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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PEDAGÓGICAS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” EM
EDUCAÇÃO INFANTIL E DESENVOLVIMENTO
EDUCAÇÃO CONTEMPLATIVA: UMA NOVA PROPOSTA
PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL
Por
Denize Costa de Barros
Professor Orientador: Ms Mary Sue Pereira
Co-orientador: Rav Mario Meir
RIO DE JANEIRO
24 de Julho de 2007
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PEDAGÓGICAS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” EM
EDUCAÇÃO INFANTIL E DESENVOLVIMENTO
EDUCAÇÃO CONTEMPLATIVA: UMA NOVA PROPOSTA
PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL
Monografia apresentada à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
conclusão do curso de pós-graduação em
Educação Infantil e Desenvolvimento por Denize
Costa de Barros.
Professor Orientador: Ms Mary Sue Pereira
RIO DE JANEIRO
24 de Julho de 2007
3
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar agradeço a D’us pela minha vida e pela
oportunidade de estar junto com meu Mestre - Rav Mario Meir -
na realização desta monografia.
Aos meus pais espirituais Rav Mario Meir e Rebetzin Luciana
Meir, meus pais Lidia Costa Barros e Miguel Oliveira de Barros,
meus irmãos Danielle Costa de Barros e Eduardo Costa de
Barros, e minha avó Guilhermina de Souza Costa, pelo que
representam em minha vida.
À minha exemplar e maravilhosa orientadora Mary Sue pelo seu
profissionalismo, competência e sensibilidade para a
concretização desta semente plantada. Também aos
ensinamentos e experiências recebidas por todos os meus
professores – Mary Sue, Carol Kwee, Fátima Alves, Marceli
Lopes e Márcia Bettin -, que brilhantemente me doaram uma
parte de si em suas fabulosas aulas, me transformando em uma
pessoa melhor e mais consciente.
À Mirian da Silva Pires e à minha irmã Danielle Costa de Barros,
por todo comprometimento e ajuda na revisão e formatação desta
monografia.
Aos pequeninos do Clubinho Sevivon – sementes de Luz, que
iluminam e representam de forma especial à prática da Educação
Contemplativa.
Enfim... Agradeço de forma ampla a todos que estiveram
torcendo, colaborando e apoiando a realização deste trabalho.
4
DEDICATÓRIA
Ao meu Mestre e Pai Rav Mario Meir que com seu
exemplo e devoção ao caminho de retidão traçado,
vivenciado e dedicado aos fundamentos da Cabalá
Contemplativa, se tornou em minha existência uma
fonte de inspiração e construção, para uma conduta
de vida permeada, fundamentada e preenchida de
valores e virtudes.
Que o Eterno o abençoe, o guarde, o guie e o
proteja em todos os momentos de sua vida. Amém.
Raban Gamliel disse: Escolha para si mesmo um
MESTRE e livre-se da dúvida;... (Pirkê Avót,
Capítulo 1, Mishnah 16 )
5
RESUMO
A Cabalá é um convite para abandonar os modos comuns de
refletir e deixar-se levar por princípios com os quais não estejamos
acostumados, trilhando caminhos cheios de imaginação. É seguir os
passos daqueles antigos mestres que usavam ao mesmo tempo o
conhecimento e a meditação como instrumentos para alcançar os seus
objetivos.
A Cabalá ensina que a vida é a arte de receber e repassar afetos
e conhecimentos. Quando nos abrimos para receber, somos
influenciados por tudo que aceitamos. Nesta troca, o que transmitimos
vai marcado e transformado pela pessoa que recebeu, deixou-se
influenciar e passou adiante.
Rav Mario Meir
6
METODOLOGIA
A base da metodologia desta monografia é centrada na relação
entre o Mestre - Rav Mario Meir (“Co-orientador” e “Co-autor”) e a
discípula – Denize Costa de Barros.
Foi desenvolvido a partir de:
• Aulas (Sitrei Torah, Tamei Torah, Yichud, Árvore da Vida),
orientações, encontros com o Mestre;
• observação do grupo de crianças do Projeto Sevivon;
• leitura, pesquisa e coleta de dados de livros, artigos,
manuscritos, revistas, publicações e Internet.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
CABALÁ CONTEMPLATIVA 11
CAPÍTULO II
EDUCAÇÃO CONTEMPLATIVA (CHINUCH YUNIT) 21
CAPÍTULO III
INTERSEÇÃO DA EDUCAÇÃO CONTEMPLATIVA 89
CAPÍTULO IV
INTELIGÊNCIA CONTEMPLATIVA 163
CONCLUSÃO 195
GLOSSÁRIO 197
ANEXOS 201
BIBLIOGRAFIA 203
ÍNDICE 205
ATIVIDADES CULTURAIS 207
FOLHA DE AVALIAÇÃO 208
8
INTRODUÇÃO
Nosso trabalho objetiva a construção de uma metodologia nova,
voltada para a formação da criança com idade entre 0 e 06 anos. Por ser
uma proposta pioneira, a pesquisa propõe ferramentas que auxiliarão
todos aqueles envolvidos no processo educativo da criança, como os
professores e os pais.
Nosso método pretende manter o caráter científico-acadêmico, de
acordo com sua natureza de pesquisa universitária, embora busque
agregar ao mesmo um sentido espiritualizado, baseado em qualidades e
virtudes a serem desenvolvidas no educando. Vale ressaltar que essa
nova metodologia não fere nenhuma convicção religiosa, nem depende
de uma para ser colocada em prática. O único pressuposto é a crença
de que existe um Criador – D’us –, independentemente da forma como
Ele é concebido.
Nortearemos o trabalho com o rigor de uma pesquisa bibliográfica
especializada, à qual se juntará o método da observação empírica, e a
experiência pessoal da autora enquanto discípula vinculada ao seu
mestre (e também autor). Para a Educação Contemplativa, essa relação
mestre-discípulo, compreendida na relação professor-aluno, é
fundamental para o sucesso na árdua tarefa de educar e responsável
pelos valores e pelas virtudes que moldarão, na criança de hoje, o
caráter do homem de amanhã. Partiremos da lição de autores
consagrados, como Piaget, Vygotsky, Montessori e Pestalozzi, juntando
a tais lições os ensinamentos adquiridos nas aulas de Cabala
Contemplativa, ensinamentos estes embasados numa Tradição milenar
cuja fonte é a própria Torah.
A Educação Contemplativa pretende fornecer elementos para uma
educação sustentável, com vistas a um futuro melhor para cada um e
9 para todos. Ainda que reconheçamos a contribuição de inúmeras
propostas pedagógicas e sua efetiva realização, não podemos negar o
estado crítico a que chegou a humanidade, ameaçada de desaparecer
pelos efeitos desastrosos de um desenvolvimento muitas vezes
inconseqüente ou imediatista. A Educação Contemplativa tem como fim
preparar o educando de modo a torná-lo um cidadão consciente, capaz
de promover melhor qualidade de vida no futuro próximo.
No mundo de hoje, os educadores (professores) são basicamente
os responsáveis pela formação da criança, já que geralmente os pais
têm pouco tempo para isto. Esta ausência se torna um grande problema
visto que o papel dos pais é fundamental e não substituída pelo
educador. Assim a responsabilidade deste educador aumenta e muito, já
que formar este pequeno ser em um adulto exemplar exige um
profissional equilibrado, muito bem preparado, experiente e competente
para não comprometer a formação desta criança.
Vivemos em um mundo onde valores e virtudes humanas são,
muitas vezes, alegorias ou mesmo abstrações de um tempo que já
passou. O mundo contemporâneo nos traz de forma distorcida os
paradigmas que nos mostram materialismo, arrogância e individualismo
exacerbado, como a solução para nos preencher de um vazio que possui
uma aparência perigosa, uma máscara distorcida da solidão egoísta que
estamos construindo para nós mesmos.
Temos que estar, em contrapartida a este rompante movimento –
assim como os Educadores (Professores) também responsáveis pelo
mundo em que vivemos - despertando nossa consciência para
acabarmos com sentimentos e atitudes como medo, dúvida, ganância,
violência, mágoas, raiva, alienações e, acima de tudo, a cumplicidade
com este sistema. Devemos estar extremamente preocupados e, acima
de tudo, não omissos a esta crueldade humana, que está consumindo a
10 cada dia a nossa identidade. Não podemos mais fingir que estamos
distante disto tudo ou simplesmente que esse movimento não existe.
Temos que resgatar nossos valores humanos e construir esta
base em nossas crianças.
Com a conscientização de nosso papel nessa revolução prestes a
entrar em ebulição, é que estamos desenvolvendo os princípios e os
fundamentos de nosso papel enquanto educadores, dentro da sociedade
da qual fazemos parte – nós e nossas crianças.
“Não podemos ficar tranqüilos até que toda criança,
menino ou menina, receba uma educação moral
apropriada.” O Rebbe de Lubavitch (1902-1994).
Na primeira seção deste trabalho, esclareceremos a noção de
Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens
às manifestações atuais. No capítulo seguinte, apresentaremos o
conceito de Educação Contemplativa, apontando os elementos que
servem como base a esse conhecimento. No terceiro capítulo
mostraremos que, embora estejamos sistematizando agora o que vem a
ser este modus operandi, o mesmo já se faz presente em alguns grupos
que sempre estiveram na contramão de tendências e modismos. Por fim,
faremos um link entre a inteligência contemplativa e as inteligências
múltiplas, visando ao desenvolvimento completo do educando,
estimulando a manifestação e o fortalecimento de suas virtudes e
qualidades.
11
CAPÍTULO I
CABALÁ CONTEMPLATIVA
Antes de tudo se faz necessário esclarecer que nosso trabalho
não se inclina para nenhum dogmatismo religioso. Para dirimir qualquer
dúvida, é importante que retiremos do vocábulo Cabalá todo o ranço
esotérico que, por falta de maior conhecimento, juntou-se ao termo. A
palavra Cabalá é derivada do hebraico lecabel e significa “receber” ou
“aquilo que é recebido”.
1.1 – Origens da Cabalá
A Cabalá Contemplativa é a antiga Sabedoria Espiritual baseada
nos ensinamentos de Rav Avraham Ben Samuel Abulafia - considerado
um dos maiores cabalistas de todos os tempos, e nos revela as
verdades ocultas existentes em todo universo físico e extra-físico.
Rav Abulafia nos revela que a Cabalá Contemplativa é um sistema
de conhecimento que quando o colocamos em prática, nos ajuda a
enriquecer nossa consciência e nossas escolhas.
Estudando o significado do vocábulo Cabalá como sendo
“recebimento” ou “aquele que recebe”, é forçoso que nos perguntemos
recebimento do quê? O que é recebido? De onde se recebe? A Cabalá é
um trabalho de exegese voltado para a Torah, fonte inesgotável de
conhecimento franqueado ao homem. A Torah contém cinco livros, cuja
autoria é atribuída a Moisés, conhecidos como Pentateuco. Pelo fato de
haver uma aproximação muito grande entre a orientação depreendida na
12 Torah e as práticas do judaísmo, é comum que as pessoas menos
avisadas entendam o estudo da Torah exclusivamente como uma
religião. Embora voltada para esse estudo, a Cabalá é anterior à criação
do judaísmo, e atravessa todo o conhecimento humano, seja ele de
caráter científico, filosófico ou religioso.
A leitura da Torah poderá tornar-se tarefa inviável, caso seja feita
sem critério ou sem as ferramentas adequadas, fruto apenas de
iniciativa particular. A sua decodificação literal leva a equívocos que vão
do absurdo à incompreensão total dos fatos ali relatados. Ricamente
metafórica, a Torah é um grande código, cuja chave de abertura é o
maior propósito do estudo da Cabalá. Sua atualidade se sustenta no fato
de que todas as passagens descritas há cerca de três mil anos podem
ser perfeitamente traduzidas pelos acontecimentos de hoje, bem como
cada personagem ali representado também pode ser reconhecido no
homem comum, em mim, em você, em cada um de nós.
O cabalista, por conseguinte, é aquele cujo sistema de vida
compreende uma disposição permanente para o aprendizado. Isso
implica dizer que ele está sempre aperfeiçoando as faculdades de que o
homem é dotado, visando à melhor e mais efetiva interação com a
realidade. Sensível e conseqüente, o cabalista torna-se um sujeito pró-
ativo, com mais chances de responder, criativamente, aos desafios
inevitáveis da existência.
Com a Cabalá Contemplativa também encontramos as respostas
para os nossos problemas que acontecem a cada momento em nossa
existência, nos fornecendo a base de apoio necessária para tomarmos
o controle sobre nossas vidas e vencermos nossos obstáculos.
A base e o entendimento da Cabalá Contemplativa se estabelece
sobre três firmes pilares:
13 • A LEI, que é inspirada pelos ensinamentos contidos na
Torah.
• A TRADIÇÃO ORAL (é a Alma da LEI) que é conhecida
principalmente pelos mestres de Cabalá. É onde reside a
Halakhah, o comportamento e o aperfeiçoamento do
caráter, necessários para se trilhar os mistérios da
Sabedoria Espiritual.
• Os ENSINAMENTOS DA CABALÁ e SUAS OBRAS, que os
sábios conhecem como sendo a Alma da Alma da Lei, e é
somente revelada a uma minoria interessada. É onde
residem os mistérios de grandes Obras de Sabedoria, tais
como o Sêfer Yetzirah e Sêfer HaBahir e Tratados de
Correção dos Atributos Emocionais (Ticun HaMidot), tais
como o Pirkê Avót (A Ética dos Pais), entre outros.
Sabemos que a Cabala Contemplativa originou-se há mais de
3700 anos, desde que o Patriarca Abraão, a partir das profundas
revelações do Sêfer Yetzirah, surge com a visão de um mundo com
mais desejo de compartilhar. Estes conhecimentos foram transmitidos a
um número muito seleto de discípulos, que mantiveram os ensinamentos
guardados para que as futuras gerações pudessem usufruir desta
Sabedoria Espiritual. Podemos acompanhar, ao longo dos tempos, os
momentos significativos em que tais ensinamentos vieram à luz, através
dos mestres que nos legaram exemplo e obra.
No século II Rav Akiva identificou que chegara o momento da
revelação desses importantes segredos e os revela a um grande número
de discípulos. O Império Romano o persegue e infelizmente só dois
discípulos sobrevivem: Rav Shimon Bar Yochai e Rav Meir Baal HaNess.
14 Rav Shimon Bar Yochai foi quem recebeu a revelação do Sêfer
HaZohar, escondido em uma caverna por 13 anos. Rav Meir Baal
HaNess recebeu as revelações das Otiot. Ele se refugiou em uma ilha
do mediterrâneo, transmitindo estes ensinamentos a diversos discípulos
que por séculos também mantiveram este corpo de conhecimento em
segredo.
No século XIII um jovem cabalista de Toledo chamado Rav
Avraham Ben Samuel Abulafia conhece Rav Baruch de Torgami, de
idade bem avançada, e recebe dele a revelação dos profundos segredos
do Sêfer Yetzirah. É neste momento em Barcelona, que surge, a partir
da fundamentação do corpo de conhecimento de Rav Akiva por Rav
Avraham Abulafia, a Cabalá Profética que mais tarde passa a ser
conhecida por Cabalá Contemplativa. Durante toda sua vida Rav
Avraham Abulafia, além de escrever o maior número de obras sobre
Cabalá, formou por toda a Europa mais de vinte Círculos de estudos da
Cabalá, que permaneceram por muitos anos após a sua morte.
Na Espanha, no século XVI, Rav Yacov Shemach teria sido o
último representante dos Círculos formados por Rav Avraham Abulafia,
que com a pressão da Inquisição teve que ir para Sfat em Israel, onde já
existia o grande círculo de formação de cabalistas na época. Sem êxito
tentou formar uma Academia de Cabalá em Jerusalém e voltou para o
Marrocos. Antes de morrer, consegue retornar as atividades dos
Círculos de estudos na França e em Portugal.
No ano de 1930 em Belmonte, Portugal, o cabalista Rav Yosef
Mello Bastos recebe a revelação que deveria iniciar a construção de
uma obra espiritual de grandes proporções e profundo impacto social.
Neste momento começava a se formar a idéia da Academia de Cabalá e
o seu modelo de trabalho idealizado nos ensinamentos de Rav Avraham
Abulafia.
15 Em seguida Rav Yosef Mello Bastos, passa seus ensinamentos
para Rav David Benari que finalmente os repassa para seu filho Rav
Daniel Benari.
Rav Daniel Benari define o Brasil como o local onde a Cabalá
Contemplativa formaria sua base para a tão sonhada Academia de
Cabalá. Ele se muda para o Brasil onde constrói um círculo de estudos
baseado na Cabalá Contemplativa chamado Chug Aron Habrit (Círculo
da Arca da Aliança). Dentre seus discípulos estaria o Rav Mario Meir,
que se torna o construtor da base e do fundamento da Cabalá
Contemplativa Abulafiana dentro da tão sonhada Academia de Cabalá.
1.2 – Rav Mario Meir e a Academia de Cabalá Rav Meir
A tão esperada Academia de Cabalá idealizada desde os tempos
de Rav Avraham Abulafia surge no Brasil nos anos finais do Século XX
(em 1995), fundada e construída por Rav Mario Meir e tem como base os
ensinamentos da Cabalá Contemplativa de Rav Avraham Abulafia.
Rav Mario Meir nasceu em 25 de fevereiro de 1971 e desde muito
cedo iniciou seus estudos, se dedicando à psicanálise, à filosofia e à
mitologia mediterrânea. Aos 17 anos encontra Rav Daniel Benari e
neste momento inicia sua trajetória de vida dedicada ao estudo, à
vivência, ao exemplo e à transmissão da Cabalá Contemplativa. Iniciou
sua jornada participando do Chug Aron Habrit onde começou a
mergulhar profundamente no estudo árduo dos ensinamentos de Rav
Avraham Abulafia.
Rav Mario Meir está com 22 anos quando Rav Daniel Benari
percebe nele a semente que procurava para a construção da tão
16 sonhada Academia de Cabalá. Aos 25 anos seu mestre o ordena como
Rav e lhe transmite todo o corpo de conhecimento, ensinamentos e
segredos da Cabalá Contemplativa.
Rav Daniel Benari morre aos 76 anos no mesmo ano que Rav
Mario Meir se casa.
Finalmente surge na humanidade a pessoa certa na hora certa
para a construção do que hoje é considerada a base da Cabalá
Contemplativa, a Academia de Cabalá Rav Meir.
É uma instituição espiritual independente e sem fins lucrativos,
sendo a ponta final do trabalho da Cabalá Contemplativa no Mundo. É
expansionista, revolucionária e sem discriminação de etnia, sexo, cor,
religião, etc.
Hoje, a Academia de Cabalá Rav Meir é a maior instituição de
Cabalá Contemplativa no mundo. São mais de 600 membros
freqüentando a Academia e cerca de setenta mil pessoas que têm
acesso ao conhecimento em todo o mundo através dos trabalhos
realizados pela Instituição.
Sua missão é despertar a consciência do ser humano, estimulando
o poder de transformação do mundo através do desenvolvimento das
virtudes e valores da Cabalá Contemplativa.
Sua meta é o restabelecimento da conexão entre o ser humano e
a Luz do Mundo Infinito.
A Cabalá Contemplativa Abulafiana tem sua base centrada na
relação entre o Mestre e o Discípulo trabalhando no refinamento e no
aprimoramento do desenvolvimento de valores e virtudes inerentes ao
caráter do ser humano.
17 Temos toda uma força criativa dentro de todos nós, herdada de
nosso Criador. Precisamos, através de nossas reflexões, encontrarmos
nossos talentos, e descobrirmos o que o Criador espera de nós - nossos
objetivos e nossa função aqui na humanidade.
Através de pequenos gestos, atos ou até situações, encontramos
o Sagrado. Ele realmente surge de onde menos esperamos e
precisamos estar atentos e receptivos.
Somos pessoas únicas, especiais e valiosas, mas não somos o
Todo, e isso é muito importante de termos consciência.
É nossa responsabilidade, saber o lugar que ocupamos no mundo.
Acreditar no nosso potencial, no melhor de nós mesmos. Para
encontrarmos nossa plenitude é preciso estar sempre: buscando,
construindo, compartilhando, agindo, desenvolvendo, experimentando,
amando, cooperando, aprendendo, ensinando, explorando, respeitando,
excluindo e dedicando.
É através dessa busca que nos encontraremos a nós mesmos e, o
mais importante, o universo dentro de nosso próprio ser.
1.3 – A Metodologia
O objetivo principal da Educação Contemplativa é propor a
construção de uma base sólida a partir da qual, através de valores e
virtudes, desenvolvemos o caráter das crianças, formando-as seres
humanos melhores, mais conscientes, completos, equilibrados, não só
em relação a elas próprias, mas principalmente em relação ao próximo,
a toda humanidade e a todo universo.
18 Nosso outro objetivo é tornar todos do meio escolar da criança
cúmplices do mesmo sistema de educação, pois a Instituição de ensino
tem que ser o maior exemplo para a criança que tem como referência
quem a está educando.
O papel da Educação é o de tornar aquele ser humano uma
pessoa melhor, transformando suas características e inclinações
negativas em positivas, e se isso não for feito de forma muito
responsável e consciente, podemos ter um resultado final desastroso.
Temos que ensinar a parte curricular sim, mas também ter em conta qual
será a finalidade do uso deste conhecimento, qual será a sua forma
construtiva. A criança deve aprender a caminhar com seus próprios pés
e a agir por si só quando for necessário.
Segundo Rav Mario Meir: “o que liga a inspiração superior e a
prática à vida cotidiana é a educação”. Aprendemos com a Cabalá
Contemplativa as regras do jogo da vida, e a partir do desenvolvimento
e da mudança de nossa consciência, conseguimos focar e acertar nas
escolhas que são as condutoras dentro de nossa vida e existência.
Cada um de nós é importante e insubstituível. A cooperação e a
integração nos ajudarão a formar o todo e a conquistarmos o melhor de
nós mesmos.
A DISCIPLINA também deve ser um ponto a ser trabalhado de
forma atenta, pois o aluno não pode ser privado de seu espírito livre.
Em contrapartida, ele deve ter o discernimento necessário para respeitar
e obedecer a seus Superiores.
O segredo para atingirmos a quaisquer crianças é único: o AMOR!
E este é o ingrediente primordial que permeia toda a metodologia da
Educação Contemplativa. O amor e a disciplina andam juntos e se
complementam.
19 Todo cuidado é pouco, ou a criança vai adquirir hábitos saudáveis
ou hábitos nocivos. E a responsabilidade é nossa.
É uma metodologia baseada na relação de Mestre e Discípulo,
onde o papel de Pais, Educadores – “Formadores” é o de Mestre. O
Professor simplesmente tem a responsabilidade de nos ensinar, nos
ajudando a ampliar o nosso conhecimento, aumentando o nosso campo
intelectual. Já o professor que se transforma em Mestre é aquele que
nos ensina através de seu exemplo e do relacionamento com seu
discípulo, que o orienta a como se conduzir em todas as áreas de sua
vida, não só ali na sala de aula, não só como estudar e “passar de ano”.
O Mestre é muito importante pois para a Educação Contemplativa
o adaptar a criança em todos os aspectos de sua vida e ao seu
relacionamento com o outro, seja: a escola, o colega, o governo, a
sociedade, entre outros exemplos, é fundamental. Não podemos nos
esquecer que, dentro de uma mesma sala de aula, podemos ter crianças
de diversas religiões, raças, etnias, sexo e classes sociais.
Como nos diz Rav Mario Meir:
A Cabalá explica que a diferença entre um professor
comum e um mestre é que o primeiro transmite idéias
e luz a seus estudantes. Já um mestre, emprega a
sua própria essência – todo seu coração e sua alma –
nas palavras sagradas de Torah que transmite. Essa
devoção ao ensinamento é tão intensa que penetra a
alma de seu discípulo impregnando-a com sua própria
essência. (aula de Tamei Torah - Bamidbar)
20 No papel de Pais e Educadores, temos que ajudar nossas crianças
a estarem prontas intelectualmente, emocionalmente e espiritualmente.
Temos que estar atentos e sermos referências para o desenvolvimento e
o equilíbrio de suas emoções e ações, que moldam sua personalidade.
Não temos que dar as soluções prontas, mas lhes fornecer o necessário
para que possam por si próprios encontrar as respostas e soluções para
seus problemas, questões, dúvidas e dificuldades.
Com certeza quando o Educador se deparar com o propósito
maior do papel profissional o que escolheu e assumir a sua
responsabilidade, sua capacidade em ser excelente naquilo que faz o
ajudará a ter as respostas certas para atingir os objetivos.
A Cabalá Contemplativa nos define de forma bem clara e precisa,
os 3 degraus da “escada evolutiva” dentro da Educação Contemplativa,
que vai nos ajudar a compreender melhor a sua metodologia:
• Conhecimento – é o acúmulo de saber intelectual; quanto
mais tempo maior será o nosso conhecimento;
• Entendimento – quanto mais aplicarmos o nosso
conhecimento, maior será o nosso entendimento;
• Sabedoria – é quando conseguimos nos esvaziar das coisas
excessivas e dos entulhos que existem dentro de nós –
nossa consciência - para a aplicação prática e devocional
do exercício total de nosso conhecimento. Ela está
estritamente ligada à simplicidade.
21
CAPÍTULO II
EDUCAÇÃO CONTEMPLATIVA
(CHINUCH YUNIT)
Há um tempo para todo o propósito e para a
realização de cada coisa nesse mundo. (Rav
Mario Meir)
A Educação Contemplativa tem como base os fundamentos e
ensinamentos da Cabalá Contemplativa Abulafiana e está sendo
estruturada e desenvolvida pela primeira vez através dos ensinamentos
de Rav Mario Meir.
Através dos valores e virtudes, da ética e da moral da Cabalá
Contemplativa, surge a sua base educacional e pedagógica - a
Educação Contemplativa.
Altas tecnologias se proliferam, a mídia cada vez mais ativa e
influente, mas afinal de contas, onde nós estamos? Quase sempre
dentro de uma sociedade castradora, onde nos tornamos robôs ocos, e
estátuas petrificadas e cristalizadas; dominados por um materialismo
enraizado.
Precisamos lutar contra essa força dominadora que nos
impulsiona para sairmos de nosso eixo central e nos remete a um
22 processo repetitivo e duvidoso para não encontrarmos a nossa
verdadeira identidade.
Hoje em dia a falta de Educação é o grande problema da
Humanidade.
Há muitos anos a Torah nos alerta acerca da pergunta que D’us
fez a Adão, a Abraão e a todos nós através dos tempos: “Onde está
você?”. Esta pergunta nos instiga a descobrir nosso propósito na vida,
onde estamos nós diante do mundo e da nossa história. É com muita
pretensão que nos colocamos como um eco forte, ardente e profundo da
resposta dada por Abraão: “Eis-me aqui”.
2.1 – Chinuch Yunit – Inspiração e Integração
Conforme as palavras de Rav Mario Meir, devemos inicialmente
definir a educação em termos cabalísticos. A Cabalá considera o
hebraico como sendo a língua da Criação e lhe reserva um grande
significado. A formação de suas palavras, suas raízes e seu significado
oculto nos ajuda demasiadamente a compreender o universo que nos
cerca. Nada mais oportuno do que, então, analisarmos o próprio sentido
da palavra para "educação".
Em hebraico existe uma palavra para "educação": chinuch.
Na forma mais comum, a palavra chinuch poderia ser traduzida
como "treinamento".
Para captar o significado interior destas palavras e assim
descobrir o significado de "educação", devemos examinar primeiro as
23 raízes ligadas à palavra. Isso permitirá desvendar as luzes contidas e
ocultas dentro da mesma.
A raiz básica de chinuch aparece mais freqüentemente no Tanach
com o significado de "inauguração" ou "iniciação". Descreve o ato de
dedicar algo a um propósito em particular. Por exemplo, o Salmo 30,
conhecido como Mizmor Shir Chanucat HaBait, é um canto de
inauguração composto pelo Rei David para o Templo Sagrado
construído pelo seu filho, o Rei Salomão. Uma vez construído o Templo,
seus utensílios não podiam ser usados sem serem santificados e
inaugurados em suas tarefas. Assim, a menorá (o candelabro) teria que
ser santificado e inaugurado em sua função de "iluminador". Assim
mesmo era para os cohanim, os sacerdotes que serviam no Templo,
tinham que ser iniciados no ofício antes de assumir sua
responsabilidade. Este ato de iniciação atraía para baixo a Luz
Espiritual. É um ritual que desperta os receptores e um nível superior de
potencialidade, habilitando-os para começar sua nova tarefa. Somente
após o recebimento desta Luz adicional é que as pessoas e os objetos
estariam aptos a prosseguir no caminho a que lhe foi destinado.
Quando aplicamos estas idéias contidas na raiz do propósito de
chinuch, vemos que o mestre é um "iniciador", em sua tarefa de
despertar as potências latentes de seus discípulos. Ele faz isso,
baixando a Luz do conhecimento ao nível dos estudantes, inspirando-os
assim a uma nova maneira de pensar e ver o mundo.
Dessa forma, podemos entender que a educação se faz análoga
ao crescimento espiritual. O modelo básico de educação se divide entre
INSPIRAÇÃO e INTEGRAÇÃO. Em todas as áreas do crescimento
criativo humano, temos a presença destas duas fases. Primeiro surge
uma idéia (inspiração) e logo em seguida esta idéia é aplicada,
experimentada e incorporada na prática (integração). Vemos isso
presente nos avanços médicos, na ciência, arte e na música.
24 Todo o tipo de crescimento sempre se produz através destas duas
fases: inspiração e integração. Primeiro temos que despertar um novo
aspecto de possibilidades e logo deve-se estabelecer um esforço para
construir estas idéias dentro da realidade e experiência diária. No
trabalho espiritual, cada passo que damos para aprofundar nosso
entendimento do mundo e aperfeiçoar o nosso caráter, é como entrar em
uma nova terra, em um território desconhecido e inexplorado, que traz
com ele novas possibilidades e caminhos para o conhecimento. A
melhor metáfora para definir a educação e a entrada em uma nova forma
de viver e pensar se encontra na descrição da Torah sobre a travessia
do deserto e entrada na Terra Prometida. Esta travessia se define pela
migração da esterilidade do deserto até a abundância da Terra Sagrada.
Os textos sagrados dividem este processo em duas etapas, primeiro a
"entrada" e logo depois, o "assentamento". O poder de entrar na Terra
Prometida está relacionado à fase de iniciação (inspiração) da
educação, e o poder de assentar-se na Terra Prometida, arraigar-se e
permanecer é uma função da integração apropriada. Mas, mesmo a
inspiração não terá efeito caso o talmid não aplique e integre os novos
conhecimentos em sua vida diária.
2.2 – A importância da Cabalá Contemplativa na Educação Infantil
É nos primeiros anos de vida que a criança precisa de uma
atenção especial e redobrada. Neste período estamos desenvolvendo
toda a base daquele futuro adulto. Ela deve receber constantemente
atenção, proteção, ensinamento e exemplos para se tornar um adulto
25 produtivo e com o caráter moldado a partir da retidão, da humildade e
da dignidade.
Piaget também corrobora que a educação que recebemos nestes
primeiros anos vai nos influenciar para o resto de nossas vidas com
amigos, familiares e a sociedade a qual pertencemos.
É nesta fase que estabelecemos os limites e conseguimos não
deixar que o egocentrismo inerente a uma parte de nossa existência se
desenvolva e se transforme em um egoísmo exacerbado que é oposto à
Educação Contemplativa.
A criança desde cedo deve moldar a sua própria Identidade
através de seu desenvolvimento intelectual, espiritual, emotivo e
psicológico. Sem esta Identidade ela não poderá pensar nem sentir por
si própria, pois não aprendeu a crescer e a viver desta forma.
Devemos estar abertos a aprender com as crianças, pois elas são
uma fonte de ensinamento para nossa vida. São seres inocentes,
autênticos, puros e receptivos com o que tivermos a lhes oferecer.
É a partir da educação infantil que se dá início ao ensinamento
maior de uma passagem que aprendemos – não só na Cabalá
Contemplativa mas em quase todas as religiões, seitas, grupos
humanitários, etc. - e encontramos primeiramente na Torah em Levítico
(Kedoshim, 19:18): “e amarás a teu próximo como a ti mesmo; ...”.
Desde pequenos temos que ter consciência da importância do outro em
nossa vida, afinal somos partes de um todo e responsáveis pelo futuro
da humanidade.
Já temos que inserir dentro da infância a busca de propósitos,
para futuramente aquelas crianças desenvolverem a base solidificada
para a escolha de seu propósito maior de vida.
26 É muito importante ressaltarmos que cada ser humano é diferente
do outro e temos que o comparar somente a si mesmo. Muitas vezes
nos deparamos com crianças que eram excepcionais e permanecem
estagnadas enquanto outras que rotulávamos de problemáticas
conseguem um rompante crescimento. Temos que auxiliar a cada
criança a se desenvolver no melhor de seu potencial.
Eduque a criança conforme os modos dela – assim,
mesmo depois de crescida, não se apartará deles.
(Provérbios 22:6)
2.3 – O inegociável papel dos Pais
O papel dos pais para a Cabalá Contemplativa começa muito
antes de a criança nascer. No momento em que um casal decide ter um
filho, deve estar preparado para esta escolha, mesmo que seja
considerado um “acidente de percurso” (o que para a Cabalá não
existe).
Quando um casal vive conforme os preceitos espirituais de uma
união familiar santificada, isto já lhe assegura que seus filhos sejam
abençoados com pureza e com saúde. Segundo Rav Mario Meir:
Uma alma concedida na Santidade dos laços do
matrimônio entrará, no momento da concepção, na
27 plenitude da vida dotada da pureza que será garantia
do seu caráter. A Cabalá ensina que os pensamentos
do homem e da mulher durante a relação sexual são o
que determina o tipo de alma que irá ocupar o corpo
da criança que deverá nascer desta união. (aula de
Sitrei Torah - O Exercício do Casamento)
Mas sabemos que muitas crianças não são concebidas desta
forma, e nem por isso serão crianças perdidas, ou sem perspectivas de
se tornarem adultos repletos de valores morais e de caráter; mas
devemos nos conscientizar da responsabilidade que é ter um filho, o que
para muitos pais não passa de uma banalidade, gerando a falta de
responsabilidade com seus filhos.
Vários estudos nos mostram a grande importância de a mãe ter
uma gestação: equilibrada, tranqüila, dedicada e receptiva; para a
chegada do tão esperado bebê. Pois já na 12 ª semana de gestação, o
feto já reage aos sons e em especial à voz materna. Os pais já
constroem uma imagem de como será seu bebê e esse é o primeiro
ponto para se formar o vínculo entre os pais e a criança.
Segundo o psiquiatra e professor Thomas R. Verny:
“O stress psicológico em recém-nascidos e a
ansiedade ou depressão da mãe no período pré-natal
constituem fatores de risco para os bebês; pode
danificar estruturas cerebrais em desenvolvimento, ou
mesmo favorecer a instalação de doenças,
28 dependências ou transtornos de personalidades
futuros.” (VERNY, p. 72)
O bebê quando nasce se torna real - dentro daquela imagem de
expectativa de como ele seria que seus pais construíram durante a
gestação. E esta fase é muito delicada e fundamental para esta ligação
entre os pais e o bebê. A mãe está se reestruturando para inclusive se
adaptar a sua nova identidade e às novas relações como: afeição,
toques, segurar, amamentar, ouvir, falar, acariciar, entre outras; vão
determinar o início daquela tão profunda e intensa relação de
conhecimento e responsabilidade de responder às necessidades de seu
bebê.
Dentro da Educação Contemplativa a mãe, por representar a base
espiritual de uma família, tem a maior influência, obrigação e
responsabilidade na educação dos filhos, através de uma total entrega a
este desenvolvimento. A mulher, além de ser mais preparada
espiritualmente, tem um poder maior de formar bases, enquanto no
homem é maior a sua capacidade de condutor. Não são papéis opostos
ou omissos na criação dos filhos, mas complementares e não devem
estar divergentes e distantes de um mesmo objetivo, que neste caso é a
educação dos filhos.
Confirmando a afirmação da Cabalá em relação ao papel materno,
a psicanalista e professora Maria Consuelo Passos nos diz:
“NO PRINCÍPIO É A MÃE
29 A relação primordial mãe e filho é a matriz das
relações familiares
A mãe representa o ambiente familiar e, ao mesmo
tempo, é quem apresenta ao filho as personagens do
meio externo. Esse roteiro primário da vida infantil
torna-se matriz a partir da qual, simbolicamente, o
bebê estrutura seu mundo e confere a ele sentidos
múltiplos de fantasia e realidade. A mãe, avalista da
experiência infantil, deve estar sozinha embora
necessite da presença silenciosa de outra pessoa que
lhe dê o apoio para que ela possa se dedicar ao filho
de forma devotada. Na concepção do psicanalista
inglês Donald Winnicott, “devoção materna” significa
dedicação integral ao bebê, investimento de afeto,
reconhecimento do filho como de fato seu; ela se
expressa nos cuidados necessários para que a criança
sobreviva e amadureça. Nessa empreitada solitária, a
mãe recebe e aconchega o bebê, de modo que ele
possa, paulatinamente, reconhecer a si mesmo e à
figura materna como primeiro outro no âmbito social e
psíquico. A adoção mútua entre mãe e bebê é
necessária independentemente de o filho ser biológico
ou não. À medida que a mãe é aceita como elemento
que contorna e organiza as sombras dispersas do
mundo primitivo da criança, esta passa a criar seu
lugar – ponto fundamental para constituir um espaço
afetivo no grupo familiar e ampliá-lo.” (PASSOS, p.8)
30 A criança é moldada através de nossos exemplos, atitudes e
parâmetros; seu maior e primeiro exemplo são seus pais.
A condução dos pais na Educação Contemplativa é de total
submissão aos ensinamentos contidos na tradição através dos valores e
virtudes. Na própria Torah que é a Lei da Cabalá Contemplativa, temos
o seguinte preceito (Deuteronômio 6:7): “e tu as ensinarás a teus filhos”.
É de fundamental importância para estes pais o constante refinamento
para se tornarem pessoas melhores, seguras, de caráter e respeito.
A criança deve ter total respeito a seus pais e os mesmos são os
responsáveis para que esta afirmação seja real. Quando o respeito não
aparece em seu devido lugar, quase sempre o ambiente em torno toma
conta da situação e, infelizmente, se a criança não estiver inserida em
um ambiente pleno, seu caráter pode ser moldado de forma inadequada
e aí fica difícil revertermos o resultado de forma simples.
Um exemplo muito claro e simples que define, de forma lúdica, um
pequeno ato que pode interferir na base da formação da criança e torná-
la um indivíduo medroso e inseguro é, segundo Rav Mario Meir:
Se uma criança não pode dormir por temer a
escuridão, a solução sintomática é não apagar a luz.
Isto poderia aliviar o problema temporariamente, mas
para eliminar de maneira permanente o sintoma, é
necessário descobrir a fonte do problema, a sua
causa metafísica. Desta forma os pais podem ensinar
a seus filhos que o problema não está na escuridão e
sim, o que eles temem é a própria imaginação. Esta é
praticamente a causa da grande maioria dos medos.
(aula de Sitrei Torah):
31
Nos ensinamentos da Cabalá Contemplativa também encontramos
que até a criança completar 6 anos a responsabilidade de educar é dos
pais.
2.4 – Educação Inclusiva e Educação Especial
Para a Cabalá ninguém é melhor ou pior que o outro, somos
apenas diferentes e devemos respeitar, admirar e compartilhar uns com
os outros. A única deficiência grave é a falta de caráter e
personalidade, ou seja, a deficiência Espiritual.
É uma obrigação dentro da Educação Contemplativa tratar a todos
os alunos (discípulos) da mesma forma, respeitando a sua
individualidade, os seus limites e as barreiras que cada um possa ter,
independente de ser um obstáculo: físico, intelectual, psicológico ou
mental.
Algumas crianças podem nos parecer diferentes, mas possuem o
mesmo desejo de aprender que possuem outras crianças consideradas
“normais” (na verdade estas crianças também possuem algum grau de
deficiência em alguma área específica).
Temos milhares de exemplos de pequenos brilhantes que apesar
de suas deficiências são verdadeiros exemplos de adultos brilhantes.
Tudo depende de: dedicação, empenho, crédito, oportunidade, carinho e
respeito; que direcionamos e dedicamos ao seu desenvolvimento, que
pode vir a ser mais lento, mas com certeza existe um excelente
resultado deste nosso empenho.
32 Quando nos dedicamos verdadeiramente e nos comprometemos
com o processo de aprendizado de tais crianças, descobrimos que elas
possuem habilidades muito maiores do que acreditávamos e
imaginávamos, basta que nos empenhemos em ser um suporte para o
seu crescimento em todos os âmbitos.
O envolvimento dos pais e da Instituição é essencial e
determinante para a educação infantil.
As instituições têm a obrigação de ter a estrutura necessária para
o trabalho e a aceitação de todas as crianças em sua grade escolar.
Não existe para a Educação Contemplativa, uma dicotomia entre
“normal” e “anormal”.
No papel de Educadores temos que estar preparados para
trabalhar com seres humanos, e não com um sub-conjunto seletivo de
pessoas.
Como nos diz Rav Mario Meir: “O bom mestre é aquele que
acredita em você, mesmo quando nem mesmo você acredita. mas ele
está lá radiante, acreditando e apostando em você.” (Aula de Árvore da
Vida, letra Nun). Que possamos nos inspirar com estas sábias palavras!
2.5 – Disciplina, Restrição e Entusiasmo
Estes 3 elementos são fundamentais dentro da Educação
Contemplativa, pois estão diretamente ligados ao desenvolvimento da
33 relação entre o Mestre e o discípulo. São complementares e
interligados de forma que se um falhar, o processo se torna falho. Por
isso os colocamos aqui de forma mais apurada para um melhor
entendimento dentro de nossa metodologia.
A disciplina é um conjunto de normas e regras, baseadas nos
conceitos de instrução, educação e treinamento, fundamentais para a
relação de subordinação que o discípulo (aluno) deve ter com seu
Mestre, criando um vínculo forte que interliga a confiança e a
dependência mútua.
Ela é a base para a estabilidade e a coesão entre grupos, e é
fundamentada através das boas condutas, valores e virtudes, que todo
ser humano deve almejar e desenvolver.
Todos devem estar sujeitos as mesmas regras de disciplina e a
honestidade é inegociável.
Somos constantemente bombardeados por imagens,
fatores e estímulos externos, sendo eles bons e maus,
sofridos ou prazerosos. É o ego que se liga a tudo,
sem separar o joio do trigo, a restrição trabalha com
este ego, impulsivo e desejoso. Egoísta acima de
tudo. Quando você se restringe aprende a contatar a
sua essência, a parar para pensar e perceber-se.
(Rav Mario Meir)
34 Em hebraico a restrição é conhecida por Tzimtzum e nos remete a
auto-restrição da Luz Espiritual, um processo de contração e posterior
expansão.
A restrição é fundamental para a obtenção de novas informações
e para gerarmos um espaço de novas criações dentro de nosso ser.
Através dela abrimos espaço para a resolução dos grandes
problemas que surgem em nossa existência, pois quando paramos de
receber externamente, criamos a possibilidade de olharmos para dentro
de nós mesmos, que chamamos na Cabalá de Pnimiyut (interioridade).
A Pnimiyut é o fato de nos acharmos "frente a nós" e
"frente ao Eterno". Acontece pela unificação, a via do
espírito, da meditação, da descoberta das faces
ocultas da criação. A Pnimiyut nos coloca fora do
tempo e do espaço, ligando-nos à Causa Primeira. Ela
nos permite reencontrar e identificar o fio permanente
do Eyn-Sof que vibra na luz de todas as coisas
criadas e que a Cabalá chama de "Kav", a linha. Kav é
o liame, o intermediário entre o Criador e sua criação.
(Rav Mario Meir)
Quando estamos preocupados apenas em receber coisas novas,
sejam ensinamentos, objetos, etc., e vamos acumulando, sem restrição,
nos tornamos semelhantes a um copo que transborda de tão cheio e não
permite mais que coisas novas penetrem ou mesmo que transformações
aconteçam dentro dele.
35 A expansão após a contração é o que gera novos frutos e
soluções para nossas vidas e para o mundo.
O entusiasmo é um estado anunciado pela alma que
inunda o coração e a mente. Independente de
prazeres sensoriais, aquisições materiais ou
condicionamento exterior. É o estado natural do ser
humano e só desaparece quando eclipsado pela falta
de autoconhecimento e pela ausência de foco. (Rav
Mario Meir)
O entusiasmo é o arrebatamento que nos purifica de medos e
anseios e transforma os nossos aspectos negativos em positivos. Nos
faz arrepiar e seguir em frente em nosso caminho, rumo à sabedoria
através do conhecimento e do entendimento.
Rav Avraham Abulafia dizia que o entusiasmo é que lhe dava o
material para a imaginação e a substância para o intelecto.
2.6 – Pirkê Avót – A Ética dos Sábios
O Pirkê Avót é um tratado baseado em ensinamentos que nos
dizem respeito aos valores, às virtudes, aos comportamentos, às boas
maneiras e à ética. Ele nos mostra o caminho traçado e os exemplos a
serem seguidos pelos sábios de nossa Tradição.
Está sub-dividido em seis capítulos, os quais correspondem a seis
emoções que devemos desenvolver em nossas vidas: capítulo 1 -
36 bondade (ato de compartilhar), capítulo 2 -disciplina (ato de restrição e
severidade), capítulo 3 - beleza (equilíbrio, foco e concentração),
capítulo 4 - permanência (constância), capítulo 5 - refinamento (tornar-
se melhor) e capítulo 6 - verdade (fundamentos e pactos).
A Educação Contemplativa tem sua base em um Ensinamento
(chamado Mishnah) do capítulo 6 e para isto temos que entender um
pouco o que significa a verdade para a Cabalá Contemplativa. Segundo
nossos ensinamentos, devemos nos preocupar com o que é verdadeiro
ou falso, e não com o que é certo ou errado. O verdadeiro é aquilo que
realmente nos liga à nossa essência e está estritamente relacionado à
nossa natureza essencial, sem passar pelas barreiras de interpretação
de nossa percepção deturpada do que está acontecendo. O certo é o
que julgamos muitas vezes pela aparência e quase sempre sob a
interpretação de que estamos sempre certos e os outros sempre estão e
são errados. O verdadeiro está ligado às Leis Espirituais do Universo.
Se perguntássemos a duas pessoas se algo é certo ou errado,
poderíamos ter duas respostas distintas; porém, quanto a verdadeiro e
falso, não temos respostas diferentes para a mesma questão.
O fundamento e o pacto estão totalmente ligados à verdade, pois
não existem diferentes respostas para estas questões: ou é, ou não é.
O Ensinamento do Capítulo 6 que é a base de nossa Metodologia,
divide-se em 11 Ensinamentos (Mishnah). O que devemos ter como
ideal de vida é o de número 6. Segundo ele, a Torah é superior ao
sacerdócio e à realeza, pois a realeza requer trinta qualidades, o
sacerdócio vinte e quatro, mas a Torah requer quarenta e oito coisas. E
elas são: estudo, ouvir atentamente, clareza, inteligência, reverência,
temor, humildade, alegria, pureza, servir aos Sábios, aproximação dos
companheiros, debate com os discípulos, sobriedade, conhecimento da
37 Escritura, conhecimento da Tradição, poucos negócios, poucas relações
mundanas, poucos prazeres, dormir pouco, poucas conversas, poucos
risos, paciência, bom coração, certeza nos Sábios, resignação no
sofrimento, conhecer o seu lugar, contentar-se com a sua porção, medir
suas palavras, não exigir créditos para si, ser amado, amar o Todo-
Presente, amar o seu próximo, amar a retidão, amar a justiça, prezar as
críticas, afastar-se das honrarias, não inflar o coração por causa do
conhecimento, não se deleitar em dar ordens, ajudar o próximo a
carregar o seu jugo, julgar com indulgência, pôr-se no caminho da
verdade, pôr-se no caminho da paz, ser meticuloso em seu estudo,
perguntando conforme o assunto e respondendo conforme a regra, ouvir
e aumentar o conhecimento, aprender para ensinar, aprender para
praticar, estimular a sabedoria do mestre, raciocinar sobre o que ouvir, e
dizer coisas em nome de que as disse. Sabe-se que todo aquele que diz
uma coisa citando o nome de quem as disse, traz a redenção ao mundo,
pois foi dito: “E disse Ester ao rei em nome de Mordechai” (Ester 2:22).
A Torah é a representação de todo conhecimento e ensinamentos
da Cabalá Contemplativa. Dentro da Torah temos qualidades que
representam o sacerdócio – ligadas à capacidade de reunir nossos
potenciais mais refinados -; outras que representam a realeza – ligadas
à capacidade de controlarmos nossos próprios atos. Por isso a
importância de seguirmos estas quarenta e oito qualidades, pois
estaremos buscando virtudes completas e interligadas dentro de nosso
Ser.
2.6.1 – As 48 Qualidades
Segundo a Educação Contemplativa desenvolver e trabalhar estas
48 qualidades com muito afinco, seriedade e comprometimento, é toda a
38 base do desenvolvimento reto e ideal para atingirmos uma Humanidade
com a consciência voltada para: a transformação de um mundo justo,
equilibrado, questionador, cooperativo, completo e unificado.
• Qualidade nº 1 – Estudo
O estudo é muito importante dentro de nossas vidas, pois é uma
das ferramentas mais importantes para adquirirmos maior consciência e
conseqüentemente desenvolvermos a nossa inteligência e memória.
Quando preenchemos nossa vida com o estudo de coisas morais,
virtuosas, decentes, significativas e amplas, estamos cada vez mais
adquirindo a base necessária para enxergarmos a verdade dentro de
nosso mundo. Podemos com isso transformar nossos sentimentos e
nossos atos.
Os nossos sábios sempre estudaram muito através dos tempos,
não só para serem eruditos, mas principalmente para deixarem uma
base de conhecimento qualitativa para adquirirmos o impulso ao nosso
autoconhecimento, transmitindo-o para as pessoas às quais estamos
ligados, sejam por laços familiares, afetivos, sociais, etc.
É através do estudo que aprendemos o que devemos praticar em
nossas vidas. Ninguém nasce sabendo! O estudo é uma das nossas
maiores fontes de obtenção de conhecimento.
Temos que ter como meta o estudar para trabalharmos no
desenvolvimento de um mundo melhor para toda humanidade. Se
estivermos buscando conhecimento para nós mesmos, se não o
39 colocarmos em prática, nem transmiti-lo, com certeza ele vai se diluir
muito em breve e deixará de existir.
A Cabalá Contemplativa nos ensina que o processo de
aprendizado, para ser completo, tem que trabalhar tanto o cognitivo –
ensinamento e conhecimento, quanto o subjetivo – entendimento. E é só
através do estudo que conseguimos desenvolver o entendimento e
conseqüentemente dominar o assunto em questão; caso contrário só o
conheceremos muito superficialmente.
É muito importante que exista uma rotina diária de estudo para
que o aluno (discípulo) crie uma permanência e se torne cada vez mais
refinado e lapidado.
Um aspecto muito importante do estudo na Educação
Contemplativa, é que devemos sempre ter um direcionamento de alguém
confiável – nosso Mestre, para não cairmos no caminho do falso
conhecimento e para compartilharmos idéias e experiências adquiridas.
• Qualidade nº 2 – Ouvir atentamente
Esta qualidade é uma das mais difíceis de se adquirir como
hábito, pois se só o ouvir já é complicado, imagina o ter atenção no que
se está ouvindo. Somos condicionados por nossos egos a ouvir e dar
importância apenas a nós mesmos, nossos pensamentos e idéias.
Quantas vezes nos deparamos com conversas em que nos parece
que estão discutindo coisas diferentes. Isto é a falta de ouvir o que o
40 outro está falando. O ouvir é uma qualidade muito importante para
trabalharmos também o entendimento.
Não é por acaso que grande parte dos ensinamentos da Cabalá
Contemplativa nos são transmitidos pela Tradição Oral através de
nossos Sábios (Mestres). Quando nos subordinamos a um Mestre, esta
qualidade é muito mais fácil de ser trabalhada, pois o exemplo e os
ensinamentos daquela pessoa são as principais referências para nossa
vida.
A Cabalá Contemplativa nos ensina que devemos escutar com o
coração, o que significa escutar com a ótica do que é verdadeiro. Com
isso entendermos as entrelinhas do que nos está sendo dito. É o ouvir
as palavras e compreender os seus significados.
A atenção aqui colocada é o foco fundamental que temos que
desenvolver em nossas vidas. Só com este foco, é que conseguimos
distinguir o que devemos fazer para nos tornarmos uma pessoa melhor,
determinar qual o caminho a seguir, quais as escolhas devo tomar, etc.
Na Cabalá Contemplativa, este foco é trabalhado principalmente
com a meditação, que é uma grande ferramenta de transformação a ser
ensinada dentro da Educação Contemplativa. Conseqüentemente
quanto mais meditativos nos tornamos, ouvimos melhor e com o
coração. Mais adiante, estaremos falando mais sobre a Meditação
Contemplativa.
Sem este foco no ouvir, estamos sujeitos a cair no equívoco de
escutar o que não foi dito. Grandes problemas na humanidade
ocorreram a partir desta situação.
Temos que ter muito cuidado com o que falamos para nossas
crianças. A maledicência, na maioria das vezes, é desenvolvida a partir
do escutar coisas erradas e falsas, e como as crianças ainda não
41 possuem o discernimento de escolherem o que querem ouvir, acabam
aprendendo e sendo contaminadas por este que é um grande mal da
humanidade.
• Qualidade nº 3 – Clareza
Quando colocamos determinado assunto de forma clara e
ordenada, fica muito mais fácil sermos compreendidos.
O total domínio de um determinado assunto só é fechado na linha
de raciocino quando é colocado em palavras. Nossos pensamentos,
quando são moldados em palavras, não se dissipam com o
esquecimento, ficam fáceis de ser lembrados.
O ato de falar é um dos mais importante para a transmissão de
informações para outra pessoa e uma forma de colocar as coisas de
modo transparente e de fácil entendimento. Não é à toa que os líderes
que mais nos transmitem informações, influências e sentimentos são os
que falam brilhantemente.
A criança pequena aprende muita coisa através da fala, é uma
forma de ela expressar o que está aprendendo e querendo transmitir ao
outro.
É muito importante para o desenvolvimento da criança que ela se
acostume desde pequena a ir falando de forma ordenada tudo o que
está aprendendo. Esta forma de aprendizagem a ajuda no processo de
socialização, no desenvolvimento de liderança, na criatividade e no
42 hábito de conviver e criar rotinas importantes para o seu equilíbrio e
segurança, entre outros.0
Vale a pena lembrar do cuidado que temos que ter com nossas
palavras, principalmente quando elas vão influenciar o aprendizado de
alguém. Como diz o profeta Jeremias, nossa língua é um arco e nossas
palavras são flechas.
• Qualidade nº 4 – Inteligência
Inteligência, na Cabalá Contemplativa, é compreender com o
coração, compreender com a verdade, pensando nos valores e virtudes
que determinado conteúdo está trazendo, juntamente com as bênçãos
que está trazendo atraindo para a nossa vida e, conseqüentemente,
para o nosso aprendizado.
Se compreendemos com o coração, só palavras do coração
também ensinaremos, já diziam os nossos sábios.
Compreender com o coração é colocar o amor, a bondade, a
beleza e a verdade dentro de nossa vida. Ao mesmo tempo é perceber
e despertar essas características dentro do universo em que vivemos.
Precisamos compreender que tudo o que nos chega, ou de bom ou
de ruim, vai gerar uma reação de aceitação e transformação ou negação
de algo, mas nos traz sempre uma mudança. Quando o coração é o
receptor disto conseguimos ter o controle de nossa vida e seguimos na
direção correta. É esta compressão que vai fazer a diferença em nossas
atitudes.
43
• Qualidade nº 5 – Reverência
Reverência é ter admiração, mas também é ter respeito, algo que
hoje em dia, infelizmente, está fora de moda. Sem respeito a nossos
pais, educadores, mestres, amigos, enfim ao nosso próximo; nunca nos
tornaremos pessoas melhores.
A base que fundamenta esta questão dentro do processo da
Educação Contemplativa é explicada por Rav Mario Meir:
A reverência se refere à manutenção de normas,
procedimentos, disciplinas e protocolos que servem
para distinguir os discípulos do Mestre. Essa
distinção entre discípulo e Mestre acarreta a formação
de uma “distância” que permite assim que a base
moral seja transmitida. Tal distanciamento é
estabelecido por uma estética (forma) na relação
entre Mestre e discípulo. Esta estética (forma)
promove o surgimento de uma ética (conteúdo). A
forma (estética) se constrói através de ritos, normas e
procedimentos, por assim, dizer um protocolo no
exercício desta relação.
No caso da escola, se a criança não tiver reverência pelo seu
Mestre, é melhor que seja transferida para outra turma, porque senão o
aprendizado será em vão, sem resultados positivos em sua vida, pois
não aprenderá nada de significativo com ele.
44 A reverência também está ligada à flexibilidade segundo a Cabalá
Contemplativa. Quem é muito rígido para ensinar ou aprender, quem
tem excessos de coisas, concepções pré-formuladas, jamais será bom
aluno (Discípulo), pois seus conceitos são tão rígidos que nada será
absorvido neles.
A devoção ao ato de ensinar do Mestre faz com que o discípulo
tenha uma reverência absoluta por ele.
• Qualidade nº 6 – Temor
O temor é a capacidade que temos de nos afastar das coisas que
nos fazem mal, o que evita de nos tornarmos levianos, imprudentes e
corruptos. É a precaução que temos que ter todos os dias em relação,
principalmente, a nós mesmos, nossa má inclinação, nossos atos e
nossas atitudes.
O poder está intimamente ligado ao temor. Muitas pessoas acham
que o poder é a capacidade de dominar pessoas, coisas ou situações;
oprimir, destruir; porém o verdadeiro poder está em nossa capacidade
de ter a possibilidade de fazer algo negativo e escolhermos não fazê-lo.
Ficar congelado ou estagnado diante de alguma situação, pessoa,
coisa ou fato, não é temor, mas sim medo e dúvida que são nocivos ao
nosso crescimento.
A ansiedade é absurdamente algo que nos afasta do temor, temos
que ter muito cuidado. A melhor ação para controlarmos esta sociedade
é não agir precipitadamente, mas esperar e depois sim agir.
45 O zelo que temos com tudo em nossas vidas é construído com o
temor ao qual estamos subordinados. Sem temor não existe a
possibilidade de nos tornarmos éticos e confiáveis. É está prevenção
que nos faz buscar valores e virtudes para dentro de nossas vidas.
• Qualidade nº 7 – Humildade
A Humildade (modéstia) é com certeza uma difícil e importante
qualidade a ser adquirida. Ela toca em um elemento muito delicado de
nossa vida que é o nosso ego. Para a Cabalá a humildade é a mãe de
todas as virtudes e o primeiro passo para adquiri-la é a obediência.
Quanto mais nos aproximamos da verdade, e mais integrados e
disponíveis queremos nos tornar para o outro, mais humildes devemos
nos tornar.
A humildade nos torna pessoas grandiosas, livres de egoísmo,
orgulho, ganâncias, mesquinhez e ignorâncias, nos elevando para
propósitos mais sublimes e globais. Deixamos de querer ficar olhando
apenas para o “nosso próprio umbigo”.
Até os quatro anos de idade, a criança ainda é muito egocêntrica -
mas não egoísta, e é a partir desta fase que devemos trabalhar com
bastante afinco a virtude da humildade para que o egoísmo não passe a
tomar conta de sua vida. Devemos deixá-la com a convicção de que
seus atos e seus pensamentos são importantes para o mundo,
trabalhando sua consciência em se tornar humilde e co-responsável por
transformar o mundo em um lugar melhor para todos.
46 Quanto mais humildes nos tornamos, maior será a nossa
capacidade de receber coisas boas e também a nossa predisposição de
nos esvaziar de coisas ruins. Quanto mais poder adquirirmos em nossa
vida, mais humildes devemos nos tornar. Temos que agir sempre com
muita prudência, muita cautela. Temos que tomar cuidado com nosso
ego, que muitas vezes no faz fingir sermos humildes, e na verdade é
pura hipocrisia. Se tivermos consciência de que tudo o que fazemos
poderá ser feito melhor, não correremos este risco.
O grande segredo para nos tornarmos humildes é estarmos
totalmente submetidos a nossos Mestres (pais, professores, etc). Assim
não damos espaço para nosso ego tomar conta de nossa vida nos
levando para o caminho da destruição. Quando reconhecemos que
nossos superiores são nossos maiores exemplos de sabedoria, através
da submissão abrimos uma porta para nos tornarmos cada vez mais
humildes e aptos para recebermos mais conhecimentos e ensinamentos.
Segundo Rav Mario Meir:
A humildade não significa timidez ou covardia. Muito
menos está atrelada ao espírito de resignação, a
humildade em sua forma mais sublime é a maior fonte
de poder pessoal. Por intermédio da humildade, o
cabalista torna-se apto para dominar toda e qualquer
das suas inclinações destrutivas e todo aquele que
conquista a si mesmo, conquista tudo. Os meios para
se obter a humildade são: o hábito de conduzir-se
com mansidão e docilidade; o pensamento – pensar
antes de falar; ter um Mestre; ser prestativo e desejar
servir.
47
• Qualidade nº 8 – Alegria
A alegria aqui nos remete ao contentamento, ao prazer e à
satisfação. É o principal ingrediente que nos motiva a ir em frente e que
nos faz superar os problemas e obstáculos que surgem em nossa vida.
Ela é contagiante e nos livra de dois grandes males do século: o
estresse e a depressão.
O prazer em ensinar, estudar, viver... vem da alegria. A vida se
torna mais feliz, doce, significativa de forma que assimilamos e retemos
os valores e as virtudes de forma mais fácil. O otimismo que nos faz
acreditar e continuar lutando pelas coisas boas da vida está de “braços
dados” com a alegria, são complementares.
Quando cultivamos a alegria dentro de nossas vidas nos tornamos
mais serenos, iluminados e confiantes. A alegria faz com que a
Sabedoria entre em nossas vidas e nos ajude a transformar os fardos da
existência em oportunidades de crescimento. A alegria, por si só, não
elimina os problemas, mas ajuda a enfrentá-los e resolvê-los.
• Qualidade nº 9 – Pureza
48 A melhor forma de ter e ser exemplo de pureza, está em conduzir
nossas palavras e atitudes baseadas no amor, de forma clara e
transparente. A pureza está ligada à perfeição.
Quando somos puros, límpidos e conduzidos pela Luz Espiritual,
conseguimos contaminar a todos a nossa volta, pois conseguem ver
realmente quem somos e abrimos o caminho para que o bem predomine.
A falta de clareza nos torna ambíguo e isso nos tornar um perigo
perante nós mesmos e em relação ao mundo em que vivemos. Muitas
guerras e confrontos surgiram de uma questão ambígua.
Ter discernimento é extremamente necessário para chegarmos a
esta purificação, e conseguir nos resguardar de sermos egoístas.
O grande problema da atualidade não é que a força do mal é
dominante, mas é que o bem tem sido covarde. Se o bem for exposto de
forma pura e não omissa, com certeza vamos ter um mundo bem mais
belo e equilibrado.
A serenidade, o foco e o silêncio desenvolvem um estado de
vigilância necessário para tornar a pessoa cada vez mais pura.
As crianças são nossos melhores exemplos de pureza, tudo o que
temos de fazer é não deixar que esta essência se contamine e corrompa
com o passar do tempo. Que possamos ser os exemplos mais concretos
para elas! Temos que cultivar bons pensamentos, boas ações e muitos
atos de compartilhar para contagiá-las.
• Qualidade nº 10 – Servir aos Sábios
49 Servir é estar à disposição, mas aqui também possui o sentido de
conviver.
Só através deste convívio é que conseguimos aprender a praticar
o que nos foi passado por nossos Mestres na teoria. Por isso, a
importância de vivermos em comunidade também, para pôr em prática
aquilo que estamos aprendendo.
Às vezes a melhor das intenções de fazer algo da forma que
julgamos correta faz com que um grande mal ou problema seja gerado.
Conhecer alguma coisa a partir de alguém, mas não aprender de fato
como deve ser feito, faz com que possamos fazer algo da forma errada.
Muitas vezes a teoria é uma e a prática é outra.
A ação, a imagem, o estar ali perto e observar, nos torna mais
experientes, e muitas vezes o que não aprenderíamos nunca com
palavras, aprendemos ali naquele instante.
Quando nos tornamos centrados e disponíveis nossa capacidade
de absorção de aprendizado aumenta completamente.
Nesta qualidade mora a virtude da auto-anulação que é um estado
de recolhimento, contração e subordinação em relação a nossos
Mestres, para que a solução, os valores e as virtudes penetrem em
nossa vida.
O nosso grande problema é que servir, estar disponível a alguém
ou a algo é muitas vezes visto de forma ruim. Tolos não conseguem
enxergar a grandeza de atos simples que nos trazem grandes
aprendizados. Muitas vezes nossa escolha é de sermos tolos.
Como nos diz Rav Mario Meir :
50 Ser discípulo é mais difícil que ser mestre, estar apto
a aprender é mais difícil que estar apto a ensinar,
porque estar apto a aprender não necessariamente
envolve a competência de quem ensina; aquele que
está apto a aprender pode aprender de qualquer
pessoa, até mesmo com aquele que sabe menos do
que ele.
• Qualidade nº 11 – Aproximação dos companheiros
Quando aceitamos o outro como companheiro, amigo, estamos
abrindo nossa mente para a entrada de novas informações e conteúdos.
Claro que temos que ter cuidado com quem criaremos nossos
vínculos, a escolha em termos amigos honestos, sérios e de caráter
exemplar é fundamental.
A Cabalá Contemplativa nos diz que atraímos e escolhemos
sempre os que se assemelham a nós, mas os que são diferentes
também nos ensinam e muito, nem que seja o que não devemos seguir e
fazer.
A interação com as pessoas, a troca de experiências, as
informações, os vínculos de amizade, nos tornam pessoas melhores,
mais desenvolvidas, sociáveis e estimuladas.
Quanto a mais pessoas nos ligarmos, maior será o nosso
crescimento em todos os campos. A troca de informações entre pessoas
faz com que elas cresçam de forma ampla e aprofundada.
51 O nosso progresso também surge da interação que temos com o
outro, pois o outro influencia muito aquilo que está a nossa volta.
Como nos ensina Rav Mario Meir:
Os Mestres recomendavam que os estudos fossem
realizados em grupos. Quando duas pessoas
estudam juntas, fica mais difícil cair na tentação de
possuir a verdade inacabada. O contato com o
companheiro serve para desarrumar as falsas
certezas. Não é à toa que a palavra hebraica Biná,
que significa discernimento ou inteligência, se origina
da palavra “bêin”, que quer dizer “entre”. Ou seja, o
discernimento só pode nascer quando é construído
entre as pessoas através do diálogo. (aula de Sitrei
Torah – O Primeiro Portal)
• Qualidade nº 12 – Debate com os discípulos
Quando o Mestre está aberto a debater de forma grandiosa com
seus discípulos, está apto a ser um grande Mestre.
Assim como os alunos entre si interagem e crescem, nesta relação
entre mestre e discípulos o mesmo acontece.
Todos nós estamos na constância de estarmos sempre em
processo de aprendizado e as inquietações, o desejo de conhecer e de
aprender de nossos discípulos nos dão os ingredientes necessários para
52 desenvolvermos a habilidade de sermos cada vez mais um ser humano
de muita experiência, devoção e crescimento.
A busca de um Mestre por encontrar as respostas para seus
discípulos o transformará em um ser humano cada vez mais sábio e
refinado em suas respostas e atitudes. Ele se tornará um poço de
Sabedoria e um condutor para estas futuras gerações. Com certeza terá
uma vida expressiva e será sempre lembrado, mesmo após longos anos
como um ser humano de muitos valores.
• Qualidade nº 13 – Sobriedade
Sobriedade nada mais é que ter e saber utilizar e aplicar o bom
senso dentro de todos os momentos e de nossa vida, seja dentro de uma
discussão, no estudo, no ajudar um discípulo em alguma dificuldade,
etc.
Aqui reside uma palavra muito importante que é a ponderação.
Ponderar é refletir, pesar, pensar e avaliar moralmente, o ponto de vista
e a opinião do outro, principalmente, verificando a importância dele
como um complemento e um instigador para o nosso desenvolvimento
pessoal - autoconhecimento. As diferenças completam um todo.
É saber julgar o outro de forma moderada e verdadeira. Para isto
temos que ter muito cuidado e a melhor forma para ter este estado de
lucidez com o próximo é ter uma quietude em todos os nossos passos
com amor e desejo de ajudá-lo.
53 O discernimento também é muito importante. Temos que estar
cientes do mundo a nossa volta, seja a comunidade, a escola, o nosso
país; conhecer para estar ciente e se conscientizar de seus problemas,
idéias e atitudes.
Pequenos atos e ações de comedimento nos ajudam muito a
chegar ao equilíbrio necessário para esta moderação essencial para o
bom senso reinar de forma virtuosa e prudente.
Lembre-se que o seu direito termina onde o direito do próximo se
inicia. A educação e a sensatez nos ajudam a saber encontrar essa
fronteira de respeito e coerente neste fio que une e ao mesmo tempo
nos separa do outro.
A assiduidade também está ligada à sobriedade. Quando nos
tornamos mais participativos das situações que acontecem, se estamos
lá assiduamente, nos faz entender de forma mais concreta, onde estão
os limites e o cerne daquela situação.
• Qualidade nº 14 – Conhecimento da Escritura,
conhecimento da Tradição
Aqui interpretamos a Escritura e a Tradição como as nossas
fontes de conhecimento.
Quando nos dedicamos a aprender e conhecer cada vez mais o
assunto a que estamos sendo apresentados, seja na escola, em casa,
com um colega; estamos nos tornando pessoas com um potencial de
54 entendimento rumo ao trabalho qualitativo e quantitativo. Vamos nos
tornar o diferencial!
A base da ética e da moral também está pautada na nossa
capacidade de nos desenvolvermos e caminharmos em direção ao
estudo, através de uma constância e do aprimoramento que nos remete
a uma busca permanente de atingirmos níveis mais elevados.
É extremamente instigadora a busca de conhecermos
profundamente assuntos que nos levem a um desenvolvimento tal que
nos faça encontrar e deixar aflorarmos o melhor de nós mesmos.
Estudar de tudo apenas um pouco, nos torna uma pessoa oca por
dentro, sem aprofundamento, substância, embasamento e equilíbrio.
Seremos apenas uma casca de falso brilho que com o tempo vai cair e
desmoronar revelando a escuridão interior.
• Qualidade nº 15 – Poucos negócios
Temos que pensar sim em buscar um trabalho que nos dê
sustento, mas não podemos visar somente ao desejo de acumular
atribulações, responsabilidades ou dinheiro e esquecer de viver. Esta
idéia é muito importante, já precisa ser trabalhada em cada um de nós
desde crianças bem pequenas.
Tal busca deve ser minimizada e reduzida sua importância, pois
temos que pensar no bem estar de nossas vidas e das outras pessoas
pelas quais nos tornamos responsáveis, como por exemplo nossos
filhos.
55 Toda esta questão surge porque hoje em dia grande parte dos
pais esquecem de suas obrigações como pais e mestres, e acabam
largando a educação de seus filhos e o prazer de vê-los crescer.
É muito importante que possamos participar de todos os
momentos do desenvolvimento daquele pequeno ser e nos tornamos
exemplos para que eles também possam no futuro se tornar adultos
exemplares também para as futuras gerações.
Não podemos nos tornar escravos desta rotina robótica de
trabalhar e acumular, acumular e não viver e aproveitar os simples
momentos que a vida nos oferece.
Devemos focar diariamente a busca do autoconhecimento através
do estudo e da prática de valores e virtudes que serão a base do nosso
caráter e conseqüentemente a estrutura de conduta de nossa rotina
dentro da atividade comercial que escolhemos para a nossa vida.
• Qualidade nº 16 – Poucas relações mundanas
Devemos nos dedicar a conhecer o mundo a nossa volta, saber as
regras da sociedade da qual fazemos parte, porém é muito importante
que essa vida social muitas vezes desigual e distorcida não nos
contamine e corrompa.
Temos que ter o nosso caráter bem definido, embasado e traçado,
e não deixar que questões duvidosas que estão fora de nós passem a
fazer parte de nossa vida.
56 Quando nos ocupamos apenas com as questões mundanas,
perdemos parte de nossa identidade e passamos a colocar em risco a
parte de nós que estará fazendo as escolhas importantes na vida.
Quem vai nos governar serão nossos impulsos negativos que enxergam
somente aquela fatia estreita de uma face da realidade a qual
pertencemos.
• Qualidade nº 17 – Poucos prazeres
É preciso controlar essa nossa inclinação que busca apenas os
prazeres instantâneos e falsos. Quando estamos submersos apenas no
prazer que o mundo nos oferece, nos tornamos seres insatisfeitos,
ansiosos e infelizes; pois nada vai nos satisfazer. E quanto mais
buscamos, mais nos enganamos com essa falta saciedade.
É muito comum escutarmos que as pessoas não estão buscando o
seu desenvolvimento pessoal, seu autoconhecimento, por falta de
tempo. Mas na verdade a falta de tempo é a falta de prioridade de
buscar o conhecimento necessário para nos tornamos pessoas mais
virtuosas, valorosas, éticas e morais.
Estar inserido neste mundo, neste contexto, mas sem nos deixar
violar pelo que é falso, obscuro e degradante é uma tarefa difícil mas
necessária para nos tornarmos plenos e com isso contaminarmos o
outro com o bem.
57 • Qualidade nº 18 – Dormir pouco
Há comprovação científica de que o sono é uma necessidade
física para dar força e vitalidade ao nosso corpo físico.
A quantidade de sono deve ser na medida certa para que não nos
tornemos pessoas preguiçosas e petrificadas. A dosagem certa nos
trará os benefícios para nos encontrarmos em equilíbrio interno e
externo.
Assim como o excesso de trabalho pode nos trazer muitos
problemas, o excesso de sono também nos é muito prejudicial. Na
verdade todos os excessos são prejudiciais.
Os sábios da Cabalá Contemplativa nos ensinam que, inclusive, é
muito construtivo estudarmos um pouco no período da noite, por ser um
período do surgimento de grandes idéias.
• Qualidade nº 19 – Poucas conversas
A pessoa que fala muito acaba se desconcentrando e levando o
outro a se desconcentrar também.
Muitas vezes a conversa paralela em vários ambientes ou
situações, como na escola por exemplo, é a grande causadora do baixo
rendimento e compressão de uma pessoa. A criança acaba perdendo
muita coisa que o professor está dizendo e fica muito prejudicada em
seu aprendizado.
58 Devemos conversar somente o necessário com o outro, até para
não acabar nos tornando pessoas inconvenientes, sem conteúdo e
espaçosos. Quem fala muito e à toa certamente não será uma boa
companhia ou uma boa amizade para o outro.
Quando entramos em uma boa conversa ou discussão, certamente
preferimos as pessoas que falam de forma breve e concisa, aqueles que
falam de forma muito requintada e com muitos floreios quase sempre
nos cansam e logo jogamos o foco para outro lugar ou pessoa.
Para sermos precisos em algo, é muito importante termos não só o
pensamento exato para o que queremos dizer, como falar o necessário
para expor aquela idéia. O excesso de palavras é altamente descartável
e prejudicial.
Falar demais também acaba abrindo uma brecha para duas coisas
muito degradantes ao caráter de uma pessoa: as conversas frívolas,
levianas e ao que chamamos de Lashon HaRah que é a maledicência e
a descreveremos mais detalhada na qualidade 32.
Devemos preferir o silêncio muitas vezes, pois ele nos mostrará a
verdade em muitas situações que de tanto que falamos sem
necessidade, a deixamos passar.
É muito bom nos tornarmos pessoas cautelosas, misteriosas e
equilibradas, por serem características que nos ajudarão a nos
tornarmos pessoas melhores e a encontrarmos os nossos verdadeiros
propósitos aqui perante o mundo. Para isso, falar somente o necessário
é de grande contribuição.
Como diz um grande sábio, Salomão no livro de Eclesiastes (3:7)
“... tempo para manter silêncio e outro para se pronunciar”.
59
• Qualidade nº 20 – Poucos risos
Esta qualidade é bem próxima à qualidade anterior. Sabemos que
o riso é um restaurador, um alimento para a alma, traz o bom humor
para nossa vida e nos ajuda a contaminar o outro com nossa alegria.
Porém deve ser medido e dosado de forma a não ser confundido com
falta de respeito e imprudência.
Às vezes um sorriso na hora certa ajuda o outro a iluminar sua
vida. Quantas vezes estamos preocupados com nosso mundo
mesquinho e problemas pessoais, e nos deparamos com uma criança
que abre um belo sorriso em nossa direção, transformamos o nosso dia
e até nossa vida.
O riso em excesso pode ser confundido ou transformado em
zombaria, desrespeito, escárnio, deboche ou sarcasmo. Além de nos
tornar desconcentrados. Certamente já escutamos a seguinte frase de
alguém: “ri na hora errada”. Temos que ter muita cautela e cuidado com
o riso. Existe a hora em que coisas sérias estão sendo pronunciadas ou
discutidas e um riso neste momento pode levar tudo a se perder.
Como diz o grande sábio Rabi Akiva: “Risos e leviandade
conduzem o homem à libertinagem”. (Pirkê Avót, Capítulo 3, Mishnah
17)
• Qualidade nº 21 – Paciência
60 Aqui realmente mora um grande desafio para todos nós: a
paciência.
O grande sábio Salomão nos diz: “Quem tem paciência tem
grande entendimento, mas o impaciente de espírito louva a tolice.”
(Provérbios 14:24)
É muito difícil trabalharmos esta característica dentro de nossas
vidas, é quase que algo obsoleto dentro do mundo de hoje, onde o amor
e a compreensão ao próximo é algo esquecido no tempo.
Tanto para Mestres, quanto para discípulos, há a certeza de que
esta virtude é essencial para a relação entre ambos, senão o vínculo
não se fortifica nem tampouco se consolida. Verdadeiramente é uma
das bases para quaisquer relações.
A perseverança deve ser constante para nos fortalecer a buscar
este equilíbrio. Pois a paciência tira as cascas de nossos olhos, para
que possamos compreender tudo o que surge ao redor em nossa vida.
Quando deixamos a ira tomar conta de nossas vidas, somos
contaminados por ansiedades, grosserias e agressividades, que vêm a
nos deixar em um mundo caótico e confuso.
Quando o educador possui esta virtude, ele se torna uma grande
referência, pois mesmo que tenha “em mãos” uma pessoa com
dificuldades na aprendizagem, ele repete e ensina diversas vezes,
transmitindo àquele aluno que ele é importante, e despertando o melhor
que aquele ser humano possui para se tornar uma pessoa de sucesso
futuramente rompendo as barreiras que construiu ou mesmo possui em
sua vida.
Um grande ensinamento nos é transmitido por Rav Mario Meir:
“Nossos sábios ensinam que a melhor forma de lutar contra a ira é
61 permanecer calado, e a melhor maneira de neutralizar a inveja é ignorá-
la.”
• Qualidade nº 22 – Bom coração
A melhor forma de desenvolvermos esta qualidade é buscar a
generosidade dentro de nós em qualquer aspecto de nossas vidas.
A pessoa generosa é aquela que acolhe a todo ser humano como
se fosse acolher a si mesmo. É um ser que tem aflorado em si a
amabilidade, a benevolência, a cordialidade e a beleza. Possui um
semblante agradável e contamina a todos a sua volta com seu amor por
tudo e por todos. Realmente é uma pessoa iluminada.
Quando possuímos estas características, também as
demonstramos em todos os aspectos de nossa vida, deixamos
transparecer nos pequenos gestos e atitudes, como por exemplo:
quando nos esforçamos para aprender com nossos superiores.
Certamente aquele que se torna mesquinho, sempre criticando o
outro, diminuindo a importância de seu próximo, tentando o destruir e
fazendo com que suas próprias atitudes pareçam mais elevadas e
importantes, não possui esta qualidade em sua vida.
• Qualidade nº 23 – Certeza nos Sábios
62
Primeiramente explicaremos o que significa certeza para a Cabalá
Contemplativa. CERTEZA em hebraico se escreve EMUNÁ que tem seu
significado ligado à ação, a caminhar com nossas “próprias pernas”,
algo dentro de nós mesmos, e não FÉ que está mais ligada a uma
expectativa de que algo fora de nós vai nos modificar ou criar milagres
em nossa vida.
Então, essa certeza é exatamente a confiança que temos que ter
para transformarmos a nossa vida a partir da auto-anulação de
conceitos e formas equivocadas que temos dentro de nós e nos
impedem de irmos em frente.
Quando criamos esse vínculo forte e solidificado de certeza em
alguém que confiamos, abrimos a porta para o conhecimento, o
entendimento e a sabedoria. Senão, ficamos presos a nosso mundo e
não conseguimos enxergar e aprender o que está além de nosso próprio
umbigo. Deixaremos então de ser ignorantes.
A falta de certeza e confiança também nos fecha a possibilidade
de aprendizado, já que não conseguimos nos identificar com a
integridade, a sinceridade, e os outros valores e virtudes daquele que é
nosso Mestre. Não conseguimos compreender o que está além do
escrito e falado e é o que mais nos ensina e desenvolve - as
entrelinhas.
• Qualidade nº 24 – Resignação no sofrimento
63 Aceitar as provas que passam em nossa existência é um grande
teste e aprendizado para que possamos nos tornar uma pessoa serena e
disposta a caminhar em frente.
O sofrimento é um grande auxiliador no nosso crescimento, pois
gera em nossa vida reflexões sobre atitudes, pensamentos, condutas e
perdas que nos permeiam quando ele surge. O seu propósito é para o
bem, para nos tornar pessoas melhores.
É muito comum só passar a dar valor a uma determinada coisa em
nossa vida, após um grande sofrimento que muitas vezes foi gerado por
uma grande perda.
Temos que ter em mente que o sofrimento quando surge em algum
momento e quase sempre de supetão, traz obstáculos que devemos
encarar como oportunidades para o nosso crescimento.
Muitas vezes nos colocamos como coitadinhos em determinadas
situações (como por exemplo a repetência escolar), mas quando vamos
investigar a fundo (temos que ter consciência e já desenvolver isso em
nossos discípulos), entendemos que nós mesmos plantamos aquela
semente em nossa vida.
Usar o sofrimento como uma forma de purificação de nossos atos
e atitudes nos torna uma pessoa com mais fortalecimento em todos os
seguimentos de nossa vida.
• Qualidade nº 25 – Conhecer o seu lugar
64 Essa qualidade é muito ligada à questão de subordinação e
propósito.
Às vezes achamos que o outro tem um nível maior ou ocupa um
lugar mais importante que o nosso, mas se analisarmos de forma
verdadeira, podemos até descobrir que aquilo que parece melhor é um
fardo e um problema muito grande para o outro.
É mais fácil invejar o outro do que descobrirmos a importância de
nosso lugar e começar a cumprir nosso propósito de forma bela e
contagiante.
Quando compreendemos a nossa vida, nossa relação com o outro
e a função que estamos exercendo naquele determinado momento,
temos então consciência do lugar tão certo e importante que estamos
ocupando.
Como nos ensina o grande sábio Rebbe de Lubavitcher:
“Nunca subestime o poder de um ato simples e puro,
feito com o coração. O mundo não é transformado por
homens que movem montanhas, nem pelos que
lideram as revoluções, e nem por aqueles que o
dominam financeiramente. Ditadores são depostos, a
opressão é suprimida, nações inteiras são modificadas
por um pequeno número de atos de beleza
executados por um punhado de soldados
desconhecidos.” (Lubavitcher,
www.fundojovem.com.br)
65 • Qualidade nº 26 – Contentar-se com a sua porção
A primeira coisa que devemos refletir aqui nos vem de um grande
ensinamento de Rav Mario Meir: “Ter TUDO não significa ter MUITO”.
Ter muito é um grande equívoco que o mundo moderno tem cada
vez mais incutido dentro de nossa vida: quanto mais eu tenho, mais vou
ser feliz, mais vou ser importante, mais vou ser reconhecido,... e assim
por diante. Como exemplo, vemos crianças que têm tudo do bom e do
melhor e são infelizes, pois constantemente convivem com a ausência
física, afetiva e emocional de seus pais.
Quando compreendemos que temos tudo o que precisamos para
nos tornamos pessoas corretas no caminho da conduta e da moral,
encontramos nossa paz de espírito.
Contentar-nos com a nossa porção nos afasta de sentimentos
mesquinhos e degradantes como o rancor, a inveja, angústia e a
vingança.
• Qualidade nº 27 – Medir suas palavras
Muitas pessoas acreditam que o único modo de agir de forma
errada é através de atitudes e ações, mas a palavra é um dos meios
mais corrosivos que podemos usar para causar uma destruição muitas
vezes irreversível em alguém ou em alguma situação. Um simples
comentário pode ser fatal para que a felicidade de alguém seja abalada.
As palavras expressam pensamentos e temos que ter muito autocontrole
com o que falamos.
66 Devemos ser muito cautelosos com tudo o que falamos,
principalmente em relação às pessoas e às coisas externas. O limite é
fundamental.
Já nos deparamos, com certeza, com situações que uma simples
palavra mal colocada possa ter destruído uma amizade ou mesmo um
relacionamento. Também devemos nos conscientizar que este ato de
colocarmos uma palavra mal dita, nos traz muitas vezes conseqüências
irreversíveis, como: perder o nosso respeito ou a nossa credibilidade.
Os pais ou educadores, mesmo sem perceber, podem com um
simples comentário causar problemas na formação e na personalidade
de uma criança. Quando muitas vezes, em diversas situações, a
comparamos com outras crianças que tenham conseguido algo a mais
como uma nota mais alta, podemos, ao invés de ajudá-la, criar um
bloqueio em seu desenvolvimento, e ela vai crescer acreditando que é
“burra” ou incapaz de conseguir alcançar um patamar mais elevado
nesta área.
Uma palavra recheada de malícia, sarcasmo, ironia, desdém ou
mesmo uma palavra dita sem pensar, pode facilmente ferir alguém,
principalmente uma criança que está na fase da Educação Infantil onde
este tipo de linguagem a deixa confusa e em desequilíbrio, pois não tem
ainda o discernimento para assimilar este tipo de jogo com as palavras.
Todo cuidado é pouco, cada pessoa é uma pessoa e devemos ter
muita precisão no que estamos querendo falar para não prejudicar o
próximo. Como nos diz Rav Mario Meir: “Palavras são como anjos, você
as deixa livre quando fala e torna-se eternamente responsável pelos
caminhos que elas vão percorrer.”
67
• Qualidade nº 28 – Não exigir créditos para si
A autopromoção é um dos piores desvios da humildade. Se não
somos modestos, não podemos nos considerar na direção do caminho
da retidão.
Merecemos respeito, consideração e honra por cumprir nossas
realizações, mas não podemos esquecer que elas são parte de nossa
obrigação e estamos apenas cumprindo o nosso propósito e o que já
esperam que façamos.
A felicidade que temos que buscar em nossa vida é a de ter a
possibilidade de aprender e realizar coisas significativas para nós e
para o mundo em que vivemos.
• Qualidade nº 29 – Ser amado
No papel de mestres ou discípulos, somos observados e copiados
a todo instante e temos que ter muita preocupação em ser um exemplo
vivo de valores e virtudes através de nossos modos e de nosso
comportamento. Ser esse exemplo é muito importante para nos
tornarmos seres amados.
Devemos sempre nos preocupar com o próximo, com suas
necessidades e dar-lhe atenção, carinho e apoio. Com isso estamos
criando uma admiração e um referencial pelo outro.
68 É fundamental que esse amor venha primeiro de dentro de nós
para com o próximo, que seja genuíno e solidificado, senão serão
apenas aparências que se desmoronarão com o tempo.
O amor não é apenas uma qualidade específica da
alma, mas um poder geral, presente na escala
completa de propriedades intelectuais, emocionais e
intrínsecas da psique humana. (Rav Mario Meir)
• Qualidade nº 30 – Amar o Todo-Presente
Para a Cabalá Contemplativa D’us é a única Fonte de Energia -
Luz Espiritual, Criador - existente. Portanto não é “algo” ou “alguém”
que pode nos punir ou nos tratar como “queridinhos”. A Luz Espiritual é
Onipresente e Onipotente, sua essência é o desejo de compartilhar; e
cabe a nós trabalhar nossas qualidades e virtudes que nos colocam em
semelhança com esta Fonte para usufruirmos de uma vida plena e
equilibrada.
O Amor a D’us é a capacidade que temos de nos aproximar das
coisas que nos fazem bem.
Para nos tornarmos sua imagem e semelhança temos que
desenvolver a verdade, a devoção, a beleza, a bondade, e tantas outras
virtudes dentro de nossas vidas. Temos que contaminar o universo com
nossa essência. Vamos nos dedicar e nos esforçar para aflorar estas
características em nós mesmos e no outro também.
69 Temos que amar as coisas simples da vida e ter muito zelo e amor
por tudo o que possuímos.
• Qualidade nº 31 – Amar o seu próximo
O amor ao próximo é a base da Cabalá como já citamos acima.
É nossa obrigação sermos afetuosos com todos, independente se
gostamos ou não daquela pessoa.
Como nos ensina o grande sábio de nossa Tradição, Hilel: “Não
faça aos outros o que não deseja que façam a Ti!”(Pirkei Avot). Se você
não gosta que alguém grite com você, então não grite com seu aluno ou
filho, por exemplo. O nosso direito termina onde começa o direito do
outro. Esse é um grande passo para progredirmos, uma grande virtude
a ser adquirida.
Cada um de nós possui algo que nos é peculiar e que nos faz ter
um valor inquestionável para a formação de um todo que é a
humanidade. Com isso, somos imprescindíveis para que o outro se
torne um ser completo.
Temos que pensar em nos tornarmos a cada dia pessoas mais
flexíveis, com ações, pensamentos, palavras e sentimentos sempre
direcionados a tornar o nosso mundo melhor.
Uma boa forma de trabalharmos este aspecto em nossas vidas é
oferecer nossa ajuda ao próximo. Quando nos oferecemos e nos
tornamos úteis a alguém, olhamos de forma mais positiva e favorável
70 para as pessoas. Vamos desenvolver uma afeição pelo próximo e nos
tornaremos pessoas melhores.
Muito fácil seria falarmos sobre o dever espiritual de
“amar o próximo” como sendo um mandamento moral
e conceitual. Acontece que a Cabalá Contemplativa
afirma não ser esse o processo. Atingir o estado de
CHASSID(piedoso) é a tarefa de toda uma vida, um
exercício espiritual que envolve toda a Árvore da
Vida, principalmente o desenvolvimento do foco
(cavaná) e da beleza (tiferet). Isto ocorre pois existe
um grande mistério por trás da palavra AMOR (ahavá)
em hebraico. É preciso construir tal traço de caráter e
de personalidade, pois que o amor não é uma ação
local, mas antes disso deve ser um movimento
permanente, um eterno ato amoroso e não apenas
uma inspiração movida e instigada por desejos
momentâneos. Por isso “amar ao próximo” não deve
ser um conceito subjetivo e abstrato, e sim uma
expressão viva a ser comprovada no cotidiano
daquele que se dedica ao caminho da Luz Espiritual,
levando o homem para além de sua condição
superficial. Para Rav Avraham Abulafia, este conceito
transcende o ideal moral. Para o Mestre, era
necessário absorver a essência da Luz Infinita
(denominada de Shechiná), levando o homem para
além de sua condição superficial. (Rav Mario Meir)
71 • Qualidade nº 32 – Amar a retidão, amar a justiça
Nesta qualidade nos deparamos com muitas questões pertinentes
ao seu desenvolvimento.
A primeira questão que vamos enfatizar é a precaução que está
totalmente ligada ao modo de agir com muita cautela, prudência e
ponderação em nosso caminho. É através da precaução que
conseguimos nos manter de forma atenta para os obstáculos e tropeços
que possam surgir no caminho. E também modificarmos hábitos e
costumes, a partir de uma auto-análise do nosso passo a passo diário.
A integridade é um ponto também muito ligado à retidão. Ser
íntegro é ter caráter, ser honesto, imparcial com tudo, seguir e se
dedicar ao que é verdadeiro, não ter dois pesos e duas medidas nem
favoritismos.
O Lashon HaRah (maledicência) dentro de nossa tradição, é a
principal causa da falta de integridade de uma pessoa. Maledicência
não é só falar algo de mentiroso ou ruim de alguém - conhecido
popularmente como fofoca, mas também se lamentar o tempo todo de
nossa vida, falar uma verdade de alguém que lhe possa depreciar ou
humilhar, ou mesmo escutar alguém falando algo de ruim ou
depreciativo de outra pessoa.
O furto (roubo) também é um ponto que nos coloca distante da
integridade. E roubo não significa apenas roubar algum objeto de
alguém, como ainda colocar algum empecilho para que o outro não
chegue a determinado lugar ou patamar; é roubar o tempo de alguém
com coisas inúteis e frívolas; entre outras coisas que nos parecem
inofensivas.
72 A Cabalá Contemplativa também nos ensina que a intriga (quando
participamos de uma disputa egóica entre duas pessoas), a calúnia
(ressaltar o aspecto tortuoso de alguém) e a vingança (ficar fomentando
o desejo de “dar o troco”), também nos conduz à falta de integridade.
A justiça já está ligada a outras características não menos
degradantes como a mediocridade, a indiferença, a crueldade, a
violação principalmente de identidade e de caráter do outro, a maldade,
a distorção, a corrupção, a intolerância; a tragédia, e a frieza à dor e ao
sofrimento alheio.
Na Cabalá Contemplativa, uma grande ferramenta que utilizamos
desde quando somos criancinhas é a prática do tzedacá. Nada mais é
que ter um cofrinho onde depositamos algumas moedas ou notas para
serem direcionadas à caridade, ajudar ao outro e a nós mesmos que
estamos com isso desenvolvendo uma ação de injetar uma forma de atos
de bondade em nossa vida.
Como nos afirma Rav Mario Meir: “Temos que nos preocupar em
SER e não em TER.”
• Qualidade nº 33 – Prezar as críticas
A crítica deve ser sempre recebida de bom grado, pois nos faz
enxergar, pela advertência do outro, nossas falhas e nossos erros, e
passamos a ter a oportunidade de nos percebermos de uma ótica
externa.
73 Na busca pelo autoconhecimento e auto-aperfeiçoamento, em que
almejamos nos tornar pessoas mais sábias, virtuosas e retas, as
contribuições são inumeráveis e incontestáveis em relação as críticas
que recebemos.
É muito benéfico e necessário ter alguém exigente que esteja a
nosso lado - como Mestres e companheiros, para acrescentar e purificar
o nosso caráter.
Sem críticas não se tem como melhorar. E se falhamos e não
enxergamos, nem temos quem nos ajudem, nos tornamos pessoas
estagnadas e presas em uma falsa aparência, gerando-nos uma falta de
caráter.
As críticas também nos ajudam de forma muito positiva, a
quebrarmos os nossos maus hábitos que muitas vezes não enxergamos
sem a ajuda do outro. Como nos diz o Rei Salomão: “hábitos são como
fios. Fios isolados podem ser facilmente quebrados, mas se você
agrupar diversos fios juntos, eles tornam-se tão resistentes como uma
corda forte.”
• Qualidade nº 34 – Afastar-se das honrarias
Esta qualidade é desenvolvida quando temos a qualidade da
humildade penetrada dentro de nosso íntimo.
Reconhecer que estamos fazendo um bom trabalho, que estamos
educando bem nossas crianças, etc. é importante, mas não podemos
esquecer que existe sempre pelo menos outra pessoa que também faz
74 parte de tudo o que ocorre em nossa vida. Nós não somos os únicos
responsáveis pelos sucessos, as “boas idéias” e os resultados positivos
que ocorrem quando estamos representando ou desenvolvendo uma
determinada situação e nos responsabilizando por ela.
• Qualidade nº 35 – Não inflar o coração por causa do
conhecimento
Aqui já estamos falando de quando não conseguimos desenvolver
a qualidade acima e então nos cegamos com nosso orgulho.
A pessoa que realmente se coloca no caminho da aprendizagem
com verdade, sabe que quanto mais ela aprende sobre algo, menos
sabe. Podemos aprender a cada momento uma coisa nova, há
conhecimentos por todos os lados a nossa espera, bastar estarmos
abertos e receptivos para que eles cheguem até nós.
• Qualidade nº 36 – Não se deleitar em dar ordens
Sentir-se superior a todos e a tudo é um defeito muito grave.
Temos que enxergar que não somos melhores que ninguém, apenas
diferentes.
75 Muitas pessoas se acham superiores e saem por aí emitindo
ordens e humilhando e pisoteando as pessoas ao seu redor. Não
podemos nos deixar levar por este impulso e temos que aprender a
ajudar as pessoas e a trabalhar junto com o outro. Tentar mandar nos
outros é algo muito negativo e depreciativo para quem está tendo esta
atitude.
Existem muitas pessoas que também se acham o máximo. Agem
como se soubessem tudo e como se fossem conhecedores de tudo; mas
na verdade estão enxergando e se baseando em uma auto-imagem falsa
e vivem nesse mundinho de ilusões sem conseguir evoluir e modificar o
seu caráter. “As nossas ações devem sempre conter as sementes de
humildade. A humildade é refletida pelas decisões de discrição,
compaixão, gentileza, cuidado e moderação”, diz Rav Mario Meir.
• Qualidade nº 37 – Ajudar o próximo a carregar o seu jugo
É com isto que deixamos de ser seres humanos centrados e
solitários em nosso próprio ser, e nos tornamos parte de um grupo.
Começamos assim na família, depois na escola, nos grupos sociais e
assim por diante.
Um exercício muito importante para desenvolvermos esta
sensibilidade, este olhar para o outro, é trabalharmos de forma até bem
simples a questão de assistência social com nossos filhos e alunos,
como por exemplo: seu filho vai ganhar brinquedos novos no
aniversário, então o ensine a separar outro brinquedo com o qual ele
não brinca mais, mas está em excelente conservação, e doe para que
76 uma outra criança que não tem brinquedos possa ficar feliz. Devemos
abraçar a causa do outro como se fosse nossa. Como nos ensina Rav
Mario Meir, “a questão não é o MAL, mas sim a covardia do BEM.”.
Temos que desde cedo estimular que a criança participe, colabore
e crie ações dentro de trabalhos sociais. Faz parte da construção da
base de seu caráter.
• Qualidade nº 38 – Julgar com indulgência
Quanto mais nos tornamos nobres e no caminho da retidão,
tornamos nossa vida um exemplo e principalmente nosso caráter
inviolável. E neste ápice descobrimos uma máxima muito importante:
“Julgamento para si e Misericórdia para o outro”.
Temos a obrigação de não ficar julgando a ninguém. Cada um é
responsável pelos seus próprios atos e muitas vezes o que julgamos ser
uma culpa de alguém, é algo oposto em que a verdadeira faceta está
totalmente oculta pela nossa falsa percepção mundana.
Como já foi falado anteriormente, muitas vezes o que achamos
que é o certo, não é o que é verdadeiro, pois quase nunca sabemos
quais foram os fatores que levaram a pessoa a agir de determinada
maneira.
Quando uma pessoa comete um erro, a primeira coisa que
devemos perceber é que, se estamos ali, é para ajudarmos o outro e ao
mesmo tempo nos tornarmos alguém melhor com a oportunidade de não
77 nos deixarmos corromper pela má inclinação de nos sentirmos
superiores.
As atitudes de: opressão, constrangimento, discriminação,
perseguição e humilhação são totalmente opostas e proibidas dentro da
Educação Contemplativa, pois acima de tudo causam a degradação do
caráter e da dignidade de ambas as partes. Estas atitudes podem
causar o impedimento de crescimento de muitas pessoas e é totalmente
nocivo. O mais importante de tudo é termos a consciência que nossa
má inclinação também possui aquele sentimento e impulso e se
julgamos o que o outro fez, estamos na verdade vendo o reflexo de nós
mesmos. Lembre-se que quando você aponta um dedo para o outro,
três dedos estão apontados para você.
Um problema muito comum na escola é que o professor não dá a
devida orientação e o devido direcionamento específicos a cada aluno,
pois cada aluno é um ser diferente e requer um olhar diferente. Quando
pensamos no grupo como um todo somente e esquecemos de trabalhar
as individualidades caímos no risco de causar indiferenças e os
supostos rejeitados podem usar de formas não cordiais para pedir que
cuidem deles também. Na Educação Infantil esta situação é muito
comum de acontecer.
Na Educação Contemplativa, temos que estimular mais os acertos
e o bom comportamento da criança do que ficar apontando somente os
erros e o mau comportamento (estes devem ser trabalhados de forma
construtiva a serem transformados em atitudes positivas).
• Qualidade nº 39 – Pôr-se no caminho da verdade
78
A verdade é a principal ferramenta para trabalharmos a
construção de um bom comportamento e caráter. Quando pontuamos o
certo e o errado, baseados no que é verdadeiro e falso, estamos sendo
sinceros para com o outro e essa sinceridade é fundamental para que
seja estabelecido o vínculo de confiança e aprendizado. E antes de
fazer qualquer coisa, temos que buscar este ser dentro de nós mesmos.
Precisamos ser o exemplo para o outro.
Podemos ajudar uma pessoa no caso de ter cometido um erro de
várias formas, como por exemplo: chamando-a em um canto e tentando
oferecer-lhe ajuda sem que ninguém perceba, mostrando a esta pessoa
como aplicar alguma virtude que aprendemos através de nossos
mestres; podemos fazer algo oposto ao que foi feito sem a pessoa
perceber, para ver se ela aprende.
Quando uma pessoa vem nos pedir um conselho temos que ser
honestos e não deixar que nossos interesses também interfiram neste
momento. É necessário reforçar a dignidade que todos nós devemos ter
enquanto seres humanos conscientes, despertando o melhor que existe
dentro de si, ajudando-o a trilhar e a ensinar o caminho do bem.
As nossas ações para com o outro são mais importantes que o
conhecimento teórico que adquirimos, portanto ajudar o outro a
encontrar seu verdadeiro caminho é, na prática um ato de imensa
sabedoria.
A falta de verdade e clareza quando falamos com uma criança
compromete-lhe a ponto de se tornar um adulto sem base para tomar
decisões e ter suas próprias escolhas. A escolha é fundamental para a
Cabalá, pois é melhor escolhermos o errado e aprendermos com esta
79 experiência, do que ser tomado pelo medo da indecisão e algo ou
alguém fazer a escolha por nós.
• Qualidade nº 40 – Pôr-se no caminho da paz
Para a Cabalá a palavra paz significa sem pendências, sejam elas
financeiras, espirituais, morais, ou outras. Portanto, colocar o outro
neste caminho consiste em primeiramente trilharmos essa qualidade
para nossas vidas, depois ensinar ao outro a também não deixar
pendências em sua vida.
Devemos trabalhar muito este aspecto em nossas crianças para
que cresçam com liberdade, segurança, organização e determinação.
Quando as ensinamos a guardarem suas coisas, a terminarem seus
trabalhos, a não ficar brigado com o outro e não deixar para estudar em
cima da hora, por exemplo; estamos trabalhando este aspecto dentro de
suas vidas.
A consciência que temos que ter enquanto responsáveis e
orientadores destes pequeninos, deve estar direcionada a torná-los
seres humanos que pensem onde todos os seus atos, atitudes e ações
se iniciam e onde vão terminar. Se isso for trabalhado desde cedo, se
transformarão em adultos mais conscientes e responsáveis não só por
suas vidas, mais por toda humanidade. O mundo está precisando de
pessoas assim e podemos ajudá-lo.
80 • Qualidade nº 41 – Ser meticuloso em seu estudo
Ser cuidadoso significa pensar em três questões complementares:
o foco, a contemplação e a beleza.
O ser contemplativo é ser a “causa”, estar no controle e
compartilhar. A contemplação está relacionada à percepção que temos
de um determinado ponto, objetivo ou propósito; através do foco
(concentração), de forma a encontrar o equilíbrio, ou seja, atingir a
beleza que é a harmonia com a natureza, a simplicidade.
Permanecer em estado de contemplação nos faz antecipar-nos às
armadilhas que nosso próprio ego tenta nos colocar.
Quando somos ponderados em relação a tudo, não nos
precipitando em nossas atitudes, decisões e resoluções, usando aquele
velho ensinamento: “devagar e sempre”, nos beneficiando do tempo e o
esforço concentrado, correto e objetivo; estamos trabalhando este
estado contemplativo e meditativo dentro de nossa vida.
Na Educação Contemplativa a ferramenta utilizada para
desenvolvermos a contemplação é a meditação, que falaremos de forma
mais abrangente no capítulo 4.
A arte da meditação é o meio pelo qual a alma adquire
as asas da consciência necessárias para se elevar
acima e além dos confins do seu “eu” inferior, com seu
ambiente de pensamentos negativos que assolam a
consciência da pessoa. (Rav Mario Meir, Prece
Meditativa: Separação dentre a Separação)
81
Uma forma que nos ajuda a ser meticuloso é criar e seguir um
método que nos ajude e nos torne cada vez mais eficazes. É importante
que não queimemos etapas.
A dispersão é totalmente avessa a esta qualidade. Pois é a falta
de foco, de concentração.
• Qualidade nº 42 – Perguntar conforme o assunto e
respondendo conforme a regra
Somente através da dinâmica do diálogo é que conseguimos
adquirir o conhecimento necessário a nossas argumentações, dúvidas e
soluções de muitos problemas.
Esta troca de conhecimentos é essencial e estar aberto tanto para
perguntar quanto para responder, nos torna uma pessoa mais evoluída,
equilibrada e humilde.
Uma pergunta importante sempre recebe uma resposta
apropriada, e como nos ensinam os sábios, “uma boa pergunta sempre
irá valer muito mais do que uma boa resposta”.
Se alguém nos faz uma pergunta, por mais simples que ela seja,
devemos responder sempre da melhor forma possível.
Estimulamos nossa mente através das perguntas que nos são
feitas e vive-versa nas respostas que temos que dar.
82
O que nos difere de outros seres, outras criaturas, é o
nosso espírito argumentativo; é uma ânsia emocional
esse desejo da busca pelo conhecimento. (Rav Mario
Meir – aula de Árvore da Vida, Lamed)
• Qualidade nº 43 – Ouvir e aumentar o conhecimento
Primeiramente temos que ter consciência de que nossos
conhecimentos nunca terão um fim. Quanto mais aprendemos, mais
temos o que aprender. E isso é muito importante, para estarmos sempre
abertos para recebermos e assimilarmos mais conhecimentos em nossas
vidas.
A mente, quando preenchida, ocupada, segue em frente.
Precisamos também filtrar o que estamos assimilando em nossas
vidas, e só através do escutar e somar que conseguimos filtrar as coisas
que nos aproximam de ser uma pessoa em busca da verdade, do bom
caráter e da moral apropriada.
Quando vamos atrás do aprendizado, estamos cada vez mais nos
tornando pessoa com bases, discernimento e estruturas para a vida. E
conseguimos com isso fortalecer e ser consciente em nossas escolhas.
Como nos ensina Rav Mario Meir: “Toda pessoa que não quer conhecer,
fica à mercê de quem conhece.”
83
• Qualidade nº 44 – Aprender para ensinar
É muito importante o ensinar a alguém, pois além de transmitirmos
o conhecimento que nos foi passado, estamos fazendo uma ação muito
importante e esquecida nos dias de hoje: o desejo de compartilhar e
cooperar com o próximo.
Os pais e os educadores são pontos referenciais nesta
transmissão de conhecimento para uma criança e devem fazer esta
passagem com muita consciência e responsabilidade. Estes devem
estar em constante aprendizado também para se aprimorarem a cada
dia.
A melhor forma de ensinarmos é quando ensinamos aquilo que
praticamos, ser o próprio exemplo daquilo que estamos ensinando a
alguém. Para as crianças, quando não estamos com esse aspecto
desenvolvido, comprometemos todo o processo. “Faça o que eu digo e
não o que eu faço”, não serve como modelo de educação. Nossas
palavras devem estar coerentes com nossas ações.
Os cabalistas ensinam que nós fomos criados como
receptores para recebermos a Luz do Mundo Infinito
que Emana do Criador. Mas para recebermos o
benefício, não podemos ser simplesmente receptores.
Precisamos ser canais. Um canal é como um cano,
que tem duas aberturas. Em nossa vida, a abertura
que fica em cima é a compreensão de que tudo o que
temos vem de uma fonte, que é a força da Luz do
84 Mundo Infinito. Tanto nossos bens físicos e materiais
como também nossos dons, sabedoria, poder e
energia, derivam da Luz. A abertura que fica embaixo
é o saber de que tudo que temos na verdade não é
nosso, mas nos foi dado para que compartilhemos.
(Rav Mario Meir – Um canal para Compartilhar)
• Qualidade nº 45 – Aprender para praticar
Primeiramente, temos que nos inspirar pela sede do saber. E
para isto devemos desenvolver o amor ao aprendizado. O grande
segredo está em que precisamos saber que somos ignorantes e que
temos que ter o anseio pelo conhecimento para vencer a ignorância. A
submissão é o que nos une a esta qualidade.
O cabalista deve aprender a anular-se no
aprendizado, ou seja, anular as marcas e vícios de
sua personalidade dedicando-se integralmente ao
modelo de aprendizado proposto e devocional. (Aula
de Sitrei Torah, Rav Mario Meir)
Aqui está a ligação entre a teoria e a prática. É o aprender para
assimilar o que é verdadeiro, correto e virtuoso em nossa vida.
85 Somente a vivência nos tornará uma pessoa cada vez mais
praticante e experiente de nossos aprendizados. Se tudo ficar só no
discurso, é como se o conhecimento estivesse escorrendo pelo ralo.
O importante é que este processo aconteça a cada minuto, a cada
dia, que vire uma rotina em nossas vidas. Precisamos ter uma vida
baseada na prática de nossos conhecimentos. É o que chamamos de
aprender para a nossa realidade.
• Qualidade nº 46 – Estimular a sabedoria do mestre
Para a Educação Contemplativa esta qualidade está diretamente
ligada a atribuirmos nosso saber a um saber (sabedoria) precedente.
Na Torah, no Livro de Gênesis, temos um exemplo bem claro em
relação a esta qualidade: a queda do Jardim do Éden, Adão e Eva.
Primeiramente, explicando o que é a queda, não é cair fisicamente, mas
sim a queda de uma consciência superior para um nível de consciência
mais baixo. A árvore também citada não é uma macieira, é uma
estrutura (a palavra em hebraico é Etz) e o comer a maçã é assimilar um
fruto, um conhecimento, uma idéia, uma consciência. Quando Adão e
Eva assimilaram essa nova estrutura, é a associação a assimilar uma
verdade subjetiva, valorizaram o seu eu em detrimento de um saber
superior, pois eles foram avisados que aquela árvore era do
conhecimento do bem e do mal. Quando assimilaram e foram
questionados colocaram a responsabilidade no outro por suas escolhas
erradas: “a culpa é da mulher que me deste”... “a culpa é da serpente
(representação de nosso ego que é ardiloso e envolvente) que me
86 enganou”; e então houve a queda, pois não assumiram sequer suas
responsabilidades. Na Cabalá Contemplativa aprendemos que somos
os únicos responsáveis por nossas escolhas, nós que plantamos nossas
sementes mesmo que não conseguamos lembrar em que momento foi.
• Qualidade nº 47 – Raciocinar sobre o que ouvir
A ponderação e a precisão estão ligadas a conseguir compreender
o sentido verdadeiro do que estamos aprendendo.
Aqui está uma questão muito importante que é o não tirar
informações, nem acrescentar coisas não ensinadas e que são falsas.
Um não a mais, “sem querer”, pode nos levar a causar uma guerra,
podemos desestruturar toda a formação de crescimento
desenvolvimento e caráter de um ser humano.
Segundo Irving M. Bunim (p. 480) o processo correto de estudo é:
“aprender a escutar, compreender, rever e recordar”. Só assim
conseguimos filtrar e assimilar as coisas dentro de nossas vidas.
• Qualidade nº 48 – Dizer coisas em nome de quem as disse
Esta última qualidade nos remete a uma questão muito importante,
o ROUBAR.
87 Quando não citamos o nome de quem escreveu ou falou algum
conceito ou idéia, estamos cometendo o furto e este é um grande desvio
de caráter. Muitas pessoas se apoderam do que pertence ao outro e por
não ser um objeto físico, acham que não estão errados.
É muito importante que desde pequenos aprendamos a nos referir
às fontes correspondente de qualquer citação que venhamos a usar em
nossa vida.
Esta é uma grande contribuição também para trabalharmos a
nossa humildade, dizer que aprendemos algo de algum sábio ou de uma
grande personalidade.
Existem inclusive leis que garantem que esta questão seja
cumprida de forma legal dentro de uma sociedade e se fizer isto,
também descumpriremos um dever nosso enquanto cidadãos.
2.7 – Informática
A informática é uma área de conhecimento muito importante no
mundo moderno e a Educação Contemplativa a utiliza como uma
ferramenta de apoio para o aprendizado.
Os computadores chegaram ao mundo contemporâneo é se
tornaram um grande auxiliar no processo de construção do
conhecimento, e quando usado da forma correta, se torna um grande
instrumento de apoio ao Mestre.
Segundo a Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional
9.394/96, “a educação escolar deverá voltar-se ao mundo do trabalho e
88 à prática social.”, e a informática está inserida em todos estes âmbitos
de nossa sociedade.
Seja através de softwares educativos, da Internet, ou da robótica
pedagógica / educacional, podemos trabalhar de forma aliada para
contribuirmos no desenvolvimento, na formação e nas transformações
de nossos educandos.
Só temos que tomar cuidado para que nossas crianças não se
tornem desvirtuadas do caminho não do aprendizado, seguindo pelo
caminho do desvio de conduta e caráter que também podem ser
desenvolvidos e de forma escancarada e acessível que a informática
nos proporciona.
Muitas das qualidades da Educação Contemplativa podem ser
desenvolvidas e compartilhadas de forma mais eficaz, com o uso da
informática.
2.8 – Aonde queremos chegar!
O trabalho é árduo, às vezes demorado, e aprendemos que a
certeza na nossa permanência e na busca de fazermos sempre da
melhor forma possível é que será o segredo de atingirmos nosso
objetivo.
Temos que construir um mundo significativo, justo e pleno. Só a
experiência, a humildade, e o aprendizado nos permitirá chegar onde
queremos.
89 Precisa-se de pessoas que tenham os pés na terra e a
cabeça nas estrelas.
Capazes de sonhar, sem medo de seus sonhos.
Pessoas que não temam mudanças e saibam tirar
proveito delas.
Que tornem seu trabalho espiritual objeto de prazer e
uma porção substancial de realização pessoal.
Precisa-se de pessoas que questionem, não pela
simples contestação, mas pela necessidade íntima de
só aplicar as melhores idéias.
Pessoas que mostrem sua face serena de pessoas
boas, sem se mostrarem superiores ou inferiores,
mas... iguais.
Precisa-se de pessoas ávidas por aprender e que se
orgulhem de absorver uma nova forma de pensar.
90 Pessoas com coragem para abrir caminhos, enfrentar
desafios, criar soluções, correr riscos calculados sem
medo de errar.
Precisa-se de pessoas que construam suas metas e
se integrem nelas.
Que não tornem para si o poder, mas saibam
compartilhá-lo.
Pessoas que não se empolguem com seu próprio
brilho, mas com o brilho do resultado alcançado em
conjunto.
Precisa-se de pessoas que criem em torno de si um
ambiente de entusiasmo, de liberdade, de
responsabilidade, de determinação, de respeito, de
amizade e de alegria.
Precisa-se de pessoas que venham a construir uma
história espiritual... (Rav Mario Meir)
91
CAPÍTULO III
INTERSEÇÃO DA EDUCAÇÃO CONTEMPLATIVA
A Educação Contemplativa, por ser baseada em uma Sabedoria
Espiritual, está contida em tudo o que existe. É uma Educação
estruturada através de Mestres (Educadores) com a finalidade de
instruir e educar seus discípulos. Neste capítulo vamos situá-la dentro
de nosso tempo e dentro das ciências, pensamentos e linhas existentes.
3.1 – Cronologia dos Mestres-Educadores da Educação
Contemplativa
Existem dois níveis de estudo da Cabalá. O primeiro conhecido
por Ma’asse Bereshit (Obra da Criação), representa os princípios e
mistérios por trás da Criação e seu propósito e o segundo Ma’asse
Mercavá (Obra da Carruagem), representa os segredos mais ocultos, a
parte teórica, prática e operacional da Cabalá aplicada como ferramenta
efetiva de transformação de si mesmo e no mundo a sua volta, e onde
reside a base da Educação Contemplativa (Chinuch Yunit).
Para a Educação Contemplativa o primeiro Educador – Mestre foi
o Patriarca Abraão.
Abraão (Avraham - 1813 a.E.C - 1638 a.E.C.) escreveu o Sêfer
Yetzirah, foi um grande líder espiritual e conhecedor dos profundos
92 mistérios da Cabalá. Implementou o que chamamos de Hospitalidade
Aperfeiçoada, quando abriu sua Tenda para toda Humanidade.
Qualquer pessoa que chegasse na sua Tenda era muito bem recebido,
oferecia estadia, comida, dava instruções morais e transmitia
ensinamentos a todos que por lá passavam.
Idealizou um mundo unificado e guiado pelo desejo de
compartilhar, onde a sabedoria e o sentimento de
unicidade passariam a nortear as atitudes dos seres
humanos, onde a hospitalidade aperfeiçoada fosse a
base das relações humanas. Abraão sabia que havia
uma longa estrada pela frente, um caminho de
dedicação e superação que pudesse trazer a
humanidade um estado de consciência mais elevado.
Este estado de consciência ficou conhecido pelos
cabalistas com sendo um ESTADO CONTEMPLATIVO.
Ao longo da história da Cabalá, muitos esforços foram
dedicados a construção desta mente contemplativa.
(Rav Mario Meir)
Avraham significa “pai de todos” – de muitas nações, se
preocupou e se dedicou a passar os ensinamentos sobre a Verdade
Espiritual, o conhecimento de da Tradição, para seu filho Isaac, que
transmitiu para Jacob e depois para seus filhos que formavam as 12
Tribos de Israel, e assim até os dias de hoje.
Foi um homem que sempre buscou e vivenciou: fidelidade,
bondade, força, integridade, lealdade, coragem, generosidade, certeza e
93 a dedicação. Sempre possuiu clareza e eloqüência em suas idéias,
opiniões e ensinamentos.
Nosso segundo Patriarca foi Isaac - o Justo (Yitzchak - 1713 a.E.C
– 1533 a.E.C.), era filho de Sara e Abraão, tem sua vida marcada por:
júbilos, triunfos, justiça, auto-controle e muita disciplina. Nasceu de um
milagre, pois sua mãe por ter uma idade avançada, não teria condições
de ter filhos. Através de seus ensinamentos, aprendemos que com a
restrição e os obstáculos, nos tornamos pessoas melhores, mais
amorosas e que devemos ter o foco em compartilhar o que recebemos
com nossos semelhantes.
É considerado o homem mais justo dentre todos os homens.
Conseguiu ensinar de forma verdadeira os ensinamentos e as
virtudes recebidas de seus pais e que foram aprofundadas em seus
estudos em Jerusalém na mesma época que seu pai enviou Eliezer - seu
criado para procurar uma esposa para ele.
Yitzchak se casou com Rivca (Rebeca) e teve um casal de
gêmeos, Esav (Esaú) e Yaacov (Jacob), que apesar de não ser o
primogênito biológico, se tornou o primogênito espiritual se tornando o
terceiro e último Patriarca.
Jacob (Yaacov - 1653 a.E.C – 1506 a.E.C.) recebeu os
ensinamentos de seu pai, e passou a vida lutando para garantir a
sobrevivência de seus descendentes, através da verdade e da paz,
transmitindo a todos a Sabedoria Espiritual de seu pai e seu avô. Após
lutar com um anjo e vencê-lo, recebeu o nome de Israel. Teve 12 filhos
94 e uma filha, e o seu preferido foi José (Yossef) o primogênito com
Rachel.
José (Yossef -1562 a.E.C. – 1452 a.E.C.), foi jogado em um poço
por seus irmãos, e vendido pelos mesmos como escravo para o Egito,
porém nunca perdeu sua certeza, não deixou de transmitir seu
conhecimento e a passar seus ensinamentos a diante. Foi governador
do Egito, mais tarde vice-rei e ajudou o Egito a não passar fome nos
anos de escassez. Foi um homem justo e atuante na defesa de seu
povo, nos ensinou que os sentimentos mesquinhos não servem para
nossa vida, e que a humildade é uma base sólida para a felicidade.
Entre seus irmãos, Beniamim (Benjamim), foi de grande importância e
referência para a Cabalá Contemplativa.
No ano de 1399 a.E.C., se inicia a escravidão do povo hebreu no
Egito.
Moisés (Moshé - 1393 a.E.C – 1273 a.E.C.) foi o mais humilde de
todos os homens e segundo Maimônides: “o mais perfeito ser humano”.
Foi considerado o mais elevado de todos os profetas. Aos 3 meses para
não ser morto pelo decreto do Faraó, foi escondido no Rio Nilo por sua
irmã Miriam. Aos 20 anos fugiu do Egito, retornando 60 anos mais tarde
após ver D’us em uma “sarça ardente que não se consumia”, para
libertar o povo hebreu da escravidão.
Moisés foi o líder do povo hebreu desde sua libertação do Egito,
os 40 anos da caminhada pelo deserto e a entrada do povo na Terra
Prometida. Também foi um exímio Educador, recebendo a Torah de
D’us e a ensinando-a ao povo, transmitindo seus Valores, suas
Verdades e suas Virtudes. Foi o responsável pelo desenvolvimento da
95 permanência do povo no caminho da Sabedoria, durante os momentos
de dúvida, medo e insegurança.
Seu irmão Aarão (Aaron - 1396 a.E.C – 1273 a.E.C.) foi o Sumo
Sacerdote de Israel e era considerado um homem de paz, um Educador -
tinha o dom da pragmática e o oficial orador do povo, que passou sua
vida também transmitindo os ensinamentos de D’us.
Também junto com Moisés na caminhada do povo pelo deserto,
trabalhou o refinamento das pessoas através das verdades da
Sabedoria Espiritual.
Miriam (1400 a.E.C. – 1275 a.E.C. ), profetisa irmã de Moisés e
Aarão, segundo o profeta Miquéias ela foi a responsável pela Educação
e instrução da mulheres do povo. Instruiu as mulheres principalmente
através de seus exemplos. Foi uma mulher: bondosa, corajosa, sábia e
conselheira.
Ychoshua se torna o novo líder do povo após a morte de Moisés e
se torna o responsável pelos ensinamentos da sabedoria e a conduzir o
povo a entrar na Terra Prometida.
Samuel HaNavi (931 a.E.C. – 877 a.E.C), foi juiz e profeta. Em
seu tempo, o povo estava afastado da Torah, dos ensinamentos e das
verdades espirituais. Com grande entusiasmo que possuía, começou a
formar um grupo com novos profetas para aprenderem os ensinamentos
96 da Torah, com o intuito de levar o povo novamente ao encontro com
D’us.
David HaMelech (Rei David - 907 a.E.C. – 837 a.E.C), era o
principal discípulo e sucessor do Profeta Samuel, dando continuidade a
transmissão de seus ensinamentos. Escreveu o Tehilim.
Shlomo HaMelech (Rei Salomão – 849 a.E.C. – 797 a.E.C), era
filho do Rei David e se tornou o mais Sábio de todos os homens. Nos
deixou três livros sagrados de nossas Escrituras: Mishlê, Shir HaShirim
e Cohelet.
Isaías HaNavi (Profeta Isaías), Jeremias HaNavi (Profeta
Jeremias), Ezekiel HaNavi (Profeta Ezequiel), Zechariah HaNavi
(Profeta Zacarias) e Daniel (Profeta Daniel), também foram grandes
Educadores e deixaram em seus Livros, grandes registros de
ensinamentos que fazem parte do Tanach e são transmitidos e
ensinados até os dias de hoje.
No Livro de Ester, temos dois grandes nomes de nossa história,
que nos trazem grandes ensinamentos de luta, vida, certeza e conduta
espiritual: Ester HaMalcá (Rainha Ester) e Mordechai.
Rav Yochanan Ben Uzriel foi autor de uma tradução aramaica
autorizada dos livros dos profetas. Teve uma tradição direta relacionada
aos ensinamentos místicos dos profetas. Teria uma grande influencia na
97 formação dos princípios elementares da Cabalá Contemplativa, cuja
Inspiração Superior são os trabalhos dos profetas.
Rav Yochanan Ben Zacai foi um dos mais antigos nomes
associados à escola da Mercava e fundou a Academia de Avne depois
da destruição do Segundo Templo no ano 70 da Era Comum. Seus
discípulos foram: Rav Eliezer; Rav Nehuniá Ben HaCana (principal
discípulo); e Rav Elazar Ben Arach.
Rav Nehuniá Ben HaCana (Século I) por sua vez manteve os
princípios contemplativos de sua Academia. É o autor da oração Ana
Becoach, que é uma das principais fórmulas místicas da Cabalá
Contemplativa. Deixou como legado para as futuras gerações o Sêfer
HaBahir que, até o século XIII, foi o livro por excelência das Academias
de Cabalá e que, para a Cabalá Contemplativa, permanece até hoje
sendo uma das obras mais consistentes. Instruiu seu imponente
discípulo: Rav Akiva.
Rav Ishmael Ben Elisha foi o 1 º discípulo de Rav Nehuniá Ben
HaCana na área da meditação mística e foi graças a ele que a maioria
das fontes sobreviveram.
A história de Rav Akiva é o que se pode chamar de
uma verdadeira história de amor. Uma história de
coragem, heroísmo e sacrifício que, ao mesmo tempo,
aquece o coração e o arrebata; inspira-nos,
provocando júbilo e lágrimas. É a história do pastor
98 humilde que se torna o maior dos rabinos da história
da Cabalá. (Rav Mario Meir)
Rav Akiva, pastor pobre e analfabeto que começou a estudar a
Torah aos quarenta anos na Academia de Yavne (que após a destruição
de Jerusalém, tornara-se a sede do Sanhedrin e o centro dos grandes
eruditos), tornou-se o maior sábio de sua era - um homem que seria
chamado de "pai do mundo".
O mestre ensinava que a Torah, por ter sido escrita
pelo Criador, é completa, nada lhe faltando e, por
outro lado, não contendo sequer uma letra supérflua.
Em sua inteireza, é toda conteúdo, sem filigranas
retóricas nem palavras vãs. Cada uma de suas letras
e de suas pontuações abriga um significado profundo
e, com freqüência, misterioso.
Até a época de Rav Akiva, a Torah Oral, cuja
transcrição era proibida, não era classificada nem
organizada segundo seu conteúdo.
Conseqüentemente, um erudito tinha que possuir
tremenda capacidade de memorização para conseguir
lembrar-se de todos os seus preceitos e
ensinamentos. Para evitar que o povo pudesse, algum
dia, esquecer-se da Torah Oral, Rav Akiva iniciou um
trabalho de classificação de cada uma de suas leis de
acordo com o teor. Assim, estabelecia as fundações
para as compilações da Mishnah - núcleo do Talmud -
que acabou sendo transcrito e editado, anos mais
99 tarde, pelo Rav Yehudá HaNassi. Ao assim proceder,
o sábio Akiva preservou a Torah Oral, assegurando,
destarte, a sobrevivência da Tradição Oral.
Rav Akiva também era versado em diferentes
ciências, como medicina e astronomia. Falava vários
idiomas e, a miúde, acompanhava um de seus
mestres, Raban Gamliel, a Roma, levados pela causa
do povo.
Durante suas palestras, o estudioso mestre
moralizava os ouvintes de forma inspiradora. Suas
lições eram relatadas em todas as casas e todo
homem empenhava-se em regular sua vida segundo
os preceitos morais de Rav Akiva.
Seus professores, seus colegas e seus ensinamentos
atestavam ser ele a personificação do amor e da
generosidade. O mestre gostava de repetir que tudo o
que D'us fizesse, era para o bem, "Gamzu le-tová".
Dizia que o mundo deveria ser julgado segundo suas
virtudes e o bem que aqui se recebia era apenas uma
pequena parcela da recompensa que nos aguardava
no Olam HaBa. Acreditava que até o mais simplório
dos cabalistas se deveria considerar um nobre, por
ser filho de Avraham, Itzchack e Yacov. Rav Akiva
também costumava dizer que o povo atestava a
grandeza de D'us: o Criador libertara os filhos de
Israel do cativeiro para Se redimir juntamente com
eles. E Akiva oferecia um ensinamento profético e
assustador que acabou sendo aplicável a ele próprio:
era em benefício do próprio D'us que Ele escolhera os
hebreus, entre todas as nações, pois que os outros
100 povos louvavam seus deuses na prosperidade e os
amaldiçoavam quando sua sorte lhes dava as costas.
Mas os hebreus, ensinava o Rav, sempre louvam a
D'us, quer na prosperidade quer na penúria. Não
surpreende, pois, que de todos os livros da Torah,
Rav Akiva mais apreciasse o Cântico dos Cânticos.
Foi dos primeiros a nele perceber a descrição do amor
entre D'us e o povo. E era, de fato, o amor o tema
central de sua vida e de seus ensinamentos. Em seu
entender, a essência de toda a Cabalá, o todo
abrangente mandamento da Torah, pode ser
encontrado em um de seus versos: "E amarás o teu
próximo como a ti mesmo” (Levítico, 19:18). (Rav
Mario Meir – Rav Akiva)
Rav Akiva foi discípulo de Rav Nehuniá Ben HaCana e é autor do
Sêfer HaOtiot. Também é de sua autoria, a oração Cadish.
Os principais discípulos de Rav Akiva foram: Rav Shimon Bar
Yochai (escreveu o Sêfer HaZohar); Rav Chanania Ben Chanichai
(faleceu na rebelião e representava o braço legalista da tradição
transmitida por Rabi Akiva) e Rav Meir Baal HaNess – Mestre dos
Milagres (recebeu o Sêfer HaOtiot e foi responsável pela dispersão na
Europa, do Legado de Rav Akiva)..
Rav Shimon, também conhecido como Rashbi (uma
sigla tirada das iniciais de seu nome - Rav Shimon Bar
Yochai), viveu durante o segundo século da Era
101 Comum. De modo similar a seu mestre, em época de
grandes perseguições romanas. Conhecido como um
grandioso artífice de maravilhas, era convocado pelo
povo para realizar milagres em sua intenção.
As autoridades romanas decretaram que ele fosse
morto e ele e seu filho, Rav Eleazar, fugiram e se
esconderam em uma caverna. Lá permaneceram
durante treze anos, estudando, noite e dia, a Torah.
Sustentaram-se, dentro da caverna, do fruto de uma
alfarrobeira e da água de uma fonte, surgida do nada.
Durante os anos em que viveram na caverna, pai e
filho - tendo o estudo da Torah como única ocupação -
foram visitados pelas almas de Moshé e do profeta
Eliahu, que lhes transmitiram os segredos místicos
mais profundos do universo. E exatamente essa
riqueza de conhecimentos, adquiridos na caverna, foi
transcrita como sendo o Sêfer HaZohar - a obra na
qual se fundamenta a Cabalá.
De seu longo confinamento, emergiu Rav Shimon
espiritualmente mais sábio e mais poderoso do que
nunca. Reunindo seu filho, seu genro e os discípulos
mais próximos, começa a lhes revelar os segredos da
Cabalá que ele próprio recebera durante os treze
anos em que estivera recluso. Esses grandes
mistérios e revelações sobre o processo da Criação,
sobre o relacionamento da Luz Infinita com nossa
existência e sobre a estrutura da alma humana eram
transmitidos oralmente, de geração em geração, pelos
grandes líderes espirituais. Mas, com Rav Shimon, a
Cabalá começou a ser transcrita, de forma
102 sistemática, e divulgada pelo mundo. Daí
considerarem-no o "pai" do misticismo cabalista. Um
de seus discípulos, Rav Abba, seu escriba mais
proeminente, foi quem redigiu o Sêfer HaZohar - "o
Livro do Esplendor" - espinha dorsal dos estudos
cabalísticos. (Rav Mario Meir)
No século XI, Rav David era o presidente do Tribunal Rabínico da
França.
Século XII no sul da França, Posquière foi o berço da família de
Rav Avraham ben David.
Rav Yitzchak o Cego era filho de Rav Avraham ben David e foi o
mestre direto e indireto dos membros da Academia de Gerona e de seus
descendentes. Apresenta pela primeira vez o conceito de Or Eyn Sof:
termo designativo da Divindade Infinita e desconhecida - fora de
qualquer capacidade cognitiva - que até os dias atuais é o principal
Nome usado pelos cabalistas para designar a natureza do Eterno.
O sobrinho de Rav Yitzchak o Cego, Rav Asher ben David, fixou-
se em Gerona para estabelecer uma Academia de Cabalá
Contemplativa.
Em Gerona destacamos: Rav Ezra, Rav Azriel e Rav Baruch
Torgami.
Rav Ezra (Rav Abraão ben Meir Ibn Ezra), nasceu por volta do ano
1090 (Espanha). Foi um conhecedor , estudioso e famoso comentarista
103 da Torah, poeta, filósofo, médico, matemático, tradutor e astrólogo.
Deixou uma imensa obra.
No século XIII em Toledo, surge Rav Avraham Ben Samuel
Abulafia, discípulo de Rav Baruch de Torgami (final do século XII) e
quem fundamenta a Cabalá Contemplativa. Foi o cabalista que mais
escreveu obras de Cabalá e formou o sistema de pequenos grupos
chamados “chug”.
A partir de Rav Avraham Abulafia que podemos perceber de forma
clara, uma ruptura entre o judaísmo talmúdico e o sistema cabalístico
como um sistema independente da religião institucional.
Os discípulos diretos de Rav Avraham Abulafia foram:
• Em Medina Celi: Rav Yossef Gikatyilla – em 1273, (legado
escrito: Shaarê Orá ); e Rav Samuel HaNavi.
• Rav Albutini
• Em Burgos: Rav Shem Tov de Burgos (legado escrito: Shaarê
Tzédec: Portões da Retidão - uma importante exposição das
técnicas de Abulafia);e Rav Moshé Sifno.
• Em Roma: Rav Tzadakia; e Rav Yeshia .
• Em Barcelona: Rav Kalonymos; e Rav Yehudá Salomon.
• Em Messina: Rav Saadi Ben Itzchack Sanalmapi; Rav Avraham
Ben Shalom; e Rav Yacov Ben Avraham (filho de Rav Avraham
Ben Shalom)
104 • Na Sicília: Rav Achitov – em 1282, era médico em Palmyra.
• Em Toledo: Rav Moshé Chaim de Toledo.
Rav Moshé Chaim de Toledo, após a morte de Rav Avraham
Abulafia, assumiu a liderança dos Círculos estabelecendo a última
resistência dos mesmos na Península Ibérica.
Ao longo mais de 30 anos, Rav Avraham Abulafia e seus
discípulos formaram mais de vinte "Círculos" de estudo por diversos
lugares ao longo do Mediterâneo: Toledo, Gerona, Barcelona, Malta,
Roma, Grécia, Acco, Ilha de Komino, Sul da França, Belmonte (Portugal)
e Marrocos.
Rav Avraham de Castro era judeu de descendência espanhola,
líder da comunidade do Egito. Foi influenciado pela escola de Rav
Avraham Abulafia, que através de seus escritos, influenciou
profundamente suas idéias e discussões.
Rav Yosef Saragossi: nasceu em Saragoça, na Espanha, como
Rav Avraham Abulafia, fugiu de lá com seus correligionários em 1492.
Seguindo o caminho de Rav Avraham Abulafia que se instalou durante
algum tempo na Sicília, de lá emigrou para Beirute e, em 1496, foi para
Sidon, de lá aceitou o papel de Rabino em Sfat onde começou a
construir uma Academia de Cabalá. Também havia comunicação com os
círculos abulafianos de Portugal.
105 Rav David Abu Zimra (1470-1572): Menciona os trabalhos de Rav
Avraham Abulafia em sua escola. Também exilado da Espanha, se
instalou em Sfat e logo se tornou um importante discípulo do Rav Yosef
Saragossi.
Estava a par dos escritos de Rav Abulafia e menciona seu Sêfer
Chaiê Olam HaBá. Estudou, também, com os círculos de Portugal. Se
correspondia com Rav Yosef Tzayach.
Rav Yosef Caro (1488 - 1575) nasceu em Toledo na Espanha, e
quando tinha 4 anos quando foi expulso do país com toda sua família.
Estudou com o Rav Yacov Berab durante 14 anos quando ambos
estavam na Turquia.
Em 1522 se muda para Adrianópolis para estudar com Rav Yosef
Taitatzak (Mestre Turco).
Em 1537, instalou-se em Sfat onde ganhava a vida como mercador
de especiarias. Começa a fazer parte do Beit Din e constrói uma
Yeshivá onde dava aulas e tinha muitos discípulos, entre eles Rav
Moshé Cordovero. Foi Autor do Shulchan Aruch e do Beit Yossef.
Rav Moshé Cordovero, o RAMAC (1522 - 1570), nasceu em Safed,
Israel. Foi discípulo de Rav Yosef Caro, líder da Escola de Sfat, e
considera Rav Avraham Abulafia como uma autoridade na pronúncia dos
Nomes Divinos e cita uma seção extensa do seu livro Or Hassé Cheli -
esta obra foi uma tentativa de reestruturação do trabalho Abulafiano.
106 RAMAC, também foi o autor de: Tomer Devorah - uma obra
essencialmente Contemplativa; Or Yakar – obra de 16 volumes, o mais
extenso sobre o Sêfer HaZohar; e Or Ne’erav.
Rav Itzchack Luria (1534-1572), também conhecido como o ARI,
nasceu em Jerusalém, e ainda pequeno quando perdeu o pai, foi levado
com sua mãe para morar com seu tio no Egito.
Há evidências que estudou como Rabino Chefe do Cairo, Rav
David Ben Zimrach – RADBAZ. O ARI estava associado à Escola de
RADBAZ e estudou com o seu maior discípulo: Rav Betzalel Askenazi,
com quem passou 15 anos em meditação. Foi declaradamente
influenciado pelos círculos abulafianos.
Rav Chayim Vital foi discípulo de Rav Itzchack Luria. Na quarta
parte não publicada do Shaarê Kedushah, ele cita os métodos de Rav
Avraham Abulafia como sendo técnicas para meditação. Também fala do
Sêfer Chaiê Olam HaBá como um livro famoso nos círculos cabalísticos
e cita uma grande parte do Sêfer HaChéshec .
Rav Yosef Tzayach escreveu em 1537, Évem HaShôham .
Rav Yacov Shemach, no século XVI teve que fugir da Espanha
para Sfat em função da pressão da inquisição, mas consegue retomar os
círculos abulafianos. Influencia profundamente as obras de Rav Chayim
Vital em função dos conhecimentos da Cabalá Contemplativa revelados
na ocasião.
107 Antes de sua morte, deixa a liderança do movimento com Rav
David Geller Ben Kadosh que finalmente consegue retornar as
atividades dos “Círculos“ de estudos tanto na França quanto em
Portugal.
Rav Elias de Vida foi o autor de Reshit Chochmá.
Rav Matatias Delecreta, era nativa da Itália, em 1594 estava
morando na Cracóvia, e publica um comentário importante sobre o
Shaarê Orá de Rav Yossef Gikatyilla.
Seu principal discípulo de Cabalá foi Rav Mordechai Yaffe (1530-
1612), mais conhecido como o autor de Levush.
Rav Yosef Jospa escapou da Espanha durante a expulsão de
1492.
No início do século XVII é fundada a Sociedade dos Nistarim
(1621), logo após a morte de Rav Chayim Vital, seu fundador foi Rav
Eliahu de Chelm (1537-1653), conhecido como Rav Eliyahú Baal Shem.
A idéia era a criação de uma sociedade altamente secreta destinada a
manter em proteção os conhecimentos mais avançados da Cabalá
Contemplativa e a insistente tentativa da religião oficial de abafar suas
lideranças.
108 Rav Eliahu Baal Shem nasceu na Cracóvia. Os métodos destes
Baalê Shem seriam igualmente secretos se não fosse por um pequeno e
notável livro o Toledot Adam, onde é feito o uso dos quadrados mágicos
do Rav Yosef Tzayach.
Em 1930, em Belmonte (Portugal), Rav Yosef Mello Bastos um
grande cabalista, judeu de origem anussim, dirigia um "Círculo" de
estudos abulafianos denominado Chug B'nei Tzeruf (O Círculo dos filhos
da Permutação).
Rav David Benari português de Belmonte continua o trabalho de
Rav Yosef de Melo Bastos e o passa para seu filho Rav Daniel Benari.
Rav Daniel Benari estabelece o Brasil como, o local onde a
Cabalá Contemplativa formaria sua base para a construção da tão
sonhada Academia de Cabalá, constrói um círculo de estudos de grande
profundidade chamado “Chug Aron Habrit” (Círculo da Arca da Aliança),
onde Rav Mario Meir vai estudar e se torna a ponta final dos
Educadores e Mestres da Educação Contemplativa.
Rav Mario Meir hoje através de aulas, textos, publicações, sites,
blogs, orkut, e-groups, discípulos, etc. transmite seus ensinamentos a
um número muito grande de pessoas (mais de 70.000 só pelos acessos
do site da Academia de Cabalá Rav Meir).
109 3.2 – Psicologia
Conforme os ensinamentos de Rav Mario Meir, a principal
ferramenta do cabalista é o alfabeto hebraico e suas mais variadas
utilidades. Através da ressonância mórfica recebida pela contemplação
sobre as letras (pretas sobre o fundo branco), o cabalista tem acesso às
“chaves” dos mais profundos arquivos da consciência.
Mas por que o alfabeto hebraico?
O alfabeto hebraico é muito mais do que um simples alfabeto, ele
abre acesso direto ao conhecimento universal por via do símbolo. Isso
se explica pelas palavras hebraicas: “LETRA”, no singular, se chama
“OT” e no plural “OTIOT”. Esta palavra não significa precisamente
“letra”, pois o seu primeiro sentido é “signo”, “marca”, “símbolo” além de
“selo” e “código de acesso”. Por isso mesmo é que, para os cabalistas,
as letras do alfabeto hebraico são como uma chave direta com o
propósito de transportar o ser humano para além das palavras e da
análise cognitiva, permitindo ao homem obter a percepção sobre as
forças essenciais da existência.
As otiot levam (como canais de conexão) diretamente a Luz de
Eyn-Sof e a densificam, por etapas sucessivas através das Sefirot,
passando do desconhecido ao conhecido, em seguida do pensamento à
palavra, para chegar na tinta e na gravura. Elas seguem o processo de
desaceleração do Or Eyn Sof da sutileza à densidade.
110
• Ressonância Mórfica
O estudo do alfabeto hebraico, por suas significações profundas,
leva-nos diretamente ao estudo do símbolo, cuja utilização ultrapassa a
compreensão pura e simples da língua hebraica.
Para o cabalista os símbolos (linguagem da forma) por trás das
letras hebraicas refletem a linguagem crepuscular que precedeu ao
despertar das consciências humanas, linguagem universal que está
além, e na origem de todos os dialetos físico e extra-físico. A linguagem
da alma é a primeira forma de comunicação estabelecida pelo ser
humano e, segundo a literatura mística, até mesmo usada pelos anjos.
Sendo assim, o hebraico não apenas representaria a raiz de todas as
línguas originais da humanidade como também a forma de comunicação
dos seres extra-físico. A forma das letras é uma via real de comunicação
entre o consciente e o inconsciente, entre a Luz e o Receptor. O
alfabeto hebraico possui em sua ressonância mórfica, preciosos elos de
comunicação para o homem místico em busca da transcendência.
Pelo conhecimento das letras-símbolos podemos:
• Comunicar-nos com o nosso consciente e suas “gavetas”
mais profundas;
• Interpretar as sutilezas das mensagens que o mundo
espiritual nos envia;
111 • Armazenar informações nas “gavetas” da mente, para aí
encontrar o que é necessário no momento certo;
• Deixar ou revelar mensagens eternas, desvelar
ensinamentos gravados em imagens remontando ao mais
profundo de nossa humanidade.
Na vida prática, o símbolo ajuda-nos a melhor compreender seu
contexto e assim podemos melhor dominá-lo. Para cada indivíduo, ele
permite a análise dos atos e dos pensamentos, a interpretação dos
sonhos e de todas as abstrações que os rodeiam.
O sentido etimológico do símbolo é "simbalon", ou seja,
"encontro", no sentido de "eu reúno, eu junto", termo indicando um
símbolo de reunião possuindo dupla natureza. Esse símbolo permite que
as partes distintas se reproduzam ou se reconheçam. Atrás da palavra
esconde-se, a dupla vida de um símbolo que encerra uma mensagem
além de sua aparência concreta. É o encontro do visível e do invisível,
do concreto e do abstrato, do consciente e do inconsciente: para um
cabalista, é o encontro do Mundo Físico com o Mundo Espiritual. E é
exatamente essa a função da forma das letras hebraicas: conseguir
servir de canal de conexão entre a forma escrita (da letra) e o que ela
liga, no plano extra-físico.
Mais do que um signo, o símbolo é um substituto contendo uma
potencialidade de sentidos indefinidos. Ele formula a base do
pensamento e libera a consciência, ele é a concretização de uma
realidade abstrata.
112 Quando colocamos a esfera do pensamento em relação com a
esfera dos símbolos, esta última aparece como a infra-estrutura de todo
o pensamento cognitivo, pois eles (os símbolos) tocam a matriz do
processo do conhecimento.
A finalidade do símbolo é a de transmitir a riqueza sensível que
ele fixou aos que a captam por meio da sensibilidade. Ele carrega uma
herança espiritual ou histórica e contém sempre um certo ensinamento
concernente ao homem e ao universo. Os símbolos são os meios pelos
quais se exprime a unidade do mundo. Eles dão imagens, energias,
sensações e impressões.
O símbolo é um signo que se situa fora do tempo, do espaço, das
raças ou das religiões, mesmo se ele se adapte permanentemente ao
seu contexto. Alguns vêem nos símbolos uma espécie de língua primitiva
arruinada e degradada, os vestígios de um outro saber do qual eles
seriam apenas o que sobrou.
Um símbolo não é obrigatoriamente uma forma compreensível, ele
pode ser um nome, um som, um gesto, nenhum é superior aos outros,
eles constituem um conjunto homogêneo, se substituem, se anulam ou
se reforçam. Com freqüência, mesmo um símbolo puramente abstrato,
como uma palavra, tem força para penetrar nas profundezas do espírito.
Por exemplo, pronunciar o Nome de D'us faz-nos imaginar levemente
uma idéia gloriosa, mas a consciência precisa de mais detalhes
dificilmente exprimíveis. Por isso o místico utiliza compensadores
aproximativos que são a forma das letras. Entretanto, não limitamos os
símbolos, e consequentemente as letras do alfabeto hebraico a
princípios religiosos ou filosóficos pré-determinados, já que ele é a
manifestação das qualidades vivas de algo muito mais antigo do que
uma religião. O conceito de espírito não implica em uma identidade
113 étnica, cultural ou filosófica, mas ao contrário, é a parte nossa que se
encontra atrelada a UNICIDADE.
Para C.G.Jung, o símbolo é uma imagem própria para designar o
melhor possível a natureza secretamente imaginada do espírito. Os
símbolos são, assim, "mediadores" entre o consciente e o inconsciente,
produzem uma espécie de osmose contínua do microcosmo e do
macrocosmo, do interior e do exterior. Eles têm a estranha faculdade de
descrever tudo velando, jogando com as estruturas mentais. Isto porque
o símbolo é vivo, é carregado de dinamismo e de afetividade.
O símbolo é mediador, serve como intermediário entre o
transcendente e o imanente. Ele segue m código semântico específico,
que nos leva a dizer que os símbolos formam uma rede cósmica
indissolúvel, através da qual a realidade é tomada visível. Isso explica
porque algumas pessoas que meditam se servem de suportes
profundamente simbólicos, porque os que se serve de talismãs se
servem unicamente de símbolos e enfim porque numerosos místicos
utilizam as letras hebraicas como suporte ou como canal receptor, para
que a Luz do Mundo Infinito possa entrar.
O símbolo pode ser comparado a um cristal restaurando a luz de
forma diferenciada segundo a face que a recebe. Podemos dizer que ele
é um ser vivo, uma parcela de nossa vitalidade, uma parcela de nosso
ser em movimento e em transformação. Ao contemplá-lo, tomamos a
direção do movimento no qual o símbolo nos indica.
Sabemos agora que um símbolo físico, por sua forma, sua cor, seu
relevo, emite micro vibrações capazes de modificar progressivamente o
que está à volta. Isto é também verdadeiro para um som ou um gesto
que podem instantaneamente modificar uma ambiência e aqui temos
114 ainda muitos exemplos a tirar das antigas tradições. A experiência
mostra a influência psíquica e energética que os símbolos exercem. Sua
força de evocação e de liberação varia com o efeito de ressonância que
resulta da ligação entre o coletivo e o individual.
Devemos então sempre lembrar que o símbolo é vivo.
• Analogias
Por correspondência analógica, o símbolo é aquilo que representa
outra coisa que não a sua natureza. Ele se classifica segundo três
funções principais:
• O símbolo é uma entidade abstrata que toma mais sensível
o que parece não ser. Esta entidade é a mesma para o
conjunto da memória humana, ou inconsciente coletivo (o
símbolo teve sempre a qualidade de união ou de ligação).
Ele age de forma consciente ou inconsciente.
• O símbolo designa a ligação de um grupo a uma idéia ou a
uma situação, ele define limites.
• O símbolo nunca é neutro nem estático, ele tem o papel de
indicar ou lembrar. A estrela de David não se contenta
apenas de evocar o judaísmo, ela lembra os seis dias da
criação e a união do espírito e da matéria e o desejo de
115 receber unido ao desejo de compartilhar. O método
analógico é um grande recurso para o simbólico, sobretudo
se o apoiamos na lei da similaridade.
• Símbolos e Psicologia
Cada um de nós sabe, por tê-lo experimentado um dia, que os
sonhos são oceanos de símbolos que encerram parcelas de nosso
interior. O ser contemplativo experimenta regularmente a emersão de
imagens simbólicas, saídas do fundo de seu espírito. Os cabalistas
sabem como as forças ocultas reagem face aos símbolos.
A formação do símbolo não está sistematicamente codificada, o
ser humano cria símbolos instintivamente. Ademais, mesmo que um
símbolo tenha um valor convencional, é incontestável que esta
significação se matizará em função da experiência individual.
Devemos acrescentar que os sentidos humanos limitam a
percepção e modificam o acesso ao símbolo. Para a Cabalá, o ser
humano é escravo de seus sentidos, e somente quando estes sentidos
se curvam a percepção espiritual da realidade é que se pode romper
com os grilhões da alma e assim, será possível ver os símbolos internos
e externos.
A percepção que o ser humano possui do mundo a sua volta, é
inevitavelmente decodificada por nossas impressões inconscientes, pois
os sentidos invertem, incessantemente, o plano da realidade em plano
116 simbólico e por sua vez, espiritual. Assim, o símbolo é um explorador
empírico do que está no plano de fundo da consciência individual e
coletiva. É um procedimento de concretização da espiritual idade supra-
sensível.
A forma é então indissociável do espírito, ela é a expressão a
desenvolver segundo a sensibilidade e a projeção daquele que a
observa, discerne suas múltiplas aparências e completa sua síntese.
Assim, o que vemos é então o resultado final da leitura de nosso próprio
inconsciente e seus inúmeros símbolos, bem como a maturidade como
nos relacionamos com esses mesmos símbolos. Se nos tornamos
reativos aos eventos externos, isso significa pura e simplesmente uma
falta de equilíbrio na nossa relação emocional com os símbolos que
esses eventos remetem ao nosso inconsciente.
Para o cabalista, transformar a realidade física a sua volta em
letras-símbolos, seria um meio inteligente de se deparar com a
experiência inevitável do simbólico em seu estado primário e ainda não
afetado pelas impressões passionais da mente. A letra seria, desta
forma a "síntese" dos eventos à nossa volta.
O termo "síntese" é bem importante, mas se quisermos ser ainda
mais precisos "símbolo-semente" é o mais correto. Nossa civilização já
pratica este poder de síntese através da utilização da linguagem, basta
olhar a nossa volta a incrível quantidade de abreviações utilizadas:
ONU, ADN, USA, WWW e outros.
117
O uso sintetizado simboliza em algumas letras uma grande
atividade, uma ideologia, uma população, uma razão social. Seria, por
assim dizer, uma prática moderna da NOTARlA dos cabalistas.
Não é possível falar de psicologia do símbolo sem citar C.G.Jung
que não hesitou em estudar a simbologia para melhor compreender o
inconsciente. Assim ele definiu o símbolo em seu livro “O homem e seus
símbolos”:
"O que chamamos símbolo é um termo, um nome ou
uma imagem que, mesmo quando nos são familiares
na vida quotidiana, possui implicações que, entretanto,
se acrescentam a seu significado convencional e
evidente. O símbolo implica algo de vago, de
desconhecido ou de misterioso para nós. Então, uma
palavra ou uma imagem são simbólicos quando
implicam algo a mais que seu sentido evidente e
imediato. Tal palavra ou imagem tem um aspecto
inconsciente mais vasto que nunca é definido com
precisão, nem plenamente explicado. Quando o
espírito empreende a exploração de um símbolo, ele é
levado a idéias que se situam além do que nossa
razão pode captar. Pelo fato de inúmeras coisas se
situarem para além dos limites do entendimento
118 humano nós utilizamos constantemente termos
simbólicos para representar conceitos que não
podemos definir, nem compreender totalmente. Essa é
uma das razões pelas quais as religiões usam uma
linguagem simbólica e se exprimem por imagens. Mas
o uso consciente que fazemos dos símbolos é
somente um aspecto de um fato psicológico de grande
importância: porque o homem cria símbolos de forma
inconsciente e espontânea." (JUNG)
De geração em geração aproveitamos a herança simbólica sem
nunca diminuir seu patrimônio. Os símbolos vivem em nossa mente e
formam sistemas conceituais e emocionais regidos por uma vitalidade
formadora. Na alma, eles são como modelos ordenados e ordenadores.
O simbolismo é o fio de Ariadne propondo sair do labirinto das
inquietações formadas pelo subconsciente. Ele sinaliza ao espírito uma
noção associada à forma, por meio de analogias naturais ou por
relações convencionais simples.
O símbolo possui um significado cuja decriptação se abre sobre
conteúdos psicológicos inconscientes. Pelo simbolismo o inconsciente
irrompe no consciente e produz fissuras no sistema de censura. Por isso
o simbolismo do sonho é um elemento capital da psicanálise moderna,
pois é o dialeto que dá a cada um a capacidade de descer as suas
próprias profundezas.
A interpretação simbólica é antiga, maquinal e premonitória, a
princípio a mesma para cada um. O indivíduo se nutre inconsciente e
continuamente, com a ajuda do símbolo, nas zonas de sombra de seu
119 ser. É por isso que, na opinião de Rav Abulafia, essa linguagem
simbólica não pertence à lógica.
Assim Rav Abulafia afirmava que a experiência com as letras
hebraicas deveria ser uma pulsão vital, um reconhecimento instintivo, é
uma experiência do sujeito total, que nasce de seu próprio drama pelo
jogo imperceptível e complexo dos inúmeros elos que tecem seu
inconsciente, ao mesmo tempo em que o do universo a que pertence e
do qual ele retira a matéria de todos os seus (re)conhecimentos.
As figuras abstratas ou concretas resultantes do sonho ou da
contemplação mística são indiferentemente inconscientes e não
lineares, devemos encontrar entre elas os produtos de nosso próprio
espírito.
Desta forma a Cabalá explica uma das grandes questões sobre a
utilização das letras-símbolo. Se, é necessário a compreensão do
hebraico corrente (como linguagem cognitiva) para se utilizar as
ferramentas contemplativas da Tradição. A resposta de Rav Abulafia,
seria um veemente não, pois o que importa na relação entre o homem e
o símbolo não passa (de início) pelo território cognitivo, mais ao
contrário, pertence a uma dimensão onde apenas a alma é capaz de
entender.
3.3 – Ética
120
O cabalista deve manter a guarda constante sobre as
ações de sua vida. (Rav Mario Meir)
Conforme os ensinamentos de Rav Mario Meir: O que é ética? É a
estrutura de valores que guia as pessoas no processo de tomada de
decisões quando encontram um dilema sobre como lidar com seus
desafios cotidianos.
Pode perecer bastante assustador. Mas, assim como outros
tzadickim, Rav Avraham Abulafia, tinha como base de sua postura
cotidiana, tornar o comportamento ético bastante natural.
Crie o ambiente para atitudes éticas.
Para os cabalistas, a ética é uma questão de equilíbrio. A
mensagem essencial dos sábios para seus chaverim era: equilibre os
desejos naturais dos indivíduos e os imperativos da ação
organizacional. O dever do líder é construir incentivos organizacionais,
controles disciplina, reconhecimento e hierarquia ao redor dos quatro
conceitos abulafianos fundamentais de organização: estabilidade e
coesão, obediência e humildade, igualdade fundamental e respeito, e
flexibilidade e inovação.
O modelo abulafiano para a construção de um comportamento
organizacional ético pode ser resumido em dez pontos de ação.
121
Dez passos em direção a uma organização baseada na ética:
• Em primeiro lugar, os valores éticos da organização são
sempre deixados bem claros, basicamente dentro do corpo
de afirmações de missão e visão, assim como em todos os
documentos de apoio.
• Em segundo lugar, essas afirmações de valor ético devem
ser muito bem pensadas e limitadas em número. Esses
valores não são afirmações políticas, mas sim os
verdadeiros e inflexíveis princípios éticos da organização, e
um código ao qual todos na organização devem aderir. Os
sábios cabalistas afirmavam que organizações bem
estruturadas necessitam de valores básicos bem
estruturados, que não se alterem com o passar do tempo.
Mas Rav Abulafia também acreditava categoricamente na
brevidade da comunicação clara. Se uma organização não
for regular em suas afirmações de valores, ficará cada vez
mais confusa.
• Em terceiro lugar, é necessário haver uma explicação clara
e de fácil compreensão em relação ao porquê da
importância destes valores para o grupo. O estilo de
liderança abulafiano prega que os subordinados são
membros racionais e compreensivos da organização. A
decisão de um subordinado de obedecer um conjunto de
122 regras deve ser uma escolha racional. O trabalho das
lideranças é fazer com que essas escolhas sejam fáceis de
serem compreendidas.
• Em quarto lugar, os membros de um grupo, tanto os mais
novos quanto os mais velhos, dos membros de menor poder
até o líder, devem ser lembrados, regularmente e
formalmente, dos valores éticos. Eles têm de ser valores
“explícitos”.
• Em quinto lugar, os valores éticos são uma parte integral da
seleção e do treinamento. Os membros da organização
naturalmente têm uma variedade de preferências pessoais e
prioridades, mas uma seleção e um processo de formação
feito de modo apropriado que incorporam cuidadosamente
os valores éticos da organização ajudarão a eliminar uma
possível confusão no futuro.
• Em sexto lugar, os líderes devem dar os maiores exemplos
de comportamento ético. Para os sábios, simplesmente não
há exceções para essas responsabilidades. O
comportamento moral e as expectativas éticas são melhores
comunicados pelo comportamento exemplar do que por
decretos da liderança.
• Em sétimo lugar, deve haver uma igualdade imutável na
ênfase às regras éticas e aos critérios morais. O tempo de
123 permanência em um cargo não dá direito a diferenças de
expectativas ou de sanções. Os sábios são bastante claros
em relação a isso, na verdade, esse senso de igualdade é
um dos pontos principais da longevidade dos círculos e das
organizações.
• Em oitavo lugar, sempre deve existir um mecanismo de
reforço do comprimento das regras, claramente
compreendido por todos. As sanções devem ser distribuídas
em incrementos e devem ser apropriadas à infração.
Infrações severas devem ser punidas com severidade;
violações menos severas exigem medidas menos vigorosas.
Não se deve castigar ninguém para servir de exemplo: isto
implica em uma punição desigual, ao invés de uma medida
corretiva.
• Em nono lugar, o líder deve projetar a organização para que
o benefício da associação na comunidade e na organização
pese mais do que o custo da violação das regras. Para os
sábios, a estabilidade organizacional, um senso de coesão
e um objetivo em comum bem compreendido são sempre
mais eficazes no incentivo ao comportamento ético do que
as ameaças de punição.
• E em décimo lugar, ao mesmo tempo em que a compaixão e
a oferta de uma segunda chance dentro da organização são
importantes elementos do modelo de liderança abulafiano, a
prioridade é a sobrevivência da organização e o bem da
124 comunidade. Um problema que atinge grandes proporções
deve ser cirurgicamente removido (sem grandes alardes),
uma vez que o processo de disciplina indicado tenha sido
esgotado.
3.4 – Os Grandes Pensadores Pedagógicos
Explicaremos a interseção (alguns exemplos) da base da
Educação Contemplativa – a Cabalá Contemplativa - com os grandes
pensadores pedagógicos.
• Sócrates (469 a.E.C – 399 a.E.C)
Filósofo, grego, fundador da filosofia oriental.
Acreditava que o processo de aprendizado era interno, na
existência da alma e que a educação deveria preparar o ser humano
para o caminho da virtude a busca da sabedoria.
"(...) Na verdade, não é outra coisa o que faço nestas
minhas andanças a não ser persuadir a vós, jovens e
velhos, de que não deveis cuidar só do corpo, nem
exclusivamente das riquezas, e nem de qualquer outra
coisa antes e mais fortemente que da alma, de modo que
ela se aperfeiçoe sempre, pois não é do acúmulo de
125 riquezas que nasce a virtude, mas do aperfeiçoamento da
alma é que nascem as riquezas e tudo o que mais importa
ao homem (...)." (SÓCRATES, www.wikipedia.org)
A Cabalá acredita na existência da alma e acredita que a
transformação deve estar vinculada a nossa consciência, ao
desenvolvimento de valores e virtudes. A bagagem Espiritual é o que
carregamos e as coisas do mundo físico são temporárias.
• Platão (427 a.E.C. – 347 a.E.C)
Filósofo grego, discípulo de Sócrates.
Sua corrente filosófica é o Idealismo, que reduz toda a existência
a idéias ou considera que toda a existência se determina pela
consciência humana ou pelo “espírito”. Acredita que a subjetividade é
fundamental.
O indivíduo se voltava para si , seu interior e suas vontades, o
que para a Cabalá temos que ter um cuidado em relação ao que
chamamos de YESH (algo).
O YESH, é uma expressão que designa o ego controlado ou
controlador. É o algo que nos tornamos, perdido e limitado a nossa auto-
imagem ilusória, o qual acreditamos que realmente somos assim.
O estado de ANI, se contrapõe ao YESH. ANI (Ser) é o ser real,
com possibilidades reais e sem as limitações plantadas pelo “ego”.
126
“ANI” é o ser real, cumprindo o propósito de D’us para
a vida dele. Ou como diria Rav Benari, “seguindo o
sonho de D’us para ele”. O “YESH” é por sua vez o
conceito que se contrapõe ao “ANI”, ele (o YESH) é o
“algo” alheio ao nosso propósito real, a que
dedicamos muita energia e sofrimento e por isso
torna-se o caminho mais acertado para o inferno, ou
seja, a ignorância. (Rav Mario Meir)
• Aristóteles (384 a.E.C. – 332 a.E.C.)
Filósofo grego, discípulo de Sócrates.
Sua corrente filosófica é o Realismo, que afirma a existência da
realidade independentemente do conhecimento que sobre ela se pode
ter, tem a atenção voltada para as coisas.
Aqui a Cabalá Contemplativa também nos aponta o perigo de
enxergarmos apenas o externo, o outro e esquecermos de nossa
autocrítica que é fundamental.
Para a Cabalá Contemplativa só conseguimos transformar o
mundo a nossa volta, quando transformamos a nós mesmos. Isto está
relacionado a causa e o efeito das coisas, pois para qualquer atitude,
palavra ou ação, recebemos uma resposta. E o que nos confunde
muitas vezes é que esta resposta é quase nunca imediata, nos
confundindo o tempo todo. Temos que ter em mente que um simples
127 ato de reatividade - às vezes quando recebemos uma fechada no
trânsito por exemplo, pode ser o que faltava para desencadear uma
guerra em um país totalmente distante, meses depois.
• Santo Agostinho (354 - 430)
Teólogo, filósofo e bispo católico; nasceu e morreu na Argélia.
Está ligado ao idealismo, a filosofia escolástica, ao
neoplatonismo.
Acredita em uma subordinação maior da razão em relação à fé.
Para ele a fé restaura a condição decaída da razão humana.
Considerava que D’us existe fora do tempo, pois para ele o tempo só
existia no universo criado. A Bíblia era sua cartilha.
Na Cabalá Contemplativa as Verdades Espirituais estão acima de
tudo e a emuná (certeza espiritual) é a base que tudo. Não só tempo,
como também o espaço e o movimento, são “ilusões” que existem
somente nesta dimensão do mundo físico. Como já mencionamos no
capítulo 2, a Torah, é a representação de todos os conhecimentos e
ensinamentos para a humanidade.
• São Tomás de Aquino (1224 - 1274)
128 Frade dominicano e teólogo.
Está ligado ao realismo e é criador do tomismo (sua escola de
pensamento).
Acredita que a fé pode ser respaldada pela razão. Para ele, por
meio da razão, atingimos o conhecimento, a felicidade e as virtudes. A
teologia e a filosofia, não se opõem, não existindo contradição entre a fé
e a razão, pois ambas tratam da verdade, mas se existir esta
contradição, a teologia é a que se mantém.
Assim como a Cabalá Contemplativa, afirma que o mal é a
privação ou ausência do bem. E como nos ensina Rav Mario Meir: “É
preciso ter tempo para articular o bem, ter um tempo para o bem. Só
fazer o bem não basta. O bem é covarde e se contenta em si mesmo.”
• Martinho Lutero (1483 - 1546)
Teólogo alemão.
Está ligado ao idealismo e da sua Reforma feita com o rompimento
com a Igreja Católica originou o protestantismo.
O protestantismo tem a Bíblia como base e aponta a importância
da alfabetização, defendendo a formação de uma humanidade mais
culta.
A Cabalá contemplativa, também nos mostra a base do estudo e
conhecimento direcionado pelos ensinamentos da Torah e a importância
e mitzvah de se estudar a Torah.
129
• Francis Bacon (1561 - 1626)
Filósofo inglês.
Está ligado ao realismo e ao empirismo que é a doutrina que se
baseia apenas na experiência como fonte de conhecimento.
Para a Cabalá Contemplativa a prática é extremamente
importante, não podemos deixar de dar importância ao conhecimento
teórico como seu fundamento. Mas a prática é o que nos faz aplicar em
nossa vida, no dia a dia, tudo o que aprendemos.
• Comênio (1592 - 1670)
Filósofo tcheco.
Está ligado ao idealismo e foi o pai da didática moderna.
Assim como a Cabalá Contemplativa defende que os
ensinamentos devem ser de “tudo para todos”. E que devemos
considerar: os sentimentos, os interesses, a inteligência, e as
possibilidades da criança.
Acreditava na “salvação da alma” aqui no mundo físico, o que para
a Cabalá Contemplativa é o conceito de ticun, não como um processo
130 punitivo, mas sim um aprimoramento necessário para a nossa evolução,
e que só conseguimos trabalhar quando nossa alma está “encarnada”.
Alguns de seus preceitos:
� O homem deve aprender para ensinar, o que na Cabalá
Contemplativa é fundamental para desenvolvermos o desejo de
receber para compartilhar e é uma das 48 qualidades da
Educação Contemplativa (a de número 44).
� O que aprendemos, devemos ensinar a sua aplicação prática, o
que na Cabalá Contemplativa é ligar a teoria à prática e é uma
das 48 qualidades da Educação Contemplativa (a de número
45).
� Devemos ensinar de forma direta e clara, o que na Cabalá
Contemplativa é fundamental para a compreensão e é uma das
48 qualidades da Educação Contemplativa (a de número 3).
� Ensinar a verdadeira natureza das coisas e partirmos de sua
causa, o que na Cabalá Contemplativa a sua base são as
verdades espirituais, onde a causa de tudo é a Luz Espiritual
e, quando as coisas não têm como causa a Luz Espiritual,
devemos investigar a causa daquilo e modificarmos sua
semente, para uma semente de Luz. E buscava uma harmonia
universal, de unificação da totalidade do conhecimento
humano, que é a compreensão de uma consciência coletiva
(chamada de consciência de Mashiach), de unicidade, que
encontramos dentro da Cabalá Contemplativa.
Ele também compartilha da mesma fonte da Cabalá
Contemplativa, quando acredita que devemos começar a formar o ser
131 humano desde muito cedo, afirmando que “não se deve passar a vida a
aprender, mas a fazer”.
• René Descartes (1596 - 1650)
Filósofo tcheco.
Está ligado ao idealismo.
Os pontos de sua teoria que se interligam com a Cabalá
Contemplativa são:
� Acredita na existência de D’us que é: infinito, imutável,
independente, onisciente, criador.
� Existe uma luz interior dada por D’us, que dá confiança e
certeza, que são níveis de alma que possuímos.
� Supõe que não existe mundo. Mas a sua alma existe, e ela é
puro pensamento. Aqui podemos correlacionar com a auto-
imagem residual, que é a imagem que criamos do mundo
através de nossa consciência robótica.
� Na teoria mecanicista de Descartes, o corpo é uma máquina e
deve entregar o controle das ações para alma.
132 • John Locke (1632 - 1704)
Filósofo inglês.
Está ligado ao realismo, idealizou o Liberalismo e era racionalista,
mas acreditava na revelação divina.
Assim como Descartes, a certeza que D’us existe é mais absoluta
que as impressões dos sentidos.
• J.J.Rousseau (1712 - 1778)
Filósofo suíço.
Está ligado ao idealismo.
Seus pontos de interligação com a Cabalá Contemplativa são:
� Acredita que o ser humano por natureza é bom, mas que a
sociedade pode o influenciar negativamente. Na Cabalá,
aprendemos que temos a natureza de nosso Criador que é o
desejo de compartilhar, mas o que diferencia em certo ponto
este pensamento, é que não só as coisas externas, como
nossos desejos egoístas de receber para si mesmo, podem nos
corromper. Devemos ter o desejo de receber para
compartilhar, segundo a Cabalá Contemplativa.
133 � Respeito ao desenvolvimento físico e também cognitivo da
criança, o sentimento e a afetividade. Pois cada um tem o seu
“tempo” e sabemos que cada criança tem um potencial
diferente e é um ser humano único, potencial e especial, temos
que ajudá-la a se tornar uma pessoa melhor para si, para o
outro, para o universo.
� Quando afirma que: “A instrução das crianças é um ofício em
que é necessário saber perder tempo, a fim de ganhá-lo”,
reforça a importância do início na Educação Infantil de acordo
com a metodologia da Educação Contemplativa.
• Immanuel Kant (1724 - 1804)
Filósofo prussiano.
Está ligado ao idealismo.
Seus pontos de interligação com a Cabalá Contemplativa são:
� Sua filosofia moral, fala da seguinte obrigação que devemos
ter: "Age de tal modo que a máxima da tua ação se possa
tornar princípio de uma legislação universal" Que nos remete à
obrigação do desenvolvimento dos valores e virtudes, moral e
ética, da Cabalá Contemplativa, para sermos um
“representante oficial” de suas ações, palavras e conduta de
vida.
134 � Afirma que o tempo e o espaço nos são necessários para
percebermos tudo a nossa volta como fragmentos. Para a
Cabalá Contemplativa tempo e espaço, também só existem
nesta dimensão física, para percebermos as coisas, que nada
mais são que os fragmentos do Receptor Inicial criado pela
Luz do Mundo Infinito.
• Condorcet (1743 - 1794)
Cientista político e matemático francês.
Está ligado ao realismo.
Associou a ignorância ao vício e o conhecimento à virtude, onde o
homem deve se aperfeiçoar infinitamente; que para a Cabalá
Contemplativa é amplamente enfatizada a importância do conhecimento
para se sair da ignorância e adquirirmos virtudes e valores, a fim de
buscarmos a sabedoria, de forma continuada, permanente e refinada.
• Johann Heinrich Pestalozzi (1746 - 1827)
Educador suíço.
Está ligado ao idealismo.
135 Seus pontos de interligação com a Cabalá Contemplativa são
muitos:
� Incorporar o afeto - os sentimentos, como poder de despertar a
aprendizagem da criança; o que corrobora a importância desta
afetividade, na Educação Contemplativa, dentro da vida de
uma criança, até mesmo em sua concepção.
� “A vida educa. Mas a vida que educa não é uma questão de
palavras, e sim de ação. É atividade." Nos mostra a
importância da prática diante da teoria e mais a fundo o “Faça
o que eu digo e não o que eu faço” também não era parte de
sua metodologia.
� A importância do amor materno, da mãe como base, ele chega
a dizer que ela é quem passa para a criança a sensação da
“Providência Divina”.
� O amor como base da educação como cita a escritora Dora
Incontri (Nova escola, Grandes Pensadores: pg. 19, Pestalozzi,
Educação e Ética, pág. 184): “Segundo ele, o amor deflagra o
processo de auto-educação”.
� A escola como extensão do lar da criança, assim como já é
uma Yeshivá. A Congregação deve ser a família espiritual de
um cabalista. Assim como o Rav é o Pai e a Rebtzin a mãe.
� Afirma que o desenvolvimento da criança ocorre de dentro para
fora (do ser humano em si), e que deve ser respeitado os
estágios de desenvolvimentos da criança.
� Enxergava o ser humano e a caridade como manifestação de
D’us. O que para a Cabalá contemplativa é totalmente
136 explicado pelo desejo de compartilhar que possui um ato de
doação, caridade, ajuda e amor ao próximo. “Salvar ao outro e
salvar a si mesmo” segundo Rav Mario Meir.
� Resumiu que o método de estudo poderia ser reduzido a três
elementos: som, forma e número. Comparando com a Cabalá
Contemplativa que tem sua base na contemplação, que vem do
método da meditação, podemos resumir desta mesma forma:
som que chamamos de mivtá; forma que seria o desenho de
uma letra hebraica em si, exemplo aleph (`) ; e número que por
exemplo na letra aleph, é igual a 1.
� Dizia: “A natureza melhor da criança deve ser encorajada o
mais cedo possível a combater a força prepotente do instinto
animal”. Aqui reside o que a Educação Contemplativa cita
sobre a questão de domínio de nossa má inclinação.
� A criança deve aprender fazendo. O que seria incorporar a
teoria e a prática.
� Sempre dizia que a semente traz em si o “projeto” da árvore
toda. O que é um dos fundamentos da Cabalá Contemplativa
não só como afirmação, mas também com a possibilidade de
transformação está na semente. Onde para modificar o
resultado, o efeito, temos que alterar e modificar a origem, que
é a causa, a semente das coisas.
Este saber, em verdade, é simplesmente a dos
princípios absolutos, a cosmogonia. Daí advém uma
escrita figurativa que não busca reproduzir os
caracteres próprios de um objeto, mas, ao invés disso,
fazer aparecer uma atitude relacionada a certos tipos
137 de ações ou de ligações. Essa escrita nos faz
descobrir a verdade sutil que se esconde nas
profundezas de nossa consciência e transporta esta
última a um outro nível. O que nos diz o simbolismo é
que o homem pode fazer para interferir além da
barreira física. E é cada vez mais fácil perceber o
quanto o campo sutil das energias interfere na
realidade material. A ciência reconhece, agora, que a
lua influi sobre as marés e sobre os movimentos
sensíveis internos. A ciência está percebendo que os
fenômenos astronômicos têm conseqüências sobre a
Terra. O simbolismo quer nos mostrar algo de mais
sutil, ou seja, que o homem pode interferir diretamente
no Mundo Espiritual, interferir no estado "semente"
(original) de todas as coisas, tanto em seu
microcosmo quanto em seu macrocosmo: e isto por
intermédio de tênues sinais da consciência que os
símbolos tentam revelar ao homem. As letras do
alfabeto hebraico são forças perfeitas para
concretizarmos tudo isto. (Rav Mario Meir, Apostila de
Cabalá Contemplativa III)
• Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770 - 1831)
Filósofo alemão.
Está ligado ao idealismo.
138 Quando afirma que: “que o verdadeiro seja efetivamente real
unicamente como sistema ou que a substância seja essencialmente
sujeito expressa-se na representação que enuncia o absoluto como
espírito, o conceito mais sublime de todos, que pertence aos tempos
modernos. Só o espiritual é real”, nos mostra que assim como a Cabalá
Contemplativa, o mundo real é o que chamamos de consciencial (livre
de nossa percepção robótica), e não o mundo residual que enxergamos
fechados dentro de nossa realidade criada por nossos sentidos
limitados.
• J.F.Herbart (1776 - 1841)
Filósofo alemão.
Está ligado ao idealismo.
A sua pedagogia, tem como objetivo maior a formação moral do
estudante, assim como a Cabalá Contemplativa.
Também observamos que os três procedimentos que constituem a
ação pedagógica de seu método de instrução, são parte da Educação
Contemplativa. O primeiro que os pais e os professores devem ter o
controle sobre as crianças a partir de um conjunto de regras, que seria à
relação Mestre-discípulo; o segundo a disciplina que são as regras e
preservação do caminho de valores e virtudes para a base da formação
do caráter; e o terceiro é a própria instrução educativa que seria o
conteúdo, o conhecimento em si.
139 Quando falamos de suas 5 etapas para ensinar: preparação,
apresentação ou demonstração de conteúdo, associação, formulação e
aplicação; explicamos pela Cabalá Contemplativa da seguinte forma:
� Preparação – preparar o nosso “receptor”, a nós mesmos,
através do controle de nossa inclinação negativa, nossos atos
e atitudes, para estarmos aptos para o recebimento de algo;
� Apresentação ou demonstração de conteúdo – é quando
começamos a receber algum ensinamento;
� Associação – é quando começamos a acumular o saber, os
ensinamentos;
� Formulação – é o próprio entendimento, para saber o como a
aplicar estes ensinamentos;
� Aplicação – é aplicação prática de tudo o que se aprendeu, de
forma objetiva, clara e precisa. É o compartilhar.
• Auguste Comte (1798 - 1857)
Filósofo francês e pai da Sociologia.
Está ligado ao realismo e filosofia do positivismo.
O conhecimento positivo tem como fundamento "ver para prever, a
fim de prover" - ou seja: conhecer a realidade para saber o que
acontecerá a partir de nossas ações, para que o ser humano possa
140 melhorar sua realidade. A Cabalá Contemplativa nos ensina que
devemos sempre buscar a verdade e a saber o que estamos plantando
com as sementes de nossas ações para termos somente bons frutos em
nossa existência.
• Émile Durkheim (1858 - 1917)
Sociólogo francês.
Está ligado ao realismo e foi o criador da Sociologia da Educação.
Assim como é fundamental a Halakhah dentro da Cabalá
contemplativa, que seria o “modo caminhante”, a organização de sua
comunidade, Durkheim também acreditava na importância da associação
de normas e princípios no processo de educação, para a formação da
sociedade.
Ele também acredita na relação entre o Mestre e discípulo quando
afirma que: “A criança deve exercitar-se a reconhecer [a autoridade] na
palavra do educador e a submeter-se ao seu ascendente; é por meio
dessa condição que saberá, mais tarde, encontrá-la na sua consciência
e aí se conformar a ela.”
• John Dewey (1859 - 1952)
141 Filósofo e pedagogo norte-americano.
Está ligado ao idealismo.
Seus pontos de interligação com a Cabalá Contemplativa são
muitos:
� A importância da prática.
� Objetivo de educar a criança como um todo, se importando com
o seu crescimento: físico, emocional e intelectual.
� A educação direcionada no desenvolvimento da capacidade de
raciocínio e espírito crítico do aluno. Dado o exemplo na
Torah, que quando D’us aparece em seu texto, é sempre na
forma de uma pergunta, um questionamento.
� Estimulava a cooperação, ou seja, o desejo de receber para
compartilhar.
� A importância do entusiasmo, como na Educação
Contemplativa. Afirmava: “o professor que desperta entusiasmo
em seus alunos conseguiu algo que nenhuma soma de métodos
sistematizados, por mais concretos que sejam, pode obter”;
� “A meta da vida não é a perfeição, mas o eterno processo de
aperfeiçoamento, amadurecimento, refinamento”; o que
aprendemos na Cabalá Contemplativa como os dois pilares do
crescimento Netzach e Hod: refinamento e permanência.
• Maria Montessori (1870 - 1952)
142
Pedagoga, médica, psicóloga e antropóloga italiana.
Está ligada ao idealismo e é criadora do método Montessori.
Seus pontos de interligação de seu método com a Cabalá
Contemplativa são muitos:
� Trabalha com o equilíbrio e a integração entre: as forças
corporais e espirituais, corpo, inteligência e vontade (na cabalá
chamamos de desejo).
� Trabalha com materiais próprios para o desenvolvimento da
criança. O que também temos na Educação Contemplativa,
como letras hebraicas, símbolos, etc.
� A criança desenvolve a liberdade de escolhas, conduzindo seu
aprendizado e o Educador o acompanha “de fora”, nunca o
abandonando, mas verificando e estimulando seu potencial.
Na Cabalá Contemplativa, este foi o processo da criação do
Receptor (todos nós).
Esse ato de recusar a Luz disparou o Big Bang, origem do nosso
universo. Como um pai amoroso que se afasta para permitir que a
criança caia para que ela aprenda a caminhar sozinha, a Luz afastou
Seu brilho e criou um espaço vago, mas nesse instante o Receptor
desejou gerar um pouco de Luz por si mesmo.
143 Da mesma forma que um pai amoroso se afasta para permitir ao
filho ter liberdade para aprender sobre os negócios da família para que
ele possa, eventualmente, assumir o comando com um senso de
realização, a Luz deu ao Receptor o espaço para que ele pudesse
aprender a desenvolver sua inata natureza divina de compartilhar.
Neste momento, o único Receptor Infinito então se
estilhaçou em infinitos pedaços de todos os tamanhos
e graus. Toda a matéria em nosso universo - de
átomos a animais, de micróbios a pessoas - é uma
parte do receptor original. Cada um representa um
diferente nível de desejo de receber. (Rav Mario Meir,
Apostila de Yichud, Aprendendo a remover a
programação negativa da alma)
� O espírito de cooperação, sem deixar de lado a individualidade.
Que é o desejo de receber para compartilhar e o amor ao próximo.
� Acredita que o potencial de aprendizado está latente dentro de
cada um de nós, basta desenvolvermos condições para
desenvolvê-lo e estimulá-lo.
� Acredita que estímulos externos formam também o espírito da
criança. Por isso a importância do desenvolvimento e
responsabilidade do Educador ser fundamental na Educação
Contemplativa.
144 � Estimula a alegria, por ser de forma espontânea.
� A criança aprende na prática.
� Trabalha muito com: disciplina, quietude, concentração,
organização (inclusive de idéias) e atitude.
� A partir da escolha ou pratica errada, a criação tem consciência
de seu erro e estimulado a corrigi-lo fazendo e aprendendo da
forma correta.
� Atenção ao período da Educação Infantil.
� Valoriza o educando, o trabalhando individualmente de acordo
com suas necessidades e seu ritmo, o estimulando ao
crescimento; não se preocupando apenas com seu
desenvolvimento intelectual, mas também emocional, espiritual –
educa para a vida.
� Sua metodologia se preocupava com o desenvolvimento dos
aspectos: espiritual, menta e físico. E seu pilar é focado no
exercício da escolha.
� O “Jogo do Silêncio” em sua metodologia, exerce uma grande
importância por ser um exercício meditativo de autocontrole e
disciplina e concentração, assim como a Meditação Cabalista para
a metodologia da Educação Contemplativa.
� Acredita que o Mestre deve ser a referência e o exemplo para o
educando. Dizia: “devemos ser educados se quisermos educar”.
145 Um ponto muito importante que Montessori colocava para o
caminho do intelecto, era o uso das mãos, que para a Cabalá
Contemplativa é uma parte extremamente importante, inclusive para a
cura. Em cada mão temos 14 falanges, nas duas mãos temos 28
falanges, e o número 28 corresponde a palavra COACH, que significa
força espiritual; uma força oculta, um potencial interno que é capaz de
modificar tudo a nossa volta, até coisas que não são aparentes.
Para os cabalistas, o estado de suprema liberdade se
constitui através da tomada de consciência da
NESHAMÁ (Alma Consciencial). O conceito de
liberdade está diretamente associado ao livre arbítrio
(ou arbítrio o livre) para melhor conduzir suas mão.
As mãos por sua vez representam o COACH (força)
espiritual que nos permite transformar tudo a nossa
volta. O pleno desenvolvimento e despertar desse
COACH é o que nos leva ao estado de Livre Arbítrio
(liberdade). (Rav Mario Meir, Behar, Aula de Tamei
Torah)
• Ovide Decroly (1871 - 1932)
Médico e educador belga.
Está ligado ao idealismo.
Seus pontos de interligação com a Cabalá Contemplativa são:
146
� A importância da prática.
� “Aprender a aprender”, ou seja, o desenvolvimento do foco no
conhecimento e ensinamento, para um aprendizado verdadeiro
e disciplinado. Tendo como base o que chamamos de
globalização de conhecimentos, que é tratar o saber como um
só. O que podemos dizer que é uma explicação para Cabalá -
Sabedoria Espiritual.
� Organizar o mundo com uma visão do todo indo do caos à
ordem. Para a Cabalá Contemplativa devemos sair do Mundo
de Tohu (mundo do caos, onde há a dor, as adversidades,
medos, perplexidades, fobias, doenças, sofrimentos e guerras),
passar pelo Mundo de Bohu (mundo do esvaziamento, onde
nos permitimos ser preenchido pela sabedoria espiritual, onde
procuramos por uma educação espiritual) e nos permitir ficar e
trabalhar no Mundo de Ticun (mundo da correção, onde existe
o padrão de correção, o refinamento, a permanência e a busca
do equilíbrio do desejo de receber para compartilhar).
� O foco final de seu método e a expressão no sentido de
externar e compartilhar o que aprendeu.
� Desenvolver o processo criativo de cada um. Dizia : “Convém
que o trabalho das crianças não seja uma simples cópia; é
necessário que seja realmente a expressão de seu
pensamento”.
� Trabalhava com os estímulos e citava a grande importância por
escolhas.
147
• Édouard Claparède (1873 - 1940)
Médico, psicólogo e cientista suíço.
Está ligado ao realismo e foi o mestre de Jean Piaget.
Seus pontos de interligação com a Cabalá Contemplativa são:
� Trabalhava no desenvolvimento de estimular na criança um
interesse pelo conhecimento. Incentivando a criança a sair da
estagnação ou do processo robótico.
� Defendia que a educação seria a base para a instrução.
� Acreditava que os educandos são diferentes, e devem ter uma
atenção diferenciada.
• Henri Wallon (1879 - 1962)
Médico, psicólogo e filósofo francês.
Está ligado ao realismo.
Seus pontos de interligação com a Cabalá Contemplativa são:
148 � Mostra que as crianças também têm corpo e emoções e que
não devemos separá-las destas emoções. Para a Cabalá
Contemplativa, esta separação é o grande problema existente
no mundo materialista de hoje, quando separamos o mundo
físico do mundo espiritual. Esta parte emocional na Cabalá
Contemplativa, é o nosso nível de alma chamado Ruach (alma
emocional), ocupa 60 % do que “conduz” nossa vida, está em
um nível abstrato. A parte corporal, é o nosso nível de alma
chamado Néfesh (alma animal), ocupa 10 % do que “conduz”
nossa vida, e é manifesta aqui no mundo físico. Quando
falamos na história da Torah sobre a árvore do conhecimento
do bem e do mal, estamos falando da separação entre o que é
físico e o que é espiritual e emocional.
� Sua base de construção do eu na criança é de ajudá-la a
descobrir o eu no outro. Aqui temos mais dois níveis de alma:
Chayá (Vivente) que é o vivenciar a si mesmo no outro e acima
de tudo unificada dentro da Luz do Mundo Infinito; e Yechidá
(Unidade) que é princípio da unicidade, de que nós somos uma
só consciência, é como se Or irradiasse de dentro de nós.
A Professora-Doutora Heloysa Dantas, cita no livro “Teorias
Psicogenéticas em Discussão” muitos pontos interligados com o
“conceito” da Cabalá Contemplativa.
Na Cabalá Contemplativa a partir dos 5 anos de idade - em média,
começamos a firmar os “pactos” de nosso futuro e o início da luta
interna entre nós e nosso ego - que não é algo externo, mas sim a luta
entre nossa inclinação positiva e nossa inclinação negativa. No texto de
Heloysa, isto é demonstrado de forma bem clara e precisa:
149
“A construção do Eu é um processo condenado ao
inacabamento: persistirá sempre, dentro de cada um,
o que Wallon chama de “fantasma do outro”, de sub-
eu (sous-moi). Controlado, domesticado
normalmente, o “outro” pode irromper nas patologias,
oferecendo o quadro das personalidades divididas.
(...) É este drama que ocupa dominantemente o
quarto, o quinto e sexto ano, numa sucessão de
manifestações...” (DANTAS, p. 95)
No capítulo 4 na inteligência (virtude) em CHOCHMÁ, citamos as
importâncias de: prevalecer a inteligência, e da auto-anulação de
nossas subjetividades; que também é citada por Heloysa (p. 95): “Esta
realização poderá então ser transposta para o plano da inteligência e
permitir a gradual superação do sincretismo do pensamento.”
Heloysa também fala do princípio da unicidade citado acima, e
ainda complementa que é muito frágil como a virtude da certeza que
para a Cabalá Contemplativa o objetivo a ser alcançado na unicidade e
luminosa por estar mais “próxima” do Eyn-Sof (p. 97): “A idéia da
construção da unicidade é luminosa; ela tem uma dimensão trágica,
entretanto, no seu destino de obra muito frágil e sempre inacabada.”
• Alexander Neill (1883 - 1973)
150 Educador, escritor e jornalista escocês.
Está ligado ao idealismo.
Seus pontos de interligação com a Cabalá Contemplativa são:
� Acredita na liberdade de escolha, o que para a Cabalá
Contemplativa como vimos anteriormente é essencial.
� Afirma que a escola deve se preocupar com o trabalhar o
emocional do aluno, mas sempre com a implantação de limites.
Aponta que a super-proteção dos pais impede o
desenvolvimento de equilíbrio da criança. Aqui podemos fazer
um paralelo entre o amor e a disciplina.
� Estimula que a criança aprenda aquilo que o faz ser feliz e que
desenvolve o seu potencial de criação. Diz: “Gostaria antes de
ver a escola produzir um varredor de ruas feliz do que um
erudito neurótico”. Aqui reside a questão de nosso propósito
de vida, aquilo que D’us espera que façamos e que nos
realizaremos por completo. E ensina que para quebrarmos os
padrões robóticos dentro de nossa existência, é feito o uso de
um “sentimento” muito importante para a Cabalá
Contemplativa, que é a alegria (simchat em hebraico), e que
nos ajuda a rompermos a realidade residual plantada em nós
pelo nosso YESH.
• Anton Makarenzo (1888 - 1939)
151 Educador ucraniano.
Está ligado ao realismo.
Seus pontos de interligação com a Cabalá Contemplativa são:
� Organizava a escola como coletividade, vida em grupo, tal qual
a importância da congregação na Cabalá Contemplativa. Os
interesses da comunidade eram relevantes e essenciais.
� Seu método é permeado pelo trabalho e pela valorização da
disciplina como um meio para o êxito.
� Seu foco era o desenvolvimento de pessoas conscientes de
seu papel no mundo, na sociedade, na humanidade e solidários
com o próximo.
� Estimula o desenvolvimento individual, para atingir o coletivo.
� Apontava a importância dos pais na formação da criança e as
qualidades e condutas que estes pais deveriam ter.
• Antonio Gramsci (1891 - 1937)
Filósofo italiano.
Está ligado ao realismo.
Seus pontos de interligação com a Cabalá Contemplativa são:
152 � A importância da Instituição de Ensino ter como o objetivo
também, a conquista da cidadania. Para a Cabalá
Contemplativa temos que penetrar no mundo para o
modificarmos. Somos parte de uma sociedade a qual somos
co-responsáveis.
� Dizia: “Todos os homens são intelectuais, mas nem todos os
homens desempenham na sociedade a função de intelectuais.”
Ou seja, somos derivados da mesma fonte, porém cada um tem
o seu propósito e a sua função dentro da nossa existência.
• Lev Semenovitch Vygotsky (1896 - 1934)
Psicólogo bielo-russo.
Está ligado ao realismo e foi a base do socioconstrutivismo.
A relação Mestre-discípulo é muito fundamentada por Vygotsky,
pois essa relação é fundamental para o desenvolvimento do indivíduo.
Em seu livro “A Formação Social da Mente” encontramos muitos
pontos interligados com o “conceito” da Cabalá Contemplativa.
Para o psicólogo, as funções intelectuais do adulto são pré-
formadas na criança, aguardando a oportunidade de serem despertadas,
manifestadas. Por isso a importância na Educação Contemplativa do
desenvolvimento de valores e virtudes para serem plantados ou mesmo
despertados desde muito cedo, para nos tornarmos a cada dia pessoas
153 melhores e mais conscientes de nossas missões. É a importância de
encontrarmos e de focar nossa vida em nosso propósito, o qual
encontramos quando conseguimos entender, encontrar e despertar
nossos talentos (vocação) que estão implantados no fundo de nossa
alma. E quando somos crianças e já temos uma educação já voltada
para o descobrir o melhor de nós mesmos, fica muito mais fácil o
encontrar essa vocação de forma natural em nossa vida.
Procure ser o que a Luz espera que você seja.
Procure ser o sonho da Luz para sua vida. O sonho
da Luz para sua vida se expressa a partir de uma
coisa que se chama VOCAÇÃO. Isso é uma coisa que
surge ao longo de uma história de uma vida. Perceba
ao longo da história de sua vida a sua vocação. O
próprio nome já diz, é uma voz que vem de dentro,
então essa voz que vem de dentro é a sua VOCAÇÃO.
Esse é o sonho da Luz para a sua vida. Isso é muito
mais importante do que o que você quer ser. E uma
vez que você siga o sonho da Luz para a sua vida,
você deve confiar e conceder a essa Luz a permissão
de entrar e aí as ferramentas espirituais servem para
isso, para que não haja obstáculo entre os projetos da
Luz para a sua vida e na sua vida em si. Em geral a
dor e conflito vem do que você quer ser, porque aí
entra o ego, a vontade, o desejo próprio, o si mesmo,
e todos os grandes conflitos que surgem na alma.
(Lag Ba Ômer 5767 – Papo Kadosh – Rav Mario Meir)
154 O seu conceito de mediação, que é quando “o indivíduo modifica
ativamente a situação estimuladora como uma parte do processo de
resposta a ela.” (pág, 18), pode ser equiparado ao conceito de “alterar a
semente” dos fundamentos da Cabalá Contemplativa. Quando
identificamos e modificamos uma semente plantada em nossa vida,
alteramos o resultado final. Na Educação Contemplativa essa
integração entre o Mestre (professor) e o discípulo (aluno), através da
troca de conhecimento é fundamental para o aprendizado e, a
identificação, alteração e plantio de “sementes”
Assim como o símbolo é parte fundamental na Cabalá
Contemplativa (vide texto acima 3.2 Psicologia – Símbolos e Psicologia),
ele tem a importância “com o objetivo de servir como estímulo adicional
que poderia dirigir e organizar o processo de escolha” (pág. 46).
A utilização de signos para as mudanças de comportamentos e
também como meios de nos auxiliar a solucionar questões e problemas.
Por isso a Cabalá Contemplativa é toda fundamentada na Meditação
Contemplativa que tem parte de sua base ligada a muitos signos.
O processo de internalização que o psicólogo define: “a
reconstrução interna de uma operação externa” (pág. 74), podemos
ilustrar pela Cabalá Contemplativa na Educação Contemplativa da
seguinte forma: (pág. 75)
� “Uma operação que inicialmente representa uma atividade
externa é reconstruída e começa a ocorrer internamente”. O
Mestre (professor) insere uma virtude dentro de um processo
de transmissão de conhecimento para o discípulo (aluno).
� “Um processo interpessoal é transformado num processo
intrapessoal”. O Mestre que é o exemplo vivo daquela virtude
155 e através da ligação com aquele discípulo, transfere como um
fio condutor aquela experiência para que o discípulo possa ser
“tocado” e transformado.
� “A transformação de um processo interpessoal num processo
intrapessoal é o resultado de uma longa série de eventos
ocorridos ao longo do desenvolvimento”. O discípulo a todo
momento vai sendo transformado e incorpora o que recebe de
seu Mestre, se modificando, se aperfeiçoando e refinando.
Toda sua teoria está formatada no indivíduo ter a dependência do
outro para a sua formação e construção enquanto ser humano. Na
Cabalá Contemplativa, o outro é uma extensão nossa, faz parte de
nosso ser e temos que ter em todo momento essa consciência desperta.
Aqui podemos até criar um paralelo com a Hospitalidade Aperfeiçoada.
Seu conceito de “zona de desenvolvimento proximal”, (Nova
Escola – Grandes Pensadores – pág. 60) como: “é o caminho entre o
que a criança consegue fazer sozinha e o que ela está perto de
conseguir fazer sozinha. Saber identificar essas duas capacidades e
trabalhar o percurso de cada aluno entre ambas são as duas principais
habilidades que um professor precisa ter” tem uma profunda relação
com duas bases importantíssimas da Cabalá Contemplativa. A primeira
é a conscientização da responsabilidade do que é ser um Mestre. A
segunda e principal é a real necessidade de se ser discípulo - para se
ter, aceitar e se submeter a um Mestre; e conseguir através dessa
relação mais pura e profunda encontrarmos o melhor de nós mesmos,
nosso ANI.
156 • Célestin Freinet (1896 - 1966)
Educador francês.
Está ligado ao idealismo.
Seus pontos de interligação com a Cabalá Contemplativa são:
� Acreditava no bom senso como um meio para a aprendizagem
da ligação entre a teoria e a prática. É uma das qualidades da
Educação Contemplativa, a nº 13.
� A cooperação e o trabalho são pontos fundamentais em sua
pedagogia.
� A transformação vem de dentro para fora e estimulava o
desenvolvimento da criança.
� Tinha um foco voltado para a formação de cidadãos livres,
criativos e emancipadores. Na Educação Contemplativa este é
um elemento importante quando despertamos nosso ANI.
� Também acreditava na importância do envolvimento afetivo
para o aprendizado, deste equilíbrio.
� A importância do trabalho entre a instituição de ensino
(Mestre), a criança e os pais.
� A importância da Comunicação entre instituições para a troca
de experiências e informações. É um dos grandes propósitos
da Educação Contemplativa.
157 � Tinha uma pretensão revolucionária como a Educação
Contemplativa, da libertação de nossa alma escrava, que seria
o vencermos nossas inclinações negativas, nossa natureza
egóica – YESH. Dizia: “Se não encontrarmos respostas
adequadas a todas as questões sobre educação,
continuaremos a forjar almas de escravos em nossos filhos”.
• Jean Piaget (1896 - 1980)
Cientista, biólogo, psicólogo e epistemologista suíço.
Está ligado ao realismo e foi a base do Construtivismo.
A Estrutura de sua Teoria (Filosofia do Construtivismo) pode ser
equiparada a estrutura do milagre dentro da Cabalá Contemplativa, que
é a nossa capacidade de sair dos processos robóticos, da seguinte
forma.
� Esquema – ações básicas de conhecimento, ações físicas e
mentais (psico-motoras). Aqui é um padrão robótico nosso.
� Desequilíbrio – novas experiências a partir de um estímulo.
Para a Cabalá Contemplativa pode ser um estímulo interno ou
um externo, provocado até propositalmente.
� Assimilação – a absorção das novas experiências, ocorre o
milagre.
158 � Acomodação – é o novo esquema. Modificar os esquemas
existentes, criação de novos esquemas.
� Equilíbrio – reestruturação dos novos esquemas em novas
estruturas;
Sua frase: “Conhecer não é contemplar passivamente, mas agir
sobre coisas e acontecimentos, construindo e reconstruindo-se em
pensamento”, é exatamente o nível do milagre, onde existe a ação em
cima de uma transformação de nossa essência, podemos dizer mais,
que é a descoberta também do ANI.
Ele também reforça a idéia de que ninguém já é algo rotulado no
que é hoje, mas que o Educador deve enxergar o além dessa pessoa e
ajudá-lo nesta busca ao que ela pode se tornar, que é uma das funções
de um Mestre dentro do caminho espiritual. O mestre para a Cabalá
Contemplativa é um “observador constante”.
Outro ponto muito próximo, é que para Piaget há a importância de
se estimular a atividade mental do aluno que é muito importante na a
Educação Contemplativa.
Em seu livro Psicologia e Pedagogia, ele cita a estrutura Mestre-
discípulo como concreta:
“Assim é que se desenvolveu uma sociologia da
educação que tem negligenciado um pouco os
grandes problemas discutidos pelos fundadores desta
disciplina – DURKHEIM E DEWEY – mas que se
especializou no estudo das estruturas concretas. Por
exemplo: o estudo da classe escolar como grupo
159 tendo sua dinâmica própria (sociometria, comunicação
efetiva entre mestres e discípulos etc.).” (PIAGET, p.
27)
Na epistemologia genética criada por Piaget, podemos fazer um
paralelo com a Cabalá Contemplativa onde o conhecimento é adquirido
através do homem com seu meio a partir de estruturas existentes no
sujeito, apesar de para a Cabalá, este conhecimento também é
adquirido de outras variantes como o contato com a sua essência, por
exemplo.
Para a Cabalá o reconstruir no plano do pensamento aquilo que
se adquire no plano da ação, é unificar, tornar íntegra nossa estrutura,
porém para a Cabalá, devemos fazer da forma inversa, para que
possamos passar pela Emanação, Criação, Formação e por fim Ação,
senão caímos naquela velha questão: “faça o que eu digo, mas não
faça o que eu faço” que é oposta a Cabalá Contemplativa.
A teoria Construtivista é totalmente adaptável a Cabalá
Contemplativa, onde devemos além de “desconstruir” velhos padrões,
hábitos, conhecimentos, atitudes, etc; adquirir o conhecimento e
construir o próprio aprendizado. Temos que ter muito foco para
discernir de maneira correta o “o que?” e o “como?” construir.
De forma semelhante a Educação Contemplativa, Piaget afirma em
seu livro - Problemas de psicologia genética: “ O ideal da educação não
é aprender ao máximo, maximizar os resultados, mas é antes de tudo
aprender a aprender, é aprender a se desenvolver e aprender a
continuar a se desenvolver depois da escola.”
160
• Carl Rogers (1902 - 1987)
Psicólogo norte-americano.
Está ligado ao idealismo.
Seus pontos de interligação com a Cabalá Contemplativa são:
� Sua corrente que ficou conhecida como humanista, se baseia
em uma visão otimista do homem, como a Cabalá
Contemplativa que devemos ir ao encontro do nosso estado
ANI.
� Harmonia em si e em relação ao outro, o que abrange o
conceito de UNICIDADE e também o desejo de receber para
compartilhar.
� Compartilha da idéia que aquilo que é saudável e bom para a
pessoa, ela vai em busca. Aqui existe a noção do amor e o
temor.
� Coloca a importância da confiança como a liga na relação entre
o professor (Mestre) e o aluno (discípulo), e o Mestre dando o
apoio necessário para que o discípulo consiga caminhar
sozinho.
� Colocou a importância da Ética na qualidade do ensino.
161 � Trabalhava a mudança de postura em relação ao outro não se
surpreendendo. Como dito na qualidade nº 38.
• B.F.Skinner (1904 - 1990)
Psicólogo e cientista norte-americano.
Está ligado ao realismo.
Seus pontos de interligação com a Cabalá Contemplativa são:
� “A educação deve ser planejada passo a passo, de modo a
obter os resultados desejados na “modelagem” do aluno”.
(Nova Escola – Grandes Pensadores – pg. 64) Na Cabalá
Contemplativa temos que trabalhar desta forma até com nossas
conexões diárias, como: Shacharit, Ar’vit, Amidá, etc. O
refinamento e a permanência em tudo é muito importante para
adquirirmos uma “modelagem” em nossa alma, e
conseqüentemente em nosso receptor.
� Identificou como condicionamento operante, o que a Cabalá
Contemplativa define como processo robótico.
� Coloca na educação, uma importância a formação de
comportamentos para si e para o próximo.
162 � Utilização de máquinas de aprendizado – como um computador
por exemplo para auxiliar o professor-Mestre.
� Coloca no Mestre a tarefa de ensinar o aluno a pensar.
• Hannah Arendt (1906 - 1975)
Cientista política alemã.
Está ligada ao realismo.
Seus pontos de interligação com a Cabalá Contemplativa são:
� Coloca o papel do Mestre de forma centralizada dentro da
educação do aluno-discípulo, lhe dando a total autoridade de
forma até conservadora.
� Acredita que o aluno deve conhecer o mundo e ser estimulado
a transformá-lo.
� Sua atenção estava voltada para a preocupação com a perda
da “tradição”, pois acredita que ela é o fio condutor, a ligação.
Está é a base da Educação Contemplativa que tem o fio
condutor em toda a história, os valores, as virtudes, a ética e a
moral, na tradição da Cabalá Contemplativa.
163 � Tinha uma preocupação com o mundo e a humanidade.
Segundo Ela: “A educação é o ponto em que decidimos se
amamos o mundo o bastante para assumirmos a
responsabilidade por ele”.
� Tinha o foco voltado para a coletividade.
� Colocava a família (pais) e a escola, como co-responsáveis na
educação, no bem-estar e na condução da criança.
• Paulo Freire (1921 – 1997)
Educador brasileiro.
Está ligado ao realismo.
Seus pontos de interligação com a Cabalá Contemplativa são:
� Trabalhou uma educação voltada para a consciência, onde o
aluno deveria ter o entendimento do mundo para transformá-lo.
A conscientização do aluno.
� Coloca o professor como central no papel de direcionamento
de informações e aprendizados para o aluno.
� Acredita no aprendizado e na criação em conjunto, na
cooperação.
� A importância da afetividade.
164 � Para ele tudo está em permanente transformação e interação,
“o mundo não é, mas está sendo”. Essa afirmação faz parte da
base, da verdade e da compreensão da Cabalá Contemplativa.
� Cita também a importância de trabalharmos os valores e as
virtudes, que a teoria e a prática estejam sempre de forma
coerente e consciente. O seu livro “Pedagogia da Autonomia”,
é subdivido de forma bem claro a estes itens como: alegria,
autoridade, respeito, bom senso, entre outros.
� Tem toda uma base voltada para a Ética, como uma
responsabilidade universal, voltada para a solidariedade e
fundamentada na educação. Cita inclusive a formação de uma
consciência coletiva, que é o foco da Cabalá Contemplativa.
• Lawrence Stenhouse (1926 - 1982)
Educador inglês.
Está ligado ao realismo.
Seus pontos de interligação com a Cabalá Contemplativa são:
� Seu trabalho está centrado no refinamento e aperfeiçoamento
do professor e do aluno (Mestre e discípulo).
� A importância da teoria, mas a prática como fundamental no
processo de aprendizado. Acredita no processo de
investigação e na pesquisa cotidiana.
165 � Suas propostas educativas são de médio e longo prazo. Como
nos ensina a Cabalá Contemplativa, permanência e
refinamento são processos que andam juntos e sempre. A
contemplação é oposta ao imediatismo, onde o que comanda a
decisão é nosso impulso egóico que sempre busca as soluções
instantâneas e quase que sempre errôneas.
� O respeito é fundamental nas relações.
� A importância da unificação de linguagem entre o aluno e o
professor.
� Autoridade, liderança e responsabilidade, são fundamentais
para o professor (Mestre) na relação com seus alunos
(discípulos) .
� Todo trabalho deve estar voltado para o coletivo.
• Emília Ferreiro (1936)
Psicolingüística argentina.
Está ligada ao realismo e discípula de Jean Piaget.
Seus pontos de interligação com a Cabalá Contemplativa são:
� O trabalho da escola deve estar focado no aluno (discípulo).
166 � O ritmo de aprendizado do aluno (discípulo) deve ser
respeitado e isto não quer dizer que quem é mais vagaroso e
menos inteligente ou menos aplicado.
� A importância da disciplina e da autoridade do Mestre
(professor).
3.5 – Moral
Para a Cabalá Contemplativa, a questão da moral está ligada
principalmente ao exemplo e ao despertar de valores e virtudes na vida
de um ser humano.
Quando falamos em Hospitalidade Aperfeiçoada, falamos em
colocar a prática dentro de uma comunidade, e mais amplamente na
humanidade - nos situando do micro para o macro; o incorporar esta
convivência voltada para valores e virtudes morais.
A autora Helen Bee em seu livro “A Criança em Desenvolvimento”,
relata as pesquisas feitas por Nancy Eisenberg que nos exemplificam as
crianças que crescem dentro de um Kibutz (hoje em dia um exemplo de
protótipo de uma Hospitalidade Aperfeiçoada), onde estes valores
morais fazem parte de sua conduta e formação de caráter.
Segundo Helen Bee, na pesquisa de Eisenberg, na pré-escola a
criança se preocupa com conseqüências pessoais e não considerações
morais (raciocínio hedonista); gradualmente se transforma e a criança
começa a expressar preocupação direta pelas necessidades da outra
pessoa (raciocínio orientado para as necessidades); na fase da
167 adolescência falam que agirão bem porque é isso que se espera delas;
e no final da adolescência, alguns jovens demonstram com clareza, a ter
internalizado valores que orientam seu comportamento pró-social. E
complementa relatando que:
“as crianças israelitas do ensino fundamental, criadas
em Kibutz, apresentavam pouco raciocínio orientado
para as necessidades. Em vez disso, elas tendiam a
raciocinar com base em valores e normas
internalizados e na humanidade dos receptores, um
padrão consistente com a forte ênfase no igualitarismo
e nos valores comunais do sistema de Kibutzim.
Essas descobertas sugerem que a cultura talvez
desempenhe um papel maior no raciocínio pró-social
das crianças do que no raciocínio sobre a justiça,
embora esta ainda seja uma conclusão altamente
experimental.” (BEE, p. 398)
168
CAPÍTULO IV
INTELIGÊNCIA CONTEMPLATIVA
Conforme os ensinamentos de Rav Mario Meir: De onde derivam
as Grande Idéias?
Os cabalistas nos ensinam que toda e qualquer inspiração deriva
das dimensões superiores. As grandes idéias criativas, as criações
artísticas e as invenções e descobertas no campo da ciência, derivam
da Luz Infinita. Sem esta inspiração superior, elas jamais poderiam
acontecer. Mas, segundo os sábios de nossa Tradição, quando chega a
hora de alguma coisa ser revelada ao mundo, a inspiração necessária é
outorgada para alguma pessoa, à partir da Luz do Mundo Infinito.
Um pensamento entra na mente desta pessoa e, desta forma é
revelado. Muitos podem ter buscado a idéia anteriormente, mas ela
sempre escapa, quando tem a força da Luz do Mundo Infinito atuando
sobre a humanidade. Somente quando chega o momento para que uma
grande idéia seja revelada é que a inspiração pode ser encontrada.
Os cabalistas ensinam que a única fonte de tudo é a Luz do
Mundo Infinito. Inspirações, idéias, avanços e visões entram na mente
dos inspirados por intermédio desta Luz. Para que isso venha a ocorrer
é necessário que o mundo físico esteja com grande receptor para essa
inspiração superior. Para os cabalistas, este receptor é formado pela
força espiritual gerada pelo desejo de compartilhar. Quando formamos
uma massa crítica inspirada pela consciência de compartilhar, abrimos
para toda a humanidade o receptor para a descoberta das curas para as
grandes doenças e a resolução dos grandes problemas da existência.
169 Nestes tempos em que percebemos a sombra de doenças e das
injustiças sociais se agravando, cada um de nós deveria refletir em
como anda a nossa porção de "desejo de compartilhar" no mundo.
Devemos aprender que o mérito é todo da Luz do Mundo Infinito.
Se não estivermos em conformidade com Ela, nada poderá ser
alcançado, nada poderá ser solucionado.
4.1 – Espiritualidade
A Educação Contemplativa é uma educação ESPIRITUAL, o que
não significa ser religiosa, fundamentalista ou pertencer a apenas uma
fatia da humanidade. Ela é voltada para toda a humanidade
independente de raça, cor, cultura, religião, etc.
Espiritualidade é meditação. Que podemos entender como a
busca, o desenvolvimento de virtudes e valores que o ser humano deve
trabalhar, pensar, refletir, direcionar e adquirir, para se tornar uma
pessoa melhor, equilibrada, íntegra, consciente e plena; ou seja, atingir
a consciência contemplativa.
Meditação é a palavra usada para designar uma
prática que funcione como um meio para se atingir um
estado de consciência que nos permita a “leitura” do
momento presente com base nos ensinamentos de
uma Tradição, refinando permanentemente o ser
humano e gerando ação / atitude criativa diante das
170 vicissitudes da vida. (...) A Cabalá aborda uma
dimensão espiritual onde todos os seres são ligados
por um elemento comum. Esta percepção é
denominada de Consciência Contemplativa. (Rav
Mario Meir)
A meditação é a única forma de atingirmos o autoconhecimento na
Cabalá Contemplativa. É através dela que abrimos nossa consciência e
ampliamos nossa percepção e compreensão. E assim conseguimos
despertar e encontrar o nosso estado ANI.
Na Cabalá Contemplativa o vestirmos uma roupa, comer algo,
sorrir para alguém, observar uma criança pequena; são alguns
exercícios diários e importantes para trabalharmos nosso estado
meditativo.
4.2.1 – Or (D’us)
Conforme os ensinamentos de Rav Mario Meir, D’us é a
Inteligência Universal.
O coração é o recipiente, o receptáculo de D’us. A base do
mundo espiritual reside no coração, reside na base do entendimento.
Entendimento é sentir o saber. Entender não é reproduzir o saber.
Entender não é você falar sobre o saber. E para você senti-lo e aplicá-lo
na sua própria vida.
171 Enquanto o conhecimento estiver no cérebro, na esfera cerebral,
na estrutura cerebral, na composição cerebral, você ainda não atingiu a
totalidade dele. Só quando ele chega realmente no coração - que é o
órgão que reage às impressões emocionais (nível de alma chamado
Ruach – Sopro, Espírito), é que você realmente entendeu o
conhecimento.
O que verdadeiramente significa D’us? E Ele não é apenas o D’us
dos dias ensolarados, Ele também é o D’us dos dias nublados.
Entenderemos D’us quando entendermos o que é o bom coração.
E o bom coração é conseguirmos fazer aquilo que é bom. E o que a
sabedoria nos diz do bom coração é que eu tenho que aprender a
beleza do ninho, mesmo nos dias nublados. Mesmo quando há
ausência de ser amado, mesmo quando a flor cai, mesmo quando a flor
murcha... mesmo aí, principalmente aí eu devo encontrar o D’us dos dias
nublados. É aí que está a medida do coração bom.
Então não interessa acreditar em D’us. Acreditar em D’us é uma
tolice absurda. Temos é que saber como se vive realmente a vida
estando esse D’us presente em absolutamente tudo. Não importa o
Nome que se dê a Ele. Como é possível viver a vida estando esse D’us
presente? Isso está muito além de acreditar em D’us e aí a beleza e a
alegria vêm a partir desse preenchimento, que acontece em todos os
momentos, porque se eu vivo a alegria de saber que D’us está presente
em todas as circunstâncias e por isso consigo identificar pelo bom
coração a beleza em todas essas circunstâncias, eu estou plenamente
preenchido, satisfeito.
Penso, logo eu existo. Amo, logo D’us existe. D’us jamais existirá
se eu pensar.
172 É como querer descobrir as raízes de uma flor mas para isso eu
tenho que arrancá-la. Ganhamos o conhecimento, mas perdemos a flor
e com ela o seu perfume. Nós não podemos nunca, jamais, matar as
flores para entendermos as raízes, senão todo propósito se desfaz.
Vem-se o saber, perde-se o sabor. E as coisas se esvaem totalmente,
perde-se o sentido.
O bom coração. É o coração que sente, é o coração que se
sensibiliza, é o coração exorcizado dos demônios, porque não há
demônios, não há mal. O mal é quando a gente parcela a vida. É
quando a gente coloca de alguma forma um tapa-olho na existência e
diz: isso aqui eu vejo e aquilo ali eu prefiro não ver, isso aqui são os
dias bons, luminosos, onde o sol aparece e ali, os dias nublados eu não
quero ver. É negar a totalidade e essa metade negada se torna
verdadeiramente os nossos fantasmas. E ela será o ódio, a frustração e
gera o medo e o ressentimento. Retire as expectativas que você retira
os demônios e só resta o coração bom.
Quando vamos desesperadamente tentar procurar o outro para
jogar sobre o outro nosso fel, para jogar sobre o outro todas as nossas
expectativas frustradas matamos o bom coração.
É difícil suportar os dias nublados. Mas o bom coração necessita
disso. O bom coração ele precisa disso... ele precisa suportar os
sonhos falidos, ele precisa disso... e talvez esse seja o projeto disso que
nós chamamos de D’us. Quem disse que Ele quer que você esteja
absolutamente pleno, preenchido, satisfeito. Absolutamente empolgado.
Talvez Ele queira esta inquietação. E talvez resida aí nesta inquietação
a chave do encontro desse preenchimento para tirar esse tapa-olho que
fecha a outra metade não tão bonita da existência, ou não tão esperada
da existência, mas que é absolutamente necessária para se descobrir a
verdade que é isso a coisa mais importante.
173 A vida não cabe na esfera do entendimento. Ela em si só pode ser
vivida na esfera do milagre, do sentir. A síntese de toda a sabedoria é
entender as coisas grandes a partir das coisas pequenas, dos gestos
pequenos, das atitudes pequenas, dos sentimentos pequenos que nós
temos que aprender a administrar dentro de nossa alma para construir a
totalidade. É quando aprendemos a nos entregar a esta totalidade, por
mais que ela não seja de toda bela conforme nossas expectativas e
idealizações.
O que acontece quando sofremos ou quando desejamos alguma
coisa: - gritamos: “Meu D’us!” E enquanto estivermos falando “Meu
D’us”, ele nunca será seu! Ele só será seu quando você disser que você
é D’Ele, e não Ele é seu. Quando você abandonar a idéia do meu D’us.
Isso é absurdo, é tolo. Não há a idéia do Meu D’us. É você que tem
que ser D’Ele. E ser D’ele compreende em ser da totalidade que é a
vida. O resto é sombra, prisão, imagem e fantasia. Quando nós nos
tornamos de D’us, ao invés de fazer D’us nosso, adquirimos o coração
bom e nos tornarmos submetidos ao mérito. É um longo trabalho, difícil,
mas não impossível.
4.3 – Árvore da Vida e as Inteligências Múltiplas
Árvore da vida, ou Etz Chayim, é o que seria a estrutura que liga o
homem e todo universo, à Or Eyn Sof.
Assim como existe uma usina elétrica para transformar e diminuir
a energia que é gerada para a eletricidade chegar na tomada de nossas
174 casas, precisamos desta estrutura para nos aproximar e acessar a Luz
de forma plena e consciente.
É fundamental entendermos o que é, pois ela nos remete ao
desenvolvimento do que chamamos de inteligências - que a Cabalá
Contemplativa define como virtudes. As inteligências são
características que podemos e devemos despertar ao longo de toda
nossa vida, e não existe um limite de desenvolvimento destas
inteligências nem tampouco ela pode ser medida, equiparada e
comparada.
A Árvore da Vida é uma alegoria para o que chamamos das 10
Sefirot - manifestações de Or, representando uma estrutura imóvel São
10 potências - valores, virtudes, pesos, densidades, inteligências ou
características; objetivas que devemos alcançar, despertar e
desenvolver em nossa vida através do manuseio de estruturas
(composições) subjetivas, as quais são representadas pelas 22 letras
hebraicas, que vão nos equiparar a imagem e semelhança de Or.
As 22 letras hebraicas que representam essa estrutura móvel
dentro da estrutura imóvel da Árvore da Vida, são especulações
racionais. As letras seriam o veículo (a carruagem - merkavá em
hebraico), o qual chegamos às virtudes. É como se lançássemos letras
que formam palavras, que formam conceitos, idéias, ensinamentos,
meditações, etc.; que por sua vez formam sentimentos, impressões,
certezas ou incertezas. Elas possuem seu lado Luz ou sombra, e temos
que trabalhar e desenvolver suas características de Luz para atingirmos
a sua verdadeira essência.
Para atingirmos a cada uma das 10 inteligências (virtude,
potência), temos que cultivar e trabalhar a plenitude das 22 letras em
cada uma delas.
175 Por isso podemos dizer que a Teoria das Múltiplas Inteligências
do Psicólogo americano Howard Gardner, tem um modo de perceber as
inteligências de uma pessoa de maneira semelhante a Cabalá
Contemplativa. Não necessariamente temos o mesmo conteúdo, mas
certamente encontramos diversos pontos e opiniões que podemos
utilizar como interseção e comparação.
A figura abaixo ilustra de forma alegórica a árvore da vida
Abulafiana.
176
Figura 1 – Árvore da Vida Abulafiana. Fonte: Academia de Cabalá Rav
Meir
177 4.4 – O desenvolvimento das Virtudes
Para alcançarmos o desenvolvimento das inteligências dentro da
estrutura da Árvore da Vida, temos que entender as 10 inteligências –
virtudes ou como chamamos na Cabalá Contemplativa Sefirót - e todo o
seu desenvolvimento e funcionamento. Assim como as 22 letras
hebraicas e o que são a luz e a sombra de cada uma delas.
É importante também ressaltarmos que as inteligências são
complementares, trabalham em conjunto e não existe nenhuma mais
importante que a outra. É como se fossem as cores de um arco-íris.
Além de que para cada pessoa, ela vai ser despertada e exposta de uma
forma e de uma maneira, porém sua essência será sempre a mesma que
é a essência da Luz.
Não podemos esquecer que as pessoas são diferentes e que cada
um tem a forma de aprendizagem e de estímulos diferentes. Por isso
devemos ter um processo de permanência e refinamento contínuo para
que cada um ache o seu potencial e sua forma de despertar aquela
inteligência dentro de seu processo de crescimento pessoal, integral e
verdadeiro.
4.4.1 – Inteligências (Sefirót)
• MALCHUT
178
A virtude da HUMILDADE.
Esta sefirá (singular de Sefirót) representa o Mundo Físico, o
Reino, o Mundo da Ação. É em malchut que existe a concretização de
nosso propósito.
A humildade é a grande e poderosa arma contra o nosso ego.
Pois ela nos torna mais fortes e firmes de caráter, permitindo assim
superarmos os assaltos da vaidade, da auto-suficiência e da arrogância.
É muito importante não sentirmos orgulho de nada, nem mesmo do
que possuímos, pois só assim, nos descobrindo como pobres e
esvaziados, é que conseguimos nos abrir para receber algo.
Vencer o orgulho pessoal deve ser nossa meta. É uma conquista
interior e não uma atitude fora de nós. Só os humildes de coração e
mente conseguem transformar conhecimento em sabedoria.
Também temos que ter em mente que as nossas posses nos são
dadas por Or. E ter sempre este pensamento até quando estivermos em
momentos de estudo.
A nossa criatividade e inspiração, só se manifesta de forma
verdadeira, quando estamos exilados de nosso ego.
O temor ao Eterno, ou seja, nos afastarmos daquilo que nos causa
mal, também é fundamental para se tornar humilde.
Pode até não parecer, mas esta é a mais fácil das virtudes. Ela é
o primeiro passo. Ouvir, aprender, ler, estudar, todos são gestos e
ações de humildade.
179 Na Cabalá Contemplativa temos o Néfesh Chayim que trabalha
muito a “psicomotricidade”, e ajuda ao desenvolvimento da virtude da
humildade - que está ligada também ao corpo físico.
• YESSOD
A virtude da VERDADE.
Esta sefirá representa o Fundamento. Está ligada diretamente ao
propósito, ao alicerce, à identidade, aos pactos e às escolhas.
Temos que buscar e nos ligar somente ao que é verdadeiro. E
para isso temos que ter uma eterna e constante vigília sobre o que
falamos e pensamos. Não ser dominados por nossos instintos que nos
desviam da verdade e de nosso propósito.
Aqui vivenciamos também a relação intra-pessoal, um respeito por
si mesmo, pelos pactos que firmamos, as escolhas que fazemos ou
quando deixamos que algo ou alguém as façam por nós. A importância e
a veracidade de nossos sonhos, desejos, necessidades, habilidades,
emoções, sentimentos e idéias. É também o nos precaver de
pensamentos que podem causar a nossa auto-destruição.
Estendemos o respeito por si próprio para: respeito pelo
semelhante, pela vida, pelo universo em si; e o chamamos de dignidade.
A dignidade engrandece e eleva o ser humano. A nobreza de
caráter, a integridade e a estabilidade emocional, assim como os valores
morais, geram uma energia firme e forte. O homem digno é merecedor
180 da condição humana, pois espalha segurança, harmonia e admiração;
além de cumprir seu papel no mundo.
• HOD
A virtude do REFINAMENTO.
Esta sefirá representa a Glória, mas também o reconhecimento no
sentido de gratidão sincera à Or.
O refinamento consiste em nos tornamos a cada dia melhores
naquilo que somos e fazemos. E só quando buscamos esse crescimento
é que conquistamos o merecimento.
Pelo princípio da semelhança, quando identificamos o outro e o
aceitamos, também estamos nos refinando. Esta relação inter-pessoal é
uma das chaves mais importantes para o processo do refinamento. É o
reflexo de nossa evolução.
Para vencermos nossa tendência de repetição, banalização da
vida, superação de padrões robóticos - repetitivos, o refinamento é
fundamental. Evoluímos humana e espiritualmente com o refinamento
sustentado pela força da alma e pelo nosso desejo de progredir.
O refinamento é a renúncia de um padrão robótico de conduta
para dar um sentido mais nobre e amplo à vida.
181
• NETZACH
A virtude da PERMANÊNCIA.
Esta sefirá representa a Vitória, mas também a confiança.
Confiança é o que nos conduz a estar permanentemente vinculado
a algo, a alguém, a um caminho, um propósito. É quando vencemos as
nossas próprias limitações e nos regeneramos. É a energia que nos
anima e assegura a vitória sobre as dificuldades individuais e a
fragilidade.
Está ligada a vencermos todos os processos de falências, sejam
físicas, morais, intelectuais. É o que nos sustenta.
A confiança nos estimula a seguir a vocação evolutiva do caminho
e desenvolver a fidelidade e eternidade contínua do caminho.
• TIFERET
A virtude da BELEZA.
Esta sefirá representa a Misericórdia (distância entre a causa e o
efeito), mas também o equilíbrio e a restrição.
Para cultivarmos o belo, temos que encontrar onde está o
equilíbrio daquilo, nem a falta e nem o excesso se tornam belo.
182 A meditação também está ligada a este equilíbrio e a harmonia. E
sua base é o foco (kavaná em hebraico), que é a intenção direcionada, é
quando corpo, alma, coração, mente, emoção e ação, estão ligados no
mesmo objetivo. Com o equilíbrio, chegamos à verdade.
Também associamos a excelência que é a atitude inspirada pelo
amor puro, é o que fortalece o poder de realização.
Quem coloca beleza no que acredita, não conhece instabilidade e
indefinições, e parte rumo ao progresso moral, espiritual, material e
psicológico.
• G’VURÁ
A virtude da DISCIPLINA.
Esta sefirá representa a contração, a força e o temor que é nos
afastar do que nos faz mal.
Também a associamos ao livre-arbítrio que é ter o controle sobre
nossa vida e nossos impulsos - que é o contrário de fazer o que
queremos; é o restringir o que desejamos. E isto vem através desta
força.
É perceber o limite de nossa atuação, comportamento, atitudes,
expressão de uma coisa que é muito maior que a nossa parte que é o
todo.
183 Temos que ter a consciência de que temos o bem (Boa Formação)
e o mal (Má Formação) dentro de nós, e que através do auto-controle e
da disciplina, dominamos o mal dentro de nós.
Quando falamos de responsabilidade, que é responder pelas
nossas próprias ações, palavras e aquilo que nos foi confiado, estamos
nesta virtude. E temos que pensar que só quem é responsável, é que
consegue assumir as rédeas de sua vida, de seu destino, construindo
seu caráter dignamente.
• CHESSED
A virtude do DESEJO DE COMPARTILHAR.
Esta sefirá representa o amor, o doar incondicionalmente. Está
ligada ao sim, a bondade, a benevolência e a generosidade.
O desejo de compartilhar é a natureza de Or.
É quando podemos não só ser o bem. Principalmente é enxergar
o bem e as boas qualidades em si e no nosso semelhante,
compartilhando com o lado positivo da vida. É ajudar ao próximo
espiritualmente, psicologicamente, fisicamente, moralmente... cuidar do
próximo... É “e amarás a teu próximo como a ti mesmo” (Torah,
Levítico 19:18).
É bom lembrarmos que só podemos enxergar o bem nos outros se
vivemos nele e para ele, além de lutarmos destemidamente para que o
bem estar sempre triunfe.
184 Com bondade, participamos do drama do mundo sem quimeras ou
ilusões, contribuindo com certeza e amor para que ele se torne melhor.
Quando ajudamos o outro a se tornar alguém melhor ou mesmo
quando reconciliamos duas pessoas através do amor e da afeição,
também estamos praticando esta virtude em nossa vida.
É buscar para si e para o próximo caminhos de paz, ou sejam,
caminhos sem pendências.
• Da’at
Esta NÃO é uma sefirá, uma virtude, mas é o que chamamos de
um “poço”, uma fonte onde bebemos as águas do conhecimento, que é o
conhecimento necessário para se chegar ao entendimento e a
sabedoria. É o acumular o saber.
Representa a unicidade, a inter-inclusão que nos afirma que tudo
é derivado de um único ponto.
Os quatros conhecimentos existentes são: emocional (maturidade
emocional), inferior (moralidade), oculto (mistérios ocultos) e supremo
(leis espirituais).
• BINÁ
185 A virtude da ALEGRIA.
Esta sefirá representa o entusiasmo e a compreensão.
É o entendimento que surge a partir do conhecimento, quando
compreendemos aquilo que é verdadeiro. Interiorizar o conteúdo de
maneira que ele se torne parte da pessoa.
A moralidade é estabelecida dentro deste entendimento. É o
processo de restauração, preparação e transformação do caráter, que é
a nossa retificação (Teshuvá em hebraico).
O segredo da alegria é não se tornar pesado e denso, é ser
suave. Ela que nos dá a capacidade de superação de problemas, nos
trazendo a vitalidade e o viver a vida em plenitude. É nosso estado
natural é só o perdemos pela falta de autoconhecimento e a ausência do
amor.
• CHOCHMÁ
A virtude da AUTO-ANULAÇÃO.
Esta sefirá representa a submissão, a auto-neutralização.
É esta auto-anulação que nos leva a sabedoria, por isso a
importância de estar submetido a um mestre, de ser discípulo. Também
é um processo de suicídio para o ego, o que nos torna abertos e aptos
para a absorção da Sabedoria Espiritual.
186 Já que aqui anulamos o ego, refletimos e compreendemos
realmente a nossa existência e a criatividade é aflorada e despertada.
A Sabedoria também reside em nos colocarmos no lugar do outro
e percebermos e identificarmos de forma existencial o outro dentro de
nós.
O amor ao aprendizado é a inspiração pela sede de saber, está
aqui e é a melhor forma de nos adequarmos a vida, ao nosso caminho,
nosso propósito; assim como contribuir com nossos talentos para sus
melhora.
Essa submissão também nos detém de nos perdermos em nossos
pensamentos subjetivos, ilusórios, fazendo com que ultrapassemos os
limites dos nossos sentidos provocando o rompimento da inércia e do
comodismo; e ampliando a nossa percepção e vivência real com a
existência.
• KÉTER
A virtude da CERTEZA.
Como já citamos anteriormente, a certeza não é fé. Fé está fora de
nós, em uma expectativa no outro ou em algo. A certeza como o próprio
nome diz, não há dúvida é uma afirmação.
Quando analisamos o Diagrama Abulafiano da Árvore da Vida
(Fig. 1), percebemos que esta Sefirá é a mais próxima da Or Eyn Sof,
como se fosse um balão de gás cheio no seu ponto máximo - no seu
187 limite, a ponto de estourar. Por isso ela é a mais frágil das virtudes, um
único e simples pensamento pode quebrá-la.
Aqui reside o Espírito Devocional. É o reconstruir fundamentos
morais e amorosos, estimular a certeza e a confiança, e
conseqüentemente destruir as dúvidas corrosivas que dificultam o
autoconhecimento. É nos entregarmos amorosamente ao caminho do
aprimoramento.
A devoção é o sentimento vivo do amor, por isso vibra no coração.
Ser devoto é fazer de cada ato uma celebração do amor de Or e por Or,
que é buscamos sempre a visão ampla, a compreensão e percepção da
totalidade das coisas.
Segundo Rav Moshé Cordovero no seu livro Tomer Devorah,
devemos aqui nos espelhar em qualidades que é como Or conduz o
mundo para se habituar a kéter: a humildade (principalmente ser
circunspeto); ter bons pensamentos; ter boa vontade, tranqüilidade e
aceitação; ouvir só o bem; observar, olhar apenas o que é bom; não se
tornar colérico; ter um rosto radiante e alegre; falar somente o bem e o
que está ligado à Sabedoria Espiritual.
4.4.2 – Estímulos (Letras Hebraicas)
As 22 letras hebraicas são os estímulos, em constante movimento,
para se chegar às virtudes. Como já mencionamos acima, as “letras”
são as “palavras”, e é por intermédio das palavras que chegamos ao
desenvolvimento espiritual.
188 Segundo o Sêfer Yetzirah, são sub-divididas em 3 grupos, os
quais apresentaremos a seguir.
• As três Letras Mães
Na Cabalá são as letras responsáveis pelas estruturas básicas da
criação. Regem os 3 elementos no Universo (ar, água e fogo), as
estações no Ano, e na Alma a cabeça e o tronco.
Não possuem aspectos luz e sombra como as outras letras, pois são
elementos que envolvem apenas escolhas e níveis de consciência
limitada.
• ALEPH
É a primeira letra do alfabeto e representa o processo de
contração que temos que ter para adquirir tudo em nossa vida. É o
início, o principio, a introspecção.
É a linguagem que legisla a lei básica da Sabedoria Espiritual, a
unicidade, a inter-inclusão, a consciência coletiva. Também é o silêncio
e a quietude interior – a da alma.
189 • MEM
É o patamar do mérito, por ser a representação e a manifestação
física da própria Sabedoria Espiritual.
É quando aplicamos o amor em tudo a nossa volta, principalmente
ao nosso semelhante.
• SHIN
É o patamar do dever, representando a transformação e a
purificação de nossa vida, nossos atos e nossas atitudes. É o buscar
uma constância como se fosse algo apaixonadamente eterno em nossa
evolução.
• As Sete Duplas
Na Cabalá as duplas são as letras responsáveis pelas estruturas
de contato do homem com o mundo. Regem os planetas no Universo, os
dias da semana no Ano e na Alma os orifícios localizados na cabeça
(chamados de “portais” no Sêfer Yetzirah).
190 Também exprimem significados precisos que chamamos de
fundação ou de aspecto luz, mas possui também sua contra-parte ou
sombra.
• BEIT
Aspecto luz: SABEDORIA.
Força de vontade, evolução através de dificuldades e transformar
maldições em benções: toda maldição é uma bênção disfarçada, pois só
através das revezes e das dificuldades somos estimulados a evoluir.
Aspecto sombra: TOLICE.
Estupidez, estagnação e insensatez.
• GUIMEL
Aspecto luz: RIQUEZA.
Prosperidade em todas as áreas, abundância, desejo de
compartilhar, servir ao próximo.
191 Aspecto sombra: POBREZA.
Falta, escassez e desejo de receber para si mesmo.
• DALET
Aspecto luz: SEMENTE.
Criar vida, dar vida, colheita, fecundação de um novo ciclo de
tempo.
Aspecto sombra: DESOLAÇÃO.
Ausência de vida, estado de solidão.
• CAPH
Aspecto luz: VIDA.
Vitalidade, criação, cura.
Aspecto sombra: MORTE.
192 Destruição, mortificação.
• PHEI
Aspecto luz: PODER.
Livre-arbítrio, ser a causa das coisas e situações e não o efeito,
autoridade, liderança, ter controle sobre as coisas..
Aspecto sombra: SERVIDÃO.
Escravidão, dependência.
• RESH
Aspecto luz: PAZ.
Ausência de pendências, retificação, serenidades.
Aspecto sombra: GUERRA.
Conflitos, lutas, pendências.
193
• TAV
Aspecto luz: GRAÇA.
É se tornar harmonioso, prestar atenção nos detalhes, retirar os
excessos.
Aspecto sombra: FEIÚRA.
Desarmonia, excessos.
• As Doze Elementares
Na Cabalá as elementares são as letras responsáveis pelas
estruturas mais sutis do homem. Regem as constelações no Universo,
os meses no Ano e os humores do homem e sentidos do homem na Alma
(chamados de “diretores” no Sêfer Yetzirah).
Também exprimem significados precisos que chamamos de
fundação ou de aspecto luz, mas possui também sua contra-parte ou
sombra.
194
• HEI
Aspecto luz: PALAVRA.
É a comunicação, auto-expressão, vontade, vitalidade, conter a
palavra, restringir, como articulamos nossas palavras, falar coisas
verdadeiras e o silêncio.
Aspecto sombra: MUDEZ.
Mentira, fofoca, intriga, difamação, calúnia, não falar o que se
deveria, lamúria, falar algo que não se sente (a realidade é outra).
• VAV
Aspecto luz: PENSAMENTO.
Foco, junção, unificação, coesão, contemplação.
Aspecto sombra: AUSÊNCIA (FALTA) DE ATENÇÃO.
Falta de foco, desconexão, desunião, fragmentação.
195
• ZAIN
Aspecto luz: LOCOMOÇÃO.
Seria uma atração na direção do saber e de necessidade de
relação.
O desenvolvimento da vida mental.
Capacidade de se deslocar e de se locomover.
Aspecto sombra: IMOBILIDADE.
Paralisia total ou andar em círculos.
• CHET
Aspecto luz: VISÃO.
A visão corresponde ao passado, aos “ancestrais”. É a juventude
que possui uma visão nova, no seio da casa familiar.
Distinguir o essencial do supérfluo e ir além das aparências.
Avaliação de projetos e análises críticas sobre nós mesmos.
196 Limpeza, purificação, totalidade, capacidade de observação, bom-
olhado e busca da verdade.
Aspecto sombra: CEGUEIRA.
Mentira, fragmentação, inveja.
“Tapar o sol com a peneira”.
Olhar com cobiça para o outro, Ayin Hará - mau-olhado, olhar
disperso e arrogância.
• TETH
Aspecto luz: AUDIÇÃO.
A audição corresponde ao Futuro, aos “Descendentes”, na direção
do que aspira e a uma espécie de imortalidade.
Assimilação da palavra, ouvir coisas boas, buscar boas notícias e
pessoas positivas.
Aspecto sombra: SURDEZ.
Incapacidade de assimilar
197
• YUD
Aspecto luz: AÇÃO.
São as ocupações, a capacidade de agir e de se alcançar ou
transformar as coisas.
Processo de criação.
Aspecto sombra: INÉRCIA.
Ficar paralisado e ineficiência de se alcançar coisas.
Agir de forma desenfreada.
Bloqueio no processo de criação.
• LAMED
Aspecto luz: COPULAÇÃO.
Fertilidade, capacidade de transmitir, ensinar e gerar frutos.
Relações de fecundação.
Articulação das idéias, organização dos pensamentos
198 Aspecto sombra: IMPOTÊNCIA.
Incapacidade de transmitir, ensinar ou gerar frutos.
• NUN
Aspecto luz: OLFATO.
O olfato simboliza o caráter passageiro de todas as coisas,
lembrado regularmente pela “morte”.
A capacidade de desenvolver percepções sensíveis que nos
permitem penetrar em um estado de espírito mais aquietado. Nos
conduz a um estado contemplativo.
Sutileza, apaziguar o desejo de receber para si mesmo.
Aspecto sombra: INCAPACIDADE DE SENTIR ODORES.
Reatividade no ponto extremo.
• SAMECH
199 Aspecto luz: SONO.
O sono é uma “viagem” em pensamento, mas assim mesmo, uma
viagem.
Certamente, é a maior revelação do sistema de pensamento de
cada um.
Ligado aos nossos sonhos. A capacidade de ter acesso à sua
essência, à sua missão, ao seu propósito existencial. Acesso ao
inconsciente a aquilo que você guarda no íntimo da sua alma.
Aspecto sombra: INSÔNIA.
Incapacidade de deixar os seus sonhos fluírem;
• AYIN
Aspecto luz: CÓLERA.
A “cólera” deve ser tomada aqui no sentido de forte
temperamento, dando o poder e a influência para o “trabalho”.
É a ira: ímpeto e força de se atingir algo, não reatividade. Força
de juiz, guerreiro, a ira Sagrada.
Capacidade de lutar por um ideal, vitalidade para lutar por uma
causa, sagacidade
200 Aspecto sombra: AUSÊNCIA DO FÍGADO.
Perder a vontade, a vitalidade por lutar por algo que seja
relevante, despretensão.
• TZADE
Aspecto luz: PALADAR.
O paladar está relacionado com as esperanças e os desejos. Se
um gosto é desagradável é porque ele não corresponde à esperança
que se tinha.
Capacidade de assimilação, ao que se assimila, ao que se
absorve, consolidação.
Paladar também está ligado às amizades, vinculado a capacidade
de se estabelecer vínculos sociais, comer está associado ao ato de
estabelecer alianças.
Aspecto sombra: FOME.
Ausência de assimilação, ao não se ligar a absolutamente nada,
não permitir assimilar absolutamente nada.
Ausência de alianças e de vínculos sociais.
201 • CUPH
Aspecto luz: RISO.
O riso permite, com freqüência, a dissimulação das fraquezas de
caráter e os complexos recalcados, são os nossos “inimigos” que
gostam de rir de nós.
Riso é a capacidade do senso de humor, da alegria, é uma
vitalidade.
Aspecto sombra: AUSÊNCIA DO BAÇO.
Ausência desse humor, ausência da capacidade de filtragem pelo
humor.
202
CONCLUSÃO
A partir do recebimento e da prática da Educação Contemplativa,
deixaremos de ser um Golem, ou seja, um ser humano no seu estado de
matéria mais bruto, idiotizado diante da existência e totalmente limitado
a automatizar o aprendizado – desumanizando-se.
A Educação nunca termina na vida de um ser humano, por isso
temos que cada dia intensificá-la e com isso adquirirmos cada vez mais
consciência e responsabilidade para nossa transformação, e
consequentemente transformar o mundo em um mundo melhor de se
viver.
Somos iguais a diamantes em estado bruto, precisamos de
lapidação para nos transformar em belos diamantes.
Quando encontramos este ser vivente e consciente de sua
realidade, deixamos de ser um ignorante para nos tornarmos um sábio.
A passagem da ignorância à sabedoria, ao
conhecimento, é possível. Podemos dizer que
ignorante é alguém que não soube liberar sua luz
interior e sua natureza é uma massa opaca e
compacta, um mundo fechado. Passar do estado de
Golem à situação de sábio é o mesmo que passar da
matéria ao espírito. Ele não representa o mal, mas
203 sim "chomer galmi", a "matéria primordial"
indispensável a toda criação. (Rav Mario Meir)
A Cabalá Contemplativa nos fala há séculos de um conceito muito
importante de consciência de Olam haBa (Mundo Futuro) ou consciência
futura. Sabemos que é uma “visão de longo alcance”, uma visão da
esperança e do além dos limites.
O Olam haBa é um mundo no qual se penetra
individualmente por esforço e vontade próprios. Uma
consciência de paz e de serenidade contemplativa
que interferirá de forma coletiva. (Rav Mario Meir)
Por isso temos que encontrar a resposta afirmativa para uma
pergunta muito importante dentro de nossa existência: - Estou fazendo o
que deve ser feito?
A EDUCAÇÃO CONTEMPLATIVA transforma nossa consciência,
em uma consciência contemplativa, e conseguimos através de sua
absorção e desenvolvimento, chegar a este estado de purificação,
plenitude e consciência de Olam haBa.
O verdadeiro caminho espiritual consiste em descer a
montanha e penetrar no mundo do caos, das
dificuldades, do tumulto e da aflição, com a finalidade
de confrontar os gatilhos que acionam reações. Cada
gatilho nos dá a oportunidade de transformar o nosso
204 comportamento reativo e de remover as clipót
(cascas). (Rav Mario Meir – Apostila de Yichud –
Aprendendo a remover a programação negativa da
alma).
205
GLOSSÁRIO
Amidá – ritual para compartilhar Luz espiritual para toda humanidade.
Anussim – marranos, cripto-judeus; - são os judeus que, durante a
Inquisição em Portugal, Espanha e no Brasil, foram convertidos à força
ao cristianismo, mas se mantiveram judeus secretamente e preservaram
seus costumes dentro de suas vidas (casa, família, amigos, etc.).
Ar’vit – ritual feito antes de dormir.
Beit Din – Tribunal de Justiça Rabínico.
Beit Yossef – A Casa de Yossef
Cadish – Oração recitada pelas almas dos que partiram deste mundo.
Chaver (plural. Chaverim) – Companheiro.
Chug – círculo
Cohelet – Eclesiastes. Escrito por Salomão.
Eyn-Sof – Mundo Infinito
Évem HaShôham – A Pedra de Ônix.
Halakhah – modo caminhante, vivente, condutor
Kibutzim – plural de Kibutz
Lashon HaRah – Má Língua, maledicência.
Levush – Vestimenta.
206 Mishlê – Provérbios. Escrito por Salomão.
Mishnah – Ensinamento
Mitzvah – Mandamento, conexão espiritual
Néfesh Chayim – técnica de meditação corporal, onde são trabalhados:
posturas, respirações, percepções espaciais, corpo, equilíbrio,
autoconhecimento; desenvolvido por Rav Avraham Abulafia, no séc. XIII
e adaptado por Rav Mario Meir.
Or – D’us, Luz, Emanador
Or Eyn Sof – Luz do Mundo Infinito
Or Hassé Cheli – Luz do Intelecto
Or Ne’erav – Doce Luz
Or Yakar – a Luz Preciosa
Otiot – As letras do alfabeto hebraico.
Rav – Mestre, Rabino
Rebtzin – Esposa do Rav.
Sanhedrin – Suprema Corte Judaica
Sêfer Chaiê Olam Habá – Livro da Vida no Mundo Vindouro. Escrito por
Rav Avraham Abulafia.
Sêfer HaBahir – Livro da Iluminação, escrito por Rav Nehuniá ben
HaCana.
Sêfer HaChéshec – Livro da Paixão. Escrito por Rav Avraham Abulafia.
207 Sêfer HaOtiot – Primeira obra explicativa sobre os mistérios do Sêfer
Yetzirah. Escrito por Rav Nehuniá ben HaCana.
Sêfer HaZohar – Livro do Esplendor. Escrito por Rav Shimon Bar
Yochai.
Sêfer Yetzirah – Livro da Formação. Escrito por Avraham (Patriarca
Abraão).
Sefirot – dimensões; manifestações; filtros através dos quais a Luz do
Eyn-Sof chega até nós.
Shaarê Kedushah – Portões da Santidade. Escrito por Rav Chayim
Vital.
Shaarê Orá – Portões da Luz. Escrito por Rav Yossef Gikatyilla.
Shacharit – ritual feito ao acordarmos.
Shechiná – Presença Divina; sensação de plenitude espiritual
acolhedora; vitalidade verdadeira
Shir HaShirim - Cântico dos Cânticos. Escrito por Salomão.
Shulchan Aruch – Mesa Posta
Sitrei Torah – O oculto (profundo) da Torah. Aqui se refere a um estudo
dirigido pelo Rav Mario Meir.
Talmid – discípulo, estudante.
Tamei Torah – O Estudo da Torah. Aqui se refere a um estudo dirigido
pelo Rav Mario Meir
Tanach – É a composição de 24 livros: Torah; Neviim (Profetas): Josué
(Ychoshua), Juízes (Shofetim), Samuel (Shemuel), Reis (Melachim),
Isaías (Yesha’yáhu), Jeremias (Yirmiyáhu), Ezequiel (Yechezekel) e
208 Doze Profetas (Tre-assar); Ktuvim (Escrituras Sagradas): Tehilim,
Mishlê, Jô (Iyov), Shir HaShirim, Echá (Lamentações), Cohelet, Ester,
Daniel, Esdras / Neemias (Ezra / Nechemyá) e Crônicas (Divrê-
Hayamim).
Tehilim – Livro de Salmos.
Ticun – acerto, correção.
Tomer Devorah – Tamareira de Débora. Escrita por Rav Moshé
Cordovero.
Torah – Pentateuco, A Lei de Moisés. Contém 5 livros: Gênesis
(Bereshit), Êxodo (Shemót), Levítico (Vayikrá), Números (Bamidbar) e
Deuteronômio (Devarim).
Tzadick (plural – Tzadickim) – Homem justo de nossa Tradição.
Tzedacá – fazer justiça.
Yeshivá – Casa de Estudos
Yichud – União. Conexão. Prática de meditação avançada, pratica na
Cabalá Contemplativa, que utiliza como ferramenta as permutações em
código de letras hebraicas. Estas práticas são realizadas na Academia
de Cabalá Rav Meir .
209
ANEXOS
Anexo 1 – Texto Rav Mario Meir
Rav Mario Meir nos indica de forma breve e precisa, 12 passos
que devemos percorrer em direção a nossa humildade:
Passo 1: Respeite as regras simples.
Passo 2: Rejeite seus desejos pessoais.
Passo 3: Obedeça, de bom grado e sem nenhuma insatisfação interna
as pessoas que ocupam posições de autoridade.
Passo 4: Agüente a aflição e seja contemplativo mesmo quando se
sentir contrariado.
Passo 5: Admita suas fraquezas mesmo que seja para si mesmo.
Passo 6: Pratique a satisfação.
Passo 7: Aprenda a se repreender.
Passo 8: Obedeça a regra comum, não apenas no papel mais também
espiritualmente.
210 Passo 9: Entenda que o silêncio é precioso, e por isso, tente escutar
mais do que falar.
Passo 10: Reflita sobre a humildade.
Passo 11: Aja com simplicidade.
Passo 12: Seja humilde na aparência assim como no coração.
211
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www.morasha.com.br
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213
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02
AGRADECIMENTOS 03
DEDICATÓRIA 04
RESUMO 05
METODOLOGIA 06
SUMÁRIO 07
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
CABALÁ CONTEMPLATIVA 11
1.1 – Origens da Cabalá 11
1.2 – Rav Mario Meir e a Academia de
Cabalá Rav Meir 15
1.3 – A Metodologia 17
CAPÍTULO II
EDUCAÇÃO CONTEMPLATIVA (CHINUCH YUNIT) 21
2.1 – Chinuch Yunit – Inspiração e Integração 22
2.2 – A importância da Cabalá Contemplativa
na Educação Infantil 24
2.3 – O inegociável papel dos Pais 26
2.4 – Educação Inclusiva e Educação Especial 30
2.5 – Disciplina, Restrição e Entusiasmo 32
2.6 – Pirkê Avót – A Ética dos Sábios 34
2.6.1 – As 48 Qualidades 37
2.7 – Informática 85
2.8 – Aonde queremos chegar! 86
214
CAPÍTULO III
INTERSEÇÃO DA EDUCAÇÃO CONTEMPLATIVA 89
3.1 – Cronologia dos Mestres-Educadores da
Educação Contemplativa 89
3.2 – Psicologia 106
3.3 – Ética 116
3.4 – Os Grandes Pensadores Pedagógicos 120
3.5 – Moral 161
CAPÍTULO IV
INTELIGÊNCIA CONTEMPLATIVA 163
4.1 – Espiritualidade 164
4.2.1 – Or (D’us) 165
4.3 – Árvore da Vida e as Inteligências Múltiplas 168
4.4 – O desenvolvimento das Virtudes 171
4.4.1 – Inteligências (Sefirót) 171
4.4.2 – Estímulos (Letras Hebraicas) 181
CONCLUSÃO 195
GLOSSÁRIO 197
ANEXOS 201
BIBLIOGRAFIA 203
ÍNDICE 205
ATIVIDADES CULTURAIS 207
FOLHA DE AVALIAÇÃO 208
215
ATIVIDADES CULTURAIS
216
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição:
Título da Monografia:
Autor:
Data da entrega:
Avaliado por: Conceito: