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DEPT DE ENGENHARIA AMBIENTAL - DEA
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIAESCOLA POLITCNICA
MESTRADO PROFISSIONAL EMGERENCIAMENTO E TECNOLOGIAS
AMBIENTAIS NO PROCESSO PRODUTIVO
SALVADOR 2007
MARIA LIVIA COSTA
IDENTIFICAO, CARACTERIZAO E GESTO DOS RESDUOS DE MADEIRA PRODUZIDOS EM
OBRAS DE EDIFICAES EM SALVADOR
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MARIA LVIA COSTA
IDENTIFICAO, CARACTERIZAO E GESTO DOS RESDUOS DE MADEIRA PRODUZIDOS EM OBRAS DE
EDIFICAES EM SALVADOR
Salvador 2007
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-graduao em Gerenciamento e Tecnologias Ambientais no Processo Produtivo, Escola Politcnica, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obteno do grau de Mestre. Orientador: Prof. Dr. Sandro Fbio Csar
C8373 Costa, Maria Lvia
Identificao, caracterizao e gesto dos resduos de madeiras em obras de edificaes. / Maria Lvia Costa. --- Salvador-BA, 2007.
182 p. il.
Orientador: Prof. Dr. Sandro Fbio Csar. Dissertao (Mestrado em Gerenciamento e
Tecnologias Ambientais no Processo Produtivo) - Universidade Federal da Bahia. Escola Politcnica, 2007.
1. Indstria da construo civil Aspectos ambientais.
2. Madeiras de construo Reaproveitamento (Sobras, refugos, etc.) 3. Materiais de construo
A minha me (in memoriam),
a minha filha Nassa,
a meu companheiro Paulo.
AGRADECIMENTOS
Contribuir com o setor da construo e com a questo ambiental constituiu a
motivao deste trabalho cujo pano de fundo foi a crena de que possvel mudar a realidade do setor e de que precisamos fazer a diferena no mundo. Por isso, agradeo queles que acreditaram neste projeto e contriburam para que o objetivo fosse alcanado, de tal modo que seu contedo bsico resultado de um processo de aprendizagem recproco entre profissionais das construtoras participantes e a autora.
Em especial, agradeo s empresas ARC Engenharia Ltda, Pelir Engenharia
Ltda e Cosbat Engenharia Ltda que participaram da pesquisa e, desta forma, deram sua contribuio ao setor da construo civil. Agradeo ainda a todos aqueles que me incentivaram em todos os momentos deste trabalho:
a Deus, que fonte de amor, fora e inspirao; a minha famlia, pela compreenso em minhas ausncias e pelo estmulo
constante; a meu orientador, Prof. Dr. Sandro Csar Paz, que pacientemente me
ajudou a sempre melhorar; Cristal Desenvolvimento Organizacional Ltda.
A Rede de Indra
Rig Veda (descrio de Anne Adams)
H uma rede infinita de fios que perpassa o universo... Em cada interseco da rede h um indivduo.
E cada indivduo um cristal. E cada cristal reflete no apenas
a luz de cada cristal da rede, mas tambm cada reflexo atravs do universo.
RESUMO
At bem pouco tempo, no havia qualquer preocupao ambiental em relao aos
resduos gerados pelo setor da construo. Porm, medida que as questes
ambientais se tornaram mais presentes no dia-a-dia, foi inevitvel a preocupao
sobre o que fazer e qual a melhor forma de se gerenciar esses resduos. A prtica
da reciclagem de resduos de construo apresenta vantagens ambientais e
econmicas. Depois da publicao da legislao do Conselho Nacional do Meio
Ambiente (Conama) Resoluo n. 307 de 5 de julho de 2002 passou-se a dar
nfase questo dos resduos da construo e foram definidas, de forma clara, as
responsabilidades dos geradores e dos Municpios. Empresrios passaram a se
interessar pelo assunto, buscando encontrar formas de atender legislao. Vrias
pesquisas esto sendo realizadas no Brasil com este tema. O trabalho aqui
apresentado tem como objetivo estudar os resduos da construo com um enfoque
em resduos de madeira, buscando identificar, quantificar e caracterizar os resduos
gerados em obras de edificaes. Para tanto props-se o uso de um mtodo para
implantao do Plano de gesto dos resduos (PGR), baseado no termo de
referncia do Centro de Recursos Ambientais da Bahia (CRA), fazendo-se as
adaptaes necessrias para o setor da construo civil. Ao longo da pesquisa,
foram estudadas trs obras, onde foram coletados os dados sobre a gerao dos
resduos de madeira utilizados em edifcios residenciais de mdio e alto padro.
Como resultados, foram obtidos os dados sobre os tipos de madeira utilizados em
obras de edificaes, e se apresentam as diretrizes para elaborao e implantao
do PGR, assim como so sugeridas algumas alternativas para reutilizao desses
resduos.
Palavras-chave: resduo de madeira; reciclagem; gesto dos resduos.
ABSTRACT
Until recently, in Brazil, there wasnt any environment concern with the waste
generated in the building sector. Today, as those environment points grew to be part
of our every day life, the way to improve waste management became an inevitable
question. The recycling use of construction waste present important advantages in
both environmental and economic ways. Theres been quite an impact on peoples
conscience after the publication of the regulation nr. 307/02 from Conama which
clearly states specifically the responsibilities of the municipalities regarding the
residues in the construction industry. Many entrepreneurs took a certain interest in
this topic, seeking ways so as to respect the new promulgated regulations. Presently,
researches are being carried through this matter in Brazil. Whats undertook to do is
to study the construction waste with a specific approach in wooden waste, trying
therefore to identify, quantify, characterize the residues generated into the building
sites. It also consists in considering a methodology in order to implant the waste
management plan MWP based on the Centro de Recursos Ambientais da Bahia
(CRA)1 terms which will help to get the necessary adaptations in the building
sector. About the researches purposes, the new methodology will be applied to 3
building sites. Afterward, some of the datas, taken from wooden waste used in
medium and high standard levels of buildings will be collected. Eventually, the
submitted results will, firstly, bring informations on the different wooden waste types
used, secondly, draw directives for an elaboration and an implantation of the MWP,
proposing other search purposes in order to create alternatives, as for instance, the
re-use of these residues.
Keywords: wooden waste; recycling; managing wastes.
1 CRA - Environments Resources Center of Bahia
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Materiais crticos 42
Quadro 2 Dados da implantao da gesto de resduos em canteiros
de obra (So Paulo)
46
Quadro 3 Classificao dos resduos 60
Quadro 4 Estimativas de gerao de resduos de construo civil 64
Quadro 5 Estimativa de entulho 65
Quadro 6 Composio dos resduos 65
Quadro 7 Caracterizao dos resduos 66
Quadro 8 Tipos de resduos gerados durante a fase de construo 68
Quadro 9 Consumo de madeira serrada na Amaznia pela construo
civil em So Paulo (2001)
71
Quadro 10 Comparao entre atitudes de controle da poluio e
produo mais limpa na construo civil
81
Quadro 11 Estratgias para trabalhar o conceito de educao ambiental 83
Quadro 12 Consumo de energia 109
Quadro 13 Conhecimentos envolvidos em um estudo de reciclagem 112
Quadro 14 Tipos de madeira plstica 119
Quadro 15 Caractersticas individuais dos empreendimentos participantes da amostra
pesquisada (dados fornecidos pelas empresas)
125
Quadro 16 Fases de execuo dos empreendimentos pesquisados 126
Quadro 17 Quadro de legislao e normas 133
Quadro 18 Planilha de gesto dos resduos 140
Quadro 19 Caractersticas dos resduos de madeira coletados nas obras 152
Quadro 20 Fases da obra em que so gerados resduos de madeira 153
Quadro 21 Resumo da coleta dos resduos nas obras pesquisadas 155
Quadro 22 Caractersticas dos empreendimentos pesquisados 156
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Composio mdia de RCC de Salvador 1999 27
Figura 2 Macrofluxo do mtodo proposto para estudo dos resduos 34
Figura 3 Ficha de destinao dos resduos 38
Figura 4 Fluxograma das avaliaes 39
Figura 5 Madeira serrada 85
Figura 6 Tabuas e ripas 87
Figura 7 Peas tipo macho-fmea para forro 88
Figura 8 Principais usos do compensado brasileiro (2005) 90
Figura 9 Chapas de compensado 90
Figura 10 Chapa de compensado plastificada 91
Figura 11 Chapa de compensado resinado 91
Figura 12 Chapas MDF 93
Figura 13 Chapas de OSB 95
Figura 14 Principais usos da madeira serrada no Brasil (2005) 97
Figura 15 Fluxo de material para reciclagem 102
Figura 16 Uso da madeira plstica em decks 112
Figura 17 Exemplares de briquetes de resduos de madeira 114
Figura 18 Educao ambiental na obra 122
Figura 19 Treinamento dos colaboradores da empresa 123
Figura 20 Cdigo de cores para os diferentes tipos de resduos 124
Figura 21 Fluxo para remoo do entulho 134
Figura 22 Triagem nos pavimentos dos resduos classe A 134
Figura 23 Acondicionamento dos resduos classe A 135
Figura 24 Transporte vertical 135
Figura 25 Acondicionamento dos resduos de madeira 137
Figura 26 Baia com divises para pedaos menores e serragem 138
Figura 27 Recipientes para acondicionar resduos de papel, plstico e metal 138
Figura 28 Acondicionamento dos sacos de cimento no canteiro 139
Figura 29 Reaproveitamento da nata de cimento 140
Figura 30 Execuo do piso de alta resistncia 141
Figura 31 Lona para colocao dos resduos molhados 141
Figura 32 Coleta dos resduos de madeira da obra A 148
Figura 33 Coleta dos resduos de plstico da obra A 149
Figura 34 Coleta dos resduos de papel da obra A 150
Figura 35
Figura 36
Figura 37
Coleta dos resduos classe A da obra A
Coleta dos resduos de madeira da obra
Fase de Estrutura
150
151
152
Figura 38 Fase de alvenaria e revestimento 153
Figura 39 Composio volumtrica total dos resduos na Obra B 154
Figura 40 Coleta dos resduos de madeira da obra C 155
LISTA DE APNDICES APNDICE A QUESTIONRIO PRELIMINAR APNDICE B DIAGNSTICO APNDICE C LISTA DE VERIFICAO
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABEOR Associao Baiana de Obras Rodovirias
ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas ADEMI Associao de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobilirio da Bahia ASCE - American Society of Civil Engineers ACV - Anlise do Ciclo de Vida CB2 Comit Brasileiro CRA - Centro de Recursos Ambientais da Bahia CERF - Engineering Research Foundation CIB - International Council for Research and Innovations in Building and Construction CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
EIA/RIMA - Estudo de Impacto Ambiental e Relatrio de Impacto ao Meio Ambiente
EMLURB - Empresa de Manuteno e Limpeza Urbana
EPI - Equipamento de Proteo Individual
ETE - Estaes de Tratamento de Esgoto FF - Finish Foil FSC Forest Stewardship Council HDF - High Density Fiberboards IBD - Instituto Biodinmico IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IEL - Instituto Euvaldo Lodi INMET- Instituto Nacional de Meteorologia IPT Instituto de Pesquisa Tecnolgica IBAMA - Instituto Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis IBRAMEN Instituto Brasileiro da Madeira e das Estruturas de Madeira LIMPURB Empresa de Limpeza Urbana de Salvador MDF - Medium Density Fiberboard
MINTER - Ministrio do Interior MWP - Management of Wastes Plan ONGS - Organizaes no Governamentais OSB - Oriented Strand Boards PE - Polietileno PET - Politereftalato de etileno PIB Produto Interno Bruto PGRS - Plano de gerenciamento de resduos slidos PMS - Prefeitura Municipal de Salvador PEVs - Postos de Entrega Voluntria PP - Polipropileno PQO Plano de Qualidade da Obra PVC - Policloreto de Vinil RCC Resduos da Construo Civil RCD Resduos da Construo e Demolio SMA - Secretaria Estadual do Meio Ambiente SINDUSCON Sindicato da Indstria da Construo SISNAMA - Sistema Nacional do Meio Ambiente WRI - Wood Recycling Inc.
SUMRIO
1 INTRODUO 16 1.1 OBJETIVOS DA PESQUISA 23
1.1.1 Objetivo geral 23
1.1.2 Objetivos especficos 23
1.2 FORMULAO DO PROBLEMA 24
1.3 JUSTIFICATIVA 25
1.3.1 Originalidade da pesquisa 26
1.3.2 Contribuies da pesquisa 28
1.4 ESTRUTURA DA DISSERTAO 29
2 METODOLOGIA 31
2.1 DELIMITAO DA PESQUISA E IDENTIFICAO DAS VARIVEIS 32
2.2 TCNICA DE COLETA DE DADOS 32
3 REFERENCIAL TERICO 40 3.1 A CONSTRUO CIVIL NA BAHIA 40
3.2 PANORAMA DA GESTO DE RESDUOS NA CONSTRUO CIVIL 43
3.3 PLANO DE GESTO DE RESDUOS 47
3.4 CONSIDERAES SOBRE A LEGISLAO E AS NORMAS 50
3.5 CARACTERIZAO E QUANTIFICAO DOS RESDUOS 60
3.6 ESTUDO DO LAYOUT 69
3.7 PERDAS NA CONSTRUO CIVIL 70
3.8 PRODUO LIMPA 72
3.9 EDUCAO AMBIENTAL 77
4 PRODUTOS DE MADEIRA USADOS NA CONSTRUO CIVIL 83 4.1 MADEIRA ROLIA 83
4.2 MADEIRA SERRADA 84
4.2.1 Pranchas e pranches 86
4.2.2 Vigas e vigotas 86
4.2.3 Tbuas, caibros 86
4.2.4 Madeira beneficiada 87
4.2.5 Madeira em lminas 88
4.3 CHAPAS DE MADEIRA 88
4.3.1 Compensado 90
4.3.2 Chapas de fibra: chapa dura 92
4.3.3 Chapa de fibra: chapa de densidade mdia (MDF) 93
4.3.4 Chapa de aglomerado / chapa seta 94
4.3.5 Chapas de partculas orientadas (OSB) 95
4.4 MADEIRA SERRADA E CHAPAS DE MADEIRA NO BRASIL E EM OUTROS PASES 96
4.4.1 Normas e recomendaes para o uso de produtos de madeira 98
4.5 A RECICLAGEM DE MADEIRA E A COLETA SELETIVA 100
4.6 DESENVOLVIMENTO DE ECOPRODUTOS 107
4.6.1 Mercado interno 108
4.6.2 Dificuldades 109
4.6.3 Critrios de sustentabilidade para ecoprodutos 110
4.6.4 A madeira plstica 111
4.6.5 Fabricao de briquete 113
5 RESULTADOS DO ESTUDO DE CASO 116
5.1 APLICAO DO PLANO DE GESTO DOS RESDUOS (PGR) 118
5.2 DISCUSSO E AVALIAO DOS RESULTADOS 141
6 CONCLUSES E RECOMENDAES 156
6.1 CONCLUSES 156
6.2 RECOMENDAES PARA TRABALHOS FUTUROS 158
REFERNCIAS 159 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 169 APNDICES 171 ANEXO 175 AUTORIZAO PARA COMUTAO 176
1 INTRODUO
A cadeia produtiva da construo civil exerce uma influncia na
macroeconomia internacional correspondente a 14%. Ela responsvel por cerca de
40% da formao bruta de capital e emprega uma considervel massa de
trabalhadores. Por outro lado, a depender da tecnologia, se utiliza algo entre 20% e
50% do total dos recursos naturais consumidos pela sociedade (SCHENINI;
BAGNATI; CARDOSO, 2004).
De acordo com John (2001), o setor consome enormes quantidades de
materiais com significativo contedo energtico, como ao, cimento, alumnio,
cermica, entre outros, que necessitam ser transportados a grandes distncias.
Estima-se que cerca de 80% da energia utilizada na produo de um edifcio
consumida na produo e transporte de materiais. Segundo o mesmo autor,
qualquer sociedade seriamente preocupada com a questo do desenvolvimento
sustentvel deve colocar o aperfeioamento da construo civil como prioridade.
Quanto gerao de resduos slidos no processo construtivo, observa-se
que o alto ndice de perdas do setor a principal causa da gerao de resduos.
Embora nem toda perda se transforme efetivamente em resduo, uma parte pode
ficar incorporada na prpria obra, como, por exemplo, grandes espessuras de
argamassas decorrentes de problemas de prumo.
Os resduos da construo civil (RCC), tambm denominados entulho,
representam grande parte da produo de resduos slidos urbanos. Quando mal
gerenciados, eles causam problemas nas cidades, como diminuio da vida til de
aterros sanitrios, surgimento de depsitos em locais imprprios, provocando a
obstruo dos cursos d'gua, bueiros e galerias, aumentando as chances de
enchentes, alm de criar ambiente propcio, juntamente com outros resduos, para
proliferao de vetores prejudiciais s condies de saneamento e sade humana
(LIMA, 1999; DEGANI, 2003; MXIMO, 2003; NGULO;JOHN, 2004).
17
Em geral, as perdas esto relacionadas s deficincias no processo
construtivo: so erros ou indefinies na elaborao dos projetos e na sua
execuo, m qualidade dos materiais empregados, perdas na estocagem e no
transporte. Esses desperdcios podem ser atenuados atravs do aperfeioamento
dos controles sobre a realizao das obras pblicas e tambm atravs de trabalhos
conjuntos com empresas e trabalhadores da construo civil, visando a aperfeioar
os mtodos construtivos, reduzindo a produo de entulho e os desperdcios de
material (AMBIENTEBRASIL, 2005). a
A insero das variveis ambientais e sociais na agenda de qualquer cadeia
produtiva tarefa complexa e no diferente no caso da construo civil. Esse
processo exige inovao tecnolgica, formao, mudana de cultura e de prticas
gerenciais, mudanas na legislao e na normalizao, requerendo, inclusive,
alterao na forma de relacionamento entre os diversos integrantes da cadeia
produtiva (HABITARE, 2005).
Segundo Pinto (2001), a elevada gerao de resduos slidos na construo
civil, determinada pelo acelerado desenvolvimento da economia, torna inevitvel a
adeso s polticas de valorizao dos resduos e sua reciclagem tanto nos pases
desenvolvidos quanto em amplas regies dos pases em desenvolvimento.
Os processos de gesto dos resduos em canteiro de obras, a especializao
no tratamento e reutilizao dos RCD, entre outros, vo conformando um respeitvel
e slido ramo da engenharia civil, atento necessidade de usar racionalmente os
recursos no renovveis e necessidade de reduzir o descarte de rejeitos evitveis
(PINTO, 2001).
Quanto reciclagem, as experincias indicam que vantajoso, do ponto de
visto ambiental e econmico, substituir a deposio irregular do entulho pela sua
reciclagem. O custo para a administrao municipal de aproximadamente US$ 10
por metro cbico clandestinamente depositado, incluindo a correo da deposio e
o controle de doenas. Estima-se que o custo da reciclagem significa cerca de 25%
desse custo. A produo de agregados com base no entulho pode gerar economias
de mais de 80% em relao aos preos dos agregados convencionais
(AMBIENTEBRASIL, 2005). b
O conceito de desenvolvimento sustentvel est criando razes na sociedade
e, cada vez mais, o construtor, as instituies pblicas e a sociedade em geral
devem preparar-se para contribuir com este processo. Esta uma tendncia que
18
deve ser encarada como fonte para novos negcios e novas oportunidades de
trabalho.
Na II Conferncia das Naes Unidas sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentvel ocorrida em 1992, no Rio de Janeiro, foi elaborada a
Agenda para o sculo XXI. A conservao dos recursos naturais para o
desenvolvimento enfocada na segunda seo da agenda, e neste contexto que
se insere a responsabilidade do setor da construo, em virtude da grande utilizao
desses recursos.
A gesto de resduos da construo civil hoje um fator fundamental para o
gerenciamento ambiental. A disposio dos resduos em locais inadequados
contribui para a degradao ambiental, alterao da paisagem, proliferao de
doenas, etc. O setor ainda responsvel por um percentual significativo de
resduos slidos produzidos nas reas urbanas.
Um outro aspecto abordado na Agenda 21 a sustentabilidade das cidades,
que depende da implementao de programas como a reorganizao dos sistemas
de limpeza urbana, residencial e indstrial.
No Brasil, a gerao de RCD per capita pode ser estimada em 500 kg/hab ao
ano, considerando-se a mdia de algumas cidades brasileiras. A participao dos
RCD na massa total de resduos slidos urbanos em cidades como Ribeiro Preto
pode chegar a 70% (PINTO,1999).
A produo total anual de resduos dentro da Unio Europia da ordem de
1,3 milhes de toneladas (sem os resduos agrcolas), correspondentes a 3,5
ton/hab. Segundo a Agncia Europia de Meio Ambiente, tais resduos so divididos
em cinco grandes grupos: os resduos das indstrias extrativistas (29%), os resduos
da indstria manufatureira (26%), os resduos da construo e demolio (22%), os
resduos domsticos (14%) e os resduos agrcolas e florestais, cujo volume no
est computado (BLAUREPAIRE, 2003).
Na anlise dos resduos slidos urbanos de Salvador, realizada pela Limpurb
(2000), verifica-se que, das 5 517 ton coletadas diariamente, o lixo domiciliar
representa 46,04% e o entulho representa 49,77% (CASSA, et al., 2001).
Segundo Blaurepaire, o tratado da Unio Europia prev que a Comunidade
Europia deve favorecer a promoo de um crescimento durvel e no inflacionrio,
com um alto nvel de proteo e de melhoramento ambiental. Para este fim, a
19
comunidade possui uma poltica em matria de meio ambiente, cujos princpios
esto definidos no artigo 174 do tratado da Unio Europia.
A poltica da comunidade, na rea ambiental, possui os seguintes objetivos:
a) a preservao, a proteo e o melhoramento da qualidade ambiental;
b) a proteo da sade das pessoas;
c) a utilizao prudente e racional dos recursos naturais;
d) a promoo, sob o plano regional, de medidas destinadas a enfrentar os
problemas regionais ou planetrios do meio ambiente.
A poltica da Comunidade Europia em relao ao meio ambiente visa a um
alto nvel de proteo, considerando a diversidade das situaes e dentro das
diferentes regies da Europa. Ela fundamentada nos princpios da precauo e da
ao preventiva, sobre o princpio da correo e sobre o princpio do poluidor-
pagador, visando a sanar o problema na sua fonte.
A indstria da construo civil a principal geradora de resduos da
economia. Os resduos produzidos nas atividades de construo, manuteno e
demolio, tm estimativa de gerao muito varivel. Os resduos gerados nas
atividades de construo e demolio, etapas claramente distintas do ciclo de vida
de uma edificao, so geralmente constitudos por materiais similares e, portanto,
igualmente chamados entulho. Os valores encontrados, na bibliografia internacional,
variam de 163 a mais de 3 000 kg/hab por ano. No entanto, os valores tpicos
encontram-se entre 400 e 500 kg/hab por ano, valor igual ou superior massa de
lixo urbano (JOHN, 2000).
O Brasil, por ser um pas em desenvolvimento, tem no setor da construo um
grande alavancador de empregos, tanto de forma direta como indireta. Absorve um
percentual significativo da mo de obra, inclusive aquela de baixo nvel de
escolaridade que outros setores da indstria no empregam. Portanto, um setor
estratgico para a reduo do dficit habitacional e para a reduo do desemprego.
Porm, no se pode esquecer que a construo civil uma atividade que utiliza um
grande volume de recursos naturais, consome grande quantidade de energia, polui o
ar, a gua e solo e produz grandes quantidades de resduos.
Os resduos so heterogneos, compostos por concreto, argamassas, blocos,
cermicas, solo, areia, argila, metais ferrosos, madeiras, plsticos, latas de tintas,
borrachas, papelo, etc. Partes significativas desses resduos so depositadas
20
ilegalmente, acumulam-se nas cidades, gerando custos e agravando problemas
urbanos, como enchentes e engarrafamentos de trfego (PINTO, 1999).
Os resduos da construo civil esto definidos pela NBR 10004/2004, como
resduo inerte, porm alguns oferecem risco de contaminao ambiental como, por
exemplo, concretos produzidos com cimento e adio de escria com alto teor de
metais pesados, resduos derivados de servios de pintura, madeira pintada,
cobertura de amianto, entre outros.
Na fase de construo, o entulho gerado numa edificao constitudo pelas
sobras dos materiais adquiridos e danificados ao longo do processo produtivo, tais
como restos de concreto e argamassa produzidos e no utilizados. ao final do dia de
trabalho, alvenaria demolida devido ao retrabalho, argamassa que cai durante a
execuo do revestimento e no reaproveitada, sobras de tubos, ao, madeiras,
eletrodutos, entre outros.
Dentre os vrios fatores que contribuem para a gerao do entulho, vale citar:
a) projetos com detalhamentos insuficientes;
b) m qualidade dos materiais e componentes;
c) cultura de recursos abundantes e cultura do desperdcio do setor;
d) falta de preocupao da engenharia em racionalizar os processo para no
gerar desperdcios;
e) baixa qualificao do pessoal que executa os servios;
f) ausncia de procedimentos operacionais e mecanismo de controle de
execuo e inspeo dos servios.
O entulho provoca perda de recursos para o gerador, mas tambm acarreta
enormes gastos ao setor pblico, que arca com os custos de disposio final e, em
alguns casos, transporte desses resduos. No caso da construo formal, esses
custos so assumidos pelo gerador, porm h um volume considervel de
construo realizada informalmente cujos resduos no so depositados e
destinados de forma adequada, causando grandes transtornos para as cidades.
O significativo impacto ambiental causado pelo setor da construo civil tem
levado diferentes pases a adotarem polticas ambientais especficas para o setor.
Conseqentemente, a agenda ambiental prioridade em muitas regies do mundo.
A Civil Engineering Research Foundation (CERF), entidade dedicada a promover a
modernizao da construo civil nos Estados Unidos, realizou pesquisa junto a
1 500 construtores, projetistas e pesquisadores de todo o mundo (BERNSTEIN,
21
1996), visando a detectar quais as tendncias consideradas fundamentais para o
futuro do setor. Nessa pesquisa, a questo ambiental foi considerada a
preocupao mais importante para o futuro. Por isso, h uma tendncia
regulamentao, causando mobilizao internacional.
O International Council for Research and Innovations in Building and
Construction (CIB) definiu como uma de suas prioridades de pesquisa e
desenvolvimento, o desenvolvimento sustentvel. Para estabelecer tais prioridades,
a entidade produziu a Agenda 21 para construo civil.
De um modo geral, a reduo do impacto ambiental da construo civil
tarefa complexa, sendo necessrio atuar em vrias frentes de maneira combinada e
simultnea (KILBERT, 1994, citado por CARNEIRO et al., 2001. Foram definidas as
seguintes diretrizes:
a) minimizar o consumo de recursos (conservar);
b) maximizar a reutilizao de recursos (reutilizar materiais e componentes);
c) usar recursos renovveis ou reciclveis (renovar / reciclar);
d) proteger o meio ambiente (proteo da natureza);
e) criar um ambiente saudvel e no txico (utilizar no-txicos);
f) buscar qualidade na criao do ambiente construdo (aumentar a
qualidade).
Procurando atuar de modo alinhado com essa tendncia mundial, o Brasil
aprovou a Resoluo n.. 307, de 5 de julho de 2002, do Conselho Nacional do Meio
Ambiente (Conama), que estabelece diretrizes, critrios e procedimentos para a
gesto dos resduos da construo civil.
A resoluo estabelece a necessidade de implementao de diretrizes para:
a) a efetiva reduo dos impactos ambientais gerados pelos resduos
oriundos da construo civil;
b) a disposio dos resduos em locais adequados;
c) a responsabilizao dos geradores pelos resduos resultantes de suas
atividades;
d) a gesto integrada dos resduos, que deve proporcionar benefcios de
ordem social, econmica e ambiental.
A partir dessa resoluo, tanto os geradores como o poder pblico devem
buscar adaptar seus processos de modo a garantir a destinao ambientalmente
correta. A Prefeitura Municipal de Salvador (PMS), atravs da Limpurb, desde 1997,
22
vem buscando implantar a gesto diferenciada de entulho na cidade de Salvador,
com o objetivo de reduzir o descarte clandestino dos resduos de construo.
Existem, na cidade, Postos de Descarga de Entulho (PDE), para os pequenos
geradores, e Bases de Descarga de Entulho (BDE), utilizadas pelos grandes
geradores. As empresas que fazem a coleta e o transporte dos resduos de
construo civil devem ser credenciadas na PMS.
Quanto s construtoras, devem preparar seus planos e implant-los durante a
construo do empreendimento, para fazer a gesto dos resduos de forma
adequada e integrada as atividades de produo, atendendo assim a resoluo.
A partir dessa resoluo, tem-se que estudar o que fazer com cada um dos
resduos gerados. Muitos pesquisadores j desenvolveram e propuseram o que
fazer com os entulhos de argamassa, concreto, blocos. Porm, h que se pensar e
estudar o que fazer para se reaproveitar os resduos de madeira das obras. Parte da
madeira utilizada reaproveitada, voltando para o processo produtivo, como o
caso das formas, porm ainda h uma quantidade significativa que sai da obra em
forma de resduo.
A gerao de resduos de madeira causa impacto ao ambiente, tais como a
reduo da biodiversidade, a contaminao do solo, a utilizao de recursos
naturais. Portanto necessrio estudos para encontrar formas de reutilizar esse
material, com o desenvolvimento de novos produtos como uma forma de contribuir
para a preveno da poluio e o desenvolvimento sustentvel.
Segundo Zordan (1997), o setor da construo civil consome cerca de de
toda a madeira natural extrada. Embora esse recurso seja renovvel, as florestas
no so corretamente manuseadas, o que impede a sustentabilidade desse
ecossistema.
Acredita-se que processos simples de gesto, sem emprego significativo de
recursos, ajudaria muito na obteno de resduos selecionados de forma a otimizar a
reciclagem. Como exemplo, poder-se-ia citar a retirada do gesso, metal e madeira
dos entulhos de natureza inorgnica, no metlica. S isso j contribuiria para
obteno de agregados reciclados de entulho de melhor qualidade, potencializando
o seu emprego em componentes.
Um dos principais componentes do entulho misto tm sido as peas de
madeira, cujo volume utiliza espaos significativos nos aterros. J se fabricam, no
23
Brasil, equipamentos que permitem absorver grande parte desta madeira,
transformando-a em lenha ou novos agregados (compensados). Pode-se ainda moer
a madeira e proceder-se a compostagem verde, ou ainda utilizar a madeira moda in
natura como protetor e preservador de solos de jardins e parques, como ocorre no
Canad (COELHO, 2002).
De qualquer forma, os volumes de entulho de demolio e construo so
grandes. Os custos de disposio so altos e os locais para isso, dentro das regies
metropolitanas, cada vez mais escassos. Os terrenos esto cada vez mais
valorizados para serem utilizados para depositar materiais que podem ser
reaproveitados. Paralelamente, deve-se observar que em grandes cidades, onde o
crescimento da rea urbana atingiu os locais de onde so extradas as matrias-
primas, tais recursos passam a vir de distncias cada vez maiores,
consequentemente, chegando ao consumidor com um custo cada vez mais alto,
favorecendo assim a opo de reciclagem de entulhos.
1.1 OBJETIVOS DA PESQUISA
1.1.1 Objetivo geral
A pesquisa que fundamenta esta dissertao teve como objetivo geral
identificar e quantificar os resduos de madeira produzidos em obras de edificaes
residenciais de mltiplos pavimentos na cidade de Salvador, com vistas a medir o
potencial de reutilizao.
1.1.2 Objetivos especficos Para atingir seu objetivo geral, a pesquisa, especificamente buscou:
a) caracterizar quali-quantitativamente os tipos de madeira descartados em
canteiros de obras de edifcios residenciais;
b) propor diretrizes de gesto para a preveno da poluio atravs da
reutilizao dos resduos de madeiras geradas pelo setor;
c) introduzir nos canteiros das obras pesquisadas os conceitos de produo
mais limpa, reciclagem e reutilizao de resduos.
24
1.2 FORMULAO DO PROBLEMA
A construo civil, concretamente seu subsetor de edificaes, atravs dos
sistemas construtivos atuais, utiliza uma quantidade muito diversificada de materiais,
entre os quais se destacam, pelo seu uso intensivo os recursos naturais. Desse
modo, a atividade da construo civil constitui-se em um impacto ambiental
considervel.
O setor da construo o maior consumidor individual de recursos naturais,
pois o desperdcio intenso ainda, e gera poluio nas diversas fases da obra. Do
ponto de vista da equipe de produo da obra, o resduo visto como inevitvel,
fazendo parte de sua cultura a premissa de que no possvel produzir sem a
gerao de resduos. Portanto sua existncia um problema a ser enfrentado.
Segundo Teixeira (2004), a necessidade de um destino para os resduos de
madeira de modo eco-eficiente aponta para o uso das Tecnologias Limpas, cujo
propsito reduzir os impactos ambientais negativos do processo produtivo, ou seja:
tecnologias que promovem a preservao dos recursos naturais e a preveno da
poluio. Kiperstok e Marinho (2001, p.34 explicam que:
[...] os caminhos para a no gerao de resduos so vrios:
devemos repensar as matrias primas que utilizamos e rever
os processos de fabricao, discutindo porque estes geram
perdas de material e energia, e considerando se algumas
dessas perdas, devidamente processadas, no seriam
insumos para outros processos. Todas essas aes
resultariam na preveno da poluio.
O processo produtivo utiliza a madeira em diversas etapas da obra, porm
na fase de estrutura que seu uso mais significativo em funo das formas, nas
quais so utilizadas as chapas de compensado plastificado ou resinado para
construir as lajes, e do escoramento, cujas vigas e pilares so feitos de madeira
agreste (madeira no identificada pela botnica)..
Apesar de a madeira ser muito representativa na produo de um edifcio,
encontram-se poucos dados relativos a perdas desse material e dos resduos de
madeira gerados pela obra.
Considerando todas essas questes, levantaram-se os seguintes problemas:
25
a) Qual a quantidade de resduos de madeira gerados em uma obra
edificaes de mltiplos pavimentos residenciais em Salvador?
b) possvel reaproveitar os resduos de madeira gerados em obras de
edificaes?
Para definio do problema da pesquisa, foi adotada a metodologia
apresentada por Martins, citada por Csar (2002), ou seja, apresentou-se o assunto,
seguido do tema, sendo o problema levantado atravs de uma questo relacionada
ao estudo:
a) assunto: resduos de madeira produzidos em edifcios residenciais da construo civil;
b) tema: identificao e caracterizao dos resduos de madeira gerados nas
obras de edificaes.
c) problema: como identificar, qual a quantidade e as caractersticas dos
resduos de madeira gerados na construo de um edifcio residencial e
como verificar a possibilidade de reutilizao desses resduos?
1.3 JUSTIFICATIVA
A gerao e a destinao de resduos causam impactos ambientais
significativos, demandando recursos pblicos e privados para o seu gerenciamento.
Dentre as vrias aes possveis de serem implementadas, para minimizar os
impactos negativos, esto a reutilizao e a reciclagem dos resduos de madeira,
que apresentam vrios fatores positivos tais como a reduo da demanda de fontes
de matria prima, otimizao do consumo energtico nos processos de
transformao e as campanhas de aumento da conscientizao da populao para a
preservao ambiental, dentre outras (YUBA; LIMA; TAMAI; SHIMBO, 2006).
Com o crescimento populacional nos grandes centros urbanos e a crescente
industrializao, os resduos se transformaram em problemas para as cidades, j
que est cada vez mais difcil encontrar reas para sua deposio. Alm disso,
essas reas esto cada vez mais distantes, exigindo gastos com o transporte,
onerando assim todo o gerenciamento desses resduos. Como afirma Coelho (2002
p.3) parece muito pouco inteligente ocupar reas valorizadas com material que
pode ser reciclado economicamente.
26
Segundo dados da Associao Brasileira da Indstria de Madeira Processada
Mecanicamente (ABIMCI) (2006), o consumo e as aplicaes da madeira serrada no
Brasil esto vinculados a trs segmentos industriais principais: indstria moveleira, a
de embalagens e a da construo civil. A construo civil consome 21%.
Ainda neste mesmo relatrio (2006), pode-se observar que consumo do
compensado representa 41% na construo civil e 31% no setor moveleiro, que
tambm faz parte da cadeia da construo. Isto significa que, juntos, os dois setores
iro contribuir com uma parcela significativa de resduo, em um primeiro momento,
na fase da construo e, depois, na fase de demolio ou reforma.
Desta maneira, pode-se dizer que a construo civil gera grandes volumes de
resduos de madeira no processo de produo dos edifcios. Apesar da madeira ser
um recurso renovvel, necessrio estudar formas para se otimizar o uso deste
recurso natural e fazer uma reutilizao racional.
Portanto, o estudo aqui apresentado vem ao encontro do propsito de
desenvolvimento sustentvel, que pode ter como estratgia a busca de solues
para reciclagem ou reutilizao dos materiais de madeira da construo civil.
1.3.1 Originalidade da pesquisa
A Figura 1 apresenta a composio mdia de RCC de Salvador do entulho
produzido no municpio de Salvador, no ano de 1999. De acordo com seus autores,
Carneiro et al. (2001), esse entulho apresentava a seguinte composio: 53% de
restos de concreto e argamassa; 14% de material cermico produzido na regio, 5%
de rochas; 22% de solo e areia; os outros grupos de materiais, juntos, correspondem
a apenas 2% do entulho pesquisado. De acordo com esses autores, os trs
primeiros componentes totalizam 72% do material estudado e podem produzir
agregados grados com alto potencial de utilizao na construo civil.
27
Figura 1 Composio mdia de RCC de Salvador 1999 Fonte: Carneiro et al., 2001.
Em uma outra pesquisa, realizada no municpio de So Paulo, Leal (2001)
verificou que, em mdia, 65% do entulho dos bota-foras so de origem mineral, 13%
de madeira, 8% de plsticos e 14% compostos por outros materiais. Esse resduo
de madeira a que a pesquisa se refere, no oriundo apenas da construo:
compreende resduos de obras, bem como aqueles de outras procedncias, tais
como poda de rvores, descarte de embalagens de madeira, restos de mveis, etc.
A partir desses dados, percebe-se a necessidade de um estudo sobre os
resduos de madeira produzidos nas obras em Salvador. Na pesquisa sobre RCC de
Salvador, realizada por Carneiro et al. (2001), considera-se que os resduos de
madeira esto includos nos 2% designados como outros resduos. J a pesquisa
realizada no municpio de So Paulo apresenta um nmero de 13% de resduos de
madeira. Sendo assim, havia uma lacuna no conhecimento a respeito das obras de
Salvador que precisa ser preenchida.
A construo civil tem um grande potencial de utilizao dos resduos, uma
vez que ela chega a consumir at 75% de recursos naturais (JOHN, 2000; LEVY,
1997, PINTO, 1999).
At o momento em que se iniciou a pesquisa relatada neste trabalho, tinham
sido realizadas algumas pesquisas relacionadas reciclagem ou reutilizao de
entulho nas obras. Entretanto, elas no empreenderam uma caracterizao e
28
quantificao dos resduos de madeira. Dessa maneira, configurava-se como
bastante conveniente estudar os resduos de madeira gerados em obras de
edificaes, buscando-se quantific-los e verificar a possibilidade de seu
reaproveitamento, possibilitando maior economia da matria prima.
Por outro lado, a introduo de um programa visando reutilizao dos
resduos de madeira se apresentava como extremamente vantajoso. A implantao
do programa promove melhor organizao do canteiro, reduo das perdas de
materiais, melhor conscientizao dos operrios sobre a importncia da reutilizao.
A empresa tem uma reduo nos custos, j que a quantidade a ser retirada ser
menor, havendo tambm um ganho de melhoria na imagem. Reutilizar
economicamente vivel, j que sempre menos custoso que descartar os resduos.
Esta prtica contribui para o desenvolvimento sustentvel e conscientizao das
pessoas ligadas ao setor quanto importncia da preveno da poluio, atravs da
aplicao do conceito de desenvolvimento sustentvel.
Tambm no h, at o momento, um termo de referncia especifico para o
setor da construo para elaborao de um plano de gesto dos resduos da
construo civil e, ao longo desta pesquisa foi desenvolvido um modelo, a partir do
termo de referncia do Centro de Recursos Ambientais (CRA), que poder ser
utilizado para nas obras fazendo-se as devidas adaptaes em funo da tecnologia
utilizada e dos resduos que sero gerados.
No , portanto, descabido afirmar que a realizao da pesquisa abriu, para
sua autora, as portas de um conhecimento novo, abordando aspectos ainda no
suficientemente explorados pelos estudos de processos produtivos na rea da
Engenharia.
1.3.2 Contribuies da pesquisa
Este trabalho pretende contribuir para uma melhor gesto dos resduos de
madeira da construo civil e sua caracterizao, mais especificamente para o setor
de edificaes, como tambm para uma maior conscientizao das equipes das
obras com relao s questes ambientais e os resduos produzidos durante as
diversas etapas da obra. A realizao dos treinamentos de educao ambiental e a
coleta seletiva contribuem para uma mudana de comportamento dos operrios e de
toda e equipe da obra.
29
O desenvolvimento de um modelo de plano de gesto de resduos, baseado
no termo de referncia do CRA, adaptado para a realidade do setor da construo
civil, pode servir de base para se estabelecer um termo de referncia especfico para
o setor, podendo o mesmo servir para o CRA e a PMS como forma de ajudar no
atendimento a legislao. Contribui ainda para o meio cientfico, por apresentar uma
sistematizao de etapas para implantao de um plano de gesto dos resduos da
construo civil e. em especial, os de madeira.
Uma das contribuies foi a elaborao de material didtico para realizao
de treinamentos sobre gesto dos resduos na construo civil e educao
ambiental, contendo transparncias, cartazes, exerccios e cartilha de educao
ambiental.
Por fim, os resultados obtidos contribuem com o aprimoramento das prticas
do setor da construo, divulgando os conceitos de tecnologias limpas, o controle da
poluio na fonte, reciclagem e reuso de materiais, racionalizao dos materiais e
reduo de retrabalho, reduo do desperdcio, melhor utilizao dos recursos
naturais, atravs da realizao de treinamentos.
1.4 ESTRUTURA DA DISSERTAO
Esta dissertao est subdividida em sete sees. A primeira delas a
introduo, na qual se esboa um panorama geral sobre o tema, os objetivos geral
e especficos, a contextualizao do problema da pesquisa que lhe forneceu os
dados e sua justificativa, que inclui os aspectos de sua originalidade e as
contribuies do trabalho.
Na seo 2 est descrita a metodologia utilizada: faz-se a delimitao da
pesquisa e a identificao das variveis; explicita-se a tcnica de coleta dos dados
explicando-se detalhadamente cada uma das fases, isto , preparao e
planejamento, implementao e operao, monitoramento e a de verificao.
No seo 3 apresenta-se o referencial terico, abordando o estado da arte
sobre o tema estudado. Nesta seo esto algumas definies e o embasamento
conceitual para o desenvolvimento do trabalho. Nela, esto tratados temas de
interesse tais como: perdas na construo civil, produo limpa, educao
ambiental, reciclagem da madeira e o cunho social da coleta seletiva e do
30
desenvolvimento de ecoprodutos. Tambm se fazem consideraes sobre a
legislao referente ao tema, as normas existentes e em desenvolvimento.
A seo 4 enfoca a caracterizao dos produtos de madeira usados na
construo civil e descreve os tipos e caractersticas das principais madeiras
utilizadas no setor da construo: madeira rolia, madeira serrada, chapa de
madeira. Nela, tambm se apresenta o panorama das chapas de madeira no Brasil e
em outros pases.
Na seo 5 descrevem-se os resultados alcanados com a aplicao do plano
de gesto dos resduos desenvolvido para cada uma das obras, o panorama sobre a
situao da gesto dos resduos. Apresentam-se ainda os dados coletados nas
diversas fases da pesquisa, desde o planejamento da implantao, a implantao
nas obras, as verificaes e as melhorias alcanadas. Por fim, faz-se uma anlise e
avaliao dos resultados.
A seo 6 apresenta as consideraes finais e as sugestes para trabalhos
futuros.
31
2 METODOLOGIA
A depender de sua natureza, uma pesquisa pode ser classificada como
pesquisa bsica ou aplicada. Do ponto de vista da forma de abordagem do
problema, ela pode ser quantitativa ou qualitativa (SILVA; MENEZES, citados por
CESAR, 2002).
Em relao aos seus objetivos poder caracterizar-se como exploratria;
descritiva ou explicativa. Considerando os procedimentos tcnicos de coleta de
dados, ela poder classificar-se como pesquisa bibliogrfica, documental,
experimental, de levantamento ou de campo, de estudo de caso, pesquisa ex-post-
facto (quando se realiza o experimento depois dos fatos) e pesquisa-ao ou
participante.
De acordo com a classificao acima, a pesquisa relatada nesta dissertao se
caracteriza como aplicada, pois ela se props a gerar conhecimentos para aplicao na
soluo de um determinado problema, relacionado gerao de resduos de madeira.
Com relao a abordagem do problema, caracteriza-se como pesquisa qualitativa, pois
ela no requer necessariamente o emprego de mtodos e tcnicas estatsticas.
tambm descritiva, uma vez que o pesquisador tende a analisar seus dados
indutivamente.
A estratgia utilizada para realizao da pesquisa foi a de desenvolver de um
mtodo para ser aplicado em um estudo de casos.
Deste modo o mtodo utilizado para o desenvolvimento desta pesquisa,
descrito na seqncia deste item, tambm pode ser considerado como uma
contribuio para futuros trabalhos e estudos sobre gesto dos resduos slidos.
32
2.1 DELIMITAO DA PESQUISA E IDENTIFICAO DAS VARIVEIS
As variveis identificadas para estudo dos resduos de madeira da construo
civil em obras de edificaes so:
a) tipo de empresa o estudo foi realizado em canteiros de obras de
construtoras de mdio e grande porte, do mercado imobilirio, edifcios
residenciais de mltiplos pavimentos, com a tipologia de 3 e 4 quartos;
b) as obras foram classificadas de acordo com a pesquisa do mercado
imobilirio realizada pela Associao de Dirigentes de Empresas do
Mercado Imobilirio da Bahia (ADEMI), da seguinte forma:
- populao de baixa renda: prdios com rea total de at 3 999 m2, - populao de classe mdia: prdio com rea total entre 4 000 m2 e
6 999 m2,
- populao de classe alta: prdios com rea total superior a 7 000 m2, - volume de resduo de madeira produzido, - tipos de madeira que so utilizados na obra: peas serradas, madeira
de lei, compensados, prensadas, barrotes, tbuas, etc.
Optou-se por fazer o estudo de caso em trs obras de edificaes do
mercado formal por serem obras supervisionadas pela Prefeitura Municipal de
Salvador e cadastrada pela ADEMI.
2.2 TCNICA DE COLETA DE DADOS
A coleta dos dados desta pesquisa referiu-se a dois tipos de dados: dados
existentes, relacionados gesto dos resduos da construo civil e dados oriundos
da observao de campo, relativos forma como so coletados, armazenados e
reaproveitados os resduos de madeira e quais os tipos de madeiras usados e em
que fase da obra.
Os dados iniciais foram levantados a partir de pesquisa documental e de
campo, considerando-se a fase da obra, o tipo de madeira utilizado em cada uma
dessas fases e os resduos de madeira gerados em funo do sistema construtivo
utilizado.
A pesquisa bibliogrfica, realizada em biblioteca e em sites especializados,
ajudou tanto na reviso da literatura sobre o assunto, como na identificao e
33
elaborao da problemtica em relao aos resduos de madeira gerados na
construo de um edifcio. A partir desses dados, constituiu-se a base para a
elaborao de uma mtodo para a gesto dos resduos de madeira utilizados na
obra, incluindo tambm a sua caracterizao. O mtodo de trabalho proposto foi um
estudo de caso realizado em trs fases, subdividas em oito etapas, apresentadas a
seguir.
A primeira delas, a fase de preparao e de planejamento, constituiu-se de quatro etapas, quais sejam, na ordem de execuo: contato e apresentao do
mtodo para a empresa, seleo do empreendimento que deveria participar da
implantao, realizao de diagnsticos e, por fim, elaborao do layout da obra.
A segunda fase de implementao e operao foi desenvolvida atravs de trs etapas, das quais a primeira foi a elaborao do plano de gesto de resduos
(PGR), destinada a levantar resduos de madeira gerados, sua classificao e a
quantidade produzida nas obras estudadas. A segunda etapa dessa fase foi a
realizao de treinamento em educao ambiental. Por fim, a ltima, de implantao
do plano, coleta e transporte dos resduos.
A terceira e ltima fase, que foi denominada fase de verificao, constou de uma s etapa, a do monitoramento e verificao da aplicao do Plano de gesto
dos resduos, com enfoque em madeira.
A Figura 2 apresenta o macrofluxo do mtodo proposto para o estudo dos
resduos da obra. As aes vinculadas ao estudo de caso caracterizaram-se como
necessrias para seu desenvolvimento e podem ser explicitadas e definidas
detalhadamente .
Na fase de preparao e de planejamento, a primeira etapa, a do contato inicial, teve o objetivo de familiarizar o pesquisador com a empresa e foi a
oportunidade de se apresentar detalhadamente o mtodo, explicar os objetivos, o
que ser realizado e os resultados esperados. A empresa precisa ter uma
compreenso clara do trabalho que ser realizado, para que possa contribuir e
colaborar no decorrer da aplicao da interveno.
A segunda etapa da primeira fase foi aquela em que foram escolhidos empreendimentos com as caractersticas definidas como alvo da pesquisa, isto ,
edifcios de residenciais de mltiplos pavimentos que estejam em construo.
34
Figura 2 - Macrofluxo do mtodo proposto para estudo dos resduos Fonte: elaborao da Autora (2006)
J na terceira etapa da primeira fase, com o objetivo de traar um diagnstico
das condies do canteiro, do gerenciamento da obra e dos controles existentes, foi
aplicado um formulrio elaborado previamente (veja o Apndice B) antes do incio
dos trabalhos na empresa. O diagnstico se realizou atravs de perguntas sobre a
FFFAAASSSEEE DDDOOO PPPLLLAAANNNEEEJJJAAAMMMEEENNNTTTOOO
FFFAAASSSEEE DDDAAA IIIMMMPPPLLLEEEMMMEEENNNTTTAAAOOO
EEE OOOPPPEEERRRAAAOOO
MONITORAMENTO E VERIFICAES DOS
RESDUOS DE MADEIRA
ELABORAO DO PGR
AES DE MELHORIA
FFFAAASSSEEE DDDAAA VVVEEERRRIIIFFFIIICCCAAAOOO
APRESENTAO DO PROGRAMA PARA A
ENGENHARIA
INCIO
ESTUDO DO LAYOUT DO CANTEIRO
TREINAMENTO E EDUCAO AMBIENTAL
IMPLANTAO DAS ROTINAS
DIAGNSTICO
FIM
35
caracterizao da obra, a gesto da matria-prima, a gesto dos resduos e os
aspectos ambientais gerais e outras informaes como consumo de gua e energia.
Por fim, na quarta etapa da primeira fase a do layout do canteiro de obra
foi verificado se existia um projeto de canteiro, visando a coletar informaes
relativas aos locais para o descarte dos resduos, circulao interna de pessoas e
equipamentos de transporte, localizao das instalaes provisrias, como silos
dos agregados e materiais bsicos, almoxarifado, deposito de materiais,
equipamentos de movimentao como gruas, elevadores, guinchos.
A fase de nmero dois, a de implementao e operao, caracteriza-se
pela sistematizao dos dados e foi complementada, pelas etapas de treinamento
em educao ambiental, de elaborao do Plano de gesto de resduos slidos
(PGRS) e da etapa de implantao do plano, com a coleta e o transporte dos
resduos.
Na primeira delas, foram realizados treinamentos com temas de educao
ambiental, coleta seletiva, produo mais limpa, etc., com todos os envolvidos na
obra, engenheiros, almoxarifes, operrios e terceiros, com o objetivo de
conscientizar o grupo e fomentar a implantao do plano de gesto de resduos e
sua etapa de coleta seletiva, visando preveno da poluio atravs da reduo,
reutilizao ou reciclagem dos resduos gerados na obra e em especial os resduos
de madeira.
O treinamento foi realizado atravs de palestras no canteiro de obras,
utilizando-se tcnicas de exposio, discusso em classe, mutiro de idias,
trabalho em grupo, debate, reflexo, explorao do ambiente local. Todas essas
tcnicas ajudaram a passar os conceitos fazendo com que os trabalhadores faam
uma reflexo sobre a realidade vivida na obra e levassem esses conceitos para a
sua vida pessoal e profissional. Ao longo dos treinamentos foram apresentados
conceitos de educao ambiental, tais como:
a) lixo urbano;
b) aspectos sanitrios e os agentes fsicos, qumicos, biolgicos e sociais;
c) caractersticas do lixo urbano;
d) coleta seletiva e seus smbolos;
e) reciclagem;
f) conceitos dos trs erres: reduzir, reutilizar e reciclar;
g) coleta seletiva na obra e os problemas dos resduos de construo civil;
36
classificao dos resduos na obra.
Na segunda etapa desta fase, conforme j foi dito, realizou-se a elaborao
do Plano de gesto de resduos slidos (PGRS), baseado nas instrues e no termo
de referncia do Centro de Recursos Ambientais (CRA) do Estado da Bahia, que
visa subsidiar os diversos empreendimentos que necessitam de licenciamento. O
plano deve ser elaborado pelo gerador dos resduos e submetido analise do rgo
ambiental. Com base nesta instruo foi elaborada uma adaptao, visando a
atender s necessidades do setor da construo e s exigncias da Resoluo
Conama 307/2002. Deste modo, o Plano de gesto dos resduos ficou estruturado
da seguinte forma:
Objetivos
Minimizar a gerao de resduos na fonte, adequar a segregao na origem,
controlar e reduzir riscos ao meio ambiente e assegurar o correto manuseio e
disposio final em conformidade com a legislao vigente.
Apresentao e caracterizao da obra Neste item foi feita uma apresentao sucinta da obra, a localizao e a
caracterizao do empreendimento como rea construda e os itens que compem o
edifcio.
Responsabilidades Foram definidas as responsabilidades dos envolvidos para estabelecer de
forma clara como cada um pode contribuir com o processo de implantao. Sendo
assim, todas as funes envolvidas como engenheiro, almoxarife, estagirios,
funcionrios e terceiros foram descritas neste item.
Sistema construtivo e atividades da obra Foram descritas as atividades que esto em andamento e que foram
executadas na obra desde a fase de implantao at o final da obra. Foi tambm
feita uma caracterizao das atividades de acordo com o sistema construtivo
adotado na obra e os tipos de materiais utilizados.
Caracterizao dos resduos
37
Para facilitar a caracterizao foi elaborada uma planilha de gesto de
resduos para a obra, em que o resduo est classificado de acordo com a
Resoluo do Conama 307/2002. A tcnica de coleta dos dados foi adaptada pela
autora. a partir de Yuba et al., (2006) e definida basicamente pela execuo dos
seguintes passos:
a) identificao visual do contedo de resduos de madeira no volume da
pilha analisada;
b) caracterizao e quantificao por tipo atravs do mtodo visual. Nessa
caracterizao foi considerado no somente as dimenses, mas tambm
a presena de contaminantes.
O mtodo utilizado possui algumas limitaes, em funo da subjetividade utilizada,
j que a quantificao feita de forma visual e tambm porque existem vazios nas
pilhas, que so reduzidos em funo do entulho est selecionado, mas mesmo
assim ainda temos alguns vazios.
Plano de reduo de resduos Neste item, abordou-se a sistemtica utilizada pela empresa para estabelecer
as prticas visando reduo dos resduos na fonte, segregao, identificao,
limpeza das reas, ao armazenamento, ao acondicionamento, ao transporte
interno e externo e destinao final. Com este propsito foram elaboradas fichas
para controle do descarte dos resduos e uma planilha para coletar os resduos que
esto sendo descartados.
Na ltima etapa desta segunda fase, denominada Implantao coleta e
transporte foram realizadas as aes definidas no Plano de gesto dos resduos. Os
resduos foram selecionados de acordo com as classes, organizados conforme sua
identificao, nos locais indicados sendo os recipientes acondicionadores definidos
em funo do tipo de resduo. Nos pavimentos foram colocados recipientes para as
coletas intermedirias dos resduos que, em seguida, foram transportados para
posterior entrega e destinao adequada conforme estava definido na planilha de
gesto dos resduos. Tambm foi necessrio identificar empresas que pudessem
fazer a coleta dos resduos e cooperativas para coletar os resduos que fossem
possvel de ser reciclados.
A execuo da fase de monitoramento e verificao ocorreu atravs do
preenchimento de planilhas elaboradas para coletar os dados e quantificar o volume
38
dos resduos retirados da obra durante o perodo da coleta. A quantidade dos
resduos foi controlada a partir da Ficha de destinao dos resduos (ver Figura 3)
contendo dados da empresa, a descrio dos resduos, a quantidade e o volume
que estava sendo entregues ao transportador.
DADOS DA EMPRESA DESTINATRIA
EMPRESA: OBRA: ENDEREO:
DADOS DO TRANSPORTADOR EMPRESA COLETORA: CNPJ: No DA LICENA: VECULO TRANSPORTADOR: PLACA DO VECULO: DATA: HORRIO: NOME DO TRANSPORTADOR/ RECEBEDOR: RG:
DESCRIO DO RESDUO QUANT UN VOLUME APROX.
ALVENARIA E CONCRETO MADEIRA METAL PAPEL OU PAPELO PLSTICO LATAS DE TINTAS E
RESDUO CONTAMINADO
TERRA/SOLO GESSO OUTROS
DESTINO FINAL DO RESDUO:
( ) DIRETO PARA USINA RECICLAGEM ( ) QUEIMA EM FORNOS DE OLARIA ( ) VENDA PARA SUCATAS ( ) ATERROS LICENCIADOS ( ) EMPRESA DE TRATAMENTO DE RESDUOS ( ) OUTROS (descreva)____________________________________
Figura 3 - Ficha de destinao dos resduos Fonte:elaborada pela Autora, 2005
A ficha de destinao foi aplicada durante a fase de execuo das atividades
na obra para verificar a quantidade de resduos que foi descartada, por tipo e por
classe. A partir disso, foi possvel estimar visualmente o volume dos resduos de
39
madeira gerados e o quanto este representava no volume total dos demais resduos
retirados da obra.
As verificaes foram realizadas a partir de uma adaptao da Lista de
verificao da metodologia do Programa 5 S no canteiro (COSTA e ROSA, 1999).
Para isso foi elaborada uma lista de verificao (veja Apndice C) que contm itens
sobre a coleta dos resduos, limpeza e organizao do canteiro.
O objetivo da verificao foi avaliar de forma sistemtica cada setor e os
estgios alcanados em relao implantao do programa e os resultados da
coleta seletiva. A Figura 4 mostra como ocorreu o fluxo das avaliaes.
Figura 4 - Fluxograma das avaliaes Fonte: elaborado pela autora, 2005
Implantar o PGR e realizar a coleta
seletiva
Aplicar as Listas de Verificaes
Problemas?
Sim
No
Fazer o reconhecimento
Fazer plano de melhorias
Relatrio de Avaliao
40
Aps a aplicao da ficha de verificao o grupo foi informado dos resultados
e essas avaliaes devem servir como estimulo para o crescimento de todos e da
identificao de oportunidades de melhorias.
As empresas definiram formas de fazer um reconhecimento do grupo
estabelecendo prmios para aqueles que mais se destacaram e que tiveram o
melhor desempenho. O reconhecimento serve de estmulo para alavancar o
programa.
3 REFERENCIAL TERICO
Nesta seo, alm de se buscar definies para embasamento conceitual do
trabalho, apresenta-se um breve relato do estgio atual do conhecimento sobre o
tema abordado, bem como uma sntese dos estudos sobre a construo civil na
Bahia.
3.1 A CONSTRUO CIVIL NA BAHIA
Para situar o leitor deste trabalho em relao ao universo das empresas de
construo civil que foram objeto da pesquisa foi traado um breve perfil do setor no
Estado da Bahia. O texto a seguir se baseia em pesquisa realizada, no ano de 1997,
por pesquisadores da Universidade Federal da Bahia e do Instituto Euvaldo Lodi
(IEL) da Bahia. Esta pesquisa est relatada em documento denominado Diagnstico
competitivo da indstria da construo civil, (SOUZA et al.,1997) que teve como
objetivo diagnosticar as condies de competitividade dinmica da indstria baiana
da construo civil para analisar as implicaes desses resultados sobre as polticas
de fomento ao setor.
O setor da construo civil no Estado da Bahia representado por trs
entidades: o Sindicato da Indstria da Construo Civil da Bahia (SINDUSCON/BA),
a Associao dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobilirio da Bahia (ADEMI-
BA) e a Associao Baiana de Obras Rodovirias (ABEOR).
No que respeita situao geral do setor, depreende-se, a partir dos dados
da pesquisa realizada junto a uma amostra de 108 empresas do universo estadual,
na qual foram representados todos os subsetores que compem a indstria , que
34% delas atuam no setor de edificaes, 23% no setor de incorporao imobiliria,
41
12% trabalham com terraplenagem e pavimentao, 12% com saneamento,
7% com energia e 13% com instalaes e montagem.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE),
a participao da indstria da construo civil no Produto Interno Bruto (PIB) do
Estado da Bahia, foi da ordem de 14% no ano de 2004. Entre os anos de 2003 e
2004 o setor construiu 210 000 m2 em unidades residenciais.
Relativamente aos aspectos econmicos, conforme dados apresentados no
Diagnstico competitivo da indstria da construo civil no Estado da Bahia,
levantados do Anurio estatstico do IBGE, em 1996, a indstria da construo civil
baiana possui em torno de 3,5% do nmero total de empresas construtoras
brasileiras, emprega em mdia 7% do total de trabalho e gera, em mdia, quase 8%
do valor bruto de produo desse setor no Brasil. ,
Na Bahia, esto sediadas quase 20% das empresas nordestinas de
construo civil e mais de 40% do total dos postos de trabalho do setor. As
empresas baianas respondem, ainda por quase 70% do valor bruto da produo
gerado no nordeste pela indstria da construo civil.
Segundo dados do IBGE, publicados na Pesquisa anual da indstria da
construo, em 2004, as empresas de construo registraram crescimento real de
12,2% no valor total das obras e/ou servios executados, em relao ao ano
anterior, devido boa performance da economia como um todo e de algumas
medidas setoriais adotadas. As construes para entidades pblicas se recuperaram
e tiveram aumento real de 21,4%,em relao a 2003. As obras de infra-estrutura, de
maior peso no setor, aumentaram sua participao para 35,2% e, junto com as obras
residenciais, representaram quase 60% do valor total das construes executadas.
O grupo das edificaes industriais tambm se destacou e ficou com a terceira maior
participao (11,8%), impulsionado pelo crescimento industrial, especialmente na
produo de bens de capital.
Os dados so da Pesquisa anual da indstria da construo 2004, que
registrou 109 mil empresas de construo em atividade no pas, empregando 1,6
milho de pessoas, nmero 6,3% superior ao de 2003. Essas empresas pagaram
salrio mdio mensal de 3,0 salrios mnimos (mesma mdia do ano anterior), num
montante de R$ 15,3 bilhes em salrios no ano e realizaram obras e servios no
valor de R$ 94 bilhes. A receita proveniente de obras e servios no exterior
alcanou 2,2 bilhes.
42
No ano de 1999, o poder pblico, representado entre outros pelo governo do
Estado da Bahia, assinou um acordo setorial com os representantes do setor da
construo, o Sinduscon/BA e a Ademi/BA. Em conseqncia desse acordo, o
Programa setorial da qualidade (COSTA; SILVA, 1999) realizou um diagnstico da
situao do setor e identificou os principais problemas com os materiais utilizados na
obra.
Considerando os materiais empregados na construo, oito deles so
apontados pelos engenheiros de produo como sendo os materiais crticos,
aqueles que apresentam muitos problemas de qualidade e que trazem
conseqncias negativas para o empreendimento como um todo como se v no
Quadro 1 a seguir:
Quadro 1 - Materiais crticos
MATERIAL PROBLEMAS CONSEQNCIAS Bloco cermico Variao nas dimenses e na
forma Blocos quebrados e com trincas
Aumento do consumo de argamassa para o assentamento
e revestimento da parede, desperdcios, gerao de entulho
Placas cermicas para revestimento
Variao da tonalidade e das dimenses
Entrega fora do prazo
Maior trabalho no assentamento, prejuzo do aspecto visual, prejuzo na coordenao
dimensional Madeira para
telhado e esquadrias
Madeira empenada, partida e verde
Variao dimensional
Substituio de peas j fixadas ou executadas
Esquadrias de Madeira
Peas empenadas e feitas com madeira verde
Substituio de peas j executadas
Placas de compensado
resinado
Descascamentos Descolamentos
Acabamento superficial ruim da estrutura
Agregados minerais Excesso de impurezas e de torres
Exigncia do peneiramento do material na obra
Placas de gesso para forro
Amarelecimento com o tempo Substituio das peas
Conexes hidrulicas de PVC
Rompimento Infiltraes, substituio das peas
Fonte: Costa; Silva, 1999
De todos esses materiais, o bloco cermico o que apresenta os mais srios
problemas relativos qualidade, e essa situao pode ser verificada na grande
maioria das marcas disponveis no mercado.
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Um problema facilmente detectado nesse material refere-se variao nas
dimenses e na forma, que se reflete no aumento do consumo de argamassa. Mas
os problemas do bloco cermico no se resumem forma e s dimenses: eles se
estendem tambm s suas caractersticas fsicas e mecnicas, que no atendem s
determinaes das normas tcnicas brasileiras, podendo comprometer a segurana
e a estabilidade das paredes.
No caso da madeira, conforme se v no Quadro 1, o maior problema refere-se
tanto entrega de madeira verde para a execuo de telhados e esquadrias quanto
com esquadrias entregues prontas nas obras quando so feitas com madeira verde:
esquadrias e telhados acabam empenando depois de fixados, devido retrao da
madeira, sendo necessrio aumentar a espessura do revestimento ou substituir
peas inteiras, para acertar a irregularidade.
As placas de compensado resinado, por apresentarem descascamentos,
acabam prejudicando o acabamento superficial da estrutura de concreto,
aumentando o consumo de argamassa para regularizao. Alm disso, o freqente
descolamento das lminas que formam a placa do compensado faz com que o seu
reaproveitamento seja muito baixo. Em geral, as placas de compensado plastificado
no apresentam esses problemas.
Os problemas com materiais geram conseqentemente um volume de
resduos maior do que se o material fosse de boa qualidade. Neste sentido, muitas
empresas j esto fazendo substituio de blocos cermicos por blocos de cimento
e no caso da madeira, as obras esto utilizando as esquadrias metlicas e portas
prontas que so industrializadas e no apresentam problemas de empenar.
3.2 PANORAMA SOBRE GESTO DOS RESDUOS DA CONSTRUO CIVIL
Pesquisa sobre a gerao e destinao de resduos slidos urbanos,
realizada no municpio de Salvador, demonstra que a construo civil gera 2 150 t /
dia de entulho (CARNEIRO, 2000). Isto se deve ao fato de que praticamente todas
as atividades desenvolvidas no setor da construo so geradoras de entulho.
O entulho da construo civil tornou-se um grande problema na administrao
das grandes cidades brasileiras, devido enorme quantidade gerada: em alguns
casos, chega a responder por 60% da massa de resduos slidos urbanos
44
produzidos. Alm disso, h falta de espao ou de solues que absorvam toda essa
produo.
Segundo Quaresma,(2003), o volume estimado de entulho a ser retirado da
obra em torno de 250 caambas para um edifcio de 15 pavimentos com rea
construda de 10 000 m, conforme dados do Sinduscon/SP.
Em pesquisa realizada por Levy e Helene (1997), em Londrina, obteve-se um
ndice de previso da gerao de 0,00848 m3 mensais de resduos da construo e
demolio (RCD) por m2 de construo.
Tornou-se comum, nos grandes centros, encontrar esse resduo depositado
em bota-foras clandestinos, nas margens de rios e crregos ou em terrenos baldios,
causando o entupimento ou assoreamento de cursos dgua, de bueiros e galerias
(com conseqentes enchentes) e a degradao das reas urbanas e da qualidade
de vida na sociedade.
A partir da constatao de que as novas construes so responsveis por
aproximadamente 50% do total de resduos (construo e demolio) existentes no
Brasil (PINTO, 1999), seu tratamento teria repercusso significativa numa gesto
global.
Trata-se, porm, de processos distintos dos de demolies e reformas. Nas
novas construes, as aes de gesto podem ser mais facilmente empregadas,
devido caracterstica organizacional e estrutura das construtoras. De fato, so
poucos os processos construtivos que geram resduos de forma misturada. Os
resduos surgem em reas e em tempos diferentes. A mistura de resduos ocorre, de
fato, na retirada da frente do servio para o canteiro e nos equipamentos de
transporte de entulho.
De acordo com pesquisa realizada na regio metropolitana de Recife
(CARNEIRO; MELO; BARKOKBAS JR.; SOUZA, 2004), 91% do total caracterizado
composto de argamassa, solo, cermica vermelha, concreto, brita, areia e
pedregulho. Um outro dado importante foi a baixa quantidade de resduos de
madeira (2%), metal e papel presentes nos resduos da construo. Isto se deve, em
grande parte, coleta desses resduos por pequenos catadores que,
posteriormente, os comercializam.
A limpeza do entulho misto pode ser feita por meio da melhoria da gesto da
coleta, da legislao e da tarifao adequada associada. Esta pode ser a melhor
opo para a limpeza do entulho. No entanto, sozinha, no garante o
45
processamento da maior quantidade do entulho e, sim, somente segrega o melhor e
dispe o pior. Porm, o restante do entulho pode conter material ainda til e
reciclvel, como madeira, papel, metais, plsticos e finos (solos). Estes, em
quantidade significativa, podem justificar o seu reaproveitamento.
Sabe-se que a qualidade dos agregados reciclados fundamental para uma
aplicao mais economicamente rentvel, aumentando o atrativo dos componentes
reciclados. Ressalta-se ainda que a preveno ou minimizao de resduos seja
ainda o grande alvo numa escala para o desenvolvimento sustentvel. Reduzir o
desperdcio de fato a primeira grande contribuio ambiental da construo
(NGULO, 1999).
Segundo Leal (2001), entre 20% e 25% do entulho das cidades so gerados
pelas construtoras. O restante originado em obras de autoconstruo, sobretudo
reformas.
Segundo dados da Prefeitura Municipal de Salvador, para fins de limpeza
urbana Salvador est dividida administrativamente em 17 ncleos de limpeza.
Cada ncleo corresponde a uma regio geogrfica que abrange um
determinado conjunto de bairros. Salvador produz aproximadamente 4.488t/dia de
resduos slidos urbanos. Os RCD representam cerca da metade dos resduos
slidos urbanos e correspondem gerao diria de aproximadamente 2000t
(LIMPURB, 2004).
A destinao final dos resduos slidos o Aterro Metropolitano Centro, que
atende s cidades de Salvador, Lauro de Freitas e Simes Filho. J o Aterro
Canabrava recebe resduos da construo civil, materiais infectantes, as sobras de
podas de arvores e do corte de grama e o material oriundo da coleta seletiva.
Em Salvador, so grandes os esforos para promover a coleta seletiva e a
reciclagem. O poder pblico, aliado s organizaes no governamentais (ONG),
associaes de moradores e a um grande numero de empresas e instituies
interessadas em assegurar umas destinao adequada do lixo urbano, tem criado
uma corrente em prol da reciclagem. Na cidade h vrios pontos para entrega
voluntria, os chamados Postos de Entrega Voluntria (PEV).
O Sinduscon/SP, em janeiro de 2003, iniciou a aplicao de um programa de
educao ambiental em canteiros de obras, denominado Obra limpa, junto a um
grupo de 11 construtoras, para implantar um programa piloto de gesto ambiental de
resduos, visando a dar-lhes uma destinao compromissada e responsvel. Foi
46
necessrio realizar aes conjuntas entre os geradores, os transportadores e os
gestores municipais.
Com a implantao, aqueles resduos que antes eram coletados e jogados
nos aterros, misturados uns aos outros, sem nenhum aproveitamento, passaram a
ter outra destinao, o que levou a realizao da reciclagem do PVC, os papis
foram destinados a aparistas2, as madeiras, destinadas para a caldeira e os resduos
de alvenaria e concreto foram reciclados. Ainda no mbito das aes do
Sinduscon/SP, est a busca de solues para a correta destinao de resduos no
inertes como gesso, tintas e impermeabilizantes: para cuidar de sua destinao,
esto formados grupos de trabalho envolvendo os fabricantes e aplicadores.
O Quadro 2, sintetiza dados do Programa obra limpa, apresentados pelo
engenheiro Francisco Vasconcellos, em julho de 2004, na Primeira Conferncia
Latino-americana da Construo Sustentvel, em So Paulo.
Quadro 2 - Dados da implantao da gesto de resduos em canteiros de obra (So Paulo)
Empresa A Empresa B Empresa C Empresa D Empresa E
Tipo de obra 1 edifcio padro mdio
2 edifcios padro alto
1 edifcio padro alto
5 edifcios padro mdio
34 residncias padro alto
Etapas consideradas
Da fundao
limpeza final
Da estrutura pintura externa
Do projeto ao incio da pintura
Da fundao
limpeza final
Da estrutura pintura externa
Total m2 rea construida
8 003 19 247 5 642 16 606 7.600
Tipos de resduos
Papel m3 31 90 96 53 23 Plstico m3 35 88 31 26 35 Madeira m3 137 248 83 160 Blocos e argamassa m3
576 960 160 156 206
Total m3 642 1 275 535 318 424
Total m3/m2 0,08 0,07 0,09 0,02 0,06
Fonte: Vasconcellos, 2004 - I Conferncia Latino-americana de Construo Sustentvel.
2 Aquele que trabalha com aparas de papel (retalhos de papel sobra de produo), compra papel de
lojas, bancos, supermercados, residncias, escolas, rgos pblicos, etc. leva para o seu depsito, o papel selecionado, enfardado e vendido para as indstrias de papel (recicladores). Cf. . Acesso em 13 jun. 2007.
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Segundo Vasconcellos, com a implantao do programa, houve uma reduo
dos resduos gerados, devido a melhorias feitas nos processos, como o reuso de
resduos na prpria obra e foi feito um aprimoramento dos projetos.
Na Bahia, foi implantado o Programa de gesto de resduos de construo
civil em canteiros de obra, em nove empresas, com o apoio do Projeto competir
(SENAI/SEBRAE e GTZ) em parceria com outros atores locais envolvidos com o
tema, como Sinduscon-BA e Limpurb.
De acordo com Almeida et al. (2005), a concepo do programa baseia-se na
segregao dos resduos no canteiro, de forma a reaproveit-los ou conduzi-los
destinao adequada. Como resultados parciais obtidos com o programa, destacam-
se: maior limpeza e organizao da obra, segregao e destinao ambientalmente
responsvel dos resduos, reduo dos custos com a destinao, controle do
transporte e disposio final.
No Distrito Federal e em Goinia, foi tambm desenvolvido um programa de
gerenciamento dos resduos slidos da construo civil, chamado Entulho limpo,
visando a atender a resoluo 307/2002 do Conama. A metodologia utilizada pelas
empresas foi desenvolvida pela Universidade de Braslia (UnB) e sua implantao
teve como parceiros o Sinduscon-DF, a Eco Atitude Aes Ambientais e a UnB. Para
sua divulgao, foi publicada uma cartilha que apresenta as diretrizes para a
implantao do projeto .
Segundo Blumenschein (2004), alguns resultados obtidos com o programa
piloto so:
a) reduo de custo pela reduo do nmero de caambas alugadas pelas
empresas construtoras, considerando que os resduos classe B so
retirados na porta da obra;
b) melhoria da organizao e da limpeza da obra;
c) fortalecimento do marketing da empresa;
d) fortalecimento da capacidade de cumprir as responsabilidades
socioambientais da empresa;
e) contribuio da empresa com a educao ambiental da equipe da obra.
At 2002, no havia, no Brasil, qualquer legislao especificamente voltada
para os resduos da construo, mas o setor necessitava de uma regulamentao
sobre o tema, visando melhorar sua gesto. Esta iniciativa deu origem a esses
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diversos programas e contribuiu para melhorar a gesto dos resduos nos canteiros
de obras.
Em todos os programas so apresentados como resultados a melhoria na
organizao, na limpeza da obra e uma reduo de custos a partir da reduo do
volume de resduos gerados. Tambm observa-se que os resduos so tratados de
forma geral e classificados de acordo com critrios do Conama, mas no h
especificamente uma preocupao com a caracterizao dos resduos de madeira.
3.3 PLANO DE GESTO DE RESDUOS
Aps a publicao da resoluo do Conama 307/2002, houve uma
mobilizao do setor da construo civil para buscar o atendimento a esta
legislao, tanto pelos municpios como por parte das construtoras. Desta forma,
cidades como So Paulo, Salvador e o Distrito Federal tomaram a iniciativa de,
juntamente com o Sinduscon desses estados, elaborar programas que
contribussem para que as empresas atendessem suas diretrizes. Surgiu ento o
programa Obra limpa, em So Paulo e em Salvador, e o Projeto de gerenciamento
de resduos slidos em canteiros de obras, no Distrito Federal. Esses programas
desenvolveram cartilhas para ajudar as empresa na implantao da gesto dos
resduos no canteiro de obra.
Para o desenvolvimento do Plano de gesto de resduos slidos (PGRS) nas
obras pesquisadas, foi utilizado as Instrues para elaborao do plano de
gerenciamento de resduos slidos do Centro de Recursos Ambientais da Bahia
(CRA) que, segundo Medeiros (2002), tem como objetivo subsidiar os diversos
empreendimentos quanto legislao e a apresentao do PGRS, que se constitui
num documento integrante do sistema de gesto ambiental, baseado nos princpios
da no-gerao e da minimizao da gerao de resduos, que aponta e descreve
as aes relativas ao seu manejo, contemplando os aspectos referentes
minimizao na gerao, segregao, acondicionamento, identificao, coleta e
transporte interno, armazenamento temporrio, tratamento interno, armazenamento
externo, coleta e transporte externo, tratamento externo e disposio final.
Conforme exige o Art. 138 do Regulamento da lei estadual n. 7.799, de
07/02/2001, aprovado pelo decreto estadual n. 7.967, de 05/06/2001, o PGRS busca
minimizar a gerao de resduos na fonte, adequar a segregao na origem,
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controlar e reduzir riscos ao meio ambiente e assegurar o correto manuseio e
disposio final, em conformidade com a legislao vigente.
O plano contempla as seguintes etapas:
a) caracterizao: consiste na identificao e quantificao dos resduos
gerados;
b) reduo e segregao na fonte: utilizao de tecnologias e prticas
operacionais que visem minimizao, reduo, reutilizao, e reciclagem
de resduos gerados, obedecendo aos critrios tcnicos que conduzam a
reduo dos riscos sade pblica e a qualidade do meio ambiente,
devendo a segregao dos resduos na fonte ser realizada de acordo com
as classes estabelecidas no Art. 3 da resoluo Conama n 307/2002;
c) acondicionamento: o gerador deve garantir o confinamento dos resduos
aps a gerao at a etapa de transporte, de acordo com as normas
tcnicas vigentes e assegurando em todos os casos em que seja possvel,
as condies de reutilizao e de reciclagem;
d) transporte: dever ser realizado em conformidade com as etapas anteriores e de acordo com as normas tcnicas vigentes para o transporte
de resduos;
e) destinao: dever ser prevista de acordo com as normas tcnicas especficas para cada tipo de resduo e com o estabelecido no Art. 10 da
resoluo Conama n 307/2002.
Segundo Arajo (2000), o acondicionamento dos resduos slidos inertes em
recipientes tambm tem o objetivo de evitar a disperso de materiais no ambiente
urbano e reduzir os problemas ambientais, sanitrios e urbanos que os resduos
podem ocasionar: falta de saneamento ambiental nas reas urbanas; partculas de
ps e poeiras em suspenso na atmosfera; carreamento de sedimentos e outros
materiais para o solo e para os mananciais; degradao da paisagem ambiental e
urbana; transporte de materiais para os sistemas de drenagem urbana e cursos
d'gua; falta de segurana a pedestres e ao trnsito de veculos, dentre outros.
A implantao do PGRS gera benefcios ambientais e a segregao dos
resduos nos canteiros de obra promove:
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reduo de custos para a obra, com a contratao de servios de
remoo de entulho, uma vez que j existe mercado para parte dos
resduos reciclveis (madeira, papelo, vidro e plstico) que podem ser
doados ou comercializados diretamente nas obras;
reduo do desperdcio nas obras, uma vez que, ao segregar os
resduos, o construtor/gerador passa a identificar os focos de maior
gerao, propiciando aes para a sua reduo;
desenvolvimento de boa reputao junto aos rgos ambientais,
comunidade e organizaes no governamentais (ONG);
criao de uma imagem verde que poder ser explorado em
campanhas de marketing;
conscientizao dos funcionrios, trazendo benefcios coletivos e
pessoais.
Para se falar em gesto de resduos, necessrio se pensar em novos
mtodos construtivos, desenvolvendo-se um planejamento detalhado da produo e,
conseqentemente, do gerenciamento dos resduos gerados pela obra, atravs de
um projeto prvio do canteiro de obras com definio de uma rea para segregao
e processamento que possibilite a valorizao dos resduos gerados.
3.4 CONSIDERAES SOBRE A LEGISLAO E NORMAS RELACIONADAS AO PGR
A poltica ambiental brasileira tem seus fundamentos fixados na Constituio
e na lei n. 6.938 de 1981, que estabelece a poltica nacional do meio ambiente e
constitui o sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama). O Conselho Nacional do
Meio Ambiente (Conama) o rgo consultivo e deliberativo do Sisnama. O Instituto
Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis (Ibama), criado em
1989, o executor da poltica ambiental nacional. A Lei de Crimes Ambientais n.
9.605 de 12/02/1998, em seu Artigo 56, determina que produzir, processar, embalar,
importar, exportar, comercializar, fornecer, transportar, armazenar, guardar, ter em
depsito ou usar produto ou substncia txica, perigosa ou nociva sade humana
ou ao meio ambiente, em desacordo com as exigncias estabelecidas em leis ou
nos seus regulamentos sujeita o infrator a pena de recluso, de um a quatro anos, e
multa.
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As instituies responsveis pelos resduos slidos mu