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Concurso «Jovens Autores de Histórias Ilustradas» Colégio Dr. Luís Pereira da Costa História Ilustrações Maria Francisca Almeida Gama Maria Santos Silvério

Um Lindo Dia de Sol - Colégio Dr. Luís Pereira Da Costa

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Trabalho concorrente ao concurso "Jovens Autores de Histórias Ilustradas", promovido pela Nissan Portugal

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Concurso «Jovens Autores de Histórias Ilustradas»

Colégio Dr. Luís Pereira da Costa

História Ilustrações

Maria Francisca Almeida Gama Maria Santos Silvério

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Um lindo dia de Sol

-Bom dia, minha querida. Já viste o dia de sol que está lá fora?

Esta é a frase que todos os dias me acorda, independentemente de ser inverno ou verão, e

de estar um dia solarengo ou o céu cheio de nuvens carregadas de lágrimas de quem já partiu. É um truque

já antigo do meu pai para me fazer levantar da cama: como sabe que sou apaixonada pelo sol, e que o facto

de ele brilhar lá fora é meio caminho andado para eu acordar bem-disposta e com força para enfrentar o

novo dia que se avizinha, faz-me crer, todas as manhãs, que ele se levantou para mim, para me sorrir.

Quem é que não gosta do Sol, do calor, daqueles dias em que os olhos ardem só de olharmos para o céu?

Peço-lhe mais cinco minutos na cama, pois quero acabar de sonhar. Sou uma menina cheia

de sonhos, que nem a dormir descansa, que nem a dormir para de pensar no que quer ser e em como

acredita que o Mundo se vai erguer naquele dia. Sonho tanto, tantas vezes. “Só quero dormir mais cinco

minutos, papá, estou a acabar de sonhar.”

Quando efetivamente me levanto e olho para a janela, conheço a veracidade daquilo que o

meu pai me disse e fico radiante quando, tal como me prometeu, está um dia lindo de sol lá fora. É que o

tempo muda-nos: quando está sol estamos bem-dispostos, mais bonitos, com mais força e garra, com

vontade de viver… já quando chove, por outro lado, parece que os nossos problemas nos inundam, como a

água da chuva inunda as ruas, e nada nos corre bem. Como se, apesar de sermos um ser interior,

existíssemos todos os dias pelo exterior.

“Hoje tive um sonho. Eu sei, pai, tenho sempre sonhos.”.

-Mas hoje foi um sonho especial, papá. A sério. Sonhei que os carros eram tão diferentes…

Parecia que não precisavam de nós, que tinham vida própria. Eram carros independentes, com

determinação, que sabiam o que queriam, que acreditavam que eram capazes de nos guiar e não nós a

eles. Parece uma maluquice, não parece?!

O meu pai disse que sim. Riu-se e serviu-me um copo de leite com mel, enquanto folheava o

jornal que nos tinham deixado à porta naquele dia. Todas as manhãs me serve este leite quentinho, que me

aquece a garganta e me ajuda a aguentar os dias de maior frio. Não falamos muito ao início: eu ainda estou

meia a dormir, e o meu pai lê sempre o jornal atentamente, pelo que, ao longo dos anos, percebi que estes

são os nossos dez minutos de paz juntos, onde o silêncio jamais será perturbador. Depois, e ao

apercebermo-nos de que só para nós o tempo parou, cada um corre para o seu quarto para se arranjar o

mais rapidamente possível e separamo-nos por algumas horas, que serão sempre mais que as que

precisávamos, sem nos vermos.

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Estou no décimo segundo ano. Daqui a alguns meses vou para a universidade e vou sair de

casa e vou ter de ser independente, e são tantos “e” que me assustam e me fazem querer voltar aos

tempos em que era uma criança sem quaisquer tipo de responsabilidades ou encargos. A minha vida vai

mudar muito e são tantas mudanças que, por mais que goste de enumerar o meu dia a dia, e aquilo que

tenho para fazer, como se tudo se tratasse de listas de compras, a verdade é que não sei o que aí vem e

como vou reagir a tantas coisas novas.

Nunca tive medo da mudança. Aliás, sempre acreditei que mudar é bom. Mudar é nascer de

novo, não renascer, porque isso implicaria anterioridade. E quando se muda, começa-se do início, por isso

não há passado, nem erros cometidos, nem histórias para recordar.

Sempre fui adepta de novos desafios, ou melhor, sempre aceitei participar em tudo aquilo

que me propunham, mesmo quando tinha receio. Só que desta vez, desta vez é diferente: eu vou, mas a

minha família fica. Vou ter de ser eu a abrir a janela do meu quarto e a descobrir se lá fora o Sol traz as

pessoas para a rua, ou, se por se ter escondido, terei que vestir a camisola de malha verde que a minha avó

me fez com tanto amor. E eu tenho medo de ter de ser eu a descobrir como está o dia lá fora, e tenho

ainda mais medo de me queimar a aquecer o leite, ou de me esquecer de pôr uma colher e meia de mel e

ficar doente. Tenho medo de crescer…

É estranho. Ao longo da minha vida, sempre foi o que mais quis: crescer, ser cada vez mais

adulta, ter maturidade para decidir se “sim” ou se “não”, ter a possibilidade de escolher entre ir ou ficar.

Sempre sonhei muito. Lembro-me de dizer ao meu pai que ia mudar o Mundo, e não são daquelas coisas

que as crianças dizem para ser engraçadas, ou que acreditam de cabeça oca. Não, eu acreditava e tinha

essa ambição desmedida de fazer algo tão bom que mudasse para sempre a forma como nós encaramos a

vida. Os anos foram passando e eu cresci. Cresci com a minha família, com os meus colegas de escola, com

as minhas vivências, mas cresci principalmente com os meus sonhos: amadureci-os, tornei-os cada vez mais

concebíveis e, aos poucos, tentei que eles parecessem cada vez menos utópicos e mais possíveis. E agora

estou aqui, a sonhar com um carro autónomo.

“Pai, lembras-te de quando me levavas a ver exposições de carros?”

Disse-me que sim, com o sorriso terno que me puxava nesses dias para as ruas da cidade.

“Eu sempre gostei de carros. Faziam-me pensar no quanto conseguimos chegar mais longe,

em como podemos viajar, em como podemos ser livres. Traziam-me esperança, esperança de que um dia

conseguisse visitar o Mundo e mostrar-lhe aquilo que de fantástico tinha feito para o mudar, tal como

sonhava. Os meus carros preferidos sempre foram os mais antigos, aqueles que, para além de serem

pequeninos, e de parecerem carros de brincar, traziam com eles mais História. Olhava para eles e pensava

que aquele podia ter sido o carro do pai do meu pai, ou do pai do meu avô… imaginava até onde poderiam

ter ido naqueles carros e se também conseguiam acelerar sem deixar uma nuvem de fumo atrás deles, tal

como o carro do meu pai não deixava.”

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-Foi um sonho mesmo incrível, pai. Já viste o que era se conseguissem fazer carros assim? Se

calhar os avós estariam aqui, porque com estes carros é muito mais difícil existirem acidentes, estamos

todos muito mais seguros na estrada… Sonhei que os carros tinham sistemas de gestão do tráfego

rodoviário, e que isso diminuiria a sinistralidade brutalmente. Já estou a imaginar-nos a passearmos num

carro destes, e a reinar na estrada um ambiente calmo e tranquilo. Dá para imaginar? A estrada parece-nos

uma coisa tão inconstante e perigosa. A culpa é das pessoas, que estão sempre com pressa e buzinam

como se não houvesse amanhã, mas com isto, papá, com isto seria tudo melhor!

O meu pai sorria fascinado a olhar para mim. E esse sorriso para mim era como o Mundo.

-A sério! Mal posso acreditar ainda que tive este sonho. Foi tão real, tão verdadeiro, parecia

tão óbvio que estes carros existiam e que eram o Futuro. E vi-me, vi-me a andar num deles, a ir daqui, de

nossa casa, para a universidade, com as minhas melhores amigas atrás e, quem sabe, até possa levar o

Kiko, o nosso cãozinho, de vez em quando para dar um passeio na praia, se ele prometer que não suja os

bancos! Estes carros vão mesmo mudar a vida das pessoas, pai.

“Vão fazer as pessoas sentirem-se mais seguras, e o mais espantoso é que elas vão estar

efetivamente mais seguras. Finalmente, vamos deixar de ouvir nos telejornais que morreram dezenas de

pessoas nas estradas portuguesas, e que a sinistralidade aumenta de dia para dia. Já imaginaste um

noticiário sem desgraças na estrada? Parece pouco credível, não é? Mas pode acontecer! Aliás, tem que

acontecer! Eu não posso ter sonhado isto só porque sim, tem que haver um motivo, eu não posso guardar

isto só para mim.”

Quando cheguei à escola, e com o aproximar dos exames nacionais, recebi uma notícia que

me deixou entusiasmada: íamos ter uma visita de estudo à NISSAN, como forma de nos motivar e, por

outro lado, tranquilizar, para as provas que se avizinham.

Sempre fora a minha marca de carros preferida: aquela que, a meu ver, poderia ser

considerada visionária, tal como o conde D. Henrique o foi nos Descobrimentos. Estavam sempre um passo

à frente, sempre prontos a encarar os novos desafios da sociedade e do Mundo em si.

Estava tudo a correr bem: vimos imensos carros, conhecemos a forma como estes são

pensados, concebidos, vendidos e cuidados por cada uma das pessoas pelas mãos das quais os carros

passam até chegarem às nossas garagens. Quando fizemos a pausa para o almoço, decidi ligar ao meu pai

para lhe dizer que estava a ser divertido, e que “um dia temos que vir cá os dois, papá” e afastei-me do

grupo, por causa do barulho. Com o aproximar da reta final havia sempre tema de conversa… “Vais para

que universidade?”

Quando dei por mim, estava perdida. A NISSAN que estávamos a visitar era gigante e eu, com

o barulho incomodativo e a falta de rede no meu telemóvel, tinha-me cada vez afastado mais, tanto que,

quando queria regressar para junto dos meus colegas, não fazia ideia para onde ir, ou qual tinha sido o

caminho que me tinha levado àquele corredor.

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“Boa, estou sem rede!”, pensei, enquanto esticava o meu braço o máximo que conseguia,

sustendo o telemóvel, com a esperança de ver nascer uns tracinhos que fossem no ecrã, mas nada.

Abri uma das portas e, ao caminhar, naquela que me parecia ser uma oficina normal, como

tantas outras que tínhamos visitado durante a nossa manhã, deparei-me com um carro muito diferente

daqueles que tinha até então visto. Não estava acabado, faltavam as portas, a matrícula, talvez um

bocadinho da pintura. E, por faltar tudo isto, senti-me completamente fascinada ao olhar para o seu

interior, que me era perceptível sem ter de o abrir ou mexer onde quer que fosse: era um carro como o que

eu tinha sonhado. Notava-se, não era preciso ser uma cientista, nem um grande entendido em carros para

o perceber. Era um carro autónomo, ou seja, com um sistema de Condução Autónoma: novas tecnologias,

como sistemas de gestão do tráfego rodoviário e controlo automatizado das faixas. Junto ao carro, um

conjunto de folhas explicava-me o que dizia, “rabiscados por um fantástico engenheiro”, pensei eu.

Tal como eu tinha sonhado, e dito naquela manhã ao meu pai, as tecnologias de Condução

Autónoma iam ser concebidas para melhorar a segurança na estrada e as condições de condução, e, afinal,

não era algo assim tão distante: a NISSAN estava a fazê-lo.

Sentei-me encostada ao carro e tirei o meu caderno azul da mochila: fiz um esforço enorme,

mas consegui, e escrevi o meu sonho todo, pormenorizado, cheio de medidas, velocidades e conselhos.

Escrevi a forma como o carro com que sonhei se movimentava nas estradas, tanto em situações de

engarrafamento, como a estacionar, por exemplo. Quis deixar o meu testemunho, e soube mais tarde, a

minha ajuda. Acabei por adormecer, com a cabeça no banco do pendura (tão confortável como a minha

almofada!) e acordei um bocadinho mais tarde, com a minha professora a abraçar-me e a dizer que

finalmente me tinham encontrado.

Quando cheguei a casa, abracei o meu pai e contei-lhe tudo: em como a NISSAN estava a

fazer aquilo que eu tinha sonhado há dias, e em como o carro era bonito e, principalmente, seguro.

A emoção levou-me a melhor, e quando abri os olhos, já era de manhã: tinha adormecido a

contar as novidades ao meu pai.

Perguntei:

-Como está o dia hoje, papá?

Disse-me que estava “um lindo dia de sol” e que a culpa disso era minha: tinha mudado o

Mundo com os meus sonhos!

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História: Maria Francisca Almeida Gama

Ilustrações: Maria Santos Silvério

Colégio Dr. Luís Pereira Da Costa

Professora Responsável: Ana Carla Gomes