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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA – UNAMA PROGRAMA DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO Waljucy Furtado Cardoso CONTABILIDADE GERENCIAL ESTRATÉGICA: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO NO SETOR AGROINDUSTRIAL PARAENSE BELÉM 2012

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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA – UNAMA PROGRAMA DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

Waljucy Furtado Cardoso

CONTABILIDADE GERENCIAL ESTRATÉGICA: UM ESTUDO

EXPLORATÓRIO NO SETOR AGROINDUSTRIAL PARAENSE

BELÉM 2012

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Waljucy Furtado Cardoso

CONTABILIDADE GERENCIAL ESTRATÉGICA: UM ESTUDO

EXPLORATÓRIO NO SETOR AGROINDUSTRIAL PARAENSE

Dissertação apresentada ao programa de Mestrado em Administração da Universidade da Amazônia como requisito para obtenção do título de Mestre em Administração. Orientador: Prof. Dr. Sérgio Castro Gomes.

BELÉM 2012

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Waljucy Furtado Cardoso

CONTABILIDADE GERENCIAL ESTRATÉGICA: UM ESTUDO

EXPLORATÓRIO NO SETOR AGROINDUSTRIAL PARAENSE

Dissertação de Mestrado apresentada ao programa de Mestrado em Administração da Universidade da Amazônia como requisito para obtenção do título de Mestre em Administração.

Banca Examinadora:

_______________________________________ Prof. Dr. Sérgio Castro Gomes (Orientador) _______________________________________ Prof. Dr. Antônio Cordeiro de Santana (UFRA) _______________________________________ Prof. Dr. Hubert Drouvot (UNAMA)

Apresentado em: ___/___/___

Conceito: _____

BELÉM

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2012

A Deus.

Aos meus pais, Walter de Araújo Cardoso e Juracy Furtado Cardoso, pelos

ensinamentos que moldaram meu caráter e minha personalidade.

A minhas irmãsWalzene e Walcylene Cardoso Costa.

Dedico.

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Aos meus professores do Curso de Mestrado em Administração, que aprofundaram

minha formação acadêmica, até então incipiente. Em especial aos professores Eugênia

Cabral, Milton Farias, Ana Vasconcellos e Mário Vasconcellos pelo seu empenho nas

aulas e também pelo comprometimento com o programa de mestrado em Administração

da Unama.

Ao professor Sérgio Castro Gomes, pela confiança, nos momentos mais difíceis de

minha trajetória no curso de mestrado.

Aos meus amigos da Faculdade Ideal, pelo apoio nos estudos.

Aos amigos garimpados no mestrado Everaldo Marcelo, José Sabádo, Lorena Freire,

Edgar Dias e Augusto Gonçalves, o grande presente que vou levar para o meu futuro.

À minha namorada Marcia Ingrid Ferreira Nunes, por me apoiar sempre.

À minha filha Walerya Araújo Cardoso, minha japonesa loira, distração nos momentos

de estresse.

À minha primogênita (postiça) CarinWendra Cardoso Costa.

Muito obrigado!

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RESUMO

O agronegócio paraense tem se revelado um campo interessante para pesquisas,

pois carece de tecnologia e de estudos. Algumas organizações que compõem este

cenário usam tecnologia local, baseada em conhecimento empírico para seu processo

produtivo e a academia pode contribuir para este segmento sugerindo melhoramentos

nestas técnicas. O estudo do setor sob uma ótica administrativa permite a evolução das

práticas gerenciais, proporcionando o amadurecimento das organizações. Neste

contexto, a geração de suporte para a tomada de decisão deve partir de informações que

auxiliem na redução da empiria, nas difíceis tarefas de decidir, planejar e organizar. A

contabilidade tem como função gerar indicadores para o negócio, sua evolução é a

contabilidade gerencial e esta foi melhorada, criando-se a Contabilidade Gerencial

Estratégica – CGE. Estudos realizados no Brasil e no mundo tem demonstrado a baixa

utilização da CGE, logo o problema que norteia essa pesquisa é: Em que medida as

práticas contábeis presentes nas empresas de processamento de frutas do Estado do Pará

estão pautadas nos princípios que regem a CGE? O estudo foi desenvolvido em dois

municípios paraenses: Castanhal e Belém, pois neles está localizada a maior quantidade

de empresas no ramo de polpa de frutas tropicais. Atualmente existem, segundo a

pesquisa, 16 empresas atuando nesse segmento. Destas, 7 foram entrevistadas, a fim de

caracterizar o setor. Duas foram alvo de um segundo estudo mais profundo, por

apresentarem, dentre as 7, melhor estrutura organizacional. A metodologia usada foi a

multicasos, um método qualitativo de pesquisa, onde o mesmo fenômeno é estudado em

várias observações a fim de se encontrar um padrão. As análises apontaram um setor

formado por micro, pequenas e médias empresas, que exploram basicamente um

produto, o açaí. Empresas que atuam apenas com este produto fecham na entressafra

que ocorre no primeiro semestre. Existe um líder de mercado local que compra um

grande volume de matéria-prima. As empresas são jovens, em geral têm menos de dez

anos de fundação. Outro ponto que chamou a atenção foi o baixo uso dos indicadores.

As empresas menores não fazem uso deles por falta de corpo administrativo, as de

médio porte usam alguns indicadores, mas pouca frequência de revisão. Quanto às duas

empresas selecionadas para um estudo mais profundo, ficou claro que estas não têm

preocupação com novos entrantes, pois o poder que exercem sobre os fornecedores

impede a entrada de novos competidores. Também não há ameaça de produtos

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substitutos, uma vez que o açaí é uma fruta nativa e apenas na Amazônia foram

encontradas condições para cultivo da fruta. Contudo, os clientes têm certo poder na

agroindústria local. Regidos por contratos de fidelidade, o cliente consegue barganhar

preços melhores com facilidade. A conclusão é que os indicadores CGE precisam

sofrer adaptações para cumprir sua função dentro das indústrias de polpas de frutas

paraenses, o que se recomenda como sugestão para novos trabalhos. Outra questão que

deve ser avaliada é avançar na pesquisa com as demais empresas do setor, pois assim

seria possível generalizar os resultados encontrados.

Palavras-chave: Agronegócio. Estratégia. Contabilidade Gerencial.

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ABSTRACT

Agribusiness Pará has revealed an interesting field for research, because it lacks the technology and studies. Some organizations that make up this scenario using local technology, based on empirical knowledge for its production process and the academy can contribute to this thread suggesting improvements in these techniques. The study of the sector under an administrative perspective allows the evolution of managerial practices in providing the maturity of organizations. In this context, the generation of support for decision making based on information that should assist in reducing the empirical, in the difficult task of deciding, planning and organizing. The accounting function is to generate indicators for the business, its evolution is the management accounting and was improved by creating a Strategic Management Accounting - CGE. Studies in Brazil and worldwide have demonstrated the low use of CGE, so the problem that guides this research is: To what extent accounting practices present in the fruit processing companies in the state of Pará are guided by the principles governing the CGE? The study was conducted in two municipalities in Pará: Castanhal and Belém, for in them is located the largest number of companies in the business of the fruit pulps. There are currently, according to the survey, 16 companies operating in this segment. Of these, seven were interviewed in order to characterize the sector. Two were the target of a second deeper study, by presenting, among the seven, better organizational structure. The methodology used was a multicase, a qualitative research method, where the same phenomenon is studied in a number of observations in order to find a pattern. The analyzes showed a sector formed by micro, small and medium enterprises, which operate primarily a product, açaí. Companies that operate with this product close in the off season that occurs in the first half. There is a market leading site that buys a large volume of raw material. The companies are young, generally have less than ten years of existence. Another point that drew attention was the low use of indicators. Smaller companies do not use them for lack of administrative body, the midsize use some indicators, but infrequently revised. For the two companies selected for further study, it became clear that they have no concern for new entrants, because the power they exert over suppliers prevents the entry of new competitors. There is also no threat of substitute products, since açaí is a berry native to the Amazon and only found conditions for growing fruit. However, customers have some power in local agro industry. Governed by loyalty contracts, the customer can easily best bargain prices. The conclusion is that the indicators CGE must be adapted to fulfill its role within the fruit pulp industries Pará, which is recommended as a suggestion for further work. Another issue that must be evaluated is to advance the research with other companies in the industry, otherwise it will be possible to generalize the results.

Keywords: Agribusiness. Strategy. Managerial Accounting.

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LISTA DE QUADROS E FIGURA

Quadro 1 – Comparação entre contabilidade financeira e gerencial 30 Quadro 2 – Técnicas de Contabilidade Gerencial Estratégica 34 Quadro 3 – Municípios paraenses que contêm empresa de conserva de frutas

tropicais 40

Quadro 4 – Características das empresas pesquisadas 45 Quadro 5 – Produtos processados pelas empresas 46 Quadro 6 – Frequência de revisão dos indicadores de CGE 46 Quadro 7 – Demonstrativo de uso dos indicadores de Planejamento e Controle de

Medição de Desempenho CGE 48

Quadro 8 – Comportamento do grupo quanto ao do uso dos Indicadores para Tomada de Decisão

49

Quadro 9 – Frequência do uso do indicador contabilidade do competidor 50 Quadro 10 – Frequência de uso da contabilidade do consumidor 52 Quadro 11 – Resumo da frequência na revisão dos indicadores 52 Quadro 12 – Comparativo do uso dos indicadores CGE – CUSTO 69 Quadro 13 – Comparativo do uso de indicadores CGE – PLANEJAMENTO,

CONTROLE E MEDIÇÃO DE DESEMPENHO 70

Quadro 14 – Comparativo do uso dos indicadores CGE – TOMADA DE DECISÃO ESTRATÉGICA

70

Quadro 15 – Comparativo do uso dos indicadores CGE – CONTABILIDADE DO COMPETIDOR

71

Quadro 16 – Comparativo do uso dos indicadores CGE – CONTABILIDADE DO CONSUMIDOR

72

Quadro 17 – Comparativo do uso dos indicadores CGE – CONTABILIDADE DO FORNECEDOR

72

Quadro 18 – Resumo da utilização dos indicadores por W e Y 73 Figura 1 – As cinco forças que moldam a competição no setor 13

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 12

1.1 NOÇÕES PRELIMINARES ........................................................................................... 12

1.2 OBJETIVO GERAL ......................................................................................................... 14

1.2.1 Objetivos específicos...................................................................................................... 14

2 TEORIA DE BASE .................................................................................................................. 16

2.1 ESTRATÉGIA ...................................................................................................................... 16

2.1.1 O que é estratégia ........................................................................................................... 16

2.1.3 As escolas do pensamento estratégico............................................................................ 22

2.1.3.1 A escola do design....................................................................................................... 22

2.1.3.2 A escola do planejamento ........................................................................................... 23

2.1.3.3 A escola do posicionamento ........................................................................................ 24

2.1.3.4 A escola empreendedora ............................................................................................. 24

2.1.3.5 A escola cognitiva ....................................................................................................... 24

2.1.3.6 A escola do aprendizado ............................................................................................. 25

2.1.3.7 A escola do poder ........................................................................................................ 25

2.1.3.8 A escola cultural .......................................................................................................... 25

2.1.3.9 A escola ambiental ...................................................................................................... 26

2.1.3.10 A escola configuração ............................................................................................... 26

3.3. POPULAÇÃO ALVO .......................................................................................................... 39

3.4 A METODOLOGIA DE ESTUDO MULTICASOS ............................................................ 41

3.5 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS .................................................................... 42

4 RESULTADOS DA PESQUISA ............................................................................................. 44

4.1. ESTUDO EXPLORATÓRIO .......................................................................................... 44

4.1.1 Conclusão do Estudo Exploratório ................................................................................. 54

4.2. APROFUNDAMENTO DE DOIS CASOS ..................................................................... 54

4.2.1 A empresa W .................................................................................................................. 54

4.2.1.1 O uso dos indicadores de CGE pela empresa “W” ..................................................... 55

4.2.1.1.1 Indicadores de custo ................................................................................................. 55

4.2.1.1.2 Indicadores de tomada de decisão estratégica .......................................................... 57

4.2.1.1.3 Indicadores de tomada de decisão estratégica .......................................................... 58

4.2.1.1.4 Indicador Contabilidade do competidor ................................................................... 59

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4.2.1.1.5 Indicador Contabilidade do consumidor .................................................................. 60

4.2.1.1.6 Indicador de contabilidade do fornecedor (poder de negociação dos fornecedores) 62

4.2.2 A empresa Y ................................................................................................................... 62

4.2.2.1 Indicadores de custo .................................................................................................... 63

4.2.2.2 Indicador de planejamento, controle e medição integrada do desempenho ................ 65

4.2.2.3 Indicador de tomada de decisão estratégica ................................................................ 65

4.2.2.4 Indicador contabilidade do concorrente ...................................................................... 66

4.2.2.5 Indicador da contabilidade do consumidor ................................................................. 67

4.2.2.6 Indicador da Contabilidade do fornecedor (poder de negociação dos fornecedores). . 67

4.3 COMPARATIVO ENTRE AS EMPRESA W E Y .......................................................... 67

4.3.1 Comparativo do uso dos indicadores CGE – CUSTO ................................................... 68

4.3.2 Comparativo do uso dos indicadores CGE – PLANEJAMENTO, CONTROLE E MEDIÇÃO DE DESEMPENHO ............................................................................................ 69

4.3.3 Comparativo do uso dos indicadores CGE – TOMADA DE DECISÃO ESTRATÉGICA. .................................................................................................................... 70

4.3.4 Comparativo do uso dos indicadores CGE – CONTABILIDADE DO COMPETIDOR ................................................................................................................................................. 70

4.3.5 Comparativo do uso dos indicadores CGE – CONTABILIDADE DO CONSUMIDOR. ................................................................................................................................................. 71

4.3.6 Comparativo do uso dos indicadores CGE – CONTABILIDADE DO FORNECEDOR ................................................................................................................................................. 72

4.4 CONCLUSÃO DO CASO W E Y ........................................................................................ 72

5 CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 75

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 78

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1 INTRODUÇÃO

1.1 NOÇÕES PRELIMINARES

O estado do Pará possui uma extensão de 1.247.689,515 km², é o segundo maior

estado do Brasil, depois do Amazonas. Tem a maior população da Região Norte, cerca

de 7.321.493 habitantes (IBGE, 2008). A economia regional deste estado tem uma forte

ligação com atividades relacionadas ao extrativismo mineral e vegetal, à agricultura e à

pecuária. Na agricultura, destaca-se o setor de polpa de frutas, que no ano de 2009

exportou US$ 27.972.505,00, o equivalente a 11.351 toneladas de suco de frutas

(SISTEMA ALICE, 2010).

O extrativismo mineral é, sem dúvida, o setor que apresenta os melhores

números para a exportação, contudo, o setor de polpas de frutas tropicais vem crescendo

e ocupando cada vez mais espaço na pauta de produtos agropecuários exportados. É

possível que o setor de agronegócios seja a verdadeira vocação deste Estado. É uma

riqueza renovável, devido ao reaproveitamento das árvores em outras safras, além de

contribuir para a redução de gás carbônico na atmosfera.

O setor agrícola, em especial as indústrias de polpas de frutas tropicais, tem

grande potencial no estado do Pará, porém seu baixo valor de venda em relação aos

demais setores não pode fazer frente à extração mineral no quesito “trazer divisas”. No

entanto as frutas tropicais estão ganhando o mercado internacional. No primeiro

quadrimestre de 2011 o crescimento foi de 43,13% em relação ao mesmo período do

ano anterior.

No ano de 2009 o Brasil exportou frutas tropicais para 61 países, sendo que o

maior consumidor (88%) foi os Estados Unidos (SISTEMA ALICE, 2010). Diante de

um mercado em expansão, estudos relacionados ao uso de indicadores contábeis

estratégicos são escassos e pesquisas que desenvolvam tecnologias para este tipo de

organizações são raras, embora necessárias.

O setor de agronegócio na região evolui de forma lenta e com baixa alteração

tecnológica, o que dificulta a inserção dos produtos na sua forma mais natural nos

diferentes mercados consumidores. O beneficiamento em escala industrial é fruto das

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ações isoladas de empreendedores que identificaram essa atividade com potencial de

ganhos econômicos nos últimos cinco anos.

Segundo Santana (2007), 15 frutos tropicais paraenses são os mais

comercializados, dentre os quais merecem destaque: abacaxi, acerola, laranja, maracujá,

açaí, cupuaçu, bacuri, taperabá e camu-camu.

O processo de industrialização se desenvolveu com tecnologia local, o

maquinário foi recriado apenas com a ampliação de suas dimensões rudimentares

outrora utilizadas. Neste contexto, a tecnologia e os processos de produção e de gestão

necessitam de estudos mais aprofundados a fim de que evoluam da melhor forma

possível.

O setor ainda sofre com as entressafras, pelo fato das empresas processarem

apenas um produto com baixa tecnologia e qualidade (SANTANA, 2007).

Tecnologias contábeis que atendam ao gestor têm se limitado excessivamente na

cadeia de valor, levando em conta apenas a organização e deixando de lado o ambiente

onde ela atua. (ANDRADE, 2010).

A contabilidade foi criada com o intuito de produzir indicadores de negócios e

veio perdendo gradativamente sua importância como gerador de informação, por levar

em conta apenas o ambiente interno da empresa.

No entanto, uma vez que este mercado de produção é dinâmico e competitivo,

precisa ser analisado sob uma ótica diferente. Neste cenário competitivo é que surge a

teoria da contabilidade gerencial estratégica (CGE), como uma resposta da

contabilidade às necessidades do mercado de informações estratégicas

(GRZESZEZESZYN; FERREIRA, 2004).

O estudo dos indicadores CGE pode facilitar o desenvolvimento das empresas

locais firmando e desenvolvendo esse segmento econômico, fortalecendo a economia do

estado, pois, como já fora mencionado, esse mercado tem sua relevância econômica na

região. Cada gestor tem sua forma de gerir e existem, sim, aqueles fazem uso de

informações de forma empírica. Isso pode até, inicialmente, funcionar, mas com tempo

a organização precisa tomar corpo administrativo, precisando de navegadores para

reduzir o pragmatismo gerencial.

A CGE é utilizada de forma fracionada, pois nem toda a tecnologia é utilizada

pelos gestores, e o mais interessante, muitos deles não sabem que a usam. Nem todos os

indicadores CGE dependem da contabilidade clássica baseada em demonstrativos

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financeiros, balanços patrimoniais, fluxos de caixa, etc. Algumas técnicas se baseiam

em técnicas de marketing estratégico e outras em análise de mercado fugindo

completamente da contabilidade tradicional.

A CGE reúne um conjunto de indicadores separados em cinco grandes grupos

(custos; planejamento, controle e medição de desempenho; tomada de decisão

estratégica; contabilidade do competidor; e contabilidade do consumidor) que visam

auxiliar o gestor a competir no mercado. Para a CGE a empresa não está sozinha, isto é,

existe um ambiente externo com as forças de competição como fornecedores, clientes e

competidores, porém, estudos sobre o tema têm demonstrado o baixo uso da CGE no

mundo. Na região Norte ainda não existem pesquisas que evidenciem o uso dessa

tecnologia.

A contabilidade tradicional, aquela que faz uso das técnicas para atenderem o

fisco, é, sem dúvida, a mais utilizada pelas organizações dado o seu caráter obrigatório.

A CGE permite perceber/analisar a empresa dentro que um contexto diferente,

permitindo ao gestor entender que não é o único no mercado e que o cenário onde a

empresa está inserida é de competição. Assim, exige-se que ele esteja pronto para

aproveitar as oportunidades e reduzir os riscos do negócio. Contudo, estudos têm

demonstrado a baixa utilização da CGE no Brasil e no mundo, como o visto nos

trabalhos de Guilding et al (2000), Cravens e Guilding (2001), Cadez e Guilding (2008)

e Andrade (2010). Diante de tal situação revelada pela revisão da literatura, o seguinte

questionamento de pesquisa foi realizado: Até que ponto as práticas contábeis

presentes nas empresas de processamento de frutas do Estado do Pará estão

pautadas nos princípios que regem a CGE?

1.2 OBJETIVO GERAL

Identificar e analisar as práticas contábeis presentes nas empresas do setor de

polpas de frutas à luz dos pressupostos teóricos da Contabilidade Gerencial Estratégica.

Para desenvolver o trabalho se fez necessário traçar os seguintes objetivos específicos:

1.2.1 Objetivos específicos

a) Verificar o perfil das organizações agroindustriais de polpa de frutas

paraenses;

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b) Identificar organizações agroindustriais de polpa de frutas paraenses que se

apropriam dos indicadores de CGE;

c) Analisar como as organizações agroindustriais de polpa de frutas paraenses

utilizam os indicadores de CGE.

Para atingir os objetivos da pesquisa e responder ao problema central se delineou

uma pesquisa com abordagem qualitativa em que a metodologia utilizada foi o estudo

de caso em caráter de multicasos em um conjunto de sete empresas. Essa metodologia

permite ao pesquisador analisar fenômenos de grande complexidade usando bases de

dados quantitativas ou qualitativas (FARINA,1997, p. 10).

No levantamento das informações se utilizaram dois questionários, um focado nos

determinantes do custo e na formação dos preços num contexto da contabilidade geral

clássica e outro de aprofundamento, aplicado nas duas principais empresas do setor,

com o objetivo de identificar e analisar os fatores favoráveis e desfavoráveis à adoção

da CGE.

Essa dissertação de mestrado constitui-se de sete partes, incluindo essa inicial,

assim distribuídas: o segundo capítulo trata da estratégia, discutida à luz de Porter

(2009) e Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000); no terceiro capítulo foi abordada a

ciência contábil como geradora de informação, apresentando uma evolução da ciência

até a contabilidade gerencial estratégica; no quarto capítulo será abordada a

metodologia da pesquisa e a forma como se procedeu na coleta de dados; no quinto

capítulo será apresentado o estudo exploratório; no sexto capítulo aprofundamento das

empresas que fazem uso dos indicadores CGE; por fim são apresentadas as conclusões

do estudo.

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2 TEORIA DE BASE

2.1 ESTRATÉGIA

2.1.1 O que é estratégia

A definição de estratégia está intimamente ligada à arte da guerra, o tema é

entendido, segundo Ferreira (2000), como uma ferramenta militar. O conceito versa

sobre astúcia, planejamento, estratagemas, isso apenas confirma que estratégia visa uma

conduta, uma forma de pensar e em seguida agir. A ciência organizacional apropriou-se

desta forma de conduzir as situações, sendo esta, atualmente, também uma disciplina

dentro das instituições de ensino superior.

Este processo migratório do termo estratégia de um conceito militar para um

conceito acadêmico tomou fôlego a partir da década de 80, do século XX para os dias

atuais, gerando um grande número de bibliográficas, recheadas das mais diversas

filosofias. Este esforço acadêmico se deu pelas dificuldades das empresas conseguirem

reagir à acirrada competição criada nos mercados, que geram mudanças estruturais no

cenário competitivo exigindo das empresas uma postura mais ágil e flexível (PORTER,

2009, p. 37).

A estratégia define manutenção do status da organização dentro do seu

segmento. Para que essa manutenção ocorra é necessário que o estrategista consiga

identificar as ameaças e oportunidades e saiba tomar proveito de ambas. Ocorre que esta

tarefa – aparentemente fácil – não é tão simples de aplicar nas práticas empresariais e

administrativas. Muitos gestores confundem eficácia operacional com eficácia

estratégica. A eficácia operacional é necessária, mas a visão da empresa não pode ficar

limitada apenas a própria empresa. As condutas devem ser trabalhadas de forma global,

envolvendo fatores como clientes, fornecedores, bem como os demais fatores de

competição.

Levando em conta a competição, a conduta da organização deve procurar criar e

desenvolver uma vantagem competitiva. O problema de se considerar como vantagem

competitiva a eficácia operacional, é que, em dado momento, essa suposta vantagem vai

fatalmente ser copiada pelo concorrente. Uma vez copiada a conduta especial desta

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organização, cessa a vantagem competitiva, ocasionando a perda da posição dentro do

grupo de competição.

Então as condutas da organização devem perseguir uma posição estratégica que

levem a organização a galgar as posições mais altas do ranking. Para Porter (2009, p.

39) existem apenas dois posicionamentos estratégicos, a primeira está ligada a

desempenhar atividades diferentes dos competidores, ou atuar com as mesmas

atividades dos concorrentes, mas de forma diferente. Porter (2009) entende que as

empresas em competição tendem a procurar a semelhança entre si, e essa atitude arruína

a competição.

É comum as batalhas competitivas serem travadas procurando a semelhança. Os

competidores copiam uns aos outros e, ao final, a luta acaba sendo por um preço menor.

Isso não constitui necessariamente um problema, mas atitudes como essa colocam o

poder apenas na mão do cliente, e o maior dano está em dificultar os investimentos em

inovação e tecnologia. O resultado será um segmento de mercado sucateado e, por

conseguinte, criticado pelos seus consumidores, tornando impossível definir a diferença

entre os competidores.

Estratégia é não só ser flexível e se adaptar ao mercado, mas também estender

que suas vantagens comparativas são imutáveis. O que é nato da empresa não deve ser

alterado pelo mercado, do contrário pode levar a entropia. Uma organização não deve

imitar a outra sem analisar as consequências dessa conduta.

2.1.2. As Cinco forças competitivas de Porter e as estratégias genéricas

Porter (2009, p. 75) cita os processos internos da empresa e os sintetiza na

chamada cadeia de valor. Para ele a cadeia de valor é a estrutura criada pela empresa

que permite a ela fabricar produtos com menor custo ou promover a diferenciação entre

eles. A cadeia de valor é formada por atividades primárias e de apoio. As atividades

primárias visam produzir e vender os produtos e são formadas pelas logísticas de

entrada e saída, operações (produção), marketing e vendas e outros serviços

relacionados à manutenção da produção.

As atividades de apoio ajudam as atividades primárias em suas tarefas. São elas:

infraestrutura da empresa, gestão de recursos humanos, desenvolvimento e tecnologia e

compras de bens e serviços.

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O autor também acrescenta que para manter esta estrutura são necessários dois

outros elementos da administração geral, responsáveis pela conduta da empresa:

departamento de assuntos jurídicos (acionado sempre que a empresa, por qualquer

motivo, se vê envolvida em uma querela) e contabilidade (responsável pela geração de

informações sobre o desempenho da empresa). Estas permitem à administração geral

rever a sua conduta ou mantê-la.

Segundo a teoria de Porter (2009) o mercado é estruturado segundo cinco forças

competitivas que devidamente analisadas moldam a estratégia: a ameaça de novos

entrantes; o poder de negociação dos clientes; o poder de negociação dos fornecedores;

ameaça de produtos ou serviços substitutos e a rivalidades entre os concorrentes. Ao

serem observadas juntas elas demonstram a estrutura de mercado em que a organização

está inserida (Figura 1).

Figura 1 – As cinco forças que moldam a competição no setor

Fonte: Porter (2009, p. 4)

Para Porter (2009), o conhecimento da intensidade de cada uma dessas forças vai

definir a estrutura do setor. O pleno entendido do mercado, associado à estratégia,

permite melhorar a rentabilidade do negócio.

A ameaça de novos entrantes modifica a estrutura de mercado em função do desejo

do novo competidor em conquistar o seu lugar no mercado. É comum que este

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incômodo force os demais competidores a reverem seu preço de venda, de custos ou

política de investimentos em Publicidade de Propaganda e Pesquisa e Desenvolvimento

(P&D). Segundo Porter (2009, p. 3), sete são as defesas naturais ao novo entrante:

1. Economias de escala no lado da oferta: As vantagens da economia de escala que

apenas os atuantes no mercado possuem.

2. Benefícios de escala no lado da demanda: os compradores tendem a aceitar

marcas reconhecidas.

3. Custos de mudanças de clientes: os custos de investimento em treinamento, em

TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação) são absorvidos com mais

dificuldades por novos entrantes.

4. Necessidade de capital: o custo de implantação do entrante pode ser vultoso,

caso o setor exija certa estrutura organizacional, isso pode causar a desistência

do entrante.

5. Vantagens das empresas estabelecidas, independente do tamanho: os negócios já

estabelecidos têm experiência naquele mercado, gerando vantagem no custo ou

na qualidade do produto, o que pode não estar disponível para o entrante.

6. Acesso desigual a canais de distribuição: empresas estabelecidas sabem como

escoar seu produto, ou mesmo receber a matéria-prima, dificuldades que o

entrante terá de contornar.

7. Políticas públicas restritivas: as políticas de governo podem atrapalhar ou ajudar

novos entrantes.

Essas barreiras de entrada podem ser transpostas pelo entrante, mas essa conduta

deve ser muito bem avaliada, sempre que as empresas estabelecidas: a) já tenham tido

sucesso em eliminar anteriormente outros entrantes; b) tenham recursos financeiros ou

creditícios em abundância; c) possam com facilidade cortar custos para se manterem no

mercado; d) atuem em um mercado de baixo crescimento.

O poder dos fornecedores ocorre quando eles têm o poder de reduzir o lucro dos

competidores. Os fornecedores podem cobrar preços muitos altos, limitar a qualidade ou

os serviços prestados, onerando dessa forma o insumo. Os fornecedores têm poder,

segundo Porter (2009, p. 3) quando:

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1. Atuam em uma estrutura mais restrita que os compradores.

2. Não dependem daquele comprador como fonte de receita.

3. O custo de mudar de fornecedor não compensar o beneficio.

4. Oferecem um produto diferenciado ou de difícil substituição.

5. Têm o poder para atuar no mercado como competidor.

Assim como os fornecedores, o cliente pode deter poder para alterar a estrutura,

comprometendo os ganhos dos competidores. Segundo Porter (2009, p. 3) os clientes

têm poder quando:

1. Forem poucos ou comprarem em grandes quantidades.

2. Os produtos ofertados no mercado forem padronizados.

3. For fácil (baixo custo) mudar de fornecedor.

4. For fácil atuar no mercado onde ele é cliente.

Os clientes não possuem poder quando:

a) O produto for muito importante para ele, representando boa parte dos seus custos

de produção ou detiver tecnologia essencial para o seu processo produtivo.

b) Seu poder de geração de fluxo de caixa for limitado.

Outra força que interfere na estrutura é a ameaça de substitutos. Isso ocorre

quando um mercado possui produtos ou serviços similares, como é o caso do

medicamento genérico. Normalmente, quando o substituto chega a bonança termina e os

competidores se veem obrigados a rever seu preço de venda e custo. Durante este

processo muitas firmas sofrem descontinuidade, para que o entrante tome o seu lugar.

Em resumo, segundo Porter (2009, p. 3) a ameaça dos substitutos é alta quando:

1) A relação preço/ desempenho não influenciar muito o comprador;

2) A relação custo/ benefício de troca de fornecedor não seja relevante.

A rivalidade entre os atuais concorrentes não pode ser desprezada. Os

competidores podem reduzir seus preços, lançar novos produtos, melhorar seus serviços

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e investir em marketing (PORTER, 2009, p. 3). Nesta fase quem costuma ganhar é o

cliente. Este é um fenômeno visto, por exemplo, na telefonia móvel do Brasil. Hoje

algumas operadoras de telefonia móvel no Brasil doam aparelhos, outras cobram preços

muito reduzidos por longo período de conversação e existem ainda aquelas que vendem

pacotes cujas ligações para consumidores que usam a mesma operadora não geram

custo para o cliente.

Segundo Porter (2009, p. 3), a rivalidade até certo ponto é saudável, mas quando

envolve preço ela se torna danosa para a lucratividade, pois transfere a força para os

clientes. Assim, a rivalidade entre os concorrentes será maior quando:

1. O número de concorrentes for grande e nivelado em tamanho e poder.

2. O crescimento setorial for lento.

3. A recuperação do investimento de implantação não compensar a saída do

mercado.

4. Os rivais aceitarem as perdas no intuito de liderar o mercado.

5. Houver falta de uma boa interpretação dos outros concorrentes.

O estrategista deve levar em consideração estas forças para determinar qual a

sua melhor conduta. Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), ao se referir a Porter

(2009), o considera como o mais influente expoente da chamada escola do

posicionamento, que será abordada em tópicos a seguir. Esta escola prega que a

estratégia é um processo analítico, baseado nas cinco forças que definem as condutas.

Segundo o autor, existem apenas três condutas possíveis:

1) Liderança em custo. Neste caso a empresa é conduzida de tal forma que os custos

sejam minimizados, mas isso não significa perda de qualidade. Isso ocorre com

investimentos em tecnologia ou refinamento de processos e, principalmente,

com produção em escala;

2) Diferenciação. Neste caso a organização visa criar produtos únicos, exclusivos;

3) Foco. É um desmembramentos das duas estratégias, a organização tem produtos

diferenciados ou com baixo custo ligados a um determinado mercado.

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Por ser um processo analítico, este precisa de informações, normalmente obtidas

com o auxílio de outra ciência, a Contabilidade. Contudo Mintzberg, Ahlstrand e Lampel

(2000) criou formas de estratégias ou formas de condutas que chamou de escolas de

pensamento estratégico, definindo formas de agir ou de tomar decisões por parte da

organização.

2.1.3 As escolas do pensamento estratégico

Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), em seu livro Safári de Estratégias, trata o

tema fazendo alusões a um elefante, separado em partes. No estudo, os autores segregam

as estratégias em dez escolas (ou dez partes), cada uma com sua peculiaridade. Estas, por

sua vez, podem ser resumidas em dois grupos: as escolas prescritivas (Design,

Planejamento e posicionamento) e descritivas (Empreendedora, Cognitiva, Aprendizado,

Poder, Cultural, Ambiental e Configuração).

As escolas prescritivas visam determinar como as estratégias devem ser

formuladas. No estudo, os autores atentaram para nada menos de 2.000 mil exemplares

sobre a estratégia, fato este que o torna um excelente ponto de partida para o tema. A

seguir será feita uma rápida abordagem sobre o tema, visando identificar uma palavra ou

frase curta que represente cada escola.

2.1.3.1 A escola do design

Essa escola é famosa pela criação da matriz SWOT, pontos fortes (Strenghts),

pontos fracos (Weaknesses), oportunidades (Opportunities) e ameaças (Threats). O

modelo é simples e visa formular a estratégia por meio da conciliação entre capacidades

internas e possibilidades externas. Ao longo do tempo o modelo foi sofrendo alterações

que acabaram por alterar a essência do modelo, colocando o mesmo em “xeque”.

A excessiva simplicidade e a dicotomia entre planejamento e implementação

geram dúvidas sobre os seus resultados. O autor fez um comentário interessante sobre

este fato ao propor o seguinte questionamento: é possível conhecer as forças de uma

empresa antes de testá-las? Não existe decisão sem risco, até a desistência é uma decisão

de risco, o risco de não ganhar. Outro ponto, é que a estratégia formatada tende a ser

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inflexível, algo impensável, visto que o mercado é mutante e exige mudanças constantes

no plano.

Contudo a escola não deve ser descartada, pois representa a melhor maneira de

fazer a estratégia. Essa escola também serve aos empreendimentos embriões que ainda

não possuem um rumo estabelecido, nesse caso a escola do design é uma solução para a

definição dos rumos do empreendimento. Em resumo a escola visa apaziguar chances do

mercado com aptidão da organização.

2.1.3.2 A escola do planejamento

A escola do planejamento nasceu concomitante a do design, nos anos setenta do

século passado. Evoluiu muito em termos quantitativos e quase nada em termos

qualitativos. Esse tipo de planejamento foi absorvido rapidamente pelo mercado na época

entrando em declínio em meados dos anos 80.

O modelo reside em estágios. Primeiro, a fixação dos objetivos (metas) da

organização; segundo, a auditoria externa, que são previsões sobre as futuras condições

da empresa (ameaças e oportunidades); o estágio da auditoria interna, que estuda as

forças e fraquezas da organização; o estágio de avaliação de estratégia, quando os

números falam mais alto, em especial a análise financeira e retornos sobre o

investimento; o estágio de operacionalização da estratégia, quando serão definidos os

papeis de cada um no plano de organização por tarefas e responsabilidades; por fim, o

planejamento estratégico está pronto e programado para a sua execução.

Como é de se imaginar, esse processo demora muito e há pouca criatividade

nesta forma de planejar. Os autores, já fazendo uma crítica à escola, sugerem a troca de

planejamento estratégico para planejamento de ação.

Diferentemente da escola do design, que pregava algo informal, a escola do

planejamento investe no formal, detalhando minuciosamente o processo. O executivo

principal é um aprovador de planos e não mais o arquiteto. As aprovações tinham um

requinte, uma ferramenta inovadora, os cenários, onde o executivo principal teria

possibilidades transformadas em números, para facilitar a sua aprovação.

Infelizmente não é possível prever com precisão os rumos do mercado. Essa foi

a maior falha da escola. Adicione-se a isto o fato de não se permitir ao gênio criador

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refazer com facilidade a estratégia, pois o processo de criação do plano requer tempo e a

reestruturação dele leva mais tempo ainda.

A principal função do “planejamento estratégico” é analisar a viabilidade ou a

programação de implantação de estratégias reais, servindo como indicadores de sucesso

delas. Em resumo a escola visa quantificar as ações da organização em orçamentos e

cenários.

2.1.3.3 A escola do posicionamento

Segundo Vitorino Filho et al (2009), a escola do posicionamento trabalha com o

conceito de posições genéricas de mercado. Essa escola trouxe o foco para o cliente, pois

devido a mudanças no cenário mundial com o aumento da concorrência o processo de

estratégia passou a ser todo voltado para a captação e manutenção do comprador.

2.1.3.4 A escola empreendedora

Hoje é tratada com muito prestígio pelo meio acadêmico, não apenas por

acadêmicos de administração, mas por diversas áreas. Os estudos variam desde a

tentativa de diferenciar empreendedor e empreendedorismo até a análise das ações,

motivações e o gênio criativo deste estrategista. Este personagem, o empreendedor, é

capaz de solucionar problemas dos mais variados sempre de forma inovadora.

A sua estratégia consiste em uma visão futura do negócio que ao longo dos anos

ele persegue. Em resumo, essa escola trabalha com uma visão em mente: a criatividade

para driblar os obstáculos encontrados no caminho.

2.1.3.5 A escola cognitiva

É uma das escolas mais complexas, pois tenta estudar a forma como as

estratégias são concebidas pelo estrategista. Para ela, isso é inconsciente e nasce

instantaneamente. Contudo, mesmo após estudos, sobretudo os da psicologia, ainda não

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foi possível determinar como elas ocorrem. O improviso é o que marca o estudo nesta

escola.

2.1.3.6 A escola do aprendizado

Esta escola do aprendizado é a mais coerente de todas, pois considera que a

empresa vai evoluindo com a experiência por ela vivida. Isso se dá em função das

mudanças ocorridas no século XX, em especial nos últimos anos daquele século.

Mercados voláteis, acesso mais rápido do cliente à indústria e novas tecnologias sendo

criadas a todo instante, é nesse cenário que a escola do aprendizado se desenvolve

perfeitamente. Aqui, observa-se uma escola que considera o fato de a organização

aprender com tempo.

2.1.3.7 A escola do poder

A escola do poder fez uma crítica severa ao “modelo industrial” onde o custo

baixo e a mecanização do processo foram capazes de resolver todos os problemas. A

escola do poder entende que a empresa precisa de líderes e esses gerem por meio da

manipulação das massas, são capazes de criar estratégias que vão conduzir a empresa ao

sucesso. De outra forma dito, esta escola aponta que a organização vai crescer se os

líderes por ela contratados forem capazes corretamente selecionados.

2.1.3.8 A escola cultural

Essa escola entende que a organização é gerenciada pelos níveis intermediários,

buscando a eficiência de eficácia operacional, por meio do bom uso dos recursos e do

alcance das metas. Logo, a estratégia é criada pelo nível tático que usa a socialização a

fim de conduzir a empresa ao sucesso. Assim, essa escola acredita que a socialização é a

melhor estratégia.

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2.1.3.9 A escola ambiental

A escola ambiental entende que a organização pouco pode fazer se não

aproveitar o que o ambiente pode lhe proporcionar. O estrategista depende de suas

percepções do ambiente em que a empresa vive. Em sínteses, essa escola acredita que o

mercado dita as regras e a organização cria estratégias para se aproveitar delas.

2.1.3.10 A escola configuração

A escola da configuração separa a organização em núcleos e cada núcleo possui

estratégia distinta. Contudo, é difícil o gerenciamento da estratégia nessa escola visto que

são muitas estratégias e se torna difícil o alinhamento de uma estratégia geral.

2.2 A CIÊNCIA CONTÁBIL COMO GERADORA DE INFORMAÇÃO

2.2.1 Origem da contabilidade geral e contabilidade gerencial clássica

A contabilidade é uma ciência que através de suas técnicas visa estudar o

patrimônio. O registro patrimonial existe antes mesmo do cálculo aritmético. O estudo

de Santos et al (2003), afirma que foram encontrados registros com mais de 8.000 a.C.

em sítios arqueológicos na Mesopotâmia. Naquela época os registros eram feitos em

placas de barro, com o objetivo de avaliar o desempenho daquele ano. Itens como

quantidade de ferramentas, animais, provisões alimentares, entres outros eram

registrados, permitindo ao gestor avaliar se suas condutas, durante um determinado

período, haviam evoluído ou não.

Segundo conta a história, a contabilidade vem atendendo às necessidades de

avaliação de desempenho de faraós, reis e imperadores. A história avançou e com o

mercantilismo e o reaparecimento do comércio, o registro contábil passou servir a

outros gestores como os burgueses. Naquela altura, Luca Bartolomeu de Pacioli, um

matemático, escreveu seu famoso livro “Summa de Atithimetica, Geometria proportoni

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et propornalita” (1494) e dedicou um capítulo inteiro para explicar a metodologia

matemática do registro contábil (“Particulario de Computies et Scriptures”), método

até hoje utilizado como registro básico, elementar, servindo muitas vezes de base de

dados para um processamento mais refinado.

Durante o Renascimento, a contabilidade começa a trilhar novos caminhos.

Guttenberg (1398 – 1468), por volta de 1439, cria o impresso, facilitando o processo de

escrita de divulgação literária. Concomitante ao processo as artes, economia e

contabilidade foram impulsionadas, o período foi de grande evolução para as ciências

(SANTOS, 2003, p. 25).

As grandes navegações – que deveriam se chamar “grandes investimentos” –

movimentaram imenso volume de riquezas que precisavam ser mensuradas a fim de

verificar se o investidor obteve ou não o desempenho esperado. O processo era simples,

pois os produtos eram trocado ou vendidos do jeito que foram recebidos ou comprados,

e ocorria normalmente através de escambo. Com a revolução industrial uma nova era

teve início para a contabilidade (IUDÍCIBUS; MARION, 2002).

Durante a revolução industrial os produtos não foram trocados ou vendidos, eles

foram fabricados. A matéria-prima era consumida, associada à mão de obra dos

operários, sem contar que o investimento feito em máquinas, de alguma forma, deveria

fazer parte do custo dos produtos. Nesse cenário os estudos sobre a formação de preço

de custo começam a fazer parte da vida do contador (MARTINS, 2003).

No Brasil e no mundo a evolução da contabilidade ocorreu com o aparecimento

do processamento eletrônico de dados. Isso apenas facilitou o processo de escrituração e

permitiu que o contador tivesse tempo para avaliar melhor os dados processados, pois

dessa forma poderia cumprir seu objetivo de prover os usuários de informações úteis

para a tomada de decisão (IUDÍCIBUS; MARION, 2002, p. 61).

Enquanto ciência, a contabilidade produziu princípios, postulados e convenções

que visam nortear a ciência. Os postulados ambientais, também conhecidos por

princípios da entidade e da continuidade, são os pilares da teoria contábil.

O primeiro postulado, o da entidade, orienta a ciência a separar o patrimônio da

empresa do patrimônio dos seus acionistas, algo fácil na teoria, mas difícil na prática

das pequenas organizações. Este postulado separa o ambiente organizacional do pessoal

e sua quebra impede a geração de uma informação apurada sobre o andamento da

organização.

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O segundo postulado, o da continuidade, trata do processo competitivo da

empresa. A entidade é criada para atuar em um mercado por um longo período, o que

pode não ocorrer, devido a problemas relacionados ao seu desempenho. O postulado

afirma que a apuração dos resultados da empresa é necessária para rever as condutas,

evitando assim a entropia (IUDÍCIBUS; MARION, 2002, p. 93).

A teoria contábil criou parâmetros para a contabilidade e para o usuário externo.

Como fornecedores e o governo se apropriaram das informações contábeis para sua

tomada de decisão, o usuário interno foi, com o tempo, sendo menos beneficiado com

este tipo de informação contábil financeira. As informações sobre a evolução

patrimonial e o resultado econômico financeiro são importantes, mas necessitam ser

complementadas ou apresentadas em outro formato para melhorar a sua leitura para o

usuário interno. É neste cenário que a contabilidade gerencial se insere.

A contabilidade gerencial visa reduzir os prejuízos do processo decisório

empírico, usando de informações sobre a organização que permitam ao gestor avaliar o

melhor caminho. Atkinson et al (2000, p. 46) descreve um bom exemplo do uso da

contabilidade gerencial como avaliador de desempenho. Ele cita a empresa

DuPontCompany. Segundo o autor, os gestores da companhia fizeram dois estudos, um

tratando do orçamento operacional (receitas versos gastos projetados) e um segundo

com o orçamento de capital, destinado à aquisição de bens duráveis como prédios,

veículos e máquinas.

Com base nestes dois indicadores foi possível coordenar operações, monitorar a

produtividade, planejar o crescimento, avaliar e controlar produção, distribuição e

compras. Utilizando os mesmos dados, os gestores criaram ainda o conceito de Return

on Investment – ROI (retorno sobre o investimento) determinado pela equação abaixo:

Avaliando um caso brasileiro, destaca-se o estudo de Fernandes et al (2012), que

identificou a importância dada pelos gestores da informação contábil-gerencial. O autor

desenvolveu sua pesquisa com 462 (quatrocentos e sessenta e dois) alunos de graduação

do Centro Universitário de Brusque/SC e 25 (vinte e cinco) alunos de MBA em gestão

financeira e contábil do Centro Universitário Salesiano Auxilium, da cidade de Lins/SP.

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Os autores trabalharam com uma amostra intencional, cujo critério foi usar apenas

alunos que tinham cargo de gestão. Após o corte, a amostra ficou reduzida a 29 (vinte e

nove) alunos de graduação e 16 (dezesseis) de pós-graduação.

Na pesquisa, os autores, após traçarem o perfil dos respondentes e das empresas

onde eles trabalhavam, foram questionados sobre a utilidade das informações contábeis

no processo de tomada de decisão com escalas de 1 a 5, onde 1 correspondia à

informação nada importante; 2, informação pouco importante; 3, indiferente; 4,

importante e 5, informação muito importante. Os pesquisadores separaram seis

indicadores contábeis para suas análises: 1. O custo dos produtos; 2. Preço de venda; 3.

Orçamento; 4. Fluxo de caixa; 5. Lucratividade e desempenho e 6. Tributos e

planejamento tributário. Todos os indicadores obtiveram média acima de 4 (importante).

Os destaques ficaram com o fluxo de caixa com melhor desempenho, que atingiu uma

média de 4,76 e o orçamento com o pior desempenho, com média de 4,27.

Ainda na pesquisa, os respondentes deviam afirmar a frequência em que

recebiam as informações, a resposta foi escalada de 1 a 5, onde: 1. Nunca; 2.

Raramente; 3. Às vezes; 4. Quase sempre; 5. Sempre. No resultado, todos os

indicadores tiveram média acima de 3,0, porém nenhum deles chegou a ter média 4.

O elemento com melhor desempenho foi lucratividade (3,80) e o indicador com

pior desempenho foi o orçamento (3,31). Essa pesquisa deixa clara a insatisfação com a

periodicidade de fornecimento dos indicadores contábeis.

A pesquisa de Fernandes et al (2012) demonstra que no Brasil o interesse pelo

fluxo de caixa é notório por parte dos gestores, provavelmente pelas elevadas taxas de

juros bancários e o histórico de hiperinflação vividos nos anos 80 do século passado.

Este tipo de indicador atende perfeitamente a qualquer usuário brasileiro.

Uma das vantagens da contabilidade é que ela pode ser usada por qualquer

usuário e atende a todas as organizações, sejam elas de serviços, industrial, comercial ou

do terceiro setor. Horngren et al (2008, p. 8) considera que, independente do tipo de

organização, o gestor se beneficia da contabilidade para duas atitudes: controle e

planejamento.

O controle avalia a boa guarda do patrimônio na organização, se utilizando de

procedimentos como escrituração e auditoria. Os indicadores contábeis permitem ao

estrategista uma visão mais racional da empresa, auxiliando o mesmo em seu

planejamento bem como a sua avaliação. A seguir será apresentado um quadro

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evidenciando as principais diferenças entre a contabilidade financeira e contabilidade

gerencial (Quadro 1).

Quadro 1: Comparação entre contabilidade financeira e gerencial Aspecto Contabilidade financeira Contabilidade gerencial Público alvo Externo, acionistas, credores, governo,

legisladores, dentre outros. Interno: planejamento, direção e motivação, controle e avaliação de desempenho.

Ênfase Consequências financeiras do passado. Objetividade e consistência dos dados.

Decisões que afetam o futuro. Relevância e a flexibilidade dos dados.

Informação Precisa e objetiva. Oportuna, objetiva e subjetiva. Relatórios Resumidos com informações sobre a

entidade como um todo Detalhados sobre os setores, departamentos, produtos, clientes, fornecedores, dentre outros.

Princípios de contabilidade geralmente aceitos

São observados Podem ser observados

Obrigatoriedade É obrigatória Não é obrigatória. Única restrição: custo x benefícios

Orientação Eventos passados Eventos futuros Implicações comportamentais

Preocupa com a forma pela qual se devem medir e comunicar eventos econômicos. Impacto sobre o comportamento é secundário

Preocupada com a forma pela qual os relatórios e as medidas influenciarão o comportamento dos gerentes

Delineamento das atividades

Campo de atuação é mais preciso. Menor uso de disciplinas afins

Campo de atuação é menos preciso. Maior interação com as ciências econômicas e ciências do comportamento.

Fonte: Grzeszezeszyn e Ferreira (2004)

Iudícibus e Marion (2002) afirma que existe muita dificuldade em separar a

contabilidade financeira da gerencial, pois a primeira serve de fonte de dados para a

segunda, logo uma não vive sem a outra. Contudo, nesta mesma obra, dá-se um

tratamento especial para a análise de balanço como instrumento de avaliação de

desempenho e custos para avaliação, controle e tomada de decisões.

Silva (2001, p. 227), considera os índices de liquidez como indicadores para

análise de balanço, análise da atividade de retorno, análise da atividade e rotação e

análise da estrutura e endividamento. Utilizando técnicas de razão e proporção, tendo

como base as demonstrações contábeis, é permitido avaliar a situação atual da empresa,

comparar com o passado, verificar se houve evolução e projetar o futuro.

Bornia (2010) considera como ferramentas de custo as análises de custo-volume-

lucro, o custo padrão, métodos de centro de custos, o custeio baseado em atividades e o

método de unidade de esforço de produção (UEP). A análise de custo-volume-lucro

permite definir uma meta de quanto produzir e vender para alcançar um lucro

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determinado (meta). O custo padrão permite ao usuário conhecer o custo de produção

antes mesmo que o processo produtivo comece, logo, é possível monitorar caso ocorra

mudanças no padrão estabelecido detectando onde houve a falha no processo. O método

de centro de custo permite separar a produção em departamentos e atribuir os custos a

cada um deles, devidamente identificados. O custeio baseado em atividades separa o

processo produtivo em ações ou tarefas, cada tarefa gera um custo. O UEP se preocupa

em conhecer os custos de transformação de uma matéria prima em um produto ou

serviço.

A contabilidade gerencial clássica não será substituída pela estratégica, ela

representa um conjunto de técnicas e métodos para atuar em um novo cenário

globalizado e competitivo.

Atualmente, a contabilidade gerencial clássica é utilizada por micro, pequenas e

médias empresas paraenses apenas quando estas precisam participar de licitação, pois

nos editais exige-se um resumo dos indicadores contábeis tradicionais e indicadores da

contabilidade gerencial clássica, do contrário estes indicadores não são usados. As

empresas de maior porte fazem uso da contabilidade gerencial para monitoramento de

resultado, é uma forma de acompanhar o negócio.

O uso da contabilidade tradicional existe apenas nas empresas grande porte,

visto que as outras não costumam remunerar seus contadores por este tipo de serviço.

Dessa forma, elas não têm acesso às informações contábeis básicas, como levantamento

do patrimônio organizacional e apuração de lucro ou prejuízo do período. Basicamente

as empresas de médio e pequeno porte contratam contadores para realizarem cálculo dos

impostos e elaboração de folha de pagamento, um notório desvio de função aceito pelo

mercado.

As empresas processadoras de polpas de frutas devem partilhar dos mesmos

princípios das demais empresas paraenses, que não fazem uso da contabilidade

tradicional ou tampouco da contabilidade gerencial clássica. Possivelmente as empresas

de grande porte, se existirem no setor, devem fazer uso da contabilidade gerencial e da

tradicional apenas para avaliação de resultados, mas não para planejamento ou definição

de estratégia.

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2.2.2 Da contabilidade gerencial à contabilidade gerencial estratégica.

A contabilidade gerencial, segundo Grzeszezeszyn e Ferreira (2004), é dividida

em estágios: o primeiro, antes de 1950, cujo foco era estudar a determinação dos custos

e o controle financeiro; segundo, pós 1950, que deu mais ênfase ao fornecimento de

informações para o planejamento e controle; terceiro, por volta de 1985, com ênfase na

redução dos custos e análise de processo, e o quarto, cujos estudos se voltam para a

criação de valor através do bom uso dos recursos, inovações tecnológicas, gerando valor

para os clientes.

Em sua essência a contabilidade gerencial sempre atuou como geradora de

informações. Este processo de intenso empirismo fez surgir vários modelos, como o

BSC, Análise de Balanço, Orçamento de Capital, entre outros. Porém a pesquisa em

contabilidade gerencial deveria propor uma teoria que permita a formulação de hipótese,

que deve ser testada e só após isso ser aceita ou refutada.

É interessante informar que contabilidade gerencial tem sido utilizada apenas

dentro da cadeia de valor das organizações. As tecnologias criadas pela contabilidade

gerencial têm munido o usuário dos fatores internos da organização. Isso sem dúvida é

importante, mas deixa uma lacuna no processo decisório, a análise do mercado

competitivo.

Por outro lado, na proposta da contabilidade gerencial estratégica, os indicadores

contábeis definem a eficiência ou não da empresa no gerenciamento dos seus processos.

Internamente é possível verificar o bom uso dos recursos e, caso sejam encontradas não

conformidades com o plano definido pelo gestor, a contabilidade gerencial localiza o

erro e permite corrigi-lo. O resultado é que a avaliação do cenário competitivo dá a

empresa uma visão melhor, pois é possível analisar, concorrer e concluir em que

posição a empresa se encontra na competição.

A contabilidade gerencial estratégica foi a resposta dada as críticas feitas à

contabilidade. Quem apresentou esse conceito foi Simmonds (1981)

(GRZESZEZESZYN; FERREIRA, 2004); (ANDRADE, 2010); (TILLMANN;

GODDARD, 2008); (ROSLENDER; HART, 2003); (CADEZ; GUILDING, 2008). O

autor propunha ali uma contabilidade nova, capaz de munir o gestor de informações

ligadas ao negócio e aos competidores, como forma de desenvolver e acompanhar a

estratégia da organização.

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Simmonds (1981) entende que a contabilidade estuda a realidade da empresa,

bem como a dos seus concorrentes para ser usada no acompanhamento e

desenvolvimento de estratégia empresarial e deve ser tratada como contabilidade

gerencial estratégica (CGE). A contabilidade gerencial tradicional, em linhas gerais, se

preocupa com informações de curto prazo, já a contabilidade gerencial estratégica busca

oferecer informações que reduzam a estratégia subjetiva, baseada no pragmatismo

(TILLMANN; GODDARD, 2008).

Ocorre que vários pesquisadores têm trabalhado a teoria da Contabilidade

Gerencial Estratégica (CGE) procurando verificar o uso dessas práticas a exemplo de

(GUILDING et al, 2000; CRAVENS; GUILDING, 2001; CADEZ; GUILDING, 2008;

ANDRADE, 2010).

Guilding et al (2000) pesquisaram 314 empresas que atuavam na Nova Zelândia,

Reino Unido e Estados Unidos. Neste estudo foram analisadas 12 práticas de CGE. A

pesquisa apontou alto interesse das empresas nas práticas, mas baixa utilização das

mesmas.

Cravens e Guilding (2001) pesquisaram 120 das maiores empresas americanas.

Nesse estudo foram analisadas 15 práticas de CGE e comparadas entre si as estratégias

competitivas dessas organizações e análise do desempenho organizacional. O resultado

apresentado foi que seis das quinze práticas tiveram média utilização, e uma relação

favorável com a estratégia e desempenho organizacional.

Grzeszezeszyn e Ferreira (2004) pesquisou 19 médias e grandes empresas do sul

e sudeste do Brasil. Na pesquisa percebeu que o termo CGE era bem compreendido e o

uso dos indicadores foi levemente superior ao estudo de GUILDING et al (2000).

Cadez e Guilding (2008) realizaram uma nova pesquisa com 193 empresas

eslovenas grandes e de setores distintos, avaliando o grau de utilização de 16

indicadores. O resultado encontrado foi comparado ao resultado das empresas

australianas apresentados no estudo de Guilding et al (2000).

Essa teoria causa uma ruptura nas técnicas contábeis, visto que, a contabilidade é

voltada para o processo operacional, muito ligada à eficiência no uso dos recursos por

parte da organização. A contabilidade gerencial trabalha com resultados a curto prazo,

já a contabilidade gerencial estratégica avalia resultados a longo prazo. Se por um lado a

contabilidade gerencial estratégica traz em sua essência a ideia de que a empresa não

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está sozinha no mercado, por outro, a contabilidade gerencial se preocupa com os

fatores internos da organização.

A contabilidade gerencial estratégica tem sido alvo de alguns estudos, isso fez

com que a teoria se desenvolvesse, detalhando melhor como funcionaria a teoria na

prática. Neste momento destacam-se as pesquisas de Guilding (1999) e Cadez e

Guilding (2008). Os estudiosos debruçaram-se sobre a literatura a fim de identificarem

indícios do uso da contabilidade gerencial estratégica. No primeiro estudo publicado em

2000, 12 técnicas da contabilidade gerencial estratégica são citadas. No ano seguinte,

mais 4 foram acrescentadas. A partir de então foram classificadas em 5 grandes grupos:

custos; planejamento, controle e medição do desempenho; tomada de decisão

estratégica; contabilidade do competidor e contabilidade do consumidor. Abaixo o

Quadro 2 resume as técnicas de CGE.

Quadro 2 – Técnicas de Contabilidade Gerencial Estratégica Categorias das práticas de

contabilidade gerencial estratégica Práticas de Contabilidade Gerencial Estratégica

Custos

Custeio dos atributos

Custeio do ciclo de vida

Custeio da qualidade

Custeio meta

Custeio da cadeia de valor

Planejamento, controle e medição do

desempenho.

Benchmarking

Medição integrada do desempenho

Tomada de Decisão Estratégica

Custeio estratégico

Precificação estratégica

Avaliação e monitoramento da marca

Contabilidade do competidor

Avaliação dos Custos dos concorrentes

Monitoramento da posição competitiva

Avaliação do desempenho do concorrente

Contabilidade do consumidor

Analise da Rentabilidade do Cliente

Analise da Rentabilidade do Cliente durante a vida

Avaliação do Ativo do cliente

Fonte: Andrade (2010, p.6)

Andrade (2010) conceitua as práticas de CGE em um glossário no final de sua

dissertação. As práticas ligadas ao custo tratam da concepção do produto, por cinco

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visões diferentes: 1) atração do cliente; 2) ciclo de vida do produto; 3) qualidade do

produto; 4) estimação do lucro; e 5) avaliação do custo de produção.

a) Custeio dos atributos: esta prática visa identificar o valor consumido para

tornar o produto atraente para o cliente. Elas incluem os gastos operacionais

de produção, a confiabilidade do produto, garantias da qualidade do produto,

o refinamento do acabamento do produto, entrega e serviços de pós-venda.

Este indicador foi detalhado por Bromwich (1990) que fundamenta a CGE

baseado na teoria dos atributos e com base nela assevera que deve existir um

monitoramento constante dos atributos a fim de criar diferenciação dos

produtos ou serviços ofertados.

b) Custeio do ciclo de vida: esta prática evidencia o esforço entre a concepção e

o descarte do produto. O cálculo compreende a soma de todos os gastos de

idealização, nascimento, amadurecimento, declínio e descarte de um produto

ou serviço (GUILDING et al, 2000, p. 119).

c) Custeio da qualidade: este custeio compreende os gastos com prevenção de

defeitos do produto. Abrange prevenção, avaliação, falha interna e custos da

falha externa (HORNGREN et al, 2004). Os relatórios visam atentar o gestor

para os custos gerados pela não qualidade dos produtos, dessa forma o gestor

pode avalia melhor o quanto pretende investir em qualidade para redução dos

custos pela sua ausência.

d) Custo Meta: o objetivo dessa prática é primeiro identificar o preço dos

concorrentes, a partir daí estima-se o lucro. Preço menos lucro estimado, esta

será a meta do custo da organização. Guilding et al (2000) fundamenta o

custo meta com as teorias de custeio baseadas no cliente, uma vez que o foco

no consumidor auxilia o processo de determinação da meta de custos da

empresa.

e) Custeio da cadeia de valor: é a avaliação dos custos do produto, desde a

compra da matéria prima, produção, comercialização e distribuição dos

produtos. Guilding et al (2000) considera que o refinamento deste indicador

é possível apenas quando o custeio baseado em atividades é contemplado

pela organização, visto que este custeio pretende analisar o processo

produtivo valorando as ações necessárias para fabricá-lo.

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As práticas ligadas ao planejamento, controle e medição do desempenho, são

baseadas no isomorfismo mimético e o uso de indicadores de desempenho.

a) Benchmarking: consiste na comparação da organização com um padrão

ideal de mercado. Normalmente a organização imita outra que está mais

bem posicionada do mercado. Carpenter e Rudge (2003) consideram esta

técnica de fundamental importância para a empresa, pois favorece a

competitividade, o bom funcionamento dos processos internos e a

estratégica.

b) Medição Integrada do Desempenho: esse sistema de medição visa criar

indicadores de desempenho não financeiros focados na satisfação do cliente.

Abrange também fatores internos que são importantes para gerar valor ao

cliente. Destacam-se os estudos de Kaplan e Norton (2004), que criaram um

modelo de monitoramento empresarial baseado em indicadores financeiros,

de clientes, processos internos, aprendizados e crescimento.

As práticas ligadas à tomada de decisão estratégica visam avaliar o custo da

estratégia, a definição do preço de venda e avaliação da marca.

c) Custeio Estratégico: é o uso de informações estratégicas e de marketing para

desenvolver ou identificar vantagem competitiva, um diferencial de

mercado. Guilding et al (2000) considera que esta técnica faz uso do

marketing estratégico para definir a alocação dos custos baseado em

variáveis de mercado.

d) Precificação Estratégica: consiste na criação de indicadores que ajudem a

definir o preço de venda, como preço do concorrente, elasticidade do

mercado, crescimento, economias de escala e experiência de mercado

(GUILDING, 1999).

e) Avaliação e Monitoramento da Marca: consiste em calcular o valor da

marca, como liderança de mercado, estabilidade, atuação em outros

mercados (internacionais), lucros históricos, Guilding et al (2000).

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As práticas ligadas à contabilidade do competidor visam estudar o concorrente

procurando estudar o adversário em fatores como custo, rentabilidade, posição de

mercado.

a) Avaliação dos Custos dos Concorrentes: consiste na elaboração de relatórios

que estimem o custo unitário do concorrente. Para alimentar este indicador é

necessário conhecer as instalações do concorrente e as tecnologias por eles

dominadas, isso pode ser feito através de depoimento de clientes ou

fornecedores em comum ou conhecendo ex-funcionários do competidor

(GUILDING et al, 2000).

b) Monitoramento da Posição Competitiva: avaliação do mercado competidor,

ranqueando os concorrentes em itens como participação de mercado, custos

unitários, retorno sobre as vendas (GUILDING, 1999).

c) Avaliação do Desempenho do Concorrente: análise das demonstrações

financeiras do concorrente, desde que ele as publique, a fim de identificar as

vantagens competitivas do oponente. Esta técnica faz uso dos

demonstrativos contábeis dos concorrentes, estes são submetidos a análises

com cálculos. Ao final desse processo é possível verificar quem tem melhor

rentabilidade, liquidez ou quem está mais endividado (GUILDING et al,

2000).

As práticas ligadas à contabilidade do consumidor implicam na avaliação da

importância daquele cliente para a empresa. Compreendem itens como lucro que o

cliente gerou ou vai gerar e também compreendem o esforço da empresa na manutenção

do cliente.

a) Análise da Rentabilidade do Cliente: avalia o lucro obtido de cada cliente. É

uma avaliação de desempenho do cliente. Este indicador permite tomar uma

decisão sobre deixar de atender determinado cliente por ele ser menos

rentável que o outro. Outro ponto interessante deste indicador é que o

mesmo permite tratar os gerentes de venda por suas carteiras, passando a

responsabilidade da lucratividade para aqueles (YORKE, 1980).

b) Análise da Rentabilidade do Cliente Durante a Vida: avalia o potencial de

lucro que o cliente pode trazer à organização e compara com os custos para

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mantê-lo. Este indicador permite avaliar o cliente novo, qual o custo de

captar ou manter o cliente (YORKE, 1980).

c) Avaliação do Ativo do Cliente: Esta prática visa analisar a importância

presente do cliente para a empresa, classificando-os (YORKE, 1980).

Os indicadores de CGE verificam cenários como consumidores e competidores,

mas, segundo Porter (2009), também exerce força sobre a competição o fornecedor.

Logo, este estudo pretende acrescentá-lo como mais um elemento aos indicadores CGE.

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3 METODOLOGIA

3.1 QUANTO AOS OBJETIVOS E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA

Segundo os objetivos, a pesquisa está classificada como exploratória, que se

caracteriza pelo fato de haver poucos dados disponíveis sobre o seu foco central. Nela

se possibilita o aprofundamento e aperfeiçoamento das ideias e a construção de

hipóteses sobre a prática de utilização dos indicadores formulados pela CGE.

Quanto aos procedimentos utilizados, pode-se classificá-la como pesquisa-

levantamento. Com a aplicação dos instrumentos de coleta buscou-se captar algumas

características das empresas no que se refere à utilização ou não dos indicadores de

CGE e às práticas de planejamento levadas a efeitos pelas organizações em um

ambiente de competitividade, onde as empresas buscam a geração e manutenção das

vantagens competitivas sustentáveis.

3.2 ÁREA DE ABRANGÊNCIA DA PESQUISA

A pesquisa foi desenvolvida junto a empresas situadas no Estado do Pará, em

especial em dois municípios: na capital, Belém, e em Castanhal. Os estudos de Santana,

Carvalho e Mendes (2008) mostram que a mesorregião nordeste paraense acomoda os

processos de industrialização de polpa de frutas.

3.3. POPULAÇÃO ALVO

A população segundo Cooper e Schindler (2001, p. 150), é um conjunto onde

todos os elementos estão presentes, é o grupo que será estudado. Já Marconi e Lakatos

(1999, p. 43) consideram um conjunto de seres, vivos ou não, que têm alguma

característica em comum. Pode-se afirmar que população é um conjunto de elementos

ou grupo de seres inanimados ou não que possuem uma característica em comum, de

onde é possível fazer um estudo ou pesquisa.

A população alvo do estudo são as empresas de agronegócios paraenses que

exploram a atividade de conserva de frutas. Para fazer esta seleção, partiu-se de uma

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pesquisa realizada pelo Ministério da Agricultura, em 2008, contendo as empresas que

tinham registro nesse órgão.

O cadastro continha um total de 146 empresas, contemplando outras empresas

que não exploram a atividade alvo da pesquisa, como por exemplo, produtores de

bebidas alcoólicas (cervejarias), produtoras de vinagre, entre outras. Dessa amostra

foram estratificadas apenas aquelas que exploram o segmento de polpa de frutas

tropicais, totalizando 71 empresas.

Em seguida, fez-se visita ao site da Receita Federal do Brasil - RFB

(www.receita.fezenda.gov.br) a fim de verificar quem estava ainda com cadastro junto a

RFB e efetivamente exercendo a atividade de fabricação de conserva de frutas. Em

seguida foi feita uma segunda análise no site do SINTEGRA (www.sintegra.gov.br)

identificando as empresas que estão habilitadas a funcionar.

Ao se avaliar o cadastro, se observou que algumas empresas haviam fechado

oficialmente e outras não exerciam mais a atividade de conserva de frutas. Ao final

deste refinamento restaram 16 empresas.

Quadro 3 – Municípios paraenses que contêm empresa de conserva de frutas tropicais

MUNICÍPIO QUANTIDADE Belém 3

Ananindeua 1 Castanhal 6 Inhangapi 2 Marituba 1

Santa Bárbara 1 Colares 1

Tomé-Açu 1 T O T A L 16

Fonte: Registro do Ministério da Agricultura de 2008.

A efetivação da coleta de dados foi desenvolvida inicialmente por contato telefônico

e agendamentos prévios. Das 16 empresas, apenas 7 aceitaram participar da pesquisa.

Das 7, duas foram alvo de aprofundamento dos estudos. O resultado apurado destes

questionários será discutindo na próxima seção deste estudo. A limitação de empresas a

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serem investigadas pela pesquisa foi observada no trabalho de Santana, Carvalho e

Mendes (2008) em que se analisou a fruticultura paraense a partir de pesquisa empírica.

3.4 A METODOLOGIA DE ESTUDO MULTICASOS

A metodologia de estudo de caso tem críticas da comunidade cientifica por não

seguir o rigor estatístico muito comum em estudos quantitativos. Essa crítica deve ser

aceita apenas se o desejo do pesquisador for o de generalizar os resultados. O estudo de

caso visa criar hipóteses que possam perfeitamente ser testadas estatisticamente

permitindo seu aceitação ou refutação, esta característica garante ao estudo de caso sua

relevância enquanto metodologia científica (FARINA, 1997, p. 9-10).

A aplicação do método estudo de caso possui quatro aplicações. A primeira é

explicar relações causais do fenômeno estudado, estabelecendo uma possível relação

causa e efeito. A segunda é descrever um fenômeno que sofreu uma intervenção,

explicando como ocorreu o fenômeno em detalhes. A terceira permite ilustrar casos

onde as intervenções foram efetivadas, determinando os efeitos da intervenção. Por fim,

ele permite explorar situações onde o fenômeno não deixou claro os seus efeitos,

preenchendo lacuna ainda não explicada por outro método (FARINA, 1997, p. 10). O

estudo sobre as empresas de polpas de frutas tropicais permite a utilização dessas quatro

abordagens

As críticas relacionadas ao método se resumem à confiabilidade da amostra,

contudo, o que realmente fragiliza o método é o seu componente social, o pesquisador.

O uso desta metodologia por parte do pesquisador permite a avaliação de um fenômeno

complexo que com outros métodos não poderiam ser avaliados com a mesma facilidade.

Outros métodos não permitem ao pesquisador identificar o fator causador do número.

Enquanto outros métodos, sobretudo quantitativos, permitem testar uma hipótese

mediante variáveis, determinando uma única solução para o problema, o estudo de caso

permite a geração de novos problemas ou hipóteses (FARINA, 1997, p. 13-14).

O estudo de caso pode ser desenvolvido de duas maneiras, uma explorando

apenas um caso, que é recomendando apenas para fenômenos raros, ou na modalidade

multicascos, que será a metodologia utilizada neste trabalho. No multicasos é permitido

ao pesquisador replicar o fenômeno possibilitando várias observações, normalmente

utilizando técnicas de survey de forma não probabilística. Vale lembrar que

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generalização dos resultados é possível apenas com amostras probabilísticas, o que não

pode ser entendido como um motivo para descarte do método, mas sim como uma

limitação, visto que o grau de certeza da pesquisa fica dependente do desejo do

pesquisador em generalizar ou não os seus dados.

O método de multicasos pode confirmar seus resultados sem a estatística. É

comum analisar outros trabalhos sobre o fenômeno e verificar que alguns resultados se

assemelham. Isso permite identificar uma tendência ou um padrão (FARINA, 1997, p.

15-20).

3.5 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS

Com vistas a atingir os objetivos da pesquisa, a operacionalização se deu

inicialmente pela busca de dados relativos ao gerenciamento de custos de produção da

empresa e de seus concorrentes; ao planejamento, controle e medição do desempenho

do negócio; ao conhecimento sobre os concorrentes e clientes; às informações sobre a

empresa pesquisada e ao mercado em que concorre.

A ferramenta de pesquisa do primeiro instrumento de estudo foi segmentada em

três partes (ANEXO I) assim constituídas:

I. A primeira parte visa coletar os seguintes dados da empresa: tempo de vida,

principais produtos, gênero, escolaridade e idade dos entrevistados e cargo de

colaboradores na empresa. Esta última informação visa identificar o porte da

empresa. Para defini-lo foi utilizada a classificação do IBGE, que atribui

apresenta uma classificação baseada no setor que a organização explora

associado à quantidade de colaboradores atuantes na empresa.

II. A segunda parte foi uma avaliação quanto à frequência com que os indicadores

de CGE são revisados na organização. Cada indicador terá um pergunta isolada

com as respostas sendo analisada em uma escala1liker2t, variando de 1 a 8; com

1 Escala ou escalonamento é um processo onde é possível atribuir um número a um objeto (COOPER; SCHINDLER, 2001, p. 198). 2 Escala Likert é uma escala que permite classificar atitudes favoráveis ou desfavoráveis relacionadas com um objeto de interesse, dessa forma é possível avaliar a intensidade do interesse por um determinado objeto, fugindo assim de uma escala binária formada por apenas sim ou não (COOPER; SCHINDLER, 2001, p. 201-202).

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as seguintes representações: 1. não conheço; 2. conhece pouco; 3 e 4.

conhecimento abaixo de médio; 5. conhecimento mediano; 6 e 7. conhecimento

acima de médio; e 8. bom conhecimento.

III. A última parte solicita dados para contato, nome, organização e e-mail.

O segundo instrumento de coleta é formado por perguntas abertas, onde o

entrevistado teve liberdade de expressar sua opinião sobre o funcionamento dos

indicadores CGE. Elas visam verificar o conhecimento dos entrevistados sobre como os

indicadores contábeis são utilizados pelo empreendedor (ANEXO I).

As primeiras questões permitem ao entrevistado usar o tempo que precisar para

contar a história da sua organização. Na segunda parte ele versa sobre as ações

ambientais da empresa. As questões de 3 a 21 para dois indicadores CGE. As quatro

últimas visam coletar dados do perfil do entrevistado, como nome, cargo, tempo na

empresa e e-mail.

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4 RESULTADOS DA PESQUISA

4.1. ESTUDO EXPLORATÓRIO

As organizações pesquisadas processam o açaí, fruto regional muito apreciado

pela população local, com safra que começa em agosto e termina em janeiro. Após a

safra as microempresas reduzem sua capacidade produtiva para zero ou próximo disso.

Elas demitem todos os funcionários ou ficam com dois ou três apenas para não fechar

por completo e aproveitam esse momento para realizarem reformas na fábrica ou

simplesmente fecham. É comum nas micro e pequenas empresas a fábrica se confundir

com a residência do(a) empreendedor(a). Isso não quer dizer que a produção ocorre

dentro da casa. São espaços distintos em um mesmo endereço.

As empresas locais não usam o processo de pasteurização (só as que atuam no

mercado externo estão obrigadas isso), pois modifica o sabor do açaí, o que não é aceito

pelo mercado nacional. Segundo relatos, os compradores internacionais não têm a

preocupação com o sabor do açaí, pois o consomem com outros produtos, como o

guaraná e o café, a fim de tornar o sabor mais agradável. É provável que eles não

conheçam o real sabor deste fruto.

A apresentação do produto é muito parecida. Na prática, os produtos são

despolpados e, em seguida, colocados em embalagens muito semelhantes, com

praticamente o mesmo padrão de qualidade, diferenciando apenas a marca do

fabricante. Isso permite que entre as firmas ocorram parcerias de terceirização de

produção. Vale a pena salientar que quem normalmente propõe as parcerias é a líder de

mercado. Ela possui um grande poder sobre os fornecedores (cinco), tem três

cooperativas de produtor e dois atacadistas, que a atendem de forma satisfatória quanto

à matéria-prima. Essa parceria entre a líder e os fornecedores faz com que na safra ela

exceda sua capacidade de produção, forçando-a a terceirização com seus concorrentes,

criando uma relação satisfatória para ambas as partes.

As organizações pesquisadas têm em sua maioria cinco empresas, um tempo de

vida entre 4 (quatro) e 9 (nove) anos. Uma organização tem entre 1 (um) e 3 (três) anos

e outra tem entre 10 (dez) e 19 (dezenove) anos, isso evidencia que a maior parte das

empresas possuem uma estabilidade no mercado, visto que até os cinco anos ocorrem

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90% da entropia dos negócios. Quanto aos entrevistados, os homens são maioria a

frente dos empreendimentos frutíferos (Quadro 4).

Quanto ao porte da empresa verifica-se que quatro empresas, são pequenas; três

empresas são médias; e duas são consideradas microempresas, conforme classificação

do IBGE. A estrutura observada na pesquisa se aproxima do que obtido por Santana,

Carvalho e Mendes (2008).

Quadro 4 – Características das empresas pesquisadas M / F Idade Escolaridade Unidades Funcionários Idade

1 M 26-35 Superior Completo 3 a 5 100 – 499 4 – 9

2 F 46 – 55 Ensino médio 1 0 – 19 4 – 9

3 F 36 – 45 Ensino médio 1 0 – 19 1 – 3

4 M 45 – 55 Mestre 1 0 – 19 10- 19

5 F 26 – 35 Especialista 1 50 – 99 4 – 9

6 M 36 – 45 Ensino médio 1 0 – 19 4 – 9

7 F 36 – 45 Ensino médio 1 0 – 19 4 – 9 Fonte: Resultados da pesquisa.

O estudo demonstrou que quatro dos entrevistados revelaram ter apenas o ensino

médio; três possuem o nível superior: um superior completo, um com especialização e

outro mestre. Nota-se então, com base nos dados, que a maioria dos entrevistados

apresentaram o ensino médio, mas as organizações com melhor estrutura são aquelas

em que os entrevistados possuíam nível superior completo. Vale lembrar que esses

resultados não podem ser generalizados, uma vez que a amostra não possui

representatividade estatística.

Os produtos mais industrializados pelas empresas estão apresentadas no Quadro

2. Os resultados mostram que todas as organizações processam diversas frutas, porém

há destaque para o açaí, processado por todas as empresas pesquisadas. Em seguida,

estão o Cupuaçu e a Acerola. As frutas identificadas na pesquisa de campo estão

contempladas no trabalho de Santana, Carvalho e Mendes (2008), no entanto, frutas

como bacuri e maracujá não foram citadas na pesquisa. Segundo os autores, essas frutas

apresentam rápida evolução na demanda local, nacional e internacional.

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Quadro 5 – Produtos processados pelas empresas Variável Açaí Cupuaçu Acerola Abacaxi Quantidade de empresas 7 4 3 2

Fonte: Dados da pesquisa

Nesta parte da pesquisa, será estudada a frequência de revisão dos indicadores

CGE por parte desses estrategistas. Foi perguntado aos entrevistados o tempo em que

eles revisavam os indicadores (Quadro 6).

Quadro 6 – Frequência de revisão dos indicadores de CGE

Empresas Custo dos Atributos.

Custo do Clico de vida do produto

Custo Meta Custo da

Qualidade

Custeio da Cadeia de

Valor Média

1 5 3 4 3 3 3,60

2 1 1 1 1 1 1,00

3 1 1 1 1 1 1,00

4 1 1 1 1 1 1,00

5 8 8 8 8 7 7,80

6 1 1 1 1 1 1,00

7 1 1 3 1 1 1,40

TOTAL 2,57 2,29 2,71 2,29 2,14 2,40

Periodicidade Semestral Anual Semestral Anual Anual Anual

Fonte: Dados da pesquisa

Os indicadores de custos são revisados com pouca frequência e, em sua maioria,

são revisados anualmente. Os custos: meta/ciclo de vida do produto, custo da qualidade

e custeio da cadeia de valor são revisados anualmente. O custo dos atributos e o custo

meta possuem revisão semestral. Isso ocorre devido à safra, quando o custo da matéria

prima, sobretudo o açaí, varia de preço, obrigando a organização a rever este indicador.

O fato de o indicador do custo do ciclo de vida do produto ser revisado

anualmente evidencia que a ameaça de produtos substitutos não é uma preocupação

muito frequente nas organizações pesquisadas (PORTER, 2009). O fato do custeio da

qualidade ser revisado semestralmente evidencia que existe uma exigência por parte dos

clientes, demonstrando certo poder que lhes permite exigir isso da organização.

Individualmente destacam-se a empresa cinco (5) que revisa seus indicadores de

custo quase diariamente. Seu diferencial competitivo é o preço de custo, e sua principal

estratégia, fazendo alusão às estratégias genéricas de Porter (2009), é também baseada

no custo.

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A empresa 1 revisa os indicadores, em média, trimestralmente, tendo um

comportamento quase linear nos indicadores. Existe uma preocupação média com o

gerenciamento dos indicadores CGE, demonstrando o seu uso, porém as demais

empresas não fazem uso deste indicador. Para as demais firmas esse indicador não é

utilizado. Segundo relatos, o fator de produção que determina o custo é o preço da

matéria-prima, então, o que eles fazem é basicamente somar a este custo um lucro

esperado com uma estimativa de outros custos, sem o devido cuidado de comparar se o

cálculo pré-determinado confere com o apurado no final da produção. A prática de não

usar os indicadores CGE de custos ocorre por desconhecimento das técnicas de

contabilidade de custos.

O próximo indicador a ser analisado são os de Planejamento, controle e medição

do desempenho e os resultados que se encontram no Quadro 7 evidenciam baixo nível

de revisão desde indicador. Quanto ao planejamento e controle de medição de

desempenho, nota-se que o benchmarking é revisado semestralmente, isso demonstra

que o processo de imitação não é feito com alta frequência. Nota-se certa acomodação

dos concorrentes, apontando baixa rivalidade entre eles. As empresas 2 e 5 vão de

encontro a essa realidade. A empresa 2 afirma copiar o processo de qualidade de um

rival que não é a líder de mercado. A empresa 5 procura imitar a líder de mercado

regional.

Quanto à medição integrada do desempenho, as empresas 1 e 8 procedem

baseadas em suas certificações, pois atuam no mercado internacional onde o nível de

exigência é maior. Isso demonstra que o gestor dessas organizações, de alguma forma,

mesmo que rudimentar, revisa seus processos, procurando uma melhoria contínua em

suas operações. O termo “rudimentar” foi o utilizado, pois não foi apresentado ao

pesquisador indícios de modelos já consagrados pela literatura como balanced score

card ou desempenho management model nestas organizações.

As demais empresas não usam o benchmarking devido a atuarem em um

mercado regional, quase sempre na sua própria cidade ou em municípios vizinhos, desta

forma, não há a necessidade de imitar ninguém para subir no ranking. É um processo de

acomodação.

A medição integrada do desempenho não é feita, pois o processo depende de

corpo administrativo para avaliar rotinas, como atendimento de clientes e melhora nos

procedimentos internos. Isso demanda material humano, precisa de gestores e o

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empresário das microempresas normalmente é todo o corpo administrativo dela, ou seja,

é o comprador, vendedor, gerente de produção e tesoureiro. Logo, não sobra tempo para

gerar os indicadores ou mesmo analisá-los e rever condutas.

Quadro 7 – Demonstrativo de uso dos indicadores de Planejamento e Controle de Medição de Desempenho CGE

Empresas Benchmarking Medição integrada do desempenho TOTAL

1 1 5 3,00 2 5 1 3,00 3 1 1 1,00 4 1 1 1,00 5 8 8 8,00 6 1 1 1,00 7 1 1 1,00

TOTAL 2,57 2,57 2,57 Periodicidade Semestralmente Semestralmente Semestralmente

Fonte: Dados da pesquisa.

O próximo índice a ser analisado é o indicador de tomada de decisão presente no

Quadro 8. Os indicadores ligados à tomada de decisão estratégica são revisados com

frequência anual. Os destaques ficam para as empresas 1 e 5. Para estes estrategistas a

formação do preço de venda é um item bastante revisado na população estudada,

evidenciando uma grande preocupação com o item.

Em média, pode-se afirmar que o grupo de indicadores CGE para a tomada de

decisão é revisado mensalmente. É possível afirmar que a vantagem competitiva se dá

através do preço de custo segundo os preceitos da Escola do Posicionamento.

Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) afirma que o estrategista consegue sua posição

de mercado através do preço dos seus produtos.

No quesito revisão do custeio estratégico destacam-se as empresas 1 e 5. Elas

afirmam revisá-lo com mais frequência. No geral, este indicador possui revisão anual,

porém, ocorreu discrepância entre os valores de 1 e 5 e os valores dos demais, que

normalmente não o revisam. Algo semelhante ocorreu com a precificação estratégica

onde as empresas 1 e 5 puxaram o índice para cima embora as ferramentas usadas pelos

estrategistas estejam em desacordo com as teorias. Estas afirmam que se devem usar

informações de marketing estratégico no uso do indicador, e, de fato, o que as

organizações usam são a cotação da matéria-prima.

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Quanto à avaliação e monitoramento da marca, nota-se que no geral a marca não

é uma preocupação dos estrategistas, este indicador é utilizado apenas quando existe

uma marca forte, avaliando o potencial que a marca possui. Isso não depende apenas da

empresa e sim de outros fatores econômicos, como internacionalidade, estabilidade de

mercado e protecionismo de mercado, neste cenário o fator liderança tende a permitir o

aparecimento de marcas fortes de visibilidade global a exemplo de marcas como Nike,

Coca-Cola e Samsung (GUILDING et al, 2000).

As demais empresas não fazem uso dos indicadores CGE de tomada de decisão

estratégica. Quanto ao indicador avaliação e monitoramento da marca não é verificado

se a cotação da marca evoluiu ou regrediu. Essa avaliação depende de: atuação em

outros mercados, sobretudo o internacional, o que não é feito; de lucros históricos que

dependem de demonstrativos contábeis tradicionais anuais que não são elaborados; e de

liderança de mercado, status que essas empresas não têm (GUILDING et al, 2000).

A precificação estratégica não é usada, pois depende de mapeamento dos preços

praticados no mercado (GUILDING, 1999). Os preços de venda são nivelados.

Praticamente todos usam o mesmo preço e este fator não permite que as empresas usem

o preço de venda como vantagem competitiva, o que também compromete o uso do

custeio estratégico.

Quadro 8 – Comportamento do grupo quanto ao do uso dos Indicadores para Tomada de Decisão

Observações Custeio

Estratégico Precificação Estratégica.

Avaliação e Monitoramento da

Marca TOTAL

1 3 5 1 3,00 2 1 1 1 1,00 3 1 1 1 1,00 4 1 1 1 1,00 5 8 3 3 4,67 6 1 1 1 1,00 7 1 5 1 2,33

TOTAL 2,29 2,43 1,29 2,00 Periodicidade Anual Anual Nunca é revisado Anual

Fonte: Dados da pesquisa.

O próximo indicador a ser avaliado é a contabilidade do competidor. Os

resultados estão presentes no Quadro 9.

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Quadro 9 – Frequência do uso do indicador contabilidade do competidor

Observações Avaliação dos

Custos do Concorrente.

Monitoramento da Posição Competitiva

Avaliação do Desempenho do

Concorrente TOTAL

1 2 2 3 2,33

2 1 1 1 1,00

3 1 1 1 1,00

4 1 1 1 1,00

5 8 7 7 7,33

6 1 1 1 1,00

7 1 1 1 1,00

TOTAL 2,14 2,00 2,14 2,10

Periodicidade Semestral Semestral Semestral Semestral

Fonte: Dados da pesquisa.

A revisão dos indicadores de contabilidade do competidor é feita, em média,

semestralmente. O indicador objetiva conhecer a estrutura do concorrente e as

tecnologias por eles usadas. Isso pode ser feito por meio de observação direta, contato

com cliente e fornecedores em comum ou depoimento de ex-funcionários (GUILDING

et al, 2000). Apenas as empresas 1 e 5 possuem alguma preocupação com o indicador.

A 5 demonstra se preocupar um pouco mais com os competidores, isso se dá pela

comparação que faz entre si mesma e líder de mercado. A empresa 5 acredita estar no

mesmo nível de atuação e qualidade que a líder. Graças a essa motivação o espírito de

rivalidade (de forma bastante salutar) permeia a empresa nos moldes da teoria de forças

competitivas de Porter (2009).

A pouca ou nenhuma atenção dada a estes indicadores, segundo a teoria das

cinco forças de Porter (2009, p. 18), ocorre devido a alta lucratividade no setor. Assim,

é possível acreditar que ou as empresas estudadas são altamente lucrativas ou estão

satisfeitas com o lucro gerado de tal forma que existe um desestímulo à competição,

minimizando a concorrência entre as empresas.

O próximo indicador a ser avaliado é o da contabilidade do consumidor e seus

resultados estão no Quadro 10. Neste indicador, cuja revisão é anual, verifica-se um

equilíbrio entre os itens analisados, evidenciando a quase inexistência de preocupação

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com o cliente. Yorke (1980) entende que este indicador se faz necessário quando o

mercado possui uma grande quantidade de consumidores. Assim, possibilita-se uma

hierarquização da carteira de clientes, propiciando ao gestor criar clusters e separá-los

em castas que receberão um tratamento adequado, a fim de melhor captá-los.

Esta forma de atuação é muito comum em bancos (embora não sejam os únicos a

usarem o indicador) que separam os clientes por gerentes. O autor complementa

dizendo que existem três formas fazer essa análise: avaliar o desempenho individual do

cliente, analisar o potencial de lucro que um novo cliente pode trazer e, por fim, avaliar

a importância que cada cliente tem para a organização.

No segmento estudado não fica evidenciada uma preocupação com este

indicador, isso se dá devido à dificuldade de novos entrantes participarem do mercado

competitivo (PORTER, 2009, p. 3), com justificativas já discutidas no capítulo 2 deste

trabalho. Vale ressaltar que as empresas estabelecidas possuem vantagem empírica tão

superior que o indicador de contabilidade do competidor passa a não ser relevante, pois

a relação entre a indústria e o fornecedor é muito íntima, o que dificulta o

estabelecimento de novos entrantes.

Outro fator que, segundo Porter (2009), explica o desuso do indicador

contabilidade do consumidor é o grande poder dos clientes. Alguns deles, sobretudo os

do Estado do Rio de Janeiro, compram grandes quantidades do produto, absorvendo boa

parte da produção, sobrando pouca oferta para outros compradores. Porter (2009)

complementa dizendo que quando o poder está nas mãos do cliente, a competição fica

comprometida.

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Quadro 10 – Frequência de Uso da Contabilidade do Consumidor

Observações Análise da

Rentabilidade do cliente

Análise da Rentabilidade do

Cliente Durante a Vida

Avaliação do Ativo Cliente TOTAL

1 3 3 3 3,00

2 1 1 1 1,00

3 1 1 1 1,00

4 1 1 1 1,00

5 7 5 7 6,33

6 1 1 1 1,00

7 1 1 1 1,00

TOTAL 2,14 1,86 2,14 2,05

Periodicidade Anual Anual Anual Anual

Fonte: Dados da Pesquisa

O Quadro 11 evidencia um resumo dos indicadores demonstrando que, em

média, os indicadores são revisados mensalmente, confirmando, dessa forma, a

frequência na análise de variações dos mesmos.

Quadro 11 – Resumo da frequência na revisão dos indicadores

Observações Custos Tomada de

decisão estratégica

Planejamento Controle e medição de desempenho

Contabilidade do Competidor

Contabilidade do Consumidor

Média de frequência de revisão

1 3,60 3,00 3,00 2,33 3,00 2,99

2 1,00 1,00 3,00 1,00 1,00 1,40

3 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00

4 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00

5 7,80 4,67 8,00 7,33 6,33 6,83

6 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00

7 1,40 2,33 1,00 1,00 1,00 1,35

Média 2,40 2,00 2,57 2,10 2,05 2,22

Periodicidade Anual Anual Semestral Anual Anual Anual Fonte: Dados da pesquisa

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Nota-se então que na média geral arredondada os indicadores contábeis são

revisados anualmente, baseados nos questionários obtidos (sete) que representam 44%

do universo das empresas ativas nesse segmento (dezesseis). Devido ao número

reduzido de empresas existe a necessidade de apresentar o questionário a todo o grupo

para que os resultados possam ser mais confiáveis.

Nesta primeira parte do estudo vislumbrou-se que maior parte das empresas do setor

de polpas de frutas tropicais é de porte médio e jovem (menos de 10 anos de vida) e

todas trabalham com a produção de polpa de açaí e outras frutas. Outro ponto que

chamou a atenção do pesquisador foi que, no geral, as organizações não revisam os

indicadores CGE com frequência, o que demonstra um baixo nível competitivo.

Porter (2009, p. 18) apresenta três razões para justificar demora em revisar os

indicadores contabilidade do competidor: a existência de poucos competidores, pois

existem apenas 16; o crescimento setorial rápido, pois as empresas são jovens (menos

de 10 anos), mas já atuam no mercado internacional; e as barreiras de saída são baixas:

a mão de obra normalmente é pouco especializada, a matéria prima é local e o

maquinário e simples.

O autor acrescenta outros dois fatores que podem desestimular o uso dos

indicadores do competidor, contudo esta pesquisa não conseguiu confirmar a presença

dos mesmos. O primeiro ocorre quando os competidores conseguem com facilidade

interpretar os sinais um dos outros. O segundo se confirma quando nenhum dos

competidores tem aspirações de liderança do setor. Se no setor a única motivação for

financeira, a competição deixa de existir e ocorre desinteresse em monitorar o rival.

Essa pode ser uma vantagem do setor, pois evita a competição por preço que não é

saudável em nenhum segmento e transfere poderes para outra força competitiva, o

cliente.

No próximo capítulo será apresentada a segunda parte da pesquisa. Duas empresas

foram selecionadas para receber uma nova visita do pesquisador e o uso das práticas de

CGE vai ser detalhado por elas. Este estudo se fez possível após a constatação do bom

conhecimento da CGE por parte dos entrevistados, bem como a boa revisão dos

indicadores por parte dos mesmos.

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4.1.1 Conclusão do Estudo Exploratório

O uso das práticas CGE por parte das empresas é reduzido, poucos fazem uso

dela, apenas empresas de médio e pequeno porte fazem uso das mesmas. As

microempresas, na entressafra demitem todos os seus funcionários ou reduzem

consideravelmente sua capacidade de produção e aproveitam o período para fazer

reformas ou simplesmente fecham esperando o próximo ano. Em geral elas atuam no

mercado regional; a estratégia de mercado delas é lucrar na safra e sobreviver na

entressafra, esperando o próximo ano. Isso atende aos preceitos de Porter (2009) nas

estratégias genéricas relacionados ao custo.

4.2. APROFUNDAMENTO DE DOIS CASOS

4.2.1 A empresa W

A primeira empresa estudada foi fundada em 2003. Seus proprietários, antes da

fundação, atuavam comprando do produtor e fazendo com que o fruto chegasse à

indústria, isso foi chamado pelo entrevistado de “serviço de atravessador”. Na época, o

único produto a ser “atravessado” por eles foi o açaí.

Com o passar de tempo os proprietários alçaram voos mais altos, fundando a

empresa “W” e passando a industrializar o fruto em sede própria. A partir desse

momento, seus antigos clientes não se sentiram confortáveis em continuar a parceria,

deixando de comprar o fruto com eles, uma vez que o novo entrante passara a ser

também um concorresse no mercado.

Atualmente a empresa “W” não comercializa apenas o Açaí, além deste são

processados também Abacaxi, Acerola, Bacuri, Cacau, Camu-camu, Caju, Cupuaçu,

Graviola, Goiaba, Limão, Maracujá, Manga, Muruci, Taperebá e Uxi. Atualmente 50%

da sua produção têm destino internacional. No mercado nacional, destaca-se o Rio de

Janeiro como principal consumidor desse produto.

Aproveitando um processo de entropia de concorrentes ocorrida em 2010, a

empresa “W” comprou outras quatro empresas que se tornaram unidades de negócio,

exercendo apenas a atividade de revenda, o que permite à empresa atuar com diferentes

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marcas do mesmo produto, visto que o processamento ocorre em um único lugar e

apenas a embalagem é alterada.

A organização possui como diferenciais a motivação funcional, sete

certificações (destacam-se a IBD3, ISO 22.0004) e projetos ambientais. Destaca-se na

motivação funcional o fato de que todo o lixo reciclável é vendido e a renda é revertida

para os familiares dos funcionários no final do ano, que são beneficiados com

brinquedos e cestas de natal. Um fato curioso citado durante a entrevista é a ausência de

departamento de recursos humanos para criar esse tipo de ação, mas esse é um anseio da

diretoria e, possivelmente, logo será criado.

Na questão ambiental, a empresa utiliza o caroço do fruto como combustível.

Segundo informações obtidas no local, o caroço do Açaí possui uma queima mais lenta,

servindo muito bem como lenha. Outro ponto citado pelo entrevistado foi o tratamento

da água que é usada no processamento: ela passa por um processo de purificação e

retornada ao meio ambiente livre de impurezas.

4.2.1.1 O uso dos indicadores de CGE pela empresa “W”

4.2.1.1.1 Indicadores de custo

A organização utiliza todos os indicadores CGE de custos. Ela possui um

sistema integrado empresarial que apresenta um módulo de custos responsável por criar

os indicadores de custo da cadeia de valor. A utilização deste indicador prevê o uso de

custeio baseado em atividades, contudo a organização não deixou claro que utiliza esse

tipo de método de custeio.

O custeio dos atributos visa determinar o valor que o produto tem para o cliente,

como acabamento e garantias. Ele é monitorado pelo contador a fim de determinar a

diferenciação do produto em relação aos demais no mercado. Na empresa “W” este

3 IBD é uma empresa brasileira que certifica empresas que atuam com produtos orgânicos, tem valor em na América do Sul e seus fundamentos contemplam o cumprimento da legislação trabalhista, cumprimento das leis ambientais, recuperação e preservação do meio ambiente e compromisso social (IBD, 2012). 4 A ISO 22.000 é uma certificação internacional de segurança alimentar e prevê em seus princípios boa comunicação interativa, bom sistema de gestão, controle de perigos de segurança alimentar e melhorias contínuas (BSI, 2012).

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custo é retirado do sistema, mas sua organização empenha-se em frequentar feiras para

rever tendências do mercado, o que realimenta o sistema de informações refazendo os

cálculos do custeio dos atributos.

O custeio da qualidade evidencia o custo com prevenção de falhas de

mercadoria, é um indicador muito utilizado segundo o entrevistado. Dependendo da

qualidade do produto, ele é aceito em determinado mercado ou em outro. Fatores como

concentração de água e problemas de congelamento (congelamento disforme), definem

o destino do produto. Esta entidade faz vários testes, a maioria dentro da própria sede,

procurando garantir a qualidade do que se vende. O custo da manutenção da qualidade é

registrado em sistemas e discutido em reuniões mensais.

O custo meta é controlado com frequência, mas é feito através de planilha. Isso

ocorre diariamente, pois a matéria-prima, em especial o Açaí, possui o custo variado por

dia, isto é, o preço é alterado diariamente nessa empresa que possui cinco grande

fornecedores, três cooperativas de produtores e dois atacadistas. Para controlar a

escassez do mercado esta organização paga um valor fixo, acima do oferecido pelo

mercado, para garantir o fornecedor e, dessa forma, manter o poder dos fornecedores

sob controle.

O cliente, internacional e nacional (RJ), por sua vez, conhece a cotação deste

insumo e sabe que com uma lata de 17kg de fruto é possível processar 9 litros de polpa.

Alguns clientes da organização mantém contato com o produtor para conhecer a

cotação, a fim de negociar o preço do produto com a indústria. Graças ao poder dos

clientes nesse processo, a organização planeja o custo meta e os repassa para os

colaboradores, que participam do processo de redução de custos para atingir a meta.

O cliente tem as informações necessárias para saber se o preço está dentro da

faixa de mercado. Caso a indústria tente fazer um preço diferente, o cliente não compra

e procura outro fornecedor. Essa é a prova do poder dos clientes, segundo a teoria das

forças competitivas de Porter (2009). Se um competidor faz um preço menor do que o

esperado, o cliente compra, mas normalmente, esse competidor sai do mercado por falta

de gerenciamento do custo meta.

O custeio do ciclo de vida é um indicador pouco visitado nessa organização.

Mesmo conhecendo os custos muito bem, a entidade ainda não lançou novos produtos

no mercado recentemente – por mais que exista a intenção de fazê-lo. Assim, este

indicador CGE será provavelmente revisado com mais frequência, considerando que os

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custos são previamente mensurados ainda no projeto, em seguida, rateados conforme

percentuais pré-determinados nas seguintes fases: projeto, introdução, crescimento,

maturidade e declínio (GUILDING et al, 2000). A pouca utilização desse indicador

ocorre pelo baixo índice de lançamento de novos produtos.

A indústria processa a polpa, mas não visa criar um novo produto para atender o

mercado. A polpa é vendida para os clientes que a submetem a um novo processo

industrial a fim de transformá-la em algo novo. Caso a organização “W” desenvolvesse

novos produtos com mais frequência, o uso deste indicador permitiria avaliar o tempo

de retorno do investimento em outro segmento. A não utilização deste indicador pode

ser algo temporário ou permanente, o determinante de seu uso é a criação ou não de

novos produtos.

De maneira geral os indicadores de custos são analisados com refinamento e é

considerada uma estratégia, segundo o entrevistado. Seguindo o modelo de estratégias

genéricas, a empresa “W” busca seu diferencial competitivo baseado nos custos, de tal

forma que não comprometa a sua qualidade. Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000)

afirma que esta estratégia é possível com base no ganho de experiência da organização,

com investimentos em tecnologia que garanta a produção em escala e com cuidados no

gerenciamento do custo sem a natural perda da qualidade.

4.2.1.1.2 Indicadores de tomada de decisão estratégica

O Benchmarking já foi muito utilizado no começo. Existia um líder de mercado

que era imitado pela empresa “W”, porém devido à utilização dos indicadores CGE e o

desejo pela excelência, a empresa se tornou melhor que a rival, que entrou em entropia

sendo posteriormente comprada por “W”. Segundo relatos obtidos na entrevista, a

organização hoje é líder no mercado regional, e expressa vontade de mimetizar uma

organização do Amapá, referência em açaí nos EUA. Para isso terá de criar novos

produtos semelhantes aos do concorrente. Atualmente isso é apenas projeto.

A medição integrada do desempenho ocorre a partir da realização de pesquisa de

satisfação do cliente e do nível de satisfação do colaborador. Além disso, existe uma

preocupação com a produtividade. No melhor estilo taylorista, existe premiação para a

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evolução da produtividade. O processamento mais rápido, limpeza em menor tempo,

são alguns dos indicadores usados.

O uso destes indicadores por parte do estrategista revela uma conduta baseada na

escola do aprendizado. Ela aprendeu tanto com seu concorrente que o comprou depois

de certo tempo. A organização toma certo cuidado com a satisfação do seu cliente, bem

como com a dos seus colaboradores, além de procurar detectar falhas no seu processo

de promover melhorias.

A medição integrada do desempenho utilizada pela empresa é baseada nas

certificações de que ela precisa para atuar no mercado internacional. Porém, à luz da

Teoria CGE, as técnicas utilizadas para avaliação deste indicador exigem a aplicação

dos estudos de Kaplan e Norton (2004) que discutem os conceitos do Balanced Score

Card. Em suma existe uma medição integrada de desempenho sim, mas não baseada no

modelo de Kaplan e Norton.

4.2.1.1.3 Indicadores de tomada de decisão estratégica

Custeio estratégico é um indicador pouco usado. A organização não se preocupa

com ações de marketing, provavelmente porque o produto não possui produtos

substitutos, apenas empresas concorrentes e os clientes estão interessados em preço,

visto que para eles a polpa é um insumo que terá um novo tratamento.

O produto açaí se difere do concorrente apenas pela embalagem. A marca possui

boa aceitação, sem contar com o fato de que eles são detentores de quatro marcas. Esse

fato permite acesso a vários mercados que variam a sua aceitação conforme a qualidade

do produto.

Caso um cliente não aceite determinado produto, há uma segunda opção para

ele, e a organização comercializa os dois, atendendo às exigências do cliente. Neste

segmento os indicadores perdem sua função estratégica, pois o marketing estratégico,

que, segundo a teoria, é base para o uso do custeio estratégico, não influencia na venda

do produto (GUILDING et al, 2000).

A avaliação e monitoramento da marca perde sua função, pois o produto vendido

sofre transformações no cliente, o qual não leva em consideração a marca, mas um

padrão de qualidade. É por conta disso que este indicador não se torna atraente para o

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gestor da organização estudada. Ele seria utilizado apenas se a observação atuasse no

mercado mundial de tal forma que sua marca fosse mundialmente conhecida, o que não

parece ser ambição dos gestores da organização.

A precificação estratégica é um indicador bastante usado, pois, como o cliente

tem o preço praticamente fechado e o fornecedor define o preço livremente, a

precificação estratégica é o único indicador que auxilia na decisão final, conforme

Guilding (1999). A organização usa da seguinte forma: o cliente liga para a indústria e

tenta fechar o preço. Esta, por sua vez, verifica a cotação da matéria prima, que é o

insumo determinante, e verifica suas condições de fechamento. Em caso de desacordo,

existe uma sondagem junto aos concorrentes, tanto por parte da organização como por

parte do cliente.

A empresa “W” liga para os concorrentes e se passa por cliente a fim de pegar a

cotação deles. Caso seja possível rever o preço de venda, ela o faz para fechar negócio,

do contrário, desiste da transação. Portanto é possível identificar que a reação dos

preços dos competidores é determinante no fechamento do negócio. Guilding (1999)

considera a avaliação do preço do concorrente como um dos fatores do indicador de

precificação estratégica, mas não é o único. Unem-se ao preço dos fornecedores, a

elasticidade do mercado, o crescimento da organização, a economia de escala e a

experiência de mercado, e baseado na teoria este indicador é perfeitamente utilizado

pela indústria.

4.2.1.1.4 Indicador Contabilidade do competidor

A avaliação dos custos dos concorrentes, segundo a teoria contempla quatro

formas de fazer essa avaliação: 1. Avaliando a estrutura física do concorrente; 2.

Verificando capacidade instalada do rival; 3. Depoimento de clientes ou fornecedores

comuns; e 4. Depoimento de ex-funcionários do competidor, conforme Guilding et al

(2000). A empresa “W” usa como fonte de dados apenas o item 3. O objetivo desse

indicador é melhorar a posição competitiva e decisões ligadas aos investimentos da

organização. Isto permite afirmar que o uso do indicador poderia ser mais bem utilizado

se complementado com os demais instrumentos do indicador.

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O monitoramento da posição competitiva ocorre através de tendência em vendas,

Market Share, e retorno sobre as vendas (GUILDING, 1999). O entrevistado afirma que

é o primeiro em vendas, e diz receber essas informações do Ministério da Agricultura

que faz um trabalho de monitoramento do setor. Nota-se o uso do indicador à luz da

teoria.

A avaliação do desempenho do concorrente é elaborada através da análise dos

balanços do concorrente, técnica da contabilidade tradicional clássica, usada por ela

apenas para o monitoramento da própria organização (PEREIRA, 2001). É utilizada

pela CGE avaliando as demonstrações dos competidores. Vale lembrar que quando se

trata de grande empresa, sobretudo sociedades anônimas (S.A.) de capital aberto, existe

a obrigatoriedade de tornar públicas as peças contábeis, mas as empresas pesquisadas

não estão classificadas como S.A. e não possuem tal obrigação (LEI, 6404/76, Art.

176). A pesquisa demonstrou a inexistência desse tipo de organização nos elementos

pesquisados.

Para suprir a ausência dos demonstrativos contábeis, os estrategistas paraenses

visitam feiras onde observam as exposições do competidor procurando achar as

vantagens competitivas dos concorrentes e de forma rudimentar tentam suprir essa

carência de informação. Esta prática não é reconhecida pela teoria CGE, defendida por

Guilding et al (2000), que considera como fonte de dados deste indicador os

demonstrativos contábeis publicados pelos concorrentes. Vale lembrar que por não ser

obrigatória, para as empresas pesquisadas, esta prática não serve ao setor, abrindo um

precedente para a criação de um novo indicador, supressão do mesmo para este tipo de

organização ou a proposição de um novo indicador que atenda à necessidade de

organização de menor porte.

4.2.1.1.5 Indicador Contabilidade do consumidor

Na análise da rentabilidade do cliente, a organização faz uma espécie de ranking

entre os clientes, separando os que geram maior ou menor faturamento para a empresa,

porém não desenvolveu uma forma de determinar quais os mais lucrativos. O processo

de venda possui preços diferenciados pela quantidade comprada pelo cliente, quanto

maior o volume comprado, mais organização reduz o preço de venda unitário. Esse é o

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único critério de análise de cliente e não fornece a rentabilidade real dele. É necessário

ressaltar que faturamento não é lucro, logo este indicador não foi aplicado na

organização atendendo a teoria de Yorke (1980).

No que diz respeito à análise da rentabilidade do cliente durante a vida, a

empresa tenta fechar negócios fora do país, mas não avalia se esse tipo de negócio é

realmente rentável. Eles possuem um controle de custos refinado, o que lhes permite

lucrar com o novo cliente, mas não existe uma análise de descarte de clientes menos

rentáveis. Este indicador revela o lucro do cliente com o custo para obter ou manter o

mesmo, entretanto a organização não faz uso dele.

Já a avaliação do ativo do cliente não é feita de forma sistemática, não

determinando a importância dada a este ativo.

A teoria afirma que a responsabilidade da contabilidade do consumidor deve ser

divida entre contadores e profissionais de marketing, classificando os clientes por

geração de receita para então poder apurar os custos, bem como a rentabilidade de cada

cliente. É muito comum quando se trabalha a contabilidade do consumidor atribuir ao

gerente de cada cliente a responsabilidade de lucro (YORKE, 1980). Então, para que os

indicadores de contabilidade do consumidor passem a ser desenvolvido na organização

necessitam de esforço combinado entre marketing estratégico e contabilidade para

permitir a geração do indicador para o estrategista.

No mercado em que a empresa atua, o cliente vem até a organização e não o

inverso. Existem clientes, especialmente os do RJ, que pedem exclusividade,

aumentando ainda mais o poder exercido por eles. Talvez por isso o uso dos indicadores

da contabilidade do consumidor não sejam mais refinados.

Porter (2009, p. 14), explica as razões para o poder dos clientes ser tão grande,

expondo quatro fatores, dos quais três se confirmaram na pesquisa. Primeiro fator: são

poucos compradores que adquirem grande quantidade e tem poder de barganhar preço

com mais facilidade. Segundo fator, os produtos do setor são padronizados, quase o

mesmo processo produtivo, mesma proporção de embalagem e qualidade. Terceiro

fator, o custo para trocar de fornecedor é baixo, basta uma ligação para efetuar a troca.

O quarto fator não comprovado na pesquisa é a possibilidade de o cliente se tornar

competidor. Isso demandaria uma mudança geográfica do cliente, pois para se tornar

competidor deveria vir para o Pará, ou montar uma filial aqui, se distanciado do seu

mercado consumidor.

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4.2.1.1.6 Indicador de contabilidade do fornecedor (poder de negociação dos fornecedores)

Santana, Carvalho e Mendes (2008) afirma que existem três fontes de matéria-

prima das agroindústrias: de extrativistas, agricultores, comerciantes. O autor acrescenta

que, dependendo do local, as médias indústrias de polpa de frutas tem poder sobre os

extrativistas e agricultores, controlando o preço de custo da matéria-prima, porém, caso

essa relação se dê com comerciantes, o poder muda de lado e fornecedor passa a

controlar o preço da matéria-prima. A empresa “W” costuma comprar de produtores e

extrativistas cooperados (três fornecedores), confirmando o exposto pelo autor, e de

dois comerciantes (atacadistas). Mesmo assim a indústria é quem determina o preço e o

fornecedor não tem poder sobre ela.

4.2.2 A empresa Y

A empresa “Y” surgiu em dezembro de 2004 e diferente da empresa “W”

trabalha apenas com processamento do açaí. A organização possui a ISO 22.000 e

outras duas certificações. Assim como a “W”, atua no mercado internacional. A

empresa tem uma plantação própria localizada no município de Igarapé-Miri, mas não é

suficiente para atender a sua demanda, forçando-a a depender dos fornecedores.

A organização faz uso da consciência ambiental, purificando a água usada no

processamento antes de devolvê-la à natureza. Ela faz doação da biomassa (caroço),

eliminando o descarte na natureza.

Seu corpo administrativo é formado por 5 colaboradores, responsáveis pelas

funções de Vendas, Compras, Financeiro, Gestão de pessoas e Gerente administrativo.

Fora do Pará a empresa possui oito representantes comerciais, responsáveis por fechar

parcerias. O estado que mais compra é o Rio de Janeiro.

A empresa não possui contador interno, fato este que compromete a velocidade

de geração de informações relacionadas ao custo. Todavia, segundo depoimentos

colhidos no local, existe uma formação de custo. O uso destes indicadores é feito pelos

encarregados de compras e venda, a formação do custo é feita pelo custo padrão, mas

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não é feita uma comparação com o custo real, o que compromete a informação. Eles

possuem o custo de mão de obra de gastos gerais de fabricação em uma planilha que

antes de fechar uma venda é visto e acrescentado o preço da cotação da polpa, para só

então concluir a negociação.

Atribuir valores pré-determinados aos fatores de produção é uma prática da

contabilidade gerencial clássica denominada de custo padrão. Segundo Bornia (2010, p.

76) essa prática tem como objetivo padronizar o controle de custos, fornecendo um

preço (de custo) fixo que, ao final do processo produtivo, seja comparado com o real.

Em caso de não conformidade, estas serão analisadas e revisadas.

Foi confidenciado ao pesquisador que houve descontinuidade de alguns

concorrentes no biênio 2009/2010 e a gerente administrativa da empresa Y atribuiu o

fato a erro na apuração dos custos. Os competidores que entraram em entropia não

conheciam corretamente o seu custo de produção e efetuaram vendas onde os custos

superavam o preço de venda.

4.2.2.1 Indicadores de custo

Os indicadores de custo são utilizados de maneira genérica não deixando clara a

classificação em custeio dos atributos, custeio da qualidade, custeio do ciclo de vida,

custo meta ou custeio da cadeia de valor. Este fato ocorre pela ausência do contador

interno que geraria a informação com mais detalhamento. Ainda assim foi possível

identificar alguns padrões que se encaixam no modelo.

O custeio dos atributos necessita da presença do contador para determinar

diferenças entre os produtos ofertados. Como a indústria processa apenas um produto, a

diferença dos produtos é uma apenas questão de embalagens, descartando o uso deste

indicador.

O custeio da qualidade visa determinar se o valor gasto com a qualidade do

produto é uma vantagem competitiva (GUILDING et al, 2000). A organização tem uma

preocupação muito grande com essa qualidade e atribui isso como seu diferencial

competitivo. Porter (2009. p, 27) considera a estratégia como a defesa contra as cinco

forças competitivas como a identificação de uma posição dentro do setor onde as forças

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competitivas não tenham tanto poder. No caso da empresa “Y”, há uso da qualidade do

seu produto como uma posição de mercado e nela se baseia a sua estratégia.

O custeio do ciclo de vida do produto determina a apropriação dos custos por

fases de vida do mesmo, como projeto, início da produção, amadurecimento do produto

e descontinuidade. Na empresa Y não existem novos produtos, por isso este indicador

não possui função para o estrategista.

O custo meta visa estabelecer um padrão de custo para um determinado produto

que define o lucro de meta por produto. A organização em estudo possui um cálculo que

determina os gastos com pessoal bem como os demais gastos de produção, mas devido à

elasticidade do preço da matéria-prima, sobretudo na entressafra, há dificuldade em

estabelecer a meta. Vale lembrar que Santana, Carvalho e Mendes (2008) afirma que

quando a organização compra do produtor, ela exerce certo poder sobre ele, é o que

ocorre com a empresa “Y”, ela tem certo controle do fornecedor.

O custeio da cadeia de valor é feito externamente para facilitar a decisão do

gestor. A contabilidade estabelece um custo padrão da cadeia de valor e dessa forma

toma as decisões de compra e venda acrescentando ao padrão fixado pelo contador

apenas o custo da matéria-prima. A teoria prevê o uso do custeio baseado em atividades

para determinação deste custo, porém seu uso não foi confirmado na pesquisa.

Na prática o sistema de custo da organização “Y” se baseia na contabilidade

tradicional utilizando o método de custeio por absorção para determinação do preço de

custo dos produtos. Fernandez (2006, p. 32), faz severas críticas sobre esse método.

Segundo o autor, é fácil determinar os custos diretamente envolvidos com o produto

como o matéria-prima, por exemplo, porém é difícil dar o devido tratamento aos custos

indiretos de produção, como gastos com energia ou mesmo com a depreciação de cada

máquina. O método de custeio por absorção faz uso do rateio para atribuição da parcela

do custo indireto que comporá o preço de custo do produto. O rateio, segundo o autor é

uma forma arbitrária de solucionar o problema exigindo demais do subjetivismo do

contador.

A atualização do método de custeio por absorção não é considerada uma prática

da contabilidade gerencial clássica, por seu baixo nível de confiabilidade. Outrossim,

essa prática está igualmente em desacordo com a teoria CGE. Em defesa do método de

custeio por absorção, segundo Martins (2003, p. 42), há apenas o fisco. Em suma, a

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forma como o tema custos é tratado pela organização “Y” está em desacordo com a

teoria CGE e seria interessante para o estrategista rever suas práticas.

4.2.2.2 Indicador de planejamento, controle e medição integrada do desempenho

O Benchmarking da empresa estudada afirma não copiar padrões de mercado,

afirmando não fazer uso do indicador. Segundo Carpenter e Rudge (2003), o uso deste

indicador de forma correta permite ao estrategista melhorar sua posição competitiva.

Quanto a medição integrada do desempenho o único indicador usado é uma

pesquisa se satisfação do cliente realizado com o cliente do Rio de Janeiro que, segundo

o entrevistado, fazendo alusão à pesquisa do cliente, possui a melhor polpa de açaí do

mercado. Esta prática adotada pela empresa está em desacordo com a Teoria CGE que

prevê o uso do Balanced Score Card como forma consagrada de monitoramento do

desempenho (KAPLAN; NORTON, 2000).

4.2.2.3 Indicador de tomada de decisão estratégica

A organização não usa custeio estratégico, este custeio determina estratégias que

melhorem a posição do produto em determinado mercado e permitam a entrada em

outro mercado (GUILDING, 2000). A organização tem preocupação em melhorar sua

penetração de mercado, pois se sente confortável na posição em que se encontra.

Possivelmente pela ausência de concorrentes5 não foi percebida a necessidade de criar

uma vantagem competitiva.

A precificação estratégica é analisada através de fatores estratégicos como preço

dos concorrentes e prosperidade de um determinado mercado (GUILDING, 1999). A

organização estudada faz a avaliação com base no preço do concorrente. O cliente relata

a melhor cotação recebida e negocia um novo preço. A empresa confirma com o

competidor se foi feito esse preço mesmo e decide se faz uma proposta menor ou desiste

do negócio, baseado nos seus custos, atendendo assim a teoria que assevera que o preço

do concorrente é fonte de dados para o uso desse indicador.

5 SANTANA 2008, p. 219, afirma que apenas a bacaba é um produto próximo ao açaí em termos de sabor, contudo a oferta não é suficiente nem mesmo para atender ao mercado consumidor local.

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A avaliação e monitoramento da marca é indicador utilizado por empresas que

possuem uma marca forte no mercado, principalmente no internacional. No caso da

empresa estudada, há o envio de produto para vários clientes que os reprocessam, logo

as marcas conhecidas do grande público são as do cliente e não da organização.

Segundo o entrevistado, ele é líder de mercado baseado na qualidade do seu produto,

mas na prática sua marca não é vista e não existe uma preocupação em uma maior

visibilidade do produto. Para que isso ocorresse a organização teria de processar seu

produto em subprodutos como mix, sucos, doces, etc., e os lançar no mercado, criando

uma marca própria, os verticalizando à frente, mudando o seu perfil. Caso o exposto

ocorresse, o uso deste indicador, segundo a teoria CGE, pode acontecer, considerando

que a marca do competidor conseguiria visibilidade (GUILDING et al, 2000).

4.2.2.4 Indicador contabilidade do concorrente

A Avaliação dos custos dos concorrentes é aquela onde há uma avaliação do

concorrente em sua estrutura a fim de determinar seus custos totais. No caso da empresa

Y esse monitoramento é feito com base nos depoimentos dos clientes.

O Monitoramento da posição competitiva visa determinar a posição em que o

competidor se encontra. Isto normalmente é feito com base no volume de negócios

realizados pelo competidor. No caso da empresa Y, esse monitoramento é feito pelo

cliente do Rio de janeiro que faz pesquisa de mercado, determinando que a organização

seja a líder de mercado.

A Avaliação do desempenho do concorrente é feita com base em análises dos

demonstrativos dos concorrentes, contudo, neste mercado, os competidores não

costumam deixar esse tipo de informação disponível. A empresa procura fazer visitas a

outras empresas não concorrentes (clientes ou não) de forma a verificar se existe um

novo concorrente no mercado ou se o concorrente está vendendo para alguns de seus

clientes. Pode-se afirmar que a maior preocupação da organização é com o

aparecimento de novos entrantes.

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4.2.2.5 Indicador da contabilidade do consumidor

Na organização estudada não existe um estudo da Análise da rentabilidade do

cliente, não é feita uma análise da rentabilidade obtida de cada cliente, é feita apenas

uma análise de volume vendido por cliente. Não é feita a Análise da rentabilidade do

cliente durante a vida, não existe um indicador que evidencie a importância de um

novo cliente. Quanto à Avaliação do ativo do cliente, não é estabelecido um critério de

corte para os clientes menos rentáveis.

4.2.2.6 Indicador da Contabilidade do fornecedor (poder de negociação dos fornecedores).

Quanto aos fornecedores, existe um intenso controle de qualidade nos frutos

comprados, porém não existe uma preocupação ambiental na hora de fechar negócio

com o cliente. Mesmo assim, a empresa Y consegue determinar seu preço conforme

seus desejos e nada consegue conter essa força tornando a indústria refém dos

produtores. A empresa tem investido em uma produção própria, com uma fazenda que

ainda não consegue suprir suas necessidades atuais.

4.3 COMPARATIVO ENTRE AS EMPRESA W E Y

Na pesquisa com as duas empresa é possível determinar que os fornecedores

assim como os clientes possuam um poder grande, aumentando ainda mais a

concorrência entre os competidores. O mercado em que atuam não há ameaça de

produtos substitutos, pois como é um fruto que existe em apenas alguns países como

Venezuela, Colômbia, equador, guianas e Brasil (SCHULTZ, 2008, p. 11), sendo que o

Brasil é o maior produtor do fruto (MENEZES et al, 2008, p. 312) e isso dificulta a sua

substituição.

A ameaça de novos entrantes não é um fator que acirre a competição, pois o

fruto existe em apenas alguns estados do norte (Pará, Amapá, Amazonas, Acre e

Maranhão). Logo, o que deixa o mercado competitivo são os poderes de fornecedores e

cliente em que os fornecedores determinam o preço livremente, pois os custos logísticos

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para comprar em outro Estado comprometeriam a margem de lucro de tal forma que

fariam a entropia do competidor.

Os contratos de fidelidade firmados entre os clientes comprometem a

organização que possui pouca liberdade para determinar o seu preço de venda. Dessa

forma, os indicadores contábeis visam auxiliar o estrategista na avaliação de suas

condutas, no intuito de melhorar os resultados das organizações de polpa de frutas

tropicais paraenses.

4.3.1 Comparativo do uso dos indicadores CGE – CUSTO

No Quadro 12 é possível verificar que o indicador custo meta é regulado pelos

clientes em ambas as organizações. Essa é uma prova do poder exercido por estes nas

organizações estudadas, atendendo aos preceitos da Teoria de Porter (2009).

O custeio da cadeia de valor é feito pela empresa W com um sistema interno de

informações que monitora qualquer variação anormal no custo. Para Guilding et al

(2000), o uso deste indicador deve ser feito usando o método de custeio baseado em

atividades, o que não foi comprovado na organização “W”. A empresa Y trabalha com a

determinação de custos padrões que são revisados pela contabilidade externa, dessa

forma é estabelecido um padrão de custos que é complementado pela cotação da matéria

prima e também não atende aos preceitos de Guilding et al (2000).

O custeio da qualidade é tratado na “Y” como uma vantagem competitiva,

evidenciando que esta organização define claramente sua estratégia Genérica

(PORTER, 2009), como custo e não diferenciação. “W” também definiu sua estratégia

genérica como liderança em custo, contudo possui produtos com diferentes marcas e

padrões de qualidade, dessa forma ela atua em vários mercados.

O Custeio do ciclo de vida perde sua função nas empresas pesquisadas porque

elas não lançam novos produtos, esses indicadores perdem sua função que é distribuir

os custos no decorrer da vida do produto (GUILDING, 2000).

O custeio dos atributos é revisado por “W” ao chegar de feiras, este tipo de

revisão permite a adaptação dos produtos às necessidades dos clientes. Isso

representaria o que Porter (2009) chama de estratégia de diferenciação, este ponto deixa

dúvidas sobre a estratégia de “W”.

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Quadro 12 - Comparativo do uso dos indicadores CGE - CUSTO

Práticas Empresa W Empresa Y

Custeio dos atributos

Revisado ao chegar de feiras de exposições nacionais e internacionais.

Não usa o indicador.

Custeio do ciclo de vida

Não lança novos produtos. Não lança novos produtos

Custeio da qualidade

Possui produtos com padrão de qualidade variado. A qualidade é uma vantagem

competitiva Custeio meta Regulado pelos clientes Regulado pelos clientes

Custeio da cadeia de valor

Controlado com sistema de integrado empresarial. Utiliza o custo padrão para

determinação

Fonte: O autor

4.3.2 Comparativo do uso dos indicadores CGE – PLANEJAMENTO, CONTROLE E MEDIÇÃO DE DESEMPENHO

Quanto às práticas de planejamento, controle e medição de desempenho, o que

se nota é uma espécie de acomodação da empresa Y diferente da empresa W. A entrada

da empresa W no mercado dos EUA despertou o desejo de mimetizar a líder de

mercado. A empresa Y não revelou qualquer motivação em mimetizar alguém e se sente

confortável na atual posição de mercado (Quadro 13). A Postura de “W” revela que a

mesma tem uma preocupação com a melhora de seu desempenho no cenário

competitivo (CARPENTER; RUDGE, 2003).

Quanto à medição integrada de desempenho, as organizações atuam basicamente

com uma pesquisa feita com um cliente nacional (RJ), mas a empresa W verifica a

satisfação dos colaboradores e tenta melhorar seus processos internos, além de procurar

crescimento e aprendizado. Parcialmente ao que foi determinado por Kaplan e Norton

(2000, p. 13) isso representa certa aproximação ao Balanced Score Card, base da teoria

de medição de desempenho.

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Quadro 13 - Comparativo do uso de indicadores CGE – PLANEJAMENTO, CONTROLE E MEDICAÇÃO DE DESEMPENHO.

Praticas de CGE W Y

Benchmarking Deseja mimetizar organização do

Amapá, referencia nos EUA. Não usa o indicador

Medição integrada do desempenho

Pesquisa de satisfação do cliente e colaborador; Avaliação de tempo de

tarefa.

Pesquisa de satisfação do cliente

Fonte: Dados da pesquisa

4.3.3 Comparativo do uso dos indicadores CGE – TOMADA DE DECISÃO ESTRATÉGICA.

O uso dos indicadores é comprometido, pois a precificação estratégica fica

limitada, dado o grande poder na hora na negociação que os clientes têm. O custeio

estratégico perde sua função, pois não existe substituto para o produto. A marca da

organização não ter visibilidade levando-se em consideração que o produto é insumo

para outra indústria que coloca a sua própria marca. Fatos como este demonstram que as

agroindústrias de polpa de frutas tropicais não têm total autonomia em suas decisões

estratégicas (Quadro 14).

Quadro 14 – Comparativo do uso dos indicadores CGE – TOMADA DE DECISÃO ESTRATÉGICA

Práticas de CGE W Y

Precificação estratégica Avaliação do preço do concorrente. Avaliação do preço do

concorrente. Custeio estratégico Não usa produto, sem substituto. Não usa produto, sem substituto.

Avaliação e monitoramento da marca

Produto vendido é insumo para os clientes

Produto vendido é insumo para os clientes

Fonte: Dados da pesquisa

4.3.4 Comparativo do uso dos indicadores CGE – CONTABILIDADE DO COMPETIDOR

Nos indicadores de contabilidade do competidor (Quadro 15) nota-se uma falta

de padrão entre as práticas. Cada um faz uso dos indicadores a sua maneira. È

necessário salientar que a avaliação do desempenho do concorrente é feita de uma

forma diferente do que diz a teoria, que determina um estudo nos demonstrativos

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contábeis dos concorrentes. Isso pode ser explicado pela ausência desses demonstrativos

que não se encontram disponíveis no mercado. Os competidores aqui registrados fazem

essa avaliação com base em visitas a feiras (Empresa W) e visita a outras empresas,

concorrentes ou não.

O monitoramento da posição competitiva é feito por “W” com base no Market

Share, dessa forma é possível comparar apenas a participação no mercado e não a

lucratividade. Segundo a teoria CGE, isso não é suficiente para confirmar o uso deste

indicador. Menos ainda podemos afirmar das práticas de “Y”, que faz o monitoramento

com base em depoimentos de cliente, considerado uma fonte oficial de dados.

Quadro 15 – Comparativo do uso dos indicadores CGE – CONTABILIDADE DO COMPETIDOR.

Práticas CGE W Y

Avaliação dos Custos dos concorrentes

Depoimento de cliente e fornecedores comuns

É feita com base nos depoimentos dos clientes.

Monitoramento da posição competitiva

Usa o Market Share, recebido pelo Ministério da Agricultura.

É feita pelo cliente do Rio de janeiro que faz pesquisa de mercado.

Avaliação do desempenho do concorrente

Visitas a feira e exposições nacionais e internacionais

É feita com base em visitas a outras empresas não concorrentes (clientes ou

não).

Fonte: Dados da pesquisa

4.3.5 Comparativo do uso dos indicadores CGE – CONTABILIDADE DO CONSUMIDOR.

O comparativo deste indicador (Quadro 16) é bem simples, visto que a empresa

Y não usa qualquer indicador do consumidor e a empresa W usa apenas análise da

rentabilidade do cliente, mas baseada apenas no faturamento obtido. O maior

faturamento não necessariamente quer dizer maior lucro apurado. Isso reforça a tese que

o excesso de poder do cliente compromete o uso dos indicadores.

Um fato interessante relatado pela empresa Y foi que, cerca de um ano atrás, a

empresa teve um desentendimento com o seu maior cliente nacional (RJ), com o qual

tem um contrato de exclusividade. O desentendimento se deu justamente pelo fato da

empresa Y estar obrigada, por contrato, a vender apenas para esse cliente do Rio de

Janeiro. No final do conflito, a empresa Y saiu vencedora, demonstrando traços da

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conduta da escola ambiental, que formula estratégicas com base em reações ao ambiente

em que compete (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000).

Quadro 16 – Comparativo do uso dos indicadores CGE – CONTABILIDADE DO CONSUMIDOR

Práticas de CGE W Y

Analise da Rentabilidade do Cliente

Baseado apenas no faturamento obtido do cliente

Não utiliza o indicador

Analise da Rentabilidade do Cliente durante a vida

Não utiliza o indicador Não utiliza o indicador

Avaliação do Ativo do cliente Não utiliza o indicador Não utiliza o indicador Fonte: Dados da pesquisa

4.3.6 Comparativo do uso dos indicadores CGE – CONTABILIDADE DO

FORNECEDOR

Este indicador também apresenta uma informação relevante, o poder do

fornecedor é grande e determina o preço de venda conforme suas necessidades. Isso faz

com que a indústria seja refém dos fornecedores. “Y” tenta uma reação com uma

fazenda própria, mas sua demanda é maior que a produção da unidade agrícola.

Novamente “Y” demonstra traços da escola Ambiental (Quadro 17).

Quadro 17 – Comparativo do uso dos indicadores CGE – CONTABILIDADE DO FORNECEDOR

Práticas de CGE W Y

Poder de negociação dos fornecedores

Alto poder, determinação do preço de venda.

Alto poder, determinação do preço de venda. Possui uma fazenda

própria. Fonte: Dados da pesquisa

4.4 CONCLUSÃO DO CASO W E Y

Este segundo estudo preocupou-se em fazer uma análise mais profunda em duas

organizações a fim de verificar o funcionamento do CGE na prática, já que os

entrevistados afirmaram conhecer os indicadores e os revisar com certa frequência. O

que se notou foi que ambas as organizações não usam as práticas conforme o descrito na

teoria CGE (Quadro 18). As práticas são parcialmente utilizadas e muitas delas são

aplicadas no setor por parte dessas duas empresas. Faz-se necessário combinar os

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indicadores CGE com outras práticas, a fim de definir um grupo de indicadores que

atendam as necessidades dessa organização em sua plenitude.

Quadro 18 – Resumo da utilização dos indicadores por W e Y

Indicadores CGE Práticas de CGE W Y

Custo

Custeio dos atributos Revisado ao chegar de feiras de exposições

nacionais e internacionais.

Não usa o indicador, por ter apenas um produto.

Custeio do ciclo de vida Indicador pouco visitado. Não usa, não lança novos produtos.

Custeio da qualidade Possui produtos com padrão

de qualidade variado A qualidade é uma vantagem

competitiva

Custeio meta Regulado pelos clientes Regulado pelos clientes

Custeio da cadeia de valor Controlado com sistema de

integrado empresarial. Utiliza o custo padrão para

determinação

Planejamento, controle e medição

de desempenho

Benchmarking Deseja mimetizar

organização do Amapá, referencia nos EUA.

Não usa o indicador

Medição integrada do desempenho

Pesquisa de satisfação do cliente e colaborador; Avaliação de tempo de

tarefa.

Pesquisa se satisfação do cliente

Tomada de decisão estratégica

Precificação estratégica Avaliação do preço do

concorrente. Avaliação do preço do concorrente.

Custeio estratégico Não usa produto, sem

substituto. Não usa produto, sem substituto.

Avaliação e monitoramento da marca

Produto vendido é insumo para os clientes

Produto vendido é insumo para os clientes

Contabilidade do competidor

Avaliação dos Custos dos concorrentes

Depoimento de cliente e fornecedores comuns

É feita com base nos depoimentos dos clientes.

Monitoramento da posição competitiva

Usa o market share, recebido pelo Ministério da

agricultura.

É feita pelo cliente do Rio de janeiro que faz pesquisa de mercado.

Avaliação do desempenho do concorrente

Visitas a feira e exposições nacionais e internacionais

É feita com base em visitas a outras empresas não concorrentes (clientes

ou não).

Contabilidade do consumidor

Analise da Rentabilidade do Cliente

Baseado apenas no faturamento obtido do

cliente Não utiliza o indicador

Analise da Rentabilidade do Cliente durante a vida

Não utiliza o indicador Não utiliza o indicador

Avaliação do Ativo do cliente

Não utiliza o indicador Não utiliza o indicador

Contabilidade do fornecedor

Poder de negociação dos fornecedores

Alto poder, determinação do preço de venda.

Alto poder, determinação do preço de venda. Possui uma fazenda própria.

Fonte: Dados da pesquisa

Os fornecedores são regionais, isso aumenta os postos de trabalho local, mas os

clientes são de outros estados, este fato deveria ser saudável para o Estado, pois enviaria

produto e receberia divisas, mas, na prática, não o é por dois motivos: primeiro, o açaí é

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isento de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS (decreto

288/95), imposto estadual e desta forma o Estado não se beneficia do imposto que

poderia ser gerado pela venda deste produto para outro estado da federação ou outro

país do mundo; segundo, o produto é novamente beneficiado em outros lugares fora do

Pará, não criando postos de trabalho para os paraenses e não fortalecendo para o

mercado externo a marca paraense.

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5 CONCLUSÃO

O estudo se pautou em identificar e analisar as práticas contábeis presentes nas

empresas do setor de polpas de frutas à luz dos pressupostos teóricos da Contabilidade

Gerencial Estratégica. Estudos ligados à teoria CGE tem revelado o baixo uso dos

indicadores no Brasil e no mundo. Este fato se repete no Estado do Pará. Todos os

indicadores revelaram que os indicadores são revisados em média anualmente, o que

pode ser considerado baixo uso, levando em conta que um exercício social é formado

por doze meses (um ano).

Após o corte, o grupo de empresa que atuam neste setor ficou reduzido a 16,

dentre essas 7 foram alvo de um estudo inicial e 2 de um estudo mais profundo. O perfil

das empresas é relativamente jovem, dentre as 7, 5 tem de 4 a 9 anos de existência.

Apenas uma tem menos de 4 anos e uma outra tem mais de 10 anos. O porte da empresa

segundo o IBGE ficou assim distribuído: 5 eram microempresas, uma era média e uma

era pequena; todas processam o açaí, 5 delas cupuaçu; 4 acerola e 3 abacaxi. O açaí é o

produto mais exportado. Quanto aos entrevistados, três tinham curso superior, um deles

incompleto, outro com especialização e o terceiro era mestre.

Verificou-se também que a frequência e os indicadores, em média, são revisados

anualmente o que confirma a baixa utilização deles.

Foram selecionadas 2 empresas dentre as 7, onde foi possível fazer uma análise

mais detalhada sobre a forma como os indicadores são utilizados pelas empresas.

A primeira empresa chamada aqui de “W” tem 7 certificações internacionais e

processa vários frutos como Açaí, Acerola, Bacuri, Cacau, Camu-camu, Caju, Cupuaçu,

Graviola, Goiaba, Limão, Maracujá, Manga, Muruci, Taperabá e Uxi. Um total de 50%

da sua produção é destinada ao mercado internacional. Ela tem o hábito de frequentar

feiras, mas não lança novos produtos há muito tempo, tem um sistema de informação

que os ajuda a usar os indicadores. Faz uso de informações do Ministério da Agricultura

que garante que eles são líderes de venda no estado. Não houve confirmação da

utilização do custeio baseado em atividades muito menos do Balanced Score Card, mas

eles criaram uns indicadores de qualidade, como tempo de processamento, que eles

sempre procuram reduzir.

A empresa “Y” foi constituída por dois “atravessadores” (termo utilizado pelo

entrevistado para definir pessoa que compra o fruto e revende para a indústria) que

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resolveram virar industriais, tem um grande controle de custos de uma postura que

advém da escola ambiental, são reativos, tinham um contrato de fidelidade com o

cliente do Rio de Janeiro que foi quebrado por pressão do industrial. Também trabalha

no mercado externo e tem 3 certificações internacionais. Não faz uso de indicadores

CGE de contabilidade do consumidor.

Ambas as empresas sofrem pressão das forças competitivas, em especial o poder

dos clientes que conhecem o preço do produtor e o processamento do fruto (17 kg de

açaí gera 9 litros de polpa). Com essas informações eles barganham preço de tal forma

que a indústria não tem poder para dar o preço de venda do seu produto, apenas aceita

ou rejeita a proposta.

Outro ponto que compromete o segmento é o fato de a marca das empresas “W”

e “Y” não ser conhecida do público, pois os clientes compram a polpa dos paraenses e a

submetem a um novo processamento que receberá a marca do cliente. Este fato diminui

a competitividade da indústria, fazendo com que a marca dessas empresas não se

solidifique no mercado.

Ainda sobre o setor, um fator macro econômico compromete a evolução deste

mercado, o produto Açaí é isento de ICMS (tributo estadual), logo o governo não

arrecada nada com essas operações, talvez por isso não promova melhor o segmento.

Segundo o Alice web, o Pará é o maior exportador de frutos do norte, mas poderia ser

do Brasil se fosse incentivado pelo governo, que justifica não o fazer por falta de

arrecadação. Seria interessante revogar essa lei, desde que as empresas se beneficiem,

com crédito barato e vias de escoamento de produção bem como outros benefícios

estruturais.

A união em forma de cooperação das agroindústrias paraenses pode reverter o

quadro, seja pela criação de uma joinventure que explore o mercado externo com

produto destinado ao consumidor final, seja procurando mudar a isenção do açaí, com a

promessa do governo em reverter parte das verbas para o incremento do setor, como

vias de escoamento de produção e financiamentos de fácil acesso com baixas taxas de

juros para este tipo de segmento.

Este trabalho teve algumas limitações, a principal delas foi ter entrevistado

apenas 7 das 16 empresas (44% do universo). Conflitos de agenda entre os estrategistas

e o pesquisador dificultaram o trabalho, forçando o mesmo a ser não probabilístico. Este

tipo de amostra não permite a generalização dos dados do trabalho.

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Fica a sugestão para novos trabalhos, um estudo envolvendo mais empresas

(pelo menos 14) para garantir a probabilidade da amostra, e determinando os

indicadores usados nesse segmento de negócio, visando verificar se a adoção das

práticas CGE nas organizações garantem vantagem competitiva. Neste novo estudo

seria interessante a combinação da CGE com outra teoria como APL (arranjo produtivo

local) a fim de criar um novo debate sobre os indicadores contábeis estratégicos

agroindustriais – ICEA.

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ANEXOS

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QUESTIONÁRIO I - PESQUISA SOBRE O PENSAMENTO ESTRATÉGICO

NAS AGROINDÚSTRIAS PARAENSES

DEPOIMENTO

1. Antes de começar o questionário você pode, por favor, relatar a origem e

evolução da sua organização? Não irei interrompê-lo até você me informar que

terminou. Leve o tempo que precisar, eu vou lhe aguardar.

2. Do ponto de vista ambiental, que tipo de preocupação a empresa possui ou se

não possui quais suas razões para tal fato?

CUSTO

3. Custeio dos atributos: Como você identifica o custo para tornar o produto

atraente para o cliente?

(como os gastos operacionais de produção; a confiabilidade do produto,

garantias da qualidade do produto; o refinamento do acabamento do produto;

entrega e serviços de pós-venda).

4. Custeio do ciclo de vida: como você evidencia o esforço entre a concepção e o

descarte do produto?

(O cálculo compreende a soma de todos os gastos de idealização,

nascimento, amadurecimento, declínio e descarte de um produto ou serviço).

5. Custeio da qualidade: Como você levanta os gastos com prevenção de defeitos

do produto?

(Abrange prevenção, avaliação, falha interna e custos da falha externa.

Os relatórios visam atentar o gestor para os custos gerados pela não qualidade

dos produtos, assim o gestor pode avaliar melhor o quanto pretende investir em

qualidade para redução dos custos pela sua ausência).

6. Custo meta: como você identifica o preço dos concorrentes, a partir daí estimar

o seu lucro e preço de venda?

7. Custeio da cadeia de valor: como você avalia os custos do produto?

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(desde a compra da matéria prima, produção, comercialização e

distribuição dos produtos).

PLANEJAMENTO.

8. Benchmarking: como você faz para comparar sua organização com o padrão de

mercado (imitação do concorrente)?

9. Medição integrada do desempenho: quais os indicadores não financeiros que

a empresa utiliza como parâmetro para medir seu desempenho? (como satisfação

do cliente, fatores internos que já importante para gerar valor ao cliente).

TOMADA DE DECISÃO ESTRATÉGICA .

10. Custeio estratégico: como você usa as informações estratégicas e de marketing

para desenvolver ou identificar vantagem competitiva? (diferencial de mercado).

11. Precificação estratégica: quais indicadores você precisa para ajudar a definir o

preço de venda? Como você os usa? (como por exemplo, preço do concorrente,

elasticidade do mercado, crescimento, economias de escala e experiência de

mercado).

12. Avaliação e monitoramento da marca: como você calcula o valor da sua

marca? (como liderança de mercado, estabilidade, atuação em mercados

internacionais, lucros históricos, valor de venda da empresa).

CONTABILIDADE DO COMPETIDOR.

13. Avaliação dos custos dos concorrentes: como você descobre o preço de custo

unitário do seu concorrente?

14. Monitoramento da posição competitiva: como você detecta sua posição no

mercado? (participação de mercado, custos unitários, retorno sobre as vendas).

15. Avaliação do desempenho do concorrente: como você detecta as vantagens

competitivas do seu concorrente?

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CONTABILIDADE DO CONSUMIDOR .

16. Análise da rentabilidade do cliente: como você avalia o lucro obtido de cada

cliente?

17. Análise da rentabilidade do cliente durante a vida: como avalia o potencial

de lucro que o cliente pode trazer a organização e compara com os custos para

mantê-lo?

18. Avaliação do ativo do cliente: como você analisa a importância presente do

cliente para a empresa?

CONTABILIDADE DO FORNECEDOR

19. Análise do perfil do fornecedor: como você analisa o perfil do fornecedor antes

de fechar negócio?

20. Análise do produto do fornecedor: como você avalia a qualidade da matéria prima comprada ou do serviço prestado?

21. Análise ambiental: você tem alguma preocupação ambiental antes de fechar negócio com um fornecedor?

OUTROS DADOS

22. Nome do entrevistado:_______________________________ 23. Cargo na empresa: __________________________________ 24. Tempo na empresa: _________________________________ 25. E-mail: ___________________________________________

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QUESTIONÁRIO II - PESQUISA SOBRE O PENSAMENTO ESTRATÉGICO NAS AGROINDÚSTRIAS PARAENSES

Nesse bloco de perguntas, gostaríamos de algumas informações sobre você a sua empresa.

Que produtos você industrializa?

Açaí Acerola Abacaxi Cupuaçu Bacuri Laranja Outra, especifique

Qual o seu gênero?

Masculino Feminino

Qual sua idade?

Até 25 anos 26 - 35 anos 36 - 45 anos 46 - 55 anos Mais de 55 anos

Qual a sua escolaridade?

� Ensino fundamental incompleto � Ensino fundamental completo � Ensino médio incompleto � Ensino médio completo

Ensino superior incompleto � Ensino superior completo � Especialista � Mestre

Quantas unidades o seu negócio possui?

� 1 Unidade. � 2 Unidades.

De 3 a 5 Unidades. � Mais de 5 Unidades.

Quantos funcionários a sua empresa possui?

� De 0 a 9 � De 10 a 19

De 20 a 49 � De 50 a 99 � De 100 a 499 � Mais de 500

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Sua empresa possui quanto tempo de mercado?

� Menos de 1 ano � Entre 1 e 3 anos

Entre 4 e 9 anos � Mais de 10 anos

Sua empresa está inserida em que regime de tributos?

N ã o S e i S i m p l e s N a c i o n a l L u c r o P r e s u m i d o L u c r o A r b i t r a d o L u c r o R e a

� 1 2 � 3 � 4 �

Por favor, indique a periodicidade que você revisa os custos para tornar seu produto atraente para o cliente, como produção, garantias, controle e qualidade, acabamento, embalagens.

Nunca os reviso A n u a l m e n t e Semestralmente Trimestralmente Mensa l mente Quinzenalmente Semanalmente D i a r i a me n t

� 1 � 2 � 3 4 � 5 � 6 � 7 �

Caso você tenha respondido nunca os revise, por favor informe suas razões para isso.

Page 2 - Question 30 - Rating Scale - One Answer (Horizontal) [Mandatory]

Por favor indique a frequência que você verificar os custos de criação de um novo produto, manutenção e descarte de um novo produto.

Nunca os reviso A n u a l m e n t e Semestralmente Trimestralmente Mensa l mente Quinzenalmente Semanalmente D i a r i a me n t

� 1 � 2 � 3 � 4 � 5 � 6 � 7 �

Page 2 - Question 31 - Open Ended - Comments Box

Caso você tenha respondido nunca os reviso, por favor informe suas razões para isso.

Page 2 - Question 32 - Rating Scale - One Answer (Horizontal) [Mandatory]

Por favor indique a frequência que você faz revisa os custos de prevenção de defeitos no seu produto.

Nunca os reviso A n u a l m e n t e Semestralmente Trimestralmente Mensa l mente Quinzenalmente Semanalmente D i a r i a me n t

� 1 � 2 � 3 � 4 � 5 � 6 � 7 �

Page 2 - Question 29 - Open Ended - Comments Box

Caso você tenha respondido nunca os revise. Por favor, informe suas razões para isso.

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Page 2 - Question 33 - Rating Scale - One Answer (Horizontal) [Mandatory]

Por favor indique a frequência que você revisa os custos de criação de um novo produto, manutenção e descarte de um novo produto.

Nunca os reviso A n u a l m e n t e Semestralmente Trimestralmente Mensa l mente Quinzenalmente Semanalmente D i a r i a me n t

� 1 � 2 � 3 � 4 � 5 � 6 � 7 �

Page 2 - Question 29 - Open Ended - Comments Box

Caso você tenha respondido nunca os revise, por favor informe suas razões para isso

Por favor, indique a frequência em que você revisa os custos dos seus concorrentes para criar sua meta de custos de fabricação do seu produto.

Nunca os reviso A n u a l m e n t e Semestralmente Trimestralmente Mensa l mente Quinzenalmente Semanalmente D i a r i a me n t

� 1 � 2 � 3 � 4 � 5 � 6 � 7 �Caso você tenha respondido “nunca” os revise, por favor informe suas razões para isso.

Por favor, indique a frequência que você revisa os custos do produto, desde a compra da matéria prima, até os custos de comercialização.

Nunca os reviso A n u a l m e n t e Semestralmente Trimestralmente Mensa l mente Quinzenalmente Semanalmente D i a r i a me n t

� 1 � 2 � 3 � 4 � 5 � 6 � 7 �Caso você tenha respondido nunca os revise, por favor informe suas razões para isso

Qual a frequência em que você revisa a sua comparação da sua empresa com a líder de mercado?

Nunca os reviso A n u a l m e n t e Semestralmente Trimestralmente Mensa l mente Quinzenalmente Semanalmente D i a r i a me n t

� 1 � 2 � 3 � 4 � 5 � 6 � 7 �

Caso você tenha respondido nunca os revise, por favor informe suas razões para isso

Qual a frequência em que você revisa as informações que lhe ajudam a definir o melhor preço de venda para os seus produtos?

Nunca os reviso A n u a l m e n t e Semestralmente Trimestralmente Mensa l mente Quinzenalmente Semanalmente D i a r i a me n t

� 1 � 2 � 3 � 4 � 5 � 6 � 7 �

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Caso você tenha respondido nunca os revise, por favor informe suas razões para isso

Qual a frequência que você revisa as informações de marketing, a fim de desenvolver uma vantagem exclusiva da sua empresa?

Nunca os reviso A n u a l m e n t e Semestralmente Trimestralmente Mensa l mente Quinzenalmente Semanalmente D i a r i a me n t

� 1 � 2 � 3 � 4 � 5 � 6 � 7 �Caso você tenha respondido nunca os revise, por favor informe suas razões para isso

Qual a frequência em que você revisa as informações que lhe ajudem a definir o preço de venda dos seus produtos?

Nunca os reviso A n u a l m e n t e Semestralmente Trimestralmente Mensa l mente Quinzenalmente Semanalmente D i a r i a me n t

� 1 � 2 � 3 � 4 � 5 � 6 � 7 �Caso você tenha respondido nunca os revise, por favor informe suas razões para isso

Qual a frequência que você revisa o preço que o mercado pagaria para usar a sua marca?

Nunca os reviso A n u a l m e n t e Semestralmente Trimestralmente Mensa l mente Quinzenalmente Semanalmente D i a r i a me n t

� 1 � 2 � 3 � 4 � 5 � 6 � 7 �

Caso você tenha respondido nunca os revise, por favor informe suas razões para isso

Qual a frequência em que você revisa o custo unitário dos seus concorrentes?

Nunca os reviso A n u a l m e n t e Semestralmente Trimestralmente Mensa l mente Quinzenalmente Semanalmente D i a r i a me n t

� 1 � 2 � 3 � 4 � 5 � 6 � 7 �Caso você tenha respondido nunca os revise, por favor informe suas razões para isso

Qual a frequência em que você revisa qual a sua posição do ranking de empresas do seu ramo?

Nunca os reviso A n u a l m e n t e Semestralmente Trimestralmente Mensa l mente Quinzenalmente Semanalmente D i a r i a me n t

� 1 � 2 � 3 � 4 � 5 � 6 � 7 �

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Caso você tenha respondido nunca os revise, por favor informe suas razões para isso

Qual a frequência em que você revisa as vantagens que seu concorrente possui?

Nunca os reviso A n u a l m e n t e Semestralmente Trimestralmente Mensa l mente Quinzenalmente Semanalmente D i a r i a me n t

� 1 � 2 � 3 � 4 � 5 � 6 � 7 �Caso você tenha respondido nunca os revise, por favor informe suas razões para isso

Qual a frequência que você revisa o lucro que cada cliente lhe proporciona?

Nunca os reviso A n u a l m e n t e Semestralmente Trimestralmente Mensa l mente Quinzenalmente Semanalmente D i a r i a me n t

� 1 � 2 � 3 � 4 � 5 � 6 � 7 �Qual a frequência que você revisa os o potencial de lucro que um cliente pode lhe trazer no futuro?

Nunca os reviso A n u a l m e n t e Semestralmente Trimestralmente Mensa l mente Quinzenalmente Semanalmente D i a r i a me n t

� 1 � 2 � 3 � 4 � 5 � 6 � 7 �Caso você tenha respondido nunca os revise, por favor informe suas razões para isso

Qual a frequência em que você revisa a importância que cada cliente representa para a empresa?

Nunca os reviso A n u a l m e n t e Semestralmente Trimestralmente Mensa l mente Quinzenalmente Semanalmente D i a r i a me n t

� 1 � 2 � 3 � 4 � 5 � 6 � 7 �Caso você tenha respondido nunca os revise, por favor informe suas razões para isso

Caso que tenha interesse em receber mais informações sobre a pesquisa, por favor preencha os seus dados

� Nome � Organização � E-mail