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UMA CONTRIBUIÇÃO A APLICAÇÃO DO PONTO DE EQUILÍBRIO NA GESTÃO DA DISTRIBUIÇÃO DE GÁS NATURAL CANALIZADO Franklin dos santos moura (BR) [email protected] O objetivo deste trabalho é identificar o uso ponto de equilíbrio como uma ferramenta que auxilie a gestão da distribuição de gás natural canalizado. Durante o trabalho serão abordados alguns conceitos relativos a análise da relação custo xx volume x lucro, em especial o ponto de equilíbrio e complementarmente a distribuição de gás natural canalizado. Em seguida foram elaboradas simulações do cálculo do ponto de equilíbrio na distribuição de gás natural canalizado, onde os resultados desta experiência são destacados no presente trabalho. As primeiras considerações mostram o uso do ponto de equilíbrio como uma ferramenta de grande utilidade permitindo o gerenciamento na composição de tarifas visando preservar a competitividade entre os segmentos de distribuição. Palavras-chaves: Gás natural canalizado; Ponto de equilíbrio; Gestão de custos XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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UMA CONTRIBUIÇÃO A APLICAÇÃO

DO PONTO DE EQUILÍBRIO NA

GESTÃO DA DISTRIBUIÇÃO DE GÁS

NATURAL CANALIZADO

Franklin dos santos moura (BR)

[email protected]

O objetivo deste trabalho é identificar o uso ponto de equilíbrio como

uma ferramenta que auxilie a gestão da distribuição de gás natural

canalizado. Durante o trabalho serão abordados alguns conceitos

relativos a análise da relação custo xx volume x lucro, em especial o

ponto de equilíbrio e complementarmente a distribuição de gás natural

canalizado. Em seguida foram elaboradas simulações do cálculo do

ponto de equilíbrio na distribuição de gás natural canalizado, onde os

resultados desta experiência são destacados no presente trabalho. As

primeiras considerações mostram o uso do ponto de equilíbrio como

uma ferramenta de grande utilidade permitindo o gerenciamento na

composição de tarifas visando preservar a competitividade entre os

segmentos de distribuição.

Palavras-chaves: Gás natural canalizado; Ponto de equilíbrio; Gestão

de custos

XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.

São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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1.1

2 Introdução

A participação do gás natural na matriz energética do Brasil cresce a cada ano, e as

perspectivas mostram-se favoráveis a continuidade deste crescimento em face das constantes

descobertas de novas jazidas, aumentando com isso o potencial de reservas nacionais. O gás

natural chega até o consumidor final através do serviço de distribuição prestado pelas

concessionárias estaduais. Essas empresas procuram no exercício da concessão cumprir as

premissas existentes no contrato de concessão e este cumprimento é fiscalizado por um órgão

regulador de competência e atuação estadual.

Um tema objeto de discussão no exercício da concessão é a composição de tarifa a ser

aplicada junto aos consumidores, pois a expectativa do consumidor é conseguir o acesso a um

serviço público que seja economicamente viável. Com isso, a transparência desse processo

vem sendo cada vez mais exigida pelos consumidores e demais partes interessadas.

Diante dessa exigência e também a necessidade do gestor da concessionária possuir

ferramentas úteis a gestão do negócio, o objetivo principal deste trabalho é apresentar o uso

da análise do ponto de equilíbrio como uma ferramenta que venha a auxiliar na gestão da

distribuição em concessionárias de gás natural canalizado. Num primeiro momento buscou-se

uma abordagem conceitual sobre o cálculo e componentes para o ponto de equilíbrio,

complementado por noções básicas das operações de distribuição de gás natural.

Num segundo momento, foram exemplificadas situações e cálculo do ponto de equilíbrio em

segmentos consumidores de gás canalizado possibilitando visualizar o potencial de

informações da ferramenta, onde o foco das simulações foi a análise da composição tarifária.

3 Aspectos conceituais sobre margem de contribuição e ponto de equilíbrio

Pretende-se neste tópico abordar os conceitos elementares de margem de contribuição e ponto

de equilíbrio, possibilitando o entendimento necessário para interpretação do presente estudo.

3.1 Margem de Contribuição

Segundo Horngren (1985:31), a margem de contribuição é “a diferença entre as vendas e

todas as despesas variáveis. Pode ser expressa como um valor absoluto total, um valor

absoluto unitário e uma percentagem.” Para Malburg (1994:187), “Margem de contribuição é

a porção das vendas que contribuem para cobertura dos custos fixos e receitas.” Com isso, a

margem de contribuição o montante que as vendas podem gerar para cobertura dos gastos

fixos e alcance do lucro desejado pela empresa.

Nesse sentido, Bórnia citado por Moura(2006) define a margem de contribuição como “o

montante das vendas diminuído dos custos variáveis [...] analogamente, é o preço de venda

menos os custos unitários variáveis do produto.” Assim sendo, a fórmula para obtenção da

margem de contribuição é a seguinte:

MC = [Pv – (Cv + Dv)] ou MCu = Pvu – (Cvu + Dvu)

Q

Onde: MC – Margem de Contribuição ou MCu – Margem de Contribuição Unitária;

Pv – Preço de Venda ou Pvu – Preço de Venda Unitário;

Cv – Custo Variável ou Cvu – Custo Variável Unitário;

Dv – Despesa Variável ou Dvu – Despesa Variável Unitária;

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Q – Quantidade produzida e vendida.

3.2 Ponto de Equilíbrio (Break-even point)

Representa basicamente a informação de quantas unidades (ou quanta receita) devem ser

geradas pela empresa para atingir determinada meta estipulada, sendo esta no mínimo o lucro

zero, ou seja, conseguir cobrir seus gastos fixos. Para Horngren, Foster e Datar (2000:45), o

ponto de equilíbrio “é o nível de atividade em que as receitas totais e custos totais se igualam,

ou seja, onde o lucro é igual a zero.” Este tipo de informação, no entanto, dá origem a Análise

da Relação: Custo-Volume-Lucro (CVL), onde são verificadas as projeções de desempenho,

bem como análises pertinentes a rentabilidade dos produtos. Na visão de VanDerbeck e Nagy

(2001:414), a CVL “é uma técnica que usa os graus de variabilidade para medir o efeito de

mudanças no volume sobre os lucros resultantes.”

Quanto a finalidade desta análise, ainda na opinião de Horngren, Foster e Datar (2000:45)

estes dizem que a referida análise “pode ser usada para examinar como várias alternativas de

simulação levadas em consideração por um tomador de decisão afetam o lucro operacional.”

Inicialmente, conforme ilustração apresentada abaixo, é possível visualizar alguns conceitos

preliminares do Ponto de Equilíbrio.

0

20

40

60

80

100

120

1 2 3 4 5 6

Quantidade

Gastos Fixos - R$

MC - R$

Figura 1 – Apresentação Gráfica do Ponto de Equilíbrio

Fonte: Elaborado pelo autor

Conceitos preliminares:

O volume de produção e vendas da empresa pode chegar até 100 unidades num

determinado período;

Os gastos fixos, que abrangem custos e despesas totalizam R$ 40 , isto é, até o limite

da capacidade produtiva instalada;

Percebe-se que quando as vendas alcançam o volume de 40 unidades, a contribuição

deste volume já é suficiente para cobrir os gastos fixos existentes;

Com base no comentário anterior, verifica-se que a margem de contribuição unitária

de cada unidade vendida é de R$ 1,00, tendo em vista que com 40 unidades vendidas,

tem-se a contribuição de R$ 40. Isto significa que independente do preço de venda

praticado, ou seja, do valor do faturamento, após deduzirem-se os custos variáveis e as

despesas variáveis, estes gastos necessários para produção e comercialização do

produto, resta apenas R$ 1,00 para contribuir ao resultado da empresa, visando pagar

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os gastos fixos.

É possível ainda observar que ao ultrapassar 40 unidades, cada unidade vendida

contribui para o lucro da empresa, visto que os gastos fixos já foram cobertos.

O ponto de equilíbrio pode ser: Contábil, Financeiro e Econômico e em ambos os casos

oferecem auxílio a análise decisorial. Uma outra informação que pode ser extraída é a

“Margem de Segurança”, esta definida a seguir:

Margem de Segurança – Representa a diferença entre a quantidade efetivamente absorvida

pelo mercado ou projetada para vendas diante do ponto de equilíbrio ou meta estabelecida

como ponto de equilíbrio para a empresa. Representa, em outras palavras, até onde as vendas

poderiam cair sem representar perigo de perda ou prejuízo para a empresa (Bornia:2002). A

fórmula para cálculo da margem de segurança é relativamente simples, bastando subtrair das

vendas auferidas o montante correspondente ao ponto de equilíbrio. O resultado desta

subtração representará a margem de segurança em unidades monetárias. Caso este montante

seja dividido pelas vendas auferidas, ter-se-á o Índice de Margem de Segurança, que por sua

vez possibilita a extensão de análises envolvendo a projeção do lucro líquido e etc.

Concluindo este item segue abaixo a representação básica da fórmula para cálculo do ponto

de equilíbrio:

Pec = [Gastos Fixos + Lucro Almejado + Impostos sobre Resultados] ou

MCu

Pec = [Gastos Fixos + Lucro Almejado / (1-0,34)]

MCu

Onde:

MCu – Margem de Contribuição Unitária; Pec – Ponto de Equilíbrio; Impostos sobre Resultados = 34% a ser

deduzido do lucro almejado.

4 Conceitos e Características da Distribuição de Gás Canalizado

Pretende-se neste tópico abordar informações contextuais acerca da industria do gás natural,

bem como sua estrtura de custos na atividade de distribuição, distribuídos nos tópicos a

seguir.

4.1 Contextualização da Distribuição de Gás Canalizado

Segundo Moura (2005), o gás natural é um recurso de origem não renovável, derivado do

petróleo, e com ampla função energética. Sua utilização é aplicável em termelétricas,

indústrias, veículos, hotéis, restaurantes, bares, residências, shoppings, e em outros casos em

que possa substituir a energia elétrica, o gás liquefeito de petróleo (GLP), óleo diesel, carvão,

coque e algumas outras fontes de energia.

No Brasil, o gás natural vem ocupando um espaço cada vez maior na matriz energética, seja

pela gradativa adesão das indústrias (maior segmento consumidor), seja pelo aumento de

produção que resultou em oferta para localidades até então não atendidas, seja pelo

desenvolvimento de novas tecnologias, que também viabilizaram a utilização do gás natural.

Segundo dados do Ministério de Minas e Energia – MME (2009), a participação do consumo

do gás natural na matriz brasileira saltou de 3,6% em 1997 para 10% em 2007.

Nesse sentido, sobre a evolução crescente da utilização do gás natural, afirma Santos

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(2002:245): Em janeiro de 2002, cerca de 26,1 milhões de m3/d de gás natural foram

vendidos pelas distribuidoras de gás aos consumidores finais. Esse mercado

cresceu 3,7% em 1998, 14% em 1999, 26% em 2000, e 57% em 2001. Essa

forte expansão do mercado gasífero brasileiro deverá continuar para além dos

próximos cinco a dez anos.

Confirmando a previsão do autor, segundo Agência Nacional de Petróleo – ANP (2009), o

consumo de gás natural em 2007 foi da ordem de 44,71 milhões de m³/dia, representando um

aumento de 71,3% com o período de janeiro de 2002. Além disso, na opinião de Alves, Vital

e Motta (2007), este crescimento poderá chegar a oferta de 132 milhões de m³/dia em 2015,

ou seja, o triplo do pico de consumo observado em 2007.

Atualmente, existem no Brasil 27 concessionárias, que detém o poder de concessão para

fornecimento de gás natural canalizado nos seus respectivos estados. Números recentes

divulgados pela EnergiaHoje (2009) mostram um volume diário total de vendas acima de 41

milhões de metros cúbicos, comercializados por estas distribuidoras em junho/2009.

A cadeia de gás natural compreende as funções de: Exploração e Produção (E & P),

Transporte, e Distribuição. A exploração e produção consistem na extração do energético

(associado ou não) das reservas, seu tratamento necessário para o consumo, através das

Unidades de Processamento de Gás Natural (UPGN), e sua injeção no duto de transporte.

A atividade de transporte refere-se condução do gás natural através de gasodutos até o ponto

de entrega, comumente chamado de city gate.

A atividade de distribuição do gás natural começa a partir daí, sendo de responsabilidade da

distribuidora (concessionária) levar o gás natural até os consumidores. A Figura 1 abaixo

define a sistemática desta cadeia de atividades.

Figura 2 – Ciclo Operacional de Distribuição do Gás Natural

Fonte: Elaborado pelo autor

A partir do City Gate , inicia-se a responsabilidade da concessionária, para distribuir o gás

natural canalizado junto aos consumidores. Esta responsabilidade, que em verdade possui o

Ciclo Operacional

POÇOS

PROCESSAMENTO E

TRANSPORTE

CITY-GATES

RESIDENCIAL COMERCIAL INDUSTRIAL

UPGN

E&P

GNV

DISTRIBUIDORA Outros

REDE DE DISTRIBUIÇÃO

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nome de concessão, é adquirida junto ao Governo do Estado através da celebração de um

contrato de concessão, sendo o cumprimento deste instrumento regulado e fiscalizado por

uma agência reguladora de criação e competência estadual.

O presente trabalho, após terem sido expostos alguns conceitos sobre os o ponto de equilíbrio

e também sobre a distribuição de gás natural, vem contribuir com a gestão dessas operações

que se iniciam no ponto de entrega (city gate) e terminam quando o gás é entregue ao

consumidor.

Dossa et al (1993:149) define a distribuição de gás natural como “um sistema de canalizações

que parte do gasoduto, sob a forma de um tronco principal, e vai-se ramificando

progressivamente até atingir todos os pontos de consumo formando uma rede”.

Conforme Moura (2006:37) “diferente de outras modalidades de distribuição, a de gás natural

canalizado assemelha-se a ao serviço de distribuição de energia elétrica, pois seu

fornecimento é contínuo e ininterrupto e não necessita de armazenamento.”

4.2 Estrutura dos custos de distribuição de gás canalizado

Conforme Moura (2006:37), “os gastos na distribuição de gás natural canalizado são divididos

geralmente em dois grandes grupos: custos de distribuição e despesas de distribuição”.

Os custos de distribuição são todos os gastos pertencentes ao processo de transporte e entrega

do gás natural ao consumidor. Já as despesas de distribuição são todos os gastos que

participam indiretamente do processo de distribuição, muitas vezes ocorrendo antes, durante e

principalmente depois da entrega do gas ao consumidor (Moura:2006).

Na distribuição de gás natural, ao invés dos gastos tradicionais com distribuição concentrados

em armazéns logísticos, fretes internos e externos, esta atividade contem seus gastos de

distribuição divididos por segmentos de atuação conforme apresentado por Moura (2006:67)

na tabela a seguir:

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Tabela 1 – Estrutura de Custos de Distribuição

Fonte: Adaptação de Moura (2006:67) – Proposta de análise de custos

Analisar a performance dos custos de distribuição constitui-se uma ferramenta importante

para as concessionárias de gás natural, pois as informações obtidas poderão contribuir em

algumas etapas do negócio, como exemplo o processo de revisão tarifária. No tópico a seguir,

serão aboradas as regras gerais de composição de tarifas na distribuição de gás canalizado.

5 Noções básicas sobre a estrutura de composição das tarifas de distribuição de gás

canalizado

A composição das tarifas possui a finalidade de remunerar a concessionária mediante a

prestação do serviço público de distribuição de gás canalizado. Essa remuneração incide sobre

o capital empregado na estrutura de distribuição e os custos operacionais necessários a

prestação do serviço.

Segundo Shively e Ferrare (2004), tarifas são documentos públicos que envolvem as

utilidades e investimentos oferecidos, estes aprovados pela comissão de regulação [...] Tal

processo refere-se ao momento que o órgão regulador, através de processo público, avalia as

condições econômico-financeiras do exercício da concessão, e mediante a relação de custos e

investimentos e ainda a taxa de remuneração pactuada no contrato, a margem bruta que

compõe a tarifa vem a ser reajustada.

Na visão de Santos (2006:215):

DESCRIÇÃO

TOTAL

SEGMENTO

A

SEGMENTO

B

SEGMENTO

...

Receita Bruta de Vendas

(-) Impostos Incidentes sobre Vendas

Receita Líquida de Vendas

(-)Custo de Distribuição

Custo Direto

Custo do Gás Natural

Custo de Odorização

Custo Indireto

Manutenção & Operação

Depreciação da Rede de Distribuição e

Equipamentos Instalados

Administração de operação e distribuição

Resultado Operacional Bruto (1)

Despesas de Distribuição

Comerciais

Vendas (administração, visitas e negociação)

Publicidade, Marketing e Promoções

Central de Atendimento

Administrativas

Administração de cobrança

Cobranças

Faturamento

Total das Despesas de Distribuição (2)

Resultado Antes das Despesas Corporativas (1-2)

(-) Gastos Corporativos

Resultado Antes do Imposto de Renda C. Social

(-)Provisão para Imposto de Renda e C. Social

Resultado Líquido das Operações

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“O núcleo do problema relativo à fixação da tarifa, independentemente do

critério utilizado para a sua fixação, parece residir, em síntese objetiva, na

constatação de que o seu valor deve ser obtido mediante a conjugação de dois

fatores indissociáveis: a necessidade de obtenção, pelo concessionário, de

uma receita que dê suporte aos custos operacionais da prestação, acrescidade

de uma margem de lucro, e a capacidade de pagamento do usuário.”

As regras que definem os custos operacionais e investimentos a serem remunerados são

dispostas no Contrato de Concessão existente entre a concessionária e o governo do estado e

ainda a legislação específica do órgão regulador estadual. O papel da regulação é garantir o

cumprimento do contrato de concessão assegurando a eficiência da prestação do serviço

público e o equilíbrio econômico-financeiro da atividade exercida pela concessionária.

Como exemplo destas disposições, conforme Agência Reguladora de Serviços Públicos de

Energia no Estado do Espírito Santo (2009), a composição das tarifas neste estado dar-se-ão

da seguinte forma:

Tabela 2 – Composição da Tarifa de Distribuição de Gás Canalizado

Itens Descrição Tarifa Média (TM) Somatório do preço de aquisição do gás natural (PV) + a margem de

distribuição (MB)

Margem de Distribuição (Custo de Capital + Custo operacional + Depreciação) / % sobre Volume

projetado de vendas

Custo de Capital (Investimento realizado e a realizar no ano x Taxa de Remuneração) / % sobre

Volume projetado de vendas

Custo Operacional [((Despesas com pessoal + Serviços Contratados + Materiais +

Comercialização + Despesas Gerais) x Taxa de Remuneração)+ (Despesas

Tributárias + Custo Financeiro + Impostos Associados a Resultados +

Despesas com Perdas) ] / % sobre Volume projetado de vendas

Depreciação Considerada uma depreciação linear de 20 anos para a rede de distribuição de

gás canalizado e outros ativos da concessionária.

Fonte: Contrato de Concessão para exploração dos serviços públicos de distribuição de gás canalizado

[...] disponível em www.aspe.es.gov.br . Adaptado pelo autor.

Em regra geral o que varia de um Estado para outro no Brasil são: Taxa de Remuneração; %

sobre volume projetado de vendas; Taxa de depreciação; o período de revisão das margens;

Despesas Tributárias; e o tratamento de alguns itens de despesa.

Para finalidade deste trabalho será utilizado a estrutura de composição acima e os itens serão

estimados.

6 Exemplos de aplicação do ponto de equilíbrio na distribuição de gás canalizado

6.1 Definição das premissas utilizadas

Tabela 3 – Custo de Capital e Depreciação Itens – R$ mil Visão Geral Segto

Industrial

Segto

Veicular

Segto.

Urbano1

Investimento Realizado 50.000 20.000 5.000 25.000

Investimento a Realizar 30.000 25.000 2.000 3.000

Total INV 80.000 45.000 7.000 28.000

Custo de Capital (20%) 16.000 9.000 1.400 5.600

Depreciação (5%) 4.000 2.250 350 1.400 1- Abrange os segmentos residencial e comercial.

A remuneração do custo de capital será de 20% sobre os investimentos. Já a depreciação será

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de 5% sobre os investimentos. A distribuição dos valores sobre os segmentos foi feita

aleatoriamente para fins destas simulações.

Tabela 4 – Custo Operacional Itens – R$ mil Visão Geral Segto Ind. Segto Veic. Segto. Urbano

Desp. Pessoal 7.000 3.000 1.000 3.000

Desp. Serv.Contratados 6.000 2.000 1.000 3.000

Desp. Gerais 1.500 600 300 600

Desp. Materiais 500 200 100 200

Desp. Comercialização 3.000 500 500 2.000

Custo Financeiro 500 450 45 5

Desp. Tributárias 2.000 1.800 180 20

Impostos Associados a

Resultados (IAR)

10.097 5.285 1.020 3.792

Desp. com Perdas 1.000 900 90 10

Total Custo Operacional 31.597 14.735 4.235 12.627

Os impostos associados a resultados foram calculados aplicando-se a taxa de 34% (Imposto

de Renda e Contribuição Social) sobre a remuneração sobre o custo operacional e também a

remuneração sobre o capital empregado (custo de capital), conforme tabela abaixo:

Tabela 5 – Custo de Capital Itens – R$ mil Visão Geral Segto Ind. Segto Veic. Segto. Urbano

Custo de Capital 16.000 9.000 1.400 5.600

20% Custo Operacional 3.600 1.260 580 1.760

IAR provisionado 34% 10.097 5.285 1.020 3.792

Lucro Antes do IAR 29.697 15.545 3.000 11.152

IAR 34% (10.097) (5.285) (1.020) (3.792)

Lucro Após IAR 19.600 10.260 1.980 7.360

Tabela 6 – Outros Dados Itens – R$ mil Visão Geral Segto Ind. Segto Veic. Segto. Urbano

Volume anual m³ mil 1.095.000 985.500 98.700 10.800

% volume 100% 90% 9% 1%

Quantidade de consumidores 30.900 50 100 30.750

Tabela 7 - Classificação dos gastos entre fixos e variáveis

Itens Contas

Gastos Fixos Custo de Capital; Depreciação; Pessoal: Despesas Gerais; Materiais; Comercialização;

IAR; e Serviços Contratados.

Gastos Variáveis Despesas Tributárias; Custo Financeiro; e Despesa com Perdas

Os gastos fixos foram alocados por não oscilarem em função do volume de vendas, enquanto

que os variáveis sofrem alteração na mesma proporção do volume de vendas projetado.

No contexto do Espírito Santo, as despesas tributárias são variáveis, pois correspondem

exclusivamente a Taxa de Regulação e esta é calculada conforme o volume comercializado.

Já o custo financeiro corresponde a diferença entre os encargos financeiros sobre compra de

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gás natural e venda. A Despesa com Perdas refere-se as perdas técnicas com a distribuição de

gás natural ao longo da rede de distribuição, e em regra geral é estimado um percentual de

perda técnica por fornecimento.

6.2 Cálculo do Ponto de Equilíbrio

Nas simulações serão abordadas as seguintes questões: (i) Dado o volume projetado total e

por segmento, qual a margem de distribuição necessária? (ii) Considerando uma limitação de

margem em função do concorrente substituto, qual volume deveria ser comercializado para

alcançar os resultados projetados?

6.2.1 Simulando a margem de distribuição necessária (vide premissas Tabela 7)

Volume = Custo operacional + Custo de Capital + IAR

Mcu – gastos variáveis

Tabela 8 – Simulação da margem de distribuição

Visão Geral Segmento Industrial 1.095.000 = [18.000 + 19.600 + 10.097]

Mcu - 0,0032

1.095.000 * (Mcu-0,0032) = 47.697

1.095.000 Mcu - 3.500 = 47.697

MCu = [51.197 ] = 0,0468

1.095.000

985.500 = [6.300 + 10.260 + 5.285]

Mcu - 0,0032

985.500 * (Mcu-0,0032) = 21.845

985.500 Mcu - 3.150 = 21.845

MCu = [24.995 ] = 0,0254

985.500

Segmento Veicular Segmento Urbano (residencial e comercial) 98.700 = [2.900 + 1.980 + 1.020]

Mcu - 0,0032

98.700 * (Mcu-0,0032) = 5.900

98.700 Mcu - 315 = 5.900

MCu = [6.215 ] = 0,0630

98.700

10.800 = [8.800 + 7.360 + 3.792]

Mcu - 0,0032

10.800 * (Mcu-0,0032) = 19.952

10.800 * Mcu - 35 = 19.952

MCu = [19.987 ] = 1,8506

10.800

6.2.2 Simulando o volume necessário com a margem de distribuição limitada

Para a presente simulação, considerou-se hipoteticamente que haviam limitações

mercadológicas para prática das margens encontradas, conforme tabela abaixo:

Tabela 9 – Avaliação MCu x Mercado Segmentos Mcu / R$ Mcu Máxima Mercado

Visão Geral 0,0468 Não aplicável

Industrial 0,0254 Compatível

Automotivo 0,0630 Compatível

Residencial e Comercial 1,8506 0,90

Diante do quadro apresentado existem diversas opções dentre elas: (i) Redimensionar a meta

de vendas sem que haja aumento dos gastos fixos; (ii) Reduzir a estrutura de gastos fixos para

possibilitar o alcance da rentabilidade; (iii) Adequar investimentos para compatibilizar a

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remuneração do custo de capital; (iv) Combinar as três opções acima.

Para fins deste trabalho, serão apresentadas as simulações referentes as opções (i) e (ii).

Tabela 10 – Simulações pelas variáveis limitantes

Segmento Residencial / Comercial (i) Segmento Residencial / Comercial (ii) Pec = [8.800 + 7.360 + 3.792]

0,90 - 0,0032

Pec * (0,8968) = 19.952

0,8968 Pec = 19.952

Pec = [19.952 ] = 22.248 m³

0,8968

10.800 = [GF + 7.360 + 3.792]

0,90 - 0,0032

10.800 * (0,8968) = GF + 11.152

9.685 = GF + 11.152

[- GF = 11.152 – 9.685 ] *-1

GF = - R$ 1.467

Numa constatação inicial, a opção (i) requer praticamente o dobro do volume inicialmente

projetado de 10.800 mil m³, enquanto que na opção (ii) os gastos fixos deveriam ser reduzidos

a um valor negativo, inexeqüível.

7 Analise dos resultados

As simulações realizadas no item 5.2.1. destacam a possibilidade de conhecer a margem de

contribuição necessária por segmento de distribuição. Esta possibilidade coloca a disposição

do gestor um panorama de onde existe margem a ser capturada e onde a margem contratual

não é competitiva.

Cabe destacar que essa definição de competitividade considera implicitamente que a margem

de contribuição será somada ao custo de aquisição do gás natural e serão ainda incluídos os

impostos e encargos cabíveis.

As simulações realizadas no item 5.2.2. apresentam algumas das funcionalidades do uso do

ponto de equilíbrio, sendo elas: (a) A possibilidade de projetar o volume necessário para

alcance da rentabilidade em face de uma limitação imposta pelo mercado; (b) Dado que o

volume e a margem estão limitados, qual deveria ser a estrutura de gastos fixos máxima para

o alcance dos resultados.

Diante dos resultados parciais apresentados, o gestor da concessão deveria buscar uma

solução que combinasse: o volume máximo de vendas sem acréscimo nos investimentos; a

margem média máxima a ser capturada no segmento; a redução de investimentos que não

resultasse em redução da projeção de vendas; a otimização de gastos fixos que também não

reduzisse a projeção de vendas.

Certamente, o resultado desta equação representaria para a Concessionária uma decisão

administrativa e regulatoriamente adequada, pois combinaria as variáveis de impacto direto

no negócio.

8 Considerações finais

Acredita-se que com o presente trabalho, foi possível contribuir com uma ferramenta útil de

gestão para aplicação na distribuição de gás natural canalizado, visto que conforme

simulações realizadas nos itens 5.2.1 e 5.2.2 e análises realizadas no item 6, o gestor ao

utilizar o ponto de equilíbrio, ele tem a sua disposição o gerenciamento das variáveis de

impacto no negócio para a composição das tarifas.

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Com isso, é verificado que o objetivo proposto no presente trabalho foi alcançado, porém o

assunto possui um vasto caminho a ser percorrido visando fornecer maior suporte ao gestor e

maior transparência as partes interessadas dentre elas, os consumidores, o agente regulador

(etc.).

Incluem-se neste vasto caminho as análises complementares intrínsecas ao ponto de

equilíbrio, que podem combinar resultados importantes ao gestor.

Além disso, é importante destacar que os critérios para alocação dos custos e investimentos

em cada segmento, bem como a definição de margens máximas por segmento consumidor

mostram-se como etapas fundamentais da gestão, pois qualquer erro ou imperfeição pode

superdimensionar ou subdimensionar os resultados de um segmento de distribuição.

Essa discussão, dentre outras correlatas, fica sendo uma recomendação para futuros trabalhos

a fim de enriquecer e aprofundar o presente tema.

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