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Uma reflexão sobre a religião. Alguém já disse no passado com muita propriedade que " A religião é o ópio do povo". Esta é uma grande verdade dita muito provavelmente por um tolo; e que apesar de conter em seu bojo uma realidade inquestionável, mostra que a pessoa que a formulou não sabia do que estava falando, qual a extensão desta afirmação ou seu foco e que consequências tem sobre a humanidade. No evangelho de Jesus, naquilo que ele chamou de novidade, ou melhor, de boas novas, esta frase estava contida em todas as suas palavras e ações, o que torna o "autor" da célebre frase, um falsário, um patético usurpador que erigiu para si, um altar de areia. Um exemplo deste ensino de Jesus é o texto de Paulo, seu discípulo quando diz: Ele nos capacitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do Espírito; pois a letra mata, mas o Espírito vivifica. 2 Coríntios 3:6 Entende-se por "letra", o conceito implícito de código, norma ou mais especificamente lei, donde se conclui que a simples observância de preceitos não faz ninguém bom ou aceitável à divindade, uma vez que a lei e a norma apontam para o erro e a graça aponta para a misericórdia, que é superior a todas as obras. Jesus veio ensinar a antítese da religião, veio extirpar as classes especiais de pessoas, os serviços religiosos, a sacralidade das coisas, das ações humanas, das instituições e de todas as formas de culto e adoração do divino, naquilo que ele chamou de "trapo de imundícia". Veio ensinar que a ordem das coisas e do mundo, de seu ponto de vista estava errada. Que as grandezas são lixo, que as potestades humanas e institucionais não passam de uma pantomima. E do que é feita a religião? De que matéria ela é composta se não de toda a nossa mesquinhez, da nossa

Uma Reflexão Sobre a Religião

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Page 1: Uma Reflexão Sobre a Religião

Uma reflexão sobre a religião.

Alguém já disse no passado com muita propriedade que "A religião é o ópio do povo". Esta é uma grande verdade dita muito provavelmente por um tolo; e que apesar de conter em seu bojo uma realidade inquestionável, mostra que a pessoa que a formulou não sabia do que estava falando, qual a extensão desta afirmação ou seu foco e que consequências tem sobre a humanidade.

No evangelho de Jesus, naquilo que ele chamou de novidade, ou melhor, de boas novas, esta frase estava contida em todas as suas palavras e ações, o que torna o "autor" da célebre frase, um falsário, um patético usurpador que erigiu para si, um altar de areia. Um exemplo deste ensino de Jesus é o texto de Paulo, seu discípulo quando diz:

Ele nos capacitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do Espírito; pois a letra mata, mas o Espírito vivifica.2 Coríntios 3:6

Entende-se por "letra", o conceito implícito de código, norma ou mais especificamente lei, donde se conclui que a simples observância de preceitos não faz ninguém bom ou aceitável à divindade, uma vez que a lei e a norma apontam para o erro e a graça aponta para a misericórdia, que é superior a todas as obras.

Jesus veio ensinar a antítese da religião, veio extirpar as classes especiais de pessoas, os serviços religiosos, a sacralidade das coisas, das ações humanas, das instituições e de todas as formas de culto e adoração do divino, naquilo que ele chamou de "trapo de imundícia". Veio ensinar que a ordem das coisas e do mundo, de seu ponto de vista estava errada. Que as grandezas são lixo, que as potestades humanas e institucionais não passam de uma pantomima.

E do que é feita a religião? De que matéria ela é composta se não de toda a nossa mesquinhez, da nossa necessidade egoísta de realisar, de construir um mundo ordenado por direitos e deveres? O próprio autor da frase, criou para si uma religião, um séquito de zumbis que se de fato não matam, o fazem pelo policiamento, pela regulação de conceitos que mal compreendem, pelo estabelecimento de verdades vazias e sem consequências reais nas nossas relações.

Nas boas novas há uma mensagem revolucionária que está acima de toda filosofia, ordenação social, ideais políticos e religiosidade. Nelas há o absurdo da liberdade. Nas boas novas, o Reino é dos que nada tem para oferecer, nem valor pessoal e nem louvor à ele mesmo. Ele afirma que "da boca dos pequeninos e crianças de peito tiraste o perfeito louvor". E o que isto nos diz? Que o louvor não foi oferecido, mas que foi tirado e o foi justamente porque o ofertante nada tinha e nem nada sabia.

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O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador! Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado. Lucas 18:13,14

A nova "ordem mundial" foi estabelecida por ele tão somente, quando mostrou ao mundo que o remidor, o salvador era um homem comum, cuja maior obra foi morrer numa cruz de madeira. A nova ordem, foi demonstrada por aquele que é o filho de Deus, lavando os pés de seus amigos numa casa emprestada, onde a única ordenança foi comerem e beberem juntos em seu nome como memória de seu amor incondicional. Onde ele ensinou que eles fizessem outros como eles, dependentes de sua pessoa, que fossem capazes de abrir mão de todos os seu direitos em favor do próximo.

Mas nós gostamos da religião. Ela nos faz sentir úteis, conectados e ajustados. Através dela nós podemos nos valorar, podemos encontrar algum sentido quando nossa miséria está patente aos nossos olhos. Por ela podemos julgar e separar, podemos dividir e conquistar em nome de um bem maior. A religião é aquilo nos cobre e torna nossa feiura aceitável a nós mesmos, como as folhas da figueira que cobrem a nudez. Nela podemos pertencer a um grupo homogêneo e com poucos diferenças. Sim, diferenças não são boas. Podemos estabelecer graduações e poderes entre iguais.

Qual o problema das patentes? que anomalia há em que se estabeleça lideranças e autoridades? Na fonte! Sim! Em seu discurso e ações Jesus demonstrou com muita clareza que os grandes servem aos pequenos. Que os sábios e poderosos sejam aqueles que concorram para servir. Que o direito do outro é maior que o meu. Aboliu contribuições compulsórias e estabeleceu a obrigatoriedade da generosidade e da misericórdia. Derrubou os templos, as posições e ensinou que o amor é antes que um sentimento, uma decisão. Que a igualdade não é um ideal mas uma condição.

Toda este monte de lixo que nós reinventamos ao longo de dois mil anos, qual seja, a religião, foi justamente o que Ele veio transtornar. E a ironia está em justamente que é ela uma invenção diabólica, que escraviza, aliena nos transforma em sectários das nossas próprias ambições mesquinhas.

Vivemos num mundo onde o direito e a justiça gritam em nossos ouvidos e não sabemos como lhe responder, porque na verdade nada entendemos de justiça. Um mundo onde aprendemos a teoria psicológica comezinha da autoestima quando em seu evangelho ele ensina a estima do outro em detrimento da minha. Um mundo onde as coisas velhas são sempre novas, no que tange a nossa capacidade de aprimorar e perpetuar a maldade.

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Tudo isto é possível por que temos a região. A religião da ciência, da cultura, da riqueza. A religião da política, dos templos, das instituições e a maior de todas as religiões: a religião do "meu direito". Nos evangelhos não se pode encontrar nomes ou títulos dados a pessoas ou a qualquer grupo. Não se encontra regras ou normas que vão além do amor ao próximo. Por esta razão sua declaração mais contundente é: O meu Reino não é deste mundo.

Está claro que não há melhora, não haverá saída. A humanidade vai ruir e na melhor das hipóteses, os mais fortes comerão a carne dos mais fracos. Por mais que se tenha esperança, não ha nenhuma religião ou modelo humano que aponte para um futuro melhor, seja nesta vida ou em outra. De todas as vozes que já houveram no mundo só Cristo afirmou e demonstrou uma alternativa de salvação em seu sentido mais absoluto: A redenção do homem.

Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim.Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar. E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também.João 14:1-4

Este texto foi produzido unicamente por absoluta falta de sono, que me levou a refletir sobre as minhas experiências religiosas e frustrações decorrentes desta busca frenética e incessante de sentido, quando na verdade bastava ficar quieto e ouvir aquele que diz:

Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas.Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.Mateus 11:28-30