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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA
PATRÍCIA DALIANY ARAÚJO DO AMARAL
A DINÂMICA TERRITORIAL DA CULTURA E DO TURISMO EM MOSSORÓ/RN – UMA ANÁLISE GEOGRÁFICA
NATAL2008
PATRÍCIA DALIANY ARAÚJO DO AMARAL
A DINÂMICA TERRITORIAL DA CULTURA E DO TURISMO EM MOSSORÓ/RN – UMA ANÁLISE GEOGRÁFICA
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito final para a obtenção do título de Mestre em Geografia.
Orientador: Prof. Anelino Francisco da Silva, D.Sc.
NATAL2008
PATRÍCIA DALIANY ARAÚJO DO AMARAL
A DINÂMICA TERRITORIAL DA CULTURA E DO TURISMO EM MOSSORÓ/RN – UMA ANÁLISE GEOGRÁFICA
Trabalho apresentado pela aluna Patrícia Daliany Araújo do Amaral ao Departamento de Geografia, em 11 de julho de 2008, e foi aprovada conforme avaliação da banca examinadora constituída pelos professores:
Banca examinadora:
________________________________________ Prof. Anelino Francisco da Silva, D.Sc.
Orientador
_________________________________________Prof. Valdenildo Pedro da Silva, D.Sc.
Membro da banca
__________________________________________ Profa. Vanice Santiago Fragoso Selva, D.Sc.
Membro da banca
Aos meus pais, que investiram todos os seus esforços na
minha educação, e sabiamente me ensinaram o
valor da vida.
AGRADECIMENTOS
Subir mais um degrau na carreira profissional é uma busca constante das
pessoas que estão no mercado de trabalho. Com a conclusão do mestrado, é
preciso agradecer a todos que se fizeram importantes no alcance de mais este
sonho, passo importante na caminhada acadêmica.
Primeiramente, agradeço a Deus pelo dom da vida, pela saúde e pela
força diária para seguir com os meus objetivos.
À minha família, base sólida com a qual sei que posso contar diariamente.
Aos meus pais, pela base e pelo apoio; às minhas irmãs, pela paciência e carinho; e
a Vovô Josias e Vovó Rosa, por todo o amor dispensado. Aqui, cabe também um
agradecimento especial a Tia Dedé, grande incentivadora dos meus estudos e da
minha carreira na Academia, sempre trazendo novas idéias e propostas para a
permanente busca por um ensino de qualidade.
A Patric, meu noivo e amigo de todas as horas, pela paciência, pelo
apoio, pelo incentivo, pelo companheirismo, por me fazer rir, por todo o amor em
todos esses anos de convívio.
Ao meu orientador, Professor Anelino Francisco da Silva, que com
paciência e dedicação em todos os nossos inúmeros encontros, transformou o
sonho da dissertação em realidade.
Aos professores do Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em
Geografia, por terem mostrado os caminhos a serem trilhados através dos seus
ensinamentos nas disciplinas ministradas. À Professora Maria Helena, pelas
contribuições no momento da qualificação. Um agradecimento especial ao Professor
Valdenildo Pedro, pelas sugestões na qualificação, assim como tantas outras
ocasiões, o que inclui a correção final da dissertação. E à Professora Vanice Selva,
por aceitar fazer parte da banca examinadora da minha dissertação.
A Márcia Cecília e Rosali, que me ajudaram durante todo o percurso do
Mestrado, no sentido de facilitar a minha vida enquanto secretárias extremamente
eficientes e atenciosas.
Aos colegas e amigos que fiz na turma, com os quais dividi nesses anos
as dúvidas e incertezas, assim como as alegrias, em especial a Marcelo Taveira,
Carlos André, Eva, Marcos, Gilberto e Rosa. Vou levá-los para sempre no coração.
Aos amigos pessoais e aos amigos do turismo, que, de perto ou de longe,
estavam torcendo pelo meu sucesso e vitória em mais essa etapa. Aqui, agradeço
em especial à eterna professora e amiga Kátia Simone, pelo incentivo desde os
debates iniciais sobre o projeto, das conversas amigas, dos livros emprestados e
tantos outros momentos importantes de convívio.
A Anairam Medeiros, pelos ajustes de normatização. À amiga Queila
Pahim, pela tradução do resumo na língua estrangeira. Agradeço também a Daniel
Magalhães, pelo apoio na tabulação dos dados obtidos na pesquisa de campo,
assim como na criação dos gráficos.
À Prefeitura Municipal de Mossoró, em especial ao Gerente de Turismo,
Gabriel Barcelos, pela a atenção dispensada em tantos momentos. A todos os
mossoroenses que auxiliaram de maneira direta e indireta na pesquisa, fosse nas
conversas informais, fosse no aplicação dos questionários. Agradeço também aos
apoiadores das festas, que também fizeram parte da pesquisa e tão bem me
receberam.
À Universidade Federal do Rio Grande do Norte, por me dar todas as
condições necessárias para a minha graduação, assim como para a pós, e por tudo
que tenho aprendido nesse tempo enquanto professora substituta. É muito bom
poder retribuir.
Aos meus alunos, por todos os momentos de troca de experiências que
nos fazem crescer profissionalmente e enquanto cidadãos que somos.
A todos, o meu muito obrigada.
RESUMO
A cidade de Mossoró tem sido, atualmente, divulgada e conhecida em todo o Rio Grande do Norte como a capital cultural do Estado, em função dos relevantes investimentos realizados, a cada ano, no setor cultural. O presente trabalho propõe-se a construir uma compreensão de como ocorre a dinâmica da cultura e do turismo na cidade de Mossoró. Busca, ainda, verificar de que maneira processa-se essa dinâmica territorial da cidade, nos últimos anos, em função das atividades do Mossoró Cidade Junina, do Auto da Liberdade e da Festa de Santa Luzia. Faz-se uma análise das transformações territoriais ocorridas em Mossoró, decorrentes das atividades em estudo, e dos impactos provenientes dos investimentos públicos e privados, que provocam uma nova dinâmica na cidade. Além disso, é verificada a percepção da comunidade, da iniciativa privada e do poder público em relação a essas práticas como processos dinamizadores de Mossoró. Para isso, realizou-se pesquisa documental e bibliográfica. Efetivou-se, ainda, pesquisa de campo, através da observação não-participante e da realização de entrevistas com o poder público municipal, principal idealizador das festas e com a iniciativa privada, enquanto patrocinador. A comunidade local também participou através da aplicação de questionários. Conclui-se que as festas do Mossoró Cidade Junina, do Auto da Liberdade e de Santa Luzia, têm demonstrado uma capacidade de criar e manter um fluxo de turismo, fazendo com que Mossoró ganhe projeção como um destino turístico. A cidade tem, na efetivação de suas festas, grande parte da cidade movimentando-se no sentido de garantir a sua realização, o que faz com que sua dinâmica territorial venha sendo modificada pelo e para o turismo.
Palavras-chave: Cultura. Dinâmica territorial. Festas. Mossoró. Turismo.
ABSTRACT
The city of Mossoró has been, currently, divulged and known in all Rio Grande do Norte as the cultural capital of the State, in function of the excellent carried through investments, each year, in the cultural sector. The present work is considered to construct an understanding to of the dynamics of the culture and tourism in the city of Mossoró. This work searches also , to verify how this territorial dynamics of the city is processed, by the recent years, in function of the local activities as Mossoró Cidade Junina , Auto da liberdade e Festa de Santa Luzia. An analysis of the occured territorial transformations in Mossoró has been done, decurrent of the activities in study, and the impacts proceeding from the public and private investments, that provoke a new dynamics in the city. Moreover, the perception of the community, the private initiative and the public power in relation to these practical is verified as processes of Mossoró. For this, documentary and bibliographical research has been used. It was accomplished, field research, through the comment not-participant and from the accomplishment of interviews with the municipal public power, main idealizer of the parties and with the private initiative, as sponsor. The local community also participated through the application of questionnaires. It has been concluded that the parties as Mossoró Cidade Junina, Auto da Liberdade and Santa Luzia, have demonstrated a capacity to create and to keep a tourism flow, being Mossoró projection as a tourist destination. The city has through it parties, great part of itself moving in direction to guarantee its accomplishment, what it makes with that its territorial dynamics comes being modified for and for the tourism.
Key words: Culture. Parties. Mossoró. Territorial dynamic. Tourism.
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 - Localização geográfica do município de Mossoró...................... 13
Figura 02 - Imagens das festas de Mossoró................................................. 17
Figura 03 - Turistas em viagem a Mossoró segundo a satisfação de suas expectativas...................................................................................
56
Figura 04 - Turistas em viagem a Mossoró segundo o motivo da viagem.............................................................................................
57
Figura 05 - Músico instrumentista e o público na Estação das Artes para assistir aos shows musicais............................................................
60
Figura 06 - Cena do espetáculo Chuva de Bala no País de Mossoró.............. 62
Figura 07 - Cena do Auto da Liberdade............................................................ 64
Figura 08 - Novena realizada durante a Festa de Santa Luzia......................... 72
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 01 - Quanto ao sexo.................................................................... 79
Gráfico 02 - Quanto à faixa etária............................................................ 80
Gráfico 03 - Quanto ao estado civil.......................................................... 81
Gráfico 04 - Quanto à escolaridade......................................................... 81
Gráfico 05 - Quanto à renda familiar........................................................ 82
Gráfico 06 - Quanto ao hábito de freqüentar as festas de Mossoró....... 83
Gráfico 07 - Relação entre a idade dos pesquisados e o hábito de freqüentar as festas.............................................................. 84
Gráfico 08 - Relação entre a escolaridade dos pesquisados e o hábito de freqüentar as festas....................................................... 84
Gráfico 09 - Quanto à motivação para participação nas festas.................................................................................... 85
Gráfico 10 - Quanto à opinião dos que disseram frequentar as festas por outros motivos................................................................ 86
Gráfico 11 - Quanto à opinião a respeito dos investimentos realizados.. 87
Gráfico 12 - Relação entre a escolaridade dos pesquisados e a idéia que se tem sobre os investimento realizados nas festas..... 87
Gráfico 13 - Relação entre a freqüência às festas e a idéia que se tem sobre os investimentos realizados nas festas...................... 88
Gráfico 14 - Quanto à opinião sobre as modificações positivas.............. 89
Gráfico 15 - Quanto à opinião sobre as modificações negativas............. 90
Gráfico 16 - Quanto à opinião sobre o que mudou com as festas........... 91
Gráfico 17 - Quanto à opinião se considera Mossoró uma cidade avessa.................................................................................. 92
SUMÁRIO
1 MOSSORÓ E A EXPLORAÇÃO TURÍSTICA ATRAVÉS DOS EVENTOS FESTIVOS: UMA INTRODUÇÃO............................................................................ 12
2 TURISMO, TERRITÓRIO, FESTAS E IMAGINÁRIO SOCIAL: RELAÇÕES DIVERSAS............................................................................................................... 22
2.1 TURISMO: SUA RAZÃO E SEUS IMPACTOS.................................................. 22
2.1.1 O turismo cultural............................................................................................ 28
2.2 ENTENDENDO O TERRITÓRIO E A DINÂMICA TERRITORIAL..................... 34
2.2.1 Turismo e território.......................................................................................... 37
2.3 O IMAGINÁRIO SOCIOCULTURAL E A IDENTIDADE DE UM POVO............. 39
2.4 A FESTA COMO PROCESSO DINAMIZADOR E IDENTITÁRIO DE UM
ESPAÇO TERRITORIAL.......................................................................................... 45
3 MOSSORÓ EM FESTA: A DINÂMICA TERRITORIAL DA CULTURA E DO TURISMO................................................................................................................. 50
3.1 ASPECTOS HISTÓRICO-ECONÔMICOS DO MUNICÍPIO DE MOSSORÓ..... 50
3.2 A DINÂMICA DAS FESTAS REESTRUTURANDO O TURISMO EM
MOSSORÓ............................................................................................................... 54
3.2.1 O Mossoró Cidade Junina............................................................................... 59
3.2.2 O Auto da Liberdade....................................................................................... 64
3.2.3 A Festa de Santa Luzia................................................................................... 71
4 OS EVENTOS FESTIVOS DO TERRITÓRIO MOSSOROENSE NAS VOZES DOS ATORES SOCIAIS.......................................................................................... 74
4.1 O PODER PÚBLICO MUNICIPAL E SUA INTERVENÇÃO............................... 74
4.2 OPINIÃO E PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE LOCAL NAS
FESTAS.............................................................................................................. 79
4.3 O ENVOLVIMENTO DA INICIATIVA PRIVADA NOS EVENTOS FESTIVOS... 92
4.4 O OLHAR SOCIOECONÔMICO DA POPULAÇÃO LOCAL SOBRE O
TURISMO................................................................................................................. 95
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 100
REFERÊNCIAS........................................................................................................ 103
APÊNDICE............................................................................................................... 109
| 12
1 MOSSORÓ E A EXPLORAÇÃO TURÍSTICA ATRAVÉS DOS EVENTOS FESTIVOS: UMA INTRODUÇÃO
No Brasil, a realidade de crescimento do turismo tem animado os gestores da
atividade, que cada vez mais direcionam seus esforços no sentido de levar crescimento
econômico às localidades onde atuam. O turismo é capaz de proporcionar uma série de
benefícios aos lugares em que se instala, mas, também, desafios ou efeitos perversos,
já sendo motivo de preocupação por parte de estudiosos de diversas áreas, como
antropólogos, sociólogos e mesmo geógrafos. No Nordeste e no Rio Grande do Norte,
o desenvolvimento do turismo está historicamente mais atrelado às atividades
litorâneas. Em função de suas belezas naturais, o litoral nordestino tem atraído, nas
últimas décadas, um fluxo considerável de turistas. Isso fez com que muitas cidades da
região tivessem, no turismo, a maior contribuição para o desenvolvimento de suas
economias. Exemplo disso ocorre no RN, quando tem essa atividade concentrada na
área litorânea.
Entretanto, atualmente, o desenvolvimento da atividade turística tem ocorrido
em outras áreas que não a litorânea, ao ponto de ser constatada a interiorização do
turismo como uma realidade. Nesse contexto, destaca-se a cidade de Mossoró,
localizada na chamada região da Costa Branca do Rio Grande do Norte. A figura 01
mostra a localização geográfica do município mossoroense no Estado. A partir de festas
diversas, a cidade tem buscado desenvolver um segmento do turismo até então pouco
trabalhado nas localidades potiguares. Na cidade de Mossoró, o turismo tem crescido
como atividade econômica nos últimos anos e representa, na atualidade, um dos mais
importantes setores de sua economia. Essa é uma atividade que exige a implantação
de infra-estrutura, envolvendo, por exemplo, equipamentos de hospedagem e serviços,
mas é responsável, também, pela geração de empregos diretos e indiretos, o que
dinamiza a economia, gerando divisas.
| 13
Figura 01 – Localização geográfica do município de Mossoró Produzida por Rosa Rodrigues (2007)
A atividade turística vem demonstrando seu poder de desencadear um
processo de identificação dos cidadãos com a historiografia sociocultural. Na visão de
geógrafos, antropólogos e historiadores, a preservação da identidade de um povo
começa quando os sujeitos envolvidos em um processo de construção identitária
incorporam-se ao trabalho de recuperação de sua memória coletiva, da reconstrução de
sua história, da verificação das fontes de sua identidade, não se restringindo às
| 14
questões materiais, mas abrangendo também aspectos não-materiais da cultura. Esta
vem sendo a mola propulsora dessa atividade econômica da cidade de Mossoró.
Nesse contexto, a pesquisa realizada e da qual resulta este texto, propôs-se
a construir uma compreensão de como ocorre a dinâmica da cultura e do turismo na
cidade de Mossoró. Busca, ainda, verificar de que maneira processa-se essa dinâmica
territorial da cidade, nos últimos anos, em função das atividades do Mossoró Cidade
Junina, do Auto da Liberdade e da Festa de Santa Luzia. Faz-se uma análise das
transformações territoriais ocorridas em Mossoró, decorrentes das atividades em
estudo, e dos impactos provenientes dos investimentos públicos e privados, que
provocam uma nova dinâmica na cidade. Além disso, é verificada a percepção da
comunidade, da iniciativa privada e do poder público em relação a essas práticas como
processos dinamizadores de Mossoró.
A cidade de Mossoró tem sido, atualmente, divulgada e conhecida em todo o
Rio Grande do Norte como a capital cultural do Estado, em função dos relevantes e
contínuos investimentos realizados, a cada ano, no setor cultural. As festas do Mossoró
Cidade Junina, do Auto da Liberdade e de Santa Luzia, que vêm ocorrendo na cidade
têm possibilitado uma capacidade de criar e manter um fluxo de turismo, fazendo com
que a cidade ganhe projeção como um destino turístico. Além disso, o turismo
mossoroense apresenta o diferencial de desenvolver um nicho de mercado até então
pouco explorado no Estado do Rio Grande do Norte: o turismo cultural. Esse fato, por
si, já justificaria a análise da exploração do turismo na região mossoroense como um
objeto de estudo, já que essa iniciativa é diferente do que ocorre em outras localidades
potiguares, tradicionalmente famosas pelo turismo de sol e mar.
O estudo da atividade turística de Mossoró, porém, justifica-se ainda por três
outros fatores. O município mossoroense é o segundo maior em extensão territorial
dentre os norte-rio-grandenses, tendo uma economia dinâmica, e sua demanda de
turistas tem crescido sob uma infra-estrutura turística ainda precária. Observe-se que a
cidade apresenta um rico patrimônio histórico-social a ser explorado por políticas
públicas de desenvolvimento do turismo, que resultará no resgate da identidade, da
memória e da história daquela região, além dos outros benefícios que a atividade
turística pode trazer.
| 15
Nesse sentido, a presente investigação poderá contribuir de dois modos
distintos. Esse ramo da atividade turística será melhor entendido por aqueles ligados a
ele, em especial, os gestores da localidade estudada. Além disso, os promotores do
turismo cultural em Mossoró poderão perceber o quanto a atividade turística é benéfica
para o local onde se instala de modo ordenado. Tais contribuições também justificam a
pesquisa em andamento.
As cidades deveriam investir na contínua valorização de sua cultura. Quando
trabalhada de forma responsável por seus planejadores, em especial, os produtores
culturais, tanto do setor público quanto do privado, como um produto turístico, a cultura
tem o poder de atrair fluxos turísticos. Além disso, o turismo pode ser fator de estímulo
à manutenção da identidade das populações receptoras.
Sabendo disso, o poder público municipal de Mossoró tem investido na
apropriação da cultura popular e na divulgação/reconstrução de fatos históricos para
dinamizar a atividade turística. A cidade já possuía um fluxo de turistas que tinha como
motivação principal a realização de negócios, e vê nessa nova modalidade o fator de
crescimento do setor turístico local. Sob essa concepção, analisam-se as festas de
maior representatividade da cidade, denominadas Mossoró Cidade Junina, Auto da
Liberdade e Festa de Santa Luzia. Esta é marcada por um forte apelo religioso, por se
tratar de um acontecimento voltado para as comemorações da Padroeira da cidade. O
turismo cultural mossoroense tem se desenvolvido a partir dessas festas.
Esse segmento de mercado tem sido apontado como uma alternativa para
desenvolver a economia local, além de construir novas visões das origens histórico-
culturais da região e reafirmar a percepção identitária dos mossoroenses, estabelecer
novos laços entre as pessoas e entre elas e os territórios da cidade. Dessa
compreensão compartilha Alves (2005, p.04) ao dizer:
Em Mossoró, [...] a festa vem sendo apropriada como uma das formas de demarcação de identidade local. Nesta cidade, algumas festas vêm sendo (re) inventadas e a tradição juntamente com os referenciais de coragem e liberdade, vêm sendo agregada como elemento diferenciador das demais cidades. Esse processo vem sendo acompanhado não raramente pelo processo de espetacularização.
| 16
Mossoró sempre se destacou por sua expressão em algumas atividades:
historicamente, o sal foi fator de crescimento da economia local, e a fruticultura tropical
irrigada é um dos filões da sua economia (destaca-se principalmente o melão). Ela é a
maior produtora de petróleo em terra firme do Brasil (sendo esta a maior representação
na sua economia) e é, também, um pólo ceramista. Fornece ainda 97% do sal marinho
consumido pelo país. Seu comércio é bastante dinâmico e diversificado, como afirma
Rocha (2005).
A dinâmica sócio-territorial da cidade de Mossoró, até meados da década de
1990, estava ligada apenas às atividades anteriormente referidas. Hoje, os gestores da
cidade buscam meios para reestruturar suas atividades e vêem no turismo cultural um
novo nicho de mercado a ser explorado e desenvolvido nesse território. Pode-se
estabelecer uma retrospectiva de fatos históricos, considerados por seus cidadãos
como de grande importância e que podem ser explorados pela atividade do turismo
cultural: a Abolição dos Escravos, em 1883 (05 anos antes da promulgação da Lei
Áurea); o Motim das Mulheres, em 1875; o primeiro voto feminino, realizado por Celina
Guimarães, em 1928; a Resistência ao Bando de Lampião, o mais famoso cangaceiro
do Nordeste, em 1927. Todos esses acontecimentos são hoje resgatados
especialmente em forma de grandes espetáculos (ver figura 02).
Há uma retomada de suas origens acontecendo na cidade. O resgate de
fatos históricos conduz a uma conexão entre passado e presente, “(re) atualiza os
referenciais identitários e produz um sentimento de identificação territorial” (ALVES,
2005, p.06). Isso condiz com a idéia de que “os usos e costumes de um povo, de uma
comunidade, são transmitidos pelos fundamentos de suas concepções históricas e
sócio-político-culturais” (MONICA, 2001, p.39). Ainda nesse sentido, Albuquerque
Júnior (apud FELIPE 2001, p. 146) afirma que
O conhecimento da história do lugar, da sua memória coletiva, fornece os elementos para a invenção de uma cultura particular. Que ao interpretar essa história, imprime a mesma outros significados, outras intrigas, um enredo novo produzido com os fragmentos do passado [...].
| 17
Figura 02 – Imagens das festas de Mossoró Fonte: Prefeitura Municipal de Mossoró (2006)
De acordo com a Prefeitura Municipal de Mossoró (2007a), a cidade
desponta turisticamente em função de uma política local estruturada, conforme a
citação anterior. Em site oficial, a instituição afirma que, graças
[...] à diversidade de seus atrativos e singularidade dos aspectos culturais, mais e mais turistas visitam a "capital do semi-árido" potiguar todos os anos. A realização de eventos tornou Mossoró uma referência cultural em todo o Nordeste e fez dela parada obrigatória aos interessados em cultura popular e festas típicas da região.
Nesse contexto de manifestação festiva, uma Mossoró distinta da existente
no cotidiano de seus moradores é produzida, já que uma parte da cidade é pensada e
reorganizada para as festas. Esse processo tem evidenciado as estratégias dos
diferentes atores sociais (Estado, sociedade, Igreja) no decurso da apropriação dos
espaços da cidade. Essa realidade conduz à reflexão sobre as territorialidades
mossoroenses. Assim, é possível pensar que
[...] as identidades são relacionalmente construídas como parte do processo político mediante relações de poder. Esse reconhecimento pode levar à renegociação dessas identidades, pois reformular o modo por meio do qual se representa o espaço é também uma ação política (ALVES, 2005, p.07).
Assim, o problema que consubstancia a presente pesquisa é: como se
processa a dinâmica territorial da cultura e do turismo em Mossoró, bem como sua
| 18
dinâmica socioespacial, nos últimos anos, a partir das atividades do Mossoró Cidade
Junina, do Auto da Liberdade e da Festa de Santa Luzia?
Seguindo esta linha de pensamento, tem-se como objetivo central do trabalho
investigar o desenvolvimento da cultura e do turismo em Mossoró-RN e sua dinâmica
socioespacial dos últimos anos, tendo como fatores propulsores as festas: Mossoró
Cidade Junina, Auto da Liberdade e Festa de Santa Luzia. Para que seja alcançado,
foram propostos objetivos específicos: analisar a dinâmica territorial da atividade do
turismo cultural na cidade de Mossoró; estudar como os impactos provenientes dos
investimentos público e privado têm provocado uma nova dinâmica na cidade e verificar
a percepção da comunidade, do poder público e da iniciativa privada em relação ao
processo dinamizador da cultura que o turismo tem posto à cidade.
A pesquisa desenvolveu-se no sentido de reunir dados e informações
necessárias para análise do problema proposto e o alcance dos objetivos
estabelecidos. De acordo com Gil (2007, p.42), pode-se definir pesquisa como “o
processo formal e sistemático de desenvolvimento do método científico. O objetivo
fundamental da pesquisa é descobrir respostas para os problemas mediante o emprego
de procedimento científicos”.
Na pesquisa científica, o levantamento de dados é o primeiro procedimento a
ser efetivado para a realização da pesquisa científica, devendo ser realizado através de
pesquisa em documentos e bibliografias diversas. Para a efetivação do trabalho
proposto, seguiu-se esse preceito. A pesquisa bibliográfica foi realizada por meio de
levantamento de informações em artigos científicos, livros, teses, dissertações e em
sites da internet. O material coletado foi utilizado na composição do referencial teórico
da pesquisa. Também se efetivou pesquisa documental, através da coleta de
informações em documentos disponibilizados por órgãos oficiais relacionados à
problemática em estudo. Utilizou-se ainda documentos como relatórios de pesquisa,
tabelas, etc. A pesquisa de campo foi também implantada, a fim de registrar
informações pertinentes (LAKATOS; MARCONI, 1991).
A pesquisa realizada recebe uma classificação dupla. Ela é exploratória à
medida que objetiva familiarizar o pesquisador com o tema estudado, no sentido de
aprimorar idéias sobre o assunto em questão, utilizando uma quantidade de dados
| 19
provenientes de fontes secundárias. Ela é também descritiva, porque expõe situações a
partir de dados primários, levantados por meio de investigações em que foram
aplicadas entrevistas pessoais e observação não-participante como técnicas para
efetuar o levantamento dos dados.
A pesquisa descritiva procura construir uma descrição do fenômeno em
questão de maneira que seja caracterizada a sua realidade, sem interferência ou
modificação por parte do pesquisador. De acordo com Dencker (1998, p.130), “são
estudos bem estruturados e planejados que exigem um conhecimento profundo do
problema estudado por parte do pesquisador. O pesquisador sabe o que deseja avaliar
e como deverá proceder para fazê-lo”. Esse procedimento científico foi executado para
a concretização da pesquisa.
O universo da pesquisa circunscreve-se à cidade de Mossoró, localizada no
Estado do Rio Grande do Norte. Dentro desse limite geográfico e levando em
consideração que se busca analisar as festas culturalmente desenvolvidas em Mossoró,
o objeto de estudo restringe-se às festividades do Mossoró Cidade Junina, do Auto da
Liberdade e da Festa de Santa Luzia.
O estudo investiga diversos segmentos, incluindo população local, poder
público e iniciativa privada quanto à concepção deles em relação aos fenômenos
culturais analisados. Para que fossem aplicados os questionários na cidade, utilizou-se
da amostra por conglomerados, que, segundo Gil (2007), é indicada em situações em
que é difícil a identificação de seus elementos, como é o caso desta pesquisa, cuja
população é constituída por todos os habitantes da cidade de Mossoró.
As técnicas utilizadas na pesquisa de campo compreenderam a entrevista e
a observação não-participante. Durante a realização da pesquisa, a observação não-
participante deu-se na cidade de Mossoró, nos momentos relativos à realização das
festas em estudo. Para Lakatos e Marconi (1991, p.193), “na observação não-
participante, o pesquisador entra em contato com a comunidade, grupo ou realidade
estudada, mas sem integrar-se a ela”. Assim, o estudioso faz o papel de espectador - o
que não significa que tal observação não seja consciente, com vistas a um propósito
determinado.
| 20
As entrevistas foram realizadas com o poder público municipal, como
principal idealizador das festividades, e a iniciativa privada, que aparece como
apoiadora das festas. Foram utilizados questionários semi-estruturados. A entrevista,
cujas perguntas são feitas oralmente, tem por objetivo obter informações a respeito do
objeto de estudo, e o próprio pesquisador registra as respostas fornecidas.
Apesar de mais dispendiosa, a entrevista tem, dentre suas vantagens, a
maior flexibilidade na formulação de questionamentos e, sendo realizada pessoalmente,
apresenta maior capacidade de captar aspectos subjetivos do entrevistado. Isso
porque, a entrevista, em seu desenrolar, deixa o entrevistado mais à vontade para
tomar partido diante do tema, permitindo, assim, a apreensão, por parte do
pesquisador, de aspectos comportamentais e emocionais que possam interferir no
conteúdo de suas considerações.
Para obter a percepção da comunidade local a respeito das festas, a técnica
utilizada foi a aplicação de questionário, elaborado pela pesquisadora de acordo com os
objetivos da pesquisa.
Após a realização das entrevistas e a aplicação dos questionários, veio a
fase da interpretação. A interpretação “consiste em expressar o verdadeiro significado
do material em termos do propósito do estudo. O pesquisador fará as ligações lógicas e
comparações, enunciará princípios e fará generalizações” (DENCKER, 1998, p.172).
Nesse momento da pesquisa, foram analisados os dados e informações obtidas na
pesquisa de campo para que se chegasse às considerações a respeito do tema em
estudo. Esse procedimento interpretativo gerou os resultados deste trabalho de
pesquisa. Para a tabulação dos dados coletados, utilizou-se o programa Statistical
Package for the Social Sciences - SPSS. Posteriormente, foram formatados gráficos e
tabelas com o auxílio do Excel.
A seguir, o segundo capítulo deste trabalho trata do imaginário social e da
identidade. Aborda também a questão do território, das territorialidades e traz um relato
de como as festas vêm sendo um processo dinamizador das localidades. Disserta-se,
ainda, sobre o turismo como uma atividade social, demonstrando os impactos do
crescimento deste, com destaque para o turismo cultural, que vem sendo incentivado
em Mossoró.
| 21
Com o título “Mossoró em festa: a dinâmica territorial da cultura e do
turismo”, o terceiro capítulo faz um breve histórico do desenvolvimento do município,
além de uma caracterização das festividades em estudo: Mossoró Cidade Junina, Auto
da Liberdade e Festa de Santa Luzia.
O capítulo quatro, denominado “Os eventos festivos do território
mossoroense nas vozes dos atores sociais” aborda como ocorrem as intervenções do
poder público e da iniciativa privada nas festas mossoroenses, seus objetivos e as
causas pelas quais se dá o investimento. Apresenta, ainda, um panorama da
participação da comunidade nas festas em estudo, utilizando-se de gráficos e tabelas
para apresentar os dados obtidos na pesquisa de campo.
O último capítulo traz as considerações apreendidas no decorrer da
pesquisa. De maneira sucinta, são expostas as principais observações relacionadas à
dinâmica territorial da cultura e do turismo em Mossoró.
| 22
2 TURISMO, TERRITÓRIO, FESTAS E IMAGINÁRIO SOCIAL: RELAÇÕES DIVERSAS
A seguir, o turismo e a cultura são abordados, dando destaque ao nicho de
mercado do turismo cultural, já que esta segmentação do mercado traz benefícios que
são esperados por todos os promotores da atividade turística. O território e a dinâmica
territorial também são tratados, posto que se entende que o turismo, assim como as
festas, envolvem a criação e a modificação dos territórios.
Em seguida, trata-se da questão do imaginário sociocultural, das imagens
criadas pelos indivíduos em sociedade e da identidade como elementos freqüentes no
cotidiano de uma sociedade. Por fim, tem-se uma abordagem das festas, que são tidas
como fenômenos que dinamizam as sociedades, fortalecem identidades e modificam os
territórios nos quais estão inseridas.
2.1 TURISMO: SUA RAZÃO E SEUS IMPACTOS
O turismo é um fenômeno social abrangente, que tem afinidade com diversas
outras áreas do conhecimento. Para Barretto (2007), a complexidade que o envolve
acabou por originar uma enorme quantidade de definições, as quais são colocadas em
função da formação de seu autor. Como objeto de estudo, trata-se de uma área
multidisciplinar. Sua compreensão requer um estudo interdisciplinar. Diversos ramos do
conhecimento, como Geografia, Economia, Sociologia, Administração e Antropologia,
contribuem para o seu entendimento.
As projeções do mercado e a evolução dos acontecimentos econômicos e
sociais do mundo moderno apontam para uma tendência de um crescimento contínuo
do lazer e das viagens. De acordo com Coriolano e Silva (2005), enquanto na
sociedade industrial o trabalho era o centro das preocupações, na sociedade do tempo
flexível, o tempo livre, o lazer e o turismo também exigem atenção. Assim, o turismo faz
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parte das necessidades criadas pelo mundo moderno. Viajar como um turista é desejo
latente de todos aqueles inseridos na atual sociedade global de consumo.
O mercado turístico é uma vertente do lazer que se desenvolve e cresce a cada
ano. É uma atividade complexa, visto que há um desafio permanente por parte de seus
planejadores e demais agentes envolvidos em seu processo de implantação. É preciso
um gerenciamento eficaz para um empreendedor na área de turismo obter os
resultados econômicos desejados, preservar as culturas locais, criar oportunidades de
trabalho, e, ao mesmo tempo, minimizar os efeitos produzidos pela dinâmica que o
turismo ocasiona na sociedade contemporânea nos locais onde é explorado.
A atividade turística tem suas benesses largamente divulgadas pelos meios de
comunicação, assim como pelos políticos em suas campanhas eleitorais, em discursos
de “geração de emprego e renda” para as comunidades locais. Nos países pobres,
porém ainda ricos em ecossistemas naturais, o turismo tem emergido como uma
alternativa de crescimento, no sentido de ampliarem sua integração à economia
mundial. Nesse sentido, o rápido crescimento da atividade, tanto em escala global
como local deve, necessariamente, trazer embutidas reflexões para os diversos atores
envolvidos nesse complexo sistema. Isso porque, historicamente, o turismo tem
crescido através da crença de que se trata de uma atividade minimizadora dos
desequilíbrios regionais e se sabe que pode, realmente, contribuir sensivelmente para o
crescimento econômico e sociocultural de sociedades, mas é necessário lembrar que
pode, também, destruir estruturas sociais e ambientes naturais, por exemplo (AMARAL;
FURTADO; TAVEIRA, 2007).
Entender a complexidade e dinamicidade da atividade turística tem sido um dos
grandes desafios dos últimos anos enfrentados pelos pesquisadores do turismo, pois
exige estudos científicos, dados empíricos e análises do desenvolvimento do fenômeno
em determinados espaços já turistificados. Seguindo essa linha de pensamento, Cruz
(2001) afirma que “a apologia ao turismo como possível vetor do desenvolvimento
econômico regional tem levado localidades litorâneas do Nordeste a optar por
investimentos no setor em detrimento de outras eventuais alternativas econômicas”.
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A atividade turística acarreta impactos e tem o poder de ocasionar
transformações nos lugares onde é empreendida. Não é possível, portanto, avaliar se
tais mudanças são vantajosas, ou não, sem antes analisar tudo o que esteja associado
ao turismo em uma dada região. Em geral, os impactos aparecem de acordo com o
modo como ocorre a incidência da exploração turística e as características do local. Os
efeitos causados pelo turismo referem-se às modificações provocadas pela atividade
em determinado local. Eles podem ser tanto positivos quanto negativos, e ocorrem
principalmente nos âmbitos econômico, ambiental e sociocultural.
Quanto ao aspecto econômico, a dependência do turismo e a sua
sazonalidade às vezes podem ser maléficas à população. Em muitos destinos, o
mercado de trabalho deixa suas atividades de lado, como a agricultura e a pesca, para
dedicar-se ao turismo, pois as pessoas passam a ganhar melhor, além de adquirirem
melhor status social.
Ocorre também que o poder público costuma ter sobre o turismo uma visão
extremamente otimista em relação aos seus benefícios e acaba por deixar de lado
outras atividades econômicas que podem desempenhar papel importante no
crescimento e desenvolvimento das cidades. Para Lage e Milone (1996), é necessário
que as autoridades governamentais tenham como objetivo a otimização das relações
de custo-benefício advindas da expansão do setor turístico e que administrem os
interesses dos lugares turísticos por meio de políticas de sustentabilidade. Eis o
importante papel do governo, pois é ele quem deve criar mecanismos capazes de
favorecer os investimentos sem prejuízos das populações locais.
Contudo, há que se perceber também a pressão inflacionária exercida pela
influência financeira do turismo, pois as populações dos lugares turísticos acabam por
sentir a alta dos preços em função do maior poder aquisitivo do turista. Além disso, a
grande dependência com relação ao turismo torna os lugares vulneráveis às flutuações
sazonais da demanda de produtos turísticos. Isso acarreta uma série de impactos
negativos, como o aumento das taxas de desemprego em função da sazonalidade da
atividade e a especulação imobiliária, entre outros.
O turismo é considerado uma indústria intensiva de mão-de-obra por estar
em constante evolução, proporcionando trabalho para pessoas qualificadas e semi-
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qualificadas. Lage e Milone (1996) afirmam tratar-se de um meio de distribuição de
riquezas, na medida em que os valores gastos pelos turistas transferem dinheiro de um
lugar a outro e geram um efeito multiplicador ao ser repassado para outros setores da
economia.
O turismo também gera impactos ambientais no meio em que se desenvolve.
Quanto aos impactos negativos passíveis de serem provocados pelo crescimento da
atividade no meio ambiente, destacam-se os danos aos sítios históricos e
arqueológicos, provocados pelo grande número de visitações de turistas, muitas vezes,
irresponsáveis. Além disso, há a questão da poluição provocada pelo aumento de
contingente em determinada área, seja visual, sonora, seja das águas ou mesmo do ar.
A colocação do lixo em locais inadequados e problemas de saneamento básico também
podem ser agravados pela atividade turística. Os impactos ambientais ainda envolvem
questões como a degradação da fauna e da flora locais, riscos ecológicos e problemas
de uso e ocupação do solo, como a construção em locais inadequados.
Já os efeitos positivos provocados pelo desenvolvimento da atividade podem
envolver a conservação de áreas naturais, em função da maior conscientização que
pode haver por parte dos visitantes, demonstrando à população local a importância de
preservar determinadas áreas. Isso faz surgir parques nacionais, assim como áreas de
proteção ambiental. O fluxo de turistas pode ainda proporcionar a melhoria da
qualidade do meio ambiente e o aumento da consciência ambiental por parte dos
nativos de uma região. Além disso, pela necessidade que emerge, costumam surgir
órgãos e/ou organizações não-governamentais (ONGs) voltadas para a proteção do
meio ambiente.
A questão da consciência ambiental é fator primordial para o
desenvolvimento responsável da atividade turística, pois, em muitas localidades, o fator
natural trata-se do maior atrativo turístico. Além disso, deve-se pensar, também, na
qualidade de vida da população residente. Ao setor público cabe, em parceria com a
iniciativa privada, mobilizar a população para que tenha consciência da importância da
preservação de sua riqueza natural. O poder público deve fazer com que seja possível
regular as formas mais adequadas de uso dos recursos ambientais, levando em
| 26
consideração os custos e os benefícios sociais acarretados pela exploração deles
(RABAHY, 1990).
Há efeitos causados pelo turismo no que se refere à problemática
sociocultural. Ele pode estimular a valorização e a preservação do patrimônio, do
artesanato, das danças e das manifestações culturais como um todo, evidenciando a
identidade cultural de um povo, trazendo orgulho à comunidade receptora. O
intercâmbio cultural também é positivo, desde que não haja alterações da moralidade e
imposição cultural, o que pode acarretar um choque cultural entre os nativos e os
visitantes.
Muitos turistas desejam conhecer a cultura dos lugares que visitam. Isso
pode ajudar a preservar as manifestações culturais e pode criar valor econômico para a
cultura de uma região. O turismo incentiva a restauração de prédios históricos, pode
estimular a valorização de danças e rituais folclóricos. Por outro lado, o interesse
socioeconômico dos habitantes de uma região pode fazer mudar sua cultura, o que
inclui seus hábitos e linguagem, para que possam ser atraentes para os visitantes. Há,
ainda, como fator negativo, a possibilidade de aumento de problemas sociais, como a
criminalidade, a violência, a prostituição e o uso de drogas.
Todavia, o turismo mostra-se capaz de ajudar a minimizar diferenças sociais
e culturais entre os povos. Ele possibilita uma crescente compreensão intercultural. A
atividade gera um custo social que deve ser administrado pelo poder público. Na
atualidade, o turismo ascende em todo o mundo, mostrando-se uma atividade
extremamente rentável não somente em termos econômicos. Se bem administrado,
transforma a exploração turística. Ele tem demonstrado cada vez mais sua capacidade
de engendrar novas percepções, construir visões, estabelecer novos laços entre as
pessoas e os lugares. Ele também transforma a relação do homem com o patrimônio
cultural e muda a paisagem de uma região (YÁZIGI; CARLOS; CRUZ, 1996).
A atividade turística trata-se de um fenômeno social amplo que tem
contribuído para ajudar cidades inteiras a mostrar a sua importância, fazendo com que
seus gestores e habitantes unam esforços no sentido de recuperar e, a partir daí,
conservar seus bens culturais, conforme afirma Barretto (2002, p.47): “[...] a
preservação da identidade começa de uma exigência do mercado turístico [...]”. O
| 27
turismo tem mostrado o poder de desencadear um processo de identificação dos
cidadãos com sua história e cultura.
Olhando por outro ângulo, uma destinação turística tem um limite de
visitação ao longo do tempo. Isso pode gerar problemas em setores de emprego,
transportes, assim como na qualidade de vida da população. É difícil prever que rumos
irão tomar as mudanças que acontecem em um espaço que recebe turistas. O turismo
acarreta benefícios e malefícios, como qualquer outra atividade. Para uma continuidade
nas ações de forma bem-sucedida, no setor turístico, é fundamental satisfazer as
necessidades do momento, sem comprometer o atendimento às futuras gerações. A
premissa maior de que devem partir seus gestores deve ser a da sustentabilidade. Vale
ressaltar ainda que os impactos causados pelo turismo vão variar de acordo com o tipo
de atividade praticada em cada cidade ou região e de acordo com cada país, segundo
suas peculiaridades e dependendo de como o turismo desenvolve-se na localidade.
Entretanto, na análise de Krippendorf (2003), os estudos desenvolvidos na
área do turismo costumam voltar-se às reflexões a respeito do turista e de suas ações.
É o visitante quem tipicamente representa o mercado. A população local é comumente
negligenciada pelo processo. O desenvolvimento da atividade turística ocorre em
função dos anseios de agentes de mercado (como as agências de viagens e
operadoras turísticas), do poder público e até mesmo dos comerciantes locais. Nesse
sentido, todos os efeitos negativos sofridos pela população costumam ser suprimidos
diante das benesses ocasionadas e amplamente divulgadas, como a geração de
receita, a criação de postos de trabalho e uma possível melhoria na qualidade de vida
da população.
Ocorre que “grande parte dos turistas desloca-se à procura de prazer em
comunidades receptoras onde, via de regra, as condições socioeconômicas seguem a
lógica da exclusão social” (BANDUCCI JÚNIOR; BARRETTO, 2001, p.11). Como
conseqüência, os anfitriões muitas vezes acabam por criar uma imagem do turista tão
somente como uma fonte de renda, restringindo os sujeitos sociais a relações de
consumo e prestação de serviços. Rabahy (1990) trata disso, ao afirmar que
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Para as regiões menos desenvolvidas têm-se sugerido que o desenvolvimento do turismo se proceda de modo mais ordenado, mais disperso – menos massificado e menos concentrado em poucas áreas -, respeitando os valores e culturas locais, e, para tanto, é fundamental que a estratégia seja definida a partir da comunidade local, levando-se em conta os pressupostos regionais/nacionais de preservação do meio ambiente e dos valores culturais (RABAHY, 1990, p.67).
O autor refere-se à exploração turística em localidades de menor
desenvolvimento econômico. Corroborando com a citação acima, o papel da
comunidade no desenvolvimento do turismo é uma ação fundamental para a
sustentabilidade da atividade em longo prazo. Para acertar os melhores rumos no
desenvolvimento turístico, os múltiplos agentes do planejamento, que incluem a
sociedade e os poderes público e privado, devem trabalhar em conjunto, enfocando
ações nas mais diversas áreas, de maneira contínua, porque o planejamento é, na
verdade, um processo sem fim. Se não houver subsídios conceituais, propostas
metodológicas ou teorizações específicas para orientar a exploração turística de certa
localidade, não haverá como definir políticas acertadas. O que irá acontecer será a
coleta de alguns dados genéricos das estatísticas, que não são suficientes para
desvendar determinados problemas considerados cruciais no desenvolvimento da
atividade turística. Daí a importância das ações de planejamento como norteadoras de
todas as ações a serem desenvolvidas no turismo (YÁZIGI, 2003).
2.1.1 O turismo cultural
A abordagem científica da Geografia Cultural de um dado objeto de
estudo transita pela análise do cotidiano, das micro-histórias, da representação, de
estudo do significado, da construção social da identidade baseada nos lugares.
McDowell (1996) diz que esse foco de abordagem inclui a investigação da cultura
material, dos costumes sociais e do universo simbólico, articulando, portanto, a relação
espacial e o universo simbólico-identitário. Desta maneira, o conjunto de significados
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figura como possibilidade para os estudos dos lugares e dos territórios, cujas
apropriações faz-se em escalas reais e imaginárias.
Corrêa (2001), ao analisar a complexificação das espacialidades a partir
dos conjuntos de significados que dimensionam o espaço, reitera a reflexão de
McDowell (1996), dizendo que o mesmo contém significados simbólicos. Para Corrêa
(2001), a espacialidade é produto da apropriação e transformação da natureza, e o
resultado dessas atividades humanas está impresso nas formas de expressão musical,
poética, imagética e pictórica de um povo, ou seja, nos traços culturais dos grupos
sociais que ocupam um dado território.
O descortinar da trama cultural de um povo dá início à perspectiva do
estudo do significado, sendo este, portanto, parte da renovação na Geografia Cultural.
Nesse sentido, essa abordagem científica concebe que, através das práticas sociais,
das sociabilidades e das práticas culturais cotidianas, as maneiras como os artefatos
materiais são apropriados e os significados que esses ganham através dos hábitos
sociais relacionam-se. Assim, a experiência espacial humana dá-se no âmbito das
trocas e complementaridades.
McDowell (1996) defende que uma abordagem dos fenômenos culturais
deve enfatizar as maneiras como uma manifestação cultural e o significado dela
reforçam os desejos, os apegos, as cumplicidades e os desprezos na produção sócio-
histórica dos lugares. Conseqüentemente, o entendimento espacial perpassa o tecido
cultural de tal forma que um retro-alimenta historicamente o outro. É válido ainda
enfatizar a noção de significado. A autora associa-o a tal fundamento, de análise da
entidade espacial. Daí estabelecer que os significados representem um sistema de
valores, cujas experiências transformam o mundo em um dado momento histórico.
Através das práticas sociais e culturais, o entendimento espacial efetiva-
se como (re)produção e desenvolvimento das sociedades, portanto, sendo permeada
por construtos identitários flexíveis, reconhece-se a importância de olhar a dinâmica
sócio-espacial (HALL, 2005). Desta forma, McDowell (1996, p.164) expressa que
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Os significados e as práticas culturais são particulares a determinados grupos da sociedade. Significados dominantes ou hegemônicos podem ser subvertidos, contestados ou derrubados. Este reconhecimento de significados contestáveis e divergentes, é que o conhecimento em si mesmo também é temporário e contestável [...].
Essa dinâmica de hegemonia e contestação relaciona-se ao entender de
McDowell. Para ela, a cultura deve ser vista como “[...] um conjunto pluralístico de
práticas sociais” (McDOWELL, 1996, p.162). Na atualidade, vive-se em um mundo
globalizado. Ao contrário do que se pode pensar, o fenômeno da globalização não tem
homogeneizado todos os aspectos da vida social. Na verdade, o que se percebe é uma
acentuação das diferenças de natureza cultural.
Nesse contexto, o próprio conceito de cultura é redefinido. A cultura deve ser
entendida como algo intrínseco ao ser humano. Todos os indivíduos, assim como todas
as sociedades, são construtores de cultura – embora cada uma tenha um sistema
próprio de valores, uma lógica interna. Uma das abordagens dada à cultura é feita por
Gomes (2001, p.93), que a conceitua como sendo
[...] um conjunto de práticas sociais generalizadas em um determinado grupo, a partir das quais este grupo forja uma imagem de unidade e coerência interna. O conjunto destas práticas exprime os valores e sentidos vividos por um certo grupo social e a delimitação de suas diferenças em relação a outros grupos.
Dias e Aguiar (2002) associam-se ao conceito de cultura definido por Gomes
(2001), ao elencarem alguns aspectos que devem ser considerados quando se trata da
questão cultural. Para eles, a cultura é resultado de um processo de civilização do
indivíduo. Ela é transmissível pela herança cultural, além de incluir idéias, valores,
crenças, instituições sociais, construções, entre outros aspectos. Finalmente, a cultura
compreende a totalidade das criações humanas e é exclusiva do ser humano.
Com o passar do tempo, evoluiu o conceito de cultura, ampliando-se ao
senso de que todos os povos são detentores e produtores de cultura. Evoluiu, também,
a maneira como os turistas viajam. A motivação cultural permaneceu como uma das
principais razões para as viagens.
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No Brasil, o Ministério do Turismo – MinTur – pressupõe para o
desenvolvimento do turismo cultural em uma região a conciliação do desenvolvimento
da atividade turística com o fortalecimento das culturas, no sentido de preservar o
patrimônio local. O turismo deve, segundo o governo, buscar atrelar a manutenção
patrimonial, a valorização das identidades culturais e o uso cotidiano dos bens culturais
à exploração turística de uma localidade. Esse órgão, em conjunto com o Ministério da
Cultura e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN - definem as
ações de turismo cultural como “[...] as atividades turísticas relacionadas à vivência do
conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico e cultural e dos eventos
culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da cultura” (BRASIL,
2006, p.10). A relação do turismo com a cultura deve sustentar-se em duas bases: a
existência de demanda motivada pela busca de conhecimento de culturas diversas e a
possibilidade do turismo desenvolver-se como ferramenta de valorização da
preservação e manutenção do patrimônio e da identidade cultural, assim como da
promoção econômica e de bens culturais.
Para Barretto (1995), há uma segmentação a qual culmina em dois tipos de
turismo: um motivado pela busca de atrativos naturais; um outro, pela busca de
atrativos culturais. O “[...] turismo cultural seria aquele que tem como objetivo conhecer
os bens materiais e imateriais produzidos pelo homem” (BARRETTO, 1995, p.21).
Esses bens englobam aspectos como a história, o cotidiano, os patrimônios, o
artesanato ou outro aspecto qualquer a que o termo cultura abranja.
O turismo cultural, além de ser um dos principais segmentos do turismo,
aparece associado a outros nichos de mercado e tem como característica marcante o
seu efeito educacional, no sentido de contribuir para o aumento da consciência do
visitante para a preservação do patrimônio do local visitado. Aliado a isso, a
comunidade tem um papel de fundamental importância no processo de organização das
ações relacionadas ao desenvolvimento do turismo cultural, visto que a vivência dos
habitantes da localidade é capaz de enriquecer a experiência do visitante, ao mesmo
tempo em que reforça o sentimento de pertencimento dos moradores (DIAS; AGUIAR,
2002).
| 32
A cultura, assim como seus bens e atividades, produzidos muitas vezes
independentemente do turismo, é a razão de ser do turismo cultural. Para o Ministério
do Turismo (apud BRASIL, 2006), o mercado cultural é fator de influência no mercado
turístico, devendo as duas áreas trabalhar em parceria, o que pode viabilizar ações
bem-sucedidas para ambas. Daí que
[...] o incentivo às apresentações culturais representativas da região ou do município em mercados-alvo, pode ser uma estratégia para despertar o interesse de potenciais turistas, por meio de amostras do que pode ser a totalidade dos aspectos culturais do destino (BRASIL, 2006, p.34).
O turista deve ser atraído, conforme a citação, mas os gestores responsáveis
por essa atração devem levar em conta que o turismo e a cultura têm uma relação
dialética no âmbito da discussão da cultura como produto versus cultura autêntica. A
cultura, pois, é preparada, reinventada e encenada para o turismo. Essa encenação,
muito embora, acaba por motivar o resgate da cultura dita autêntica. Isso faz emergir
um processo de aproximação entre passado e presente, conforme é defendido a seguir
sobre as manifestações artístico-culturais preparadas para turistas:
Inicialmente visto como cultura encenada, como tradição inventada para consumo turístico, acaba penetrando os interstícios do tecido social e transformando-se em movimento cultural do presente com interesse genuíno na valorização e no conhecimento do próprio passado (BANDUCCI JÚNIOR; BARRETTO, 2001, p.16).
Os autores mostram que o turismo organizado com base no legado cultural
de uma dada localidade permite à comunidade engajar-se no processo de recuperação
de sua memória coletiva e de reconstrução de sua história. A exploração turística,
assim efetivada, não se restringe ao usufruto de recursos materiais de uma região, mas
abrange também os aspectos não-materiais da cultura nela construída. A atividade
turística permite, inclusive, que pessoas de uma comunidade adquiram consciência da
importância de sua cidade em um determinado contexto histórico (BARRETTO, 2002).
Nesse contexto, “Ter identidade local significa ser diferenciado – ou parecido consigo
| 33
mesmo. A diferenciação dá-se, antes de qualquer coisa, pela historicidade do lugar que
se manifesta ainda hoje” (YÁZIGI, 2003, p.155). De acordo com Vaz (apud ALVES,
2005), a diferenciação através da identidade local torna-se um trunfo essencial para o
desenvolvimento do turismo nas regiões e, nesse sentido, tal identidade está ancorada
na imagem da cultura local que um povo detém e que é repassada aos seus visitantes.
Por isso, as cidades deveriam investir na contínua busca pela valorização da
cultura típica das localidades. Isto porque, quando trabalhada de forma responsável por
seus planejadores, em especial, seus produtores culturais e os poderes público e
privado, como um produto turístico, a cultura tem o poder de atrair fluxos turísticos para
as cidades, estimulando a manutenção da identidade das populações receptoras. Trata-
se de uma ajuda recíproca que pode haver, de maneira bastante saudável, entre a
cultura e o turismo. “Ora, se um dos fatores importantes que motiva o turista a escolher
este ou aquele local é justamente o diferencial, o tiro sai pela culatra quando
negligenciamos, inclusive com vergonha, as formas locais de cultura, sejam elas quais
forem" (YÁZIGI, 2003, p.173).
Em localidades onde a cultura é o principal fator motivador da viagem de
visitantes, o turismo funciona como uma ferramenta para impulsionar o resgate da
cultura de seu povo. Essa é uma alternativa eficaz para a manutenção da identidade
local. A cultura é capaz de atrair fluxos turísticos e de fazer com que a permanência de
turistas em número de dias aumente nos destinos procurados. Os aspectos culturais,
quando bem trabalhados, ainda são capazes de gerar uma gama de opções e atrativos
em cidades que já atraiam visitantes para outros tipos de turismo, como o de sol e mar,
por exemplo.
As mudanças culturais e/ou sociais de uma comunidade não devem ser
atribuídas somente a uma única atividade, no caso, ao turismo. Esta questão foi
elucidada no capítulo anterior ao se falar sobre o caráter mutável da identidade, tida
como uma construção permanente. O contato existente entre turistas e comunidade
local implica um processo repleto de tensões, mas que se mostra capaz de provocar o
fortalecimento da identidade e da cultura dos indivíduos.
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A memória de um povo é um fator essencial para que sua cultura possa
preservar suas peculiaridades. Estando ligada à identidade desse mesmo povo, a
cultura pode subsidiar uma relação importante para as bases do turismo cultural de um
destino. Para que o turismo cultural possa efetivamente acontecer, há a exigência de
que a comunidade receptora tenha um sentimento de pertença àquilo que é oferecido
como manifestação cultural. Os nativos compõem o elo mais importante para a
preservação e conservação de seus patrimônios.
Assim, o turismo demonstra o poder de exercer um papel importante na
construção de tradições inventadas, bem como de fazer emergir e/ou conservar uma
atitude preservacionista. Ao visitante, é possível a implantação de diversos olhares a
respeito da cultura olhada/apreciada.
2.2 ENTENDENDO O TERRITÓRIO E A DINÂMICA TERRITORIAL
Uma investigação sobre o conceito de território demonstra uma ligação
íntima dele com a idéia de domínio ou gestão de determinada área1. De acordo com
Andrade (2004), o território surge como o espaço concreto que é ocupado, apropriado
por um grupo social. Um grupo não pode ser entendido sem o seu território, pois a
identidade sociocultural dos indivíduos está diretamente ligada aos atributos do espaço
concreto, já que a ocupação do território é tida como geradora de raízes identitárias de
seus habitantes.
Outra forma de abordar a noção de território é considerá-lo como um campo
de forças, uma teia, uma rede de relações. Antes do espaço concreto, tem-se o
território como relações sociais projetadas no espaço, conforme entende Andrade
(2004). Mais uma vez, afirma-se que territórios podem se dissolver, se constituir e se
dissipar de modo relativamente rápido.
1 Ao analisar algumas referências existentes, como Haesbaert (1997), Santos (1985) e Souza (2005), percebe-se que o conceito de território surge sempre atrelado à questão do poder, seja de maneira direta ou indireta.
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Em escalas temporais diferentes, os territórios são construídos e
desconstruídos. Eles podem ter um caráter permanente, bem como uma existência
periódica2. Para Santos e Silveira (2004), nessa linha de pensamento, é possível
utilizar o conceito de espaço territorial, sujeito a transformações sucessivas. Assim, iria
emergir o território usado, que analisa a constituição do território, o qual pode ser
definido através da implantação de infra-estruturas, bem como pelos processos
dinâmicos ocasionados por ações do Estado, mas também da sociedade. O território
usado envolve todos os acontecimentos que têm reflexo no espaço geográfico, seja
em função de uma atividade isolada, ou mesmo de uma série de ações realizadas,
criando assim um novo espaço, com novas funções.
Exemplo disso são os eventos. Como afirma Santos (1999, p.115), “o lugar
é o depositário final, obrigatório, do evento”, que, por sua vez, pode ser vetor na
formação de uma sociedade. Os eventos se tratam de um instante, em um ponto do
espaço e, ainda segundo o autor, onde eles instalam-se, há sempre mudança. A cada
novo acontecimento, as coisas mudam seu conteúdo, e muda, também, a sua
significação. “Os eventos mudam as coisas, transformam os objetos, dando-lhes, ali
mesmo onde estão, novas características” (SANTOS, 1999, p.116). O autor coloca,
ainda, outra característica marcante dos eventos:
Mas os eventos não se dão isoladamente. Quando consideramos o acontecer conjunto de numerosos eventos, cuja ordem e duração não são as mesmas, verificamos que eles se superpõem. Esse conjunto de eventos é também um evento, do qual os eventos singulares que o formam são elementos. Não é apenas uma superposição, mas uma combinação, pois a natureza da resultante é diversa das partes constitutivas (SANTOS, 1999, p.123).
Esses eventos seriam capazes, ainda, de dissolver identidades, mostrando
que não são fixas, mas estão em permanente construção, como será colocado
adiante.
2 A expressão território vem sendo bastante utilizada nas Ciências Sociais, desde o século passado, por geógrafos como Ratzel e Reclus, estando o primeiro preocupado com o papel desempenhado pelo Estado no controle do território, e, o segundo, por estabelecer as relações entre classes sociais e o espaço ocupado e dominado (ANDRADE, 2004).
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De acordo com Haesbaert (1997), a identidade espacial, por sua vez, é
produto de uma apropriação simbólica do espaço, tratado não somente como território,
mas também como lugar. O autor afirma que a idéia de território suscita questões e
respostas que recriam, a cada momento, a idéia de território. Sendo o território um
instrumento de exercício de poder, faz-se mister elencar questões que tratem de quem
domina ou influencia um dado espaço e como isso se dá para que seja possibilitada
uma análise da dinâmica sociocultural nele processada.
Haesbaert (1997) trata da relação psicológica dos indivíduos com um
território em que habitem:
Dessa forma, o território deve ser visto na perspectiva não apenas de um domínio ou controle politicamente estruturado, mas também de uma apropriação que incorpora uma dimensão simbólica, identitária e, porque não dizer, dependendo do grupo ou classe social a que estivermos nos referindo, afetiva (HAESBAERT, 1997, p.41).
Corroborando com Haesbaert, Souza (2005) trata da relação da
sociedade com um dado território. Segundo ele, territórios são construídos e
desconstruídos socialmente. O território caracteriza e realça aspectos nos âmbitos
político, social, econômico e cultural, em função dos movimentos da sociedade estarem
atrelados ao desenvolvimento das técnicas de domínio e modificação do espaço. O
autor mostra que o trabalho é um ponto forte para a compreensão do território. Santos
(1985) ratifica as idéias de Souza quanto ao perene devir verificado na configuração de
um dado espaço:
O que nos interessa é o fato de que cada momento histórico, cada elemento muda seu papel e a sua posição no sistema temporal e no sistema espacial e, a cada momento, o valor de cada qual deve ser tomado da sua relação com os demais elementos e com o todo (SANTOS, 1985, p. 09).
Sack (1986), ao afirmar que a territorialidade pode ser definida como uma
tentativa, que pode partir de um indivíduo ou de um grupo, de influenciar ou controlar
pessoas, fenômenos e relacionamentos em uma área geográfica, apresenta a razão
pela qual cada território configura-se como um eterno vir a ser. A territorialidade está
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ligada ao modo como os indivíduos dão significado a um lugar, além da questão da
organização de seu espaço e do modo de utilizar a terra. Nas palavras do autor:
[...] a territorialidade é uma poderosa estratégia geográfica para controlar pessoas e coisas através do controle de área, territórios políticos e propriedade privada da terra podem ser suas formas mais familiares, mas a territorialidade ocorre em diversos níveis em numerosos contextos sociais (SACK, 1986, p.05).
A dimensão de influência ou controle dessas áreas está diretamente
atrelada às questões simbólicas e identitárias. Assim, tem-se que o território e as
territorialidades envolvem dimensões distintas, estando entre elas a dimensão
sociocultural, que é a de interesse maior para o presente estudo.
2.2.1 Turismo e território
O turismo surge como atividade econômica organizada em meados do
século XIX, quando se utilizava de infra-estruturas criadas em função de outros usos do
território. Todavia, nos últimos tempos, o que se percebe é que vem ocorrendo um
movimento contrário ao que ocorria anteriormente: a atividade, que antes era usuária
passiva dos territórios, passa a ser um agente ativo no seu ordenamento, ou mesmo no
seu reordenamento. O turismo, enquanto atividade dinâmica que é, tem demonstrado
seu poder de organizar sociedade inteiras, assim como a criação e modificação de
territórios em função da sua realização.
As necessidades de intervenção espacial para a efetivação do turismo,
relacionadas, por exemplo, à criação de infra-estrutura de locomoção, hospedagem,
alimentação e entretenimento, fazem com que ele se diferencie das outras atividades, à
medida que cria uma dimensão espacial que lhe é própria, assim como o fato do
consumo do espaço. Consumir o espaço faz do turismo uma atividade econômica
peculiar, pois, desta característica, emerge a necessidade do deslocamento por parte
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do consumidor até o produto a ser consumido. O deslocamento implica, entre outras
coisas, que o turismo tenha repercussão em distintas porções do espaço (CRUZ, 2001).
A maneira como ocorre o turismo em uma localidade é resultado das
políticas públicas setoriais, que implicam na estruturação dos territórios. A política
pública de turismo deve estabelecer diretrizes que sejam capazes de orientar o
crescimento da atividade, tanto por parte do setor público, quanto por parte da iniciativa
privada. Isso porque, se não há intervenção pública, o turismo irá acontecer da maneira
como o mercado achar que lhe é mais interessante, sem medir as conseqüências que
uma má gestão pode ocasionar na sociedade onde está ocorrendo.
Para Cruz (2001, p.12), as políticas regionais de turismo para o Nordeste
envolvem processos distintos e que, ao mesmo tempo, são complementares. A autora
coloca a apropriação e produção de espaços pelo turismo e para o turismo. No primeiro
caso, ocorre a criação de toda uma infra-estrutura necessária à realização da atividade.
No outro, cria-se apenas a infra-estrutura de suporte, prevendo-se um uso turístico em
um momento futuro. Essas situações abarcam transformações, adaptações, novas
relações às localidades onde se instala. Diferentemente do que deveria ocorrer, quase
sempre, essa modernização restringe-se às políticas de turismo, que, normalmente, não
estão integradas às outras políticas setoriais. A autora coloca que:
Da capacidade dos atores hegemônicos de intervir sobre o ordenamento e reordenamento dos territórios, numa escala global, resulta, entre outras coisas, uma crescente artificialidade de objetos e ações. Esta pode gerar uma sensação de estranhamento, por parte dos indivíduos, do seu entorno (CRUZ, 2001, p.16).
As transformações espaciais ocorrem de forma dinâmica. A todo o momento,
os sistemas de objetos e de ações interagem. Para Santos (1994), os sistemas de
objetos condicionam a maneira como ocorrem as ações, assim como as ações levam à
criação de novos objetos, às vezes, até mesmo, aproveitando-se dos já existentes,
dando-lhes novas formas ou usos. Todos esses movimentos ocorrem no espaço, e em
função da lógica do mercado, que busca atender às suas necessidades. É essa
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realidade que vem ocorrendo em Mossoró. Os eventos têm trazido uma nova dinâmica
para a cidade, que vem criando e recriando espaços destinados à realização da
atividade turística em seu território.
O turismo, durante o processo de transformação dos territórios para seu
usufruto, concorre com outros usos do território, assim como com outras atividades
anteriores a ele. Knafou (1996) coloca possibilidades de relação entre o turismo e o
território, e indica a existência de territórios turísticos. Esses territórios turísticos seriam
aqueles inventados e produzidos para os turistas, onde, sem eles, não haveria razão de
sua existência. Daí serem elencados, também, outros atores no processo de
turistificação dos lugares, que são o mercado e os planejadores e promotores
territoriais. Esses territórios turísticos são caracterizados por territorialidades distintas –
a dos que ali vivem de maneira permanente, e a dos que por ali somente passam, sem
a necessidade de apropriação. E questões como essa, normalmente, levam ao
confronto dos efeitos advindos da atividade, quando, quase sempre, os agentes de
mercado são beneficiados, enquanto a maioria da população fica à margem dos
benefícios da atividade.
2.3 O IMAGINÁRIO SOCIOCULTURAL E A IDENTIDADE DE UM POVO
A construção do imaginário de um povo dá-se de um modo coletivo, a partir
da associação das várias manifestações/expressões subjetivadas de cada pessoa. O
imaginário como fenômeno individual e coletivo simultaneamente tem sido tema
recorrente de reflexões contemporâneas. Tal construção está sempre intrinsecamente
ligada a uma dimensão simbólica do ser humano.
Desde os primórdios da humanidade, o simbólico faz-se presente. Um
exemplo disso é a incorporação de elementos simbólicos nas mentes das pessoas
efetivadas por suas vivências religiosas, embora ele não se restrinja a estas. A criação
simbólica, a produção e o consumo de imaginários fazem parte das necessidades
básicas humanas. Em função disso, para entender o imaginário sociocultural de um
povo, faz-se necessário adentrar a vida cotidiana de uma coletividade. Os imaginários
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são sentimentos coletivos, estando estes ligados à idéia de fazer parte de algo
(GASTAL, 2005).
O imaginário é um processo criador, por meio do qual as imagens que se têm
da realidade são reconstruídas. Isso não chega a ser uma transformação do real, ou
mesmo uma modificação, porém, ao libertar-se das imagens reais, o imaginário tem o
poder de inventar, fingir, estabelecer relações improváveis. Assim, não se trata de uma
negação do real, mas de uma reconstrução. Segundo Laplantine e Trindade (2003,
p.24), “o imaginário, portanto, [...] é a faculdade originária de pôr ou dar-se, sob a forma
de apresentação de uma coisa, ou fazer aparecer uma imagem e uma relação que não
são dadas diretamente na percepção”. Os autores afirmam, ainda, que a vida social é
impossível fora de uma rede simbólica, posto que os símbolos envolvem as ações
humanas de maneira afetiva. O imaginário utiliza-se do simbólico para poder expressar-
se. Ao mesmo tempo, o simbólico pressupõe a capacidade imaginária. Assim, vale
ressaltar que o símbolo remete à representação, sendo passível de conter uma
pluralidade de interpretações. Assim, é o imaginário o fomentador dos sistemas de
relação social e o estruturador da atividade humana, a partir da criação de universos
simbólicos.
A partir desse poder de simbolização do homem, a vida social surge rodeada
de símbolos e ritualizações, as quais irão dar sentido às sociedades. A partir daí,
compreendem-se suas manifestações, suas relações sociais, que ocorrem em espaços
concretos, mas repletos de representações simbólicas. Isso ocorre porque, de acordo
com Fernandes (1999, p.56), “os homens têm necessidade, para poderem viver, de um
mundo onde o sonho se expanda e se realize”. Dando forma ao imaginário, estão
produzindo cultura. Fernandes (1999, p.57) acrescenta:
Se as sociedades não podem viver sem imaginário, via aberta a mundos possíveis, também não conseguem existir sem simbolização. Toda a interacção social é mediatizada por gestos ou por símbolos. Desde o fundo dos tempos, o homem procura objectivar a ideação e dar forma ao seu imaginário. Desse modo, produz espontaneamente símbolos e constrói sinais, isto é, elabora cultura. Enquanto os símbolos são o resultado da função efabuladora colectiva, criados de forma natural pelo homem, os sinais exprimem a objectivação das imagens tornadas convenções sociais e por estas perpetuadas. Se a ideação é o processo de produção do imaginário, a simbolização – sob a forma de símbolos, de mitos, de utopias ou de outras expressões culturais – é a sua representação.
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As imagens são construções criadas em função do pensamento dos
indivíduos em relação a algo e têm como base de sua formação as informações obtidas
através de experiências visuais, sendo marcadas por sensações. Em função disso, a
imagem criada não corresponde ao seu objeto em realidade e difere do símbolo,
caracterizado pelo seu caráter convencional. Na verdade, imagem e símbolo tratam-se
de representações construídas em função da atribuição de significados que lhes são
dados. A imagem é particular para cada pessoa, enquanto o símbolo apresenta uma
idéia genérica da coletividade. Ele emerge do inconsciente e possibilita uma pluralidade
de interpretações a respeito de algo, de acordo com o que é afirmado abaixo:
Os símbolos são esquemas de ações intencionais produzidas nas interações entre os homens em uma dada situação social ou no interior do texto de um discurso. De outro lado, imaginário e símbolo são sinônimos que emergem do inconsciente universal, doador de significados e, ao mesmo tempo, irredutível aos significados históricos e culturais que os homens atribuem a esses símbolos. (LAPLANTINE; TRINDADE, 2003, p.19-20).
Nesse sentido, Durand (apud FERNANDES, 1999) disserta acerca da
existência de duas formas de representar o mundo. Segundo ele, uma é a maneira
direta, quando se tem uma tradução verdadeira do real; outra apresenta uma realidade
através de símbolos e imagens. É mister entender, segundo Maffesoli (2001), que o
imaginário ultrapassa o indivíduo. Sendo assim, só há imaginário coletivo, pois ele
funciona pela interação. O imaginário é o estado de espírito de um grupo e o seu
cimento social. Quando se ouve falar do imaginário de uma pessoa, este corresponde
ao imaginário do grupo no qual ela está inserida.
Da mesma forma dá-se com a identidade. Ela é, de acordo com Hall (2005),
algo formado através do tempo, sendo um processo inconsciente, em constante
transformação. A globalização tem um impacto plural sobre as identidades. Ela cria uma
variedade de possibilidades e novas posições de identificação, fazendo com que as
identidades tornem-se ainda mais posicionais, políticas, plurais e diversas. Nessa linha
de pensamento, Hall distingue 03 (três) concepções de identidade. A primeira maneira
de entender a identidade é a do sujeito do Iluminismo, tido como um indivíduo unificado,
cuja identidade era a essência do eu, que nascia com o sujeito e nele se desenvolvia,
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permanecendo basicamente o mesmo durante sua existência. A segunda concepção
tratada por Hall é a do sujeito sociológico cuja identidade constitui-se em função das
relações estabelecidas com outras pessoas, com a cultura do mundo em que ele vive. A
terceira noção de identidade abordada é a do sujeito pós-moderno, que é composto por
identidades diversas e distintas, não-unificadas - formadas e transformadas de maneira
contínua. Segundo o autor, à medida em que “[...] os sistemas de significação e
representação cultural se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade
desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais
poderíamos nos identificar – ao menos temporariamente” (HALL, 2005, p.13). A noção
de identidade adotada para o desenvolvimento desta pesquisa é esta última, a de que o
sujeito pós-moderno apresenta múltiplas e mutáveis identidades.
Na pré-modernidade, eram os princípios religiosos, políticos e de parentesco
que regiam os sistemas de mitos e crenças da coletividade. Por sua vez, eles
determinavam as identidades dos sujeitos, até então rígidas e impostas. A fase
posterior traz consigo as transformações sociais necessárias para a ocorrência de uma
mudança na configuração da identidade estabelecida até então. A partir daí, muda a
compreensão a respeito da formação das identidades, quando se entende que estas
são frutos de fatores internos e externos aos sujeitos. Assim, tem-se o entendimento de
que as ações cotidianas das pessoas sofrem interferência de suas competências
identitárias. As vivências diárias são tidas como frutos das escolhas individuais e não
mais vistas como determinações dos sistemas, como ocorria na fase anterior. O
contexto atual revela identificações capazes de mostrarem-se momentâneas e
desordenadas. A identidade moderna retrata sociedades cada vez mais mutáveis e
complexas (FORTUNA, 1999).
Assim, a identidade não é mais tida como sendo estável e rígida, como
ocorria na pré-modernidade. Ela é resultado de um processo contínuo, que a torna
transitória e plural. As velhas identidades, responsáveis pela idéia de sujeito unificado,
apresentam-se em declínio, dando lugar, agora, ao indivíduo moderno, capaz de
fragmentar a si mesmo, bem como às suas diversas configurações identitárias. De
acordo com Fortuna (1999), as identidades são feitas e refeitas em função das
mudanças sociais e das novidades culturais. Trata-se de uma construção que se dá a
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todo o momento pelo sujeito. Os traços identitários desse sujeito dão lugar a processos
de identificação. Isso ocorre porque, na atualidade, o que se tem é uma
complexificação da sociedade, seja no plano simbólico, seja no social. Há uma nova
maneira de viver, bem como do indivíduo ver e avaliar a si mesmo e aos outros.
Para Haesbaert (1999), a identidade apresenta alguns aspectos marcantes:
refere-se a pessoas ou objetos; provoca, de certa forma, relação de semelhança ou
igualdade, no sentido de haver um significado comum; é abstrata e implantada pela
construção simbólica. O autor destaca ainda a existência de uma base material da
identidade, que, quase sempre, apresenta-se como restrita ao campo das
representações, tomando como exemplo a questão da identidade territorial.
“Determinadas identidades ou, caso se preferir, facetas de uma identidade, manifestam-
se em função das condições espaço-temporais em que o grupo está inserido”
(HAESBAERT, 1999, p.175).
Hoje, as sociedades vivem uma realidade de mudanças rápidas e constantes
– um dos impactos da globalização – que afeta diretamente a identidade cultural das
pessoas. Hall (2005) defende o argumento de que as identidades nacionais são uma
das principais fontes de identidade cultural, à medida que são imaginadas como parte
da natureza social do grupo. Pensando assim, a nação é capaz de produzir um sistema
de representação cultural, daí porque as nações são tidas como comunidades
simbólicas. As culturas nacionais não só vão além das instituições culturais,
abrangendo o campo dos símbolos e das representações, como são capazes de
construir identidades a partir da elaboração de imagens identitárias, quando histórias
são contadas para os sujeitos e a memória deles faz conexões entre passado e
presente.
Hall (2005) reflete sobre a construção das narrativas de uma cultura
nacional, segundo quatro noções. A primeira delas é a de narrativa da nação. Trata-se
da forma como são narradas as histórias da sociedade na literatura ou na mídia, ou
mesmo através da cultura popular. As pessoas sentem-se integrantes da história,
dando significado e importância à existência delas. A segunda é de ênfase nas origens,
na continuidade, na tradição e na intemporalidade. Assim, é verificada, nas narrativas
de uma cultura nacional, a idéia de que a identidade nacional é trazida como algo
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eterno, imutável ao longo do tempo e das mudanças que ocorrem. Além disso, a
identidade nacional é representada como sendo algo primordial. A penúltima noção é a
de invenção da tradição. Trata-se, agora, da busca, através da representação, de levar
à sociedade a idéia de um passado histórico adequado; trata-se de um conjunto de
práticas que pretende inserir valores e normas de comportamento em uma sociedade. A
última das quatro noções é a de povo puro, que se refere ao fato de argumentar em
defesa da idéia de um povo original, superior. Contudo, nas realidades do
desenvolvimento nacional, é difícil acontecer deste povo exercitar o poder.
Consoante à percepção de Hall, tem-se o discurso da cultura nacional como
construtor de identidades colocadas entre o passado – quando a cultura nacional é
tentada a reviver os tempos de glória em identidades passadas – e o futuro, no sentido
de seguir em busca da modernidade. A cultura nacional é uma fonte de identificação
dos indivíduos para com a sociedade. Assim, na busca de sentido identitário, os
referenciais dos sujeitos diversificam-se, e, conseqüentemente, suas identidades têm
fragilizadas sua capacidade de auto-identificação. O que existe, então, é uma busca
pelo passado cultural como uma resistência à descaracterização cultural. Para Fortuna
(1999), porém, este primitivismo cultural é contrário ao espírito desenvolvimentista.
Nesse sentido, afirma que “reler a história como reinvenção da nossa própria cultura
pode fazer-nos cair no logro de imaginarmos que no exótico, no distante e no passado
reside uma harmoniosa sociedade perdida” (FORTUNA, 1999, p.18). É mesmo,
contudo, através de interpretações do presente que essas comunidades têm a
possibilidade de reconstruir seu passado coletivo.
Essa é uma questão a ser pensada em Mossoró, pela maneira como vêm
sendo abordados os seus fatos históricos nos espetáculos. Há uma releitura da história
para que ela seja passada de maneira atraente no momento da festa. Isso pode levar a
população a criar imagens de uma história que talvez só exista em seu imaginário.
Como o dualismo é uma propriedade marcante das atuais sociedades, o
indivíduo que vive nessa realidade está sempre dividido – ou se dividindo – entre
questões como a objetividade e a subjetividade. Através dos símbolos constrói-se e se
expressa o imaginário. Este, por sua vez, trata-se da forma subjetiva como os sujeitos
relacionam-se com a realidade na qual vivem, atribuindo-lhe significados. A partir do
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conhecimento do imaginário coletivo de um povo, pode-se ter um maior conhecimento
acerca de sua cultura. Vive-se em uma época de abertura à criação do imaginário,
havendo uma revalorização no sentido de despertar grupos sociais para a
simbolização. Isso porque, em uma realidade de massificação mundial, valoriza-se, ou
se quer valorizar, cada vez mais, a questão da identidade de uma sociedade.
2.4 A FESTA COMO PROCESSO DINAMIZADOR E IDENTITÁRIO DE UM ESPAÇO
TERRITORIAL
“Há, pois um momento lembrado, que vira memória e saudade;
e um tempo simplesmente vivido, que se vai e morre na
distância do passado” (DAMATTA, 1986, p.68)3.
Quando se fala em festa, este elemento constitutivo das sociedades, muitas
vezes tem-se uma idéia de ruptura às normas, de quebra das regras, de displicência.
Ferreira (1999) define a festa, em seu dicionário, como sendo uma reunião para fins de
divertimento e acrescenta o vocábulo alegre. Há outros significados que o autor dá ao
termo: conjunto das cerimônias que celebra um acontecimento; solenidade;
comemoração. Festa é definida ainda como sendo um dia santificado, de descanso, de
regozijo. De maneira geral, a cultura dominante define as festas como fenômenos não-
sérios e efêmeros. Para Araújo (1996), historicamente, a idéia de festa como um
momento de contraponto ao cotidiano e de liberação e distanciamento social começou
a ser difundida pelo Estado e divulgada pela imprensa brasileira a partir da década de
1840. A festa, como afirma Damatta (1986), é essencial para reviver a memória e a
saudades. O conceito de festa adotado neste estudo define-a como um fenômeno
ligado diretamente ao contexto da vida social da população na qual se insere.
Nesse sentido, a festa deve ser vista como uma ação fundamentada para o
grupo que a promove, sendo produzida com finalidades determinadas, estando envolta
3 Nessa frase, Roberto DaMatta faz referência à vida das pessoas através de situações vivenciadas, mas esquecidas, e de situações vividas e guardadas na memória como momentos a serem lembrados com saudades. Esses momentos também ocorrem relacionados às festas.
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por uma significação para os grupos com os quais se relaciona, apesar de muitas vezes
parecer um fenômeno comum. Elas têm sido realizadas por todos os grupos, em função
de motivos diversos e representam os anseios, os desejos e os valores das pessoas
nelas envolvidas. Trata-se de um ritual, de um momento de convivência social e, assim,
não pode ser tida apenas como um momento de descontração e divertimento, durante o
qual são deixados de lado os problemas cotidianos, mas como um fenômeno capaz de
refletir a identidade sociocultural na qual está inserida. Mesmo acontecendo fora do
cotidiano, a festa não está desligada do seu contexto social. Ela é uma ocasião que
possibilita amenizar os conflitos, é um elemento integrador de grupos sociais e permite
que sejam visualizados traços fundamentais de uma dada sociedade (AMARAL,
2007b).
A festa é um traço marcante do modo de vida brasileiro e, quanto ao seu
significado, pode-se dizer que ela tem um sentido único para aqueles que a realizam,
em especial no Brasil, onde é possível perceber um número significativo de festas
acontecendo durante o ano. Para Amaral (2007b), historicamente, as festas vêm
desempenhando um papel importante no desenvolvimento da cultura brasileira e, desde
o período colonial, elas têm o poder de facilitar o entendimento dos símbolos nela
inseridos, permitindo, por exemplo, a integração entre portugueses e índios, tendo em
vista que os primeiros objetivavam a catequese dos outros. Posteriormente, o mesmo
ocorreu entre os negros e os brancos. Como se vivenciava um período conturbado, de
novidades, por se tratar de uma realidade ainda desconhecida, as festas eram tidas
como momentos de descanso e renovação das esperanças. As festas foram um dos
elementos de ligação para as diversas culturas que formaram o Brasil e criaram uma
cultura nacional própria. Nesse contexto, tinha-se a união das raças para vivenciar, em
um momento distinto do seu cotidiano, a alegria.
Em função disso, a festa incorpora-se à cultura brasileira como uma
linguagem que é capaz de traduzir os valores e símbolos de seu povo, sendo elemento
constitutivo de sua cultura. De acordo com Araújo (1996), as festas são símbolos
capazes de identificar culturalmente uma área ou região do país, tendo o poder de
distingui-la em relação ao todo.
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Dantas (2002) trata a festa como um grande espetáculo, tendo a participação
dos atores como um aspecto de fundamental importância. Cada um desses atores age
de uma maneira que lhe é particular. Suas ações e atitudes serão determinadas pela
posição que assumirem e em função de suas características individuais e sociais. O
papel e o significado que é atribuído por esses atores durante as manifestações festivas
estão diretamente relacionados com sua representação do mundo social. Além disso,
“A Festa parece ser realizada com o intuito de seduzir ou atrair a população local e os
visitantes pelo glamour, pela beleza e pelo poder, tanto que a cidade prepara-se
caprichosa e esteticamente para tal acontecimento” (DANTAS, 2002, p.66). Todavia, os
conflitos existentes entre esses atores no seu papel cotidiano muitas vezes aparecem
de maneira não-explícita no período da festa.
O tempo da festa é o da regeneração e o da renovação da vida coletiva, no
qual se foge da angústia e se parte para buscar a confraternização. Após festejar, o
homem sai restaurado e rejuvenescido. Apesar de apresentarem um caráter de
excepcionalidade, de ruptura do cotidiano, as festas remetem a ele, pois falam dele e o
representam (ARAÚJO, 1996).
Assim, o sentimento de pertença das populações para com a festa de seu
município é tão forte que a temporada de festas. Segundo Maia (2001), faz muitos
migrantes encontrarem-se em uma situação de conflito, visto que há a necessidade de
permanecer no seu local de trabalho para garantir o seu sustento, mas também existe o
eminente desejo de estar em sua terra, junto ao seu povo. Para isso, os migrantes
sacrificam as economias, contraem empréstimos e relegam até a perder o emprego. O
período relativo às festas (e isso é mais forte nas de caráter religioso, com destaque
para a padroeira da cidade natal, uma festa religiosa, mas repleta de programações
profanas) é tido como uma fuga da realidade cruel do migrante. Tal festejo suprime o
penoso cotidiano e dá vazão a um retorno imaginativo de um passado de prazer que se
manifesta desde a viagem de ida até ao usufruto das atrações comemorativas.
Então, estando em suas origens no momento da festa, o migrante deixa-se
levar pelas emoções, pois nelas estão as suas raízes, suas tradições, a identidade
criada acerca de sua cidade natal. O imaginário coletivo do povo está todo voltado para
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o acontecimento festivo. Os momentos de festividade são os mais importantes do ano,
sendo também os mais esperados. Em função disso, Maia (2001, p.193) afirma que
[...] alterar ou retirar algum evento da festa, se não for uma decisão arbitrária e/ou com respaldo legal, envolve ampla negociação entre o agente interveniente e os defensores da tradição – e não é raro que tais negociações acabem em conflitos. No fundo, busca-se descobrir até que ponto isto modificará a “transformação mágica do mundo”.
Pensando-se na questão dos valores ligados à festa e nos significados que
lhe são atribuídos, é preciso perceber que, em uma sociedade “simples”, com valores
culturais mais homogêneos, os grupos talvez não sejam conflitantes, diferentemente do
que pode ocorrer em uma sociedade tida como “complexa”, cujos grupos defendam
seus próprios valores. A festa, então, pode ser fator de representação de toda uma
sociedade ou apenas de alguns grupos em especial. Na busca por manter a tradição,
as festas são, por diversas vezes, regulamentadas, envoltas por uma série de regras e
procedimentos a serem desenvolvidos. Ainda assim, é a vontade popular que dita o que
deve ou não ser aspecto presente na festa, bem como o que deve ser lembrado ou
esquecido, transformado ou conservado.
Há essa adequação das festas populares ao desejo das massas
contingenciais pelo fato de que os festejos movimentam cifras significativas em sua
organização e realização, sendo viabilizadas por patrocinadores que buscam um
retorno dos seus investimentos. Isso se dá pela necessidade sentida pelos grupos de
fazer com que a sua festa tome, a cada dia, uma proporção maior, atraindo mais
investimentos e gerando maiores lucros. Em Mossoró, a idealizadora do Mossoró
Cidade Junina e do Auto da Liberdade é a Prefeitura Municipal, a qual busca parcerias
para efetivar sua realização e engrandecê-las a cada ano. Os organizadores das festas
concentram recursos dos grupos realizadores e redistribuem-nos para atendimento das
necessidades. Para as comunidades, a fartura e a possibilidade de organizar festejos
cada vez mais ricos representam motivo de orgulho. Nesse sentido, a festa assume um
caráter de ritual, divertimento e ação política, simultaneamente. Por isso há perenidade
nas comemorações festivas, conforme dito a seguir:
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Ela reaviva as velhas tradições, reforça laços de origem, mas também incorpora novos elementos e anseios. O poder associativo, reiterativo, identificador e reanimador da festa fica evidente quando pensamos naquelas realizadas por imigrantes, infalivelmente, ano a ano, ou mesmo nas de grupos religiosos diversos (AMARAL, 2007a).
No decorrer do tempo, é percebido o empobrecimento de algumas festas,
mas isso não é uma regra geral, posto que muitas tiveram crescimento, ganharam
espaço e importância com o passar dos anos, projetando-se em nível regional, nacional
e até mesmo internacional, assumindo, de acordo com Maia (1999), caráter de eventos
de organização empresarial. Em função dessa realidade, as festas mais significativas
do calendário das cidades já não são celebrações espontâneas, organizadas e
efetivadas ao acaso, mas se tratam de acontecimentos extremamente planejados,
envolvendo muitas pessoas em sua organização. Há ainda mais cautela no
planejamento quando a festa é de longa duração, envolvendo programações diversas,
em espaços distintos. A festa torna-se, cada vez mais, um atrativo turístico para as
cidades que as realizam. Em função da movimentação ocorrida nas localidades, tem-se
toda uma gama de produtos e serviços atrelados a ela, o que interfere fortemente na
economia da cidade e, muitas vezes, nas de seu entorno.
A festa ainda se mostra como elemento simbólico capaz de atrelar os
projetos coletivos aos individuais da sociedade na qual está inserida. Para Amaral
(2007b), ela concretiza sonhos, anseios e fantasias, ao mesmo tempo em que se
distancia de ser um fenômeno alienante. Estando bem próxima à vida real, a festa
ocupa-se em resolver problemas reais, quando se dá através da organização de grupos
locais voltados para um objetivo social em prol da população local.
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3 MOSSORÓ EM FESTA: A DINÂMICA TERRITORIAL DA CULTURA E DO TURISMO
Este capítulo traz uma breve explanação dos aspectos históricos e
econômicos de Mossoró como dinamizadores do seu território. A questão faz-se
pertinente, visto que os principais fatos históricos mossoroenses são abordados através
de espetáculos durante as suas principais festas. Nesse sentido, o grande desafio
deste trabalho é demonstrar que cultura e turismo, habitualmente tratados por
especialistas de diversas áreas de conhecimento, possuem um componente comum e
essencial à Geografia: uma dinâmica territorial ou espacial.
Posteriormente, o capítulo faz uma abordagem acerca das festas em estudo,
que têm reestruturado a dinâmica da cidade, trazendo os principais aspectos sobre o
Mossoró Cidade Junina, que celebra as festividades dos santos da Igreja Católica
comemorados no mês de junho. Trata-se, também, do Auto da Liberdade, o qual
comemora a identidade que Mossoró tem em relação a questões atreladas ao
pioneirismo relacionado às questões libertárias, com destaque para a abolição da
escravatura e, por fim, tem-se a Festa de Santa Luzia, que comemora a padroeira da
cidade.
3.1 ASPECTOS HISTÓRICO-ECONÔMICOS DO MUNICÍPIO DE MOSSORÓ
“Mossoró tem foros de cidade adiantada e guarda com ternura as
suas tradições de liberalismo e cultura” (LIMA, 1982, p.18)4.
Como afirma Lima (1982), Mossoró guarda as tradições de liberdade e
cultura. Sua história mostra que as primeiras explorações colonizadoras das terras que
hoje formam Mossoró foram marcadas por ações empreendidas por índios tapuios, uma
4 Esta epígrafe sublinha um estado sociocultural e de identidade localizada, ao referir-se ao apego às suas tradições e à cultura, destacando que os moradores da cidade de Mossoró têm em sua essência de povo a magia do envolver-se no seu universo prioritariamente.
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fase de domínio holandês e outra de invasões às salinas. O início da ocupação do
território mossoroense data de meados do século XVII e início do século XVIII. Foi o
Sargento-Mor Antonio de Souza Machado quem fundou a localidade. Em sua fazenda,
denominada Santa Luzia, criava-se gado e havia oficina de carne seca, com vistas à
exportação para os mercados do sul do país (LIMA, 1982). Mais tarde, tais oficinas
fariam da cidade referência em toda Região Nordeste. Ao redor da primeira fazenda, foi
construída, em 1772, uma capela. Cascudo (2001) afirma que, além das casas
residenciais da família do Sargento-Mor, erguiam-se dezenas de outras moradias,
igualmente de taipa e palha. Tratava-se dos primeiros passos para edificação do que
hoje é Mossoró.
De acordo com Lima (1982), em 12 de janeiro de 1778, o Sargento-Mor e
seus filhos obtiveram a sesmaria das terras que possuíam. Segundo Cascudo (2001),
em 1810, variava de 200 a 300 o número de moradores da localidade, espalhados entre
fazendas ao redor da igrejinha. No ano de 1842, é criada a Freguesia, pertencente ao
município de Apodi. Da segunda metade do século XIX em diante, toma importância, no
crescimento local, o papel do negociante, pois Mossoró tornou-se centro de exportação,
estando conhecida em todo o Brasil, em especial no Nordeste. Dentre eles, destacava-
se o suíço Ulrich Graf, proprietário da Casa Graf, responsável pelo comércio importador
e exportador de algodão, peles e couros, capaz de trazer grande movimentação à
localidade.
Em seu processo de evolução histórico-geográfica, os mossoroenses tiveram
de enfrentar as especificidades climáticas do espaço que povoaram. Fizeram isso,
conforme afirma o fragmento:
O que surpreende em Mossoró, ao primeiro lance de vista, é a batalha da conquista da terra. Os mossoroenses revogaram as leis mais cruéis da geografia humana. O exemplo dos desertos que ponteiam nosso infeliz paralelo, a sina de desolação das áreas nordestinas nos Estados pobres, tudo desiludia o esfôrço da conquista e a florescência de uma civilização (BARBOSA apud ESAM, 1978, p.9).
Para Barbosa (apud ESAM, 1978), o espírito de comunidade criado em
Mossoró foi o diferencial no momento de resistência às secas. A estiagem era uma
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situação recebida pelo seu povo como castigo e sua superação era transformada em
motivo de glória e fonte de tradição.
A ocupação do espaço foi desordenado, espontâneo, característica das
cidades brasileiras. Os moradores definiam o alinhamento das ruas e casas em função
de seus gostos pessoais. Tempos depois, apesar de uma série de implicações legais e
proibições por parte da Coroa Portuguesa, Mossoró tornou-se entreposto comercial,
repassando produtos agrícolas para o comércio exterior. A cidade não esteve na
liderança do comércio de carne seca, mas o sal permaneceu sendo uma mercadoria
capaz de fomentar a economia local. Isso ainda ocorreu até a primeira metade do
século XIX (ROCHA, 2005).
As décadas de 1860 e de 1870 da história mossoroense foram marcadas por
um crescimento acelerado. Inúmeras edificações, casas e estabelecimentos comerciais
foram construídos. Os primeiros registros de ordenamento das ruas datam desse
século. A partir de 1868, instalaram-se diversos comerciantes estrangeiros e abriram
firmas comerciais na cidade. De acordo com Rocha (2005), esses investidores, aliados
à elite local, prepararam a geografia da cidade, preocupando-se com a sua questão
urbanística, diferentemente do ocorrido anteriormente.
O período que compreende os anos de 1887 a 1889 foi marcado pela
estiagem no Rio Grande do Norte, enfraquecendo o comércio. A partir daí, os capitais,
antes voltados apenas para investimentos no âmbito comercial, começaram a ser
investidos em salinas, o que deu à atividade salineira papel primordial para a retomada
das perdas sofridas devido às secas. Mesmo nessa época de crescimento, a infra-
estrutura urbana da cidade continuou precária.
Contudo, os acontecimentos das primeiras décadas do século XX, como a
Primeira Guerra Mundial e a seca de 1915, prejudicaram o comércio. Houve também
entraves relativos à construção de ferrovias, que acabaram por redirecionar os fluxos
locais e regionais de capital. Um exemplo disso foi a melhoria das condições de outras
praças. Assim, o empório comercial foi enfraquecido, devido ao problema do transporte.
Unida à questão do fortalecimento de Campina Grande (PB), surgiu a emergência da
criação de novas ferrovias, como ocorreu em cidades cearenses. O comércio diminuiu
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consideravelmente. Para Cascudo (2001), três elementos darão outra vitalidade a
Mossoró: a construção do Porto de Areia Branca, a estrada de ferro e a rodovia ligando
Mossoró a Luís Gomes. Em um contexto de crise, Mossoró passa a ter um novo papel:
em função da industrialização no Centro-Sul do Brasil, a cidade passa a enviar matéria-
prima para essa região.
Atualmente, a potencialidade mineral do município é importante para o
desenvolvimento de sua economia. Suas salinas e seus campos de petróleo têm
grande capacidade produtiva. Hoje, as atividades salineira, petrolífera e de fruticultura
irrigada comandam a economia local. Há outras atividades desenvolvidas nesse
território decorrentes dessas economias. Tais atividades realizadas no espaço
mossoroense são promotoras de uma nova organização social, conforme registrado a
seguir:
[...] os processos sociais que formatam a cidade e dinamizam a sua sociedade são marcados por uma reestruturação econômica com reflexos em todo o território municipal, principalmente no espaço urbano, onde essas economias fazem a sua produção ou o processo de gestão, transformação e escoamento dos seus produtos e serviços (ROCHA, 2005, p.16).
No que se refere à história de Mossoró, responsável pela configuração de
sua atual realidade econômica, não faltam relatos de bravura, pioneirismo e coragem
protagonizados por seu povo. Um dos mais conhecidos é a jornada abolicionista de
Mossoró, a qual resultou na libertação integral de seus escravos, efetivada a 30 de
setembro de 1883. Destacam-se no movimento abolicionista homens como Almino
Álvares Alfonso, Joaquim Bezerra da Costa Mendes, Romualdo Lopes Galvão, Miguel
Faustino do Monte, Alexandre de Souza Nogueira, Francisco Romão Filgueira, entre
outros. Juntos, instituíram, em 06 de janeiro de 1883, a “Libertadora Mossoroense”. As
palavras de Lima (1982, p.17) afirmam que “É uma página de heroísmo cívico a
campanha emancipadora, de que se guardam as mais fortes recordações para
exaltação do valor dos que a fizeram e viram triunfante”.
Diante de fatos como esse, afirma-se que o passado é tido como capaz de
elucidar o presente, e isso se torna muito claro quando se fala da cidade e do povo
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mossoroense. Seus momentos históricos são retratados como feitos heróicos e
repassados a toda a população, através de eventos de cunho cultural. Mais
recentemente, uma gama de turistas tem apreciado tais festas como um diferencial da
cidade. Isso se faz possível em uma sociedade cuja cultura representa um papel
importante e cuja identidade e imaginário de seus habitantes são colocados como
fomentadores das ações de sua comunidade. Essa realidade verifica-se em Mossoró
nos últimos anos.
3.2 A DINÂMICA DAS FESTAS REESTRUTURANDO O TURISMO EM MOSSORÓ
Mossoró é uma cidade que tem investido na dinâmica da atividade turística,
utilizando, para isso, sua história e sua cultura, buscando crescer e tornar o turismo
uma atividade significativa em seu território a partir desses fatores.
A START Pesquisa (2006)5 realizou um estudo de demanda turística com o
objetivo central de aferir a opinião dos turistas que visitam a cidade de Mossoró,
identificando seu perfil, seus hábitos, principais motivações de visitação ao município,
bem como sua avaliação a respeito dos bens e serviços ofertados pela cidade.
A análise dos dados levantados diagnosticou que o maior emissor de turistas
a Mossoró é o Rio Grande do Norte, representando mais de 50% dos entrevistados.
Destacou-se Natal como principal cidade que tem emitido visitantes, com 33%. Em
seguida, têm-se, como estados emissores de turistas, Ceará, Paraíba e Pernambuco.
Esse diagnóstico revela que o turismo desenvolvido em Mossoró é de caráter
eminentemente regional, atraindo fluxos de pólos fisicamente próximos. Foi verificado,
ainda, que mais de 80% dos turistas entrevistados já estiveram em Mossoró em outras
oportunidades. Desta parcela que já visitara a cidade em momento anterior ao da
pesquisa, mais da metade afirma que a cidade está muito melhor hoje do que estivera
5 As informações registradas são fruto de pesquisa realizada pela referida empresa, contratada pela Secretaria Estadual de Turismo, durante os meses de junho e julho de 2006. A pesquisa objetiva, também, buscar dados que pudessem auxiliar no desenvolvimento das ações dos setores públicos e privados na atividade de planejamento do turismo. Foi utilizada uma amostra de 500 turistas, fato que possibilitou inferências a respeito da atividade do turismo no lugar.
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no passado. Esse fato possibilita inferir que o destino vem preparando-se para receber
sua demanda, seja em termos de infra-estrutura oferecida à população, seja
diretamente no que tange ao desenvolvimento da atividade turística.
O número de estrangeiros que visita a cidade é baixo em relação à demanda
efetiva de turistas domésticos. A quantidade de turistas homens é bem superior à de
mulheres, representando mais de 75% da amostra. Os entrevistados estão em idade de
26 a 50 anos, representando 60% dos turistas. Quanto ao nível de instrução, 43%
possuem o ensino superior completo (START PESQUISA, 2006).
Em 2005, as faixas etárias predominantes entre os entrevistados eram de 26
a 35 anos e de 36 a 59 anos, mais de 60% dos pesquisados. Mais de 40% da amostra
possuía o ensino superior completo. Os dados revelam também que a demanda
turística de Mossoró apresenta certa estabilidade, uma vez que os dados das pesquisas
realizadas em anos subseqüentes são semelhantes.
Como destino, Mossoró atende ao imaginário concebido por seus visitantes à
medida que mais de 70% dos que estavam na cidade pela primeira vez disseram ter
suas expectativas, em relação à cidade, correspondidas ou superadas (ver figura 03).
Em compensação, 7,3% dos entrevistados, em 2006, afirmaram que estavam
decepcionados com a cidade. Trata-se de uma questão a ser analisada, pois a imagem
negativa levada por um visitante de um destino será propagada em seu local de origem.
O turista é um formador de opinião e um divulgador dos lugares que visita, seja com
idéias positivas, seja negativas. É preciso ter em mente que os comentários de parentes
e amigos são fatores decisórios no momento da escolha do destino a ser visitado. Dos
turistas entrevistados, mais de 90% pretendem retornar à cidade em outra
oportunidade. Está neste mesmo patamar o percentual de pesquisados que
recomendariam a outras pessoas que visitassem a cidade de Mossoró.
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Figura 03 – Turistas em viagem a Mossoró segundo a satisfação de suas expectativas Fonte: Adaptado da START Pesquisa (2006)
A pesquisa relaciona também o tempo médio de permanência do turista na
cidade, que supera 08 (oito) dias. Trata-se de um número de dias significativo, visto que
a cidade não dispõe de atrativos relacionados a belezas naturais como praias e dunas,
nicho de mercado mais explorado no Rio Grande do Norte. Ainda assim, Mossoró
mostra-se capaz de oferecer alternativas capazes de manter o turista por mais de uma
semana na localidade. No ano anterior (2005), mostrou-se que a média de permanência
fora de 6,5 dias, havendo então um incremento em 2006.
Os turistas também responderam que haviam visitado outras cidades do
Estado com pernoites, estando Natal e Tibau do Sul dentre as citadas. No que tange às
visitas a outras cidades sem pernoite, as mais mencionadas foram Assu, Tibau e Apodi.
Pode-se inferir que Natal e Tibau do Sul surgem nas respostas por se tratarem de
destinos já consolidados, marcados por sua estrutura da rede hoteleira, enquanto os
municípios visitados sem pernoite surgem mais em função da proximidade geográfica
com Mossoró. Os hotéis, as casas de parentes e amigos são os espaços de maior
preferência como local de hospedagem para os visitantes entrevistados.
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As festas surgem como principal motivador da viagem a Mossoró, com
42,6% das respostas. Negócios/trabalho atraem 41,2% dos sujeitos pesquisados. É
importante lembrar que o fato de a pesquisa ser aplicada durante as festividades do
Mossoró Cidade Junina afeta o índice de respostas (ver figura 04). O turismo de
negócios ainda tem um papel importante no desenvolvimento turístico da cidade. O
fator negócios aparece com um elevado índice de respostas, estando praticamente
equiparado com a realização das festas.
Figura 04 – Turistas em viagem a Mossoró segundo o motivo da viagem Fonte: Adaptado da START Pesquisa (2006)
De acordo com a START Pesquisa (2006, p.21), “Todos os atrativos
turísticos de Mossoró receberam avaliações positivas por parte dos turistas,
destacando-se, contudo, as Manifestações Populares”. Este item obteve 46,8% de
avaliações como ótimo e 32,8% como bom. A hospitalidade do povo, o comércio e os
equipamentos de hospedagem obtiveram avaliações positivas. Em contrapartida, a
diversão noturna e os equipamentos de lazer foram os que receberam as maiores
críticas, sendo considerados ruins por 7,6% e 5,8% dos entrevistados, respectivamente.
Há cerca de 05 anos, a atividade turística na cidade de Mossoró estava
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basicamente relacionada à área dos negócios. A exploração do petróleo, do sal e da
fruticultura irrigada eram atividades que praticamente monopolizavam o fluxo de turistas
como motivação para as viagens à cidade. Hoje, é possível visualizar, através de dados
concretos, os resultados dos investimentos realizados nas festas em Mossoró.
Coexistem nas estatísticas turistas de negócios e turistas de lazer e entretenimento.
A dinâmica socioeconômica e cultural de Mossoró favorece essa procura
turística local, até porque a cidade
[...] está localizada entre duas capitais nordestinas (Natal e Fortaleza); é um importante centro regional de comércio e compras para os municípios circunvizinhos que estão ao seu redor; é um dos maiores municípios produtor de sal e petróleo de todo o Brasil, além de ser palco de grandes acontecimentos históricos, em nível regional e nacional. Essas características a tornam uma cidade apta a captar e promover uma grande diversidade de eventos: sejam culturais, de negócios ou ainda eventos científicos (START PESQUISA, 2006, p.24).
Dentre as várias possibilidades mencionadas, o segmento de mercado
incentivado pelos gestores mossoroenses é o do turismo cultural. Este pode trazer
benefícios à cidade, não só estimulando a preservação do patrimônio cultural do
município e fortalecendo a identidade local, como também movimentando a economia,
gerando postos de trabalho, aumentando a arrecadação de impostos e melhorando a
infra-estrutura da cidade ao ser preparada para receber o turismo. Tudo isso acaba por
beneficiar a população. Para crescer em sua exploração turística e gozar desses
proveitos, é necessário que Mossoró invista nos equipamentos e serviços ofertados.
Sua infra-estrutura hoteleira ainda deixa a desejar, tanto no que se refere à
qualidade, quanto à estrutura como um todo. A cada dia, o consumidor torna-se mais
exigente e consciente quanto aos serviços que lhe são ofertados. Os gestores
responsáveis pelo turismo mossoroense devem trabalhar com vistas a desenvolver uma
atividade responsável, que preze pela integração da comunidade, no sentido de fazer
crescer um turismo que esteja buscando, permanentemente, o aumento dos efeitos
positivos e a diminuição dos impactos negativos, que sempre ocorrerão. O turista de
nível cultural elevado, no sentido de possuírem uma maior bagagem cultural, é atento a
isso quando visita uma localidade.
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Para abordar a temática das principais festas de Mossoró, é preciso pensar
que, se as festas do cotidiano dos mossoroenses têm sido apropriadas pelo poder
público local e têm gerado poder de atração. Assim, é pertinente a reflexão de Maia
(1999), ao conceber que as festas possibilitam aproximar as pessoas que, no cotidiano,
teriam apenas relações distantes. O momento festivo gera uma afetividade, uma
participação capaz de entrelaçar os indivíduos. A coletividade não apenas participa,
mas compartilha desse momento, diminuindo, naquele instante, suas diferenças.
Contudo, faz-se necessário ressaltar que o fato de estarem juntos naquele momento
não significa propiciar uma situação harmônica entre os atores sociais diversos. No
momento da festa, territorialidades são criadas, pois há, claramente, o espaço de cada
grupo de pessoas, de cada classe social.
A seguir, trata-se do Mossoró Cidade Junina, do Auto da Liberdade e da
Festa de Santa Luzia, festividades que têm demonstrado, ano a ano, o poder de atrair
pessoas para Mossoró, fazendo assim, emergir o turismo nesse território.
3.2.1 O Mossoró Cidade Junina
O Mossoró Cidade Junina trata-se de uma festa sociocultural, apropriada
pelo poder público municipal. A festa consegue reunir mais de 1 milhão de pessoas6.
Os números relativos ao turismo mostram uma média de 85% de ocupação da rede
hoteleira da cidade, que representa um incremento de mais de 30% em relação aos
outros meses do ano. Nas palavras do Presidente da Fundação de Cultura, Gonzaga
Chimbinho: “[...] o Mossoró Cidade Junina atingiu o grau de maturidade como uma das
maiores festas do gênero no Brasil” (PREFEITURA MUNICIPAL DE MOSSORÓ, 2005).
6 De acordo com a Prefeitura Municipal de Mossoró (2005), são 20 dias de festa, iniciando-se em junho e, por vezes, adentrando o mês de julho, com um público estimado em cerca de 1 milhão de pessoas, com uma média de 80 mil visitantes por dia. A programação inclui um Festival de Quadrilhas Juninas. Participam mais de cem quadrilhas. Há, também, na festa, a apresentação de grupos folclóricos e a Fórmula Jegue, uma corrida de jegues. O Burro-Táxi é uma atração na qual as pessoas podem dar uma volta pelas redondezas da festa em um burro. A encenação Chuva de Bala no País de Mossoró merece destaque como atração pela grande quantidade de espectadores que atrai a cada apresentação.
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Para Hélio Cavalcanti, jornalista especializado em turismo, trata-se de uma
das maiores festas populares da região, disputando com as cidades de Caruaru, em
Pernambuco, e de Campina Grande, na Paraíba, o título de capital nordestina do forró.
O Mossoró Cidade Junina é a maior aposta do turismo na cidade, na busca de resgatar
a cultura popular, “bastante rica na região e ameaçada de decadência, por falta de
apoio e motivação” (CAVALCANTI, 2007).
A cidade dinamiza-se no período da festa. A população é atraída para o
espaço cultural da Estação das Artes Eliseu Ventania7, onde se apresentam, em palcos
diversos, trios de sanfoneiros, músicos instrumentistas do estilo chamado de forró pé-
de-serra, entre outras apresentações que atraem grandes públicos (ver figura 05).
Figura 05 - Músico instrumentista e o público na Estação das Artes para assistir aos shows musicais Fonte: Prefeitura Municipal de Mossoró (2007)
A festa retrata a dinâmica cultural local atrelada aos aspectos históricos e
econômicos do espaço mossoroense como um elemento capital da vida social. As
vivências festivas configuram-se como contraponto ao cotidiano a partir da
implementação de uma transgressão, ainda que simbólica, da rotina diária de trabalho
imposta pelo ritmo normal de vida. Trata-se de uma espécie de resposta às pressões da
sociedade no momento festivo. “Na efervescência que desencadeia, transforma-se a
vida, aviva-se a memória e se dá resposta aos desejos mais profundos” (FERNANDES,
7 A Estação das Artes Eliseu Ventania, hoje museu e espaço cultural utilizado nas festas da cidade, trata-se do prédio da antiga estação ferroviária da cidade, o qual foi restaurado, dentre outros objetivos, para abrigar os festejos.
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1999, p.61). A festa mossoroense é representada através das diversas formas de
evasão, havendo a busca pelos símbolos perdidos. O homem lança-se na busca de
outros sentidos para sua origem e para sua vivência em sociedade, a partir de sua
participação na festa.
Envolvendo território e territorialidade da Igreja, a festa, como agora é
espetacularizada, de acordo com a população local, trouxe um mal-estar entre a Igreja
e o poder público local. Historicamente, os festejos aconteciam nas redondezas da
Igreja de São João, e era organizada pela Igreja e pela população local. Com a
restauração da Estação das Artes, em 1997, o evento mudou de local, passando a
ocorrer na Estação. Foi a partir daí que tomou a dimensão que tem hoje. Assim, o poder
público local, que antes apoiava as festividades nos bairros, na busca por obter uma
maior representatividade para o evento, passou a concentrar seus investimentos em um
único espaço citadino, idealizado por ele. Essa questão trouxe grandes embates. A
Igreja resiste, realizando seus festejos juninos, mas nem de perto eles têm a mesma
importância e grandiosidade de anos atrás8.
Por ocasião das comemorações, é criada a representação de uma cidade
típica do interior nordestino, a Cidadela da Resistência, na lateral da Capela de São
Vicente, onde é encontrado todo o aparato existente em uma vila interiorana, como a
Igreja, os botecos, a delegacia e o cabaré, por exemplo. A ambientação do local
compõe um retrato da Mossoró em 1927, quando houve a tentativa de invasão do
bando de Lampião. O espaço mostra uma réplica de dez casas da Mossoró da década
de 1920. Todo ano há modificações para que a representação seja mais fiel. Para
atender a todos os públicos, a Cidadela oferece opções diversas ao forró, contando
com apresentações de grupos de MPB e tendas de música eletrônica.
Dentro do complexo festivo é dado destaque ao espetáculo teatral Chuva de
Bala no País de Mossoró, que retrata a resistência da cidade na busca por evitar a
invasão do bando do cangaceiro Lampião (ver figura 06). Esse é o fato histórico de
maior orgulho para o povo mossoroense. A peça é baseada na obra do escritor potiguar
8 Informação obtida através de conversas informais com a comunidade local.
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Tarcísio Gurgel e encenada por um elenco de atores locais, fato também verificado no
Auto da Liberdade e no Oratório de Santa Luzia.
Como estratégia de ataque, o bando de Lampião estava dividido. Um grupo
era comandado pelo cangaceiro Massilon e deveria saquear Apodi, para depois
encontrar o restante do grupo e invadir, então, Mossoró. O grupo de Lampião, o mais
famoso, não chegou a invadir a cidade, mas outros cangaceiros o fizeram. Eram quase
200 homens. Como Mossoró contava com um pequeno número de policiais, a
população local manifestou-se e foi às ruas. Jararaca, um dos líderes do bando, foi
preso e morto. O enredo representado, recriado para o teatro, explicita que a razão
para o bando de Lampião invadir Mossoró era o desenvolvimento econômico da cidade.
Mossoró, à época, contava com uma população de 20 mil habitantes e mantinha um
comércio avançado, exportador de sal, algodão e carnaúba.
Figura 06 - Cena do espetáculo Chuva de Bala no País de Mossoró Fonte: Prefeitura Municipal de Mossoró (2006)
Orgulha os mossoroenses o fato de terem enfrentado o bando de
cangaceiros, famoso no Nordeste brasileiro, temido por todos. É a partir deste
acontecimento histórico que o espetáculo busca manter viva a imagem de bravura e de
heroísmo do povo. As histórias protagonizadas pelos cangaceiros narram que, por onde
passava, o bando de Lampião deixava rastros de destruição: sítios, fazendas e
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comércio de cidades inteiras eram saqueados. Aqueles que poderiam pagar por um
resgate eram transformados em reféns.
Em Mossoró, particularmente, foi o ex-prefeito de Natal, Coronel Antônio
Gurgel, que se tornou refém e foi obrigado a escrever um bilhete ao então prefeito da
cidade, Rodolfo Fernandes, exigindo 500 contos de réis, valor bastante significativo
para a época, para que os cangaceiros não invadissem a cidade. O prefeito respondeu
ao bilhete, negando qualquer tipo de pagamento ao grupo. Enquanto isso, a
comunidade e a polícia preparavam-se para o ataque, montando estratégias de defesa
em diversos pontos da cidade. Como nem todos estavam dispostos a lutar, muitos
moradores fugiram. Um clima de terror instalou-se na cidade em função desses
acontecimentos.
A tentativa de invasão do bando ocorreu em 13 de junho de 1927. Havia
gente posta em diversos pontos estratégicos da cidade, como nas torres das igrejas,
por exemplo. Ao iniciar o confronto, uma forte chuva, inesperada para a seca realidade
da região, dificultou o conflito, comprometendo assim o desempenho do grupo invasor.
Aos poucos, os cangaceiros começam a ser atingidos e mortos. A solução foi recuar,
pondo fim ao ataque. Que aquela fora a primeira derrota do cangaceiro Lampião é
proclamado oralmente pelos mossoroenses.
A Capela de São Vicente, a qual teve sua torre marcada por balas durante a
disputa, foi o palco principal do ataque e é hoje o espaço principal do espetáculo,
realizado desde 2002, em comemoração aos 75 anos da resistência de Mossoró à
invasão do bando de Lampião. Antes disso, na década de 1950, para relembrar o fato
histórico, fora montada uma peça teatral com as principais personagens do
acontecimento. Cerca de 25 anos depois da primeira montagem teatral, (re) surge o
espetáculo, numa dinâmica renovada pelo espírito coletivo dos mossoroenses. Essa
dinamização é visível ao se constatar a disponibilidade de 4 mil cadeiras em 2006 para
o público a ele assistir, a cada dia de apresentação. Começaram a ocorrer
apresentações de grupos locais interpretando música popular brasileira para o público
presente, antes da encenação.
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O espetáculo busca deixar vivo no imaginário coletivo da população
mossoroense a “garra” de seus homens no enfrentamento do bando de cangaceiros,
temido no Nordeste brasileiro, e induzir o nome de Rodolfo Fernandes, prefeito da
época, como um herói aguerrido às terras mossoroenses e que não cedeu às
estratégias de dominação do cangaceiro Lampião.
3.2.2 O Auto da Liberdade
O Auto da Liberdade é uma festa-espetáculo que celebra a liberdade e a
coragem do povo mossoroense. Essa festividade é o evento principal da Festa da
Liberdade, que conta com vasta programação em comemoração ao caráter libertário
desse povo. O Auto dá-se em torno de quatro fatos históricos ocorridos na cidade, tidos
como atos heróicos de bravura e como motivo de orgulho. São eles: o Motim das
Mulheres, a Abolição da Escravatura antes da Lei Áurea, o Voto Feminino e a
Resistência ao Bando de Lampião (ver figura 07).
Figura 07 - Cena do Auto da Liberdade Fonte: Prefeitura Municipal de Mossoró
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O Motim das Mulheres9 foi um movimento de mulheres, em torno de 300,
que, em agosto de 1875, munidas de panelas, desafiaram as autoridades e a justiça
locais com o objetivo de impedir que seus filhos, noivos e maridos fossem recrutados
para o Exército. Isso se deu em função dos traumas vivenciados pela Guerra do
Paraguai. A revolta deu-se em diversas partes do Rio Grande do Norte, mas foi em
Mossoró onde ganhou maior destaque pelo fato de ter sido organizado exclusivamente
por mulheres. As revoltosas organizaram uma passeata pela cidade, rasgando os
editais de alistamento e batendo em panelas. As mossoroenses insurgentes chegaram
a travar luta corporal com os soldados responsáveis por acabar a movimentação. Ana
Floriano era a líder do grupo que também teve em posição de destaque Maria Filgueira
e Joaquina Maria de Góis.
O dia 30 de setembro é importante para o mossoroense por se tratar do
“marco da liberdade” - um feriado municipal que comemora a abolição da escravatura e
que é tido como mais importante que a data de emancipação da cidade. Mossoró foi a
primeira cidade potiguar a fazer um movimento com a pretensão de liquidar a
escravatura. Na época, o município contava com 153 escravos, número pouco
representativo para a população de 2.493 habitantes, não dependendo o Estado dessa
mão-de-obra. A busca pela abolição, porém, de acordo com o deputado-geral Casimiro
José de Morais Sarmento, foi gerada por um fator externo, atrelado à seca de 1877,
que provocou êxodo da população das cidades do sertão do Rio Grande do Norte para
as proximidades do litoral.
Aquele foi um tempo de dificuldade. Os fazendeiros chegavam a vender seus
escravos para o sul do país. Mossoró era ponto de venda. Assim, a Loja Maçônica 24
de Junho cria a Sociedade Libertadora Mossoroense, que tinha por finalidade libertar os
escravos. Nesse período, havia 86 escravos na cidade e, em junho, quase metade
deles foi libertada. Os demais ficaram livres em 30 de setembro do mesmo ano, data
9 O Motim das Mulheres está relacionado ao alistamento militar obrigatório aprovado no governo Rio Branco e regulamentado no governo Duque de Caxias, o qual continha normas de recrutamento para o Exército e a Armada. De acordo com Crispiniano Neto (2005), tratava-se de um movimento inserido nas lutas sociais do fim do Império. A questão posta é que havia o antigo costume de recrutar soldados apenas quando ocorria o prenúncio de um novo conflito militar.
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oficial para a extinção do trabalho compulsório. A importância do fato deve-se à questão
de que, cinco anos antes da promulgação da Lei Áurea, Mossoró teria sido a pioneira
na abolição da escravatura no Brasil (PREFEITURA MUNICIPAL DE MOSSORÓ,
2007b).
Ainda de acordo com a Prefeitura Municipal (2007b), durante a sessão da
Sociedade Libertadora Mossoroense, ocorrida na Câmara Municipal, onde foram lidas
cartas de alforria, foi declarado, pelo Presidente da Sociedade, Joaquim Costa Mendes,
que era “[...] livre o município de Mossoró da mancha negra da escravidão”. Após a
libertação, foi criado, por idéia de Almino Afonso, o Clube dos Spartacos, com o intuito
de reunir os ex-escravos para que tivessem amparo e abrigo, face às dificuldades que
iriam encontrar ao longo de sua inserção em uma sociedade que, até há pouco tempo,
tivera-os como um bem de capital.
Uma tensão entre autenticidade e representação: é assim que António
Fernandes (1999) define o desenvolvimento das ações dos homens. Os eventos da
vida social, por mais banais que possam parecer, irão passar por processos de
idealização e simbolização, assumindo assim certa “teatralidade” – todos são atores
sociais desse sistema criador da memória coletiva. No contexto de ritualização, as
festas mostram sua importância na quebra do cotidiano e no surgimento de um mundo
distinto. É por esse processo que passam os fatos históricos mossoroenses, que se
transforma em espetáculo para ser perpetuado pela população.
O modo como o fato histórico da abolição da escravatura no município
mossoroense é recontado para o grande público é uma questão a ser pensada. Durante
a festa, para as pessoas que não conhecem a história, a imagem passada é a de que
Mossoró libertou seus escravos por uma questão humanitária, porque seus políticos
tinham um instinto fraterno. O espetáculo sugere que os líderes políticos participaram
do movimento não por imposição política ou por uma necessidade que se ampliava a
cada dia pelos acontecimentos que ocorriam, mas por iniciativa própria, exaltando os
mossoroenses. Para Felipe (2001, p.169), “O que importa aqui é [...] revitalizar esse
imaginário e sinalizar o seu território [...] para mostrar os seus deuses, fortalecê-los
como crença [...]”.
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Outro fato histórico que faz parte do Auto é a Resistência ao Bando de
Lampião, ocorrida em 1927. Esse é tema central do espetáculo Chuva de Bala,
realizado durante as festividades do Mossoró Cidade Junina, já abordado
anteriormente.
O último fato histórico elencado no Auto da Liberdade é a Instituição do Voto
Feminino em Mossoró (1928). A história registra que o deputado mossoroense Adauto
Câmara elaborou projeto com vistas à inexistência da distinção de sexo para o exercício
do voto, o qual foi sancionado através de lei pelo então governador José Augusto
Bezerra de Medeiros em 25 de outubro de 1927. Assim, a professora Celina Guimarães
requereu sua inclusão no alistamento eleitoral e, preenchendo todos os requisitos, seu
nome foi incluído na lista geral de eleitores do município. Ela tornou-se, então, a
primeira eleitora de Mossoró, do Brasil e da América Latina. A questão do voto de
Celina Guimarães teve repercussão mundial.
Em mais de cem países, as mulheres não tinham direito ao voto. A
encenação apresenta Celina Guimarães como sendo natural de Mossoró. Na verdade,
a primeira eleitora brasileira não era mossoroense nata, mas apenas moradora da
cidade. Mais uma vez, o espetáculo tende a mostrar os fatos da maneira conveniente
aos seus promotores. Quem não tem um conhecimento da história do voto feminino
absorve a idéia passada pela encenação de que Celina Guimarães era nascida em
Mossoró. Outra questão pertinente é o fato de que ela não foi a primeira a requerer sua
inclusão no alistamento eleitoral. Quem o fez foi Júlia Alves Barbosa, a qual teve seu
requerimento retardado por ser solteira.
Os ideais de bravura, heroísmo e pioneirismo buscam ser mostrados a todo
instante no espetáculo, numa conotação perceptiva de que é “Tudo por conta da
abnegação de todos e do sentimento de orgulho que são transpostos para o
espetáculo, um retrato fiel do que representa todos esses quatro importantes feitos”
(PREFEITURA MUNICIPAL DE MOSSORÓ, 2007b). O espetáculo reconstrói versões
comuns das histórias transmitidas por via oral pelo povo de Mossoró de geração em
geração. O Auto da Liberdade aconteceu em sua primeira versão em 1999, como uma
proposta para dar novo formato às comemorações do dia 30 de setembro, que não
| 68
mais atraíam o povo mossoroense. Os atores da cidade puderam ter uma oportunidade
para aperfeiçoar e mostrar seu trabalho. Anteriormente, o que ocorria era uma espécie
de desfile cívico. O texto do novo espetáculo teve como base o livro “Auto da
Liberdade”, do poeta Crispiniano Neto. Nos primeiros anos do evento, foram
organizados espetáculos simples, produzidos no chão. As encenações aprimoraram-se
ao longo dos anos. Há a idéia de que, a cada dois anos, o diretor seja mudado, para
que um novo conte a mesma história sob a sua ótica. De acordo com Francisco Carlos,
Secretário Municipal de Cidadania, o envolvimento da população cresce a cada ano, e
o retorno do investimento é sentido não somente no turismo, mas também no resgate
cultural e na valorização da história da cidade de Mossoró.
Segundo entrevista concedida pelo produtor cultural Francisco das Chagas
Soares, conhecido na cidade como Chiquinho Window, a festa-espetáculo tem dois
aspectos. Por um lado, em termos de incentivo cultural, a festa é extremamente
vantajosa, visto que leva a imagem de Mossoró ao Brasil como um centro cultural, onde
as ações são desenvolvidas no sentido de incentivar o desenvolvimento do turismo
cultural. Contudo, por outro lado, o período da festa é um momento muito político. O
produtor faz uma crítica no sentido de que não é interessante criar uma grande
estrutura para a realização do evento e depois deixá-la morrer, como ocorre em
Mossoró. Após o evento, afirma Chiquinho Window, há um abandono das ações de
incentivo à cultura e de estímulo ao pessoal envolvido.
Para o produtor cultural, seria interessante a continuidade das ações
propostas para a realização do Auto, através da montagem de oficinas, preparação
permanente do pessoal, para que os atores pudessem transformar-se em
multiplicadores de desenvolvimento cultural nas comunidades da cidade. O produtor
afirma que a cidade transforma-se em função das festas nela realizadas. Há um
aumento significativo do número de turistas, movimentando equipamentos de
hospedagem. Chiquinho Window conta que, há menos de uma década, nada havia no
setor cultural de Mossoró. Ele afirma que era uma cidade abandonada nesse sentido e
acrescenta que, hoje, está colocada no mapa do turismo cultural graças aos grandes
investimentos que o setor recebeu.
| 69
Mesmo assim, o grande diferencial da cidade é de ser um lugar onde as
pessoas ainda se conhecem.
Artesãos, bordadeiras, costureiras, figurinistas e pequenos vendedores são
diretamente beneficiados pela promoção da festa. Há uma preocupação em utilizar a
mão-de-obra local, em especial, a das pessoas das periferias. Todavia, Francisco
Soares alega que os trabalhadores não têm consciência da importância de seu
trabalho, tampouco de que estão sendo beneficiados em função da realização das
festas-espetáculo. Ele conclui que, além de atividade com fins econômicos e culturais,
“[...] o Auto é também momento de confraternização, visto que a população como um
todo, de todas as camadas sociais, assiste ao espetáculo”.
Diante dessas informações, percebe-se, então, que as medidas
governamentais de ação cultural caracterizam-se, assim, como intervenções pontuais.
Como declarado anteriormente, faz-se necessário um trabalho contínuo no sentido de
envolver a comunidade nas ações de planejamento da atividade turística. Isso engloba
a participação dos grupos de teatro locais, visto que o turismo cultural em Mossoró está
diretamente atrelado às festas e aos espetáculos. Independentemente dessas
questões, porém, trata-se de um passo que já foi tomado no sentido de incentivar e
trabalhar com esse tipo de manifestação em Mossoró, embora se veja a necessidade
de uma intervenção maior por parte do poder público, no sentido de tornar o trabalho
que vem sendo realizado um processo permanente.
Kátia Lopes10 afirma “apoiar a iniciativa do espetáculo, o qual demonstra a
busca permanente pela liberdade de expressão e pela questão da inclusão”. Segundo
ela, a Prefeitura busca incluir a comunidade no processo, convocando as pessoas para
os ensaios. A diretora critica o poder público por não viabilizar uma manutenção da
atuação de tais voluntários, com vistas a criar grupos de teatro e diz que muitos talentos
são “desperdiçados” em função disso. Para ela, uma prova de que deveria haver um
investimento permanente é o fato de pessoas que começaram no Auto terem se
tornado profissionais. Assim, esse número poderia ser bem mais significativo.
10 Diretora técnica do espetáculo em 2006. Fragmento da entrevista concedida no dia de realização do evento.
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O Auto teve 450 atores em cena, em 2007, e se envolveram 200 pessoas na
montagem do espetáculo, 400 peças de figurino entre roupas e acessórios. Utilizou um
palco de 30x30m, dividido em 3 níveis. Nos anos anteriores, o espetáculo vinha
crescendo em números de artistas participantes, tendo 120 atores, em 2003, e 2000
artistas em cena, em 2006.
O Cortejo Cultural11 acontece atrelado ao Auto. No último dia de sua
realização, quando é feriado em Mossoró, o Cortejo sai pelas ruas principais da cidade
a representar os feitos e ideais de liberdade. De acordo com a Prefeitura Municipal
(2005), são mais de 10 mil pessoas envolvidas, trajadas com figurinos e alegorias,
fazendo emergir uma “evolução lúdica”. O evento envolve escolas, programas e
projetos sociais, quadrilhas estilizadas, corais, além do elenco do Auto. O trajeto vai da
Avenida Alberto Maranhão até o Alto da Conceição, com final na Estação das Artes.
Na programação da Festa da Liberdade ocorre ainda o Seminário Novas
Liberdades. Nesse evento, ocorrem ciclos de palestras, debates, apresentações
culturais e lançamentos de livros que têm como tema a liberdade. Anualmente, dentro
da Festa da Liberdade, o Seminário Novas Liberdades precede o Auto em uma semana
e reflete sobre o tema através da participação de políticos, gestores públicos,
pesquisadores, professores e estudantes. A partir de temáticas associadas à liberdade
humana, são discutidas questões acerca da liberdade de expressão, da educação, da
cultura, das etnias, da sexualidade, das diferenças de gênero, de emprego e renda, de
responsabilidade social, do uso indevido de álcool e do consumo de drogas e da
inclusão digital, dentre outros.
3.2.3 A Festa de Santa Luzia
11 O Cortejo, na verdade, tratava-se anteriormente de um desfile de caráter cívico-militar, o qual foi instituído desde 1922, em função da inauguração do Obelisco da Praça da Independência. Em 1998, o desfile transformou-se em Cortejo Cultural por sugestão de Isaura Rosado, que vivenciou evento similar na Espanha e o adaptou à realidade mossoroense, atrelando ao que antes era um desfile cívico a questão da apresentação das manifestações culturais da cidade.
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Os primeiros sesmeiros a se instalarem na área onde hoje está a cidade de
Mossoró trouxeram consigo práticas devocionistas a santos protetores. Nessa época, a
Fazenda "Santa Luzia" foi fundada pelo Sargento-Mor Antonio de Souza Machado. Mais
adiante, o proprietário das terras, que era um português, pediu autorização para erguer
uma capela em homenagem à Santa para cumprir uma promessa de D. Rosa
Fernandes, sua esposa. Para que fosse possível a construção, houve uma condição
estabelecida por parte da Igreja: era preciso que o templo fosse construído em pedra e
cal e que houvesse um patrimônio em terras doado à Santa. Assim, aconteceu o
pagamento da promessa. A imagem em madeira foi trazida, em 1779, de Portugal, pela
esposa do Sargento-Mor e, ainda hoje, é conduzida nas procissões e peregrinações,
Foi assim que Santa Luzia tornou-se padroeira de Mossoró, sendo
largamente cultuada durante o mês de dezembro. De acordo com dados da Prefeitura
Municipal (2007a), cerca de 130 mil pessoas acompanham a procissão de
encerramento das homenagens anualmente prestadas à santa. As comemorações
conciliam momentos religiosos e profanos. Há uma programação bastante diversificada,
com missas, novenas, bingos, parque infantil e festas com bandas.
A Festa de Santa Luzia é geralmente marcada pelo caráter da tradição e
envolve momentos esperados pela comunidade. Seus participantes preocupam-se em
manter suas crenças e significados, no decorrer dos anos, nas comemorações da
padroeira mossoroense.
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Figura 08 - Novena realizada durante a Festa de Santa Luzia Foto: Patrícia Amaral (2006)
Um dos momentos mais esperados da festa é o do Oratório de Santa Luzia,
o qual ocorre no adro da Catedral e tem duração de cerca de 45 minutos. Durante este
tempo é mostrado o martírio de Santa Luzia (ver figura 08)12. O oratório é um
espetáculo que emociona os cristãos, que se espremem à frente da Catedral, buscando
um lugar para assistir à novena, às missas e ao espetáculo, que conta com a
participação de atores mossoroenses.
A Festa de Santa Luzia, por ser um evento eminentemente religioso, tem
como organizadora principal a Igreja. O poder público municipal atua como apoiador
das festividades da padroeira local. Isso não significa que os festejos juninos na cidade
não tenham caráter sagrado, mas as programações profanas já têm um espaço mais
significativo que as atividades religiosas, no sentido de atrair públicos maiores.
De acordo com Rosendahl (2002), a palavra sagrado incita a separação das
experiências religiosas e das demais situações, posto que o sagrado é visto como
12 O espetáculo retrata a história de Luzia, moça bela, rica e herdeira única de fortuna, que foi educada na fé cristã e consagrada a Deus pela renúncia do amor carnal. Naquela época, em fins do século III, defender a fé significava um risco, posto que Diocleciano, imperador romano, havia promulgado um decreto imperial contra o cristianismo. Ocorreu que um jovem apaixonou-se por Luzia e, ao ser renegado pela moça, denunciou-a. Ao ser presa, Luzia negou-se a render culto aos ídolos. Em função disso, em 13 de dezembro de 304, foi decapitada.
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ordem a que as pessoas temem e pelo qual, ao mesmo tempo, sentem-se totalmente
atraídas. Mesmo o homem que não é religioso herda símbolos, imagens e ritos. O
homem religioso tem a necessidade de viver em uma atmosfera envolta do sagrado e,
para isso, demarca-o, destacando-o dos demais. Esse homem religioso, pela ânsia que
tem de estar em um espaço sagrado, cria este espaço que, assim como o profano, está
sempre atrelado a um espaço social.
E é isso que pode ser observado nas festividades da santa mossoroense.
Para Rosendahl (2003), “a distribuição das atividades não-religiosas nas proximidades
da Igreja revela a criação de áreas especializadas que favorecem as trocas econômicas
e simbólicas”. O fluxo de romeiros gera o aparecimento de atividades econômicas
diretamente ligadas às necessidades dos que vão ao encontro da festa religiosa. Assim,
a celebração à Santa dos Olhos é esperada pelos empresários de hotéis e pousadas da
cidade, porque ficam lotados seus estabelecimentos no período. A festa é uma atração
do segmento do turismo cultural, a qual cresce a cada ano na cidade. O turismo
religioso, movimentado pela crença das pessoas, contribui grandemente para o setor
turístico de Mossoró. Segundo as pesquisas de campo, os hóspedes já são demanda
certa, pois vão às comemorações todos os anos. Eles saem de diversas partes do Rio
Grande do Norte, bem como de estados vizinhos, para celebrar a “santa dos olhos”. As
homenagens prestadas à Santa movimentam não apenas hotéis e pousadas, mas todo
o comércio local, bem como atividades informais. No evento, percebe-se que muitos
dos comerciantes envolvidos na festa não são provenientes de Mossoró. Há inúmeros
vendedores itinerantes que trabalham com produtos religiosos ou gêneros alimentícios,
nas comemorações de santos padroeiros de várias cidades nordestinas.
Em se tratando de festas religiosas em particular, as realizadas em Mossoró
cumprem um papel mais importante do que normalmente é efetuado por elas em outros
locais. As cidades brasileiras, diferentemente do ocorrido em outros países, apresentam
um grande número de festas de caráter religioso. A religiosidade serve como um
elemento de integração dos grupos e das diversas classes sociais. Elas costumam unir-
se, com vistas a organizar as atividades, tanto de cunho religioso quanto profano. Para
Amaral (2007a), esse sentido do festejar religioso, aliado ao festejar profano, foi fator
determinante para a construção da sociabilidade no Brasil.
| 74
4 OS EVENTOS FESTIVOS DO TERRITÓRIO MOSSOROENSE NAS VOZES DOS ATORES SOCIAIS
Neste capítulo, apresenta-se a visão dos dirigentes do poder público
municipal, dos apoiadores das festividades e da comunidade local sobre as festas,
através das informações coletadas em pesquisa de campo.
Inicialmente, expõe-se o discurso do poder público local como idealizador e
incentivador das festas, e como elas vêm alterando a cidade de Mossoró. Em seguida,
é traçado um perfil sócio-econômico das pessoas entrevistadas da comunidade local. E
se apresenta a sua visão em relação às festividades, seus aspectos positivos e
negativos. Posteriormente, são apresentados os patrocinadores e apoiadores das
festas e o seu discurso a respeito dos investimentos realizados nas mesmas. Por fim,
faz-se uma breve análise do desenvolvimento do turismo no território mossoroense.
4.1 O PODER PÚBLICO MUNICIPAL E SUA INTERVENÇÃO
As políticas públicas devem nascer em função do contexto da sociedade civil
como o resultado de uma relação de forças dos diversos atores sociais existentes,
sendo originadas dos desejos dos distintos grupos ou classes sociais. “Uma política
pública é o resultado de um ato intervencionista na realidade social, atingindo a vida de
pessoas e de grupos sociais” (BONETI, 2006, p.87).
A elaboração de políticas públicas é uma atividade política, influenciada
pelas características da sociedade na qual se insere, sofrendo também pressões de
grupos de interesse, além da influência das estruturas formais do governo. Em função
disso, nem sempre sua aplicabilidade trará resultados que agradam à população como
um todo, pois é resultado de uma dinâmica de um jogo de forças estabelecido em
relações de poder.
Partindo para uma questão mais específica, as políticas de desenvolvimento
turístico são definidas, segundo Rocha (1997, p.164), como o “conjunto de decisões
| 75
que expressam condutas a serem adotadas para a materialização de uma dada
atividade, ou seja, são as diretrizes que orientam o desenvolvimento do setor turístico”.
São essas políticas as viabilizadoras da realização de planos, projetos e programas que
permitem a realização e execução de eventos, criação e melhoria de infra-estrutura,
instalação de equipamentos, promoção do destino, investimentos em capacitação,
dentre outras ações que permitam o desenvolvimento do turismo nas localidades.
Em Mossoró, o poder público municipal, de acordo com as entrevistas
realizadas com o Gerente Municipal de Turismo, Gabriel Barcelos, afirma estar
trabalhando no sentido de efetivar a realização das festas na busca por fazer um
resgate da história e da cultura locais, no sentido de incentivar a população a ter um
maior interesse pelas suas raízes; assim, seria possível divulgá-las e trazer o turismo
de forma efetiva para a localidade, pois a Prefeitura afirma que o turismo só tem sido
consolidado na cidade em função das festas realizadas.
O investimento no setor cultural, especialmente através das festas, tem
trazido uma série de mudanças para Mossoró, visto que a própria população tem uma
melhoria da sua auto-estima e da cidade como um todo, a partir do momento em que se
investe, por exemplo, nas manifestações populares da cidade e no incentivo aos seus
grupos teatrais.
O crescimento e amplitude que as festas tomaram têm trazido diversas
conseqüências para a cidade. Pode-se dizer, hoje, que Mossoró é a capital cultural do
Rio Grande do Norte, estando em destaque, periodicamente, na mídia nacional,
especialmente quando é realizado o Mossoró Cidade Junina. Isso se deve aos
investimentos em mídia e divulgação em regiões de atração de turistas, como as
capitais circunvizinhas à cidade.
De acordo com Gabriel Barcellos, o Gerente Municipal de Turismo, a festa
que comemora os festejos juninos e que teve início como uma festa única13, na Estação
das Artes, em 1998, em suas primeiras edições, atraía somente o público local, posto
13 Como exposto no capítulo anterior, o Mossoró Cidade Junina, até então, ocorria nos bairros, sendo uma festa de cada paróquia e sua comunidade, normalmente apoiada pela Prefeitura. A partir desse ano de 1998, a Prefeitura Municipal decide por realizar uma festa única, de grande dimensão, deixando assim de apoiar as diversas festividades realizadas na cidade. Esse fato gerou um mal-estar entre a Igreja e a Prefeitura, visto que a primeira perdeu seu espaço e os lucros advindos das festas juninas.
| 76
que não era divulgada em outras regiões. A partir de 2004, ainda de maneira acanhada,
iniciou-se a divulgação em cidades como Natal e Fortaleza, tidas como possíveis pólos
de atração de turistas. A iniciativa logrou êxito e fez com que, a partir de 2005, os
investimentos em divulgação se tornassem mais significativos, o que trouxe resultados
rápidos, visto que a cidade começou a receber turistas de toda a região, e os
equipamentos de hospedagem passaram a registrar altos índices de ocupação. Hoje, o
Mossoró Cidade Junina é uma festa reconhecida nacionalmente, e o poder público
afirma já estar competindo com cidades consolidadas na festa de São João, como
Caruaru e Campina Grande.
Para o Gerente de Turismo, esse foi o ponto de partida para o
desenvolvimento da atividade turística na cidade. Isso porque, antes da vinda dos
turistas, a cidade investia pesadamente na realização da festa, mas apenas uma
parcela do capital investido circulava na cidade, visto que grande parcela do
investimento estava na contratação de bandas de outras cidades ou Estados. Mas, ao
chegarem a Mossoró, os turistas injetam dinheiro na economia local, o que faz o capital
circular, justificando os investimentos realizados.
Ainda assim, fica claro que boa parte do capital investido vai para outras
cidades, visto que Mossoró não dispõe de toda a infra-estrutura necessária para a
realização das festas. Da mesma forma, acontece com o pagamento feito a bandas de
fora, que são fortes atrativos, e não deixam recursos para a cidade.
A opção por trazer o turismo para a localidade tem gerado alguns embates.
O primeiro ocorreu quando houve a iniciativa de colocar camarotes na festa para que os
turistas ficassem mais à vontade para participar dela. Questiona-se: se a festa é feita
para o povo, como criar um espaço diferenciado, pelo qual as pessoas devem pagar
para ter direito a um privilégio? Essa questão gerou alguns embates entre os próprios
idealizadores do Mossoró Cidade Junina. Quem teve a idéia de colocar o camarote
afirma que fatos como esse ocorrem em todos os lugares onde a atividade é bem-
sucedida. Mas nem todos aceitaram a idéia. Ainda assim, os camarotes têm sido
instalados na festa e vendidos para os que buscam um espaço diferenciado para sua
participação.
| 77
Tem-se, nesse sentido, que o camarote é um espaço onde as pessoas
mostram o seu poder, à medida que ficam com uma melhor visão da festa e se colocam
em um patamar mais elevado que os outros participantes. Em se tratando de territórios,
o camarote demonstra o poder das pessoas que ali estão em detrimento daquelas que
não podem ou não querem estar naquele espaço restrito.
Da mesma maneira tem ocorrido durante a apresentação do espetáculo
Chuva de Bala no País de Mossoró, quando a comunidade tem reclamado do fato de
que a organização criou uma área vip. As pessoas devem pagar um ingresso para
assistir ao espetáculo sentadas em área privilegiada14. Esse fato acabou por diminuir
significativamente o número de cadeiras disponibilizadas ao público.
Assim, começam a emergir questões acerca das festas que estão se
desenvolvendo em Mossoró. Ora, no momento em que se propõe realizar uma festa
aberta ao público, financiada por órgãos estatais, cobrar um ingresso parece ser um
tanto quanto contraditório. É possível afirmar que essa questão se dá, também, em
função da atividade turística na cidade. Se há turistas na localidade, supõe-se que
disponham de dinheiro para investir em seu lazer, estando então dispostos a pagar
para ter um lugar privilegiado para assistir ao espetáculo.
Nesse sentido, o turismo que vem acontecendo em Mossoró tem se
mostrado, como costuma acontecer em inúmeras localidades, segregador, à medida
que coloca a pessoa do turista como prioridade total, em detrimento da comunidade
local.
O Mossoró Cidade Junina é a festa mais importante para o turismo
municipal, sendo a mais incentivada e divulgada pelo poder público local. Isso ocorre
porque ela é, claramente: a que tem o maior poder de atração de um fluxo de turistas;
a que gera um maior fluxo de pessoas e de dinheiro circulando na cidade; a que coloca
Mossoró em maior destaque na mídia. Assim, os políticos a vêem como uma
oportunidade de mostrar o trabalho que vêm desenvolvendo não apenas para a
população local, mas para todo o Estado, além de pólos circunvizinhos.
14 A informação foi obtida durante as pesquisas de campo, no momento da festa, no ano de 2007.
| 78
De acordo com o poder público municipal, os efeitos negativos das festas
envolvem uma parcela da população e se resume às pessoas que se sentem
incomodadas com o barulho, especialmente as pessoas que moram no entorno do local
de realização das festividades em estudo. Para que esse impacto seja minimizado, o
Ministério Público exigiu a regulamentação dos horários de realização das festas, o que
tem feito diminuir as reclamações. Todavia, como será visto adiante, na visão da
comunidade, os aspectos que não agradam na realização das festas vão além do
barulho causado.
Dentre os impactos positivos ocasionados pelas festas, tem-se a questão da
dinamização cultural da cidade, envolvendo o resgate da cultura local, dos movimentos
culturais, assim como da melhoria da auto-estima da população como um todo, que
hoje tem orgulho de ser mossoroense. Isso fez com que a comunidade local
entendesse a importância de valorizar o que é seu. A imagem da cidade também tem
sido bastante beneficiada em função das festas, que têm ganhado projeção em nível
local, regional e até nacional. E isso muda o perfil da cidade, tanto para a população,
quanto para a imagem que o turista cria e leva de Mossoró.
O desenvolvimento do turismo na localidade, trazendo um fluxo de capital,
criando postos de trabalho para a comunidade e fortalecendo a imagem da cidade
como um pólo de atração do turismo cultural também está entre os aspectos positivos
trazidos pelos investimentos realizados.
Mas o perfil da cidade tem mudado também fisicamente, pois uma série de
investimentos vem sendo realizada no entorno do local onde ocorrem as festas. A área
de realização destas tem crescido no sentido de ser um corredor cultural e turístico
mossoroense. Esse corredor cultural teve início com a reestruturação da Estação das
Artes Eliseu Ventania, antiga estação ferroviária, que se tornou espaço cultural,
contando com auditório, museu, espaço para exposições, biblioteca e uma grande área
aberta para a realização de eventos. Foi nesse espaço onde se consolidou a realização
do Mossoró Cidade Junina e do Auto da Liberdade.
Bem próximo à Estação das Artes, tem-se o Teatro Municipal Dix-Huit
Rosado Maia, o Museu Municipal Jornalista Lauro da Escóssia, assim como outros
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espaços relacionados a lazer e eventos que vêm sendo criados e construídos nesse
entorno, como a Praça da Convivência, o Memorial da Resistência, a Praça da Criança,
o parque de diversões e a praça de esportes. Espaços como os anteriormente citados
demonstram que a cidade, também em função das festas, tem mudado não apenas do
ponto de vista social, mas inclusive no aspecto físico.
4.2 OPINIÃO E PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE LOCAL NAS FESTAS
Para que fosse possível obter a opinião da população mossoroense a
respeito das principais festas realizadas na cidade, objeto central de estudo deste
trabalho, foram aplicados cem questionários durante o mês de março de 2008, em
diferentes pontos da cidade, com o objetivo de que pessoas de todas as regiões de
Mossoró pudessem expor sua opinião acerca das festividades. Os questionários
aplicados (ver modelo em apêndice) englobavam um breve perfil sócio-econômico do
respondente, para que em seguida fossem colocadas as idéias sobre as festas. No
apêndice também foram colocadas as tabelas com os dados coletados, os quais deram
origem aos gráficos que seguem.
No gráfico 01, pode ser verificado que 67% dos respondentes eram do sexo
masculino, enquanto 33% das pessoas que formaram a amostra eram do sexo feminino
(ver tabela 01, apêndice C).
Gráfico 01 – Quanto ao sexo
Fonte: Pesquisa de campo, 2008
| 80
Quanto à faixa etária, foram questionadas pessoas de todas as faixas,
envolvendo desde adolescentes a pessoas mais velhas. Destas, 44% eram pessoas
com idades que variavam de 21 a 30 anos, e 20% tinham de 18 a 20 anos, fato que
representa a maior parcela dos respondentes. Outros 21% tinham de 31 a 40 anos, e
12% estavam na faixa etária dos 41 aos 50 anos. Somente 3% tinham mais de 51 anos
(ver tabela 02, apêndice C).
Gráfico 02 – Quanto à faixa etária
Fonte: Pesquisa de campo, 2008
Quanto ao estado civil, a maioria das pessoas questionadas era solteira
(57%); já as pessoas casadas correspondiam a 35% da amostra da pesquisa. Também
responderam pessoas que disseram ser viúvas, divorciadas ou de outro estado civil (ver
tabela 03, apêndice C). Essa relação pode ser verificada a seguir, no gráfico 03.
| 81
Gráfico 03 – Quanto ao estado civil
Fonte: Pesquisa de campo, 2008
Quanto ao nível de escolaridade, 50% das pessoas afirmaram ter ensino
médio completo, e outros 26% têm ensino superior completo. Os outros questionados
disseram outros níveis de escolaridade, e isso pode ser verificado através do gráfico,
com percentuais menores (ver tabela 04, apêndice C).
Gráfico 04 – Quanto à escolaridade
Fonte: Pesquisa de campo, 2008
| 82
Quanto à questão referente à renda familiar, a maioria das pessoas mostrou-
se receosa para responder quanto a família ganha mensalmente. Entende-se que as
pessoas têm, naturalmente, certo receio em responder a questões relacionadas à
renda. Acredita-se, inclusive, que muitos respondentes colocaram sua renda pessoal
como sendo a renda de toda a família.
Como verificado no gráfico a seguir, 47% afirmaram ter uma renda familiar
variando de 01 a 03 salários mínimos, representando a maioria da amostra. Em
seguida, 35% disse que a renda varia de 04 a 07 salários. Os outros 18% têm renda a
partir de 08 salários mínimos (ver tabela 05, apêndice C).
Gráfico 05 – Quanto à renda familiar
Fonte: Pesquisa de campo, 2008
Na questão referente ao costume de freqüentar as festas mossoroenses,
obteve-se um dado curioso. Antes de realizar a pesquisa, pela proporção quanto à
divulgação e a grande movimentação ocasionada na cidade nos meses de realização
das festas, acreditava-se que a maioria das pessoas iria ao centro da cidade para
prestigiá-las, ou mesmo em busca de outro interesse qualquer.
Todavia, verificou-se, na pesquisa de campo, que 41% das pessoas que
responderam ao questionário afirmaram não participar das festividades. As razões
apresentadas para o fato da não-freqüência incluíram, basicamente, a questão religiosa
| 83
ou a falta de interesse por participar das movimentações. Os outros 59% afirmaram ir
ao Mossoró Cidade Junina, ao Auto da Liberdade e à Festa de Santa Luzia, como pode
ser visto no gráfico 06 (ver tabela 06, apêndice C).
Gráfico 06 – Quanto ao hábito de freqüentar as festas de Mossoró
Fonte: Pesquisa de campo, 2008
Ao cruzar as informações relativas à idade e ao hábito de freqüentar as
festividades, não são apenas as pessoas mais jovens que costumam participar das
festas, mas também os mais velhos.
Como pode ser visto no gráfico a seguir, pouco mais de 52% dos
entrevistados na faixa etária até os 20 anos costumam ir às festas. Enquanto isso, mais
de 90% das pessoas com idade de 41 a 45 anos que foram entrevistadas vão às festas
mossoroenses. A participação das outras faixas etárias pode ser verificada no gráfico
07.
| 84
Gráfico 07 – Relação entre a idade dos pesquisados e o hábito de freqüentar as festas
Fonte: Pesquisa de campo, 2008
Posteriormente, também foram cruzados os dados relacionados à
escolaridade e ao hábito de ir às festas. Observou-se que apenas 01 (um) entrevistado,
cujo grau de escolaridade é o ensino fundamental incompleto, afirmou freqüentar as
festividades, o que não constitui, portanto, um dado relevante. Nas outras faixas de
escolaridade, esse percentual varia de 50 a 60%, crescendo novamente entre os pós-
graduados, que vão além dos 70%. Essas informações podem ser verificadas no
gráfico 08.
Isso demonstra que a participação da comunidade mossoroense nas festas
acaba por envolver todos os segmentos da sociedade, independentemente do seu nível
de escolaridade.
Gráfico 08 – Relação entre a escolaridade dos pesquisados e o hábito de freqüentar as festas
Fonte: Pesquisa de campo, 2008
| 85
Das pessoas que disseram freqüentar as festas, questionou-se sua principal
motivação para a participação. A maioria delas (75%) afirmou ter como motivo central a
interação social e os shows ofertados. Assim, tem-se que os moradores da cidade
buscam, na festa, um momento de diversão através dos shows de artistas locais e
nacionais, assim como a busca por relacionar-se com outras pessoas.
Com índices menores, surgiram também nas respostas a motivação
religiosa, contabilizando 10% delas, e a busca por uma renda-extra, através da venda
de artesanato, artigos alimentícios ou bebidas, por exemplo. As informações dadas
podem ser verificadas no gráfico 09 (ver tabela 07, apêndice C).
Em seguida, 14% responderam que os motivos para a participação nas
festas eram outros. Dentre eles, a busca por uma alternativa de lazer com a família, a
questão cultural, a aquisição de conhecimento sobre os acontecimentos históricos (que
são repassados através dos espetáculos), a intenção de beber, assim como a intenção
de perceber como o poder público tem usado as festas para demonstrar o seu poder.
Tais informações podem ser verificadas no gráfico 10.
Gráfico 09 – Quanto à motivação para participação nas festas
Fonte: Pesquisa de campo, 2008
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Gráfico 10 – Quanto à opinião dos que disseram freqüentar as festas por outros motivos
Fonte: Pesquisa de campo, 2008
Em relação à opinião dos pesquisados sobre os investimentos realizados
para a efetivação das festividades, 54% dos questionados responderam que o dinheiro
e os esforços deveriam ser colocados em outras áreas, tidas como prioritárias,
envolvendo questões como saúde, educação e infra-estrutura, por exemplo. Os outros
46% acreditam que os esforços investidos trazem retorno à cidade, como pode ser visto
no gráfico abaixo (ver tabela 08, apêndice C).
Efetivamente, é sabido que o retorno obtido pelos investimentos em ações
como as festas e o esforço por trazer o turismo para uma localidade nem sempre é fácil
de ser vizualizado. Assim, as pessoas acreditam que é importante investir em outros
setores, tidos como prioritários, por satisfazerem as necessidades mais básicas da
população das cidades.
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Gráfico 11 – Quanto à opinião a respeito dos investimentos realizados
Fonte: Pesquisa de campo, 2008
Posteriormente, fez-se o cruzamento da opinião dos entrevistados quanto
aos investimentos nas festas e à escolaridade dos mesmos. Deixando de lado a
escolaridade referente ao ensino fundamental incompleto, que incluía apenas 01
pessoa, tem-se, nas outras faixas, que as opiniões são diversificadas. Mais de 80% das
pessoas com ensino médio completo afirmaram que os investimentos deveriam ser
destinados a áreas tidas como prioritárias, o que envolve setores como saúde e
educação. Levando em conta que a maioria dos entrevistados (50%) possuía o ensino
médio completo, vê-se que há uma divisão de opiniões quanto ao investimento
realizado, como pode ser visto no gráfico abaixo.
Gráfico 12 – Relação entre escolaridade e a idéia que se tem sobre os investimentos nas festas
Fonte: Pesquisa de campo, 2008
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Outra informação obtida através do cruzamento de respostas envolve a
freqüência nas festas e a idéia que as pessoas têm sobre os investimentos realizados.
O que motivou o cruzamento foi a curiosidade por saber como os cidadãos colocam-se
politicamente. Eles acham que o capital e os esforços investidos deveriam ir para outras
áreas, mas freqüentam as festividades? Fazendo a análise, observou-se que, das
pessoas que responderam que os recursos deveriam ser investidos em áreas
prioritárias, mais de 70% não têm o hábito de ir às festas. Quanto aos respondentes
que afirmaram que as festas trazem retorno à cidade, mais de 57% vai às
comemorações. Esses dados podem ser verificados no gráfico 13. Acredita-se, assim,
que as pessoas levam, em consideração, o fato de acreditarem nos investimentos
realizados como um fator para a sua freqüência ou não nas festas.
Gráfico 13 – Relação entre freqüência às festas e a idéia que se tem sobre os investimentos nas festas
Fonte: Pesquisa de campo, 2008
No que se refere às transformações ocasionadas em Mossoró, em função
das festividades, questionou-se acerca dos impactos tidos como positivos e daqueles
considerados negativos. Ambas as questões permitiam mais de uma resposta. Nelas,
objetivava-se ter uma opinião das pessoas sobre o que vem acontecendo na cidade em
função das festas em questão.
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Nas respostas, obteve-se que 30% expôs que o crescimento do turismo
mossoroense é o efeito mais positivo trazido pelas festas. Assim, percebe-se que o
turismo é colocado, pela população, como o setor que mais é beneficiado com o
desenvolvimento das festas em território mossoroense.
Posteriormente, 20% dos questionados afirmaram que há melhoria na
movimentação do comércio local. Em seguida, 19% citaram o incentivo aos artistas
locais como um impacto positivo. Com o mesmo percentual surgiu a alternativa
relacionada à geração de postos de trabalho que, de certa forma, tem envolvimento
com o incentivo aos artistas da cidade, pois estes também estão inseridos na parcela
de pessoas beneficiadas com opções de trabalho.
Outros 10% frisaram a oportunidade de integração social como benefício.
Apenas 2% reconheceram a valorização das áreas circunvizinhas, como um aspecto
positivo. Tais informações podem ser vistas no gráfico 14 (ver tabela 09, apêndice C).
Gráfico 14 – Quanto à opinião sobre as modificações positivas
Fonte: Pesquisa de campo, 2008
Como pode ser verificado no gráfico 15, quanto aos aspectos negativos
trazidos pela realização do Mossoró Cidade Junina, do Auto da Liberdade e da Festa
de Santa Luzia, as pessoas questionadas responderam, em sua maioria (57%), que o
efeito mais negativo é aquele referente à violência. Outras alternativas citadas como
efeitos indesejados envolveram a questão da poluição sonora, que foi colocada por
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24% dos respondentes, e o uso da festa como um momento para ser feito de palanque
de campanha para os políticos, que querem mostrar suas ações no momento das
festividades (ver tabela 10, apêndice C).
Gráfico 15 – Quanto à opinião sobre as modificações negativas
Fonte: Pesquisa de campo, 2008
No momento em que deveriam colocar sua opinião quanto às modificações
que ocorreram na cidade de Mossoró em função das festas, a maioria das pessoas
disse que ela tornou-se mais conhecida. Observa-se que isso traz, também, um orgulho
maior, por parte da população, de ser e fazer parte de Mossoró, que tem sido vista
como um berço de cultura, área que vem sendo incentivada prioritariamente.
Em seguida, com 18% das respostas, as pessoas afirmam que houve
mudanças na organização da cidade, que ela vem sendo modificada para as festas.
Essas mudanças consistem, especialmente, em investimento na criação de uma série
de espaços para a realização de eventos, o que inclui um corredor cultural no centro da
cidade, área que concentra as festas analisadas nesta pesquisa.
Os outros 13% responderam que a maior modificação envolve as questões
econômicas, pois Mossoró tornou-se mais próspera, à medida que as festas requerem
uma série de investimentos, que têm fator multiplicador no território mossoroense.
Esses dados podem ser verificados no gráfico 16 (ver tabela 11, apêndice C).
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Gráfico 16 – Quanto à opinião sobre o que mudou com as festas
Fonte: Pesquisa de campo, 2008
Durante todo o percurso do presente estudo, houve uma questão que
intrigava a pesquisa. Será Mossoró uma cidade diferente das outras, distinta, avessa?
Pensava-se no sentido da cidade ter uma história peculiar, no sentido de seu
pioneirismo relativo a questões diversas, da sua vontade por ser grande, de sua busca
incessante por incentivar a cultura, distinguindo-se das ações realizadas pelas outras
cidades do Rio Grande do Norte. Assim, decidiu-se perguntar à população se a mesma
considerava Mossoró uma cidade diferente das outras.
As respostas obtidas traziam justificativas diversas. 61% das pessoas
disseram que Mossoró não é uma cidade avessa, justificando ter na mesma um destino
em crescimento, em ascensão e com problemas semelhantes a outras cidades e só. Os
outros 39% afirmaram que Mossoró é, sim, diferente, pela sua riqueza no petróleo; por
buscar fazer tudo de maneira grandiosa; por ter se tornado conhecida em função das
festas e por seu envolvimento com a cultura (ver tabela 12, apêndice C). A resposta
mais presente, nesse sentido, envolvia referências ao grupo político que a domina,
considerado fechado, que passa o poder de geração em geração e conta a história da
cidade sob sua ótica. Os dados coletados são apresentados no gráfico 17, a seguir.
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Gráfico 17 – Quanto à opinião se considera Mossoró uma cidade avessa
Fonte: Pesquisa de campo, 2008
A partir das informações obtidas na pesquisa de campo com a comunidade
local, apresentadas nos gráficos, pode-se inferir que há uma divisão das pessoas no
que diz respeito às festas ocorridas em território mossoroense.
4.3 O ENVOLVIMENTO DA INICIATIVA PRIVADA NOS EVENTOS FESTIVOS
A iniciativa privada tem investido em Mossoró, no sentido de efetivar a
realização das festividades na cidade. Nas entrevistas realizadas, questionou-se a
respeito de quais as festas em que há investimentos, as razões de por que investir,
assim como a respeito do retorno trazido para as instituições. Constata-se que, de
maneira geral, os principais objetivos da iniciativa privada, ao investir nas festas, estão
relacionados à melhoria da imagem das instituições em relação à comunidade local,
posto que, no momento em que investem, as pessoas têm a imagem da empresa como
uma incentivadora e promotora da cultura local.
Nesse sentido, a festa faz emergir as questões políticas em nível local e
estadual. Os patrocinadores devem, necessariamente, ter um bom relacionamento com
a instituição promotora do evento. No caso das festas em estudo, o Mossoró Cidade
Junina e o Auto da Liberdade são idealizadas pelo poder público municipal, e a Festa
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de Santa Luzia traz como idealizadora a Igreja Católica, sendo a Prefeitura Municipal,
neste caso, apoiadora da festa.
Tem-se, então, que a questão política está nitidamente presente nas festas
de Mossoró. Os seus idealizadores apostam seu investimento naquele momento em
que lhes é mais pertinente buscar uma melhoria da sua imagem institucional.
Ocorre, por exemplo, que em anos de eleição, seja em nível local ou
estadual, de acordo com os interesses políticos da época, é que irá ocorrer o patrocínio
de entidades como o Governo do Estado, por exemplo. A disputa política é tão forte
que, nos momentos em que os poderes local e estadual estão em lados politicamente
opostos, o Governo do Estado, que, comumente, dentre suas ações, incentiva as festas
de maior expressividade em âmbito estadual, não surge como patrocinador das festas.
Quanto à iniciativa privada, há a Companhia Energética do Rio Grande do
Norte - COSERN, concessionária de serviço público de energia elétrica, uma sociedade
anônima de capital aberto, que tem por objetivos, “projetar, construir e explorar
sistemas de produção, transmissão e distribuição de energia elétrica, bem como
serviços correlatos” (COSERN, 2007, p.17).
Segundo a instituição, a integração da empresa com a sociedade dá-se,
também, através de apoios socioculturais. Esse apoio ocorre não somente em eventos,
mas envolve uma série de ações, como programas de capacitação, campanhas
educativas e de melhoria da qualidade de vida de seus colaboradores, além de apoio a
eventos esportivos e culturais, entre outros.
Em Mossoró, dentro da programação da Festa de Santa Luzia, o Oratório de
Santa Luzia é patrocinado pela COSERN. O apoio dado é de capital financeiro, além da
infra-estrutura necessária para a sua efetivação, visto que se trata de um espetáculo
repleto de luzes e imagens. Inicialmente, o apoio foi efetivado através da Lei Estadual
Câmara Cascudo de incentivo à cultura, cujos investimentos retornam em forma de
incentivos fiscais. Contudo, no ano de 2007, o projeto não foi aprovado. Ainda assim, a
Companhia investiu na festividade, pois, de acordo com o Departamento de
Comunicação Institucional, não há como voltar atrás em relação ao apoio dado, pois
toda a população mossoroense espera pelo espetáculo.
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O início ao patrocínio ao Oratório ocorreu em função de um pedido de um
membro da Igreja, monsenhor Américo, o qual diz que a Paróquia, a cada ano, renova
seu significado sacro através da Festa de Santa Luzia, e a COSERN tem um papel
importante nisso. Coloca ainda que, além do aspecto religioso, a festa agrega a
comunidade de maneira social e cultural.
A COSERN afirma que seu objetivo em investir nas festas de Mossoró ocorre
na busca de uma melhoria da imagem da empresa. Hoje, ela entende que a imagem da
instituição está tão ligada ao Oratório de Santa Luzia que os próprios colaboradores da
empresa, em Mossoró, sentem-se como parte integrante do apoio. Isso tem refletido
diretamente no serviço prestado à população, visto que, de acordo com pesquisas
realizadas pela instituição, os seus colaboradores trabalham com mais prazer durante o
período da Festa de Santa Luzia, e os usuários sentem que, no mesmo período, o
serviço prestado é de melhor qualidade.
Assim, para a instituição, o maior benefício em investir nas festividades é ter
uma melhoria da imagem da empresa, já que a população mossoroense pode vê-la
como um órgão que investe na cultura da cidade.
Já a Universidade Potiguar – UnP – trabalha no ramo da educação, sendo
uma instituição de ensino superior, com base em Natal, mas que contém uma
ramificação em terras mossoroenses.
Assim como a COSERN, a UnP não se restringe ao apoio de festas e
eventos culturais. Como a questão da responsabilidade social coloca-se, cada vez mais
na pauta das discussões, é importante para as empresas inserirem-se no mercado com
a imagem de corporações que têm compromisso com o social. Assim a Universidade
envolve-se com trabalhos e investimentos em outras áreas.
No caso específico das festas mossoroenses, a instituição trabalha, mais
fortemente, no sentido de incentivar a realização do Mossoró Cidade Junina, visto que
se trata do único dos três eventos que tem repercussão em nível estadual, regional e
nacional. Como a UnP busca atrair estudantes de todas as regiões do país, torna-se
mais interessante investir em um evento que traga um retorno maior de mídia. Inclusive,
| 95
durante a entrevista, afirmou-se que o patrocínio maior é dado financeiramente para
divulgação da festa.
Todavia, o apoio da instituição não se restringe à questão do financiamento.
A Universidade também costuma disponibilizar pessoal para ações específicas
realizadas durante as festas, como trabalhos que requeiram mão-de-obra
especializada. São envolvidos estudantes e professores de cursos diversos, que de
alguma forma possam auxiliar na construção e no sucesso das festividades.
A Universidade Potiguar tem a opinião de que Mossoró modifica-se de
maneira intensa em função da realização das festas, que tem trazido uma nova
realidade para a cidade, que tem conhecido sua história e sentido orgulho de ser e
fazer parte de um povo que tem mantido, ao longo de sua história, a liberdade como um
ideal.
A festa demonstra, assim, envolver todo um jogo de interesses por parte das
pessoas que as realizam, assim como daquelas que nela investem. Todas as ações
efetivadas, no sentido de apoiar as festas, têm objetivos a serem alcançados por parte
das empresas que nelas investem. Como o objetivo maior da realização das
festividades é efetivar o turismo na cidade através de ações de cunho cultural, as
empresas investem neste sentido, alocando seus esforços no sentido de efetivar as
festas que, por conseguinte, dinamizam todo o território mossoroense.
4.4 O OLHAR SOCIOECONÔMICO DA POPULAÇÃO LOCAL SOBRE O TURISMO
O discurso relatado acerca do turismo como um fenômeno crescente no
território mossoroense, faz-se necessário pensar em uma perspectiva mais crítica.
A história da cidade vem sendo, nos últimos anos, apropriada pelo poder
público municipal, com o intuito de promover espetáculos que demonstrem Mossoró
como um espaço diferente dos outros, repleto de garra, coragem e pioneirismo. Esses
ideais são colocados através, especialmente, dos espetáculos ocorridos nas suas
principais festas. Essas questões acabam por envolver a identidade de seu povo, bem
| 96
como a construção de seu imaginário coletivo, que circunda envolto por imagens que
vêm sendo colocadas nos momentos festivos.
Nesse ínterim é que emerge o turismo mossoroense. Os efeitos positivos que
o crescimento da atividade turística pode trazer às comunidades onde se instala são
largamente conhecidos e divulgados. Todavia, é sabido que, assim como qualquer
outra atividade econômica, ao se instalar em um território, o turismo traz, consigo,
impactos nos mais diversos âmbitos, o que envolve os setores econômico, ambiental e,
em especial, a questão sociocultural.
Como afirma Coriolano (2006, p.216), os padrões de concorrência
internacional acentuam a importância dos serviços como uma fonte de sustentação das
economias nacionais. Nesse contexto, o turismo emerge como “[...] uma atividade
produtiva mundial que interfere na organização desigual e combinada de territórios,
sendo absorvido de maneiras diferenciadas pelas culturas e modos de produção”.
Quando a sociedade civil entendeu que poderia beneficiar-se economicamente, buscou
desenvolvê-lo em seus territórios, com o apoio do Estado. Todavia, por se tratar de uma
atividade capitalista, que busca o lucro, mostra-se contraditória, à medida que propõe
desenvolvimento, mas traz consigo uma série de implicações negativas nas localidades
onde ocorre.
Em Mossoró, o turismo ainda não ocorre de forma efetiva, onde exista um
fluxo contínuo de visitantes motivados pelas questões culturais, mas em momentos
específicos, mais ligados aos períodos nos quais ocorrem as festas. Sempre houve um
fluxo de turismo na cidade, mas formado, basicamente, por pessoas que estavam ali
motivadas por negócios, atividades relacionadas a trabalho. Nos últimos anos é que os
meses de festa vêm demonstrando um diferencial no crescimento da atividade turística,
que agora não está mais restrito ao fluxo de turistas de negócios, mas, principalmente,
ao turismo cultural e de lazer.
Através das pesquisas de campo realizadas com a população mossoroense,
percebe-se também que cidadãos de todos os níveis de escolaridade, assim como de
diversas faixas etárias, participam das festas, que mostram envolver todas as camadas
da sociedade. Ainda assim, foi significativo o número de pessoas que disseram não
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participar das festividades. Respostas como essa levam a pensar na causa real para o
não-envolvimento de uma maior camada da sociedade nesses eventos festivos, apesar
de toda a divulgação e propaganda relacionadas a eles. A cidade, no período das
festas, tem seu cotidiano modificado, desde a decoração das ruas e das lojas.
Também ocorre que as principais motivações para a participação estão
relacionadas à busca por interação social e aos shows, onde, geralmente, as atrações
principais não são locais, mas de fama em nível nacional. Os mossoroenses ainda não
vêem o retorno trazido pelos investimentos, e prova disso é que mais da metade dos
questionados na pesquisa afirmaram pensam que os investimentos deveriam estar
alocados em outras áreas, como educação e saúde.
Na ótica da população, os efeitos ocasionados pelas festas são o
crescimento do turismo e a melhoria da movimentação no comércio da cidade, que
ficou mais conhecida pela divulgação realizada em torno dos momentos festivos.
Todavia, os impactos não-desejáveis e que vêm ocorrendo têm relação com o aumento
da violência e a poluição sonora. Entende-se que os impactos vão bem além do que a
população vê, e se tem, assim, que há uma comunidade ainda não envolvida no
processo de crescimento do turismo local.
Então, afirma-se que ainda há uma parcela significativa da população ainda
não vê as festas como uma alternativa de trabalho, e é preciso, então, pensar sobre a
maneira como o turismo vem sendo trabalhado em Mossoró.
Assim, a proposta que se deve elaborar em relação ao turismo mossoroense,
então, é que busque uma nova dimensão, no sentido de adaptá-lo aos interesses da
comunidade, o que faz com que haja uma maior possibilidade de sucesso a médio e
longo prazos, posto que, como foi visto, grande parte dos moradores locais não têm
participado das festas, que são o carro-chefe do turismo mossoroense. Assim, pode-se
dizer que eles não têm feito parte do processo de inserção do turismo na localidade, o
que, indiscutivelmente, é preciso ocorrer para que a atividade turística seja interessante
para ela.
Questões como essa, segundo Barretto (2007), ocorrem porque os turistas
acabam por tomar os espaços que antes eram apenas da comunidade. Essa realidade
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foi verificada na realização do Chuva de Bala no País de Mossoró em 2007, quando os
mossoroenses reclamavam pela existência de um espaço reservado para os turistas
vindos através de agências de viagens, que pagavam e tinham um espaço privilegiado
para ver ao espetáculo. Para a autora, os estudos demonstram que os objetivos de
entendimento e aproximação entre os povos, sempre colocados como objetivos do
turismo, não vêm sendo atingidos. O que parece, na verdade, é que se repetem
problemas que percorreram toda a história da humanidade, como colonialismo social e
xenofobia.
Assim, os turistas passam, muitas vezes, a serem vistos como “um mal
necessário”. Sua presença incomoda, mas sua ausência faz falta em função do dinheiro
que eles trazem consigo. Já os turistas vêem a comunidade, muitas vezes, apenas
como um instrumento para os seus fins, um mero prestador dos serviços que lhes são
necessários. Há, então, uma “profissionalização” dos contatos, cada um com seus
interesses.
O grande paradoxo do turismo é que coloca em contato direto e próximo indivíduos que não se enxergam entre si como pessoas, mas como entidades portadoras de algo que o outro necessita. Os turistas são consumidores; os moradores locais, parte do produto consumido (BARETTO, 2007, p.77).
Está claro que as relações colocadas entre visitantes e anfitriões irão variar
em função de uma série de circunstâncias colocadas em cada realidade. É preciso
entender, também, que a comunidade anfitriã não se trata de um grupo homogêneo,
mas diverso, mutável, e com interesses distintos. O desafio é, então, fazer com que as
relações sejam mais humanas. Ao estudar planejamento, entende-se que as ações
devem ocorrer de maneira conjunta, com a participação da sociedade civil da maneira
mais ativa possível. Assim, ao sentir-se como parte do processo, enquanto sujeitos, a
possibilidade de sucesso é maior, pois, nas ações de planejamento irão constar os
valores e interesses do Estado, do mercado, mas também da comunidade, que é peça-
chave no desenvolvimento de um turismo com bases sustentáveis. Trabalhando assim,
o ciclo de vida do turismo em Mossoró não estará comprometido à estagnação ou
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mesmo ao declínio, pois se entende que o mesmo ainda está em fase de
desenvolvimento, tendo muito a crescer e se profissionalizar.
De acordo com o Gerente de Turismo da Prefeitura Municipal, Gabriel
Barcelos, Mossoró tem grande crescimento de seu fluxo turístico no período das festas,
principalmente no mês de junho, em virtude do "Mossoró Cidade Junina".
Anteriormente, junho era um mês considerado “fraco” para o segmento turístico, e hoje
apresenta uma ocupação média superior a 80% nos equipamentos hoteleiros. No que
se refere à capacidade de hospedagem da cidade, atualmente, há mil e quinhentos
leitos disponíveis, e novos empreendimentos vêm sendo criados, como é o caso dos
Hotéis Garbus e Ibis, já em fase de construção. Outro dado que merece destaque é a
informação da Câmara de Dirigentes Lojistas da cidade ao afirmar que, no mês de
junho, a economia formal e informal tem aquecimento em média de 10 milhões de reais
em relação aos outros meses do ano. Dados como esses levam à compreensão de que
o turismo é realmente uma atividade que tende a crescer em Mossoró, em função dos
investimentos que vêm sendo realizados, bem como do que já vem sendo percebido
como retorno em função dessas ações. Contudo, para que isso ocorra, esse
crescimento necessita de ações concretas de planejamento.
Assim, é preciso buscar uma atividade que cresça, mas com os benefícios
que o turismo pode trazer, quando se destaca a geração de trabalho e renda para a
população local. Entretanto, deve gerar, especialmente, a inclusão social, inserida em
uma realidade de sustentabilidade, onde as gerações futuras sejam também
oportunizadas e Mossoró possa despontar enquanto um destino de turismo cultural no
Rio Grande do Norte.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A cultura e o turismo em Mossoró vêm sendo trabalhados, nos últimos anos,
de forma conjunta, com vistas a desenvolver o turismo cultural na cidade, através das
festas do Mossoró Cidade Junina, do Auto da Liberdade e da Festa de Santa Luzia.
Esses eventos festivos têm trazido investimentos para a cidade, e fazendo com que a
mesma se modifique territorialmente, que sejam criadas novas dinâmicas espaciais,
assim como novos espaços, voltados prioritariamente para a difusão de sua cultura e
do turismo em seu território.
A cidade de Mossoró, nos últimos anos, através de suas festas e do
crescimento da atividade turística, vem envolvendo questões relativas à existência do
lugar, através do sentimento de pertença de sua população. A história da cidade está
repleta de fatos que remetem ao pioneirismo, às lutas, a gestos de coragem e à busca
pela liberdade, implementadas por seu povo.
Através de festas, patrocinadas pelo poder público, são celebrados fatos do
passado que recuperam a memória, as imagens e os discursos do passado em
Mossoró. Para Felipe (2001), o imaginário do povo mossoroense alimenta-se de uma
imagem de que o presente é uma realidade determinada pelos fatos do passado.
Assim, para entender a realidade vivenciada pela população mossoroense, faz-se
necessário compreender, além de suas práticas cotidianas, os significados atribuídos
por ela aos acontecimentos históricos vividos por seus antepassados. Cotidiano e
ressignificação histórica determinam a tessitura das identidades do povo mossoroense,
e tais aspectos são, a todo o momento, explorados na efetivação das festas
mossoroenses.
Mas o momento festivo não ocorre sem objetivos por parte daqueles que a
realizam. O poder público busca, com o trabalho que vem sendo realizado, afirmar sua
imagem e seus interesses. Mossoró tem sido amplamente divulgada como a “capital
cultural do Rio Grande do Norte”. Os investimentos realizados nas festas aumentam
ano a ano, bem como a mídia que as cercam, o que faz com que o fluxo de pessoas
para a cidade só aumente. Para o poder público municipal, o investimento realizado
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circula na cidade através dos ganhos obtidos pelo turismo. Todavia, sabe-se que parte
significativa desses recursos vai para fora, visto que Mossoró não dispõe de toda infra-
estrutura necessária para a organização das festas, o que envolve também a
contratação de shows de artistas de renome nacional. Esse dinheiro acaba não ficando
para a economia local, deixando de beneficiar a população. Assim, o turismo
mossoroense vem crescendo dentro de um modelo que não é tido como ideal, pois
concentra os seus maiores benefícios nas mãos de poucos. O turismo tem sido visto
como uma alternativa extremamente rentável, mas a comunidade local tem sido, muitas
vezes, negligenciada dentro desse processo.
É também possível perceber que a questão política está muito presente nas
festas mossoroenses. A iniciativa privada, por sua vez, investe nelas com o intuito de
melhorar sua imagem institucional diante da população da cidade, bem como dos
turistas. A festa mossoroense tem, em seus bastidores, um jogo de interesses muito
forte, havendo sempre objetivos não-explícitos por parte daqueles que a promovem e a
apóiam.
Quanto à comunidade local, de acordo com a pesquisa de campo, as festas
acabam por envolver todos os segmentos da sociedade, independentemente do seu
nível de escolaridade. Contudo, uma parcela significativa afirma que não participa das
festividades. A principal motivação para a participação é a interação social e a
programação de shows. Mais da metade dos pesquisados responderam que o dinheiro
e os esforços deveriam ser colocados em outras áreas, tidas como prioritárias. Ainda
assim, a população afirma que o crescimento do turismo mossoroense é o efeito mais
positivo trazido pelas festas, havendo também a melhoria na movimentação do
comércio local e o incentivo aos artistas locais. Já os efeitos negativos referiram-se,
especialmente, à questão do aumento da violência. Outros efeitos indesejados
incluíram a poluição sonora e o uso da festa como palanque político.
Mossoró tem, na efetivação de suas festas, grande parte da cidade
movimentando-se no sentido de garantir a sua realização. Os equipamentos de
hospedagem organizam-se para a chegada da demanda de turistas, assim como os
comerciantes locais e o poder público buscam estar aptos a receber um grande número
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de pessoas na cidade de maneira organizada, segura e de modo a ter condições de
atender às suas necessidades.
As programações organizadas pelos diversos atores envolvidos nesse
processo não têm apenas o poder de atualizar os mitos, mas de colocar em cena a
história do povo, sendo capaz de mediar valores. Elas são tidas como instrumento de
interação e expressão da diversidade, permitindo ao povo reconhecer-se na festa. Isso
é o que vem acontecendo, nos últimos anos, nas festas de Mossoró, mais
especificamente nos espetáculos Chuva de Bala no País de Mossoró e Auto da
Liberdade, nos quais os protagonistas da história da cidade vêm sendo postos como
heróis, e essa é a imagem que a população vem criando dessas pessoas. O que se
coloca em cena é a vida do povo daquele lugar, mas a visão ali posta é a de seus
organizadores e idealizadores, através da imagem que lhes interessa passar para o
povo, visto que a história é contada sob o ponto de vista influenciador de quem dirige as
apresentações que desenvolvem as narrativas.
O fato das pessoas acreditarem que Mossoró ficou mais conhecida a partir
da realização das festas, acaba por melhorar a estima da população, que, cada vez
mais, mostra o orgulho de fazer parte daquele lugar. Assim, o orgulho de ser
mossoroense cresce à medida que a cidade vem transformando-se para o turismo e
sendo transformada pelo crescimento das festas e do turismo na cidade.
Através das festas do Mossoró Cidade Junina, do Auto da Liberdade e da
Festa de Santa Luzia, uma nova Mossoró vem sendo criada. São transformações na
economia da cidade, que busca desenvolver o turismo cultural em seu espaço, com
vistas aos possíveis benefícios dessa atividade. A opção pelo investimento nesse setor
tem acabado por trazer, também, modificações estruturais para a cidade, que tem sido
transformada para a realização das festividades, as quais estão acabando por criar um
corredor cultural no entorno dos espaços apropriados. Para que isso ocorra, atenta-se
para a necessidade de ações de planejamento a médio e longo prazos, para que todos
os atores sociais estejam envolvidos no processo e comunguem dos benefícios que a
atividade turística pode trazer.
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| 110
PÊNDICE A - ROTEIRO DE ENTREVISTA - PODER PÚBLICO MUNICIPAL
SOBRE O ENTREVISTADO
Há quanto tempo está na função:
SO
ura tem trabalhado no sentido de efetivar a realização das festas
vestir na realização de festas?
ização cultural?
objetivos. O
incipais impactos das festas na cidade? Incluir aspectos positivos e
negativos.
A
Nome:
Formação:
Cargo que ocupa:
BRE AS FESTAS DE MOSSORÓ
Como a Prefeit
em Mossoró?
Qual são os objetivos do poder público ao in
Como o turismo pode beneficiar a cidade?
Por que dedicar-se, prioritariamente, à realização de eventos culturais?
Na iniciativa privada, quais são os principais incentivadores/apoiadores das
festas? O apoio é somente financeiro? Por que eles investem nas festas?
Que modificações podem ser vistas em Mossoró com a realização das festas?
Qual o papel do turismo em relação à esse processo de dinam
Qual a relação existente entre turismo e cultura em Mossoró?
Fale um pouco sobre o Mossoró Cidade Junina, sua história, seus
que mudou depois que ele veio acontecer na Estação das Artes?
Fale um pouco sobre o Auto da Liberdade, sua história, seus objetivos.
Fale um pouco sobre a Festa de Santa Luzia, sua história, seus objetivos.
Quais os pr
| 111
APÊNDICE B - QUESTIONÁRIO – COMUNIDADE LOCAL
_
3. Ba
em salários mínimos):
07 S.M. ( ) 08 a 10
6. Es
dio incompleto
incompleto
( ) Pós-graduado
7. Você costuma freqüentar as festas do Mossoró Cidade Junina, Auto da Liberdade e
8. Se sim, qual a sua principal motivação para a participação nas festas?
_____________________.
9. Co
1. Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino
2. Idade: ______
irro onde reside: _________________________
4. Estado civil:
( ) Solteiro ( ) Casado ( ) Divorciado ( ) Viúvo ( ) Outro
5. Renda familiar (
( ) 01 a 03 S.M. ( ) 04 a
colaridade:
S.M. ( ) Acima de 10 S.M.
( ) Ensino fundamental
incompleto
( ) Ensino fundamental completo
( ) Ensino mé
( ) Ensino superior completo
( ) Ensino médio completo
( ) Ensino superior
de Santa Luzia?
( ) Sim ( ) Não
( ) Questão religiosa ( ) Interação social
( ) Assistir aos shows ( ) Busca por uma renda-extra
( ) Outra opinião. Qual? _
mo você vê o investimento realizado pelo poder público nas festas de Mossoró?
( ) Traz retorno à cidade
| 112
_.
utra opinião. Qual? ______________________.
10. Qu
fes
ealização valorizadas
de postos de trabalho
) Incentivo aos artistas locais
de de integração social
_______________
11. Qu estas?
( ) Violência
( ) Outra opinião. Qual?
12. O que mudou em Mossoró com a realização das festas do Mossoró Cidade Junina,
do Auto da Liberdade e da Festa de Santa Luzia?
( ) Prosperou economicamente. Qual?_____________________.
13. Você acha que Mossoró é uma cidade avessa (diferente das outras)? Por que?
( ) Sim ( ) Não Justifique: _____________________________________.
( ) Deveria ser investido em outras áreas prioritárias. Quais? ______________
( ) O
ais modificações positivas podem ser vistas em Mossoró com a realização das
tas?
( ) Áreas circunvizinhas aos locais de r
( ) Melhoria no movimento do comércio ( ) Geração
( ) Crescimento do turismo local (
( ) Oportunida
( ) Outra opinião. Qual? ___
ais são os aspectos negativos das f
____.
( ) É um momento utilizado
pelos políticos para aumentar sua
( ) Poluição sonora
popularidade ______________________.
( ) A organização do “lugar” das ( ) Tornou-se mais conhecida.
festas. ( ) Outra opinião.
113
APÊNDICE C – TABELAS COM INFORMAÇÕES OBTIDAS DURANTE A PESQUISA
DE CAMPO COM A COMUNIDADE LOCAL
Tabela 01 - Distribuição dos entrevistados quanto ao sexo
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Sexo Freqüência Porcentagem
Feminino 33 32,7
Masculino 67 67,3
Total 100 100
Tabela 02 - Distribuição dos entrevistados quanto à faixa etária
Idade Freqüência Porcentagem Até 20 anos 19 18,8
De 21 a 30 anos 43 42,6
De 31 a 40 anos 21 20,8
De 41 a 50 anos 12 11,9
De 51 a 60 anos 3 3
Não respondeu 2 3
Total 100 100
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
114
Tabela 03 - Distribuição dos entrevistados quanto ao estado civil
Estado Civil Freqüência Porcentagem
Solteiro 56 55,4
Casado 34 33,7
Divorciado 2 2
Viúvo 1 1
Outro 5 5Nãorespondeu 2 3
Total 100 100
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Tabela 04 - Distribuição dos entrevistados quanto à escolaridade
Escolaridade Freqüência Porcentagem Ensino fundamental incompleto 1 1
Ensino médio incompleto 6 5,9
Ensino médio completo 50 49,5
Ensino superior incompleto 9 8,9
Ensino superior completo 26 25,7
Pós-graduado 8 7,9Total 100 100
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Tabela 05 - Distribuição dos entrevistados quanto à renda familiar
Renda Familiar Freqüência Porcentagem
01 a 03 S.M. 45 44,6
04 a 07 S.M. 34 33,7
08 a 10 S.M. 11 10,9
Acima de 10 S.M. 7 6,9
Não respondeu 3 2,9
Total 100 99
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
115
Tabela 06 - Distribuição dos entrevistados quanto ao hábito de freqüentar as festas
Costuma freqüentar as festas Freqüência Porcentagem
Sim 60 60
Não 41 41
Total 101 100
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Tabela 07 - Distribuição quanto à motivação para participação nas festas
Motivação Freqüência Porcentagem
Religiosa 7 9,7
Shows 30 41,7
Interação social 24 33,3
Renda extra 1 1,4
Outros* 10 13,9
Total 72 100
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Tabela 08 - Distribuição quanto à opinião acerca dos investimentos realizados
Como vê os investimentos Freqüência Porcentagem
Traz retorno à cidade 42 41,6Deveria ser investido em outras áreas prioritárias 49 48,5
Total 101 100
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
116
Tabela 09 - Distribuição quanto às modificações positivas ocasionadas pelas festas
Sobre as modificações positivas Freqüência Porcentagem Área circunvizinhas valorizadas 4 2,2Melhoria no movimento do Comércio 36 19,6Crescimento do turismo 55 29,9Oportunidade de integração social 19 10,3Geração de Postos de trabalho 35 19,0Incentivo aos artistas locais 35 19,0Total 184 100
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Tabela 10 - Distribuição quanto às modificações negativas ocasionadas pelas festas
Sobre as modificações negativas Freqüência Porcentagem
Violência 79 56,8
Momento utilizado pelos políticos para aumentar a popularidade 26 18,7
Poluição Sonora 34 24,5
Total 139 100,0
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Tabela 11 - Distribuição quanto ao que mudou na cidade
Sobre o que mudou com as festas Freqüência Porcentagem
Mudanças na organização 20 18,2
Prosperidade econômica 14 12,7
Tornou-se mais conhecida 76 69,1
Total 110 100
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
117
Tabela 12 - Distribuição quanto à idéia de que Mossoró é uma cidade avessa
Se acha Mossoró uma cidade avessa Freqüência Porcentagem
Sim 37 36,6
Não 57 56,4
Não respondeu 7 6,9
Total 101 100
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
118
APÊNDICE D – ROTEIRO DE ENTREVISTA – INICIATIVA PRIVADA
SOBRE O ENTREVISTADO
Nome:
Formação:
Cargo que ocupa:
Há quanto tempo está na função:
SOBRE AS FESTAS DE MOSSORÓ
Em quais festas de Mossoró vocês investem?
Como é esse investimento? Somente de capital financeiro?
Por que investir nas festas de Mossoró?
Qual o retorno trazido por esses investimentos?
Que modificações podem ser vistas em Mossoró com a realização das festas?