotinas de

consumo e de lazer (ELIAS; PEQUENO, 2010), podendo-se citar como exemplos:

Maior disponibilidade de horário ou tempo comercial na cidade – anteriormente,

parcela significativa das atividades comerciais de Mossoró estava restrita ao seu

centro comercial tradicional e aos seus horários de funcionamento - nos dias

úteis, das 07 horas às 18 horas; e aos sábados, das 07 horas às 14 horas. Com

a chegada desse empreendimento, a população local e regional passou a dispor

dos horários noturnos para compra, uma vez que o funcionamento das lojas do

shopping vão das 10 horas às 22 horas, funcionando ainda aos domingos e em

alguns feriados.

Novas alternativas de lazer na cidade – com a inserção desse estabelecimento,

a população mossoroense e das cidades circunvizinhas passou a ter outras

opções de lazer, tais como: salas de cinema e salões de jogos (imagem 04); bem

como uma maior variedade de espaços alimentícios (restaurantes e lanchonetes

vinculados a redes regionais e internacionais de alimentação, tais como Bobs,

Pitsburg, Mc Donalds, Xerifes).

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Figura 04: Espaços de lazer do Partage Shopping Mossoró

Fonte: Imagem disponível no site do shopping6.

Em síntese, pode-se ressaltar que a construção desse shopping em Mossoró

provocou uma reorganização da atividade comercial dessa cidade (uma alternativa

de comércio para além do centro tradicional e dos seus padrões de funcionamento);

e introduziu novas rotinas e hábitos de consumo, equiparando, esse consumo local

ao dos grandes centros urbanos (ELIAS; PEQUENO, 2011; COUTO, 2011).

A partir das informações e das figuras expostas sobre a diversidade comercial

em Mossoró, percebe-se a coexistência de diferentes formas comerciais nessa

cidade, e a simultaneidade de dois modelos de centros comerciais 7: o tradicional e o

moderno; isto é, os grandes espaços de compra (centros comerciais fechados).

Sobre tais modelos, Tella e Potocko (2012, p. 2) explicam:

[...] o ‘tradicional’, ou seja, o modo como, historicamente, tem se expressado o comércio no território, com locais sobre as ruas, fortemente vinculados com o uso do espaço público e alimentados pelo transporte público de passageiros (e, por isso, localizados em torno de estações de trens, ruas movimentadas ou avenidas). [...] O segundo modelo corresponde a uma lógica dos anos 80 e 90 que ainda está viva, em um contexto de profundo individualismo, é caracterizado pela construção de centros comerciais fechados (shoppings, hipermercados), e cuja localização é baseada no uso de carros particulares: próximos de rotas importantes e vias expressas, e que fornecem grandes áreas de estacionamento.

7 Os centros comerciais podem ser ou ter diferentes formatos: centros tradicionais, encontrados nos

centros históricos; centros de transferência, como áreas comerciais, ao longo das ruas ou avenidas, galerias, passeios, grandes superfícies fechadas (TELLA; POTOCKO, 2012, p.2).

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Esta simultaneidade de diferentes formas e tempo das atividades comerciais

em Mossoró, entre o moderno e o tradicional, é um exemplo, como assinala Santos

(2012b), da combinação de diferentes escalas e períodos de tempo no espaço

geográfico. Nesse contexto, reforça-se que o espaço é a simultaneidade de formas

herdadas, é ou se configura a partir da coexistência do passado e do presente, e/ou

de um passado reconstituído no presente (SUERTEGARAY, 2001).

Outro elemento de destaque na realidade comercial da cidade de Mossoró é a

diversidade de empreendimentos ligados ao ramo de alimentação - supermercados

e hipermercados. Esses espaços comerciais estão distribuídos de modo disperso

por esse espaço urbano, e apresentam portes diferenciados e origem diversa.

É possível encontrar supermercados ligados tanto a redes internacionais

quanto a locais. Com relação aos grupos internacionais, citam-se como exemplo, o

Hiper Bompreço e o Maxxi Atacado (rede Walmart) e o Atacadão (rede Carrefour).

Já as redes locais são representadas pela rede Rebouças, com 05 lojas, sendo 04

em Mossoró e 01 em Assú; a rede Queiroz, com 21 lojas, sendo 11 em Mossoró, 08

distribuídas pelo Rio Grande do Norte, e 02 nos estados da Paraíba e do Cear; e o

supermercado Cidade, com 03 lojas 8 (figuras 05 e 06).

Figura 05: Hiper Bompreço e Maxxi Atacado (redes internacionais)

Fonte: Páginas da internet 9.

8 Informações disponíveis nos sites dos supermercados: a) http://www.redequeiroz.com.br/;

b) http://www.reboucassupermercados.com.br/; c) http://supercidade.com/novo/. 9 Imagens disponíveis nos sites dos supermercados: a) https://www.maxxiatacado.com.br/

b) http://www.walmartbrasil.com.br/lojas/#hiper-bompreco.

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Figura 06: Hiperqueiroz e supermercado Rebouças (redes locais)

Fonte: Sites dos estabelecimentos8.

Em sua dissertação sobre as redefinições do comércio em Mossoró, Couto

(2011) salienta que a chegada desses estabelecimentos comerciais, principalmente

a partir da década de 1990, com técnicas modernas de atendimento, inclusão de

novas tecnologias, variedade e disponibilidade de produtos/mercadorias, promoveu

uma reorganização dessa atividade, tanto no âmbito local quanto regional; estimulou

novos padrões de consumo na população; beneficiou o monopólio e o oligopólio

desse setor; e definiu novas centralidades urbanas, desencadeando novas relações

socioespaciais, tanto na escala local quanto regional. É importante ressaltar que as

redes internacionais de supermercado, tais como o Atacadão, Maxxi Atacado e

Hiper Bompreço, só apareceram na cidade de Mossoró a partir de 2000 (ibid).

A partir de uma leitura espacial e teórica do contexto exposto, reforça-se que

o comércio é uma atividade urbana que faz parte da razão de ser das cidades, que

viabiliza sua existência, interfere e explica a sua organização, seus movimentos e

animações (SALGUEIRO; CACHINHO, 2009); ele representa “[...] uma forma de

construção do espaço urbano e, como tal, são determinantes da estrutura urbana

[...]” (TELLA; POTOCKO, 2012, p.2); e não é distribuído ao acaso no território, mas,

está organizado a partir de certas lógicas capitalistas.

Nessa mesma linha de raciocínio, ressalta-se que a evolução da atividade

comercial está relacionada às mudanças sociais, à transformação dos valores e dos

hábitos de vida, à evolução dos aglomerados e às mudanças na estrutura das

cidades (SALGUEIRO; CACHINHO, 2009); assim sendo, as cidades modificam suas

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formas, suas estrutura, suas paisagens, na medida em que os processos sociais e

econômicos também se transformam (PINTAUDI, 1984).

Outro elemento de evidência no cenário urbano de Mossoró é a oferta de

serviços encontrados nessa cidade. De acordo com as informações do Regic (2008),

das 152 classes totais de serviços existentes (CNAE 1.0), Mossoró possuía 104, o

que correspondia a aproximadamente 66% das tipologias totais. Essa diversidade,

expressa por meio desses valores, qualificou os serviços de Mossoró com um nível

de centralidade 04, considerado “intermediário”, em uma escala que variava de 01

(nível “máximo”) a 06 (nível “muito fraco”), conforme tabela 01.

Para mostrar essa diversidade e densidade de serviços de Mossoró destaca-

se, por exemplo, que essa cidade possuía no ano de 2015, de acordo com as

informações da Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN), 07 bancos e 16

agências bancárias, distribuídas da seguinte forma: 06 agências Banco do Brasil; 02

do Bradesco; 03 da Caixa Econômica Federal; 01 agência do HSBC; 02 agências do

Itaú Unibanco; 01 do Santander e 01 do Banco do Nordeste. Além disso, Mossoró

ainda contava, nesse ano, com 58 postos de atendimentos, sendo 10 vinculadas ao

Bradesco; 21 ao Banco do Brasil; 02 ao Santander e 25 a Caixa Econômica Federal

10 (tabela 02).

O Rio Grande do Norte possuía, em 2015, segundo dados da FEBRABAN, 14

bancos, 208 agências bancárias e 644 postos de atendimentos. Tomando por base

essa realidade estadual, constata-se que Mossoró contava com 50% dos bancos

atuantes no RN, aproximadamente 8% das agências bancárias, e 9% dos postos de

atendimento do estado (gráfico 05).

Essa densidade e a variedade de espaços bancários presentes em Mossoró

são, conforme frisa Elias e Pequeno (2010), resultado da reorganização econômica

dessa cidade e da região; das rendas monetárias geradas; da difusão do crédito; do

desenvolvimento de atividades assalariadas; além da construção das infraestruturas

econômicas urbanas. Esses elementos explicam o funcionamento e a densidade do

sistema financeiro na cidade de Mossoró (ibid).

10

Informações coletadas no site http://www.buscabanco.com.br/AgenciasBancos.asp.

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43

Tabela 02: Sistema Bancário em Mossoró/RN

Bancos atuantes Agências Bancárias Postos de Atendimento

Banco do Brasil 06 21

Caixa Econômica 03 25

HSBC 01 -

Itaú Unibanco 02 -

Banco do Nordeste 01 -

Bradesco 02 10

Santander 01 02

Total 16 58

Fonte: Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN, 2015).

Gráfico 05: Distribuição do Sistema Bancário no RN e Mossoró

Fonte: Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN, 2015).

Os serviços de educação técnica e superior, pública e privada, apresentam-se

também como elementos de destaque no cenário urbano de Mossoró. Essa cidade

possui dois polos educacionais de “peso” no RN: a Universidade do Estado do Rio

Grande do Norte (UERN) e a Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA). A

UERN possui 31 cursos de graduação, 08 cursos de pós-graduação em nível de

especialização, 08 programas de mestrado e 01 de doutorado; já a UFERSA possui

21 cursos de graduação, 13 programas de pós-graduação (10 cursos somente em

nível de mestrado e 03 a nível de mestrado e doutorado).

Além das duas instituições citadas, merece destaque também a presença do

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN),

com 05 cursos técnicos de nível médio integrado, mais 08 cursos de nível médio

subsequente, além de 02 cursos superiores em nível de graduação, e uma pós-

14 14 7

208

81

16

644

216

58

0

100

200

300

400

500

600

700

Rio Grande do Norte Natal Mossoró

Bandos Agências Postos de atendimentos

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44

graduação (especialização); e da Universidade Potiguar (UNP), instituição de ensino

privada, contando em Mossoró, com 18 cursos de graduação presencial, 09 cursos

de graduação semipresencial, 12 pós-graduações lato sensu, e 05 mestrados em

administração de negócios (MBA) 11.

De acordo com as informações obtidas no site Ministério da Educação (MEC),

Mossoró possui ainda 10 estabelecimentos de educação superior: Faculdade de

Ciências e Tecnologia Mater Christi, Faculdade de Enfermagem Nova Esperança de

Mossoró (FACENE), Universidade Paulista (UNIP), Universidade Tiradentes (UNIT),

Universidade Castelo Branco (UCB), Universidade Luterana do Brasil (ULBRA),

Universidade de Fortaleza (UNIFOR), Universidade Norte do Paraná (UNOPAR),

Universidade Anhanguera (UNIDERP) e a Faculdade Diocesana de Mossoró.

Com um perfil bastante diversificado – estaduais, federais, públicas, privadas

– esses centros ensino superior têm contribuído significativamente para a dinâmica

socioespacial e econômica de Mossoró. Esses espaços e os serviços ofertados por

eles têm atraído intensos e constantes fluxos para as suas proximidades; provocado

o adensamento de outras atividades, tanto de serviços quanto de comercialização,

(lanchonetes, bares, papelaria, xerografia); modificado a paisagem, a infraestrutura,

a movimentação e as dinâmicas nessas áreas (práticas socioespaciais); e permitido

a conformação de novas centralidades intraurbanas em Mossoró.

Ainda sobre o campo educacional de Mossoró, destaca-se que essa cidade

apresentava, de acordo com as informações do Censo da Educação Superior do

Brasil, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais –

(INEP), o seguinte quadro de discentes ingressos e matriculados na educação

superior no ano de 2012 (tabela 03):

Tabela 03: Número de discentes na Educação Superior (Mossoró, 2012)

Tipologia da Universidade Número de ingressos Número de matriculados

Federais 1.777 4.716

Estaduais 1.132 5.207

Privada 2.743 9.627

Total 5.652 19.550

Fonte: Censo da Educação para o Ensino Superior (INEP, 2012).

11

Informações disponíveis nos sites das universidades: http://portal.ifrn.edu.br/campus/mossoro; http://ufersa.edu.br; https://unp.br; http://www.uern.br.

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45

A partir dos valores apresentados, percebe-se que grande parte dos discentes

universitários de Mossoró, cerca de 50% dos ingressos e matriculados pertencia a

universidades particulares. Essa realidade é um reflexo direto da grande quantidade

de estabelecimentos de ensino superior privado nessa cidade, bem como das

facilidades de financiamento, com baixo custo e/ou bolsas estudantis parciais ou

totais, adotadas pelo Estado enquanto política educacional.

É importante ressaltar também a presença de discentes de outros municípios

do Rio Grande do Norte e de outros estados presentes nas instituições de ensino

superior dessa cidade. Em seu estudo realizado sobre a centralidade regional de

Mossoró a partir dos serviços de educação e saúde, Medeiros (2013) destacou, por

exemplo, um valor superior a 1.200 discentes que trafegam diariamente de outras

localidades para as universidades dessa urbe.

As informações e os dados expostos demonstram a densidade e a variedade

dos serviços de educação superior em Mossoró; destacam o volume expressivo de

alunos atendidos nas instituições de ensino superior dessa cidade; e evidenciam a

influência dessa atividade tanto para o âmbito local quanto para o regional, ou seja,

a importância do ensino superior no processo de polarização regional, nas relações

interurbanas (FRANÇA et al, 2009).

Os serviços de saúde também se destacam no cenário urbano e no terciário

de Mossoró. Conforme as informações do Regic (2008), essa cidade apresentava

nível 04 de centralidade na área de saúde, em uma escala que varia de 01 (nível

máximo) a 06 (nível mínimo).

Na classificação desse nível de centralidade, foram consideradas as classes

de complexidade de atendimentos de saúde12 (06 classes totais; variando de 01,

valor máximo, a 06, mínimo) e de volume de internações hospitalares13 (tabela 04).

Nas duas classes indicadas para definir o nível de centralidade de saúde, a cidade

de Mossoró apresentou “classe de complexidade 03” em relação aos tipos de

equipamentos e especialidades médicas, e nível de “centralidade 04” em relação ao

volume mediano de internações (19.552). Ressalta-se que a associação desses

eixos resultou, como citado anteriormente, em um nivel 04 de centralidade de saúde

para a cidade de Mossoró.

12

O Regic (2008) considerava para esse indicador de centralidade os tipos de equipamentos e das especialidades médicas encontradas nos estabelecimentos de saúde (de determinada cidade). 13

Considerava o número de internações hospitalares financiadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em determinada cidade (REGIC, 2008).

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Tabela 04: Níveis de centralidade segundo a oferta de serviços de saúde

Níveis de centralidade

Classes de complexidade Número de internações SUS

(mediana) 01 02 03 04 05 06

01 100 -- -- -- -- -- 730 800

02 72,7 27,3 -- -- -- -- 208 492

03 61,5 38,5 -- -- -- -- 60 556

04 -- 77,2 22,8 -- -- -- 19 522

05 -- -- 29,3 51,0 19,7 -- 7 378

06 -- -- 2,1 14,4 60,0 23,5 1 885

Fonte: Adaptado pela autoria com base na Região de Influência das Cidades (2008).

O quadro 02, construído com base nos dados do IBGE, traz um detalhamento

de alguns dos serviços e espaços de saúde encontrados em Mossoró, no ano de

2009 14. Ele mostra a variedade e a concentração de laboratórios, clínicas, hospitais

e ambulatórios presentes nessa cidade; apresenta a quantidade e a diversidade de

equipamentos médicos, e a disponibilidade de leitos para receber pessoas doentes;

em síntese, explicita a centralidade dos serviços de saúde de Mossoró 15.

A presença desses equipamentos e estabelecimentos de saúde (quadro 02),

tanto público quanto privado, vem permitindo que Mossoró polarize áreas vizinhas

no que se refere aos serviços médicos ou ao atendimento médico-hospitalar; faz

com que essa cidade seja um centro, uma referência na oferta de serviços na área

da saúde, sendo ultrapassada somente pela estrutura de saúde pertencente a Natal

– capital do Rio Grande do Norte (FELIPE, 2007).

14

Alguns dados expostos nesse trabalho apresentam uma “lacuna” temporal, pois faltam informações mais atualizadas. Por exemplo, os dados de serviços de saúde (por município) disponibilizados pelo IBGE são de 2009, não existindo até o presente momento, informações mais hodiernas. De maneira símile, faltam informações mais recentes sobre as Regiões de Influência das Cidades (REGIC), bem como sobre o número de estabelecimentos comerciais e de serviços por cidade. Essa carência e/ou ausência de informações limita, até certo ponto, uma análise mais apurada e atual de determinadas situações, realidades e/ou problemáticas. 15

“Outra variável empírica bastante operacional para se entender a centralidade de uma cidade na rede urbana da qual faz parte são os ‘serviços de saúde’ [...]. Os serviços médicos, principalmente os de ‘maior complexidade’, apresentam uma ‘raridade’ que permite caracterizar bem a centralidade das cidades. Geralmente, estes serviços raros [...] aumentam a influência da cidade na rede urbana do país onde se encontram. A inexistência de serviços de ‘menor complexidade’, por sua vez, pode ser também um critério eficaz para identificar áreas pouco (ou nada) servidas deste tipo de atividade”. (CONTEL, 2010, p. 24).

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47

Quadro 02: Serviços de saúde ofertados em Mossoró

Especificação do Estabelecimento Quantidade Especificação do Estabelecimento Quantidade

Saúde Público Estadual 04 Saúde Particular 65

Saúde Público Municipal 43 Saúde com Atendimento Ambulatorial Total 84

Saúde Privado Total 68 Saúde com Atendimento de Emergência Total 06

Saúde com Internação Total 10 Saúde com Atendimento de Emergência Pediatria 04

Saúde sem Internação Total 76 Saúde com Atendimento de Emergência Obstetrícia 02

Saúde com apoio à diagnose e terapia total 29 Saúde com Atendimento de Emergência Clínica 04

Saúde SUS 80 Saúde com Atendimento de Emergência Cirurgia 02

Saúde Plano Próprio 05 Saúde com Atendimento de Emergência Traumato Ortopedia 03

Saúde Plano de Terceiros 57 Saúde com Atendimento de Emergência Neuro Cirurgia 01

Saúde Especializado com Internação Total 02 Saúde que prestam serviço ao SUS com UTI/CTI 06

Saúde Especializado sem Internação Total 46

Especificação dos Leitos para Internação Quantidade Especificação dos Leitos para Internação Quantidade

Estabelecimentos de Saúde Total 664 Estabelecimentos de Saúde Público Municipal 160

Estabelecimentos de Saúde Público Total 318 Estabelecimentos de Saúde Privado Total 346

Estabelecimentos de Saúde Público Estadual 158 Estabelecimentos de Saúde Privado SUS 314

Equipamentos de saúde Quantidade Equipamentos de saúde Quantidade

Mamógrafo com comando simples 06 Eletrocardiógrafo 31

Mamógrafo com estéreo taxia 01 Eletroencefalógrafo 09

Raios-X para densitometria óssea 02 Equipamento de hemodiálise 53

Tomógrafo 07 Raios-X até 100 miliampere 10

Ressonância magnética 02 Raios-X de 100 a 500 miliampere 11

Ultrassom Doppler colorido 12 Raios-X mais de 500 miliampere 03

Fonte: Elaborado pela autoria com base nos dados do IBGE (serviços de saúde por cidade) para o ano 2009.

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48

A partir do contexto socioeconômico apresentado, frisa-se que a economia

em “efervescência” e a disponibilidade de serviços, que corresponde à estrutura

terciária na cidade de Mossoró, são vetores que vêm impulsionando as dinâmicas

socioespaciais nesse lugar, e que fazem desse centro um espaço de destaque na

escala interurbana.

Para compreender o papel de destaque de Mossoró no contexto regional, é

necessário que se observe o cenário que está “posto” nessa região - a realidade dos

municípios que estão sob a influência dessa urbe -, de modo que seja possível

entender os elos estabelecidos entre esses espaços e a reafirmação de Mossoró

enquanto centralidade urbanorregional, foco do nosso estudo.

2.2. DESCRIÇÃO DA REGIÃO

A região é um dos conceitos chave da ciência geográfica. A origem desse

termo vem do latim, “regio”, e faz referência às unidades políticas territoriais

adotadas pelo Império Romano; e a raiz dessa expressão está no verbo “regere”,

que significa governar, atribuindo uma conotação política a região (CORRÊA, 1997).

A região foi definida de diferentes formas ao longo do processo de sistematização da

ciência geográfica. Entretanto, conforme frisa Corrêa (1997, p. 183), esse termo

passou a designar, de modo geral, “[...] uma dada porção da superfície terrestre que,

por um critério ou outro, era reconhecido como diferente de uma outra porção [...]”,

ou seja, esteve associado genericamente a diferenciação de áreas.

Da institucionalização da Geografia como ciência, na Europa, até a década de

1970, existiram três acepções gerais para o conceito de região. A primeira se

apoiava nos dados e nos elementos da natureza para a concepção de região, tendo

como base as ideias darwinistas e naturalistas.

Sob a luz do determinismo ambiental, a região natural foi concebida como

“[...] uma porção da superfície terrestre identificada por uma especifica combinação

de elementos da natureza como, sobretudo, o clima, a vegetação e o relevo” (ibid, p.

184). Nessa perspectiva, essa combinação vai se traduzir em uma paisagem natural

específica, constituindo-se em um recorte espacial.

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49

A segunda concepção de região vai em direção às ideias neokantianas 16, e é

uma reação contrária aos princípios positivistas e deterministas da região natural. A

região passou a ser vista, conforme ressalta Corrêa (1997, p. 185), como uma área

“[...] de ocorrência de uma mesma paisagem cultural [...] como o resultado de um

longo processo de transformação da paisagem natural em paisagem cultural [...]”.

Essa região possibilista ou região-paisagem seria uma combinação entre as

relações do homem e seu meio natural (SOUZA, 2013); entre os aspectos naturais,

técnicos e culturais. Conforme destaca Chelotti (2008), essas regiões foram objetos

de estudos para a identificação dos gêneros de vida 17.

É importante ressaltar que os conceitos de região natural e a região-paisagem

foram desenvolvidos no âmbito da Geografia Tradicional, especificadamente, sob a

luz do determinismo e do possibilismo geográficos, respectivamente; e Friedrich

Ratzel e Vidal de La Blache foram os principais formuladores das ideias elaboradas

nessas correntes geográficas.

A partir da década de 1950, no contexto da revolução teorético-quantitativa, o

pensamento geográfico foi endossado com as ideias lógico-positivas, e a região

passou a ser concebida a partir critérios matemáticos e estatísticos 18.

Nesse período, o entendimento do conceito de região ia ao encontro da ideia

de classes de área, compreendido como um “[...] conjuntos de unidades de área,

como municípios, que apresenta grande uniformidade interna e grande diferença

face a outros conjuntos” (CORRÊA, 1997, p. 186).

Outras noções ou tipos de regiões foram concebidas, tais como a noção de

regiões homogêneas, estabelecida a partir das características consideradas fixas, e

compreendida como “[...] uma área com características que a diferenciam das áreas

circunvizinhas ou circundantes [...]”; e regiões funcionais, associadas aos fluxos que

percorrem o espaço, a “[...] uma área polarizada por um determinado centro nos

marcos de uma rede urbana” (SOUZA, 2013, p. 139).

16

Resgatam certos valores das ciências humanas e da filosofia, criticando uma visão estritamente naturalista determinista. 17

“[...] os grupos humanos, necessariamente, têm que se adaptar (se defrontarem, estabelecerem relações com as condições ambientais), essa adaptação se traduz na adoção de um modo de vida, de um gênero de vida: caça, pesca, criação de bovinos, ovelhas, suínos, cavalos, agricultura [...]” (DANTAS; MEDEIROS, 2008, p. 6). Os “gêneros de vida” podem ser compreendidos como um conjunto de técnica e hábitos de um determinado grupo social em um espaço. 18

Com base nesses preceitos matemáticos e estatísticos, existiram tantos tipos de regiões quantos forem os propósitos do pesquisador. A região natural e a região-paisagem, por exemplo, tornaram-se apenas uma entre as diferentes possibilidades de se fragmentar o espaço terrestre (CORRÊA, 1997).

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50

Depois da década de 1970, o conceito de região absorveu fundamentos da

Geografia Crítica, embasados no materialismo histórico e dialético, passando a ser

apreendido como uma “[...] organização espacial dos processos sociais associados

ao modo de produção capitalista [...]” ou como uma “[...] regionalização da divisão do

trabalho, do processo de acumulação capitalista [...]” (CORRÊA, 1997, p. 187) da

reprodução da força de trabalho e dos ideais políticos.

Ainda no período pós década de 1970, os fundamentos da Geografia Cultural

e Humanista também foram incorporados à concepção de região, e elementos como

espaço vivido e identidade regional fundamentaram a construção teórica do conceito

de região (CORRÊA, 1997; SOUZA, 2013).

As concepções de região formuladas ao longo da história da Geografia não

foram excluídas com a sucessão do pensamento geográfico, mas são reutilizadas a

partir da necessidade metodológica do estudo realizado. Souza (2013) exemplifica

essa situação, apontando o resgate dos aspectos metodológicos utilizados pela

Geografia Quantitativa, na delimitação de regiões ou áreas atuais, assinalando que:

[...] a ‘região’ tipicamente tratada segundo os cânones da Geografia neopositivista passou por uma diluição ou desconstrução. Sob vários aspectos, gerando ou consolidando abordagens que, a despeito ou independentemente dos pressupostos neopositivista, podem ainda hoje ser (parcialmente) aproveitados em diferentes circunstâncias, do estabelecimento de tipologias espaciais com a finalidade de representar fenômenos específicos até a determinação de áreas de influência de centros urbanos [...] (p. 140).

No estudo das “Regiões de Influência das Cidades” (REGIC), desenvolvido

pelo IBGE em 2007, e publicado em 2008, a concepção de região está diretamente

ligada ao entendimento das regiões funcionais19, desenvolvida no contexto da

Geografia Teorético-Quantitativa, e compreendida a partir de um centro polarizador

e dos fluxos que são atraídos e dissipados desse espaço. Esse estudo definiu os

principais centros urbanos do Brasil, e os qualificou de acordo com a intensidade e

variedade das funções urbanas, e a quantidade de fluxos que chegam e saem

desses espaços; ou seja, delimitou a região de influência das cidades de acordo

com seus níveis de centralidade.

19

“[...] retoma a concepção utilizada nos primeiros estudos realizados no IBGE, que resultaram na Divisão do Brasil em regiões funcionais urbanas, de 1972 [...] estabelece inicialmente uma classificação dos centros e, a seguir, delimita suas áreas de atuação [...]” (REGIC, 2008, p. 131).

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51

Os centros urbanos brasileiros foram classificados da seguinte forma (REGIC,

2008), segundo níveis descrentes de centralidade: Metrópoles, subdividido em

grande metrópole, metrópole nacional e metrópole; capital regional do tipo A, B e C;

centro sub-regional A e B; centro de zona A e B; e por fim, centro local.

Essa hierarquia urbana está ilustrada na figura 07, e explicitada no quadro 03.

Figura 07: Hierarquia dos centros urbanos brasileiros

Fonte: Região de Influência das Cidades (REGIC, 2008).

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52

Quadro 03: Hierarquia dos centros urbanos brasileiros

Nível Hierárquico Descrição

Metrópole

São os 12 principais centros urbanos do país, que se caracterizam por seu grande porte e por fortes relacionamentos entre si; além de, em geral, possuírem extensa área de influência direta. O conjunto foi dividido em três subníveis, segundo a extensão territorial e a intensidade destas relações: Grande metrópole (São Paulo), Metrópole nacional (Rio de Janeiro e Brasília) e Metrópole (Manaus, Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Curitiba, Goiânia e Porto Alegre).

Capital Regional

70 centros urbanos integram este nível. Com capacidade de gestão no nível imediatamente inferior ao das metrópoles, têm área de influência de âmbito regional, sendo referidos como destino para um conjunto de atividades, por grande número de municípios. Este nível também apresenta três subdivisões. O primeiro grupo (Capital Regional A) inclui as capitais estaduais não classificadas no nível metropolitano, e Campinas. O segundo e o terceiro, formados pelas Capitais Regionais B e C, além da diferenciação de porte; têm padrão de localização regionalizado, com o segundo mais presente no Centro-Sul, e o terceiro nas demais regiões do País.

Centro Sub-regional

Integram este nível 169 centros urbanos, com atividades de gestão menos complexas, dominantemente entre os níveis 04 e 05 da gestão territorial. Eles têm uma de área de atuação mais reduzida, e seus relacionamentos com centros externos à sua própria rede se dão, em geral, apenas com as três metrópoles nacionais. Com presença mais adensada nas áreas de maior ocupação do Nordeste e do Centro-Sul, e mais esparsa nos espaços menos densamente povoados das Regiões Norte e Centro-Oeste. Os centros sub-regionais estão também subdivididos em grupos: Centro sub-regional A (constituído por 85 cidades, com medianas de 95 mil habitantes, e 112 relacionamentos); e o Centro sub-regional B (constituído por 79 cidades, com medianas de 71 mil habitantes, e 71 relacionamentos).

Centro de Zona

Nível formado por 556 cidades de menor porte, e com atuação restrita à sua área imediata; exercem funções de gestão elementares. Subdivide-se em: Centro de zona A (192 cidades, com medianas de 45 mil habitantes, e 49 relacionamentos) e Centro de zona B (com 364 cidades, com medianas de 23 mil habitantes, e 16 relacionamentos).

Centro Local

Correspondem as 4.473 cidades, cuja centralidade e atuação não extrapolam os limites do seu município, servindo apenas aos seus habitantes. Elas possuem uma massa populacional inferior a 10 mil habitantes.

Fonte: Elaborado pela autoria a partir da “Região de Influência das Cidades” (2008).

Para compreender a centralidade urbanorregional de Mossoró a partir de suas

atividades terciárias, objetivo desse trabalho, adotar-se-á como espaço de estudo, a

região de influência da cidade de Mossoró delimitada pelo estudo Regic em 2008.

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53

Nesse contexto, serão descritos os principais aspectos: diversidade comercial e dos

serviços, população, PIB, entre outros elementos dos municípios que se encontram

sobre a influência desse centro.

Frisa-se que essa descrição será realizada com a finalidade de discutir, por

meio da realidade visível desses espaços, os vetores e os elementos que levam

essas áreas a estarem sob a influência de Mossoró; ou seja, quais são os motivos

que impulsionam os fluxos e a dependência desses espaços em relação a esse

centro urbano. Reforça-se também que a descrição aqui elucidada vai ao encontro

da primeira etapa do método regressivo-progressivo de Henry Lefebvre, adotado na

construção dessa dissertação. Essa descrição não explica por si só a influência

urbanorregional dessa cidade, mas permite estabelecer elementos comparativos e

discursivos para a compreensão dessa condição.

Dentro da hierarquia urbana estabelecida pelo Regic (2008), o estado do Rio

Grande do Norte possui uma Capital regional do tipo A (maior nível de centralidade

encontrada no RN - Natal); uma Capital regional do tipo C; dois Subcentros regionais

A e dois do tipo B; dois Centros de zona do tipo A e onze Centros de zona do tipo B.

Os demais municípios, 148, foram classificados locais (REGIC, 2008) (figura 08).

Figura 08: Rede urbana do estado do Rio Grande do Norte

Fonte: Região de Influência das Cidades (REGIC, 2008).

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54

Neste cenário espacial e hierárquico da rede urbana no Rio Grande do Norte,

a cidade de Mossoró se apresenta como uma Capital Regional do tipo C, exercendo

influência sobre 39 municípios do estado, e sendo influenciada diretamente pelas

cidades de Natal, classificada como Capital Regional do tipo A; Recife e Fortaleza,

classificadas como metrópoles regionais.

Além disso, cabe enfatizar que Mossoró polariza outros centros urbanos de

destaque, tais como a cidade de Assú, classificada como Centro subregional do tipo

B; e as cidades de Apodi, Patu e Umarizal, classificadas como Centros de Zona do

tipo B.

O quadro 04 e o mapa 02 apresentam e ilustram, respectivamente, os 39

municípios que estão sob a influência de Mossoró, e a localização ou a identificação

da região de influência dessa cidade, sua área de polarização no território estadual –

de acordo com as informações do Regic (2008).

Quadro 04: Municípios que formam a região de influência de Mossoró

01 Assú 11 Caraúbas 21 Janduís 31 Rodolfo Fernandes

02 Afonso Bezerra 12 Carnaubais 22 Lajes 32 São Rafael

03 Almino Afonso 13 Felipe Guerra 23 Martins 33 Serra do Mel

04 Alto do Rodrigues 14 Fernando Pedrosa 24 Messias Targino 34 Severiano Melo

05 Angicos 15 Frutuoso Gomes 25 Olho D’água dos B. 35 Tibau

06 Antonio Martins 16 Gov. D. Rosado 26 Paraú 36 Triunfo Potiguar

07 Apodi 17 Grossos 27 Patu 37 Umarizal

08 Areia Branca 18 Ipanguaçu 28 Pendências 38 Upanema

09 Augusto Severo20

19 Itajá 29 Porto do Mangue 39 Viçosa

10 Baraúnas 20 Itaú 30 Rafael Godeiro

Fonte: Região de Influência das Cidades (REGIC, 2008).

Diante do espaço regional apresentado, evidenciam-se alguns aspectos sobre

a cidade de Mossoró e sua região de influência (REGIC, 2008), dentre eles: a região

de influência de Mossoró abrange duas mesorregiões do estado do Rio Grande do

Norte, a saber: a Mesorregião do Oeste Potiguar e Central Potiguar; 43% do Produto

Interno Produto (PIB) dessa região era proveniente de Mossoró; do total de impostos

arrecadados na região, 65% tinha origem nesse município; e mais de um terço do

contingente populacional dessa região estava situado nessa urbe.

20

Lei nº 155: alteração do nome do município de Augusto Severo para Campo Grande.

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55

Mapa 02: Região de Influência da cidade de Mossoró

Fonte: Região de Influência das Cidades (REGIC, 2008).

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56

A região de influência de Mossoró contava com uma população estimada em

728.541 habitantes no ano de 2015. Esse valor correspondia a aproximadamente

21% da população total do estado, que era de 3.442.175 habitantes (IBGE, 2015).

Dentro do contexto populacional dessa região, frisa-se que cerca de 40% do número

total de habitantes desse espaço regional residiam na cidade de Mossoró.

Além disso, destaca-se que dos 39 municípios que estão sob a influência da

urbe mossoroense, 21 deles apresentavam um contingente populacional inferior a

10 mil habitantes; 17 possuíam uma população que variava de 10 a 50 mil; e apenas

o município de Assú (classificado como subcentro regional, polarizando 13 cidades)

apresentou população superior a 50 mil habitantes (mapa 03) (quadro 05) (REGIC,

2008).

De acordo com o Censo Demográfico realizado pelo IBGE, em 2010, grande

parte dessa população regional vivia nas áreas urbanas, com a exceção de cinco

municípios que apresentaram a população urbana inferior a rural: Ipanguaçu (38%),

Serra do Mel (26%), Severiano Melo (36%), Upanema (48%) e Carnaubais (48%).

Os demais municípios, 87% do total da região estudada, apresentaram, juntamente

com Mossoró, valores superiores a 50%, como demonstrado na tabela 05.

Tabela 05: Distribuição populacional na região de influência de Mossoró

Porcentagem da população urbana

Quantidade dos municípios da região e porcentagem em relação ao total

Inferior a 50% 05 (13%)

Entre 50% e 70% 14 (36%)

Entre 70% e 90% 19 (49%)

Superior a 90% 01 21 (2%)

Total 39 (100%)

Fonte: Censo demográfico (2010); Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2015).

Essa tendência socioespacial, marcada pela concentração populacional nas

áreas urbanas, é, conforme assinala Santos (1993), um dos reflexos do processo de

urbanização ocorrido no Brasil, da divisão territorial do trabalho, da disponibilidade

de serviços, e das políticas públicas voltadas para o urbano, principalmente, no caso

das pequenas e médias cidades brasileiras. Entretanto, enfatiza-se que, no caso

21

Somente Mossoró e Viçosa apresentaram valores superiores a 90% para a população urbana.

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57

específico do Nordeste brasileiro, apesar dessas aglomerações urbanas serem

numerosas, a urbanização é raquítica (SANTOS; SILVEIRA, 2001), isso porque a

quantidade e a qualidade das funções (serviços) urbanos são, no mínimo, rarefeitas.

É importante ressaltar que essa dinâmica populacional reflete, e é um reflexo

direto na conformação do cenário econômico da cidade de Mossoró, visto que ela é

um dos elementos que induz ao crescimento e à diversificação dos serviços e das

atividades comerciais nesse centro.

Discutindo sobre a dinâmica econômica e regional de Mossoró, Felipe (2007)

enfatiza que, no ano de 2006, dentre os 30 maiores PIB municipais do Rio Grande

do Norte, 16 deles eram referentes a esse espaço regional liderado por Mossoró 22.

Nesse contexto, destaca-se também que, no ano de 2013, o PIB a preço corrente da

região de influência de Mossoró foi de aproximadamente 13 bilhões de reais, sendo

que desse valor total, mais de 50% foram provenientes de Mossoró 23 (quadro 05).

Nesse contexto econômico, Felipe (2007, p. 66) assinala que para além da

economia salineira, da exploração do petróleo e da fruticultura irrigada, o comércio e

os serviços vêm “[...] mantendo a força polarizadora de Mossoró sobre uma vasta

região do Estado do Rio Grande do Norte, com reflexos em alguns municípios dos

estados vizinhos – Paraíba e Ceará [...]”; e dinamizando as relações de Mossoró

com a sua região de influência (FELIPE, 2007).

Em 2007, a cidade de Mossoró contava 67 classes de comércio, de um total

de 72 existentes, aproximadamente 93% das tipologias totais (REGIC, 2008). Essa

diversidade comercial coloca Mossoró em evidência, quando comparada aos centros

urbanos de sua região. Por exemplo, dos 39 municípios que integram a sua área de

influência, mais de 36 (que corresponde a 92%) deles apresentaram menos da

metade das tipologias de comércios existentes, e apenas uma cidade desse espaço

regional, o município de Assú, superou essa metade, com 40 classes de comércio

(REGIC, 2008), conforme o quadro 05.

22

Municípios com PIB de destaque no estado: Felipe Guerra, Governador Dix-Sept Rosado, Grossos, Pendências, Upanema, Tibau, Carnaubais, Mossoró, Serra do Mel, Apodi, Caraúbas, Ipanguaçu e Açu, Alto do Rodrigues, Areia Branca, Baraúna (FELIPE, 2007). 23

PIB total da região: R$ 12.895.722.000 reais; PIB de Mossoró: R$ 6.538.346.000.

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58

Mapa 03: Distribuição populacional na região de influência de Mossoró

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2015).

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59

Quadro 05: Informações gerais sobre a Região de Influência de Mossoró

Município da região População

2015 A

PIB Total 2013

B Nº de classes:

Comércio C

Nº de classes: Serviços

C Bancos

atuantes D

Quantidade Universidade

E Centralidade da saúde

F

01 Assú 57.292 742.559 40 62 04 04 06

02 Afonso Bezerra 11.202 64.684 18 09 01 - -

03 Almino Afonso 4.899 30.490 09 06 - - -

04 Alto do Rodrigues 13.915 454.400 22 22 02 - -

05 Angicos 11.907 90.945 24 21 02 01 -

06 Antonio Martins 7.205 40.461 11 05 - - -

07 Apodi 36.189 518.441 32 35 04 - 06

08 Areia Branca 27.356 897.179 27 48 02 01 -

09 Augusto Severo 9.716 78.053 16 16 01 - -

10 Baraúnas 27.238 585.149 20 18 02 - -

11 Caraúbas 20.564 271.936 24 19 02 04 06

12 Carnaubais 10.760 194.323 14 16 - - -

13 Felipe Guerra 6.013 106.969 05 02 - - -

14 Fernando Pedrosa 3.037 21.339 10 03 - - -

15 Frutuoso Gomes 4.228 28.149 08 04 - - -

16 Gov. D. Rosado 13.048 262.586 15 18 01 - -

17 Grossos 10.197 228.798 17 08 - 03 -

18 Ipanguaçu 15.147 111.031 18 13 01 01 -

19 Itajá 7.457 57.286 09 07 - - -

20 Itaú 5.878 38.014 15 09 - - -

21 Janduís 5.419 40.756 14 09 - - -

22 Lajes 11.151 74.800 20 16 01 02 -

23 Martins 8.706 50.359 16 12 01 01 -

24 Messias Targino 4.530 36.180 09 07 - - -

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60

Município da região População

2015 A

PIB Total 2013

B Nº de classes:

Comércio C

Nº de classes: Serviços

C Bancos

atuantes D

Quantidade Universidade

E Centralidade da saúde

F

25 Olho D’água dos B. 4.370 30.903 06 04 - - -

26 Paraú 3.891 31.813 06 06 - - -

27 Patu 12.706 79.996 28 18 01 01 -

28 Pendências 14.751 365.884 15 11 - - -

29 Porto do Mangue 5.884 236.565 07 04 - - -

30 Rafael Godeiro 3.213 20.875 08 04 - - -

31 Rodolfo Fernandes 4.547 30.005 12 07 - - -

32 São Rafael 8.347 57.822 19 10 - - -

33 Serra do Mel 11.507 115.136 07 12 - - -

34 Severiano Melo 3.893 38.788 10 05 - - -

35 Tibau 4.019 52.498 12 12 - - -

36 Triunfo Potiguar 3.366 30.618 06 04 - - -

37 Umarizal 10.835 79.333 26 21 01 01 -

38 Upanema 14.282 149.937 15 08 - - -

39 Viçosa 1.714 12.316 02 04 - - -

40 Mossoró 288.162 6.538.346 67 104 16 14 04

Fonte: Elaborado pela autoria (2016) - Dados diversos 24.

24

Dados diversos: A

População estimada em 2015 (IBGE, 2015). B

Produto Interno Bruto referente ao ano de 2013 (valores em mil reais (R$), a preço corrente) – (IBGE, 2015).

C Número de classes do comércio e dos serviços obtidos por meio do Regic (2008).

D Informações sobre os bancos na região

foram obtidos por meio da Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN) - Site http://www.buscabanco.com.br/AgenciasBancos.asp. Data das informações: 02 de outubro de 2015.

E Dados sobre o ensino superior disponíveis no site do MEC/INEP. http://emec.mec.gov.br/.

F Os dados sobre o nível de

centralidade da saúde por município estão disponíveis no documento do Regic (2008).

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61

A diversidade e a densidade de serviços disponíveis em Mossoró também a

coloca em um patamar de destaque quando comparada aos demais municípios que

compõem a sua região de influência. De acordo com os dados do Regic (2008), dos

39 municípios que formam esse espaço regional, 33 deles apresentavam menos de

20 classes de serviços (aproximadamente 85%); 05 apresentavam entre 21 e 60

classes (aproximadamente 13%); e apenas 01 município possuía 62 tipologias de

serviços (Assú) (quadro 05 e 06).

Quadro 06: Distribuição dos serviços na Região de Influência de Mossoró

Nº de Classes de serviços Nº de municípios da Região de Influência de Mossoró

Até 20 33

Entre 21 e 60 classes 05

Entre 61 e 100 classes 01

Entre 101 e 158 -

Fonte: Região de Influência das Cidades (REGIC, 2008).

É importante relembrar que a urbe mossoroense apresentou, conforme dados

do Regic (2008) expostos anteriormente, 104 classes de serviços de um total de 154

tipologias existentes, qualificando-a com o nível de centralidade quatro (04), valor

intermediário na escala dos níveis de centralidades para a prestação de serviços. O

gráfico 06 mostra essa diversidade/densidade comercial e dos serviços em Mossoró

e expõe o “destaque terciário” desse espaço urbano em seu cenário regional.

Em sua tese sobre os lugares centrais o Sul da Alemanha, Christaller (1981)

assinalou que a oferta de produtos e de serviços está diretamente relacionada aos

lugares centrais; a centralidade de um lugar está interligada à importância do mesmo

em relação a sua região circundante ou ao grau que esse espaço exerce funções

centrais; a importância de um lugar (de uma cidade, por exemlo) é resultado de uma

atuação conjunta econômica dos seus habitantes.

Nesse sentido, o referido autor reforça que essa atuação envolve graus de

intensidade, “[...] é algo completamente diferente da mera soma de resultados

econômicos singulares [...]” e explica que essa atuação, “[...] que chamaremos de

importância, é o que é referido quando se chama uma cidade de ‘viva’, ‘próspera’ ou

‘importante’ [...]” (CHRISTALLER, 1981, p. 27-28).

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62

Gráfico 06: Classes de comércio e de serviços na região de Mossoró

Fonte: Elaborado pela autoria com base nas informações da Região de Influência das Cidades (REGIC, 2008).

0

20

40

60

80

100

120

Número de classes de comércio Número de classes de serviços

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63

A diversidade das atividades terciárias e a disponibilidade de bens e serviços

em Mossoró são variáveis que permitem compreender a conformação desse espaço

como uma centralidade urbanorregional, como um “lugar de importância” na região.

Porém, ressalta-se que o entendimento dessa atual configuração espacial ultrapassa

o cenário estatístico exposto (gráfico 05) e vai de encontro aos processos históricos

e socioespaciais que vem envolvendo essa cidade ao longo dos tempos (foco da

próxima seção).

Detalhando um pouco da diversidade e densidade de serviços encontrada

Mossoró e região, destaca-se que do total de municípios que integram a sua área de

influência, apenas 15 deles apresentam agências bancárias. Nesse contexto, é

importante ressaltar que em muitos desses centros existe apenas uma agência,

como por exemplo, em Patu, Afonso Bezerra, Augusto Severo, Ipanguaçu, Martins,

Lajes, Umarizal e Governador Dix-Sept Rosado (quadro 05); e que Mossoró possui

16 agências bancárias, sobre a atuação de sete bancos, tanto de ordem nacional

como internacional. A concentração desses espaços bancários em Mossoró e a

rarefação (ou ausência) nos demais centros que formam a sua região de influência

podem ser observadas a partir do mapa 04.

Nesse contexto, o sistema financeiro existente na cidade de Mossoró pode

ser considerado com um dos elementos, dentro do leque de serviços ofertados

nessa urbe, que dão força e vitalidade a sua centralidade regional, visto que esse

sistema, de forma geral, é considerado como um bem central dentro da linha de

pensamento da Teoria das localidades Centrais proposto por Christaller (1981),

configurando-se, portanto, como um elemento fundamental na construção de uma

hierarquia urbana (CROCCO, 2012).

É importante destacar que a distribuição do sistema financeiro não ocorre,

necessariamente, de forma homogênea no espaço; são “[...] as suas características

internas vão determinar a capacidade de influenciar a construção de centralidades e,

consequentemente, de hierarquias urbanas distintas [...]” (CROCCO, 2012, p. 51),

principalmente em países como Brasil.

O serviço de ensino superior presentes em Mossoró também fortalece o papel

polarizador desse centro na região, isso porque, existem somente 11 municípios

nesse espaço regional que possuem centros de ensino superior (mapa 05). Além

disso, em algumas dessas cidades, os estabelecimentos de ensino são campus ou

núcleos avançados de universidades maiores, tais como UERN e UFERSA.

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64

Mapa 04: Serviços bancários em Mossoró e região

Fonte: Elaborado pela autoria com base nos dados da Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN, 2015).

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65

Mapa 05: Ensino superior em Mossoró e região

Fonte: Elaborado pela autoria com base nos dados do Ministério da Educação (MEC; INEP, 2015).

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66

Ainda sobre esse contexto educacional, destaca-se que Mossoró apresentou,

de acordo com os dados do Regic (2008), nivel de centralidade de graduação 05 25.

Além dessa cidade, apenas os municípios de Assú, Apodi, Areia Branca, Caraúbas,

Patu e Umarizal apresentaram níveis de centralidades no campo educacional. O

nível de centralidade de graduação dessas cidades foram 06 (valor mínimo), com a

exceção de Assú que apresentou nivel 05. Esses níveis de centralidade e suas

variáveis estão dispostos na tabela 06.

Tabela 06: Níveis de centralidade educação superior (graduação) 26

Variável Nível de centralidade

1º 2º 3º 4º 5º 6º

Matriculados 485456,5 106854,0 34578,0 13872,0 2324,0 136,0

Tipos de cursos 202,5 100,0 64,0 38,0 12,0 2,0

Grandes áreas 8,0 8,0 8,0 8,0 5,0 1,0

Fonte: Região de Influência das Cidades (2008).

É relevante apontar que Mossoró foi o único município dentro desse espaço

regional que apresentou nível de centralidade de pós-graduação, assumindo para tal

classificação, valor 05 27 (REGIC, 2008).

Como foi já elucidado anteriormente, Mossoró possui 14 universidades, sendo

um estabelecimento estadual, dois federais e 11 privados (presenciais, à distância e

semipresenciais). Essas universidades apresentam uma diversidade de cursos, em

diferentes níveis (graduação, especialização mestrado, doutorado), o que fortalece o

papel polarizador dessa cidade na região.

25

O delineamento da centralidade no ensino de graduação no Brasil partiu da análise dos dados do Censo da Educação Superior 2004, fornecidos pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP. O nível de centralidade de uma cidade no tocante à oferta de cursos de graduação foi estabelecido utilizando-se: 1) o número de alunos matriculados nos cursos presenciais; 2) o número de Grandes Áreas abrangidas pelos cursos oferecidos; e 3) o número de tipos de cursos existentes. Partindo-se dos dados, seis níveis de centralidade foram identificados: 01 para o valor máximo e 06 para o menor valor de centralidade (REGIC, 2008, p. 135). 26

Medianas do total de matriculados, número de tipos de cursos e grandes áreas do conhecimento por nível de centralidade no ensino de graduação – 2004. 27

O estudo da oferta dos cursos de pós-graduação foi realizado a partir da análise de dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES. A centralidade na pós-graduação – considerada como a capacidade de um centro de atrair alunos e profissionais do ensino – foi estabelecida, para os municípios, pela combinação e pela comparação dos dados de total de cursos, de número de Grandes Áreas do Conhecimento abrangidas pelos cursos, e da proporção de cursos de excelência (com conceitos seis ou sete, numa escala de avaliação que varia de um a sete). A classificação dos centros partiu dos valores das medianas dos dados de total de cursos e de Grandes Áreas. A escala de centralidade de pós-graduação variou de 01 (valor máximo) a 06 (valor mínimo). (REGIC, 2008, p. 136).

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67

No que se refere aos serviços de saúde, foram destacados no quadro 05,

apenas 03 cidades (Assú, Apodi e Caraúbas), além de Mossoró, que apresentaram

expressividade (níveis de centralidade) na área de saúde na região (REGIC, 2008).

Os níveis de centralidade de saúde estabelecidos pelo estudo do Regic estão

relacionados à quantidade de estabelecimentos, leitos e equipamentos hospitalares,

além do volume de internação encontrado em uma cidade. A escala de centralidade

nessa área varia de 01, para o nível de centralidade máximo, a 06, valor mínimo. Os

centros urbanos que não apresentam níveis de centralidade de saúde, como por

exemplo, em mais de 90% dos municípios que formam a região de influência de

Mossoró, não possuíam as quantidades mínimas e necessárias dos indicadores

(elementos) utilizados para a classificação desse nível de centralidade.

O gráfico 07 e o mapa 06 destacam e ilustram, respectivamente, os serviços

de saúde presentes em Mossoró em relação a sua região de influência a partir da

quantidade de estabelecimentos de saúde e leitos para internação, e a distribuição

dos equipamentos médicos (somatório: eletrocardiógrafos e tomógrafos) existentes

nesse espaço 28.

Por meio da leitura dessas representações gráficas, percebe-se que há um

volume expressivo de serviços de saúde em Mossoró e a carência, ou ausência, em

alguns casos, em outras cidades dessa região. Esse descompasso entre os serviços

de saúde ofertados nesse espaço regional é um dos vetores que também explicam a

centralidade ou o papel de destaque da cidade de Mossoró nesse cenário regional,

visto que, a centralidade de um lugar (de uma cidade) deriva de sua capacidade em

ofertar bens e serviços, tanto para si mesmo como para a sua região – vizinhança

imediata ou área complementar.

Ressalta-se que a centralidade de um lugar não está relacionada apenas a

capacidade de concentrar atividades (funções), mas de agregar e atrair atividades

pessoas e capital, de polarizar uma determinada área, orientar os fluxos (SILVA,

2013). A intensidade dos movimentos que convergem para determinado lugar irá

refletir diretamente na capacidade de polarização do mesmo, na sua centralidade,

de modo que, “[...] quanto mais intensa a quantidade de fluxos que convergem para

o centro e de lá divergem para outras áreas, maior o grau de centralidade” (SILVA,

2013, p. 4).

28

Dados do IBGE referentes ao ano de 2009.

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68

Gráfico 07: Serviços de saúde em Mossoró e região

Fonte: Elaborado pela autoria (2015) com base nos dados do IBGE (serviços de saúde por cidade) 23.

0

100

200

300

400

500

600

700

Estabelecimentos de Saúde Total Leitos para internação em estabelecimento de saúde total

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69

Mapa 06: Equipamentos de saúde presentes em Mossoró e região

Fonte: Elaborado pela autoria (2015) com base nos dados do IBGE (serviço de saúde por cidade) 23.

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70

Nessa perspectiva, os fixos (formas, estruturas, serviços) de um determinado

espaço, juntamente com os fluxos (movimentos) que convergem e divergem desse

lugar, auxiliam a compreensão da centralidade urbanorregional; esse par dialético

possibilita examinar a força de polarização, atração, de um espaço sobre os outros,

ou seja, a sua centralidade.

A realidade visível está posta: De um lado, uma cidade dotada de múltiplas

funções urbanas, que se apresenta como um centro de destaque, de liderança

regional; do outro, um conjunto de municípios com “carências urbanas”, com funções

diminutas ou escassas. O que se ver no momento, ou no passado próximo, não

explica por si só essa conformação espacial, a evidência urbanorregional da cidade

de Mossoró; é necessário entender os processos, os movimentos, o modo como

essa realidade foi e é arquitetada, ou seja, os passos que foram e que ainda são

trilhados para se chegar e manter a conjuntura atual - caminhos a serem trilhados

nos próximas seções desse estudo.

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71

3 A CONSTRUÇÃO DA CENTRALIDADE URBANORREGIONAL

O ato de produzir não se reduz à construção de objetos, obras ou coisas, isso

porque, produzir também é, conforme assinala Lefebvre (2006), produzir espaço.

Quando os grupos sociais primitivos começaram a desenvolver e utilizar os seus

primeiros instrumentos técnicos, eles “imprimiram” traços e elementos humano no

meio, transformaram o que era antes natural em técnico, ou seja, produziram espaço

(SANTOS, 2006).

Com o desenrolar da história, essas transformações técnicas tornaram-se

intensas e constantes; a ciência e a informação, por exemplo, foram incorporadas a

esse cenário de metamorfoses. O meio que era apenas natural, agora é técnico,

cientifico e informacional, é um espaço produto, ou espaço geográfico, a totalidade

(SANTOS, 2006), um produto das relações sociais em um determinado momento

histórico, “[...] fruto do processo [modo] de produção que se estabelece no seio da

sociedade que tem por objetivo a reprodução da existência humana [...]” (CARLOS,

1982, p. 105). Além de ser produto, esse espaço é também dinâmico, impulsiona e

condiciona os processos sociais (CARLOS, 1982; LEFEBVRE, 2006).

Sendo assim, a produção do espaço geográfico, enquanto um resultado do

trabalho social se realiza, conforme enfatiza Moraes e Costa (1987), sobre formas

preexistentes, sejam elas naturais ou sociais; ocorre de forma desigual, de modo

que a acumulação desse trabalho humano gera espaços únicos e díspares. Nessa

linha de pensamento, os referidos autores ressaltam:

[...] o espaço é uma condição geral da produção [...] Daí ele possuir um valor intrínseco, não necessariamente produto do trabalho humano, uma ‘riqueza natural’. Daí, também, ele ser o receptáculo fundamental e geral do ‘trabalho morto’. Sob esse ponto de vista, o desenvolvimento histórico é também uma progressiva e desigual acumulação de trabalho na superfície da terra. [...] Às desigualdades naturais da superfície da terra, sobrepõem as desigualdades de alocação de trabalho (MORAES; COSTA, 1987, p. 123 e 124).

Partindo-se dessa perspectiva, reforça-se que o espaço acumula trabalhos

passados, materializados por meio de formas e estruturas; guarda ciclos de criação,

reposição e transformação; e contém a sobreposição dos resultados dos processos

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naturais, sociais e econômicos que coexistem na contemporaneidade (MORAES;

COSTA, 1987).

Além dessa justaposição de trabalhos (do modo de produção) no espaço com

tempos diferentes, Santos (2012b) ressalta que também existe a sobreposição “[...]

de influência originárias de múltiplos pontos ou múltiplos espaços [...]” (p. 257); ainda

explica que “[...] todas essas superposições atribuem a cada lugar uma combinação

especifica, uma significação particular que é, ao mesmo tempo, temporal e espacial”

(ibid, p. 257).

Nesse sentido, a sociedade, a partir do seu trabalho, produz espaço, cria e

transfere valores ao mesmo, dar significação própria e específica. Esses valores se

agregam ao espaço e condicionam os seus processos futuros; promovem, a partir

de determinadas variáveis, uma hierarquização espacial (MORAES; COSTA, 1987;

SANTOS, 2012b).

Santos (2012b) explica que a hierarquia espacial está relacionada a graus de

inovações do espaço, ao nivel de modernização e especialização; ressalta que essa

especialização é responsável pela polarização de determinadas áreas (ou regiões);

e ainda reforça:

A posição de polo cabe a áreas mais modernas e especializadas. Os outros subespaços recebem, assim, muito mais impactos, de origem múltipla e com as mais diversas significações. O subsistema que corresponde a um dado espaço está sob o controle, mais ou menos, parcial, mais ou menos intenso, mais ou menos durável, de outros sistemas, em um nivel mais alto de resolução, isto é, em uma escala mais elevada. É nesse sentido que se fala de hierarquização do espaço. (SANTOS, 2012b, p. 257).

O papel de evidência (ou não) de uma área dentro de um arranjo espacial

também está condicionado ao seu percurso histórico, à combinação dos processos

que conformaram tal situação (ou posição) espacial. Fazendo uma leitura acerca da

acumulação desigual de tempos no espaço e sobre essa hierarquização, Santos

(2012b, p. 257) explica:

Como em cada sistema há uma combinação de variáveis em escalas diferentes, mas também de ‘idades’ diferentes, cada sistema transmite elementos cuja datação é diferente. O próprio subespaço receptor é seletivo: nem todas as variáveis ‘modernas’ são acolhidas e as variáveis acolhidas não pertencem todas à mesma geração.

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73

Em seu livro Espaço e Método, Santos (2012a) ressalta essa relação espaço

e tempo, enfatizando que o comportamento de um novo sistema está condicionado

aos processos anteriores e a noção de espaço é inseparável da ideia de tempo; e

reforça que “[...] a cada momento da historia local, regional, nacional ou mundial, a

ação das diversas variáveis depende das condições do correspondente sistema

temporal” (ibid, p. 36).

Tomando por base esses apontamentos teóricos, nesta segunda seção

analisar-se-á o processo de conformação e reafirmação histórica e espacial da

centralidade urbanorregional da cidade de Mossoró, isso porque, entende-se que a

realidade apresentada depende em grande parte, das influências históricas que

foram “engendradas” nesse espaço urbano, das atividades produtivas que foram

desenvolvidas anteriormente nessa urbe.

Essa análise espaço-temporal realizar-se-á a partir de três contextos centrais:

primeiramente, a consolidação da urbe mossoroense como um Empório Comercial e

as primeiras manifestações de sua centralidade urbanorregional; em seguida, o

desenvolvimento das Agroindústrias Tradicionais e a influência dessa atividade no

espaço local e regional; e por fim, o processo de reafirmação dessa centralidade

urbanorregional a partir de 1970 e por meio, principalmente, das atividades terciárias

nesse espaço urbano.

3.1 MANIFESTAÇÕES INICIAIS DA CENTRALIDADE DE MOSSORÓ

O processo de ocupação e produção do espaço norte-rio-grandense ocorreu

inicialmente a partir do desenvolvimento de duas atividades econômicas principais: o

cultivo de cana-de-açúcar e a pecuária (ANDRADE, 1981). No início do século XVIII,

a cultura canavieira, proveniente originalmente das terras pernambucanas, adentrou

no território potiguar ocupando as margens dos rios da costa leste, tais como o

Curimataú, o Trairi, o Potengi e o Ceará-Mirim. Essa atividade econômica propiciou

o surgimento de alguns espaços urbanos na Capitania do Rio Grande, como as

cidades Ceará-Mirim e Canguaretama (ANDRADE, 1981; FELIPE, 1988).

Ainda no século XVIII e em paralelo ao cultivo da cana-de-açúcar, ocorreu a

incorporação da pecuária no interior do território norte-rio-grandense. A princípio,

essa atividade era desenvolvida nas imediações das grandes culturas canavieiras,

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visto que ela era uma “peça-chave” para a produção de açúcar, pois se obtinha da

mesma, a força de tração dos animais, essencial à produção nos engenhos, o couro

e a carne (BECKER; EGLER, 1993).

Entretanto, em virtude do crescimento e expansão da atividade canavieira, a

pecuária foi “empurrada” para as terras interioranas, isso porque o gado podia ser

transportado até o litoral e para as feiras regionais. É importante ressaltar que os

dois principais centros geradores e dissipadores da pecuária no Nordeste foi Olinda

e Salvador; dessas cidades saíram rebanhos de gado para o interior do Nordeste, a

exemplo do sertão e do agreste potiguar (ANDRADE, 1981; SILVA; ARAÚJO, 2013).

Sobre o processo de ocupação do interior nordestino, Pinheiro (2007) reforça:

Nos primórdios da colonização brasileira, as cidades surgiam lentamente. Em busca de bons pastos, já que os terrenos a beira-mar estavam resevados para o plantio de cana-de-açúcar, os homens adentravam os sertões, tangendo o gado, fixando-se em fazendas. Com o tempo, as fazendas cresciam. Então logo se doava um pedaço de terra para a construção de uma igreja; terra doada a Padroeira. E começavam a surgir casas ao redor das igrejas. Surgiam povoados, as vilas, as cidades. A fazenda de gado foi responsável pela fixação da população no interior nordestino. As fazendas geralmente eram construídas as margens de um rio. E fazendeiros e colonos moravam nelas durante muitos anos sem precisarem de maiores deslocamentos para sobreviver (p. 21).

Uma fazenda, uma capela, um rio e um pequeno amontoado de casas. Esses

elementos espaciais serviram de “alicerce” para o surgimento de muitas cidades do

interior nordestino. A cidade de Mossoró, por exemplo, não fugiu a esta realidade, e

“[...] como quase todas as cidades do interior nordestino, [...] começou a organizar

seu espaço através das atividades agropastoris [...]” (FELIPE, 1980, p. 07) e dos

elementos citados anteriormente.

No ano de 1701, Dom Fernando Mascarenhas, Governador e Capitão general

da Capitania de Pernambuco, doava terras sertanejas localizadas às margens do rio

Mossoró e do rio Paneminha (Capitania do Rio Grande) para o Convento de Nossa

Senhora do Carmo do Recife, cuja missão era evangelizar os indígenas locais.

Com a “pacificação” desses indígenas, a ribeira do rio Mossoró começou a

ser ocupada por fazendas de gado. Dentre esses espaços rurais, estava a Fazenda

de Santa Luzia, de posse do Sargento-Mor Antônio de Souza Machado, português

que tinha fixado moradia na ribeira de Mossoró no ano de 1750.

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75

No ano de 1772, o Sargento-Mor Antônio de Souza Machado e sua esposa

Rosa Fernandes solicitaram a Provisão das Dignidades do Cabido de Olinda/PE,

instituição religiosa daquela época, a concessão para construir uma capela em sua

fazenda, permissão concedida em 05 de agosto de 1772. A construção da Capela

de Santa Luzia é considerada como o marco inicial para o surgimento da cidade de

Mossoró, visto que, é a partir da construção desse espaço religioso que se funda a

Povoação ou o Arraial de Santa Luzia de Mossoró (PINHEIRO, 2007).

Silva (1983) descreve alguns dos traços e elementos espaciais desse embrião

urbano na citação abaixo, e esboça, de forma ilustrativa e explicativa, a organização

desse lugar, no período de sua fundação, na figura 09.

DE PRINCÍPIO, ‘as ruas é que punham outrora a si próprias os seus nomes’, diante disso, faz de conta que amanheceu algum dia seguinte a 05 de agosto de 1772. Já então, existia um pátio na frente da capela. A QUADRA DA RUA, quase imaginária, era o começo de Santa Luzia de Mossoró. Não é possível invocar o tempo. Pois embora o tempo existindo não deixou marca nem registro dos dias, dos anos que se acumularam. O certo é que a quadra cresceu, ampliou-se, tomou forma. As casas surgiram pelos lados, em linha reta, umas, em linhas tortuosas outras, marcando uma comunidade. Esse alinhamento natural de construções fechava a quadra, era o que se podia de chamar, de ruas. Mas essas ruas não podiam ter nome. Não era tempo ainda de serem batizadas. Mas as coisas foram se passando, as casas aumentando e foi nascendo uma povoação (p. 7).

Em 1842, a Povoação ou Arraial de Santa Luzia de Mossoró foi elevado à

categoria de Freguesia, desmembrando-se da Freguesia do Apodi 29. Essa mudança

representava, aparentemente, certa autonomia religiosa e valorização social da

Terra. No caso da Freguesia de Santa Luzia de Mossoró, Pinheiro (2007) frisa que,

mesmo com esse status, Mossoró ainda era pobre, com um comércio quase nulo e

agricultura incipiente; e reforça que a maior riqueza desse lugar foi, até o ano de

1850, a indústria pastoril desenvolvida por alguns fazendeiros daquele lugar.

29

Resolução nº 87 de 27 de Outubro de 1842. A população da povoação de Santa Luzia enviou uma petição a Assembléia Legislativa Provincial, pedindo que a Capela de Santa Luzia fosse elevada a Matriz, como o nome de Freguesia de Santa Luzia do Mossoró.

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Figura 09: Esboço do “espaço urbano” de Mossoró, em 1772

Fonte: SILVA (1983, p. 9).

Pós década de 1850, com o declínio das atividades pastoris, surgem outras

potencialidades econômicas na Freguesia de Mossoró, tais como, a exploração da

cera de carnaúba, abundante nas margens do rio Mossoró, e do sal marinho. A

proximidade da Freguesia de Mossoró ao Porto Ilha, distante sete léguas desse

centro urbano, propiciou, conforme destaca Pinheiro (2007), o escoamento dessas

mercadorias e a instalação de alguns armazéns nessa localidade, viabilizando os

primeiros passos do que viria a ser uma grande praça comercial a nível regional.

Em 1852, a Freguesia de Mossoró foi elevada a categoria de Vila. No Brasil,

esse status representava o primeiro “degrau” para a vida urbana (ROCHA, 2009),

era sinônimo de avanços urbanos e econômicos. Entretanto, a Vila de Mossoró tinha

poucas feições urbanas e uma economia incipiente, características que divergiam da

posição ocupada. Mossoró apresentava tais aspectos em virtude seu processo de

emancipação, que teve um caráter mais político, caracterizado pela disputa entre o

Partido Liberal e Conservador 30, do que econômico (PINHEIRO, 2007).

30

No ano de 1844, existia na Freguesia de Mossoró, apenas um partido político – Sulista ou Liberal. Com o objetivo de desestabilizar os redutos liberais em Mossoró, o presidente da Província e membro do Partido Conservador, José Joaquim da Cunha, estabelece as primeiras bases conservadoras nessa Freguesia no ano de 1852. Representado pelo Padre Antonio Joaquim, o partido conservador desenvolveu, conforme destaca Pinheiro (2007), o projeto para elevar a Freguesia de Mossoró à categoria de Vila e fazer surgir um novo município norte-rio-grandense com bases conservadoras.

Capela

Casas

Caminhos/estradas

Quadra da rua

Ruas

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De sua origem até meados do século XIX, a ocupação e o desenvolvimento

urbano de Mossoró ocorreram a passos lentos 31 (FELIPE, 1980; 1982; 1988). Essa

realidade socioespacial só foi alterada a partir do ano 1857, quando a Companhia

Pernambucana de Navegação Costeira começou, a partir da subvenção concedida

pelo Governo Provincial, a fazer escala regular no Porto Franco, também chamado

de “porto de Mossoró” (FELIPE, 1980; 1982).

A permissão concedida pelo Governo Provincial a Companhia Pernambucana

de Navegação Costeira para aportar seus navios em terras mossoroense incentivou

o desenvolvimento urbano e econômico da vila de Mossoró, atraindo comerciantes,

firmas e capitais externos, incrementando e dinamizando o comércio local (FELIPE,

1980; 1982; ROCHA, 2009).

Sobre tais acontecimentos e mudanças, Rocha (2009, p. 29) destaca:

[...] Este fato, aparentemente simples, provocou transformações importantes na organização da então incipiente vida urbana da área setentrional das provinciais do Ceará e do Rio Grande do Norte. Tornaram-se mais frequentes as relações com a cidade de Recife, em detrimento daqueles que há muito mantinha com Aracati. O movimento comercial aumentou, o Comércio Marítimo conseguiria o que os comboios não haviam podido realizar.

Essa nova fase urbana e econômica de Mossoró também foi impulsionada a

partir de acontecimentos que ocorreram fora dos limites territoriais do Rio Grande do

Norte, a exemplo do assoreamento do Porto Fluvial de Aracati. Com a inatividade

desse espaço, localizado as margens do rio Jaguaribe (Aracati/Ceará), e a inserção

de Mossoró nas rotas diárias da Companhia Pernambucana de Navegação Costeira,

vários comerciantes da região “[...] que utilizavam esse porto para o escoamento de

suas mercadorias se viram impedidos de exercer suas atividades [...]” (ROCHA,

2009, p. 30), transferindo suas firmas para a Mossoró.

A partir desse ano, a vila de Mossoró se revestiu com uma dinamicidade até

então desconhecida; o ciclo do gado “saía de cena” e dava lugar ao comerciante

comprador e exportador, fazendo surgir assim, uma sociedade mercantil e comercial

(FELIPE, 1982).

31

Em 1842, a Freguesia de Santa Luzia de Mossoró foi desmembrada de Apodi; mas somente em 1852, o Núcleo Urbano foi elevado à categoria de Vila e desmembrado da Vila da Princesa da Comarca de Açu, por meio da Lei de Criação nº 246, de 15 de março de 1852. A partir de então a povoação comecou a crescer, embora muito lentamente (ROCHA, 2009, p. 28).

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As atividades comerciais se constituíram como elemento-chave dessa vila;

passaram a refletir diretamente na sua organização social, espacial e econômica e a

projetaram como um espaço de destaque, como uma grande praça comercial, lugar

de troca, de comercialização e de abastecimento entre o sertão e o litoral, ou como

assinala Felipe (1982, 1988), como um Empório Comercial, lugar caracterizado por

uma intensa variedade de produtos e por grandes fluxos comerciais.

A organização dessa Vila de Mossoró passava então a ser “comandada”

pelos comerciantes, pela atividade comercial, que estruturavam e organizavam esse

espaço de acordo com seus interesses. Cascudo (2001) cita algumas leis provinciais

daquela época que foram criadas com o objetivo de favorecer a dinâmica comercial

nesse espaço, destacando-se entre elas: a Lei 149, de Abril de 1859, que autorizava

abertura de estradas ligando a Vila de Mossoró a Aracati; a Lei 590, de 23 de

Dezembro de 1865, que garantia a redução de impostos para negociantes

estabelecidos no Porto Jurema no rio Mossoró; e a Lei 600, de 11 de junho de 1867,

que isentava os comerciantes fixados na Vila de Mossoró do imposto de 5% em

cima da exportação estrangeira, durante os três primeiros anos de atividade.

Entre as décadas de 1860 e 1870, o ritmo de crescimento da vila de Mossoró

se intensifica - há uma expansão de sua área urbana e comercial, com a construção

de casas, armazéns e estabelecimentos comerciais. Esse período é denominado por

Cascudo (2001) como “Década do Expansionismo”.

Silva (1983, p. 17) destaca que esse período é de:

[...] trabalho intenso, autorização de planos, ampliação da cidade que ia conquistando os bairros próximos [novas áreas]. É a cidade da exportação, fornecedora de todo Oeste e mesmo parte do Agreste [...]. Avolumam-se as fortunas pessoais. Mossoró recebe curiosidade de terras longínquas, bebidas, fumos, fazendas, louças, joias trazidas pelos comerciantes, que estabeleciam intercâmbio. É a década decisiva para a marcha financeira do Município.

Essa expansão pode ser observada a partir dos croquis elaborados por Silva

(1983). Na figura 10 mostra-se, com base no relato de Henry Koster, o Arraial de

Santa Luzia de Mossoró no ano de 1810 32 - pequeno embrião urbano, com um

32

Os relatos mais antigos sobre Mossoró pertencem ao cronista e viajante Henry Koster. Ela faz a seguinte descrição de Mossoró no ano de 1810: “A 7 de dezembro, às 10 horas da manhã, chagamos ao arraial de Santa Luzia, que consta de 200 ou 300 habitantes. Foi edificado num quadrangulo, tendo uma igreja e pequenas casas baixas. Santa Luzia está situada a margem de um rio sem água” (SILVA, 1983, p. 11).

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número ainda reduzido de residências, feições urbanas. Na figura 12, Mossoró entre

1860-1870, percebe-se a expansão dos elementos urbanos nesse espaço, tais

como, a construção dos primeiros edifícios públicos (cemitério, cadeia), o surgimento

e a expansão de moradias, ruas e vias urbanas, e de bairros (PINHEIRO, 2007).

Figura 10: Arraial de Santa Luzia de Mossoró, em 1810

Fonte: SILVA (1983, p. 14).

Figura 11: Mossoró entre 1860 e 1870 - Década do expansionismo

Fonte: SILVA (1983, p. 19).

Residências

Cemitério

Cadeia

Residência

Bairro

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Em 1870, a Vila de Mossoró é elevada a categoria de cidade (FELIPE, 1980).

Os limites territoriais desse espaço permaneciam o mesmo de sua freguesia, porém,

sua população e seus traçados urbanos expandiam-se significativamente. Segundo

a Contagem Populacional realizada no ano de 1839 e o Levantamento Demográfico

de 1873, a população mossoroense passava de 4000 para 7748 habitantes em um

intervalo de apenas 34 anos (PINHEIRO, 2007). Sobre esse contexto, reforça-se que

a expansão urbana de Mossoró nesse período se dava principalmente em virtude do

crescimento demográfico que ocorria nesse lugar (OLIVEIRA, 2014).

Entre os anos de 1872 e 1874, algumas empresas estrangeiras já atuavam na

cidade de Mossoró, dentre elas destacam-se: Gustavo dos Prazeres Brayner, Graf &

Cia, Guynes & Cia, Teles Finizola, Leger & Cia e Conrado Mayer.

O destaque assumido pela cidade de Mossoró, enquanto centro comercial,

“[...] se refletia já naquele período na influência regional que a mesma exercia, cujo

[alcance] espacial [...]” se dava além do território potiguar, abrangendo espaços

interestaduais (OLIVEIRA, 2014, p. 47). O comércio realizado em Mossoró naquele

período atingia e influenciava espaços urbanos do oeste potiguar, áreas do médio e

baixo Jaguaribe no estado do Ceará e expressiva faixa no noroeste do estado da

Paraíba, entre as bacias do rio Peixe e rio Piancó (PINHEIRO, 2007; ROCHA, 2009;

OLIVEIRA, 2012; 2014). Sobre esse alcance espacial, Pinheiro (2007, p. 60) reforça:

Mossoró passou a assumir o papel de grande praça comercial, inclusive a nível regional. Devido a sua privilegiada geografia – ponto de comunicação entre o sertão e o litoral, Mossoró abastecia todo o oeste, parte do centro-norte e ainda agreste potiguar. Eram ainda sua área de influencia os Cariris Novos, no Ceará, e Vale dos rios Peixe e Piancó, na Paraíba.

Mossoró recebia algodão, couro, queijo, manteiga dos sertões paraibanos;

chegavam farinha, feijão, milho e arroz dos estados de Pernambuco e do Ceará. Em

contrapartida, essa cidade também exportava sal, chapéus de palha carnaúba, velas

de cera, esteiras e cereais (PINHEIRO, 2007).

A figura 12, esboçada com base nas informações dispostas anteriormente, é

uma tentativa de espacialização da área de influência da cidade de Mossoró no

período do Empório Comercial. Nela, observa-se a influência de Mossoró no Ceará,

especificadamente na região do rio Jaguaribe, na Paraíba (porção oeste-noroeste) e

sobre o território potiguar, nas regiões oeste, centro e agreste potiguar.

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A seta presente nessa ilustração representa as trocas comerciais realizadas

entre Mossoró e Recife, centro urbano e comercial de destaque naquele período.

Frisa-se que da cidade de Recife, Mossoró recebia produtos importados da Europa,

tais como bebidas, fumo e fazendas (tecidos) e exportava algodão, couro, queijo,

cera de carnaúba e borracha de maniçoba (PINHEIRO, 2007).

Figura 12: Influência de Mossoró no período do Empório Comercial

Fonte: Felipe (1980; 1982), Pinheiro (2007), Rocha (2009) e Oliveira (2012; 2014).

A ascensão e a consolidação da Vila de Mossoró como Empório Comercial

possibilitou que esse espaço urbano se conformasse como uma centralidade urbana

e regional, um lugar de atração e dispersão de fluxos. Felipe (1980, 1982) destaca

que existem três fatos históricos que explicam a ocorrência desse processo, a saber:

a) a chegada da Companhia Pernambucana de Navegação Costeira à Mossoró, já

exposto anteriormente; b) a localização de Mossoró entre o sertão e o litoral; c) e a

seca ocorrida no ano de 1877.

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82

No que se refere ao segundo marco, localização de Mossoró, enfatiza-se que

esse centro urbano aparecia naquele momento histórico como um lugar privilegiado,

uma área de transição entre a economia do litoral e do sertão, recebendo produtos

de outras praças comerciais do Brasil e do exterior, bem como, embarcando pelo

seu porto, a produção regional (FELIPE, 1980; 1982).

O terceiro “marco” para consolidação de Mossoró como Empório Comercial, e

por consequência, como uma centralidade urbanorregional, foi à seca de 1877.

Durante esse “episódio climático”, Mossoró já se encontrava como um espaço de

destaque na região, como um lugar que concentrava “alternativas de sobrevivência”

diante dessa problemática (FELIPE, 1980). Por apresentar tais aspectos, o Governo

Geral enviou recursos para essa cidade com a finalidade de amenizar as mazelas

decorrentes dessa estiagem, atraindo, consequentemente, um grande volume de

pessoas (flagelos da seca) para esse espaço urbano.

Durante esse período, a população atingida pela seca que chegava a cidade

de Mossoró constituía-se como mão-de-obra, ou força de trabalho barata para os

comerciantes e salineiros locais. Esse contigente populacional configurou-se como

uma “força motriz” para o crescimento comercial de Mossoró (FELIPE, 1980), isso

porque, muitos estabelecimentos comerciais presentes nessa cidade negociavam

com o governo, a preços muito elevados, a venda de gêneros alimentícios para essa

população afligida pela seca; além disso, contratava-se esse exército populacional

para trabalhar de 10 a 12 horas por dia para ganhar remunerações paupérrimas.

Sobre a utilização dessa mão-de-obra barata e a importância da mesma para

a conformação econômica de Mossoró, o autor supracitado reforça:

[...] essa população de flagelados era consumidora de mercadorias compradas pelo governo ao comércio de Mossoró, e essa população miserável em um dado momento, transforma-se em mão-de-obra barata (para não dizer de graça) em força de trabalho excedente e miserável, que tudo faria por um litro de farinha. Esta força de trabalho, é a alavanca do crescimento comercial de Mossoró, mão-de-obra farta e quase de graça, que podia trabalhar nas salinas, como realmente trabalharam por um pouco de comida, é nesta fase que as salinas começam a ser exploradas de maneira sistemática, e começam a gera acumulação de capitais para os seus proprietários que retiram da força de trabalho representada pelos ‘retirantes’ a ‘mais-valia’ absoluta, que sedimentaria as bases dos capitais de Mossoró. E esta mais valia absoltura, retirada pela força de trabalho ‘retirante’ nas salinas, é em parte copiada pelos comerciantes, que utilizam essa força de trabalho, como transporte para suas mercadorias (FELIPE, 1980, p. 11-12).

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83

É importante ressaltar a participação dessa população nas transformações

urbanas ocorridas em Mossoró, a exemplo da retificação 33 do rio Mossoró, grande

obra municipal que envolveu grande parte desses contigente populacional, e das

obras municipais relacionadas ao tráfego de produtos e mercadorias, tais como, a

construção de estradas, açudes e portos (FELIPE, 1980; PINHEIRO, 2007).

Entre os anos de 1887 e 1889, ocorreu outra seca no Nordeste brasileiro.

Diferentemente do que tinha acontecido há 10 anos, essa estiagem enfraqueceu o

comércio da cidade de Mossoró, e especialmente o de exportação, pois faltavam

produtos como o algodão, o couro e peles. Como consequência desse problema,

diversas empresas estrangeiras fecharam suas portas e foram em busca de outras

praças comerciais na região. Sobre esse período, Pinheiro (2007) e Rocha (2009)

salientam que essa estiagem só beneficiou os comerciantes locais fornecedores de

alimentos ao Governo (para a população flagelada) e os salineiros, que passaram a

receber investimentos antes destinados somente ao comércio.

Finalizado o período de seca, a atividade comercial de Mossoró se recompõe

com o auxílio da salinicultura, mantendo-se em evolução e suprindo os pedidos e as

necessidades do Sertão inteiro. Entretanto, a sua estrutura urbana era insuficiente

para sustentar e viabilizar a sua função de Empório, não apresentando, por exemplo,

boas condições de tráfego (ROCHA, 2009). Mossoró necessitava, apesar de dispor

dos transportes marítimos (fluviais), construir ferrovias e estradas pavimentadas para

facilitar o escoamento (fluxo) de sua produção e manter-se em consonância com o

capitalismo mercantil da época (PINHEIRO, 2007).

O sonho da estrada de ferro em Mossoró era algo pretérito, preexistindo

desde a sua emancipação política no ano de 1870. Algumas leis e ações políticas

surgiram, por exemplo, como meios de viabilizar a inserção dessa cidade na malha

ferroviária nacional, destacando-se dentre elas: a Lei 646 de 1870, que autorizava a

contratação de engenheiros para a construção da estrada de ferro ligando Mossoró

ao Porto Franco; a Lei 662 de 1873, que autorizava a abertura de uma estrada

ligando Mossoró a Serra de São Miguel; a Lei do Orçamento Provincial de 1875 que

objetivava a construção da estrada de ferro entre Mossoró e a Vila do Triunfo

(CASCUDO, 2001; PINHEIRO, 2007).

33

Tornar o curso do rio reto, geralmente curvos que acompanham o relevo.

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84

Entretanto, apesar de todas as tentativas, esse “sonho” só tornou-se realidade

no dia 19 de março de 1915, quando foi inaugurada a primeira estrada ferroviária da

cidade de Mossoró – Companhia de Estrado de Ferro de Mossoró S/A - interligando

o Porto de Areia Branca a urbe mossoroense.

Apesar da inauguração dessa estrada de ferro em Mossoró, o espaço de

influência dessa cidade, por meio de sua malha ferroviária, era significativamente

reduzido quando comparado a outros Empórios Comerciais daquela época, como

por exemplo, Campina Grande. Esse atraso 34 refletiu negativamente na economia

de Mossoró, bem como no estado do RN (PINHEIRO, 2007; ROCHA, 2009).

Felipe (1988) explica que, com a desvalorização dos transportes marítimos e

fluviais e a ascensão do transporte ferroviário e rodoviário, ainda tardio em Mossoró,

essa cidade entrou em um período de “crise”, caracterizado pelo declínio de suas

atividades comerciais, e por consequência, pela perda da posição de Empório

Comercial – “[...] perda pela saída de capitais e empresas de Mossoró, perda pelo

retardamento da chegada da estrada de ferro, mas, sobretudo pela não entrada de

Mossoró na nova divisão social do trabalho” (FELIPE, 1988, p. 33).

Sobre tal contexto, Rocha (2009) destaca também os seguintes fatos:

[...] o transporte marítimo perdeu sua função dominante no transporte de mercadorias. O transporte ferroviário redirecionou os transportes locais e regionais, de modo que, na década de 1920, o desenvolvimento da estrada de ferro de Natal – RN e de Fortaleza – CE e da Paraíba – PB facilitou o intercambio comercial com o interior desses estados. Mossoró não teve como enfrentar os Empórios Comerciais que lhe tomaram a dianteira. A sua estrada de ferro pouco avança e faltavam estradas de rodagem (p. 44).

Além dos fatos e processos descritos, a autora supracitada aponta mais dois

fatores determinantes para o enfraquecimento do Empório Comercial de Mossoró, a

saber: o fortalecimento da Praça de Campina Grande e a emergência de novas

Redes de Intercâmbio Comercial, como por exemplo, a Rede Viação Cearense, que

drenava parte da atividade comercial “[...] para Baturité, Crato e Jaguaribe, uma vez

34

A primeira estrada de ferro do Brasil foi inaugurada em 1855, ligando o Rio de Janeiro a Petrópolis. Desse ano em diante, a produção de café em São Paulo estimulou e propiciou a construção de diversas estradas de ferro pelo Brasil (fim do século XIX), a exemplo das ferrovias construídas nas cidades de Recife e Salvador, primeiras urbes nordestinas a receber essas vias de circulação (por causa da influência econômica desses centros no Nordeste). No Rio Grande do Norte, a primeira ferrovia chegou em 1906, ligando Natal a Ceará-Mirim (PINHEIRO, 2007).

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85

que tais cidades anteciparam a construção de suas ferrovias, atraindo para si os

grandes comerciantes” (ROCHA, 2009, p. 44).

Sobre imperativo de tais fatos e acontecimentos, o comércio de Mossoró se

enfraqueceu, perdeu força, vitalidade, suas fortunas desapareceram, subdividiram-

se; essa cidade voltava a ter como base de sua economia, as atividades agrícolas e

extrativistas. Consequentemente, perdia assim a sua honrosa posição de Empório

Comercial, e paralelamente, diminuía sua influência sobre a região, ou seja, a sua

centralidade urbanorregional (ROCHA, 2009).

Até a década de 1920, momento em que as atividades comerciais de Mossoró

entraram em decadência, a economia norte-rio-grandense era predominantemente

agropastoril, com algumas particularidades espaciais e econômicas, tais como, a

exploração do sal (litoral norte), a atividade algodoeira associada à cultura alimentos

(sertão), a cultura do agave e o extrativismo da carnaúba e da oiticica (vales dos rios

Piranhas-Açu e Apodi-Mossoró).

Nesse mesmo período, o centro-sul do Brasil, especificadamente o estado de

São Paulo, começava a se industrializar em virtude do lucro obtido com a produção/

exportação de café. Esse processo, além de necessitar de maquinários, demandava

também a aquisição de matérias-primas, de produtos que serviriam de base para a

fabricação das mercadorias a serem industrializadas.

A crise comercial de Mossoró e as novas demandas econômicas e produtivas

do Brasil fizeram como que os comerciantes desse centro urbano, fazendo uso das

riquezas acumuladas durante o estágio anterior de sua economia, começassem a

reorganizar o seu espaço social e econômico.

Em outras palavras, Rocha (2009) assinala que Mossoró conseguiu encontrar

economias sucedâneas que permitiram a mesma continuar a frente das demais

cidades da região Oeste do Estado; e reforça que essa cidade deixava de ser um

centro de importação e exportação no contexto regional e passava a ter como base

de sustentação econômica, o beneficiamento e a exportação dos seus produtos

agrários e extrativistas para o Centro-Sul do país. Nascia assim, uma nova fase na

economia urbana de Mossoró, a ser detalhada na próxima subseção.

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86

3.2 AS AGROINDÚSTRIAS E A INFLUÊNCIA REGIONAL DE MOSSORÓ

A política de substituição das importações implantada no Brasil a partir da

década de 1930 tinha como objetivo central, dentro dos moldes capitalistas da

época, promover a industrialização do país, e especificadamente, a região Centro-

sul. A inserção desse perfil industrial estimulou e possibilitou que muitos espaços

urbanos brasileiros redefinissem as suas estruturas econômicas e produtivas.

Com a finalidade de reestruturar a sua economia e de se incorporar a esse

“novo perfil industrial” do Brasil, a cidade de Mossoró começou a se “industrializar”

com a inserção das agroindústrias em seu ambiente urbano. As agroindústrias

eram constituídas principalmente por usinas de beneficiamento do algodão, da cera

de carnaúba, de óleo de oiticica e do agave, além das indústrias salineiras e do

processamento do gesso e da fibra de algodão 35; espaços que beneficiavam os

produtos agrícolas e extrativistas cultivados (encontrados) em terras mossoroenses,

transformando-os em produtos semiprocessados, aptos a serem exportados e

utilizados nas indústrias do Centro-Sul do Brasil (PINHEIRO, 2007; ROCHA, 2009;

OLIVEIRA, 2014).

Sobre tal contexto histórico e produtivo, Rocha (2009) destaca:

Mossoró passou a beneficiar produtos extrativos, como a carnaúba, a oiticica, e os produtos agrícolas, como o algodão e agave – matérias-primas das agroindústrias de Mossoró para as indústrias de óleo, derivados, onde seriam ‘semibeneficiados’ e comercializados para as indústrias do Centro-Sul do País, particularmente São Paulo, que passa a requisitar matéria-prima para as suas indústrias. Assim, a industrialização que se vinha processando desde o inicio do século se firma e passa a comandar o processo de acumulação (p. 46-47).

A configuração dessa nova fase econômica de Mossoró, marcada por essa

“feição” agroindustrial, fez como que esse espaço urbano assumisse dentro de uma

nova divisão interregional do trabalho, a função de centro produtor e exportador de

matérias-primas. Essas mudanças deram, conforme assinala Felipe (1982), um “ar”

de espaço industrial e novas feições urbanas a Mossoró; fez com que esse centro

urbano passasse a exercer atração sobre a mão-de-obra das populações vizinhas

(PINHEIRO, 2007); e possibilitou, a partir da combinação dos seus precedentes

35

Exemplo do processo de beneficiamento: a semente do algodão era utilizada na produção de óleos comestíveis; a partir do pó da palha de carnaúba era fabricada a cera de carnaúba (MENDES, 2009).

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87

sociais, históricos e econômicos, a reafirmação dessa cidade como centralidade

urbanorregional.

Reforçando tais ideias, Rocha (2009) enfatiza que Mossoró “[...] se fortalecia

consideravelmente em detrimento do campo, pois acumulava as funções de centro

repassador da produção regional e sede da indústria” (p. 46). A autora citada ainda

assinala que tal dinamicidade fortaleceu e fez surgir cidades polos, tais como, Caicó,

João Câmara, Santa Cruz e Mossoró (reafirmando o seu “destaque” regional)36.

De acordo com Felipe (1982), a fase agroindustrial de Mossoró se estende do

final da década de 1920 e vai até inicio dos anos 1970. O autor citado ainda enfatiza

que esse o período agroindustrial de Mossoro pode ser dividido em dois momentos

distintos: um que “[...] abrange o período de 1920 a 1954, quando a cidade ganha

cerca de 30 unidades industriais [...] outra que abrange o período de 1955 a 1968,

quando são instaladas 132 unidades produtivas nos mais diversos ramos industriais”

(FELIPE, 1982, p. 67).

Na primeira fase das agroindústrias mossoroenses, predominavam indústrias

ligadas ao aproveitamento das matérias-primas regionais, tais como, o sal, o agave,

o algodão, a cera de carnaúba e a oiticica. Nessa fase, os espaços industriais do Rio

Grande do Norte eram fornecedores de matéria-prima para as indústrias do Brasil. É

importante reforçar que nesse período, o parque industrial de Mossoró era o maior

do território norte-rio-grandense (PINHEIRO, 2007).

Na segunda fase, sobre o imperativo dos ideais intervencionistas, no qual o

planejamento estatal assume papel de destaque no desenvolvimento econômico do

Brasil, as agroindústrias mossoroense se especializaram, objetivando com isso, a

prestação de serviços dentro do próprio espaço urbano e regional. Nesse contexto,

surgiram cerâmicas, fábricas de mosaicos, oficinas mecânicas, metalúrgicas, de

recondicionamento de câmaras de ar e pneus, marcenarias, oficinas de vestuário,

calçados, gráficas, fábricas de sabão, velas, bebidas e de produtos alimentares, tais

como café, produtos de padaria, sorvetes, gelo, macarrão, sal, vinagre e tempero

(PINHEIRO, 2007).

36

“[...] algumas cidades nordestinas são herdeiras de uma tradição econômica surgida em períodos anteriores, mas cuja especialização se perfaz em décadas recentes. Cidades sertanejas como Campina Grande (PB), Mossoró (RN), Sobral (CE) e Caruaru (PE), em um primeiro momento se conformam em empório comercial, ou seja, como centros repassadores da produção do seu espaço regional e também como sede de fábricas, indústrias e prestação de serviços. De acordo com Felipe (1982), num segundo momento esse capital acumulado, através das atividades comerciais, passaria a comandar o desenvolvimento dessas cidades” (SANTOS, 2009, p. 101).

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88

O gráfico 08 demonstra a evolução e a concentração dos estabelecimentos

industriais em Mossoró nas duas fases citadas anteriormente. Fazendo uma leitura

dessa representação gráfica, percebe-se que ocorreu um crescimento exponencial

das agroindústrias em Mossoró a partir de 1945, e que entre 1960 e 1964, foram

instalados mais de 70 estabelecimentos industriais em Mossoró.

Esse crescimento agroindustrial foi um reflexo da implantação estratégica de

políticas intervencionistas preconizadas pela Superintendência do Desenvolvimento

do Nordeste – SUDENE, cujo objetivo era promover e coordenar o desenvolvimento

da região Nordeste do Brasil (ROCHA, 2009), “[...] estimular a industrialização como

forma de superar as dificuldades econômicas dessa região” (SANTOS, 2009, p. 99).

Gráfico 08: Fases das agroindústrias em Mossoró

Fonte: Cadastro Industrial da COFERN (1968) – Disponibilizado em FELIPE (1982, p. 68).

A tabela 07 mostra a distribuição temporal, e por tipologia, das agroindústrias

nesse centro urbano entre os anos de 1870 e 1968. Por meio dos dados dispostos

nessa representação, percebe-se que até 1944, o número de agroindustriais em

Mossoró era bastante reduzido, existindo apenas empresas ligadas a extração de

produtos minerais, de produtos químicos e alimentares, metalurgia e gráfica.

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89 Tabela 07: Distribuição temporal das agroindústrias em Mossoró

GÊNEROS INDUSTRIAIS

DATA DE FUNCIONAMENTO

1870

1874

1875

1879

1880

1884

1885

1889

1900

1904

1905

1909

1910

1914

1915

1919

1920

1924

1925

1929

1930

1934

1935

1939

1940

1944

1945

1949

1950

1954

1955

1959

1960

1964

1965

1968 TOTAL

Extrativa de Produtos Minerais 01 01

Minerais não metálicos 01 01 01 03

Metalurgia 01 01 02 04

Mecânica 01 01 02 04

Transporte 01 01 02

Madeira 03 02 11 03 19

Mobiliário 01 02 04 03 10

Borracha 01 01 02

Química 01 01 01 02 01 01 01 08

Sabões 02 08 03 13

Têxtil 02 01 01 01 05

Vestuário e calçados 08 08

Produtos alimentares 01 01 01 02 07 12 28 19 71

Bebidas 01 01

Editorial e gráfica 01 02 02 02 07

Material de construção 02 04 01 07

TOTAL 01 01 01 03 01 01 01 08 16 23 73 36 165

Fonte: Cadastro Industrial da COFERN (1968) – Disponibilizados em FELIPE, (1982, p. 68).

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90

Entre 1945 e 1954, ampliou-se quantitativamente e qualitativamente o número

de espaços agroindustriais em Mossoró, sendo implantadas 24 agroindústrias e 06

novas tipologias (gêneros industriais), inexistentes anteriormente, a saber: Minerais

não metálicos, mecânica, madeira, mobiliário, têxtil e materiais de construção.

Ainda em relação à tabela anterior, constata-se que entre os anos de 1955 e

1964, Mossoró contava com aproximadamente 100 espaços agroindustriais, com

destaque para as empresas vinculadas a exploração de madeira (13), a fabricação

de sabões (10) e a de produtos alimentares (40).

A expansão do sistema produtivo industrial de Mossoró (gráfico 08) e a sua

inserção na divisão territorial e interregional do trabalho nacional, fizeram com que

essa cidade mantivesse a sua condição de centro regional; esse perfil agroindustrial

permitiu que Mossoró se integrasse em um novo sistema de produção e circulação

regionais, ampliando seus fluxos e sua região de influência (OLIVEIRA, 2014) 37.

O destino dos produtos agroindustriais beneficiados em Mossoró pode ser

observado no quadro 07 e na figura 13. A partir dessas representações, percebe-se

a extensa área de influência (abrangência) dos produtos agroindustriais cultivados e

processados na cidade de Mossoró.

Quadro 07: Destino dos produtos agroindustriais de Mossoró

Produtos (exportação)

Destino nacional (especificação) Exterior

Sal marinho e sal moído ou refinado Para todo o Brasil ---

Peles e couros Natal (RN) X

Cera de carnaúba Fortaleza (CE) X

Óleos vegetais PE, SP e RJ ---

Algodão em pluma RJ, SP e MG ---

Madeira desdobrada, móveis de madeira, tacos Natal (RN) e Fortaleza (CE) ---

Gesso Calcinado PE e SP ---

Redes de dormir PA e AM ---

Fonte: FELIPE, 1982, p. 70.38

37

“[...] A política territorial das grandes empresas, que antes buscavam as benesses das localizações metropolitanas, sobretudo na região Sudeste, descentraliza suas indústrias e direcionam seus investimentos para outras porções do território brasileiro. [...] A partir das diretrizes impostas pela SUDENE, estabeleceu-se uma nova divisão territorial do trabalho que impôs ao Nordeste a função de produtor de matérias-primas para as regiões Sul e Sudeste” (SANTOS, 2009, p. 99). 38

FIBGE – IBGE. Subsídios ao Planejamento da área Nordestina – Mossoró – Um centro Regional do Oeste Potiguar. Rio de Janeiro, 1971 (p. 25).

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91 Figura 13: Distribuição espacial dos produtos agroindustriais de Mossoró

Fonte: Elaborada pela autoria (2016) com base no quadro 07 (FELIPE, 1982, p. 70).

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92

Além disso, constata-se também que o espaço de abrangência (de alcance)

desses produtos não se restringia somente ao território nacional, a exemplo das

peles, dos couros e da cera de carnaúba que eram exportadas para o exterior; os

estados da região Centro-Sul do Brasil eram os principais receptores (compradores)

desses produtos, devido o perfil industrial da região, especialmente de São Paulo; e

que o sal produzido em Mossoró atingia todo o território nacional (era utilizado nas

indústrias químicas do centro-sul do país naquele momento).

Essa nova dinâmica econômica impôs uma reorganização do espaço urbano

de Mossoró (FELIPE, 1981; 1982). A estrada de ferro, por exemplo, foi fundamental

no delineamento urbano dessa cidade, isso porque, ela “atraiu” as agroindústrias

para próximo de si a fim de facilitar o escoamento da produção agroindustrial,

assumindo “[...] uma conotação de diretriz, para a qual a morfologia urbana rendeu

uma obediência e muitas conversões” (OLIVEIRA, 2014, p. 53). Felipe (1982, p. 71)

exemplifica essa realidade quando aponta que, algumas agroindústrias de Mossoró,

tais como a Brasil Oiticica, CICOSA, Alfredo Fernandes e Cia, a Tertuliano Aires e

Cia, e a Tertulino Fernandes e Cia levaram “[...] os trilhos da linha férrea para as

calçadas ou pátio interno da sua unidade industrial”.

Essa dinâmica agroindustrial impôs outras mudanças urbanas a Mossoró, tais

como: a pavimentação das ruas, a ampliação e distribuição da energia elétrica, a

construção de praças (jardins) públicas e canalização de cursos d’água (PINHEIRO,

2007); a construção de barragens submersíveis no rio Mossoró, com a finalidade de

garantir o abastecimento da população (que crescia em ritmo acelerado) (OLIVEIRA,

2014); surgimento de bairros operários, tais como Bom Jardim, Paredões, Baixinha

(ocupados principalmente pelos trabalhadores das salinas), Alto da Conceição, São

Manoel, Pereiros (ocupados pelos operários das algodoeiras, das fábricas de óleo,

de sabão, de beneficiamento da cera de carnaúba, cordoaria, fiação e tecelagem), e

Doze anos (ocupados pelos trabalhadores das moageiras e ensacadores do sal, e

também pelos ferroviários, que povoavam também os bairros do Alto da Conceição

e Lagoa do Mato) (Anexo B) (FELIPE, 1982).

As agroindústrias de Mossoró também foram responsáveis pela revalorização

da atividade comercial nessa cidade e implantação de alguns serviços/equipamentos

urbanos, tais como estabelecimentos de ensino, agências bancárias, igrejas, clubes,

residências, entre outros (PINHEIRO, 2007).

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93

Durante a sua primeira fase agroindustrial, por exemplo, a cidade de Mossoró

“adquiriu” quatro estabelecimentos de crédito, a saber: o Banco do Brasil (1918),

Banco de Mossoró (1937), a Casa Bancária S. Gurgel (1942) e a Cooperativa de

Crédito de Mossoroense Ltda. (1951); ampliando esse cenário em sua segunda

fase, com a chegada de outros estabelecimentos, tais como: o Banco do Povo S.A.

(1956), o Banco do Nordeste do Brasil S.A. (1958), a Cooperativa de Crédito Agro-

Industrial Ltda. (1965) e o Banco do Rio Grande do Norte S.A. (1965) (FELIPE,

1982). Esses espaços bancários representavam, conforme assinala Oliveira (2012),

a circulação de capital que se reproduzia em Mossoró com as atividades industriais.

De acordo com Felipe (1982), as agroindústrias revitalizaram o comércio de

Mossoró “[...] com forças suficientes para manter, juntamente com os serviços de

saúde, educação, transporte e crédito bancário, a força regionalizadora [...]” (p. 80)

dessa cidade. Além disso, essa realidade comercial começava a configurar “[...] o

papel que essa atividade manteria ao longo dos anos, qual seja, a de tornar o

comércio de Mossoró como ‘complementar’ ao comércio de Fortaleza e Natal em

termos regionais [...]” (FELIPE, 1982, p. 80).

Em outras palavras, o que aconteceu na cidade de Mossoró durante a sua

fase agroindustrial foi, conforme assinala Rocha (2009), uma reorganização do seu

espaço urbano, que a preparou “[...] para participar de uma nova divisão territorial do

trabalho; daí a construção de novas formas e a incorporação de outros territórios,

que cumpriram funções diferentes das atuais” (p. 53).

É importante destacar que as agroindústrias e as salinas de Mossoró também

criaram um mercado de trabalho sazonal, atraindo diversas pessoas da região para

esse centro urbano em busca de oportunidades de emprego, constituindo-se como

um lugar de destaque, de atração na região.

Essa “sazonalidade produtiva” gerou e intensificou alguns problemas sociais e

econômicos nessa cidade, tais como a instabilidade econômica dos trabalhadores

agroindustriais, por causa da sazonalidade na produção, e segregação espacial dos

mesmos, isso porque muitos deles tinham que ocupar as piores áreas urbanas de

Mossoró.

Sobre tal realidade econômica e espacial, Felipe (1982, p. 74) explica:

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94

Essa não mobilidade do trabalhador salineiro [não retornavam aos lugares de origem] gerou problemas sociais e econômicos para Mossoró. As populações construíam as suas moradas na periferia da cidade ou me locais onde o solo urbano fosse de fácil acesso, como áreas ribeirinhas. Esse contigente populacional de mais de dois mil trabalhadores salineiros, com seus dependentes chega a ultrapassar os dez mil habitantes. Em 1969 representa 18,2% da população do município de Mossoró, passa a construir suas casinhas de taipa, originando bairros como a Baixinha, Barrocas e parte dos Paredões.

Entre 1960 e 1970, o crescimento econômico, urbano e social de Mossoró e o

seu papel de evidência no espaço nacional e regional começava a ser rompido - as

agroindústrias mossoroenses entravam em crise. A “desestabilidade” desse sistema

produtivo foi impulsionada pela combinação de fatores internos e externos, sociais,

naturais e econômicos, dentre eles (FELIPE, 1980; 1982; 1981; 1988): a dificuldade

de aquisição de matéria-prima para as agroindústrias nos anos de seca, reduzindo

significativamente sua capacidade produtiva e industrial; concorrência e substituição

dos produtos agroindustriais fabricados em Mossoró por mercadorias tecnicamente

mais industrializadas e estrangeiras 39, causando certa instabilidade e desequilíbrio

de mercado, ou seja, a atividade agroindustrial de Mossoró; e a Política de Crédito

imposta no Brasil depois de 1964.

O elemento de maior participação (influência) no processo de decadência das

agroindústrias mossoroense foi a Política Creditícia imposta durante o regime militar

(1964) (FELIPE, 1982), isso porque, ela criou dificuldades de acesso ao crédito (ao

capital), atingindo inicialmente os pequenos e médios estabelecimentos industriais,

com bases financeiras mais fracas; e criando também uma seleção das empresas

mais fortes economicamente (BRITO, 1987).

Como resultado dessa política estatal, inúmeras empresas agroindústrias, a

exemplo do Parque Salineiro mossoroense, foram “coagidas” a fecharem e/ou

venderem suas unidades produtivas para empresas de capital estrangeiro. Dava-se

início ao processo de internacionalização da atividade salineira (FELIPE, 1982;

PINHEIRO, 2007; ROCHA, 2009).

39

“[...] o algodão beneficiado em Mossoró foi substituído pelos fios sintéticos; o óleo de algodão e de oiticica teve seu mercado diminuído com a chegada de outras oleaginosas (como a soja) no sudeste; a cera de carnaúba foi substituída pelas fibras sintéticas; [...] o sal, insumo básico da indústria química que se instala na região Sul/Sudeste, na década de 1950, com base em capitais estrangeiros, é absorvido por esse mesmo capital, que tem interesse em controlar a sua matéria-prima mais significativa” (FELIPE, 1982, p. 82).

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95

Sobre esse processo, Felipe (1982) assinala que até o início da década de

1960, Mossoró e sua região de influência se configuravam como uma “região

fechada”, restrito apenas a ação do capital local e nacional. Esse quadro só foi

modificado no momento em que a região Nordeste começou a receber capitais

estrangeiros, ou seja, quando empresas internacionais começaram a comprar as

salinas locais.

O referido autor ainda destaca que nesta fase do capitalismo brasileiro, “[...] a

classe dominante local perdeu o controle do seu espaço social, político e econômico,

[isso porque] o espaço agora que é organizado, apropriado e manipulado por outros

capitais nacionais e internacionais [...]” (FELIPE, 1982, p. 18).

É importante ressaltar que o processo de internacionalização da atividade

salineira também abriu as “portas” para novas relações de trabalho nesse setor, a

exemplo do processo de mecanização da salinas. Com esse processo, o trabalho

humano, manual e lento, realizado nas salinas foi substituído por maquinários, mais

eficiente e rápido, encurtando-se o tempo de produção e maximizando-se o volume

produtivo, consequentemente, o lucro final (SILVA; COSTA, 2015).

Esse processo reestruturou tanto o parque industrial salinicultor de Mossoró,

aumentando a sua produtividade e a sua rentabilidade; como também estimulou

mudanças socioespaciais nessa cidade, principalmente quando gerou desemprego

estrutural, reduziu a renda monetária regional, originou “espaços periféricos” e

intensificou o processo de marginalização social e espacial (FELIPE, 1980; BRITO,

1987).

Nesse sentido, a tecnificação da salinicultura intensificou problemas sociais

na cidade de Mossoró, contudo, também dinamizou sua economia, transformou

estruturalmente seu espaço e proporcionou, conforme frisam Silva e Costa (2015, p.

25), “[...] complexas relações econômicas, espaciais, sociais, políticas e estruturais,

dando a este espaço, uma nova dinamicidade urbana [...]”.

Assim como aconteceu no “momento comercial” (Empório) de Mossoró, a

fase agroindustrial dessa cidade também deixou “heranças” - rugosidades na forma

urbana, capital e experiências acumuladas. Esses legados potencializaram o campo

das possibilidades em Mossoró e permitiram que essa cidade redefinisse sua base

econômica e suas funções urbanas, não perdendo o seu papel de destaque no

espaço regional. (FELIPE, 1982; ROCHA, 2009).

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96

Para pensar e compreender essa nova fase na dinâmica econômica, urbana e

regional de Mossoró, é preciso considerar que existem dois elementos centrais que

vem atuando diretamente (historicamente) na conformação dessa cidade como uma

centralidade regional, a saber: os agentes socioeconômicos presentes nessa cidade

e a situação locacional (condições ou fatores locais).

Longe de promover uma valorização do determinismo geográfico (condições

naturais determinam e condicionam a organização social e espacial), é necessário

reconhecer que os fatores (elementos) locacionais e naturais presentes em Mossoró

foram primordiais para a construção de sua centralidade regional. No momento de

consolidação de Mossoró como Empório Comercial, por exemplo, a proximidade de

um porto fluvial e a sua localização (posição) geográfica estratégica, entre o sertão e

o litoral, foram elementos importantes para a consolidação desse centro urbano

como espaço de destaque regional. Além disso, quando essa cidade se configurou

como um “espaço das agroindústrias”, exportador de materiais-primas para a região

centro-sul do Brasil, essa posição só foi conseguida em virtude da disponibilidade de

matéria bruta, natural, presente nesse lugar.

Sobre essa relação entre as condições locais de Mossoró e os seus agentes

econômicos, Felipe (1982, p. 96), citando Andrade (1981, p. 17 40), aponta:

[...] Embora não se admitindo a existência de um determinismo geográfico em que as condições naturais condicionem e determinem maior ou menor concentração demográfica, é forçoso reconhecer que, em sociedade com baixo nivel de utilização de capital e tecnologia, as condições naturais ao lado da posição geográfica e da maior capacidade de iniciativa dos grupos sociais dominantes contribuem para uma utilização mais eficiente dos solos e para uma exploração mais intensa dos recursos naturais.

Os agentes econômicos (burguesia agrária e comercial local), reconhecendo

as potencialidades locais, vêm organizando o espaço urbano de Mossoró de modo a

promovê-lo tanto no âmbito intra como interurbano (regional).

Sobre esse contexto e a importância dessa elite local, Felipe (1982, p. 92)

assinala que “[...] para essa burguesia, acostumada a grandes ambições, organizar

o espaço urbano [de Mossoró] e regional para exercerem em plenitude o comércio e

posteriormente as atividades agroindústrias, estava dentro do seu cotidiano”.

40

ANDRADE, Manoel Correia de. Trópico Semiárido: As Alternativas de uma Região Incompreendida. “In Revista Brasileira de Tecnologia”, pág. 17 – CNPq – Brasília, março de 1981.

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97

O referido autor ainda frisa que as mudanças na geografia de Mossoró e da

região sempre foram manipuladas por esses grupos econômicos (elite, burguesia

local); e salienta que, mesmo quando as transformações nesse espaço urbano e

regional emanavam de um poder longínquo, os grupos locais eram responsáveis por

sua operacionalização (FELIPE, 1982).

Sendo assim, Mossoró foi mais que um lugar de troca (empório), de produção

agroindustrial, ela se conformou como uma obra dos agentes históricos e sociais,

que pela sua atuação, “[...] projetaram sobre um espaço sua visão de vida, suas

ideologias, suas relações de classe [...]”; em outras palavras, Mossoró é o reflexo, a

projeção de uma sociedade, “[...] em primeira instância a nível local, em segunda

instância em níveis regional, nacional e internacional [...]” (FELIPE, 1980, p. 14-15).

Discutindo sobre a economia e o desenvolvimento regional do Brasil, Diniz e

Gonçalves (2005) destacam que o desenvolvimento de determinado espaço está

enraizado nas condições locais e na força dos agentes atuantes; e ainda reforçam a

importância dos grupos sociais (econômicos) nesse processo, ressaltando que em

“[...] uma sociedade do conhecimento e do aprendizado, a capacidade de gerar novo

conhecimento constitui o elemento central no processo de produção, competição e

crescimento, isto é, o mais importante fator locacional” (DINIZ; GONÇALVES, 2005,

p. 139).

Sendo assim, percebe-se que o desenvolvimento da cidade de Mossoró como

um espaço central na região está diretamente ligado as condições locais e a força

dos agentes que atuam sobre esse espaço, que operacionalizam e potencializam as

oportunidades diante dos cenários de crises, de dificuldade. A crise, ou a “queda”

das agrodindústrias em Mossoró e a ascensão de uma nova fase econômica nessa

cidade – a ser elucidada na subseção a seguir – foi (é) um exemplo expressivo da

importância e do poder de atuação dos agentes econômicos (elite local) na dinâmica

espacial e econômica dessa cidade.

3.3 O TERCIÁRIO E A REAFIRMAÇÃO DA CENTRALIDADE

A partir da década de 1970, com a crise das agroindústrias e a mecanização

da salinicultura, a cidade de Mossoró começou a se reestruturar do ponto de vista

econômico e espacial, deixando de ser um centro produtor e exportador de matérias-

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98

primas para se configurar como um espaço prestador de serviço, que passava a

terceirizar suas atividades locais (FELIPE, 1982; PINHEIRO, 2007; ROCHA, 2009).

A prestação de serviços e a atividade comercial já existiam nos períodos

anteriores da economia urbana de Mossoró, entretanto “[...] o seu conteúdo e suas

funções estavam voltadas especificadamente para a manutenção da máquina de

circulação e distribuição dos produtos de exportação [...]” (FELIPE, 1988, p. 17). É

somente a partir da década citada que as atividades terciárias, comércio e serviços,

voltaram-se para a sustentação da dinâmica econômica e espacial dessa cidade.

É importante destacar que a partir de 1970, com a substituição do modo de

produção fordista pelo regime de acumulação flexível (ou toyotismo) 41, ocorreram

diversas alterações (na escala mundial) nos padrões sociais, culturais, econômicos,

trabalhistas, espaciais e ideológicos, isso porque foram criados novos moldes de

produção, de consumo, de “necessidades” (transformações culturais).

O território brasileiro logo foi incorporado a essa nova divisão internacional do

trabalho. Como consequência dessa integração, intensificou-se a urbanização no

Brasil e a importância de algumas cidades; configurou-se um novo panorama urbano

nesse país, “[...] no qual, paralelamente, há um fenômeno de metropolização e de

desmetropolização [...], com o surgimento de vários centros urbanos de porte médio

que ganham cada vez mais importância regional e nacional” (COUTO, 2010, p. 02).

Tais transformações desencadearam mudanças no perfil dos serviços e do

comércio, tornando-os mais complexos e dinâmicos; fizeram com que a economia

terciária assumisse um papel de destaque no processo geral de desenvolvimento

urbano do Brasil (SANTOS, 1993). Couto (2010) citando Oliveira (1988) assinala que

a expansão do setor terciário faz parte do modo de acumulação urbano adequado à

expansão do sistema capitalista no Brasil.

Assim, partindo-se da perspectiva que cada lugar é produto de uma razão

global e local, convivendo dialeticamente (SANTOS, 2006), pode-se ressaltar que a

redefinição econômica de Mossoró (fim da década de 1960) se configurou com um

“reflexo” das transformações ocorridas no sistema econômico e produtivo mundial ou

na divisão social, territorial e internacional do trabalho.

41

O fordismo estava calcado na rigidez produtiva. O regime de acumulação flexível tem como fundamento básico, uma maior flexibilidade dos processos, produtos, padrões de consumo, mercados e da organização do trabalho. Como resultado dessas alterações produtivas tem-se a emergência de novos setores produtivos, novas modalidades de serviços financeiros e de mercados (inovação comercial, tecnológica e organizacional) (HARVEY, 2008).

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99

No período citado, como já elucidado anteriormente, Mossoró já apresentava

alguns equipamentos e serviços urbanos (heranças acumuladas da especialização

econômica vigente entre 1930 e 1970) de destaque no cenário regional, tais como a

presença de estabelecimentos bancários, originados para atender as relações

comerciais do período agroindustrial, além de espaços educacionais e de saúde e

uma atividade comercial já reconsolida (FELIPE, 1980).

Como exemplo de tais heranças, Rocha (2009, p. 56) aponta alguns espaços

educacionais, originados no momento agroindustrial de Mossoró, que serviram de

base para a reconfiguração econômica e espacial dessa urbe, a saber:

De sua parte, a cidade de Mossoró, que já tinha um Serviço de Educação com capacidade de servir uma região, consolida esse setor com a criação dos Cursos superiores de Economia e de Serviço Social, que vão se tornar o embrião da Fundação Universidade Regional do Rio Grande do Norte – FURN -, vinculada a Prefeitura Municipal, posteriormente transformada na Universidade Estadual do Rio Grande do Norte – UERN -, em 1968 [...] outra estrutura de Ensino Superior, criada nesse período foi a Escola Superior de Agricultura de Mossoró – ESAM -, que juntamente com a FURN, viabilizam a oferta desses serviços para vários Municípios do Oeste Potiguar e do Médio e Baixo Jaguaribe, no Ceará [...].

A autora citada ainda reforça que essa estrutura de serviços e equipamentos

urbanos presentes em Mossoró, juntamente com as riquezas acumuladas durante a

sua fase agroindustrial, habilitou esse centro urbano a ser um espaço prestador de

serviço (ROCHA, 2009).

As políticas públicas também se configuraram como elemento de destaque no

processo de redefinição econômica de Mossoró, isso porque elas custearam as

obras e a oferta de serviços que foram disponibilizados à população mossoroense (e

regional) (OLIVEIRA, 2014). O objetivo principal dessas políticas era amenizar as

tensões desencadeadas pelo desemprego estrutural, resultado das mudanças no

sistema produtivo, e reinserir a cidade de Mossoró nas dinâmicas economias e

espaciais do momento (PINHEIRO, 2007).

A função de “vender” serviços e mercadorias foi consolidada facilmente em

Mossoró por dois motivos principais: primeiro, pela influência histórica (empório e

agroindustrial) dessa urbe sobre a região; segundo, pelo déficit de serviços e de

comércio nos centros urbanos circunvizinhos a Mossoró, gerando uma relação de

“dependência” terciária (FELIPE, 1980; 1982). Destaca-se que essa realidade, esse

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100

déficit terciário, perdura até os dias atuais, podendo ser observada a partir das

informações expostas na primeira seção desse trabalho - distribuição dos serviços e

da atividade comercial em Mossoró e região.

Outra ação importante no processo de redefinição econômica de Mossoró foi

a sua inserção (em 1976) no Programa Nacional de Desenvolvimento Urbano para

Cidades de Porte Médio. Essa política urbana foi responsável pela composição de

parte expressiva dos serviços estruturais recebidos nessa cidade; pela construção

do terminal rodoviário, de alguns conjuntos habitacionais, além da ampliação de

serviços bancários e assistências (OLIVEIRA, 2012, 2014) 42.

Sobre esse período e a ação das políticas públicas na configuração urbana e

terciária da cidade de Mossoró, Pinheiro (2007, p. 211) destaca:

Nesse momento, se instalam na cidade agentes financeiros como a COHAB [Companhia de Habitação], para a construção habitacionais de baixa renda; a Caixa Econômica Federal, para o financiamento de moradia para as classes média e alta, através do SFH [Sistema Financeiro de Habitação]; e o BNH que, além do financiamento de moradias, investiu nos serviços básicos, como rede de esgoto e saneamento. A SUDENE [Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste] também concede incentivos fiscais para a implantação de grandes indústrias em Mossoró, além da modernização das indústrias existentes. [...] A construção dos conjuntos habitacionais desenvolve rapidamente o segmento da construção civil, provocando o surgimento de escritórios prestadores de serviço, cerâmicas, fábricas de mosaicos, de esquadrias, entre outros serviços.

Essa ação estatal gerou novos espaços de serviços, ampliou os existentes,

revitalizou e deu “poder” à cidade de Mossoró, ampliando e criando um mercado de

trabalho, tanto interno como externo (mobilidade na força de trabalho regional, que

agora caminha em direção à cidade) (FELIPE, 1988). Nesse contexto, é importante

frisar que os empregos criados através dos serviços presentes em Mossoró geraram

a circulação monetária (capital, salário) nessa cidade e criaram as condições ideias

para a ampliação da atividade comercial (FELIPE, 1982; 1988).

Com uma estrutura terciária crescente, Mossoró reafirma sua condição de

centro regional, atraindo pessoas da região que buscam os serviços e as formas

comerciais oferecidos nessa cidade (OLIVEIRA, 2014). Em outras palavras, destaca-

42

De acordo com Rocha (2005) “[...] o Programa de Cidades de Porte Médio foi um marco, tendo em vista que, com os recursos desde, foi implementado o planejamento urbano local, de modo que as cidades contempladas [Natal e Mossoró] passaram a contar com vários equipamentos urbanos até então inexistentes, proporcionando melhores condições de vida às suas populações” (p. 184).

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se que esse setor da economia surge como uma redefinição, uma especialização

econômica necessária e vital para as cidades chamadas de centro regional, “[...] a

ponto de ser essa atividade a força regionalizadora dos atuais ‘centros regionais’, no

momento em que o centro prestador de serviços conjuga em torno de si outros

espaços, outras cidade” (FELIPE, 1988, p. 16).

A partir da década de 1980, Mossoró assumiu “novos papéis” na Divisão

Internacional do Trabalho, isso porque, além das atividades terciárias, essa cidade

tornou-se exportadora de petróleo, centralizou a produção salineira e se inseriu na

produção do agronegócio - da fruticultura irrigada (ELIAS; PEQUENO, 2010).

Como forma de elucidar a importância dessas “economias” para a dinâmica

urbana, econômica e regional de Mossoró, estão descritos a seguir algumas de suas

principais características.

A economia do sal sempre esteve presente na dinâmica urbana e econômica

de Mossoró. Porém, entre as décadas de 1960 e 1970, essa atividade se fortaleceu

em virtude da internacionalização e mecanização do seu processo produtivo. Essas

alterações técnicas aumentaram a produtividade nas salinas e colocaram esse

mineral no patamar dos principais produtos exportados de Mossoró e do Rio Grande

do Norte, sendo que essa realidade é manifestada até os dias atuais (gráfico 09).

A exploração do petróleo em Mossoró foi iniciada no fim da década de

1970. O aparecimento dessa atividade extrativa fez crescer o número de espaços,

de infraestruturas urbanas nessa cidade a fim de atender as necessidades e aos

serviços básicos de apoio a produção de petróleo.

Santos (2009, p. 104) assinala que a exploração desse recurso mineral atraiu

empresas de portes e especificações diversas com o objetivo de “[...] fornecer bens

e serviços terceirizados à economia petrolífera”; a introdução dessas unidades

produtivas ao aparelho urbano de Mossoró contribuiu historicamente para aumentar

o predomínio do terciário na estrutura econômica dessa cidade, isso porque a

exploração petrolífera trouxe “[...] um volume de investimentos sem precedentes,

sendo responsável pela indução de uma nova dinâmica na economia de Mossoró,

bem como atração de importantes fluxos migratórios [...]” (ibid).

Aponta-se ainda, a importância dos royalties 43 do petróleo para a cidade de

Mossoró, uma vez que, a entrada desse capital dinamizou a economia desse centro

43

É uma palavra de origem inglesa que significa regalia ou privilégio. Consiste em uma quantia que é paga por alguém ao proprietário pelo direito de usar, explorar ou comercializar um produto, obra,

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urbano (mais capital circulando) e ampliou o seu espaço intraurbano (financiamento

de obras/infraestruturas públicas). Em síntese, afirma-se que a economia petrolífera

em Mossoró construiu uma “nova” realidade econômica nesse centro urbano, “[...]

com vários desmembramentos para uma ampla área sob a influência de Mossoró,

sendo esse o município no qual a reestruturação urbana se processa de forma mais

intensa e complexa [...]” (ELIAS; PEQUENO, 2010, p. 189).

A implantação da fruticultura irrigada em Mossoró data da década de 1980.

O desenvolvimento dessa atividade está vinculado ao processo de modernização

produtiva do setor primário, à consolidação dos polos dinâmicos de agricultura

irrigada no Nordeste e a inserção de tecnologias custeadas pela iniciativa privada e

com o apoio do Estado.

No Rio Grande do Norte, o polo Açu-Mossoró é reconhecido como uma das

áreas de modernização mais intensa do estado, como também da região Nordeste44,

exportando frutas tropicais para os Estados Unidos, para a Comunidade Econômica

Europeia e países membros do MERCOSUL (PINHEIRO, 2007; SANTOS, 2009).

Rocha (2009) enfatiza que o desenvolvimento dessa atividade na região de

influência de Mossoró atraiu diversos agentes sociais – tais como, trabalhadores do

campo, empresários, comerciantes, estudantes, profissionais especializados, entre

outros – de diferentes porções do território norte-rio-grandense, como também de

estados vizinhos, como do Ceará e da Paraíba, dinamizando ainda mais a economia

da urbe mossoroense.

É importante destacar a relevância histórica da empresa MAISA (Mossoró

Agroindústria S/A), espaço agrário e produtivo criado na década de 1960 que esteve

à frente da atividade frutícola no Rio Grande do Norte por mais de duas décadas,

alcançando projeção nacional e internacional na produção/beneficiamento de frutas.

Com o encerramento das atividades produtivas da MAISA 45, empresas nacionais e

internacionais, tais como a Nolem, a Agrícola Famosa/Intermelon, a Potyfrutas e a

Delmonte ocuparam toda a região mossoroense, dinamizando ainda mais o quadro

econômico e urbano da cidade de Mossoró, visto que criou um ramo especializado

terreno. No caso aos royalties de petróleo, consiste no dinheiro pago pela Petrobras aos proprietários de terra e aos municípios pela extração e exploração do petróleo e do gás. 44

Do total das áreas irrigadas no estado do RN, 90% está localizada no polo Açu-Mossoró; a fruticultura irrigada desenvolvida em Mossoró é a sexta maior do país. 45

Com o surgimento e a implantação do Plano Real, que conduziu a paridade entre o real e o dólar, a empresa mergulhou em uma crise, registrando sua falência no ano de 2003. Nesse mesmo ano, as terras da Maisa foram invadidas por membros do MST, sendo desapropriadas (Reforma Agrária).

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103

(espaços comerciais voltados para a venda de produtos agrários, aparecimento de

pousadas e escritórios interligados a fruticultura irrigada) no terciário voltado para

atender as necessidades dessa atividade (PINHEIRO, 2007; SANTOS, 2009).

Essa atividade ocupa atualmente, o segundo lugar no campo das exportações

mossoroense, perdendo apenas para a exportação da castanha de caju46. Dentre os

principais produtos irrigados exportados de Mossoró, destacam-se a melancia e o

melão (gráfico 09) 47.

Gráfico 09: Principais produtos exportados de Mossoró, em 2013

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC, 2013).

A salinicultura, a exploração de petróleo e a fruticultura irrigada “sustentam”

até hoje a dinâmica econômica e urbana da cidade de Mossoró, complementam e

fortalecem a atividade terciária dessa urbe e permitem que esse espaço urbano se

mantenha como um centro polarizador, como uma centralidade urbanorregional, isso

porque, a partir da difusão dos circuitos espaciais (produtivos) dessas atividades,

Mossoró intensificou seu papel de pólo de atração e concentração populacional com

característica marcante “[...] de uma diversificação tanto de serviços, quanto de

produção de insumos, concentrando também maior fluxo monetário [...]” (SANTOS,

2009, p. 105). Sobre tais atividades, Oliveira (2014, p. 58) reforça:

46

O município de Serra do Mel, vizinho a Mossoró, apresenta a maior produção de caju (de castanha) do Rio Grande do Norte. Entretando, o beneficiamento e a exportação desse fruto são realizados em Mossoró, dando a essa cidade, o destaque nas exportações (gráfico 09). 47

Informações obtidas no Site da Prefeitura de Mossoró: www.prefeiturademossoro.com.br/

0,00

2.000.000,00

4.000.000,00

6.000.000,00

8.000.000,00

10.000.000,00

12.000.000,00

14.000.000,00

16.000.000,00

Castanha de Caju Fruticultura Cera de carnaúba Sal marinho

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104

A intensificação produtiva destas atividades proporciona estímulos a econômica local o que viabiliza, também, o aumento da demanda pelo diversos e variados serviços que se agregam ao seu espaço. No presente esta demanda tem alcance regional, considerando, principalmente as especialidades disponíveis dos mesmos. Também tem destaque o consumo produtivo por parte dos empreendimentos de produção, assim como o consuptivo. Tais movimentos favorece o aquecimento do comercio e dos serviços em geral, dotando a cidade de uma referência de atividade econômica que tem alcance regional.

Como apontado no decorrer dessa última subseção, as atividades terciárias

vem “alicercando”, desde a década de 1970, a centralidade urbano e regional de

Mossoró. Como forma de mostrar a relação entre essas atividades e a centralidade

de Mossoró na região a partir do período citado, será exposta e analisada a posição

ocupada por essa cidade nos estudos realizados pelo IBGE (Região de Influência

das Cidades - REGIC) acerca da hierarquia urbana do Brasil. É importante destacar

que um dos principais elementos investigados nesses estudos são a quantidade, a

diversidade e a oferta de serviços e comércio encontrados nas cidades – variáveis

que dão base a nossa pesquisa.

Desde 1966, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, realiza

estudos para delimitar a área de influência das cidades sobre a malha urbana

brasileira (centralidade e hierarquia da rede urbana do Brasil). A metodologia

utilizada nesses estudos se fundamentava nas propostas de pesquisa desenvolvida

por Michel Rochefort, cujo objetivo era “[...] identificar os centros polarizadores da

rede urbana, a dimensão da área de influência desses centros e os fluxos que se

estabeleciam nessas áreas [...]” (REGIC, 2008, p. 129), tomando por base, a

distribuição dos bens (industriais, comerciais) e dos serviços, tais como os de

administração, educação, saúde, entre outros.

A Divisão do Brasil em regiões funcionais urbanas, publicada pelo IBGE em

1972, concluiu a linha de estudos iniciados por esse órgão no ano 1966. Com base

nos indicadores de relacionamentos urbanos obtidos da pesquisa realizada no ano

de 1966 48, foram estabelecidos quatro níveis de centros urbanos e outros subníveis.

48

Três etapas levaram à classificação dos níveis hierárquicos dos centros urbanos e à delimitação de suas áreas de influência. Na primeira, somou-se o número de pontos obtidos por cada centro em cada um dos setores (fluxos agrícolas, distribuição de bens e serviços à economia e à população) e o total geral. Na segunda, estabeleceu-se uma hierarquia em função dos totais em cada matriz. Finalmente, na terceira etapa, a hierarquia e a subordinação dos centros foram definidas pelo agrupamento das matrizes segundo a dominância de relações com cidades metropolitanas – as nove Regiões Metropolitanas previamente definidas – e mais a cidade de Goiânia, devido à sua extensa área de atuação e a seu forte relacionamento com São Paulo e Rio de Janeiro (REGIC, 2008, p. 129).

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105

Nessa divisão regional, Mossoró já se apresentava como um centro de destaque na

região, como um espaço polarizador. Dos níveis hierárquicos estabelecidos nessa

pesquisa, a urbe mossoroense ocupava o sexto nivel, classificando-se como um

centro regional do tipo B (Quadro 08). Com base nessa classificação, frisa-se que

Mossoró influenciava 46 municípios de diferentes dimensões e níveis hierárquicos,

porém atuava somente sobre os municípios contíguos a sua área; estando sobre a

influência de Recife (REGIC, 2008; OLIVEIRA, 2012).

A pesquisa da rede urbana brasileira foi retomada pelo IBGE no ano de 1978,

e seus resultados foram publicados como Regiões de Influência das Cidades no ano

de 1987. A base teórica desse estudo foi a Teoria das Localidades Centrais (TLC)

formulada por Walter Christaller (1933), cuja ideia central permeia o entendimento

de que a centralidade de um lugar está diretamente ligada à distribuição de bens e

serviços que esse espaço oferece para a população (REGIC, 2008).

De acordo com o Regic (2008, p. 129), essa pesquisa investigou:

[...] para bens e serviços de baixa complexidade, o município de procedência das pessoas que procuram cada uma das cidades pesquisadas; e para bens e serviços de média a elevada complexidade, a que cidades os moradores das cidades pesquisadas usualmente recorrem. Estas informações foram trabalhadas para definir os níveis hierárquicos, a área de influência das cidades e as relações de subordinação entre os centros.

Tomando por base tais aspectos teóricos e metodológicos, foram definidos

cinco níveis de atuação hierárquica para as cidades do Brasil, a saber: metrópoles

regionais, centro submetropolitanos, capital regional, centro subregional, centro de

zona. Nesse estudo, Mossoró ocupou o terceiro nivel de centralidade em uma escala

que ia de um (valor mínimo de centralidade) a cinco (valor máximo de centralidade),

sendo classificada como uma Capital Regional (Quadro 08).

A organização rede urbana brasileira foi investigada novamente pelo IBGE em

1993. O estudo denominado Regiões de Influência das Cidades 1993, publicado em

2000, focava “[...] o papel das redes para viabilizar a circulação e a comunicação,

fundamentais para a organização de um espaço onde os elementos fixos interagem

pelo intercâmbio de fluxos” (REGIC, 2008, p. 131).

Para a classificação dessa rede urbana (níveis de centralidade dos espaços

urbanos) utilizou-se critérios como a intensidade dos fluxos, a extensão espacial da

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106

área de influência de cada cidade, e a disponibilidade de equipamentos funcionais;

definindo-se oito níveis de centralidade: máximo, muito forte, forte, forte para médio,

médio, médio para fraco, fraco e muito fraco (Quadro 08).

Nesse contexto hierárquico, Mossoró foi indicada como um centro regional

com centralidade “forte para médio”, ocupando o quarto nível de centralidade. Além

disso, foram identificados 64 municípios que estavam sobre a influência dessa urbe,

distribuídos entre os territórios (estados) do Rio Grande do Norte, da Paraíba e do

Ceará (IBGE, 2008; OLIVEIRA, 2012).

No estudo mais recente da IBGE sobre a Região de Influencias das Cidades

(REGIC, 2008), já exposto e discutido na seção anterior desse trabalho, Mossoró foi

classificada como uma Capital Regional do Tipo C, exercendo influência sobre 39

municípios do Rio Grande do Norte (quadro 04 e mapa 02 – primeira seção).

O quadro 08 mostra a distribuição dos níveis hierárquicos da rede urbana do

Brasil entre as décadas de 1970 e 2000, e específica, na parte destacada (colorida)

desse quadro, a classificação (ou o patamar) hierárquica da cidade de Mossoró em

cada um desses estudos (realizados pelo IBGE).

É importante enfatizar que o comércio e os serviços foram elementos-chave

no processo de definição da hierarquia urbana do Brasil, ao longo dos estudos

realizados pelo IBGE. Nesse contexto, o fato da cidade de Mossoró se destacar no

“cenário” regional, no decorrer dessas pesquisas, mostra que o terciário dessa urbe

foi fundamental para a sua reafirmação enquanto centralidade urbanorregional,

principalmente a partir da década de 1970.

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107

Quadro 08: Níveis Hierárquicos da Rede Urbana Brasileira

1972 1978 1993 2007

Grande Metrópole Nacional Metrópoles

Regionais,

. Máximo Grande Metrópole Nacional

Metrópole Nacional Muito Forte Metrópole Nacional

Centro Metropolitano Regional Centro

Submetropolitanos

Forte Metrópole

Centro Macro Regional Centro Regional A

Centro Regional A Capital

Regional

Forte Para Médio Centro Regional B

Centro Regional B Médio Centro Regional C

Centro Subregional A Centro

Subregional

Médio Para Fraco Centro Subregional A

Centro Subregional B Fraco Centro Subregional B

Centro Local A Centro de

Zona

Muito Fraco Centro de Zona A

Centro Local B Centro de Zona B

Fonte: Elaborado pela autoria com base nas informações da Região de Influência das Cidades (REGIC, 2008).

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108

A regressão realizada nessa seção mostra que a cidade de Mossoró se

configurou historicamente como uma centralidade urbanorregional, mudando apenas

as “forças motoras” desse processo a cada momento histórico; evidencia também

que a base dessa centralidade é, desde a década de 1970, a atividade terciária, ou

seja, a prestação de serviços e a atividade comercial desenvolvida e ofertada nesse

espaço urbano.

A descrição da cidade de Mossoró e de sua região de influência e o resgate

histórico da centralidade regional de centro urbano, ora realizado nas duas primeiras

seções dessa dissertação, foram de extrema importância para o desvendamento das

primeiras indagações realizadas na problemática desse trabalho. Entretanto, limitar-

se a entender esse processo pela aparência e por sua historicidade é, no mínimo,

arriscado. Assim, é necessário buscar os porquês dessa dinâmica, bem como, as

tendências, os processos correntes nessa cidade - proposta a ser desvendada na

próxima seção desse trabalho.

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109

4 A CENTRALIDADE REGIONAL DE MOSSORÓ REAFIRMADA

A divisão territorial do trabalho conferiu a determinados centros urbanos, um

“papel de destaque” na organização do espaço. Algumas cidades, em detrimento de

outras, passaram a ter uma maior concentração de capital, de funções urbanas, de

circulação de pessoas, mercadorias e informações. Como resultado desse processo,

formou-se uma estrutura espacial assimétrica, constituída por diferentes enclaves

urbanos, cujos elos foram/são estabelecidos/mantidos por meio da mobilidade.

A mobilidade, compreendida como os movimentos de indivíduos, informações

e bens sobre o território (DRUCIAKI, 2014), sustenta a multiplicidade das escalas

espaciais, “[...] garante as interrelações dos lugares, unificando-os em um mesmo

espaço”, e redesenha novas configurações espaciais, mais complexas e integradas

(PINTO, 2009, p. 58); além disso, ela tem a capacidade de reorganizar “[...] o espaço

de forma a fazer com que centros urbanos complexos, verdadeiros aglomerados

fortemente concentradores de população e renda, cerquem-se por extensas áreas

em processo de esvaziamento [...]” (MOURA, WERNECK, 2001, p. 26), configurando

um tecido urbano e regional heterogêneo.

Nessa mesma linha de pensamento, Amaral e Costa (2013) destacam que,

com a eflorescência da era da informação, da comunicação e dos transportes, a

mobilidade, manisfestada a partir dos fluxos 49 materiais e imaterias, passou a definir

de maneira mais intensa, as formas, os ritmos e os processos/práticas espaciais; a

viabilizar, tecnicamente, as transformações nos aglomerados urbanos; e a interferir

no modo de conceber e agir sobre o espaço urbano e regional.

Diante desse contexto, de um espaço de fluxos 50 (CASTELLS, 1999), fluído e

articulado, enfatiza-se a necessidade de investigar a força de coesão que há entre

as cidades; de novas formas de interpretação e análise dos espaços urbanos, que

incluam, especialmente, escalas mais abrangentes, a exemplo da urbanorregional

(AMARAL, COSTA, 2013), isso porque, a vivência e as práticas espaciais, sociais e

econômicas dos indivíduos urbanos dependem, indiscriminadamente, da mobilidade,

dos elos que existem entre as escalas das cidades (PINTO, 2009).

49

Os fluxos são movimentos repetitivos, intencionais e programados que promovem a interligação de espaços fisicamente desarticulados (CASTELLS, 1999). 50

Forma e/ou processo espacial característico de uma sociedade em rede; materialização das práticas sociais de tempo compartilhado que funcionam por meio de fluxos (CASTELLS, 1999).

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110

Assim, ao se pensar as cidades e sua dinâmica urbana/espacial, é necessário

inserir-lás dentro de uma campo de investigação mais extensivo, afinal, os espaços

urbanos não podem ser concebidos como lugares isolados, isso porque eles “[...]

compõem um ‘espaço-rede’, composto por diversos pontos e ‘nós’ que se integram

pela mobilidade dos fluxos materiais e imaterias numa relação de interdependência”

(CARVALHO, 2013, p. 26), produzindo um arranjo espacial desigual, que combina

lugares mais desenvolvidos, dinâmicos e influentes com áreas menos evidentes do

ponto de vista espacial. A interação desses centros urbanos gera uma região de

influência, uma “hinterland”, um espaço que se estrutura a partir de lugares centrais,

de centralidades. (CARVALHO, 2013; DRUCIAKI, 2014).

As regiões de influência só existem a partir de um conjunto de cidades e das

forças (centrípetas, de atração, e centrífugas, de dispersão) que atuam sobre elas e

as mantêm coesas entre si. Esses aglomerados urbanos possuem, dialeticamente, a

capacidade de polarizar e ser polarizado, ou seja, a sua influência é variável/relativa.

Nesse sentido, Tineu (2012) explica que dentro das regiões de influência existem

centros urbanos que, em virtude de sua alta densidade econômica e populacional,

são mais evidentes e atraem constantes e intensos fluxos para si, configurando-se

como lugares centrais; e coexistem também, nesse mesmo arranjo regional, cidades

que se conformam como espaços de dispersão em oposição aos lugares centrais.

É importante enfatizar que o conceito de lugar central está diretamente ligado

à ideia de centralidade, compreendida como uma força de atração existente nos

espaços. Do ponto de vista da escala urbanorregional, essa força se manifesta como

uma propriedade atribuída a uma cidade para oferecer bens e serviços a uma

população exterior e atrair fluxos (BARRETO, 2010); é a condição que determinados

centros urbanos “[...] possuem ao manterem estreita relação de complementaridade

com as outras cidades de seu em torno [...]” (TINEU, 2012, p. 2).

A localização e a disponibilidade de bens e de serviços evidenciam os lugares

centrais, por fomentarem fluxos de pessoas que se movimentam por um emanhado

de cidades, gerando, a partir de uma frequência de deslocamentos, um cenário

regional consolidado a partir de uma centralidade “principal”. Em outras palavras,

tem-se uma rede de cidades, de lugares centrais, com diferentes níveis (potenciais)

de centralidade, que estão sobre a polarização de um centro urbano principal, mais

influente em virtude das suas características/funções urbanas (CARVALHO, 2013).

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111

Desde o século XIX, diversos autores vêm investigando, a partir de diferentes

abordagens, a localização e a interação entre os espaços urbanos (CLAVAL, 1968

apud RAMOS, 1998). Entretanto, essa problemática espacial só adquiriu uma maior

visibilidade no início do século XX, com a Teoria das Localidades Centrais elaborada

pelo geógrafo alemão Walter Christaller, cujo objetivo principal era investigar, em

uma determinada região com um conjunto de cidades, que fatores norteavam a

distribuição (organização) espacial e o tamanho desses centros urbanos (RAMOS,

1998).

Christaller, rompendo com método geográfico usual de sua época, a saber, o

descritivo e indutivo, aproximou as leis econômicas às ideias da geografia urbana;

argumentou que a distribuição das cidades não poderia ser explicada por meio das

condições naturais do lugar; apontou que os estudos e as investigações históricas

sobre as urbes não levaria a construção de leis (BRAGA, 1999).

Apesar das inúmeras críticas erguidas em seu entorno, sobretudo por causa

do seu perfil teorético-quantitativo, a tese de Christaller ainda vem se configurando

historicamente com um aporte teórico, conceitual e empírico importantíssimo nos

estudos urbanorregionais, visto que, a centralidade é uma temática espacial ainda

temerária nas discussões geográficas hodiernas.

Tomando por base as ideias tecidas anteriormente – a de conceber a cidade

como lugar central capaz de delimitar um espaço ou uma região de influência – e

dialogando paralelamente com a Teoria das Localidades Centrais de Christaller, a

terceira e última parte deste trabalho dissertativo se propõe a discutir os processos e

as relações que vem sendo estabelecidos entre a cidade de Mossoró e os espaços

circunvizinhos a partir das atividades terciárias presentes nesse centro urbano. É o

momento de voltar ao presente, à realidade vivida, de observar os processos e

buscar explicar e compreender a centralidade urbanorregional de Mossoró através

dos fluxos que circulam e dão evidência a esse espaço.

Partindo-se do entendimento que a centralidade está ligada à capacidade de

polarização, de atração de fluxos/movimentos, manifestada por meio de um centro,

de uma configuração física, de uma área ou cidade, por exemplo, (SILVA, 2013) na

primeira parte dessa seção – intitulada “O terciário e a dinâmica urbanorregional” –

serão descritos e analisados os fluxos que convergem em direção à Mossoró, que

evidenciam, demonstram e (re) afirmam a capacidade polarizadora dessa cidade em

relação à região, ou seja, a sua centralidade urbanorregional.

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O eixo estruturador desse primeiro momento será a pesquisa de documental

da População Flutuante de Mossoró, realizada no ano de 2015 pela Federação do

Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Rio Grande do Norte (FECOMERCIORN).

Paralalelamente, e de modo complementar, serão utilizadas as informações obtidas

por meio da pesquisa de campo realizada na cidade de Mossoró durante os anos de

2016 e 2017 - cujo objetivo era espacializar alguns dos principais fluxos advindos da

região para essa urbe (Apêndice A, B e C) 51.

No segundo momento dessa terceira seção – denominado de “Um olhar

teórico-empírico da centralidade” – desenvolver-se-á uma discussão que confronte a

realidade visível e construída (elementos apresentados nas primeiras seções desse

estudo) e os recortes teóricos e conceituais possíveis. Propõe-se assim, uma leitura

da realidade vivida, da centralidade urbanorregional de Mossoró a partir de um olhar

e uma explicação sistematizada.

4.1 O TERCIÁRIO E A DINÂMICA URBANORREGIONAL

Quando se trata de compreender a centralidade de uma cidade dentro de um

arranjo regional, é necessário considerar que existe um conjunto de elementos, ou

variáveis, que sustentam e manifestam esse processo, que permitem a construção

de uma abordagem análitica dessa temática espacial. Dentre esses elementos estão

à dinâmica espacial, econômica e populacional desse espaço urbano, bem como, a

disponibilidade de bens e de serviços presentes nesse lugar.

Tais variáveis adjetivam o centro, qualificam um espaço central. Entretanto,

elas por si só, ou consideradas de forma isolada, não expressam a centralidade em

sua totalidade, isso porque, essa virtualidade, essa força de coesão é revelada por

aquilo que se movimenta pelo território, ou seja, pelos fluxos que escoam pelo

espaço, estando ligada à dimensão temporal da realidade (SPOSITO, 2001). Nesse

51

A pesquisa foi realizada entre 2016 e 2017 com os seguintes segmentos: a) taxistas que trafegam de outras localidades para a cidade de Mossoró; b) consumidores que vem junto com esses taxistas; c) motoristas de ônibus escolares (os formulários utilizados durante a pesquisa estão presentes nos apêndices A, B e C). Ela foi desenvolvida de modo (com a finalidade de) a complementar e atualizar alguns dados. Foram entrevistadas em média, 30 pessoas por segmento citado. Reforça-se que essa investigação não definiu um número específico de pessoas a serem entrevistados (uma amostra), uma vez que, a mesma foi realizada a partir de uma “amostragem por saturação” – tipo de estudo em que o pesquisador “fecha” determinado grupo quando, depois das informações coletadas com certo de número de indivíduos, se verifica que os dados colhidos são suficientes para atingir o objetivo da pesquisa; e novas entrevistas representariam apenas mais repetiçoes em seu conteúdo.

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sentido, é importante ressaltar que os fluxos permitem a apreensão da centralidade -

eles se constituem como uma variável de análise desse processo; a discussão sobre

centralidade deve ser desenvolvida a partir da compreensão (e análise) das relações

que existem entre a localização espacial (as características e/ou as funções da

cidade) e os fluxos que ela produz e consegue manter/sustentar (ibid).

Diante dessas proposições, reforça-se que a cidade de Mossoró apresenta

uma conjuntura espacial, populacional e econômica que a coloca em um patamar de

destaque na região, qualificando-a como um lugar central; a diversidade de serviços

e comércios (bens) disponíveis nessa urbe permite que a mesma venha ocupando,

historicamente e espacialmente, um lugar de evidência diante de tantos outros

espaços urbanos. Entretanto, para compreender a centralidade dessa cidade, é

preciso ir além desse cenário espacial - já elucidado nas primeiras seções dessa

dissertação; é necessário investigar e analisar os fluxos que fluem por essa cidade,

que expressam categoricamente sua centralidade urbanorregional.

Frente a tais necessidades, construir-se-á um exame analítico dos fluxos que

convergem em direção à cidade de Mossoró. Para tanto, serão utilizados os dados e

as informações obtidos através da pesquisa realizada pela FECOMERCIO/RN sobre

a População Flutuante de Mossoró (em 2015). Esse estudo foi desenvolvido com o

objetivo de construir um perfil da população flutuante de Mossoró 52; a metodologia

empregada seguiu a técnica de observação direta (técnica survey de opinião), com a

aplicação de questionário semiestruturado (instrumento de investigação) em locais

pré-estabelecidos frequentados por esse público alvo 53 (FECOMERCIO/RN, 2015).

Do universo de informações encontradas nessa pesquisa, foram selecionadas

as variáveis que estão diretamente relacionadas aos fluxos que confluem em direção

a Mossoró, e que permitem o desvelamento da centralidade urbanorregional dessa

cidade. Dentre essas informações destacam-se: origem e a motivação dos fluxos, o

52

A ideia da pesquisa partiu do interesse em conhecer esse grande número de pessoas que circulam na cidade, pessoas que ficam temporariamente, mas que desfrutam da infraestrutura da cidade utilizam os serviços municipais, frequentam universidades, faculdades, trabalham e procuram oportunidades de emprego no município e que ajudam a desenvolver a economia local. A coleta dos dados aconteceu entre os dias 06 e 08 de maio de 2015 (FECOMERCIO/RN, 2015). 53

Foram realizadas 400 (quatrocentas) entrevistas da população de interesse. A aleatorização da amostra foi planejada sobre a cobertura geográfica do município. As entrevistas foram realizadas em pontos estratégicos, o que permitiu maximizar as observações colhidas de visitantes de diferentes cidades (FECOMERCIO/RN, 2015).

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perfil socioeconômico dessa população, os gastos realizados na cidade, a avaliação

dos serviços ofertados, os meios, a frequência e o tempo de deslocamentos.

O primeiro elemento a ser destacado é a origem do fluxo que se direcionam

a cidade de Mossoró. De acordo com as informações da FECOMERCIO/RN (2015),

foram registradas durante o período de realização da pesquisa, pessoas advindas

de quarenta e quatro localidades (ou munícipios) diferentes. Desse total, trinta são

municípios do Rio Grande do Norte, e dentre estes, merecem destaque, pelo volume

expressivo de pessoas presentes na cidade de Mossoró, os municípios de Serra do

Mel (25,5%), Governador Dix-Sept Rosado (19,5%), Grossos (10,8%), Caraúbas

(5,8%), Areia Branca (4,8%), Apodi (3,3%), Tibau (2,8) e Natal (2,3%). Ressalta-se

também a presença de pessoas oriundas de outros estados nordestinos, tais como:

Ceará, Paraíba, Sergipe, Alagoas e Piauí (quadro 09) (FECOMERCIO/RN, 2015).

Quadro 09: Origem dos fluxos (população flutuante) em Mossoró

ORIGEM UF % ORIGEM UF %

Serra do Mel

RN

25,5 Martins

RN

0,5

Governador D. S. R 19,5 Umarizal 0,5

Grossos 10,8 Bodó 0,3

Caraubas 5,8 Itajá 0,3

Areia Branca 4,8 Janduís 0,3

Apodi 3,3 Riacho de Santana 0,3

Tibau 2,8 Upanema 0,3

Natal 2,3 Quixeré

CE

1,3

Felipe Guerra 1,8 Fortaleza 1,0

Messias Targino 1,8 Icapuí 1,0

Patu 1,8 Aracati 0,5

Alexandria 1,5 Limoeiro 0,5

Frutoso Gomes 1,0 Russas 0,5

Paraú 1,0 Aracaju SE 0,3

Porto do Mangue 1,0 São Bento

PB

0,5

Antonio Martins 0,8 Cajazeiras 0,5

Assú 0,8 João Pessoa 0,3

Baraúnas 0,8 Maceio AL 0,3

Olho D’agua dos B. 0,8 Recife PE 0,3

Pau dos Ferros 0,8 Teresina PI 0,3

Rodolfo Fernandes 0,8 Campanema PR 0,3

Triunfo Potiguar 0,8 Não respondeu 0,3

Itau 0,5 Total 100,0

Fonte: FECOMERCIO/RN (2015).

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Fazendo uma análise comparativa entre as informações apresentadas no

quadro 09 e a região de influência da cidade de Mossoró, exposta no quadro 04 e no

mapa 02 (na primeira seção desse trabalho), percebe-se que a abragência espacial

dos fluxos populacionais que chegam à urbe mossoroense ultrapassa o espaço

delimitado pelo estudo do Regic (2008). Nesse contexto, destacam-se, por exemplo,

pessoas advindas de Pau dos Ferros, Riacho de Santana, Alexandria, Bodó e Pau

dos Ferros (Rio Grande do Norte), São Bento e Cajazeiras (Paraíba), Icapuí Russas,

Aracati, Limoneiro e Quixeré (Ceará) (FECOMERCIO/RN, 2015) – cidades que não

compõem oficialmente a região de influência Mossoró.

Além disso, constatou-se também, a partir da pesquisa de campo realizada

junto aos taxistas que trafegam em direção a Mossoró (que fazem a “linha” de outras

localidades para a essa cidade), a presença de fluxos populacionais provinientes de

Caicó, Luiz Gomes, Lucrécia, Porta Alegre, Encanto, Serrinha dos Pintos, Currais

Novos, São Francisco do Oeste, Santana dos Matos, Água Nova, Marcelino Vieira,

João Dias, Pilões, Tenente Ananais, Macau e Guamaré (municípios do Rio Grande

do Norte), Belém do Brejo do Cruz, Sousa, Brejo Cruz, Pombal, Catolé do Rocha

(municípios da Paraíba).

Ao considerar os dados da região de influência de Mossoró (REGIC, 2008),

os resultados da pesquisa da FECOMERCIO/RN (2015) e as informações obtidas

por meio da investigação de campo, percebe-se que a urbe mossoroense possue

uma área de convergência de fluxos que ultrapassa os moldes da Regic e abrange

outros territórios urbanos para além do espaço regional e estadual. Justapondo-se

esses dados, aponta-se também que são aproximandamente 60 municípios norte-

rio-grandenses (incluindo a capital do estado) que possuem relação direta com

Mossoró, além de mais 20 localidades interestaduais, incluindo algumas capitais,

tais como Fortaleza (CE) e João Pessoa (PB).

Esse cenário espacial evidencia a “força” de atração da cidade de Mossoró, a

sua capacidade de polarização e comunicação com outros centros urbanos (tanto a

nível intra como interestadual); demonstra o papel desempenhado por esse espaço

urbano na região – sua centralidade urbanorregional, pautada na oferta terciária.

O segundo elemento a ser destacado em relação à população flutuante de

Mossoró é o seu perfil socioeconômico. De acordo com os dados da Federação do

Comércio do estado do RN (2015), mais 90% dos entrevistados são pessoas com

“baixo e médio” poder aquisitivo, ou seja, apresentam uma renda mensal inferior a

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116

cinco salários minímos. Especificando esseas informações, enfatiza-se que, do total

de entrevistados, 45,3% recebem até um sálario minímo por mês; 47,5% ganham

mensalmente entre dois e cinco sálarios; e somente 2,8% recebem mais de cinco

sálarios minímos ao mês. Essa conjutura econômica está exposta no gráfico abaixo.

Gráfico 10: Renda média da população flutuante de Mossoró

Fonte: FECOMERCIO/RN (2015).

Ainda em relação ao perfil socioeconômico das pessoas que buscam a cidade

de Mossoró, destaca-se que esse fluxo populacional é constituído principalmente por

trabalhadores do campo (18%), motoristas (14%), donas de casa (7,8%), autônomos

(7%), professores (6,8%), estudantes (6,3%), taxistas (4,5%), comerciantes (3%),

aposentados (3%), empregadas domésticas (2,8%) e vendedores (2%). As demais

ocupações apresentaram valores inferiores a 2% 54 (FECOMERCIO/RN, 2015).

Em relação ao nível de escolaridade dessas pessoas, aponta-se que do total

de entrevistados, 48,2% possuem ensino médio, 37,9% tem ensino fundamental e

12,3% possuem o ensino superior. Além disso, 1,5% apresentam pós-graduação e

0,5% são analfabetos (ibid) 55.

54

Informações complementares sobre o perfil socioeconômico da população fluante de Mossoró: 51% das pessoas entrevistas são do sexo masculino; 55,4% possuem idade igual ou superior a 35 anos (faixa etária predominante) (FECOMERCIO/RN, 2015, p. 4). 55

O perfil socioeconômico construído a partir da pesquisa de campo mostrou um cenário semelhante

ao apresentado pelo estudo da FECOMERCIO/RN (2015).

45,3%

47,5%

2,3%

0,5%

4,5%

0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0%

Até 1 salário

2 - 5 salários

5 - 8 salários

> que 8 salários

Não respondeu

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117

Para compreender os fluxos populacionais que se direcionam a Mossoró, é

preciso reconhecer que fatores (razões) atuam na conformação desses movimentos.

Sendo assim, a terceira variável analisada sobre a população flutuante de Mossoró é

a motivação dos fluxos.

Em conformidade com as informações da FECOMERCIO/RN (2015), destaca-

se que, das quatrocentas pessoas entrevistadas, 35,8% apontaram como a principal

razão das “visitas” à cidade de Mossoró, a necessidade de fazer compras – ou seja,

majoritariamente, os fluxos que chegam a esse centro urbano são “induzidos” pela

atividade comercial presente nesse espaço. Além disso, ressalta-se que 33,3% da

população flutuante de Mossoró vêm a essa cidade para realização de negócios ou

a trabalho; 15,8% para utilização de serviços públicos e privados de saúde; 7,8%

para realização de serviços bancários e correios; 7,5% buscam a cidade por causa

dos estudos, dos centros de ensino presentes em Mossoró (escolas, universidades,

faculdades) (gráfico 11).

Gráfico 11: Motivação dos fluxos em direção a Mossoró

Fonte: FECOMERCIO/RN (2015) 56.

56

Questionamentos com múltiplas escolhas/respostas.

35,8%

33,3%

15,8%

7,8% 7,5%

2,8%

0,5% 0,5% 0,3% 0,3% 0,8%

0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

25,0%

30,0%

35,0%

40,0% Compras

Negócio ou Trabalho

Serviços de saúde

Bancos/correios

Educação

Visita a parentes

Transporte de pessoas

Passagem pela cidade

Passeio

Visita ao shopping

Outros motivos

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118

Além das razões citadas, foram destacadas também: visita a parentes (2,8%),

transporte de pessoas (0,5%), passagem pela cidade (0,5%), passeio (0,3%), visitas

ao shopping (0,3%) e outros motivos (0,8%) (FECOMERCIO/RN, 2015) (gráfico 11).

A pesquisa de campo desenvolvida com os taxistas e consumidores (fluxos)

mostrou um cenário símile ao exposto no gráfico anterior. Nesse contexto, enfatiza-

se que mais de 80% dos taxistas entrevistados apontaram que deixam os seus

clientes no centro da cidade de Mossoró, precisamente em sua área comercial. Além

disso, eles destacaram que aproximadamente 30% dos seus passageiros ficam em

espaços relacionados à prestação de serviços, tais como hospitais, clínicas médicas,

bancos e repartições públicas. Paralelamente, e convergindo com as informações

obtidas com os taxistas, os passageiros entrevistados apontaram que “buscam” a

cidade de Mossoró em função das atividades comerciais (82%) e dos serviços (33%)

presentes nessa urbe 57.

É importante fazer algumas observações nos dados relacionados à educação

(gráfico 11): as pessoas que estudam em Mossoró vêm para essa cidade utilizando,

principalmente, os transportes públicos estudantis; se direcionam especificadamente

para os polos de ensino superior (universidades, faculdades) presentes nesse centro

urbano (elucidados na primeira seção desse estudo). Tais fatos justificam os valores

pouco expressivos apresentados no gráfico e nas informações anteriores.

Contudo, cabe ressaltar que essa população estudantil faz parte dos fluxos

que alimentam e evidenciam a centralidade urbanorregional de Mossoró, visto que,

chegam diariamente nessa cidade, vans e ônibus escolares de diversas partes do

estado do Rio Grande do Norte (Governador Dix-Sept Rosado, Apodi, Serra do Mel,

Areia Branca, Caraubás, Upanema, Baraúnas, Felipe Guerra, Tibau, Assú, Grossos)

e do Ceará (Limoeiro do Norte, Aracati, Icapuí, Russas, Itaiçaba) 58, conduzindo uma

quantidade significativa de estudantes – fato constatado pela relação entre o número

de veículos identificados durante a pesquisa de campo, à quantidade de alunos

possíveis por transporte e a frequência das viagens (todos os dias, manhã e noite).

Nesse contexto, reforça-se que a existência de instituições de ensino superior

em cidades médias, a exemplo de Mossoró, significa a entrada de uma importante

variável na dinâmica socioespacial local e regional, uma vez que, elas estimulam o

desenvolvimento regional, “[...] criam novas possibilidades de ação, produção e

57

Observação: Questionamentos com múltiplas escolhas/respostas. 58

Informações coletadas na pesquisa de campo.

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119

realização nas cidades em que se instalam [...]” e “[...] constituem fatos de atração

de atividades modernas, pois tem um forte tributo educacional e tecnológico

especializado [...]” (SOARES et al, 2010, p. 217).

As informações apresentadas demonstram que o setor terciário da cidade de

Mossoró é um dos principais elementos indutores dos fluxos que afluem para essa

urbe; evidenciam a importância da atividade comércial e da prestação de serviços

para a conformação da centralidade regional de Mossoró, visto que, a centralidade,

enquanto adjetivo do que é central, está ligada à aptidão que alguns espaços e/ou

elementos urbanos têm de promover e estimular fluxos de troca (TOURINHO, 2006).

É importante ressaltar que os fluxos, compreendido como os movimentos dos

homens e de suas criações no espaço, são impulsionados especialmente em razão

da divisão territorial do trabalho, das diferenças espaciais e produtivas que há entre

os lugares. Nesse sentido, reforça-se que a concentração de comércio e de serviços

em Mossoró e a rarefação dessas atividades nos espaços circunvizinhos (cenários

expostos na primeira seção dessa dissertação) são vetores que proporcionam os

fluxos descritos anteriormente e que explicam a conformação da cidade de Mossoró

como um “nó” central diante desse emaranhado urbano.

Entretanto, ressalta-se que esse perfil terciário de Mossoró só começou a ser

consolidado significativamente a partir da década de 1970. Até esse período, a força

de atração (polarização) da urbe mossoroense estava correlacionada a sua função

de Empório Comercial (até 1920-1930) e ao seu perfil Agroindustrial (até 1970); pós

1970, com o crescimento do comércio e dos serviços, a cidade de Mossoró passou a

redefinir a sua função espacial e produtiva e a reafirmar a sua posição como espaço

de destaque na região – agora como uma área prestadora de serviços. Constata-se

assim que, o setor terciário de Mossoró vem dinamizando a economia urbana dessa

cidade, permitindo que a mesma se reafirme, histórica e espacialmente, como uma

centralidade regional.

Os fluxos interurbanos, ao mesmo tempo em que envolve a movimentação de

pessoas, abrangem também a circulação de produtos e o uso e consumo do espaço.

Fale-se assim, de uma Mobilidade do Consumo (GHIZZO, 2012) 59, compreendidada

como o deslocamento que um indivíduo realiza de seu habitat (casa ou cidade, por

exemplo) até outro lugar com a intenção de comprar e/ou consumir mercadorias.

59

Noção elaborada por Ghizzo (2006) em sua dissertação de Mestrado intitulada “A mobilidade do consumo na cidade de Maringá-PR: o ensaio de uma noção”.

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120

Essa movimentação ocorre de modo espontâneo, é uma decisão subjetiva, motivada

por razões espaciais, econômicas, sociais e culturais (ibid).

Do ponto de vista da escala regional, a mobilidade do consumo é legitimizada

pela heterogeniedade da oferta de bens e serviços existentes entre a cidade-pólo e

as cidades-periféricas. Nesse sentido, a superioridade das atividades terciárias nas

cidades-pólos é um fator preponderante no momento do consumidor escolher se vai

ou não se deslocar de sua cidade de origem para efetuar sua compra, ocasionando

o consumo (GHIZZO; ROCHA, 2016); “[...] a propaganda, a diversidade de produtos,

o preço, o lazer, a diferenciação dos lugares e a sensação de pertecimento a cidade-

polo são alguns fatores que legitimam este processo.” (ibid, p.319).

Os referidos autores ainda reforçam que a mobilidade do consumo, seja ela

intra ou interurbana, se configura como processo social que se estabele no espaço,

“[...] demandado por um consumo material (de mercadorias) ou imaterial (de serviços

e sensações). Desta imbricação, além do consumo de mercadorias, pode-se ocorrer,

também, o consumo do espaço” (GHIZZO; ROCHA, 2016, p.319).

Com base nessa relação fluxos-consumo, serão apresentados e analisados

mais dois elementos correlacionados à população fluante de Mossoró, a saber: os

gastos realizados e a frequência dos fluxos que chegam a Mossoró.

Inicialmente, e em consonância com os dados da FECOMERCIO/RN (2015),

aponta-se que 57,8% das pessoas pesquisadas gastavam até R$100,00 reais por

visitas (viagens) realizadas a Mossoró; 16,8% e 13,3% dos entrevistados gastavam,

respectivamente, valores intermediários entre R$101-R$200 e R$201-R$500 reais; e

12,3% assinalaram que “desembolsavam” mais de R$500,00 em consumo na cidade

– informações expostas no gráfico 12.

O consumo realizado por essa população mostra-se, em primeira instância,

pouco expressivo. Entretanto, é necessário considerar que esse volume de gastos é

proporcional ao perfil socioeconômico da população flutuante da cidade de Mossoró;

a quantidade de entrevistados é apenas uma amostra dentro de um universo maior;

os fluxos populacionais que se direcionam a esse espaço urbano apresentam uma

frequência (gráfico 13) que potencializam esses gastos/consumo.

Considerando que a maior parte população fluante que chega à Mossoró –

41,5% dos entrevistados (gráfico 13) – faz essa viagem mais de cinco vezes ao mês,

e gastam ou consomem os produtos e os serviços presentes nessa urbe, mesmo

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121

que em pequenas quantidades (e/ou valores), é possivel inferir que há um volume

significativo de capital regional circulando nesse centro urbano.

Gráfico 12: Gastos da população flutuante em Mossoró

Fonte: FECOMERCIO/RN (2015).

Gráfico 13: Frequência mensal da população flutuante em Mossoró

Fonte: FECOMERCIO/RN (2015).

Analisando as informações dispostas no gráfico 13, constata-se que há uma

regularidade nos fluxos populacionais que se dirigem a Mossoró. Tais movimentos,

contínuos e intensos, evidenciam a importância desse centro urbano enquanto um

espaço de atração e polarização dos fluxos regionais; mostra, em consonância com

as informações anteriores, a importância das funções (atividades) urbanas presentes

43,5%

14,3%

16,8%

13,3%

12,3%

Gastam até R$ 50

Gastam entre R$51 e R$100

Gastam entre R$101 e R$200

Gastam entre R$201 e R$500

Gastam acima de R$500

20,5%

15,0%

9,8% 8,0%

5,3%

41,5%

0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

25,0%

30,0%

35,0%

40,0%

45,0%

Uma vez

Duas vezes

Três vezes

Quatro vezes

Cinco vezes

Acima de cinco vezes

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122

nesse espaço como elemento indutor dessa mobilidade, isso porque, a direção e a

intensidade dos fluxos sinalizam os fixos/espaços (as cidades, por exemplo) dotados

de maior centralidade (CARVALHO, 2014).

A pesquisa de campo mostrou um quadro correlato ao gráfico exposto. Do

total de consumidores (clientes dos taxistas) entrevistados, 10% assinalaram que

vem a Mossoró diariamente; 22% e 25% apontaram, respectivamente, que viajam

quinzenalmente e semanalmente para esse centro urbano; 40% declararam que se

direcionam a essa cidade uma vez ao mês; e 3% dos entrevistados enfatizaram que

fazem essa visita de forma esporádica, sem terem indicado a que se devia a referida

visita (gráfico 14). Nesse contexto, reforça-se que mais de 80% dos consumidores

entrevistados apontaram que se dirigem à Mossoró em função de suas atividades

comerciais e dos seus serviços (mais de 30%) (informação citada anteriormente).

Gráfico 14: Frequência dos fluxos populacionais em Mossoró

Fonte: Pesquisa de campo realizada com os clientes dos taxistas (2016-2017).

Concomitantemente, a investigação de campo desenvolvida com os taxistas

também demonstrou um cenário que potencializa os dados presentes no gráfico 13

e reforça a influência da urbe mossoroense no espaço regional, isso porque, quando

indagados sobre a jornada de trabalho (frequência das viagens), 85% dos taxistas

pesquisados declararam que vem a cidade de Mossoró de segunda a sábado, 10%

de segunda a sexta e 5% em dias específicos (conforme gráfico 15). Diante dessas

informações, destaca-se que grande parte dos entrevistados apontou que fazem em

média duas viagens ao dia para essa cidade (75%), transportando passageiros.

10,0%

22,0%

25,0%

40,0%

3,0%

0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

25,0%

30,0%

35,0%

40,0%

45,0%

Diariamente

Quinzenalmente

Semanalmente

Mensalmente

Esporadicamente

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123

Gráfico 15: Frequência das viagens dos taxistas à Mossoró

Fonte: Pesquisa de campo realizada com os taxistas (2016-2017).

Por meio da justaposição dos dados do gráfico 13 e das informações obtidas

através do estudo de campo (gráficos 14 e 15), é possível inferir, pela intensidade e

periodicidade de seus fluxos que fluem para Mossoró, que essa cidade se conforma

perenemente como uma centralidade, uma vez que, esse processo é redefinido

continuamente, “[...] inclusive em escalas temporais de curto prazo, pelos fluxos que

se desenham através da circulação das pessoas, das mercadorias, das informações,

das idéias e dos valores [...]” (PEREIRA, 2001, p. 39).

Fazendo uma breve discussão sobre os movimentos que ocorrem no espaço

geográfico, Milton Santos (1997) enfatiza que antes da difusão dos transportes e das

comunicações e da intensificação da divisão social e territorial do trabalho, a maioria

das regiões produzia quase tudo de que necessitava para sua reprodução. Com o

advento de tais transformações e processos, os lugares passaram a se especializar

funcionalmente, estimulando a intensificação dos movimentos e a possibilidade

crescente das trocas entre eles.

Nesse sentido, o referido autor ainda acentua:

Quanto maior a inserção da ciência e tecnologia, mais um lugar se especializa, mais aumenta o número, intensidade e qualidade dos fluxos que chegam e saem de uma área [...] A diminuição relativa dos preços dos transportes, sua qualidade, diversidade e quantidade, cria uma tendência ao aumento de movimento. O número de produtos, mercadorias e pessoas circulando cresce enormemente, e como conseqüência a importância das trocas é cada vez maior, pois elas não apenas se avolumam como se diversificam (ibid, p. 18).

85,0%

10,0% 5,0%

De segunda à sábado De segunda à sexta Dias específicos

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

60,0%

70,0%

80,0%

90,0%

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124

Nessa mesma linha de raciocínio, Pereira (2015, p. 8-9) reforça:

A frequência e intensidade das relações socioeconômicas entre os diferentes agentes sociais de uma determinada região permitem a complementação dos serviços entre os núcleos urbanos e contribuem para a organização e a hierarquização dos centros urbanos com suas respectivas áreas de influência.

Diante das informações e dos apontamentos teóricos expostos, depreende-se

que a cidade de Mossoró se conforma como uma centralidade urbanorregional, pois

há especificidades dos serviços ofertados nesse espaço que contemplam os centros

urbanos vizinhos e estimulam a circulação material e imaterial entre esses lugares.

Esses movimentos inteferem, organizam e ordenam, hierarquicamente, as cidades

com suas respectivas áreas de influências, permitindo a complementação das

funções urbanas entre esses núcleos – a exemplo do que se observa na cidade de

Mossoró.

Dando continuidade às discussões sobre a população fluante de Mossoró e a

sua centralidade urbanorregional, serão evidenciadas mais três variáveis em relação

aos fluxos que se direcionam a essa cidade, a saber: o tempo de deslocamento e

os meios de transporte utilizados nos percursos, e a avaliação dos serviços

ofertados nesse enclave urbano.

No que se refere à duração das viagens para a cidade de Mossoró, destaca-

se as seguintes informações/dados (FECOMERCIO/RN, 2015): 28% da população

flutuante de Mossoró gastam até trinta minutos de viagem para chegar a esse centro

urbano; 46,3% consomem de trinta minutos à uma hora; 16,3% demoram entre uma

e duas horas; 6% levam de duas a quatros horas; e apenas 3,5% gastam mais de

quatros horas para entrar nessa cidade (gráfico 16).

Por meio da leitura e da análise desses dados, constata-se que a cidade de

Mossoró possui uma extensa área de polarização, indo desde espaços vizinhos aos

mais longínquos (explicitados pela duração das viagens). Entretanto, salienta-se que

a maior parte da população fluante que se direciona a urbe mossoroense advém de

centros urbanos mais próximos, tais como, Serra do Mel (25,5%), Governador Dix-

Sept Rosado (19,5%), Grossos (10,8%), Caraúbas (5,8%), Areia Branca (4,8%),

Apodi (3,3%), e Tibau (2,8) (informação apresentada anteriormente) e gastam até

uma hora de viagem (74,3% dos entrevistados) (FECOMERCIO/RN, 2015). Assim,

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125

percebe-se que a frequência e a quantidade de pessoas que chegam a Mossoró é

diretamente propocional as distâncias existentes entre esses espaços urbanos.

Gráfico 16: Tempo de deslocamento (Cidade de origem – Mossoró)

Fonte: FECOMERCIO/RN (2015).

A maior parte dessa população se dirige à cidade de Mossoró através de

veículos alternativos, tais como carros de lotação, vans e ônibus (51,8%), transporte

público (7,8%), carro próprio (38,5%), motocicletas (1,0%), entre outros meios de

transporte (valores menores) (FECOMERCIO/RN, 2015).

Não se tem um valor preciso da quantidade de transportes alternativos que

trafegam para Mossoró, visto que, muitos realizam esse percurso clandestinamente.

Todavia, a pesquisa de campo nos mostrou um cenário amplo, diverso e complexo

no que se refere a essa mobilidade. Foram registrados cerca de dez pontos de apoio

dos taxistas da região em Mossoró, distribuídos pela área central/comercial dessa

cidade de acordo com o local de origem; e identificados diversos tipos de transportes

alternativos, tais como, veículos pequenos (de cinco a sete lugares), vans e ônibus

que trafegam regularmente para essa cidade.

Apesar da cladestinidade, é importante ressaltar que existem cooperativas de

motoristas/taxistas que fazem o percurso região-Mossoró, a exemplo da Associação

dos Taxistas de Upanema, formada por uma frota de 25 veículos credenciados.

As figuras 14 e 15 ilustram, respectivamente, dois pontos de apoio desses

taxistas da região em Mossoró: na Praça Mossoroense – voltado para a população

que trafega entre os municípios de Assú e Mossoró; e na Avenida Cunha da Mota,

Praça da Gazeta – atende aos taxistas de diversas cidades do Rio Grande do Norte

e da Paraíba.

28,0%

46,3%

16,3%

6,0% 3,5%

0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

25,0%

30,0%

35,0%

40,0%

45,0%

50,0%

Até de 30 min. 30 min. até 01 hora De 01 a 02 horas De 02 a 04 horas Mais de 04 horas.

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126

Figura 14: Ponto de apoio dos taxistas de Assú (RN) em Mossoró

Fonte: Acervo da autoria (2017).

Figura 15: Ponto de apoio dos taxistas da região em Mossoró

Fonte: Acervo da autoria (2017).

Cotidianamente, nas primeiras horas da manhã e ao ocaso do dia, inúmeras

pessoas da região tomam conta dos lugares citados (figura 14 e 15) trazendo força

material e imaterial a ser gasta em Mossoró; levam e deixam capital nessa cidade,

trocam experiências, frequentam os espaços de consumo e consomem o espaço por

meio de suas múltiplas experiências.

Nesse contexto, aponta-se que a difusão dos meios de locomoção propiciou,

como enfatizado anteriormente, a especialização produtiva dos lugares; facilitou os

intercâmbios comerciais; e criou, em virtude da diminuição relativa dos preços dos

transportes, sua qualidade, diversidade e quantidade, uma tendência ao aumento

dos movimentos (SANTOS, 1997). Além disso, destaca-se também a importância da

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127

população flutuante para a economia dos lugares (das cidades) e as novas relações

na rede e na hierarquia urbana. Sobre tais pontos, Santos (1997, p. 20) assinala:

Não esqueçamos o papel que o transistor, chegando aos pontos mais recuados do território, teve na revolução dos hábitos de consumo. Como as pequenas cidades não têm condições concretas de suprir-se de todos os bens e serviços, ou os vendem muito caro, acabam por perder boa parte dos seus habitantes. A migração, em última instância, é, sem paradoxo, conseqüência também da imobilidade. Quem pode, como já mencionamos, vai consumir e volta ao lugar de origem. Quem não pode locomover-se periodicamente, vai e fica. A migração, que também se dava em cascata, seguindo os degraus da mencionada hierarquia urbana, dá-se cada vez mais diretamente para os grandes centros [...] Mas a garantia de participar de uma lógica que é extralocal insere essas atividades em nexos cada vez mais extralocais (p. 20).

Apesar do lapso de tempo decorrido das afirmativas feitas por Santos (1997),

essa relação é verificada em Mossoró, uma vez que, se observa uma especilização

e espacialização funcional dessa cidade, marcada pela atuação conjunta de forças

centrípetas e centrifugas sobre esse espaço e pela movimentação de diversos fluxos

materiais e imateriais. Esses movimentos inteferem, (re) organizam e (re) ordenam,

hierarquicamente, os centros urbanos com suas respectivas áreas de influências,

permitindo a complementação das funções urbanas entre esses núcleos.

A centralidade é definida por meio das dinâmicas induzidas por determinantes

objetivas, como por exemplo, as possibilidades de mercado e de serviços presentes

nos lugares. Entretanto, esse processo resulta também de determinantes subjetivas,

estabelecidas através de conteúdos simbólicos, relativos e representativos, gerados

historicamente ou por signos forjados pela lógica de mercado (PEREIRA, 2001).

Partindo-se da idéia que a centralidade tem uma natureza política, simbólica e

cultural, que é construída pelo indivíduo a partir das relações que ele mantém com o

lugar/espaço, foram analisados os dados sobre a avalição dos serviços disponíveis

em Mossoró (nível de satisfação). A pesquisa da FECOMERCIO/RN (2015) mostrou

que 2,8% dos entrevistados avaliaram os serviços dessa urbe como “ótimo”; 26,3%

e 50,5% consideravam, respectivamente, os serviços presentes nessa cidade como

“bom” e “regular”; 5,5% e 10,3% das pessoas entrevistadas apontaram a prestação

de serviços desse centro urbano como “ruim” e “péssimo”, respectivamente - dados

dispotos no gráfico 17.

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128

Gráfico 17: Avaliação dos serviços presentes em Mossoró

Fonte: FECOMERCIO/RN (2015).

Explorando as informações acima, depreende-se que aproximadamente 30%

das pessoas investigadas estão satisfeitas (ótimo + bom) com os serviços ofertados

(utilizados) em Mossoró; a avaliação considerada negativa (ruim + péssima) soma

apenas 15,8%, demonstrando que os fatores positivos superam os considerados

adversos.

As pessoas entrevistadas durante a pesquisa de campo apontaram, em sua

maioria, que estão satisfeitas com os serviços ofertados na cidade de Mossoró (78%

do total de entrevistados); 25% das pessoas pesquisadas destacaram que buscam

em Mossoró, muitos dos serviços e bens que existem em suas cidades; justificando

que procuram esse centro urbano por causa da variedade de mercadorias e das

funções encontradas nessa cidade, além do “status” (da posição, simbologia) de “ir a

Mossoró para fazer compras ou resolver problemas”.

Nessa linha de raciocínio, percebe-se que a cidade de Mossoró, mais do que

uma centralidade operativa ou funcional, se configurou também, conforme destaca

Tourinho (2006), como uma centralidade representativa, isso porque, existem, para

além das funções dessa cidade, valores (signos) que são atribuídos a esse centro

urbano e que estimulam a vinda/chegada dos fluxos.

Descritos e analisados os fluxos que circulam em Mossoró, que evidenciam

essa cidade diante das áreas circunvizinhas e mostram a importância das atividades

terciárias na dinâmica urbanorregional dessa urbe, construir-se-á uma discussão

que confronte a realidade visível, construída e vivida e os abortes teórico-conceituais

possíveis. Em outras palavras, propõe-se a leitura da centralidade urbanorregional

da cidade de Mossoró, a partir de uma visão e uma interpretação sistematizada.

2,8%

26,3%

50,5%

5,5% 10,3%

4,8%

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

60,0%

Ótimo Bom Regular Ruim Péssimo Não sabe

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129

4.2 UM OLHAR TEÓRICO-EMPÍRICO DA CENTRALIDADE

As cidades, enquanto espaços de produção, circulação e consumo, podem

ser observadas como um elemento dotado de complexidade, que atrai para si tudo o

que nasce, seja da natureza ou do trabalho humano, centraliza criações, não existe

sem troca, sem aproximações, sem proximidades, isto é, sem relações (LEFEBVRE,

1999). Nessa perspectiva, as cidades devem ser vistas como um sistema urbano que

está inserido em um conjunto de cidades (BRIAN BERRY, 1964 apud SILVA, 2010),

ou seja, elas são como “pontos” no espaço, com “performaces” próprias, que estão

em constante relação, configurando redes.

Sousa (2015) aponta que “[...] as relações econômicas, demográfica, políticas

e culturais estabelecidas pelas cidades entre si num quadro regional [...]” (p. 82)

auxiliam na constituição desse sistema urbano; as funções desenvolvidas por cada

centro nesse agrupamento urbano é diferente, de modo que, esses papéis “[...] irão

determinar a criação de um sistema hierárquico, no qual o lugar central exercerá o

[...] comando em relação aos demais [...]” (ibid).

Tem-se assim, sistemas urbanos hierárquicos. O domínio desse sistema está

nas “mãos” dos centros dotados de maior diversidade e concentração de atividades

econômicas; dos espaços urbanos que possuem maior disponibilidade (distribuição)

de serviços em relação aos lugares adjacentes. Nessa linha de pensamento, frisa-se

que “[...] é através desta posição hierárquica e das relações de complementaridade

e dependência que o lugar central exerce [dentro de um sistema], que a centralidade

urbana se afirma” (SOUSA, 2015, p. 82, grifos nossos).

Lugares centrais e centralidade – termos diferentes, todavia complementares

e indissociáveis; fundamentais para a conformação das redes. A primeira expressão

designa o espaço, a área, o lugar, a morfologia, a materialidade; a segunda se refere

à capacidade de polarização e atração, é uma força, um processo, algo imaterial,

não palpável, contudo, perceptível. Há uma relação direta entre esses termos, isso

porque, um não pode ser compreendido sem o outro; eles são atributos mútuos.

França (2012, p. 70) mostra, objetivamente, as confluências desses termos,

explicando que “[...] aquelas cidades que desempenham importantes funções na

rede urbana em que se inserem são denominadas de lugares centrais ou localidades

centrais, ou seja, são dotadas de centralidade [...]”. A referida autora ainda frisa que

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130

a centralidade urbana “[...] resulta da capacidade de polarização de alguns centros

nas redes [...] se expressa por meio da diversidade e da especialização em bens e

serviços do centro urbano principal [...]” (ibid), de modo que, quanto maior a oferta

de serviços (de funcões urbanas) desse centro (do lugar central), maior o seu nível

de centralidade.

Nessa mesma linha de raciocínio, Whitacker (2007) aponta que a centralidade

está relacionada tanto a situação locacional como a convergência dos fluxos, ou

seja, percebe-se essa força de coesão a partir do lugar, da cidade, por exemplo, e

de suas funções e dos fluxos irradiam por esse espaço; e reforça também que “[...] a

dinâmica de concentração e dispersão cria e recria centralidades que irão ocupar e

valorar diferentemente e diferencialmente territórios no tecido urbano e na dimensão

da rede urbana [...]” (WHITACKER, 2007, p. 01).

Condensando as ideias expostas, frisa-se que cada cidade é única, singular,

é diferente, histórica, econômica, política e socialmente; cada centro urbano possue

níves de desenvolvimento espaciais e produtivos distintos. Consequentemente, os

intercâmbios que existem “[...] entre eles são espacialmente desiguais, dada a oferta

de bens e serviços que os dotam, ou não, de centralidade. Se há graus diferentes de

especialização das cidades no território, a sua atuação na rede é também diferente”

(FRANÇA, 2012, p. 72). Assim, existem urbes que possuem uma maior importância

na rede urbana e há, concomitantemente, aquelas que interagem e se comunicam

com os espaços mais dinâmicos, procurando bens e serviços imprescindíveis a sua

reprodução (ibid).

Nos estudos que versam sobre as redes urbanas, as cidades são analisadas

de acordo com as relações de dependência, de complementaridade, de polarização

e de subordinação que elas estabelecem entre si (FRANÇA, 2012); investigam-se as

urbes em função do seu tamanho e de sua dinâmica (relações) com (na) a região.

A inquietação de se compreender tais relações é pretérita na Geografia. No

ano de 1826, por exemplo, Von Thünen, ao desenhar pioneiramente o seu modelo

econômico-espacial, prôpos um espaço, denominado de Estado isolado, organizado

a partir de uma única cidade central; Paul Vidal de La Blache, dentro do contexto da

Geografia Possibilista, chegou a reconhcer que as cidades e as estradas criavam

um espaço regional (SILVA, 2010); Pierre George, ainda na ebulição da corrente

possibilista, também se dedicou as pesquisas sobre a rede urbana francesa; David

Clark tratou das temáticas “localização” e “sistema urbano” em sua obra “Introdução

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131

à Geografia Urbana” (1991); e Brian J. Berry desenvolveu pesquisas relacionadas à

evolução do sistema urbano dos Estados Unidos e aprofundou a discussão sobre a

tipologia funcional das cidades desse país (1960) (SILVA; MACÊDO, 2009).

Como expostos acima, os estudos científicos sobre os sistemas urbanos têm

se constituído em uma importante tradição no âmbito da ciência geográfica; são

incontáveis as pesquisas que buscam compreender os porquês das conexões entre

as cidades dentro de uma malha urbanarregional. Entretanto, apesar das inúmeras

discussões erguidas entorno dessa temática, uma das maiores contribuições para a

teoria e aplicação urbanorregional na Geografia foi dada pelo geográfo alemã Walter

Christaller em 1933 através da Teoria das Localidades Centrais (TLC), como já se

indicou anteriormente (SILVA; MACÊDO, 2009; SILVA, 2010; ARAÚJO, 2016).

De forma intrépeda, Christaller propõe a Teoria das Localidades Centrais em

sua tese denominada de “Os lugares centrais da Alemanha do Sul” (1933). Nesse

trabalho, ele procurou demonstrar que a distruibuição das cidades pelo espaço (pela

região) não era desordenada, todavia, existia uma regularidade e uma hierarquia na

disposição desses centros, sendo que, essa ordem estava diretamente relacionada

à função econômica que determinados lugares desempenham em relação a outros

(CHRISTALLER, 1981). Em síntese, a TLC indica que existem princípios gerais que

regulam o número, o tamanho e a distribuição dos núcleos de povoamento, sejam

eles, grandes, médias e pequenas cidades, ou até minúsculos núcleos semirrurais60.

O aparente desequilíbrio espacial observado por Christaller entre as cidades

do sul da Alemanha foi a elemento chave que o motivou a procurar os princípios que

regeria ou explicaria aquele arranjo espacial 61. Ele buscou nas diferenças espaciais

(no número, no tamanho e na distribuição das cidades), uma explicação para as

nuances urbanas encontradas em um espaço regional; procurou essa explicação

através das atividades e das leis econômicas, uma vez que, era impossível explicar

60

“[...] todo território possui um ‘princípio de organização’, que depende da oferta de bens e serviços por parte dos aglomerados urbanos [...]” (CONTEL, 2010, p. 15). 61

Na mesma região vemos grandes e pequenas cidades de todas as categorias, uma categoria ao lado da outra. Algumas vezes elas se aglomeram em certas regiões numa maneira improvável e aparentemente sem sentido. Algumas vezes há vastas regiões em que nem um único lugar merece a designação de cidade, ou mesmo de mercado. Afirma-se usualmente que a conexão entre a cidade e atividade profissional de seus habitantes não é casual, mas antes será baseada na natureza de ambas (CHRISTALLER, 1981, p. 02). A partir dessas “irregularidades espaciais” Christaller (1981) fez as seguintes indagações (que o levaram a formular a sua teoria/tese): [...] porque há, então, grandes e pequenas cidades, e porque estão elas distribuídas tão irregularmente? [...] como podemos encontrar uma explicação geral para os tamanhos, o número e a distribuição das cidades? Como podemos descobrir as leis? (ibid, p. 02-03).

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132

o ordenamento e a hierarquia dos centros urbanos em uma determinada região com

base apenas nas condições geográfica do lugar (CHRISTALLER, 1981). Destarte,

enfatiza-se que essa teoria promoveu uma aproximação dos princípios geográficos

as leis econômicas, ou seja, uma leitura geográfica sobre a problemática urbano e

regional a partir de olhares econômicos.

A hipótese central dessa teoria foi construída partindo-se da ideia de que a

rede urbana se constituia por meio das “[...] zonas de influência econômica das

localidades, cuja centralidade [força de coesão] seria determinada pelo nível de

complexidade dos produtos e serviços ali ofertados e [...] a partir do alcance desses

mercados” (DEOLINDO, 2014, p. 02). Desta forma, os centros urbanos, sejam eles

grandes, pequenos ou médios, eram considerados como localidades centrais, uma

vez que, estavam dotadas de funções centrais, “[...] de atividades econômicas de

distribuição de bens e serviços para uma população que reside nos núcleos em que

ficam no raio de influência da cidade [...]” (SILVA; MACÊDO, 2009, p. 10) e cujas

dimensões “[...] variariam segundo os produtos e os serviços ofertados [...]” (BRAGA,

1999, p. 02). Em outras palavras, quanto maior a disponibilidade de serviços e bens

em determinada cidade, maior seria a sua capacidade de polarização, sua força de

atração, sua zona de influência ou sua centralidade.

A Teoria das Localidades Centrais ecou de forma audaciosa nos ambientes

acadêmicos e institucionais, sendo também criticada por aqueles que se propõem a

discutir a dinâmica urbanarregional. Corrêa (1997), por exemplo, dedica um capítulo

62 de seu livro “Trajetórias Geográficas” para tecer críticas em relação ao perfil rígido

e positivista da TLC e apontar algumas lacunas e “imperfeições” dessa teoria. De

modo símile, Milton Santos (2003) também propõe uma revisão da TLC em seu livro

“Economia Espacial” 63, destacando que é necessário compreender o “hexágono de

Christaller” (elemento da TLC) de forma diferenciada, levando em consideração os

dois circuitos na economia urbana nos países subdesenvolvidos.

Apesar das diversas críticas construídas em relação à TLC, pertinentes em

sua maioria, a Teoria das Localidades Centrais é um “suporte” teórico basilar nos

estudos e nas investigações urbanorregionais. Souza (2005), por exemplo, diz que a

leitura da TLC deve ser obrigatória para todos aqueles que desejam aprofundar seus

conhecimentos teóricos sobre a rede urbana; Santos (2003), mesmo propondo uma

62

Título do capítulo: “Repensando a Teoria das Localidades Centrais” (CORREA, 1997). 63

Título do capítulo: “Uma revisão da Teoria dos Lugares Centrais” (SANTOS, 2003).

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133

revisão dessa teoria no que se refere às estruturas sociais, destaca que a mesma é

válida para explicar a existência dos grandes concentraçoes urbanas; e Valbuena

(2013, p. 70) assinala que a TLC é uma “[...] referencia obligada para los teóricos de

la economía espacial como mecanismo eficiente para explicar el comportamiento en

la vida real de las ciudades [...]” (grifos nossos).

Seguindo essa linha de pensamento, Liberato (2008, p. 127) enfatiza que “[...]

mesmo reconhecendo que o desenvolvimento regional constitui um objeto de estudo

em profunda transformação na atualidade, não se pode considerar como adequados

os procedimentos que propõem ruptura total com os conhecimentos acumulados

[...]”, todavia, devido à complexidade da realidade, esses conhecimentos, a exemplo

da TLC de Christaller, deverão ser sempre contextualizados.

O referido autor ainda reforça:

O conhecimento das teorias que deram e/ou dão sustentação à análise regional [por exemplo, a Teoria das Localidades Centrais] é de suma importância, na medida em que, assim procedendo, evidencia-se o nível de amadurecimento dos estudos da área, como também, talvez o mais importante, torna-se possível esclarecer as suas possibilidades e os seus limites explicativos (ibid, p. 127).

Dada a importância do trabalho de Walter Christaller à economia e aos

estudos urbanorregionais, algumas das idéias centrais de sua teoria são úteis e

podem auxiliar no entendimento do processo de regionalização e/ou na definição da

rede urbana atualmente (CUNHA; SIMÕES; PAULA, 2005). Nesse sentido, enfatiza-

se que é necessário, diante das simplificações e hipóteses restritivas do modelo

christaleriano, uma interpretação não literal de seus resultados, procurando reter

somente os conceitos-chave da TLC que permitem uma leitura hodierna dos estudos

urbanorregionais (ibid).

Assim, diante da relevância e da recorrência teórica da tese de Christaller nos

estudos urbanorregionais, propõe-se uma discussão dos principais conceitos da TLC

que permitem uma explicação sistemática da centralidade urbanorregional da cidade

de Mossoró. Ressalta-se que não se pretende fazer um debate aprofundado de

todas as ideias de Christaller, contudo, busca-se realizar uma leitura da problemática

proposta nesse trabalho a partir dos elementos-chave dessa teoria, sobrepondo-os a

realidade estudada, a empíria.

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134

A Teoria das Localidades Centrais foi desenvolvida de forma a complementar

duas outras teorias locacionais já existentes nas primeiras décadas do século XX, a

saber: a Teoria da Localização das Atividades Agropecuárias, elaborada por Von

Thunen no ano de 1910; e a Teoria da Localização das Indústrias, formulada por

Weber em 1929. Christaller “notou” que faltava um estudo teórico que tratasse da

localização dos serviços, da ordem e da organização das cidades em um espaço

regional, propondo então, no ano de 1933, a TLC (SILVA, 2010).

De acordo com Bradford e Kent (1987), a Teoria das Localidades Centrais foi

construída com base em um conjunto de pressupostos, expressos explicitamente ou

não, que simplificavam a realidade (quadro 10).

Esses pensamentos alicercaram a TLC e fundamentaram os seus principais

conceitos, tais como os de centralidade, lugares, bens e serviços centrais, limiar e

alcance de um bem central, hierarquia urbana e região de influência. Contudo,

também geraram críticas e depreciações na academia em virtude da rigidez e da

limitação de algumas de suas ideias. Por exemplo, não dar para considerar que há

uma planície uniforme, sem limites, com igual facilidade de transporte em todas as

direções (pressuposto 01 – quadro 10), uma vez que, os meios de locomoção são

diversos e o acesso a eles é desigual entre as pessoas e os espaços. Além disso,

reforça-se também que, dentro da lógica capitalista, as ações e os mecanismos

sociais e econômicos conformam espaços diferenciados (CORRÊA, 1997), negando

a possibilidade de configuração de uma homogeniedade espacial.

Mesmo se tratando de um modelo hipotético-dedutivo, é limitante analisar um

espaço (intraurbano ou interurbano) considerando que a população está distribuída

igualmente por todas as áreas (pressuposto 02) e que todas essas pessoas tem o

mesmo poder de compra e/ou de acesso aos bens e serviços (pressuposto 08), pois

não existe uma uniformidade na distribuição da população pela superfície terrestre,

coexistindo assim, tanto vazios demográficos com áreas com elevadas densidades

populacionais; são os fatores sociais, econômicos, naturais e políticos que definem

essa organização e distribuição populacional entre os espaços. Semelhantemente, o

poder de compra desses sujeitos é desigual, está diretamente relacionado à posição

ou a condição de cada indivíduo na escala de estratificação social.

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Quadro 10: Pressupostos da Teoria das Localidades Centrais

Pressuposto 01

Existência de uma planície uniforme e sem limites na qual há igual facilidade de transporte em todas as direcções; os custos do transporte são proporcionais a distâncias e há um único tipo de transporte.

Pressuposto 02 A população está igualmente distribuída por toda a área;

Pressuposto 03

Os lugares centrais (povoações) estão localizados nessa superfície para fornecer bens, serviços e funções administrativas á sua área de influência. São exemplo as lojas de equipamentos (bens), limpeza a seco (serviços) e os departamentos de planeamento urbano (funções. administrativas);

Pressuposto 04 Os consumidores deslocam-se ao lugar central mais próximo que forneça a função (bens ou serviços) que eles procuram. Minimizam a distância a percorrer;

Pressuposto 05

Os fornecedores destas funções agem como homens econômicos, isto é, tem como objectivo maximizar o lucro, localizando-se na planície de modo a obter o maior mercado possível. Uma vez que as pessoas se deslocam ao centro mais próximo (pressuposto 04), os fornecedores localizar-se-ão tão longe quanto possível uns dos outros de forma a maximizar as suas áreas de mercado;

Pressuposto 06

Os fornecedores procederão dessa forma, mas de maneira que nenhum consumidor fique a uma distância maior, em relação a uma dada função, do que aquela que está disposto a percorrer. Alguns lugares centrais oferecem muitas funções. São chamados centros de ordem superior. Outros, fornecendo menor número de funções, são centros de ordem inferior;

Pressuposto 07

Pressupõe-se que os centros de ordem superior fornecem certas funções (funções de ordem superior) que não são oferecidas pelos centros de ordem inferior. Fornecem também todas as funções (funções de ordem inferior) que são fornecidas pelos centros de ordem mais baixa que a deles;

Pressuposto 08 Todos os consumidores têm o mesmo rendimento e a mesma procura de bens e serviços

Fonte: Organizado pela autoria com base no texto de Bradford e Kent (1987, p. 18-19).

Como a própria nomenclatura diz, a Teoria das Localidades Centrais tem por

base os conceitos de lugares centrais e centralidade. Como já apresentado ao longo

dessa dissertação, a centralidade é compreendida como a importância relativa que

determinado lugar possui em relação à região do seu entorno; está relacionada ao

nível de oferta de funções centrais de uma cidade, tanto para si como para as áreas

adjacentes; ela corresponde ao excedente de bens e de serviços por parte de uma

localidade em comparação com as demais (CHRISTALLER, 1981; SILVA, 2010).

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136

Breitbacach (1988) enfatiza que a centralidade está intimamente relacionada

à função da cidade, que é a de se configurar como centro de uma região. A autora

ainda ressalta que a definição de uma centralidade se faz não só pela sua posição

geográfica (geométrica), mas, as suas funções e a sua capacidade de mover, de

atrair fluxos para o seu centro interno, se definido assim, em um sentido abstrato.

Da concepção de centralidade “ergue-se”, conforme registra Tineu (2012), o

conceito de lugares ou localidades centrais, sendo estes, sinônimos de uma área

(um estabelecimento, uma rua, uma cidade) que oferta bens e serviços em relação

ao seu entorno. Originalmente, Christaller (1981) caracteriza as localidades centrais

como pontos no espaço nos quais os agentes econômicos se dirigem para efetivar

ou suprir suas necessidades específicas; são os espaços que possuem uma maior

disponibilidade e oferta de bens e serviços.

Dentro de uma malha urbana existem lugares centrais diversos, com níveis de

centralidades diferentes, sendo possível identificar, lugares centrais de ordem mais

elevada, de ordem mais baixa ou lugares centrais auxiliares. O que vai definir essa

posição hierárquica é a “importância” de um lugar em relação à região-circundante.

Assim sendo, as localidades centrais apresentam um “excendente de importância”,

em contrapartida, os espaços adjacentes, ou o seu entorno, possuem um “defícit de

importância” (CHRISTALLER, 1981).

Complementando as ideias expostas, Tineu (2012) reforça que nos lugares

centrais, a densidade econômica, populacional e terciária é mais expressiva do que

nas suas áreas circunvizinhas; e evidencia que “quanto menor for essa densidade

menor sua concentração, tendendo a dispersão populacional e das atividades

econômicas, o que caracteriza os lugares dispersos em contraste ao lugar central”

(ibid, p. 03).

O excesso e o defícit de importância (ou de centralidade) existentes entre os

lugares levou Christaller (1981) a formular o conceito de região complementar. Essa

região foi definida como uma área que apresenta um déficit de importância, e que é

contrabalanceada pelo excedente de centralidade das localidades centrais; segundo

Silva (2010), a região complementar (ou região de influência urbana) é um espaço

subordinado ao papel de um determinado lugar central de acordo com sua posição

na hierarquia urbana.

Sobrepondo os conceitos de centralidade, lugar central e região de influência

(ou complementar) a dinâmica urbana e regional de Mossoró, percebe-se que essa

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137

cidade se constitui como um lugar central em virtude da concentração de bens e de

serviços existentes nessa urbe. As informações apresentadas na primeira seção

dessa dissertação mostram a urbe mossoroense como um espaço evidente, dotado

de diversas funções urbanas. Essa visibilidade fica mais aparente quando olhamos e

comparamos as condições urbanas das cidades circunvizinhas a Mossoró, uma vez

que, a oferta das atividades terciárias nesses espaços é praticamente inexpressiva.

Esses lugares formam, dentro da perspectiva da TLC, a região complementar ou a

região de influência de Mossoró.

A importância da cidade de Mossoró em relação a sua região complementar é

manifestada através da concentração populacional e econômica e por meio da oferta

de bens e de serviços presentes nesse centro. Essa relevância espacial, chamada

por Christaller de Centralidade, transcende os contornos intraurbanos de Mossoró; é

exteriorizada pelos aspectos funcionais que adjetivam essa cidade enquanto lugar

central; e evidenciada por meio dos fluxos que convergem, principalmente, de sua

região de influência para o núcleo intraurbano dessa cidade.

Voltando à discussão dos conceitos-chave da TLC, Christaller (1981) afirma

que a centralidade ultrapassa a ideia de posição geográfica central e se “sustenta”,

principalmente, nas funções centrais de um lugar. Em outros termos, explica-se que

a existência de uma localidade central “[...] é definida porque determinadas funções

da cidade são exercidas por intermédio de atividades que têm necessidade de ter

uma localização central [...]” (TINEU, 2012, p. 03). Dessa proposição, conforma-se

outro conceito basilar da Teoria das Localidades Centrais: bens e serviços centrais –

definido e explicado por Christaller (1981, p. 30) em sua tese da seguinte forma:

Os bens e serviços centrais são produzidos e oferecidos em uns poucos pontos necessariamente centrais a fim de serem consumidos em muitos pontos dispersos. Os bens e serviços dispersos são necessariamente produzidos e oferecidos em muitos pontos dispersos (ou em poucos pontos, mas não em pontos centrais), preferivelmente a fim de serem consumidos em poucos pontos).

Como a própria nomeclatura deixa explícita, os bens e serviços centrais estão

relacionados às mercadorias (aos produtos) e/ou as atividades que são encontradas

e ofertadas (e em alguns casos, produzidas) nas localidades centrais. Esses bens e

serviços centrais apresentam uma “hierarquia”, sendo possível identificar bens de

ordem elevada, que são oferecidos, majoritariarmente, nas localidades centrais de

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primeira ordem; e bens centrais de ordem bem mais baixa, encontrados em lugares

com baixo nível de centralidade (CHRISTALLER, 1981; SILVA, 2010; TINEU, 2012).

Frenta a essa discussão, é importante enfatizar que as localidades centrais de

ordem superior possuem, geralmente, as funções centrais dos lugares com ordem

inferiores; os serviços centrais, tais como, as atividades comerciais e bancárias, as

organizações profissionais e de negócios, a administração pública, a oferta de bens

culturais e espirituais (escolas, igrejas, por exemplo), os transportes e os serviços de

saúde, são ofertados principalmente nas cidades (CHRISTALLER, 1981); e “[...] os

diversos níveis de lugares centrais são determinados pela sua importância ou

centralidade e esta pela complexidade dos diversos tipos de bens e serviços [...]”,

(TINEU, 2013, p. 04).

Sendo assim, os diversos serviços urbanos (e centrais) seriam classificados

como de ordem superior ou inferior, e o ordenamento e a classificação das cidades,

ou das localidades centrais, variava de acordo com a ordem dos serviços fornecidos;

em outras palavras, com o grau ou a intensidade da centralidade.

Os diferentes níveis de oferta (disponibilidade) dos bens e serviços centrais

nas cidades leva a construção de outro conceito importante da TLC: a hierarquia

urbana. Tomando por base os pensamentos de Christaller, Silva (2010) explica esse

elemento conceitual, definindo-o como “[...] a disposição e integração dos lugares

centrais segundo o tamanho e o número de centros, cuja variação dependerá da

oferta de bens e serviços [...]” (p. 95). Dessa definição, depreende-se que as cidades

de nível hierárquico mais expressivo estão dotadas de uma maior área de influência,

ou de uma região complementar (influência), “[...] estando incluídas também nessa

área, as regiões de atuação dos centros de patamar imediatamente inferior, e assim,

sucessivamente, desenhando-se uma hierarquia onde, de forma sistemática [...]”

(RIBEIRO, 2013, p. 2) os níveis inferior são englobados pelos centros urbanos de

nível imediatamente superior.

Um elemento importante que vai delimitar essa hierarquia, ou simplesmente,

vai definir a centralidade de uma cidade e a sua região complementar, bem como, a

ordem dos bens e serviços centrais, é a distância econômica, compreendida a partir

do tempo e do custo gastos com os deslocamentos 64 (ABLAS, 1982 apud TINEU,

2012).

64

Distância econômica é determinada pelos custos de frete, os custos de seguros, as taxas de armazenagem, o período de tempo, a perda de peso ou espaço devido ao transporte [...] e quanto ao

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139

Essa distância determina o “alcance de um bem central”, bem como, o seu

“limiar” - dois outros conceitos presentes e essenciais da TLC. O “alcance de um

bem” é definido por Christaller (1981) como “[...] a distância mais afastada a que

uma população dispersa está disposta a ir a fim de comprar um bem oferecido em

um lugar central [...]” (p. 36); em outras palavras, corresponde ao raio máximo de

abrangência de um dado produto ou serviço central.

Ressalta-se que essa abragência máxima de um bem central é influenciada

por alguns fatores, dentre eles: o preço dos produtos, a quantidade de habitantes

concentrados em uma localidade central, as condições de renda e a estrutura da

população, a densidade e a distribuição da população dispersa, e a proximidade ou

afastamento em relação a outros lugares centrais (CHRISTALLER, 1981).

Complementando o conceito de “alcance de um bem central”, Bradford e Kent

(1987, p. 20) registram que “[...] para um dado bem também há uma procura mínima

ou uma dimensão de mercado necessária para a venda lucrativa do bem [...]”. Essa

busca mínima foi denominada, dentro da TLC, de “limiar mínimo de um bem” ou de

“limite critico de demanda”. Em outras palavras, o limiar é “[...] o nível mínimo de

demanda por um bem que deve existir para que seja oferecido por uma determinada

cidade (lugar central) [...]” (SILVA, 2010, p. 95).

Fazendo uso dos conceitos de lugar central, bens e serviços centrais, alcance

e limiar de um bem central, Christaller buscou determinar em sua tese o formato das

áreas de mercado (regiões complementares) a partir de representações gráficas, de

modo que, nesse “modelo” todos os consumidores (população) fossem atendidos, e

concomitantemente, a distância em relação às firmas (fornecedores) fosse reduzida

65 (MONASTERIO; CAVALCANTE, 2011).

Com base em seu modelo gráfico e nos conceitos estruturadores de sua

teoria, Christaller teceu algumas considerações em relação às áreas de mercado, a

saber: a) o tamanho das áreas de mercado dependia dos gastos com transportes e

da variabilidade dos preços – quanto menor à distância, o custo dos transportes e o

preço dos produtos, maior a área de mercado; b) existia um ordenamento entre os

transporte de passageiros, o custo do transporte, a duração da viagem e o conforto. [...] A distância econômica é igual à distância geográfica convertida numericamente em frete e outras vantagens ou desvantagens de transportes economicamente importantes [...] (CHRISTALLER, 1981, P. 36). 65

Christaller elaborou um “[...] esquema [modelo] teórico de distribuição do povoamento, no qual os lugares se configuram geometricamente segundo um padrão teoricamente regular e cujas áreas de influências definem uma malha hexagonal [...]” (GAMA, 1983, p. 10). Esse modelo gráfico-teórico foi chamado de “Hexágono de Christaller”.

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140

bens e serviços centrais de acordo com a frequência com que eram comprados e/ou

utilizados, de modo que, “[...] bens de ordem inferior são comprados frequentemente

e, portanto, os ofertantes se localizam nas proximidades de seus mercados. Suas

áreas de mercado são pequenas [...]” (MONASTERIO, CAVALCANTE, 2011, p. 57).

Em contrapartida, as mercadorias (produtos) de ordem mais elevada, de compras

mais rarefeitas, menos frequente, teriam áreas de mercado mais abragentes.

A partir da confluência dessas ideias, Christaller (1981) definiu três princípios

que “regeriam” que o padrão de ocupação e distribuição dos espaços ou os sistemas

das localidades centrais, a saber: o princípio de mercado, da circulação (transporte)

e o administrativo. Tais princípios versavam, respectivamente, sobre a minimização

do número de centros; a redução do custo de transporte para os consumidores; e a

diminuição das áreas que são compartilhadas por mais de um fornecedor (expostos

e explicados quadro 11).

Quadro 11: Princípios da Teoria das Localidades Centrais

Princípio de Mercado

Centros de primeira ordem fornecem serviços de primeira ordem; centros de segunda ordem fornecem serviços de segunda ordem, e assim por diante, de modo que as diferentes ordens de cidades se organizam em uma hierarquia. Em geral, quanto mais baixa é a ordem de serviços, maior é o número de cidades que os proveem e menor a área que cada uma serve, de modo que tais mercados são essencialmente locais. Quanto mais superior a ordem dos bens e serviços, maior é a área servida, o que significa dizer que os mercados das cidades de mais alta ordem são mais abrangentes.

Princípio

da Circulação

Para otimizar a economia no transporte entre lugares centrais, organiza-se uma rede mais eficiente de estradas a ligar essas cidades. Os centros de baixa ordem ficam a uma distância de média para grande dessas rotas principais.

Princípio

Administrativo

Lugares centrais secundários se organizam em torno de um lugar central principal que exerça sobre os demais seu poder administrativo e político.

Fonte: Organizado pela autoria com base no texto de Deolindo (2014, p. 03).

De posse dos conceitos e dos princípios básicos dessa teoria, pode-se inferir

que a TLC sustenta-se no caráter central dos lugares de distribuição de bens e

serviços; está alicerçada no princípio da centralidade, na distribuição de bens que se

agregam em funções e na delimitação de uma região de influência desses lugares

(GAMA, 1983).

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141

Frente a essas constatações e pensando a centralidade urbanorregional de

Mossoró a partir dos recortes teóricos possíveis da TLC, constata-se que essa

cidade se conformou historicamente e espacialmente como uma localidade central

em virtude dos bens e dos serviços centrais presentes nesse espaço; as diferentes

funções ou atividades econômicas desenvolvidas nesse centro foram responsáveis

pela conformação do mesmo como uma centralidade; a ação dos bens e serviços

ofertados em Mossoró transcedem os limites internos dessa urbe, de modo que,

alcança os espaços circunvizinhos, criando, como mencionado anteriormente, uma

área de mercado, ou simplesmente, uma região complementar ou de infuência.

Essa área de mercado ou o espaço de atuação dos bens e serviços presentes

em Mossoró estabelece uma hierarquia urbana, no qual, a urbe mossoroense ocupa

um patamar de destaque em relação a outros espaços, pois, apresenta uma maior

concentração e diversidade de bens e produtos (atividades terciárias), enquanto nas

áreas adjacentes, esses elementos, em sua maioria, são rarefeitos e/ou limitados.

Nessa mesma linha de pensamento, destaca-se que os fluxos que fluem em

direção à Mossoró, apresentados anteriormente, evidenciam a centralidade desse

enclave urbano, e mostram a relevância das atividades comerciais e da prestação

de serviços dessa cidade enquanto elementos fomentadores de sua centralidade. É

válido relembrar que a “explosão terciária” na cidade Mossoró, ou seja, o aumento

das atividades de comércio e de serviços ocorreu principalmente a partir da década

de 1970, com a “queda” das agroindústrias, de modo que, redefiniu ou reafirmou a

centralidade urbanorregional desse centro urbano.

Assim sendo, pode-se inferir que a cidade de Mossoró exerce sua condição

de centralidade frente à região por apresentar significativa concentração da oferta de

bens e serviços. Dessa forma, as áreas circunvizinhas têm seus fluxos convergentes

para a referida cidade, no sentido de atender as demandas por parte da sociedade.

Em outras palavras, a urbe mossoroense, enquanto lugar central na distribuição de

bens e serviços no espaço regional figura, na teoria de Christaller, como o “limiar”;

enquanto que sua região de influência figura como o “alcance”.

Ainda estabelecendo um diálogo entre a teoria de Christaller, em discussão, e

o recorte empírico, em análise, as condições elencadas na TLC, como pressupostos

e princípios (quadro 10 e 11), não são, em sua maioria e na atualidade, verificadas,

posto que se está diante de um outro momento de produção do espaço, por ser esse

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142

processo de produção histórico, portanto, condicionado pelas condições materiais de

cada sociedade, num dado recorte temporal.

Com intuito de “retificar” a teoria elaborada por Christaller, principalmente por

causa desse seu caráter rígido, matemático-dedutivo e redutor da realidade, alguns

autores, a citar como exemplos, Corrêa (1997) e Santos (2003), teceram algumas

apreciações (revisão, releitura) em relação à TLC, de modo a ajusta-lá as diferentes

“[...] realidades que os pressupostos iniciais não previam, [tais] como a concentração

de renda, elites agrárias, oligopólios entre outras contradições do sistema capitalista”

(ALVES, 2015, p. 13).

Dos geográfos citados, optou-se por construir algumas considerações sobre a

centralidade urbanorregional de Mossoró a partir as ideias de Corrêa (1997), uma

vez que ele propõe uma (re) leitura mais holística da TLC, diferentemente de Santos

(2003) que a discute por meio dos circuitos da economia urbana, a partir de um foco

(abordagem) mais específico.

Corrêa (1997) revela a necessidade de incorporar as dinâmicas (as relações)

capitalistas, os aspectos sociais e os elementos culturais nas discussões urbanas e

regionais construídas na teoria de Christaller; enfatiza que a TLC possui alguns

“entraves” e “limites” teóricos; e paralalelamente, preconisa que essa teoria seja (re)

pensada por meio de algumas proposições e releituras, lançando mão das seguintes

observações e/ou sugestões:

a) É necessário pensar a rede hierárquica das cidades (dos lugares centrais) como

uma forma de organização do espaço correlacionada as relações capitalistas,

como um reflexo da produção capitalista e das esferas produtivas;

b) É preciso observar os diferentes níveis de consumo dos grupos sociais e suas

projeções sobre os arranjos espaciais, sobre as redes hierárquicas;

c) Deve-se compreender os arranjos espaciais (urbanorregionais) como aspectos

reveladores da penetração diferenciada do capitalismo nos espaços;

d) E entender que as redes urbanas (ou rede das localidades centrais) formam uma

estrutura territorial cuja análise possibilita a compreensão do sistema urbano.

Corrêa (1997) também enfatiza que é necessário superar o contexto histórico

e econômico em que a TLC foi desenvolvida (capitalismo monopolista), trazendo-a

para o momento atual; e assinala que é importante relacionar essa teoria à história,

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143

de modo a definir as localidades centrais como “[...] um fenômeno historicamente

determinado e submetido às transformações por que passa a sociedade capitalista”

(ibid, p. 35).

Tomando por base as proposições acima, depreende-se que a centralidade

urbanorregional de Mossoró é um produto direto das relações capitalistas que foram

e ainda são engendradas nesse território urbano; a sua influência urbanorregional é

“alimentada” através atividades econômicas e produtivas que são desenvolvidas

continuamente nesse espaço, a exemplo das atividades comerciais e da prestação

de serviço - principais elementos impulsionadores da centralidade de Mossoró desde

a década de 1970.

Nesse sentido, pode-se inferir que a centralidade de Mossoró ante a região

(ou dos espaços urbanos adjacentes), é um reflexo, na realidade, dos efeitos ou dos

processos acumulados, “[...] da prática de diferentes agentes [elites] sociais [...] que,

efetivamente, introduzem, tanto na cidade como no campo, atividades que geram

diferenciações entre os centros urbanos [...]” (CORRÊA, 2006, 27). Assim, a posição

que essa urbe ocupa dentro do cenário regional é resultado das relações desiguais

de uso e de (re) produção do espaço.

A cada “fase histórica” de Mossoró, uma atividade econômica ou produtiva foi

“introduzida” nessa cidade, estimulando sua dinâmica espacial, e ao mesmo tempo,

colocando-a como um lugar de referência na região. Foi assim no momento do

Empório Comercial e no desenvolvimento das agroindústrias; é assim, atualmente,

com as atividades terciárias.

É importante salientar que a inserção (reprodução) capitalista se dá de modo

desigual entre os espaços, gerando áreas com grandes amparatos econômicos, a

exemplo da cidade de Mossoró, e espaços raquiticos, que são dependentes, dentro

de uma rede urbana, dos centros urbanos principais.

Outro elemento a ser destacado nessa discussão, é o papel fundamental das

elites e dos agentes econômicos locais na manutenção desse processo espacial,

uma vez que esses atores foram e ainda são responsáveis pela estruturação e pelo

“controle” das relações capitalistas desenvolvidas nessa cidade. Porém, reforça-se a

importância dos processos e dos agentes econômicos externos como “elementos”

que influenciam, e até determinam, as dinâmicas espaciais, econômicas e regionais

da cidade de Mossoró.

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Nessa linha de pensamento, Bessa (2007) enfatiza que a complexidade de

uma rede urbana ou o patamar que determinado centro urbano ocupa dentro desse

sistema depende diretamente da sua estrutura socioespacial, da atuação dos seus

agentes socioespaciais, ou seja, “[...] a rede urbana é expressão continuamente

atualizada de uma estrutura social crescentemente diferenciada e complexa” (p. 76).

Além disso, ela reforça que a dinâmica da rede urbana deriva dos processos de

criação e evolução (desigual) das cidades, proviniente de uma desigualdade espaço-

temporal dos processos sociais, que por sua vez, também está correlacionada às

“[...] tendências contraditórias para a convergência e para a divergência [...] como

decorrência das atitudes e estratégias das elites locais” (BESSA, 2007, p. 67).

É preciso considerar também que a centralidade urbanorregional de Mossoró

é resultado de um processo histórico de acumulação, uma vez que, o patamar que

esse espaço urbano ocupa hoje na hierarquia regional, tem traços das atividades

que foram desenvolvidas nesse centro antigamente.

Com relação a esse processo, Rochefort (1998) assinala que os fenômenos

de organização do espaço são “[...] dotados de grande força de permanência a partir

do momento em que são produzidos pelo funcionamento socioeconômico [...]” (p.

112). Sendo assim, todo sistema urbano atual, ou a posição que determinada cidade

ocupa dentro de uma malha regional, a exemplo da urbe mossoroense, é, pois, “[...]

influenciado pelas etapas anteriores de estruturação do espaço no qual ele funciona

hoje [...]” (ibid). Nessa linha de raciocínio, Corrêa (2007) frisa que “[...] as diferenças

entre os tempos espaciais dos diversos segmentos de uma rede urbana podem ser

muito grandes [...]” (p. 41), de modo que, algumas cidades, por exemplo, incorporam

vários momentos da história, com diferentes fases socioeconômicas e produtivas,

enquanto outros centros urbanos podem ter sua trajetória histórica e espacial muito

recente.

Em termos espaciais, os processos econômicos e produtivos não ocorrem ao

mesmo tempo, nem de mesmo modo ou com a mesma intensidade em todas as

partes de uma rede urbana (ibid). Essas disparidades rítmicas explicam a inércia, a

continuidade e/ou expressividade de algumas cidades em relação a outras dentro de

um emaranhado urbanorregional. A urbe mossoroense, por exemplo, em função de

seus antecedentes históricos e econômicos, da ação de seus agentes econômicos e

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de sua realidade geográfica 66, vem se (re) afirmando como um espaço de evidência

frente aos espaços urbanos adjacentes, como um espaço polarizador que detém a

capacidade de atrair, em decorrência de suas infraestruturas e serviços, diversos e

constantes fluxos para si.

As atividades comerciais e de serviços presentes em Mossoró condicionam a

posição que a mesma ocupa no cenário regional; justificam a confluência dos fluxos

que se digirem para esse aglomerado urbano; e explicam a “dependência” que as

cidades menores, apresentadas ao longo dessa dissertação, têm em relação a esse

centro, isso porque, conforme escreve Rochefort (1988, p. 21), a depedência dos

“[...] centros secundários com respeito aos centros principais se deve simplesmente

à ausência de certos serviços que obriga as pequenas cidades, quando têm

necessidade desses serviços, a recorrer à cidade grande mais complexa [...]”.

Assim sendo, procuram-se os espaços urbanos com a maior diversidade de

serviços, onde existem “excedentes” de mercadorias, de possibilidades de compra e

de aquisição de produtos; busca-se a cidade de Mossoró em virtude dos aparatos e

dos serviços terciários (e urbanos) que a mesma possui, de forma a complementar o

déficit de serviço que existe em relação a sua região de influência (BESSA, 2007;

CORRÊA, 2007).

Diante do que foi explicitado, é importante reforçar que existe uma crescente

relação de interdependência e complementaridade entre as cidades dentro de um

contexto regional especializado, de modo que, “[...] tais centros passam a ter relação

direta com as demandas [das cidades] de sua região” (BESSA, 2007, p. 75). Assim,

quando se fala em hierarquia entre as cidades, no sentido stricto sensu, a expressão

torna-se inadequada, visto que não se trata mais do controle de uma cidade sobre a

outra, mas de uma relação de complementaridade, colaboração e subsidiariedade.

Sobre tais aspectos, Rochefort (1998, p. 42) frisa que há, em função do nível

dos “[...] equipamentos dos centros, uma interdependência em relação à clientela

atendida e com frequência se têm utilizado centros diversamente equipados, mas

interdependentes no interior do espaço de que constituem a rede urbana”. Com base

66

Numa região, as cidades se distrubuem portanto em alguns tipos caracterizados por um certo papel

econômico mais ou menos influenciado pela história. No entanto, seria deconhecer gravemente a

realidade geográfica ou negligenciar a verdadeira personalidade peculiar a cada cidade. A inserção

geográfica da cidade em sua região repercute na maneira pela qual ela cumpre o seu papel com

relação a esta última (região) [...] (ROCHEFORT, 1998, p. 14).

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nessas assertivas, pode-se inferir que a cidade de Mossoró, para além de uma

“posição hierárquica”, mostra-se como um espaço de (e em) evidência no cenário

regional por se conformar como uma “área de disponibilidades”, que permite

complementar e suprir, em função de sua expressiva estrutura de comércio e de

serviços, a deficiência terciária das cidades adjacentes.

Ultrapassa-se assim, a ideia de uma estrutura (urbana) rígida e inflexível da

rede, de modo que, as relações entre os centros dessa malha urbana (de Mossoró e

de sua região de influência) se dão de forma horizontal, a partir de “livres” relações

socioespaciais, sem articulações progressivas ou limites espaciais, ou seja, através

de uma heterarquia urbana (CATELAN, 2013).

Dentro dessa visão heterárquica 67, a cidade de Mossoró estabelece relacões

multiescalares, ou seja, interage tanto com as cidades que compõem a sua região

de influência, que lhe são próxima, contínua, como também com centros urbanos

que estão situados além desse espaço zonal, transcendo até a escala nacional - a

exemplo dos produtos mossoroenses que são exportados para o exterior. De modo

semenhante, as cidades que estão sobre a influência dessa urbe também estão

inseridas nessa dinâmica heterárquica, podendo realizar diversas interações, com

diferentes espaços, situados em áreas distantes (ou não).

Uma cidade que influencia um espaço regional e uma região que estimula,

movimenta e dinamiza um espaço intraurbano; uma relação dialética, contrária e

complementar; um arranjo espacial formado por rarefações e densidades urbanas,

por espaços que se destacam na lógica capitalista e de outros que são dependentes

dos primeiros. Tais características conformam a imagem das redes urbanas atuais,

elas retratam a organização de um arranjo de espaços, na qual, nas amarras desses

tecidos urbanos estão cidades ou os lugares centrais, espaços mais densos, mais

funcionais, mais visíveis, produto da atuação desigual do capitalismo.

A cidade de Mossoró, enquanto espaço urbano central na região, dotado de

centralidade em virtude de suas funçoes urbanas (bens e serviços centrais), é uma

fotografia dessa realidade, é um retrato, como ilustrado ao longo dessa dissertação,

pintado a várias cores, com tons vibrantes e chamativos, que prendem e atraem os

olhares, o desejo e as necessidades das pessoas que estão no seu entorno.

67

A heterarquia urbana ocorre a partir das interações espaciais interescalares na rede urbana. As funções e os papéis que as cidades, nas suas múltiplas escalas, exercem na rede urbana dependem, em grande parte, das articulações entre lógicas das escalas locais à global (CATELAN, 2013).

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As análises teóricas e empíricas desenvolvidas e apresentandas ao longo

dessa dissertação mostram a cidade de Mossoró como um espaço central na região.

Esse espaço urbano é central não pela sua posição geográfica, posicional ou física,

mas por sua importância, face às funções que exerce, em decorrência da oferta de

bens e serviços, o que termina por atrair fluxos de pessoas que para a cidade de

Mossoró convergem, no sentido de atender suas demandas.

Tais demandas são atendidas cotidianamente, o que gera fluxos contínuos de

transportes coletivos e utilitários, os quais viabilizam o deslocamento de pessoas,

em processos de compra de bens ou de atendimentos em serviços, principalmente,

aqueles afeitos à saúde e à educação. Neste sentido, concorrem para o atendimento

a estas demandas as atividades de comércio, representadas pelos equipamentos

comerciais dispostos no tecido urbano mossoroense, como os shoppings centers,

hipermercados, e mesmo do comércio de rua; bem como as atividades de serviços,

representada pelas universidades, sejam elas públicas ou privadas, e os centros de

formação de nível secundário, como o IFRN.

Enquanto que o comércio promove uma atração diária de fluxos de pessoas,

juntamente com o serviço de saúde, as atividades de educação promovem fluxos

mais longos do ponto de vista temporal. Isto porque, seja para estudar ou para

trabalhar nesse setor, as pessoas permanecem na cidade durante, pelo menos, os

dias úteis, retornando para seus municípios de origem no final de semana.

Esse contexto anteriormente descrito dá relevância espacial a Mossoró; essa

evidência é manifestada através de suas funcionalidades e estruturas urbanas, de

seu dinamismo espacial e econômico e de sua capacidade de atração dos fluxos

externos. Metaforicamente, tais aspectos transcendem os limites internos dessa

cidade e invadem as áreas adjacentes; fazem de Mossoró um lugar central entre

tantos outros pontos urbanos, ou simplesmente, uma centralidade.

Essa relevância urbanorregional de Mossoró é pretérita e variável ao longo de

sua história. Contudo, essa visibilidade na região sempre foi estabelecida e mantida

a partir de suas atividades econômicas. Inicialmente, foi à posição de Mossoró como

Empório Comercial que a colocou em um patamar de destaque; entre as décadas de

1930 e 1970, as agroindústrias foram responsáveis por “reacender” a “luz” dessa

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urbe na região; e a partir da década de 1970, o que vem reafirmando continuamente

a centralidade regional de Mossoró são, principalmente, as suas atividades terciárias

– o comércio e os serviços.

Sendo assim, pode-se dizer que a atual conjuntura econômica e espacial de

Mossoró, e a sua inserção como cidade de destaque, ou centralidade na região, é

um “reflexo” dos processos socioeconômicos que ocorreram nesse espaço urbano; é

resultado direto das alternâncias econômicas e produtivas que vem desenhando e

modelando esse centro urbano ao longo de sua história.

A concentração e a heterogeniedade das atividades comerciais e de serviços

existentes na cidade de Mossoró a diferencia expressivamente das áreas adjacentes

e a coloca em um “nível de superioridade” em relação aos demais espaços urbanos

que constituem a sua região de influência. Esse desequilíbrio funcional (e terciário) é

responsável por gerar fluxos contínuos entre esses espaços, de modo que, Mossoró

“comporta-se” como um ponto de confluência desses movimentos, ou, em outras

palavras, como uma centralidade. Nesse sentido, reforça-se que o terciário passou a

ser uma das principais “forças motrizes” da dinâmica urbana, econômica e regional

de Mossoró a partir da década de 1970, momento em que ocorreu a “queda” das

agroindústrias nessa cidade e, concomitantemente, a ascenção do comércio e dos

serviços - herança dos processos recorrentes nesse espaço.

A área de mercado ou a região de influência da cidade de Mossoró é extensa,

agrega espaços urbanos dentro e fora do território norte-rio-grandense. As cidades

que compõem essa região complementar são, em sua maioria, centros de pequeno

porte, com estruturas e equipamentos urbanos deficientes, uma economia débil e

um quadro populacional pouco expressivo. Tais aspectos fazem de Mossoró, um

espaço urbano reluzente que se avulta frente a outros territórios urbano nessa rede.

A circulação de pessoas e capital da região em Mossoró é outro elemento que

manifesta a centralidade regional dessa cidade; os fluxos que circulam e convergem

(diariamente) incisivamente para esse espaço revelam a sua capacidade de atração

e polarização, e paralelamente, mostram as desigualdades urbanas existentes entre

essas áreas, uma vez que, esses movimentos ocorrem como forma de “minorar” a

carência e as disparidades das funções urbanas que há entre essas cidades.

Nesse contexto, reforça-se que Mossoró “alimenta” a sua centralidade através

de suas múltiplas funcões urbanas, por meio de sua rica estrutura de serviços, e

pela sua capacidade de confluir os fluxos; o cenário que está posto hodiernamente é

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resultado direto dos processos históricos que foram estabelecidos em Mossoró; e a

centralidade dessa cidade ou sua hegemonia espacial/regional é um produto e uma

condição da do sistema de produção capitalista vigente.

É necessário evidenciar também a importância das condições geográficas e

dos agentes sociais, econômicos e políticos de Mossoró no processo de construção

e reafirmação de sua centralidade urbanorregional. O quadro natural, posicional e/ou

físico de Mossoró, por exemplo, permitiu que essa cidade se apresentasse como um

lugar “favorável” para o desenvolvimento de diversas atividades econômicas (sua

posição geográfica entre o sertão e o litoral, e a proximidade de um porto fluvial, por

exemplo, favoreceu a conformação desse espaço como um Empório Comercial).

Além disso, as condições naturais (geomorfológicas, pedológicas e climáticas) de

Mossoró “permitem” (ou influenciam) que essa cidade se configure como um grande

polo produtor e exportador de petróleo, de sal e de frutas (fruticultura irrigada).

Em relação ao Estado e os agentes sociais, econômicos e políticos, reforça-

se que esses atores vêm, historicamente, implementando ações que fortalecem a

racionalidade produtiva e econômica dessa cidade; repercutem diretamente nas

novas relações de trabalho; e afirmam e intensificam a centralidade urbanorregional

dessa cidade, seja por meio de estratégias políticas ou econômicas (capitalistas).

O espaço urbano é mutável e está vulnerável a processos e interesses que

vão além dos seus limites internos; há uma lógica que transcende o entendimento

apenas do lugar, do local. Nesse sentido, é importante destacar que o fenômeno da

centralidade urbanorregional de Mossoró está susceptível a transformações; esse

centro urbano pode continuar se reafirmando como uma localidade central, ampliar a

sua área de abragência espacial e fortalecer suas relações econômicas com outros

lugares, outras escalas; contudo, essa cidade pode deixar de ocupar o degrau que

se apodera hoje na hierarquia urbana.

Há possibilidade de permanências? Existem chances de Mossoró perder o

seu papel de centro polarizador? Ou, ampliar seu espaço de atuação? O “vir a ser”

dessa cidade é impreciso; as novas dinâmicas econômicas e espaciais que vem

sendo engendradas historicamente no território norte-rio-grandense indefine o futuro

desse centro urbano. O capitalismo, com suas inconstâncias e indefinições, com um

jogo de interesse que ultrapassa a lógica do lugar, pode fazer de Mossoró apenas

mais uma cidade que teve um papel econômico e histórico de destaque na região ou

no estado, ou, contrariamente, pode dar mais “oxigênio” a esse espaço urbano ao

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ponto de fazer dessa urbe, uma cidade-região, um espaço de evidência que rompe

as fronteiras atuais.

As ponderações a respeito do vir a ser ou da tendência futura da cidade de

Mossoró se insere num contexto mais amplo, qual seja, o contexto urbano global,

que vem apresentando uma tendência forte de reafirmação das cidades como

centros de dinamização do terciário, que termina por reafirmar ainda mais a

centralidade urbanorregional desta cidade. Desta forma, os rumos futuros da referida

cidade estarão em conformidade com o vir a ser, também, de outros contextos mais

amplos, nos quais Mossoró se insere, e como os quais se relacionam por meio do

intercâmbio de mercadorias, pessoas e capitais, perfazendo a lógica de produção do

espaço urbano capitalista.

Por estes motivos, o presente trabalho não esgota a temática centralidade

urbanorregional de Mossoró, antes, lança luzes a esse vir a ser de uma lógica que

se construiu ao longo da história desta cidade, permitindo novas abordagens e

novas possibilidades de apreensão da centralidade urbanarregional fomentada,

principalmente, pelo terciário, na atualidade.

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VALBUENA, Luis G. Becerra. Aproximaciones microeconómicas en la Teoría de los Lugares Centrales de Christaller. Ensayos Sobre Política Económica, Bogatá, v. 31, n. 70, p.67-120, 2013. WHITACKER, Arthur Magon. Inovações tecnológicas, mudanças nos padrões locacionais e na configuração da centralidade em cidades médias. In: COLOQUIO INTERNACIONAL DE GEOCRÍTICA, 09., 2007, Porto Alegre. Anais do IX Coloquio Internacional de Geocrítica. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2007.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A: Formulário (taxistas).

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES - CCHLA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA – PPGe

Dissertação de mestrado: O terciário e a centralidade urbanorregional de Mossoró.

Autor: Moacir Vieira da Silva

Orientadora: Profª Drª Rita de Cássia da Conceição Gomes

FORMULÁRIO (TAXISTAS)

01. Nome: ......................................................................................................................

02. Local de origem: ......................................................................................................

03. Trajeto:.....................................................................................................................

........................................................................................................................................

04. Condição: ( ) Motorista ( ) Proprietário ( ) Motorista/Proprietário

05. Tipo de veiculo: ( ) carro ( ) van ( ) micro-ônibus ( ) ônibus ( ) Outro

Especificação: ...............................................................................................................

06. Tempo de trabalho (desde quando faz essa rota?).

........................................................................................................................................

Em relação à jornada de trabalho

07. ( ) De segunda a sexta ( ) De segunda a sábado ( ) Dias específicos.

........................................................................................................................................

08. Número de viagens por dia: ....................................................................................

...................................................................................................... Total:........................

09. Número de passageiros que o veículo comporta? ..................................................

10. Quantos passageiros trazem em média: Por dia: .............. Por semana: ...............

11. Principais lugares de desembarque dos passageiros em Mossoró?

( ) Locais de Saúde ( ) Locais de Ensino

( ) No centro/comércio ( ) No trabalho

( ) Outros lugares. Especificar: ...................................................................................

........................................................................................................................................

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12. Existe alguma associação dos taxistas na sua cidade? ( ) Sim ( ) Não

Em caso afirmativo, qual? .............................................................................................

13. Você participa desta associação? ( ) Sim ( ) Não

14. Número de taxistas (média) que vêm da sua cidade para Mossoró por dia?

........................................................................................................................................

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APÊNDICE B: Formulário (consumidores/fluxos).

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES - CCHLA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA – PPGE

Dissertação de mestrado: O terciário e a centralidade urbanorregional de Mossoró.

Autor: Moacir Vieira da Silva

Orientadora: Profª Drª Rita de Cássia da Conceição Gomes

FORMULÁRIO (CONSUMIDORES/FLUXOS)

01. Nome: ......................................................................................................................

02. Local de origem: ......................................................................................................

03. Idade...............................................

04. Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino

05. Renda mensal:

( ) Até 01 salário mínimo; ( ) Entre 01 e 02 salários mínimos;

( ) Entre 02 e 04 salários mínimos; ( ) Entre 04 e 05 salários mínimos;

( ) Acima de 05 salários mínimos.

06. Profissão: ...............................................................

07. Que atividades/serviços você procura em Mossoró?

( ) Saúde ( ) comércio ( ) Serviços (pagamentos, bancários)

( ) Educação ( ) Outros. ................................................................................

08. Sua cidade possui esses serviços/atividades? ( ) Sim ( ) Não

Se sim, por que você procurar essa cidade (Mossoró)? ............................................

........................................................................................................................................

09. Com que frequência viaja para Mossoró?

( ) Diariamente ( ) Semanalmente

( ) Quinzenalmente ( ) Mensalmente ( ) Esporadicamente

10. Os serviços (atividades) ofertados em Mossoró atende suas expectativas?

( ) Sim ( ) Não

11. Quais são os lugares mais procurados na cidade de Mossoró?

........................................................................................................................................

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APÊNDICE C: Formulário (transportes escolares/universitários).

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES - CCHLA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA – PPGE

Dissertação de mestrado: O terciário e a centralidade urbanorregional de Mossoró.

Autor: Moacir Vieira da Silva

Orientadora: Profª Drª Rita de Cássia da Conceição Gomes

FORMULÁRIO (TRANSPORTES ESCOLARES/UNIVERSITÁRIOS)

NOME (MOTORISTA)

TIPO DE TRANSPORTE*

LOCAL DE ORIGEM

QUANTIDADE DE ALUNOS

DESTINO (INSTITUIÇÃO)

* O: ônibus; M: micro-ônibus; V: Van; C: Carro; OU: Outro.

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ANEXOS

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Anexo A: Estrutura detalhada da CNAE 1.0. Especificações do comércio.

COMÉRCIO; REPARAÇÃO DE VEÍCULOS AUTOMOTORES, OBJETOS PESSOAIS E DOMÉSTICOS

Divisão Grupo Classe Denominação

50 Comércio e reparação de veículos automotores e motocicletas; e comércio a varejo de combustíveis.

50.1 Comércio a varejo e por atacado de veículos automotores

50.10-5 Comércio a varejo e por atacado de veículos automotores

50.2 Manutenção e reparação de veículos automotores

50.20-2 Manutenção e reparação de veículos automotores

50.3 Comércio a varejo e por atacado de peças e acessórios para veículos automotores

50.30-0 Comércio a varejo e por atacado de peças e acessórios para veículos automotores

50.4 Comércio, manutenção e reparação de motocicletas, partes, peças e acessórios.

50.41-5 Comércio a varejo e por atacado de motocicletas, partes, peças e acessórios.

50.42-3 Manutenção e reparação de motocicletas.

50.5 Comércio a varejo de combustíveis

50.50.4 Comércio a varejo de combustíveis

51 Comércio por atacado, representantes comerciais e agentes do comércio.

51.1 Representantes comerciais e agentes do comércio

51.11-0 Representantes comerciais e agentes do comércio de matérias primas agrícolas, animais vivos, matérias primas têxteis e produtos semiacabados.

51.12-8 Representantes comerciais e agentes do comércio de combustíveis, minerais, metais e produtos químicos industriais.

51.13-6 Representantes comerciais e agentes do comércio de madeira, material de construção e ferragens.

51.14--4 Representantes comerciais e agentes do comércio de máquinas, equipamentos industriais, embarcações e aeronaves.

51.15-2 Representantes comerciais e agentes do comércio de móveis e artigos de uso domésticos.

51.16-0 Representantes comerciais e agentes do comércio de têxteis, vestuário, calçados e artigos de couro.

51.17-9 Representantes comerciais e agentes do comércio de produtos alimentícios, bebidas e fumo.

51.18-7 Representantes comerciais e agentes do comércio especializado em produtos não especificados anteriormente.

51.19-5 Representantes comerciais e agentes do comércio de mercadorias em geral (não especializado).

51.2 Comércio atacadista de matérias primas agrícolas, animais vivos; produtos alimentícios para animais.

51.21-7 Comércio atacadista de matérias primas agrícolas e produtos semiacabados; produtos alimentícios para animais.

51.22-5 Comércio atacadista de animais vivos.

51.3 Comércio atacadista de produtos alimentícios, bebidas e fumo.

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51.31-4 Comércio atacadista de leite e produtos do leite

51.32-2 Comércio atacadista de cereais e leguminosas beneficiadas, farinhas, amidos e féculas.

51.33-0 Comércio atacadista de hortifrutigranjeiros.

51.34-9 Comércio atacadista de carnes e produtos da carne.

51.35-7 Comércio atacadista de pescados.

51.36-5 Comércio atacadista de bebidas.

51.37-3 Comércio atacadista de produtos do fumo.

51.39-0 Comércio atacadista de outros produtos alimentícios, não especificados anteriormente.

51.4 Comércio atacadista de artigos de usos pessoal e doméstico

51.41-1 Comércio atacadista de fios têxteis, tecidos, artefatos de tecidos e de armarinho.

51.42-0 Comércio atacadista de artigos do vestuário e complementos.

51.43-8 Comércio atacadista de calçados.

51.44-6 Comércio atacadista de eletrodomésticos e outros equipamentos de usos pessoal e doméstico.

51.45-4 Comércio atacadista de produtos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e odontológicos.

51.46-2 Comércio atacadista de cosméticos e produtos de perfumaria.

51.47-0 Comércio atacadista de artigos de escritório e de papelaria; livros, jornais e outras publicações.

51.49-7 Comércio atacadista de outros artigos de usos pessoal e doméstico, não especificados anteriormente.

51.5 Comércio atacadista de produtos intermediários não-agropecuários, resíduos e sucatas

51.51-9 Comércio atacadista de combustíveis.

51.52-7 Comércio atacadista de produtos extrativos de origem animal.

51.53-5 Comércio atacadista de madeira, material de construção, ferragens e ferramentas.

51.54-3 Comércio atacadista de produtos químicos.

51.55-1 Comércio atacadista de resíduos e sucatas.

51.59-4 Comércio atacadista de outros produtos intermediários não-agropecuários, não especificados anteriormente.

51.6 Comércio atacadista de máquinas, aparelhos e equipamentos para usos agropecuário, comercial, de escritório, industrial, técnico e profissional.

51.61-6 Comércio atacadista de máquinas, aparelhos e equipamentos para usos agropecuário.

51.64-0 Comércio atacadista de máquinas e equipamentos para o comércio e escritório.

51.65-9 Comércio atacadista de computadores, equipamentos de telefonia e comunicação, partes e peças.

51.69-1 Comércio atacadista de máquinas, aparelhos e equipamentos para usos industrial, técnico e profissional, e outros, não especificados anteriormente.

51.9 Comércio atacadista de mercadorias em geral ou não compreendidas nos grupos anteriores.

51.91-8 Comércio atacadista de mercadorias em geral (não especificado).

51.92-6 Comércio atacadista especializado em mercadorias não especificadas anteriormente.

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52 Comércio varejista e reparação de objetos pessoais e domésticos.

52.1 Comércio varejista não especializado

52.11-6 Comércio varejista de mercadorias em geral, com predominância de produtos alimentícios, com área superior a 5000 metros quadrados – hipermercados.

52.12-4 Comércio varejista de mercadorias em geral, com predominância de produtos alimentícios, com área de venda entre 300 e 5000 metros quadrados – supermercados.

52.13-2 Comércio varejista de mercadorias em geral, com predominância de produtos alimentícios, com área de venda inferior a 300 metros quadrados – exceto lojas de conveniências.

52.14-0 Comércio varejista de mercadorias em geral, com predominância de produtos alimentícios industrializados – lojas de conveniência.

52.15-9 Comércio varejista não especializado, sem predominância de produtos alimentícios.

52.2 Comércio varejista de produtos alimentícios, bebidas e fumo.

52.21-3 Comércio varejista de produtos de padaria, de laticínios, frios e conservas.

52.22-1 Comércio varejista de balas, bombons e semelhantes.

52.23-0 Comércio varejista de carnes – açougues.

52.24-8 Comércio varejista de bebidas.

52.29-9 Comércio varejista de outros produtos alimentícios não especificados anteriormente e de produtos de fumo.

52.3 Comércio varejista de tecidos, artigos de armarinho, vestuário, calçados.

52.31-0 Comércio varejista de tecidos e artigos de armarinho.

52.32-9 Comércio varejista de artigos do vestuário e complementos.

52.33-7 Comércio varejista de calçados, artigos de couro e viagem.

52.4 Comércio varejista de outros produtos

52.41-8 Comércio varejista de produtos farmacêuticos, artigos médicos e ortopédicos, de perfumaria e cosméticos.

52.42-6 Comércio varejista de máquinas e aparelhos de usos domésticos e pessoal, discos e instrumentos musicais.

52.43-4 Comércio varejista de móveis, artigos de iluminação e outros artigos para residência.

52.44-2 Comércio varejista de material de construção, ferragens e ferramentas manuais; vidros, espelhos e vitrais; tintas e materiais.

52.45-0 Comércio varejista de equipamentos e materiais para escritório; informática e comunicação; inclusive suprimentos.

52.46-9 Comércio varejista de livros, jornais, revistas e papelaria.

52.47-7 Comércio varejista de gás liquefeito de petróleo (GLP).

52.49-3 Comércio varejista de outros produtos não especificados anteriormente.

52.5 Comércio varejista de artigos usados.

52.50-7 Comércio varejista de artigos usados.

52.6 Outras atividades do comércio varejista.

52.62-0 Comércio em vias públicas – exceto em quiosque fixos.

52.69-8 Outros tipos de comércio varejista.

52.7 Reparação de objetos pessoais e domésticos.

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52.71-0 Reparação e manutenção de máquinas e de aparelhos eletrodomésticos.

52.72-8 Reparação de calçados.

52.79-5 Reparação de outros objetos pessoais e objetos.

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Anexo B: Planta da cidade de Mossoró em 1926 (bairros da cidade).

Fonte: PINHEIRO (2006, p. 67). Elaborado pela autora a partir da base cartográfica da Prefeitura Municipal de Mossoró e informações da Planta da Cidade de Mossoró, de Francisco Alves Maia, publicado em “Alguns Pioneiros Mossoroenses da Topografia”. Pg 04.