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INTERAGIR: PENSANDO A EXTENSÃO, RIO DE JANEIRO, N. 26, P. 11-33, JUL/DEZ. 2018
UM BOSQUE DE FOLHAS SAGRADAS: O SANTUÁRIO NACIONAL DA UMBANDA E O CULTO DA NATUREZA
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O Santuário Nacional da Umbanda, lo-calizado na Região Metropolitana de São Paulo, é um espaço de Mata Atlântica reivindicado e recuperado pelos seus frequentadores. É reservado às práticas rituais dos adeptos das religiões afro-bra-sileiras, sobretudo da umbanda, onde as entidades estão diretamente associadas aos elementos naturais. Com base em um trabalho etnográfico (observação de campo e entrevistas) realizado com fre-quentadores do Santuário, analisamos as características do conhecimento religio-so associado aos significados das plan-tas cultuadas, bem como o acesso a esse material e a importância da existência do Santuário. Foram mencionados 64 tipos de plantas cultuadas, sendo grande parte delas componente da cultura popular bra-sileira, e que possuem um sistema de clas-sificação baseado em pares de oposição que corresponde à lógica do pensamento
The “Santuário Nacional da Umbanda” (National Sanctuary of Umbanda), lo-cated in the Metropolitan Region of São Paulo state, is an area of Atlantic Forest recovered and demarked for ritual practi-ces of Afro-Brazilian religions, especially “umbanda”, whose entities are directly associated with natural elements. Based on an ethnographic work (field obser-vation and interviews) carried out with the Sanctuary visitors, we analyzed the characteristics of the religious knowle-dge associated with the meaning of the worshiped plants and importance of the Sanctuary. A total of 64 different types of plants were mentioned, most of them from the Brazilian popular culture. They have a classification system based on opposition pairs that corresponds to the logic of the Umbandist thinking. Inter-views show how the conceptions of natu-re, energy, entities and conservation are
Resumo Abstract
UM BOSQUE DE FOLHAS SAGRADAS: O SANTUÁRIO NACIONAL DA UMBANDA E O CULTO DA NATUREZAA GROVE OF SACRED LEAVES: THE NATIONAL SANCTUARY OF UMBANDA AND THE
WORSHIP OF NATURE
Autores
Matheus Colli Silva. Mestrando. Universidade de São Paulo, Instituto de Biociências, Departamento de Botânica.
E-mail: [email protected]
Vagner Gonçalves da Silva Professor. Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,
Departamento de Antropologia.
E-mail: [email protected]
Recebido em: 21/01/2019 Aprovado em: 31/01/2019
DOI: 10.12957/interag.2018.39594
Artigo
INTERAGIR: PENSANDO A EXTENSÃO, RIO DE JANEIRO, N. 26, P. 11-33, JUL/DEZ. 2018
UM BOSQUE DE FOLHAS SAGRADAS: O SANTUÁRIO NACIONAL DA UMBANDA E O CULTO DA NATUREZA
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Palavras- chave: Religiões afro-brasileiras; Rituais religiosos; Conservação da natureza; Natureza/cultura. Área Temática: Meio ambienteLinha Temática: Questões ambientais; Cultura.
Keywords: Afro-Brazilian religions; Religious rituals; Conservation of nature; Nature/culture.
umbandista. Os relatos mostram como as concepções de natureza, energia, entida-des e conservação estão interligadas. Para os frequentadores, o Santuário também é visto como um lugar para o culto sagrado da umbanda, diante dos problemas con-temporâneos como violência e intolerân-cia religiosa. O processo de urbanização dificultou a relação dos umbandistas com a natureza e o acesso às ervas; daí o an-seio da comunidade pela existência de um espaço natural íntegro, sagrado e acolhe-dor, ainda que uma natureza “construída” para o culto.
interconnected. For the visitors, the Sanc-tuary is also seen as a place for the sacred cult of umbanda, in face of contemporary issues such as violence and religious into-lerance. The urbanization process made it difficult for Umbandists to relate to nature and access many worshiped herbs. The-refore, religious community longs for the maintenance of this a healthy, sacred and welcoming natural space, albeit a nature “built” for worship.
IntroduçãoAs religiões afro-brasileiras, apesar de toda a sua diversidade, podem ser generica-
mente descritas como resultantes do encontro de povos europeus, africanos e indíge-nas. A umbanda, em particular, como religião tipicamente urbana que nasceu no final do século XIX, combina elementos de religiões espíritas europeias, como o kardecismo (religião espírita criada na França e trazida ao Brasil por Allan Kardec), com elementos do candomblé e do catolicismo1,2. Consequentemente, a umbanda herda também valo-res associados a essas religiões, como a caridade, o respeito à natureza, a eternidade de espírito, a empatia e a liberdade3. Ou seja, ela pode ser entendida como uma forma religiosa que “preservou a concepção kardecista do carma, da evolução espiritual e da comunicação com os espíritos”, mas que, por outro lado “mostrou-se aberta às formas populares do culto africano”3 (p. 112). Daí, além das entidades africanas (i.e., os orixás), consagra-se também espíritos que enaltecem os povos “fundadores” do Brasil; de ma-neira que a figura do negro passa a ser representada pelos espíritos dos pretos-velhos e a do índio pelos espíritos dos caboclos, por exemplo.
Nessas religiões, é comum associar diferentes ervas ou folhas a diferentes entidades ou espíritos. Muitos são os orixás, e cada um possui o seu domínio; aqueles mais asso-ciados ao domínio da mata são Oxóssi, Ossaim ou Ogum, onde o sincretismo com os elementos vegetais é óbvio3,4. Mas mesmo outros orixás que ocupam domínios como o da água (Iemanjá, Oxum) ou do fogo (Exu, Iansã) possuem sempre pelo menos uma erva
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associada3,4. Ou seja, o papel dos elementos vegetais é nuclear na consolidação e manu-tenção dessas religiões, bem como de seus valores. E isso foi algo particularmente poten-cializado no Brasil, que é o país mais rico em número de espécies de plantas do mundo5.
No candomblé, vários estudos mostram o emprego litúrgico ou medicinal de muitas plantas, onde há um sistema de classificação complexo, além de uma intrincada relação entre as entidades, a energia espiritual (denominada “axé”) e os diferentes elementos vegetais3,4,6. No entanto, essa relação na umbanda ainda não está muito bem esclarecida e deve ser melhor explorada7. De qualquer forma, certamente o culto das entidades, tan-to na umbanda como no candomblé, torna-se bastante dificultado num contexto de ci-dade, onde há restrição de espaços naturais em detrimento do crescimento desordenado dos espaços urbanos8. Consequentemente, as religiões afro-brasileiras desenvolvem-se num contexto tipicamente urbano, elaborando estratégias para a carência de folhas sa-gradas e de espaços naturais, que se encontram cada vez mais restritos às unidades de conservação, mananciais ou áreas marginais cujo desmatamento é legalmente proibido. Por fim, há ainda aqueles pontos remanescentes que não foram alcançados pelas trans-formações decorrentes do processo de urbanização.
No entanto, a religião pode ainda “criar” ou sacralizar espaços onde a natureza pre-valeça, ainda que uma natureza “construída” para o culto, como é o caso do “Vale dos Orixás”, em Juquitiba, e do “Santuário Nacional da Umbanda” (SANU), em Santo André. Ambos são espaços no estado de São Paulo que recriam, na cidade, o “bosque sagra-do” presente nas regiões africanas de onde vieram as fontes constitutivas das religiões afro-brasileiras. O SANU em particular é um espaço reivindicado e mantido pela comu-nidade umbandista do ABC Paulista, ou seja, da região que compreende os municípios de São Caetano do Sul, Santo André, São Bernardo, Mauá, Ribeirão Pires, Diadema e Rio Grande da Serra. O Santuário ocupa uma área de cerca de 645 mil metros quadrados de uma antiga pedreira que já era utilizada pelos umbandistas desde os anos de 1970 e que posteriormente foi cedida em regime de comodato pela prefeitura do município de Santo André. O SANU localiza-se dentro de uma unidade de conservação que compreende uma extensa área de Mata Atlântica restaurada principalmente pela ação dos próprios frequentadores, que percebem a vegetação como sagrada, e tomam medidas de conser-vação, criando hábitos que ajudam a preservar esse espaço.
Ou seja, o estudo em prol do (re)conhecimento de espaços reivindicados por ação popular e sacralizados, bem como da importância dos elementos naturais que os per-meiam vem sendo cada vez mais urgente num planeta onde o espaço geográfico ten-de a ser rapidamente modificado. Além disso, o estudo das religiões afro-brasileiras é importante no sentido de valorizar uma cultura que historicamente vêm sofrendo uma série de ataques e que socialmente é marginalizada9. Tendo isso em mente, o objetivo deste trabalho é fazer uma análise dos fatores associados à natureza, espiritualidade e ervas utilizadas no contexto da umbanda, utilizando como modelo de estudo o espaço do SANU. Propõe-se apresentar um histórico do Santuário, a importância desse espaço para a prática umbandista em São Paulo e a necessidade de se manter uma vegetação íntegra para o culto. Isso servirá de subsídio para uma discussão sobre os usos religiosos das plantas na umbanda, além de trazer aspectos sobre o padrão de uso e consumo dos elementos vegetais nas religiões afro-brasileiras em São Paulo.
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MetodologiaA metodologia do trabalho consistiu em duas abordagens complementares: (1) re-
visão bibliográfica sobre os trabalhos que abordam o tema do uso dos vegetais na um-banda e no candomblé, bem como do histórico do SANU; e (2) trabalho de campo, com realização de entrevistas e observação participante.
O levantamento bibliográfico consistiu no acesso à literatura de etnobotânica e so-bre as religiões afro-brasileiras (ver referências). Além disso, também foi realizada uma síntese das informações com relação ao histórico e funcionamento do SANU, acessan-do tanto documentos oficiais (planos de manejo, laudos técnicos) como reportagens e publicações referentes ao Santuário, sobretudo aqueles disponibilizados pela equipe administradora do SANU.
Com relação ao trabalho de campo, foram entrevistadas treze lideranças de terreiros oriundas de oito templos umbandistas das regiões mais díspares da Região Metropo-litana de São Paulo e que frequentam o espaço do Santuário (Figura 1). As entrevistas ocorreram entre o período de julho e outubro de 2017. Como quatro das oito entrevistas foram realizadas com mais de uma pessoa ao mesmo tempo, formaram-se oito grupos de entrevistados (Tabela 1). Sete dos oito grupos tinham também seus terreiros próprios, e um era formado por duas pessoas que já possuíram um terreiro, mas que hoje não mais o possuem. Optou-se por priorizar entrevistar pessoas que tinham um longo histórico de frequência no Santuário e que fossem as principais representantes dos terreiros (i.e., mães ou pais-de-santo, mães-pequenas). Essas pessoas foram indicadas pela equipe da administração do Santuário, que detém os contatos dos frequentadores e que gentil-mente os ofereceu após entrar em contato com cada um dos entrevistados, informando--lhes do propósito da pesquisa e convidando-os a participarem da mesma.
As entrevistas foram de caráter semiestruturado, e seguiram um roteiro que se en-contra em material suplementar (Tabela S1). O roteiro versa basicamente sobre ques-tões relacionadas ao simbolismo religioso associado à vegetação do Santuário como um todo, bem como sobre informações mais específicas a respeito das plantas usadas no cotidiano umbandista e sobre a importância da prática dos rituais num espaço natural íntegro e zelado. A maioria das entrevistas foi realizada nos terreiros-sede e/ou nas resi-dências das lideranças (caso as mesmas não tivessem uma sede fixa). Duas entrevistas foram realizadas no próprio espaço do Santuário, onde lá também foi realizada obser-vação participante de algumas atividades, como seções de trabalho de ervas, de aten-dimento ou “passe”, seções de incorporação ou trabalhos de homenagem a entidades. Fotografias foram retiradas e áudios das entrevistas foram gravados e depois transcritos, para então serem analisados comparativamente.
A partir das transcrições, as falas dos entrevistados foram sistematizadas em uma tabela (Tabela S2, em material suplementar), procurando classificar as falas com rela-ção à concepção de natureza, das entidades e de energia, bem como a relação entre o indivíduo, a entidade, o Santuário e a natureza. Do produto desta análise comparativa, algumas falas que representam a opinião geral uma determinada questão foram selecio-nadas para aqui serem citadas.
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Figura 1
Tabela 1. Síntese das lideranças religiosas e localizações das entrevistas realizadas noperíodo entre julho e outubro de 2017. FMD: Fabiana D. e Márcia D.; RCA: Pai Rafael;MAN: Mãe Rosângela e Márcia; JUP: Mãe Jupira; ANT: Mãe Antônia; SHY: Mãe Shirley;RRA: Roberta, Antônia e Pai Ricardo; DAS: Mãe Sandra e Diego C. Grupo de entrevista Identificação Localização do terreiro Local da entrevista Data
FMD Fabiana D. Não possui sede própria. Reside em Vila Helena, Santo André, SP. Vila Helena, Santo André, SP 7/26/2017Márcia D. Não possui sede própria. Reside em Vila Helena, Santo André, SP. Vila Helena, Santo André, SP
RCA Pai Rafael Vila Marari, São Paulo, SP Vila Marari, São Paulo, SP 8/11/2017
MAN Mãe Rosângela Butantã, São Paulo, SP Butantã, São Paulo, SP 9/5/2017Márcia Butantã, São Paulo, SP Butantã, São Paulo, SP
JUP Mãe Jupira São Mateus, São Paulo, SP São Mateus, São Paulo, SP 9/8/2017ANT Mãe Antônia São Mateus, São Paulo, SP São Mateus, São Paulo, SP 9/29/2017SHY Mãe Shirley Parque Gerassi, Santo André, SP Parque Gerassi, Santo André, SP 10/9/2017
DAS Diego C. Não possui sede própria. Reside em Guaianases, São Paulo, SP. SANU 10/12/2017Mãe Sandra Não possui sede própria. Reside em Guaianases, São Paulo, SP. SANU
RRAPai Ricardo Tucuruvi, São Paulo, SP SANU
10/12/2017Antônia Tucuruvi, São Paulo, SP SANURoberta Tucuruvi, São Paulo, SP SANU
Tabela 1
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Material Suplementar Um bosque de folhas sagradas: o Santuário Nacional da Umbanda como refúgio ao culto sagrado da natureza Tabela S1. Roteiro de entrevista semi-estruturada conduzida com lideranças religiosas.
Título: Roteiro para entrevista semiestruturada
Local de ação: Santuário Nacional do Umbanda, Santo André, SP
Objetivos gerais: através de observação participante, contatos informais e entrevistas
semiestruturadas, coletar informações sobre espécies de plantas conhecidas no cotidiano da
umbanda, bem como sobre seus usos e significados. Também fazer questões relacionadas ao
simbolismo religioso associado à vegetação como um todo, sua importância para a prática dos
rituais da umbanda e importância para sua conservação e zelo.
Identificação da pessoa:
Nome
Cargo religioso
Filho/a de qual orixá ou quais as entidades/linhas que recebe
Identificação da tenda/terreiro/templo
Nome
Endereço: (rua, bairro, cidade)
Identidade religiosa (como classifica o terreiro: umbanda, candomblé, espiritismo etc.)
Quais a linhas/entidades que o terreiro cultua
Significados religiosos das plantas:
1) Qual a importância das plantas na prática da sua religião?
2) Quais as entidades que estão mais associadas à mata?
3) Qual a importância de se realizar rituais na mata?
4) Qual a importância do SANU para a prática da sua religião?
5) O que você acha da vegetação e das plantas existentes no SANU para a sua prática
religiosa?
6) Você ou sua entidade utiliza plantas em banhos, chás, remédios etc? Pode dar o nome
de algumas?
7) Das plantas que você citou, quais partes são utilizadas, de que forma são preparadas e
para qual indicação? São acrescentadas outras plantas? Quais?
8) As plantas estão associadas as entidades ou linhas (Preto velho, caboclos, exus etc.)?
Por quê? Dar exemplos.
9) Como você costuma obter esses materiais vegetais? Se coleta, tem algum período
específico de coleta ou idade da planta? Usado fresco ou seco, em floração ou não?
Tabela S1
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forç
a da
nat
urez
a,
são
a en
ergi
a.A
gen
te s
ente
a e
nerg
ia d
o or
ixá,
a
gent
e se
nte
a en
ergi
a de
Deu
s,
mui
to m
ais
pura
.
Os
pens
amen
tos
nega
tivos
, ele
s co
nden
sam
, tod
a a
ener
gia
ela
vai f
ican
do fí
sica
. Tud
o o
que
você
col
oca
ener
gia,
se
você
fica
r ob
ceca
do p
ensa
ndo
num
a m
esm
a co
isa,
voc
ê m
esm
o co
loca
ene
rgia
naq
uela
coi
sa e
is
so te
par
alis
a. E
é is
so q
ue o
s gu
ias
vêm
e te
orie
ntam
, tra
balh
am c
om v
ocê,
é n
isso
que
pa
rte d
as e
rvas
trab
alha
m...
P
orqu
e na
real
idad
e eu
não
sou
Ju
pira
, eu
esto
u em
Jup
ira n
essa
ex
istê
ncia
. Pra
gen
te, n
ós s
omos
pa
rte d
a ce
ntel
ha d
ivin
a, to
dos
nós
som
os p
arte
da
mes
ma
cent
elha
div
ina.
Que
é D
eus,
né.
O
cris
tão.
A c
onex
ão c
om a
nat
urez
a, c
om
o no
sso
sagr
ado.
É s
im, f
orça
s na
tura
is, f
orça
s di
vina
s na
tura
is,
e qu
e es
tá p
rese
nte
em tu
do.
Ele
s tra
zem
um
a re
cone
xão,
a
reco
nexã
o, a
reca
rga,
reca
rreg
a m
uito
a e
nerg
ia, é
um
pon
to
natu
ral d
e en
ergi
a.
Nós
trab
alha
mos
esp
iritu
alm
ente
pr
a de
scar
rega
r, en
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zar.
Nós
pr
ecis
amos
de
árvo
re. S
e vo
cê v
ir pa
rada
um
a pe
ssoa
num
a ár
vore
, nã
o é
porq
ue é
louc
ura.
É p
orqu
e al
i ren
ova
a en
ergi
a. V
ocê
põe
a m
ão n
a ár
vore
, voc
ê se
nte,
o
puls
ar, o
retir
ar d
aqui
lo q
ue v
ocê
traba
lhou
com
o p
acie
nte
e re
cebe
nov
amen
te d
o so
lo, q
ue é
a
terr
a, a
sus
tent
ação
no
vam
ente
, pra
dar
con
tinui
dade
no
trab
alho
.
Tudo
o q
ue é
nat
ural
, tud
o o
que
é da
nat
urez
a pr
a ge
nte
é de
ex
trem
a im
portâ
ncia
. Que
as
ener
gias
as
quai
s tra
balh
amos
, as
qua
is o
s no
ssos
orix
ás u
sam
co
mo
elem
ento
de
traba
lho,
toda
s el
as v
êm d
a na
ture
za. E
em
gr
ande
par
te d
o re
ino
vege
tal.
Rel
ação
indi
vídu
o/re
ligiã
o
Freq
uent
ava
um c
entro
, um
te
rrei
ro q
ue fr
eque
ntav
a.M
édiu
m e
um
dos
prin
cipa
is
orga
niza
dore
s do
terr
eiro
que
fre
quen
ta e
coo
rden
a, lo
caliz
ado
na Z
ona
Sul
de
São
Pau
lo. E
le
resi
de e
m It
apev
i. S
eu te
rrei
ro
frequ
enta
o e
spaç
o do
San
tuár
io
por p
elo
men
os u
ma
vez
por a
no,
para
cel
ebra
ções
de
fim d
e an
o.
Raf
ael t
ambé
m é
resp
onsá
vel p
or
min
istra
r cur
sos
de u
mba
nda
para
a c
omun
idad
e ex
tern
a e
sobr
e us
o de
pla
ntas
no
cont
exto
re
ligio
so o
u te
rapê
utic
o.
Eu
sou
umba
ndis
ta v
ai fa
zer 1
8 an
os. E
u tra
balh
ava
num
tem
plo
aqui
em
baix
o na
rua
Bot
uroc
a,
que
fech
ou. F
ique
i lá
por v
olta
de
7, 8
ano
s. E
nes
se m
eio
tem
po lá
fe
chou
e a
í a g
ente
que
ria u
m
luga
r pra
ir tr
abal
har,
ou to
mar
um
pas
se, s
eja
lá o
que
for.
E a
ge
nte
já c
onhe
cia
o S
antu
ário
po
rque
nós
íam
os c
om o
out
ro
tem
po p
ra lá
um
a ve
z po
r mês
pr
a fa
zer o
fere
nda,
trab
alho
na
natu
reza
. E a
í fic
amos
2 a
nos
lá,
as p
esso
as fo
ram
che
gand
o, e
de
repe
nte
a ge
nte
tava
num
gru
po
gran
de. E
aí a
brim
os a
qui,
e va
i fa
zer a
gora
dia
11
de o
utub
ro v
ai
faze
r 9 a
nos
que
esta
mos
com
es
se te
mpl
o ab
erto
. Há
uns
15
anos
vou
no
San
tuár
io m
ais
ou
men
os.
Eu
sou
umba
ndis
ta d
esde
que
na
sci.
Meu
pai
era
pai
-de-
sant
o,
min
ha v
ó er
a m
ãe-d
e-sa
nto.
M
inha
bis
avó
era
negr
a de
se
nzal
a. E
o m
eu b
isav
ô el
e er
a ín
dio,
de
tribo
mes
mo.
E a
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pa
ssan
do d
e pa
i pra
filh
o, q
uand
o eu
era
ado
lesc
ente
meu
pai
fe
chou
, não
ass
umiu
o te
rrei
ro
que
era
pra
assu
mir.
E e
le, c
omo
a ge
nte
fala
, fez
leva
nte.
Nós
som
os u
m te
rrei
ro d
e um
band
a, e
sse
terr
eiro
exi
ste
há
10 a
nos
ofic
ialm
ente
. Ele
exi
ste
há u
m p
ouco
mai
s. E
u so
u um
band
ista
há
33 a
nos,
des
de
que
nasc
i. V
im d
e ou
tro te
rrei
ro, o
E
verto
n qu
e é
o sa
cerd
ote
cent
ral,
eu s
ou a
sac
erdo
tisa,
a
gent
e ch
ama
de m
ãe-p
eque
na. E
o
terr
eiro
exi
ste
há 1
0 an
os. A
s en
tidad
es a
qui a
s bá
sica
s a
gent
e te
m c
omo
base
a u
mba
nda
de
raiz
, um
band
a tra
dici
onal
. C
aboc
lo, p
reto
-vel
ho, q
ue s
ão a
s no
ssas
bas
es. M
as tr
abal
ham
os
com
bai
ano,
boi
adei
ro, c
om
mar
inhe
iro, c
igan
o, e
xu, e
xu é
m
uito
pre
sent
e aq
ui ta
mbé
m.
Est
ou n
a um
band
a de
sde
os 1
3 an
os, e
stou
com
55.
Tra
balh
o es
pirit
ualm
ente
nós
tem
os n
osso
es
paço
, aqu
i [na
resi
dênc
ia] e
u fa
ço c
onsu
lta e
spiri
tual
. Lá
no
terr
eiro
[no
San
tuár
io] a
gen
te fa
z os
trab
alho
s. J
á há
mai
s de
35
anos
. Ten
ho a
um
band
a co
mo
relig
ião.
Sou
a b
abá
do te
rrei
ro.
Um
a ve
z po
r ano
. Vie
mos
hoj
e po
rque
tính
amos
que
faze
r al
gum
as o
brig
açõe
s e
batiz
ar o
s no
vos
filho
s no
vos
da c
asa.
Nós
te
mos
um
terr
eiro
na
zona
nor
te
tam
bém
, ond
e fre
quen
tam
os.
Cul
tua
as s
ete
linha
s. O
s or
ixás
nó
s cu
ltuam
os O
xalá
, Oxu
m,
Ians
ã, X
angô
, Ogu
m, N
anã,
O
balu
aiê,
Oxó
ssi,
Iem
anjá
... A
s se
te li
nhas
.
Não
, a g
ente
não
tem
terr
eiro
. A
gent
e pr
ocur
a tra
balh
ar a
mai
oria
da
s ve
zes
aqui
mes
mo.
Eu
já ti
ve
três
terr
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s, m
as c
om o
utra
s pe
ssoa
s, e
não
deu
cer
to,
ente
ndeu
? A
gora
qua
ndo
tem
tra
balh
o gr
ande
a g
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faz
aqui
.
Rel
ação
ent
idad
e/na
ture
za
A m
ata
é ob
rigat
oria
men
te d
e O
xóss
i. O
u de
Oss
ain
se v
ocê
for
fala
r no
cand
ombl
é. A
mat
a to
da
Oxó
ssi,
as e
rvas
, Oss
ain.
Só
que
Oss
ain
a ge
nte
sabe
que
ele
tá
lá. N
ão d
á pr
a fa
lar o
nom
e de
to
dos
os o
rixás
, e n
em s
empr
e tra
balh
ar d
entro
de
todo
s os
or
ixás
, mas
ele
tá lá
.
A g
ente
nas
ce d
e um
cab
oclo
. A
prim
eira
ent
idad
e qu
e ap
arec
e em
Ter
ra e
fala
: “va
mos
fund
ar a
re
ligiã
o de
um
band
a” é
um
ca
bocl
o. N
a ve
rdad
e, q
uem
teve
um
a vi
dênc
ia n
a ho
ra v
iu q
ue e
le
tinha
sid
o um
pad
re n
a ou
tra v
ida,
m
as e
le s
e m
ostra
pra
gen
te
com
o um
cab
oclo
, o c
aboc
lo d
as
sete
enc
ruzi
lhad
as –
voc
ê já
dev
e te
r est
udad
o m
inim
amen
te s
obre
is
so –
com
o é
um c
aboc
lo, e
le
traz
essa
forç
a da
s m
atas
. Os
cabo
clos
. Boi
adei
ro...
Boi
adei
ro
gera
lmen
te é
no
Cer
rado
, né.
M
as q
uem
usa
m e
rvas
no
seu
traba
lho,
todo
s. A
té E
xu tr
abal
ha
com
erv
as. T
odos
, tod
o pa
nteã
o de
esp
írito
s se
usa
da
ener
gia
do
min
eral
, da
erva
, do
que
a ge
nte
tem
na
natu
reza
em
ben
efíc
io
hum
ano.
Cab
oclo
, sem
dúv
ida.
Sou
su
spei
ta e
m fa
lar,
porq
ue g
raça
s a
Deu
s po
rque
min
has
entid
ades
, pr
atic
amen
te to
das
traba
lham
co
m e
las.
Tod
as tr
abal
ham
na
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a. P
osso
diz
er to
das,
tira
ndo
mar
inhe
iro, q
ue n
ão te
m li
gaçã
o co
m a
s er
vas,
com
a m
ata,
o
rest
ante
todo
s.
Pra
não
dei
xar a
des
ejar
. Que
ta
lvez
nós
não
tenh
amos
co
nhec
imen
to, m
as n
a lin
ha
espi
ritua
l tem
fund
amen
to.
Ela
repr
esen
ta a
té O
xóss
i nas
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atas
. Os
orix
ás d
as m
atas
. E
ntão
, ass
im, a
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a é
a co
isa
mai
s lin
da d
o m
undo
que
Deu
s po
de p
or. E
as
mat
as e
las
serv
em ta
nto
pra
gent
e to
mar
ba
nho
quan
to p
ra c
urar
.
Rel
ação
indi
vídu
o/Sa
ntuá
rio
Freq
uênc
ia h
á m
ais
de 2
0 an
os.
Vai
lá in
divi
dual
men
te, n
ão
poss
uem
um
terr
eiro
. A
ntig
amen
te, o
ace
sso
era
difíc
il,
pois
a m
ata
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fech
ada,
um
a pe
drei
ra. Í
amos
na
conf
ianç
a do
s or
ixás
. Hoj
e há
est
rutu
ra,
segu
ranç
a, e
spaç
o. V
amos
às
veze
s.
A g
ente
[ter
reiro
] vai
lá u
ma
vez
por a
no. T
raba
lham
os o
ano
todo
aq
ui n
o te
rrei
ro, e
lá a
gen
te fa
z um
gra
nde
agra
deci
men
to p
ra
toda
s as
ent
idad
es e
orix
ás q
ue a
ge
nte
traba
lha
o an
o to
do. V
amos
no
últi
mo
final
de
sem
ana
de
nove
mbr
o. V
amos
há
uns
10
anos
, sem
pre
na m
esm
a te
nda.
Tem
a p
edre
ira, a
mat
a, a
ca
choe
ira.
Lá p
ra c
ima
onde
tem
a
cach
oeira
, tem
um
out
ro
espa
ço, n
ão s
ei s
e tá
abe
rto
agor
a, m
as a
ntig
amen
te é
abe
rto.
Ent
ão, n
ossa
, a m
udan
ça é
fa
ntás
tica.
Ele
tem
um
m
inho
cário
, ele
reap
rove
ita fr
utos
e
tudo
que
a g
ente
usa
pro
pr
óprio
esp
aço.
É fa
ntás
tico
o qu
e el
e fe
z al
i. E
fora
que
o
San
tuár
io é
o lu
gar a
dequ
ado
para
que
a g
ente
faça
ess
e tip
o de
coi
sa. E
ntão
ain
da b
em q
ue a
ge
nte
o es
paço
com
o o
San
tuár
io
do P
ai R
onal
do p
ra p
oder
aco
lher
ta
nta
gent
e. E
ele
reap
rove
ita
mui
ta c
oisa
, né.
Vou
de
três
a qu
atro
vez
es p
or
ano.
No
ano
pass
ado
ia q
uase
to
do m
ês, p
orqu
e eu
est
ava
no
barc
o do
Pai
Ron
aldo
, no
curs
o de
form
ação
sac
erdo
tal.
Ent
ão e
u ia
sem
pre,
todo
com
eço
de a
no
todo
s os
filh
os q
ue e
ntra
m n
a ca
sa tê
m q
ue p
assa
r por
um
a cr
uza.
Na
cach
oeira
, na
casa
de
Oxu
m. Q
ue O
xum
é d
ono
das
cach
oeira
s. E
ntão
a c
aboc
la
cruz
a to
do fi
lho-
de-s
anto
na
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ant
es d
e co
meç
ar o
an
o. A
ntes
de
com
eçar
os
traba
lhos
. Ent
ão to
do c
omeç
o de
an
o eu
vou
pro
San
tuár
io.
Abr
iam
a c
lare
ira e
a g
ente
tra
balh
ava
a no
ite, o
u du
rant
e o
dia
mes
mo.
A g
ente
sem
pre
ia,
uma
vez
por a
no n
o m
ínim
o a
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e ia
pro
San
tuár
io. E
ntão
lá é
um
a se
gura
nça
pra
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e, d
e nã
o tra
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ar n
a ru
a, d
e nã
o tra
zer a
s no
ssas
ofe
rend
as p
ra ru
a, e
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se
guro
, tem
um
pes
soal
que
lim
pa, e
ntão
a g
ente
vai
pel
o m
enos
a c
ada
três
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es,
quan
do a
gen
te p
reci
sa
desc
arre
gar e
reca
rreg
ar a
s en
ergi
as ta
mbé
m.
Ó, a
cas
a te
m u
ns 2
0 an
os. A
ge
nte
deve
vir
pra
cá h
á un
s 15
an
os. O
sim
ples
fato
de
que
as
ofer
enda
s sã
o fe
itas,
são
co
loca
das
e o
pess
oal l
impa
de
pois
, rec
olhe
. A n
atur
eza
não
fica
suja
, não
fica
suj
eira
. Ele
s lim
pam
. É u
m e
spaç
o on
de s
e co
ncen
tra tu
do e
é fe
ito u
ma
limpe
za.
Tem
mui
tos
anos
, mai
s de
30
anos
, ach
o. A
qui n
ão ti
nha
tant
a te
nda,
tava
inau
gura
ndo,
as
imag
ens,
ain
da. E
u co
nheç
o o
Pai
Ron
aldo
há
mui
tos
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, qu
ando
ele
fazi
a bi
ngo,
bai
le, p
ra
bota
r aqu
ele
terr
eiro
que
ele
tem
o
pai b
ened
ito. D
e qu
inze
em
qu
inze
dia
s. U
ma
vez
por m
ês.
Dep
ende
, qua
ndo
tem
fest
a de
or
ixá
a ge
nte
vem
. Mas
é p
orqu
e é
difíc
il, n
em to
do m
undo
co
nseg
ue, n
em s
empr
e te
m
cond
içõe
s.
Rel
ação
in
diví
duo/
relig
ião/
soci
edad
e
Fico
rece
osa
de a
cend
er v
ela
em
cem
itério
. E ta
mbé
m é
pro
ibid
o,
ning
uém
pre
cisa
fica
r co
mpa
rtilh
ando
, é c
ompl
icad
o.
Voc
ê pa
ssa
dois
qua
rteirõ
es
daqu
i tem
ent
rega
. E a
li fic
a, te
m
anim
al, t
em c
omid
a qu
e de
terio
ra,
as p
esso
as p
assa
m e
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m
vend
o. É
um
resp
eito
por
que
foi
feita
um
a en
trega
ali
pra
um
orix
á. M
as te
m q
ue s
er n
um lu
gar
espe
cífic
o.
O c
ando
mbl
é ai
nda
tem
mui
to
diss
o, a
s ro
ças.
Mas
até
por
ser
es
cond
ido
ning
uém
sab
ia d
isso
há
50,
60
anos
atrá
s. T
ambé
m é
co
mpl
icad
a po
r con
ta d
a in
tole
rânc
ia re
ligio
sa d
e ho
je e
m
dia,
né.
Mui
to p
or c
ausa
dos
m
aus
umba
ndis
tas;
eu
não
poss
o di
zer q
ue e
sses
des
pach
os n
o m
eio
da ru
a, e
sses
trab
alho
s no
m
eio
da ru
a de
nigr
em d
emai
s, e
su
jam
até
os
noss
os p
onto
s de
fo
rça
que
seria
m u
ma
praç
a, m
as
não
tem
esp
aço
assi
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cil p
ra
você
faze
r um
trab
alho
.
Ant
igam
ente
, se
fazi
a m
uito
of
eren
das
nas
ruas
e ta
l. M
as
com
o te
mpo
a g
ente
vem
to
man
do c
onsc
iênc
ia e
coló
gica
, né
, e a
í pel
os te
mpo
s qu
e a
gent
e vi
ve d
e in
segu
ranç
a ta
mbé
m.
Naq
uele
tem
po, l
á em
190
8, n
ão
se ti
nha
med
icaç
ão, n
ão s
e tin
ha
assi
stên
cia
méd
ica
com
o se
tem
ho
je. A
tecn
olog
ia n
ão ti
nha
com
o ho
je. E
ntão
, era
mui
to m
ais
fáci
l vo
cê p
egar
, abr
ir um
a ba
bosa
, pe
gar a
quel
a ba
ba, m
istu
rar u
m
pouc
o co
m u
ma
outra
erv
a e
pass
ar n
um p
é di
abét
ico,
né?
E
nten
de?
Hoj
e, a
gen
te n
ão u
sa
mai
s ta
nto
com
o m
edic
ina
com
o er
a us
ado
ante
s. A
ntes
era
mui
to
mai
s us
ado
com
o m
edic
ina.
Hoj
e a
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e us
a m
uito
mai
s no
pad
rão
ener
gétic
o. Is
so fa
z un
s 14
ano
s.
Sem
inco
mod
ar n
ingu
ém,
ning
uém
é o
brig
ado,
por
que
eu
sou
umba
ndis
ta, a
ouv
ir o
som
do
atab
aque
. Car
ro p
ra p
arar
; é u
m
sufo
co, a
gen
te q
ue m
ora
na
cida
de. N
ós tr
abal
ham
os n
uma
relig
ião
que
não
é in
com
odar
, e
sim
aco
mod
ar to
dos.
Aco
lher
. E
ntão
lá n
o S
antu
ário
tem
os e
sse
espa
ço q
ue te
m e
stac
iona
men
to,
tem
um
a co
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idad
e ta
mbé
m, e
a
segu
ranç
a. P
ra q
ue p
ossa
mos
fa
zer o
s no
ssos
trab
alho
s ga
rant
indo
tam
bém
a s
egur
ança
de
todo
s.
E a
qui n
o S
antu
ário
é o
luga
r pra
vo
cê re
alm
ente
pra
faze
r as
ofer
enda
s, n
ão fa
zer e
m q
ualq
uer
luga
r, em
qua
lque
r esq
uina
, qu
alqu
er ru
a, p
ra s
ujar
o
ambi
ente
. A g
ente
faz
aqui
m
esm
o qu
e aq
ui já
ele
s pe
gam
, jo
gam
fora
, e s
abem
a fi
nalid
ade
das
cois
as.
Rel
ação
indi
vídu
o/na
ture
za
Aqu
i a q
uest
ão d
a pr
eser
vaçã
o é
uma
gran
de b
riga.
Ant
es e
ra
norm
al, p
or e
xem
plo,
um
a en
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e pe
dir p
ra fa
zer u
m
desp
acho
des
se o
u um
a of
eren
da
em c
ampo
san
to, n
um c
emité
rio,
ou n
uma
via.
.. H
oje
em d
ia a
inda
te
m –
eu
não
poss
o fa
lar q
ue n
ão
tem
– m
as a
gen
te p
ede.
.. M
as a
ge
nte
tent
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máx
imo
faze
r es
sa...
Ess
a lim
peza
, né.
Não
su
jar p
ra n
ão te
r que
lim
par;
mai
s ou
men
os is
so. E
ntão
a g
ente
te
nta,
den
tro d
e um
a ev
oluç
ão –
qu
e eu
ach
o qu
e a
gent
e tá
ev
olui
ndo
dent
ro d
isso
, não
é fá
cil
– vo
cê fa
lar p
ra u
m c
aboc
lo q
ue
tem
o a
rqué
tipo
do Ín
dio
que
traba
lhav
a na
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a, q
ue v
ocê
não
pode
usa
r a m
ata
pra
faze
r o q
ue
ele
fazi
a, é
...
A g
ente
par
te d
o pr
incí
pio
que
a na
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za é
um
pon
to d
e fo
rça
dos
orix
ás q
ue s
ão e
nerg
ias
de D
eus,
nã
o fa
z se
ntid
o a
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e de
pred
ar
tudo
e s
ujar
tudo
, e c
orre
risc
o de
bo
tar f
ogo
na m
ata.
Ent
ão é
mui
to
bom
que
a g
ente
tenh
a um
luga
r es
pecí
fico
pra
faze
r os
noss
os
traba
lhos
relig
ioso
s. E
voc
ê fa
z co
m tr
anqu
ilida
de. T
ranq
uilid
ade
no s
entid
o de
seg
uran
ça e
ta
mbé
m v
ocê
sabe
que
tá
ajud
ando
a p
rese
rvar
. Ent
ão tu
do
que
a ge
nte
faz,
pel
o m
enos
nós
: a
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e al
uga
um e
spaç
o lá
no
San
tuár
io. A
mes
ma
cois
a qu
ando
a g
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vai
pra
pra
ia.
Qua
ndo
a ge
nte
vai f
azer
trab
alho
de
fina
l de
ano,
a g
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dei
xa a
pr
aia
do je
ito q
ue a
gen
te a
chou
. M
uita
s ve
zes
a ge
nte
reco
lhe
quan
do c
hega
. A g
ente
lim
pa o
es
paço
pra
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te fi
car.
Suj
eira
qu
e ou
tras
pess
oas
deix
aram
.
E a
Ter
ra tá
em
col
apso
. Se
a ge
nte
cuid
ar d
ela,
a g
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vai
se
lasc
ar. A
gen
te ia
pra
mat
a, n
é. Ia
pr
o m
eio
da m
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faze
r tud
o,
reco
lhia
tudo
e d
epoi
s ia
em
bora
. P
ra n
ão d
eixa
r suj
eira
no
cam
po
sant
o. P
orqu
e vo
u te
fala
r um
a co
isa.
Que
m te
fala
r que
é
umba
ndis
ta, m
as fo
r no
mei
o da
m
ata
larg
ar [i
naud
ível
] aqu
ela
suje
ira lá
, ela
não
é.
Que
nem
árv
ores
, a g
ente
m
esm
o qu
ando
vai
trab
alha
r nas
m
atas
lá p
erto
de
casa
, eu
falo
“g
ente
, não
dei
xa v
ela
aces
a”.
Por
que
pode
peg
ar fo
go n
a m
ata.
A
inda
mai
s ag
ora
que
é te
mpo
se
co. P
orqu
e aq
ui a
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te te
m
que
pres
erva
r a n
atur
eza.
Aqu
ilo
lá fa
z pa
rte n
ão s
ó da
gen
te, m
as
das
outra
s cr
ianç
as q
ue tã
o vi
ndo.
Tem
, tem
as
mat
as lá
.
Rel
ação
re
ligiã
o/ci
dade
/nat
urez
a
O e
spaç
o da
cid
ade
é di
fícil
de
atin
gir.
Não
tem
aqu
ela
mes
ma
ener
gia
que
um e
spaç
o na
tura
l.
O a
umen
to d
a se
lva
de p
edra
é
mui
to c
ompl
icad
o. P
or e
xem
plo,
an
tigam
ente
um
terr
eiro
era
feito
nu
m g
rand
e qu
inta
l. H
oje
em d
ia
não
tem
. Nós
tem
os a
qui n
o fu
ndo
algu
mas
erv
as, m
as é
m
uito
com
plic
ado.
Ent
ão, n
ão te
m m
ais
terr
eiro
de
chão
bat
ido,
ent
ão a
gen
te te
m
que
se a
dapt
ar c
om is
so, q
ue
acon
tece
u co
m a
s er
vas
tam
bém
. E
ra a
ssim
. Era
mai
s fá
cil,
a ge
nte
acha
va e
rva
em to
do lu
gar.
Todo
lu
gar t
inha
terr
eno
bald
io, m
as
era
mui
to d
ifíci
l o S
antu
ário
em
si
o tra
jeto
pra
lá. P
ra c
hega
r lá
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mui
to d
ifíci
l. E
hoj
e a
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e te
m
estra
da, t
em á
gua
enca
nada
. Eu
acho
que
ess
a re
laçã
o co
m o
ur
bano
, ess
a ad
apta
ção
pro
urba
no e
do
natu
ral,
que
é im
porta
nte.
Sem
dúv
ida
faci
litou
em
alg
umas
coi
sas,
difi
culto
u em
ou
tras.
É d
ifere
nte
de v
ocê
sair
na m
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do la
do d
e lá
, col
ocar
sua
of
eren
da e
vai
fica
r aqu
ilo lá
. M
uito
s m
ater
iais
não
são
mui
tas
veze
s de
grad
ávei
s, e
vai
pol
uir a
na
ture
za. N
ão é
a in
tenç
ão.
Mas
é c
ompl
icad
o, p
orqu
e a
mai
oria
das
mat
as, v
ocê
sabe
qu
e ho
je e
m d
ia é
per
igos
o, n
é.
Ent
ão o
u a
gent
e va
i de
man
hã,
até
o ho
rário
do
alm
oço
a ge
nte
traba
lha
e vo
lta, q
ue n
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rte d
a ta
rde
é m
eio
perig
oso.
Por
que
a ge
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corr
e ris
co ta
mbé
m. A
qui
não.
Voc
ê po
de tr
abal
har
tranq
uilo
que
voc
ê nã
o co
rre
risco
de
alg
um b
andi
do s
air c
orre
ndo
no m
eio
do m
ato
um a
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do
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lá, o
u qu
alqu
er o
utra
coi
sa.
Ent
ão a
gen
te ja
mai
s va
i pôr
a
vida
dos
dem
ais
em ri
sco.
E
nten
deu?
O q
ue a
gen
te n
ão
quer
pra
gen
te a
gen
te n
ão q
uer
pros
dem
ais.
Rel
ação
re
ligiã
o/te
rrei
ro/n
atur
eza
Qua
ndo
os o
rixás
vão
peg
ar
erva
s, e
les
pede
m li
cenç
a. É
m
uito
bon
ito. T
udo
eles
ped
em
licen
ça p
ra ti
rar,
nunc
a pr
o de
sper
díci
o.
Por
exe
mpl
o, n
ós a
qui s
omos
um
pr
édio
, ond
e a
gent
e te
nta
min
ima,
diri
a at
é po
rcam
ente
, ter
al
gum
a co
isa
[nat
ural
] aqu
i per
to.
A á
rvor
e qu
e te
m n
a fre
nte
da
noss
a ca
sa fo
mos
nós
que
pl
anta
mos
a p
edid
o de
um
a en
tidad
e.
A g
ente
resp
eita
a n
atur
eza
porq
ue n
ós e
nten
dem
os o
s or
ixás
co
mo
man
ifest
ação
da
natu
reza
.
Ach
o qu
e pr
a el
a pe
rpet
uar,
ela
prec
isa
dess
a ev
oluç
ão. M
esm
o qu
e a
gent
e nã
o en
cont
re ta
ntos
po
ntos
. Mas
pre
serv
ando
ess
es
pont
os q
ue e
xist
em, p
rese
rvan
do
o qu
e a
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e te
m, o
que
a g
ente
en
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ra. P
or is
so q
ue a
um
band
a é
tão
ligad
a à
cons
erva
ção
da n
atur
eza.
Eu
sou
chat
a pr
a ca
ram
ba c
om re
laçã
o a
isso
... E
u ac
ho q
ue s
im, a
gen
te
tem
que
pre
serv
ar, n
ão jo
gar l
ixo
no c
hão,
sab
e? E
sse
tipo
de
cois
a, d
e pe
quen
os h
ábito
s...
“Ah,
m
as v
ocê
é um
a em
um
milh
ão”.
OK
, mas
se
eu fi
zer,
eu c
omo
umba
ndis
ta fi
zer,
eu v
ou s
er
form
ador
a de
opi
nião
, ent
ão
acab
a fo
rman
do o
utra
s op
iniõ
es e
is
so fu
ncio
na d
e ve
rdad
e.
Pra
con
serv
ação
. Na
linha
m
édic
a, tr
abal
ham
os c
om e
rvas
. E
ntão
as
erva
s é
mui
to
nece
ssár
io, c
omo
os c
rista
is. P
ra
nós,
term
os u
m e
spaç
o de
ntro
da
mat
a, n
ós p
rese
rva
tudo
.
Rel
ação
indi
vídu
o/er
vas
Eu
conh
eço
as p
lant
as. P
lant
as
med
icin
ais,
por
que
venh
o de
um
a he
ranç
a qu
e se
usa
va m
uito
pl
anta
s, tr
abal
hava
com
pla
ntas
, m
inha
vó
traba
lhav
a m
uito
com
pl
anta
s.
Se
você
for s
enta
r com
igo,
eu
vou
ter b
anho
pre
para
do já
, co
nser
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em
álc
ool,
pra
faci
litar
, sab
e? P
ó qu
e dá
pra
ut
iliza
r qua
ndo
você
tá a
li na
ra
pide
z...
Tudo
pra
faci
litar
. E o
S
antu
ário
vem
isso
tam
bém
.
Rel
ação
ent
idad
es/e
rvas
Os
cabo
clos
, os
orix
ás te
m m
ais
sabe
doria
, ele
s pe
gam
um
mat
o qu
e eu
nun
ca v
i. E
u nã
o co
nheç
o.
Mas
o o
rixá
conh
ece.
Ele
tem
a
sabe
doria
ade
quad
a pr
a pe
gar
qual
quer
pla
ntin
ha ra
stei
ra q
ue
ele
tem
um
sig
nific
ado.
De
cura
ca
rnal
, esp
iritu
al, a
stra
l.
E m
uito
pre
sent
e co
m a
s er
vas
tam
bém
. Tra
balh
a m
uito
com
as
erva
s. T
odos
ele
s tra
balh
am. P
ra
gent
e é
fund
amen
tal,
pra
nós
com
o m
édiu
ns, c
omo
traba
lhad
ores
de
umba
nda
é fu
ndam
enta
l o u
so d
as e
rvas
, e
pra
eles
com
o fe
rram
enta
de
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lho.
Rel
ação
indi
vídu
o e
dico
tom
ia
cida
de/n
atur
eza
Não
con
heço
out
ros
espa
ços
de
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a, m
as ta
mbé
m p
orqu
e nó
s nu
nca
proc
uram
os.
Hoj
e em
dia
, por
ser
difí
cil d
e ac
har n
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za, a
gen
te u
sa
mui
ta e
rva
seca
. Prim
eiro
, sai
ba a
pr
oced
ênci
a. É
igua
l qua
lque
r co
isa
que
eu v
ou c
oloc
ar c
omo
um c
rem
e.
Hoj
e em
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exi
stem
vár
ios.
...
Vár
ios.
Eu
conh
eço
de fr
eque
ntar
o
San
tuár
io. T
em u
m o
utro
luga
r qu
e é
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acho
eira
que
eu
não
sei s
e fu
ncio
na. Q
ue a
gen
te ia
fa
zer t
raba
lho
lá, m
as n
ão te
m o
m
esm
o pr
incí
pio
do P
ai R
onal
do.
Tem
um
luga
r em
Naz
aré
Pau
lista
. Ent
ão h
oje
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ia já
te
m a
lgun
s S
antu
ário
s. A
pesa
r de
a ge
nte
não
conh
ecer
os
outro
s to
dos,
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pel
o qu
e a
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e ou
viu
fala
r é d
o m
esm
o je
ito.
Alg
umas
são
pro
prie
dade
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rticu
lare
s e
eles
usa
m is
so p
ra
reve
rter,
pra
cons
erva
r os
espa
ços.
Ant
igam
ente
era
mai
s fá
cil d
e co
nseg
uir e
rvas
.Mui
tas
casa
s co
m q
uint
al. H
oje
em d
ia já
nã
o te
m m
ais.
Voc
ê te
m q
ue ir
em
mer
cado
, tem
que
com
prar
na
band
ejin
ha o
u em
maç
o fe
chad
o.
Ent
ão q
uand
o a
gent
e pe
ga n
o m
erca
do, a
gen
te s
abe
que
é um
a co
isa
pelo
men
os c
ertin
ha,
regu
lariz
ada.
Não
é u
ma
cois
a qu
e tá
em
bei
ra d
e es
trada
.
Nós
faze
mos
mag
ia c
om
umba
nda,
nós
tem
os a
relig
ião
umba
nda
é um
a re
ligiã
o m
uito
rit
ualís
tica,
mag
ístic
a, e
que
é
uma
relig
ião
que
se to
rnou
hoj
e ur
bana
.
Não
, exi
stem
out
ros
luga
res,
m
as, a
ssim
, com
a e
stru
tura
or
gani
zada
é e
sse
aqui
. Lá
na
noss
a re
gião
tem
cac
hoei
ra
tam
bém
, mas
é m
enos
or
gani
zado
, bem
men
os.
Org
aniz
ação
, seg
uran
ça.
Ace
sso
às e
rvas
Con
segu
imos
no
boca
-a-b
oca.
Q
uand
o é
uma
plan
ta m
ais
difíc
il,
pega
na
mat
a qu
e fic
a no
ca
min
ho d
e vo
lta d
o S
antu
ário
. S
e nã
o, a
gen
te p
ede
pro
pess
oal
que
a ge
nte
conh
ece.
Em
feira
s é
mai
s di
fícil.
Hoj
e em
dia
tem
m
uito
cas
a de
erv
as. M
as
pess
oalm
ente
não
con
fio m
uito
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orqu
evoc
ê po
r exe
mpl
o co
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a lá
um
saq
uinh
o de
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e er
vas.
Q
uem
gar
ante
que
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li va
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r as
erva
s lá
? E
ntão
a g
ente
pr
efer
e, m
esm
o qu
e se
ja u
m
pouc
o di
fícil,
a p
lant
a m
esm
o. S
e m
inha
mãe
não
sab
e,
perg
unta
mos
pro
meu
tio,
se
ele
não
sabe
per
gunt
amos
pra
out
ra
tia. P
rocu
ram
os fa
zer u
m b
em-
bola
do p
ra c
onse
guir
a pl
anta
m
esm
o. N
o fim
dá
tudo
cer
to.
Eu
parti
cula
rmen
te te
nho
uma
senh
ora
que
traba
lha
com
erv
as.
Ent
ão e
la tr
az p
ra m
im. A
qui p
or
exem
plo
no te
rrei
ro a
gen
te
cham
a el
a de
“tra
fican
te”
[Ris
adas
]. P
orqu
e eu
peç
o as
er
vas,
ela
que
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uma
pra
todo
m
undo
. A p
rópr
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asa
de
tem
pero
tem
bas
tant
e co
isa.
Mas
sã
o no
rmal
men
te e
ssas
cas
as d
e pr
odut
os n
atur
ais
que
tem
tudo
qu
e pr
ocur
a. E
o q
ue n
ão te
m
você
vai
na
feira
... C
EA
SA
. Ou
um c
onta
to q
ue v
ocê
vai a
char
. E
você
vai
pla
ntan
do n
a su
a ca
sa.
Eu
tenh
o um
a ho
rta p
ra is
so. A
s er
vas
que
eu m
ais
uso
eu q
ue
cuid
o, e
u qu
e fa
ço, e
u qu
e pl
anto
. P
ra q
ue e
u te
nha
isso
mai
s fá
cil
pra
man
usea
r ela
s. M
as n
em
todo
mun
do te
m e
sse
terr
eno
em
casa
que
con
segu
e pr
a fa
zer
isso
.
Ain
da b
em, h
oje
em d
ia, é
mui
to
fáci
l voc
ê ac
har a
s er
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Tod
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sa d
e m
acum
beiro
sem
pre
tem
um
a er
vinh
a pl
anta
da, n
é. A
qui a
ge
nte
tem
um
as e
rvas
pla
ntad
as.
A g
ente
tom
a m
uito
cui
dado
ond
e a
gent
e va
i com
prar
as
erva
s,
erva
fres
ca, p
rinci
palm
ente
erv
a se
ca. V
ocê
vê, v
ocê
pass
a em
P
inhe
iros
você
vê
um m
onte
de
luga
r ven
dend
o aq
uela
s ár
vore
s to
rran
do n
o so
l, aí
peg
a ch
uva.
.. Is
so n
ão é
lega
l. E
ntão
as
fresc
as, t
em d
uas
méd
iuns
aqu
i qu
e vã
o na
feira
. Um
a m
ulhe
r que
pl
anta
e c
olhe
, tra
z su
per
fresq
uinh
a...
Tem
os o
mer
cado
da
Lap
a ta
mbé
m, q
ue te
m d
uas
banc
as q
ue fo
rnec
em...
A g
ente
te
m a
lgun
s tra
balh
ador
es q
ue
tem
erv
a em
bas
tant
e qu
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ade
em c
asa,
que
traz
. Mas
no
rmal
men
te q
uand
o a
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e va
i co
mpr
ar s
eco,
a g
ente
pro
cura
co
mpr
ar, p
or e
xem
plo,
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umas
eu
com
pro
no M
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Ver
de. A
ge
nte
tem
um
dis
tribu
idor
que
fica
lá
no
Bel
enzi
nho
que
a ge
nte
com
pra.
..
Cad
a um
tem
um
pou
co d
e er
va
em c
asa.
Que
nem
ess
a do
na
Fátim
a, e
la te
m u
m b
orbo
, m
enin
o, q
ue é
mai
or q
ue e
u. É
um
a ár
vore
. Ela
tem
mui
ta p
lant
a.
Eu
não
tenh
o pl
anta
. Por
que
aqui
a
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e nã
o te
m q
uint
al. S
eria
um
so
nho
de c
onsu
mo
a ge
nte
esta
r nu
ma
casa
que
tive
sse
quin
tal e
a
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e co
nseg
uiss
e te
r as
noss
as
erva
s aq
ui. M
as é
impo
ssív
el.
Ent
ão, a
lgum
as e
u co
nsig
o na
m
ata
mes
mo.
Eu
sou
priv
ilegi
ada
porq
ue e
u na
sci e
me
crie
i aqu
i nu
m b
airr
o pr
óxim
o, q
ue a
inda
te
m m
uito
veg
etal
, que
é u
m
peda
ço d
e M
ata
Atlâ
ntic
a. E
ntão
eu
enc
ontro
mui
ta c
oisa
na
mat
a.
Eu
cres
ci lá
, ent
ão p
ra m
im é
m
uito
fam
iliar
. Eu
cons
igo
mui
ta
cois
a pr
a tra
balh
ar n
a es
teira
. M
as p
ra c
ultiv
o, te
nho
que
com
prar
. Ent
ão e
u co
mpr
o m
uda,
te
m u
m a
quár
io a
qui p
erto
de
Itaqu
era.
Exi
ste
tam
bém
um
a re
laçã
o de
am
izad
e e
conf
ianç
a ne
las.
Ent
ão e
u co
mpr
o m
uito
, ex
iste
m o
s m
atei
ros
que
traze
m.
Na
25 d
e M
arço
tem
um
in
terp
osto
, per
to d
o M
erca
dão,
el
es tr
azem
mui
ta c
oisa
. Ent
ão lá
é
um b
om lu
gar p
ra s
e co
mpr
ar
erva
s em
qua
ntid
ade.
E a
qui e
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São
Pau
lo, S
anto
And
ré e
São
B
erna
rdo,
ele
s tê
m, s
abe
aque
las
área
s de
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ena
de tr
ansm
issã
o,
aque
las
torr
es?
Ele
s cu
ltiva
m
mui
to a
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les
culti
vam
hor
taliç
as,
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tras
erva
s. Q
ue é
ond
e ta
mbé
m e
u co
mpr
o pr
as e
stei
ras.
A
li o
pess
oal a
caba
m p
lant
ando
e
vend
endo
, doa
ndo,
ent
ão é
en
graç
ado,
mas
o p
esso
al a
qui
de b
aixo
con
segu
e fá
cil.
Tam
bém
tem
mui
to a
qui n
as
casa
s de
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as, e
tam
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um
a m
ata
aqui
per
to. E
a g
ente
se
mpr
e se
com
unic
ando
. Por
que,
a
ama
da c
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trab
alha
com
a
linha
só
de e
rvas
. Ess
a qu
e dá
o
curs
o lá
em
São
Ber
nard
o. É
, in
do p
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antu
ário
, ali
tem
mui
to,
mui
to m
esm
o. H
oje
tem
, com
o an
tigam
ente
nós
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vess
ávam
os
pelo
tele
féric
o. A
gora
a g
ente
dá
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lta. M
as a
li te
m ta
ntas
erv
as,
que
o po
vo n
em c
onhe
ce.
É fá
cil.
Um
a ou
out
ra q
ue te
m u
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pouc
o m
ais
de d
ificu
ldad
e. A
té
porq
ue, a
ssim
, as
veze
s te
m
mui
tas
que
dão
no m
eio
da m
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mes
mo.
E a
gen
te s
abe
que
hoje
se
alg
uém
peg
ar v
ocê
tiran
do
uma
plan
ta d
o m
eio
da m
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um
a pl
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nat
iva,
é c
rime
ambi
enta
l. E
ntão
a g
ente
vai
at
rás
de lu
gare
s qu
e co
mer
cial
izam
isso
, aca
ba s
endo
m
ais
difíc
il, e
voc
ê ac
aba
enco
ntra
ndo
seca
. Mas
fres
ca
real
men
te a
lgum
as s
ão m
ais
difíc
eis.
Eu
plan
to. L
á on
de m
eu p
ai m
ora,
eu
mor
o em
apa
rtam
ento
. Mas
on
de m
inha
irm
ã m
ora,
que
meu
pa
i tem
um
terr
eno
vazi
o, a
gen
te
toda
vez
que
pre
cisa
a g
ente
pl
anta
. Mas
qua
ndo
não
tem
, que
ne
m, e
ssa
cida
de...
Pra
pla
ntar
, pe
de p
ro v
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ho. S
empr
e te
m
algu
ém q
ue te
m. O
u se
não
tem
va
i a s
eca
mes
mo.
Não
, sem
pre
foi f
ácil
[par
a en
cont
rar e
rvas
]. S
empr
e te
ve.
INTERAGIR: PENSANDO A EXTENSÃO, RIO DE JANEIRO, N. 26, P. 11-33, JUL/DEZ. 2018
UM BOSQUE DE FOLHAS SAGRADAS: O SANTUÁRIO NACIONAL DA UMBANDA E O CULTO DA NATUREZA
18
Mat
eria
l Sup
lem
enta
r'U
m b
osqu
e de
folh
as s
agra
das:
o S
antu
ário
Nac
iona
l da
Um
band
a co
mo
refú
gio
ao c
ulto
sag
rado
da
natu
reza
'Ta
bela
S2.
Tab
ela
com
para
tiva
rela
cion
ando
fala
s do
s en
trev
ista
dos
à co
ncep
ção
de n
atur
eza,
ent
idad
es e
de
ener
gia,
bem
com
o re
laçã
o en
tre
o in
diví
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antu
ário
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urez
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AS:
Mãe
San
dra
e D
iego
C.
Variá
veis
FMD
RC
AM
AN
JUP
AN
TSH
YR
RA
DA
S
Con
cepç
ão d
e na
ture
za
O q
ue v
ocê
faz
na n
atur
eza
você
de
ixa
a en
ergi
a al
i. O
s el
emen
tos
natu
rais
te d
ão fo
rça.
A n
atur
eza
é o
luga
r ade
quad
o, p
ossu
i erv
as
e en
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a.
A n
atur
eza
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to d
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rça.
É
terr
a de
Oxó
ssi,
de O
ssai
n.
Voc
ê es
tar p
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da
natu
reza
, on
de, a
lém
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ser n
atur
eza,
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e es
paço
tá c
onsa
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o de
ntro
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noss
a re
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o pr
o cu
lto, t
em u
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mui
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e, m
uito
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Não
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l.
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onto
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ture
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um
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sse
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e um
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aço
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io, d
e ve
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ção,
tem
vá
rios
pont
os d
e fo
rça
né. T
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drei
ra, a
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a, a
cac
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ra.
Ent
ão a
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nerg
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e é
mui
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elho
r. N
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você
fica
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ra e
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Por
que
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s. P
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ra c
oisa
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peita
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ente
que
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lo
uvaç
ão q
ue fa
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ás é
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oraç
ão d
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ture
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esse
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idad
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a cu
idar
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natu
reza
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orqu
e el
a cu
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ente
.
Pai
Ron
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um
a co
isa
mui
to
impo
rtant
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igo
mui
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umba
ndis
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ão p
reci
sa d
e um
te
mpl
o, o
tem
plo
é a
natu
reza
, nó
s so
mos
um
tem
plo
vivo
, e e
u já
vi,
reca
rreg
uei,
me
reco
nect
ei
deba
ixo
de u
ma
árvo
re. A
cho
que
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ntat
o m
esm
o co
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nat
ural
, os
pon
tos
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rças
que
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a, o
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, a c
acho
eira
. Ele
s tra
zem
um
a re
cone
xão,
a
reco
nexã
o, a
reca
rga,
reca
rreg
a m
uito
a e
nerg
ia, é
um
pon
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natu
ral d
e en
ergi
a.
E tu
do v
amos
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alha
r com
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vas,
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tro d
aque
le e
lem
ento
, te
rra,
mas
as
erva
s é
que
sim
boliz
am tu
do o
que
tra
balh
amos
. Ent
ão a
erv
a pr
a nó
s, e
a m
ata,
o s
olo,
é s
agra
do.
Tudo
o q
ue é
nat
ural
, tud
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que
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nat
urez
a pr
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nte
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trem
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portâ
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quai
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balh
amos
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qua
is o
s no
ssos
orix
ás u
sam
co
mo
elem
ento
de
traba
lho,
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s el
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êm d
a na
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za. E
em
gr
ande
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o re
ino
vege
tal.
E e
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ho q
ue a
impo
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pra
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r, é
uma
outra
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rgia
, tra
z co
isas
bo
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ra g
ente
.
Con
cepç
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e en
tidad
es
Os
orix
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forç
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tos
que
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ssita
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urez
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orix
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bém
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s qu
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o po
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nat
urez
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a ge
nte.
Ent
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Orix
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urez
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E é
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rutu
ra, n
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inha
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una,
qu
ase
todo
s te
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gaçã
o co
m a
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ata.
Trab
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mos
mui
to c
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balh
amos
com
a li
nha
dos
cabo
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, pre
tos-
velh
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de
seu
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cant
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ture
za. E
em
gr
ande
par
te d
o re
ino
vege
tal.
Con
cepç
ão d
e en
ergi
a
-O
s or
ixás
são
forç
a da
nat
urez
a,
são
a en
ergi
a.A
gen
te s
ente
a e
nerg
ia d
o or
ixá,
a
gent
e se
nte
a en
ergi
a de
Deu
s,
mui
to m
ais
pura
.
Os
pens
amen
tos
nega
tivos
, ele
s co
nden
sam
, tod
a a
ener
gia
ela
vai f
ican
do fí
sica
. Tud
o o
que
você
col
oca
ener
gia,
se
você
fica
r ob
ceca
do p
ensa
ndo
num
a m
esm
a co
isa,
voc
ê m
esm
o co
loca
ene
rgia
naq
uela
coi
sa e
is
so te
par
alis
a. E
é is
so q
ue o
s gu
ias
vêm
e te
orie
ntam
, tra
balh
am c
om v
ocê,
é n
isso
que
pa
rte d
as e
rvas
trab
alha
m...
P
orqu
e na
real
idad
e eu
não
sou
Ju
pira
, eu
esto
u em
Jup
ira n
essa
ex
istê
ncia
. Pra
gen
te, n
ós s
omos
pa
rte d
a ce
ntel
ha d
ivin
a, to
dos
nós
som
os p
arte
da
mes
ma
cent
elha
div
ina.
Que
é D
eus,
né.
O
cris
tão.
A c
onex
ão c
om a
nat
urez
a, c
om
o no
sso
sagr
ado.
É s
im, f
orça
s na
tura
is, f
orça
s di
vina
s na
tura
is,
e qu
e es
tá p
rese
nte
em tu
do.
Ele
s tra
zem
um
a re
cone
xão,
a
reco
nexã
o, a
reca
rga,
reca
rreg
a m
uito
a e
nerg
ia, é
um
pon
to
natu
ral d
e en
ergi
a.
Nós
trab
alha
mos
esp
iritu
alm
ente
pr
a de
scar
rega
r, en
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zar.
Nós
pr
ecis
amos
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árvo
re. S
e vo
cê v
ir pa
rada
um
a pe
ssoa
num
a ár
vore
, nã
o é
porq
ue é
louc
ura.
É p
orqu
e al
i ren
ova
a en
ergi
a. V
ocê
põe
a m
ão n
a ár
vore
, voc
ê se
nte,
o
puls
ar, o
retir
ar d
aqui
lo q
ue v
ocê
traba
lhou
com
o p
acie
nte
e re
cebe
nov
amen
te d
o so
lo, q
ue é
a
terr
a, a
sus
tent
ação
no
vam
ente
, pra
dar
con
tinui
dade
no
trab
alho
.
Tudo
o q
ue é
nat
ural
, tud
o o
que
é da
nat
urez
a pr
a ge
nte
é de
ex
trem
a im
portâ
ncia
. Que
as
ener
gias
as
quai
s tra
balh
amos
, as
qua
is o
s no
ssos
orix
ás u
sam
co
mo
elem
ento
de
traba
lho,
toda
s el
as v
êm d
a na
ture
za. E
em
gr
ande
par
te d
o re
ino
vege
tal.
Rel
ação
indi
vídu
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entro
, um
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ue fr
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édiu
m e
um
dos
prin
cipa
is
orga
niza
dore
s do
terr
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que
fre
quen
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coo
rden
a, lo
caliz
ado
na Z
ona
Sul
de
São
Pau
lo. E
le
resi
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eu te
rrei
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o e
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io
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ma
vez
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no,
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de
fim d
e an
o.
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ambé
m é
resp
onsá
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min
istra
r cur
sos
de u
mba
nda
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omun
idad
e ex
tern
a e
sobr
e us
o de
pla
ntas
no
cont
exto
re
ligio
so o
u te
rapê
utic
o.
Eu
sou
umba
ndis
ta v
ai fa
zer 1
8 an
os. E
u tra
balh
ava
num
tem
plo
aqui
em
baix
o na
rua
Bot
uroc
a,
que
fech
ou. F
ique
i lá
por v
olta
de
7, 8
ano
s. E
nes
se m
eio
tem
po lá
fe
chou
e a
í a g
ente
que
ria u
m
luga
r pra
ir tr
abal
har,
ou to
mar
um
pas
se, s
eja
lá o
que
for.
E a
ge
nte
já c
onhe
cia
o S
antu
ário
po
rque
nós
íam
os c
om o
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tem
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ra lá
um
a ve
z po
r mês
pr
a fa
zer o
fere
nda,
trab
alho
na
natu
reza
. E a
í fic
amos
2 a
nos
lá,
as p
esso
as fo
ram
che
gand
o, e
de
repe
nte
a ge
nte
tava
num
gru
po
gran
de. E
aí a
brim
os a
qui,
e va
i fa
zer a
gora
dia
11
de o
utub
ro v
ai
faze
r 9 a
nos
que
esta
mos
com
es
se te
mpl
o ab
erto
. Há
uns
15
anos
vou
no
San
tuár
io m
ais
ou
men
os.
Eu
sou
umba
ndis
ta d
esde
que
na
sci.
Meu
pai
era
pai
-de-
sant
o,
min
ha v
ó er
a m
ãe-d
e-sa
nto.
M
inha
bis
avó
era
negr
a de
se
nzal
a. E
o m
eu b
isav
ô el
e er
a ín
dio,
de
tribo
mes
mo.
E a
í foi
pa
ssan
do d
e pa
i pra
filh
o, q
uand
o eu
era
ado
lesc
ente
meu
pai
fe
chou
, não
ass
umiu
o te
rrei
ro
que
era
pra
assu
mir.
E e
le, c
omo
a ge
nte
fala
, fez
leva
nte.
Nós
som
os u
m te
rrei
ro d
e um
band
a, e
sse
terr
eiro
exi
ste
há
10 a
nos
ofic
ialm
ente
. Ele
exi
ste
há u
m p
ouco
mai
s. E
u so
u um
band
ista
há
33 a
nos,
des
de
que
nasc
i. V
im d
e ou
tro te
rrei
ro, o
E
verto
n qu
e é
o sa
cerd
ote
cent
ral,
eu s
ou a
sac
erdo
tisa,
a
gent
e ch
ama
de m
ãe-p
eque
na. E
o
terr
eiro
exi
ste
há 1
0 an
os. A
s en
tidad
es a
qui a
s bá
sica
s a
gent
e te
m c
omo
base
a u
mba
nda
de
raiz
, um
band
a tra
dici
onal
. C
aboc
lo, p
reto
-vel
ho, q
ue s
ão a
s no
ssas
bas
es. M
as tr
abal
ham
os
com
bai
ano,
boi
adei
ro, c
om
mar
inhe
iro, c
igan
o, e
xu, e
xu é
m
uito
pre
sent
e aq
ui ta
mbé
m.
Est
ou n
a um
band
a de
sde
os 1
3 an
os, e
stou
com
55.
Tra
balh
o es
pirit
ualm
ente
nós
tem
os n
osso
es
paço
, aqu
i [na
resi
dênc
ia] e
u fa
ço c
onsu
lta e
spiri
tual
. Lá
no
terr
eiro
[no
San
tuár
io] a
gen
te fa
z os
trab
alho
s. J
á há
mai
s de
35
anos
. Ten
ho a
um
band
a co
mo
relig
ião.
Sou
a b
abá
do te
rrei
ro.
Um
a ve
z po
r ano
. Vie
mos
hoj
e po
rque
tính
amos
que
faze
r al
gum
as o
brig
açõe
s e
batiz
ar o
s no
vos
filho
s no
vos
da c
asa.
Nós
te
mos
um
terr
eiro
na
zona
nor
te
tam
bém
, ond
e fre
quen
tam
os.
Cul
tua
as s
ete
linha
s. O
s or
ixás
nó
s cu
ltuam
os O
xalá
, Oxu
m,
Ians
ã, X
angô
, Ogu
m, N
anã,
O
balu
aiê,
Oxó
ssi,
Iem
anjá
... A
s se
te li
nhas
.
Não
, a g
ente
não
tem
terr
eiro
. A
gent
e pr
ocur
a tra
balh
ar a
mai
oria
da
s ve
zes
aqui
mes
mo.
Eu
já ti
ve
três
terr
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s, m
as c
om o
utra
s pe
ssoa
s, e
não
deu
cer
to,
ente
ndeu
? A
gora
qua
ndo
tem
tra
balh
o gr
ande
a g
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faz
aqui
.
Rel
ação
ent
idad
e/na
ture
za
A m
ata
é ob
rigat
oria
men
te d
e O
xóss
i. O
u de
Oss
ain
se v
ocê
for
fala
r no
cand
ombl
é. A
mat
a to
da
Oxó
ssi,
as e
rvas
, Oss
ain.
Só
que
Oss
ain
a ge
nte
sabe
que
ele
tá
lá. N
ão d
á pr
a fa
lar o
nom
e de
to
dos
os o
rixás
, e n
em s
empr
e tra
balh
ar d
entro
de
todo
s os
or
ixás
, mas
ele
tá lá
.
A g
ente
nas
ce d
e um
cab
oclo
. A
prim
eira
ent
idad
e qu
e ap
arec
e em
Ter
ra e
fala
: “va
mos
fund
ar a
re
ligiã
o de
um
band
a” é
um
ca
bocl
o. N
a ve
rdad
e, q
uem
teve
um
a vi
dênc
ia n
a ho
ra v
iu q
ue e
le
tinha
sid
o um
pad
re n
a ou
tra v
ida,
m
as e
le s
e m
ostra
pra
gen
te
com
o um
cab
oclo
, o c
aboc
lo d
as
sete
enc
ruzi
lhad
as –
voc
ê já
dev
e te
r est
udad
o m
inim
amen
te s
obre
is
so –
com
o é
um c
aboc
lo, e
le
traz
essa
forç
a da
s m
atas
. Os
cabo
clos
. Boi
adei
ro...
Boi
adei
ro
gera
lmen
te é
no
Cer
rado
, né.
M
as q
uem
usa
m e
rvas
no
seu
traba
lho,
todo
s. A
té E
xu tr
abal
ha
com
erv
as. T
odos
, tod
o pa
nteã
o de
esp
írito
s se
usa
da
ener
gia
do
min
eral
, da
erva
, do
que
a ge
nte
tem
na
natu
reza
em
ben
efíc
io
hum
ano.
Cab
oclo
, sem
dúv
ida.
Sou
su
spei
ta e
m fa
lar,
porq
ue g
raça
s a
Deu
s po
rque
min
has
entid
ades
, pr
atic
amen
te to
das
traba
lham
co
m e
las.
Tod
as tr
abal
ham
na
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a. P
osso
diz
er to
das,
tira
ndo
mar
inhe
iro, q
ue n
ão te
m li
gaçã
o co
m a
s er
vas,
com
a m
ata,
o
rest
ante
todo
s.
Pra
não
dei
xar a
des
ejar
. Que
ta
lvez
nós
não
tenh
amos
co
nhec
imen
to, m
as n
a lin
ha
espi
ritua
l tem
fund
amen
to.
Ela
repr
esen
ta a
té O
xóss
i nas
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atas
. Os
orix
ás d
as m
atas
. E
ntão
, ass
im, a
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a é
a co
isa
mai
s lin
da d
o m
undo
que
Deu
s po
de p
or. E
as
mat
as e
las
serv
em ta
nto
pra
gent
e to
mar
ba
nho
quan
to p
ra c
urar
.
Rel
ação
indi
vídu
o/Sa
ntuá
rio
Freq
uênc
ia h
á m
ais
de 2
0 an
os.
Vai
lá in
divi
dual
men
te, n
ão
poss
uem
um
terr
eiro
. A
ntig
amen
te, o
ace
sso
era
difíc
il,
pois
a m
ata
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fech
ada,
um
a pe
drei
ra. Í
amos
na
conf
ianç
a do
s or
ixás
. Hoj
e há
est
rutu
ra,
segu
ranç
a, e
spaç
o. V
amos
às
veze
s.
A g
ente
[ter
reiro
] vai
lá u
ma
vez
por a
no. T
raba
lham
os o
ano
todo
aq
ui n
o te
rrei
ro, e
lá a
gen
te fa
z um
gra
nde
agra
deci
men
to p
ra
toda
s as
ent
idad
es e
orix
ás q
ue a
ge
nte
traba
lha
o an
o to
do. V
amos
no
últi
mo
final
de
sem
ana
de
nove
mbr
o. V
amos
há
uns
10
anos
, sem
pre
na m
esm
a te
nda.
Tem
a p
edre
ira, a
mat
a, a
ca
choe
ira.
Lá p
ra c
ima
onde
tem
a
cach
oeira
, tem
um
out
ro
espa
ço, n
ão s
ei s
e tá
abe
rto
agor
a, m
as a
ntig
amen
te é
abe
rto.
Ent
ão, n
ossa
, a m
udan
ça é
fa
ntás
tica.
Ele
tem
um
m
inho
cário
, ele
reap
rove
ita fr
utos
e
tudo
que
a g
ente
usa
pro
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aço.
É fa
ntás
tico
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e fe
z al
i. E
fora
que
o
San
tuár
io é
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para
que
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ente
faça
ess
e tip
o de
coi
sa. E
ntão
ain
da b
em q
ue a
ge
nte
o es
paço
com
o o
San
tuár
io
do P
ai R
onal
do p
ra p
oder
aco
lher
ta
nta
gent
e. E
ele
reap
rove
ita
mui
ta c
oisa
, né.
Vou
de
três
a qu
atro
vez
es p
or
ano.
No
ano
pass
ado
ia q
uase
to
do m
ês, p
orqu
e eu
est
ava
no
barc
o do
Pai
Ron
aldo
, no
curs
o de
form
ação
sac
erdo
tal.
Ent
ão e
u ia
sem
pre,
todo
com
eço
de a
no
todo
s os
filh
os q
ue e
ntra
m n
a ca
sa tê
m q
ue p
assa
r por
um
a cr
uza.
Na
cach
oeira
, na
casa
de
Oxu
m. Q
ue O
xum
é d
ono
das
cach
oeira
s. E
ntão
a c
aboc
la
cruz
a to
do fi
lho-
de-s
anto
na
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oeira
ant
es d
e co
meç
ar o
an
o. A
ntes
de
com
eçar
os
traba
lhos
. Ent
ão to
do c
omeç
o de
an
o eu
vou
pro
San
tuár
io.
Abr
iam
a c
lare
ira e
a g
ente
tra
balh
ava
a no
ite, o
u du
rant
e o
dia
mes
mo.
A g
ente
sem
pre
ia,
uma
vez
por a
no n
o m
ínim
o a
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e ia
pro
San
tuár
io. E
ntão
lá é
um
a se
gura
nça
pra
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e, d
e nã
o tra
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ar n
a ru
a, d
e nã
o tra
zer a
s no
ssas
ofe
rend
as p
ra ru
a, e
lá é
se
guro
, tem
um
pes
soal
que
lim
pa, e
ntão
a g
ente
vai
pel
o m
enos
a c
ada
três
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es,
quan
do a
gen
te p
reci
sa
desc
arre
gar e
reca
rreg
ar a
s en
ergi
as ta
mbé
m.
Ó, a
cas
a te
m u
ns 2
0 an
os. A
ge
nte
deve
vir
pra
cá h
á un
s 15
an
os. O
sim
ples
fato
de
que
as
ofer
enda
s sã
o fe
itas,
são
co
loca
das
e o
pess
oal l
impa
de
pois
, rec
olhe
. A n
atur
eza
não
fica
suja
, não
fica
suj
eira
. Ele
s lim
pam
. É u
m e
spaç
o on
de s
e co
ncen
tra tu
do e
é fe
ito u
ma
limpe
za.
Tem
mui
tos
anos
, mai
s de
30
anos
, ach
o. A
qui n
ão ti
nha
tant
a te
nda,
tava
inau
gura
ndo,
as
imag
ens,
ain
da. E
u co
nheç
o o
Pai
Ron
aldo
há
mui
tos
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, qu
ando
ele
fazi
a bi
ngo,
bai
le, p
ra
bota
r aqu
ele
terr
eiro
que
ele
tem
o
pai b
ened
ito. D
e qu
inze
em
qu
inze
dia
s. U
ma
vez
por m
ês.
Dep
ende
, qua
ndo
tem
fest
a de
or
ixá
a ge
nte
vem
. Mas
é p
orqu
e é
difíc
il, n
em to
do m
undo
co
nseg
ue, n
em s
empr
e te
m
cond
içõe
s.
Rel
ação
in
diví
duo/
relig
ião/
soci
edad
e
Fico
rece
osa
de a
cend
er v
ela
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cem
itério
. E ta
mbé
m é
pro
ibid
o,
ning
uém
pre
cisa
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r co
mpa
rtilh
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, é c
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icad
o.
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ssa
dois
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daqu
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rega
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al, t
em c
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m e
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o. É
um
resp
eito
por
que
foi
feita
um
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trega
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pra
um
orix
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as te
m q
ue s
er n
um lu
gar
espe
cífic
o.
O c
ando
mbl
é ai
nda
tem
mui
to
diss
o, a
s ro
ças.
Mas
até
por
ser
es
cond
ido
ning
uém
sab
ia d
isso
há
50,
60
anos
atrá
s. T
ambé
m é
co
mpl
icad
a po
r con
ta d
a in
tole
rânc
ia re
ligio
sa d
e ho
je e
m
dia,
né.
Mui
to p
or c
ausa
dos
m
aus
umba
ndis
tas;
eu
não
poss
o di
zer q
ue e
sses
des
pach
os n
o m
eio
da ru
a, e
sses
trab
alho
s no
m
eio
da ru
a de
nigr
em d
emai
s, e
su
jam
até
os
noss
os p
onto
s de
fo
rça
que
seria
m u
ma
praç
a, m
as
não
tem
esp
aço
assi
m fá
cil p
ra
você
faze
r um
trab
alho
.
Ant
igam
ente
, se
fazi
a m
uito
of
eren
das
nas
ruas
e ta
l. M
as
com
o te
mpo
a g
ente
vem
to
man
do c
onsc
iênc
ia e
coló
gica
, né
, e a
í pel
os te
mpo
s qu
e a
gent
e vi
ve d
e in
segu
ranç
a ta
mbé
m.
Naq
uele
tem
po, l
á em
190
8, n
ão
se ti
nha
med
icaç
ão, n
ão s
e tin
ha
assi
stên
cia
méd
ica
com
o se
tem
ho
je. A
tecn
olog
ia n
ão ti
nha
com
o ho
je. E
ntão
, era
mui
to m
ais
fáci
l vo
cê p
egar
, abr
ir um
a ba
bosa
, pe
gar a
quel
a ba
ba, m
istu
rar u
m
pouc
o co
m u
ma
outra
erv
a e
pass
ar n
um p
é di
abét
ico,
né?
E
nten
de?
Hoj
e, a
gen
te n
ão u
sa
mai
s ta
nto
com
o m
edic
ina
com
o er
a us
ado
ante
s. A
ntes
era
mui
to
mai
s us
ado
com
o m
edic
ina.
Hoj
e a
gent
e us
a m
uito
mai
s no
pad
rão
ener
gétic
o. Is
so fa
z un
s 14
ano
s.
Sem
inco
mod
ar n
ingu
ém,
ning
uém
é o
brig
ado,
por
que
eu
sou
umba
ndis
ta, a
ouv
ir o
som
do
atab
aque
. Car
ro p
ra p
arar
; é u
m
sufo
co, a
gen
te q
ue m
ora
na
cida
de. N
ós tr
abal
ham
os n
uma
relig
ião
que
não
é in
com
odar
, e
sim
aco
mod
ar to
dos.
Aco
lher
. E
ntão
lá n
o S
antu
ário
tem
os e
sse
espa
ço q
ue te
m e
stac
iona
men
to,
tem
um
a co
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idad
e ta
mbé
m, e
a
segu
ranç
a. P
ra q
ue p
ossa
mos
fa
zer o
s no
ssos
trab
alho
s ga
rant
indo
tam
bém
a s
egur
ança
de
todo
s.
E a
qui n
o S
antu
ário
é o
luga
r pra
vo
cê re
alm
ente
pra
faze
r as
ofer
enda
s, n
ão fa
zer e
m q
ualq
uer
luga
r, em
qua
lque
r esq
uina
, qu
alqu
er ru
a, p
ra s
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o
ambi
ente
. A g
ente
faz
aqui
m
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ui já
ele
s pe
gam
, jo
gam
fora
, e s
abem
a fi
nalid
ade
das
cois
as.
Rel
ação
indi
vídu
o/na
ture
za
Aqu
i a q
uest
ão d
a pr
eser
vaçã
o é
uma
gran
de b
riga.
Ant
es e
ra
norm
al, p
or e
xem
plo,
um
a en
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e pe
dir p
ra fa
zer u
m
desp
acho
des
se o
u um
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eren
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em c
ampo
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to, n
um c
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rio,
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uma
via.
.. H
oje
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ia a
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eu
não
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Ess
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, né.
Não
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ão te
r que
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par;
mai
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men
os is
so. E
ntão
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ente
te
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tro d
e um
a ev
oluç
ão –
qu
e eu
ach
o qu
e a
gent
e tá
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olui
ndo
dent
ro d
isso
, não
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– vo
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lar p
ra u
m c
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lo q
ue
tem
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rqué
tipo
do Ín
dio
que
traba
lhav
a na
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a, q
ue v
ocê
não
pode
usa
r a m
ata
pra
faze
r o q
ue
ele
fazi
a, é
...
A g
ente
par
te d
o pr
incí
pio
que
a na
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za é
um
pon
to d
e fo
rça
dos
orix
ás q
ue s
ão e
nerg
ias
de D
eus,
nã
o fa
z se
ntid
o a
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e de
pred
ar
tudo
e s
ujar
tudo
, e c
orre
risc
o de
bo
tar f
ogo
na m
ata.
Ent
ão é
mui
to
bom
que
a g
ente
tenh
a um
luga
r es
pecí
fico
pra
faze
r os
noss
os
traba
lhos
relig
ioso
s. E
voc
ê fa
z co
m tr
anqu
ilida
de. T
ranq
uilid
ade
no s
entid
o de
seg
uran
ça e
ta
mbé
m v
ocê
sabe
que
tá
ajud
ando
a p
rese
rvar
. Ent
ão tu
do
que
a ge
nte
faz,
pel
o m
enos
nós
: a
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e al
uga
um e
spaç
o lá
no
San
tuár
io. A
mes
ma
cois
a qu
ando
a g
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vai
pra
pra
ia.
Qua
ndo
a ge
nte
vai f
azer
trab
alho
de
fina
l de
ano,
a g
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dei
xa a
pr
aia
do je
ito q
ue a
gen
te a
chou
. M
uita
s ve
zes
a ge
nte
reco
lhe
quan
do c
hega
. A g
ente
lim
pa o
es
paço
pra
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te fi
car.
Suj
eira
qu
e ou
tras
pess
oas
deix
aram
.
E a
Ter
ra tá
em
col
apso
. Se
a ge
nte
cuid
ar d
ela,
a g
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vai
se
lasc
ar. A
gen
te ia
pra
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a, n
é. Ia
pr
o m
eio
da m
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faze
r tud
o,
reco
lhia
tudo
e d
epoi
s ia
em
bora
. P
ra n
ão d
eixa
r suj
eira
no
cam
po
sant
o. P
orqu
e vo
u te
fala
r um
a co
isa.
Que
m te
fala
r que
é
umba
ndis
ta, m
as fo
r no
mei
o da
m
ata
larg
ar [i
naud
ível
] aqu
ela
suje
ira lá
, ela
não
é.
Que
nem
árv
ores
, a g
ente
m
esm
o qu
ando
vai
trab
alha
r nas
m
atas
lá p
erto
de
casa
, eu
falo
“g
ente
, não
dei
xa v
ela
aces
a”.
Por
que
pode
peg
ar fo
go n
a m
ata.
A
inda
mai
s ag
ora
que
é te
mpo
se
co. P
orqu
e aq
ui a
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te te
m
que
pres
erva
r a n
atur
eza.
Aqu
ilo
lá fa
z pa
rte n
ão s
ó da
gen
te, m
as
das
outra
s cr
ianç
as q
ue tã
o vi
ndo.
Tem
, tem
as
mat
as lá
.
Rel
ação
re
ligiã
o/ci
dade
/nat
urez
a
O e
spaç
o da
cid
ade
é di
fícil
de
atin
gir.
Não
tem
aqu
ela
mes
ma
ener
gia
que
um e
spaç
o na
tura
l.
O a
umen
to d
a se
lva
de p
edra
é
mui
to c
ompl
icad
o. P
or e
xem
plo,
an
tigam
ente
um
terr
eiro
era
feito
nu
m g
rand
e qu
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l. H
oje
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ia
não
tem
. Nós
tem
os a
qui n
o fu
ndo
algu
mas
erv
as, m
as é
m
uito
com
plic
ado.
Ent
ão, n
ão te
m m
ais
terr
eiro
de
chão
bat
ido,
ent
ão a
gen
te te
m
que
se a
dapt
ar c
om is
so, q
ue
acon
tece
u co
m a
s er
vas
tam
bém
. E
ra a
ssim
. Era
mai
s fá
cil,
a ge
nte
acha
va e
rva
em to
do lu
gar.
Todo
lu
gar t
inha
terr
eno
bald
io, m
as
era
mui
to d
ifíci
l o S
antu
ário
em
si
o tra
jeto
pra
lá. P
ra c
hega
r lá
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mui
to d
ifíci
l. E
hoj
e a
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e te
m
estra
da, t
em á
gua
enca
nada
. Eu
acho
que
ess
a re
laçã
o co
m o
ur
bano
, ess
a ad
apta
ção
pro
urba
no e
do
natu
ral,
que
é im
porta
nte.
Sem
dúv
ida
faci
litou
em
alg
umas
coi
sas,
difi
culto
u em
ou
tras.
É d
ifere
nte
de v
ocê
sair
na m
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do la
do d
e lá
, col
ocar
sua
of
eren
da e
vai
fica
r aqu
ilo lá
. M
uito
s m
ater
iais
não
são
mui
tas
veze
s de
grad
ávei
s, e
vai
pol
uir a
na
ture
za. N
ão é
a in
tenç
ão.
Mas
é c
ompl
icad
o, p
orqu
e a
mai
oria
das
mat
as, v
ocê
sabe
qu
e ho
je e
m d
ia é
per
igos
o, n
é.
Ent
ão o
u a
gent
e va
i de
man
hã,
até
o ho
rário
do
alm
oço
a ge
nte
traba
lha
e vo
lta, q
ue n
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rte d
a ta
rde
é m
eio
perig
oso.
Por
que
a ge
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corr
e ris
co ta
mbé
m. A
qui
não.
Voc
ê po
de tr
abal
har
tranq
uilo
que
voc
ê nã
o co
rre
risco
de
alg
um b
andi
do s
air c
orre
ndo
no m
eio
do m
ato
um a
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do
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lá, o
u qu
alqu
er o
utra
coi
sa.
Ent
ão a
gen
te ja
mai
s va
i pôr
a
vida
dos
dem
ais
em ri
sco.
E
nten
deu?
O q
ue a
gen
te n
ão
quer
pra
gen
te a
gen
te n
ão q
uer
pros
dem
ais.
Rel
ação
re
ligiã
o/te
rrei
ro/n
atur
eza
Qua
ndo
os o
rixás
vão
peg
ar
erva
s, e
les
pede
m li
cenç
a. É
m
uito
bon
ito. T
udo
eles
ped
em
licen
ça p
ra ti
rar,
nunc
a pr
o de
sper
díci
o.
Por
exe
mpl
o, n
ós a
qui s
omos
um
pr
édio
, ond
e a
gent
e te
nta
min
ima,
diri
a at
é po
rcam
ente
, ter
al
gum
a co
isa
[nat
ural
] aqu
i per
to.
A á
rvor
e qu
e te
m n
a fre
nte
da
noss
a ca
sa fo
mos
nós
que
pl
anta
mos
a p
edid
o de
um
a en
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e.
A g
ente
resp
eita
a n
atur
eza
porq
ue n
ós e
nten
dem
os o
s or
ixás
co
mo
man
ifest
ação
da
natu
reza
.
Ach
o qu
e pr
a el
a pe
rpet
uar,
ela
prec
isa
dess
a ev
oluç
ão. M
esm
o qu
e a
gent
e nã
o en
cont
re ta
ntos
po
ntos
. Mas
pre
serv
ando
ess
es
pont
os q
ue e
xist
em, p
rese
rvan
do
o qu
e a
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e te
m, o
que
a g
ente
en
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ra. P
or is
so q
ue a
um
band
a é
tão
ligad
a à
cons
erva
ção
da n
atur
eza.
Eu
sou
chat
a pr
a ca
ram
ba c
om re
laçã
o a
isso
... E
u ac
ho q
ue s
im, a
gen
te
tem
que
pre
serv
ar, n
ão jo
gar l
ixo
no c
hão,
sab
e? E
sse
tipo
de
cois
a, d
e pe
quen
os h
ábito
s...
“Ah,
m
as v
ocê
é um
a em
um
milh
ão”.
OK
, mas
se
eu fi
zer,
eu c
omo
umba
ndis
ta fi
zer,
eu v
ou s
er
form
ador
a de
opi
nião
, ent
ão
acab
a fo
rman
do o
utra
s op
iniõ
es e
is
so fu
ncio
na d
e ve
rdad
e.
Pra
con
serv
ação
. Na
linha
m
édic
a, tr
abal
ham
os c
om e
rvas
. E
ntão
as
erva
s é
mui
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nece
ssár
io, c
omo
os c
rista
is. P
ra
nós,
term
os u
m e
spaç
o de
ntro
da
mat
a, n
ós p
rese
rva
tudo
.
Rel
ação
indi
vídu
o/er
vas
Eu
conh
eço
as p
lant
as. P
lant
as
med
icin
ais,
por
que
venh
o de
um
a he
ranç
a qu
e se
usa
va m
uito
pl
anta
s, tr
abal
hava
com
pla
ntas
, m
inha
vó
traba
lhav
a m
uito
com
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anta
s.
Se
você
for s
enta
r com
igo,
eu
vou
ter b
anho
pre
para
do já
, co
nser
vado
em
álc
ool,
pra
faci
litar
, sab
e? P
ó qu
e dá
pra
ut
iliza
r qua
ndo
você
tá a
li na
ra
pide
z...
Tudo
pra
faci
litar
. E o
S
antu
ário
vem
isso
tam
bém
.
Rel
ação
ent
idad
es/e
rvas
Os
cabo
clos
, os
orix
ás te
m m
ais
sabe
doria
, ele
s pe
gam
um
mat
o qu
e eu
nun
ca v
i. E
u nã
o co
nheç
o.
Mas
o o
rixá
conh
ece.
Ele
tem
a
sabe
doria
ade
quad
a pr
a pe
gar
qual
quer
pla
ntin
ha ra
stei
ra q
ue
ele
tem
um
sig
nific
ado.
De
cura
ca
rnal
, esp
iritu
al, a
stra
l.
E m
uito
pre
sent
e co
m a
s er
vas
tam
bém
. Tra
balh
a m
uito
com
as
erva
s. T
odos
ele
s tra
balh
am. P
ra
gent
e é
fund
amen
tal,
pra
nós
com
o m
édiu
ns, c
omo
traba
lhad
ores
de
umba
nda
é fu
ndam
enta
l o u
so d
as e
rvas
, e
pra
eles
com
o fe
rram
enta
de
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lho.
Rel
ação
indi
vídu
o e
dico
tom
ia
cida
de/n
atur
eza
Não
con
heço
out
ros
espa
ços
de
mat
a, m
as ta
mbé
m p
orqu
e nó
s nu
nca
proc
uram
os.
Hoj
e em
dia
, por
ser
difí
cil d
e ac
har n
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za, a
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te u
sa
mui
ta e
rva
seca
. Prim
eiro
, sai
ba a
pr
oced
ênci
a. É
igua
l qua
lque
r co
isa
que
eu v
ou c
oloc
ar c
omo
um c
rem
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Hoj
e em
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exi
stem
vár
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...
Vár
ios.
Eu
conh
eço
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eque
ntar
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San
tuár
io. T
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que
eu
não
sei s
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ncio
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raba
lho
lá, m
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m o
m
esm
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incí
pio
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ai R
onal
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Tem
um
luga
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Naz
aré
Pau
lista
. Ent
ão h
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ia já
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antu
ário
s. A
pesa
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nte
não
conh
ecer
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outro
s to
dos,
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pel
o qu
e a
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e ou
viu
fala
r é d
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esm
o je
ito.
Alg
umas
são
pro
prie
dade
s pa
rticu
lare
s e
eles
usa
m is
so p
ra
reve
rter,
pra
cons
erva
r os
espa
ços.
Ant
igam
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s fá
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nseg
uir e
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al. H
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em d
ia já
nã
o te
m m
ais.
Voc
ê te
m q
ue ir
em
mer
cado
, tem
que
com
prar
na
band
ejin
ha o
u em
maç
o fe
chad
o.
Ent
ão q
uand
o a
gent
e pe
ga n
o m
erca
do, a
gen
te s
abe
que
é um
a co
isa
pelo
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os c
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ha,
regu
lariz
ada.
Não
é u
ma
cois
a qu
e tá
em
bei
ra d
e es
trada
.
Nós
faze
mos
mag
ia c
om
umba
nda,
nós
tem
os a
relig
ião
umba
nda
é um
a re
ligiã
o m
uito
rit
ualís
tica,
mag
ístic
a, e
que
é
uma
relig
ião
que
se to
rnou
hoj
e ur
bana
.
Não
, exi
stem
out
ros
luga
res,
m
as, a
ssim
, com
a e
stru
tura
or
gani
zada
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sse
aqui
. Lá
na
noss
a re
gião
tem
cac
hoei
ra
tam
bém
, mas
é m
enos
or
gani
zado
, bem
men
os.
Org
aniz
ação
, seg
uran
ça.
Ace
sso
às e
rvas
Con
segu
imos
no
boca
-a-b
oca.
Q
uand
o é
uma
plan
ta m
ais
difíc
il,
pega
na
mat
a qu
e fic
a no
ca
min
ho d
e vo
lta d
o S
antu
ário
. S
e nã
o, a
gen
te p
ede
pro
pess
oal
que
a ge
nte
conh
ece.
Em
feira
s é
mai
s di
fícil.
Hoj
e em
dia
tem
m
uito
cas
a de
erv
as. M
as
pess
oalm
ente
não
con
fio m
uito
. P
orqu
evoc
ê po
r exe
mpl
o co
mpr
a lá
um
saq
uinh
o de
set
e er
vas.
Q
uem
gar
ante
que
aqu
ilo a
li va
i te
r as
erva
s lá
? E
ntão
a g
ente
pr
efer
e, m
esm
o qu
e se
ja u
m
pouc
o di
fícil,
a p
lant
a m
esm
o. S
e m
inha
mãe
não
sab
e,
perg
unta
mos
pro
meu
tio,
se
ele
não
sabe
per
gunt
amos
pra
out
ra
tia. P
rocu
ram
os fa
zer u
m b
em-
bola
do p
ra c
onse
guir
a pl
anta
m
esm
o. N
o fim
dá
tudo
cer
to.
Eu
parti
cula
rmen
te te
nho
uma
senh
ora
que
traba
lha
com
erv
as.
Ent
ão e
la tr
az p
ra m
im. A
qui p
or
exem
plo
no te
rrei
ro a
gen
te
cham
a el
a de
“tra
fican
te”
[Ris
adas
]. P
orqu
e eu
peç
o as
er
vas,
ela
que
arr
uma
pra
todo
m
undo
. A p
rópr
ia c
asa
de
tem
pero
tem
bas
tant
e co
isa.
Mas
sã
o no
rmal
men
te e
ssas
cas
as d
e pr
odut
os n
atur
ais
que
tem
tudo
qu
e pr
ocur
a. E
o q
ue n
ão te
m
você
vai
na
feira
... C
EA
SA
. Ou
um c
onta
to q
ue v
ocê
vai a
char
. E
você
vai
pla
ntan
do n
a su
a ca
sa.
Eu
tenh
o um
a ho
rta p
ra is
so. A
s er
vas
que
eu m
ais
uso
eu q
ue
cuid
o, e
u qu
e fa
ço, e
u qu
e pl
anto
. P
ra q
ue e
u te
nha
isso
mai
s fá
cil
pra
man
usea
r ela
s. M
as n
em
todo
mun
do te
m e
sse
terr
eno
em
casa
que
con
segu
e pr
a fa
zer
isso
.
Ain
da b
em, h
oje
em d
ia, é
mui
to
fáci
l voc
ê ac
har a
s er
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Tod
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sa d
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acum
beiro
sem
pre
tem
um
a er
vinh
a pl
anta
da, n
é. A
qui a
ge
nte
tem
um
as e
rvas
pla
ntad
as.
A g
ente
tom
a m
uito
cui
dado
ond
e a
gent
e va
i com
prar
as
erva
s,
erva
fres
ca, p
rinci
palm
ente
erv
a se
ca. V
ocê
vê, v
ocê
pass
a em
P
inhe
iros
você
vê
um m
onte
de
luga
r ven
dend
o aq
uela
s ár
vore
s to
rran
do n
o so
l, aí
peg
a ch
uva.
.. Is
so n
ão é
lega
l. E
ntão
as
fresc
as, t
em d
uas
méd
iuns
aqu
i qu
e vã
o na
feira
. Um
a m
ulhe
r que
pl
anta
e c
olhe
, tra
z su
per
fresq
uinh
a...
Tem
os o
mer
cado
da
Lap
a ta
mbé
m, q
ue te
m d
uas
banc
as q
ue fo
rnec
em...
A g
ente
te
m a
lgun
s tra
balh
ador
es q
ue
tem
erv
a em
bas
tant
e qu
antid
ade
em c
asa,
que
traz
. Mas
no
rmal
men
te q
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o a
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e va
i co
mpr
ar s
eco,
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ente
pro
cura
co
mpr
ar, p
or e
xem
plo,
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umas
eu
com
pro
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undo
Ver
de. A
ge
nte
tem
um
dis
tribu
idor
que
fica
lá
no
Bel
enzi
nho
que
a ge
nte
com
pra.
..
Cad
a um
tem
um
pou
co d
e er
va
em c
asa.
Que
nem
ess
a do
na
Fátim
a, e
la te
m u
m b
orbo
, m
enin
o, q
ue é
mai
or q
ue e
u. É
um
a ár
vore
. Ela
tem
mui
ta p
lant
a.
Eu
não
tenh
o pl
anta
. Por
que
aqui
a
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e nã
o te
m q
uint
al. S
eria
um
so
nho
de c
onsu
mo
a ge
nte
esta
r nu
ma
casa
que
tive
sse
quin
tal e
a
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e co
nseg
uiss
e te
r as
noss
as
erva
s aq
ui. M
as é
impo
ssív
el.
Ent
ão, a
lgum
as e
u co
nsig
o na
m
ata
mes
mo.
Eu
sou
priv
ilegi
ada
porq
ue e
u na
sci e
me
crie
i aqu
i nu
m b
airr
o pr
óxim
o, q
ue a
inda
te
m m
uito
veg
etal
, que
é u
m
peda
ço d
e M
ata
Atlâ
ntic
a. E
ntão
eu
enc
ontro
mui
ta c
oisa
na
mat
a.
Eu
cres
ci lá
, ent
ão p
ra m
im é
m
uito
fam
iliar
. Eu
cons
igo
mui
ta
cois
a pr
a tra
balh
ar n
a es
teira
. M
as p
ra c
ultiv
o, te
nho
que
com
prar
. Ent
ão e
u co
mpr
o m
uda,
te
m u
m a
quár
io a
qui p
erto
de
Itaqu
era.
Exi
ste
tam
bém
um
a re
laçã
o de
am
izad
e e
conf
ianç
a ne
las.
Ent
ão e
u co
mpr
o m
uito
, ex
iste
m o
s m
atei
ros
que
traze
m.
Na
25 d
e M
arço
tem
um
in
terp
osto
, per
to d
o M
erca
dão,
el
es tr
azem
mui
ta c
oisa
. Ent
ão lá
é
um b
om lu
gar p
ra s
e co
mpr
ar
erva
s em
qua
ntid
ade.
E a
qui e
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São
Pau
lo, S
anto
And
ré e
São
B
erna
rdo,
ele
s tê
m, s
abe
aque
las
área
s de
ant
ena
de tr
ansm
issã
o,
aque
las
torr
es?
Ele
s cu
ltiva
m
mui
to a
li, e
les
culti
vam
hor
taliç
as,
e ou
tras
erva
s. Q
ue é
ond
e ta
mbé
m e
u co
mpr
o pr
as e
stei
ras.
A
li o
pess
oal a
caba
m p
lant
ando
e
vend
endo
, doa
ndo,
ent
ão é
en
graç
ado,
mas
o p
esso
al a
qui
de b
aixo
con
segu
e fá
cil.
Tam
bém
tem
mui
to a
qui n
as
casa
s de
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as, e
tam
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um
a m
ata
aqui
per
to. E
a g
ente
se
mpr
e se
com
unic
ando
. Por
que,
a
ama
da c
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trab
alha
com
a
linha
só
de e
rvas
. Ess
a qu
e dá
o
curs
o lá
em
São
Ber
nard
o. É
, in
do p
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antu
ário
, ali
tem
mui
to,
mui
to m
esm
o. H
oje
tem
, com
o an
tigam
ente
nós
atra
vess
ávam
os
pelo
tele
féric
o. A
gora
a g
ente
dá
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lta. M
as a
li te
m ta
ntas
erv
as,
que
o po
vo n
em c
onhe
ce.
É fá
cil.
Um
a ou
out
ra q
ue te
m u
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pouc
o m
ais
de d
ificu
ldad
e. A
té
porq
ue, a
ssim
, as
veze
s te
m
mui
tas
que
dão
no m
eio
da m
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mes
mo.
E a
gen
te s
abe
que
hoje
se
alg
uém
peg
ar v
ocê
tiran
do
uma
plan
ta d
o m
eio
da m
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um
a pl
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nat
iva,
é c
rime
ambi
enta
l. E
ntão
a g
ente
vai
at
rás
de lu
gare
s qu
e co
mer
cial
izam
isso
, aca
ba s
endo
m
ais
difíc
il, e
voc
ê ac
aba
enco
ntra
ndo
seca
. Mas
fres
ca
real
men
te a
lgum
as s
ão m
ais
difíc
eis.
Eu
plan
to. L
á on
de m
eu p
ai m
ora,
eu
mor
o em
apa
rtam
ento
. Mas
on
de m
inha
irm
ã m
ora,
que
meu
pa
i tem
um
terr
eno
vazi
o, a
gen
te
toda
vez
que
pre
cisa
a g
ente
pl
anta
. Mas
qua
ndo
não
tem
, que
ne
m, e
ssa
cida
de...
Pra
pla
ntar
, pe
de p
ro v
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ho. S
empr
e te
m
algu
ém q
ue te
m. O
u se
não
tem
va
i a s
eca
mes
mo.
Não
, sem
pre
foi f
ácil
[par
a en
cont
rar e
rvas
]. S
empr
e te
ve.
INTERAGIR: PENSANDO A EXTENSÃO, RIO DE JANEIRO, N. 26, P. 11-33, JUL/DEZ. 2018
UM BOSQUE DE FOLHAS SAGRADAS: O SANTUÁRIO NACIONAL DA UMBANDA E O CULTO DA NATUREZA
19
Mat
eria
l Sup
lem
enta
r'U
m b
osqu
e de
folh
as s
agra
das:
o S
antu
ário
Nac
iona
l da
Um
band
a co
mo
refú
gio
ao c
ulto
sag
rado
da
natu
reza
'Ta
bela
S2.
Tab
ela
com
para
tiva
rela
cion
ando
fala
s do
s en
trev
ista
dos
à co
ncep
ção
de n
atur
eza,
ent
idad
es e
de
ener
gia,
bem
com
o re
laçã
o en
tre
o in
diví
duo,
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ntid
ade,
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antu
ário
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urez
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: Fab
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P: M
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RA
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, Ant
ônia
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ai R
icar
do; D
AS:
Mãe
San
dra
e D
iego
C.
Variá
veis
FMD
RC
AM
AN
JUP
AN
TSH
YR
RA
DA
S
Con
cepç
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e na
ture
za
O q
ue v
ocê
faz
na n
atur
eza
você
de
ixa
a en
ergi
a al
i. O
s el
emen
tos
natu
rais
te d
ão fo
rça.
A n
atur
eza
é o
luga
r ade
quad
o, p
ossu
i erv
as
e en
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a.
A n
atur
eza
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to d
e fo
rça.
É
terr
a de
Oxó
ssi,
de O
ssai
n.
Voc
ê es
tar p
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da
natu
reza
, on
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lém
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ser n
atur
eza,
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e es
paço
tá c
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ntro
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noss
a re
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o pr
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lto, t
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mui
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e, m
uito
...
Não
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tato
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l.
O p
onto
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ture
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o e
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um
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sse
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e um
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aço
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San
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io, d
e ve
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ção,
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vá
rios
pont
os d
e fo
rça
né. T
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pe
drei
ra, a
mat
a, a
cac
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ra.
Ent
ão a
gen
te e
nerg
etic
amen
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e é
mui
to m
elho
r. N
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você
fica
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rça
que
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ra e
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Por
que
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nte
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os
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s. P
rimei
ra c
oisa
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ambi
ente
que
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tent
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lo
uvaç
ão q
ue fa
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os
orix
ás é
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oraç
ão d
a na
ture
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esse
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idad
o pr
a cu
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natu
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orqu
e el
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ente
.
Pai
Ron
aldo
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um
a co
isa
mui
to
impo
rtant
e e
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igo
mui
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umba
ndis
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ão p
reci
sa d
e um
te
mpl
o, o
tem
plo
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natu
reza
, nó
s so
mos
um
tem
plo
vivo
, e e
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vi,
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rreg
uei,
me
reco
nect
ei
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ixo
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ma
árvo
re. A
cho
que
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o co
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nat
ural
, os
pon
tos
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que
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a, o
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, a c
acho
eira
. Ele
s tra
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um
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a
reco
nexã
o, a
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rga,
reca
rreg
a m
uito
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nerg
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pon
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e en
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a.
E tu
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amos
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alha
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vas,
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lem
ento
, te
rra,
mas
as
erva
s é
que
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boliz
am tu
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que
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balh
amos
. Ent
ão a
erv
a pr
a nó
s, e
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ata,
o s
olo,
é s
agra
do.
Tudo
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ue é
nat
ural
, tud
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que
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nat
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nte
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qua
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s no
ssos
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sam
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ento
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lho,
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gr
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o re
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vege
tal.
E e
u ac
ho q
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impo
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bém
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tem
, é u
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ente
né,
pra
usa
r, é
uma
outra
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rgia
, tra
z co
isas
bo
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ra g
ente
.
Con
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e en
tidad
es
Os
orix
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forç
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tos
que
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ssita
m, e
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orix
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que
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bora
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bém
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paço
s qu
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nat
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a ge
nte.
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Orix
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una,
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m
ata.
Trab
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mui
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balh
amos
com
a li
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dos
cabo
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, pre
tos-
velh
os, e
com
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de
seu
Zé ta
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cant
o, d
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gias
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quai
s tra
balh
amos
, as
qua
is o
s no
ssos
orix
ás u
sam
co
mo
elem
ento
de
traba
lho,
toda
s el
as v
êm d
a na
ture
za. E
em
gr
ande
par
te d
o re
ino
vege
tal.
Con
cepç
ão d
e en
ergi
a
-O
s or
ixás
são
forç
a da
nat
urez
a,
são
a en
ergi
a.A
gen
te s
ente
a e
nerg
ia d
o or
ixá,
a
gent
e se
nte
a en
ergi
a de
Deu
s,
mui
to m
ais
pura
.
Os
pens
amen
tos
nega
tivos
, ele
s co
nden
sam
, tod
a a
ener
gia
ela
vai f
ican
do fí
sica
. Tud
o o
que
você
col
oca
ener
gia,
se
você
fica
r ob
ceca
do p
ensa
ndo
num
a m
esm
a co
isa,
voc
ê m
esm
o co
loca
ene
rgia
naq
uela
coi
sa e
is
so te
par
alis
a. E
é is
so q
ue o
s gu
ias
vêm
e te
orie
ntam
, tra
balh
am c
om v
ocê,
é n
isso
que
pa
rte d
as e
rvas
trab
alha
m...
P
orqu
e na
real
idad
e eu
não
sou
Ju
pira
, eu
esto
u em
Jup
ira n
essa
ex
istê
ncia
. Pra
gen
te, n
ós s
omos
pa
rte d
a ce
ntel
ha d
ivin
a, to
dos
nós
som
os p
arte
da
mes
ma
cent
elha
div
ina.
Que
é D
eus,
né.
O
cris
tão.
A c
onex
ão c
om a
nat
urez
a, c
om
o no
sso
sagr
ado.
É s
im, f
orça
s na
tura
is, f
orça
s di
vina
s na
tura
is,
e qu
e es
tá p
rese
nte
em tu
do.
Ele
s tra
zem
um
a re
cone
xão,
a
reco
nexã
o, a
reca
rga,
reca
rreg
a m
uito
a e
nerg
ia, é
um
pon
to
natu
ral d
e en
ergi
a.
Nós
trab
alha
mos
esp
iritu
alm
ente
pr
a de
scar
rega
r, en
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zar.
Nós
pr
ecis
amos
de
árvo
re. S
e vo
cê v
ir pa
rada
um
a pe
ssoa
num
a ár
vore
, nã
o é
porq
ue é
louc
ura.
É p
orqu
e al
i ren
ova
a en
ergi
a. V
ocê
põe
a m
ão n
a ár
vore
, voc
ê se
nte,
o
puls
ar, o
retir
ar d
aqui
lo q
ue v
ocê
traba
lhou
com
o p
acie
nte
e re
cebe
nov
amen
te d
o so
lo, q
ue é
a
terr
a, a
sus
tent
ação
no
vam
ente
, pra
dar
con
tinui
dade
no
trab
alho
.
Tudo
o q
ue é
nat
ural
, tud
o o
que
é da
nat
urez
a pr
a ge
nte
é de
ex
trem
a im
portâ
ncia
. Que
as
ener
gias
as
quai
s tra
balh
amos
, as
qua
is o
s no
ssos
orix
ás u
sam
co
mo
elem
ento
de
traba
lho,
toda
s el
as v
êm d
a na
ture
za. E
em
gr
ande
par
te d
o re
ino
vege
tal.
Rel
ação
indi
vídu
o/re
ligiã
o
Freq
uent
ava
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entro
, um
te
rrei
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ue fr
eque
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édiu
m e
um
dos
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cipa
is
orga
niza
dore
s do
terr
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que
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quen
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coo
rden
a, lo
caliz
ado
na Z
ona
Sul
de
São
Pau
lo. E
le
resi
de e
m It
apev
i. S
eu te
rrei
ro
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enta
o e
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San
tuár
io
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elo
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os u
ma
vez
por a
no,
para
cel
ebra
ções
de
fim d
e an
o.
Raf
ael t
ambé
m é
resp
onsá
vel p
or
min
istra
r cur
sos
de u
mba
nda
para
a c
omun
idad
e ex
tern
a e
sobr
e us
o de
pla
ntas
no
cont
exto
re
ligio
so o
u te
rapê
utic
o.
Eu
sou
umba
ndis
ta v
ai fa
zer 1
8 an
os. E
u tra
balh
ava
num
tem
plo
aqui
em
baix
o na
rua
Bot
uroc
a,
que
fech
ou. F
ique
i lá
por v
olta
de
7, 8
ano
s. E
nes
se m
eio
tem
po lá
fe
chou
e a
í a g
ente
que
ria u
m
luga
r pra
ir tr
abal
har,
ou to
mar
um
pas
se, s
eja
lá o
que
for.
E a
ge
nte
já c
onhe
cia
o S
antu
ário
po
rque
nós
íam
os c
om o
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ro
tem
po p
ra lá
um
a ve
z po
r mês
pr
a fa
zer o
fere
nda,
trab
alho
na
natu
reza
. E a
í fic
amos
2 a
nos
lá,
as p
esso
as fo
ram
che
gand
o, e
de
repe
nte
a ge
nte
tava
num
gru
po
gran
de. E
aí a
brim
os a
qui,
e va
i fa
zer a
gora
dia
11
de o
utub
ro v
ai
faze
r 9 a
nos
que
esta
mos
com
es
se te
mpl
o ab
erto
. Há
uns
15
anos
vou
no
San
tuár
io m
ais
ou
men
os.
Eu
sou
umba
ndis
ta d
esde
que
na
sci.
Meu
pai
era
pai
-de-
sant
o,
min
ha v
ó er
a m
ãe-d
e-sa
nto.
M
inha
bis
avó
era
negr
a de
se
nzal
a. E
o m
eu b
isav
ô el
e er
a ín
dio,
de
tribo
mes
mo.
E a
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pa
ssan
do d
e pa
i pra
filh
o, q
uand
o eu
era
ado
lesc
ente
meu
pai
fe
chou
, não
ass
umiu
o te
rrei
ro
que
era
pra
assu
mir.
E e
le, c
omo
a ge
nte
fala
, fez
leva
nte.
Nós
som
os u
m te
rrei
ro d
e um
band
a, e
sse
terr
eiro
exi
ste
há
10 a
nos
ofic
ialm
ente
. Ele
exi
ste
há u
m p
ouco
mai
s. E
u so
u um
band
ista
há
33 a
nos,
des
de
que
nasc
i. V
im d
e ou
tro te
rrei
ro, o
E
verto
n qu
e é
o sa
cerd
ote
cent
ral,
eu s
ou a
sac
erdo
tisa,
a
gent
e ch
ama
de m
ãe-p
eque
na. E
o
terr
eiro
exi
ste
há 1
0 an
os. A
s en
tidad
es a
qui a
s bá
sica
s a
gent
e te
m c
omo
base
a u
mba
nda
de
raiz
, um
band
a tra
dici
onal
. C
aboc
lo, p
reto
-vel
ho, q
ue s
ão a
s no
ssas
bas
es. M
as tr
abal
ham
os
com
bai
ano,
boi
adei
ro, c
om
mar
inhe
iro, c
igan
o, e
xu, e
xu é
m
uito
pre
sent
e aq
ui ta
mbé
m.
Est
ou n
a um
band
a de
sde
os 1
3 an
os, e
stou
com
55.
Tra
balh
o es
pirit
ualm
ente
nós
tem
os n
osso
es
paço
, aqu
i [na
resi
dênc
ia] e
u fa
ço c
onsu
lta e
spiri
tual
. Lá
no
terr
eiro
[no
San
tuár
io] a
gen
te fa
z os
trab
alho
s. J
á há
mai
s de
35
anos
. Ten
ho a
um
band
a co
mo
relig
ião.
Sou
a b
abá
do te
rrei
ro.
Um
a ve
z po
r ano
. Vie
mos
hoj
e po
rque
tính
amos
que
faze
r al
gum
as o
brig
açõe
s e
batiz
ar o
s no
vos
filho
s no
vos
da c
asa.
Nós
te
mos
um
terr
eiro
na
zona
nor
te
tam
bém
, ond
e fre
quen
tam
os.
Cul
tua
as s
ete
linha
s. O
s or
ixás
nó
s cu
ltuam
os O
xalá
, Oxu
m,
Ians
ã, X
angô
, Ogu
m, N
anã,
O
balu
aiê,
Oxó
ssi,
Iem
anjá
... A
s se
te li
nhas
.
Não
, a g
ente
não
tem
terr
eiro
. A
gent
e pr
ocur
a tra
balh
ar a
mai
oria
da
s ve
zes
aqui
mes
mo.
Eu
já ti
ve
três
terr
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s, m
as c
om o
utra
s pe
ssoa
s, e
não
deu
cer
to,
ente
ndeu
? A
gora
qua
ndo
tem
tra
balh
o gr
ande
a g
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faz
aqui
.
Rel
ação
ent
idad
e/na
ture
za
A m
ata
é ob
rigat
oria
men
te d
e O
xóss
i. O
u de
Oss
ain
se v
ocê
for
fala
r no
cand
ombl
é. A
mat
a to
da
Oxó
ssi,
as e
rvas
, Oss
ain.
Só
que
Oss
ain
a ge
nte
sabe
que
ele
tá
lá. N
ão d
á pr
a fa
lar o
nom
e de
to
dos
os o
rixás
, e n
em s
empr
e tra
balh
ar d
entro
de
todo
s os
or
ixás
, mas
ele
tá lá
.
A g
ente
nas
ce d
e um
cab
oclo
. A
prim
eira
ent
idad
e qu
e ap
arec
e em
Ter
ra e
fala
: “va
mos
fund
ar a
re
ligiã
o de
um
band
a” é
um
ca
bocl
o. N
a ve
rdad
e, q
uem
teve
um
a vi
dênc
ia n
a ho
ra v
iu q
ue e
le
tinha
sid
o um
pad
re n
a ou
tra v
ida,
m
as e
le s
e m
ostra
pra
gen
te
com
o um
cab
oclo
, o c
aboc
lo d
as
sete
enc
ruzi
lhad
as –
voc
ê já
dev
e te
r est
udad
o m
inim
amen
te s
obre
is
so –
com
o é
um c
aboc
lo, e
le
traz
essa
forç
a da
s m
atas
. Os
cabo
clos
. Boi
adei
ro...
Boi
adei
ro
gera
lmen
te é
no
Cer
rado
, né.
M
as q
uem
usa
m e
rvas
no
seu
traba
lho,
todo
s. A
té E
xu tr
abal
ha
com
erv
as. T
odos
, tod
o pa
nteã
o de
esp
írito
s se
usa
da
ener
gia
do
min
eral
, da
erva
, do
que
a ge
nte
tem
na
natu
reza
em
ben
efíc
io
hum
ano.
Cab
oclo
, sem
dúv
ida.
Sou
su
spei
ta e
m fa
lar,
porq
ue g
raça
s a
Deu
s po
rque
min
has
entid
ades
, pr
atic
amen
te to
das
traba
lham
co
m e
las.
Tod
as tr
abal
ham
na
mat
a. P
osso
diz
er to
das,
tira
ndo
mar
inhe
iro, q
ue n
ão te
m li
gaçã
o co
m a
s er
vas,
com
a m
ata,
o
rest
ante
todo
s.
Pra
não
dei
xar a
des
ejar
. Que
ta
lvez
nós
não
tenh
amos
co
nhec
imen
to, m
as n
a lin
ha
espi
ritua
l tem
fund
amen
to.
Ela
repr
esen
ta a
té O
xóss
i nas
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atas
. Os
orix
ás d
as m
atas
. E
ntão
, ass
im, a
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a é
a co
isa
mai
s lin
da d
o m
undo
que
Deu
s po
de p
or. E
as
mat
as e
las
serv
em ta
nto
pra
gent
e to
mar
ba
nho
quan
to p
ra c
urar
.
Rel
ação
indi
vídu
o/Sa
ntuá
rio
Freq
uênc
ia h
á m
ais
de 2
0 an
os.
Vai
lá in
divi
dual
men
te, n
ão
poss
uem
um
terr
eiro
. A
ntig
amen
te, o
ace
sso
era
difíc
il,
pois
a m
ata
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fech
ada,
um
a pe
drei
ra. Í
amos
na
conf
ianç
a do
s or
ixás
. Hoj
e há
est
rutu
ra,
segu
ranç
a, e
spaç
o. V
amos
às
veze
s.
A g
ente
[ter
reiro
] vai
lá u
ma
vez
por a
no. T
raba
lham
os o
ano
todo
aq
ui n
o te
rrei
ro, e
lá a
gen
te fa
z um
gra
nde
agra
deci
men
to p
ra
toda
s as
ent
idad
es e
orix
ás q
ue a
ge
nte
traba
lha
o an
o to
do. V
amos
no
últi
mo
final
de
sem
ana
de
nove
mbr
o. V
amos
há
uns
10
anos
, sem
pre
na m
esm
a te
nda.
Tem
a p
edre
ira, a
mat
a, a
ca
choe
ira.
Lá p
ra c
ima
onde
tem
a
cach
oeira
, tem
um
out
ro
espa
ço, n
ão s
ei s
e tá
abe
rto
agor
a, m
as a
ntig
amen
te é
abe
rto.
Ent
ão, n
ossa
, a m
udan
ça é
fa
ntás
tica.
Ele
tem
um
m
inho
cário
, ele
reap
rove
ita fr
utos
e
tudo
que
a g
ente
usa
pro
pr
óprio
esp
aço.
É fa
ntás
tico
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e el
e fe
z al
i. E
fora
que
o
San
tuár
io é
o lu
gar a
dequ
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para
que
a g
ente
faça
ess
e tip
o de
coi
sa. E
ntão
ain
da b
em q
ue a
ge
nte
o es
paço
com
o o
San
tuár
io
do P
ai R
onal
do p
ra p
oder
aco
lher
ta
nta
gent
e. E
ele
reap
rove
ita
mui
ta c
oisa
, né.
Vou
de
três
a qu
atro
vez
es p
or
ano.
No
ano
pass
ado
ia q
uase
to
do m
ês, p
orqu
e eu
est
ava
no
barc
o do
Pai
Ron
aldo
, no
curs
o de
form
ação
sac
erdo
tal.
Ent
ão e
u ia
sem
pre,
todo
com
eço
de a
no
todo
s os
filh
os q
ue e
ntra
m n
a ca
sa tê
m q
ue p
assa
r por
um
a cr
uza.
Na
cach
oeira
, na
casa
de
Oxu
m. Q
ue O
xum
é d
ono
das
cach
oeira
s. E
ntão
a c
aboc
la
cruz
a to
do fi
lho-
de-s
anto
na
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oeira
ant
es d
e co
meç
ar o
an
o. A
ntes
de
com
eçar
os
traba
lhos
. Ent
ão to
do c
omeç
o de
an
o eu
vou
pro
San
tuár
io.
Abr
iam
a c
lare
ira e
a g
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tra
balh
ava
a no
ite, o
u du
rant
e o
dia
mes
mo.
A g
ente
sem
pre
ia,
uma
vez
por a
no n
o m
ínim
o a
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e ia
pro
San
tuár
io. E
ntão
lá é
um
a se
gura
nça
pra
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e, d
e nã
o tra
balh
ar n
a ru
a, d
e nã
o tra
zer a
s no
ssas
ofe
rend
as p
ra ru
a, e
lá é
se
guro
, tem
um
pes
soal
que
lim
pa, e
ntão
a g
ente
vai
pel
o m
enos
a c
ada
três
mes
es,
quan
do a
gen
te p
reci
sa
desc
arre
gar e
reca
rreg
ar a
s en
ergi
as ta
mbé
m.
Ó, a
cas
a te
m u
ns 2
0 an
os. A
ge
nte
deve
vir
pra
cá h
á un
s 15
an
os. O
sim
ples
fato
de
que
as
ofer
enda
s sã
o fe
itas,
são
co
loca
das
e o
pess
oal l
impa
de
pois
, rec
olhe
. A n
atur
eza
não
fica
suja
, não
fica
suj
eira
. Ele
s lim
pam
. É u
m e
spaç
o on
de s
e co
ncen
tra tu
do e
é fe
ito u
ma
limpe
za.
Tem
mui
tos
anos
, mai
s de
30
anos
, ach
o. A
qui n
ão ti
nha
tant
a te
nda,
tava
inau
gura
ndo,
as
imag
ens,
ain
da. E
u co
nheç
o o
Pai
Ron
aldo
há
mui
tos
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, qu
ando
ele
fazi
a bi
ngo,
bai
le, p
ra
bota
r aqu
ele
terr
eiro
que
ele
tem
o
pai b
ened
ito. D
e qu
inze
em
qu
inze
dia
s. U
ma
vez
por m
ês.
Dep
ende
, qua
ndo
tem
fest
a de
or
ixá
a ge
nte
vem
. Mas
é p
orqu
e é
difíc
il, n
em to
do m
undo
co
nseg
ue, n
em s
empr
e te
m
cond
içõe
s.
Rel
ação
in
diví
duo/
relig
ião/
soci
edad
e
Fico
rece
osa
de a
cend
er v
ela
em
cem
itério
. E ta
mbé
m é
pro
ibid
o,
ning
uém
pre
cisa
fica
r co
mpa
rtilh
ando
, é c
ompl
icad
o.
Voc
ê pa
ssa
dois
qua
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es
daqu
i tem
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rega
. E a
li fic
a, te
m
anim
al, t
em c
omid
a qu
e de
terio
ra,
as p
esso
as p
assa
m e
fica
m
vend
o. É
um
resp
eito
por
que
foi
feita
um
a en
trega
ali
pra
um
orix
á. M
as te
m q
ue s
er n
um lu
gar
espe
cífic
o.
O c
ando
mbl
é ai
nda
tem
mui
to
diss
o, a
s ro
ças.
Mas
até
por
ser
es
cond
ido
ning
uém
sab
ia d
isso
há
50,
60
anos
atrá
s. T
ambé
m é
co
mpl
icad
a po
r con
ta d
a in
tole
rânc
ia re
ligio
sa d
e ho
je e
m
dia,
né.
Mui
to p
or c
ausa
dos
m
aus
umba
ndis
tas;
eu
não
poss
o di
zer q
ue e
sses
des
pach
os n
o m
eio
da ru
a, e
sses
trab
alho
s no
m
eio
da ru
a de
nigr
em d
emai
s, e
su
jam
até
os
noss
os p
onto
s de
fo
rça
que
seria
m u
ma
praç
a, m
as
não
tem
esp
aço
assi
m fá
cil p
ra
você
faze
r um
trab
alho
.
Ant
igam
ente
, se
fazi
a m
uito
of
eren
das
nas
ruas
e ta
l. M
as
com
o te
mpo
a g
ente
vem
to
man
do c
onsc
iênc
ia e
coló
gica
, né
, e a
í pel
os te
mpo
s qu
e a
gent
e vi
ve d
e in
segu
ranç
a ta
mbé
m.
Naq
uele
tem
po, l
á em
190
8, n
ão
se ti
nha
med
icaç
ão, n
ão s
e tin
ha
assi
stên
cia
méd
ica
com
o se
tem
ho
je. A
tecn
olog
ia n
ão ti
nha
com
o ho
je. E
ntão
, era
mui
to m
ais
fáci
l vo
cê p
egar
, abr
ir um
a ba
bosa
, pe
gar a
quel
a ba
ba, m
istu
rar u
m
pouc
o co
m u
ma
outra
erv
a e
pass
ar n
um p
é di
abét
ico,
né?
E
nten
de?
Hoj
e, a
gen
te n
ão u
sa
mai
s ta
nto
com
o m
edic
ina
com
o er
a us
ado
ante
s. A
ntes
era
mui
to
mai
s us
ado
com
o m
edic
ina.
Hoj
e a
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e us
a m
uito
mai
s no
pad
rão
ener
gétic
o. Is
so fa
z un
s 14
ano
s.
Sem
inco
mod
ar n
ingu
ém,
ning
uém
é o
brig
ado,
por
que
eu
sou
umba
ndis
ta, a
ouv
ir o
som
do
atab
aque
. Car
ro p
ra p
arar
; é u
m
sufo
co, a
gen
te q
ue m
ora
na
cida
de. N
ós tr
abal
ham
os n
uma
relig
ião
que
não
é in
com
odar
, e
sim
aco
mod
ar to
dos.
Aco
lher
. E
ntão
lá n
o S
antu
ário
tem
os e
sse
espa
ço q
ue te
m e
stac
iona
men
to,
tem
um
a co
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idad
e ta
mbé
m, e
a
segu
ranç
a. P
ra q
ue p
ossa
mos
fa
zer o
s no
ssos
trab
alho
s ga
rant
indo
tam
bém
a s
egur
ança
de
todo
s.
E a
qui n
o S
antu
ário
é o
luga
r pra
vo
cê re
alm
ente
pra
faze
r as
ofer
enda
s, n
ão fa
zer e
m q
ualq
uer
luga
r, em
qua
lque
r esq
uina
, qu
alqu
er ru
a, p
ra s
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o
ambi
ente
. A g
ente
faz
aqui
m
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o qu
e aq
ui já
ele
s pe
gam
, jo
gam
fora
, e s
abem
a fi
nalid
ade
das
cois
as.
Rel
ação
indi
vídu
o/na
ture
za
Aqu
i a q
uest
ão d
a pr
eser
vaçã
o é
uma
gran
de b
riga.
Ant
es e
ra
norm
al, p
or e
xem
plo,
um
a en
tidad
e pe
dir p
ra fa
zer u
m
desp
acho
des
se o
u um
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eren
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em c
ampo
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to, n
um c
emité
rio,
ou n
uma
via.
.. H
oje
em d
ia a
inda
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m –
eu
não
poss
o fa
lar q
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ão
tem
– m
as a
gen
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as a
ge
nte
tent
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máx
imo
faze
r es
sa...
Ess
a lim
peza
, né.
Não
su
jar p
ra n
ão te
r que
lim
par;
mai
s ou
men
os is
so. E
ntão
a g
ente
te
nta,
den
tro d
e um
a ev
oluç
ão –
qu
e eu
ach
o qu
e a
gent
e tá
ev
olui
ndo
dent
ro d
isso
, não
é fá
cil
– vo
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lar p
ra u
m c
aboc
lo q
ue
tem
o a
rqué
tipo
do Ín
dio
que
traba
lhav
a na
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a, q
ue v
ocê
não
pode
usa
r a m
ata
pra
faze
r o q
ue
ele
fazi
a, é
...
A g
ente
par
te d
o pr
incí
pio
que
a na
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za é
um
pon
to d
e fo
rça
dos
orix
ás q
ue s
ão e
nerg
ias
de D
eus,
nã
o fa
z se
ntid
o a
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e de
pred
ar
tudo
e s
ujar
tudo
, e c
orre
risc
o de
bo
tar f
ogo
na m
ata.
Ent
ão é
mui
to
bom
que
a g
ente
tenh
a um
luga
r es
pecí
fico
pra
faze
r os
noss
os
traba
lhos
relig
ioso
s. E
voc
ê fa
z co
m tr
anqu
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de. T
ranq
uilid
ade
no s
entid
o de
seg
uran
ça e
ta
mbé
m v
ocê
sabe
que
tá
ajud
ando
a p
rese
rvar
. Ent
ão tu
do
que
a ge
nte
faz,
pel
o m
enos
nós
: a
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e al
uga
um e
spaç
o lá
no
San
tuár
io. A
mes
ma
cois
a qu
ando
a g
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vai
pra
pra
ia.
Qua
ndo
a ge
nte
vai f
azer
trab
alho
de
fina
l de
ano,
a g
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dei
xa a
pr
aia
do je
ito q
ue a
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te a
chou
. M
uita
s ve
zes
a ge
nte
reco
lhe
quan
do c
hega
. A g
ente
lim
pa o
es
paço
pra
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te fi
car.
Suj
eira
qu
e ou
tras
pess
oas
deix
aram
.
E a
Ter
ra tá
em
col
apso
. Se
a ge
nte
cuid
ar d
ela,
a g
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vai
se
lasc
ar. A
gen
te ia
pra
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a, n
é. Ia
pr
o m
eio
da m
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faze
r tud
o,
reco
lhia
tudo
e d
epoi
s ia
em
bora
. P
ra n
ão d
eixa
r suj
eira
no
cam
po
sant
o. P
orqu
e vo
u te
fala
r um
a co
isa.
Que
m te
fala
r que
é
umba
ndis
ta, m
as fo
r no
mei
o da
m
ata
larg
ar [i
naud
ível
] aqu
ela
suje
ira lá
, ela
não
é.
Que
nem
árv
ores
, a g
ente
m
esm
o qu
ando
vai
trab
alha
r nas
m
atas
lá p
erto
de
casa
, eu
falo
“g
ente
, não
dei
xa v
ela
aces
a”.
Por
que
pode
peg
ar fo
go n
a m
ata.
A
inda
mai
s ag
ora
que
é te
mpo
se
co. P
orqu
e aq
ui a
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te te
m
que
pres
erva
r a n
atur
eza.
Aqu
ilo
lá fa
z pa
rte n
ão s
ó da
gen
te, m
as
das
outra
s cr
ianç
as q
ue tã
o vi
ndo.
Tem
, tem
as
mat
as lá
.
Rel
ação
re
ligiã
o/ci
dade
/nat
urez
a
O e
spaç
o da
cid
ade
é di
fícil
de
atin
gir.
Não
tem
aqu
ela
mes
ma
ener
gia
que
um e
spaç
o na
tura
l.
O a
umen
to d
a se
lva
de p
edra
é
mui
to c
ompl
icad
o. P
or e
xem
plo,
an
tigam
ente
um
terr
eiro
era
feito
nu
m g
rand
e qu
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l. H
oje
em d
ia
não
tem
. Nós
tem
os a
qui n
o fu
ndo
algu
mas
erv
as, m
as é
m
uito
com
plic
ado.
Ent
ão, n
ão te
m m
ais
terr
eiro
de
chão
bat
ido,
ent
ão a
gen
te te
m
que
se a
dapt
ar c
om is
so, q
ue
acon
tece
u co
m a
s er
vas
tam
bém
. E
ra a
ssim
. Era
mai
s fá
cil,
a ge
nte
acha
va e
rva
em to
do lu
gar.
Todo
lu
gar t
inha
terr
eno
bald
io, m
as
era
mui
to d
ifíci
l o S
antu
ário
em
si
o tra
jeto
pra
lá. P
ra c
hega
r lá
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mui
to d
ifíci
l. E
hoj
e a
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e te
m
estra
da, t
em á
gua
enca
nada
. Eu
acho
que
ess
a re
laçã
o co
m o
ur
bano
, ess
a ad
apta
ção
pro
urba
no e
do
natu
ral,
que
é im
porta
nte.
Sem
dúv
ida
faci
litou
em
alg
umas
coi
sas,
difi
culto
u em
ou
tras.
É d
ifere
nte
de v
ocê
sair
na m
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do la
do d
e lá
, col
ocar
sua
of
eren
da e
vai
fica
r aqu
ilo lá
. M
uito
s m
ater
iais
não
são
mui
tas
veze
s de
grad
ávei
s, e
vai
pol
uir a
na
ture
za. N
ão é
a in
tenç
ão.
Mas
é c
ompl
icad
o, p
orqu
e a
mai
oria
das
mat
as, v
ocê
sabe
qu
e ho
je e
m d
ia é
per
igos
o, n
é.
Ent
ão o
u a
gent
e va
i de
man
hã,
até
o ho
rário
do
alm
oço
a ge
nte
traba
lha
e vo
lta, q
ue n
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rte d
a ta
rde
é m
eio
perig
oso.
Por
que
a ge
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corr
e ris
co ta
mbé
m. A
qui
não.
Voc
ê po
de tr
abal
har
tranq
uilo
que
voc
ê nã
o co
rre
risco
de
alg
um b
andi
do s
air c
orre
ndo
no m
eio
do m
ato
um a
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do
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lá, o
u qu
alqu
er o
utra
coi
sa.
Ent
ão a
gen
te ja
mai
s va
i pôr
a
vida
dos
dem
ais
em ri
sco.
E
nten
deu?
O q
ue a
gen
te n
ão
quer
pra
gen
te a
gen
te n
ão q
uer
pros
dem
ais.
Rel
ação
re
ligiã
o/te
rrei
ro/n
atur
eza
Qua
ndo
os o
rixás
vão
peg
ar
erva
s, e
les
pede
m li
cenç
a. É
m
uito
bon
ito. T
udo
eles
ped
em
licen
ça p
ra ti
rar,
nunc
a pr
o de
sper
díci
o.
Por
exe
mpl
o, n
ós a
qui s
omos
um
pr
édio
, ond
e a
gent
e te
nta
min
ima,
diri
a at
é po
rcam
ente
, ter
al
gum
a co
isa
[nat
ural
] aqu
i per
to.
A á
rvor
e qu
e te
m n
a fre
nte
da
noss
a ca
sa fo
mos
nós
que
pl
anta
mos
a p
edid
o de
um
a en
tidad
e.
A g
ente
resp
eita
a n
atur
eza
porq
ue n
ós e
nten
dem
os o
s or
ixás
co
mo
man
ifest
ação
da
natu
reza
.
Ach
o qu
e pr
a el
a pe
rpet
uar,
ela
prec
isa
dess
a ev
oluç
ão. M
esm
o qu
e a
gent
e nã
o en
cont
re ta
ntos
po
ntos
. Mas
pre
serv
ando
ess
es
pont
os q
ue e
xist
em, p
rese
rvan
do
o qu
e a
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e te
m, o
que
a g
ente
en
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ra. P
or is
so q
ue a
um
band
a é
tão
ligad
a à
cons
erva
ção
da n
atur
eza.
Eu
sou
chat
a pr
a ca
ram
ba c
om re
laçã
o a
isso
... E
u ac
ho q
ue s
im, a
gen
te
tem
que
pre
serv
ar, n
ão jo
gar l
ixo
no c
hão,
sab
e? E
sse
tipo
de
cois
a, d
e pe
quen
os h
ábito
s...
“Ah,
m
as v
ocê
é um
a em
um
milh
ão”.
OK
, mas
se
eu fi
zer,
eu c
omo
umba
ndis
ta fi
zer,
eu v
ou s
er
form
ador
a de
opi
nião
, ent
ão
acab
a fo
rman
do o
utra
s op
iniõ
es e
is
so fu
ncio
na d
e ve
rdad
e.
Pra
con
serv
ação
. Na
linha
m
édic
a, tr
abal
ham
os c
om e
rvas
. E
ntão
as
erva
s é
mui
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nece
ssár
io, c
omo
os c
rista
is. P
ra
nós,
term
os u
m e
spaç
o de
ntro
da
mat
a, n
ós p
rese
rva
tudo
.
Rel
ação
indi
vídu
o/er
vas
Eu
conh
eço
as p
lant
as. P
lant
as
med
icin
ais,
por
que
venh
o de
um
a he
ranç
a qu
e se
usa
va m
uito
pl
anta
s, tr
abal
hava
com
pla
ntas
, m
inha
vó
traba
lhav
a m
uito
com
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anta
s.
Se
você
for s
enta
r com
igo,
eu
vou
ter b
anho
pre
para
do já
, co
nser
vado
em
álc
ool,
pra
faci
litar
, sab
e? P
ó qu
e dá
pra
ut
iliza
r qua
ndo
você
tá a
li na
ra
pide
z...
Tudo
pra
faci
litar
. E o
S
antu
ário
vem
isso
tam
bém
.
Rel
ação
ent
idad
es/e
rvas
Os
cabo
clos
, os
orix
ás te
m m
ais
sabe
doria
, ele
s pe
gam
um
mat
o qu
e eu
nun
ca v
i. E
u nã
o co
nheç
o.
Mas
o o
rixá
conh
ece.
Ele
tem
a
sabe
doria
ade
quad
a pr
a pe
gar
qual
quer
pla
ntin
ha ra
stei
ra q
ue
ele
tem
um
sig
nific
ado.
De
cura
ca
rnal
, esp
iritu
al, a
stra
l.
E m
uito
pre
sent
e co
m a
s er
vas
tam
bém
. Tra
balh
a m
uito
com
as
erva
s. T
odos
ele
s tra
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am. P
ra
gent
e é
fund
amen
tal,
pra
nós
com
o m
édiu
ns, c
omo
traba
lhad
ores
de
umba
nda
é fu
ndam
enta
l o u
so d
as e
rvas
, e
pra
eles
com
o fe
rram
enta
de
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lho.
Rel
ação
indi
vídu
o e
dico
tom
ia
cida
de/n
atur
eza
Não
con
heço
out
ros
espa
ços
de
mat
a, m
as ta
mbé
m p
orqu
e nó
s nu
nca
proc
uram
os.
Hoj
e em
dia
, por
ser
difí
cil d
e ac
har n
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za, a
gen
te u
sa
mui
ta e
rva
seca
. Prim
eiro
, sai
ba a
pr
oced
ênci
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igua
l qua
lque
r co
isa
que
eu v
ou c
oloc
ar c
omo
um c
rem
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Hoj
e em
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exi
stem
vár
ios.
...
Vár
ios.
Eu
conh
eço
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eque
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San
tuár
io. T
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que
eu
não
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ncio
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raba
lho
lá, m
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ão te
m o
m
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incí
pio
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onal
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Tem
um
luga
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Naz
aré
Pau
lista
. Ent
ão h
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ia já
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s S
antu
ário
s. A
pesa
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nte
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conh
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os
outro
s to
dos,
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pel
o qu
e a
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e ou
viu
fala
r é d
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esm
o je
ito.
Alg
umas
são
pro
prie
dade
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rticu
lare
s e
eles
usa
m is
so p
ra
reve
rter,
pra
cons
erva
r os
espa
ços.
Ant
igam
ente
era
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nseg
uir e
rvas
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m q
uint
al. H
oje
em d
ia já
nã
o te
m m
ais.
Voc
ê te
m q
ue ir
em
mer
cado
, tem
que
com
prar
na
band
ejin
ha o
u em
maç
o fe
chad
o.
Ent
ão q
uand
o a
gent
e pe
ga n
o m
erca
do, a
gen
te s
abe
que
é um
a co
isa
pelo
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os c
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lariz
ada.
Não
é u
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e tá
em
bei
ra d
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trada
.
Nós
faze
mos
mag
ia c
om
umba
nda,
nós
tem
os a
relig
ião
umba
nda
é um
a re
ligiã
o m
uito
rit
ualís
tica,
mag
ístic
a, e
que
é
uma
relig
ião
que
se to
rnou
hoj
e ur
bana
.
Não
, exi
stem
out
ros
luga
res,
m
as, a
ssim
, com
a e
stru
tura
or
gani
zada
é e
sse
aqui
. Lá
na
noss
a re
gião
tem
cac
hoei
ra
tam
bém
, mas
é m
enos
or
gani
zado
, bem
men
os.
Org
aniz
ação
, seg
uran
ça.
Ace
sso
às e
rvas
Con
segu
imos
no
boca
-a-b
oca.
Q
uand
o é
uma
plan
ta m
ais
difíc
il,
pega
na
mat
a qu
e fic
a no
ca
min
ho d
e vo
lta d
o S
antu
ário
. S
e nã
o, a
gen
te p
ede
pro
pess
oal
que
a ge
nte
conh
ece.
Em
feira
s é
mai
s di
fícil.
Hoj
e em
dia
tem
m
uito
cas
a de
erv
as. M
as
pess
oalm
ente
não
con
fio m
uito
. P
orqu
evoc
ê po
r exe
mpl
o co
mpr
a lá
um
saq
uinh
o de
set
e er
vas.
Q
uem
gar
ante
que
aqu
ilo a
li va
i te
r as
erva
s lá
? E
ntão
a g
ente
pr
efer
e, m
esm
o qu
e se
ja u
m
pouc
o di
fícil,
a p
lant
a m
esm
o. S
e m
inha
mãe
não
sab
e,
perg
unta
mos
pro
meu
tio,
se
ele
não
sabe
per
gunt
amos
pra
out
ra
tia. P
rocu
ram
os fa
zer u
m b
em-
bola
do p
ra c
onse
guir
a pl
anta
m
esm
o. N
o fim
dá
tudo
cer
to.
Eu
parti
cula
rmen
te te
nho
uma
senh
ora
que
traba
lha
com
erv
as.
Ent
ão e
la tr
az p
ra m
im. A
qui p
or
exem
plo
no te
rrei
ro a
gen
te
cham
a el
a de
“tra
fican
te”
[Ris
adas
]. P
orqu
e eu
peç
o as
er
vas,
ela
que
arr
uma
pra
todo
m
undo
. A p
rópr
ia c
asa
de
tem
pero
tem
bas
tant
e co
isa.
Mas
sã
o no
rmal
men
te e
ssas
cas
as d
e pr
odut
os n
atur
ais
que
tem
tudo
qu
e pr
ocur
a. E
o q
ue n
ão te
m
você
vai
na
feira
... C
EA
SA
. Ou
um c
onta
to q
ue v
ocê
vai a
char
. E
você
vai
pla
ntan
do n
a su
a ca
sa.
Eu
tenh
o um
a ho
rta p
ra is
so. A
s er
vas
que
eu m
ais
uso
eu q
ue
cuid
o, e
u qu
e fa
ço, e
u qu
e pl
anto
. P
ra q
ue e
u te
nha
isso
mai
s fá
cil
pra
man
usea
r ela
s. M
as n
em
todo
mun
do te
m e
sse
terr
eno
em
casa
que
con
segu
e pr
a fa
zer
isso
.
Ain
da b
em, h
oje
em d
ia, é
mui
to
fáci
l voc
ê ac
har a
s er
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Tod
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sa d
e m
acum
beiro
sem
pre
tem
um
a er
vinh
a pl
anta
da, n
é. A
qui a
ge
nte
tem
um
as e
rvas
pla
ntad
as.
A g
ente
tom
a m
uito
cui
dado
ond
e a
gent
e va
i com
prar
as
erva
s,
erva
fres
ca, p
rinci
palm
ente
erv
a se
ca. V
ocê
vê, v
ocê
pass
a em
P
inhe
iros
você
vê
um m
onte
de
luga
r ven
dend
o aq
uela
s ár
vore
s to
rran
do n
o so
l, aí
peg
a ch
uva.
.. Is
so n
ão é
lega
l. E
ntão
as
fresc
as, t
em d
uas
méd
iuns
aqu
i qu
e vã
o na
feira
. Um
a m
ulhe
r que
pl
anta
e c
olhe
, tra
z su
per
fresq
uinh
a...
Tem
os o
mer
cado
da
Lap
a ta
mbé
m, q
ue te
m d
uas
banc
as q
ue fo
rnec
em...
A g
ente
te
m a
lgun
s tra
balh
ador
es q
ue
tem
erv
a em
bas
tant
e qu
antid
ade
em c
asa,
que
traz
. Mas
no
rmal
men
te q
uand
o a
gent
e va
i co
mpr
ar s
eco,
a g
ente
pro
cura
co
mpr
ar, p
or e
xem
plo,
alg
umas
eu
com
pro
no M
undo
Ver
de. A
ge
nte
tem
um
dis
tribu
idor
que
fica
lá
no
Bel
enzi
nho
que
a ge
nte
com
pra.
..
Cad
a um
tem
um
pou
co d
e er
va
em c
asa.
Que
nem
ess
a do
na
Fátim
a, e
la te
m u
m b
orbo
, m
enin
o, q
ue é
mai
or q
ue e
u. É
um
a ár
vore
. Ela
tem
mui
ta p
lant
a.
Eu
não
tenh
o pl
anta
. Por
que
aqui
a
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e nã
o te
m q
uint
al. S
eria
um
so
nho
de c
onsu
mo
a ge
nte
esta
r nu
ma
casa
que
tive
sse
quin
tal e
a
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e co
nseg
uiss
e te
r as
noss
as
erva
s aq
ui. M
as é
impo
ssív
el.
Ent
ão, a
lgum
as e
u co
nsig
o na
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ata
mes
mo.
Eu
sou
priv
ilegi
ada
porq
ue e
u na
sci e
me
crie
i aqu
i nu
m b
airr
o pr
óxim
o, q
ue a
inda
te
m m
uito
veg
etal
, que
é u
m
peda
ço d
e M
ata
Atlâ
ntic
a. E
ntão
eu
enc
ontro
mui
ta c
oisa
na
mat
a.
Eu
cres
ci lá
, ent
ão p
ra m
im é
m
uito
fam
iliar
. Eu
cons
igo
mui
ta
cois
a pr
a tra
balh
ar n
a es
teira
. M
as p
ra c
ultiv
o, te
nho
que
com
prar
. Ent
ão e
u co
mpr
o m
uda,
te
m u
m a
quár
io a
qui p
erto
de
Itaqu
era.
Exi
ste
tam
bém
um
a re
laçã
o de
am
izad
e e
conf
ianç
a ne
las.
Ent
ão e
u co
mpr
o m
uito
, ex
iste
m o
s m
atei
ros
que
traze
m.
Na
25 d
e M
arço
tem
um
in
terp
osto
, per
to d
o M
erca
dão,
el
es tr
azem
mui
ta c
oisa
. Ent
ão lá
é
um b
om lu
gar p
ra s
e co
mpr
ar
erva
s em
qua
ntid
ade.
E a
qui e
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São
Pau
lo, S
anto
And
ré e
São
B
erna
rdo,
ele
s tê
m, s
abe
aque
las
área
s de
ant
ena
de tr
ansm
issã
o,
aque
las
torr
es?
Ele
s cu
ltiva
m
mui
to a
li, e
les
culti
vam
hor
taliç
as,
e ou
tras
erva
s. Q
ue é
ond
e ta
mbé
m e
u co
mpr
o pr
as e
stei
ras.
A
li o
pess
oal a
caba
m p
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ando
e
vend
endo
, doa
ndo,
ent
ão é
en
graç
ado,
mas
o p
esso
al a
qui
de b
aixo
con
segu
e fá
cil.
Tam
bém
tem
mui
to a
qui n
as
casa
s de
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as, e
tam
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um
a m
ata
aqui
per
to. E
a g
ente
se
mpr
e se
com
unic
ando
. Por
que,
a
ama
da c
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trab
alha
com
a
linha
só
de e
rvas
. Ess
a qu
e dá
o
curs
o lá
em
São
Ber
nard
o. É
, in
do p
ro S
antu
ário
, ali
tem
mui
to,
mui
to m
esm
o. H
oje
tem
, com
o an
tigam
ente
nós
atra
vess
ávam
os
pelo
tele
féric
o. A
gora
a g
ente
dá
a vo
lta. M
as a
li te
m ta
ntas
erv
as,
que
o po
vo n
em c
onhe
ce.
É fá
cil.
Um
a ou
out
ra q
ue te
m u
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pouc
o m
ais
de d
ificu
ldad
e. A
té
porq
ue, a
ssim
, as
veze
s te
m
mui
tas
que
dão
no m
eio
da m
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mes
mo.
E a
gen
te s
abe
que
hoje
se
alg
uém
peg
ar v
ocê
tiran
do
uma
plan
ta d
o m
eio
da m
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um
a pl
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nat
iva,
é c
rime
ambi
enta
l. E
ntão
a g
ente
vai
at
rás
de lu
gare
s qu
e co
mer
cial
izam
isso
, aca
ba s
endo
m
ais
difíc
il, e
voc
ê ac
aba
enco
ntra
ndo
seca
. Mas
fres
ca
real
men
te a
lgum
as s
ão m
ais
difíc
eis.
Eu
plan
to. L
á on
de m
eu p
ai m
ora,
eu
mor
o em
apa
rtam
ento
. Mas
on
de m
inha
irm
ã m
ora,
que
meu
pa
i tem
um
terr
eno
vazi
o, a
gen
te
toda
vez
que
pre
cisa
a g
ente
pl
anta
. Mas
qua
ndo
não
tem
, que
ne
m, e
ssa
cida
de...
Pra
pla
ntar
, pe
de p
ro v
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ho. S
empr
e te
m
algu
ém q
ue te
m. O
u se
não
tem
va
i a s
eca
mes
mo.
Não
, sem
pre
foi f
ácil
[par
a en
cont
rar e
rvas
]. S
empr
e te
ve.
INTERAGIR: PENSANDO A EXTENSÃO, RIO DE JANEIRO, N. 26, P. 11-33, JUL/DEZ. 2018
UM BOSQUE DE FOLHAS SAGRADAS: O SANTUÁRIO NACIONAL DA UMBANDA E O CULTO DA NATUREZA
20
Mat
eria
l Sup
lem
enta
r'U
m b
osqu
e de
folh
as s
agra
das:
o S
antu
ário
Nac
iona
l da
Um
band
a co
mo
refú
gio
ao c
ulto
sag
rado
da
natu
reza
'Ta
bela
S2.
Tab
ela
com
para
tiva
rela
cion
ando
fala
s do
s en
trev
ista
dos
à co
ncep
ção
de n
atur
eza,
ent
idad
es e
de
ener
gia,
bem
com
o re
laçã
o en
tre
o in
diví
duo,
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ntid
ade,
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antu
ário
e a
nat
urez
a. F
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: Fab
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A: P
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P: M
ãe
Jupi
ra; A
NT:
Mãe
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ônia
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Y: M
ãe S
hirle
y; R
RA
: Rob
erta
, Ant
ônia
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ai R
icar
do; D
AS:
Mãe
San
dra
e D
iego
C.
Variá
veis
FMD
RC
AM
AN
JUP
AN
TSH
YR
RA
DA
S
Con
cepç
ão d
e na
ture
za
O q
ue v
ocê
faz
na n
atur
eza
você
de
ixa
a en
ergi
a al
i. O
s el
emen
tos
natu
rais
te d
ão fo
rça.
A n
atur
eza
é o
luga
r ade
quad
o, p
ossu
i erv
as
e en
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a.
A n
atur
eza
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to d
e fo
rça.
É
terr
a de
Oxó
ssi,
de O
ssai
n.
Voc
ê es
tar p
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da
natu
reza
, on
de, a
lém
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ser n
atur
eza,
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e es
paço
tá c
onsa
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ntro
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noss
a re
ligiã
o pr
o cu
lto, t
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mui
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e, m
uito
...
Não
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tato
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l.
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onto
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ture
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qua
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sse
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e um
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aço
com
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San
tuár
io, d
e ve
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ção,
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vá
rios
pont
os d
e fo
rça
né. T
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drei
ra, a
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cac
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ão a
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nerg
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e é
mui
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elho
r. N
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fica
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ra e
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Por
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com
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guia
s. P
rimei
ra c
oisa
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peita
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ambi
ente
que
nos
sus
tent
a. A
lo
uvaç
ão q
ue fa
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os
orix
ás é
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oraç
ão d
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ture
za. T
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esse
cu
idad
o pr
a cu
idar
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natu
reza
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orqu
e el
a cu
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ente
.
Pai
Ron
aldo
fala
um
a co
isa
mui
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impo
rtant
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igo
mui
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umba
ndis
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ão p
reci
sa d
e um
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mpl
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tem
plo
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reza
, nó
s so
mos
um
tem
plo
vivo
, e e
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vi,
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rreg
uei,
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reco
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ei
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ixo
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ma
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re. A
cho
que
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ntat
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ural
, os
pon
tos
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que
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a, o
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, a c
acho
eira
. Ele
s tra
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um
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nexã
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rga,
reca
rreg
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uito
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pon
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E tu
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amos
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alha
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vas,
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ento
, te
rra,
mas
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s é
que
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am tu
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que
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balh
amos
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ão a
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a nó
s, e
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ata,
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olo,
é s
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Tudo
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ue é
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ural
, tud
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s no
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traba
lho,
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a na
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em
gr
ande
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o re
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vege
tal.
E e
u ac
ho q
ue a
impo
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tem
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r, é
uma
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rgia
, tra
z co
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bo
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ra g
ente
.
Con
cepç
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e en
tidad
es
Os
orix
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forç
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tos
que
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ssita
m, e
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s, o
orix
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bora
ndo
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paço
s qu
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urez
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nte.
Ent
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esen
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Orix
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nat
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E é
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e co
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hos,
bon
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eles
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balh
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ão o
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cabo
clo,
pre
to-v
elho
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i, ne
ssa
casa
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ra, n
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una,
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ase
todo
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gaçã
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m a
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ata.
Trab
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mui
to c
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xóss
i, tra
balh
amos
com
a li
nha
dos
cabo
clos
, pre
tos-
velh
os, e
com
a
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de
seu
Zé ta
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taçã
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Tudo
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, tud
o o
que
é da
nat
urez
a pr
a ge
nte
é de
ex
trem
a im
portâ
ncia
. Que
as
ener
gias
as
quai
s tra
balh
amos
, as
qua
is o
s no
ssos
orix
ás u
sam
co
mo
elem
ento
de
traba
lho,
toda
s el
as v
êm d
a na
ture
za. E
em
gr
ande
par
te d
o re
ino
vege
tal.
Con
cepç
ão d
e en
ergi
a
-O
s or
ixás
são
forç
a da
nat
urez
a,
são
a en
ergi
a.A
gen
te s
ente
a e
nerg
ia d
o or
ixá,
a
gent
e se
nte
a en
ergi
a de
Deu
s,
mui
to m
ais
pura
.
Os
pens
amen
tos
nega
tivos
, ele
s co
nden
sam
, tod
a a
ener
gia
ela
vai f
ican
do fí
sica
. Tud
o o
que
você
col
oca
ener
gia,
se
você
fica
r ob
ceca
do p
ensa
ndo
num
a m
esm
a co
isa,
voc
ê m
esm
o co
loca
ene
rgia
naq
uela
coi
sa e
is
so te
par
alis
a. E
é is
so q
ue o
s gu
ias
vêm
e te
orie
ntam
, tra
balh
am c
om v
ocê,
é n
isso
que
pa
rte d
as e
rvas
trab
alha
m...
P
orqu
e na
real
idad
e eu
não
sou
Ju
pira
, eu
esto
u em
Jup
ira n
essa
ex
istê
ncia
. Pra
gen
te, n
ós s
omos
pa
rte d
a ce
ntel
ha d
ivin
a, to
dos
nós
som
os p
arte
da
mes
ma
cent
elha
div
ina.
Que
é D
eus,
né.
O
cris
tão.
A c
onex
ão c
om a
nat
urez
a, c
om
o no
sso
sagr
ado.
É s
im, f
orça
s na
tura
is, f
orça
s di
vina
s na
tura
is,
e qu
e es
tá p
rese
nte
em tu
do.
Ele
s tra
zem
um
a re
cone
xão,
a
reco
nexã
o, a
reca
rga,
reca
rreg
a m
uito
a e
nerg
ia, é
um
pon
to
natu
ral d
e en
ergi
a.
Nós
trab
alha
mos
esp
iritu
alm
ente
pr
a de
scar
rega
r, en
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zar.
Nós
pr
ecis
amos
de
árvo
re. S
e vo
cê v
ir pa
rada
um
a pe
ssoa
num
a ár
vore
, nã
o é
porq
ue é
louc
ura.
É p
orqu
e al
i ren
ova
a en
ergi
a. V
ocê
põe
a m
ão n
a ár
vore
, voc
ê se
nte,
o
puls
ar, o
retir
ar d
aqui
lo q
ue v
ocê
traba
lhou
com
o p
acie
nte
e re
cebe
nov
amen
te d
o so
lo, q
ue é
a
terr
a, a
sus
tent
ação
no
vam
ente
, pra
dar
con
tinui
dade
no
trab
alho
.
Tudo
o q
ue é
nat
ural
, tud
o o
que
é da
nat
urez
a pr
a ge
nte
é de
ex
trem
a im
portâ
ncia
. Que
as
ener
gias
as
quai
s tra
balh
amos
, as
qua
is o
s no
ssos
orix
ás u
sam
co
mo
elem
ento
de
traba
lho,
toda
s el
as v
êm d
a na
ture
za. E
em
gr
ande
par
te d
o re
ino
vege
tal.
Rel
ação
indi
vídu
o/re
ligiã
o
Freq
uent
ava
um c
entro
, um
te
rrei
ro q
ue fr
eque
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a.M
édiu
m e
um
dos
prin
cipa
is
orga
niza
dore
s do
terr
eiro
que
fre
quen
ta e
coo
rden
a, lo
caliz
ado
na Z
ona
Sul
de
São
Pau
lo. E
le
resi
de e
m It
apev
i. S
eu te
rrei
ro
frequ
enta
o e
spaç
o do
San
tuár
io
por p
elo
men
os u
ma
vez
por a
no,
para
cel
ebra
ções
de
fim d
e an
o.
Raf
ael t
ambé
m é
resp
onsá
vel p
or
min
istra
r cur
sos
de u
mba
nda
para
a c
omun
idad
e ex
tern
a e
sobr
e us
o de
pla
ntas
no
cont
exto
re
ligio
so o
u te
rapê
utic
o.
Eu
sou
umba
ndis
ta v
ai fa
zer 1
8 an
os. E
u tra
balh
ava
num
tem
plo
aqui
em
baix
o na
rua
Bot
uroc
a,
que
fech
ou. F
ique
i lá
por v
olta
de
7, 8
ano
s. E
nes
se m
eio
tem
po lá
fe
chou
e a
í a g
ente
que
ria u
m
luga
r pra
ir tr
abal
har,
ou to
mar
um
pas
se, s
eja
lá o
que
for.
E a
ge
nte
já c
onhe
cia
o S
antu
ário
po
rque
nós
íam
os c
om o
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ro
tem
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ra lá
um
a ve
z po
r mês
pr
a fa
zer o
fere
nda,
trab
alho
na
natu
reza
. E a
í fic
amos
2 a
nos
lá,
as p
esso
as fo
ram
che
gand
o, e
de
repe
nte
a ge
nte
tava
num
gru
po
gran
de. E
aí a
brim
os a
qui,
e va
i fa
zer a
gora
dia
11
de o
utub
ro v
ai
faze
r 9 a
nos
que
esta
mos
com
es
se te
mpl
o ab
erto
. Há
uns
15
anos
vou
no
San
tuár
io m
ais
ou
men
os.
Eu
sou
umba
ndis
ta d
esde
que
na
sci.
Meu
pai
era
pai
-de-
sant
o,
min
ha v
ó er
a m
ãe-d
e-sa
nto.
M
inha
bis
avó
era
negr
a de
se
nzal
a. E
o m
eu b
isav
ô el
e er
a ín
dio,
de
tribo
mes
mo.
E a
í foi
pa
ssan
do d
e pa
i pra
filh
o, q
uand
o eu
era
ado
lesc
ente
meu
pai
fe
chou
, não
ass
umiu
o te
rrei
ro
que
era
pra
assu
mir.
E e
le, c
omo
a ge
nte
fala
, fez
leva
nte.
Nós
som
os u
m te
rrei
ro d
e um
band
a, e
sse
terr
eiro
exi
ste
há
10 a
nos
ofic
ialm
ente
. Ele
exi
ste
há u
m p
ouco
mai
s. E
u so
u um
band
ista
há
33 a
nos,
des
de
que
nasc
i. V
im d
e ou
tro te
rrei
ro, o
E
verto
n qu
e é
o sa
cerd
ote
cent
ral,
eu s
ou a
sac
erdo
tisa,
a
gent
e ch
ama
de m
ãe-p
eque
na. E
o
terr
eiro
exi
ste
há 1
0 an
os. A
s en
tidad
es a
qui a
s bá
sica
s a
gent
e te
m c
omo
base
a u
mba
nda
de
raiz
, um
band
a tra
dici
onal
. C
aboc
lo, p
reto
-vel
ho, q
ue s
ão a
s no
ssas
bas
es. M
as tr
abal
ham
os
com
bai
ano,
boi
adei
ro, c
om
mar
inhe
iro, c
igan
o, e
xu, e
xu é
m
uito
pre
sent
e aq
ui ta
mbé
m.
Est
ou n
a um
band
a de
sde
os 1
3 an
os, e
stou
com
55.
Tra
balh
o es
pirit
ualm
ente
nós
tem
os n
osso
es
paço
, aqu
i [na
resi
dênc
ia] e
u fa
ço c
onsu
lta e
spiri
tual
. Lá
no
terr
eiro
[no
San
tuár
io] a
gen
te fa
z os
trab
alho
s. J
á há
mai
s de
35
anos
. Ten
ho a
um
band
a co
mo
relig
ião.
Sou
a b
abá
do te
rrei
ro.
Um
a ve
z po
r ano
. Vie
mos
hoj
e po
rque
tính
amos
que
faze
r al
gum
as o
brig
açõe
s e
batiz
ar o
s no
vos
filho
s no
vos
da c
asa.
Nós
te
mos
um
terr
eiro
na
zona
nor
te
tam
bém
, ond
e fre
quen
tam
os.
Cul
tua
as s
ete
linha
s. O
s or
ixás
nó
s cu
ltuam
os O
xalá
, Oxu
m,
Ians
ã, X
angô
, Ogu
m, N
anã,
O
balu
aiê,
Oxó
ssi,
Iem
anjá
... A
s se
te li
nhas
.
Não
, a g
ente
não
tem
terr
eiro
. A
gent
e pr
ocur
a tra
balh
ar a
mai
oria
da
s ve
zes
aqui
mes
mo.
Eu
já ti
ve
três
terr
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s, m
as c
om o
utra
s pe
ssoa
s, e
não
deu
cer
to,
ente
ndeu
? A
gora
qua
ndo
tem
tra
balh
o gr
ande
a g
ente
faz
aqui
.
Rel
ação
ent
idad
e/na
ture
za
A m
ata
é ob
rigat
oria
men
te d
e O
xóss
i. O
u de
Oss
ain
se v
ocê
for
fala
r no
cand
ombl
é. A
mat
a to
da
Oxó
ssi,
as e
rvas
, Oss
ain.
Só
que
Oss
ain
a ge
nte
sabe
que
ele
tá
lá. N
ão d
á pr
a fa
lar o
nom
e de
to
dos
os o
rixás
, e n
em s
empr
e tra
balh
ar d
entro
de
todo
s os
or
ixás
, mas
ele
tá lá
.
A g
ente
nas
ce d
e um
cab
oclo
. A
prim
eira
ent
idad
e qu
e ap
arec
e em
Ter
ra e
fala
: “va
mos
fund
ar a
re
ligiã
o de
um
band
a” é
um
ca
bocl
o. N
a ve
rdad
e, q
uem
teve
um
a vi
dênc
ia n
a ho
ra v
iu q
ue e
le
tinha
sid
o um
pad
re n
a ou
tra v
ida,
m
as e
le s
e m
ostra
pra
gen
te
com
o um
cab
oclo
, o c
aboc
lo d
as
sete
enc
ruzi
lhad
as –
voc
ê já
dev
e te
r est
udad
o m
inim
amen
te s
obre
is
so –
com
o é
um c
aboc
lo, e
le
traz
essa
forç
a da
s m
atas
. Os
cabo
clos
. Boi
adei
ro...
Boi
adei
ro
gera
lmen
te é
no
Cer
rado
, né.
M
as q
uem
usa
m e
rvas
no
seu
traba
lho,
todo
s. A
té E
xu tr
abal
ha
com
erv
as. T
odos
, tod
o pa
nteã
o de
esp
írito
s se
usa
da
ener
gia
do
min
eral
, da
erva
, do
que
a ge
nte
tem
na
natu
reza
em
ben
efíc
io
hum
ano.
Cab
oclo
, sem
dúv
ida.
Sou
su
spei
ta e
m fa
lar,
porq
ue g
raça
s a
Deu
s po
rque
min
has
entid
ades
, pr
atic
amen
te to
das
traba
lham
co
m e
las.
Tod
as tr
abal
ham
na
mat
a. P
osso
diz
er to
das,
tira
ndo
mar
inhe
iro, q
ue n
ão te
m li
gaçã
o co
m a
s er
vas,
com
a m
ata,
o
rest
ante
todo
s.
Pra
não
dei
xar a
des
ejar
. Que
ta
lvez
nós
não
tenh
amos
co
nhec
imen
to, m
as n
a lin
ha
espi
ritua
l tem
fund
amen
to.
Ela
repr
esen
ta a
té O
xóss
i nas
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atas
. Os
orix
ás d
as m
atas
. E
ntão
, ass
im, a
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a é
a co
isa
mai
s lin
da d
o m
undo
que
Deu
s po
de p
or. E
as
mat
as e
las
serv
em ta
nto
pra
gent
e to
mar
ba
nho
quan
to p
ra c
urar
.
Rel
ação
indi
vídu
o/Sa
ntuá
rio
Freq
uênc
ia h
á m
ais
de 2
0 an
os.
Vai
lá in
divi
dual
men
te, n
ão
poss
uem
um
terr
eiro
. A
ntig
amen
te, o
ace
sso
era
difíc
il,
pois
a m
ata
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fech
ada,
um
a pe
drei
ra. Í
amos
na
conf
ianç
a do
s or
ixás
. Hoj
e há
est
rutu
ra,
segu
ranç
a, e
spaç
o. V
amos
às
veze
s.
A g
ente
[ter
reiro
] vai
lá u
ma
vez
por a
no. T
raba
lham
os o
ano
todo
aq
ui n
o te
rrei
ro, e
lá a
gen
te fa
z um
gra
nde
agra
deci
men
to p
ra
toda
s as
ent
idad
es e
orix
ás q
ue a
ge
nte
traba
lha
o an
o to
do. V
amos
no
últi
mo
final
de
sem
ana
de
nove
mbr
o. V
amos
há
uns
10
anos
, sem
pre
na m
esm
a te
nda.
Tem
a p
edre
ira, a
mat
a, a
ca
choe
ira.
Lá p
ra c
ima
onde
tem
a
cach
oeira
, tem
um
out
ro
espa
ço, n
ão s
ei s
e tá
abe
rto
agor
a, m
as a
ntig
amen
te é
abe
rto.
Ent
ão, n
ossa
, a m
udan
ça é
fa
ntás
tica.
Ele
tem
um
m
inho
cário
, ele
reap
rove
ita fr
utos
e
tudo
que
a g
ente
usa
pro
pr
óprio
esp
aço.
É fa
ntás
tico
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e el
e fe
z al
i. E
fora
que
o
San
tuár
io é
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gar a
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para
que
a g
ente
faça
ess
e tip
o de
coi
sa. E
ntão
ain
da b
em q
ue a
ge
nte
o es
paço
com
o o
San
tuár
io
do P
ai R
onal
do p
ra p
oder
aco
lher
ta
nta
gent
e. E
ele
reap
rove
ita
mui
ta c
oisa
, né.
Vou
de
três
a qu
atro
vez
es p
or
ano.
No
ano
pass
ado
ia q
uase
to
do m
ês, p
orqu
e eu
est
ava
no
barc
o do
Pai
Ron
aldo
, no
curs
o de
form
ação
sac
erdo
tal.
Ent
ão e
u ia
sem
pre,
todo
com
eço
de a
no
todo
s os
filh
os q
ue e
ntra
m n
a ca
sa tê
m q
ue p
assa
r por
um
a cr
uza.
Na
cach
oeira
, na
casa
de
Oxu
m. Q
ue O
xum
é d
ono
das
cach
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s. E
ntão
a c
aboc
la
cruz
a to
do fi
lho-
de-s
anto
na
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ant
es d
e co
meç
ar o
an
o. A
ntes
de
com
eçar
os
traba
lhos
. Ent
ão to
do c
omeç
o de
an
o eu
vou
pro
San
tuár
io.
Abr
iam
a c
lare
ira e
a g
ente
tra
balh
ava
a no
ite, o
u du
rant
e o
dia
mes
mo.
A g
ente
sem
pre
ia,
uma
vez
por a
no n
o m
ínim
o a
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e ia
pro
San
tuár
io. E
ntão
lá é
um
a se
gura
nça
pra
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e, d
e nã
o tra
balh
ar n
a ru
a, d
e nã
o tra
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s no
ssas
ofe
rend
as p
ra ru
a, e
lá é
se
guro
, tem
um
pes
soal
que
lim
pa, e
ntão
a g
ente
vai
pel
o m
enos
a c
ada
três
mes
es,
quan
do a
gen
te p
reci
sa
desc
arre
gar e
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rreg
ar a
s en
ergi
as ta
mbé
m.
Ó, a
cas
a te
m u
ns 2
0 an
os. A
ge
nte
deve
vir
pra
cá h
á un
s 15
an
os. O
sim
ples
fato
de
que
as
ofer
enda
s sã
o fe
itas,
são
co
loca
das
e o
pess
oal l
impa
de
pois
, rec
olhe
. A n
atur
eza
não
fica
suja
, não
fica
suj
eira
. Ele
s lim
pam
. É u
m e
spaç
o on
de s
e co
ncen
tra tu
do e
é fe
ito u
ma
limpe
za.
Tem
mui
tos
anos
, mai
s de
30
anos
, ach
o. A
qui n
ão ti
nha
tant
a te
nda,
tava
inau
gura
ndo,
as
imag
ens,
ain
da. E
u co
nheç
o o
Pai
Ron
aldo
há
mui
tos
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, qu
ando
ele
fazi
a bi
ngo,
bai
le, p
ra
bota
r aqu
ele
terr
eiro
que
ele
tem
o
pai b
ened
ito. D
e qu
inze
em
qu
inze
dia
s. U
ma
vez
por m
ês.
Dep
ende
, qua
ndo
tem
fest
a de
or
ixá
a ge
nte
vem
. Mas
é p
orqu
e é
difíc
il, n
em to
do m
undo
co
nseg
ue, n
em s
empr
e te
m
cond
içõe
s.
Rel
ação
in
diví
duo/
relig
ião/
soci
edad
e
Fico
rece
osa
de a
cend
er v
ela
em
cem
itério
. E ta
mbé
m é
pro
ibid
o,
ning
uém
pre
cisa
fica
r co
mpa
rtilh
ando
, é c
ompl
icad
o.
Voc
ê pa
ssa
dois
qua
rteirõ
es
daqu
i tem
ent
rega
. E a
li fic
a, te
m
anim
al, t
em c
omid
a qu
e de
terio
ra,
as p
esso
as p
assa
m e
fica
m
vend
o. É
um
resp
eito
por
que
foi
feita
um
a en
trega
ali
pra
um
orix
á. M
as te
m q
ue s
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um lu
gar
espe
cífic
o.
O c
ando
mbl
é ai
nda
tem
mui
to
diss
o, a
s ro
ças.
Mas
até
por
ser
es
cond
ido
ning
uém
sab
ia d
isso
há
50,
60
anos
atrá
s. T
ambé
m é
co
mpl
icad
a po
r con
ta d
a in
tole
rânc
ia re
ligio
sa d
e ho
je e
m
dia,
né.
Mui
to p
or c
ausa
dos
m
aus
umba
ndis
tas;
eu
não
poss
o di
zer q
ue e
sses
des
pach
os n
o m
eio
da ru
a, e
sses
trab
alho
s no
m
eio
da ru
a de
nigr
em d
emai
s, e
su
jam
até
os
noss
os p
onto
s de
fo
rça
que
seria
m u
ma
praç
a, m
as
não
tem
esp
aço
assi
m fá
cil p
ra
você
faze
r um
trab
alho
.
Ant
igam
ente
, se
fazi
a m
uito
of
eren
das
nas
ruas
e ta
l. M
as
com
o te
mpo
a g
ente
vem
to
man
do c
onsc
iênc
ia e
coló
gica
, né
, e a
í pel
os te
mpo
s qu
e a
gent
e vi
ve d
e in
segu
ranç
a ta
mbé
m.
Naq
uele
tem
po, l
á em
190
8, n
ão
se ti
nha
med
icaç
ão, n
ão s
e tin
ha
assi
stên
cia
méd
ica
com
o se
tem
ho
je. A
tecn
olog
ia n
ão ti
nha
com
o ho
je. E
ntão
, era
mui
to m
ais
fáci
l vo
cê p
egar
, abr
ir um
a ba
bosa
, pe
gar a
quel
a ba
ba, m
istu
rar u
m
pouc
o co
m u
ma
outra
erv
a e
pass
ar n
um p
é di
abét
ico,
né?
E
nten
de?
Hoj
e, a
gen
te n
ão u
sa
mai
s ta
nto
com
o m
edic
ina
com
o er
a us
ado
ante
s. A
ntes
era
mui
to
mai
s us
ado
com
o m
edic
ina.
Hoj
e a
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e us
a m
uito
mai
s no
pad
rão
ener
gétic
o. Is
so fa
z un
s 14
ano
s.
Sem
inco
mod
ar n
ingu
ém,
ning
uém
é o
brig
ado,
por
que
eu
sou
umba
ndis
ta, a
ouv
ir o
som
do
atab
aque
. Car
ro p
ra p
arar
; é u
m
sufo
co, a
gen
te q
ue m
ora
na
cida
de. N
ós tr
abal
ham
os n
uma
relig
ião
que
não
é in
com
odar
, e
sim
aco
mod
ar to
dos.
Aco
lher
. E
ntão
lá n
o S
antu
ário
tem
os e
sse
espa
ço q
ue te
m e
stac
iona
men
to,
tem
um
a co
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idad
e ta
mbé
m, e
a
segu
ranç
a. P
ra q
ue p
ossa
mos
fa
zer o
s no
ssos
trab
alho
s ga
rant
indo
tam
bém
a s
egur
ança
de
todo
s.
E a
qui n
o S
antu
ário
é o
luga
r pra
vo
cê re
alm
ente
pra
faze
r as
ofer
enda
s, n
ão fa
zer e
m q
ualq
uer
luga
r, em
qua
lque
r esq
uina
, qu
alqu
er ru
a, p
ra s
ujar
o
ambi
ente
. A g
ente
faz
aqui
m
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o qu
e aq
ui já
ele
s pe
gam
, jo
gam
fora
, e s
abem
a fi
nalid
ade
das
cois
as.
Rel
ação
indi
vídu
o/na
ture
za
Aqu
i a q
uest
ão d
a pr
eser
vaçã
o é
uma
gran
de b
riga.
Ant
es e
ra
norm
al, p
or e
xem
plo,
um
a en
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e pe
dir p
ra fa
zer u
m
desp
acho
des
se o
u um
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eren
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em c
ampo
san
to, n
um c
emité
rio,
ou n
uma
via.
.. H
oje
em d
ia a
inda
te
m –
eu
não
poss
o fa
lar q
ue n
ão
tem
– m
as a
gen
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as a
ge
nte
tent
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máx
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faze
r es
sa...
Ess
a lim
peza
, né.
Não
su
jar p
ra n
ão te
r que
lim
par;
mai
s ou
men
os is
so. E
ntão
a g
ente
te
nta,
den
tro d
e um
a ev
oluç
ão –
qu
e eu
ach
o qu
e a
gent
e tá
ev
olui
ndo
dent
ro d
isso
, não
é fá
cil
– vo
cê fa
lar p
ra u
m c
aboc
lo q
ue
tem
o a
rqué
tipo
do Ín
dio
que
traba
lhav
a na
mat
a, q
ue v
ocê
não
pode
usa
r a m
ata
pra
faze
r o q
ue
ele
fazi
a, é
...
A g
ente
par
te d
o pr
incí
pio
que
a na
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za é
um
pon
to d
e fo
rça
dos
orix
ás q
ue s
ão e
nerg
ias
de D
eus,
nã
o fa
z se
ntid
o a
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e de
pred
ar
tudo
e s
ujar
tudo
, e c
orre
risc
o de
bo
tar f
ogo
na m
ata.
Ent
ão é
mui
to
bom
que
a g
ente
tenh
a um
luga
r es
pecí
fico
pra
faze
r os
noss
os
traba
lhos
relig
ioso
s. E
voc
ê fa
z co
m tr
anqu
ilida
de. T
ranq
uilid
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no s
entid
o de
seg
uran
ça e
ta
mbé
m v
ocê
sabe
que
tá
ajud
ando
a p
rese
rvar
. Ent
ão tu
do
que
a ge
nte
faz,
pel
o m
enos
nós
: a
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e al
uga
um e
spaç
o lá
no
San
tuár
io. A
mes
ma
cois
a qu
ando
a g
ente
vai
pra
pra
ia.
Qua
ndo
a ge
nte
vai f
azer
trab
alho
de
fina
l de
ano,
a g
ente
dei
xa a
pr
aia
do je
ito q
ue a
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te a
chou
. M
uita
s ve
zes
a ge
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reco
lhe
quan
do c
hega
. A g
ente
lim
pa o
es
paço
pra
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te fi
car.
Suj
eira
qu
e ou
tras
pess
oas
deix
aram
.
E a
Ter
ra tá
em
col
apso
. Se
a ge
nte
cuid
ar d
ela,
a g
ente
vai
se
lasc
ar. A
gen
te ia
pra
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a, n
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pr
o m
eio
da m
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faze
r tud
o,
reco
lhia
tudo
e d
epoi
s ia
em
bora
. P
ra n
ão d
eixa
r suj
eira
no
cam
po
sant
o. P
orqu
e vo
u te
fala
r um
a co
isa.
Que
m te
fala
r que
é
umba
ndis
ta, m
as fo
r no
mei
o da
m
ata
larg
ar [i
naud
ível
] aqu
ela
suje
ira lá
, ela
não
é.
Que
nem
árv
ores
, a g
ente
m
esm
o qu
ando
vai
trab
alha
r nas
m
atas
lá p
erto
de
casa
, eu
falo
“g
ente
, não
dei
xa v
ela
aces
a”.
Por
que
pode
peg
ar fo
go n
a m
ata.
A
inda
mai
s ag
ora
que
é te
mpo
se
co. P
orqu
e aq
ui a
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te te
m
que
pres
erva
r a n
atur
eza.
Aqu
ilo
lá fa
z pa
rte n
ão s
ó da
gen
te, m
as
das
outra
s cr
ianç
as q
ue tã
o vi
ndo.
Tem
, tem
as
mat
as lá
.
Rel
ação
re
ligiã
o/ci
dade
/nat
urez
a
O e
spaç
o da
cid
ade
é di
fícil
de
atin
gir.
Não
tem
aqu
ela
mes
ma
ener
gia
que
um e
spaç
o na
tura
l.
O a
umen
to d
a se
lva
de p
edra
é
mui
to c
ompl
icad
o. P
or e
xem
plo,
an
tigam
ente
um
terr
eiro
era
feito
nu
m g
rand
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l. H
oje
em d
ia
não
tem
. Nós
tem
os a
qui n
o fu
ndo
algu
mas
erv
as, m
as é
m
uito
com
plic
ado.
Ent
ão, n
ão te
m m
ais
terr
eiro
de
chão
bat
ido,
ent
ão a
gen
te te
m
que
se a
dapt
ar c
om is
so, q
ue
acon
tece
u co
m a
s er
vas
tam
bém
. E
ra a
ssim
. Era
mai
s fá
cil,
a ge
nte
acha
va e
rva
em to
do lu
gar.
Todo
lu
gar t
inha
terr
eno
bald
io, m
as
era
mui
to d
ifíci
l o S
antu
ário
em
si
o tra
jeto
pra
lá. P
ra c
hega
r lá
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mui
to d
ifíci
l. E
hoj
e a
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e te
m
estra
da, t
em á
gua
enca
nada
. Eu
acho
que
ess
a re
laçã
o co
m o
ur
bano
, ess
a ad
apta
ção
pro
urba
no e
do
natu
ral,
que
é im
porta
nte.
Sem
dúv
ida
faci
litou
em
alg
umas
coi
sas,
difi
culto
u em
ou
tras.
É d
ifere
nte
de v
ocê
sair
na m
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do la
do d
e lá
, col
ocar
sua
of
eren
da e
vai
fica
r aqu
ilo lá
. M
uito
s m
ater
iais
não
são
mui
tas
veze
s de
grad
ávei
s, e
vai
pol
uir a
na
ture
za. N
ão é
a in
tenç
ão.
Mas
é c
ompl
icad
o, p
orqu
e a
mai
oria
das
mat
as, v
ocê
sabe
qu
e ho
je e
m d
ia é
per
igos
o, n
é.
Ent
ão o
u a
gent
e va
i de
man
hã,
até
o ho
rário
do
alm
oço
a ge
nte
traba
lha
e vo
lta, q
ue n
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rte d
a ta
rde
é m
eio
perig
oso.
Por
que
a ge
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corr
e ris
co ta
mbé
m. A
qui
não.
Voc
ê po
de tr
abal
har
tranq
uilo
que
voc
ê nã
o co
rre
risco
de
alg
um b
andi
do s
air c
orre
ndo
no m
eio
do m
ato
um a
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do
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lá, o
u qu
alqu
er o
utra
coi
sa.
Ent
ão a
gen
te ja
mai
s va
i pôr
a
vida
dos
dem
ais
em ri
sco.
E
nten
deu?
O q
ue a
gen
te n
ão
quer
pra
gen
te a
gen
te n
ão q
uer
pros
dem
ais.
Rel
ação
re
ligiã
o/te
rrei
ro/n
atur
eza
Qua
ndo
os o
rixás
vão
peg
ar
erva
s, e
les
pede
m li
cenç
a. É
m
uito
bon
ito. T
udo
eles
ped
em
licen
ça p
ra ti
rar,
nunc
a pr
o de
sper
díci
o.
Por
exe
mpl
o, n
ós a
qui s
omos
um
pr
édio
, ond
e a
gent
e te
nta
min
ima,
diri
a at
é po
rcam
ente
, ter
al
gum
a co
isa
[nat
ural
] aqu
i per
to.
A á
rvor
e qu
e te
m n
a fre
nte
da
noss
a ca
sa fo
mos
nós
que
pl
anta
mos
a p
edid
o de
um
a en
tidad
e.
A g
ente
resp
eita
a n
atur
eza
porq
ue n
ós e
nten
dem
os o
s or
ixás
co
mo
man
ifest
ação
da
natu
reza
.
Ach
o qu
e pr
a el
a pe
rpet
uar,
ela
prec
isa
dess
a ev
oluç
ão. M
esm
o qu
e a
gent
e nã
o en
cont
re ta
ntos
po
ntos
. Mas
pre
serv
ando
ess
es
pont
os q
ue e
xist
em, p
rese
rvan
do
o qu
e a
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e te
m, o
que
a g
ente
en
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ra. P
or is
so q
ue a
um
band
a é
tão
ligad
a à
cons
erva
ção
da n
atur
eza.
Eu
sou
chat
a pr
a ca
ram
ba c
om re
laçã
o a
isso
... E
u ac
ho q
ue s
im, a
gen
te
tem
que
pre
serv
ar, n
ão jo
gar l
ixo
no c
hão,
sab
e? E
sse
tipo
de
cois
a, d
e pe
quen
os h
ábito
s...
“Ah,
m
as v
ocê
é um
a em
um
milh
ão”.
OK
, mas
se
eu fi
zer,
eu c
omo
umba
ndis
ta fi
zer,
eu v
ou s
er
form
ador
a de
opi
nião
, ent
ão
acab
a fo
rman
do o
utra
s op
iniõ
es e
is
so fu
ncio
na d
e ve
rdad
e.
Pra
con
serv
ação
. Na
linha
m
édic
a, tr
abal
ham
os c
om e
rvas
. E
ntão
as
erva
s é
mui
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nece
ssár
io, c
omo
os c
rista
is. P
ra
nós,
term
os u
m e
spaç
o de
ntro
da
mat
a, n
ós p
rese
rva
tudo
.
Rel
ação
indi
vídu
o/er
vas
Eu
conh
eço
as p
lant
as. P
lant
as
med
icin
ais,
por
que
venh
o de
um
a he
ranç
a qu
e se
usa
va m
uito
pl
anta
s, tr
abal
hava
com
pla
ntas
, m
inha
vó
traba
lhav
a m
uito
com
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anta
s.
Se
você
for s
enta
r com
igo,
eu
vou
ter b
anho
pre
para
do já
, co
nser
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em
álc
ool,
pra
faci
litar
, sab
e? P
ó qu
e dá
pra
ut
iliza
r qua
ndo
você
tá a
li na
ra
pide
z...
Tudo
pra
faci
litar
. E o
S
antu
ário
vem
isso
tam
bém
.
Rel
ação
ent
idad
es/e
rvas
Os
cabo
clos
, os
orix
ás te
m m
ais
sabe
doria
, ele
s pe
gam
um
mat
o qu
e eu
nun
ca v
i. E
u nã
o co
nheç
o.
Mas
o o
rixá
conh
ece.
Ele
tem
a
sabe
doria
ade
quad
a pr
a pe
gar
qual
quer
pla
ntin
ha ra
stei
ra q
ue
ele
tem
um
sig
nific
ado.
De
cura
ca
rnal
, esp
iritu
al, a
stra
l.
E m
uito
pre
sent
e co
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s er
vas
tam
bém
. Tra
balh
a m
uito
com
as
erva
s. T
odos
ele
s tra
balh
am. P
ra
gent
e é
fund
amen
tal,
pra
nós
com
o m
édiu
ns, c
omo
traba
lhad
ores
de
umba
nda
é fu
ndam
enta
l o u
so d
as e
rvas
, e
pra
eles
com
o fe
rram
enta
de
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lho.
Rel
ação
indi
vídu
o e
dico
tom
ia
cida
de/n
atur
eza
Não
con
heço
out
ros
espa
ços
de
mat
a, m
as ta
mbé
m p
orqu
e nó
s nu
nca
proc
uram
os.
Hoj
e em
dia
, por
ser
difí
cil d
e ac
har n
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za, a
gen
te u
sa
mui
ta e
rva
seca
. Prim
eiro
, sai
ba a
pr
oced
ênci
a. É
igua
l qua
lque
r co
isa
que
eu v
ou c
oloc
ar c
omo
um c
rem
e.
Hoj
e em
dia
exi
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vár
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...
Vár
ios.
Eu
conh
eço
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eque
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que
eu
não
sei s
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ncio
na. Q
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raba
lho
lá, m
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m o
m
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incí
pio
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onal
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Tem
um
luga
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Naz
aré
Pau
lista
. Ent
ão h
oje
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ia já
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s S
antu
ário
s. A
pesa
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nte
não
conh
ecer
os
outro
s to
dos,
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pel
o qu
e a
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e ou
viu
fala
r é d
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esm
o je
ito.
Alg
umas
são
pro
prie
dade
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rticu
lare
s e
eles
usa
m is
so p
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reve
rter,
pra
cons
erva
r os
espa
ços.
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igam
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Voc
ê te
m q
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em
mer
cado
, tem
que
com
prar
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band
ejin
ha o
u em
maç
o fe
chad
o.
Ent
ão q
uand
o a
gent
e pe
ga n
o m
erca
do, a
gen
te s
abe
que
é um
a co
isa
pelo
men
os c
ertin
ha,
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Tabela S2
INTERAGIR: PENSANDO A EXTENSÃO, RIO DE JANEIRO, N. 26, P. 11-33, JUL/DEZ. 2018
UM BOSQUE DE FOLHAS SAGRADAS: O SANTUÁRIO NACIONAL DA UMBANDA E O CULTO DA NATUREZA
21
Constituindo um “bosque sagrado”No SANU, os terreiros podem solicitar à Federação Umbandista do Grande ABC, en-
tidade que administra o local, um espaço demarcado no Santuário onde os rituais são realizados. Muitos espaços são cobertos e possuem altares com imagens de santos ca-tólicos e entidades afro-brasileiras (Figura 2). Terreiros sem sede podem também se beneficiar desta área.
A existência institucionalizada de um “bosque sagrado” para a religião também apre-senta vantagens em termos de conforto, tranquilidade e segurança, pois, como dizem os religiosos, está cada vez mais difícil de ir a lugares ermos para a realização de rituais sem correr o risco de assaltos e outras formas de violência. Aqui há uma fala de Mãe Shirley, que desenvolve trabalhos espirituais em sua residência há pelo menos 35 anos, onde faz consultas espirituais. Mãe Shirley “trabalha” (ou seja, realiza rituais) com as linhas sagradas da umbanda. Ela frequenta o Santuário desde a sua fundação, e diz:
“Sem incomodar ninguém; ninguém é obrigado, porque eu sou umbandista, a ouvir o som do ata-
baque. (...) Nós trabalhamos numa religião que não é incomodar, e sim
acomodar todos. Acolher. Então lá no Santuário temos esse espaço que
tem estacionamento, tem uma comodidade também, e a segurança. Pra
que possamos fazer os nossos trabalhos garantindo também a segurança
de todos.”
No caso das plantas, a possibilidade de coletar folhas e plantar aquelas necessárias ao culto também se verifica. Especialmente no SANU isto se deu, pois, a região ocupada havia sido utilizada para exploração de britas para a construção da Rodovia Anchieta nos anos de 1940. O espaço que estava degradado foi reconstituído pelos religiosos que reflorestaram as encostas dos morros, transformando drasticamente a paisagem do lo-cal (Figura 2). A região foi ocupada desde o final do século XIX, sobretudo por colonos italianos que exploraram as reservas naturais, em especial madeira, para ser utilizada na produção de carvão e na indústria moveleira. Após uma intensa atividade de desmata-mento na região, percebeu-se o potencial de exploração para produção de pedras para a construção civil e pavimento de estradas, o que deu origem à chamada “Pedreira Monta-nhão”. Dessa forma, após décadas de exploração, o ambiente natural de Mata Atlântica foi pouco a pouco sendo degradado (Figura 2).
A entrevista feita com Pai Ronaldo Linhares, um dos fundadores do Santuário, evi-dencia a importância sagrada que a mata e os elementos vegetais têm para a umbanda: sempre visto como um espaço puro, intocado e virgem. Pai Ronaldo foi uma figura chave para a consolidação do SANU como “bosque sagrado”. Desde o começo da história do Santuário, percebemos a intrincada relação entre a prática religiosa, educação ambiental e restauração e conservação da vegetação ali presente. Diz ele:
“[Antes,] éramos grandes destruidores, havia espaços enormes no alto da serra derrubados pela ação
dos irmãos de fé. Quando tomei conhecimento disso, pensei em inverter o
processo: todo mundo queria uma clareira exclusiva, um espaço exclusivo
da mata para sua tenda, que era inerente a quase todos os espaços de um-
banda. A lógica era a seguinte: quer uma clareira? Tudo bem; este será seu
espaço. Se há mato, não retire; se não há, é obrigado a plantar.”
INTERAGIR: PENSANDO A EXTENSÃO, RIO DE JANEIRO, N. 26, P. 11-33, JUL/DEZ. 2018
UM BOSQUE DE FOLHAS SAGRADAS: O SANTUÁRIO NACIONAL DA UMBANDA E O CULTO DA NATUREZA
22
Penoso, intenso e difícil tal como foi o processo de degradação, a restauração ecológica do SANU para aquilo que se observa hoje também demandou muita força de vontade e mão-de-obra. A lógica da restauração, segundo Pai Ronaldo, foi muito baseada nos conhe-cimentos prévios dos próprios frequentadores:
“Como não tinha vegetação nem recursos para a providência de mudas, um dos simpatizantes tinha
um caminhão, e um grupo muito grande voluntariamente ajudava nos fi-
nais de semana para reflorestar a região degradada do hoje Santuário. Tra-
ziam neste caminhão 200 a 250 sacos vazios, iam ao alto da serra de Pa-
ranapiacaba, pegavam material decomposto, folhas mortas, sementes e as
colocavam dentro deste saco, levando de volta ao espaço do hoje SANU.
Quem os orientou nisso foi a bióloga Egly Joyce, simpatizante do movi-
mento e umbandista. Este material morto era colocado em cima dos espa-
ços que se desejava recuperar, formando um imenso colchão biológico. Há
um tempo, aquilo cedia e nasciam diferentes mudas de Mata Atlântica.”
As mudas eram conseguidas dos locais mais díspares possíveis, de diferentes espaços da Região Metropolitana de São Paulo. Mesmo tendo realizado o processo de restauração da floresta com relativo sucesso, o espaço do SANU é caracterizado hoje tecnicamente por ser de um bioma florestal secundário dentro do domínio fitogeográfico da Mata Atlântica10, com o predomínio de algumas espécies exóticas como eucaliptos, reconhecidas inclusive por Pai Ronaldo como espécies agressivas e não nativas dali.
Figura 2
INTERAGIR: PENSANDO A EXTENSÃO, RIO DE JANEIRO, N. 26, P. 11-33, JUL/DEZ. 2018
UM BOSQUE DE FOLHAS SAGRADAS: O SANTUÁRIO NACIONAL DA UMBANDA E O CULTO DA NATUREZA
23
A partir da década de 60, o espaço passou então a ser ocupado por esses umbandistas, incluindo Pai Ronaldo, que utilizavam o espaço da pedreira e de matas remanescentes para os seus cultos sagrados, para cultuar sobretudo aquelas entidades associadas à mata ou à pedreira, como Oxóssi e Xangô. A partir dessa relação, começa a nascer a necessidade de se criar um espaço onde se pudesse cultuar as entidades sem incomodar ninguém, mas também sem ser incomodado por ninguém. Em 1979, finalmente houve a oficialização do uso religioso do espaço, que está ativo até hoje.
Apresenta-se aqui uma fala de uma liderança religiosa entrevista que exemplifica a questão da consciência ambiental. Pai Rafael é médium e um dos principais organizadores do terreiro que frequenta na Zona Sul de São Paulo. A comunidade de seu terreiro visita o Santuário ao menos uma vez por ano, para celebrações de fim de ano. Também é responsá-vel por ministrar cursos de umbanda para a comunidade externa sobre o uso de plantas no contexto religioso ou terapêutico. Ele diz:
“Aqui a questão da preservação é uma grande briga. Antes era normal, por exemplo, uma entidade
pedir pra fazer um despacho desse ou uma oferenda em campo santo, num
cemitério, ou numa via... Hoje em dia ainda tem – eu não posso falar que
não tem – mas a gente pede... A gente tenta o máximo fazer essa... Essa
limpeza, né. Não sujar pra não ter que limpar; mais ou menos isso. Então a
gente tenta, dentro de uma evolução – que eu acho que a gente tá evoluindo
dentro disso, não é fácil – você falar pra um caboclo que tem o arquétipo
do Índio que trabalhava na mata, que você não pode usar a mata pra fazer
o que ele fazia...”
Ou seja, é notável na comunidade umbandista atual uma consciência ambiental que se transpõe para o espectro do sagrado, tal como observa-se tanto na fala de Pai Rafael como na de Pai Ronaldo. O processo oscilante que acompanhou a história do Santuário e o estabelecimento de uma cultura sustentável evidencia isso: muitos esforços se mantêm para não se prejudicar o que se conquistou, de maneira que se observa no Santuário muitas intervenções como avisos indicadores de descarte de resíduos (lixo, cigarros), além de avi-sos indicando a necessidade de preservação do Santuário, em especial do espaço natural ali presente (Figura 3).
Figura 3
INTERAGIR: PENSANDO A EXTENSÃO, RIO DE JANEIRO, N. 26, P. 11-33, JUL/DEZ. 2018
UM BOSQUE DE FOLHAS SAGRADAS: O SANTUÁRIO NACIONAL DA UMBANDA E O CULTO DA NATUREZA
24
Na verdade, é muito comum que os umbandistas se refiram à natureza como “um ponto de força dos orixás”7. Isso porque natureza, energia (ou “axé”), e as entidades são praticamente encarados como sinônimos. Os espaços naturais reconectam e recarre-gam a energia, pois são elementos das entidades cultuadas. Portanto, tudo que é natural é, para a umbanda, de extrema importância, pois as energias com as quais as entidades trabalham ou usam como ferramenta são oriundas da natureza, e grande parte delas é do reino vegetal. Na umbanda, geralmente Oxóssi e os caboclos são as entidades mais associadas às matas, muito embora a natureza seja um ponto de força de todas as en-tidades, uma vez que todos, sem exceção, trabalham, de alguma forma, com ervas3,4,11.
Através dessa manifestação, uma entidade se incorpora numa pessoa que se identifi-ca como médium, e o trabalho mediúnico com as ervas é realizado, seja para descarrego de energias negativas, ou para energização, i.e., atração de energias positivas. Dentro dessa perspectiva, o Santuário vem a ser um espaço que, além de ser sacralizado, é tam-bém acolhedor, no sentido de receber e dar suporte para a realização de rituais seguros, sob uma infraestrutura adequada e condições de zelo e conservando a natureza. Essa concepção de natureza, inclusive, recai sobre a fronteira entre a dicotomia que existe na umbanda, uma religião que, apesar de depender diretamente da natureza, é tipicamente uma religião que nasceu e se desenvolveu no ambiente urbano8, além de contar com um histórico de intolerância religiosa que limita alguns rituais, como despachos em campos santos (cemitérios, encruzilhadas) ou o sacrifício de animais.
Para exemplificar o acima dito, apresenta-se a fala de mãe Rosângela, que é umban-dista há 18 anos e mãe de um terreiro há nove. Ela frequenta o Santuário há pelo menos 15 anos, onde faz visitas anuais, mas que por um tempo, quando ainda não tinha uma sede própria, frequentava o espaço mensalmente:“A gente parte do princípio que a natureza é um ponto de força dos orixás que são energias de Deus,
não faz sentido a gente depredar tudo e sujar tudo, corre o risco de até e
botar fogo na mata. Então é muito bom que a gente tenha um lugar especí-
fico pra fazer os nossos trabalhos religiosos. E você os faz com tranquilida-
de. Tranquilidade no sentido de segurança e também que você sabe que tá
ajudando a preservar. Então (...), pelo menos nós: a gente aluga um espaço
lá no Santuário. A mesma coisa quando a gente vai pra praia. Quando a
gente vai fazer trabalho de final de ano, a gente deixa a praia do jeito que a
gente achou. Muitas vezes a gente recolhe quando chega. A gente limpa o
espaço pra gente ficar, até sujeira que outras pessoas deixaram.”
Mais uma vez, nota-se nesta fala a centralidade que a natureza tem como elemento essencial para o culto sagrado da umbanda para os frequentadores do SANU. Apesar dos eventuais conflitos aqui apresentados, tanto por Mãe Rosângela como para Pai Ra-fael acima, a natureza é, acima de tudo, parte ou o todo da representação de pontos de energia, que são, por sua vez, pontos de força das entidades. Preservar as ervas, a natureza e os espaços naturais é, portanto, preservar a imagem das próprias entidades sagradas. Por isso, é muito comum que haja uma posição em prol da natureza quando se considera a relação da religião com a cidade.
A erva de todo orixáO uso de plantas nas religiões afro-brasileiras geralmente é categorizado em três
INTERAGIR: PENSANDO A EXTENSÃO, RIO DE JANEIRO, N. 26, P. 11-33, JUL/DEZ. 2018
UM BOSQUE DE FOLHAS SAGRADAS: O SANTUÁRIO NACIONAL DA UMBANDA E O CULTO DA NATUREZA
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grandes sentidos, que não são excludentes, segundo Serra e colaboradores12: (1) uso ri-tual ou simpático, para atrair alguma necessidade ou desejo; (2) uso alimentar, na forma de oferendas, sobretudo frutas ou outras partes de plantas que representem o orixá ou a divindade que se queira cultuar; e (3) uso terapêutico, para cura ou revitalização, priori-zando as folhas em detrimento das ervas. No caso da umbanda em particular, Carlessi7 separa quatro tipos diferentes grupos de uso: (1) banhos de ervas, (2) chás e defumações, (3) preparo de fundamentos e (4) trabalhos e oferendas. Para Camargo6,13 a influência das tradições europeias e indígenas no uso de plantas foi importante para o candomblé, pois as populações africanas e seus descendentes não encontraram no Brasil a mesma flora de suas terras de origem, culminando numa inevitável relação de aproximação com as plantas aqui existentes.
As plantas utilizadas nas oferendas ou como ervas medicinais são sempre em refe-rência alguma entidade ou orixá, de maneira que elas têm a função de renovar a força mágica atribuída aos deuses cultuados, bem como para fortalecê-los simbolicamente1,3,11. Cada entidade possui uma oferenda ou erva específica, de acordo com a sua especifi-cidade e função espiritual (Figura 4). A umbanda e o candomblé são uma das religiões que mais possuem rituais com a participação ativa de elementos vegetais; oferecimento de oferendas às entidades implica na assumpção de que as mesmas estão “comendo” as oferendas, garantindo a presença das entidades na vida dos praticantes2. Grande parte dessas oferendas são conseguidas através da compra, mas alguns estudos mostram for-te presença de atividades de extrativismo ou cultivo em áreas ruderais, antropizadas, até mesmo em alguns espaços realmente naturais, intocados, pois pensa-se que os vegetais empregados nessas religiões devem provir do seu local de origem4,12. Além disso, não são quaisquer alimentos que podem ser oferecidos, de maneira que cada orixá possui prescrições e restrições de alimentos de acordo com a história mítica a ele associada12.
Figura 4
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Especificamente para a umbanda, Carlessi7 realizou um trabalho muito interessan-te, onde demonstrou que grande parte das plantas utilizadas na umbanda são espécies de distribuição ampla no território brasileiro, abundantes, fáceis de serem obtidas, seja porque são comuns na vegetação, seja porque já eram recorrentes na cultura brasileira de uso antes do estabelecimento dessas religiões no país. Nota-se a presença, portanto, de muitas espécies exóticas (isto é, espécies não nativas do Brasil, aqui introduzidas via ação antrópica) ou naturalizadas (e.g. alecrim, Rosmarinus officinalis L. (Lamiaceae); abacateiro, Persea americana Mill (Lauraceae)), nativas de outras regiões da América Latina7,11,14, além de espécies ruderais – i.e., espécie cuja distribuição acompanha a do ser humano – e.g. maria-sem-vergonha, espécies do gênero Impatiens L. (Apocynaceae)) ou mesmo invasoras – i.e., espécie exótica e naturalizada que apresenta altas taxas de reprodução e dispersão, colonizando o ecossistema natural e danificando – (e.g. lírio-do--brejo ou jasmim-do-brejo, Hedychium coronarium J. Koenig (Zingiberaceae)). Plantas que, além de serem utilizadas em rituais, são muitas vezes consideradas como medici-nais, mesmo fora do contexto religioso afro-brasileiro4,6,11,14.
Geralmente, Márcia e mãe Shirley citaram plantas mais específicas, utilizadas tam-bém em outros contextos, que são incorporadas de outros sistemas culturais, como “algas marinhas”, “fiapos do milho”, “mirra”, “taioba” (Tabela 1). Elas, ao contrário dos demais, fazem parte de uma umbanda mais esotérica, que incorpora muitos elementos da cultura popular e do misticismo popular, inclusive produzindo e comercializando ex-tratos para fins medicinais ou homeopáticos, que, inclusive, é técnico e dependente de uma série de tratamentos e pesagens. Veja o que Márcia diz:“Então, aí vem aquela velha história. Eles [os orixás] sempre falam pra gente. Como eles fazem, eles
ensinam [o intermediário ou ajudante] pra eles ensinarem o médium. En-
tão vou fazer um chá dessa planta. Então eu vou pegar essa planta inteira?
Não. Porque na homeopatia e na botânica, tudo é pesado.”
Agora, sob um ponto de vista de uma análise qualitativa, há algum indício de haver dependência entre o preparo de chás para plantas exclusivamente medicinais e o prepa-ro de banhos para plantas exclusivamente rituais, embora exista um universo híbrido de plantas que são rituais e medicinais dependendo do contexto (Figura 5). Grande parte das plantas citadas são usadas para banho (49% de 64 citações), mas há também usos em chás ou como firmezas espirituais (Figura 5). Para algumas plantas, também foram citadas aplicações na forma de emplastos, ou através da defumação de algumas partes vegetais, sobretudo folhas.
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No trabalho das entrevistas, a tendência também é a de preponderar menções de espécies vegetais que muito provavelmente não são nativas do Brasil, mas que, na sua grande maioria, fazem parte da cultura popular do brasileiro porque foram ora trazidas para cá. Há a menção de plantas que são utilizadas amplamente em outros contextos populares (Tabela 1), como plantas alimentícias (abacate, milho, batata-doce), tempe-ros (alecrim, manjericão, canela, cravo, anis-estrelado) ou onde delas se faz chás ou bebidas comuns no dia-a-dia do brasileiro (café, camomila, cana-de-açúcar, boldo). Não são plantas que ocorrem em regiões onde nasceram originalmente essas religiões, i.e., no continente africano11; de fato, nota-se, no Brasil, grande adaptação ou “abrasileira-mento”, usando-se de um neologismo, da flora utilizada nos rituais afro-brasileiros. Essa adaptação da flora é amplamente observada e discutida no candomblé7,11,14,15, e se mostra presente na umbanda para o contexto deste estudo.
Vê-se aqui, portanto, o paralelismo entre o uso de plantas comestíveis convencionais e a prática de rituais, de maneira que muitas plantas tidas como oferendas são derivados de alimentos comuns no Brasil, muitas introduzidas no continente sul-americano e que são recorrentes hoje na cultura brasileira, bem como na cultura urbana do país. Do ponto de vista de distribuição geográfica, a grande maioria dessas plantas são espécies exóti-cas, cultivadas, que também vão ao encontro da gastronomia e hábitos alimentares do Nordeste do Brasil, sobretudo da Bahia, que tem, assim como todo o país, grande parte das plantas comestíveis oriundas de espécies exóticas, sobretudo devido ao processo de colonização. Como diz Barros16: “Ao mesmo tempo em que eram desenvolvidos esses dois movimentos [de transação de espécies
vegetais] – Brasil-África/África-Brasil, foi sendo efetivado o processo de
emprego de plantas comuns aos dois continentes (...). Outras espécies,
entretanto, tiveram que ser substituídas, porém as substituições obedece-
ram ao padrão africano de classificação.” (Barros, 1993, pp. 36-37).
Muitas vezes uma mesma erva se circunscreve no domínio de mais de um orixá. De qualquer maneira, a entidade mais citada para as ervas aqui mencionadas foi Preto-Ve-lho, além de Oxóssi, Ogum/São Jorge e os caboclos (Figura 5). Mãe Jupira, uma de nos-
Figura 5
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sas lideranças entrevistadas, é uma mãe-de-santo que coordena um terreno na Zona Leste de São Paulo. Ela e seu terreiro visitam o Santuário de três a quatro vezes por ano, pois todo começo de ano todos os seus filhos-de-santo que se iniciam na religião têm de passar por uma cerimônia de iniciação, a qual ela se refere como “cruza”, que é um banho na cachoeira de Oxum, elemento natural presente no espaço do Santuário. Veja o que ela diz sobre a questão do domínio espiritual das ervas:“A gente nasce de um caboclo. A primeira entidade que aparece em Terra e fala: “vamos fundar a re-
ligião de umbanda” é um caboclo. Na verdade, quem teve uma vidência na
hora viu que ele tinha sido um padre na outra vida, mas ele se mostra pra
gente como um caboclo, o caboclo das sete encruzilhadas (...). Como é um
caboclo, ele traz essa força das matas.”
Isso reflete a já citada lógica da umbanda de enaltecimento dos segmentos forma-dores da sociedade brasileira (negros, índios e brancos). A figura dos caboclos (“indí-genas”), em especial, é bastante recorrente, pois eles representam um ponto crucial de força e de conexão com a vegetação. Além dessas duas figuras – a dos caboclos e a dos pretos-velhos –, há também várias menções às demais entidades do panteão tradicional das religiões afro-brasileiras, em especial no candomblé, com destaque para Oxóssi, ori-xá associado às matas e à vegetação, e às figuras que, na umbanda, são frequentemente sincretizadas à santos católicos, i.e., Ogum (São Jorge) e Iansã (Santa Bárbara), que pos-suem no seu domínio o uso de ervas, muito citadas nas entrevistas, que são as espadas ou lanças de São Jorge/Santa Bárbara (Tabela 1; Figura 5).
Ou seja, diz-se que não existe orixá sem que existam as folhas. De fato, as folhas são elementos imprescindíveis na composição simbólica da maioria das cerimônias religiosas. As folhas são postas sob as esteiras dos iniciados durante seu período de recolhimento para lhes prover energia, ou espalhadas pelo chão do barracão em dias de festa para que sua força se misture aos pés dos que dançam sobre elas (Figura 4). Outra possibilidade é tritura-las para compor banhos rituais (os chamados “amacis”) ou produzir extratos com caráter curativo, lavando ou sacralizando um alguém ou algum assentamento.
Muitas vezes, essas ervas estão associadas às entidades através do estabelecimento das chamadas “firmezas espirituais”. Essas firmezas podem ser construídas de diversas ou com as ervas frescas dispostas no chão, ou com determinados elementos vegetais secos guardados nas chamadas “quartinhas”, que são potes de louça construídos para essa finalidade. Já a defumação é uma categoria de uso onde a fumaça gerada pela quei-ma de determinada parte da erva – geralmente as folhas secas – transmitem a energia associada ao vegetal. Neste caso, a fumaça é o meio de transmissão da energia, que é absorvida pelo indivíduo pelo olfato, não através da ingestão.
A grande maioria das ervas rituais também possuem um sistema de classificação energético associado. Na umbanda, esse sistema é ou representado pelas ervas quen-tes/mornas/frias, ou pelas ervas fortes/fracas. Aqui exemplificamos com a explicação de mãe Antônia. Ela é mãe-pequena de um terreiro existente há dez anos oficialmente na Zona Leste de São Paulo. Ela frequenta o SANU desde criança e atualmente leva seu terreiro ao Santuário no mínimo uma vez por ano. A divisão é descrita por ela da seguinte forma:“As [ervas] quentes são chamadas de agressivas, porque fazem a limpeza pesada. Elas são a “soda
cáustica” para limpar o chão do organismo. As mornas são as equilibrado-
ras, são aquelas que são o “paninho com álcool”, que fazem a manutenção,
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o equilíbrio específico. E as específicas, que são as frias, são, como o nome
diz, específicas; então eu quero uma erva pro feminino. Então tem uma erva
específica pro feminino.”
Ou seja, com as folhas classificam-se os deuses (e suas “qualidades”) e, sabedor de suas propriedades mágicas, o sacerdote “tempera” os despachos e oferendas visando muitas vezes potencializar ou enfraquecer determinados atributos dos deuses ou carac-terísticas de seus filhos. Muitas entidades chegam mesmo a afirmar que com a folha “certa” podem matar ou curar (ou mesmo alterar as preferências sexuais de uma pes-soa), pois existem tais ervas “quentes”, que “agitam” (pertencentes aos orixás do fogo e da terra, como Ogum e Exu), e as “frias” que “acalmam” (pertencentes aos orixás da água ou do ar, como Oxum e Oxalá), como as citadas por mãe Antônia.
O sistema e classificação quente/morno/frio pode ser associado ao sistema forte/fraco. As ervas quentes são aquelas também chamadas de fortes, e as fracas são as frias ou mor-nas. Essa classificação, para algumas plantas, variou ligeiramente de entrevistado para en-trevistado, mas ela parece ser, de alguma forma, comum entre a comunidade umbandista. Este sistema é coerente com aquele observado em outros contextos, como no candomblé, e é um sistema fundamentado em pares de oposição; o que inexoravelmente lembra àquilo apresentado por autores consagrados, como Lévi-Strauss17, onde esse nível de classifica-ção, mesmo que desigual e arbitrário, consegue preservar a riqueza e a diversidade do in-ventário de plantas conhecidas. A diferença é que no candomblé, observam-se uma outra relação, compartimentando as ervas nos domínios de água/terra/fogo/ar16, enquanto que nesse estudo a divisão ficou entre a relação quente/morno/frio e forte/fraco.
O Santuário ponto de permutaComo o SANU se insere numa unidade de conservação de proteção integral10, os fre-
quentadores precisam trazer os elementos vegetais de fora, pois lá não é permitido a coleta de plantas para qualquer finalidade. Ou seja, muitos dos vegetais citados pelos en-trevistados não consistem de ramos férteis para serem depositados em herbários, sendo muitas vezes elementos vegetais isolados (e.g., folhas, flores) ou mesmo uma mistura de elementos secos que são levados pelos religiosos para uso imediato no Santuário, onde eles realizam suas atividades.
No contexto urbano, essas plantas são geralmente coletadas ou adquiridas em locais onde há a presença destes elementos naturais: quintais, matas remanescentes em terre-nos baldios ou nos fundos das casas, feiras livres, barracas de condimentos18,19, enfim, espaços onde se vendem frutas e verduras comuns no Brasil, conforme também consta-tado por Carlessi7. São, na sua maioria, espécies exóticas, produto da relação histórico--cultural brasileira com o conhecimento europeu, africano e indígena20.
Algo importante associado ao acesso às ervas é o fato de que muitas delas são con-seguidas através de contato pessoal, ou via “boca-a-boca”19. A oralidade, muito presente na umbanda e nas religiões afro-brasileiras como um todo, marca muito a construção do simbolismo associado a essas religiões. Praticamente todos os entrevistados cita-ram, a necessidade de se ter contatos com praticantes, além da procura de ervas seja em espaços específicos, como nas casas de ervas, seja em espaços mais gerais, como as feiras, mercados ou centrais de abastecimento de alimentos. Hoje, as feiras livres, mercados e lojas de ervas são exemplos de espaços na cidade onde se conseguem ele-
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mentos vegetais para o culto das religiões afro-brasileiras, tanto na umbanda7, como no candomblé19,20. No caso do candomblé, Falcão20 diz que espaços como estes descritos “medeiam um processo de socialização das diversas categorias iniciadas no candomblé, funcionando como uma caixa de ressonância dos terreiros”. Aqui, pode-se dizer que o SANU cumpre exatamente esta função.
Por outro lado, os espaços de sociabilização e de transmissão de conhecimento asso-ciado às ervas tornou-se bastante restritivo e formalizado, principalmente para as gera-ções mais novas de umbandistas. Veja o que Mãe Rosângela diz:
“Ainda bem, hoje em dia, é muito fácil você achar as ervas. Toda casa de macumbeiro sempre tem uma
ervinha plantada, né. Aqui a gente tem umas ervas plantadas. A gente toma
muito cuidado onde a gente vai comprar as ervas, erva fresca, principal-
mente erva seca. Você vê, você passa em Pinheiros você vê um monte de
lugar vendendo aquelas árvores torrando no sol, aí pega chuva... Isso não é
legal. Então as frescas, tem duas médiuns aqui que vão na feira. Uma mu-
lher que planta e colhe, traz super fresquinha... Temos o mercado da Lapa
também, que tem duas bancas que fornecem... A gente tem alguns tra-
balhadores que tem erva em bastante quantidade em casa, que traz. Mas
normalmente quando a gente vai comprar seco, a gente procura comprar,
por exemplo, algumas eu compro no Mundo Verde.”
Apesar de, nos últimos anos, ter havido um aumento significativo de estabelecimen-tos específicos para a venda de ervas e produtos vegetais próprios para o culto sagrado20, a confiança na qualidade e composição do material ainda é um questionamento para a comunidade umbandista. Por isso, muitas plantas também são cultivadas em vasos ou quintais (Figura 6), muito embora a falta de acesso a esses espaços, especialmente quintais ou jardins, é um empecilho relatado pelos entrevistados. Além disso, muitos dos entrevistados acabam passando por uma série de cursos de formação específicos para a manipulação de ervas, como aquele ministrado pelo Pai Ronaldo no SANU. Esses espaços, portanto, são importantes pois eles cumprem a função que o mencionado “bo-ca-a-boca” tinha nas gerações mais velhas de umbandistas. Eles são basicamente espa-ços organizados pela comunidade umbandista para ensinar formalmente a comunidade sobre as ervas, seus significados e suas propriedades e aplicações.
Agora, independente disso, o Santuário possui essa função de ponto de permuta, e mes-mo no caminho, ao longo da Estrada do Montanhão, existem muitas espécies vegetais que podem ser coletadas para logo depois serem utilizadas nos rituais, tal como diz Mãe Shirley:“Também tem muito aqui nas casas de ervas, e também uma mata aqui perto. E a gente sempre se
comunicando. Porque, a ama da casa, trabalha com a linha só de ervas. Essa
que dá o curso [de formação] lá em São Bernardo. É, indo pro Santuário, ali
tem muito, muito mesmo. Hoje tem, como antigamente nós atravessáva-
mos pelo teleférico. Agora a gente dá a volta. Mas ali tem tantas ervas, que
o povo nem conhece.”
Algumas plantas, mais difíceis de encontrar, acabam sendo, portanto, extraídas da mata, geralmente das regiões de borda de mata de áreas naturais de fácil acesso. Es-sas áreas de borda são justamente aquelas que estão degradadas pela ação antrópica, e contam com uma série de espécies ruderais, de crescimento rápido, justamente aquelas mais usadas na religião. Às vezes, a própria mata próxima ao Santuário é utilizada para
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essa finalidade, geralmente nas bordas da estrada que levam à entrada do Santuário (Figura 6). Os entrevistados, no entanto, não possuem o hábito de utilizar ervas da mata dentro do espaço do Santuário ou de plantas presentes no interior dessas matas. Como o Santuário está compreendido numa unidade de conservação, os órgãos públicos pro-íbem o desmatamento, extrativismo de ervas na mata e a realização de sacrifícios de animais. Por isso, os frequentadores trazem suas plantas de fora para o Santuário.
Ou seja, o acesso às ervas tornou-se restrito com a urbanização. Plantas que antes eram conseguidas em espaços quase naturais, ou limítrofes ao ambiente de mata, como em matas remanescentes, bordas de estrada ou terrenos baldios ou remanescentes re-florestais, agora estão cada vez mais escassos. Isso fez com que a procura pelas ervas passasse a ser mais direcionada em espaços especializados, que foram criados justa-mente para o fim de vender essas mercadorias: “Erva fresca ainda tem sua essência mantida. Ela tem sua força natural ainda mantida. A seca já não,
ela já passou por todo um processo de manipulação, secagem. Ela perde
um pouco daquilo que a gente chama de axé, a força natural. (...) E a gente
sabe que hoje se alguém pegar você tirando uma planta do meio da mata,
uma planta nativa, é crime ambiental. Então a gente vai atrás de lugares
que comercializam isso, acaba sendo mais difícil, e você acaba encontran-
do seca. Mas fresca realmente algumas são mais difíceis.” (Pai Rafael em
entrevista)
Portanto, as ervas secas acabam perdendo um pouco da sua energia vital, o axé, mas que, por falta de escolha, acabam por ser utilizadas, pois é a única forma de conseguir esse tipo específico de vegetal. Surgem daí as casas de ervas ou barracas especializadas em feiras livres para a venda desse tipo de material, que agora muitas vezes é seco ou desidratado, e não mais coletado fresco.
Figura 6
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Considerações finaisTal como no candomblé, os elementos vegetais, ou as “ervas”, são nucleares no de-
senvolvimento e nas práticas da Umbanda. Apesar dos eventuais conflitos aqui apre-sentados, a natureza é, acima de tudo, parte ou o todo da representação de pontos de energia, que são, por sua vez, pontos de força das entidades. Preservar as ervas, a natureza e os espaços naturais é, portanto, preservar a imagem das próprias entidades sagradas. Por isso, é muito comum que haja uma posição em prol da natureza quando se considera a relação da religião com a cidade. O culto ou apreço aos espaços naturais na umbanda, considerados como virgens ou intocados, é essencial e muito valorizado pelos seus praticantes. As plantas ali presentes, mesmo se não extraídas diretamente de uma mata para uso, são valorizadas no sentido de comporem uma vegetação íntegra, que por si só é encarada como sagrada, por ser local de moradia de entidades associadas à mata.
No entanto, este trabalho mostrou que a relação dos umbandistas com a vegetação e as ervas, mudou com o fenômeno da urbanização. O acesso ao conhecimento sagrado e prático associado às ervas ficou cada vez mais dependente de uma lógica formal, com, por exemplo, a realização de muitos cursos de formação sobre ervas. Portanto, enquanto as gerações mais antigas de umbandistas transmitiam o conhecimento associado às ervas através da oralida-de, e de algo feito pela comunidade, as gerações mais novas aprendem esse conhecimento através da formalidade e via cursos, numa lógica de letramento ou de formação.
Independentemente dessa mudança, o SANU é um espaço visto como sagrado e pri-mordial na prática da umbanda pela comunidade religiosa da Região Metropolitana de São Paulo. Ele é visto como um refúgio contra problemas de violência, segurança e até de intolerância religiosa. E não só isso: a maneira como a Umbanda trata a questão das ervas, da vegetação e da conservação da natureza faz com que o espaço do Santuário seja algo preservado, como observado no processo de recuperação da antiga área da pedreira. É, portanto, um espaço que, por ser valorizado não só por ser sagrado, mas por também ser um espaço natural, tende a se manter íntegro e por muito tempo, res-guardando também o patrimônio religioso material e imaterial que faz parte da cultura e história do Brasil e do povo brasileiro.
AgradecimentosAgradecemos a todos os membros da equipe do Santuário Nacional da Umbanda
pela gentileza, apoio e carinho, em especial Pai Ronaldo e Maria Aparecida, bem como a todos os entrevistados por terem aceitado colaborar gentilmente com esta pesquisa. Por fim, agradecemos à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pelo ter financiado o primeiro autor (Processo 2016/22822-0).
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