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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS E APLICADAS CURSO LICENCIATURA EM MATEMÁTICA EMMYLIE MEDEIROS OS DESAFIOS NO ENSINO DE MATEMÁTICA PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA CAICÓ RN 2018

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · 2.1 A EDUCAÇÃO DO SURDO NO BRASIL ... através do alfabeto manual e a oralização dos surdos. Seguido por grandes nomes

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS E APLICADAS

CURSO LICENCIATURA EM MATEMÁTICA

EMMYLIE MEDEIROS

OS DESAFIOS NO ENSINO DE MATEMÁTICA PARA ALUNOS COM

DEFICIÊNCIA AUDITIVA

CAICÓ – RN

2018

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EMMYLIE MEDEIROS

OS DESAFIOS NO ENSINO DE MATEMÁTICA PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA

AUDITIVA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao Curso de Matemática da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, como

exigência parcial para obtenção do título de

graduação em Licenciatura em Matemática.

Orientador: Prof. Me. José Melinho de Lima

Neto.

CAICÓ – RN

2018

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Medeiros, Emmylie. Os desafios no ensino de matemática para alunos comdeficiência auditiva / Emmylie Medeiros. - Caicó: UFRN, 2018. 36f.: il.

Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Matemática) -Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de EnsinoSuperior do Seridó - Campus Caicó. Centro de Ciências Exatas eda Terra. Curso de Matemática. Orientador: Me. José Melinho de Lima Neto.

1. Educação Inclusiva. 2. Surdos. 3. Ensino de Matemática. 4.Professor. I. Lima Neto, José Melinho de. II. Título.

RN/UF/BS-CAICÓ CDU 51-056.263

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRNSistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Profª. Maria Lúcia da Costa Bezerra - ­ CERES­-Caicó

Elaborado por FERNANDO CARDOSO DA SILVA - CRB-759/15

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À minha família, amigos e mestres, por me

guiarem e acreditarem na minha capacidade de

chegar até o fim.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, que além da força, determinação e saúde, me

concedeu um mundo de possibilidades nessa longa jornada, guiando-me sempre aos melhores

caminhos.

Agradeço amorosamente a minha família, em especial aos meus pais João Batista

de Medeiros e Francisca das Chagas Medeiros, por todo o amor, dedicação, incentivo e

cuidado durante a minha vida. Como irmã mais velha, desejo ser sempre um bom exemplo a

vocês, Camilla Medeiros, Júlia Medeiros e João Guilherme Medeiros, obrigada pelos anos de

companheirismo, amizade e por serem meu porto seguro. Meu namorado, Gustavo Morais,

por estar ao meu lado em todos os momentos, preenchendo-os com compreensão, incentivo e

amor.

Agradeço a todos os docentes que contribuíram para a minha formação, dos anos

iniciais aos atuais, pela educação fornecida e por serem inspiração profissional, vocês foram

essenciais nessa jornada. Aos meus colegas universitários, e em especial aos amigos que a

Matemática me trouxe: Jaíne Carla, Wesla Rafaela, Luiz Fernando, Flávia Santana, Danyélica

Dayane, Gabriela Karine, Gabriela Lariça e Iritan Ferreira. Obrigada por tornarem esses anos

mais felizes, por toda a ajuda nos trabalhos acadêmicos e pelos momentos que passamos

juntos, vocês fazem parte de uma etapa mágica da minha vida.

Agradeço ao meu professor e orientador, José Melinho de Lima Neto, pela

paciência e apoio na concretização desse trabalho.

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“O principal objetivo da educação é criar

pessoas capazes de fazer coisas novas e não

simplesmente repetir o que outras gerações

fizeram.” (Jean Piaget)

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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo principal, conhecer os desafios enfrentados pelo

professor no Ensino de Matemática para alunos com deficiência auditiva, nas escolas públicas

de Caicó – RN. Este estudo se constitui em uma análise bibliográfica e pesquisa de campo, de

caráter qualitativo. Tomamos como base para o referencial teórico, autores como Carneiro

(2009), Sacks (2010), Smith (2008), Oliveira (2005), além de documentos como Declaração

de Salamanca e Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. O estudo teve como etapas a

elaboração e aplicação de um questionário com os professores de matemática que lecionam

para alunos surdos, em turmas de ensino médio, com a finalidade de identificar o processo de

inclusão dos surdos em escolas regulares de ensino, as dificuldades enfrentadas pelo professor

em ensinar matemática aos surdos, e as metodologias utilizadas por ele. A análise dos

resultados obtidos, de modo geral, mostrou que as dificuldades relatadas pelos professores

baseiam-se na comunicação utilizada em sala de aula e a falta de intérpretes para intermediar

essa comunicação com os surdos. Quanto ao uso de metodologia especializada, relataram

dificuldades na elaboração de estratégias metodológicas e a falta de tempo para inovar em

sala de aula. Tais resultados indicam que as escolas estão parcialmente preparadas para a

inclusão dos surdos, consequente da falta de profissionais qualificados nesta área.

Palavras-chave: Educação inclusiva. Surdos. Ensino de Matemática. Professor.

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ABSTRATC

The present work has as main objective, to know the challenges faced by the teacher in the

Teaching of Mathematics for students with hearing impairment, in the public schools of Caicó

- RN. This study constitutes a bibliographical analysis and field research, of qualitative

character. We take as a base for the theoretical reference, authors like Carneiro (2009), Sacks

(2010), Smith (2008), Oliveira (2005), besides documents like Declaration of Salamanca and

Law of Guidelines and Bases of National Education. The study had as stages the elaboration

and application of an quiz with the mathematics teachers who teach to deaf students, in high

school classes, with the purpose of identifying the process of inclusion of the deaf in regular

schools, the difficulties faced by the deaf teacher in teaching mathematics to the deaf, and the

methodologies used by him. The analysis of the results obtained, in general, showed that the

difficulties reported by the teachers are based on the communication used in the classroom

and the lack of interpreters to mediate this communication with the deaf. Regarding the use of

specialized methodology, they reported difficulties in the elaboration of methodological

strategies and the lack of time to innovate in the classroom. These results indicate that the

schools are partially prepared for the inclusion of the deaf, resulting from the lack of qualified

professionals in this area.

Keywords: Inclusive education. Deaf people. Mathematics Teaching. Teachers

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LISTA DE SIGLAS

CERES Centro de Ensino Superior do Seridó

INES Instituto Nacional de Educação de Surdos

LIBRAS Língua Brasileira de Sinais

RN Rio Grande do Norte

UEPB Universidade Estadual da Paraíba

UFPE Universidade Federal de Pernambuco

UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 10

1.1 OBJETIVOS ................................................................................................................... 14

1.1.1 GERAL........................................................................................................................... 14

1.1.2 ESPECÍFICOS .................................................................................................................. 14

2 O PROCESSO DE INCLUSÃO DOS SURDOS AO LONGO DOS ANOS NO BRASIL

.................................................................................................................................................. 15

2.1 A EDUCAÇÃO DO SURDO NO BRASIL................................................................................. 15

2.2 A DIVERSIDADE DA CULTURA SURDA ............................................................................... 18

2.3 INCLUSÃO DOS SURDOS EM SALAS DE AULA REGULARES .................................................. 20

3 O PROFESSOR, O INTÉRPRETE E AS METODOLOGIAS NO PROCESSO DE

APRENDIZAGEM DO SURDO ........................................................................................... 21

3.1 O PROFESSOR DE MATEMÁTICA E O AUXÍLIO DO INTÉRPRETE EM SALA DE AULA .............. 21

3.2 A ADAPTAÇÃO DE CONTEÚDO E METODOLOGIAS UTILIZADAS NO PROCESSO DE

APRENDIZAGEM DOS SURDOS ................................................................................................. 24

4 METODOLOGIA ................................................................................................................ 26

4.1 RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................................................. 27

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 30

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 31

APÊNDICES ........................................................................................................................... 34

APÊNDICE A – ENTREVISTA FEITA COM OS PROFESSORES ............................... 35

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1 INTRODUÇÃO

Ao longo da história, os surdos foram discriminados por sua deficiência. No

século IV a.C. Aristóteles já supunha que a aprendizagem se dava por meio da audição e,

portanto, os surdos eram incapazes de aprender. Na época espartana, matava-se as crianças

deficientes. Na época pré-cristã, elas eram negligenciadas. Com o início do cristianismo,

passaram a protegê-las e a partir do século XVIII foram fundadas as primeiras instituições de

ensino especial.

Durante o século XVI, enquanto no Brasil os portugueses iniciavam sua

colonização, a Europa era considerada pioneira na educação dos deficientes, através da

educação dos surdos. Este era o período dos precursores, restrito apenas a surdos da nobreza.

O primeiro foi o monge espanhol Pedro Ponce de Leon, que desenvolveu o método de ensino

através do alfabeto manual e a oralização dos surdos. Seguido por grandes nomes como Juan

Carlos Bonet, que publicou o primeiro livro sobre educação dos surdos “Reduccion de las

letras y arte para enseñar a hablar a los mudos” no ano de 1620, exercendo influência em

outros países da Europa com a sua obra.

Em 1760, o abade Charles Michel de L’Epée fundou o “Instituto para Jovens

Surdos e Mudos de Paris”, a primeira instituição pública de ensino do mundo com educação

especializada compatível as necessidades destes alunos, utilizando a Língua de Sinais. Em

1855, o imperador D. Pedro II trouxe o educador francês Eduardo Huet com a intenção de

abrir uma instituição para surdos no Brasil. Fundado em 1857, o “Imperial Instituto de

Surdos-Mudos”, difundiu a Língua de Sinais francesa no Brasil.

Na Itália, em 1880, realizou-se o Congresso Internacional de Surdo-Mudez, que

decretou a abolição da Língua de Sinais, eles passariam a ser educados através da língua oral.

Este foi o fato mais marcante da educação dos surdos, houve uma regressão na aprendizagem

destes alunos, pois eram proibidos de usar os sinais para se comunicar. Após quase cem anos

de domínio do oralismo, William C. Stokoe publicou estudos sobre a Língua de Sinais

Inglesa, afirmando que se constituía de uma língua genuína.

Na Constituição Federal Brasileira de 1988, os artigos 205 e 208 garantem aos

surdos o direito de igualdade no processo de educação na rede regular de ensino. No Brasil, a

Libras foi oficializada em 2002, pela Lei nº 10.436 de 24 de abril. Em 2005 foi aprovado

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também o Decreto 5.626 de 22 de dezembro, que garante os demais direitos dos surdos em

áreas como educação, saúde e trabalho.

Durante séculos, os surdos foram excluídos do convívio social e ao longo dos

últimos trinta anos, a relação da sociedade com a comunidade surda passou por vários

estágios de aceitação, a acessibilidade a educação foi garantida e a inclusão dos surdos nas

escolas regulares se tornou uma realidade. O ser humano possui a necessidade de

comunicação, seja por meio de sons, sinais, gestos ou palavras. Ele é alimentado pelo desejo

de interagir, que pressupõe a troca entre emissor e receptor. Na escola, a comunicação é

essencial no processo de ensino-aprendizagem, e cabe ao educador a função de administrar a

diversidade de seus alunos.

A inclusão de alunos com deficiência torna presente essa diversidade, a presença

de alunos surdos em sala de aula pode gerar diversas reações ao professor, desde insegurança

ao desejo pelo desafio de aprender linguagens e métodos de ensino especializados. Como

salienta Oliveira,

Para que o educador atenda às expectativas desses estudantes, é preciso imaginar

como se dá a construção do conhecimento para um indivíduo desprovido do sentido

da audição. Para tal, devem-se buscar pistas de como essa construção se processa

apoiada na competência matemática que se supõe já ser de domínio do professor. Ou

seja, partir do que é comum ao professor ouvinte para chegar ao que é comum ao

estudante surdo. (OLIVEIRA, 2005, p. 27).

O aluno que possui deficiência auditiva, ou seja, uma falta sensorial, caso esteja

inserido em uma turma com maioria ouvinte, sem o processo de inclusão adequado, ele pode

regredir no ensino. Porém não depende apenas do aluno, depende também do meio em que ele

está inserido. Suas limitações em si, não o impedem de progredir. A surdez não é uma

limitação de aprendizado, estes alunos podem perfeitamente superar a deficiência, adquirir

habilidades de resolver cálculos e se comunicar com os outros. Quanto ao professor, este é

mediador de conhecimento e tem o compromisso de tornar-se um facilitador do saber.

No Curso de Licenciatura em Matemática, na Universidade Federal do Rio

Grande do Norte - CERES/Caicó, o componente curricular de Libras é ofertado no 7º período.

Nos três primeiros anos de curso, nunca tinha imaginado ou me interessado pela educação

especial. Porém, durante o componente de Libras, pude entrar em contato com a Língua de

Sinais, tomar conhecimento dos vários tipos de surdez e como funciona a educação especial

no Brasil.

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No período da disciplina, foi apresentado o básico desta língua, o necessário para

desenvolver uma comunicação inicial com os surdos. Após um mês, foram feitas interações

dos graduandos com alunos de uma Escola Estadual, localizada em Caicó-RN e alguns já fora

da idade escolar, afim de enriquecer nosso vocabulário em Libras e ajudá-los na leitura e

escrita do português. Logo após, planejamos minicursos para serem aplicados em uma escola

que possui salas com alunos surdos e ouvintes.

O contato com os surdos durante as interações e os minicursos, a busca pelo

conhecimento histórico, as experiências compartilhadas com outros graduandos a respeito da

educação inclusiva e as dificuldades dos professores de matemática para lidar com estes

alunos, tornou-se inspiração para o tema deste trabalho.

Oliveira (2005, p. 25) diz que “para que o aprendizado se realize em uma classe

de surdos o educador deve estar apoiado em um tripé educacional. Devem estar presentes: a

Língua de Sinais, o Conhecimento Matemático e uma Metodologia apropriada”. Para uma

aprendizagem satisfatória, é necessário estimular estes alunos, utilizando metodologia

específica e linguagem adequada. O ensino de matemática não consiste apenas em introduzir

conteúdos e lançar atividades, a aprendizagem matemática está relacionada ao domínio e

aquisição de uma nova linguagem. Para o professor, não é necessário apenas o domínio de

conteúdo, ele precisa conhecer as necessidades de seus alunos.

A necessidade de aprofundar o assunto, pesquisar como os professores de

matemática se preparam para atender os surdos e como é esse processo de aprendizagem,

foram as ideias iniciais do projeto. Ao ver surdos conversando, percebemos uma língua

totalmente diferente do português falado, então se pode questionar: Como fazer uma aula

expositiva quando os alunos não possuem registro auditivo? O uso da Libras é fundamental,

afinal, a matemática é muito complexa e de difícil compreensão. É necessário conhecer o

aluno e adaptar-se a ele, buscar mudanças.

O ensino da matemática, sua história, conceitos, simbologia e termos próprios

deve ser contextualizado e apresentado a estes alunos. A Língua de Sinais tem uma grande

aplicabilidade e não merece ser limitada apenas a resolução de problemas simples. A

aquisição de conhecimento aflora o raciocínio e aprendizado dos alunos, o que permite

evoluir o pensamento lógico e atingir sua autonomia intelectual.

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Segundo Santaló (1996, p. 19), “a matemática é como um edifício em construção,

sempre necessitando de modificações e adaptações". A ambiguidade de algumas palavras

pode prejudicar o ensino de muitas disciplinas, inclusive a matemática, porém esta possui uma

escrita com códigos únicos, o que ajuda no processo de ensino-aprendizagem, possibilitando

que o aluno se aproprie e organize seu pensamento lógico-matemático. A matemática

normalmente é vista como difícil e incompreensível, temida por grande parte dos alunos. Por

conter um aspecto mecânico e cheio de símbolos, muitos acreditam que os surdos conseguem

obter sucesso na compreensão da matemática. Como defende Cukierkorn,

Pelo fato do ensino da matemática, tanto para ouvintes quanto para surdos, ter como

um dos objetivos a apreensão de uma forma de linguagem (a linguagem matemática

formalizada), e pelo fato desta ter em confronto com a linguagem oral (ou mesmo

gestual), uma maior precisão na sua ‘gramática’, permite que esta área obtenha

resultados mais satisfatórios. (CUKIERKORN, 1996, p. 109)

O contato com alunos surdos nos faz perceber que enquanto professores,

precisamos promover novas descobertas. Normalmente, adotamos uma metodologia de ensino

e permanecemos com a mesma ação docente, até nos depararmos com algo inovador, fora dos

padrões, que estimula o crescimento profissional e a busca por aprendizado em outras áreas.

O professor envolvido neste processo pode adotar estratégias metodológicas usando materiais

didáticos, como jogos e recursos visuais, incentivando a participação ativa de todos os alunos.

Como afirma Sacks, (2010, p. 101), “Ser surdo, nascer surdo, coloca a pessoa

numa situação extraordinária; expõe o indivíduo a uma série de possibilidades linguísticas e,

portanto, a uma série de possibilidades intelectuais e culturais [...]” O contato com estes

alunos, durante as atividades práticas da disciplina, trouxe uma realidade diferente da que foi

presenciada nos estágios regulares, pois não havia nenhum aluno com necessidades especiais.

Ao serem trazidos à universidade no período de interação, era perceptível o interesse deles,

grande parte dos surdos que estudavam na escola, não possuíam idade compatível com o nível

de ensino. Alguns jovens e também adultos com idade avançada, compareciam aos encontros

semanais com o interesse de interagir com os graduandos, e na busca por aprendizado, nos

ensinaram que ser surdo é apenas uma forma diferente de se comunicar e ver o mundo.

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Acredito que, como Tardif,

Antes mesmo de ensinarem, os futuros professores vivem nas salas de aula e nas

escolas – e, portanto, em seu futuro local de trabalho – durante aproximadamente 16

anos (ou seja, em torno de 15.000 horas). Ora, tal imersão é necessariamente

formadora, pois leva os futuros professores a adquirirem crenças, representações e

certezas sobre a prática do ofício de professor, bem como sobre o que é ser aluno.

Em suma, antes mesmo de começar a ensinar oficialmente, os professores já sabem,

de muitas maneiras, o que é o ensino por causa de toda a sua trajetória escolar

anterior (TARDIF, 2010, p. 20).

É necessário ir além da formação docente, buscar referências e experiências de

quando éramos somente alunos, nos aproximar dessa realidade. A inclusão de alunos

especiais na escola torna essa diversidade evidente a todos. Segundo Carneiro (2009, p.83), o

“fundamental na educação inclusiva é o êxito na aprendizagem de todos os alunos,

independentemente das necessidades e diferenças”. A ausência da Libras, no ensino dos

surdos, quebra o canal comunicativo em sala de aula, pois apenas com a escrita os alunos não

conseguem assimilar os significados e conceitos matemáticos, o que desfavorece o

aprendizado.

Grande parte das instituições brasileiras, faz uso de intérpretes, e poucas dessas

instituições dispõem o componente de Libras no currículo regular. O intérprete não tem

formação específica no conteúdo trabalhado em sala, e esse conhecimento, para ser

compreendido pelo surdo, deve ser explorado da melhor maneira possível, utilizando

metodologias que facilitem o entendimento, de forma visual-espacial.

1.1 OBJETIVOS

1.1.1 Geral

Conhecer os desafios no processo de aprendizagem matemática e as práticas

docentes utilizadas para favorecer o aluno surdo inserido na sala de aula regular.

1.1.2 Específicos

Apresentar a história da educação dos surdos;

Identificar a diversidade dos alunos encontrados em sala de aula;

Relatar a relação do professor de matemática e o intérprete;

Pesquisar metodologias utilizadas no processo de aprendizagem matemática do

surdo.

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2 O PROCESSO DE INCLUSÃO DOS SURDOS AO LONGO DOS ANOS NO BRASIL

2.1 A educação do surdo no Brasil

A história da educação especial sinaliza que desde o século XV, a surdez é tratada

como uma patologia que impossibilita a aprendizagem do aluno. Essa história não é, nem de

longe, bonita quando se trata de inclusão e aceitação destes alunos, é marcada por preconceito

e discriminação. Progredimos bastante nos últimos tempos, mas de forma demorada. Essa

situação começou a ser remediada em meados de 1760, quando foram criadas instituições

com o intuito de receber e educar os surdos de forma especializada e compatível com suas

necessidades, a Língua de Sinais utilizada era combinada com a gramática francesa.

No Brasil, a educação dos surdos ganhou visibilidade em 1857, com a fundação

do Imperial Instituto de Surdos-Mudos, hoje denominado Instituto Nacional de Educação de

Surdos (INES), no Rio de Janeiro. No decorrer dessa jornada educacional, três filosofias

foram difundidas: oralismo, comunicação total e o bilinguismo.

Após a realização do Congresso Internacional de Surdo-Mudez, em 1880, na

Itália, ficou decretada a abolição da Língua de Sinais, os surdos passariam a ser educados

através do oralismo, um modelo clínico que visava a surdez como uma deficiência mínima e

obrigava, independente de sua limitação à “normalidade”, propondo os surdos a

desenvolverem a fala. Era frequente a exclusão dessas pessoas, acreditava-se que sem língua

oral não havia conhecimento, quem não escuta não fala, e quem não fala não pensa.

À primeira vista, a língua de sinais afigura-se pantomímica; dá a impressão de que,

prestando atenção, logo a “entenderemos” — todas as pantomimas são fáceis de

entender. Mas à medida que continuamos a OLHAR, perdemos essa sensação de “já

sei!”; ficamos vexados ao descobrir que, apesar de sua aparente transparência, ela é

ininteligível. (SACKS, 2010, p.41)

Após se mostrar insuficiente, o oralismo deu espaço a comunicação total, que

consistia na utilização de qualquer método para resgatar essa perda, eram eles: gestos,

mímicas, Língua de Sinais e leitura labial. A comunicação total era complementar ao

oralismo, os dois funcionavam de forma simultânea, este método também não foi efetivo.

Poucos linguistas e cientistas ouvintes se interessaram pela Língua de Sinais até 1950.

William Stokoe publicou estudos sobre a Língua de Sinais Inglesa e afirmou que ela satisfazia

todos os critérios de uma língua genuína, sendo adotada em vários países.

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A partir de 1970, o uso dos sinais voltou a ser aceito, e também se percebeu que a

Língua de Sinais não era universal, cada país possuía a sua. Foi adotado então o bilinguismo,

que promove o aprendizado através da Língua de Sinais e da Língua Portuguesa escrita,

atualmente é o método mais utilizado no Brasil. Diversos movimentos educacionais e sociais

sob o prisma da inclusão proporcionaram profunda reflexão e mudança no cenário da

educação especial, assim como as principais legislações que permitem o acesso dos surdos à

educação, em especial a Constituição Federal Brasileira de 1988, Declaração de Salamanca,

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei de LIBRAS e seu decreto regulamentar

nº5626.

Na Constituição Federal Brasileira de 1988, os artigos 205 e 208 garantem aos

surdos o direito de igualdade no processo de educação na rede regular de ensino, a educação é

direito de todos. A Declaração de Salamanca é um documento promulgado na Espanha em

1994, contou com a presença de 88 governos e 25 organizações, inclusive o Brasil.

Compondo o cenário da Política Nacional da Educação, assegura a educação de deficientes no

sistema educacional, afirma ainda que “toda criança tem direito fundamental à educação, e

deve ser dada a oportunidade de atingir e manter o nível adequado de aprendizagem”

(Declaração de Salamanca, 1994)

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394, de 20 de dezembro de

1996, estabelece que diretrizes e bases da educação garantem um "atendimento educacional

especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino". Na

concepção da lei, a “educação especial” é definida no artigo 58, como "a modalidade de

educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos

portadores de deficiência.".

Segundo o texto legal, no Art. 59, os sistemas de ensino assegurarão aos

educandos com necessidades especiais:

I. currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização especifica, para

atender as suas necessidades;

II. terminalidade especifica para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de

suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar

para os superdotados;

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III. professores com especializações adequadas em nível médio ou superior, para

atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados

para a integração desses educandos na classe comuns;

IV. educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em

sociedade, inclusive integração na vida em sociedade, inclusive condições

adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho;

V. acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares, disponíveis

para o respectivo nível do ensino regular.

Para a construção bem sucedida de uma sociedade, a legislação deve favorecer

seus cidadãos, em todas as áreas, respeitando a diversidade que a compõe e garantindo

condições para uma vida digna. A Lei de LIBRAS, nº10.436, de 24 de abril de 2002,

reconhece a Língua Brasileira de Sinais como meio legal de comunicação e expressão, não

podendo substituir a língua portuguesa. O Decreto nº5626, de 22 de dezembro de 2005,

regulamenta a lei nº10.436, oficializa no artigo 3 que “A Libras deve ser inserida como

disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de professores para o exercício do

magistério, em nível médio e superior”, institui também a presença de intérprete ou tradutor

de línguas em diversos espaços da educação.

Treze anos depois, mesmo com a legislação, ainda existem falhas no cumprimento

do que foi estabelecido. A realidade encontrada diverge da lei, mais de 9 milhões de

brasileiros declararam ter certo grau de deficiência auditiva ao Censo Demográfico de 2010.

Devido a quantidade de surdos no Brasil, muitos são os alunos e poucos são os professores

preparados para atendê-los. Para entender os atuais desafios da educação de surdos, é preciso

saber um pouco do contexto que envolve esse grupo de pessoas.

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2.2 A diversidade da cultura surda

Os deficientes auditivos apresentam um dos problemas mais difíceis e desafiantes

da educação. A surdez interfere na produção e recepção da linguagem, e o fato da linguagem

interferir em quase todas as dimensões do desenvolvimento, torna crítica a situação de quem é

incapaz de ouvir e falar, dificultando seu ajustamento social.

Para trabalhar com alunos surdos, inicialmente é necessário considerar suas

potencialidades, o nível de surdez, e como o surdo está inserido no meio escolar. Os surdos

são divididos em dois grupos: os pré-linguísticos e os pós-linguísticos, o grau de perda

auditiva e a idade em que ocorreu essa perda também são importantes.

Os indivíduos que se tornam surdos antes de aprender a falar e de entender a

linguagem são chamados surdos pré-linguísticos. [...] Os indivíduos cujas perdas

auditivas ocorrem depois que aprenderam a falar e os quais entendem a linguagem

oral são considerados surdos pós-linguísticos. (SMITH, 2008, p.299)

Os surdos pré-linguísticos nasceram surdos ou perderam a audição quando bebês,

estes possuem surdez profunda. No grupo de surdos pós-linguísticos, podemos encontrar

surdez moderada, onde alguns são capazes de captar sons e atingir certo nível de oralidade,

através do uso de aparelhos.

“O surdo é um sujeito socialmente constituído como todos os outros, com

diferenças culturais e linguísticas como muitos outros cidadãos.” (SILVA, 2008, p. 283). Os

surdos aprendem a Língua de Sinais como sua primeira língua, possibilitando a comunicação

com os outros (surdos e ouvintes) através da Libras. Quando falamos de desafios na educação

dos surdos, temos que considerar a diversidade encontrada: há quem faça uso de Libras,

leitura labial e o uso de implantes ou aparelhos auditivos.

Dentro da cultura surda, surge a luta política pela qual o indivíduo representa a si

mesmo, a defesa pela homogeneização, contra a invalidez e a inclusão entre os deficientes. A

medida em que o surdo é incluso e habita no ambiente social, a representação dessa cultura

modifica as identidades surdas, que segundo Perlim (1998, p. 40), são identificadas como:

Surdas Flutuantes, Híbridas, Embaçadas, de Transição, de Diáspora e Intermediária.

a) Surda Flutuante: os surdos não participam da cultura surda, eles buscam a

oralidade e seguem a cultura ouvinte, utilizando tecnologias de reabilitação;

b) Surda Híbrida: estão os surdos pós-linguísticos, nasceram ouvintes e após a

oralização, ficaram surdos, utilizam os dois tipos de linguagem;

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c) Surda Embaçada: a surdez é desconhecida como questão cultural, não utilizam

língua de sinais e nem método oral, são tratados como incapazes;

d) Surda de Transição: os surdos não possuem contato com a comunidade surda, é

a transição da comunicação oral para a sinalizada;

e) Surda de Diáspora: estão os surdos que vivem uma mudança de cultura, seja de

um país para outro, ou de um estado para outro;

f) Surda Intermediária: surdez leve à moderada, não participam da cultura surda e

fazem uso de aparelhos auditivos;

Ao adotar uma metodologia pedagógica, o professor precisa ter em mente o seu

aluno como um todo, tendo em consideração sua identidade e cultura, como salienta Kirk,

A descoberta de que as crianças surdas, filhas de pais surdos, evoluíam com maior

facilidade nas áreas de desempenho e sociabilização do que as crianças surdas filhas

de pais com audição normal, levou muitos observadores à conclusão de que o

progresso mais fácil resultava do uso precoce e intensivo da comunicação manual.

(KIRK, 1996, p.255)

A principal ênfase na educação do surdo está ligada ao uso especifico da

linguagem, pois este é o veículo pelo qual o surdo processa as informações e se expressa. As

discussões sobre acesso, presença e permanência destes alunos na rede regular, mostra uma

reflexão sobre o modelo metodológico adotado, pois considera-se alunos com e sem

deficiência. Dessa forma, as estratégias pedagógicas não fazem efeito quando não

conhecemos a diversidade desses alunos.

Embora existam diversos estilos e abordagens entre os educadores, todos apontam

a necessidade de se começar cedo. Quando a criança surda é inserida na escola em seus anos

iniciais de ensino, o processo de aquisição da Língua de Sinais é precoce, auxiliando a

comunicação, base para a interação social. O autoconceito e a confiança de uma pessoa

também se constrói logo na infância, e influencia no modo como ela encara o mundo. Sem

dúvidas, os surdos não poderão ser tratados como os ouvintes em alguns aspectos da

educação, principalmente no que diz respeito a língua utilizada, boa parte da educação

enfatiza métodos e procedimentos especiais, meios pelos quais ele se sente capaz e respeitado,

que uma vez adquiridas, permitem que os surdos dominem o currículo regular. A motivação

reside em estruturas metodológicas inclusivas de ensino, possibilitando uma educação

democrática e participativa para todos os alunos.

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2.3 Inclusão dos surdos em salas de aula regulares

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394, citada anteriormente,

garante o atendimento educacional especializado aos surdos no ensino regular. Assegura

currículos e recursos educativos específicos, professores capacitados para atender às

necessidades destes alunos e integrá-los em classes comuns. A integração dos surdos no

ensino regular provoca discussões e surge inicialmente a preocupação com a comunicação

destes alunos.

A interação professor-aluno é de extrema importância, e para que isto aconteça, é

necessário que professores e alunos conheçam a Língua de Sinais. Porém, cria-se a ilusão de

que apenas o domínio de conteúdo e a língua adequada são suficientes para a aprendizagem.

“Além da formação adequada dos profissionais, apresenta-se a necessidade do

estabelecimento de ações que venham divulgar e transformar o espaço escolar para receber

esses alunos numa perspectiva realmente inclusiva.” (SILVA, 2008, p. 271) Em salas de aula

mistas, a educação dos surdos precisa ser condizente à dos ouvintes, variando apenas as

práticas pedagógicas desenvolvidas em sala de aula.

Para Martins (2006, p. 18), “nas últimas décadas, a instituição escolar vem sendo

desafiada a conseguir uma forma equilibrada que resulte numa resposta educativa comum e

diversificada, isto é, que seja capaz de proporcionar uma cultura comum a todos os educandos

sob sua responsabilidade.”. No papel exercido pela educação, o aluno é o foco central e possui

direitos de acesso ao conhecimento e a capacidade de desenvolvimento de suas competências.

A educação inclusiva conhece cada aluno e respeita suas potencialidades e particularidades,

satisfazendo seu potencial com qualidade pedagógica.

Segundo Stainback & Stainback (1999, p.21) a educação inclusiva é definida

como “a prática da inclusão de todos – independentemente de seu talento, deficiência, origem

socioeconômica ou cultural – em escolas e salas de aula provedoras, onde as necessidades

desses alunos sejam satisfeitas”. É importante a participação de todo o conjunto educacional,

como: gestores, professores e a família; a escola deve estar organizada para ofertar cada

aluno, independente de sexo, idade, deficiência ou qualquer outra situação. O ambiente deve

ser motivador, agradável e acessível a todos.

O processo inclusivo não é algo que acontece de forma rápida e fácil, requer

planejamento, reflexão sobre as práticas aprendidas na escola, é necessário investir no aluno e

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na forma de ensiná-lo. O êxito ou fracasso de cada aluno é de responsabilidade coletiva,

nenhum profissional pode ser excluído desse processo, uma preparação efetiva para o apoio

pedagógico e educacional, proporciona uma nova maneira de conhecer e atuar com a

diversidade de alunos no ensino regular.

Aprender em uma sala de ensino regular, é garantir ao surdo, o direito a uma

sociedade justa e solidária. É importante ressaltar que a inclusão vai muito além de matricular

o aluno com deficiência, sua presença em si na escola não garante a inclusão. É necessário

explorar o seu potencial e investir em uma metodologia visual, não é possível separar surdos e

ouvintes em salas regulares, então é preciso adaptar metodologias de uma forma realmente

inclusiva à sala inteira.

3 O PROFESSOR, O INTÉRPRETE E AS METODOLOGIAS NO PROCESSO DE

APRENDIZAGEM DO SURDO

3.1 O professor de matemática e o auxílio do intérprete em sala de aula

A inclusão dos surdos não pode ser vista apenas como um projeto a ser

implantado na rede de ensino das escolas. Sob a perspectiva de uma educação voltada para

todos, falta formação de professores qualificados para lidar com estes alunos. Em 2005, o

Decreto nº5626, oficializa a Libras como disciplina curricular obrigatória nos cursos de

formação dos professores e institui a presença do intérprete na sala de aula. No atual modelo

de escola inclusiva, os intérpretes auxiliam o professor intermediando a comunicação entre o

professor e o surdo. Segundo Silva (2008, p.279), a criança surda precisa ser incluída na

escola regular, mas pensando-se sempre na qualidade dessa inclusão.

O professor muitas vezes entra em uma rotina de trabalho monótona, onde ele não

dá uma pausa para refletir e propor novas metodologias de ensino. Entretanto, essa pausa é

necessária. Tendo em vista as necessidades dos alunos, torna-se apropriado o professor

questionar e colocar-se no lugar dos alunos: como seria assistir uma aula oral sem utilizar a

audição? Toda língua possui sua própria estrutura e características, que a diferencia das

demais. A Libras é descritiva, seus sinais são compostos por movimentos das mãos e pontos

de referência corporais, assim como as expressões faciais, que complementam e evidenciam o

significado dos gestos.

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Na grande maioria das escolas, os professores não são capacitados para receber

alunos surdos, muitos não dominam a Libras, o que torna necessário o uso de intérpretes. A

falta de Libras como componente regular nas escolas restringe o surdo à comunicação com o

intérprete. Diante desta situação, podemos não ter uma escola realmente inclusiva, afinal o

aluno surdo está imerso num ambiente ouvinte, onde todos se comunicam de modo oral, e

quem não domina a oralidade acaba tendo um contato mínimo com os colegas.

O professor não precisa ter domínio total da Libras, mas é essencial que ele

consiga se comunicar e incluir o aluno no contexto da disciplina. Caso contrário, o professor

passa as informações de acordo com o que é acostumado, de forma oral, o que favorece a

alunos ouvintes. Assim, o aluno surdo perde uma série de informações fundamentais sobre a

matemática, à medida que o conteúdo escolar avança as dificuldades aumentam, o intérprete

muitas vezes não consegue transmitir os conceitos matemáticos de forma clara e precisa,

interferindo diretamente no aprendizado dos alunos.

No ensino regular, encontram-se alunos surdos com dificuldades na escrita, como

salienta Goés (1999, p.11), “embora as línguas de sinais não possuam registro escrito, os

alunos estariam produzindo uma escrita com alternâncias e justaposições das duas línguas

envolvidas.”. Como a língua materna do surdo é a Libras, ele tende a escrever apoiando-se na

sua língua, ou seja, ele escreve de acordo com os sinais que expõe. Alguns destes alunos

possuem dificuldades com leitura e escrita do português, palavras com diversos significados,

o que acaba influenciando na aprendizagem da matemática.

Para Goés (1999, p. 35), “o diagnóstico e o planejamento educacional devem

orientar-se para os pontos fortes da criança, e não para a falta.”, o professor de matemática

tem todo o conhecimento específico da matemática, mas não conhece a didática e a

metodologia com o olhar voltado às necessidades do surdo, se faz necessário uma

aprendizagem onde os professores utilizem conceitos do cotidiano e recursos didáticos

diferenciados. A álgebra, por exemplo, é tida como um assunto complicado, mas será que é

realmente complicado ou a metodologia utilizada não foi efetiva? Cabe ao professor detectar

o conhecimento prévio dos alunos e relacionar o conhecimento novo com o adquirido

anteriormente, sejam eles surdos ou ouvintes e, a partir daí, o professor trabalha para

solucionar os problemas de aprendizagem.

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Segundo Smith (2008, p. 318), para muitos professores, trabalhar com a

assistência de um intérprete é uma experiência nova que pode ocorrer apenas uma vez em sua

carreira docente. O professor e o intérprete precisam trabalhar em conjunto, como o intérprete

não é especialista e não possui domínio do conteúdo curricular, o professor precisa planejar

suas aulas e reunir-se com o intérprete, afim de deixá-lo preparado para traduzir corretamente

e de forma clara o conteúdo matemático.

A Matemática, sob uma visão histórico-crítica, não pode ser concebida como um

saber pronto e acabado mas, ao contrário, como um saber vivo, dinâmico e que,

historicamente, vem sendo construído, atendendo a estímulos externos (necessidades

sociais) e internos (necessidades teóricas de ampliação dos conceitos).

(FIORENTINI, 1995, p. 31)

Por ser uma disciplina complexa, é necessário estimular no aluno o raciocínio

lógico, as deduções e problemáticas associadas à matemática, mostrar que não existe um saber

pronto, tudo está em processo de construção e mudança, a cada dia aparecem novas

descobertas e quando levamos este conhecimento aos alunos, existem algumas formas de

tornar a matemática mais dinâmica e fácil de ser compreendida.

Quando o professor não domina a Libras, é fundamental o auxílio do intérprete na

mediação do conhecimento, o professor precisa fazer ajustes na sua aula, como: regular a

velocidade da fala, de modo que o intérprete consiga processar a informação e explicar aos

alunos; ceder um espaço para o intérprete ao seu lado e manter os surdos sentados à frente da

sala, com uma boa visibilidade; utilizar recursos visuais, sempre com legenda para que todos

estejam incluídos e acompanhem o conteúdo.

Desta forma, surdos e ouvintes recebem a mesma metodologia de ensino,

diferenciando apenas a linguagem utilizada para ambos. Isso ocorre em grande parte das

escolas brasileiras, mas por não usar uma metodologia adaptada à cultura surda, pode não

gerar uma aprendizagem satisfatória.

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3.2 A adaptação de conteúdo e metodologias utilizadas no processo de aprendizagem dos

surdos

Quando um surdo se comunica, ele cria um cenário na mente, é preciso que o

professor trabalhe com metodologias que explorem esse potencial. Os surdos podem

apresentar um nível de aprendizagem matemática diferente à dos demais alunos de sua idade,

devido ao extenso vocabulário matemático, apresentando múltiplas formas de expressão para

um único conceito, assim como noções de oposição e similaridade.

O saber matemático não pode continuar sendo privilégio de poucos alunos, tidos

como mais inteligentes, cujo temperamento é mais dócil e, por isso, conseguem

submeter-se ao “fazerem tarefas escolares” sem se preocuparem com o significado

das mesmas no que se refere ao seu processo de construção do conhecimento.

(CARVALHO, 1994, p. 103)

Procurar conhecer o perfil do estudante, suas habilidades e seus interesses é parte

essencial do processo de inclusão. O professor precisa rever sua metodologia e adaptá-la para

trabalhar com alunos surdos, pois estes podem aprender matemática, mas de maneira diferente

dos ouvintes.

Imagine que você precisa ensinar o conteúdo de frações aos seus alunos. Você

pode, por exemplo, dizer que “um meio (1/2) vezes seis é igual a três”, utilizar figuras que

representam frações e escrever no quadro para mostrar essa quantidade, os alunos que

assistem a aula irão entender. Ao utilizar incógnitas tipo X, você precisa ensinar que essa letra

representa um número desconhecido, mas em outro momento irá representar também o sinal

da multiplicação ou um conjunto numérico. Essa diversidade de conceitos obtidos na

matemática pode gerar um conflito de informações, o português está para os surdos como uma

segunda língua, tudo o que for falado pelo professor, deve ser escrito no quadro branco, afinal

a comunicação dos surdos é visual.

Cabe ao professor planejar situações problemáticas (com sentido, isto é, que tenham

significado para os estudantes) e escolher materiais que sirvam de apoio para o

trabalho que eles realizarão nas aulas. Atividades que propiciem a sua manifestação

sobre os dados disponíveis e possíveis soluções para os problemas que

desencadeiem suas atividades intelectuais. (MICOTTI, 1999, p. 165)

Esta é uma disciplina em que os alunos possuem dificuldades de assimilar o

assunto, a comunicação é a chave para se obter sucesso no processo de ensino aprendizagem

matemática. A dificuldade de adaptar a linguagem matemática à comunicação com os surdos

pode ser um problema, é preciso observar de que forma o surdo recebe a mensagem

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comunicada, e se ele entendeu de maneira correta. O surdo necessita ser estimulado de forma

visual, os conteúdos devem ser apresentados a ele de forma que favoreça a comunicação,

através de imagens, sinais, escrita.

Na representação visual, a imagem auxilia o raciocínio e favorece o entendimento

de relações e comparações, além de seu caráter lúdico. Por sua característica polissêmica,

facilita a diferenciação dos diversos significados das palavras e objetos. Obter uma aula com

aprendizagem eficaz, depende exclusivamente do professor, sua metodologia e didática de

ensino aplicada. Estes recursos didáticos devem atender e resolver os problemas de acordo

com a diversidade dos seus alunos.

Em uma turma que possui alunos surdos e conta com auxílio do intérprete, a

primeira adaptação a ser feita está no posicionamento da sala. A sala deve ser bem iluminada,

professor e intérprete à frente do quadro e alunos surdos com visibilidade total de ambos. O

professor pode ajustar a velocidade da fala, para que o intérprete consiga traduzir sem perder

informações e procurar não ficar de costas para os alunos, pois alguns surdos conseguem fazer

leitura labial e essas pequenas mudanças facilitam na comunicação.

Uma alternativa metodológica é a resolução de problemas, que possibilita aos

alunos, surdos e ouvintes, desenvolverem capacidades de compreender, pensar e relacionar as

ideias matemáticas do conteúdo voltado ao cotidiano. O aluno tem a possibilidade de explorar

tópicos de diferentes ângulos, executar a conexão de conhecimentos prévios com o recém

adquirido. Com base nessa metodologia, o professor pode utilizar recursos como calculadoras

e materiais manipulados – jogos específicos e confeccionados com o objetivo da

aprendizagem matemática.

O professor, ao pesquisar metodologias para atender as especificidades do aluno

surdo, se depara com a metodologia visual, baseada na utilização de recursos digitais e físicos,

como vídeo-aulas, filmes, softwares e jogos matemáticos, slides e livros. Tais recursos devem

ser adaptados para atender as necessidades de todos. As vídeo-aulas e filmes devem conter

áudio e legenda em português; o professor explora diversos conteúdos matemáticos através de

softwares e jogos, por exemplo, pode agrupar os alunos de forma que tenha um surdo incluído

em cada grupo, e coloca-los para utilizar o software de acordo com uma atividade ou

participarem de um jogo, propiciando uma atividade lúdica, divertida e interativa. Os slides

tornam-se fundamentais na abordagem do conteúdo, auxiliam o professor com a utilização de

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imagens e textos, pode ser exposto também sinais de Libras referentes às imagens,

proporcionando ao surdo uma leitura em sua língua materna.

Vale salientar que é primordial o conhecimento dos conceitos matemáticos antes

da utilização desses recursos, que servirão de auxílio para complementar e mostrar as diversas

aplicabilidades da matemática em situações concretas e cotidianas. Carneiro (2009, p.147)

confirma a importância da “escolha de metodologias que considerem os laços culturais do

aprendiz faz a aprendizagem mais prazerosa, pois o desejo de aprender depende muito da

compreensão que o aluno consegue alcançar.”

Ao refletirmos sobre o ensino de matemática, é inquestionável que o uso de

metodologia e recursos adaptados tornam a aula dinâmica, sem fugir do modelo tradicional,

auxiliando no processo de ensino aprendizagem e na compreensão do conteúdo de maneira

significativa.

4 METODOLOGIA

Neste projeto, foi feita uma pesquisa qualitativa, de cunho bibliográfico, com o

objetivo de compreender as dificuldades do ensino de matemática em Libras enfrentadas

pelos professores da área, os métodos utilizados no ensino aprendizagem, a integração de

alunos surdos na rede regular de ensino, e verificar se as escolas públicas de Caicó – RN estão

preparadas para o processo de inclusão dos surdos, com base na visão dos professores

entrevistados.

Na cidade de Caicó, apenas quatro escolas possuem matrícula ativa de alunos com

deficiência auditiva, três escolas estaduais e uma municipal. Foram entrevistados seis

professores de matemática que ensinam a alunos surdos do 1º ano ao 3º ano do Ensino Médio.

O período da coleta de dados teve duração de duas semanas, e os professores foram

entrevistados em suas respectivas escolas, no horário combinado para que respondessem com

tranquilidade o questionário.

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4.1 Resultados e discussões

Na coleta de dados, o questionário a seguir contém 17 perguntas discursivas e foi

aplicado aos seis professores, na busca por compreender as dificuldades encontradas pelo

professor no ensino de matemática para alunos surdos, composto por perguntas objetivas e

subjetivas. As assertivas tratam de assuntos que variam desde a dificuldade em ensinar

matemática aos surdos, até a relação professor-aluno e sua metodologia de ensino.

Perguntas realizadas

1. Qual a escola que você leciona? E quantos alunos surdos estão matriculados na escola?

2. Em que grau de ensino você leciona?

3. Você sabe qual é o tipo e o grau de perda auditiva do seu aluno? Se sim, explique.

4. Qual o tipo de comunicação usada pelo aluno com surdez na sala de aula?

5. Qual a forma de comunicação usada pelo professor com o aluno surdo?

6. Você conhece ou sabe usar a Língua de Sinais?

7. Você concorda que todos os profissionais da educação devem aprender Libras?

8. Você acha que a Libras é importante no processo de escolarização do surdo? Se sim,

por que?

9. A escola tem algum intérprete de Libras? Se sim, ele te acompanha na sala de aula?

Explique a sua relação profissional em conjunto com o intérprete.

10. O que você acha da inclusão de surdos na rede regular de ensino?

11. Você acha que existe a necessidade de alguma adaptação curricular para os alunos

surdos? Se sim, ela é feita?

12. Quais dificuldades você enfrenta para ensinar matemática aos surdos? Explique.

13. Na sua opinião, quais são os principais desafios enfrentados pelo professor de

matemática numa sala de aula com alunos surdos? Cite-os.

14. Você faz uso de metodologia especializada para o atendimento dos seus alunos, de

acordo com a diversidade em sala? Se sim, quais?

15. O aluno surdo apresenta dificuldades em seu processo de escolarização? Quais?

16. Na sua opinião, as escolas brasileiras estão preparadas para aceitar e incluir surdos em

salas regulares?

17. Quais soluções você propõe para amenizar a dificuldade do ensino aprendizagem

matemático dos surdos?

Apêndice A: Entrevista feita com os professores

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Na entrevista realizada com os professores, constatou-se que um total de 12

(doze) alunos surdos estão matriculados no ensino regular de Caicó – RN, distribuídos da

seguinte forma: dez alunos em Escolas Estaduais, e dois alunos na Rede Municipal de Ensino.

Destes alunos, 75% apresentam perda auditiva bilateral, e 25% possuem perda bilateral

parcial ou fazem uso de aparelho auditivo. Independente da perda auditiva, todos se

comunicam através da Libras. Apesar de conhecer a Língua de Sinais, os professores

relataram não possuir domínio total dessa língua, apenas o suficiente para uma comunicação

inicial e, em sala de aula, se comunicam de forma oral e escrita.

Ao serem questionados, 66% concordam que os profissionais da educação devem

saber e utilizar Libras, afirmam que é fundamental para o aprendizado do aluno surdo, pois

dessa forma, ocorrerá um verdadeiro processo de inclusão. Reforçaram também a importância

da Libras no processo de escolarização do surdo, pois esta é sua língua materna, tornando-se a

forma mais adequada para a comunicação entre surdos e ouvintes. Apenas 33% dos

professores são acompanhados por um intérprete, e estes, relataram trabalhar em conjunto na

elaboração de conteúdos e atividades. Este fato, pode denotar a necessidade de uma maior

preparação desses professores no estudo da Libras durante a licenciatura, ou ainda a

existência de um programa de suporte, como educação continuada. Eles consideram a

inclusão dos surdos no ensino regular como “uma conquista e um desafio”, pois reafirma o

direito de todos à educação, mas deixam um alerta sobre as condições dessa inclusão.

De forma unânime, todos concordam com a necessidade de adaptação do

conteúdo curricular, mais em relação a metodologia utilizada e a exposição do conteúdo

matemático. Quando questionados sobre as dificuldades que enfrentam em sala de aula, os

33% que são acompanhados por intérpretes, afirmaram não passar por dificuldades no ensino

da matemática, enquanto os 66% que não tem auxílio de intérprete, citaram dificuldades na

comunicação com os surdos e o déficit no aprendizado de alguns alunos.

Segundo os professores, os principais desafios enfrentados por eles no ensino dos

surdos são: comunicação professor/aluno, falta de intérpretes, super lotação das salas de aula,

falta de capacitação do professor e tempo curto da carga horária. Quanto ao uso de

metodologia especializada, relataram dificuldades na elaboração de estratégias metodológicas

e a falta de tempo para inovar em sala de aula, mas utilizam recursos visuais, atividades

adaptadas e, durante a aula, explicam o conteúdo de forma pausada quando possuem um

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aluno que faz leitura labial, e todas as informações repassadas de forma oral são escritas no

quadro.

De acordo com os entrevistados, as escolas brasileiras estão “parcialmente

preparadas” para inclusão dos surdos, falta estrutura adequada e faltam intérpretes disponíveis

nas escolas, o que impede o processo de ensino aprendizagem dos surdos, uma vez que os

professores não apresentam proficiência na Libras. Dentre a soluções propostas pelos

professores no ensino dos surdos, as mais recorrentes foram:

a) A capacitação dos professores;

b) A necessidade do acompanhamento de um intérprete;

c) Carga horária adicional, principalmente em salas de atendimento

especializado;

d) Curso de Libras a todos os estudantes;

e) Utilizar metodologias especializadas

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao realizar a revisão bibliográfica, constata-se que a educação inclusiva tornou-se

real nos últimos anos. Sob o prisma da educação dos surdos, se fez necessária uma análise

mais profunda, percebemos que as dificuldades relatadas pelos professores baseiam-se na

comunicação utilizada em sala e a falta de intérpretes para intermediar essa comunicação com

os surdos. Além disso, através dos dados coletados, nota-se que as escolas estão parcialmente

preparadas para a inclusão, consequência da falta de profissionais qualificados para o ensino

dos surdos, uma vez que os professores não apresentam proficiência na Libras, sabendo que é

essencial o acompanhamento deles para que possamos garantir uma educação inclusiva e

satisfatória para todos os alunos.

Para uma educação realmente inclusiva, vale salientar a necessidade de

adaptações metodológicas, os conteúdos matemáticos devem ser apresentados ao surdo de

forma que favoreça seu aprendizado, de acordo com a comunicação, ele necessita ser

estimulado de forma visual. É importante investir na capacitação de professores, não apenas

no curso de graduação, mas de forma continuada. O acompanhamento de um intérprete é

essencial no ensino dos surdos e no auxílio ao professor. A adição da disciplina de Libras à

grade curricular do ensino regular seria um grande avanço para o processo inclusivo, pois

aumenta consideravelmente a interação dos alunos.

Nessa perspectiva, o professor se depara com muitas dúvidas ao receber em sua

sala um aluno surdo. Para obter um aprendizado eficaz, ele precisará conhecer a diversidade

dos seus alunos e trabalhar de forma abrangente a todos, baseando-se em três pilares:

comunicação, metodologia e conhecimento matemático. Promover um ensino inclusivo não é

fácil, e depende da ação conjunta de gestores, professores e famílias. É necessário o

comprometimento da escola no geral.

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REFERÊNCIAS

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______. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 de

abril de 2002, e o art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Diário Oficial da

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APÊNDICES

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APÊNDICE A – ENTREVISTA FEITA COM OS PROFESSORES

Prezado professor, solicitamos a sua colaboração nessa pesquisa, que tem como tema

“A educação matemática para alunos surdos”, com o objetivo de conhecer os desafios

encontrados pelo professor no processo de aprendizagem matemática e as práticas docentes

utilizadas para favorecer o aluno surdo inserido na sala de aula regular.

A entrevista é voltada para os professores de matemática das escolas inclusivas de

Caicó-RN. O questionário é de cunho acadêmico e anônimo, apenas a instituição de ensino

será identificada. Esta entrevista será instrumento de pesquisa do Trabalho de Conclusão de

Curso da graduanda Emmylie Medeiros, do curso de Matemática (licenciatura), na

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, sob a orientação do Prof. Me. José

Melinho de Lima Neto.

ENTREVISTA COM PROFESSOR DE MATEMÁTICA PARA COLETA DE DADOS

SOBRE ALUNOS COM SURDEZ QUE FREQUENTAM O ENSINO REGULAR

1. Qual a escola que você leciona? E quantos alunos surdos estão matriculados na

escola?

2. Em que grau de ensino você leciona?

3. Você sabe qual é o tipo e o grau de perda auditiva do seu aluno? Se sim, explique.

4. Qual o tipo de comunicação usada pelo aluno com surdez na sala de aula?

( ) Oral/fala ( )libras ( ) comunicação total

5. Qual a forma de comunicação usada pelo professor com o aluno surdo?

( ) Oral/fala ( )libras ( ) comunicação total

6. Você conhece ou sabe usar a Língua de Sinais?

7. Você concorda que todos os profissionais da educação devem aprender Libras?

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8. Você acha que a Libras é importante no processo de escolarização do surdo? Se sim,

por que?

9. A escola tem algum intérprete de Libras? Se sim, ele te acompanha na sala de aula?

Explique a sua relação profissional em conjunto com o intérprete.

10. O que você acha da inclusão de surdos na rede regular de ensino?

11. Você acha que existe a necessidade de alguma adaptação curricular para os alunos

surdos? Se sim, ela é feita?

12. Quais dificuldades você enfrenta para ensinar matemática aos surdos? Explique.

13. Na sua opinião, quais são os principais desafios enfrentados pelo professor de

matemática numa sala de aula com alunos surdos? Cite-os.

14. Você faz uso de metodologia especializada para o atendimento dos seus alunos, de

acordo com a diversidade em sala? Se sim, quais?

15. O aluno surdo apresenta dificuldades em seu processo de escolarização? Quais?

16. Na sua opinião, as escolas brasileiras estão preparadas para aceitar e incluir surdos em

salas regulares?

17. Quais soluções você propõe para amenizar a dificuldade do ensino aprendizagem

matemático dos surdos?