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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA A IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO DO CATADOR NO PROCESSO PRODUTIVO DA INDÚSTRIA DA RECICLAGEM Por: Mário Mendes Ferreira Orientador Profª Maria Esther de Araújo Oliveira Rio de Janeiro 2011

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · atividade para o meio ambiente. A partir da origem deste processo, que a catação é executada por catadores, seguida

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO DO CATADOR NO

PROCESSO PRODUTIVO DA INDÚSTRIA DA RECICLAGEM

Por: Mário Mendes Ferreira

Orientador

Profª Maria Esther de Araújo Oliveira

Rio de Janeiro

2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO DO CATADOR NO

PROCESSO PRODUTIVO DA INDÚSTRIA DA RECICLAGEM

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Educação Ambiental .

Por: . Mario Mendes Ferreira.

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AGRADECIMENTOS

A Deus e a toda a minha família pelo

suporte e o incentivo que me foram

dados no decorrer de todo o meu curso

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todos os meus

professores do Instituto ’A VEZ DO

MESTRE’ e aos meus companheiros de

classe que me apoiaram durante todo o

curso.

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EPÍGRAFE

Vi ontem um bicho

Na imundície do pátio

Catando comida entre detritos

Quando achava alguma coisa

Não examinava nem cheirava:

Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,

Não era um gato,

Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

“O bicho Homem” Manoel Bandeira

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RESUMO

Feito uma análise da participação do catador no processo produtivo da

reciclagem, notamos existir de ponta a ponta um empecilho para que o

processo se torne de fato ideal e produtivo. É o problema da falta de

conhecimento dos materiais com que se trabalham todos os dias seguidos da

falte de equipamentos necessários ao seu exaustivo trabalho.

Vimos como solução viável capacitar os catadores com cursos de

formação especializada com etapas teóricas e práticas nos quais o catador

tenha condições de coletar, separar, classificar, preparar e encaminhar para a

indústria um material mais nobre sem contaminantes para que seja todo

aproveitado no processo produtivo sem nenhum custo adicional e o material

entregue seja de primeira qualidade.

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METODOLOGIA

A metodologia empregada para realização deste trabalho foi composta

por elementos importantes relacionados a seu tema, que foram as pesquisas

bibliográficas e documental, questionários aplicados a um grupo de catadores,

dados do Movimento Nacional dos Catadores, algumas Leis e Decretos

Federais, experiências locais vividas, visitas a outras cooperativas do ramo de

reciclagem.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 09

CAPÍTULO I - A ORIGEM E A HISTÓRIA DO CATADOR 11

CAPÍTULO II - O LIXO QUE NÃO É LIXO 18

CAPÍTULO III – COLETA SELETIVA 25

CAPÍTULO IV- HISTÓRICO DA COLETA SELETIVA 30

CAPÍTULO V- A INDÚSTRIA DA RECICLAGEM 38

CONCLUSÃO 42

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 43

ÍNDICE 45

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INTRODUÇÃO

A escolha do tema ‘’ A importância da participação do catador no

processo produtivo da indústria da reciclagem ‘’ se deu pela importância desta

atividade para o meio ambiente. A partir da origem deste processo, que a

catação é executada por catadores, seguida pela separação, classificação e

posterior preparo destes materiais compondo desta forma o início da

reciclagem . Mas para que este processo seja melhor conduzido e aproveitado

se faz necessário que o catador saiba identificar os materiais que ele cata, o

que se dará através de cursos de capacitação e que existam equipamentos

para o preparo destes materiais melhorando assim o processo produtivo da

reciclagem.

A possibilidade de melhoria profissional dos catadores se daria

através de processos educativos e formação especializada o que também

agregaria valor aos trabalhos desenvolvidos pelos catadores contribuindo para

a eliminação do maior e mais cruel inimigo da categoria que é o atravessador

que vive da exploração do trabalho alheio pagando o que quer por todo o

material resultado de uma jornada de trabalho com mais de dez horas diárias.

Através dos conhecimentos adquiridos nos cursos de capacitação,

o catador estaria mais bem informado sobre como e de que forma deve ser

coletado, separado, classificado e enfardado seus materiais corretamente

fazendo jus às exigências do mercado da reciclagem. O material enviado a

indústria deve estar isento de impurezas e contaminações o que é muito

valorizado no processo produtivo.

A melhoria da qualidade dos insumos para a indústria da reciclagem

quando feita logo na origem também favoreceriam as condições dos catadores

que teriam um novo horizonte criando oportunidades de se organizarem em

cooperativas ou associações e seguirem trabalhando de forma organizada.

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Para melhor compreensão deste trabalho ele foi dividido em cinco

capítulos com esclarecimento e informações que muitas vezes são

desconhecidas pelos próprios atores envolvidos neste complexo mundo da

reciclagem. No capítulo 1 mostra-se a origem e a história do catador. No

capítulo 2 nos posiciona sobre o que é lixo, tecnicamente chamado de resíduo

sólido urbano. O capítulo 3 aborda-se a Coleta Seletiva, fator primordial para a

reciclagem. Já no capítulo 4 temos a própria reciclagem com sua origem e

história. Finalmente no capítulo 5 chegamos a indústria da reciclagem que

movimenta bilhões de reais por ano e que sua principal fonte de matéria prima

advém dos catadores, cooperativas e associações, graças a mão que cata no

pós-consumo.

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CAPÍTULO I

A ORIGEM E A HISTÓRIA DO CATADOR

A origem e a história do catador não são elementos novos, pois já na

Roma Antiga existiam catadores que coletavam na cloaca ( fossa ou cano

destinado a receber dejeições e imundícies como urina, fezes e demais

resíduos ). Eram chamados de canicolae. Buscavam alguma coisa que

possuísse valor e ainda pudessem ser vendidas, bem como excrementos para

serem vendidos como adubo para a agricultura, também recolhidos nos

banheiros públicos. O local de trabalho dos catadores eram basicamente nas

desembocaduras da cloaca à qual tinha conforme a mitologia a proteção da

deusa Cloacina.

Segundo Juncá (2001), em 1857 um poema chamado ‘’ O vinho dos

trapeiros ’’ de Charles Baudelaire já fazia referência a atividadde do catador.

No Brasil na época do pós-guerra a partir de 1946 este trabalho era feito por

emigrantes portugueses e espanhóis que eram chamados de ‘’ Garrafeiros ‘’.

Com o tempo foram surgindo outros nomes atribuídos a estes trabalhadores

tais como : burro-sem-rabo , sucateiro, carroceiro, trecheiro , carrinheiro e

catadores propriamente dito , os quais variavam de acordo com as regiões no

Brasil.

Com a criação do Movimento Nacional dos Catadores em 1999 e em

consequência do Primeiro Congresso Nacional dos Catadores no ano de 2001

em Brasília começam a surgir novas denominações para a categoria catador e

passaram a se chamar de ‘’ Agente Ambiental ‘’ ou ‘’Agente de Coleta

Seletiva” porém os estigmas, repulsas e a discriminação em relação as

pessoas que lidam com lixo e com dejetos continuam do mesmo jeito até hoje

em relação ao passado em que estas funções eram desenvolvidas por

condenados, ajudante de carrasco, prisioneiros, prostitutas e mendigos que

faziam os serviços de limpeza as camadas inferiores socialmente.

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1.1– Os tipos de catadores e o seu trabalho

Basicamente no Brasil existem três tipos de catadores .

Os catadores históricos que na época do pós-guerra (1946) eram conhecidos

como garrafeiros e possuíam suas carroças de ‘’ tração animal ’’ que hoje se

chama catador individual, ou de rua que cata para si e prefere trabalhar

independente , puxam seus carrinhos ‘’ tração humana ‘’. quando os possui e

quando não alugam dos ferros-velho , sucateiros com o compromisso de ao

final do dia entregar todo o seu material coletado.

A rotina diária do catador é exaustiva e realizada em condições

precárias conforme afirma Magera ( 2003, p.34): Muitas vezes ultrapassa doze

horas diárias ininterruptas, um trabalho exaustivo, visto as condições a que

estes indivíduos se submetem , com seus carrinhos puxados por ‘’ tração

humana ‘’ carregando mais de 200 quilos de lixo ( cerca de 4 toneladas por

mês ), e percorrendo mais de 20 km por dia, sendo no final muitas vezes

explorados pelos donos dos depósitos de lixo ( sucateiros) que, num gesto de

paternalismo, trocam os resíduos coletadas do dia por bebidas alcoólicas ou

pagam-lhe um valor simbólico insuficiente para sua própria reprodução como

catador de lixo.

Os catadores de lixões que catam diuturnamente sob condições degradantes

a própria vida humana, onde pessoas de todas as idades e sexo se misturam

não somente a todos os tipos de resíduos inclusive os hospitalares bem como

os animais , como porcos, urubus, ratos dentre outros e que dali tiram o

sustento para si e seus familiares e quando sentem fome utilizam-se de

alimentos ali encontrados. Estes catadores se encontram diretamente sobre

rédeas dos depósitos que lhes oferece a lona ( big-bag ) e a barrica para que

realizem a catação e também são devidamente identificados através de coletes

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também fornecidos pelos depósitos ( atravessador ) . Neste local existe um

certo monopólio cruel e mafioso pois, quem cata papelão é obrigado a vender

para o depósito de papelão, quem cata plástico só vende para o depósito de

plástico assim por diante sendo terminantemente proibido vender qualquer tipo

de material para fora do lixão.

Mesmo estes trabalhadores vivendo e trabalhando sob pressões e

condições adversas ainda assim existem duas datas que os lembram mesmo

que só pela categoria . Uma data é a do ‘’ Dia Nacional do Catador ‘’ instituído

pelo Movimento Nacional - Dia 07 de junho. E a outra que se dá em toda a

América Latina que é o ‘’ Dia Mundial do Catador’’ – Dia 01 de março que se

dá em memória a 10 catadores brutalmente assassinados na Colômbia dentro

da Universidade livre de Barranquilla , onde foram chamados sob a farsa de

coletarem material para reciclagem, e uma vez lá dentro foram espancados até

a morte com paus e tiros para venderem seus corpos para pesquisa e tráfico

de órgãos . Este relato só foi capaz de ser conhecido por que houve uma

sobrevivente que fingiu estar morta e fugiu.

Os catadores organizados em cooperativas ou associações que são

grupos auto-gestores onde todos são donos do empreendimento legalizado ou

em fase de legalização, e neste sistema de organização também existe o

sistema de rateio entre os cooperados/associados.

O grupo possui prensa, balança eletrônica, carrinhos, carro palet,

empilhadeira, esteiras ou mesas para triagem e os demais equipamentos para

o melhor desempenho do trabalho e valorização dos materiais,

conseqüentemente aumentando a renda dos cooperados/associados.

1.2 – As primeiras organizações no Brasil

Estas organizações surgiram nos estados de Minas Gerais e São Paulo.

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Em Belo Horizonte a Associação dos Catadores de papel, papelão e

material re-aproveitável (ASMARE – BH) teve seu inicio em 1987 com apoio da

Fraternidade das Oblatas de São Bento, vindo só em 1990 a ser constituída

formalmente com apoio realizado pela Pastoral de Rua da Arquidiocese de

Belo Horizonte que deu inicio ao processo de organização dos catadores do

Estado.

A cooperativa dos catadores autônomos de papel aparas e materiais

re-aproveitáveis (Coopamare – SP) foi formada em 1989 com 20 catadores

embaixo do viaduto Paulo VI em Pinheiros, local cedido pela prefeitura.

1.3 – O surgimento do Movimento Nacional dos Catadores de

Materiais Recicláveis (MNCMR)

O MMCR é um movimento social que vem organizando os catadores por

todo o Brasil, buscando a valorização da categoria bem como lutar por políticas

publicas que se apliquem a classe.

Criado em 1999, com sua participação oficial que se deu em 2001 no 1º

Congresso de Catadores em Brasília, com aproximadamente 1700 catadores

onde também ocorreu a 1ª Marcha da população de rua ( Magera, 2003,

p.105).

A partir daí algumas conquistas e iniciativas em nível federal

aconteceram:

2002 – Classificação Brasileira de Ocupações – CBO/5192: institui o

reconhecimento da atividade de catador como ocupação legal.

2003 – Criação do Comitê Interministerial para inclusão dos catadores,

integrado por 11 Ministérios, bancos públicos e Movimento Nacional dos

Catadores de Recicláveis.

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2003 – Criação da Campanha Selo Amigo dos catadores de materiais

recicláveis.

2004 – Implementação da coleta seletiva solidária na Esplanada dos

Ministérios.

2005 – Elaboração da “analise do custo de geração de postos de trabalho na

economia urbana para o segmento dos catadores de materiais recicláveis”,

com participação do Movimento Nacional, referência para a criação de linha de

investimento para estruturação de cooperativas de catadores.

2006 – Decreto Nº 5940 da Presidência da Republica; determina que os

órgãos públicos federais, em todo o Brasil (217 órgãos, 10 mil prédios, 1.400

municípios) implementem a coleta seletiva e destinem os resíduos às

cooperativas (uma das maiores conquistas da classe).

2007 – Instituição da Política Nacional de Saneamento, Lei nº 11.445/07.

2007/2008 – Apoio a projetos de fortalecimento das organizações de catadores

pela Petrobrás, FUNASA, BNDES, Ministério do Desenvolvimento Social,

Ministério do Meio Ambiente, Caixa Econômica Federa e Banco do Brasil.

2010 – A Lei 12.305 de 02 de Agosto de 2010, no seu capitulo II, Seção III, Art.

17, inciso V, prevê metas para eliminação e recuperação de lixões, associados

à inclusão social e a emancipação econômica dos catadores de materiais

reutilizáveis e recicláveis.

2010 – Decreto nº 7045 de 23 de Dezembro de 2010 institui o programa pró-

catador, com finalidade de integrar e articular ações do governo federal

voltadas ao apoio e ao fomento às organizações produtivas dos catadores de

materiais reutilizáveis e recicláveis.

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1.4 – O reconhecimento da atividade de catador

A Classificação Brasileira de Ocupações editada pelo Ministério do

Trabalho no ano de 2002 segundo o código 5192 com o título - Trabalhadores

da coleta e seleção de material reciclável atribui os seguintes títulos

específicos a categoria:

5192-05 – Catador de material reciclável: catador de ferro-velho; catador de

sucata; enfardador de sucatas (cooperativas).

5192-10 – Selecionador de material reciclável: separador de material

reciclável, separador de sucata, triador de material reciclável, triador de sucata.

5192-15 – Operador de prensa de material reciclável: enfardador de

material de sucata (cooperativas), prenseiro, prensista.

1.5 – A necessidade de capacitação do catador

O significado da palavra capacitar, que consta no dicionário Aurélio, é

tornar capaz, habilitar. Para fins específicos de capacitação de catadores,

vamos classificá-la em dois tipos; a teórica e a prática.

A capacitação teórica tem sua importância maior para catadores que já

estejam em estágio avançado de organização, por tratar de temas relativos ao

cooperativismo, associativismo, empreendedorismo, impactos ambientais,

ecologia, responsabilidade social e outros temas com tendências

organizacionais.

A capacitação prática encontra-se focada na atividade final do trabalho

dos catadores, ponto crucial para o desenvolvimento profissional desses atores

pois é onde se aprende a trabalhar e naturalmente, agrega-se valor aos

materiais trabalhados, aumentando suas rendas.

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Nesta fase, inclui-se a coleta seletiva, cadeia produtiva da reciclagem e

triagem de materiais, que é um item de grande importância para os catadores

e suas organizações por ser a base de um conhecimento que alavanca todos

os processos de reciclagem.

Na triagem, o aprendiz tem a possibilidade de entrar em contato direto

com os materiais e aprender técnicas de identificação e classificação dos

materiais, a saber:

• Separar papel branco de papéis misto;

• Separar papelão kapa do papelão misto;

• Apartar os jornais das revistas e folhetos lisos de publicidade e

propagandas;

• Classificar Pet normal do Pet óleo;

• Identificar os plásticos rígidos a partir da resina que foi fabricado,

separar o plástico filme;

• Separar os alumínios, latinhas e alumínio perfil;

• Identificar e separar o cobre, o metal e o ferro (se necessário utilizar a

técnica do ímã);

• Separar o vidro de acordo com as cores: o branco, a âmbar e os

coloridos (misto)

Mas infelizmente a maioria dos cursos de capacitação ministrados para

catadores foca mais na parte teórica dada em salas de aula do que na parte

prática, pois falta conhecimento aos próprios instrutores que, na grande

maioria, estão visando somente o valor do projeto em que estão inseridos e

que não leva aprendiz nenhum a uma esteira ou mesa de triagem de materiais.

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CAPÍTULO II

O LIXO QUE NÃO É LIXO

Com o desenvolvimento econômico em crescente ascensão e o número

de produtos ofertados pela mídia a toda hora o ser humano se encontra num

ciclo de compra e descarte muito veloz, imperando nitidamente a cultura do

descartável em todo mundo sem distinção de sexo ou idade. Todas as

pessoas estão fazendo parte deste ciclo. Este material descartado não tem

nenhuma serventia para estas pessoas e vão parar simplesmente no lixo e é

entendido como lixo para este grupo.

Já outros grupos de pessoas vêem este lixo como resíduo reciclável que

possui valor econômico e não podem ser desperdiçados ou jogados fora.

Monteiro defende que um bem ou parte dele pode significar um resíduo para

um grupo de indivíduos e, entretanto ser aproveitado por outro grupo social.

(Monteiro, 2001, p.50)

2.1- Os resíduos sólidos urbanos

Os resíduos sólidos urbanos nada mais são que a soma de todos os

resíduos descartados da nossa casa, do comércio, dos serviços públicos ou de

varrição, dos serviços de saúde, da agricultura, das indústrias, os entulhos e os

resíduos produzidos em portos, aeroportos e terminais rodoviários.

Dentre eles existem as responsabilidades de coleta e destinação final ou

é do Poder Público Municipal ou do próprio gerador, variando de município

para município conforme legislação local.

A Lei 12305 de Agosto de 2010 que institui a Política Nacional de

Resíduos Sólidos em seu capítulo II, Artigo 3º, Inciso XVI define:

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XVI- Resíduos sólidos: material, substância , objeto ou bem descartado

resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se

procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados

sólido ou semi-solvido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos

cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de

esgoto ou em corpos d’água, ou exijam para isto soluções técnica ou

economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível.

2.2- Classificação dos resíduos sólidos:

Como base na classificação dos resíduos deste trabalho será utilizada a

Norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas. Norma Brasileira Nº

10004 do ano 2004.

NBR-10004- Classificação de acordo com a origem:

• “Resíduo Hospitalar ou de Serviços de Saúde”: qualquer resto

proveniente de hospitais e serviços de saúde como pronto-socorro,

enfermarias, laboratórios de análises clínicas, farmácias, etc..

Geralmente é constituído de seringas, agulhas, curativos e outros

materiais que podem apresentar algum tipo de contaminação por

agentes patogênicos (causadores de doenças);

• “Resíduo Domiciliar”: são aqueles gerados nas residências e sua

composição é bastante variável sendo influenciada por fatores como

localização geográfica e renda familiar. Porém, nesse tipo de resíduo

podem ser encontrados restos de alimentos, resíduos sanitários (papel

higiênico, por exemplo), papel, plástico, vidro, etc. Atenção: alguns

produtos que utilizamos e descartamos em casa são considerados

perigosos e devem ter uma destinação diferente dos demais,

preferencialmente para locais destinados a resíduos perigosos. Por

exemplo: pilhas e baterias, cloro, água sanitária, desentupidor de pia,

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limpadores de vidro, fogão e removedor de manchas, aerossóis,

medicamentos vencidos, querosene, solventes, etc.

• “Resíduo Agrícola”: são aqueles gerados pelas atividades

agropecuárias (cultivos, criações de animais, beneficiamento,

processamento, etc.). Podem ser compostos por embalagens de

defensivos agrícolas, restos orgânicos (palhas, cascas, estrume,

animais mortos, bagaços, etc.), produtos veterinários e etc.

• “Resíduo Comercial”: são aqueles produzidos pelo comércio em

geral. A maior parte é constituída por materiais recicláveis como papel e

papelão, principalmente de embalagens, e plásticos, mas também

podem conter restos sanitários e orgânicos.

• “Resíduo Industrial”: são originados dos processos industriais.

Possuem composição bastante diversificada e uma grande quantidade

desses rejeitos é considerada perigosa. Podem ser constituídos por

escórias (impurezas resultantes da fundição do ferro), cinzas, lodos,

óleos, plásticos, papel, borrachas, etc.

• “Entulho”: resultante da construção civil e reformas. Quase 100%

destes resíduos podem ser reaproveitados embora isso não ocorra na

maioria das situações por falta de informação. Os entulhos são

compostos por: restos de demolição (madeiras, tijolos, cimento,

rebocos, metais, etc.), de obras e solos de escavações diversas.

• “Resíduo Público ou de Varrição“: é aquele recolhido nas vias

públicas, galerias, áreas de realização de feiras e outros locais públicos.

Sua composição é muito variada dependendo do local e da situação

onde é recolhido, mas podem conter: folhas de árvores, galhos e grama,

animais mortos, papel, plástico, restos de alimentos, etc.

• “Resíduos Sólidos Urbanos”: é o nome usado para denominar o

conjunto de todos os tipos de resíduos gerados nas cidades e coletados

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pelo serviço municipal (domiciliar, de varrição, comercial e, em alguns

casos, entulhos).

• “Resíduos de Portos, Aeroportos e Terminais Rodoviários e

Ferroviários”: o lixo coletado nesses locais é tratado como “resíduo

séptico”, pois pode conter agentes causadores de doenças trazidas de

outros países. Os resíduos que não apresentam esse risco de

contaminação podem ser tratados como lixo domiciliar.

• “Resíduo de Mineração”: podem ser constituídos de solo removido,

metais pesados, restos e lascas de pedras, etc.

De acordo com o TIPO:

• “Resíduo Reciclável”: papel, plástico, metal, alumínio, vidro, etc.

• “Resíduo Não Reciclável” ou “Rejeito”: resíduos que não são

recicláveis, ou resíduos recicláveis contaminados.

De acordo com a COMPOSICÃO QUÍMICA:

• Orgânicos: restos de alimentos, folhas, grama, animais mortos,

esterco, papel, madeira, etc.

• Inorgânicos: vidros, plásticos, borrachas, etc.

De acordo com a PERICULOSIDADE:

Essa classificação foi definida pela ABNT na norma NBR10004:2004 da

seguinte forma:

• Resíduos Perigosos (Classe I): são aqueles que por suas

características podem apresentar riscos para a sociedade ou para o

meio ambiente. São considerados perigosos também os que

apresentem uma das seguintes características: inflamabilidade,

corrosividade, reatividade, toxicidade e/ou patogenicidade. Na norma

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estão definidos os critérios que devem ser observados em ensaios de

laboratório para a determinação destes itens. Os resíduos que recebem

esta classificação requerem cuidados especiais de destinação.

• Resíduos Não Perigosos (Classe II): não apresentam nenhuma das

características acima, podem ainda ser classificados em dois subtipos:

Classe II A – não inertes: são aqueles que não se enquadram no item anterior,

Classe I, nem no próximo item, Classe II B. Geralmente apresenta alguma

dessas características: biodegradabilidade, combustibilidade e solubilidade em

água.

Classe II B – inertes: quando submetidos ao contato com água destilada ou

desionizada, à temperatura ambiente, não tiverem nenhum de seus

constituintes solubilizados a concentrações superiores aos padrões de

potabilidade da água, com exceção da cor, turbidez, dureza e sabor, conforme

anexo G da norma NBR10004:2004.

2.3- Geração dos resíduos

Todos os dias os resíduos sólidos são gerados em todas as partes do

mundo, partir das próprias pessoas que de acordo com a sua posição social e

econômica podem gerar de 1,0 quilo a 1,5 quilo de resíduos por dia. Não só

as pessoas, mas o comércio, a indústria, a agricultura, dentre outros setores

produtivos também têm a sua geração diária de resíduos. Neste contexto

existe a figura dos grandes geradores que são estabelecimentos que geram

mais de 200 litros diários e que têm que obrigatoriamente contratar coleta

particular.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos define os geradores como:

pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado, que geram resíduos

sólidos por meio de suas atividades, nelas incluindo o consumo (Capítulo II,

Definições, Artigo 3º, Inciso IX).

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2.4- A disposição Final

Segundo Machado e Casadei (2007) o surgimento do primeiro depósito

de lixo que se tem notícia foi criado em Atenas, na Grécia, por volta de 500

a.C.

A disposição final dos resíduos é basicamente classificada em três

tipos, em função de vários critérios em relação às condições ambientais,

procedimentos de disposição e infra-estrutura.

• Lixão: Forma inadequada de disposição final de resíduos que consiste

na descarga do material no solo sem qualquer técnica ou medida de

controle. Este acúmulo de lixo traz problemas como a proliferação de

vetores de doenças (ratos, baratas, moscas, mosquitos, etc. e que

podem transmitir leptospirose, toxoplasmose, diarréias, dengue, entre

outras), a geração de odores desagradáveis e a contaminação do solo e

das águas superficiais pelo chorume.

• Aterro controlado: Aterro que tem por finalidade dar destinação final

aos resíduos urbanos de forma mais adequada, reduzindo os impactos

ambientais, pois nele o lixo é compactado e coberto por uma camada de

terra.

• Aterro sanitário: Processo de disposição final de resíduos sólidos no

solo segundo critérios de engenharia e normas operacionais específicas

permitindo um confinamento seguro e evitando riscos à saúde pública e

ao meio ambiente. Os resíduos são dispostos em terrenos

impermeabilizados, compactados e recobertos em seguida. Devem

existir sistemas para o tratamento do chorume e para drenagem dos

gases formados pela decomposição do lixo depositado.

Ainda como disposição final temos:

• Incineração: Queima do lixo em aparelhos e usinas especiais.

Apresenta a vantagem de reduzir bastante o volume de resíduos. A

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incineração deve ser controlada para não haver a emissão de gases

tóxicos para evitar a poluição do ar. É necessário instalar filtros e

equipamentos especiais. Esta queima se dá frequentemente a uma

temperatura de 800°C por tempo preestabelecido.

• Compostagem: É o processo feito para provocar a decomposição da

matéria orgânica pela ação de microorganismos (bactérias e fungos).

Tem a finalidade de obter, no menor tempo possível, um material

estável- o composto- rico em nutrientes para fertilizar a terra para

plantio.

Com relação ao reaproveitamento do lixo, quando sabemos que

não é lixo, é material reciclável e os métodos de disposição final dos

resíduos, todos os métodos permitem ao catador que ele possa catar

sempre, menos no processo de incineração, que é por toda a classe

condenado por queimar o que é o seu sustento.

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CAPÍTULO III

COLETA SELETIVA

A Coleta Seletiva consiste no recolhimento e separação dos materiais

passíveis de serem reciclados na fonte geradora: os plásticos, os vidros,

papéis, metais, de forma que estes materiais isentos de contaminações

possam facilitar o trabalho da reciclagem.

Para Calderoni (1994) a Coleta Seletiva enquanto processo de

separação prévia de materiais passíveis de reaproveitamento ganhou

considerável desenvolvimento em um grande número de países, tendo

aparentemente, sido iniciada nos Estados Unidos no início do século. Em

particular, consta que a Coleta Seletiva tenha se iniciado oficialmente na

Itália, no ano de 1941, em grande parte como decorrência das dificuldades

acarretadas pela guerra.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos em seu capítulo II, definições,

artigo 3º, Inciso V, entende Coleta Seletiva como: Coleta de resíduos

sólidos previamente segregados conforme sua constituição ou composição.

3.1- Cores e símbolos usados na coleta

O Conselho Nacional do Meio ambiente- CONAMA em sua Resolução

número 275 de 25 de Abril de 2001, Artigo 1º estabelece o código de cores

para diferentes tipos de resíduos, a ser adotado na identificação de

coletores e transportadores, bem como nas campanhas informativas para

Coleta Seletiva.

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Padrão de cores:

Azul: Papel/papelão

Vermelho: Plástico

Verde: Vidro

Amarelo: Metal

Preto: Madeira

Laranja: Resíduos perigosos

Branco: Resíduos ambulatoriais e de saúde

Roxo: Resíduos radiativos

Marrom: Resíduos orgânicos

Cinza: Resíduo geral não reciclável contaminado, ou não passível de

separação.

Quanto ao símbolo são as três setas retorcidas combinada com as

cores.

3.2- Separação dos resíduos recicláveis na fonte geradora

A separação na fonte consiste em separar os plásticos, papéis, vidros,

papelões, metais, jornais e revistas e PET nas fontes geradoras com o

intuito de evitar a contaminação do material contribuindo para o aumento do

valor agregado destes, diminuindo também os problemas e os custos para

a reciclagem. O Decreto Federal Nº 5940 de 25 de Outubro de 2006 é um

exemplo de separação na fonte geradora.

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3.3- Primeira experiência no Brasil em Coleta Seletiva

Esta primeira experiência se deu num bairro de classe média em Niterói,

no Rio de Janeiro, o bairro de São Francisco. Fruto de uma parceria entre

o Centro Comunitário de São Francisco, Associação de Moradores e a

Universidade Federal Fluminense. Hoje ela se dá de segunda a sexta-feira

e atende cerca de 1400 residências. Nestes 26 anos de coleta, atualmente

os trabalhadores do Centro Comunitário recolhem e fazem a triagem entre

25 a 30 toneladas de recicláveis por mês das residências de São Francisco

e Charitas, bairro vizinho. O professor Emílio Eigenhheer é o coordenador

da Coleta Seletiva do Centro Comunitário de São Francisco.

3.4- Principais formas de Coleta Seletiva

As formas de Coleta Seletiva abrangem sistemas dos quais os mais

usadas são:

• Porta-a-porta: Os veículos coletores percorrem as residências

em dias e horários específicos que não coincidem com os da

coleta regular do lixo. Os moradores colocam os materiais já

separados e acondicionados em sacos de preferência

transparentes para melhor identificação dos resíduos. São

postos nas calçadas como o lixo comum também é posto até a

chegada dos veículos coletores.

• Postos de entrega voluntária (PEV): São utilizados contêineres ou

pequenos depósitos distribuídos em vários pontos físicos no

município onde o cidadão espontaneamente deposita os

materiais.

• Postos de troca: Troca de material a ser reciclado por algum bem.

Os primeiros postos foram instalados em supermercados.

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3.5- Municípios que participam da Coleta Seletiva

Dos 5564 municípios existentes no Brasil somente 443 possuem

Coleta Seletiva, o que representa 8% do total nacional com coleta. A

Região Norte participa com 1% ou seja, 5 municípios, a Região Centro-

Oeste com 3% que são 13 municípios, a Região Nordeste com 10%

representada por 45 municípios, a Região Sul com 36% que são 159

municípios e finalmente a Região Sudeste com 50% que são 221

municípios com Coleta Seletiva no Brasil.

A falta de interesse dos poderes municipais em implementarem

programas de Coleta Seletiva sempre foi o custo da Coleta Seletiva em relação

a coleta convencional. Em 1994 este custo era 10 vezes maior que a coleta

convencional, em 2010 este custo caiu para 4 vezes mas mesmo assim o

administrador público diz onerar o orçamento e não se vê vontade alguma para

implementar um sistema de tamanha importância ambiental e social para os

municípios.

No que se diz respeito aos resíduos sólidos urbanos e sua respectiva

coleta seletiva, sabemos que existe um caminho a ser percorrido para que se

possa ter algum êxito no decorrente a algum tempo. A Educação Ambiental

como ferramenta fundamental de educação no processo de coleta seletiva a

ser ministrada a uma pessoa ou a grupo de pessoas para que se haja uma

conscientização e que se crie a partir daí um hábito de separar o lixo para

reciclagem. Com isto a população aos poucos vai adquirindo novas práticas

em relação ao que é descartado diariamente. Estes novos hábitos e

práticas,com a participação e a cooperação entre os entes públicos, privados e

os segmentos da sociedade como um todo seria o ideal para que se obtivesse

resultados mais rápidos e eficientes.

Na verdade coleta seletiva por si só, não resolve o problema dos

resíduos sólidos urbanos, mas dentro de um sistema de gestão e

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gerenciamento de resíduos sólidos urbanos ela é um fator prioritário e de

grande valia para a redução dos resíduos que se acumulam em logradouros,

rios, lagoas e lixões trazendo benefícios nas questões ambientais, econômicas,

de saúde pública e sociais e proporcionando a todos os que vivem da catação

e que participam dos programas de coleta seletiva trabalho e renda através de

um material limpo e livre de impurezas com um maior valor agregado

promovendo-se desta forma cidadania e inclusão.

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CAPÍTULO IV

HISTÓRICO DA RECICLAGEM

A Reciclagem embora pareça ser uma prática recente e inovadora

existem relatos de sua prática pelo Império Romano na reconstrução de suas

cidades. Durante a Guerra da Conquista utilizavam os escombros das cidades

destruídas para reconstrução do que foi destruído ( Hendriks, 2000 Apud John

et. al, 2003).

Segundo Taguchi (2001) a reutilização e a reciclagem são práticas

antigas. Os “sucateiros” da antiguidade recolhiam espadas nos campos de

batalha parta fazer novas armas.

No Brasil a Reciclagem começou ao mesmo tempo que o início da

fabricação do papel há mais de 100 anos atrás. Além de usar o papel pós-

consumo, as indústrias também importavam celulose para manter suas

unidades.

O termo Reciclagem surgiu na década de 1970, quando as

preocupações com o meio ambiente passaram a ser tratadas com mais rigor,

especialmente após a primeiro choque do petróleo quando reciclar ganhou

importância. Reciclagem, o termo, entra na mídia a partir do final da década

de 1980, quando ficou constatado que as fontes de petróleo e outras matérias-

primas não renováveis estavam se acabando rápido demais.

A expressão Reciclagem é originada da língua inglesa recycle que

significa: re=repetir e cycle=ciclo. A Reciclagem com todo esse histórico e sua

importância a ela foi instituído seu próprio dia pela Lei Nº 12.055 de 09 de

Outubro de 2009, que institui a data de 05 de junho como Dia Nacional da

Reciclagem em seu Artigo 1º.

4.1- A origem da Reciclagem no mundo

Como foi visto anteriormente em seu histórico neste capítulo, na

antiguidade já se praticava a Reciclagem com o reaproveitamento de entulhos,

metais e outros materiais disponíveis para serem aproveitados.

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Na atualidade e exatamente na década de 1940 foi marcada pela

Segunda Guerra Mundial. Com a entrada dos Estados Unidos na guerra a sua

economia se vê voltada para a indústria bélica, com apoio da população civil

que supria a indústria de matérias-primas escassas e necessárias tais como: a

borracha, os metais, papéis, latas de ferro, panelas de alumínio e tudo o que

se podia aproveitar.

O governo dos Estados Unidos oferecia uma pequena quantia em

dinheiro aos fornecedores como forma de incentivo para a captação desses

materiais. O Brasil que também se encontrava no conflito fazia campanhas

que incentivavam os civis a doar os materiais que pudessem ser reutilizados

para a indústria da guerra.

4.2- Simbologia na Reciclagem

O símbolo universal da Reciclagem que é representado por três flechas

retorcidas foi criado através de concurso patrocinado por um fabricante de

papelão reciclado, a Contêiner Corporation of América em 1970. A simbologia

de materiais como vidro, aço e alumínio não constam em norma e são

estabelecidas por cada setor, não existindo padrões para sua aplicação. Já os

símbolos que identificam os polímeros, os materiais polimétricos, os plásticos

possuem uma norma. Os símbolos são formados por três setas inseridas em

um triângulo e apontadas em sentido horário, com um código numérico no

meio do mesmo triângulo que vão do número 1 ao número 7.

A Associação Brasileira de Normas Técnicas através da Norma

Brasileira 13.320 de 17 de Novembro de 200 (ABNT, NBR 13230:2008)

padroniza os símbolos que identificam os plásticos que serão enviados para

Reciclagem da seguinte forma que veremos a seguir:

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Tereftalato de polietileno - PET Os plásticos de tereftalato de polietileno são transparentes, inquebráveis, impermeáveis e leves. O PET é utilizado, principalmente, na fabricação de garrafas de água mineral e refrigerante, embalagens para produtos alimentícios, como óleos e sucos, de limpeza, cosméticos e farmacêuticos. Também está presente em bandejas para microondas, filmes para áudio e vídeo, fibras têxteis, entre outros.

Polietileno de alta densidade - PEAD Embalagens para alimentos, produtos têxteis, cosméticos e embalagens descartáveis são produzidas a partir do polietileno de alta densidade. Resistente a baixas temperaturas, leve, impermeável, rígido e com resistência química, o PEAD também é usado na fabricação de tampas de refrigerante, potes para freezer e garrafões de água mineral, além de brinquedos e eletrodomésticos, cerdas de vassoura e escovas, sacarias (revestimento e impermeabilização), fitas adesivas, entre outros.

Cloretos de polivinila - PVC Por suas características como rigidez, impermeabilidade e resistência à temperatura, os cloretos de polivinila são usados principalmente em tubos, conexões, cabos elétricos e materiais de construção como janelas, portas, esquadrias e cabos de energia. O PVC também pode ser aplicado na fabricação de brinquedos, alguns tipos de tecido, chinelos, cartões de crédito, tubos para máquinas de lavar roupa e caixas de alimentos.

Polietileno de baixa densidade - PEBD e Polietileno de baixa densidade linear - PEBDL São flexíveis, leves, transparentes e impermeáveis. O polietileno de baixa densidade (PEBD) é utilizado na produção de filmes termocontroláveis, como caixas para garrafas de refrigerante, fios e cabos para televisão e telefone, filmes de uso geral, sacaria industrial, tubos de irrigação, mangueiras, embalagens flexíveis, impermeabilização de papel (embalagens tetrapak), entre outros. O polietileno linear de baixa densidade (PEDBL) é aplicado, principalmente, na produção de embalagens de alimentos, fraldas, absorventes higiênicos e sacaria industrial.

Polipropileno - PP Embalagens para alimentos, produtos têxteis e cosméticos, tampas de refrigerante, potes para freezer e garrafões de água mineral são alguns dos produtos fabricados com polipropileno. Esses plásticos conservam o aroma e são resistentes a mudanças de temperatura, brilhantes, rígidos e inquebráveis. Também são utilizados em produtos hospitalares descartáveis, tubos para água quente, autopeças, fibras para tapetes, fraldas, absorventes higiênicos, entre outros.

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Poliestireno - PS Entre os produtos fabricados com o poliestireno estão os copos descartáveis, eletrodomésticos, produtos para construção civil, autopeças, potes para iogurte, sorvete e doces, frascos, bandejas de supermercados, pratos, tampas, aparelhos de barbear descartáveis, brinquedos etc. As principais características do PS são a impermeabilidade, rigidez, leveza e transparência.

Copolímero de etileno e acetato de vinila - EVA O copolímero de etileno e acetato de vinila (EVA) é empregado principalmente na fabricação de calçados, colas, adesivos, peças técnicas, fios e cabos.

Fonte: ABIQUIM - Associação Brasileira da Indústria Química

4.3- Classificação geral da Reciclagem

Esta classificação passa por processos específicos para cada tipo de

material diferenciando-os uns dos outros. O que aqui trataremos são os mais

usuais encontrados no cotidiano que são: o Alumínio, o papel, o papelão, o

vidro e o plástico.

• O Alumínio- quando chega na indústria de fundição é levado para o

forno, derretido e transformado em lingotes que serão vendidos para a

indústria de transformação.

• O papel – ao chegar na fábrica ele entra numa espécie de liquidificador

o “Hidrapulper” que tem a forma de um tanque cilíndrico. O

equipamento desagrega o papel misturado co água, formando uma

pasta de celulose que depois é branqueada com compostos de Cloro ou

Peróxido, seguindo para as máquinas de fabricar papel.

• O papelão- encaminhado para a indústria o material é colocado no

“Hidrapulper” como o papel para separar as fibras e transformá-las em

uma pasta homogênea. Em seguida as peneiras retiram as impurezas.

Não é preciso aplicar técnicas de limpeza fina como no papel. Retirada

as tintas do papelão, o branqueamento do material e a lavagem são

especiais.

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• O plástico- existem atualmente três tipos de sistemas de Reciclagem de

plástico: a mecânica, a química e a energética. A mais utilizada em

nível mundial é a mecânica pela facilidade de implementação e pelo

custo de operação. A) Reciclagem mecânica: consiste na moagem de

todo o material. As garrafas e as embalagens vão para o moinho

granulador que serão picadas em pequenos pedaços e serão

encaminhadas para a próxima etapa, de acordo com a necessidade da

própria indústria. B) Reciclagem química: a reciclagem química

reprocessa os materiais por intervenção química (hidrogenização,

gaseificação, quimólise e pirólise), transformando-os novamente em

matéria-prima para indústrias. C) Reciclagem energética (ou

recuparação energética): trata-se da recuperação dos plásticos através

de processos térmicos. É uma espécie de incineração com a diferença

que a energia gerada pela queima do plástico é reaproveitada.

4.4- Tempo de decomposição dos materiais

Não existe um tempo correto para a degradação dos materiais

descartados no meio ambiente pois os mesmos podem sofrer alterações para

mais ou para menos de acordo com o local em que são descartados. A

princípio os resíduos e os seus tempos são assim listados:

• Embalagens de papel: 1 a 4 meses

• Jornais: 2 a 6 meses

• Pontas de cigarro: 2 anos

• Chicletes: 5anos

• Nylon: 30 a 40 anos

• Fraldas descartáveis: 200 anos

• Preservativos: 300 anos

• Copos de plásticos e sacos: 200 a 450 anos

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• Esponjas: indeterminado

• Pneus: indeterminado

• Pilhas: indeterminado

• Frascos e garrafas de vidro ou de plástico: indeterminado

Estes levantamentos deveriam servir para que o cidadão refletisse sobre

a forma de descarte que está dando ao seu próprio lixo.

4.5- Cadeia produtiva da Reciclagem

De uma forma simples e de fácil compreensão o funcionamento desta

cadeia se dá da seguinte forma:

• O consumidor descarta seus resíduos;

• O catador organizado compra dos catadores, estoca em seu depósito o

material até fechar uma carga (mais ou menos 12 a 14 toneladas) ou

bater a sua cota com uma ou mais indústrias que ele tenha feito

contrato e negocia com ela as suas toneladas disponíveis;

• A indústria os transforma em outros bens que são pelo comércio

disponibilizados ao consumidor até que haja outro descarte e assim por

diante.

Gonçalves, P( 2003, p.34) defende que os processos da cadeia

produtiva da Reciclagem sejam classificadas em três etapas:

ü Recuperação: que engloba os processos de separação do

resíduo na fonte;

ü Coleta Seletiva: prensagem, enfardamento, revalorização que

compreende os processos de beneficiamento dos materiais como

a moagem e a extrusão;

ü Transformação: que é a reciclagem propriamente dita que

transforma os materiais recuperados e revalorizados em um novo

produto.

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4.6- Benefícios da Reciclagem

Os benefícios da Reciclagem não são pontuais, abrangem toda uma

gama de populações nas esferas econômicas ambientais e sociais.

A princípio Reciclar já traz benefícios para o solo, a água, poupa

recursos naturais e aumenta o tempo de vida útil dos aterros sanitários. Gera

trabalho e renda para os desempregados e catadores e também reduz os

custos de produção pela utilização de insumos reciclados (não virgem) em

seus processos. De outra forma mais pautada os benefícios são:

• Econômicos: no fabrico do papel, economia da matéria-prima

celulose. O vidro com 1Kg de caco pode-se fabricar outro quilo

de vidro novo gerando economia de 1,3 Kg de matéria-prima. O

Alumínio rende economia de 95% de energia que se usaria para

produção do Alumínio primário. Uma latinha de Alumínio que se

recicla poupa energia utilizada para deixar uma televisão ligada

por 3 horas.

• Ambientais: 50 Kg de papel reciclado evita o corte de uma árvore

com 7 anos. Uma tonelada de papel reciclado economiza 20 mil

litros de água e 12oo litros de óleo combustível. A Reciclagem do

vidro diminui emissão de gases poluidores pelas fábricas. A

Reciclagem do plástico impede um grande prejuízo ao meio

ambiente por ser este material resistente ao calor, ar, água e

radiações. Para cada quilo de Alumínio reciclado 5 Kg de

Bauxita são poupados.

• Sociais: A Reciclagem do papel cria milhares de empregos tanto

para empregados em empresas como em recicladoras e também

para catadores de papel. A Reciclagem do plástico gera

aproximadamente 20 mil empregos diretos nas 300 indústrias de

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Reciclagem e ainda milhares de pessoas que vivem da catação

de latinhas de alumínio conseguindo desta forma levar o sustento

para suas casas.

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CAPÍTULO V

A INDÚSTRIA DA RECICLAGEM

A indústria da Reciclagem passa por um processo de complexidade

própria por percorrer um imenso caminho envolvendo atores dos mais simples

aos mais complexos e, não percebíveis naturalmente.

O grupo mais simples é de fácil identificação são os catadores que

levam o seu material para o abastecimento desta indústria. O outro grupo é

um grupo local e organizado que estipulam (impõe) o preço da sucata para

todos. O grupo mais sofisticado é aquele que trata do Comércio Internacional

de Sucatas, controla e acompanha a cotação da sucata através da Bolsa de

Valores de Londres.

5.1- A indústria da reciclagem no Brasil

Apesar de o Brasil possuir índices elevados de reciclagem mesmo assim

ainda conseguimos desperdiçar materiais deixando-os irem parar em lixões ou

aterros não os reaproveitando. Algumas indústrias concordam que compram

resíduos no exterior quando existe a falta do material no Brasil , o que não

ocorreria com a ampliação da Coleta Seletiva para atender a procura da

indústria, evitando-se desta forma a importação.

Na opinião do economista Sabatai Calderoni, presidente do Instituto

Brasil Ambiente trata-se de uma grande perda econômica. Segundo ele é

necessário que o Governo brasileiro atente para esta questão já que o Brasil

poderia prover muito mais resíduos recicláveis a partir de políticas. O

economista lembra ainda que além de reduzir a quantidade de lixo jogada nos

aterros, o país poderia lucrar como processo: por ano perdemos cerca de 10

bilhões de dólares no lixo. Enquanto todos os setores privados se

movimentam para captação de matéria-prima que precisam, o Poder Público

ainda enterra seus resíduos.

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5.2- As fontes da sua matéria-prima

Todas as fontes de matéria-prima para a reciclagem têm como base

duas coisas: o pré-consumo que são os resíduos da própria indústria, mais

limpos e não precisando de tratamento ou manejo e podem ser inseridos no

processo de imediato; o pós-consumo, que é o que o consumidor compra e

descarta, precisando de algum tipo de tratamento para voltar a seu ciclo.

Só como exemplo de fonte de matéria-prima, dados do 6º Censo

2009/2010 da Associação Brasileira da Indústria do PET, este setor captou

56% da PET, de Cooperativas (19%) e dos catadores (37%). Existe uma

legião de 800 mil catadores em todo o Brasil, os quais segundo o Movimento

Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis são responsáveis por 90% de

todos os materiais enviados para a indústria.

5.3- Um mercado em evolução

Podemos dizer que a evolução deste mercado teve início no ano de

1990 com a instalação da primeira fábrica de alumínio no Brasil, em Minas

Gerais: a Latas de Alumínio S.A- LATASA. A partir deste movimento os

grandes supermercados começaram a trocar latinhas (67 latas = 1 quilo) por

vales de R$0,45 a serem trocados por mercadorias em seu interior. Esta

iniciativa se expande para outros pontos de troca em outras cidades.

Rapidamente a novidade chega as escolas que ganhavam computadores em

troca de latinhas levadas pelos alunos de suas residências.

Este programa foi lançado em 1993 com um resultado de 800 mil latas

recolhidas nas escolas num horizonte de 100 estabelecimentos. Após o

primeiro ano já superavam 1 milhão de unidades com um aumento de 100 para

1050 estabelecimentos de ensino.

Os clubes, condomínios e entidades beneficentes passam a guardar e

vender embalagens recicláveis para manutenção de suas atividades. Desta

forma os resíduos agora começam a ser vistos como algo de valor e capaz de

gerar renda. Assim como o alumínio, o papel, PET, papelão, vidro tiveram

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suas evoluções naturais colocando o Brasil entre os primeiros do mundo em

reciclagem. Apesar disto a muito que fazer para efetivar a reciclagem do lixo

no país, pois de todo o lixo produzido só 12% foi reciclado em 2006 (CEMPRE,

2006).

5.4- A alta tecnologia a serviço da indústria da reciclagem

O desenvolvimento tecnológico abre caminho para novos produtos

reciclados com aplicações que se diversificam. As latinhas de conserva de

milho e ervilha são aplicadas na fabricação de automóveis, telhas e móveis

têm na composição bisnagas de creme dental, e as roupas em seus tecidos

possuem fibras de PET.

Entre muitos exemplos o caso da embalagem Longa Vida ou cartonada

a algum tempo atrás (não muito distante) os catadores não catavam e não se

importavam com este material pois o Ferro Velho não comprava e quando

comprava pagava como papelão, só no nome e o preço não valia a pena e só

fazia se acumular a cada canto, no ambiente e nos lixões. Diante desses fatos

esta embalagem que começou a ser fabricada no Brasil nos anos 70, estava

precisando de providências a serem tomadas diante dos descartes sem

aproveitamento.

Neste momento, o seu fabricante, a Tetra Pak, monopólio das

embalagens Longa Vida no mundo se vê na obrigação de começar a

solucionar o problema que se acumula rapidamente no ambiente. Foi formada

uma parceria entre a Tetra Pak, Alcoa, Klabin e TSL Ambiental e por mais de

cinco anos de estudo que se iniciaram nos laboratórios do Instituto de

Pesquisas Tecnológicas no campus da Universidade de São Paulo, surge uma

tecnologia nacional e pioneira no mundo: a tecnologia a plasma que separa o

plástico do alumínio.

A embalagem Tetra Pak é composta por 75% de papel cartão, 20% de

plástico e 5% de alumínio. Depois desses avanços, a embalagem Longa Vida

se torna mais valorizada no mercado e passa a ser separada pelos catadores

e cooperativas. Em 2008 cerca de 50 mil toneladas foram reaproveitadas.

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Com os outros materiais a tendência é igual o que aconteceu com a PET cada

vez mais reciclada no Brasil. O papel que é de grande consumo do mercado e

os consumidores aumentam suas exigências. As novas tecnologias

contribuem para a produtividade e qualidade deste papel.

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CONCLUSÃO

A todo o tempo no decorrer deste trabalho a figura do catador faz-se

presente nas mais variadas situações o que nos leva a crer que a importância

do catador dentro do processo produtivo desde a origem até o produto final é

necessária e importantíssima pois a maior parte dos insumos adquiridos

advém do pós-consumo. Aquilo descartado pelo consumidor é coletado pelo

catador. Existem mais de 800 mil catadores responsáveis por 90% do material

enviado para esta gigantesca e milionária indústria da reciclagem. Com o

mercado e os consumidores exigindo cada vez mais novos produtos este ciclo

tende cada vez mais a aumentar. Mas infelizmente este mercado tem suas

injustiças por ser abastecido pela matéria-prima que vem das mãos daqueles

que ao mesmo tempo em que catam sofrem com a fome, vivem na miséria,

convivem com as chagas, trabalham em condições desumanas, convivem com

trabalho infantil dos seus próprios familiares mas que mesmo assim trabalham

em prol de si e de sua família.

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BIBLIOGRAFIA

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2007.

CAVALCANTI, Pedro; CHAGAS, Carmo. História da Embalagem no Brasil.

São Paulo: Griffo, 2006.

CALDERONI, Sabatai. Os bilhões perdidos no lixo. L&PM, O Futuro. São

Paulo: Editora Global, 1994

__________________ Os bilhões perdidos no lixo. São Paulo:

Humanitas/FFLCH/USP, 1997

CEMPRE- Compromisso Empresarial para Reciclagem. Reciclagem: ontem,

hoje, sempre. São Paulo: CEMPRE, 2010.

EIGENENHEER, Emílio M.(Org.). Coleta Seletiva de Lixo: experiências

brasileiras. Rio de Janeiro: In-Fólio, 1999.

JOHN, V.M.; ÂNGULO, S.C. et al. Sobre a necessidade da metodologia de

pesquisa e desenvolvimento para reciclagem. In: Fórum das Universidades

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JUNCÁ, D.C.M. Vida da Cata-Dor: Outras palavras sobre o lixo. Fortaleza:

Cadernos do CEAS(193), 2001.

MACHADO, Nilson José; CASADEI, Silvânia Rescalha. Seis razões para

diminuir o lixo no mundo. São Paulo: Escrituras, 2007.

MAGERA, M. Os empresários do lixo: um paradoxo da modernidade. São

Paulo: Átomo, 2003.

TAGUCHI, Viviane. Lixo orgânico=fertilizante. Revista Escola Rural. Ano 3, Nº

9. São Paulo: Editora Globo, 2001.

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WEBGRAFIA

MOVIMENTO NACIONAL DOS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS

(MNCR). Disponível em: www.mncr.org.br , acesso em 26/09/2011

COMPROMISSO EMPRESARIAL PARA RECICLAGEM (CEMPRE).

Disponível em: www.cempre.gov.br, acesso em 29/09/2011

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE PET. Disponível em:

www.abipet.org.br, acesso em 04/10/2011

Compania Municipal de Limpeza Urbana (CONLURB). Disponível em:

www.rio.rj.g.br/comlurb, acesso em 11/10/2011

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CELULOSE E PAPEL (BRACELPA).

Disponível em: www.bracelpa.org.br, acesso em 15/10/2011

INSTITUTO SÒCIOAMBIENTAL DOS PLÁSTICOS (PLASTIVIDA). Disponível

em: www.plastivida.org.br, acesso em 06/11/2011

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Disponível em: www.mma.gov.br, acesso

em 08/11/2011

CLOACA MÁXIMA. Disponível em : www.pt-br.antiga.wikia.com/wiki/cloaca-

maxima, acesso em 08/11/2011

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTOS 3

DEDICATÓRIA 4

EPÍGRAFE 5

RESUMO 6

METODOLOGIA 7

SUMÁRIO 8

INTRODUÇÃO 9

CAPÍTULO I

A ORIGEM E A HISTÓRIA DO CATADOR 11

1.1 – Os tipos de catadores e o seu trabalho 12

1.2 – As primeiras organizações no Brasil 13

1.3 _ O surgimento do Movimento Nacional dos Catadores de

Materiais Recicláveis (MNCMR) 14

1.4 _ O reconhecimento da atividade de catador 16

1.5 _ A necessidade da capacitação do catador 16

CAPÍTULO II

O LIXO QUE NÃO É LIXO 18

2.1 _ Os resíduos sólidos urbanos 18

2.2 _ Classificação dos resíduos sólidos 19

2.3 _ Geração dos resíduos 22

2.4 _ A disposição final 23

CAPÍTULO III

COLETA SELETIVA 25

3.1 _ Cores e símbolos usados na coleta 25

3.2 _ Separação dos resíduos recicláveis na fonte geradora 26

3.3 _ Primeira experiência no Brasil em Coleta Seletiva 27

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3.4 _ Principais formas de Coleta Seletiva 27

3.5 _ Municípios que participam da Coleta Seletiva 28

CAPÍTULO IV

HISTÓRICO DA RECICLAGEM 30

4.1 _ A origem da reciclagem no mundo 30

4.2 _ Simbologia da reciclagem 31

4.3 _ Classificação geral da reciclagem 33

4.4 _ Tempo de decomposição dos materiais 34

4.5 _ Cadeia produtiva da reciclagem 35

4.6 _ Benefícios da reciclagem 36

CAPÍTULO V

A INDÚSTRIA DA RECICLAGEM 38

5.1 _ A indústria da reciclagem no Brasil 38

5.2 _ As fontes da sua matéria-prima 39

5.3 _ Um mercado em evolução 39

5.4 _ A alta tecnologia a serviço da indústria da reciclagem 40

CONCLUSÃO 42

BIBLIOGRAFIA 43

ÍNDICE 45