95
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS PROGRAMA MULTI-INSTITUCIONAL DE PÓS- GRADUAÇÃO DE DOUTORADO EM BIOTECNOLOGIA DIGESTIBILIDADE IN VIVO E IN VITRO DA TORTA DE CUPUAÇU (Theobroma grandiflorum) PARA JUVENIS DE TAMBAQUI (Colossoma macropomum), ESAÚ AGUIAR CARVALHO MANAUS – AM 2011

UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS PROGRAMA … - Esaú Aguiar... · LISTA DE TABELAS Tabela 1. Proteases ... 1.3 Potencial de Utilização de Subprodutos do Despolpamento de Frutas

Embed Size (px)

Citation preview

UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS PROGRAMA MULTI-INSTITUCIONAL DE PÓS-

GRADUAÇÃO DE DOUTORADO EM BIOTECNOLOGIA

DIGESTIBILIDADE IN VIVO E IN VITRO DA TORTA DE CUPUAÇU (Theobroma grandiflorum) PARA JUVENIS DE

TAMBAQUI ( Colossoma macropomum),

ESAÚ AGUIAR CARVALHO

MANAUS – AM 2011

UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS PROGRAMA MULTI-INSTITUCIONAL DE PÓS-

GRADUAÇÃO DE DOUTORADO EM BIOTECNOLOGIA

ESAÚ AGUIAR CARVALHO

DIGESTIBILIDADE IN VIVO E IN VITRO DA TORTA DE CUPUAÇU (Theobroma grandiflorum) PARA JUVENIS DE

TAMBAQUI ( Colossoma macropomum)

Tese apresentada ao programa de Pós-graduação do curso Multi-institucional de Doutorado em Biotecnologia, da Universidade Federal do Amazonas, como parte do requisito para obtenção do título de Doutor em Biotecnologia.

Orientador: Dra. Expedita Maria de Oliveira Pereira, UFAM, Manaus/AM Co-orientador: Dr. Gilberto Moraes, UFSCAR, São Carlos/SP

MANAUS – AM

2011

Ficha Catalográfica (Catalogação realizada pela Biblioteca Central da UFAM)

C331d

Carvalho, Esaú Aguiar

Digestibilidade in vivo e in vitro da torta de cupuaçu (Theobroma grandiflorum) para juvenis de tambaqui (Colossoma macropomum) / Esaú Aguiar Carvalho. - Manaus: UFAM, 2011.

95 f.; il. color.

Tese (Doutorado em Biotecnologia) –– Universidade Federal do Amazonas, 2011.

Orientadora: Profª. Dra. Expedita Maria de Oliveira Pereira Co-orientador: Prof. Dr. Gilberto Moraes

1. Piscicultura 2. Nutrição de peixes 3. Tambaqui (Peixe) - Nutrição I. Pereira, Expedita Maria de Oliveira (Orient.) II. Moraes, Gilberto (Co-orient.) III. Universidade Federal do Amazonas IV. Título

CDU 597.554.1:639.3.043(043.2)

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________________________

Dra. Expedita Maria de Oliveira Pereira

Universidade Federal do Amazonas

__________________________________________________________________________

Dra. Ana Cristina Belarmino de Oliveira

Universidade Federal do Amazonas

_________________________________________________________________________

Dr. Antônio José Inhamuns

Universidade Federal do Amazonas

________________________________________________________________________

Dr. Frank Jorge Guimarães Cruz

Universidade Federal do Amazonas

___________________________________________________________________________

Dr. Luís Antônio Kioshi Aoki Inoue

Embrapa Ocidental

Aprovada em 25 de agosto de 2011

Aos meus pais (in memorian) pelo

incentivo para seguir em frente

sempre e à minha irmã Elna pelo

apoio para realização deste

trabalho.

AGRADECIMENTOS

A Deus pela força suprema.

Ao Dr. Manoel Pereira Filho (in memorian) pelo apoio, grande incentivo, palavras amigas e

primeira orientação quando cheguei ao INPA.

Ao Dr. Gilberto Moraes pelo forte apoio e grande amizade desenvolvidos quando estive na

UFSCAR, para treinamento.

A minha orientadora Dra. Expedita Maria por me acolher como orientando e pelo incentivo

para realização desse trabalho.

Ao Dr Spartaco e ao Dr. José Odair pela compreensão e imenso incentivo para que eu pudesse

completar esse trabalho.

A Professora Leonor, do departamento de Química, pelo grande apoio ao delineamento dos

estudos in vitro, incentivo e amizade conquistada.

A Sra Maria Inês pelas análises bromatológicas realizadas e grande amizade conquistada

juntos.

Aos funcionários do INPA Atílio, Sra Suzana, Sra Ana, Waldir, Evandro pelo apoio pessoal e

funcional.

Ao pesquisador Alexandre Honckzarik pela amizade e concessão dos peixes para realização

do estudo.

Ao funcionário do INPA Gabriel Nobre pela grande amizade e apoio para realização desse

trabalho.

Ao colega Guto pelas análises estatísticas e grande apoio para delineamento dos estudos e

grande amizade a mim dedicados.

Ao colega Cristian Castro pela enorme amizade conquistada e grande apoio para realização de

parte prática e escrita.

A colega Iara pelo excepcional apoio e incentivo a mim propiciados.

A colega de curso Marta Nascimento pelo forte incentivo, apoio e amizade.

Ao colega Márcio pelo apoio nas finalizações da escrita do capítulo II.

Aos colegas César Oishi, Geraldão, André Anselmo, Lian, Fábio Soller, Cássia, Fábio

Wegbecher, Elenice, Marieta, pelo apoio e amizade conquistados.

Aos colegas de curso Lioney Cabral e Ederly pela amizade e apoio mútuo.

A colega Flávia Paiva pelo auxílio nas análises químicas dos extratos enzimáticos.

As secretárias Elzimar e Nubiane pelo apoio aos assuntos burocráticos do curso.

Aos funcionários de serviços gerais do INPA/CPAQ, Fatinha e Sr. Joaquim, pela grande

amizade a mim dispensada.

A CUPUAMA pelo fornecimento da torta de cupuaçu para os experimentos

A CAPES pela concessão da bolsa de estudo.

A todos que direta ou indiretamente contribuíram para realização desse estudo.

Muito obrigado!

i

DIGESTIBILIDADE IN VIVO E IN VITRO DA TORTA DE CUPUAÇU (Theobroma

grandiflorum) PARA JUVENIS DE TAMBAQUI ( Colossoma macropomum)

RESUMO: Uma dieta ou um ingrediente são considerados digeríveis quando há habilidade

do animal, que os consome, para absorver os nutrientes contidos nela, sendo determinado,

portanto, um coeficiente de digestibilidade destes nutrientes, revelando o potencial nutricional

da dieta ou do ingrediente. Objetivando determinar o coeficiente de digestibilidade (CDA) de

um resíduo vegetal (torta de cupuaçu), por técnicas in vivo e in vitro, foram realizados dois

estudos. No primeiro, duzentos juvenis de tambaqui (87,2 ± 6,3g) foram acondicionados em

cones de digestibilidade em um delineamento experimental de dois tratamentos: T0 (ração

comercial) e o T1 (ração comercial com inclusão de 30% de farinha de torta de cupuaçu), e 5

repetições. O método de determinação dos coeficientes de digestibilidade foi o indireto com

inclusão de 0,5% de óxido de cromo (Cr2O3) nas rações experimentais. As variáveis físico-

químicas da água de cultivo foram monitoradas diariamente as 8:00 h. Os CDAs dos

principais nutrientes estudados foram reduzidos com a inclusão de 30% de torta de cupuaçu

em uma ração comercial, mostrando que esse nível de inclusão, segundo as condições desse

ensaio, é inadequado para nutrição de juvenis de tambaqui. No segundo estudo, aplicando-se

uma técnica in vitro, com a utilização do próprio extrato enzimático de trinta juvenis de

tambaqui, provenientes do primeiro ensaio, se determinou os coeficientes de digestibilidade

da fração solúvel protéica do resíduo (torta de cupuaçu) e de duas dietas, sendo uma

constituída de ração comercial e outra com essa mesma ração com inclusão de 30% da torta

de cupuaçu, após aplicação de metodologia desenvolvida no laboratório de Bioquímica de

Peixe, da Universidade Federal de São Carlos – SP. Os resultados evidenciaram que, por meio

dessa técnica, não foi possível observar o potencial solúvel protéico da torta de cupuaçu e das

ii

dietas estudadas, sugerindo-se refinamento dessa metodologia com conseqüentes estudos

comparativos a tradicionais técnicas in vitro e in vivo.

Palavras-chave: Piscicultura, Nutrição de peixes, técnicas in vivo e in vitro

iii

IN VIVO AND IN VITRO DIGESTIBILITY OF CUPUAÇU PIE ( Theobroma

grandiflorum) FOR JUVENILES TAMBAQUI ( Colossoma macropomum).

Abstract: A diet or a digestible ingredients are considered when there is ability of the animal,

which consumes, to absorb the nutrients contained in it and is determined, therefore, a

coefficient of digestibility of nutrients, revealing the potential nutritional or dietary ingredient.

In order to determine the digestibility coefficient (ADC) of a plant residue (cake cupuaçu),

techniques for in vivo and in vitro two studies. In the first two hundred juvenile tambaqui

(87.2 ± 6.3 g) were placed in cones in a digestibility experiment of two treatments: T0

(commercial diet) and T1 (commercial diets with inclusion of 30% flour pie cupuaçu), and 5

repetitions. The method of determining digestibility was indirect, with the inclusion of 0.5%

chromium oxide (Cr2O3) in the experimental diets. The physico-chemical variables of water

cultivation were monitored daily at 8:00 pm The EDCs of the main nutrients studied were

reduced with the inclusion of 30% pie in a commercial feed cupuaçu, showing that this level

of inclusion, according to the conditions of this test, is inadequate nutrition for tambaqui. In

the second study, by applying a technique in vitro, with the operation of the enzymatic extract

thirty tambaqui, from the first test, it was determined the digestibility of the soluble protein

fraction of the residue (cake cupuaçu) and two diets, one consisting of commercial feed and

the other with the same feed with 30% inclusion of Pie cupuaçu, after application of

methodology developed in the laboratory of Biochemistry of Fish, Federal University of São

Carlos - SP. The results showed that, using this technique, it was not possible to observe the

potential of soluble protein cupuaçu pie and the diets studied, suggesting that refinement of

this methodology with subsequent comparisons to traditional techniques in vitro and in vivo

Keywords: Fish farming, fish nutrition, techniques in vivo and in vitro

iv

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Concentração de proteínas (mg/mL) nos diferentes extratos enzimáticos...............79

Figura 2. Percentual de digestibilidade da fração solúvel protéica das dietas e do ingrediente,

pelo extrato enzimático do “pool’ de estômagos de juvenis de tambaqui, em 6 h de

reação........................................................................................................................80

Figura 3. Percentual de digestibilidade da fração solúvel protéica das dietas e do ingrediente,

pelo extrato enzimático do “pool” de cecos pilóricos de juvenis de tambaqui, em 6

h de reação................................................................................................................81

Figura 4. Percentual de digestibilidade da fração solúvel protéica das dietas e do ingrediente,

pelo extrato enzimático do “pool” de intestinos anteriores de juvenis de tambaqui,

em 6 h de reação.......................................................................................................82

Figura 5. Percentual de digestibilidade da fração solúvel protéica das dietas e do ingrediente,

pelo extrato enzimático do “pool” de intestinos posteriores de juvenis de tambaqui,

em 6 h de reação.......................................................................................................83

v

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Proteases ácidas e alcalinas encontradas em diferentes partes do trato digestório de

espécies de peixes.....................................................................................................37

Tabela 2. Análise químico-bromatológica (%) das diferentes rações e do ingrediente...........57

Tabela 3. Variáveis Físico-Químicas da Água monitoradas nos tanques de alvenaria e nos

cones. Os valores correspondem à média ± desvio padrão......................................59

Tabela 4. Valores médios dos coeficientes de digestibilidade aparente da matéria seca e dos

nutrientes das rações controle, teste e do ingrediente..............................................60

vi

SUMÁRIO

Resumo i Abstract iii LISTA DE FIGURAS iv LISTA DE TABELAS v INTRODUÇÃO 15 1 REVISÃO DE LITERATURA 20 1.1 Nutrição de Peixes 20 1.1.1 Proteínas 21 1.2 Tambaqui 22 1.3 Potencial de Utilização de Subprodutos do Despolpamento de Frutas na Alimentação de Peixes 24 1.3.1 Cupuaçu: seus subprodutos e uso 25 1.4 Digestibilidade 28 1.4.1 Considerações Gerais 28 1.4.2 Digestibilidade in vivo 29 1.4.3 Digestibilidade in vitro 31 1.5 Enzimas 33 1.5.1 Enzimas Digestivas em Peixes e a Microflora 33 1.5.2 Proteases 35 2 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 38 CAPÍTULO I – DIGESTIBILIDADE APARENTE DA TORTA DE C UPUAÇU (Theobroma grandiflorum) VISANDO SUA INCLUSÃO EM RAÇÃO PARA JUVENIS DE TAMBAQUI ( Colossoma macropomum) 48 Resumo 49 Abstract 50 1 INTRODUÇÃO 51 2 MATERIAL E MÉTODOS 53 2.1 Beneficiamento da Torta de Cupuaçu em Farinha para as Rações 53 2.2 Elaboração da Ração Teste 54 2.3 Manejo dos Peixes 54 2.3.1 Biometria 55 2.4 Critérios de Avaliação da Digestibilidade 55 2.4.1 Método de Coleta de Fezes por Decantação 55 2.4.2 Determinação dos Coeficientes de Digestibilidade 56 2.5 Análises Químico-Bromatológicas 57 2.6 Determinação do Óxido de Cromo (Cr2 O3) 58 2.7 Análise Estatística 58 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 59 3.1 Variáveis Físico-Químicas da Água 59 3.2 Coeficientes de Digestibilidade Aparente 60 4 CONCLUSÃO 64 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 65 CAPÍTULO II - DIGESTIBILIDADE IN VITRO DA FRAÇÃO SOLÚVEL PROTÉICA DA TORTA DE CUPUAÇU E DIETAS PARA JUVENIS DE TAMBAQUI ( Colossoma macropomum)

70

Resumo 71

vii

Abstract 72 1 INTRODUÇÃO 73 2 MATERIAL E MÉTODOS 76 2.1 Extração dos Tecidos 76 2.2 Preparação dos Homogeneizados Celulares 76 2.3 Procedimento Experimental 77 3 RESULTADOS 79 4 DISCUSSÃO 85 5 CONCLUSÃO 89 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 90 CONSIDERAÇÕES FINAIS 94

15

INTRODUÇÃO

A aquicultura mundial segue crescendo e destacando-se como grande fornecedora de

fonte protéica para a crescente população mundial. O consumo per capta de organismos

aquáticos cultivados que era de 0,7 kg, em 1970, saltou para 7,8 kg, em 2008, correspondendo

a taxas de 6,6% de crescimento médio anual (FAO, 2010). A piscicultura de água doce é a

vertente da aqüicultura que mais contribui para a produção de pescado mundial em cativeiro.

O panorama aquícola nacional segue acompanhando a tendência de crescimento

mundial e com a piscicultura liderando os índices de produção que, segundo as últimas

estatísticas avaliadas entre os anos de 2007 a 2009, houve um salto de aproximadamente 61%

(MPA, 2010). Segundo essa mesma fonte, a região Norte, entre os anos de 2008 e 2009,

estava em terceiro lugar, no ranking nacional, na produção de pescado de cultivo.

O Estado do Amazonas continua configurando como o primeiro da região em

produção de peixes seguido pelos Estados de Rondônia e Tocantins, quando observado o

período entre 2007 e 2009. No último ano deste período, as produções totais de pescado

provenientes de cultivo foram: 10.234,7t, 8.178,1t e 6.004,1t, respectivamente (Ministério da

Pesca e Aquicultura, 2010).

Uma característica importante da piscicultura brasileira é o grande número de espécies

criadas. Hoje, utilizam-se mais de 30 com os mais variados hábitos alimentares e ambientes

de vida. Vão desde espécies de clima tropical (em sua grande maioria) até espécies de clima

temperado e frio. E as que oferecem maior produção, em ordem de importância, são: as

tilápias, os peixes redondos (pacu, tambaqui e seus híbridos) e as carpas (comum e chinesas).

Outras espécies, porém, como os grandes bagres brasileiros (pintado, surubim e pirara), o

dourado e os Brycons (matrinxã, piracanjuba, piraputanga e piabanha), começam a despertar o

16

interesse de criadores não apenas pelo seu valor para a pesca esportiva como também pela

facilidade de comercialização.

Vários fatores favoreceram o rápido crescimento da piscicultura no Brasil: condições

climáticas favoráveis (pequena variação de temperatura do ar e da água), grande quantidade

de coleções hídricas disponíveis, grandes extensões de terra passíveis de cultivo, boa

adaptabilidade das espécies à criação e facilidade de adaptação a tecnologias.

Em aquicultura, como nas demais cadeias produtivas agrícolas, a expansão de um dos

elos acarreta o aumento de produtividade em todo o sistema. É o caso do aumento da

demanda por ração pelos produtores aqüícolas, que possibilitou o surgimento de novas

fábricas, sendo que hoje já existem mais de 30 unidades instaladas no Brasil, com ampliação

já confirmada da produção de ração específica para a aquicultura nos próximos anos. Segundo

o Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (SINDIRAÇÕES), no ano de 2009,

foram produzidas 380 mil toneladas de ração para organismos aquáticos, passando para 429

mil toneladas em 2010.

As fábricas não apenas disponibilizam rações próprias para alguns organismos

aquáticos, como também para as diversas fases do ciclo produtivo, o que contribui para um

maior rendimento da criação (por melhor conversão cárnea, resistência a moléstias etc.) e a

diminuição do custo de produção.

E nesse particular do custo de produção, indubitavelmente, o fator mais importante da

composição da planilha de custo na aquicultura, como de resto em todas as criações, é o gasto

relacionado à alimentação, razão pela qual o preço do peixe, camarão e outros organismos

aquáticos criados é severamente influenciado pelo preço dos insumos utilizados na preparação

das dietas. Segundo o SINDIRAÇÕES, as indústrias desse insumo encerraram 2009 com um

recuo na produção da ordem de 0,5% em relação a 2008, ano de grandes turbulências.

17

Em vista disso, a participação do item ração voltou a ser de 40 a 60% na composição

do custo de produção na piscicultura, enquanto entre 2000 e 2001 esse percentual girava em

torno de 30% dos custos operacionais totais (SINDIRAÇÕES, 2010). Uma situação assim

leva as indústrias a trabalharem com margens reduzidas de lucro, o que também as instabiliza,

e a buscar fontes alternativas de matéria-prima, perseguindo menores custos

(SINDIRAÇÕES, 2010).

Na região Norte, os custos de produção podem ser ainda maiores, face às grandes

distâncias e problemas na infra-estrutura de transporte. Soma-se a isso, a região não produzir

os principais insumos incorporados às rações, precisando importá-los. Mitigar os problemas

que impactam a produção piscícola, sobretudo no quesito alimentação, constituirá reflexo

positivo tanto no aspecto econômico como ambiental dos cultivos.

A região contempla programas agroflorestais e de arranjos produtivos de fruticultura

com intuito de atender à grande demanda pelos diversos, exóticos e saborosos frutos nativos,

que vêm despertando o interesse até mesmo em outros países. Este considerável volume de

frutas produzidas está gerando resíduos, os quais poderiam servir como alimento para peixes

nativos cultivados, uma vez que apresentam ampla plasticidade trófica. Contudo, estudos que

revelem seu valor nutritivo e os impactos no desempenho produtivo dos animais devem ser

realizados.

O cupuaçu é uma fruta nativa da região Norte e que também está inserida em

programas agroflorestais no Estado do Amazonas. Dados mais recentes de sua produção

registraram crescimento de 16% entre 2004 e 2005. Segundo a CUPUAMA, empresa que

processa a polpa e a semente de cupuaçu no Estado, até junho de 2011, já havia sido

produzida 40 toneladas de torta de cupuaçu, resíduo proveniente do processo de retirada da

gordura da semente, que se não tiverem destino adequado serão descartadas na natureza.

18

A provável disponibilidade de um resíduo vegetal não é suficiente para atestá-lo como

ingrediente alternativo. É preciso que seja avaliado o seu conteúdo em nutrientes e

quantificados seus fatores antinutricionais, já que em sua grande maioria são provenientes de

cascas e sementes, bastante conhecidas por conterem diversos desses fatores.

As técnicas empregadas para determinar a digestibilidade de um ingrediente ou de

uma dieta variam de acordo com a metodologia. A técnica in vivo ainda é bastante aceita,

predizendo o percentual digestível daquela dieta e ou daquele ingrediente acrescido, com

resultados bastante aceitos entre os estudiosos do assunto.

A técnica in vitro surge, atualmente, como uma alternativa para ajudar na predição da

digestibilidade das dietas, ingredientes e nutrientes por permitir menor custo e tempo quando

comparada à in vivo. Permite ainda uma avaliação mais detalhada das enzimas responsáveis

pela hidrólise, reduzindo o tempo de resposta à indústria de rações sobre o potencial digestivo

dos componentes a serem usados nas formulações.

O cultivo de peixes na Amazônia, embora tenha apresentado bons índices de

crescimento nos últimos anos não atingiu seu ápice por diferentes razões: ainda há

necessidade de refinamento nos conhecimentos do manejo das espécies, faltam informações

mais detalhadas sobre suas necessidades nutricionais, e a região não produz, nas quantidades

necessárias, os ingredientes tradicionais utilizados em rações para peixes, importando-os de

outros centros do país. Agravante complementar a essa importação é o fato que os insumos

apresentam características que dificultam seu armazenamento por longos períodos e com

padrão inconstante de qualidade, encarecendo as rações.

Levando em consideração os aspectos acima relacionados fazem-se necessários

estudos de digestibilidade de matérias-primas de origem vegetal (resíduos), com alto teor

protéico e de menor custo, e que estão apresentando constância de produção na região Norte.

19

Dessa forma, esse trabalho foi dividido em dois capítulos, que irão avaliar a

digestibilidade do resíduo da polpa do cupuaçu (torta de cupuaçu), que é a semente

desengordurada, por diferentes metodologias. No capítulo I, foi avaliada a digestibilidade in

vivo da torta de cupuaçu por juvenis de tambaqui, utilizando o método de coleta de fezes por

decantação, enquanto no segundo capítulo foram utilizados extratos enzimáticos do trato

digestório desta espécie para avaliação da digestibilidade da fração solúvel protéica, por

técnica in vitro, do ingrediente e de duas dietas.

20

1 REVISÃO DE LITERATURA

1.1 Nutrição de peixes

A alimentação constitui um fator importante na piscicultura, pois representa uma

parcela significativa dos custos operacionais nesta atividade. Dependendo da região, do

sistema aplicado ou da espécie de peixe cultivada, eles podem representar entre 30 a 60% da

produção (CHENG et al., 2003; JOMORI et al., 2005). Dado essa constatação, a redução

significativa dos mesmos pode ser alcançada através do uso de ingredientes de alta qualidade,

de técnicas eficazes no processamento das rações e da aplicação de estratégias na alimentação

(KUBITZA, 1999).

Com o objetivo de otimizar as condições de cultivo das espécies de peixe

economicamente viáveis, tentando reduzir o impacto ambiental e aumentar a lucratividade da

aquicultura, os estudos em nutrição tem dado ênfase na digestibilidade e rendimento de

macronutrientes (HALVER & HARDY, 2002). Alguns estudos se baseiam na capacidade do

animal aproveitar o alimento alternativo como substitutivo parcial em rações (ROBAINA et

al., 1995; CARTER & HAULER, 2000; SILVA et al, 2003; KAUSHIK et al., 2004;

KALITA et al. 2006; OISHI, 2007), enquanto outros avaliam a digestibilidade de ingredientes

e nutrientes para diferentes espécies (LAZO et al., 1998; LEMOS et al., 2000; CHONG et al.,

2002; LEMOS et al., 2004; FENERCI & SENER, 2005).

A nutrição de peixes destina amplamente ao estabelecimento da relação entre dieta e o

crescimento do peixe, à comparação entre possíveis ingredientes alimentares e à determinação

dos requerimentos nutricionais da espécie (CARTER et al., 2001).

A dieta, de acordo com os estudos nutricionais, tem demonstrado influenciar o

comportamento, a integridade estrutural, a saúde, as funções fisiológicas, a reprodução e o

crescimento dos peixes (PEZZATO et al., 2004), portanto, uma adequada formulação da

ração, balanceando qualitativa e quantitativamente os nutrientes essenciais, proporcionará

21

qualidade ambiental do cultivo, além de otimização da produção e oferta de produtos seguros

ao consumidor.

Alguns fatores estão diretamente relacionados à determinação das exigências

nutricionais dos peixes e devem ser levados em consideração na elaboração das dietas:

espécie, fase de desenvolvimento, sexo e estádio de maturação sexual, sistema e regime de

produção, temperatura da água, freqüência de arraçoamento e qualidade da dieta. É

importante salientar, que níveis dietéticos de nutrientes abaixo ou acima daqueles exigidos

pela espécie, podem interferir na digestibilidade e absorção tanto dos considerados essenciais

como até mesmo de outros nutrientes, com conseqüências desastrosas à saúde dos peixes e à

viabilidade dos cultivos (PEZZATO et al., 2004).

Uma fonte de energia, aminoácidos essenciais, e certas vitaminas e minerais são

exigências nutricionais de excelência, apontadas em estudos de nutrição, que devam ser

inclusas em qualquer dieta que se proponha a promover crescimento (KUBITZA, 1999)

1.1.1 Proteína

As proteínas são polímeros de α-aminoácidos com máxima importância para o

desenvolvimento dos peixes (PEZZATO et al., 2004). Segundo DEVLIN (1998), suas

funções no organismo são consideradas essenciais, podendo ser classificadas como dinâmicas

(transporte, controle metabólico, contração, catálise, proteção) e estruturais (desenvolvimento

matriz óssea e tecido conjuntivo).

A necessidade desse nutriente pelos peixes não é determinada pela sua quantidade, e

sim pela exigência em suplemento equilibrado de aminoácidos indispensáveis. Quando

comparado a outros animais, os peixes exigem quantidades maiores de proteína dietética,

explicado pelo fato de apresentarem melhor eficiência no uso da energia, pois não precisam

regular a temperatura corpórea e excretam os subprodutos do metabolismo dos aminoácidos,

passivamente pelas brânquias, com reduzido custo energético (PEZZATO et al., 2004).

22

A farinha de peixe é o ingrediente mais utilizado como fonte de proteína animal em

rações para peixes (HARDY, 1999). O crescimento mundial da aqüicultura aumentou a

demanda por esse produto, diminuindo os estoques naturais e forçando o aumento do preço. O

principal fator negativo na utilização deste ingrediente é o custo e a qualidade da farinha de

peixe utilizada, que oscila dependendo da espécie e estado de conservação do pescado

utilizado, apresentando variação quanto aos componentes nutricionais, presença de agentes

patogênicos e toxinas (NAYLOR et al., 2000).

A proteína é o nutriente mais oneroso na formulação de ração para peixes (MEROLA

& PAGAN-FONT, 1988; CHENG et al., 2003). Juntamente com a farinha de peixe outro

ingrediente protéico amplamente utilizado é o farelo de soja, ambos entram na composição

das rações em níveis até de 60% (LOVELL, 1989; BOONYARATPALIN et al., 1998). Estes

ingredientes, para a região Amazônica, constituem um problema relevante na formulação de

rações para piscicultura regional, pois não há produção local, significando importação de

outros centros do país. Soma-se a isso o fato de não apresentar padrão de qualidade constante

e possuírem características que dificultam seu armazenamento por longos períodos e os custos

derivados disto.

Uma alternativa para mitigar essa situação seria o uso de insumos não convencionais

para a formulação de rações pela indústria local, como os resíduos de despolpamento de

frutos, com alto teor protéico. Para tanto, se fazem necessários estudos de digestibilidade de

tais insumos que possam contribuir para o conhecimento de seu adequado uso e redução dos

custos alimentares da piscicultura regional.

1.2 Tambaqui (Colossoma macropomum): aspectos gerais e importância da espécie

O tambaqui, Colossoma macropomum, (Cuvier, 1818) é o segundo maior peixe de

escamas da região neotropical e o segundo maior characiforme (LOWE-MC-CONNELL,

23

1999). Considerado um dos mais saborosos peixes de água doce, com carne rica em proteínas

e sais minerais, é hoje um dos peixes mais apreciados pelas populações dos países

amazônicos. Manaus caracteriza-se nesse contexto como o maior mercado consumidor

(BARTHEM et al., 1995; ARAÚJO-LIMA & GOULDING, 1998; BATISTA, 1998).

A espécie apresenta grande plasticidade genotípica e fenotípica, permitindo-lhe

sobreviver no heterogêneo ambiente amazônico. Nos períodos de cheia, ela habita as regiões

de floresta inundada de várzea, alimentando-se de frutos e sementes; nos de vazante, os

adultos migram para os rios de água branca, para reprodução, e os juvenis permanecem nos

lagos de várzea, alimentando-se, nesse período, de zooplâncton. É uma espécie onívora, que

suporta níveis baixos de oxigênio (ALMEIDA-VAL et al., 1993) e resistem a temperaturas

entre 27°C e 35°C (SAINT-PAUL,1986). Impressionantes características anatômicas da

espécie são sua mandíbula forte com dentição capaz de quebrar e triturar frutos e sementes

duras, e rastros branquiais desenvolvidos para filtração. Em ambiente natural, pode atingir

cerca de 1 m de comprimento e mais de 30 kg (ARAÚJO-LIMA & GOULDING, 1998).

Este peixe é considerado, há mais de 15 anos, a melhor espécie para a aqüicultura na

Amazônia (OSTRENSKI, et al., 2008), junto ao matrinxã (Brycon amazonicus) e ao pirarucu

(Arapaima gigas). Esta excelência se deve ao ótimo desempenho produtivo do tambaqui em

cultivo intensivo, facilidade na obtenção dos alevinos, rusticidade, produtividade mais elevada

e fácil aceitação a ração comercial (ARAÚJO-LIMA & GOULDING, 1998; MELO et al.,

2001; GOMES et al., 2004).

Por sua importância ecológica, demanda comercial e reconhecido potencial para a

piscicultura, tanto dentro como fora da Bacia Amazônica, esta espécie foi e é alvo de estudos

sobre aspectos de sua ecologia, biologia, pesca, criação entre outros (ARAÚJO-LIMA &

GOULDING, 1998). Em virtude do seu hábito onívoro, o tambaqui faz excelente uso de

proteína tanto de origem animal como vegetal (OISHI, 2007).

24

Vários estudos mostraram o excelente desempenho do tambaqui em diferentes regimes

de criação, desde o extensivo até o intensivo, apresentando todas as características desejáveis

para tanto (CYRINO & GRŸSCHEK, 1997; ZANIBONI, 1997; LOVSHIN & CYRINO,

1998; MELO, et al. 2001; SILVA et al., 2000). Por estas razões, atualmente é o peixe nativo

mais produzido no Brasil e nos países amazônicos, também sendo criado no Panamá, Cuba,

México, Estados Unidos, Tailândia, China, Taiwan e outros (GUERRA et al., 1996;

ARAÚJO-LIMA & GOULDING, 1998).

1.3 Potencial de utilização de subprodutos do despolpamento de frutas na alimentação

de peixes

As condições edafoclimáticas, propícias à fruticultura no Brasil, têm conferido,

atualmente, excelentes índices de produção ao país, proporcionando ao mesmo configurar em

segundo lugar no ranking de maior produtor mundial de frutas. A última estatística de

produção de frutas brasileiras, datada de 2007, e registrada pelo Instituto Brasileiro de

Fruticultura-IBRAF, computou uma produção de aproximadamente 43 milhões de toneladas

de frutas. Naquele ano, de acordo com dados da FAO, citados em MENDES (2007), cerca de

40% do total das frutas processadas para produção de sucos e polpas são resíduos. Isso

comprova o aumento da capacidade do processamento da agroindústria frutícola, contudo, os

resíduos gerados oneram os custos operacionais da mesma, uma vez que requerem destino

apropriado.

Quaisquer fatores que possam alterar os custos das rações influenciarão os custos

finais de produção. Reduzi-los, significará ao piscicultor maior rentabilidade na atividade.

Alguns estudos têm revelado ser possível o uso de resíduos vegetais como ingredientes em

rações para peixes, com bons resultados no desempenho zootécnico dos mesmos (MORI-

25

PINEDO et al., 1999; SILVA et al., 2003; KAUSHIK et al., 2004; KALITA et al. 2006;

OISHI, 2007).

A maioria dos resíduos empregados nos estudos de digestibilidade aparente é

proveniente das cascas e sementes, que são conhecidas por apresentarem diversos fatores

antinutricionais (FRANCIS et al., 2001; BARCELOS et al., 2001). Estes são substâncias que

dificultam ou impedem a utilização do alimento pelos animais, seus processos digestivos,

podem afetar a saúde do animal, com reflexos no desempenho produtivo dos peixes

(THORPE & BEAL, 2001).

O alto preço de mercado de alguns ingredientes utilizados na fabricação de ração

constitui fator para o aumento dos custos com alimentação em piscicultura. Dependendo da

região, em que se encontra o cultivo, esses custos podem ser mais altos ainda, exemplo típico

da região Norte, distante dos principais pólos cerealistas do país. Uma alternativa à redução

de custos com alimentação para peixes na região seria a utilização de ingredientes alternativos

locais, de baixo valor comercial e elevados valores nutritivos, que possam substituir os

ingredientes tradicionais.

1.3.1 Cupuaçu: seus subprodutos e uso

O cupuaçu, Theobroma grandiflorum (Willdenow ex Sprengel) Schumann, pertence à

Família Sterculiaceae a mesma do cacaueiro, e é originário da região amazônica, podendo ser

encontrado em outras regiões do país. O nome cupuaçu provém da língua Tupi (kupu = que

parece com cacau + uasu = grande), sendo o mais comum, contudo, recebe outras

denominações como: pupu e pupuaçu no português e copasú, cupuasú e cacao blanco no

espanhol (GONDIM et al., 2001).

Ele é uma espécie arbórea com porte variando de 4 a 8 m de altura, quando em

cultivos racionais, porém, em condições de bosque tropical úmido pode alcançar os 20 m de

26

altura. A floração é concentrada entre outubro-novembro, apresentando em média 3.500

flores, com taxa de “vingamento” de frutos baixíssima (0,5%), correspondendo entre 15 a 20

frutos maduros, comum entre espécies tropicais. Estes têm as características de drupa e de

baga, apresentando-se de forma alongada e com as extremidades arredondadas, classificando-

se em diferentes formatos. O comprimento varia de 12 a 25 cm e o diâmetro de 10 a 12 cm.

Seu peso situa-se entre 500 e 4.500g, com média de 1.275g. As sementes estão dispostas no

interior do fruto em cinco fileiras verticais, em média de 32 unidades por fruto, com diâmetro

entre 2,0 a 3,5 cm, correspondendo a aproximadamente 20% do peso do fruto (GONDIM et

al., 2001; CARVALHO et al.,2004).

A polpa, que corresponde de 35% a 45% do peso do fruto, é ácida, de cor amarela,

branca ou creme, de sabor e aroma agradáveis, sendo consumida, principalmente, na forma de

suco, sorvete, picolé, creme, iogurte, doce, compota, bolo, licor e geléias dentre outras

iguarias. A produção brasileira de polpa de cupuaçu se situa entre 12.000 e 15.000 t/ano,

sendo que mais de 80% é oriunda de pomares comerciais (CARVALHO et al., 2004).

A produção de cupuaçu apresenta-se concentrada na região Amazônica e tem como

principais produtores os estados do Pará, Amazonas, Roraima e Acre. O Pará é o grande

destaque de produção, sendo que a maior parte é proveniente do extrativismo e semi-

extrativismo, em virtude de ser área de dispersão natural (MOREIRA, 2009). Em 2005, a

produção de cupuaçu no Brasil chegou perto da casa de 200 milhões de frutas. Naquele

mesmo ano, o estado do Amazonas produziu 20 milhões, correspondendo a 10% do total

nacional e com crescimento da ordem de 16% em relação ao ano anterior

(SETEC/MEC,2007).

O valor econômico do cupuaçu está baseado, principalmente, na industrialização e

comercialização da sua polpa, apreciada sob várias formas de processamentos culinários.

Apesar de constituírem cerca de 20% do peso do fruto e possuírem alto valor nutritivo, as

27

sementes são praticamente descartadas no beneficiamento deste. Em função de suas

propriedades, ela é considerada valiosa, pois possui semelhança botânica e química com a

semente de cacau, possibilitando a sua utilização na fabricação de produtos similares ao

chocolate e na indústria de cosméticos, por uso de sua gordura branca, bastante semelhante a

da manteiga de cacau (CARVALHO et al., 2004; COHEN et al., 2005). O processo de

industrialização das sementes de cupuaçu ocorre de modo semelhante ao das sementes de

cacau, que inclui as etapas de fermentação, secagem e torração.

Após o despolpamento dos frutos, a semente passa pelo processo de fermentação

(média de 7 dias), que é essencial, pois é a etapa responsável pelo desenvolvimento dos

precursores e inúmeros compostos de sabor. O processo de fermentação das sementes inicia-

se naturalmente pela ação da atividade microbiana na polpa mucilaginosa, que envolve a

semente. Os produtos do metabolismo dos microrganismos principalmente álcool, ácidos

orgânicos e o calor gerado nos primeiros dias de fermentação provocam a destruição do poder

germinativo da semente e desencadeiam importantes transformações físico-químicas e

estruturais (CARVALHO, 2004).

O processo de secagem, que se segue após o fermentativo, expõe as sementes ao sol,

em secadoras de tela, por aproximadamente 15 dias. O processo é finalizado pela torrefação

das sementes em secadora aquecida por caldeira. Logo após, as mesmas passam por uma

prensa mecânica, para separação do óleo, extraindo-se aproximadamente 80% deste, gerando

um resíduo denominado torta de cupuaçu, com aproximadamente 20,4% de extrato etéreo

total e 19,5% de proteína bruta (PEREIRA, 2009), que serve como adubo e pode ser

aproveitado para produção do cupulate (chocolate de cupuaçu). O óleo, após beneficiamento,

segue para a indústria de cosméticos.

28

CARVALHO et al. (2008) caracterizaram o teor de proteína total e de aminoácidos

totais de amêndoas fermentadas e torradas de cupuaçu, constatando alto valor biológico e

maiores teores de aminoácidos indispensáveis (leucina, isoleucina e tirosina) em comparação

às amêndoas de cacau, segundo LOPES et al., (2008), e o escore do Institute of Medicine

(2002).

O cupuaçu está entre as frutas nativas mais consumidas, com crescente procura tanto

no Brasil como no exterior. Ela está inserida em programas agroflorestais e de arranjos

produtivos de fruticultura na região Norte (ANDRADE et al., 1998; SETEC/MEC, 2007).

Estes programas, graças ao aumento da demanda, têm sido desenvolvidos sob a expansão da

agroindústria de sua polpa, contudo, a produção do resíduo gerado pelo despolpamento

também tem aumentado, representando um possível empecilho dessa atividade no futuro, com

a geração de toneladas de lixo orgânico.

O aproveitamento do resíduo vegetal (a semente desengordurada), como ingrediente

substitutivo em rações para peixes, poderá diminuir o impacto ambiental que a expansão da

agroindústria de polpa de frutas poderá causar na região. Algumas pesquisas têm sido

realizadas visando o aprimoramento da utilização do fruto do cupuaçuzeiro, em especial de

sua semente (LOPES et al., 2003; PEREIRA, 2009).

1.4 Digestibilidade

1.4.1 Considerações gerais

A maximização da aquicultura comercial está atrelada ao incremento do crescimento e

sobrevivência, com menor custo possível, portanto, grande importância deve ser dada ao

conhecimento fisiológico e metabólico dos organismos cultivados, definindo-se dietas

comerciais adequadas aos requerimentos nutricionais de cada espécie íctica, considerando os

diferentes estádios ontogenéticos envolvidos ao longo do cultivo.

29

O alimento, após ingestão, passa por diversos processos que se combinam para

proporcionarem a digestão propriamente dita, culminando com a absorção dos nutrientes e

excreção dos resíduos do metabolismo. Processos mecânicos, químicos e microbianos estão

envolvidos nessa tarefa, compreendendo, respectivamente, a mastigação, contrações do tubo

digestivo, secreção enzimática nos diversos sucos digestivos do animal, e a atividade

microbiana dos alimentos que também é enzimática, porém realizada por bactérias e

protozoários presentes geralmente na porção final do tubo digestivo (ROTTA, 2003).

Diferentes componentes dos alimentos podem, em conjunto, apresentar percentagens

corretas de nutrientes, contudo, podem não produzir um crescimento apropriado, devido a não

disponibilidade dos mesmos (EZQUERRA et al., 1997). As características e composição de

cada alimento, assim como a morfologia do aparelho digestivo, da fisiologia de seu

funcionamento e as condições ambientais são fatores de grande influência na eficiência da

digestibilidade (LEE & LAWRENCE, 1997), e precisam ser melhor compreendidos seus

mecanismos de influência e inter-relação.

ANDRIGUETTO et al. (1990) afirmaram que a digestibilidade de uma dieta é

definida como a habilidade com que o animal digere e absorve os nutrientes contidos no

alimento e é quantificada pela determinação dos coeficientes de digestibilidade daquele.

1.4.2 Digestibilidade in vivo

A determinação da digestibilidade dos nutrientes de uma matéria prima é o primeiro

passo quando se pretende avaliar seu potencial de inclusão numa dieta para peixes

(PEZZATO et al, 2004). A digestibilidade de um ingrediente da ração depende

principalmente de sua composição química aliada à capacidade digestiva da espécie estudada

(MCGOOGAN & REIGH, 1996). Desta maneira, quanto mais digestíveis forem os nutrientes

30

de uma ração, maiores serão as suas disponibilidades para absorção e menores as quantidades

excretadas pelo peixe (COSTA-PIERCE, 2002).

O potencial de um ingrediente em possibilitar crescimento aos peixes pode ser

avaliado por experimentos de dose/resposta entre o nível de inclusão do ingrediente na ração e

os índices de desempenho zootécnico. Por outro lado, a qualidade do ingrediente pode ser

avaliada através de variáveis de desempenho que expressem quão eficientemente os nutrientes

são retidos através do crescimento, o que freqüentemente envolverá a coleta de dados sobre o

consumo de alimento e incremento corporal (JOBLING, 2001).

A maneira mais prática e comum de determinar a digestibilidade é a indireta. O

método consiste na inclusão de uma substância inerte (marcador externo) na ração ofertada ao

peixe e, na posterior coleta das fezes, marcadas para determinação, será obtido, por cálculo

matemático, o percentual de nutrientes e energia absorvidos (JOBLING, 2001). Dentre os

marcadores fecais externos, o óxido de cromo III (Cr2O3) se apresenta como o mais

empregado em estudos de digestibilidade com peixes, com as vantagens de substituir a coleta

total de fezes e proporcionar economia de tempo e custos (PEZZATO et al., 2004)

Existem várias metodologias para coleta de fezes em estudos de nutrição com peixes.

De acordo com SALLUM (2000), o seu desenvolvimento visa, principalmente, a contornar

situações tais como o estresse dos animais pelo manuseio nos métodos de pressão abdominal,

sucção anal, contenção em câmara metabólica ou alimentação forçada, o sacrifício dos

animais do método de dissecação intestinal e a lixiviação de nutrientes e de energia,

principalmente das fezes.

Em um estudo realizado por ABIMORAD & CARNEIRO (2004), foram avaliados

quatro métodos de coleta de fezes (dissecação, extrusão, sistema de Ghelph e sistema de

Ghelph modificado), e o tempo mais eficiente para coleta de fezes nos sistemas de Guelph,

analisando o coeficiente de digestibilidade da proteína bruta de uma dieta para o pacu

31

(Piaractus mesopotamicus). Os autores relataram que todos os métodos estudados podem ser

adotados com segurança para a espécie estudada, desde que sejam rigorosamente aplicados, e

o intervalo de tempo entre as coletas de fezes em estudos de digestibilidade, por intermédio

dos sistemas de Guelph, não deve ultrapassar 30 minutos. Como as informações obtidas com

uma espécie não devem ser generalizadas exatamente para outras, devido a fatores específicos

como comportamento e consistência das fezes, novos estudos deveriam ser realizados e

podem ser tão importantes a ponto de impedir a utilização de determinados métodos.

KITAGIMA & FRACALOSSI (2010), objetivando determinar o coeficiente de

digestibilidade aparente para o catfish americano (Ictalurus punctatus), com peso médio de

100 a 172 g, em intervalo de 6 h entre as coletas, observaram que a digestibilidade da proteína

aumentou com intervalos de coleta de fezes de 1, 6 e 12 h, indicando aumento na lixiviação

deste nutriente à medida que aumentou o tempo de exposição das fezes à água.

1.4.3 Digestibilidade in vitro

A tecnologia de determinação da digestibilidade in vitro, em estudos de nutrição de

organismos aquáticos, surge como uma ferramenta capaz de predizer o potencial de

digestibilidade de cada componente ou mesmo da própria dieta formulada em pequenas

quantidades destes, em pouco tempo de ensaio e com melhor custo-benefício (LEMOS et al.,

2004).

Os estudos iniciais de digestibilidade in vitro eram baseados na análise da ação de

uma única enzima, contudo, estudos mais recentes têm demonstrado que análises de conjuntos

enzimáticos, extraídos do aparelho digestivo dos peixes estudados, simulam de forma mais

aproximada o sistema digestivo animal, com resultados que se correlacionam em maior

intensidade com as análises de digestibilidade in vivo (CARTER et al., 1999; CHONG et al.,

2002; LEMOS et al., 2004).

32

A maioria dos trabalhos de digestibilidade in vitro foi realizada em animais

homeotérmicos não sendo possível a extrapolação dos resultados para pecilotérmicos. Para os

organismos aquáticos, já foram desenvolvidos diferentes métodos que analisam a

digestibilidade protéica in vitro. Um destes métodos é o “pH-drop”, que apesar de suas

qualidades, vem demonstrando superestimar os valores de digestibilidade de alimentos pobres

em proteínas e subestimar amostras ricas em proteínas. Além disso, ele demonstrou ser

influenciado pela capacidade tamponadora da suspensão protéica (DIMES & HAARD, 1994;

EZQUERRA et al., 1997).

EZQUERRA et al. (1997) desenvolveram uma metodologia alternativa para predizer

a digestibilidade da proteína para camarão marinho (Litopenaeus vannamei): o “pH-stat”. As

vantagens desse método, em ralação ao pH-drop, são que, durante o processo de digestão, o

pH é mantido constante, sem necessidade de um tampão fisiológico e a taxa de hidrólise

protéica pode ser estimada durante o processo de digestão, através da avaliação dos dados

obtidos na curva de titulação. Alguns trabalhos tem se valido dessa técnica (CAVALCANTI,

1998; LEMOS et al., 2004; MOTIKAWA, 2006)

Apesar das técnicas in vitro de determinação da digestibilidade protéica de um

alimento não poder substituir, na atualidade, os experimentos de digestibilidade aparente, já

podem ser utilizadas como fonte de resultados do potencial de digestibilidade de cada

componente ou mesmo da própria dieta formulada (FENERCI et al., 2005; TOHEIM et al.,

2007).

Os ensaios in vitro podem ser diferenciados pela quantidade e tipo de enzima

utilizada, condições de hidrólise, método de digestão fracionada e a forma como a hidrólise é

testada (HIDALGO et al., 1999).

LAZO et al., 1998, avaliando três métodos in vitro para estimar a digestibilidade da

proteína para o camarão branco (Litopenaeus vannamei), inclusive um simples sugerido por

33

eles, concluíram: utilizando a variação de pH do meio reativo (amostra + enzima) em

comparação a uma fonte padrão de proteína, pode-se predizer o grau de hidrólise das amostras

analisadas com bom índice de significância e, quando comparado ao método in vivo, também

há boa correlação, reafirmando sua qualidade como método in vitro.

Estudos recentes, aplicando diferentes metodologias in vitro inclusive a combinação

entre as mesmas, foram realizados para determinar a digestibilidade da fração protéica de

alimentos para peixes (MOYANO & SAVOIE, 2001; CHONG et al., 2002; FENERCI

&SENER, 2005; TONHEIM et al., 2007).

1.5 Enzimas

As enzimas são proteínas globulares, de estrutura terciária ou quaternária, que agem

como catalisadores biológicos, possibilitando e ou aumentando a velocidade das reações

químicas no organismo. A estrutura molecular das enzimas é bastante frágil e,

conseqüentemente, pode ser desnaturada por calor, álcalis, metais pesados e outros agentes

oxidantes (NELSON & COX, 2002).

De acordo com estes mesmos autores, todas as enzimas possuem as seguintes

características: não apresentam modificações ao final da reação, atuam em quantidades muito

pequenas e aceleram a velocidade da reação sem modificar a posição de equilíbrio de uma

reação reversível.

1.5.1 Enzimas digestivas em peixes e a microflora

As pesquisas têm mostrado uma ampla convergência entre as atividades digestivas nos

peixes teleósteos adultos (BALDISSEROTTO, 2009) e as existentes nos vertebrados

superiores, o que sugere que o equipamento enzimático é, em grande parte, análogo. As

diferentes células glandulares do estômago secretam proteases (pepsina, tripsina,

34

quimiotripsina) e ácido clorídrico (ROTTA, 2003), sendo a pepsina dos peixes considerada

análoga à dos mamíferos.

A digestão no intestino ocorre devido à ação de distintos produtos secretados pela

parede intestinal e também por glândulas anexas (pâncreas e fígado). O pâncreas lança no

intestino enzimas digestivas diversas: proteases, carboidrases e lipases. A bílis proveniente do

fígado aporta, primordialmente, os sais biliares e parece ter uma composição e função

análogas à bílis de vertebrados superiores (ROTTA, 2003).

Nos mamíferos, a amilase é produzida por células salivares ou pancreáticas, enquanto

a única fonte de α-amilase em peixes parece ser o pâncreas exócrino, visto que os mesmos

não possuem glândulas salivares. Alta atividade de amilase ocorre no fígado e biles de

algumas espécies de carpa e goldfish que possuem hepatopâncreas (KROGDAHL et al.,

2005).

Várias enzimas intestinais envolvidas nos processos de digestão e absorção têm sido

reportadas em tambaqui, como amilase, maltase, pepsina, tripsina e quimotripisina (CORRÊA

et al., 2007). A atividade das carboidrases no trato digestório de peixes parece ser diretamente

associada ao nível de carboidrato na dieta (MORAES & BIDINOTTO, 2000). Como outros

peixes onívoros, o tambaqui apresenta maior atividade de carboidrase do que de protease e

uma pequena atividade de lipase, comparada aos peixes carnívoros (KUZ’MINA et al. 1996;

LUNDSTEDT, 2003; MELO, 2004).

Existem enzimas que não são secretadas, mesmo na presença de substrato. Entre estas

enzimas, destacam-se a celulase, a hemicelulase, a xilanase e a fitase, dentre outras. Essas

enzimas não são secretadas devido ao fato de os monogástricos não possuírem os respectivos

genes responsáveis (PENZ JÚNIOR,1998).

A microbiota aquática exerce um importante papel na formação da microbiota do trato

digestivo dos peixes, pois estes estão em constante contato com a água (STROM &

35

OLAFSEN, 1999). Sendo rico em nutrientes, o ambiente do trato digestivo de peixes, em

comparação com o da água, confere um ambiente mais favorável para o crescimento dos

microorganismos. Recentemente, diversas comunidades microbianas têm sido reportadas no

intestino de peixes de várias espécies (BAIRAGI et al., 2002; GHOSH et al., 2002).

Enzimas provenientes dessa microflora intestinal podem ter um papel significativo no

processo de digestão, especialmente para substratos como a celulose, que poucos animais

podem digerir e também para outros substratos (DE SILVA & ANDERSON, 1998).

Assim como as dietas geralmente são compostas por carboidratos resistentes às

enzimas digestivas endógenas (ANNISON, 1993), a fermentação microbiana e a síntese de

nutrientes são mecanismos importantes para os organismos que utilizam dietas ricas em fibra

(DE SILVA & ANDERSON, 1998).

O uso de ingredientes de origem vegetal como fonte de proteína não convencional,

para substituir a onerosa farinha de peixe na formulação de dietas para peixes, dá origem a

uma nova área de pesquisa para produzir alimentos com uma melhor relação custo/benefício.

Devido ao aumento da escassez de farinha de peixe de boa qualidade, pesquisas têm sido

realizadas com o objetivo de analisar o valor nutricional de ingredientes de origem vegetal e

aumentar a biodisponibilidade de nutrientes por meio da degradação fermentativa (SAHA et

al., 2006).

1.5.2 Proteases

A digestão das proteínas em peixes começa no estômago. O ácido clorídrico produzido

pela mucosa estomacal ativa o pepsinogênio, transformando-o na enzima pepsina, que

apresenta ótima atividade em pH 2. Esta endopeptidase apresenta importância diferenciada

entre carnívoros e herbívoros, proporcionando, respectivamente, o início da digestão das

36

proteínas por atacarem suas ligações peptídicas e capacitação da decomposição da clorofila e

quebra das paredes celulares das algas verde-azuladas (ROTTA, 2003).

CORRÊA et al., 2007, estudando o efeito do aumento dos teores de milho numa dieta

para tambaqui, observaram que somente as proteases ácidas atuaram na digestibilidade da

proteína dietética, supondo que a ação destas estava diretamente relacionada com os teores

protéicos da dieta.

Na superfície luminal do intestino são produzidas as peptidases que são classificadas

em aminopeptidases, dipeptidases e tripeptidases as quais liberam os aminoácidos livres e

peptídeos. Existem também as que atuam sobre os ácidos nucléicos, as nucleotidases,

liberadas pelo suco pancreático. As proteases de origem pancreática e intestinal apresentam

maior atividade em condições alcalinas (HIDALGO et al., 1999). Essas enzimas são liberadas

pelo pâncreas no início do intestino e nos cecos pilóricos (ROTTA, 2003).

As proteases alcalinas, tripsina e quimotripsina, parecem ser normalmente restritas a

algumas partes do trato digestório, como ocorreu em estudos com Lates calcarifer

(SABAPATHY & TEO, 1993) e Colossoma macropomum (CORRÊA, 2007), em que os

autores as observaram atuando somente nos cecos pilóricos e intestino dessas espécies.

A Tabela 1 mostra algumas proteases caracterizadas e encontradas em diferentes

porções do trato digestório de algumas espécies de peixes, segundo os respectivos autores que

as caracterizaram.

37

Tabela 1. Proteases ácidas e alcalinas encontradas em diferentes partes do trato digestório de espécies de peixes.

Espécie Órgão Proteases Alcalinas

Proteases Ácidas Referência

Cyprinus carpio Carassius auratus

Sparus aurata Oncorhynchus mykiss

Cecos pilóricos e intestino

Proteases alcalinas totais Hidalgo et al. (1999)

Caranx hippos Pseudopeneus maculatus

Sparisoma sp Hoplias malabaricus

Cecos pilóricos e intestino

Serina protease e Cisteína Protease

Alencar et al.

(2003)

Sardinops sagax caerulea Estômago Áspártico

protease Catillo-Yãnez et al.

(2004)

Colossoma macropomun Cecos

pilóricos e intestino

Tripsina e Quimotripsina

Corrêa et al. (2007)

38

3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABIMORAD, E. G.; CARNEIRO, D. J. Métodos de coleta de fezes e determinação dos coeficientes de digestibilidade da fração protéica e da energia de alimentos para pacu, Piaractus mesopotamicus (Holmberg, 1887). R. Bras. Zootec., v. 33, n. 5, p. 1101-1109, 2004.

ALENCAR, R. B.; BIONDI, M. M.; PAIVA, P. M. G. et al. Alkaline Proteases from the Digestive Tract of Four Tropical Fishes. Braz. J. Food Technol., v.6, n.2, p. 279-284, 2003.

ALMEIDA-VAL, V. M. F.; VAL, A. L.; HOCHACHKA, P. W. Hypoxia tolerance in amazonian fishes: status of an under-explorer biological “goldmine”. In: HOCHACHKA, P. W.; LUTZ, P. L.; SICK, T.; et al.. (Eds). Surviving hypoxia: mechanisms of control and adaptation. CRC Press. Boca Ratón. p. 438-445, 1993.

ANDRADE, F. G. de; SÁ, C. P. de; ALMEIDA, N. F. de. Uma visão prospectiva do cupuaçú nos limites do Acre: vilas Nova Califórnia e Extrema, RO. Rio Branco: Embrapa-CPAF/AC. Circular Técnica 21.18p, 1998.

ANDRIGUETTO, J. M.; PERLY, L.; MINARDI, I.; GEMEAL, A.; FLEMING, J. S.; SOUZA, G. A.; BONA FILHO, A. 1990. Nutrição Animal: As bases e os fundamentos da nutrição animal – os alimentos. 4 ed. São Paulo : Nobel, v. 1, 1990.

ANISSON, G. The role of wheat non-starch polysaccharides in broiler nutrition. Australian Journal Agriculture Research, v. 44, n. 3, p. 405-422, 1993.

ARAÚJO-LIMA, C.; GOULDING, M. Os frutos do tambaqui: ecologia, conservação e cultivo na Amazônia. Sociedade Civil Mamirauá/CNPq. Tefé, AM. BRASIL. 187p., 1998.

BAIRAGI, A.; SARKAR GOSH, K.; SEM, S. K.; RAY, A. K. Enzyme producing bacterial flora isolated from fish digestive tracts. Aquaculture International, v. 10, n. 2, p. 109-121, 2002.

BALDISSEROTTO, B. Fisiologia de peixes aplicada à Piscicultura. 2º ed. Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria, 2009. 352p. BARCELOS, A. F.; PAIVA; P. C. de A., PÉREZ, J. R. O. ; SANTOS, V. B. dos; CARDOSO, R. M. Fatores Antinutricionais da casca e da polpa desidratada de café (Coffea

39

arabica L.) armazenadas em diferentes períodos. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 30, n. 4, p.1325-1331, 2001.

BATISTA, V. da S. Distribuição, dinâmica da frota e dos recursos pesqueiros da Amazônia Central. Manaus: Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia/Universidade do Amazonas, 1998. 291p. Tese (Doutorado em Biologia), 1998.

BOONYARATPALIN, M.; SURANEIRANAT, P.; TUNPIBAL, T. Replacement of fish meal with various types of soybean products in diets for the Asian seabass, Lates calcarifer. Aquaculture, v.161, p. 67-78, 1998.

BUREAU, D. P., HARRIS, A. M., CHO, C. Y. Apparent digestibility of rendered animal protein ingredients for rainbow trout (Oncorhynchus mykiss). Aquaculture, v.180, p.345–358, 1999.

CARTER, C. G; BRANSDEN, M. P.; VAN BARNEVELD, R. J.; CLARKE, S. M. Alternative methods for nutrition research on the southern bluefin tuna, Thunnus maccoyii: in vitro digestibility. Aquaculture, v. 179, p.57-70, 1999.

CARTER, C. G., HAULER, R. C. Fish meal replacement by plant meals in extruded feeds for Atlantic salmon, Salmo salar L. Aquaculture, v. 185, p. 299-311, 2000.

CARTER, C. G.; HOULIHAN, D. F.; KIESSLING, A.; JOBLING, M. Physiological effects of feeding. In: Houlihan, D. F.; Boujard, T.; Jobling, M. (eds). Food Intake Fish. Blackwell Science. p. 297-331, 2001.

CARVALHO, J. E. U. de; MULLER, C. H.; ALVES, R. M.; NAZARÉ, R. F. R. de. Cupuaçuzeiro. Comunicado Técnico /EMBRAPA, 115p. 2004.

CARVALHO, A. V. Extração, concentração e caracterização físico-químicas e funcionais das proteínas da semente de cupuaçu (Theobroma grandiflorum Shum.) – Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2004, 151p. Tese (Doutorado em Tecnologia dos Alimentos). Faculdade de Engenharia de Alimentos, 2004.

CASTAGNOLLI, N. Piscicultura intensiva e sustentável de espécies nativas brasileiras. In: CYRINO, E. E KUBITZA, F (Eds). Campinas-SP. Anais do I Simpósio sobre Manejo e Nutrição de Peixes. p. 117-130, 1997.

40

CASTILLO-YANEZ, F. J.; PACHECO-AGUILAR, R. N.; GARCIA-CARRENO, F. L. et al. Characterization of acidic proteolytic enzymes from Monterey sardine (Sardinops sagax caerulea) viscera. Food Chemistry, v. 85, p. 343–350, 2004.

CAVALCANTI, C. de A. Proteases digestivas em juvenis de piracanjuba (Brycon orbignyanus, Pisces:Characidae) e aplicação da técnica de digestibilidade in vitro. Florianópolis:Universidade Federal de Santa Catarina, 1998, 101p. Dissertação (Mestrado em Aquicultura) - Universidade Federal de Santa Catarina, 1998.

CHENG, Z. J.; HARDY, R. W.; USRY, J. L. Effects of lysine supplementation in plant protein-based diets on the performance of rainbow trout Oncorhynchus mykiss and apparent digestibility coefficients of nutrients. Aquaculture, v. 215, n. 1-4, p.255-265, 2003.

CHONG, A. S. C.; HASHIM, R.; ALI, A. B. Assessment of dry matter and protein digestibilities of selected raw ingredients by discus fish (Symphysodon aequifasciata) using in vivo and in vitro methods. Aquaculture Nutrition , v. 8, p.229-238, 2002.

CLAY, J. W.; CLEMENT, C. R. Selected species and strategies to enhance income generation from Amazonian forests. FAO, Rome.18p, 1993.

COHEN, K. O.; JACKIX, M. N. H. Estudo do liquor de cupuaçu. Ciência e Tecnologia de Alimentos. Campinas, SP, v. 25, n. 1, p. 182-190, 2005.

CORREA, C. F.; AGUIAR, L. H. de; LUNDSTEDT, L. M.; MORAES, G. Responses of digestive enzymes of tambaqui (Colossoma macropomum) to dietary cornstarch changes and metabolic inferences. Comparative Biochemistry and Physiology, v. 147, p. 857-862, 2007.

COSTA-PIEARCE, B. A. Farming systems research and extension methods for the development of sustainable aquaculture ecosystems. In: Costa-Piearce, B.A. (Eds). Ecological aquaculture, the evolution of the blue revolution. Blackwell Science Ltd. Oxford, UK. p. 103-124, 2002.

CYRINO, J. E. P.; GRŸSCHEK, J. M. B. Perspectivas da piscicultura como agroindústria no Brasil. In: Cyrino, E. e Kubitza, F (Eds). Campinas – SP. Anais do I Simpósio sobre Manejo e Nutrição de Peixes. p.1-30,1997.

DEVLIN, T. M. Manual de Bioquímica com Correlações Químicas. 4 ed. São Paulo: Edgard Blucher, 1007 p. 1998.

41

DIMES, L. E.; HAARD, F. M. Estimation of protein digestibility: I. Development of an in vitro method for estimating protein digestibility in salmonids (S&to &rdneri). Comp. Biochem. Physiol. v.108 A, p.349-362, 1994.

EZQUERRA, J. M.; GARCIA-CARREÑO, F. L.; CIVERA, R.; HAARD, N. F. pH-stat method to predict protein digestibility in white shrimp (Penaeus vannamei). Aquaculture, v.157, p.251-262, 1997.

FENERCI, S.; SENER, E. In vivo and in vitro protein digestibility of rainbow trout (Oncorhynchus mykiss Walbaum, 1972) fed steam pressured or extruded feeds. Turkish Journal of Fisheries and Aquatic Sciences, v.5, p.17-22, 2005.

FRANCIS, G.; MAKKAR, H. P. S; BECKER, K. Antinutritional factors present in plant-derived alternate fish feed ingredients and their effects in fish. Aquaculture, v.199, p.197–227, 2001.

GHOSH, K.; SEN, S. K.; RAY, A. K. Characterization of Bacilli isolated from the gut of rohu Labeo rohita, fingerlings and its significance in digestion. Journal of Applied Aquaculture, v. 12, n. 1, p. 33-42, 2002. GOMES, L., BRANDÃO, F., CHAGAS, E., BARRONCAS, M. F., LOURENÇO, N. Efeito do volume do tanque-rede na produtividade do tambaqui (Colossoma macropomum) durante a recria. Acta Amazônica, v. 34, n. 1, p. 111-113, 2004.

GONDIM, T. M. de S.; THOMAZINI, M. S.; CAVALCANTE, M. de J. B.; SOUZA, J. M. L. de. 2001. Aspectos da produção de cupuaçu. Rio Branco: Embrapa Acre, 43 p. (Embrapa Acre. Documentos Técnicos, 67).

GUERRA, H.; ALCÁNTARA, F.; CAMPOS, L. Piscicultura Amazônica com Espécies Nativas. Lima: TCA Impressão Mirigraff S.R.L. 169 p, 1996.

HALVER, J. E. & HARDY, R. W. Nutrient flow and retention. In: Halver, J. E.; Hardy, R. W. (eds). Fish Nutrition .3 ed., Academic Press, p. 755-770, 2002.

HARDY, R. W. Aquaculture`s rapid growth requirements for alternative protein sources. Feed Manegement, v.58, p.25-28,1999.

42

HIDALGO, M. C.; UREA. E.; SANZ, A. Comparative study of digestive enzymes in fish with diferent nutritional habits. Proteolytic and amylase activities. Aquaculture, v.170, p.267-283, 1999.

INSTITUTO BRASILEIRO DE FRUTAS - IBRAF. Produção brasileira de frutas – 2007/ Estatísticas. Disponível em <http://www.ibraf.org.br>. Acesso em 13 de julho de 2011.

JOBLING, M. Feed composition and analysis. In: HOULIHAN, D.; BOUJARD, T.; JOBLING, M. (Eds.). Food intake in fish. Blackwell Science Ltd. Oxford, UK. p. 1-24,2001.

JOMORI, R. K. ; CARNEIRO, D. J. ; MARTINS, M. I. E. G.; PORTELLA, M. C. Economic evaluation of Piaractus mesopotamicus juvenile production in different rearing systems. Aquaculture, v.243, p.175-183, 2005.

KALITA, P.; MUKHOPADHYAY, P. K.; MUKHERJEE, A. K. Evaluation of the nutritional quality of four unexplored aquatic weeds from northeast India for the formulation of cost-effective fish feeds. Food Chemistry, doi: 10.1016/j. foodchem.2006.08.007.2006.

KAUSHIK, S. J.; COVES, D.; DUTTO, G.; BLANC, D. Almost total replacement of fish meal by plant protein sources in the diet of a marine teleost, the European seabass, Dicentrarchus labrax. Aquaculture, v.230, n. 1, p.391-404, 2004.

KROGDAHL, A.; HEMRE, G. I.; MOMMSEN, T. P. Carbohidrates in fish nutrition: digestion and absorption in postlarval stages. Aquaculture Nutrition, v. 11, n. 2, p. 103-122, 2005.

KUBITZA, F. Nutrição e alimentação dos peixes cultivados. Jundiaí:USP, 3.ed., 123 p, 1999.

KUZ’MINA, V. V. Influence of age on digestive enzyme activity in some freshwater teleosts. Aquaculture, v. 148, p. 25-37, 1996.

LAZO, J. P.; ROMAIRE, R. P. REIGH, R. C. Evaluation of three in vitro enzyme assays for estimating protein digestibility in the pacific white shrimp Penaeus vannamei. Journal of the World Aquaculture Society, v. 29, n. 4, p. 441-450, 1998.

LEE, P. G.; LAWRENCE, A. L. Digestibility. In: Crustacean Nutrition, Advances in World Aquaculture. Anais. Louisiana: CNWA, v. 1, p. 194-260,1997.

43

LEMOS, D.; EZQUERRA, J. M.; GARCIA-CARREÑO, F. L. Protein digestion in penaeid shrimp: digestive proteinases, proteinase inhibitors and feed digestibility. Aquaculture, v.186, p.89-105, 2000.

LEMOS, D.; NAVARRETE DEL TORO, A.; CÓRDOVA-MURUETA, J. H.; GARCIA-CARREÑO, F. Testing feeds and feed ingredients for juvenile pink shrimp Farfantepenaeus paulensis: in vitro determination of protein digestibility and proteinase inhibition. Aquaculture, v. 239, p.307-321, 2004.

LOPES, A. S.; GARCÍA, N. H. P.; VASCONCELOS, M. A. M. Avaliação das Condições de Torração Após a Fermentação de Amêndoas de Cupuaçu (Theobroma grandiflorum Schum) e Cacau (Theobroma cacao L.). Brazilian Journal of Food Technology, v. 6, n. 2, p.309-316, 2003.

LOVELL, T. Nutrition and feeding of fish. Van Nostrand Reinhold. New York, USA. 260 p, 1989.

LOVSHIN, L.; CYRINO, J. Status of commercial fish culture in Brazil. Magazine World Aquacult., v. 29, n.3, p.23-28, 36-39, 1998.

LOWE-MC-CONNELL, R. H. Estudos ecológicos de comunidades de peixes tropicais. São Paulo:USP, 535 p. 1999.

LUNDSTEDT, L. M. Aspectos adaptativos dos processos digestivos e metabólicos de juvenis de pintado (Pseudoplatystoma corruscans) arraçoados com diferentes níveis de proteína e energia. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos, 2003. 103 p. Tese (Doutorado em Genética e Evolução) – Universidade Federal de São Carlos, 2003.

MAY, H. P. A survey of environmentally friendly products of Brazil. United Nations conference on trade and development management of commodity resources in the context of sustainable development. UNCTAD/ITCD/COM/10, 68 p, 1997.

MCGOOGAN, B. B.; REIGH, C. R. Apparent digestibility of selected ingredients in red drum Sciaenops ocellatus diets. Aquaculture, v.141, p. 233-244, 1996.

MELO, L. A. S.; IZEL, A. C. U.; RODRIGUES, F. M. Criação de tambaqui (Colossoma macropomum) em viveiros de argila/barragens no Estado do Amazonas. Manaus: Embrapa Amazônia Ocidental. BRASIL. 30p, 2001.

44

MELO, J. F. B. Digestão e metabolismo de jundiá Rhamdia quelen submetido a diferentes regimes alimentares. São Carlos:Universidade Federal de São Carlos, 2004, 80p. Tese (Doutorado em Ciências, área de concentração: Fisiologia) – Universidade Federal de São Carlos, 2004.

MENDES, C. Q.; GILAVERTE, S. Subprodutos da agroindústria de frutas como alternativa na alimentação de ovinos. In: Fazendaboipreto. http://fazendaboipreto.blig.ig.com.br/2007/07/subprodutos-da-agroindustria-de-frutas-como-alternativa.html. Acesso em 13 de julho de 2011.

MEROLA N.; PAGAN-FONT F. A. Pond culture of the amazon fish tambaqui, Colossoma macropomum - a pilot-study. Aquacultural Engineering, v.7, n.2, p.113-125, 1988.

MINISTÉRIO DA PESCA E AQUICULTURA – MPA. Produção pesqueira e aquícola. Estatística 2008 e 2009. Disponível em <http://www.mpa.gov.br>. Acesso em 13 de julho de 2011.

MORAES, G.; BIDINOTTO, P. M. Induced changes in the amylohydrolitic profile of the gut of Piaractus mesopotamicus (Holmberg, 1885) fed different contents of soluble carbohydrate; its correlation with metabolic aspects. Revista de Ictiologia, v. 8, n. 1/2, p. 47-51, 2000.

MORI-PINEDO, L. A. Determinação das exigências protéico calóricas de alevinos de tambaqui Colossoma macropomum, Cuvier 1818 (Pisces, Serrasalmidae). Manaus:Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, 1999, 168p. Tese (Doutorado em Biologia de Água Doce e Pesca Interior) - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, 1999.

MOREIRA, J. da S, de A. Desidratação de polpa de cupuaçu (Theobroma grandiflorum) em estufa com circulacão de ar forçado. Rio Branco: Universidade Federal do Acre, 2009, 84 p. Dissertação (Mestrado em Agronomia) – Universidade Federal do Acre, 2009.

MOTIKAWA, S. Digestibilidade proteica de rações comerciais para o camarão rosa Farfantepenaeus paulensis Pérez-Farfante 1967:avaliação por métodos in vitro e in vivo. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2006, 78p. Dissertação (Mestrado em Oceanografia Biológica) - Universidade de São Paulo, 2006.

MOYANO, F. J.; SAVOIE, L. Comparison of in vitro systems of protein digestion using either mammal or fish proteolytic enzymes. Comparative Biochemistry and Physiology, v. 128, p. 359-368, 2001.

45

NAYLOR, R. L.; GOLDBURG, R. J.; PRIMAVERA, J. H.; et al. Effect of aquaculture on world fish supplies. Nature, v. 405, n. 6790, p. 1017-1024, 2000.

NELSON, D. L.; COX, M. M. Lehninger: Princípios de Bioquímica. 3 ed. São Paulo:Sarvier, 978 p.,2002.

PENZ JÚNIOR, A. M. Enzimas em rações para aves e suínos. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 35., 1998, Botucatu-SP. Anais... Botucatu-SP, 1998. p. 165-178.

PEREIRA, E. M. de O. Torta de cupuaçu (Theobroma grandiflorum) na alimentação de ovinos. Jaboticabal: Universidade Estadual Paulista, 2009. 119p. Tese (Doutorado em Zootecnia) – Universidade Estadual Paulista, 2009.

PEZZATO, L. E.; BARROS, M. M.; FRACALOSSI, D. M.; CYRINO, J. E. P. Nutrição de peixes. In: CYRINO, J. E. P.; URBINATI, E. C.; FRACALOSSI, D. M.; CASTAGNOLLI, N. (eds). Tópicos especiais em piscicultura de água doce tropical e intensiva. 1 ed. São Paulo, TecArt, v. 1, p. 175-169, 2004.

OISHI, C. A. Resíduo da castanha da Amazônia (Bertholletia excelsa) como ingrediente em rações para juvenis de tambaqui (Colossoma macropomum). Manaus:Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, 2007, 71p. Dissertação (Mestrado em Biologia de Água Doce e Pesca Interior) – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, 2007.

OSTRENSKY, A.; BORGHETTI, J. R.; SOTO, D. Aquicultura no Brasil: o desafio é crescer. Brasília-DF. 276 p, 2008.

ROBAINA, L.; IZQUIERDO, M. S.; MOYANO, F. J.; et al. Soybean and lupin seed meals as protein sources in diets for gilthead seabream (Sparus aurata): nutritional and histological implications. Aquaculture, v.130, p. 219-233, 1995.

ROTTA, M. A. Aspectos gerais da fisiologia e estrutura do sistema digestivo dos peixes relacionados à piscicultura. Documentos 53/EMBRAPA, ISSN. 1517-1973, 49p, 2003.

ROUBACH, R. Uso de frutos e sementes de florestas inundáveis na alimentação do tambaqui Colossoma macropomum. Manaus:Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, 1991, 81p. Dissertação (Mestrado em Biologia de Água Doce e Pesca Interior), Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, 1991.

46

SABAPATHY, U.; TEO, L. H. A quantitative study of some digestive enzymes in the rabbitfish, Siganus canaliculatus and the sea brass, Lates calcarifer. J. Fish Biol, v. 42, p. 595-602, 1993.

SAHA, S.; ROY, R. N.; SEN, S. K.; RAY, A. K. Characterization of cellulose producing bacteria from the digestive tract of tilapia, Oreochromis mossambica (Peters) and grass carp, Ctenopharyngodon idella (Valenciennes). Aquaculture Research, v. 37, n. 1, p. 1-9, 2006.

SALLUM, W. B. Óxido de crômio III como indicador externo em ensaios metabólicos para o matrinxã (Bycon cephalus, Gunther 1869) (Teleostei, Characidae). Lavras: Universidade Federal de Lavras, 2000, 116f. Tese (Doutorado em Zootecnia) - Universidade Federal de Lavras, 2000.

SAINT-PAUL, U. Potential for aquaculture of South American freshwater fishes: a review. Aquaculture, v. 54, p. 205-240, 1986. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA - SETEC/MEC. Cupuaçu. Cartilha Temática. Brasília, DF. 29 p, 2007.

SILVA, S. S. de; ANDERSON, T. A. Fish nutrition in aquaculture . London:Ipswich Book Company Ltd, Sulfok, UK, 319p, 1998.

SILVA, J. A. M.; PEREIRA-FILHO, M.; OLIVEIRA-PEREIRA, M. I. Seasonal variation of nutrients and energy in tambaqui’s (Colossoma macropomum Cuvier, 1828) natural food. Rev. Bras. de Biologia, v. 60, n.4, p. 200-208, 2000.

SILVA DA, J. A. M.; FILHO, M. P.; OLIVEIRA-PEREIRA DE, M. I. Frutos e sementes consumidos pelo tambaqui, Colossoma macropomum (Cuvier, 1818) incorporados em rações. Digestibilidade e velocidade de trânsito pelo trato gastrointestinal. R. Bras. Zootec., v.32, n. 6, p. 1815-1824, 2003.

SMITH, L. S. Digestive functions in teleost fish. In: HALVER, J. E. (Ed.). Fish nutrition. 2. ed. London: Academic Press, p. 332-423, 1989.

STROM, E.; OLAFSEN, J. A. The indigenous microflora of wildcaptured cod in net-pen rearing. In: Microbiology of Poecilotherms. 1999.

THORPE, J.; BEAL, J. D. Vegetable protein meals and the effects of enzymes. In: Bedford, M.R.; Partridge, G.G. (Ed). Enzymes in farm animal nutrition. CAB International, UK. p. 125-143, 2001.

47

TONHEIM, S. K.; NORDGREEN, A.; HOGOY, I.; HAMRE, K.; RONNESTAD, I. 2007. In vitro digestibility of water-soluble and water-insoluble protein fractions of some common fish larval feeds and feed ingredients. Aquaculture, v. 262, p. 426-435,2007.

VINATEA, J. E.; VEGA, A. L. Piscicultura tropical, peces exóticos e nativos. Lima:Editorial Universidad Nacional Mayor de San Marcos, 341 p., 1995.

ZANIBONI FILHO, E. Piscicultura das espécies nativas de água doce. Apostila da disciplina de Piscicultura. Dpto. de Aquicultura-CCA. UFSC. Florianópolis. SC. BRASIL. 20 p., 1997.

48

CAPÍTULO I

DIGESTIBILIDADE APARENTE DA TORTA DE CUPUAÇU (Theobroma grandiflorum) VISANDO SUA INCLUSÃO EM RAÇÃO

PARA JUVENIS DE TAMBAQUI ( Colossoma macropomum)

49

DIGESTIBILIDADE APARENTE DA TORTA DE CUPUAÇU (Theobroma

grandiflorum) VISANDO SUA INCLUSÃO EM RAÇÃO PARA JUVENIS DE

TAMBAQUI ( Colossoma macropomum)

Resumo: O estudo teve como objetivo avaliar a digestibilidade aparente de um ingrediente

alternativo (torta de cupuaçu), visando seu uso substitutivo protéico em rações para juvenis de

tambaqui. Duzentos juvenis de tambaqui, peso médio 87,2 ± 6,3g, foram distribuídos em 10

cones de fibra de vidro, adaptados para estudos de digestibilidade, com circulação de água e

aeração constantes, por 60 dias. O delineamento experimental constou de dois tratamentos:

ração comercial (T0) e ração comercial com inclusão de 30% de farinha de torta de cupuaçu

(T1), com 5 repetições. Diariamente, às 8:00 h, foram monitoradas as variáveis físico-

químicas da água (oxigênio dissolvido, pH, temperatura e condutividade). Utilizou-se o

método indireto para avaliação dos coeficientes de digestibilidade aparente (CDA), com a

inclusão de 0,5% de óxido de cromo (Cr2O3) nas rações experimentais. Os resultados

revelaram os seguintes CDAs: 85%, 95%, 89% e 89% para matéria seca (MS), extrato etéreo

(EE), proteína bruta (PB) e carboidratos (ENN), respectivamente, para a ração comercial;

66%, 94%, 71% e 69%, para os mesmos nutrientes estudados, para a ração comercial com

inclusão de 30% de torta de cupuaçu. Os CDAs dos principais nutrientes estudados foram

reduzidos com a inclusão de 30% de torta de cupuaçu em uma ração comercial, mostrando

que esse nível de inclusão, segundo as condições desse ensaio, é inadequado para nutrição de

juvenis de tambaqui.

Palavras-chave: Piscicultura, nutrição animal, proteína vegetal, ingrediente alternativo

50

APPARENT DIGESTIBILITY OF PIE CUPUAÇU (Theobroma grandiflorum) AIMING

FOR INCLUSION IN FEED FOR JUVENILES TAMBAQUI (Colossoma macropomum)

Abstract: This study aimed to evaluate the apparent digestibility of an alternative ingredient

(cupuaçu pie), to use protein substitute in diets for juvenile tambaqui. Two hundred juvenile

tambaqui, average weight 87.2 ± 6.3 g were distributed in 10 glass-fiber cones, adapted for

digestibility studies with water circulation and aeration constant for 60 days. The

experimental design consisted of two treatments: commercial diet (T0) and commercial diets

with inclusion of 30% flour pie cupuaçu (T1), with five repetitions. Every day at 8:00 am,

were monitored physico-chemical variables of water (dissolved oxygen, pH, temperature and

conductivity). We used the indirect method to evaluate the apparent digestibility coefficients

(ADC), with the inclusion of 0.5% chromium oxide (Cr2O3) in the experimental diets. The

results revealed the following VDCs: 85%, 95%, 89% and 89% for dry matter (DM), ether

extract (EE), crude protein (CP) and carbohydrates (NFE), respectively, for the commercial

feed; 66 %, 94%, 71% and 69% for the same nutrients studied, for the inclusion of

commercial diets with 30% cupuaçu pie. The ADCs of the main nutrients studied were

reduced with the inclusion of 30% of the pie cupuaçu a commercial diet, this test tambaqui,

and inadequate nutrition of this species.

Keywords: fish farming, animal nutrition, plant protein alternative ingredient

51

1 INTRODUÇÃO

A piscicultura brasileira vem apresentando um ritmo crescente de produção,

acompanhando à tendência mundial aquícola (FAO, 2009). Segundo dados do Ministério da

Pesca e Aquicultura (2010), ela, sozinha, apresentou um crescimento de 60,2% em 2008 e

2009, em comparação com 2007.

Na região amazônica, a produção de peixes em cativeiro tem sido vista como uma das

mais promissoras nesta atividade, tendo apresentado no ano de 2007 um crescimento de

18,3%, sendo maior que o registrado para as regiões Sul (2,6%) e Sudeste (-1,3%), estando

em terceiro lugar logo após o Nordeste (22%) e o Centro-Oeste (18,5%) do país (IBAMA,

2007).

Em piscicultura intensiva, a alimentação representa uma parte importante nos custos

dos cultivos, contribuindo com 40 a 60% dos custos operacionais (CHENG et al., 2003),

podendo ser maior, dependendo da região, do sistema aplicado ou da espécie cultivada. O uso

de alimentos de má qualidade associado a estratégias de alimentação inadequadas

correspondem à grande parte dos problemas de qualidade da água de cultivo, potencializando,

assim, o aumento dos custos operacionais (KUBITZA, 2003).

Estudos sobre exigências nutricionais das espécies aquáticas, que visam diminuir os

impactos ambientais e o custo dos alimentos, têm se tornado indispensáveis para o

desenvolvimento da aqüicultura (MUÑOZ-RAMIREZ & CARNEIRO, 2002).

As cascas e as sementes são as fontes de resíduos vegetais mais empregados em

estudos de digestibilidade aparente animal, no entanto, apresentam vários fatores

antinutricionais (FRANCIS et al., 2001) e elevados teores de fibra bruta (NRC, 1993;

KAUSHIK et al., 2004), que são componentes químicos presentes nestas matérias primas e

seus teores exercem grande influência sob o aproveitamento digestivo da dieta pelos animais,

podendo ainda comprometer a saúde física e o desempenho produtivo.

52

Resultados de estudos realizados com tambaqui por diferentes autores demonstram a

possibilidade de substituição total de alimentos de origem animal, notadamente a farinha de

peixe, por ingredientes de origem vegetal sem grandes prejuízos ao desempenho dos animais,

comprovando que espécies onívoras são capazes de utilizar, de forma eficiente, diferentes

fontes de proteína dietética, convertendo-as em proteína corporal (VIDAL JR. et al., 2004;

PEREIRA JR., 2006; OISHI, 2007, ANSELMO, 2008).

A agroindústria de frutas tem crescido bastante no Brasil nos últimos anos (IBRAF,

2007). Do total de frutas processadas, 40% são resíduos que precisam de um destino

apropriado (MENDES, 2007). Baseado nesse percentual de resíduos gerados, o Estado do

Amazonas, que produziu 20 milhões de frutos de cupuaçu, em 2005 (SETEC/MEC, 2007),

gerou aproximadamente 8 milhões de toneladas do resíduo torta (semente desengordurada),

que a agricultura do estado sozinha não comporta absorver como insumo agrícola.

A região amazônica não produz, nas quantidades necessárias, os ingredientes

tradicionais utilizados em rações para peixes e o que é importado apresenta características que

dificultam seu armazenamento por longos períodos. Uma alternativa na região, para baratear

os custos com alimentação para peixes, seria a utilização de ingredientes alternativos locais.

Diante das considerações acima, objetivou-se avaliar a digestibilidade aparente da

torta de cupuaçu, resíduo da agroindústria dessa fruta, visando seu uso em ração para juvenis

de tambaqui (Colossoma macropomum).

53

2 MATERIAL E MÉTODOS

Este estudo foi realizado nas dependências da Coordenação de Pesquisa em

Aqüicultura – CPAQ, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA.

2.1 Beneficiamento da Torta de Cupuaçu em Farinha para as Rações

A amêndoa semi-desengordurada de cupuaçu (torta), resíduo proveniente da

agroindústria de polpa de frutas existente em Manaus, foi a matéria prima utilizada nos

estudos de digestibilidade in vivo. Ela foi obtida junto à empresa Cupuama, localizada na

cidade do Castanho, no município do Careiro-AM.

O processamento da torta se iniciou com uma extração máxima da polpa que recobre

as sementes, seguido do depósito destas em caixas de madeira (190cm x 120cm x 60cm), com

fundo telado, permanecendo por aproximadamente 3 dias, para redução do teor de umidade.

Cada caixa foi coberta por plástico, para proteção contra chuva. Esta pré-secagem foi seguida

pelo processo de fermentação através de inóculo com levedura, sendo favorecida sua retenção

de calor, por cobertura de cada caixa com sacos de aniagem. A fermentação durou

aproximadamente 7 dias, com revolvimento diário das sementes. Em seguida, estas foram

acondicionadas em secadores solares, durante 4 dias, com revolvimento por duas vezes ao dia,

visando remoção uniforme da umidade e impedimento de proliferação de mofo, ficando assim

até obtenção de produto com aproximadamente 93% de matéria seca.

As etapas seguintes foram de quebra grosseira das amêndoas, torrefação em forno

industrial, por 50 minutos, com temperatura regulada para 100º C e prensagem, para extração

do óleo vegetal, em prensa mecânica com eixo helicoidal e capacidade de processamento de

300 kg de amêndoas por hora. Finalmente, o óleo extraído desse processo foi filtrado e

armazenado em galões plásticos, sendo a torta recolhida e ensacada.

54

Ao chegar a Coordenação de Pesquisa em Aqüicultura, a torta foi moída em moinho

elétrico, com matriz de seleção inferior a 1 mm. Após a moagem, o produto obtido (farinha)

foi acondicionado em saco de ráfia, sob refrigeração a 25° C. Uma amostra foi retirada e

enviada para análise de composição centesimal.

2.2 Elaboração da Ração Teste

Com o intuito de se determinar a digestibilidade aparente do ingrediente teste (torta de

cupuaçu), as rações utilizadas no experimento foram obtidas segundo metodologia descrita

por BUREAU et al., (1999), que recomenda a inclusão de 30% do ingrediente teste em uma

ração comercial base.

Dois sacos de uma ração comercial de 25 kg foram adquiridos no comércio varejista

de Manaus. Um foi utilizado como ração controle e o outro como base para ração teste.

Para obtenção da ração teste, foram retirados 7,5 kg de ração comercial, do peso total

do saco e inseridas as mesmas medidas de torta de cupuaçu. A seguir, cada ração foi moída e

misturada em betoneira, por 20 minutos, para homogeneização do produto. Após a moagem,

0,5% de óxido de cromo III foi adicionado para determinação das digestibilidades.

Por fim, cada ração foi peletizada e a secagem do produto final foi feita em estufa,

com circulação forçada de ar, com temperatura interna de 55º C, por 12 h. As rações foram

conservadas em sacos de ráfia e armazenadas em ambiente com temperatura de 25º C.

2.3 Manejo dos Peixes

Os peixes foram adquiridos na fazenda comercial Santo Antônio, Rio Preto da

Eva/AM, e transportados até a CPAQ - INPA.

Quatrocentos juvenis de tambaqui, com peso médio de 35 g, foram previamente

aclimatados às condições experimentais, por 15 dias, em tanque de alvenaria (4m3), com

55

renovação de água e aeração constante. Os parâmetros de qualidade de água (oxigênio

dissolvido, temperatura, condutividade e pH) foram monitorados diariamente às 8:00 h.

Os animais foram alimentados com ração comercial com 32% de proteína bruta, duas

vezes ao dia (9:00 h e 16:00 h), até a saciedade aparente. Findo o prazo de aclimatação, os

peixes passaram por uma biometria inicial, separados em lotes homogêneos quanto ao peso, e

levados para os cones de digestibilidade.

As unidades experimentais (10) constaram de cones de fibra de vidro (200 L de

volume útil) adaptados com um sistema coletor de fezes (SCF) em sua porção inferior. Estes

foram abastecidos com água de poço artesiano, com taxa de renovação diária de cinco vezes

do volume total, e aeração constante. Os parâmetros de qualidade de água (oxigênio

dissolvido, temperatura, condutividade e pH) foram monitorados diariamente às 8:00 h. Em

cada unidade experimental, foram colocados 20 peixes que eram alimentados duas vezes ao

dia (9:00 h e 16:00 h) até a saciedade aparente.

2.3.1 Biometria

Duas biometrias foram feitas durante o experimento, sendo uma no dia de

transferência dos peixes para os cones e a outra no último dia de criação. O peso dos animais

foi obtido em balança digital, com meio grama de precisão.

Para reduzir o estresse durante o manejo biométrico, os peixes foram anestesiados

com anestésico 2-phenoxyethanol (5mL/20L de água).

2.4 Critérios de Avaliação da Digestibilidade

2.4.1 Método de Coleta de Fezes por Decantação

Os peixes foram alimentados duas vezes ao dia (9:00 h e 16:00 h). Durante esse

intervalo de alimentações, três colheitas de fezes foram realizadas, uma antes da primeira

alimentação do dia, a segunda 4 horas depois da primeira alimentação e a terceira colheita foi

56

realizada antes da última alimentação do dia. O excesso de água encontrado no recipiente

coletor de fezes era descartado de forma que se obtivesse maior volume fecal possível.

As fezes foram homogeneizadas em potes plásticos, separados 1 para cada cone,

totalizando 10 potes, congelados em freezer, e finalmente enviados para liofilização e análises

bromatológicas.

O período de coleta iniciou-se após 10 dias de adaptação dos animais aos cones de

digestibilidade e durou o tempo necessário para que se juntasse a quantidade aproximada de

100 gramas por pote de coleta para as análises centesimais.

2.4.2 Determinação dos Coeficientes de Digestibilidade

Os coeficientes de digestibilidade aparente (CDA) da matéria seca, proteína bruta,

extrato etéreo e extrato não nitrogenado dos nutrientes das rações experimentais foram

calculados segundo JOBLING (2001).

A=100 – 100[(XA/ XB) x (YB/YA)], Onde:

A = digestibilidade

X A = concentração de marcador na ração

XB = concentração de marcador nas fezes

YA = concentração de nutriente na ração

YB = concentração de nutriente nas fezes.

Os coeficientes de digestibilidade aparente da torta de cupuaçu foram calculados

segundo BUREAU et al. (1999).

CDA IT = CDA DT + [( CDA TI - CDA DC) x ( 0.7 x D R / 0.3 x D I)], Onde :

IT = ingrediente testado

DT = dieta testada

DP = dieta controle

57

R=% do nutriente (ou kJ/g energia bruta) da dieta testada

I= % do nutriente (ou kJ/g energia bruta) do ingrediente testado.

2.5 Análises Químico-Bromatológicas

As análises da composição centesimal das amostras da torta de cupuaçu, das rações

experimentais (Tabela 2) e das fezes coletadas foram realizadas no Laboratório de Nutrição de

Peixes da CPAQ – INPA, conforme metodologia descrita pela A.O.A.C (1997).

Tabela 2. Análise químico-bromatológica (%) das diferentes rações e do ingrediente.

AMOSTRAS UM CZ EE PB FB ENN

R. Comercial (1) 6,6 10,5 3,5 32 3,5 48,1

R. Cupuaçu (30%) 7,1 9,4 5,3 27,8 5,3 40,9

Torta de Cupuaçu 8 6,2 9,2 18,1 14,4 44,1 R. Comercial = ração comercial; R. Cupuaçu (30%) = ração comercial com 30% de torta de cupuaçu; UM = umidade; CZ = cinza; EE = extrato etéreo; PB = proteína bruta; FB = fibra bruta; ENN = extrato não nitrogenado (1) Nutripeixe TR 32 V, Zoofort Suplementação Animal Ind. e Com.

A umidade (UM) foi determinada submetendo a amostra à temperatura de 105°C até

peso constante. A proteína bruta (PB) foi calculada através da determinação do nitrogênio

total, pelo método de micro-kjeldahl. As concentrações de proteína bruta das amostras foram

calculadas multiplicando-se os valores de nitrogênio total pelo fator de conversão 6,25. O

extrato etéreo (EE) foi determinado por extração contínua com o solvente éter de petróleo,

num extrator intermitente em aparelho Soxhlet. As concentrações de cinza total (CZ) foram

determinadas em amostras incineradas em mufla a 550°C durante 3 horas. A fibra bruta (FB)

foi determinada, no resíduo, por digestão ácido-básica de acordo com o método de Weende.

Os valores do extrato não nitrogenado (ENN), carboidratos, foram obtidos pelo cálculo da

diferença entre a totalidade do peso de cada amostra menos os valores percentuais de UM,

PB, EE, FB e CZ.

58

2.6 Determinação do Óxido de Cromo (Cr2O3)

As análises para determinação da concentração de óxido de cromo III nas amostras de

rações e fezes foram realizadas por método colorimétrico, conforme metodologia descrita por

FURUKAWA & TSUKAHARA (1966). A curva de calibração foi calculada a partir da

digestão nitro-perclórica de amostras com concentrações conhecidas de óxido de cromo III. A

leitura foi feita em espectrofotômetro, ajustado para 350 nm de comprimento de onda. As

concentrações de óxido de cromo III nas rações e nas fezes foram determinadas por meio da

equação:

y = a + bx, onde:

y = concentração ótica;

x = concentração de cromo na amostra

2.7 Análise Estatística

O experimento constou de 2 tratamentos, sendo um representativo do nível de inclusão

de farinha de torta de cupuaçu em uma ração comercial, e o controle (ração comercial), em

delineamento inteiramente casualizado com 5 repetições cada, com duração de 60 dias.

Os coeficientes de digestibilidade aparente da matéria seca e dos nutrientes foram

submetidos à transformação arcosseno de sua raiz quadrada antes de serem comparados por

análise de variância unifatorial, seguidos pelo de contraste de médias Tukey (p<0,05).

O programa estatístico Bioestat 5.0 foi a ferramenta empregada para realização dos

cálculos estatísticos.

59

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Variáveis Físico-Químicas da Água

Os valores médios obtidos para as variáveis físico-químicas da água, analisadas

durante os quinze dias de adaptação e 60 dias de criação, estão expressos, respectivamente, na

Tabela 3. Entre os dados obtidos não foram observadas variações que comprometessem a

criação dos animais.

Tabela 3. Variáveis físico-químicas da água monitoradas nos tanques de alvenaria e nos cones. Os valores correspondem à média ± desvio padrão.

Parâmetro Unidades (15 dias) Cones (60 dias)

Tanque 1 Tanque 2 Ração c/ cupuaçu Ração Comercial

OD (mg/L) 4,0 ± 2,76 4,3 ± 1,80 4,2 ± 1,8 3,8 ± 1,8 Temperatura (° C) 27,6 ± 0,57 27,9 ± 0,78 27,1 ± 0,5 27,3 ± 0,6 pH 5,7 ± 0,86 5,4 ± 0,9 4,9 ± 0,0 4,8 ± 0,03

Condutividade (µs/cm2) 28,0 ± 2,76 24,4 ± 7,5 26,1 ± 1,2 25,0 ± 2,12 OD = oxigênio dissolvido

KUBITZA (2003) afirma que os índices padrões para o oxigênio dissolvido, em

ambiente de cultivo, devem ser acima de 4mg/L, para que mantenham o conforto dos peixes e

se evite problemas na produção. De acordo com o mesmo autor, os tecidos, células e

moléculas dos peixes são afetadas diretamente pelas variações de temperatura, que devem

estar entre 25°C e 32°C, sendo consideradas ideais para que se mantenha uma média de

conforto para criação do tambaqui, de forma que se obtenha rápido crescimento dessa espécie

em cativeiro.

O pH é uma das variáveis que influencia bastante os processos fisiológicos dos peixes

em cultivo, sendo ideal numa faixa entre 6,0 a 8,0, porém, existem espécies que vivem na

região amazônica, onde o pH da água dos igarapés muitas vezes varia entre 3,5 a 4,4

(BALDISSEROTTO, 2009).

A capacidade da água em conduzir eletricidade é determinada pela análise da variável

denominada condutividade elétrica, e está relacionada com a quantidade de íons carregados

60

eletricamente nela dissolvidos. Estes íons, quando ocorrem em grandes concentrações, podem

influenciar o equilíbrio osmótico dos peixes. Os dados médios de condutividade registrados

nesse estudo não foram discrepantes o suficiente para comprometer o equilíbrio osmótico dos

animais.

As variáveis físico-químicas da água observados nesse estudo estão de acordo com os

postulados acima, encontrando-se dentro dos índices aceitos para criação do tambaqui.

3.2 Coeficientes de Digestibilidade Aparente

Os coeficientes de digestibilidade aparente (CDA) da matéria seca e dos nutrientes das

duas rações empregadas no estudo e do ingrediente testado estão expressos na Tabela 4. Pode-

se observar que houve diferença significativa ao nível 5% de probabilidade, para os

parâmetros avaliados, entre as diferentes rações, exceto para o extrato etéreo.

Tabela 4. Valores médios dos coeficientes de digestibilidade aparente da matéria seca e dos nutrientes das rações controle, teste e do ingrediente.

AMOSTRAS CDA (%)*

MS EE PROT ENN

Ração comercial 85,0 ± 0,00a 95,0 ± 0,01a 89,0 ± 0,00a 89,0 ± 0,00a Ração c/ cupuaçu (30%) 66,0 ± 0,00b 94,0 ± 0,01a 71,0 ± 0,01b 69,0 ± 0,02b

Torta de cupuaçu 22,0 ± 6,7c 91,2 ± 3,1a 21,3 ± 7,4c 18,6 ± 8,6c MS = matéria seca; EE = extrato etéreo; PROT = proteína; ENN = extrato não nitrogenado. * Letras diferentes na mesma coluna indicam diferença (p<0,05) entre os tratamentos pelo teste de Tukey.

Os resultados positivos para a boa digestibilidade da fração lipídica das rações e do

ingrediente, podem ser explicados pela habilidade que os peixes apresentam em

metabolizarem bem os lipídios (PEZZATO et al., 2004) bem como a torta de cupuaçu ter

apresentado nível lipídico de 9,2%, estando dentro da faixa considerada aceitável (4 a 10%)

para inclusão em dietas para peixes onívoros tropicais, sem comprometimento das suas

funções metabólicas e do desempenho produtivo (KUBITZA, 1999).

Considerando que os valores de digestibilidade aparente de uma dieta está diretamente

relacionada com o potencial digestivo de seus ingredientes pode-se observar que houve uma

61

redução do percentual de digestibilidade aparente da ração comercial com cupuaçu que pode

ser correlacionada com o nível de inclusão do ingrediente teste.

A torta de cupuaçu é proveniente de uma das fontes mais empregadas em estudos de

digestibilidade animal, as sementes. Juntamente com as cascas, elas apresentam altos teores

de fibra bruta e diversos fatores antinutricionais com fortes impactos na utilização da dieta e

nos processos digestivos em peixes (SILVA et al., 2003; LANNA et al., 2004; THORPE &

BEAL, 2001).

A fração fibrosa dos alimentos pode atuar na atividade de enzimas digestivas e

interagir com a parede intestinal, modificando a absorção dos nutrientes (TACON, 1989). Nos

peixes, os compostos fibrosos são sujeitos à digestão por hidrólise ácida no estômago e

especialmente pelas enzimas da flora microbiana intestinal (KAUSHIK, 2004). O excesso de

fibra na dieta diminui a digestibilidade dos nutrientes e aumenta a produção de resíduo fecal,

contribuindo para a poluição do ambiente aquático.

SILVA et al., (2003), estudando o efeito da incorporação de frutos e sementes em

rações para tambaquis, atribuiu aos altos teores de fibra bruta, de ocorrência na embaúba

(28,5%) e no jauari (17,4%), a redução nos coeficientes de digestibilidade totais das dietas.

LANNA et al., (2004), avaliando a digestibilidade aparente e trânsito gastrointestinal

em tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus), em função da fibra bruta da dieta, afirmaram que

níveis acima de 7,5% de fibra bruta nas dietas purificadas interferiram significativamente na

digestibilidade aparente da matéria seca, proteína bruta e extrato etéreo. Na literatura não

foram encontrados estudos de nutrição de peixes que empregassem a torta de cupuaçu como

ingrediente substitutivo em dietas.

Os peixes não têm apresentado grande capacidade de digerir diversas fontes de

carboidratos, por não possuírem enzimas que sejam capazes de digerir a celulose e

hemicelulose ou que sejam capazes de quebrar a ligação lignocelulose (NRC, 1993). KHOLA

62

et al. (1992) determinaram a atividade enzimática no trato digestório do tambaqui e não

encontraram qualquer evidência da capacidade dele de digerir enzimaticamente carboidratos

complexos da fibra. Apesar de recentemente alguns estudos terem debruçado esforços na

caracterização enzimática do trato digestório de algumas espécies tropicais, entre elas o

tambaqui, estes têm avaliado a resposta das enzimas digestivas às variações dos teores

amilolíticos da dieta (LUNDSTEDT, 2003; MELO, 2004; ALMEIDA, 2006; CORRÊA et al.,

2007).

Os resultados de baixos índices de digestibilidade para MS, PB e ENN da ração teste

empregada neste estudo, podem ser atribuídos, em parte, aos elevados índices de fibra bruta

detectados para a torta de cupuaçu pela análise bromatológica (14,4%). CARVALHO et al.

(2009) encontraram índices médios de fibra bruta da torta de cupuaçu, na base seca, de 10,8%.

PEREIRA (2009), após estudo de digestibilidade desse ingrediente na alimentação de ovinos,

encontrou valores altos para suas frações fibrosas: celulose (21,5%), hemicelulose (9,6%) e

lignina (14,2%) que reduziram a digestibilidade dos outros nutrientes.

Uma outra razão para estes baixos índices de digestibilidade seria a presença de um

componente químico que possa exercer uma ação antinutricional presente no ingrediente

teste. FRANCIS et al. (2001), numa revisão sobre os efeitos dos fatores antinutricionais na

nutrição de peixes, afirmaram que essas substâncias podem afetar a utilização e a digestão das

proteínas (inibidores de proteína, taninos, lecitinas); afetar a utilização dos minerais (fitatos,

pigmentos de gossipol, oxalatos, entre outros); funcionarem como antivitamínicos, entre

outras ações, com interferências na utilização do alimento e conseqüências na saúde e

desempenho produtivo dos animais.

BECKER & MAKKAR (1999) estudaram o efeito de um hidrolisado de tanino e de

um concentrado de tanino, na proporção de 2%, em dietas para carpa comum (Cyprinus

carpio). Eles observaram que o hidrolisado de tanino afeta a performance dos peixes,

63

provocando a diminuição do consumo com 28 dias de cultivo, paralisando por completo, aos

40 dias. Os autores concluíram que a toxicidade do hidrolisado de tanino é alta para a carpa

comum, e quando pensar em incluir fontes vegetais que o contenha em substituição à farinha

de peixe, para essa espécie, deve ser feita com cautela.

KROGDAHL et al. (2000), observaram mudanças do tipo enterite no intestino

posterior de salmão do atlântico (Salmo salar L.) alimentados com dietas contendo farelo de

soja submetido a processos com extração por solvente ou extrato de álcool, comprovando que

alguns compostos antigênicos podem estar presente em sementes de algumas leguminosas e

cereais, sendo capazes de induzir lesões na mucosa intestinal, dentre outros efeitos.

A teobromina é um alcalóide da família das metil-xantinas, bastante presente nas

sementes das espécies do cupuaçu (Theobroma grandiflorum Schun) e do cacau (Theobroma

cacau) (CARVALHO, 2004; EUROPEAN FOOD SAFETY AUTHORITY 2008). Teores

médios desse alcalóide (15,7 g/kg MS) foram encontrados por LO COCO et al. (2007)

quando buscavam caracterizar a composição das sementes fermentadas e torradas de cupuaçu.

Segundo a EUROPEAN FOOD SAFETY AUTHORITY (2008), é atribuído à teobromina o

poder de inibição da ingestão da dieta pelo animal e redução do seu desempenho, após

estudos realizados com farelo ou torta de cacau.

Estudos que mostrassem os efeitos da teobromina sobre os processos digestivos em

peixes não foram encontrados, contudo, baseado na teoria que essa substância possa ter algum

efeito bactericida ou bacteriostático sobre a população microbiana do trato digestório de

ruminantes (PEREIRA, 2009) e levando-se em consideração às afirmações descritas acima,

talvez ela deva ter influenciado nos baixos resultados de digestibilidade nesse estudo,

sugerindo que tais efeitos sejam melhor avaliados em trabalhos futuros.

64

4. CONCLUSÃO

A torta de cupuaçu, incluída ao nível de 30% em uma dieta comercial, reduziu os

coeficientes de digestibilidade aparente dos principais nutrientes estudados não sendo

adequada, nesse índice, para nutrição de juvenis de tambaqui.

Estudos futuros precisam ser realizados de forma a:

� avaliar níveis abaixo de 30% de inclusão de torta de cupuaçu e seus efeitos no

desempenho zootécnico de juvenis de tambaqui;

65

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, L. C. de. Perfil digestivo e metabólico de juvenis de tambaqui Colossoma macropomum (Cuvier, 1818) alimentados com diferentes teores de proteína e lipídio. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos, 2006. 77 p. Dissertação (Mestrado em Genética e Evolução) – Universidade Federal de São Carlos, 2006.

ANSELMO, A. A. dos S. Resíduos de frutos Amazônicos como ingredientes alternativos em rações extrusadas para juvenis de tambaqui (Colossoma macropomum). Manaus: Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, 2008. 46p. Dissertação (Mestrado em Biologia Tropical e Recursos Naturais) – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, 2008.

ASSOCIATION OF OFFICIAL AGRICULTURE CHEMISTS – AOAC. Official methods of analyses of the Association of Agriculture Chemists. Washington, D. C.: 1997. 937p.

BALDISSEROTTO, B. Fisiologia de peixes aplicada à piscicultura. 2º ed. Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria. 2009.352p.

BECKER, K.; MAKKAR, H. P. S. Effects of dietary tannic acid and quebracho tannin on growth performance and metabolic rates of common carp (Cyprinus carpio L) Aquaculture, v. 175, p. 327–335, 1999.

BUREAU, D. P., HARRIS, A. M., CHO, C. Y. Apparent digestibility of rendered animal protein ingredients for rainbow trout (Oncorhynchus mykiss). Aquaculture, 180:345–358, 1999.

CARVALHO, A. V. Extração, concentração e caracterização físico-químicas e funcionais das proteínas da semente de cupuaçu (Theobroma grandiflorum Shum.). Campinas. SP. 2004. 151p. Tese (Doutorado em Tecnologia dos Alimentos). Faculdade de Engenharia de Alimentos. Universidade Estadual de Campinas. 2004

CARVALHO, A. V.; GARCIA, N. H. P.; FARFÁN, J. A.; WADA, J. K. A. Caracterização de concentrado e isolado protéico extraído de sementes de cupuaçu (Theobroma grandiflorum, Schum). Braz. J. Food Technol, v. 12, n. 1, p. 01-08, 2009.

CHENG, Z. J.; HARDY, R. W.; URSY, J. L. Plant protein ingredients with lysine supplementation reduce dietary protein level in rainbow trout (Oncorhnchus mykiss) diets, and reduce ammonia nitrogen and soluble phosphorus excretion. Aquaculture, 218: 553-565, 2003.

66

CORREA, C. F.; AGUIAR, L. H. de; LUNDSTEDT, L. M.; MORAES, G. Responses of digestive enzymes of tambaqui (Colossoma macropomum) to dietary cornstarch changes and metabolic inferences. Comparative Biochemistry and Physiology, v. 147, p. 857-862, 2007.

EUROPEAN FOOD SAFETY AUTHORITY - EFSA.. Theobromine as undesirable substances in animal feed. Scientific Opinion of the panel on caontaminants in food chain. The EFSA Journal, n. 725, 2008.

FRANCIS, G.; MAKKAR, H. P. S; BECKER, K. Antinutritional factors present in plant-derived alternate fish feed ingredients and their effects in fish. Aquaculture, v.199, p.197–227, 2001.

FOOD AGRICULTURE ORGANIZATION-FAO. Fishery and aquaculture statistics. FAO Fishery and Aquaculture Statistics Yearbook. Rome, Italy, 2009.101 p.

FURUKAWA, A.; TSUKAHARA, H. On the acid digestion for the determination of chromic oxide as na índex substance in the study of digestibility of fish feed. Bulletin of the Japanese Society of Scientific Fisheries, v.32, n.6, p.502-506, 1966.

INSTITUTO BRASILEIRO DE FRUTAS - IBRAF. Produção brasileira de frutas – 2007/ Estatísticas. Disponível em <http://www.ibraf.org.br. Acesso em 13 de julho de 11.

INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVÉIS - IBAMA. Estatística da Pesca 2007-Brasil: Grandes regiões e unidades da federação. Brasília, DF: 2007. 113p.

JOBLING, M. Feed composition and analysis. In: HOULIHAN, D.; BOUJARD, T.; JOBLING, M. (Eds.). Food intake in fish. Blackwell Science Ltd. Oxford, UK: 2001. p. 1-24.

KAUSHIK, S. J.; COVES, D.; DUTTO, G.; BLANC, D. Almost total replacement of fish meal by plant protein sources in the diet of a marine teleost, the European seabass, Dicentrarchus labrax. Aquaculture, v. 230, n.1, p.391-404, 2004.

KHOLA, U.; SAINT-PAUL, U.; FRIEBE, J. et al. Growth, digestive enzyme activities and hepatic glycogen levels in juvenile Colossoma macropomum Curvier from South America during feeding, starvation and refeeding. Aquaculture Fisheries Management, v. 23, n. 1, p. 189-208, 1992.

67

KROGDAHL, A., BAKKE-MCKELLEP, A.M., ROED, K.H., BAEVERFJORD, G. Feeding Atlantic salmon (Salmo salar L.) soybean products: effects on disease resistance (furunculosis), and lysozyme and IgM levels in the intestinal mucosa. Aquacult. Nutr . v. 6, p.77–84, 2000.

KUBITZA, F. Nutrição e alimentação dos peixes cultivados. 3.ed. Jundiaí:USP, 1999, 123p.

KUBITZA, F. Qualidade da água no cultivo de peixes e camarões. 1.ed. Jundiaí:USP, 2003, 229p.

LANNA, E. A. T.; PEZZATO, L. E.; CECON, P. R. et al. Digestibilidade aparente e trânsito gastroitestinal em tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus), em função da fibra bruta da dieta. R. Bras. Zootec., v. 33, n.6, p. 2186-2192, 2004.

LO COCO, F et al. Determination of theobromine, theophylline, and caffeine in by-products of cupuacu and cacao seeds by high-performance liquid chromatography Journal of Chromatographi Science, v. 45, p.273-5, 2007.

LUNDSTEDT, L. M. Aspectos adaptativos dos processos digestivos e metabólicos de juvenis de pintado (Pseudoplatystoma corruscans) arraçoados com diferentes níveis de proteína e energia. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos, 2003. 103 p. Tese (Doutorado em Genética e Evolução) – Universidade Federal de São Carlos, 2003.

MELO, J. F. B. Digestão e Metabolismo de jundiá Rhamdia quelen submetido a diferentes regimes alimentares. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos, 2004. 80p. Tese (Doutorado em Ciências, área concentração: Fisiologia) – Universidade Federal de São Carlos, 2004.

MENDES, C. Q.; GILAVERTE, S. Subprodutos da agroindústria de frutas como alternativa na alimentação de ovinos. In: Fazendaboipreto. http://fazendaboipreto.blig.ig.com.br/2007/07/subprodutos-da-agroindustria-de-frutas-como-alternativa.html. Acesso em 13 de julho de 2011.

MINISTÉRIO DA PESCA E AQUICULTURA – MPA. Estatística da Aquicultura e Pesca no Brasil 2008/2009. Disponível em: http://www.mpa.gov.br/#imprensa/2010/AGOSTO/nt_AGO_19-08-Producao-de-pescado-aumenta. Acesso em: 13 de julho de 2011.

68

MUNÕZ-RAMIREZ, A. P. M.; CARNEIRO, D. J. Suplementação de Lisina e Metionina em Dietas com Baixo nível Protéico para o Crescimento Inicial do Pacu, Piaractus mesopotamicus. Acta Scientiarum, v.24, n.4, p. 909-916, 2002.

NATIONAL RESEARCH COUNCIL-NRC. Nutrient Requirements of Fish. 1 ed. Washington, D.C., 1993.114p.

OISHI, C. A. Resíduo da castanha da amazônia (Bertholletia excelsa) como ingrediente em rações para juvenis de tambaqui (Colossoma macropomum). Manaus: Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, 2007. 60p. Dissertação (Mestrado em Biologia Tropical e Recursos Naturais) – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, 2007.

PEREIRA, E. M. de O. Torta de cupuaçu (Theobroma grandiflorum) na alimentação de ovinos. Jaboticabal: Universidade Estadual Paulista, 2009. 119p. Tese (Doutorado em Zootecnia) – Universidade Estadual Paulista, 2009.

PEREIRA JUNIOR, G. Farinha de folha de leucena (Leucaena leucocephala lam. de wit) como fonte de proteína para juvenis de tambaqui (Colossoma macropomum cuvier, 1818). Manaus: Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, 2006. 46p. Dissertação (Mestrado em Biologia Tropical e Recursos Naturais) – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, 2006.

PEZZATO, L. E.; BARROS, M. M.; FRACALOSSI, D. M.; CYRINO, J. E. P. Nutrição de peixes. In: CYRINO, J. E. P.; URBINATI, E. C.; FRACALOSSI, D. M.; CASTAGNOLLI, N. (eds). Tópicos especiais em piscicultura de água doce tropical e intensiva. 1 ed. São Paulo, TecArt, v. 1, 2004, p. 169-175.

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA - SETEC/MEC. Cupuaçu. Cartilha Temática. Brasília, DF. 29 p, 2007.

SILVA, J. A. M. da.; PEREIRA-FILHO, M.; OLIVEIRA-PEREIRA, M. I. de. Frutos e sementes consumidos pelo tambaqui, Colossoma macropomum (Cuvier, 1818) incorporados em rações. Digestibilidade e velocidade de trânsito pelo trato gastrointestinal. R. Bras. Zootec, v. 32, n. 6, p. 1815-1824, 2003

TACON, A. G. J. Nutrición y alimentación de peces y camaronês cultivados: manual de capacitación. Oraganización de lãs Naciones Unidas para La Agricultura y La Alimentación. Brasília, Brasil. 1989. 572p.

69

THORPE, J.; BEAL, J. D. Vegetable protein meals and the effects of enzymes. In: Bedford, M.R.; Partridge, G.G. (Ed). Enzymes in farm animal nutrition. CAB International, UK, 2001, p. 125-143.

VIDAL JR, M. V.; DONZELE, J. L.; ANDRADE, D. R. de.; SANTOS, L. C. dos. Determinação da digestibilidade da matéria seca e da proteína bruta do fubá de milho e do farelo de soja para tambaqui (Colossoma macropomum), utilizando-se técnicas com uso de indicadores internos e externos. R. Bras. Zootec, v. 33, n.6, p. 2193-2200, 2004.

70

CAPÍTULO II

DIGESTIBILIDADE IN VITRO DA FRAÇÃO SOLÚVEL PROTÉICA DA TORTA DE CUPUAÇU E DIETAS PARA JUVENIS DE TAMBAQUI

(Colossoma macropomum)

71

DIGESTIBILIDADE IN VITRO DA FRAÇÃO SOLÚVEL PROTÉICA DA

TORTA DE CUPUAÇU E DIETAS PARA JUVENIS DE TAMBAQUI

(Colossoma macropomum)

Resumo: As técnicas in vitro despontam como uma ferramenta de resultados rápidos para

predição da qualidade de um ingrediente potencial para alimentação de peixes. Esse estudo

pretendeu avaliar a digestibilidade in vitro da fração solúvel protéica da torta de cupuaçu e

dietas para juvenis de tambaqui, utilizando nova técnica, que empregou os próprios extratos

enzimáticos da espécie. Trinta peixes, provenientes de um experimento de digestibilidade in

vivo, após jejum de 24 h, foram sacrificados por hipotermia, dissecados os tratos digestórios

em estômago, cecos pilóricos, intestino anterior e intestino posterior, homogeneizados em

tampão pH 7, e postos em reação com duas dietas e um ingrediente (farinha de torta de

cupuaçu), a temperatura de 28ºC, por 6 h de incubação, para avaliação do grau de hidrólise da

fração solúvel protéica. Após leitura das absorbâncias em espectrofotômetro, a 550 nm, e

comparação das mesmas com um padrão de albumina bovina, foi determinado o grau de

hidrólise em termos de percentual protéico digerido ao longo de 6 h de reação. A fração

solúvel protéica da torta de cupuaçu apresentou maior percentual de digestibilidade registrado

pelos extratos de cecos pilóricos (41,9%) e estômago (35,8%), com picos de atividade

proteolítica às 3 h em ambos os extratos e 5 h somente no estômago. Nos intestinos houve

maior digestibilidade das dietas em detrimento do ingrediente. Os resultados evidenciaram

que, por meio dessa técnica, não foi possível observar o potencial solúvel protéico da torta de

cupuaçu e das dietas estudadas, sugerindo-se refinamento dessa metodologia com

conseqüentes estudos comparativos a tradicionais técnicas in vitro e in vivo.

Palavras-chave: Bioquímica de peixes, proteases, ingrediente alternativo.

72

IN VITRO DIGESTIBILITY OF THE SOLUBLE PROTEIN FRACTION OF THE

CUPUAÇU PIE AND DIETS FOR JUVENILES TAMBAQUI (Colossoma macropomum)

Abstract: The in vitro techniques are emerging as a tool for quick results to predict the

quality of a potential ingredient for fish food. This study sought to evaluate the in vitro

soluble protein fraction of the pie cupuaçu and diets for juvenile tambaqui, using new

technique, which employed its own kind of enzyme extract. Thirty fish from an in vivo

digestibility experiment, after fasting for 24 h, were killed by hypothermia, dissected digestive

tracts in the stomach, pyloric caeca, foregut and hindgut, homogenized in pH 7 buffer, and put

into reaction with two diets and ingredients (flour pie cupuaçu), the temperature of 28 ° C for

6 h of incubation, to evaluate the degree of hydrolysis of soluble protein fraction. After

reading the absorbance in a spectrophotometer at 550 nm, and comparing them with a

standard bovine serum albumin, we determined the degree of hydrolysis in terms of

percentage digestible protein over 6 h of reaction. The soluble protein fraction of the pie

cupuaçu had a higher percentage of digestibility recorded by extracts of pyloric caeca (41.9%)

and stomach (35.8%), with peaks of proteolytic activity at 3 h in both extracts and only 5 h in

the stomach. In the intestines was greater digestibility of diets over the ingredient. The results

showed that, using this technique, it was not possible to observe the potential of soluble

protein cupuaçu pie and the diets studied, suggesting that refinement of this methodology with

subsequent comparisons to traditional techniques in vitro and in vivo.

Keywords: Biochemistry of fish, proteases, alternative ingredient

73

1 INTRODUÇÃO

Determinar as necessidades qualitativas dos nutrientes na dieta de uma espécie

contribui bastante para uma adequada formulação de rações para a mesma, pois a dieta

impacta diretamente o seu comportamento, a integridade estrutural, a saúde, as funções

fisiológicas, a reprodução, o crescimento e as exigências nutricionais (PEZZATO et al.,

2004). Dentre os nutrientes, as proteínas destacam-se pelo grande valor biológico como

material estrutural e funcional no crescimento de peixes (KUBITZA, 1999)

Os métodos mais empregados nos estudos que visam determinar os valores

nutricionais e o coeficiente de digestibilidade de uma dieta ou de um ingrediente são os

ensaios in vivo. Eles representam, de forma bem aproximada, a habilidade com que o animal

digere e absorve a energia e os nutrientes contidos nos alimentos, contudo, são métodos que

demandam muito tempo, requerem considerável número de animais e são caros (GARCIA-

ORTEGA et al., 2000).

Várias técnicas têm sido utilizadas em estudos de digestibilidade in vitro. A Incubação

de ingrediente com enzimas para determinar a quantidade de sobras de nutrientes não

digeridos, a fim de estimar a quantidade relativa de nutrientes digeridos, em comparação com

o nível de ingrediente é uma delas (CARTER et al., 1999); mudanças nos valores de pH após

incubação de uma enzima com o ingrediente testado (LAZO et al., 1998; FENERCI &

SENER, 2005) e o método do pH-stat, baseado na estimativa do percentual de hidrólise das

ligações peptídicas (EZQUERRA et al., 1997; EZQUERRA et al., 1998; CHONG et al.,

2002; LEMOS et al., 2004; MOTIKAWA, 2006) são outras duas muito importantes.

Todas as técnicas de determinação da digestibilidade in vivtro se baseiam em digerir a

amostra com enzimas proteolíticas em condições padronizadas. A diferença está entre o

número e a natureza das enzimas que se utilizam e a medida final a ser realizada. Em geral,

para a estimativa da digestibilidade, procura-se imitar, inclusive, as condições de pH ou de

74

acidez, características do estômago e do intestino onde a digestão das proteínas se processa

(PIRES et al., 2006)

Métodos como o “pH-drop” e o “pH-stat”, foram os primeiros a serem empregados

para análise da digestibilidade protéica em peixes e crustáceos (EZQUERRA et al., 1997;

LAZO et al., 1998). O pH-stat é bastante aceito para predizer a hidrólise protéica de fontes

alimentares e, como o pH-drop, geralmente são baseados na análise da ação de uma única

enzima, contudo, estudos mais recentes têm demonstrado que análises de conjuntos

enzimáticos, extraídos do aparelho digestivo dos peixes estudados, simulam de forma mais

aproximada o sistema digestivo animal (CHONG et al., 2002; RUNGRUANGSAK-

TORRISSEN et al., 2002)

A tecnologia de determinação da digestibilidade in vitro em estudos de nutrição de

organismos aquáticos surge como uma ferramenta capaz de predizer o potencial de

digestibilidade de cada componente ou mesmo da própria dieta formulada em pequenas

quantidades destes, em pouco tempo de ensaio e com melhor custo-benefício (LEMOS et al.,

2004). Ela também permite ter uma avaliação mais detalhada das enzimas digestivas

responsáveis pela hidrólise protéica, ainda mais se utilizar as da própria espécie de estudo

(EZQUERRA et al., 1997).

Na região Norte, o uso de ingredientes alternativos em rações para peixes assume

grande importância para o desenvolvimento local, visto que a grande maioria dos insumos

utilizados em sua composição não é produzida localmente, precisando ser importada dos

grandes centros cerealistas do país, encarecendo os custos de produção das pisciculturas.

A agroindústria de frutas tem apresentando nos últimos anos um crescimento

expressivo e dentre os diferentes resíduos gerados a torta de cupuaçu, oriunda do

processamento das sementes é o mais abundante. CARVALHO et al. (2009), caracterizando o

concentrado e o isolado protéico extraídos de farinha de sementes de cupuaçu, encontraram

75

teores de proteína de 31,18% e 64,33%, respectivamente. Estes teores respaldam a

necessidade de se fazerem estudos de digestibilidade in vitro da torta de cupuaçu, de forma

que se possa aferir o grau de hidrólise do seu potencial protéico e o quanto desse potencial é

biodisponível para os peixes cultivados.

Conforme considerações acima citadas, este estudo objetivou avaliar a digestibilidade

in vitro, por ação das enzimas de diferentes partes do trato digestório de tambaqui (estômago,

cecos pilóricos, intestino anterior e intestino posterior), sobre a fração protéica solúvel da torta

de cupuaçu, visando sua potencialidade nutritiva para esta espécie.

76

2 MATERIAL E MÉTODOS

Esse estudo foi realizado no Laboratório de Nutrição de peixes da Coordenação de

Pesquisa em Aqüicultura – CPAQ, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA.

2.1 Extração dos tecidos

Ao final de um experimento in vivo, em que os peixes estavam submetidos aos

tratamentos com ração comercial e ração comercial com inclusão de 30% de torta de cupuaçu,

foi dado aos animais jejum de 24 h. Após jejum, foram coletados trinta peixes, de um total de

duzentos, para serem sacrificados por hipotermia e retirados seus tratos digestórios. Após

morte, foram levados ao laboratório, sendo dissecados em bandeja de inox sob gelo, para

retirada do estômago, cecos pilóricos e intestino. O intestino foi dividido em 2 porções:

anterior (proximal) e posterior (distal). Cada órgão foi então seccionado, dissecado e lavado

com água destilada gelada. Para cada peixe, foi selecionada uma placa de Petri, separada em

quadrantes, onde em cada um se acondicionou os órgãos. Finalmente, os tecidos foram

congelados em freezer (4° C), permanecendo assim até o preparo dos homogenizados para as

etapas seguintes.

2.2 Preparação dos homogeneizados celulares

Os tecidos foram homogeneizados em homogeneizador mecânico tipo Tissue-Tearror,

em velocidade máxima, por 2 minutos, em banho de gelo, adequando-se suas quantidades à

proporção de 100 mg de tecido para 1,0 mL de tampão de homogeneização (fosfato de sódio

monobásico 10mM; glicerina 87%, pH ajustado para 7,0). Os extratos enzimáticos foram

obtidos de um “pool” de tecidos extraídos de cada peixe, separados individualmente em

microtubos, correspondendo ao tratamento a que pertenciam no ensaio in vivo. Em seguida, os

77

extratos foram centrifugados a 12.000 x g, por 3 minutos, a 4 ° C, e o sobrenadante foi

utilizado como fonte de enzima.

O conteúdo protéico dos extratos enzimáticos foi determinado pela metodologia de

BRADFORD (1976).

2.3 Procedimento Experimental

Os substratos farinha de torta de cupuaçu, ração comercial (Nutripeixe TR 32V) e

ração comercial com inclusão de farinha de torta de cupuaçu a 30% foram finamente moídos

em peneira de malha de 0,8 mm. Em seguida, às 19:00 h, eles foram pesados individualmente,

um para cada dia de ensaio, na quantidade de 5g, e imersos em 100 mL de água destilada,

mantendo-os sob agito e refrigeração, por 12 h. Na manhã seguinte, a solução substrato-água

foi filtrada em filtro de fibra de vidro, φ 9 cm, resultando num filtrado que constituía a fonte

protéica para a ação enzimática. Um total de 128 tubos de ensaio e microtubos foram

utilizados por dia, representando dois tipos de tecido e um substrato.

Sessenta e quatro tubos de ensaio foram então dispostos em duas baterias de trinta e

dois cada, em banho a 28° C, em quadruplicata, representando as horas de ensaio (0 h a 6 h), a

origem do extrato enzimático (estômago, cecos, intestino anterior ou intestino posterior) e os

brancos da reação (total de 8). As réplicas receberam 1,0 mL de tampão Glicina/HCl 200mM

pH 2, quando o tecido era o estômago ou 1,0 mL de tampão Tris/HCl 200 mM pH 8 quando

os tecidos eram cecos pilóricos ou intestino anterior ou posterior, 3,0 mL do filtrado e 300 µL

do extrato enzimático. Os brancos receberam 1,0 mL de tampão e 3,3 mL de água destilada.

O tempo de reação foi cronometrado logo após a adição da primeira alíquota de

extrato enzimático de cada órgão dos peixes. Em intervalos de 1h, até tempo total de 6h,

retirou-se alíquotas de 1mL para interrupção da reação, adicionando-as em volumes de 1mL

de solução de NaOH 6N, em tubos de ensaio incubados previamente a 100° C. Em seguida,

78

600 µL dessa solução foi pipetada em microtubos e resfriada, para finalmente, assim que os

últimos volumes fossem pipetados, adicionar-se 600 µL de reativo de biureto (marca Human

do Brasil), ficando nessa condição por 30 minutos a temperatura ambiente (25° C) e depois

leitura em espectrofotômetro a 550 nm.

A albumina bovina – BSA foi utilizada como padrão protéico para comparação das

absorbâncias encontradas para os diferentes extratos enzimáticos agindo sobre os diferentes

substratos.

O grau de hidrólise da fração solúvel da proteína das dietas e do ingrediente, efetuado

pelos diferentes “pools” de extratos enzimáticos, foi definido em termos de percentual de

digestão protéica, ao longo de 6:00 h de incubação, conforme a seguinte fórmula:

% Digestibilidade Prot. tn = 100% - ([Prot. tn] x 100 / [Prot. t0]), onde:

[Prot.tn] = concentração de proteína (mg/mL), no tempo (n)

= [Prot.Total tn] - [Prot. do extrato enzimático na mistura]

[Prot. t0] = concentração de proteína (mg/mL), no tempo (0)

T0 = tempo de início da reação

Tn = intervalos de tempo (T0, T1, T2,...,T6 ), em horas, em que se processou a reação

enzimática.

79

3 RESULTADOS

A figura 1 representa os diferentes teores de proteínas totais encontrados nos quatro

extratos enzimáticos empregados na digestibilidade do ingrediente e das rações.

Figura 1. Concentração de proteínas (mg/mL) nos diferentes extratos enzimáticos

Com relação aos teores de proteína dos extratos que agiram sobre a ração com

inclusão de torta de cupuaçu, se observa que os de cecos pilóricos (4,45 mg/mL), seguidos

dos teores dos extratos de estômago (2,99mg/mL) e os de intestino posterior (2,83mg/mL)

apresentaram os mais altos valores de proteínas totais presentes, tendo por último os do

intestino anterior (2,15mg/mL). Já com relação aos extratos dos tecidos de peixes alimentados

com ração comercial (comum), o do intestino anterior (2,39mg/mL) apresentou maior teor de

proteína total, seguido pelo do estômago (1,33mg/mL), cecos pilóricos (1mg/mL) e,

finalmente, do intestino posterior (0,71mg/mL).

A figura 2 representa os efeitos do extrato enzimático do “pool” de estômagos de

juvenis de tambaqui sobre a fração solúvel da proteína das dietas e do ingrediente, com

relação ao tempo de reação.

1,331,00

2,39

0,71

2,99

4,45

2,15

2,83

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

3,00

3,50

4,00

4,50

5,00

Estômago Cecos piloricus Intestino anterior Intestino posterior

Con

cent

raçã

o de

pro

teín

as to

tais

(mg/

mL)

Extratos Enzimáticos

Ração comum

Ração com torta de cupuaçu

80

Figura 2. Percentual de digestibilidade da fração solúvel protéica das dietas e do

ingrediente, pelo extrato enzimático do “pool” de estômagos de juvenis de tambaqui, em 6h

de reação.

O ingrediente (torta de cupuaçu (TC)) , quando comparado às dietas, foi o que

apresentou maior tendência de aumento do grau de hidrólise da fração solúvel protéica, pelos

extratos de estômagos de juvenis de tambaqui, ao longo de 6h de reação, seguido da ração

comercial (RC) e da ração com inclusão de torta de cupuaçu (RTC).

Entre os tempos de 0h e 3h, a fração solúvel protéica da RC, RTC e TC foi sendo

digerida até pico de interrupção para RC e RTC, às 3h, enquanto para TC, houve pico do

percentual de digestibilidade (54,9%) da sua fração solúvel protéica. Por fim, somente 3,3% e

2,1% das frações solúveis protéicas da RC e da RTC, respectivamente, naquele tempo, tinham

sido digeridas.

Entre o intervalo de 3h e 6h, houve tendência de aumento do grau de hidrólise da

fração protéica das dietas e do ingrediente, tendo pico de interrupção para TC, às 4h, enquanto

as frações solúveis protéicas de RC e RTC continuaram sendo digeridas. Ao final das 6h de

reação, o percentual de digestibilidade da fração solúvel protéica do TC (35,8%) foi maior

que da RC (28,8%), seguido, finalmente, da RTC (18,8%).

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

0h 1h 2h 3h 4h 5h 6hDig

estib

ilida

de d

a fr

ação

so

lúve

l pro

téic

a (

%)

Tempo de reação (h)Ração Comercial Ração Cupuaçu Torta Cupuaçu

81

A figura 3 representa os efeitos do extrato enzimático do “pool” de cecos pilóricos de

juvenis de tambaqui sobre a fração solúvel da proteína das dietas e do ingrediente, com

relação ao tempo de reação.

Figura 3. Percentual de digestibilidade da fração solúvel protéica das dietas e do

ingrediente, pelo extrato enzimático do “pool” de cecos pilóricos de juvenis de tambaqui, em

6h de reação.

O ingrediente (TC), também foi o que apresentou maior tendência de aumento do grau

de hidrólise da fração solúvel protéica, pelos extratos de cecos pilóricos de juvenis de

tambaqui, ao longo de 6h de reação, seguido da ração comercial (RC) e da ração com inclusão

de torta de cupuaçu (RTC).

Entre os tempos de 0h e 3h, a fração solúvel protéica da RC, RTC e TC foi sendo

digerida até pico de interrupção para TC, às 2h. Houve pico do percentual de digestibilidade

da fração solúvel protéica (58,3%), para TC, às 3h, contra somente 17,5% e 4,9% das frações

protéicas de RC e RTC, respectivamente.

Entre o intervalo de 3h e 6h, houve tendência de aumento do grau de hidrólise da

fração protéica das dietas e do ingrediente, sendo que às 4h houve pico de interrupção do

processo para TC, coincidindo com o de aumento do percentual de digestão da fração protéica

de RC, que foi de 34,8%, contra 30,3% e 13,1% para TC e RTC, respectivamente. Ao final

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

0h 1h 2h 3h 4h 5h 6hDig

estib

ilida

de d

a fr

ação

so

lúve

l pro

téic

a (%

)

Tempo de reação (h)

Ração Comercial Ração Cupuaçu Torta Cupuaçu

82

das 6h de reação, o percentual de digestibilidade da fração solúvel protéica do TC (41,9%) foi

maior que da RC (28,3%), seguido, finalmente, da RTC (16%).

A figura 4 representa os efeitos do extrato enzimático do “pool” de intestinos

anteriores de juvenis de tambaqui sobre a fração solúvel da proteína das dietas e do

ingrediente, com relação ao tempo de reação.

Figura 4. Percentual de digestibilidade da fração solúvel protéica das dietas e do

ingrediente, pelo extrato enzimático do “pool” de intestinos anteriores de juvenis de tambaqui,

em 6h de reação.

A ração comercial (RC) foi quem apresentou maior tendência de aumento do grau de

hidrólise da fração solúvel protéica, pelos extratos de intestinos anteriores de juvenis de

tambaqui, ao longo de 6h de reação, seguido da ração com torta de cupuaçu (RTC) e do

ingrediente (TC).

Entre os tempos de 0h e 3h, a RC e a RTC tiveram pico de aumento do grau de

hidrólise de suas frações protéicas, atingindo percentuais de 25,6% e 19,2% de digestão das

mesmas, enquanto TC atingiu apenas 11,1%. Ao final das 3h de reação, os extratos de

intestino anterior já haviam digerido 23,8%, 12,9% e 8,5% das frações solúveis protéicas de

RC, RTC e TC, respectivamente.

Entre o intervalo de 3h e 6h, houve tendência de aumento do grau de hidrólise

protéica, com pico de interrupção do processo para RC. Ao final das 6h de reação, o

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

0h 1h 2h 3h 4h 5h 6hDig

estib

ilida

de d

a fr

ação

so

lúve

l pro

téic

a (%

)

Tempo de reação (h)Ração Comercial Ração Cupuaçu Torta Cupuaçu

83

percentual de digestibilidade da fração solúvel protéica da RC (31,3%) foi maior que o da

RTC (24,3%), seguido, finalmente, do TC (18,5%).

A figura 5 representa os efeitos do extrato enzimático do “pool” de intestinos

posteriores de juvenis de tambaqui sobre a fração solúvel da proteína das dietas e do

ingrediente, com relação ao tempo de reação.

Figura 5. Percentual de digestibilidade da fração solúvel protéica das dietas e do

ingrediente, pelo extrato enzimático do “pool” de intestinos posteriores de juvenis de

tambaqui, em 6h de reação.

A ração com torta de cupuaçu (RTC) foi quem apresentou maior tendência de aumento

do grau de hidrólise da fração solúvel protéica, pelos extratos de intestinos anteriores de

juvenis de tambaqui, ao longo de 6h de reação, seguido da ração comercial (RC) e do

ingrediente (TC).

Entre os tempos de 0h e 3h, RTC e RC tiveram tendência de aumento do grau de

hidrólise de suas frações solúveis protéicas, atingindo pico de interrupção do processo às 3h,

enquanto para TC o processo seguiu normalmente. Ao final, os percentuais de digestibilidade

das frações protéicas foram: RTC (13,2%), TC (6,5%) e RC (3,1%).

Entre o intervalo de 3h e 6h, a RC apresentou pico do aumento do grau de hidrólise, às

5h, enquanto para RTC e TC, praticamente esse grau não apresentou alterações. Ao final das

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

0h 1h 2h 3h 4h 5h 6h

Dig

estib

ilida

de d

a fr

ação

so

lúve

l pro

téic

a (%

)

Tempo de reação (h)

Ração Comercial Ração Cupuaçu Torta Cupuaçu

84

6h de reação, o percentual de digestibilidade da fração solúvel protéica da RTC (18,8%) foi

maior que o da RC (15,1%), seguido, finalmente, do TC (9,1%).

85

4 DISCUSSÃO

Os resultados revelaram maior grau de hidrólise da fração solúvel protéica da torta de

cupuaçu (TC) quando comparado aos da ração comercial (RC) e aos da ração com inclusão de

torta de cupuaçu (RTC), sob ação de digestão dos extratos enzimáticos de estômago e cecos

pilóricos de juvenis de tambaqui, concomitantemente. A composição em proteínas totais e o

balanceamento dos aminoácidos da torta de cupuaçu poderiam explicar esses resultados, que

embora não realizados nesse estudo encontram respaldo nos achados por CARVALHO et al.

(2008).

Os autores acima citados caracterizaram o teor de proteína total e de aminoácidos

totais de amêndoas fermentadas e torradas de cupuaçu, mesmo processo que passou a

amêndoa que gerou a torta empregada nesse estudo. Eles constataram alto valor biológico e

maiores teores de aminoácidos indispensáveis em comparação às amêndoas de cacau (LOPES

et al., 2008 ) e o escore do Institute of Medicine (2002), citado por eles.

As proteínas estão constituídas por aminoácidos que podem apresentar cargas

(aminoácidos polares) ou não (aminoácidos apolares). Quando apresentam cargas, as

proteínas podem ser compostas de aminoácidos polares positivos, negativos e neutros. Estes

podem se encontrar em uma proteína em diferentes proporções, favorecendo a digestão ácida

quando há predomínio de aminoácidos polares negativos, a digestão básica pela

predominância de aminoácidos polares positivos ou neutra, com participação ativa de

aminoácidos polares neutros (NELSON & COX, 2002).

Quando se observou que a fração solúvel protéica da torta foi mais digerida pelos

extratos de cecos pilóricos (41,9%) e estômago (35,8%), ao final de 6h de reação, notaram-se

duas regiões do trato digestório do tambaqui bastante envolvidas com a atividade proteolítica.

O estômago tem sido registrado como o local onde ocorre a maior parte da digestão

protéica de um alimento em peixes (SILVA & ANDERSON, 1998), sendo um ambiente de

86

pH ácido onde atua a enzima pepsina, principal protease encontrada em estômagos de peixes e

primeira, na digestão destes, a quebrar cadeias proteolíticas (TENGJAROENKUL et al.,

2000). Esta endopeptidase atua em meio ácido, com grande afinidade pela cadeia peptídica

com presença do grupo NH, característico dos resíduos de aminoácidos polares negativos

fenilalanina, tirosina e triptofano. Estes estão presentes em altos teores nas amêndoas

fermentadas e torradas de cupuaçu, segundo CARVALHO et al. (2008).

Nos cecos pilóricos, em que ocorre a ação da tripsina e quimiotripsina, endopeptidases

que atuam sob ação de pHs alcalinos, e presentes em cecos de algumas espécies de peixes,

inclusive no tambaqui (HAARD et al., 1996; HIDALGO et al., 1999;CORRÊA et al., 2007),

o favorecimento de maior percentual de digestibilidade da fração solúvel protéica da torta em

detrimento aos das dietas, também se explica pela grande disponibilidade dos aminoácidos

afins a estas enzimas (aminoácidos polares positivos) e que estariam presentes nela, bem

como nesse órgão ocorrer funções de suplementação da função digestiva do estômago

(ROTTA, 2003) e por ele contribuir com grande parte da digestão de proteínas

(BALDISSEROTTO, 2009).

TENGJAROENKUL et al., 2000, trabalhando com tilápia do Nilo (Oreochromis

niloticus), CHONG et al., 2002 com peixe disco (Symphysodon aequifasciata), LIU et al.,

2008 com carpa capim (Ctenopharyngodon idella), dentre outros, em estudos de

caracterização enzimática de diferentes tratos digestórios dos peixes, mostraram alta atividade

inicial de proteases ácidas seguida de atividade proteolítica alcalina. BEZERRA et al. (2000)

encontraram o mesmo comportamento para extratos de estômago e cecos pilóricos de

tambaqui.

Os mais baixos índices de digestibilidade das frações protéicas das dietas (RC e RTC),

apresentados para extratos de estômago e de cecos pilóricos, podem ser explicados pela teoria

da compensação enzimática, onde os alimentos de difícil digestão, com menor porcentagem

87

de proteínas ou com proteínas carregadas predominantemente de aminoácidos polares

inadequados para serem degradados nesses órgãos, propiciam uma maior produção enzimática

em relação a alimentos de fácil digestão e ricos em proteína (CAVALCANTI, 1998). No caso

desse estudo, a RC, embora informada pelo fabricante que continha em sua composição

farinha de carne, farinha de sangue e farinha de peixe, como fontes protéicas, pode ser que

estas não apresentassem a característica acima citada, que favorecesse maior ação enzimática

proteolítica. Já para RTC, em que houve inclusão de 30% de torta de cupuaçu em uma ração

comercial, provavelmente houve desbalanceamento com a inclusão, comprometendo seus

teores em aminoácidos e favorecendo menor ação enzimática sobre sua constituição protéica.

Os percentuais de digestibilidade da fração solúvel protéica da RC foram mais altos

que os encontrados para RTC e TC, respectivamente, sob ação das proteases dos extratos de

intestino anterior. Esse resultado provavelmente ocorreu em função da composição

aminoacídica dos ingredientes da ração comercial, indicando que esse produto seja composto

predominantemente por aminoácidos polares positivos (arginina, lisina e histidina, por ex.),

justificando, desta forma, sua alta digestibilidade em ambientes alcalinos, que sofrem ação das

tripsinas, quimotripsinas, elastases, entre outras (WHITAKER, 1994). Por outro lado, a TC

apresentou resultado contrário, o que pode ser explicado pela alta porcentagem de

aminoácidos polares negativos deste ingrediente (CARVALHO et al., 2008), sendo digeridos

por ação das pepsinas, que atuam preferencialmente em ambientes ácidos, conforme foi

evidenciado na análise do extrato estomacal.

Os extratos de intestino posterior revelaram, de uma forma geral, baixos índices de

digestibilidade da fração protéica das dietas e do ingrediente, quando comparados aos índices

apresentados pelos extratos dos outros órgãos. ALMEIDA (2007) encontrou baixa atividade

enzimática em intestino posterior de tambaqui. Segundo TENGJAROENKUL et al. (2000), o

88

comportamento enzimático dessa parte do trato digestório de peixes é atribuída à reabsorção

nesta porção do trato, demonstrando seu papel secundário na produção de enzimas.

Em relação ao efeito do tempo de exposição das dietas e do ingrediente aos extratos

enzimáticos, foi observado que os órgãos que sofrem ação das proteases ácidas, como cecos e

estômago em menor proporção, apresentaram picos de digestibilidade protéica. Segundo

CAVALCANTI (1998), a atividade das enzimas proteolíticas apresenta dois padrões: o

primeiro marcado por valores máximos de atuação, evidenciado por picos de atividade, o que

claramente foi constatado em estômago e cecos pilóricos do tambaqui. O segundo perfil de

atividade proteolítica é caracterizado pela ausência de atuação enzimática marcante,

apresentando curvas suaves, conforme observado nos intestino anterior e posterior, nesse

estudo. A autora afirma ainda, que a presença de picos de atividade é indício da existência de

uma enzima majoritária, que no estômago é a pepsina, com extensão de sua ação até os cecos.

Já nos intestinos há presença de ampla gama de enzimas proteolíticas (tripsina,

quimiotripsina, aminopeptidase, elastase, carboxipeptidase), proporcionando a continuidade e

estabilidade da curva de ação enzimática.

Em função da escassez de trabalhos sobre atuação das enzimas digestivas de peixes

neotropicais ou tropicais (BEZERRA et al., 2000; GARCÍA-CARREÑO, 2002; CORRÊA et

al., 2007), pois a maioria das informações existentes estão relacionadas com espécies de água

fria ou marinha (HIDALGO et al., 1999; KOLKOVSKI, 2001; CASTILLO-YAÑEZ et al.,

2004; SKLOMKLAO, 2008), os resultados desse estudo contribuem para o conhecimento da

biologia digestiva do tambaqui, além de fornecer subsídios para trabalhos futuros que visem a

avaliação do potencial de ingredientes alternativos e a formulação de dietas nutricionalmente

balanceadas.

89

5 CONCLUSÃO

Os resultados evidenciaram que, por meio da técnica de utilização de extratos

enzimáticos de juvenis de tambaqui, não foi possível observar o potencial solúvel protéico da

torta de cupuaçu e das dietas aplicadas, sugerindo-se refinamento dessa metodologia com

conseqüentes ensaios comparativos a tradicionais técnicas in vitro e in vivo.

90

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, L. C. de. Perfil digestivo e metabólico de juvenis de tambaqui Colossoma macropomum (Cuvier, 1818) alimentados com diferentes teores de proteína e lipídio. São Carlos:Universidade Federal de São Carlos, 2007, 77p. Dissertação (Mestrado em Genética e Evolução) - Universidade Federal de São Carlos, 2007.

BALDISSEROTTO, B. Fisiologia de peixes aplicada à piscicultura. 2º Ed. Santa Maria:UFSM, 352p., 2009.

BEZERRA, R. de S.; SANTOS, J. F. dos; LINO, M. A. da S. et al. Characterization of stomach and pyloric caeca proteinases of tambaqui (Colossoma macropomum). Journal of Food Biochemistry, v. 24, p. 189-199, 2000.

BRADFORD, M. M. A rapid and sensitive method for the quantitation of microgram quantities of protein utilizing the principle of protein-dye binding. Analytical Biochemistry, v. 72, p. 248-254, 1976.

CARTER, C. G; BRANDSEN, M. P.; VAN BARNEVELD, R. J.; CLARKE, S. M Alternative methods for nutrition research on the southern bluefin tuna, Thunnus maccoyii: in vitro digestibility. Aquaculture, v. 179, p.57-70, 1999.

CARVALHO, A. V.; GARCÍA, N. H. P.; FARFÁN, J. A. Proteínas da semente de cupuaçu e alterações devidas à fermentação e à torração. Ciênc. Tecnol. Aliment., v. 28, n. 4, p. 986-993, 2008.

CARVALHO, A. V.; GARCIA, N. H. P.; FARFÁN, J. A.; WADA, J. K. A. Caracterização de concentrado e isolado protéico extraído de sementes de cupuaçu (Theobroma grandiflorum, Schum). Braz. J. Food Technol, v. 12, n. 1, p. 01-08, 2009.

CASTILLO-YAÑEZ, F. J.; PACHECO-AGUILARA, R.; GARCIA-CARREÑO, F. L.; NAVARRETE-DEL TORO, M. de los A. Characterization of acidic proteolytic enzymes from Monterey sardine (Sardinops sagax caerulea) víscera. Food Chemistry,v. 85, p. 343–350, 2004.

CAVALCANTI, C. de A. Proteases digestivas em juvenis de piracanjuba (Brycon orbignyanus, Pisces:Characidae) e aplicação da técnica de digestibilidade in vitro. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 1998. 101p. Dissertação (Mestrado em Aquicultura) - Universidade Federal de Santa Catarina, 1998.

91

CHONG, A. S. C.; HASHIM, R; ALI, A. B. Assessment of dry matter and protein digestibilities of selected raw ingredients by discus fish (Symphysodon aequifasciata) using in vivo and in vitro methods. Aquaculture Nutrition , v. 8, p. 229-238, 2002.

CORRÊA, C. F.; AGUIAR, L. H. de; LUNDSTEDT, L. M.; MORAES, G. Responses of digestive enzymes of tambaqui (Colossoma macropomum) to dietary cornstarch changes and metabolic inferences. Comp. Biochem. Physiol., v. 147, p. 857-862, 2007.

EZQUERRA, J. M.; GARCIA-CARRENO, F. L.; CIVERA, R; HAARD, N. F. ph-stat method to predict protein digestibility in white shrimp (Penaeus vannamei). Aquaculture, v. 157, p. 251-262, 1997.

EZQUERRA, J. M.; GARCIA-CARRENO, F. L.; CARRILLO, O. In vitro digestibility of dietary protein sources for white shrimp (Penaeus vannamei). Aquaculture, v. 163, p. 123-136, 1998.

FENERCI, S.; SENER, E. In vivo and in vitro protein digestibility of rainbow trout (Oncorhynchus mykiss Walbaum, 1972) fed steam pressured or extruded feeds. Turkish Journal of Fisheries and Aquatic Sciences, 5:17-22, 2005.

GARCIA-CARREÑO, F. L.; ALBUQUERQUE-CAVALCANTI, C.; NAVARRETE DEL TORO, M. A. ZANIBONI-FILHO, E. Digestive proteinases of Brycon orbignyanus (Characidae, Teleostei): characteristics and effects of protein quality. Comparative Biochemistry and Physiology, v. 132, p. 343–352, 2002.

GARCIA-ORTEGA, A.; KOUSSOULAK, A.; BOER, H.; VERRETH, J. In vitro protein digestibility of Artemia decapsulated cysts and nauplii, and of microbound diets for larval fish. Aquaculture Research, v. 31, p. 475-477, 2000.

HAARD, N. F.; DIMES, L. E.; ARNDT, R. E.; DONG, F. M. Estimation of protein digestibility IV. Digestive proteinases from pyloric ceaca of coho salmon (Oncorhyncus kisutch) fed diets containing soybean meal. Comp. Biochem. Physiol., v. 115B-4, p. 533-540, 1996.

HIDALGO, M. C.; UREA, E.; SANZ, A. Comparative study of digestive enzymes in fish with different nutritional habits. Proteolytic and amylases activities. Aquaculture, v. 170, p. 267-283, 1999.

KLOMKLAO, S. Digestive proteinases from marine organisms and their applications. Songklanakarin J. Sci. Technol, v. 30, n. 1, p. 37-46, 2008.

92

KOLKOVSKI, S. Digestive enzymes in fish larvae and juveniles - implications and applications to formulated diets. Aquaculture, v. 200, p. 181-201, 2001.

KUBITZA, F. Nutrição e alimentação dos peixes cultivados. 3º Ed. Jundiaí: Degaspari, 1999. 123p.

LAZO, J. P.; ROMAIRE, R. P. REIGH, R. C. Evaluation of three in vitro enzyme assays for estimating protein digestibility in the pacific white shrimp Penaeus vannamei. Journal of the World Aquaculture Society, vol. 29, n. 4, p. 441-450, 1998.

LEMOS, D.; NAVARRETE DEL TORO, A.; CÓRDOVA-MURUETA, J. H.; GARCIA-CARREÑO, F. Testing feeds and feed ingredients for juvenile pink shrimp Farfantepenaeus paulensis: in vitro determination of protein digestibility and proteinase inhibition. Aquaculture, v. 239, p.307-321, 2004.

LIU, Z. Y.; WANG, Z.; XU, S. Y.; XU, L.N. Partial characterization and activity distribution of proteases along the intestine of grass carp, Ctenopharyngodon idella (Val.). Aquaculture Nutrition , v. 14, p.31-39, 2008.

LOPES, A. S.; PEZOA-GARCÍA, N. H.; AMAYA-FARFÁN, J. Qualidade nutricional das proteínas de cupuaçu e de cacau. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 28, n. 2, p. 1-6, 2008.

MOTIKAWA, S. Digestibilidade protéica de rações comerciais para o camarão rosa (Farfante penaeus paulensis Pérez-Farfante (1967): avaliação por métodos in vivo e in vitro. São Paulo: Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo, 2006. 79p. Dissertação (Mestrado em Ciências. Área de Oceanografia Biológica) - Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo, 2006.

NELSON, D. L.; COX, M. M. Lehninger princípios de bioquímica. 3 ed. São Paulo:Sarvier, 978 p.,2002.

PEZZATO, L. E.; BARROS, M. M.; FRACALOSSI, D. M.; CYRINO, J. E. P.. Nutrição de peixes. In: CYRINO, J. E. P.; URBINATI, E. C.; FRACALOSSI, D. M.; CASTAGNOLLI, N. (eds). Tópicos especiais em piscicultura de água doce tropical e intensiva. 1 ed. São Paulo, TecArt, v. 1, p. 175-169, 2004.

PIRES, C. V.; OLIVEIRA, M. G. de A.; ROSA, J. C. et al. Digestibilidade in vitro e in vivo de proteínas de alimentos: estudo comparativo. Alim. Nutr , v, 17, n.1, p. 13-23, 2006.

93

ROTTA, M. A. Aspectos gerais da fisiologia e estrutura do sistema digestivo dos peixes relacionados à piscicultura. Documentos 53. ISSN 1517-1973, EMBRAPA, Corumbá-MS, 49p., 2003. RUNGRUANGSAK-TORRISSEN, K.; RUSTAD, A.; SUNDE, J. et al. In vitro digestibility based on fish crude enzyme extract for prediction of feed quality in growth trials. J. Sci. Food Agric ., v. 82, p. 644-654, 2002. SILVA, S. S. de; ANDERSON, T. A. Fish nutrition and aquaculture. London:SE1 8HN, UK, 319p, 1998. TENGJAROENKUL, B; SMITH, B. J.; CACECI, T; SMITH, S. A. Distribution of intestinal enzyme activities along the intestinal tract of cultured Nile tilapia, Oreochromis niloticus L.Aquaculture, v. 182, p. 317-327, 2000. WHITAKER, J. R. Principals of enzymology for food sciences. 2º ed. N. York: Marcel Dekker. INC, 625p.,1994.

94

CONSIDERAÇÕES FINAIS

95

Com um crescimento significativo da piscicultura mundial e brasileira, proporcionado

pela também crescente procura por pescado de qualidade sob produção ecologicamente

correta e ambientalmente sustentável, mudanças nas tecnologias de cultivo de peixes

proporcionarão ganhos sociais, econômicos e ambientais. Em regiões mais distantes dos

grandes centros produtores dos principais insumos para dietas, estas mudanças trarão saltos

em qualidade de produção ainda maiores.

Os resultados desse trabalho, que é pioneiro quanto ao potencial de utilização da torta

de cupuaçu em ração para peixes tropicais, abrem caminho para novos estudos na área de

nutrição dessas espécies, com ênfase na definição da melhor proporção desse ingrediente a ser

empregada na alimentação e que gere bom desempenho produtivo, na determinação de

possíveis fatores antinutricionais e métodos de controle dos mesmos, na determinação de sua

composição aminoacídica e digestibilidade dos aminoácidos em particular, na comparação

entre diferentes técnicas in vitro e associação com a in vivo, e em estudos de impactos

econômicos, ecológicos e sociais do uso desse ingrediente alternativo nos cultivos,

principalmente na região Norte.