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Apostila elaborada para meus alunos de pré-vestibular.
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Pré-Vestibular Comunitário GAVe
Apostila de História
Profª: Zora Zanuzo
Aula 1 – O Estado Moderno
Nesta primeira parte, entende-
remos o processo de transição para a
Idade Moderna. Ao falarmos em transi-
ção, devemos pensar em profundas mu-
danças sociais, econômicas e políticas.
Como a separação por temas é apenas
com fins didáticos, devemos entender
que, ao mesmo tempo em que a monar-
quia se centralizava, a burguesia mer-
cantil se expandia amplamente, uma vez
que, com a diminuição das fronteiras e
com a expansão marítima, o comércio
volta a se tornar uma atividade lucrati-
va. No entanto, no contexto cultural,
vemos o Humanismo e o Renascimento
como uma afirmação desta mudança,
através da arte e da Literatura.
São esses fenômenos, acrescen-
tados a alguns outros, que definem o
que chamamos de Idade Moderna. Por
que este conceito? Segundo o dicioná-
rio1, o moderno está relacionado à atua-
lidade, ao novo. A Idade Moderna é
conhecida por conta do retorno a alguns
conceitos da Antiguidade Clássica,
1 Eu consultei o www.priberam.pt/dlpo
principalmente no que diz respeito à
política e à cultura. Como essas trans-
formações se deram? É exatamente o
que veremos agora. Bom estudo!
1- Os antecedentes
Com o fim do Império Romano do Oci-
dente, a Europa fica dissolvida em soci-
edades de origens romano-germânica2.
A decomposição das monarquias centra-
lizadas dá origem ao feudo3, que é um
espaço autossuficiente, uma vez que as
suas relações de produção eram enrai-
zadas dentro daquela determinada loca-
lidade. No século XI, a maior parte da
Europa se encontrava dentro desse sis-
tema.
Formato clássico de um feudo. Fonte: Google.
2 Isso ocorre porque a estrutura estatal romana
não será abandonada, mesmo com as invasões
germânicas. As divisões ocorrem porque, ao
contrário da monarquia absoluta, conforme
veremos, os reinos eram divididos entre todos
os herdeiros, o que acabava por fragmentar o
território. 3 Quando um senhor feudal cedia um pedaço da
sua propriedade para um vassalo, que deveria
prestar serviços ao seu senhor.
O Renascimento Cultural e Ur-
bano e o desenvolvimento da burguesia
exigiram algumas mudanças naquela
estrutura. Se, dentro do feudalismo,
havia a pluralidade de moedas, de al-
fândegas, de legislações e até mesmo de
insegurança, o processo de centraliza-
ção territorial e do poder político vai
fazer com que a burguesia possa exercer
suas atividades comerciais, sendo o iní-
cio deste processo no século XII, com a
associação deste grupo, então em ascen-
são, com as monarquias feudais. Pode-
mos enumerar, neste sentido, algumas
vantagens obtidas por estes monarcas:
Recursos humanos tropas,
agentes administrativos, legisla-
dores – que tinham o Direito
Romano4 como base;
Recursos financeiros recru-
tamento de forças militares,
compra de munição.
Estes dois fatores fizeram com
que a monarquia se fortalecesse, uma
vez que agora eles tinham condições de
tomar os territórios da nobreza, caso
esta não cumprisse com suas obrigações
estabelecidas no chamado Direito Feu-
dal5. Outrossim, as monarquias também
se unificaram por meio de casamentos
4 Uma das primeiras formas do Direito conheci-
da pela divisão entre pessoas, coisas e ações. 5 Não há, de fato, uma organização estatal e
legislativa. Cada grupo faz a sua legislação.
políticos, tais como o dos Reis Católi-
cos de Espanha, que gerou a união dos
reinos de Castela e Aragão.
2- O que tornou a centralização
possível?
Entre os séculos XIV e XVI,
ocorre o que os historiadores chamam
de transição da Idade Média para a Ida-
de Moderna. Isso foi possibilitado por
alguns fatores:
Crise do feudalismo, que gerou a
elevação dos preços, levando a
nobreza feudal à ruína, bem co-
mo a Guerra das Duas Rosas
(1455-1485), que também con-
tribui para sua decadência, tendo
em vista que foi uma guerra en-
tre duas famílias nobres;
Humanismo e Renascimento,
cujo estímulo ao uso da Razão
questiona a influência da Igreja
Católica na nobreza feudal;
Expansão marítima, que traz à
tona a Revolução Comercial,
que ascende a burguesia social e
economicamente;
Reforma Religiosa, que coloca
em xeque a hegemonia católica.
Neste sentido, devemos ter em
mente que cada região teve a sua especi-
ficidade.
3- O Absolutismo
Se há uma maneira como pode-
mos definir o poder absoluto, ela se
chama centralização. Conforme já vi-
mos, é um contexto de expansão eco-
nômica e centralização territorial. O
absolutismo, neste sentido, é uma cen-
tralização política, tendo, de um modo
geral, a sua concentração no monarca.
a) Teóricos
Entre os séculos XVI e XVII, sur-
giram diversos autores que tinham co-
mo fim legitimar ou introduzir este sis-
tema em suas localidades. Dentre vá-
rios, alguns merecem destaque:
Maquiavel (1469-1527) “O
Príncipe”
Uma das inúmeras edições de “O Prínci-
pe”. Fonte: Google.
Thomas Hobbes (1589-1679)
“Leviatã”
Sendo um dos adeptos da teoria
do Contrato Social6, ele acredi-
6 Dentro de uma sociedade, aquele que fosse
considerado o mais forte se sobressairia, ao
tava que esta tese era uma forma
de tirar o homem de seu estado
natural. Ou seja, um governo
centralizado tiraria a humanida-
de da condição de selvagem. O
título do livro tem referência no
Antigo Testamento, onde o levi-
atã é descrito como um monstro.
No caso desta obra, o monstro
seria o estado natural do homem.
Capa de “Leviatã” – “O Homem é o Lobo do Ho-
mem. Fonte: Google.
Jean Bodin (1530-1596)
“República”
Um dos teóricos sobre o Direito
Divino dos reis7, ele vai dizer
que o monarca tem supremacia
sobre qualquer outro cidadão.
passo que o mais fraco pereceria. As sociedades
deveriam ter suas classes bem divididas. 7 De acordo com esta tese, o rei governa de
acordo com a vontade de Deus.
“Os Seis Livros da República”. Fonte: Google.
Jacques Bossuet “Política
Segundo a Sagrada Escritura”
Outro defensor do Direito Divi-
no dos reis, ele acreditava que
não havia poder público sem a
vontade de Deus.
No entanto, havia algumas limi-
tações dentro do absolutismo, uma vez
que o monarca precisava atender exi-
gências que possibilitariam sua perma-
nência no poder, tendo em vista que ele
próprio pertencia à nobreza feudal.
b) Alguns países adeptos do abso-
lutismo
b.1- Espanha
b.1.1.- A sua formação: como
ela ocorreu?
No século VIII, a Península Ibé-
rica se encontrava dominada pelos mu-
çulmanos. Com isso, viu-se uma larga
expansão agrícola, que gera uma vida
urbana onde convivem judeus, árabes,
muladis8 e moçárabes
9.
Península Ibérica na virada do século IX para o X.
A área verde corresponde à predominância dos
árabes.
A Reconquista foi a retomada da
Península Ibérica pelos cristãos. Logo
após a formação dos Reinos Ibéricos,
Portugal se torna independente do Rei-
no de Castela. Outrossim, no século XI,
se vê um aumento da participação de
outros senhores feudais na luta anti-
muçulmana, no contexto das Cruza-
das10
. Com isso, é importante destacar
as peculiaridades do feudalismo ibérico:
ao passo que coexistiam instituições
sócio-econômicas diferentes, fazendo
com que houvesse uma forte burguesia
comercial e urbana; havia a coexistência
de instituições centralizadas nas mãos
do rei, o que, por sua vez, gerava o
crescimento estatal. Assim, necessita-
vam de forças militares, que cresceriam
vertiginosamente por conta de guerras.
8 Cristãos convertidos ao islamismo.
9 Cristãos que aceitavam o domínio islâmico.
10 Tropas ocidentais que buscavam o acesso a
Jerusalém, tomado pelos muçulmanos. Ocorreu
entre os séculos XI e XIV.
Em fins do século XI, teremos
algumas modificações geográficas, por
conta da formação do reino de Aragão,
de Castela e de Portugal, conforme já
dito. Essas modificações ainda se se-
guem ao longo do século XIII, uma vez
que Aragão ainda se une a Valença e
Barcelona, numa franca expansão pelo
Mediterrâneo, que será possível por
conta da união com Gênova, a fim de
desconstruir a supremacia veneziana.
Esta associação também possibilitará a
expansão ultramarina espanhola, tendo
em vista que a expedição hispânica será
capitaneada por um genovês, Cristóvão
Colombo. Em contrapartida, Castela vai
dominar a região de Andaluzia (Al-
Andaluz, à época da dominação islâmi-
ca). Os portos desta região possibilita-
ram a ampliação da dominação espa-
nhola pela costa africana, bem como a
conquista e a colonização das Ilhas Ca-
nárias, em concorrência com os portu-
gueses.
Neste sentido, o fortalecimento
português foi um dos principais motivos
para a união de Castela e Aragão, o que
acelerou a Reconquista ao longo do
século XVI, bem como possibilitou a
conquista e a exploração de suas colô-
nias em território americano. Contudo,
havia uma frágil unidade política e eco-
nômica, pois, graças à presença de vá-
rias religiões e culturas, os Reis Católi-
cos desenvolveram uma burocracia de
tal forma, que a Igreja Católica se trans-
formaria e aparelho estatal. Assim, em
1492, os judeus são banidos do territó-
rio espanhol, bem como a Inquisição
força uma unidade religiosa, perseguin-
do também os muçulmanos. A econo-
mia, neste sentido, acaba por ser afeta-
da, tendo em vista que o antagonismo
entre burgueses cristãos com os muçul-
manos e judeus é um dos fatores que
impedem o desenvolvimento do comér-
cio na Espanha.
b.1.2- O auge e a saída de cena
A sucessão dos Reis Católicos
deu início à dinastia dos Habsburgo
(1516-1700), cujos destaques se devem
a Carlos I e Filipe II. O primeiro, tam-
bém conhecido como Carlos V do Sacro
Império Romano-Germânico, governou
entre 1516 e 1556. Sendo soberano de
diversos territórios11
, o monarca adotou
uma política universalista. Ele também
é responsável pela consolidação do ab-
solutismo, tendo em vista que uma de
suas principais ações foi reprimir a Re-
volta dos Comuneros (1520-21), que era
uma resistência da nobreza feudal con-
tra os excessivos impostos cobrados
pela realeza. Apesar de conseguir man-
11
Espanha, Sacro Império Romano-Germânico,
Países Baixos e territórios italianos.
ter a sua autoridade, mesmo com as
frequentes viagens para outras partes de
seu Império, as guerras empreendidas
por Carlos V acabam por consumir boa
parte das riquezas advindas das colô-
nias. Com a sua crescente impopulari-
dade, ele abdica em favor do irmão,
Fernando, que herda os domínios austrí-
acos; e do seu filho, Filipe, que, por sua
vez, herda a Espanha e suas colônias, os
Países Baixos, o Franco-Condado e as
regiões italianas.
A Europa no século XVI e as possessões dos Habs-
burgo.
Ao contrário do pai, Filipe II
(1556-1598) tem a sua política voltada
para a Espanha, uma vez que ele investe
as suas forças para a supremacia nacio-
nal, com um exército forte e colônias
prósperas. Com isso, a Espanha alcança
o posto de primeira potência europeia.
Contudo, é a própria intransigência polí-
tica de Filipe II que leva a Espanha à
decadência, pois o aumento da emigra-
ção para outras áreas pertencentes à
Espanha, guerras, epidemias e crises de
fome gera a diminuição da mão-de-
obra, o que, por sua vez, afeta a produ-
ção e o consumo, o que é grave dentro
de uma economia mercantilista. conse-
quentemente, Filipe II aumenta os im-
postos para investir em sua própria ad-
ministração, tendo em vista que o ouro
americano cobria a dívida da Coroa com
negociantes estrangeiros e banqueiros
estabelecidos em Sevilha e Cádiz. Além
disso, a intolerância de Filipe II com os
mouriscos também afetará a produção
espanhola, bem como o afluxo de me-
tais preciosos desestimulam o investi-
mento na indústria, encarecendo o pro-
duto espanhol. Portanto, aumenta a bus-
ca por produtos importados. A produção
ainda sofre um maior impacto quando
as colônias passam a necessitar de pro-
dutos industriais.
Já em relação à sua política ex-
terna, pode-se dizer que a Espanha de
Filipe II teve uma relação um tanto hos-
til com seus vizinhos, pois, além de um
intenso conflito anti-protestante contra a
França, que descumprira o Tratado de
Vaucelles, assinado em 1556. Em 1580,
dada a crise de sucessão do trono portu-
guês, o rei espanhol reivindica a sua
ascendência portuguesa12
e, assim, se
inicia a União Ibérica, que dura até
12
Ele era filho da princesa Isabel de Portugal.
1640. Em 1597, a independência dos
Países Baixos vai gerar impactos signi-
ficativos, tais como:
Religioso a Reforma vence e
o calvinismo vira a principal re-
ligião daquela localidade;
Econômico Amsterdã se tor-
na o principal entreposto comer-
cial do mundo, tomando o lugar
que era de Sevilha e Lisboa;
Territorial invasões holande-
sas ao longo do território ameri-
cano.
Por último, a rivalidade com a
Inglaterra de Elizabeth I vai trazer a
derrota da Invencível Armada, em 1588,
enfraquecendo ainda mais o poder he-
gemônico espanhol. Posteriormente, a
Espanha segue em declínio, nos reina-
dos de Filipe III (1598-1621), Filipe IV
(1621-1665) e Carlos II (1665-1700).
b.2- França
b.2.1- Antecedentes
No século XII, a dinastia Cape-
tíngia (987-1328) empreendeu uma po-
lítica de ampliação de domínios reais,
sendo isso possível por conta de alian-
ças estabelecidas com a Igreja e com a
burguesia. Suas principais etapas se
deram ao longo dos reinados de:
Filipe Augusto (1180-1223);
Luís IX (1216-1270);
Filipe, o Belo (1285-1314).
Os Plantageneta, senhores feu-
dais na França e reis na Inglaterra, eram
seus principais opositores.
Já no século XIV, a dinastia de
Valois (1328-1589), ramificação da
anterior, vai fortalecer o poder real até o
início da Guerra dos Cem Anos (1337-
1453). O ideal nacional foi sustentado
pela própria nobreza feudal, uma vez
que o Exército, para enfrentar a Ingla-
terra, foi organizado com a renda pro-
veniente da talha (força financeira à
monarquia no período da guerra). Além
disso, estava proibida a convocação dos
Estados Gerais.
b.2.2- Consolidação do Estado
Nacional e da monarquia francesa
Ao longo do século XVI, já exis-
te na França dos Valois um poder abso-
luto. Nos reinados de Francisco I (1515-
1547) e de Henrique II (1547-1559), já
existia uma burocracia e um exército já
enraizados. O primeiro lançou a Con-
cordata de Bologna, que, em 1516, co-
locava a Igreja Católica sob a autorida-
de monárquica, sendo o rei a principal
autoridade eclesiástica do país.
Em relação à economia, a políti-
ca mercantilista exigia que se armaze-
nasse o maior número possível de me-
tais preciosos dentro de um território.
Para isso, a França de Francisco I faz
um acordo com o Império Turco-
Otomano, em 1535, que permite aos
franceses a supremacia sobre o Mediter-
râneo.
Em sua política externa, um dos
principais pontos a se destacar são as
Guerras da Itália (1494-1559), onde a
França desejava obter territórios próspe-
ros, bem como conquistar rotas comer-
ciais. Com a forte resistência das cida-
des-Estado italianas e dos Habsburgo
(Carlos V e Filipe II), a Paz de Cateau-
Cambrèsis, assinado em 1559, fez com
que franceses renunciassem à Itália em
troca de vantagens na região do Reno.
Na segunda metade do século
XVI, à época da rainha-mãe Catarina de
Médici, era forte a rivalidade entre os
Guise e os Bourbon, sendo os primeiros
ligados ao catolicismo e os segundos, ao
protestantismo13
. Tal rivalidade geram
as Guerras de Religião, cujo ápice foi a
Noite de São Bartolomeu, em 1572, que
leva ao massacre de huguenotes14
. A
guerra civil praticamente anula o poder
real, uma vez que o rei Henrique IV
13
Neste sentido, os católicos eram ligados à
nobreza feudal, ao passo que os protestantes
eram associados à burguesia. Isso pode ser ca-
racterizado como luta de classes. 14
Calvinistas franceses.
(1589-1610) foi praticamente obrigado
a decretar o Édito de Nantes, em 1598.
Tal documento dá liberdade de culto aos
huguenotes, bem como permite que eles
tivessem acesso aos cargos públicos.
Paradoxalmente, elas também
fortalecem o absolutismo, pois, ao lon-
go da Dinastia Bourbon (1589-1792),
Bartolomeu de Laffémas e o Duque de
Sully viram no mercantilismo uma for-
ma de recuperar um país mergulhado
em guerras. Os investimentos foram de
duas formas:
Interna estímulo à agricultura
e à criação do bicho-de-seda, à
indústria e ao comércio, uma vez
que a exportação deveria ser
maior do que a importação;
Externa colonização na Amé-
rica. Inicialmente, com a funda-
ção de Québec (Canadá) e Port
Royal (Jamaica).
b.2.3- Auge do poder monárqui-
co na França
Com o fim da regência de Maria
de Médici, sobe ao poder o monarca
Luís XIII. Seu primeiro ministro, Car-
deal Richelieu, não apenas consolida o
absolutismo em território francês, como
projeta a França internacionalmente.
Dentre as suas políticas, é importante
destacar:
A prática do mercantilismo co-
mercialista apesar da França,
conforme vimos, possuir colô-
nias, ela vai fazer um longo uso
do comercialismo15
;
Diminuição dos direitos dos hu-
guenotes Richelieu vai man-
ter apenas a liberdade de culto;
Repressão à oposição.
Na política externa, Richelieu se
alia aos protestantes alemães e suecos
na Guerra dos Trinta Anos. Estes, por
sua vez, lutavam contra a nobreza tche-
ca e alemã, que eram contrárias à cen-
tralização do Império Alemão. Portanto,
é importante sublinharmos algumas
questões, tais como:
O aspecto religioso: rivalidade
entre católicos e protestantes na
região do Sacro Império;
Aspecto territorial e econômico:
as ambições dinamarquesas na
região do Báltico. A Suécia
também buscava a hegemonia
naquela localidade.
No entanto, o cerne da questão
francesa era o enfraquecimento dos
15
O país irá investir em construção naval, re-
formará seus portos e criará companhias de
comércio.
Habsburgo, uma vez que, mesmo sem
se envolver diretamente, a dinastia
Bourbon auxilia não apenas financeira-
mente, mas com armas e tropas. Um dos
conflitos mais intensos da Europa até o
início da Primeira Guerra Mundial, a
Guerra dos Trinta Anos terá seu fim
com a Paz de Vestfália, que vai lançar a
França à hegemonia europeia16
, em de-
trimento da Espanha.
As batalhas ao longo da Guerra dos Trinta Anos
No início do reinado de Luís
XIV, a regência de Ana de Áustria no-
meia o Cardeal Mazarino para o cargo
de Primeiro Ministro. Seu objetivo prin-
cipal é acabar com a Guerra dos Trinta
Anos. Para isso, ele considera necessá-
rio o aumento dos impostos, inclusive
para a nobreza, que, para readquirir seus
privilégios, também participou ativa-
mente das Frondas (1641-1652)17
, que
16
Ao longo do reinado de Luís XIV (1643-
1652). 17
A França vinha passando por diversas guerras
civis desde o século XVI. A medida de Mazari-
no apenas os problemas internos da França.
Ocorrida em paralelo à Guerra Franco-
Espanhola, ela vai tentar limitar o poder real,
foi um dos momentos em que o absolu-
tismo francês foi questionado. Após a
morte de Lazarino, Luís XIV passa a
cuidar pessoalmente do governo, tendo
Colbert como seu assistente na área
econômica.
Luís XIV – o “Rei Sol” – em seu ápice: “o Estado
Sou Eu”, frase que definiria de uma vez por todas
o modo absolutista de governo.
Mesmo sendo essencialmente
feudal, a monarquia absoluta abrangeu a
França como um todo, pois, ao mesmo
tempo em que o poderio real era respei-
tado, ainda havia particularidades lo-
cais. Luís XIV também conseguiu man-
ter sob seu controle a arte e a literatura,
que impõe ainda mais impostos numa França já
em crise.
que se encontravam em seu auge. No-
mes como Molière (teatro) e Bossuet
(literatura) datam desta época. Em ter-
mos religiosos, o Édito de Fontaineble-
au (1685) vai revogar o Édito de Nan-
tes, fazendo com que os huguenotes
perdessem também a liberdade de culto.
Consequentemente, haverá uma grande
emigração para lugares onde o protes-
tantismo era exercido livremente18
, o
que vai gerar um impacto na economia
francesa.
Quanto à política externa, con-
forme já vimos, um dos objetivos era a
expansão para o Reno. Além da já men-
cionada Guerra dos Trinta Anos, pode-
mos enumerar algumas outras:
Guerra de Devolução (1667-
1668) França x Espanha
reivindicação dos Países Baixos
espanhóis, atual Bélgica. As
hostilidades cessaram por conta
das pressões das Províncias U-
nidas (atual Holanda), da Ingla-
terra e da Suécia19
e foi selada
com a Paz de Aix-la-Chapelle20
,
onde a Espanha recuperava o
Franco-Condado e algumas ci-
dades flamencas;
18
Inglaterra, Holanda e Brandemburgo como os
principais destinos. 19
Esses países formam uma Tríplice Aliança
contra a França. 20
Aquisgrão ou Aachen, cidade alemã.
Guerra da Holanda (1672-1678)
consequência da guerra ante-
rior. Mesmo com a aliança entre
a Holanda e o Sacro Império
Romano Germânico, a França
adquire o Franco Condado,
Flandres e renuncia a Holanda;
Guerra dos Nove anos (1689-
1697) ou Guerra da Liga de
Augsburgo união dos Habs-
burgo espanhóis e germânicos à
Holanda e à Inglaterra a fim de
impedir a expansão da França
pelo Reno. O evento terá reper-
cussão fora da Europa, chegando
à América e às Índias. O Tratado
de Ryswick (1697) concede van-
tagens comerciais à Holanda e a
França se vê obrigada a reco-
nhecer Guilherme III como rei
da Inglaterra. No entanto, a Es-
panha perde a Ilha de São Do-
mingos para a França.
Guerra de sucessão espanhola
(1702-1714) pretensão fran-
cesa de conduzir Filipe
D’Anjou, neto de Luís XIV, ao
trono espanhol. A França logrou
êxito com a ascensão de Filipe
V, mas os Tratados de Utrecht
(1713) e de Radstadt (1714) faz
com que a Espanha ceda à Ingla-
terra alguns de seus territórios
coloniais, bem como licença par
navegar em colônias hispano-
americanas, aumentando a influ-
ência inglesa e enfraquecendo a
francesa.
Na França, os governos que su-
cederam Luís XIV foram marcados por
ainda mais intensos conflitos internos,
levando à Revolução Francesa.
b.3- Inglaterra
b.3.1- O feudalismo na Inglater-
ra
O reinado de Guilherme, O
Conquistador (1066-1087), vai ser co-
nhecido por conta da distribuição de
feudos e da acentuação da relação de
vassalagem. Contudo, para manter a sua
soberania, o rei empreendeu inúmeras
guerras internas. Com a expropriação
das terras dos perdedores, este monarca
se torna o maior senhor feudal do terri-
tório inglês.
No século XIII, a dinastia Plan-
tageneta (1154-1399), na qual se vê um
grande paradoxo, pois, ao passo em que
eles fortaleciam a monarquia inglesa,
eles eram favoráveis ao poderio local na
França, uma vez que possuíam territó-
rios neste país; verá a Magna Carta e o
surgimento do Parlamento. A primeira,
aprovada em 121521
, decretava que:
Os impostos deveriam ser previ-
amente aprovados pelos súbdi-
tos;
O rei não poderia desapropriar
uma terra ou prender um homem
livre sem julgamento.
Assinatura da Carta Magna pelo rei João Sem-
Terra
Caso o rei descumprisse alguma
dessas leis, a sociedade tinha o direito
de insurreição. Já o Parlamento, estabe-
lecido ao longo do reinado de Henrique
III (1227-1272), foi dividida em duas
21
No contexto do reinado de João Sem-Terra
(1199-1216).
(Parlamento bicameral) ao longo do
século XIV:
Câmara dos Lords, composta
por senhores feudais e pelo cle-
ro;
Câmara dos comuns, composta
pela gentry (pequena nobreza) e
pela burguesia.
Câmara dos Comuns. Fonte: Google.
De um modo geral, era costume
o rei entrar em acordo com o Parlamen-
to, uma vez que ele necessitava do a-
poio dos vassalos para a política exter-
na, sobretudo à época da Guerra dos
Cem Anos, quando a instituição adquire
maior importância. Neste sentido, vale
destacar que a dinastia Lancaster sobe
ao poder, provocando a Guerra das Du-
as Rosas22
, que, ao seu final, enfraquece
o Parlamento e leva a dinastia Tudor ao
poder.
22
Guerra entre a família Lancaster e a família
York, ambas pertencentes à linhagem dos Plan-
tageneta.
b.3.2- A ascensão e o apogeu do
absolutismo na Inglaterra
A dinastia Tudor (1485-1603)
foi responsável por estabelecer o abso-
lutismo na Inglaterra. Isso foi possível
porque existia o sentimento nacional
gerado pela Guerra dos Cem Anos, bem
como um receio de uma nova guerra
contra a França. Ademais, a crise eco-
nômica gerada pelas guerras vai fazer
com que a burguesia dependa do poder
real, ainda que este, personificado na
figura de Henrique VII (1485-1509), se
utilize do Parlamento como uma forma
de manter a aparência de representativi-
dade.
A Reforma também será um
agente facilitador para a consolidação
do absolutismo, pois, por conta de pro-
blemas pessoais com a Igreja Católica,
Henrique VIII (1509-1547). Outrossim,
em 1534, o Ato de Supremacia23
coloca
o rei como chefe da Igreja Anglicana.
O auge do absolutismo ocorreu
com Elizabeth I, cujo governo é conhe-
cido pela consolidação econômica da
Inglaterra, pois, graças à constante as-
sombração espanhola, ela aumenta os
recursos estatais, que era estimulado
pelos monopólios e pelos imigrantes
protestantes que se estabeleciam na In-
glaterra por causa das questões das
guerras de religiões em seus países de
origem. Podemos entender este ponto
como um dos favorecedores da Revolu-
ção Industrial.
23
Decretado por Henrique VIII, criava oficial-
mente a Igreja Anglicana.
Elizabeth I
b.3.3- As revoluções inglesas: o
fim do absolutismo
A Dinastia Stuart (1603-1714)
nos mostra a profundeza das contradi-
ções entre a nobreza feudal e a burgue-
sia, que já vinha desde o século XVI,
por conta do fortalecimento da manufa-
tura, do comércio exterior, do capita-
lismo agrário e, consequentemente, do
fortalecimento do Parlamento. Esse an-
tagonismo é ainda mais forte à época de
Carlos I (1625-1649), que viola a “Peti-
ção de Direitos”, promulgada em 1628
pelo Parlamento, instaurando um perío-
do de 11 anos de tirania. Vale destacar
que a Inglaterra se envolve em diversas
guerras nesse período, como a dos Trin-
ta Anos.
Outra questão que gera conflitos
entre o rei e o Parlamento é quando o
monarca decide intervir na Igreja Pres-
biteriana da Escócia. Carlos I vai en-
frentar forte oposição das Câmaras, o
que vai culminar na Revolução Puritana
(1642-1649), liderado pelo membro da
gentry Oliver Cromwell. Calvinista, o
puritano vira Lorde Protetor durante o
período republicano24
, que foi uma con-
sequência da vitória dos Cabeças Re-
dondas, grupo que ele fazia parte, e da
decapitação do rei.
Oliver Cromwell – líder da Revolução Puritana
O governo de Cromwell teve
uma forte aproximação com o Conselho
de Estado e no Exército, sendo o pri-
24
Ou Protetorado.
meiro associado ao mundo dos negócios
e da religião. Ambos desejavam ordem
interna e proteção aos seus interesses no
além-mar. Os principais pontos do Pro-
tetorado foram:
Secularização e venda das terras
da Igreja Anglicana;
Submissão da Escócia e da Ir-
landa25
, por se declararem pró-
Stuart;
Anexação da Jamaica;
Ato de Navegação (1651) os
artigos importados deveriam ser
conduzidos em navios ingleses
ou em navios do país de origem
do produto, estimulando a cons-
trução naval e o comércio, bem
como provocando guerra contra
a Holanda26
.
A morte de Cromwell gera uma
crise que leva à Restauração Stuart. A
ascensão de Carlos II vai trazer uma
ampliação do Império Colonial27
e mais
perseguição aos opositores. Com o Tra-
tado de Dover, feito em 1670 com Luís
XIV da França, ficou estabelecido que o
rei deveria se converter ao catolicismo,
25
As questões religiosas se agravaram com
Cromwell, que era ainda mais anti-católico do
que os monarcas ingleses. 26
Guerra Anglo-Holandesa (1652-1654), que
tira da Holanda o posto de principal rota de
mercadorias. 27
Carlos II era casado com uma princesa portu-
guesa.
bem como os interesses ingleses não
deveriam afetar os franceses. O Ato de
Tolerância visava conceder benefícios
aos católicos, apesar de uma pretensa
liberdade religiosa. O Parlamento, por
sua vez, aprovará o Bill of Test28
e o
Habeas Corpus, que era um reforço à
Magna Carta no que diz respeito ao di-
reito de ampla defesa. Neste contexto,
surgem os Tories, favoráveis ao rei, e os
Whigs, que eram a favor do poder par-
lamentarista.
No reinado de Jaime II (1685-
1688), houve uma nova tentativa de
estabelecimento do catolicismo na In-
glaterra. Com isso, Tories e Whigs se
unirão para a chamada Revolução Glo-
riosa (1688-1689), que conduzirá Gui-
lherme III (1689-1701) ao trono, sob o
juramento da Bill of Rights29
, que au-
mentava as competências do Parlamento
inglês. Outros pontos a se destacar:
Restauração da liberdade religi-
osa;
Monarquia se torna, de fato, par-
lamentarista. O rei reina, mas
não governa;
Regularização dos impostos;
Regularização das reuniões par-
lamentares;
Regulamentação da censura;
28
Ato de repúdio ao catolicismo. 29
Declaração de Direitos, promulgada em 1689.
Regulamentação dos impostos.
Seguindo as ideias de Locke, a-
penas quem tivesse apoio parlamentar é
que poderia ser ministro. Com Ana Stu-
art (1702-1714), há a consolidação da
união da Escócia e da Inglaterra. A sua
sucessão será marcada pelo início da
dinastia dos Hanover (1714-1760), cuja
impopularidade fortalece ainda mais a
gentry e o parlamentarismo, dando des-
taque para a figura do whig Robert
Walpole, que foi o primeiro Premier
inglês.