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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A ESCRITA COLABORATIVA EM REDES SOCIAIS:
SUPORTE PARA A PRÁTICA DE REDAÇÃO ESCOLAR
Por: Patrícia Ferreira de Rezende
Orientador
Profª. Mary Sue
Rio de Janeiro
2010
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A ESCRITA COLABORATIVA EM REDES SOCIAIS:
SUPORTE PARA A PRÁTICA DE REDAÇÃO ESCOLAR
Apresentação de monografia à
Universidade Candido Mendes como
condição prévia para a conclusão do
Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”
em Tecnologia Educacional.
Por: Patrícia Ferreira de Rezende.
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, que me deu a força e a
vontade de ir cada vez mais além,
ignorando as pedras no meu caminho.
4
DEDICATÓRIA
Dedico essa monografia a meu filho,
Aluísio, que ilumina os meus dias e me
motiva a aprender cada vez mais e
sempre. A meus pais, Maria e Sergio, que
tanto contribuíram para o cumprimento de
mais esta etapa em minha vida. Também
a André Luiz K., que sempre acreditou em
meu potencial e que tem sido meu grande
incentivador, principalmente, com seu
amor e dedicação. Ich liebe ihnen!
5
RESUMO
Este trabalho analisa o fenômeno da escrita desde os tempos mais
remotos até a era digital, alcançando sua evolução máxima na escrita
colaborativa praticada nas redes sociais com o objetivo de incentivar a relação
do aluno-escrita e sua integração com a tecnologia ao praticá-la nos suportes
do Orkut, Blog e Google Docs.
Em seguida, são analisadas experiências com textos colaborativos
praticados nos suportes das redes sociais, bem como as redações escolares
de textos coletivos e/ou individuais em sala de aula a fim de se avaliar as
influências determinadas pelo uso da escrita colaborativa virtual no presencial.
6
METODOLOGIA
O corpus desta pesquisa foi realizado com base na análise de diversas
referências bibliográficas e webgráficas.
Para o estudo de caso, foram realizados experimentos em ambientes
virtuais e editores de escrita colaborativa nas redes sociais, a saber: Orkut,
Blog e Google Docs, e na sala de aula, com alunos internautas do Ensino
Médio de uma escola particular, localizada na Zona Norte do Rio de Janeiro.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
A evolução da escrita: da pré-história à era cibernética 10
CAPÍTULO II
Redes sociais: a revolução da Internet 19
CAPÍTULO III
A Escrita colaborativa nas redes sociais 31
CAPÍTULO IV - Estudo de caso
Do virtual para o real: a influência da escrita colaborativa nas redações
escolares 39
CONCLUSÃO 53
REFERÊNCIAS BIBLIO E WEBGRÁFICAS 54
ÍNDICE 57
FOLHA DE AVALIAÇÃO 58
8
INTRODUÇÃO
Século XXI. Era digital. Milênios se passaram desde o surgimento da
escrita e apesar dos constantes avanços tecnológicos, nenhum deles foi capaz
de substituí-la.
Em tempos de globalização, a Internet figura agora como principal
difusora de informações, culturas e negócios em detrimento às mídias
impressas. Engana-se, porém, quem acreditou no fim da escrita com a era
cibernética em virtude do aperfeiçoamento das multimídias digitais e do
fortalecimento da linguagem icônica e imagética. Na verdade, essas evoluções
só tornaram a escrita ainda mais indispensável, tanto para produzir
conhecimento como para acessá-lo, pois dela depende todo processo de
interação e de propagação de informações tanto no ciberespaço como no
mundo real.
A Internet diminuiu a distância entre as pessoas e isso alterou
radicalmente os relacionamentos interpessoais, pois graças à interação
promovida por ela surgem, a todo instante, novas redes sociais que incitam a
comunicação e fomentam a troca de conhecimentos e de experiências.
Milhares de pessoas ingressam, diariamente, nessas redes sociais da
Internet. Entre os participantes mais frequentes estão adolescentes e jovens
em fase escolar, muitos deles nativos digitais, os quais despendem grande
parte do seu tempo diário participando ativamente de comunidades; discutindo
em fóruns; respondendo a enquetes; fazendo pesquisas; participando de jogos;
paquerando ou simplesmente conversando em tempo real.
Dessa nova concepção de sociabilização e interação virtual surgiu uma
nova prática de escrita - a colaborativa - a qual tem se propagado por toda a
Web nos últimos tempos.
9 O foco desta monografia está na importância da escrita em sua forma
colaborativa virtual e das influências que essa escrita pode trazer para os
jovens nas práticas de produção textual em ambiente escolar.
O primeiro capítulo trata de uma breve história da evolução da escrita
desde os tempos da pré-história até a era cibernética; como a escrita surgiu e
se desenvolveu desde as placas de argila até chegar à tela do computador,
afirmando a sua importância para a humanidade.
O segundo capítulo aborda as características mais marcantes da
Internet culminando no surgimento das redes sociais em virtude da mudança
dos relacionamentos interpessoais. Nesse capítulo é feita uma análise das
redes sociais mais utilizadas pelos jovens em fase escolar, as quais podem ser
utilizadas com objetivos pedagógicos pré-definidos em relação ao
desenvolvimento da escrita.
O terceiro capítulo discorre sobre o processo de escrita que tem se
intensificado nas redes sociais: a escrita colaborativa.
Por fim, no quarto e último capítulo, será apresentado um estudo de
caso sobre algumas atividades de escrita colaborativa realizadas em três redes
sociais da Internet (Orkut, Blog e Google Docs) com alunos do ensino médio de
uma escola privada localizada na zona norte do Rio de Janeiro. Sua
aplicabilidade nas aulas de Língua Portuguesa também será analisada, bem
como as influências que esse tipo de escrita virtual pode trazer para a redação
escolar.
10
CAPÍTULO I
A EVOLUÇÃO DA ESCRITA:
DA PRÉ-HISTÓRIA À ERA CIBERNÉTICA
Desde o primórdio das civilizações, o homem tem se comunicado por
gestos, gritos e sons. Mas foi somente ao se organizar em grupos e a viver em
comunidade, que o homem, ainda primitivo, aperfeiçoou a forma de se
expressar articulando os sons e transformando-os em palavras e frases.
“Os primeiros agrupamentos humanos organizados já contavam com divisão de tarefas entre caçadores, coletores de vegetais, preparadores de alimentos, responsáveis pelas crianças. Essa primitiva, porém já complexa, rede social exigia uma forma de comunicação mais sofisticada que o gesto ou o grito - a linguagem. Ela permitiu que fosse criado o universo específico do ser humano.”1 (Superinteressante, 1989)
A comunicação humana evoluiu, então, de desconexas expressões
sonoras para uma elaborada linguagem oral em virtude de um longo processo
de convivência entre os grupos humanos.
Tal convivência pressupunha práticas dialógicas e interacionais
resultantes da natural organização social e cultural do homem, visto que,
segundo P. Bange (apud KOCH 2003, pág. 75), a linguagem é “essencialmente
um ato social pelo qual os membros de uma comunidade “inter-agem””.
Assim, com base nessas interações orais, os povos antigos
construíram suas culturas, adquirindo seus conhecimentos e os repassando
adiante por meio da língua falada, de pessoa para pessoa, através de
gerações. O homem, entretanto, percebeu que muitos desses conhecimentos e
histórias se perdiam ao vento, já que, devido à evanescência temporal da fala,
1 Acessado em http://super.abril.com.br/superarquivo/1989/conteudo_111484.shtml (11/12/2009)
11não era fácil organizar tantas informações só de ouvido, quanto mais retê-las
na memória.
Jean Dubois (1973, pág. 222) diferencia a fala da escrita ao relacioná-
las com a questão da fugacidade e da preservação, concluindo que “a fala se
desenrola no tempo e desaparece; enquanto a escrita tem como suporte o
espaço, que a conserva”.
Assim que o homem se deu conta dessa relação entre a fala e o
tempo, percebeu que só a transmissão oral não era suficiente para a
preservação das tradições, afinal entendeu que a cultura do povo esvaía-se a
cada vez que um membro da comunidade morria, por isso era extremamente
necessário conservá-la. Ele passou, então, a procurar uma forma de dar
permanência às palavras.
Tudo o que o homem necessitava era de um suporte, que
transpusesse a intangibilidade de seus pensamentos e conhecimentos,
funcionando como uma extensão de si mesmo de modo que preservasse sua
memória e que, sendo exterior a ele, fosse de fácil acesso.
A escrita surgiu, então, dessa necessidade de fixar a memória num
espaço que garantisse a sua durabilidade. (LÉVY, pág. 88). Contudo,
passaram-se milhares de anos desde as primeiras formas de registro escrito
feitas nas paredes das cavernas até a criação do alfabeto latino.
A origem da escrita, em sua forma mais rudimentar, remonta
aproximadamente a 6.000 anos a.C. com os pictogramas: desenhos ou
pinturas rupestres do homem primitivo, que tentava representar os objetos por
meio de expressão visual.
Dos pictogramas, a escrita evoluiu para os logogramas ou ideogramas.
Segundo Gelb (apud KATO 1986, pág.14) “a foneticização da escrita começa
com o logograma”, ou seja, o pictograma se aperfeiçoou, estilizando-se e
passou a ter, além de um conceito, também uma representação fonética.
12 Um sistema pictográfico mais estilizado foi desenvolvido pelos
sumérios, povo que vivia na Suméria, região da Mesopotâmia, e que são
considerados a civilização mais antiga da humanidade. Tal sistema originou um
tipo de escrita logográfico-silábica, que representava conceitos por meio de
símbolos carregados de valores fonéticos. Essa escrita ficou conhecida como
escrita cuneiforme, uma vez que era realizada com uma cunha, um tipo de
instrumento cortante utilizado para escrever os símbolos em placas de argila.
Os egípcios, a partir do sistema logográfico, criaram seus próprios
caracteres: os Hieróglifos. Para eles, a escrita era sagrada (do grego hiero
«sagrado» e glyfus «escrita») e tinha a função mística de proteger templos,
túmulos (pirâmides) e prédios religiosos. Para registrar outras atividades mais
cotidianas ou administrativas, eles utilizavam o hierático, uma versão cursiva e
mais simplificada dos hieróglifos.
Os fenícios foram excelentes navegadores e comerciantes que viveram
próximos ao Mediterrâneo, numa área onde hoje é o Líbano. Por serem muito
desenvolvidos e organizados socialmente, tiveram necessidade de registrar
suas atividades, principalmente as comerciais. Assim, tomaram como base os
hieróglifos egípcios para formarem seu sistema de escrita silábico, criando
cerca de 22 símbolos, os quais representavam apenas o esqueleto
consonântico da palavra (DUBOIS, 1973). Não havia vogais neste sistema,
mas essas eram deduzidas de acordo com o contexto. O sistema fenício de
escrita ficou conhecido como Silabário.
Os gregos possuíam grandes relações com os fenícios, principalmente
comerciais, o que fez com que conhecessem bem o sistema de escrita fenícia.
Sentiam falta, porém, de sons vocálicos. Então, os gregos introduziram vogais
e adaptaram o Silabário, criando assim o primeiro alfabeto de que se tem
notícia, com consoantes e vogais, originando o sistema alfabético de escrita.
Esse mesmo alfabeto grego sofreu algumas alterações e finalmente resultou no
alfabeto latino, que não mais se alterou e, até hoje, é utilizado pela maioria das
línguas ocidentais, inclusive pela nossa Língua Portuguesa.
13 O surgimento da escrita marcou profundamente a existência humana
sobre a Terra. A tal ponto, que acabou por dividi-la em duas partes: Pré-história
e História. Enquanto tudo o que ocorreu no mundo antes da escrita é
denominado de Pré-história; a todos os acontecimentos e transformações
ocorridos pós-escrita, dá-se o nome de História. E essa nada mais é do que o
somatório de tudo o que o homem tem registrado e documentado até os dias
de hoje.
As antigas civilizações iniciaram suas histórias ao escreverem suas
leis, doutrinas, registros contábeis, assuntos administrativos, políticos,
econômicos, religiosos e mesmo cotidianos.
Entretanto, poucas eram as pessoas que dominavam a arte da escrita.
Em primeiro lugar, porque escrever era um processo muito longo e trabalhoso
e, em segundo, porque somente pessoas oriundas das classes mais abastadas
ou com um certo destaque social, com acesso direto aos reis ou chefes de
governo (por exemplo, como os sacerdotes ou altos funcionários), tinham esse
privilégio. Desse modo, o domínio da escrita estava intimamente ligado à
manipulação e ao controle social, pois só quem sabia escrever detinha a
informação e o conhecimento, os quais, por sua vez, também eram repassados
para poucos, afinal não era qualquer pessoa que sabia decodificar os sistemas
de escrita através da leitura.
No Antigo Egito, somente os sacerdotes e os escribas dominavam o
sistema de escrita hieroglífica. Por isso, eles eram dotados de grandes
privilégios na sociedade egípcia, o que os tornava pessoas altamente influentes
e poderosas junto ao Faraó e os diferenciava do resto do povo.
A escrita era sagrada não só para os egípcios, mas para muitos povos
da antiguidade, pois acreditavam que o ato de escrever estava ligado
diretamente aos deuses.
Até mesmo na Bíblia, base da religião cristã e considerada o livro mais
antigo do mundo, faz-se menção à escrita como um ato divino. Em Êxodo,
14quando Deus decide enviar seus mandamentos a Moisés para que sejam
seguidos pelos homens, a escrita aparece como forma de intervenção divina:
“(...) porque em seis dias fez o SENHOR os céus e a terra, e ao sétimo dia descansou, e restaurou-se. E deu a Moisés (quando acabou de falar com ele no monte Sinai) as duas tábuas do testemunho, tábuas de pedra, escritas pelo dedo de Deus.”
(BÍBLIA, Êxodo 31:18)
Acredita-se que, inclusive, a Bíblia se deve a uma forma de inspiração
e intervenção divina. Daí, ela ser chamada também de “Sagradas Escrituras”.
Independente da fé religiosa professada, muitos cientistas no mundo
inteiro consideram a Bíblia como um importante documento histórico, em
função dos acontecimentos registrados em épocas remotas, os quais têm
servido de base para pesquisas em diversas áreas do conhecimento.
Mito ou realidade, o fato é que a Bíblia também menciona a
necessidade que Deus teve de marcar a palavra. Ao gravar os mandamentos
em tábuas de pedra, Deus assim o fez, de forma a garantir a durabilidade de
suas palavras, para que os homens jamais se esquecessem de Suas leis.
Isso confirma a preocupação constante com a preservação das
lembranças. Por isso, o homem tenta de todas as formas possíveis inscrever a
memória em diferentes tipos de espaço. (CHARTIER, 2007, pág. 9)
De acordo com Magda Soares (2002, p. 149), “Todas as formas de
escrita são espaciais, todas exigem um “lugar” em que a escrita se
inscreva/escreva, mas a cada tecnologia corresponde um espaço de escrita
diferente”, ou seja, as técnicas de escrita se adaptam aos suportes utilizados.
Assim, o homem, sempre buscando aperfeiçoar a técnica da escrita, foi
aperfeiçoando cada vez mais os diversos tipos de suporte material utilizados ao
longo dos milênios a fim de facilitar o trabalho, reduzindo o tempo de escritura
e aumentando a sua durabilidade. Muitos materiais foram utilizados, entre eles:
15pedras, placas de argila, ossos, madeiras, metais, fibras de plantas, papiro,
pergaminho, trapos de pano, papel e, finalmente, a tela do computador.
Originário de uma planta, o papiro foi uma criação egípcia, que foi
muito utilizada, inclusive pelos gregos e povos do antigo oriente. Muitos papiros
foram encontrados enrolados em pirâmides e em templos religiosos e, apesar
de frágeis, foram os responsáveis pela propagação da cultura egípcia no
mundo.
O pergaminho também foi um suporte muito utilizado na antiguidade e
durante o início da Idade Média. Por ser feito de couro de animais, era um
material mais resistente que o papiro, porém era muito mais caro. Entretanto,
foi a partir dele que o livro começou a ser elaborado.
Finalmente, por volta de 105 a.C., os chineses inventaram o papel, cuja
técnica de confecção foi mantida em segredo durante séculos. Com o tempo, o
segredo dos chineses foi descoberto pelos árabes e judeus, que passaram a
confeccionar papéis a partir de trapos de pano, difundindo-os por toda a
Europa.
Na Idade Média, produzir um livro era algo que despendia muito tempo.
Inicialmente, os livros eram manuscritos em pergaminhos, por monges
copistas, que viviam em clausura em Mosteiros cristãos. Lá trabalhavam
incansavelmente na preservação de cópias de textos clássicos e religiosos.
Dependendo do tamanho da obra, essa poderia levar meses para ficar pronta.
Entretanto, por volta de 1450, todo o trabalho de escrita foi
revolucionado quando Johannes Gutenberg inventou a prensa e fez da Bíblia o
primeiro livro impresso do mundo.
A invenção de Gutenberg foi de extrema importância para a
humanidade, pois propiciou tanto a propagação do conhecimento quanto a
proliferação e o barateamento dos livros. Além disso, favoreceu, a
popularização da escrita, desfazendo não só o domínio que os escribas das
16classes mais abastadas e os monges copistas tinham sobre ela, tornando-a
não mais privilégio de poucos, mas também colaborou por desfazer o domínio
da nobreza e principalmente o da Igreja sobre o resto do povo.
Até então, o conhecimento era domínio de poucos, pois a sua difusão
ainda era controlada. Mas depois de Gutenberg, tudo mudou, já que de acordo
com Schilling:
“(...) a nova arte de imprimir livros provocou temores de toda ordem, pois, para muitos, o livro saído de um prelo, e não da tinta de um monge escriba, tornou-se uma força subversiva, capaz de abalar a fé e de reduzir a autoridade da igreja.(...)”
(SCHILLING, 2010, p.1)2
Contudo, mesmo depois do aparecimento do impresso não houve uma
ruptura total com o manuscrito como acreditavam que haveria na época da
criação da prensa. Como nem todo o conhecimento ou informação eram para
ser distribuídos, muitos textos continuaram sendo escritos à mão a fim de
serem somente arquivados ou mantidos em segredo, como no caso de
documentos e diários.
Depois do surgimento da escrita, do livro e da invenção da imprensa,
mais um grande acontecimento veio mudar o curso da humanidade: o advento
da Internet.
A transformação radical que a Internet causou ao mundo,
principalmente no tocante à proliferação de conhecimentos, é irreversível.
A Internet possibilitou a virtualização da escrita e a conseqüente
digitalização dos textos. Além disso, ela favorece cada vez mais a interação
entre as pessoas, proporcionando trocas de informações e de experiências
resultando na ampliação da inteligência coletiva, que segundo Pierre Lévy:
“É uma inteligência distribuída por toda parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em uma
2 Acessado em http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/gutemberg.htm (13/12/2009)
17mobilização efetiva das competências. (...) a base e o objetivo da inteligência coletiva são o reconhecimento e o enriquecimento mútuos das pessoas”. (LÉVY, 2007, p.8)
Depois de tantas informações e conhecimentos perdidos, sonegados,
manipulados ou mal distribuídos através dos séculos, a Internet surge como um
espaço onde a liberdade de expressão é uma constante, fazendo com que
qualquer pessoa se torne um autor. Assim, diversos milhares de escritos são
disponibilizados de segundo em segundo tornando seus conteúdos
praticamente incontroláveis quanto à autoria e à veracidade. Tal fato acarreta
gigantescas e impetuosas ondas de informações acessíveis na rede.
De acordo com Pierre Lévy (2007), toda essa ampliação da cultura
universal proporcionada pela web e essa disponibilização, infinitamente
crescente, de conteúdos online caminha cada vez mais em prol da formação da
inteligência coletiva. Tal agregado universal de inteligência transforma em
realidade dois grandes sonhos do homem que há muito se tornaram mitos: o
de Alexandria e o da Torre de Babel.
O sonho de uma biblioteca universal, a qual abarcaria o maior número
possível de textos, informações, livros, enfim, abrangendo o máximo de
conhecimento, sem, entretanto, estar num mesmo lugar (físico) é retomado por
Chartier em relação ao futuro da Internet:
“Desde Alexandria, o sonho da biblioteca universal excita as imaginações ocidentais. Confrontadas com a ambição de uma biblioteca onde estivessem todos os textos e todos os livros, as coleções reunidas por príncipes ou por particulares são apenas uma imagem mutilada e decepcionante da ordem do saber. (...) Com o texto eletrônico a biblioteca universal torna-se imaginável (senão possível) sem que, para isso, todos os livros estejam reunidos no mesmo lugar”. (1999, pág. 117)
De acordo com o mito bíblico da Torre de Babel (Gênesis 11), ainda no
início do mundo, a humanidade era toda unida e todos compreendiam uns aos
outros por falarem a mesma língua. Juntos, os homens acharam-se muito
poderosos. Tanto que decidiram construir uma torre a fim de que pudessem
18ficar sempre unidos e alcançar os céus. Acontece que Deus não permitiu esse
intento e destruiu a tal torre, dispersando-os por toda a terra e confundindo
suas línguas para que não mais entendessem uns aos outros, dividindo-os
entre si. Embora seja um mito, é fato que os homens realmente estão
dispersos por todo o planeta, separados entre si, tanto por diferentes línguas,
como por guerras, religiões e localizações geográficas. Até hoje, somente a
Internet foi capaz de reunir quase toda a humanidade, ignorando as barreiras
existentes entre os homens. Isso a torna, então, um misto de Torre de Babel e
de Biblioteca de Alexandria reunidas num só lugar, ainda que virtual.
“(...) tudo levava a crer que inúmeras tentativas de reunir a humanidade, seja em que projeto for, redundavam em fracasso. Neste tempo todo, não faltaram profetas, nem poetas, conquistadores ou estadistas, filósofos gregos ou humanistas renascentistas, racionalistas ou revolucionários, messias de toda a ordem, que não tentassem reparar o estrago feito por Jeová nas antigas terras da Babilônia, e fazer com que a humanidade reencontrasse uma maneira de falar a mesma língua, ou pelo menos se sentasse ao redor da mesa e, mesmo por sinais, tentasse recuperar o entendimento perdido pelos tataranetos de Noé.” (SCHILLING, 2010, p.1)3
Assim, a Internet é considerada agora como o centro universal de
abastecimento cultural, em cuja fonte todos vêm beber, seja fazendo
pesquisas, acessando textos, imagens, vídeos, músicas, conversando ou
trocando experiências com pessoas de todas as partes do mundo.
Enfim, a base de toda interação virtual se baseia na escrita. Logo, de
todas as invenções, a escrita foi, senão a maior, certamente, a mais marcante,
já que permeia praticamente todas as atividades realizadas pelo homem, tanto
no mundo real como no virtual, mantendo assim sua autoridade, enquanto
tecnologia intelectual independentemente do suporte utilizado.
3 Acessado em http://educaterra.terra.com.br/voltaire/artigos/babel.htm (13/12/2009)
19
CAPÍTULO II
REDES SOCIAIS: A REVOLUÇÃO DA INTERNET
O advento da Internet indubitavelmente transformou a existência
humana ao criar um universo paralelo ao nosso mundo real.
Essa gigantesca teia formada por milhões de computadores
interligados em todo o mundo é um sistema vivo, mutante e extremamente
complexo que se expande a cada instante.
Altamente democrática e acessível, em praticamente quase todas as
partes do planeta, a Internet promove a desterritorialização, favorece a
comunicação e a difusão do conhecimento, propicia a troca e o
compartilhamento de informações e arquivos e, principalmente, incita a
ampliação das redes de relacionamento através da interação social, de práticas
colaborativas e da coletivização da inteligência.
O ciberespaço parece adotar para si o antigo lema iluminista
“liberdade, igualdade e fraternidade” (LÉVY, 2007). Além da incontestável
liberdade de ir e vir, graças à inexistência de fronteiras no mundo virtual, a
Internet professa ainda a liberdade de expressão e a igualdade entre as
pessoas. Tal igualdade permeia toda a rede, já que permite,
indiscriminadamente, o acesso de pessoas de diferentes idades, gêneros
sexuais, raças, credos, classes sociais e níveis intelectuais. A fraternidade é
verificada em escala global justamente por essa interconexão de pessoas e a
consequente formação das redes sociais.
Adentrar nos labirintos da Internet acarreta, a princípio, um profundo
sentimento no ser humano: a liberdade. Essa lhe sobrevém, porque ao
ultrapassar a tênue linha que o mantém no mundo real (do aqui e agora), ele se
virtualiza, deixando o seu corpo para trás (RHEINGOLD, 2000), projetando-se
no ciberespaço.
20 Quando conectado à rede mundial de computadores, tem-se à
disposição, em questão de segundos, o mundo inteiro, literalmente na ponta
dos dedos. Afinal, com um simples clicar de mouse, pode-se estar em todos os
lugares ao mesmo tempo, sem estar, porém, em nenhum deles fisicamente. O
homem se torna um ser ubíquo, um nômade virtual (LÉVY, 2007) dentro do
incomensurável mundo cibernético.
Assim, graças a essa virtualidade, não há lugar onde não se possa ir;
nem há topo da montanha que não se possa alcançar. Em frente à tela do seu
computador, e sem ao menos se mexer em sua confortável cadeira, o
internauta pode, em instantes, por exemplo, ir de uma praia no Caribe ao topo
do Monte Everest, visualizando o nosso planeta inteiro diretamente do satélite
através da Internet.
No mundo virtual, tudo são substâncias intangíveis, projetadas pelo
real; existentes em algum lugar da realidade, mas que simplesmente não se
encontram presentes na virtualidade, pois ultrapassam o tempo e o espaço. E
enquanto a noção de distância se esvaece, a idéia de tempo permanece, já
que a velocidade arrebatadora da Web consegue sobrepujar as distâncias e
alinhar o tempo em volta do planeta apesar dos fusos horários, mantendo a
sincronicidade dos atos virtuais. Assim é possível que pessoas se comuniquem
quase que instantaneamente mesmo estando nos opostos do globo.
O processo de virtualização pode ser facilmente compreendido ao se
observar alguém que visualiza sua própria imagem num espelho enquanto,
conectado à Internet, faz uma projeção de si mesmo através de uma Webcam.
Tanto a imagem refletida no espelho quanto a imagem projetada, que
atravessa milhares de cabos e conexões até chegar à imensidão ciberespacial,
são virtualizações. Apesar de serem cópias fieis, as imagens são apenas
representações do real, mas não são o real. O espelho e o computador com
webcam são apenas interfaces, que possibilitam a transposição de um mundo
para o outro. As imagens não são a realidade em si, mas a potencialidade da
existência, a virtualidade, a “não-presença” do ser (LÉVY, 2007).
21 Portanto, entrar no mundo virtual, conectar-se à Internet, nada mais é
do que projetar a si mesmo para além de uma posição temporo-espacial
determinada, ou seja, um mundo paralelo além de sua atualidade, que confirme
sua existência justamente pela sua “não presença”.
Na verdade, não só o homem pode se virtualizar e estar disponível na
Web, mas também qualquer coisa que exista no mundo real, pois tudo é
virtualizável, tanto uma informação, um texto, uma imagem, um vídeo, uma
música, quanto uma empresa, uma negociação ou mesmo uma comunidade.
(LÉVY, 2007).
Porém, de tanto navegar pelas infindáveis páginas e sites - caóticos
labirintos cibernéticos - o homem se deu conta de que ao mesmo tempo em
que tinha um maravilhoso mundo novo em suas mãos estava se isolando do
mundo real e das pessoas de carne e osso. E, então, lhe sobreveio mais um
profundo sentimento: tinha se perdido no mar da solidão.
Desde os tempos das cavernas, porém, o homem não subsiste
sozinho. Sua necessidade de exposição e comunicação são intensas. Ele quer
se mostrar e ser visto por alguém; quer estabelecer contato, conversar, enfim,
precisa interagir. Afinal, ele precisa do outro para confirmar a sua própria
existência.
O homem virtual, então, para se reconhecer em meio ao caos,
instintivamente começou a se organizar e, mais uma vez, revolucionou a
história ao formar grupos dentro da própria Internet, originando, assim, as
comunidades virtuais e as redes sociais.
Howard Rheingold foi um dos primeiros a pesquisar sobre essas
organizações de grupos online e o primeiro a usar o termo “comunidades
virtuais” ao definir que:
“As comunidades virtuais são agregados sociais que surgem da Internet, quando uma quantidade suficiente de gente leva adiante essas discussões públicas durante um tempo suficiente, com
22suficientes sentimentos humanos, para formar redes de relações pessoais no ciberespaço.” (1996, p. 20)
Tal definição pode ser aplicada a grupos e listas de discussão que
foram as primeiras comunidades a surgir na Internet a partir de constantes
interações por e-mails, fóruns ou chats em torno de interesses e objetivos
comuns, criando vínculos afetivos entre os participantes. Entre os interesses
mais comuns estão os educacionais, culturais, comerciais, profissionais,
familiares, religiosos, espirituais e outros de ordens diversas.
A grande maioria dessas comunidades virtuais surgiu a partir do
desconhecimento dos participantes entre si que só passaram a criar laços
depois que começaram a interagir uns com os outros. Já as redes sociais
surgiram com o intuito principal de transpor para o virtual as relações
interpessoais já existentes no mundo real, fortalecendo-as, além de ampliar o
círculo social fazendo novas amizades.
Muito embora as redes sociais se construam em torno da coletividade,
elas mantêm a individualidade dos participantes, pois se baseiam na exposição
de perfis com fotos, características e preferências de cada indivíduo, assim
como se pode perceber nas redes mais conhecidas do mundo, como Orkut,
FaceBook, MySpace, Tagged, Twitter, Sonico, Ning, Badoo, Blogs, Fotologs,
há sempre um perfil individual, representando uma pessoa real.
As redes sociais são formadas com o objetivo de virtualizar
relacionamentos reais, de modo que esses possam se renovar ou se fortalecer
através de recados constantes ou comunicações instantâneas. Além disso,
pode-se ampliar o círculo social fazendo novas amizades a partir de amigos em
comum ou dentro de comunidades, que surgem a todo instante dentro das
redes, principalmente no Orkut, onde são disponibilizados fóruns exclusivos
para debates, aprendizagens, trocas e interações de forma que as pessoas
possam se reunir de acordo com suas afinidades e interesses.
23 Wasserman e Faust; Degenne e Forse (apud RECUERO, 2009, p. 24)
afirmam que “uma rede social é um conjunto de dois elementos inseparáveis:
atores e suas conexões”, ou seja, o ciberespaço é o melhor palco para a
representação de personagens. Afinal, todos querem aparecer, se mostrar para
alguém; querem encantar e conquistar, nem que para isso forjem a própria
aparência ou simulem outras personalidades.
No mundo real não se pode trocar de rosto e de nome, simplesmente
porque se tem vontade. Há nisso várias implicações sociais, jurídicas e,
inclusive, psicológicas. Mas, na Internet, pode-se trocar de personalidade como
num piscar de olhos, pois tudo é permitido.
Assim, os internautas utilizam nomes, nicknames, avatares, desenhos,
ícones, símbolos, fotos pessoais ou mesmo fotos de pessoas famosas, para se
autorepresentarem em seus perfis. Afinal eles são virtualizações e, embora não
tenham corpo físico, precisam estar bem apresentáveis para o outro, de modo
que se forme uma conexão entre eles ampliando assim as suas redes.
Enquanto muitos se mostram completamente na Internet; uns são o que não
mostram ser ou fingem ser o que não são, como os ´fakes´, ou seja, as falsas
identidades que se propagam pelas redes.
Enfim, as redes sociais são os lugares mais mágicos e dinâmicos da
Internet. São pontos de encontro virtual, onde todos estão por livre e
espontânea vontade, como se fizessem da rede uma extensão de suas
próprias casas. Lá são livres para ser o que quiserem, falar o que quiserem e
com quem bem entenderem. Podem aprender coisas novas, compartilhar,
fofocar, discutir, participar, colaborar, interagir, jogar, enfim não há limite de
ações dentro das redes. Certamente, é dentro dessas redes que a ideia de
fraternidade dos Iluministas finalmente passa a fazer sentido.
242.1. Interação e colaboração no universo paralelo
O ser humano é um ser social, pois precisa do outro para viver.
“Ninguém é uma ilha em si mesmo. Cada um é uma porção do continente, uma
parte do oceano” 4. Logo, é do relacionamento com o outro (seja ele
educacional, profissional, emocional, comercial ou de qualquer outro tipo) que
resultam as trocas interpessoais, a aprendizagem, a ampliação do
conhecimento e a criação e o fortalecimento dos laços sociais e é dessa
necessidade que as comunidades, as sociedades e as redes virtuais se
formam.
Todo e qualquer tipo de troca interpessoal, tanto fora quanto dentro da
Internet, acontece graças à interação, à colaboração e ao compartilhamento.
A interação numa comunicação mediada por computador é muito
diferente da realizada face a face. É um relacionamento sem qualquer contato
físico, onde a questão do ambiente virtual, da ideia de tempo, da ausência
corporal, da presença da interface, da proximidade mental e da necessidade
individual tem relação imediata com o lado emocional e psicológico de cada
um. Muitas das vezes essa interação se realiza através da linguagem escrita,
que proporciona uma proximidade estranhamente distante, unindo as pessoas
por laços invisíveis que embora frágeis (pois podem ser interrompidos a
qualquer momento pela perda da conexão com a Internet) são, ao mesmo
tempo, profundamente marcantes.
Numa interação face a face, várias questões também interferem num
relacionamento. O ambiente, o objetivo da mensagem, a mensagem, o
contexto situacional, o gestual, a linguagem, a entonação, o nível de
intimidade, tudo isso influencia a interação. Além de tudo isso, tal relação,
baseada geralmente na linguagem falada, é afetada pela presença tangível do
outro, alterando consideravelmente o estado emocional e a forma de interagir.
4 Citação de John Donne, poeta inglês.
25 O reconhecimento do outro e a conexão com ele estabelece, na
verdade, uma ligação com a inteligência coletiva, produto da colaboração entre
as mentes conectadas mundialmente. Essa conectividade indica que todos
fazem parte de uma sociedade de mentes como a afirma Donald Davidson:
“Quando contemplamos o mundo real [ou virtual] que partilhamos com os outros, não perdemos o contato conosco, mas nos reconhecemos como membros de uma sociedade de mentes. (...) E essa comunidade de mentes é a base do conhecimento e a medida de todas as coisas.” (apud MARCUSCHI, 2008)
Dessa forma torna-se claro o desejo humano de colaborar com o outro
em prol da aquisição e da propagação do conhecimento. O que o homem quer
é conservar sua cultura e compartilhá-la, preservando assim a inteligência da
humanidade.
2.2. As redes sociais e suas possibilidades pedagógicas
Partindo do pressuposto de que a tecnologia é pervasiva e que, graças
a isso, os jovens preferem as novidades tecnológicas às aulas arcaicas ainda
baseadas nos métodos tradicionais, mantendo-se alienados e desmotivados na
sala de aula, faz-se necessário integrar as tecnologias às práticas pedagógicas
de forma, que motivados e incentivados, não se evadam do ambiente escolar.
Dentre todas as novidades tecnológicas, sabe-se que a maioria dos
jovens internautas tem preferência pelo computador. Nele despendem grande
parte de seu tempo livre navegando em redes sociais da Internet e dedicando
pouquíssimo ou nenhum tempo aos estudos fora do horário escolar.
Por isso, têm-se incorporado as redes sociais como aliadas ao ensino
de produção textual sob a forma de escrita colaborativa para convencer os
alunos de que as atividades escolares podem ser bem interativas, divertidas e
bastante proveitosas. Assim, é feita aqui uma análise de duas redes sociais,
com grandes possibilidades pedagógicas, as quais são mais conhecidas ou
26utilizadas por jovens em fase escolar: o Orkut e o Blog. Será analisado ainda o
ambiente do Google Docs, que, embora não seja muito conhecido, tem
também grande potencial pedagógico.
2.2.1. Orkut
Desenvolvido em 24 de janeiro de 2004, pelo engenheiro turco Orkut
Büyükkokten, funcionário do Google, o Orkut é um site de relacionamentos que
se amplia a partir da adição de novos amigos com interesses comuns e da
filiação a comunidades.
“Who do you know?” ou “Quem você conhece?” Essa é a frase de
chamada que aparece na página principal do Orkut. Pergunta bem sugestiva,
que funcionava até há algum tempo atrás como uma contrassenha.
A tal senha de acesso, porém, era um convite enviado por um amigo já
cadastrado. Ou seja, ainda no início de sua criação, o Orkut funcionava como
um clube privado, onde ninguém entrava sem ser convidado. Mas quem era
convidado também poderia enviar convites para os seus amigos e esses, por
sua vez, convidariam também mais amigos e assim sucessivamente. Hoje, não
há mais necessidade de convites, basta se cadastrar no site ou ter um email do
Gmail, que também faz parte do império Google, mantenedor do Orkut.
Dentro da rede, o associado personaliza o seu perfil em três partes
(abas): social, profissional e pessoal, adiciona-lhe fotos e especifica seus
gostos e características físicas e psicológicas.
Como nem tudo é tão perfeito, o Orkut apresenta dois grandes
problemas: a falta de privacidade e os famosos fakes. Do primeiro não se pode
reclamar muito, afinal os perfis do Orkut são públicos. Este problema, porém,
está sendo corrigido aos poucos, pois agora já se pode bloquear totalmente a
visualização dos álbuns de fotos ou permiti-la somente a grupos ou pessoas
determinadas. O segundo problema é o surgimento de perfis falsos, ou seja, os
27famosos fakes, os quais invadem comunidades para perturbar a ordem e
promover o caos dentro dos fóruns.
Assim, do amigo que faz mais um amigo e do amigo que conhece o
amigo do amigo formou-se um gigantesco círculo de amizades, uma rede
social que se amplia exponencialmente dia a dia e que se tornou a mais
utilizada no Brasil, transformando-se hoje num ponto de encontro certo para
todas as tribos virtuais, organizadas nas mais diversificadas comunidades.
Segundo Patrícia Gallo (MERCADO, 2006), o Orkut proporciona uma
excepcional oportunidade de integração da tecnologia com as aulas
tradicionais ao se trabalhar com alunos a distância, dando continuidade às
atividades fora do ambiente escolar.
Como a maioria deles já possui um perfil nesta rede, eles têm livre
acesso e o pleno domínio sobre as ferramentas a serem utilizadas. Desse
modo, na falta de um Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) mais
específico, o Orkut pode ser utilizado como um, reunindo alunos em
comunidades criadas especialmente para isso, a fim de participarem de
atividades complementares ou extracurriculares, como Patrícia Gallo afirma:
“Muitos colégios e faculdades não possuem uma plataforma própria, disponível aos professores para auxiliar e complementar sua disciplina e/ou registrar projetos e discussões, fora do horário de aula, a distância. Neste aspecto o ambiente virtual Orkut pode ser uma solução viável para a implantação de tais objetivos, pois se trata de um ambiente de fácil manuseio e acesso facilitado.” (MERCADO, pág. 56)
O Orkut, como ambiente virtual de aprendizagem, é excelente, pois
sendo totalmente informal, em momento algum remete a um ambiente escolar.
Além disso, o Orkut, por ser pleno de recursos, consegue integrar textos,
música, vídeo, fotos e jogos num só lugar, inclusive junto daquilo que os alunos
mais gostam: seus amigos, seus interesses e suas comunidades. Tudo isso
conectado num só ambiente facilita qualquer tipo de aprendizado.
28 Por isso, dentro do Orkut, o ensino-aprendizagem deverá ocorrer
espontaneamente, e até mesmo inconscientemente dependendo do método
utilizado, pois como o aluno está ali por vontade própria, não havendo qualquer
tipo de pressão sobre ele, sem avaliações ou notas, somente a prática baseada
na colaboração, no compartilhamento e, principalmente, nas trocas, ele estará
apto o suficiente para se expressar, soltando livremente sua imaginação e
criatividade.
Nesse ambiente, por não haver contato físico entre os alunos, o
professor poderá orientá-los mais facilmente, não sofrendo assim com as
famosas conversas paralelas, responsáveis pela dispersão na sala de aula
presencial.
Além disso, estando todos os alunos juntos do professor numa
determinada comunidade, a turma se mantém fortalecida, enquanto a relação
entre eles se estreita, o que faz com que o professor lhes dê mais segurança
para se expressarem. Tal intimidade fará também, provavelmente, com que o
aluno não veja mais o professor como um possível “inimigo”, mas sim como um
grande incentivador e facilitador.
2.2.2. Blog
O blog é um sistema totalmente personalizável e de fácil publicação,
criado, a principio, para ser utilizado como página pessoal e considerado
atualmente um dos sistemas de publicação mais utilizados na Web. Afinal,
antes do surgimento desse sistema, para se criar um site pessoal era
necessário o domínio da linguagem HTML (PRIMO, 2003). Com o blog, isso
mudou.
Os blogs são criados em sites especializados e disponibilizados online
gratuitamente. No Brasil, um dos sites mais utilizados é o do Blogger, que em
292002 já contava com cerca de centenas de milhares de usuários5. Após ter sido
comprado pelo império Google, esse número disparou.
Os blogs não representam mais apenas pessoas, mas também grupos
específicos. Eles dão prioridade à edição de textos apesar de aceitarem
também, sem qualquer tipo de complicação, a inserção de fotos, vídeos e links
que se atualizam rapidamente após sua publicação.
Os Blogs são excelentes para compartilhar ideias, proporcionar a
interação e praticar a autoria. Diferem do Orkut, porém, por funcionar como um
diário virtual, onde cada inserção de conteúdo é feita em blocos ou posts
elencados por data, sempre do post mais recente para o mais antigo.
Tal suporte é tido como uma rede social, em função da grande
interação e participação de pessoas como visitantes ou seguidores, os quais
acompanham com certa frequência as atualizações feitas pelo seu autor. A
interação num blog se realiza frequentemente através de comentários, emails
ou ainda trackbacks, links de outros blogs que fazem referência ao seu. Todas
essas ferramentas interativas movimentam os blogs, pois podem ser lidos e
discutidos por qualquer visitante, promovendo assim sempre mais e mais
interatividade.
Segundo Alex Primo (2003), o papel do leitor de um blog é fundamental
tanto quanto o de seu autor, pois ele se torna um co-autor ao
“(...) interferir no texto do blogueiro, completando-o ou construindo-o. (...) [as] opiniões e comentários das pessoas formam intrincadas trilhas hipertextuais dentro da própria Rede, que são constantemente modificadas e trabalhadas pelos autores que lerão o texto em seguida. Cada internauta pode, portanto, observar as associações dos outros leitores e colocar também as suas. Trata-se, deste modo, de uma construção coletiva.” (PRIMO; RECUERO, 2003, p. 6)
5 De acordo com o próprio site em http://www.blogger.com/about
302.2.3. Google Docs
O Google Docs é um pacote de softwares, baseado no sistema de
“cloud computing”, ou seja, de “computação nas nuvens”, que é a tendência
mundial de não utilizar mais softwares instalados nos computadores, apenas
utilizando serviços virtuais de softwares online. Desse modo os arquivos seriam
editados, salvos e disponibilizados na própria virtualidade ou “nuvem”, como se
fossem guardados em um HD virtual.
Uma das grandes vantagens ao se utilizar esse software do Google é
que ele pode ser acessado e editado de qualquer lugar que tenha acesso à
Internet.
Outra excelente vantagem é a possibilidade de adição de co-autores
possibilitando um trabalho cooperativo ‘em tempo real’ ou não, mesmo com
pessoas distantes entre si. Tal possibilidade de cooperação é também de
grande valia pedagógica, pois favorece a execução de trabalhos de grupo com
pessoas que não podem estar num determinado local a mesma hora que os
outros participantes, pois mesmo que não seja realizado em tempo real pode-
se acessá-lo em outro momento e ver exatamente o que cada um escreveu e,
o que melhor, alterar todo o trabalho realizado pelos outros, como se fosse um
sistema wiki.
31
CAPÍTULO III
A ESCRITA COLABORATIVA
NAS REDES SOCIAIS DA INTERNET
A Internet vem reconectando toda a humanidade através da
aproximação mental-virtual proporcionada pela escrita. Esse espaço dinâmico,
totalmente fundamentado na interatividade, faz com que a escrita fortaleça o
seu importantíssimo papel na evolução humana, o de ser um instrumento
transformador da realidade social e um elemento indispensável na
comunicação mediada pelo computador.
Ingedore Koch confirma essa importância:
“É preciso pensar a linguagem humana como lugar de interação, de constituição das identidades, de representação de papéis, de negociação de sentidos, portanto, de co-enunciação. Em outras palavras, é preciso encarar a linguagem não apenas como representação do mundo e do pensamento ou como instrumento de comunicação, mas sim, acima de tudo, como forma de inter-ação social”. (KOCH, 2007, p. 128)
Graças ao surgimento das redes sociais virtuais, a linguagem humana
evoluiu ainda mais, a ponto de aumentarem sobremaneira as possibilidades
interativas e as conseqüentes trocas de informações e de conhecimentos
desenvolvendo uma inteligência coletiva e universal.
Dentro dessas redes tem se intensificado uma prática de escrita já há
muito conhecida, porém não tão difundida: a escrita colaborativa. Tal prática
resulta de um processo de produção escrita que pressupõe a elaboração e
propagação de ideias e pensamentos por duas ou mais pessoas, sustentados
pela coesão e coerência, tendo em vista o mesmo objetivo em comum,
conforme explicita Medina (2004): “A produção de um texto de forma coletiva é
32um processo que exige gerar idéias, confrontá-las com os outros e entrar
muitas vezes em negociações para chegar num consenso.”
O mais famoso exemplo dessa universalização do conhecimento
através da escrita colaborativa pode ser observado ao se acessar o site do
Wikipédia, que tem como objetivo a elaboração de uma enciclopédia livre e
universal, a qual se expande constantemente através de conteúdos inseridos
por pessoas do mundo inteiro.
Entretanto, tais conteúdos nem sempre são escritos por especialistas e
podem ser constantemente alterados, sofrer acréscimos ou exclusões por
quaisquer pessoas que se habilitem a fazê-lo. Pode-se, inclusive, contestar a
confiabilidade dos conteúdos questionando as suas fontes.
Esse site do Wikipédia se baseia no sistema “wiki” de escrita. Originário
de “WikiWiki” que quer dizer “super-rápido” em idioma havaiano, o termo wiki é
utilizado em referência a softwares online de escrita colaborativa onde pessoas
podem editar textos coletivamente, do mesmo modo que podem alterar
informações e consertar possíveis erros, em relação ao conteúdo ou mesmo
gramaticais.
Alex Primo (2003) descreve esse tipo de escrita como um
“hipertexto cooperativo [onde] todos os envolvidos compartilham a invenção do texto comum, à medida que exercem e recebem impacto do grupo, do relacionamento que constroem e do próprio produto criativo em andamento.” (PRIMO; RECUERO, 2003, p.2)
Essa prática de escrita tem crescido e muito dentro das redes sociais.
Há, porém, uma grande diferença entre o wiki e a escrita colaborativa realizada
dentro das redes sociais, Orkut e Blog, aqui a serem analisadas. Nessas redes,
os textos não podem ser modificados ou excluídos por outra pessoa, mas
somente pelo próprio autor do texto ou pelo dono da comunidade, se for um
scrap (recado) no Orkut, ou pelo dono do Blog, se for um post ou um
comentário.
33 Comunidades são criadas diariamente com o objetivo de promover
debates sobre diversos assuntos, trocar ideias e experiências e discutir
soluções para problemas específicos. Não importa o mote do grupo formado, o
que importa é a interação entre os seus participantes e as trocas feitas entre
eles. O que o outro me diz? O que eu tenho a lhe dizer? São essas perguntas,
conscientes ou não, que incitam o grupo a começar elaborar o fio de
construção do texto, o qual será tecido a várias mãos.
De acordo com Abaurre (2001), ninguém escreve a partir do nada, pois
é sempre necessário um embasamento teórico prévio, seja com uma leitura,
um debate, uma discussão ou qualquer outra preparação. O homem influencia
e é influenciado pelo outro e pelo meio. Por isso, Abaurre diz que:
"(...) escrever é uma prática social que consiste, em boa medida, em escrever contra, sobre, a favor, ou, mais simplesmente, a partir de outros textos. Não há escrita sem polêmica, retomada, citação, alusão, etc. Ninguém escreve a partir do nada ou a partir de si mesmo." (ABAURRE, 2001)
Normalmente, na prática individual, escrever subentende ficar a sós
com os próprios pensamentos, lembranças e propósitos a fim de transpô-los ao
papel ou a qualquer outro suporte. Não importa se o objetivo da escrita é dizer
algo ao mundo ou apenas arquivar um momento, apenas se escreve para
transmutar o conhecimento e a vivência de mundo de cada um, manifestando-
os para o exterior de si mesmo. E para que isso se realize da melhor maneira,
deve-se dominar o maior número possível de informações a respeito do
assunto sobre o qual se dissertará. Isso pressupõe uma enorme bagagem
cultural e experiência de mundo, acumulados ao longo da vida e de anos de
leitura.
Entretanto, nem todas as ideias sobrevêm na solidão. Às vezes, as
grandes e melhores ideias gritam no meio da multidão, surgindo da atuação
individual, porém dentro de uma prática coletiva. Assim, na escrita colaborativa,
essa bagagem cultural advém da interação e de trocas de experiências com o
grupo.
34 Por isso diz-se que um texto nunca é apenas uma representação
linguística, ele agrega também diversos saberes e visões de mundo não sendo
somente um aglomerado de palavras.
3.1. O PAPEL DO PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA EM
RELAÇÃO À ESCRITA DOS ALUNOS
Se os alunos de hoje lêem pouco e escrevem menos ainda, certamente
não o fazem por falta de motivação, mas sim de incentivo. Enquanto alguns
amam escrever e o fazem com extrema facilidade e fluidez, outros
definitivamente odeiam ou sofrem terrivelmente para passar uma única linha ao
papel. Entretanto, muitos professores não se dão conta desses sentimentos em
relação à escrita de seus alunos.
Muitos dos professores de Língua Portuguesa e de outras disciplinas,
geralmente, estão sempre mais preocupados em cumprir o planejamento e
seguir à risca o conteúdo proposto para as aulas do que perceber se aquele
mesmo conteúdo surtiu algum efeito no aluno, se ele realmente aprendeu ou se
alcançou os objetivos pré-determinados. Como sempre, a meta da educação
se volta para o repasse do conteúdo e não para a verificação de aquisição do
mesmo, ou seja, não olham nem para as necessidades do aluno, nem muito
menos para as suas evoluções.
A maioria dos professores das outras disciplinas, como história e
geografia, por exemplo, achando que a preocupação com escrita de seus
alunos é exclusividade das aulas de português, acabam não incentivando a
produção textual deles e como conseqüência disso, nas provas, as questões
geralmente recebem apenas uma ou, quando muito, duas linhas como
resposta, mostrando que a capacidade crítica do aluno é insuficiente.
Até mesmo nas aulas de Língua Portuguesa, especificamente nas de
produção de texto, muitos professores se limitam a expor somente a teoria da
35tipologia textual para que os alunos saibam ao menos fazer o reconhecimento
do tipo dos textos estudados. Muitos deles não têm o costume de propor a
prática da produção em si a fim de despertar-lhes a capacidade analítica, a
criatividade, a elaboração e ordenação das ideias, tudo em função do pouco
tempo de aula ou simplesmente para evitar o enorme volume de redações a
serem corrigidas.
O fato é que por falta de incentivo, a maioria dos alunos não costuma
ver muito sentido em escrever textos ou redações no seu dia a dia escolar. Em
primeiro lugar, por considerarem que os temas das redações são
“desconectados” da realidade deles, ou seja, estão totalmente fora de contexto,
de acordo com a afirmação de Eglê Franchi (2002):
“De um lado, os alunos são submetidos a contínuos trabalhos com notas, questionários que chegam a lhes causar tensões e ansiedades; de outro lado, recebem da escola um mundo de conteúdos insólidos que não tem significação nem utilidade imediata para eles. Conteúdos separados da realidade cotidiana, de uma prática real”.(FRANCHI, 2002, p. XII)
E em segundo lugar, porque, quando raramente os alunos executam
redações, sentem-se logo desestimulados e depreciados ao receberem-nas
corrigidas de vermelho, com indicações de erros cometidos, seguidos de
anotações referentes à precariedade gramatical de seus textos.
De acordo com Azeredo (apud PAULIUKONIS, 2005, p.31), “Uma
pedagogia da língua baseada na depreciação linguística e sociocultural do
aprendiz gera insegurança, amesquinha a auto-estima e só produz silêncio”.
Desse modo, muitas vezes os métodos aplicados em vez de favorecem a
prática de produção de textos, têm efeito contrário e acabam por emudecer os
alunos.
Por isso, muitos alunos se arrepiam ao ouvirem a palavra “Redação”.
Se essa vier, então, seguida daquele mesmo velho tema de sempre “Minhas
férias”, aí, o aluno pode até mesmo surtar em sala.
36 Talvez por falta de prática pedagógica ou de comprometimento do
professor, em algumas aulas de prática textual os alunos se veem obrigados a
escrever sobre assuntos, os quais ele não domina, somente para conseguirem
uma nota e uma consequente aprovação escolar. Além disso, muitos
professores quando corrigem os textos de seus alunos, acabam depreciando-
os, podendo acarretar-lhe sérios bloqueios mentais quanto à sua expressão e
criatividade, traumatizando-o profundamente em relação à escrita.
O papel preponderante do professor é o de incentivar seu aluno; jamais
depreciá-lo. Por mais fraca e incoerente que seja sua redação, cabe ao
professor desenvolver nele essa competência, buscando novos métodos para
instigá-lo a escrever cada vez mais.
Porém, motivá-lo não é algo que compete ao professor. Essa
competência é inerente ao aluno, pois somente ele pode se motivar e seguir
adiante. Enfim, para se motivar, o aluno sentir prazer em produzir, senão de
nada adiantará todo o envolvimento do professor, pois esse terá sido em vão.
Estamos imersos na era digital, propriamente, vivendo e ampliando
irreversivelmente aquilo que chamamos agora de cibercultura, portanto não há
como dissociar a tecnologia do nosso cotidiano, nem muito menos dissociá-la
da educação, pois ela não é apenas uma ferramenta, é um instrumento de
cultura. Ou o professor utiliza a tecnologia a seu favor conquistando seus
alunos ou ela se voltará contra o professor.
3.2. INFLUÊNCIAS DA ESCRITA COLABORATIVA VIRTUAL
NAS REDAÇÕES ESCOLARES
Produzir um texto a várias mãos tem gerado bons frutos. A principal e a
mais imediata influência da escrita colaborativa virtual nas redações escolares
ocorre no desenvolvimento da autonomia autoral.
37 Tal autonomia resulta do processo de criatividade, da elaboração do
pensamento crítico e da concatenação de ideias propiciados pela atuação em
grupo. Do mesmo modo que a interação social e a colaboração são
determinantes para o desenvolvimento da inteligência coletiva, a escrita
colaborativa é decisiva no despertar da inteligência individual.
Enquanto no grupo, as palavras surgem saltitantes e pululam os
pensamentos, através da interação e da troca de ideias e experiências pode-se
organizá-las, pois como afirma Vygotsky:
“(...) a colaboração entre pares durante a aprendizagem pode ajudar a desenvolver estratégias e habilidades gerais de solução de problemas através da internalização do processo cognitivo implícito na interação e na comunicação”. (1987, p.17)
Muitas vezes o aluno não se vê como produtor de textos
justamente por não entender a importância que a escrita tem na vida de cada
um. O aluno, porém, tem de compreender que quanto mais escreve, lê e
interage com o outro, mais ele aumenta a capacidade de concatenar seus
próprios pensamentos e ideias, ampliando sua capacidade intelectual e
consolidando, assim, sua própria personalidade.
“ (...) A evolução da consciência individual dependerá da evolução da língua, nas estruturas tanto gramaticais como concretamente ideológicas. A personalidade evolui ao mesmo tempo que a língua, compreendida global e concretamente, pois ela é um dos seus temas mais importantes e profundos. Quanto à evolução da língua, é um elemento da evolução da comunicação social, inseparável dessa comunicação e de suas bases materiais.” (BAKTHIN, p. 185)
Há quem escreva somente para si, guardando suas palavras em
diários trancados a sete chaves e há também quem escreva para se mostrar ao
mundo ansiando se tornar famoso por suas obras. Não importa sobre o que se
escreva, contanto que se escreva. Afinal, o ato da escrita lineariza o
pensamento, organizando-o. Além disso, é só através de certa prática,
paciência e muita disposição que se pode fazer com que as infinitas ideias
38confinadas no caos mental se organizem e transpareça a clareza na linha do
pensamento e consequentemente em suas ações cotidianas.
“(...) um pensamento claramente concebido tem também de ser claramente projetado. Ora, a projeção se faz com os elementos da língua. A clareza externa define-se, portanto, como o aproveitamento adequado dos meios lingüísticos para o fim da comunicação. Em outros termos, é preciso que utilizemos com mestria e segurança a linguagem normal. Sob este aspecto, a clareza resulta da boa aplicação de tudo que se aconselha e ensina num curso de língua materna. Daí a necessidade da correção em seu sentido mais lato: na articulação (e, complementarmente, até certo na ortografia), na estrutura da frase, no bom emprego das formas gramaticais e, na sua concordância, na escolha das palavras.” (CÂMARA, 1977, p. 150)
A matéria-prima da linguagem é a palavra, pois é a base da fala, da
escrita e do pensamento. A linguagem faz a ligação entre os participantes do
grupo social, promovendo a interação entre eles e resultando na troca de
experiências. Só a partir da interação social e da colaboração entre as partes é
que as habilidades e a inteligência podem ser desenvolvidas, pois é o processo
externo que desencadeia a internalização da aprendizagem.
A base da interação é a linguagem e desta é a palavra. Sem ela não
haveria qualquer forma de comunicação, simplesmente porque é inerente ao
ato social e está, portanto, presente em toda e qualquer forma de
relacionamento humano devido à sua ubiquidade, pois de acordo com Bakthin:
“(...) a palavra penetra literalmente em todas as relações entre indivíduos, nas relações de colaboração, nas de base ideológica, nos encontros fortuitos da vida cotidiana, nas relações de caráter político, etc. As palavras são tecidas a partir de uma multidão de fios ideológicos e servem de trama a todas as relações sociais em todos os domínios. É portanto claro que a palavra será sempre o indicador mais sensível de todas as transformações sociais, mesmo daquelas que apenas despontam, que ainda não tomaram forma, que ainda não abriram caminho para sistemas ideológicos estruturados e bem formados. (...)”(1979, p. 28)
Dessa forma, pode-se compreender que o poder da escrita é brutal,
assim como o da palavra. Portanto, domine a palavra e dominará o mundo!
39
CAPÍTULO IV
ESTUDO DE CASO - DO VIRTUAL PARA O REAL:
A INFLUÊNCIA DA ESCRITA COLABORATIVA NAS
REDAÇÕES ESCOLARES
As aulas de Língua Portuguesa têm por objetivo principal buscar o
aprimoramento da competência gramatical dos alunos fazendo com que eles
se expressem da melhor maneira possível ao exteriorizarem seus
pensamentos, sentimentos e opiniões, através das palavras faladas e escritas.
O ensino da língua, no entanto, não deve se limitar apenas à exposição
e imposição das regras de ortografia ou de concordância, tão propagandeadas
pela gramática normativa, nem tampouco se prender a exercícios e atividades
descontextualizados. Deve-se, sim, partir do conhecimento lingüístico já
internalizado pelo aluno, e com o qual interage no seu cotidiano, a fim de
realizar o aperfeiçoamento projetado de acordo com contextos práticos e atuais
que façam parte da realidade dos alunos e cujo aprendizado possa
imediatamente ser empregado.
Geralmente, quando uma redação é proposta, percebe-se o desespero
do aluno. Inclusive, percebe-se também que o tempo na sala de aula é muito
escasso para realizá-la. Além do tempo escorrendo pelos dedos, o aluno se vê
imerso numa profusão de ideias pululantes diante da folha de papel em branco.
Sente-se perdido e sufocado, pois, não consegue linearizar seu pensamento, já
que, embora as ideias transbordem, elas dificilmente encontram o papel.
Com o intuito de despertar no aluno a criatividade e o domínio sobre as
palavras, tornando a prática de produção de textos uma atividade prazerosa e
de inestimável valor para a formação de sua inteligência e personalidade,
propus a meus alunos de Língua Portuguesa e de Literatura do ensino médio
que participassem comigo das redes sociais da Internet - Orkut, Blog e Google
40Docs (sem qualquer avaliação minha ou conceito quanto à produção deles),
apenas para praticar a escrita colaborativa.
Pretende-se aqui analisar tais experiências e as influências que elas
acarretaram à escrita dos alunos na sala de aula.
4.1. Experiências com o Orkut
De todas as redes sociais experimentadas neste estudo, o Orkut
mostrou ser o melhor ambiente para a prática de escrita colaborativa. Muitos
são os motivos, mas principalmente porque a maioria dos alunos já estava
conectado a essa rede e esse ambiente os desafiou.
Este estudo foi realizado a partir da comunidade de escrita colaborativa
“Post Scriptum”. Nela, todos os alunos convidados se transformaram em co-
autores.
Como o nome da comunidade sugere (“Escrito depois”), a escrita
colaborativa se realiza quando um co-autor intervém num texto escrevendo
41sempre depois de alguém dando continuidade à história iniciada pelos
membros da comunidade.
Entretanto, o que realmente importa é o que será escrito depois. Por
isso, para dar continuidade ao texto, deve-se reler tudo o que já foi escrito
anteriormente pelos outros co-autores a fim de evitar a perda do fio da meada,
ou seja, a fim de não deixar o texto desconexo.
Nos fóruns, qualquer aluno pode iniciar uma história ou continuar uma.
Contudo, não há qualquer tipo de elaboração prévia do texto ou qualquer
discussão entre os participantes sobre o rumo das histórias. Até mesmo porque
não se sabe quantos serão os participantes, nem muito menos quem. Deve-se
apenas primar pela coesão e coerência textual.
Não há, também, limite de linhas nem de tempo para terminar os
textos. Por isso, o aluno pode entrar na comunidade a qualquer hora, desde
que tenha disponibilidade. Não há compromisso com a escola em si, mas
somente com a comunidade virtual. E o que é extremamente importante para
eles, é o fato de não haver a pressão da figura do professor enquanto vigilante
da língua, pois o objetivo principal da comunidade era instigar a criatividade, a
concatenação das ideias e a sequenciação da história em função do tempo
narrativo. A parte ortográfica seria um caso para ser analisado por eles
mesmos em um outro momento em sala de aula, onde identificariam os
próprios enganos.
Quanto ao uso do Internetês nas redes sociais, pode-se dizer que eles
sabem muito bem quando e como devem usá-lo. E em momento algum dentro
das histórias criadas por eles surgiu essa variação lingüística. Havia na própria
comunidade, fóruns [OFF] utilizados para distrações inevitáveis, tal como o
pátio do recreio. Lá, sim, eles se fartavam de internetês e de toda e qualquer
forma de abreviação vocabular.
Outro ponto muito importante, é que a interação entre os participantes
no Orkut parece fluir mais perfeitamente que nas outras redes sociais, em
42função da identificação da autoria pela foto do perfil. A cada scrap digitado, a
foto do co-autor aparece exatamente ao lado do texto que ele escreveu. Assim,
pode-se identificar quem escreveu o quê. Isso torna o texto mais instigante,
pois se percebe que foi escrito por várias mãos.
É interessante ver a motivação dos alunos praticando essa escrita
colaborativa no Orkut. Ficam ansiosos por verem a continuação da história.
Aplaudem quando alguém muda o seu rumo de uma maneira instigante e
reclamam absurdamente quando um co-autor mata um personagem ou o faz
casar-se com quem não deveria. Mesmo discutindo a história virtual na sala de
aula, eles não elaboram nada previamente, pelo contrário, fazem do rumo da
história um verdadeiro mistério.
Nesse tipo de colaboração, que se realiza no decorrer do texto, eles
visualizam claramente o poder da escrita, percebendo que através dela podem
intervir em qualquer situação, e manipulam o texto de acordo com o bel prazer.
434.1.1. Enquetes realizadas na comunidade “Post Scriptum”
Apesar de nem todos os participantes terem respondido às enquetes
propostas na página principal da comunidade, visualizando-as dá para se ter
uma noção exata do que eles realmente querem em suas aulas de português:
inovação e integração tecno-pedagógica.
444.2. Experiência com Blog
Este Blog foi criado para que os alunos tivessem um suporte virtual, no
qual pudessem divulgar notícias, eventos culturais, musicais e esportivos,
calendários de provas e novidades acerca das atividades ocorridas no colégio,
tal qual um mural virtual. O objetivo era o de desenvolver a autoria na escrita, a
elaboração de conteúdo e a capacidade de síntese.
A participação dos alunos foi livre e de espontânea vontade, já que não
havia qualquer implicação em relação a avaliações ou conceitos. O único
objetivo era incentivá-los quanto à produção de texto, à criatividade e à
autonomia em relação à seleção de temas e notícias.
Como este Blog foi criado exatamente um pouco antes da realização
da Feira da Cidadania e também das Olimpíadas do Colégio, não faltaram,
então, motivos que os incentivassem a escrever. Porém, houve quem não
pudesse participar em função da falta de acesso à Internet, pois na época da
45realização deste projeto não havia ainda no colégio um laboratório de
informática pronto; estava ainda em fase de montagem. Desse modo, somente
os alunos que tinham acesso à Internet em casa ou em Lanhouses puderam
escrever.
Muitos não quiseram escrever em forma de post, pois achavam que
estavam se expondo demais e decidiram escrever somente na forma de
comentário, já que esse aparece de forma mais reservada. Assim, muitos
também puderam colaborar enviando críticas, elogios e sugestões, tanto em
relação à elaboração do Blog quanto aos conteúdos por ele veiculados.
Vale ressaltar também, que o Blog possibilitou o desenvolvimento não
só da autoria na escrita. Muitos alunos se tornaram produtores de fotos, de
vídeos e de montagens, justamente para personalizar o site como se
deixassem sua marca registrada online. Alguns, inclusive, disponibilizaram no
Blog entrevistas em vídeo, realizadas por eles durante a participação na Feira
da Cidadania.
Quando um aluno chegava à sala e comentava sobre o post que tinha
feito, acaba incentivando outro aluno a também participar. Isso motivava em
sala de aula debates sobre as atualidades e novidades que deveriam ser
colocados nos próximos posts..
Como eles estavam livres para fazer o que quisessem, acabaram
inserindo no Blog um Gadget com um ambiente de conversação síncrona, ou
seja, um Chat. Isso fez com que as visitas ao Blog disparassem, pois era tudo
o que eles mais queriam: um local onde pudessem se encontrar e conversar
com todos ao mesmo tempo. Pronto. Não se falava de outra coisa no colégio.
Daí, cada um foi convidando mais e mais alunos a participarem do Chat. De
repente, o Blog deixou de ter a importância do início e passou a ser visto
apenas como um ponto de encontro virtual, onde os alunos de praticamente
todas as séries do colégio se encontravam. O site atingiu o número de 489
visitantes em menos de cinco dias. Um número bastante significativo para um
Blog.
464.3. Experiência com o Google Docs
Com o intuito de integrar os alunos a um novo suporte virtual,
experimentado por mim com grande sucesso na realização de trabalhos
acadêmicos com grupos pequenos formados por alunos da Pós-Graduação,
tentei utilizar o mesmo suporte com jovens, iniciando uma história, a qual
deveria ser continuada por eles, exatamente como foi feito anteriormente no
Orkut.
Porém, essa escrita colaborativa realizada com grupos grandes tem
suas desvantagens. Para convocar uma turma para um trabalho neste suporte
deve-se convidar aluno por aluno através de convocação por email. Caso o
aluno não acesse diariamente sua caixa postal ou não tenha o hábito de ler
todas as mensagens, ele simplesmente irá ignorar o convite achando que se
trata de mais um spam e não conseguirá acessa o texto virtual, pois não basta
enviar o link, tem que ser convidado.
Embora tenha grandes vantagens quanto à interação em trabalhos
acadêmicos, o Google Docs parece um editor de textos como outro qualquer
47para os jovens e como muitos alunos me disseram: “Professora, qual é a graça
de escrever num Word virtual?” Bom, eu esperava descobrir tal resposta, mas
percebi que isso não lhes causava nenhuma atração, afinal eram jovens e,
portanto, precisavam de mais motivação. Diferentemente do Orkut, que além
de agregar multitarefas pode-se visualizar os outros participantes
representados por fotos, o Google Docs se mostra um ambiente muito
impessoal, o que torna muitas vezes o trabalho um tanto ‘seco”, sem emoção.
Nesse suporte criei apenas uma história e apesar de muitos alunos
terem participado dela, pode-se perceber que o ambiente não os motivava, pois
não criaram mais nenhuma além. A falta de motivação pode ser verificada pela
enquete, realizada no próprio Orkut, que perguntava “em qual suporte você
achou mais fácil trabalhar?” (conforme imagem do printscreen disponível na
página 43), subentendendo a seguinte pergunta: “de qual suporte você mais
gostou?”.
Enfim, quanto aos suportes utilizados, a própria enquete acima
mencionada, confirma que o Orkut é definitivamente um dos suportes mais
promissores para a educação. Os blogs têm realizado grandes feitos
pedagógicos e o Google Docs ainda é muito novo e talvez deva ser usado com
restrições quanto à idade dos seus usuários para um melhor aproveitamento.
4.4. Escrevendo em sala de aula: influências virtuais
O modelo de escrita colaborativa nas redes sociais foi transplantado
para a sala de aula presencial para se perceber as influências que essa escrita
virtual proporcionou na escrita presencial dos alunos.
Quando não havia o modelo de virtual a ser seguido, por mais
participantes que houvesse no grupo, a escrita coletiva estava limitada à
divisão do grupo em apenas duas pessoas, ou seja, a que iria ditar o texto e
aquela que iria escrevê-lo. Em todas as práticas citadas houve interação grupo-
grupo, aluno-grupo, aluno-aluno, professor-grupos, professor-grupo, professor-
alunos e aluno-professor.
48 Porém várias foram as propostas de produção de texto realizadas em
sala de aula com base em diversos tipos de gêneros textuais: contos de humor,
de terror, propagandas, piadas, argumentações, textos jornalísticos e muitas
outras.
Costumo utilizar três propostas de redação colaborativa:
- Redação colaborativa a partir de palavras dispersas
- Redação colaborativa sem discussão prévia
- Redação colaborativa com discussão prévia
4.4.1. Redação colaborativa a partir de palavras aleatórias
Essa é uma proposta muito instigante, excelente para promover a
coordenação de ideias. Na verdade, não é designado nenhum tema de
redação. Esse só surgirá depois da interação entre os participantes do grupo.
O trabalho começa com os alunos se organizando em grupos a fim de
representar comunidades numa escala menor. Cada aluno, então, diz a
primeira palavra que lhe vier à cabeça, sem, contudo, ser nenhuma palavra
pejorativa e nem nome de pessoas pertinentes ao colégio para evitar quaisquer
tipos de problemas. A partir das palavras dadas aleatoriamente por cada um
dos alunos, o grupo passa para a prática planejando o tema, os personagens, o
clímax da história, enfim todo o trabalho de autoria.
Embora à primeira vista, essa tarefa possa parecer um tanto estranha,
o objetivo alcançado é realmente gratificante, principalmente se a aula for
sobre orações coordenadas e subordinadas, principais responsáveis pelos
efeitos de sentido do texto.
Nesta proposta percebeu-se claramente a melhora na coordenação dos pensamentos e na criatividade despertada.
494.4.1.1. Exemplo de escrita colaborativa a partir de palavras
aleatórias
As palavras devem ser aleatórias e desconectadas de tema com o objetivo de despertar o encadeamento lógico das frases
50
4.4.2. Redação colaborativa com discussão prévia
Uma ideia também bastante simples, tal como acontece em sites de
escrita colaborativa: uma pessoa começa um texto, uma história, escrevendo
uma ou duas frases enquanto outra pessoa vem logo depois e continua. A folha
do texto circula entre os participantes, de forma que todos escrevam uma ou
duas linhas ou até mesmo parágrafos continuamente até a conclusão da
história. Nessa produção há, porém, uma diferença marcante em relação às
outras: a pré-discussão de ideias na elaboração das frases.
Todas as essas duas atividades de escrita colaborativa presencial
citadas anteriormente ocorreram exatamente de acordo com a proposta de
Kenski (2008):
“O processo de ação colaborativa (...) pressupõe que haja circulação intensa de informações e trocas visando ao alcance dos objetivos previstos. Todos auxiliam na execução das tarefas, superam os desafios e constroem colaborativamente seu próprio conhecimento e o da coletividade.” (Kenski, 2008, p.128)
514.4.3. Redação colaborativa sem discussão prévia
Nessa prática, logo no início da aula, enquanto os grupos se formam, é
dado um tema de redação. Depois que cada grupo inicia seu primeiro
parágrafo, a folha do texto é repassada por entre os participantes do grupo, de
modo que cada um deles possa continuar o texto exatamente de onde ele
parou. Isso, obviamente, obriga o co-autor a ler toda a história anterior para dar
seqüência às ideias de forma que elas fiquem coesas e coerentes entre si.
O autor altera o texto, acrescentando suas ideias e experiências, mas
não as discute antes com ninguém do grupo. Essa prática retoma a do Orkut,
pois há colaboração sem discussão do rumo da história.
Alunos durante realização de escrita colaborativa presencial:
cooperação, criatividade e motivação (prazer).
52 Enfim, toda a atividade de escrita colaborativa em sala de aula
prontamente motivou os alunos a participarem desses "textos a várias mãos",
ansiosos pela parte que seria escrita logo em seguida à escrita por eles.
E como surpresa, com a qual eu não contava, meus alunos pediram
para fazerem mais escritas de acordo com essa proposta colaborativa, sendo
que alguns, inclusive, me propuseram a produção de músicas (estilo rap) e
outros até de poesia.
A produção individual de cada aluno sofreu alterações consideráveis
principalmente quanto à elaboração dos pensamentos e o encadeamento dos
mesmos.
E embora muitos deles não sejam ‘experts’ em ortografia, essa não é
menosprezada jamais, pois além de ser discutida em outras aulas, muitos
alunos costumam sugerir, propositalmente, palavras com uma certa dificuldade
ortográfica nas redações elaboradas a partir de palavras aleatórias, justamente
para complicar a execução da redação pelos outros alunos.
Enfim, confirmo que eles só não escrevem mais por falta de incentivo.
Logo, o professor deve sempre se atualizar e considerar a realidade dos alunos
bem como os seus interesses, pois esses devem ser incentivados sempre.
53
CONCLUSÃO
A escola deveria simular a vida real e ser para o aluno a sua segunda
casa. Entretanto é a Internet que está tomando esse lugar, tornando-se um
ambiente muito mais atrativo e desafiador.
Se os alunos sentem enorme prazer em ficar conectados à Internet e
não mais se motivam em ficar na escola, por que não revolucionar essa ideia
trazendo a Internet não somente para a escola, mas para a própria prática do
aluno?
Não só a Língua Portuguesa, mas todas as disciplinas, devem zelar por
despertar no aluno a capacidade crítica tornando-o um ser realmente pensante,
inquiridor, inconformado diante da passividade da aquisição de conteúdos e
informações. Ele tem de aprender a intervir no mundo em que vive, porém
sempre colaborando com o outro e compartilhando suas tarefas e seus ideais.
Deve fazer de tudo para melhorar as coisas a sua volta e viver numa sociedade
mais amigável e fraterna.
Tomando consciência do poder que ele pode adquirir através do
domínio da escrita, e consequentemente de si mesmo, o aluno estará pronto
para sair da simulação e ir para a vida real, conquistando definitivamente o seu
mundo.
54
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57
ÍNDICE
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
A evolução da escrita: da pré-história à era cibernética 10
CAPÍTULO II
Redes sociais: a revolução da Internet 19
2.1. Interação e colaboração no universo paralelo 24
2.2. As redes sociais e suas possibilidades pedagógicas 25
2.2.1. Orkut 26
2.2.2. Blog 28
2.2.3. Google Docs 30
CAPÍTULO III
A Escrita colaborativa nas redes sociais 31
3.1. O papel do professor em relação à escrita dos alunos 34
3.2. Influências da escrita colaborativa virtual nas redações escolares 36
CAPÍTULO IV - Estudo de caso
Do virtual para o real: a influência da escrita colaborativa nas redações escolares 39
4.1. Experiências com o Orkut 40
4.1.1. Enquetes realizadas na comunidade “Post Scriptum” 43
584.2. Experiência com Blog 44
4.3. Experiência com o Google Docs 46
4.4. Escrevendo em sala de aula: influências virtuais 47
4.4.1. Redação colaborativa a partir de palavras aleatórias 48
4.4.1.1. Exemplo de escrita colaborativa a partir de palavras aleatórias 49
4.4.2. Redação colaborativa com discussão prévia 50
4.4.3. Redação colaborativa sem discussão prévia 51
CONCLUSÃO 53
REFERÊNCIAS BIBLIO E WEBGRÁFICAS 54
ÍNDICE 57
FOLHA DE AVALIAÇÃO 58
59
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da instituição:
Título da Monografia:
Autor:
Data da entrega:
Avaliado por: Conceito:
Avaliado por: Conceito:
Avaliado por: Conceito:
Conceito final: