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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM Faculdade Integrada
O PROFISSIONAL NEUROPEDAGOGO NO PROCESSO DA
APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Por: Maria Fernanda Teixeira Herig
Orientador
Profª. Marta Relvas
Rio de Janeiro
2011
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM Faculdade Integrada
O PROFISSIONAL NEUROPEDAGOGO NO PROCESSO DA
APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em. Neurociência
Pedagógica
Por: . Maria Fernanda Teixeira Herig.
3
AGRADECIMENTOS
....a meu pai e minha mãe que foram
essenciais na minha formação
enquanto pessoa e profissional......
....a meu marido Evaristo que a 23
anos me acompanha......
....a meus filhos Gabriel, Isabela,
Daniela e Pedro Henrique que me
apoiaram incansavelmente no
processo desse trabalho com muito
amor......
4
DEDICATÓRIA
.....aos meus filhos que foram essenciais
em me instrumentalizar para produzir
essa monografia.......
.....a todas as pessoas a que esse
trabalho chegar as mãos.......
5
RESUMO
Ao nascer o bebê entra em contato com um mundo cheio de estímulos
bem diferentes do que ele tinha no útero materno.
Esses estímulos externos vão gerando alterações e inúmeras
conexões internas na criança.
Essas conexões internas que respondem de forma física, química e
biológica dentro da criança podem ser conhecidas com mais amplitude pela
neurociência.
O neuropedagogo é um profissional essencial na equipe da educação
infantil. De posse de inúmeras informações do que ocorre no cérebro a partir
de estímulos recebidos, e com o olhar que o habilita a levantar questões mais
qualificadas sobre o desenvolvimento infantil, ele acrescenta no processo
educativo.
As informações da neurociência são importantes para a eficácia da
educação infantil na medida que observam o que não era visto, levantam
hipóteses para o que já foi dado como pronto e iluminam questões para que
possam ser pesquisadas com mais amplitude.
O trabalho em equipe do neuropedagogo, de educadores e da equipe
escolar podem tornar a Educação Infantil um momento de construção saudável
e sólida. Com isso, o ser se desenvolverá em sua plenitude.
6
METODOLOGIA
A fase infantil apresenta uma riqueza de transformações. Usá-las de
forma a ampliar os horizontes de uma criança é um verdadeiro desafio.
Com leituras de artigos, livros e questionamentos feitos decorrentes de
notícias via televisão, internet ou vivências na área da educação é facilmente
percebido o quanto a educação infantil está necessitando de um suporte maior.
Com uma seleção cuidadosa de autores, que vão além do campo da
educação, esse trabalho apresenta pontos essenciais para mostrar o quanto a
neurociência acrescenta à educação infantil.
No capítulo I, Paulo Freire e Howard Gardner ampliam a visão que se
tem sobre o processo de aprender.
No capítulo II, Jean Piaget e muitos pensadores sobre a educação
desfilam suas ideias gerando questionamentos internos.
No capítulo III, Deepak Chopra e Marta Relvas ratificam o olhar sobre o
quanto faz toda diferença na educação, a ampliação dos recursos do que é
oferecido como estímulo e o olhar com respeito do educador diante do
processo de aquisição de algo novo.
Com determinações feitas pela Lei de Diretrizes e Bases, com o olhar
de alguns autores e com pontuações feitas, o trabalho oferece um leque de
caminhos para o sucesso na Educação Infantil com o suporte da neurociência.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I – A NEUROCIÊNCIA E A PEDAGOGIA 10
CAPÍTULO II – O PROCESSO DE APRENDIZAGEM 18
CAPÍTULO III – O NEUROPEDAGOGO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 27
CONCLUSÃO 34
BIBLIOGRAFIA 36
WEBGRAFIA 38
ÍNDICE 39
8
INTRODUÇÃO
A Educação Infantil é o início formal do processo da escolaridade de
uma criança.
O bebê nasce e se depara com um mundo cheio de estímulos a que
ele vai respondendo ora aos poucos ora rapidamente.
Cada detalhe desse mundo vai repercutir nesse bebê. É nesse
momento que me chama atenção a responsabilidade desses primeiros anos de
vida de uma criança e do quão rico é esse momento.
O oferecimento de estímulos corretos que proporcionem um
desenvolvimento saudável nesses primeiros anos pode determinar a
qualidade de vida desse ser.
A biologia já vem oferecendo muitas informações que facilitam o
entendimento do que é um crescimento saudável.
Várias áreas da saúde favorecem com informações e práticas o
desenvolvimento mais qualitativo de um ser. A prática de uma atividade física,
exercícios motores, estimulação com brinquedos e jogos, músicas e trabalhos
de arte compõem uma enorme equipe de recursos que aproveitam fases
específicas do desenvolvimento da criança com o objetivo de proporcionar o
desenvolvimento pleno da criança.
Com essas atividades citadas acima e com tantas outras podemos
perceber as alterações nas crianças, mas o processo em si ocorre dentro do
organismo, no cérebro e só é possível conhecer mais sobre essa riqueza de
informações através dos estudos da Neurociência.
Essa ciência surge e nos apresenta passo a passo o que ocorre
quando estímulos são produzidos. Informações sobre a memória, sistema
límbico, hemisférios e suas funções vem sendo apresentado, estudado e
pesquisado pela neurociência.
Se a pedagogia já tinha um olhar atento para a criança no que diz
respeito à aprendizagem, o neuropedagogo cresce em recursos e informações
para poder ampliar esse olhar.
9
A importância da neuropedagogia em qualquer etapa do
desenvolvimento do ser humano é enorme. No caso da Educação Infantil essa
importância se amplia porque há momentos únicos nessa faixa etária que
podem ser aproveitados para expansão da qualidade de vida.
Muitos profissionais que trabalham com a educação infantil não estão
preparados para essa prática. Esses profissionais se formam dando atenção
ao conteúdo que deve ser trabalhado com as crianças e/ou com as regras da
instituição de ensino. Muitos confundem gostar de criança e de dar aulas com
ter um conhecimento globalizado e qualificado de tudo que envolve o
desenvolvimento infantil. Etapas, necessidades e recursos tem que ser
observados para que a aprendizagem ocorra. Todos os pontos tem que ser
levados em consideração para que um estímulo surta efeito benéfico no
processo. Por essa razão faz-se fundamental conhecer o processo da
aprendizagem, e a neurociência é um instrumento atual e importantíssimo para
que a eficiência do processo se faça presente.
A neurociência e a pedagogia juntas fortalecem o processo de
aprendizagem. O neuropedagogo na educação pode adequar os estímulos e
ampliar o olhar sobre o que está ocorrendo com a criança e suas respostas.
Com isso estaremos mais perto da qualidade real na saúde e na educação.
10
CAPÍTULO I
A NEUROCIÊNCIA E A PEDAGOGIA
A palavra ciência vem do latim scientia e nos remete a ideia de
conhecimento. É possível encontrar várias definições para ciência além dessa
associação com conhecimento. Algumas delas mencionam que:
¨Ciência é saber que se adquire pela leitura e meditação;
Instrução, erudição, sabedoria. Conjunto de
conhecimentos socialmente adquiridos ou produzidos,
historicamente acumulados, dotados de universalidade e
objetividade que permitem sua transmissão, e
estruturados com métodos, teorias e linguagens próprias “
(FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda, 1999,p.469)
Para que se possa reunir as informações em um conjunto que tenha
uma direção de estudo, um propósito, é necessário mais do que
simplesmente ler sobre algo. Sônia Lopes e Sérgio Rosso (2005)
compartilham dessa ideia quando afirmam que os cientistas “são pessoas que
fazem ciência e, como regra, tem grande capacidade de observação”.(p.12)
Para que a busca desse saber possa ser usada para um propósito
eles continuam: “ essa busca do saber, do conhecer, entretanto, tem que ser
feita com critério, e esse critério é o método científico.”(p12)
O método científico, na verdade, nada mais é do que uma sequência
de observação, questionamento, levantamento de hipótese, experimentação e
conclusão.
É necessário portanto, aprimorar o olhar, a forma de observar todo e
qualquer fato que ocorre. Quando se fala em neurociência esse cuidado
11
precisa ser redobrado. As variáveis são muitas e muito ainda há de se
estudar e descobrir sobre o cérebro e todas as suas possibilidades.
Algumas informações tornam-se necessárias para que a leitura sobre
neurociência e pedagogia fique mais clara e possa se tirar maior proveito do
alcance que elas nos remetem.
Aprender é algo que está ligado a transformação. Se há
transformação , há maior autonomia. Quando se fala de crianças isso fica
ainda mais visível. As transformações ocorrem rapidamente. Engatinhar,
andar, comer, descobrir o espaço e seus limites, e muito mais vai
acontecendo com muita rapidez. Quem estiver lidando com essas crianças
precisa, no mínimo, ser facilitador dessa expansão. Paulo Freire(1996)
compartilha dessa ideia quando cita “ensinar exige respeito à autonomia do
ser do educando.” (p59)
Howard Gardner, cientista norte americano, sempre foi interessado
pelo processo da aprendizagem. Nos seus estudos chegou a identificar várias
habilidades, o que inicialmente ele chamou de inteligências. Segundo ele,
essas habilidades norteiam a forma de aquisição de uma aprendizagem e
variam de pessoa para pessoa, porém cada um de nós está disponível a todas.
“ Uma vez que todas as inteligências são parte da
herança humana genética, em algum nível básico cada
inteligência se manifesta universalmente,
independentemente da educação ou do apoio cultural.
Deixando de lado, no momento, as populações
excepcionais, todos os seres humanos possuem certas
capacidades essenciais em cada uma das inteligências. “
(GARDNER, Howard, 1995,p.31)
Cada pessoa está de alguma forma disponível aos estímulos que
ocorrem no meio e cada um vai captar da sua forma e gerar uma resposta
decorrente desse estímulo. A aprendizagem então ocorre. Mudanças
ocorrem. Huberto Rohden (2007) ao falar sobre Einstein deixa registrado que
“ é visível a mudança de atitudes e ideias que se operou em Einstein na
medida que seu saber se ia clarificando e cristalizando.” (p77)
12
Marta Relvas (2010) também menciona está mudança:
“A aprendizagem é uma modificação biológica na
comunicação entre os neurônios, formando uma rede
de interligações que podem ser evocadas e retomadas
com relativa facilidade e rapidez.” (RELVAS, 2010, p35)
Quando se pensa em Educação Infantil está se falando de crianças de
zero até seis anos. A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 20 de dezembro de
1996 oficializou essa informação ao registrar na seção II – da Educação
Infantil, artigo 29 que “ a educação infantil, primeira etapa da educação básica,
tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de
idade.” (www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394htm)
1.1 – Neurociência
Uma definição de neurociência se faz necessária:
“Neurociência é o estudo do sistema nervoso, das suas
composições moleculares e bioquímicas, e as diferentes
manifestações deste sistema e do tecido através das
nossas atividades intelectuais, tais como a linguagem, o
reconhecimento das formas, a resolução de problemas e
a planificação das ações.” ( http://neurociencia-
educação.pbworks.com)
Outra definição da neurociência se refere a ela como “o estudo da
realização física do processo de informação no sistema nervoso humano
animal e humano. O estudo da neurociência engloba três áreas principais: a
neurofisiologia, a neuroanatomia e neuropsicologia.”
(www.nce.ufrj/ginape/publicacoes/trabalhos/renatomaterialqneurocienci
a.htm)
Estudar o cérebro vem se tornando mais frequente e a forma de
estudá-lo vem se tornando mais aprimorada. Conhecer mais sobre o sistema
13
nervoso, sobre o cérebro, sobre o caminho que certos estímulos fazem no
corpo humano vem se tornando mais e mais necessário. Estudos sobre a
memória, reflexos, áreas específicas e muito mais vem crescendo a todo
instante..
“ A necessidade de conhecimento sobre o sistema
nervoso cresceu nas últimas décadas. Essa demanda
levou a Organização de Saúde (OMS) a eleger os anos
90 como a Década do Cérebro” (RELVAS, 2010,p.20)
O sistema nervoso pode ser dividido, para efeito didático, em duas
partes: o sistema nervoso central e o sistema nervoso periférico. O sistema
nervoso central, por sua vez, inclui o encéfalo e a medula espinhal. O
sistema nervoso periférico inclui doze pares de nervos cranianos e trinta e um
pares de nervos espinhais.
Esta divisão didática tem por objetivo facilitar o entendimento de como
ocorrem alguns processos no corpo humano. Qualquer ponto do corpo está
ligado aos outros direta ou indiretamente. O corpo humano é um todo.
Continuando a registrar informações sobre o corpo humano, é
importante citar que há no sistema nervoso dois tipos importantes de células:
os neurônios e a neuróglia ou glia.
O neurônio, ou célula nervosa, é a unidade básica do sistema nervoso.
É ele que transmite informações de uma parte para outra do corpo.
Registrar dados sobre o sistema nervoso é essencial porque os
estudos da neurociência são focados nos processos que ocorrem no corpo
humano em especial ligados a este sistema.
Sobre o encéfalo, parte do sistema nervoso central, PARKER (2007)
cita: “o encéfalo em conjunto com a medula espinhal, regula processos
inconscientes e coordena a maior parte dos movimentos voluntários.”(p.75)
É no encéfalo que está o cérebro onde áreas bem distintas tem
funções específicas. O cérebro já vem sendo visto com importância desde
tempos muito antigos. LOSSOW (1990) cita: “a primeira menção sobre o
termo cérebro é encontrada nos rolos de papiro egípcios.” (p.215)
14
O cérebro pode ser dividido, didaticamente de várias formas. É
possível ao se falar no cérebro pensar nos hemisférios. São dois hemisférios:
esquerdo e direito. O hemisfério direito é não verbal, sintético, intuitivo e não
racional. O hemisfério esquerdo é verbal, analítico, lógico e racional.
O que ocorre é que o que é visto é a resposta externa e não o
processo interno.
Quando um educador que trabalha com crianças oferece uma
atividade às crianças, como por exemplo: todos sentados no chão em rodinha
vão ouvir uma historinha que tem música também e depois vão contar aos
amigos o que lembram da historinha, uma criança pode usar palavras para
descrever ou definir o que lembra da história.
Essa forma de resposta é uma característica do hemisfério esquerdo.
Outra criança pode contar o que lembra através de movimentos ou da música.
Seria o uso do hemisfério direito.
Essas informações sobre hemisférios mostram que externamente há
uma resposta mas que o processo interior é muito maior do que estudos até
hoje tenham definido. Enquanto ciência, a neurociência observa, levanta
hipóteses, desenvolve experiências que comprovam ou não as hipóteses
levantadas.
Nesse exemplo anterior muitas outras variáveis estão ocorrendo. A
vivência da criança, o vocabulário ativo e passivo dela, o meio social e muitos
outros pontos, mas é importante saber que muito mais do que se imagina está
ocorrendo no cérebro.
Ainda sobre o cérebro é importante citar que ele pode ser dividido em
lobos: frontal, parietal, temporal e occipital.
Novamente deixo registrado que esses nomes facilitam um educador
conhecer um pouco mais da dimensão do cérebro humano. Não há o porquê
de um educador do ensino infantil memorizar esses ou tantos outros nomes
mas aos poucos o cérebro vai ganhando uma importância e um
reconhecimento maior da quantidade de informações e conexões que estão
envolvidas com ele.
15
O que é mais importante nesse momento é, ao se aprofundar nessa
quantidade de detalhes sobre o cérebro humano, saber que há mais, muito
mais.
Há áreas específicas para leitura, fala, etc.
Em 1861 o neurologista francês Paul Broca identificou um paciente
que “era quase totalmente incapaz de falar e tinha uma lesão nos lobos
frontais, o que gerou questionamentos sobre a existência de um centro da
linguagem no cérebro.”
(www.nce.ufrj.br/ginape/publicacoes/trabalhos/renatomaterial/neurocien
cia)
A área de Wernicke, por exemplo, uma homenagem ao neurologista
Karl Wernicke que a identificou, está ligada à linguagem. “Lesões na
superfície superior do lobo temporal, entre o córtex auditivo e o giro angular
interrompiam também a fala normal.”
(www.nce.ufrj.br/ginape/publicacoes/trabalhos/renatomaterial/neurocien
cia)
Pouco a pouco foi-se mapeando o cérebro e Korbinian Brodmann,
neurologista alemão que viveu entre 1868 e 1918 organizou o mapeamento
dessas áreas do cérebro que ajudam profissionais da área de saúde e
educação e áreas afins a conhecer e estudar mais sobre o cérebro. LOSSOW
(1990) “as áreas designadas numericamente por Brodmann foram baseadas
nas diferenças de aspecto das camadas celulares do córtex, nessas áreas.”
(p.221)
(www.nce.ufrj.br/ginape/publicacoes/trabalhos/renatomaterial/neurocien
cia)
Quando na escola, uma atividade está ocorrendo, outras tantas
ocorrem dentro de cada uma das crianças.
A escola, de um modo geral, é o segundo espaço social da criança. O
primeiro é a casa, família. A escola precisa ser estimulante e conhecer sobre o
ser humano e os recursos do meio para que haja estimulações saudáveis.
Conhecer previamente as condições que as crianças tem é essencial para se
alcançar eficácia no processo educativo. RELVAS (2010): “ atividades
16
multidisciplinares podem recuperar parcialmente as funções perdidas,
submetendo à estimulação mental intensa e diversificada.” (p.101)
Estimular corretamente é muito importante dentro e fora da escola:
“ A presença de estímulos, como cores, músicas,
sensações cinestésicas, variedade de interação com
colegas e parentes das mais variadas idades,exercícios
corporais e mentais, pode ser benéfica (desde que os
estímulos não sejam excessivos). ” (RELVAS,2010,p.100)
1.2 - PEDAGOGIA
Pedagogia é uma palavra que vem do grego paidagogia e segundo
FERREIRA (1999) “é teoria e ciência da educação e do ensino. Conjunto de
doutrinas, princípios e métodos de educação e instrução que tendem a um
objetivo prático. O estudo dos ideais de educação, segundo uma determinada
concepção de vida, e dos meios (processos e técnicas) mais eficientes para
efetivar esses ideais.” (p.1523)
Embora se fale muito sobre liberdade e autonomia nas escolas e no
processo da aprendizagem como um todo é necessária uma postura muito
clara e consciente do educador. FREIRE (1996) confirma essa ideia ao citar
que “ensinar exige tomada consciente de decisões”. (p.109)
Não basta gostar de dar aulas ou de crianças, é necessário algo mais,
uma postura correta, uma técnica específica, objetivos claros, conhecimento
das etapas do desenvolvimento humano, leituras e conhecimento para que o
olhar se torne cuidadoso e possa se perceber de forma prematura qualquer
situação que deva ser cuidada. O tempo muitas vezes é determinante para a
solução de um problema. Existe algo também muito importante que faz toda a
diferença na aprendizagem : o afeto.
A emoção tem um canal direto co qualquer pessoa humana e com as
crianças isso se torna ainda mais intenso.
17
Pelo afeto, pela emoção, com alegria, respeitando o sentimento da
criança e se colocando em contato com suas emoções, o educador abre um
canal possível para que a educação, no sentido amplo da palavra, ocorra.
A medida certa de respeitar seu papel enquanto educador e o do aluno
define a saúde do momento.
“ O fator crítico com relação a fazer boas escolhas
geralmente não é a razão racional para fazer uma coisa
em vez de outra e sim a sensação causada por cada
escolha (...) a intuição é um fator mais sutil do que a
razão. A avaliação da causa e do efeito é mais emocional
do que intelectual.” (CHOPRA, 1998, p.85)
O educador precisa se identificar com o que faz para fazê-lo bem.. O
prazer de ser um facilitador no processo da aprendizagem do outro deve ser
algo prazeroso para ambos. A cada momento cada pessoa pode alterar sua
história. CHOPRA (1998) reforça: “quando você faz uma escolha, você muda o
futuro.” (p.25)
18
CAPÍTULO II
O PROCESSO DE APRENDIZAGEM
Muitos foram os estudiosos e pesquisadores que deixaram registros
sobre a aprendizagem. Hoje, ainda muito se estuda e se pesquisa nessa área.
Como a aprendizagem envolve muitos fatores, inúmeras variáveis e uma
quantidade enorme de conexões cerebrais que responderão a uma variedade
muito grande de estímulos, o processo de aprendizagem será estudado por
muito e muito tempo ainda.
As descobertas são constantes e os recursos para avaliá-las também.
Jean Piaget nasceu na Suiça em 1896 e faleceu em 1980. Seu
interesse pelo desenvolvimento infantil sempre foi muito grande. Com sua
formação em biologia e sua sensibilidade e prazer em investigar o
desenvolvimento das crianças deixou seu nome registrado no que se refere
aos estágios de desenvolvimento das crianças.
Muitos psicólogos e estudiosos já tinham apresentado várias teorias
sobre as crianças, mas Piaget investigou sistematicamente, fez gráficos de
cada estágio do desenvolvimento de seus filhos e mostrou tanto o que ocorre
em cada momento do desenvolvimento como também como as crianças, no
seu desenvolvimento, vão se ajustando, se adaptando ao mundo.
2.1 – PIAGET E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL
Muitos filósofos e psicólogos estudaram o desenvolvimento infantil
observando os adultos e teorizando em cima de deduções. Piaget mostrou o
quanto é importante e necessário se observar a criança desde o nascimento.
Atualmente muitos outros estudos se fizeram presentes, mas há ainda
muitas escolas que trabalham com a metodologia baseada nos estudos de
Piaget.
19
“A metodologista de ensino piagetiana está relacionada a
uma estrutura flexível de arranjo de sala de aula e às
relações entre professora e criança e entre elas mesmas”
(CUNHA, 1980, p. 11)
Essa flexibilidade é que faz com que a aprendizagem possa acontecer
livre do medidas pré estabelecidas.
O meio em que um processo ocorre influência diretamente na
resposta.
Embora Piaget não tenha tido um olhar para o meio social, para o
contexto histórico e cultural, Piaget observou com cuidado a criança, o seu
desenvolvimento e como ela se colocava no mundo.
Outro estudioso que observou de forma mais ampla a pessoa, não só
a criança, e como papel do contexto histórico e cultural influencia nos
processos do desenvolvimento humano, foi Lev Vygotsky (1896/1934).
Voltando a Piaget e a metodologia piagetiana, baseada em seus
estudos, CUNHA (1980) cita: “ o aluno é levado não a responder perguntas
como na escola tradicional, mas a formulá-las diante do mundo externo. ” (p.
11)
Piaget trabalhou, quando estudante, com o desenvolvimento de alguns
dos primeiros testes de inteligência. Sua tarefa era de apresentar o mesmo
teste para um grupo de crianças e determinar se cada criança tinha dado a
resposta considerada certa para cada item ou não.
Piaget percebeu que as respostas erradas é que eram as
interessantes. Observou que crianças com idades semelhantes davam
geralmente as mesmas respostas erradas e que isso não ocorria com as
crianças de idades bem diferentes.
“ Piaget conclui que deveríamos nos interessar não pela
quantidade de conhecimento de uma criança ou por
quantos problemas ela possa resolver, mas sim pela
qualidade de seu raciocínio, seu modo de resolver
problemas. “ (BEE e MITCHELL, 1984, p. 242)
20
Essa abertura de Piaget diante do processo de aprendizagem fez com
que suas pesquisas e a metodologia baseada nos seus estudos tivesse uma
presença marcada nas pesquisas sobre o desenvolvimento das crianças . Bee
e Mitchell citam sobre as descobertas de Jean Piaget.
“ Esse conjunto de conclusões aparentemente simples,
com que a maioria dos psicólogos do desenvolvimento
agora concorda, é fundamentalmente diferente dos
pressupostos da teoria da aprendizagem que tinha
governado a psicologia infantil americana durante as
décadas de 1930, 40 e 50. “ (BEE e MITCHELL, 1984, p.
242)
Piaget chamou sua teoria sobre o desenvolvimento da criança, de
epistemologia genética. Usou termos específicos, são eles: assimilação,
acomodação, esquema. Assimilação, para ele, gerava a ideia de trazer algo
para si, de construir ou significar algo. Acomodação estava relacionado as
modificações e ajustes necessários para se adquirir algo. Esquema se
relacionava a ação a qual um conteúdo define um significado para a criança.
Os estágios listados por Piaget sobre o desenvolvimento humano são:
estágio sensoriomotor, estágio pré operacional, período de operações
concretas e período das operações formais.
O estágio sensoriomotor vai do nascimento aos dois anos. Nesse
período, CUNHA (1980) registra: “ a criança, carecendo de representação
mental, desenvolve a lógica da ação física através de seus movimentos e
percepções. “ (p.27)
No estágio pre operacional, que vai de dois a seis anos, a criança,
segundo BEE e MITCHELL (1984) “ usa símbolos internos que podem ser uma
espécie de forma abreviada da própria ação.” (p.248)
No estágio de operações concretas, que vai dos seis aos doze anos a
criança se afasta do específico para o mais geral. Ela pode lidar com situações
mais complexas e reversíveis. Na escola ela está apta para lidar com adição,
subtração, classificações e relações entre situações. Nesse estágio ainda é
necessário experimentar para conhecer.
21
A experiência real e concreta é incorporada a criança como
aprendizagem. BEE e MITCHELL (1984) “durante o período das operações
concretas, a criança aprende a pensar sobre objetos de modos diferentes e
flexíveis. “ (p. 273)
O estágio das operações formais vai dos doze anos em diante. Nesse
período, citam BEE e MITCHELL (1984) “ a criança está aprendendo a
manipular ideias da forma complexa (D) ela entende suas capacidades de
raciocínio para objetos e situações que não viu nem experimentou em primeira
mão “ (p.273)
O conhecimento dessas etapas descritos por Piaget orientam uma
linha de pensamento que faz do desenvolvimento humano uma sequência de
aprendizagens, aquisições, que vão favorecer a existência da pessoa.
2.2 – APRENDIZAGEM VISTA POR OUTROS ESTUDIOSOS
O que Piaget chamou de estágio sensoriomotor (de zero a dois anos),
Bruner chamou de estágio ativo e Lev Vygotsky (psicólogo russo) chamou de
período pré linguístico. Embora o nome, que para cada um usa e define melhor
esse período, seja diferente, BEE e MITCHELL (1984) reforçam: “
praticamente todos concordam que esse período inicial é uma etapa durante a
qual as interações da criança com o ambiente são governadas por ações
manifestadas. “ (p. 246)
O período de dois a seis anos que Piaget chamou de pré operacional,
Bruner chamou de estágio icônico onde a importância dos ícones (imagens) é
grande.
Dos seis aos doze anos Piaget definiu como período de operações
concretas mas Bruner o chamou de novo período de espaço simbólico.
A nomenclatura ajuda a definir um pensamento de um pesquisador ou
estudioso em uma área ou sobre algum assunto, mas não pode ser mais
importante do que a qualidade que cada um deles nos deixa e nos faz pensar
e repensar sobre o assunto.
22
Cada momento, cada local ou cultura traz um saber que toda a
sociedade vai valorizar como meta a aprender. O que é ser um bom professor
ou aluno em um período é bem diferente no outro. Quando Piaget ou outros
estudiosos nomeiam algumas fases isso, a princípio, independe da cultura.
Isso nos favorece na medida que percebemos o que pode ser aguardado de
uma criança em um determinado período. Com isso é possível se
instrumentalizar adequadamente para chegar a uma meta desejada.
Ampliando o olhar sobre aprendizagem, os sofistas, na Grécia Antiga,
eram professores de eloquência. Quando bem remunerados, ensinavam os
jovens de Atenas a usar as palavras com habilidade. “ Sofista. Cada um dos
personagens contemporâneos de Sócrates que chamavam a si a profissão de
ensinar a sabedoria e a habilidade (D) Os sofistas desenvolveram
especialmente a retórica, a eloquência e a gramática. “ (FERREIRA, 1999, p.
1876)
Roma conquistou a Grécia no século II a.C, mas foram os gregos que
se tornaram professores dos romanos. Os gregos possuiam um conhecimento
mais variado que os romanos. A própria palavra 'conhecimento' tem origem
grega e segundo CAMPOS e MIRANDA (2005) “ em latim, língua falada pelos
romanos, não existia uma palavra para 'conhecimento'. “ (p. 71)
“ Em grego, conhecimento se diz gnose. O prefixo latino
'co' é muito comum na língua portuguesa. Cognose, por
sua vez, significa gnose adquirida com o auxílio de
alguém. Daí o nascimento do verbo latino cognoscere,
'conhecer' em português. “ (CAMPOS e MIRANDA, 2005,
p. 71)
Conhecimento aprendizagem e outros assuntos relacionados sempre
foram pensados e repensados. Em alguns momentos da nossa história, com
um olhar recional, em outros, pela emoção. Não há uma resposta certa nem
uma verdade única. O ser humano caminha e no seu caminhar vai
encontrando verdades transitórias que o faz se transformar.
“ Einstein afirma que não existe nenhum experimento
empírico nem uma análise meramente mental capaz de
23
descobrir as leis fundamentais do cosmos, mas que essas
nos são reveladas através da intuição, que ele também
chama imaginação ou dedução. “ (ROHDEN, 2007, p.
104)
Entre 1746 e 1827 viveu Pestalozzi. Johan Heinrich Pestalozzi nasceu
em Zurique e experimentou vártias profissões: direito, política, agricultuta e
trabalho em orfanatos e internatos.
Sua visão da educação era voltada para a sociedade. Embora
considerasse a família importante, ele a achava insuficiente para, de fato,
educar uma pessoa. Seu olhar para as escolas era da universalização da
escola, ou seja, escola para todos.
A educação amplia. Só é possível pensar em educação com olhar
amplo sobre o mundo e os fatos de um modo geral.
“ O sujeito que se abre ao mundo e aos outros inaugura
com seu gesto a relação dialógica em que se confirma
como inquietação e curiosidade, como inconclusão em
permanente movimento na História. “ (FREIRE, 1996, p.
136)
Friedrich Froebel nasceu em 1782 e faleceu em 1852. Foi professor no
Instituto Pestalozzi. Seus objetivos com a educação eram de levar o ser
humano a uma consciência crescente.
Criou o primeiro jardim de Infância, chamado de Kindergarten, em
Blankerburg. Foi um educador atento as crianças e seu objetivo com o jardim
de Infância foi o de que as crianças pudessem viver suas experiências.
Maria Montessori foi outra educadora importante. Nasceu na Itália em
1870 e morreu na Holanda em 1952. Era médica e foi a primeira mulher com
doutorado de medicina na Itália. Seu interesse pela educação começou com
seu trabalho no Hospital Psiquiátrico de Roma onde iniciou seus estudos sobre
a educação das crianças especiais.
Maria Montessori criou em 1912 o Método Montessoriano onde pregou
o princípio da auto educação. O objetivo é que através de brinquedos
24
educativos a criança se desenvolva com criatividade e autonomia, com isso ela
estará produzindo a sua educação, educando-se a si próprio.
Outro médico também atento a educação e preocupado com as
crianças especiais foi Ovidio Decroly. Nascido em 1871 na Bélgica, faleceu em
1932 em Bruxelas.
Trabalhou em conjunto com Maria Montessori criando um novo sistema
de ensino primário com o objetivo de preparar a criança para a vida.
Buscar o auto conhecimento, educar-se a si próprio, afetividade, etc.
fazer do amadurecimento do ser humano um processo grandioso foi visto e é
percebido até hoje.
“ James W. Prescott desenvolveu estudos avaliando
diversas culturas humanas e a maneira que os filhos são
criados em cada uma delas. Descobriu que nas culturas
em que as crianças recebem carinho físico e não tem a
sexualidade reprimida há mais paz e harmonia. “
(LIPTON, 2007, p. 216)
O afeto e a percepção do ambiente vão criando registros em uma
criança desde a gestação, ou mesmo antes.
“ Psicólogos e neurocientistas estão desbancando o mito
de que crianças pequenas não se lembram, não
aprendem e que os pais são meros expectadores do
desenvolvimento dos filhos. O sistema nervoso de fetos e
crianças tem habilidades sensoriais e de aprendizado
muito amplas e um tipo de memória que os
neurocientistas chamam de memória implícita. “ (
LIPTON, 2007, p.186)
Celestin Freinet nasceu em 1896 na França e morreu em 1966. Freinet
enriqueceu a educação ao falar da vivência que a criança precisa ter para
aprender.
A criança sente, percebe, escolhe, saboreia a aprendizagem. Quando
ela vivencia algo ela entra em contato com seus sentimentos e emoções e isso
concretiza a aprendizagem.
25
Freinet foi professor de formação de professores primários. Foi o
primeiro educador na história da Pedagogia que partiu da base do processo de
aprendizagem. Suas ideias afirmavam que a criança pode chegar a linguagem
escrita naturalmente, experimentando sem a sequência do método tradicional.
Com o que chamou de “aula passeio” proporcionou as crianças viver a
aprendizagem, ampliar seu campo de vivência e ação.
Para Freinet jogo e trabalho funcionam juntos a favor da
aprendizagem. Compartilha desse pensamento outros educadores e também
JORGE BATLLORI (2009) que é doutor em Geologia e Educador de Meio
Ambiente. Ele ministrou cursos para diretores e monitores de recreação infantil
e juvenil e afirma: “O jogo pode (e deve) ser algo educativo e fonte de
aprendizagem. “ (p. 15)
“Não se trata de incluir na aula o mesmo jogo que a
criança pratica em casa, na rua ou quando participa de
acampamentos mas sim de buscar jogos e atividades
recreativas que sirvam para alcançar objetivos concretos
de aprendizado, aquisição de novos conhecimentos,
desenvolvimento de capacidades cognitivas e sociais, etc.
“ (BATLLORI, 2009, p. 14)
Foram vários os médicos que tinham sua presença marcada na
educação.
Edoward Claparede nasceu em Genebra em 1873 e morreu em 1940.
Embora fosse médico direcionou seus estudos para a psicologia. Sua proposta
na educação era de que aprender fosse um processo lúdico, individualizado e
social. Desenvolveu o que chamou de Educação Funcional. Essa pedagogia se
baseava nas necessidades e interesses da criança e não em uma linha de
conteúdos pre estabelecido.
Segundo Claparede deve-se aproveitar o dinamismo da criança e
prolongar com intenção e sabedoria o processo educativo.
Em 1912 fundou o Instituto Jean Jaques Rousseau. Esse instituto está
ligado a estudos da psicologia da criança e a pedagogia experimental.
26
“ É preciso que (D) desde começo do processo, vá
ficando cada vez mais claro que, embora diferentes entre
si, quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é
formado forma-se e forma ao ser formado. É nesse
sentido que ensinar não é transferir conhecimentos. “
(FREIRE, 1996, p. 23)
No início do século XX a educação buscava caminhos para
proporcionar, para oferecer uma educação que fosse, de fato mais produtiva
para o ser humano. Surgiu então o que foi chamado de Escola Nova ou Escola
Ativa. Três itens sublinhavam esse momento: a escola centrada na criança, a
escola centrada na comunidade e o direito à educação.
Nesse enorme projeto que foi a Escola Nova muitos educadores e
estudiosos da educação contribuiram com suas experiências. Foram eles:
Freinet, Maria Montessori, Decroly, John Dewey, Piaget e outros.
Sendo a educação um processo contínuo e constante o educador tem
que observar o processo como um todo e sempre.
A neuropedagogia na Educação Infantil é um enorme ganho. Ela
permite olhar com outros olhos qualquer momento da aprendizagem da criança
e complementar o estudo que tantos estudiosos já fizeram sobre a educação e
o processo de aprendizagem.
27
CAPÍTULO III
O NEUROPEDAGOGO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
”O médico grego Hipócrates (460 – 377 a.C.) foi o
primeiro a olhar para um homem tendo um ataque
epiléptico - uma crise de perda da consciência,
acompanhada de convulsões – e dizer: Não há nenhum
deus aí dentro; é um fenômeno do corpo desse
indivíduo”. (CAMPOS e MIRANDA,,2005, p.51)
Pensar além do que é esperado, ampliar a visão sobre um assunto, é
importante e necessário.
Os povos da antiguidade chamavam a epilepsia de doença sagrada e
a viam associada a deuses e demônios. Hipócrates foi além. Afirmava que as
doenças possuiam uma causa natural e que não deviam ser vistas como
punição divina.
A neuropedagogia amplia o olhar, faz observar o que ocorre
externamente com mais atenção e, ampliando o olhar, oferece uma sequência
de informações do que ocorre internamente.
Muito ainda há o que se estudar. BRUCE LIPTON (2007) compartilha
dessa ideia quando cita: “ainda precisamos desenvolver muitos estudos e
pesquisas sobre essa área tão promissora que envolve a física quântica, a
engenharia elétrica, a química e a biologia”. (p.142)
3.1 – EDUCAÇÂO INFANTIL
A Lei nº 9394 de 20/12/1996 estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional. Essa lei ampliou o conceito de educação em relação a lei
anterior.
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Ela registra sua finalidade logo no início quando cita sobre os princípios
e fins da Educação Nacional:
“A educação, dever da família e do Estado,
inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de
solidariedade humana, tem por finalidade o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.
(LDB nº9394/96 – Título II – art.2º)
(www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm)
No artigo 3º desta lei é acrescentado alguns pontos que não haviam
sido registrados na Constituição Federal de 1988, são eles : “O ensino será
ministrado com base nos seguintes princípios: ” (...) IV – respeito à liberdade e
apreço à tolerância (...) X – valorização da experiência extra escolar”.
(LDB nº 9394/96 – Título II , art. 3º)
(www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm)
Embora essas informações citadas acima não digam respeito somente
a Educação Infantil, isso além de se refletir nela (educação infantil) é muito
melhor na medida que envolve todos os níveis da educação. É valorizado o
crescimento do ser, a formação contínua.
Na LDB 9394/96 a Educação Infantil é tratada na Seção II – da
Educação Infantil. Em três artigos nessa seção ela apresenta que sua
finalidade é o “desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em
seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação
da família e da comunidade”. (LDB nº9394/96 – Seção II – artigo 29)
(www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEISqL9394.htm)
Ainda nessa seção acrescenta que será oferecida em creche e pre
escolas dependendo da idade e que a avaliação será feita por
acompanhamento.
A nível legal o cuidado com a criança está oficializado. A atenção
nesse momento é a qualidade dos profissionais envolvidos para que tornem
realidade esse projeto de educação.
29
Na educação infantil, mais do que em qualquer momento é necessário
afeto, pertencimento.
É claro que fazer parte de um grupo é próprio do ser humano. O
homem é um ser social e isso não cessa na educação infantil. Ser social é
algo que se prolonga pela vida toda.
Na educação infantil, porém, esse registro de pertencer a um grupo, de
ser valorizado, é importantíssimo. É o momento em que, por associação, uma
planta fortifica suas raizes e ao se enraizar com firmeza, tudo fica mais fácil,
tudo fica possível.
O processo do desenvolvimento infantil, novamente fazendo uma
associação, é como uma árvore que com suas raizes fortes, cresce com
firmeza..
TIBA (2002) reforça: “o respeito à criança lhe ensina que ela é amada
não pelo que faz ou tem, mas pelo simples fato de existir”. (p.55)
A escola é muito importante na formação de uma criança. A família e
a escola tem funções diferentes no processo de educação de uma criança.
A família não pode tomar o papel da escola, nem a escola o papel da
família.
Em casa, na família, a criança trabalha o aspecto pessoal da sua
personalidade. A criança vive o “eu”. Mesmo em uma família com vários
filhos, o ambiente familiar propicia o exercício do “eu”, que se for respeitado, se
não for negligenciado nem supervalorizado, estabelece uma postura saudável
da criança como agente de sua história.
Na escola a criança pertence a um coletivo. Um coletivo chamado
turma, classe ou escola. Um coletivo com atividades específicas.
“ A escola percebe facilidades, dificuldades e outras
facetas na criança que em casa não eram observadas,
muito menos avaliadas”. (TIBA, 2002,p.182)
A família e a escola compõem uma excelente parceria para a
educação de uma criança. Segundo TIBA (2002) “ a auto estima é a principal
base para encontrar um bom lugar no mundo”. (p.192)
30
A criança, na escola, durante o período de educação infantil reforça o
contorno de pertencer e existir em um tempo e espaço. Isso fortifica a
construção do seu ser. Howard Gardner ao falar sobre as inteligências
emocionais apresenta uma nova forma de olhar a aprendizagem, reconhecer o
canal pelo qual uma criança percebe algo novo e oferece mais informações
para se utilizar os instrumentos mais adequados para que a aprendizagem
ocorra.
“A inteligência emocional está relacionada com uma
questão de grande importância: as fronteiras do ego. Se
você sente que é uma pessoa isolada no tempo e no
espaço, desligada dos outros, não existe nenhum motivo
para que obedeça a outra orientação além dos seus
impulsos”. (CHOPRA, 1998,p.87)
Quando surgiu a Escola Nova ou Escola Ativa, John Dewey
(1859/1952) foi o representante dos principais trabalhos da pedagogia ativa.
Seu olhar fazia da escola uma sociedade em tamanho menor. Sua meta foi
que as crianças soubessem viver com qualidade.
Dewey além da educação em si, estudou sobre psicologia e sociologia.
Os estudos de Piaget apresentam o desenvolvimento da criança passo
a passo e afirmam que as transformações no seu desenvolvimento ocorrem
progressivamente. Uma etapa é substituida por outra naturalmente com
pontos importantes que definem o período.
Os contos de fada também desempenham um papel muito rico no
mundo infantil.
“Enquanto diverte a criança, o conto de fadas a esclarece
sobre si mesma, e favorece o desenvolvimento de sua
personalidade. Oferece significado em tantos níveis
diferentes, e enriquece a existência da criança”.
(BETTELHEIM, 1980, p.20)
O período da educação infantil é o período em que as crianças
descobrem as historinhas. A magia de uma história se mistura com suas
fantasias. Algo ocorre e o prazer de ouvir histórias acontece.
31
Além do prazer, a criança experimenta o mundo através dos contos de
fada e algo se organiza dentro dela. Ela cria valores e define caminhos.
“Tanto os mitos como as estórias de fadas respondem a
questões eternas: O que é realmente o mundo? Como
viver minha vida nele? Como posso realmente ser eu
mesmo? (...) Uma criança confia no que o conto de fada
diz porque a visão de mundo aí apresentada está de
acordo com a sua”. (BETTELHEIM,1980,p.59)
Nesse período até seis anos a fantasia da criança é real para ela. É o
momento de criar, de acreditar na sua criação, de se fortalecer para caminhar
pelo mundo com confiança.
Na peça teatral “A Bruxinha que era Boa” escrita por Maria Clara
Machado, a penúltima fala de um personagem chamado Pedrinho é: “Pronto,
seu malvado, você agora vai ficar aí até o resto da vida...e ninguém mais
aprenderá a fazer maldade ! “ (MACHADO, 1981, p.50)
Nesse momento o personagem Pedrinho toma a atitude que as
crianças queriam tomar. Ele faz por elas. Há uma solução e as crianças se
sentem respaldadas, seguras. A riqueza desse período até seis anos é
enorme. Esta peça ganhou o primeiro premio no concurso anual de peças
infantis da Prefeitura do Distrito Federal em 1955.
A educação infantil apresenta e deve oferecer recursos para
experiências saudáveis e um crescimento feliz para que um dia, o adulto possa
olhar para traz e gostar do que viveu, ter agradecimento e plenitude por ser
uma árvore sólida e com frutos. Poder olhar para traz e se perguntar, como o
poeta Carlos Drummond de Andrade fez em Legado:
‘Que lembrança darei ao país que me deu
Tudo que lembro e sei, tudo quanto senti?”
(ANDRADE, 1980,p.165)
32
3.2 – O NEUROPEDAGOGO
A neuropedagogia oferece à educação infantil a possibilidade de
conhecer o que ocorre com um processo interno e, em conjunto, com a
resposta externa da criança, acompanhar o processo de ensino aprendizagem.
Quando uma criança está aprendendo algo novo, inúmeras conexões
estão ocorrendo.
“Ensinar a uma pessoa uma habilidade nova implica
maximizar o potencial de funcionamento de seu cérbro.
Isso porque aprender exige necessariamente planejar
novas maneiras de solucionar desafios, atividades que
estimulem diferentes áreas cerebrais a trabalhar com
máxima quantidade de eficiência”. (RELVAS, 2010, p.15)
O profissional que trabalha com educação tem que estar de posse de
ferramentas que o permita alterar caminhos a qualquer instante.
O educador da educação infantil, acompanhando crianças em uma
fase que as mudanças são visíveis e constante tem que conhecer o máximo
dessas variáveis para poder não ser afastado do seu objetivo.
“ Como obter o máximo tanto da força como da fraqueza,
é um problema que envolve o exato uso do terreno”.
(TZU, 2006,p.86)
Enquanto pedagogo, o profissional observa a educação. Se bem
informado, ele pode pensar em caminhos mais estimulantes ou exercícios mais
interessantes. Embora a pedagogia tenha um valor enorme o alcance não
supre a demanda do processo de aprendizagem.
A neuropedagogia amplia a percepção. Ela pode encaminhar uma
criança para fazer uso de um recurso mais qualificado, um profissional mais
específico, ganhando com isso tempo, o que muitas vezes é garantia da
saúde.
Seus recursos de estimulação terão uma variedade e alcance maior.
A neurociência na educação infantil vem se desenvolvendo para
acrescentar no processo de uma educação de qualidade.
33
Ainda há muito o que se estudar mas já há muito o que se sabe e que
pode ser incorporado em todas as etapas do ser humano. Quando é
enfatizado Educação Infantil é porque nesse período de vida existe uma
variedade enorme de recursos que, se bem usados, trarão uma plenitude na
constituição do ser.
34
CONCLUSÃO
Conclui-se, baseado em todas as informações já apresentadas, que o
profissional neuropedagogo desempenha um papel importantíssimo no
processo da aprendizagem na Educação Infantil.
A educação Infantil, que lida com crianças até seis anos, precisa ter
profissionais envolvidos no processo de educação que sejam profissionais de
qualidade e com diferentes competências para que a criança possa ser vista
de forma bem rica e ampla.
O esquecimento,repetidas vezes, de uma criança em relação a uma regra pre
estabelecida pode ser vista como desatenção por um leigo. O neuropedagogo
tem informações e recursos e pode verificar se há suspeita de algo maior ou
diferente. Ele pode levantar hipóteses com um olhar mais qualificado.
A observação do neuropedagogo só é possível porque a neurociência,
enquanto ciência, percorre estudos que envolvem hormônios, neurônios,
hemisférios, etc.
As áreas de Brodmann mapeadas propiciam um olhar sobre áreas
cerebrais e de como elas estão associadas entre si.
Com a neurociência podemos conhecer mais sobre como um estímulo
produzido externamente, que chega ao corpo pelos órgãos dos sentidos,
percorre nosso corpo e gera uma resposta. E poder observar que resposta é
essa, se é coerente ou não com o que é esperado.
A neurociência se apresenta enquanto ciência para acrescentar. Na
união com a pedagogia amplia suas observações e passa a ter um olhar amplo
a respeito da saúde e da educação.
O neuropedagogo pode esclarecer para os professores da educação
infantil o que observar.
Ele pode, ao ouvir os educadores que trabalham diretamente com as crianças
levantar hipóteses e criar em conjunto estratégias de ação.
O neuropedagogo pode encaminhar crianças que estejam apresentando
alguma necessidade, para especialistas. Devido aos seus estudso o
neuropedagogo pode fazer isso com mais acertividade.
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Os dados que este neuropedagogo vai levantar e as hipóteses, possuem
mais qualidade e consequentemente vão orientar com mais precisão os
profissionais, e de forma mais adequada.
Conclui-se com isso que o neuropedagogo no processo de educação
infantil é essencial porque identifica e enriquece o processo educacional em
todos os níveis.
36
BIBLIOGRAFIA
ANDRADE, Carlos Drummond. Reunião. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1980. Anotações feitas durante as aulas de pós-graduação em Docência do Ensino Superior. Rio de Janeiro: Faculdade Integrada AVM, 2010 e 2011. Anotações feitas durante as aulas de pós-graduação em Neurociência Pedagogica. Rio de Janeiro: Faculdade Integrada AVM, 2010 e 2011. Anotações feitas nos meus estudos de graduação em pedagogia a distância. Rio de Janeiro: Faculdade Integrada AVM, 2010/atualmente. BATLLORI, Jorge. Jogos para Treinar o Cérebro. São Paulo: Madras, 2009. BEE, Helen L. e MITCHELL, Sandra K.. A Pessoa em Desenvolvimento. São Paulo: Editora Harper e Row do Brasil, 1984. BETTELHEIM, Bruno. A Psicanálise dos Contos de Fadas. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1980. CAMPOS, Flaviode e MIRANDA, Renan Garcia. A Escrita da História. São Paulo: Escala Educacional, 2005. CHOPRA, Deepak. As Sete Leis Espirituais para os pais. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. CUNHA, Maria Auxiliadora Versiani. Didática Fundamentada na Teoria de Piaget. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1980. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996. GARDNER, Howard. Inteligências Múltiplas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. LIPTON, Bruce H.. A Biologia da Crença. São Paulo: Butterfly Editora, 2007. LOPES, Sônia, ROSSO, Sergio. Biologia – volume único. São Paulo: Saraiva, 2005. LOSSOW, Jacob Francone. Anatomia e Fisiologia Humana. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 1990.
37
MACHADO, Maria Clara. Teatro I. Rio de Janeiro: Agir, 1981. PARKER, Steve. Anatomia e Fisiologia do Corpo Humano. Porto/ Portugal, Civilização Editores, 2007. RELVAS, Marta Pires. Neurociência e Educação. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2010. ROHDEN, Huberto. Einstein. O Enigma do Universo. São Paulo: Martins Claret, 2007. TIBA, Içami. Quem Ama, Educa! São Paulo: Madras, 2009. TZU, Sun. A Arte da Guerra, adaptação de James Clavell. Rio de Janeiro: Record, 2006.
38
WEBGRAFIA
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39
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
A NEUROCIÊNCIA E A PEDAGOGIA 10
1.1 – Neurociência 12
1.2 – Pedagogia 16
CAPÍTULO II
O PROCESSO DE APRENDIZAGEM 18
2.1 – Piaget e o desenvolvimento infantil 18
2.2 – Aprendizagem vista por outros estudiosos 21
CAPÍTULO III
O NEUROPEDAGOGO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 27
3.1 – Educação Infantil 27
3.2 – O Neuropedagogo 32
CONCLUSÃO 34
BIBLIOGRAFIA 36
WEBGRAFIA 38
ÍNDICE 39