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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI PROGRAMA DE PÓS - GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM TURISMO E HOTELARIA - MESTRADO ACADÊMICO MINTER / UNIVALI / UNINORTE JANAUARI: A PSICODINÂMICA LABORAL DOS ARTESÃOS EM UMA PROPOSTA DE DIÁLOGO COM O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA MANAUS/AM 2012

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI PROGRAMA DE PÓS - GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM TURISMO E

HOTELARIA - MESTRADO ACADÊMICO MINTER / UNIVALI / UNINORTE

JANAUARI: A PSICODINÂMICA LABORAL DOS ARTESÃOS EM UMA PROPOSTA DE DIÁLOGO COM O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA

MANAUS/AM 2012

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ANA PAULA SILVA E SILVA

JANAUARI: A PSICODINÂMICA LABORAL DOS ARTESÃOS EM UMA PROPOSTA DE DIÁLOGO COM O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA

Projeto de Pesquisa apresentado em qualificação no Programa de Pós Graduação Stricto sensu em Turismo e Hotelaria - Mestrado Acadêmico / MINTER – UNINORTE como exigência parcial para à obtenção do título de Mestre em Turismo e Hotelaria. Orientadora: Profª. Drª. Yolanda Flores e Silva

2012

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ANA PAULA SILVA E SILVA

.JANAUARI: A PSICODINÂMICA LABORAL DOS ARTESÃOS EM UMA PROPOSTA DE DIÁLOGO COM O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA

Proposta de pesquisa apresentada a banca examinadora abaixo em exame de

qualificação e defesa no Programa de Pós - Graduação Stricto sensu em

Turismo e Hotelaria - Mestrado Acadêmico da UNIVALI / MINTER /

UNINORTE.

Profª. Drª. Yolanda Flores e Silva Orientadora - UNIVALI / MTH - MINTER / UNINORTE

Prof. Drª Thaise Guzzatti

Examinador externo – USP / Leste

Prof. Dr. Paulo dos Santos Pires Examinador - UNIVALI / MTH - MINTER / UNINORTE

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SILVA, A. P. S. .JANAUARI: A PSICODINÂMICA LABORAL DOS ARTESÃOS EM UMA PROPOSTA DE DIÁLOGO COM O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA. Manaus, 2012, 100f. Dissertação (Mestrado em Turismo e Hotelaria). Programa de Pós – Graduação Stricto sensu em Turismo e Hotelaria / Universidade do Vale do Itajaí. Manaus / Balneário Camboriú: MINTER - UNIVALI, 2012. Orientação: Prof. Dra. Yolanda Flores e Silva

RESUMO

Nesta dissertação abordaremos através de uma metodologia qualitativa como a psicodinâmica laboral pode contribuir para a consolidação do turismo de base comunitária gerido pelos moradores da comunidade de Janauari no Município de Iranduba/AM. A pesquisa contará com observação participante, entrevistas semi-abertas e visitas técnicas à comunidade utilizando referências da antropologia, do turismo e da psicologia como base teórica para a elucidação dos fenômenos que envolvem essa união. Espera-se portanto contribuir com a comunidade resgatando suas raízes históricas e tornando essa pesquisa de profunda utilidade social e humana aos comunitários.

Palavras Chaves: Turismo. Comunidade. Psicologia.

SILVA, A. P. S. e. JANAUARI: A PSICODINÂMICA LABORAL DOS ARTESÃOS EM UMA PROPOSTA DE DIÁLOGO COM O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA (Janauari: The Labor Psychodynamic Of Artisans In A Proposal Of Dialog With Community-Based Tourism). Manaus, 2012, 100f. Dissertation (Master’s Degree in Tourism and Hotel Management). Postgraduate Stricto sensu Program in Tourism and Hotel Management/University of Vale do Itajaí. Manaus/Balneário Camboriú: MINTER - UNIVALI, 2012. Supervisor: Prof. Dr. Yolanda Flores e Silva

ABSTRACT

Using qualitative methods, this dissertation looks at how the labor psychodynamic can contribute to the consolidation of community-based tourism generated by inhabitants of the community of Janauari in the Municipality of Iranduba/AM. The research includes participant observation, semi-open interviews and technical visits to the community, using references from anthropology, tourism, and psychology as the theoretical basis for elucidating the phenomena involved in this union. It is hoped that this work will help promote the historical roots of the community, giving this research great social and human utility for the community.

Keywords: Tourism. Community. Psychology.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES ILUSTRAÇÃO 01: Lógica capitalista e Ecodesenvolvimento 24 ILUSTRAÇÃO 02: Formação da Identidade 50 ILUSTRAÇÃO 03: Média Etária de Início e Término do Desenvolvimento Humano 55 ILUSTRAÇÃO 04: Polos Turísticos do Amazonas 56 ILUSTRAÇÃO 05: Percurso Fluvial Manaus/Janauari___________________ 61

LISTA DE TABELAS TABELA 01: Desenvolvimento Moral 52 TABELA 02: Desenvolvimento Laboral 53 TABELA 03: Matéria Prima e Produto Final 66

LISTA DE GRÁFICOS E FLUXOGRAMAS FLUXOGRAMA 01: Relações de Reciprocidade Entre as Pessoas e a Comunidade 46 GRÁFICO 01: Atividades Laborativas dos Moradores da Vila de Janauari – Iranduba/AM 62 FLUXOGRAMA 02: Cadeia de Venda de Sementes Beneficiadas 68 FLUXOGRAMA 03: Modelo Fenomenológico 77

LISTA DE FOTOGRAFIAS FOTOGRAFIA 01 – Estradas retas para Janauari 59 FOTOGRAFIA 02 – Estradas com depressão para Janauari 60 FOTOGRAFIA 03 – Peças produzidas em Janauari 63 FOTOGRAFIA 04 – Carrancas 65 FOTOGRAFIA 05 – Flechas decorativas 74 FOTOGRAFIA 06 – IX Festival Cultural do Artesanato de Janauari 82 FOTOGRAFIA 07 – IX Festival Cultural do Artesanato de Janauari 83 FOTOGRAFIA 08 – IX Festival Cultural do Artesanato de Janauari 83 FOTOGRAFIA 09 – IX Festival Cultural do Artesanato de Janauari 83 FOTOGRAFIA 10 – Retorno da antiga trilha do artesanato 89

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 07 1.1 O CONTEXTO DO ESTUDO 07 1.2 PROBLEMA 11 1.3 OBJETIVOS 11 1.3.1 Geral 12 1.3.2 Específicos 12 1.4 METODOLOGIA 13 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 18 2.1 O Turismo de Base Comunitária 18 2.2 Economia Solidária em Comunidades 27 2.3 A Psicologia Comunitária: Conceitos e Principais Aspectos 40 2.4 A Formação da Identidade Social e a Psicodinâmica do Trabalho 48 3 OS DISCURSOS: UMA ANÁLISE DOS DADOS APRESENTADOS 56 3.1 O Município de Iranduba e o Distrito de Janauari ______________ 56 3.2 Caracterização das Atividades Econômicas e Laborais de Janauari

61 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 86 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS APÊNDICES 1. TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 2. ROTEIRO PAR A COLETA DE DADOS ATRAVÉS DE ENTREVISTA

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1 INTRODUÇÃO 1.1 O Contexto do Estudo

Desde a Belle Epoque, período histórico da cidade de Manaus que vai de

1890 a 1920, onde o maior segmento de mercado concentrava a exportação de

goma látex comumente chamada de borracha, até as datas atuais, o Estado do

Amazonas cresceu e se desenvolveu em vários aspectos.

Devido a esse momento histórico de abertura do Amazonas para o

mundo, as identidades amazônicas foram se misturando às europeias, às

andinas e às identidades de outras regiões do próprio Brasil. Com os

investimentos no estado e o crescimento das vendas e consumo de produtos

da região, Manaus principalmente, tem “a partir de 1890 seu primeiro grande

surto de urbanização, isto graças aos investimentos propiciados pela

acumulação de capital, via economia agrária extrativista-exportadora,

especificamente a economia do látex.” (DIAS, 1999, p.19).

Durante todo o passar da história, aquelas características ditas

estrangeiras incorporaram-se ao modo de viver e pensar do povo amazônico

levando seus descendentes a crer nessas características como sendo

prioritariamente nativas da região. O que era estrangeiro então tornou-se

nativo.

No decorrer do processo de transformação de Manaus em capital da economia da borracha, a cidade é tomada por uma onda imigratória muito grande. Não são somente brasileiros de outras regiões que vêm engrossar a população da capital e do interior em busca do trabalho, mas estrangeiros de diversas regiões do mundo que, atraídos pelas notícias que correm de nossas riquezas, sonham com novas oportunidades de aumentar suas fortunas. (SOUZA apud DIAS, 1999, p. 129).

E foram muitas as interações ocorridas na Belle Époque, em que o mundo

volveu os olhos à floresta amazônica, promovendo-se então a miscigenação

genética, cultural e social de nosso povo. Como primogênitos dessa

miscigenação, herdamos seus avanços e bem feitorias assim como também

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suas incertezas, doenças e vícios morais.

Desta forma, gerações e gerações começaram a crescer sob uma

multiplicidade de hábitos, crenças, suposições, rotinas de como e quando

realizar atividades peculiares de cada homem e mulher amazônicos.

Ainda as descobertas, desenvolvimento de alternativas aos problemas

diários, suas soluções, adaptação ao que é externo e aceitabilidade das

tradições já culturais, tudo isso foi passado de pais para filhos, de anciãos para

crianças e uma nova forma de se reconhecer e reconhecer o outro foi surgindo

na primeira cidade do Brasil a ter luz elétrica: a Paris dos trópicos. (DIAS,

1999).

[...] Cada ambiente possuindo representações diferenciadas, denotadas por agentes sociais que possuíam pressupostos culturais distintos. [...] De qualquer forma, gostos, consumo de ideais europeus penetraram na vida manauara, concebendo representações da cidade, expressa na afirmativa de que Manaus modernizara-se, uma suposta imagem de conquista da civilização. [...] Uma das tensões culturais no cotidiano da cidade ocorria quando as mesmas convenções e relações sociais estabelecidas entre as elites eram postas como parâmetros para outros habitantes. (SANTOS JUNIOR, 2007, p.8).

Este se configurou um momento no Estado do Amazonas e mais

especificamente de Manaus que fez com que ocorresse uma possível perda ou

um possível desvirtuamento das identidades e das culturas tradicionais.

Tal reflexo acaba por ser transferido aos pequenos municípios em efeito

carambola e em nível micro, às pessoas e isto ocorre de tal modo, que as

populações não conseguem nem mesmo ter consciência de que seu modo de

viver e ver o mundo são parte de sua identidade e que o uso responsável e

correto dos patrimônios que possuem pode ser um forte eixo de organização e

autonomia.

Conforme o Ministério do Turismo – Mtur,

...é necessário garantir a representação da diversidade de produtos existentes na localidade e a integração de todos os envolvidos, além de um posicionamento responsável diante da atividade turística, evitando a descaracterização da cultura local, que teria como consequência a geração de uma atividade turística insustentável. (2011, p. 13).

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No município de Iranduba, distante apenas 25 km da capital Manaus, é

possível sentir este contexto de pensar a vida, esta falta muitas vezes de

pertencimento, autoestima, autonomia e organização e planejamento da

economia, da educação, da saúde, na perspectiva pensada por Morin (2007, p.

100), “a responsabilidade como conjunto necessita ser irrigada pelo sentimento

de solidariedade, ou seja, de pertencimento a uma comunidade”. Contudo, isto

pode mudar.

A facilidade de acesso e a proximidade de Manaus, que no início deste

novo século, repensa sua história e sua importância no país, apresentam-se

como característica favorável para o planejamento e a gestão de Iranduba a

partir de novos parâmetros, que envolve inclusive o escoamento de seus

produtos, a realização de convênios com empresas, instituições de ensino, etc.

Em 2005, através de uma parceria entre um ateliê de artesanato e a

comunidade, iniciamos nosso contato com a comunidade de São Pedro do

Janauri – hoje distrito do município de Iranduba.

O artesanato da localidade – principal patrimônio econômico local – se

destaca como a base do sustento de muitas famílias e como um potencial

atrativo da região para visitantes ocasionais da própria região norte, bem como

turistas estrangeiros e nacionais oriundos de outras regiões do Brasil.

Naquela época, em nossas visitas a São Pedro do Janauri, foi possível

observar as precárias condições locais e a falta de instituições e infraestrutura

relacionadas a saneamento, educação, saúde, segurança, logística, entre

outras necessidades.

De 2005 até este ano de 2012, tempo que visitamos Janauari, tivemos a

oportunidade de perceber necessidades em evidência ao ministrarmos, através

de um convênio entre uma IES – Instituição de Ensino Superior e o município,

aulas para duas turmas de acadêmicos irandubenses.

Nas vivências e relatos diários, os munícipes de São Pedro do Janauari

apontaram os grandes obstáculos vividos por eles:

1. A dependência logística a um sistema de travessia do Rio Negro

através de balsas, já considerado pelos próprios munícipes como

pequeno diante de suas necessidades. Para a travessia gastava-se

cerca de 40 minutos do atracadouro de Cacau Pirera – outra

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comunidade às margens do Rio Negro considerada entreposto de

Manaus para o Iranduba e demais municípios. Este tempo é

somado a mais uma hora e vinte minutos em média da

comunidade até Cacau Pirera totalizando em média duas horas

para ir e mais duas horas para retornar;

2. A falta de uma indústria de beneficiamento de sementes para a

confecção de sua produção de adornos e peças artesanais. Na

comunidade havia um galpão destinado ao beneficiamento de

sementes, contudo sem o preparo adequado e sem planejamento e

rotinas de trabalho, o local nunca foi utilizado em 100% de sua

capacidade;

3. A relação de dependência com os ateliês e lojas que vendem

produtos artesanais e que impõe preços baixos para a compra em

grande escala da produção dos artesãos da comunidade, todavia

chegando a colocar 500% de lucro no mesmo produto ofertado aos

turistas e demais compradores. Além da relação econômica

desproporcional, os comunitários verbalizaram ser alvo de maus

tratos, assédio moral e psicológico por parte dos comerciantes que

com comentários e prazos curtos ameaçavam deixar de comprar

dos artesãos, desvalorizando e desqualificando seu trabalho

artesanal;

4. A concorrência com os grandes empresários do ramo turístico. Na

região existem muitos empreendimentos turísticos como pousadas,

hotéis de uma e duas estrelas, alojamentos de selva de grande

porte que acabam por inibir quais quer tentativas de capitação de

turistas para a comunidade;

Considerando o contexto apresentado e após leituras sobre um segmento

do turismo denominado “turismo de base comunitária” acreditamos ser essa

uma alternativa que responderá aos anseios da população no que concerne a

uma paulatina mudança na estrutura da cadeia produtiva do artesanato.

Esta modalidade de turismo, por se organizar a partir da “autogestão

sustentável dos recursos patrimoniais comunitários, de acordo com as práticas

de cooperação e equidade no trabalho e na distribuição dos benefícios gerados

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pela prestação de serviços turísticos” (MALDONADO, 2009, p. 31) e também

por pagar preços justos por produtos oferecidos aos turistas, é a nosso ver,

uma perspectiva interessante para a região. Sobre esta economia artesanal

associada ao turismo é do que trata esta pesquisa sob a perspectiva da

organização de um Turismo de Base Comunitária em Janauari.

Toda a produção artesanal de Janauari é escoada para outras

comunidades e centros comerciais em outras cidades principalmente Manaus e

de lá é revendida a outros comerciantes ou vendida ao consumidor final.

Com o Turismo de Base Comunitária, pretendemos o movimento inverso,

onde Manaus, demais municípios e outras localidades seriam direcionadas à

Janauari, de forma a prestigiar os atributos turísticos da comunidade.

1.2 PROBLEMA

O distrito de Janauari localizado no município de Iranduba no Amazonas

possui um potencial turístico latente para o turismo de base comunitária face ao

seu ecossistema e atividades laborais extrativistas da comunidade

relacionadas ao artesanato e outros produtos e serviços que valorizam a

identidade cultural local.

Contudo, a organização coletiva do município nos é desconhecida e não

sabemos se seria possível fomentar este segmento turístico sem antes analisar

as formas e graus de participação possíveis da população na indústria do

turismo.

Nesse sentido, numa pré-avaliação da localidade e da população com

quem convivemos por algum tempo, nossa questão problema de pesquisa é:

“Qual a psicodinâmica laboral da população da Vila de Janauari para

a efetiva participação na organização e autogestão de empreendimentos turísticos de base comunitária que tenham por foco o artesanato produzido na localidade?”

1.3. OBJETIVOS

Com as leituras preliminares, e com a delimitação do problema de

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pesquisa foram formulados os objetivos abaixo:

1.3.1 Objetivo Geral:

Analisar a psicodinâmica laboral da população da Vila de Janauari para

a estruturação de empreendimentos turísticos de base comunitária.

1.3.2 Objetivos Específicos

1. Identificar o nível de organização comunitária (associações e

cooperativas existentes) para a autogestão de empreendimentos

turísticos de base comunitária;

2. Descrever a história da comunidade e do foco laboral artesanal de

produção que sustenta economicamente as famílias da localidade;

3. Identificar as tendências, expectativas e possibilidades de serviços e

produtos turísticos (ligados à produção artesanal) que possam ser

ofertados a turistas e visitantes;

4. Analisar se as expressões artesanais locais poderiam ser o foco

chamativo de turistas e visitantes;

Importante esclarecer que esta sociedade iniciou um legado de cultura

voltada ao artesanato que de acordo com o IBGE, “... abriga dois dos principais

polos de produção de artesanato do Estado do Amazonas: as comunidades

dos lagos de Janauari e Acajatuba” (2011, p,1).

Com o desenvolvimento populacional do município, bem como com o

acesso facilitado pelo término da construção da ponte que liga Manaus à

Iranduba, os processos de abertura para outros lugares do país e do exterior

serão rápidos e com excelentes perspectivas se a população puder se

autogerir e decidir sobre como atuar economicamente para conseguir suprir

suas necessidades.

Observamos desta forma uma oportunidade de alavancar os potenciais

turísticos da região com o aumento responsável do fluxo de turistas ao

município e à Vila de Janauari – através principalmente de um turismo que não

seja de massa, que permita um gerenciamento com base comunitária –

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proporcionando à esta população aumento e geração de trabalho e renda,

melhorias nas condições de vida e fortalecimento cultural.

Entretanto, sem deixar de pensar na preservação com os recursos

naturais oferecidos pela floresta, com a cultura e identidade amazônica, ir mais

além: que esta construção possa permitir a interação dos comunitários com o

novo, e dele absorver o que há de melhor ao engrandecimento e da

comunidade em sua totalidade.

1.4 METODOLOGIA

Conforme as teorias epistemológicas focadas na fenomenologia, vê-se

como embasamento os pressupostos de Morin (2008, p. 23) na seguinte

construção: “ora, o observador que observa, o espírito que pensa e concebe,

são eles mesmos indissociáveis de uma cultura, e, portanto, de uma sociedade

hic et nunc”.

Entendemos esta expressão última, como o aqui e o agora,

contextualizado e focado no fenômeno investigado na atualidade ou pelo

menos até onde sua relevância estiver. Levamos em conta o fato de que a

temporalidade não é preponderante ao fenômeno, seja este social, cultural ou

psicológico.

Ao contrário, o fenômeno por ser atemporal, pode ser revivido, recordado

em qualquer momento da vivência do indivíduo como se tivesse acabado de

ocorrer. A lembrança vívida só é possível a partir de sai significância para o

indivíduo.

Em toda a discussão travada sobre a especialização do saber, a

pulverização do ser humano, o que se observa é a necessidade emergente de

consolidar a pesquisa como um fenômeno social, científico e biológico onde o

pesquisador possa entender que o fenômeno nunca poderá ser um aglomerado

de partes unidas ou a decomposição de partículas minúsculas, quase atômicas

as quais acabam por gerar outras inúmeras pesquisas de menor relevância

(MORIN, 2008).

Para tanto, a integralidade do ser humano leva ao pesquisador a

compreensão abarcativa dos fenômenos por ele estudados, e, somente

entendendo o ser humano como homem integral, é possível chegar ao

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entendimento deste ser humano visto pela sua própria ótica.

Chega-se ao cerne da questão: como se pode estabelecer um saber

científico, diante do que Morin (2008) chama de escola ou universidade do

luto? A essa questão Husserl (2006) responde que ao entrarmos em contato

com nossas vivências e estados de consciência, devemos interagir com estes

fenômenos despidos de quaisquer ideias pré-concebidas, crenças,

partidarismos, ou teorias que possam limitar a experiência a um fenômeno

comumente esperado ou previamente enquadrado no saber científico.

Significa como foi dito acima, estar aberto a compreender o ser humano

pela sua vivência, pelo seu olhar, ser empático e se permitir experienciar-se.

Com esta perspectiva é que construímos o arcabouço bibliográfico

documental que gerou esta pesquisa e seus resultados apresentados nos

tópicos a seguir.

Como estratégia de pesquisa, foi realizado um estudo de caso focado na

comunidade de São Pedro do Janauari. Para Yin (2002), neste tipo de

investigação a ideia é identificar e analisar certos fenômenos no contexto da

vida real.

Por isso, realizamos uma exploração e busca de dados documentais e

bibliográficos no sentido de responder aos objetivos específicos estabelecidos

na proposta sobre a comunidade de Janauari.

Conforme Richardson é a exploração um plano de enquete preliminar,

onde “tendo algumas ideias sobre o tema, está preocupado em não deixar de

fora alguns aspectos importantes que possam contribuir para a explicação do

problema” (2008, p.146).

Como técnicas de coleta de dados, realizamos um trabalho de campo, em

que a mestranda/pesquisadora teve contato direto com as pessoas

selecionadas como informantes formais e informais da pesquisa.

Nesta etapa da pesquisa, os caminhos de entrada na comunidade se

deram através de uma turismóloga parceira que forneceu os contatos do líder

do artesanato e do líder da comunidade.

A partir dos vínculos iniciais com essas pessoas chave, estas nos

apresentaram aos comunitários, fazendo assim o elo de contato entre nós e os

artesãos.

Para Flick (2009, p. 109) o termo genérico “campo” pode designar uma

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determinada instituição, uma subcultura, uma família, um grupo específico de

pessoas com uma biografia especial, tomadores de decisão em administrações

ou empresas e assim por diante.

Na coleta de dados, os instrumentos utilizados foram: roteiro para

entrevista aberta (ver apêndice 2) e observação do tipo participante. No que

concerne à entrevista, Godoi e Mattos conceituam-na não como uma simples

narrativa ou registro de verbalizações dos pesquisados, mas sim em um

“construto comunicativo, uma forma de produção e interpretação da informação

através da análise dos discursos” (2006, p. 306).

No concernente à observação participante, Denzin cita esta forma de

observação como a mais comum utilizada em pesquisas qualitativas e nos

apresenta o seguinte conceito: “a observação participante será definida como

uma estratégia de campo que combina, simultaneamente, a análise de

documentos, a entrevista de respondentes e informantes, a participação e a

observação diretas e a introspecção” (apud FLIK, 2009, p.207).

O local de observação e coleta dos dados foi o Distrito de Janauari

localizada no Município de Iranduba/AM de junho 2011 até julho de 2012. O

universo da pesquisa foi de doze artesãos entrevistados da Vila de Janauari.

Vale ressaltar que três artesãos foram entrevistados mais de uma vez,

pois a cada ida à comunidade nos traziam mais conteúdo de pesquisa. Os

encontros foram realizados todos na própria comunidade, em número de sete,

sendo que seis encontros tiveram a duração de quatorze horas de observação

e em uma houve pernoite com vinte e quatro horas de permanência na

comunidade.

As entrevistas foram realizadas nas residências dos comunitários, nas

ruas da comunidade nos trajetos de uma residência a outra, nas trilhas no

entorno da comunidade, nos ambientes de trabalho dos comunitários (chapéus

de palha), em uma rabeta (pequena embarcação com capacidade para até

nove pessoas) na antiga trilha fluvial do artesanato, em dois flutuantes e em um

restaurante flutuante.

Como critérios prioritários para a participação nas entrevistas o

comunitário deveria:

• Ser morador da comunidade de Janauari;

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• Trabalhar diretamente com artesanato seja no beneficiamento de

matéria prima, na confecção ou na venda do artesanato;

• Ter maior idade;

• Desejo de participar da pesquisa.

Para a análise dos dados foram realizadas análises de discurso a partir

dos dados coletados das entrevistas, bibliografias e/ou documentos obtidos no

município. Para Bardin apud Richardson:

A análise do discurso é um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, através de procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam inferir conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) dessas mensagens. (BARDIN apud RICHARDSON, 2008, p. 223).

O objetivo da análise do discurso também é o de:

demonstrar como, nas conversações, as versões conversacionais dos eventos (memórias, descrições, formulações) apresentadas pelos participantes são construídas para a atividade interativa e comunicativa. (EDWARDS; POTER, apud FLICK 2009, p. 302).

Para esta pesquisa, a análise do discurso tenderá a uma análise

sociológica que de acordo com Alonso (apud GODOY, 2006, p. 383), não

representa apenas:

... uma soma de significados predeterminados de palavras, nem uma análise estrutural de textos realizada em um plano sintático ou semântico, mas uma análise contextual, na qual os argumentos tomam sentido em relação com os atores que os enunciam (ALONSO apud GODOY, 2006, p. 283).

A apresentação dos dados comporá o formato de texto descritivo,

reflexivo e crítico à luz de referenciais do turismo, da psicologia e do turismo de

base comunitária.

Importante ressaltar que de acordo com a resolução CNS 196/96, do

Conselho Nacional de Saúde, as pesquisas realizadas com seres humanos

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seja em que idade ou condição biopsicossocial, deve atender a exigências

éticas.

Um de seus itens obrigatórios é o termo de consentimento livre e

esclarecido dos indivíduos-alvo constante em apêndice do projeto. No qual os

comunitários pesquisados terão uma breve, porém consistente explicação do

que se propõe a pesquisa.

Nele estão descritos os benefícios e riscos atuais e potenciais que os

pesquisados podem sofrer ao serem submetidos mesmo que espontaneamente

à pesquisa. Também podemos observar no termo a relevância social da

pesquisa com as vantagens na participação na mesma garantindo sua

destinação social.

Dentre as seções constantes na legislação pertinente, as que mais nos

chamam atenção para o propósito da presente pesquisa são aqui citadas:

... l) respeitar sempre os valores culturais, sociais, morais, religiosos e éticos, bem como os hábitos e costumes quando as pesquisas envolverem comunidades; m) garantir que as pesquisas em comunidades, sempre que possível, traduzir-se-ão em benefícios cujos efeitos continuem a se fazer sentir após sua conclusão. O projeto deve analisar as necessidades de cada um dos membros da comunidade e analisar as diferenças presentes entre eles, explicitando como será assegurado o respeito às mesmas; n) garantir o retorno dos benefícios obtidos através das pesquisas para as pessoas e as comunidades onde as mesmas forem realizadas. Quando, no interesse da comunidade, houver benefício real em incentivar ou estimular mudanças de costumes ou comportamentos, o protocolo de pesquisa deve incluir, sempre que possível, disposições para comunicar tal benefício às pessoas e/ou comunidades; [...] p) assegurar aos sujeitos da pesquisa os benefícios resultantes do projeto, seja em termos de retorno social, acesso aos procedimentos, produtos ou agentes da pesquisa; [...] z) descontinuar o estudo somente após análise das razões da descontinuidade pelo CEP que a aprovou. (CNS 196/96).

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 O Turismo de Base Comunitária

Em uma breve retrospectiva, o Turismo de Base Comunitária iniciou-se

nos meados do século XIX como afirmam Lima, Ayres e Bartholo:

A evolução e o crescimento do TBC foram sendo intensificados na medida em que o modelo de desenvolvimento sócio-econômico predominante no Século XX passou a apresentar sinais incontestáveis de inconsistência, em função da sua lógica de exploração de recursos naturais e humanos e no consumo de bens duráveis e não duráveis. Os discursos em defesa da necessidade de mudanças de paradigmas econômicos, sociais e políticos se avolumaram significativamente a partir de meados do século passado. (2009, p.02).

Ainda com os autores supracitados (2009) por volta das décadas de 80 e

90 é que nosso país vislumbrou um aumento nesta modalidade de turismo em

que as comunidades autóctones regiam as atividades turísticas em suas

localidades.

Contudo os autores avançam mais em sua descrição histórica apontando

certa preocupação com os conflitos envolvendo as primeiras manifestações de

turismo comunitário ao afirmarem que essas começaram a partir de pessoas

não moradoras das localidades. Para eles, essas pessoas faziam o uso público

de áreas e que por ser de uso público não haveria maiores compromissos com

a preservação ou com o uso sustentável.

A partir deste ponto, iniciaremos um discurso de conceituação do que é

TBC. Esta ação é importante já que a definição nos levará a um encadeamento

de ideias necessário ao bom andamento textual.

Para Coriolano (2009, p. 282), o turismo de base comunitária compreende

um formato de turismo em que as comunidades se organizam de forma

associativa e se organizam de modo a ter “arranjos produtivos locais,

possuindo o controle efetivo das terras e das atividades econômicas

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associadas à exploração do turismo”.

Em outras palavras, compreende uma modalidade de turismo

prioritariamente focado na gestão comunitária dos recursos oferecidos pela

localidade.

O envolvimento dos moradores, portanto é singular na promoção dos

recursos que levem ao desenvolvimento integral da economia, sociedade,

cultura e educação, através de suportes de distintas naturezas, incluindo-se

aqui as redes e laços de natureza sociais, o que pode significar um

desenvolvimento psicossocial da população e como consequência da região

em que esta comunidade se insere.

Esta modalidade complementa ao que conhecemos como turismo, que

segundo Noronha:

... é considerado uma atividade geradora de divisas, pois a entrada, a permanência e o deslocamento dos turistas em uma determinada localidade, despertam para a necessidade de dar condições estruturais às localidades para a implementação de infra-estrutura turística e básica e outros fatores pertinentes à localidade, deixando-a em condições satisfatórias tanto para quem reside, quanto para quem a visita. (NORONHA, 2008, p. 95).

Para a WWF - World Wildlife Fund ou Fundo Mundial da Natureza o

turismo de base comunitária pode ser “realizado em áreas naturais,

determinado e controlado pelas comunidades locais, que gera benefícios

predominantemente para estas e para as áreas relevantes para a conservação

da biodiversidade.” (2003, p.23).

Desta forma, ao adotar o turismo de base comunitária, a comunidade

estará realizando uma modalidade turística associada ao desenvolvimento

sustentável, preservando suas identidades culturais e naturais de seu espaço.

O próprio indivíduo se preserva enquanto pessoa quando percebe que em

seu entorno as atividades laborais, de lazer, culturais, voltadas à educação

também permanecem preservadas. Para Wagner III e Hollenbeck, (2006), o

sentimento de segurança restaura a equidade no sistema como um todo.

Vale ressaltar a importância da compreensão do que é espaço, visto que

para tal expressão há uma série de conceituações. Adotaremos as

conceituações de Santos, a qual afirma que é:

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A partir da noção de espaço como um conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações podemos reconhecer suas categorias analíticas internas [...]. É o espaço que, afinal, permite à sociedade global realizar-se como fenômeno. Assim, o espaço, é, antes do mais, especificação do todo social, um aspecto particular da sociedade global. (2006, p. 77).

É no compreender seu espaço que a comunidade encontra a

sensibilidade para gerir o que é seu, e, a partir desta sensibilidade adquirida

através da compreensão refletir sobre a importância de preservar seu

patrimônio ecológico, social e cultural.

Para Araújo e Gelbecke, “A noção de território é frutífera para o Turismo

Comunitário, pois possibilita a valorização de aspectos socioculturais capazes

de serem apropriados pelas comunidades autóctones.” (2008, p. 364)

Sendo assim, ao exercer a autogestão de seu território, os comunitários

ganham uma ferramenta poderosa visto que pode fortalecer os laços sociais e

culturais, além de manter a rotina de vida sem maiores alterações.

A noção de território passa a priorizar os aspectos relacionais presentes nas sociedades, os aspectos que dão vida ao espaço-lugar passam a fazer parte desta noção conferindo-lhe status interdisciplinar. Essa definição de território pressupõe espaços socialmente construídos na base de uma identificação coletiva dos atores sociais e de uma cultura partilhada. [...] No caso do Turismo Comunitário, reconhecer um território significa verificar suas particularidades em termos de potenciais para um turismo emancipador e educativo, suscetível de apropriação comunitária a partir de um projeto multissetorial capaz de criar vínculos entre determinados setores tradicionais da economia local. (ARAÚJO e GELBECKE 2008, p. 365).

Esta linha de pensamento está condizente com Noronha (2008), quando

afirma que o turismo é uma atividade complexa não apenas pelas suas

interligações verticais e horizontais com a economia, serviço e produtos

oferecidos, mas também por unir-se de maneira sustentável ao patrimônio

ambiental, cultural na promoção de sua preservação e desenvolvimento. Por

sua vez o Turismo de Base Comunitária, é aquele segmento que:

Oportuniza que visitantes conscientes – estudantes, professores, pesquisadores, e simpatizantes – tomem contato com temas relacionados à preservação da natureza (sistemas

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ecológicos) e, ao mesmo tempo, a conservação de modos de vida tradicionais (sistemas sociais). (SAMPAIO, ALVES e FALK, 2008, 253).

Para Maldonado apud Bartholo, Sansolo e Bursztyn,

Por Turismo Comunitário entende-se toda forma de organização empresarial sustentada na propriedade e na autogestão sustentável dos recursos patrimoniais comunitários, de acordo com as práticas de cooperação e equidade no trabalho e na distribuição dos benefícios gerados pela prestação dos serviços turísticos. A característica distinta do turismo comunitário é sua dimensão humana e cultural, vale dizer antropológica, com objetivo de incentivar o diálogo entre iguais e encontros interculturais de qualidade com nossos visitantes, na perspectiva de conhecer e aprender com seus respectivos modos de vida. (2009, p. 31)

Ainda com os autores supracitados, em função da abertura das

comunidades para outros arranjos produtivos diferentes dos tradicionalmente

impostos pelo mercado, elas têm uma oferta de produtos e serviços que face

ao seu formato tradicional, apresenta-se hoje como um produto original com

“um selo próprio”, (ibidem, p. 25) combinando atributos originais e autênticos,

mas sem perder a sua “alma.”

Estes produtos, em muitas destas comunidades é parte de seu patrimônio

cultural o que nas situações em que a comunidade implanta o turismo de base

comunitária, este subsidia o turismo cultural já que no primeiro:

...a comunidade local possui um importante papel no desenvolvimento do Turismo Cultural, visto que é responsável pela transmissão dos valores culturais, assim como beneficiários de tudo o que a atividade pode proporcionar e os principais afetados pelos seus efeitos negativos. Assim surgem as discussões a respeito do turismo de base local ou comunitário e de todos os benefícios que ele pode proporcionar... (ALMEIDA; BORGES; FIGUEIREDO, 2008, p. 03).

Mendes (2006) mostra um posicionamento interessante ao relacionar

turismo comunitário e turismo convencional onde o primeiro caracteriza-se

como uma reação a não participação de populares no segundo.

Para esta autora o turismo de base comunitária acaba por tornar-se um

ato de negação que as comunidades demonstram aos grandes

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empreendimentos padronizados e ao mesmo tempo desprovidos de

autenticidade ou identidade com a localidade onde estão inseridos.

Na continuidade deste diálogo, Barbosa (2011) relata a necessidade de a

comunidade demonstrar uma posição de protagonismo frente ao turismo

comunitário valorizando-se culturalmente, reconhecendo sua identidade local e

manifestando cuidado, zelo e atitudes de preservação ambiental.

Segundo Barbosa (2011, p. 94) “para que o turismo de base local se

desenvolva é necessário, em primeiro lugar, que exista a iniciativa dos

habitantes, e que valorizem seus saberes e reforcem os poderes endógenos”.

Para tanto, Almeida, Borges e Figueiredo abordam a cultura afirmando

que:

A cultura e, por conseguinte o patrimônio cultural transformou-se em “mercadoria turística” devido à percepção de que muitos turistas buscavam conhecer o que era representativo da cultura de cada lugar, além das obras e manifestações consideradas patrimônio e, portanto bem a ser protegido. Deste modo, as peculiaridades locais vêm, cada vez mais, sendo exploradas pela atividade turística [...]. (2008, p. 03).

O Ministério do Turismo – MTur coloca que cada um desses conceitos

sobre turismo de base comunitária colocados acima, e ainda outros mais dos

mais variados autores pesquisadores do assunto podem resumir os seguintes

pontos:

• autogestão; • associativismo e cooperativismo; • democratização de oportunidades e benefícios; • centralidade da colaboração, parceria e participação; • valorização da cultura local e, principalmente; • protagonismo das comunidades locais na gestão da atividade

e/ou na oferta de bens e serviços turísticos, visando à apropriação por parte destas dos benefícios advindos do desenvolvimento da atividade turística. (2010, p. 16 – 17).

O turismo de base comunitária de acordo com a percepção de Sampaio,

Alves e Falk (2008, p. 254) pode ser dividido em três características onde a

primeira consolida-se no fato de que esta modalidade de turismo é pensada

“como um projeto de desenvolvimento territorial sistêmico (sustentável) e a

partir da própria comunidade” e, portanto a cultura enquanto “mercadoria

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turística” obtém seu agente de preservação: o próprio povo que partilha dessa

cultura seu modo de viver.

A segunda característica para os autores supracitados é que pode o

turismo de base comunitária ser considerado também um “turismo sustentável”,

pois para que seja realmente efetivado necessita de grande e contínua

quantidade de amadurecimento ético de quem o pratica e de quem o executa.

Nessa segunda característica podemos citar que a ética tem uma relação

direta com o que é certo ou errado em determinada situação e uma de suas

características mais preciosas seria inspirar o ser humano a realizar atos

socialmente adaptados promovendo seu protagonismo enquanto pessoa

humana inserido em sociedade (DUBRIN, 2003; MATTAR, 2006; HITT,

MILLER &COLELLA, 2006; ROBBINS, 2007; WAGNER III, HOLLENBECK,

2006).

A terceira característica consiste na:

Convivencialidade que é uma relação social que se interessa pelo outro, pelo diferente, pela alteridade, pela autenticidade, respeitando a simplicidade das comunidades tradicionais, suas rotinas, seu jeito de falar, cantar, dançar, comem entre outros. (Sampaio, Alves e Falk 2008, p. 254).

A simplicidade com que as atividades, os artesanatos, o plantio, a

colheita, etc., são feitas e o que se faz com esse produto encanta os visitantes

que em sai dinâmica conturbada veem certas atividades contemplativas por

exemplo como distantes de si.

É na simplicidade que se instaura a ordem, o sossego, o sentimento de

completude outrora distantes ou até perdidos daqueles que buscam nas

localidades mais ermas mais que o turismo, mas um resgate do intangível.

Tem-se como intangível principalmente o prazer e os afetos positivos

associados à realização da atividade.

São duas as preocupações visíveis no turismo de base comunitária

residindo na questão socioambiental visto que para haver o crescimento

econômico a comunidade vai ter que passar por transformações intensas, bem

como permitir a entrada do novo em uma comunidade ‘fechada’ com o mínimo

de relação intercultural e na produção associada ao turismo.

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Estudo realizado pelo Sebrae apurou que existem 117 atividades ligadas à Produção Associada ao Turismo, em diferentes ramos econômicos, nas quais as pequenas empresas terão papel decisivo e serão beneficiadas diretamente em termos de negócios, geração de empregos, desenvolvimento e consolidação no mercado. Integrar a produção associada ao turismo gera benefícios ara todos os envolvidos, pois além dos produtores, os destinos também ganham ao construírem uma oferta mais diversificada, competitiva e interessante aos turistas. [...] De acordo com o Ministério do Turismo define-se a produção associada ao turismo toda e qualquer “produção artesanal, industrial ou agropecuária que detenha atributos naturais e/ou culturais de uma determinada localidade ou região capazes de agregar valor ao produto turístico.” (MTur, 2011, p. 05)

Ainda com Ministério, os produtos associados ao turismo são aqueles que

estão diretamente ligados à economia da localidade e que devem ser

“componentes da atratividade dos destinos, qualificando e diversificando a

oferta turística”. (2011, p. 13).

Se não houver um planejamento consciente e responsável, esta

comunidade poderá como maior risco sofrer vários tipos de degradação de

natureza ambiental e social de seus recursos e cultura.

Tal planejamento deve ter como principais protagonistas os próprios

comunitários e que este pensar ecologicamente correto possa compor sua

cultura ser passado aos seus descendentes.

Para Sampaio, Carvalho e Almeida (2007) esse discurso polariza-se da

seguinte forma:

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Fonte da Ilustração 01: Adaptado de Sampaio, Carvalho e Almeida (2007)

Para estes autores (2007), a maior dificuldade está em se obter a

equidade no sistema, pois de um lado as exigências da ótica capitalista

determinam que ocorram mudanças nas comunidades no sentido de adequá-

las ao capitalismo não interessando por quais meios. Por outro lado o eco

desenvolvimento tem toda uma crítica à vida economicista e busca modelos

menos excludentes de desenvolvimento.

O importante neste processo é manter vívido na memória que o turismo

de base comunitária não tem apenas um olhar para a comunidade, existe neste

formato de turismo uma preocupação com o turista. Como já foi mencionado, o

turismo de base comunitário é sistêmico. E sendo assim, tanto o turista

necessita do TBC quanto este do turista como numa via de mão dupla. Nesse

sentido:

Nota, também, que o relacionamento entre os dois sistemas sociais, o nativo e o turístico, muda na medida em que a quantidade de turistas aumenta. Por exemplo, a hospitalidade e a reciprocidade, até o sorriso dos prestadores de serviço, são transformadas em mercadoria, encenadas. O crescimento da quantidade de turistas também leva a que estes deixem de ser individualizados aos olhos dos residentes, que passam a relacionar-se não com a pessoa do turista, mas com o estereótipo predominante no imaginário social local, sobre os mesmos. (BARRETTO, apud PI-SUNYER, 2004, p. 04)

Para Barretto (2004) na medida em que a iniqüidade se instaura no

sistema, as relações passam por transformações nos menores detalhes.

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Quando os turistas convencionais visitam uma localidade com Turismo de

Base Comunitária podem até achar bonita a cultura dos residentes, contudo,

depois de passado um tempo de absorção da mesma, critica-a e compara-a

com a sua própria ou com outras conhecidas por ele, mostrando descaso e

depreciação com o local e com os nativos.

Também é possível ter transformações no sentido inverso, a própria

comunidade degradar a localidade turística sem o cuidado e o respeito pelos

seus múltiplos patrimônios, porém o pior de tudo no turismo é o desgaste das

relações entre turistas e população residente, isto demonstrado através de

roubos, informações erradas, falta de cordialidade, descaso com as

necessidades do turista, abuso de preços dos produtos ofertados, tudo

contrário ao que se considera como hospitalidade e acolhimento.

Silva (apud Ross, 2005) revela várias preocupações com relação ao

turismo, entre estas cita o desenvolvimento econômico sem planejamento e o

deslocamento de pessoas sem avaliação dos seus impactos à vida das

pessoas e localidades tradicionais e/ou nativas.

Esse impacto humano pode ser uma das causas do aumento dos vícios,

incompreensões, descasos, negligências e outros crimes humanos que muitas

vezes são velados, sutis, que começam obscurecidos pela falácia do bem

tratar, de intenções nobres, etc.

Ao se deparar com as mazelas morais que afligem as sociedades,

podemos observar que o descaso com o ser humano que necessita de auxílio

é visto nas calçadas, esquinas, periferias, etc. A exclusão se impõe como

condição de segregação dividindo os que escolheram ter daqueles que não

tem escolhas. (SANTOS, 2006).

Overing (apud BAIER,1999) aborda a confiança como característica

relevante à Antropologia social ao analisar uma comunidade amazônica. Para o

autor as estruturas coercitivas geram uma vivência emocionalmente

empobrecida chegando a ser suportável apenas pelo fato de que já está

incutida na cultura da sociedade em que se encontra. E ao estar incutida, o que

é inaceitável para alguns é totalmente normal para outros.

Se fizermos uma transposição dessa forma de pensar para compará-la ao

turismo convencional e ao turismo de base comunitária de Mendes (2006),

chegamos à conclusão de que o turismo convencional assemelha-se mais ao

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modelo coercitivo demonstrado por Overing e Baier, e o turismo de base

comunitária mais semelhante ao modelo da confiança como base de ação.

Barretto (2004) também aponta a mesma ideia de polarização entre a

percepção do turista e do nativo contextualizando historicamente as reações de

descaso e críticas pelo lado do turista assim como de repulsa em algumas

sociedades nativas frente aos turistas.

Contudo esta também afirma que assim como existem atitudes

mediadoras e adaptativas, também existem atitudes de violência evidente na

seguinte citação:

Casos de hostilidade aberta e de conflito entre moradores locais e turistas, que requereram até intervenção policial, foram comuns na cidade de Florianópolis (Brasil) durante a década de 1990, em que houve uma grande demanda de turismo de sol e praia por parte de turistas de massa provenientes da Argentina. (BARRETTO, 2004, p. 12).

É importante, portanto, enveredar pela busca à equidade do sistema,

lembrando que esta não é estática e facilmente alcançável, mas um contínuo e

um exercício constante.

2.2 Economia Solidária em Comunidades

De acordo com Singer, (2002) a permanência do capitalismo como ditame

da ordem econômica a tanto tempo, nos faz vê-lo como um procedimento

normal. Significa então dizer que ao adotar o capitalismo como norte,

buscamos produtos e serviços competitivos e preferimos aquelas culturas que

de igual forma adotam o capitalismo como ordem econômica usual.

Este mesmo autor crê na importância de se estabelecer um novo modelo

econômico que consiga se desvencilhar do capitalismo, “em termos de

igualdade, liberdade e segurança para todos os cidadãos”. (p. 111).

Conforme Zanin e Gutierrez:

A economia solidária é um movimento social que propõe a substituição da matriz econômica sedimentada num sistema de valores baseados no lucro, na acumulação e na competição, por uma outra matriz econômico-produtiva resultante de um sistema de valores centrado no bem-estar social e na

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cooperação. [...] (2009, p. 155).

Para aqueles já habituados a um modelo capitalista e que subtraem dele

lucros financeiros para si, é muito distante da sua realidade vivenciar a

economia solidária nos moldes que as autoras nos trazem, contudo, para

aqueles que vivem sob o julgo de uma ótica capitalista e que por ela são

oprimidos, facilmente vislumbram na economia uma alternativa de crescimento

econômico e social sem perder a humanidade.

Ao contrário, pois para as autoras é através da economia solidária que se

há o resgate da exclusão, da opressão e do esquecimento de comunidades e

pessoas a elas pertencentes. Para Lechat:

O conceito economia de solidariedade aparece pela primeira vez no Brasil em 1993 no livro Economia de solidariedade e organização popular, organizado por Gadotti, onde o autor chileno Luis Razeto o concebe como: (eu cito) ‘uma formulação teórica de nível científico, elaborada a partir e para dar conta de conjuntos significativos de experiências econômicas -...-, que compartilham alguns traços constitutivos e essenciais de solidariedade, mutualismo, cooperação e autogestão comunitária, que definem uma racionalidade especial, diferente de outras racionalidades econômicas. (2007, p. 11).

Robbins, Thimothy & Sobral, (2010) demonstram em pesquisa realizada

em mais de 10 países que comunidades onde há pouca interação com os

grandes centros urbanos têm uma tendência ao cooperativismo e a realizar

atividades coletivas.

Ao passo que nos grandes centros urbanos, além do individualismo ser

mais observado, há uma tendência a competição entre as pessoas que se

inicia desde muito cedo. É estimulada nas escolas que como Patto (1990)

também afirma que é muito comum na escolarização de crianças a competição

ser estimulada tanto pelos professores quanto pelos pais das crianças.

E afirma ainda que ao não responder aos padrões socialmente aceitáveis

a criança tende a fracassar pouco a pouco.

Na comunidade a competição é menos visível e em seu lugar ações mais

voltadas ao companheirismo são comuns. A partir de Robbins, Thimothy &

Sobral, (2010) chegamos à conclusão que em locais onde a escolaridade e o

avanço tecnológico são pequenos, as pessoas são mais voltadas para as

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pessoas. E através dessas características têm maior proximidade à economia

solidária.

Sobre as associações, cooperativas e outros agrupamentos que seguem

na modalidade da economia solidária, Zanin e Gutierrez (et tal) afirmam que:

O novo cotidiano de trabalho desses grupos, pautado no trabalho coletivo, democrático e autogestionário, apresenta demandas de natureza diversa daquela que a formação e a prática vividas em contextos de trabalho e de vida forjados na e pela economia convencional capitalista. (2009, p. 46)

Conforme Patto (1990) esses mesmos grupos têm uma história de

subordinação e fracassos escolares (evasão, baixo rendimento, reprovações)

que ao longo da história de cada um foram colaborando para o aumento dos

desafios de emancipação da dinâmica capitalista.

E mais, para que se saiba o que é riqueza, o seu contrário se faz

necessário, a pobreza. Para se saber o que é pertencer a uma sociedade, se

faz necessário seu inverso, a exclusão. Para se saber quais padrões são

socialmente aceitos, no capitalismo, diríamos dicotômico, necessitamos

daqueles que vivem às margens sem cidadania e oprimidos pelo sistema

vigente.

É como se os indivíduos na sociedade já viessem predeterminados para

ser algo. Não o que querem, mas sim predeterminados a exercer um papel dito

e imposto por uma sociedade que se diz auto suficiente, e que na verdade

aliena seus indivíduos para manter sua dinâmica de opressão e exclusão. Pois

como dissemos, só sabemos quem é o rico, se houver o pobre.

Sawaia em consonância com Patto afirma que:

A educação determinaria igualmente um estilo cognitivo que utiliza clichês e estereótipos, de maneira rígida, generalizando-os a todas as pessoas de uma mesma categoria, sem levar em conta as diferenças individuais, e não é capaz de mudá-los na presença de informações novas ou contraditórias. (2001, p. 57).

Essa educação, não se remete apenas a educação formal, mas àquela

passada informalmente de pai para filho, que aleija, discrimina, exclui os menos

favorecidos fazendo os pequenos acreditarem o quão necessária é a pobreza à

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sociedade, e que estes menos favorecidos exercem mais um papel na mesma.

De um lado, sutilmente, com gestos, comentários, conclusões

precipitadas e aos poucos, crianças são educadas a incluir e deseducadas

passando assim a excluir aqueles que se mostram financeiramente aquém de

seus padrões na sociedade.

Do outro, o pobre, o excluído, o oprimido e o desempregado acabam por

se acostumar a ocupar esse papel social e se conformam com tal situação. Os

motivos pelos quais um indivíduo se conforma, podem ser explicados desde a

psicopatologia à antropologia, mas o mais preponderante aqui é entender que

sempre há um ganho seja financeiro, moral, afetivo ou social em se conformar

com um papel de vida (ROBBINS, THIMOTHY & SOBRAL, (2010).

Sendo assim, a pouca educação e ainda mais associada a baixa

qualidade nesta educação, gerações inteiras de indivíduos constituíram-se não

como seres pensantes, mas como indivíduos que nasceram e cresceram

ouvindo seus pais firmarem neles a ideia de que deveriam ser bons

trabalhadores. Não foi passada a ideia de que esses indivíduos poderiam ser

independentes e empreendedores.

Daí segundo Zanin e Gutierrez (2009) teríamos a explicação para a

dificuldade que certos grupos de camadas financeiramente mais baixas da

sociedade têm, em quebrar com o paternalismo quer seja este governamental

quer seja empresarial visto que muitos ao se empregarem e permanecerem

durante anos a fio estagnados nas empresas sempre esperam ser vistos como

trabalhadores competentes que merecem um aumento ou promoção.

De acordo com as autoras, essa concepção já está introjetada na cultura

popular dos menos favorecidos e é mais observada naqueles com menos

educação formal. Para Gaiger:

O modo de produção capitalista nasce da reunião de quatro características da vida econômica, até então separadas: a) um regime de produção de mercadorias, de produtos que não visam senão ao mercado; b) a separação entre os proprietários dos meios de produção e os trabalhadores, desprovidos e objetivamente apartados daqueles meios; c) a conversão da força de trabalho igualmente em mercadoria, sob forma de trabalho assalariado; d) a extração da mais-valia, sobre o trabalho assim cedido ao detentor dos meios de produção, como meio para a ampliação incessante do valor investido na produção; a mais-valia é a finalidade direta e o móvel

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determinante da produção, cabendo à circulação garantir a realização do lucro e a reposição ampliada do capital. O capitalismo, portanto, está fundado numa relação social, entre indivíduos desigualmente posicionados face aos meios de produção e às condições de posta em valor de sua capacidade de trabalho. (2003, p. 187-188).

E esta receita ensinada e reforçada em muitos países classificados como

em desenvolvimento, e, o Brasil é um deles, tem fundamentado formatos que

não apenas causam injustiças sociais como por exemplo a exclusão social mas

também são necessários para manter o sistema vigente. Sawaia colabora aqui

com algumas construções sobre a exclusão que devem ser consideradas:

... abordar a exclusão social sob a perspectiva ético-psicossociológica para analisá-la como processo complexo, que não é, em si, subjetivo nem objetivo, individual nem coletivo, racional nem emocional. É processo sócio-histórico, que se configura pelos recalcamentos em todas as esferas da vida social, mas é vivido como necessidade do eu, como sentimentos, significados e ações. [...] É processo sutil e dialético, pois só existe em relação à inclusão como parte constitutiva dela. Não é coisa ou um estado, é processo que envolve o homem por inteiro e suas relações com os outros. Não tem uma única forma e não é uma falha do sistema, devendo ser combatida como algo que perturba a ordem social, ao contrário, ele é produto do funcionamento do sistema. (2001, p. 8-9).

Zanin e Gutierrez (2009) e Sawaia (2001) colocam que o pobre não é

movido pela fome e pelo frio ou quaisquer necessidades básicas, mas ao ser

excluído ou ao se perceber excluído, junto com ele são excluídos seus sonhos,

seus desejos, seus anseios, suas necessidades físicas, psicológicas, morais e

éticas, seus ideias e crenças sobre si e sobre o mundo. São excluídos no

tempo e no espaço, no físico e no mental.

Em Janauari a exclusão mais observada além da espacial, foi a ética e

política. Lá os artesãos ainda permanecem sob o julgo do capitalismo voraz

que faz suas imposições de mercado e dá uns poucos ganhos financeiros e

quase nada de ganhos relacionados ao reconhecimento de seu labor e de sua

cultura expressa nesse labor, tanto que nem conseguem caracterizar as peças

produzidas como artesanato de Janauari.

Para tanto as autoras supracitadas nos trazem a economia solidária como

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uma ferramenta alternativa para a inclusão desse homem em si e no ambiente

que o circunda. Elas conceituam a economia solidária como sendo:

um movimento social que propõe a substituição da matriz econômica sedimentada num sistema de valores baseados no lucro, na acumulação e na competição, por uma outra matriz econômico-produtiva resultante de um sistema de valores centrados no bem estar social e na cooperação. (2009, p. 155).

Ainda com as autoras (2009), tais movimentos sociais não são

embasados unicamente pela vertente econômica, mas também pela vertente

psicossocial a qual influencia com a subjetividade dos sujeitos aliada à

interdependência destes para aí sim leva-los a tomadas de decisões.

A atuação da psicologia, em particular, foca seu olhar para a subjetividade singular e coletiva dos associados, bem como para a formação do processo grupal, necessário para configurar uma experiência com o objetivo de gerar trabalho e renda de maneira autogestionária e solidária (2009, p. 121).

Para Robbins, Thimothy & Sobral, (2010), Wagner III e Hollenbeck, (2003)

e Chiavenato (2006) são dois, os modelos de tomada de decisões sendo:

1. Modelo de decisão racional em que os gerentes decidem

buscando a maximização da utilidade de produtos ou serviços.

Sendo assim, os gerentes conseguem vender se produtos ou

serviços pelo maior preço com o mínimo de custo e, é exatamente

por essa ótica que os comerciantes que compram diretamente dos

artesãos veem o artesanato de Janauari.

Segundo os autores, esse modelo leva à competição e

concorrência entre os que participam dessa segmentação de

mercado, contudo, deve ser usada com cautela, visto que preda

tanto quem fornece quanto quem compra, beneficiando apenas o

intermediário que aqui no caso são os comerciantes que

revendem as peças artesanais.

2. Modelo de decisão gerencial em que os gerentes tomam suas

decisões baseados na acomodação da melhor oferta. Por este

modelo, o melhor preço para o produto ou serviço nem sempre é o

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mais alto, pelo contrário, é aquele preço em que tanto quem oferta

tem sua margem de lucro quanto quem compra sente equidade na

compra na certeza que fez uma aquisição justa.

E para que as relações comerciais de Janauari com Manaus

possam migrar para esta forma de decidir, de acordo com os

autores, ou uma negociação aberta e bem estabelecida entre as

partes deve ocorrer, ou, no pior dos casos, o mercado deverá

desgastar-se com a relação, criar uma ruptura para que se reinicie

o sistema liberto dos vícios relacionais do passado.

A diferença entre esses dois modelos segundo os mesmos autores acima

é que o modelo de decisão racional compreende o que os gerentes devem

fazer e o modelo de decisão gerencial compreende o que os gerentes

realmente fazem. Singer prossegue sua construção abordando a competição

dizendo:

A competição é boa de dois pontos de vista: ela permite a todos nós consumidores escolher o que mais nos satisfaz pelo menor preço; e ela faz com que o melhor vença, uma vez que as empresas que mais vendem são as que mais lucram e mais crescem, ao passo que as que menos vendem dão prejuízo e se não conseguirem mais clientes acabarão por fechar. (2002, p. 07).

Uma nota importante deste autor (2002) é que na atualidade não há

concorrência no mercado capitalista visto que o mesmo é dominado por

oligopólios e que esta concorrência é visível apenas no mercado varejista.

E a partir desta ótica bipolarizada entre os que vendem e os que abrem

falência observamos o crescimento da desigualdade econômica nos mais

diversos ambientes empresariais, que vão desde as empresas familiares até as

grandes multinacionais. Para Araújo e Gelbecke,

A crise econômica envolvendo o petróleo nos anos 1970, e as discussões sobre os custos socioambientais das dinâmicas de crescimento, ancoradas na produção industrial e tecnológica, promoveu discussões em torno de outro modelo de desenvolvimento, capaz de diminuir as desigualdades entre territórios e levar em conta a relação entre as dimensões social, econômica e ambiental. (2008, p. 360).

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De acordo com os autores acima a competição desleal e sua

consequência: a crise econômica mundial acabou por instalar uma série de

bulas econômicas, ditadas pelos países nomeados desenvolvidos por muitos

analistas aos países nomeados menos desenvolvidos ou em desenvolvimento.

Tal crise é abordada por Santos (2000) com mais profundidade quando o

autor afirma ser o consumo voraz o verdadeiro fundamentalismo da crise e que

este consumo divide a população mundial em duas: Aqueles que não comem e

aqueles que não dormem por medo das reações daqueles que não comem.

Max-Neef, aponta alguns indicadores que podem elucidar a gênese da

crise na América Latina: En lo politico, la crisis se ve agudizada por la ineficacia de las instituciones politicas representativas frente a la accion de las elites de poder financiero, por la internacionalizacion creciente de las decisiones politicas y por la falta de control que la ciudadania tiene sobre las burocracias publicas. Contribuyen, tambiin, a la configuracion de un universe politico carente de fundamento etico, la tecnificacion del control de la vida social, la carrera armamentista y la falta de una cultura democratica arraigada en las sociedades latinoamericanas. En lo social, la creciente fragmentacion de identidades socioculturales, la falta de integracion y comunicacion entre movimentos sociales, la creciente exclusion social y politica y el empobrecimiento de grandes masas, han hecho inmanejables los conflictos en el seno de las sociedades, a la vez que imposibilitan las respuestas constructivas a tales conflictos. En lo economico, el sistema de dominacion sufre actualmente cambios profundos, donde inciden de manera sustancial la mundializacion de la economia, el auge del capital financiero con su enorme poder concentrador, la crisis del Estado de Bienestar, la creciente participacion del complejo militar en la vida economica de los paises, y los multiples efectos de las sucesivas oleadas tecnologicas en los patrones de produccion y consumo. (1986, p.09).

O primordial na fala de Santos é perceber que os países denominados

desenvolvidos estão preocupados apenas em evitar que a crise econômica -

imposta por eles aos países denominados menos desenvolvidos ou em

desenvolvimento - não chegue em suas fronteiras.

Ao abrir espaço para tal discussão em fóruns mundiais, por exemplo, de

quais medidas econômicas seriam mais eficazes aos países em crise, não

haveria, portanto, uma ação de solidariedade, mas uma ação baseada em um

olhar unilateral o qual só vê as condições econômicas dos primeiros países.

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Para Singer,

A solidariedade na economia só pode se realizar se ela for organizada igualitariamente pelos que se associam para produzir, comerciar, consumir ou poupar. A chave dessa proposta é a associação entre iguais em vez do contrato entre desiguais. Na cooperativa de produção, protótipo de empresa solidária, todos os sócios têm a mesma parcela do capital e, por decorrência, o mesmo direito de voto em todas as decisões. [...] Ninguém manda em ninguém. E não há competição entre os sócios: se a cooperativa progredir, acumular capital, todos ganham por igual. (2002, p.09).

Esta relação de mutualidade entre os sócios na empresa solidária é

chamada por interdependência para Robbins, Thimothy & Sobral, (2010),

Wagner III e Hollenbeck, (2003) e Chiavenato (2006). De acordo com estes

autores a interdependência parte do pressuposto que ambos dependem

mutuamente.

Comparemos então dois modelos de interdependência sendo o primeiro

baseado no que já existe no capitalismo e o segundo um modelo baseado na

economia solidária:

O Modelo Agrupado como adequação teórica a uma empresa única e

exclusivamente capitalista, em que há geração de desigualdades e iniquidades

sociais nas relações. Neste modelo de interdependência é possível observar a

presença de um líder ao qual os funcionários prestam subordinação e

conformidade diante das decisões tomadas.

O Modelo Inclusivo como adequação teórica a uma empresa em que

todos dependem de todos em suas atividades diárias, todos compartilham de

angústias, acertos e desacertos organizacionais.

Não há a presença evidente de um líder, pois de acordo com os autores

acima, não há essa necessidade já que todos assumem a responsabilidade de

levar a frente às atividades.

Para visualizarmos melhor, na figura abaixo é possível observarmos como

seria a interdependência agrupada e a inclusiva:

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Robbins, Thimothy & Sobral, (2010), Wagner III e Hollenbeck, (2003) e Chiavenato (2006),

adaptado pela pesquisadora.

Em um agrupamento inclusivo, nomeado como solidário por Baró (1989,

p. 15) consiste: “El hecho de que todo grupo canalice unas necesidades o

intereses no quiere decir que cada grupo responda a las necesidades o

intereses de aquellas personas que lo componen.” Para tanto, cabe ao grupo a

decisão da interdependência que está mais de acordo com suas necessidades.

Baró apud Zanin e Gutierrez afirmam que:

a práxis do grupo está relacionada aos condicionamentos da história e às condições da realidade social no qual este se insere. A organização do grupo é delimitada pela definição clara e objetiva de pessoas para realizar as funções e as tarefas do trabalho grupal, sendo este fator fundamental para a sua consolidação ou não. (2009, p. 123).

De acordo com Robbins, Thimothy & Sobral, (2010), Wagner III e

Hollenbeck, (2003), Chiavenato (2006) e Baró (1989) o poder e a conformidade

ao poder surge nos agrupamentos onde a necessidade grupal ora seja de um

líder ora seja de liderados.

Para esses autores só há liderança no momento em que há a

necessidade de um líder e este só exercerá poder na medida em que o grupo

assim o permitir. Desta forma, o fenômeno do poder está condicionado ao

fenômeno da liderança e este por sua vez condicionado ao fenômeno da

formação grupal.

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Vejamos a liderança autoritária, por exemplo, onde um grupo que se

apresenta conformado em aceitar essa modalidade, afirmam os autores

supracitados, não necessariamente é considerado um grupo que vive na

opressão posto que mesmo em uma liderança autoritária há ganhos para

ambas as partes.

No momento em que apenas uma das partes se beneficia – e daí se faz

presente a opressão – a iniquidade se instala no sistema e este se desfaz. Mas

se mesmo em uma liderança autoritária, o líder manda e os liderados

obedecem sem questionar, ou porque não conhecem a possibilidade de

reivindicar seus direitos ou porque não se sentem tratados com injustiça, a

liderança permanece e o sistema funciona naturalmente.

Os autores concluem que só há liderança se houver liderados que a

aceitem e se conformem ao estilo de comando vigente.

Os benefícios recebidos por um determinado líder ou grupo líder

conforme Baró apud Zanin e Gutierrez “aparecem nas suas relações concretas

com outros grupos e com a sociedade e o seu fortalecimento está diretamente

relacionado à sua capacidade de dispor de recursos materiais, culturais e

humanos”. (2009, p.123).

As autoras afirmam não ser fácil “construir a organização autogestionária

de um grupo, pois os trabalhadores trazem consigo, internalizado, o modelo de

produção tradicional, do capitalismo” (2009, p. 124).

E como já foi mencionado, essas internalizações muitas vezes estão

enraizadas de tal forma que se passam muitos anos até que uma mudança

significativa seja percebida.

Só que para elas a economia solidária quebra este paradigma, pois todos

ganham igualitariamente pelo trabalho realizado e assim deixam de ser

subalternos para ser sócios.

Com esta mudança de percepção, o trabalhador não ganha apenas sua

independência financeira, mas sua autoestima cresce, seu autoconceito de

torna positivo, sua forma de ver o mundo ganha um vislumbre de que os

sonhos são possíveis e de que há saída para aqueles que padecem com a

exclusão e opressão.

Para Sawaia, “as mudanças dos nexos têm origem no social e no coletivo,

vividos como intersubjetividade e medidas pelos significados sociais”. (2001, p.

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12).

Desta forma, as mudanças de uma economia puramente financeira para

uma economia solidária, acontecerão na medida em que estas mudanças se

deem do indivíduo para o grupo, do grupo para a sociedade e na medida em

que todo o sistema se retroalimente iniciando novamente este ciclo.

A atuação da psicologia no processo de incubação, em conjunto com as demais áreas, objetiva diminuir o sofrimento ético-político dos trabalhadores mediante a geração de trabalho e renda, com dignidade e solidariedade, potencializando-os para a conquista da cidadania. (2009, p. 122).

Sendo assim a intersubjetividade é característica marcante no vivenciar

as comunidades e suas rotinas, as ciências devem trabalhar interdisciplinares

para conseguir abarcar o mundo fenomênico que essas rotinas exprimem nas

comunidades, e entender que tudo o que for feito não é para a comunidade,

mas feito com a comunidade.

De acordo com Sawaia,

Nenhuma ação é desencadeada sem uma base emocional. Agir não é apenas fixar um objetivo racional. É colocar em funcionamento um poder de imaginação. Cidadania é consciência dos direitos iguais, mas esta consciência não se compõe apenas do conhecimento da legislação e do acesso à justiça. Ela exige o sentir-se igual aos outros, com os mesmos direitos iguais. Há uma necessidade subjetiva para suscitar a adesão, a mobilização, tanto quanto condições para agir em defesa destes direitos (1994, p. 152).

É neste tom que o turismo lança mão de outras áreas do conhecimento e

ao beber em outras ciências se torna uma alternativa para as localidades

rurais, ribeirinhas e porque não as urbanas também, no sentido de contribuir

para a conquista da cidadania que as autoras supracitadas colocam como

consequência da união comunidade/ciência.

Ainda mais na atualidade onde a crise não é só financeira como afirma

Max-Neef (1986), mas também social, humana e ético-política como afirma

Baró (1989) e Sawaia (2001).

Esta abarca vários aspectos importantes do homem, “abrange múltiplas

afecções do corpo e da alma que mutilam a vida de diferentes formas” (p. 121).

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Araújo e Gelbecke afirmam que:

O enfoque de Turismo Comunitário, [...], tem como fundamento o reconhecimento da crise socioambiental contemporânea, implicando urgência da reflexão sobre os estilos de vida vigentes e sua relação com a base de recursos naturais (2008, p.362).

Compreender a mobilidade e abrangência da crise é de fundamental

importância, pois quando se une a economia ao turismo sob essa ótica,

percebe-se o quanto o quanto há de interligação entre todos os envolvidos no

processo do TBC.

Para os autores a pouco citados,

É justamente no setor terciário, onde se insere a atividade turística, que se revela o potencial do Turismo Comunitário para a geração de emprego e renda, por se caracterizar como uma proposta que visa integrar outros setores produtivos – preferencialmente os associados às formas solidárias e éticas de economia – e estar ajustado às necessidades socioambientais de curto e longo prazo. (ARAÚJO e GELBECKE, 2008, p. 363).

Na comunidade de Janauari, é observável que apesar de haver certa

contenção entre o que é Manaus e o que é Janauari e de como os comunitários

são conscientes entre o que é deles e o que é da capital, mesmo assim, sofrem

com as imposições dos revendedores de suas peças.

Tais imposições se inserem no campo da produtividade, acabamento e

precificação. Ao refletirmos sobre tais imposições percebemos o quanto o

enfoque é majoritariamente econômico e minoritariamente humano.

O que interessa mais uma vez afirmamos é o bem estar econômico das

empresas que comercializam o artesanato e não as pessoas que o fabricam.

Voltar o desenvolvimento para a escala humana e o turismo para benefício local significa adotar políticas que possam ocasionar trabalho e ocupação para todos, tanto quanto atuar no campo da proteção social, e de programas emergenciais quando necessários; mas requer, sobretudo, o homem no centro do poder, de forma que possa promover a sua realização. (CORIOLANO, 2003, p. 30).

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Tomar o poder pra si significa entre outras palavras, tornar-se

protagonista de seu próprio destino, mesmo que compartilhado a outros, mas

preservar sua individualidade e poder escolher das suas decisões.

Não significa aqui que todas as decisões serão racionais e acertadas,

significa dizer aqui que as decisões tomadas, sejam racionais, emocionais,

intuitivas ou pensadas partem de uma mente consciente e cognoscente, que

tanto sabe o que faz, como pensa sobre o que faz.

Lima, Ayres e Bartholo (2009, p.07):

Mais uma vez, pode-se reconhecer o contexto de desenvolvimento do turismo como um ambiente multidimensional em que o empoderamento de uma comunidade é caracterizado pela convergência de vários fatores: atuação de agentes/especialistas externos ao contexto local; interesse da comunidade para aprender e decidir sobre suas escolhas; capacidade de implementação das decisões comunitárias; responsabilização pelos resultados positivos ou não das opções feitas.

Para Robbins, Thimothy & Sobral, (2010), é válido ressaltar que tornar-se

responsável pelos resultados positivos ou não como cita o autor, torna o

comunitário mais atento às suas atitudes e às consequências dessas atitudes

diante dos outros comunitários.

Frente a esta questão, a equidade no sistema ocorre quando as relações

sociais são percebidas como justas tanto para quem exerce a ação quanto

para quem recebe os efeitos desta ação.

Na divisão do trabalho por baixo, o que se produz é uma solidariedade criada de dentro e dependente de vetores horizontais cimentados no território e na cultura locais. Aqui são as relações de proximidade que avultam, este é o domínio da flexibilidade tropical com a adaptabilidade extrema dos atores, uma adaptabilidade endógena. A cada movimento novo, há um novo reequilíbrio em favor da sociedade local e regulado por ela. (SANTOS, 2000, p.71)

Em Janauari é observável tanto uma tradicionalidade na confecção de

certas peças como as carrancas que são máscaras tribais feitas somente em

Janauari. E observamos certa adaptabilidade já que na medida em que o

mercado consumidor muda e pede peças diferenciadas com trançados e

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materiais diferenciados, os artesãos se moldam buscando atender a essa

necessidade.

Fica então sob a responsabilidade da comunidade passar aos artesãos

que iniciam seu labor, as tradições de se confeccionar um artesanato típico e

regionalizado.

2.3 A Psicologia Comunitária: Conceitos e Principais Aspectos

Durante toda a trajetória histórica percorrida pela psicologia, em que

várias correntes filosóficas, sociais, e de outras ciências auxiliaram-na em sua

consolidação como ciência, surgiram em concomitância a este paralelo, novas

áreas de atuação e aplicabilidade dos conhecimentos psicológicos como forma

de promover no ser humano o autoconhecimento e sua melhor adaptação à

sociedade.

Ainda nos primórdios, as grandes escolas psicológicas marcaram a

entrada da psicologia nos meios mais elitistas da sociedade, já que eram os

que mais procuravam e podiam arcar com o ônus de tratamentos psiquiátricos

e psicológicos prolongados e de maior severidade ao paciente.

Contudo, sabe-se que a afecção mental não se relaciona à classe social,

ou qualquer outra designação de raça, credo, intelecto ou ideologia. Para tanto,

dentre as várias áreas de atuação, uma das mais populares e aplicadas nos

serviços públicos constitui-se de uma psicologia que tem como foco a

comunidade.

No Brasil, a trajetória do saber-fazer da psicologia em relação à comunidade iniciou-se em meados dos anos 60 e sofreu transformações teóricas, epistemológicas e metodológicas importantes neste espaço de tempo relativamente curto, o que resultou na diversidade que hoje pode ser encontrada com respeito ao desenvolvimento dos trabalhos dos/as psicólogos/as nas comunidades. (STREY, 2002, p. 241).

Tal área da psicologia vem em resposta ao grande número de populares

que viviam em “condições concretas, extremamente difíceis, que produziam tal

repercussão que tornaram esses intelectuais mais sensíveis às problemáticas

presentes nesses segmentos sociais” (CAMPOS, 1996, p. 64).

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Bock cita que:

...as pessoas, normalmente, têm um domínio, mesmo que pequeno e superficial, do conhecimento ..., o que lhes permite explicar ou compreender seus problemas cotidianos de um ponto de vista... Existe um domínio da vida que pode ser entendido como vida por excelência: é a vida do cotidiano. É no cotidiano que tudo flui, que as coisas acontecem, que nos sentimos vivos, que sentimos a realidade. (1999, p. 19)

Os psicólogos deixam seus consultórios e passam a percorrer novos

espaços, consolidando práticas diferentes e invertendo o processo de busca e

procura do serviço terapêutico. Sendo assim, ele se torna um agente de

mudança que advoga em prol da deselitização da psicologia e também do

maior envolvimento de outras áreas da rede social e política de apoio aos mais

necessitados (CAMPOS, 1996).

Conceitua-se psicologia social então como sendo um ramo da psicologia

que une conceitos da psicologia e da sociologia encaminhando seus estudos

dentro de um enfoque grupal, observando, descrevendo, intervindo e

adaptando o comportamento grupal à sociedade. (ROBBINS, THIMOTHY &

SOBRAL, 2010 e WAGNER III, 2006).

Além dessas temáticas de estudo, a psicologia social atua intimamente

ligada à psicologia comunitária que tem objetivos focados nas comunidades

como sua formação, desenvolvimento, estudo de grupos marginais, excluídos

muitas vezes da sociedade ou por estigma ou por geografia, inclusão ou re-

inclusão social, etc.

Conforme Campos (op. Cit.) a psicologia comunitária se diferencia em

muito de qualquer ação assistencialista, pois promove o trabalho com grupos

auxiliando e colaborando para uma formação crítica da consciência e de uma

identidade social.

Gomes (1999) conceitua a prática do assistencialismo como identificação

da Psicologia com obras caritativas e assistências, que alimentam a

dependência da comunidade.

Ao fim deste processo, que pode levar décadas já que é atemporal, e

somente se houver desenvolvimento comunitário reconhecido e perceptível,

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podemos dizer que a psicologia comunitária orienta os comunitários ao

desenvolvimento moral e ético.

Francescato apud Fernandes afirma ser:

... a comunidade é aquele tipo de ambiente, de campo psicológico e social no interno do qual somos capazes de desenvolver um sentido de pertença, uma vivência de mútua partilha, uma possibilidade de relação com outras pessoas. (2000, p. 226)

Contudo, o que faz as pessoas se relacionarem em comunidade? O

princípio de que o homem apresenta-se como um ser social e gregário inicia a

resposta ao questionamento. Para Sennet, (2005) a vontade e necessidade de

pertencer um grupo comunal ou comunidade, expressa mais que o simples

pertencer, mais ao identificar-se com.

Desta forma para este autor, a significação de comunidade nos remete ou

conceito de auto-proteção, lar, porto seguro, onde os indivíduos se sentem em

casa.

É neste sentido que as comunidades se formam, se agregam e para que

permaneçam unidas muitas vezes devem tolerar as diferenças entre os

indivíduos sejam estas no campo das opiniões ou no modo de viver.

A convivência nasce da construção de uma relação. (SENNET, 2005). E

ainda Aldelson apud Fernandes caracteriza cinco aspectos inter-relacionados

das comunidades que são:

1. A comunidade como grupo em que há uma intensa e

íntima partilha de ideias e de sentimentos; 2. A comunidade como um lugar no tempo e no espaço; 3. A comunidade como pertença cultural e destino partilhado; 4. A comunidade como «sistema de sistemas»; 5. A comunidade como civitas, com os respectivos direitos e

deveres dos cidadãos. (2000, p. 227).

Para tanto, seguindo a linha de pensamento dos autores supracitados,

essa intensa e íntima partilha de ideias e de sentimentos, juntamente com sua

localização e caminhada ao longo do tempo, contribuem para a

interdependência entre os comunitários.

Após essa vinculação a constituição da cultura que de acordo com

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Robbins, Thimothy & Sobral, (2010) e Wagner III e Hollenbeck, (2006) apontam

que além de fornecer identidade a essa comunidade e aos seus comunitários,

torna possível a sistematização de regras comunais representadas inicialmente

por um código de conduta não escrito, mas que é passado de geração a

geração e formalmente estabelecido como as regras morais da comunidade, ou

ainda suas leis escritas e estabelecidas como aplicáveis a todos os

comunitários.

Essas regras que são pertencentes à cultura - citada pelos mesmos

autores como dominante - são reforçadas a cada dia nas rotinas comunitárias

laborais.

Mesmo sendo em trabalhos e ações simples, sem uma linha ou cadeia de

produção nos moldes do Polo Industrial de Manaus, por exemplo, essas regras

pertencentes à cultura levam aos artesãos a criação e manutenção de seus

hábitos laborais.

A linha de pensamento que os autores nos conduzem, mostram que não

é a maior cultura (em termos de números de habitantes) que se perpetua, mas

aquela que apresenta mais características enraizadas na história do povo.

Sendo assim, a cultura de Janauari está para aquele povo como a cultura

dominante e os comerciantes da capital como uma cultura paralela. Tanto que

ao se sentirem cansados, por exemplo, os artesãos param de trabalhar e se

dedicam às suas rotinas pessoais enquanto moradores da vila.

E de acordo com o líder do artesanato esse comportamento é mal visto

pelos comerciantes da capital. Estes últimos se comportam feito os gerentes

citados por Wagner III e Hollenbeck, (2003) como sofrendo da falácia do

espelho.

Nesta forma ilustrativa de explicar o fenômeno, os autores citam que os

gerentes se comportam de uma forma específica e cobram de seus

subordinados comportamentos em igual performance.

Contudo quando os autores citam a palavra falácia é exatamente

abordando a frustração dos gerentes ao se depararem com a diversidade da

mão de obra trabalhadora e com ela uma multiplicidade de comportamentos e

formas de decidir sobre os mais variados acontecimentos organizacionais.

Assim, para Robbins, Thimothy & Sobral, (2010) os seguintes aspectos

compõe a diversidade da mão de obra: Gênero; Portadores de Deficiência;

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Origem; Idade; Raça e Etnia; Religião; Estabilidade no Emprego e Orientação

Sexual.

Para estes autores são muitos os desafios que os gestores enfrentam

hoje com o consumo voraz, e, essa urgência em produzir acaba por ser

repassada àqueles que fornecem insumos, matérias primas e produtos em

geral.

No caso de Janauari, os comerciantes para quem os artesãos vendem,

estipulam prazos curtos para a produção e exigem melhoramentos na

qualidade das peças. Todavia acabam por serem vitimados pela falácia do

espelho onde ao esbarrar na diversidade da mão de obra e por traz dela a

cultura desse povo, não conseguem impor suas exigências mercadológicas.

Robbins, Thimothy & Sobral, acreditam ser a diversidade um aspecto

positivo da dinâmica organizacional se bem administrada, contudo pode se

tornar negativo se o empreendedor, líder, gerente ou qualquer que seja a

nomenclatura de hierarquia não souber manejar essa diversidade a seu favor e

a favor dos objetivos organizacionais:

A maior parte das organizações contemporâneas está organizada em torno de grupos de trabalho. [...] Dessa forma, faz sentido perguntar: a diversidade ajuda ou atrapalha o desempenho de um grupo? A resposta é: ajuda e atrapalha. Alguns tipos de diversidade podem prejudicar o desempenho do grupo, já outros potenciam esse desempenho. [...] Independentemente da composição de um grupo, as diferenças podem ser alavancadas para se obter um desempenho superior. (2010, p. 54).

Ainda citam que dependendo do líder e, se este conseguir captar as

características de cada membro, poderá elevar o potencial de produção,

cidadania com o trabalho, satisfação e criatividade.

Em Janauari a diversidade é naturalmente comum. Observamos a

diversidade tanto nas pessoas, quanto em seu artesanato. São muitas as

técnicas utilizadas em algumas peças. Claro que existem as peças tradicionais

como, por exemplo, as carrancas e as flautas, mas brincos, colares, arranjos

de cabelo são trançados muitas vezes apenas substituindo o que era pra ser

uma peça de plástico ou vidro ou ainda cristal pelas sementes, espinhos,

madeiras, penas, etc.

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Esta expressão da subjetividade individual de cada artesão associada a

intersubjetividade entre eles e com o além comunidade faz da diversidade um

ponto positivo ainda inexplorado em sua totalidade.

Fernandes cita que:

o termo «comunidade» em psicologia comunitária não se refere ao estudo da comunidade enquanto entidade específica, mas à prática de estudar as relações entre o indivíduo e as suas instituições sociais na comunidade. (2000, p. 228)

E também neste sentido que turistas buscam o turismo comunitário

justamente por ser uma prática que estimula o contato com o outro e desse

contato uma relação de afetividade e aprendizado de quem é o outro e de

quem sou eu. A afetividade gera saúde mental visto que resgata as

características de pessoa humana que no correr das grandes cidades é perdido

ou esquecido por muitos e o aprendizado leva ao respeito pelo outro, a

conservação do patrimônio cultural e ambiental da localidade.

De acordo com Lancman e Uchida citando Sennet “a instabilidade criada

pela nova lógica de acumulação do capital – chamada por ele de capital

“impaciente”- vem corroendo o caráter das pessoas” (2003, p.81).

Esta relação marca interações sociais que podem se ocorrer de várias

formas: Ora exaltando a união ora objetivando o conflito, de certo, que só se

unem ou se conflitam pessoa estando em dois ou mais. Portanto a união e o

conflito pressupõe coletividade.

De acordo com (Bleger apud Maclver e Page, 1992, p.85) “onde quer que

os membros de um grupo pequeno ou grande vivam juntos de tal forma que

todos participam... das condições básicas da vida em comum, aí existe

comunidade”.

O turismo de base comunitária propicia essa vivência da vida em comum,

das particularidades pertencentes a um destino turístico ao qual o visitante não

verá apenas o seu esplendor, mas o experimentará absorvendo-o por todos os

seus sentidos.

E esse é um diferencial interessante desta modalidade de turismo, pois

insere o visitante na história da localidade como um ator pertencente a ela

mesmo que por um breve pernoite.

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Gomes (1999) descreve as relações de reciprocidade entre as pessoas e

a comunidade da seguinte forma:

Fonte: Gomes, 1999. Adaptado pela pesquisadora.

Através do fluxograma acima, nos é possível observar a função protetiva

da comunidade à pessoa no que lhe diz respeito a sua integridade psicossocial.

Em função desta proteção e identidade estabelecidas pela comunidade uma

vez que reconhece na pessoa semelhança a si própria, esta última apreende o

significado de família, de regras sociais e principalmente de seu papel

enquanto pessoa pertencente a um grupo.

Baró conceitua grupo como:

Grupo es uma familia y el conjunto de nuestros amigos, grupo son los alumnos de una escuela , los bañistas em una playa, los soldados de um batallón y los membros de una determinada clase social. Todas estas entidades humanas tienen en común el que involucran a varias personas; pero, fuera de la pluralidade de individuos, es difícil encontrar algún elemento común a todas ellas. Grupo es, por tanto, un término muy abstracto que remite a realidades diferentes. (1989 p. 198)

Este autor ainda coloca seis critérios para se definir um grupo que são: A

percepção dos membros; Uma motivação compatível entre os membros; Metas

comuns; Organização grupal; Interdependência e Interação. Estes critérios são

aplicáveis em qualquer tipo de grupo inclusive nos organizacionais.

Spector (2002) conceitua grupo de uma forma mais específica ao

contexto organizacional. Diz ser o conceito de grupo de trabalho a união de

pessoas com um objetivo ou com objetivos em comum que compartilham

As  pessoas  oferecem  contribuições  como: •  Interesses •  Sentimentos •  Crenças •  Atitudes •  Agregação  de  valores  morais •  Utilização  de  conhecimentos  

populares  e  de  senso  comum

As  comunidades  oferecem: • Senso  de  pertencimento • Educação  da  cultura  popular • Segurança   • Ambiente  familiar • Reconhecimento  comunitário • Participação  nas  decisões  

comunitárias

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atividades de trabalho, responsabilidades e todo o ônus que o trabalho trás

consigo.

Por outro lado e até em resposta a interdependência iniciada a partir da

interação dos atores sociais, a pessoa retribui a comunidade com a agregação

de valores, interesses pelos pares, compactuando suas crenças, atitudes,

discernimentos e julgamentos das mais variadas situações que ocorrem em

seu cerne.

Exatamente nessa retribuição, que a pessoa inserida no grupo inicia uma

formação de senso comum para explicar aos seus pares tudo o que ocorre em

termos de fenômenos e experiências que de outra forma não poderiam ser

explicados.

Bleger (1992, p.83) define a comunidade como “um conjunto de pessoas

que vivem juntas, no mesmo lugar e entre as quais há estabelecidos certos

nexos, certas funções em comum ou certa organização”.

E este construto nos faz observar esta certa organização em Janauari

quando a comunidade se faz valer de uma associação dos comunitários

residentes e de outra associação focada apenas nos artesãos da comunidade.

São pessoas que possuem os mais variados motivos de se aglomerar em

comunidade. Seja por proximidade geográfica, êxodo, imigração ou laços

parentais, as pessoas que se reúnem em comunidade, devem se permitir

vivenciar o processo de coletivismo com muito mais proximidade e intensidade.

Em concordância com Bleger,

Fica claro, também, que as relações podem ser diferentes, até mesmo contraditórias, dependendo do momento. É importante, então, ver quais são as que mais se manifestam; a intensidade com que se mostram; sua abrangência e generalização. Torna-se evidente, ainda, que é extremamente difícil, senão impossível, quantificar essas relações. (CAMPOS 1996, p.84)

São relações construídas por vidas inteiras sistemicamente influenciando

e sendo influenciadas em um aglomerado de momentos que edificam a cultura

e as tradições dos comunitários.

2.4 A Formação da Identidade Social e a Psicodinâmica do Trabalho

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Para Del Prette (2003), é no grupo que os indivíduos aprendem a

primeiras noções de crenças, mobilidade ou estratificação, autoestima e

autoconceito. Também é no grupo que estes indivíduos modelam os

comportamentos daqueles considerados pelo grupo como comportamentos

fora de seus padrões comportamentais aceitáveis.

“O grupo é, também, a base para a formação de sua identidade social,

juntamente com as crenças e comportamentos a ela associados.” (2003, p.

125).

Baró afirma que:

Un grupo es, en primer lugar, una estructura social. El grupo es una realidad total, un conjunto que no puede ser reducido a la suma de sus constitutivos. [...] La totalidad del grupo supone unos vínculos entre los indivíduos, una relación de interdependencia que es la que establece el carácter de estructura y hace de las personas membros. (1989, 206).

Assim sendo, este autor vai além e qualifica o grupo não como um

aglomerado de pessoas, mas como interações de subjetividades

dinamicamente plásticas que sistemicamente se moldam às necessidades uns

dos outros.

Para este autor o que une pessoas em um grupo é a afetividade e as

semelhanças de objetivos, ideais, crenças, anseios, etc.

Apenas a reunião de uma família, afirma o mesmo não constitui

plenamente o que é uma família, pois, há além do físico o metafísico, em

outras palavras, o que representa esse conjunto para cada membro e para os

de fora dele.

Exemplifica ainda que um batalhão de soldados não é apenas um grupo

de pessoas, mas toda a significação do que ser soldado, estar em um batalhão

e o que este representa à sociedade que protege.

Tanto a família quanto os soldados, idealizam e têm suas representações

mentais de seu papel na sociedade a partir do que representa sua colocação

social. Desta forma, os indivíduos formam seu autoconceito de acordo com o

que pensam de si somado ao que a sociedade diz ser aceitável àquele papel.

A formação da identidade social está relacionada a processos cognitivos de busca de compreensão do ambiente. Ao organizar seu ambiente, o indivíduo formula um esquema

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classificatório, ou seja, separa objetos ou pessoas com base em uma ou mais características comuns. (2003, p. 125).

No processo de tornar-se um ser concreto, maduro e plenamente

desenvolvido, o ser humano passa por diversas mudanças e vivências em sua

vida que moldam sua forma de pensar e de se comportar diante das situações

diárias.

Para abordarmos a psicodinâmica laboral, primeiramente devemos

introduzir o assunto com algumas considerações primárias à essa construção.

Mesmo que apenas idealizado na mente de seus progenitores, o homem

se vê divido pelo dilema: ser o que realmente é e ser o que esperam que seja.

De acordo com Papalia, Olds e Feldman (2000) este dilema é eternalizado em

todos os seus períodos de desenvolvimento biopsicossocial.

Mesmo no útero materno o ser humano já passa por uma associação e

idealização materna e paterna de como será entre suas características físicas e

comportamentais.

Para Lancman e Uchida:

A criança, inicialmente, é susceptível à angústia dos pais, principalmente aquela com a qual os pais têm dificuldades de lidar. Ao vivenciá-la passa a senti-la como se fosse sua, pois nesse momento de sua vida não tem condições de distinguir o que é seu e o que é dos seus pais. (2003, p. 84)

Na adolescência o indivíduo passa por mais uma crise de seu

desenvolvimento psicossocial que de acordo com Erikson citado por Morgado

nos cabe a preocupação que:

[...] fascinados e absorvidos num mundo de invenções mecânicas e de poder de compra os pais escapam à formidável questão do novo significado das gerações num universo tecnológico. [...] enquanto uma nova ética não alcançar o progresso, pressentimos o perigo de que os limites da expansão tecnológica e da afirmação nacional talvez não sejam determinados por fatos ou considerações éticas conhecidas ou, em resumo, por uma certeza de identidade mais por uma caprichosa e despreocupada verificação do alcance e do limite da supermaquinária que, assim, tomam lugar que, em grande parte, cabia à consciência humana. (2001, p. 03)

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Essa preocupação se dá por ser a família a primeira célula de contato

social a que o indivíduo é exposto e é exatamente da interação com esta

família somada à interação com a sociedade ou com a comunidade que o

indivíduo forma sua identidade própria, a qual podemos observar com mais

clareza na figura que segue:

Fonte da Ilustração 02: Morgado 2001, adaptado pela pesquisadora. Esta intersecção com o passar das experiências vivenciadas aumenta e

aprofunda-se formando um construto muito maior chamado por Bock et. al.

(1999), Wagner III e Hollenbeck (2006) e Robbins, Thimothy e Sobral (2010) de

personalidade, que compõe todas as características que diferenciam os

indivíduos.

Nela existem atributos referentes à constituição, temperamento,

inteligência, caráter, afetividade, cognição, fisiologia, valores, sentimentos

dentre outros.

Estes atributos primeiramente moldados pela família passam justamente

no período da adolescência por uma reavaliação que vai desde o plano físico

ao qual Aberastury e Knobel (1988) nomeiam de luto pela perda do corpo

infantil e ao processo todo de adolescência normal até o plano psicológico e

social.

É comum de acordo com esses autores (1988), o indivíduo adolescente

agrupar-se com outros de mesma idade, condição social ou ideologia. E ao

fazer essa migração grupal, muitas vezes deixa o seio familiar para aventurar-

se mundo a fora.

Contudo, ainda com os autores (1988), o adolescente que obteve de seus

pais referenciais de família sólidos e bem estabelecidos, apesar de não estar

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mais em convívio familiar, não rompe seus laços afetivos, tendo em sua família,

seu porto seguro. A esse aspecto, Lucchiari:

A família é a célula social responsável pela transmissão

da ideologia dominante, dos valores morais, dos pensamentos e da cultura, o elo intermediário entre o social e o indivíduo e, o jovem é o resultado dessa relação da família com a sociedade. (2002, p. 53)

Durante esse processo o indivíduo processa sua identidade mediante a

escolha de quais comportamentos são preferíveis a outros tanto na família

quanto na sociedade.

E a influência recebida pela sociedade pode muitas vezes ocasionar

conflitos relacionais desse indivíduo com suas figuras de autoridade paterna ou

materna.

Paralelo a este desenvolvimento social caminha o desenvolvimento moral

que de acordo com Bataglia, Morais e Lepre: “Os estágios de raciocínio moral,

propostos por Kohlberg, são de raciocínio de justiça e não de emoções ou

ações.” (2010, p. 26).

De acordo ainda com as autoras, Kohlberg dividiu o desenvolvimento

moral em três níveis que são o pré-convencional, o convencional e o pós

convencional. (op. Cit. 2010).

Em concomitância, Papalia, Olds e Fildeman (2000) relatam que os

variados desenvolvimentos ocorrem de forma assimétrica e podem os

indivíduos mesmo em tenra idade apresentar mais desenvolvimento no âmbito

afetivo que no cognitivo ou ao contrário.

Assim como é comum observarmos que mesmo se associando as fases

dos desenvolvimentos em geral a uma idade cronológica, tal associação é

ineficaz visto que existem adultos, por exemplo, com dificuldades afetivas,

cognitivas ou até mesmo idade mental inferior a sua idade cronológica.

Para tanto, (op. Cit. 2000) é importante acrescentar que no

desenvolvimento moral ocorre a mesma situação. Convencionou-se que o

estágio pré-convencional é melhor observado em crianças e adolescentes, que

o convencional é melhor visualizado em adultos e o pós-convencional (quando

é visualizado) observamos mais nos idosos.

Ainda existem dois conceitos muito importantes acerca da teoria do

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desenvolvimento moral que são os conceitos de autonomia e heteronomia.

[...] pensando numa melhor definição de estágio moral, propôs a existência de subestágios, denominados A e B. Dessa forma, dentro de um mesmo estágio, podemos distinguir duas formas de raciocínio: uma com orientação heterônoma, baseada em regras e na autoridade, representada pelo subestágio A; e outra com orientação autônoma, baseada em princípios, justiça, igualdade e reciprocidade, representada pelo subestágio B. sujeitos que apresentam um raciocínio moral do subestágio B são, provavelmente, mais comprometidos com a ação moral daquilo que consideram justo do que os sujeitos do subestágio. (BATAGLIA, MORAIS e LEPRE, 2010, p. 26).

Desta forma observamos com maior clareza a distribuição das etapas da

teoria do desenvolvimento moral de Kohlberg no quadro abaixo:

NÍVEL NOME SUBESTÁGIOS

1 Pré-convencional 1 Punição e obediência 2 Auto-interesse

2 Convencional 3 Conformidade às regras sociais 4 Orientação do tipo “bom menino”

3 Pós-convencional 5 Contrato Social 6 princípios Éticos Universais

Fonte: (BATAGLIA, MORAIS e LEPRE, 2010, PAPALIA, OLDS E FILDEMAN, 2000) adaptado pela pesquisadora.

Ao ter seus desenvolvimentos social, afetivo (psicossexual), cognitivo e

moral em estreita consonância o indivíduo terá condições favoráveis para

apresentar maturidade laboral. Este desenvolvimento da maturidade

profissional, de acordo com Super apud Bohoslavsky (2007) pode ser dividido

em cinco estágios que são:

Estágio Características

CRESCIMENTO Pode ser subdividido em três etapas: a) Fantasia (4 a 10 anos) b) Interesse (11 a 12 anos) c) Capacidade (13 a 14 anos).

Escolhas vocacionais fantasiosas. Identidade e autoconceito formados por identificação com uma figura-chave. Predominância de necessidades orgânicas e afetivas. Interesses e habilidades surgem em decorrência dos estímulos e oportunidades. Tende a ter mais iniciativa e a ter maior criatividade na medida em que se desenvolve.

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EXPLORATÓRIO Pode ser subdividido em três etapas: a) Tentativa (de 14 aos 17). b) Transição (de 18 aos 21). c) Experimentação (dos 22 aos 24).

Caracteriza-se pelo autoexame, a experimentação de papéis sociais e ocupacionais.

ESTABELECIMENTO Período: dos 25 aos 44 anos

Encontrado um campo ocupacional adequado o indivíduo busca um lugar permanente.

MANUTENÇÃO Período: dos 45 aos 64 anos

Preocupação em manter o lugar conseguido no mundo do trabalho. Acontecem poucas alterações.

DECLÍNIO a) Desaceleração (dos 65 aos 70 anos); b) Aposentadoria (a partir dos 70 anos).

As capacidades físicas começam a declinar e o rendimento também. Novos papéis ou funções podem ser desenvolvidos. É delicado para a saúde mental da pessoa.

Esta tabela nos é didática principalmente por demonstrar as

características mais evidentes de cada estágio do desenvolvimento laboral e

nos faz refletir sobre a forma como o artesanato foi sendo ensinado

estabelecendo durante os anos na comunidade e se tornando atividade

econômica principal e como poderá se estabelecer como a base para um

turismo comunitário. Conforme Balbinotti,

Super (1969, 1990) propôs uma concepção de escolha profissional com base em conceitos (maturidade, interesses, valores, etc.) que indicam um processo de desenvolvimento e ainda incluiu outros modelos que, segundo ele próprio e seus colaboradores (Super, Sverko & Super, 1995; Super & cols.,1996), explicariam melhor a complexidade do comportamento vocacional de um indivíduo. Seriam, então, ao todo, quatro modelos que, juntos, teriam a árdua tarefa de desvendar, ao menos em parte, este comportamento. São eles: o modelo de perspectiva diferencial, o modelo socioeconômico e ambiental, o modelo desenvolvimentista, e, finalmente, o modelo fenomenológico. (2003, p.463).

Por este modelo, Balbinotti refere quatro aspectos constituintes do

comportamento vocacional dos indivíduos. São eles:

1. O modelo de perspectiva diferencial, que se refere “a assegurar o

homem certo no lugar certo a partir de uma análise das

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características do indivíduo e da profissão considerada”. (2003,

p.462).

2. O modelo socioeconômico tecnológico e ambiental,

segundo modelo diz respeito à influência dos fatores socioeconômicos, tecnológicos e ambientais (tais como a família, a escola, a comunidade, o grupo de pares, a sociedade, a economia, o mercado de trabalho, as políticas sociais e as experiências profissionais) sobre o desenvolvimento de carreira. (idem, p. 462)

3. O modelo desenvolvimentista propõe que o desenvolvimento

vocacional,

é um processo contínuo desde a infância até a velhice. O desenvolvimento é, geralmente, ordenado e previsível, assim como dinâmico no sentido de que ele resulta da interação entre as características do indivíduo e as demandas da cultura, o que torna claro também o fato de tratar-se de um processo psicossocial. (idem p. 462)

4. O modelo fenomenológico,

que analisa os conjuntos de traços da pessoa diretamente ligados ao seu desenvolvimento profissional, sendo esses, seus interesses, seus valores e suas aptidões – tem um papel organizacional maior como guia do comportamento do indivíduo através dos estados e sub-estados do desenvolvimento vocacional. (idem, p. 463)

Por exemplo, segundo Super apud Balbinotti, no modelo sócio econômico

e ambiental,

...a família contribui, no desenvolvimento das

necessidades e dos valores, fornecendo à criança, ou ao adolescente, a possibilidade de adquirir informações e desenvolver habilidades que poderão ter uma importante influência no momento da tomada de decisão profissional por parte dos jovens.

A forma como esse jovem vai entender o significado de seu trabalho,

como tomará decisões ou como resolverá seus conflitos formará uma dinâmica

mental e comportamental aqui sugerida como psicodinâmica laboral ou

também psicodinâmica do trabalho.

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Resumindo as teorias acima descritas, observemos a ilustração abaixo no

sentido de percebermos como os desenvolvimentos se dão em dissonância

etária, e assim é possível ter um indivíduo que cognitivamente é maduro,

contudo moralmente ainda não, ou ainda um indivíduo maduro do ponto de

vista afetivo, mas, ainda se desenvolvendo do ponto de vista social:

Ilustração 3: Aberastury e Knobel (1988), Papalia, Olds e Fildeman (2000), Morgado

(2001), Bataglia, Bohoslavsky (2007) e Morais e Lepre (2010). Adaptado pela

pesquisadora. 3 OS DISCURSOS: UMA ANÁLISE DOS DADOS APRESENTADOS

3.1 O Município de Iranduba e o Distrito de Janauari

No Amazonas, temos vários municípios considerados pelo IBGE como

polos turísticos. Isso é bem visível na ilustração abaixo. Todos localizados na

calha do Rio Negro demonstram vocações turísticas das mais variadas.

Dentre estes polos, iremos localizar em vermelho o município do Iranduba

e em azul escuro o município de Manaus:

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Fonte da Ilustração 04: NORONHA 2008, p. 97 e IBGE cidades, 2011. Adaptado pela

pesquisadora.

Junto com o município de Rio Preto da Eva, Iranduba participa da rede de

Turismo Rural na Agricultura Familiar (TRAF), um programa coordenado pelo

Governo Federal, por meio dos ministérios do Turismo e do Desenvolvimento

Agrário.

Conforme o Relatório de Análise de Contexto do Município de Iranduba

(PMI, 2011), o município dispõe de representatividade dos poderes executivo,

legislativo e judiciário, onde o chefe do executivo é o detentor das decisões,

operacionalizando a máquina administrativa sendo a estrutura da prefeitura

composta das seguintes secretarias municipais:

• Gabinete do Prefeito – GAB/PMI,

• Secretaria Municipal de Administração e Planejamento – SEMAP

• Secretaria Municipal de Finanças – SEMFIN

• Secretaria Municipal de Meio Ambiente – SEMMA

• Secretaria Municipal de Cultura – SEMUC

• Secretaria Municipal de Educação – SEMEI

• Secretaria Municipal de Produção e Abastecimento – SEMPA

• Secretaria Municipal de Infraestrutura – SEMIMF

• Secretaria Municipal de Assistência Social – SEMAS

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• Secretaria Municipal de Saúde – SEMSI e

• Secretaria Municipal de Turismo – SEMTUR

A representatividade do poder federal está localizada em uma escola do

SESI de educação infantil, a representatividade do poder judiciário existente

realiza suas atividades no Fórum de Justiça.

O município conta ainda, de acordo com o relatório (PMI, 2011), com as

instâncias de discussão e tomada de decisão sendo estas representadas por

conselhos sendo eles:

• Conselhos Tutelares

• Conselho Municipal de Saúde

• Conselho Municipal de Defesa Civil

• Conselho Municipal de Habitação Popular

• Conselho Municipal de Merenda Escolar

• Conselho Municipal de dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes

• Comissão municipal

O município tem duas comunidades que são as principais em produção

de artesanato no Estado: as comunidades dos lagos Janauari e Acajatuba.

A Comunidade de Janauari, de acordo com o líder comunitário, tem

aproximadamente 100 anos de existência, sendo iniciada pela família Coelho

da qual o mesmo faz parte e que se ramifica pela maioria dos habitantes.

Segundo Coriolano define-se comunidade como:

“um grupo social residente em um pequeno espaço geográfico cuja integração das pessoas entre si, e dessas com o lugar, cria uma identidade tão forte que tanto os habitantes quanto o lugar se identificam como comunidade”. (1997, p. 201).

O líder lembra que seus bisavós nasceram e morreram na comunidade,

mas que não há uma data precisa de criação ou fundação da mesma. O estilo

de vida dos moradores é bem simples, vivendo basicamente da pesca e do

artesanato, os comunitários mostram-se hospitaleiros e muito tranquilos ao

conversar tanto entre si quanto com os visitantes.

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De acordo com Trindade e Heyer (2004) a população foi estimada em 290

pessoas em terra firme sendo 155 residentes nas áreas ribeirinhas e 2 tribos

indígenas, totalizando 445 pessoas.

A localização do município permite a existência de dois ecossistemas,

onde se vê da parte do Rio Negro paraísos naturais com praias, cachoeiras e

florestas; já da parte do Rio Solimões estão às áreas da várzea com muitas

vitórias-régias e murerus (plantas aquáticas) nos igapós. A fauna e a flora aqui

são riquíssimas.

Overing (1999) aborda que o homem urbanizado chega a desprezar essa

simplicidade, não valorizando as atividades corriqueiras diárias e de

preferência atribuindo a terceiros tais atividades. Na comunidade, por exemplo,

a farinha de mandioca é produzida pelos próprios comunitários, a criação de

galinhas, bodes, patos etc., que servem para a subsistência é atribuição de

cada dono de cada animal.

O que o ser urbano encara como uma atividade muitas vezes sacrificante

como, por exemplo, a logística na Amazônia até por este ser urbano viver em

uma falácia de desenvolvimento urbano desde a Belle Époque, como citou

Santos Junior (2007) os comunitários não demonstram descontentamento com

as mesmas dificuldades que julgamos muitas vezes intransponíveis ou

entediantes.

“O problema é ainda mais grave quando o cenário é a floresta, que pouco

conhece: somos desajeitados quando nos movemos dentro dela e não

sabemos vê-la”. (OVERING, 1999, p. 85).

Para se chegar à Vila, podemos percorrer três caminhos, sendo dois

terrestres e um fluvial. Contudo, as duas entradas terrestres e todo o seu

percurso é de terra batida que nos períodos de chuva (cerca de 6 meses

contínuos – Dezembro a Junho) a estrada chega a ficar fechada em alguns

trechos.

A distância percorrida em média é de 24 Km da cidade de Iranduba até a

Vila de Janauari, tendo uma variação de cerca de 1 km da entrada mais

próxima da cidade para a entrada mais distante. O ramal todo ainda não está

com pavimentação asfáltica tornando a viagem em alguns pontos lenta e

cautelosa principalmente em dias de chuva.

Abaixo podemos observar um trecho plano da estrada, sem depressões

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aparentes:

Fonte: Silva (2011)

Essa mudança nas condições de trafegabilidade das estradas se altera de

acordo com o período de chuvas e com as melhorias realizadas pelos órgãos

competentes. Contudo, nesta próxima imagem, observamos um trecho com

muitas irregularidades que formam atoleiros com a incidência de chuva

constante permitindo a passagem apenas de tratores.

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Fonte: Silva 2011.

A outra forma de chegada à comunidade se dá por via fluvial

principalmente pelo uso de catraias, botes e pequenos barcos que saindo de

Manaus levam cerca 20 a 60 minutos até a Vila (dependendo de sua potência e

dos períodos de cheia e vazante do Rio Negro).

Neste recorte ampliado da ilustração abaixo podemos observar segundo o

traçado em preto, o percurso de Manaus no porto de São Raimundo até o Lago

de Janauari:

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Ilustração 05: Percurso Fluvial Manaus a Janauari Fonte: Silva (2011) 3.2 Caracterização das Atividades Econômicas e Laborais de Janauari

Esta é uma comunidade com uma população prioritariamente composta

por ribeirinhos e estes tem como ofícios principais de sustento: o artesanato, a

agropecuária o e comércio varejista de estivas, alimentos enlatados, alimentos

frescos e produtos de higiene.

Entretanto é a atividade artesanal que tem a característica cultural mais

forte e importante de possibilidade de oferta a partir da organização de um

Turismo de Base Comunitária na região.

A divisão de atividades laborais executadas pelos moradores de acordo

com o líder comunitário compõe-se desta forma:

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Figura 06: Atividades Laborais em Janauari

Fonte: Silva (2011)

Nas proximidades do Lago de Janauari existe um flutuante com

restaurante que oferece uma alimentação com base na gastronomia regional.

Este ponto é considerado o primeiro ponto de venda do artesanato da

comunidade. Contudo, o ponto comercial não pertence à mesma estando esta

subordinada às regras de uso do local e aluguel.

Com relação ao artesanato o mesmo é produzido a partir de diversas

matérias primas local com cocares, pulseiras, colares, peixes empalhados,

brincos, prendedores de cabelo, etc.

Fora os artesanatos usados como acessórios de beleza de grande

produção, também peças entalhadas em madeira (principalmente carrancas),

colheres, petisqueiras, brinquedos, quadros regionais, arcos, flechas e blusas

de algodão bordadas à máquina.

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Fotografia 03: Peças Produzidas em Janauari - Colares e pulseiras confeccionados

com: açaí tingido, jarina natural, lascas de jarina naturais e tingidas, morototó natural e

tingido, peças de madeira, linha de papagaio e nylon.

Fonte: Silva (2011)

De acordo com relatos do líder comunitário da Vila de Janauari, o

artesanato de algumas peças (carrancas e flautas ornadas com sementes) é

pioneiro e único não sendo confeccionado em nenhuma outra comunidade do

Amazonas. Para ele a marca ‘Janauari’ precisa nascer como identidade

daquela comunidade. Entendamos Artesanato como [...] toda a atividade produtiva que resulte

em objetos e artefatos acabados, feitos manualmente ou com a utilização de

meios tradicionais, com habilidade, destreza, qualidade e criatividade.

(SEBRAE, 2004, P. 21).

Cascudo afirma que artesanato é “todo objeto utilitário com características

folclóricas, não importando o material utilizado”. Para o autor, são três as

subcategorias abaixo citadas:

(1) “arte folclórica”, ligada à ornamentação ou à religiosidade, a qual, de um modo geral, se constitui de trabalhos anônimos; (2)

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“artes plásticas”, em que um artista expressa a sua visão acerca de um signo, tendendo sempre para o universalismo e a criatividade; (3) “manufaturas”, abrangendo trabalhos sem um referencial de origem específica, geralmente distribuída para além de seu local de produção. (2001, p. 24)

Aqui poderemos caracterizar o artesanato de Janauari estando na

categoria da manufatura.

De acordo com Pinho apud Caldas, são três as tipologias de artesanato:

o “artesanato popular genuíno”, em que se pode falar em qualidade, identidade e mercado consumidor; os “trabalhos manuais”, cuja mão de obra se apresenta menos qualificada, visando apenas a uma fonte de renda e, por fim, o “industrianato”, onde um produto artesanal é alvo do processo de massificação e “souvenirização”.

Conforme as autoras o artesanato de Janauari seria do tipo

“industrianato” já que seus artesanatos são facilmente enquadrados na

“souvenirização” e que é facilmente visto nas imagens constantes neste

trabalho.

Para Cerutti (2010, p. 82-83) são nove categorias que envolvem os

trabalhos de comunidades feitos manualmente:

1. Arte Popular;

2. Artesanato;

3. Artesanato Indígena;

4. Artesanato Tradicional;

5. Alimentos Típicos;

6. Artesanato de Referência Cultural;

7. Artesanato Conceitual;

8. Trabalhos Manuais;

9. Produtos Semi-Industriais e Industriais.

De acordo com esta autora o artesanato de Janauari seria enquadrado na

categoria do Artesanato Conceitual que segundo a mesma se reportaria “a um

grupo cultural específico, com tradições próprias transmitidas de geração em

geração, cuja produção artesanal tem sua base em práticas manuais e está

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integrada ao cotidiano”. (2010, p. 83).

E hoje seu artesanato se mistura e se dissolve em meio a outros

artesanatos de outras origens sendo muitas vezes nomeado como “o

artesanato de Manaus” e vendido com essa denominação.

Para o mesmo a necessidade de seu artesanato ser identificado

separadamente dos demais, é uma forma de nomear e identificar sua origem

cultural e comunitária.

Por essa razão, a importância de a organização do trabalho artesanal

favorecer a regularização da profissão de artesão e a identidade de interesses,

em direção à emancipação e à cidadania. [...] (CERUTTI, 2010, 85).

A quantidade de acessórios produzidos pelos artesãos é enorme e é

escoada tanto pela loja no flutuante que fica nas proximidades do Lago de

Janauari como em Manaus na Praça Tenreiro Aranha, localizada no centro

histórico em feira popular de artesanato indígena.

De todas as peças confeccionadas uma chama atenção pela simbologia e

aparência tribal, usadas em rituais mágicos: a ‘Carranca’ que para os artesãos

possui uma simbologia mágica de repelir maus espíritos e proteger os lares

onde é exposta. É indicado a quem compra colocar a carranca na parte de fora

da casa para não permitir a entrada de espíritos ou energias negativas.

Fonte: Silva (2011)

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Segundo Marconi e Presotto:

Em algumas sociedades, principalmente de clima tropical, o adorno nem sempre está associado à vestimenta, podendo até ser mais importante do que ela [...]. Usam enfeites nos cabelos, brincos nas orelhas, colares e braceletes [...]. Alguns adornos têm apenas a finalidade de enfeitar, outros possuem caráter mágico. (MARCONI; PRESOTTO, 2007, p. 176).

Apesar de a comunidade ser antiga, as atividades artesanais foram

iniciadas a pouco menos de 30 anos aproximadamente. Na época a empresa

S., pioneira em realizar pacotes turísticos para o Lago de Janauari, sugeriu que

fosse oferecido aos turistas peças artesanais como souvenir.

A sugestão foi tão bem aceita por turistas e comunitários que a produção

começou e desde então tem tomado conta de cerca de 70% das atividades

laborativas.

Conforme o líder comunitário, as crianças são iniciadas espontaneamente

no artesanato em formato de brincadeira, imitando seus parentes trabalhando e

vão aprendendo aos poucos a confecção artesanal. Ao tornarem-se

adolescentes já sabem a maioria das técnicas de confecção e passam a

contribuir para a renda familiar.

Por família, chega-se a ganhar com artesanato por volta de 1.500,00 a

1.800,00 reais mensais. E é com este ganho que as famílias conseguem

comprar a matéria prima que a Vila não dispõe para a confecção de suas

peças.

Para Noronha (2008), as principais matérias-primas (vegetal e animal)

utilizadas no artesanato estão dispostas juntamente com seus produtos finais

na tabela abaixo:

Caroço de açaí Artesanato em geral, marfim Caroço de Patuá Anéis, colares e enfeites Caroço de Buriti Colares, brincos e pulseiras Caroço de Tucumã Anéis, colares e enfeites Caroço de Babaçu Anéis, colares e enfeites Caroço de Abacaba Artesanato em geral, marfim Tala de Pupunheira Enfeites na marchetaria Caroço de Paxiúba Colares, brincos e pulseiras Semente de Seringa Colares, brincos Massa de Guaraná Artesanato, enfeites e arranjo

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Fibra de Piaçava Cestaria, vassouras e artesanato Tento preto Colares,pulseiras e arranjos Tento Vermelho/Seriúna Colares,pulseiras e arranjos Molongó da várzea Bonecas, bancos e arranjos Cipó titica Cestaria e artesanato em Geral Cipó Ambé Cestaria e artesanato em Geral Líber de tururi Artesanato em Geral Arumâzinho Peneiras, pulseiras e artesanato em geral Lágrimas de Nossa Senhora Colares, pulseiras, tangas e arranjos Morototó Colares,pulseiras tangas e arranjos Puçá/Tento preto dos Sateré – Mawé

Colares e Pulseiras

Arumã Grande Peneiras, pulseiras e artesanato em geral Pau Brasil Pulseiras, colares, bancos, enfeites,

bonecos Puçá Colares, Pulseiras Madeiras diversas Resíduos das Serrarias

Marchetaria

Penas artificiais ou de cativeiro Brincos, cocares, braceletes, tornozeleiras, pau de cabelo, saiotes e tiaras.

Palha Cestos, caixas Fonte: Noronha, 2008, p. 87

Na comunidade, além dessas matérias primas, comumente para a

confecção artesanal se usa a resina epóxi e a cola siliconada também

chamada de cola quente. Esses materiais não são considerados matérias

primas, contudo são fundamentais no acabamento dos trabalhos manuais.

Uma das dificuldades encontradas pelos comunitários segundo seu líder é

a descontinuidade das atividades de beneficiamento uma vez iniciadas na

comunidade.

Segundo seu relato, a empresa Magia Amazônica num período anterior

de cerca de 10 anos havia treinado artesãos para o beneficiamento e instalado

maquinário na comunidade em um galpão construído para o beneficiamento de

sementes, contudo por falta de manutenção e motivação dos comunitários que

afirmavam ser a confecção atividade mais rentável, abandonaram o ofício.

E hoje as matérias primas são compradas já beneficiadas em Manaus.

Todavia, a falta de organização quanto ao fornecimento das sementes e outros

materiais de consumo para o beneficiamento também contribuíram para o

enfraquecimento e diminuição significativa chegando ao término da atividade

na comunidade.

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As boas práticas estão voltadas ao processo de beneficiamento e melhoria da qualidade do artesanato que pode ser com sementes, fibras ou palhas. Algumas comunidades tradicionais em outras regiões da Amazônia têm realizado o manejo [...] respeitando algumas regras (boas práticas) que permitam uma produção de sementes contínua e duradoura, com retorno econômico e conservação e manutenção do ecossistema. (NORONHA, 2008, p. 91)

Este tipo de fluxo poderia ter uma logística melhor se a matéria prima

fosse beneficiada na própria comunidade ou em comunidades próximas,

todavia os comunitários preferem adquirir matéria prima com preços módicos

beneficiada em outro estado.

Por não visualizar o beneficiamento de sementes como um potencial

vocacional da comunidade, os artesãos compram muitas vezes matéria prima

que segue o fluxo abaixo:

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Segundo Noronha (2008), o valor agregado ao beneficiamento de

sementes desde sua coleta até sua venda é enorme como podemos observar a

seguir com o exemplo da semente de Jarina: A cadeia produtiva é grande e a agregação de valor é enorme, pois uma semente coletada sai no campo ao custo de R$ 0,02 e um pequeno chaveiro entalhado em uma única semente é comercializado, em Rio Branco, a R$ 17,00, ou seja, um fator de agregação superior a 500 vezes. (2008, 91)

São também atingidos com a constante intervenção de terceiros não

pertencentes à comunidade, mas que acabam ganhando de uma forma ou de

outra com as belezas paradisíacas do Lago.

Segundo o líder comunitário, é comum durante o ano, principalmente no

período das férias escolares a presença de catraias, pequenos barcos, lanchas

e até barcos maiores com atracados no lago que trazem pessoas para

visitação. Ainda segundo o líder, os donos das embarcações cobram o passeio,

mas a comunidade não é beneficiada e nem remunerada com a atividade.

O líder comunitário informa que a Associação de Catraieiros de Manaus

chega a cobrar 300,00 reais por passeio que inclui o Encontro das Águas, o

Restaurante Flutuante e o Lago de Janauari onde param para tomar banho.

Barbosa afirma que:

Algumas comunidades garantem o controle de seus territórios a partir da criação de associações, sindicatos e cooperativas, formas de organização locais, tendo em vista a produção de políticas que atendam as necessidades locais, tendo em visa a produção de políticas que atendam as necessidades locais e o fortalecimento comunitário. Assim, as políticas do turismo comunitário revelam a existência do caráter solidário das comunidades, uma vez que as decisões são tomadas em conjunto e voltadas às melhorias da qualidade de vida local. (BARBOSA, 2011, p. 146).

Em um fim de semana, a localidade chegou a receber 600 turistas no

percurso que ia de Manaus ao flutuante segundo o próprio líder comunitário,

contudo não temos conhecimento por parte dos órgãos competentes de algum

estudo da capacidade de carga que o Lago comporta em finais de semana,

meses de baixa ou de alta temporada.

Com relação a sua organização social, a Vila de Janauari conta com duas

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associações que são a Associação dos Moradores de Janauari e a Associação

dos Artesãos de Janauari, ambas também em descontinuidade de ações.

De acordo com PC, líder da associação dos artesãos e de DC líder da

comunidade, as associações desenvolvem atividades ordinárias como:

Associação dos Artesãos - reuniões, assembleias e planejamentos para o

festival de artesanato,

Associação dos Artesãos - reuniões, assembleias e planejamentos para

conseguir mais recursos e para avaliar as obras em andamento na

comunidade. Também nas reuniões levantam as necessidades da comunidade.

Sampaio, Alves e Falk citam que:

A importância das associações autogestionárias se evidencia pelas decisões ficarem sob a responsabilidade do grupo, no qual é preciso superar interesses individuais para decisões que priorizem melhores resultados para a coletividade, garantindo, desta forma, direitos iguais aos associados. No processo de produção compartilhado, ou mesmo individual, o fator que caracteriza a cooperação entre os membros dos grupos é a conexão entre eles, no qual o contato social estimula cada indivíduo a se realizar como pessoa e como agente social. (SAMPAIO, ALVES E FALK, 2008, p. 251).

O líder comunitário sr. D.C, mesmo dentro de suas limitações busca

melhorias para a Vila. Este líder, para conseguir as melhorias abaixo, reuniu-se

com o prefeito, com outras lideranças dentro a prefeitura e com parceiros

comerciais para a construção das obras, captação de recursos materiais,

financeiros e para a agilidade na execução das obras. Dentre estas melhorias

temos:

• Escola Municipal Jovino Coelho,

• Uma ambulância comunitária,

• Um Posto de Saúde,

• Duas mercearias;

Existem duas obras do governo federal em andamento na comunidade

que são:

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• A construção da praça de Janauari

• A Central de Artesanato da Comunidade de Janauari.

No entanto de acordo com o líder comunitário e outros munícipes as

obras estão em ritmo lento. Estas são de muita importância para a melhoria da

qualidade de vida da comunidade, pois uma irá proporcionar o lazer e a

segunda o trabalho em um ambiente próprio.

Ao iniciar a presente análise é importante salientar que a mesma

representa um recorte contextual de uma vivência construída na coletividade

em um breve período de tempo.

Uma comunidade como São Pedro do Janauari que já possui mais de 100

anos, e nessa trajetória vivenciou um sem número de eventos e fenômenos

sociais, deve ser entendida como um organismo vivo, pois conforme Robbins,

Thimothy e Sobral (2010) qualquer instituição que passa por tais fenômenos

adquire vida própria, em outras palavras, qualquer aglomerado de indivíduos

que demonstram cultura própria, podem ser considerados como tendo vida

própria ou “se torna imortal” (2010, p. 506).

Compreender tal vivência, investigar suas peculiaridades, e até certo

ponto admitir como é difícil vislumbrar o diferente, vê-lo pelo seu próprio olhar,

representou uma mudança de pensamentos, crenças e atitudes. Ao conviver

com tanta simplicidade e exemplos de uma existência em equilíbrio com a

natureza, nos faz refletir sobre o como vivemos e percebemos o mundo a

nossa volta.

Em cumprimento a nossa metodologia, as observações nos deram uma

visualização mais esclarecida de tudo o que foi absorvido nas pesquisas

bibliográficas e mais ainda, nos deram a percepção de uma necessidade

pujante de mudança por parte da comunidade.

De acordo com Lancman e Uchida (2003), a psicodinâmica laboral

representará não a forma mais correta de agir diante dos fenômenos do

trabalho, mas sim a forma como o indivíduo destrói, constrói e reconstrói seu

labor.

Para estes autores, o trabalho se torna um espaço social que permite a

reposição as angústias e dificuldades vividas durante a caminhada do indivíduo

em seu desenvolvimento.

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De acordo com Dejours citado por Lancman e Uchida (2003) as angústias

e os conflitos gerados pelo trabalho em uma ordem singular, tem como solução

a coletividade.

Para tanto a criação de espaços públicos, da fala e da escuta coletiva

como observamos em comunidades é fundamental para que essas dificuldades

laborais sejam solucionadas por todos.

A rotina de trabalho onde as observações feitas, mostraram que apesar

da rotina de trabalho ser intensa, não há desânimo ou impedimento emocional

aparente para a realização das atividades rotineiras de trabalho.

Ao contrário, o que observamos foi à satisfação na realização das rotinas

diárias. Bleger diz que: “[...] a situação mais feliz é aquela em que o trabalho e

o hobby coincidem, no sentido de que o trabalho seja, ao mesmo tempo, uma

fonte de prazer” (1980, p. 113).

E este prazer é o que move todo o trabalho envolvido no processo de

retirada da matéria prima da natureza até a confecção das peças e sua venda

em Manaus. Mesmo assim, os artesãos demonstram preocupação em relação

às dificuldades enfrentadas pelas exigências de um mercado competitivo e

exigente do artesanato. Segundo informações coletadas em entrevista, o sr. J. relatou que no

início da confecção do artesanato, tudo era diferente. Ao ser questionado no

que seria esse tudo, ele respondeu ter sido aquela época (por volta dos anos

70 e início dos anos 80), uma época farta em que não havia exigência de

acabamento das peças, os turistas aceitavam pagar o que os artesãos pediam

e não haviam prazos apertados para a entrega das mecadorias. Disse lembrar

dessa época “com saudade” (SIC).

Ao ser questionado sobre o agora, o sr. J disse que os tempos estão

difíceis pois ele em questão não consegue fazer estoque de arcos e flechas.

Toda a sua produção e de seu filho (que trabalha com o pai) vai para Manaus.

Também a sra. T., nos disse que sua máquina de costura precisa de

reformas e que já pensa em sair do artesanato e ficar no comércio dela e do

marido. Ela nos respondeu que também no início não tinha máquina e fazia o

artesanato à mão.

Com o passar das décadas, foi paulatinamente deixando de confeccionar

suas fantasias de pena de faisão para trabalhar na taberna do marido.

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Segundo Bohoslavsky (2007) o jovem busca na profissão escolhida uma

possibilidade de ser feliz. Estaria o adulto procurando também a sua felicidade

pela escolha de um novo trabalho.

A sra. G, em sua entrevista nos verbalizou preocupar-se com o destino de

seus filhos pois dois já estavam empregados em Manaus e não sabiam a arte

da confecção das flechas decorativas. Somente a filha caçula é que sabia

confeccionar as flechas com a mãe, mas não sabia bordar (entalhar) os rostos

nas cabaças.

Bock comenta:

O individuo é e não é ao mesmo tempo reflexo da sociedade; da mesma forma ele é e não é autônomo em relação à ela. [...] o individuo escolhe e não-escolhe - (sua profissão ou ocupação) - ao mesmo tempo. (1999, p. 16).

Quando Bock, diz que o individuo escolhe e não escolhe sua profissão ao

mesmo tempo, ele está tratando de sua liberdade de escolha. Em outras

palavras, de acordo com a classe social de origem do individuo, ele tem mais

ou menos liberdade para decidir, embora esta seja sempre multideterminada.

Assim, os indivíduos têm a possibilidade de intervir sobre a sua trajetória,

não havendo, portanto, determinação social absoluta.

Ao ouvir os artesãos (Sr J. E Sra. G.) no momento em que

confeccionavam as flechas foi possível notar o quanto eles tinham a

consciência da exclusividade de seu trabalho e isso os fazia se dedicar mais

em seu labor.

A senhora G. foi quem ensinou e iniciou na comunidade o entalhe de

rostos de índios nas cabaças das flechas e é ela quem ensina as artesãs

iniciantes. Segundo a mesma o seu objeto de entalhe é uma faca de cortar

peixe mais conhecida na região como “pexeira”.

Mas um fato curioso é que a mesma não utiliza o termo entalhar (apesar

de ser o mais aplicável em sua atividade), usualmente a artesã utiliza o termo

“bordar”.

Ao ser questionada sobre a origem do termo, a artesã nos relatou que por

ser o formato do rosto “bordado” muito parecido com uma trama rendada, o

termo era usado por fazer lembrar um bordado rendado. Disse reforçando sua

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fala que tenta “imitar” tecidos rendados em seu “bordado”. Abaixo é possível

visualizar seus chocalhos e flechas de cabaça e bambu de flecha e os detalhes

que parecem ser uma renda:

Fonte: Silva (2012)

A segunda direção relaciona-se com a necessidade de mudança das

condições e da forma de produzir artesanato.

O sr. D. ao ser questionado, verbalizou que quando a empresa S turismo

chegou à comunidade “impôs” aos comunitários o artesanato e que agora essa

é a atividade mais rentável e da qual ele vive.

O Sr. G, o Sr. P. e seu pai o sr. E, também confirmaram a fala do sr. D.

Um deles disse: “Quando a S turismo veio aqui só tinha a plantação e a criação

de galinhas e cabras. Eles perguntaram se nós queríamos fazer uns

artesanatos pros turistas e nós aceitamos”.

Contam que de lá pra cá a atividade se tornou parte da comunidade e

muitos dos novos pensam, assim como os turistas, que essa sempre foi a

atividade vocacional da comunidade.

Bohoslavisky faz uma conceituação de identidade vocacional

diferenciando-a da identidade profissional na qual podemos comparar com o

vivenciado entre as gerações mais jovens e as mais experientes no Distrito que

vem a seguir: a identidade vocacional expressa as variáveis de tipos afetivo-

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motivacional, enquanto a identidade profissional mostra o produto da ação do contexto sociocultural sobre aquela [...] nenhum profissional, por mais capacitado que esteja tem o direito de interferir na escolha do sujeito. (2007, p. 61).

Para Balbinotti,

...a maturidade vocacional é definida como a capacidade do indivíduo para enfrentar as tarefas de desenvolvimento com as quais ele é confrontado como conseqüência de seu desenvolvimento social e biológico, de uma parte, e das necessidades da sociedade em relação às outras pessoas que alcançam este estado de desenvolvimento, de outra parte. (2003, p. 463)

Ainda com o mesmo, (2003) para aprofundarmos os modelos por ele

citados anteriormente para elucidarmos os aspectos relacionados aos

comunitários. Foram apresentados quatro modelos desenvolvidos para

“explicar melhor a complexidade do comportamento vocacional do indivíduo”

(idem, p. 462).

O modelo 2 diz respeito as influências ambientais, tecnológicas e

socioeconômicas descritas por Super apud Balbinotti (2003) como

representadas pela família, amigos, comunidade, etc.

Essa influência é bem clara no discurso do sr. PC quando verbalizou em

entrevista que o artesanato de carrancas lhe foi ensinado por um artesão de

fora da comunidade e com materiais não nativos para a confecção (goma

epóxi, de nome comercial durepóxi).

Verbalizou ainda que o formato da carranca, seus adereços de penas e

sementes lhe fora passados por esse artesão e que posteriormente ele passou

esse conhecimento aos outros comunitários.

Em seu relato diz: “Quando o artesanato chegou aqui no Janauari eu era

menino e quando eu comecei a fazer as carrancas foi o hippie que era guia da

empresa S. turismo que me ensinou. De lá pra cá já se passaram mais de 20

anos”.

A sra. E, que é moradora nova da comunidade não é artesã, verbalizou

em sua entrevista: “Eu vou entrar nesse negócio de artesanato porque todo

mundo faz isso aqui. Já conversei com as meninas lá de cima pra me

ensinarem”.

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Quando questionada sobre quem eram as moças de sua fala ela

verbalizou: “A sra. T, me falou que as meninas daquela casa ali (apontou com o

dedo para um imóvel do local) fazem artesanato e são boas. Que elas

ensinam, mas eu ainda não fui lá e não sei o nome delas”.

Mais uma vez perguntamos a ela como seria a sua aproximação para

fazer o pedido e ela respondeu: “Eu digo que foi a sra. T que me mandou lá”.

Na entrevista com o sr. J foi verbalizado por ele que tanto a confecção de

arcos e flechas como a secagem de piranhas para ser empalhadas são

atividades que ele aprendeu com seu pai e já ensinou ao filho. Este que não foi

entrevistado por ter 17 anos estava no momento da entrevista cortando

paxiúba para fazer as pontas das flechas do pai.

Também verbalizou que o caminho fluvial para comunidade de Paciência

foi aprendido com seu pai. Essa comunidade fornece a paxiúba para a

confecção das pontas de flechas da família.

Após esses diálogos fica claro como esses fragmentos de entrevista

podem ser enquadrados como exemplo de influência exercida pelo ambiente e

por condições sócio econômicas representados aqui por aqueles reconhecidos

como autoridades informais na comunidade.

Robbins, Thimothy e Sobral (2010) nos falam da influência exercida por

aqueles dotados com poder de talento. Para esses autores esse tipo de

conformidade ao poder ocorre pelo fato de os comunitários PC e E

reconhecerem tanto no guia como na sra. T, ou na sra G, talento para

confeccionar peças artesanais o que os torna referência e autoridade na área.

O modelo 3 diz respeito ao desenvolvimento o qual Balbinotti afirma que

“esta concepção propõe que o desenvolvimento vocacional é um processo

contínuo desde a infância até a velhice” (2003, p. 462).

E nesse aspecto, levando em conta todas as observações e entrevistas,

ficou claro para nós de como a comunidade é tradicional. Os jovens desde

criança são iniciados nas atividades laborais como que uma brincadeira de

imitação dos pais.

E ao passar a infância observando a rotina de trabalho de seus genitores

chegam na adolescência em condições de demonstrar através de suas

próprias confecções suas habilidades como aprendizes do artesanato. O

próprio exemplo dado acima do sr. J e de seu filho, nos mostra essa tradição e

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ofício sendo passado através das gerações. Outro que pode ser citado é o líder

do artesanato PC que tem pai e mãe artesãos também.

O desenvolvimento é, geralmente, ordenado e previsível, assim como dinâmico no sentido de que ele resulta da interação entre as características do indivíduo e as demandas da cultura, o que torna claro também o fato de tratar-se de um processo psicossocial. No decorrer deste processo, o indivíduo deve cumprir um certo número de tarefas de desenvolvimento. A natureza precisa destas tarefas e a maneira pela qual ele as cumpre revela sua maturidade vocacional. Dentro desta ótica, pode-se dizer de um indivíduo, que ele é maduro na medida em que ele está pronto para tomar as decisões e para assumir os comportamentos característicos de seu estado de desenvolvimento vital (idem, p. 463)

O último modelo observado é o fenomenológico o qual relaciona a

profissão do indivíduo com o conceito que este faz de si. Esta relação associa

o trabalho assim:

(idem, adaptado pela pesquisadora)

Em entrevista com os artesãos, sempre ouvíamos as dificuldades

colocadas por eles – muitas já citadas anteriormente – e ao final da entrevista

ou até em momentos de observação sem que houvesse qualquer formalidade,

ou em uma conversa informal, perguntávamos sobre as perspectivas futuras

junto ao artesanato e se eles conseguiam ver no turismo uma alternativa de

promoção e preservação da comunidade.

A nossa resposta foi positiva em todos os comunitários questionados.

Ouvíamos frases como o sr. J: “Nós vivemos do artesanato” . Outra do sr. PC:

Seria muito bom se conseguíssemos implantar o turismo de base comunitária

aqui no Janauari”.

Este artesão tem colocações verbais muito bem articuladas, ele além de

Se eu progrido em minha profissão,

Então e progrido enquanto pessoa

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artesão e líder comunitário, exerce papel de porta-voz da comunidade

representando-a até no exterior em uma feira internacional de artesanato que

ocorreu em Londres.

Para Wagner III e Hollenbeck (2006) e Robbins, Thimothy e Sobral (2010)

e Chiavenato (2006), satisfação no trabalho é um sentimento agradável que

resulta não apenas da sensação, mas da percepção de que o trabalho realiza

ou permite a realização de valores importantes relacionados ao próprio

trabalho.

Ainda esses autores concordam que ao se sentir satisfeito, trabalhador

cria identidade e desenvolve maturidade profissional, pois estabelece um

método próprio de realizar as atividades.

Adquirir esta identidade torna o trabalhador mais comprometido e

envolvido com seu artesanato. Para os autores Wagner III e Hollenbeck (2006)

e Robbins, Thimothy e Sobral (2010) e Chiavenato (2006), envolver-se com o

trabalho significa ter um alto grau de participação ativa na atividade laboral e

em considerar que seu desempenho é um fator de valorização pessoal.

Ainda com os mesmos comprometer-se com o trabalho significa ter o

desejo de permanecer na atividade que já desenvolve.

De acordo com a Sra. T., a relação de iniquidade entre compradores e

artesãos está fazendo com que os jovens não se interessem pelo artesanato.

Segundo ela, os jovens da comunidade até começam a trabalhar no

artesanato, mas migram lentamente para o Polo Industrial de Manaus (PIM)

mudando inclusive de cidade.

Na visão da senhora T., essa migração tem sido segundo ela,

espontânea, contudo, duradoura, pois os jovens que decidem trabalhar na

capital, acabam por se estabelecer e fixar residência em Manaus. Os que

preferem ficar na comunidade nem sempre vislumbram o artesanato ou o

turismo como uma atividade desejada.

Outro aspecto que a artesã cita é a necessidade de se agregar valor

regional ao artesanato feito, bem como a necessidade de não deixar a técnica

de confecção de flechas “se perder” pela falta de pessoas para confeccionar.

Como afirma Ribeiro:

Por diversos motivos o turismo de base comunitária possibilita

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a inclusão da comunidade organizada em tomada de decisões, planejamento e execução da atividade turística, usufruindo também de seus benefícios em busca da inclusão socioeconômicas, dentre outros direito e deveres gerados pelo turismo em uma comunidade... (2008, p.02).

O Turismo de Base Comunitária para tanto, se configura em uma

alternativa aos artesãos mais antigos de perpetuarem suas técnicas, tanto por

passa-las aos turistas que confeccionariam suas próprias peças quanto por

servir de incentivo aos jovens a se debruçarem nas atividades laborativas da

comunidade. Segundo Carvalho apud Ribeiro:

... esta sociedade deve estar madura, composta por indivíduos habilidosos para a formação sólida de uma comunidade e só então com seu amadurecimento e normalmente em formações associativas atingir o desenvolvimento comunitário. (2008, p.04)

Com o Turismo de Base Comunitária, as dificuldades logísticas já citadas,

por exemplo, poderiam ser transformadas em um ponto positivo, pois o tempo

gasto com o deslocamento entre comunidades em busca de matéria prima,

seria para os turistas, um momento de contemplação da natureza, onde

informações sobre conservação e uso sustentável da floresta poderiam ser

disseminadas aos mesmos.

A comunidade vivencia uma realidade mercadológica que incita a

mudança em sua cadeia produtiva do artesanato mesma proporção em que

esta é rejeitada pelos comunitários mais antigos. Conforme Robbins, Thimothy

e Sobral:

A cultura se torna um passivo quando os valores compartilhados não estão em concordância com aqueles que poderiam melhorar a eficácia... Isso tem maior probabilidade de ocorrer quando... a cultura arraigada pode não ser mais adequada (ROBBINS, THIMOTHY e SOBRAL, 2010, p. 506).

De acordo com o observado existe na comunidade uma tendência dos

artesãos mais jovens de ceder ao assédio e às pressões comerciais dos

compradores. Segundo os artesãos mais antigos, os jovens vendem suas

peças por poucos reais não valorizando o artesanato.

Do ponto de vista da psicologia do desenvolvimento social de Erikson

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citado por Morgado (2001) o adolescente e o jovem adulto têm a necessidade

de pertencer a um grupo e de ser reconhecidos por ele como iguais.

Para tanto é explicável e até aceitável do ponto de vista dos artesãos

mais jovens suas atitudes, contudo ainda com os autores, o adulto e o idoso

apresentam uma maior maturidade bem como maior estabilidade financeira e

familiar, o que os leva a um senso crítico e até a uma reação seletiva de como

vender e para quem vender.

O que se observou durante toda essa construção de saberes é que a

comunidade chegou à conclusão e que para haver mudança, a união e

organização social e institucional são importantes.

Por uma iniciativa comunitária os trabalhos das associações retornam aos

poucos a atividades cada vez mais inovadoras e ousadas no sentido de

promover a comunidade.

Nas fotografias visualizamos as melhorias conseguidas apenas com a

força dos comunitários ao longo desses dois anos, assim como o interesse por

pesquisadores de várias áreas interessados em conhecer e auxiliar a

comunidade nas suas dificuldades.

A essa mudança de atitude por parte dos comunitários em gerir seus

potenciais turísticos de forma sustentável, Bock cita que “nossas atitudes

podem ser modificadas a partir de novas informações, novos afetos ou novos

comportamentos ou situações” (2001, p. 180).

Também a presença de pesquisadores cada vez mais constante pode

estar causando um mal estar positivo que gera ação e mudança ao questionar

ou ao fazer os comunitários recordarem de suas dificuldades e dos possíveis

melhoramentos que não dependem de poder público, mas apenas da boa

vontade e pro-atividade dos comunitários.

No decorrer desta pesquisa, tivemos a oportunidade de participar do IX

Festival Cultural do Artesanato do Janauari. Nele observamos uma

organização basicamente arquitetada pelo sr. PC que em sua iniciativa,

contratou toda a estrutura necessária para receber os comunitários das 5

comunidades do Distrito, cidadãos irandubenses e manauaras.

Contudo, como a produção dos artesãos é entregue aos sábados em

Manaus para uma feira tradicional domingueira no centro da cidade, não havia

artesanato em abundância no festival (como era o esperado tanto por nós

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como pelo próprio líder do artesanato).

Observamos sim, apenas barracas brancas de comida e bebidas e

apenas uma de artesanato com cobertura de palha. Nesta havia o artesanato

de comunidades próximas e até da cidade de Parintins. Ao ser questionado

sobre quando iam chegar as peças o líder do artesanato verbalizou: “Eu nem

quero falar sobre isso”.

A sua fala soou para nós com um tom de descontentamento já que nossa

espera, de uma forma ou de outra, gerou expectativas, mas que para ele gerou

cobrança. Havia autoridades patrocinadoras como representantes da prefeitura

e de um banco regional que financiou parte do festival.

De acordo com Chiavenato (2007), Robbins, Thimothy e Sobral (2010), as

percepções de iniqüidade criam emoções desagradáveis. As tensões

associadas às emoções desagradáveis como culpa e raiva, motivam as

pessoas a fazer algo que reduza a iniquidade e tanto na fala do comunitário

quanto em sua saída de nossa roda de discussão pode caracterizar sua atitude

como do tipo fuga da situação injusta.

Por essa e por outras razões são importantes o planejamento, e o

gerenciamento da atividade turística na comunidade visto que algumas

localidades já habituadas a receber visitantes intensamente, se viram

saturadas pela atividade turística e passaram a demonstrar aversão aos que

chegavam à localidade na condição de turistas.

Conforme Wagner III e Hollenbeck (2006) esse tipo de reação à injustiça

pode ser conceituada como aquela em que quando todas as possibilidades de

enfrentamento e negociação de um embate ou injustiças falham, só resta ao

indivíduo que se sente injustiçado ou ameaçado retirar-se e procurar pessoas

ou ambientes que lhes sejam mais confortáveis d ponto de vista psicológico.

Após o início da festividade, o líder se distanciou de nós e respeitamos

seu momento não insistindo mais na questão.

Em discussão sobre o festival, levantamos alguns aspectos que poderiam

ser considerados primordiais para o baixo número de peças em exposição no

evento:

• O excesso de demanda pelos compradores de Manaus,

• Cansaço pelo dia de trabalho confeccionando peças já encomendadas,

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• A falta de artesãos em quantidade suficiente para estocar produção;

• A falta de acessibilidade ao Distrito e

• A pouca sensibilização feita aos artesãos para um aumento de produção

específica para o festival.

Queremos ressaltar o fato de que nos baseamos em nossas reflexões e

nas observações realizadas durante todo o dia de preparo e ornamentação do

festival como aspectos contribuintes para a baixa quantidade de peças

expostas e para o não comparecimento de muitos artesãos ao festival.

Fonte: Silva (2012)

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Fonte: Silva (2012) Fonte: Silva (2012)

Fonte: Silva (2012)

Os fatores: excesso de demanda e falta de artesãos suficientes,

relacionam-se com o fato de que muitos jovens deixam o Distrito para arvorar-

se em uma carreira no PIM – Polo Industrial de Manaus já mencionado

anteriormente.

A falta de sensibilização e até mesmo de união entre os artesãos,

associamos ao fato de que a liderança de PC pode estar sendo posta em

questionamento pelos artesãos:

De um lado o líder do artesanato afirma que seus associados se

pulverizam em motivos pessoais sem chegar a um consenso para as decisões

que dizem respeito às suas demandas; Do outro lado estão os artesãos que

alegam não ter incentivos ou garantias de melhorias para seu ofício.

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Mesmo com essas alegações os associados não demonstram disposição

em assumir a liderança da associação.

Cremos em algumas medidas propostas aqui em formato de sugestão,

que podem elevar o ânimo em dar continuidade à produção de artesanato no

Distrito bem como a aproximação do turismo de base comunitária ao Distrito de

Janauari. Essas etapas não estão conectadas a Janauari.

Nesse sentido ainda será necessário um período mais aprofundado de

estudos sobre a temática par aí então se realizar uma sondagem junto a

comunidade com um plano piloto para as primeiras incursões em Turismo de

Base Comunitária na comunidade de São Pedro do Janauari.

Seguindo o modelo da WWF (2003) que utiliza eixos de ação para uma

proposta Turismo de Base Comunitária temos:

1. PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

1.1. Planejamento que iniciará todo o planejamento para a preparação da

comunidade para a implantação do TBC;

1.2. Levantamento do potencial turístico para o qual deverá constar uma

metodologia adaptada à comunidade com pesquisas próprias e análises

qualitativas e quantitativas do diagnóstico comunitário.

1.3. Confecção do produto turístico através de ferramentas de marketing

que indicarão quais produtos poderão ser trabalhados pela

comunidade;

1.4. Avaliação da viabilidade econômica, para a atividade do TBC. Questões

como pesquisa orçamentária e econômicas são importantes para a

saúde econômica da modalidade do TBC na comunidade.

2. IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL

2.1. Infra-estrutura de apoio ao TBC: Aqui, as informações coletadas na fase

do planejamento e implantação da infra-estrutura são reunidas.

2.2. Manejo do artesanato por meio do levantamento de quais peças

artesanais seriam mais adequadas ao TBC.

2.3. Interpretação ambiental, na qual o processo da cadeia produtiva do

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artesanato seria trabalhado junto ao turista em programas educativos e

de sensibilização para a conservação da comunidade em seus aspectos

ambientais e culturais.

2.4. Programas de Capacitação: Neste item, a participação comunitária se

dá por seu aperfeiçoamento tanto em cursos mais básicos como corte e

costura, marchetaria e contabilidade doméstica, quanto em cursos onde

há maior refino de habilidades como inglês básico e avançado,

hospitalidade, empreendedorismo etc. Aqui também há a captação de

parceiros em centros de capacitação e ensino.

3. GESTÃO INTEGRADA

3.1. Monitoramento e controle dos impactos socioculturais da visitação e

permanência dos turistas na comunidade.

3.2. Administração contábil de pequenos empreendimentos para auxiliar os

comunitários em seus gastos, provisões para altas e baixas

temporadas, conceitos de capital de giro e como investir e ampliar seus

empreendimentos, etc.

3.3. Contribuição de voluntários nos projetos de TBC objetivando fortalecer

o protagonismo dos atores sociais envolvidos com o TBC bem como

organizar um programa de voluntariado comunitário.

3.4. Pesquisa de aperfeiçoamento do TBC. Aqui seriam estimuladas as

pesquisas científicas para os constantes ajustes e melhoramentos desta

modalidade de turismo na comunidade.

Atualmente o Ministério do Turismo apresenta:

Projetos de incubação de empreendimentos de tecnologia popular: •16 municípios nas seguintes Regiões: •Lençóis Maranhenses, Delta do Parnaíba, Serra da Capivara e Jericoacoara; •29 grupos produtivos trabalhados, cerca de 300membros Início de projetos em mais sete Estados (MG, SP, PE, RJ, PR, PA e BA). (2008, p. 04)

E o Ministério espera os seguintes resultados:

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– Fortalecimento das ações Desenvolvimento local comunitário; – Fomento a geração de trabalho e renda ligada de comunidades locais e/ou tradicionais. – Articulação de iniciativas do segmento “Turismo de Base Comunitária” em rede. – Articulação e parcerias entre as esferas públicas e privadas responsáveis. – Reconhecimento do turismo de base comunitária como um dos vetores de desenvolvimento local. (2008, p. 12)

Desta pesquisa, outros desdobramentos serão possíveis sempre em

consonância às necessidades e motivações da comunidade.

A partir do discurso dos comunitários é que as ações de mudança

poderão ser planejadas por todos os parceiros pesquisadores, comerciais e,

sobretudo pelos comunitários que ao chegar à autogestão de seus recursos

naturais, vocacionais e potenciais terão uma ferramenta para o crescimento e

fortalecimento de suas raízes culturais, sociais e humanas. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nessas palavras finais, gostaríamos de expressar nosso sentimento de

continuidade. Sentimo-nos assim, por saber que a caminhada apenas começou

e que há muito ainda para trilhar nos caminhos da ciência.

Em resposta ao nosso tema, este passou por várias modificações que

temos a certeza de ter sido para melhor. Estas adequações ocorreram devido a

nossa miopia científica em definir nosso objeto de estudo e conseguir captá-lo

enquanto fenômeno plástico e em constante mudança.

Contudo as orientações nos focaram sempre na pesquisa e direcionaram

nosso olhar para o outro procurando vê-lo despidos de nossos pré-julgamentos

e verdades cristalizadas.

Em resposta aos nossos objetivos, acreditamos tê-los alcançado

parcialmente visto que a distância entre nós e nosso objeto de pesquisa,

nossas dificuldades de administração do tempo e de comunicação tornaram o

desafio maior e mais difícil de contemplar. Nossa metodologia se mostrou muito profunda por arvorar-se em mostrar

pelas palavras o que somente os olhos e muitas vezes nossa psique poderia

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absorver e compreender.

Chamaremos, portanto esta dissertação de um pequeno “ensaio

científico”, não por nos considerarmos pequenos no sentido de medíocres, mas

por nos sentirmos iniciantes em pesquisa.

Momentos difíceis foram inúmeros. As idas e vindas à balsa, a fila de

mais de um quilômetro só para entrar na balsa, gravidez, conciliação de

trabalho e mais trabalho, casa, filhas e mestrado, tornaram muitas vezes as

noites mais curtas e os dias mais longos.

Ao longo do período, muitas relações afetivas se atritaram, outras se

desfizeram e muitas se fortaleceram por causa de uma única palavra:

mestrado. Contudo o crescimento que esta experiência proporcionou foi ímpar

em todos os aspectos de todos os atores envolvidos no processo.

Lembramo-nos de estar em uma aula no módulo e ao mesmo tempo ter

que ministrar aulas para aqueles que no dado momento julgamos precisar mais

de nós. Ou ainda de estar na frente do ramal do Janauari sem poder entrar

diante de um atoleiro.

Tantas foram os textos repetidamente lidos para ampliar a assimilação,

tantos foram os “co-orientadores”, os “co-pesquisadores” e “co-terapeutas” de

plantão que estavam apostos a nos auxiliar e às vezes a só ouvir.

Grande foi o nosso aprendizado e nossa certeza de sermos pequeninos

diante da grandiosidade do outro, diante de nossa caminhada diante da

ciência. Temos a concretude de nunca parar, mesmo quando margeados de

lágrimas e incertezas.

Mas no decorrer desses dois anos de atividades de campo o Distrito de

Janauari, observamos e participamos da vida, da rotina, das dificuldades e de

todo o resplendor da natureza a nossa volta.

Durante os encontros na comunidade foi-nos possibilitado um nível de

proximidade com os comunitários no sentido de partilharmos da mesma comida

e da mesma bebida e da mesma dormida.

Nossos anfitriões em todos os momentos demonstraram uma

receptividade e um interesse por nós, não apenas por sermos pesquisadores,

mas por que na medida em que os vínculos iam se estabelecendo, as histórias

iam se misturando e cada vez mais nos sentíamos pertencentes à comunidade.

Pudemos observar também as condições de observar também, que

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apesar de hospitaleiros, para introduzir o Turismo de Base Comunitária, se este

for o desejo da comunidade, será necessário que a mesma tenha o

treinamento adequado para iniciar tal atividade.

Percebemos que além das riquezas naturais, a comunidade também

apresenta sua riqueza humana. Riqueza essa expressa em suas

manifestações artísticas e artesanais: nos colares, pulseiras, brincos,

carrancas, arcos e flechas.

A comunidade de São Pedro do Janauari, hoje Distrito do Janauari

compõe um grupo de famílias que vivem do artesanato e desejam

profundamente mantê-lo vivo tanto em suas vidas como nas vidas dos

visitantes. As atividades realizadas pelos comunitários, que vão desde as

domésticas (como fazer farinha, tratar um peixe ou ordenhar uma cabra, por

exemplo) até as atividades artesanais são alternativas criativas e ao mesmo

tempo incomuns aos olhos daqueles que ainda não tiveram a oportunidade de

partilhar de tal experiência.

Por ser banhada pelo Rio Negro, o que diminui a incidência de mosquitos

hematófagos, a comunidade possui as características ambientais adequadas à

receptividade dos turistas.

Além das belezas e atividades oferecidas pelo dia-a-dia dos comunitários,

a própria floresta nos convida a parar um pouco da nossa rotina e contemplar o

nascer ou pôr do sol na beira de um lago.

Em Janauari, é possível ir de lancha ou de rabeta aos igapós, focar

jacarés à noite, pescar seu próprio peixe, visitar pequenas ilhas e praias,

caminhar em trilhas terrestres e alagadas por passarelas suspensas, assim

como também é possível ir ao encontro das águas.

E mais, na fotografia abaixo observamos o que todos os dias os

comunitários avistam: uma sutil brincadeira das nuvens formando um encontro

das águas no céu, mostrando o quão imprevisível e bela pode ser a natureza

aos olhos daqueles que estão preparados para ver e reconhecer beleza onde

outros só avistam o comum.

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Fonte: Silva, 2012

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Psicologia Social – ABRAPSO – Florianópolis, SC de 14 a 17 de novembro de 2001. MORIN, Edgar. O Método 1 – A Natureza da Natureza. 2ª edição, Porto Alegre: Editora Sulina, 2008. NORONHA, Marconde Carvalho de. Arranjos Produtivos Locais no Estado do Amazonas: Uma análise dos esforços no setor público na sua implementação. Manaus: UFAM, 2008. OVERING, Joanna. Elogio do Cotidiano: A Confiança e a Arte da Vida Social em uma comunidade amazônica. Revista MANA, Estudos de Antropologia Social. v.5 N. 1, p. 81-107, 1999. PAPALIA, Diane E; OLDS, Sally Wendkos; FELDMAN, Ruth Duskin. Desenvolvimento Humano. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2000. PATTO, M. H. S. A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia. São Paulo: T. A. Queiroz, 1990. PREFEITURA MUNICIPAL DE IRANDUBA. Relatório de Análise de Contexto do Município de Iranduba. Gabinete do Prefeito. Iranduba – AM, 2011. PRETTE, Almir Del, PRETTE, Zilda A. P. Del. Assertividade, sistema de crenças e identidade social. Psicologia em Revista. Belo Horizonte, v. 9, n. 13, p. 125 – 136, junho. 2003. RICHARDSON. Roberto Jarry. Pesquisa Social – Métodos e Técnicas. 3ª edição, São Paulo: Editora Atlas, 2008. ROBBINS, S. P.; THIMOTHY, A. Judge; SOBRAL; Filipe. Comportamento Organizacional. 14 ª Ed. São Paulo: Prentice Hall, 2010. SANTOS, Milton. Por uma outra globalização - do pensamento único à consciência universal. São Paulo: Editora Record, 2000. _______________. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. 4ª. edição. 2ª. reimpressão.- São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006. SAWAIA, Bader B. (Org.) As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade social. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2001. _______________. Participação social e subjetividade. In: SORRENTINO, Marcos. Ambientalismo e participação na contemporaneidade. São Paulo: EDUC/FAPESP, 2002. Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE, Programa SEBRAE de Artesanato: Termo de Referência. Brasília: SEBRAE, 2004.

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APÊNDICE 01 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI

PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM TURISMO E HOTELARIA – MESTRADO ACADÊMICO – MINTER / UNINORTE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)

Prezado Sr (a):

Estamos convidado(a) a participar, como voluntário (a) em uma pesquisa

acadêmica da Mestranda Ana Paula Silva e Silva, que neste momento cursa o

Mestrado em Turismo e Hotelaria da UNIVALI (MINTER / UNINORTE) sob à

orientação da Prof. Dra. Yolanda Flores e Silva.

Após ser esclarecido(a) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer

parte do estudo, rubrique todas as folhas e assine ao final deste documento,

com as folhas rubricadas pelo pesquisador, e assinadas pelo mesmo, na última

página. Este documento está em duas vias. Uma delas é sua e a outra é do

pesquisador responsável. Em caso de recusa você não será penalizado(a) de

forma alguma.

A presente pesquisa tem como tema “JANAUARI: A PSICODINÂMICA

LABORAL DOS ARTESÃOS EM UMA PROPOSTA DE DIÁLOGO COM O

TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA”. E tem como objetivo geral analisar a

psicodinâmica laboral da população do Distrito de Janauari para a

organização e autogestão de empreendimentos turísticos de base comunitária.

Para conseguirmos os dados relativos a este objetivo precisaremos com o seu

auxílio de:

1. Descrever a história da comunidade e do foco laboral artesanal de produção

que sustenta economicamente as famílias da localidade;

2. Caracterizar o nível de organização comunitária [associações e cooperativas

existentes] para a autogestão de empreendimentos turísticos de base

comunitária;

3. Identificar as tendências, expectativas e possibilidades de serviços e

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produtos turísticos [ligados a produção artesanal] que possam ser ofertados a

turistas e visitantes;

4. Analisar se as expressões artesanais locais poderiam ser o foco chamativo

de turistas e visitantes;

No intuito de participar da pesquisa o senhor(a) ter alguns pré-requisitos

como: Ser morador da comunidade de Janauari; Trabalhar diretamente com

artesanato seja no beneficiamento de matéria prima, na confecção ou na venda

do artesanato; Ter idade maior que 17 anos e querer participar da pesquisa.

Caso a decisão seja positiva haverá com seu consentimento a possibilidade de

registro fotográfico ou de gravação em áudio as entrevistas e visitas.

Por ser uma pesquisa de cunho psicossocial, apresenta possibilidades

baixas de provocar prejuízos psicossociais ao pesquisado visto que não busca

investigar assuntos sigilosos ou de caráter polemizador do mesmo.

Como benefícios decorrentes da participação, o senhor(a) estará

contribuindo para o engrandecimento científico do tema da pesquisa bem como

estará abrindo caminho para mais estudos na área e na comunidade os quais

poderão trazer os melhoramentos que a comunidade por ventura possa vir a

necessitar.

Todos os participantes da pesquisa, sejam pessoas físicas ou empresas,

terão suas individualidades resguardadas em todo o processo e após a

pesquisa ser concluída. O período de participação incluirá apenas os dias das

visitas técnicas que ocorrerão ordinariamente duas vezes por mês durante os

meses de agosto a novembro de 2011 e fevereiro a abril de 2012.

Os participantes da pesquisa são livres para retirar seu consentimento de

participação em qualquer momento da pesquisa e sob forma alguma será

prejudicado em qualquer aspecto.

Nome do Pesquisador: Ana Paula Silva e Silva

Assinatura do Pesquisador:

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CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO DO SUJEITO

Eu, , RG , CPF

abaixo assinado, concordo em participar do presente estudo

como sujeito. Fui devidamente informado e esclarecido sobre a pesquisa, os

procedimentos nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios

decorrentes de minha participação. Foi-me garantido que posso retirar meu

consentimento a qualquer momento, sem que isto leve à qualquer penalidade

ou interrupção de meu acompanhamento/assistência/tratamento.

Local e data:

Nome:

Assinatura do Sujeito:

Telefone para contato:

Pesquisador Responsável: Ana Paula Silva e Silva

Telefone para contato: (92) 84139782

Pesquisadores Participantes:

Telefones para contato:

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APÊNDICE 02 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI

PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM TURISMO E HOTELARIA – MESTRADO ACADÊMICO – MINTER / UNINORTE

ROTEIRO DE ENTREVISTA, OBSERVAÇÃO E LEITURA DE DOCUMENTOS 1. Dados Relacionados aos Informantes:

1.1. Nome,

1.2. Idade,

1.3. Local de Residência,

1.4. Atividade Desenvolvida;

1.5. Dados Gerais sobre suas ações laborais e associativas na comunidade;

2. Dados oficiais do IBGE e outras instituições privadas e públicas sobre o

desenvolvimento populacional econômico local;

3. Dados relacionados aos aspectos históricos e geográficos da comunidade;

3.1. A chegada dos primeiros moradores na comunidade

3.2. Moradores nascidos na comunidade ou de outras localidades.

3.3. Comunidades parceiras no fornecimento de matéria prima.

3.4. A logística para a busca de matéria prima em outras comunidades e no

entorno de São Pedro do Janauari.

4. Dados relacionados às organizações comunitárias públicas e privados;

4.1. Associações comunitárias.

4.2. Serviços públicos e privados da comunidade.

4.3. Relacionamento e comunicação comunidade/Iranduba.

5. Dados relacionados à organização laboral da comunidade;

5.1. Divisão do trabalho por família.

5.2. Produtos confeccionados por família.

5.3. Idade de início das atividades laborais.

5.4. Quantidade de pessoas por família envolvidos com artesanato.

6. Dados relacionados às potencialidades turísticas locais.

6.1. A percepção de quais seriam outras atividades turísticas além da

visitação espontânea na comunidade.

6.2. A percepção do turismo de base comunitária como alternativa para a

comunidade de Janauari.