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11 UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES RENATA CRISTINA CARDOSO FUKUNARU DE LIMA A FIBROMIALGIA NA VISÃO DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA E SEU TRATAMENTO COM ACUPUNTURA Mogi das Cruzes, SP 2012

UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES RENATA CRISTINA …acupunturapontos.com.br/pdf/FIBROMIALGIA NA VISAO DA MEDICINA... · ciência fascinante que é a Medicina Tradicional Chinesa, contribuindo

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11

UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES

RENATA CRISTINA CARDOSO FUKUNARU DE LIMA

A FIBROMIALGIA NA VISÃO DA MEDICINA TRADICIONAL

CHINESA E SEU TRATAMENTO COM ACUPUNTURA

Mogi das Cruzes, SP

2012

12

UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES

RENATA CRISTINA CARDOSO FUKUNARU DE LIMA

A FIBROMIALGIA NA VISÃO DA MEDICINA TRADICIONAL

CHINESA E SEU TRATAMENTO COM ACUPUNTURA

Monografia apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Universidade de Mogi das Cruzes, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Especialista em Acupuntura.

Orientadores: Prof. Luiz A. Alfredo e

Profª. Bernadete Nunes Stolai

Mogi das Cruzes, SP

2012

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RENATA CRISTINA CARDOSO FUKUNARU DE LIMA

A FIBROMIALGIA NA VISÃO DA MEDICINA TRADICIONAL

CHINESA E SEU TRATAMENTO COM ACUPUNTURA

Monografia apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Universidade de Mogi das Cruzes, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Especialista em Acupuntura.

Aprovado em ________________________

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________

Profª Bernadete Nunes Stolai

__________________________________________________

Profº Luiz A. Alfredo

__________________________________________________

Profª Romana de Souza Franco

14

Dedico esta monografia a meu pai Paulo Fukunaru, que sempre se

orgulhou de minhas vitórias acadêmicas.

SAUDADES ETERNAS...

15

AGRADECIMENTOS

A Deus pelo dom da vida e pela concessão da Sabedoria que me orientou na

elaboração desta monografia...

A meu marido André, pelo amor, dedicação e compreensão durante todos esses

anos. Por sempre me apoiar na realização de meus projetos e sonhos. Por caminhar

comigo na mesma direção e ser “meus olhos” nos momentos em que os meus não

podiam ver...

A meus filhos Isabella Regina e Caio André, por me mostrarem o verdadeiro Amor

Incondicional, iluminarem a minha vida com seus sorrisos e pela paciência e

compreensão nos inúmeros momentos de ausência ao longo desses dois anos...

À minha mãe Terezinha, por me apresentar o nosso Deus na mais tenra idade, por

ser sempre um porto seguro e por me ensinar a ter força de vontade e

determinação para alcançar meus sonhos...

A meus sogros Júlia e Antônio, por cuidarem dos meus tesouros enquanto eu lutava

para conquistar mais um sonho em minha vida...

A meu tio Roberto, por sempre ter sido um segundo pai em minha vida e, agora, por

amar meus filhos como seus netos...

Ao meu orientador Profº Luiz Alfredo, pelo auxílio durante a elaboração desta

monografia, por me ensinar a arte da Medicina Chinesa e a nunca estar satisfeita

com a resposta mais fácil, perguntando sempre mais uma vez: “Por quê?”...

À minha orientadora Profª Bernadete Stolai, por todos os ensinamentos, por guiar

meus passos, como uma mãe faria, nessa nova estrada. Por estar sempre

disponível a esclarecer minhas dúvidas e pelos preciosos conselhos e orientações

que enriqueceram minha monografia...

16

À Profª Romana Franco e ao Profº Luiz Leonelli pelos valiosos ensinamentos e

experiências transmitidos ao longo desses dois anos, por me apresentarem esta

ciência fascinante que é a Medicina Tradicional Chinesa, contribuindo para que se

tornasse minha mais nova paixão....

À toda minha família, pela paciência, apoio e amor...

Aos verdadeiros amigos que estiveram ao meu lado nos bons e maus momentos...

A todas as pessoas que, direta ou indiretamente, auxiliaram na elaboração desta

pesquisa...

MUITO OBRIGADA!!!!!

17

O pensamento ocidental considera os extremos de um aspecto,

enquanto o chinês enfatiza que entre os extremos existe uma

continuidade de transformação. Apesar de ambos os modos de pensar

conterem elementos um do outro, mostram os entrelaçamentos recentes

entre as duas culturas. Cada sistema apresenta suas virtudes e

fraquezas [...], porém os dois sistemas são complementares.”

Jeremy Ross (1994)

18

RESUMO

A Fibromialgia é uma condição dolorosa musculoesquelética, de origem desconhecida, que se caracteriza por rigidez matinal, dor difusa e múltiplos pontos específicos e dolorosos à palpação, chamados tender points. Pode estar associada a outras condições clínicas como fadiga, ansiedade, distúrbios do sono, depressão, cefaléia crônica, distúrbios intestinais e incapacidade funcional. Condições comuns do dia-a-dia, como alterações climáticas, grau de atividade física e nível de estresse, podem alterar dramaticamente a intensidade dos sintomas referidos. A Fibromialgia causa importante impacto na qualidade de vida, não só dos portadores, mas também de seus familiares. O diagnóstico é feito com base na dor generalizada e constante, na palpação dos tender points e na associação com os outros distúrbios, sem exames laboratoriais ou de imagens que possam confirmá-lo. Por causa de sua cronicidade e múltiplos sintomas, é recomendado aos seus portadores o tratamento multidisciplinar, visando a melhora da qualidade de vida. Para a Medicina Tradicional Chinesa, o desequilíbrio da interação entre o ser humano e a natureza é a causa das doenças. Essa alteração manifesta-se nos Meridianos, canais por onde circula a energia vital, chamada de Qi, através dos sintomas. A Acupuntura não trata nenhuma sintomatologia em particular, mas normaliza a homeostase e promove a autocura. Ela trata o indivíduo de uma maneira global, enfocando corpo e mente e aumentando seu bem-estar físico e mental. Para a elaboração desta monografia, optou-se por realizar uma pesquisa exploratória, do tipo levantamento bibliográfico, com o objetivo de verificar como a Fibromialgia é vista pela ótica da Medicina Tradicional Chinesa (MTC), com relação à sua etiologia, patogenia e tratamento, e, constatar se a Acupuntura é eficaz na diminuição dos sintomas desta patologia. Para a MTC, a Fibromialgia manifesta-se por padrões de Excesso e Deficiência, em geral, combinando esses padrões, e apresenta alterações no Espaço Cou Li, nos Canais de Conexão (Luo) e nos Canais Tendinomusculares, que deixam o organismo suscetível à invasão de fatores patogênicos externos, que junto com tensão emocional, dieta irregular e trabalho físico excessivo, constituem seus principais fatores etiológicos. A terapia deve sempre tratar a Manifestação e a Raiz da patologia. Concluiu-se que a Acupuntura é eficaz na diminuição dos sintomas da Fibromialgia e pode ser uma excelente opção de tratamento coadjuvante, auxiliando o tratamento padrão mundialmente reconhecido, pois oferece melhora da dor, do sono e do controle emocional, além de aumento na qualidade de vida dos pacientes fibromiálgicos Palavras-chave: Fibromialgia, Acupuntura, Medicina Tradicional Chinesa, tender points, dor crônica, tratamento.

19

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Tender Points para diagnóstico de Fibromialgia........................................ 23

Figura 2: Símbolo de Yin e Yang (Tai Ji)................................................................... 29

Figura 3: Sequência da Geração (Regra “Mãe-Filho”).............................................. 31

Figura 4: Sequência de Dominância (Regra “Avô-Neto”).......................................... 32

Figura 5: Sequência de Contra-Dominância (Afrontação)......................................... 33

Figura 6: Os órgãos internos e os Cinco Elementos................................................. 34

Figura 7: Espaço entre pele e músculos (Cou Li)..................................................... 38

Figura 8: Fluxo de Qi vertical e horizontal nos Canais Principais e de Conexão...... 38

Figura 9: Canais Musculares e exterior do corpo...................................................... 40

20

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACR: American College of Rheumatology

BP: Baço-Pâncreas

CEP: Canais de Energia Principais

F: Fígado

FIQ: Fibromyalgia Impact Questionnaire

FM: Fibromialgia

LES: Lúpus Eritematoso Sistêmico

MTC: Medicina Tradicional Chinesa

R: Rim

SNC: Sistema Nervoso Central

SNP: Sistema Nervoso Periférico

SNS: Sistema Nervoso Simpático

21

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................11

2 METODOLOGIA.....................................................................................................14

3 A FIBROMIALGIA NA MEDICINA OCIDENTAL.....................................................15

3.1 HISTÓRICO..................................................................................................................... 16

3.2 EPIDEMIOLOGIA............................................................................................................ 18

3.3 ETIOLOGIA E PATOGÊNESE.........................................................................................18

3.3.1 Alterações nos Níveis de Neurotransmissores............................................................................19

3.3.2 Diminuição de Fluxo Sanguíneo Cerebral...................................................................................20

3.3.3 Distúrbio Funcional do Sistema Neuroendócrino........................................................................20

3.4 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS.........................................................................................21

3.5 TRATAMENTO.................................................................................................................25

4 A MEDICINA TRADICIONAL CHINESA.................................................................28

4.1 A TEORIA DO YIN/YANG................................................................................................28

4.2 A TEORIA DOS CINCO MOVIMENTOS (ELEMENTOS)................................................30

4.3 A TEORIA DOS ZANG FU (ÓRGÃOS E VÍSCERAS).....................................................35

5 A FIBROMIALGIA NA MTC....................................................................................37

5.1 ESPAÇO ENTRE PELE E MÚSCULOS (Cou Li).............................................................37

5.2 CANAIS DE CONEXÃO (Luo)..........................................................................................37

5.3 CANAIS MUSCULARES OU TENDINOMUSCULARES (Jing Jin)..................................39

5.4 ETIOLOGIA DA FIBROMIALGIA NA MEDICINA CHINESA............................................41

5.5 PATOLOGIA DA FIBROMIALGIA NA MEDICINA CHINESA...........................................41

5.6 PRINCÍPIOS DE TRATAMENTO E ESTRATÉGIAS........................................................43

6 A ACUPUNTURA NO TRATAMENTO DA FIBROMIALGIA...................................45

7 CONCLUSÃO..........................................................................................................57

REFERÊNCIAS..........................................................................................................59

1 INTRODUÇÃO

22

A Fibromialgia (FM) é uma síndrome dolorosa, de etiologia desconhecida, que

acomete preferencialmente as mulheres. É caracterizada por dores musculares

difusas, presença de pontos dolorosos específicos e, frequentemente, é

acompanhada de distúrbios do sono, fadiga e cefaléia crônica, rigidez matinal de

curta duração, parestesias, sensação de edema, estados depressivos, ansiedade e

distúrbios intestinais, como a síndrome do cólon irritável.

Algumas condições do dia-a-dia, chamadas de fatores moduladores, podem

alterar a intensidade dos sintomas referidos. Os mais comuns são as alterações

climáticas, o grau de atividade física e o nível de estresse emocional.

Para Jacomini e Silva (2007), a FM é mais do que um estado de dor musculo-

esquelética crônica. É uma síndrome caracterizada mais por sintomas, sofrimento e

incapacidades, do que por alterações orgânicas estruturais demonstráveis.

Segundo Martinez et al. (2009), “Um aspecto importante dessa síndrome é o

impacto na qualidade de vida dos pacientes e familiares. Os principais

determinantes desse impacto são os sintomas de dor e fadiga e a incapacidade

funcional resultantes”.

“Um fato interessante, constatado frequentemente na prática, é o de que

muitos pacientes contam a história de um evento emocionalmente perturbador ou

traumático antes do início dos sintomas”. (SKARE, 1999, p. 233)

Não existem exames laboratoriais ou de imagens que atestem o diagnóstico

da FM. Isto porque o paciente não apresenta sinais ou alterações em órgãos ou

estruturas musculoesqueléticas. O diagnóstico é feito com base nas queixas de dor

difusa e constante (que são altamente subjetivas), na presença de pontos

específicos e bilaterais dolorosos à palpação, os chamados tender points, e na

associação com distúrbios psicoemocionais e de natureza funcional.

Para Perea (2003), a terapêutica deve ser um enfoque multidisciplinar

visando melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

Para Ferreira; Matsutani; Marques (2005, p.157), o tratamento é um desafio

para os profissionais de saúde, onde enfatiza-se o controle da dor, o aumento ou a

manutenção da capacidade funcional e a redução de outras manifestações que

causem sofrimento a esses pacientes.

23

A terapia medicamentosa inclui antidepressivos, relaxantes musculares,

analgésicos e antiinflamatórios. Estudos nessa área apresentam resultados

favoráveis dos medicamentos antidepressivos e dos relaxantes musculares sobre a

melhora da dor, porém, mostram também que a medicação analgésica e

antiinflamatória não esteróide tem pouca efetividade, principalmente a longo prazo.

Além disso, a cronicidade da FM tende a levar os pacientes a utilizarem esses

medicamentos por longos períodos, se não por boa parte de suas vidas, o que pode

trazer prejuízos a seus órgãos ou ao seu metabolismo corporal.

Segundo Ricci; Dias; Driusso (2010), a fisioterapia se destaca, no âmbito das

intervenções físicas, pela riqueza de recursos terapêuticos que podem controlar a

sintomatologia da FM. Segundo os autores, algumas dessas modalidades já tiveram

sua efetividade analisada por meio de revisões sistemáticas e metanálises.

A fisioterapia, utiliza exercícios de baixa intensidade, que vão sendo

aumentados gradativamente, para melhorar a flexibilidade e a força muscular, o que,

consequentemente melhora o condicionamento físico e diminui a fadiga.

Infelizmente, alguns pacientes são resistentes, principalmente ao programa

de exercícios, pois devido às dores, fadiga e depressão, muitas vezes não se

sentem motivados ou dispostos à prática da atividade física. Sabemos que a

melhora dos sintomas é diretamente proporcional à assiduidade do indivíduo aos

exercícios.

Segundo Perea (2003), “A Acupuntura vem sendo bastante utilizada no

tratamento de síndromes dolorosas, levando à diminuição da dor assim como a um

aumento do limiar de dor”.

Segundo Yamamura (2009, p. LVI), a Acupuntura, antigo método terapêutico

chinês, baseia-se na estimulação de determinados pontos do corpo com agulhas ou

com fogo, para restaurar ou manter a saúde. Essas técnicas têm a finalidade de

promover a mobilização, a circulação e o fortalecimento das energias humanas,

além de expulsar as Energias Perversas, que podem acometer as pessoas.

A Acupuntura restabelece a circulação do Qi nos Canais de Energia, levando

o corpo a uma harmonia de energia e matéria.

Na prática, observa-se que a Acupuntura pode não só oferecer alívio da dor

para esses pacientes, mas também melhorar os sintomas de fadiga, ansiedade e

depressão, auxiliando no controle emocional do indivíduo, e possibilitando uma

melhora da qualidade do sono. Além disso, outro benefício importante é a

24

diminuição da quantidade de medicamentos utilizados pelo portador de FM, fator

que, com certeza, leva à melhora na qualidade de vida e uma menor agressão ao

organismo.

O tratamento com Acupuntura também pode melhorar o bem-estar físico e

mental do paciente, de maneira a possibilitar uma maior adesão aos programas de

exercícios físicos, podendo levar à uma diminuição das recidivas de crises álgicas

intensas e incapacitantes.

Este trabalho tem como objetivos verificar como a FM é vista pela ótica da

Medicina Tradicional Chinesa (MTC), com relação à sua etiologia, patogenia e

tratamento, e, constatar se a Acupuntura é eficaz na diminuição dos sintomas desta

patologia.

2 METODOLOGIA

25

Em relação aos procedimentos metodológicos, optamos por realizar uma

pesquisa exploratória, do tipo levantamento bibliográfico.

As pesquisas exploratórias, segundo Gil (2002, p. 41), têm, principalmente, o

objetivo de aprimorar idéias ou descobrir intuições, proporcionando maior

familiaridade com o problema, tentando torná-lo mais explícito ou ajudando a

constituir hipóteses.

A pesquisa exploratória do tipo bibliográfica é aquela baseada em material já

elaborado e publicado, oriundo principalmente de livros e artigos científicos. Nela o

pesquisador visa conhecer e analisar quais contribuições já existem sobre

determinado assunto, tema ou problema.

Para conseguir o material de pesquisa, foi realizado um cuidadoso

levantamento da literatura científica disponível nas bibliotecas da USP, UNIFESP e

UMC, além de artigos científicos nacionais e internacionais, das mais importantes

revistas científicas indexadas, em sites de confiança como Bireme, Scielo, Medline,

Lilacs, PubMed, MedCarib e Cochrane Library. Foram utilizadas várias palavras-

chaves, tentado encontrar referências que tratassem sobre a Fibromialgia na visão

da MTC, e seu tratamento utilizando um programa de Acupuntura. Somente foram

utilizados artigos científicos indexados, escritos em inglês, português ou espanhol.

Convém salientar que referências encontradas, que não abordavam a visão da

MTC sobre a Fibromialgia e nem o seu tratamento por Acupuntura, mas que se

referiam a características da patologia e seu tratamento na Medicina Ocidental, ou,

que exploravam os benefícios da Acupuntura no tratamento de dores crônicas, não

foram descartados, e sim utilizados para enriquecer a revisão da literatura do

trabalho.

3 A FIBROMIALGIA NA MEDICINA OCIDENTAL

26

A Fibromialgia é uma síndrome dolorosa, que acomete preferencialmente as

mulheres, com etiologia ainda desconhecida. Ela é caracterizada por dores

musculares difusas, presença de pontos dolorosos específicos e, frequentemente, é

acompanhada de distúrbios do sono, fadiga e cefaléia crônica, rigidez matinal de

curta duração, parestesias, sensação de edema, estados depressivos, ansiedade e

distúrbios intestinais, como a síndrome do cólon irritável. A FM pode se manifestar

isoladamente (Fibromialgia primária) ou em associação a outras patologias como

hipotireoidismo, lúpus eritematoso sistêmico (LES) e artrite reumatóide (Fibromialgia

secundária). Devido à incapacidade funcional resultante dos sintomas de dor e

fadiga, essa patologia tem um grande impacto na qualidade de vida dos pacientes e

de seus familiares.

Não existem exames laboratoriais ou de imagens que atestem o diagnóstico da

FM. Isto porque o paciente não apresenta sinais ou alterações em órgãos ou

estruturas musculoesqueléticas. O diagnóstico é feito com base nas queixas de dor

difusa e constante (que são altamente subjetivas), na presença de pontos

específicos e bilaterais dolorosos à palpação, os chamados tender points, e na

associação com distúrbios psicoemocionais e de natureza funcional.

Segundo Martinez (1997), a natureza subjetiva dos sintomas, a ausência de

outros sinais além dos pontos dolorosos e a associação com distúrbios psiquiátricos

provoca discussão sobre se a Fibromialgia pode ser firmada como um diagnóstico

isolado ou se ela deve ser tratada como uma variante da depressão ou como um

dos tipos de somatização.

Para Martinez et al. (2009), atualmente a teoria fisiopatológica mais aceita é

que se trata de uma síndrome de amplificação dolorosa com alteração no

processamento da nocicepção no SNC, associada a uma resposta anormal aos

estressores comprovada por alterações no eixo hipotálamo-hipofisário-adrenal. Esse

eixo regula a secreção de cortisol pela glândula adrenal em resposta ao estresse,

contribuindo, assim, para a resposta fisiológica do corpo ao fator estressor. Com

base nessa teoria, é possível classificar a FM como uma forma de resposta alterada

ao estresse.

É comum encontrarmos pessoas que fazem uma peregrinação a diversos

médicos especialistas com queixas de seus sintomas, são submetidos a múltiplos

27

exames complementares que não mostram nenhuma anormalidade, e recebem

diagnósticos isolados como enxaqueca crônica, tendinites, bursites, labirintites,

síndrome do cólon irritável, estresse, etc. Esses pacientes podem ser submetidos a

várias condutas terapêuticas incorretas, que podem agravar o seu quadro clínico,

antes de encontrar um profissional que consiga “juntar as peças do quebra-

cabeças”, realizar o exame físico com a palpação dos tender points e firmar o

diagnóstico de FM.

Para Skare (1999, p. 232), “É importante esclarecer que, embora existam

interações entre a personalidade do paciente e a patogênese dessa síndrome, ela

não pode ser considerada como puramente psicogênica”.

3.1 HISTÓRICO

Inicialmente, a FM era conhecida como fibrosite , fibromiosite, reumatismo

muscular ou miofascite.

Segundo Skare (1999, p. 232), em 1904 usou-se o termo fibrosite para

descrever um tipo de dor lombar baixa que se transformou em sinônimo de qualquer

dor musculoesquelética idiopática, difusa ou não.

De acordo com Perea (2003), “[...] Muitos autores consideravam a fibrosite

como uma causa frequente de dores musculares, enquanto outros acreditavam

tratar-se de um reumatismo psicogênico relacionado à tensão emocional”.

Mais tarde, denominou-se como fibrosite uma síndrome específica com áreas

múltiplas de sensibilidade localizada, chamadas de áreas-gatilho; essa síndrome foi

considerada com uma síndrome de amplificação da dor.

“Smythe e Moldosfsky, em 1977, restringe o uso da palavra fibrosite à

sintomatologia de pacientes que apresentassem dores musculoesqueléticas difusas

acompanhadas de pontos dolorosos à digito-pressão, fadiga e distúrbios do sono”.

(MARTINEZ, 1997)

Segundo Perea (2003), o termo Fibromialgia foi proposto por Hench em 1976,

pois a inflamação não era característica predominante nessa doença.

28

De acordo com Martinez (1997), Yunus, em 1981, propõe novamente o termo

“Fibromialgia” que começa, então, a ser adotado pela maioria dos autores.

Nesta mesma época, denominou-se como Fibromialgia primária a doença

onde nenhum outro distúrbio era encontrado como causa ou contribuição para o

quadro. Criou-se, concomitantemente, o termo Fibromialgia secundária,

correspondente a uma síndrome similar à Fibromialgia primária, porém, que ocorria

secundariamente a determinadas condições, reumáticas ou não, como osteoartrose,

LES, trauma, hipotireoidismo e outras doenças endócrinas, infecções ou doenças

malignas.

Em 1990, um comitê do American College of Rheumatology (ACR) estabeleceu

Critérios de Classificação da FM com o intuito de uniformizar os critérios de inclusão

em estudos científicos.

O termo Fibromialgia solidificou-se a partir desse estudo. Além disso, os

resultados mostraram que os Critérios poderiam ser aplicados tanto nos casos em

que a FM ocorria isoladamente como nos casos em que ela ocorria ao mesmo

tempo que outras doenças. Dessa maneira, de acordo com os Critérios, a presença

de outra doença não excluía o diagnóstico de FM.

“Recentemente, esses Critérios foram validados em uma população brasileira”.

(FERREIRA; MATSUTANI; MARQUES, 2005, p. 149)

Para Martinez et al. (2009), deve-se analisar a questão da contagem dos

pontos com extrema cautela, pois, quando usados para diagnósticos, podem gerar

um grande número de falsos negativos e positivos. Isso têm gerado um

questionamento na literatura internacional sobre a validade dos critérios. Por esse

motivo, na prática clínica é de extrema importância que se valorize a presença de

outros sintomas juntamente com a presença dos pontos dolorosos.

Segundo Jacomini e Silva (2007), “Nos últimos 15 a 20 anos, a síndrome da

Fibromialgia (SFM) transformou-se de uma vaga desordem em um diagnóstico

aceito e reconhecido pela Organização Mundial da Saúde [...]”.

3.2 EPIDEMIOLOGIA

29

Na literatura mundial ainda não existem muitos estudos epidemiológicos da

FM.

No Brasil, embora não existam dados epidemiológicos da síndrome na população, estima-se que sejam similares à literatura internacional. Os estudos com grandes amostras populacionais (acima de 160 indivíduos) mostram uma predominância do sexo feminino (99,5%), com média de idade entre 52 e 57 anos. (FERREIRA; MATSUTANI; MARQUES, 2005, p. 152)

Para Skare (1999, p. 232), a FM é mais frequente em mulheres do que em

homens, numa proporção de 5:1.

Martinez (1997), diz que a idade de início varia dos 12 aos 55 anos, com

predomínio do sexo feminino e raça branca.

Perea (2003), afirma que na população em geral, a frequência da FM é de 1 a

5 %, sendo que nas pessoas atendidas em clínica médica, a frequência da doença é

de 5%. Já na clínica reumatológica, a mesma síndrome é detectada entre 14 e 20%

dos atendimentos.

Para Carvalho et al. (2009), a FM compromete entre 2% e 16% da população

mundial, principalmente pessoas entre 20 e 50, sendo que 9 em cada 10 são

mulheres.

No Brasil, um estudo epidemiológico sobre doenças reumáticas, realizado na cidade de Montes Claros, mostrou que a síndrome da Fibromialgia foi a segunda desordem reumatológica mais freqüente, com prevalência de 2,5% na população geral. (JACOMINI e SILVA, 2007)

3.3 ETIOLOGIA E PATOGÊNESE

“A etiologia da Fibromialgia ainda é desconhecida. Sabe-se que vários fatores

contribuem para sua ocorrência, mas não há um agente que possa ser

responsabilizado como causador [...]”. (FERREIRA; MATSUTANI; MARQUES, 2005,

p.152)

Provavelmente devem existir vários fatores que interagem determinando o aparecimento da doença, tais como: predisposição pessoal a uma disfunção neuroendócrina, condições externas de estresse, associação com distúrbio de ansiedade/depressão, estado psicológico que não

30

favorece saber lidar com a dor, descondicionamento aeróbico e distúrbios do sono. (DIAS et al., 2003)

A maioria dos estudos sobre o tecido muscular não mostram alterações

morfológicas. Porém, alguns trabalhos sugerem presença de alterações

metabólicas, que diminuem o fluxo de sangue e o oxigênio disponível para as fibras

musculares e para um metabolismo celular normal.

“Jeschonneck et al.(2000), acreditam, ainda, que uma vasoconstrição ocorre

na pele sob os tender points, levando a hipótese de que esses pontos dolorosos [...}

poderiam estar relacionados com uma hipóxia local”. (FERREIRA; MATSUTANI;

MARQUES, 2005, p. 153)

Para Lundeberg e Lund (2007b), a FM é uma síndrome de dor crônica,

caracterizada por uma sensibilização central, que resulta em hipersensibilidade da

pele e tecidos mais profundos, assim como em fadiga.

De acordo com Ferreira; Matsutani; Marques (2005, p.153) e Dias et al. (2003)

vários estudos estão tentando demonstrar uma interação entre fatores ambientais (p.

ex., estresse) e sistêmicos (p. ex., uma disfunção neuroendócrina), que possam

causar uma alteração da função do SNC e da produção de neurotransmissores, que

levariam à diminuição do limiar da dor em indivíduos geneticamente predispostos,

além de alteração de sono e fadiga,

Ainda de acordo com Ferreira; Matsutani; Marques (2005, p.154), existem

atualmente três hipóteses muito debatidas, que tentam esclarecer o mecanismo da

fisiopatogenia da FM: alterações nos níveis de neurotransmissores, diminuição de

fluxo sanguíneo cerebral e distúrbio funcional do Sistema Neuroendócrino.

3.3.1 Alterações nos Níveis de Neurotransmissores

O mais estudado é a Serotonina, que tem um papel na interpretação do

estímulo doloroso. Ela funciona como um neurotransmissor inibitório da liberação de

substância P pelos neurônios aferentes, quando ocorre um estímulo nociceptivo

periférico. A substância P é um neurotransmissor sensitivo que medeia a dor, o tato

e a temperatura; ela é influenciada pela deficiência de serotonina, no SNC ou

Sistema Nervoso Periférico (SNP). Os indivíduos com FM apresentam uma

31

diminuição sangüínea dos níveis de serotonina e seus precursores (triptofano) e

metabólitos (ácido 5-hidroxiindolacético), o que poderia explicar a amplificação da

dor relatada. Além disso, estima-se que o nível sangüíneo do ácido 5-

hidroxiindolacético está diretamente relacionado com a qualidade do sono dos

pacientes e inversamente relacionado com o nível da substância P.

3.3.2 Diminuição de Fluxo Sangüíneo Cerebral

Exames de tomografia computadorizada mostraram uma diminuição do fluxo

sangüíneo cerebral no tálamo e no núcleo caudado de pacientes com FM. Isso

produziria uma resposta anormal aos estímulos nociceptivos, como a

hipersensibilidade a estímulos mecânicos, térmicos e químicos. Essa hipótese

defende que a presença de alterações do funcionamento do SNC podem estar

relacionadas com a diminuição do limiar da dor e com alterações da percepção da

dor nos indivíduos com FM.

3.3.3 Distúrbio Funcional do Sistema Neuroendócrino

Essa hipótese defende que um distúrbio funcional do Sistema Neuroendócrino

contribui para o surgimento dos sintomas da FM (dor, fadiga, alterações do sono e

distúrbios psicológicos). O Sistema Neuroendócrino é o responsável pela

comunicação do SNC com os outros sistemas corporais através da integração de

sinais do córtex cerebral e da periferia pelo hipotálamo, que, por sua vez, libera

hormônios para glândula hipófise, que geram efeitos diretos sobre os demais tecidos

corporais. Esse distúrbio funcional provocaria uma perturbação da resposta ao

estresse normal. O eixo hipotálamo-hipófise-adrenal é um dos principais

responsáveis pela coordenação das respostas fisiológicas ao estresse mental ou

físico. Pacientes com FM podem ter uma disfunção desse eixo e, também, uma

deficiência da função do hormônio de liberação da corticotropina, produzida no

32

hipotálamo. Esse hormônio estimula o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e o Sistema

Nervoso Simpático (SNS) e, também, inibe as vias ascendentes de dor.

É fácil percebermos que a patogênese da FM é ainda envolta em muita

controvérsia. Porém, Martinez et al. (2009) frisa: “[...] O conhecimento incompleto de

sua fisiopatologia não a torna inexistente enquanto entidade clínica”.

3.4 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

Martinez et al. (2008), relatam que estudos recentes sugerem que, nos

indivíduos com FM, existe uma alteração no processamento da dor que leva a

uma ampliação da percepção dolorosa. Segundo eles, as respostas alteradas a

um estresse biológico são componentes centrais do mecanismo da doença.

Além disso, esses processos fisiopatológicos também são influenciados por

fatores genéticos, hormonais e ambientais.

Para Martinez (1997), a dor muscular é com certeza o principal sintoma.

Várias descrições já foram atribuídas a essa dor (peso, aperto, queimação, etc),

mas, geralmente, ela é referida como generalizada, com maior intensidade em

algumas áreas, na maioria dos casos. Muitas vezes, de tão intensa, a algia

acaba interferindo no trabalho, nas atividades de vida diária e na qualidade de

vida dessas pessoas. A alodínea (dor resultante de estímulo que não seria

normalmente doloroso) e a disestesia (sensação desagradável, que varia desde

amortecimento até agulhadas, sentida nas extremidades) também fazem parte

da sintomatologia dolorosa. Alterações climáticas, grau de atividade física e

estressores emocionais são fatores que podem influenciar não só essa

sintomatologia, mas também as outras manifestações clínicas.

Apesar da FM poder apresentar-se de forma extremamente dolorosa e incapacitante, ela não ocasiona comprometimento articular inflamatório ou restritivo. A presença dos pontos dolorosos é o achado primordial do exame físico, não se observando edema ou sinovite, a não ser na concomitância de patologias como a osteoartrite ou artrite reumatóide. (PEREA, 2003)

Segundo Martinez et al. (2009), o ACR, em 1990, estabeleceu Critérios de

Classificação para inclusão em trabalhos científicos, mas que também têm sido

33

usados para orientar diagnósticos em casos individuais. Incluem a presença de dor

musculoesquelética difusa que envolve abaixo e acima da cintura , coluna vertebral

e membros por um período superior a três meses, associados a presença de ao

menos 11 pontos dolorosos à palpação dos 18 tender points descritos (Figura 1).

Segundo Dias et al. (2003), a palpação deve ser feita manualmente, com força

aproximada de 4 kg, que corresponde grosseiramente à pressão necessária para

começar a empalidecer o leito subungueal do polegar.

Os 18 tender points descritos nos Critérios são: Occipital (inserção dos

músculos suboccipitais), Cervical inferior (anteriormente, entre os processos

transversos de C5-C7), Trapézio (ponto médio das fibras superiores do músculo

trapézio), Supra-espinhal (inserção do músculo supra-espinhal, acima da espinha da

escápula, próximo ao ângulo medial), Segunda articulação esternocostal (lateral e

superior à articulação), Epicôndilo lateral (2 cm distalmente ao epicôndilo), Glúteo

(quadrante superior e lateral das nádegas), Trocânter Maior (posterior à

proeminência trocantérica), Joelho (coxim gorduroso medial, próximo à linha

articular). Todos esses pontos devem estar sensíveis à palpação bilateralmente.

Dias et al. (2003), referem ainda a importância de salientar a diferença entre os

tender points da FM e os trigger point da síndrome miofascial, já que os tender

points ocorrem bilateralmente, e como fatores agravantes têm-se: frio, umidade,

sono não-restaurador, fadiga física ou mental, atividade física excessiva, inatividade

física, ansiedade ou estresse.

Para Martinez et al. (2008), o medo de uma dor futura causa uma influência

negativa sobre a qualidade de vida dessas pessoas. Segundo os autores, os

pacientes alegam que “não saber como eles serão capazes de realizar suas tarefas

no dia seguinte” gera uma extrema ansiedade.

Além da dor musculoesquelética difusa, podem estar presentes distúrbios do

sono, fadiga, rigidez matinal de curta duração, sensação de edema, parestesias,

depressão, ansiedade, cefaléia crônica e síndrome do cólon irritável.

A síndrome do cólon irritável é uma doença não inflamatória crônica

caracterizada por dor abdominal, hábitos intestinais alterados consistindo em

diarréia ou constipação ou ambas, e ausência de alteração histopatológica

detectável. Uma forma variante é caracterizada por diarréia indolor. É um transtorno

comum, com uma base psicofísiológica.

34

Figura 1 – Tender Points para diagnóstico de Fibromialgia Fonte: Maciocia (2010, p. 902).

Perea (2003), afirma que a descoberta de alterações no ciclo vigília-sono de

pessoas com FM, deu início a estudos sobre a alteração dos ritmos biológicos, como

o da secreção de neuro-hormônios, como o cortisol, a serotonina, a prolactina e a

somatomedina C.

De acordo com Lundeberg e Lund (2007b), os distúrbios do sono desses

indivíduos têm sido atribuídos a uma disfunção nos sistemas que regulam o sono e a

vigília, resultando em perda de sono profundo. Além disso, muitos pacientes com FM

apresentam também alguma disfunção cognitiva, caracterizada pela incapacidade

de concentração ou consolidação da memória a curto prazo, que são queixas

comumente relatadas em outros distúrbios do sono. Os autores relatam ainda, que

há uma estreita associação entre má qualidade de sono, intensidade de dor,

ansiedade e depressão.

Para Skare (1999, p. 233), o distúrbio do sono está relacionado,

provavelmente, com a deficiência de serotonina, porém, frisa que estudos que

adotaram a administração de triptofano aos pacientes não melhorou os sintomas e

nem alterou o padrão eletroencefalográfico durante o sono. Devido a isso, relata

que, embora a alteração do sono seja um fato constatado, não se sabe se é causa

35

ou efeito dos sintomas.

A fase de ondas lentas do ciclo dormir-acordar é composta de quatro estágios,

sendo o 1 (alfa) o estado mais leve e o 4 (delta) o estágio mais profundo do sono.

Esse último estágio é o que falta nos pacientes com Fibromialgia.

[...] Os pacientes apresentam redução na porcentagem do sono de ondas lentas, quantidade aumentada de despertares intermitentes e movimentos de membros inferiores, sensação de vigília durante o sono, sonolência diurna, e sensação subjetiva de sono não-restaurador. (DIAS et al, 2003)

Perea (2003), afirma que na FM existe um padrão característico de sono REM,

com modificação das ondas cerebrais, que explicaria a ansiedade e a sensação de

intensa atividade mental durante o sono referidas por esses indivíduos.

Skare (1999, p. 233), frisa que atualmente a FM não é mais considerada uma

forma de histeria de conversão ou somatização. Acredita que ansiedade e estresse

podem agravar os sintomas, e que as desordens de humor, como depressão e

ansiedade, estão presentes como manifestações fisiopatológicas causadas por uma

alteração neuroquímica, talvez, em nível de serotonina.

De acordo com Perea (2003), alguns autores consideram a FM como uma

variante da síndrome depressiva e outros como um distúrbio predominantemente

afetivo, devido à sua associação com enxaqueca, síndrome da fadiga crônica,

síndrome do pânico e outras desordens do comportamento. Esse enfoque poderia

explicar os benefícios que alguns pacientes referem com o uso de medicamentos

antidepressivos.

“Um fato interessante, constatado frequentemente na prática, é o de que

muitos pacientes contam a história de um evento emocionalmente perturbador ou

traumático antes do início dos sintomas”. (SKARE, 1999, p. 233)

Pode-se ainda encontrar durante o exame físico espasmos musculares

localizados (nódulos) e sensibilidade ao frio, em especial nos membros inferiores.

Alterações no metabolismo muscular em repouso e no fluxo sangüíneo muscular em

exercício, em especial nos pontos de dor, foram encontrados em vários estudos.

Exames laboratoriais e radiológicos são normais, e, mesmo quando apresentam

alguma alteração não podem excluir a FM como diagnóstico, já que ela pode estar

associada a doenças inflamatórias articulares ou da coluna vertebral.

A grande verdade é que nenhum mecanismo isolado explica a Fibromialgia. A única possibilidade de se dar unidade a esses achados fisiopatológicos seria por meio de uma alteração no metabolismo

36

neuroquímico. A deficiência de serotonina é uma das explicações possíveis, uma vez que este agente, além de ter seu papel sobre o sono, age em fluxo sangüíneo e sobre a dor (a serotonina potencializa a analgesia induzida por narcóticos). (SKARE, 1999, p. 234)

Segundo Martinez et al. (2009), “Um aspecto importante dessa síndrome é o

impacto na qualidade de vida dos pacientes e familiares”. Para Skare (1999, p. 235),

isso ocorre porque, apesar da natureza aparentemente benigna, a FM, com

frequência, provoca diminuição da carga de trabalho e produtividade dos portadores,

além de uma maior tendência ao retraimento físico e psíquico.

As recidivas das crises de algia intensa são muito freqüentes, e, a remissão

completa ocorre apenas em cerca de 25% dos indivíduos.

3.5 TRATAMENTO

Para Ferreira; Matsutani; Marques (2005, p.157), o tratamento da FM é um

desafio para os profissionais de saúde, onde enfatiza-se o controle da dor, o

aumento ou a manutenção da capacidade funcional e a redução de outras

manifestações que causem sofrimento a esses pacientes.

Para Skare (1999, p.234), o fundamental no tratamento é educar o paciente,

já que muitos chegam ao consultório com um alto grau de frustração. Educar no

sentido de discutir realisticamente o diagnóstico e o prognóstico. Explicar que a FM

é uma doença comum, com um diagnóstico clínico, sem alterações laboratoriais e

que não altera a sobrevida e nem é deformante.

Para Marques et al. (2006), a utilização de questionários de avaliação da

qualidade de vida permite uma avaliação mais objetiva de sintomas extremamente

subjetivos (dor, ansiedade ou depressão). Esses questionários podem identificar as

necessidades dos pacientes e também avaliar a efetividade da intervenção.

Em 1991, Burckhardt et al. propuseram e testaram um instrumento para avaliação da qualidade de vida específico para FM, o Fibromyalgia Impact Questionnaire (FIQ). Este questionário envolve questões relacionadas à capacidade funcional, situação profissional, distúrbios psicológicos e sintomas físicos. É composto por 19 questões, organizadas em 10 itens. Quanto maior o escore, maior é o impacto da Fibromialgia na qualidade de vida. Os autores concluíram que o FIQ é válido para ser utilizado em situações clínicas e de pesquisa.[...] (MARQUES et al., 2006)

37

Em 2006, Marques et al. elaboraram uma versão transcultural do FIQ e a

validaram para ser usadas com os pacientes brasileiros com FM, a fim de medir a

capacidade funcional e o estado de saúde dessas pessoas. Segundo os autores,

“[...] é importante que o instrumento seja amplamente adaptado às características

socioculturais da população a ser analisada, permitindo uma avaliação fidedigna da

população”.

A terapia medicamentosa inclui antidepressivos, relaxantes musculares,

analgésicos e antiinflamatórios. Segundo Ferreira; Matsutani; Marques (2005,

p.157), “Os estudos nessa área apresentam resultados favoráveis dos

medicamentos antidepressivos e dos relaxantes musculares sobre a melhora da dor,

porém, não há dados que demonstrem a eficácia dos analgésicos e antiinflamatórios

[...]”.

Para Perea (2003), a medicação analgésica e antiinflamatória não esteróide

tem pouca efetividade, principalmente a longo prazo. Porém, acredita que, em

baixas doses, os antidepressivos tricíclicos podem melhorar o sono, a fadiga ao

acordar e diminuir, em 20 ou 30%, o número de pontos dolorosos. Outras drogas,

como ibuprofeno e fluoxetina, podem ser associadas aos antidepressivos.

Skare (1999, p. 235), cita outras modalidades de tratamento, como a

fisioterapia, Acupuntura, laser, estimulação nervosa transcutânea e infiltração de

pontos-gatilho.

A fisioterapia trata esses pacientes com os recursos de massoterapia,

eletrofototermoterapia e crioterapia, visando diminuir a dor e a tensão muscular.

Além disso, utiliza exercícios de baixa intensidade, que vão sendo aumentados

gradativamente, para melhorar a flexibilidade e a força muscular, o que,

consequentemente melhora o condicionamento físico e diminui a fadiga.

Segundo Perea (2003), os poucos estudos científicos que tentam comprovar o

efeito terapêutico do exercício físico na FM, não tem resultados que esclareçam a

todas as questões envolvidas. As evidências sugerem que o condicionamento

aeróbico e o alongamento trazem benefícios, sendo que o primeiro um pouco mais

que o segundo. Acredita-se que o exercício físico interfira de maneira positiva no

estado mental do paciente, pois melhora a auto-estima e, consequentemente, a

depressão

Assim, o condicionamento aeróbio teria efeito terapêutico influenciando múltiplos aspectos da FM: melhora das alterações isquêmicas e

38

metabólicas nos locais de tender points, aumento do nível de endorfinas, melhora no estado mental e do padrão de sono. (PEREA, 2003)

Para Ferreira; Matsutani; Marques (2005, p.159), “Em relação à eficácia da

terapia cognitivo-comportamental, os estudos sugerem resultados positivos sobre

os sintomas, sem haver, no entanto, uma comparação metodológica apropriada com

grupo-controle”.

Segundo Perea (2003), “A Acupuntura vem sendo bastante utilizada no

tratamento de síndromes dolorosas, levando a diminuição da dor assim como a um

aumento do limiar de dor”.

Para Lin; Hsing; Pai (2006), a constante interação do ser humano com a

natureza, e o eventual desequilíbrio dessa interação, é a causa de todas as

doenças. Essa alteração se manifesta nos meridianos (canais por onde trafega o Qi,

uma espécie de “energia” vital) através dos sintomas. A Acupuntura é o

procedimento manual que corrige esse desequilíbrio, através da inserção de agulhas

nos pontos ao longo dos meridianos, permitindo, novamente, um livre fluxo do Qi, e

a restauração do equilíbrio.

Além disso, como trata o indivíduo de uma maneira global, enfocando corpo e

mente, a Acupuntura vem ganhando espaço cada vez maior no rol de alternativas de

tratamento, pois consegue atingir, além da dor, sintomas como fadiga, ansiedade,

depressão, insônia, cólon irritável, edemas e cefaléias, melhorando a qualidade de

vida e o bem estar geral dos pacientes.

[...] a Acupuntura não trata nenhum sintoma patológico em particular, mas normaliza a homeostase fisiológica e promove a autocura. Portanto, a Acupuntura, em relação aos seus mecanismos terapêuticos, é não específica: a Acupuntura não visa tratar nenhum sintoma ou doença, mas cuida do corpo como um todo. (MA; MA; CHO, 2006, p. XXI)

Segundo Lin; Hsing; Pai (2006), o reconhecimento da Acupuntura pela

Organização Mundial da Saúde como procedimento válido na saúde, e o painel do

National Institutes of Health, que criou o Centro de Medicina Alternativa e

Complementar para validar e recomendar Acupuntura para algumas indicações

específicas, em 1988, elevou a modalidade como prática aceita pela comunidade

médica mundial.

39

4 A MEDICINA TRADICIONAL CHINESA

Segundo Yamamura (2009, p. XLIII), a observação da Natureza e dos

princípios que promovem sua harmonia é a base da Medicina Tradicional Chinesa.

Para os chineses, o Universo e o Ser Humano estão submetidos às mesmas

influências que a Natureza e, por isso, podemos estender à fisiologia do corpo

humano os mesmos fenômenos naturais. Existem três pilares básicos que apóiam a

concepção filosófica chinesa a respeito do Universo: a teoria do Yin/Yang, dos Cinco

Movimentos (Elementos) e dos Zang Fu (Órgãos e Vísceras).

4.1 A TEORIA DO YIN/YANG

Para Maciocia (2007, p. 3), o conceito de Yin-Yang é possivelmente o mais

importante da teoria da MTC, onde muitas vezes, podemos agregar toda a fisiologia,

a patologia e o tratamento da medicina chinesa ao Yin-Yang.

Segundo essa teoria, tudo na natureza é composto por dois aspectos

específicos e essenciais, o Yin e o Yang, que se complementam e mantém entre si

um equilíbrio dinâmico. Eles representam qualidades opostas, porém,

complementares, onde o Yin contém a semente do Yang, propiciando a sua

transformação no mesmo, e vice-versa.

Observando a natureza, veremos que o dia corresponde ao Yang e a noite ao

Yin, assim como a atividade refere-se ao Yang e o descanso ao Yin. Os dois são

estágios de um movimento cíclico, com um interferindo constantemente no outro,

como o dia dá lugar à noite e a noite dá lugar ao dia.

O famoso símbolo chamado de “Supremo Final” (Tai Ji) representa

extraordinariamente a relação entre Yin-Yang. (Figura 2)

Yamamura (2009, p. XLIV) diz que o Yang representa tudo o que se

caracteriza como atividade, calor, movimento, claridade, força, expansão ou

explosão, alto, polaridade positiva, Sol e também o homem. Já os aspectos opostos

são representados pelo Yin: frio, repouso, escuridão, retração ou implosão, baixo,

40

polaridade negativa, Terra e a mulher.

Figura 2 – Símbolo de Yin e Yang (Tai Ji) Fonte: Maciocia (2007, p. 6).

Para Maciocia (2007, p.6) as características principais do relacionamento Yin-

Yang podem ser resumidos em: oposição de Yin e Yang; interdependência de Yin e

Yang; consumo mútuo de Yin e Yang; intertransformação de Yin e Yang. A

oposição mostra que um é o oposto do outro, porém essa oposição é relativa e não

absoluta, porque um tem a semente do outro, e nada é totalmente Yin ou Yang. Na

interdependência, observa-se que um não pode existir sem o outro, assim como o

dia não surge a não ser depois da noite, não pode haver atividade sem descanso,

energia sem matéria ou contração sem uma expansão prévia. O consumo mútuo

propaga que ambos se mantém em estado constante de equilíbrio dinâmico,

conseguido através de ajustes contínuos de seus níveis relativos. Quando um ou

outro está em desequilíbrio, eles afetam-se mutuamente, alterando sua proporção e

alcançando um novo estado de equilíbrio. Já a intertransformação mostra que o

Yin pode transformar-se em Yang e vice-versa, porém, essa mudança não acontece

a esmo, mas em determinados estágios de desenvolvimento de alguma coisa.

Existem duas condições para que essa transformação ocorra. A primeira refere-se

às condições internas, onde a mudança só acontece em decorrência de causas

internas e, secundariamente, em razão de causas externas. Em outras palavras, a

mudança somente acontece quando as condições internas estão amadurecidas e as

externas propícias. A segunda condição é o fator tempo, onde Yin e Yang só podem

transformar-se um no outro em um determinado estágio de desenvolvimento,

quando todas as condições estiverem prontas para essa mudança.

Pela aplicação da filosofia chinesa à medicina, constata-se que a fisiologia do corpo humano também obedece a um equilíbrio dinâmico decorrente da influência de estímulos opostos e complementares. Esse fato é observado em todos os aspectos do dinamismo do corpo, como, por exemplo, no

41

sistema simpático (Yang) e parassimpático (Yin), no transporte ativo (Yang) e passivo (Yin) , nas contraturas (Yang) e no relaxamento (Yin), e assim por diante. (YAMAMURA, 2009, p. XLV)

Para os chineses, saúde é o estado de equilíbrio dinâmico entre esses

aspectos Yin e Yang, e a doença ocorre quando se instala um desequilíbrio entre

ambos.

“A Medicina Tradicional Chinesa visa diagnosticar precocemente as alterações

do equilíbrio Yang/Yin, e a terapêutica é dirigida no sentido de restabelecer-se esse

equilíbrio energético no corpo humano”. (YAMAMURA, 2009, p. XLVI)

4.2 A TEORIA DOS CINCO MOVIMENTOS (ELEMENTOS)

As teorias do Yin-Yang e dos Cinco Elementos representaram um salto histórico na medicina, que deixou de ver a doença como sendo causada por espíritos perversos e passou a ter uma visão naturalista da doença como sendo causada pelo estilo de vida. (MACIOCIA, 2007, p. 16)

Segundo Yamamura (2009, p. XLVI), a concepção dos Cinco Movimentos

baseia-se na evolução dos fenômenos naturais, que têm características próprias, a

partir das quais podem originar outros fenômenos e também sofrer destes

influências boas ou más.

Os fenômenos naturais podem ser agrupados em cinco categorias, de acordo

com suas características próprias. Essas categorias estão em constante movimento

de Geração e Dominância entre si, e constituem o que foi chamado de Cinco

Movimentos:

Movimento Água: representa os fenômenos que se caracterizam por retração,

profundidade, frio, declínio, queda, eliminação. Ele é o ponto de partida e chegada

da transmutação dos Movimentos;

Movimento Madeira: representa movimento, crescimento, florescimento, síntese;

Movimento Fogo: representa fenômenos que se caracterizam por ascensão,

desenvolvimento, expansão, atividade;

Movimento Terra: representa os fenômenos que se traduzem por mudanças ou

transformações;

Movimento Metal: caracteriza processos de limpeza, purificação, análise,seleção.

42

O livro Shang Shu, escrito durante a dinastia ocidental Zhou (1000-771 a.C.), disse: ‘Os Cinco Elementos são Água, Fogo, Madeira, Metal e Terra. A Água umedece em descida, o Fogo inflama em subida, a Madeira pode ser dobrada e esticada, o Metal pode ser moldado e endurecido, a Terra permite a disseminação, o crescimento e a colheita’. (MACIOCIA, 2007, p. 16)

Esses Movimentos de acordo com suas características obedecem a um critério

de Geração, onde a Água gera a Madeira, que gera o Fogo, que gera a Terra, que

gera o Metal, que, finalmente, gera Água (Figura 3).

O princípio que estabelece que cada Movimento gera o Movimento seguinte é

conhecido como Regra “Mãe-Filho”. Mãe é o Movimento que gera, e, Filho é o

Movimento que foi gerado.

Figura 3 – Seqüência da Geração (Regra “Mãe-Filho”) Fonte: Maciocia (2007, p.19).

Além do princípio da Geração, os Movimentos também obedecem a um

princípio de Dominância ou Controle (Figura 4), conhecido como Regra “Avô-Neto”,

que estabelece que cada Movimento controla outro e é controlado por um. Chama-

se “avô” o Movimento que domina, e de “neto” o que é dominado. Cada Movimento

pode ter a função de avô ou de neto, dependendo do referencial.

A Lei de Dominância controla o crescimento desenfreado que ocorreria se só

houvesse a Lei de Geração. A interação dinâmica das duas leis promove o

equilíbrio na Natureza e a saúde no ser humano.

43

Figura 4 – Seqüência de Dominância (Regra “Avô-Neto”) Fonte: Maciocia (2007, p. 19)

“Há, também, uma inter-relação entre as seqüências da Geração e do

Controle. Por exemplo, a Madeira controla a Terra, mas a Terra gera o Metal que

controla a Madeira. [...]”. (MACIOCIA, 2007, p. 19)

Condições anormais duradouras podem provocar um desequilíbrio energético

entre o Yin e o Yang, levando a uma desarmonia das inter-relações dos Cinco

Movimentos. Essas alterações acabam gerando o processo de adoecimento.

Na concepção da Medicina Tradicional Chinesa, esse processo é condição que evolui de maneira lenta e progressiva, de modo que o desequilíbrio energético entre o Yang e o Yin vai refletir-se, por meio das interações energéticas dos Cinco Movimentos, sobre os vários setores do organismo, até que passa a assumir proporções que o caracterizam como “doença” nos moldes geralmente aceitos. (YAMAMURA, 2009, p. XLIX)

Nessas situações de desequilíbrio, podem estabelecer-se relações anormais

entre os Movimentos que são chamados de Dominância Excessiva e Contra-

Dominância:

Dominância Excessiva: segue a seqüência da Lei de Dominância, porém, nesse

caso, o Avô controla excessivamente o Neto, provocando a sua diminuição.

Contra-Dominância: é literalmente chamada de “Afrontação” pelos antigos

chineses, pois ocorre na ordem inversa da Lei de Dominância. Desse modo, Madeira

afronta o Metal, o Metal afronta o Fogo, Fogo afronta a Água, a Água afronta a Terra

e a Terra afronta a Madeira. (Figura 5)

44

Figura 5 – Seqüência de Contra-Dominância (Afrontação)

Fonte: Maciocia (2007, p. 20)

Cada Movimento possui um órgão (Yin) e uma víscera (Yang) correspondente,

com exceção do Elemento Fogo, que possui 2 órgãos e 2 vísceras correspondentes

(Figura 6). Desse modo, temos:

Madeira: Fígado e Vesícula Biliar;

Fogo: Coração, Pericárdio, Intestino Delgado e Triplo Aquecedor;

Terra: Baço-Pâncreas e Estômago;

Metal: Pulmão e Intestino Grosso;

Água: Rim e Bexiga.

Além dessa, existe um outro grupo de correspondências para cada um dos

Cinco Movimentos (Tabela 1). Para Maciocia (2007, p. 20), “[...] Tais grupos de

correspondências, especialmente aqueles pertinentes ao corpo humano, mostram

como os órgãos e seus fenômenos relacionados formam um todo integrado e

indivisível. [...]”.

Na fisiologia energética humana, os cinco Órgãos essenciais, representantes dos Cinco Movimentos, comandam estruturas orgânicas e promovem o dinamismo das atividades físicas e psíquicas. As estruturas orgânicas, por sua vez, comandadas por esse ou aquele Órgão, desenvolvem atividades específicas, porque suas características as incluem no mesmo Movimento do Órgão que as comandam. (YAMAMURA, 2009, p. L)

Para Yamamura (2009, p. L), um exemplo são as estruturas pertencentes ao movimento Madeira (tendões, olhos, unhas, nervos e sistema reprodutor feminino) que são relacionadas a atividades intensas e ao crescimento, por esse

45

Figura 6 – Os órgãos internos e os Cinco Elementos Fonte: Maciocia (2007, p. 21)

motivo, são ligadas ao Fígado, que é o responsável pelo metabolismo e síntese

protéica (crescimento).

Tabela 1: Algumas das principais correspondências dos Cinco Elementos

Fonte: Maciocia (2007, p. 21)

Ao considerarmos o tratamento de um determinado Movimento em

desequilíbrio, devemos analisar a relação que o mesmo estabelece com os demais

46

dentro das sequências de Geração, Dominância, Dominância excessiva e Contra-

Dominância. Isso porque o desequilíbrio de um Movimento pode estar sendo

provocado por outro, ou, estar afetando um outro relacionado com ele, dentro dos

vários relacionamentos. Para Maciocia (2007, p. 31), “É necessário manter todas

essas relações em mente no momento de determinar o tratamento adequado”.

Depois de estabelecidas as causas das desarmonias, podemos definir o

tratamento utilizando as Regras de Geração ou as Regras de Dominância.

Na Regra de Geração ou Lei Mãe-Filho, devemos sempre:

Sedação: sedar o filho para sedar a mãe.

Tonificação: tonificar a mãe para tonificar o filho.

Já na Regra de Dominância ou Lei Avô-Neto, devemos:

Sedação: para sedar um movimento, tonificar o seu avô.

Tonificação: para tonificar um movimento, sedar o seu avô.

4.3 A TEORIA DOS ZANG FU (ÓRGÃOS E VÍSCERAS)

Para Maciocia (2007, p. 77), a teoria dos Órgãos Internos é o centro da teoria

médica chinesa, pois representa a visão médica chinesa do corpo como um todo

integrado, onde funções corporais, emoções, atividades mentais, tecidos, órgãos do

sentido e influências ambientais estão em íntima relação.

O nome chinês para Órgãos Internos é Zang Fu, onde Zang representa os

órgãos Yin, que armazenam as substâncias vitais (Qi, Sangue, Essência e Fluidos

Corpóreos). Os Zang só armazenam substâncias puras e refinadas, que são obtidas

pelos órgãos Yang , após a transformação dos alimentos.

Já o termo Fu, representa as vísceras Yang, que não armazenam como os

Zang, mas são constantemente preenchidas e esvaziadas. As vísceras transformam

e refinam os alimentos e bebidas para extrair as essências puras. Além disso

realizam também a excreção dos produtos de desperdício.

Apesar disso, são os órgãos Yin que ocupam um lugar central na fisiologia e

patologia chinesas, pois armazenam as essências preciosas do corpo Sangue,

Fluidos e a própria Essência. Para os chineses, uma Deficiência de Yin é mais séria

47

e mais difícil de tratar do que uma Deficiência de Yang.

Yamamura (2009, p. LIII), relata que os aspectos energéticos dos Zang Fu são

responsáveis pela integridade do corpo. Se eles estiverem em harmonia energética,

as funções psíquicas e orgânicas apresentarão bom desempenho funcional,

mantendo a normalidade.

As alterações de energia dos Zang Fu para mais (Plenitude) ou para menos (Vazio) promovem conseqüências, inicialmente na Energia Mental (Shen), depois, sucessivamente, na coloração da tez, nas manifestações funcionais dos Órgãos/Vísceras e, por fim, alterações orgânicas das estruturas dos corpo. (YAMAMURA, 2009, p. LIII)

Observando o exterior, conhece-se o interior, pois as modificações exteriores

que ocorrem nas estruturas orgânicas são decorrentes de processos internos. Para

chegar ao tratamento adequado, devemos chegar à origem das alterações

energéticas. Os Zang Fu, além de promoverem os sinais e sintomas orgânicos,

também se manifestam ao longo do trajeto de seus Canais de Energia.

Para a MTC, o fator causal das doenças é um desequilíbrio da energia interna,

induzido pelo meio ambiente (origem externa) ou pela alimentação desregrada,

emoções retidas, fadigas (origem interna).

Fatores internos ou externos podem dificultar a circulação de Energia (Qi) dos

Canais de Energia, provocando processos álgicos ou o mau funcionamento dos

Zang Fu e dos tecidos.

As deficiências (Vazio) de Qi (Energia) ou a penetração de Energias Perversas são fatores condicionantes do processo de adoecimento, que pode ir desde um bloqueio na circulação de Qi (Energia) por meio dos Canais de Energia, que pode se expressar por dor ou impotência funcional dos músculos, até processos que alteram as estruturas internas, levando a uma lesão anatômica. (YAMAMURA, 2009, p. LVII)

48

5 A FIBROMIALGIA NA MTC

Para Maciocia (2010, p.905), a compreensão da FM sob o ponto de vista da

MTC depende do entendimento de três estruturas da medicina chinesa: o espaço

entre pele e músculos (Cou Li), os canais de conexão (Luo) e os canais musculares

(Jing Jin).

5.1 ESPAÇO ENTRE PELE E MÚSCULOS (Cou Li)

O Cou Li é uma entidade complexa que inclui dois aspectos: Cou são os “espaços” no corpo que incluem os espaços do Triplo Aquecedor, dos quais o espaço entre pele e músculos é um deles; Li são os “padrões” ou “grãos” da pele, carne e órgãos internos. Estes últimos são, provavelmente, os tecidos conectivos do corpo, os quais pertencem às membranas Huang. (MACIOCIA, 2010, p. 905)

O espaço Cou mais importante na Fibromialgia é o entre a pele e os músculos

(Figura 7), pois é nele que ocorre a circulação do Qi Defensivo, a formação do suor

e a regulação dos poros da pele. Quando este espaço está em condições de

normalidade, o Qi Defensivo se difunde, protegendo o corpo dos ataques de fatores

patogênicos externos e os poros da pele, regulados, abrem ou fecham nos

momentos certos.

Na FM é neste local que a Umidade se acumula, causando dor muscular,

sensação de peso em membros e fadiga. Além disso, ela também pode se localizar

na cabeça, causando cefaléia do tipo surda.

5.2 CANAIS DE CONEXÃO (Luo)

Os Canais de Conexão são chamados de Luo Mai, onde Luo, significa “rede”.

Isso porque os Canais de Conexão podem ser comparados a uma rede de canais

que fluem em todas as direções, possibilitando um fluxo horizontal de Qi, ao

contrário do que ocorre nos Canais Principais, que só possuem um fluxo vertical de

49

Figura 7 – Espaço entre pele e músculos (Cou Li) Fonte: Maciocia (2010, p. 905)

Qi, pois são comparados a linhas verticais (Figura 8).

Por serem mais superficiais que os Canais Principais, os Canais de Conexão

preenchem a superfície e o espaço entre pele e músculos, protegendo o corpo da

invasão de fatores patogênicos externos. Segundo Maciocia (2010, p. 906),

podemos dizer que sua ação protetora está intimamente ligada ao Qi Defensivo e

sua circulação no espaço Cou Li.

Figura 8 – Fluxo de Qi vertical e horizontal nos Canais Principais e de Conexão. Fonte:Maciocia (2010, p. 906)

Por conseguinte, esses Canais são os primeiros a serem invadidos pelos

fatores patogênicos. Na FM, são invadidos pela Umidade, que causa dor muscular e

sensação de peso nos membros.

50

Ainda de acordo com Maciocia (2010, p.909), além dessa camada superficial,

há também uma mais profunda, chamada de Canal de Conexão Profundo, que está

energeticamente relacionada aos vasos sanguíneos e ao Sangue em geral. Esses

canais profundos estão envolvidos na dor crônica de Estagnação de Sangue que

ocorre, às vezes, na FM.

Podemos relacionar as três camadas na rede de canais aos tipos de Qi, isto é, Qi Defensivo, Qi Nutritivo e Sangue da seguinte maneira: na superfície, os canais de Conexão, ao nível do Qi Defensivo; no centro, os canais Principais, ao nível do Qi e do Qi Nutritivo; no interior, os canais de Conexão profundos, ao nível do Sangue. (MACIOCIA, 2010, p. 909)

5.3 CANAIS MUSCULARES OU TENDINOMUSCULARES (Jing Jin)

São Canais de Energia Secundários que estão na superfície do corpo.

Apresentam caráter Yang, e se localizam entre tendões, músculos, articulações e

pele. Não apresentam ligação energética direta com os Zang Fu, pois se ramificam

nos membros, tórax, dorso e cabeça, mas não se interiorizam.

Os trajetos dos Canais de Energia Tendinomusculares são mais superficiais que profundos, passando por locais que não são supridos energeticamente pelos Canais de Energia Principais, Distintos, Curiosos ou Luo. Os Canais de Energia Tendinomusculares têm a função de movimentar os músculos e as articulações, possibilitando-lhes a extensão e a flexão, assim como de promover a defesa do organismo, pois nesses Canais circula o Wei Qi, a Energia de Defesa. (YAMAMURA, 2009, p. 555)

Originam-se nos pontos Ting dos Canais de Energia Principais (CEP) e sua

fisiologia e patologia energética está relacionada diretamente com o estado do Qi

dos CEP, pois eles lhes dão energia para sua formação e atividade energética.

Segundo Maciocia (2010, p. 909) os Canais de Conexão constituem o

“exterior” do corpo energeticamente falando, e os Canais Musculares constituem

também o “exterior”, mas anatomicamente falando (Figura 9).

[...] Os canais Musculares também são facilmente invadidos pelos fatores patogênicos externos; no entanto, tais invasões manifestam-se primariamente com sintomas musculares, tais como ardor, dor ou rigidez, sem os sintomas gerais de invasão da porção do Qi Defensivo (aversão ao frio, febre, dor de garganta, etc.), a qual ocorre quando os canais de Conexão são invadidos. Os sintomas de Fibromialgia são exemplos bons da invasão dos canais Musculares sem sintomas de invasão externa. (MACIOCIA, 2010, p. 909)

51

Segundo Yamamura (2009, p. 556), se os CEP estão plenos de Qi e Sangue,

os Canais Musculares estarão evitando e combatendo a penetração dos Fatores

Patogênicos através de sua Energia de Defesa e do Qi Correto. Ao contrário, se os

CEP estiverem em vazio, os Fatores Patogênicos penetrarão e podem se

aprofundar seguindo o trajeto dos Canais Musculares, até penetrar no CEP pelo

ponto Ting.

Patologicamente, os Canais Musculares podem desenvolver condições de

Excesso ou Deficiência, com sintomas distintos:

Excesso: dor, contratura, rigidez e inflexibilidade;

Deficiência: moleza, flacidez e dor surda.

O formigamento muscular pode ser consequência de Excesso (Fleuma nos

músculos) ou de Deficiência (Deficiência de Sangue).

Para Maciocia (2010, p. 910), na FM há envolvimento dos Canais Musculares

com aparecimento de sintomas que podem ser consequência de Umidade,

Vento, Frio, Estagnação de Qi ou Estagnação de Sangue.

Figura 9 – Canais Musculares e exterior do corpo. Fonte: Maciocia (2010, p. 910)

52

5.4 ETIOLOGIA DA FIBROMIALGIA NA MEDICINA CHINESA

Segundo Maciocia (2010, p. 910), os principais fatores etiológicos na FM são:

Invasão de fatores patogênicos externos (Umidade, Vento, Frio), Tensão emocional,

Dieta irregular e Trabalho físico excessivo.

Destes, a Umidade é o mais comum na FM. Deriva da exposição ao clima ou

ambiente úmido, é insidiosa e vai penetrando pelas pernas e atingindo a parte

superior do corpo. Pode se estabelecer no espaço entre pele e músculos, causando

dor muscular generalizada e sensação de peso nos membros, ou, na cabeça, onde

causa cefaléias do tipo surda, dor facial, memória debilitada, dificuldade de

concentração e sensação de entorpecimento (atordoamento) da cabeça. O Vento

também invade o espaço Cou Li, além dos próprios músculos. Ele provoca

contração e uma dor errante, que muda de local de um dia para o outro. O Frio é

outro fator que pode invadir os músculos, causando contração e uma dor mais

intensa que a do Vento e da Umidade, e que é localizada e não é errante. Com

muita frequência, o Frio pode combinar-se com a Umidade. Raiva, culpa, vergonha,

medo, preocupação, tristeza ou pesar geram Tensão emocional, que leva à

Estagnação do Qi. Essa Estagnação compromete os músculos dos ombros e do

pescoço , contribuindo para a dor muscular da FM. Comer irregularmente, isto é,

com pressa, enquanto está trabalhando, tarde da noite, pular refeições, consumir

excessivamente alimentos gordurosos, frituras e laticínios, pode gerar a Umidade, o

principal fator patogênico na FM.

Para Maciocia (2010, p. 911), na FM sempre há Deficiência primária do Baço-

Pâncreas (BP) e do Rim (R). O trabalho físico excessivo enfraquece o BP, o Fígado

(F) e o R, gerando Deficiência do Yang.

5.5 PATOLOGIA DA FIBROMIALGIA NA MEDICINA CHINESA

Para a MTC, patologicamente, a FM sempre se manifestará por condições de

Excesso ou Deficiência. Além disso, na prática, a maior parte dos casos, apresenta

53

uma combinação de padrões de Excesso e Deficiência (como Umidade com

Deficiência do Yang do BP e R) ou só de padrões de Excesso.

Condições de Excesso: Umidade, Estagnação do Qi, Estagnação do Sangue.

Condições de Deficiência: Deficiência do Qi do BP ou do Yang do BP, Deficiência

do Yang do BP e do R, Deficiência do Sangue do F, Deficiência do Yin do F e do R.

Geralmente, nos padrões de Excesso, a dor é mais intensa, o pulso fica Cheio

e a língua apresenta revestimento espesso.

De acordo com Yamamura et al. (1996), segundo a MTC, o sono não-

reparador, a insônia, o sono leve ou o sono interrompido são conseqüências do

Excesso de Yang que atinge o canal curioso Yang Qiao Mai e mantém o encéfalo

ativo, mesmo durante a noite, comprometendo, assim, o repouso do corpo.

Segundo Maciocia (2006, p. 799), “A Umidade é um fator patogênico Yin e

tende a consumir o Yang. [...] caracteriza-se por ser pegajosa, difícil de ser desfeita,

torna as coisas lentas, infunde-se para baixo e provoca ataques repetidos”.

A Estagnação do Qi é causa da dor muscular e da dor articular. Pode causar

também o intestino irritável, com distensão abdominal pronunciada, que é

característica deste padrão de Excesso. Se o Qi permanecer estagnado por longos

períodos, afetará os Canais de Conexão Profundos e, consequentemente, o

Sangue, que também ficará estagnado. Para Maciocia (2010, p. 911), “[...] A

Estagnação de Sangue causa dor intensa, tipo punhalada, a qual pode ser tanto

nos músculos como nas articulações; com freqüência piora à noite”.

Ainda segundo o autor, o paciente que apresenta Deficiência de Qi ou do

Yang do BP, refere muito cansaço e pode sofrer de problemas digestivos (intestino

irritável, distensão abdominal, fezes amolecidas, pouco apetite). Se ocorre

Deficiência do Yang do BP concomitante a Deficiência do Yang do Rim, além

do cansaço, somam-se vontade de se deitar, sensação de frio, membros frios, dor

na região dorsal inferior, micção frequente, tontura e tinido.

O Fígado controla os tendões, e a Deficiência do Sangue do Fígado permite

que a Umidade e/ou outros fatores patogênicos ataquem essas estruturas. São

sintomas desse padrão: menstruações escassas, visão turva, flutuadores no campo

visual, tontura, parestesias nos membros, cabelo seco, língua Pálida e pulso Áspero.

Segundo Maciocia (2010, p. 912), o Yin do Fígado e do Rim deficientes são

encontrados apenas nos idosos com FM avançada. Caracterizam-se pelos sinais e

sintomas da Deficiência do Sangue do F, mais sensação de calor ao entardecer,

54

sudorese noturna, língua sem revestimento e pulso Flutuante ou Vazio.

5.6 PRINCÍPIOS DE TRATAMENTO E ESTRATÉGIAS

Como em qualquer patologia crônica, o tratamento da FM requer tempo

prolongado e muita paciência para que se vislumbre resultados significativos e

duradouros.

Para Ferreira; Matsutani; Marques (2005, p.157), o tratamento é um desafio

para os profissionais de saúde, onde enfatiza-se o controle da dor, o aumento ou a

manutenção da capacidade funcional e a redução de outras manifestações que

causem sofrimento a esses pacientes.

Segundo Perea (2003), “A Acupuntura vem sendo bastante utilizada no

tratamento de síndromes dolorosas, levando a diminuição da dor assim como a um

aumento do limiar de dor”.

Para Ma; Ma; Cho (2006, p. XXI), “[...] As agulhas e as lesões provocadas

pelas agulhas ativam os mecanismos de sobrevivência incorporados que

normalizam a homeostase e promovem a autocura. Esse processo é composto de

duas partes: central e periférica”.

Mecanismo central: a inserção das agulhas e a lesão produzida ativam no cérebro

os principais sistemas de sobrevivência (Sistemas Nervoso, Endócrino, Imunológico

e Cardiovascular) e normalizam a fisiologia corporal como um todo;

Mecanismo Periférico: a inserção e a lesão das agulhas desencadeiam reações

fisiológicas ao redor dos locais de puntura, que levam os quatro sistemas de

sobrevivência a dessensibilizar e a reparar os tecidos lesados. Ocorre a reação local

da inserção da agulha, que é uma cascata de reações de sobrevivência, incluindo a

reação imunológica.

Segundo Maciocia (2010, p. 912), devemos começar a idealizar o tratamento

da FM pela MTC, separando os sinais e sintomas dos pacientes em dois grandes

grupos: a Manifestação (Biao) e a Raiz (Ben) da doença.

Manifestação (Biao): são os fatores patogênicos como Umidade, Estagnação de Qi

ou de Sangue;

55

Raiz (Ben): são a Deficiência de Qi e de Sangue.

O tratamento da FM deve sempre ocorrer de maneira a tratar a Manifestação

(eliminar os fatores patogênicos) e tratar também a Raiz (tonificar o Qi Correto).

[...] é importante mudar a ênfase do tratamento entre eliminar os fatores patogênicos e tonificar o Qi de acordo com a condição do paciente. Apesar de haver sempre condições simultâneas de Excesso e Deficiência, na maior parte dos casos há predominância de um ou outro. (MACIOCIA, 2010, p.912)

Ainda segundo o autor, a escolha entre eliminar primeiro os fatores

patogênicos ou tonificar Qi e Sangue deve depender principalmente das condições

da língua e do pulso do paciente.

Se o pulso apresenta-se do tipo Excesso (Deslizante ou em Corda, por exemplo) e a língua possui revestimento espesso, enfatizo a eliminação dos fatores patogênicos; se o pulso é do tipo Deficiente (Fraco, Fino ou Áspero, por exemplo) e a língua possui revestimento fino ou nenhum revestimento, enfatizo a tonificação do Qi e do Sangue. (MACIOCIA, 2010, p. 912)

56

6 A ACUPUNTURA NO TRATAMENTO DA FIBROMIALGIA

A Medicina Ocidental reflete o pensamento ocidental que constitui a sociedade Ocidental, em que se procura uma aproximação agressiva, combativa na qual a área da doença é cortada, queimada, irradiada, injetada ou submetida a tratamento químico-supressivo. O enfoque da Medicina Chinesa é algo diferente [...] não procura isolar um agente de doença e empreender uma guerra contra ele, mas vai procurar um padrão de desarmonia e o trata de modo a ajudar o corpo a restaurar a harmonia. (ROSS, 1994, p. 6 e 7)

Segundo Perea (2003), “A Acupuntura vem sendo bastante utilizada no

tratamento de síndromes dolorosas, levando a diminuição da dor assim como a um

aumento do limiar de dor”.

Além disso, como trata o indivíduo de uma maneira global, enfocando corpo e

mente, a Acupuntura vem ganhando espaço cada vez maior no rol de alternativas de

tratamento, pois consegue atingir, além da dor, sintomas como fadiga, ansiedade,

depressão, insônia, cólon irritável, edemas e cefaléias, melhorando a qualidade de

vida e o bem-estar geral dos pacientes.

O tratamento pela Acupuntura baseia-se no uso dos pontos de Acupuntura que se situam sobre os Canais, localizados abaixo da superfície do corpo, em lugares anatômicos específicos e que representam os pontos nos quais o fluxo de Substâncias dentro dos Canais podem ser ajustados a fim de se promover a harmonia. (ROSS, 1994, p. 10)

Os mecanismos que desencadeiam a analgesia ainda estão sendo

desvendados. Alguns pesquisadores acreditam que isso ocorre por meio do estímulo

dos terminais nervosos, no momento da inserção das agulhas, o que determina o

aumento da produção de serotonina e endorfina no Sistema Nervoso Central (SNC),

que agem como um analgésico. Para Lee (2000), há evidências convincentes que a

Acupuntura realmente estimula a produção de endorfina, serotonina e acetilcolina

pelo SNC, aumentando, assim a analgesia.

Além disso, segundo Lin; Hsing; Pai (2006), outra explicação é que a inserção

da agulha age como um estímulo nociceptivo que estimula a fibra A delta, cujos

impulsos são mais velozes do que os estímulos de dor carregados pelas fibras C,

que não são mielinizadas. Isso desencadeia um impulso inibitório descendente,

através de conexões neuronais dentro do mesencéfalo, que gera a analgesia. Ainda

segundo os autores, isso ajudaria a explicar como uma inserção longe do local

original de dor pode levar à analgesia do mesmo.

57

Durante a realização desde trabalho, encontramos alguns ensaios clínicos que

tentaram provar a efetividade do tratamento da FM através da Acupuntura. Muitos

desses estudos utilizaram grupos controles que tiveram seus resultados comparados

aos dos grupos que receberam a chamada “Acupuntura real”, que nada mais é que

o tratamento por Acupuntura testado pelos pesquisadores, onde as agulhas eram

inseridas em pontos de Acupuntura e estimuladas até a obtenção do Te Qi. Existem

diversas maneiras de se conduzir um grupo controle, utilizando ou não técnicas de

agulhamento. Lee (2000) e Lund; Näslund; Lundeberg (2009), citaram alguns

dos tipos mais comuns, que são descritos abaixo:

Sem Tratamento: monitoramento de um grupo de pessoas que pertence a uma lista

de espera por um tratamento, ou de um grupo que foi selecionado por randomização

para não receber nenhum tratamento. Esse grupo auxilia os pesquisadores a

observar quais mudanças ocorrem sem nenhuma intervenção médica, simplesmente

com a passagem do tempo.

Acupuntura Simulada: é como uma Acupuntura verdadeira, mas as agulhas são

aplicadas cerca de meia polegada fora da localização correta do ponto. A

profundidade da inserção e a estimulação são mantidas.

Acupuntura Mínima: o agulhamento é realizado longe dos locais corretos dos

pontos de Acupuntura. A inserção é feita superficialmente e a estimulação de

maneira muito leve.

Agulha de Acupuntura Placebo: não há penetração da agulha de Acupuntura na

pele do paciente. São usadas agulhas com a ponta rombuda, onde existe a

sensação da “picada” na pele, mas não há penetração. Essa sem ação pode ser

conseguida também utilizando-se um palito de dentes dentro do mandril. A

localização correta dos pontos é obedecida.

Tratamento Alternativo: compara-se o tratamento com Acupuntura ao tratamento

padrão através de medicação, acompanhamento médico e psicológico ou

fisioterapia.

Comparação de tratamentos coadjuvantes: compara a eficácia do tratamento com

Acupuntura realizado em conjunto com o tratamento padrão com o tratamento

padrão realizado isoladamente.

Acupontos irrelevantes: realiza-se agulhamento em acupontos utilizados para

tratar uma patologia ou condição não relacionada à patologia que está sendo

estudada.

58

Pseudo-intervenções: são feitas intervenções que não são de “Acupuntura real”,

como, por exemplo, realizar laseracupuntura com o aparelho desligado.

Lund; Näslund; Lundeberg (2009), contestaram a validade da Acupuntura

Mínima como placebo controle nos estudos clínicos randomizados de Acupuntura.

Segundo eles, em pacientes com dor crônica ocorre sensibilização dos sistemas

nervoso periférico e central, o que pode aumentar a resposta a estímulos, fazendo

com que o efeito ao tratamento com Acupuntura mínima possa ser tão forte como

com a Acupuntura real. Quando a agulha toca a pele nesses pacientes, mesmo que

superficialmente ou fora dos acupontos, como é feito neste tipo de placebo, pode

ocorrer uma atividade nos nervos aferentes cutâneos que chega até o cérebro do

indivíduo, induzindo à respostas fisiológicas, como, por exemplo, desativação de

estruturas límbicas entre outras. Essas alterações fisiológicas podem levar algumas

condições clínicas, como a enxaqueca, a ter uma melhora muito similar quando

tratada com Acupuntura real ou mínima. Para os autores, é provável que a etiologia

da dor influencie as respostas obtidas com os dois procedimentos, já que outras

condições como dor lombar e osteoartrite de joelho, mostraram uma melhor resposta

com o tratamento real, porém, estudos randomizados futuros são necessários para

se verificar se este tipo de placebo é realmente tão “inerte” quanto foi considerado

até então.

Em outro artigo, Lundeberg e Lund (2007a), já haviam comentado que

pacientes com FM sofrem de alodinia, fadiga e dor muscular, que podem ser

parcialmente explicadas pela sensibilização periférica e central. Essa sensibilização

aumentada com respostas alteradas à estímulos cutâneos, podem fazer com que a

estimulação mínima da pele tenha um efeito tão forte como um agulhamento

profundo, alterando o sistema inibitório da dor nesses indivíduos. Os autores ainda

acreditam que a sensibilização central na FM também está associada com a

expansão dos campos receptivos de neurônios centrais, resultando em uma maior

distribuição topográfica da dor. Isto sugeriria, que os procedimentos de controle

usando agulhas distantes dos locais dos pontos de Acupuntura poderiam ter um

efeito tão forte como agulhas inseridas dentro da área mais dolorosa (ponto Ashi).

De acordo com Yamamura et al. (1996), as características clínicas da FM

podem ser correlacionadas com as manifestações clínicas de patologias dos Canais

de Energia Curiosos Yang Qiao Mai e Yin Qiao Mai, da MTC. Eles descrevem duas

formas de FM: uma de característica Yang, relacionada ao Yang Qiao Mai, onde

59

predominam dores do sistema musculoesquelético, sono não-reparador, ansiedade

e fadiga crônica, e, a outra, de característica Yin, relacionada ao Yin Qiao Mai, onde

o paciente apresenta manifestações de Deficiência de Yin e de Falso-Calor, como

dores do sistema musculoesquelético, sono não-reparador, apatia, depressão e

fadiga crônica, além de antecedentes de doenças dos órgãos internos. Os autores

sugerem que a FM de origem Yang, seja tratada pelo sistema Yang Qiao Mai/Du

Mai, inserindo-se as agulhas nos pontos B-62 (Shenmai) e ID-3 (Houxi), e, a FM de

origem Yin, pelo sistema Yin Qiao Mai/Ren Mai, agulhando-se os pontos R-6

(Zhaohai) e P-7 (Lieque). Após a abertura dos Canais Curiosos pelos pontos B-62

ou R-6 (em sedação), deve-se inserir os pontos R-2 (Rangu), R-3 (Taixi), BP-6

(Sanyinjiao), E-36 (Zusanli), IG-4 (Hegu), TA-2 (Yemen) e VB-43 (Xiaxi), para,

somente então, fechar esses Canais pelos pontos ID-3 ou P-7.

Berman et al. (1999), após uma pesquisa em base de dados científicos,

reuniram e analisaram sete estudos, realizados entre 1977 e 1996, para tentar

avaliar a efetividade da Acupuntura no tratamento para Fibromialgia. Destes sete

estudos, porém, somente um deles foi classificado com de alta qualidade

metodológica pelos autores. Este, sugeriu que a verdadeira Acupuntura é mais

eficaz que a simulada para aliviar a dor, aumentar o limiar doloroso e reduzir a

rigidez matinal da FM. Porém, não foi realizado um acompanhamento dos pacientes

para se conhecer a duração desses benefícios após o término do tratamento.

Segundo os autores, os outros estudos de qualidade inferior foram consistentes com

este mesmo resultado, porém, sugerem a realização de mais ensaios clínicos de alta

qualidade no futuro, com acompanhamento a longo prazo dos pacientes, após o

término da terapia, para confirmação dos resultados.

Itoh e Kitakoji (2010), trataram 16 pacientes com FM, randomizados em dois

grupos, onde o Grupo A recebeu 05 sessões de Acupuntura, uma vez por semana,

por 30 minutos, após 5 semanas de um período controle onde realizaram exames

clínicos e tratamento padrão uma ou duas vezes por semana, com um especialista

em FM. O Grupo B recebeu 10 sessões de Acupuntura, uma vez por semana, com

duração de 30 minutos. Eletroacupuntura e pontos gatilhos foram utilizados no

tratamento. Os pacientes recebiam 15 minutos de eletroacupuntura, onde quatro

pares de eletrodos eram colocados nos antebraços e pernas, e ligados a uma

corrente de 4 Hz, cuja intensidade foi definida pela percepção do paciente, e elevada

até que se obtivesse uma contração muscular visível. Ao término dos 15 minutos,

60

eram realizadas inserções nos pontos gatilhos, num número máximo de 10 pontos,

escolhidos de acordo com os sintomas do paciente e padrão de dor. As agulhas

permaneciam por 15 minutos. Nesta fase da sessão os músculos mais tratados

foram: esternocleidomastóideo, trapézio, peitoral maior, quadrado lombar, eretor da

espinha, glúteo médio, isquiotibiais. A profundidade de inserção foi determinada de

acordo com a sensação do paciente. Os autores encontraram uma diferença

significativa ao final das 5 primeiras semanas de tratamento, quando os pacientes do

Grupo B, que estavam recebendo o tratamento com Acupuntura, apresentaram uma

grande melhora dos sintomas e na qualidade de vida, comparados ao Grupo A, que

estava recebendo o tratamento padrão. Nas últimas 5 semanas de pesquisa, o

Grupo A, que começou a receber o tratamento com Acupuntura, também apresentou

uma redução dos sintomas e melhora da qualidade de vida, alcançado níveis de

score mais próximos aos do outro Grupo. O estudo mostra resultados que sugerem

que o protocolo de tratamento proposto é eficaz para aliviar a dor desses

pacientes. Sugere ainda, que a utilização do tratamento padrão como grupo de

controle, pode ser o método ideal para avaliar a eficácia da Acupuntura na FM.

Porém, como o tamanho da amostra utilizada foi relativamente pequena, estudos

futuros de maior escala ainda são necessários para confirmar os achados.

Em 2007, Mayhew e Ernst, após pesquisa em base de dados eletrônica,

reuniram 05 estudos clínicos randomizados que utilizaram a Acupuntura como

recurso de tratamento para FM. Somente dois estudos foram considerados de alta

qualidade metodológica e, os outros três, somente de boa qualidade. Três estudos

concluíram que a Acupuntura é eficaz, porém, os efeitos encontrados foram

pequenos e de curta duração, não sendo muito valorizados pelos pacientes. Dois

artigos foram negativos, falhando em mostrar eficácia. Os três estudos positivos

utilizaram eletroacupuntura exclusivamente ou em combinação com estimulação

manual, e, os dois negativos usaram somente Acupuntura manual. As

características dos estudos foram muito heterogêneas, no que dizia respeito ao

processo de blindagem, instrumentos para análise de resultados, técnicas de

tratamento, número de sessões realizadas no total e durante uma semana,

acompanhamento de resultados a curto ou longo prazo, e seleção de pontos de

tratamento, sendo que dois estudos padronizaram os pontos aplicados e os outros

individualizaram o plano de tratamento, de acordo com as queixas dos indivíduos.

Essas variáveis podem ter contribuído para resultados tão opostos serem

61

encontrados. Com base em todos esses achados, os autores concluíram que a

Acupuntura não pode ser recomendada como tratamento exclusivo da FM, uma vez

que a eficácia dessa terapia não pôde ser suportada por resultados de ensaios

clínicos rigorosos e de alta qualidade metodológica.

Takiguchi et al. (2008), realizaram um ensaio clínico randomizado com o

objetivo de verificar a eficácia da Acupuntura na melhora da dor, sono e qualidade

de vida de pacientes fibromiálgicos. Randomizaram 20 mulheres em dois grupos,

onde o Grupo A recebeu Acupuntura segundo a MTC, com escolha personalizada

dos pontos seguindo o diagnóstico baseado nas Síndromes dos Zang Fu. O Grupo B

recebeu a inserção de agulhas nos tender points da base occipital, trapézio, supra-

espinhoso e epicôndilo lateral, visando a diminuição da dor. Somente 12 mulheres

completaram o estudo. Para padronização da pesquisa, foram inseridas, em ambos

os grupos exatamente 08 agulhas, com cerca de meia polegada de profundidade,

exceto nos casos que a característica dos pontos pedia o contrário. Em cada sessão

as agulhas permaneciam por 25 minutos. Foram realizadas oito sessões, com

frequência de uma vez por semana. O Grupo A apresentou melhora,

estatisticamente significante, somente no sono. Já o Grupo B, apresentou melhora

mais acentuada, com diminuição da dor nos tender points tratados e também em

pontos distantes dos puncionados, além de, menor impacto da FM no dia-a-dia,

melhora da dor e da qualidade do sono. Segundo os autores, no Grupo B, a

diminuição da dor mesmo nos pontos onde não foi realizada a inserção, demonstra

efeito sistêmico, que causa alívio mesmo em locais distantes. A melhora do sono

provavelmente foi causada pelo efeito analgésico obtido, aliado à liberação de

substâncias “semelhantes ao ópio”, no fluido cérebro-espinhal. De acordo com os

resultados obtidos, os autores concluíram que a Acupuntura mostrou-se eficaz na

melhora da dor, sono e qualidade de vida dos pacientes de ambos os grupos, porém

com maior melhora no grupo que recebeu a inserção nos tender points, contrariando

a sua hipótese inicial.

Duncan; White; Rahman (2007), conduziram um ensaio para explorar a

aceitabilidade e os benefícios que a Acupuntura poderia oferecer os pacientes de

uma clínica de cuidados terciários. Ofereceram a 24 pacientes, 08 sessões de

tratamento, no decorrer de oito semanas. Como tratamento, realizaram inserção

manual nos pontos-gatilhos, de acordo com a localização das áreas dolorosas em

cada paciente. Uma inserção mais superficial foi realizada, no menor número

62

possível de pontos, com limite máximo de 10 agulhas, pois os autores acreditam que

os indivíduos fibromiálgicos são especialmente sensíveis ao agulhamento, que

provoca neles um grande aumento de fluxo sanguíneo cutâneo e muscular, o que

produziria nesses pacientes o mesmo efeito de uma inserção mais profunda,

intramuscular, em pessoas saudáveis. As medidas de resultados foram coletadas

em 05 ocasiões: imediatamente antes do início do tratamento, ao final das oito

semanas de Acupuntura, e, após 6 semanas, três meses e seis meses do término

das sessões. Houve perda amostral e somente 14 pessoas completaram o estudo.

Desses cerca de 1/3 apresentou pelo menos 20% de redução do Fibromyalgia

Impact Questionnaire (FIQ), considerada uma melhora clinicamente relevante, sendo

que dois desses indivíduos tiveram uma melhora superior a 50%. Porém, como não

tinham um grupo controle, não se pode concluir se essa resposta obtida em alguns

pacientes é um efeito específico da técnica de inserção utilizada. Os autores

concluíram que a Acupuntura parece oferecer melhora sintomática em alguns

pacientes fibromiálgicos que não conseguiram responder a outros tratamentos e

sugerem que novos estudos sejam realizados para confirmar os achados e para

comparar os efeitos da Acupuntura manual com a eletroacupuntura.

Assefi et al. (2005), realizaram um estudo randomizado, placebo controlado,

para determinar se a Acupuntura alivia a dor na FM. Foram selecionados 100

adultos com FM, que receberam duas vezes por semana, durante 12 semanas, o

programa de tratamento projetado para tratar a patologia, ou um dos três tipos de

placebo propostos. Os tratamentos foram realizados por oito acupunturistas, em

seus consultórios particulares. Os tipos de placebo selecionados foram: pontos de

Acupuntura para tratar uma condição não relacionada (menstruação irregular),

inserção de agulhas fora dos pontos e inserção simulada da agulha. Em todos os

grupos que receberam inserção de agulhas, as mesmas foram mantidas em

profundidade padrão, por 30 minutos em cada ponto. No grupo que recebeu

tratamento para FM foram utilizados os seguintes pontos: IG-11, BP-9, VC-12, E-25,

R-7, TA-5, Yintang, B-43, B-44, B-17, B-18, B-20 e B-22. No grupo que recebeu

tratamento para menstruação irregular, os pontos P-7, BP-10, VC-3, R-5 e F-2 foram

utilizados. As medidas de resultados foram realizadas na primeira, quarta, oitava, e

décima segunda semanas de tratamento, e três e seis meses após sua conclusão.

Para obter os resultados, foram agrupados os três simulados controles para

compará-los ao grupo que recebeu o tratamento para FM. Houve perda amostral e

63

somente 96 pacientes terminaram o estudo. Os autores concluíram que a

Acupuntura não foi melhor que a simulada no alívio da dor na FM. Explicações

possíveis incluem uma resposta inespecífica à presença do acupunturista ou ao

ambiente relaxante da clínica, uma resposta psicológica a participação num ensaio

clínico, ou flutuações na história natural da doença. A presença de um grupo

controle de cuidados habituais teria auxiliado a diferenciar entre estas três

possibilidades. Reiteram ainda, que estudos randomizados e controlados anteriores

tem sido amplamente inconclusivos, mas sugerem que o agulhamento simulado é

tão eficaz quanto a Acupuntura real, e, que a ressonância magnética funcional

demonstrou que a estimulação de pontos de Acupuntura ou pontos falsos reduz a

ativação de áreas corticais do cérebro que, acredita-se, estão envolvidas com o

processo de sinais de dor. Salientam que conduzir um estudo cego de Acupuntura é

um desafio, porque é quase impossível deixar os acupunturistas cegos para os

tratamentos que estão realizando. Acreditam, ainda, que a prescrição da Acupuntura

em pontos fixos pode ter interferido nesse resultado final. Essa prática difere do que

ocorre na prática diária, onde o tratamento é personalizado. Como não existe um

padrão-ouro para seleção de pontos para FM, a seleção foi realizada de acordo com

a experiência dos autores, que pode diferir da de outros. Em conclusão, os autores

não encontraram indícios de que a Acupuntura reduz a dor em pacientes com FM.

Langhorst et al. (2010), analisaram sete ensaios clínicos randomizados, com

média de nove (faixa de 6-25) sessões e 385 pacientes incluídos. Todos os estudos

utilizaram pontos tradicionais da Acupuntura chinesa, sendo que dois deles

padronizaram os pontos e cinco personalizaram o tratamento. Em dois foi utilizada a

eletroacupuntura e cinco utilizaram a Acupuntura manual. Um ensaio usou dois

grupos controle com diferentes tipos de Acupuntura simulada, outro ensaio usou três

grupos controle com dois tipos diferentes de Acupuntura simulada e um de

Acupuntura placebo, e, um estudo comparou Acupuntura simulado com nenhum

tratamento. Os outros estudos tiveram apenas um grupo controle, sendo que três

compararam a Acupuntura com a Acupuntura simulada e um com Acupuntura

placebo. Os autores encontraram fortes evidências de redução da dor logo após o

tratamento. Não encontraram evidências de diminuição da fadiga e distúrbios do

sono ou melhora da função física. Também não houve evidências que a redução da

dor tenha durado após o fim do tratamento. Houve uma grande variedade

metodológica nas pesquisas. Segundo os autores, os resultados inconsistentes

64

foram, principalmente, devido a um estudo de alta qualidade metodológica, em que a

Acupuntura realizada fora da localização dos pontos e a simulação da inserção da

agulha obtiveram resultados mais satisfatórios que a real Acupuntura. O formato

dessa pesquisa foi muito diferente das demais, pois o tratamento foi realizado por

oito acupunturistas diferentes, em seus consultórios particulares, enquanto que as

outras foram realizadas por um ou dois acupunturistas, e as sessões dentro de

hospitais. A análise dos subgrupos resultou em uma moderada evidência para uma

significativa, mas pequena, redução da dor no pós-tratamento em estudos com

eletro-estimulação e pontos individualizados. Com base nesses achados, os autores

concluíram que a Acupuntura não pode ser recomendada como única terapia para

gestão da FM.

Targino et al. (2008), realizaram um ensaio clínico randomizado para avaliar a

efetividade da Acupuntura no tratamento da FM. Randomizaram 58 mulheres com a

patologia em dois grupos, para receber sessões de Acupuntura junto com

antidepressivos tricíclicos e um programa de exercícios, ou, somente

antidepressivos tricíclicos e exercícios. O grupo da Acupuntura realizou 20 sessões,

sempre com o mesmo acupunturista, duas vezes por semana, com duração de 20

minutos cada. Os seguintes pontos clássicos da MTC foram utilizados: Yintang, F-3,

IG-4, CS-6, VB-34, BP-6. A profundidade de inserção foi determinada pela

sensibilidade do paciente, até a sensação de Qi ser obtida. Todas as agulhas foram

inseridas a 90°, com excessão do ponto Yintang, inserido a 45°. O tratamento

padrão incluiu 12,5-75mg de antidepressivos tricíclicos por dia, em dosagem

individual. Além disso, os participantes receberam instrução para caminhar por 30

minutos, duas vezes por semana, em seu próprio ritmo, respirar fundo e realizar

exercícios de relaxamento mental por outros 30 minutos. Também foram orientados

a realizar um programa de alongamento muscular envolvendo os paravertebrais,

glúteos, isquiotibiais, flexores plantares do tornozelo e flexores do quadril. Os

indivíduos do grupo controle receberam o mesmo tratamento e as mesmas

orientações, com exceção das sessões de Acupuntura. Ao final de 20 sessões, as

pacientes que receberam Acupuntura estavam significantemente melhores que as

do grupo controle em todas as medidas de dor e em cinco itens do Questionário SF-

36, que avalia a qualidade de vida. Após seis meses, o grupo da Acupuntura estava

significantemente melhor que o grupo controle em números de tender points, limiar

de dor à pressão nos 18 tender points e em três subscalas do SF-36. Após um ano,

65

o mesmo grupo mostrou significância em apenas uma subscala do SF-36. Após dois

anos, segundo os autores, não houve diferenças significativas nas medidas de

resultado. Com base nos achados, concluíram que a adição da Acupuntura no

tratamento usual para FM pode ser benéfico para diminuir a dor e aumentar a

qualidade de vida dos pacientes por até três meses após o final do tratamento.

Martin et al. (2006), conduziram um estudo controlado randomizado com o

intuito de comprovar que a Acupuntura melhora os sintomas da FM. Randomizaram

50 pacientes em dois grupos. Os pacientes do grupo de Acupuntura foram

colocados sentados, com uma tela colocada de forma a impedir a observação da

colocação dos pontos de tratamento, mas que permitia o contato visual com o

acupunturista. Os pontos foram padronizados para todos os pacientes, e em

hipótese alguma foram modificados devido a algum sintoma específico. Foram

escolhidos fortes pontos regulatórios, que comumente se repetem na literatura: IG-4,

E-36, CS-6, BP-6, F-2, C-7. Também foram usados pontos paramedianos axiais ao

longo do meridiano da Bexiga, na coluna cervical durante as três primeiras sessões,

e da coluna lombar durante as três últimas sessões. Em cada ponto, a pele foi

higienizada com álcool, a agulha inserida e estimulação elétrica a 2 Hz foi aplicada

entre o ponto IG-4 e E-36, bilateralmente, e em 10 Hz ao longo dos circuitos axiais.

A corrente era reduzida a um nível tolerável quando o paciente declarava estar

desconfortável. Após a colocação de todas as agulhas e o início da estimulação

elétrica, os participantes eram instruídos a descansar na sala escura, enquanto uma

música relaxante tocava ao fundo durante 20 minutos. O grupo controle foi

posicionado identicamente ao grupo da Acupuntura e pontos idênticos foram

usados. A pele também foi limpa com álcool, mas foi colocado um pequeno adesivo

circular, no qual previamente fora presa uma agulha de Acupuntura dobrada, de

modo a formar um tripé, para parecer que estava presa à pele sem, porém, perfurá-

la. Os pacientes do grupo controle sentiam a limpeza com álcool e uma leve

sensação de picada, mas, durante todo o tempo, não foram capazes de ver o

procedimento. A estimulação elétrica foi aplicada nos mesmos pontos do outro

grupo, mas a resistência da pele impediu qualquer fluxo perceptível. Assim como no

primeiro grupo, após a colocação de todas as agulhas e o início da estimulação

elétrica, os participantes eram instruídos a descansar na sala escura, enquanto uma

música relaxante tocava ao fundo durante 20 minutos. Foram realizadas seis

sessões de tratamento, no período de duas a três semanas. As medidas de

66

resultado foram realizadas imediatamente após a última sessão e um e sete meses

após o término do tratamento. Concluíram que a Acupuntura melhora

significantemente os sintomas da FM. Além disso, descobriram que a melhora

sintomática não estava restrita ao alívio da dor e foi mais significativa para a fadiga e

a ansiedade.

Harris et al. (2005), realizaram um estudo para investigar se métodos típicos

da Acupuntura, tais como colocação e estimulação de agulhas e a frequência de

tratamento eram fatores importantes na melhora dos sintomas da FM.

Randomizaram 114 participantes para um dos quatro grupos de tratamento: inserção

de agulhas em locais tradicionais com estimulação manual, agulhas em locais

tradicionais sem estimulação, agulhas inseridas em locais que não são pontos de

Acupuntura com estimulação, inserção da agulha fora dos pontos sem estimulação.

Todos os grupos receberam tratamento uma vez por semana durante 3 semanas,

seguido de duas vezes por semana durante 3 semanas, e, finalmente, três vezes por

semana durante 3 semanas, num total de 18 sessões. Os pontos selecionados para

tratamento foram: VG-20, IG-11, IG-4, VB-34, E-36, BP-6, F-3 e Shenmen auricular.

As agulhas permaneciam inseridas por 20 minutos. Houve perda amostral de 33%

(38 indivíduos). Os autores observaram melhora da dor em geral, sendo que 25%-

35% dos indivíduos tiveram uma diminuição clinicamente significativa da dor, sem

que isso fosse dependente do estímulo correto da agulha ou do local de inserção.

Eles acreditam que a inserção das agulhas, independentemente da localização,

pode provocar uma resposta que é funcionalmente idêntica a dos pontos

tradicionais. Na MTC, os pontos Ashi são utilizados para o tratamento da dor

proveniente de locais longe dos meridianos principais, com as agulhas sendo

colocadas exatamente onde a dor é localizada. Como a dor da FM é difusa, os

autores acreditam que os locais de inserção fora dos pontos de acupuntura

utilizados na pesquisa, possam ter funcionado, na verdade, como pontos Ashi.

Nenhuma diferença foi notada entre o grupo que teve manipulação das agulhas e o

que não teve, indicando que, neste estudo, a manipulação da agulha não foi um

componente essencial na terapia. No entanto, salientam que algumas formas de

Acupuntura não utilizam estimulação manual, e que a forma administrada na

pesquisa foi altamente simplificada para fins experimentais, mas, que num cenário

clínico real a estimulação manual pode aumentar a eficácia desta terapia. Também

foi observado que o efeito analgésico proporcionado com o tratamento realizado três

67

vezes por semana foi bem maior do que no tratamento semanal. Concluíram, então,

que houve melhora dos sintomas da FM com a inserção das agulhas de Acupuntura,

mas sem efeitos específicos em relação aos locais de inserção ou estímulos

manuais empregados nas agulhas.

Notamos, durante a realização desta revisão, que uma das maiores

dificuldades durante a realização de todos os ensaios clínicos é a impossibilidade de

“cegar” o acupunturista que realiza o tratamento, já que ele invariavelmente saberá

qual paciente está recebendo o placebo e qual está recebendo o tratamento correto.

Houve também grande dificuldade de encontrar um tipo de grupo controle

adequado para os ensaios envolvendo a Acupuntura. Lund; Näslund; Lundeberg

(2009), questionam se a Acupuntura Mínima pode ser usada seguramente como

placebo, pois evidências científicas sugerem que pacientes com dor crônica podem

apresentar sensibilização dos Sistemas Nervoso Central e Periférico, o que aumenta

a resposta a estímulos, fazendo com que, mesmo a inserção mínima e fora dos

pontos clássicos, provoque algum tipo de reação analgésica nesses indivíduos,

tornando o efeito da Acupuntura Mínima tão forte como o da Acupuntura real. Por

tudo isso, sugerem que novas pesquisas, de alta qualidade metodológica, sejam

conduzidas no futuro. Além disso, Harris et al. (2005), acreditam que a inserção fora

dos pontos de Acupuntura ou mesmo nos tender points, outro tipo de grupo controle

utilizado, possa funcionar como verdadeiros pontos Ashi, uma vez que a dor da FM

é difusa. Isso explicaria a melhora da dor em geral, nos estudos que utilizaram essa

terapêutica.

Alguns dos pontos mais citados nos ensaios consultados foram: Yintang, F-2,

F-3, BP-6, BP-9, E-36, IG-4, VB-34, VB-43, TA-2, R-2, R-3, R-7.

Apesar da grande heterogeneidade metodológica, de grupos controles e

técnicas utilizadas pelos autores, houve grande consenso em concluírem que a

Acupuntura oferece melhora na dor, limiar de dor, qualidade de sono e de vida

desses pacientes. Apesar disso, os efeitos não têm uma duração muito longa após o

final do tratamento, o que dificulta a indicação da Acupuntura como terapia única

para esses indivíduos, mas, ela pode ser uma excelente coadjuvante para o

tratamento padrão mundialmente reconhecido.

68

7 CONCLUSÃO

Concluiu-se que a MTC considera a FM como uma patologia que se manifesta

por condições de Excesso e Deficiência, geralmente, combinando esses padrões.

Sempre há Deficiência primária de Baço e Rim que, quando associadas a

Deficiência do Fígado, geram Deficiência de Yang. Os principais fatores etiológicos

na FM são: invasão de fatores patogênicos externos (Umidade, Vento, Frio), tensão

emocional, dieta irregular e trabalho físico excessivo. A terapia deve tratar não só a

Manifestação, mas, também a Raiz da patologia.

Dentre os pontos utilizados nos protocolos de tratamento dos estudos

consultados nesta revisão, os mais citados foram Yintang, F-2, F-3, BP-6, BP-9, E-

36, IG-4, VB-34, VB-43, TA-2, R-2, R-3, R-7.

Os autores encontraram algumas dificuldades durante suas pesquisas, como

a impossibilidade de realizar um estudo duplo-cego por não se conseguir “cegar”

adequadamente o acupunturista, pois ele sempre saberá se o paciente está

recebendo o placebo ou o tratamento experimental. Também não se chegou ainda a

uma definição sobre qual tipo de grupo controle é mais adequado nas pesquisas

envolvendo Acupuntura. Evidências sugerem que mesmo a inserção mínima e fora

dos pontos clássicos, pode provocar algum tipo de reação analgésica nos pacientes

com dor crônica, pois os mesmos apresentam sensibilização dos Sistemas Nervoso

Central e Periférico que aumenta todos os estímulos, tornando os efeitos placebos

tão fortes quanto os efeitos do tratamento que utiliza os pontos dos Canais de

Energia Principal. Outro estudo também aponta a possibilidade de os grupos

controle que utilizam a inserção fora dos pontos clássicos ou nos tender points,

estarem funcionando, na realidade, como inserção em pontos Ashi, devido à

natureza difusa da dor fibromiálgica. Esse detalhe explicaria a melhora geral da dor

observada nos indivíduos desses grupos. Estudos futuros podem esclarecer melhor

essas questões que, muitas vezes, impedem a realização de estudos com alta

qualidade metodológica.

Concluiu-se também que a Acupuntura é eficaz na diminuição dos sintomas

da FM e pode ser uma excelente opção de tratamento coadjuvante, auxiliando o

69

tratamento padrão, pois oferece melhora da dor, do sono e do controle emocional,

aumentando, consequentemente, a qualidade de vida dos pacientes fibromiálgicos.

70

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