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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS DA TERRA E DO MAR CURSO DE OCEANOGRAFIA Setorização Sedimentar do Sistema Estuarino Lagunar do Rio Itapocú Litoral Norte de Santa Catarina Jeane Fachi ITAJAÍ 2012

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS DA TERRA E DO MAR

CURSO DE OCEANOGRAFIA

Setorização Sedimentar do Sistema Estuarino Lagunar do Rio Itapocú – Litoral Norte

de Santa Catarina

Jeane Fachi

ITAJAÍ

2012

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS DA TERRA E DO MAR

CURSO DE OCEANOGRAFIA

Setorização Sedimentar do Sistema Estuarino Lagunar do Rio Itapocú – Litoral Norte

de Santa Catarina

Jeane Fachi

Trabalho de Conclusão de curso

apresentado como requisito para a

obtenção do grau de Bacharel em

Oceanografia pela Universidade do

Vale do Itajaí

Orientador: Dr. José Gustavo Nartof

de Abreu.

ITAJAÍ

2012

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DEDICATÓRIA

Aos meus Pais, Helenita e Sandro, e

meus Avós Elvira e Dante.

Muito Obrigada

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço ao meu Pai, principal pessoa a me apoiar em fazer Oceanografia, to

quase lá pai.

Aos meus pais Helenita e Sandro, pelo amor, carinho, paciência durante todo esse período,

por permitirem que essa formação tornasse possível e por acreditarem em mim. Serei

eternamente grata.

Aos meus avós Elvira e Dante que sempre me ajudaram durante essa caminhada e nunca se

negaram a isso. Pelo orgulho que vocês sempre tiveram de mim e, pelo amor incondicional.

Ao Yannzinho, meu priminho que tanto desejei e que nasceu na semana em que entrei na

faculdade e ao meu priminho mais novo Cauã, também sempre muito engraçado. Obrigada

por serem crianças tão amadas e abençoadas e por alegrarem a nossa família.

Aos meus avós Eutália e Emanoel, pelo carinho e apoio. Sinto muito sua falta vó.

À minha irmã Jaqueline e minha tia Adriana, por fazerem parte da minha vida.

À minha família, que sempre me quiseram muito bem. Todos vocês foram importantes nessa

etapa da minha vida. Sem vocês eu não teria chego até aqui.

Ao meu professor Orientador José Gustavo, o qual sempre foi muito paciente e atencioso.

Muito obrigada por contribuir na minha formação.

Aos professores Thadeu, Leolynce, Inês e Rafael Sangoi, por serem sempre tão prestativos e

me ajudarem quando precisei.

Ao professor João Luiz Baptista de Carvalho, Daniel Benevides do laboratório de

Oceanografia Física e ao professor Eduardo Siegle do projeto CANAIS, por me fornecerem

os dados de Batimetria.

À todos que trabalharam no LOG durante os esses 3 anos. Obrigada pela companhia, pelos

momentos de descontração, aprendizado e pelos churrascos do LOG, sempre tão imperdíveis.

Às grandes amizades que construí ao longo desses anos, já valeu ter feito oceanografia só por

conhecer vocês. Em especial Jaque, Renata, Débora, Pati, Pri, Bruna, Paula Nolli, Paula

Gomes e Olivia. Sempre terei um carinho especial por todas vocês. E Jaque, muito obrigada

pela força nessa reta final!

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RESUMO

Os ambientes estuarinos têm sido o principal centro de desenvolvimento do mundo, e o conhecimento

sobre a estrutura e os processos que atuam nesse sistema é de fundamental importância. Inserido nesse

contexto está à setorização sedimentar, que consiste na determinação de sub-ambientes

sedimentologicamente distintos. Baseado nisso, este trabalho teve como objetivo propor a

setorização sedimentar do sistema estuarino lagunar do rio Itapocú, localizado no litoral norte de Santa

Catarina. Para realizar a setorização, foram coletadas 26 amostras entre o rio e a laguna, a fim de obter

as porcentagens de cascalho, areia, silte, argila, CaCO3 e MO, além dos parâmetros estatísticos como

diâmetro médio, desvio padrão, assimetria e curtose. Estes descritores, somados aos dados

batimétricos previamente adquiridos, foram interpolados pelo método IDW e, para os parâmetros

estatísticos, foram gerados diagramas de Voronoi. Por fim, foram aplicadas a análise de agrupamento

aos descritores sedimentológicos. Ao fim das análises, 3 ambientes sedimentológicamente distintos

foram determinados. Um ambiente predominantemente lamoso, com alto teor de MO e CaCO3,

localizados nas regiões extremas das lagoas e mais à montante do rio. O segundo ambiente com

valores intermediários e localizado na região central e o terceiro característico de sedimentos arenosos,

com baixos teores de CaCO3 e MO, localizado próximo ao canal natural e aleatóriamente pelo sistema.

Palavras-chave: Descritores sedimentológicos. Interpolação IDW. Análise de agrupamento.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Exemplo de como a distância euclidiana é calculada pela fórmula da hipotenusa,

sobre os pontos 1 e 2 nas coordenadas (X1, Y1) e (X2, Y2) respectivamente. ........................ 6

Figura 2 - Localização do Sistema-Estuarino Lagunar do Rio Itapocú. Coordenadas projetadas

em UTM, datum – SAD69. Os pontos em amarelo representam as amostras de sedimento

coletadas. ............................................................................................................................. 10

Figura 3 - Erro médio e desvio-padrão das interpolações pelo método IDW (em azul) e Spline

with barries (em vermelho) das respectivas variáveis representadas no eixo das abscissas. ... 16

Figura 4 - Distribuição dos 6 setores no sistema estuarino-lagunar do rio Itapocú, para fins de

melhor compreensão e explicabilidade durante o trabalho. ................................................... 19

Figura 5 - Variação Batimétrica do Sistema estuarino-lagunar do Rio Itapocú. Interpolação

feita pelo método IDW – Inverso Ponderado da Distância. ................................................... 22

Figura 6 - Porcentagem de cascalho, areia, silte e argila para cada ponto amostrado. ............ 23

Figura 7 - Distribuição do teor de cascalhos (em porcentagem) no Sistema – Estuarino-

lagunar do Rio Itapocú. Interpolação feita pelo método IDW – Inverso Ponderado da

Distância. ............................................................................................................................. 24

Figura 8 - Distribuição do teor de areia (em porcentagem) no Sistema – Estuarino-lagunar do

Rio Itapocú. Interpolação feita pelo método IDW – Inverso Ponderado da dtância. .............. 26

Figura 9 - Distribuição do teor de areia (em porcentagem) no Sistema estuarino-lagunar do

Rio Itapocú. Interpolação feita pelo método IDW – Inverso Ponderado da Distância. ........... 28

Figura 10 - Distribuição do teor de areia (em porcentagem) no sistema estuarino-lagunar do

Rio Itapocú. Interpolação feita pelo método IDW – Inverso Ponderado da Distância. ........... 30

Figura 11 - Distribuição do teor de sedimentos finos e grosseiros (em porcentagem) no

sistema estuarino-lagunar do Rio Itapocú. Interpolação feita pelo método IDW – Inverso

Ponderado da Distância. ....................................................................................................... 32

Figura 12 - Distribuição do teor de sedimentos finos e grosseiros (em porcentagem) no

sistema estuarino-lagunar do Rio Itapocú. Interpolação feita pelo método IDW – Inverso

Ponderado da Distância. ....................................................................................................... 34

Figura 13 - Distribuição dos teores de Matéria Orgânica (MO) no sistema estuarino-lagunar

do Rio Itapocú. Interpolação feita pelo método IDW – Inverso Ponderado da Distância. ...... 36

Figura 14 - Distribuição do tamanho médio de grão (phi) dos sedimentos no sistema

estuarino-lagunar do Rio Itapocú, de acordo com Folk & Ward e interpolado pelo método

IDW. .................................................................................................................................... 39

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Figura 15 - Diagrama de Voronoi representando a distribuição do grau de seleção (desvio

padrão) dos sedimentos no sistema estuarino-lagunar do rio Itapocú. ................................... 41

Figura 16 - Diagrama de Voronoi representando a distribuição do grau de assimetria dos

sedimentos no sistema estuarino-lagunar do rio Itapocú. ...................................................... 43

Figura 17 - Diagrama de Voronoi representando a distribuição do grau de curtose dos

sedimentos no sistema estuarino-lagunar do rio Itapocú. ...................................................... 45

Figura 18 - Dendograma representativo da análise de agrupamento realizada para as variáveis

sedimentológicas. ................................................................................................................. 46

Figura 19 - Dendograma representativo da análise de agrupamento realizada para as amostras

sedimentológicas. ................................................................................................................. 47

Figura 20 - Setorização sedimentar do sistema estuarino-lagunar do rio Itapocú. .................. 50

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Dados Padronizados para as variáveis sedimentológicas analisadas ..................................57

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 1

2 OBJETIVOS ................................................................................................................................. 2

2.1 Objetivo Geral .................................................................................................................... 2

2.2 Objetivos Específicos .......................................................................................................... 2

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................................................... 3

3.1 Setorização ......................................................................................................................... 3

3.2 Análise de Agrupamento..................................................................................................... 4

3.2.1 Medição de Similaridade ............................................................................................. 5

3.2.2 Número de Grupos Formados ..................................................................................... 8

4 METODOLOGIA .......................................................................................................................... 9

4.1 Caracterização da área de estudo ....................................................................................... 9

4.1.1 Clima .........................................................................................................................10

4.1.2 Contribuição fluvial ....................................................................................................10

4.1.3 Ondas ........................................................................................................................11

4.1.4 Marés ........................................................................................................................11

4.1.5 Batimetria ..................................................................................................................11

4.1.6 Hidrodinâmica ...........................................................................................................12

4.1.7 Fixação da Foz do Rio Itapocú ....................................................................................12

4.1.8 Canal aberto Emergencialmente ................................................................................12

4.2 Metodologia empregada ...................................................................................................13

4.2.1 Aquisição dos dados ...................................................................................................13

4.2.2 Processamento das amostras .....................................................................................13

4.2.3 Análise Granulométrica ..............................................................................................13

4.2.4 Carbonatos ................................................................................................................14

4.2.5 Matéria Orgânica .......................................................................................................14

4.2.6 Análise dos dados de granulometria...........................................................................14

4.2.7 Interpolações .............................................................................................................14

4.2.8 Análise de Agrupamento ............................................................................................17

4.2.9 Setores ......................................................................................................................18

5 Resultados ................................................................................................................................20

5.1 Batimetria .........................................................................................................................20

5.2 Distribuição Sedimentar ....................................................................................................23

6 DISCUSSÃO................................................................................................................................37

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6.1 Distribuição dos parâmetros estatísticos ............................................................................37

6.2 Análise de Agrupamento e Setorização ..............................................................................46

7 CONCLUSÃO ..............................................................................................................................51

8 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................53

9 ANEXO ......................................................................................................................................57

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1 INTRODUÇÃO

Segundo Dyer (1997), os estuários têm sido o principal centro de desenvolvimento

humano, e grande parte dos maiores centros do mundo estão localizados em suas

proximidades. Tal desenvolvimento está relacionado aos estuários pelos seguintes motivos:

são locais adequados para a instalação de portos; são férteis e podem produzir grandes

quantidades de matéria orgânica; constituem uma via de acesso importante para o interior do

continente; suas águas são renovadas periodicamente sob a influência da maré; e são

ambientes com alta importância ecológica (MIRANDA et al., 2002).

Existem diversos tipos de estuários, assim como diversas classificações que variam de

acordo com o parâmetro analisado. Dessa forma, os estuários podem ser caracterizados de

acordo com as marés, topografia, morfologia e estrutura salina (DYER, 1997). A exemplo, os

estuários classificados de acordo com a sua topografia estão os estuários de planície costeira,

fiordes, construído por barreiras entre outros (DYER, 1997).

O cenário desse estudo é um estuário construído por barreira, com uma única conexão

com o ambiente marinho. Esta conexão é comumente denominada de canal, ou canal de maré,

e desembocadura. Tais desembocaduras são aberturas nas barreiras arenosas, criadas por

tempestades ou cursos d’água. Mas também podem ser feitas pelo homem através da abertura

artificial de canais. (USACE, 2002; KIESLICH, 1981)

Os canais são abertos artificialmente com diversas finalidades, entre elas evitar enchentes,

aumentar as trocas de água entre o estuário e o oceano, melhorando assim a qualidade da água

e, por servirem como canais de navegação (MEHTA, 1996).

O sistema estuarino-lagunar do rio Itapocú, teve recentemente seu canal fixado. Devido a

esse fato, estudos sobre essa área, a fim de entender a estrutura e os processos atuantes nesse

sistema antes e após a fixação, são de suma importância.

Com base nisso, este trabalho propôs realizar uma setorização sedimentar do sistema

estuarino-lagunar do rio Itapocú. Este tipo de estudo se torna uma importante ferramenta para

o conhecimento do ambiente, pois ela pode inferir sobre os agentes ambientais dominantes no

sistema, como também a origem do sedimento, o transporte e as condições deposicionais

(BONETTI et al., 2006). A setorização sedimentar pode ser feita através do uso de descritores

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morfo-sedimentológicos e de técnicas de interpolação e estatística multivariada (RUDORFF

et al., 2005).

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

O presente trabalho visa a setorização sedimentar do sistema estuarino e lagunar do rio

Itapocu, localizado no litoral norte do Estado de Santa Catarina.

2.2 Objetivos Específicos

Realizar análise batimétrica do sistema estuarino-lagunar para caracterizar sua

morfologia.

Realizar um levantamento sedimentológico do sistema estuarino lagunar, a fim

de obter a distribuição espacial dos descritores sedimentológicos como:

porcentagem de carbonato biodetrítico, teor de matéria orgânica e parâmetros

granulométricos estatísticos.

Aplicar técnicas de interpolação aos descritores morfo-sedimentológicos.

Aplicar análise de agrupamento aos descritores sedimentológicos.

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3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 Setorização

Os parâmetros sedimentológicos bem como a distribuição destes, podem refletir os

agentes ambientais dominantes que agiram em um sistema durante os últimos meses ou anos.

Assim como também podem inferir sobre a origem do sedimento, o seu transporte e as

condições deposicionais do ambiente (BONETTI et al., 2004).

Em um estudo sobre caracterização sedimentar e setorização no sistema estuarino da baía

da Babitonga, Vieira et al. (2008) relacionou ambientes distintos de sedimentação

principalmente com a profundidade e com os padrões de circulação em seu interior.

Desta forma, a setorização sedimentar auxilia no conhecimento da estrutura e dos

processos atuantes nos sistemas ambientais costeiros, tornando-se uma importante ferramenta

para o gerenciamento e engenharia costeira.

Bonetti et al, 2004, realizaram a setorização do substrato com base nos descritores

morfosedimentares do subsistema sul da Lagoa da Conceição, e através do uso da

geoestatística e estatística multivariada identificaram os diferentes ambientes deposicionais

presentes.

A geoestatística é composta por diferentes métodos para a análise e estimativa de dados

correlacionados no tempo ou espaço (EINAX & SOLDT, 1999). Segundo esses autores,

Krigagem é uma técnica geoestatística que fornece estimativas para locais não amostrados,

baseado na interpolação de médias ponderadas. Porém os métodos geoestatísticos são

limitados se o número de amostras for pequeno ou se o planejamento amostral não foi bem

organizado, nesses casos a estatística multivariada pode vir a solucionar tal problema.

Neste trabalho, foram usadas técnicas de interpolação determinísticas pelo Inverso

Ponderado da Distância (IDW) e análise de agrupamento como estatística multivariada

(explicados a seguir).

Os métodos estatísticos multivariados são ferramentas para a manipulação simultânea de

diversas variáveis ou objetos, os quais seriam difíceis de serem entendidos através de simples

observações (CALLIARI, 1994). Entre esses métodos, a análise de Agrupamento (Cluster

Analysis) vem sendo utilizada para a setorização de ambientes costeiros com base em

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diferentes descritores, visto que esta técnica tem como objetivo avaliar as similaridades entre

os indivíduos ou amostras, de modo a redefini-los em grupos (EINAX & SOLDT, 1999;

RUDORFF et al., 2005; VIEIRA et al., 2008)

Segundo Rudorff et al. (2005), a setorização de um ambiente corresponde na

identificação de unidades com funcionalidades semelhantes, e esta pode ser feita com o uso de

descritores ambientais e técnicas de geoestatistica e estatística multivariada. Porém este

trabalho utilizou técnica de interpolação determinística ao invés de geoestatística. Utilizado o

método IDW para a interpolação das variáveis sedimentológicas, assim como Vieira et al.

(2008).

3.2 Análise de Agrupamento

A análise de agrupamentos compõe diversas técnicas multivariadas que consiste em

agrupar variáveis ou indivíduos com características semelhantes. As características de cada

amostra são representadas pela variável estatística de agrupamento, que é o conjunto de

variáveis usadas para comparar os diferentes indivíduos de uma população amostral. O foco

da análise de agrupamento está na comparação de indivíduos com base na sua variável

estatística e não na estimação da variável estatística em si, o que torna a seleção/escolha das

variáveis um critério de suma importância para a análise (CORRAR et al., 2007).

A análise de agrupamentos é uma ferramenta útil quando se deseja comparar muitas

variáveis ao mesmo tempo e de naturezas diferentes. Além de não fazer distinção entre

variáveis dependentes ou independentes, a análise de agrupamentos não necessita de alguns

pressupostos tais como, normalidade, linearidade e homoscedasticidade, visto que não é uma

técnica de inferência estatística (VICINI, 2005 e CORRAR et al., 2007).

Embora a análise de agrupamento seja muito útil para agrupar amostras com

características semelhantes e desta forma reduzir o número de informações de modo a

compreender melhor os dados, ela também possui algumas limitações. Esta técnica pode ser

considerada como descritiva, sem base teórica e não inferencial. Pois ela não tem base

estatística para poder inferir sobre uma população a partir de uma amostra e geralmente é

usada como uma técnica exploratória. A análise de agrupamentos também sempre irá formar

grupos, independente da verdadeira existência de qualquer estrutura nos dados (VICINI, 2005

e CORRAR et al., 2007).

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A solução para essa limitação depende exclusivamente das variáveis que são usadas ou

não, como medidas de similaridade e estas, quando adicionadas ou excluídas da análise,

podem ter efeito significativo sobre a solução resultante. Por exemplo, casos atípicos podem

ser formados se uma variável irrelevante é adicionada na análise, podendo alterar

relativamente os resultados. Portanto, cabe ao pesquisador avaliar quais variáveis devem ser

incluídas, e isto deve ser feito através de considerações teóricas e conceituais, bem como

práticas. Além disso, outras duas questões também são importantes nesta técnica para

solucionar tal problema, são elas: representatividade da amostra e multicolinearidade

(CORRAR et al., 2007).

Como raramente se consegue obter um censo da população numa pesquisa, uma boa

representatividade da amostra é sempre fundamental para representar bem uma população.

Portanto é importante que o n amostral num estudo seja verdadeiramente representativo da

população para que, os resultados também sejam.

Já a multicolinearidade representa o grau em que uma variável pode ser explicada por

outras variáveis dentro de uma análise. Como a análise de agrupamento não atribui maior

peso sobre nenhuma variável, as variáveis multicolineares irão implicitamente influenciar

mais sobre o modelo, visto que tais variáveis estão inter-relacionadas e o efeito de qualquer

variável individual torna-se difícil de ser determinado. Por esta razão, devem-se avaliar as

variáveis antes de aplicar a análise de agrupamento e se encontrar variáveis multicolineares,

determinar quais precisam ser retiradas de modo que um conjunto de variáveis não pondere

um maior peso sobre as outras.

Portanto, apesar de suas limitações, a análise de agrupamento pode sim ser usada para

fins confirmatórios e para realizá-la, três etapas se fazem necessárias: (1) medição da

similaridade, (2) formação dos agrupamentos e, (3) número de grupos formados. (CORRAR

et al., 2007).

3.2.1 Medição de Similaridade

A medida de similaridade é uma parte fundamental na análise de agrupamento, pois é ela

quem mede a semelhança dos dados a serem agrupados. Existem diversas maneiras de medir a

similaridade, mas 3 métodos são mais comuns na análise de agrupamento: medidas

correlacionais, medidas de distância e medidas de associação. Embora a medida de distância

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seja a mais comum, o método escolhido depende do objetivo do estudo e do tipo do dado

usado (CORRAR et al., 2007).

Entre as medidas de distancia existentes, a mais comumente utilizada é a distância

euclidiana. Neste caso, para cada par de observações, é calculada a distância euclidiana e

quanto menor for esse valor, maior é a similaridade entre os pares (CORRAR et al., 2007).

A distância euclidiana entre dois pontos (com coordenadas XY) é calculada pelo

comprimento da hipotenusa de um triângulo retângulo entre esses pontos. Onde o ponto 1 e 2

com coordenadas (X1, Y1) e (X2, Y2) respectivamente, têm a distância calculada pela

fórmula da hipotenusa, como ilustrado na figura 1. Este método é empregado para calcular

medidas específicas, como a distância euclidiana simples (descrita acima) e a distancia

euclidiana quadrada ou absoluta. A distancia euclidiana quadrada é a soma dos quadrados das

diferenças, sem calcular a raiz quadrada, o que é uma vantagem em termos computacionais

visto que não é necessário calcular a raiz quadrada, além de ser a distancia recomendada para

os métodos de agrupamento do tipo Ward (usada neste trabalho) (CORRAR et al., 2007).

Figura 1 - Exemplo de como a distância euclidiana é calculada pela fórmula da hipotenusa, sobre

os pontos 1 e 2 nas coordenadas (X1, Y1) e (X2, Y2) respectivamente.

Quando as variáveis apresentam diferentes escalas de mensuração, se faz necessário a

padronização dos dados antes de medir a similaridade. Pois a ordem de similaridade entre os

indivíduos pode mudar muito conforme a escala em que cada variável se encontra quando os

dados não estão padronizados. A padronização pode ser feita com base nas variáveis ou com

base nos indivíduos/amostras. A padronização com base nas variáveis é a mais utilizada e é

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feita pela conversão de cada variável em escores padrão. Para realizar a padronização obtêm-

se primeiramente a média ( )e o desvio padrão de todas as amostras para cada variável. Por

fim, cada amostra de uma variável específica é subtraída pela sua média e o resultado é

dividido pelo seu desvio padrão (σ), como mostra a fórmula abaixo (CORRAR et al., 2007).

Equação 1 -

Eq.1

Após obter a medida de similiaridade, deve-se optar por qual procedimento usar para

formar os agrupamentos. O método mais simples e usado na geologia é o hierárquico, que

consiste em identificar as duas observações mais semelhantes que ainda não estão no mesmo

agrupamento e combiná-las. Essa regra é aplicada repetidamente, iniciada pelo agrupamento

dos pares mais semelhantes, seguida pelo agrupamento dos grupos mais semelhantes até que

um único grupo seja formado. Além de ser um procedimento hierárquico é também um

método aglomerativo, porque os agrupamentos são formados pela combinação de outros já

existentes (CORRAR et al., 2007).

Entre os métodos aglomerativos, o método de Ward foi o empregado neste trabalho por

apresentar melhor distinção entre os agrupamentos. Este método combina um grupo ao outro

quando essa união apresentar o menor acréscimo de variabiliadade. (VICINI, 2005).

O processo de agrupamento hierárquico pode ser representado de diversas maneiras, a

forma mais comum é pelo dendograma, uma representação gráfica do tipo árvore (VICINI,

2005).

Num dendograma, o eixo horizontal representa a distância euclidiana usada para unir

agrupamentos. Neste caso, quanto menor for a distância euclidiana, mais semelhantes são as

amostras em termos de suas características analisadas. Este tipo de abordagem é útil na

identificação de observações atípicas além de mostrar os diferentes tamanhos dos grupos

(VICINI, 2005).

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3.2.2 Número de Grupos Formados

Apesar de existirem vários métodos para auxiliar no número de agrupamentos formados,

esta etapa ainda é considerada muito subjetiva e cabe ao pesquisador avaliar quantos grupos

foram formados pela análise de agrupamento (CORRAR et al., 2007).

Porém, vários critérios e orientações foram desenvolvidos por pesquisadores para

solucionar este problema. Como examinar as medidas de similaridade ou distância entre os

agrupamentos a cada passo de formação e determinar o grupo anterior quando a medida de

similaridade sofrer um aumento brusco ou ultrapassar um valor especificado. Uma segunda

classe geral de regras para determinar quantos grupos deve compor a análise se baseiam em

aplicar alguma regra estatística ou adaptar um teste estatístico, mas apesar de serem bons

métodos, são muito complexos para a melhoria que eles podem trazer sobre medidas mais

simples (CORRAR et al., 2007).

Contudo, o pesquisador deve buscar a melhor solução através de vários critérios, a priori,

julgamento prático, senso comum ou fundamentação teórica e avaliar qual é o melhor

procedimento para decidir o número final de agrupamentos (CORRAR et al., 2007).

Após decidir sobre qual método de medida de similaridade e de partição dos grupos usar,

além de determinar o número de grupos formados na análise, vem à interpretação dos

resultados (CORRAR et al., 2007).

A interpretação dos agrupamentos na análise consiste, na comparação dos resultados

das variáveis com cada grupo formado, afim de, nomear ou caracterizar a natureza dos

agregados. O exame das variáveis sobre cada grupo permite, uma rica descrição sobre o que

prevalece e o que distingue os agrupamentos. Como exemplo pode-se observar que

determinado grupo apresentou alta porcentagem de sedimentos finos, enquanto que outro

apresentou alta porcentagem de areia e um terceiro grupo apresentou tanto sedimentos finos

quanto grosseiros em seu conteúdo, porém este último possui maior similaridade ao grupo dos

sedimentos grosseiros devido aos valores positivos de assimetria (CORRAR et al., 2007).

Além de descrever as características de cada grupo, a análise de agrupamento pode ser

usada de um modo confirmatório para avaliar a correspondência dos agregados obtidos com

os propostos por alguma teoria ou experiência prática.

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4 METODOLOGIA

4.1 Caracterização da área de estudo

Segundo GERCO/SC (2003), a área de estudo corresponde ao sistema estuarino-lagunar

do rio Itapocú, localizado no litoral centro norte do Estado de Santa Catarina entre os

municípios de Araquari ao norte e Barra Velha ao Sul (Fig. 2). Segundo Carter (1998), este

corpo costeiro é denominado como um estuário construído por barra. A extensão da laguna é

de aproximadamente 12 km, separado pelo oceano por uma estreita barreira arenosa e possui

apenas uma única conexão (inlet) com o mar (BONETTI et al., 2006).

Todavia a mobilidade desse canal é intensa e sua migração se dá no sentido norte

(BONETTI et al., 2006). Segundo Menezes et al. (2006), o canal do Rio Itapocú migra cerca

de 100 metros por ano ao norte, sendo as ondas responsáveis pela forte migração do canal

(SIEGLE et al., 2005). O canal também raramente fecha devido à alta vazão do rio que gera

correntes fortes o suficiente para manter o canal aberto (ABREU, 2007).

O rio Itapocú nasce no alto da Serra do Mar, próximo ao município de Corupá, e percorre

seu trajeto de oeste para leste, aonde deságua em uma linha de costa desabrigada de alta

energia, o que possibilitou a formação da Lagoa de Barra Velha ao sul e Lagoa da Cruz ao

norte (ABREU, 2007; SCHETTINI & KLEIN, 1997).

Na parte sul da lagoa ocorre o despejo direto de parte dos efluentes domésticos, uma vez

que a cidade não possui tratamento de esgoto. Já ao norte, existem algumas comunidades

costeiras, além de duas fazendas de camarão. Entretanto é uma área pouco ocupada e com

poucas intervenções humanas (ABREU, 2007).

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Figura 2 - Localização do Sistema-Estuarino Lagunar do Rio Itapocú. Coordenadas projetadas em

UTM, datum – SAD69. Os pontos em amarelo representam as amostras de sedimento coletadas.

4.1.1 Clima

Segundo Gaplan (1986), o clima da região é classificado como subtropical, com

temperatura e pluviosidade anual média de 20°C e 2200mm respectivamente. O período

entre os meses de dezembro à março (verão) são os de maior pluviosidade e o período

entre os meses de abril à junho de menor pluviosidade. O clima no Estado de Santa

Catarina também é dominado por três grandes sistemas de alta pressão, que correspondem

aos anticiclones Atlântico, Pacífico e Polar. Esses sistemas de trazem tempo limpo e com

baixas temperaturas, porém com as chegadas das frentes frias no inverno, tempestades são

mais comuns (PERK, 2006).

4.1.2 Contribuição fluvial

A bacia hidrográfica do Rio Itapocú abrange uma área de 2930 km2, com extensão de

4684 km e recebe influência principalmente dos rios Jaraguá, Itapocuzinho, Putanga, Piraí

e Novo, como principais afluentes (GAPLAN, 1986). A descarga média dessa bacia é de

77 m3/s (SCHETTINI & CARVALHO, 1998).

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4.1.3 Ondas

Alves e Melo (2001), identificaram quatro estados de mar predominantes no litoral

norte Santa Catarina, são eles: vagas de Leste-Nordeste; vagas de Sul-Sudeste; Lestada; e

ondulações de Sudeste.

O período de maior frequência de tempestades é o outono e inverno, onde a ocorrência

de ondas com grande período e altura também são maiores. Isso se deve às frentes polares

citadas anteriormente que ocasionam os giros ciclônicos no oceano, geradores das grandes

ondulações, principalmente Leste-Sudeste e Sul (ARAÚJO ET al., 2003).

4.1.4 Marés

O regime de marés astronômicas locais é do tipo micromarés mistas com

predominância semi-diurna. Sua altura varia entre 0,4 nos períodos de quadratura à 1,2

durante o período de sizígia (SIEGLE et al., 2007). O número de Forma é de 0,4

aproximadamente com variação de maré de 0,8m (SCHETTINI et al. 1996).

4.1.5 Batimetria

A batimetria utilizada neste trabalho foi realizada em dois momentos, primeiramente

pelo professor Eduardo Siegle, através do projeto CANAIS e, num segundo momento pela

equipe do laboratório de Oceanografia Física da UNIVALI sobre supervisão do professor

João Luiz Baptista de Carvalho. Porém os dados foram compilados no trabalho de

Benevides (2009), o qual utilizou a batimetria e outros parâmetros para gerar um modelo

hidrodinâmico com da situação antes e após a fixação de um canal de acesso ao sistema

estuarino-lagunar do rio Itapocú.

Porém, como o objetivo deste trabalho não era realizar uma caracterização batimétrica,

o presente trabalho interpolou esses dados a fim de descrever a variação batimétrica do

local.

Uma batimetria prévia realizada por Bonetti Filho et al. (2000), indicou uma

profundidade máxima de 2 à 3 metros, enquanto que no final do curso do rio a

profundidade chegou a 8m.

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4.1.6 Hidrodinâmica

De acordo com Schettini et al. (1996) apud Abreu (2007), o sistema estuarino-lagunar do

rio Itapocú é verticalmente estratificado sem circulação gravitacional, de acordo com a

classificação de Hansen e Rattray (1966).

De acordo com um estudo realizado por Abreu et al. (2010), o sistema estuarino-lagunar

do rio Itapocú apresentou um comportamento de correntes diferenciado em diversas

localizações devido às diferentes forçantes que regem o local. As correntes de vazante se

apresentaram predominantes em toda a área de estudo, o que também foi confirmado por

Siegle et al., (2007). Isso se deve principalmente pela descarga fluvial e as velocidades de

correntes foram superiores no canal de maré, visto que era a única conexão com o oceano e as

menores na lagoa norte. A lagoa sul, por apresentar menos influência das correntes de maré e

pequeno prisma de maré, também apresenta baixa velocidade residual. Num estudo de

modelagem hidrodinâmica feito por Benevides (2009) para esse sistema, também foi

observado o predomínio de correntes de vazante e elas foram maiores no baixo estuário e

menores nas lagunas. Portanto, as lagoas apresentaram velocidades de correntes mais baixas

às que ocorrem no baixo estuário e no canal.

4.1.7 Fixação da Foz do Rio Itapocú

Atualmente há um projeto de fixação da barra do rio Itapocú, no qual no momento das

coletas de sedimento para este trabalho, apenas uma etapa havia sido concluída (a construção

do molhe nordeste). Este projeto tem por objetivo, fixar um canal de acesso ao sistema

estuarino lagunar do rio Itapocú a uma cota batimétrica de 4m para se possa navegar sobre

qualquer condição de variação da maré, além de evitar enchentes em períodos de cheias

(BENEVIDES, 2009, e BARRAVELHA.SC, 2012).

4.1.8 Canal aberto Emergencialmente

É importante ressaltar que devido às cheias ocorrentes em Janeiro de 2011, uma abertura

emergencial na foz do rio Itapocú (popularmente conhecida como “Boca da Barra”), foi

realizada para evitar enchentes. Essa abertura ocorreu no dia 22 de Janeiro e no momento das

coletas de sedimento (realizadas dia 11 de Março) o mesmo se encontrava aberto. Essa

informação encontra-se disponível no site Jornal do Comércio (ADJORISC, 2012).

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4.2 Metodologia empregada

4.2.1 Aquisição dos dados

Foi realizado um levantamento sedimentológico nos 4 km da foz do rio em direção à sua

montante e nos 12 km de extensão da laguna. A amostras de sedimentos foram espaçadas a

cada 1km sendo que a cada 2km, 2 amostras eram coletadas nas margens do corpo hídrico.

As amostras de sedimento foram coletadas no dia 11 de Março de 2011. O amostrador de

fundo foi uma draga do tipo tipo van-Veen, e estas foram armazenadas em sacos plásticos.

Posteriormente as amostras foram para o laboratório de Geologia da UNIVALI, as quais

permaneceram refrigeradas até o seu processamento.

4.2.2 Processamento das amostras

Antes de iniciar a análise granulométrica, as amostras foram lavadas com água destilada

para a retirada de sais solúveis. Em seguida elas foram levadas à estufa entre uma temperatura

de 40 à 50 °C para completa secagem. Posteriormente, as amostras foram quarteadas e

direcionadas para à análise da granulometria, teor de carbonato biodetrítico e matéria

orgânica, e a última parte ficou guardada como reserva.

4.2.3 Análise Granulométrica

Uma adaptação das técnicas descritas por Suguio (1973) foi utilizada para o

peneiramento e pipetagem. Os sedimentos finos foram separados dos grossos por uma peneira

de malha igual a 0,063mm, onde os sedimentos eram novamente lavados transferindo os finos

para uma proveta de 1000ml e retendo os grossos na peneira. Posteriormente, foi eliminada a

matéria orgânica dos sedimentos grossos através da adição de peróxido de hidrogênio (H2O2)

sob aquecimento. Após a eliminação da matéria orgânica, esses sedimentos foram novamente

secados e após o mesmo, uma subamostra de 40g foi usada para o peneiramento. As peneiras

foram agitadas durante 20 minutos e estas separam os grãos a cada intervalo e ¼ de phi. Por

fim, o peso das frações de sedimentos arenosos em cada peneira, foram pesados em uma

balança de 0,0001 de precisão.

Para a quantificação das frações de silte e argila, foi adicionado à proveta, 5g do

antifloculante hexametafosfato de sódio, visto que os sedimentos finos tem uma tendência

natural de se agruparem. Após a agitação da proveta, esperou-se 1’56’’ para coletar 20ml, e o

conteúdo sedimentar desta alíquota foi seco e pesado para quantificar o teor de silte. Por fim,

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o mesmo procedimento foi realizado para determinar o teor de argila, porém esta foi coletada

após 8h e 10 minutos.

4.2.4 Carbonatos

Para a obtenção do teor de carbonato biodetrítico (CaCO3), foi retirado 15g de cada

amostra o qual foi macerado e atacado com ácido clorídrico (HCl) 50%. Posteriormente a

amostra foi lavada em filtros, a fim de eliminar todo o ácido retido. Esse filtro (cujo peso foi

medido inicialmente) foi seco e pesado para obter o teor de CaCO3 através da diferença entre

o peso inicial e final, descontando o valor do filtro.

4.2.5 Matéria Orgânica

Para obter o teor de matéria orgânica, foi colocado 20g de sedimento em cadinhos e estes

foram submetidos a 800 °C na mufla durante 8 horas. Desta forma, a matéria orgânica foi

eliminada e seu teor pode ser quantificado pela diferença entre o valor inicial e final.

4.2.6 Análise dos dados de granulometria

Os dados obtidos de cada amostra foram inseridos no software SIGA – Sistema de

Gerenciamento de Amostras, desenvolvido pelo Laboratório de Computação Aplicada em

parceria com o grupo de Oceanografia Geológica da UNIVALI. Este software gerou os dados

de porcentagem de cascalho, areia, silte e argila, além dos parâmetros estatísticos de Folk e

Ward (1957 apud SUGUIO, 1973).

Estes dados foram usados nas interpolações e posteriores análises de agrupamentos.

4.2.7 Interpolações

Como não é possível e nem viável amostrar toda a área de estudo de forma a obter um

censo, faz-se necessário o uso de ferramentas como as técnicas de interpolações para

estimar as características de áreas não amostradas. Essas técnicas partem do principio de

considerar os valores amostrados assim como sua importância (denominada como pesos)

frente ao ponto que se quer estimar. Ou seja, a interpolação pressupõe que os pontos que

estão mais próximos são mais parecidos aos que estão distantes (BORROUGH, 1986). A

Interpolação espacial calcula um valor desconhecido a partir de um conjunto de pontos

conhecidos, que estão espacializados ao longo de uma área, logo, quanto maior for o

número de amostras menor será o erro da estimação feita por ela (MONTEIRO, 2010).

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Entre os métodos de interpolações existentes, somente dois foram avaliados neste

trabalho (IDW e Spline With Barriers), visto que estes métodos apresentavam a opção de

inserir uma barreira para limitar a área a ser interpolada. Diferentemente do interpolador

Kriging e outros do pacote Geostatistical Analyst, que no software ArcGIS® não

apresentavam esta opção.

Para realizar e testar as interpolações das variáveis sedimentológicas, primeiramente foi

georeferenciada uma imagem de satélite CBERS2B – ANO 2009 (Fig. 1), disponibilizada

pelo site do INPE (DGI.INPE, 2011), esta imagem foi georeferenciada através de uma base

Cartográfica da Secretária do Patrimônio da União. O georeferenciamento também foi

realizado no software ArcGIS.

No entanto a imagem utilizada corresponde ao ano de 2009 e não condiz com a

morfologia desse sistema no momento das coletas de sedimento em Março de 2011. Visto que

este ambiente é altamente dinâmico, com migração do canal de maré de 100 metros por ano

no sentido norte (MENEZES et al. 2006). Devido a isso, o canal de abertura natural estava a

aproximadamente 200 metros mais à norte no momento da coleta, além de haver um canal

aberto emergencialmente na desembocadura do rio, para evitar enchentes devido às cheias

que ocorreram nessa época (citado anteriormente). Contudo, essa foi a melhor e mais recente

representação do sistema adquirida no presente estudo.

Posteriormente, foi traçada uma linha no entorno do sistema estuarino-lagunar para

demilitar a área, a fim de obter suas feições fisiográficas para usá-la como barreira na

interpolação.

As variáveis utilizadas para gerar os mapas temáticos, foram inseridas no software

ArcGIS, com suas respectivas coordenadas XY para cada ponto amostral. Assim foram

confeccionadas as interpolações tanto para o método Spline With Barriers quanto para o

método IDW (do pacote de ferramentas 3D Analyst) das seguintes variáveis: Diâmetro Médio,

porcentagem de cascalho, areia, silte, argila, carbonato biodetrítico e matéria orgânica.

Ao analisar as interpolações, pôde-se verificar que as realizadas pelo método IDW

apresentaram um resultado esteticamente melhor do que pela Spline With Barriers. Pois esta

última extrapolava as superfícies contínuas para além do sistema em questão. Tendo em vista

esse fato um shape do tipo polígono era usado para extrair somente a imagem interpolada de

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dentro do sistema. Porém, embora o resultado aparente fosse o mesmo, o erro médio gerado

pela extração aumentou muito (Fig. 3).

Para calcular o erro médio, foi obtido através da função Extract Multi Values to Point (pacote

Spatial Analyst Tools do ArcGIS), o valor interpolado para cada ponto coletado de todas as

variáveis analisadas. Dessa forma, o erro era calculado pela diferença entre ambos e, o desvio

padrão foi obtido diretamente pela função Statistics da tabela de atributos sobre o erro de cada

variável.

Por fim, ao analisar os erros médios e os desvios-padrão para cada variável interpolada

observa-se que o método IDW foi que apresentou o melhor resultado. Visto que seu erro variou de

0,001 para cascalhos a 0,15 para finos, com desvio-padrão de 0,004 para cascalhos a 0,26 para

sedimentos grossos. Enquanto que o método de interpolação Spline With Barriers chegou a 1

ordem de grandeza superior no erro médio e desvio padrão. Erro médio de 0,01 para cascalho a

1,5 para sedimentos arenosos e desvio-padrão de 0,03 a 4,5 para as mesmas variáveis.

Figura 3 - Erro médio e desvio-padrão das interpolações pelo método IDW (em azul) e Spline with barries (em vermelho) das respectivas variáveis representadas no eixo das abscissas.

Dessa forma o interpolador escolhido foi o IDW, pois ele apresentou um erro e desvio-

padrão muito pequeno em todas as variáveis inseridas. E quando comparado ao interpolador

Spline with barries, o IDW não extrapolou uma superfície para fora da barreira como ocorreu

-4

-2

0

2

4

6

8

Erro médio IDW

Erro médio Spline

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no primeiro, além de sua imagem ficar esteticamente melhor. Os mapas interpolados serão

mostrados ao longo da apresentação dos resultados.

Como os parâmetros estatísticos são imprescindíveis para o entendimento dos sistemas de

deposição sobre os sedimentos estudados preferiu-se trabalhar sem estimações ou gradientes.

Para tanto foi utilizado o mapa (diagrama) de Voronoi, que divide a área estudada em

polígonos com o valor medido e com seus limites os mais próximos de sua amostra

correspondente em relação aos demais polígonos.

O diagrama de voronoi foi obtido para as variáveis desvio-padrão (grau de seleção),

assimetria e curtose, através do pacote de ferramentas Geostatistical Analyst do software

ArcGIS. Estes mapas podem ser observados durante a discussão dos resultados.

4.2.8 Análise de Agrupamento

A análise de agrupamento foi realizada no software Statistica, e foram geradas duas

análises, (i) para as variáveis a fim de obter quais grupos estão associados de forma positiva e;

(ii) para as amostras, com objetivo de verificar quais são as mais semelhantes entre si, de

acordo com as variáveis estudadas, afim de propor a setorização sedimentar do sistema

estuarino-lagunar do rio Itapocú.

As variáveis usadas para ambas as análises foram: diâmetro médio, porcentagem de

sedimentos finos (finos) e grossos (arenosos), teor de carbonato biodetrítico (CaCO3), teor de

matéria orgânica (MO), desvio padrão, curtose e assimetria.

Porém, os dados foram padronizados antes de gerar os agrupamentos para que nenhuma

variável pondere um valor maior sobre a outra durante a análise. Visto que as variáveis

estudadas apresentam diferentes escalas de medida. A padronização é feita pela fórmula:

Equação 1:

Eq.1

Onde x representa o valor da amostra n, representa a média amostral e σ o desvio

padrão.

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A similaridade entre os indivíduos foi feita segundo o coeficiente do quadrado da

distância euclidiana. E a estratégia de agrupamento que melhor representou os agrupamentos

foi o método de Ward, também conhecido como variância mínima.

Os dendogramas obtidos são apresentados na discussão dos resultados.

4.2.9 Setores

Para fins de melhor compreensão e apresentação dos dados, a área de estudo foi dividida

em 6 setores (Fig. 4):

- Região mais à montante do rio Itapocú: Localizada na região mais à montante do rio, é

composta por 3 amostras de sedimento (#1, #2 e #3).

- Região central: Localizada na região central entre o baixo estuário e região central da

laguna. É composto pela maioria dos sedimentos e estes correspondem as amostras 4, 5, 6, 15,

16, 17 e 18.

- Região do meio sul: Localizada no meio sul da laguna entre os setores extremo sul e central.

É composto pelas amostras 19, 20 e 21.

- Região do extremo sul: Localizada no extremo sul da laguna, é composto pelas amostras 24,

25 e 26.

- Região próxima ao canal: Localizada próximo ao canal de maré (inlet), é composto pelas

amostras 11, 12, 13 e 14.

- Região do extremo norte: Localizada no extremo norte da laguna, é composto pelas amostras

7, 8, 9 e 10.

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Figura 4 - Distribuição dos 6 setores no sistema estuarino-lagunar do rio Itapocú, para fins de

melhor compreensão e explicabilidade durante o trabalho.

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5 Resultados

5.1 Batimetria

Através da interpolação (Fig.5) pôde-se observar que a batimetria no sistema estuarino –

lagunar do rio Itapocú variou de -0,46 à -10,47m. As maiores profundidades foram

encontradas mais à montante do rio e próximo ao inlet com profundidades acima de 10

metros. Esses resultados estão em conformidade com Siegle et. al. 2005, que relatou

profundidades de até 10m próximo ao inlet.

No geral, a profundidade na região mais à montante do rio variou entre 4 à 7 metros,

enquanto que em direção à jusante a batimetria se mostrou mais rasa, como pode ser

observado nas margens e na região da foz, onde a profundidade variou principalmente entre 1

à 6metros. Embora profundidades muito baixas (abaixo de 1 metro) à mais altas (até 7m),

também foram observadas.

Já na região central da laguna, a batimetria variou principalmente entre 1 à 4m, embora

valores abaixo de 1, foram encontrados próximos à margem no sentido norte e, profundidades

mais elevadas (até 7 metros) na desembocadura do rio, como descrito anteriormente.

No geral, o meio sul da laguna apresentou uma profundidade entre 1 à 3 metros, embora

também foram encontradas profundidades mais baixas (menor que 1) e acima de 4m, mas

estas se limitaram à pequenas áreas.

Já a profundidade no extremo sul da laguna foi mais diversificada, com variação de menos

de 1 à 6 metros. Mas, as maiores profundidades nesta região se limitaram ao último

quilômetro laguna.

Como a batimetria do sistema estuarino lagunar foi feita no ano de 2004 pelo projeto

CANAIS (com exceção do extremo norte da laguna), o canal se encontrava mais ao sul. Dessa

forma as regiões pré-estabelecidas na metodologia deste trabalho, não serão usadas para

descrever a batimetria da laguna norte.

Como citado anteriormente, a batimetria no inlet chegou a valores superiores à 10m e a

profundidade mínima foi de 2 metros. Já a profundidade entre o canal até o final da laguna

norte, variou principalmente entre 1 à 3 metros. Pode-se observar que nos últimos 2 km da

laguna norte, a batimetria predominou entre 2 à 3 metros (porém teve uma pequena área com

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valores superiores à 3 metros). E entre essa área até o canal a batimetria foi mais rasa,

variando entre 1 à 2 metros, embora houve pontos, próximos à margem com valores inferiores

à 1 metro.

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Figura 5 - Variação Batimétrica do Sistema estuarino-lagunar do Rio Itapocú. Interpolação feita pelo método IDW – Inverso Ponderado da Distância.

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5.2 Distribuição Sedimentar

O conteúdo das amostras de sedimento no Sistema Estuarino – Lagunar do rio Itapocú

apresentou grande variabilidade quanto às classes granulométricas. No geral, as amostras

constituíam alguma fração de areia, silte e argila, embora também algumas apresentaram

pequenos teores de cascalho em seu conteúdo. Essa grande variação de classes

granulométricas pode ser observada pelo gráfico de fácies na figura 6, o qual representa em

porcentagem os teores de cascalho, areia, silte e argila. Isso se deve por ser uma ambiente

transicional, no qual recebe aporte tanto de sedimentos fluviais quanto marinhos.

Figura 6 - Porcentagem de cascalho, areia, silte e argila para cada ponto amostrado.

A distribuição de cascalho foi pouco representativa (Fig.7), apenas as amostras 5, 11, 13,

14 e 20 apresentaram alguma fração de cascalho, e sua variação foi extremamente baixa, de

0,09% no ponto 14 à 1,3% no ponto 5. O ponto 5 foi a única amostra do rio que apresentou

um teor de cascalho, enquanto que as outras amostras estiveram distribuídas próximo ao inlet

(#11 – 0,34% e #13 – 0,86%) e, no meio da laguna sul (#20 – 0,45%). Pode-se observar

através da figura 1 que, as amostras que apresentaram algum valor de cascalho em seu

conteúdo eram amostras arenosas.

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Figura 7 - Distribuição do teor de cascalhos (em porcentagem) no Sistema – Estuarino-lagunar do Rio Itapocú. Interpolação feita pelo método IDW –

Inverso Ponderado da Distância.

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Os teores de areia foram encontrados em todas as amostras de sedimento, porém sua

representatividade se deu forma bem variada, de 0,53 à 95,35% (Fig. 8). De um modo geral, o

conteúdo de areia foi baixo no meio e extremo sul da laguna (de 0,6% à 11,2% entre as

amostras 21 e 25) e mais a montante do rio (de 3,2% à 10,1% entre as amostras 1 e 3). As

amostras 6 na região central (foz do rio) e 19 no meio sul da laguna, também possuíram baixo

conteúdo de areia (5,3% e 2,3% respectivamente). Os pontos 9 e 10 no extremo norte da

laguna, também apresentaram baixos teores de areia (0,52% à 0,83%), porém o ponto 7,

também localizado no extremo norte da laguna apresentou mais de 87% de areia em seu

conteúdo. Altas concentrações de areia também foram encontradas na região central (#5 do

rio com 75% de areia), no meio sul da laguna (#20 – 72,5%) e nos pontos 11 e 14 (92% e

95% respectivamente) localizadas próximas ao canal. No mais, os pontos com valores

intermediários de areia (16,1 à 40,7%) se distribuíram na área central de estudo e entre as

amostras com altos e baixos teores de areia.

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Figura 8 - Distribuição do teor de areia (em porcentagem) no Sistema – Estuarino-lagunar do Rio Itapocú. Interpolação feita pelo método IDW – Inverso

Ponderado da dtância.

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27

Os teores de silte variaram de 4,55 à 69,7% no sistema estuarino-lagunar do rio Itapocú e

sua distribuição assim como para a areia se deu de forma variada (Fig. 9). As maiores frações

de silte (acima de 40%) foram encontradas na região central (#4 e #6 do rio, #16 e #17 com

46,2%, 69,7%, 44,7% e 64,5% respectivamente), no meio da laguna sul (# 19, #21, #22 e # 23

com 56,2% 49%, 43% 41%), próximo ao canal (#12 – 47%) e extremo norte da laguna (#8, #9

e #10 com 40%, 44,7% e 40,7% respectivamente). Já os menores valores de silte (abaixo de

15%) estiveram associados aos pontos 7 no extremo norte da laguna, assim como a pontos

próximos ao canal (#11 e #14 com 7,5% e 4,6% respectivamente). Os pontos com

concentrações intermediárias de silte (entre 19 e 39%) estiveram distribuídos mais à montante

do rio (#1, #2 e #3 com 33,6%, 36,5% e 35,1% respectivamente), na região central (#5, #15 e

#18 com 19%, 31% e 27,6% respectivamente), no extremo sul da laguna (#24, # 25 e # 26

com 36,7%, 31,3% e 29,5%) e, na amostra 13 localizada próxima ao canal com 28%. Pode-se

notar um decréscimo no porcentual de silte do meio da laguna sul ao seu interior, mas

somente neste trecho foi observada essa característica.

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Figura 9 - Distribuição do teor de areia (em porcentagem) no Sistema estuarino-lagunar do Rio Itapocú. Interpolação feita pelo método IDW – Inverso

Ponderado da Distância.

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A distribuição de argila também apresentou forte variação (0 à 63,2%) ao longo do

sistema estuarino e lagunar do rio Itapocú (Fig. 10). Os teores de argila zeraram nos pontos 7,

11 e 14, aonde as concentrações de areia foram as mais acentuadas. Estes pontos estão

situados no extremo norte da laguna e próximos ao canal. Posteriormente, os valores mais

baixos depois desses pontos (entre 4 e 16%), se distribuíram na região central (# 4 e #5 do

rio), no ponto 20 localizado no meio sul da laguna e no ponto 13, próximo ao canal. Já os

pontos com frações intermediárias (entre 19,5 à 39%) se distribuíram na região central (#6,

#15, #16, #17 e #18 com 25%, 28,2%, 19,7%, 19,5% e 38% respectivamente) e próximo ao

canal (# 12 – 29,8%). Por fim, as amostras com alto teor de argila (entre 41,4 à 63,3%) se

situaram na região mais a montante do rio (#1, #2 e #3 com 63,2%, 57,4% e 54,8%

respectivamente), assim como no meio e extremo sul da laguna (#19, #21 à # 26 com variação

entre 41,4% e 61,7%), além do extremo norte da laguna (#8 à #10 com variação entre 42,6 e

58,4%).

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Figura 10 - Distribuição do teor de areia (em porcentagem) no sistema estuarino-lagunar do Rio Itapocú. Interpolação feita pelo método IDW – Inverso

Ponderado da Distância.

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A figura 11 contém dois mapas com a distribuição de sedimentos finos e grossos

respectivamente, como esperado, a distribuição dos mesmos se deu de forma inversa. Os

sedimentos com mais de 80% de finos em seu conteúdo, predominaram no meio e extremo sul

da laguna (#19 à # 26), com exceção da amostra 20 que apresentou maior concentração de

areia. Assim como também predominaram mais à montante do rio (#1, #2 e #3), nos pontos 6

e 17 da região central e no extremo norte da laguna (#8, #9 e #10) com exceção da amostra 7

que também apresentou alto teor de areia. Já os pontos com mais de 58% de sedimentos

arenosos se concentraram principalmente próximos ao canal (#11, #13 e #14). Mas também

foram encontrados pontos predominantemente arenosos próximos à sedimentos finos, como

as amostras 7 e 20 anteriormente citadas e a amostra 20 localizada na região central do rio.

Por fim, as amostras da região central (#4 do rio, #15, #16 e #18) e próxima ao canal (#12)

apresentaram mais sedimentos finos em seu conteúdo (entre 59 à 77%), mas também

continham um alto teor de sedimentos arenosos (entre 22 e 41%).

Foi explicado um parágrafo separadamente para os teores de sedimentos finos e grosseiros

distribuídos no referido sistema, porque estes parâmetros serão usados para a análise de

agrupamento. E não para as porcentagens m de cascalho, areia, silte e argila.

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Figura 11 - Distribuição do teor de sedimentos finos e grosseiros (em porcentagem) no sistema estuarino-lagunar do Rio Itapocú. Interpolação feita pelo

método IDW – Inverso Ponderado da Distância.

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Como pode ser observado na figura 12, os teores de carbonato biodetrítico apresentaram

baixos valores em todo o sistema estuarino-lagunar, e essa diferença se ateve entre 0,73 e

13,75%. No geral as maiores frações de carbonato biodetrítico estiveram associadas aos

sedimentos finos. Dessa forma, as maiores concentrações de CaCO3 (acima de 10%), foram

encontradas entre o meio e extremo sul da laguna, principalmente entre os pontos 19 e 24

(com exceção da amostra 20), assim como no extremo da laguna norte, entre as amostras 8 e

10. Os pontos localizados mais à montante do rio (#1, #2 e #3), na área central (#6, #16 e

#18), no extremo sul da laguna (#25 e #26) e próximo ao canal apresentaram concentrações

intermediárias de CaCO3 (entre 6,06 à 8,74%). Estes pontos no geral, também tiveram altas

concentrações de sedimentos finos, porém não tão acentuadas e também apresentaram uma

fração de areia mais elevada. Por sua vez, as amostras localizadas na área central (#4 e #5 do

rio e, #16 e #17), no meio sul (#20), no extremo norte (#7) e próximos ao canal (#11, #13 e

#14) foram as que apresentaram os teores mais baixos de CaCO3. Novamente, estes pontos

estiveram associados à baixos valores de sedimentos finos ou à amostras que apresentaram

teores relativos tanto de areia, quanto de silte e argila. A exemplo estão as amostras 4, 13, 16

e 17.

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Figura 12 - Distribuição do teor de sedimentos finos e grosseiros (em porcentagem) no sistema estuarino-lagunar do Rio Itapocú. Interpolação feita pelo

método IDW – Inverso Ponderado da Distância.

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Os teores de Matéria Orgânica (MO), assim como para o carbonato biodetrítico, estiveram

associados aos sedimentos finos (Fig. 13). Porém sua variação foi maior, de 0,93 à 21,79%.

Embora se observe com maior clareza que as concentrações foram mais acentuadas (acima de

14,9%) no extremo e meio sul da laguna (#19 à #26, com exceção da #20), mais à montante

do rio (#1, #2 e #3) e extremo norte da laguna (#8, #9 e #10), também pode ser notar teores

mais altos de MO nos pontos 6 e 17 da área central (teores acima de 12,8%). Já os pontos com

as concentrações mais baixas (abaixo de 5,2%) estiveram distribuídas próximos ao canal (#11

e #14), na área central (#5 do rio) e no meio sul (#20). As amostras que apresentaram

concentrações intermediárias de MO (entre 6,9 à 10,8%) estiveram distribuídas na área central

(#4 do rio e # 15, #16 e #18), próximas ao canal (#12 e #13) e no extremo norte (#7), cujos

pontos apresentaram teores expressivos tanto de sedimentos arenosos quanto lamosos ou,

como no ponto 7, pouco teor de lama.

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Figura 13 - Distribuição dos teores de Matéria Orgânica (MO) no sistema estuarino-lagunar do Rio Itapocú. Interpolação feita pelo método IDW – Inverso

Ponderado da Distância.

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6 DISCUSSÃO

6.1 Distribuição dos parâmetros estatísticos

Como visto até o momento, o conteúdo sedimentar do sistema estuarino-lagunar do rio

Itapocú se deu de forma bem variada, isto pode ser confirmado pela classificação sedimentar

proposta por Folk e Ward (1957) apud Suguio (1973), que de acordo com o diâmetro médio,

as amostras foram classificadas desde areia grossa até argila grossa (Fig. 14)

O diâmetro médio é uma medida de tendência central que visa mostrar a ordem de

magnitude dos tamanhos das partículas, além de refletir a atuação do agente físico

deposicional num determinado ambiente. Assim, um mapa com os valores dessas médias,

pode ser confeccionado para observar as variações da granulometria dos sedimentos num

determinado ambiente e inferir sobre as causas dessas variações (Suguio, 1973). Com base

nisso, a figura 14 mostra a distribuição do diâmetro médio de grão para o sistema estuarino-

lagunar do rio Itapocú.

Com relação aos pontos arenosos, apenas o ponto 11, cuja amostra foi coletada sobre um

banco arenoso foi considerada como areia grossa, já os pontos 5 e 14 foram considerados

como areia média e estas foram coletadas próximos à margem do rio na região central e do

canal respectivamente. Nota-se que o ponto 14 está sobre uma região muito rasa, embora o

mesmo não seja observado no ponto 5. Os pontos 7, 13 e 20 foram classificados como areia

muito fina, e estes pontos correspondem ao extremo norte da laguna, à margem oposta ao

ponto 14 (próximo ao canal) e à margem esquerda no meio sul da laguna. Esses pontos

estiveram associados à áreas rasas (entre 1 à 2m). O conteúdo arenoso dos pontos 7 e 20

podem estar associados ao bancos de areia localizados principalmente na região norte da

laguna. Já os pontos 5, 13 e 14 se deve pela alta hidrodinâmica que é encontrada próxima ao

foz do rio e no canal como mostrado nos estudos feitos por Abreu (2007); Siegle (2007) e

Benevides (2009).

Com exceção do ponto 5 (areia média), as amostras localizadas na região central foram

classificadas como silte médio (#4, #15 e #16) e silte fino (#6, #17 e #18). Embora a amostra

12, localizada próximo ao canal também foram classificadas como silte fino. Apesar de essas

amostras estarem classificadas como finos, elas também apresentaram alto teor de areia em

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seu conteúdo (exceto o ponto 6), o que é confirmado pela elevada hidrodinâmica presente

nesse setor, conforme descreve Abreu (2007). Além de serem áreas predominantemente rasas.

No meio e extremo sul da laguna, todas as amostras (exceto #20) foram classificadas

como silte muito fino (#19 e #26) e argila muito grossa (#21 à #25). Esse padrão também foi

observado para no extremo norte da laguna, onde a amostra 8 foi considerada como silte

muito fino e as amostras 9 e 10 como argila muito grossa (exceto #7). As amostras (#1 à #3)

mais à montante do rio também foram classificadas como argila muito grossa. Com exceção

da região mais a montante do rio, essas áreas foram predominantemente rasas (entre 1 à 3

metros).

Portanto pode-se dizer que sedimentos finos foram predominantes em quase todo o

ambiente e, que apenas a região próxima ao canal pôde ser caracterizada como arenosa. Salvo

exceções nos pontos 5, 7 e 20 que se apresentaram como arenosas, provavelmente por que

suas amostras foram coletadas sobre bancos de areia, característico deste ambiente.

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Figura 14 - Distribuição do tamanho médio de grão (phi) dos sedimentos no sistema estuarino-lagunar do Rio Itapocú, de acordo com Folk & Ward e

interpolado pelo método IDW.

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Segundo Suguio 1973 o desvio padrão é uma medida de grau de dispersão, ou seja, ela

mostra como os dados estão espalhados em ambos os lados de um ponto central (ex. média).

Portanto, ela apresenta a tendência dos grãos de se distribuem em torno de um valor médio.

Dessa forma, o desvio padrão apresenta o grau de uniformidade de uma amostra

granulométrica, indicando-a se é muito ou pobremente selecionada (DAVIS, 1992). É

importante analisar o desvio padrão, pois duas amostras podem ter o mesmo valor médio,

mas, apresentarem diferentes graus de dispersão. Também muito pode-se inferir sobre o

ambiente através deste parâmetro estatístico, visto que a seleção dos sedimentos aumenta ou

decresce no sentido do seu transporte, assim como são importantes para identificar a natureza

dos depósitos sedimentares.

Em relação ao desvio padrão, ou seja, o grau de seleção das amostras, a maioria se

apresentou como muito pobremente selecionada (Fig. 15). No geral todos os sedimentos

apresentaram esta característica. Com exceção das amostras 7, 11 e 14, cujos sedimentos são

arenosos e foram classificadas como pobremente (#11) e moderadamente selecionadas. Isso

mostra que as ondas são atuantes próximas ao canal, porém de baixa intensidade. Já no ponto

7 a seleção ocorre por que o seu conteúdo é predominantemente composto por areia, com

pouco teor de silte e nenhum de argila e cascalho. E o inverso ocorre com as amostras

arenosas classificadas como muito pobremente selecionadas, pois estas possuem além de

areia, alguma fração de cascalho (#5 – 1,3%, #13 – 0,86% e #20 – 0,45%), silte (#5 – 19%,

#13 – 27,9% e #20 – 14,7%) e argila (#5 – 4,191%, #13 – 13,814% e #20 – 12,3%) em seu

conteúdo.

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Figura 15 - Diagrama de Voronoi representando a distribuição do grau de seleção (desvio padrão) dos sedimentos no sistema estuarino-lagunar do rio

Itapocú.

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A assimetria pode ser entendida como a tendência dos dados de se dispersarem de um, ou

de outro lado da média. Ela mostra a posição da mediana em relação ao diâmetro médio

(CORRÊA, 1980), sendo que a mediana corresponde a granulação no ponto de 50% numa

curva de frequência acumulativa. A assimetria pode apresentar valores positivos, quando

ocorre à direita do diâmetro médio e, negativos quando ocorre à esquerda do diâmetro médio.

Se a mediana e o diâmetro médio possuem o mesmo valor, então consideramos a curva de

distribuição de frequências como simétrica. Este parâmetro estatístico pode nos mostrar a

predominância de uma classe de tamanho sobre outra numa amostra sedimentológica.

A assimetria variou desde negativa a muito positiva como pode ser observado na figura

16. Amostras com assimetria negativa se concentraram no extremo sul da laguna (#24, #25 e

#26), mais à montante do rio (#1, #2 e #3) e na amostra 10 no extremo norte da laguna.

Indicando que a assimetria negativa este relacionada a sedimentos mais finos. Posteriormente

as amostras classificadas como aproximadamente simétrica se distribuíram em 3 pontos do

meio sul da laguna (#21, #22 e #23) e, em 2 pontos no extremo norte da mesma (#8 e #9).

Indicando a distribuição de assimetria negativa e aproximadamente simétrica na região mais à

montante do rio, no meio e extremo sul da laguna (exceto as #19 e #20) e no extremo norte da

mesma (exceto #7). As amostras com assimetria muito positiva se distribuíram principalmente

pela região central (#4 e #5 do rio, # 15, #16, #17) e, próximo ao canal (#11, #13 e #14), mas

também no ponto 20 no meio sul da laguna. Por fim, as amostras com assimetria positivas

ficaram intercaladas entre as com assimetria muito positiva e aproximadamente simétrica.

Esse é o caso para as amostras 6, 7, 12, 18 e 19. De um modo geral, as amostras com

assimetria positiva e muito positiva estiveram associadas ao alto teor de areia e se

apresentaram nas regiões de maior hidrodinâmica.

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Figura 16 - Diagrama de Voronoi representando a distribuição do grau de assimetria dos sedimentos no sistema estuarino-lagunar do rio Itapocú.

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A curtose é um parâmetro estatístico que retrata o grau de agudez dos picos numa curva

de distribuição de frequência. No geral, a curtose é calculada pela razão da dispersão na parte

central com a parte das caudas de uma curva de distribuição. A curtose é classificada como

mesocúrtica quando a distribuição de uma curva é normal, porém quando há um excesso nas

caudas, o pico da distribuição se achata tornando-a platicúrtica, e se o contrário ocorrer a

distribuição é considerada como leptocúrtica (McLANE, 1995; SUGUIO, 1973).

Quanto a curtose, esta variou de muito platicúrtica à muito leptocúrtica (Fig. 17). No geral

as amostras platicúrticas foram a maioria e com exceção da amostra 13, estiveram associadas

à sedimentos finos (silte médio à argila grossa). O que é confirmado por Corrêa (1980), o qual

descreve que sedimentos platicúrticos são aqueles mais abrigados da ação de onda e outros

agentes selecionadores. Por essa razão sua distribuição se deu em grande parte da laguna, uma

vez que esta é predominantemente lamosa. As amostras muito platicúrticas e mesocúrticas,

apesar de minoria (#18 e #19 e #4, #6 e #17 respectivamente), também estavam associadas a

sedimentos lamosos. Já as amostras arenosas (areia grossa à areia muito fina) foram

classificadas entre leptocúrticas à muito leptocúrticas e se distribuíram no meio sul da laguna

(#20), na região central (#5 do rio), próximo ao canal (#11 e #14) e no extremo norte da

laguna (#20).

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Figura 17 - Diagrama de Voronoi representando a distribuição do grau de curtose dos sedimentos no sistema estuarino-lagunar do rio Itapocú.

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6.2 Análise de Agrupamento e Setorização

Primeiramente, foi realizada a análise de agrupamentos das variáveis

sedimentológicas (AA1) para observar quais são mais similares entre si de acordo com

os dados padronizados. As variáveis usadas na análise de agrupamento correspondem ao

diâmetro médio, porcentagem de sedimentos finos (finos) e grossos (arenosos), teor de

carbonato biodetrítico (CaCO3), teor de matéria orgânica (MO), desvio padrão, curtose e

assimetria. Dessa forma, após gerar a análise de agrupamento, foi observada a

formação de dois grandes grupos (Fig. 18). O grupo 1 composto pelas variáveis,

diâmetro médio, finos, carbonato biodetrítico e matéria orgânica e, o grupo 2 formado

pela assimetria, curtose e sedimentos arenosos.

Figura 18 - Dendograma representativo da análise de agrupamento realizada para as

variáveis sedimentológicas.

A análise de agrupamento das variáveis (AA1) indicou uma forte similaridade entre

as variáveis do grupo 1, a excessão do desvio padrão, assim como entre as variáveis do

grupo 2. Isso pode ser observado pela análise aos dados padronizados, onde variáveis do

mesmo grupo estiveram valores muito parecidos.

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Posteriormente, foi gerada a análise de agrupamento para as 26 amostras coletadas

(AA2) de forma a identificar os subambientes do sistema estuarino-lagunar do rio

Itapocú. Para melhor compreensão da formação e estrutura dos grupos formados, foram

utilizadas a análise de agrupamento das variáveis, visto que esta facilita a interpretação

ao dados brutos, além das interpolações.

A análise de agrupamentos das amostras, mostrou primeiramente a formação de 3

grandes grupos como pode ser visto no dendograma da figura 19. A distinção destes 3

grupos se deu no nível de corte n° 15 da distância euclidiana.

Figura 19 - Dendograma representativo da análise de agrupamento realizada para as

amostras sedimentológicas.

Ao comparar a posição dos grupos das variáveis com a posição dos grupos das

amostras (AA1 e AA2 respectivamente), nota-se que o grupo 1 das estações (amostras)

esteve associado principalmente à altos valores de diâmetro médio, sedimentos finos,

CaCO3, MO e desvio padrão. Isso pôde ser confirmado pelas imagens interpoladas e

pela análise aos dados brutos e padronizados (tabela1), onde os pontos classificados

como lamosos apresentaram valores de CaCO3 e MO mais altos.

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As variáveis diâmetro médio e sedimentos finos foram as que mais tiveram

similaridades entre si, pois além de estarem diretamente ligadas, a distância euclidiana

entre elas é a menor encontrada nessa análise. Já o desvio padrão apresentou pouca

similaridade entre as variáveis do grupo 1 na AA1, visto que a distância euclidiana entre

as mesmas é a maior encontrada neste grupo (aproximadamente 7). É por esse motivo,

que não foi observada uma boa relação entre as amostras e o desvio padrão, tanto ao

analisar os dados brutos quanto ao mapa com a distribuição do desvio padrão.

O grupo 2 da AA2, possui características intermediárias entre os grupos 1 e 3, ou

seja, não apresentou valores muito altos nem muito baixos entre as variáveis estudadas.

Porém, este grupo esteve mais próximo do grupo 3 por apresentar maior conteúdo de

areia do que o grupo 1, e por terem o mesmo grau de assimetria (assimetria positiva e

muito positiva). Por fim o grupo 2 se distinguiu principalmente do grupo 3 pela

porcentagem de sedimentos arenosos em seu conteúdo e pelo grau de curtose. Visto que

o grupo 3 apresentou apenas amostras leptocúrticas e muito leptocúrticas, onde somente

amostras arenosas foram incluídas.

Depois das análises, estabeleceu os 3 grupos como sedimentológicamente distintos,

a fim de obter a setorização sedimentar proposta neste estudo. Os grupos estão descritos

a seguir e a imagem setorizada pode ser vista na figura 20.

Grupo 1 – Caracterizado por sedimentos muito finos (silte muito fino e argila

grossa), muito pobremente selecionados, com alto teor de matéria orgânica e carbonato

biodetrítico. Distribuiu-se pela região mais a montante do rio, pelo meio e extremo sul

da laguna, assim como no extremo norte da mesma. Exceções foram encontradas nos

pontos 7 (no extremo norte) e 20 (no meio sul) que apresentaram valores atípicos para

estas localidades. Segundo Abreu (2010), estas áreas são características de baixa

hidrodinâmica, corroborando com o que foi observado nesse estudo. A profundidade

dessas áreas são predominantemente rasas (entre 1 à 3 metros), com exceção da região

mais à montante do rio que apresentou profundidades principalmente entre 5 e 7m,

embora valores entre 1 até 10.5m também tenham sido observados. E, no extremo sul da

laguna, também houve cotas batimétricas de até 6 metros. A região mais à montante do

rio apesar de possuir maior hidrodinâmica apresentou sedimentos muito finos por que

ela é a fonte dos mesmos. E sua concentração se deu somente neste setor e não na região

central da área de estudo (à jusante do rio), provavelmente pela abertura do canal aberto

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emergencialmente, o qual transportou sedimentos arenosos para esta área e retirou os

argilosos. Além da maior hidrodinâmica do local e regimes de fluxo de vazante e

enchente que ocorrem com maior intensidade nessa área e próximo ao canal (Abreu,

2010). Já as regiões no meio e extremo sul da laguna, assim como o extremo norte

possuem baixa hidrodinâmica (Abreu, 2010), resultado este esperado, visto que são

áreas com sedimentos muitos finos e com alto teor de MO E CaCO3.

Grupo 2 – Caracterizado por sedimentos finos (silte médio e silte fino, com exceção

do ponto 13), porém com valor de phi inferior ao do grupo 1, ou seja, apesar de serem

sedimentos lamosos, são um pouco mais grossos em relação ao grupo 1. Os sedimentos

também foram muito pobremente selecionados e a assimetria variou entre positiva e

muito positiva. Os teores de carbonato e matéria orgânica se intercalaram entre valores

muito baixos e altos. Dessa forma, o grupo 2 é caracterizado por ser uma zona de

transição entre os grupos 1 e 3, visto que apresentam características intermediárias. Sua

distribuição ocorre entres as áreas do grupo 1 e 2, principalmente na região central

(salvo exceção do ponto 5) e entre os pontos 12 e 13 próximos ao canal. Essas áreas

apresentam uma hidrodinâmica mais acentuada, pois representam a desembocadura do

rio, onde no momento da coleta também havia uma abertura do canal em frente ao

mesmo e o canal natural, que também apresentou maior hidrodinâmica segundo Abreu

(2007). No geral, a batimetria desse grupo também foi rasa variando entre 1 à 3 metros,

com exceção das áreas mais rasas inferiores à 1 metro e do foz e canal que apresentaram

cotas mais profundas de até 7 e 10 m respectivamente.

Grupo 3 – Caracterizado por sedimentos arenosos, com variação de sedimentos

pobremente à muito pobremente selecionados (foi o único grupo que apresentou alguma

variação no grau de selecionamento). A assimetria de forma geral foi muito positiva

(apenas o ponto 7 apresentou-se como assimetria positiva) e a curtose variou entre

leptocúrtica à muito leptocúrtica. Os teores de carbonato e matéria orgânica em geral,

foram muito baixos nesse grupo. Sua distribuição se deu de forma aleatória entre os

pontos 5, 7 e 20 e, próximos ao canal (#11 e #14). Este grupo provavelmente esteve

associado à bancos de areia, muito comum na laguna norte devido a característica de

apresentar correntes fluindo em todas as direções (BONETTI et. al., 2000; FRANKLIN

et. al., 2000 e ABREU, 2007). Porém essas correntes multidirecionais ocorrem apenas

da desembocadura para o norte, mas como o ambiente, como um todo é

predominantemente raso, os pontos 5, 11 e 20 também podem estar associados a bancos

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de areia. Isso é reforçado pela batimetria, que nessas áreas variaram de entre valores

pouco abaixo de 1 até 3 metros.

Figura 20 - Setorização sedimentar do sistema estuarino-lagunar do rio Itapocú.

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51

Dessa forma, 3 subambientes sedimentologicamente distintos foram identificados

podendo-se identificar 3 padrões de sedimentação. O primeiro, caracterizado por

sedimentos muito finos, com alto teor de matéria orgânica e carbonato biodetrítico,

localizado no meio e extremo sul da laguna, assim como mais à montante do rio e no

extremo norte da laguna. Regiões estas de baixa hidrodinâmica. O segundo subambiente

é composto por sedimentos finos, porém mais grossos que os do subambiente 1, e com

teores de carbonato biodetrítico e matéria orgânica mais baixos. Localizado na região

central e próximo ao canal. Este ambiente possui uma acentuada hidrodinâmica e é

caracterizado por ser uma ambiente de transição entres o grupos 1 e 3. Por fim o grupo 3

é caracterizado por sedimentos arenosos, de elevada assimetria e curtose e com baixos

teores de carbonato biodetrítico e matéria orgânica. Este ambiente está restrito a alguns

pontos distribuídos aleatóriamente no sistema estuarino-lagunar do rio Itapocú e isso se

deve por que estão associados a bancos arenosos, muito frequentes nesse sistema.

Pôde-se observar que a distribuição destes sub-ambientes, esteve mais relacionada à

hidrodinâmica do local do que à batimetria. Pois a batimetria apresentou grande

variação e por vezes estas não se distinguiram entre os grupos.

7 CONCLUSÃO

A batimetria do sistema estuarino - lagunar pôde ser considerada rasa, com variação

entre 0.46 à 10.47 metros de profundidade. A profundidade predominante na laguna foi

entre 1 à 3 metros, à exceção do canal que chegou à 10 metros de profundidade.

Enquanto que no rio as cotas batimétricas foram mais elevadas, variando principalmente

entre 4 à 7 metros. Embora valores inferiores à 1m e superiores à 10 também foram

registradas. Também foi observado um decréscimo da profundidade entre a região mais

à montante em direção à jusante do rio.

Embora o conteúdo sedimentar de todas as amostras apresentou uma grande

variedade de fácies (areia, silte e argila), o sistema estuarino-lagunar do rio Itapocú foi

classificado como predominantemente lamoso, visto que apenas 5 amostras foram

classificadas como arenosas segundo a classificação de Folk e Ward (1957).

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O tamanho do diâmetro médio de grão apresentou sete classes granulométricas,

sendo: Areia Grossa, Areia Média, Areia Muito Fina, Silte Médio, Silte Fino, Silte

Muito Fino e Argila Grossa.

A análise de agrupamento das variáveis apresentou dois grandes grupos. O grupo 1

composto pelo diâmetro médio, porcentagem de sedimentos finos, teor de carbonato

biodetrítico, matéria orgânica e desvio padrão. E o grupo 2 formado pelas variáveis

assimetria, curtose e porcentagem de sedimentos. Indicando uma forte similaridade

entre as variáveis do mesmo grupo.

Três ambientes sedimentologicamente distintos foram observados no sistema

estuarino lagunar do rio Itapocú. Um ambiente formado por sedimentos muito finos,

com alto teor de carbonato biodetrítico e matéria orgânica, localizado entre o meio e

extremo sul da laguna. O segundo ambiente foi caracterizado por ser uma zona de

transição, com valores intermediários de CaCO3 e matéria orgânica, seus sedimentos

continham porcentagens relativas de areia porém se classificaram como silte médio e

silte fino. E sua distribuição se deu principalmente pela região central. Já o último

ambiente corresponde aos sedimentos arenosos, com baixos valores de matéria orgânica

e CaCO3, sua distribuição ocorreu próximo ao canal e em pontos aleatórios do sistema.

A distribuição sedimentar desses 3 ambientes esteve relacionada principalmente

com a hidrodinâmica, visto que a batimetria não apresentou uma variação padrão

conforme os sub-ambientes definidos.

Através da análise de agrupamento das amostras, apoiadas à análise dos dados

brutos e padronizados, análise de agrupamento das variáveis, além das interpolações, foi

possível setorizar o sistema estuarino-lagunar do rio Itapocú, identificando 3

subambientes sedimentologicamentes distintos.

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9 ANEXO Tabela 1 - Dados Padronizados para as variáveis sedimentológicas analisadas

AmostraDiâmetro

Médio

Desvio

PadrãoAssimetria Curtose CaCO3 MO Arenosos Finos

1 0.9762 -0.0947 -1.1368 -0.3567 0.2486 0.5633 -0.8119 0.8119

2 0.8667 0.2606 -1.1292 -0.2081 0.0760 0.3853 -0.7192 0.7192

3 0.7605 0.5304 -1.1837 -0.3139 0.0541 0.4020 -0.5946 0.5946

4 -0.4050 -0.0482 1.0604 -0.0167 -0.6639 -0.3283 0.2846 -0.2846

5 -1.7916 -0.0330 1.8826 0.6550 -1.4421 -1.4726 1.4993 -1.4993

6 0.2179 -0.1535 0.4648 -0.0665 0.0020 0.0610 -0.7420 0.7420

7 -1.2765 -2.7539 0.2483 1.3110 -0.5762 -0.5611 1.8417 -1.8417

8 0.4078 0.9019 -0.6324 -0.5438 1.1556 1.2053 -0.3622 0.3622

9 0.8361 -0.0407 -0.7618 -0.5454 0.7254 0.8012 -0.8943 0.8942

10 0.9022 -0.0873 -0.9199 -0.4997 0.8898 1.1721 -0.8847 0.8847

11 -2.2000 -2.1142 0.7583 3.2297 -1.6531 -1.9300 1.9947 -1.9947

12 0.1173 0.5773 0.3506 -0.4916 -0.3515 -0.2867 -0.2073 0.2073

13 -1.2050 1.4224 1.6658 -0.4789 -1.2557 -0.8289 0.9184 -0.9184

14 -2.0946 -2.3028 0.5566 1.5315 -1.8120 -1.8968 2.0856 -2.0856

15 -0.1422 0.8490 1.0788 -0.6561 -0.3460 -0.8472 0.3678 -0.3678

16 -0.2720 0.3039 1.0726 -0.1963 -1.2119 -0.9404 0.2075 -0.2075

17 -0.0731 -0.1615 0.9448 0.0756 -0.6392 0.0477 -0.4060 0.4060

18 0.2077 0.9905 -0.1656 -0.9535 0.3829 -0.6360 0.1389 -0.1389

19 0.5044 0.2049 -0.0633 -0.7998 1.0707 0.3753 -0.8376 0.8376

20 -1.0363 0.5121 1.2970 2.2363 -0.7214 -1.2265 1.3801 -1.3801

21 0.7609 -0.0713 -0.4281 -0.5400 0.9391 0.7379 -0.8913 0.8913

22 0.7570 0.1104 -0.6819 -0.4999 1.7557 1.0157 -0.7591 0.7591

23 0.9140 -0.2448 -0.7222 -0.5357 1.5721 1.2486 -0.8859 0.8859

24 0.9934 -0.3591 -0.8483 -0.5177 1.1036 1.5397 -0.8610 0.8610

25 0.7736 0.6502 -1.3735 -0.2840 0.3390 0.8976 -0.5594 0.5594

26 0.5006 1.1514 -1.3339 -0.5349 0.3582 0.5018 -0.3023 0.3023