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UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP
PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM PRODUÇÃO E GESTÃO AGROINDUSTRIAL
JOSÉ CARLOS SEVILHANO MENDES
DATA MINING COMO INSTRUMENTO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO DA PRODUÇÃO HORTIFRUTÍCOLA:
O CASO DE MATO GROSSO DO SUL
CAMPO GRANDE 2013
JOSÉ CARLOS SEVILHANO MENDES
DATA MINING COMO INSTRUMENTO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO DA PRODUÇÃO HORTIFRUTÍCOLA:
O CASO DE MATO GROSSO DO SUL
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em nível de Mestrado Profissional em Produção e Gestão Agroindustrial da Universidade Anhanguera-Uniderp, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Produção e Gestão Agroindustrial.
Comitê de Orientação:
Prof. Dr. Fernando Paim Costa Prof. Dr. Ivo Martins Cezar
CAMPO GRANDE
2013
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da Universidade Anhanguera - UNIDERP
Mendes, José Carlos Sevilhano.
Data mining como instrumento de apoio ao desenvolvimento da produção hortifrutícolas : o caso de Mato Grosso do Sul. / José Carlos Sevilhano Mendes. – Campo Grande, MS, 2013. 77 f. ; il. ; color.
Dissertação (mestrado) – Universidade Anhanguera – Uniderp, 2013.
“Orientação: Prof. Dr. Fernando Paim Costa, Prof. Dr. Ivo Martins Cezar”.
1. Hortaliças – Comércio 2. Frutas – Comércio 3. Banco de dados – Gerência 4. Armazenamentos de dados 5. Inteligência competitiva (Administração) – Serviços de informação 6. Data warehouse I. Título.
CDD 21.ed. 338.175 005.74
M491d
ii
AGRADECIMENTOS
Ao Grande Arquiteto do Universo, por me facultar a capacidade de
aprendizagem e aporte de conhecimentos.
Aos meus pais, por privilegiarem o seu sacrifício e a sua dedicação,
em benefício da minha cultura e educação.
A minha cúmplice, amiga e companheira Vera Lúcia pela
compreensão das minhas ausências.
Ao Grupo Caiobá, personificado por Evaldo Lelis Soares e Meire Lane
Gonçalves Soares, pela confiança e o apoio incondicional depositado.
À Divisão de Mercado da CEASA-MS, bem como a sua Presidência
pela sua disponibilidade e facilitação na estruturação desse trabalho.
À Prof.ª Dra. Mayra Batista Bitencourt Fagundes, pelas decisivas
contribuições na estruturação deste projeto.
Finalmente e não menos importantes, ao contrário, meus
agradecimentos aos meus orientadores, Prof. Dr. Ivo Martins Cezar e Prof. Dr.
Fernando Paim Costa, que me conduziram à realização deste trabalho.
Muito obrigado
iii
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 1 2 REVISÃO GERAL DA LITERATURA ................................................................. 4
2.1 A matriz insumo produto de Leontief: um prefácio da cadeia produtiva ......... 4
2.2 Cadeia produtiva agroalimentar ..................................................................... 6
2.3 Economia dos custos de transação na cadeia produtiva hortifrutícola .......... 7
2.3.1 Especificidade dos ativos ...................................................................... 8
2.3.2 Frequência ............................................................................................. 9
2.3.3 Incerteza .............................................................................................. 10
2.3.4 Estruturas de governança .................................................................... 11
2.4 Os sistemas de informações e o planejamento da produção ...................... 12
2.5 A inteligência competitiva resultante dos sistemas de informações ............. 13
2.6 As CEASAS como agentes reguladores e de fomento à produção ............. 16
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 18 3 ARTIGO 1 .......................................................................................................... 21 RESUMO .............................................................................................................. 22 ABSTRACT .......................................................................................................... 23
3.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 24 3.2 MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................ 26
3.2.1 Indicadores de oferta: dimensões e métricas ...................................... 27
3.2.2 Extração, tratamento e leitura (ETL) do Data Mining ........................... 28
3.2.2.1 Seleção dos dados ................................................................... 30
3.2.2.2 Limpeza dos dados .................................................................. 31
3.2.2.3 Integração dos dados ............................................................... 31
3.2.2.4 Transformação dos dados ........................................................ 32
3.2.2.5 Data Mining – Mineração dos dados ........................................ 33
3.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................... 33 3.3.1 Data Warehouse (DW) resultante da integração dos dados ................ 33
3.3.2 Mineração de dados – Data Mining (DM) ............................................ 34
3.3.3 Apresentação do conhecimento .......................................................... 35
3.4 CONCLUSÕES ............................................................................................ 38 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 40
iv
4 ARTIGO2 ........................................................................................................... 41 RESUMO .............................................................................................................. 42 ABSTRACT .......................................................................................................... 43
4.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 44 4.2 MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................ 45
4.2.1 Estimativa da demanda e oferta de hortifrutícolas destinadas ao
consumo alimentar no Estado de MS .................................................. 45
4.2.2 Indicadores de oferta ........................................................................... 46
4.2.3 Produtos passíveis de produção local em substituição às importações
............................................................................................................ 46
4.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................... 48 4.3.1 Perfil da comercialização das hortifrutícolas pela CEASA-MS ............ 48
4.3.2 Produção local ..................................................................................... 52
4.3.2.1 Volumes físicos da oferta ......................................................... 52
4.3.2.2 Origem da produção local ........................................................ 53
4.3.2.3 Valor bruto da produção local ................................................... 56
4.3.3 Importações de outros estados ............................................................ 59
4.3.3.1 Volumes físicos da oferta de outros estados ............................ 59
4.3.3.2 Origem das importações de outros estados ............................. 61
4.3.3.3 Valor bruto da produção de outros estados ............................. 66
4.3.4 Substituição das importações pela produção local .............................. 70
4.3.4.1 Hortaliças ................................................................................. 70
4.3.4.2 Frutas ....................................................................................... 72
4.3.4.3 Volumes físicos consolidados .................................................. 74
4.3.3.1 VBP consolidado ...................................................................... 75
4.4 CONCLUSÕES ............................................................................................ 75 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 77
v
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Processo de inteligência competitiva .................................................. 14
ARTIGO 1 Figura 1 – Diagrama das dimensões e métricas da Data Warehouse. ................ 27
Figura 2– Visão geral das etapas do KDD. .......................................................... 29
Figura 3 – “Romaneios” diários consolidados. ..................................................... 30
Figura 4 – Tipos de inconsistências presentes nos dados brutos. ....................... 31
Figura 5 – Modelagem do Data Warehouse. ........................................................ 34
Figura 6 – Agrupamento hierárquico com dimensões e métricas aptas à DM. .... 35
Figura 7 – Características da oferta de tomate pela unidade-caso em 2011. ...... 36
Figura 8 – Mesorregiões ofertantes de tomate da Região Centro-Oeste, 2011. .. 37
Figura 9 – Mesorregiões ofertantes de tomate da Região Sudeste, 2011. .......... 38
Figura 10 – Mesorregiões ofertantes de tomate da Região Sul, 2011. ................ 38
ARTIGO 2
Figura 1 – Diagrama de dimensões e métricas do Data Warehouse. .................. 46
Figura 2 – Oferta anual de produtos hortifrutícolas pela Ceasa-MS, 2011. .......... 48
Figura 3 – Demanda domiciliar e oferta pela Ceasa-MS em 2011, para produtos
selecionados. ...................................................................................... 51
Figura 4 – Oferta mensal da produção local na CEASA-MS em 2011. ................ 52
Figura 5 – Oferta trimestral de produtos hortifrutícolas pela CEASA-MS
em 2011 com volumes anuais superiores a 1000 toneladas. ............. 53
Figura 6 – Distribuição espacial da oferta de hortifrutícolas pela Ceasa-MS
em 2011 pelos municípios ofertantes da produção local. .................. 54
Figura 7 – Principais municípios ofertantes da produção local na Ceasa- MS
em 2011. ............................................................................................ 54
Figura 8 – Variação mensal do raio médio ponderado correspondente à
distância da origem do produto à Ceasa-MS, 2011. .......................... 55
vi
Figura 9 – VBP mensal da produção local ofertada na Ceasa-MS em 2011. ...... 56
Figura 10 – Classificação dos dez principais produtos na geração do VBP local
em 2011 ............................................................................................ 57
Figura 11 – Principais municípios ofertantes da produção local na Ceasa-MS
segundo o VBP em 2011 .................................................................. 58
Figura 12 – Importações mensais de hortifrutícolas de outros estados pela
Ceasa-MS, 2011. .............................................................................. 59
Figura 13 – Importações trimestrais de produtos hortifrutícolas de outros estados
com volumes superiores a 1000 ton anuais pela Ceasa-MS, 2011. . 60
Figura 14 – Principais municípios ofertantes de outros estados na Ceasa-MS,
2011 .................................................................................................. 61
Figura 15 – Distribuição espacial de mesorregiões ofertantes na Ceasa-MS,
2011 ................................................................................................. 62
Figura 16 – Principais mesorregiões ofertantes na Ceasa-MS, 2011. ................. 63
Figura 17 – Importações de outros estados pela Ceasa-MS, 2011. ..................... 64
Figura 18 – Raio médio mensal (km) das importações de outros estados pela
Ceasa-MS em 2011. ......................................................................... 66
Figura 19 – VBP e oferta de importações de outros estados pela Ceasa-MS,
2011. ................................................................................................. 67
Figura 20 – Classificação dos dez principais produtos importados segundo o
VBP. .................................................................................................. 68
Figura 21 – Principais municípios de outros estados fornecedores da
Ceasa-MS, segundo o VBP de 2011. ............................................... 69
Figura 22 – Indicadores de oferta das hortaliças passíveis de substituição
pela produção local em 2011. ........................................................... 70
Figura 23 – Indicadores de oferta das frutas passíveis de substituição pela
produção local em 2011. ................................................................... 72
Figura 24 – Reflexos do cenário da substituição das importações pela
Ceasa-MS em 2011: Volumes físicos. .............................................. 74
Figura 25 – Reflexos do cenário da substituição das importações pela
Ceasa-MS em 2011: VBP ................................................................. 75
1 INTRODUÇÃO GERAL
A relevância econômica do setor hortifrutícola na cadeia produtiva
agroalimentar é incontestável. Do pequeno varejo até as grandes redes de
supermercados, o setor de frutas, legumes e verduras (FLV) tornou-se um dos
principais responsáveis pelo atual faturamento desse segmento, além de
representar um dos fatores de opção de escolha do consumidor por um dado
supermercado. O setor hortifrutícola in natura também alcança, com forte presença,
as firmas de refeições coletivas e as de consumo alimentar fora do domicílio.
Aspecto importante do setor hortifrutícola é sua capacidade de
geração de empregos, sobretudo no setor primário. Estima-se que, do preparo do
solo até a comercialização, dependendo da cultura, são gerados de 3 a 6 empregos
diretos por hectare plantado. Esse nível de geração de emprego significa, no
mínimo, uma ocupação de mão de obra ao redor de 2,4 milhões de pessoas (MELO,
2010).
Em relação ao mercado consumidor, as perspectivas de absorção da
expansão da produção são bem razoáveis. De acordo com o Ministério da Saúde
(2008), o Guia Alimentar Brasileiro recomenda que o consumo diário per capita,
composto de frutas, legumes e verduras, seja de 400 gramas ao dia, equivalentes
a 146 kg/ano. A média nacional de consumo, de acordo com a Pesquisa de
Orçamentos Familiares (POF) de 2008/2009 está situada em torno de 27 kg/ano
(IBGE, 2011).
Assim, o setor hortifrutícola extrapola sua relevância ao contexto
econômico do agronegócio, podendo exercer papel fundamental na formulação de
políticas públicas de renda e emprego, saúde e segurança alimentar.
2
Um dos organismos presentes na cadeia produtiva da hortifrutícultura
capaz de influenciar na formulação de políticas públicas são as Centrais de
Abastecimento – CEASAS, cujo papel exercido cumpre algumas funções de
Estado, seja pela ausência ou omissão deste. Esse papel de quase estado se
revela na condução ou implantação de políticas públicas em diversas áreas
setoriais, assemelhando-se ao de agências de desenvolvimento, definindo normas
e padrões de coordenação a montante e a jusante do segmento atacadista
(CUNHA, 2006).
Ainda, segundo Cunha (2006), a falta de clareza das instâncias
governamentais e dos órgãos de coordenação setorial, sobre qual é o papel das
Ceasas e para onde devem se orientar, são refletidas na incompreensão das suas
possibilidades e dos possíveis ganhos como coordenação da cadeia produtiva.
Esse posicionamento conduz os demais agentes da cadeia produtiva, usuários e
consumidores ao não reconhecimento de que:
a. As CEASAS geram valores que são apropriados privadamente na
forma de sobre lucros, ou posição estratégica ou informações
privilegiadas de determinados grupos.
b. É o espaço cujo bem público estratégico, mais do que a
localização, é a informação e sua isonomia;
c. Que as informações constituem um bem público e que influenciam
a organização do sistema de abastecimento;
d. Que um sistema coordenado de informações permitiria tanto ao
governo quanto à iniciativa privada detectar com mais rapidez e
eficiência as variações de oferta e preços, riscos e oportunidades.
Diante das ponderações anteriores é plausível afirmar, que um dos
efeitos esperados pela atuação das CEASAS, é a redução das incertezas no âmbito
das atividades de comercialização, concernentes à cadeia produtiva hortifrutícola.
Estudos sobre a economia das transações da cadeia produtiva de produtos
hortifrutícolas, principalmente, no que tange à assimetria das informações como
fator de incerteza, justifica-se pela importância e benefícios para os atores da
produção local.
Como resposta a essa problemática, a disponibilidade pública de
ferramentas de apoio à decisão pode produzir análises conjunturais de mercado,
3
além de expressivos subsídios ao planejamento da produção e comercialização de
produtos hortifrutícolas.
Cabe ressaltar que instituições governamentais, organizações de
interesse público, e as próprias CEASAS, impulsionadas pela tecnologia e
abrangência da INTERNET, propiciam essa disponibilidade pública de dados e
informações, porém, de difícil visualização, interpretação e respectiva aplicação na
geração e capitalização do conhecimento.
Han e Kamber (2001) apontam que a informação e o conhecimento
obtidos nessas bases de dados podem ser utilizados para diversas aplicações, que
vão do gerenciamento de negócios, controle de produção e análise de mercado, ao
projeto de engenharia e exploração científica.
Fayyad, Shapiro e Smyth (1996) afirmam que, dado o crescimento
exponencial desses bancos de dados, tornam-se necessárias novas ferramentas e
técnicas para análise automática e inteligente de bancos de dados.
O conjunto de técnicas que permite identificar informações
estratégicas ou padrões de desempenho em grandes volumes de dados é chamado
de Data Mining (DM) ou mineração de dados. Esse conjunto de técnicas integra um
processo maior de “descoberta de conhecimento em bancos de dados” (KDD -
Knowledge Discovery in Databases).
Nesse contexto, este trabalho procurou investigar inicialmente, por
meio do desenvolvimento de um Sistema de Apoio à Decisão (SAD), se os
processos de KDD e DM em bases de dados disponibilizados pelas Ceasas podem
contribuir na geração de análises de mercado, visando subsidiar os produtores
rurais, na formulação do planejamento da produção e comercialização dos produtos
hortifrutícolas. Posteriormente, dados disponíveis da Divisão de Mercado (DIMER)
da Ceasa de Mato Grosso do Sul (CEASA-MS), foram analisados com a utilização
do SAD desenvolvido, onde foi verificado o grau de dependência externa (produtos
hortifrutícolas oriundos de outros estados) no abastecimento da CEASA-MS e os
possíveis impactos a serem gerados pela substituição dessas importações pela
produção local.
2 REVISÃO GERAL DA LITERATURA
2.1 A matriz insumo-produto de Leontief: um prefácio da cadeia produtiva
Os trabalhos de Leontief iniciaram-se em 1931 na Universidade de
Harvard, suas ideias básicas foram apresentadas pela primeira vez em 1936, no
artigo “Quantitative Input-Output Relations in the Economy System of the United
States” (ROSSETTI, 2003).
A concepção do modelo insumo-produto de Leontief deriva do fato de
que cada produto pode ser interpretável como insumo, na medida em que é
aproveitado por outro sistema em cadeia (LANGONI, 1983).
Segundo Leontief (1983), o método insumo-produto foi
originariamente desenvolvido para analisar e avaliar as relações entre os diversos
setores produtivos e de consumo de uma economia nacional, mas pode ser
aplicado ao estudo de uma grande empresa individual integrada.
Em 1758, por exemplo, François Quesnay reproduziu a operação de
um único estabelecimento, no caso uma unidade agrícola. Por meio de gráficos
conseguiu demonstrar os sucessivos “turnos” de agregação de valor, resultado de
um dado incremento ao produto (MIERNIK, 1975).
A maior parte das aplicações da análise insumo-produto,
principalmente, o desenvolvimento de multiplicadores de emprego e renda, é feita
no nível regional. Esses modelos podem ter a abrangência de um estado especifico,
um grupo de municípios dentro de um estado, ou, até mesmo, pequenas
comunidades.
Por outro lado, as análises inter-regionais possuem um maior grau de
5
complexidade, seus dados normalmente apresentam níveis elevados de
agregação, com maior detalhamento sobre compras e vendas por região, e
raramente estão disponíveis (MIERNIK, 1975).
As definições de agribusiness e cadeia produtiva apresentam-se
como dois conjuntos de ideias que, apesar de distantes em relação à dimensão
temporal, aos locais de origem e à abrangência, apresentam características
comuns quanto à sua aplicabilidade. O modelo insumo-produto de Leontief é uma
intersecção das características existentes nesses conjuntos (ZYLBERSZTAJN,
1995).
O primeiro conjunto dessas ideias foi a criação do conceito de
agribusiness, que abrange especificamente os sistemas agroindustriais, resultou
dos trabalhos de Davis e Goldberg, em 1957, na Universidade de Harvard.
Inspirados na matriz insumo-produto de Leontief, esses autores incorporaram
aspectos dinâmicos através do reconhecimento das mudanças que ocorrem ao
longo do tempo num sistema de produção (BATALHA e SILVA, 2007).
A segunda abordagem foi desenvolvida pela escola industrial
francesa, por meio da analyse de filiére. A introdução do conceito de filiére enfatiza
a utilidade e as aplicações da matriz insumo-produto nas definições de recortes
econômicos pela ciência do agribusiness mundial. Considerando as inter-relações
dos setores presentes numa análise insumo-produto é possível definir uma filiére a
ser estudada (ARENA et al., 1961 citado por TALAMINI e PEDROSO, 2004).
Em que pese inicialmente essa abordagem não estar originariamente
destinada a estudar os sistemas agroindustriais, encontrou forte amparo entre os
economistas agrícolas e pesquisadores ligados aos setores rural e agroindustrial
(BATALHA e SILVA, 2007).
Segundo Zylbersztajn (1995), tanto o enfoque de Harvard quanto o
enfoque da escola industrial francesa possuem uma gênese comum baseada no
modelo insumo-produto de Leontief. Além dessa caracteristica, ambos os enfoques
tratam de temas estratégicos, as filiéres (cadeias produtivas) referenciando as
ações governamentais, preferencialmente, e o enfoque de Harvard focado nas
estratégias das corporações, mas não exclusivamente.
Morvan (1985), citado por Zylbersztajn (1995), sugere a adoção
conceitual de cadeia (filére), para análise e descrição dos sistemas produtivos como
6
um instrumental de gestão, aplicadas em relação às estratégias das firmas ou no
apoio de políticas governamentais.
Batalha e Silva (2007) afirmam haver certo conflito na literatura que
aborda a temática agroindustrial e agroalimentar no Brasil, no que diz respeito aos
conceitos de Sistema Agroindustrial, Complexo Agroindustrial, Cadeia Produtiva e
Agronegócio.
Como o objetivo deste trabalho é a análise do mercado potencial de
produtos hortifrutícolas in natura destinados ao consumo domiciliar, as
conceituações da temática citada anteriormente ficarão limitadas à definição de
Cadeia Produtiva Agroalimentar.
2.2 Cadeia produtiva agroalimentar
Uma cadeia agroalimentar caracteriza-se pelos seguintes segmentos
produtivos: “antes da porteira da fazenda”, representado pelos insumos e serviços
necessários à produção; “dentro da porteira”, que é a própria produção
agropecuária; “depois da porteira da fazenda”, que é a distribuição in natura da
produção agropecuária ou a sua destinação à industrialização (MEGIDO e XAVIER,
2003).
Morvan (1988), citado por Batalha e Silva (2007), enumera três
definições em relação a uma visão sistêmica da cadeia produtiva:
1. A cadeia produtiva é uma sucessão de operações de
transformação dissociáveis, capazes de ser separadas e ligadas
entre si por um encadeamento técnico;
2. A cadeia produtiva é também um conjunto de relações comerciais
e financeiras, entre todos os estados de transformação, um fluxo
de troca, situado de montante à jusante, entre fornecedores e
clientes;
3. A cadeia produtiva é um conjunto de ações econômicas que
presidem a valoração dos meios de produção e asseguram a
articulação das operações.
Para Araújo (2009), a análise da cadeia produtiva de cada produto
agropecuário permite identificar ações e inter-relações entre todos os agentes que
7
a compõe e dela participam, facilitando:
a. Efetuar a descrição de toda a cadeia de produção;
b. Reconhecer o papel da tecnologia em sua estruturação;
c. Organizar estudos de integração;
d. Compreender a matriz insumo-produto para cada produto
agropecuário;
e. Analisar as estratégias das firmas e das associações.
As cadeias produtivas podem ser divididas em três macros
segmentos: comercialização, industrialização e produção de matérias-primas. A
cadeia de produção pode ser vista como um sistema aberto, onde as fronteiras são
permeáveis e permitem trocas com o meio, e sua estrutura é percebida como a
maneira pela qual seus elos estão integrados internamente (BATALHA e SILVA,
2007).
Nesses macros segmentos, observam-se diversos arranjos
organizacionais que dirigem as transações, ou seja, diferentes estruturas de
governança.
.
2.3 Economia dos custos de transação na cadeia produtiva hortifrutícola
O objetivo deste item, com base na revisão da literatura, é caracterizar
tão somente os atributos das transações da cadeia hortifrutícola, destinadas à
comercialização de produtos in natura por meio da CEASA-MS, e não a
complexidade dos contratos ou arranjos produtivos.
As estruturas de governança podem ser analisadas por meio da
Economia dos Custos de Transação (ECT), que constitui um ramo da Nova
Economia Institucional (NEI). A ECT visa compreender as instituições que regulam
transações particulares entre os agentes econômicos, tais como contratos
interfirmas e modelos de governança internos à empresa. Essas transações
possuem custos implícitos que, segundo Coase (1937), citado por Arbage (2004),
decorre fundamentalmente da tentativa de obtenção de informações do mercado.
Neves (1995) aponta que mesmo antes de iniciada a transação já
ocorre incidência de custos, sejam custos decorrentes de informações sobre o
mercado, agentes ou parceiros, os chamados custos ex-ante da transação. Os
8
custos ex-post englobam o monitoramento do desempenho e as renegociações,
dentre outros.
Williamson (1996) delimitou três fatores que podem explicar a adoção
de diferentes estruturas de governança: a especificidade dos ativos envolvidos nas
transações, a frequência em que elas ocorrem e a incerteza associada ao
cumprimento das regras.
Para Cordeiro, Tredezini e Carvalho (2008), a ECT se revela como
instrumento eficiente no estudo das relações econômicas do agronegócio no
tocante aos aspectos dos custos de transação. A partir desses estudos, a ECT pode
influenciar na determinação da melhor estrutura de governança que minimiza os
custos de transação.
Nesse contexto, apresentam-se três formas básicas de governança:
o mercado clássico (spot), as formas híbridas (caso dos contratos de integração
nas cadeias de aves e suínos) e a integração vertical ou hierárquica (por exemplo,
abatedouro que produz animais em fazendas próprias) (GUANZIROLI, BUAINAIN
e SOUZA FILHO, 2008).
2.3.1 Especificidade dos ativos
A produção agropecuária possui algumas especificidades que a
diferenciam da produção de outros bens manufaturados. Nesse sentido, a produção
hortifrutícola destinada ao consumo in natura revela essas especificidades de modo
mais objetivo, como: a sazonalidade da produção; a influência de fatores biológicos
e climáticos além da sua rápida perecibilidade (ARAÚJO, 2009).
Essas diferenciações em relação aos bens manufaturados são
corroboradas pelas contribuições de Cordeiro, Tredezini e Carvalho (2008), onde
as transações de compra e venda de produtos hortifrutícolas destinados à
distribuição, segundo esses autores, incorporam três tipos de especificidade:
a. Em relação à especificidade física geralmente é avaliada como
baixa, já que produtos hortifrutícolas se apresentam pouco
diferenciados e são destinados a uma camada expressiva de
consumidores. Exceções devem ser frisadas a algumas espécies
de frutas, que podem se diferenciar por meio de uma rotulagem de
9
origem, como por exemplo, o melão oriundo de determinados
clusters produtivos localizados na região Nordeste do Brasil;
b. Em relação à especificidade do capital humano, que engloba o
conhecimento técnico da produção e comercialização também
pode ser avaliada como baixa, ambos, estão plenamente
difundidos e exigem reduzidos pré-requisitos técnicos ou
profissionais e;
c. A especificidade temporal é mais significativa, principalmente em
relação ao consumo in natura, já que, uma das características de
diferenciação dos produtos é o frescor, o que conduz a uma alta
frequência de repetição das transações.
2.3.2 Frequênci a
Em face da rápida perecibilidade dos produtos hortifrutícolas a
frequência das transações é intensa. No que tange as hortaliças folhosas, a
reposição dos produtos junto aos pontos de venda ou distribuição requer um
fornecimento diário. Em princípio, do ponto de vista tecnológico não haveria
restrições nesse atendimento recorrente, mesmo no período de chuvas intensas
conjugadas com altas temperaturas podem provocar a queda na qualidade das
folhosas, entretanto, sistemas de produção como o cultivo protegido, podem reduzir
de forma significativa esses riscos.
De acordo com Junqueira e Peetz (2010), a alta frequência de
transações leva ao estabelecimento de confiança entre as partes ao longo do
tempo, reduzindo a necessidade de utilização de contratos formais. A alta
frequência de uma mesma transação influi na percepção que as pessoas têm uma
das outras, reduzindo desse modo a assimetria informacional acerca de atributos
individuais, como competência, valores e códigos de conduta. Entretanto, não se
pode inferir que a alta frequência das transações represente entre os agentes, a
certeza futura de aquisições ou de fornecimento. Essa confiança só será
estabelecida e consolidada em decorrência do efetivo do recebimento físico por
parte do comprador e o respectivo pagamento ao fornecedor após inúmeras
efetivações de transações.
10
2.3.3 Incerteza
A incerteza pode ser definida como a incapacidade de prever a
ocorrência de eventos futuros, refletindo no aumento das possibilidades de perdas
derivadas do comportamento oportunista entre os agentes (MACHADO, 2002).
Para o produtor rural as maiores incertezas advêm das condições
climáticas durante o ciclo de produção e perdurando até a efetiva colheita, já que
esses impactos podem influenciar diretamente a produtividade da lavoura, bem
como a qualidade da produção.
Outro fator de incerteza a ser considerado é o preço do produto, que
no caso dos hortifrutícolas, está diretamente ligado ao volume da oferta e é formado
no momento da venda, portanto, sujeito a efeitos do mercado nem sempre
ponderáveis. O domínio sobre as variáveis de preços e elementos de oferta e
demanda, é complexo, e a busca por informações mais aprofundadas é um
processo sistemático, demorado e dispendioso (SOUZA, 2005).
As transações no chamado mercado puro, característica própria do
ambiente das CEASAS, ocorrem de forma instantânea, os processos de gestão
estão unificados, ou seja, não existe uma separação clara e definida quanto às
funções comercial, logística e financeira (SOUZA, 2005).
Green e Schaller (1998), citados por Souza (2005) destacam que esse
mercado puro cumpre uma função logística de distribuição e propiciam a criação
de uma economia de escala, assemelhando-se a uma rede. A alta perecibilidade,
o fornecimento fragmentado, a informação imprecisa e assimétrica deixam o
atacadista em posição de vantagem em relação ao produtor no processo de
negociação.
Leão de Souza et al. (1998), confirmam essa posição de vantagem do
atacadista e outros agentes presentes nas CEASAS, onde são beneficiados por
critérios subjetivos de classificação, fator que possibilita comportamentos
oportunistas em momentos de excesso de oferta. Outra variável importante e que
pode traduzir benefícios a estes agentes é a assimetria de informações,
principalmente no que se refere aos preços praticados no mercado.
A ausência do planejamento e gestão da produção, destacadamente
na produção de hortaliças aumentam as incertezas comerciais, tendo em vista que,
11
as informações de mercado são reduzidas e com baixa disponibilidade.
Esse cenário é complementado pelo fato dos produtores não
possuírem o acesso facilitado a essas informações, ou a busca dessas
informações, não se constituírem num fator de tomada de decisão por parte dos
produtores de hortifrutícolas.
2.3.4 Estruturas de governança
A prevalência de estrutura de governança na cadeia produtiva da
hortifrutícultura é o chamado mercado spot ou puro, já que pela baixa
especificidade dos ativos envolvidos, a alta frequência das transações e a influência
da incerteza, conduzem os agentes a uma redução na formalização de contratos.
Segundo Junqueira e Peetz (2010), acordos informais são estabelecidos entre os
pequenos produtores, feirantes e quitandas, onde em dias pré-determinados os
produtos são entregues, novas encomendas solicitadas e o acordo dos preços a
serem praticados, portanto, sem grandes negociações entre os agentes.
Essa informalização deriva do fato de que os pequenos produtores
não conseguem estabelecer uma produção linear e constante, não conseguindo
suprir adequadamente a demanda existente, constituindo-se em fator limitante ao
fornecimento da sua produção às redes de supermercados e de food service
(serviços de alimentação) (JUNQUEIRA e PEETZ, 2010).
Azevedo (2007) considera que essa relação informal, mesmo não
contando com salvaguardas contratuais, apresenta vantagens ao pequeno
produtor, tendo em vista o baixo custo da negociação e uma maior adaptabilidade
frente às mudanças frequentes no ambiente econômico. Entretanto, não permite a
exploração de mercados onde não basta somente o atributo da reputação, sendo
assim, a expansão da sua escala de produção fica extremamente limitada.
Blecher (2002) destaca que as grandes redes criaram escala e se
ajustaram de acordo com as novas necessidades e exigências de seus
consumidores. Desse modo, novas regras no relacionamento comercial passaram
a compor as negociações: formalização de contratos de longo prazo e outras
exigências, além do preço, da pontualidade na entrega e da qualidade dos
produtos: consolidou-se como rotina no mercado de descontos para lançamento,
promoções, vendas em datas especiais, bonificações e contribuições para
12
inaugurações de lojas.
Essa estrutura hibrida exclui pequenos produtores que atuam de
forma isolada, ela favorece empresas profissionais e planejadas. Isso não impede,
contudo, que esses produtores, com a devida assistência técnica, se associem em
cooperativas ou outros arranjos, e passem a compor o grupo de fornecedores das
grandes redes.
Para essas especificidades de fornecimento surgiram respostas como
novas relações no setor baseadas em inovações organizacionais e logísticas,
provocando o enfraquecimento das formas públicas tradicionais de abastecimento
e o fortalecimento das novas estruturas privadas, conduzindo a estruturas hibridas
de governança (MACHADO, 2002).
Essas novas relações podem justificar um novo papel a ser exercido
pelas CEASAS, enquanto agentes de fomento de políticas públicas
agroalimentares, frente às novas necessidades da cadeia produtiva da
hortifrutícultura. A coordenação de uma cadeia produtiva deve ser entendida como
o processo de transmissão de informações, estímulos e controles para orientar o
movimento dos agentes de forma consistente (GUANZIROLI, BUAINAIN e SOUZA
FILHO, 2008).
2.4 Os sistemas de informações e o planejamento da produção
De acordo com Scarpelli e Batalha (2001), o planejamento da
produção dentro do segmento da produção rural é pouco estudado sob a ótica do
balanceamento dos recursos produtivos. Uma das possíveis causas pode estar
ligada à crença de que a produção rural é mais um produto decorrente das forças
da natureza do que da administração científica. Outro aspecto concernente é de
que a terra é um fator de produção, uma máquina de produzir.
Em sistemas de produção industrial define-se primeiramente o
produto a ser fabricado, para em seguida definir-se o ferramental de produção.
Normalmente, nos empreendimentos rurais a terra está disponível. Este fato
condiciona a primeira decisão no planejamento rural: quais produtos podem ser
obtidos por essa máquina de produzir? No planejamento do empreendimento rural,
em moldes empresariais, existe um número significativo de variáveis aleatórias,
suportadas por informações nem sempre prontamente disponíveis e que tampouco
13
espelham a realidade (SCARPELLI e BATALHA, 2001).
Megido e Xavier (2003) afirmam que a eficácia de negócios está
diretamente relacionada à sua visão enquanto cadeia sistêmica, subordinadas às
dimensões de qualidade intrínseca de seus produtos e processos empresariais,
vindos de um mercado construído sob uma nova natureza mercadológica. O
gerenciamento eficaz das cadeias agroalimentares não foge a essas premissas,
estando sujeito aos novos pressupostos da era da informação.
Davis (1986) afirma que um Sistema de Informações é um sistema
integrado entre máquina e usuário que fornece informações para o apoio na análise
e tomada de decisões na empresa.
Um Sistema de Informações incorpora um caráter mais abrangente,
conforme a seguinte descrição:
“Um Sistema de Informações é um conjunto de componentes inter-relacionados trabalhando juntos para coletar, recuperar, processar, armazenar e distribuir informação com a finalidade de facilitar o planejamento, o controle, a coordenação, a análise e o processo decisório em empresas e outras organizações.” (LAUDON e LAUDON, 2003).
Essa nova ordem mundial, movida pela informação e pelo
conhecimento, seu principal fator de produção, tem como consequência o
surgimento da Sociedade do Conhecimento (DRUCKER, 1997).
A organização, que anteriormente apenas se preocupava com o
ambiente de negociações, atualmente deve monitorar todo o macro ambiente -
político, tecnológico, econômico, social - e tentar antever as futuras modificações
como forma de sobrevivência no mercado.
2.5 A inteligência competitiva resultante dos sistemas de informações
Para Porter et al. (2002), a inteligência competitiva é um instrumento
geralmente utilizado por empresas para eticamente identificar, coletar, sistematizar
e interpretar informações relevantes sobre seu ambiente concorrencial. A
capacidade computacional, dada pelos avanços nas tecnologias de informação,
permite a fácil utilização de softwares para acesso e tratamento a bases de dados
enormes, superando em muito a capacidade de cobertura possível por modos
14
tradicionais de inspeção.
Garcia Torres (2000) interpreta a inteligência competitiva como um
sistema de monitoramento, definindo-a como um conjunto de procedimentos para
coleta e análise de informação sobre o macro ambiente, que possibilitariam à
organização um processo de aprendizagem contínuo, voltado ao planejamento e a
decisões estratégicas (FIGURA 1).
Fonte: AIEC (2010)
Figura 1 – Processo de inteligência competitiva.
De acordo com Maldonado (1998) é nesse contexto que surge a
discussão acerca da inteligência competitiva caracterizada pelo trinômio –
globalização, competitividade e concorrência acirrada, ou seja, a busca por
crescentes fontes de informações científicas, tecnológicas e econômicas que
sustentem a tomada de decisão. Essas fontes de informações devem ainda,
assegurar a redução do tempo de resposta frente às exigências do ambiente
externo, visando ao desempenho e ao posicionamento da organização no contexto
socioeconômico em que atua.
15
Uma das ferramentas que viabiliza o gerenciamento de um sistema
de inteligência competitiva é o processo de Data Mining (DM), que lida com a
geração de um volume cada vez maior de informação, tentando aproveitar o
máximo possível delas e tentando descobrir se há algum conhecimento escondido
nelas, obtendo uma série de vantagens suficientemente importantes para justificar
todo o processo (AIEC, 2010).
A gestão da inovação é caracterizada por três práticas comuns para
o atingimento de resultados pretendidos pela adoção dessa estratégia como
instrumento de gestão:
“Foresight: O termo originário da Língua Inglesa denota a capacidade de prever eventos prováveis e, utilizando essa visão de futuro, elaborar planos de ação de forma estratégica. A União Europeia considera um instrumento de gestão de inovação que incorpora três dimensões de modo integrado: pensar o futuro, debater o futuro e modelar o futuro. Gestão do conhe cimento: A gestão do conhecimento enfatiza os organismos e instrumentos de compartilhamento, circulação e aperfeiçoamento do capital intelectual produzido nas organizações, proporcionando condições para que o conhecimento seja criado, socializado e externalizado dentro das organizações, transformando-o de tácito em explícito. Inteligência competitiva: Processo de desenvolvimento de identificação, sistematização e interpretação de sinais do ambiente das organizações com o objetivo de alimentar processos de decisão.” (POSSOLI, 2011)
A inteligência competitiva é um dos mecanismos da gestão da
inovação, que representa uma alternativa de estratégia de sobrevivência das
organizações, no atual ambiente competitivo. A adoção da estratégia de inovação
é altamente decorrente das necessidades das organizações em fornecer melhores
produtos, mais baratos, mais seguros, no tempo certo, com entrega rápida e com
a garantia de satisfação das necessidades dos seus grupos de interesse.
Cunha (2006) corrobora para a adoção de uma estratégia inovadora
de gestão das centrais de abastecimento, quando afirma que, o grande desafio para
as CEASAS é oferecer serviços que sejam eficientes e eficazes e que sejam
capazes de atender demandas operacionais em larga escala e ainda prover os
serviços necessários para acompanhar o ritmo de expansão dos negócios privados
que regula.
16
2.6 As CEASAS como agentes reguladores e de fomento à produção
As primeiras experiências na regularização da comercialização de
produtos hortifrutícolas nos espaços urbanos ocorreram nas cidades de São Paulo
e Recife, na década de sessenta. Na capital paulista a iniciativa partiu do Governo
Estadual, em Recife, através da Superintendência do Desenvolvimento do
Nordeste (SUDENE) (MOURÃO e COLOMBINI, 2008).
Em 1972 o Governo Federal criou o Sistema Nacional de Centrais de
Abastecimento (SINAC), ficando a cargo da Companhia Brasileira de Alimentos
(COBAL) – a coordenação do planejamento e execução de ações dirigidas para a
organização e fomento do setor de produtos hortifrutigranjeiros. Até a sua
interrupção, no final de 1986, por conta das mudanças no controle acionário das
empresas Ceasa, o SINAC chegou a ser referenciado pela Food and Agriculture
Organization (FAO) – Organização das Nações Unidas para Agricultura e
Alimentação e o Banco Mundial como modelo de centrais de abastecimento
(ZEITUNE, 2011).
Do conceito inicial de gestor da organização dos espaços de
comercialização de hortifrutigranjeiros nas grandes cidades, o SINAC foi o grande
responsável pela modernização e ampliação do setor como um todo. A
diversificação dos produtos ofertados pelas centrais de abastecimento provocou a
adoção de novos hábitos alimentares, levando ao surgimento dos chamados
cinturões verde no entorno de grandes centros urbanos, áreas exclusivamente
destinadas à produção hortifrutigranjeira. Essas áreas vieram a contribuir de modo
relevante para a regularidade da oferta, transferindo menores custos de transporte
e distribuição aos preços finais (ZEITUNE, 2011).
A descontinuidade do SINAC e a privatização das empresas Ceasa,
por meio da transferência do controle acionário para Estados e Municípios,
provocaram um total retrocesso e desmantelamento da estrutura organizacional
que até então as empresas CEASA haviam estabelecido, abdicando do papel de
agente de fomento à produção hortifrutigranjeira para mero entreposto.
Desse modo, o papel das CEASAS foi remetido ao ano de 1967, em
que o Ministério do Planejamento, por meio do Plano Decenal de Desenvolvimento
Econômico define as CEASAS como: “Ponto de Reunião de Agentes de
Comercialização”. Sob esse conceito, as CEASAS assumem o conceito de
17
comércio, portanto, ao atravessar a porteira da propriedade o produtor rural torna-
se um mero agente de um canal de comércio com regras próprias (MOURÃO e
COLOMBINI, 2008).
A partir de 2005, por meio das articulações da Associação Brasileira
de Centrais de Abastecimento (ABRACEN), Companhia de Entrepostos e
Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP) e Centrais de Abastecimento de Minas
Gerais S/A (CEASAMINAS), o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA) criou o Programa de Modernização do Mercado Hortigranjeiro
(PROHORT), sob a coordenação da Companhia Nacional de Abastecimento
(CONAB).
O PROHORT projeta uma maior amplitude da atuação das centrais
de abastecimento, de acordo com os objetivos do programa:
“[...] estimular e coordenar a captação de dados relativos ao processo de comercialização dos mercados atacadistas de hortigranjeiros e a integração dos seus respectivos bancos de dados, universalizando as informações; favorecer melhorias nos processos de gestão técnico-operacional e administrativa dos mercados atacadistas; agregar inteligência e conhecimentos tecnológicos gerados pelo desenvolvimento do setor, em âmbito nacional e internacional, para transferência à cadeia produtiva, orientados às necessidades e exigências de mercado; prestar assessorias e consultorias em infraestrutura física, tecnológica e ambiental aos mercados atacadistas, resguardada a existência de suporte requerido e estimular a interação do setor com as universidades, órgãos de pesquisa e fomento, instituições públicas e privadas, organizações não governamentais e às políticas públicas de abastecimento e de segurança alimentar e nutricional” (CEASA, 2005).
Cunha (2006) salienta que “é necessário e imprescindível que o
PROHORT inicie seu processo de diagnóstico amplo do sistema que se propõe a
estruturar, de forma a compreender e potencializar o alcance e a dinâmica do
segmento.”
18
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3 ARTIGO 1
DATA MINING COMO INSTRUMENTO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO DA PRODUÇÃO HORTIFRUTÍCOLA
22
DATA MINING COMO INSTRUMENTO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO DA PRODUÇÃO HORTIFRUTÍCOLA
RESUMO
A incerteza na produção agropecuária abrange desde riscos climáticos e
fitossanitários até a gestão de preços de venda, volumes de produção e estratégias
de comercialização. Nesse sentido, a redução da assimetria das informações em
favor dos produtores rurais pode contribuir no planejamento da produção e na
gestão eficiente dos recursos produtivos. Um dos agentes públicos responsáveis
pela redução da assimetria das informações, particularmente, na comercialização
atacadista de produtos hortifrutícolas, são as Centrais de Abastecimento (Ceasas).
Entretanto, a grande maioria dessas centrais não acompanhou a evolução
tecnológica da disseminação da informação e seus mecanismos de comunicação
com seus grupos de interesse. Diante disso, o objetivo deste trabalho foi verificar
se a aplicação de Data Mining – mineração de dados, em bases secundárias de
dados, pode fornecer instrumentos de tomada de decisão aos grupos de interesse
das Ceasas. Para a execução desse objetivo foi construído um Data Warehouse, a
partir dos dados constantes no documento denominado “Romaneio”, cuja utilização
é comum no registro do recebimento diário de mercadorias pelas Ceasas. A base
de dados foi constituída pela importação dos dados oriundos desse documento,
consolidados em planilhas eletrônicas disponibilizadas pela unidade-caso Ceasa
do Estado de Mato Grosso do Sul, além das bases de dados do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) e do Programa de Modernização do Mercado
Hortigranjeiro (PROHORT). Como resultado do trabalho, foi desenvolvido um
aplicativo que viabiliza o processo de Data Mining quanto aos volumes ofertados
dos produtos, à sua origem de produção e ao valor bruto da produção ofertada
pelas Ceasas.
Palavras chave: Abastecimento; assimetria de informações; inteligência
competitiva; Data Warehouse.
23
DATA MINING AS A TOOL TO SUPPORT THE DEVELOPMENT OF
FRUIT AND VEGETABLE PRODUCTION
ABSTRACT The uncertainty in agricultural production ranges from climate and phytosanitary
risks until the management of sale prices, production volumes and marketing
strategies. Accordingly, reducing the asymmetry of information in favour of farmers
may contribute for a better planning and a more efficient resources management.
The main organizations responsible for reducing information asymmetry, particularly
in the wholesale marketing of legumes and fruits, are, in Brazil, the CEASA’s (supply
centers). However, the vast majority of these market places did not follow the
technological evolution of information diffusion mechanisms, and their
communication with its stakeholders. Thus, the objective of this study was to
determine whether the application of Data Mining in secondary databases can
provide adequate decision-making tools for CEASA’s stakeholders. To implement
this goal it was built a Data Warehouse, with data from the document entitled
"Romaneio", ordinarily used to record daily entrance of goods in CEASA’s. The
database was established by importing data from this document, consolidated into
spreadsheets provided by the “case study” CEASA of Mato Grosso do Sul State, as
well as databases of the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE) and
the Program for Modernizing the fruits and legumes Market (PROHORT). As a
result, a software was developed, enabling the process of data mining related to
volumes, spatial origin and gross value of products supplied by the CEASA´s.
Key w ords: Supply; information asymmetry; competitive intelligence; Data
Warehouse.
24
3.1 INTRODUÇÃO
O volume de dados oriundos de bases estatísticas, disponibilizadas
por instituições governamentais e corporações privadas vem registrando um forte
crescimento, impulsionado por conta da tecnologia e abrangência da Internet.
No caso do agronegócio, isso não é diferente: uma grande quantidade
de dados, na forma de censos, resultados de amostragens ou séries históricas,
entre outros tipos de dados, tem sido acumulada. Entretanto, ainda que os dados
estejam disponíveis, há a necessidade de transformá-los em informações e
conhecimento úteis para o suporte à decisão (SILVA, 2004).
Assim, a questão primordial nesse contexto é a construção de bases
de conhecimento (Knowledge Base) que possibilitem fornecer subsídios à tomada
de decisão, por meio da junção de diferentes fontes de dados e exploração de suas
possíveis inter-relações.
Em resposta a essa demanda, surgiu uma área interdisciplinar
especifica, denominada de “Descoberta do Conhecimento em Banco de Dados” -
Knowledge Discovery in Databases (KDD). Tal descoberta consiste na
identificação, por meio de uma conjunção de dados válidos, de novos
conhecimentos (previamente desconhecidos), potencialmente úteis e
compreensíveis, presentes num banco de dados, visando melhorar o entendimento
de um problema ou um procedimento de tomada de decisão (FAYYAD, SHAPIRO
e SMYTH, 1996).
Esse conhecimento pode ser extraído diretamente de um banco de
dados ou a partir de um armazém de dados, denominado de Data Warehouse (DW)
(ELMASRI e NAVATHE, 2004).
Para essa extração, são necessárias ferramentas de exploração ou
algoritmos conhecidos como mineração de dados, que podem incorporar técnicas
estatísticas isoladas ou em conjunto com a inteligência artificial e são capazes de
fornecer respostas às várias questões ou mesmo descobrir novos conhecimentos.
Portanto, a mineração de dados, ou Data Mining (DM), faz parte do processo de
descoberta de conhecimento (ROMÃO et al., 2000).
Pereira (2009) menciona o Serviço de Monitoramento do Programa
de Garantia da Atividade Agropecuária (PROAGRO), do Ministério da Agricultura e
Abastecimento, como exemplo de aplicação de DM em agronegócios. Os projetos,
25
com base em dados técnicos e científicos, oferecem orientações de períodos de
plantio por município, para cada tipo de cultura e tipo de solo, de modo a se evitar
adversidades climáticas.
O “Armazém de Dados da Fruticultura” é um projeto de suporte de
tomada de decisão destinado ao Programa de Desenvolvimento da Fruticultura
patrocinado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Trata-se da construção de um DW com fontes de dados oriundas do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Secretária de Comércio Exterior
(SECEX). Deverão ser incorporadas a esse armazém, outras fontes de dados
incluindo: comercialização interna, produção e comercialização mundial, dentre
outras abordagens (MEIRA, et al., 2003).
Instituições como a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB),
além do próprio IBGE, oferecem DW que podem se constituir em valiosas fontes
de dados, proporcionando os mais diversos DM. Essa ampla disponibilização de
dados por instituições governamentais e outros agentes públicos não supre a
necessidade pública do conhecimento especifico, que ainda é limitado ou quase
inexistente. Portanto, pesquisas e trabalhos nesse sentido encontram amplo campo
de desenvolvimento.
Como resposta a essa problemática, a disponibilidade pública de
análises conjunturais de mercado pode se tornar instrumento de tomada de
decisão, subsidiando produtores independentes, associações, cooperativas e
demais organizações.
O objetivo deste trabalho foi o desenvolvimento de um aplicativo de
“Data Mining” (DM) em bases de dados secundárias, gerando análises de mercado,
visando contribuir na elaboração de modelos de apoio à decisão que auxiliem o
produtor rural no planejamento da produção hortifrutícola, por meio da:
a. Mensuração da oferta dos produtos hortifrutícolas destinados ao
consumo domiciliar;
b. Identificação da origem da produção, o respectivo volume e o valor
bruto da produção dos produtos ofertados pelas Ceasas, por meio
da produção local e das importações de outros estados.
26
3.2 MATERIAL E MÉTODOS
A movimentação interestadual de produtos hortifrutícolas para o
suprimento das Centrais de Abastecimento, apesar de percebida pelos setores da
cadeia produtiva, carece de análises quantitativas e qualitativas de modo a
identificar e mensurar os efeitos decorrentes dessa movimentação. Pesquisas do
tipo documental, bibliográfica e de campo, podem inicialmente contemplar essa
lacuna (MARCONI e LAKATOS, 2003). Entretanto, tais estratégias de pesquisa não
são suficientes para qualificar os dados e informações ao nível requerido pelos
processos de tomada de decisão.
A estratégia da presente pesquisa partiu da categorização dos tipos
de questões ordinariamente presentes em qualquer investigação, ou seja: “quem”,
“o quê”, “onde”, “quanto”, “quando e como”. Essas categorias tornaram-se atributos
das informações descritivas e quantitativas do caso investigado (HEDRICK,
BICKMAN e ROGER, 1993).
A categorização dos tipos de questão combinada com a diversidade
dos produtos hortifrutícolas e o número de transações diárias que ocorrem numa
Central de Abastecimento tornou necessária a criação de um banco de dados que
propiciasse maior confiabilidade ao desenvolvimento da pesquisa na unidade-caso
(YIN, 2001).
A partir desses requisitos foi desenvolvido um software (aplicativo)
como proposta de Data Mining (Mineração de Dados), por meio da conjunção das
bases de dados de uma Central de Abastecimento (Ceasa), do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) e do Programa de Modernização do Mercado
Hortigranjeiro (PROHORT).
A base de dados da Ceasa utilizada como unidade-caso, foi o
“Romaneio de Entrada” de produtos hortifrutícolas em 2011 da Central de
Abastecimento de Mato Grosso do Sul (Ceasa-MS), com sede no município de
Campo Grande, capital do Estado.
As fontes de dados da pesquisa permitiram as seguintes leituras:
a. Indicadores de oferta de uma Central de Abastecimento quanto às
suas dimensões e métricas e;
b. Extração, tratamento e leitura (ETL) de DM desses indicadores.
27
3.2.1 Indicadores de oferta: dimensões e métricas
As views (visões), que representam um Data Warehouse (DW)
(Armazém de Dados), devem ser organizadas de modo a permitir a execução de
consultas rápidas e dinâmicas voltadas ao apoio à decisão. As views são formadas
a partir de dimensões e métricas. As dimensões devem fornecer informações
descritivas quanto aos fatos (quem, o quê, onde, quando e como), enquanto as
métricas fornecem informações quantitativas (quanto) relativas aos fatos
(KIMBALL, 1996).
Nesse sentido, a fonte de dados para esta pesquisa atendeu a
estrutura proposta por Kimball (1996), em relação aos requisitos para a formação
do DW, geração das views e indicadores de oferta (FIGURA 1).
Fonte: Adaptado de Kimball (1996)
Figura 1 – Diagrama das dimensões e métricas do Data Warehouse.
28
Na definição das métricas do DW foram adotados os seguintes
procedimentos de cálculo para os indicadores de oferta:
a. Volume físico da produção do produto p (VFPp);
1 ii
nVFP Xp p
(1)
Onde Xp equivale ao peso em toneladas da carga do produto p
entregue no entreposto e i representa o número de cargas entregues no entreposto.
b. Valor bruto da produção do produto p (VBPp);
VBP VFP Pmp p p (2)
Onde Pm p representa o preço médio mensal do produto p praticado
no atacado.
c. Raio médio em km de uma dada “Dimensão” (Rd);
1
1
n
i ii
d n
ii
d K
R
d
(3)
Onde di é a carga entregue em toneladas, para uma dada dimensão,
e Ki é a distância em km, da origem da produção até o entreposto.
3.2.2 Extração, tratamento e leitura (ETL) do Data Mining
Esta fase do Knowledge Discovery in Databases (KDD) foi
caracterizada pelos mecanismos de extração, tratamento e leitura da fonte primária
de dados (unidade-caso), de modo a permitir que os requisitos exigidos para
identificação das dimensões e mensuração das métricas, descritas anteriormente
na Figura 1, fossem contemplados.
29
As fases de ETL foram desenvolvidas obedecendo ao processo de
KDD preconizado por Fayyad, Shapiro e Smyth (1996), conforme demonstrado na
Figura 3. Para a execução dessas fases foram necessárias as seguintes tarefas:
a. Desenvolvimento e aplicação de algoritmos de correção dos dados
brutos;
b. Criação de um banco de dados relacional como repositório da
extração dos dados brutos (Data Warehouse);
c. Desenvolvimento de aplicativo para a leitura de dados corrigidos;
d. Desenvolvimento de telas de mineração dos dados e;
e. Apresentação do conhecimento minerado.
Fonte: Adaptado de Fayyad, Shapiro e Smyth (1996).
Figura 2 – Visão geral das etapas do KDD.
O escopo do Data Warehouse (DW) permitiu, ainda, a sua utilização
para a criação de mapas temáticos com a utilização do software “TERRAVIEW
4.2.0”, ferramenta gratuita distribuída pelo Instituto de Pesquisas Espaciais – INPE
de São José dos Campos.
30
3.2.2.1 Seleção dos dados
O processo de seleção de dados envolve a identificação de quais
dados são relevantes para a tarefa de uma análise especifica.
Para a formação do composto de produtos hortifrutícolas, foi utilizada
a relação de produtos classificados como hortifrutícolas constantes na POF-
2008/2009 (IBGE, 2011).
Para a captação e posterior identificação do tipo de produto,
variedade, data de recebimento, permissionário ofertante, origem do produto e a
quantidade ofertada, foram subtraídas as informações constantes no documento
denominado de “Romaneio”. Esse documento faz parte do gerenciamento da
Divisão de Mercado (DIMER) da unidade-caso (CEASA-MS) na recepção de
mercadorias, cujos dados são lançados e consolidados numa planilha EXCEL que
está disponível em http://www.ceasa.ms.gov.br/ (FIGURA 3).
Fonte: DIMER, CEASA – MS (2011).
Figura 3 – “Romaneios” diários consolidados.
31
Vale lembrar que a utilização do “Romaneio”, assim como a existência
do órgão interno – Divisão de Mercado, é comum em praticamente todas as
Centrais de Abastecimento.
Dados complementares como distância quilométrica entre a origem
da produção e a unidade-caso (CEASA-MS situada no município de Campo
Grande), códigos de municípios, estados, regiões geográficas e mesorregiões
foram obtidos por meio de busca na base de dados do IBGE disponível em
www.ibge.gov.br.
3.2.2.2 Limpeza dos dados
Para a remoção e correção de dados inconsistentes que pudessem
interferir na filtragem de dados, foi executado um pré-processamento dos registros
constantes na base de dados da unidade-caso (CEASA-MS). Esse processo
identificou várias inconsistências, como, por exemplo, o nome correto do produto -
maracujá ou do município de origem - Nova Esperança (FIGURA 4).
Fonte: DIMER, CEASA – MS (2011).
Figura 4 – Tipos de inconsistências presentes nos dados brutos.
2.2.2.2 Integração dos dados
Para a consecução do objetivo proposto foi necessário compatibilizar
e integrar os dados oriundos das diversas bases de dados.
Addrians e Zantinge (1996) definem DW como: “Um depósito central
32
de dados, extraído de dados operacionais em que a informação é orientada a
assuntos, é não volátil e é de natureza histórica.” Devido a essas características,
DW´s tendem a se tornar repositórios de dados extremamente organizados,
possibilitando a utilização do DM como instrumento de auxilio nos processos de
tomada de decisão (SFERRA e CORREA, 2003).
Como repositório de dados optou-se pela escolha do banco de dados
SQL Server - Express Edition da Microsoft, por sua versatilidade e facilidade de
uso, e pelo fato do tamanho da base de dados ser amplamente suportado por esse
aplicativo.
Concluída a modelagem e a criação do DW, foi realizada a “carga de
dados”, com a incorporação dos dados brutos oriundos das fontes de dados da
unidade-caso (CEASA-MS), IBGE e PROHORT. Determinadas tabelas tiveram a
inserção de dados digitados, como as de produtos, variedades, grupos e subgrupos
de produtos, região geográfica e a origem da produção. Alguns blocos de registros
constantes na base da unidade-caso (CEASA-MS) tiveram que ser corrigidos
através de comandos SQL - Structured Query Language ou Linguagem de Consulta
Estruturada.
2.2.2.3 Transformação dos dados
O objetivo principal desse passo é permitir a aplicação de técnicas de
mineração de dados nos dados pré-processados, o que envolve ajuste de modelos
e determinação de características dos dados de acordo com as necessidades do
problema proposto (SFERRA e CORREA, 2003).
O processo de DM permite trabalhar os dados para fins de predição
ou para fins de descrição (PEREIRA, 2009). Para o objeto de pesquisa deste
trabalho, os dados foram trabalhados para descrever as características da oferta
de produtos pela unidade-caso (CEASA-MS).
Para atender o objetivo proposto neste subitem, foi desenvolvido um
aplicativo através da linguagem VB. NET (Visual Basic orientada a objetos),
componentes DevExpress e Crystal Reports, permitindo a consulta à base de
dados e acessando as diversas dimensões (aspectos pertinentes ao problema
proposto) e métricas (medidas dos aspectos pertinentes ao problema proposto).
33
2.2.2.4 Data Mining – Mineração de dados
Para a extração do conhecimento é necessária a aplicação de
algoritmos especificos. Alguns se adaptam melhor a determinados problemas do
que a outros, o que impossibilita a confirmação da existência de um método de DM
universalmente melhor. Para cada problema particular, tem-se uma técnica
particular (SFERRA & CORREA, 2003).
Diante das várias técnicas disponíveis de DM, o Agrupamento ou
Clustering com a aplicação dos filters (filtros) em suas dimensões e métricas foi a
que melhor se ajustou aos objetivos desta pesquisa.
2.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
2.3.1 Data Warehouse (DW) resultante da integração dos dados
O DW foi concebido a partir do desenvolvimento de um banco de
dados relacional que compatibilizou as várias fontes de informação em tabelas
(Entidades) específicas de modo a demonstrar seus respectivos relacionamentos,
eliminando a possibilidade da geração de registros redundantes ou equivocados.
Tais requisitos foram preenchidos com a inclusão das Primary Keys (PK) ou chaves
primárias e Foreign Keys (FK) ou chaves estrangeiras, garantindo a integridade e
unicidade dos registros.
Pode se observar na tabela TB_Municípios que alguns campos
(atributos) permitem caracterizar o município quanto à sua distância em relação à
Central de Abastecimento, além da sua latitude, longitude e altitude. Outros campos
de caracterização poderiam ser incluídos, tais como a precipitação anual,
temperaturas médias, características de solo e fertilidade, indicadores econômicos
e sociais, entre outros atributos (FIGURA 5).
34
Figura 5 – Modelagem do Data Warehouse.
3.3.2 Mineração de dados – Data Mining (DM) Após a normalização e transformação dos dados brutos as dimensões
e métricas estavam aptas ao processo de DM. A adoção de pivot grids (linha x
coluna) e filtros permitiu a correlação das diversas dimensões, revelando relações
implícitas e padrões que ferramentas tradicionais de leitura de transações não
alcançam.
Entre os métodos utilizados na técnica de Agrupamento, foram
utilizados os agrupamentos hierárquicos e os baseados em grid, resultando por
exemplo, produtos hortifrutícolas agrupados por grupos e subgrupo segundo a
classificação da Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE. Além dessa
funcionalidade, o aplicativo permite realizar consultas parametrizáveis por
determinadas condições definidas pelo usuário.
Conforme exposto na Figura 6, uma consulta à base de dados pôde
ser executada segundo uma dada Região Geográfica, Mesorregião ou Município.
35
Fonte: Adaptado da POF 2008/2009 – IBGE (2011)
Figura 6 – Agrupamento hierárquico com dimensões e métricas aptas a DM.
3.2.3 Apresentação do conhecimento
A aplicação de técnicas adequadas de visualização e filtros permitiu
qualificar a apresentação e interpretação dos conhecimentos gerados a partir de
um conjunto de dados, ao contrário dos tradicionais formatos tabulares de
apresentação de relatórios, que na verdade, se assemelham a meras listas ou
resultados sumarizados. A apresentação de conhecimento é a última etapa do
processo do KDD, é onde a visualização dos dados permite uma análise conclusiva
diante de um determinado problema proposto.
A Figura 8 representa um exemplo dessa apresentação de
conhecimento, onde é possível avaliar sob as diversas dimensões de análise as
características da oferta de tomate pela unidade-caso (Ceasa-MS) em 2011. Pode
se concluir que a oferta de tomate, por meio dessa Central de Abastecimento, foi
altamente dependente da produção de outros estados. A produção local conseguiu
36
abastecer a unidade-caso em pouco mais de 1.000 toneladas/ano, o equivalente a
4,96% da oferta total. É possível observar, ainda, que as mesorregiões Triângulo
Mineiro/Alto Paranaíba, Norte Central Paranaense, Oeste Catarinense e Centro
Goiano tiveram forte participação na oferta total. O volume fornecido por essas
mesorregiões atingiu 59,16% da oferta total, o que significou um volume anual de
12.077,540 toneladas. A mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba assumiu
maiores volumes de fornecimento a partir do 2º trimestre. Esse perfil de oferta
também foi observado em relação ao Norte Central Paranaense, exceção verificada
no 3º trimestre, e ao Centro Goiano. A menor oferta dessas regiões foi suprida pelo
Oeste Catarinense, cuja oferta anual ficou concentrada basicamente no 1º
trimestre.
Figura 7 – Características da oferta de tomate pela unidade-caso em 2011.
Outra forma possível de apresentação do conhecimento é por meio
de mapas temáticos. Nas Figuras 8, 9 e 10 é possível visualizar a origem do
abastecimento de tomate, segundo os volumes anuais das ofertas das principais
37
mesorregiões abastecedoras na unidade-caso.
Figura 8 – Mesorregiões ofertantes de tomate da Região Centro-Oeste em 2011.
Figura 9 – Mesorregiões ofertantes de tomate da Região Sudeste em 2011.
38
Figura 10 – Mesorregiões ofertantes de tomate da Região Sul em 2011.
3.4 CONCLUSÕES
O processo de Data Mining mostrou-se eficaz como ferramenta de
geração de informações qualificadas para a tomada de decisão no setor
hortifrutícola.
Os resultados obtidos nesse trabalho conduzem à conclusão de que
a aplicação de Data Mining em bases secundárias de dados pode produzir uma
base de conhecimento que poderia ser utilizada e disseminada pelas Centrais de
Abastecimento, constituindo-se em importante instrumento de apoio à decisão nas
análises de conjuntura, dimensionamento de mercados e no planejamento da
produção dos produtos hortifrutícolas.
O Data Warehouse concebido permite a adição de informações
quanto ao regime pluviométrico, altitude e características de solo dos municípios
produtores, além de outros perfis sociais e econômicos disponíveis, permitindo
refinar os resultados obtidos e até mesmo a obtenção de mapas de aptidão
agropecuária a outras atividades econômicas.
39
As possibilidades de pesquisa e identificação de informações
relevantes na base de dados disponibilizados pelas Centrais de Abastecimento
revelam-se como de suma importância por seu caráter interdisciplinar. Trabalhos
sobre o comportamento dos agentes atacadistas, fracionamento de cargas,
sazonalidade de preços e oferta, entre outros, são perfeitamente factíveis.
Os resultados obtidos poderiam ter uma maior congruência se
houvesse uma padronização nos critérios adotados pelas Centrais de
Abastecimento e IBGE, no que tange a classificação dos produtos hortifrutícolas.
Cabe destacar, que o preenchimento manuscrito no documento “Romaneio” para
posterior digitação em planilhas, provoca um número considerável de erros de
digitação, o que acarreta em aumentos de esforço e tempo, destinados à fase de
limpeza dos dados.
40
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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MARCONI, M. D. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia cientifica. 5ª. ed. São Paulo: Atlas, 2003. 311 p.
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YIN, R. K. Estudo de caso - Planejamento e métodos . 2ª. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. 248 p.
4 ARTIGO 2
O DESENVOLVIMENTO DA PRODUÇÃO HORTIFRUTÍCOLA NO ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL: UMA APLICAÇÃO DO
DATA MINING
42
O DESENVOLVIMENTO DA PRODUÇÃO HORTIFRUTÍCOLA NO ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL: UMA APLICAÇÃO DO
DATA MINING
RESUMO
A incerteza na produção agropecuária abrange desde riscos
climáticos e fitossanitários até a gestão de preços de venda, volumes de produção
e estratégias de comercialização. Nesse sentido, a redução da assimetria das
informações em favor dos produtores rurais pode contribuir no planejamento da
produção e na gestão eficiente dos recursos produtivos. Um dos agentes públicos
responsáveis pela redução da assimetria das informações, particularmente, na
comercialização atacadista de produtos hortifrutícolas, são as Centrais de
Abastecimento (Ceasas). Entretanto, a grande maioria dessas centrais não
acompanhou a evolução tecnológica da disseminação da informação e seus
mecanismos de comunicação com seus grupos de interesse. Diante disso, o
objetivo deste trabalho foi utilizar o procedimento de Data Mining – mineração de
dados, em bases secundárias de dados, para avaliar as possibilidades de aumento
do grau de estadualização da produção hortifrutícola do Estado de Mato Grosso do
Sul. Para a execução desse objetivo foi utilizado um aplicativo de Data Mining
desenvolvido no Programa de Mestrado Profissional em Produção e Gestão
Agroindustrial da Universidade Anhanguera-Uniderp. A base de dados foi
constituída pela importação de planilhas eletrônicas disponibilizadas pela Ceasa do
Estado de Mato Grosso do Sul, além das bases de dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) e Programa de Modernização do Mercado
Hortigranjeiro (PROHORT). Como resultado do trabalho, foi identificada a origem,
volume e o valor bruto da produção dos produtos hortifrutícolas ofertados na Ceasa-
MS no ano de 2011.
Palavras chave: Ceasa-MS; Data Warehouse; planejamento da produção.
43
DATA MINING AS A TOOL TO SUPPORT THE DEVELOPMENT OF
FRUIT AND VEGETABLE PRODUCTION: THE CASE OF MATO
GROSSO DO SUL
ABSTRACT
The uncertainty in agricultural production ranges from climate and
phytosanitary risks until the management of sale prices, production volumes and
marketing strategies. Accordingly, reducing the asymmetry of information in favour
of farmers may contribute for a better planning and a more efficient resources
management. The main organizations responsible for reducing information
asymmetry, particularly in the wholesale marketing of legumes and fruits, are, in
Brazil, the CEASA’s (supply centers). However, the vast majority of these market
places did not follow the technological evolution of information diffusion
mechanisms, and their communication with its stakeholders. Thus, the objective of
this study was to use Data Mining process in secondary databases in order to
evaluate the possibilities of increasing local production of fruits and vegetables in
Mato Grosso do Sul State (MS). To carry out this task, it was used a Data Mining
software developed as part of requirements of the Masters Degree in an
Agribusiness Program offered by Anhanguera-Uniderp University. The database
was established by importing spreadsheets provided by CEASA-MS, as well as
databases of the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE) and the
Program for Modernizing the fruits and legumes Market (PROHORT). As a result, it
was identified and described the spatial origin, volumes and gross value of products
supplied by CEASA-MS in 2011.
Key words: Ceasa-MS; data warehouse; production planning
44
4.1 INTRODUÇÃO
A estrutura fundiária, aspectos geográficos, disponibilidade de mão de
obra, entre outras particularidades ao Estado de Mato Grosso do Sul (MS),
direcionam os produtores rurais do Estado a concentrarem suas atividades
econômicas na produção agrícola de culturas com alto grau de mecanização
(algodão, milho e soja), e na pecuária de corte em regime extensivo de produção.
Apesar de possuir áreas disponíveis para obtenção de uma quase
autossuficiência produtiva de frutas, legumes e verduras, exceção feita aos
produtos inaptos à produção local por restrições edafoclimáticas, o Estado de Mato
Grosso do Sul revela uma forte dependência da produção hortifrutícola de outros
estados.
Segundo dados publicados pela Central de Abastecimento do Estado
do Mato Grosso do Sul (Ceasa- MS), por meio da sua Divisão de Mercado (DIMER),
a comercialização de frutas, legumes e verduras no ano de 2011, em Mato Grosso
do Sul (MS), superou as 144 mil toneladas, e a importação de outros estados
representou 83,31% do volume total comercializado. Esses dados comprovam que
nos últimos dez anos a oferta de produtos hortifrutícolas registrou um crescimento
dessa dependência externa, visto que, no ano de 2002, a oferta dos produtos
hortifrutícolas foi de cerca 83,6 mil toneladas, e 76,68% do volume total ofertado foi
oriundos da produção de outros estados.
Por conta do alto volume de importações, seria plausível que o
consumo per capita de hortifrutícolas em MS estivesse em patamares próximos à
média nacional, sem grandes oscilações. Ao contrário, MS registra um consumo
per capita ao redor de 61,6 kg entre hortaliças e frutas, configurando-se como o
quinto maior consumo do Brasil, segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares
(POF) de 2008/2009. Aumenta o grau de importância do tema, a evolução desse
consumo em MS, retratada pelas POF-2002/2003 e POF-2008/2009, registrando
um incremento no consumo domiciliar per capita nesse período de 40,79 % (IBGE,
2011).
De qualquer modo, os dados apresentados denotam a existência de
uma demanda consolidada por produtos hortifrutícolas, capaz de se traduzir em
benefícios para os produtores locais. Nesse sentido, atores da cadeia produtiva
local e agentes de governo devem buscar desenvolver políticas públicas que visem
45
o aumento do Valor Bruto da Produção (VBP) hortifrutícola do Estado e,
consequentemente, da renda dos produtores locais.
O objetivo deste trabalho foi verificar se a utilização de instrumentos
de Data Mining (Mineração de Dados), em bases de dados secundárias pode
contribuir na elaboração de modelos de apoio à decisão, visando à geração de
análises de mercado em favor do aumento do grau de estadualização da produção
hortifrutícola de Mato Grosso do Sul.
4.2 MATERIAL E MÉTODOS
A dependência externa de produtos hortifrutícolas pelo Estado do
Mato do Grosso do Sul, apesar de percebida pelos setores da cadeia produtiva,
carece de análises quantitativas e qualitativas de modo a identificar e mensurar os
efeitos decorrentes dessa dependência. Portanto, pesquisas do tipo documental,
bibliográfica e de campo, contemplam inicialmente essa lacuna. Nesse sentido,
este estudo configura-se como exploratório e descritivo (TRIPODI et al. ,1975,
citado por MARCONI e LAKATOS, 2003).
As fontes de dados da pesquisa são dados secundários
disponibilizados pela Ceasa-MS, IBGE e pelo Sistema de Informações Gerenciais
do Programa de Modernização do Mercado Hortigranjeiro (PROHORT). O
aplicativo utilizado para o processo de DM permitiu identificar os volumes ofertados
de produtos hortifrutícolas pela Ceasa-MS e seus respectivos indicadores de oferta,
segundo, suas dimensões e métricas (MENDES, 2013).
4.2.1 Estimativa da demanda e oferta de hortifrutícolas destinadas ao consumo alimentar no Estado de MS.
De acordo com a metodologia utilizada na POF 2008-2009, as
despesas com alimentação correspondem à aquisição total de alimentos e bebidas
pela unidade de consumo (família), destinada ao domicilio. Os produtos podem ser
obtidos por meio de aquisições monetárias ou não monetárias. As aquisições
monetárias são aquelas realizadas via qualquer meio de pagamento (em espécie
eletrônico). As aquisições não monetárias são classificadas em doação, produção
46
própria ou outras formas (IBGE, 2011).
A demanda anual de produtos hortifrutícolas pelo MS foi estimada a
partir do consumo anual per capita de frutas, legumes e verduras (59,525 kg)
constantes na POF 2008-2009, conjugada com a sua população estimada em
2.447.542 habitantes para o ano de 2011 (IBGE, 2011).
4.2.2 Indicadores de oferta
Na Figura 1 é possível observar os atributos das possíveis análises
descritivas, bem como suas implicações quantitativas, concernentes à oferta de
produtos hortifrutícolas pela Ceasa–MS.
Fonte: Adaptado de Kimball (1996) Figura 1 – Diagrama das dimensões e métricas do Data Warehouse
4.2.3 Produtos passíveis de produção local em substituição às importações
Segundo a Ceasa-MS (2007), durante o 1º Seminário de Horticultura
47
realizado em outubro de 2007 em Campo Grande, organizado pela própria
entidade, foi formado um grupo de trabalho integrado por produtores, técnicos,
pesquisadores, professores e demais grupos de interesse. Esse grupo de trabalho
elegeu 20 produtos hortifrutícolas que poderiam ter sua produção fomentada no
Estado de MS, visando à redução da dependência externa no abastecimento
desses produtos (QUADRO 1).
QUADRO 1 – Produtos eleitos como passíveis de fomento em MS, conforme o 1º Seminário de Horticultura na CEASA-MS.
Grupo Subgrupo Produto
Hortaliças
Hortaliças folhosas e florais
Alface
Couve-flor
Repolho
Hortaliças frutosas
Abóbora
Berinjela
Pepino
Pimentão
Quiabo
Tomate
Vagem
Hortaliças tuberosas e outras
Beterraba
Cenoura
Mandioca
Frutas Frutas de clima tropical
Abacaxi
Banana
Goiaba
Laranja
Limão
Melancia
Tangerina Fonte: 1º Seminário de horticultura do MS, outubro de 2007 – (CEASA, 2011).
O relatório produzido à época ficou restrito à elaboração dos custos e
sistemas de produção a serem utilizados no cultivo desses produtos.
Identificados os produtos hortifrutícolas ofertados na CEASA-MS
passíveis de substituição pela produção local, foi possível avaliar os impactos que
48
podem ser gerados nos seus respectivos indicadores de oferta, por meio das
dimensões e métricas descritas na estrutura do DW (Figura 1).
Tal avaliação permite estabelecer o grau de redução da dependência
externa de abastecimento ou estadualização da produção (CUNHA, ALMEIDA e
SILVA, 2005).
4.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.3.1 Perfil da comercialização das hortifrutícolas pela CEASA-MS
Do total demandado pelo Estado de Mato Grosso do Sul, a Ceasa-MS
ofertou 139.467,008 toneladas, sendo, somente 22.165,704 toneladas ou 15,89%
oriundos da produção local. As importações responderam por 117.301,304
toneladas ou 84,11% (FIGURA 2).
Figura 2 – Oferta anual de produtos hortifrutícolas pela Ceasa-MS, 2011.
Apesar do consumo per capita expressivo do MS, quando comparado
à média nacional, esse consumo está concentrado em poucos produtos, em relação
ao composto total da demanda (QUADRO 1).
49
Qua
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2 –
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50
Qua
dro
2 –
Con
t.
51
Ainda em relação ao Quadro 1, nota-se que a produção destinada
ao consumo próprio foi de 9.518,716 toneladas. Nesse aspecto é interessante
observar a baixa oferta de chuchu pela produção local: enquanto esta oferta situa-
se ao redor de 5,040 toneladas/ano, o volume da produção própria desse produto
é cerca de vinte vezes maior, ou seja, 116,444 toneladas/ano, possivelmente
devido a sua facilidade de cultivo domiciliar. Por outro lado, suas importações
foram de 1.251,070 toneladas/ano.
Vale ressaltar que a oferta de produtos hortifrutícolas da CEASA-MS
não é destinada exclusivamente ao consumo domiciliar. Firmas dedicadas ao
consumo alimentar fora do domicílio, como restaurantes, lanchonetes, cozinhas
industriais, entre outros estabelecimentos, também atendidas pela central de
abastecimento, justificam a oferta maior que a demanda verificada no Quadro 1.
A ocorrência da forma inversa, ou seja, oferta gerada pelo entreposto
menor que a demanda domiciliar, leva a concluir que o consumo de determinados
produtos é atendido por outros canais de distribuição, além da CEASA-MS, como
por exemplo: cooperativas, arranjos híbridos entre produtores e varejistas, ou
empresas atacadistas especializadas. Exemplo de comparação entre demanda
domiciliar e oferta da CEASA-MS é apresentada na Figura 3.
Figura 3 – Demanda domiciliar e oferta pela CEASA–MS em 2011, para produtos
selecionados.
52
4.3.2 Produção local
Neste tópico foram abordados os indicadores de oferta relativos aos
volumes físicos, raio da origem da produção e o valor bruto da produção, segundo
os principais produtos ofertados pela Ceasa-MS e sua respectiva origem da
produção local no MS.
4.3.2.1 Volumes físicos da oferta
A oferta mensal variou entre 1.284 toneladas fornecidas no mês de
março e 2.564 toneladas no mês de novembro, de uma oferta total de 22.166
toneladas durante o ano de 2011.
A partir do mês de abril e durante praticamente todo o 2º semestre de
2011, os volumes da produção local foram caracterizados por aumentos sucessivos
de oferta. Tais aumentos podem ter sido influenciados por fatores climáticos como:
temperaturas mais amenas e a redução da pluviosidade, favorecendo as culturas
pertencentes ao grupo das hortaliças. Verificou-se, entretanto, que os maiores
volumes de oferta ocorreram no 4º trimestre, atingindo mais de 2.500
toneladas/mês, volume caracterizado pelo aumento na disponibilidade de frutas,
superando, inclusive, a de hortaliças durante o referido trimestre (FIGURA 4).
Figura 4 – Oferta mensal da produção local na CEASA-MS, 2011.
53
Analisando-se a sazonalidade do fluxo de ofertas, observa-se que
produtos como mandioca, alface, banana e mamão apresentaram frequências de
entrega mais uniformes durante o ano, ao contrário do tomate, melancia e laranja,
sendo que esses dois últimos produtos contribuíram de forma significativa para
elevar o volume ofertado de frutas registrado no 4º trimestre de 2011 (FIGURA 5).
Figura 5 – Oferta trimestral de produtos hortifrutícolas pela CEASA-MS em 2011 com volumes anuais superiores a 1000 toneladas.
4.3.2.2 Origem da produção local
Na Figura 6 pode se observar que os municípios do Estado de Mato
Grosso do Sul, em sua maioria, tem destinação de produtos inferior a 1.000
toneladas anuais. O perfil da maioria dos municípios ofertantes situa-se no intervalo
entre 10 e 50 toneladas anuais.
Dentre os 78 municípios do Estado do Mato Grosso do Sul (IBGE,
2011), a CEASA-MS recebeu produtos hortifrutícolas de 38 deles. As entregas
anuais de 2011 variaram de 750 kg até 5.194 toneladas.
54
Figura 6 – Distribuição espacial da oferta anual de hortifrutícolas pela CEASA-MS
em 2011 pelos municípios ofertantes da produção local.
Os seis principais municípios produtores do estado do Mato Grosso
do Sul foram responsáveis por aproximadamente 85% da oferta da CEASA-MS
em 2011 (FIGURA 7).
Figura 7 – Principais municípios ofertantes da produção local na CEASA-MS, 2011.
55
O raio médio ponderado da origem da produção local destinada a
CEASA-MS em 2011 foi de 94 km. O município de Campo Grande, e alguns dos
municípios limítrofes, foram responsáveis pelo maior volume de ofertas. Nota-se
que os extratos de menor produção anual corresponderam a municípios distantes
em mais de 100 km, em relação a CEASA-MS (TABELA 1).
TABELA 1 – Distância da origem da produção (km) segundo os extratos de oferta da produção.
Extrato em t Nº de municípios Produção em t Raio em km
0,7 |----- 10 5 13 280,3
10 |----- 50 12 298 253,9
50 |----- 100 4 245 178,2
100 |----- 300 8 1.402 270,0
300 |----- 1000 3 1.354 228,8
1000 |----- 4000 4 9.519 91,1
4000 |----- 5200 2 9.335 43,4
Totais e média 38 22.166 94,0
A Figura 8 demonstra que os produtos hortifrutícolas produzidos em
Mato Grosso do Sul e destinados a CEASA-MS foram transportados, mensalmente,
em média, em torno de 70 a 80 km a partir da sua origem de produção.
Figura 8 – Variação mensal do raio médio ponderado correspondente à distância da origem do produto à CEASA-MS, 2011.
56
Nos meses de outubro e novembro, o raio médio percorrido registrou
sensível aumento, por conta da entrada de produção de frutas oriunda de Três
Lagoas, município distante 335 km da CEASA-MS.
4.3.2.3 Valor bruto da produção local
O VBP da produção local comercializado pela CEASA-MS em 2011
atingiu R$ 27.267.546,15. O total comercializado de hortaliças atingiu R$
16.913.872,99, enquanto o segmento frutas totalizou R$ 10.353.673,17,
significando 62,03% e 37,97%, respectivamente, do volume da produção local
comercializada.
O comportamento mensal do VBP da produção local diverge do perfil
demonstrado em relação às suas ofertas físicas (Figura 4). Enquanto o maior
volume físico ofertado ocorreu no mês de outubro de 2011 pela disponibilidade de
frutas, o maior VBP foi registrado no mês de agosto, em torno de R$ 2,9 milhões,
devido à influência da comercialização de hortaliças, em particular da expressiva
oferta do tomate (FIGURA 9).
Figura 9 – VBP mensal da produção local ofertada na CEASA-MS, 2011.
A possibilidade de viabilização da produção de tomate no Estado do
Mato Grosso do Sul revela uma oportunidade interessante aos produtores, tendo
57
em vista que a produção local alocada na CEASA-MS consegue abastecer somente
6,2% da demanda domiciliar do Estado.
Na Figura 10 pode ser observado que os dez principais produtos, em
relação ao VBP local, participaram em 69,49% do volume total e 66,04% do VBP.
Importante destacar o perfil da oferta da melancia e mandioca: enquanto seus
volumes ofertados representaram 26,59% do volume total, o VBP somado das duas
culturas representou apenas 16,41% do VBP total.
.
Figura 10 – Classificação dos dez principais produtos na geração do VBP local, 2011.
A figura 11 mostra os vinte maiores municípios do MS ofertantes na
CEASA-MS em 2011, conforme o seu VBP e responsáveis por 98,35% do volume
físico ofertado. Observa-se que os municípios de Campo Grande, Jaraguari e
Sidrolândia detiveram 59,19% do VBP local, foram responsáveis por 71,72% da
oferta de hortaliças e por 41,34% do volume ofertado de frutas.
58
Fig
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VB
P, 2
011.
59
4.3.3 Importações de outros estados
Neste tópico são abordados os indicadores de oferta relativos ao
volume físico, raio da origem da produção e VBP, segundo os principais produtos
ofertados pela CEASA-MS, cuja origem da produção hortifrutícola foi oriunda de
outros estados do Brasil.
4.3.3.1 Volumes físicos da oferta de outros estados
O volume mensal das importações de produtos hortifrutícolas de
outros estados pela CEASA-MS variou entre 9.048 e 12.350 toneladas mensais no
ano de 2011. Os volumes das importações de hortaliças permaneceram quase que
constantes ao longo do ano, sem variações bruscas, apresentando uma leve queda
no mês de agosto, totalizando um volume de 59.298 toneladas no ano. Situação
inversa ocorreu com as importações de frutas. No último trimestre o volume das
importações foi superior ao verificado durante os demais meses do ano, sendo que
no mês de dezembro foram importadas 6.332 toneladas de frutas. (FIGURA 12).
Figura 12 – Importações mensais de hortifrutícolas de outros estados pela CEASA-MS, 2011.
Do volume total de produtos hortifrutícolas importados de outros
estados, as principais hortaliças, isto é, tomate, batata, cebola e cenoura,
60
representaram 42,1% das importações. Pelo lado das frutas, banana, laranja e
melancia atingiram 27,8% do volume importado de outros estados. Esses dois
agrupamentos corresponderam em torno de 70% das importações. Importante
observar a forte redução (aproximadamente 900 toneladas) na importação de
tomate no 3º trimestre; coincidentemente, houve uma sensível expansão da oferta
desse produto pela produção local nesse período (Figura 13).
Figura 13 – Importações trimestrais de produtos hortifrutícolas de outros estados com volumes superiores a 1000 t anuais pela CEASA-MS.
61
4.3.3.2 Origem das importações de outros estados
As importações de outros estados tiveram origem em 375 municípios.
Entre estes, dez municípios ofertaram o correspondente a 30,34% do volume total
ofertado pela Ceasa-MS. O município constante como CEAGESP na Figura 14,
representa o entreposto situado no município de São Paulo, porém, os produtos
transportados têm sua origem em localidades que não puderam ser identificadas,
já que foram aquisições efetuadas pelos atacadistas da CEASA-MS junto aos
atacadistas daquele entreposto.
A Figura 14 permite identificar os principais municípios ofertantes de
outros estados e sua respectiva mesorregião geográfica. Alguns desses municípios
mostram uma concentração da oferta por determinado grupo de produtos, podendo
ser caracterizados como referenciais de clusters (aglomerados produtivos)
(PORTER, 1990; SCHIMITZ, 1995).
No grupo das hortaliças, essa característica é percebida nos
fornecimentos de Marilândia do Sul e Guarapuava, ambas no Estado do Paraná,
Piedade no Estado de São Paulo e Patrocínio em Minas Gerais. No grupo das
frutas, os clusters identificados são os municípios de Corupá, Luiz Alves e
Massaranduba, em Santa Catarina, Uruana em Goiás e Marinópolis no Estado de
São Paulo.
Figura 14 – Principais municípios ofertantes de outros estados na CEASA-MS,
2011.
62
Na Figura 15 estão representadas as importações de produtos
hortifrutícolas de outros estados, segundo as mesorregiões de origem e seus
respectivos extratos de oferta anual em toneladas.
Figura 15 – Distribuição espacial das mesorregiões ofertantes na Ceasa-MS, 2011.
É possível identificar importantes mesorregiões fornecedoras
próximas à divisa do Estado de Mato Grosso do Sul: o Norte Central Paranaense,
o Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba e as mesorregiões de São José do Rio Preto e
de Presidente Prudente no interior paulista. Essa situação geográfica é relevante,
tendo em vista que a distância da origem da produção (km) é um dos aspectos que
deve influenciar o perfil econômico e financeiro das importações de outros estados
pela CEASA-MS.
O Norte Central Paranaense, em parte devido à proximidade com
Mato Grosso do Sul, se constitui na principal mesorregião ofertante da CEASA-MS,
tendo como principais produtos comercializados o tomate, a cenoura e a laranja. O
volume correspondente a esses três produtos foi de 8.406,105 toneladas em 2011.
A oferta anual conjunta das mesorregiões citadas anteriormente totaliza 30.818,779
toneladas.
63
As dez principais mesorregiões de outros estados ofertaram um total
de 76.157,842 toneladas, correspondente a 64,92% das importações e 56,64% do
volume total ofertado pela CEASA-MS (FIGURA 16).
Figura 16 – Principais mesorregiões ofertantes na CEASA-MS, 2011.
Os dados constantes na Figura 16 confirmam o mencionado
anteriormente, quanto a determinados municípios se constituírem como
referenciais de clusters produtivos. Pode-se citar como exemplos o município de
Marinópolis na mesorregião de São José do Rio Preto e Patrocínio na mesorregião
do Triangulo Mineiro/Alto Paranaíba. Marinópolis figura entre os dez principais
municípios ofertantes de frutas. A mesorregião em que o município está inserido foi
a segunda maior fornecedora de frutas com 7.203,352 ton. Portanto, não só o
município se constitui num polo produtivo importante, mas toda a mesorregião se
destaca como abastecedora importante da CEASA-MS. O mesmo se aplica ao
município de Patrocínio: a produção do município possui uma expressiva oferta de
hortaliças, porém a oferta de frutas é quase inexistente. Essa característica é
64
verificada também na mesorregião do município – Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba
– cujo volume ofertado de hortaliças atingiu 9.911,722 ton.
Na Figura 17 podem ser identificados os volumes das importações,
segundo os estados brasileiros de origem da produção. Nota-se que os quatro
principais estados abastecedores da CEASA-MS (São Paulo, Paraná, Santa
Catarina e Minas Gerais) responderam por 84,74% das importações.
Figura 17 – Importações de outros estados pela CEASA-MS, 2011.
Parte das importações de maior distância e volumes inexpressivos
está mais ligada ao chamado “frete de retorno”, em que o veículo transportador,
para não retornar vazio ao Estado de Mato Grosso do Sul, se aproveita dessa
eventualidade de transporte para minimização de seus custos, conforme
informações fornecidas pela DIMER da CEASA-MS.
65
O raio médio das dez principais mesorregiões de outros estados
fornecedores da CEASA-MS situa-se em torno de 860,6 km (TABELA 2).
Uma das características das mesorregiões situadas em distâncias
superiores ao raio de 1.000 km é sua oferta de frutas. Do total ofertado pelo Norte
Catarinense, de 8.993,214 toneladas anuais, apenas 17,985 toneladas referem-se
ao grupo de hortaliças (Tabela 3). O mesmo panorama é verificado no Nordeste
Rio-Grandense: da oferta de 4.945,102 toneladas anuais, somente 163,345
toneladas fornecidas ao Ceasa-MS se constituiu de hortaliças.
TABELA 2 – Raio médio (km) das dez principais mesorregiões ofertantes na CEASA-MS
Mesorregião Nº de municípios Oferta em t Raio médio em km
Norte Central Paranaense 20 13.057,738 648,7
Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba 27 9.995,421 884,3
Metropolitana de São Paulo 3 9.377,915 1.003,2
Norte Catarinense 8 8.993,214 1.156,0
São José do Rio Preto 33 7.765,620 560,3
Centro Goiano 8 6.402,221 899,2
Presidente Prudente 32 6.083,993 466,3
Nordeste Rio-Grandense 15 4.945,102 1.371,8
Macro Metropolitana Paulista 10 4.888,477 952,4
Centro-Sul Paranaense 5 4.648,105 870,1
Totais 161 76.157,806 860,6
A proximidade de algumas mesorregiões junto à divisa do Estado de
Mato Grosso do Sul, conforme mencionado anteriormente, merece algumas
ponderações. A CEASA-MS localizada em Campo Grande – MS dista das
mesorregiões de São José do Rio Preto e Presidente Prudente, em média, 560,3
km e 466,3 km, respectivamente. Do ponto de vista econômico e financeiro, o custo
do transporte da produção dessas mesorregiões torna o estado de MS uma opção
interessante de fornecimento, quando comparado a CEAGESP no município de
66
São Paulo. Em que pese distâncias maiores de entrega, caso da mesorregião de
São José do Rio Preto, essa fraqueza pode ser compensada pela isenção de tarifas
de pedágio nas rodovias do Estado de MS, ao contrário do que ocorre atualmente
nas rodovias privatizadas no Estado de SP.
O raio médio ponderado da origem da produção de outros estados
abastecedores foi de 931,8 km em 2011. A distância média das importações
destinadas a CEASA-MS situou-se, durante a maior parte do ano, entre 875 km a
950 km da sua origem de produção. Pode se observar, na Figura 18, que no
bimestre fevereiro-março há um distanciamento desse intervalo. Tal distanciamento
é decorrente de uma maior oferta pelo Estado do Rio Grande do Sul, onde foi
verificado um incremento de mais de 90 % no volume mensal normalmente ofertado
por esse estado (FIGURA 18).
Figura 18 – Raio médio mensal (km) das importações de outros estados pela CEASA-MS, 2011.
4.3.3.3 Valor bruto da produção de outros estados
O VBP da produção de outros estados comercializado pela Ceasa-
MS em 2011 atingiu R$ 172.566.830,65. O total comercializado de hortaliças atingiu
R$ 90.833.506,71, enquanto o segmento de frutas totalizou R$ 81.683.323,94,
significando 53,52% e 46,48%, respectivamente, do volume das importações.
67
Na Figura 19 está representado o comportamento do VBP e dos
volumes mensais ofertados por meio das importações pela Ceasa-MS em 2011.
Durante o 1º semestre, ainda que a oferta tenha se mantido constante,
o VBP registrou aumentos sucessivos entre os meses de janeiro e maio; no mês
de junho houve uma leve redução da oferta, refletida no VBP. A partir do mês de
julho a oferta foi recomposta em níveis até superiores ao 1º semestre, porém o VBP
se manteve praticamente inalterado até o final do ano, exceto o mês de dezembro
em que houve forte elevação, provavelmente devido ao consumo associado às
festas natalinas e Ano Novo. (FIGURA 19).
Figura 19 – VBP e oferta de importações de outros estados pela CEASA-MS, 2011.
Na Figura 20 é possível observar que os dez principais produtos
importados, segundo seus respectivos VBP, tiveram uma participação de 77,85%
no volume e 75,69% no VBP total apurado. Ressalta-se a influência do preço médio
praticado, quando se comparam a participação relativa dos volumes de oferta e da
geração do VBP. A comercialização do tomate é exemplo disso, pois a geração do
VBP correspondeu a 26,78% do VBP total das importações, enquanto o volume
ofertado correspondeu a 16,54% do volume total.
Contrariamente ao tomate, o desempenho da batata teve um maior
peso nos volumes ofertados, 12,40% do volume total, ao passo que o seu VBP
correspondeu a 7,08% do VBP do total das importações. Outros produtos tiveram
68
comportamento semelhante, destacando-se os casos da uva e da maçã, com
maiores influências no VBP, e banana e melancia, em relação aos seus volumes
de oferta (FIGURA 20).
Figura 20 – Classificação dos dez principais produtos importados segundo o VBP
Na Figura 21 é possível identificar que, na geração do VBP das
importações de outros estados, os vinte municípios listados representaram 50,98%
do VBP total e 48,74% do volume ofertado. A classificação dos municípios quanto
ao seu grau de influência na comercialização da CEASA-MS sofre sensíveis
modificações, quando o grau de importância é medido a partir da participação
relativa no VBP. Caxias do Sul, Araguari, Leopoldo de Bulhões e Reserva são
exemplos dessa conjuntura. Suas participações nos totais dos volumes ofertados
ao CEASA-MS são menos significantes que o VBP gerado pelas suas ofertas,
porque esses clusters produtivos fornecem produtos com preços médios elevados.
No caso de Caxias do Sul, a maçã, e nos demais municípios, o tomate.
69
Fig
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11.
70
4.3.4 Substituição das importações pela produção local
Neste tópico são abordados os indicadores de oferta - volume físico
da produção e VBP do rol de produtos aptos a serem produzidos no Estado de Mato
Grosso do Sul, elencados no 1º Encontro de Horticultura da CEASA-MS (CEASA-
MS, 2007).
4.3.4.1 Hortaliças
Na Figura 22 estão listados os produtos pertencentes ao grupo das
hortaliças, aptos a serem substituídos pela produção local.
Figura 22 – Indicadores de oferta das hortaliças passiveis de substituição pela produção local, 2011.
71
Dos produtos listados na Figura 22, a cultura do tomate tem
importância fundamental, em função da sua participação nos indicadores de volume
físico da produção, com 56,27%, e principalmente no VBP, com 74,10%, o que
significa um mercado adicional de 19.400,166 toneladas e VBP de R$
46.208.447,83.
Por outro lado, culturas como a mandioca apresentam um volume de
importações que, a priori, não indica que o estimulo à produção local poderia gerar
maiores variações no grau de estadualização da produção hortifrutícola de Mato
Grosso do Sul.
De qualquer forma, o mercado potencial disponível para os produtos
do grupo das hortaliças aptas a serem substituídas pela produção local chega a
34.474,095 toneladas, o que significa um incremento de 181,76% em relação à
oferta atual. Desse modo, o grau de estadualização da oferta de hortaliças pela
CEASA-MS poderá atingir 62,26% do volume total ofertado (TABELA 3).
TABELA 3 – Efeito das substituições das importações pela produção local no volume ofertado de hortaliças pela CEASA-MS, 2011
ORIGEM SITUAÇÃO ATUAL SITUAÇÃO PROPOSTA
CEASA-MS Oferta em t Oferta em % Oferta em t Oferta em %
(+) Produção local 12.235,484 16,31 12.235,484 16,31
(+) Substituições - - 34.474,095 45,95
(=) Produção local proposta 46.709,579 62,26
(+) Importações 62.785,006 83,69 28.310,911 37,74
(=) Totais 75.020,490 100,00 75.020,490 100,00
Na Tabela 4 pode-se verificar que a expansão do VBP da produção
local proposta de hortaliças, tendo como referência os preços médios no atacado
da CEAGESP em 2011, pode atingir R$ 79.270.648,23. As substituições adicionam
R$ 62.356.775,24, o equivalente a 268,71% de incremento ao VBP atual.
72
TABELA 4 – Efeito das substituições das importações pela produção local na geração do VBP de hortaliças pela CEASA-MS, 2011
ORIGEM SITUAÇÃO ATUAL
SITUAÇÃO PROPOSTA CEASA-MS
VBP em R$ VBP em % VBP em R$ VBP em %
(+) Produção local 16.913.872,99 15,69 16.913.872,99 15,69
(+) Substituições - - 62.356.775,24 57,85
(=) Produção local proposta
79.270.648,23 73,54
(+) Importações 90.883.506,71 84,31 28.526.731.47 26,46
(=) Totais 107.797.379,70 100,00 107.797.379,70 100,00
4.3.4.2 Frutas
Na figura 23 estão listados os produtos pertencentes ao subgrupo das
frutas tropicais, aptos a serem substituídos pela produção local, conforme o 1º
Encontro de Horticultura da CEASA-MS.
Figura 23 – Indicadores de oferta das frutas passíveis de substituição pela produção local em 2011.
73
Ao contrário dos produtos pertencentes aos grupos das hortaliças,
em que se obtém uma participação concentrada de um único produto (tomate), as
importações de frutas tropicais, em relação ao volume de oferta e ao VBP,
demonstram uma distribuição um pouco mais equilibrada, ainda que a banana
lidere de forma acentuada esse subgrupo de produtos.
O volume ofertado de banana pelas importações foi de 14.758,534
toneladas, gerando um VBP de R$ 16.731.978,92. Esses números correspondem
à participação de 39,39% e 40,16%, respectivamente, em relação aos totais do
subgrupo de frutas de clima tropical ofertado pelo Ceasa-MS.
O mercado potencial disponível para os produtos desse subgrupo
aptos a serem substituídos pela produção local é 37.471,721 toneladas, o que
significa um incremento de 277,35% em relação à oferta atual. Desse modo, o grau
de estadualização da oferta de frutas pela Ceasa-MS poderá atingir 73,55% do
volume total ofertado (TABELA 5).
TABELA 5 – Efeito das substituições das importações pela produção local no volume ofertado de frutas pela CEASA-MS, 2011
ORIGEM SITUAÇÃO ATUAL SITUAÇÃO PROPOSTA
CEASA-MS Oferta em t Oferta em % Oferta em t Oferta em %
(+) Produção local 9.930,220 15,41 9.930,220 15,41
(+) Substituições - - 37.471,721 58,14
(=) Produção local proposta 47.401,940 73,55
(+) Importações 54.516,298 84,59 17.044,580 26,45
(=) Totais 64.446,520 100,00 64.446,520 100,00
Na Tabela 6 pode-se verificar que a expansão do VBP da produção
local de frutas proposta, tendo como referência os preços médios no atacado da
CEAGESP em 2011, pode atingir R$ 52.016.481,52. As substituições adicionam
R$ 41.662.808,35, equivalente a 268,71% de incremento ao VBP atual.
74
TABELA 6 – Efeito das substituições das importações pela produção local no VBP de frutas pela CEASA-MS, 2011
ORIGEM SITUAÇÃO ATUAL
SITUAÇÃO PROPOSTA CEASA-MS
VBP em R$ VBP em % VBP em R$ VBP em %
(+) Produção local 10.353.673,17 11,25 10.353.673,17 11,25
(+) Substituições - - 41.662.808,35 45,27
(=) Produção local proposta 52.016.481,52 56,52
(+) Importações 81.683.323,94 88,75 40.020.515,59 43,48
(=) Totais 92.036.997,11 100,00 92.036.997,11 100,00
4.3.4.3 Volumes físicos consolidados
As substituições das importações pela produção local pode reduzir o
grau de dependência externa no abastecimento hortifrutícola da Ceasa-MS dos
atuais 84,11% para 32,52%. Isso significa um aumento de 71.945,816 toneladas
sobre o volume da oferta atual. As tuberosas é o subgrupo das hortaliças que ainda
deverá possuir uma forte dependência externa, 59,97%, em razão das importações
de batata e cebola. Como não há nenhuma substituição de importações no
subgrupo das frutas de clima temperado, no grupo das frutas o grau de
dependência externa atinge os 26,45 % (FIGURA 24).
Figura 24 – Reflexos do cenário de substituição das importações pela Ceasa-MS em 2011: Volumes físicos.
75
4.3.4.4 VBP consolidado
O incremento no VBP da produção local de hortaliças e frutas, em
função da substituição das importações, pode se situar em R$ 104.019.583,59, com
base nos preços médios de atacado praticados na CEAGESP de São Paulo. Os
principais subgrupos de produtos responsáveis por esse incremento são as
hortaliças frutosas e as frutas de clima tropical.
Com base na Figura 25 pode se observar que a transferência de renda
para outros estados no ano de 2011 atingiu os R$ 172.566.830,77. A substituição
das importações pela produção local pode reduzir tal transferência de renda a R$
68.547.247,06.
Figura 25 – Reflexos do cenário de substituição das importações pela Ceasa-MS
em 2011: VBP
4.4 CONCLUSÕES
O aplicativo de Data Mining utilizado neste trabalho mostrou-se eficaz
na geração de análises do mercado hortifrutícola do Estado de Mato Grosso do Sul,
permitindo, identificar a origem, volume e o valor bruto da produção dos produtos
hortifrutícolas destinados ao consumo domiciliar pela CEASA-MS. O aplicativo
permitiu, ainda, mensurar os reflexos a serem gerados no volume e valor bruto da
produção do Estado de Mato Grosso do Sul, pela adoção da produção local em
substituição às importações de produtos hortifrutícolas como origem de
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abastecimento da CEASA-MS:
a. O grau de estadualização na oferta de hortaliças pode atingir
62,26%, frente aos 16,31% ofertados em 2011, elevando a
participação da produção local no VBP ofertado pela CEASA-
MS de 15,69% para 73,54% do VBP de hortaliças;
b. O grau de estadualização na oferta de frutas pode atingir
73,55%, frente aos 15,41% obtidos em 2011, elevando a
participação da produção local no VBP ofertado pela CEASA-
MS de 11,25% para 56,52% do VBP de frutas;
c. Os índices citados anteriormente podem gerar uma redução na
transferência de renda para outros estados em torno de R$ 104
milhões/ano;
d. O fomento à produção local poderia melhorar sensivelmente a
qualidade, frescor e preços de venda dos produtos
hortifrutícolas ofertados pela CEASA-MS, tendo em vista que a
distância média pesquisada da produção de outros estados foi
superior a 931 km. Deve-se ressaltar que a CEAGESP, no
Estado de São Paulo, foi uma das principais origens de
abastecimento da CEASA-MS. Portanto, essas aquisições
efetuadas junto a outros atacadistas implicaram na absorção
de custos adicionais nas operações de carga, descarga,
armazenamento e transportes.
Os resultados obtidos conduzem à conclusão de que aplicativos de
Data Mining em bases secundárias de dados pode produzir uma base de
conhecimento que poderia ser utilizada e disseminada pela CEASA-MS,
constituindo-se em importante instrumento de apoio à decisão nas análises de
conjuntura, dimensionamento de mercados e no planejamento da produção dos
produtos hortifrutícolas.
As possibilidades de pesquisa e identificação de informações
relevantes na base de dados disponibilizados pela CEASA-MS revelam-se como
de suma importância por seu caráter interdisciplinar. Trabalhos sobre o
comportamento dos agentes atacadistas, fracionamento de cargas, sazonalidade
de preços e oferta, entre outros, são perfeitamente factíveis.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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MARCONI, M. D. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de Metodologia Cientifica. 5ª. ed. SÃO PAULO: ATLAS, 2003. 311 p.
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SCHMITZ, H. Collective efficiency: growth path for small-scale industry. The Journal of Development Studies, London, v. 31, n. 4, p.529-566, abr. 1995.